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CONFERÊNCIA
A ESCOLA DE CHICAGO
Howard Becker*
Em 24 de abril de 1990, durante sua passado que não tem muito a ver com a
última visita ao Brasil, Howard Becker realidade. Poderíamos apenas dizer,
pronunciou, no Programa de Pós-Graduação desse ponto de vista, que a história da
em Antropologia Social (Museu Nacional, sociologia, como história das idéias e
UFRJ), uma conferência sobre a história teorias, começou, talvez, em algum
da Escola de Chicago de sociologia. Tendo momento do século XIX. Nomes como
permanecido inédita, é esta conferência os de Durkheim, Marx, Weber e outros
que Mana tem o prazer de publicar agora. são, de fato, nomes do século XX e do
Howard Becker é professor de Sociologia final do XIX.
da Universidade de Washington, Seattle, Há, contudo, pelo menos duas ou-
EUA, e autor de extensa e influente obra. tras histórias da sociologia que preci-
Dentre seus inúmeros livros destacam-se: sam ser contadas, o que deve ocorrer
Outsiders: Studies in the Sociology of simultaneamente com a história das
Deviance (1973) e Art Worlds (1982). Em idéias. Uma delas é a história da práti-
português, foram publicados: Uma Teoria ca da sociologia, dos métodos de pes-
da Ação Coletiva (1977) e Métodos de quisa e das pesquisas realizadas, por-
Pesquisa em Ciências Sociais (1993). que não se deve tomar como óbvio que
as idéias foram as forças motrizes ou a
principal realização de qualquer escola
sociológica. De um determinado ponto
Falarei hoje a respeito da Escola de de vista, que defendo com firmeza, a
Chicago, mais conhecida por seu nome história da sociologia não é a história da
do que pelo conteúdo do que efetiva- grande teoria, mas a dos grandes traba-
mente fez. Mas, quero abordar este lhos de pesquisa, dos grandes estudos
tema como uma pequena história den- sobre a sociedade. A terceira história
tro de uma história mais ampla da so- da sociologia é a das instituições e or-
ciologia. Geralmente conta-se a histó- ganizações, dos locais onde o trabalho
ria da sociologia como a história das sociológico foi realizado, porque ne-
grandes idéias sobre a sociedade e das nhuma idéia existe por si mesma, em
grandes teorias a respeito da socieda- um vácuo; as idéias só existem porque
de. Quando estudei esse assunto, ainda são levadas adiante por pessoas que
na universidade, meu professor, Louis trabalham em organizações que perpe-
Wirth, começava por Heráclito e Tucí- tuam essas idéias e as mantêm vivas.
dides, ou seja, pelos antigos gregos. Começarei pela história das organi-
Outros, mais modestos, começavam por zações. A Universidade de Chicago foi
Maquiavel ou mesmo Khaldun. No en- fundada em 1895 a partir de uma gran-
tanto, esse é um tipo de apropriação do de doação feita por John D. Rockefel-
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ler, o milionário americano que fez for- confissão protestante –, foi muito in-
tuna na indústria do petróleo ao fundar fluenciado pela idéia que tinham do
a Standard Oil. Ele devia ter a cons- que precisava ser feito, dos problemas
ciência pesada e em determinado mo- com os quais a sociedade se defronta-
mento da vida quis fazer alguma coisa va, do que teria de ser enfrentado. Os
com seu dinheiro. Uma das coisas que grandes desafios dos Estados Unidos
fez foi beneficiar a Universidade de naquela época eram a pobreza – ainda
Chicago com uma enorme doação. A hoje o principal deles – e a imigração –
Universidade começou com um peque- até o presente considerada um grande
no número de professores. Um deles, problema. Havia, ainda, outros que se
Albion Small, havia sido diretor de uma tornaram menos relevantes. Toda a
pequena faculdade do estado do Mai- questão da eugenia, por exemplo: im-
ne. Small foi o primeiro professor de pedir pessoas física e mentalmente in-
sociologia e chefe do primeiro Departa- capacitadas de se reproduzirem. Este
mento de Sociologia dos Estados Uni- era um assunto relevante naquele tem-
dos. Outras pessoas já haviam dado au- po, ainda que atualmente só escutemos
las sobre esse assunto, principalmente falar um pouco sobre isso na ciência da
William Graham Sumner, cujo livro sociobiologia, se é que esta pode ser
Folkways é comparável aos grandes considerada uma ciência.
