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Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

Direito do Consumidor
Aplicado à Saúde
Professor Dr. Ivan de Oliveira Silva

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Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

SEÇÃO I – NOTAS PROPEDÊUTICAS DA PROTEÇÃO JURÍDICA DO CONSUMIDOR . . . 1

SEÇÃO II – ASPECTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

SEÇÃO III – PRINCÍPIOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. . . . . . . . . . . 16

SEÇÃO V – ESTRUTURA DA RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDC . . . . . . . . . . . . . . 29


Sumário
SEÇÃO VI – PROTEÇÃO CONTRATUAL DO CONSUMIDOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

SEÇÃO VII – PUBLICIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

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Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

SEÇÃO I – NOTAS PROPEDÊUTICAS Não é inconveniente, portanto, afirmar que


DA PROTEÇÃO JURÍDICA DO a sociedade de consumo é o berço do CDC e,
CONSUMIDOR ainda, o seu espaço de manifestação por ex-
celência, de modo que este é produto daque-
1 Tutela constitucional do consumidor e la. O CDC, atualmente, é o objeto de consumo
a sociedade de consumo contemporânea da sociedade de consumo. Esse fato é bastan-
te curioso: na sociedade de consumo tudo se
consume, e nem mesmo as normas jurídicas
escapam a essa lógica.

Fonte: http://condominiossustentaveis.com.br/2013/05/20/
sociedade-de-consumo/ O consumo mostra-se como um lenitivo para
a complexidade da vida. Podemos, assim, con-
Após um razoável período de gestação, siderar que:
no dia 11 de setembro de 1990, em Brasí-
lia, nasceu um novo diploma legislativo, de-
i) para a violência, consome-se os serviços
nominado Código de Defesa do Consumidor
de segurança privada;
(CDC). ii) para o temor de acidentes de trânsi-
to diante do aumento da frota urbana,
Considerando que o CDC tenha vindo a consomem-se os contratos de seguros
lume no início da última década do século de automóvel;
XX, somos levados a registrar que sua pro- iii) para o temor da morte, consomem-se os
seguros de vida;
mulgação foi tardia, uma vez que o merca-
iv) para o temor da insuficiência da aposen-
do de consumo já se encontrava em marcha
tadoria pública, consomem-se os planos
avançada. Prova disso é que a mola propul- de previdência privada;
sora do referido diploma legislativo é a so- v) para o temor da velhice, consomem-se
ciedade de consumo que, no ocidente, co- cirurgias plásticas e cosméticos em geral;
meçou a engatinhar na turbulenta primeira vi) para o temor do desemprego, consomem-
se serviços de recolocação profissional;
fase da Revolução Industrial do século XVIII,
vii) para o temor da falta de intelectualidade
ganhando robustez nas fases seguintes. acadêmica, consomem-se cursos

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diversos, sejam eles presenciais ou a Apoiamos neste texto a primeira corrente,


distância. pois o consumismo compulsivo está intima-
viii) para o temor da solidão, consomem-se mente relacionado com a alienação massifi-
serviços de amarrações do amor; cada de consumidores vulneráveis diante do
ix) ix) para o temor e violação à integridade mercado de consumo. Desse modo, a socie-
física, consomem-se atos litúrgicos para dade de consumo com fortes propensões ao
consumismo encontra-se vinculada ao atual
fechar o corpo.
sistema econômico, identificado como capi-
x) para o temor da depressão, consomem-
talismo tardio, multinacional ou de consumo
-se os antidepressivos e terapias diversas (JAMESON,1993, p. 43).
(SILVA, 2012).
No entanto, seja qual for a corrente a ser
Para todos os dilemas da sociedade de adotada pelo intérprete da sociedade de con-
consumo complexa em que estamos inseri- sumo, não há como negar que, nesse mode-
dos há o correspondente lenitivo relacionado lo de sociedade, o “consumo aparece asso-
ciado à felicidade, ao prazer e à satisfação
ao ato de consumo. Com efeito, o apelo fre-
das necessidades” (PADILHA, 2006, p. 84). A
nético ao consumo apresenta-se como uma sociedade de consumo prefere ávidos consu-
constante na sociedade contemporânea, de midores para o ato de consumo, mesmo que,
forma que não é difícil encontrarmos pessoas para tanto, questões éticas e cívicas sejam
preteridas.
perambulando entre insaciáveis desejos de
aquisição de produtos e serviços. Para as massas, a perspectiva de digni-
dade na sociedade de consumo é alcançada
A expressão sociedade de consumo encer- pelo ato de consumir. Assim, consumo e dig-
ra a presença de práticas exageradas de con- nidade se fundem, de modo que o compo-
sumo ou, ainda, a manifestação de modos de nente da massa concretiza a sua condição
existir pautados exclusivamente no consumo. de pessoa humana por meio de transações
Tem-se, nesse sentido, uma prática constan- econômicas no mercado de consumo. Para
te do ato de consumir, individual ou coletivo, o homem da massa, já viciado no consumis-
que vai além das necessidades humanas. mo, quanto mais consumo, mais dignidade.

A expressão sociedade de consumo não A sociedade de consumo é, sobretudo,


recebe compreensão unívoca. Assim, desta- um espaço de prazer. Nela não se consome
cam-se três modelos classificatórios em que visando somente preencher as necessida-
encontramos i) o consumismo enquanto alie- des elementares à vida, visto que nesse ato
nação, segundo premissas de índole marxis- é possível ainda atingir sensações vincula-
ta; ii) o consumismo como mecanismo de sa- das ao prazer e à felicidade. De acordo com
tisfação das necessidades de consumidores, Saraiva (2002, p. 132), “Podemos pensar a
questão do consumismo na contemporanei-
sendo um importante vetor na elevação da
dade como uma conduta de caráter impulsi-
qualidade de vida; e, por fim, iii) a corren- vo e reveladora da posição econômica e da
te teórica que não considera o consumidor importância do sujeito consumidor”.
enquanto sujeito passivo e alienado, mas al-
guém que está no controle de sua vontade Como já afirmou Jean Baudrillard, na atual
(PADILHA, 2006, p.85). sociedade de consumo:

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(...) os homens da opulência não se en- venda, não ficando de fora nem mesmo os
contram rodeados, como sempre aconte- serviços de saúde.
cera, por outros homens, mas por objetos.
O conjunto de suas relações sociais já não No tocante a estes serviços, encontramos
é tanto o laço com os seus semelhantes o aumento significativo dos procedimentos
quanto, no plano estatístico segundo uma estéticos, a exemplo das cirurgias plásticas
curva ascendente, a recepção e manipu- que, em muitos casos, são desejadas com-
lação de bens e de mensagens, desde a pulsivamente sem levar em conta a saúde
organização doméstica muito complexa e dos indivíduos.1
com suas dezenas de escravos técnicos
até o mobiliário urbano e toda a maquina- 2 Tutela do consumidor a partir da
ria material das comunicações e das ati-
vidades profissionais, até ao espetáculo
Constituição federal de 1988
permanente da celebração do objeto na
O artigo 5º, inciso XXXII, impõe que:
publicidade e as centenas de mensagens
diárias emitidas pelos mass media; des-
de o formigueiro mais reduzido de quin- (...) todos são iguais perante a lei, sem
quilharias vagamente obsessivas até aos distinção de qualquer natureza, garantin-
psicodramas simbólicos alimentados pe- do-se aos brasileiros e estrangeiros resi-
los objetos noturnos, que vêm invadir- dentes no país a inviolabilidade do direito
-nos nos próprios sonhos (BAUDRILLARD, à vida, à liberdade, à igualdade, à segu-
2009, p. 15). rança e à propriedade, nos termos seguin-
tes: (...) XXXII – o Estado promoverá, na
Em consequência, os sujeitos transfor- forma da lei, a defesa do consumidor.
mam-se em colecionadores de coisas que, na
maioria das vezes, apresentam durabilidade A tutela do consumidor encontra-se ex-
efêmera. Ajuntam-se, assim, coisas descar- pressa em outros pontos da Constituição fe-
táveis que se submetem às tendências, às deral.
vezes ditatoriais da moda ou das variações
pessoais e sociais do gosto. Dispõe o artigo 170, inciso V, da Constitui-
ção federal que:
Destarte, nas sociedades de consumo
o homem comum sente-se mais satisfeito
quando exerce sua condição de consumidor (...) a ordem econômica, fundada na
de produtos e serviços do que quando é cha- valorização do trabalho humano e na livre
mado para eventos democráticos que simbo- iniciativa, tem por fim assegurar a todos
lizariam a sua condição de cidadão. existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes
Nesse contexto, o orgulho maior concen- princípios: (...) V– defesa do consumidor.
tra-se em uma ostentação de potencial de
consumo em vez da possibilidade de satisfa- Por outro lado, o parágrafo 5º, do artigo
ção pessoal, que poderia ocorrer por meio da 150, da Constituição, impõe que “a lei de-
experiência de usufruir a condição de deten- terminará medidas para que os consumido-
tor de ideais democráticos, como em épocas
remotas. A ágora da sociedade de consumo 1 Conforme levantamento feito em 2011, o Brasil é o vice-líder no ranking
é representada por espaços de compra e mundial de cirurgias plásticas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/brasil-ocupa-2a-posicao-em-
numero-de-cirurgias-plasticas-esteticas-no-mundo.

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res sejam esclarecidos acerca dos impostos algumas implicações práticas surgem quan-
que incidam sobre mercadorias e serviços”. do consideramos o cotidiano forense, em
que há lides relacionadas a uma relação de
Ainda no texto da Constituição, nos Atos consumo. Podemos destacar o fato de que:
das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT), com vistas a promover a transição
da ordem constitucional anterior para a atu- Como as normas de ordem pública
al, pode-se observar no artigo 48 a seguin- não são atingidas pela preclusão — afi-
te ordenança: “O Congresso Nacional, den- nal resguardam interesses fundamentais
tro de cento e vinte dias da promulgação da da sociedade —, não estará o magistra-
Constituição, elaborará o código de defesa do impossibilitado de decidir acerca das
do consumidor”. questões reguladas pela Lei 8.078/90 não
resolvidas em momento apropriado, isso
No tocante ao plano infraconstitucional, a acontecer, necessariamente, antes ou
além de outros diplomas legislativos de pro- no momento de ser proferida a sentença
teção ao consumidor, podemos destacar o de de mérito, porque, cumprido o ofício ju-
maior importância, a saber, o Código de De- risdicional (art. 463 do CPC) impossível é
fesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11 de ao juiz o reexame do processo (DELFINO,
setembro de 1990). 2004).

Nos termos do artigo 1º, do CDC, as rela- Por outro lado, no que diz respeito ao re-
ções de consumo dizem respeito a um tema curso:
de ordem pública2 e interesse social. Assim,

2 Encontramos em uma série de julgados a reiteração da natureza do É crível que o órgão colegiado reexa-
CDC como norma de ordem pública. Veja as duas ementas:
Ementa 1 – “APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO
mine ex officio tais questões (atinentes
– APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – NOR- ao Código de Defesa do Consumidor), por
MAS DE ORDEM PÚBLICA (CDC, ART.1º) – CAPITALIZAÇÃO DE JUROS
– ILEGALIDADE – SÚMULA 121 DO STF – MEDIDA PROVISÓRIA Nº. não se sujeitar aos efeitos preclusivos das
2.170–36/2001 – INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA PELO ÓRGÃO
ESPECIAL DESTA CORTE – DEVIDA RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO – IN-
decisões monocráticas, pouco importan-
VERSÃO DO ÔNUS SUCUMBENCIAL – RECURSO A QUE SE DÁ PROVI- do haver ou não a parte interposto agra-
MENTO. 1. Havendo relação de consumo e em se tratando de consumi-
dor vulnerável (art. 4º, inc. I, CDC), são aplicáveis as normas do CDC, vo retido; poderá, ainda, examinar, inde-
inclusive no que se refere à relativização da força obrigatória dos con-
tratos, o pacta sunt servanda, cabendo a revisão contratual (art. 6º, inc.
pendentemente de impulso dos litigantes,
V, CDC). 2. É vedada a prática do anatocismo em periodicidade inferior questões não deliberadas — embora susci-
à anual, não pactuada (Súmula nº 121 do STF). Evidenciada a capitali-
zação de juros no contrato esta deve ser expurgada, sendo inaplicável tadas no processo — pelo juízo unipessoal
à espécie o art. 5º, da Medida Provisória 2.170–36/2001, cuja inconsti-
tucionalidade foi declarada pelo egrégio Órgão Especial desta corte. 3.
(DELFINO, 2004).
Havendo cobrança indevida e pagamento pelo consumidor, é devida a
repetição do indébito. TJ-PR – Apelação Cível AC 7161537 PR 0716153-7
(TJ-PR), Data de publicação: 15/06/2011.” Diante das considerações acima, prosse-
Ementa 2 – “APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRA-
TO – APLICAÇÃO DO CÓDIGO  DE DEFESA DO CONSUMIDOR – NOR- guiremos na próxima seção com as defini-
MAS DE ORDEM PÚBLICA (CDC, ART. 1º) – COBRANÇA DE TAC E TEC E
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS – ILEGALIDADE – SÚMULA 121 DO STF – ME- ções dos elementos da relação jurídica de
DIDA PROVISÓRIA Nº. 2.170–36/2001 – INCONSTITUCIONALIDADE DE-
CLARADA PELO ÓRGÃO ESPECIAL DESTA CORTE – RECURSO A QUE SE consumo.
NEGA PROVIMENTO. 1. havendo relação de consumo e em se tratando
de consumidor vulnerável (CDC, art. 4º, I), são aplicáveis às normas do
CDC, inclusive no que se refere à relativização da força obrigatória dos que o Sistema Financeiro Nacional seja regulado por Lei Complementar.
contratos, o pacta sunt servanda, cabendo a revisão contratual (CDC, Inaplicável à espécie o Art. 5º da Medida Provisória 2.170 – 36/2001,
art. 6º, V). 2. É abusiva a cobrança da TAC e TEC, por serem despesas cuja inconstitucionalidade foi declarada pelo egrégio Órgão Especial des-
administrativas inerentes à própria atividade da instituição financeira. 3. ta corte. TJ-PR – Apelação Cível AC 7346701 PR 0734670-1 (TJ-PR), Data
É vedada a prática do anatocismo em periodicidade inferior à anual, não de publicação: 06/04/2011.”
pactuada (Súmula nº 121 do STF). Tal vedação alcança também a Cédula Disponível em: < http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=
de Crédito Bancário, uma vez que a autorização de cobrança dos juros APLICA%C3%87%C3%83O+DO+C%C3%93DIGO+DE+DEFESA+DO+-
capitalizados foi concedida pela Lei Ordinária nº 10.931 /2004, artigo 28, CONSUMIDOR+%2C+NORMA+DE+ORDEM+P%C3%9ABLICA>. Acesso
§ 1º, o que contraria o artigo 192 da Constituição federal, que determina em: 17 jan. 2014.

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SEÇÃO II – ASPECTOS DA RELAÇÃO encontrarmos operadores do Direito aplican-


JURÍDICA DE CONSUMO do o Código Civil quando estamos diante de
uma relação jurídica de consumo, sendo que
o inverso também ocorre.

Ou seja, encontramos também tentativas


de aplicação do CDC quando a lide não diz
respeito a uma relação de consumo.

Com vistas a evitar tais equívocos, lança-


remos a seguir nossas considerações sobre
os elementos da relação jurídica de consu-
mo.

Assim, a atenção será dedicada à apre-


sentação das definições relativas aos forne-
cedores, consumidores, produtos e serviços
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_NeXDP2NthWw/TJeaYHxodhI/ integrantes da definição de elementos das
AAAAAAAAAKw/p1VZ8sH8afQ/s1600/consumidor1.jpg
relações jurídicas de consumo.

1 O espaço de incidência do Código de 2 O fornecedor em suas multiplicidades


Defesa do Consumidor
Faz-se pertinente iniciar as considerações
Cada vez mais se fala em diálogos das fon- a respeito da relação jurídica de consumo na
tes e, quando estamos diante de um sistema identificação da figura do fornecedor, confor-
me segue.
jurídico que passou a construir subsistemas,
localizar o microssistema aplicável ao caso Nos termos do artigo 3º, do CDC:
concreto é um exercício hermenêutico bas-
tante caro.
Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física
Com efeito, um exercício precioso é a com- ou jurídica, pública ou privada, nacional
preensão exata dos elementos da relação de ou estrangeira, bem como os entes per-
sonalizados, que desenvolvem atividades
consumo.
de produção, montagem, criação, cons-
trução, transformação, importação, ex-
Essa prática intelectiva mostra-se de extrema
portação, distribuição ou comercialização
importância, pelo fato de que é a partir dela
de produtos ou prestação de serviços.
que iremos eleger o diploma legislativo ade-
quado para o enfrentamento do caso concre- Conforme pode-se observar, a norma aci-
to. ma transcrita é deveras abrangente no senti-
do de vincular a ideia de fornecedor a todos
Considera-se erro crasso pretender aplicar aqueles que, de fato e de direito, estejam
o CDC para a solução de lides em que não há envolvidos na cadeia de fornecimento de
relação de consumo. Infelizmente, não é raro produtos e serviços.

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Observe que a definição legislativa leva necedora. É aquela em que desenvolve


em conta a movimentação econômica de um atividade eventual ou rotineira de ven-
conjunto de atividades. da de produtos, sem ter-se estabelecido
como pessoa jurídica. Por exemplo, o es-
tudante que, para pagar a mensalidade
da escola, compra joias para revender en-
tre os colegas, ou o cidadão que compra
e vende automóveis — um na sequência
do outro — para aferir lucro (RIZZATTO
NUNES, 2005, p.89).

