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1.

Fontes do direito processual civil

No Direito Processual Civil, a tradicional classificação das fontes do ramo, e


majoritariamente reconhecida, é a seguinte:
Fontes formais primárias (ou fontes formais diretas);
Fontes formais acessórias (ou fontes formais indiretas);
Fontes não formais (ou fontes materiais).

1.1 - As fontes formais primárias consistem em regras basilares do


“jogo processual”, que orientam o seu percurso e as ferramentas que podem, ou não, ser
utilizadas. A doutrina reconhece como espécies de fontes formais primárias/diretas as
seguintes: • Leis federais e estaduais; • Constituição Federal; • Constituições
Estaduais, etc.. As fontes formais primárias seriam exclusivamente aquelas que
decorrem da competência legislativa.
Obs.: a União é privativamente competente para legislar sobre direito processual (art.
22, I, CF/88), e os Estados e o Distrito Federal são concorrentemente competentes para
legislar sobre procedimentos em matéria processual (art. 24, XI, CF/88).

1.2 - As fontes formais acessórias (ou indiretas) são responsáveis pela


integração do direito processual. Significa que tais fontes têm seu papel principal no
diálogo sistemático, entre princípios e regras, por exemplo. Podem também servirem para
o suprimento de lacunas deixadas pelas fontes formais primárias. Tradicionalmente,
apontam-se como espécies das fontes formais acessórias os elementos integrativos da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (art. 4º): • Analogia; • Costumes; •
Princípios gerais do Direito (inclusive do direito processual).
Existe, ainda, um rol de fontes do direito processual que não é apontado
a uma ou outra categoria de forma unânime. São elas:
Súmulas Vinculantes (editadas pelo STF);
Decisões do STF em sede de controle concentrado de
constitucionalidade (ações diretas de inconstitucionalidade, ações declaratórias de
constitucionalidade e arguições de descumprimento de preceito fundamental);
Precedentes de observância obrigatória (incidente de resolução de
demandas repetitivas, incidente de assunção de competência, recursos especiais e
extraordinários repetitivos).
Todos os itens acima têm algo em comum: produzem efeito vinculante
sobre órgãos do Poder Judiciário, especialmente sobre as decisões judiciais.
OBS: A doutrina tradicional aponta que os referidos enunciados, mesmo
que com força vinculante, são meras fontes formais acessórias, pois as fontes formais
primárias seriam exclusivamente aquelas que decorrem da competência legislativa. Nesta
lista, entra Marcus Vinícius Rios Gonçalves, por exemplo. Já os doutrinadores mais
modernos vêm aceitando o posicionamento desses enunciados jurisprudenciais
vinculantes como fontes formais primárias (diretas), justamente em razão da necessidade
de observância obrigatória pelo Poder Judiciário. Um exemplo é o doutrinador Misael
Montenegro Filho.
1.3. Fontes não Formais: As fontes não formais (fontes materiais) do
direito processual são responsáveis pela orientação das partes e do juiz quanto à maneira
de aplicação de uma norma processual, ou quanto à ferramenta que possa ser utilizada
diante de uma dúvida relativa à norma que deva ser aplicada. Na prática, tais fontes
servem como inspiração/orientação às partes (advogados) e aos magistrados. Exemplos
consagrados dessas fontes são: • doutrina; • jurisprudência esparsa (não vinculante).
É possível enquadrar como elementos doutrinários – e por consequência
como fontes não formais – os enunciados de jornadas de Direito Processual Civil,
como aqueles publicados pelo Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC).
Embora eles não devam ser obrigatoriamente seguidos, eles servem como fontes de
orientação das partes e dos juízes, no que tange à forma de interpretação e aplicação do
direito processual.

