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j Coleção Debates ;

Dirigida por J. Guinsburg

CJM

FOLHAS b

joffre dumazedier
LAZER E
CULTURA POPULAR

Equipe de Realização - Tradução: Maria de Lourdes Santos Machado; 2 PERSPECTIVA


Revisão: Alice Kyoko Miyashiro; Produção: Ricardo W. Neves. Heda
Maria Lopes e Raquel Fernandes Abranches.
Título do originai em francês:
Vers Une Civilization du Loisir

© Éditións du Seuil, Paris

SUMÁRIO

Nota do Tradutor 7
3a edição - 2a reimpressão 11
Nota Preliminar .

ISBN - 85-273-0219-5 I. LAZER E SOCIEDADE 17


A situação ainda não está clara 19
Direitos reservados em língua portuguesa à Donde vem e para onde vai o lazer? 51
EDITORA PERSPECTIVA S A. Determinismos sociais e lazer 65
Av. Brigadeiro Luís António, 3025 Relações entre o trabalho e o lazer 93
01401-000 - São Paulo - SP - Brasil
Telefax: (0-11) 3885-8388
Família e lazer 115
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:
2004 II. LAZERECULTURA 137
do que o modo de transmiti-lo, o próprio ré agrupamento dos
b) Essas sociedades precisam desenvolver a participação conceitos parcelares apresenta para uma sociologia experimen-
de todos na vida cultural, na^compreensão e até na produção tal, tantas vantagens práticas e operacionais quanto outras do
—_obras da técnica, ciência e arte — para que a cultura dè~ tipo teórico e conceituai.
nível não passe a ser privilégio dê uma minoria, enquanto a Finalmente, o estudo comparativo dos vários tipos de meios
massa do público, apesar da ação da escola, continua numa de comunicação modernos e tradicionais, de telecomunicação
situação de subdesenvolvimento cultural, tendo de contentar-se ou de comunicação direta, parece-nos menos importante do
com uma cultura de nível inferior: que o dos vários tipos de organização e de estrutura, nos quais
c) Tais sociedades precisam fazer com que todos os são elaborados e se difundem esses conteúdos do lazer, tanto
indivíduos participem dessa orientação, devem despertar, em ao nível da micro quanto da macrossociologia. O estudo_das
cada ser, seu próprio equilíbrio entre o descanso, o diverti-^ variações incidentais ou provocadas dos conteúdos, ligados a
mento e o desenvolyirr^nto_da_ personalidade, no quadro dessa ."' estruturas e organizações diversas, bem' cdmo'~sòSre _os_ jfgjtos
participação spciocuIturaT. _ \, por eles jíeterrninados nas funções dos^_lazeres_na,-socjedade
'•• industrial e democrática, na nossa opinião, seria, em última
A fim de atingir esses três objetivos, cada tipo de coleti-
vidade exerce sobre o lazer, jpu por meio_ do lazer^ de modo análise, a perspectiva global na qual deveríamos recolocar nosso
autoritário Cercão"JêgaT^e" moral), jiberal ^Plessão e"persua- estudo experimental. A sociologia em migalhas oferece facili-
são) de mqdo unificado (j^aíses do Oriente), e pluralista dades, frequentemente ilusórias, ao conhecimento real.
(países do Ocidente), uma atividade de defesa, estimulação,
regulamentação, orientação, organização e planificação. A nos-
so ver, esse aspecto da evolução sociocultural colocará para a l . Observações sobre a pesquisa aliva
sociologia do lazer o mais importante problema, tanto para os
dias de hoje quanto para os que virão. Mas diante de uma tal posição, muitas vezes, sentimo-nos
Essa posição deveria levar a dissociar, na situação de lazer, desarmados. Vivemos sob urn_a_ distinção demasiadamente for-
os modos de condicionamento socioculturais inadãptados, anár- mal entre a teoria e a doutrina, a pesquisa e a ação: a pes-
