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SOciOlogIA

CuLtuRaL

2023
SUMÁRIO

AULA 1 • O surgimento e as primeiras vertentes da Antropologia ��������������������4


EXERCÍCIOS AULA 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

QUESTÕES DE REVISÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

AULA 2 • Antropologia Cultural e os seus principais conceitos ����������������������� 14


EXERCÍCIOS AULA 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

QUESTÕES DE REVISÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
AULA 3 • Patrimônio histórico-cultural material e imaterial ����������������������������� 26
EXERCÍCIOS AULA 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

QUESTÕES DE REVISÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

AULA 4 • A Indústria Cultural e a massificação da cultura ������������������������������� 40


EXERCÍCIOS AULA 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

QUESTÕES DE REVISÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
O surgimento e as primeiras vertentes da Antropo-
logia
AULA 1
OBJETIVOS DA AULA

• Identificar as principais correntes do pensamento antropológico dentro da


teoria social;
• Interpretar a definição universalista da antropologia e o evolucionismo cul-
tural no bojo do neocolonialismo e da construção do pensamento científico
no século XIX;
• Elencar Morgan, Tylor e Frazer como os principais expoentes da corrente
evolucionista;
• Caracterizar a antropologia atual com base no pensamento particularista
de Franz Boas, no pressuposto etnográfico e como crítica ao método com-
parativo e ao determinismo evolucionista;
• Elencar Lévi-Strauss, Malinowski e Geertz como os principais teóricos do
método etnográfico.

VIDEO-AULA
IE
ESCANE
O
O CÓDIG

ANOTAÇÕES

4 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


DÊ UM APELIDO A ESSA AULA

ANOTAÇÕES
REVISÃO

RESUMO

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 5


Resumo | O surgimento e as primeiras vertentes da Antropologia Sociologia
Natan

Evolucionismo Cultural (final do séc. XIX)

Sistematização do conhecimento acumulado sobre os “povos primitivos”. Predomínio do trabalho comparativo


Características
de gabinete. Estudo do exótico financiado pelas elites e Estados como instrumento de dominação.
Unidade psíquica do homem. Evolução das sociedades das mais “primitivas” para as mais “civilizadas” (visão
Temas e Conceitos
etnocêntrica e darwinismo social). Busca das origens. Estudos de parentesco, religião e organização social.
Principais Herbert Spencer (Princípios da Biologia, 1864). Edward Burnett Tylor (A Cultura Primitiva, 1871). Lewis Henry
Representantes Morgan (A Sociedade Antiga, 1877). James Frazer (O Ramo de Ouro, 1890).

Funcionalismo (primeira metade do séc. XX)

Modelo de etnografia clássica. Ênfase no trabalho de campo (observação participante). Sistematização do


Características
conhecimento acumulado sobre como uma sociedade, seus valores e culturas funcionam.

Temas e Conceitos Cultura como totalidade. Interesse pelas instituições e suas funções para a manutenção da totalidade cultural.

Principais Bronislaw Malinowski (Argonautas do Pacífico Ocidental, 1922). Radcliffe Brown (Estrutura e função na
Representantes sociedade primitiva, 1952). Edmund Leach (Sistemas políticos da Alta Birmânia, 1954).

Estruturalismo (segunda metade do séc. XX)

Busca das regras estruturantes das culturas presentes na mente humana. Teoria do parentesco, lógica do mito,
Características
classificação primitiva. Distinção e sobreposição entre Natureza vs. Cultura. Impacto no Brasil através da USP.

Primeiras escolas antropológicas:


evolucionista, funcionalista e estruturalista
Temas e Conceitos Estruturas fundamentais (elementos sociais duradouros e correspondentes), como o incesto.

Principais Claude Lévi-Strauss (As estruturas elementares do parentesco, 1949; Tristes Trópicos, 1955; Pensamento
Representantes Selvagem, 1962; Antropologia estrutural, 1958; O cru e o cozido, 1964; O homem nu, 1971).
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

01 (Fundatec 2022) Sobre “relatividade cultural”, é cultura, por isso são chamadas de ‘cultas’.
incorreto afirmar que: c) Possui significado restrito, pode-se dizer que
apenas os povos ancestrais têm culturas pró-
a) O comportamento deve ser julgado em relação
prias, vistas como complexas.
ao lugar ocupado na estrutura da cultura.
d) Possui significado amplo, que engloba os mo-
b) As atitudes individuais refletem o sistema de
dos comuns e aprendidos da vida, transmitidos
valores específico de uma cultura.
pelos indivíduos e grupos, em sociedade.
c) Os elementos de uma cultura só podem ser jul-
e) Possui significado amplo, que engloba os mo-
gados dentro de seus contextos.
dos comuns e aprendidos da vida, transmitidos
d) As normas éticas derivam de valores culturais
pelos indivíduos e grupos apenas na escola.
mais ou menos universais.
e) Não é possível existir uma única escala de valo- 04 (CESPE-PR 2021) Sabendo que, atualmente,
res aplicada a todas as sociedades. no Brasil, mais de 200 povos indígenas vivem es-
palhados por todo território nacional assinale a
02 (IFSul 2021) Em sua obra, Lévi-Strauss utili-
opção correta, com base na noção antropológica de
za uma metáfora do jogo de cartas para explicitar
cultura.
importantes noções sobre a cultura. Segundo ele:
“O homem é como um jogador que tem nas mãos, a) Embora os povos indígenas no Brasil possuam
ao se instalar à mesa, cartas que ele não inventou, uma ampla diversidade étnica, todos são tecno-
pois o jogo de cartas é um dado da história e da logicamente atrasados.
civilização [...]. Cada repartição das cartas resulta b) Os indígenas que vivem em territórios urbanos
de uma distinção contingente entre os jogadores e e consomem produtos industrializados deixam
se faz a sua revelia. Quando se dão as cartas, cada de ser considerados índios pelo Estado brasi-
sociedade assim como cada jogador, as interpre- leiro.
ta nos termos de diversos sistemas, que podem c) O respeito à diversidade cultural impõe que as
ser comuns ou particulares: regras de um jogo ou políticas para os índios prevejam que eles vivam
regras de uma tática. E sabe-se bem que com as isolados em suas reservas com o menor contato
mesmas cartas, jogadores diferentes farão partidas possível com os não índios.
diferentes, ainda que, limitados pelas regras, não d) Os povos possuem histórias e culturas diversas,
possam fazer qualquer partida com determinadas de modo que a hierarquização de etnias foi et-
cartas” nocêntrica.
(Lévi-Strauss, 1958 apud Cuche, 2012). e) Os índios no Brasil tendem a ser assimilados
Com essa metáfora, Lévi-Strauss, na interpretação pelo avanço da civilização ocidental.
de Cuche, refere-se

a) às noções de hierarquização e aculturação de


uma cultura sobre a outra.
b) à invariabilidade da cultura e ao determinismo
biológico.
c) à elaboração de regras sociais para a convivência
em sociedade.
d) à centralidade de uma cultura dominante em re-
lação a uma série de outras, subjugadas.
e) à relação entre a universalidade da cultura e a
particularidade das culturas.

03 (FAPEC-MS 2021) Assinale a alternativa corre-


ta sobre o conceito de cultura.

a) Possui significado restrito, apenas pessoas que


frequentam o ambiente escolar aprendem e GABARITO
produzem a cultura. 01 - D 03 - D

b) Possui significado amplo, apenas pessoas que 02 - E 04 - D

concluíram o ensino superior são dotadas de

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 7


EXERCÍCIOS AULA 1

01 (UNESP) Cada cultura tem suas virtudes, seus pode compreender ideias e ideologias) em que
vícios, seus conhecimentos, seus modos de vida, nosso próprio grupo é tomado como centro
seus erros, suas ilusões. Na nossa atual era pla- de referência e todos os outros são pensados
netária, o mais importante é cada nação aspirar a e avaliados através de nossos valores, nossos
integrar aquilo que as outras têm de melhor, e a modelos e nossas definições do que é a exis-
buscar a simbiose do melhor de todas as culturas. tência.
A França deve ser considerada em sua história não c) O etnocentrismo é uma visão de mundo (que
somente segundo os ideais de Liberdade-Igualda- pode compreender ideias e ideologias) em que
de-Fraternidade promulgados por sua Revolução, buscamos não julgar e não avaliar as diferenças
mas também segundo o comportamento de uma e sim compreender as especificidades culturais
potência que, como seus vizinhos europeus, prati- de cada grupo ou cultura.
cou durante séculos a escravidão em massa, e em d) O etnocentrismo demonstra a luta de classe nas
sua colonização oprimiu povos e negou suas aspi- sociedades capitalistas a partir da teoria mar-
rações à emancipação. Há uma barbárie europeia xista.
cuja cultura produziu o colonialismo e os totalita- e) O etnocentrismo é uma teoria que explica por
rismos fascistas, nazistas, comunistas. Devemos que não devemos interferir nas outras culturas.
considerar uma cultura não somente segundo seus
nobres ideais, mas também segundo sua maneira 03 (UEM) A Globalização de fins do século XX e de
de camuflar sua barbárie sob esses ideais. início do século XXI anuncia a ideia de um mundo
Edgard Morin. Le Monde, 08.02.2012. Adaptado. sem fronteiras e de cidadania mundial. Tais pers-
No texto citado, o pensador contemporâneo Edgard pectivas remetem à diminuição do racismo, da xe-
Morin desenvolve nofobia e da intolerância religiosa. Todavia, na se-
gunda década do século XXI, é possível notar que
a) reflexões elogiosas acerca das consequências alguns resultados esperados não foram alcançados.
do etnocentrismo ocidental sobre outras cultu- Por exemplo, as fronteiras se mantêm, existindo até
ras. mesmo a proposta de construção de muros entre
b) um ponto de vista idealista sobre a expansão países. Além disso, o racismo, a xenofobia e a in-
dos ideais da Revolução Francesa na história. tolerância religiosa aumentam, sobretudo em áreas
c) argumentos que defendem o isolamento como com a presença de imigrantes e de refugiados de
forma de proteção dos valores culturais. guerra.
d) uma reflexão crítica acerca do contato entre a
cultura ocidental e outras culturas na história. Essas situações podem ser estudadas a partir do
e) uma defesa do caráter absoluto dos valores cul- conceito de etnocentrismo, sobre o qual é incorreto
turais da Revolução Francesa. afirmar que

02 (Unisc) “O grupo do ‘eu’ faz, então, de sua vi- a) faz parte do comportamento etnocêntrico a
são a única possível, ou mais discretamente se for compreensão de que a cultura a que a pessoa
o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O pertence é superior às demais.
grupo do ‘outro’ fica, nessa lógica, como sendo en- b) xenofobia é a aversão e a intolerância a pessoas
graçado, absurdo, anormal ou inteligível”. estrangeiras ou consideradas estrangeiras.
ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. 1. ed. São Paulo: Brasilien- c) a perseguição e os ataques a imigrantes, por
se, 1984, p. 9.
serem imigrantes, são ações desvinculadas da
A citação explicita o fenômeno social denominado visão de mundo etnocêntrica.
etnocentrismo. Assinale entre as alternativas abai- d) no relativismo cultural pode ser interpretado
xo aquela que explica o conceito. como uma crítica ao etnocentrismo. Ele sus-
tenta que cada cultura tem o seu valor e a sua
a) O etnocentrismo demonstra como convivemos legitimidade.
em harmonia com grupos e indivíduos que per- e) É uma visão etnocêntrica achar que os aspectos
tencem a uma cultura diversa ou são reconheci- de uma determinada cultura são inferiores.
dos como “diferentes” por não seguirem os pa-
drões de comportamento socialmente aceitos 04 (Enem Libras) Na segunda metade do século
na sociedade em que vivemos. XIX, a capoeira era uma marca da tradição rebelde
b) O etnocentrismo é uma visão de mundo (que da população trabalhadora urbana na maior cidade

8 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


EXERCÍCIOS AULA 1

do Império do Brasil, que reunia escravos e livres, tecnologias da informação e da comunicação,


brasileiros e imigrantes, jovens e adultos, negros os estudos antropológicos demonstram que a
e brancos. O que mais os unia era pertencer aos diversidade cultural tende a desaparecer no fu-
porões da sociedade, e na última escala do piso so- turo, dando lugar a uma cultura única.
cial estavam os escravos africanos. d) Uma das marcas atuais dos estudos antropoló-
SOARES, C. E. L. Capoeira mata um. In: FIGUEIREDO, L. História do Brasil para
ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. gicos sobre a cultura brasileira é a constatação
de que o país superou o racismo e consolidou
De acordo com o texto, um fator que contribuiu para a uma sociedade fundada na convivência cultural
construção da tradição mencionada foi a pacífica e colaborativa entre grupos brancos,
negros e indígenas.
a) elitização de ritos católicos.
e) Ao estudar os processos históricos de trocas e
b) desorganização da vida rural.
de diálogos entre os diferentes grupos cultu-
c) redução da desigualdade racial.
rais, uma das contribuições da antropologia diz
d) mercantilização da cultura popular.
respeito ao reconhecimento da inexistência de
e) diversificação dos grupos participantes.
diversas e desiguais formas de viver e perceber
05 (Enem) Muitos países se caracterizam por terem o mundo.
populações multiétnicas. Com frequência, evoluí-
07 (UPE) [...] Como para mim é mais difícil vestir a
ram desse modo ao longo de séculos. Outras socie-
pele de uma mulher negra, porque por ser branca
dades se tornaram multiétnicas mais rapidamente,
eu tenho menos elementos que me permitem al-
como resultado de políticas incentivando a migra-
cançá-la, eu preciso fazer mais esforço. Não porque
ção, ou por conta de legados coloniais e imperiais.
GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Penso, 2012 (adaptado) sou bacana, mas por imperativo ético. E a melhor
forma que conheço para alcançar um outro, espe-
Do ponto de vista do funcionamento das democra- cialmente quando por qualquer circunstância este
cias contemporâneas, o modelo de sociedade des- outro é diferente de mim, é escutando-o. Assim,
crito demanda, simultaneamente, quando ouvi que não deveria usar turbante, entre
outros símbolos culturais das mulheres negras, fui
a) defesa do patriotismo e rejeição ao hibridismo. escutá-las. Acho que isso é algo que precisamos
b) universalização de direitos e respeito à diversi- resgatar com urgência. Não responder a uma inter-
dade. dição com uma exclamação: “Sim, eu posso!”. Mas
c) segregação do território e estímulo ao autogo- com uma interrogação: “Por que eu não deveria?”.
verno. As respostas categóricas, assim como as certezas,
d) políticas de compensação e homogeneização nos mantêm no mesmo lugar. As perguntas nos le-
do idioma. vam mais longe porque nos levam ao outro. [...]
e) padronização da cultura e repressão aos parti- BRUM, Eliane. De uma branca para outra. El País. 20 de fevereiro de 2017.
Adaptado. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/20/opi-
cularismos. nion/1487597060_574691.html

Assinale a alternativa que apresenta o conceito so-


06 (UEM) Considerando os estudos antropológicos ciológico que melhor representa o desejo de com-
modernos sobre o tema da cultura, assinale o que preensão do outro apresentado pela autora:
for correto.
a) Etnocentrismo.
a) Uma das atitudes que orientam o pensamento b) Antropocentrismo.
antropológico em relação ao entendimento das c) Relativismo Cultural.
diferentes manifestações humanas existentes d) Fato Social.
no mundo é a necessidade de se avaliar cada e) Relativismo Físico.
expressão cultural a partir dos seus próprios
termos ou pontos de vista. 08 (Unioeste) Para a antropóloga Ruth Benedict, “a
b) O etnocentrismo representa a principal contri- cultura é como uma lente através da qual o homem
buição da antropologia moderna para o estudo vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam
da cultura, uma vez que possibilita a criação de lentes diversas e, portanto, têm visões desencon-
critérios justos e imparciais de classificação e de tradas das coisas.”
hierarquização dos grupos humanos. BENEDICT, Ruth. O crisântemo e a espada. São Paulo: Perspectiva, 1972.

c) Com o advento da globalização e das modernas Portanto, é CORRETO afirmar.

