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Curso: Direito Civil - Obrigações

Aula: Obrigações: Teoria do Adimplemento - Parte 6


Professor: Rafael da Mota Mendonça

Resumo

Objeto da Consignação em Pagamento


O objeto da consignação pode ser coisa móvel ou imóvel, com a importância devidamente corrigida. É
possível também consignar propriedades cujo objeto seja imaterial (obras, softwares, patentes), mas
importante observar que não cabe consignação nas obrigações de fazer ou não fazer, pois o próprio art. 334
do CC se refere a coisa devida, e não atividade. Portanto, temos um objeto bem amplo, pode-se consignar
quase tudo, mesmo uma atividade (um fazer ou não fazer).

A ação de consignação tem natureza declaratória, acerca da existência do débito e do seu real montante. A
pretensão de direito material é posta no processo para que o juiz declare eficaz o depósito judicial e libere
aquele devedor. A isso se chama eficácia liberatória.

No que diz respeito ao lugar da consignação, o lugar da consignação é o mesmo lugar do pagamento, nos
termos do art. 337 do CC. Não há maiores problemas com essa situação.

Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante,
os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente. (grifo nosso).

Hipóteses de Consignação
Superada essas questões, necessário analisar o artigo 335 do CC, que trata das hipóteses de consignação.

Art. 335. A consignação tem lugar:

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;

Essa é uma hipótese de “mora do credor”, o credor se recusa a dar quitação. Necessário fazer uma remissão
para o artigo 394 do CC, que é o artigo que trata da mora do credor. Note, inclusive, no artigo 339 do CC a
quitação é um direito do devedor. Ora, se o devedor tem o direito subjetivo de pagar, também lhe é
garantido o direito de ter a quitação dada, outorgada. Portanto, se o devedor não está discutindo questões
de valores, mas sim a recusa em receber pelo credor, já é cabível a consignação em pagamento.

II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;

Neste inciso temos uma menção expressa as dívidas quesíveis, aquelas que serão pagas no domicílio do
devedor e o credor não vai e não manda um representante para buscar num local e tempo previamente
ajustados. Ressalte-se que essa consignação é feita pelo devedor com a finalidade de evitar os encargos da
mora (juros, correção, cláusula penal, honorários advocatícios, etc).

III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de
acesso perigoso ou difícil;

Atenção, pois o fato do credor ser incapaz não é óbice para o pagamento, devendo os representantes do
incapaz por ele receberem. O pagamento em consignação, então, ocorrerá quando o devedor não obtiver a
real segurança de quem é o representante desse credor. Essa é a melhor forma de interpretar este artigo,
pois a mera incapacidade não é causa, por si só, impeditiva do pagamento.

No que tange ao credor ausente, o juiz pode outorgar poderes para o curador que administra os bens do
ausente para que este possa receber e dar quitação, se não o fizer, aí sim é cabível a consignação. Isso seria
um ponto interessante para questões de prova, pois envolve multidisciplinaridade (tema de ausência em
conjunto com tema de pagamento).

IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;

A dúvida ocorre quando dois ou mais credores comparecem perante o devedor, cada qual afirmando ser
legitimado para receber. Neste caso, para evitar pagar ao credor errado, cabe a consignação. Uma hipótese
muito comum de dúvida é quando há litígio entre dois credores sobre a titularidade daquele crédito.
Portanto, em caso de dúvida, é o único caso em que um dos supostos credores poderá ajuizar ação de
consignação para evitar risco de o pagamento ser efetuado ao outro, nos termos do artigo 345 do CC:

Art. 345. Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá
qualquer deles requerer a consignação.

Ou seja, é uma hipótese em que o próprio credor irá ajuizar ação requerendo que o devedor realize a
consignação a seu favor.

V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

Não é hipótese de dívida ou dúvida a quem pagar. Neste inciso, há um litígio sobre o objeto da consignação.
São aqueles casos em que o crédito é disputado pelo credor e um terceiro estranho aquela relação
obrigacional, ou seja, o devedor sabe quem é o credor. Diferente do caso do inciso IV, em que há uma dúvida
entre quem seja o credor.

