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ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROBLEMA E DO PROJETO DE

PESQUISA.

Drª Maria Lúcia Melo1


Curso de Pedagogia/UEPA/SOCID
Drª. Denise Simões Rodrigues2
Curso de Mestrado em Educação/UEPA/SOCID

RESUMO

MELO, Maria Lúcia; MIRANDA, Josevett Almeida. Aspectos Metodológicos do Problema e


do Projeto de Pesquisa. Belém /PA: SOCID/CCSE/UEPA, 2014.

Artigo elaborado pelas pesquisadoras do Grupo de Pesquisa “Sociedade, Ciência e Ideologia –


SOCID”, objetivando socializar conhecimentos aos membros associados do referido grupo,
bem como aos alunos-acadêmicos da UEPA e demais interessados no processo de
planejamento do processo de investigação científica. Aborda dois aspectos relevantes do
planejamento de pesquisa, ou seja, o que pesquisar e como pesquisar, referindo-se sobre o
problema de pesquisa e seu plano metodológico. Inicialmente se discute os critérios que
devem ser levados em consideração no processo de problematização do objeto de estudo que
deverá ser investigado. Posteriormente, analisa-se como se deve elaborar o plano
metodológico de pesquisa. Esperamos com este texto aprofundar o debate sobre a importância
do projeto de pesquisa no processo de investigação científica e, ao mesmo tempo socializar
conhecimentos metodológicos na área da pesquisa científica, tendo em vista contribuir no
processo de formação acadêmica dos universitários e dos pesquisadores interessados no
processo de produção do conhecimento científico.

PALAVRAS-CHAVE: Problema de Pesquisa. Plano Metodológico. Pesquisa Científica.

1
Doutora em Gestão Pública do Planejamento da Educação Superior. Professora Adjunta de Sociologia e
Metodologia dos cursos de Pedagogia e Filosofia da Universidade do Estado do Pará. Líder do grupo de pesquisa
Sociedade, Ciência e Ideologia (SOCID) Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Sociedade, Ciência e Ideologia
(SOCID).
2
Doutora em Sociologia. Professora Titular de Sociologia. Professora do Curso de Mestrado em Educação.
Universidade do Estado do Pará (UEPA) Líder do Grupo de Pesquisa Sociedade, Ciência e Ideologia (SOCID)
2

ABSTRACT

MELO, Maria Lúcia; MIRANDA, Josevett Almeida. Aspectos Metodológicos do Problema e


do Projeto de Pesquisa. Belém/PA: SOCID/CCSE/UEPA, 2014.

Scientific paper prepared by the researchers of the Research Group "Society, Science and
Ideology - SOCID", aiming socialize knowledge to members of the group, as well as students,
academics and others interested in UEPA planning process of the research process. Addresses
two important aspects of the research design, ie to search and how to search, thus referring to
the problem of research and its methodological level. Initially we discuss the criteria that
should be taken into account in the questioning of the subject matter that should be
investigated process. Subsequently, we analyze how to develop methodological research plan.
We hope with this text for further discussion on the importance of the research project in the
research process and at the same time socialize methodological knowledge in the area of
scientific research, in order to contribute to the academic training of students and researchers
interested in process process production of scientific knowledge.

KEYWORDS: Research Problem. Methodological plan. Scientific Research.


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ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROBLEMA E DO PROJETO DE


PESQUISA

Maria Lúcia Gomes Figueira de Melo1


Maria Josevett Almeida Miranda2

SUMÁRIO: Introdução. O que Pesquisar? Como pesquisar? Considerações Finais.


Indicações Bibliográficas.

• INTRODUÇÃO:

