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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

INSTITUTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CÂMPUS OESTE –


UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE PALMEIRAS DE GOIÁS TRABALHO DE
CONCLUSÃO DE CURSO BACHARELADO EM DIREITO

ANA LUIZA MACHADO

POLÍTICAS DE EXTERMÍNIO COMO LIMPEZA SOCIAL

PALMEIRAS DE GOIÁS
2023
ANA LUIZA MACHADO

POLÍTICAS DE EXTERMÍNIO COMO LIMPEZA SOCIAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Banca Examinadora como requisito parcial
para obtenção do grau de Bacharel em Direito
pela Universidade Estadual de Goiás, Câmpus
Oeste, UnU Palmeiras de Goiás, sob a
orientação do Prof. Ricardo O. Rotondano.

PALMEIRAS DE GOIÁS
2023
ANA LUIZA MACHADO

POLÍTICAS DE EXTERMÍNIO COMO LIMPEZA SOCIAL

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pelos membros da Banca


Examinadora para obtenção do Grau de bacharel em Direito, assim
outorgado pela Universidade Estadual de Goiás – UEG.

Palmeiras de Goiás – Goiás, aos _____ dias de ______________ de 2023.

COMPOSIÇÃO DA BANCA EXAMINADORA

Prof. Jefferson Roberto Nascimento Acevedo


EXAMINADOR

Prof. Jordão Horácio da Silva Lima


EXAMINADOR

Prof. Ricardo Oliveira Rotondano


ORIENTADOR
“O que a serpente é pra maçã
É o que a maçã reflete pra mídia
É que Abel tinha um irmão
mas Caim tinha a malícia”
Kleber Cavalcante Gomes – Criolo
INTRODUÇÃO

A criminalidade é um fenômeno social na medida em que é moldada e reflete os valores,


normas e estruturas da sociedade em que ocorre, sendo assim o crime não é simplesmente um
ato individual; é uma interação entre o ofensor e o meio social. Fatores sociais como pobreza,
desigualdade, falta de oportunidades e exclusão social contribuem para o comportamento
criminoso.
O sistema de justiça criminal, incluindo aplicação da lei, tribunais e prisões, são
semelhantemente moldados por fatores sociais. Questões como discriminação racial e a
dinâmica de poder dentro da sociedade influenciam o funcionamento desse sistema, levando a
disparidades no tratamento de indivíduos com base em fatores de raça, classe e gênero.
A criminalidade se apresenta com um fenômeno social complexo que não pode ser
totalmente compreendido sem que se leve em conta os contextos sociais, econômicos e
culturais. Por isso, a ideia de um indivíduo propriamente delinquente, que remonta a teorias já
ultrapassadas do pensamento criminológico, representa um grande entrave para a concepção do
crime enquanto fenômeno social, na sociedade atual.
O problema norteador deste trabalho busca as origens político-sociais de pensamentos
que permeiam o imaginário coletivo e estão impregnadas no discurso popular em relação a
debates sobre a segurança pública e para melhor compreender o impacto que a perpetuação
dessas ideias gera na sociedade hodierna, é necessário um exercício analítico que busque as
fontes e motivações dos discursos dominantes. Além disso, é importante demonstrar como a
continuidade desse discurso opera de forma autofágica na sociedade: perpetua-se um discurso
de autodestruição.
Esse trabalho será pautado na concepção de crime como fenômeno social apresentando
suas definições e desdobramentos no primeiro capítulo, discorrendo sobre a teoria da anomia,
que corrobora ao entendimento do da conduta delinquente como decorrência do arranjo social,
e a partir disso, justifica a criação da figura de um indivíduo “delinquente” como forma de
construção social e como esses aspectos culminam em uma política de controle social
No segundo capítulo passa-se a analisar a opinião pública sobre o poder punitivo do
Estado, analisando manifestações presentes em entrevistas realizadas na cidade de Goiânia e as
comparando à entrevista de pessoa pública retirada de site eletrônico para então demonstrar
como a criação de discursos com esse caráter são capazes de operar enquanto ferramenta
política de controle social.

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Ao longo de todo o trabalho fora adotada a perspectiva do estruturalismo construtivista,
comungando o uso de saberes sociológicos, históricos e criminológicos para compreensão do
impacto das opiniões tratadas no decorrer do texto dentro da sociedade brasileira.
Enquanto objetivos, buscou-se de forma geral compreender o impacto social da opinião
pública na ideia de extermínio como política de Estado. E de maneira específica, denunciar a
execução sumária como ideologia de limpeza social.
Quanto a forma de abordagem, este trabalho foi desenvolvido através de pesquisa
quali-quantitava com análise teórica por meio de pesquisa bibliográfica e por meio de pesquisa
empírica, realizada por meio de coleta de dados realizada na cidade de Goiânia, entre os meses
de junho de 2022 a junho de 2023. Os objetivos se realizaram por pesquisa fenomenológica,
que como ensina Lakatos (2022, p.313), “ocupa-se de resgatar os significados atribuídos pelos
sujeitos aos fenômenos sob investigação. Objetiva descrever e entender os fenômenos com base
no ponto de vista de cada participante e da perspectiva construída coletivamente”. Quanto aos
procedimentos técnicos utilizados, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, por meio de
literatura jurídica, sociológica e política nacional e internacional e pesquisa empírica, com a
técnica de pesquisa de entrevistas e exposição de dados.

