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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS


DEPARTAMENTO DE DIREITO
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I

Professor Dr. Augusto Passamani Bufulin

Orientações importantes:

Este resumo NÃO substitui a leitura semanal do conteúdo na doutrina de


seu interesse.
Trata-se de um material de orientação com as principais questões da
matéria, mas é importante o aprofundamento doutrinário sobre o tema.

PONTO 9: PAGAMENTOS ESPECIAIS: CONSIGNAÇÃO, SUB-ROGAÇÃO, IMPUTAÇÃO


EM PAGAMENTO, DAÇÃO EM PAGAMENTO.

1. NOÇÕES GERAIS

Conforme visto na aula anterior, o pagamento é o fim normal de toda obrigação, que
não necessariamente reflete uma obrigação em dinheiro. No entanto, existem outras formas
especiais de pagamento que devem ser estudados.
As modalidades estudadas são denominadas de “pagamentos indiretos ou especiais”,
pois são meio de extinção de obrigação, em que a satisfação do credor e a liberação do
devedor não se efetivam em decorrência da realização da prestação, mas em virtude da
aplicação de determinados pressupostos legais que garantem o efeito liberatório.

2. DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO

O pagamento em consignação consiste na modalidade de pagamento em que o


devedor deposita a coisa devida, objetivando livrar-se da obrigação. A consignação em
pagamento não é só de dinheiro, mas também de bens móveis ou imóveis.

Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial


ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.

ATENÇÃO! Não se pode confundir a presente modalidade de extinção da obrigação


com o empréstimo consignado em folha, que é uma opção de crédito pessoal, na qual o
mutuário solicita e passa a ter o valor das parcelas cobrado direto na folha de pagamento.
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Exemplificativamente, se “A” deve a “B” a importância de R$ 1.000,00 e este se recusa
a receber, “A” poderá depositar judicialmente ou em estabelecimento bancário o valor devido,
à disposição do credor, operando-se a obrigação e a descaracterização da mora. Destaca-se
que a consignação pode ser judicial ou extrajudicial, podendo esta ser realizada no
estabelecimento bancário em caso de dívida de dinheiro, conforme disciplina o artigo do
Código Civil, que também é tratado na legislação processual.
É possível, ainda, a conversão da consignação extrajudicial em judicial, mas, neste
caso o consignante deve comprovar à instituição financeira que propôs a ação em pagamento
para que o depósito extrajudicial passe a ser tratado como judicial (RMS 28.841-SP -
Informativo n. 499, STJ).

Trata-se de instituto com procedimento especial próprio no Código de Processo Civil,


disciplinado nos artigos 539 a 549 do Código de Processo Civil de 2015.

Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer,
com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.
§ 1º Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em
estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no lugar do
pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento,
assinado o prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa.

A consignação, assim, afasta os efeitos do inadimplemento, como a obrigação de


pagar os juros moratórios e a cláusula penal (ou multa contratual), e é forma de extinção da
obrigação.
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O Código Civil de 2002 traz um rol sobre as situações de pagamento em consignação
no artigo 335:

Art. 335. A consignação tem lugar:


I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento,
ou dar quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e
condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente,
ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do
pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

A doutrina entende que as hipóteses de consignação previstas no artigo 335 são


exemplificativas.
O artigo 336 do Código Civil determina que devem concorrer todos os requisitos
exigidos pelo pagamento.

Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister
concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os
requisitos sem os quais não é válido o pagamento.

Em relação às pessoas, a consignação deve ser feita pelo devedor ou quem o


represente, sob pena de não ser considerado válido. Quanto ao objeto, o pagamento deve ser
feito na integralidade, pois o credor não está obrigado a aceitar pagamento parcial. A
legislação processual civil disciplina, inclusive, que o autor da ação de consignação (que é o
devedor) pode completar o depósito, caso seja alegada a insuficiência dele.

Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em


10 (dez) dias, salvo se corresponder a prestação cujo inadimplemento
acarrete a rescisão do contrato.