clássicos de nossas disciplinas. Small Small reuniu ao seu redor um gru-
criou um Departamento de Sociologia po de pessoas e elas começaram não só
com a intenção de formar alunos se- a ensinar sociologia como a editar a
gundo o modelo alemão, produzindo American Journal of Sociology e a fazer
doutores e criando um grupo de profes- pesquisa – quase sempre na cidade de
sores que saísse pelos Estados Unidos Chicago. Ao produzir a revista, eles tor-
ensinando essa ciência. Ele não só fun- naram acessível ao público americano
dou o primeiro departamento como a uma boa parte da literatura sociológica
primeira revista de sociologia dos Esta- européia, principalmente da França e
dos Unidos, a American Journal of da Alemanha. Assim, as obras de Georg
Sociology – que começou a ser editada Simmel foram traduzidas antes de 1900
logo no início do século e existe até – muitos dos seus ensaios, especialmen-
hoje, sendo publicada seis vezes por te sobre a importância do número na
ano. A American Journal of Sociology é vida social e na transmissão da cultura,
uma das duas ou três maiores revistas sobre o problema do segredo e outros
dos Estados Unidos, provavelmente do foram traduzidos e vários deles publi-
mundo, na publicação de idéias e pes- cados na American Journal of Socio-
quisas sociológicas. logy. Presumo que eles tenham tido di-
Small, como muitos dos primeiros ficuldades para encontrar um número
sociólogos americanos, era pastor pro- suficiente de artigos de sociólogos ame-
testante, do tipo interessado na reforma ricanos e, por isso, fizeram traduções.
social, voltado para o equacionamento Uma das primeiras pessoas a in-
dos problemas sociais que afligiam as gressar no corpo de professores do De-
grandes cidades americanas. Seu pen- partamento de Sociologia da Universi-
samento, assim como o de outras pes- dade de Chicago foi William I. Thomas.
soas que trabalhavam com ele, e o de Mesmo que um aluno não saiba mais
estudantes que foram para Chicago – nada sobre Thomas, ele provavelmente
muitos deles pastores de uma ou outra conhece a frase que o tornou famoso:
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“se um homem define uma situação que se costuma dizer a respeito da Es-
como real, ela se torna real em suas cola de Chicago. A palavra escola gera
conseqüências”. Esta foi sua primeira muita confusão, porque é possível dis-
elaboração do conceito de “definição tinguir pelos menos dois tipos de esco-
de situação” como elemento crucial la. Recorro aqui ao trabalho de um
para a compreensão da sociedade e da estudante da Northwestern University,
ação social. Thomas, Small e outros de- Samuel Guillemard, que estudou os com-
ram início a um programa de pesquisas. positores contemporâneos e fez essa
Estudaram as comunidades de imigran- distinção. De um lado, temos as chama-
tes e a pobreza – principalmente Tho- das escolas de pensamento e, de outro,
mas, que sempre imagino como um as escolas de atividade. Uma escola de
homem muito vigoroso, corpulento e pensamento, na terminologia de Guil-
dinâmico. Ao lado do polonês Florian lemard, consiste em um grupo de pes-
Znaniecki, Thomas iniciou uma pesqui- soas que têm em comum o fato de que
sa que veio a se tornar um dos primei- outras pessoas consideram seu pensa-
ros grandes trabalhos de campo publi- mento semelhante; é possível que nun-
cados: The Polish Peasant in Europe ca tenham se encontrado, mas o que
and America reuniu um grande núme- caracteriza uma escola de pensamento
ro de entrevistas e histórias de vida de é que alguém, geralmente muitos anos
pessoas que viviam na Polônia e das mais tarde, decide que essas pessoas
que haviam emigrado para os Estados estavam fazendo a mesma coisa, pen-
Unidos. Foi publicado em cinco gran- sando da mesma maneira, que suas
des volumes que, suponho, algumas idéias eram semelhantes. É muito co-
pessoas leram. Confesso que nunca os mum na história das idéias definir esco-
li, ainda que tenha lido outros trabalhos las de pensamento dessa maneira, fre-
seus. qüentemente em relação às circunstân-
O Departamento cresceu sob a dire- cias históricas em que esse pensamen-
ção de Thomas e tornou-se muito im- to se formou. Uma escola de atividade,
portante, tendo gerado diversos depar- por outro lado, consiste em um grupo
tamentos. Alunos de Chicago foram pa- de pessoas que trabalham em conjunto,
ra outras universidades americanas, não sendo necessário que os membros
onde instalaram departamentos de da escola de atividade compartilhem a
sociologia. Em um curto espaço de tem- mesma teoria; eles apenas têm de estar
po, essas unidades também estavam dispostos a trabalhar juntos. Certas
formando doutores na disciplina: a idéias vigentes na Universidade de Chi-
Columbia University, sob a direção de cago eram compartilhadas pela maioria
Franklin Giddings, e, logo depois, Los das pessoas, mas não por todas; certa-
Angeles, Seattle, Washington e alguns mente não era preciso que todos con-
outros centros passaram a desenvolver cordassem com essas idéias para se en-
programas de pesquisa e ensino para gajarem nas atividades que realizavam.