Em outro foco, concernente à possibilidade


da pessoa jurídica ser considerada fornecedo-
ra, todas as suas espécies legais, sem exce-
ção, poderão ser assim consideradas para os
efeitos da aplicação da legislação de proteção
ao consumidor. Impõe-se considerar que está
incluso na hipótese até mesmo o Estado.3

De acordo como Código Civil em vigor, as


pessoas jurídicas podem ser nacionais ou es-
trangeiras, de direito público ou interno, nos
termos seguintes:
Focado na designação da figura do forne-
cedor, o Código de Defesa do Consumidor não
leva em conta a natureza da pessoa, podendo Art. 41. São pessoas jurídicas de direi-
ser ela física ou jurídica. No que concerne à to público interno: I – a União; II – os Es-
pessoa física na condição de fornecedora de tados, o Distrito Federal e os Territórios;
produtos e serviços no mercado de consumo, III – os Municípios; IV – as autarquias,
Rizzatto Nunes manifesta-se nos seguintes ter-
mos: inclusive as associações públicas; V – as
demais entidades de caráter público cria-
das por lei.
(...) no que respeita à pessoa física,
tem-se, em primeiro lugar, a figura do
profissional liberal como prestador de ser- Art. 42. São as pessoas jurídicas de di-
viço e que não escapou da égide da Lei reito público externo os Estados estran-
nº. 8.078. Apesar da proteção recebida geiros e todas as pessoas que forem regi-
da lei (o profissional liberal não responde
das pelo direito internacional público. (...)
por responsabilidade objetiva, mas por
culpa — cf. o § 4º do art. 14), não há 3 Há diversas discussões a respeito da incidência do CDC na atuação
dúvida de que o profissional liberal é for- do Estado. Citamos, por exemplo, a belíssima e ainda inédita tese de
Doutorado, de autoria de Cildo Giolo Júnior, intitulada O Estado-forne-
necedor. cedor e sua responsabilidade civil pela prestação do serviço judiciário.
Na ocasião da defesa da referida tese, no final de 2013, a qual tivemos
o privilégio de, na condição de avaliador, participarmos da banca de de-
fesa, o candidato sustentou brilhantemente a tese de que o Código de
Há, ainda, outra situação em que a Defesa do Consumidor é instrumento jurídico adequado para regular a
relação entre o jurisdicionado e o Estado, quando da circulação de pro-
pessoa física será identificada como for- cesso judicial.

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Art. 44. São pessoas jurídicas de Di- aos consumidores, serão consideradas forne-
reito privado: I – as associações; II – as cedoras — para os efeitos legais destinados à
sociedades; III – as fundações; IV – as
proteção do consumidor.
organizações religiosas; V – os partidos
políticos.
No que diz respeito à prática de uma ativida-
de pelo fornecedor, contribui Rizzatto Nunes:

(...) o uso do termo ‘atividade’ está liga-


do a seu sentido tradicional. Têm-se, en-
tão, atividade típica e atividade eventual.
Assim, o comerciante estabelecido regular-
mente exerce atividade típica descrita em
seu estatuto. Mas é possível que o mesmo
comerciante exerça uma atividade atípica,
quando, por exemplo, age, de fato, em
situação diversa da prevista, o que pode
dar-se de maneira rotineira ou eventual. E
a pessoa física vai exercer atividade atípi-
ca ou eventual quando praticar os atos do
comercio ou indústria. Por exemplo, uma
estudante que, para pagar seus estudos,
compra e depois revende lingerie entre
seus colegas exerce atividade que a põe
como fornecedora para o CDC. Se essa
compra e venda for apenas em determina-
da e específica época, por exemplo, no pe-
No critério utilizado pelo legislador infra-
ríodo de festas natalinas, ainda assim ela é
constitucional, os entes despersonalizados fornecedora, porque, apenas de eventual,
também poderão figurar na relação jurídica trata-se de atividade comercial (RIZZATTO
de consumo na condição de fornecedores. NUNES, 2005, p. 86).
Como exemplos dessa espécie de fornece-
dor, podemos citar o espólio de uma pessoa
física, o condomínio e a massa falida de uma Por sua vez, o profissional da área da saú-
sociedade empresária. de, atuando como pessoa física ou jurídica,
também está sujeito às diretrizes do Código
Quando as pessoas físicas ou jurídicas,
de Defesa do Consumidor, sejam em procedi-
nacionais ou estrangeiras, bem como os en-
mentos ordinários ou extraordinários.
tes ditos despersonalizados praticarem ati-
vidades de produção, montagem, criação, 3 O consumidor e suas espécies
construção, transformação, importação, ex-
portação, distribuição ou comercialização de O CDC apresenta um panorama de espé-
produtos ou, ainda, prestação de serviços cies de consumidores. Tem-se, então, o con-

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sumidor padrão e os consumidores equipara- Com efeito, a aquisição de produtos ou ser-


dos. Estes também podem ser classificados viços no mercado de consumo coloca a pes-
em subcategorias. A seguir, será analisada soa física na condição de consumidora, mesmo
cada uma das espécies de consumidores. quando o objeto da relação jurídica não seja
para ela própria, podendo ser destinada à outra
pessoa de seu círculo de contato — desde que
3.1 Destinatário final não seja para revenda. Assim, o atravessador
(entenda-se: o intermediário), para os efeitos
É no caput do artigo 2º do Código de
do artigo 2º, do CDC, não é destinatário final.
Defesa do Consumidor que encontramos a
definição de consumidor padrão. De acor- Não há, portanto, dúvidas que tanto a
do com o referido do CDC, “consumidor é pessoa física ou jurídica — quando destina-
toda pessoa física ou jurídica que adquire ou tárias finais de produtos ou serviços — po-
utiliza produto ou serviço como destinatário derão alcançar o status de consumidoras. O
final”. Na medida em que essa definição re- inciso I, do artigo 51, do CDC, reforça essa
trata o consumidor padrão, vale ressaltar que direção legislativa ao afirmar que “nas rela-
todas as demais espécies derivam do mesmo ções de consumo entre o fornecedor e con-
artigo. Assim, é de fundamental importância sumidor pessoa jurídica, a indenização pode-
compreendê-lo. rá ser limitada, em situações justificáveis”.É
relevante anotar também que o destinatário
Tal qual encontramos no caput do artigo
final deve ser compreendido como aquele
3º (que traz a definição de fornecedor), ob-
que mesmo não consumindo algo retira-o do
servamos que o caput do artigo 2º, do CDC,
mercado de consumo, revelando o elo final
seguiu a mesma direção, uma vez que tanto
da cadeia produtiva. Cite-se, por exemplo,
a pessoa física como a pessoa jurídica po-
um pai ou uma mãe que adquire alimentos
dem ser consideradas consumidoras para to-
em um supermercado para seus filhos.
dos os efeitos legais.
Não se deve esquecer que o caput do art.
Nas palavras de Marques (1998, p. 150):
2º, do CDC, estabelece a figura do consu-
midor padrão, que é o destinatário final de
É o Endverbraucher, o consumidor fi- produtos e serviços. Os demais consumidores
nal, que retira o bem do mercado ao ad- previstos no código são compreendidos como
quirir ou simplesmente utilizá-lo (destina- consumidores por equiparação, sendo eles o
tário final fático), aquele que coloca um
objeto de estudo que será abordado a seguir.
fim na cadeia de produção (destinatário
final econômico) e não aquele que utiliza
o bem para continuar a produzir, pois ele
não é o consumidor-final, ele está trans- 3.2 Consumidor coletividade de pessoas
formando o bem, utilizando o bem para
oferecê-lo por sua vez ao cliente, seu Voltemos ao artigo 2º, do Código de De-
consumidor. fesa do Consumidor, mas agora direcionando

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Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

a atenção ao seu parágrafo único, in verbis: 3.3 Consumidores vítimas de


“equipara-se a consumidor a coletividade de acidentes de consumo
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja
intervindo nas relações de consumo”.

Observamos no dispositivo legal exposto


acima que, além da tutela do consumidor indi-
vidualizado, o CDC também promove a defesa
do consumidor enquanto coletividade de pes-
soas. Essa regra visa proteger não o indivíduo
consumidor isolado e identificado, mas um
conjunto de pessoas agremiadas em torno de Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_N330z7xz9uU/S37Kg4GjOsI/
AAAAAAAACVI/JcBkReAVn48/s400/avi%C3%A3o.jpg
um ou mais atos de consumo, e isso ocorre
indiferentemente do grupo de pessoas que Os produtos e serviços oferecidos no mer-
interage como uma relação de consumo ser cado de consumo, em muitos momentos, es-
identificado ou não. Assim, mesmo um grupo tão sujeitos a certo grau de risco. É o que
não identificado de indivíduos poderá ser tu- podemos identificar como risco da atividade
econômica e empresarial. Não é razoável que
telado pelo sistema jurídico sempre que inter-
tal risco seja direcionado ao consumidor. Em
venha em uma relação jurídica de consumo, função disso, o artigo 17, do Código de De-
oportunidade essa em que estará na condição fesa do Consumidor, tutela os interesses dos
de consumidor. consumidores vítimas de acidentes de con-
sumo. O referido dispositivo legal dispõe que
Essa espécie de consumidor, considerado “(...) equiparam-se aos consumidores todas
consumidor por equiparação, difere daquele as vitimas do evento”.
que, de fato, está presente em um contrato Rizzatto Nunes salienta ainda que:
de consumo que tem, por sua vez, RG (Regis-
tro Geral), CPF (Cadastro de Pessoa Física) ou
Assim, por exemplo, na queda de um
CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), avião, todos os passageiros (consumido-
residência e domicílio identificáveis, entre ou- res do serviço) são atingidos pelo evento
tras informações destinadas à qualificação do danoso (acidente de consumo) originado
no fato do serviço da prestação do trans-
sujeito.
porte aéreo. Se o avião cai em área resi-
dencial, atingindo a integridade física ou
Filomeno (2007a, p. 28) relata que “por
o patrimônio de outras pessoas (que não
coletividade de pessoas se haverá de enten-
tinham participado da relação de consu-
der um número razoável de consumidores de mo), estas são, então, equiparadas ao
produtos e serviços, ainda que potenciais, já consumidor, recebendo todas as garan-
que a lei usa a expressão ainda que indeter- tias legais instituídas no CDC (RIZZATTO
mináveis.” NUNES, 2005, p.85).

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Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

Há de que considerar que, em muitos dos comercial, porquanto a propaganda tem um


acidentes aéreos ocorridos pelo país afora, sentido institucional e manifestamente ideo-
as discussões jurídicas seguiram pelo Código lógico, político, artístico ou religioso (DENSA,
2010; DUVAL, 1975; ALMEIDA, 2009; BENJA-
Civil, mesmo diante do fato de que o Códi-
MIN et al., 2010).
go de Defesa do Consumidor é também uma
norma aplicável em defesa das vítimas do Neste sentido, para esse grupo de pensa-
acidente de consumo. dores o correto é se falar em publicidade de
produtos e serviços oferecidos no mercado de
consumo e, em outro rumo, em propaganda
3.4 Consumidores expostos a
político-partidária. Porém, há ainda quem pro-
peças publicitárias e às demais
práticas comerciais cura sustentar que não há diferença significa-
tiva com a publicidade e com a propaganda e,
em função disso, ambos os vocábulos podem
ser utilizados como sinônimos, sem qualquer
prejuízo na compreensão, sendo que a nossa
legislação frequentemente assim o faz (Cf. RI-
ZZATO NUNES, 2005).

Esta é, com efeito, a nossa posição, na


medida em que entendemos que tanto uma
como a outra, atualmente, procuram difun-
dir a ideologia do consumo. Isso se dá pelo
fato de que a publicidade, diferentemente de
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_elvelZ-BnxQ/SwqiuQ-gK4I/ outrora, não procura vender apenas um pro-
AAAAAAAAAI0/YRWadmr2XfY/s1600/CONSUMIDOR.png
duto ou serviço, mas, cumulativamente, cria
As práticas comerciais diversas, incluindo a uma vinculação ideológica da vida contem-
peça publicitária, são cada vez mais intensas porânea com o ato de consumir.
nas sociedades de consumo contemporâne-
as. A publicidade, por exemplo, alcança o ho- Nos termos do artigo 29, do Código de De-
mem contemporâneo em todos os momen-
fesa do Consumidor, a pessoa exposta a uma
tos de sua existência. Há oferta de consumo
para todas as etapas do ser vivo, aliás, para peça publicitária ou qualquer outro mecanis-
os vivos e também para os mortos. No caso mo de oferta de produto ou serviço é consi-
destes, são constantes as peças publicitárias derada consumidora por equiparação.
de jazigos perpétuos, seja para pessoas ou
para animais de estimação. 4 Objeto das relações de consumo:
Há quem afirme a existência de uma no- produtos e serviços
tável diferença entre a publicidade e a pro-
paganda. Assim, um grupo de pensadores No mercado de consumo, fornecedores e
afirma que a publicidade tem uma conotação consumidores negociam produtos e serviços.

13
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

Estes últimos formam os elementos objetivos diversas de seu conteúdo. Mas, para tanto, é
da relação jurídica de consumo que, por sua necessário que essa prática não coloque em
vez, estão ao lado dos elementos subjetivos risco as diretrizes constantes no CDC.
(fornecedores e consumidores), outrora ana-
lisados. Verifiquemos, inicialmente, os pro-
dutos e, posteriormente, os serviços. 4.2 Serviços

4.1 Produtos

No parágrafo § 1º, do artigo 3º, do Có-


digo de Defesa do Consumidor, “produto é
qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou
imaterial”.

Rizzatto Nunes (2005, p. 90) postula que


o termo produto — contido no art. 3º, § 1º,
do CDC — é universal nos dias atuais e está O parágrafo 2º, do artigo 3º, do Código de
estreitamente ligado à ideia do bem, resulta- Defesa do Consumidor, dispõe que “serviço é
do da produção no mercado de consumo das qualquer atividade fornecida no mercado de
sociedades capitalistas contemporâneas. consumo, mediante remuneração, inclusive as
de natureza bancária, financeira, de crédito e
Considerando o fato de que o CDC vincula a
securitária, salvo as decorrentes de relação de
ideia de produto a bem, o certo é que o refe-
caráter trabalhista”.É significativa a inclusão
rido diploma legislativo não contém maiores
dos serviços nas relações jurídicas de consumo.
disposições sobre esse objeto da relação ju-
Conforme Cavalieri Filho (2008a, p. 65):
rídica de consumo, limitando-se a dispor que
o produto é qualquer bem, seja ele móvel O mercado de consumo não se restringe
ou imóvel, material ou imaterial. Em função ao fornecimento de produtos. A expansão
disso, podemos utilizar os assentamentos de do setor terciário na economia contempo-
bem constantes na legislação e doutrina civi- rânea é fenômeno inolvidável, mormente
diante da constante evolução tecnológica e
lista. Portanto, aquilo que o Código Civil es-
das crescentes e contínuas robotizações e
tabelece como bem é o que utilizaremos no informatizações do processo produtivo.
Código de Defesa do Consumidor. Isso se dá
em razão do que identificamos como diálogo
das fontes.
Considera-se ainda que:
Não é porque o CDC seja uma norma espe-
cializada que devemos deixar de lado consi- Serviço é tipicamente uma atividade.
derações constantes na legislação e doutrinas Esta é a ação humana que tem em vista

14
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

uma finalidade. Ora, toda ação se esgo- O sistema protetivo do Código de Defe-
ta tão logo praticada. A ação se exerce sa do Consumidor afasta a incidência da lei
em si mesma. Daí somente poderia exis- aos serviços não remunerados, fato que dá
tir serviço não durável. Será uma espécie ensejo a equivocadas interpretações, uma
de contradição falar em serviço que dura. vez que a remuneração pode se dar de ma-
neira direta — quando o consumidor efetua
Todavia, o mercado acabou criando os
o pagamento diretamente ao fornecedor —
chamados serviços tidos como duráveis,
ou de maneira indireta — isto é, quando
tais como os contínuos (p. ex., os serviços
proporcionados benefícios comerciais indi-
de convênio de saúde, os serviços edu- retos ao fornecedor, advindos da prestação
cacionais regulares em geral, etc.). Com de serviços apenas aparentemente gratui-
isso o CDC, incorporando essa invenção, tos, visto que a remuneração já se encontra
trata de definir também os serviços como diluída e embutida em outros custos (CA-
duráveis e não duráveis, no que andou VALIERI FILHO, 2008a, p. 67).
bem (RIZZATO NUNES, 2005, p. 96).

O autor cita ainda exemplos de serviços de


Assim, qualquer tipo de atividade resul- remuneração indireta:
tante da ação humana ou por ela decorrente
é reconhecida como serviço para fins do Có- (...) por exemplo, estacionamentos gra-
digo de Defesa do Consumidor, sejam as ati- tuitos em supermercados, venda de pro-
dutos com a mão de obra de instalação
vidades duráveis e, ainda, não duráveis. Ex-
gratuita, compra de produtos a distância
clui-se, contudo, tão-somente as atividades com frete grátis, serviços gratuitos de ma-
típicas de caráter trabalhistas que, por sua nobristas em estabelecimentos comerciais,
transporte coletivo gratuito para idosos e
vez, serão regulamentadas por legislação di-
deficientes físicos, isenção de tarifas em
versa — vale dizer, as normas concentradas certas atividades bancárias, hospitais be-
principalmente na Consolidação das Leis do neficentes, etc.” (CAVALIERI FILHO, 2008a,
Trabalho (CLT). p. 65-66).

