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4.1 INTRODUÇÃO
O
O intento da unidade 4 é conceituar e estudar as características e propostas teórico-metodológicas da
Escola Antropológica Culturalista e da Escola Antropológica Interpretativa. É destacada, primeiramente,
a importância dos trabalhos dos culturalistas influenciados por Franz Boas: Edward Sapir, Ruth
Benedict e Margareth Mead. Num segundo momento, são debatidas as concepções da antropologia
interpretativa de Clifford Geertz, que é considerado herdeiro do culturalismo norte-americano.
Na unidade em questão, foram abordados as seguintes temáticas:
» » Culturalismo norte-americano;
» » A Cultura como texto.
Ao final da unidade, o/a estudante será capaz de:
» » Definir e Refletir sobre os procedimentos teórico-metodológicos da Escola Antropológica do Culturalismo
norte-americano;
» » Compreender e entender as propostas epistemológicas da Escola Antropológica Interpretativa e suas
concepções da cultura como texto.
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
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AULA 4 - A ANTROPOLOGIA CULTURALISTA E INTERPRETATIVA
O antropólogo culturalista Edward Sapir é um dos principais estudiosos influenciados por Franz Boas.
Suas análises sinalizaram que a civilização ocidental e os seus ritmos de industrialização ameaçam
muitos modos de viver, agir e pensar nas sociedades. Segundo o antropólogo, a telefonista (como
outros profissionais), por exemplo, é manipulada por uma sociedade que prioriza as técnicas e
processos industrializados e, desse modo, não valoriza os seus modos de ser e viver em culturas
modernas e ocidentais. De acordo com Sapir (apud Rocha; Tosta, 2009, p. 105):
A telefonista (...) empresta a sua capacidade, durante a maior parte de cada dia
de sua existência, à manipulação de uma rotina técnica que tem afinal valor
de eficiência, mas que não corresponde a nenhuma necessidade espiritual dela
mesma, representa um espantoso sacrifício à civilização.
De acordo com Sapir (MARCONI; PRESOTTO, 2011, p. 260), todo comportamento humano apresenta uma
configuração inconsciente, e nem sempre é comunicada à mente do indivíduo. A base dessa vertente
culturalista é a compreensão de que as culturas não são entidades objetivas, mas configurações
abstratas de ideias e padrões de ação, que apresentam significados diferenciados para os indivíduos
de um determinado grupo social.
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ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
Marconi e Presotto (2001, p. 260) exemplificam a postura antropológica de Benedict: “Uma região,
por exemplo, deve ser observada como uma configuração de instituições, costumes, tradições, meios
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de transporte etc., dentro de certa área geográfica, com um caráter próprio”. Nessa vertente, cada
cultura possui “propósitos” próprios ou “molas mestras emocionais e intelectuais” que estão inseridas
nos comportamentos de uma determinada sociedade.
Benedict compreende a cultura como um “grande arco”, sob o qual estão alocados os interesses
e possibilidades da vida humana (Rocha; Tosta, 2009, p.106). Está presente nessa postura teórica a
noção de “padrões culturais”, que segundo a antropóloga, faz referência à cultura como modelo do
pensamento e da ação dos indivíduos (apud MARCONI; PRESOTTO, 2011, p.260):
Uma cultura, como um indivíduo, é um modelo mais ou menos consistente de
pensamento e ação. Dentro de cada cultura surgem objetivos característicos não
necessariamente partilhados por outros tipos de sociedade. Em obediência a
esses objetivos, cada povo consolida cada vez mais a sua experiência, leva os
heterogêneos aspectos de comportamento a assumirem formas cada vez mais
congruentes.
Os padrões culturais, na concepção de Benedict, são preestabelecidos por uma determinada sociedade.
Essa visão compreende que a maioria dos integrantes de um grupo social é moldada pela cultura,
de modo a adotar o comportamento configurado pelo contexto da sociedade - que é o orientador
das condutas humanas no grupo social - e está relacionada com psicologia do indivíduo. Nessa visão,
pode-se afirmar que (idem, 2011, p.185):
Padrões de cultura preestabelecidos, orientadores da conduta, acham-se
intimamente relacionados com a psicologia dinâmica do indivíduo. Contudo, não
se pode admitir, dada a diferença de temperamento das pessoas, uma aceitação
compulsória do comportamento ditado pela sua sociedade. Entretanto, a maioria
dos seus membros é moldada pela própria cultura, adotando espontaneamente
o comportamento configurado pelo contexto em que vive.
