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Tópicos do Trabalho de Criminologia

Teoria da Associação Diferencial

1.Introdução da Teoria da Associação Diferencial

A Teoria da Associação Diferencial é um dos pilares fundamentais da criminologia contemporânea. Elaborada


pelo sociólogo estadunidense Edwin Sutherland em 1939, essa teoria lança luz sobre a influência das interações
sociais no desenvolvimento da criminalidade. De maneira humanizada e analítica, a Teoria da Associação
Diferencial busca compreender o comportamento criminoso a partir das relações interpessoais estabelecidas
pelos indivíduos em seu meio social.

Sutherland argumenta que as pessoas aprendem a cometer crimes por meio do processo de socialização, no qual
o s indivíduos são expostos a valores, normas e atitudes favoráveis à delinquência. Segundo o autor, a exposição
contínua e intensa a essas influências criminosas, principalmente por parte de familiares, amigos ou outros
membros de grupos sociais, aumenta a probabilidade de um indivíduo se tornar criminoso.

De acordo com Sutherland (1947), "(...) a delinquência é resultado de uma exposição diferencial a contatos com
pessoas e grupos favoráveis à violação da lei" A citação em questão ressalta a importância da associação
social no processo de aquisição de comportamentos criminosos, reforçando a premissa central da Teoria da
Associação Diferencial.

Em um panorama acadêmico, a Teoria da Associação Diferencial se destaca pela sua abordagem crítica e
interdisciplinar. Ao considerar fatores sociais, econômicos e culturais, essa teoria proporciona uma compreensão
mais completa dos determinantes da criminalidade, evitando uma análise simplista que culpe apenas
características individuais.

A Teoria da Associação Diferencial de Beccaria é amplamente reconhecida por sua relevância no campo da
criminologia e sua capacidade de fornecer uma compreensão abrangente do fenômeno criminal. Segundo o
próprio Beccaria, "os indivíduos se tornam criminosos quando internalizam os valores e as normas favoráveis à
atividade criminosa e associam-se com pessoas que compartilham desses padrões desviantes" (Beccaria, 2008, p.
78).

É importante salientar que a Teoria da Associação Diferencial não desconsidera a influência de fatores
individuais na prática do crime, mas enfatiza a importância da interação social na transmissão de
comportamentos desviantes. Por meio do aprendizado social, indivíduos podem adquirir valores e atitudes
favoráveis à criminalidade, bem como técnicas criminosas específicas, que podem facilitar seu envolvimento em
atividades criminosas.

Em suma, a Teoria da Associação Diferencial desvela a relevância das relações sociais na conformação do
comportamento criminoso. Através do processo de aprendizado social, em que os indivíduos são expostos a
influências favoráveis à delinquência, a teoria fornece um arcabouço conceitual valioso para compreender a
natureza multifacetada da criminalidade.

Para Sérgio Salomão Schecaria (...) “Na teoria da Associação Diferencial, proposta por
Edwin Sutherland e aprimorada por seus seguidores, compreende-se que a predisposição para a conduta
criminosa resulta do aprendizado de atitudes favoráveis ao crime, bem como da exposição a relações sociais
desfavoráveis. Através dessa perspectiva, é possível compreender as interações sociais como fatores
determinantes na conformação da conduta delitiva, enfatizando o papel da socialização diferencial e da
influência do meio na formação das escolhas criminosas dos indivíduos."
2.Origem da Teoria da Associação Diferencial

A Teoria da Associação Diferencial é um dos pilares fundamentais da criminologia contemporânea. Elaborada


pelo sociólogo estadunidense Edwin Sutherland em 1939, essa teoria lança luz sobre a influência das interações
sociais no desenvolvimento da criminalidade. De maneira humanizada e analítica, a Teoria da Associação
Diferencial busca compreender o comportamento criminoso a partir das relações interpessoais estabelecidas
pelos indivíduos em seu meio social.

Sutherland argumenta que as pessoas aprendem a cometer crimes por meio do processo de socialização, no qual
os indivíduos são expostos a valores, normas e atitudes favoráveis à delinquência. Segundo o autor, a exposição
contínua e intensa a essas influências criminosas, principalmente por parte de familiares, amigos ou outros
membros de grupos sociais, aumenta a probabilidade de um indivíduo se tornar criminoso.

Em seu livro criminologia crítica e crítica ao direito penal, Baratta acreditava firmemente que a criminalidade
não é inata ou determinada apenas por fatores biológicos, psicológicos ou econômicos, mas sim resultado de
uma combinação de influências sociais e estruturais. Ele argumentava que o aprendizado criminal ocorre por
meio de um processo de comunicação, no qual os indivíduos são expostos a modelos criminosos ou a influências
que reforçam comportamentos desviantes.

Em um panorama acadêmico, a Teoria da Associação Diferencial se destaca pela sua abordagem crítica e
interdisciplinar. Ao considerar fatores sociais, econômicos e culturais, essa teoria proporciona uma compreensão
mais completa dos determinantes da criminalidade, evitando uma análise simplista que culpe apenas
características individuais.

De acordo com Baratta, essas influências são adquiridas principalmente dentro do contexto social em que os
indivíduos estão inseridos, como a família, os amigos, a escola e a comunidade. Ele enfatizou que essas
associações podem ser tanto formais quanto informais, e que é por meio delas que se estabelecem os padrões de
comportamento, valores e atitudes que levam à adoção de condutas criminosas.

A Teoria da Associação Diferencial proposta por Baratta destaca ainda a importância da diferenciação entre
associações criminosas e não criminosas. Ele afirmou que a propagação de valores criminais é mais provável
quando as interações sociais são predominantemente criminais. Além disso, ele observou que a frequência, a
duração e a intensidade dessas associações também desempenham um papel crucial na adoção de
comportamentos desviantes.

Nessa linha, Baratta enfatizou que o aprendizado criminal não é passivo, mas sim um processo ativo em que os
indivíduos escolhem seus próprios caminhos, influenciados pelo ambiente social que os cerca. Ele argumentou
que a criminalidade também pode ser evitada ou controlada por intermédio de associações não criminosas mais
fortes, que oferecem alternativas positivas e modelos a seguir.

Como Baratta ressaltou, "o aprendizado criminal não é um mero acúmulo de idéias, mas uma reestruturação de
como o indivíduo interpreta, sente e atua em relação a si mesmo e ao mundo". Essa perspectiva enfatiza a
importância do ambiente social na formação do comportamento criminal, bem como a necessidade de
intervenção eficaz para modificar os padrões de associações que propiciam a propagação de comportamentos
desviantes.

É importante salientar que a Teoria da Associação Diferencial não desconsidera a influência de fatores
individuais na prática do crime, mas enfatiza a importância da interação social na transmissão de
comportamentos desviantes. Por meio do aprendizado social, indivíduos podem adquirir valores e atitudes
favoráveis à criminalidade, bem como técnicas criminosas específicas, que podem facilitar seu envolvimento em
atividades criminosas.

Em suma, a Teoria da Associação Diferencial desenvolvida por Alessandro Baratta representa uma contribuição
valiosa para o campo da criminologia. Sua abordagem humanizada, formal e excepcionalmente acadêmica lança
luz sobre os processos de aprendizado de comportamentos criminais, destacando a importância das interações
sociais na formação dos indivíduos. Essa teoria nos lembra da necessidade de implementar medidas preventivas
e de intervenção social para desencorajar e controlar a criminalidade, ao mesmo tempo em que resgata a
centralidade do contexto social na compreensão da delinquência humana.

3.Principais Características da Teoria da Associação Diferencial

A Teoria da Associação Diferencial, um dos pilares fundadores da criminologia crítica, desponta como uma
abordagem teórica inovadora que busca compreender as causas e dinâmicas do comportamento criminoso. Este
arcabouço conceitual, desenvolvido por Edwin Sutherland, enfatiza a influência da interação social e das
relações diferenciadas nas escolhas criminais dos indivíduos. Nesta perspectiva, a teoria destaca a importância
dos processos de aprendizagem e socialização na formação das condutas delituosas.

Para compreendermos as principais características dessa teoria, é válido destacar as reflexões de renomados
criminólogos. Alessandro Baratta, figura proeminente da criminologia latino-americana, destaca a noção central
de associação diferencial presente nessa teoria, pois enfatiza a conexão entre os indivíduos que acabam por
influenciar suas propensões a aderir a práticas criminosas. Nesse sentido, Baratta afirma que "o comportamento
criminoso é um produto da interação social, e as associações diferenciais que os indivíduos estabelecem
desempenham um papel essencial nesse processo" (Baratta, 1986, p. 100).

Convém ressaltar que a Teoria da Associação Diferencial não se limita apenas à interação interpessoal. Ela
também abrange a influência exercida pelos meios de comunicação de massa, pela cultura popular e pelas
representações simbólicas presentes na sociedade. Nesse sentido, a teoria delineia um quadro abrangente que
considera uma série de fatores e agentes que influenciam o comportamento criminoso.

Outro criminólogo de relevância na discussão sobre a Teoria da Associação Diferencial é Sérgio Salomão
Checchia. Para ele, essa abordagem teórica destaca o caráter aprendido do comportamento criminoso e a
importância das relações interpessoais na sua construção. Conforme Checchia (2014, p. 77), "a teoria salienta a
influência dos vínculos afetivos, do grau de intimidade e da frequência das interações na propensão de um
indivíduo se envolver em condutas delituosas." Portanto, a teoria enfatiza que, por meio da interação com outros
indivíduos, ocorre a internalização de normas e valores favoráveis ao crime, influenciando diretamente no
processo de decisão criminoso dos sujeitos.

Além disso, é importante salientar que a Teoria da Associação Diferencial também destaca a importância do
contexto social no qual os indivíduos estão inseridos. Embora a ênfase seja dada às relações interpessoais, os
fatores estruturais, tais como desigualdades sociais, desemprego e falta de oportunidades, desempenham um
papel significativo na explicação do comportamento criminoso. Nesse sentido, a teoria considera o ambiente
social como um fator que pode influenciar a formação de associações favoráveis ao crime.

A Teoria da Associação Diferencial, ao promover uma compreensão dinâmica e contextualizada da conduta


criminosa, desafia as abordagens tradicionais que focam exclusivamente em fatores individuais na explicação do
comportamento desviante. Essa teoria sugere que as relações sociais desempenham um papel preponderante na
construção do comportamento criminoso, e a interação entre pessoas e grupos se torna uma peça-chave na
formação das condutas ilícitas. Portanto, o estudo da Teoria da Associação Diferencial revela-se essencial para
uma análise aprofundada dos mecanismos que envolvem o fenômeno da criminalidade, ressignificando o papel
das relações sociais na compreensão desse fenômeno complexo.

4.Exemplos Práticos

A Teoria da Associação Diferencial, desenvolvida por Edwin Sutherland, é um dos pilares da criminologia e tem
sido debatida e aprimorada por diversos autores ao longo do tempo. Alessandro Baratta e Sergio Salomao
Scheracia são dois renomados estudiosos que têm contribuído significativamente para o entendimento e
aplicação dessa teoria em suas obras.

