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ALAN FABIANO CAETANO DE SOUZA

CURSO DE CRIMINOLOGIA EM SEGURANÇA PÚBLICA E


CRIMES VIOLENTOS CONTRA O PATRIMÔNIO

BELO HORIZONTE
2022
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1- ASPECTOS HISTÓRICOS DA EPISTEMOLOGIA SOB O


ENFOQUE CRIMINOLÓGICO

1. 1 - Concepção criminológica da epistemologia;


1. 1. 1 - Criminologia na visão Racionalista;
1. 1. 2 - Criminologia sob a ótica Empirista;

2 - A CRIMINOLOGIA E SUAS ESCOLAS TEÓRICAS

2. 1 - Escola Criminológica Clássica;


2. 2 - Escola Etiológica;
2. 3 - Escola Radical da Criminologia;
2. 4 - Escola Neokantista Criminal;
2. 5 - Escola Crítica Criminológica;

3 - TEORIA SITUACIONAL DO CRIME

3. 1 - Teorias ambientais do crime;


3. 1. 1 - Teoria das Atividades Rotineiras e a Teoria do Binômio
do Crime;
3. 1. 2 - Teoria da Escolha Racional e a Teoria da Escolha
Sensório-Racional do Crime;
3. 1. 3 - Teoria do Padrão Criminal;
3. 1. 4 - Teoria das Oportunidades;
3. 2 - Teorias sociológicas do crime;
3. 2. 1 Teoria do Labelling Aproach (Teoria da Rotulação
Social);
3. 2. 2 Teoria das Associações Diferenciais;
3. 2. 3 Teoria da Anomia;
3. 2. 4 Teoria das Subculturas Delinquentes;
3. 3 - Teorias psicoambientais do crime;
3. 3. 1 - Teoria das Teias de Significados
3. 3. 2 - Teoria do Efeito Halo;
3. 3. 3 - Teoria do Comportamento Operante

4 - CRIMINOLOGIA E SEGURANÇA PÚBLICA

4. 1 - Criminologia e dogmática penal;


4. 2 - Criminologia e políticas criminais;
4. 3 - Dissociação Criminológica;
4. 4 - Panoramas criminológicos e crimes violentos contra o
patrimônio;
4. 5 - A criminologia na modalidade de Domínio de Cidades.
Percebe como é importante considerar em que medida
uma corrente de pensamento é capaz de determinar mudanças
ou erigir preceitos mundo afora? A vista disso, o
questionamento do Dr. Agra faz todo sentido. A Escola
Neokantista encerrou sua produção literária em 1914, mas
suas obras continuam a gerar efeitos ao redor do globo. O
critério axiológico dessa escola foi muito bem aproveitado por
uma outra corrente, também estabelecida na Alemanha,
denominada de Escola de Frankfurt. Contudo, seus
representantes não ficaram apegados apenas aos conceitos de
Kant, também abraçaram proposições formuladas por Karl
Marx e Friedrich Engels, fundando o que ficou conhecido como
Escola Crítica.

2. 5 - Escola Crítica Criminológica;

A Escola Crítica, como é conhecida majoritariamente,


também é denominada de Escola Radical e Teoria Crítica. Ela
surgiu no início do século XX com o advento do neorrealismo129
de esquerda; do direito penal mínimo, do garantismo e do
abolicionismo penal, que, no fundo, apregoam a reestruturação
da sociedade, extinguindo o sistema de exploração econômica.

129
Baseado no realismo crítico da escola kantiana.
Essa corrente, assumiu postura científico-política, se é que
podemos assim definir.
O professor Nestor Sampaio Penteado Filho (2020)
apontou em sua obra “Manual Esquemático de Criminologia”
que os expoentes da Teoria Crítica produziram processo
investigativo com base em valores ideológicos, principalmente,
por influência das obras dos filósofo Karl Marx, Friedrich Engels
e Immanuel Kant, bem como do antropólogo Charles Darwin e
do psicanalista Sigmund Freud. Essa linha de pensamento
ganhou força com a formação de um número considerável de
intelectuais em Frankfurt, na Alemanha. Esse grupo,
posteriormente, veio a ser afamado de Escola de Frankfurt, um
conglomerado de pesquisadores de diversas áreas das
ciências sociais e naturais, que antagonizaram com a Escola
de Chicago e a Escola Austríaca.
A Escola Crítica veio com uma proposta revolucionária,
de transformação dos conceitos científicos da época, de
maneira a instituir novos paradigmas que pudessem explicar o
crime sob a ótica marxista. Não apenas os conceitos
criminológicos, mas de toda Teoria do Conhecimento. Uma
abordagem multidisciplinar cuja essência teleológica visa a
emancipação da ciência rumo a libertação humana das
amarras das estruturas de poder.
Essa corrente persiste no tempo, sendo produtora de
inúmeras obras nos dias atuais. Há duas divisões temporais
relevantes acerca dessa escola. A primeira está relacionada
com seus precursores durante as primeiras décadas, aqueles
que deram origem ao arcabouço primário da Teoria Crítica, a
segunda versa sobre os teóricos modernos que desenvolveram
essa corrente, aprimorando conceitos mal compreendidos e
ajustaram as tendências atuais. Para efeito de compreensão,
os pensadores de ambas as divisões são considerados nesta
obra como membros da corrente crítica de pensamento.
Nesse sentido, a Escola Radical pode ser considerada
uma corrente de caráter contemporâneo e amplitude
globalizada. Pois, apesar de ter surgido na Alemanha, as ideias
da teoria crítica são desenvolvidas mundialmente com forte
presença na maioria das academias ocidentais e em algumas
do oriente. Com acentuada influência no Direito, na Psicologia,
Sociologia, Antropologia, Neurociência, História, Ciências
Econômicas, Administração e, obviamente, a Filosofia
moderna, os preceitos da Escola Crítica são responsáveis pela
hegemonia das bases que fundamentam as políticas públicas
em toda América Latina, Europa, África, parte do Oriente Médio
e alguns países asiáticos.
Por sua base marxista, a Escola Radical se tornou
referência científico-jurídica nos países de ordem socialista130
(República Moldava da Transnístria, China, Cuba, a Coreia do
Norte, Laos, e a República Socialista do Vietnã), social
democrata (Finlândia, Noruega, Grécia, Romênia, Itália,
Dinamarca, França, Suíça, Países Baixos, Suécia e
131
Portugal ), democracia socialistas (Sri Lanka, Tanzânia,
Bangladesh, Índia e o Brasil), Estado de Bem-Estar Social132
(Inglaterra, Noruega, Alemanha, Canadá, Bélgica, Austrália, )
democracia liberal (Estados Unidos da América) até mesmo em
nações totalitárias (República do Sudão, República do Chade e
República do Congo) e ditatoriais (República da Nicarágua,
Venezuela, Peru e Bolívia133).
Em razão do espectro ideológico-político das nações ao
redor do globo, a Escola Crítica se tornou um expoente no