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1. CRIME COMO FENÔMENO SOCIAL

Para dar início à análise do tema, primeiro é preciso buscar fundamentação. Nesse
intuito, entender-se-á que o estudo do crime como fenômeno social é tratado pela criminologia
como ponto fulcral de sua prática, uma vez que etimologicamente, a palavra criminologia deriva
do latim crimino (crime) e do grego logos (estudo), se igualando a estudo do crime. Por óbvio
que sua investigação excede a delinquência enquanto fato, alcançando outras três principais
vertentes: o delinquente, a vítima e o controle social.
Exposta a ferramenta de estudo, se faz forçoso pensar o objeto estudado. Para
melhor elucidação, nada mais justo do que recorrer a contextualização histórica. Nesse
propósito, é preciso entender que o pensamento criminológico, assim como qualquer outra
corrente de conhecimento, passou por algumas “reformas”. A concepção primeira que se
adotava em relação a figura do crime é a ligada à corrente conhecida como “Escola Liberal”,
que deu luz à Criminologia Clássica, a qual emergia em meados do século XVIII na Europa.
Nela foram desenvolvidos os pensamentos do classicismo penal, com a função da pena, a
natureza do ato criminoso e sobretudo, essa escola desenvolveu a visão de que o crime é uma
violação do direito, voluntária e consciente, merecedora de um castigo.
A respeito da Escola Clássica, têm se que essa concepção filosófica era pautada nos
ideais defendidos à época, de Filosofia Política do Liberalismo Clássico. Isso significa dizer
que eles entendiam o delito como conceito jurídico, ou seja, uma violação do pacto social com
o Estado. Andrade e Medeiros (2023, p. 49), discorrem de maneira muito clara a respeito da
metodologia utilizada à época para compreender o fenômeno delituoso:
Duas características são marcantes na Escola Clássica. A primeira é a
concepção do homem como um ser livre e racional, que comete os delitos por livre e
espontânea vontade [...] A segunda caraterística é a utilização do método abstrato
(lógico)-dedutivo, o que significa que, diferentemente do método empírico
experimental indutivo (utilizado na criminologia moderna), partia-se da norma, do
dogma, para a conclusão. Assim sendo, aspectos como o ambiente, fatores sociais e
outras características pessoais, envolvendo o mundo dos fatos ou do criminoso, eram
em grande parte desprezados, levando-se em consideração preponderantemente a
vontade humana de praticar o delito. Assim sendo, a Escola Clássica refutava qualquer
tipo de determinismo.

Em contraponto a esse pensamento, surge no começo do Século XIX, a Escola Positiva.


Tendo como seu principal expoente Cesare Lombroso, essa corrente se voltava mais para a
análise do delinquente do que para a análise do delito em si. Nessa época, deu-se foco a uma
abordagem biológica da criminologia. Entendia-se que a criminalidade era um fato natural e
não mais uma entidade jurídica e buscava suas causas no agente dessas condutas desviantes.
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Andrade e Medeiros (2023, p. 56), sobre essa escola explicam que: "A criminologia positivista
utiliza-se do método empírico, experimental, indutivo, causal-explicativo, que retrata o delito
enquanto fato, perquirindo as suas origens, razões da sua existência, os seus contornos e forma
de exteriorização.”
A Criminologia Contemporânea, como se entende hodiernamente, deve muito ao que é
conhecido como Virada Sociológica, um movimento que trata do surgimento de abordagens
interpretativistas, quer seja, um novo modo de enxergar e tratar as ciências sociais. Anterior a
ela, mas que exerce forte influência, existe a Teoria do Estruturalismo Funcionalista, que vinha
em contraponto à concepção patológica do desvio, primeiramente desenvolvida com Durkheim
e a proposição do termo “anomia”, que foi complementada por Robert K. Merthon, que em
consenso, entendiam o comportamento desviante como um fator de utilidade que exerce
equilíbrio sociocultural.
Alessandro Baratta (2004, p. 56) em sua obra Criminologia Crítica y Crítica del
Derecho Penal traz imperiosa reflexão sobre essa corrente de pensamento, afirmando que “o
delito, provocando e estimulando a reação social, estabiliza e mantêm vivo o sentimento
coletivo em que se baseia, na generalidade de seus coassociados, do cumprimento das normas.
O delito, porém, é também um fenômeno de entidade particular, sancionado pelo Direito
Penal.”
Nessa perspectiva, o crime é visto como um produto da desorganização ou colapso
social, onde os indivíduos se desviam das normas e valores sociais, levando à ruptura da ordem
social. Com isso passa-se a entender como a teoria funcionalista é uma perspectiva da
sociologia que se concentra na maneira que diferentes aspectos da sociedade contribuem para
sua estabilidade e funcionamento geral, de maneira que os funcionalistas veem o crime como
uma ocorrência natural na sociedade e argumentam que ele tem funções positivas e negativas.

1.1 TEORIA DA ANOMIA


A noção sociológica da palavra anomia já vem sendo a longo tempo utilizada como
ferramenta para compreender a relação entre a estrutura social, a cultura e o comportamento
desviante. Na literatura, o primeiro expoente que relatou o tópico foi o sociólogo francês Émile
Durkheim, que tratou do tema em seu estudo de caso sobre o suicídio, publicado em 1987,
intitulado Le Suicide: Étude de sociologie. No contexto do trabalho de Durkheim, o termo
anomia geralmente é usado para explicar as condições sociais nas sociedades industriais
modernas.

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Ele argumenta que a transição entre sociedades tradicionais para sociedades industriais
modernas resultou em um colapso das normas e valores tradicionais que anteriormente
proporcionavam coesão social. Isso fez com que se desenvolvesse um estado de anomia, onde
seus indivíduos foram deixados sem uma noção clara de propósito. Durkheim ainda explica que
a ideia de bem-estar social, que serve como pilar de uma sociedade saudável, precisa atender
necessidades materiais e morais, impostas pela própria sociedade para se concretizar, evitando
essa quebra de harmonia. Isso porque uma vez quebrado esse ciclo, o indivíduo tende a se
rebelar e reivindicar o alcance dessas necessidades, independente da forma que as conseguirá,
como estabeleceu o autor: “Qualquer ser vivo só pode ser feliz ou até só pode viver se suas
necessidades têm uma relação suficiente com seus meios. Caso contrário, se elas exigem mais
do que lhes pode ser oferecido ou simplesmente algo diferente, estarão constantemente em atrito
[...]” (DURKHEIM, 2000, p. 311). Partindo desse entendimento, têm-se que para a
criminologia, é justificado o uso da teoria da anomia ao passo que ela fundamenta a origem do
comportamento desviante da impossibilidade social de atingir metas pessoais e sociais que são
impostas ao indivíduo, fazendo com que ele negue as normas vigentes no consenso coletivo.
Posteriormente, o americano Robert K. Merton publica o artigo “Estrutura Social e
Anomia”, no ano de 1938 estabelecendo um marco nos estudos da origem do comportamento
desviante na sociedade moderna. Sua tese se baseia principalmente em como as metas culturais
socialmente compartilhadas pelos indivíduos, quando não podem ser satisfeitas, geram uma
espécie de tensão social. Merton sugere que os indivíduos que experimentam anomia estão sob
pressão para alcançar o sucesso e podem se sentir impedidos de alcançá-lo por restrições
sociais, econômicas ou culturais. Ele argumentou que isso pode levar a uma sensação de tensão
ou frustração que motiva o comportamento desviante. O autor explicita a ideia acima elucidada
da seguinte maneira:
É apenas quando um sistema de valores culturais exalta, virtualmente acima de todo
o resto, certos símbolos comuns de sucesso para a população em geral, enquanto sua
estrutura social restringe rigorosamente ou elimina por completo o acesso aos modos
aprovados de se adquirir esses símbolos para uma parte considerável da mesma
população, que o comportamento antissocial acontece em uma escala
considerável.(MERTON, 1938, p.680)