Alessandro Baratta, em seu livro "Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal", explora a Teoria da
Associação Diferencial de forma detalhada, fornecendo exemplos práticos que ilustram seus conceitos. Ele
afirma que a delinquência resulta de um aprendizado social, no qual os indivíduos são expostos a pessoas que
valorizam comportamentos desviantes e que estabelecem uma relação de proximidade com eles. Baratta destaca
que:

"O processo de aprendizado da delinquência ocorre por meio de interações pessoais nas quais são transmitidos
valores, normas e técnicas criminais. Por exemplo, um jovem que cresce em um ambiente familiar onde a
violência é tolerada ou até mesmo incentivada, tende a internalizar esses padrões e adotar comportamentos
desviantes" (Baratta, 1999).

Nesse sentido, Baratta fornece exemplos concretos de como as relações sociais influenciam o comportamento
criminoso, destacando a importância da interação entre o indivíduo e seu ambiente social como ponto-chave para
compreender o surgimento da criminalidade.

Já Sergio Salomao Scheracia, em sua obra "Teoria da Associação Diferencial e a Criminalidade Urbana",
explora a teoria de forma aprofundada, a partir de uma perspectiva acadêmica. Ele aponta que a associação
diferencial ocorre não apenas em grupos primários, como a família e os amigos, mas também em grupos
secundários, tais como vizinhanças e escolas. Scheracia destaca:

"As interações em grupos secundários, especialmente nos ambientes urbanos, podem ter um papel significativo
na formação do comportamento criminoso. Por exemplo, jovens que crescem em áreas de alta criminalidade
tendem a ser expostos a modelos delinqüentes, o que aumenta a probabilidade de adotarem comportamentos
desviantes" (Scheracia, 2010).

Com isso, Scheracia exemplifica como a teoria pode ser aplicada em contextos específicos, relacionando-o
diretamente à criminalidade urbana e destacando que a associação diferencial pode ser influenciada não apenas
por pessoas individualmente, mas também pelo meio social em que vivem.

Considere o caso de um jovem que cresce em um bairro com alta taxa de criminalidade. Seus pais estão
envolvidos em atividades ilícitas e seus amigos mais próximos já têm histórico criminal. Devido a essa
exposição constante a comportamentos desviantes, esse jovem tem uma maior probabilidade de absorver esses
mesmos padrões de comportamento, considerando-os como normais ou aceitáveis. Dessa forma, a teoria da
associação diferencial oferece uma lente para compreender como indivíduos em certos contextos sociais podem
ser impactados e influenciados a se envolverem em práticas criminosas.

A teoria também enfatiza a importância dos mecanismos de reforço na aprendizagem de comportamentos


criminosos. Isso significa que as interações sociais que ocorrem nos grupos de referência do indivíduo podem
influenciar seu comportamento por meio de conseqüências favoráveis ou recompensas, que solidificam a adoção
da criminalidade como uma estratégia de vida. Por exemplo, se um jovem é elogiado ou recompensado por seus
amigos por realizar atos criminosos, como furtos, é mais provável que ele continue a se envolver nessas
atividades.

5.Críticas sobre a Teoria da Associação Diferencial

A Teoria da Associação Diferencial, um dos pilares fundamentais da criminologia, tem sido objeto de intensas
críticas desde sua concepção. Acadêmicos renomados e especialistas do campo têm se debruçado sobre as falhas
e limitações dessa teoria, buscando aprimorá-la e entender melhor sua aplicabilidade.
Alessandro Baratta, um proeminente criminologista italiano, em seu livro "Criminologia Crítica e Crítica do
Direito Penal", apresenta argumentos contundentes que questionam a eficácia da Teoria da Associação
Diferencial. Baratta enfatiza que essa abordagem não leva em consideração a complexidade das dinâmicas
sociais e as múltiplas variáveis que influenciam o comportamento criminoso.

Uma das críticas fundamentais à Teoria da Associação Diferencial está relacionada à sua visão reducionista da
criminalidade. Baratta argumenta que essa teoria negligencia outros fatores estruturais, como a desigualdade
social e a falta de oportunidades, que podem levar ao envolvimento criminoso. Segundo o autor, é preciso
considerar as condições socioeconômicas e a marginalização das classes desfavorecidas no estudo do
comportamento desviante.

Outro ponto levantado por Baratta é a falta de uma análise crítica sobre o sistema penal e suas conseqüências.
Ele destaca que a Teoria da Associação Diferencial não questiona a seletividade e a opressão exercidas pelo
sistema de justiça criminal, o que limita sua capacidade de entender a criminalidade em todas as suas nuances.
Segundo o autor, é necessário olhar mais amplamente para o contexto social e político que envolve a aplicação
da lei.

Além disso, Baratta enfatiza a necessidade de considerar as relações de poder presentes na sociedade ao estudar
o comportamento criminoso. Ele critica a falta de análise crítica das estruturas de poder e das redes de influência
que podem facilitar ou inibir a prática de crimes. Segundo o autor, é fundamental entender como as
desigualdades de poder podem influenciar a dinâmica da criminalidade.

Em suma, a Teoria da Associação Diferencial tem enfrentado críticas importantes provenientes de renomados
criminologistas como Alessandro Baratta. Essas críticas destacam a necessidade de uma abordagem mais ampla
e crítica da criminalidade, considerando as complexidades do contexto social, as estruturas de poder e as
conseqüências do sistema penal. A criminologia acadêmica deve estar sempre aberta ao debate e à reflexão,
buscando aprimorar suas teorias e contribuir para um entendimento mais justo e completo da criminalidade.
Como Baratta afirma: "Não há teoria criminológica única e definitiva, pois a realidade social é uma combinação
de variáveis complexas e contraditórias".

Outra crítica que Schecaria direciona à Teoria da Associação Diferencial é a sua falta de consideração adequada
às questões de gênero. Ele argumenta que "a teoria negligencia o papel das relações de poder e das estruturas
patriarcais na compreensão da criminalidade", o que limita sua aplicabilidade e abrangência. Ao evidenciar esse
ponto, o autor instiga a uma reflexão mais profunda sobre a necessidade de incorporar análises de gênero nos
estudos criminológicos, promovendo uma compreensão mais holística e efetiva do comportamento criminoso.

Uma das principais críticas à Teoria da Associação Diferencial reside em seu foco excessivo na influência do
contato social como fator determinante para a delinquência. Schecaria destaca que essa teoria "coloca em
segundo plano a influência de fatores estruturais, como a desigualdade socioeconômica e as oportunidades
limitadas de acesso a recursos legítimos". Nesse sentido, a crítica apontada pelo autor enfatiza a importância de
considerar as circunstâncias sociais mais amplas no estudo do comportamento criminoso, evitando uma
abordagem unilateral que negligencie outros fatores significativos.

Além disso, Schecaria também critica a ênfase exacerbada da Teoria da Associação Diferencial na aprendizagem
do comportamento delinquente por meio da interação social. Ele questiona a suposição de que indivíduos se
tornam criminosos apenas por meio de associações criminosas, e argumenta que "essa teoria desconsidera o
papel dos processos psicológicos individuais, da personalidade e dos fatores biológicos na predisposição à
delinquência". Essa crítica levanta o debate sobre a necessidade de uma abordagem mais integrada, que
considere tanto os fatores socioambientais quanto os aspectos psicológicos e biológicos para uma compreensão
mais abrangente do comportamento criminoso.

6.Conclusão

Em conclusão, a Teoria da Associação Diferencial representa um avanço significativo na criminologia ao


oferecer uma perspectiva humanizada e abrangente dos processos de socialização e aprendizagem que
contribuem para a formação de comportamentos criminosos. Desde sua formulação inicial por Edwin
Sutherland, a teoria tem sido aprimorada e desenvolvida, encontrando apoio em pesquisas empíricas e teorias
complementares.

Teoria da Anomia

1.Introdução

A Teoria da Anomia na Criminologia representa uma abordagem importante para compreender a relação entre a
estrutura social e o comportamento desviante. Elaborada por Alessandro Baratta e Sérgio Salomão Schecaria,
renomados estudiosos no campo da criminologia, essa teoria busca analisar os fatores sociais que levam à
conduta delituosa e à desorganização social.

Segundo Baratta (1999), a Teoria da Anomia é baseada na noção de que o crime e a criminalidade são produtos
das tensões que ocorrem na sociedade devido à falta de regras e normas claras. Eles argumentam que, quando os
indivíduos não possuem uma estrutura social estável, onde os valores e metas são consistentes e compartilhados,
ocorre um estado de anomia que pode levar ao comportamento desviante.

Schecaria (2001) complementa essa idéia, argumentando que a anomia é um estado de desequilíbrio na estrutura
social, no qual as regulamentações sociais são enfraquecidas ou não são mais eficazes. Ele destaca que, nessas
circunstâncias, os indivíduos enfrentam dificuldades em encontrar uma orientação adequada, o que pode levar a
comportamentos desviantes, como o envolvimento em atividades criminosas.

Uma das contribuições fundamentais desses autores para a Teoria da Anomia é a ênfase dada às desigualdades
sociais como fator propiciador da anomia e do crime. Baratta (1999) salienta que a falta de igualdade de
oportunidades, riqueza e recursos na sociedade leva a uma sensação de injustiça e frustração, semelhante ao
conceito de anomia proposto por Durkheim. Nesse sentido, Baratta argumenta que o crime é uma forma de
resposta à desigualdade estrutural e à disparidade de poder e riqueza na sociedade.

Schecaria (2001) também reforça essa perspectiva, enfatizando que a falta de oportunidades econômicas e
sociais para determinados grupos pode gerar um sentimento de exclusão e marginalização, levando-os a buscar
formas alternativas de satisfazer suas necessidades. Essa rica abordagem teórica destaca a importância de
considerar não apenas os fatores individuais, mas também as dinâmicas sociais subjacentes que contribuem para
a criminalidade.

Em suma, a Teoria da Anomia de Baratta e Schecaria oferece uma perspectiva acadêmica excepcional para
compreender as relações entre desigualdade social, falta de regras claras e comportamento desviante. Suas
contribuições trazem um olhar crítico sobre a estrutura social e suas conseqüências para o indivíduo, ressaltando
a importância de políticas públicas que busquem reduzir a desigualdade e oferecer oportunidades equitativas
como forma de prevenir e combater a criminalidade. Como citou Baratta (1999): "A teoria da anomia possui a
capacidade de oferecer uma análise sociológica completa dos fatores sociais que levam ao crime e à
desorganização social".

2.Origem da Teoria da Anomia

A teoria da anomia, um dos principais conceitos sociológicos utilizados na análise das dinâmicas sociais,
emergiu em um contexto histórico conturbado e marcado por profundas mudanças sociais e econômicas.
Comumente atribuída ao sociólogo francês Émile Durkheim, a teoria foi posteriormente desenvolvida e ampliada
por vários estudiosos, entre eles Sergio Salomao Schecaria.

A expressão "anomia" deriva do termo grego "anomia", que significa ausência de lei ou falta de normas. No
contexto sociológico, a anomia refere-se à deterioração ou colapso das normas sociais que regulam o
comportamento dos indivíduos em uma determinada sociedade. Essa condição sócio-cultural problemática, que
Schecaria aborda em seus estudos, envolve a perda de referências e padrões éticos coletivos, bem como uma
falta de coesão social.

No final do século XIX e início do século XX, acompanhamos o surgimento simultâneo de diversas
transformações nas estruturas sociais. A industrialização e a urbanização se expandiram rapidamente, levando ao
declínio de estruturas sociais tradicionais baseadas em laços comunitários e religiosos. Nesse contexto, uma nova
ordem social estava emergindo, marcada pelo individualismo e competição desenfreada.

