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Regras especiais de pagamento e pagamento indireto Fabíola Kocemba

 Se o credor não for, nem mandar receber a coisa


1. DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO
no lugar, tempo e condições devidas (hipótese
 É uma das formas especiais de pagamento. de mora accipiendi – causa subjetiva).
 Pode ser conceituado como o depósito feito pelo  Se o credor for incapaz de receber, for
devedor, da coisa devida, para liberar-se de uma desconhecido, for declarado ausente, ou residir
obrigação assumida em face de um credor em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil
determinado. (outra causa subjetiva, relacionada com o
 Tal depósito pode ocorrer, conforme estabelece o sujeito ativo da obrigação).
art. 334, na esfera judicial ou extrajudicial (em  Se ocorrer dúvida sobre quem deva
estabelecimento bancário oficial). legitimamente receber o objeto do pagamento
 O pagamento em consignação pode ser definido (também causa subjetiva, denominada dúvida
como “o meio indireto de o devedor, em caso de subjetiva ativa, uma vez que o devedor não sabe
mora do credor, exonerar-se do liame obrigacional, a quem pagar).
consistente no depósito judicial (consignação  Se pender litígio sobre o objeto do pagamento
judicial) ou em estabelecimento bancário (única causa objetiva para a consignação).
(consignação extrajudicial), da coisa devida, nos  O rol descrito é exemplificativo (numerus apertus),
casos e formas da lei. sendo admitidas outras situações de pagamento
 A consignação pode ter como objeto bens móveis e em consignação. Exemplo: caso de consignação
imóveis, estando relacionada com uma obrigação para a revisão do conteúdo do contrato, hipótese
de dar. Havendo consignação de dinheiro, pode o não descrita nominalmente no art. 335. Ou ainda a
devedor optar pelo depósito extrajudicial ou pelo situação em que não é mais possível o pagamento
ajuizamento da competente ação de consignação direto com a presença física das partes, diante de
em pagamento. graves desentendimentos pessoais entre elas.
 Essa regra de pagamento tem natureza mista ou  Art. 336 – relativamente ao depósito em dinheiro,
híbrida, ou seja, é instituto de direito civil e algumas regras devem ser observadas. Para que a
processual civil ao mesmo tempo (direito material consignação em pagamento seja válida e eficaz,
+ instrumental). com força de adimplemento, o devedor terá que
 O CC utiliza a expressão pagamento em observar todos os requisitos do pagamento direto,
consignação, enquanto o CPC, o termo consignação inclusive quanto ao tempo e lugar.
em pagamento.  Art. 337 – como regra geral, o depósito deverá
 A consignação, por uma questão lógica, não pode ocorrer no local acertado para o pagamento, que
ser relacionada com obrigação de fazer ou de não constar do instrumento obrigacional, afastando a
fazer. incidência de juros moratórios e os riscos da dívida.
 A consignação libera o devedor do vínculo  Art. 338 – poderá o devedor levantar o depósito
obrigacional, isentando-o dos riscos e de eventual enquanto o credor não informar que aceita a
obrigação de pagar os juros moratórios e a cláusula consignação ou não impugnar, subsistindo
penal (ou multa contratual). Esse depósito afasta a integralmente a dívida, que continua intocável.
eventual aplicação das regras do inadimplemento,  Art. 544 do CPC –
seja ele 
absoluto ou relativo.
Não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida;
 Art. 335 – Foi
trazjusta
um arol de situações em que a
recusa;
consignação
 Opoderá
depósitoocorrer:
não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento;
 Se ocredor não puder,
O depósito não foraou, integral.
sem justa causa,
Nesse último caso, a alegação será admissível se o réu (credor) indicar o
recusar amontante
receber o que
pagamento, ou dar quitação
entenda ser devido.
na devida forma (hipótese de mora accipiendi,  Art. 339 – julgado procedente o depósito, não
mora no recebimento – causa subjetiva, poderá mais o devedor levantá-lo. Em casos tais, as
pessoal). despesas com os depósitos (custas, honorários
advocativos e demais despesas processuais)
ocorrerão por conta do credor que motivou o
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ingresso da ação. O levantamento da quantia desde que o faça em até cinco dias contados da
consignada, nessas circunstâncias, somente é data do respectivo vencimento.
possível se os demais devedores e fiadores  Duas são as ações de consignação previstas no
concordarem. direito brasileiro: a consignação em pagamento e a
 Art. 340 – o credor que, depois de contestar a lide consignação de aluguéis e encargos da locação.
ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento,  Art. 539, §1º CPC – tratando-se de obrigação em
perderá a preferência e a garantia que lhe dinheiro, poderá o valor ser depositado em
competiam com respeito à coisa consignada, estabelecimento bancário, oficial onde houver,
ficando para logo desobrigados os codevedores e situado no lugar do pagamento, cientificando-se o
fiadores que não tenham anuído. Esse comando credor por carta cm aviso do recebimento, assinado
trata da renúncia do credor ao depósito, que o prazo de dez dias para a manifestação de recusa.
repercute também para os demais devedores  Art. 539, §2º CPC – decorrido esse prazo de dez
solidários e fiadores. dias, contado do retorno do aviso de recebimento,
 Art. 341 – caso a coisa devida seja um imóvel ou sem a manifestação de recusa, considerar-se-á o
uma coisa com corpo certo que deva ser entregue devedor liberado da obrigação, ficando à disposição
no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar do credor a quantia depositada.
o credor para vir ou mandar recebê-la sob pena de  Art. 539, §3º CPC – ocorrendo a recusa,
ser depositada. manifestada por escrito ao estabelecimento
 Art. 342 – havendo obrigação de dar coisa incerta, bancário, poderá ser proposta, dentro de um mês,
cabendo a escolha da coisa indeterminada ao a ação de consignação em pagamento instruindo-
credor, será ele citado para esse fim, sob pena de se a inicial com a prova do depósito e da recusa.
perder o direito e de ser depositada aquela que o Não sendo proposta a ação de consignação em
devedor escolher. Feita a escolha pelo devedor, pagamento nesse prazo de um mês, ficará sem
proceder-se-á conforme o art. 341, ou seja, será efeito o depósito, podendo levantá-lo o
citado o credor para receber a coisa consignada. depositante.
 Art. 343 – as despesas com o depósito judicial  Na conversão da consignação extrajudicial em
(custas judiciais, honorários advocativos e demais consignação judicial, cabe ao depositante provar à
despesas processuais), quando julgado procedente, instituição bancária que ingressou com a demanda.
correrão à conta do credor, que será o réu da ação Isso porque é do interesse do devedor ou de ser
de consignação. Em caso contrário, sendo o pedido representante a consignação, especialmente para
julgado improcedente, as despesas correrão à afastar os efeitos da mora ou do inadimplemento
conta do devedor, autor da ação. absoluto.
 Art. 344 – o devedor de obrigação litigiosa  A consignação judicial ou extrajudicial constitui uma
exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar interessante ferramenta para comprovação da boa-
a qualquer dos pretendidos credores tendo fé objetiva, mantendo a relação direta também
conhecimento do litígio, assumirá o risco do com a função social do contrato e da obrigação.
pagamento. Também há uma interação com a boa-fé
 Art. 345 – ainda quanto à consignação judicial, se a processual.
dívida vencer, pendendo litígio entre os credores
que pretendam mutuamente se excluir, poderá 2. DA IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO
qualquer deles requerer a consignação. Trata-se de  Imputar significa indicar, apontar.
única hipótese em que o credor, e não o devedor,  Art. 352 – a pessoa obrigada por dois ou mais
pode tomar a iniciativa da consignação. débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o
 Art. 541 CPC – tratando-se de prestações direito de indicar a qual deles oferece pagamento,
sucessivas, consignada uma delas, pode o devedor se todos forem líquidos e vencidos.
continuar a depositar, no mesmo processo e sem  Como elementos da imputação há a identidade de
mais formalidades, as que se forem vencendo, devedor e de credor, a existência de dois ou mais
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débitos da mesma natureza, bem como o fato de as  Na sub-rogação pessoal ativa, efetivado o
dívidas serem líquidas e vencidas. pagamento por terceiro, o credor ficará satisfeito,
 A imputação do pagamento visa favorecer o não podendo mais requerer o cumprimento da
devedor ao lhe possibilitar a escolha do débito que obrigação. No entanto, como o devedor originário
pretende extinguir. não pagou a obrigação, continuará obrigado
 Como a norma é de natureza privada, é possível perante o terceiro que efetivou o pagamento.