x \ ' qúicos, dêsorgãnlzftcjõs~(jos modos de ação sociõcultúrãTTnten- quisa apresentaria o problema e a ação traria a solução. Essa
é um distinção enganadora, pois "na 'Yé"àlÍffãtte'TlâOTrxiste-quati
?*^cionais, consciente^} organizados e mesmo píanifiçados 1 , _tanto <juer divisão. Já no modo de apresentar ~d ~proBlerná~êsla irn-
para o grupo e peío próprio grupo, com vistas à elevação de
seu próprio "nível cultural. A Sociologia, a nosso ver, terá como píícifa~~urná ação, e, no modo de trazer uma solução, Q pro-
propósito, antes de tudo, comparar as condições, processos e blema está presente. Devido a essa falsa separação, frequente-
resultados desses dois tipos de modos diferentes e antagónicos. mente acontece de o conhecimento científico conseguir apre-f.
se n tar somente problemas evidentes, enquanto os problemas
Longe de nós a ideia de uma sociologia voluntariosa que con- difíceis~e ocultos são apresentados ou tratados pelos homens
sideraria como maléfico o primeiro grupo e benéfico o segundo. de ação, às escuras, que recorrem unicamente ao conhecimento
Nossa atitude é experimental. Pensamos que se p homem tem
possibilidades de intervir no jogo das determinações sociocultu- intuitivo, como já salientamos^Segundo o recente exemplo
rais será, certamente, valorizando uma ação voluntária, organi- l da Economia Política, cadã~vêz mais se colocando como uma
zada è plariificãda""pelòs ~própnos"grupos'^ instituindo o con- | ciência que visa à elevação dos níveis de vida e da Psicologia
trole científico dos resultados dessa ação. Õ conteúdo de uma Social que conseguiu estabelecer uma ciência experimental
tal ação coloca um problema inicial: qual o efeito desse con- da dinâmica dos grupos, a sociologia do lazer deveria orien-
teúdo sobre o lazer, qualquer que seja o tipo utilizado para tar-se no sentido do estudo experimental das condições e pro-
sua difusão? Á fim de estudar seu efeito e. eficiência, teremos cessõiHê' elevação dos níveis socioculturais do lazer. Ela ainda
de reagrupar num conceito mais completo e mais dinâmico não atingiu esse ponto, mas tende a ser uma pggquisa ativa
,de ação sociocultural todos os conceitos parcelares criados pe- graças ao crescente desenvolvimento dos dispositivos jte_onen-
'; f -Ias teorias da comunicação. propaganda, informação, aprendi- tação, organização^ educação1janto na escala dos gruposj^es-
zagem, grupos _restr[tgs e relações sociais. Conhecemos o inte- tritos quanto nos mais amplos e das unidades mais vastas.
resse prático apresentado por essa sociologia analítica; a expe- À custa de tais dispositivos, será possível provocar e
riência porém tem demonstrado que esses conceitos, na prática controlar mudanças. Desejamos esclarecer que a pesquisa ativa
frequentemente se atritam e que é impossível proceder ao tende para a experimentação provocada pelo próprio pesquisa-
estudo de uma situação real sem reagrupá-los de um ou outro dor (acíion research). Este é porém o último passo. A pes-
modo. Caso seja verdade, que o conteúdo é mais importante quisã"ãtiva tendê~a ser uma pesquisa pela ação (controlada),
mas é também uma pesquisa sobre a ação. Não se trata de
( 1 ) LYND. Sociolpgie et planification. Cahitrs internalionaux de uma pesqursã^ápIicãdaT limitada por imperativos externos, em
sociologie, 1946; RIESMAN. The lontly crtrwd (já citado); MANNHEIM.
op. cit. oposição à pesquisa fundamental, desenvolvida livremente pelos