Este texto analisa os diversos aspectos metodológicos que envolvem a


formulação do problema de pesquisa enquanto objeto de estudo do processo de investigação
científica. Tais aspectos dizem respeito ao plano metodológico de pesquisa que deverá ser
elaborado de um projeto de investigação científica. Neste projeto enquanto um componente
indispensável no processo de planejamento da pesquisa científica dever-se-á responder duas
questões básicas, ou seja, o que pesquisar e como pesquisar.
No primeiro questionamento pretende-se discutir criticamente sobre os
principais critérios que dever-se-a levar em consideração para uma devida delimitação do
problema que se pretende investigar; enquanto no segundo aspecto nos referimos ao plano
metodológico propriamente dito, através do qual se planeja a investigação científica que se
pretende realizar.
Assim, toda e qualquer investigação científica deve sempre partir de uma
escolha criteriosa e fundamentada do objeto de estudo que deverá ser investigado. Depois
deste passo que é de fundamental importância em todo o processo de investigação científica,
dever-se-á elaborar o projeto de pesquisa, que funcionará como instrumento de planejamento
da investigação científica que deveremos executar.
Convém ressaltar que, ainda que a formulação do problema de pesquisa
constitua uma etapa que preceda o próprio planejamento da pesquisa, não é de todo
insuficiente lembrar que a própria formulação do problema de pesquisa já faz parte do próprio

1
Professora Dr. em Gestão Educacional UTAD/PT. Especialista em Metodologia da Pesquisa Científica pelo
IPEA e FGV. Professora de Metodologia da Pesquisa Científica da UEPA.
2
Professora Dr. em Educação. UNESP/Campus Bauru, são Paulo, 2020. Membro-Fundadora do Grupo de
Pesquisa Sociedade, Ciência e Ideologia – SOCID/CCSE/UEPA. Atualmente Professora de Didática e
Orientadora de TCC do Curso de Pedagogia da UEPA.
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processo de planejamento da pesquisa, posto que se tornaria impossível o planejamento


metodológico de uma determinada pesquisa científica sem antes se formular o seu objeto de
investigação.
Deste modo, a formulação do problema é uma fase que não se pode
“saltar”, na medida em que os demais componentes do plano metodológico que deverá ser
elaborado posteriormente estão intrinsecamente interligados ao problema de pesquisa que se
tenciona pesquisar.

I – O QUE PESQUISAR?

No processo de investigação científica, a primeira atitude do pesquisador


é a escolha do problema que deverá ser estudado.
Do ponto de vista da Metodologia Científica só pode ser considerado um
problema de Ciência, quando este pode ser estudado cientificamente, ou seja, quando
envolve variáveis e/ou categorias de análise “observáveis” racionalmente, empiricamente e/ou
demonstráveis logicamente.
Convém ressaltar, que o conceito de variáveis é oriundo da matemática,
portanto sua natureza é quantitativa, razão pela qual é comum classificá-las em Variáveis
Contínuas e Variáveis Discretas. As primeiras possuem valores passíveis de fracionamento,
como por exemplo, peso, estatura, idade etc. Enquanto as segundas se apresentam através de
números inteiros: número de crianças fora da escola; número de professores-mestres de
determinada universidade etc.
Na área das Ciências Sociais, como no caso da Pedagogia e das demais
Ciências da Educação, a maioria das variáveis são de natureza qualitativa porque os seus
valores são expressos pelas qualidades ou atributos dos “sujeitos”. A variável “sexo” por
exemplo, varia em duas categorias: feminino e masculino.
As Variáveis Qualitativas podem ser simples ou complexas. As
primeiras são mais fáceis de mensurar, por meio de percentuais, coeficientes e taxas (ex:
evasão, repetência, reprovação etc). Enquanto as segundas só podem ser mensuráveis a partir
de uma escala de valores onde os atributos são ordenados em graus ou níveis (ex:classe social,
discriminação social, preconceito social e, etc...).
Obviamente que as qualidades: (elevada, média e baixa; superior, média
e inferior; ausência ou existência; alta, relativa e reduzida), atribuídas às variáveis, irão
depender do tipo de escala que o pesquisador está empregando (ordenação, graduação,
distância social, Likert e, etc...).
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As Variáveis Qualitativas Complexas são de grande importância nas


