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Obrigação: vínculo que liga as partes a uma prestação de conteúdo


patrimonial para a satisfação do interesse do credor.

Direitos obrigacionais Direito das coisas


(pessoal) (real)

objeto uma prestação uma coisa

sujeito passivo Determinado (ável) indeterminado

Se um direito pessoal De antemão, não se sabe


não tiver um sujeito quem é o sujeito passivo de
passivo uma obrigação real.
determinado(ável), é
reputado inexistente,
pois descumpre um dos
requisitos de existência
do negócio jurídico.
duração Tende a ser temporal. É Tem caráter duradouro.
criado visando a sua
extinção.
quantidade numerus apertus numerus clausus

formação Formam-se a partir da Dependem de lei permitindo


vontade. sua instituição.

eficácia inter partes (relativa) erga omnes (absoluta)

exercício Indireto: depende de uma Direto: independe de


prestação da contraparte. prestação de contraparte.

FIGURAS HÍBRIDAS: obrigações propter rem lato sensu (ambulatórias)


1. Obrigações propter rem estricto sensu (► são obrigações
decorrentes da titularidade ou detenção de uma determinada coisa,
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decorrentes de lei, vinculadas a um direito real, mas com ele não se


confundem. (ex.: direito de vizinhança/desfazer obra irregular etc.)
2. Ônus reais: limitam o direito de propriedade/o pleno gozo pelo titular.
Constitui-se um gravame que acompanha a coisa. ♦ Recai sobre quem
for o titular da coisa; ♦ Tem sempre como conteúdo uma prestação
positiva (a proter rem estricto pode ter positiva ou de não fazer); ♦ O
detentor do bem responde por débitos presentes e passados (na proter
rem estricto, somente pelos débitos presentes, p.ex. condomínio); ♦ É
a coisa que se encontra gravada, logo, o proprietário não responderá
além dos limites do valor da coisa onerada. ♦ Quem deve é a coisa, não
a pessoa (na proter rem estricto, é a pessoa [e seu patrimônio] que se
encontra vinculada); ♦ É preciso que o titular da coisa seja realmente
devedor, sujeito passivo de uma obrigação, e não apenas proprietário
de determinado bem (ex.: obrigação de pagar impostos relativos a
imóveis, transmissível ao adquirente do imóvel).
3. Obrigações com eficácia real: são obrigações típicas, mas que, por
força de lei, tornam-se oponíveis a terceiros/erga omnes [que é um
efeito real]. (Ex. Em geral, o adquirente não precisa respeitar o contrato
de locação vigente antes da aquisição. Todavia, quando o locatário
averba o contrato de locação na matrícula do imóvel locado, a
averbação transforma a obrigação comum em obrigação real que pode
ser oposta mesmo contra o adquirente).
4. Sub-rogação real: sub-rogação do objeto. A lei estabelece que
determinado objeto seja substituído por outro, mantendo-se todas as
limitações existentes ao primeiro sobre o segundo (ex. transferência de
cláusula de inalienabilidade de um bem sobre o outro [Art. 1.848, § 2º
CC])

ESTRUTUTA DAS OBRIGAÇÕES (sujeito, objeto, vínculo)

A. Sujeito: ativo e passivo.

Sujeito ativo: é o credor da obrigação. Titular do interesse


juridicamente tutelável. Pode ser credor pessoa física (mesmo sob
tutela) ou jurídica (pública ou privada). O credor indeterminado deve ser
determinado até o momento de cumprimento da obrigação.
Sujeito passivo: devedor da obrigação. Assume a obrigação ou é
compelido legal ou judicialmente a fazê-lo. Precisa ser determinado até
o cumprimento da obrigação.
Obs. Credor e devedor podem ser alterados e sucedidos, exceto em
obrigações personalíssimas.
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B. Objeto (conteúdo): prestação de dar, fazer ou não fazer (objeto


imediato). Não se confunde com a “coisa” (objeto mediato) submetida
à obrigação.
Obs. O objeto deve ser lícito, possível e determinado/determinável, sob
pena de nulidade (art. 166, inc. II do CC).

C. vínculo: é o elo que liga o credor ao devedor. É vínculo jurídico,


logo, é acompanhado por uma sanção legal. Esta sanção constitui-se
em uma “pretensão” em sentido processual, significa “exigibilidade
jurídica”. O credor, pelo vínculo, é capaz de coagir o devedor a cumprir,
pelos meios legais.
Obs. O vínculo se estrutura em três elementos: (1) direito à prestação.
É o interesse do credor juridicamente protegido; (2) dever
correspondente de prestar. O devedor tem o dever de prestar, e não
mero “direito” ou “ônus”; (3) garantia. A disposição do patrimônio do
devedor ao credor, em caso de inadimplemento.

MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES

civil e natural.

Vínculo civil. Há débito (Schuld) com a correspectiva obrigação


(Haftung); i.e. pretensão processual para o credor e ação processual
contra o devedor (em inadimplemento).
Vínculo natura. É a obrigação jurídica que é mutilada da pretensão
processual. Há débito sem obrigação. O credor não tem o pleno poder
de exigibilidade. Ex. dívida de jogo; empréstimo para dívida de jogo;
dívida prescrita; obrigação imoral, ilícita ou proibida por lei; doação;
mútuo a menor. Entretanto, se cumprida a obrigação (pagamento)
voluntariamente, é irrepetível, salvo em caso de menor ou de interdito.

Imediato (prestação) e mediato (coisa) devem ser lícitos, possíveis e


determinado ou determináveis.

1. Quanto à finalidade: meio, resultado, garantia.


a) Obrigações de meio. Não possuem um resultado específico, mas
tendem a tal resultado. Há adimplemento mesmo que o resultado não
seja alcançado. O inadimplemento se verifica quando o sujeito passivo
não envida todos os esforços para atingir o resultado pretendido. (Ex.
advogado que perde o prazo).
b) Obrigações de resultado. Possuem objetivos já predeterminados.
Ex. pintura de casa, entrega de um veículo.
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c) Obrigações de garantia. Objetivam dar segurança a outro negócio


jurídico, outra obrigação. São acessórias, em regra. Ex. fiança.

1. Quanto à reciprocidade: principais e acessórias.


Principais. Trazem em si todos os elementos essenciais da obrigação,
sendo independente de quaisquer outras relações obrigacionais.
Acessórias. Não tem existência autônoma. Constituem encargos ou
garantias à obrigação principal. Ex. fiança para contrato de locação.
Consequentemente, “o acessório segue a sorte do principal”1. Se nula
a principal, nula será a acessória.

2. Quanto à eficácia: puras e impuras.

1. Puras. Não dependem de qualquer obrigação outra para terem


eficácia. Ex. entregar um produto a alguém.
2. Impuras. Dependem de “algo mais”. Podem ser condicionais, modais
ou a termo.
a) condicionais: subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro
ou incerto (art. 121).
b) modais (ou com encargo): correspondem a um ônus ou obrigação à
parte. (art. 136).
c) a termo: o termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição
do direito.

3. Quanto ao conteúdo*: dar, fazer e não fazer.

A-DAR. Consiste na entrega de determinada coisa a alguém, de


maneira absoluta e singela. O “fazer”, caso exista, é menos relevante
que a coisa em si.
Divide-se em três: i. dar coisa certa; ii. restituir iii. dar coisa incerta

I. Dar coisa certa.

♦ coisa certa é um objeto preciso, que possa se distinguir, por


característicos próprios, de outras da mesma espécie, a ser entregue
pelo devedor ao credor, no tempo e modo devidos.
♦ abrange os acessórios, salvo se o contrário resultar do título ou da
circunstância do caso. Inversamente, as pertenças não estão incluídas
na obrigação, salvo se as partes assim estipularem.
♦ a coisa está sujeita aos eventos da vida, modificações que tbm
alteram a obrigação.

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acessorium sequitur principale
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♦ conforme teoria do risco, res perit domino “a coisa perece para quem
tem seu domínio”. Assim, quem detiver o domínio, sofrerá as perdas
com os eventos que podem atingir a coisa, mas as partes podem
estabelecer o contrário.

Perecimento: nesse caso deve-se atentar para a presença ou ausência


de culpa, boa-fé ou má-fé.
• Perecimento (integral) sem culpa: extingue-se a obrigação sem
indenizações. Eventual pagamento já recebido pelo credor, deverá ser
devolvido.
• Se decorrer de culpa, devedor para perdas e danos, mais o que tiver
recebido já(equivalente).
• Deterioração (parcial). Sem culpa: pode haver, à escolha do credor,
aceitação com abatimento proporcional ao valor perdido ou resolução.
• Deterioração (parcial). Com culpa: credor pode 1. Exigir o equivalente
(i.e. o já pago) ou 2. Aceitar a coisa no estado em que está acrescida
de perdas e ganho (lucro cessante e dano emergente).
• Acréscimo/melhoramento.

• Credor pode 1. aceitar a coisa e pagar proporcionalmente por ele. 2.


Resolver o negócio sem indenização.

• Em caso de má-fé, devedor perderá o valor do melhoramento.

• Frutos percebidos: são do devedor. Frutos pendentes: são do credor.

II. Obrigações de restituir.

• O credor continua a ser o dono e volta a ficar com a coisa. Ex. aluguel
e comodato.
• Em regra, o devedor não responde pela coisa, se isento de culpa.
• Perecimento. Sem culpa: extinção da obrigação com a perda para o
credor. Entretanto, o credor terá direito de receber os direitos que tinha
sobre a coisa até sua perda.
• Se houve culpa: devedor deverá arcar com o equivalente, mais perdas
e danos.
• Deterioração. Sem culpa: credor recebe a coisa no estado em que está,
sem direito à indenização.
• Deterioração. Se com culpa, devedor arca com o equivalente (ou a
coisa de volta?) mais perdas e danos. (Fim do art. 240 é problemático.
Ver enunciado 15 da I JDC).
• Acréscimo/melhoramento.
• Se não houve dispêndio por parte do devedor, o melhoramento
pertence ao credor, sem indenizações.
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• Se houve dispêndio, segue a regra do art. 242 sobre benfeitorias e


frutos. Quanto as benfeitorias: 1. Se com boa-fé: credor indeniza as
úteis e as necessárias e, caso aceite as voluptuárias, tbm as indeniza.
2. Se com má-fé: credor somente indeniza as necessárias. 2. Quanto
aos frutos (ver arts. 1.214s no direito das coisas)

III. Obrigações de dar coisa incerta.

• As regras são similares às de dar coisa certa.


• Coisa incerta, contudo, é algo que não está perfeitamente considerado
em sua individualidade dentro do gênero ao qual pertence.
(gênero=grupo de coisas semelhantes).
• A coisa incerta deve ser indicada pelo menos pelo seu gênero e
quantidade. Precisa ser lícita, possível e determinável.
• Será escolhida pelo devedor, mas é possível pactuar-se o contrário.
• A coisa deve ser escolhida pela qualidade média.
• Feita a concentração, a obrigação se torna certa.
• Cientificando da escolha o credor, já configura concentração (antes
mesmo da entrega).
• Antes da escolha (concentração), o devedor não pode alegar perda ou
deterioração.
• Se a escolha já tiver sido feita, valem as mesmas regras da obrigação
de dar coisa certa.

B-OBRIGAÇÃO DE FAZER

• Fazer compreende uma ação intelectual ou física concretizada com o


dispêndio de energia do agente, cujo fim é a realização de um serviço
material ou imaterial.
• Em regra, são ituitu pernsoae
• O inadimplemento implica em indenização de perdas e ganhos (art.
247).
• Se for obrigação “impessoal” (exequível por terceiro), ela será satisfeita
à custa do devedor, além de perdas e ganhos em caso de mora (art.
249)

I. Em caso de inexecução involuntária

• Trata-se de casos alheios à vontade do sujeito, como doença, morte,


proibição superveniente do pelo poder público etc., não inclui mera
dificuldade de execução.
• Não gera dever de indenização, desde que seja obrigação pessoal.
• Deve haver devolução de pagamento já realizado
• Se a obrigação for impessoal, deve ser substituída
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I. Em caso de inexecução voluntária / com culpa

• Nos casos de obrigação impessoal, o credor pode obter a prestação à


custa do devedor (art. 249)
• Em caso de urgência, isso pode ser feito sem mesmo autorização
judicial (art. 249, PU)
• Devedor fará ressarcimento (em caso de substituição) mais perdas e
ganhos.

