Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Eduarda Ayres1
Ulisses Pessôa2
RESUMO
ABSTRACT
The present research aims at the study and fomentation of the discussion around the Theory
of Labeling Approach, born of the study of criminology in the famous School of Chicago. A
1 Pesquisadora vinculada ao grupo de pesquisa Sociedade Globalizada e Sistema Penal (SGSP); Advoga-
da Criminalista. E-mail: eduardaayres@gmail.com
2 Doutorando em Direito pela UNESA/RJ (Bolsista integral pela CAPES); Mestre em Direito pela UNESA/RJ
(Bolsista integral pela CAPES); Especialista em Direito Penal e Processo Penal; Professor de Direito Penal e Proces-
so Penal das graduações da UNISUAM e Signorelli; Professor de Direito Penal e Processo Penal da pós-graduação
da UERJ; Professor de Direito Penal e Processo Penal da FGV-LAW Program; Professor de Direito Penal e Proces-
so Penal da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ); Advogado Criminalista; Coordenador
do grupo de pesquisa Sociedade Globalizada e Sistema Penal (SGSP); Escritor. E-mail: ulissespessoadossantos@
gmail.com
theme that despite the emergence in the 60’s highly contemporary to the present day and
present in Brazilian society and the penal system. In this sense, it will be presented the time of
the emergence of the first discussions, the historical context that led to the need for a critical
study of all other traditional theories. Being exposed at the end the differentiations of each of
the component elements and statistical and informational data in Brazil and in the world about
stigmas and their consequences.
Keywords: Criminal Law. Labelling of the criminal system. Criminology. Labelling Approach.
Selectivitu of the crimina system
1 INTRODUÇÃO
A teoria crítica, como foi chamado em seu nascimento, poderia ser resolvido em sim-
ples questões de raciocínio lógico, em que os componentes principais seriam: a pergunta prin-
cipal “ o que torna um criminoso” e as respostas rudimentares “a conduta criminalizada” e “o
sujeito desviante”.
Com tais características, aborda a linha tênue do homem criminoso e o homem não
criminoso, para além do sujeito maligno, para aquele que pratica uma simples conduta que
hoje é considerada crime, mas que antes poderia não o ser, ou que futuramente não será.
reação social, manifesta-se com o início da década de 60, essencialmente nos Estados Unidos,
o que será exposto ao decorrer do presente artigo.
Contudo, o grande jurista criminologo Shecaria apontou que “um grande número de
criminologistas, por exemplo, notou que a prisão, uma das mais graves formas de reprovação
penal, contribua de alguma forma para a criminalização” (SHECARIA, 2014, p. 250)
O início do paradigma da reação social surge como uma alternativa crítica e de inova-
ção no estudo da criminologia, eis que inova ao apresentar um olhar para o social e a realidade
do sujeito delinquente e os estigmas por ele carregado, diferentemente das teorias anteriores
a ela, pertencentes à chamada criminologia tradicional ou positivista, quais sejam, a teoria
psicanalista, teoria estrutural/funcionalista, teoria das subculturas, teoria das técnicas, entre
outras.
do do crânio, com genética, arvore genealógica, mas todas pautadas no sujeito mal e delin-
quente, destacando-se que a:
Desta forma, a criminologia tradicional passa a não apenas por ruminar um novo cami-
nho, uma nova forma de estudo, como também dirigir-se para a perquisição do contexto social
(seja a realidade social, sociedade, comunidade, região, cultura ou país) em que o individuo
com comportamento desviante estivesse inserido e a reação social causada por ela.
Para a criminologa Vera Regina Pereira de Andrade, a tese base do labelling approach
é que:
É neste ponto, que Baratta (2014) discorre acerca dos quatro pontos em que as teorias
tradicionais se distinguem da teoria crítica – nomenclatura esta usada no átimo do surgimento
na década de 60 –, destarte, passamos a análise de dois pontos cruciais para enfatizar suas
diferenças, primeiramente é evidenciado pela teoria crítica “características particulares que
distinguem a socialização e os defeitos de socialização, as quais estão expostas muitos dos
indivíduos que se tornam delinquentes”.
Diante disso, importante se faz, transmitir o segundo ponto por ele exposto, onde se
distancia-se ainda mais a criminologia tradicional da nova criminologia crítica, ao passo em
que aponta não ser tanto uma escolha do individuo participar ou não de determinado local e
cultura, em vista da indisponibilidade de escolha dos chamados “contratos sociais”.
Aprofunda-se ainda Shecaria na exposição das drogas e seu consumo à época, fala da
inserção do LSD em solo americano, que fora efetivado através do reconhecido Professor de
Harvard, Thimothy Leary, com proposito de estudo experimental, solicitou a substância alu-
cinógena do México, passando a fazer experimentos – com sufrágio de Harvard e do Estado
americano – em detentos, alunos e personalidades famosas, ou quaisquer voluntários.