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 9


EXERCÍCIOS AULA 1

a) A cultura nos ensina a perceber as ‘coisas’ e e) O conceito de cultura forjado nas pesquisas
classificá-las, mas não serve para orientar a antropológicas simplificou a compreensão dos
nossa conduta cotidiana. processos simbólicos, incidindo na unificação
b) Um índio Guarani vê a floresta com olhos di- cultural observada no mundo contemporâneo.
ferentes das pessoas não-guaranis; seu olhar
percebe significados em cada árvore (alimento, 10 (IFPA 2022) De fato, a história não está ligada
morada dos Deuses). Uma pessoa não Guarani ao homem nem a nenhum objeto particular. Ela
olha para a floresta e pode ver uma oportunida- consiste, inteiramente, em seu método, cuja expe-
de de negócio. riência prova que ela é indispensável para inventa-
c) Um índio Guarani, que vive em sua aldeia, e uma riar a integralidade dos elementos de uma estrutura
pessoa não índia, que vive na cidade, possuem qualquer, humana ou não humana. Portanto, longe
valores idênticos. de a busca da inteligibilidade levar à história como
d) Em todas as culturas, mulheres e homens têm seu ponto de chegada, é a história que serve de
os mesmos direitos, os mesmos papéis sociais. ponto de partida para toda busca da inteligibilida-
Exemplo: povo Palestino e povo Americano. de. Tal como se diz de algumas carreiras, a história
e) A cultura não tem o poder de influenciar em leva a tudo mas com a condição de sair dela.
(Adaptado de: Claude Lévi-Strauss, O Pensamento Selvagem. Campinas: Papirus,
nossas decisões. 1989, pp. 290-291)

Sobre Claude Lévi-Strauss e sua Antropologia Es-


09 (FCC – SEDUC ES 2022) A noção de cultura,
trutural, é correto afirmar:
compreendida em seu sentido vasto, que remete
aos modos de vida e de pensamento, é hoje bastan- a) o autor defendia a necessidade de estudar cada
te aceita, apesar da existência de certas ambigui- cultura em sua singularidade histórica, consi-
dades. Esta aceitação nem sempre existiu. Desde derando ao mesmo tempo que as culturas se
seu aparecimento no século XVIII, a ideia moderna transformam por meio do contato interétnico,
de cultura suscitou constantemente debates acirra- por meio do fenômeno da difusão cultural.
dos. Qualquer que seja o sentido preciso que possa b) o autor compreendia a cultura como um con-
ter sido dado à palavra – e não faltaram definições junto de interpretações, devendo a Antropolo-
de cultura – sempre subsistiram desacordos sobre gia consistir em uma interpretação de segundo
sua aplicação a esta ou àquela realidade. O uso da grau, isto é, uma interpretação de interpreta-
noção de cultura leva diretamente à ordem simbó- ções.
lica, ao que se refere ao sentido, isto é, ao ponto c) as mais variadas culturas, não obstante sua
sobre o qual é mais difícil de entrar em acordo. diversidade, compartilham de determinadas
(Adaptado de: CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru:
EDUSC, 1999, p. 11-12) estruturas universais, próprias ao pensamento
humano de maneira geral.
A moderna noção de cultura à qual se refere o excerto
acima é: d) seu objeto são as funções exercidas pelos cos-
tumes e crenças em cada organismo social, o
a) A noção de cultura revelou-se o instrumento qual poderia ser estudado de maneira seme-
adequado para pôr fim às explicações naturali- lhante à de um organismo físico.
zantes dos comportamentos humanos. e) o autor realizava comparações entre as diferen-
b) A novidade dessa noção foi perceber que a tes culturas, em busca do fundamento do qual
transmissão da cultura está sujeita à heredita- todas elas derivam, cada qual delas ocupando
riedade biológica, ou seja, há uma relação de- posições distintas na mesma progressão evo-
terminante entre processos biológicos e pro- lutiva.
cessos simbólicos.
c) A identidade cultural de cada povo passou a ser
compreendida em si mesma, isto é, indepen-
dentemente das relações mantidas com outros
povos.
GABARITO AULA 1
d) O surgimento do conceito científico de cultura
01 - D 05 - B 09 - A
implicou a passagem de uma definição descri- 02 - B 06 - A 10 - C
tiva a uma definição normativa da cultura hu- 03 - C 07 - C

mana. 04 - E 08 - B

10 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


REVISÃO MODULAR

01 (UPE 2014) Percebem-se, na fala de Susanita, aspectos preconceituosos em relação às classes sociais
menos favorecidas.

Que conceito sociológico é contrário às ideias contidas na figura?

a) Etnocentrismo
b) Relativismo cultural
c) Acomodação
d) Competição
e) Antropofagia

02 (Unicentro 2010) A respeito do conceito de et- volta de 1914, em vários centros” 


nocentrismo, assinale a alternativa incorreta. (LÉVI-STRAUSS, C. Tristes Trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.
144).

a) O etnocentrismo foi um dos responsáveis pela


A partir dos significados da cultura segundo a an-
geração de intolerância e preconceito cultural,
tropologia, da história dos conflitos entre popula-
religioso, étnico e político, assumindo diferentes
ções indígenas e outros grupos humanos e do texto
expressões no decorrer da história.
de Lévi- Strauss, é incorreto afirmar que 
b) O etnocentrismo se manifesta no mundo glo-
balizado, na ideia de que a cultura ocidental é a) a diferencial técnico-bélico dos índios Jê frente
superior à de outros povos. a outros grupos humanos foi o principal fator
c) O etnocentrismo aceita e respeita a diversidade que contribuiu para o seu desaparecimento. 
humana, cultural e ideológica. b) a perseguição feroz a grupos étnicos distintos
d) O etnocentrismo se caracteriza pela noção de do grupo socialmente dominante pode levar à
superioridade e inferioridade entre o “eu” e o invisibilidade social dos grupos perseguidos. 
“outro”. c) a perseguição e o massacre dos índios Jê no Sul
e) O etnocentrismo acentua a ideia de que haja, do Brasil foram fortemente motivados por pon-
culturalmente, indivíduos ou grupos sociais su- tos de vista etnocêntricos, interesses de Estado
periores e inferiores. e ação de grupos sociais diversos. 
d) já não existiam grupos indígenas no Sul do Bra-
03 (UEM 2014)  “[...] protegidos por sua retirada sil no início do século XX. 
para regiões de difícil acesso, os Jê do Sul do Bra- e) o etnocentrismo, o preconceito, os interesses
sil sobreviveram por alguns séculos aos Tupi, logo econômicos e as relações de poder influencia-
liquidados pelos colonizadores. Nas florestas dos ram a maioria dos estados modernos no des-
estados meridionais, Paraná e Santa Catarina, pe- respeito aos direitos e às culturas das popula-
quenos bandos selvagens mantiveram-se até o sé- ções nativas que habitam seus territórios. 
culo XX; talvez ainda subsistissem alguns em 1935,
tão ferozmente perseguidos nos últimos cem anos
que se mantinham invisíveis; porém, a maioria fora
aldeada e assentada pelo governo brasileiro, por

12 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


REVISÃO MODULAR

04 (Unicentro 2018) Considere as afirmativas abai-


xo sobre a noção de cultura.
I. A inevitabilidade do choque cultural é um fato,
pois as culturas naturalmente possuem bases e
estruturas diferentes, dando significação à vida
de formas distintas. Prova disso estaria no papel
social assumido pelas mulheres, que certamente
não possuem os mesmos direitos enquanto pes-
soa humana em sociedades ocidentais e orien-
tais.
II. Tomar conhecimento do outro sem aceitar sua ló-
gica de pensamento e de seus hábitos acaba por
gerar uma visão etnocêntrica e preconceituosa, o
que pode até mesmo se desdobrar em conflitos
diretos. O etnocentrismo está, certamente, entre
as principais causas da intolerância internacional
e da xenofobia (preconceito contra estrangeiros
ou pessoas oriundas de outras origens).
III. Se a cultura no que tange aos valores e visões
de mundo é fundamental para nossa constitui-
ção enquanto indivíduos (servindo-nos como
parâmetro para nosso comportamento moral,
por exemplo), limitar-se a ela, desconhecendo
ou depreciando as demais culturas de povos ou
grupos dos quais não fazemos parte, pode nos
levar a uma visão estreita das dimensões da vida
humana.
Está correto o contido em:

a) I apenas
b) II apenas
c) III apenas
d) I e III apenas
e) I, II e III

GABARITO REVISÃO
01 - B 03 - D
02 - C 04 - C

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 13


Antropologia Cultural e os seus principais conceitos

AULA 2 OBJETIVOS DA AULA

• Compreender os diferentes aspectos da cultura na realidade social, auxiliando


no desenvolvimento de uma consciência ético-crítica e de respeito da diver-
sidade humana;
• Conceituar etnocentrismo, como uma das correntes de pensamento respon-
sáveis pelo aumento de intolerância e preconceito (racial, cultural, religioso)
com a idealização de bárbaros/selvagens;
• Compreender os conceitos de raça, racismo, etnia e etnicidade e suas inter-
relações;
• Ponderar sobre os significados e as implicações de um relativismo cultural;
• Conceituar identidade e alteridade, a partir do convívio com a diferença e da
construção do eu.

VIDEO-AULA
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ESCANE
O
O CÓDIG

ANOTAÇÕES

14 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


DÊ UM APELIDO A ESSA AULA

ANOTAÇÕES
REVISÃO

RESUMO

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 15


Resumo | Antropologia Cultural e os seus principais conceitos Sociologia
Natan

Esse conjunto tende a seguir certos padrões dentro A identidade cultural é um conjunto de elementos que
de sociedades, o que cria elementos identitários de fazem com que um povo / eu se reconheça enquanto
pertencimento para as cultura: língua, religião, agrupamento cultural que se distingue dos outros. Alteridade (ou outridade)é uma concepção
culinária, valores, entre outros. que parte do pressuposto básico de que todo
ser humano interage e interdepende de
outros indivíduos. Dessa forma, eu apenas
existo a partir do outro, da visão do outro
e isso colabora para o entendimento e
O padrão cultural é importante Antropologia assimilação dos mesmos conceitos no eu.
porque, por meio da padronização, é
possível notar identidades culturais.
Um padrão cultural não pode ser
confundido com um estereótipo.
Uma identidade Cultural nunca é monolítica,
pois está sujeita a um processo contínuo e
perpétuo de interação e mudança, o que
significa que a identidade de um sujeito está
Franz Boas foi o principal responsável pelo sempre passível de mudança.
surgimento da corrente que ficou conhecida
como culturalismo ou antropologia cultural.