Para a antropóloga, o comportamento de um grupo tem raízes no comportamento individual. Desse
modo, pode-se dizer que a sociedade e o indivíduo são interdependentes e não separados (ibidem,
2011,p. 185):
O comportamento grupal tem suas raízes no comportamento individual, não
havendo antagonismo, mas inter-relação entre o grupo social e os membros
que o compõem. A sociedade não pode ser separada dos indivíduos e, por sua
vez, nenhum indivíduo alcançará suas potencialidades sem uma cultura em que
participe.
Benedict também postula que as culturas expressam diferentes comportamentos e padrões emocionais,
o que ela denominou de “configuração dionisíaca e apolínea”. Essas referências foram tomadas de
empréstimo do filósofo Nietzsche, que construiu a noção dionisíaca e apolínea, a partir de metáforas
advindas da mitologia grega, dos mitos de Dionísio e Apolo. Uma sociedade com “configuração
dionisíaca” é aquela que é caracterizada por reações emocionais violentas e uma sociedade com
“configuração apolínea” é a que tem reações emocionais equilibradas.
Pode-se exemplificar a “configuração dionisíaca e apolínea” com os índios Bororo, grupo do Mato
Grosso:
No Brasil, os Bororo, grupo tribal de Mato Grosso, constituem-se em um exemplo
dessas manifestações, durante a realização de um funeral, face à moléstia ou
morte. Nesses casos, torna-se possível reconhecer para o homem Bororo um
padrão “apolíneo” de comportamento, ou seja, conduta emocionalmente
equilibrada, justa e tradicional. A mulher Bororo, por sua vez, reage dentro de
experiências opostas, de caráter violento, reação emocional “dionisíaca”, onde
as emoções são exploradas ao máximo: escarificações, verdadeiras autotorturas,
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são praticadas por elas. É a tensão emocional feminina ante a ameaça constante
do sobrenatural.
(Segundo o dicionário Houaiss: escarificação “é uma série de arranhões ou
pequenas incisões praticadas sobre uma superfície”)
Na visão de Benedict, a cultura de um povo não envolve apenas costumes e tradições, mas, também,
pensamentos, ações e emoções. E, nesse sentido, enfatiza “se o que nos interessa são os processos na
cultura, a única forma de podermos conhecer o significado do pormenor de comportamento escolhido
é vê-lo contra o fundo de motivos e emoções e valores institucionalizados nessa cultura” (apud
ROCHA; TOSTA, 2009, p. 106).
As contribuições da antropologia culturalista e configuracionista, de Ruth Benedic, podem ser
identificadas a partir de quatro critérios (MARCONI; PRESOTTO, 2011, p. 261):
1) Vários conceitos são empregados em sua vertente antropológica: configurações, padrões de
cultura, propósitos, molas mestras, entre outros.
2) Todo comportamento humano é simbólico.
3) As culturas são investigadas a partir de procedimentos etnográficos.
4) Emprego de conceitos psicológicos advindos de Nietzsche e Spengler, ao classificar a cultura
como: “apolínea ou cultura invertida” e “dionisíaca ou cultura extrovertida”.
INTEGRAÇÃO CULTURA/INDIVÍDUO
“Uma cultura, como um indivíduo, é um modelo mais ou menos con-
sistente de pensamento e ação. Dentro de cada cultura surgem objeti-
vos característicos não necessariamente partilhados por outros tipos de
sociedade. Em obediência a esses objetivos, cada povo consolida cada
vez mais a sua experiência, leva os heterogêneos aspectos de compor-
tamento a assumirem formas cada vez mais congruentes”.
“Padrões de cultura preestabelecidos, orientadores da conduta, acham-
-se intimamente relacionados com a psicologia dinâmica do indivíduo.
Contudo, não se pode admitir, dada a diferença de temperamento das
pessoas, uma aceitação compulsória do comportamento ditado pela
sua sociedade. Entretanto, a maioria dos seus membros é moldada
pela própria cultura, adotando espontaneamente o comportamento
configurado pelo contexto em que vive”.
(RUTH BENEDICT apud MARCONI; PRESOTTO, 2011, p.260).
Referência Bibliográfica:
MARCONI, MARINA de A; PRESOTTO, Zélia M. N. Antropologia: uma
introdução. São Paulo: Editora Atlas, 2011.