ATENÇÃO! O Superior Tribunal de Justiça decidiu, sob o rito de recursos repetitivos,


que, em ação consignatória, a insuficiência do depósito realizado pelo devedor conduz ao
julgamento de improcedência do pedido, pois o pagamento parcial da dívida não extingue o
vínculo obrigacional (REsp 1.108.058/DF – Tema 967).
A obrigação deve ser cumprida da mesma maneira como pactuada originalmente.
Assim, se foi pactuado o pagamento do valor de R$ 1.000,00 à vista, não poderá o devedor
consignar em quatro parcelas de R$ 250,00. Além disso, não poderá ser modificado o local
do pagamento, nos termos do artigo 337 do Código Civil.
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Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto
que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for
julgado improcedente.

O devedor pode levantar o depósito, pagando as respectivas despesas, enquanto o


credor não informar que aceita a consignação ou não a impugnar. Caso ocorra o
levantamento, a obrigação permanece, com todas as suas consequências.

Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o
impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as
respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as
consequências de direito.

Na consignação judicial, o artigo 544 do Código de Processo Civil traz as alegações


que podem ser feitas em contestação pelo credor:

Art. 544. Na contestação, o réu poderá alegar que:


I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida;
II - foi justa a recusa;
III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento;
IV - o depósito não é integral.
Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação somente será admissível
se o réu indicar o montante que entende devido.

Quando existirem outros devedores e fiadores, depois de julgado procedente o


depósito, não é possível ao devedor o levantamento do objeto depositado, mesmo com a
anuência do credor. As despesas com os depósitos (custas, honorários advocatícios e demais
despesas processuais) correrão por conta do credor que motivou o ingresso da ação.

Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo,


embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e
fiadores.

Assim, há três hipóteses sobre o levantamento do depósito:


i) Antes da aceitação ou impugnação do depósito: o devedor pode
levantar o depósito, pois o montante ainda não saiu de seu patrimônio
jurídico;
ii) Depois da aceitação ou impugnação do depósito pelo credor:
mesmo que não tenha sido julgada procedente, o credor já se
manifestou sobre o valor, seja aceitando, seja impugnando. Assim,
estando caracterizada a oferta, o depósito somente poderá ser
levantado com a anuência do credor.
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iii) Julgado procedente o depósito: admitido em caráter definitivo o
depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, ainda que o credor
consinta, mas apenas se outros devedores e fiadores estiverem de
acordo.

Na legislação processual, há a previsão de que, julgado procedente o pedido, o juiz


julgará extinta a obrigação e condenará o réu a pagar custas e honorários advocatícios.

Art. 546. Julgado procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação e


condenará o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios.
Parágrafo único. Proceder-se-á do mesmo modo se o credor receber e der
quitação.

A renúncia do credor ao depósito também repercute em relação aos demais devedores


solidários e fiadores. Se, depois da aceitação ou da impugnação do depósito, o credor anuir
com o levantamento pelo devedor da quantia depositada, o credor perderá a preferência e a
garantia que lhe competia sobre a coisa consignada, com liberação dos fiadores e
codevedores que não tenham anuído.

Art. 340. O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito,


aquiescer no levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe
competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados
os co-devedores e fiadores que não tenham anuído.

Se a coisa devida foi imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar
onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser
depositada. É a previsão do artigo 341 do Código Civil:

Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue
no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou
mandar recebê-la, sob pena de ser depositada.

Em caso de obrigação de dar coisa incerta, em que a escolha da coisa cabe ao credor,
este será citado para fazer a concentração, sob pena de perder o direito de escolha e ser
depositada a coisa que o devedor escolher. Se o devedor fizer a escolha, devem-se seguir as
regras do artigo 341 do Código Civil, com a citação do credor para receber a coisa.

Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele


citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada
a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á
como no artigo antecedente.
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Julgado procedente o pedido, as despesas com a consignação deverão ser destinadas
ao credor e, ao contrário, caso seja improcedente o pedido, as despesas deverão ser pagas
pelo devedor.

Art. 343. As despesas com o depósito, quando julgado procedente, correrão


à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor.

Em caso de prestações sucessivas, como dívida de alugueis ou alimentos, o devedor


pode consignar as parcelas à medida que forem vencendo, conforme dispõe o artigo 541 do
Código de Processo Civil.