O serviço deve comportar um ônus para o


Observamos, portanto, que mesmo os
consumidor, visto que, nos termos do Código
serviços aparentemente gratuitos compreen-
de Defesa do Consumidor, a atividade deverá
dem a modalidade de remuneração indireta.
ter como contrapartida uma remuneração. Há
Eis que a remuneração mostra-se pulveriza-
que se afirmar que “a característica marcan-
da entre outras atividades lucrativas do for-
te da abrangente definição de serviços, para necedor. Independentemente dos serviços
fins de proteção do consumidor, é a de que serem prestados por entes públicos ou pri-
os mesmos devem ser prestados mediante vados, pouco importando o ramo da ativida-
remuneração” (CAVALIERI FILHO, 2008a, p. de, têm exclusão expressa somente as ativi-
65). Caso contrário, não se deve falar em apli- dades correspondentes a relações de cunho
cação da citada norma de proteção. trabalhista, como se destacou alhures.

15
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

Nos termos das considerações acima, é Princípio é, por definição, mandamento


relevante anotar que a relação jurídica de nuclear de um sistema, verdadeiro alicer-
ce dele, disposição fundamental que se ir-
consumo se estabelece com a participação
radia sobre diferentes normas compondo-
de um fornecedor e de um consumidor, que -lhes o espírito e servindo de critério para
concreta ou potencialmente negociam pro- sua exata compreensão e inteligência,
dutos e serviços oferecidos no mercado de exatamente por definir a lógica e a ra-
consumo. cionalidade do sistema normativo, no que
lhe confere a tônica e lhe dá sentido har-
SEÇÃO III – PRINCÍPIOS DO CÓDIGO mônico. É o conhecimento dos princípios
que preside a intelecção das diferentes
DE DEFESA DO CONSUMIDOR partes componentes do todo unitário que
há por nome de sistema jurídico positivo
1 A principiologia do CDC (MELO, 1996, p. 545).

Atualmente, atribuir aos princípios um pa- Para Carraza (1999, p. 31-32):


pel de somenos importância no cotidiano ju-
rídico trata-se de um ledo engano. É possível
Princípio é um enunciado lógico, im-
fazer essa afirmação pelo fato de que o Direi-
plícito ou explícito, que, por sua grande
to contemporâneo é articulado por uma série generalidade, ocupa posição de preemi-
de princípios e também por leis de conteúdos nência nos vastos quadrantes do Direi-
estritamente principiológicas. Consideramos to e, por isso mesmo, vincula, de modo
os princípios como fundamentos de determi- inexorável, o entendimento e a aplicação
das normas jurídicas que com ele se co-
nados sistemas ou subsistemas jurídicos.
nectam.

Por outro lado, nas palavras do enciclo-


pedista De Plácido e Silva, considera-se que
princípios:

No sentido jurídico, notadamente no


plural, quer significar as normas elemen-
tares ou os requisitos primordiais institu-
ídos como base, como alicerce de algu-
ma coisa. E, assim, princípios revelam o
conjunto de regras ou preceitos que se
Fonte: http://blog.helvecio.com/wpress/wp-content/uploads/
fixaram para servir de norma a toda es-
2012/03/columns.jpg
pécie de ação jurídica, traçando, assim,
a conduta a ser tida em qualquer opera-
Desse modo, vamos em busca da defini- ção jurídica. (...) Princípios jurídicos, sem
ção do termo princípio. De plano, vale des- dúvida, significam os pontos básicos, que
tacar que: servem de ponto de partida ou de ele-

16
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

mentos vitais do próprio Direito (DE PLÁ- à tutela do consumidor. Somente quando
CIDO E SILVA, 1993, p. 447). tal compatibilização não for possível (anti-
nomia real) é que a Lei 8.078/90, em razão
de sua supremacia — Lei principiológica e
de ordem pública —, afastará a aplicação
do texto normativo ou legislação com ela
conflitante para dirimir embates num dado
caso concreto. Afinal, é o Código de De-
fesa do Consumidor — metaforicamente
falando — um dos fios de ouro do ema-
ranhado de leis que constituem a teia do
ordenamento jurídico (DELFINO, 2004).

Pelo que se observa nos apontamentos


acima, resta esclarecido que o princípio não é
2 Princípios no Código de Defesa do
um tema de somenos importância no estudo Consumidor
do Direito, notadamente pela posição que ele
vem tomando na legislação contemporânea. Como vimos, o CDC trata-se de uma nor-
No que diz respeito à legislação consumeris- ma principiológica, de modo que o sentido e
ta, os princípios são elementos de relevante alcance desse se mostra relevante à compre-
importância para compreender o sentido e a ensão do próprio Direito do Consumidor.
aplicação da norma no ambiente das rela-
ções de consumo. Isso fica mais evidente na A partir da compreensão de que o CDC
medida em que consideramos que o Código é uma norma principiológica, analisaremos
de Defesa do Consumidor é uma legislação a seguir os princípios de sua estrutura mais
de caráter principiológico, conforme mencio- evidentes.
na Nery Júnior e Nery (2004).

2.1 Princípio da vulnerabilidade


Evidente, pois, que o objetivo da Lei
consumerista não é revogar outras leis Encontramos o princípio da vulnerabilida-
ou textos legais existentes no sistema ju- de do consumidor no inciso I, do artigo 4º,
rídico. Sua principal função é complemen- do Código de Defesa do Consumidor. A res-
tar, melhorar as legislações já existentes peito de tal princípio, afirma Densa (2012):
— ou as que vierem a existir —, impor
novos valores ao sistema jurídico vigente,
visando, com isso, a uma maior tutela do O reconhecimento da vulnerabilidade
do consumidor no mercado de consumo
consumidor. Nesse passo, os princípios e
reflete, sem dúvida, a principal razão de
normas regentes do Código de Defesa do
toda a proteção e defesa do consumidor,
Consumidor deverão permear, integrar e que é a parte vulnerável de qualquer re-
aperfeiçoar a lei também aplicável àquela lação de consumo. Diz-se que o consumi-
situação a ser solucionada; o espírito da dor é vulnerável porque é facilmente ma-
Lei 8.078/90 entranhará no corpo normati- nipulado pelo fornecedor nas relações de
vo da legislação também aplicável ao caso consumo, sendo, sem dúvida, a parte mais
concreto, aperfeiçoando-a e adequando-a frágil da relação (DENSA, 2012, p. 26).

17
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

Na doutrina nacional, de maneira mais in- mento das três vulnerabilidades acima apre-
tensa, o princípio da vulnerabilidade do con- sentadas.
sumidor é desdobrado em três segmentos,
de modo que o consumidor apresenta:
2.1.1 A tutela jurídica dos mais
a) A vulnerabilidade técnica. Nesta di- fracos: os hipervulneráveis
mensão da vulnerabilidade evidencia-
-se o fato de que o consumidor não
tem conhecimento a respeito da estru-
tura do produto e do serviço que lhe é
oferecido no mercado de consumo. É
o que podemos identificar como a fal-
ta de domínio da técnica intrínseca a
cada produto ou serviço.

b) Vulnerabilidade socioeconômica. Esta


face da vulnerabilidade do consumidor,
também conhecida como vulnerabili-
dade fática, dispõe que o consumidor,
diante do fornecedor e de todo o mer-
cado de consumo, é economicamente
frágil e destituído de poder econômico.
A contemporaneidade, assim como em
Além do mais, há uma pressão social,
outras épocas, tem os seus grandes e va-
mais forte do que ele, que o induz ao
riados desafios. Peter Berger (1985, p. 42)
consumo.
argumenta que o grande desafio humano é
c) Vulnerabilidade jurídica. Em decor- o de tentar construir um mundo de equilíbrio
rência desse tipo de vulnerabilidade, frente às realidades caóticas que nos cer-
entende-se que o consumidor, por cam. Zygmunt Bauman (2013), por sua vez,
não deter conhecimentos concernen- argumenta que o atual desafio é o enfren-
tes à técnica jurídica, fica em condição tamento das desigualdades sociais no con-
de fragilidade diante do fornecedor. texto da globalização, com destaque para os
O consumidor não tem condição, por problemas decorrentes do desequilíbrio am-
exemplo, de conhecer as minúcias de biental frente ao consumismo e a criação de
um contrato de alienação fiduciária. fórmulas para lidar com a privacidade, sigilo,
intimidade e vínculos humanos etc.
As outras espécies de vulnerabilidades,
por vezes apresentadas pela doutrina espe- No palco da busca pela efetivação dos Di-
cializada, nada mais são do que o desdobra- reitos Humanos, nos deparamos com uma

18
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

questão recorrente, a saber: a tutela dos Mas, afinal, quem são os hipervulneráveis
mais fracos. para efeitos do Direito?

O tratamento legislativo diferenciado dos


mais fracos é corolário do princípio constitu-
cional da igualdade, em seu vértice material
e não somente formal.

A respeito da concepção de discriminação


positiva, Miranda (2000, p. 225) relata:

Os direitos são os mesmos para todos;


mas como nem todos se acham em igual-
dade de condições para os exercer, é pre-
ciso que essas condições sejam criadas
Fonte: Júlio Siqueira – Vidas Secas, grafite sobre papel, 2010. ou recriadas através da transformação da
Disponível em: <http://julio-artescm.blogspot.com.br/p/2010. vida e das estruturas dentro das quais as
html>. Acesso em: 17 jan. 2014.
pessoas se movem (...). Mesmo quando a
igualdade social se traduz na concessão
O desafio de lidar com os mais fracos co- de certos direitos ou até certas vantagens
loca-nos diante da compreensão de que den- especificamente a determinadas pesso-
tro de determinados grupos nos deparamos, as — as que se encontram em situações
ainda, com seres humanos que demandam de inferioridade, de carência, de menor
atenção especial. A estes denominamos nes- proteção — a diferenciação ou a discri-
minação (positiva) tem em vista alcançar
te trabalho de hipervulneráveis.
a igualdade e tais direitos ou vantagens
configuram-se como instrumentais no
A tutela dos hipervulneráveis coloca à rumo para esses fins.
prova a efetividade tanto do Direito mate-
rial como processual, principalmente quando
constatamos que os Estados apresentam di-
Do ponto de vista etimológico, hipervulne-
ficuldades para tratarem aqueles já definidos
rável é uma palavra formada pela junção de
como vulneráveis. No entanto, vale dizer:
dois termos: oriundo do grego, hyper é um
não é porque já encontramos dificuldades
prefixo que significa aquilo que está além do
em lidar com os vulneráveis que podemos
normal, super; já o adjetivo latino vulnerabi-
fechar os olhos para aqueles que ultrapassa-
lis significa doença ou fraqueza diferenciado-
ram a linha da vulnerabilidade.4
ra de uma pessoa ou objeto.
4 Em outubro de 1934, Louis Josserrand proferiu a clássica palestra in-
titulada La protection des faibles par le droit (A proteção dos fracos pela
lei). Como se observa pelo título, o seu interesse foi demonstrar a neces- Nas palavras de Nishiyama e Densa (2010,
sidade de humanização do direito em benefício de um grupo de sujeitos
nas relações contratuais (Cf. JOSSERAND, 2006, p. 259). p. 118):

19
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

O prefixo hiper (...), designativo de Schmitt (2009), por sua vez, pondera que
alto grau ou aquilo que excede a medida o reconhecimento da hipervulnerabilidade é
normal, acrescido da palavra vulnerável,
o paradigma a ser adotado na tutela da pes-
quer significar que alguns consumidores
possuem vulnerabilidade maior do que a
soa mais fragilizada.
medida do normal, em razão de certas
características pessoais. Os hipervulnerá- De nossa parte, quando reconhecemos a
veis possuem tratamento especial. necessidade de identificação de pessoas hi-
pervulneráveis, entendemos que tais grupos
não se encerram apenas nas crianças, idosos
e portadores de necessidades especiais6.
Com efeito, quando nos deparamos com
pessoas humanas nas diversas relações so-
ciais, afetivas e econômicas, podemos di-
zer que hipervulnerabilidade é a condição
de vulnerabilidade agravada, suportada por
determinados grupos inseridos no tecido so-
cial. Do ponto de vista do gozo da existência
humana, os hipervulneráveis não estão em
condições favoráveis de absoluta autodeter-
minação de seus interesses. E, em virtude
disso, são merecedores de atenção espe- Naturalmente, ao tempo em que a hiper-
cial das instituições sociais para que, dessa vulnerabilidade desses grupos seja notória,
forma, as consequências da vulnerabilidade acreditamos que a construção de um rol nu-
agravada sejam idealmente estancadas ou, merus clausus será desastroso, do ponto de
pelo menos, diminuídas. vista da urgência da tutela dos mais fracos.

Em julgado do Superior Tribunal de Justi- 2.2 Princípio da proteção efetiva do


ça brasileiro, acórdão da relatoria do minis- consumidor
tro Carlos Fernando Mathias, observamos o
reconhecimento de um grupo de hipervulne- Pelo princípio da proteção efetiva, presen-
te no artigo 4º, inciso II, do Código de Defesa
ráveis: “a categoria ético-política, e também
do Consumidor, o Estado deverá criar meca-
jurídica, dos sujeitos vulneráveis inclui um nismos de políticas públicas para a proteção
subgrupo de sujeitos hipervulneráveis, entre e defesa dos consumidores. Essa imposição
os quais se destacam, por razões óbvias, as presente no código é direcionada ao próprio
pessoas com deficiência física, sensorial ou Estado, na medida em que o referido inciso
refere-se à concepção de ação governamen-
mental”.5
tal para a proteção do consumidor.
5 Decisão proferida no Recurso Especial nº 931.513 – RS (2007/0045162-7).
Disponível em: <http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/41/docs/resp_ 6 No mesmo sentido, Marques e Miragem (2012), abrem espaço para
931513-rs-acp-legt.mp-pcd-protese_auditiva.pdf>. Acesso em: 01 dez. um rol maior de hipervulneráveis, embora nessa oportunidade não te-
2013. nham se envolvido com maiores detalhes acerca dessa compreensão.

20
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

A atuação estatal para a tutela do consu- 2.3 Princípio da harmonia dos interesses
midor que, inclusive, é mandamento consti- dos participantes da relação de consumo
tucional (art. 5º, XXXII), se dará das seguin-
tes maneiras:
i) Por iniciativa direta;
Conforme dispõe o artigo 4º, inciso III, do
ii) Por incentivos à criação e desenvolvimento Código de Defesa do Consumidor, nas rela-
de associações representativas; ções de consumo deverá haver harmonia dos
iii) Pela presença do Estado no mercado de interesses dos participantes do mercado de
consumo; consumo. Observe a lei:
iv) Pela garantia dos produtos e serviços
com padrões adequados de qualidade,
segurança, durabilidade e desempenho. III- harmonização dos interesses dos
participantes das relações de consumo e
Densa (2012, p. 27) esclarece que: compatibilização da proteção do consu-
midor com a necessidade de desenvolvi-
mento econômico e tecnológico, de modo
Na prática, verificamos esta atuação es- a viabilizar os princípios nos quais se funda
tatal através da Secretaria de Direitos Eco- a ordem econômica (art. 170 da Constitui-
nômicos (SDE), dos PROCONs, do Minis- ção federal7), sempre com base na boa-fé
tério Público, bem como do incentivo para e equilíbrio nas relações entre consumido-
a criação de entidades civis de defesa do res e fornecedores.
consumidor, tais como o IDEC e a ADE-
CON. Não podemos deixar de mencionar o
Sistema Nacional de Metrologia, Normali-
Pelo que se nota da estrutura do artigo
zação e Qualidade Industrial (SINMETRO),
constituído pelo Instituto Nacional de Me- 4º, inciso III, do CDC, haverá harmonização
trologia, Normalização e Qualidade Indus- dos envolvidos nas relações de consumo,
trial (INMETRO) e pelo Conselho Nacional na medida em que a busca pelo desenvolvi-
de Metrologia (CONMETRO), que homolo- mento sustentável e a atenção aos princípios
ga as normas de segurança e qualidade, elementares da ordem econômica atender a
atualmente a cargo da Associação Brasilei- da boa-fé. Desse modo, a boa-fé, elevada à
ra de Normas Técnicas (ABNT).
condição de princípio, apresenta-se como um

7 O artigo 170, da Constituição federal, mencionado no artigo 4º, inciso


III, do CDC, estabelece que:
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
É evidente que ainda falta uma atuação humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos exis-
tência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
mais enérgica do Estado no sentido de pro- seguintes princípios:
mover a proteção integral do consumidor. I – soberania nacional; II – propriedade privada; III – função social
da propriedade; IV – livre concorrência; V – defesa do consumidor;
VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento di-
ferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços
Basta, neste sentido, considerarmos a en- e de seus processos de elaboração e prestação; VII – redução das
desigualdades regionais e sociais; VIII – busca do pleno emprego;
xurrada de peças publicitárias no universo IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte
midiático que, às vezes com letras miúdas, constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e admi-
nistração no país.
violam abertamente direitos básicos do con- Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qual-
quer atividade econômica, independentemente de autorização de
sumidor. órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

21
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

princípio viabilizador do equilíbrio e harmonia 2.4 Princípio da educação e informação


nas relações de consumo.
O artigo 4º, inciso IV, do Código de Defesa
Embora haja vários princípios gerais cons- do Consumidor, impõe, em sede de princípio,
tantes no Código de Defesa do Consumidor, a “educação e informação de fornecedores,
entende-se que o princípio da boa-fé é o prin- quanto aos seus direitos e deveres, com vis-
cípio magno a ensejar a proteção dos con- tas à melhoria do mercado de consumo”.
sumidores e impor a harmonia nas relações
entre fornecedores e consumidores que se
encontram e, quando for o caso, entabulam
negócios jurídicos no mercado de consumo.

O princípio da boa-fé, doutrinariamente,


é apresentado sob dois enfoques, a saber: a
boa-fé subjetiva e a boa-fé objetiva.

