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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

CURSO DE DIREITO

HELLEN DA SILVEIRA CÁCERES

RESENHA CRÍTICA DO ARTIGO: “POR UMA EDUCAÇÃO


LATINO-AMERICANA EM DIREITOS HUMANOS: PENSAMENTO
JURÍDICO CRÍTICO CONTRA-HEGEMÔNICO”

Torres
2024
WOLKMER, Antonio Carlos; LIPPSTEIN, Daniela. Por uma Educação Latino-Americana
em Direitos Humanos: Pensamento Jurídico Crítico Contra-Hegemônico. Revista de Direitos
e Garantias Fundamentais, Vitória, v. 18, n. 1, p. 283-301, jan./abr. 2017

A obra “Por uma Educação Latino-Americana em Direitos Humanos: Pensamento


Jurídico Crítico Contra-Hegemônico” foi desenvolvida por dois autores: Antonio Carlos
Wolkmer e Daniela Lippstein. Segundo o que consta nesse material, Antonio Carlos
Wolkmer, nascido em 5 de abril de 1952, é “doutor em Direito e membro do Grupo de
Trabalho da CLACSO (Argentina/ Equador): ‘Pensamento Jurídico Crítico’, membro da
Associação Argentina de Sociologia Jurídica. Também é “professor do Programa de
Pós-Graduação em Direito do UNILASALLE-RS e do Mestrado em Direitos Humanos da
Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC-SC) e professor titular aposentado no
PPGD da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)”.
Ainda de acordo com informações presentes na obra, Daniela Lippstein é “doutoranda
em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); mestre em Direito pela
Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC na linha de pesquisa de Políticas Públicas de
Inclusão Social; mestre em Direitos Humanos pela Universidade do Minho (Portugal)
(Convênio Dupla Titulação UNISC-UMinho); especialista em Direito Internacional -
UNIASSELVI (Especialização Lato Sensu); integrante do Grupo de Estudos em
Desenvolvimento, Inovação e Propriedade Intelectual (GEDIPI/UNISC); professora do Curso
de Direito da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus
de Frederico Westphalen/RS; professora e coordenadora de Pesquisa do Curso de Direito das
Faculdades João Paulo II em Passo Fundo/RS e advogada.
A obra de Wolkmer e Lippstein em questão compreende os gêneros textuais artigo
científico e artigo de periódico (sendo publicado em uma revista, tal como consta na
bibliografia). Ademais, esse artigo apresenta uma coletânea de textos de vários autores,
inclusive de textos anteriores próprios de um dos autores (Wolkmer). Desse modo, esse
estudo, tal como todo artigo científico, trata-se de uma conjuntura de ideias, estudos e
pensamentos de diversos autores, compondo uma espécie de diálogo entre eles, tendo como
resultado a formulação de um novo material. Dentre os autores citados e parafraseados,
destacam-se (além do próprio Antônio Carlos Wolkmer), Boaventura de Souza Santos, David
Sánchez Rubio, Flávia Piovesan, Fábio Konder Comparato e Paulo Freire.
O artigo tem enfoque nos Direitos Humanos, em específico na América Latina, e
levanta um debate jurídico crítico a respeito. Segundo os autores, os Direitos Humanos têm
um caráter essencialmente eurocentrista e, consequentemente, aplicam uma política liberal
que ignora as peculiaridades da América Latina e de minorias sociais, as quais acabam por ter
sua cultura e história desvalorizadas. Desse modo, a partir de um discurso hegemônico, o
qual visa aplicar apenas uma forma de conhecimento e uma única ideologia (a europeia), os
Direitos Humanos apresentam-se como um disfarce para um processo gradual de dominação
e colonização contemporânea, o qual faz parte de um processo de europeização do mundo.
Nesse contexto, no artigo é pontuado a falta de efetivação dos Direitos Humanos no que se
refere à sua universalidade e inclusão, pois tal ideologia de exclusão não serve para um
sistema universal de Direitos Humanos.
No desenvolvimento do trabalho, os autores aplicaram um método indutivo acerca de
elementos da cultura latino-americana com o objetivo de incluí-los nos Direitos Humanos,
com um procedimento de pesquisa pautado em uma abordagem sociológica que busca incluir
o pensamento crítico latino-americano nesse contexto. Outrossim, a solução proposta pelos
autores consiste em uma espécie de educação latino-americana em Direitos Humanos, que
tem por objetivo a emancipação e libertação do povo latino-americano no que diz respeito a
