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CESUCA – COMPLEXO DE ENSINO SUPERIOR DE CACHOEIRINHA

DIREITO CONSTITUCIONAL II

ARTUR LINO PEDROSO JUNIOR

FICHAMENTO

Trabalho da disciplina de Direito Constitucional II,


entregue ao Prof. Emerson de Oliveira Pinto, para
obtenção de média Bimestral.

CACHOEIRINHA - RS

2015
RESENHA CRÍTICA

Rocha, Álvaro Filipe Oxley da, Silva Simone Schuck da. A Dinâmica Emocional
do Desvio: Uma Análise em Criminologia Cultural. Revista Jurídica do
Cesuca. 2014.

_______________________________________________________________

De acordo com as pesquisas realizadas por Oxley da Rocha, para compor


seu artigo A Dinâmica Emocional do Desvio: Uma Análise em Criminologia Cultural é
possível observar as possibilidades que estão envolvidas nos segmentos da
Criminologia Cultural, presentes no Brasil, com isso o fenômeno criminal ganha um
contexto cultural, sendo identificado como um produto cultural onde nos seus
aspectos é possível observar as características que apontam o seu aumento ou
rebaixamento.

Ou seja, pretende-se retomar conceitos latentes ao pensamento


criminológico crítico com o fim de traçar considerações sobre fenômenos que
permeiam a sociedade atual.

É importante frisar que a cultura faz parte deste processo de maneira


embutida e ganha espaço nesse contexto sendo fortalecida por questões que
envolvam economia e politica, dentro do meio social e a analise que é composta
através dos efeitos do controle penal não são apenas abstrações, mas sim um
componente essencial.

Assim, o estudo cultural foca em uma constituição temporal e geográfica


específica de um determinado campo de forças, bem como nos temas, questões,
dilemas e debates que o compõem.
“A criminologia cultural explora de inúmeras formas como as dinâmicas
culturais interferem nas práticas do crime e seu controle na sociedade
contemporânea; assim, a criminologia cultural enfatiza a centralidade de
sentido e de reprodução na construção do crime como um evento
momentâneo, tentativa subcultural e matéria social. A partir desta visão, o
conceito apropriado de criminologia transcende as noções tradicionais de
crime e suas causas incluindo imagens de comportamentos ilícitos e
imagens simbólicas da aplicação da lei; construções da cultura popular de
crime e ações criminosas; e o compartilhamento de emoções que inspiram
os eventos criminais, percepções de ameaça criminosa, e esforços públicos
de controle da criminalidade”. (FERREL, 2010, p. 49)

Fora isso, essa perspectiva gera um incentivo para que seja feita
observações nas conexões entre esta realidade embutida no contexto cultural e
situações mais globais que acabem sendo influenciadas pela grande massa que
detêm o poder.

Com essas informações, é necessário destacar que a pós-modernidade,


em termos metodológicos, trouxe para as Ciências Criminais propostas
epistemologicamente anárquicas, onde o uso da subjetividade como um contra
ataque descontrutivista sobre qualquer discurso acabou se tornando uma critica
inovadora ao conceito de Criminologia.

Com tantos pressupostos a Criminologia ganhou definições como a


Crítica que explica o crime em decorrência de fatores estruturais, como a economia
e a sociedade e a Administrativa que descarta outros elementos de conduta ilícita,
como as emoções individuais de quem comete o delito ou o primeiro plano
criminoso.
A criminologia cultural, utilizando-se de abordagens culturais
interdisciplinares, analisa a construção de imagens e apelos sensuais, atrativos e
criativos do crime. A partir da noção do super-homem nietzschiano, onde o desvio
oferece um meio de transcendência, uma forma de superar a convencionalidade
tipicamente associadas à rotina e a outros aspectos práticos da vida cotidiana.

Em seu nível subjetivo, a experiência criminosa é estimulante,


emocionante e libertadora, e simplesmente pensar o crime como qualquer outra
forma de atividade racional, ou mesmo como resultado de alguma patologia inata ou
social, é ignorar outros aspectos intrínsecos ao fenômeno.

“...as pessoas “não determinadas” a cometer um crime cometem-no, de


modo que conclui que a solução só pode ser encontrada com estudos para
além dos fatores sociais estruturais, aprofundando o ato criminoso como um
fenômeno emocional humano. O autor propõe uma tentativa de recuperar
“espaços não examinados na teoria criminológica...” (Katz, 1998, p.105.)

Assim, para o exame de tais perspectivas, é preciso uma análise cultural


dos comportamentos transgressores, e não apenas o conhecimento do seu plano de
fundo.

Já por um contexto primário é possível enxergar as falhas presentes na


estrutura social que geram consequências negativas como a desigualdade e a
exclusão que necessitam de uma consideração criminológica, onde se torna
indispensável às propostas dinâmicas que estão envolvidas no evento criminoso.

Onde em outros fenômenos humanos, a pressão socioeconômica


enfrentada pelos marginalizados urbanos relaciona-se com decisões situacionais,
estilo pessoal e referências simbólicas, nas interações culturais trazidas à pauta pela
Criminologia Cultural.
Nesse sentido, a teoria, nascida nos Estados Unidos e no Reino Unido
nas décadas de 1970 e 1980, reacende as discussões sobre aspectos cotidianos do
crime, a sensação de insegurança e de transgressão e demais focos culturais.