pesquisas sociais porque nos possibilitam fornecer um nível de explicação e compreensão
mais profunda sobre o objeto investigado, na medida em que se propõem a responder os
“comos” e os “porquês” dos fatos, dando-nos condições de conhecer as razões, as
motivações, os sentimentos, as opiniões, as condutas, as preferências, os preconceitos e, as
ideologias subjacentes aos fatos estudados. Neste caso, recomenda-se metodologicamente que
tais variáveis sejam denominadas de categorias de análise.
De todo modo, dependendo dos Métodos de Abordagem e Lógicos que o
pesquisador emprega para orientar o seu projeto de pesquisa, o critério de operacionalização
empírica das variáveis deixa de ser imprescindível, uma vez que no campo das Ciências
Sociais, determinadas abordagens Metodológicas dão prevalência ao nível de compreensão
que as variáveis possibilitam sobre objeto investigado (Fenomenologia, Interacionismo-
Simbólico, Etnometodologia, Materialismo Histórico e, etc...).
De qualquer forma, ainda que a formulação de um problema de
pesquisa, possa se tornar muitas vezes uma tarefa complexa, existe no campo da Metodologia
Científica algumas recomendações que facilitam este primeiro passo do pesquisador. Tais
recomendações metodológicas úteis para a adequada formulação do Problema, são:

1.1 - O PROBLEMA DEVE TER RELEVÂNCIA CIENTÍFICA:

A escolha de determinado problema de pesquisa é condicionado por


inúmeros fatores, que vão desde as exigências institucionais e acadêmicas até as
motivações de ordem social e prática. Todavia, interessa determinar principalmente a sua
relevância científica, ou seja, em que medida o seu estudo pode conduzir a obtenção de
novos conhecimentos. Para tanto, o pesquisador precisará fazer uma pesquisa exploratória,
a fim de verificar o nível de ineditismo e originalidade do problema formulado, para ficar
sabendo se o mesmo já foi ou não, suficientemente estudado em todos os seus aspectos; em
que contexto sócio-histórico e; quais as conclusões inferidas nesses estudos.
Este estudo prévio, de cunho exploratório, serve para que o pesquisador
possa saber se determinado “problema”, merece ser estudado, reestudado e, nesse caso,
revisitado sob novas bases.
Com relação a relevância prática do problema de pesquisa, esta decorre
dos benefícios gerados pelo estudo, ou seja, em que medida os conhecimentos obtidos
possuem uma aplicabilidade, a serviço da humanidade?
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Finalmente sobre esta recomendação, cabe dizer ainda, que quando se


expõe acerca da relevância do problema, deve-se considerá-la também do ponto de vista
social, discorrendo-se sobre suas prováveis conseqüências educacionais, sociológicas e
políticas, ou seja: -Qual a importância do estudo para a educação superior?; -Qual a
relevância para a Sociedade?; -Quem se beneficiará com o conhecimento do
problema?; -Quais as contribuições para a formulação de políticas sociais? e, etc...

1.2- O PROBLEMA DEVE RELACIONAR-SE COM UMA DAS LINHAS OU


EIXOS TEMÁTICOS DE PESQUISA PRIORIZADOS PELA
INSTITUIÇÃO:

Se seu projeto for uma exigência acadêmica decorrente de sua vinculação


a determinado Curso de graduação ou Pós-Graduação, o problema formulado deverá guardar
conexão com uma das linhas de pesquisa priorizadas no Curso.

No caso do Curso de Especialização em “Sociologia e Educação


Ambiental” operacionalizado pelo CCSE/UEPA por exemplo, os problemas de pesquisa
deverão se correlacionar com os seguintes eixos:
a) Sociedade, Educação e Meio Ambiente;
b) Ecologia e Acumulação Capitalista;
c) Ideologia, Cultura e Meio Ambiente;
d) Estado, Sociedade e Direito Ambiental;
e) Trabalho, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
No caso do Curso de Especialização em Docência da Educação Superior,
os principais eixos temáticos de pesquisa, são:
a) Fundamentos Epistemológicos da Docência na Educação Superior;
b) Processos Metodológicos da Docência na Educação Superior;
c) Políticas Públicas de Docência para a Educação Superior;
d) Processo Metodológico da Prática Docente na Educação Superior;
e) A Pesquisa como Processo Científico e Metodológico da Docência na Educação Superior;
f) A Extensão Universitária como Processo Educativo e Metodológico da Docência na
Educação Superior.
No caso do Curso de Mestrado em Educação operacionalizado pelo
CCE/UEPA, a proposta de pesquisa inicial deverá guardar conexão com uma das linhas de
pesquisa deste Curso que são:
a) Formação de Professores;
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b) Saberes e Cultura na Amazônia.