Embora carreguem grandes semelhanças, as teorias de Durkheim e Merton convergem


apenas no ponto de que o processo de anomia é desencadeado através da insatisfação gerada
pela falta de possibilidade de ascensão de metas e objetivos cultural e socialmente impostos.
Para fins deste trabalho, considera-se a abordagem defendida por Merton, onde o
fenômeno da anomia está aplicado de forma mais concreta ao estudo de condutas desviantes,

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uma vez que a própria ideia de anomia remonta a concepção do crime como fenômeno social,
posto que a percepção de “sucesso” e bem-estar social estariam diretamente ligadas ao
reforçamento das metas de ascensão social e essas aspirações ilimitadas geram uma certa tensão
social, levando a inadaptação normativa e ao comportamento delinquente.

1.2 O DELINQUENTE COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL


Partindo da concepção acima tratada de “tensão social” que favorece o
comportamento desviante, resta esclarecer a quem está sujeito esse tipo de comportamento. O
indivíduo delinquente é aquele que comete ato criminoso, mas não só isso. No imaginário
popular, esse sujeito carrega características muito específicas de populações marginalizadas,
via de regra.
Já é de preocupação das ciências sociais a muito tempo o estudo das razões da alta
taxa de encarceramento de população pobre e negra, e quando se estudam as estatísticas que
traçam um perfil da população carcerária, como na obra “Mapa do Encarceramento” (BRASIL,
2015) é muito fácil chegar a conclusão de que em grande maioria, se compõe por pessoas
jovens, negras ou pardas, de baixa escolaridade e renda. Essas características não se reúnem por
um mero acaso do destino e muito menos por uma maior propensão dessa faixa populacional à
comportamentos desviantes. Ocorre no sistema prisional brasileiro o que a doutrina conhece
como Seletividade Penal. Nessa mesma obra são trabalhados dados quantitativos quanto ao
perfil do encarcerado médio brasileiro que corroboram com a tese de seletividade no sistema
penal pátrio, como segue:
[...]Considerando-se os dados do InfoPen sobre a população no período de 2005 a
2012 e as estimativas para a população brasileira acima de 18 anos no mesmo período,
segundo brancos e negros, é possível observar que o encarceramento de negros
aumentou mais do que o encarceramento de brancos. Em 2012, para cada grupo de
100 mil habitantes brancos acima de 18 anos havia 191 brancos encarcerados,
enquanto para cada grupo de 100 mil habitantes negros acima de 18 anos havia 292
negros encarcerados, ou seja, proporcionalmente o encarceramento de negros foi 1,5
vez maior do que o de brancos em 2012; [...]Considerando-se os dados do InfoPen
sobre a população no período de 2005 a 2012 e as estimativas para a população
brasileira acima de 18 anos no mesmo período, segundo brancos e negros, é possível
observar que o encarceramento de negros aumentou mais do que o encarceramento de
brancos. Em 2012, para cada grupo de 100 mil habitantes brancos acima de 18 anos
havia 191 brancos encarcerados, enquanto para cada grupo de 100 mil habitantes
negros acima de 18 anos havia 292 negros encarcerados, ou seja, proporcionalmente
o encarceramento de negros foi 1,5 vez maior do que o de brancos em 2012 (BRASIL,
2015, pp. 33-35).

A Seletividade Penal refere-se à tendência do sistema de justiça criminal de visar


desproporcionalmente certos grupos para prisão, processo e punição. Isso pode ser baseado em
uma variedade de fatores, incluindo raça, etnia, gênero, status socioeconômico e outras
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características demográficas. A teoria do etiquetamento na criminologia é de importante
abordagem ao passo que, metodologicamente, retira o foco do estudo do sujeito redirecionando-
o a estigmatização sofrida. Nesse mesmo entendimento, afirma Andrade que: “O desvio e a
criminalidade não são uma qualidade intrínseca da conduta ou uma entidade ontológica pré-
constituída à reação social e penal, mas uma qualidade (etiqueta) atribuída a determinados
sujeitos através de complexos processos de interação social, isto é, de processos formais e
informais de definição e seleção.” (ANDRADE, 2003, p. 40).
O primeiro questionamento que surge a partir dessa problemática é: De quem parte essa
estigmazação? Nesse sentido muito bem explícita é a reflexão escrita por Baratta (2004, p. 114)
sobre a teoria do labelling approach, de que “(a criminalidade) é um status atribuído a certos
indivíduos por aqueles que detêm o poder de criar e aplicar o direito penal através de
mecanismos seletivos, em cuja estrutura e funcionamento eles têm uma influência fundamental
de estratificação e antagonismo de grupos sociais. [...]. Nessa mesma linha de pensamento
Zaffaroni (2001, p. 130) assevera que: “o sistema penal atua sempre seletivamente e seleciona
de acordo com estereótipos fabricados pelos meios de comunicação de massa”.
A partir da concepção de crime como um fenômeno social, e de que o comportamento
desviante parte primeiramente da perspectiva da reação social do que é ou não aceitável como
criminal dentro de uma sociedade, entende-se que o indivíduo que é etiquetado como criminoso,
recebe essa estigmatização justamente através do sistema que o produz. A criação do perfil de
um criminoso é uma construção social que surge do imaginário das classes dominantes, que são
quem influenciam a criação dessas normas e quem dominam os veículos midiáticos que
continuam a reproduzir esse padrão dentro da consciência coletiva.
Um caso bastante atual que consegue elucidar a problemática tratada nesse tópico, é o
que ocorreu com um aluno de ciências sociais da Universidade de São Paulo, no ano de 2022.
Thiago Torres, que também é um influente youtuber e palestrante, produz conteúdos
relacionados a sociologia com abordagem crítica e social na internet e teve sua imagem
veiculada ao álbum de reconhecimento de suspeitos da Polícia Civil.
A reportagem relatando o ocorrido foi publicada no site do jornal G1, e conta que um
amigo de Thiago, enquanto advogado, estava analisando um processo e encontrou a foto do
colega no álbum da Polícia Civil da cidade de São Paulo. A fala de Bruno Santana, o advogado,
é emblemática para ilustrar a discussão que foi tratada ao longo do texto: “Você coloca uma
pessoa como um chavoso, cheio de corrente, com a camisa do flamengo, de boné, um padrão
que qualquer acusado de um crime pode ter [...]” (HONÓRIO, 2022, s/p).

