Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: O objetivo deste trabalho é fazer uma breve análise das ideias do soció-
logo contemporâneo Zigmunt Bauman sobre as mudanças ocorridas na sociedade
após o advento da modernidade até atingir a condição atual, à luz das Ciências
Sociais e suas perspectivas. A partir da abordagem fenomenológico-hermêneutica,
procurou-se caracterizar as circunstâncias da passagem da modernidade sólida
para a líquida e suas implicações na economia e cultura do século XXI.
Palavras-chave: Modernidade líquida. Capitalismo. Razão Instrumental.
Consumismo.
Abstract: The main purpose of this article is to make a brief analysis of the ideas
of the contemporary sociologist Zygmunt Bauman about the changes occurred in
the society after the advent of modernity up to the current condition by the eyes
of Social Sciences and its perspectives. From the phenomenological-hermeneutic
approach, it looked to characterize the circumstances of the transition of the solid
modernity do the liquid modernity and its implications on XXI century’s economy
and culture.
Keywords: Liquid modernity. Capitalism. Instrumental rationality. Consumerism.
Introdução
Pensar e analisar a trajetória histórica da sociedade não é uma
tarefa simples, exige um trabalho minucioso na coleta de dados e infor-
1
Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista - Unesp (Faculdade
de Ciências e Letras - FCL - Campus de Araraquara). Trabalho apresentado para conclu-
são da disciplina de Sociologia do Conhecimento, ministrada pelo Prof. Dr. João Carlos
Soares Zuin. Email: lalipascutti@hotmail.com.
Modernidade sólida
Para criar o conceito de modernidade líquida, Bauman (2001)
baseou-se na definição do início da era moderna como “modernidade
sólida”, caracterizando uma época de revoluções seguidas, a partir do
século XV, quando crescentes e profundas mudanças surgiram e cons-
truíram uma realidade moderna baseada em padrões sólidos, de longa
duração. A era moderna ganhava espaço na medida em que destruía os
antigos e, também, sólidos padrões e estilos de vida ainda ligados à Idade
Média e construía os novos padrões compatíveis com o ainda crescente
capitalismo. As ideias tidas como certas e impostas até então passam a ser
questionadas e os pensadores que antes eram condenados por colocarem
em xeque a verdade imposta pelos detentores do poder e pela Igreja Ca-
tólica ganham espaço. Nesse momento, Bauman (2001) vê um processo
de derretimento dos antigos sólidos para a construção de novos sólidos,
aperfeiçoados, mais condizentes com o que pensavam ser a nova verdade
e, consequentemente, mais duradouros. O homem não é mais dominado
pela natureza, ao contrário, percebe agora poder dominar a natureza e
direcioná-la segundo seus interesses. Dessa forma, um grande passo dado
pelo homem na modernidade é a conquista de espaço central no governo
e destino do mundo, para assim adquirir a ordem e a segurança pessoal.
Modernidade líquida
O estabelecimento do progresso e o desenvolvimento da ciência e
da tecnologia na modernidade avançaram nos próximos séculos, especial-
mente no século XX, de forma um tanto quanto mais acelerada. O pró-
prio tempo parece adquirir um ritmo mais acelerado. As incertezas que
começaram surgir aos poucos na modernidade agora tomam lugar central
na sociedade, afetando os relacionamentos humanos e os relacionamen-
tos desses com tudo o que rege o universo humano. Muito é questionado
se se trata de uma ruptura do processo iniciado na modernidade clássica
ou de sua intensificação. Para Bauman (2001), a modernidade líquida é
a fase seguinte da modernidade sólida, sua continuação. Mais que isso, a
intensificação desta.
Novamente ocorre o derretimento dos sólidos, mas dessa vez, não
há intenção de construção de novos sólidos. Em verdade, não há intenção
de construção de nada: o processo de derretimento dos sólidos se faz
por fazer, automaticamente, antes mesmo que se possa perceber. Todas
as certezas, os sólidos construídos na modernidade, e até mesmo antes
dela, adquirem forma líquida, caracterizada pela sua fluidez, flexibilidade,
poder de adquirir a qualquer momento desejado, formas diferentes. A
quebra com a rotina e a tradição é mais que a tentativa de criar novos
padrões, é a de evitar que qualquer padrão que se tenha criado congele
em tradição.
A razão instrumental que transformou o homem moderno em in-
divíduo autônomo somou-se à técnica adquirida por meio dessa raciona-
lidade e contribuiu para o surgimento de um novo contexto de relações
humanas e estilos de vida, a globalização. Esse novo contexto é marcado
pela alta e crescente tecnologia que permitiu um grande avanço na eco-
nomia e nos meios de comunicação e transporte, apresentando como
globalizado um mundo mais homogêneo, onde as distâncias são relativas
Considerações finais
O cenário da atual sociedade nos mostra a crise da modernidade
em sua forma mais avançada. Um momento complexo repleto de proble-
mas éticos, culturais, sociais, existenciais e até ambientais. As mudanças
mostraram como a modernidade se adaptou à nova realidade e o que
surgiu dessa adaptação.
A humanidade cresceu imensamente no seu sentido técnico e
científico, e deixou para trás as questões morais que a qualificava como
humana. Ao dar valor exacerbado às questões materiais, o homem flexível
da modernidade deixou para traz a verdadeira razão que esclarece e abre
caminho para as “luzes”. Dessa forma, ficou preso aos limites do espaço e
do tempo, transgrediu o valor da sua subjetividade e permitiu assim uma
sequência de acontecimentos que fugiram ao controle da garantia das
condições mínimas de existência saudável. Encontrou-se de repente na
condição sub-humana de algumas partes do mundo e outras exagerada-
mente cheias de conforto, notando uma desigualdade nunca vista.
Muitos são os homens e as teorias que especulam sobre alterna-
tivas e soluções dos problemas da modernidade líquida, mas a verdade
é que, como toda incerteza desse mundo, nada produzido é fato e traz
soluções imediatas. Nesse sentido, a sociologia surge também como mais
ideias, mas pretende não pular nenhum degrau da evolução, e parte do
esclarecimento e do fornecimento dos meios para a busca individual da
liberdade, para então a busca coletiva.
A sociologia não é a cura dos problemas e incertezas da sociedade
contemporânea, muito menos um meio de reverter a fluidez da moder-
nidade e reprodução de novos sólidos. A sociologia é o esclarecimento, a
chamada para o questionamento, tornando-se um dos principais passos
para a cura, e não há nenhum meio de fazê-lo sem comprometer-se. A
neutralidade das ideias na sociologia não conduz a caminho nenhum, mui-
to menos ao caminho da libertação.
Referências bibliográficas
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Editora Zahar,
2001.
BITTENCOURT, Renato Nunes. A aflição de uma vida líquida. In: Revista
Filosofia Ciência & Vida. São Paulo: Editora Escala, 2011, n. 28, abr. p. 6-13.
ROSS, Rodrigo Rosa. Modernidade Líquida. São José do Rio Preto: Centro
de Estudos Superiores Sagrado Coração de Jesus, 2010.