constar do instrumento obrigacional que a escolha  Em resumo, o que se percebe na sub-rogação é que
caberá ao credor, o que inclusive é admitido pelo não se tem a extinção propriamente dita da
dispositivo seguinte. obrigação, mas a mera substituição do sujeito ativo,
 Art. 353 – se o devedor não fizer qualquer passando a terceira pessoa a ser o novo credor da
declaração, transfere-se o direito de escolha ao relação obrigacional.
credor, não podendo o primeiro reclamar, a não ser  Art. 349 – a sub-rogação transfere ao novo credor
que haja violência ou dolo do segundo. todos os direitos, ações, privilégios e garantias do
 Caso não haja manifestação nem do sujeito passivo primitivo em relação à dívida contra o devedor
nem do sujeito ativo, a imputação será feita pela principal e os fiadores.
norma jurídica, conforme as regras de imputação  Efeito da sub-rogação: engloba todos os acessórios
legal. da dívida, caso dos juros, da multa e das suas
 Arts. 354 e 355 – tem-se a seguinte ordem prevista garantias, inclusive a fiança. A sub-rogação alcança
para a imputação legal: também o prazo de prescrição.
1) Havendo capital e juros, o pagamento será feito  No pagamento com sub-rogação não há o
primeiro nos juros vencidos e depois no capital, surgimento de uma nova dívida, pela substituição
salvo estipulação em contrário, ou se o credor do credor, como ocorre na novação subjetiva ativa.
passar a quitação por conta do capital (principal  A sub-rogação pode ser classificada em:
da dívida). a) Sub-rogação legal (art. 346) – são as hipóteses
2) A imputação se fará nas dívidas líquidas e de pagamentos efetivados por terceiros
vencidas em primeiro lugar. Em suma, a interessados na dívida (interesse patrimonial).
imputação se fará nas dívidas mais antigas. São casos de sub-rogação legal, automática, ou
3) Caso todas forem líquidas e vencidas ao mesmo de pleno direito:
tempo, será feita a imputação na mais onerosa.  Do credor que paga a dívida do devedor
Inicialmente, será a mais onerosa a dívida de comum a outro credor, situações estas em
maior valor. Entretanto, pode ser considerada que o solvens e accipiens são credores da
mais onerosa aquela que apresentar a maior mesma pessoa. Ilustrando: A deve para B R$
taxa de juros no quesito comparativo. 10.000,00 e para C R$ 20.000,00. B paga para
4) Não havendo juros, sendo as dívidas líquidas, C os R$ 20.000,00 sub-rogando-se em tal
vencidas ao mesmo tempo e iguais, a quantia. Então poderá B cobrar de A R$
imputação será relacionada a todas as dívidas 30.000,00.
na mesma proporção. Esse é o posicionamento  Do adquirente do imóvel hipotecado, que
doutrinário, tendo em vista a ausência de paga ao credor hipotecário, bem como do
previsão legal. terceiro que efetiva o pagamento para não
ser privado de direito sobre imóvel. Não
3. DO PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO
havia menção a esse terceiro na codificação
 A sub-rogação é conceituada como a substituição anterior, o que pode ser aplicado em um caso
de uma coisa por outra, com os mesmos ônus e em que a pessoa paga a dívida para afastar
atributos, caso em que se tem a sub-rogação real, os efeitos de eventual evicção – perda da
ou a substituição de uma pessoa por outra, que terá coisa por decisão judicial ou apreensão
os mesmos direitos e ações daquela, hipótese em administrativa, que a atribuiu a um terceiro.
que se configura a sub-rogação pessoal. (art. 447).
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 Do terceiro interessado, que paga a dívida  Pode ser conceituada como uma forma de
pela qual era ou podia ser obrigado, no todo pagamento indireto em que há um acordo privado
ou em parte. Pode ser citado, aqui, o entre os sujeitos da relação obrigacional,
principal exemplo do fiador que paga a dívida pactuando-se a substituição do objeto obrigacional
do devedor principal. por outro. Para tanto, é necessário o
b) Sub-rogação convencional (art. 347) – são os consentimento expresso do credor, o que
pagamentos efetivados por terceiros não caracteriza o instituto como um negócio jurídico
interessados na dívida. São situações típicas: bilateral.