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O processo de criminalização seletivo que é exercido pelo poder punitivo do Estado
desempenha caráter essencialmente discriminatório, pautado em uma ideologia de defesa
social, como fora discutido ao longo deste tópico. A partir dessa concepção é possível perceber
então, como o sistema penal em si é representado pela desigualdade e estigmatização, e
encoberto por um discurso legitimador, que tenta passar uma ideia de naturalidade a esse
discurso. Desse modo, entende-se que a estruturação do sistema penal pátrio é desenvolvida
levando em conta seu público-alvo, o sistema penal foi pensado para criminalizar um grupo
específico e sobre ele exercer controle.

Imagem 1

Fonte: Reportagem de Gustavo Honório, publicada pelo Portal G1 1

1.2.3 - CONTROLE SOCIAL

Neste trabalho o termo controle social deve ser entendido como controle
comportamental da coletividade visando a manutenção do status quo. Para a Criminologia,
pode-se definir o controle social, a luz dos ensinamentos de Shecaira (2020, p. 56) “como o
conjunto de mecanismos e sanções sociais que pretendem submeter o indivíduo aos modelos e
normas comunitários”. Entende-se ainda que existem duas formas de controle social, uma
formal que se traduz pela atuação de instituições formais do Estado, e uma informal que é
pautada em instâncias da sociedade civil. De acordo com o entendimento adotado para a
redação deste trabalho, Shecaira (2020, p. 57) também explica que “este controle social formal

1
HONÓRIO, Gustavo. Título da notícia. Portal G1, São Paulo, 22 dez. 2022. Disponível em:
<https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/12/22/chavoso-da-usp-tem-foto-colocada-em-album-de-
reconhecimento-de-suspeitos-da-policia-civil-surpreso-e-sem-entender-diz-estudante.ghtml>. Acesso em: 7
mai. 2023.
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é seletivo e discriminatório, pois o status prima sobre o merecimento. Ademais ele é
estigmatizante, desencadeando desviações secundárias e carreiras criminais.”
A partir das considerações feitas ao longo do primeiro capítulo sobre a construção da
figura de um indivíduo delinquente, tendo justificado que o etiquetamento a que esse sujeito
está exposto, e que é operado com intuito de estigmatização desse mesmo indivíduo, entende-
se dedutivamente que a classe detentora do poder de produzir esse padrão de estigmatização
tem algum interesse em exercer dominação, e aqui subentender-se-á como o controle sobre
essas classes a quem domina.
Nessa perspectiva de dominação, entendida como a manutenção de uma ordem injusta
que opera em favor de uns e em detrimento de outros, à luz dos ensinamentos de Pierre
Bourdieu, em sua obra O Poder Simbólico, enquanto discorria sobre as produções simbólicas
como instrumentos de dominação, o autor afirma que:
[...] as ideologias enquanto produto coletivo e coletivamente apropriado, servem
interesses particulares que tendem a apresentar como universais, comuns ao conjunto
do grupo. A cultura dominante contribui para a integração fictícia da sociedade no seu
conjunto, portanto, à desmobilização das classes dominadas; para a legitimação da
ordem estabelecida por meio do estabelecimento das distinções e para legitimação
dessas distinções.

[...] É enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e de


conhecimento que os sistemas simbólicos cumprem a sua função política de
instrumentos de imposição ou de legitimação da dominação , que contribuem para
assegurar a dominação de uma classe sobre a outra (violência simbólica) dando o
reforço da sua própria força às relações de força que as fundamentam [...]
(BOURDIEU, 1989, p. 11).

Importante ressaltar que nesse trecho o autor trabalha com o termo “sistemas
simbólicos” para explicar a forma com que o poder simbólico vai ser legitimado. Esses sistemas
simbólicos se traduzem através do que ele chama de “estruturas estruturantes”, como a própria
linguagem, a arte, a religião e etc. Isso se mostra através da forma que essas estruturas se
configuram como instrumento de conhecimento e construção do mundo dos objetos. E segue
afirmando que “a objetividade do sentido do mundo define-se pela concordância das
subjetividades estruturantes” (BOURDIEU, 1989, p. 8). Bourdieu entende que o instrumento
metodológico que capacita a análise de qualquer fenômeno, parte da compreensão da estrutura
a que ela se sujeita. Em sua obra, fica asseverado que “os sistemas simbólicos, como
instrumento de conhecimento e de comunicação, só podem exercer um poder estruturante
porque são estruturados”, levando o leitor à compreensão da relação de interdependência que
existe entre a ocorrência de um fenômeno e da ordenação que o motiva e o precede.

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O conceito de Poder Simbólico desenvolvido por Bourdieu em sua obra supracitada
compartilha muito bem a ideia desenvolvida ao longo deste trabalho. Para o autor, esse Poder
Simbólico difere de um exercício direto de poder efetuado pelo Estado, ao passo de que é oculto.
Ele não tem aparência de coerção, não mostra ao indivíduo a quem domina, que o está
dominando. Se trata desse “poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade
daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem” (BOURDIEU,
1989, p. 7).
Seguindo essa mesma linha de raciocínio, é possível perceber que o ponto principal em
discussão reside na ideia de Poder. Essa capacidade de deliberar arbitrariamente e que é
essencial e intrínseca às relações sociais, foi tratada nas filosofias de Hannah Arendt (2016, p.
52) como “instrumento de domínio”, levando sua existência à um “instinto de dominação”.
Utilizando-se do poder como instrumento de domínio, e através da influência dele
perpetuando os ideais de poderio simbólico, se põe disposta a equação entre a estigmatização
de determinados indivíduos e a justificativa de segregação dessa mesma população, para fins
de controle social e além disso, a perpetuação da estrutura de dominação de uma classe
dominante.
Seguindo desse conhecimento, têm-se que o poder simbólico, dado através de sistemas
simbólicos, é capaz de moldar uma realidade, criando e se retroalimentado em si mesma. E a
grande problemática que se busca denunciar aqui é o fato da reprodução dessas ordens sociais
naturalizar e dissimular as desigualdades presentes na sociedade.