Em sua totalidade a chamada Criminologia Cultural, alguns estudiosos


são contraditórios em relação à interligação existente entre o crime e a cultura, não
podendo ser inclusas sob uma mesma denominação onde a abordagem de caráter
teórico, metodológico e intervencionista sobre a temática do crime.

Nesse estudo está envolvida a criminalidade dentro do seu controle no


ambiente cultural, sendo assim é considerado crime, as agências e as instituições de
controle como produtos culturais passíveis de leitura em razão dos significados que
carregam.

“Na perspectiva da criminologia crítica a criminalidade não é mais uma


qualidade ontológica de determinados indivíduos, mediante uma dupla
seleção: em primeiro lugar, a seleção dos bens protegidos penalmente, e
dos comportamentos ofensivos destes bens, descritos nos tipos penais: em
segundo lugar, a seleção dos indivíduos estigmatizados entre todos os
indivíduos que realizam infrações a normas penalmente sancionadas. A
criminalidade é – segundo uma interessante perspectiva já indicada nas
páginas anteriores – um “bem negativo”, distribuído desigualmente
conforme hierarquia dos interesses fixada no sistema sócio-econômico e
conforme a desigualdade social entre os indivíduos”. (BARATTA, 2002,
p.161).

Enquanto teoria crítica, a Criminologia Cultural propõe-se a reinterpretar o


comportamento desviante como uma técnica para resolver conflitos psíquicos
ligados às características da vida contemporânea.
Sendo então considerada uma fenomenologia da transgressão, onde o
principal objetivo é recuperar o instrumental científico do modernismo, mas sem
perder o foco das circunstâncias pós-modernas.

“A pergunta pressupõe que a diferença básica entre os desviantes e os que


se conformam reside no caráter de sua motivação. [...] Em vez de perguntar
por que desviantes querem fazer coisas reprovadas, seria melhor que
perguntássemos por que as pessoas convencionais não se deixam levar
pelos impulsos desviantes que têm. Uma espécie de resposta para essa
pergunta pode ser encontrada no processo de compromisso pelo qual a
pessoa “normal” torna-se progressivamente envolvida em instituições e
comportamento convencionais”. (BECKER, 2008, p. 37).

Como fenomenologia, a Criminologia Cultural atenta para a apuração


racional do conhecimento a partir da experiência, onde o pós-modernismo pretende
em relação aos discursos científicos, mas atribui relevância para que seja
examinado também o fator da experiência, como parte deste fenômeno.

Nessa perspectiva ao sugerir uma analise dos fatores subjetivos e


objetivos sobre o fenômeno criminoso, compreende-se que a Criminologia Cultural
faz uma nova análise sobre os conceitos do desviante, crime e controle sobre o
mesmo, incluindo os objetos envolvidos como as vítimas, os infratores entre outros e
seu desempenho na construção e mediação realizada através dos meios de
comunicação e intervenção dos representantes envolvidos no setor politico.
Dando continuação e complementando as análises feitas pela
Criminologia Critica sendo confrontadas com as teorias do controle aquelas que têm
como intenção a prevenção e garantia de direitos ao qual estão assegurados os
delitos. Para compreender a relação entre esse fenômeno e o Direito Penal,
podemos citar esta passagem da obra de Saavedra:

“As consequências de tal compreensão do direito penal para o debate sobre


a dignidade da pessoa humana são óbvias: dado que o inimigo passa a ser
visto como não-pessoa, ele também passa a não estar coberto pela garantia
constitucional da dignidade da pessoa humana. O problema aqui é que,
uma vez permitida a utilização pela política criminal e pelo Estado da
diferença “entre humano” e “não-humano” como formas de definição de
“seres humanos”, não se pode mais determinar limites normativos à ação do
Estado, à ação da polícia e ao alcance da política criminal. Além disso, essa
compreensão do direito penal amputa com um só golpe a garantia da
dignidade da pessoa humana, pois a separa de sua origem histórica, a partir
da qual ela adquire seu perfil normativo”.(Saavedra,2010,p.85).

A Criminologia Cultural surpreende as discussões que são estabelecidas


ao crime, afirmando que interdisciplinaridade é uma alternativa de analise e
consegue comtemplar outras áreas do conhecimento e abordagens sobre os
movimentos culturais e sociais relacionados ao crime.

Outro ponto de destaque são as críticas às metodologias e as


perspectivas da Criminologia Cultural em relação à Criminologia Administrativa que
transpõem seu método com base em estatísticas, fórmulas equacionais, cálculos de
riscos e gerenciamento de dados, os quais se mostram política e economicamente
convenientes.
Ao relacionar crime e cultura, utilizam-se métodos humanizadores de
pesquisa, revelando a Criminologia Cultural como uma teoria-rebelião, uma
transgressão – tal qual seu objeto de estudo – à imutabilidade científica a serviço de
interesses políticos. Logo, permite um maior envolvimento do pesquisador ao
confrontar as práticas “oficiais”, tediosas, inócuas e comercializáveis da Criminologia
tradicional.