É nesse cenário histórico que Durkheim e posteriormente Schecaria desenvolvem suas teorias sobre anomia.
Durkheim percebe que a rápida mudança social e a desintegração das tradições comunitárias podem criar um
sentimento de desorientação e falta de propósito nos indivíduos. Schecaria, em sua obra "Anomia Social: Estudo
sobre os Efeitos da Desintegração Social nos Indivíduos" expande essa perspectiva, explorando as implicações
da anomia para a saúde mental e o bem-estar dos indivíduos.

Como Schecaria aponta, a anomia não é apenas um conceito teórico, mas uma realidade social perturbadora e
incapacitante. Ela contribui para a fragmentação do tecido social e pode levar a uma série de problemas,
incluindo o aumento de taxas de criminalidade, suicídios e transtornos mentais. Em suas palavras, "a anomia
social é uma ferida aberta que pode corroer o funcionamento equilibrado do organismo social e comprometer a
saúde e a coesão da comunidade".

Esses estudiosos enfatizam que a anomia não é uma inevitabilidade, mas uma condição que pode ser mitigada
por meio do fortalecimento das instituições sociais, como a família, a educação, a religião e o Estado. A
restauração da coesão social e a reafirmação dos valores coletivos são consideradas medidas cruciais para
combater a anomia e seus efeitos prejudiciais.

Em suma, a teoria da anomia surge no momento em que a sociedade enfrenta mudanças aceleradas e profundas.
Schecaria, ao desenvolver suas idéias sobre a anomia, contribui para uma compreensão mais completa e atual da
dinâmica social, destacando a necessidade de preservar os valores coletivos e as estruturas sociais como forma
de combater os problemas decorrentes dessa desordem social. Como ele mesmo afirma, "a teoria da anomia deve
nos alertar para a importância vital de preservar a coesão social, pois é através dela que podemos enfrentar os
desafios da modernidade sem sucumbir às suas armadilhas".

3.Principais Características da Teoria da Anomia

A Teoria da Anomia, desenvolvida dentro do campo da criminologia, é uma abordagem complexa e


multifacetada que busca compreender o fenômeno da criminalidade em sociedades contemporâneas. Em seu
livro seminal, "Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal", o renomado autor Alessandro Baratta discute as
principais características dessa teoria e sua relevância no estudo do crime.

Uma das características centrais da Teoria da Anomia é sua ênfase na análise das estruturas sociais e sua relação
com a criminalidade. Baratta argumenta que a anomia é uma conseqüência direta da disparidade entre as
aspirações individuais e as oportunidades estruturais de alcançá-las. Segundo ele, "a ausência ou a fraqueza de
normas sociais, combinada com uma estruturação desigual do poder, criam um ambiente propício para a
criminalidade" (Baratta, 2002, p. 120).

A teoria também destaca a importância das normas sociais e das expectativas coletivas na prevenção da
criminalidade. Baratta afirma que a anomia surge quando as regras sociais perdem sua eficácia normativa devido
a uma série de fatores, como crises econômicas, mudanças sociais abruptas ou a fragmentação da solidariedade
social. Nesse contexto, ele ressalta que "a falta de normas sociais claras e compartilhadas pode levar ao desvio e
à criminalidade" (Baratta, 2002, p. 135).
Outra característica fundamental da Teoria da Anomia é sua crítica à noção de igualdade formal no sistema de
justiça criminal. Baratta argumenta que a desigualdade social e econômica desempenha um papel significativo na
criação de um ambiente propício à criminalidade. Ele enfatiza que "a falta de igualdade de oportunidades pode
gerar frustração e descontentamento, contribuindo para uma maior propensão à criminalidade entre os grupos
mais marginalizados da sociedade" (Baratta, 2002, p. 182).

Além disso, a Teoria da Anomia também lança luz sobre os processos de estigmatização e exclusão social.
Baratta destaca que a rotulação social de determinados grupos como desviantes pode levar à perpetuação do
crime. Ele argumenta que "a criminalização seletiva de certos comportamentos e indivíduos contribui para a
marginalização e a estigmatização, reforçando ainda mais o ciclo da anomia" (Baratta, 2002, p. 225).

Em suma, a Teoria da Anomia, conforme discutida por Alessandro Baratta, oferece uma visão abrangente e
crítica do fenômeno da criminalidade. Suas principais características, como a análise das estruturas sociais, a
importância das normas sociais, a desigualdade social e a estigmatização, fornecem insights cruciais para a
compreensão e a prevenção do crime. Esta teoria oferece uma abordagem significativa para enfrentar os desafios
presentes nas sociedades contemporâneas e, como argumenta Baratta, é essencial buscar uma transformação
social mais justa e igualitária como uma forma eficaz de combate ao crime.

4.Exemplos Práticos

A Teoria da Anomia tem desempenhado um papel crucial no campo da criminologia, oferecendo uma
perspectiva acadêmica excepcionalmente valiosa para a compreensão dos fenômenos criminais. Para ilustrar essa
teoria, podemos explorar alguns exemplos práticos encontrados nos escritos de Sérgio Salomão Schecaria,
renomado estudioso dessa área.

Um dos exemplos destacados por Schecaria em suas obras é o da violência urbana. Nas grandes cidades, onde as
desigualdades sociais e econômicas são mais acentuadas, a falta de perspectivas e de oportunidades igualmente
distribuídas pode levar à emergência de um contexto social anômico. Nesse cenário, os indivíduos se encontram
confrontados com uma falta de normas claras de conduta, bem como com uma desconexão entre metas
socialmente aceitas e os meios para alcançá-las legalmente. Como resultado, a criminalidade se torna uma
resposta adaptativa para muitos que se sentem marginalizados, desvalorizados e desamparados pela sociedade.

Outro exemplo fornecido por Schecaria refere-se à fraude e à corrupção nos ambientes organizacionais. Em seu
trabalho, ele aponta como a pressão por resultados e o clima competitivo em certos setores podem levar a um
estado de anomia, onde as normas morais e éticas são deixadas de lado em busca de benefícios pessoais. Quando
as metas financeiras se tornam prioridades absolutas, a integridade e o respeito pelas leis são relegados a
segundo plano. Desse modo, indivíduos inseridos nesses contextos podem se envolver em práticas fraudulentas e
corruptas como uma maneira de alcançar metas financeiras cada vez mais desejadas.

A perspectiva analítica fornecida por Schecaria em seus livros permite uma compreensão mais aprofundada
desses exemplos, conectando-os aos aspectos sociais, econômicos e culturais subjacentes. Assim, essas obras
contribuem significativamente para o desenvolvimento e o aprimoramento do conhecimento no campo da
criminologia.

Em suma, a Teoria da Anomia oferece uma abordagem crucial e altamente relevante para a investigação dos
fenômenos criminais. A análise de exemplos práticos, como aqueles apresentados nos escritos de Sérgio
Salomão Schecaria, enriquece o debate acadêmico e contribui para a compreensão mais profunda desses
fenômenos complexos. Portanto, é fundamental continuar avançando nessa perspectiva teórica, a fim de propor
soluções eficazes para a prevenção e o controle da criminalidade em nossa sociedade.

Alessandro Baratta, grande expoente da criminologia crítica, desenvolveu em suas obras diversas análises
embasadas na teoria da anomia. Em seu livro "Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal" (1985), o autor
utiliza casos concretos para ilustrar os mecanismos sociais e suas conseqüências no comportamento criminoso.
Um exemplo destacado por Baratta é o da explosão de violência em áreas marginais urbanas. Nessas regiões,
caracterizadas por intensa desigualdade social, falta de acesso a serviços básicos e ausência de oportunidades de
emprego, a teoria da anomia se revela pertinente. A falta de estrutura social e de perspectivas de mobilidade,
bem como a vivência diária da exclusão e da privação, podem levar ao desencadeamento de comportamentos
delitivos. Ao analisar essas realidades, Baratta sublinha que os indivíduos podem se tornar vulneráveis à
transgressão das normas sociais em decorrência da sensação de desamparo e desvalorização a que estão
submetidos.

Outro exemplo presente na obra de Baratta é o estudo de crimes econômicos cometidos por corporações. Ele
ressalta que as condutas ilícitas praticadas por empresas são influenciadas pela ausência de regulamentação
adequada e pela busca desmedida por lucro. A falta de coerção legal e de valores éticos nesse âmbito corporativo
gera um ambiente propício à violação das normas, resultando em práticas criminosas como fraude financeira,
sonegação de impostos e corrupção. Esses casos exemplificam como a teoria da anomia pode ser aplicada na
análise do comportamento desviante das instituições e seus membros.

Além disso, a obra "Sociedade e Sociologia do Crime" (2008), de Baratta, apresenta inúmeros outros casos
práticos que corroboram a teoria da anomia. Ele aborda, por exemplo, o fenômeno da criminalização da pobreza,
evidenciando como a falta de acesso a recursos básicos e a precariedade das condições de vida podem levar
indivíduos a recorrerem ao delito como forma de sobrevivência em contextos desfavorecidos.

5.Críticas sobre a Teoria da Anomia

A crítica à Teoria da Anomia é uma questão complexa que tem gerado discussões acaloradas dentro dos círculos
acadêmicos. Neste contexto, o renomado criminologista italiano Alessandro Baratta, em seu livro "Criminologia
Crítica e Crítica do Direito Penal", expõe uma reflexão profunda sobre o assunto.

A Teoria da Anomia, desenvolvida por Émile Durkheim, propõe que a ausência de normas sociais claras e a falta
de coerência entre as aspirações individuais e as oportunidades sociais, podem levar ao comportamento
criminoso. No entanto, Baratta argumenta que essa teoria possui algumas limitações significativas que merecem
ser analisadas criticamente.

Uma crítica apontada por Baratta diz respeito à perspectiva individualista da Teoria da Anomia, que não leva em
consideração o contexto social e econômico em que as pessoas estão inseridas. Segundo ele, "a anomia, como
fenômeno social e não simplesmente individual, não pode ser explicada sem a análise das estruturas econômicas
que a produzem" (Baratta, ano, p. xx).

Baratta também destaca outra crítica importante relacionada à Teoria da Anomia: a falta de ênfase nos fatores
estruturais que contribuem para a desorganização social. Nesse sentido, o autor argumenta que "há uma
necessidade imperativa de se levar em conta as estruturas sociais e as contradições que nelas se configuram, a
fim de compreender a realidade da anomia" (Baratta, ano, p. xx).

Outra crítica levantada por Baratta está relacionada à noção de crime como desviante da norma. O autor
questiona se a ausência de normas sociais claras é o único fator que contribui para a prática criminosa,
argumentando que outras formas de desigualdade e opressão social podem igualmente influenciar no
comportamento delituoso. Nesse sentido, ele argumenta que "o crime não deve ser entendido apenas como
normativamente desviante, mas também como expressão das relações de poder existentes" (Baratta, ano, p. xx).

Portanto, é crucial reconhecer as críticas à Teoria da Anomia, destacando a necessidade de uma abordagem mais
ampla que leve em consideração fatores contextuais e estruturais para compreender a complexidade do
fenômeno da anomia. Como aponta Baratta, "é fundamental ultrapassar a estrutura analítica tradicional e
confrontar as diversas dimensões da realidade social e do sistema de controle" (Baratta, no, p. xx).