sociólogos. Assim, em pouco tempo pro- Gostaria agora de introduzir outro
fissionais dessa área começaram a ocu- importante personagem, Robert E. Park,
par o país. Pois bem, o que é que eles que era uma pessoa muito interessante.
faziam e o que caracterizava seu traba- Ele e Thomas foram, sem dúvida, os
lho? membros mais influentes e autorizados
Quanto a isso, eu gostaria de fazer do grupo que organizou as atividades
duas distinções. A primeira é sobre o do Departamento e as manteve de pé.
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dade. Harvey Zorbaugh pesquisou essa fissional de futebol. Era também uma
área. Aliás, não tenho nenhuma dúvida pessoa muito formal, de modo que era
de que um dos resultados de todo esse engraçado vê-lo numa segunda-feira,
movimento é que Chicago passou a ser depois de um domingo de futebol, che-
a cidade mais pesquisada do mundo e gar de terno e gravata, cheio de espa-
provavelmente o será sempre. Por um radrapos por todos os lados, e dar uma
bom tempo, estudar sociologia nos aula formalíssima sobre psicologia so-
Estados Unidos era estudar a cidade de cial. Blumer é um autor de quem é mais
Chicago. C. Wright Mills, por exemplo, correto se dizer que se tratava de um
quando estudante universitário nos teórico. Embora tenha feito umas pou-
anos 30, freqüentou a Universidade do cas pesquisas empíricas – por exemplo,
Texas, em Austin. Sua família era de sobre a influência do cinema nas crian-
uma pequena cidade texana chamada ças e na moda, tendo ido a Paris para
Waco. Ele nunca tinha saído do Texas e estudar a indústria da moda –, jamais
seu biógrafo, Irving Horowitz, procurou escreveu muita coisa sobre isso. Blu-
investigar os cursos que Mills freqüen- mer, que tinha um evidente interesse
tou e os livros que leu para esses cur- em assuntos empíricos, na verdade, só
sos, descobrindo que o conhecimento escreveu sobre temas teóricos. Aliás,
de sociologia de Mills – porque seu pro- ele também esteve no Brasil, se não me
fessor tinha sido aluno de Park – con- engano no final dos anos 30, tendo per-
sistia quase inteiramente em estudos manecido aqui por cerca de um ano.
sobre Chicago. Foi isso que ele estudou Não sei bem o que fez, mas conheço o
e era isso que todo mundo estudava resultado de sua permanência porque
quando cursava sociologia na época. muitas pessoas foram para os Estados
Outra vertente explorada em Chi- Unidos estudar com ele. Seu livro foi
cago foi a de psicologia social. O filóso- publicado postumamente em 1988.
