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SEBASTIEN CHARLES
Cartas sobfre 21
hip ermodernidade
ou O hipermodemo explicado cis cricmgas
BARCARELLA
I9
Longe de ser contrério :1 raziio, e :1 probidade, este estado para Erlc Donet
inacabado, essa puerilidade respeita, £1 sua maneira, o objeto Milfio, 29 de novembro de 2003
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3
CARTAS SOBRE A HIPERMODEILNIDADE RESPOSTA A PERGUNTA2 o QUE 1;: o P(§S—MODERNO?
timento de angostia que invade os nossos contempora- contrario, e nos sabemos bem isso. O progresso tecnologico
neos e que pode ser explicado pela impressfio de nao mais perdeu__o sen encanto, mostrando que ele niio tinha
possuirmos referéncias seggras para CO1'1'1P1’€€I1d61lLBI'€— somente um papel positivo e que ele podia colocar-se aos
psenpte no plano individual, e de nao mais sermos relevantes
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servigos das causas mais nobres assim como das mais
__r3_o progresso p do mundo num plano
,,___E% q coletivo. vis; a justiga e a igualdade permanecem como reivindi-
Essa radicalizagfio e essa angostia parecem, numa cacoes e sfio passiveis de defesa, sendo a realidade somente
primeira analise, pouco compativeis com o ue repre- de uma minoria no mundo; a felicidade permanece como
j£m aesséncia damodernidade. D6 fato, a um ideal, o mundo do consumo, supostamente capaz
modernidade construiu-se com base na esperanga e na fé de nos trazo-la numa bandeja de prata, nao a tornou,
“Ev” 7 jji V ' A70 '
no futuro, o ue lhe perm1t1u assumlr a ruptura com o por conta dessa presunciio, mais atual. Donde o sentimento
drnnndo das tra_dic_oe_s. Para sair do modelo tra 1cional atual de desanimo diante da modernidade e do que nos
da repetigiio incessante do passado, da valorizacfio das no r~namos.
P
narrativas fundadoras, sobretudo no plano religioso, era Sera que o fato de a modernidade nao ter atendido
necessario impor um outro caminho, que pudesse mobi- as expectativas que ela fez surgirem seria indicio da sua
lizar de forma tao intensa quanto o anterior. O futuro obsolescéncia e da sua SL1l3Stl.lIlJi§§.0 por uma outra época?
foi, desse modo, convocado, a titulo supletivo, permitindo enamos nos nos tornado %§fi5S e1lt§o,por
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wiw aos modernos se proj etarem no futuro em vez de se pren- que nélo nos satisfaaer com o conceito de 1Z3_§>,s;mo-
derem nos ensinamentos do passado.As promessas dos dernidade, que indica claramente uma saida eietiya da
2.-. <.r;' tempos futuros, é verdade, eram atrativas o suficiente modernidade? Essa pergunta que vocé faz, sabendo que
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para desviar os homens dos caminhos imemoriais tomados eu prefiro falar de hipermodernidade, e nalo de pos-
pelos seus ancestrais e fazé-los tomar novos rumos: desa- modernidade, é bem pertinente. Em um mundo onde
@%~!< parecimento das tarefas inglorias e desgastantes gracas ?’
o exagero de conceltos e a regra, vocé tem razao de se
ao progresso tecno1ogico,justi<;a e igualdade para todos perguntar se o recurso a esse neologismo se justifica on
apos reformas politicas adequadas, felicidade universal em nao. Para responder adequadamente a essa pergunta, é
razfio de uma reformulacao da ordem social. 4(_;_o_1;__n_g preciso compreender corretamente os termos empre-
resistir a m¢mad ros? gados, e em primeiro lugar o termo pos-moderno. ,
O problema é que 0 futuro dos modernos -— que se tornou
o nosso presente ~—- nfio honrou todas as suas promessas, ao \\p~** a~<>~l"°*Q‘ »®>
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CARTAS SOBRE A I-IIPEFLMODERNIDADE RESPOSTA A PERGUNTA: o our E o POS-MODERNO?