1.3- O PROBLEMA DEVE PERMITIR SUA FOMULAÇÃO ATRAVÉS DE


UMA PERGUNTA:

Quando o pesquisador ao formular o seu “problema” de investigação


tiver condições objetivas de colocá-lo sob a forma de uma questão, certamente que estará
melhor identificando o que efetivamente deseja pesquisar.

Assim por exemplo, quando me proponho a pesquisar “os fundamentos


epistemológicos da Metodologia de Ensino na Educação Superior”. E se esse problema
permite formulá-lo como uma pergunta, ou seja: “Que fundamentos Epistemológicos
orientam a Metodologia de Ensino na Educação Superior?”, podemos ter certeza que estamos
diante de um “problema” de pesquisa mais explícito.

1.4- O PROBLEMA DEVE SER DELIMITADO À UMA DIMENSÃO


POSSÍVEL:

O pesquisador não deverá ter a pretensão de querer estudar em um só


trabalho todos os problemas da humanidade. Portanto, a amplitude do “problema” de
pesquisa formulado, deverá permitir a sua viabilidade operacional dentro do prazo ou não
tão distante do cronograma estabelecido no Projeto.

1.5- O PROBLEMA FORMULADO DEVE TER COERÊNCIA DO PONTO DE


VISTA DA LINGUAGEM CIENTÍFICA:

Os conceitos científicos utilizados na formulação do problema de


pesquisa devem ser explícitos e precisos com relação aos seus significados tomados como
referência no estudo.

Assim por exemplo, se determinado problema envolve os conceitos de


avaliação e conscientização deve-se deixar claro em que acepção e em que perspectiva
teórico-metodológica se está empregando os termos. A precisão e a clareza dos conceitos
utilizados nos possibilitam comunicar aos leitores os paradigmas, a partir dos quais, se
considera uma avaliação conscientizadora. Deve-se pois, evitar ambigüidades conceituais na
formulação do problema de pesquisa e, ao mesmo tempo elaborá-lo em uma linguagem
simples, coerente e impessoal.
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II – COMO PESQUISAR?

Após a formulação do problema, a construção das hipóteses ou


questionamentos básicos e a identificação das variáveis/categorias de análise que devem ser
levantadas, passa-se a elaborar o projeto de pesquisa que apresenta as operações
metodológicas do estudo, ou seja, os meios técnicos da investigação científica.
Assim, dependendo dos objetivos que se pretende atingir na pesquisa,
precisaremos definir os métodos de abordagem, os métodos lógicos, os métodos de
procedimento, os tipos de pesquisa, as técnicas de pesquisa, o pré-teste dos instrumentos de
coleta, o trabalho de campo, o sistema de tratamento dos dados, as formas de análise e
interpretação dos resultados e, os aspectos éticos da pesquisa.
A seguir, dever-se-á escolher o método ou os métodos de abordagem
que deverão compor o referencial teórico, ou seja, o quadro de referência que servirá para
orientar do ponto de vista teórico e metodológico o processo de investigação científica.
Os principais métodos de abordagem ou paradigmas de referência teórico
são o Positivismo, o Funcionalismo, o Materialismo Histórico, o Anarquismo, o
Estruturalismo, a Fenomenologia, o Interacionismo Simbólico, a Etnometodologia, o
Individualismo Metodológico e o Holismo.
A elaboração do referencial teórico da pesquisa deve ser realizada por
meio de uma profunda e minuciosa pesquisa bibliográfica sobre o problema investigado no
discurso científico. Serve para aprofundar o pesquisador acerca do que já foi estudado e
escrito sobre o objeto investigado, fornecendo-lhe o suporte teórico necessário para que não
vá “às cegas” à pesquisa de campo. Além disso, possui o objetivo de servir como “fio” teórico
condutor que orientará o pesquisador em seu processo de análise.
No intuito de enriquecer e aprofundar o referencial teórico do projeto de
pesquisa, é metodologicamente recomendável que se estabeleça um diálogo crítico entre as
várias abordagens que tenham se preocupado com o objeto estudado e, durante este percurso
se demonstrar as fragilidades metodológicas e os vazios conceituais de cada uma delas, de
modo a remeter ao leitor, as razões que lhes ensejaram a optar por determinada linha de
abordagem.
Posteriormente deverão ser definidos os métodos lógicos compatíveis
com o método de abordagem escolhido. Esses métodos possibilitam ao pesquisador a
objetividade do raciocínio lógico necessário ao tratamento do problema investigado.
Fornecem as regras da linguagem lógica, propiciando a ruptura do fato científico com o senso
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comum. A escolha desses métodos assinala ao pesquisador o alcance de sua investigação, as


