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FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel Ramalhete. Petrópolis:
Vozes, 1987.
Exemplo de suplício: em 1757, execução com tortura pública de Damiens em Paris. Exemplo de
utilização do tempo: final século XVIII, regulamento com programação diária da “Casa dos jovens
detentos em Paris”.
Em apenas três décadas, um estilo penal distinto, sendo que a modificação mais significativa foi a
extinção dos suplícios, rituais que tinham dois aspectos característicos: o espetáculo e a dor.
“Desapareceu o corpo como alvo principal da repressão penal.” (p.12). A punição deixa de ser
uma atração popular e violenta, passando a ser burocrática e moral: “é a própria condenação que
marcará o delinqüente com sinal negativo e unívoco”. (p.14).
A pena não foca mais no sofrimento físico, e sim na privação de um bem/direito: a liberdade. “O
castigo passou de uma arte das sensações insuportáveis a uma economia dos direitos
suspensos.” (p.15).
Reprovação às penitenciárias da primeira metade do século XIX, pois diziam que os presos
tinham mais comida e abrigo que os pobres e os operários. “É justo que o condenado sofra mais
que os outros homens? (p.19).
A menor rigidez do sistema penal não significa uma humanização, mas uma mudança do objeto
de punição: o foco passa do corpo para a alma. Além do crime, punem-se os impulsos e desejos
por trás dele.
O juiz não atua sozinho, a perícia psiquiátrica influencia no poder da justiça, sendo que o
diagnóstico de loucura faz com que o delito não seja considerado crime, ou que circunstâncias
atenuantes sejam consideradas conforme o grau da demência. Ainda, as perguntas respondidas
pelos peritos psiquiatras (“O acusado apresenta alguma periculosidade? É acessível à sanção
penal? É curável ou readaptável?” (p.25)) procuram estabelecer se a melhor penalidade a ser
aplicada ao criminoso é o hospício ou a prisão.
A finalidade por trás da qualificação mais profunda do acusado é fazer com que o sistema jurídico
não seja apenas o carrasco que aplica uma punição legal, mas também o médico que procura
tratar o criminoso.
O objetivo do livro é estudar a suavização do poder punitivo aplicado pelo atual (1975) complexo
científico-judiciário, obedecendo às seguintes regras:
1) considerar os efeitos marginais da punição (além da repressão)
2) considerar o castigo como uma técnica do exercício de poder (em campos além do jurídico)
3) considerar um paralelo entre a história do direito penal e a das ciências humanas (aspectos
comuns)
4) verificar se a mudança do objeto de punição para a alma é reflexo do emprego do corpo nas
relações de poder
“Tentar estudar a metamorfose dos métodos punitivos a partir de uma tecnologia política do corpo
onde se poderia ler uma história comum das relações de poder e das relações de objeto.” (p.27).
Estudos anteriores, de Rusche e Kirchheimer, já determinaram relações entre a pena e os
sistemas de produção, mostrando que com o desenvolvimento da economia e do comércio o
trabalho obrigatório dos presos também cresceu.
O corpo útil é aquele que produz (utilização econômica) e é submisso à estrutura dominante
(função política). Estado como corpo político: “conjunto dos elementos materiais e das técnicas
que servem de armas, de reforço, de vias de comunicação e de pontos de apoio para as relações
de poder e de saber que investem os corpos humanos e os submetem fazendo deles objetos de
saber.” (p.31).
Nos séculos XVII e XVIII as penas físicas imperavam. Embora a pena de morte e a tortura não
fossem as punições mais frequentes aplicadas, as penas mais brandas eram acompanhadas de
algum tipo de suplício. Exemplo: “o banimento era muitas vezes precedido pela exposição e pela
marcação com ferrete”. (p.36).