Os valores e as normas sociais variam entre


povos e culturas, não devendo ser
Boas criticou as concepções evolucionistas e etnocêntricas, afirmando que existiam hierarquizados a partir de juízos de valor.
diferentes desenvolvimentos históricos, que resultam de diferentes fenômenos culturais.
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

01 (IFPA 2022) Sobre o conceito antropológico de ideias, a “teia de significados”, amarradas cole-
cultura, é correto afirmar que: tivamente.
d) O conceito de “cultura” é circular e redundante,
a) A cultura, em sua dimensão simbólica, não se
ou seja, principalmente com a globalização, a
limita a uma série de expectativas e comporta-
heterogeneidade cultural deu lugar à homoge-
mentos, mas a um sistema que está presente na
neidade total.
cabeça de todas as pessoas e que organiza as
e) O conceito de cultura é uma manifestação tipi-
suas experiências sociais.
camente moderna das sociedades complexas,
b) O relativismo cultural representa uma revolução
sendo de muito difícil aplicação para explicar a
política de combate ao preconceito e à discrimi-
realidades dos grupos tradicionais.
nação, uma vez que busca entender os signifi-
cados culturais do outro sob o ponto de vista do 03 (IBFC 2021) O conceito de cultura está entre
observador. as noções mais usadas em sociologia. Quando os
c) A cultura é uma lente que filtra o que vemos, sociólogos se referem à cultura, estão preocupa-
percebemos e sentimos o mundo, por isso é im- dos com aqueles aspectos da sociedade humana
portante que participemos ativamente da nossa que são antes aprendidos do que herdados. Esses
cultura para, assim, ter elementos para julgar as elementos culturais são compartilhados por mem-
demais culturas. bros da sociedade e tornam possível a cooperação
d) Todas as culturas, sejam elas primitivas sejam e a comunicação. Formam contexto comum em que
avançadas, são regidas por padrões culturais, os indivíduos numa sociedade vivem as suas vidas.
sendo que cabe ao pesquisador posicioná-las Considerando a relevância desse tema para os es-
em sistema de classificação cultural, nos dias tudos socioantropológicos, numere a Coluna II de
de hoje. acordo com a Coluna I, fazendo a relação entre elas:
e) O conceito de cultura consiste em uma ferra-
menta teórica de entendimento da diversidade COLUNA I
humana e de compreensão da naturalização
1. Diversidade Cultural
das diferenças sociais.
2. Etnocentrismo
02 (IFPR 2022) “Nos dizeres de Clifford Geertz, 3. Relativismo Cultural
em seu icônico livro ‘A interpretação das culturas’, 4. Identidade
‘nem sempre os antropólogos têm plena consciên-
cia desse fato: que, embora a cultura exista no pos- COLUNA II
to comercial, no forte da colina ou no pastoreio de
( ) É um conceito multifacetado que se relaciona
carneiros, a antropologia existe no livro, no artigo,
ao conjunto de compreensões que as pessoas
na conferência, na exposição do museu ou, como
mantêm sobre quem elas são e sobre o que é
ocorre hoje, nos filmes’. Convencer-se disso é com-
significativo para elas. Essas compreensões são
preender ‘não apenas outros povos: a antropologia
formadas em relação a certos atributos que têm
pode ser treinada no exame da cultura da qual ela
prioridade sobre outras fontes de significado.
própria é parte — e o é de maneira crescente’.”
( ) Prática de julgar outras culturas comparando-
(A interpretação das Culturas. Disponível em: monoskop.org.)
-as com a nossa, pois uma vez que as culturas
Clifford Geertz destaca-se na análise simbólica do variam tanto, não é surpreendente que pessoas
fato antropológico. É correto afirmar que para ele: vindas de uma cultura achem difícil simpatizar
com as ideias ou os comportamentos de pessoas
a) A antropologia apresenta todos os aparatos ne-
de culturas diferentes.
cessários para expor a dimensão completa da
( ) As culturas podem ser excessivamente difíceis
condição humana na ciência, na tecnologia e na
de se compreender de fora, motivo pelo qual de-
inovação.
ve-se ter a compreensão de que não podemos
b) As sociedades desenvolveram mecanismos tão
entender as práticas e as crenças separadamen-
diferenciados e específicos de vida, que uma
te das culturas mais abrangentes de que fazem
análise antropológica só existe dissociada da
parte. Uma cultura tem que ser estudada em ter-
realidade.
mos de seus próprios significados e valores.
c) A análise cultural é intrinsecamente incomple-
( ) Práticas e comportamentos humanos diferen-
ta e se fundamenta no compartilhamento das

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 17


QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

tes e aceitáveis variam amplamente de cultura


para cultura e, com frequência contrastam drasti-
camente com que pessoas de outras sociedades
consideram ‘normal’. Diversos traços de com-
portamento são aspectos de amplas diferenças
culturais que distinguem umas sociedades das
outras.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência
correta de cima para baixo.

a) 4, 2, 3, 1
b) 1, 3, 4, 2
c) 3, 4, 2, 1
d) 1, 2, 4, 3
e) 2, 4, 3, 1

04 (IFPR 2022) Uma menina indiana de 9 anos


casou-se com um cachorro numa cerimônia acom-
panhada por mais de cem convidados numa vila no
Estado de Bengala Ocidental (leste da Índia), a 60
km de Calcutá, como parte de um ritual destinado a
evitar maus agouros.

(Indiana de 9 anos se casa com cão. Folha de S. Paulo, 20 jun, 2022, p. A-10.)

A partir do legado teórico e metodológico da antro-


pologia cultural, tal prática deverá ser analisada a
partir da perspectiva do(a):

a) Evolucionismo.
b) Etnocentrismo.
c) Diversidade cultural.
d) Relativismo cultural.
e) Socialização radical.

GABARITO
1-A 3-A
2-C 4-D

18 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


EXERCÍCIOS AULA 2

01 (Enem Digital) 03 (Enem)


A carroça sem cavalo
Conta-se que, em noites frias de inverno, descia um
forte nevoeiro trazido pelo mar e, nessa noite, ou-
viam-se muitos barulhos estranhos. Os moradores
da cidade de São Francisco, que é a cidade mais
antiga de Santa Catarina, eram acordados de ma-
drugada com um barulho perturbador. Ao abrirem a
janela de casa, os moradores assustavam-se com a
cena: viam uma carroça andando sem cavalo e sem
ninguém puxando... Andava sozinha! Na carroça,
havia objetos barulhentos, como panelas, bules, in-
clusive alguns objetos amarrados do lado de fora da
carroça. O medo dominou a pequena cidade. Con-
ta-se ainda que um carroceiro foi morto a coices
pelo seu cavalo, por maltratar o animal. Nas noites
de manifestação da assombração, a carroça saía de
um nevoeiro, assustava a população e, depois de
um tempo, voltava a desaparecer no nevoeiro.
Disponível em: www.gazetaonline.com.br. Acesso em: 12 dez. 2017 (adaptado).

Considerando-se que os diversos gêneros que cir-


culam na sociedade cumprem uma função social
específica, esse texto tem por função:

a) abordar histórias reais.


b) informar acontecimentos.
c) questionar crenças populares.
d) narrar histórias do imaginário social.
e) situar fatos de interesse da sociedade.
A fotografia, datada de 1860, é um indício da cultu-
02 (Enem) O processamento da mandioca era uma
ra escravista no Brasil, ao expressar a:
atividade já realizada pelos nativos que viviam no
Brasil antes da chegada de portugueses e africa- a) ambiguidade do trabalho doméstico exercido
nos. Entretanto, ao longo do processo de coloniza- pela ama de leite, desenvolvendo uma relação
ção portuguesa, a produção da farinha foi aperfei- de proximidade e subordinação em relação aos
çoada e ampliada, tornando-se lugar-comum em senhores.
todo o território da colônia portuguesa na América. b) integração dos escravos aos valores das clas-
Com a consolidação do comércio atlântico em suas ses médias, cultivando a família como pilar da
diferentes conexões, a farinha atravessou os mares sociedade imperial.
e chegou aos mercados africanos. c) melhoria das condições de vida dos escravos
BEZERRA, N. R. Escravidão, farinha e tráfico atlântico: um novo olhar sobre as observada pela roupa luxuosa, associando o
relações entre o Rio de Janeiro e Benguela (1790-1830). Disponível em: www.bn.br.
Acesso em: 20 ago. 2014 (adaptado). trabalho doméstico a privilégios para os cativos.
Considerando a formação do espaço atlântico, esse d) esfera da vida privada, centralizando a figura
produto exemplifica historicamente a: feminina para afirmar o trabalho da mulher na
educação letrada dos infantes.
a) difusão de hábitos alimentares. e) distinção étnica entre senhores e escravos, de-
b) disseminação de rituais festivos. marcando a convivência entre estratos sociais
c) ampliação dos saberes autóctones. como meio para superar a mestiçagem.
d) apropriação de costumes guerreiros.
e) diversificação de oferendas religiosas.

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL  19


EXERCÍCIOS AULA 2

04 (Enem) base em gêneros e ritmos identificados com a po-


Texto I pulação negra das Américas.
Documentos do século XVI algumas vezes se refe- ABREU, M. O legado das canções escravas nos Estados Unidos e no Brasil: diálogos
musicais no pós-abolição. Revista Brasileira de História, n. 69, jan.-jun. 2015.
rem aos habitantes indígenas como “os brasis”, ou
“gente brasília” e, ocasionalmente no século XVII, o A absorção de elementos da vivência escrava pela
termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas as refe- nascente indústria do lazer, como demonstrada no
rências ao status econômico e jurídico desses eram texto, caracteriza-se como:
muito mais populares. Assim, os termos “negro da
a) ação afirmativa.
terra” e “índios” eram utilizados com mais frequên-
b) missão civilizatória.
cia do que qualquer outro.
c) desobediência civil.
SCHWARTZ, S. B. Gente da terra braziliense da nação. Pensando o Brasil: a constru-
ção de um povo. In: MOTA, C. G. (Org.). Viagem Incompleta: a experiência brasileira d) apropriação cultural.
(1500-2000). São Paulo: Senac, 2000 (adaptado).
e) comportamento xenofóbico.
Texto II
Índio é um conceito construído no processo de 06 (Enem) Um dos resquícios franceses na dança
conquista da América pelos europeus. Desinteres- são os comandos proferidos pelo marcador da qua-
sados pela diversidade cultural, imbuídos de forte drilha. Seu papel é anunciar os próximos passos
preconceito para com o outro, o indivíduo de outras da coreografia. O abrasileiramento de termos fran-
culturas, espanhóis, portugueses, franceses e an- ceses deu origem, por exemplo, ao sarué (soirée –
glo-saxões terminaram por denominar da mesma reunião social noturna, ordem para todos se junta-
forma povos tão díspares quanto os tupinambás e rem no centro do salão), anarriê (en arrière – para
os astecas. trás) e anavã (en avant – para frente).
Disponível em: www.ebc.com.br. Acesso em: 06 jul. 2015.
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto,
2005.
A característica apresentada dessa manifestação
Ao comparar os textos, as formas de designação popular resulta do seguinte processo socio-histó-
dos grupos nativos pelos europeus, durante o pe- rico:
ríodo analisado, são reveladoras da:
a) massificação da arte erudita.
a) concepção idealizada do território, entendido b) rejeição de hábitos elitistas.
como geograficamente indiferenciado. c) laicização dos rituais religiosos.
b) percepção corrente de uma ancestralidade co- d) restauração dos costumes antigos.
mum às populações ameríndias. e) apropriação de práticas estrangeiras.
c) compreensão etnocêntrica acerca das popula-
ções dos territórios conquistados. 07 (UEM) A identidade e a diferença se traduzem
d) transposição direta das categorias originadas em declarações sobre quem pertence e sobre quem
no imaginário medieval. não pertence, sobre quem está incluído e quem está
e) visão utópica configurada a partir de fantasias excluído. “Afirmar a identidade significa demarcar
de riqueza. fronteiras, significa fazer distinções entre o que fica
dentro e o que fica fora. A identidade está sempre
05 (Enem PPL) As canções dos escravos torna- ligada a uma forte separação entre ‘nós’ e ‘eles’.
ram-se espetáculos em eventos sociais e religio- Essa demarcação de fronteiras, essa separação e
sos organizados pelos senhores e chegaram a ser distinção, supõem e, ao mesmo tempo, afirmam e
cantadas e representadas, ao longo do século XIX, reafirmam relações de poder.”
de forma estereotipada e depreciativa, pelos black- SILVA, T. “A produção social da identidade e da diferença”. In: SILVA, T. (org.) Identi-
faces dos Estados Unidos e Cuba, e pelos teatros dade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 82.

de revista do Brasil. As canções escravas, sob a Considerando o trecho citado e os estudos socioló-
forma de cakewalks ou lundus, despontavam fre- gicos sobre cultura, assinale o que for correto.
quentemente no promissor mercado de partituras
I. Dividir o mundo entre “nós” e “eles”, “iguais” e
musicais, nos salões, nos teatros e até mesmo na
“diferentes”, “incluídos” e “excluídos” etc., signifi-
nascente indústria fonográfica – mas não necessa-
ca classificar culturalmente as relações sociais a
riamente seus protagonistas negros. O mundo do
partir de sistemas de significação.
entretenimento e dos empresários musicais atlân-
II. A identidade é um fenômeno individual e autô-
ticos produziu atraentes diversões dançantes com
nomo no mundo moderno, pois as instituições