O pos-moderno de’
cada um nfio podia mais ser reduzido aos cfinones
de beleza consa rados ela tradicao, tornava-se possivel
A nocfio de pos-modernidade apareceu primeiramente introduzir no plano estético a preocupaciio com a mudanca
nos textos de alguns ar uitetos dos anos 1960, que dese- permanente, a novidade tornando-se, alias, um dos sim-
javam romper com o estilo moderno. Em reacao a uti- bolos da modermdade, as provocacoes dos vanguardistas
lizacao excessiva de cimento no segundo pos-guerra, sendo uma prova do caréter propriamente artistico dessa
escolha de certa arquitetura moderna, surgiu uma von- iniciativa. Nos air1da nos encontramos sob essa influéncia:
tade nova que, para marcar a ruptura que ela PIf€tC1’1Cl121 vocé pode se lembrar, como eu, desse acontecimento
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marcar com a modernidade, optou deliberadamente por ao mesmo tempo trag1co e absurdo propiciado por um
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se identificarcomo pos-moderna.As ambigoes que ani- £11‘C1SC3._]E1PO1'16S, que tornou o seu quadro onico para sempre
mavam os arquitetos preocilpados em romper com o ao atirar-se_c_:o__ntra__ele <;l9.alto__,d§_ um edificio.A arte como
modelo uniforme das barras urbanas e em valorizar um sequéncia pura de acontecimentos —— também neste ponto,
estilo pos-moderno eram diversas: preocupacfio com o nada de novo sob o céu moderno...
espaco a se organizar e com a sua historia; consideragiio De todo modo, o termo “pos-moderno”, apos ter
das comunidades e do meio local; valorizagao do con- surgido na arquitetura, rapidamente fez sucesso e ultra-
forto interno, dos adornos e da harmonia geral; critica passou as fionteiras da estética urbana para ser reutilizado
dos projetos faraonicos modernos; recusa da amnésia em varias esferas do mundo das artes e da literatura.
voluntaria dos modernos em relacfio ao mundo das Eu citarei, como exemplo, somente uma area, a da filosofia.
tradigoes;toler?1ncia com relacao as diferencas de formas, Na obra dos filosofos, encabegados porVattimo e Lyotard,
de estilos ou de épocas e celebragfio da mestigagem; o recurso a essa nocfio explica-se com base na constatagfio
respeito aos individuos considerados como fi11TllI'OS usuarios da faléncia do projeto moderno. Esse projeto foi “liqui-
do lugar etc. Em resumo, tratava-se de uma oposicao a dado”, para retomar a. famosa expressfio de Lyotard, e essa
certa opcao arquitetonica e da s_uas1_.@§ 0r OUIIQ liquidagiio, para os pos-modernos, parece perceptivel e
oxpg5o.Tiido bastante moderno ja que a modernidade, evidente por muitas razoes. Primeiro, esse projeto mo-
especialmente no plano estético, caracterizou-se por uma derno construiu-se com base em grandes narrativas, as
renovagfio permanente dos estilos e das escolas, renovacao metanarrativas (sociedade sem classes sociais, felicidade
que representava, no fi11‘1ClO, o respeito a gostos ind1v1dua1s universal, realizagao do Espirito, emancipagiio dos indi-
particulares e irredutiveis.]u_stamente pgrgue o gosto viduos), que néio funcionam mais e cujo esvaziamento
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18 19 -
i 1.
CARTAS sonar A HIPERMODERN IDADE REsPosTA A PERGUNTAt o our 1'3 o P(§S—MODERNO?
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. . . pelo contrarlo. Eu acredito que essas narrativas eram. essen-
cranzou-se e d1fund1u-se de tal forma na soc1edade que
c1a1s para se transformar a ordem temporal e para fazgr
ela fez aparecer uma cultura de massa sensivel as plumas
os homens dos seculos passados aceitarem o sacrificio
e paetés e emeros e contrar1a a rande a e”.A saida
de um tempo concebido unicamente sob a forma da
da modernidade fez-se acompanhar de uma espécie de
repetlcao do passado, assim como eu penso que elas
fragilidade e de incerteza ligadas £1 evidente relatividade ' ~ A . A , _
ho_]e nao tem a mesma 1I1flL1C1'lC1El de antes slmplesmente
dos valores e dos gostos, assim como do enfiraquecimento
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CARTAS sonar A I-IIPERMODERNIDADE \ RESPOSTA A PERGUNTA: o QUE E o POS-MODERNO?