O processo criminal era secreto, o acusado não tinha um advogado e não conhecia o teor da
acusação. O soberano e o magistrado tinham o direito absoluto de estabelecer a verdade. Havia
regras desenvolvidas pelos juristas da Renascença que definiam e classificavam as provas:
diretas (testemunhos) e indiretas (argumentos), imperfeitas, plenas (duas testemunhas) ou
semiplenas (uma só testemunha), e os indícios longínquos (opinião pública). Estas distinções
resultavam em diferentes tipos de penas (morte, penas físicas infamantes ou multa, por exemplo)
conforme as provas, que podiam ser combinadas de acordo com regras de cálculos. “essas
exigências formais da prova jurídica eram um modo de controle interno do poder absoluto e
exclusivo de saber.” (p.56).
A tortura era uma prática regulamentada, e podia ser usada para obter a confissão do criminoso,
que depois devia repeti-la espontaneamente em frente dos juízes. Se resistisse ao interrogatório,
o acusado ainda podia ser condenado, porém não à morte. “Enfim, a demonstração em matéria
penal não obedecia a um sistema dualista; verdadeiro ou falso; mas um princípio de gradação
contínua: um grau atingido na demonstração já formava um grau de culpa e implicava
consequentemente num grau de punição. O suspeito, enquanto tal, merecia sempre um certo
castigo; não se podia ser inocentemente objeto de suspeita.” (p.61).
“O suplício não restabelecia a justiça; reativava o poder”, pois tinha uma função política de
amedrontar e reafirmar a vontade do soberano sobre o criminoso, sendo o carrasco “um pouco
como o campeão do rei”. (p.67).
O povo é presença essencial nas cerimônias de suplício, mas tem um papel múltiplo, pois ao
mesmo tempo em que é o expectador que deve ser amedrontado, é também um manifestante que
pode rebelar-se, alterando os rumos da punição que considerar injusta. “Já que os mais pobres —
observa um magistrado — não têm possibilidade de ser ouvidos na justiça, eles podem intervir
fisicamente, onde quer que ela se manifeste publicamente, onde quer que eles sejam chamados
como testemunhas e quase coadjutores dessa justiça, entrando violentamente no mecanismo
punitivo e redistribuindo os efeitos dele; repetindo em outro sentido a violência dos rituais
punitivos.” (p.78).
Na segunda metade do século XVIII o suplício torna-se inaceitável, começa a exigir-se um limite
para o poder de punir do soberano, que era absoluto. Os “cadernos de queixas” dos delegados
dos Estados Gerais endereçados ao rei, em 1789, retratavam os anseios da população: “Que as
penas sejam moderadas e proporcionais aos delitos, que a de morte só seja imputada contra os
culpados assassinos, e sejam abolidos os suplícios que revoltem a humanidade”. (p. 94).
Ocorre um duplo movimento no decorrer do século XVIII: a diminuição do vigor das punições e a
redução da violência dos crimes. Desde o fim do século XVII, os marginais têm atuado
individualmente ou em grupos menores, e prevalecem os crimes contra a propriedade. “Um
movimento global faz derivar a ilegalidade do ataque aos corpos para o desvio mais ou menos
direto dos bens”. (p. 97).
Conforme a teoria do contrato social, a violação praticada pelo criminoso ataca todo o corpo
social, por este motivo a sociedade tem o direito de puni-lo. A defesa do Estado sobrepõe-se à
vingança do rei. Como o crime causa desordem ao corpo social, deve ser punido para que não
seja generalizado. Assim, calcula-se a pena em função dos danos de uma possível repetição da
infração. “Fazer de tal modo que o malfeitor não possa ter vontade de recomeçar, nem
possibilidade de ter imitadores”. (p. 113).
Seis regras do poder de punir: regra da quantidade mínima (a pena faz com que seja
desvantajoso arriscar-se a praticar o crime), regra da idealidade suficiente (eliminação do corpo
como sujeito do sofrimento), regra dos efeitos laterais (a pena é mínima para quem sofre, mas
máxima para quem a imagina), regra da certeza perfeita (clareza e transparência nas leis que
definem os crimes e nos castigos a serem aplicados; vigilância para que não ocorra impunidade),
regra da verdade comum (necessidade de evidências válidas e reprovação da tortura, presunção
de inocência do acusado), regra da especificação ideal (obrigação de um código que especifique
com precisão as ilegalidades e que fixe penas de maneira individualizada, levando em conta as
singularidades de cada criminoso).