 Quando o credor recebe o pagamento de  O credor consente na entrega de coisa diversa da
terceiro e expressamente lhe transfere todos avençada, nos termos do que dispões o art. 356.
os seus direitos. Enuncia o art. 348 que em  Para a configuração da dação em pagamento,
casos tais deverão ser aplicadas as regras exige-se uma obrigação previamente criada; um
previstas para a cessão de crédito. acordo posterior, em que o credor concorda em
Entretanto, deve-se compreender que não aceitar coisa diversa daquela anteriormente
haverá uma cessão de crédito propriamente contratada e, por fim, a entrega da coisa distinta
dita, mas apenas aplicação residual das com a finalidade de extinguir a obrigação.
regras de cessão, como é o caso daquela que  A dação em pagamento pode ter como objeto uma
prevê a necessidade de notificação do prestação qualquer não sendo necessariamente
devedor, informando quem é o novo credor dinheiro. Poderá ser entregue um bem móvel ou
(art. 290). imóvel. Também poderá ter como conteúdo fatos e
 Quando terceira pessoa empresta ao abstenções.
devedor a quantia necessária para solver a  Art. 357 – sendo entregue dinheiro aplicar-se-ão os
dívida, sob a condição expressa de ficar comandos legais relacionados com o contrato típico
mutuamente sub-rogado nos direitos do de compra e venda (arts. 481 a 504).
credor satisfeito (caso de mútuo –  Pois bem, na dação em pagamento, a substituição
empréstimo de dinheiro para quitar a dívida). pode ser de dinheiro por bem móvel ou imóvel, de
 Na sub-rogação legal existem atos unilaterais, o que uma coisa por outra, de dinheiro por título, de coisa
a caracteriza como regra especial de pagamento. por fato, entre outros, desde que o seu conteúdo
 Na sub-rogação convencional existe um negócio seja lícito, possível, determinado ou determinável.
jurídico celebrado (ato bilateral) com um terceiro  Art. 358 – se a coisa dada for um título de crédito, a
não interessado que realiza o pagamento. Dessa transferência importará em cessão. Entretanto, não
forma, a sub-rogação convencional é forma de há identidade entre as duas figuras, eis que na
pagamento indireto. cessão de crédito há a transmissão de obrigação,
 No tocante à sub-rogação legal, o sub-rogado não enquanto na dação ocorre o pagamento indireto
poderá exercer os direitos e as ações do credor, pela substituição do objeto, da prestação.
senão até a soma que tiver desembolsado para  O dispositivo é aplicado para o caso em que o
desobrigar o devedor (art. 350). devedor entrega ao seu credor um título de crédito
 Relativamente ao credor originário que só em parte do qual é credor. Nessa hipótese, o terceiro
for reembolsado, terá ele preferência ao sub- (devedor do título) deverá ser notificado para que
rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens seja informado quem é o seu novo credor.
do devedor não forem suficientes para saldar  Art. 359 – se o credor for evicto da coisa recebida,
inteiramente o que a um e outro dever (art. 351). a obrigação primitiva será restabelecida, ficando
sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos
de terceiros de boa-fé.
 Duas partes obrigacionais concordam em substituir
um imóvel (objeto da prestação) por dois veículos.
4. DA DAÇÃO DE PAGAMENTO Em regra, se os veículos se perderem por evicção,
retorna a obrigação de dar a casa. Mas se esta
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última foi vendida pelo devedor a um terceiro, que  Art. 367 – não se podem validar por novação as
agiu de boa-fé ao compra-la, não haverá o obrigações nulas ou extintas, uma vez que não se
mencionado retorno. Em suma, o credor pode novar o que não existe, nem extinguir o que
(adquirente, evicto) terá que suportar os efeitos da não produz efeitos jurídicos.
evicção, tendo ação regressiva contra o devedor  Para que a novação tenha validade e possibilidade
(alienante), conforme as regras constantes da jurídica, a nova obrigação também deve ser válida.