Pergunta de prova: o rol do artigo 335 do CC é taxativo ou exemplificativo? Ele é um rol exemplificativo. O
devedor pode sempre pagar antes do vencimento, pois os prazos concedidos operam-se em favor do
devedor e não contra. Então, uma das hipóteses que não está no 335 do CC seria esta, quando o devedor
quer pagar antes do prazo e o credor não admite.

Para finalizar o estudo, iremos trabalhar quatro questões polêmicas sobre o depósito.

1ª possibilidade jurídica de consignação do devedor que já incorreu em mora.

O devedor em mora pode consignar o pagamento? Pode, desde que o recebimento do pagamento ainda
seja útil para o credor, ou seja, desde que estejamos diante de um inadimplemento relativo.

Para isso, o devedor deve depositar a prestação com todos os seus encargos, nos termos dos artigos 385 e
389 do CC.

Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro.

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

2ª Procedimento da ação de consignação em pagamento.

Alerta-se para que o aluno consulte a matéria nas aulas de processo civil e faça sua análise sobre esse ponto.

3ª A consignação de prestações periódicas.


Por questões de celeridade, economia processual e instrumentalidade do processo, após a consignação da
primeira parcela é permitido que as demais prestações também sejam objeto de consignação no mesmo
processo, até que a última seja solvida, ocasião na qual ocorrerá a liberação do devedor.

4ª Regime especial para a consignação de aluguéis.

Deverá ser observado o procedimento do art. 67 da Lei 8.245/91, in verbis:

Art. 67. Na ação que objetivar o pagamento dos aluguéis e acessórios da locação mediante consignação, será
observado o seguinte:

I - a petição inicial, além dos requisitos exigidos pelo art. 282 do Código de Processo Civil, deverá especificar os
aluguéis e acessórios da locação com indicação dos respectivos valores;

II - determinada a citação do réu, o autor será intimado a, no prazo de vinte e quatro horas, efetuar o depósito
judicial da importância indicada na petição inicial, sob pena de ser extinto o processo;

III - o pedido envolverá a quitação das obrigações que vencerem durante a tramitação do feito e até ser
prolatada a sentença de primeira instância, devendo o autor promover os depósitos nos respectivos
vencimentos;

IV - não sendo oferecida a contestação, ou se o locador receber os valores depositados, o juiz acolherá o
pedido, declarando quitadas as obrigações, condenando o réu ao pagamento das custas e honorários de vinte
por cento do valor dos depósitos;

V - a contestação do locador, além da defesa de direito que possa caber, ficará adstrita, quanto à matéria de
fato, a:

a) não ter havido recusa ou mora em receber a quantia devida;

b) ter sido justa a recusa;

c) não ter sido efetuado o depósito no prazo ou no lugar do pagamento;

d} não ter sido o depósito integral;

VI - além de contestar, o réu poderá, em reconvenção, pedir o despejo e a cobrança dos valores objeto da
consignatória ou da diferença do depósito inicial, na hipótese de ter sido alegado não ser o mesmo integral;

VII - o autor poderá complementar o depósito inicial, no prazo de cinco dias contados da ciência do
oferecimento da resposta, com acréscimo de dez por cento sobre o valor da diferença. Se tal ocorrer, o juiz
declarará quitadas as obrigações, elidindo a rescisão da locação, mas imporá ao autor-reconvindo a
responsabilidade pelas custas e honorários advocatícios de vinte por cento sobre o valor dos depósitos;

VIII - havendo, na reconvenção, cumulação dos pedidos de rescisão da locação e cobrança dos valores objeto da
consignatória, a execução desta somente poderá ter início após obtida a desocupação do imóvel, caso ambos
tenham sido acolhidos.

Parágrafo único. O réu poderá levantar a qualquer momento as importâncias depositadas sobre as quais não
penda controvérsia.

Com isso, encerra-se a análise da consignação em pagamento. Na próxima aula será estudado o pagamento
com sub-rogação, até lá!

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