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porque nos pensamos e agimos como modernos e porque me parece o mais adequado pelo fato de o superlativo
o combate contra a tradicfio ja nao esta na moda. Alias, “hiper”, como demonstrou Lipovetslqg adaptar-se melhor
nos niio somos mais obrig PO_ a ideia de uma radicalizagfio da modernidade, como prova
c di§’:.'i‘o 1561310 faz1am, por exemplo, stas a sua reutilizaciio sob diversas formas: hiperligacfio, hiper-
face ao mundo gotico. Em veziide desvalorizar o passado,
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3 texto, hiperpoténcia, hiperterrorismo etc. Por gue podemos
nos o celebramos; em vez de detesta-lo, nos o reutllizamos dizer ue houve nao u ida da modernidade, mas a
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sem complexo, quiga o reciclamos, porque sabemos sua radicalizacao? Para aceitarmos a tese pos-moderna,
perfeitamente que toda volta ao passado ja nao é mais seria necessario demonstrar como os quatro principios
possivel. Nos podemos sacralizar o passado, aumentar em torno dos quais se construiu a modernidade tornaram-
indefinidamente o patrimonio a ser protegido, estabelecer se desatualizados em razao da entrada no mundo pos-
uma lista dos lugares historicos a se preservar, decretar moderno. O problema é que nada indica ter sido este
dias dedicados a memoria historica, nada disso tornara l o caminho se ' o.
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O que me parece mais problematico com a ideia por Hobbes no Leviata. Nx de Hobbe ,..pel,o_ con-
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de um periodo pos-moderno, é que ele implica em
uma saida da modermdade das
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tra a.¢naura a
qualquer coisa para ad uirir,em contra artida, QS direi-
grandes narrativas para justificar tal ideia me parece um
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tos civis e uma seguranga poblica que eles nao pos-
, .;,__ ""*' ', 02*’ *_""“;- =u-I-on P i ’ AI. ' JP iM7*'*‘_‘fi——- ,,-lg‘.
tanto fragfl como argumento.E eu nao sou o umco a suiam no estado natural. Esse modelo juridico corresponde
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pensar dessa forma. Ha aproximadamente uma década, a mvengao teorica dos direitos humanos clue enco
alguns adj etivos alternativos foram sugeridos para evocar pouco a pouco sua eficacia prati a. Segundo principio:
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1.
o nosso tempo -—- metamodernidade (Giddens), ultramo- 1 a valorizagao da democracia como onico s1stema politico
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dernidade (Gauchet e Zarka), hipermodernidade viavel permitindo combinarlibprdade individual e segu- do-A/.v<6””
(Lipovetsky) —- todos eles tendo em comum o fato de '1.\ W23
aéaranca coletiva Terceiro principio: promogao do mer- A
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evocar nao algo diverso da modernidade, mas uma
fil-
cado como siste A ' regulador dotado de todas vi ‘
radicalizacfio da mesma. Se todas essas expressoes sfio prova
de uma mesma intuigfio, o termo hipermodernidade
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as vlrtudes por contribuir para a paz entre as nagoes e
para a riqueza tanto individual quanto coletiva. Quarto
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ll Q‘? CARTAS SOBRE A HIPERMODERNIDADE RESPOSTA A PERGUNTA: o QUE 1'2 o P63-MODERNO?
A v’ princ1pio:
A o desenvolvimento tecnologico-ciennfico
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hipermodernidade? Por que nao se limitar a dizer sim-
concebido como solugao para o problema do arduo tra- plesmente que a modernidade continua normalmente
balho humano e como garantia da saode das populacoes o sen desenvolvimento?
\i\ A legitimidade da utilizagao deste conceito de hiper-
humanas.