A propósito, “a boa-fé, em seu viés subje-


tivo, leva em conta a compreensão de mundo Pelo que se observa da estrutura do prin-
detida pelo contratante” (SILVA, 2008, p. 68). cípio em destaque não basta apenas levar ao
Por tal motivo, é também chamada de boa-fé mercado de consumo informações a respeito
psíquica. de direitos e deveres dos participantes das
relações de consumo.
Em outro foco, a boa-fé objetiva diz res-
peito ao comportamento ético esperado pela Esse princípio impõe mais do que isso. O
sociedade em que as relações sociais se de- que se espera é o estabelecimento de uma
senvolvem. educação para o consumo, de modo que
haja uma promoção do que atualmente se
“Verifica-se que a boa-fé objetiva tem ca-
identifica como consumo consciente.
ráter normativo e a sua apreciação não exige
do observador o ingresso na esfera psíquica Quando consumidor e fornecedor estive-
do sujeito” (Ibid., p. 68). Leva-se em consi- rem educados para o consumo consciente,
deração a exigência de um comportamento em que ambos saibam de seus direitos e de-
ético de todos os membros da sociedade, veres, estaremos diante de um mercado de
como uma espécie de norma social de ho- consumo mais equilibrado e menos interes-
nestidade a que todos estão sujeitos. sado apenas no lucro.

Assim, entendemos que no Direito con- 2.5 Princípio da qualidade e segurança


temporâneo a razão principal da obrigação
de reparação de danos é a violação do prin- O artigo 4º, inciso V, do CDC, impõe o se-
cípio da boa-fé objetiva. guinte princípio: “incentivo à criação pelos

22
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

fornecedores de meios eficientes de controle


de qualidade e segurança de produtos e ser-
viços, assim como mecanismos alternativos
de solução de conflitos de consumo”.

Observamos que, no mercado de consu-


mo, espera-se a imposição da prevenção.
Chegamos a essa compreensão pelo fato de
que, em um ambiente de consumo em que
encontramos a qualidade e segurança eleva-
da ao status de princípio, é melhor prevenir
do que lidar com os danos provocados em Vale ressaltar que, por meio desse princí-
detrimento do consumidor. pio, o fornecedor torna-se garante da quali-
dade e segurança do produto e serviço que
ele disponibiliza no mercado de consumo.

Por outro lado, consta como diretriz na nor-


ma de proteção especializada que, no mercado
de consumo, deverá se criar meios alternativos
de solução de conflitos. Encontramos aqui um
relevante princípio que, em boa hora, procura
desestabilizar a cultura muito presente no Bra-
sil, de que os conflitos sociais somente podem
ser solucionados junto ao Poder Judiciário.

2.6 Princípio da coibição e repressão das


práticas abusivas
Pelo artigo 4º, inciso VI, tem-se como ne-
cessário a:

VI - coibição e repressão eficientes de


todos os abusos praticados no mercado
de consumo, inclusive a concorrência
desleal e utilização indevida de inventos e
Há de se observar, ainda, que o princípio criações industriais das marcas e nomes
da qualidade e segurança é uma imposição comerciais e signos distintivos, que pos-
aos fornecedores que, como detentores do sam causar prejuízos aos consumidores.
poder econômico, devem direcionar seus es-
forços na busca de mecanismos para a oferta Evidencia-se nesse princípio um desdo-
de produtos com qualidade e que reduzam bramento do reconhecimento da vulnerabi-
os riscos que eventualmente possam ser su- lidade do consumidor frente ao mercado de
portados pelo consumidor — e, por que não consumo. Isto se dá pelo fato de que, em
dizer, ao meio ambiente. último caso, a vítima das práticas comerciais

23
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

abusivas desleais praticadas no mercado de


consumo é o consumidor.

2.7 Princípio da racionalização e melhoria


dos serviços públicos

Frente ao princípio da racionalização e me-


lhoria dos serviços públicos, nem mesmo ao
Estado é permitida a prestação de serviços
dissociada da qualidade. Aliás, é inadmissível
que o Estado preste serviços inadequados
aos consumidores que, antes de tudo, são 1 Direito à norma mais benéfica
cidadãos que, em um ambiente democrático,
Após o estudo dos princípios norteadores
devem ser tutelados pelo Estado em suas vá-
das relações de consumo que, como vimos,
rias esferas de manifestação de poder.
estão ordinariamente elencados no artigo 4º,
do Código de Defesa do Consumidor, encon-
Deve-se levar em conta que o princípio em
tramos no artigo 6º do mesmo diploma um
destaque é uma manifestação da imposição
rol de direitos básicos dos consumidores.
normativa presente no artigo 37 da Constitui-
ção federal que, ao lado de outros princípios,
Os direitos básicos dos consumidores
apresenta o princípio da eficiência como um presentes no artigo 6º, do CDC, com efei-
elemento disciplinador das atividades estatais. to, não excluem outros direitos presentes
em outros pontos da legislação interna ou
2.8 Princípio do estudo constante das decorrentes de tratados e convenções dos
transformações do mercado de consumo quais o Brasil seja signatário. Neste sentido,
o artigo 7º, do CDC, dispõe:

Por meio do princípio em referência, pre-


Art. 7º Os direitos previstos neste Có-
sente no artigo 4º, inciso VIII, do CDC, há
digo não excluem outros decorrentes de
reconhecimento normativo que o mercado
tratados ou convenções internacionais de
de consumo é bastante ágil, motivo pelo qual
que o Brasil seja signatário, da legislação
seu estudo merece atenção tanto do Estado
interna ordinária, de regulamentos expe-
quanto da sociedade civil organizada.
didos pelas autoridades administrativas
competentes, bem como dos que derivem
Nesse sentido, a Política Nacional das Rela-
dos princípios gerais do direito, analogia,
ções de Consumo deve viabilizar a promoção
costumes e equidade.
de organismos estatais ou não, destinados ao
acompanhamento e análise das transformações
mercadológicas. Desse modo, a tutela do con-
sumidor se mostrará mais eficiente. Desse modo, diante de um conflito de nor-
mas, o intérprete deverá aplicar sempre a
SEÇÃO IV – DIREITOS ELEMENTARES norma mais benéfica ao consumidor, mesmo
DOS CONSUMIDORES que tal norma esteja fora do CDC. Tem-se

24
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

assim a prevalência da norma mais benéfica Segundo Tortola (2003):


ao consumidor, diretriz esta que, nos termos
do artigo 7º, do CDC, emerge como direito
básico do consumidor. Decorre do direito à segurança o dever
dos fornecedores retirarem do mercado
Assim, convém ressaltar que o artigo 6º produtos e serviços que venham a apre-
do CDC — que analisaremos a seguir — con- sentar riscos à incolumidade dos consu-
tém um rol de direitos básicos meramente midores ou ainda de terceiros, o dever de
comunicar às autoridades competentes a
exemplificativos, uma vez que não há exclu-
respeito desses riscos, e ainda, o dever
são de outras normas que eventualmente se-
de indenizar por prejuízos decorrentes de
jam mais benéficas aos consumidores. vícios ou defeitos do produto ou serviço.

2 Direito à proteção da vida, saúde e


segurança
Levando em conta o fato de que o Códi-
go de Defesa do Consumidor não veda a cir-
culação de produtos e serviços considerados
perigosos, deve-se considerar a existência de
norma específica para tal particularidade. É o
que encontramos nos artigos 8º e 9º do CDC:

Art. 8º. Os produtos e serviços colo-


cados no mercado de consumo não acar-
retarão riscos à saúde ou segurança dos
consumidores, exceto os considerados
normais e previsíveis em decorrência de
Estabelece o artigo 6º, inciso I, do CDC sua natureza e fruição, obrigando-se os
fornecedores, em qualquer hipótese, a
que é direito básico do consumidor “a prote-
dar as informações necessárias e adequa-
ção da vida, saúde e segurança contra os ris- das a seu respeito.
cos provocados por práticas no fornecimento
de produtos e serviços considerados perigo-
Parágrafo único. Em se tratando de pro-
sos ou nocivos”. duto industrial, ao fabricante cabe prestar
as informações a que se refere este arti-
Quando o CDC tutela os direitos básicos do
go, através de impressos apropriados que
consumidor — a saber, a vida, saúde e seguran-
devam acompanhar o produto.
ça — tem-se na verdade a busca da efetividade
desses direitos fundamentais. Nesse sentido,
o legislador ordinário mostra-se eficiente, haja
Art. 9º. O fornecedor de produtos e
vista que um dos maiores clamores contempo-
râneos é exatamente a efetividade dos direitos, serviços potencialmente nocivos ou peri-
em especial os considerados fundamentais. gosos à saúde ou segurança deverá infor-
mar, de maneira ostensiva e adequada, a
Entretanto se há um direito de consumir respeito de sua nocividade ou periculosi-
produtos seguros, existe também o dever do dade, sem prejuízos da adoção de outras
Estado de outorgar a proteção respectiva. medidas cabíveis em cada caso concreto.

25
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

Pelo que observamos, os artigos em refe- O fundamento desse direito justifica-


rência apresentam uma gradação, de modo -se pela necessidade imperiosa de evitar
que quanto mais o produto e/ou serviço co- danos à saúde e segurança do consumi-
loca em risco a saúde e segurança, maior de- dor, quando utilizados produtos ou servi-
verá ser o grau de informação e, se eventu- ços em circunstâncias impróprias ou sob
almente o risco for muito grande, o produto condições ambientais desaconselháveis.
e/ou serviços deverá(ão) ser retirado(s) do Para tanto, pede-se somente a indicação
mercado de consumo. de elementos que o integram, abastecen-
do o consumidor de informações que lhe
A propósito, esse é o argumento presente permitam o uso adequado do produto ad-
no artigo 10, caput, do CDC: “O fornecedor quirido.
não poderá colocar no mercado de consu-
mo produto ou serviço que sabe ou deveria
Não há como negar a estreita relação
saber apresentar alto grau de nocividade ou
com o direito à segurança, haja vista que
periculosidade à saúde ou segurança”.
se o consumidor tem direito de consumir
produtos e serviços eficientes e seguros,
3 Direito à educação e informação é intuitivo que deve ser informado ade-
quadamente, sobretudo no que concerne
A respeito dos direitos básicos de educa-
a características, especificação correta de
ção e informação do consumidor, vale desta-
quantidade e qualidade, preços, validade e
car a doutrina de Filomeno (2007a, p. 38): riscos que apresentam (TORTOLA, 2003).

(...) referida tarefa, de educar, pode


ser de duas naturezas: (a) educação
formal: ou seja, aquela transmitida em
4 Direito à proteção contra práticas
escolas, desde o primeiro grau, até o
comerciais desleais
ensino universitário (...); (b) educação
Pelo CDC, é inquestionável o dever de le-
informal: a que se faz pelos meios de
comunicação de massa, pelas entidades aldade entre os partícipes da relação de con-
de defesa ou proteção do consumidor (ossumo. Para levar adiante essa diretriz, a pu-
PROCONs, por exemplo) e pelas entida- blicidade foi abordada pelo código, de forma
des não governamentais, como as asso- que, nos termos do artigo 6, inciso IV, do
ciações de defesa do consumidor (GrifosCDC, o consumidor tem como direito básico
do autor).
“a proteção contra a publicidade enganosa e
abusiva, métodos comerciais coercitivos ou
desleais, bem como contra práticas e cláusu-
Mediante os direitos básicos à educação e las abusivas ou impostas no fornecimento de
informação os consumidores poderão gozar produtos e serviços”.
com mais intensidade a liberdade e a igual-
dade no mercado de consumo. Todas as práticas desleais elencadas nesse
inciso dizem respeito à quebra da boa-fé obje-
Destaca-se ainda que: tiva. Essas práticas devem ser rechaçadas das

26
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

relações de consumo, sendo que os fornece- O sentido do CDC é harmonizar e equili-


dores que as utilizarem deverão ser exemplar- brar as relações de consumo. Assim, quando
mente punidos. O fornecedor tem sobre si o um contrato onera demasiadamente o con-
ônus objetivo de agir com boa-fé, sob pena sumidor, a sua condição de vulnerabilidade
de responder nas esferas de proteção do con- torna-se extrema e, em tais casos, tais con-
tratos devem ser modificados e revistos.
sumidor.

5 Direito à modificação ou revisão das 6 Direito à prevenção e reparação integral


cláusulas contratuais excessivamente de danos
onerosas Nos termos do artigo 6º, IV, do Código de
Defesa do Consumidor é direito básico do
De acordo com o artigo 6º, inciso V, do consumidor “a efetiva prevenção e reparação
CDC, é direito básico do consumidor “a mo- de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos”.
dificação das cláusulas contratuais que esta-
beleçam prestações desproporcionais ou sua Idealiza-se a prevenção dos danos e, na
revisão em razão de fatos supervenientes hipótese de sua ocorrência, o fornecedor es-
tará obrigado a praticar a reparação integral,
que as tornem excessivamente onerosas”.
seja na esfera patrimonial e moral, alcan-
çando o consumidor individual ou transindi-
vidual.
Já em se tratando da questão da “prote-
ção contratual”, a que faz menção o inciso Com vistas a viabilizar a prevenção e a
V, do artigo 6º, é relevante atentar-se ao reparação integral dos danos eventualmen-
fato de que o código tornou possível fazer te suportados pelos consumidores, a Política
mudanças em cláusulas contratuais que Nacional das Relações de Consumo apresen-
estabeleçam prestações desproporcionais ta um rol exemplificativo de instrumentos. É
ou revisão em razão de fatos posteriores o que observamos no artigo 5º do CDC:
que possam causar dificuldade no cum-
primento do mesmo por ter se tornado
Art. 5º. Para a execução da Política Na-
excessivamente oneroso. cional das Relações de Consumo, contará
o Poder Público com os seguintes instru-
mentos, entre outros:
Dessa forma, a lei visou proteger o con-
sumidor de alguns contratos e obrigações
que ele assume perante o fornecedor, mas I – manutenção de assistência jurídi-
que vão ‘pesar’ na hora de cumprir. Por ca, integral e gratuita para o consumidor
isso, a lei permite que esses contratos que carente;
muitas vezes prevêem situações absurdas
sejam modificados de acordo com as pos- II – instituição de Promotorias de Jus-
sibilidades do consumidor (WIERZCHÓN, tiça de Defesa do Consumidor, no âmbito
2011). do Ministério Público;

27
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

III – criação de delegacias de polícia do consumidor, de modo que o Estado, em


especializadas no atendimento de con- suas esferas judiciárias e administrativas, de-
sumidores vítimas de infrações penais de
verá mostrar-se acessível aos consumidores,
consumo;
em especial, aos mais necessitados.

IV – criação de Juizados Especiais de Pelo que se observa acima, o CDC também


Pequenas Causas e Varas Especializadas estimula a análise de litígios de consumo nas
para a solução de litígios de consumo;
instâncias administrativas articuladas pela
Política Nacional das Relações de Consumo
V – concessão de estímulos à criação e com essa finalidade.
desenvolvimento das Associações de De-
fesa do Consumidor.
8 Direito aos serviços públicos adequados
e eficazes
Vale dizer que as normas acima transcritas
não devem ser compreendidas como singe- É dever do Estado ser uma fonte de exem-
los protocolos de intenção, haja vista que ao plo e atenção ao princípio da eficiência e quali-
consumidor assiste o direito básico primei- dade de seus serviços públicos prestados aos
ramente à prevenção contra danos ao seu cidadãos. Essa dimensão ética, no entanto, foi
positivada no artigo 37 da Constituição federal,
patrimônio ou a sua moral e, em caso de le-
haja vista que em tal dispositivo encontramos
são patrimonial ou moral, assiste também ao o princípio da eficiência como regra de ouro da
consumidor a efetiva reparação. administração pública.

7 Direito à acessibilidade aos órgãos Deve-se considerar que não será em todos
os instantes que o Estado prestará serviços pú-
públicos para a defesa de direitos blicos sujeitos às regras constantes no Código
de Defesa do Consumidor. Assim, já se mani-
Reza o 6º, inciso VII, do Código de Defesa festou Filomeno (2007a, p. 41):
do Consumidor que é direito básico do con-
sumidor “o acesso aos órgãos judiciários e
Deve-se ter em conta, outrossim, que
administrativos, com vistas à prevenção ou referidos serviços não se confundem
reparação de danos patrimoniais e morais, com os serviços públicos propriamen-
individuais, coletivos ou difusos, assegurada te ditos, como, por exemplo, a educação
a proteção jurídica, administrativa e técnica e a saúde pública, obras de saneamento
básico etc.
aos necessitados”.