C-OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER

• Exige-se uma omissão. Realizada a ação, o devedor descumpre a


obrigação de maneira absoluta
• Podem ter efeitos reais ou obrigacionais
• Ex. no depósito, o depositário não pode se utilizar do bem depositado.
• A maioria são obrigações omissivas decorrestes de lei, como no seguro,
o obrigado não pode agravar o risco.
• Pelo princípio da boa-fé, também decorrem inúmeras obrigações de
não fazer, ainda que não previstos ou não pactuados pelas partes, mas
devem ser cumpridos.
• Art. 250, se tornar-se impossível ao devedor abster-se do ato, fica
extinta a obrigação, se sem culpa (ex. caso fortuito ou força maior).
• Se o descumprimento se der por culpa do devedor, o sujeito que deveria
se abster do ato deverá desfazê-lo, ele mesmo ou terceiro à sua custa.
• Sendo possível ou impossível o desfazimento nesse caso, cabe
indenização por perdas e ganhos (art. 251).
• O desfazimento somente pode ser efetuado depois de decisão judicial,
salvo nos casos de urgência.

5. Quanto à alternatividade: cumulativas, alternativas e facultativas

• As cumulativas (conjuntivas): todas as obrigações devem ser


cumpridas em sua totalidade. O cumprimento final só se dá quando
todas as obrigações são satisfeitas. Ex. empreitada.
• As alternativas (disjuntivas): a escolha de uma obrigação exclui a
outra. A escolha, em geral, é do devedor, se não nada diverso for
estipulado.
• No caso de prestação periódica, a opção pela prestação pode ser
exercida a cada período.
• Se uma das prestações se torna impossível, sem culpa das partes,
concentra-se na restante (253).
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• Se por culpa do devedor não se poder cumprir nenhuma das


prestações, o devedor pagará o valor da que por último se
impossibilitou, mais perdas e danos que o caso determinar (254)
• Se todas as obrigações se tornam impossíveis, sem culpa do devedor,
a obrigação de extingue.
• 255.a. quando a escolha couber ao credor, e uma das prestações
tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor poderá exigir a
prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos
• 255.b. Se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem
inexequíveis, poderá o redor reclamar o valor das duas, mais perdas e
ganhos.
Obs. O “problema” surge após a escolha já ter sido feita.

• Alternativas (subsidiária): Consiste na entrega de um único objeto. No


entanto, faculta-se ao devedor (jamais ao credor), à sua escolha, desde
que pactuado previamente, substituir a prestação quando do
adimplemento.
• O credor, porém, tem direito mesmo apenas à obrigação principal.
• O perecimento da obrigação principal (nulidade, impossibilidade) faz
com que a subsidiária também seja extinta.

6. Quanto à divisibilidade: divisíveis e indivisíveis

• Divisíveis: é a prestação fracionada em mais de um momento.


• A prestação presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e
distintas, quantos forem os devedores ou os credores.
• O objeto (mediato) divisível é aquele que pode ser fracionado, sem que
perca suas características ou valor.
• Indivisíveis: é quando a prestação (objeto imediato) tem por objeto
(mediato) uma coisa ou um fato não suscetível de divisão a. por sua
natureza; b. por motivo de ordem econômica; ou c. dada a razão
determinante do negócio jurídico.
• A indivisibilidade da obrigação pode ser natural, legal ou contratual.
• Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas
e danos.
• Em caso de perecimento de prestação indivisível por culpa de todos os
devedores, todos respondem. Em caso de culpa de um só devedor,
todos respondem de maneira divisível pelo equivalente, mas só o
culpado pelas perdas e danos.
• Nas indivisíveis, havendo mais de um devedor, se um devedor só pagar
a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros
coobrigados.
• Se a pluralidade for dos credores, cada um poderá exigir a dívida inteira.
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• A prestação pode ser satisfeita: a. a todos conjuntamente; b. a um,


dando este a caução da retificação dos outros credores.
• Ler mais em arts. 257-263.

► A. singularidade; B. conjuntividade; C. solidariedade: 1. Ativa 1.1.


perspectiva externa; 1.2. perspectiva interna 2. Passiva 2.1.
perspectiva externa; 2.2. perspectiva interna.

A. Obrigações singulares (simples; únicas): há apenas um credor


(polo ativo) e um devedor (polo passivo).
B. Obrigações conjuntivas (plurais; múltiplas; complexas): O polo
credor ou devedor é integrado por dois ou mais sujeitos.
Cf. 257, havendo mais de um credor ou mais de um devedor em
obrigação divisível, esta se presume dividida em tantas obrigações,
iguais e distintas, quantos os devedores.
Assim, se há pluralidade de sujeitos, há correspondente pluralidade de
vínculos, com relações independentes e com cotas proporcionais em
relação a cada pessoa.
Mas, se indivisível a obrigação, todos os devedores devem a dívida
toda. Aquele que paga se sub-roga no direito de credor em relação aos
outros coobrigados. Assemelhar-se-á à obrigação solidária.
Obs. A indivisibilidade se relaciona com o objeto da prestação. A
solidariedade com os sujeitos da obrigação.

C. obrigações solidárias:

265. A solidariedade não se presume, resulta de lei ou da vontade das


partes.
Pela comunhão de interesses de credores e devedores, são vistos
como um só. Consequentemente, qualquer dos credores,
individualmente, pode exigir a integralidade da obrigação. Assim
também, qualquer dos devedores pode ser compelido a cumprir com a
obrigação inteira (264).
Obs. Há relações jurídicas que não são solidárias, visto que, apesar de
ter se originado de um mesmo fato, os devedores são distintos e a
obrigação é distinta (Ex.: quem usou sem permissão do dono o carro
causando acidente e a seguradora, há obrigações distintas para com o
credor). São chamadas obrigações in solidum.

I. solidariedade ativa: perspectiva externa (devedor x cocredores).


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Ocorre quando diante de uma pluralidade de credores com unidade de


interesses, cada um individualmente pode exigir a integralidade da
prestação (267); o pagamento feito a um dos credores solidários
extingue a dívida até o montante pago (269).
Após citado para pagar a prestação judicialmente, o devedor somente
poderá pagar ao credor que o demandou (268).
Se um credor falecer, os herdeiros só poderão exigir sua quota-parte,
exceto se obrigação indivisível (270).
O devedor não pode opor exceção (ex. compensação) aos demais
credores quando só a tem em relação a algum deles (273).

II. solidariedade ativa: perspectiva interna (entres credores)

O credor que vier a receber (ou remitir) fica obrigado a prestar aos
demais a quota proporcional que lhes cabe (277).
274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os
demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de
exceção pessoal que o devedor tenha o direito de invocar em relação a
qualquer deles.

I. solidariedade passiva2: perspectiva externa (credor x codevedores


solidários)

O credor tem direito a exigir receber de um ou de alguns devedores,


parcial ou totalmente, a dívida comum.
Se o pagamento for parcial, todos os demais devedores continuam
obrigados solidariamente pelo resto.
Não importa renúncia à solidariedade a propositura de ação pelo credor
contra somente um dos codevedores; também o pagamento parcial
feito por um dos codevedores não implica, por si só, renúncia a
solidariedade.
Cf. E 348 da IV JDC, a renúncia á solidariedade deve derivar dos termos
expressos da quitação ou, inequivocamente, das circunstâncias do
recebimento da prestação pelo credor.
Na renúncia à solidariedade, o credor retira algum dos devedores da
solidariedade, mas os demais continuam solidariamente obrigados.
Aquele que foi retirado assim, também continua obrigado em relação a
sua cota-parte, porém não mais solidariamente. Cf. E 351, IV JDC, a
renúncia à solidariedade a fasta a hipótese de chamamento ao
processo de referido retirado.

2O CC/2002 não tratou de: renúncia à solidariedade; remissão relativamente a parcela inferior do que a cota-
parte individual; efeitos da renúncia e da remissão em caso de insolvência de um os codevedores; transação
entre codevedor e credor. Há divergência na doutrina e na jurisprudência.
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Na remissão, o credor retira algum dos devedores do polo passivo. O


tal remitido não está mais obrigado para com o credor.
As exceções podem ser pessoais ou gerais.
Exceções pessoais: diz respeito apenas à pessoa que argui a oposição
e não pode ser arguida em relação aos demais devedores, pois não
ostentam tal exceção contra si (284).
As exceções gerais são aquelas que aproveitam não apenas ao titular
da situação jurídica, mas a todas as envolvidas na relação (ex. 476,
exceção do contrato não cumprido). (281).
estudar melhor obrigação in solidum

II. solidariedade passiva: perspectiva interna: como o codevedor


que adimpliu se relaciona com os demais codevedores?

283. o devedor que satisfez a dívida tem direito a exigir de cada um dos
codevedores a sua quota (pretensão de reembolso).
Nesse caso, a obrigação não continua solidária, ele deve cobrar apenas
a cota-parte de cada um.
Se algum dos devedores “solidários” for insolvente, a parte do
insolvente deve ser rateada entre todos, inclusive entre (a) devedores
que o credor exonerara da solidariedade; (b) o próprio cumpridor da
obrigação (arts. 278, 283 e 284). Chama-se “pretensão de
nivelamento”.
Obs. Não é indicado de quem se cobraria a (cota-) parte do insolvente
que tocaria ao devedor remitido se: (a) do próprio devedor remitido,
contra a literalidade do 284 [que aponta para o “exonerado de
solidariedade”]; ou se (b) do próprio credor remitente (Arnaldo
Rizzardo).
Qualquer que seja a solução, cf. 278, que veda o enriquecimento sem
causa, não é adequado que o adimplente e demais devedores arquem
sozinhos com o prejuízo do insolvente.
Os juros de mora correm para todos os codevedores, mas,
posteriormente, apenas aquele que deu causa aos juros (se este for o
caso) deverá responder por essa obrigação (280). Não se dividirá o
valor dos juros.
Se a prestação de coisa se tornar impossível por culpa exclusiva de
apenas um dos solidários, todos responderão pelo equivalente, mas as
perdas e danos somente poderão ser exigidas do devedor que deu
causa à destruição ou deterioração da coisa.
Não há solidariedade entre os devedores em relação ao devedor que
adimpliu toda a dívida (exceto no caso do 285, ex. fiador pagador da
dívida de terceiro afiançado e seu consequente direito de “regresso
solidário”).
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II. TRANSMISSÃO
1. Cessão de crédito

É o negócio jurídico pelo qual o titular de um crédito, chamado cedente,


transfere esse crédito para um terceiro, chamado cessionário, perante
o devedor, chamado cedido.
a. titular de um crédito = cedente;
b. terceiro = cessionário;
c. devedor = cedido

A relação jurídica continua a mesma, altera-se apenas o titular do


crédito.

A cessão pode ser onerosa ou gratuita. A cessão é livre, exceto


quando: 1º. Vedada por lei; 2º. A vontade das partes não permite; 3º. A
natureza do crédito não permite.

No segundo caso, proibição voluntária à cessão, a cláusula proibitiva


da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não
constar no instrumento da obrigação (cf. 286).

Basta que o devedor seja notificado da cessão para que ela surta seus
efeitos (290). Caso não notificado, o pagamento feito pelo devedor ao
cedente é válido, não podendo o cessionário, posteriormente, alegar
falta de pagamento (292).

O cedente, em regra, responde pela existência do crédito perante o


cedido (presunção relativa), mas não responde pela solvência do
credor-cedido (295, 296 e 29; é a cessão pro soluto). Entretanto, na
cessão de crédito gratuita, responde apenas pela existência em caso
de má-fé, tal como ocorre em regra nas cessões de título oneroso.

Se o credor se responsabiliza pela solvência do devedor-cedido, será


uma cessão de crédito pro solvendo. Nesse caso, não responde por
mais do que recebeu, acrescido de juros das despesas da cessão e das
despesas que o cessionário teve com a cobrança (297).
Em suma: o credor não pode afastar a responsabilidade pela existência
do crédito em duas situações: 1. Nas cessões onerosas 2. Nas gratuitas
de má-fé.
Na cessão de crédito, presume-se a. que o objeto inclui os acessórios
e que b. há transmissão também das garantias, que são acessórias ao
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crédito, como fiança, caução, penhor, hipoteca. Ademais, o cessionário


de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro
imóvel (287,289).
Para a validade e eficácia erga omnes da cessão, é necessário que se
adote a forma escrita, por instrumento público ou particular, revestido
das solenidades do art. 654, § 1º (lugar, data, objetivo da outorga etc.)
cf. 288.