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Margareth Mead é outra antropóloga de destaque da escola culturalista. Mead teve como preocupação
o estudo de como os grupos sociais criam suas crianças e demonstra como os métodos de socialização
de um grupo estão relacionados à cultura e à personalidade. Nessa dimensão de análise, a
antropóloga desenvolve estudos comparativos de personalidades entre as culturas analisadas e entre
as personalidades masculina e feminina nas culturas (idem, 2011, p. 191):
Investigando outras três tribos da Nova Guiné, os Arapesh, os Mundugumor e
os Tchambuli, desenvolve um estudo comparativo de personalidades nessas
diferentes culturas. Entre os primeiros verificou que homens e mulheres atuam
de forma evidentemente feminina: ambos são maternais, passivos, carinhosos
e gentis. Entre os Mundugumor, tanto os homens como as mulheres agem de
forma predominantemente masculina: são violentos, agressivos, competitivos
e hostis. Entre os Tchambuli, observou uma inversão de papéis masculinos e
femininos, ou seja, as mulheres dirigem e dominam, enquanto os homens são
submissos, passivos e dependentes emocionalmente das mulheres.
São diferenças fundamentais que contrastam com as personalidades masculina
e feminina encontradas nas sociedades em geral, como acontece no mundo
ocidental.
A antropóloga Mead (1976, p. 19-20) analisa que cada grupo social elabora maneiras diferenciadas
de agir e pensar, a partir do que denomina de “novelos” (modelos) universais. Nessa visão, o ser
humano em cada sociedade elabora uma trama cultural:
Trabalhando com novelos tão universais e tão simples como esses, o homem
construiu para si mesmo uma trama de cultura em cujo interior cada vida
humana foi dignificada pela forma e pelo significado. O homem não se tornou
simplesmente mais um dos animais que se acasalavam, lutavam por seu
alimento e morriam, mas um ser humano, com um nome, uma posição e um
deus.
Na trama cultural tecida pelos seres humanos, em cada grupo social, alguns “novelos” são escolhidos,
já outros são ignorados, o que atribui a cada cultura um caráter singular: “(...) Cada povo constrói (essa)
tessitura de maneira diferente, escolhe alguns novelos e ignora outro, acentua um setor diferente
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da gama total das potencialidades humanas. Onde uma cultura emprega, por trama principal, o ego
vulnerável, pronto a sentir-se insultado ou a sucumbir de vergonha, outra escolhe a coragem inflexível
(...) (idem, 1976, p. 19-20).
Margareth Mead estabeleceu três tipos de cultura, demonstrando que há tipos diferenciados de
organização cultural: culturas pós-figurativas; culturas co-figurativas e culturas pré-figurativas. De
acordo com a antropóloga, esses três tipos de culturas podem coexistir nas culturas modernas da
atualidade (FORQUIN, 2003, p. 6-8).
1) As culturas pós-figurativas
As culturas pós-figurativas são sociedades em que prevalecem as autoridades dos mais velhos,
as marcas do passado e a tradição, ao mesmo tempo, em que as mudanças são mais lentas e
imperceptíveis:
As culturas pós-figurativas ocuparam o maior espaço na história humana. São as
das sociedades (ditas) ´primitivas´ e daquilo que a autora chama de ´pequenos
enclaves religiosos ou ideológicos´, em todos os lugares onde predominam a
tradição, a autoridade dos anciões, as marcas do passado. Uma cultura pós-
figurativa é uma cultura na qual a mudança é tão lenta e tão imperceptível que
os avôs, segurando os seus netos recém-nascidos no colo, não são capazes de
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imaginar para eles um futuro diferente do que foi o seu próprio passado (idem,
2003, p. 6-8).
2) As culturas co-figurativas
As culturas co-figurativas são sociedades que os pares substituem os pais como modelos de
comportamentos e aprendizados. Mead exemplifica que os filhos de imigrantes podem aprender
mais com os colegas (pares) do que com seus pais.
(...) numa cultura co-figurativa, a influência dominante não provém dos anciões,
e sim dos «pares», dos contemporâneos, daqueles que, sejam eles crianças ou
adultos, pertencem a uma mesma classe ou categoria de idade. As grandes
civilizações, que desenvolveram necessariamente técnicas para assimilar a
inovação, têm como característica de utilizar algumas formas de educação co-
figurativa entre pares, entre parceiros de jogos, de estudos e de aprendizagem
(idem, 2003, p. 6-8).
3) Culturas pré-figurativas
As culturas pré-figurativas são as sociedades em que os adultos aprendem com os jovens. Pode-se
exemplificar essa questão com as novas tecnologias que fazem com que as gerações mais jovens
ensinem as mais velhas.