Assim, a mudança política busca classificar as ilegalidades e limitar o poder punitivo. O criminoso
passa a ser qualificado como inimigo social, e as intervenções do poder punitivo tem a função de
prevenir novos crimes. Os ideais dos filósofos, juristas e parlamentares contribuem para a
“reorganização do poder de punir; codificação, definição dos papéis, tarifação das penas, regras
de procedimento, definição do papel dos magistrados”. (p. 122).
Condições para que a pena represente uma desvantagem que torne o crime não atrativo ao
homem:
1) A pena tem que ser proporcional e conectada simbolicamente ao crime. “A punição ideal será
transparente ao crime que sanciona; assim, para quem a contempla, ela será infalivelmente o
sinal do crime que castiga; e para quem sonha com o crime, a simples ideia do delito despertará o
sinal punitivo.” (p. 125).
2) Combater o defeito e a natureza que há por trás do crime, fazendo com que a pena castigue o
criminoso justamente no aspecto que o motivou ao delito.
3) Para os que não são incorrigíveis, as penas devem ter um término, ou não cumpririam sua
função transformadora.
4) O castigo deve ser visto como uma retribuição do criminoso a toda a sociedade que foi lesada.
O detento deveria trabalhar para redimir sua culpa. “No antigo sistema, o corpo dos condenados
se tornava coisa do rei, sobre a qual o soberano imprimia sua marca e deixava cair os efeitos de
seu poder. Agora, ele será antes um bem social, objeto de uma apropriação coletiva e útil”. (p.
129).
6) O crime deve “aparecer então como uma desgraça e o malfeitor como um inimigo a quem se
reensina a vida social”. (p. 132).
“A duração da pena só tem sentido em relação a uma possível correção, e a uma utilização
econômica dos criminosos corrigidos” (p. 142). Como a ociosidade é causa dos crimes, o detento
deve aprender um ofício para contribuir com a sociedade durante e após a detenção.
O isolamento dos criminosos contribuía para que o condenado evitasse as más influências dos
demais, e também fazia com que o detento desenvolvesse a consciência religiosa. Ainda, o preso
é observado e tem seu comportamento controlado durante todo o tempo.
A pena deixa de ter publicidade. A condenação e o crime são públicos, mas a execução da pena
não. “O castigo e a correção que este deve operar são processos que se desenrolam entre o
prisioneiro e aqueles que o vigiam”. (p. 144)
Pontos em comum entre as instituições: função de evitar a repetição do delito (voltada para o
futuro) e de transformar (corrigir) o criminoso, ajuste da duração da pena conforme o caráter
individual, que vai sendo moldado através de hábitos, regras e ordens.
No início do século XVII a figura do soldado tinha características físicas que o definiam como apto
para a função. Na segunda metade do século XVIII, os indivíduos que não tinham esse perfil eram
moldados através do hábito. Os processos disciplinares de controle do corpo eram observados
nos conventos, nos exércitos e nas oficinas. “Forma-se então uma política das coerções que são
um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de
seus comportamentos”. (p. 164).
A arte das distribuições
A disciplina leva à efeito a distribuição dos indivíduos no espaço, utilizando algumas técnicas:
1) Cerca: local heterogêneo e isolado dos demais, como os internatos, quartéis, fábricas e
prisões.
2) Quadriculamento: individualização, evitando distribuições por grupo, como por exemplo as
celas dos conventos.
3) Localizações funcionais: os locais têm que satisfazer a necessidade de vigiar os indivíduos e
de serem úteis. “Nas fábricas [...] importa distribuir os indivíduos num espaço onde se possa isolá-
los e localizá-los; mas também articular essa distribuição sobre um aparelho de produção que tem
suas exigências próprias”. (p. 171).