20 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


EXERCÍCIOS AULA 2

sociais, ao longo do século XX, deixaram de exer- pessoas em 17 países, entre eles o Brasil. Em cada
cer qualquer pressão sobre as pessoas. um deles, as pessoas falaram que tipo de comida
III. Assim como a nacionalidade, a etnia e a classe preferem. A pesquisa aponta que, além de serem
social, as identidades de gênero também são populares em países europeus, as massas em ge-
determinadas naturalmente no nascimento dos ral também são muito procuradas em países como
indivíduos, sendo impossível modificá-las. Filipinas, Guatemala e África do Sul, de cultura tão
IV. Eleger arbitrariamente uma identidade como o díspares. Depois das massas, a maioria dos ouvi-
parâmetro para se avaliarem outras identidades dos colocou carne como a sua segunda maior pre-
significa hierarquizar as diferenças culturais, ge- ferência. A seguir vem arroz, pizza, frango, peixes e
rando desigualdades sociais. frutos do mar, vegetais, pratos chineses em geral,
V. A afirmação da identidade ou da diferença tra- pratos italianos e pratos mexicanos.
duz declarações sobre quem pertence e sobre
(G1, Mundo, 16/06/2011, Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noti-
quem não pertence a determinado grupo, sobre cia/2011/06/massas- sao-o-prato-favorito-do-mundo-segundo-pesquisa.html>.
Acesso em: 29 dez. 2020).
quem está incluído e quem está excluído dele.
De origem italiana ou chinesa, as massas e as piz-
Estão corretas as alternativas:
zas já se tornaram parte da cultura alimentar mun-
a) I e V dial. Levando em consideração que a alimentação
b) I, III e IV é carregada de cultura e identidade, considera-se
c) II, IV e IV que a apropriação mundial das massas e da pizza
d) III, IV e IV correspondem a um processo de
e) I, IV e V
a) aculturação em massa, descrito por Zigmunt
08 (Enem PPL) Quanto mais a vida social se tor- Bauman.
na mediada pelo mercado global de estilos, luga- b) consumismo, conforme descrito por Jean Bau-
res e imagens, pelas viagens internacionais, pelas drillard.
imagens da mídia e pelos sistemas de comunica- c) hibridização cultural, conforme proposto por
ção interligados, mais as identidades se tornam Nestor Garcia Canclini.
desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, d) dominação simbólica, de acordo com David
histórias e tradições específicos e parecem “flutuar Harvey.
livremente”. Somos confrontados por uma gama de e) etnocentrismo cultural, conforme proposto pela
diferentes identidades (cada qual nos fazendo ape- Escola de Chicago.
los, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes
10 (IBFC 2019) Homens de culturas diferentes
de nós), dentre as quais parece possível fazer uma
usam lentes diversas e, portanto, têm visões desen-
escolha.
contradas das coisas. Por exemplo, a floresta ama-
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
zônica não passa para o antropólogo, desprovido
Do ponto de vista conceitual, a transformação iden- de um razoável conhecimento de botânica, de um
titária descrita resulta na constituição de um sujeito: amontoado confuso de árvores e arbustos, dos mais
diversos tamanhos e com uma imensa variedade de
a) altruísta.
tonalidades verdes. A visão que um índio Tupi tem
b) dependente.
deste mesmo cenário é totalmente diversa: cada
c) nacionalista.
um desses vegetais tem um significado qualitativo
d) multifacetado.
e uma referência espacial (LARAIA, 1988).
e) territorializado.
A partir do trecho descrito anteriormente, analise
09 (IFSul 2021) Leia a reportagem do G1 abaixo. as afirmativas abaixo.
Massas são o prato favorito do mundo, segundo I. Nossa herança cultural, desenvolvida através de
pesquisa inúmeras gerações, sempre nos condicionou a
Uma pesquisa global encomendada pela ONG bri- reagir depreciativamente em relação ao compor-
tânica contra a pobreza Oxfam revela que as mas- tamento daqueles que agem fora dos padrões
sas são o alimento número um numa lista dos mais aceitos pela maioria da comunidade.
apreciados em todo o mundo. O levantamento, feito II. O modo de ver o mundo, as apreciações de or-
pela consultoria GlobeScan, ouviu mais de 16 mil dem moral e valorativa, os diferentes comporta-

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL  21


EXERCÍCIOS AULA 2

mentos sociais e mesmo as posturas corporais


são assim produtos de uma herança genética, ou
seja, o resultado da interação de determinados
genes que produzem no indivíduo os costumes
de uma determinada cultura.
III. O etnocentrismo, de fato, é um fenômeno uni-
versal, sendo comum, a crença de que a própria
sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo
a sua única expressão.
Assinale a alternativa correta.

a) Apenas a afirmativa I está correta.


b) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
c) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
d) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
e) As afirmativas I, II e III estão corretas.

GABARITO AULA 2
01 - D 05 - D 09 - C
02 - A 06 - E 10 - C
03 - A 07 - E
04 - C 08 - D

22 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


REVISÃO MODULAR

01 (UFU 2016) A humanidade cessa nas fronteiras e) O aspecto fundamental da justiça é o exercício
da tribo, do grupo linguístico, às vezes mesmo da de dominação e controle, evitando a desinte-
aldeia; a tal ponto, que um grande número de po- gração de uma sociedade diversificada.
pulações ditas primitivas se autodesigna com um
nome que significa ‘os homens’ (ou às vezes – di- 03 (UEG 2012) “Não quero que a minha casa seja
gamo-lo com mais discrição? – os ‘bons’, os ‘exce- cercada de muros por todos os lados, nem que mi-
lentes’, ‘os completos’), implicando assim que as nhas janelas sejam tapadas. Quero que as culturas
outras tribos, grupos ou aldeias não participam das de todas as terras sejam sopradas para dentro de
virtudes ou mesmo da natureza humana, mas são, minha casa, o mais livremente possível. Mas recu-
quando muito, compostos de ‘maus’, ‘malvados’, so-me a ser desapossado da minha por qualquer
‘macacos da terra’ ou de ‘ovos de piolho’. outra.”
LÉVI-STRAUSS, C. Raça e História. Antropologia Estrutural Dois. São Paulo: Tempo GANDHI, M. Relatório do desenvolvimento humano 2004. In: TERRA, Lygia; COE-
Brasileiro, 1989: 334. LHO, Marcos de A. Geografia geral. São Paulo: Moderna, 2005. p.137.

Nesse trecho, o antropólogo Claude Lévi-Strauss Considerando-se as ideias pressupostas, o texto


descreve a reação de estranhamento que é comum
a) afirma que a globalização aumentou, de modo
às das sociedades humanas quando defrontadas
sem precedente, os contatos e a união entre os
com a diversidade cultural. Tal reação pode ser de-
povos e seus valores, reforçando o respeito às
finida como uma tendência:
diferenças socioculturais.
a) Etnocêntrica b) critica a intolerância com relação a outras cul-
b) Iluminista turas, gerando assim os conflitos comuns neste
c) Relativista novo século.
d) Ideológica c) indica o reconhecimento à diversidade cultural,
e) Teológica. além das necessidades de afirmação e de iden-
tidade, seja étnica, seja cultural, seja religiosa.
02 (Enem 2016) Quando refletimos sobre a ques- d) nega a existência da exclusão cultural e ressalta
tão da justiça, algumas associações são feitas qua- a homogeneização mundial e a superação/eli-
se intuitivamente, tais como a de equilíbrio entre as minação de fronteiras culturais.
partes, princípio de igualdade, distribuição equi-
tativa, mas logo as dificuldades se mostram. Isso 04 (Enem 2012) Na regulamentação de matérias
porque a nossa sociedade, sendo bastante diver- culturalmente delicadas, como, por exemplo, a lin-
sificada, apresenta uma heterogeneidade tanto em guagem oficial, os currículos da educação pública,
termos das diversas culturas que coexistem em um o status das Igrejas e das comunidades religiosas,
mundo interligado como em relação aos modos de as normas do direito penal (por exemplo, quanto ao
vida e aos valores que surgem no interior de uma aborto), mas também em assuntos menos chamati-
mesma sociedade. vos, como, por exemplo, a posição da família e dos
CHEDIAK, K. A pluralidade como ideia reguladora: a noção de justiça a partir da
consórcios semelhantes ao matrimônio, a aceitação
filosofia de Lyotard. Trans/Form/Ação, n. 1, 2001 (adaptado).
de normas de segurança ou a delimitação das es-
A relação entre justiça e pluralidade, apresentada feras pública e privada — em tudo isso reflete-se
pela autora, está indicada em: amiúde apenas o autoentendimento ético-político
de uma cultura majoritária, dominante por motivos
a) A complexidade da sociedade limita o exercício
históricos. Por causa de tais regras, implicitamente
da justiça e a impede de atuar a favor da diver-
repressivas, mesmo dentro de uma comunidade re-
sidade cultural.
publicana que garanta formalmente a igualdade de
b) A diversidade cultural e de valores torna a jus-
direitos para todos, pode eclodir um conflito cultural
tiça mais complexa e distante de um parâmetro
movido pelas minorias desprezadas contra a cultu-
geral orientador.
ra da maioria.
c) O papel da justiça refere-se à manutenção de
HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola,
princípios fixos e incondicionais em função da 2002.

diversidade cultural e de valores. A reivindicação dos direitos culturais das minorias,


d) O pressuposto da justiça é fomentar o critério como exposto por Habermas, encontra amparo nas
de igualdade a fim de que esse valor se tome democracias contemporâneas, na medida em que
absoluto em todas as sociedades. se alcança

24 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


REVISÃO MODULAR

a) a secessão, pela qual a minoria discriminada pectos da inserção social do indivíduo em diferen-
obteria a igualdade de direitos na condição da tes meios sociais. De acordo com esse conceito de
sua concentração espacial, num tipo de inde- cultura, é incorreto afirmar que:
pendência nacional.
a) a sociologia e a antropologia estudam diferen-
b) a reunificação da sociedade que se encontra
tes culturas a fim de estabelecer uma hierarquia
fragmentada em grupos de diferentes comuni-
entre elas.
dades étnicas, confissões religiosas e formas de
b) o estudo de diferentes culturas foi impulsiona-
vida, em torno da coesão de uma cultura políti-
do pelas grandes navegações do século XVI.
ca nacional.
c) a antropologia cultural rompe com o determi-
c) a coexistência das diferenças, considerando a
nismo geográfico e o determinismo biológico
possibilidade de os discursos de autoentendi-
em voga até então.
mento se submeterem ao debate público, cien-
d) o relativismo cultural é um modo de pensar que
tes de que estarão vinculados à coerção do me-
se contrapõe ao evolucionismo e ao etnocen-
lhor argumento.
trismo.
d) a autonomia dos indivíduos que, ao chegarem à
e) as práticas culturais não estão isentas de in-
vida adulta, tenham condições de se libertar das
fluências sociais e, portanto, alteram-se ao lon-
tradições de suas origens em nome da harmo-
go do tempo.
nia da política nacional.
e) o desaparecimento de quaisquer limitações, tais
como linguagem política ou distintas conven-
ções de comportamento, para compor a arena
política a ser compartilhada.

05 (Unespar 2016) “Ter uma visão de mundo, ava-


liar determinado assunto sob certa ótica, nascer e
conviver em uma classe social, pertencer a uma et-
nia, ser homem ou mulher são algumas das condi-
ções que nos levam a pensar na diversidade huma-
na, cultural e ideológica, e, consequentemente, na
alteridade, isto é, no outro ser humano, que é igual
a cada um de nós e, ao mesmo tempo, diferente”.
(TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio. 2ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2010, p. 174)

Observa-se, na sociedade contemporânea, um


certo comportamento de intolerância para com o
outro, sobretudo, o considerado diferente, isto é,
tem ocorrido, especialmente na sociedade atual,
uma visão do todo a partir das partes, quer dizer,
indivíduos e grupos têm observado a realidade cir-
cunstancial por meio de sua ótica, de sua etnia e de
seus valores de mundo. Esse comportamento é, de
acordo com o sociólogo Summer, denominado de:

a) Utilitarismo
b) Alteridade
c) Etnocentrismo
d) Ideologia
e) Xenofobia

06 (UFSC 2018) Para o senso comum, o termo cul-


GABARITO REVISÃO
tura muitas vezes assume o significado de educa- 01 - A 03 - C 05 - C
ção. Nas ciências sociais, ao contrário, o conceito 02 - B 04 - C 06 - A

de cultura é utilizado para tratar de diferentes as-

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 25


Patrimônio histórico-cultural material e imaterial
AULA 3 OBJETIVOS DA AULA

• Definir cultura com base em Guattari: cultura-valor, cultura-alma coletiva e


cultura-mercadoria;
• Identificar as manifestações e representações da diversidade cultural, das
trocas culturais e culturas híbridas, respeitando as diferenças e promovendo
estratégias de inclusão;
• Diferenciar cultura erudita e popular, relacionando-as a uma divisão elitista
da sociedade;
• Analisar as manifestações da cultura popular brasileira e o nosso patrimônio
cultural, sistematizando os elementos que caracterizam as suas dimensões,
seja material ou imaterial;
• Evidenciar a importância de preservar os patrimônios culturais do Brasil.

VIDEO-AULA
IE
ESCANE
O
O CÓDIG

ANOTAÇÕES

26 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


DÊ UM APELIDO A ESSA AULA

ANOTAÇÕES
REVISÃO

RESUMO

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 27


Resumo | Patrimônio histórico-cultural material e imaterial Sociologia
Natan

OS PATRIMÔNIOS CULTURAIS SÃO CONSIDERADOS HERANÇAS DEIXADAS


PELA HUMANIDADE PARA TODOS OS CIDADÃOS DO PRESENTE E DO FUTURO. Ex. Centro Histórico
de Ouro Preto (MG)

Refere-se ao conjunto de bens


POLÍTICA PATRIMONIAL culturais móveis e imóveis de uma
nação ou região específica.
Legislação que busca tanto preservar os
bens materiais já existentes quanto
definir novos patrimônios culturais. PATRIMÔNIO MATERIAL

PATRIMÔNIO CULTURAL DIVIDE-SE EM


ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS
PATRIMÔNIO IMATERIAL

Refere-se às técnicas, representações,


práticas e demais conhecimentos que
possuem uma representação sobre as
NO BRASIL NO MUNDO expressões culturais de uma região.