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mento peja ação, eniao, nossa mpoiess <ie transformação esiara
seus imperativos internos. Ela será uma pesquisa sobre uma verificada. Tudo aconteceu como se a ausência dessa ação
' situação, cujos elementos favoráveis e desfavoráveis do ponto explicasse a diferença entre o nível inicial e o antecipado da
de vista das necessidades^ ^pcipculturais são sempre estudados situação. Caso contrário, devem ser procuradas outras hipó-
com relação_à ação real e possível mais propícia a melhpr satis- teses a verificar. Seguindo esses passos, todas as situações po-
fazer essas necessidades. dem ser abordadas do ponto de vista de uma ação real e pos-
Estamos pois diante de uma sociologia simultânea ou al- sível e tratadas com toda a independência e o rigor da ciência.
ternativamente crítica e construtiva que deve possibilitar uma Quais os modelos necessários para _a realização de uma tal
pesquisa, permanente como a própria ação, sobre as necessida- pesquisa ativa na sociologia do lazer? ApTêsènfárênTõS modííos
des e os processos de satisfação que por sua vez despertam estruturais matemáticos e não matemáticos, que se colocam
novas necessidades. A.nosso_-V.er.^a_ melhor maneira de co-_ entre as grandes teorias inverificáveis e as pequenas hipóteses
ahe£e.r_uma^o.çiejiaiie_sjexá_expjQrar seus próprios projetos^ de~ insignificantes; e também formados por um conjunto de ele-
intervenção nela rnesma. mentos separados de seu complemento e ordenados por um
sistema de relações hipotéticas, possibilitando assim a organi-
A problemática da pesquisa ativa exige uma metodologia zação de um campo, cujas propriedades permitem estudar
apropriada. A fim de que as pesquisas possam trabalhar com experimentalmente se o sistema de relações é verificável ou em
as questões mais importantes, comuns à pesquisa e à ação, o que condições poderá ser verificado.
sociólogo não pode contentar-se somente com as suas próprias
hipóteses. Será ilusório pensar que ele só terá de colher "da-
dos objetivos" sobre os quais o homem de ação lançará sua 2. Modelos descritivos
imaginação criadora. Claude Bernard insistiu muito nessa ideia,
recentemente reabilitada por C. W. Mills, na Sociologia. _De A. Em princípio, o fenómeno do lazer é descrito como
acordo com a concepção de uma pesquisa ativa, o pesquisador
deve convencer-se de que os homens de ação tem necessidades
que procuram satisfazer e resultados que obtêm ou~ acredítãnr
obter. Esse é um ponto de partida indispensável no sentido de
I uma situação social e cultural e..aão...coroo_.uni__ci5mãõrIiaTiiro"
.isolado^
Assim nessa situação o indivíduo, de acordo com seu
status social, familiar, sua idade e caráter, vive uma cultura
sé tentar a 'unTticaçãp_ do conhecimento intuitivo e científica. que tem sua própria estrutura. O estudo dos comportamentos
Em seguida, o pesquisador deverá estabelecer sua independên- l de lazer é menos importante do que o dos conteúdos advindos
cia absoluta, criticando os critérios de ação por meio da retlê- l desses comportamentos. Teremos pois de observar esses com-
xão e da observação sociológicas. Sobre essas bases, q pesqui- portamentos como indícios, cujos significados serão analisados
sador procurará, paulatinamente^ elaborar e construir modelos com relação a um quadro de referências que poderá desem-
teóricos a serem utilizados ná~ observação, e"xplica"çãb"'e " trans- penhar a função de um código. Os conteúdos dos diferentes
formação voluntária da situação, â ~pãriiir dé~criréfiõs'explícitos.
lazeres apresentam relações entre si ou com outros ligados a
Para ele, não se trata de^afirmações^nprmítlvãs"dogmáticas;
ao contrário, a pesquisa ativa é uma tentativa de verificação atividades como as familiares, profissionais, cívicas, etc. Esses
dos modelos comuns à ação e à pesquisa, utilizando rigorosas vários conteúdos, presos às diferentes atividades, podem orde-
técnicas de controle (refutação de hipóteses nulas, escalas de nar-se em selares culturais. A esses setores associam-se inte-
medidas, dispositivos de isolamento das variáveis, e assim por resses, representações, normas e valores que determinam ca-
diante). Talvez o ponto mais importante resida na renúncia à madas culturais. Estas, por sua vez, diferenciam-se segundo os
distinção absoluta entre os pares causas-conseqiiências e fins- tipos de conhecimento: prático, técnico, científico, artístico,
-meios. Com efeito, pode-se trabalhar do seguinte modo: a) filosófico, etc., resultando daí os tipos culturais. Finalmente,
olobjetivo de uma ação (elevação dos níveis culturais) como a cada tipo correspondem graus variados de participação nos
um resultado antecipado, um nível antecipado da situação a produtos e resultados menores, médios e maiores da civilização,
comparar com o nível; inicial e o nível final; b) Os meios de do ponto de vista de critérios escolhidos explicitamente. Che-
ação (um filme ou um círculo de estudos) como forças mais gamos então à determinação dos níveis ""culturais do lazer.
ou menos determinadoras entre as demais que amalgamam Uma análise feita de acordo com esse quadro de referências
uma situação. Por exemplo, uma ação destinada a mudar uma possibilitará ligar os problemas do lazer aos da cultura. Essa
situação, baseia-se nnrsa hipótese de transformação (fim e análise é sobretudo estrutural e o seu procedimento específico
meio) a ser verificada como se fosse uma hipótese de explica- constitui uma variedade de análise semântica (Ch. Morris diria
ção causas-conseqiiências. Caso se tenha conseguido uma apro- semiótica).
ximação do nível final,; atingindo ou ultrapassando o nível ante-
cipado, e se o nosso dispositivo de controle permite-nos con- B. Esse conteúdo de lazer inscreve-se no tempo. £_ele
cluir que essa mudança foi devida às forças postas em movi- estudado como o segmento de um processo de~evólução per-

