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LFG

CARREIRAS JURÍDICAS
INTENSIVO I
Módulo I

PROCESSO CIVIL
Fredie Didier/Daniel Assumpção

Livro Revisaço Processo Civil.pdf situações jurídicas (direitos,


deveres, ônus, faculdades).
Livro CPC para Concursos.pdf Processo, em terceiro lugar,
significa o modo de produção de atos
Livro Repercussões NCPC MP.pdf normativos. Atos normativos são
produzidos a partir de um processo:
É o primeiro código brasileiro processo legislativo, processo
escrito sob o regime democrático e de administrativo, processo jurisdicional
acordo com a nova teoria jurídica. (este, modo de produção de atos
normativos jurisdicionais).
1. Introdução O que nos interessa aqui é o
Conceito de processo. São três processo jurisdicional civil. Assim, a
concepções básicas que não se excluem, palavra processo não se detêm na
i. é, são complementares. jurisdição civil, mas qualquer
Na primeira, processo é um modalidade de produção de ato
conjunto de atos organizados, normativo.
concatenados, articulados, encadeados, Observação. Fala-se atualmente
que se relacionam e imbricam, em processo de produção de atos
tendentes à produção de um ato final. normativos privados. O devido processo
Nesse sentido, o processo é uma legal é exigido para qualquer processo.
unidade, um “conjunto de atos”. Mas o
processo pode ser visualizado também a 2. Aplicação da norma processual no
partir de cada um dos atos do processo. tempo
A segunda acepção é a de Norma processual é aquela
processo como relação jurídica. O relacionada a atos processuais, à relação
conjunto de atos gera relação jurídica; é jurídica processual ou a situações
a consequência daqueles atos jurídicos processuais.
organizados. As relações jurídicas que O processo é um conjunto de atos,
surgem entre os sujeitos do processo e cada um deles vão produzindo
(autor, juiz, réu, perito, oficial de justiça situações jurídicas. Todo processo é um
etc.) compõe a relação processual. O fenômeno temporal, demanda algum
processo é um novelo, feixe, amontoado tempo para sua realização. Nesse
de relações jurídicas, que surgem em intercurso, pode advir uma nova norma
razão dos vários atos processuais que processual. Como será aplicada?
ocorrem. Surgem vários direitos,
deveres, ônus processuais. “CAPÍTULO II
Daí já percebemos que o DA APLICAÇÃO DAS NORMAS
PROCESSUAIS
processo é um fenômeno
essencialmente complexo. Vários Art. 13. (...)
atos formam várias relações
jurídicas que possuem várias Art. 14. A norma processual não
retroagirá e será aplicável imediatamente