teoria geral dos contratos. Sendo nula, a novação será inválida e prevalecerá a
 A dação em pagamento não se confunde com a obrigação antiga. Sendo anulável e caso a obrigação
novação real, uma vez que na primeira não ocorre seja efetivamente anulada, também restabelecida
a substituição de uma obrigação por outra, mas tão ficará a anterior, aplicação direta do art. 182, que
somente do objeto da prestação, mantendo-se os traz efeitos retroativos parciais ao ato anulável.
demais elementos do vínculo obrigacional. Tais  Art. 363 – no caso de novação subjetiva passiva (por
como os seus acessórios. substituição do devedor), a insolvência do novo
devedor não confere ao credor o direito de
5. DA NOVAÇÃO regresso contra o antigo, salvo se este obteve por
 Arts. 360 a 367. má-fé a substituição. Isso porque a obrigação
 Pode ser definida como uma forma pagamento antiga, da qual o antigo devedor fazia parte, foi
indireto em que ocorre a substituição de uma totalmente liquidada.
obrigação anterior por uma obrigação nova, diversa  Art. 366 – se não houver consentimento do fiador
da primeira criada pelas partes. em caso de novação da obrigação principal, estará
 Seu principal efeito é a extinção da dívida primitiva, este exonerado da obrigação acessória em relação
com todos os acessórios e garantias, sempre que ao credor.
não houver estipulação em contrário (art. 364).  Art. 364 – o principal efeito da novação, como é
 Em havendo a referida previsão em contrário, notório, é a extinção de todos os acessórios da
autorizada pela própria lei, haverá novação parcial. dívida, salvo estipulação em contrário, sendo a
Todavia, a regra é a novação total, de todos os fiança um contrato de natureza acessória.
elementos da obrigação anterior, pela própria  Nos termos desse último comando, não
natureza do instituto. aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor,
 A novação não produz, como ocorre no pagamento a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em
direto, a satisfação imediata do crédito. garantia pertencerem a terceiro que não foi parte
 São seus elementos essenciais: na novação. O acordo de permanência dos
 Existência de uma obrigação anterior (obrigação acessórios não poderá atingir terceiro que ofereceu
antiga ou dívida novada); bem em garantia real (penhor, hipoteca ou
anticrese) se o mesmo não participar da novação.
 Existência de uma nova obrigação (dívida
Somente haverá permanência da garantia real se o
novadora);
devedor pignoratício, hipotecante ou anticrético
 Intenção de novar (animus novandi).
assinar expressamente o instrumento da novação.
 Art. 361 – o ânimo de novar pode ser expresso ou
 Art. 365 – ocorrendo novação entre o credor e um
mesmo tácito, mas sempre inequívoco. Não
dos devedores solidários, somente sobre os bens
havendo tal elemento imaterial ou subjetivo, a
do que contrair a nova obrigação, subsistirão as
segunda obrigação simplesmente confirma a
preferências e garantias do crédito novado. Os
primeira.
outros devedores solidários ficarão por esse fato
 Além da novação tácita, é viável juridicamente a
exonerados. Essa exoneração confirma a tese de
novação expressa, feita por meio de instrumento
que o animus novandi é pessoal, devendo ser
obrigacional pelo qual as partes concordam com a
inequívoco para geral efeitos. A responsabilidade
substituição de crédito causal (duplicata) por outro
patrimonial, nos termos do art. 391, só poderá
abstrato (cheque).
atingir aquele que participou da substituição da
dívida.
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 Classificação da novação: havendo concordância do credor.
I) Novação objetiva ou real – é a modalidade Eventualmente, assinam o instrumento
mais comum de novação, ocorrendo nas o novo devedor, o antigo devedor que o
hipóteses em que o devedor contrai com o indicou ou delegou poderes e o credor.
credor nova dívida para extinguir a primeira  A doutrina aponta ainda a novação mista, hipótese
(art. 360, I). Não se confunde com a dação em que, ao mesmo tempo, substitui-se o objeto e
em pagamento. um dos sujeitos da relação jurídica.