Art. 541. Tratando-se de prestações sucessivas, consignada uma delas, pode


o devedor continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais
formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até 5 (cinco)
dias contados da data do respectivo vencimento.

O Superior Tribunal de Justiça decidiu, nos autos do Recurso Especial n. REsp


1.170.188/DF, que em ação de consignação em pagamento, ainda que cumulada com
revisional de contrato, é inadequado o depósito tão somente das prestações que forem
vencendo no decorrer do processo, sem o recolhimento do montante incontroverso e vencido.
Se houver litígio sobre o pagamento, o devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á
mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores tendo
conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento (art. 344 do CC).

Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante


consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo
conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento.

Além disso, vencida a dívida e pendente litígio entre os credores que pretendam
mutuamente se excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação (art. 345 do CC). Trata-
se de única hipótese em que o credor, e não o devedor, pode tomar a iniciativa da
consignação.

Art. 345. Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se


pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a
consignação.

3. PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO


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Sub-rogação significa substituição. O pagamento com sub-rogação é a substituição de


uma pessoa por outra, ou uma coisa por outra, em uma relação jurídica. No primeiro caso, há
a sub-rogação pessoal, ao passo que no segundo a sub-rogação é real.
A sub-rogação pode ser, ainda, legal ou convencional, quando, respectivamente,
decorrer da lei ou da vontade das partes.
A sub-rogação real, ocorrida entre coisas, pode ser visualizada nos seguintes artigos
do Código Civil:

Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da


sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele
ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os
sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais
interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele
tempo.

Art. 1.446. Os animais da mesma espécie, comprados para substituir os


mortos, ficam sub-rogados no penhor.
Parágrafo único. Presume-se a substituição prevista neste artigo, mas não
terá eficácia contra terceiros, se não constar de menção adicional ao
respectivo contrato, a qual deverá ser averbada.

Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:


I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na
constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu
lugar;
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos
cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; [...]

Art. 1.668. São excluídos da comunhão:


I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os
sub-rogados em seu lugar; [...]

Art. 1.719. Comprovada a impossibilidade da manutenção do bem de família


nas condições em que foi instituído, poderá o juiz, a requerimento dos
interessados, extingui-lo ou autorizar a sub-rogação dos bens que o
constituem em outros, ouvidos o instituidor e o Ministério Público.

Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode
o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de
incomunicabilidade, sobre os bens da legítima.
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[...] § 2.º Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser
alienados os bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que
ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros.

A parte específica de sub-rogação do Código Civil trata apenas da modalidade


pessoal, a substituição de sujeitos na relação jurídica, na qual há o pagamento da dívida por
terceiro.
A sub-rogação legal opera-se em três hipóteses, previstas no artigo 346 do Código
Civil:

Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:


I - do credor que paga a dívida do devedor comum;
II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem
como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito
sobre imóvel;
III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser
obrigado, no todo ou em parte.

Na hipótese do inciso I, se duas ou mais pessoas são credoras do mesmo devedor, a


sub-rogação ocorrerá se qualquer dos sujeitos ativos pagar ao credor o valor devido.
Exemplo: Se João está devendo a Manoel e Pedro, caso Manoel Pague a Pedro, ele
se sub-roga nos direitos de Pedro e, assim, João deve pagar a integralidade a Manoel.
Quanto ao inciso II, em primeiro lugar, deve-se esclarecer que a hipoteca é um direito
real de garantia incidente sobre imóveis.
Se alguém adquire um imóvel hipotecado e efetua o pagamento do valor da hipoteca,
sub-roga-se nos direitos do alienante em nome de quem está a hipoteca. Se o imóvel estiver
gravado por mais de uma hipoteca, o adquirente que paga a primeira sub-roga-se no crédito
hipotecário satisfeito e tem preferência em relação aos demais credores hipotecários.
O inciso III, por fim, refere-se ao terceiro interessado que paga a dívida que,
eventualmente, pode ser obrigado. O terceiro interessado é quem pode ter seu patrimônio
afetado, caso a dívida pela qual também se obrigou não seja paga, como o avalista e o fiador.
O artigo 347, por sua vez, trata do da sub-rogação convencional, que disciplina,
basicamente, o pagamento por terceiros que não são interessados no débito.