2. LEI PROCESSUAL CIVIL


As leis processuais civis dispõem, principalmente, sobre dois aspectos:
1) Relação processual: instituem-se regras que normatizam os ônus
probatórios de cada litigante, as regras para produção de provas, os poderes que o juiz
pode se valer para zelar pela obediência do devido processo legal, os direitos e deveres
das partes no curso do processo, dentre várias outras normas que venham a moderar o
comportamento e os atos de todos os sujeitos processuais: juiz, autor, réu,
advogado/defensor, terceiro interveniente e o custos legis (Ministério Público).
2) Procedimento: instituem-se regras que disciplinam a forma como o
processo tramitará – atos processuais, recursos, prazos e oportunidades de manifestação
– bem como as ferramentas de que as partes poderão valer-se para apresentar suas
pretensões, sejam elas as pretensões postulatórias (pedidos do autor) ou as pretensões
defensivas (defesa do réu).
Assim, importante ressaltar que o direito Processual Civil é um ramo do
direito público, o que faz com que as normas processuais civis sejam predominantemente
imperativas e cogentes, significando que, em regra, as normas do CPC e demais
legislações processuais devem ser rigorosamente observadas pelas partes. Ex: Artigo
223 do CPC
Art. 223. Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar
ou de emendar o ato processual, independentemente de
declaração judicial, ficando assegurado, porém, à parte
provar que não o realizou por justa causa

Contudo, em algumas situações específicas, a norma processual poderá


ser dispositiva (ou “não cogente”). Trata-se de situações em que as partes poderão, por
iniciativa própria, diminuir a força de algumas regras do processo, de acordo com as
circunstâncias vivenciadas na lide. Para entender este ponto, confira as regras dos arts.
190 e 191 do CPC ( negócios jurídicos processuais).
Os dois artigos acima dispõem, respectivamente, sobre a convenção das
partes para mudança do procedimento de acordo relativamente aos seus ônus, poderes,
faculdades e deveres processuais e sobre a fixação de calendário para prática de atos
processuais.
2.1. INTERPRETAÇÃO, EFICÁCIA E APLICAÇÃO DA LEI

Interpretar a lei é mensurar o conteúdo, o sentido e o alcance do


dispositivo (norma).
2.1.1. Métodos de Interpretação

MÉTODO GRAMATICAL/LITERAL: é aquela que analisa individualmente e


contextualmente os termos da lei.
MÉTODO LÓGICO: é aquela em que se desenvolve um raciocínio lógico,
transcendendo a letra fria da lei
MÉTODO HISTÓRICO: analisa os fatos históricos que antecederam a norma.

MÉTODO SISTEMÁTICO: analisa a norma no sistema onde ela foi inserida. Ex:
capítulos, títulos, etc..
MÉTODO TELEOLÓGICO/SOCIOLÓGICO: é aquela que busca a finalidade
social da norma.
O resultado da interpretação depende da observância da finalidade que o
legislador visou no momento da criação da norma.
2.1.2. Eficácia e Aplicação da Lei

Eficácia: Tem relação com os resultados da interpretação por parte do


jurista e o grau de alcance. Os efeitos da interpretação podem ser;
EXTENSIVOS/AMPLIATIVOS: O sentido e alcance da norma são mais amplos do
que o significado dos termos e das expressões de seu texto;
RESTRITIVOS: O sentido e o alcance da norma são menores (mitigados) do que o
significado dos termos e das expressões de seu texto;
ESTÁTICOS: O sentido e o alcance da norma são idênticos aos dos termos e
expressões constantes da norma.

2.2. Lei Processual Civil no Tempo e no Espaço

Quanto à aplicação da lei processual no espaço, as leis processuais


civis têm validade e eficácia em todo o território nacional, de acordo com o art. 16 do
CPC, que dispõe:

Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos


tribunais em todo o território nacional, conforme as
disposições deste Código.

Veja, portanto, que a jurisdição (ato de dizer o direito) ocorre em todo


o território nacional. Como a jurisdição (forma de dizer o direito) é regulamentada pelo
Direito Processual Civil, conclui-se, logicamente, que as normas processuais civis se
aplicam em todo o território nacional.

O intervalo temporal existente entre a publicação da lei e o início de


seu vigor chama-se vacatio legis.