II) Novação subjetiva ou pessoal – é aquela  Não se pode confundir a sub-rogação com a
em que ocorre a substituição dos sujeitos novação subjetiva ativa (ou por substituição do
da relação jurídica obrigacional, criando-se credor). No pagamento com sub-rogação há apenas
uma nova obrigação, com um novo vínculo uma alteração da estrutura obrigacional, surgindo
entre as partes. A novação subjetiva pode somente um novo credor. Já na novação o vínculo
ser assim classificada: original se desfaz com todos os seus acessórios e
 Novação subjetiva ativa – ocorre a garantias. Cria-se um novo vínculo, totalmente
substituição do credor, criando uma independente do primeiro, salvo estipulação
nova obrigação com o rompimento do expressa em contrário.
vínculo primitivo (art. 360, III).  A novação subjetiva ativa também não se confunde
Requisitos: consentimento do devedor com a cessão de crédito, que é forma de
perante o novo credor, consentimento transmissão da obrigação e que pode ter natureza
do antigo credor que renuncia ao onerosa.
crédito e a anuência do novo credor que  A novação subjetiva passiva não se confunde com a
aceita a promessa do devedor. cessão de débito ou assunção de dívida que é forma
 Novação subjetiva passiva – ocorre a de transmissão da posição passiva da obrigação.
substituição do devedor que sucede ao  A novação objetiva ou real não pode ser confundida
antigo, ficando este último quite com o com a dação em pagamento. A primeira é uma
credor (art. 360, II). Se o novo devedor forma de pagamento indireto por substituição da
for insolvente, não terá o credor que o dívida, gerando a extinção de todos os acessórios.
aceitou ação regressiva contra o Em reforço, havendo evicção da coisa dada, a
primeiro, salvo se este obteve de má-fé prestação primitiva, em casos tais, não revive.
a substituição. Pode ser subclassificada Como visto, a dação não gera a extinção dos
nos seguintes moldes: acessórios e, no caso de perda da coisa dada,
a) novação subjetiva passiva por retornará a prestação primitiva.
expromissão – ocorre quando um
terceiro assume a dívida do devedor 6. DA COMPENSAÇÃO
originário, substituindo-a sem o
 Arts. 369 a 380.
consentimento deste (art. 362), mas
 Ocorre quando duas ou mais pessoas forem ao
desde que o credor concorde com a
mesmo tempo credoras e devedoras umas das
mudança no polo passivo. No caso de
outras, extinguindo-se as obrigações até o ponto
novação expressa, assinam o
em que se encontrarem, onde se equivalerem (art.
instrumento obrigacional somente o
368).
novo devedor e o credor, sem a
 Art. 369 – a compensação efetua-se entre dívidas
participação do antigo devedor.
líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. Trata-se de
b) novação subjetiva passiva por
requisitos para a compensação legal. Em casos tais,
delegação – ocorre quando a
as dívidas devem ser:
substituição do devedor é feita com o
 Certas quanto à existência, e determinadas
consentimento do devedor originário,
quanto ao valor (líquidas);
pois é ele que indicará uma terceira
 Vencidas ou atuais, podendo ser cobradas;
pessoa para assumir o seu débito,
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 Constituídas por coisas substituíveis (ou necessidade da reciprocidade entre as dívidas,
consumíveis, ou fungíveis), como, por exemplo, exceção feita para o caso do fiador.
o dinheiro.  Art. 377 – o devedor que, notificado, nada opuser à
 Art. 370 – embora sejam do mesmo gênero as cessa que o credor fez a terceiros dos seus direitos,
coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se não poderá opor ao cessionário a compensação,
compensarão verificando-se que diferem na que antes da cessão teria podido opor ao cedente.
qualidade, quando especificada no contrato. Se, porém, a cessão não lhe tiver sido notificada,
 Art. 371 – o devedor somente pode compensar com poderá opor ao cessionário a compensação do
o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode crédito que antes tinha contra o cedente.
compensar sua dívida com a de seu credor ao  Art. 378 – quando as duas dívidas não são pagáveis
afiançado. no mesmo lugar, não poderão ser compensadas
 Art. 372 – os prazos de favor, que são aqueles sem a dedução das despesas necessárias à
concedidos graciosamente pelo credor, embora operação. Desse modo, havendo necessidade de
consagrados pelo uso geral, não obstam a uma parte se transportar para outra localidade
compensação. visando à compensação de uma obrigação, as
 Art. 373 – a diferença de causa ou motivo nas despesas deverão ser divididas entre os sujeitos
dívidas também não impede a compensação. obrigacionais, para que a compensação seja
Entretanto, exceção deve ser feita nos seguintes possível. Esse comando legal veda o
casos: enriquecimento sem causa, ressaltando a
 Se a dívida provier de esbulho, furto ou roubo. necessidade de identidade entre as dívidas para
Não é possível a compensação diante da que a compensação seja possível com a dedução de
presença de atos ilícitos. quantias relacionadas com a forma de pagamento
 Se uma dívida se originar de comodato, depósito indireto.