Na cessão, os ônus e as vantagens mantidos tal qual em relação ao


credor original. O cedido pode opor todas as exceções que detinha
contra o credor originário 294. Se após notificado, o devedor nada opõe,
não pode opor a compensação, que antes da cessão teria podido opor
ao cedente. Se, porém, a cessão não tiver sido comunicada, poderá
ainda opor compensação contra o cedente ao cessionário.

Crédito penhorado não pode ser transferido, mas se o for, e o devedor


pagar ao credor-cessionário sem saber da penhora, está liberado.

Se o crédito se representa por título, paga-se a quem apresentar o


título. Se (a) não há título ou se (b) for caso de dívida estabelecida em
escritura pública, paga-se a quem cobrar primeiro. 291.

Classificação da cessão de crédito. Quanto à origem: legal, judicial


ou convencional. Quanto à onerosidade: onerosa ou gratuita. Quanto à
extensão: total ou parcial.

2. Assunção de dívida (cessão de débito)

É quando o devedor transmite sua dívida a um “assuntor” mediante


expressa anuência do credor (299).
Em regra, o silêncio do credor pós comunicação importa em recusa. Há,
todavia, uma exceção: (303) quando o adquirente de imóvel hipotecado
assume o pagamento do crédito garantido, se o credor, notificado, não
impugnar em trinta dias, entender-se-á dado o assentimento.
A recusa do credor, quando notificado pelo adquirente de imóvel
hipotecado comunicando-lhe o interesse em assumir a obrigação, deve
ser justificada (E JDC 353).
Entretanto, a comprovada ciência (do credor) de que o reiterado
pagamento é feito por terceiro (ao credor) no interesse próprio produz
efeitos equivalentes aos da notificação supramencionada (E JDC 424)
299, o devedor primitivo continuará responsável perante o credor SE o
assuntor, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava,
independentemente da ausência de má-fé.
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Entretanto, as partes também podem, já ao celebrar a assunção de


dívida, estabelecer que o assuntor responda pela solvência, como
também se torne devedor solidário. Cf. E 16 da I JDC, é possível da
assunção cumulativa da dívida (coassunção) quando dois ou mais
devedores se tornarem responsáveis pelo débito com a concordância
do credor.
Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito,
com todas as suas garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros,
a menos que “o terceiro” garantidor já conhecia o vício que anulava a
assunção, pois nesse caso, ele continua obrigado (301).
Com a assunção da dívida, em regra, as garantias prestadas por
terceiros (i.e., garantias especiais) se extinguem, salvo concordância
deles. Já as garantias prestadas pelo devedor primitivo somente se
mantêm se este concordar com a assunção.

III. ADIMPLEMENTO

1. Teoria geral do pagamento

Trata do adimplemento comum pelo solvens (devedor) ao accipiens


(credor).
1.1. Sujeitos

A. Quem deve pagar

O devedor. Há casos, porém, em que pessoa diversa da relação


obrigacional (um terceiro) pode cumprir a obrigação visando facilitar o
adimplemento e a satisfação do credor.
O terceiro pode-se apresentar de três modos distintos: (a) em nome e
por conta do devedor (mero representante/procurador); (b) interessado,
em nome próprio (ex. fiador, pois tem interesse jurídico na prestação);
(c) Desinteressado, em nome próprio (ex. pai que paga dívida do filho
já maior, sem ter interesse jurídico).
CC.304: Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la,
usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração
do devedor; (PU) igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o
fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.
Nos dois primeiros casos (a. representante e b. interessado) o credor
não pode se recusar a receber, sob pena de incorrer em mora (do
credor) e passando, então, a ser cabível a “ação de consignação em
pagamento”. Já no terceiro caso (desinteressado), a recusa do credor
não caracteriza mora do credor.
O terceiro interessado que paga se sub-roga automaticamente na
posição do credor na relação jurídica obrigacional (346, III), adquirindo
15

todos os privilégios que o credor original possuía em relação ao credor,


exceto os pessoais (305). A existência da dívida prescinde de prova de
sua parte. Em contraste, terceiro desinteressado tem direito a somente
aquilo que pagou. Se pagar antes do vencimento, só poderá exigir
reembolso quando do vencimento. Terá ainda de provar (a) a existência
da dívida e (b) o pagamento por si realizado.
Obs1. Em qualquer caso, se o terceiro paga sem o conhecimento do
devedor ou contra a vontade deste e o devedor tinha meios para não
parar a dívida (meios para ilidir a ação, cf. 306; ex., exceção de
prescrição ou de compensação contra o credor), tal devedor não terá
de ressarcir o terceiro.
Obs2. O pagamento que importar em transmissão de propriedade (ex.,
entrega de coisa ao credor) só tem eficácia quando feito por quem
possa alienar a coisa em prol da qual o pagamento foi realizado. Ou
seja, se o terceiro cumpre tal obrigação, deve esse terceiro ou próprio
devedor ter o poder de aliena-la, ou seja, ter o domínio da coisa.
Obs3. Se for dada em pagamento coisa fungível, não pode aquele que
adimple reclamar do credor que, de boa-fé, recebeu a coisa e a
consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliena-la. Nesse
caso, o terceiro prejudicado, legítimo proprietário do bem, deve requerer
perdas e danos daquele. Se o consumo foi de má-fé (ou se ainda não
consumiu), pode o legítimo proprietário manejar ação contra o credor
que recebeu o bem. O pagamento é ineficaz, o credor perderá a coisa
em favor do legítimo proprietário e a dívida permanece em sua
integralidade.

B. A quem se deve pagar.

Ao credor (308).
Se o credor morre, seus sucessores assumem sua posição, assim
como na transmissão do débito (terceiro interessado e sub-rogado na
posição do credor pós pagamento), na solidariedade passiva (devedor
que adimple torna-se credor dos demais devedores), ou na procuração
(o procurador tem poderes para receber).
310, não se pode pagar a quem se sabe incapaz de dar quitação, sob
pena de ineficácia, salvo se o devedor provar que o incapaz recebeu o
benefício pelo pagamento. Já o relativamente incapaz não poderá
alegar incapacidade se ocultou sua idade (180).
312, se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita
sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o
pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o
devedor a pagar de novo (aos terceiros credores do seu credor).
Todavia, tal devedor tem o direito de regresso contra o credor originário.
16

309, o pagamento feito ao credor putativo é eficaz. Apesar de 308,309


e 310 usarem “valer”, “válido” e “não valer”, cf. E 425 da V JDC, tal
pagamento repercute no campo da eficácia, e não no plano da validade.

1.2. Objeto.

O objeto do direito obrigacional é tanto o imediato (a prestação) quanto


o mediato (a coisa).
Para análise do objeto e sua prova há que se considerar: (a) a exatidão
da prestação; (b) o nominalismo; e (c) o curso obrigatório da moeda
nacional.

a. Exatidão da prestação. O credor não é obrigado a receber coisa


diversa da devida, ainda que seja mais valiosa (313). Não obstante
objeto divisível, o credor não pode ser compelido a receber em partes,
parcelas, aquilo que não foi convencionado em diferentes prestações.
Entretanto, parte da doutrina, com base no 916 do CPC, afirma que
esse princípio comporta uma exceção, pois se permite ao devedor no
prazo dos embargos, uma espécie de “mora legal”, ao depositar 30%
do valor devido, pode requerer parcelamento em 6 vezes, mas com
acréscimos legais e encargos (custas, honorários, multa e juros).
b. Nominalismo. O dever de determinada quantia em dinheiro ao valor
nominalmente escrito ou correspondente à quantia indicada (315). Há
duas exceções (1ª) quando se convenciona correção monetária (é lícito
convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas,
316); 2) quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção
manifesta entre o valor da prestação devida no momento de sua
execução, (teoria da imprevisão, 317). Tendo em vista o “princípio do
valorismo”, o juiz poderá corrigir o valor a pedido da parte.

c. Curso obrigatório da moeda nacional. São nulas as obrigações


que estabelecem: obrigação de pagar em ouro ou moeda estrangeira,
ou indexação em moeda estrangeira/ouro, salvo disposição legal em
contrário (318). Esse princípio é excepcionado, em regra, nas
obrigações transnacionais (importação e exportação) ou de câmbio, no
caso de licitações para produtos muito específico. Ademais, pode uma
obrigação ser fixada em moeda estrangeira, desde que, quando da
data da quitação, o valor da dívida seja convertido para a moeda
nacional.
17

1.3. Lugar.

Regra: domicílio do devedor.


Exceções: havendo pluralidade de lugares: escolha cabe ao credor
(327)
Imóveis: local no qual se situa o imóvel (328)
Alteração: 1ª) motivo grave ou alheio ao devedor, quando sem prejuízo
ao credor (330); 2ª) pagamento reiteradamente feito em lugar diverso
do convencionado (presume-se renúncia do credor ao local de
pagamento. Exemplifica caso de supressio ou Verwirkung: (a) pessoa
não exercita seu direito no tempo adequado; (b) o transcurso do tempo
torna o seu exercício abusivo).

1.4. Tempo.

Obrigações puras: aquelas nas quais não se encontra termo ou


condição.
Obrigações impuras: estão sujeitas a termo ou condição (ex. prazo).
Salvo determinação contrária em lei, as obrigações puras podem ser
exigidas a qualquer tempo do devedor (331). Exigem interpelação.
Entre a interpelação e o adimplemento, não há prazo preestabelecido,
valendo aí a boa-fé objetiva no caso concreto.
Nas obrigações sujeitas a termo, o momento para o cumprimento da
obrigação é a ocorrência do efeito. Somente é exigível quando do
termo. O 333 traz, contudo, exceções exemplificativas: (I) falência do
devedor ou concurso de credores (II) se os bens, hipotecados ou
empenhados, forem penhorados em execução por outro credor (III) se
cessarem/se tornarem insuficientes as garantias do débito,
fidejussórias ou reais, e o devedor, intimado, negar-se a reforçá-las.
Nesses casos, (333, PU), havendo solidariedade passiva, não se
reputará a obrigação vencida quando aos outros devedores solventes.
Por fim, diante da lex mercatoria, pode um contrato validamente prever,
por exemplo, que o inadimplemento de uma parcela faça vencer
automaticamente as demais.
Nas obrigações sob condição, o momento é a data em que o devedor
tomou ciência do implemento da condição. Cabe ao credor o ônus de
provar a ciência do devedor quanto ao implemento da condição.

1.5. Prova.

A prova se dá pela quitação, podendo esta ser feita por instrumento


particular. Na hipótese do credor se recusar dar a quitação, pode o
devedor reter o pagamento ou consigná-lo (319). A quitação pode-se
dar por meios eletrônicos ou quaisquer outras formas de comunicação
18

à distância, assim entendida aquela que permite ajustar/praticar atos


jurídicos sem a presença corpórea (E 18 I JDC). Ainda que a forma da
quitação seja livre, o conteúdo precisa conter os dados essenciais do
pagamento, cf. 320 “o valor, a espécie da dívida corrida quitada, nome
do devedor ou de quem por este pagou, tempo e lugar do pagamento,
assinatura do credor/representante”. Entretanto, no caso de mero
recibo, são desnecessários esses requisitos (320, PU).

Há diversas presunções relativas (juris tantum) ao pagamento que


podem ser afastadas pelas partes. Ex.: *a entrega do título faz presumir
seu pagamento; *a destruição do título faz presumir seu pagamento;
*nas prestações periódicas, a quitação da última parcela faz presumir a
quitação das primeiras; *havendo quitação do capital sem reserva dos
juros, presume-se que estes foram pagos juntamente com o capital; *as
despesas com a quitação ficam a cargo do devedor, mesmo havendo
aumento; *se o pagamento tiver que ser feito por medida ou peso,
presume-se a adoção da medida ou peso do lugar de execução da
prestação (321-326).
Obs. Em caso de dívida cartularizada (ex. promissória), pode o devedor
exigir do credor declaração que inutilize o título desaparecido. Ademais,
no caso de entrega/destruição do título, o credor tem exíguos 30 dias
para provar o contrário.