Para Howard S. Becker (2008), em seu livro Outsider, primeira obra a consagrar a teoria
do etiquetamento social, envolvendo o indivíduo desviante como aquele que não segue as
normas da sociedade o qual está inserido, e que é por ela estigmatizado, concretizando esse
rotulo quando opera de forma contrária aquelas normais pré-estabelecidas, materializando o
personagem marginal, criminoso e bandido. Procedendo-se desta forma a primeira caracterís-
tica (classificação ou modalidade) da teoria: a desviação (ou delinquência) primária, ou seja:
Isto é, o labelling approach não trata do ser maligno, inferior, fraco, maléfico, sinistro
e ímpio por sua própria natureza humana, senão daquele que desvia-se da norma imposta
(delinquência primária) e que ingressa em uma carreira criminal após o estigma criado através
dos processos vexatórios e humilhantes o qual é submetido (delinquência secundária).
É Shecaria, que em sua obra apresenta três importantes componentes para entender o
conceito de desviante, assim a primeira é
Segundo Becker, a criação do sujeito desviante advém da criação das normas pela pró-
pria sociedade, assim, idealize-se uma sociedade em que a cannabis sativa l. (maconha) é
legalizada, e decide, por exemplo, através de plebiscito, ou ainda por meio de projeto de lei
aprovada por seus representantes, pela criminalização de seu uso.
Os grupos sociais usuários desta droga naquela sociedade teriam de forma grosseira
dois caminhos básicos a seguir: acatar a nova norma ou permanecer como usuário e ser con-
siderado um marginal.
Enquanto que para Shecaria, o desvio se dá para além da condição da norma violada,
atentando-se também, por aquele que pratica, ressaltando-se as diferenças das reações so-
ciais em grupos diferentes, como homens brancos versus negros, nativos e imigrantes, mais
e menos abastados, entre outros, atentando que adiante o cometimento do delito assim o
classificado, para o sujeito que o perpetrou e o reflexo da sociedade.
A partir da concepção dessa teoria, é que surge a ideia de uma conduta desviante,
“ (...) Praticado o ato inicial, uma nova relação advirá da reação social.
A mais importante consequência é uma drástica mudança na identida-
de pessoal que o indivíduo tem diante da sociedade. Surge um novo
status que revelará o agente desviado como alguém que supostamen-
te deveria ser. Para ser rotulado como criminoso basta que cometa
uma única ofensa criminal e isto passará a ser tudo que se tem de refe-
rência estigmatizante dessa pessoa. Imagine-se, por exemplo, um cri-
me de furto praticado em uma residência. (...) as rotinas diárias farão
como que ele busque a aproximação com os iguais, o que gera o início
de uma carreira criminal. (...) mas a sociedade destaca alguns detalhes
do comportamento de tal pessoa e declara que eles refletem o tipo de
pessoa que realmente é (...)”. (SHECARIA, 2014, p. 260)
Ocorre que, a rotulação é tão grave no Brasil que baseados em juízos de probabilidade
e possibilidades toda uma instrução criminal é dirigida para um perfil físico e comportamental
do criminoso, em que infelizmente aponta em diversos casos a crimes tidos como mais “co-
muns”, entre eles furtos e roubos, como homens, jovens, negros e advindos de periferia, um
estigma enraizado pelo racismo estrutural vivido pela sociedade brasileira desde a abolição da
escravatura.
Isto posto, necessário tecer comentários acerca da instituição total, conceito criado
com intuito de abordar a criação da nova identidade do sujeito apenado a privativa de liber-
dade a partir do sistema a qual é submetido uma vez estando no cárcere e a desconstrução de
sua autoimagem anterior, para seguir os novos padrões e autoridade hierárquica.
A importância do rotulo é tamanha que faz pensar no que é preciso para ser um crimi-
noso, e infelizmente ou felizmente a resposta é simplista: basta incorrer em algum delito. Ou
seja, para ser o criminoso, o bandido, o delinquente, é necessário apenas o delito.
O que atualmente é legal, pode não sê-lo daqui a algum tempo, contudo não parece
ser simples para a coletividade, visto que o olhar para aquele que pratica uma determinada
conduta, que inicialmente qualquer um com sua natureza humana poderia realiza-lo, acredi-
tam que tal comportamento praticado revela o seu íntimo, o que de mal aquele ser representa
a sociedade, como se aquela conduta revela-se o nefasto e miserável da escória da sociedade.
Sabe-se que antes da conduta delituosa, o mesmo tinha um nome, uma religião, uma cultura,
uma vida em grupo e familiar, jeitos e trejeitos, então é inserido em local com desconhecidos
estranhos a seus olhos, hierarquia sobre seu nome, suas roupas, eu corte de cabelo e até suas
opções de comer entre outros.
Vamos mais adiante, ponha-se a pensar naquele sujeito que na verdade não foi inseri-
do na sociedade, nunca o foi. Aquele sujeito que nunca teve uma cultura, que é considerado
um “subproduto do crime”, sem seio familiar e sem estrutura social. O primeiro será apresen-
tado uma nova vida, uma subcultura e o sistema penal atual dirá que fará com que passe pela
ressocialização, para quando cumprir sua pena volte a sociedade como um ser social e apto
para a vida em sociedade. Enquanto, o segundo será apresentado, ou melhor reapresentado
ao que já conhece e será socializado, no mundo do crime. Em ambos os casos, a sociedade
perde.