Art. 347. A sub-rogação é convencional:


I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere todos os seus direitos;
II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver
a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos
do credor satisfeito.

O inciso I é uma hipótese semelhante à cessão de crédito tanto que, inclusive, o artigo
348 do Código Civil disciplina que sobre a hipótese haverá aplicação de suas regras. No
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entanto, o inciso I não se trata de uma cessão de crédito, mas apenas de apenas aplicação
residual das regras. Embora semelhantes, na cessão de crédito há duas circunstâncias que
se diferenciam do inciso I do artigo 347: i) ela não se submete aos limites impostos pelo Código
ao pagamento com sub-rogação, conforme artigo 350 do Código Civil; ii) a cientificação do
devedor na cessão é também condição indispensável para que o ato tenha eficácia jurídica.

Art. 348. Na hipótese do inciso I do artigo antecedente, vigorará o disposto


quanto à cessão do crédito.

Já o inciso II refere-se à pessoa que empresta ao devedor a quantia necessária para


solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor
satisfeito. Exemplo: João empresta um valor a Manoel, sob a condição de sub-rogar-se nos
direitos do credor primitivo. Neste caso, aquele que pagou poderá exigir o reembolso do que
pagou e se utilizar das eventuais garantias pactuadas em prol do credor originário.
O artigo 349 do Código Civil trata do efeito translativo da obrigação, em que a sub-
rogação transfere todos os direitos, garantias e privilégios do credor primitivo:

Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações,


privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor
principal e os fiadores.

O artigo pode ser aplicado na sub-rogação legal e na convencional, destacando-se


que, nesta, as partes podem limitar os direitos do sub-rogado.
Na sub-rogação legal, o sub-rogado não pode reclamar a totalidade da dívida do
devedor, mas só o que tiver desembolsado, na forma do artigo 350 do Código Civil:

Art. 350. Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos


e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para
desobrigar o devedor.

Há uma discussão sobre a possibilidade de o sub-rogado cobrar valor a mais no caso


de sub-rogação convencional. Flávio Tartuce1, por exemplo, entende de forma negativa. Pablo
Stolze e Rodolfo Pamplona2, por outro lado, entendem que, na convencional, inserida no
campo da autonomia privada, as partes têm liberdade para estipularem a mantença ou não
de garantias e o alcance dos efeitos jurídicos do pagamento.

1 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020, [Livro digital].
2 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 8. ed. São Paulo:

Saraiva, 2019. v. II [Livro digital].


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Por fim, o credor originário for reembolsado em parte terá preferência ao sub-rogado
na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não forem suficientes para saldar
inteiramente o que a um e outro dever. É a redação do artigo 351 do Código Civil:

Art. 351. O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao


sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não
chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever.

4. IMPUTAÇÃO EM PAGAMENTO

Na imputação em pagamento, o devedor, obrigado por dois ou mais débitos da mesma


natureza a um credor, indica qual deles vai solver. A imputação, assim, possibilita ao devedor
a escolha do débito que pretende extinguir.

Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a
um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se
todos forem líquidos e vencidos.

A partir desse conceito, observam-se os seguintes requisitos: i) identidade de credor e


devedor; ii) existência de dois ou mais débitos da mesma natureza; iii) dívidas líquidas e
vencidas.

Se o devedor não se manifestar sobre a escolha, o direito de escolha é transferido ao


credor.

Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e
vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não
terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando
haver ele cometido violência ou dolo.
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Nesse caso, o devedor não pode reclamar, a não ser que haja violência ou dolo do
credor. Se não houver manifestação de nenhum dos envolvidos, a imputação obedecerá às
regras de imputação previstas em lei.
Vê-se, portanto, que há três espécies de imputação: a do devedor, a do credor e a
imputação legal.
Na imputação legal devem ser observadas as regas dos artigos 354 e 355 do Código
Civil:

Art. 354. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos


juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o
credor passar a quitação por conta do capital.

Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for
omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em
primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo
tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.