2. Meios alternativos de pagamento

Os meios alternativos (modalidades especiais) de pagamento são: (1)


consignação em pagamento: 1.1. extra judicial; e 1.2. judicial; (2)
pagamento com sub-rogação: 2.1. convencional; e 2.2. legal; (3)
imputação ao pagamento; (4) dação em pagamento; (5) novação: 5.1.
objetiva; e 5.2. subjetiva; (6) compensação; (7) confusão; e (8)
remissão.

2.1. Pagamento consignação.

É cabível nas situações em que o devedor quer pagar, mas fica


impossibilitado por obstáculos alheios ao próprio devedor, e sim por
empecilhos criados pelo próprio credor, culposamente ou não (335, rol
exemplificativo).
São hipóteses quando o credor se recusa a receber; exige pagamento
além do devido; discorda do montante a ser pago; deixa de ir receber
(obrigação quérable); recusa-se a dar quitação correta; ausenta-se do
domicílio; passa a residir em local incerto ou perigoso; quando o
devedor não sabe exatamente a quem pagar ou o objeto do pagamento
está em litígio (havendo ciência do litígio, se o devedor pagar a qualquer
19

dos pretendidos credores [em vez de consignar], assume o risco do


pagamento, 344). Pendendo o litígio entre credores que se pretendam
mutuamente excluir, vencendo a dívida, poderá qualquer deles requerer
a consignação (345). É cabível também nos casos em que a prestação
ainda é indeterminada (342). Terceiros juridicamente interessados
podem também exercer a consignação em pagamento.

A consignação dá-se mediante depósito judicial (consignação de


natureza processual) ou extra judicial (de natureza material) da
prestação para liberação ao devedor. Extrajudicial: somente quando se
tratar de obrigação de dar pecuniária. Judicial: tem aplicação para todas
a obrigações de dar e subsequentemente à consignação extrajudicial
recusada pelo credor.

Se o credor recusa o pagamento, deve o devedor propor a consignação


extrajudicial, provando à instituição financeira que propôs a lide (STJ).
Se a consignação for feita à pessoa, tempo, modo e local devidos, o
devedor fica liberado e o credor é condenado ao pagamento das custas
e despesas processuais (343). *Supõe alguns que, em se tratando de
consignação de pagamentos sucessivos, o pagamento a destempo de
uma parcela não afastaria a procedência do pedido, de per si. Haveria
procedência parcial com distribuição da sucumbência de maneira
proporcional ao (in)adimplemento havido. *Enquanto o credor não
declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor
requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas. Mas
*Depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, o credor que
concordar com o levantamento (pelo devedor?) perde a preferência e a
garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada e ainda
ficam desobrigados os codevedores e fiadores que não tenham anuído.
*Em havendo pluralidade de devedores/fiadores e, julgado procedente
o depósito, o devedor não pode levantar os valores, mesmo que o
credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores.

Se julgada improcedente a consignação, será aplicado,


retroativamente, todos os ônus do inadimplemento, além de custas e
despesas decorrentes da consignação (337 e 343).

2.2. Pagamento com sub-rogação.

Primeiro, ocorre o pagamento feito por outrem e, posteriormente, a sub-


rogação deste terceiro no lugar do credor com todos os bônus da
assunção. Há duas espécies de sub-rogação: legal e convencional.
20

A. Legal (automática / ex lege)

Ocorre quando o efeito da sub-rogação ocorre simplesmente por


determinação da lei. Não se pode afastar a aplicação da norma que
ordena a sub-rogação quando cumpridas as exigências legais. As
hipóteses são, cf. 346 (I) credor que paga a dívida do devedor
comum; (II) adquirente de imóvel hipotecado, que paga credor
hipotecário, bem como de terceiro que efetiva o pagamento para não
ser privado de direito sobre imóvel; (III) terceiro interessado, que
paga a dívida que era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.

O sub-rogado legal, todavia, não poderá exercer os direitos e as


ações do credor, senão até a soma que tiver desembolsado para
desobrigar o devedor.

B. Convencional (ex voluntate).

São hipóteses: (I) quando credor recebe o pagamento de terceiro e


expressamente lhe transfere todos os seus direitos. (II) Quando
terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a
dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos
direitos do credor satisfeito.

O que diferencia esta da legal é apenas com quem o terceiro


“negociou”, se com o credor (ex lege) ou se com o devedor (ex
voluntate).

Esta sub-rogação tem o mesmo regramento geral da cessão de


crédito. Havendo o pagamento (tanto na legal como na convenciona)
a relação jurídica obrigacional não se extingue, permanece a mesma.
Ocorre apenas a alteração do sujeito no polo ativo. O terceiro
pagador passa a ter a titularidade, com toda a amplitude originária,
poderes, acessórios, garantias e pretensões do credor originário.

Há, todavia, distinção em relação a cessão de crédito. A cessão de


crédito pode ocorrer a título oneroso ou gratuito; o pagamento com
sub-rogação é sempre oneroso. Ademais, na cessão de crédito,
mesmo a título oneroso (em regra, com deságio), não há pagamento
propriamente dito.
21

2.3. Imputação.

Tem aplicação nas situações em que o mesmo devedor possui várias


dívidas ((diferentes relações jurídicas obrigacionais) com o mesmo
devedor.

Em princípio, cabe ao devedor a escolha (indicação, imputação) de qual


obrigação está cumprindo, podendo-se convencionar o contrário.

Há três critérios para a indicação (imputação) da quitação (353):


acessoriedade (primeiro imputa-se o pagamento dos juros para depois
imputar o pagamento do principal, 354); tempo (dívidas iguais, quitam-
se primeiro as mais antigas (vencidas primeiro) em detrimento das mais
novas; onerosidade (se todas as dívidas forem vencidas, líquidas e
exigíveis, o credor deve imputar o pagamento às mais onerosas [ com
mais juros/encargos de rolagem]).

2.4. Dação.

Quando o devedor oferece coisa diversa da devida e o credor aceita


receber, para liberação total ou parcial da obrigação, opera-se a dação
em pagamento (356). Pode ocorrer na substituição de dinheiro por coisa
(móvel ou imóvel — datio rem pro pecuni); substituição de uma coisa
por outra (datio rem pro re); dinheiro por abstenção (obrigação
negativa); coisa por fato (obrigação positiva) etc. Há regramentos
distintos:

Se dada coisa em dação em pagamento, uma vez fixado o preço da


coisa, vigem as regras da compra e venda (357).
Se for entregue um crédito em dação em pagamento, vigerá as regras
da cessão de crédito (358).

Se, após uma dação em pagamento de coisa, o credor perde a coisa


por decisão judicial (evicção), a dação é desfeita e retorna-se à dívida
anterior (359). A dívida original ressurge como se a dação nunca
houvesse ocorrido.

A exceção fica nos casos de fiança, hipoteca e penhor. Ou seja, se o


devedor dá em pagamento algo e o credor aceita e, posteriormente,
perde a coisa, por evicção, o fiador não responderá mais pela dívida.
Em qualquer caso, os direitos de terceiros de boa-fé não serão atingidos
(ou seja, o sujeito que recebeu a propriedade não a perderá, 359).
22

2.5. Novação.

Ocorre quando surge uma nova obrigação com o condão de extinguir a


anterior. (1) Há o desfazimento da original; (2) para que, com ânimo de
novar; (3) constitua-se nova relação.

Com ela, criam-se novos direitos e obrigações para as partes, que não
se ligam às obrigações anteriores, novadas. Extingue a obrigação
anterior com todas as suas garantias, acessórios, exceções pessoais,
privilégios creditórios e solidariedade, salvo estipulação em contrário
(novação parcial, cf. 364 e 365).

*Se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi


parte na novação, a novação não incluirá o penhor, a hipoteca ou a
anticrese. *No caso de solidariedade passiva, se a novação ocorrer com
um dos devedores solidários, somente sobre os bens deste subsistem
as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores
solidários ficam por esse fato exonerados. *Caso a dívida tenha fiador,
importa exoneração dele a novação feita sem seu consenso com o
devedor principal (366). *Requer-se, na novação, que a obrigação
anterior seja devida, válida e exigível (não nulas). No entanto,
obrigações anuláveis podem ser novadas (367), p.ex., obrigação
assumida por relativamente incapaz ou uma obrigação natural. *Quanto
ao ânimo, pode ser expresso ou tácito, mas ambas as partes devem ter
a vontade específica de criar uma nova obrigação (361), do contrário, a
segunda dívida apenas confirma a primeira. *Cf. STJ, Súmula 286, a
renegociação de dívidas ou a confissão de dívida não impedem a
discussão sobre ilegalidades da obrigação anterior.

São três as espécies de novação (360): (I) - quando o devedor contrai


com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior; (II) -
quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o
credor; (III) - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é
substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este.

Pela dicção do artigo, é possível visualizar três espécies de novação, a


novação objetiva, vista quando se substitui o objeto da prestação, a
novação subjetiva ativa, no caso de substituição do credor, e a
novação subjetiva passiva, que ocorre na substituição do devedor. É
possível, ainda, a novação mista ou complexa, quando concorrerem
a substituição tanto do sujeito (ativo ou passivo) quanto do objeto.
23

Se novação subjetiva passiva, o devedor não precisa expressar sua


concordância. Inclusive, pode a novação ser feita contra sua vontade
(362).
Pode-se reconhecer duas espécies de novação subjetiva passiva. (1ª)
ocorre quando o devedor acorda com o credor sua substituição, ficando
quite com ele (360, inc. II); trata-se da novação subjetiva passiva por
delegação. (2ª) pode ser que o credor substitua o devedor, sem o
consentimento do próprio devedor ou mesmo com sua oposição;
dando-se por quitado quanto a ele (362); trata-se, nesse caso, de
novação subjetiva passiva por expromissão.

Assumindo novo devedor, se ele for insolvente, não tem o credor, que
o aceitou, ação regressiva contra o devedor originário, salvo se este
obteve por má-fé a substituição (363), no caso da delegação. Se o
credor o fez sem o consentimento do devedor ou contra sua vontade,
no caso da expromissão, não há como aquele regredir contra este,
evidentemente.

2.6. Compensação.

Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da


outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se
compensarem(368); a compensação efetua-se entre dívidas líquidas,
vencias e de coisas fungíveis (369), mas tais coisas fungíveis, ainda
que do mesmo gênero, não se compensarão quando se verificar que
diferem na qualidade, quando especificada no contrato (370); os prazos
de favor não obstam a compensação (372); quando duas dívidas não
são pagáveis no mesmo lugar, deve-se, primeiro, deduzir as despesas
necessárias.

Algumas obrigações são incompensáveis por força de lei. São elas


dívidas (I) provenientes de esbulho, furto ou roubo (Ex. roubo de quem
me devia para “receber”); (II) proveniente de comodato ou depósito; (III)
proveniente de alimentos (honorários advocatícios têm natureza
alimentar, cf. art. CPC, 84, § 4º); (IV) de objeto impenhorável; (V)
durante o processo falimentar (cf. lei de falências); quando a convenção
proíbe (as partes podem expressamente vedar a compensação).

Ao lado da compensação voluntária e da legal, haveria ainda a hipótese


de compensação judicial que é quando o juiz determina a compensação
de obrigações recíprocas entre autor e réu, seja por convenção ou
pedido, ou nos casos de ações dúplices, como as possessórias (REsp.
1.524.730).
24

Em regra, somente o devedor pode compensar dívida com o credor, e


vice versa, não podendo terceiro compensar dívida alheia. Há exceção,
todavia, no caso do fiador, pois o fiador pode fazer compensação entre
aquilo que o credor do afiançado lhe deve para abater a dívida do
afiançado com o credor. *Sendo a mesma pessoa obrigada por várias
dívidas compensáveis, serão observadas as regras estabelecidas
quanto à imputação do pagamento. *Em qualquer situação, não pode a
compensação prejudicar terceiros, assim “o devedor que se torna
credor do seu credor, depois de penhorado [executado] o crédito deste
credor [que se tornou devedor e executado], não pode o ainda devedor
(apesar de ter se tornado credor do seu credor) opor ao exequente a
compensação de que contra o ‘credor-devedor-executado’ disporia.
*Para o devedor opor compensação ao cessionário, precisa fazê-lo
quando da notificação da cessão. Se não se opuser precisam ente
quando da notificação, presume-se que não pretende compensar.

