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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

R. Dom José Gaspar, 500 - Coração Eucarístico, Belo Horizonte - MG, 30535-901

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Matheus Eduardo Moreira de Barcelos

Sociologia do Crime e da Violência

Luiz Flávio Sapori

Trabalho 3

Da teoria à abordagem social

1. Resumo

À luz das teorias da Ecologia Criminal e Associação Diferencial, o presente


trabalho objetiva fornecer certo grau de embasamento teórico por meio da
compatibilização dos dados da pesquisa Gangues juvenis, grupos armados e estruturação
de atividades criminosas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, realizada por Luís
Felipe Zilli e Claudio Beato. Desse modo, propõe-se analisar a seleção de variáveis que
compõem o Corpus da pesquisa, ou seja, o cruzamento da problemática com a
fundamentação teórica e dos dados coletados (...) (DAHLET, 2002).

Inicialmente, as características dos grupos que participaram das análises, serão


observadas e considerado de que maneira tais grupos se adequam aos pressupostos das
teorias criminológicas supracitadas. Em seguida, a partir das análises de correlação,
pretende-se demonstrar aproximações e distanciamentos entre os pressupostos teóricos e
os dados coletados.

2. Introdução

A partir de um levantamento de dados sobre a taxa de homicídios no Brasil no


período de 1980 a 2011, os autores nos apresentam um recorte que evidencia maior
expressividade numérica no que diz respeito a taxa de registros de homicídios dolosos.
Por meio desse recorte foi possível delimitar um perfil especifico da população no qual
as vítimas de homicídios no país se inserem: majoritariamente composto por homens,
pretos ou pardos, possuindo de 15 e 29 anos, com baixos níveis de escolaridade e

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moradores de grandes centros urbanos. Isto posto, podemos inferir que as vítimas e
autores são, em sua esmagadora maioria, oriundos de classes de baixo status
socioeconômico (ZILLI e BEATO, 2015).

Ainda nesse contexto, os homicídios no Brasil também demonstram ter uma


concentração espacial. Focalizados nos centros urbanos, os assassinatos ocorrem
majoritariamente em áreas de alta vulnerabilidade social, acrescida de um precário
provimento de serviços públicos e severa deterioração urbanística.

3. Análises de correlação

Em consonância com o perfil delimitado, pode-se traçar um paralelo com as


abordagens ecológicas do crime, sobretudo, a Teoria da desorganização social, da qual
aponta que o acréscimo no número de crimes, acentua-se em decorrência dos problemas
socioeconômicos provenientes do crescimento desordenado da cidade. Uma vez
assinalada essa situação, passou-se a constatar, por meio de pesquisas estatísticas, que os
crimes ocorridos tendiam a acontecer em maior grau nas periferias, e que essas regiões
apresentavam as maiores taxas de vulnerabilidade social. Contudo, a partir dos dados
fornecidos não podemos inferir que os laços sociais, que caracteriza o controle social
informal, que acontece diariamente no círculo social de cada indivíduo, compreendendo
desde a família até o local de trabalho, sejam frágeis.

No que tange o fenômeno das gangues e grupos delinquentes, mediante as falas


dos jovens entrevistados, surgem outras questões para além do fato da estruturação das
atividades criminosas nas favelas, sinalizando aspectos de ordem comunitária, simbólica,
familiar, cultural etc., que também perpassam e influenciam a associação desses atores
em grupos delinquentes. Assim, o fenômeno das gangues e grupos delinquentes não se
vincula única e exclusivamente em função da estruturação de atividades criminosas
(ZILLI e BEATO, 2015).

Tal constatação possibilita uma leitura do fenômeno à luz das Teoria da


Associação Diferencial, uma vez que considera dimensões não tratadas pela última. Essa
abordagem, supera o conceito de desorganização social para falar de uma organização
diferencial e da aprendizagem dos valores criminais (SCHECAIRA 2012, p. 226). Por
consequência, infere que o crime não emerge naturalmente, todavia, resulta da
socialização incorreta do delinquente. Nessa lógica, entende-se que o comportamento

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criminal é aprendido, assim, ninguém nasce criminoso, mas o delito (e a delinquência) é


o resultado de uma socialização incorreta.

Por meio dos relatos obtidos na pesquisa realizada nas favelas da RMBH 1,
verifica-se que:

“A forma como os grupos se envolvem com o crime é decorrência de


uma série de elementos locais, e seguem uma lógica mais adaptada
àqueles contextos específicos. Parece que diferentes configurações
históricas, geográficas, comunitárias, culturais e associativas moldam
diferentes tipos, intensidades, estruturas e formas de organização de
atividades criminais. Nesse sentido, as gangues parecem constituir
respostas associativas e adaptativas diferenciais que os jovens oferecem
a contextos específicos, seu envolvimento com dinâmicas de
criminalidade também segue essa lógica e parece se adaptar aos
arranjos comunitários locais.” ZILLI e BEATO, 2015)

Desse modo, sobre o fenômeno das gangues e grupos delinquentes na RMBH,


observa-se em grande medida a correlação entre os apontamentos oriundos da pesquisa e
a uma das assertivas teóricas da abordagem da associação diferencial, da qual,
pressupõem que:

“...a parte decisiva do processo de aprendizagem ocorre no seio das


relações sociais mais íntimas do indivíduo com seus familiares ou com
pessoas do seu meio. A influência criminógena depende do grau de
proximidade do contato entre as pessoas. O grau de assimilação da
aprendizagem é diretamente proporcional à interação existente entre as
pessoas;” (SCHECAIRA 2012, p. 227).

Assim, a associação, é o precípuo do comportamento criminoso, pois, é na


associação com pessoas que se pleiteiam no comportamento criminoso sistemático.

4.Conclusões

Um aspecto observado durante a realização desse trabalho, foi que as duas


teorias possuem suas limitações de aplicabilidade em contextos diversos àqueles dos
quais foram contextualizadas. Portanto, quaisquer tentativas de elaboração de um

1 Região Metropolitana de Belo Horizonte.

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modelo teórico-metodológico incorrerão em generalizações não fundamentadas, visto


que as variáveis não apresentam linearidade.

Referências

DAHLET, Véronique Marie Braun. O proceder da pesquisa: quais as relações entre


problemática, dissertação e corpus? Revista Letras, v. 21, n 1, p.127-132, 2002
ECA – USP – Escola de Comunicação e Artes – USP. A delimitação da pesquisa e a
constituição do corpus de análise. Disponível em:
http://www.pos.eca.usp.br/index.phpq=en/ebook/procedimentos_metodologicos_estudo
s_bibliometircos_cientometricos/delimitacao_pesquisa; Acesso em 26 Mar 2022.

SCHECAIRA, S. S. Criminologia. 4ª ed. ver. e. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2012. Disponível em: https://forumturbo.org/wp-
content/uploads/wpforo/attachments/43870/6177-Criminologia-Srgio-Salomo-
Shecaira.pdf. Acesso em 29 abr. 2022.

ZILLI, Luís Felipe; BEATO FILHO, C. C. Gangues juvenis, Grupos Armados e


estruturação de atividades criminosas na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 1, p. 73-110, 2015.

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