Assim, é possível a aplicação das seguintes regras:

i) havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos


(CC, art. 354);
ii) entre dívidas vencidas e não vencidas, a imputação far-se-á nas primeiras;
iii) se algumas forem líquidas e outras ilíquidas, a preferência recairá sobre as
primeiras, segundo a ordem de seu vencimento (CC, art. 355);
iv) se todas forem líquidas e vencidas ao mesmo tempo, considerar-se-á paga a mais
onerosa, conforme estatui o mesmo dispositivo legal.

5. DAÇÃO EM PAGAMENTO
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Regra geral, conforme se estudou no artigo 313, o credor não é obrigado a receber
coisa diversa do que acordado com o devedor, ainda que mais valiosa. No entanto, caso o
credor aceite, está caracterizada a dação em pagamento.

Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe
é devida.

A dação é pagamento é uma forma de pagamento, na qual o credor concorda em


receber do devedor prestação diversa do que foi avençado anteriormente na obrigação para
exonerá-lo da dívida. Trata-se de forma de pagamento indireto.
Assim, a título exemplificativo, se o devedor estiver obrigado a pagar a quantia de R$
10.000,00 a dação ocorrerá se, no caso, efetuar o pagamento entregando uma motocicleta,
por exemplo, ou prestando um serviço, desde que o credor consinta com a substituição das
prestações.
Necessário esclarecer que a obrigação primitiva não precisa ser, necessariamente,
uma obrigação pecuniária e o que importa é que a nova prestação seja diversa da anterior.
ATENÇÃO! A dação em pagamento não se confunde com as obrigações alternativas,
pois nestas já está previamente pactuado que haverá diversidade de prestações. Também
não se pode confundir com as obrigações facultativas porque, de igual forma, há uma previsão
anterior de que pode haver uma prestação subsidiária.
Na dação em pagamento, os envolvidos estipulam uma forma de prestação e,
posteriormente, há uma nova convenção entre as partes, na qual o credor aceita receber coisa
diversa do que anteriormente estava pactuado.
São requisitos da dação em pagamento: i) a dívida vencida; ii) o consentimento do
credor para receber prestação diversa; iii) a entrega da coisa diversa; iv) o ânimo de solver,
ou seja, a intenção de satisfazer a obrigação.
O artigo 357 do Código Civil disciplina que, se for estipulado o preço da coisa dada em
pagamento, as relações serão reguladas pelas normas atinentes ao contrato de compra e
venda.

Art. 357. Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as relações


entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda.

O artigo 358 do Código Civil diz que, se a coisa dada for um título de crédito, a
transferência importará em cessão. Ocorre que, conforme bem leciona Flávio Tartuce, referido
dispositivo legal deve ser interpretado somente no sentido de que serão aplicadas por
analogia as regras relativas à cessão de crédito, pois não há identidade entre a cessão de
crédito e a dação em pagamento.
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Art. 358. Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência


importará em cessão.

Por fim, o artigo 359 do Código Civil trata do credor evicto e, assim, deve-se apresentar
brevemente o conceito de evicção, que é uma garantia legal típica dos contratos onerosos,
em que há transferência de propriedade.

É uma garantia que ocorre em contratos onerosos quando há transferência de


propriedade. Ocorre quando o adquirente de um bem perde a sua propriedade ou posse em
virtude de decisão judicial que reconhece direito anterior de terceiro sobre o ele.
O alienante é aquele que vende o bem, o adquirente (evicto) é quem recebe o bem e
o terceiro (evictor) prova seu direito anterior sobre a coisa. O terceiro (evictor) pode atacar o
negócio jurídico entre alienante e adquirente, se o bem alienado é de sua propriedade. Caso
vença, o adquirente perde o bem e o alienante responde pelos riscos da evicção, ou seja,
será responsabilizado pelo prejuízo causado pela perda do bem.
Feito essa breve explicação, passa-se ao exame do artigo 359.

Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento,


restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada,
ressalvados os direitos de terceiros.

De acordo com o artigo, se o credor perder a coisa para o terceiro que provar ser o
verdadeiro dono, a obrigação primitiva será restabelecida, ficando sem efeito a quitação dada
ao devedor.