Sinceramente, quem nao pode perceber que esses modernidade explica-se, a meu ver, pela forma que
quatro principios permanecem no centro das atengoes assumiu a modernidade hoje. Nossa hipermodernidade
e que a pos-modernidade nao os deslegitimou? Segu apresenta-se como uma modernidade que procuramos
ramente, os dois oltimos (o mercado e a ciéncia tec- “modernizar” sempre, e racionalizar ainda mais apro-
$'-<2:
nologica) sao bastante criticados atualmente, fazendo surgir fimdando os seus fundamentos.Ainda estamos bem dis-
"/4- ~“1'~'-'-"-"-'\-\____,,_,--n-II~I""'
desconfiancas contra eles, mas, no primeiro caso, nenhum tantes de uma hipotética pos-modernidade 9 em ruptura
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24 N 25
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CARTAS SOBRE A I-IIPERMODERNIDADE RESPOSTA A PER.GUN'1‘A:O QUE E Q P(§g..MQDER_N0?
proprios excessos e apresentar um futuro glorioso através descrédito das proibicoes tradicionais, sobretudo religiosas,
de uma humanidade reconciliada consigo mesma, o no mundo ocidental. Quem ainda respeita estritamente
desaparecimento das desigualdades e da exploragao, uma as determinacoes bastante repressivas concernentes a
cooperacao internacional e uma concordia universal. Sobre sexualidade, que se aplicava1n nao mais do que cinquenta
este tema, o livro de Mercier, O cmo 2240 ou 0 sonho mmca anos atras? Geralmente, o momento pos-moderno é
sonhado antes, é umaparicatura das esperangas modernas. um momento em que nada nem ninguém pOd@1‘1']_]_egi1j__
Inversamente, a hipermodernidade apresenta-se como mamente impedir um individuo de construir sua vida
uma modernidade desprovida de qualquer sentido trans- como bem entender, on de escolher suas referéncias
cendente, funcionando plenamente — os quatro principios intelectuais ou sociais. Num contexto pos-moderno, tudo
modernizando-se sempre — sem, no entanto, poder jus- é uma questao de escolha, o que provocou as repercussoes
tificar o seu proprio funcionamento e parecer conseguir que ‘conhecemos: no plano familiar, assistimos ao aumento
se autolimitar. dos divorcios e das unioes civis explicando, em contra-
Nao é, portanto, na analise que a pos-modernidade partida, o surgimento das familias recompostas; no plano
enganou-se, é na ruptura que ela acreditava representar profissional, cada um escolheu a carreira desejada sem
com a modernidade.A. pos-modernidade nao é diferente lugar no espago poblico reservado antecipadamente para
da modernidade, ela é simplesmente a modernidade livre uma pessoa em detrimento de outra; no plano religioso,
_ J‘ 1 H . -Kalil 1741? 7 '7 _'
7 i 4|-an M
dos fieios institucionaisi que bloqueavam os grandes_princi- os dogmas nao foram mais impostos com o rigor de outras
pios estruturantes que a constituem (o individualismo, épocas, devendo cada um dar a sua vida o sentido que
"wt A-. ~ -W *.l- -----A‘ . ja nao se buscava externamente; no plano politico, o
a c1enc1a tecnoTog1ca, o mercado, a democracia) de se
manifestar plenamente. Se considerarmos assim a pos- carisma dos politicos e a grandiloquéncia dos seus dis-
modernidade, devemos compreendé-la nao como uma cursos desapareceram, o voto baseado na defesa de inte-
ruptura, mas como um paréntese, bastante agradavel na resses corporativistas tendo aumentado, em detrimento
verdade, durando dos anos 1960 aos anos 1980, e mar- do interesse geral ou de concepgoes ideologicas de classe, " ‘7€-3/\~=a¢
cando a decadéncia dos grandes discursos tradicionais tendo, como consequéncia, uma fiequente alternancia ,,/;<
contra os quais a modernidade em parte se -construiu, politica, que se tornou um habito democratico cada
a fim de liberar o individuo de qualquer sujeicao. Querem vez mais presente; no plano intelectual, cada um passou
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um exemplo dessa decadéncia dos discursos tradicionais a escolher os seus mestres e a segui-los enquanto isso
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tipicos do periodo pos-moderno? Basta pensar no for da sua conveniéncia etc. Em resumo, no regime
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CARTAS SOBRE A I-IIPERMODERNIDADE RESPOSTA A P RGUNTA2 o QUE I-3. o POS-MODERNO? lgflv-U“
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pos-moderno, a tradicao perde espaco face a maior -
volvimento desenfreado das tecnolog1as . da mformagao,
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autonomia dos individuos, cujo percurso de vida é mais uma precarizagao do emprego e uma estagnagao inquie- L
espontaneamente construido, nao mais seguindo uma via tante do desemprego em niveis elevados.Tudo preocupa
preestabelecida pelas instancias tradicionais da socializagao. e assusta. Em nivel internacional, o terrorismo e os estragos
Um outro elemento relevante, que permite a com- que ele provoca, a logica neoliberal e os seus efeitos sobre
preensao do inicio da hipermodernidade, leva em conta o emprego ou sobre o meio ambiente; em nivel local,
\\ a mudanga que nos levou desse paréntesis transitorio e a poluicao urbana, a violéncia nas periferias; em nivel pes-
alegre da pos-modernidade ao nosso mundo atual. Estou soal, tudo que fiagiliza o equilibrio corporal e psiquico.