Esse direito básico mostra-se como um Isto porque, enquanto os primeiros são
mecanismo de efetivação do direito anterior- colocados à disposição dos consumi-
dores, que retribuem mediante o paga-
mente discutido, qual seja, direito à preven-
mento de tarifa ou preço público, os se-
ção e reparação integral de danos. Temos, gundos derivam da atividade precípua
assim, uma reafirmação de um direito básico do Estado, ao propiciar o bem comum

28
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

da população. Neste caso, sua remune- Convém, inicialmente, apontar que a dou-
ração é feita mediante o pagamento trina clássica da responsabilidade civil subje-
de tributos, como por exemplo, taxas e
emolumentos pagos, respectivamente, tiva exige, a princípio, quatro pressupostos
nas repartições públicas em geral, ao Ju- para a sua aplicação.
diciário ou cartórios, em face de algum ato a) Ação ou omissão;
ou providência, ou então mediante o pa-
gamento de uma contribuição de me-
b) Dano;
lhoria (por exemplo, pelo asfaltamento de c) Culpa;
uma rua), ou, ainda, mediante o pagamento d) Nexo de causalidade.
de impostos (o ICMS e IPVA), propiciando
educação, saúde, etc. (Grifos do autor).
A responsabilidade civil decorre de uma
ação ou omissão, do próprio agente ou de
terceiro a ele vinculado. É o que constatamos,
Portanto, considere-se que quando o Es-
tado (seja por sua própria manifestação, por exemplo, no artigo 186 do Código Civil,
seja por meio de concedidos ou permitidos) in verbis: “aquele que, por ação ou omissão
fornecer produtos e serviços no mercado voluntária, negligência ou imprudência, vio-
de consumo, ele estará sujeito às regras do lar direito e causar dano a outrem, ainda que
CDC, desde que a relação for de consumo.
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
SEÇÃO V – ESTRUTURA DA
RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDC De acordo com Diniz (2011, p. 77):

O dano é um dos pressupostos da res-


ponsabilidade civil, contratual ou extra-
contratual, visto que não poderá haver
ação de indenização sem a existência
de um prejuízo. Só haverá responsabili-
dade civil se houver um dano a reparar
(RSTJ, 63: 251). Isto é assim porque a
responsabilidade resulta em obrigação de
ressarcir, que, logicamente, não poderá
concretizar-se onde nada há que reparar.
(...) Não poderá haver responsabilidade
civil sem a existência de um dano a um
1 Aspectos gerais da responsabilidade civil bem jurídico, sendo imprescindível a pro-
va real e concreta dessa lesão. Deveras,
Para a reparação de danos causados aos para que haja pagamento da indenização
consumidores, o CDC tem como regra a apli- pleiteada, é necessário comprovar a ocor-
cação da responsabilidade civil objetiva e rência de um dano patrimonial ou moral,
solidária. Será a partir desta premissa que, fundados não na índole dos direitos sub-
neste tópico, abordaremos os detalhes da jetivos afetados, mas nos efeitos da lesão
responsabilização dos fornecedores. jurídica.

29
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

No mesmo sentido, afirma Coelho (2009, guida pelo agente, como o indireto, em que
p. 286): o dano ocasionado não era propriamente o
objetivo, mas o agente assumiu de forma
consciente o risco de provocá-lo. (...) Por
Uma pessoa pode incorrer em ato ilíci- outro lado, a culpa por atos não intencio-
to sem acarretar danos a ninguém. Não nais abrange a negligência, imprudência e
tem, nesse caso, responsabilidade civil. imperícia (culpa simples). O negligente não
Mesmo configurado o pressuposto subje- faz o que deveria fazer e o imprudente faz
tivo, se da conduta culposa não resultar o que não deveria. (...) Imperícia, por fim, é
prejuízo a outrem, a obrigação de inde- a culpa não intencional no desempenho de
nizar não existe. Se um comerciante se profissão ou ofício (Ibid., p. 308-309).
estabelece em zona residencial, pratica
ato ilícito, infringente da lei municipal que
proíbe e sanciona a localização irregular.
Por fim, no que diz respeito ao nexo de
Além da responsabilidade administrati-
causalidade, tem-se que a ação ou omissão
va, efetivada por medidas como multas
do agente deverá ser a causa do dano supor-
ou fechamento do estabelecimento, o ato
tado pela vítima. A respeito desse assunto,
ilícito gera a responsabilidade civil pe-
Gonçalves relata:
rante os moradores da zona residencial,
caso eles tenham experimentado algum
(...) é a relação de causa e efeito en-
prejuízo. Se, pelo contrário, os vizinhos
tre a ação ou omissão do agente e o dano
até apreciavam o comércio ali instala-
verificado. Vem expressa no verbo causar
do, frequentando a loja e consumindo
utilizado no artigo 186 [do Código Civil].
os produtos à venda, e não suportaram
Sem ela, não existe a obrigação de indeni-
dano nenhum em decorrência do ilícito, zar. Se houver o dano, mas sua causa não
inexistem as condições para a imputação está relacionada com o comportamento do
de responsabilidade civil ao comerciante agente, inexiste a relação de causalidade
irregularmente estabelecido. e também a obrigação de indenizar (GON-
ÇALVES, 2009, p.36).
O dano poderá ser classificado em patri-
monial e extrapatrimonial, individual ou co-
letivo. São estes os pressupostos da responsabili-
dade civil subjetiva. Analisaremos a seguir os
Outro elemento tradicional da responsabi- pressupostos da responsabilidade civil obje-
tiva constantes no CDC.
lidade civil é a culpa:

2 Responsabilidade no Código de Defesa


Reparte-se a culpa em atos intencionais e do Consumidor
não intencionais. No primeiro caso, é o cha-
mado dolo. Age dolosamente quem provoca Destacamos, desde logo, que o Código Ci-
prejuízos a outrem, ao praticar atos com o vil adota a doutrina da responsabilidade civil
objetivo ou o risco de causá-los. Esta moda- objetiva e solidária como regra geral. Isso se
lidade de culpa compreende tanto o dolo di- dá com vistas à proteção dos consumidores
reto, em que o prejuízo é a finalidade perse- pois, diante da condição de vulnerabilidade

30
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

em que se encontram diante dos fornecedo- Contudo, deve-se considerar que a respon-
res, a regra geral da responsabilidade subje- sabilidade civil objetiva, ou seja, a que impõe
tiva não seria suficiente para os propósitos o dever de indenizar independentemente de
constantes na legislação consumerista. culpa, não é novidade em nosso sistema
jurídico. Encontramos a adoção desta
O principal diferencial na responsabilida- teoria, a objetiva, em várias hipóteses de
de civil do CDC é retirada, como regra, do dano, v. g., responsabilidade civil do Estado
e a responsabilidade civil decorrente de dano
pressuposto da culpa, como elemento essen-
ambiental.
cial do dever de reparação do dano. Assim,
pratica-se o que se costuma identificar como A propósito, da regra geral da responsabiliza-
responsabilidade sem culpa. ção objetiva constante no CDC, assevera Júnior
(2002, p. 725):
Concernente aos propósitos para a adoção
desse tipo de responsabilidade independente A norma estabelece a responsabilida-
de culpa, Filomeno (2007b) elenca cinco fato- de objetiva como sendo o sistema geral
res que justificam a política legislativa cons- da responsabilidade do CDC. Assim, toda
tante no CDC. Assim, temos a produção em indenização derivada de relação de con-
sumo, sujeita-se ao regime da responsa-
massa8; a vulnerabilidade do consumidor9; bilidade objetiva, salvo quando o Código
a insuficiência da responsabilidade subjeti- expressamente disponha em contrário. Há
va ; o fato de que o fornecedor há de res-
10 responsabilidade objetiva do fornecedor
pelos danos causados ao consumidor, in-
ponder pelos riscos que seus produtos acar- dependentemente da investigação da cul-
retam, já que lucra com sua venda11; e em pa.
decorrência de antecedentes legislativos,
ainda que limitados a certas atividades12.
8  Sobre isso, Filomeno (2007b, p. 171) relata: “a) a demanda pelos
Portanto, no Código de Defesa do Consu-
bens de consumo, cada vez maior, fez com que a atividade fabril ado-
tasse métodos cada vez mais sofisticados para a produção não de um
midor, basta a verificação do dano e do nexo
pequeno número de produtos de forma artesanal, mas sim a produção de causalidade entre a ação ou omissão do
em quantidade maior para atender à demanda crescente; ora, desta for-
ma, como há uma produção em série, é perfeitamente previsível que fornecedor que, nesta condição, assume o
alguns desses produtos, fabricados aos milhares, venham a apresentar
alguma anomalia”. risco da atividade.
9 “(...)enquanto o fornecedor de um produto conhece todas as fases de
sua fabricação (desde a concepção, passando pela execução, e infor-
mações a respeito dele), o consumidor as desconhece e apenas espera
que o produto que viu anunciado por determinado tipo de publicidade é Considerando que, como regra, o CDC
da maneira pela qual o viu, que vai desempenhar as atividades anuncia-
das e não causar-lhe prejuízos, e não apenas econômicos, mas também
adota a teoria da responsabilidade sem cul-
à sua saúde e segurança” (FILOMENO, 2007b, p. 171).
10 “(...)uma vez que sem o mínimo de conhecimento a respeito das
pa, a utilização da responsabilidade civil
características de um produto ou serviço que lhe causou sérios danos
pessoais e/ou econômicos, a não ser aquelas concedidas pelo próprio
subjetiva ocorrerá em hipóteses específicas
fornecedor, o consumidor ficaria inteiramente à mercê daquele, já que constantes no próprio código. É o que se dá
não lhe bastaria demonstrar que os mencionados danos resultaram da
utilização de um produto ou prestação de serviço, mas também o ele- com a responsabilidade pessoal dos profis-
mento subjetivo do responsável, consistente em dolo ou culpa (negligên-
cia, imprudência ou imperícia)” (FILOMENO, 2007b, p. 171). sionais liberais que, nos termos do parágrafo
11 “como de resto já diziam os romanos, ‘ubi emolumentum ibi onus; ubi
cômoda, ibi incommoda’, ou seja, quem lucra com determinada ativida- 4º, do artigo 14, do CDC, ocorrerá mediante
de que representa um risco a terceiros deve também responder pelos
danos que a mesma venha a acarretar” (FILOMENO, 2007b, p. 171). à comprovação de culpa.
12 “a responsabilidade objetiva, ou seja, que independe da comprovação
da culpa, teve sua pioneira introdução no direito brasileiro mediante o
Decreto Legislativo nº 2.681/1912, que cuidava da responsabilidade dos
proprietários de ferrovias, bondes e elevadores; ou seja, por se tratar de
Por outro lado, as sociedades coligadas
atividades de risco (no caso das ferrovias, na época das locomotivas a
vapor, com efeito, as fagulhas não raramente causavam danos às plan-
somente responderão pelos danos causados
tações e florestas através das quais corriam os trens, daí não se poder aos consumidores mediante à comprovação
falar de culpa, propriamente dita, mas de atividade eminentemente de
risco) (...)” (FILOMENO, 2007b, p. 171). de culpa. Mas, lembre-se: estes casos repre-

31
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

sentam a excepcionalidade à regra da res- § 6.º São impróprios ao uso e


ponsabilidade independente de culpa cons- consumo:
tante no Código de Defesa do Consumidor.
I – os produtos cujos prazos de valida-
3 Vícios e defeitos dos produtos e de estejam vencidos;
serviços
II – os produtos deteriorados, altera-
dos, adulterados, avariados, falsificados,
corrompidos, fraudados, nocivos à vida
ou saúde, perigosos ou, ainda, aqueles
em desacordo com as normas regula-
mentares de fabricação, distribuição ou
apresentação;

III – os produtos que, por qualquer mo-


tivo, se revelem inadequados ao fim a que
se destinam.

Feitas as considerações a respeito da regra


da responsabilidade civil objetiva no CDC,
será analisado agora o tratamento legislati- Por outro lado, os defeitos (também cha-
vo da responsabilização nos casos de vícios mados de fato do produto ou do serviço, ou
e defeitos dos produtos e serviços lançados ainda, acidente de consumo) vão além da
pelos fornecedores no mercado de consumo. impropriedade e inadequação do uso e con-
sumo, de modo que, em decorrência delas,
Para tal tarefa, iniciemos com a definição alcançam outros interesses do consumidor.
de vícios e defeitos nas relações de consu-
Destacamos, por oportuno, a distinção de
mo. Adiantamos que esta noção é deveras
vícios e defeitos apresentada por Cavalieri Fi-
relevante para o sistema de responsabilida-
lho:
de constante no CDC.

Ambos decorrem de um defeito do


Por vício entendemos a anormalidade in-
produto ou do serviço, no fato do produto
trínseca ao produto ou serviço exposto no ou do serviço o defeito ser tão grave que
mercado de consumo. Destaca-se, ainda, provoca um acidente que atinge o con-
sumidor, causando-lhe dano material ou
que o vício é a anormalidade da coisa que a moral. O defeito compromete a seguran-
torna imprópria ou inadequada para o con- ça do produto ou serviço. Vício, por sua
sumo. Esta compreensão ganha maior força vez, é defeito menos grave, circunscrito
ao produto ou serviço em si; um defeito
quando consideramos o parágrafo 6º, do ar- que lhe é inerente ou intrínseco, que ape-
tigo 18, do CDC, in verbis: nas causa o seu mau funcionamento ou

32
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

não funcionamento (CAVALIERI FILHO, natureza, podendo o consumidor exigir a


2008a, p. 241).1 substituição das partes viciadas (...).

Inicialmente, há de se considerar que a


Mostram-se também elucidativos os exem-
responsabilidade pela reparação do vício é
plos apresentados pelo autor em destaque:
solidária e, portanto, diz respeito aos forne-
cedores envolvidos na disposição do produto
Se A, dirigindo seu automóvel zero- ao consumidor.
-quilômetro, fica repentinamente sem
freio, mas consegue parar sem maiores A força da redação do artigo 18 é tão sig-
problemas, teremos aí o vício do produ- nificativa que, por si só, apresenta como re-
to; mas se A não consegue parar, e aca- pugnante o comportamento da maioria das
ba colidindo com outro veículo, sofrendo lojas de departamento que, por exemplo,
ferimentos físicos, além de danos nos doisdiante da reclamação do consumidor refe-
automóveis, aí já será fato do produto. Serente a um vício de um aparelho eletroele-
alguém instala uma nova televisão em sua trônico, esquivam-se da responsabilidade e
casa, mas esta não produz boa imagem, afirmam que o consumidor deverá procurar
há vício do produto; mas se o aparelho ex-a assistência técnica, como se tais fornece-
plodir e incendiar a casa, teremos um fatodores não tivessem responsabilidade com a
do produto (Ibid., p. 241). reparação do vício. A lógica normativa é a se-
guinte: havendo vício, todos os fornecedores
respondem, solidariamente, pela sua repara-
No plano legislativo os vícios são tratados ção. Não há benefício de ordem, nem espaço
nos artigos 18 (vícios de qualidade), artigo 19 para esquivar-se da responsabilidade.
(vícios de quantidade) e artigo 20 (vícios dos
serviços) do Código de Defesa do Consumi- Constatado o vício e não sendo ele sanado
dor. Porquanto, os defeitos são normatizados no prazo de até 30 dias, o consumidor terá o
nos artigos 12 a 14 do referido código. direito de exigir — alternativamente e à sua
escolha — uma das três opções constantes
No que tange aos vícios de qualidade dos no parágrafo 1º, do artigo 18, do CDC, quais
produtos, verifiquemos, em linhas gerais, as
sejam:
diretrizes do artigo 18 do CDC:

I- a substituição do produto por outro


Art. 18. Os fornecedores dos produtos
da mesma espécie, em perfeitas condi-
de consumo duráveis ou não duráveis
ções de uso;
respondem solidariamente pelos vícios de
qualidade ou quantidade que os tornem
impróprios ou inadequados ao consumo II- a restituição imediata da quantia
a que se destinam ou lhes diminuam o paga, monetariamente atualizada, sem
valor, assim como por aqueles decorren- prejuízo de eventuais perdas e danos;
tes da disparidade, com as indicações
constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou mensagem publicitária, res- III- o abatimento proporcional do pre-
peitadas as variações decorrentes de sua ço.

33
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

O prazo de trinta dias para o fornecedor I – abatimento proporcional do preço;


sanar o vício do produto poderá, por con-
venção das partes, ser alterado. Nesse caso,
o prazo não poderá ser inferior a sete dias II – complementação do peso ou me-
e tampouco superior a cento e oitenta dias. dida;
Entretanto, estabelece o parágrafo 3º, do
mesmo artigo 18, do CDC:
III – a substituição do produto por ou-
tro da mesma espécie, marca ou modelo,
§ 3º O consumidor poderá fazer uso sem os aludidos vícios;
imediato das alternativas do § 1º deste
artigo sempre que, em razão da extensão
do vício, a substituição das partes vicia- IV – a restituição imediata da quantia
das puder comprometer a qualidade ou paga, monetariamente atualizada, sem
características do produto, diminuir-lhe o prejuízo de eventuais perdas e danos (...).
valor ou se tratar de produto essencial.

No que diz respeito aos vícios de quanti-


Naturalmente, em algumas circunstâncias
dade, a princípio, observamos que o trata-
não faz sentido o consumidor aguardar o pra-
mento é semelhante ao destinado aos vícios
zo de trinta dias para que o vício seja sanado
de qualidade. No entanto, há uma diferença
— como, por exemplo, no caso de produtos
bastante considerável: diferentemente do
relacionados à manutenção da vida, saúde e
que ocorre nos vícios de qualidade, o artigo
segurança do consumidor. No entanto, cada
19 do CDC não impõe qualquer prazo para
caso concreto deverá ser avaliado para veri-
ficar se, de fato, será coerente a aplicação do que o fornecedor seja obrigado a sanar o ví-
parágrafo 3º do artigo 18. Esse dispositivo cio.
é uma exceção à regra, e como tal deverá
Deve-se considerar que, em se tratando
ser compreendido, sob pena de se fazer da
de vícios de quantidade, os fornecedores são
exceção uma regra.
obrigados a sanar o vício imediatamente, sob
No artigo 19 do CDC encontramos trata- pena de suportarem as opções dos consu-
mento legislativo para os vícios de quantida- midores que consistem desde o abatimento
de. Direcionemos nossa atenção ao caput do proporcional do preço até o desfazimento do
referido artigo: negócio e a devolução das eventuais quan-
tias pagas.

Art. 19. Os fornecedores respondem Essa diferença é significativa, e esse é o


solidariamente pelos vícios de quantida- ônus do fornecedor que não atender à quan-
de do produto sempre que, respeitadas tidade do produto especificada na oferta.
as variações decorrentes de sua nature-
za, seu conteúdo líquido for inferior às Exemplos típicos de vícios de quantidade
indicações constantes do recipiente, da são os produtos em que determinados con-
embalagem, rotulagem ou de mensagem sumidores se valem de estratégias para au-
publicitária, podendo o consumidor exigir, mentar o peso, como ocorrem nos frangos e
alternativamente e à sua escolha: peixes resfriados.