6. APLICABILIDADE PRÁTICA
a. Jurisprudência
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RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO DE AUTOMÓVEL. OFICINA NÃO
CREDENCIADA. LIVRE ESCOLHA DO SEGURADO. ORÇAMENTO.
ABUSIVIDADE DE PREÇOS. RECUSA DA SEGURADORA. VEÍCULO
SINISTRADO. PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE REPARO. SUB-
ROGAÇÃO CONVENCIONAL. DESCARACTERIZAÇÃO.
CESSÃO DE CRÉDITO. CONFIGURAÇÃO. NOTIFICAÇÃO. EFICÁCIA.
SÚMULA Nº 283/STF. DIREITOS CREDITÓRIOS CEDIDOS. QUANTIA
INCONTROVERSA. VALOR DA AUTORIZAÇÃO.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. A questão controvertida na presente via recursal consiste em definir se a
seguradora deve custear o reparo de automóvel sinistrado, diante de sub-
rogação convencional ou de cessão de crédito promovida pelo segurado em
favor da oficina mecânica que escolheu, mesmo havendo recusa do próprio
ente segurador em autorizar o conserto, ao argumento de abusividade do
orçamento apresentado.
3. Embora comumente existam benefícios especiais para o uso da rede de
oficinas referenciadas (ou credenciadas), como a redução ou o parcelamento
da franquia, a disponibilização de carro reserva e a garantia, pelo ente
segurador, da qualidade dos serviços prestados, é direito do segurado
escolher livremente a empresa em que o automotor será reparado, já que
poderá preferir uma de sua confiança (art. 14 do Anexo da Circular SUSEP
nº 269/2004).
4. A livre escolha, pelo segurado, da empresa especializada em reparações
mecânicas não subtrai da seguradora o poder de avaliar o estado do bem
sinistrado e também o orçamento apresentado. Assim, ressalvados os casos
de má-fé, o conserto do automóvel é feito conforme o orçamento aprovado,
nos termos da autorização da seguradora.
5. A sub-rogação convencional, nos termos do art. 347, I, do CC, pode se dar
quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere todos os seus direitos. Na hipótese, a oficina apenas prestou
serviços de mecânica automotora em bem do segurado, ou seja, não pagou
nenhuma dívida dele para se sub-rogar em seus direitos. 6. A cessão de
crédito é a transferência que o credor faz de seus direitos creditórios a outrem
(art. 286 do CC).
No caso, o termo firmado entre a oficina e o segurado se enquadra, na
realidade, como uma cessão de crédito, visto que este, na ocorrência do
sinistro, possui direito creditício decorrente da apólice securitária, mas tal
direito é transmissível pelo valor incontroverso, qual seja, o valor do
orçamento aprovado pela seguradora.
7. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1336781/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 02/10/2018, DJe 08/10/2018)

CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO


EM PAGAMENTO. CONTRATO BANCÁRIO. IMPROCEDÊNCIA.
FINALIDADE DE EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO. NECESSIDADE DE
DEPÓSITO INTEGRAL DA DÍVIDA E ENCARGOS RESPECTIVOS. MORA
OU RECUSA INJUSTIFICADA DO CREDOR. DEMONSTRAÇÃO.
OBRIGATORIEDADE. EFEITO LIBERATÓRIO PARCIAL. NÃO
CABIMENTO. CÓDIGO CIVIL, ARTS. 334 A 339. CPC DE 1973, ARTS. 890
A 893, 896, 897 E 899. RECURSO REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. CPC DE 2015.
1. "A consignação em pagamento visa exonerar o devedor de sua obrigação,
mediante o depósito da quantia ou da coisa devida, e só poderá ter força de
pagamento se concorrerem 'em relação às pessoas, ao objeto, modo e
tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento' (artigo
336 do NCC)". (Quarta Turma, REsp 1.194.264/PR, Rel. Ministro Luís Felipe
Salomão, unânime, DJe de 4.3.2011).
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2. O depósito de quantia insuficiente para a liquidação integral da dívida não
conduz à liberação do devedor, que permanece em mora, ensejando a
improcedência da consignatória.
3. Tese para os efeitos dos arts. 927 e 1.036 a 1.041 do CPC: - "Em ação
consignatória, a insuficiência do depósito realizado pelo devedor conduz ao
julgamento de improcedência do pedido, pois o pagamento parcial da dívida
não extingue o vínculo obrigacional".
4. Recurso especial a que se nega provimento, no caso concreto.
(REsp 1108058/DF, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), Rel. p/ Acórdão
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
10/10/2018, DJe 23/10/2018)

