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Ação de consignação em pagamento - Novo CPC - (Lei nº 13.

105/15)

Trata-se de um instrumento jurídico-processual, cuja finalidade é cumprir uma


obrigação e receber sua quitação através do pagamento. Pode ser proposta pelo devedor
ou um terceiro com interesse jurídico no cumprimento da obrigação, que deverá
depositar em juízo ou estabelecimento bancário a quantia ou coisa devida, quando o
credor recusar o seu recebimento, estiver ausente, for desconhecido ou inacessível ou,
ainda, quando houver insegurança no cumprimento da obrigação.

O novo Código de Processo Civil trata da matéria nos artigos 539 a 553 e trouxe
algumas modificações, cabendo fazer o mesmo comentário que se fez quando veio a
lume a lei 8.951/94: sendo um Código de Processo Civil, que traça regras de
composição jurisdicional de conflitos ou de prestação detutela jurídica em processos
necessários, resolveu o legislador nele inserir regras extraprocessuais de solução de
controvérsias. Dir-se-ia melhor, regras de direito material de exoneração de
obrigações pecuniárias.

A ação de consignação em pagamento é procedimento especial que visa a permitir a


realização daquele instituto de direito material, por meio do qual o autor da ação, se
procedente o pedido, obterá uma sentença declaratória da extinção da obrigação que
foi cumprida. Observe-se que o Código Civil cuida de depósito judicial ou depósito
em estabelecimento bancário da coisa devida. Já o anterior Código Civil, de 1916,
cuidava apenas e tão somente de “depósito judicial da coisa devida” (art. 972), sem
nenhuma alusão a depósito em estabelecimento bancário.
Tal depósito bancário firmado pelo devedor, em favor do credor, em estabelecimento
bancário oficial, visto sob a ótica do devedor, depositante, é depósito voluntário; se
visto sob ótica do estabelecimento bancário oficial (que não é parte em qualquer
testilha), é depósito necessário, legal, porquanto o legislador não deferiu ao
estabelecimento bancário o direito de recusar-se a recebê-lo. Ao revés, a Resolução
nº 2814, do Conselho Monetário Nacional deixou claro que é obrigatório, para os
bancos oficiais, receber depósitos dessa natureza.
Por outro lado, cabe enfatizar que as regras estabelecidas nos parágrafos do artigo
539 do CPC, relativas ao depósito em instituição financeira concernem ao direito
material e constituem uma opção do credor. Não se trata, pois, sequer daquilo a que
sói a doutrina apelidar de condições de procedibilidade, até porque essas regras só
têm possibilidade de incidir se no local houver estabelecimento bancário oficial. Se
não, não poderá o devedor valer-se desse meio extrajudicialde exoneração de
obrigação pecuniária.
O credor é comunicado da realização do depósito, por carta, com aviso de recepção.
Diz a lei cientificando-se o credor. A resolução do CMN resolveu a questão,
afirmando que o banco será o responsável pela cientificação, mas será ressarcido pelo
depositante.
Se o credor não manifestar a recusa ao estabelecimento bancário, no prazo decendial
que a lei lhe concede, reputar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à
disposição do credor a quantia depositada.
O credor não manifeste a recusa, não proceda ao levantamento do depósito e
promova a competente ação de conhecimento ou de execução, conforme o título de
que disponha. Nessas circunstâncias, competirá ao agora devedor/executado arguir,
dentre outras defesas que tiver, a existência de fato extintivo do direito do autor,
procedendo-se na forma do artigo 350 do CPC, cabendo ao autor manifestar-se sobre
o alegado depósito.
Caso haja recusa de recebimento do depósito, o devedor ou o terceiro poderá propor,
dentro de um mês a ação de consignação, instruída a inicial com a prova do depósito
e da recusa.
Que fique claro, depósito ou a consignatória, não inibem a propositura da competente
ação de execução, se o credor dispuser de título executivo, em face da norma contida
no § 1º do art. 784 do CPC/15.

No tocante a inicial, além dos requisitos do art. 319 do CPC que sejam aplicáveis à
espécie, o autor requererá o depósito da quantia ou coisa devida (que deve ser
realizado no prazo de cinco dias contados do deferimento, sob pena de extinção do
processo sem resolução de mérito) ressalvada a hipótese do § 3º do artigo 539, em
que o autor já terá depositado a importância em conta bancária, à disposição do
credor. Nessa circunstância, a inicial já deverá vir acompanhada da prova do depósito
e da recusa, fornecida pela instituição financeira; deverá requerer, também, a citação
do réu para levantar o depósito ou oferecer contestação.

O prazo para oferecer resposta, é bom observar que, à falta de regra específica, será o
comum, de 15 dias. Na resposta, poderá alegar que: (i) não houve recusa ou mora em
receber a quantia ou coisa devida; (ii) foi justa a recusa; (iii) o depósito não se
efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; e (iv) o depósito não foi integral.

Especial hipótese de consignação ocorre quando o devedor tem dúvida sobre a quem
deva pagar. Nessa circunstância, deverá proceder ao depósito e requerer a citação de
todos os possíveis titulares do crédito para que venham a juízo demonstrar sua
legitimação. Independentemente de quantos acorram ao chamado citatório, se não
houver discussão quanto ao valor do depósito, o juiz deverá (i) declarar satisfeita a
obrigação e o processo continuará apenas entre os supostos credores, se houver mais
de um; ou (ii) determinar a entrega do valor depositado ao réu, se apenas um
comparecer. Não comparecendo pretendente algum, o depósito realizado é convertido
em arrecadação de coisa vaga, com regência parca no art. 746 do CPC/15, mas que
sugere uma recompensa ao inventor (aquele que achou a coisa) e a entrega do saldo à
União, ao Estado ou ao Distrito Federal.

Bibliografia:
Código de Processo Civil 2015

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