ou alimentos. Os contratos de comodato e  Art. 379 – eventualmente, será possível aplicar à
depósito são personalíssimos, o que obsta a compensação os comandos legais previstos para a
compensação. Os alimentos são incompensáveis imputação do pagamento. Sendo a mesma pessoa
por força do art. 1.707. obrigada por várias dívidas compensáveis, serão
 Se uma dívida for de coisa não suscetível de observadas, no compensá-las, as regras
penhora. Segue-se a antiga afirmação de que a estabelecidas quanto à imputação do pagamento.
dívida impenhorável é também incompensável. Assim, a imputação caberá: 1º) ao devedor; 2º) ao
 Art. 374 – a matéria da compensação, no que credor; 3º) à lei – imputação legal (pela ordem:
concerne às dívidas fiscais e parafiscais, é regida juros, dívida que venceu em primeiro lugar, dívida
pelo disposto neste capítulo. Esse dispositivo legal mais onerosa, imputação proporcional).
foi revogado, por força da Medida Provisória  Art. 380 – não se admite a compensação em
104/2003, convertida na Lei 10.677/2003. prejuízo de direito de terceiro, o que ressalta a
 Art. 375 – enuncia a possibilidade da cláusula proteção da boa-fé objetiva, que é preceito de
excludente da compensação, diante da autonomia ordem pública. O devedor que se torne credor do
privada e da liberdade contratual. O mesmo seu credor, depois de penhorado o crédito deste,
comando legal autoriza a possibilidade de renúncia não pode opor ao exequente a compensação de
à compensação. que contra o próprio credor disporia.
 Em suma, o dispositivo apenas se aplicaria à  Principais classificações da compensação:
compensação convencional. Ademais, para que i) Quanto à origem:
tenham validade, as cláusulas devem estar a) Compensação legal – é aquela que decorre de
inseridas em contratos civis plenamente discutidos lei e independe de convenção entre os sujeitos
pelas partes (contatos paritários). da relação obrigacional, operando-se mesmo
 Art. 376 – obrigando-se por terceiro uma pessoa, que uma delas não queira a extinção das
não pode compensar essa dívida com a que o dívidas, pois envolve a ordem pública. Para que
credor dele lhe dever. Esse dispositivo ressalta a ocorra a compensação legal, são necessários os
Regras especiais de pagamento e pagamento indireto Fabíola Kocemba
seguintes requisitos: reciprocidade de débitos;  Art 384 – cessando a confusão, para logo se
liquidez de dívidas, que devem ser certas restabelece, com todos os seus acessórios, a
quanto à existência e determinadas quanto ao obrigação anterior. No tocante à prescrição, deve-
objeto e valor; exigibilidade atual das se entender que ela não corre nesses casos,
prestações, estando estas vencidas; e presente uma condição suspensiva. Em reforço, o
fungibilidade dos débitos, havendo identidade próprio art. 384 consagra que a obrigação se
entre a natureza das obrigações. restabelece, sem fazer qualquer ressalva.
b) Compensação convencional – quando há um  Dois exemplos envolvendo a confusão. O primeiro
acordo de vontade entre os sujeitos da relação tem origem inter vivos; e o segundo, mortis causa:
obrigacional. Na compensação convencional  Imagine-se o caso em que a empresa A deve
não há necessidade dos pressupostos acima para a empresa B R$ 1.000.000,00. Se a segunda
apontados para a compensação legal. empresa adquirir a primeira, a dívida estará
c) Compensação judicial – ocorre por meio de extinta. Trata-se de confusão total. Mas se essa
decisão do juiz que reconhece no processo o aquisição for declarada nula judicialmente ou
fenômeno de extinção obrigacional. Em casos por um órgão administrativo, por ilicitude do
tais, é necessário que casa uma das partes objeto, volta a dívida a existir.
alegue o seu direito contra a outra.  Alguém deve uma quantia para o seu pai, que é
ii) Quanto à extensão declarado morto por ausência. Se o filho for o
a) Compensação plena, total ou extintiva – é seu único sucessor, haverá confusão total.
aquela que envolve a totalidade das duas Haverá confusão parcial se o tio também for
dívidas. credor da dívida. Mas se o pai reaparecer a
b) Compensação restrita, parcial, ou dívida também ressurge.
propriamente dita – é aquela que envolve parte
de uma dívida e a totalidade de outra. Uma 8. DA REMISSÃO
dívida é extinta e a outra é compensada.