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2- A OPINIÃO PÚBLICA
O termo opinião pública, está conceitualmente ligado com a capacidade de julgamento,
e advém do termo em Latim Opinionis, ligada aos termos critérios ou pontos de vista. Sócrates,
se valia da expressão Doxai quando se referia a opinião, dado seu caráter subjetivo. Portanto,
no plano do sensível, o máximo de conhecimento que atingimos se baseia nas opiniões (doxai)
acerca daquilo que os sentidos captam via imaginação e crença, sem alcançarmos um
conhecimento seguro e verdadeiro, pois o sensível é considerado por Platão uma cópia
imperfeita, mutável, instável do verdadeiro encontrado apenas no plano inteligível. (SILVA,
2016, p. 48).
Nesse mesmo diapasão, cabe trazer as reflexões de Bordieu a respeito do Habitus, por
ser através dele que se legitimam os discursos dominantes. Da forma que estabelece em sua
obra:
habitus são princípios geradores de práticas distintas e distintivas – o que o operário
come, e sobretudo sua maneira de comer, o esporte que pratica e sua maneira de
praticá-lo, suas opiniões políticas e sua maneira de expressá-las diferem
sistematicamente do consumo ou das atividades correspondentes ao do empresário
industrial; mas são também esquemas classificatórios, princípios de classificação,
princípios de visão e de divisão e gostos diferentes. Eles estabelecem a diferença entre
o que é o bom ou é mau, entre o bem e o mal, entre o que é distinto e o que é vulgar,
etc., mas elas não são as mesmas. Assim, por exemplo, o mesmo comportamento ou
o mesmo bem pode parecer distinto para um, pretensioso ou ostentatório para ouro e
vulgar para um terceiro (BOURDIEU, 1996, p. 22).

Entende-se para os fins deste trabalho que o exposto pelo autor como definição de
habitus se trata de mais uma estrutura estruturante imposta ao indivíduo que dá a ele a
capacidade de enxergar o mundo a partir do ambiente em que está inserido e levando em conta
as situações a que está exposto.
Pode-se inferir a partir do exposto que a opinião é uma forma de reprodução do habitus
e quando se une esse entendimento ao que o filósofo Mbembe propõe em seu estudo sobre a
necropolítica, de que o Estado ao adotar uma política de exceção e criar um inimigo comum ao
público, vende a imagem desse inimigo através de discursos que legitimam a aceitação da morte
como forma de controle social.
A espetacularização do sistema penal, que é concebida na doutrina como populismo
penal midiático é responsável por criar um sentimento de medo e de urgência nas pessoas. O
sentimento de insegurança e impunidade alimentado pelos meios de comunicação por meio da
encenação de programas criminais exerce influência na formação da opinião pública acerca dos
limites punitivos estatais. Schecaira, (1996, p. 16) nesse mesmo entendimento propõe que a
“[...] mídia é uma fábrica ideológica condicionadora, pois não hesita em alterar a realidade dos

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fatos criando um processo permanente de indução criminalizante, e de violação da dignidade
humana”.
Existe ainda uma correlação entre a sensação de insegurança ante a um delito e a atuação
da mídia, como formadora da opinião pública: os meios de comunicação transmitem uma faceta
de realidade, confundindo o julgamento do espectador quanto ao que está distante do que está
próximo. Esse tipo de situação evoca um sentimento de impotência, uma vez que aproxima o
observador do fato ocorrido ao passo que não lhe é dada a condição de agir para impedir ou
remediar a situação.
Claramente existem situações cotidianas de delitos que são vivenciadas por qualquer
cidadão e que também, ou em grau semelhante de influência, gere esse descontentamento. Mas
o objetivo desse tópico é a denúncia do quão perigosa é a influência que opiniões genéricas
exercem quando conseguem ser disseminadas em uma certa frequência. A reprodução de ideias
em massa é em si, um mecanismo.
Com o objetivo de fortalecer a arguição aqui exposta, serão dispostas em seguida, a
transcrição de trechos de algumas entrevistas realizadas na cidade de Goiânia, onde o
entrevistador dialogava com motoristas de aplicativo a respeito da criminalidade em geral na
cidade.
Nesse primeiro trecho, o motorista falava da preparação da força policial goiana no
combate à criminalidade:
Polícia aqui. Eles não brinca não meu amigo. Quando eles pega eles mata mesmo. [...]
Aqui não é brincadeira não. Os policial aqui é muito bem treinado, sabe? [...] os
PMzinho aqui, fi se pegar aqui já era, eles mete bala mesmo. [...] Por isso que diminui
a criminalidade. Muita gente fala assim ó: ‘matar o bandido não é a solução’. Desculpa
mano. Deus, o senhor me perdoe. Mas é. É a solução. [...] Depois quando a polícia
começou a fazer isso, melhorou, tipo, 90%. [...] Querendo ou não, eu penso que tem
que fazer um penteado em uns primeiro, pros que sobrar falar assim: ‘não, não vamo
mexer não que os cara dá problema. (Entrevista realizada dia 14 de junho de 2022, em
Goiânia).

Em uma segunda entrevista, ainda sobre a criminalidade urbana e a ação policial na


cidade de Goiânia, o entrevistado comenta sobre setores marginalizados e como existe uma
maior percepção de criminalidade nessas áreas e a maneira que a força policial age com esse
problema:
Prefeitura vai, dá um... faz um setor só de doação de casas. Ai coloca aquele pessoal
das periferia tudo lá. Ai esse setor costuma dar problema. Que é um setor de periferia,
né? Que tipo assim, a “balaiada”, o tráfico de droga. Moço, de repente ai começa a
dar problema lá, entendeu? É droga, tráfico de droga e pá, pá, pá. Quando é fé a polícia
baixa e dá um limpa. Entendeu? Limpa, pega os cara, põe – põe serviço de inteligência
lá no meio pra ver quem que é os cara entendeu? Depois entra e vai matando. [...] é
igual eu estou te falando. É o certo. É o que deveria ser feito em todos os lugares
entendeu? [...] E já tem uma coisa, esse negócio de prender não adianta cara, tem que

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matar. Entendeu? Infelizmente é. (Entrevista realizada dia 12 de junho de 2022, em
Goiânia).