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aos processos em curso, respeitados os companhia de seu cão-guia?). O Direito
atos processuais praticados e as situações é composto de
jurídicas consolidadas sob a vigência da
norma revogada.”
b) toda atividade interpretativa é
atividade criativa. Quem interpreta cria.
Ex.: o CPC/1973 previa os Não cria do zero, i. é, ser arbitrário. Não
embargos infringentes, que não mais é por acaso que a mesma partitura é
estão previstos no CPC/2015. Se o interpretada por maneiras diversas por
direito de recorrer surgir na vigência músicos diversos, que recriam a música
deste último, ainda caberão os embargos a partir de sua leitura.
infringentes. c) desenvolvimento dos
postulados da proporcionalidade e da
3. Os três vetores metodológicos para razoabilidade. Não se admitem
compreensão do Direito Processual interpretações fora desses parâmetros.
contemporâneo Esses critérios modulam a interpretação,
e impedem interpretações absurdas,
3.1. O processo e a teoria geral do despropositadas. Em direito penal, a
Direito proporcionalidade enseja a ideia de
É o primeiro vetor metodológico atipicidade material (princípio da
do Direito Processual. Não há como insignificância); no direito civil, a
compreender a nova legislação questão do adimplemento substancial.
processual brasileira sem atualização
em teoria do Direito. São pelo menos “Art. 8º Ao aplicar o ordenamento
jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e
seis grandes transformações na Teoria às exigências do bem comum,
do Direito nos últimos 50 anos que resguardando e promovendo a dignidade
impactam na compreensão do da pessoa humana e observando a
CPC/2015, que podem ser divididas em proporcionalidade, a razoabilidade, a
dois grandes grupos: mudanças havidas legalidade, a publicidade e a eficiência.”
na hermenêutica jurídica; e mudança
na teoria das fontes do direito. ii) transformações na teoria das
fontes do Direito
i) Transformações na a) transformação na teoria dos
hermenêutica jurídica: princípios. Princípios são espécies
a) distinção entre texto normativo normativas, que convivem ao lado das
e norma jurídica. O texto normativo, ou regras. Princípios têm por objetivo
documento normativo, i. é, a lei, o ato alcançar um determinado estado de
administrativo, é uma coisa, e a norma coisas, enquanto as regras estabelecem
jurídica outra. Norma jurídica é o condutas determinadas.
sentido que se atribui ao texto. A norma Direito é o conjunto de normas
não é o texto, mas dele decorre. A compostas por regras e princípios. É
norma é produto da interpretação, e não possível postular com base num
seu objeto. princípio e decidir com base neles.
Texto e contexto. Exemplos da A teoria normativa dos princípios
placas “proibido usar biquíni”, cujo não conta mais de quarenta anos. Nem
conteúdo variará de acordo com o local todos princípios estão na CRFB, pois há
e época, bem como a placa “proibido também os princípios legais e os
entrar com cães” colocada num administrativos. Também, nem toda
estabelecimento comercial (é possível norma constitucional é um princípio.
entrar com um rinoceronte? O Princípio também não é uma norma
deficiente visual deverá entrar sem implícita, i. é, norma que não tem texto
e que decorre de um conjunto de

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normas; há princípios que decorrem de
expressa previsão (v. g., o devido Art. 489.
§ 2º No caso de colisão entre
processo legal). Outro erro é pensar que normas, o juiz deve justificar o objeto e
na colisão de princípio e regra há de os critérios gerais da ponderação
prevalecer o primeiro (eles podem ter a efetuada, enunciando as razões que
mesma hierarquia, e a regra prepondera autorizam a interferência na norma
sobre o princípio se ambos estiverem no afastada e as premissas fáticas que
fundamentam a conclusão.”
mesmo plano hierárquico).

“PARTE GERAL É o primeiro dispositivo na


LIVRO I legislação brasileira que se preocupa em
DAS NORMAS PROCESSUAIS CIVIS reconhecer a força normativa dos
princípios. Por isso, o Prof. recomendou
TÍTULO ÚNICO a leitura de “Teoria dos Princípios” de
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E
DA APLICAÇÃO DAS NORMAS Humberto Ávila.
PROCESSUAIS
b) Reconhecimento da força
CAPÍTULO I normativa dos precedentes judiciais.
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO Antes se estudava a jurisprudência
PROCESSO CIVIL
como forma de aclarar o direito, e não
Art. 1º O processo civil será para produzi-lo. Atualmente essa escola
ordenado, disciplinado e interpretado está totalmente ultrapassada, e os
conforme os valores e as normas precedentes compõe o rol das fontes do
fundamentais estabelecidos na Direito.
Constituição da República Federativa do
Brasil, observando-se as disposições
O CPC/2015 é inteiramente
deste Código.” pautado na premissa de que precedentes
judiciais devem ser compreendidos
Perceba-se que só há menção à como normas.
expressão “normas”.
No CPC/73: c) Mudança de técnica legislativa.
Textos de lei começam a ser escritos
“Art. 126. O juiz não se exime de também se valendo de termos vagos,
sentenciar ou despachar alegando lacuna abertos, indeterminados. Esse tipo de
ou obscuridade da lei. No julgamento da técnica começou no âmbito do direito
lide caber-lhe-á aplicar as normas
legais; não as havendo, recorrerá à
privado e foi para o direito público,
analogia, aos costumes e aos princípios chegando ao processo, e torna a
gerais de direito. (Redação dada pela Lei legislação mais permanente e
nº 5.925, de 1º.10.1973)” duradoura.
Esses dispositivos, de conteúdo
O CPC/73 tinha os princípios aberto, são chamadas cláusulas gerais.
gerais de direito como técnica para São textos normativos de conteúdo
preencher lacunas, e não tidos como indeterminado. Ela atinge um grau de
norma. Tanto assim que esse dispositivo indeterminação muito grande, posto que
não foi reproduzido desde “No o texto normativo costuma ter uma
julgamento...”, tendo em vista que não hipótese e um consequente. Mas na
faz mas nenhum sentido, posto que cláusula geral, não há descrição
princípio compõe a legalidade. No minuciosa da hipótese, muito menos
CPC/2015: determinação clara da consequência.
Um exemplo clássico é a cláusula geral
“Seção II
da boa-fé, função social da propriedade
Dos Elementos e dos Efeitos da Sentença
e do contrato.