 A remissão é o perdão de uma dívida, constituindo
7. DA CONFUSÃO
um direito exclusivo do credor de exonerar o
devedor, estando tratada entre os arts. 385 a 388.
 A confusão está presente quando na mesma pessoa  Art. 385 – a remissão constitui um negócio jurídico
confundem-se as qualidades de credor e devedor, bilateral, o que ressalta o seu caráter de forma de
em decorrência de um ato inter vivos ou mortis pagamento indireto, uma vez que deve ser aceita
causa (art. 381). pelo sujeito passivo obrigacional.
 A origem da confusão obrigacional, na grande  A remissão somente pode ocorrer não havendo
maioria das vezes, decorre de um ato bilateral ou prejuízo a terceiros, outra valorização da boa-fé.
de um negócio jurídico, razão pela qual deve ela ser Por uma questão lógica, somente é possível o
incluída como forma de pagamento de indireto. perdão de direitos patrimoniais de caráter privado
 Art. 382 – a confusão pode verificar-se a respeito de e desde que não prejudique o interesse público ou
toda a dívida, ou só de parte dela. No primeiro caso, da coletividade (função social da remissão).
haverá confusão total ou própria. Com a extinção  Art. 388 – a remissão pode recair sobre a dívida
da totalidade da dívida. No segundo, haverá a inteira – caso da remissão total –, ou parte dela,
confusão parcial ou imprópria. denominada remissão parcial.
 Art. 383 – quanto à solidariedade, a confusão  A remissão ou perdão concedido a um dos
operada na pessoa do credor ou devedor solidário codevedores extingue a dívida na parte a ele
só extingue a obrigação até a concorrência da correspondente, não atingindo a solidariedade em
respectiva parte no crédito, ou na dívida, relação aos demais (art. 388). Entretanto, para que
subsistindo quanto ao mais a solidariedade. Desse o credor cobre a dívida deverá abater dos demais a
modo, a confusão não tem o condão de pôr fim à quota do devedor que foi perdoado. A
solidariedade, que permanece intocável. solidariedade, para todos os efeitos, permanece.
Regras especiais de pagamento e pagamento indireto Fabíola Kocemba
 Art. 386 – o perdão pode ser expresso – quando
firmado por escrito – ou tácito – por conduta do
credor, prevista em lei e incompatível com a
preservação do direito obrigacional. Como exemplo
de conduta tácita que gera a remissão pode ser
citada a situação em que o credor entrega o título
da obrigação ao devedor, quando tiver sido
celebrado por escrito particular. Isso provará a
desoneração do devedor e seus coobrigados, caso
o credor seja pessoa capaz de alienar e o devedor
capaz de adquirir. Repise-se que o comando legal
em questão é aplicado para os casos envolvendo
instrumentos particulares ou contratos que
traduzem dívidas. Para os casos de títulos de
crédito, a entrega destes faz presumir a existência
de pagamento (art. 324).
 Art. 387 – não se pode confundir os institutos, uma
vez que a entrega de objeto empenhado (dado em
penhor, como garantia real) pelo credor ao devedor
não presume o perdão da dívida, mas apenas a
renúncia em relação à garantia. Isso porque o
penhor tem natureza acessória e não tem o condão
de atingir o principal, a dívida.
 Não se pode confundir os institutos da renúncia
(gênero) e da remissão (espécie). A renúncia pode
incidir sobre determinados direitos pessoais e é ato
unilateral. A remissão só diz respeito a direitos
creditórios e é ato bilateral (negócio jurídico),
estando presente a alteridade. A renúncia, por fim,
não é tratada como forma de pagamento indireto,
ao contrário da remissão.

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