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Nota-se que o direcionamento desses rótulos é em sua maioria para as classes mais
desprovidas economicamente, socialmente e culturalmente, as quais ficam mais distantes
das classes dominantes e das instâncias oficiais, que são as polícias, os juízes, e as
instituições penitenciarias.
Esses rótulos partem de um senso comum, que possui inúmeras interpretações de fatos
diversos e que ainda sim a sociedade os considera como certos e verdadeiros.
Na obra Outsiders, Becker (2008, p. 15) explica de que forma as regras são feitas e
como, em certos momentos tentam impô-las. Ressalta-se também que essas regras sociais
definem padrões de comportamentos, apontando uns como certos e proibindo outros
como errados, e quando uma pessoa infringe tal regra que é considerada errada pelo
grupo, esta passa a ser vista como um outsiders (excluído). Por outro lado, têm-se a
mesma problemática com uma mudança de foco, uma vez que quem está sendo julgado
pelo grupo pode não aceitar, por achar que os julgadores não são competentes para tal
função, daí decorre outro significado para outsiders, tirando o foco de quem a priori teria
desviado seu comportamento das regras ditadas pelo grupo e colocando a quem
supostamente julgou.
Há regras operantes efetivas de grupos, que são aquelas mantidas vivas por meio de
tentativas reiteradas de imposição, isto é, aquelas regras que pertencem a um dado grupo,
e que aquele que se comporta diversamente do que esta pré-determinado, recebe o
estigma de desviante.
” quem é definido como desviante?”, “que efeito decorre desta definição sobre o individuo?”,
“em que condições este individuo pode se tornar objeto de uma definição?” e, enfim, “quem
define quem?”. (BARATTA, 2002, p. 88)
MÍDIA E ESTIGMATIZAÇÃO
Nota-se que vários mecanismos são responsáveis por propagar e vincular a conduta
dita como desviada à criminalizada, onde destaca-se como um dos principais
percussores a mídia, responsável por atingir todas as camadas sociais, levando notícias e
influenciando como se tudo que ali fosse dito fosse consenso, e ainda categorizando os que
ali estão sendo noticiados como bons ou maus.
Neste contexto Baratta (1994, p.16), defende que a sociedade não pode ser mera
expectadora da notícia, limitando-se a consumí-la, no que deve ser por sua vez,
protagonizadora em meio aos fluxos de informação. Desta forma, esta mesma
comunidade, ao assumir um papel ativo, além de exercer um direito permitido pelo estado
democrático de produção de informações, produzirá com maior eficácia soluções no conflito
do desvio e da insegurança urbana.
Ressalta-se então que a mídia, por ser um instrumento de acesso mundial, é , como já dito,
construtor do chamado “outro”, ou seja, o outsiders, por estar continuamente tentando
reproduzir imagens positivas e normalizadoras da ordem. Todo aquele que “sair do script”,
aquele que é diferente, é demonizado e, assim, justifica-se todo ato de violência contra ele
praticado ( REIS, 2004 p.149). No dizer de Elizabeth Rondell (1998, p. 158) esse ‘Outro’ é
apresentado, pela Mídia, como uma imagem símbolo de uma diferença que se quer eliminar
em prol de uma visão da ordem. O diferente serve para demonstrar, “a contrário
sensu”, os traços constitutivos de uma identidade social normatizada.
Young (1949, p. 21-22) diz que o “outro” desviante é, portanto: A minoria; o que é
constituído como uma falta em termos de valores que são absolutos e incontestados. Jock
Young (1949, p. 21) ressalta em sua obra que dentro de uma sociedade inclusiva, o “outro”
desviante não é abominado, nem visto como inimigo externo, mas muito mais como alguém
que deve ser socializado, reabilitado, curado até ficar como “nós”. O olhar modernista não
vê o outro como estrangeiro, mas como algo ou alguém a quem faltam os atributos do
observador. Falta-lhe civilização, ou socialização, ou sensibilidades. É uma câmera cuja
constituição é tão estranha que só se consegue fotografar o fotógrafo.
Molina define controle social como o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais
que pretendem promover e garantir a submissão do indivíduo aos modelos e normas
comunitários.
Trata-se neste momento sobre o controle social e as formas que o compõem, analisando-se
de que forma esses controles são responsáveis pela dita conduta desviada.
Na vida em comunidade, duas são as formas de controle social: informal, ou seja, aquele
realizado pelas próprias instituições da sociedade civil, como a família, a escola, a igreja, a
mídia, o mercado etc. e o formal, realizado pela atuação das agências de controle do
Estado, (Polícia, Ministério Público, Judiciário, etc.), e o direito penal, atua, portanto, como a
última esfera do controle formal do Estado. (FONSECA, 2006, p.13)
Mas não é sustentável sua postura quanto absolutiza e universaliza tais “déficits”,
carências e abusos. Parte da delinquência, segundo a teoria em foco, pode ser fruto de
uma reação desproporcionada dos mecanismos sociais de controle (sobretudo os formais),
mas outra parte (possivelmente a majoritária) é uma delinquência real, ontológica.
Princípios da ideologia da defesa social inerentes ao direito penal abordadas por Baratta
(2002,p.41), que são:
1) princípio da legitimidade, segundo o qual o Estado está legitimado a reprimir a
criminalidade por ser expressão da sociedade, através das instâncias formais de controle,
que por sua vez, interpretam a legítima reação social no sentido de reprovar e condenar o
comportamento desviante individual, reafirmando as normas e valores sociais;
2) princípio do bem e do mal, onde a sociedade encarna o papel do bem contra o delito
que é representa o mal, sendo o delinqüente o elemento negativo e disfuncional do sistema
social;
3) princípio da culpabilidade, pelo qual o crime é expressão de uma atitude reprovável,
porque em afronta aos valores e normas sociais;
4) princípio da finalidade(prevenção), que vislumbra na pena não apenas o fim retributivo,
mas também preventivo, já que deve criar no criminoso o receio da prática do
comportamento desviante;
5) princípio da igualdade, que idealiza a igualdade de todos perante a lei, já que a reação
penal se aplica de modo isonômico a todos os autores de delitos;
6) princípio do interesse social e do delito natural, segundo qual os interesses protegidos
pelo direito penal são comuns a toda sociedade(delito natural) e apenas uma pequena parte
dos delitos representa a violação de determinados arranjos políticos e econômicos, sendo
punidos em função da supremacia(ainda que momentânea) destes(delitos artificiais).