No passado, sempre havia adultos que sabiam muito mais coisas do que
qualquer criança, pelo fato de terem crescido no interior de um sistema cultural.
Hoje não existe mais nenhum. Não só porque os pais deixaram de ser guias,
mas também porque não existem mais guias, por mais que se procure por
eles no seu próprio país ou no exterior. Nenhum adulto de hoje sabe do nosso
mundo o que dele sabem as crianças (...) (idem, 2003, p. 6-8)
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O antropólogo enfatiza que fazer etnografia é a construção de uma leitura de realidades culturais que
estão perpassadas por incoerências e estranhezas (idem, 1989, p. 20):
Fazer etnografia é como tentar ler (no sentido de “construir uma leitura de”)
um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas
suspeitas e comentários tendenciosos, escrito não com os sinais convencionais
do som, mas com exemplos transitórios de comportamento modelado.
Nessa dimensão analítica, a antropologia interpretativa de Geertz preconiza que “ver” é apreender os
“sentidos” provenientes de diversas leituras da cultura como texto. O etnógrafo, desse modo, mobiliza
a interpretação de sentidos, é o narrador de uma cultura. Nessa visão, nunca serão produzidas uma
mesma descrição cultural idênticas. De acordo com Laplantine (2004, p. 110), a descrição etnográfica
de Geertz apresenta pluralidades de interpretações da cultura:
Assim a descrição etnográfica enquanto narração de uma cultura, longe de
resolver-se necessariamente enquanto narração de uma cultura, longe de
resolver-se necessariamente na estrutura, é uma questão que também pode
ser colocada em relação com a cultura. Do mesmo fenômeno social, não existe
apenas uma, mas sim uma pluralidade de descrições possíveis - a etnografia
podendo nesse caso ser considerada uma poligrafia – assim como uma série de
leituras possíveis dessa mesma descrição.
A partir das reflexões desenvolvidas por Geertz, Laplantine (2009, p. 111-112) entende que toda
etnografia não resulta em uma descrição neutra da cultura, à medida que considera que uma descrição
pura da cultura não existe. Nessa postura antropológica, toda produção etnográfica é a produção de
autores/leitores, pois é a descrição de um autor e uma descrição para leitores: “Toda a descrição
se situa em relação a uma história, uma memória e um patrimônio sendo construído através do
imaginário”.
Os significados culturais são subjetivos e públicos, pois são atribuídos pelos sujeitos sociais aos modos
de ser e viver o cotidiano e se realizam nas praças, nos mercados, nas ruas, casas, escolas entre
outras. As análises dos significados culturais colaboram em desvelar as representações, ou seja, o
que os seres humanos pensam sobre si mesmos e sobre os outros: “O sentido subjetivo inscrito no
significado de uma ação representa a maneira como os homens experimentam de maneira individual,
portanto, de maneira específica e singular, a sua cultura” (ibidem, 2009, p. 108).
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O que importa para Geertz não é o acontecimento, mas o significado do acontecimento, “o que o ser
humano falou”. Desse modo, o importante é dar voz aos sujeitos sociais (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 110).
Um exemplo de sua escrita etnográfica é a pesquisa que realizou sobre a cultura balinense (de Bali)
e, por meio dessa interpretação, desvenda que não são os galos que brigam, mas os homens através
de seus símbolos (GEERTZ, 1989, p. 315-316):
(...) como quase todos nós, os balinenses estão muito mais interessados em
compreender os homens do que em compreender os galos. O que coloca a briga
de galos à parte no curso ordinário (comum) da vida, que a ergue do reino dos
assuntos práticos cotidianos e a cerca com uma aura de importância comum,
não é, como poderia pensar a sociologia funcionalista, o fato de ela reforçar a
discriminação do status, mas o fato de ela fornecer um comentário metassocial
sobre todo o tema de distribuir a maior parte da existência coletiva em torno
dessa distribuição. Sua função, se assim podemos chamá-la, é interpretativa: é
uma leitura balinesa da experiência balinesa, uma estória sobre eles que eles
contam a si mesmos.