A Rádio Bandeirantes FM de São Paulo realizou entrevista com o governador do estado


de Goiás Ronaldo Caiado, o elogiando sobre a queda nas taxas de crimes patrimoniais e
levantando o tema de segurança pública, perguntando ao entrevistado de que forma ele
conseguiu esses resultado, quando Caiado afirma que:
[...] Foi exatamente o controle dos presídios – eles tinham o comando completo da
criminalidade [...] O narcotráfico ele irradia por vários tentáculos, tanto da encomenda
de morte para as autoridades [...] roubo de carga, roubo de transeuntes, enfim, toda
essa modalidade, toda ela circula na maioria das vezes em torno dessas ordens dessas
facções criminosas [...] Goiás havia se transformado numa verdadeira Disneylândia
de bandidos [...] O cidadão não tinha como transitar nas ruas [...], o clima de
insegurança no campo era total, o novo cangaço tomando conta das cidades do interior
principalmente, enfim, as facções, mandando dentro dos presídios, e a partir daí, a
sociedade totalmente encarcerada [...] Primeiro critério meu foi, ou o bandido muda
de profissão ou muda do estado de Goiás. [...] Ao mesmo tempo diria que a
qualificação das nossas polícias [...] Eu tive que realmente investir muito na
profissionalização, na qualificação e no trabalho da interação da inteligência [...].
(RONALDO CAIADO, 2023).

É perceptível nas entrevistas como o discurso repetido pelos entrevistados se assemelha


ao do governador, e é o mesmo que tem grande popularidade nos veículos de mídia atuais, onde
determinados grupos alvo são apresentados como uma verdadeira ameaça ao equilíbrio
esperado, e o medo desses indivíduos passa a ser alimentado pelo Estado, a fim de que sejam
legitimadas práticas genocidas. Nesse cenário, o medo produz e se alimenta de uma “violência
biopolítica” (AMARAL; VARGAS, 2019, p. 129).
A guerra contra a criminalidade, que foi pauta de discussão nas entrevistas ilustra muito
bem as práticas do Estado. Não há preocupação com medidas que tratariam mudanças na
estrutura da sociedade, e por consequência, dos indivíduos. Há somente o pensamento
imediatista e sedento de sangue que amplia o controle Estatal sobre os corpos dos indivíduos.
Justifica-se a eliminação do indivíduo pela ameaça que ele pressupõe.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública publicou no ano de 2020 um estudo acerca
das mortes decorrentes de intervenção policial no Brasil. Nesse ano o país atingiu o maior
número de mortes em decorrência de intervenções policiais (MDIP) desde que o indicador
passou a ser monitorado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Com 6.416 vítimas fatais
de intervenções de policiais civis e militares da ativa, em serviço ou fora, as polícias estaduais
produziram, em média, 17,6 mortes por dia (BUENO; MARQUES; PACHECO, 2020). Dentro
dessa pesquisa explicou-se a utilização de um critério metodológico que é a proporção de
mortos em intervenções policiais em relação ao total de homicídios e outros crimes contra a
vida, de um determinado território. Isso significa dizer que, um lugar onde ocorrem mais mortes
13
violentas intencionais, naturalmente poderia apresentar um indicie mais elevado de mortalidade
por intervenção policial, e um território com menor índice de crimes violentos e contra a vida,
acompanharia essa baixa taxa. Ocorre que partindo dessa análise, quando se estudou os dados
disponibilizados pelo estado de Goiás, percebeu-se que a proporção de letalidade produzida
pela polícia corresponde à 29,1% de todas as mortes violentas intencionais, enquanto a média
nacional está em 12,8%. Isso indica um padrão de uso de força abusivo, conforme pode ser
observado no gráfico a seguir:

Outra problemática apontada por esse estudo, e que também exerce grande relevância
quando se trata de um estudo científico, é a disponibilização de dados. O Estado de Goiás se
destacou por subnotificação de informações no ano de realização desse estudo: “algumas UF
não enviaram o número detalhado de MDIP por município ou há maior perda de informação
14
neste campo da base de dados. Dentre estas, destacam-se Goiás e Ceará, para os quais temos
apenas informação para o total de MDIP ocorrido nas suas capitais” (MARQUES; PACHECO;
BUENO, 2020, p.64) A taxa de letalidade goiana já é alta e nem se quer contempla a todos os
municípios.
A ação policial nas comunidades pobres revela sistemáticas violações de direitos
humanos. Os casos repetidos de execuções sumárias e uso desproporcional da força por agentes
do Estado, assim como o modelo de mega-operações policiais, inserido na política de segurança
pública, evidenciam a trágica repetição de práticas que naturalizam as violações de direitos
humanos e que são também criminalizadoras da pobreza. (OMCT, 2009, p. 31). Não é diferente
do que ocorre em Goiânia, por exemplo.

2.1 – RACISMO, DOMINAÇÃO E NECROPOLÍTICA

Para colaborar com a concretização dos temas tratados, é imprescindível que se fale a
respeito do papel que o racismo desempenha em toda essa estrutura. No âmbito da discussão
criminológica, é importante ressaltar como a mudança de paradigmas que culminou nas teorias
de seletividade penal demonstram o caráter estruturalmente desigual do sistema de justiça
criminal. As agências de controle penal atuam sob viés racista, como apontam dados divulgados
por pesquisa publicada no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, no ano de 2022 que divulga
o percentual da população encarcerada, apontando que 46,4% dos presos têm entre 18 e 29 anos
e desses, 67,5% são de cor/raça negra, como é demonstrado no gráfico a seguir:

15
Cabe ressaltar a relação de interdependência que existe nas relações de raça, violência
e criminalidade. Uma das críticas mais contundentes à atualidade das pesquisas desenvolvidas
no âmbito da Criminologia Crítica é quanto a questão racial. Como ficou demonstrado, a raça
opera como fator político determinante na ideia de seletividade penal e na maneira como opera
o controle social que ela exerce. O problema aqui é que não basta denunciar a raça como apenas
mais um aspecto a ser estudado, mas sim “como um dos pilares metodológicos e
epistemológicos, situando a categoria raça como prisma analítico e como chave interpretativa
da realidade.” (ORTEGAL, 2016, p. 537-538).
Apresenta-se na obra do atual Ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, intitulada
justamente de “Racismo Estrutural”, os pontos de que a raça é um elemento essencialmente
político e que a noção de raça é utilizada para naturalizar desigualdades e legitimar a segregação
e o genocídio de grupos sociologicamente considerados minoritários (ALMEIDA, 2021, p. 31).
A concepção estruturalista, e que será a adota neste trabalho, traz consigo uma denúncia
que parte de todo o raciocínio que fora trabalhado ao longo do texto. Ocorre que, apesar de as
instituições reproduzirem padrões de comportamento racista, elas não são as criadoras diretas
destes: a sociedade gera o racismo que será reproduzido pela instituição. O autor estabelece
conceitualmente que “o racismo é uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo
normal com que se constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, o
racismo é estrutural.” (ALMEIDA, 2021, p. 50)
Assim como o crime, o racismo também é uma expressão natural da sociedade, que se
mostra como manifestação de vontades políticas e econômicas arraigadas de forma profunda,
socialmente. Essa concepção é importante ao raciocínio que vem sendo desenvolvido aqui ao
passo que contribui à corrente ideológica estruturalista adotada para desenvolvimento
metodológico de todo o trabalho, tanto quando faz-se entender que o racismo é um elemento
político de dominação. Por exemplo, a notícia exposta no capítulo anterior que escancara como
a ideia de seletividade está intrinsicamente ligada ao racismo estrutural e se torna uma forma
pelo qual o Estado e as demais instituições alastram seu poder sobre a sociedade.
Convém trazer também o termo cunhado pela teoria do Filósofo Achille Mbembe,
denominado de necropolítica. Em sua obra, de mesmo nome, Mbembe trabalha as ideias já
estabelecidas por Foucault de biopoder, o qual gira e torno da forma que o Estado promove
soberania através do exercício do domínio sobre as chances de vida dos indivíduos, fortalecendo
essa teoria ao passo que a relacionou aquele discurso de poder a uma prática racista realizada e
perpetuada pelo Estado. “Com efeito, em termos foucaultianos, racismo é acima de tudo uma

16
tecnologia destinada a permitir o exercício do biopoder. [...] Na economia do biopoder, a função
do racismo é regular a distribuição de morte e tornar possível as funções assassinas do Estado.”
(MBEMBE, 2016, p. 128).
O racismo, portanto, é o elemento que, ao mesmo tempo serve como critério de
hierarquia, é a ferramenta que reaparelha o direito de matar no Estado moderno. Ao demarcar
as distâncias entre os indivíduos, o racismo estabelece lados opostos, na medida em que a raça
de um grupo ameaça a qualidade da raça do outro (AMARALE; VARGAS, 2019, p. 125).
Nessa teoria o autor traz a ideia de que a estipulação de situações excessivas, que demandem
medidas excessivas do Estado, para garantir a segurança de seus cidadãos são ferramentas
perfeitas de legitimação de políticas de morte.
No cenário nacional é possível perceber a aplicação dessa teoria ao passo que não é mais
necessária a formulação de discursos voltados para a vida, com o fim de justificar a morte
(AMARALE; VARGAS, 2019, p. 127). É possível identificar em discursos, em campanhas
políticas e na opinião pública a defesa do livre exercício do poder de matar.

17
3- CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA

Na história nacional, os ideais positivistas de urbanização e industrialização que se


desenvolvem a partir do século XIX, carregavam a ideia de positivação das relações sociais por
meio de políticas eugênicas e ações que passavam pelo sanitarismo e a higienização dos
indesejáveis (SILVA, 2011, p. 93), com vistas a erradicar o “atraso da sociedade brasileira”,
tentava-se manter a ordem por meio de um Estado corporativista, com instituições repressoras
para conter a pobreza.
Após a abolição da escravatura, os negros recém-libertos não tinham emprego e nem
trabalho que pudesse lhes garantir um meio de subsistência, aumenta-se assim a taxa de pessoas
em desocupação. Desde então essa tese de higienização vem se reformulando e se adaptando
aos anseios das classes dominantes, que corroboram à tese de regulação da miséria e o
armazenamento dos refugos do mercado. Isso se confirma inclusive com positivação vigente
até a atualidade, na Lei das Contravenções Penais, em seu art. 59:

Art. 59. Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho,
sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria
subsistência mediante ocupação ilícita.

Infere-se a partir da leitura desse texto, que o legislador tipifica a ausência de


subsistência. Desse modo, não dispor de recursos aptos à subsistência compõe o tipo penal,
gerando, assim, a criminalização da pobreza, Nota-se o tratamento discriminatório trazido pelo
tipo penal, visto que entregar-se à ociosidade, possuindo recursos para subsistência, não
configura contravenção de vadiagem, ao passo que tal conduta, para a pessoa que não dispõe
de recursos, constitui vadiagem. (MELO; BARBOSA, 2022, p. 78)
O populismo penal midiático e o sistema judiciário associam populações
marginalizadas, com a prática de condutas delitivas. E agregam essa estigmatização como uma
característica inerente a elas. Wacquant ao analisar o processo de criminalização dos miseráveis
na américa, estabelece que o Estado assume uma dinâmica de contenção punitiva da
marginalidade. O autor explica que a “guerra contra a pobreza” foi substituída por uma guerra
contra os pobres (WACQUANT, 2021, p. 24).
Os padrões de violência no Brasil tendem a refletir padrões de exclusão sócio-
econômica, tanto regionalmente quanto em termos de grupos vulneráveis. (OMCT, 2019, p.
24). É possível observar isso com clareza quando consideramos que o sentido político de