130
De acordo com as definições constitucionais de cada país.
131
Um breve relato sobre a influência e experiência socialista em Portugal.
Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/41011216> Acessado em
08/10/22.
132
No artigo “Let us face the future-- : the 1945 anniversary lecture” do
ex-primeiro ministro da Inglaterra, Tony Blair, sobre o socialismo fabiano e o
Estado de Bem-Estar Social na Europa. Disponível em:<
https://www.worldcat.org/pt/title/33183288> Acessado em: 08/10/22.
133
Artigo de José Luiz Quadros trás importante diferenciação das
constituições dos países sulamericanos e suas ligações com os princípios
socialistas e a ruptura com o capitalismo. Disponível em:
<https://revistaclc.ceppes.org.br/online/article/download/97/111> Acessado
em: 08/10/22.
campo das ciências sociais e naturais nestes países. A
congruência dos conceitos radicais ao preceito socialista, seja
ele de ordem marxista ou de variantes, como o socialismo
fabiano da Inglaterra, a social democracia dos países nórdicos,
o progressismo europeu ou o leninismo asiático, estabeleceu
uma espécie de simbiose, unindo teoria e prática política na
mesma substância, denominada de Estado de Providência134,
que seria um ponto em comum entre todas as vertentes com
núcleo no garantismo social e, consequentemente, no
garantismo penal.
Podemos considerar como membros dessa corrente de
pensamento, os autores de Primeira Era135 como Karl Marx,
Friedrich Engels, Willem Bonger, Max Horkheimer, Herbert
Marcuse, Walter Benjamin, Erich Fromm, Sigmund Freud,
Theodor Adorno, Jurgen Habermas e Michel Foucault. Os
pensadores de Segunda Geração não eram apenas da Escola
de Frankfurt, mas de outras partes da Europa como Zigmunt
134
O Estado de Providência é um tipo de organização política, jurídica,
cultural e econômica que visa a planificação dos direitos de segunda geração
através de um Estado garantidor, conforme prescreveu Friedrich Hayek. Esse
sistema organizacional é um misto das teorias socialistas, com ideias
progressistas e democratas sociais, Estes afirmavam ser necessário ter um
Estado garantidor de direitos e serviços como saúde, segurança e educação,
além de assistência em outras demandas como moradia e emprego. Todos
os países elencados nesta seção, possuem em suas constituições
dispositivos garantidores dos direitos retromencionados.
135
Disponível em: <Teoria Crítica - Primeira geração: Abordagem marxista e
multidisciplinar - UOL Educação> Acessado em:
Bauman, Luigi Ferrajoli,, Antônio Pablos-Garcia de Molina, e
também da América Latina como Eugenio Raúl Zaffaroni
Sérgio Salomão Shecaira, Nilo Batista e Eugenio Paccelli.
Estes autores, são referência para as academias,
figurando em inúmeras obras jurídicas, filosóficas e demais
ramos das ciências sociais. Consequentemente, fomentaram a
criação de políticas públicas com base em sua linha teórica
construída sob a metodologia lógico-dedutiva.
No campo criminológico, a corrente crítica apresenta o
crime como um produto resultante do tensionamento das
superestruturas sobre os menos favorecidos. Na lógica
dessa linha de pensamento, o fenômeno criminal está ligado à
questões de “força” e “coerção”. Haveria a figura do
“dominante” e do “dominado”, não contemplando os efeitos do
livre arbítrio, resumindo-se, porém, na determinação em razão
das opressões sociais (PENTEADO FILHO, 2012).
Os teóricos dessa corrente estabeleceram três
elementos na definição da compreensão criminológica, sendo
que o primeiro destes refere-se a uma sociedade que passa
por transformações contínuas, o segundo fala que seus
membros estão sempre contribuindo para a dissolução de
sua estrutura e por último, entendem que há uma espécie de
luta de classes, bem ao estilo marxista, porém, os pensadores
de segunda geração, preferem atribuir a desordem à ação
individual ou grupos de pressão que não sejam,
necessariamente, ligados a ideologias (SHECAIRA, 2012).
O professor Nestor Sampaio adverte que a teoria radical
define o processo persecutório das sociedades como parciais,
punindo apenas os mais pobres, ao passo que é leniente com
os poderosos, esse pensamento foi denominado de Teoria do
Etiquetamento Social ou Labelling Approach. A partir daí,
essa escola passou a ser caracterizada, também, de Teoria do
Conflito, na medida em que abriga crença nas referidas
tensões em seu arcabouço postulatório.
Quanto ao infrator, este é fruto do meio em que está
situado. Suas ações não são meras escolhas delitivas, mas
atos criminais praticados num ambiente em que o autor não
tinha à disposição outras opções para seguir senão delinquir. O
delinquente figura como ente passivo no jogo das “forças”
sociais, isto é, o indivíduo autor de crimes, seria sujeito,
geralmente, marginalizado, desprovido do suporte de provisão
e subsistência (1ª força), opresso por uma cultura consumista
(2ª força) que o conduz a um suposto estado de “revolta e
indignação social” (3ª força), influindo em sua decisão de
infringir a lei e o direito alheio, para alcançar aquilo que lhe
falta.
O processo volitivo estaria eivado de efeitos exógenos,
sendo que o aspecto endógeno da escolha pela livre convicção
é relativizado. A decisão é voluntária e individual na prática
delitiva, mas suas bases advém dos tensionamentos
mencionados, que são capazes de imprimir tamanho poder
sobre a mente do delinquente que, seu raciocínio é limitado às
influências exógenas, não existindo espaço para o livre
discernimento.
Acerca da vítima, está é o sujeito do mecanismo
criminológico que goza de pouca atenção nessa corrente,
situando-se apenas como elemento passivo das
circunstâncias ambientais, e em circunstâncias excepcionais,
é entendida como co-responsável para o surgimento do
delito (nos casos em que a vítima apresentasse
comportamentos geradores de oportunidades maliciosas ideais
para um infrator) e co-vítima das tensões sociais junto com
o infrator. Os aspectos inerentes à lesividade da vítima, ao
grau dos traumas, ao potencial ofensivo à que foi submetido,
bem como todos os outros atributos psicológicos relativos à
sensação de insegurança, não recebem qualquer menção nas
obras que compõem a Escola Crítica.
Todos estes parâmetros mencionados nos permite
definir a corrente crítica como uma linha de pensamento cujos
elementos investigativos são: método lógico-dedutivo;
axiologia crítica; realismo crítico e positivismo radical.
Quanto ao método lógico-dedutivo, apesar de ter sido
trabalhado em outras seções desta obra, é importante trazer
algumas informações sobre sua aplicação na escola crítica. A
primeira delas é que o raciocínio parte de uma ideia geral,
realizando processos de verificação até uma conclusão que
explique o objeto particular observado.
Essas características, que tornam as teorias desta
corrente distintas das demais escolas, acabam justificando o
nome radical que lhe é colocado. A forma como o crime, o
criminoso, a vítima e a sociedade são analisados, é singular,
apesar de não consistir numa abordagem neófita. A
conjugação das teorias marxistas e kantianas permitiu que a
revolução científica superasse antigos conceitos
tradicionalistas, motivando a introdução de novas ferramentas
nas políticas criminais e inovação na produção dogmática.
Essa inovação, em grande parte se deve ao modelo de
axiologia crítica adotado, isto significa, um estudo analítico
sobre os valores da sociedade burguesa daquele tempo,
entendendo como é o juízo de valor dos burgueses, bem como
dos proletários. Uma forte crença na ideia de que a sociedade
capitalista burguesa tinha a cultura e o Direito como
mecanismos de gestão da ética, moral e princípios.
A respeito da cultura, esta seria dividida, no
entendimento da corrente crítica, em Cultura Erudita e Cultura
Popular. Nelas, um conglomerado de informações culturais
penetram no tecido social, moldando a moral e a ética, de
ambas camadas, “adestrando” a população, na aceitação das
condições existentes e o império das desigualdades136.
Se tornou crítica porquanto afirmava que o Direito,
ramos responsável por dizer o certo e o errado, juridicamente,
não promovia a universalização dos direitos à todos os
membros da sociedade, mas apenas à elite dos burgos. Assim,
o juízo de valor reinante na mentalidade social possuía uma
aceitação moral do que seria a “exploração” proletária, e tinha
no Direito o respaldo ideal para isso.137
Outro ponto é a dialética marxista. Karl Marx concebeu
em sua obra uma análise comparativa sobre a luta de classes.
Um grupo minoritário dominante e uma coletividade dominada
ou opressa. A elite social, detentora do controle dos meios de
produção e domínio econômico seria a tese, a massiva