regras de explicação, os tipos de argumentos e o nível de validade de suas generalizações.
Pode-se dizer que os Métodos Lógicos tem como objetivo fundamental oferecer a via de
raciocínio que o pesquisador deverá utilizar para inferir suas conclusões.
Os Métodos Lógicos são cinco: o Dedutivo, o Indutivo, o Redutivo-
Fenomenológico, o Hipotético-Dedutivo e, o Dialético. Esses métodos não são mutuamente
excludentes, já que se pode utilizar na investigação, raciocínios de mais de um desses
métodos. O importante todavia, é considerar as reais limitações e possibilidades de
aplicabilidade de cada um desses métodos na área de conhecimento do problema que se
pretende investigar.
Dando-se prosseguimento ao delineamento do plano metodológico de
pesquisa, se determina os Métodos de Procedimentos que deverão ser empregados na
investigação. Esses métodos objetivam propiciar ao pesquisador uma análise das dimensões
específicas do problema investigado, de modo a se compreendê-lo nos seus aspectos
privilegiados pelo projeto.
Dentre os principais Métodos de Procedimento, destacam-se entre
outros, os métodos Comparativo, Histórico, e Estatístico, que são gerais a todas as Ciências,
bem como os especiais de cada Ciência, como nos casos dos métodos Monográfico,
Tipológico, Sociológico, Fenomenológico, Psicanalítico, Econométrico, Etnográfico entre
outros, que são específicos das Ciências Sociais. Em se tratando das Ciências Exatas
destacam-se os métodos Analítico, Etnomatemático, Estatístico e, etc. E no caso das Ciências
Naturais têm-se entre outros, os métodos Ecológico, Biológico e Positivo.
De acordo com os objetivos definidos no projeto, determina-se os tipos
de pesquisa que deverão ser realizadas no processo de investigação.
De um modo geral, ao se intercomplementar os níveis teórico e empírico
da pesquisa, costuma-se operacionalizar o primeiro através de uma Pesquisa Bibliográfica
(revisão na literatura teórica para a elaboração do marco referencial teórico), complementada
em seguida, por uma Pesquisa Documental com a finalidade de caracterizar a realidade
social estudada em seus mais diversos âmbitos, podendo ser um país, uma região, um Estado,
um município, uma comunidade, uma universidade, um Curso e, etc...
Com a finalidade de fornecer um nível de concretude e atualidade ao
objeto investigado, realiza-se uma pesquisa de campo, objetivando-se testar as hipóteses
previamente estabelecidas, se a pesquisa for de caráter explicativo-experimental; ou
responder os questionamentos básicos formulados sobre o que se pretende conhecer acerca do
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objeto estudado. Neste segundo tipo, também denominado de pesquisa sem-hipóteses, se