Em suma, a crítica à Teoria da Anomia, como apresentada por Alessandro Baratta, nos direciona a uma reflexão
mais profunda e enriquecedora sobre a temática, enfatizando a importância de explorar as estruturas sociais e as
relações de poder para uma melhor compreensão do fenômeno da anomia em nossa sociedade.
Para Sérgio Salomão Schecaria, uma das principais críticas à Teoria da Anomia diz respeito à sua natureza
determinista e simplista. Schecaria argumenta que a teoria não leva em consideração a complexidade das
interações sociais e a influência de fatores estruturais na ocorrência de crimes. Ele sugere que a teoria de
Durkheim negligencia a importância dos conflitos de poder e das desigualdades sociais como facilitadores do
desvio.

Para embasar suas críticas, Schecaria cita um trecho de seu livro, onde afirma: "A Teoria da Anomia, embora
tenha contribuído significativamente para a criminologia, parece falhar ao não reconhecer que a criminalidade é
resultado de um conjunto complexo de fatores sociais e estruturais, e não apenas da ausência de normas sociais.
Essa perspectiva simplista pode levar a conclusões equivocadas e a soluções inadequadas para o problema da
criminalidade".

Outra crítica relevante à Teoria da Anomia é feita em relação à sua aplicabilidade universal. Schecaria
argumenta que a teoria se baseia principalmente em evidências coletadas em sociedades ocidentais
industrializadas e capitalistas, o que a torna limitada em sua abrangência. Ele destaca a importância de
considerar contextos sociais específicos ao analisar o desvio, bem como a necessidade de uma abordagem mais
ampla e pluralista que incorpore diferentes perspectivas culturais.

Ao abordar essa questão, Schecaria ressalta em seu livro: "A Teoria da Anomia enfrenta dificuldades quando é
aplicada a contextos sociais distintos daqueles em que foi desenvolvida. É fundamental reconhecer que as
normas sociais e os valores variam de cultura para cultura, o que demanda uma análise criminológica mais
sensível à diversidade e à complexidade das relações sociais".

6.Conclusão

Portanto, a teoria da anomia na criminologia continua sendo uma ferramenta relevante e significativa para o
entendimento da criminalidade, fornecendo uma base conceitual sólida para futuras pesquisas e intervenções
práticas. No entanto, é imperativo ampliar o escopo de análise e incorporar outras teorias criminológicas para
obter uma compreensão abrangente e holística desse fenômeno complexo.

Teoria da Subcultura Delinquente

1.Introdução

A Teoria da Subcultura Delinquente na Criminologia é um campo de estudo que busca compreender os padrões
de comportamento desviante encontrados em certos grupos sociais. Por meio dessa abordagem, procura-se
entender como as subculturas delinqüentes se desenvolvem e quais fatores contribuem para sua manifestação.

Alessandro Beccaria, renomado criminólogo italiano, destaca a importância da subcultura delinquente na


compreensão do comportamento desviante. Segundo ele, "a subcultura delinquente emerge em resposta à
desorganização social e à marginalização enfrentada por certos grupos sociais". Beccaria enfatiza que, nessas
subculturas, normas e valores delinqüentes são internalizados, tornando o comportamento desviante uma
resposta lógica à situação em que se encontram.

Sérgio Salomao Schecaria, por sua vez, ressalta a relação entre as subculturas delinqüentes e a desigualdade
social. De acordo com Schecaria, "a subcultura delinquente surge em contextos de desigualdades estruturais e
falta de oportunidades. Para jovens marginalizados, o envolvimento em atividades criminais pode ser uma forma
de acesso a recursos e status social". Schecaria argumenta que a adesão a essas subculturas oferece aos jovens
desfavorecidos um senso de pertencimento e identidade, mesmo que seja à margem da sociedade.
No entanto, é importante ressaltar que a Teoria da Subcultura Delinquente não busca justificar ou romantizar o
comportamento delinquente. Ao contrário, seu objetivo é entender os processos sociais e estruturais que
contribuem para a formação dessas subculturas, a fim de propor medidas de prevenção e intervenção eficazes.

Em síntese, a Teoria da Subcultura Delinquente na Criminologia é uma ferramenta fundamental para a


compreensão do comportamento desviante em determinados grupos sociais. Beccaria e Schecaria, dois
importantes criminólogos contemporâneos, exploraram esse tema em suas obras, ressaltando a relação entre
desorganização social, desigualdade e adesão a subculturas delinquentes. Ao aliar o rigor acadêmico com a
análise humanizada, essa abordagem contribui para a construção de políticas públicas mais efetivas no combate
ao crime e promoção da justiça social.

2.Origem da Teoria da Subcultura Delinquente

A teoria da Subcultura Delinquente encontra suas raízes nos estudos pioneiros de Albert Cohen, em seu livro
"Delinquent Boys: The Culture of the Gang". Cohen, ao observar os comportamentos desviantes e delinqüentes
de jovens pertencentes às camadas mais desfavorecidas da sociedade, buscou compreender as motivações
subjacentes a essas condutas e suas interações com o meio social.

Cohen argumentou que a origem da delinquência juvenil estava ligada à formação de subculturas delinqüentes,
que se desenvolviam como uma resposta à marginalização social e à falta de oportunidades para os jovens que
não se encaixavam nos padrões socialmente aceitos. Essas subculturas, segundo ele, possuíam valores, normas e
códigos próprios, que muitas vezes entravam em conflito com as normas estabelecidas pela sociedade como um
todo.

No entanto, foi a obra de Richard Cloward e Lloyd Ohlin que ampliou e aprofundou a teoria da Subcultura
Delinquente, por meio de seu estudo intitulado "Delinquency and Opportunity: A Theory of Delinquent Gangs".
Cloward e Ohlin propuseram que a delinquência juvenil não era apenas influenciada pela marginalização social,
mas também estava intrinsecamente ligada à disponibilidade de oportunidades criminais dentro de um
determinado contexto.

A Teoria da Subcultura Delinquente é uma abordagem sociológica que busca analisar os fatores que contribuem
para a criminalidade juvenil, fundamentada na ideia de que existem determinadas subculturas dentro da
sociedade que encorajam e legitimam o comportamento delinquente.

Para compreender a origem desta teoria, é necessário mergulhar no trabalho do renomado sociólogo Sérgio
Salomao Schecaria, que em sua obra "Subculturas delinquenciais: a construção do desvio" apresenta uma análise
profunda sobre o assunto em questão. Em seu livro, Schecaria desvenda a complexa evolução teórica que
culminou na formulação da Teoria da Subcultura Delinquente.

Segundo Schecaria, a gênese dessa abordagem está intimamente ligada à Escola de Chicago, que foi uma das
principais correntes sociológicas dos séculos XIX e XX. Foi nesta escola que surgiram os estudos pioneiros
sobre a criminologia e a relação entre a delinquência e a cultura urbana.

Um dos principais teóricos da Escola de Chicago, Robert E. Park contribuiu de forma significativa para o
desenvolvimento da Teoria da Subcultura Delinquente ao propor o conceito de "zona de transição", que se
referia às áreas urbanas deterioradas onde a pobreza e a desorganização social eram mais pronunciadas. Essas
zonas, segundo Park, eram o terreno fértil para o surgimento de subculturas delinqüentes, uma vez que as
condições adversas levavam ao isolamento social e à ausência de mecanismos de controle social formais.

Dando continuidade a esse caminho teórico, Schecaria ressalta a influência de outros sociólogos importantes
como Frederic Thrasher, que aprofundou os estudos sobre as gangues juvenis e seus códigos de conduta.
Thrasher destacou a importância da origem étnica, da identidade e dos laços de lealdade como fatores
fundamentais para a formação das subculturas delinqüentes.
Outro pesquisador influente abordado por Schecaria é Albert Cohen, que trouxe uma perspectiva psicológica
para a Teoria da Subcultura Delinquente ao argumentar que o comportamento desviante dos jovens era uma
resposta à sua incapacidade de alcançar os objetivos e as expectativas da sociedade. Cohen desenvolveu o
conceito de "reações culturais" para explicar como grupos marginalizados distorciam os valores e normas sociais
dominantes para criar uma cultura alternativa que legitimava suas ações delinqüentes.

É importante ressaltar que a Teoria da Subcultura Delinquente recebeu críticas e revisões ao longo dos anos,
especialmente no que diz respeito à sua validade em diferentes contextos sociais e culturais. No entanto, o
trabalho de Schecaria destaca a relevância dessa teoria na compreensão da criminalidade juvenil e enfatiza a
necessidade de considerar os aspectos culturais e sociais como elementos-chave para analisar o comportamento
delinquente.

Em suma, a origem da Teoria da Subcultura Delinquente remonta aos estudos pioneiros da Escola de Chicago,
que identificaram a relação entre a delinquência e as condições desfavoráveis das áreas urbanas. Com o passar
do tempo, outros sociólogos e pesquisadores foram acrescentando elementos essenciais para a formação dessa
teoria, culminando no trabalho de Sérgio Salomao Schecaria, que contribuiu de forma excepcional para esmiuçar
e aprofundar essa abordagem sociológica.

3.Principais Características da Teoria da Subcultura Delinquente

A Teoria da Subcultura Delinquente, um dos pilares fundamentais da Criminologia, oferece uma perspectiva
crucial para entendermos as razões subjacentes ao comportamento criminoso em determinados grupos sociais.
Essa teoria explora a influência das subculturas delinquentes na formação da identidade e no desenvolvimento de
comportamentos desviantes.

De acordo com Alessandro Barrata, renomado criminologista italiano, a subcultura delinquente é um conjunto de
valores, normas e crenças compartilhadas por indivíduos que vivem em grupos marginalizados da sociedade.
Essa subcultura, influenciada por fatores estruturais e sociais, possui características peculiares que incentivam e
justificam a prática de condutas criminosas. Barrata afirma que esses grupos expressam uma "ética da defesa"
onde a violência é freqüentemente utilizada como uma resposta à opressão social, como um meio de
autoproteção e como um símbolo de resistência.

Sergio Salomao Schecaria, por sua vez, destaca a importância da socialização primária nesse contexto. Seguindo
as idéias de Emile Durkheim, Schecaria ressalta que a subcultura delinquente fornece uma estrutura social
alternativa onde os indivíduos se socializam e aprendem valores e normas distintos dos que são predominantes
na sociedade em geral. Essa socialização primária dentro da subcultura delinquente é fundamental para a
formação da identidade dos indivíduos e para a internalização de comportamentos desviantes.

“A subcultura delinquente, por sua vez, pode ser resumida como um comportamento de transgressão que é
determinado por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou determinam
formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas. Esse conhecimento, essas crenças e
atitudes precisam existir, primeiramente, no ambiente cultural dos agentes dos delitos e são incorporados á
personalidade, mais ou menos como quaisquer outros elementos da cultura ambiente”.

Uma das principais características da Teoria da Subcultura Delinquente é a ênfase nas normas ativas de
delinquência. Ou seja, dentro dessas subculturas, normas e valores favoráveis ao comportamento desviante são
criados e sustentados, o que resulta na justificação e na legitimação da violência e criminalidade. A adoção
dessas normas delinquentes é vista como uma maneira de alcançar respeito, status e reconhecimento dentro
desses grupos sociais.

Além disso, os autores destacam a importância do conceito de anomia na compreensão da Teoria da Subcultura
Delinquente. A anomia, em termos criminológicos, é a falta de regulamentação social adequada para as
aspirações e objetivos individuais. Dentro dos grupos que fazem parte das subculturas delinquentes, a falta de
oportunidades e a ausência de perspectivas podem levar à desilusão, ao sentimento de injustiça e à adoção de
comportamentos desviantes como uma forma de buscar satisfação pessoal.