4) Disposição em filas: os indivíduos são classificados, e sua localização é a posição que eles
ocupam na fila
O controle da atividade
1) Horários minuciosos garantem que o tempo seja empregado com qualidade e exatidão.
2) Elaboração temporal do ato, através de elevado grau de precisão dos gestos e movimentos.
“Define-se uma espécie de esquema anátomo-cronológico do comportamento”. (p. 178).
3) O corpo disciplinado é correlacionado com os gestos eficientes.
4) Conexão entre o corpo e o objeto manipulado, amarrando-os.
5) Utilização exaustiva, evitando ociosidade e desperdício de tempo.
“O poder disciplinar é com efeito um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como
função maior “adestrar”; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor”.
(p. 195).
A vigilância hierárquica
O acampamento militar é um exemplo de “observatório” onde técnicas de vigilância permitem a
indução da disciplina através do exercício do poder; a arquitetura é desenvolvida para que o
controle interno opere de maneira a adestrar, formando militares obedientes. Nas escolas, a
vigilância é integrada à prática pedagógica, e os alunos executam tarefas materiais e de
fiscalização (vigilância hierarquizada).
A sanção normalizadora
Ocorre a existência de um pequeno instrumento penal nos sistemas disciplinares, estabelecendo
castigos para reprimir as condutas indesejáveis e evitar a inobservância das regras, reduzindo os
desvios. Ainda, o aspecto penal é duplo, pois trabalha com recompensas que hierarquizam e
classificam os “bons”, diferenciando os indivíduos.
O exame
“O exame combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção que normaliza”. (p. 209).
Nos hospitais, por exemplo, a inspeção médica regular e a observação colocam o doente em
situação de exame constante. Nas escolas, os exames renovam o ritual de poder. Os
procedimentos de exames são acompanhados por documentos para registro dos resultados, que
podem ser tabelados de maneira a estabelecer médias, e tornam os indivíduos objetos de saber.
Panóptico de Bentham: na periferia uma construção em anel dividida em celas com duas janelas
(uma para o exterior - de maneira a permitir a entrada de luz - e outra para o interior do anel) e ao
centro uma torre de vigia com janelas voltadas para as celas. Cada preso está individualizado
(sem contato com os demais) e permanentemente observado. “Daí o efeito mais importante do
Panóptico: induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento automático do poder”. (p. 225). O detento não sabe se está sendo efetivamente
visto, mas a possibilidade de estar é certa.
“O século XVIII inventou as técnicas da disciplina e o exame, um pouco sem dúvida como a Idade
Média inventou o inquérito judiciário”. (p. 248).
Embora no início do século XIX a detenção tenha assumido espaço como penalidade judiciária, a
forma-prisão já existia anteriormente, representada pelas divisões e classificações dos indivíduos,
bem como pelo treinamento de seus corpos para torna-los dóceis e úteis. A utilização jurídica
marcou a igualdade na punição, pois era executada do mesmo modo sobre todos os indivíduos,
alterando apenas a variável temporal da pena.
Os aspectos jurídicos, econômicos, técnicos e disciplinares da prisão fizeram com que ela
parecesse uma pena civilizada, em que o criminoso “paga sua dívida” com a sociedade. Ainda, os
criminosos deveriam ser separados conforme a gravidade do delito, de maneira a efetuar a
correção (“endireitamento”) do detento.
A prisão como instituição, organizada de forma a disciplinar, obedece aos seguintes princípios:
1) Isolamento - em relação ao mundo exterior e aos demais condenados, evitando cumplicidade e
complôs. Além disso, para acarretar solidão e remorso, e consequentemente submissão
(individualização coercitiva).
2) Trabalho - uma reparação útil para a sociedade. “Não é como atividade de produção que ele é
intrinsecamente útil, mas pelos efeitos que toma na mecânica humana” (p. 271): ordem e
regularidade.
3) Modulação da pena - conforme as circunstâncias, à medida que a pena se desenrola, apenas o
tempo suficiente para alcançar a regeneração do condenado.