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO


EM PAGAMENTO. PROCEDIMENTO QUE SE AMOLDA AO DIREITO
MATERIAL, PROPICIANDO, EM VIRTUDE DE ALGUM OBSTÁCULO, A
LIBERAÇÃO DO DEVEDOR DA OBRIGAÇÃO. DEPÓSITO DA QUANTIA
OU COISA DEVIDA. PRESSUPOSTO PROCESSUAL OBJETIVO.
REQUERIMENTO DO DEPÓSITO APENAS DAS PRESTAÇÕES QUE
FOREM VENCENDO NO DECORRER DA TRAMITAÇÃO DO PROCESSO,
SEM RECOLHIMENTO DO MONTANTE INCONTROVERSO E VENCIDO.
DESCABIMENTO.
1. O procedimento da consignação em pagamento existe para atender as
peculiaridades do direito material, cabendo às regras processuais
regulamentar tão somente o procedimento para reconhecimento judicial da
eficácia liberatória do pagamento especial.
2. Na consignação em pagamento, o depósito tem força de pagamento, e a
ação tem por finalidade ver atendido o direito material do devedor de liberar-
se da obrigação e de obter quitação, por isso o provimento jurisdicional terá
caráter eminentemente declaratório de que o depósito oferecido liberou o
autor da obrigação, relativa à relação jurídica material. (REsp 886.757/RS,
Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em
15/02/2007, DJ 26/03/2007, p. 214) 3. Todavia, para que a consignação tenha
força de pagamento, conforme disposto no art. 336 do Código Civil, é mister
concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os
requisitos sem os quais não é válido o pagamento. Destarte, a consignação
em pagamento só é cabível pelo depósito da coisa ou quantia devida, não
sendo possível ao recorrente pretender fazê-lo por montante ou objeto
diverso daquele a que se obrigou, pois o credor (réu) não pode ser compelido
a receber prestação diversa ou, em se tratando de obrigação que tenha por
objeto prestação divisível, a receber por partes, se assim não se ajustou (arts.
313 e 314 do CC).
4. Recurso especial não provido.
(REsp 1170188/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 25/03/2014)

CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - DEPÓSITO BANCÁRIO EXTRA-


JUDICIAL - AJUIZAMENTO ULTERIOR DA CONSIGNAÇÃO JUDICIAL -
FALTA DE COMUNICAÇÃO AO BANCO DEPOSITÁRIO - REGIME DE
DEPÓSITO DE CADERNETA DE POUPANÇA INAPLICÁVEL. MANDADO
DE SEGURANÇA IMPETRADO PELO BANCO - RECURSO ORDINÁRIO
PROVIDO - SEGURANÇA CONCEDIDA.
1.- É da responsabilidade do depositante em consignação em pagamento
extra-judicial e não da instituição financeira a comprovação, perante o
estabelecimento bancário, da propositura de ação de consignação em
pagamento em juízo, para que o estabelecimento bancário possa aplicar o
regime de depósito em caderneta de poupança incidente sobre os depósitos
judiciais, nos termos do art. 11, § 1º, da Lei nº 9.289/96 e da Resolução
BACEN nº 2814.
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2.- Do só fato da expedição de mandado judicial de levantamento da
importância depositada não se infere o conhecimento, pela entidade
bancária, do ajuizamento da ação de consignação judicial.
3.- Recurso Ordinário provido e segurança concedida.
(RMS 28.841/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 12/06/2012, DJe 02/08/2012)

b. Questões de prova

(CESPE - 2011 - TJ-ES - Analista Judiciário) Julgue os itens que se seguem, relativos a
propriedade, obrigações e negócios jurídicos.
De acordo com o Código de Processo Civil, a consignação em pagamento pode ser judicial
ou extrajudicial. Esta última hipótese, entretanto, só tem aplicação no caso de obrigação em
dinheiro ou de dar coisa certa móvel.