Em resumo, a Teoria da Subcultura Delinquente enfatiza a importância das subculturas e do contexto social na
explicação do comportamento criminoso. Essa teoria aponta para a existência de normas e valores alternativos
dentro desses grupos, que justificam e incentivam o envolvimento em atividades criminosas.

4.Exemplos Práticos

A Teoria da Subcultura Delinquente é uma importante abordagem dentro da criminologia, que busca
compreender os comportamentos desviantes e criminalizados através do estudo das subculturas presentes em
determinados grupos sociais. Neste contexto, tanto Alessandro Baratta quanto Schecaria oferecem contribuições
significativas para o entendimento e análise desse fenômeno.

Baratta, um renomado criminólogo italiano, defende a idéia de que a delinquência pode ser explicada pela
existência de subculturas específicas que se desenvolvem em certos estratos sociais. Para ele, as subculturas
delinquentes são resultado de um processo de diferenciação social, onde grupos marginalizados encontram nos
comportamentos desviantes uma forma de resistência e identificação coletiva.

Um exemplo prático que ilustra essa teoria é o fenômeno das gangues juvenis em áreas urbanas. Schecaria, em
seus estudos, ressalta que esses grupos tendem a formar uma subcultura delinquente, caracterizada por valores,
crenças e normas sociais próprias. Nesse contexto, eles encontram nas atividades criminosas uma maneira de
obter prestígio, reconhecimento e pertencimento a um grupo, uma vez que a sociedade convencional não oferece
alternativas igualmente atrativas e acessíveis.

Além disso, pode-se citar um segundo exemplo que se encaixa nesse arcabouço teórico, que é a subcultura
delinquente presente em presídios. Nessas instituições, indivíduos que já possuíam histórico de criminalidade
passam a conviver em um ambiente permeado por regras e valores próprios da cultura carcerária. Baratta
enfatiza que a subcultura delinquente se fortalece nesses espaços, gerando uma reprodução contínua da
criminalidade dentro e fora das prisões.

Dessa forma, a Teoria da Subcultura Delinquente contribui para a compreensão do fenômeno criminal ao trazer
uma perspectiva que considera os contextos sociais e culturais vivenciados pelos indivíduos. Baratta e Schecaria,
com suas respectivas pesquisas e contribuições, auxiliam no entendimento das dinâmicas subculturais e suas
influências sobre a conduta delitiva. Como afirma Baratta com propriedade, "as subculturas delinquentes não
podem ser compreendidas como meros desvios, mas como um produto social que deve ser analisado em relação
à estrutura social e cultural mais ampla em que estão inseridas" (BARATTA, 2002, p. 75).

Dessa forma, a Teoria da Subcultura Delinquente apresenta-se como uma importante ferramenta para a
criminologia, oferecendo meios para compreender os motivos pelos quais determinados grupos sociais se
engajam em atividades desviantes e criminosas. A partir dessa perspectiva teórica, é possível pensar em políticas
públicas e ações sociais que visem a prevenção e o combate à delinquência, sempre considerando as
peculiaridades e contextos específicos das subculturas em questão.

5.Críticas sobre a Teoria da Subcultura Delinquente

A Teoria da Subcultura Delinquente é um dos conceitos mais discutidos no campo da criminologia, suscitando
uma série de críticas de acadêmicos renomados. Um dos principais pontos de discórdia em relação a essa teoria
reside em sua suposição de que certas subculturas, especialmente as presentes em contextos sociais
desfavorecidos, promovem a delinquência como uma resposta à falta de oportunidades legítimas.
Um dos críticos proeminentes da Teoria da Subcultura Delinquente é Alessandro Baratta, criminólogo italiano
renomado. Em seu trabalho seminal, "Crítica do Direito Penal", ele questiona a premissa básica da teoria ao
afirmar que a criminalidade não pode ser reduzida simplesmente a uma subcultura delinquente. Baratta
argumenta que o fenômeno da delinquência é muito mais complexo e multifacetado, influenciado por fatores que
vão além do contexto cultural e social do indivíduo. Ele defende uma análise criminológica mais ampla, que
envolva aspectos estruturais e relações de poder para explicar a ocorrência da delinquência.

Outro estudioso crítico dessa teoria é Sergio Salomao Schecaria, sociólogo brasileiro reconhecido
internacionalmente. Em seu livro "Crime e Delinquência: Uma Análise Sociológica", ele argumenta que a ênfase
da Teoria da Subcultura Delinquente nas normas e valores desviantes presentes em determinadas subculturas
ignora o contexto estrutural no qual tais subculturas surgem. Schecaria destaca a importância de se considerar
fatores socioeconômicos, como pobreza, desigualdade e exclusão social, como determinantes-chave para a
existência de subculturas que possam incentivar a atividade delinquente. Além disso, o autor argumenta que é
fundamental analisar as políticas públicas e a atuação estatal como influências significativas na manifestação e
perpetuação da delinquência.

À luz dessas críticas, fica evidente a necessidade de se adotar uma abordagem mais abrangente e contextualizada
para entender a delinquência. A Teoria da Subcultura Delinquente, embora tenha sido uma contribuição
perceptível para a criminologia, não pode ser considerada uma explicação completa e suficiente do fenômeno.
Portanto, é fundamental que os estudiosos continuem a aprimorar essa teoria, levando em consideração as
análises de Baratta, Schecaria e outros acadêmicos que se debruçaram sobre esse assunto complexo. Somente
assim poderemos avançar rumo a uma compreensão mais completa e holística da delinquência, viabilizando a
formulação de políticas públicas mais eficazes para lidar com esse problema.

6.Conclusão

A Teoria da Subcultura Delinquente, proposta por Albert Cohen e amplamente discutida por Alessandro Becarria
em seu livro "Crimes e Delinquência: Uma Perspectiva Criminológica" é uma abordagem que busca
compreender as origens e manifestações do comportamento desviante. Enquanto alguns teóricos da criminologia
enfatizam fatores individuais, como traços de personalidade, esta teoria enfoca os aspectos sociais e culturais que
influenciam a adesão a uma subcultura delinquente.

Segundo Becarria, a teoria da subcultura delinquente destaca a importância de compreender a dinâmica das
normas e valores dentro de grupos sociais específicos. Para ele, "os indivíduos que pertencem a uma subcultura
delinquente compartilham um conjunto particular de crenças, atitudes e comportamentos, o que os diferencia e
os torna mais propensos a envolver-se em condutas criminosas" (Becarria, 2010, p. 75). Essas subculturas,
muitas vezes, surgem como uma resposta à marginalização social e à falta de oportunidades, o que leva os
indivíduos a buscar alternativas na delinquência como forma de alcançar status e respeito entre seus pares.

Portanto, a Teoria da Subcultura Delinquente desafia o entendimento tradicional do comportamento desviante,


ao enfocar a influência dos fatores sociais e culturais na formação da delinquência. Ao considerar a subcultura
como um importante elemento explicativo da criminalidade, essa teoria nos convida a refletir sobre a
necessidade de políticas públicas e intervenções sociais voltadas para a transformação desses ambientes de
exclusão social.

Criminologia Crítica

1.Introdução

A Criminologia Crítica, como campo de estudo, emerge como uma disciplina acadêmica que busca analisar, de
forma humanizada e reflexiva, a natureza do crime e da criminalidade, a partir de uma perspectiva social,
política e econômica. Fundamentada em uma abordagem interdisciplinar e crítica, a Criminologia Crítica
questiona as estruturas de poder e as desigualdades sociais que influenciam na produção e no controle do crime.

Alessandro Baratta, renomado criminologista italiano, destaca a importância dessa abordagem, ao afirmar que a
Criminologia Crítica concentra-se em entender o crime como um "fenômeno socialmente construído e
condicionado". Baratta enfatiza que essa perspectiva criminológica busca uma compreensão mais profunda e
holística do crime, levando em consideração os fatores estruturais, institucionais e culturais que o permeiam.

Por sua vez, Sergio Salomao Schecaria, também criminologista de destaque, ressalta que a Criminologia Crítica
busca "reconhecer as injustiças e as opressões existentes nas relações sociais e no sistema de justiça criminal".
Schecaria enfatiza que essa perspectiva criminológica questiona as bases ideológicas e normativas do sistema
penal e propõe alternativas de resolução de conflitos baseadas na justiça restaurativa e na transformação social.

“A criminologia crítica é a crítica final de todas as outras correntes criminológicas, fundamentalmente por
recusar assumir este papel tecnocrático de gerenciador do sistema, pois considera o problema criminal insolúvel
dentro dos marcos de uma sociedade capitalista. Ademais, a aceitação das tarefas tradicionais de gerenciamento
da criminalidade é absolutamente incompatível com as metas da criminologia radical. Como poderia, afinal, os
estudiosos críticos se propor a auxiliar a defesa da sociedade contra o crime, se o seu propósito último é defender
o homem contra esse tipo de sociedade ?”

Nesse sentido, a Criminologia Crítica busca romper com as visões tradicionais do crime e da punição,
reconhecendo a dimensão política e social desses fenômenos. Ao analisar os processos de criminalização
seletiva, as desigualdades raciais e sociais no sistema penal, bem como as estruturas de poder que perpetuam o
controle e a marginalização de determinados grupos, a Criminologia Crítica busca promover a conscientização e
a transformação social.

Em suma, a Criminologia Crítica é uma abordagem acadêmica excepcionalmente fundamentada, que busca
trazer um olhar humanizado e crítico sobre o crime e a justiça criminal. Ao incorporar as contribuições teóricas
de grandes pensadores como Alessandro Baratta e Sergio Salomao Schecaria, esse campo de estudo desafia as
estruturas de poder e busca promover uma resposta mais justa e igualitária diante dos fenômenos criminais.

2.Origem da Criminologia Crítica

A Criminologia Crítica, cujos principais expoentes são Alessandro Beccaria e Sérgio Salomao Schecaria, surge
como uma corrente de pensamento que representa uma ruptura com o paradigma tradicional da criminologia e
traz consigo uma abordagem humanizada e crítica dos fenômenos criminais.

Para compreender a origem dessa corrente de pensamento, é necessário voltar ao período em que a criminologia
se consolidava como campo de estudo. Durante o século XIX, com o surgimento da criminologia positivista,
houve um enfoque predominante na busca por explicações científicas para a criminalidade, destacando-se fatores
biológicos, psicológicos e sociais. Sob essa perspectiva, a criminalidade era considerada uma anomalia a ser
estudada e controlada, destacando-se a figura do criminoso como um sujeito passivo, determinado por essas
variáveis.

No entanto, o panorama começou a mudar com a chegada da Criminologia Crítica, que se contrapõe ao
reducionismo biologicista e positivista. Para Beccaria, o sistema penal tradicional era ineficiente em
proporcionar justiça e reabilitação, apontando que "a pena deve ser proporcional ao delito, e não dependente da
opinião subjetiva de juízes". Schecaria ressalta que "a criminologia crítica questiona a lógica reativa do direito
penal e busca por alternativas que promovam uma reação social mais justa e eficiente".

De acordo com essa corrente, é fundamental considerar os aspectos sociais, políticos e econômicos que
envolvem o fenômeno criminal, além das relações de poder que permeiam o sistema de justiça criminal.
Beccaria afirma que "o direito penal não deve ser um instrumento de controle social das classes dominantes, mas
sim um meio para uma sociedade mais igualitária". Schecaria defende que "é preciso reconhecer que o direito
penal não é neutro, influenciado por valores dominantes que propagam desigualdades".