Direito Processual Intertemporal

O direito processual intertemporal consiste nas regras de aplicação do


direito processual diante das alterações legislativas sobre as normas processuais. De
forma simples, trata-se do estudo da norma que deve ser aplicada a cada processo, diante
da ocorrência de modificação da norma que deveria ter aplicação.
O grande e relevantíssimo exemplo que podemos ter é a revogação do
CPC de 1973 diante da entrada em vigor, em 2016, do CPC de 2015. Afinal de contas,
qual dos códigos deve vigorar diante de processos ajuizados antes da entrada em vigor do
Novo CPC?

É nisto que consiste o direito processual intertemporal. A regra


basilar acerca desse tema é a do art. 14 do CPC, que dispõe:

Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável


imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos
processuais praticados e as situações jurídicas
consolidadas sob a vigência da norma revogada.

Como regra, todas as disposições do Novo CPC aplicaram-se


imediatamente a todos os processos em tramitação. Isto engloba os processos ajuizados
antes de sua entrada em vigor, bem como os processos ajuizados após sua entrada em
vigor.

Portanto, as espécies de atos processuais, os recursos, as formas de


comunicação dos atos processuais e os meios de execução e cumprimento de sentença
são aqueles previstos na nova lei processual (Novo CPC), com aplicação sobre todos os
processos em curso.

O limite dessa aplicação imediata é descrito no segundo período do


enunciado normativo do art. 14 do CPC: “respeitados os atos processuais praticados e
as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada”. Este artigo
institui no Direito Processual Civil brasileiro a Teoria do Isolamento dos Atos
Processuais, que decorre do antigo princípio do tempus regit actum (o tempo rege o ato).

Esta teoria – aliada ao referido princípio – determina que cada ato


processual deve observar a regra que se aplica a ele naquele exato momento em que ele
foi praticado, de forma isolada de todas as outras questões.

Todos os atos processuais que já houverem sido praticados sob a


vigência da norma revogada deverão permanecer como estiverem. O mesmo raciocínio
vale para as decisões judiciais (inclusive as de mérito, como sentenças e acórdãos), que
devem ser integralmente mantidas como estão. A teoria do isolamento dos atos
processuais tem balizamento, fundamentalmente, no art. 5º, inciso XXXVI, da
Constituição Federal, que alicerça importantíssimas garantias fundamentais: Art. 5º
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXVI – a
lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

Regras Especiais de Direito Intertemporal

O direito intertemporal tem algumas regras especiais. Elas se referem


ao direito probatório (direito relativo às provas) e aos prazos processuais. Quanto ao
direito probatório, a regra especial consta do art. 1.047:

Art. 1.047. As disposições de direito probatório adotadas


neste Código aplicam-se apenas às provas requeridas ou
determinadas de ofício a partir da data de início de sua
vigência.

O Capítulo XII do CPC, que versa sobre as disposições de direito


probatório (incidentes probatórios, prazos, restrições etc.) aplica-se apenas às provas que
forem requeridas pelas partes após a entrada em vigor do Novo CPC, ou determinadas de
ofício pelo juiz após o mesmo momento. As provas requeridas ou determinadas antes da
entrada em vigor do Novo CPC devem reger-se pelas regras do CPC de 1973.

Quanto às regras especiais relativas aos prazos processuais, é


necessário conhecer dois enunciados do Fórum Permanente de Processualistas Civis
(FPPC):

Enunciado n. 267. Os prazos processuais iniciados antes da vigência do CPC


serão integralmente regulados pelo regime revogado.

Enunciado n. 268. A regra de contagem de prazos em dias úteis só se aplica aos


prazos iniciados após a vigência do Novo Código.

Os prazos processuais, conforme estudaremos na aula apropriada, são


contados em dias úteis à luz do Novo CPC, mas, no CPC revogado, eram contados em
dias corridos. Portanto, os prazos que já tiverem começado antes da entrada em vigor do
Novo CPC (antes de 18/03/2016) serão contados em dias corridos, como dispõe o CPC
de 1973.

Dessa forma, somente os prazos iniciados após o dia 18/03/2016 é que


serão contados em dias úteis. Trata-se da regra aplicável aos prazos em geral: contestação,
recurso, réplica, encargos processuais etc

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