136
Disponível em: <Escola de Frankfurt: contexto, objetivos, autores - Mundo
Educação (uol.com.br)> Acessado em: 05/08/2022.
137
Neste artigo que visa criticar expor a visão marxista como ponto
antagônico ao Direito Moderno, há uma substancial menção dos aspectos
históricos desta corrente, sendo um dos pontos abordados a questão do
Direito como instrumento do capital. MOTTA, Luiz Eduardo. Marxismo e a
crítica ao Direito moderno: os limites da judicialização da política
Marxismo e a crítica ao Direito moderno: os limites da judicialização da
política. Ed. Rev. Direito e Práxis. 2019. Disponível em: <SciELO - Brasil -
Marxismo e a crítica ao Direito moderno: os limites da judicialização da
política Marxismo e a crítica ao Direito moderno: os limites da judicialização
da política> Acessado em 05/08/2022.
quantidade de pessoas dependentes de trabalho na cadeia
produtiva figuraria como a antítese. A síntese seria o fim dos
mecanismos de produção privado e o estabelecimento de
uma nova sociedade planificada, sem desigualdade, isto é,
comunista (MOTTA, 2019).
O realismo crítico foi outra ferramenta utilizada pela
Escola Crítica. Como Marx afirmava que o Direito era um
instrumento de manutenção e perpetuação do poder nas mãos
da elite, principalmente, quanto ao Positivismo Jurídico,
arguia-se a necessidade de reformulação das concepções
jurídicas. Assim como o neokantismo aplicou o realismo crítico
visando estabelecer um novo posicionamento que tornasse o
Direito mais ajustado à realidade entendida por eles, também
ocorreu com a corrente da Teoria Crítica.
Os neokantistas queriam um meio termo entre o
jusnaturalismo e o positivismo jurídico, mas os marxistas
visavam a superação destes modelos por um completamente
novo. No fim das contas, construíram uma espécie de
positivismo semelhante ao proposto pelos teóricos kantianos, o
Positivismo Radical, sendo este aspecto jurídico adotado por
ambas correntes.
Com o Positivismo Radical, a Escola Crítica
populariza o garantismo e a ideia de universalização dos
Direitos Humanos. Ocorre uma gradual manifestação da
relativização dos princípios jurídicos paradigmáticos, com
sentido à criação de normatizações que contemplem garantias
aos menos favorecidos.
Como consequência, não apenas o espectro social
proletário é investido de tutela, como também os próprios
infratores existentes dentro da massa são beneficiados pela
reformulação conceitual. Os teóricos fazem uma releitura dos
princípios marxistas e reajustam aos postulados dogmáticos do
Direito e da própria análise criminal.
Observe o quadro a seguir e entenda como se processa
o desenvolvimento investigativo dessa corrente:
Elementos Investigativos da Escola Crítica
Criminológica

Fig. 15 - Elaborado pelo próprio autor.


Conforme exposto, os cinco elementos substanciais do
pensamento crítico são configurados em dois parâmetros: o
aspecto fenomenológico e o aspecto jurídico. Neste último,
encontra-se o Positivismo Radical, enquanto os demais são
características fenomenológicas.
Esse conjunto, delimitou a forma como se analisa o
crime e a compreensão idiossincrática. Conforme demonstrado
na figura nº 1138 desta obra, o entendimento do fenômeno
criminal, se perfaz em observação do espectro
epistemológico racionalista. A construção do conhecimento
criminal é erigida na dimensão do pensamento, através de
raciocínio lógico e dedutivo. A racionalização é a fonte do
conhecimento criminal, através da ponderação exaustiva sobre
as hipóteses delitivas. As informações empíricas são
acessórias, apenas utilizadas para a definição dos rótulos e de
pouca relevância quando da formulação dos conceitos.
Max Horkheimer, um dos principais expoentes da
Escola de Frankfurt, fez a explanação sobre esse método
analítico e trouxe o seguinte entendimento, conforme explicado
pelo Mestre João Carlos Bassani:
“Segundo Horkheimer, esta concepção de
teoria fundamenta-se principalmente no
método dedutivo e no acúmulo de

138
Página xxxxx desta obra.
conhecimento. Trata-se de estabelecer
hipóteses primárias e, a partir destas, por
meio de um processo lógico-dedutivo
expandi-las em hipóteses secundárias. A
validade deste modelo teórico depende da
correspondência entre estas hipóteses e a
realidade factual, já que a função da teoria,
neste caso, é justamente descrever os fatos
[...]” (BASSANI, 2014).
Nesse sentido, podemos depreender que o fato
delituoso é ponderado por sucessivas conjecturas, o qual
abstrai os elementos informacionais do objeto cognoscível até
que se ocorra a simetria entre o evento analisado e a hipótese
formulada. Entretanto, esse objeto cognoscível, não se trata de
analisar um indivíduo, aspecto ou grupo isolado, mas o
parâmetro numa perspectiva social, sobre como afeta a
estrutura social e organizacional, diferente do que a Teoria
Tradicional realizava.
A crítica repousa na negação, a priori, da valoração
pelas características individuais, para uma aceitação, que visa
compreender o que é definido como “constructo social”, ou
seja, o estado social construído por meio das ações de cada
membro social. Na ótica criminológica, seria um conjunto de
ações perpetradas por todo sujeito elementar da
sociedade, o qual não somente o infrator protagoniza o
palco originador do delito, como também os demais
sujeitos são coadjuvantes neste processo.
A vista disso, a teoria de Horkheimer aduz:
“Horkheimer define a Teoria Crítica, neste
primeiro momento, a partir de seu objetivo,
mas o faz de maneira negativa. O primeiro e
visível ponto trata do caráter social da
crítica, isto é, a crítica não é uma questão
subjetiva e não se direciona a aspectos
isolados, indivíduos isolados, ou grupos
isolados, mas à organização da estrutura
social, o que evidencia o segundo aspecto
da crítica: o não alinhamento com a ordem
social vigente. Este não alinhamento
significa também a não naturalização da
ordem social e a necessidade de
entendimento da genealogia histórica do
constructo social. Sendo a realidade social
um constructo, resultado das ações
concretas dos indivíduos, nega-se não
apenas o naturalismo, mas também o
individualismo unilateral, as concepções
fundamentadas isoladamente na
experiência sensível ou na essência
ontológica do ser e da história.” (BASSANI,
2014)
Nesse diapasão, fica evidente que a experiência
sensível é ignorada, isto é, não tem valor para análise criminal
o fato praticado isoladamente, nem por uma pessoa, tampouco
por um grupo específico. O que desperta interesse é a
incidência coletiva, ou o que pode influir na comunidade que
afete sua organização.
Sobre esse aspecto, façamos aqui uma breve pausa,
para despertar o raciocínio do leitor. Utilizaremos os recentes
casos de ataques a escolas no Brasil. Uma onda avassaladora
de crimes hediondos contra estudantes do ensino fundamental
foram alvos de adolescentes e jovens, completamente,
insanos, matando a facadas, tiros e machadadas, crianças e
professores, em localidades de média e baixa renda.
Essa onda139, ocasionou um fenômeno singular de
variadas denúncias sobre ameaças a outras escolas em todo o
país, a ponto de no dia 20 de abril de 2023 (dia e mês que faz
referência ao massacre de Columbine, nos EUA), em vários
estados brasileiros, ocorrer um intenso policiamento nas
escolas para tranquilizar a população de que novos ataques
não aconteceriam, mesmo tendo as corporações constatado

139
Os casos brasileiros tomaram os noticiários em todo o mundo, conforme
exemplo da matéria em questão. Disponível em: <Os dados que mostram
explosão no número de ataques a escolas no Brasil - BBC News Brasil>.
Acesso em: 23/04/2023.
que as ameaças eram, na verdade, fake news, realizada por
jovens irresponsáveis140.
Esse fato em questão, permite ao leitor entender a
magnitude da gravidade dos ataques ocorridos em solo
tupiniquim. De repente, a mídia, a imprensa, as casas
legislativas, o Poder Executivo Federal, representantes do
Judiciário, notáveis das academias de Direito e Ciências
Sociais, entre inúmeros especialistas, discursavam, debatiam,
realizaram milhares de análises sobre esse fenômeno, com
proposições e soluções das mais variadas. Porém, porque toda
essa preocupação não despertou o mesmo interesse, nos
casos de ataque a escolas anteriormente?
A resposta está justamente na maneira como os
criminólogos trabalham a observação delitiva. Não somente
os criminólogos, mas toda a cadeia envolta da criminologia,
como os produtores da dogmática penal, além dos criadores de
políticas públicas para mitigação da criminalidade. Como dito
anteriormente, a Escola Crítica se mobiliza para analisar
apenas os fatos cujas nuances são relacionadas com o
“constructo social”, os aspectos isolados ou individualmente
unilaterais, não são apreciados, apesar de notados.

