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Orientações importantes:
1. NOÇÕES GERAIS
Conforme visto na aula anterior, o pagamento é o fim normal de toda obrigação, que
não necessariamente reflete uma obrigação em dinheiro. No entanto, existem outras formas
especiais de pagamento que devem ser estudados.
As modalidades estudadas são denominadas de “pagamentos indiretos ou especiais”,
pois são meio de extinção de obrigação, em que a satisfação do credor e a liberação do
devedor não se efetivam em decorrência da realização da prestação, mas em virtude da
aplicação de determinados pressupostos legais que garantem o efeito liberatório.
2. DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO
Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer,
com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.
§ 1º Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em
estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no lugar do
pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento,
assinado o prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa.
Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister
concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os
requisitos sem os quais não é válido o pagamento.
Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o
impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as
respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as
consequências de direito.
Se a coisa devida foi imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar
onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser
depositada. É a previsão do artigo 341 do Código Civil:
Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue
no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou
mandar recebê-la, sob pena de ser depositada.
Em caso de obrigação de dar coisa incerta, em que a escolha da coisa cabe ao credor,
este será citado para fazer a concentração, sob pena de perder o direito de escolha e ser
depositada a coisa que o devedor escolher. Se o devedor fizer a escolha, devem-se seguir as
regras do artigo 341 do Código Civil, com a citação do credor para receber a coisa.
Além disso, vencida a dívida e pendente litígio entre os credores que pretendam
mutuamente se excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação (art. 345 do CC). Trata-
se de única hipótese em que o credor, e não o devedor, pode tomar a iniciativa da
consignação.
Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode
o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de
incomunicabilidade, sobre os bens da legítima.
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[...] § 2.º Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser
alienados os bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que
ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros.
O inciso I é uma hipótese semelhante à cessão de crédito tanto que, inclusive, o artigo
348 do Código Civil disciplina que sobre a hipótese haverá aplicação de suas regras. No
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entanto, o inciso I não se trata de uma cessão de crédito, mas apenas de apenas aplicação
residual das regras. Embora semelhantes, na cessão de crédito há duas circunstâncias que
se diferenciam do inciso I do artigo 347: i) ela não se submete aos limites impostos pelo Código
ao pagamento com sub-rogação, conforme artigo 350 do Código Civil; ii) a cientificação do
devedor na cessão é também condição indispensável para que o ato tenha eficácia jurídica.
1 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020, [Livro digital].
2 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 8. ed. São Paulo:
4. IMPUTAÇÃO EM PAGAMENTO
Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a
um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se
todos forem líquidos e vencidos.
Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e
vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não
terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando
haver ele cometido violência ou dolo.
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Nesse caso, o devedor não pode reclamar, a não ser que haja violência ou dolo do
credor. Se não houver manifestação de nenhum dos envolvidos, a imputação obedecerá às
regras de imputação previstas em lei.
Vê-se, portanto, que há três espécies de imputação: a do devedor, a do credor e a
imputação legal.
Na imputação legal devem ser observadas as regas dos artigos 354 e 355 do Código
Civil:
Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for
omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em
primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo
tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.
5. DAÇÃO EM PAGAMENTO
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Regra geral, conforme se estudou no artigo 313, o credor não é obrigado a receber
coisa diversa do que acordado com o devedor, ainda que mais valiosa. No entanto, caso o
credor aceite, está caracterizada a dação em pagamento.
Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe
é devida.
O artigo 358 do Código Civil diz que, se a coisa dada for um título de crédito, a
transferência importará em cessão. Ocorre que, conforme bem leciona Flávio Tartuce, referido
dispositivo legal deve ser interpretado somente no sentido de que serão aplicadas por
analogia as regras relativas à cessão de crédito, pois não há identidade entre a cessão de
crédito e a dação em pagamento.
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Por fim, o artigo 359 do Código Civil trata do credor evicto e, assim, deve-se apresentar
brevemente o conceito de evicção, que é uma garantia legal típica dos contratos onerosos,
em que há transferência de propriedade.
De acordo com o artigo, se o credor perder a coisa para o terceiro que provar ser o
verdadeiro dono, a obrigação primitiva será restabelecida, ficando sem efeito a quitação dada
ao devedor.
6. APLICABILIDADE PRÁTICA
a. Jurisprudência
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RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO DE AUTOMÓVEL. OFICINA NÃO
CREDENCIADA. LIVRE ESCOLHA DO SEGURADO. ORÇAMENTO.
ABUSIVIDADE DE PREÇOS. RECUSA DA SEGURADORA. VEÍCULO
SINISTRADO. PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE REPARO. SUB-
ROGAÇÃO CONVENCIONAL. DESCARACTERIZAÇÃO.
CESSÃO DE CRÉDITO. CONFIGURAÇÃO. NOTIFICAÇÃO. EFICÁCIA.
SÚMULA Nº 283/STF. DIREITOS CREDITÓRIOS CEDIDOS. QUANTIA
INCONTROVERSA. VALOR DA AUTORIZAÇÃO.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. A questão controvertida na presente via recursal consiste em definir se a
seguradora deve custear o reparo de automóvel sinistrado, diante de sub-
rogação convencional ou de cessão de crédito promovida pelo segurado em
favor da oficina mecânica que escolheu, mesmo havendo recusa do próprio
ente segurador em autorizar o conserto, ao argumento de abusividade do
orçamento apresentado.