2.7. Confusão.

Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam


as qualidades de credor e devedor, seja por causa mortis ou por ato
inter vivos A confusão pode-se verificar a respeito de toda a dívida, ou
só de parte dela. A confusão somente ocorre quando não puder ser
restabelecida a situação anterior, pois, do contrário, ela é desfeita
(cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus
acessórios, a obrigação anterior, 384. Ex., credor morto presumido
reaparece, restabelecendo eventual dívida do herdeiro com seu credor
“reaparecido”). *A obrigação pode ser total (própria) ou parcial
(imprópria). A própria extingue a obrigação em sua integralidade e a
imprópria, parcialmente, apenas. Se houver solidariedade numa
confusão parcial, a solidariedade persiste no restante da dívida (383).
Obs. A solidariedade é elemento subjetivo da obrigação; a
compensação trata do objeto (dívida); em havendo confusão parcial,
nada muda em relação ao sujeito, mas apenas no tocante ao objeto, de
maneira limitada.

2.8. Remissão.

É o ato pelo qual o credor perdoa a dívida do devedor com sua


aceitação (385). É negócio jurídico bilateral (diferentemente da
renúncia), e produz efeitos jurídicos apenas quando há concordância.
Não pode haver prejuízo de terceiros. A remissão pode ser expressa
(mediante instrumento escrito público ou particular); tácita (ex. credor
entrega cártula da obrigação ao devedor, que a aceita).
25

Obs. Cf. 324, “a entrega de título (de crédito; i.e., obrigação


cartularizada, ex. cheque ou promissória) ao devedor firma a presunção
de pagamento”, não de remissão. Já o 386 diz que “a devolução
voluntária do título da obrigação (não cartularizada), quando por escrito
particular” aí se tem a remissão. Desse modo, se o credor devolve
promissória, está pressuposto o pagamento. Se o credor devolve o
contrato no qual se pode encontrar a causa da dívida, há remissão, não
pagamento. De qualquer modo, o credor tem de ser capaz de alienar e
o devedor capaz de adquirir. *Ademais, a restituição voluntária do
objeto empenhado prova somente a renúncia do credor à garantia real,
mas não a extinção da dívida. *Quando há devedores solidários, se o
credor perdoa/remite um deles, os demais continuam devedores
solidários, mas descontada a cota-parte daquele que foi perdoado
(388).

Em suma, as modalidades especiais de pagamento são (1)


consignação em pagamento: 1.1. extra judicial; e 1.2. judicial; (2)
pagamento com sub-rogação: 2.1. convencional; e 2.2. legal; (3)
imputação ao pagamento; (4) dação em pagamento; (5) novação: 5.1.
objetiva; e 5.2. subjetiva; (6) compensação; (7) confusão; (8) remissão.

1. Teoria geral do pagamento

Em regra, quando há inadimplemento, surgem para o credor duas


possibilidades. Primeiro, pode cobrar o devedor pelo restante da dívida
mais perda e danos, se for o caso, mantendo-se o vínculo contratual.
Segundo, pode resolver o contrato, desfazendo-se a relação com
retorno ao status quo ante e, se for o caso, com a tomada de medidas
específicas, como a reintegração de posse ou a busca e apreensão do
bem. Há casos, porém, em que ocorre o inadimplemento insignificante,
como no caso de um devedor que paga 99 de uma dívida de 100. Trata-
se de descumprimento de proporções mínimas que não afetam os
efeitos do contrato e, nestes casos, há, então, a relativização do art.
475. Nessas situações permite-se a aplicação da Teoria do
Adimplemento Substancial (substancial performance). Sua aplicação
dá-se por aplicação dos princípios (a) da boa-fé objetiva; (b) da função
social do contrato, além da (c) vedação ao enriquecimento ilícito. Todos
regrados no CC/2002.

Para aplicar a Teoria do Adimplemento Substancial é necessário: 1.


Cumprimento expressivo do contrato; 2. Realização da prestação
correspondente ao fim visado; 3. Preservação da boa-fé objetiva do
devedor na execução 4. Preservação do equilíbrio contratual 5.
Ausência de enriquecimento sem causa e [de] abuso de direito.
26

A aplicação da teoria simplesmente não apaga o débito (o devedor


continua sendo devedor), mas sim, obsta a resolução unilateral do
contrato, impede que o credor maneje a exceção de contrato não
cumprido e veda que ele use de meios mais gravosos na execução do
débito. *Não tem previsão legal, visto que a teoria do adimplemento
substancial é construção doutrinária e jurisprudencial. Está prevista no
E 361 da IV JDC, que prevê que o adimplemento substancial decorre
1. dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar 2. a
função social do contrato e 3. o princípio da boa-fé objetiva, balizando
a aplicação do art. 475. Não obstante, o STJ impede a aplicação dessa
teoria aos contratos regidos por lei especial.

Obs1. Pesquisar sobre O instituto do duty to mitigate the loss (refere-se


à necessidade de mitigar o agravamento da situação do devedor
quando instado a cumprir determinada obrigação).

Obs2. A novação pode ser subjetiva ativa – em que há mudança de


credores – ou subjetiva passiva – em que há mudança de devedores
–, sendo imprescindível a criação de nova obrigação. Na novação
subjetiva passiva, ainda há a possibilidade de se mudar o devedor
original, contando com a participação dele, o que configura a novação
subjetiva passiva por delegação, ou então ocorrer a mudança de
devedor sem a participação do antigo devedor, o que é denominado de
novação subjetiva passiva por expromissão.
27

IV. INADIMPLEMENTO
I. Inadimplemento absoluto. II. Inadimplemento relativo. 1. Mora. 2.
Perdas e Danos. 3. Juros. 4. Correção monetária. 5. Cláusula Penal.
6. Arras. 7. Prisão.

O inadimplemento é o descumprimento imputável ao devedor, a partir


de determinados critérios de responsabilização. Assim, o
inadimplemento se diferencia do descumprimento por conta de sua
qualificação, pela imputação de responsabilidade ao devedor, mas nem
todo descumprimento é um inadimplemento (porque inimputável ao
devedor).

Em relação à extensão, o inadimplemento pode ser de duas espécies:

I. Inadimplemento absoluto.

• Aquele inadimplemento que é de tal maneira grave que o credor perde


o interesse objetivo na prestação. Justamente por isso, a prestação é
substituída por perdas e danos, que abrangem tanto os danos imediatos
e diretos (danos emergentes), como os danos mediatos e indiretos
(lucros cessantes).
• Se a obrigação é de pagar, incluem-se a correção monetária, juros
moratórios, as penas convencionais e os honorários advocatícios, sem
prejuízo de alguma prestação pecuniária suplementar, caso os
prejuízos do credor sejam superiores.

II. Inadimplemento relativo.

• Não obstante o inadimplemento, mantém-se o interesse objetivo do


credor no recebimento da prestação.
. • Se a obrigação for pura, sem termo certo, o termo dá-se por
interpelação do devedor, feita por notificação judicial ou extrajudicial.
Se a obrigação for impura, sujeita a um termo, a interpelação é
desnecessária, consoante estipula o art. 397 do CC/2002.
Não se deve confundir inadimplemento com impossibilidade.
Inadimplemento é o descumprimento imputável ao devedor; já a
28

impossibilidade não é imputável a ele, pelo que inaplicável a mora e


suas consequências.
A impossibilidade pode ser classificada em:
I. Impossibilidade originária.
• Dá-se já na formação da obrigação. São os casos de objeto
impossível, como, por exemplo, o contrato de venda de bem público,
que conduz à nulidade do ato constitutivo da obrigação.
II. Impossibilidade superveniente.
• Ainda que válida e possível, a prestação torna-se impossível por
fatores externos. Por exemplo, a entrega de um medicamento cuja
importação torna-se proibida pela ANVISA.
A impossibilidade deve ser vista como fato objetivo. A impossibilidade
relativa não pode ser confundida com dificuldade no cumprimento da
prestação, que gera inadimplemento, já que esta não pode ser
considerada como impossibilidade.
Se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa,
com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis (Ex., dólar sobe de 4 para 20 $;
equiparando-se o inadimplemento relativo à impossibilidade
superveniente), poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Essa
sentença terá eficácia ex tunc, ou seja, retroagirá à data da citação. Mas
pode o credor evitar a resolução modificando equitativamente as
condições do contrato (art. 479).
Os casos de incumprimento por caso fortuito ou força maior (393)
afastam a responsabilidade do devedor. Por que? Precisamente porque
não se pode imputar o acontecimento ao devedor, nesses casos.
Excepcionalmente, no entanto, mesmo em se verificando o caso fortuito
ou a força maior, não se exime o devedor do descumprimento. Ex. (1)
da obrigação de dar coisa incerta, em que, antes da escolha, o devedor
não pode se exonerar da obrigação, mesmo havendo fortuito (246); (2)
Igualmente, a mesma solução se verifica quando o devedor se
responsabilizou expressamente por fortuito ou força maior (393); ou
ainda (3) quando o devedor está em mora. Nos dois primeiros casos,
não há culpa, mas ainda assim, há imputação de responsabilidade.
29

1. Mora.
A mora não ocorre apenas nos casos de obrigação pecuniária, mas
também nas obrigações de fazer ou não fazer e nas obrigações de dar
coisa diferente de dinheiro. Mora não equivale apenas à falta de
pagamento no prazo, no tempo certo, mas também no modo e no lugar
devidos. A mora pode ser tanto do devedor (mora solvendi, debitoris ou
debendi) quanto do credor (mora accipiendi, creditoris ou credendi,
394). Pode-se pensar ainda numa mora recíproca ou simultânea, na
qual ambos, credor e devedor, estão em mora. Nesse caso, haveria
uma “compensação” da mora, não se aplicando seus efeitos a
quaisquer das partes.
A. mora do devedor.
Tem de se diferenciar a obrigação pura (que necessita de interpelação
para se caracterizar a mora, 397, PU; chamada mora ex persona ou
mora pendente); da impura (sujeita a termo ou encargo, mora ex re ou
mora ex tempore).
A jurisprudência entende que uma vez interpelado o devedor, judicial
ou extrajudicialmente (mora ex persona), para adimplir a obrigação,
deve-se conceder um prazo razoável para que isso seja feito, não se
considerando a mora desde o momento da notificação.
Cf. O “E 427 da V JDC” prevê que é válida a notificação extrajudicial
promovida em serviço de Registro de Títulos e Documentos de
circunscrição judiciária diversa da do domicílio do devedor. O CC/2002
não exige forma específica de notificação, desde que ao menos
extrajudicial, em homenagem à instrumentalidade de formas. O E 619
da VIII JDC previu que a interpelação extrajudicial tratada no CC/2002
admite prova por meios eletrônicos, desde que demonstrada a ciência
inequívoca do interpelado, salvo disposição em contrário no contrato.
Nos casos de obrigação impura, a mora opera automaticamente com o
evento (mora ex re), não se necessitando de interpelação (dies
interpellat pro homine = o dia interpela pelo homem). Se a obrigação for
pecuniária, só se pode falar em mora quando a dívida é líquida e certa;
se for ilíquida, deve o credor propor ação para liquidá-la (cf. 509 e ss.
do CPC/2015).
Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em
mora desde que praticou o ato lesivo (398). Trata-se de “mora irregular
30

ou presumida”. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor,


obviamente que não incorre este em mora (396).
Em qualquer caso, configurada a mora, em decorrência do
reconhecimento do inadimplemento (descumprimento com imputação),
há dois efeitos para o devedor:
1. Prestações Acessórias: • Surge uma série de prestações
acessórias, que vêm a se acoplar à obrigação principal,
especialmente juros moratórios, correção monetária, honorários
advocatícios e demais prejuízos decorrentes da mora, como a
perda dos frutos e os lucros cessantes (395).
2. Perpetuação da Obrigação: • Responde o devedor em mora pela
impossibilidade da prestação, pela perda ou deterioração do bem,
mesmo sem culpa e na ocorrência de caso fortuito ou força maior,
salvo se comprovar que o prejuízo ocorreria de qualquer modo
independentemente da mora (399).
Por fim, o E 354 da IV JDC estabelece que a cobrança de encargos
e parcelas indevidas ou abusivas impede a caracterização da mora
do devedor. Ou seja, mesmo que descumprindo a obrigação, se
forem cobrados valores indevidamente, não se caracteriza a mora.
B. Mora do Credor.
A mora do credor se verificará quando ele recusa receber a prestação
no tempo, na forma ou no local devidos.
A recusa do credor é justificada (não constitui mora) nos casos em
que o devedor quer prestar a obrigação de maneira diversa da
pactuada. Se o credor tem razões jurídicas para se negar a receber,
não se configura sua mora. É comum a recusa do credor em receber
quando há divergência entre o valor que pretende receber e o valor
que o devedor pretende pagar. Nesses casos, cabe a ação de
consignação em pagamento.
Para o credor há apenas um efeito da mora: O credor em mora deve
arcar com todos os prejuízos que o devedor teve adicionados para a
conservação da prestação. Porém, se o devedor é desidioso na
conservação do bem, responde pelos danos, quando age com dolo
(400).
31