Organização das Nações Unidas para a Ex. Ofício das Paneleiras


Instituto do Patrimônio Histórico
Cultura, Ciência e Educação (Unesco) de Goiabeiras (ES)
e Artístico Nacional (Iphan)
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

01 (IBFC 2021) Cultura é um conjunto de saberes barro para culinária é elemento de cultura ma-
coletivos, que são compartilhados pelos membros terial.
de uma sociedade. Normas e valores de um povo d) São elementos da cultura imaterial somente
também fazem parte dos seus saberes coletivos. A aqueles vinculados ao folclore brasileiro.
esse respeito, analise as afirmativas abaixo e dê va- e) Apenas no meio urbano se produzem elemen-
lores Verdadeiro (V) ou Falso (F). tos da cultura material.
( ) A linguagem está tão intimamente vinculada à
03 (FAPEC – SAD MS 2021) Assinale a alternativa
cultura que cada novo acréscimo à herança cul-
correta com exemplos da cultura material brasileira.
tural de um grupo social envolve mudanças e
acréscimos na sua linguagem. a) Sítios arqueológicos, coleções arqueológicas,
( ) A criança recebe cultura como parte de uma modos de fazer, lendas, acervos documentais e
herança social, mas não é possível a ela, ao lon- acervos fotográficos.
go da vida, introduzir nessa herança mudanças, b) Cidades históricas, danças populares, sítios ar-
motivo pelo qual repassará a mesma herança às queológicos, coleções arqueológicas, acervos
gerações que lhe sucederem. museológicos e acervos documentais.
( ) A miscigenação é a base da cultura brasileira, c) Cidades históricas, sítios arqueológicos, cole-
tendo em vista a mistura de três etnias, três cul- ções arqueológicas, acervos museológicos e
turas diferentes: dos índios, dos portugueses co- acervos cinematográficos.
lonizadores e dos africanos. d) Sítios arqueológicos, coleções arqueológicas,
( ) A cultura é um todo orgânico, um sistema, um modos de fazer, lendas, acervos documentais,
conjunto de partes que se relacionam estreita- acervos fotográficos, músicas, danças e festas
mente. Nela temos alguns componentes: os tra- populares.
ços culturais, o complexo cultural, a área cultural, e) Cidades históricas, saberes, festas populares,
o padrão cultural e a subcultura. sítios arqueológicos, coleções arqueológicas,
( ) Na cultura encontramos dois aspectos, o mate- acervos museológicos e acervos documentais.
rial e o imaterial, sendo o folclore um exemplo da
cultura imaterial de um povo.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência
correta de cima para baixo.

a) F - V - V - F - V
b) V - F - V - V - V
c) F - V - F - V - F
d) F - V - V - V - F
e) V - V - V - V - F

02 (UDESC 2019) A cultura produzida pelo homem


em seus mais variados processos de interação com
o meio que o cerca se constitui em elementos mate-
riais e elementos imateriais. Segundo essa divisão,
assinale a alternativa correta.

a) Faz parte da cultura material o hábito de algu-


mas comunidades do sul do país de tomar vinho
às refeições e estimular as gerações futuras a
incorporar a tradição.
b) A fabricação de móveis artesanais se caracte-
riza como de bens imateriais; já uma receita de
moqueca corresponde a um elemento material.
c) Congada, Moçambique e Maracatu são danças
que correspondem a elementos da cultura ima-
terial brasileira, já a confecção de panelas de

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 29


QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

04 (ITSJ 2022) O conjunto arquitetônico e pais-


agístico da Cidade Alta de Porto Seguro (BA) foi
tombado pelo Iphan, em 1968. Nesta área estão
remanescentes arquitetônicos de grande valor
histórico e o lugar que é considerado o local de ori-
gem da nação brasileira. Todo o município de Por-
to Seguro – e, em especial, o Monte Pascoal – foi
erigido a Monumento Nacional. (...) A cidade rep-
resenta as antigas cidades de tradição portuguesa,
com dois núcleos relativamente afastados, desem-
penhando funções complementares. Certamente,
é menos valorizada a ocupação e o patrimônio
arquitetônico, do que o simbólico, pois se trata do
local estabelecido como espaço original, lugar do
primeiro contato dos portugueses com os indíge-
nas, do início da conquista e posse das terras onde
eles desembarcaram em 1500.
O tombamento do sítio histórico de Porto Seguro
foi justificado devido à:

a) origem portuguesa da cidade


b) especulação imobiliária na região
c) necessidade de ampliação do turismo local
d) importância cultural do núcleo histórico colonial
e) presença de aldeamentos indígenas acultura-
dos

GABARITO
01 - B 03 - C
02 - C 04 - E

30 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


EXERCÍCIOS AULA 3

01 (Enem) e Artístico Nacional (Iphan). O veredicto foi dado em


reunião do conselho realizada no Museu de Artes e
Ofícios, em Belo Horizonte. O presidente do Iphan
e do conselho ressaltou que a técnica de fabricação
artesanal do queijo está “inserida na cultura do que
é ser mineiro”.

Folha de S. Paulo, 15 maio 2008.

Entre os bens que compõem o patrimônio nacional,


o que pertence à mesma categoria citada no texto
está representado em:

Cartaz com fotos de população indígenas e onde


se lê:
“Nossa cultura não cabe nos seus museus”.
Produzida no Chile, no final da década de 1970, a
imagem expressa um conflito entre culturas e sua
presença em museus decorrente da:

a) valorização do mercado das obras de arte.


b) definição dos critérios de criação de acervos.
a)
c) ampliação da rede de instituições de memória.
d) burocratização do acesso dos espaços exposi-
tivos.
e) fragmentação dos territórios das comunidades
representadas.

02 (Enem) Art. 231. São reconhecidos aos índios


sua organização social, costumes, línguas, crenças
e tradições, e os direitos originários sobre as terras
que tradicionalmente ocupam, competindo à União
demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os
seus bens.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
www.planalto.gov. br. Acesso em: 27 abr. 2017.

A persistência das reivindicações relativas à aplica-


ção desse preceito normativo tem em vista a vincu- b)
lação histórica fundamental entre:

a) etnia e miscigenação racial.


b) sociedade e igualdade jurídica.
c) espaço e sobrevivência cultural.
d) progresso e educação ambiental.
e) bem-estar e modernização econômica.

03 (Enem)
Queijo de Minas vira patrimônio cultural brasileiro
O modo artesanal da fabricação do queijo em Minas
Gerais foi registrado nesta quinta-feira (15) como
patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Conse-
c)
lho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico

32 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


EXERCÍCIOS AULA 3

05 (Enem) Art. 216. Constituem patrimônio cultural


brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portado-
res de referência à identidade, à ação, à memória
dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I. as formas de expressão;
II. os modos de criar, fazer e viver;
III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV. as obras, objetos, documentos, edificações e de-
mais espaços destinados às manifestações artís-
tico-culturais;
d) V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontoló-
gico, ecológico e científico.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


www.planalto.gov. br. Acesso em: 27 julho de 2021.

O trecho da Constituição Federal de 1988 ressalta


a importância da defesa do patrimônio cultural bra-
sileiro ao considerar que:

a) sua preservação seja administrada e gerida pelo


poder público e por seus órgãos responsáveis.
b) seu reconhecimento como tal seja feito por um
e) grupo populacional considerável, em razão pro-
porcional ao tamanho do município no qual ele
04 (Enem Digital) Na maior parte da América Lati-
se insere.
na, os museus surgiram no século passado, funda- c) seu tombamento confirme sua excepcionalida-
dos com a intenção de “civilizar”, ou seja, de trazer de ou valor artístico incomum como bens ma-
para o Novo Mundo os padrões científicos e cultu- teriais.
rais das nações colonizadoras. Os museus seriam, d) sua conservação seja de interesse privado para
dessa forma, instituições transplantadas, criadas garantir o crescimento econômico de diferentes
dentro dos ideais positivistas de progresso. Não grupos que constituem a sociedade brasileira.
por acaso, ficaram, em sua maior parte, sujeitos aos e) seu valor seja atestado por mais de uma gera-
moldes clássicos, a partir da valorização de aspec- ção e confirmado por especialistas no assunto
tos da cultura erudita, fortemente associados à eli- com reconhecida trajetória acadêmica, bem
te. Era necessário, pois, assumir uma função social como por um júri internacional.
de maior alcance e ocupar um espaço relevante, ca-
paz de atrair grande quantidade de público. 06 (Enem) Considere o texto a seguir:
BARRETO, M. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2002 (adaptado). A Constituição Federal de 1988 revitalizou e am-
A transformação de um número cada vez mais ex- pliou o conceito de patrimônio estabelecido pelo
pressivo de museus latino-americanos em espaços Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937,
destinados a atividades lúdicas e reflexivas está as- substituindo a nominação Patrimônio Histórico e
sociada ao rompimento com o(a): Artístico, por Patrimônio Cultural. Essa alteração
incorporou o conceito de referência cultural e sig-
a) ideal de educação tradicional. nificou um aprimoramento importante na definição
b) utilização de novas tecnologias. dos bens passíveis de reconhecimento, sobretudo
c) modelo de atrações segmentadas. os de caráter imaterial. A Constituição inova, ainda,
d) participação do setor empresarial. quando estabelece a parceria entre o poder público
e) resgate de sentimentos nacionalistas. e as comunidades para a promoção e proteção do
Patrimônio Cultural Brasileiro. Mas, mantém a ges-
tão do patrimônio e da documentação relativa aos

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 33


EXERCÍCIOS AULA 3

bens sob responsabilidade da administração públi- nio cultural do país. Entre as manifestações que
ca. já ganharam esse status está o ofício das baianas
O Decreto de 1937 estabeleceu como patrimônio do acarajé. Enfatize-se: o ofício das baianas, não
“o conjunto de bens móveis e imóveis existentes a receita do acarajé. Quando uma baiana prepara
no País e cuja conservação seja de interesse pú- o acarajé, há uma série de códigos imperceptíveis
blico, quer por sua vinculação a fatos memoráveis para quem olha de fora. A cor da roupa, a amarra
da história do Brasil, quer por seu excepcional valor dos panos e os adereços mudam de acordo com
arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artís- o santo e com a hierarquia dela no candomblé. O
tico”. Enquanto o artigo 216 da Constituição con- Iphan conta que, registrando o ofício, “esse e outros
ceitua patrimônio cultural como os bens “de nature- mundos ligados ao preparo do acarajé podem ser
za material e imaterial, tomados individualmente ou descortinados”.
em conjunto, portadores de referência à identidade, KAZ, R. A diferença entre o acarajé e o sanduíche de Bauru. Revista de História da
Biblioteca Nacional, n. 13, out. 2006
à ação, à memória dos diferentes grupos formado-
res da sociedade brasileira”. De acordo com o autor, o Iphan evidencia a necessi-
IPHAN. Patrimônio Cultural. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/deta- dade de se protegerem certas manifestações histó-
lhes/218. Acesso em 07 de jul. 2015.
ricas para que continuem existindo, destacando-se
Com base no texto, ao ampliar o conceito de patri- nesse caso a
mônio, é possível inferir que esse processo buscou:
a) mistura de tradições africanas, indígenas e por-
a) determinar a definição de cultura sob uma ótica tuguesas no preparo do alimento por parte das
etnocêntrica. cozinheiras baianas.
b) estimular a produção artística no que tange às b) relação com o sagrado no ato de preparar o ali-
culturas materiais. mento, sobressaindo-se o uso de símbolos e in-
c) fortalecer a proteção dos bens culturais em ter- sígnias pelas cozinheiras.
ritório nacional. c) utilização de certos ingredientes que se mos-
d) incentivar a criação de patrimônios imateriais tram cada vez mais raros de encontrar, com as
críticos da tradição. mudanças nos hábitos alimentares.
e) fomentar o processo de privatização dos patri- d) necessidade de preservação dos locais tradicio-
mônios regionais. nais de preparo do acarajé, ameaçados com as
transformações urbanas no país.
07 (Enem) A Constituição brasileira estabelece que e) importância de se treinarem as cozinheiras
o poder público deve promover e proteger a cultura baianas a fim de resgatar o modo tradicional de
nacional através daquilo que se convencionou de- preparo do acarajé, que remonta à escravidão.
signar como “patrimônio cultural brasileiro”.
09 (SEDUC CE 2016) “[...] Realizada oficialmente
Esse “patrimônio” é formado por bens materiais e
há 84 anos, a Festa do Pau da Bandeira está em
bens imateriais que configuram uma identidade à
processo de tombamento como patrimônio imate-
ação e à memória dos diferentes grupos formado-
rial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Históri-
res da sociedade brasileira.
co e Artístico Nacional (IPHAN), que concluiu um
O órgão responsável pelo tombamento das culturas relatório a favor. A festa foi oficializada em 1928,
é o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Artís- em homenagem ao padroeiro da cidade, Santo An-
tico Nacional) que reconhece, atualmente, 15 patri- tônio. Segundo historiadores, a devoção pelo santo
mônios imateriais, dentre eles: é anterior à fundação de Barbalha, há cerca de 300
anos, mantida pelos moradores da região [...]”.
a) samba, capoeira e o acarajé.
b) frevo, Ouro Preto e a música caipira. Disponível em: http://g1.globo.com/ceara/noticia/2012/06/festa-do-pau-da-bandeira-
-no-ceara-inicia-com-noite-dassolteironas.html. Acesso em 30 de março de 2016.
c) viola artesanal, cinema nacional e o samba.
A manifestação cultural descrita acima permite as-
d) Brasília, Pantanal mato-grossense e Amazônia.
sociar que
e) judô, cancioneiro popular e a festa do Círio de
Nazaré. a) a religiosidade brasileira esteve por muito tem-
po atrelada à vida social e, consequentemente,
08 (Enem PPL) Desde 2002, o Instituto do Patri-
à formação, em alguns casos, dos núcleos po-
mônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tem pulacionais no Brasil.
registrado certos bens imateriais como patrimô-

34 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


EXERCÍCIOS AULA 3

b) as regiões interioranas do Brasil mantêm as-


pectos religiosos, ainda que não conservem
uma inevitável influência católica com o Estado.
c) o Estado colabora com a continuidade de ex-
pressões culturais que reafirmem a influência
da religião católica.
d) os interesses públicos e privados são desvincu-
lados no que concerne às expressões religiosas
no país.
e) as festividades brasileiras mantêm certa dis-
tância dos aspectos religiosos, uma vez que o
Estado é laico.

10 (Enem 2022) O povo Kambeba é o povo das


águas. Os mais velhos costumam contar que o povo
nasceu de uma gota-d’água que caiu do céu em
uma grande chuva. Nessa gota estavam duas go-
tículas: o homem e a mulher. “Por essa narrativa e
cosmologia indígena de que nós somos o povo das
águas é que o rio nos tem fundamental importân-
cia”, diz Márcia Wayna Kambeba, mestre em Geo-
grafia e escritora. Todos os dias, ela ia com o pai
observar o rio. Ia em silêncio e, antes que tomasse
para si a palavra, era interrompida. “Ouço o rio”, o
pai dizia. Depois de cerca de duas horas a ouvir as
águas do Solimões, ela mergulhava. “Confie no rio
e aprenda com ele”. “Fui entender mais tarde, com
meus estudos e vivências, que meu pai estava me
apresentando à sabedoria milenar do rio”.
Rios amazônicos influenciam no agro e em reservatórios do Sudeste. Disponível em:
www.uol.com.br. Acesso em: 14 out. 2021.

Pelo descrito no texto, o povo Kambeba tem o rio


como um(a)

a) objeto tombado e museográfico.


b) herança religiosa e sacralizada.
c) cenário bucólico e paisagístico
d) riqueza individual e efêmera
e) patrimônio cultural e afetivo.