140
Disponível em: <Ataque a escolas: boatos viralizam no WhatsApp e criam
pânico entre pais - BBC News Brasil>. Acessado em: 23/04/2023.
Assim, obviamente, os casos recentes receberam maior
atenção pois a intensidade e velocidade entre um ataque e
outro afetou direta e profundamente esse “constructo”,
diferentemente, dos casos pretéritos, que ocorriam de maneira
isolada e com baixíssima frequência. Essa é uma das
características do pensamento crítico, as questões empíricas
não são observadas, somente se delas resultarem em
profundas mudanças sociais.
Para W. Bonger141 a criminalidade estaria relacionada
às condições sociais e econômicas. As questões
idiossincráticas do infrator são praticamente descartadas, pois
suas decisões seriam fruto das circunstâncias em que ele
estaria envolvido, sejam elas de ordem econômica, religiosa,
familiar, cultural e até mesmo psicológica. O parâmetro
econômico seria o principal elemento de influência na
mentalidade delitiva. O capitalismo incentivaria o consumo
excessivo e a busca pela satisfação pessoal, não apenas como
subsistência mas também como estilo de vida, isso fomentaria
pessoas sem provisão financeira a buscar as mesmas
condições, porém, através do crime. Outra hipótese seria uma

141
Carlos Luiz de Lima e Naves faz uma abordagem interessante sobre a
Criminologia do Conflito e de seus teóricos. Disponível em:
<http://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/201702/INTERATIVAS_2_0/EXPA
NSAO_DA_CRIMINALIDADE/U1/LIVRO_UNICO.pdf> Acessado em:
23/04/2023.
suposta indignação por viver às margens da sociedade e como
forma de protesto, pratica-se o delito a fim de manifestar essa
contrariedade à toda a sociedade.
Essa visão axiológica de Bonger, colocou a criminologia
crítica no patamar das teorias políticas, haja vista que o
núcleo postulatório encontra-se fundado na indicação que a
mitigação criminal ocorreria somente com o fim do capitalismo.
Deste modo, o conjunto conceitual extrapola os limites do
campo científico e alcança a seara política. Na verdade, a
Escola Crítica, que era calcada no marxismo filosófico, base
ideológica da esquerda, se apresentou como selo científico
para a validação das novas propostas revolucionárias que
deveriam ser feitas na sociedade criticada. Acerca disso o
professor Carlos Luiz de Lima e Naves prescreveu em sua obra
a seguinte proposição:
“Apenas com o desaparecimento do
capitalismo, poder-se-ia pretender a
eliminação do crime. Um dos expoentes
dessa escola, W. Bonger, chegou a anunciar
que o capitalismo seria um modelo que
valorizava o lucro, a competição e, portanto,
a acumulação do patrimônio, o que
provocava, entre as pessoas, sentimentos
perversos e contrários à vida em sociedade,
como o egoísmo e a hostilidade aos
comportamentos solidários.” (NAVES, 2017)
O leitor pode vislumbrar que os intelectuais da Escola
de Frankfurt faziam a associação entre parâmetros econômicos
e problemas de ordem psicológica como perversão, egoísmo e
hostilidade. De alguma maneira, um indivíduo que tenha
nascido num ambiente propício à desordem, estaria
condicionado às inclinações violentas fruto das tensões
econômicas. Estas tensões, na medida em que são
capitalizadas pela pessoa marginalizada, nalgum momento de
sua vida, desencadearia à prática delitiva.
O psicanalista Sigmund Freud também acreditava
nessa ideia. Por questões de repúdio às técnicas absurdas de
eletrochoque aplicadas no tratamentos das pessoas violentas e
doentes, o autríaco, passou a defender uma espécie de “cura”
ou “restauração” das pessoas violentas através da técnica
de Livre Associação de Idéias, ou seja, a “cura pela fala” ou
pelo “diálogo”. Segundo seu entendimento, as tensões sofridas
por determinada pessoa, poderiam vir à tona, como resposta
violenta, mesmo que de maneira inconsciente. Em estudo
realizado por Jéssika Clementino142, a autora fez o seguinte
comentário sobre a teoria de Freud:
“Assim, afirmou que nada acontece por
acaso dentro dos processos mentais. Cada
manifestação da mente é resultado de uma
atividade consciente ou inconsciente,
determinada por um fato pretérito que foi
recalcado (deixado para outro momento) ou
reprimido (“esquecido”), e que pode vir à
tona através dos sonhos, chistes, atos
falhos ou sintomas.” (CLEMENTINO, 2014)
Nesse sentido, a Teoria Crítica passou a endossar que
o crime não pode ser visto apenas como fato social, mas como
produto das misérias sociais. Desta forma, as soluções para a
mitigação da violência tomariam rumo, completamente,
diferente do que as teorias clássicas haviam delimitado até
então, por isso todo o discurso deveria seguir o viés da
eliminação do sistema capitalista.
Nesse ínterim, o instrumento de investigação
criminológica assumiu o papel de coadjuvante político, ao
sugerir que um sistema político seria a causa criminal. Olhando