34
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

§ 2.º São impróprios os serviços que


se mostrem inadequados para os fins que
razoavelmente deles se esperam, bem
como aqueles que não atendam às nor-
mas regulamentares de prestabilidade
(Grifos nossos).

Observe que o artigo acima transcrito não


Fonte: http://www.profissionaldeecommerce.com.br/wp-content
faz menção aos vícios de quantidade dos ser-
/uploads/2012/12/consumidor12.jpg viços. Entendemos, com efeito, que a me-
lhor hermenêutica segue no sentido de que
A respeito dos vícios dos serviços, regula- o enunciado do artigo 20 também se aplica
menta o artigo 20 do CDC: aos vícios de quantidade. Isso se mostra evi-
dente na medida em que, nos termos do arti-
Art. 20. O fornecedor de serviços res- go 6º, inciso VI, do mesmo CDC, é estatuído
ponde pelos vícios de qualidade que os como direito básico do consumidor a efetiva
tornem impróprios ao consumo ou lhes reparação dos danos decorrentes da relação
diminuam o valor, assim como por aque-
de consumo.
les decorrentes da disparidade com as in-
dicações constantes da oferta ou mensa-
gem publicitária, podendo o consumidor Ao comentar sobre os vícios dos serviços e
exigir, alternativamente e à sua escolha: os entes responsáveis pela reparação, Cava-
lieri Filho argumenta que:

I - a reexecução dos serviços, sem cus-


to adicional e quando cabível; Responsáveis pela reparação são todos
fornecedores, solidariamente, inclusive o
comerciante. Embora o artigo 20 do CDC
II – a restituição imediata da quantia não fale expressamente em solidariedade,
paga, monetariamente atualizada, sem o termo fornecedor, de acordo com o artigo
prejuízo de eventuais perdas e danos; 3º do mesmo código, é o gênero daqueles
que desenvolvem atividades de consumo.
Assim toda vez que o CDC refere-se a for-
III – o abatimento proporcional do pre- necedor, está envolvendo todos aqueles
que participam da prestação do serviço,
ço.
pelo que poderá o consumidor escolher e
acionar diretamente qualquer dos envolvi-
dos (CAVALIERI FILHO, 2008a, p. 271-
§ 1.º A reexecução dos serviços poderá
272).
ser confiada a terceiros devidamente ca-
pacitados, por conta e risco do fornece-
dor.
Desse modo, observamos que os artigos 18
a 20 do CDC abarcam os vícios de qualidade

35
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

e quantidade, tanto dos produtos quanto dos § 2.º O produto não é considerado
serviços colocados no mercado de consumo. defeituoso pelo fato de outro de melhor
qualidade ter sido colocado no mercado.
Os artigos 12 a 14 do mesmo código dis-
ciplinam os defeitos dos produtos e serviços. § 3.º O fabricante, o construtor, o
produtor ou o importador só não será re-
Há de se destacar, a princípio, que o termo sponsabilizado quando provar:
defeito costuma ser denominado como fato
do produto ou do serviço (conforme o caso) I – que não colocou o produto no mer-
ou, simplesmente, acidente de consumo. cado;

Verifiquemos, de início, os defeitos dos III – que, embora haja colocado o pro-
produtos que se encontram disciplinados no duto no mercado, o defeito inexiste;
artigo 12 do CDC, conforme segue:
III – a culpa exclusiva do consumidor
ou de terceiros.
Art. 12. O fabricante, o produtor, o cons-
trutor, nacional ou estrangeiro, e o impor-
tador respondem, independentemente da Pelo que se observa acima, encontramos
existência de culpa, pela reparação dos
fortemente a adoção da teoria da responsa-
danos causados aos consumidores por de-
feitos decorrentes de projeto, fabricação, bilidade objetiva, uma vez que o texto legis-
construção, montagem, fórmulas, manipu- lativo acima destaca que haverá responsabi-
lação, apresentação ou acondicionamento lização independentemente da comprovação
de seus produtos, bem como por informa- de culpa dos fornecedores alcançados pela
ções insuficientes ou inadequadas sobre
norma de proteção dos consumidores víti-
sua utilização e riscos.
mas do fato do produto.

§ 1.º O produto é defeituoso quando Concernente aos fornecedores responsá-


não oferece a segurança que dele legiti- veis pela reparação do dano, o CDC optou
mamente se espera, levando-se em con- em apresentar uma lista taxativa. Assim, em
sideração as circunstâncias relevantes,
caso de defeito, pela lei são responsáveis
entre as quais:
pela reparação dos danos suportados pe-
los consumidores o fabricante, o produtor, o
I – sua apresentação;
construtor, seja ele nacional ou estrangeiro, e
o importador, sendo certo que eles somente
II – o uso e os riscos que razoavelmen- não responderão pelos danos quando prova-
te dele se esperam; rem as condições do § 3.º do referido artigo.

III – a época em que foi colocado em Por fim, vale ressaltar que o comerciante
circulação. também responderá pelo fato do produto ou

36
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

do serviço nas hipóteses constantes no arti- O fato do serviço (ou seja, o defeito do
go 13 do CDC. Observemos a estrutura do serviço) é disciplinado pelo artigo 14 do CDC.
Observemos os seus pormenores:
referido artigo:
Art. 14. O fornecedor de serviços res-
Art. 13. O comerciante é igualmente ponde, independente da existência de
responsável, nos termos do artigo ante- culpa, pela reparação dos danos causados
rior, quando: aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por in-
formações insuficientes ou inadequadas
I – o fabricante, o construtor, o pro- sobre sua fruição e riscos.
dutor ou o importador não puderem ser
identificados; § 1.º O serviço é defeituoso quando não
fornece a segurança que o consumidor
dele pode esperar, levando-se em consid-
II – o produto for fornecido sem identi- eração as circunstâncias relevantes, entre
ficação clara do seu fabricante, produtor, as quais:
construtor ou importador;
I – o modo de seu fornecimento;
III – não conservar adequadamente os
produtos perecíveis. II – o resultado e os riscos que razoa-
velmente dele se esperam;

Parágrafo único. Aquele que efetivar o III – a época em que foi fornecido.
pagamento ao prejudicado poderá exercer o
direito de regresso contra os demais respon- § 2.º O serviço não é considerado de-
sáveis, segundo sua participação na causa- feituoso pela adoção de novas técnicas.
ção do evento danoso.
§ 3.º O fornecedor de serviços só não
será responsabilizado quando provar:

Ao analisar a responsabilidade civil do co- I – que, tendo prestado o serviço, o


defeito inexiste;
merciante, Densa (2011, p. 60) afirma que
“o comerciante também responde em razão II – a culpa exclusiva do consumidor
da medição, da pesagem, ou se a balança ou de terceiros.
não estiver aferida oficialmente pelo órgão
§ 4.º A responsabilidade pessoal dos
responsável”. profissionais liberais será apurada medi-
ante a verificação de culpa.
Cavalieri Filho (2008a, p. 249) assevera
ainda que “o dever jurídico do comerciante é
duplo: colocar no mercado produtos sem ví- Aqui também verificamos que o dever de
cios de qualidade e impedir que aqueles que reparar os danos suportados pelos consumi-
os comercializam, em seu benefício, macu- dores independem da comprovação da culpa
lem sua qualidade original.” do fornecedor. Evidencia-se, assim, a res-

37
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

ponsabilidade objetiva do fornecedor de ser- haja o dever de indenizar, além do nexo de


viços13. A exceção está presente no parágra- causalidade e da extensão dos danos.
fo 4º, em que o profissional liberal, quando
Não se tratando de profissional liberal e sua
estiver diante da sua responsabilidade pes-
responsabilidade pessoal, será aplicada a teoria
soal, seguirá mediante a apuração da culpa
da responsabilidade objetiva, ou seja, indepen-
do fornecedor.
dentemente de culpa. Basta, portanto, haver ve-
rificação do dano do consumidor e do nexo de
Ainda quanto à responsabilidade subjetiva
causalidade entre este e aquele.
dos profissionais liberais, Densa (2011, p. 70)
menciona que: No parágrafo 3º, do artigo 14, encontra-
mos as excludentes de responsabilidade dos
Na hipótese em que o fornecedor de ser- fornecedores dos serviços. Desse modo, pela
viço for profissional liberal, inseridos aqui os lei o fornecedor de serviços somente não es-
serviços prestados por médicos, engenhei- tará obrigado a reparar o dano decorrente do
ros, dentistas e advogados, deve o consumi- defeito do serviço quando provar pelo menos
dor provar a culpa do fornecedor para que
uma das duas hipóteses a seguir:
13 Segue, neste sentido, recente julgado do STJ: “RECURSO ESPE-
CIAL. CONSUMIDOR. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. NÃO CARAC-
TERIZADA. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. PACOTE TURÍS-
a) que, tendo prestado o serviço, o defei-
TICO. INOBSERVÂNCIA DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. AGÊNCIA
DE TURISMO. RESPONSABILIDADE (CDC, ART. 14). INDENIZAÇÃO. to inexiste;
DANOS MATERIAIS. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. SÚMULA
7 DO STJ. DANOS MORAIS RECONHECIDOS. RECURSO PARCIAL-
MENTE PROVIDO. b) a culpa exclusiva do consumidor ou de
1. Não há ofensa ao art. 535, do Código de Processo Civil, se o Tribunal
a quo decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao julga- terceiros.
mento da lide.
2. Esta e.g. corte tem entendimento no sentido de que a agência de turis-
mo que comercializa pacotes de viagens responde solidariamente, nos
termos do art. 14, do Código de Defesa do Consumidor, pelos defeitos 4 Prescrição e decadência
na prestação dos serviços que integram o pacote.
3. No tocante ao valor dos danos materiais, parte unânime do acórdão
da apelação decidiu a e.g. corte a quo que seriam indenizáveis apenas
os prejuízos que foram comprovados, o que representa o valor de R$
Quando falamos em reparação de danos,
888,57. O acolhimento da tese recursal de que estariam comprovados
os demais prejuízos de ordem material relativos ao que foi originalmente
uma questão que logo se levanta diz respeito
contratado demandaria, inevitavelmente, o reexame de fatos e provas, o
que esbarra no óbice da Súmula nº 7/STJ.
ao tempo. Isso se dá pelo fato de que, via
4. Já quanto aos danos morais, o v. acórdão recorrido violou a regra
do art. 14, § 3º, II, do CDC, ao afastar a responsabilidade objetiva do
de regra, o nosso sistema jurídico estabelece
fornecedor do serviço. Como registram a r. sentença e o voto vencido no
julgamento da apelação, ficaram demonstrados outros diversos percalços
prazos para que a vítima possa postular a
a que foram submetidos os autores durante a viagem, além daqueles
considerados no v. acórdão recorrido, evidenciando os graves defeitos reparação do dano por ele experimentado.
na prestação do serviço de pacote turístico contratado pelo somatório
de falhas, configurando-se, in casu, os danos morais padecidos pelos
consumidores. No CDC, a princípio, a prescrição está para
5. Caracterizado o dano moral, mostra-se compatível a fixação da inde-
nização em R$ 20.000,00 (vinte mil reais) para cada autor. Em razão do o defeito e a decadência está para o vício.
prolongado decurso do tempo nesta fixação, da reparação a título de
danos morais já está sendo considerado o valor atualizado para a inde-
nização pelos fatos ocorridos, pelo que a correção monetária e os juros
Analisemos cada um destes institutos jurídi-
moratórios incidem a partir desta data.
6. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.
cos.
(STJ. Resp 888751 / BA. RECURSO ESPECIAL. 2006/0207513-3. 4º Tur-
ma. Ministro RAUL ARAÚJO. DJe 27/10/2011).
Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21060522/ A prescrição, aplicável ao fato do produto
recurso-especial-resp-888751-ba-2006-0207513-3-stj>. Acesso em: 17
jan. 2014. ou do serviço, encontra-se regulamentada no

38
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

artigo 27, do CDC: “Prescreve em cinco anos III – a instauração de inquérito civil,
a pretensão à reparação pelos danos causa- até se encerramento.

dos por fato do produto ou do serviço (...)


iniciando-se a contagem do prazo a partir do § 3.º Tratando-se de vício oculto, o
conhecimento do dano e de sua autoria”. prazo decadencial inicia-se no momento
em que ficar evidenciado o defeito.
No que diz respeito à decadência que,
como dissemos, diz respeito aos vícios, ob-
servamos que a sua regulamentação encon- Não se deve confundir vício com desgaste
tra-se prevista no artigo 26 do CDC: do produto ou do serviço. O fornecedor tem
responsabilidade frente ao vício, compreen-
dido aqui como anormalidade intrínseca da
O direito de reclamar pelos vícios apa-
coisa, mas não responderá na hipótese de
rentes ou de fácil constatação caduca em:
desgaste natural da referida coisa.

I – trinta dias, tratando-se de forneci- Deve-se considerar que:


mento de serviço e de produto não durá-
veis;
Quando o bem for novo, haverá uma
presunção relativa de que o vício é de
origem, podendo o ônus da prova ser in-
II – noventa dias, tratando-se de for-
vertido pelo juiz; quando o bem não for
necimento de serviço e de produto durá-
novo, deve-se atentar para a vida útil do
veis.
produto ou serviço, e a prova da anterio-
ridade do vício deve ser feita mediante
perícia (CAVALIERI FILHO, 2008b, 280).
§ 1.º Inicia-se a contagem do prazo
decadencial a partir da entrega efetiva do
A inversão do ônus da prova é direito bá-
produto ou do término da execução dos
serviços.
sico do consumidor, desde que presentes os
requisitos do artigo 6, inciso VIII, do CDC.14

14  De longa data, já decidiu o STJ: “RESPONSABILIDADE CIVIL.


§ 2.º Obstam a decadência: MÉDICO E HOSPITAL. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. RESPON-
SABILIDADE DOS PROFISSIONAIS LIBERAIS – MATÉRIA DE FATO
E JURISPRUDÊNCIA DO STJ (REsp. Nº 122.505-SP). 1. No sistema
do Código de Defesa do Consumidor a “responsabilidade pessoal dos
profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa” (art.
I – a reclamação comprovadamente 14, § 4º). 2. A chamada inversão do ônus da prova, no Código de Defesa
do Consumidor, está no contexto da facilitação da defesa dos direitos do
formulada pelo consumidor perante o for- consumidor, ficando subordinada ao “critério do juiz, quando for veros-
necedor de produtos e serviços até a res- símil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências” (art. 6º, VIII). Isso quer dizer que não é au-
posta negativa correspondente, que deve tomática a inversão do ônus da prova. Ela depende de circunstâncias
concretas que serão apuradas pelo juiz no contexto da facilitação da de-
ser transmitida de forma inequívoca; fesa” dos direitos do consumidor. E essas circunstâncias concretas, nes-
se caso, não foram consideradas presentes pelas instâncias ordinárias.
3. Recurso especial não conhecido (STJ. REsp 171988/RS. RECURSO
ESPECIAL 1998/0029834-7. Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER. DJ
28/06/1999, p. 104., JBCC, vol. 194, p. 74., JSTJ, vol. 8, p. 294., RT
II – vetado; vol. 770, p. 210)”. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurispruden-

39
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

É relevante observar que o prazo de 30 E MORAIS DECORRENTES DE VÍCIO NO


ou de 90 dias para o consumidor apresentar SERVIÇO. PRESCRIÇÃO. CINCO ANOS.
INCIDÊNCIA DO ART. 27 DO CDC. Esco-
reclamação junto ao fornecedor é considera-
ado o prazo decadencial de 90 (noventa)
do a partir da durabilidade do produto ou do dias previsto no art. 26, II, do CDC, não
serviço. Assim, em produtos ou serviços não poderá o consumidor exigir do fornece-
duráveis, o prazo é de 30 dias; porquanto os dor do serviço as providências previstas
produtos não duráveis, o prazo decadencial no art. 20 do mesmo Diploma — reexe-
cução do serviço, restituição da quantia
para que o consumidor reclame junto ao for-
paga ou abatimento proporcional do pre-
necedor em decorrência de vícios de produtos ço —, porém, a pretensão de indenização
duráveis é de 90 dias. dos danos por ele experimentados pode
ser ajuizada durante o prazo prescricional
Acertadamente, Cavalieri Filho, com apoio de 5 (cinco) anos, porquanto rege a hipó-
em Rizzatto Nunes, afirma que: tese o art. 27 do CDC. Recurso especial
conhecido e provido (Resp 683809/RS, 4ª
Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Dje
Produtos duráveis são aqueles que, como 03.05.2010).
o próprio nome diz, não se extinguem pelo
uso, que levam tempo para se desgasta-
rem; podem e devem ser utilizamos muitas
vezes. Serviços duráveis são aqueles que
5 Garantia legal e contratual
têm continuidade no tempo em decorrên-
cia de uma estipulação contratual ou legal, Considerando que falamos acima dos pra-
e os que, após a prestação, deixam um re- zos de decadência e de prescrição, convém
sultado, um produto final relativo ao serviço agora discorrer a respeito dos prazos de ga-
executado. Produto não durável é aquele rantia. Adiantamos que o CDC apresenta dois
que se extingue ou vai se extinguindo com
tipos de garantia, a legal e a contratual. As
a utilização. Serviço não durável é o que
se extingue uma vez prestado (CAVALIERI duas não podem ser confundidas, sob pena
FILHO, 2008a, p.136). de prejuízos ao consumidor.

