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Fichamento: Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal

Alessandro Baratta

Rafael Rocha
Riad Hassan Abdallah

Para o autor, a Sociologia Jurídica e a diferencia da Sociologia Jurídica Penal,


trazem a ideia de uma Sociologia Criminal que vem a desmistificar as análises realizadas
ao longo do tempo pela criminologia, observando o comportamento desviante, sua
gênese e sua função dentro da estrutura social; Ele também descreve o direito penal
como tendo uma tendência de privilegiar interesses de classes dominantes no sistema e a
imunizar o processo tendente à criminalização de indivíduos que pertencem a tal classe.
Em seguida, explica que as classes dominantes estão ligadas funcionalmente à
existência de acumulação capitalista e tendem a dirigir o processo de criminalização para
as formas de desvio típicas das classes consideradas subalternas. Entende que o direito
penal possui seu processo de separação e proteção de uma classe mais abastada e
arraigada nos moldes capitalistas em detrimento de outros. Para ele existem estamentos
sociais e que dentre eles encontram-se aqueles considerados para um controle
intensificado do direito penal.

Ele defende a abolição do cárcere por dois motivos: primeiramente, levando em


conta a inutilidade do sistema prisional enquanto controlador da criminalidade e por seus
claros efeitos de estigmatização e marginalização, após o desvio primário e a entrada do
indivíduo em tal bastilha.

O outro motivo diz respeito a reinserção do condenado em uma sociedade


portadora da ideologia dominante, que se funda em estereótipos e conceitos formulados
pelo senso comum; com base na “lei e ordem” contra tudo e contra todos, aqueles que
não perfazem sua noção de igualdade, acabam com suas chances mitigadas por uma
consciência obscurecida a qualquer tipo de solidariedade; para o autor, solidarizar
também significa:

* dignificar um sistema de política criminal que tenderia aos processos de humanização


das penas;
* ter o minimalismo penal como tendência; e

* a definição de novos processos de alteridade e aceitação dentro dos mecanismos de


formação, entre eles, a escola.

Esses são alguns dos primordiais passos para uma nova interação entre direito
penal e sociedade, segundo Baratta.

Para o autor, como deveria ser desde os primórdios passos do direito das penas, a
penalização seria a última etapa a ser analisada de fato, porém, situações que se
diferenciam do comum e conhecido cárcere seriam aproveitadas, em prol do retorno do
indivíduo a própria sociedade, e, em favor da comunidade em geral que o receberá após
seu período de internação. Ele então cita que a prisão seria como a formadora da
destruição dos moldes sociais aos quais vive-se hoje, considera que o próprio aparato de
marginalização existente no interior do cárcere causa, de todas as formas possíveis, a
segregação e destruição do humano que adentra suas bordas.

Ele então explica em algumas páginas sobre as escolas da criminologia e de direito


penal, tendo inicio com a Escola Liberal Clássica do século XVIII e XIX, que são os
pioneiros da moderna criminologia, entre eles Cesare Beccaria e Francesco Carrara, para
quem a pena serviria para a defesa social e para a eliminação do perigo social, e para o
qual a reeducação teria apenas um resultado acessório, que seria dispensável, nesse
caso.
Logo em seguida apresenta a criminologia Positivista, do Século XIX e XX e a
influência do positivismo-jusnaturalismo, enraizado num rígido determinismo e
individualizando sinais antropológicos de criminalidade, diferindo sujeitos normais e
sujeitos criminosos por causas biológicas, e reafirmando a pena como defesa social. Cita
List na Alemanha e Lombroso na Itália, dentre outros.

Tem-se então, a partir dos anos 30, o início de uma criminologia contemporânea
que tenta superar o determinismo e as teorias patológicas da criminalidade. Todavia, a
forte presença da ideologia de Defesa Social ainda se perfaz avassaladora. O mito é de
que a lei protege a todos, igualando-os, trazendo o direito penal como um epiteto da
igualdade, mas que não prevê as diferenças sociais e econômicas.

Num próximo momento também explana sobre os estudos de Durkheim, trazendo


seu entendimento sobre crime e delito, aceito como um elemento funcional (que pode ser
estudada em anteriores artigos) e não como uma patologia da vida social como muitos
entendiam. Seguindo essa idéia, o autor se utiliza das formações sociais para negar a
ideologia da defesa social e todos os seus princípios.

Traz também a vertente dos estudos da Escola de Chicago, estudada por Howard
Becker, evidenciada pelo interacionismo simbólico, esse afirmando que o comportamento
dos indivíduos somente pode ser compreendido a partir das interpretações que cada um
faz, em seu tempo, dos mecanismos de interação social o qual se encontra envolvido.

A partir disso, traz as teorias do conflito de Dahrendorf e Coser, e a sociologia do


conflito - que a grosso modo, nega os princípios do interesse social e interpreta os
interesses dos grupos que detêm o poder e que são priorizados quando as leis são
realizadas, geralmente por afiliados desse mesmo agrupamento - Asseverando que um
importante item foi deixado de lado em toda critica realizada até então: a seletividade no
momento da aplicação da lei; para ele, o papel do Estado e do direito na determinação do
conflito faz com que este seja institucionalizado.

Em seguida demonstra os estudos referentes ao Labelling Aproach, ou


Etiquetamento, que são um enorme diferencial nas análises do autor, que afirma ser o
sistema penal a reprodução da realidade social - que funciona desde o início em uma
meritocracia viciada em seus aparatos de seleção desde a escola, definindo em suas
salas os grupos considerados marginais, que são os alunos das classes mais pobres – e
continua afirmando que todo o sistema é classista e seletivo e o que confirma isso é o
preconceito e o senso comum na aplicação da lei penal. Constata-se que homem está
fadado a ser estigmatizado na sociedade, dependendo muito do berço de onde nasce e
do lugar de onde vem.

Então, com entusiasmo, defende o direito penal mínimo, na intervenção penal


minimalista; porém, entende que o que se vê é um crescimento da criminalização de
condutas; Explica que a sociedade do conflito em que se vive é o grande obstáculo ao
direito penal mínimo.

Baratta prevê alguns passos fundamentais para a minimalização do direito penal:

- criminalizar e penalizar condutas das classes dominantes;

- penalizar condutas corruptas das classes políticas;

- diversificar os procedimentos;

- desinstitucionalizar o sistema penal;

- despenalizar condutas socialmente selecionadas para a penalização.


Para que isso aconteça, propõe uma diminuição do sistema punitivo, trazendo a
justiça restaurativa para a realidade. Ele afirma que a abolição das desigualdades por
intermédio de uma política criminal que resgate a identidade e entenda as lutas de
classes, visando políticas sociais de destaque e inclusão em detrimento a atual política de
exclusão que temos hoje em dia, pode auxiliar a nos trazer essa justiçã restaurativa.
Também afirma que o sistema capitalista impossibilita a obtenção da igualdade entre seus
viventes, sendo a distribuição de riquezas muito desigual, e defende o Socialismo para se
obter a igualdade.

Com isso, observa-se que a ideia defendida pelo autor, de um sistema penal
alternativo,que leve em conta as diferenças sociais da atualidade, enxergando o criminoso
enquanto indivíduo social, e a criminalidade enquanto um processo e não apenas conduta
humana, é realmente de grande importância para a reconstrução de uma sociedade mais
justa e de um sistema mais eficaz, que cumpra seu papel na sociedade.

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