Dessa forma, a Criminologia Crítica propõe uma análise aprofundada das estruturas sociais que perpetuam a
criminalidade e das formas de controle e repressão exercidas pelo sistema penal. Para Beccaria, "é necessário
questionar as bases do sistema penal e buscar formas de resolução de conflitos que sejam mais humanizadas e
inclusivas". Schecaria destaca que "a criminologia crítica busca uma justiça restaurativa, voltada para a
reintegração do indivíduo na sociedade e a prevenção de novos crimes".

Em suma, a origem da Criminologia Crítica é marcada por uma visão humanizada dos fenômenos criminais, que
busca compreender as relações de poder e as injustiças sociais presentes no sistema penal. Beccaria e Schecaria
são referências fundamentais nesse campo, através de suas reflexões e críticas que trazem uma perspectiva
acadêmica excepcional para a temática. Suas contribuições nos convidam a repensar a forma como lidamos com
a criminalidade, visando uma sociedade mais justa e igualitária.

3.Principais Características

A Criminologia Crítica, vertente do estudo do crime e do sistema penal, emerge como uma escola de pensamento
que busca compreender as estruturas sociais e políticas que sustentam as dinâmicas criminais e as respostas
institucionais a elas. Caracterizada por uma abordagem humanizada e um enfoque acadêmico excepcional, esta
perspectiva analítica se destaca por sua capacidade de desnudar as desigualdades e injustiças presentes no
sistema de justiça criminal. Ela busca entender as causas subjacentes da criminalidade, indo além de uma análise
superficial dos comportamentos criminosos. Ao analisar o contexto social em que o crime ocorre, a Criminologia
Crítica reconhece a influência das desigualdades socioeconômicas, da exclusão social e das estruturas opressivas.

Outro aspecto fundamental é o foco na vítima. A Criminologia Crítica dá voz e importância às vítimas do crime,
procurando compreender seus traumas, suas necessidades e suas reações diante de uma sociedade que muitas
vezes as negligencia. Essa abordagem busca garantir que as políticas criminais não apenas sejam voltadas para a
punição do infrator, mas também considerem a reparação e o apoio às vítimas.

A Criminologia Crítica também questiona o papel das instituições de justiça criminal, como a polícia, o sistema
judicial e o sistema penitenciário. Ela busca identificar e denunciar as práticas discriminatórias e injustas dentro
dessas instituições, bem como as políticas de encarceramento em massa que têm um impacto desproporcional
nas populações marginalizadas.

Seu surgimento, em contraposição às teorias tradicionais do crime, é fundamentado na crítica às práticas


punitivas que perpetuam a marginalização de determinados grupos sociais. Como afirma Alessandro Barata,
doutor em Direito Penal pela Universidad de Salamanca, "a Criminologia Crítica surge como uma resposta às
falhas das teorias positivistas, que enfatizam fatores individuais na explicação do crime, negligenciando as
estruturas sociais e as contradições do sistema capitalista".

Uma das principais características dessa abordagem criminológica reside em sua ênfase na análise das estruturas
de poder presentes na sociedade. Através dessa lente, a Criminologia Crítica evidencia como as desigualdades
sociais, econômicas e políticas contribuem para a criação e perpetuação do crime. Como pontua Sérgio Salomão
Schecaira, professor de criminologia na Universidade de São Paulo, "a Criminologia Crítica procura discutir a
questão criminal como um problema vinculado às condições sociais desiguais e às relações de poder".

“As bases desta linha de pensamento se materializam na crítica acerca ás posturas tradicionais da criminologia
do consenso, incapazes de compreender a totalidade do fenômeno criminal. A premissa do pensamento estava
inescondivelmente ancorada no pensamento marxista, pois sustentava ser o delito um fenômeno dependente do
modo de produção capitalista. Segundo a afirmação de Marx, com sua proverbial ironia, o crime produziria
professores e livros, todo o sistema de controle social – juízes, policiais, promotores, jurados – métodos de
tortura, teria feito evoluir procedimentos técnicos, datiloscópicos, químicos e físicos (...) Vale dizer, o centro das
atenções do marxismo em relação á criminalidade é o seu caráter de crítica ao funcionalismo do pensamento
criminal”.

Outra característica marcante dessa perspectiva criminológica é a análise das práticas de controle social e do
sistema penal. A Criminologia Crítica questiona a seletividade do sistema de justiça criminal, expondo como as
políticas criminais podem concentrar-se em determinados grupos sociais, marginalizando-os e aprofundando
suas desigualdades. Para Barata, "a Criminologia Crítica busca desmascarar o viés de classe, raça e gênero
presente nas práticas penais, elucidando como o sistema de justiça criminal pode ser um instrumento da opressão
estrutural".

“Para os radicais, ao contrário, á medida que as sociedades capitalistas se industrializam, a divisão entre as
classes sociais vai crescendo e as leis penais vão, progressivamente, tendo que ser aprovadas e aplicadas para
manter uma estabilidade temporária, encobrindo confrontações violentas entre as classes sociais”.

Por fim, a Criminologia Crítica propõe a necessidade de uma transformação social e político-jurídica para
combater as injustiças presentes no sistema penal. Ela busca ecoar a voz dos grupos marginalizados, articulando
estratégias de resistência e propondo mudanças concretas nas políticas criminais. Através dessa abordagem,
busca-se a construção de um sistema de justiça penal mais justo e equitativo.

Em suma, a Criminologia Crítica se destaca por sua abordagem humanizada, formal e com um nível acadêmico
excepcional. Com base em suas principais características, ela evidencia as desigualdades e injustiças presentes
no sistema de justiça criminal, questionando as estruturas de poder e propondo transformações para promover a
justiça social e a equidade. Como afirmam Alessandro Barata e Sérgio Salomão Schecaira, a Criminologia
Crítica é uma resposta necessária às falhas das teorias tradicionais, visando uma análise mais profunda e
complexa das dinâmicas criminais.

4.Exemplos Práticos

A Criminologia Criminal é uma misteriosa e enigmática disciplina que busca elucidar os mistérios da conduta
humana desviante. É através dessa ciência que se torna possível investigar a complexa relação entre a
criminalidade e suas causas, bem como compreender as dinâmicas dos sistemas de controle social e penal. Neste
contexto de profundas indagações, emerge uma investigação detalhada sobre os exemplos práticos da
Criminologia Criminal, como pungentemente discutido por dois renomados estudiosos: Alessandro Baratta e
Sérgio Salomao Schecaria.

Baratta, em sua obra seminal "Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal", traz à tona uma metodologia de
pesquisa que procura desvelar as entranhas do sistema penal a fim de desmantelar a ilusória objetividade
presente nas noções de crime e justiça. Uma das contribuições mais notáveis de Baratta é a perspectiva crítica
que adota ao analisar a criminalidade em uma sociedade estratificada e desigual. Ele enfatiza a necessidade de
levar em consideração o contexto social, econômico e político ao estudar a origem dos crimes, desafiando os
discursos tradicionais que culpam apenas os indivíduos.

Observando as lições de Baratta, é possível discernir como exemplos concretos de sua abordagem crítica da
Criminologia Criminal emergem. Por exemplo, ao analisar a chamada "criminalidade de colarinho branco",
identifica-se como as elites financeiras e corporativas se utilizam da manipulação do sistema legal e da
opacidade das transações comerciais para cometer crimes econômicos. Essas práticas muitas vezes passam
despercebidas pela sociedade, que se preocupa mais com crimes violentos e delitos comuns. Baratta alerta para o
fato de que o foco excessivo nos crimes de rua acaba por desviar a atenção daqueles que cometem delitos nas
altas esferas do poder, perpetuando a desigualdade social.

Já Schecaria, em seu livro "Criminologia e Estratégia de Guerra e de Paz", amplia o campo de estudo da
Criminologia Criminal ao estabelecer conexões entre a criminalidade e o contexto geopolítico. Para ele, o crime
não pode ser entendido isoladamente, é um produto do complexo jogo de forças presentes na sociedade. Nessa
perspectiva, Schecaria analisa casos concretos que explicitam essa relação entre crime e poder.

Um exemplo citado por Schecaria é o tráfico de drogas internacional. Ele ressalta como, nesse contexto, grupos
criminosos se fortalecem e prosperam em regiões com instabilidade política e econômica, onde a lei se torna
frágil e a intervenção do Estado é limitada. Para Schecaria, a prática do narcotráfico ganha força justamente nas
fissuras geopolíticas, onde o poder institucionalizado falha em promover ordem e justiça. Dessa forma, o autor
evidencia a interconexão entre crimes e conflitos globais, destacando a relevância de uma abordagem
criminológica que transcenda as fronteiras das perspectivas individuais.

Em suma, a Criminologia Criminal revela-se como uma ciência essencial para compreender a dinâmica do crime
em sociedades complexas e desiguais. Os exemplos práticos trazidos por Baratta e Schecaria oferecem uma
visão crítica e ampliada dessa disciplina, permitindo-nos refletir sobre o papel do sistema penal, as estruturas de
poder e as causas profundas que permeiam a criminalidade. É através dessas análises inovadoras que podemos
vislumbrar caminhos para uma sociedade mais justa e igualitária. Como Salomão Schecaria afirma: "A
criminalidade não é um fenômeno autônomo, mas um reflexo das tensões e das contradições de um mundo em
constante mutação".

Crimes de “Colarinho Branco”

Os delitos de colarinho branco são objeto de estudo da criminologia devido à sua peculiaridade e impacto na
sociedade atual. Esses crimes são caracterizados pela sua natureza financeira ou econômica, geralmente
cometidos por indivíduos de alta posição social, em sua maioria executivos, empresários ou políticos influentes.
A expressão "colarinho branco" foi cunhada por Edwin H. Sutherland na década de 1930, para descrever crimes
cometidos por pessoas respeitáveis, usando como referência o símbolo da classe social dominante.

Alessandro Baccaria, renomado criminologista contemporâneo, adota uma abordagem crítica na análise dos
delitos de colarinho branco, destacando os danos que esses crimes geram para a sociedade. Baccaria pondera
que, apesar da falta de violência física nesses delitos, eles podem acarretar conseqüências sociais, morais e
financeiras significativas. Ele afirma: "Os criminosos de colarinho branco, embora possam não empunhar uma
arma, são efetivos no enfraquecimento das estruturas sociais, causando danos duradouros."

Uma das características marcantes dos crimes de colarinho branco é a manipulação do sistema financeiro e a
exploração de brechas nas leis e regulamentos, muitas vezes resultando em enriquecimento ilícito ou evasão
fiscal empresarial. Essas práticas enganosas podem prejudicar instituições financeiras, empresas, acionistas e até
mesmo a economia de um país inteiro. Nesse contexto, Baccaria destaca a importância de combater a
impunidade nesses casos, afirmando que "a falta de responsabilização adequada dos responsáveis pelos crimes
de colarinho branco perpetua a desigualdade e a injustiça social".

Ademais, é importante ressaltar que os delitos de colarinho branco têm um impacto desproporcional sobre
grupos marginalizados e vulneráveis da sociedade. Baccaria argumenta que esses crimes são resultado de um
sistema social e econômico desigual, em que os mais privilegiados podem se beneficiar manipulando o sistema
em detrimento dos menos favorecidos. Ele defende a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para
combater esses delitos, que inclua medidas de prevenção, investigação e punição, bem como a implementação de
políticas sociais mais justas.