C. Purgação ou emenda da mora


Nas situações de mora, seja da parte devedora, seja da parte credora,
tem a contraparte o direito de purgar a mora, ou seja, oferecer a
prestação devida, ou receber a prestação, respectivamente, arcando
com as consequências decorrentes da mora. Cf. 401, (I) - por parte do
devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos
decorrentes do dia da oferta; (II) - por parte do credor, oferecendo-se
este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a
mesma data. *A purgação da mora só é cabível quando o
inadimplemento é relativo. Se for absoluto, não há utilidade em purgar
a mora (p.ex. entregar o vestido da noiva no dia posterior ao
casamento).
Tecnicamente, a cessação da mora é diversa da purgação. Na
purgação, a eficácia é puramente ex nunc, ou seja, não retroage. Já
na cessação, a eficácia é ex tunc, retroagindo, como nos casos de
remissão de dívida (inadimplida), renúncia ou novação. Todos os
efeitos da mora simplesmente deixam de existir.
2. Perdas e Danos.
Quando se imputa o inadimplemento ao devedor, além dos juros e da
cláusula penal, deve indenizar o credor pelas perdas e danos devidos.
Essa indenização por perdas e danos abrange duas espécies de
prejuízos:
Danos emergentes:
• Também chamado de dano positivo, representa uma perda
patrimonial, um minus ao patrimônio do credor, aumentado seu passivo
(como, p.ex., o gasto com o conserto da casa) ou depreciando seu ativo
(como, p.ex., o veículo batido).
Lucros cessantes:
• Também chamado de dano negativo, representa não uma perda
patrimonial direta, mas a frustração da expectativa de ganho, a perda
de um lucro esperado (um “deixar de ganhar”, cf. 402).
Deve haver um nexo de causalidade entre o dano experimentado e o
inadimplemento que lhe dá origem (403). É irrelevante se o
descumprimento da obrigação foi culposo ou doloso. * No caso dos
danos emergentes, verifica-se o valor objetivo da obrigação (ex. como
os gastos com o conserto do carro batido); e no caso do lucro cessante,
32

faz-se estimativa (ex. as diárias do motorista de aplicativo que deixou


de trabalhar por um período). Nesses casos, incidem sobre as perdas
e danos juros moratórios, atualização monetária, custas processuais e
honorários advocatícios, além de cláusula penal e indenização
suplementar, se couber (404).
Não se pode cumular a cobrança de cláusula penal compensatória e
perdas e danos, havendo aí bis in idem (cf. STJ; REsp 1.335.617/SP).
Inversamente, a cumulação é possível quando o credor provar que
sofreu prejuízo superior, em estando prevista a indenização
suplementar em contrato; nesse caso, a multa (cláusula penal
compensatória) serve como taxa mínima de indenização (416).
Lembre-se de que se não pactuada indenização suplementar, mas
havendo cláusula penal, não pode o credor pleitear a indenização
suplementar. De outra banda, se não prevista cláusula penal, e se os
juros forem insuficientes para cobrir o prejuízo, aí sim pode ser
pleiteada a indenização suplementar.
Regra geral: Não se pode cumular a cobrança de cláusula penal
compensatória E perdas e danos (bis in idem)
Exceção: a cumulação é possível quando (1º) prevista a indenização
suplementar em contrato; e (2º) credor provar que sofreu prejuízo
superior.
Consequência1: (a) se NÃO pactuada indenização suplementar, mas
(b) havendo cláusula penal, então (c) NÃO pode o credor pleitear a
indenização suplementar.
Consequência2: (a) se não prevista cláusula penal; e (b) se os juros
forem insuficientes para cobrir o prejuízo, então (c) aí sim, pode ser
pleiteada a indenização suplementar.
Obs. Para se exigir a pena convencional, não é necessário que o credor
alegue prejuízo (416).
► Mora ex re (automática)
• Contam-se juros moratórios a partir do vencimento da obrigação (E
428 do JDC), por conta do dies interpellat pro homine — nas obrigações
negociais.
33

► Mora ex persona (mediante interpelação)


• Contam-se juros moratórios a partir da citação —na
responsabilidade contratual (art. 405 do CC/2002 e art. 240 do
CPC/2015)
Obs1. limitada às hipóteses em que (1) a citação representa o papel de
notificação do devedor ou (2) o objeto da prestação não tem liquidez.
Obs2 A regra do art. 405 aplica-se somente à responsabilidade
contratual. Não se contam juros moratórios desde a citação na
responsabilidade extracontratual (398; E 163 da III JDC).
► Mora presumida
• Contam-se juros moratórios a partir do evento danoso — na
responsabilidade extracontratual (cf. Súmula 54 do STJ; E 163 da III
JDC; e 398).
Obs. os honorários previstos nos arts. 389 e 404 são os honorários
contratuais (pagos pela parte autora ao seu advogado; por isso, deve
ser ressarcida); portanto, tais honorários não se confundem com as
verbas de sucumbência, que, por força do art. 23 da Lei 8.906/1994,
pertencem estritamente ao advogado.
3. Juros.
Os juros são prestações acessórias que se acoplam à obrigação
principal. Só se fala em juros quando se fala de um bem principal,
Quanto à origem, podem ser legais) ou convencionais (nascidos da ou
da vontade). Quanto à causa, podem ser moratórios (a causa é a mora
e se fundamentam no ressarcimento) e compensatórios ou
remuneratórios (a causa é o capital e se fundamentam no rendimento).
A. Moratórios.
O CC/2002 chama os juros moratórios de “juros legais”, no entanto,
podem eles ser livremente pactuados, como regra geral. Não
obstante, essa regra sofre numerosas exceções, em sua maioria
decorrentes de Lei.
No caso, porém, em que os juros moratórios não foram
convencionados, ou, se convencionados, não se ajustou a taxa de
juros especificamente. O que fazer? Tradicionalmente (art. 1.062 do
CC/1916) essa taxa era de 0,5% ao mês. O art. 406 do CC/2002,
revogou o art. 1062 do CC/1916, estabeleceu que a taxa será fixada
34

segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de


impostos devidos à Fazenda Nacional. Cf. art. 161, §1º, do CTN,
prevê que “se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora
são calculados à taxa de um por cento ao mês”, ou seja, 12% ao ano.
Assim, a taxa de juros de 6% ao ano foi substituída (a partir de
10/01/2003) pela taxa de juros de 12% (406 do CC/2002 com o art.
161, §1º, do CTN).
Obs. a SELIC vem sendo utilizada pelo STJ como limite.
O devedor é obrigado aos juros da mora, ainda que o credor não
alegue prejuízo algum (407), porque a causa não é eventual prejuízo,
mas o inadimplemento.
Por fim, o “E 164 da III JDC” tenta resolver controvérsia de direito
intertemporal. Segundo ele, tendo início a mora do devedor ainda na
vigência do CC/1916, são devidos juros de mora de 6% ao ano; a
partir de 11 de janeiro de 2003 (vigência do CC/2002), passa a incidir
o art. 406.
B. Compensatórios ou remuneratórios
Os juros são tradicionalmente a remuneração do capital. Por isso, são
também chamados de frutos civis. Toda vez que alguém faz disposição
de determinado capital, tem direito de cobrar uma remuneração pelo
tempo que deixou de usufruir daquele capital (basicamente, é uma
remuneração pelo tempo que se deixou de usar o dinheiro). Por isso,
os juros remuneratórios não exigem mora e não se ligam ao
descumprimento de uma obrigação.
Os juros moratórios e remuneratórios podem ser cumulados, desde que
ambos tenham sido previstos. Juros remuneratórios por ter tomado
capital E juros moratórios pelo adimplemento. Como regra, permite-se
a cobrança de juros remuneratórios, limitados à Taxa SELIC, mesmo
que não previstos, desde que seja o empréstimo destinado a fim
econômico. permite-se a cobrança de juros compostos (ou juros sobre
juros/ anatocismo), desde que em periodicidade anual (591, que remete
ao art. 406).
No entanto, caso seja o credor integrante do Sistema Financeiro
Nacional – SFN (banco ou assemelhado), as regras são mais elásticas.
Mesmo que os juros não tenham sido pactuados, seu limite não é a taxa
SELIC, mas a taxa média de mercado (lex mercatoria). Vide Súmula
530 do STJ, que prevê que nos contratos bancários, ausente
35

comprovação da taxa estipulada para os juros remuneratórios (ausente


a pactuação, ou ausente prova nos autos), vale a taxa média de
mercado, salvo se a cobrada for mais vantajosa ao consumidor. * O STJ
vem permitindo a capitalização de juros, mesmo em periodicidade
inferior à anual, desde que clara e expressamente prevista em contrato
(Súmula 539 do STJ).
Em suma:
Regra Geral ► • Juros Remuneratórios: taxa SELIC. • Capitalização:
anual, somente.
Integrantes do SFN ► • Juros Remuneratórios: taxa livre (mercado). •
Capitalização: inferior à anual, desde que prevista, no mínimo, com
juros a.a. em patamar superior ao duodécuplo dos juros a.m.
Obs. “O anatocismo consiste na prática de somar os juros ao capital
para contagem de novos juros”. * é proibida, como regra, é a
capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano. Ex:
capitalização mensal de juros (ou seja, a cada mês incidem juros sobre
os juros). * é permitida a capitalização de juros com periodicidade
inferior a um ano em contratos BANCÁRIOS celebrados após 31 de
março de 2000, data da publicação da MP 1.963-17/2000 (atual MP
2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada. * A pactuação
da capitalização dos juros é sempre exigida, inclusive para a
periodicidade anual. Assim, não é possível a incidência automática da
capitalização dos juros.
4. Correção monetária.
A correção monetária nada mais é do que a recomposição do valor da
moeda, que é paulatinamente alterado pela variação inflacionária. Tão
maior for a inflação, maior a desvalorização da moeda será, exigindo
recomposição para que o valor de compra não seja reduzido.
Inversamente, se houver valorização da moeda, por meio da deflação,
a correção monetária também se aplica, (cf. STJ, REsp 1.361.191).
Nesses casos, a oscilação inflacionária negativa também deve ser
considerada no cálculo da recomposição da moeda.
Ou seja, A correção monetária objetiva a manutenção do poder
aquisitivo da moeda, corrigindo o valor nominal da obrigação. Por isso,
essa atualização deve observar tanto as oscilações inflacionárias
positivas como as negativas.
36

Obs. Segundo a maior parte da doutrina econômico-jurídica, temos hoje


uma legislação civil indexada (por força dos arts. 316 e 389 do
CC/2002) e uma realidade socioeconômica em vias de desindexação
ainda incompleta.
O art. 316 claramente permite que se convencione o aumento
progressivo de prestações sucessivas, por meio de índices de correção
monetária. Esse dispositivo se origina da compreensão (Tulio Ascarelli,
Arnoldo Wald), de que há uma distinção entre dívidas de dinheiro e
dívidas de valor. Aliado a esse, o 389 prevê que quando há
inadimplemento, responde o devedor também pela atualização
monetária segundo os índices oficiais regularmente estabelecidos.
Obs. Como regra geral, passou-se a utilizar, no âmbito do Poder
Judiciário, para a correção monetária, uma média aritmética entre o
INPC e o IGP-DI. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor é
divulgado pelo IBGE e o Índice Geral de Preços – Disponibilidade
Interna é disponibilizado pela FGV. Esse cálculo deve ser feito a partir
de 1º/07/1995, segundo a previsão do art. 1º do Decreto Federal
1.544/1995. Alguns tribunais, a despeito da regra, acabam adotando
índices ligeiramente diferentes, por vezes.
5. Cláusula Penal
Também chamada de pena convencional (tratada nos arts. 408 a 416).
Entende-se como a convenção de uma prestação acessória que é
devida nos casos de inadimplemento absoluto ou relativo, ou ainda, de
descumprimento de alguma cláusula específica (406).
Quanto ao momento, pode ser estipulada conjuntamente com a
obrigação ou em ato posterior.
Têm três funções:
Reforço da obrigação ► • A obrigação principal é reforçada pelas
obrigações acessórias, dentre as quais a cláusula penal, que facilita o
exercício do direito creditório.
Prefixação de danos ► • Ela prefixa os danos antecipadamente, por
vontade das partes, pelo que não se precisa demonstrar prejuízo para
ter direito à prestação (art. 40).
Facilitação do ônus da prova ► • Função importante processualmente
falando, pois, em consequência da primeira função, não se precisa
alegar prejuízo.
37