Ferrell destaca que:

“esse diferencial afirmando que assim como o tédio do modernismo é


derivado da sistemática exaustão das incertezas e possibilidades da vida
cotidiana, o tédio do pensamento criminológico resulta, em grande parte,
dos projetos metodológicos direcionados, de forma igualmente explícita, a
excluir a ambiguidade, o inesperado e o erro humano da pesquisa
criminológica”.

Logo a experiência sendo considerada como uma figura experiente em


primeiro plano sobre a temática do crime ela raramente terá sua exposição centrada
nas explicações criminológicas e sociológicas do desvio.

Portanto de qualquer jeito dentro das disciplinas psicológicas e


sociológicas, a sensação vivenciada no ato de uma prática criminal perdeu sua
visibilidade, ainda que o crime, sendo definido como uma ação que viola as regras
possui uma visão de valor perante elas.

“O crime é um ato de quebrar regras. Isso envolve uma atitude em relação


às regras, uma avaliação de a quão justa e adequada são, e motivação para
quebrá-las tanto por pura e simples transgressão ou pela neutralidade. Não
é, como no positivismo, uma situação onde o ator é impelido para um
desiderato e no seu caminho acaba por cruzar com a lei; esta não é, como
na teoria da escolha racional, um cenário onde o ator apenas procura por
um furo na rede de controle social e acaba desviando seu caminho por ele.
Pelo contrário, na criminologia cultural, o ato de transgressão em si mesmo
tem atrações – e é através da quebra das regras que está a tentativa de
solucionar os problemas subculturais”. (HAYWARD; YOUNG, 2011, p. 7).
Pode ser visto então a criminologia como uma avaliação da justiça ou da
tentativa de se adequar, mas também como uma espécie de motivação para supera-
las, de maneira total pela transgressão ou de forma neutralizadora.

O delito não é, como no positivismo, uma situação para a qual o autor


está mecanicamente impulsionado; nem é, como na teoria da escolha racional, um
cenário em que o sujeito apenas busca as falhas do controle social e, à sua maneira,
atravessa-o. Pelo contrário, na criminologia cultural, o ato de transgressão tem, em
si, atrações.

Dessa maneira, sabendo que as situações abstratas pensadas como uma


simples hipótese de teoria empírica, como as causas que influenciam um
determinado crime, especialmente os que sejam ampliados por meio das agências
estatais, acabam se tornando a peça principal do pensamento cientifico e do método
rigoroso.

“Desse ponto de vista destaca-se que uma das mais importantes


preocupações da Criminologia Cultural é estabelecer em que medida o
comportamento desviante ou criminoso desafia, subverte ou resiste aos
valores, símbolos e códigos da cultura dominante. A preocupação em
investigar as subculturas desviantes, nos termos precisos de desafios e
resistências que elas oferecem, é a principal linha divisória entre a
Criminologia Cultural e aquelas criminologias que levam a cultura a sério,
mas não representam o desvio como desafio e resistência. É preciso ter
presente que a ideia segundo a qual subculturas desviantes desafiam a
cultura dominante não implica que elas o façam de maneira consciente ou
direta”. (OXLEY DA ROCHA, 2012b, p. 13).
A utilização de metodologias etnográficas da Criminologia Cultural tem
suprido as necessidades de análise das intersecções entre crime e cultura.
Entretanto, é importante lembrar que o movimento da Criminologia Cultural pretende
ir além, convidando o pesquisador a participar de experiências limítrofes e a
conhecer ambientes considerados criminais.

Em decorrência do desejo de estudo do primeiro plano do crime, mostra-


se importante ao investigador conhecer as sensações de humilhação, arrogância,
desejo de vingança e indignação, a assunção de riscos e toda a dinâmica emocional
vivida no fenômeno criminoso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução


à sociologia do direito penal. Rio de Janeiro: Revan, 2002.

BECK, Ulrich. Sociedade do risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo:
Editora 34, 2010.

FERRELL, Jeff. Crime and Culture. In: HALE, Chris et al. Criminology.
Londres/Nova Iorque: Oxford University Press, 2007.

FERRELL, Jeff; SANDERS, C. R. Cultural Criminology. Boston MA: Northeastern


University Press, 1995.

KATZ, Jack. Seductions of crime: moral and sensual attractions in doing evil. Nova
Iorque: Basic Books, 1988.

HAYWARD, Keith. The city limits: crime, consumer culture and the urban
experience. Londres: Cavendish, 2004.

OXLEY DA ROCHA, Álvaro. Crime e cultura: novas perspectivas e abordagens em


criminologia e controle da criminalidade. In: GAUER, Ruth Maria Chitó (Org.).
Criminologia e sistemas jurídico-penais contemporâneos. 2. ed. rev. e ampl. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2012a. p. 155-172.

SAAVEDRA, Giovani Agostini; VASCONCELLOS, Vinicius Gomes de. Expansão do


direito penal e a relativização dos fundamentos do direito penal. Revista de
Estudos Criminais, São Paulo, n. 42, p. 123-142, 2011.

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