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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

R. Dom José Gaspar, 500 - Coração Eucarístico, Belo Horizonte - MG, 30535-901

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Matheus Eduardo Moreira de Barcelos


Marcos Vinícius Coelho dos Santos
Sociologia do Crime e da Violência

Luiz Flávio Sapori

Trabalho 2

O principal objetivo desse trabalho é realizar uma análise comparativa das


abordagens criminológicas da teoria da anomia e da criminologia crítica, ressaltando
eventuais convergências e divergências na compreensão do fenômeno criminal, a
concretização do estudo se dará a partir de uma revisão da literatura.

Primeiramente, se faz necessário ressaltar que a ciência criminológica não detém


uma conceituação precisa, segundo Silva e Miquelon (2018), existem diversas definições
dadas para a mesma que se diferem conforme o autor. Desse modo, (SCHECAIRA 2012,
p. 51) aponta que: “apesar de possuir diversos conceitos, a Criminologia pode ser
entendida como ciência empírica e multidisciplinar que busca entender diversos
processos, dentre eles o social, que envolvem seu objeto, qual seja: o delito, o delinquente,
a vítima e o controle social”. Isto posto, passemos aos pressupostos dos quais as teorias
se baseiam.

Teoria da Anomia Social

Etimologicamente, anomia é uma palavra grega (a = ausência; nomos = lei) e que


significa sem lei, também entendida como a ideia de iniquidade, injustiça e desordem.

A teoria da anomia social se caracteriza como um marco nos estudos


criminológicos, servindo de base aos modelos sociológicos europeus de compreensão da

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dimensão criminal, fundada pelos aportes teóricos do sociólogo francês Émile Durkheim,
esta teoria se insere no bojo das teorias designadas como funcionalistas 1.

O sociólogo estadunidense Robert King Merton retoma a ideia da anomia. Com


isso, Merton tinha como objetivo demonstrar como determinadas estruturas sociais 2
exercem uma pressão definida sobre certas pessoas da sociedade, para que sigam condutas
não conformistas, em vez de trilharem os caminhos de conformidade aos valores culturais
socialmente aprovados (SCHECAIRA 2012, p. 255). Segundo Merton, as estruturas
sociais desenvolvem metas culturais que expressam os valores que guiam a vida dos
indivíduos em sociedade. Dessa forma, o cometimento do crime resulta da influência da
estrutura cultural e das contradições desta com a estrutura social. Assim, a anomia é
desencadeada pela impossibilidade de satisfação das necessidades ou aspirações humanas
através de meios socialmente prescritos, isto é, um abandono das regras do jogo social.
Surge então o desvio, ou seja, a conduta desviante. Portanto, para Merton a anomia é a
fomentadora da criminalidade.

A Teoria Crítica/Teoria Radical

A Criminologia Crítica tem como objetivo o desenvolvimento de um “anti-


projeto”, com o foco em romper com todos os paradigmas criminológicos anteriormente
existentes. Existem diversos autores que estudam a criminologia com um viés a
criminologia critica, porem os dois principais livros desencadeadores de todo o
pensamento crítico foram concebidos por três autores ingleses: Ian Taylor, Paul Walton
e Jock Young. O primeiro chamado de A nova criminologia (1973) e o segundo de
Criminologia critica. Também chamada de teoria radical do desvio, tinha como preceito
ter a liberdade de questionar as causas não somente do crime, mas também, das normas
que, em um sentido primário, criam o crime, isto é, das normas legais. A aceitação não
questionada de um dado sistema legal e dadas normas legais têm sido a tendência geral

1 Área de análise
em ciências sociais de orientação teórico-metodológica em que as
consequências de um dado conjunto de fenômenos empíricos, em vez de suas causas,
constituem o centro da atenção analítica.
2Entende-se o conjunto organizado de relações sociais, no qual os membros da sociedade ou grupo são
implicados de várias maneiras, isto é, a estrutura de oportunidades reais que condiciona, de fato, a
possibilidade de os cidadãos se orientarem para alcançar seus objetivos culturais, respeitando as
normas legais.

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na criminologia positiva, e o resultado tem sido desastroso para as pretensões de


cientificidade da criminologia. (TAYLOR; WALTON; YOUNG, 1980, p. 56).

Também autor sobre criminologia critica temos Alessandro Baratta que explica
como a criminalidade é um meio desigual, cujo as classes sociais dominantes tendem a
ditar comportamentos caracterizados como crimes e estigmatizam grupos nas camadas
sociais mais baixas que serão punidos com o encarceramento (BARATTA, 2002).

Discussão comparativa

Como principal fator de divergência, devemos ressaltar que, essas vertentes


sociológicas da criminologia derivam-se de diferentes escolas de pensamento, sendo elas:
a escola do consenso e a escola do conflito.

A escola do consenso presume que a sociedade atinge suas finalidades quando


suas instituições funcionam harmonizadas, em decorrência de um consenso entre os
indivíduos daquele corpo social. Concebe a sociedade como sendo constituída por
elementos permanentes, integrados e funcionais, todos estes fundamentados no consenso.
Seus esforços visam identificar as causas do crime e do comportamento criminoso, assim,
reputada etiológica, visto que, enxerga o crime como um problema eminentemente social.
Essa escola se ramifica em algumas vertentes, sendo as principais: a Teoria da Anomia,
a Escola de Chicago, a Associação diferencial e a Teoria das subculturas.

Por outro lado, a escola do conflito elenca a coerção como objeto principal de seus
esforços, com ênfase nas relações entre dominantes e dominados e os conflitos oriundos
dessas relações. Concebe que, o funcionamento harmônico as Sociedade só e possível por
meio de sua imposição pela força. Assim, a sociedade e composta por camadas plurais e
fundamentada em mudança continuas onde todas as suas instituições cooperam para sua
ruptura, desse modo, se faz necessário, o uso do elemento coerção para a preservação da
conjuntura onde os dominantes prosseguem no poder e os dominados prosseguem
servindo aos interesses dos dominantes. Também objetiva analisar a reação social e
institucional a esse conflito como sendo o definidor do que é crime e quem é o criminoso,
incidindo na seletividade do sistema penal e no desvelamento de aplicações políticas não
declaradas, enxerga o crime como um problema social. Essa escola também se ramifica
em algumas vertentes, sendo as principais: a Criminologia crítica, a Teoria da reação
social (lebelling-approach) e a Criminologia radical.

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Como principal fator de convergência, devemos aludir que tanto a teoria da


anomia quanto a criminologia crítica operam com uma abordagem macrossociológica.
Portanto, entendem o crime como um fenômeno abalizadamente social, ou seja, tais
teorias elucidam que a criminalidade é socialmente construída, seja pelo resultado da
influência da estrutura cultural e das contradições desta com a estrutura social como
propõe a teoria da anomia, ou, pelas condições da criminalização, ou seja, como o sistema
penal e mecanismos de controle social formais produzem o crime o criminoso, como a
teoria critica concebe o fenômeno.

Referências

SCHECAIRA, S. S. Criminologia. 4ª ed. ver. e. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2012. Disponível em: https://forumturbo.org/wp-
content/uploads/wpforo/attachments/43870/6177-Criminologia-Srgio-Salomo-
Shecaira.pdf. Acesso em 26 mar. 2022.

SILVA, M. A. D.; MIQUELON, E. A. A criminologia clínica: a psicopatia e a


exploração da mídia por audiência. 2018. Disponível:
https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/direito-penal/4148/a-criminologia-clinica-
psicopatia-exploracao-midia-audiencia. Acesso em: 26 mar. 2022.

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