fo George Herbert Mead foi aqui muito Essa geração de cientistas sociais,
influente. Mead era um filósofo, não um que incluía Wirth, Redfield, Blumer
sociólogo, e um de seus interesses era a e outros, incluía igualmente Everett
relação entre a mente, o self e a socie- Hughes, meu professor. Também filho
dade, o que, aliás, é o título de seu livro de um pastor protestante, Hughes cos-
mais conhecido. É preciso alertar a to- tumava dizer que esse fato tinha sido
dos que desejam ler esse livro que ele muito importante em seu desenvolvi-
é praticamente ilegível. Foi todo mon- mento pessoal, pois ser filho de pastor
tado a partir de aulas proferidas por em uma pequena cidade do Centro-
Mead porque seus alunos chegaram à Oeste americano, de certo modo o afas-
conclusão de que ele jamais escreveria tava das outras crianças, principalmen-
o livro. Alguém anotava o que ele dizia te porque seus pais se mudavam muito,
e foi desse modo que o livro foi prepa- já que o pastor cuidava de muitas igre-
rado. Lê-lo é mais ou menos como ler jas. Por se tratar de um homem com
um daqueles livros repletos de anota- convicções mais liberais que a maioria
ções e comentários feitos por outras da população das cidades onde se ins-
pessoas. O aluno mais importante de talava, as pessoas vinham fazer confi-
Mead, que também tinha estudado com dências ao pastor e as crianças ouviam
Park, foi Herbert Blumer, da mesma ge- o que se dizia; daí se davam conta de
ração de Redfield, Wirth e outros. Blu- que nem tudo é como aparece à super-
mer era um homem forte, jogador pro- fície. Hughes foi para a Universidade
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achou conveniente pedir que se apo- sidade, uma vez que o governo pagava
sentasse. Essa história, porém, tem um seus estudos e sua manutenção. Muitas
final feliz, porque Park era muito criati- pessoas de classe baixa, que nunca
vo: inventou um novo tipo de bola de teriam conseguido entrar em uma uni-
golfe que todo mundo adotou, fazendo versidade, ingressaram e concluíram a
com que ele ganhasse muito dinheiro. graduação. Muita gente passou a fre-
Não tenho provas concretas dessa his- qüentar o college ou a graduação na-
tória, mas Everett Hughes a contou pa- quele momento. Quando entrei para o
ra mim com grande convicção, e sem- Departamento de Sociologia, como alu-
pre acreditei nela. Periodicamente, no de graduação, havia muitos estu-
Park aparecia na Universidade de Chi- dantes, uns duzentos alunos. Imaginem
cago; não ia ao campus, mas ficava pe- só, apenas dez professores e duzentos
las redondezas, e as pessoas faziam se- alunos! A conseqüência disso foi muito
minários secretos com ele. Park apo- boa: embora influenciados pelos pro-
sentou-se e se transferiu para a Fisk fessores, acabávamos ensinando uns
University em Nashville, que era uma aos outros. Na minha geração, muita
universidade para negros, tendo aí per- gente se tornou famosa. O mais conhe-
manecido por muitos anos. cido de todos vocês – assim imagino
Como eu dizia, a nova geração de pois isso acontece em muitos outros
alunos de Park constituiu o corpo do- lugares no mundo – é Erving Goffman,
cente do Departamento de Sociologia que veio do Canadá em virtude, indire-
da Universidade de Chicago: Hughes, tamente, dos contatos de Hughes. Ou-
Blumer, Wirth e Redfield, que estava na tro que integrava o corpo docente na
antropologia, além de outros. Depois da época, na antropologia e na sociologia
Segunda Guerra, eles formaram uma ao mesmo tempo, era o antropólogo W.
outra geração. Mas Chicago não era Lloyd Warner, que se formara em antro-
uma instituição totalmente fechada: o pologia em Harvard e realizara uma
Departamento trouxe pessoas de fora, pesquisa etnológica clássica sobre um
entre elas William Ogburn, conhecido grupo de aborígines, os Murngin, que
por seu livro sobre mudança social. deu origem a um importante estudo
Ogburn era um homem muito alto, um sobre parentesco. De volta aos Estados
sulista muito sério, um gentleman. Ti- Unidos, em vez de prosseguir nessa
nha uma fé quase religiosa na ciência e mesma linha de trabalho, Warner dedi-
na ciência quantitativa. Por isso, é sur- cou-se a pesquisar, de uma perspectiva
preendente saber que ele foi o primeiro antropológica, as sociedades modernas.