142
Neste trabalho, a teoria freudiana é associada com a teoria da
culpabilidade do Direito Penal. Disponível em:
<http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/8469/1/PDF
%20-%20J%C3%A9ssika%20Emmilly%20Leite%20Clementino.pdf>
Acessado em: 23/04/2023.
dessa maneira, parece um tanto preocupante tal problemática,
ainda mais se considerado a envergadura que dispõe essa
corrente nas camadas educacionais, políticas e jurídicas
mundo afora.
Entretanto, para os pensadores de tal linha
criminológica, a Escola Crítica visa apresentar soluções
apartadas de toda concepção construída pela criminologia
tradicional e isso diz respeito também ao sistema político, já
que este é visto como fator causal dos problemas sociais.
Segundo a teoria habermasiana, os problemas sociais e a
criminalidade estão intimamente ligados, e a substância que
fomenta a manutenção dessas moléstias decorre do sistema
em questão.
Para haver uma mudança no quadro, seja criminológico
ou até mesmo da justiça, seria preciso, em tese, planificar o
usufruto dos direitos e garantias fundamentais. Isso só
seria possível através do que Jurgen Habermas denominou de
um processo de “razão comunicativa”, em seu tratado “Teoria
do Agir Comunicativo”:
“A noção de justiça emerge, portanto, de
uma decisão fundada nas discussões que
chegam a determinado acordo (consenso).
E ela começa considerando a igualdade das
liberdades e dos direitos individuais na
participação das discussões. Então, em
último caso, a noção de justiça não é dada,
mas é descoberta na discussão, via razão
comunicativa. A Justiça depende do
constante exercício do poder comunicativo.
Por conseguinte, com a Justiça pode-se
chegar ao bem: ‘na medida em que só
admite normas que contem com o interesse
comum de todos. Só este privilégio
universalista do igualmente bom para todos
sublinha o ponto de vista moral no momento
da fundamentação de normas"
(HABERMAS, 1990, p. 171).
É por meio desse entendimento e valoração axiológica
que, numa análise dialética a Teoria Crítica coloca em xeque
toda a estrutura de pensamento criminológico concebido ao
longo do tempo. Não raro, se discute qual a intensidade do
poder transformador a respeito dos efeitos da aplicação da
teoria crítica, haja vista que, quanto mais influência exerce num
determinado campo prático, maior é a transformação da ordem
social. Isto é, à medida que são reformulados as estratégias
das políticas criminais, o “constructo social” adquire novas
formas.
Os valores basilares que fundamentavam as políticas
predecessoras, recebem novas conceituações, que culminam
na adoção de posturas alternativas, seja no judiciário, na
dogmática ou na própria política de controle criminal. Por sua
vez, a camada social que tem contato como este novo modo de
agir do sistema, adquire por meio das interpretações
não-noéticas, um raciocínio diferente de outrora, alterando
suas convicções a respeito do contexto criminológico e social,
induzindo a transformação de sua tradição cultural, simbólica e
moral.
Tomemos como exemplo a transformação jurídica
ocorrida no mundo a partir dos anos sessenta em diante. A
mudança acentuada na interpretação dos princípios jurídicos
foi iniciada pela atuação do grupo denominado Magistratura
Democrática143, que surgiu em 1964 na Europa.
Declaradamente alinhados com o espectro político de
esquerda, esse movimento buscou produzir material dogmático
que visasse a renovação de todo arcabouço teórico na senda
jurídica.
No site desse movimento consta a seguinte descrição:
“Por volta de meados dos anos sessenta
houve uma profunda crise da cultura
jurídica, até então homogênea, que viu seus
valores tradicionais questionados: dessa

143
O movimento de notáveis juristas de esquerda, defensores da Teoria
Crítica, construíram um conglomerado de produções literárias no campo da
dogmática penal, influenciando outros grandes nomes do Direito mundo
afora. Disponível em: <História do grupo (magistraturademocratica.it)>
Acessado em 20/12/2022.
crise o Judiciário Democrático é expressão
e força motriz. A segurança jurídica, a
neutralidade de interpretação, o papel
meramente técnico do juiz, tudo isso é
contestado e repensado. Nasce uma nova
classe de juristas – de Rodotà a Bricola, de
Cordero a Ghezzi – que se une ao Judiciário
Democrático na análise e elaboração de
novas propostas.” (MAGISTRATURA
DEMOCRÁTICA, 2022)
É evidente que esse movimento teve por escopo a
mudança do entendimento sobre questões sagradas no campo
jurídico e também criminológico. Como exposto na citação
acima, há uma profunda preocupação sobre questões como
segurança jurídica, interpretação jurídica, técnica forense,
entre outros. Isso afeta diretamente o trato fenomenológico
delitivo, tendo em vista que, a mudança desses conceitos,
quando colocados em prática, interferem em processos
judiciais e, consequentemente, na mitigação, manutenção ou
até fomentação da delinquência.
Esse movimento está contido dentro do bojo do
Positivismo Radical ou Crítico, por razões de seu braço
jurídico. A “nova criminologia” é influenciada pelos operadores
do Direito, do qual, um dos principais nomes é o italiano Luigi
Ferrajoli. Personalidade que exerce grande influência na
doutrina mundial e, principalmente, brasileira, além de subsidiar
a extensão do respectivo movimento em solo sul-americano,
com a ajuda do argentino Zaffaroni144 (REZENDE, 2018).
No Brasil, temos registros da atuação desse grupo, com
a realização de conferências e simpósios145 realizados pela
Associação de Juízes para a Democracia, que reúne centenas
de magistrados progressistas de todo o país. Como citado em
nota de rodapé na seção anterior sobre a introdução da Teoria
da Co-culpabilidade - conceito criado pela Escola Crítica - em
sentença judicial prolatada pela Quinta Câmara do Tribunal do
Rio Grande do Sul, relatada pelo então Des. Dr. Amílton Bueno
de Carvalho (Apelação Crime n.º 70002250371, Julgado em
21/03/2001), o julgado em questão revelou como o
Positivismo Crítico tem produzido resultados práticos na
jurisprudência nacional.
O Desembargador Dr. Amilton Bueno, conhecidamente
como militante da corrente “magistratura democrática”146,
introduz em suas atuações como juiz, os postulados

144
Disponível em: <(Re)estruturação da magistratura no Brasil -
Democratização do poder judiciário no Brasil - Livros e Revistas - VLEX
812937045> Acessado em 20/12/2022.
145
Disponível em: <https://ajd.org.br/eventos> Acessado em: 20/12/2022.
146
O magistrado possui obras publicadas em revistas da Associação de
Juízes para a Democracia, conforme pode ser constatado na obra “Justiça e
Democracia: revista semestral de informações e debates”. Disponível em:
<https://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:rede.virtual.bibliotecas:livro:1998;000
197826> Acessado em 20/12/22.
conceituais da corrente crítica. Não somente este caso, mas
tantos outros que mostram como a prática jurídica tem sido
alterada pela força dos pensadores da corrente crítica.
A teoria da co-culpabilidade é um princípio jurídico que
não está expresso no ordenamento brasileiro, entretanto, tem
sido apreciado e introduzido em nossa jurisprudência pela
militância do pensamento radical. Ocorre que, assim como
aconteceu na apelação acima, muitos réus são beneficiados
com atenuação de suas penas por meio da aplicação destes
postulados. Obviamente, a fundamentação visou a promoção e
garantia dos direitos do apenado, conforme a convicção do juiz,
entretanto, tais benesses, não são aproveitadas pelos
beneficiários como uma oportunidade de diminuir seu
sofrimento, nem tampouco para lhes motivar a não
reincidência. Pelo contrário, passou a conferir efeito reverso,
como reforço positivo à prática delitiva.
Um apenado que desfruta de tal benefício, transmite a
informação de seu processo aos demais colegas do sistema
prisional, alimentando a crença de uma flexibilização das
normas penais e, até mesmo, da execução penal. Dá o tom de
redução do ônus referente ao delito que o levara à perda de
sua liberdade, ampliando sua esperança de logo retornar às
ruas e, futuramente, voltar às velhas práticas criminais.
Denota-se, então, que as transformações ocorridas na
dogmática jurídica, contribuíram para a reformulação do
“constructo social”. Na visão radical, a mudança é positiva, mas
para os etiólogos, é um desastre. Inegável é a constatação
dessa mudança. Para um infrator submetido às atenuantes da
"Co-culpabilidade", confere a certeza de que a sociedade é
corresponsável por sua situação de “marginalidade”.
Em entrevista ao jornal Correio Braziliense147, um jovem
aponta suas motivações para ter percorrido a trilha delitiva, que
indica como fator principal a falta de acesso às oportunidades
da boa educação, saúde e trabalho. O editorial ainda define da
seguinte maneira:
“Caíque é um dos 866 adolescentes que
cumprem medida socioeducativa por meio
da internação, atualmente no Distrito
Federal. Ele é exemplo de como a falta de
educação de qualidade e fácil acesso às
drogas pode marcar desde cedo o destino
dos jovens. De acordo com o professor de
Políticas Públicas da Universidade de
Brasília e da Universidade Católica de
Brasília (UCB), Vicente Faleiros, a política