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manente ou quase permanente, rn». uma ria
3. Modelos explicativos
O período atual foi determinado pelo período passado e aquele
está em vias de produzir o período futuro. Este período futuro A, Dessç -modo, o lazer integra-se numa situação _social
(in statu nascendi), a nosso ver, é dentre os demais aquele e^ulturai de carater global. Seria_insufic tente a descrição aos
que deve ser; estudado e tratado com mais cuidado. Tanto a conteúdos do lazer da maneira como evoluem ou poderiam
História quanto a Sociologia precisam colaborar nessa pesquisa evoluir. Eles precisam ser estudados como um resuhado e na
prospectiva. A sociologia do crescimento do lazer e do desen- verdade são produtos de um equilíbrio quase-esíacionário, de
volvimento dós conteúdos socioculturais será lendencial para um jogo de forças sociais e culturais, cujo conjunto deverá ser
ser de previsão. conhecido a fim de esclarecer a ação na escolha desses meios
possíveis e na descoberta dos pontos que resistem ao seu
C, O grande problema consiste em saber se tais tendên- êxito. Dentro dessa perspectiva, facilmente se compreenderá
cias (realizadas ou em potencial) corresponderão ou não 'às que uma simples sondagem de opinião ou de um simples estudo
necessidades da sociedade .T".^TiÍííyí3uQsT!(cõlêtivõs_Qu..indi- de atitudes é necessário, mas insuficiente. A pesquisa ativa
viduais). implica uma análise do conjunto de forças que pesam sobre
a) Será importante estudar as necessidades da sociedade, o indivíduo. £ também indispensável p estudo morfológicp
de suas classes e grupos (família, empresa, vida civil, etc.), no do equipamento, das relações, organizações e estruturasT
-A"g_se_r_ejacjgna com o lazer. Por outro lado, é fundamental B. Nesse conjunto, djsve-se distinguir e_comparar o valor
a observação dos fenómenos de inadaptação e de não-participa- (Lewin diria "valência") positivo ou n_è"g"ãfiyp"7ajes»s"djyetsas
ção na vida social e cultural de um grupo, relacionado com o forcas com relação aos meios de_ação exigidos jpeía situação.
conteúdo do lazer, a fim de se tomar conhecimento através da .Será dada atençTõ~espe:ciãT_as forças que influem d>retamente
observação objeliva do funcionamento negativo ou positivo do [sobre o lazer: a); os grandes meios de difusão; :bY as insti-
grupo, das necessidades sociais em matéria de lazer. rtuições e associações de lazer (bares, associações, et£\); c) as
relações sociais que se processam durante o tempo livre, (re-
b) O nível cultural do grupo evolui, frequentemente, sob lações espontâneas, surgimento de líderes, educadores, etc.).
a influência da ação consciente dos líderes^ de_-pp_jni?q ^oTmais A fim de se fugir de uma sociografia formal sem grande
e informais, dominantes e opostos. Ele também evolui devido utilidade para a ação, será fundamental estudar o conteúdo
à interpretaçã^ das ãtituiles~ãtivas ~dê inovadores qus são agen- desses sistemas diferentes, a estratificação social e cultural dos
tes de desenvolvimento. A dinâmica das necessidades culturais meios nos quais eles se processam (operários, campesinos,
não deverá sàtisfazer-se com o estudo das médias de cotnpor- elementos pertencentes aos quadros) e a estrutura social à
tnmento (nível conformista), mas apoiar-se-á também na aná- qual se prendem (regime comercial e não-comercial, capitalista
lise objetiva dos critérios de influência dos líderes (animadores, ou cooperativista). . .
organizadores de lazer)' e do poder dos inovadores (autodida-
tas, criadores, etc.) nas suas relações com os membros do grupo C. Nesse conjunto far-se-á um controle cuidadoso dos
e com o próprio grupo. resultados provenientes das realizações inovadoras provocadas
pela sociedade e pelos grupos com o objétivo de elevar os
c) Finalmente, será importante detectar na população níveis culturais do lazer de seus próprios membros (leis de
média não somente as ^necessidades satisfeitas mas também "a" incentivo à ação cultural, difusão de obras-primas através do
necessidades latentes, njio satisfeitas na situação presjnTê"! Kê7~ cinema, da televisão e das associações, etc.).
side aí o interesse de fazer com que a situação de lazer varie Ainda se encontram em início as pesquisas sobre a ação
realmente (método comparativo) ou ficticiamente (projeção de dos efeitos de vários tipos de organização do lazer, ligados à
situações filmadas, questões projetivas, condicionais, etc.) a empresa, à escola, às igrejas, etc., e também as caracterizadas
fim de se conseguir salientar ao máximo tais necessidades la- pelas atiyidades esportivas, turísticas, musicais, sociais, ete.
lentes. Com a comparação ponderada dos resultados desse Já se pode notar tentativas importantes de intervenção cons-
tríplice tratamento objétivo e subjetivo, alcançar-se-á o conhe- ciente e voluntária da coletividade no sentido de intervir na
cimento das necessidades, o que será mais significativo do que evolução sociocultural do lazer. Os resultados dessas inter-
as afirmações costumeiras e vagas sobre as "necessidades hu- venções ainda não foram avaliados em grande escala. Nota-se
manas" ou o "fator humano", na sociologia do lazer. aí um retardamento da pesquisa com relação à ação que pre-
Essas enquetes objetivas sobre as necessidades permitem, cisa'ser suprido em regime prioritário.
fixar, principalmente, em cada situação, os níveis culturais Convimos ser difícil estabelecer o isolamento, nesse con-
ideais ou possíveis do lazer e medir a diferença entre esses junto, de um grupo de forças. Talvez ele possa ser realizado
níveis e os níveis reais do ponto de vista de uma ação que se por uma espécie de experimentação retroativa (ex post fado)
proponha ou se proporá reduzir tal diferença. já bastante explorada por Chapin e outros pesquisadores. Neste