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Por isso as cláusulas gerais são dignidade da pessoa humana e
típicas de uma época em que as decisões observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade
judiciais têm força normativa, posto que e a eficiência.”
os precedentes acabam determinando o
conteúdo delas. A expressão ordenamento jurídico
O CPC/2015 está repleto de é composto de lei, mas também da
cláusulas gerais. Nos doze primeiros CRFB, e dos princípios. Essa adaptação
artigos há pelo menos oito cláusulas deve ser confrontada com a LINDB
gerais. O próprio devido processo legal para mostrar como o CPC/2015
(norma processual fundamental) é uma incorporou o reconhecimento da força
cláusula geral. Cláusula geral, devemos normativa da Constituição.
lembrar, é o texto, e não norma! A
norma é sua interpretação! ii) desenvolvimento da jurisdição
*Sobre esse tema, ler: “O Código Civil constitucional. Tanto as ações do
como um sistema aberto – cláusulas controle concentrado quanto do difuso,
gerais” de Judith Martins-Costa. que se desenvolveram demais,
significou uma transformação sensível
3.2. Segundo vetor metodológico. O da jurisdição constitucional no Brasil.
papel do Direito Constitucional No início dos anos 90, o STF tinha
Não é mais possível compreender apenas 300 ADIn ajuizadas, quando
o processo sem a devida compreensão atualmente estamos na casa das 6000
do Direito Constitucional (salto vertiginoso em apenas 20 anos
i) valor normativo da constituição que demonstra o aprofundamento do
– a ideia de que a CRFB é um conjunto sentimento constitucional).
de normas e que elas devem ser O CPC agora fala expressamente
interpretadas é recente, mas fenômeno em controle concentrado e difuso de
já em voga e poderoso. Mesmo na constitucionalidade pela primeira vez
década de 90 do século passado essa (exemplo: modulação de efeitos para o
realidade não estava instalada. controle difuso de constitucionalidade).
Ou seja, o CPC passa a fazer parte do
“Art. 1º O processo civil será
ordenado, disciplinado e interpretado conjunto de leis que regulam a
conforme os valores e as normas jurisdição constitucional do País.
fundamentais estabelecidos na
Constituição da República Federativa iii) desenvolvimento da teoria dos
do Brasil, observando-se as disposições direitos fundamentais. Também esta se
deste Código.”
desenvolveu de maneira notável. Basta
ver que direitos fundamentais é, em
Comparada com a redação do
muitos cursos de direito, uma matéria
CPC/1973:
avulsa, com autonomia científica e
“Art. 1º A jurisdição civil,
transversal.
contenciosa e voluntária, é exercida Em processo os direitos
pelos juízes, em todo o território fundamentais são referenciados em dois
nacional, conforme as disposições que momentos principais: 1) os direitos
este Código estabelece.” fundamentais servem como normas que
devem ser observadas pela legislação
Também no art. 8º do CPC/2015: processual, sob pena de invalidade; 2)
os direitos fundamentais podem ser
“Art. 8º Ao aplicar o
ordenamento jurídico, o juiz atenderá
levados a juízo (direito a liberdade,
aos fins sociais e às exigências do bem intimidade, privacidade são objeto do
comum, resguardando e promovendo a processo).