destacam três subtipos de pesquisa:
a) As Pesquisas Exploratórias que tem por finalidade levantar um manancial de
informações acerca de determinado objeto, com vistas a formulação de problemas
mais precisos e hipóteses mais frutíferas para estudos posteriores, ou ainda subsidiar
o pesquisador na elaboração de seu Projeto de Pesquisa;
b) As Pesquisas Descritivas que tem por finalidade descrever as características básicas
e fundamentais do objeto investigado com ênfase nas relações e diferenciações
existentes entre elas;
c) As Pesquisas Crítico-Analíticas, que tem por finalidade investigar criticamente as
relações dialéticas entre o objeto e as condições sócio-históricas dos sujeitos direta
e/ou indiretamente envolvidos com a problemática investigada. São pesquisas
profundas e enriquecedoras porque visam ir além das aparências do objeto, no intuito
de desnudá-lo de seu invólucro ideológico para apreendê-lo a luz de suas múltiplas e
concretas determinações históricas. São pesquisas essencialmente qualitativas e/ou
que dão ênfase a uma análise qualitativa da problemática, por isso trabalham com
categorias de análise e/ou com as contradições sociais que permeiam o objeto
investigado.
Com relação as pesquisas que se propõem a testar hipóteses, estas são
chamadas de Pesquisas Explicativas ou verificativas porque possuem a finalidade de explicar
os fatos estudados, procurando estabelecer as relações causais entre suas variáveis.
No campo das Ciências Naturais as Pesquisas Explicativas também são
chamadas de experimentais, porque fazem largo uso das experiências em laboratório. No
campo das Ciências Sociais, como as variáveis independentes já ocorreram, utiliza-se
hipóteses alternativas para se chegar às causas, via experimentação indireta através do método
de Procedimento Comparado, razão pela qual alguns costumam denominar essas pesquisas de
“Quase-Experimento” ou Pesquisa “Ex-Post-Facto”, face ao pouco controle manipulativo
das variáveis por parte do pesquisador.
Definidos os tipos de Pesquisa, passa-se a formulação das técnicas, que
via de regra, estão já “pré-determinadas”, de acordo com a característica da Pesquisa que será
realizada: se quantitativa, qualitativa, quanti-qualitativa ou quali-quantitativa.
Em Pesquisas Quantitativas se utilizam técnicas delimitadoras de
Amostragem Probabilística (Aleatória, Estratificada, Conglomerados); Técnicas de Coleta
Quantitativa (Questionário, Formulário, Testes e Observação Simples ou Factual); Técnicas
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Sistematizadoras (Escalas Estatísticas, Diferencial Semântico, Tabulação e Representação


Gráfica) e; Técnicas de Análise (Análise Quantitativa de Conteúdo, Análise Estatística e
Testes de Correlação).
Nas Pesquisas Qualitativas, as técnicas delimitadoras de amostragem
são do tipo não-probabilística e/ou por saturação1 (acessibilidade, tipicidade e coticidade).
As técnicas de coleta são entre outras, a observação participante, o diário de itinerância, a
entrevista, a história de vida, o relato de experiência, a visita domiciliar, narrativas orais, o
sociodrama e o psicodrama.
As técnicas sistematizadoras utilizadas em pesquisas qualitativas são as
matrizes analíticas, os cartogramas analíticos e os quadros-sínteses das “falas” dos
pesquisados. E as técnicas de análise são a auto-avaliação, a análise de discurso, avaliação
dialógica, Análise idiográfica, análise nomotética fenomenológica e, avaliação crítica do
material coletado.
Principalmente nas técnicas de coleta mais clássicas, como são os casos
do questionário, entrevista e do formulário, recomenda-se que seja realizado, antes do
trabalho de campo propriamente dito, um pré-teste nesses instrumentos, objetivando
evidenciar possíveis falhas em sua elaboração. O objetivo do pré-teste é aperfeiçoar o
instrumento de coleta no intuito de assegurar sua coerência em relação ao que se pretende
pesquisar, bem como a sua facilidade de entendimento por parte dos pesquisados.
Depois de testado preliminarmente os instrumentos de coleta, se for caso,
então passa-se ao trabalho de campo, o qual deve ser respaldado por seu Protocolo Ético
correspondente.
Nesta etapa da investigação, dever-se-á aplicar as técnicas de pesquisa
previamente elaboradas, junto a uma amostra representativa dos sujeitos da informação, de
acordo com o quadro de controle estabelecido no projeto. É recomendável que antes da
aplicação das técnicas de coleta, se tenha um contato prévio (“Rapport”) com os
pesquisados selecionados, para que nesta ocasião, sejam a eles informados, a importância, os
objetivos da pesquisa e a necessidade de suas informações, solicitando àqueles que se
dispuserem a participar da pesquisa que assinem o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) de acordo com o Protocolo Ético de Pesquisa. Neste momento deve-se
marcar a data, a hora e o local da pesquisa, de acordo com as conveniências dos pesquisados.