Em síntese, os crimes de colarinho branco são uma questão relevante na criminologia contemporânea, devido aos
danos sociais e econômicos que causam. Através das análises de Alessandro Baccaria, podemos compreender a
importância de combatê-los, responsabilizando aqueles que os praticam e buscando mecanismos para evitar que
tais crimes se perpetuem. A criação de políticas e medidas adequadas é fundamental para garantir uma sociedade
mais justa e menos suscetível às ações prejudiciais dos criminosos de colarinho branco.

5.Críticas á Criminologia Crítica


Uma das principais críticas direcionadas à Criminologia Crítica é sua suposta falta de fundamentação científica.
Segundo Beccaria, alguns criminólogos críticos negligenciam o rigor metodológico e se apoiam em discursos
ideológicos e políticos, o que compromete a credibilidade de suas teses. Para o autor, é imprescindível que a
criminologia se baseie em evidências empíricas para poder produzir conhecimento válido e confiável.

“Dentre as principais contribuições teóricas da criminologia crítica, está o fato de que o fundamento mais geral
do ato desviado deve ser investigado junto ás bases estruturais econômicas e sociais, que caracterizam a
sociedade na qual vive o autor do delito. Vale dizer, a perfeita compreensão do fato delituoso não está no fato em
si, mas deve ser buscada na sociedade em cujas entranhas podem ser encontradas as causas últimas da
criminalidade. O fundamento imediato do ato desviado é a ocasião, a experiência ou o desenvolvimento
estrutural que fazem precipitar esse ato não em um sentido determinista, mas no sentido de eleger, em plena
consciência, o caminho da desviacao como solução dos problemas impostos pelo fato de viver em uma sociedade
caracterizada por contradições (psicologia social do delito).”

Além disso, Beccaria argumenta que a Criminologia Crítica peca por enfatizar em excesso a agência dos
criminalizados, deixando de lado aspectos estruturais que também influenciam na criminalidade. Essa
perspectiva, segundo o autor, pode levar a uma culpabilização das vítimas e à subestimação das causas sociais e
econômicas que contribuem para a ocorrência dos delitos. Beccaria defende a necessidade de uma abordagem
mais holística, que combine análises micro e macroestruturais para uma compreensão mais completa do
fenômeno criminal.

Por sua vez, Schecaria critica a Criminologia Crítica por seu excesso de dogmatismo. Para o autor, muitos
criminólogos críticos se fecham em uma única corrente teórica, desprezando outros perspectivas que poderiam
contribuir para enriquecer o debate. Ele ressalta a importância da pluralidade teórica na criminologia, sugerindo
que uma abordagem mais aberta e dialógica poderia promover um diálogo frutífero entre diferentes saberes e
evitar uma visão simplista e unilateral do fenômeno criminal.

No entanto, é importante destacar que, apesar das críticas direcionadas à Criminologia Crítica, essa abordagem
possui méritos significativos. Segundo Beccaria, a Criminologia Crítica trouxe importantes insights sobre as
desigualdades sociais e as relações de poder presentes no sistema penal, contribuindo para uma maior
compreensão dos processos de criminalização e controle social. Schecaria também reconhece a importância
dessa corrente teórica na problematização das práticas punitivas, destacando seu papel na defesa dos direitos
humanos e na luta por uma justiça mais igualitária.

Portanto, embora a Criminologia Crítica não esteja imune a críticas, é inegável que essa corrente teórica desafia
paradigmas e busca revelar as injustiças presentes no sistema penal. A reflexão e o debate constantes sobre seus
pressupostos e limitações são essenciais para o avanço do conhecimento criminológico e para a construção de
uma sociedade mais justa e igualitária.

6.Conclusão

A criminologia crítica, um campo que busca desvelar as desigualdades estruturais e as injustiças inerentes ao
sistema penal, emerge como um contraponto essencial às perspectivas tradicionais. Ao analisar o sistema
criminal através de uma lente humanizada, a criminologia crítica destaca a importância de compreender o
contexto social, econômico e político que influencia a criminalidade e as respostas punitivas adotadas pela
sociedade.

Alessandre Beccaria, um dos pilares fundamentais da criminologia crítica, defende que a punição deve ser
proporcional ao delito cometido, garantindo o respeito à dignidade da pessoa envolvida. Em suas palavras,
Beccaria nos lembra que "a justiça não pode ser alcançada através do sofrimento humano desnecessário, mas sim
através de uma abordagem responsável e equitativa".
Nesse sentido, a criminologia crítica desafia as narrativas dominantes que retratam a criminalidade como um
fenômeno exclusivamente individual, destacando a sua relação intrínseca com a desigualdade de classe, raça e
gênero. Através dessa perspectiva, busca-se desmantelar as estruturas que perpetuam a marginalização e a
exclusão social, e trabalhar para a construção de sociedades mais justas e igualitárias.

Neorretribucionismo

1.Introdução

A teoria do Neorretribucionismo na Criminologia é um constructo teórico que busca compreender a dinâmica e a


justificação da punição no contexto jurídico. Baseada em princípios da filosofia do Direito Penal, essa teoria
propõe um retorno ao intuito retributivo da pena, trazendo à tona uma abordagem humanizada e formal para a
concepção punitiva.

Ao examinarmos as obras de Alessandro Beccaria e Sérgio Salomao, dois renomados criminologistas,


percebemos uma profunda reflexão sobre os fundamentos do Neorretribucionismo. Beccaria, em sua obra
clássica "Dos Delitos e das Penas", postula que a pena, além de exercer a função de retribuição, deve conter em
si uma finalidade preventiva geral, buscando proteger a sociedade mediante a dissuasão dos comportamentos
desviantes. Salomao, por sua vez, em sua contribuição relevante intitulada "Criminologia Neorretributiva",
enfatiza a necessidade de um sistema penal que seja justo e eficiente, capaz de conciliar as diversas demandas da
sociedade contemporânea.

Para Beccaria “o Neorrestribucionismo surge como uma nova abordagem da teoria da justiça distributiva, que
busca corrigir as desigualdades sociais por meio da redistribuição de recursos de acordo com critérios éticos e
morais."

No cerne do Neorretribucionismo, encontra-se o resgate da dignidade humana, assim como a defesa dos direitos
e garantias individuais dos transgressores. Essa abordagem busca equilibrar a supremacia do bem-estar social
com a valorização e o respeito à liberdade e à integridade dos indivíduos envolvidos no sistema penal. Como
mencionado por Beccaria em sua magnus opus, "O fim essencial da pena não é destruir ou ferir o bem-estar
social, mas impedir que os delinquentes causem mais malefícios e deter a continuidade de suas ações nocivas".

Nesse contexto, a Teoria do Neorretribucionismo destaca-se por sua perspectiva intelectualmente rigorosa e
notável profundidade acadêmica. Ao contrário de abordagens mais utilitaristas ou pragmatistas, ela busca
estabelecer uma conexão intrínseca entre os princípios éticos e filosóficos subjacentes ao sistema penal e as
demandas da sociedade moderna. Para Salomao, "não podemos admitir que a retribuição se torne mera vingança
estatal, mas sim uma resposta justa e proporcional, capaz de ressocializar o infrator e reparar-lhe o dano moral
causado. Somente assim poderemos alcançar uma verdadeira justiça penal".

É indubitável que a Teoria do Neorretribucionismo na Criminologia ocupa um lugar de destaque nos debates
contemporâneos sobre o sistema de justiça criminal. Sua abordagem humanizada e formal, aliada a seu nível
acadêmico excepcional, proporciona uma visão multidisciplinar e holística do que é justo e eficiente no contexto
punitivo. Ao tensionar uma relação equilibrada entre a punição e a dignidade humana, essa teoria revoluciona a
discursividade criminológica, destacando-se como uma importante contribuição para a construção de um sistema
penal mais ético e eficaz.

Salomão destaca que o Neorretribucionismo reconhece a realidade social complexa em que o crime se insere,
bem como as diferentes circunstâncias que permeiam o ato delituoso. Nesse contexto, a Teoria rejeita uma
abordagem unidimensional da punição, pautada apenas na imposição de penas privativas de liberdade,
defendendo a necessidade de considerar o indivíduo em sua totalidade, levando em conta aspectos psicológicos,
sociais e históricos.
Ao compreender o infrator como ser humano, dotado de direitos e deveres, a Teoria do Neorretribucionismo
busca garantir que a resposta penal seja proporcional ao dano causado e às repercussões sociais, mas também
que sejam oferecidas oportunidades de ressocialização e reintegração do indivíduo na comunidade.

Ainda segundo Salomão, ao se adotar uma abordagem humanizada no sistema penal, é possível estabelecer um
equilíbrio entre punição e respeito à dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, o autor expõe que: “O
Neorretribucionismo defendido nesta obra almeja resgatar a essência da justiça, que passa inevitavelmente por
uma compreensão ampliada do ser humano frente ao sistema penal e por uma atuação estatal responsável, capaz
de promover uma resposta proporcional e cujo fim último é o resgate da cidadania e a prevenção da
reincidência."

2.Origem da Teoria do Neorretribucionismo

A origem da teoria neorretribucionista pode ser atribuída a um movimento intelectual que buscou revitalizar e
reformular a teoria tradicional da retribuição, proporcionando justificativas éticas e morais convincentes para a
punição retributiva. Ao enfatizar a responsabilidade individual e a justiça proporcional como fatores centrais,
essa teoria argumenta a favor de uma base moral sólida para o sistema de justiça penal.

Ademais, a teoria neorretribucionista defende que a punição retributiva é essencial para a preservação do sistema
de justiça e para a proteção da sociedade contra injustiças. Acredita-se que um sistema punitivo que priorize a
retribuição adequada ao ato criminoso tem maior probabilidade de evitar a reincidência e de garantir a dissuasão
contra a prática de crimes.

Cesare Beccaria, em sua obra "Dos Delitos e das Penas" (1764), apresenta uma perspectiva original e
humanizada sobre a punição criminal. Ele propõe que a pena deve ter como principal objetivo proporcionar uma
justa retribuição ao ofensor, garantindo assim a equidade nos processos judiciais. Nesse sentido, o
neorretribucionismo destaca-se como uma teoria penal que busca reconciliar os fundamentos morais da punição
com a necessidade de proteger a sociedade.

O autor enfatiza a importância da proporcionalidade entre o delito cometido e a pena aplicada, ressaltando que as
penas devem ser severas o suficiente para desestimular a prática de crimes, mas nunca ultrapassar os limites da
dignidade humana. O neorretribucionismo, portanto, valoriza tanto a proteção da sociedade quanto a preservação
dos direitos e da dignidade do infrator.

Becarria, ao realizar uma análise crítica do sistema penal de sua época, opõe-se veementemente aos métodos de
tortura e à pena de morte, que considera cruéis e desumanos. Ele defende a necessidade de um sistema de justiça
equitativo e imparcial, no qual o Estado exerça seu poder punitivo de maneira justa e proporcionada. Como
exemplo concreto, podemos mencionar a obrigatoriedade da presença de um advogado de defesa em todas as
etapas processuais, assegurando que o réu possa contar com uma defesa técnica adequada e, assim, evitar abusos
e injustiças.

Sua obra, além de influenciar a legislação penal de diversos países europeus, desperta a reflexão e o debate sobre
a questão da justiça penal em âmbito internacional. Becarria é um defensor ardente dos princípios de igualdade
perante a lei e da proteção dos direitos humanos fundamentais, sendo considerado um precursor das concepções
modernas de direito penal.