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Dessa forma, o processo deve ser 2ª) fase do processualismo –
bem aparelhado, adequado, para bem meados do sec. XIX a meados do sec.
tutelar direitos fundamentais em XX, o processo a ser visto como
questão. fenômeno distinto do direito material.
Há fenômenos e categorias próprias do
Resumindo processo, surgindo a ciência do
Teoria do direito processo.
- texto e norma; 3º) fase do instrumentalismo –
- criativa; após a 2ª Guerra, os avanços científicos
- proporcionalidade razoabilidade; tinham chegado ao fim, e passaram a
- princípios; verificar os problemas do processo a
- precedentes; partir do direito material, não para
- cláusulas gerais; fundi-los novamente, mas como forma
Direito Constitucional de caracterizado como meio e
1) fonte de normas; instrumento de realização do direito
2) controle de constitucionalidade; material, seu impacto social e político,
3) direitos fundamentais. com o acesso à Justiça, os novos
direitos (tutela coletiva). É o
Essas nove premissas visualizadas instrumentalismo, o processo é
no resumo acima são praticamente instrumento do direito material
indiscutíveis. Alguns chamam de (efetividade do processo com a
neoconstitucionalismo, neopositivismo reaproximação das áreas), bem como o
ou pós-positivismo é o estágio atual de estudo do processo sobre outras
construção do pensamento jurídico, perspectivas (sociológica, econômica,
através de premissas como essas postas política).
nessa aula. Para muitos estudiosos a evolução
*Leituras: Daniel Sarmento, da ciência do processo se daria nesse
“Neoconstitucionalismo, riscos e momento.
possibilidades”; Humberto Ávila, Contudo, muitos autores
“Neoconstitucionalismo, ciência do defendem que estamos vivendo uma
direito e direito da ciência”; George quarta fase na evolução da ciência do
Malmeinstain, “Teoria da Katchanga” processo. Essa não nega as conquistas
Se o pensamento jurídico está do instrumentalismo, cujas
vivendo uma nova fase, o pensamento preocupações continuam valendo. Mas
processual também não estaria? Não nela, há preocupação de reconstrução da
estamos vivendo uma fase nova do ciência do processo, frente à
pensamento jurídico processual? reconstrução da ciência do Direito.
Os livros de processo costuma Como continuar aplicando a mesma
dividir a ciência do processo em três visão teórica do início do séc. XX frente
grandes fases: a tão profundas alterações? Elas não
1º) fase do praxismo – vai até foram objeto de preocupação da
meados do séc. XIX, e se caracteriza corrente instrumentalista.
pela inexistência de distinção entre Atualmente, os fundamentos da
processo e direito material. A ciência processual estão sendo
preocupação é o estudo das práticas reconstruídos. Chiovenda dizia, no
processuais, abordagem de estudo e início do sec. XX, que jurisdição é
compilação das práticas, sem qualquer aplicação da vontade da lei; como dizer
distinção entre o plano material e isso na atualidade, frente a tudo o que
processual (pré-história da ciência do foi acima tratado? Assim também com o
processo). conceito de prova e assim por diante... E