GABARITO AULA 3
01 - B 05 - A 09 - A
02 - C 06 - C 10 - E
03 - C 07 - A
04 - A 08 - B

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 35


REVISÃO MODULAR

01 (Enem 2016) Participei de uma entrevista com trismo


o músico Renato Teixeira. Certa hora, alguém pe- e) Folk, aculturação, xenofobia, tribalismo.
diu para listar as diferenças entre a música serta-
neja antiga e a atual. A resposta dele surpreendeu a 03 (Enem PPL 2020) As canções dos escravos tor-
todos: “Não há diferença alguma. A música caipira naram-se espetáculos em eventos sociais e religio-
sempre foi a mesma. É uma música que espelha a sos organizados pelos senhores e chegaram a ser
vida do homem no campo, e a música não mente. O cantadas e representadas, ao longo do século XIX,
que mudou não foi a música, mas a vida no campo”. de forma estereotipada e depreciativa, pelos black-
Faz todo sentido: a música caipira de raiz exalava faces  dos Estados Unidos e Cuba, e pelos teatros
uma solidão, um certo distanciamento do país “mo- de revista do Brasil. As canções escravas, sob a
derno”. Exigir o mesmo de uma música feita hoje, forma de  cakewalks  ou lundus, despontavam fre-
num interior conectado, globalizado e rico como o quentemente no promissor mercado de partituras
que temos, é impossível. Para o bem ou para o mal, musicais, nos salões, nos teatros e até mesmo na
a música reflete seu próprio tempo. nascente indústria fonográfica – mas não necessa-
BARCINSKI. A. Mudou a música ou mudaram os caipiras? Folha de São Paulo, 4 jun.
riamente seus protagonistas negros. O mundo do
2012 (adaptado).
entretenimento e dos empresários musicais atlân-
A questão cultural indicada no texto ressalta o se- ticos produziu atraentes diversões dançantes com
guinte aspecto socioeconômico do atual campo base em gêneros e ritmos identificados com a po-
brasileiro: pulação negra das Américas.
ABREU, M. O legado das canções escravas nos Estados Unidos e no Brasil: diálogos
a) crescimento do sistema de produção extensiva. musicais no pós-abolição. Revista Brasileira de História, n. 69, jan.-jun. 2015.

b) expansão de atividades das novas ruralidades. A absorção de elementos da vivência escrava pela
c) persistência de relações de trabalho compulsó- nascente indústria do lazer, como demonstrada no
rio. texto, caracteriza-se como:
d) contenção da política de subsídios agrícolas.
e) fortalecimento do modelo de organização coo- a) ação afirmativa.
perativa. b) missão civilizatória.
c) desobediência civil.
02 (Uema 2014) Historicamente, pode-se dizer que d) apropriação cultural.
toda sociedade elabora sua própria cultura, mas as e) comportamento xenofóbico.
culturas estão interligadas, a não ser que o grupo
social esteja em condições de isolamento e não so- 04 (UFG 2019) Considere os textos a seguir:
fra influência de outras culturas. Ressalta- se que TEXTO I
o conceito de cultura é recente e plástico. Geertz A filosofia punk era a do “se você não gosta do
(1978) afirma que “[...] a cultura não é um poder, que existe, faça você mesmo” – ou, simplificando,
algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os o lema “do it yourself”. E os punks de primeira hora
acontecimentos sociais, os comportamentos, as começaram a criar suas próprias artes plásticas,
instituições ou os processos; ela é um contexto, suas próprias roupas diferentes, seus próprios dis-
algo dentro do qual eles (os símbolos) podem ser cos (dando início a um real sistema de gravadoras
descritos de forma inteligível – isto é, descritos com independentes) e suas próprias publicações (revis-
densidade”. tinhas xerocadas chamadas fanzines).
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. OROZCO. Marcelo. Três décadas de “faça você mesmo”. Revista Cult, edição 96,
outubro de 2005.

Essa flexibilidade no sistema capitalista manifesta-


TEXTO II
da na indústria cultural apresenta as seguintes ca-
racterísticas.

a) Marketing, comercialização de bens culturais,


cidade-mercadoria, publicidade
b) Tradição, genocídio cultural, nacionalismos,
grandes narrativas
c) Homogeneização cultural, erudição, urbaniza-
ção, subcultura
d) Memória, identidade cultural, fetiche, etnocen-

36 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


REVISÃO MODULAR

Da esquerda para a direita: Sid, Steve, John, Paul. próprios elementos culturais.
Disponível em: http://www.sexpistolsofficial.com/pho-
tos/?wppa-album=3&wppa-photo=389&wppa-occur=1. Acesso em: 6 de jul. 2021.
d) etnocídio: afasta o diferente e procura transfor-
má-lo num igual.
O movimento punk apresenta manifestações cultu- e) diversidade cultural: aceita as diferenças entre
rais referentes aos seus processos históricos, como: os grupos que formam a sociedade moderna.
a) negação das novas indumentárias masculinas,
07 (Unesp 2018)
valorizando a liberdade de gênero.
Texto 1
b) oposição aos valores ingleses baseados no re-
Victor Frankl descrevia o fanático por dois traços
lativismo cultural.
essenciais: a absorção da própria individualidade na
c) contestação aos padrões culturais e normativos
ideologia coletiva e o desprezo pela individualidade
dos anos 1970.
alheia. “Individualidade” é a combinação singular
d) aceitação dos valores éticos e morais da socie-
de fatores que faz de cada ser humano um exem-
dade europeia do pós-Segunda Guerra.
plar único e insubstituível. O que o fanático nega
e) participação da juventude nos exércitos envol-
aos demais seres humanos é o direito de definir-se
vidos na Guerra do Vietnã.
nos seus próprios termos. Só valem os termos dele.
05 (Enem 2010) As ruínas do povoado de Canu- Para ele, em suma, você não existe como indivíduo
dos, no sertão norte da Bahia, além de significa- real e independente. Só existe como tipo: “amigo”
tivas para a identidade cultural, dessa região, são ou “inimigo”. Uma vez definido como “inimigo”, você
úteis às investigações sobre a Guerra de Canudos e se torna, para todos os fins, idêntico e indiscernível
o modo de vida dos antigos revoltosos. de todos os demais “inimigos”, por mais estranhos
Essas ruínas foram reconhecidas como patrimônio e repelentes que você próprio os julgue.
cultural material pelo Iphan (Instituto do Patrimônio (Olavo de Carvalho. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, 2013.
Adaptado.)
Histórico e Artístico Nacional) porque reúnem um
conjunto de Texto 2
É necessário questionar a função de amparo identi-
a) objetos arqueológicos e paisagísticos. tário de todas as formas de organização de massas
b) acervos museológicos e bibliográficos. – partidos, igrejas, sindicatos – independentemen-
c) núcleos urbanos e etnográficos te de seu objetivo político manifesto, de esquerda
d) práticas e representações de uma sociedade. ou de direita. Não é descabido supor que qualquer
e) expressões e técnicas de uma sociedade extin- organização de massas tenha o potencial de favo-
ta. recer em seus membros a adesão à identidade de
vítimas, sendo um sério obstáculo à luta pela auto-
06 (Nacional 2018) A estética nas diferentes socie-
nomia e pela liberdade de seus membros.
dades vem geralmente acompanhada de marcas
(Maria Rita Kehl. Ressentimento, 2015. Adaptado.)
corporais que individualizam seus sujeitos e sua co-
letividade. Discos labiais, piercings, tatuagens, mu- Os dois textos:
tilações, pinturas, vestimentas, penteados e cortes
a) apresentam argumentos favoráveis a ideias e
de cabelo são algumas marcas reconhecíveis de um
comportamentos totalitários no campo da po-
inventário possível das técnicas corporais em toda
lítica.
sua riqueza e diversidade. Embora universal, as for-
b) defendem a importância de diferenças claras
mas das quais se valem os grupos e indivíduos para
entre amigos e inimigos no campo da política.
se marcarem corporalmente são vistas, às vezes,
c) sustentam que a união dos oprimidos em or-
como estranhas a indivíduos que pertencem a ou-
ganizações de massa é mais importante que a
tros grupos.
individualidade.
Essa atitude de estranhamento em relação ao dife-
d) utilizam os conceitos de fanatismo e de identi-
rente é considerada conceitualmente como
dade coletiva para questionar o irracionalismo.
a) preconceito: reconhece no valor das raças o que e) concordam que o pertencimento ideológico de
é correto ou não na estética corporal. direita é critério exclusivo para definir o fanatis-
b) relativização: o outro é entendido nos seus pró- mo político.
prios termos.
c) etnocentrismo: só reconhece valor nos seus

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 37


REVISÃO MODULAR

08 (Enem 2018) Outra importante manifestação


das crenças e tradições africanas na Colônia eram
os objetos conhecidos como “bolsas de mandinga”.
A insegurança tanto física como espiritual gerava
uma necessidade generalizada de proteção: das
catástrofes da natureza, das doenças, da má sorte,
da violência dos núcleos urbanos, dos roubos, das
brigas, dos malefícios de feiticeiros etc. Também
para trazer sorte, dinheiro e até atrair mulheres, o
costume era corrente nas primeiras décadas do sé-
culo XVIII, envolvendo não apenas escravos, mas
também homens brancos.
CALAINHO, D. B. Feitiços e feiticeiros. In: FIGUEIREDO, L. História do Brasil para
ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013 (adaptado).

A prática histórico-cultural de matriz africana des-


crita no texto representava um(a)

a) expressão do valor das festividades da popula-


ção pobre.
b) ferramenta para submeter os cativos ao traba-
lho forçado.
c) estratégia de subversão do poder da monarquia
portuguesa.
d) elemento de conversão dos escravos ao catoli-
cismo romano.
e) instrumento para minimizar o sentimento de
desamparo social.

GABARITO REVISÃO
01 - B 04 - C 07 - D
02 - D 05 - A 08 - E
03 - D 06 - C

38 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


A Indústria Cultural e a massificação da cultura
AULA 4 OBJETIVOS DA AULA

• Conceituar indústria cultural no pensamento da Escola de Frankfurt, para Adorno e Hor-


kheimer;
• Perceber o impacto da indústria cultural no Brasil associada ao processo crescente de in-
clusão digital e os perigos do senso comum veiculados e cristalizados pelos componentes
midiáticos;
• Ponderar sobre relações entre a arte e sociedade usando a indústria cultural como parâ-
metro;
• Problematizar a relação entre a indústria cultural e os meios de comunicação, avaliando
o papel ideológico do marketing enquanto estratégia de persuasão do consumidor e do
cidadão;
• Valorizar as diferentes manifestações culturais através da compreensão e da construção
de uma visão crítica sobre a indústria cultural e sobre os meios de comunicação de massa;
• Elencar os processos políticos-ideológicos de produção e de sustentação da indústria cul-
tural.

VIDEO-AULA
IE
ESCANE
O
O CÓDIG

ANOTAÇÕES

40 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


DÊ UM APELIDO A ESSA AULA

ANOTAÇÕES
REVISÃO

RESUMO

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 41


Resumo | A Indústria Cultural e a massificação da cultura Sociologia
Natan

Obra fundamental
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

01 (FAPEC-MS 2021) Um exemplo contemporâ- c) Período Inventivo Moderno.


neo de sucesso na Indústria Cultural é o K-pop d) Revolução da Bricolagem.
coreano, amplamente disseminado pela música. e) Revolução da Fotocópia.

03 (IFMG 2020) O ato de homogeneizar a cultu-


ra a partir dos meios de comunicação de massa é
um tema de estudo que envolve a indústria cultural.
Acerca desse tema, assinale a alternativa correta.
a) A Escola de Frankfurt afirma que a produ-
ção cultural no capitalismo é importante para
democratizar a arte e para proporcionar uma
conscientização crítica dos indivíduos.
b) A indústria cultural luta contra a mercantiliza-
ção da cultura e sua reprodução para fins de
mercado.
Assinale a alternativa correta sobre questões relati- c) No Brasil, é possível afirmar que as telenovelas
vas a essa indústria: cumprem um papel social importante na socie-
A introdução de tecnologias na Indústria Cultural dade a partir do momento que apresenta a in-
evitou a homogeneização dos produtos, o que pre- teração de diferentes classes sociais e levanta
judica o consumo em massa. discussões valiosas sobre o nosso comporta-
a) A personalização dos produtos é uma marca da mento e o cotidiano. No entanto as telenovelas
Indústria Cultural, que mantém as diferentes também podem reforçar estereótipos de grupos
obras com características específicas para cada sociais, naturalizar comportamentos preconcei-
região de oferta. tuosos e alienar o público.
b) A ideia de produção em massa, comum nas fá- d) A Escola de Frankfurt nega a tese marxista de
bricas, não pode ser aplicada a essa indústria, fetichismo da mercadoria em suas análises. Para
por sua produção exclusivamente imaterial. essa escola de pensamento, as mercadorias são
c) A massificação dos produtos e a valorização da coisificadas e reificadas como impessoais.
personalização dos interesses dos consumido- e) Segundo Theodor Adorno e Max Horkheimer, a
res são características centrais dessa indústria. indústria cultural preserva a heterogeneidade
d) A produção em série da Indústria Cultural visa à cultural e dá visibilidade a aspectos culturais de
homogeneização, ela adapta seus produtos ao minorias étnicas mesmo em escala mundial.
consumo das massas e em âmbitos gerais de-
termina o próprio consumo.

02 (Fundatec 2022) “A reprodução técnica do som


iniciou-se no fim do século passado. Com ela, a re-
produção técnica atingiu tal padrão de qualidade
que ela não somente poderia transformar em seus
objetos a totalidade das obras de arte tradicionais,
submetendo-as a transformações profundas, como
conquistar para si um lugar próprio entre os pro-
cedimentos artísticos”
(BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, 1987,
p. 167).

Segundo a perspectiva do autor, a reprodução téc-


nica é uma das principais características de um mo-
mento histórico e cultural da humanidade, denomi-
nado:

a) Cultura Artística.
b) Cultura de Massa.