presidente do Instituto Psicanalítico de Escolheu uma pequena cidade perto de
Chicago. Boston, chamada Newburyport, e, jun-
Falarei agora das minhas impres- to com um grupo grande de alunos,
sões acerca da vida intelectual na Uni- estudou-a durante alguns anos. Na
versidade de Chicago naquele tempo. década de 50, havia um romance muito
Quando cheguei à Universidade, de- popular, de um escritor norte-america-
pois da Segunda Guerra Mundial, o no chamado John Marquand, cujo títu-
lugar tinha mudado muito desde a últi- lo era Point of No Return. Neste roman-
ma geração de estudantes. Um dos as- ce, Marquand, que nasceu em New-
pectos dessa transformação é que após buryport, fala de um antropólogo que
a guerra homens que tinham estado no chegou para estudar a cidade. O antro-
Exército puderam freqüentar a Univer- pólogo é retratado de maneira muito
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crítica porque se, de um lado, Mar- pólogos ingleses, que usavam a metá-
quand parece admirá-lo, por outro, fora da estrutura social de modo exces-
detesta sua visão científica, distancia- sivamente reificado. Penso que para
da, da cidade. O trabalho de Warner nós, ao contrário, uma das idéias mais
resultou em uma obra intitulada Yan- importantes era a de que a organização
kee City, na verdade uma série que social consiste apenas em pessoas que
teve cinco ou seis volumes publicados. fazem as mesmas coisas juntas, de ma-
Outros pesquisadores que trabalhavam neira muito semelhante, durante muito
com Warner realizaram estudos de tempo. Ou seja, para nós a unidade bá-
comunidade em Natchez, no Mississipi, sica de estudo era a interação social,
uma comunidade muito antiga, conser- pessoas que se reúnem para fazer coi-
vadora, reacionária, onde as relações sas em comum – exemplificando com
entre negros e brancos eram as piores um tema antropológico, para constituir
de todo o país. A pesquisa foi publica- uma família, para criar um sistema de
da com o título de Deep South. Outros parentesco. Disso decorre que um sis-
alunos de Warner estudaram a comuni- tema de parentesco é formado pelas
dade negra de Chicago, principalmen- ações de pessoas que fazem as coisas
te St. Clair Drake e Horace Cayton, que que se supõe que parentes devam fa-
escreveram um livro intitulado Black zer, e que, enquanto o fizerem, teremos
Metropolis. A influência desses estudos um sistema de parentesco. Quando não
foi expressiva. o fizerem mais, o sistema de parentes-
Embora muitos de nós, alunos de co se torna outra coisa. Portanto, o que
Hughes, Blumer, Warner, pensássemos nos interessava eram os modos de inte-
que não tínhamos nada a ver com as ração, especialmente as interações re-
pessoas de nossa geração que faziam petitivas das pessoas, modos estes que
sociologia quantitativa em Chicago, permanecem os mesmos dia após dia,
mais tarde, depois que saímos da Uni- semana após semana. Às vezes, esses
versidade, demo-nos conta de que éra- modos de agir se alteram substancial-
mos mais parecidos com eles do que mente, devido a uma revolução ou
com os outros que tinham ido para desastre natural, mas, outras vezes, a
Columbia, Michigan ou Harvard. Achá- mudança se dá muito lentamente, à
vamos que, de alguma maneira, éramos medida que as circunstâncias se modi-
diferentes. Vejamos, então, em poucas ficam.
palavras, o que me parece ser esse nos- Nós éramos muito mais ecléticos em
so modo de pensar. A noção de intera- relação a métodos do que as pessoas
ção simbólica pode dar conta do que que conhecíamos e que estavam em
quero dizer, exceto pelo fato de que a outras instituições. Assim, achávamos
expressão tem muitos significados dife- que era preciso fazer entrevistas, cole-
rentes, uma série de nuanças que po- tar dados estatísticos, ir atrás de dados
dem enganar. Uma das idéias certa- históricos. Não havia nada demais nis-
mente predominantes referia-se à opo- so, tudo isso me parece puro bom sen-
sição a noções como as de organização so, mas muitas pessoas tinham uma
social e estrutura social, muito comuns espécie de apego religioso a métodos
no pensamento dos egressos de Har- de pesquisa. Entendíamos também, de-
vard ou Columbia, entre os alunos de vido à circunstância da maior parte das
Robert Merton, Talcott Parsons, bem pesquisas ter sido realizada em Chica-
como no pensamento de certos antro- go, que era fundamental compreender
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