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sentido e que a pesquisa anva poaena apeneicoar seus
de explicação.

4. Modelos experimentai;;
Certamente, o modo específico de conhecimento numa pes-
quisa ativa é a experimentação propriamente dita, incidente ou
provocada.
A. Todas as vezes que se nota uma mudança de situação,
tanto no sentido negativo quanto no positivo, do ponto de
vista dos critérios escolhidos, o sociólogo deverá recorrer a
um dispositivo de controle. Este é o meio mais adequado para
conhecer a possibilidade de mudança do fenómeno, as condi-
ções e os processos desta mudança. No domínio do lazer,
o crescimento dos dispositivos de orientação social e cultural
nos vários contextos capitalistas e socialistas deveria oferecer
oportunidade para um grande progresso da sociologia experi-
mental: organizadores, educadores e assessores que exercem
ação sobre o lazer precisam aprender não somente a conhe-
cer-se a si próprios como também a ser capazes de elaborar
em conjunto uma pesquisa comum de um novo tipo. Sabemos
que isso não será fácil, mas certos dispositivos de ação con-
trolada poderão transformar-se em dispositivos de pesquisas
permanentes (amostragens da área; observação, controle das
técnicas de intervenção, avaliação dos. resultados sobre a
área, . . )
B. Poder-se-á então elaborar, paulatinamente, as condi-
ções e os processas de uma experimentação provocada pela
dinâmica da própria pesquisa. ISão se trata somente de fazer
pesquisas e de comunicar seus resultados aos interessados com
o objetivo de suscitar uma ação em troca (ieedback}. As
técnicas de intervenção que daí resultam são. muitas vezes,
demasiadamente simples e merecerão a crítica procedente dos
homens de ação experimentados, sobretudo quando provindas Informações referentes à França (Organizado com
de jovens sociólogos e ipsicólogos de laboratório, ignorantes das a colaboração de Claire Guinchai, técnica em
regras elementares da ação real (política, administração e documentação.)
psdagogia). Ao contrário, o que deve ser feito é uma pesquisa
A. kvOLUÇÃO
experimental baseada :nas próprias normas da ação, com o
objetivo de alcançur O; "optimum" socioculturai de uma orga- I . Erottlçilo ttti M-IIII- tiriniiirio. secundário f tcifitírio, ein
nização do lazer, que:leve em consideração as características titulo* 111'nciiiiiiii-, (a partir de 1968, avanço notável do
de uma situação, as necessidades da coletividade e do indivíduo. setor ternário):
Deste ponto de vista, B sociologia do lazer deverá conferir o
1946 1954 1962 1958
maior interesse aos progressos das ciências da planificação e
de um modo geral da pesquisa operacional, que tende a colocar
no campo da ciência não somente a informação, mas ainda a Primário 34,4 29,4 22,2 16,9
decisão. Como afirmai Guilbaud: "Começamos a entrever a Secundário 30,9 35 38 39,2
possibilidade de uma reflexão científica que alimente e coor- Terciário 34,7 35,6 39,8 43, 9
dene as várias técnicas e cujo próprio objeto seja a ação huma-
na, a ação e a decisão tomadas de dentro para fora, isto é do
próprio ponto de vista do :agente responsável"; ao que acres- Fonte: NrsARD. La population active selon lês recensements
centaríamos -r- real ou possível. depuis í946. Popuialion, l, 1971.

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