147
Matéria publicada no site Correio Braziliense. Disponível em:
<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2017/09/0
2/interna_cidadesdf,622868/adolescentes-infratores-relatam-o-que-os
-levou-a-violencia.shtml> Acessado em: 20/12/2022.
educacional do país deixa a desejar. Para
ele, o caminho da mudança é a prevenção
como principal recurso. ; uma das causas
de jovens no crime é o descaso do estado
em dar oportunidades de estudo, formação
e inserção no mercado. A escola precisa
atrair, estimular e acolher esses
adolescentes. Só repressão não adianta,
prender não resolve. É preciso prevenir,
analisa” (CORREIO BRAZILIENSE, 2017).
As justificativas sociais foram internalizadas na
mentalidade dos sujeitos presentes na matéria jornalística.
Infratores, policiais, “especialistas” das Universidades, além do
próprio redator, colaboram para que o leitor tenha por certo a
crença da co-responsabilidade da sociedade na prática delitiva.
Esse exemplo é prova de que a cultura social tem sido afetada
pelos conceitos da Escola Crítica e, aos poucos, ganha corpo,
tonifica e segue produzindo novas conjecturas que alteram as
bases estruturais da sociedade, tão criticadas pelo marxismo
criminológico, cujo objetivo é a sua extinção.
A Escola Positiva sempre pautou suas discussões numa
propositura que estivesse alijada das influências morais e
políticas, porém, a Escola Crítica não teve essa preocupação.
Por isso, é considerada uma corrente de vertente
científico-política. É impossível separar estas duas
características, por maior que seja o esforço de seus
defensores, a técnica axiológica crítica e a análise dialética
marxista estão intimamente ligados à esteira
político-ideológica.
O professor Miguel Reale, com sua Teoria
Tridimensionalista do Direito148, tentou mostrar que os
estudos em torno das circunstâncias jurídicas, levavam em
consideração três dimensões: dimensão do fato, do valor e
norma. Apontando a existência de um terceiro elemento
infra-científico149 (valor) como fonte da produção teórica.
Obviamente, o recorte desta análise, encampou-se na senda
da dogmática jurídica, entretanto, como a dogmatismo é parte
dos estudos criminológicos, podemos inferir que os mesmos
elementos são utilizados em toda investigação dos fenômenos
criminais, sejam eles sob a ótica jurídica, sociológica ou
criminológica.
Na verdade, após a segunda guerra mundial, a Escola
Crítica investiu pesadamente na elaboração de tratados com

148
Disponível em: <Teoria tridimensional do direito de Miguel Reale: conceito
e importância - Jus.com.br | Jus Navigandi> Acessado em: 20/10/2022.
149
Denominamos de “infracientífico” todo elemento constituinte de processos
analíticos que, apesar de subsidiar uma proposição científica, não é por si só,
produto totalmente científico, mas um substrato infra (abaixo) científico. Deste
modo, ao incluir o estudo dos valores no processo investigativo, o
pesquisador, permite que todas as informações decorrentes da moral, da
ética, da cultura, da política e etc, sejam fontes na produção de conceitos
criminológicos e jurídicos.
carga axiológica. Por isso, a introdução do “valor” como
substância elementar da pesquisa se tornou imprescindível
para seus adeptos. Na crença dos pensadores desta corrente,
o método para depurar as nuances inerentes ao “valor” deveria
compreender uma axiologia diferente do que foi empregado
pelos filósofos do iluminismo, seu foco teria de ser em tom
crítico através do exercício do pensamento dialético.
Essa inovação, permitiu que todo o processo de
produção de conhecimento fosse alterado, haja vista que a
carga axiológica facilitou a inserção de informações derivadas
da cultura, como bem definiu Miguel Reale, além de outros
elementos advindos de ideologias políticas eivadas reflexões
revolucionárias sobre a ética e a moral. Resumidamente, tais
substratos, fizeram desta escola, uma corrente que trabalha
com a lógica e a dedução, num olhar axiologicamente crítico,
mas com linha de pensamento pela dialética marxista,
porquanto questionam a estrutura social e se baseiam no que é
chamado de realismo crítico. Como produto disso, surgiu o
Positivismo Radical, que daria a forma jurídica ideal para
justificar e colocar em prática os postulados desta escola,
conforme o quadro da figura 15, desta seção, sobre os
“Elementos Investigativos da Escola Crítica”.
Sob esse prisma, podemos definir que a Escola Crítica
visa promover um novo paradigma no sistema de justiça
através da transformação dos instrumentos sociais. Sua
finalidade compreende a reformulação dos mecanismos difusos
que compõem o corpo social de modo que tais mudanças
serviriam como ferramentas corretoras das desigualdades e
dos tensionamentos em sociedade, bem como do que muitos
chamam de estado de coisas inconstitucional150.
Outro exemplo, trata-se dos manuais do CNJ. São
produtos elaborados pelo Conselho Nacional de Justiça, com
escopo de “orientar”, “alinhar as práticas jurídicas dos
magistrados” e “definir” um padrão de ações no trato da vida
jurídica nos tribunais brasileiros. No site do CNJ consta a
seguinte afirmação:
“Com a elaboração e apresentação desses
manuais, o CNJ trabalha lacunas nos
protocolos e na forma de atuação dos juízes
na audiência de custódia. É um conteúdo
que se alinha à estratégia de enfrentar o
estado de coisas inconstitucional do
sistema carcerário a partir de iniciativas
planejadas, abrangentes e integradas”
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA,
2020)

150
O estado de coisas inconstitucional faz referência a uma situação de risco
generalizado da supressão de direitos, violando sistematicamente as
garantias constitucionais dos cidadãos, fomentados pela omissão do Poder
Público ou por práticas ineficientes do Estado.
É notório que o fundamento que alicerça os manuais
está no combate ao “estado de coisas inconstitucional”.
Entretanto, o conteúdo de que trata os referidos documentos,
está eivado de elementos conceituais originados pela Escola
Crítica. Proposições que remontam à luta de classes, às
dissensões raciais, à cultura do consumo, ao desprezo da
figura feminina, e toda gama de argumentos que visam mitigar,
em tese, a violação dos direitos das minorias.
No “Manual Sobre a Tomada de Decisão na
Audiência de Custódia: Parâmetros Gerais”, encontramos a
seguinte recomendação aos magistrados brasileiros:
“Reconhecendo o perfilamento racial nas
abordagens policiais e,
consequentemente, nos flagrantes lavrados
pela polícia, cabe então ao Poder
Judiciário assumir um papel ativo para
interromper e reverter esse quadro,
diferenciando-se dos atores que o
antecedem no fluxo do sistema de justiça
criminal. Há várias maneiras de se fazer
isso. Nos limites deste documento, são
indicadas algumas “portas de entrada”, isto
é, momentos específicos do processo
decisório em relação aos quais a incidência
de estratégias de contenção e reversão
desse quadro parecem ser especialmente
promissoras. São elas: (i) a justificativa da
abordagem policial indicada no APF e (ii) os
elementos que indicam a “presunção” de
autoria da infração que autoriza o flagrante
no art. 302, III e IV do CPP. Parte-se aqui de
uma formulação incisiva. Diante de uma
pessoa negra, qualquer menção a
“atitude suspeita” ou expressões
equivalentes no APF revela perfilamento
racial e deve gerar o relaxamento do
flagrante. O mesmo deve ocorrer no
tocante às hipóteses legais do flagrante que
indicam “presunção de autoria” (art. 302, III
e IV). Para reverter o quadro de
sobrerrepresentação, estabelece-se
possibilidades interpretativas das normas
processuais aptas a gerar o resultado
(afirmativo) do relaxamento do flagrante.”
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA,
2020)
Ao tratar de questões óbvias para um bom andamento
processual, no que tange às fundadas razões para a ratificação
da prisão de uma pessoa, o manual insere proposições
assentadas no arcabouço da Teoria Crítica, como
“perfilamento social”, “racismo estrutural” e tantas outras,
ocasionando a inferência de que os agentes públicos são
responsáveis por manutenir uma, hipotética, estrutura estatal
discriminatória e opressora. Isso paira ao absurdo, sendo
impensável para qualquer mente sã. Há que se falar também
sobre o questionamento da “presunção” das ações policiais,
colocando em xeque, o trabalho policial e toda estrutura
persecutória.
Sabemos que há muitas falhas no sistema de justiça
pátrio, somente um tolo negaria a existência de mazelas dentro
do Poder Público, mas colocar a pecha generalizadora de um
mecanismo público, em tese, voltado para práticas
discriminatórias é um exemplo claro de influência ideológica no
contexto técnico-científico. Como resultado de tais políticas,
quase metade (40%) das prisões efetuadas “EM FLAGRANTE”
no país são relaxadas151 ou revogadas nas audiências de
custódia.
Isso implica no encadeamento de diversos efeitos. O
primeiro deles é a devolução sistemática de infratores ao
tecido social, colocando-os na seara habitual de sua
delinquência. Ora, se essa reversão é por vício do Estado,