Certo
Errado

RESPOSTA: ERRADO.

(Ano: 2011 Banca: TJ-DFT Órgão: TJ-DFT – Juiz) Dá-se a sub-rogação quando os direitos
do credor são transferidos àquele que adimpliu a obrigação ou emprestou o suficiente para
solvê-la. Dependendo do caso, tal ocorre de pleno direito, isto é, a circunstância está prevista
pelo legislador. Em outros casos, dá-se por meio de convenção das partes.
Assim exposto, considere as proposições abaixo e assinale a correta:
a) Opera-se a sub-rogação de pleno direito quando o credor recebe o pagamento de terceiro
e expressamente lhe transfere todos os seus direitos;
b) A sub-rogação é convencional na hipótese do terceiro interessado, que paga a dívida pelo
qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte;
c) Opera-se a sub-rogação de pleno direito em favor do adquirente do imóvel hipotecado, que
paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser
privado de direito sobre imóvel;
d) Opera-se a sub-rogação de pleno direito quando terceira pessoa empresta ao devedor a
quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado
nos direitos do credor satisfeito.

RESPOSTA: C
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(Ano: 2008 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRT - 1ª REGIÃO – RJ - Analista
Judiciário - Área Administrativa)
José entabulou com Paulo dois negócios distintos, em razão dos quais se obrigou a pagar a
este as quantias de R$ 1.000,00 e de R$ 500,00, sendo a primeira dívida onerada pela fixação
de juros moratórios, e a segunda, apenas pelo estabelecimento de multa. Vencidas as dívidas,
José, que só dispunha de R$ 600,00, propôs pagar parte do capital da primeira dívida, já que
esta era a mais onerosa. Encontrou, no entanto, resistência de Paulo.

Com base na situação hipotética acima descrita, assinale a opção correta.


a) Diante da recusa injustificada de Paulo, cabe a José o pagamento em consignação.
b) Por dispor de quantia insuficiente ao pagamento integral da primeira obrigação, José não
podia servir-se da imputação em pagamento para determinar qual das duas obrigações seria
saldada.
c) A lei civil garante ao devedor o pagamento do capital antes dos juros vencidos.
d) Por oferecer quantia diversa daquela efetivamente devida, José, na verdade, tentou utilizar-
se da dação em pagamento.
e) Mesmo que Paulo tivesse aceito o pagamento parcial do capital da dívida mais onerosa, tal
transação seria nula por ir de encontro à disposição legal que determina a obrigatoriedade da
quitação dos juros em primeiro lugar.

RESPOSTA: B

(INAZ do Pará 2018) O direito obrigacional pode ser definido como a relação jurídica
estabelecida entre credor e devedor, cujo objeto podem ser obrigações de dar, fazer, pagar
ou não fazer. Essas obrigações são transitórias, já que se extinguem com o cumprimento da
obrigação. Dentre os institutos inseridos no direito obrigacional, existe a chamada dação em
pagamento.
Pode-se conceituar o instituto da dação em pagamento como:
a) Trata-se de uma forma de pagamento indireto em que ocorre a substituição de uma
obrigação anterior por uma nova.
b) Trata-se de uma forma de pagamento indireto em que há um acordo privado de vontades
entre as partes, substituindo o objeto obrigacional por outro.
c) Ocorre quando duas ou mais pessoas forem ao mesmo tempo credoras e devedoras umas
das outras, extinguindo-se as obrigações até onde se equivalem.
d) Ocorre quando o credor perdoa a dívida do devedor.

RESPOSTA: B
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral das obrigações. 8. ed. São Paulo: RT, 2000.

FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direito das obrigações. 4. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009.

FRANÇA, Rubens Limongi. Instituições de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1996.

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 8. ed. São
Paulo: Saraiva, 2019. v. II [Livro digital].

HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; MORAES, Renato Duarte Franco de. Direito
das obrigações. São Paulo: RT, 2008. v. 2.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1979.
v. IV.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020, [Livro digital].

VENOSA, Silvio de Sávio. Direito civil: obrigações e responsabilidade civil, 18. ed. São Paulo:
Atlas, 2018 [Livro Digital].

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