O prazo de garantia legal está previsto no


artigo 24 do CDC: “a garantia legal de ade-
Mostra-se curioso o julgado de Densa quação do produto ou serviço independe de
(2011, p. 89) a respeito da temática da pres-
termo expresso, vedada a exoneração contra-
crição e da decadência nas relações de con-
tual do fornecedor” (Grifos nossos).
sumo. Pela importância, observemos o seu
conteúdo: Pelo que se constata do artigo acima a ga-
rantia legal é de adequação. Assim, o forne-
DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE cedor é o garante de que o produto ou servi-
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS ço por ele colocado no mercado é adequado
ao consumo. Desse modo, tanto a coisa em
cia/417417/recurso-especial-resp-171988-rs-1998-0029834-7>. Acesso
em: 17 jan. 2014. si quanto as informações a ela referentes de-

40
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

vem estar adequadas ao consumo por parte devidamente preenchido pelo fornecedor,
dos consumidores. no ato do fornecimento, acompanhado de
manual de instrução, de instalação e uso
Observe-se, oportunamente, que o texto de produto em linguagem didática, com
do artigo 24 não faz menção a prazo. Desse ilustrações (Grifos nossos).
modo, quando nos referimos à garantia le-
gal, devemos levar em consideração que o
fornecedor deverá responder pela adequa-
ção da coisa ao consumo conforme suas ex-
pectativas de durabilidade.

Desse modo, independentemente do pra-


zo, o fornecedor responde pelos vícios e de-
feitos apresentados nos produtos e serviços.
Vale dizer que com essa afirmação, não es-
tamos sustentando que os fornecedores res-
ponderão pelo desgaste da coisa, haja vista
que a garantia legal diz respeito, natural- Assim, quando comparamos os artigos 24
mente, à adequação do produto ou serviço (garantia legal) e 50 (garantia contratual) do
lançado no mercado de consumo CDC, observamos que o prazo de garantia
está para a garantia contratual e não para
Aquilo que se costuma identificar como a garantia legal. Ademais, a garantia legal é
prazo de garantia diz respeito à garantia con- complementar à legal, o que vale dizer que
tratual, haja vista que, costumeiramente, é uma não anula a outra, mas se complemen-
no contrato de garantia que se costuma fazer
tam.
constar o seu prazo limite. Essa prática dos
fornecedores tem pleno amparo na legisla- SEÇÃO VI – PROTEÇÃO CONTRATUAL
ção, conforme discorre o artigo 50 do CDC: DO CONSUMIDOR

A garantia contratual é complementar


à legal e será conferida mediante termo
escrito.

Parágrafo único. O termo de garan-


tia ou equivalente deve ser padronizado e
esclarecer, de maneira adequada, em que
consiste a mesma garantia, bem como a
forma, o prazo e o lugar em que pode
ser exercitada e os ônus a cargo do
consumidor, devendo ser-lhe entregue,

41
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

Fonte: http://www.femipa.org.br/blog/wp-content/uploads/ vista a força que a publicidade tem na cons-


contrato-300x212.jpg
ciência dos consumidores. A publicidade, di-
1 Tutela pré-contratual ga-se de passagem, tem o poder de incutir o
desejo de consumo dos consumidores.
O Código de Defesa do Consumidor, en-
tre os artigos 46 a 54, sob o título da “Pro- Assim, discorrem os artigos 36 a 38, do
teção Contratual”, disciplina os mecanismos
CDC:
de proteção do consumidor nos contratos de
consumo.
Art. 36. A publicidade deve ser veicu-
Reservaremos este tópico para discorrer- lada de tal forma que o consumidor, fácil
mos sobre uma importante fase destinada à e imediatamente, a identifique como tal.
aproximação entre os fornecedores e os con-
sumidores. Referimo-nos à fase da oferta do
produto. Parágrafo único. O fornecedor, na pu-
blicidade de seus produtos ou serviços,
A respeito da importância desta fase, des- manterá, em seu poder, para informações
taca Cavalieri Filho (2011, p. 130): dos legítimos interessados, os dados fáti-
cos, técnicos e científicos que dão susten-
tação à mensagem.
A proteção contratual do consumidor
começa nessa fase pré-contratual, razão
pela qual exigem-se das partes postura Art. 37. É proibida toda publicidade en-
séria, leal, sincera — enfim, afinada com
ganosa e abusiva (...).
o princípio da boa-fé objetiva, pedra an-
gular de todo o sistema contratual consu-
merista. O rompimento leviano e desleal
das tratativas pode ensejar obrigação de
Desse modo, o CDC veda a publicidade su-
indenizar, não por inadimplemento, posto
que ainda não há contrato, mas pela que- bliminar, bem como a publicidade enganosa
bra da confiança, pelo descumprimento e abusiva. Vale ressaltar que a publicidade
dos deveres de lealdade, de transparên-
subliminar é aquela em que, de maneira sutil
cia, de informação, de cooperação, que
regem todos os atos negociais, mesmo os e às vezes imperceptível, o fornecedor expõe
decorrentes de contrato social. o consumidor à oferta de produtos e serviços
por meio da peça publicitária.

Em outro foco, é de responsabilidade do


Posto isso, em homenagem ao princípio da
boa-fé, a peça publicitária (como chamariz fornecedor manter em seu poder as informa-
destinado a atrair a atenção dos consumido- ções e eventuais dados estatísticos constan-
res aos produtos e serviços, nas relações de tes na peça publicitária. Isso se impõe com
consumo) é criteriosamente regulamentada vistas à garantia da observância da boa-fé e
pelo CDC. Não poderia ser diferente, haja lealdade constantes nas peças publicitárias.

42
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

Assim, por exemplo, deve-se considerar midor a se comportar de forma prejudicial


que se um determinado produto estiver asso- ou perigosa à sua saúde ou segurança.
ciado a emagrecimento saudável em 30 dias,
por exemplo, é dever do fornecedor guardar, § 3.º Para efeitos deste código, a pub-
licidade é enganosa por omissão quando
para eventual apresentação aos interessados
deixar de informar sobre dado essencial
legítimos, os documentos comprobatórios do produto ou serviço.
que comprovem o alardeado resultado do
produto.
Ainda, concernente à defesa do consumi-
Mesmo que a peça publicitária tenha sido
dor em fase pré-contratual, o CDC tratou de
realizada por meio de agências de publicida-
regulamentar as diversas práticas comerciais
de, a responsabilidade de guarda das infor-
que, via de regra, ocorrem antes da for-
mações comprobatórios pende sobre o for-
mação do contrato. É o que, por exemplo,
necedor.
encontra-se no artigo 39 do CDC que, pela
Por outro lado, nos termos do caput do ar- importância, segue abaixo in totum:
tigo 37, do Código de Defesa do Consumidor,
é vedada a publicidade enganosa e abusiva. Art. 39. É vedado ao fornecedor de
A respeito dessas importantes definições, os produtos ou serviços, dentre outras práti-
parágrafos do artigo em referência assim es- cas abusivas:
tabelecem:
I – condicionar o fornecimento de pro-
duto ou de serviço ao fornecimento de
Art. 37 (...) outro produto ou serviço, bem como, sem
justa causa, a limites quantitativos;
§ 1.º É enganosa qualquer modalidade
de informação ou comunicação de caráter II – recusar atendimento às demandas
publicitário, inteira ou parcialmente falsa, dos consumidores, na exata medida de
ou, por qualquer outro modo, mesmo por
suas disponibilidades de estoque, e, ain-
omissão, capaz de induzir em erro o con-
da, de conformidade com os usos e cos-
sumidor a respeito da natureza, caracter-
tumes;
ísticas, qualidade, quantidade, proprie-
dades, origem, preço e quaisquer outros
dados sobre produtos e serviços. III – enviar ou entregar ao consumidor,
sem solicitação prévia, qualquer produto,
ou fornecer qualquer serviço;
§ 2.º É abusiva, dentre outras, a pu-
blicidade discriminatória de qualquer na-
tureza, a que incite à violência, explore o IV – prevalecer-se da fraqueza ou igno-
medo ou a superstição, se aproveite de rância do consumidor, tendo em vista sua
deficiência de julgamento e experiência idade, saúde, conhecimento ou condição
da criança, desrespeita valores ambien- social, para impingir-lhe seus produtos ou
tais, ou que seja capaz de induzir o consu- serviços;

43
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

V – exigir do consumidor vantagem XI – aplicar fórmula ou índice de rea-


manifestamente excessiva; juste diverso do legal ou contratualmente
estabelecido;    
VI – executar serviços sem a prévia
elaboração de orçamento e autorização XII – deixar de estipular prazo para o
expressa do consumidor, ressalvadas as cumprimento de sua obrigação ou deixar a
decorrentes de práticas anteriores entre fixação de seu termo inicial a seu exclusivo
as partes; critério.

VII – repassar informação depreciati- Parágrafo único. Os serviços prestados


va, referente a ato praticado pelo consu- e os produtos remetidos ou entregues ao
midor no exercício de seus direitos. consumidor, na hipótese prevista no inci-
so III, equiparam-se às amostras grátis,
inexistindo obrigação de pagamento.

Na perspectiva que o rol do artigo 39 do


CDC é elevado ao status de apresentação de Embora uma leitura desatenta possa fazer
práticas consideradas abusivas pela legisla- crer que o artigo 39 seja apenas um protocolo
ção de proteção ao consumidor, faz-se inte- de boas maneiras (com exceção do seu inciso
ressante constar os demais itens do referido III, que impõe a condição de amostra grátis
texto legal: aos produtos e serviços disponibilizados aos
consumidores sem sua solicitação prévia), haja
VIII – colocar, no mercado de consu- vista que não há sanções expressas na norma
mo, qualquer produto ou serviço em de- em referência, o certo é que os fornecedores
sacordo com as normas expedidas pelos estão sujeitos a penalidades, caso exerçam
órgãos oficiais competentes ou, se nor- práticas abusivas.
mas específicas não existirem, pela Asso-
ciação Brasileira de Normas Técnicas ou Com efeito, é de rigor fazer constar que o
outra entidade credenciada pelo Conse- Código de Defesa do Consumidor, entre os
lho Nacional de Metrologia, Normalização
seus artigos 55 a 66, disciplina as sanções
e Qualidade Industrial (Conmetro);
administrativas a serem impostas aos for-
necedores que não atenderem às normas
IX – recusar a venda de bens ou a pres-
constantes na Política Nacional de Proteção
tação de serviços, diretamente a quem se
disponha a adquiri-los mediante pronto e Defesa do Consumidor. O mesmo é dito a
pagamento, ressalvados os casos de in- respeito da publicidade enganosa ou abusiva,
termediação regulados em leis especiais; já que o CDC apresenta, ainda, tipos penais
para várias práticas consideradas abusivas e
X – elevar sem justa causa o preço de que se apresentam como atentados à boa-fé
produtos ou serviços; e lealdade no mercado de consumo.

44
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

2 Tutela contratual contados a partir do recebimento da compra


ou da assinatura do contrato.
Em decorrência da vulnerabilidade do con-
sumidor, no que tange à proteção contratual, Por outro lado, o CDC apresenta um ex-
tenso rol exemplificativo, com vistas a deter-
há uma regra de ouro expressa no artigo 47
minar que as cláusulas abusivas sejam con-
do CDC, a saber: “as cláusulas contratuais sideradas nulas de pleno direito.
serão interpretadas de maneira mais favorá-
vel ao consumidor”. Nesse sentido, não im- Estabelece o parágrafo 2º, do artigo 51,
do CDC que “a nulidade de uma cláusula
porta se o contrato seja ou não de adesão.
contratual abusiva não invalida o contrato,
exceto quando de sua ausência, apesar dos
O artigo 46 do mesmo código fortalece
esforços de integração, decorrer ônus exces-
essa ideia: sivo a qualquer das partes”.

Conforme o parágrafo 4º, ainda do mes-


Art. 46. Os contratos que regulam as re- mo artigo:
lações de consumo não obrigarão os con-
sumidores, se não lhes for dada a oportuni-
§4º é facultado a qualquer consumidor
dade de tomar conhecimento prévio de seu
ou entidade que o represente requerer
conteúdo, ou se os respectivos instrumentos
ao Ministério Público que ajuíze a compe-
forem redigidos de modo a dificultar a com-
tente ação para ser declarada a nulidade
preensão de seu sentido e alcance.
de cláusula contratual que contrarie o dis-
posto neste código ou de qualquer forma
não assegure o justo equilíbrio entre di-
Em decorrência da vulnerabilidade do con- reitos e obrigações das partes.
sumidor, diante do consumo de produtos e
Com efeito, prevê o artigo 51, do CDC que
serviços fora do estabelecimento empresa- são nulas de pleno direito as cláusulas abu-
rial, ele poderá, inclusive, dentro do prazo sivas que:
de 7 dias desistir da compra, sem nenhum
ônus (art. 49 do CDC). É o chamado prazo I – impossibilitem, exonerem ou ate-
de arrependimento e de reflexão.15 Para tan- nuem a responsabilidade do fornecedor
to, basta que o consumidor manifeste o seu por vícios de qualquer natureza dos pro-
dutos e serviços ou impliquem renúncia
interesse de desistência dentro desse prazo,
ou disposição de direitos. Nas relações de
15  “AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. COMPRA. consumo entre o fornecedor e o consumi-
SISTEMA TELEVENDAS. DIREITO DE ARREPENDIMENTO. PRAZO
LEGAL DE SETE DIAS. ART. 49 DO CDC. DECISÃO AGRAVADA. MA- dor pessoa jurídica, a indenização poderá
NUTENÇÃO. I- É facultado ao consumidor desistir do contrato de com-
pra, no prazo de 7 (sete) dias, a contar da sua assinatura, quando a con-
ser limitada, em situações justificáveis;
tratação ocorrer fora do estabelecimento comercial, nos termos do art. 49
do CDC. II- Agravo Regimental improvido. (AgRg no REsp 1189740/RS
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2010/0071949-0.T 3.
Rel. Ministro SIDNEI BENETI. DJe 01/07/2010)”. Disponível em: < http://
II – subtraiam ao consumidor a opção
stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/15027028/agravo-regimental-no- de reembolso da quantia já paga, nos ca-
-recurso-especial-agrg-no-resp-1189740-rs-2010-0071949-0 >. Acesso
em: 17 jan. 2014. sos previstos neste código;

45
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

III – transfiram responsabilidades a XIV – infrinjam ou possibilitem a viola-


terceiros; ção de normas ambientais;

IV – estabeleçam obrigações conside- XV – estejam em desacordo com o sis-


radas iníquas, abusivas, que coloquem o tema de proteção ao consumidor;
consumidor em desvantagem exagerada,
ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou XVI – possibilitem a renúncia do direito
a equidade; de indenização por benfeitorias necessá-
rias (...).
V – vetado;

VI – estabeleçam inversão do ônus da O rol é extenso, mas mais uma vez ressal-
prova em prejuízo do consumidor; tamos que ele é apenas exemplificativo, sen-
do que a violação da boa-fé objetiva sempre
VII – determinem a utilização compul- se mostrará como parâmetro para a compre-
sória de arbitragem; ensão de ser ou não a cláusula abusiva.

VIII – imponham representante para Com efeito, as cláusulas que contenham


concluir ou realizar outro negócio jurídico qualquer uma das características presentes
pelo consumidor; no rol normativo acima — fato este que as
coloca em condição de cláusula abusiva —,
IX – deixem ao fornecedor a opção de poderão ser assim declaradas de ofício pelo
concluir ou não o contrato, embora obri-
magistrado. Exceção curiosa encontra-se na
gando o consumidor;
Súmula 381, do STJ, in verbis: “é vedado
aos juízes de primeiro e segundo graus de
X – permitam ao fornecedor, direta ou
jurisdição julgar, com fundamento no artigo
indiretamente, variação do preço de ma-
neira unilateral; 51 do CDC, sem pedido expresso, a abusivi-
dade de cláusulas nos contratos bancários”
XI – autorizem o fornecedor a cancelar (Disponível em: <http://tj-sc.jusbrasil.com.
o contrato unilateralmente, sem que igual br/jurisprudencia/23833428/apelacao-civel-
direito seja conferido ao consumidor; -ac-20110372819-sc-2011037281-9-acor-
dao-tjsc>. Acesso em: 17 jan. 2014).
XII – obriguem o consumidor a ressarcir
os custos de cobrança de sua obrigação, 3 Tutela pós-contratual
sem que igual direito lhe seja conferido
contra o fornecedor; Entendemos que a proteção pós-contratu-
al do consumidor se dá após a fase de exe-
XIII – autorizem o fornecedor a modifi- cução do contrato, de modo que, na com-
car unilateralmente o conteúdo ou a qua- preensão do função social do contrato, os
lidade do contrato, após sua celebração; contratantes estão vinculados mesmo após

46
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

a execução do contrato, vínculo este que, 1 Nota preliminar


atualmente, persiste até a fase pós-contrato.
Trata-se da extensão dos efeitos do contrato. Na sociedade de consumo, a publicidade
ganha grande importância como um meca-
O exemplo mais forte disso se dá com a nismo técnico destinado ao convencimento
garantia legal, já comentada em momento do consumidor para a aquisição de produtos
anterior, em que o fornecedor responde pe- e serviços. A experiência comum demonstra
los vícios e defeitos apresentados pela coi- que determinadas peças publicitárias têm o
sa. Nesse sentido, juntamente com Cavalieri poder de produzir a necessidade de consumo
Filho (2008a, p. 166-171), podemos fazer de um produto ou um serviço. Frente a isso,
constar a possibilidade do exercício de práti- entendeu por bem o legislador em disciplinar
cas abusivas, inclusão indevida do nome do as peças publicitárias veiculadas no mercado
de consumo.
consumidor em bancos de dados negativos e
a cobrança vexatória. Antes, porém, convém apresentarmos a
diferença entre publicidade e propaganda.
Em resumo, é possível afirmar que qual-
Acertadamente afirma Densa:
quer prática do fornecedor que afetar o prin-
cípio da boa-fé objetiva — aqui compreen-
dida como norma de conduta em direção à O termo publicidade expressa o ato de
vulgarizar, de tornar público um fato, uma
lealdade contratual — abrirá espaço para o
ideia, sempre com o intuito comercial, de
dever de indenizar, em benefício dos consu- gerar lucro. A propaganda pode ser de-
midores. finida como a propagação de princípios
e teorias, visando a um fim ideológico
SEÇÃO VII – PUBLICIDADE (DENSA, 2011, p. 111).