Cf. STJ (REsp 1.119.740/RJ) em se tratando de contratos


sinalagmáticos, bilaterais e onerosos, a previsão de cláusula penal
contra uma parte enseja sua aplicação também à outra, em caso
de inadimplemento.
A cláusula penal pode ser estipulada se verificada:
Inexecução completa da obrigação: Cláusula compensatória ► Cf.
410, cabe ao credor escolher se prefere o cumprimento da obrigação
principal ou da acessória. Trata-se de cláusula penal disjuntiva, pois o
credor tem apenas uma opção; não pode exigir ambas as obrigações
(ou a obrigação principal ou a indenização substitutiva).
Infração de uma cláusula ou mora: Cláusula moratória ► • Cf. 411,
pode o credor exigir o cumprimento da obrigação principal E a cláusula
penal, conjuntamente. Trata-se de cláusula penal cumulativa.
A cláusula penal tem dois efeitos importantes:
1º Desnecessidade de prova ► Cf. 416, o credor não precisa alegar ou
provar prejuízo para que a cláusula incida.
2º Desnecessidade de correspondência ► A estipulação da cláusula
não precisa ter qualquer correspondência objetiva com os danos.
Por isso, as partes têm ampla liberdade para fixar a cláusula penal, não
importando se o prejuízo corresponde ao valor estipulado pela cláusula,
para mais ou para menos.
Há limites, porém. Como regra geral, (1º ) a cláusula penal não pode
ser superior ao montante da obrigação principal (412), mesmo que os
prejuízos ao credor sejam maiores; (2º) Cf. 416, pode-se cobrar
indenização suplementar em caso desse prejuízo, desde que
previamente convencionada. Se tiver sido pactuada, a pena vale
como mínimo da indenização, mas o credor deve provar o prejuízo
excedente. Se não for, mesmo que prove o prejuízo, não pode exigir a
suplementação.
Obs. Exceções: O limite de 100% da cláusula penal é genérico. Os arts.
8º e 9º do Decreto-Lei 22.626/1933 (Lei da Usura) limitam o montante
a 10% nos contratos civis. O mesmo limite é imposto pelo art. 11, alínea
f, do Decreto Lei 58/1937, quanto à venda de imóveis loteados para
pagamento em prestações. O art. 52, §1º, do CDC, limita o montante a
2% nos contratos de consumo. Nas obrigações decorrentes de rateio
condominial, o art. 1.226, §1º, do CC/2002, limita igualmente o
38

montante a 2%. As exceções são tantas que a regra é, na prática, de


baixa utilidade. Inclusive, pode o montante ser reduzido a critério do
magistrado.
*Uma vez estipulada a cláusula, ela não pode ser alterada pelas partes,
sendo que o juiz pode reduzi-la nos específicos casos de valor
excessivo ou de cumprimento parcial da obrigação (413). *Se a cláusula
penal foi estabelecida em patamar muito alto ou se o devedor cumpriu
em parte a obrigação, descumprindo-a somente na outra parte, pode o
montante da cláusula penal ser reduzida. Essa limitação atenta à
vedação ao abuso de direito. *o STJ (REsp 1.447.247) permite que a
redução da cláusula penal reputada excessiva seja feita de ofício pelo
juiz.
Cf. E 359 da IV JDC, a redução da penalidade, em caso de cumprimento
parcial da obrigação, não exige proporcionalidade idêntica ao
percentual adimplido. A redução deve ser feita criteriosamente e de
maneira casuística. Todavia, o STJ fixou alguns critérios objetivos,
como *a averiguação proporcional da utilidade, *o grau de culpa, *a
situação econômica do devedor, *o percentual adimplido etc. (REsp
1.641.131/SP).
No caso de obrigação indivisível, todos os devedores, caindo em
falta um deles, devem pagar a cláusula penal; mas o credor só
pode demandar a integralidade da cláusula penal do culpado,
respondendo cada um dos outros somente pela sua cota (414). Aos
não culpados fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu
causa à aplicação da pena (414, PU). *Já no caso de obrigação
divisível, contrariamente, só incorre na pena o devedor que a infringir,
e proporcionalmente à sua parte na obrigação (415).
Obs. Cuidado! Não confunda a cláusula penal com a multa penitencial,
que é cabível nos casos de resilição unilateral do contrato (“quebra de
contrato”). A multa penitencial é uma espécie de pagamento pela não
continuidade do vínculo contratual (ex. locação residencial). Já o
fundamento da cláusula penal é o descumprimento com imputação,
seja inadimplemento absoluto, seja o inadimplemento relativo (de
cláusula ou somente mora).
6. Arras.
No Direito das Obrigações, as arras significam a quantia ou coisa dada
por um dos contraentes ao outro como sinal de conclusão do contrato.
39

*Há duas espécies de arras previstas no CC/2002), (A) as arras


confirmatórias e (B) as arras penitenciais.
A. Arras confirmatórias.
Consistem na entrega de uma quantia ou coisa para a garantia de que
o pacto será cumprido, servindo também como adiantamento do
pagamento (417). Como não possuem caráter de pena, a parte que
recebeu as arras deve devolvê-las ou imputar seu valor no pagamento
da obrigação. Sua função é, portanto, de garantia, primordialmente.
► (a) Caso a parte que deu as arras não execute o contrato, poderá
a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; (b) se a inexecução for de
quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por
desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente (418).
*As arras confirmatórias consistem em adimplemento parcial da
obrigação, por isso, não há direito de arrependimento no pacto
assegurado pelas arras confirmatórias. Cabe, porém, indenização
suplementar, no caso de prova de prejuízo maior, pelo credor, valendo
as arras como mínimo da indenização (419). *Ademais, se pagas as
arras, a legislação processual permite a adjudicação compulsória do
bem (execução para entrega de coisa certa, cf. 806 do CPC).
► Consequências: as arras confirmatórias têm tripla função: (1ª)
antecipar o pagamento; (2ª) tornar definitivo o contrato principal; e (3ª)
antecipar as perdas e danos, em caso de indenização (função de
penalidade).
Em suma, arras confirmatórias têm: • Função: garantia; • Adiantamento
do pagamento; • Não há direito de arrependimento; • Cabe indenização
suplementar.
B. Arras penitenciais.
Consistem na entrega de uma quantia para, igualmente, garantir a
efetividade do pacto, mas servem como possibilidade de
arrependimento às partes. Sua função é meramente indenizatória.
Para que as arras tenham função penitencial, é necessário que isso
esteja claramente disposto em contrato (420); para isso, basta que se
preveja o direito de arrependimento para que se entenda haver aí a
pactuação das arras penitenciais e não confirmatórias.
Consequentemente, se não previsto direito de arrependimento, as
arras, então, são confirmatórias, e não penitenciais.
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(a) Se houver arrependimento por parte de quem deu as arras, tais


valores são perdidos para a outra parte; (b) se quem se arrepende é a
parte que recebeu, deve restituir em dobro (418). Todavia, como há
direito de arrependimento, logo, não há direito a indenização
suplementar (420). Ademais, como as arras penitenciais funcionam
como “direito de arrependimento”, a legislação processual NÃO permite
a adjudicação compulsória do bem (execução para entrega de coisa
certa). Em suma:
► Arras penitenciais: • Função: indenizatória; • Necessita de previsão
específica; • Há direito de arrependimento; • Não cabe indenização
suplementar.
Obs. Cf. E 165 da III JDC, em caso de penalidade, aplica-se a regra do
art. 413 ao sinal, ou seja, em havendo a previsão de arras
(confirmatórias ou penitenciais), se o montante da penalidade for
manifestamente excessivo, ele deve ser reduzido equitativamente
pelo juiz, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.
7. Prisão.
o “Pacto de San José da Costa Rica”, de 1969, decidiu pela
impossibilidade de encarceramento do depositário infiel. O STF editou
a Súmula Vinculante 25, reiterando o entendimento de que é ilícita a
prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de
depósito (contra a parte final do inc. LXVII do art. 5º da CF/1988). Assim,
só resta no Brasil a possibilidade de prisão civil por dívidas em caso de
inadimplemento de obrigações alimentares.
O CPC prevê (art. 528, §7º) que o débito alimentar que autoriza a prisão
civil do alimentante é o que compreende até as 3 prestações
anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no
curso do processo. Inadimplindo, o juiz determinará (cf. o §3º), prisão
pelo prazo de um a três meses. Nesse caso, a prisão será cumprida em
regime fechado, devendo o preso ficar separado dos presos comuns
(§4º).
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V. ATOS UNILATERAIS

1. Promessa de Recompensa. 2. Gestão de Negócios. 3.


Pagamento indevido. 4. Enriquecimento [locupletamento] sem
Causa.
Os negócios jurídicos unilaterais são condutas humanas voluntárias.
Eles são praticados por uma parte e desse ato potencialmente surgem
efeitos jurídicos obrigacionais. Dentre os mais visíveis negócios
jurídicos unilaterais estão os chamados “atos unilaterais” previstos nos
arts. 854 e ss. do CC/2002. Por isso, o ato unilateral depende da
anuência da parte contrária para produzir os efeitos jurídicos
almejados. Mas, desde já, determinados efeitos jurídicos emanam
do ato. Em essência, apenas um lado pratica o ato e, desse ato, surgem
efeitos jurídicos relevantes, desde já.

1. Promessa de Recompensa.

A promessa de recompensa é o ato pelo qual alguém, unilateralmente,


mediante anúncios públicos, promete recompensar quem preencher
determinada condição ou realizar determinado serviço pela entrega de
um prêmio.

São, portanto, três elementos (854): (1) Anúncio ao público


(publicidade); (2) Designação de serviço ou de condição que se
pretenda premiar; (3) Indicação de um prêmio.

A consequência desse ato unilateral é a vinculação, por meio da qual


o promitente fica adstrito a cumprir a obrigação de entregar o prêmio na
hipótese de alguém cumprir o serviço ou a condição. A vinculação não
se confunde com a obrigação. A obrigação só surge no momento do
cumprimento (vide art. 855). *A revogabilidade da promessa de
recompensa é possível, antes de prestado o serviço ou preenchida a
condição. *As promessas de recompensa com termo final para
cumprimento devem ser mantidas até o advento do termo final (nesses
casos, a promessa é irrevogável até o advento do termo final (856). *As
promessas de recompensa sem termo final para cumprimento são
passíveis de revogação a qualquer momento desde que a revogação
se dê antes do cumprimento do serviço ou condição e que para a
revogação se dê a mesma publicidade utilizada para a promessa (856).
*Entretanto, mantém-se o vínculo para que sejam ressarcidas todas as
despesas àquele que, de boa-fé, diligenciou esforços para o
42