1
Consultar Daniel, BERTAUX: A Investigação biográfica e sua Validade Metodológica, suas Potencialidades.
Paris(FRA): CADERNO INTERNACIONAL DE SOCIOLOGIA, 1980.
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Após a coleta dos dados e informações necessárias, procede-se a uma


avaliação sobre o nível de fidedignidade das informações prestadas, atentando-se sobretudo,
às lacunas apresentadas. Se ocorrer muitas imprecisões, falta de clareza e questões sem
respostas, deve-se voltar às fontes para a complementação da pesquisa.
Nesta fase, tanto o diário de campo utilizado nas pesquisas mais
convencionais, como o diário itinerante utilizado nas pesquisas qualitativas de intervenção,
são importantes instrumentos de registro individual ou coletivo sobre as impressões, idéias,
observações, informações complementares, ambiência social, sentimentos, reflexões críticas e
demais anotações relacionadas ao processo de realização da pesquisa.
Concluído o trabalho de campo e suas fases correlatas, passa-se para a
etapa de sistematização e tratamento dos dados.
Nas pesquisas quantitativas, as variáveis simples e quantificáveis são
apuradas e tabuladas estatisticamente para facilitar a sua análise; enquanto as variáveis sociais
complexas são sistematizadas a luz das escalas de atitude e opiniões mais apropriadas para
medir a intensidade desses comportamentos de maneira mais objetiva possível. Para tanto,
temos a escala de ordenação, graduação, de distância, de intervalos e, etc..., através das quais
o pesquisador sistematiza as opiniões apresentadas pelos respondentes para situar o nível de
aceitação, rejeição, favorabilidade, distância social, concordância e integração sobre
determinado assunto ou ambiente.
Nas Pesquisas Qualitativas, o mais simples e prático é sistematizar as
“falas” dos sujeitos da informação em matrizes analíticas ou em quadros-síntese, que
funcionam como verdadeiros “espelhos” da posição dos pesquisados sobre o objeto
investigado. Este processo facilita grandemente o destaque de determinados “trechos” das
entrevistas por exemplo, para elucidar certos pontos obscuros sobre o problema investigado.
Convém ressaltar que, não se deve eliminar as “falas” repetidas
veiculadas entre os diferentes interlocutores entrevistados, porque estes depoimentos
recorrentes, expressam as “idéias-força” dos pesquisados sobre o assunto discutido. As
“falas” registradas devem ser sistematizadas na íntegra, sem a indevida correção na linguagem
culta do pesquisador.
Finalmente, alcança-se a última etapa da pesquisa, ou seja, a fase de
análise e interpretação dos resultados.
Nas pesquisas quantitativas, as técnicas de análise mais comuns são as
análises estatísticas, através das quais se analisa a tipicidade, a variabilidade e a distribuição
dos sujeitos da informação em relação às variáveis do problema investigado. Outra técnica de
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análise também utilizada nessas pesquisas, é a análise quantitativa de conteúdo que objetiva
descrever quantitativamente o conteúdo manifesto nos “discursos” veiculados nos meios de
comunicação de massa por exemplo. Analisa-se a frequência que as palavras aparecem nos
textos, atentando-se para o nível de favorabilidade com que os conteúdos das mensagens são
apresentados.
Os testes de correlação correspondem também a um tipo de análise
estatística, onde se utilizam os testes paramétricos quando se sabe que a distribuição dos
dados apresenta a forma de uma curva normal, tendo em vista o estabelecimento do
coeficiente de correlação. Quando a distribuição dos dados não é do tipo normal se utilizam
os testes de correlação não-paramétricos, objetivando indicar a natureza e o nível de
correlação existente entre duas ou mais variáveis.
Nas Pesquisas Qualitativas, a técnica mais utilizada na análise e
interpretação dos “achados”, é a análise de discurso que visa interpretar a ideologia
subjacente, ou seja, o significado e o sentido, implícitos em um determinado “discurso” ou
texto, contextualizado historicamente.
Esta técnica está portanto, voltada para a interpretação das idéias e, não
do simples sinônimo ou frequência das palavras ao “pé da letra”. O interesse é ressaltar o que
está por trás das palavras, de forma a apreender as atitudes, motivações, valores, interesses e
posições político-ideológicas das notícias veiculadas nos discursos analisados.
Nas pesquisas qualitativas que se orientam pela Fenomenologia por
exemplo, as técnicas de análise mais empregadas são as análises idiográficas que consistem
na busca da razão do comportamento dos sujeitos pesquisados, ou seja, na decisão de ser de
cada sujeito social em sua autodeterminação vivencial. Busca interpretar compreensivamente
a “fala” de cada pesquisado, percebendo a sua experiência como veículo de significações ao
vivenciar o mundo. Ao lado desta técnica a pesquisa fenomenológica faz também largo uso
das análises nomotéticas fenomenológicas, que objetivam apresentar uma leitura global do
significado estruturante do objeto investigado, ou seja, a sua essência, na perspectiva da
maioria dos sujeitos pesquisados.
Portanto, nas análises idiográficas a ênfase é a especificidade, ou seja, o
ineditismo e a originalidade do discurso de cada sujeito da informação; enquanto nas análises
nomotéticas fenomenológicas realiza-se um “salto” epistemológico do particular para o que é
geral nos discursos da maioria dos sujeitos pesquisados, tentando-se apreender a essência do
real.
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Convém ressaltar que, tanto as análises idiográficas como as nomotéticas