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o julgamento de casos repetitivos se simplesmente serve ao direito material,
coaduna com o conceito dado por numa relação em sentido único. Na
Chiovenda? verdade, o que se vê, é que não há
Nesse sentido, qual a melhor hierarquia entre eles. É uma relação que
designação para essa quarta fase? se assemelha àquela entre o arquiteto e
Neoprocessualismo, pela ideia da o engenheiro: um projeta e o outro
reconstrução das categorias processuais materializa, não fazendo sentido buscar
de acordo com a nova teoria do direito. qual o mais importante.
Há quem prefira “formalismo ***
valorativo”, criado por Carlo Alberto
Alvaro de Oliveira. Na USP existe uma NORMAS FUNDAMENTAIS
forte corrente que nega a existência DO PROCESSO CIVIL
dessa nova quarta fase, que entende
estarmos ainda apenas numa Estamos nos valendo da
continuação do processo terminologia no CPC.
instrumentalista. Norma é um gênero, que abrange
princípios e regras.
3.3. Terceiro vetor metodológico. Embora haja esse capítulo inicial
Estudo do processo em sua relação no CPC, é importante perceber que
com direito material existem normas fundamentais também
fora do Código, como por exemplo na
Material de Apoio _ Direito Processual CRFB. Também há outras normas
Civil_ Fredie Didier_ Aula 02.pdf fundamentais espalhadas pelo CPC. O
Sem compreender o caso rol de normas fundamentais não se
discutido, não é possível entender encontra exclusivamente nesse capítulo
também o processo e como ele se inicial.
deverá materializar. O que caracteriza uma norma
Tudo aquilo que se leva ao fundamental no processo civil? Por dois
processo, relativo ao direito material, aspectos:
determina o modo de ser do processo i) estrutura o modelo do processo
(competência, provas, impedimentos, brasileiro;
recursos). ii) tem uma função hermenêutica,
É impossível solucionar i. é, essas normas fundamentais servem
problemas processuais ignorando qual o para ajudar na compreensão de
caso (direito material). Toda processo aplicação de outras normas.
traz consigo um problema de direito Há normas processuais
material. Não há processo oco. fundamentais que não vamos estudar
Por isso se diz que o processo é nesse momento (exemplo: motivação
um instrumento do direito material, já das decisões; proibição de prova ilícita),
que serve para concretizá-lo. Em mas nas aulas mais oportunas.
sentido inverso, o direito material serve São elas:
ao processo na medida em que ele é a
razão de ser do processo, pois a partir 1. Princípio do devido processo legal
do direito material é que o processo Ninguém será processado, perderá
inspira para tomar forma. seus bens e sua liberdade, sem o devido
Trata-se, como se vê, de uma processo legal.
relação de simbiose, uma relação O devido processo legal tem
circular, porque um serve ao outro. origem medieval. Nasceu e começou a
Nesse ponto é que a instrumentalidade se desenvolver no final da Idade Média
pode passar a impressão que o processo a partir da premissa de que era preciso

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submeter o Poder a algum controle, que “DEVIDO” – acúmulo histórico, e
à época era do senhor feudal. Ou seja, ainda há o que ser feito; due process of
trata-se originalmente de uma reação à law, traduzida no Português brasileiro
tirania que remonta ao séc. XI. Ao como devido processo legal; em
longo desses mil anos, a ideia de devido Portugal como processo equitativo; na
processo legal foi se aprimorando. Itália, como processo justo; e até
O acúmulo histórico que houve mesmo em Inglês há outra expressão,
desde essa remota época é o que se no mesmo sentido, que é fair trail.
chama de devido processo legal, Assim, processo justo é o mesmo que
tornando-se o conjunto das garantias devido processo.
mínimas para que o processo seja “LEGAL” – significa em
considerado justo. Exemplo: no séc. XI conformidade com o Direito, e a lei é
não se falava em juiz natural, em apenas uma de suas fontes. CRFB, leis,
proibição de prova ilícita etc. costumes, negócios jurídicos,
O devido processo legal continua precedentes judiciais etc. são fontes do
existindo, com tudo que já foi direito. O devido processo deve ser de
incorporado, e com aquilo que há de por acordo com o Direito. Alguns autores
vir. A marcha da civilização humana falam de devido processo
prossegue; desafios novos sempre constitucional, que também é o mesmo
aparecem. Práticas tirânicas novas, até sentido. Law, significa Direito em
então não pensadas continuam a Inglês; estatute é que tem o nosso
aparecer, e o devido processo legal sentido de lei.
servirá novamente para combatê-la. “PROCESSO” – legislativo,
De um lado, o devido processo jurisdicional, administrativo e privado
legal revela um acúmulo histórico de (como da exclusão de um associado)
garantias que não podem mais serem são as espécies de processo, mas todos
desconsiderados; de outro, novas devem ser “devidos”. No caso do
práticas processuais tirânicas que possa devido processo legal privado, estamos
se revelar, o devido processo legal diante da eficácia horizontal dos direitos
servirá de suporte para superá-las. fundamentais, i. é, aplicação nas
O devido processo é uma cláusula relações privadas dos direitos
geral, que com sua flexibilidade é capaz fundamentais.
de se adaptar aos novos tempos.
Por exemplo, cem anos atrás, não “Art. 57. A exclusão do associado
se poderia imaginar um processo sem só é admissível havendo justa causa,
assim reconhecida em procedimento que
suporte em papel, quando as novas assegure direito de defesa e de recurso,
gerações serão responsáveis por definir nos termos previstos no estatuto.
o que é ou o que se considera um (Redação dada pela Lei nº 11.127, de
processo eletrônico devido. 2005)”
O conteúdo do processo devido
possui um acúmulo histórico de série de DEVIDO PROCESSO FORMAL
garantias e a proteção contra a E DEVIDO PROCESSO MATERIAL.
manifestação de tiranias processuais AS DUAS DIMENSÕES DO DEVIDO
ainda não concebidas, mas que podem PROCESSO LEGAL. Devido processo
aparecer no futuro. legal formal é a que nos garante as
O devido processo legal é a matriz exigências formais para que o processo
das outras normas fundamentais seja devido (processo formalmente
processuais. devido é aquele conduzido pelas
Componentes da expressão: formalidades que o direito impõe).