“A prisão, local de execução da pena, é ao mesmo tempo local de observação dos indivíduos
punidos. Em dois sentidos. Vigilância, é claro. Mas também conhecimento de cada detento, de
seu comportamento, de suas disposições profundas, de sua progressiva melhora; as prisões
devem ser concebidas como um local de formação para um saber clínico sobre os condenados”.
(p. 277), estabelecendo-se um conhecimento “positivo” sobre os delinquentes e suas espécies.
A mudança dos suplícios para a pena de privação de liberdade é apenas uma transformação
técnica pensada para modificar os indivíduos. “Necessidade portanto de romper com esses ritos
públicos; de fazer as transferências de condenados passarem pela mesma mutação que os
próprios castigos; e de colocá-los, a eles também, sob o signo do pudor administrativo”. (p. 290).
Em 1837 foi elaborada uma carruagem que funcionava como prisão ambulante, dividida em seis
celas com um corredor central, como um Panóptico móvel, com vigilância constante.
A carruagem celular foi seguida pela prisão, e o estabelecimento da detenção e as críticas à sua
aplicação ocorreram concomitantemente: as prisões podem aumentar a quantidade de crimes e
criminosos, pois a detenção ocasiona a reincidência e fabrica delinquentes, pois impõe aos
detentos limitações violentas. Ainda, seu funcionamento é sustentado pelo abuso de poder:
arbitrariedade da administração, corrupção dos guardas, exploração do trabalho sem fins
“O atestado de que a prisão fracassa em reduzir os crimes deve talvez ser substituído pela
hipótese de que a prisão conseguiu muito bem produzir a delinquência, tipo especificado, forma
política ou economicamente menos perigosa - talvez até utilizável - de ilegalidade; produzir os
delinquentes, meio aparentemente marginalizado mas centralmente controlado; produzir o
delinquente como sujeito patologizado”. (p. 304).
Data que se completa a formação do sistema carcerário: 1840 – abertura da colônia penal (e
agrícola) de Mettray, onde ficavam detidos jovens delinquentes. Seguia modelo que concentrava
várias técnicas de “adestramento” do comportamento e tinha como principal punição o
encarceramento. Havia uma escola especializada, e os administradores recebiam os mesmos
ensinamentos dos detentos.
O arquipélago carcerário transporta a técnica da instituição penal para o corpo social, tendo os
seguintes efeitos:
1) Gradação contínua que permite passar como que naturalmente da desordem à infração, bem
como dos critérios e mecanismos punitivos. Hierarquização das autoridades.
2) Criação de u espaço para a criminalidade, permitindo o recrutamento dos delinquentes. “Nesta
sociedade panóptica, cuja defesa onipresente é o encarceramento, o delinquente não está fora da
lei; mas desde o início, dentro dela, na própria essência da lei ou pelo menos bem no meio
desses mecanismos que fazem passar insensivelmente da disciplina à lei, do desvio à infração”.
(p. 327).
3) Torna natural e legítimo o poder de punir, e baixa o limite de tolerância à penalidade. O
carcerário, servindo como arma da justiça, possui um poder que a lei valida.
4) Deslocamento interno do poder judiciário; a atividade de julgar se multiplica conforme se
difunde o poder normalizador.
5) O aparelho de punição torna-se instrumento de formação de saber, através da contínua
observação e registro do comportamento humano.
6) A prisão é instituição sólida, sendo difícil modificá-la ou encontrar um substituto mais aceitável.
“Portanto, se há um desafio político global em torno da prisão, este não é saber se ela será não
corretiva; se os juízes, os psiquiatras ou os sociólogos exercerão nela mais poder que os
administradores e guardas; na verdade ele está na alternativa prisão ou algo diferente de prisão.
O problema atualmente está mais no grande avanço desses dispositivos de normalização e em
toda a extensão dos efeitos de poder que eles trazem, através da colocação de novas
objetividades”. (p. 333).