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 43


QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

04 (Fundatec 2022) Os sociólogos alemães Theo-


dor Adorno e Max Horkheimer foram expoentes na
teoria crítica da Escola de Frankfurt de pesquisa so-
cial. A sua obra Dialética do Esclarecimento segue
como referência importante nos estudos sobre os
meios de comunicação e a questão ideológica.
De acordo com a perspectiva dos autores, qual das
alternativas abaixo melhor define a chamada “in-
dústria cultural”?

a) O setor social de promoção da cultura, focado


na integridade e autenticidade da forma artís-
tica, assim como na autonomia dos seus pro-
dutores.
b) Um ramo econômico inspirado na tradição an-
tropológica e em valores como o relativismo
cultural e a alteridade.
c) O termo se refere à padronização e à pseudoin-
dividualização dos artefatos culturais em forma
de mercadorias, com repercussões ideológicas
na reprodução da ordem vigente.
d) O setor social de produção cultural, cuja hetero-
geneidade ideológica e de valores é preservada
pela neutralidade de suas técnicas.
e) O termo se refere ao estímulo à livre-concor-
rência de mercado como antídoto para a padro-
nização cultural em uma sociedade de massas.

GABARITO
01 - E 03 - C
02 - B 04 - C

44 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


EXERCÍCIOS AULA 4

01 (UFSM) Tive o prazer de ver o Nirvana des- 02 (Unesp) Os reality shows são hoje para a clas-
bancar Michael Jackson e seus súditos do topo se mais abastada e intelectualizada da sociedade
das paradas de sucesso, abrindo espaço para os o que as novelas eram assim que se popularizaram
alternativos remodelarem a música pop. A plebe como produto de cultura massificada: sinônimo de
havia tomado o poder, coisa impensável em outras mau gosto. Com uma maior aceitação das novelas
épocas. Foi bom demais para ser verdade. E aí as na esfera dos críticos da mídia, o reality show segue
grandes gravadoras lançaram-se numa busca de- agora como gênero televisivo mundial, transmitido
sesperada pelo próximo fenômeno comercial e in- em horário nobre, e principal símbolo da perda de
centivaram os copiadores de plantão a fazer mais qualidade do conteúdo televisivo na sociedade pós-
do mesmo. Os originais deram espaço aos opor- -moderna. Os reality shows personificam as novas
tunistas sem imaginação. Banda boa passou a ser formas de identificação dos sujeitos nas sociedades
banda que vendia bem. Critérios artísticos foram pós-modernas. Programas como o BBB são movi-
substituídos por critérios comerciais e deu no que dos pelas engrenagens de uma sociedade exibicio-
deu. O resultado disso é sentido neste início de sé- nista e consumista, que se mantém vendendo ao
culo. Os artistas que dominam as paradas são to- mesmo tempo a proposta de que cada um pode
talmente descartáveis e os criativos voltaram para sair do anonimato e conquistar facilmente fama e
os subterrâneos, seu hábitat natural, onde reina a dinheiro.
liberdade autoral. Paralelamente, a MTV criou um (Sávia Lorena B. C. de Sousa. O reality show como objeto de reflexão cultural. obser-
vatoriodaimprensa.com.br)
monstro sem querer. Os vídeos veiculados por ela
passaram a ser mais importantes do que a música Sobre a relação entre os meios de comunicação de
em si. Passamos a suportar música ruim porque o massa e o público consumidor, é correto afirmar
clipe é bom. Por isso entendo quando a nova MTV que:
diz que videoclipes quase não terão mais tanta im-
a) a qualidade da programação da TV não é condi-
portância na sua programação. Esse formato de VJ/
cionada pelas demandas e desejos dos consu-
videoclipe está mesmo esgotado, é hora de inventar
midores culturais.
um outro modo para falar de música.
b) o reality show é uma mercadoria cultural rela-
MOREIRA, Gastão. Gastão sobre MTV: “Passamos a suportar música ruim porque o
clipe é bom”. Uol Entretenimento. 30 set. 2013. Disponível em: <musica.uol.com.br>. cionada com processos emocionais de seu pú-
Acesso em: 8 out. 2013 (adaptado).
blico.
O texto comenta sobre mudanças no canal de te- c) os critérios estéticos independem do nível de
levisão MTV Brasil. Do ponto de vista filosófico e autonomia intelectual dos consumidores.
sociológico, esse tipo de análise revela: d) no caso dos reality shows, a televisão estimu-
la a capacidade de fruição estética do público
a) a falta de criatividade dos músicos brasileiros consumidor.
que, por não produzirem boa música, são obri- e) os programadores priorizam aspectos formati-
gados a investir em clipes caros para tornarem vos relegando o entretenimento a uma condição
atrativas as suas produções. secundária.
b) a capacidade crítica dos criadores da MTV para
redesenhar o canal de televisão. Em vez de su- 03 (UEL) Leia o texto de Adorno a seguir:
cumbirem à crise, eles reformularam os progra- Se as duas esferas da música se movem na unidade
mas, tornando-os mais bem feitos. da sua contradição recíproca, a linha de demarca-
c) a crise do mercado fonográfico brasileiro. Não ção que as separa é variável. A produção musical
foi somente a MTV que precisou se reestrutu- avançada se independentizou do consumo. O resto
rar, mas todas as grandes empresas, que hoje da música séria é submetido à lei do consumo, pelo
não mais conseguem garantir sua importância preço de seu conteúdo. Ouve-se tal música séria
econômica. como se consome uma mercadoria adquirida no
d) a força da indústria cultural em criar produtos mercado. Carecem totalmente de significado real
massificados e facilmente consumíveis pelo as distinções entre a audição da música “clássica”
grande público. É isso que produz artistas des- oficial e da música ligeira.
cartáveis e de pouca qualidade fonográfica. ADORNO, T. W. “O fetichismo na música e a regressão da audição”. In: BENJAMIN,
W. et al. Textos escolhidos. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1987. p. 84.
e) a incapacidade monstruosa de os vídeos veicu-
lados na internet serem produzidos por grandes Com base no texto e nos conhecimentos sobre o
produtoras comerciais. pensamento de Adorno, é correto afirmar:

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 45


EXERCÍCIOS AULA 4

a) A música séria e a música ligeira são essencial- nomes e imagens cheios de brilho a fim de que
mente críticas à sociedade de consumo e à in- possamos, por contraste, criticar nosso cinzen-
dústria cultural. to cotidiano.
b) Ao se tornarem autônomas e independentes do b) A fusão entre cultura e entretenimento é uma
consumo, a música séria e a música ligeira pas- forma de valorizar a cultura e espiritualizar es-
sam a realçar o seu valor de uso em detrimento pontaneamente a diversão.
do valor de troca. c) A diversão permite aos indivíduos um momento
c) A indústria cultural acabou preparando a sua de ruptura com as condições do trabalho sob o
própria autor-reflexividade ao transformar a capitalismo tardio.
música ligeira e a séria em mercadorias. d) Os consumidores têm suas necessidades pro-
d) Tanto a música séria quanto a ligeira foram duzidas, dirigidas e disciplinadas mais firme-
transformadas em mercadorias com o avanço mente quanto mais se consolida a indústria cul-
da produção industrial. tural.
e) As esferas da música séria e da ligeira são se- e) A indústria cultural procura evitar que a arte sé-
paradas e nada possuem em comum. ria seja absorvida pela arte leve.

04 (UEL) De acordo com a crítica à “indústria cul- 06 (UEL) Leia o texto a seguir:
tural”, na sociedade capitalista avançada, a pro- O modo de comportamento perceptivo, por meio
dução e a reprodução da cultura se realizam sob a do qual se prepara o esquecer e o rápido recordar
égide da padronização e da racionalidade técnica. da música de massas, é a desconcentração. Se os
No contexto dessa crítica, considerando o fast food produtos normalizados e irremediavelmente se-
como produto cultural, é correto afirmar: melhantes entre si, exceto certas particularidades
surpreendentes, não permitem uma audição con-
a) A padronização dos hábitos e valores alimenta-
centrada, sem se tornarem insuportáveis para os
res obedece aos ditames da lógica material da
ouvintes, estes, por sua vez, já não são absoluta-
sociedade industrializada.
mente capazes de uma audição concentrada. Não
b) O consumo dos produtos da indústria do fast
conseguem manter a tensão de uma concentração
food e a satisfação dos novos hábitos alimen-
atenta, e por isso se entregam resignadamente
tares contribuem com a emancipação humana.
àquilo que acontece e flui acima deles, e com o qual
c) A homogeneização dos hábitos alimentares re-
fazem amizade somente porque já o ouvem sem
flete a inserção crítica dos indivíduos na cultura
atenção excessiva.
de massa.
ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da audição. In: Adorno et al.
d) A racionalidade técnica e a padronização dos Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 190. (Os Pensadores).

valores alimentares permitem ampliar as condi-


As redes sociais têm divulgado músicas de fácil
ções de liberdade e de autonomia dos cidadãos.
memorização e com forte apelo à cultura de massa.
e) A massificação dos produtos alimentares sob
A respeito do tema da regressão da audição na in-
os ditames do mercado corresponde à efetiva
dústria cultural e da relação entre arte e sociedade
democratização da sociedade.
em Adorno, assinale a alternativa correta.
05 (UEL) Segundo Adorno e Horkheimer, “a indús-
a) A impossibilidade de uma audição concentrada
tria cultural pode se ufanar de ter levado a cabo
e de uma concentração atenta relaciona-se ao
com energia e de ter erigido em princípio a trans-
fato de que a música tornou-se um produto de
ferência muitas vezes desejada da arte para a es-
consumo, encobrindo seu poder crítico.
fera do consumo, de ter despido a diversão de suas
b) A música representa um domínio particular,
ingenuidades inoportunas e de ter aperfeiçoado o
quase autônomo, das produções sociais, pois se
feitio das mercadorias”.
baseia no livre jogo da imaginação, o que im-
ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Trad. Guido Antonio de
Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. p. 126. possibilita estabelecer um vínculo entre arte e
sociedade.
Com base nessa passagem e nos conhecimentos
c) A música de massa caracteriza-se pela capa-
sobre indústria cultural em Adorno e Horkheimer, é
cidade de manifestar criticamente conteúdos
correto afirmar:
racionais expressos no modo típico do compor-
a) A indústria cultural excita nossos desejos com tamento perceptivo inato às massas.
d) A tensão resultante da concentração requerida

46 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


EXERCÍCIOS AULA 4

para a apreciação da música é uma exigência


extramusical, pois nossa sensibilidade é natu- 09 (IBFC 2021) Uma dimensão importante das
ralmente mais próxima da desconcentração. Ciências Sociais refere-se à análise da cultura de
e) Audição concentrada significa a capacidade de massa. Sobre este tema, analise as afirmativas
apreender e de repetir os elementos que cons- abaixo:
tituem a música, sendo a facilidade da repetição A problemática emerge na Europa no final do sé-
o que concede poder crítico à música. culo XIX, um momento em que são desenvolvidas
pesquisas sobre os meios de comunicação procu-
07 (UFSC) A racionalidade da dominação da na-
rando entender o impacto das mensagens junto às
tureza para fins lucrativos, colocando a ciência e a
audiências e ao público.
técnica a serviço do capital, é a primeira forma de
A indústria cultural funciona como uma instituição
ditadura, a “ditadura da produção”. Essas observa-
social, competindo diretamente com outras institui-
ções levaram Horkheimer e seus colaboradores do
ções como família, religião, partidos políticos.
Instituto a considerar as relações entre fascismo e
A tendência dos meios de comunicação tem sido
capitalismo.
de homogeneizar, tornar iguais todas as pessoas,
MATOS, Olgária. A escola de Frankfurt: luzes e sombras do Iluminismo. São Paulo:
Moderna, 1993. p. 7. todos os povos, a partir de padrões dominantes.
O texto refere-se diretamente: Isso impõe a quem não se enquadra nestes padrões
com um sentimento de exclusão, pois as identida-
a) à tese frankfurtiana de que a civilização ilumi- des cada vez entram em maior colapso, ao contrário
nista não realizou a promessa de emancipação de se afirmarem, ao mesmo tempo em que possam
da humanidade. respeitar as suas identidades.
b) à junção promovida pelos frankfurtianos entre
A indústria cultural, devido à sua abrangência, irá
a concepção filosófica marxista e a teoria freu-
deslocar duas instâncias importantes da vida social:
diana.
a cultura popular e a arte.
c) à perspectiva alimentada pelos frankfurtianos
Assinale a alternativa correta:
de que o socialismo soviético é o futuro da hu-
manidade. a) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
d) à noção frankfurtiana de que a tecnologia tende b) Apenas as afirmativas II e IV estão corretas.
naturalmente a nos libertar da sociedade total- c) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas.
mente administrada. d) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.
e) à perspectiva desenvolvida pelos frankfurtia- e) Todas as afirmativas estão corretas.
nos de que capitalismo e fascismo são sinôni-
mos. 10 (FCC – SEDUC ES 2022) Por enquanto, a técnica
da indústria cultural levou apenas à padronização e
08 (Enem) Na altamente desenvolvida divisão de à produção em série, sacrificando o que fazia a di-
trabalho, a expressão tornou-se um instrumento ferença entre a lógica da obra e a do sistema social.
utilizado pelos técnicos a serviço da indústria. Um Isso, porém, não deve ser atribuído a nenhuma lei
aspirante a autor pode ir a uma escola e aprender evolutiva da técnica enquanto tal, mas à sua função
as inúmeras combinações que podem ser imagina- na economia atual.
das a partir de uma lista de enredos estereotipa- (ADORNO, Theodor W., HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: fragmen-
tos filosóficos. Tradução: Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
dos. Esses esquemas têm sido coordenados com as 1985, p. 114)

exigências de outros agentes da cultura de massas, Acerca da teoria da “indústria cultural”, desenvolvi-
particularmente a indústria de filmes. da por Adorno e Horkheimer,
HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. São Paulo: Centauro, 2002. p. 105.
a) a esfera da arte passa por um processo de reifi-
Esse trecho de Eclipse da razão alicerça-se no con-
cação, e as obras de arte apresentam-se como
ceito frankfurtiano de:
um sistema que se impõe sobre os indivíduos.
a) diversidade cultural. b) os autores criticam a cultura produzida pelas
b) cultura popular. massas porque essas são agrupamentos hu-
c) indústria cultural. manos caracterizados pela dissolução da indi-
d) cultura erudita. vidualidade, não havendo espaço para o surgi-
e) cultura democratizada. mento do gênio.