essa colonização velada. Para isso, há de se aplicar um pluralismo político, próprio da cultura
latino-americana, uma justiça que emana de várias fontes, promovendo a participação pública
no âmbito político. No entanto, é enfatizado no texto que este estudo não se propõe a excluir
ou negar a história dos Direitos Humanos na Europa, mas sim combater a monocultura do
saber eurocêntrica da qual se baseiam os Direitos Humanos, e a qual perpetua a colonização
ao empobrecer os saberes e aniquilar outras formas de conhecimento.
A partir de uma leitura e análise aprofundadas do artigo, é possível elencar alguns
pontos de relevância para a sua compreensão e seu enquadramento no contexto sociológico
que ele mesmo propõe, enquanto formador de opinião. O primeiro ponto que apresento
refere-se ao seu claro posicionamento político uma vez que, além de levantar críticas ao
colonialismo, etnocentrismo e eurocentrismo, o texto reprova veementemente o pensamento
ideológico liberal capitalista e apoia o papel redistributivo de políticas públicas, afirmando
uma vulnerabilização dos compromissos entre capital e trabalho pela economia internacional.
Ainda, defende o conceito (proposto por Boaventura de Souza Santos) de que há apenas um
tipo de globalização, a globalização capitalista neoliberal que, por sua vez, entra em choque
com os Direitos Humanos ao visar o lucro acima das questões humanas, éticas e morais.
Por conseguinte, o segundo ponto proposto aqui compete ao conceito de
monopolização do saber, à filosofia jurídica hegemônica e, consequentemente, à relação entre
o saber local latino-americano e o conhecimento científico paradigmático oriundo da Europa.
A crítica dos autores diz respeito à inferiorização desse saber local latino-americano, ao passo
que o pensamento científico paradigmático europeu é o mais aceito socialmente. Ademais, o
texto aponta que a filosofia jurídica hegemônica é eurocêntrica, resgata apenas uma parte da
história e impõe uma espécie verdade absoluta, baseada apenas nos documentos do
hemisfério norte ignorando as demais populações e suas peculiaridades, sobretudo a
latino-americana. Contudo, é incoerente colocar duas formas de conhecimento tão distintas
em uma mesma função e sob a mesma medida. O pensamento científico paradigmático, o
método de pesquisa científico são mais aceitos porque eles enquadram-se na área da ciência,
dentro da comunidade científica. Eles servem como guia para a explicação e descoberta de
diversos fenômenos naturais e vêm sendo utilizados por cientistas para esse fim. Já o saber
local latino-americano se enquadra em um contexto sócio-cultural. Eles são relevantes para a
cultura desses povos de maneira intrínseca. São importantes também para o estudo da história
latino-americana e para o entendimento dos valores éticos e sociais dessa população. No
entanto, é importante ressaltar que essa inferiorização de fato ocorre e deve ser criticada, ao
passo que esse pensamento etnocêntrico considera os povos latino-americanos, em especial as
comunidades indígenas, desprovidos de inteligência própria. Nessa linha de raciocínio
deturpada, os europeus acreditam que fizeram um favor ao colonizar a América Latina e
mostrar para ela o conhecimento “real” e os valores “corretos” a serem seguidos.
Por fim, o último ponto a ser ressaltado diz respeito ao caráter audacioso da crítica
levantada pelos autores nesse estudo: a falta de universalidade e a falta de efetivação dos
Direitos Humanos. No mínimo, é curioso pensar que o documento o qual declara os direitos
próprios dos seres humanos não se estende a todos os seres humanos de forma igualitária.
Ademais, o texto ressalta o paradoxo correspondente à efetivação dos Direitos Humanos
acontecer após a violação deles. Segundo o artigo, isso é decorrente de uma cultura de
garantias pós-violações, de reparação ao invés de prevenção, por meio de vias judiciais. Em
razão disso, finalizo recomendando a leitura do artigo e destacando sua importância para uma
maior conscientização a respeito da inclusão de direitos humanos a grupos sociais
historicamente inferiorizados, ignorados e reprimidos, sobretudo pela colonização europeia.

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