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cidadania está intrínseco o ser cidadão, que implicam diretamente nos direitos à moradia,
dignidade, saúde educação e trabalho.
Apesar da pobreza ser um importante identificador social na construção da
criminalidade no Brasil, ela não é a única. A condição de ser “pobre” é agravada por alguns
outros descritivos que se sobrepõem, tais como ser “jovem” e “negro”. (OMCT, 2019, p. 17).
A ONG “Todos pela Educação” realizou levantamento com base em dados do IBGE
entre 2012 e 2022 e concluiu que os indicadores para os jovens pretos e pardos são os mesmos
que os brancos possuíam há uma década: para pretos e pardos, a taxa de matrículas no Ensino
Médio entre jovens de 15 a 17 anos e a parcela de jovens de 19 anos que já haviam completado
o Ensino Médio, em 2022, alcançaram as porcentagens vistas entre jovens brancos há 10 anos,
em 2012. Ou seja, enquanto 72,3% dos jovens pretos e 73,5% dos pardos hoje estão no Ensino
Médio, 73% dos brancos estavam matriculados em 2012. Já em relação ao encerramento da
etapa, 61% dos jovens pretos e 62,4% dos pardos de 19 anos a tinham concluído em 2022,
porcentagem próxima a que brancos alcançaram em 2012: 62% (TPE, 2023).
Dados disponibilizados também pelo IBGE demonstram que a taxa de desocupação é
maior entre a população preta e parda contra 6,8% entre a população branca. Em 2021, o
rendimento médio domiciliar per capita da população branca (R$ 1 866) era quase duas vezes
o verificado para a população preta (R$ 965) e parda (R$ 945), tendência que se manteve desde
2012 (IBGE, 2022, p. 5)
Entre a população residente em domicílios próprios, 20,8% das pessoas pardas e 19,7%
das pessoas pretas residiam em domicílios sem documentação da propriedade, enquanto a
proporção encontrada entre as pessoas brancas era cerca de metade desse valor (10,1%). Pretos
e pardos enfrentam, portanto, uma situação de maior insegurança de posse e de informalidade
da moradia própria. (IBGE, 2022, p. 6)
Um aspecto de grande relevância é a violência a que essa parcela da população está mais
exposta, ainda em um comparativo de dados do IBGE entre os anos de 2012 e 2020, nesse
ultimo ano as pessoas de cor ou raça parda apresentaram taxa de 34,1 mortes por 100 mil
habitantes e as de cor ou raça preta de 21,9 mortes, o que representa quase o triplo e o dobro,
respectivamente, da taxa observada entre as pessoas de cor ou raça branca, 11,5 mortes por 100
mil habitantes. Ressalta-se que a diferença entre as taxas de homicídios de pardos e brancos
aumentou ao longo da série, dado que em 2012 era de 2,4 vezes. E a violência atinge muito
mais os homens de 15 a 29 anos do que os homens de outras faixas etárias, com uma taxa de
homicídios de 96,7 mortes por 100 mil habitantes (IBGE, 2022, p. 11-12).

19
Demonstradas essas disparidades, fica evidente a situação de vulnerabilidade e que a
criminalização da pobreza em muito se relaciona com a segregação espacial e que esses são
fatores decorrentes de uma desigualdade estrutural perpetuada pelo Estado.

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5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise do crime como fenômeno social é importante para os estudos criminológicos


ao passo que o estipula como uma ocorrência natural na sociedade, bem como um fator de
utilidade que exerce equilíbrio sociocultural. Partindo dessa concepção têm-se a teoria da
anomia, que aprofunda essa conceituação dispondo que o crime além de ser um fenômeno
social, emerge das discrepâncias entre os desejos individuais e as expectativas sociais. Assim,
as condutas delitivas não são somente um resultado de uma fraqueza moral do indivíduo ou
simples predisposição biológica, mas efeito decorrente de fatores sociais, econômicos e
culturais que o cercam.
Junto a aspectos estruturais que favorecem o comportamento desviante, existe também
uma dimensão institucional que agravam essa realidade. A seletividade penal sob qual opera o
sistema judiciário brasileiro reforça processos de estigmatizarão de uma parcela muito
específica da população: o jovem negro. Esse fenômeno se explica através da teoria do
etiquetamento social, escancarando como o sistema penal foi pensado para criminalizar um
grupo específico e sobre ele exercer controle.
Partindo desse raciocínio, entende-se que esse controle social que é exercido através das
instituições é legitimado por um mecanismo intitulado como Poder Simbólico, que demonstra
que a coerção (poder) é capaz de ser derivada de sistemas simbólicos, como as normas sociais.
O Poder Simbólico opera pela construção e consequente disseminação da cultura dominante
que estabelece um sistema de consciência compartilhada, internalizando essas normas e valores
sociais nos indivíduos, moldando então seus valores e crenças. Por exemplo, quando se trabalha
com a construção e disseminação da ideia de um indivíduo propriamente deliquente, baseado
em fatores de raça, com recortes econômicos e territoriais, fica fácil objetivar uma faixa da
população a ser controlada.
Sendo a retórica, a arte da eloquência, pertencente ao âmbito da linguagem e também
um dos sistemas simbólicos capazes de exercício de Poder Simbólico, e que molda a opinião
pública ao passo que é capaz de definir o que é normal, aceitável ou justificável, este então
trabalho se ocupou em denunciar os argumentos presentes no discurso do governador do Estado
de Goiás, como capazes de influenciar a opinião pública para justificar as políticas de
extermínio que vem sendo adotadas no estado, travestidas de segurança pública.
Essas políticas de extermínio flertam diretamente com ideologias eugenistas de limpeza
social que encontram explicação na teoria do filósofo Achille Mbembe, denominada

21
Necropolítica. Esse princípio se aplica na realidade nacional quando se observam os dados
relativos à morte, encarceramento e consequente exposição à violência de da parcela negra da
população. A desvalorização da vida e permissibilidade da morte de determinadas pessoas,
baseados em características econômicas, geográficas e consequentemente raciais, reforça a
dicotomia entre inferioridade e superioridade de classes.
Todos esses aspectos convergem na concepção de criminalização da pobreza, apesar de
não se reduzirem a ele. O Estado brasileiro, desde a sua emancipação não soube e não se
preocupou em tratar corretamente a população que ele mesmo marginalizou e segregou. Isso
não poderia ter resultado diferente do atual, ainda mais com tantos anos de políticas racistas e
segregacionistas, negligência social, científica e acadêmica em relação as vidas negras.

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