alando da ruptura com a euforia dos anos 1970, ligada O reino do hedonismo continua, sem df1vida;a oferta
$1-‘*"'3 o sentimento de que o mundo se tornava cada vez de entretenimento explode mas nao equilibra o aumento
E ais preocupante e dificil de se viver, tanto no plano da angostia tipica da era hipermode1:na.A sociedade hiper-
individual quanto no social. O que mudou profunda- moderna é complexa e paradoxal porque, ao mesmo
mente entre o paréntesis pos-moderno e os tempos tempo em que ela estimula os prazeres (o hedonismo,
to ermodernos foi o ambiente social e a relacao com o consumo, a festa), ela produz comportamentos angus-
presente.A partir dos anos 1980, o dominio crescente tiados e patologicos. O paradoxo esta ligado ao fato de
permoderno revolucionou os nossos habitos e com- que o aumento do entretenimento se faz acompanhar de
ortamentos, tornando a analise do mundo mais dificil. uma dificuldade cada vez mais real de se viver, de que
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OPETOAET fim da guerra fria e o consequente surgimento do NiQ\/la prosperidade material surge unida a uma pobreza rela-
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mundo multipolar, o forte crescimento da globalizacao cional. Os tempos hipermodernos implicam no fato de
liberal ou ainda o desenvolvimento das novas tecnologias que cada individuo, entregue a sua propria liberdade, 6
da informacao tiveram participacao nessa evolucao. submetido a influoncias paradoxais que opoem, ao mesmo
Em resumo, pode-se dizer que na hipermodernidade tempo, as exigéncias do hedonismo e as da responsabi-
a desagregacao do mundo das tradigoes nao é mais sen- lizacao, gerando, como consequéncia, um tipo de sociedade
\
tida sob o regime da emancipacao, mas sob o da tensao. esquizofrénica dividida entre uma cultura do excesso e o
E o medo que vence e que domina diante de um futuro elogio da moderacao.
incerto, uma logica da globalizacao que se exerce inde- =-kf
~v
. O futuro da hipermodernidade depende disso,
pendentemente dos individuos, uma competigao liberal\€V;§§ parece-me, da sua capacidade de fazer vencer a ética
exacerbada, um aumento das desigualdades, um desenqfi da responsabilidade em detrimento dos comportamentos
ii 28 (Rik Hf 29
cional e ind1v1dual1sta, permite a coex1sténc1a entre um dades cada vez mais complexas de ator social e politico
l, e um num mundo cada vez menos compreensivel. Que vocé
espirito de irresponsaoilioade incapaz de res1stir aos pedidos q. fique avisado. Eu lhe desejo boa sorte...
3 e d é que alogica
dmfin crescendo e que a respon-
% sabilizagao de cada um se tornara cada vez mais impor-
tante. Nunca antes uma sociedade permitiu uma autonomia -1:;A8‘..__,._-M_.-A_4
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e uma liberdade individuais tao amplas, jamais seu des- l
l
tino esteve tao ligado aos comportamentos daqueles
a,¢. .=%-f ” que a compoem. E por isso que a responsabiliza<;ao do maior
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