A sociedade perde um ser humano, pois a ressocialização tornou-se uma das maiores
falácias do sistema atual, confirmando-se pelo levantamento realizado em 2015 pela ONG
Human Rights Watch (HRW), em que apurou-se que das 6 pessoas torturadas diariamente
no Brasil 84% estão presas, sejam em delegacias, penitenciárias ou unidades especificas para
jovens.
Portanto, com o rotulo em mãos e um sistema que não promove sua ressocialização,
mas sim o socializa em uma subcultura, aquele que cometeu um delito retorna a sociedade
não sentindo fazer mais parte daquela realidade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo, não se pretende ignorar no presente estudo crimes brutais e odiosos como
homicídio ou estupro, mas sim considerados a realidade de uma sociedade e suas escolhas de
criminalização e seus motivos ensejadores e a reação social causada após a consumação do
crime.
Ocorre que, é justamente pela rotulação e as carreiras criminais oriundas do atual sis-
tema carcerário que há necessidade do prequestionamento e consciência crítica quanto ao
sujeito desviante, para os rótulos e estigmas que lhe são empregados, a reação social perante
ao delito, a criminalização e encarceramento de forma massiva.
REFERÊNCIAS
MAZONI, Ana Paula de oliveira. A teoria do etiquetamento do sistema penal e os crimes con-
tra a ordem econômica: uma análise dos crimes do calarinho branco. In: Revista de Direito
Público. Disponível em http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/direitopub/article/viewFi-
le/10183/10422, acesso em 27/11/2018.
CARNELUTTI, Francesco. Como se faz um processo. Leme – SP: Editora CL Edjur, 2018.
CANO, Wilson. Soberania e política econômica na América Latina. São Paulo: Editora UNESP,
2000.
CARVALHO, José Murillo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro, 2007.
ABH. Dicionário Eletrônico Aurélio. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira e Lexikon Informá-
tica,2016.
BACILA, Carlos Roberto. Estigmas: um estudo sobre os preconceitos. Rio de Janeiro: Lumem
Juris, 2005.
GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Ja-
neiro: LTC, 1988.
ROSA, Alexandre Moraes da; SILVEIRA FILHO, Sylvio Lourenço da. Para um processo penal de-
mocrático: crítica á metástase do sistema do controle social. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
BECKER, Howard S. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal. 4. Rio de Janeiro: Forense, 1994.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribu-
nais, 1997.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito penal. Volume 1. São Paulo: Saraiva, 2012.
JR, Aury Lopes. Direito Processual Penal. Rio de Janeiro: Saraiva, 2018.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Tradução de Raquel Ramalhete. Rio de Janeiro: Editora Vo-
zes, 2014.
BECARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução de Vicente Sabino Júnior. São Paulo: Edi-
tora Pilares, 2013.
SCHECAIRA, Sergio Salomão. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
MOTTA, Candido Filho. A funccao de punir: aspecto realista do direito penal. São Paulo: Zenith,
1928.
WACQUANT, Loic. Punir os pobres: A nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Rio de Janei-
ro: Revan, 2001.
TARDE, Gabriel. A criminalidade comparada. Trad. de Ludy Veloso. Pref. de Roberto Lyra. Rio de
Janeiro: Nacional de Direito, 1957.
BATISTA, Vera Malaguti de Souza Weglinski. Introdução crítica à criminologia brasileira. Rio de
Janeiro: Revan, 2011.
BECK, Ulrich. Sociedade do risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: 34, 2010.
ELBERT, Carlos Alberto. Criminologia, ciência e mudança social. Porto Alegre: Nuria Fabris,
2012.
SERRANO, Alfonso Maillo. Curso de criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais,2013.
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 2011.
CASTELLAR, Joao Carlos. Direito penal econômico versus direito penal convencional: a enge-
nhosa arte de criminalizar os ricos para punir os pobres. Rio de Janeiro: Revan, 2013.
GRIZA, Aida. A contribuição dos sociólogos clássicos para a análise da violência e do crime.
Revista Brasileira de Ciências Criminais. n. 94, v. 20, 2012.
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Título Sistema penal máximo x cidadania mínima: códigos
da violência na era da globalização. Porto Alegre: Do advogado, 2003.
ARAUJO, Fernanda Carolina de. A teoria criminológica do ‘labelling approach’. Boletim do Ins-
tituto Brasileiro de Ciências Criminais. N.177, v.15, 2007.
SILVA, Raíssa Zago Leite da. Labelling Approach: o etiquetamento social relacionado à seleti-
vidade do sistema penal e ao ciclo da criminalização. Revista Liberdades, n. 18, janeiro/abril.
Publicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, 2015.