3. Embora comumente existam benefícios especiais para o uso da rede de
oficinas referenciadas (ou credenciadas), como a redução ou o parcelamento
da franquia, a disponibilização de carro reserva e a garantia, pelo ente
segurador, da qualidade dos serviços prestados, é direito do segurado
escolher livremente a empresa em que o automotor será reparado, já que
poderá preferir uma de sua confiança (art. 14 do Anexo da Circular SUSEP
nº 269/2004).
4. A livre escolha, pelo segurado, da empresa especializada em reparações
mecânicas não subtrai da seguradora o poder de avaliar o estado do bem
sinistrado e também o orçamento apresentado. Assim, ressalvados os casos
de má-fé, o conserto do automóvel é feito conforme o orçamento aprovado,
nos termos da autorização da seguradora.
5. A sub-rogação convencional, nos termos do art. 347, I, do CC, pode se dar
quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere todos os seus direitos. Na hipótese, a oficina apenas prestou
serviços de mecânica automotora em bem do segurado, ou seja, não pagou
nenhuma dívida dele para se sub-rogar em seus direitos. 6. A cessão de
crédito é a transferência que o credor faz de seus direitos creditórios a outrem
(art. 286 do CC).
No caso, o termo firmado entre a oficina e o segurado se enquadra, na
realidade, como uma cessão de crédito, visto que este, na ocorrência do
sinistro, possui direito creditício decorrente da apólice securitária, mas tal
direito é transmissível pelo valor incontroverso, qual seja, o valor do
orçamento aprovado pela seguradora.
7. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1336781/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 02/10/2018, DJe 08/10/2018)
b. Questões de prova
(CESPE - 2011 - TJ-ES - Analista Judiciário) Julgue os itens que se seguem, relativos a
propriedade, obrigações e negócios jurídicos.
De acordo com o Código de Processo Civil, a consignação em pagamento pode ser judicial
ou extrajudicial. Esta última hipótese, entretanto, só tem aplicação no caso de obrigação em
dinheiro ou de dar coisa certa móvel.
Certo
Errado
RESPOSTA: ERRADO.
(Ano: 2011 Banca: TJ-DFT Órgão: TJ-DFT – Juiz) Dá-se a sub-rogação quando os direitos
do credor são transferidos àquele que adimpliu a obrigação ou emprestou o suficiente para
solvê-la. Dependendo do caso, tal ocorre de pleno direito, isto é, a circunstância está prevista
pelo legislador. Em outros casos, dá-se por meio de convenção das partes.
Assim exposto, considere as proposições abaixo e assinale a correta:
a) Opera-se a sub-rogação de pleno direito quando o credor recebe o pagamento de terceiro
e expressamente lhe transfere todos os seus direitos;
b) A sub-rogação é convencional na hipótese do terceiro interessado, que paga a dívida pelo
qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte;
c) Opera-se a sub-rogação de pleno direito em favor do adquirente do imóvel hipotecado, que
paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser
privado de direito sobre imóvel;
d) Opera-se a sub-rogação de pleno direito quando terceira pessoa empresta ao devedor a
quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado
nos direitos do credor satisfeito.
RESPOSTA: C
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(Ano: 2008 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRT - 1ª REGIÃO – RJ - Analista
Judiciário - Área Administrativa)
José entabulou com Paulo dois negócios distintos, em razão dos quais se obrigou a pagar a
este as quantias de R$ 1.000,00 e de R$ 500,00, sendo a primeira dívida onerada pela fixação
de juros moratórios, e a segunda, apenas pelo estabelecimento de multa. Vencidas as dívidas,
José, que só dispunha de R$ 600,00, propôs pagar parte do capital da primeira dívida, já que
esta era a mais onerosa. Encontrou, no entanto, resistência de Paulo.
RESPOSTA: B
(INAZ do Pará 2018) O direito obrigacional pode ser definido como a relação jurídica
estabelecida entre credor e devedor, cujo objeto podem ser obrigações de dar, fazer, pagar
ou não fazer. Essas obrigações são transitórias, já que se extinguem com o cumprimento da
obrigação. Dentre os institutos inseridos no direito obrigacional, existe a chamada dação em
pagamento.
Pode-se conceituar o instituto da dação em pagamento como:
a) Trata-se de uma forma de pagamento indireto em que ocorre a substituição de uma
obrigação anterior por uma nova.
b) Trata-se de uma forma de pagamento indireto em que há um acordo privado de vontades
entre as partes, substituindo o objeto obrigacional por outro.
c) Ocorre quando duas ou mais pessoas forem ao mesmo tempo credoras e devedoras umas
das outras, extinguindo-se as obrigações até onde se equivalem.
d) Ocorre quando o credor perdoa a dívida do devedor.
RESPOSTA: B
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral das obrigações. 8. ed. São Paulo: RT, 2000.
FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direito das obrigações. 4. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009.
FRANÇA, Rubens Limongi. Instituições de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1996.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 8. ed. São
Paulo: Saraiva, 2019. v. II [Livro digital].
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; MORAES, Renato Duarte Franco de. Direito
das obrigações. São Paulo: RT, 2008. v. 2.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1979.
v. IV.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020, [Livro digital].
VENOSA, Silvio de Sávio. Direito civil: obrigações e responsabilidade civil, 18. ed. São Paulo:
Atlas, 2018 [Livro Digital].