Um exemplo clássico é o da propaganda


eleitoral, em que encontramos a divulgação
de teorias e ideologias políticas, sem interes-
se de comercialização de produtos e serviços.

Há, todavia, quem entenda que publici-


dade e propaganda são termos sinônimos e
que o trabalho em apresentar eventuais dis-
tinções não tem qualquer sentido. De manei-
ra semelhante a essa posição, Kotler afirma
que a publicidade é “qualquer maneira, não
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_zbtrQfnd6Cs/S_0D9dxH9UI/
AAAAAAAAABM/tzskvpr2dgw/s1600/muitos-meios-de-
pessoal, de apresentação ou promoção de
publicidade.jpg ideias, bens ou serviços, paga por um pa-

47
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

trocinador identificado” (KOTLER, 1998, p. 2.1 Identificação da publicidade


587).
O princípio está presente no artigo 36 do
Em outro foco, Vasconcellos defende que Código de Defesa do Consumidor, que assim
a publicidade é “o conjunto de técnicas de impõe: “a publicidade deve ser veiculada de
ação coletiva utilizadas no sentido de promo- tal forma que o consumidor, fácil e imedia-
ver o lucro de uma atividade comercial, con- tamente, a identifique como tal”. Por meio
quistando, aumentando ou mantendo clien- dessa diretriz legislativa procura-se garantir
tes” (VASCONCELLOS, 2004, p. 307). ao consumidor o direito de não ser surpre-
endido por peças publicitárias que não se-
Ressaltamos, ainda, que a publicidade é
jam de fácil percepção. Exemplo clássico é a
uma oferta especializada. É uma modalida-
publicidade subliminar em que são emitidas
de de oferta realizada por meio de técnicas
informações publicitárias de maneira sutil e
de convencimento do consumidor. Uma coi-
imperceptível ao consumidor desatento.
sa é dizer: “vendo aparelhos de TV, por R$
500,00”. Coisa bem diferente seria oferecer
A respeito do princípio da identificação da
esses aparelhos com utilização de recursos
publicidade, com acerto, afirma Cavalieri Fi-
audiovisuais capazes de despertar a atenção
lho:
e interesse do consumidor. Essas técnicas di-
versas especializam a oferta, tornando o pro-
duto mais atrativo. Depreende-se do dispositivo que a pu-
blicidade só é lícita quando o consumidor
A publicidade pode ser compreendida, puder identificá-la imediata e facilmente.
ainda, sob dois ângulos: do direito e dever Proíbe-se com isso a publicidade clandes-
tina e a subliminar, de que são exemplos
do fornecedor. É um direito que lhe garan-
as reportagens, os relatos científicos, os
te o exercício de sua atividade profissional, informes econômicos, verdadeiras comu-
constitucionalmente prevista (arts. 1º, IV e nicações publicitárias travestidas de infor-
170 da Constituição federal). Por outro lado, mação editorial, objetiva e desinteressa-
a publicidade é um dever econômico, haja da (CAVALIERI FILHO, 2008a, p. 115).
vista que a não divulgação do produto ou do
serviço implicaria na decadência econômica
do fornecedor. Com efeito, a publicidade simulada é uma
prática ilícita em nosso país, podendo, por-
2 Princípios da publicidade
tanto, fazer com que seus adeptos sejam
A tutela do consumidor frente à publicida- punidos pelos órgãos de proteção ao consu-
de pode ser mais bem compreendida diante midor. Faz-se relevante considerar ainda que
da análise dos princípios da atividade publi- a peça publicitária em desacordo com este
citária decorrentes do CDC. É o que faremos e os demais princípios poderá ser objeto de
nos próximos subitens. proibição de sua veiculação.

48
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

2.2 Veracidade ciente, segundo as regras ordinárias de


experiências.
O princípio da veracidade pode ser cons-
truído a partir da conjunção de dois artigos,
a saber, o 31 e 37 do Código de Defesa do
A princípio, convém ressaltar que hipos-
Consumidor. Na medida em que a publici-
suficiência e vulnerabilidade são termos juri-
dade é uma modalidade de oferta, a peça
dicamente distintos. Há presunção legal que
publicitária deve conter informações corre-
todos os consumidores são vulneráveis, no
tas, claras e precisas do produto ou serviço
entanto, não ocorre o mesmo com a hipossu-
difundido no mercado de consumo.
ficiência, visto que esta deve ser reconhecida
Ao mesmo tempo em que a veracidade da pelo juiz no âmbito do processo civil, com
informação é um direito do consumidor, ela é vistas à facilitação da defesa do consumidor.
uma obrigação do fornecedor. Essa combina-
Conforme destaca-se no inciso VIII, do
ção se dá em decorrência da busca de equilí-
brio no mercado de consumo idealizado pela artigo 6º do CDC, há dois requisitos para a
legislação protetiva do consumidor. inversão do ônus da prova no processo civil,
quais sejam: hipossuficiência e verossimi-
A publicidade enganosa vedada no artigo lhança das alegações.
37, do CDC, nada mais é do que a prática pu-
blicitária que não atende ao princípio da vera- No que diz respeito à publicidade e ao
cidade. O fornecedor que olvidar este principio princípio da inversão do ônus da prova, dis-
estará sujeito às sanções previstas no Código põe o artigo 38 do CDC, que “o ônus da pro-
de Defesa do Consumidor, além do fato de que va da veracidade e correção da informação
a peça publicitária poderá ser retirada de cir- ou comunicação publicitária cabe a quem as
culação. patrocina”.

2.3 Inversão do ônus da prova Tal princípio está diretamente vinculado


ao princípio da veracidade da informação pu-
Em linhas gerais, o CDC estabelece em blicitária. Assim, caso o fornecedor promova
seu artigo 6º, inciso VIII, a possibilidade de uma informação publicitária que apresente
inversão do ônus da prova como um direito fatos ou atributos aos produtos e serviços,
básico do consumidor. Nesses termos, tem- é de sua responsabilidade provar a exatidão
-se em benefício do consumidor: da informação difundida no mercado de con-
sumo.

VIII – a facilitação da defesa de seus Com efeito, deve-se levar em conta que
direitos, inclusive, com a inversão do ônus
da prova, a seu favor, no processo civil,
essa inversão do ônus da prova não diz res-
quando, a critério do juiz, for verossímil peito somente ao processo civil, haja vista
a alegação ou quando for ele hipossufi- que o artigo 38 em destaque não restringe a

49
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

inversão. Desse modo, a inversão do ônus da omissão, capaz de induzir em erro o con-
prova na publicidade é ampla, diferentemen- sumidor a respeito da natureza, caracte-
te daquela presente no artigo 6º, VIII, que rísticas, qualidade, quantidade, proprie-
dades, origem, preço e quaisquer outros
diz respeito apenas ao âmbito processual. dados sobre produtos e serviços.

2.4 Transparência da fundamentação da Pelo dispositivo legal acima exposto, ob-


publicidade servamos que há publicidade enganosa até
mesmo por omissão, quando, nesse caso, as
Em decorrência do princípio da transpa-
rência da fundamentação da publicidade, informações primárias do produto ou do ser-
os fornecedores são obrigados a manterem viço não forem prestadas ao consumidor. Não
em seus arquivos as provas das informações importa, contudo, se a publicidade é engano-
prestadas pela peça publicitária. sa por manifestação comissiva ou omissiva,
ambas são proibidas pelo sistema de prote-
É o que impõe o parágrafo único do arti-
ção ao consumidor.16 Conforme o parágrafo
go 36, CDC: “o fornecedor, na publicidade de
seus produtos ou serviços, manterá, em seu 3º, do artigo 37, do CDC: “Para os efeitos
poder, para informação dos legítimos interes- deste código, a publicidade é enganosa por
sados, os dados fáticos, técnicos e científicos omissão quando deixar de informar sobre
que dão sustentação à mensagem”. dado essencial do produto ou serviço” .

Desse modo, se porventura o anunciante Uma das formas de repressão da publicida-


afirmar que, por exemplo, pesquisas demons-
de veiculada em desacordo com a legislação
tram que o princípio ativo de determinado pro-
duto é eficaz para a redução da calvície, será de proteção é a sanção administrativa a ser
dever do fornecedor ter em seu poder os dados aplicada após o devido processo legal pelos
desse predita pesquisa para que, desta forma, órgãos de proteção e defesa do consumidor.
ela esteja disponível aos interessados. Caso Observe um interessante julgado em que o
contrário, o fornecedor estará desatendendo o recorrido, um segurador, procurou afastar a
princípio da transparência da fundamentação
legitimidade do PROCON:
da publicidade.

3 Publicidade enganosa ADMINISTRATIVO E CONSUMIDOR


— PUBLICIDADE ENGANOSA — MULTA
A publicidade enganosa é aquela que con-
APLICADA POR PROCON À SEGURADORA
tém informação total ou inteiramente falsa.
PRIVADA — ALEGAÇÃO DE BIS IN IDEM,
Esta definição é uma síntese da disposição
POIS A PENA SOMENTE PODERIA SER
legal contida no parágrafo §1º, do artigo 37, APLICADA PELA SUSEP — NÃO-OCOR-
do CDC: RÊNCIA — SISTEMA NACIONAL DE DEFE-
SA DO CONSUMIDOR — SNDC — POSSI-
BILIDADE DE APLICAÇÃO DE MULTA EM
§1º É enganosa qualquer modalidade
de informação ou comunicação de caráter 16  Para reforçar, leia-se a decisão constante no seguinte endereço:
publicitário, inteira ou parcialmente falsa, <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink=AT-
C&sSeq=4863492&sReg=200800982367&sData=20090406&sTipo=51
ou, por qualquer outro modo, mesmo por &formato=PDF>. Acesso em: 14 jan. 2014.

50
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

CONCORRÊNCIA POR QUALQUER ÓRGÃO ta.asp?pagina=1&idarea=35&idmode-


DE DEFESA DO CONSUMIDOR, PÚBLICO lo=12968>. Acesso em: 17 jan. 2014.
OU PRIVADO, FEDERAL, ESTADUAL, MU-
NICIPAL OU DISTRITAL.

Logo, a publicidade enganosa é aquela


que, também, deixa de atender o direito bá-
1. A tese da recorrente é a de que o sico de informação do consumidor. Lembre-
PROCON não teria atribuição para a apli- mos, outrossim, que os direitos básicos dos
cação de sanções administrativas às se-
guradoras privadas, pois, com base no
consumidores são indisponíveis.
Decreto n. 73/66, somente à Susep ca-
beria a normatização e fiscalização das Deve-se tomar cuidado com um detalhe
operações de capitalização. Assim, a mul- bastante significativo no §1º, do artigo 37,
ta discutida no caso dos autos implicaria do CDC: para que a publicidade seja legal-
verdadeiro bis in idem e enriquecimento mente considerada enganosa é preciso que
sem causa dos Estados, uma vez que a
a informação seja hábil para induzir o consu-
Susep é autarquia vinculada ao Ministério
da Fazenda, enquanto o PROCON às Se- midor em erro; caso contrário não há de se
cretarias de Justiça Estaduais. falar em ilegalidade da peça publicitária.

2. Não se há falar em bis in idem ou A publicidade deve ser objetivamente en-


enriquecimento sem causa do Estado ganosa. Assim, a informação de que o for-
porque à Susep cabe apenas a fiscaliza- necedor X vende a melhor feijoada do Brasil
ção e normatização das operações de ca- não se tratará se publicidade enganosa, visto
pitalização pura e simples, nos termos do
Decreto n. 73/66. Quando qualquer pres-
que ela não é capaz de, objetivamente, indu-
tação de serviço ou colocação de produto zir o consumidor em erro.
no mercado envolver relação de consu-
mo, exsurge, em prol da Política Nacio- 4 Publicidade abusiva
nal das Relações de Consumo estatuída
nos arts. 4º e 5º do Código de Defesa A publicidade abusiva é aquela que abarca
do Consumidor (Lei n. 8.078/90), o Sis- qualquer conteúdo discriminatório, que inci-
tema Nacional de Defesa do Consumidor
te o medo, a violência, a superstição, que
— SNDC — que, nos termos do art. 105
do Código de Defesa do Consumidor, é se aproveite da deficiência de julgamento e
integrado por órgãos federais, estaduais, experiência da criança. É, ainda, abusiva a
municipais e do Distrito Federal, além das publicidade que violente valores ambientais,
entidades privadas que têm por objeto a que coloque em risco a saúde e segurança
defesa do consumidor. Recurso ordinário
do consumidor. Esta é a diretriz do §2º, do
improvido. (STJ. 2ª T. RECURSO ORDI-
NÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA artigo 37, do CDC:
2008/0039400-9. REl. Ministro HUMBER-
TO MARTINS. DJe 11/04/2008, RNDJ vol.
É abusiva, dentre outras a publicidade
103 p. 108). Disponível em: < Fonte:
discriminatória de qualquer natureza, a
http://www.jurisway.org.br/v2/pergun-
que incite à violência, explore o medo ou

51
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

a superstição, se aproveite da deficiência Em linhas gerais, os efeitos da publicida-


de julgamento e experiência da criança,
de abusiva e enganosa são os mesmos. Des-
desrespeita valores ambientais, ou que
se modo, tanto em uma quanto em outra é
seja capaz de induzir o consumidor a se
possível se falar em suspensão total ou par-
comportar de forma prejudicial ou peri-
gosa à sua saúde ou segurança. cial da peça publicitária; reparação de danos
materiais e extrapatrimoniais dos consumi-
dores; responsabilidade solidária de todos os
envolvidos pela veiculação da peça publicitá-
O rol da publicidade abusiva constante no
ria; sanções nos âmbitos administrativo, cível
CDC é exemplificativo. Em certo sentido, a
e criminal17.
publicidade abusiva pode ser também con-
siderada como uma típica manifestação de 5 Contrapropaganda
abuso de direito, uma vez que é direito do
fornecedor promover a oferta publicitária de Com vistas a desestimular a publicidade
seus produtos — mas há limites a serem con- ilícita, seja ela enganosa ou abusiva, o Códi-
siderados. go de Defesa do Consumidor prescreve a im-
posição de contrapropaganda a ser imposta
Como o CDC apresenta um rol meramen- às expensas do responsável pela veiculação
te exemplificativo, entendemos que o limite da oferta publicitária em desacordo com a
para se considerar uma peça abusiva ou não legislação de proteção do consumidor.
é o princípio da boa-fé objetiva. De nossa
parte, sustentamos que ele será o ponto de A contrapropaganda está expressamente
equilíbrio entre o não abusivo e o abusivo, prevista no inciso XII, do artigo 56, do CDC.
sempre que a prática publicitária não estiver Surge, pois, como sanção administrativa a
contida no rol exemplificativo do §2º, do ar- ser imposta em desfavor do fornecedor.
tigo 37, do Código de Defesa do Consumidor.
A contrapropaganda também poderá ser
Mas, pelo teor do dispositivo legal acima aplicada por decisão judicial fundamentada,
expresso, há de se considerar como publici- sendo possível, ainda, impor ao fornecedor
dade abusiva uma peça que, por exemplo, renitente multa diária para a garantia da efe-
discrimine as qualidades estéticas de uma tividade da decisão.
pessoa ou classe de pessoas.
É necessário que a contrapropaganda seja
Podemos ainda citar como exemplo de pu- eficaz. A respeito disso, salienta Rizzatto Nu-
blicidade abusiva a veiculação de uma oferta nes que:
publicitária em que uma conhecida marca de
17  A respeito da sanção criminal, dispõem os artigos 67 e 68 do Código
vestuário apresentava uma paciente vítima de Defesa do Consumidor:
“Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser
de HIV no exato momento de seu falecimen- enganosa ou abusiva:
Pena – Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.
to (CHAISE, 2001, p. 39.). Eis um típico caso Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser
capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou
de abuso de direito pelo fornecedor. perigosa a sua saúde ou segurança:
Pena – Detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa”.

52
Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

Para atingir a meta pretendida de, ao CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de


menos, aliviar os danos causados pelo Direito do Consumidor. São Paulo: Atlas,
anúncio abusivo [e também enganoso], a
contrapropaganda tem de ser implemen- 2008a.
tada, no mínimo, de igual forma e com a
mesma frequência e dimensão que a pu- __________. Sérgio. Programa de Res-
blicidade abusiva [e enganosa], nos mes- ponsabilidade Civil. São Paulo: Atlas,
mos veículos, locais, espaços e horários
(RIZZATTO NUNES, 2005, p. 502). 2008b.

Convém ressaltar, por fim, que a contra- __________. Sérgio. Programa de Di-
propaganda é um importante instrumento reito do Consumidor. São Paulo: Atlas,
para a tutela dos interesses dos consumido- 2011.
res e também de imposição de equilíbrio do
mercado de consumo. CHAISE, Valéria Falcão. A publicidade
em face do Código de Defesa do Consu-
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COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito
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jeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, dor. São Paulo: Atlas, 2010.
2010.
__________. Direito do Consumidor.
BERGER, Peter. Dossel Sagrado: ele- São Paulo: Atlas, 2011.
mentos para uma teoria sociológica da Reli-
gião. São Paulo: Paulus, 1985. __________. Direito do Consumidor.
São Paulo: Atlas, 2012.
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de
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Direito do Consumidor Aplicado à Saúde

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sileiro: responsabilidade civil. São Paulo: tos Fundamentais. São Paulo: Atlas, 2009.
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