151
Matéria do Estadão sobre o efeito das audiências de custódia, sobre a alta
taxa de relaxamento e revogação de prisões em flagrante. Disponível em:
<https://www.estadao.com.br/sao-paulo/audiencia-de-custodia-revoga-40-das
-prisoes/> Acessado em 22/12/2023.
então duas hipóteses podem ser cogitadas: ou os policiais se
especializaram em prender milhares de pessoas em curto
espaço de tempo, forjando suposto flagrante, com objetivo
meramente racista - e isso remontaria ao racismo estrutural -
ou a máquina pública está sendo utilizada, erroneamente - na
melhor das possibilidades - para libertar criminosos que
deveriam estar segregados em razão da manutenção da
ordem e paz pública.
A segunda implicação trata da sensação de
insegurança e sensação de impunidade. Aspectos
subjetivos, de difícil mensuração, mas de grande influência na
cultura social, quando constatado através do clamor público. O
terceiro ponto, versa sobre como a subcultura criminal assimila
tais mudanças e como, numa perspectiva da escolha
racional, podem se utilizar disso para ampliar sua capacidade
ofensiva, bem como a maximização do poder econômico
oriundo da atividade delitiva e a perpetuação das práticas
criminais como atividade-meio. Há muitos outros elementos
para o debate, mas estes poucos permitem entender como se
dá o quadro criminal após as transformações realizadas pelas
políticas criminais derivadas das conjecturas radicais.
Contudo, o CNJ não gastaria tanta energia na produção
de tais materiais se não houvesse, previamente, estudos que
embasam a criação de políticas como essas. A respeito do
perfilamento social, podemos citar, a título de explicação sobre
como ocorre a fundamentação das políticas públicas
ideológicas, o caso da manipulação de dados estatísticos
para sustentação de postulados ideológicos152, presente no
“Mapa da Violência de 2016”, publicado pela Flacso do Brasil,
sob coordenação do pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz.
Resumidamente, a publicação em questão, traz em suas
tabelas 9.1 e 9.2, o quadro de “Homicídios por Arma de Fogo”
segundo raça/cor e causa básica, no ano de 2014. Os dados
aparecem da seguinte maneira:

Fig. 16 - Fonte: Mapa da Violência - 2016

152
O exemplo em questão, não visa fazer um combate ad hominen para
desconstruir o conteúdo promovido pelo estudo em tela, mas revelar como os
dados apresentados, dão o tom de manipulação, em razão da ausência de
obediência aos métodos científicos, conforme demonstramos aqui. O caráter
ideológico dessa manipulação se evidencia, justamente, pela acentuação de
determinado parâmetro comparativo (brancos e negros”), indicando a linha de
pensamento e pesquisa da obra.
Logo depois, a próxima tabela apresenta os seguintes
dados:

Fig. 17 - Fonte: Mapa da Violência - 2016.


Nota-se que na primeira tabela, são expostos o
quantitativo de óbitos por armas de fogo, apontando as etnias
“branca” (com 9.766 óbitos), “preta” (3.459 óbitos), “parda”
(26.354 óbitos), “amarela” (61 óbitos), “indígena” (59 óbitos) e
“ignorado” (2.592 óbitos). Na segunda tabela, são
apresentados o quantitativo de homicídios por arma de fogo do
mesmo ano, dividindo em “branco” e “negro” os grupos étnicos.
Entretanto, há uma situação no mínimo estranha. Ao observar
os números do seguimento “branco”, eles coincidem com a
primeira tabela (9.766 óbitos), mas ao analisar o grupo “negro”,
aparece elevado número de 29.813 óbitos. Isto é, somaram os
números dos “pardos” e “pretos”, englobando-os no grupo
“negros”. Na justificativa para a classificação de cor, o estudo
explica:
“No quesito raça/cor, o Ministério da Saúde
acompanha a classificação proposta pelo
IBGE, que estabelece as cinco categorias
acima mencionadas. Com base em
pesquisas recentes, inclusive do próprio
IBGE, nas análises a seguir utilizaremos a
categoria Negro, resultante do somatório de
Pretos e Pardos. Com esse mesmo intuito,
pelas dificuldades de conciliar as fontes
utilizadas para a estimativa das taxas,
trabalharemos apenas com as categorias
Branco e Negro, dado que, como podemos
observar na Tabela 9.1, a incidência de
indígenas e amarelos nos óbitos analisados,
como também na população, é
extremamente baixa e com concentração
em algumas unidades federativas.” (MAPA
DA VIOLÊNCIA, 2016)
A fonte referenciada para a classificação das raças
deriva de publicação do IBGE, sendo a obra de José Luiz
Petrucelli153, “A Declaração de Cor/Raça no Censo 2000. Um
Estudo Comparativo”. Porém, o título em questão, faz apenas
a distinção em como a população brasileira se identificava, não

153
PETRUCCELLI, J.L. A declaração de cor/raça no censo 2000. Um
estudo Comparativo. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.
fazendo qualquer menção numa estrutura étnica maior como o
grupo “negro”, tampouco, define quais raças pertenceriam a
esse grupo.
O Mapa da Violência não explica a metodologia que
empregou para a construção do parâmetro “negro”, mas deixa
claro que somente apresentou em tabela, “brancos” e “negros”,
por razão das demais etnias corresponderem a números
ínfimos. Metodologicamente, há uma falha na forma como o
estudo apresenta os dados, haja vista que, expõem os
elementos de maneira parcial, excluindo parâmetros que
deveriam ser trabalhados igualmente. Ou seja, ao colocar os
pardos com pretos, está configuração formou o grupo “negro”,
porém, por lisura metodológica, os pardos também deveriam
estar contidos em outros grupos, que somassem os “amarelos”,
“indígenas” e até mesmo, os “brancos”, a fim de que fosse
possível compreender claramente o fenômeno a que se
pretendia analisar.
O próprio Petrucelli em outra obra denominada “A Cor
Denominada: Estudos Sobre a Classificação
Étnico-Racial”154, aponta que ao longo da história brasileira e
dos recenseamentos realizados no país, a população sempre
se definiu pela tonalidade da pele e não por alguma crença

154
PETRUCCELLI. José L. A Cor Denominada: Estudos Sobre a
Classificação Étnico-Racial. Ed. DPA. Rio de Janeiro. 2006.
ou herança etnológica. As pessoas se definiam pela cor que
enxergavam em si mesmas. Tal fato, contraria o discurso
identitário proposto pela Teoria Crítica, mas que é
massivamente utilizado nas Ciências Sociais, como um mantra,
sem possuir, entretanto, qualquer base científica.
Essa característica, além de promover um
encadeamento de ações e resultados, também colabora para a
existência de um ciclo vicioso, em todas as ramificações do
sistema de controle da criminalidade. O DEPEN, em 2014155,
realizou a publicação de estudo sobre os presos no Brasil,
distinguindo a raça e cor dos apenados, nos mesmos moldes
do Mapa da Violência, porém, com dados do Fórum Brasileiro
de Segurança Pública, fazendo com que toda cadeia
consumidora das informações ali constantes, inferissem,
equivocadamente, que 67% dos presos seriam do grupo
“negro”, indicando, mais uma vez, a existência de um
mecanismo estatal para prender pretos e pobres.
Veja como foram apresentados as informações:

155
Disponível em: <relatorio-depen-versao-web.pdf (justica.gov.br)>
Acessado em 22/12/2022.
Raça, cor e etnia entre preso no Brasil

FIg. 18 - Fonte: Depen/2014


O quadro em questão, faz de maneira equivocada a
apresentação do quantitativo divisor da população brasileira em
51% de negros e 48% de brancos, indicando o censo do IBGE
2010 como fonte. Porém, este censo não mostra tais dados156.
O Censo 2010 apresenta os dados constando os termos “COR
OU RAÇA”, revelando em seguida as amostras por cada tipo
em específico segundo a definição da própria população,
como: brancos, pretos, pardos, amarelos indígenas e sem
declaração.
Veja tabela do IBGE a seguir:

156
Disponível em: <tab3.pdf (ibge.gov.br)> Acessado em 25/10/22.
Dados do Censo Demográfico 2010

Fig. 19 - IBGE/Censo 2010 - ‘Tabela 1.3.1’.


Quando analisados os dados em tela, fica evidenciado
que o termo “negro” não faz parte das amostras censitárias.
Isso acontece pois, diferentemente do estudo publicado pelo
Depen, o foco do IBGE era mostrar todas as características
populacionais, evitando sectarismos.
Mais adiante, ainda na publicação do Depen, aparece a
figura 37 com os seguintes dados étnicos:

Fig. 19 - Fonte: Depen/2014

Perceba que neste material, não há sequer a menção


dos pardos nas tabelas e gráficos, o grupo “negro” é colocado
no mesmo bojo, das demais etnias distintamente, como se
fossem, grupos étnicos devidamente separados, o que não é
uma verdade, haja vista, tal grupamento possuir duas
subclasses de raças. Documentos do tipo, prejudicam
sobremaneira o conhecimento das verdadeiras características
sociais e idiossincráticas das pessoas envolvidas na dinâmica
criminal. A falta de obediência às regras metodológicas, torna
as pesquisas e publicações sobre o tema, instrumentos de
desinformação e meios propagadores de fake news.
Logo, já que citamos tais estudos e para não deixar o
leitor sem saber como se deu, efetivamente, o quadro dos
dados aqui demonstrados, explicitamos que o quantitativo de
mortes por armas de fogo no Brasil, corretos, deveriam
mostrar que os pardos figuram como maioria nas amostras
apuradas. Entretanto, quanto ao encarceramento, há prejuízo
no conhecimento da real situação devido a manipulação das
informações aqui reveladas. Diante do exposto, quais seriam
os números para pretos dentro do sistema prisional? Quais são
os índices de pardos submetidos a regime fechado? E agora,
como definir isso? Não tem jeito, o tempo passou, resta-nos
agora, corrigir os erros presentes e conduzir corretamente o
que vem adiante.
Com tudo isso, vemos que a estrutura de produção de
conhecimento criminológico, de dogmática jurídica, de políticas
criminais e de segurança pública, estão eivadas das
substâncias científico-políticas da Teoria Crítica. É possível
inferir que, o modus operandi de todos os instrumentos de
controle criminal é uma extensão da aplicabilidade desta
corrente criminológica.
O efeito cascata é inevitável. Um estudo com dados
imprecisos, manipulados ou equivocadamente inapropriados,
passam a subsidiar políticas públicas, que se justificam com
bases nestas pesquisas, a consequência disso é um
desarranjo de tais políticas face à realidade criminal. Logo, todo
aparato de ações governamentais para combater as mazelas
criminológicas assume caráter essencialmente maculado e sua
eficácia é anulada pelo vício oculto. Essa é uma das principais
críticas à escola criminológica em questão.
Considere, também, que a propositura dos axiomas
sobre racismo estrutural, perfilamento social, desigualdade
econômica, jurídica e cultural, são apresentados como se
fossem constatações verídicas nestas pesquisas, mas com
bases exíguas, que capilariza-se nas mais variadas
ramificações das ciências sociais, com função argumentum ab
auctoritate, sendo elevadas à altura de verdades
incontestáveis157.

157
O próprio Ministério da Justiça é um dos órgãos publicadores do Mapa da
Violência, conferindo credibilidade ao estudo em questão, que certamente é
Vários estudos, de diferentes universidades brasileiras,
utilizam inúmeras obras com dados imprecisos conforme
revelado em nossa abordagem. Veja aqui alguns sítios de
publicações que apresentam essa constatação: Universidade
Federal do Paraná, que publicou pesquisa sobre desigualdades
sociais, políticas públicas e violência158.
A Pontifícia Universidade Católica do Estado do Rio de
Janeiro159, também divulgou estudo que contém abordagem
sobre as mazelas sociais e suas raízes criminais, citando o
estudo do Mapa da Violência.
A Universidade Estadual do Rio de Janeiro160 com a
publicação de atividade realizada pela instituição de ensino
conhecida como Observatório Social da Operação Segurança
Presente, aponta como uma das principais obras de sua
referência bibliográfica os estudos produzidos por Julio
Waiselfisz.

recebido pela comunidade acadêmica como um postulado que gozaria de


exímia técnica metodológica.
158
Disponível em:
<https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/57067/R%20-%20E%20-
%20CLAUDEMIR%20RODRIGUES%20DA%20SILVA.pdf?sequence=1&isAll
owed=y> Acessado em 20/12/2022.
159
Disponível em:
<https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/16109/16109_11.PDF> Acessado em:
20/12/2022.
160
Disponível em:
<https://observatoriosocial.uerj.br/referencias-bibliograficas/> Acessado em
20/12/2022.
A própria Flacso do Brasil informa em seu site que sua
publicação é utilizada por diversas entidades governamentais,
ONG’s e fóruns de Segurança Pública como: Centro Brasileiro
de Estudos Latino-americanos (Cebela), Instituto Ayrton Senna,
Instituto Sangari, Ministério da Justiça, Ministério da Saúde,
Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação,
a Ciência e a Cultura (OEI), Ritla, Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Secretaria Geral da
Presidência, Secretaria Nacional de Juventude e Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco)161.
Estes institutos são responsáveis por milhares de
iniciativas junto à sociedade civil. Se a base que fundamenta as
políticas destes órgãos é equivocada, logo, toda a cadeia de
ações por eles promovida, também carregam o mesmo vício. O
resultado disso tudo é o que denominamos de Dissociação
Criminológica, termo que trata da estrutura de pensamento a
respeito de todas as características ligadas à criminologia que
entende o fenômeno criminal diversamente do que ele é em
essência. O efeito da Dissociação Criminológica é a aplicação
errônea de políticas criminais, que servirão apenas para gastar
o dinheiro público e não produzirão nenhum resultado benéfico

161
Disponível em: <https://flacso.org.br/project/mapa-da-violencia/> Acessado
em 20/12.2022.
à coletividade, com exceção dos próprios criminosos. A
conceituação desse termo será abordada mais adiante, em
capítulo específico.
O que pretendemos demonstrar nesta obra é como uma
corrente de pensamento pode influenciar significativamente
toda a conjuntura social, principalmente, quando a linha de
pensamento tem por finalidade o fim de um sistema social
como resolução dos problemas e mazelas dos povos.
Na seção Criminologia e Dogmática Penal,
discorreremos com afinco sobre as nuances que envolvem os
exemplos aqui citados. Fizemos essa breve explicação, para
que o leitor tenha à disposição, uma análise crítica sobre a
Escola Radical, tanto sobre sua origem, quanto sobre sua
expansão na comunidade acadêmica.
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