cumprimento em razão da promessa de recompensa e viu-se frustrado


pela revogação (856, PU). * O limite ao ressarcimento é o valor a ser
recebido pela própria promessa, vedando-se, assim, que o ressarcido
busque um valor maior que o valor da promessa.
Se mais de uma pessoa cumprir a obrigação presente na promessa,
para o recebimento do prêmio há de se observar (1º) critério temporal
(o primeiro a cumprir ganha o prêmio); (2º) se o cumprimento for
simultâneo, divide-se o prêmio; (3º) se o prêmio for indivisível, (a) faz-
se um sorteio, (b) o ganhador deve indenizar o outro ganhador. *Essas
regras de desempate (para pluralidade subjetiva) valem para concurso
público (= promessa de recompensa por uma banca julgadora). O
julgamento feito pelas pessoas designadas pelo edital é vinculante e
obriga os interessados (859). Ademais, não se transfere
(automaticamente) os direitos autorais patrimoniais para o promitente.
2. Gestão de Negócios.
Ocorre quando aquele que, sem autorização do interessado, intervém
na gestão de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade
presumível de seu dono, ficando responsável a este e às pessoas com
que tratar (861; Ex. “O mandatário que exceder os poderes do mandato
será considerado mero gestor de negócios, enquanto o mandante lhe
não ratificar os atos” cf. 665).
Cria-se uma relação obrigacional entre o gestor e o dono do negócio,
cujos elementos são, segundo Pontes de Miranda:
►Elementos-Objetivos: (1) Falta de poder de gerir (representação
sem mandato); (2) Alheabilidade do negócio (ou seja, o negócio é
alheio).
►Elementos-Subjetivos: (1) Vontade manifesta de gerir coisa alheia;
(2) Vontade de obrigar o dono e não a si (de modo benéfico).
Ao gestor cabe (deveres): (1) Dever de diligência e de atuar conforme
vontade manifesta ou presumível do dono do negócio (866); (2) Dever
de aviso (864); (3) Dever de continuidade, no caso de não conseguir
contato com o dono, até a sua intimação (865).
*O gestor deverá responder pelo negócio cuja gestão ele faz, em regra,
quando age culposamente. Porém, o gestor responde ainda que em
casos fortuitos, quando a gestão se inicia contra a vontade manifesta
ou presumível do dono do negócio (862; obs. a essa situação a doutrina
43

chama de “mandato tácito”). * Igualmente responsável o gestor, mesmo


que por caso fortuito, quando tal gestor fizer operações arriscadas,
ainda que o dono costumasse fazê-las. *O gestor também é
responsável quando preterir interesse do dono em proveito de
interesses seus, ainda que o dano se verifique na ocorrência de caso
fortuito (868). *Pode, no entanto, o gestor se afastar da
responsabilização mesmo no caso de ter iniciado a gestão contra a
vontade do dono na específica situação de provar que o caso fortuito
causaria o prejuízo ao dono do negócio independentemente da gestão
feita. Ou seja, mesmo que ele tivesse se omitido, o prejuízo teria
ocorrido. *Nesses casos de gestão contra a vontade do dono, se os
prejuízos da gestão excederem o seu proveito, pode o dono do negócio
exigir que o gestor restitua as coisas ao estado anterior, ou o indenize
da diferença (863). *Tão logo seja possível, o gestor deve comunicar ao
dono do negócio a gestão que assumiu (864), aguardando a resposta,
se da espera não resultar perigo (dever de aviso). *Enquanto a resposta
não chega, em cumprimento ao dever de continuidade, deve o gestor
cuidar do negócio, até o finalizar. *Se o dono do negócio falecer durante
a gestão, deve o gestor aguardar as instruções dos herdeiros. *Não
pode se descuidar, entretanto, das medidas de conservação que o caso
reclama. *Com comunicação e aprovação pura e simples do dono do
negócio, há uma ratificação e firma-se um contrato de mandato com
eficácia retroativa (ex tunc) ao dia do começo da gestão (873). *Em
contrapartida, com a comunicação e rejeição do dono do negócio, a
gestão deve imediatamente cessar-se, aplicando-se a
responsabilização ampla, incluindo os casos de força maior. *O gestor
não pode passar a gestão a terceiro, sob pena de responder pelos
prejuízos que este causar (867). *Em havendo cogestão, há
responsabilidade solidária entre os cogestores (867, PU). *O gestor
responderá objetivamente pelos atos praticados pelo cogestor,
inclusive (932, inc. III, c/c 933), ainda que o cogestor responda
subjetivamente.
Ao dono do negócio cabe: (1) O dever de indenizar o gestor caso a
gestão lhe seja proveitosa, pelos gastos necessários, úteis, com juros,
desde o desembolso e pelos prejuízos causados (868, PU e 869); (2)
Dever de cumprimento das obrigações assumidas pelo gestor, no
caso de aceitação (869).
*A utilidade ou necessidade da despesa aprecia-se não pelo resultado
obtido, mas segundo as circunstâncias da ocasião em que se fizerem.
44

Ou seja, o critério de avaliação é objetivo, qual seja, necessário avaliar


se a gestão foi ou não útil ao dono do negócio, e não a mera
lucratividade. *A indenização ao gestor não excederá, em importância,
as vantagens obtidas com a gestão.
Há duas hipóteses em que, mesmo que o dono do negócio queira, não
pode recusar a gestão (871 e 872):
(1ª) • Quando alguém, na ausência do indivíduo obrigado a alimentos,
por ele os prestar a quem se devem, poder-lhes-á reaver do devedor a
importância, ainda que este não ratifique o ato (aqui, o dono do negócio
não pode recusar a gestão, de modo a facilitar o adimplemento dos
alimentos); (2ª) • As despesas do enterro, proporcionadas aos usos
locais e à condição do falecido, feitas por terceiro, podem ser cobradas
da pessoa que teria a obrigação de alimentar a que veio a falecer, ainda
que esta não tenha deixado bens. (Essa é, a rigor, uma exceção, nas
sucessões, à regra segundo a qual as dívidas do morto não podem
ultrapassar as forças da herança).
*Excepcionalmente, o dono do negócio não precisará indenizar o gestor
(873, PU), provando-se que o gestor fez essas despesas com o simples
intento de bem-fazer, ou seja, fez por “sua conta e risco”. *De maneira
peculiaríssima, pode-se constituir uma espécie de sociedade entre o
gestor e o dono (875) se os negócios do dono forem conexos aos do
gestor, de modo que se não possam gerir separadamente, então o
gestor será considerado sócio daquele cujos interesses agenciar de
envolta com os seus. Nessa situação específica, o dono do negócio só
é obrigado na razão das vantagens que lograr. *Em que pese o silêncio
legal, ao que parece a sociedade, no caso, é uma sociedade em
comum, regida pelos arts. 986, dado que não há personificação.
3. Pagamento indevido.
As linhas gerais do pagamento indevido, cf. 876, são que: aquele que
recebe o que não era devido deve restituir, com atualização monetária;
igualmente, aquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a
condição.
Dessa noção, desdobram-se elementos de fato e de direito. São dois
os elementos materiais: (1) prestação (• Entrega da coisa [obrigação
de dar] ou realização/abstenção de fato [obrigação de fazer/não fazer];
(2) intenção (• A vontade de cumprir uma obrigação).
45

São três os elementos jurídicos: (1) Falta de causa (• Não há


fundamento jurídico para sustentar a obrigação, significando
enriquecimento sem causa [ao contrário, pagar demais por um bem,
pagar dívida prescrita ou pagar dívida de jogo, não é pagamento
indevido]); (2) Pagamento malfeito (• Enriquece-se um em detrimento
do empobrecimento de outro); (3) Ausência de culpa (• Agiu o devedor
com cautela, de boa-fé ( ausência de negligência, imprudência ou
imperícia, cf. 877).
*A prova do pagamento indevido incumbe àquele que fez o pagamento;
deve ele provar ter feito o pagamento em erro. Há exceção (cf. Súmula
322 do STJ), apenas para os contratos de abertura de crédito em conta
corrente. *O pagamento pode ser objetivamente indevido e
subjetivamente indevido. (a) Objetivamente indevido: é o pagamento
de dívida que não existe ou que é feito de maneira injusta, como no
caso em que pago dívida em valor superior ao devido. (b)
Subjetivamente indevido: é o pagamento feito a pessoa que não é
credora (“quem paga mal, paga duas vezes”, mas isso não impede de
se buscar ressarcimento por meio da ação in rem verso).
São as hipóteses em que mesmo “indevido” do pagamento não cabe
restituição:
Obrigação prescrita: • Presume-se, absolutamente, que o devedor
renunciou à prescrição (art. 882 do CC/2002); Obrigação
natural/mutilada: • Quando o credor inutiliza o título, perde as garantias
recebidas ou deixa a obrigação prescrever (art. 880); Obrigação ilícita:
(a) • Não pode a lei proteger quem comete ilegalidade, ou seja, ninguém
pode beneficiar-se de sua própria torpeza (art. 883); (b) • Por outro lado,
aquele que recebeu o pagamento o perderá em favor de instituição de
beneficência (833, PU).
*No caso da quitação por terceiro, em que pese incabível a repetição,
aquele que pagou a dívida alheia dispõe de ação regressiva contra o
verdadeiro devedor e seu fiado; *o pagamento [adimplemento] indevido
é aplicável também às obrigações de fazer e mesmo às obrigações de
não fazer. *“O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos
frutos percebidos” (1.214).

Especificamente quanto aos pagamentos indevidos no caso de


imóveis, deve-se analisar se a alienação foi a título gratuito ou oneroso;
e se feita de boa ou má-fé, tanto em relação ao alienante que recebeu
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indevidamente quanto ao adquirente. Cf. 879 (1) “Se aquele que


indevidamente recebeu um imóvel o tiver alienado em boa-fé, por
título oneroso, responde somente pela quantia recebida; (2) mas, se
agiu de má-fé, além do valor do imóvel, responde por perdas e danos.
Parágrafo único. (3) Se o imóvel foi alienado por título gratuito, ou se,
alienado por título oneroso, o terceiro adquirente agiu de má-fé, cabe
ao que pagou por erro o direito de reivindicação.

Não há, no CC/2002 menção à devolução em dobro em razão de


pagamento indevido. A exceção é o art. 940 “Aquele que demandar por
(1º) dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias
recebidas ou (2º) pedir mais do que for devido, ficará obrigado a
pagar ao devedor, no primeiro caso[dívida já paga], o dobro do que
houver cobrado e, no segundo [ pedir mais do que for devido], o
equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.”
4. Enriquecimento [locupletamento] sem Causa.
O locupletamento sem causa consiste na obtenção de uma vantagem
sem a respectiva causa, ou seja, é o acréscimo patrimonial sem motivo
juridicamente reconhecido. Todo locupletamento ilícito é sem causa,
mas nem todo locupletamento sem causa é ilícito.
Para configurar o enriquecimento sem causa é necessário (883):
1º) Enriquecimento do accipiens: • Enriquecimento não precisa gerar
um lucro apenas no sentido positivo (ganhar algo), mas também no
sentido negativo [deixar de perder]; 2º) Empobrecimento do solvens:
• Do mesmo modo, pode ser positivo ou negativo (perder algo ou deixar
de ganhar); 3º ) Nexo de causalidade: • Deve haver nexo entre o
enriquecimento de um e o empobrecimento do outro; 4º) Falta de
causa justa: • A ausência de causa pode ser contemporânea ao ato ou
posterior, ou seja, a perda da causa também gera enriquecimento sem
causa.
* A expressão “se enriquecer à custa de outrem” (886) não significa,
necessariamente, que deve haver empobrecimento de outrem. * A
existência de negócio jurídico válido e eficaz é, em regra, uma justa
causa para o enriquecimento (cf. E 188 da III JDC). *A obrigação de
restituir o lucro da intervenção, entendido como a vantagem patrimonial
auferida a partir da exploração não autorizada de bem ou direito alheio,
fundamenta-se na vedação do enriquecimento sem causa (E620 da VIII
JDC). *Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a
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recebeu é obrigado a restituí-la. Se a coisa não mais subsistir, a


restituição far-se-á pelo valor do bem na época em que foi exigido
(exigido! 884, PU). * a restituição é devida, não só quando não tenha
havido causa que justifique o enriquecimento, mas também se esta
deixou de existir (885). Ou seja, a causa do negócio jurídico se analisa
não no momento da formação, mas no momento do cumprimento.
Obs. O enriquecimento sem causa é gênero, do qual o pagamento
indevido é espécie. Ou seja, é possível enriquecer sem causa de
variadas maneiras, sendo a principal delas por intermédio do
pagamento indevido que se recebe, mas também, quando a causa
desaparece, ou seja, havia causa (e o pagamento, portanto, era
devido), mas ela não mais subsiste. * A restituição pelo enriquecimento
sem causa é feita, em regra, pela ação in rem verso. No entanto, a lei
excepciona o cabimento desta ação quando aquele que “empobreceu”
pode recorrer a outras ações, se cabível outra medida (886; ex. Se
cabível a ação de cobrança, incabível a ação in rem verso). * o art. 886
não exclui o direito à restituição do que foi objeto de enriquecimento
sem causa nos casos em que os meios alternativos conferidos ao
lesado encontram obstáculos de fato (cf. E 36 da I JDC).

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