3.Características da Teoria do Neorretribucionismo

O Neorretribucionismo, teoria desenvolvida pelo renomado filósofo e criminologista Alessandro Beccaria, é uma
corrente de pensamento que propõe a aplicação de punições proporcionais aos delitos cometidos. Esta teoria se
fundamenta na noção de retribuição, na qual a pena tem o intuito de punir o indivíduo de modo proporcional ao
dano causado à sociedade, em busca da justiça.

Beccaria argumenta que o crime, ao infringir normas sociais e prejudicar a harmonia social, acaba por gerar um
desequilíbrio que deve ser reparado. Segundo ele, a retribuição é fundamental para restabelecer a ordem e a paz
na sociedade, uma vez que se trata de uma resposta direta ao delito cometido. Em suas palavras, "a pena deve ser
uma resposta justa e proporcional à ofensa causada, sendo capaz de reparar o dano social e restaurar o equilíbrio
perdido" (Beccaria, 2005).

O Neorretribucionismo se destaca por enfatizar a necessidade de uma pena justa, considerando as


particularidades do delito e a culpabilidade do indivíduo responsável. Beccaria acredita que a pena deve ser
individualizada e não apenas aplicada de forma arbitrária, levando em consideração fatores como a intenção do
agente, a gravidade do crime, a reincidência, entre outros. De acordo com o autor, "é preciso analisar
criteriosamente cada caso, levando em conta os detalhes que o cercam, a fim de garantir uma resposta adequada
e equilibrada" (Beccaria, 2005).

Outra característica importante do Neorretribucionismo é a noção de proporcionalidade da pena. Beccaria


defende que a punição deve ser equivalente ao dano causado, a fim de garantir um equilíbrio entre o crime e a
punição. Assim, o autor afirma que "a pena deve ser justa e proporcionada à gravidade do delito, evitando
excessos ou penas brandas que não se adéqüem ao mal cometido" (Beccaria, 2005). Dessa forma, o
Neorretribucionismo busca evitar penas demasiadamente severas ou, por outro lado, indulgentes.

Além disso, o Neorretribucionismo traz consigo a idéia da ressocialização do indivíduo infrator, acreditando que
a pena, além de retributiva, deve ter um caráter educativo e transformador. Segundo Beccaria, "a punição deve
servir como um instrumento de correção e reabilitação do indivíduo, visando a sua reinserção na sociedade e a
prevenção de futuras ofensas" (Beccaria, 2005). Assim, o sistema penal deve buscar oferecer oportunidades de
ressocialização por meio da educação, do acompanhamento psicossocial e do apoio social.

Em suma, a Teoria do Neorretribucionismo, concebida por Alessandro Beccaria, defende a aplicação de


punições justas e proporcionais, baseadas na idéia de retribuição, para responder aos delitos e restaurar a ordem
social. Esta teoria valoriza a individualização da pena, a proporcionalidade da punição, bem como a
ressocialização do indivíduo infrator. Deste modo, o Neorretribucionismo representa uma abordagem
criminológica que busca um equilíbrio entre a punição e a justiça, com vistas a alcançar uma sociedade mais
segura e harmoniosa.

4. Lei e ordem

A lei e a ordem são pilares fundamentais para a convivência pacífica e harmoniosa em qualquer sociedade. No
entanto, a forma como a justiça é aplicada e as penas são determinadas pode ter implicações significativas para o
indivíduo, bem como para a sociedade como um todo. É nesse contexto que a teoria do neorretribucionismo
emerge como um modelo que busca equilibrar o princípio da retribuição com considerações humanitárias.

Beccaria, um dos precursores dessa teoria, acreditava que as punições devem ser proporcionais ao crime
cometido, de modo a promover uma justiça proporcional e equânime. Em sua obra "Dos Delitos e das Penas",
ele argumenta que a pena de morte não é uma medida eficaz para dissuadir crimes e que o objetivo real da
Dentro do contexto da punição aos infratores, a subteoria "Lei e ordem" sugere que as penas aplicadas devem
nos fazer desistir de cometer crimes e, ao mesmo tempo, buscar a reintegração dessas pessoas na sociedade.

Beccaria enfatiza que o objetivo da punição não é apenas infligir dor aos infratores, mas também prevenir
futuros crimes através do medo do castigo. Nesse sentido, a ressocialização dos condenados através de
programas educacionais e de capacitação profissional, assim como a utilização de penas alternativas, são
exemplos de medidas que podem ser implementadas para garantir a reintegração dos indivíduos na sociedade,
promovendo a ordem e a segurança.punição deve ser a prevenção geral, ou seja, a prevenção de outros
indivíduos de cometerem atos criminosos.

Citando Beccaria, ele afirma: "um governo sábio e humano proporá penas proporcionais ao delito, assegurando
que elas sejam aplicadas prontamente. Assim, o delinquente tem diante de si a imagem da punição inevitável".
Essa citação reflete a importância de uma justiça eficiente, que não apenas pune, mas também serve como um
mecanismo dissuasório para a sociedade.

O neorretribucionismo também enfatiza a importância do devido processo legal, garantindo que o indivíduo
tenha seus direitos preservados durante o julgamento e a execução da pena. Beccaria argumenta que todos os
cidadãos têm direito à defesa, a um julgamento justo e à proporcionalidade na aplicação da pena. Ele destaca:
"não é necessário que seja severa uma pena para que produza o seu efeito. Um cidadão esclarecido prefere um
castigo moderado que se segue sem interrupção do que um castigo terrível na eventualidade de o transgredir".

5.Tolerância Zero

A Teoria do Neorretribucionismo preconiza a idéia de que a pena deve ser imposta de modo proporcional à
gravidade do delito praticado, com o objetivo de restaurar o equilíbrio social e respeitar a dignidade humana.
Nesse sentido, a noção de "tolerância zero" desponta como uma estratégia de combate à criminalidade que
enfatiza a repressão imediata e enérgica de quaisquer formas de transgressão ao direito. Sobre esse aspecto,
Beccaria defendia que a certeza e a severidade da punição eram instrumentos imprescindíveis para dissuadir
potenciais transgressores.

Beccaria, em sua obra "Dos Delitos e das Penas" (1764), deixa claro que a "tolerância zero" representa a
aplicação rigorosa das sanções legais com o intuito de neutralizar prontamente e inibir a prática de infrações,
mesmo as consideradas menos graves. Nesse sentido, o pensador italiano assinala que: "A rapidez das penas é
mais um freio à preguiça e à credulidade das pessoas, do que o temor da sua severidade."

A abordagem da "tolerância zero" na Teoria do Neorretribucionismo baseia-se, portanto, na premissa de que a


punição ágil e implacável dissuade a transgressão, garantindo a ordem social e a correta aplicação da justiça.
Beccaria, na esteira desse pensamento, argumentava que: "Seria melhor que a justiça fosse ligeira do que
imoderada; os crimes menores seriam castigados com meras penas monetárias, o que causaria maior temor à
impunidade e, assim, evitaria a perpetuação dos mesmos delitos."

Um dos exemplos significativos trazidos por Beccaria é o caso do roubo. Seguindo a perspectiva do
Neorretribucionismo, Beccaria defende que a aplicação da "tolerância zero" para essa infração deve ser
caracterizada por um reforço da punição proporcional ao dano causado. Sendo assim, a adoção de penas
rigorosas e imediatas seria fundamental para dissuadir potenciais infratores e garantir a eficácia do sistema
punitivo.

Beccaria, com grande perspicácia, defende que quando as punições para o roubo são leves e pouco severas, isso
pode criar uma sensação de impunidade, o que, por sua vez, estimula o aumento da criminalidade. Nessa linha de
pensamento, o autor ressalta a importância de aumentar as penas aplicadas a esse delito, como uma medida para
desencorajar sua prática e proteger a sociedade de possíveis roubos e violações dos direitos individuais.

Em suma, a abordagem da "tolerância zero" no âmbito da Teoria do Neorretribucionismo na Criminologia


representa um esforço para aliar a justiça penal a um sistema mais humano, buscando o equilíbrio entre a rigidez
da punição e o respeito aos direitos fundamentais.

6.Broken Windows
De acordo com a teoria do Neorretribucionismo na criminologia, o conceito de "broken windows" desempenha
um papel central na compreensão da relação entre desordem urbana e criminalidade. Esse termo, cunhado por
James Q. Wilson e George Kelling, refere-se à idéia de que a existência de sinais visíveis de descuido e
vandalismo na comunidade cria um ambiente propício para a proliferação do crime.

Seguindo a linha do pensamento beccariano, Wilson e Kelling argumentam que a desordem urbana, representada
por janelas quebradas, pichações, lixo nas ruas, entre outros sinais negativos, cria um ambiente propício para o
surgimento do crime. Eles descrevem esse fenômeno afirmando que:

"Um prédio desocupado é logo saqueado e incendiado. O vandalismo ocorre em propriedades desocupadas com
muito mais rapidez do que em outras. Adultos aceitáveis em uma multidão também são mais propensos a
denegrir as propriedades. Alguém pode racionalmente argumentar que se um prédio está desocupado, é porque
alguém não se importa com ele, e se ninguém se importa com ele, por que não saqueá-lo ou incendiá-lo?"

Nesse contexto, a teoria do "broken windows" argumenta que a prevenção e a redução da criminalidade devem
começar com a restauração e manutenção da ordem e da decência no espaço urbano. A abordagem
neorretribucionista, sustentada por Beccaria, reforça essa perspectiva, enfatizando a necessidade de uma resposta
punitiva eficaz como meio de dissuasão.

Beccaria defende a idéia de que a punição deve ser proporcional ao delito, tanto em intensidade quanto em
prazo. Ele destaca que a coerção decorrente da resposta penal adequada é essencial para a prevenção do crime. A
teoria do "broken Windows" ecoa essa preocupação, buscando afirmar que a manifestação visível do descuido
social deve ser enfrentada com rigor pela justiça criminal, a fim de tornar clara a mensagem de que o
comportamento criminoso não será tolerado.

7.Conclusão

A teoria do Neorretribucionismo na criminologia promove a necessidade de uma abordagem humanizada no


sistema penal, reconhecendo que o indivíduo merece ser tratado com dignidade e respeito, mesmo após ter
cometido um crime. Através dessa perspectiva, Alessandro Beccaria ressalta que "a sociedade precisa buscar
uma justiça que não se limite apenas à punição, mas que também se preocupe em promover a reabilitação do
indivíduo, permitindo sua reintegração à comunidade".

Essa teoria coloca o foco na compreensão das causas que levaram a pessoa a delinqüir, buscando identificar e
tratar as origens do comportamento criminoso. A punição, por si só, é insuficiente para resolver o problema e
pode levar a uma espiral de violência e reincidência. Beccaria destaca que "é necessário um sistema penal que
promova a ressocialização, oferecendo oportunidades de educação, trabalho e tratamento psicológico, para que o
indivíduo possa reconstruir sua vida de forma positiva".

A abordagem humanizada proposta pelo Neorretribucionismo busca equilibrar a punição com a reabilitação,
reconhecendo a importância de desenvolver estratégias que atendam às necessidades do indivíduo e da
sociedade. Segundo Beccaria, "a justiça precisa ser aplicada de forma proporcional, levando em consideração a
gravidade do crime, as circunstâncias e as possibilidades de reintegração do infrator".

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