fenomenológicas são de cunho exclusivamente qualitativo.

• CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Pelo exposto, pode-se concluir que os aspectos metodológicos de um


trabalho científico, relacionados com o que pesquisar e como pesquisar, envolve um
profundo engajamento do pesquisador, exigindo dele uma associação entre objetividade e
subjetividade, óticas anteriormente consideradas incompatíveis.
Obviamente, que todo pesquisador ao elaborar o seu plano metodológico
de pesquisa, se encontra inserido em um contexto sócio-cultural e histórico que irá determinar
a sua relação com o objeto no processo do conhecimento. Contudo, deverá ser orientado para
distinguir da variedade de procedimentos metodológicos existentes, aqueles que apresentam
maiores possibilidades epistemológicas para compreender e analisar criticamente o problema
investigado. Isto não significa dizer que tais procedimentos escolhidos são neutros e
imparciais. Em Ciência esses procedimentos não existem. Mesmo quando o pesquisador faz
opção pela pesquisa quantitativa, a sua escolha não é isenta, mas sempre determinada por sua
concepção de mundo, de ciência, estágio de maturidade intelectual e formação metodológica
específica. Enfim, por um conjunto de condicionamentos sociais, políticos e ideológicos, que
o leva a adotar determinada estratégia metodológica de pesquisa que lhe parece mais
adequada aos seus propósitos e a sua própria visão de ciência e de mundo.
Como as condições sociais e intelectuais de existência do pesquisador
determinarão sempre o percurso metodológico que ele resolver seguir, se torna portanto
indispensável uma avaliação crítica a respeito do nível de conscientização que detém sobre
os limites da metodologia científica. Não podemos esquecer que os paradigmas teóricos não
constituem verdades irrefutáveis; são aceitos provisoriamente, mas a sua manutenção depende
da conexão que consegue estabelecer com os resultados das novas investigações. Tais
observâncias são válidas, tanto para as pesquisas quantitativistas, como para as de caráter
qualitativo.
Finalmente, resta dizer que a visão quantitativa e qualitativa de pesquisa
se complementam, chegando-se mesmo a afirmar-se, que a rigor não existe pesquisa
quantitativa pura, pois esta exige sempre o emprego prévio da visão qualitativa, através da
escolha do problema a ser estudado, definição dos conceitos básicos, estabelecimento das
categorias centrais, opção pelo referencial teórico, registro das evidências observadas, análise
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dos documentos, sistematização das informações, plano de análise e interpretação dos dados
e, demais procedimentos metodológicos.
Conclui-se que a visão quantitativa de pesquisa se encontra claramente
dependente da visão qualitativa, que tanto a precede quanto a segue. Em uma pesquisa
quantitativa, o pesquisador ao buscar o significado de suas conclusões, penetra sempre no
âmbito do qualitativo. E, isto se torna inevitável se deseja desvendar o que está por traz dos
números, ou seja, se pretende alcançar uma profundidade explicativa mais elevada sobre o
problema investigado.

REFERÊNCIAS

ACKOFF, Russel. Planejamento de pesquisa social. São Paulo(SP): HERDER, 1967.

BERTEAUX, Daniel. A investigação biográfica e sua validade metodológica, suas


potencialidades. PARIS(FRA): CADERNO INTERNACIONAL DE SOCIOLOGIA, 1980.

BOUDON, Raymond. Métodos quantitativos em sociologia. Petrópolis(RJ): VOZES, 1971.

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