O antropólogo Geertz elaborou uma nova visão sobre o trabalho etnográfico das culturas. O autor
compreende que a interpretação de maior destaque é sempre a do nativo da cultura e a própria
interpretação do etnógrafo é sempre de segunda e terceira mão. O que significa dizer que o
antropólogo realiza “a leitura da leitura” e realiza interpretações sobre as diferenças estabelecidas
no grupo estudado, identificando o “significado inscrito no fluxo do discurso social”. Dessa maneira, o
estudioso irá discutir os códigos culturais construídos historicamente em cada grupo: “(...) descobrir o
acesso às interpretações de uma cultura é como tentar ler as diferenças sensíveis entre uma piscadela
de olho e a imitação de piscadela de olho (...)” (idem, 2009, p. 109)
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SÍNTESE
Discutiu-se na unidade 4 que, no século XX, a partir dos anos 20, foi desenvolvida a escola antropológica,
que ficou conhecida pelo nome de “Culturalismo Norte-Americano”. O Culturalismo teve origem nos
estudos de Franz Boas, nos Estados Unidos, e, influenciou os trabalhos antropológicos de Edward
Sapir, Ruth Benedict e Margareth Mead, dentre outros importantes expoentes (ROCHA; TOSTA, 2009,
p. 102-104).
Primeiramente, foi debatido que o antropólogo culturalista Edward Sapir é um dos principais estudiosos
influenciados por Franz Boas. Suas análises sinalizaram que a civilização ocidental e os seus ritmos de
industrialização ameaçam muitos modos de viver, agir e pensar nas sociedades.
Analisou-se, em seguida, que um dos grandes objetivos da antropóloga culturalista Ruth Benedict
foi o de compreender a totalidade de uma determinada cultura e chegou à conclusão de que há
determinados aspectos da cultura que são assimilados pelos indivíduos e que expressam um tipo de
personalidade idealizada pela cultura. Nessa acepção, grande parte dos integrantes de uma cultura
reflete a personalidade adotada como padrão cultural.
Margarth Mead foi a última culturalista analisada na unidade. Margareth Mead teve como foco
central de seus estudos, o interesse em pesquisar como os grupos sociais criam suas crianças e
demonstra, em seus métodos científicos, como ocorrem as práticas de socialização de um grupo e
como estas socializações estão relacionadas à cultura e à personalidade. Nessa dimensão de análise, a
antropóloga desenvolve estudos comparativos de personalidades entre as culturas analisadas e entre
as personalidades masculina e feminina nas culturas. Nesse sentido, a antropóloga Mead compreende
que cada grupo social elabora maneiras diferenciadas de agir e pensar, a partir do que denomina de
“novelos” (modelos) universais.
Em seguida, foi discutida a proposta antropológica de Clifford Geertz (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 108),
que a partir da década de 60, do século XX, é considerado o mais importante representante da área
da escola antropológica interpretativa (hermenêutica). É conhecido como herdeiro do culturalismo de
Boas, Benedict e Mead e concebe a cultura como o conjunto de textos, sobre os quais o antropólogo
fará leituras sobre o viver cotidiano dos nativos (os “nativos” são os indivíduos pertencentes de uma
determinada cultura).
Na acepção da antropologia interpretativa, a cultura é como um texto a ser lido e interpretado, que
se realiza em todos os locais e, está sempre acessível à interpretação. Cada texto carrega consigo
os significados subjetivos que orientam as ações e as relações dos indivíduos. Nessa perspectiva, a
cultura, concebida como texto, é o mesmo que considerá-la como linguagem. Dessa feita, os seres
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humanos constroem teias de significados tecidas por eles próprios. Então, a cultura é empreendida
por teias e as suas interpretações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEDICT, Ruth. Padrões de cultura. Lisboa: Livros do Brasil, s/d.
FORQUIN, Jean-Claude. Relações entre gerações e processos educativos: transmissões e
transformações In: Anais do Congresso internacional Co-Educação de Gerações. São Paulo:Sesc São
Paulo, 2003, p.1-23.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 2000.
LAPLANTINE, François. A Descrição Etnográfica. São Paulo: Terceira Margem, 2004.
MARCONI, MARINA de A; PRESOTTO, Zélia M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Editora
Atlas, 2011.
MEAD, Margareth. Sexo e temperamento. São Paulo: Perspectiva, 1976, p. 19-20.
ROCHA, G. Culturas e personalidades: as experiências etnográficas de Ruth Benedict e Margareth
Mead nos anos 20-40. Cadernos de Estudos Sociais, v. 20, n. 1, p. 107-128, 2004.
ROCHA, Gilmar; TOSTA, Sandra P. Antropologia & Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
SAPIR, Edward. Cultura “autêntica” e “espúria”. In: PIERSON, D.(org.). Estudos de organização social
– tomo II: leituras de sociologia e antropologia social. São Paulo, Martins, 1946, p. 282-311.
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