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 47


EXERCÍCIOS AULA 4

c) os autores criticam o jazz em virtude de sua


origem popular, que tornou o estilo incapaz de
seguir os cânones da música erudita.
d) os autores criticam o fato de as obras de arte
serem, na sociedade capitalista, objetos de co-
mércio.
e) a música popular e as manifestações folclóricas
são formas artísticas que escapam ao sistema
opressivo da indústria cultural, servindo de lo-
cus para sua crítica.

GABARITO AULA 4
01 - D 05 - D 09 - D
02 - B 06 - A 10 - A
03 - D 07 - A
04 - A 08 - C

48 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


REVISÃO MODULAR

01 (Unisc 2012) “Em um contexto nacional em que mediavelmente. As obras de arte típicas e as relí-
o desenvolvimento econômico é institucionalmente quias da história de cada país não constituem o seu
defendido como a solução para todos os males so- patrimônio privado, e sim um patrimônio comum de
ciais, se faz necessário refletir sobre a forma como todos os povos.
os indígenas são representados nos meios de mídia ANDRADE, R. M. F. Defesa do patrimônio artístico e histórico. O Jornal, 30 out. 1936.
In: ALVES FILHO, I. Brasil, 500 anos em documentos. Rio de Janeiro: Mauad, 1999
de massa na atualidade. A evidente emergência de (adaptado).
discursos anti-indigenistas nestes meios tem con-
sequência direta na vida destas coletividades, na A criação no Brasil do Serviço do Patrimônio His-
forma como são tratadas cotidianamente pelas po- tórico Artístico Nacional (SPHAN), em 1937, foi
pulações não índias, com as quais, inevitavelmente, orientada por ideias como as descritas no texto, que
convivem e compartilham espaços. visavam

Assim como nos séculos passados, não são poucos a) submeter a memória e o patrimônio nacional ao
os episódios de perseguição a minorias autóctones controle dos órgãos públicos, de acordo com a
e quilombolas no Brasil do século XXI. Há uma re- tendência autoritária do Estado Novo.
corrência de manifestações anti-indigenistas, estas b) transferir para a iniciativa privada a responsa-
não se dão de forma regular, estável, mas oscilam, bilidade de preservação do patrimônio nacional,
surgem entre extremos situados entre o esqueci- por meio de leis de incentivo fiscal.
mento-apagamento e o revisionismo-memória de c) definir os fatos e personagens históricos a se-
uma construção de nação que destina um lugar aos rem cultuados pela sociedade brasileira, de
indígenas apenas e tão somente no seu passado.” acordo com o interesse público.
d) resguardar da destruição as obras representa-
Fonte: PRADELLA, L. G.; ELTZ, D. Mídia de massa e anti-indigenismo no sul do Brasil
do século XXI. In: RIO GRANDE DO SUL. Coletivos guaranis no Rio Grande do Sul. tivas da cultura nacional, por meio de políticas
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul/Comissão de Cidadania e Direitos
Humanos, 2010, p. 50). públicas preservacionistas.
e) determinar as responsabilidades pela destrui-
I. O texto defende o fenômeno da aculturação para ção do patrimônio nacional, de acordo com a
resolução e integração dos povos indígenas na legislação brasileira.
sociedade nacional.
II. Segundo os autores, os meios de comunicação 03 (Uenp 2011)
de massa são responsáveis pela fiscalização de
políticas indigenistas, representando todos os
pontos de vista em seus discursos midiáticos.
III. Conforme o texto, a mídia, de forma recorrente,
nega a atualidade dos direitos indígenas na na-
ção brasileira.
IV. Para os autores, discursos anti-indigenistas ba-
seiam-se na defesa do valor histórico das popu-
lações indígenas.
Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa III está correta.
c) Somente as afirmativas I e IV estão corretas.
d) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
e) Somente as afirmativas I e II estão corretas.

02 (Enem 2012) O que o projeto governamental


tem em vista é poupar à Nação o prejuízo irrepará- Sobre a cultura de massa, a indústria cultural e a
vel do perecimento e da evasão do que há de mais pop art, julgue as afirmativas.
precioso no seu patrimônio. Grande parte das obras
I. A Pop Art socializou a arte mantendo o engaja-
de arte até mais valiosas e dos bens de maior inte-
mento político; em suas obras, o sonho america-
resse histórico, de que a coletividade brasileira era
no se dividiu entre promessa e maldição - já que
depositária, têm desaparecido ou se arruinado irre-

50 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


REVISÃO MODULAR

os avanços tecnológicos capazes de preencher o mundial.


mercado com uma série de diferentes produtos II. Veiculam subliminarmente a crença da suprema-
também contribuíam para a criação de armas e cia dos brancos, enquanto suposta raça mais for-
outros objetos que limitavam a liberdade indivi- te e inteligente face aos demais grupos étnicos
dual. do planeta.
II. Indústria cultural é o nome dado a empresas e III. Defendem a ideologia da igualdade necessária
instituições que trabalham com a produção de entre as classes, sem a qual o mundo não pode-
projetos, canais, jornais, rádios, revistas e outras ria viver em paz e em harmonia.
formas de descontração baseadas na cultura, vi- IV. Reconhecem que os verdadeiros super-heróis
sando o lucro e produzindo cultura de massa. não precisam de superpoderes, desde que sejam
III. O grande fato cultural que cerca a televisão é pessoas boas e altruístas.
que, a partir dos anos 50, ela passou a centralizar
Assinale a alternativa correta.
os debates sobre a cultura de massa da mesma
forma que esses debates eram centralizados no a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
cinema nas décadas de 40 e 50, pois quem fala b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
nessas décadas tem como referência os anos c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
dourados de Hollywood. d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmação(ões): e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

a) apenas II. 05 (Unesp 2015) Considere os textos a seguir:


b) apenas III. TEXTO I
c) apenas I e III. “(...) Breve sequência de intervalos, fácil de memo-
d) apenas II e III. rizar, como mostrou a canção de sucesso (...) são,
e) I, II, III. como todos os detalhes, clichês prontos para serem
04 (UEL 2012) Observe a figura a seguir.
empregados arbitrariamente aqui e ali completa-
mente definidos pela finalidade que lhes cabe no
esquema. Confirmá-lo, compondo-o eis sua razão
de ser”.

ADORNO, W. Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Fragmen-


tos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, p. 118.

TEXTO II
“O hit sertanejo lançado em 2012, “Eu quero Tchu,
Eu quero Tcha”, da dupla João Lucas e Marcelo usa
de repetição dessa onomatopeia 224 vezes ao lon-
go da canção que contém 1.084 palavras ao total.
Outra música, do cantor solo Gustavo Lima, tam-
bém merece destaque. A música “Balada - Tche
Tcherere” tem repetição de 80 vezes em 1439 pa-
O Super-Homem ganha poderes pelos efeitos dos lavras. Já em “Bara Bere”, de Cristiano Araújo, 84
raios solares, mas tem uma fraqueza: o minério vezes há repetições em um todo de 428 palavras”.
criptonita. O Homem-Aranha adquire habilidades
depois da picada de um aracnídeo. O Quarteto- ARAÚJO, Priscilla Millan Andrade. Música na indústria cultural: um estudo de caso
sobre o gênero Sertanejo Universitário. XVIII Colóquio Internacional da Escola Latino-
-Fantástico nasce dos efeitos de uma tempestade -Americana de Comunicação e o I Fórum Brasileiro das Tendências da Pesquisa em
Comunicação. São Paulo, UMESP, 2014, p. 11.
cósmica. Um a um, os elementos da natureza tor-
A partir dos pontos de vista expressos nos textos,
nam-se importantes para o nascimento de vários
infere-se que ambos expressam:
super-heróis. Porém, mais do que superpoderosos,
esses heróis de Histórias em Quadrinhos (HQ) tam- a) uma normatização que engloba uma produção
bém “escondem um segredo”: crítica do fazer musical.
I. Reforçam a ideologia de uma nação soberana, b) uma massificação da cultura por meio da valori-
a estadunidense, protegida dos inimigos, o que zação da crítica social.
a credenciaria como mantenedora da liberdade c) uma mercantilização da música calculada para

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 51


REVISÃO MODULAR

as novas demandas populares. e) ilusão da contemporaneidade.


d) uma padronização dos gostos pela homogenei-
zação dos valores. 08 (UFRN 2004) A globalização dos padrões cul-
e) uma desvalorização da harmonia musical usada turais faz parte das estratégias de reprodução das
pela diversidade cultural. grandes empresas capitalistas. Como um dos resul-
tados desse processo, temos a expansão da cha-
06 (Uema 2016) “(...) uma opinião diversa da minha, mada indústria cultural, que:
um modo de se comportar oposto ao meu, obriga-
a) valoriza as particularidades locais e regionais
-me a refletir. Eu me questiono, o que enriquece mi-
da população, reproduzindo sua mentalidade,
nha maneira de ver, de pensar e de agir. Enfim, o
hábitos e padrões culturais.
outro me faz progredir e ajuda-me na construção
b) estimula a produção e a difusão de produtos
de minha personalidade. Não se trata de aceitar,
adequados à economia de mercado, criando
sem refletir, os modismos ou de ser um cata-vento
e modificando comportamentos e hábitos de
girando aos quatro ventos. Trata-se, somente, de
consumo.
se abrir ao mundo exterior, de ficar atento aos ou-
c) cria um modelo de desenvolvimento econômico
tros; ou seja, de estar pronto a compreender, reagir,
centralizado na ação do Estado, favorecendo a
construir. O racismo somente será vencido quando
eficiência do sistema capitalista de produção.
nós soubermos dizer ao outro um “muito obrigado”,
d) consolida as práticas econômicas, seguindo a
tanto maior quanto maiores forem as diferenças en-
lógica do mercado e garantindo aos diferentes
tre nós”.
povos o acesso aos bens de consumo por meio
JACQUARD, Albert. Todos semelhantes, todos diferentes. São Paulo: Augustos,
1993. da interferência do Estado.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.
Os seres humanos se percebem na relação social
com o outro e esse outro, dentro de um possível, 09 (Uncisal 2019) Os primeiros filósofos que detec-
nos leva a refletir sobre o nosso modo de ser, de taram a dissolução das fronteiras entre informação,
pensar e de agir. Na relação do eu – outro constrói- consumo, entretenimento e política ocasionada pela
-se: mídia, bem como seus efeitos nocivos na formação
a) idolatricidade. crítica de uma sociedade, foram os pensadores da
b) identidade. Escola de Frankfurt.
c) igualdade. Disponível em: http://educacao.uol.com.br. Acesso em: 16 nov. 2018.

d) idealidade. Um dos conceitos principais cunhados pela Escola


e) idealismo. de Frankfurt em seus primeiros anos foi o de “in-
dústria cultural”. Com esse conceito, os pensadores
07 (Enem 2016) Hoje, a indústria cultural assumiu
dessa escola buscavam mostrar que:
a herança civilizatória da democracia de pioneiros e
empresários, que tampouco desenvolvera uma fi- a) a cultura é um bem como qualquer outro bem
neza de sentido para os desvios espirituais. Todos de consumo. 
são livres para dançar e para se divertir, do mesmo b) a cultura servia como forma de eternizar o sis-
modo que, desde a neutralização histórica da reli- tema capitalista. 
gião, são livres para entrar em qualquer uma das c) o consumismo poderia desenvolver o senso crí-
inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha da tico da população. 
ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, d) a sociedade capitalista desejava tornar a cultura
revela-se em todos os setores, como a liberdade de acessível a todos. 
escolher o que é sempre a mesma coisa. e) obras literárias e artísticas complexas seriam o
ADORNO, T HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. foco da produção industrial.
Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

A liberdade de escolha na civilização ocidental, de 10 (UEL 2020) Leia o texto a seguir.


acordo com a análise do texto, é um(a): À medida que as obras de arte se emancipam do
seu uso cultual, aumentam as ocasiões para que
a) legado social. elas sejam expostas. A exponibilidade de um busto
b) patrimônio político. [...] é maior que de uma estátua divina, que tem sua
c) produto da moralidade. sede fixa no interior do templo. [...] a preponderân-
d) conquista da humanidade.

52 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL


REVISÃO MODULAR

cia absoluta conferida hoje a seu valor de exposi-


ção atribui-lhe funções inteiramente novas, entre as
quais a “artística”, a única de que temos consciên-
cia, talvez se revele mais tarde como rudimentar.
BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica (Primeira
versão)”. In: Obras escolhidas I. Trad. Sérgio Paulo Rouanet, 8ª ed. São Paulo: Brasi-
liense, 2012. p. 187-188. 

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a


teoria benjaminiana da reprodutibilidade técnica e
do valor cultual e de exposição da obra de arte, as-
sinale a alternativa correta.

a) O valor de exposição da obra de arte reforça os


laços sociais, na medida em que a exposição in-
tensifica a coesão social, possibilitando, demo-
craticamente, o acesso à obra.
b) A mudança do valor de culto para o valor da ex-
posição da obra de arte revela transformações
nas quais esta passa a ser concebida a partir da
esfera pública.
c) O valor de culto da obra de arte expressa a gra-
dativa desvinculação entre o humano e o sagra-
do, considerando que a obra substitui a relação
direta do humano com o sagrado.
d) O valor material atribuído a uma obra de arte
é constituído pela persistência de um valor de
culto na exposição, evidenciado na “aura” que
paira sobre as grandes obras, as chamadas
obras clássicas.
e) O elemento comum entre o valor de culto e o
valor de exposição da obra de arte é o reconhe-
cimento de que a função “artística” é a sua di-
mensão mais importante.

GABARITO REVISÃO
01 - B 05 - D 09 - B
02 - D 06 - B 10 - B
03 - E 07 - E
04 - B 08 - B

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA | SOCIOLOGIA CULTURAL 53

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