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Contudo, o processo somente concretização do diálogo encetado pelo
pode ser considerado devido, se além de contraditório.
ter respeitado todas as formalidades, ele Relação entre contraditório e a
produziu decisão devida (produto do regra que proíbe que o juiz decida fora
processo deve ser devido). Daqui surge do pedido: como só houve debate sobre
a dimensão substancial do devido o que foi pedido, o juiz também só pode
processo legal. sobre essa matéria tecer considerações.
Essa separação entre as dimensões A partir da CRFB, o contraditório
formal e material do devido processo também passou a ser exigido no âmbito
legal nasceu nos EUA. O propósito administrativo.
dessa formulação se deveu ao reduzido No CPC/2015, o contraditório é
rol de proposições fundamentais na C. um dos pilares:
daquele país. As pessoas se viam diante
da necessidade de fazer valer direitos “Art. 9º Não se proferirá decisão
implícitos, i. é, o devido processo legal contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.
se tornou a fonte de direitos Parágrafo único. O disposto no
fundamentais. caput não se aplica:
O problema é que o pensamento I - à tutela provisória de urgência;
jurídico brasileiro também desenvolveu II - às hipóteses de tutela da
o devido processo legal substancial, mas evidência previstas no art. 311, incisos II
e III;
em outro sentido. Existe uma ideia III - à decisão prevista no art.
brasileira de devido processo legal 701.”
substancial, doutrina construída pelo
STF como fundamento dos deveres de Ou seja, não se admite decisão
proporcionalidade e da razoabilidade, o definitiva sem contraditório, como se
que não encontra correspondência com percebe pelos incisos do p. ú.
a doutrina norte americana. Este último,
aqui no Brasil, como fonte de direitos “Art. 10. O juiz não pode decidir,
fundamentais, não tem nenhuma em grau algum de jurisdição, com base
utilidade, posto que no art. 5º, § 2º da em fundamento a respeito do qual não se
tenha dado às partes oportunidade de se
CRFB já há previsão de que o rol de manifestar, ainda que se trate de matéria
direitos fundamentais é exemplificativo. sobre a qual deva decidir de ofício.”

2. Princípio do contraditório Por exemplo: a incompetência


Garante o direito de participação absoluta por ser reconhecida de ofício
no processo numa dimensão formal, i. é, pelo juiz, mas não pode decidir sobre
de fazer parte num processo cujo ela antes de submetê-la ao contraditório.
resultado possa lhe interessar. Trata-se de uma das mais importantes
Refere-se a uma série de regras do processo civil novo.
instrumentos como alegar, provar, Trata-se da proibição da decisão
recorrer e tais atividades serem levadas surpresa, i. é, lastreada em questão a
em consideração pelo Juiz, que pode até respeito da qual não se deu à parte
não acolher, mas não pode oportunidade para o contraditório. Este
desconsiderar. Trata-se do poder artigo não cuida do princípio do
influência que o contraditório tem que contraditório, mas sim cria uma regra
ter. que proíbe decisão surpresa e impõe o
Relação entre contraditório e dever de consulta (que é uma regra de
motivação da decisão: a motivação é acordo com o contraditório).
uma resposta às alegações; é a Essa regra é repetida no art. 933:

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“Art. 933. Se o relator constatar a
ocorrência de fato superveniente à “Art. 4º As partes têm o direito de
decisão recorrida ou a existência de obter em prazo razoável a solução
questão apreciável de ofício ainda não integral do mérito, incluída a atividade
examinada que devam ser considerados satisfativa.”
no julgamento do recurso, intimará as
partes para que se manifestem no prazo
de 5 (cinco) dias.
O nome do princípio não é da
§ 1º Se a constatação ocorrer celeridade ou da duração rápida. O
durante a sessão de julgamento, esse será processo deve durar o tempo adequado
imediatamente suspenso a fim de que as para a solução do problema. Não há
partes se manifestem especificamente. processo que não demore. Todo
§ 2º Se a constatação se der em
vista dos autos, deverá o juiz que a
processo pressupõe tempo.
solicitou encaminhá-los ao relator, que Há uma demora que é devida. Já
tomará as providências previstas no foram acumulados os seguintes critérios
caput e, em seguida, solicitará a inclusão para saber se há razoabilidade no prazo
do feito em pauta para prosseguimento de demora:
do julgamento, com submissão integral
da nova questão aos julgadores.”
i) complexidade do assunto -
processos com conteúdo mais simples
Confirmando que o contraditório não podem demorar tanto. Mas um
é pedra de toque do CPC/2015: processo como o que envolve o acidente
ambiental de Mariana-MG, demandará
“Art. 7º É assegurada às partes muito tempo;
paridade de tratamento em relação ao ii) comportamento dos litigantes –
exercício de direitos e faculdades o comportamento das partes podem
processuais, aos meios de defesa, aos levar à demora no processo, pela
ônus, aos deveres e à aplicação de
procrastinação, ou abandono;
sanções processuais, competindo ao juiz
zelar pelo efetivo contraditório.” iii) comportamento do juiz;
Ou seja, o CPC/2015 entende que iv) estrutura do órgão judiciário.
um devido processo legal deve possuir Paradigmas legais no Brasil:
um contraditório paritário (mesmo i) art. 97-A da Lei n. 9504: reputa-
poder de influência), e o juiz deve zelar se razoável o prazo de um ano a
por isso, verificando se há desequilíbrio tramitação do processo eletivo em todas
sobre isso. as instâncias da Justiça Eleitoral;
É um mistério do CPC/2015, i. é, ii) LAP, art. 7º, p. ú. - se o juiz
até onde o Juiz pode ir para fazer valer não proferir a sentença da ação popular
esse dever. Alguns indicativos: art. 139, no prazo que a lei impõe, fica privado
VI (“O juiz dirigirá o processo de ser incluído em lista de merecimento
conforme as disposições deste Código, pelo prazo de 2 (dois) anos, e ainda
incumbindo-lhe ... dilatar os prazos perde tantos dias de antiguidade quantos
processuais e alterar a ordem de forem os dias de atraso.
produção dos meios de prova, A demora irrazoável do processo
adequando-os às necessidades do pode gerar várias consequências, v. g.:
conflito de modo a conferir maior 1) se causar prejuízo, cabe
efetividade à tutela do direito;”); responsabilidade civil do Estado; CPC,
designar algum Advogado para 235: representação contra o juiz por
acompanhar a parte na audiência para excesso de tempo e perda de
que ela não seja prejudicada. competência; (...)

“Art. 235. Qualquer parte, o


3. Princípio da duração razoável do
Ministério Público ou a Defensoria
processo Pública poderá representar ao corregedor
CRFB, 5º, LXXVIII. No CPC: do tribunal ou ao Conselho Nacional de

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Justiça contra juiz ou relator que interesse público, o para a preservação
injustifica-damente exceder os prazos da intimidade das pessoas.
previstos em lei, regulamento ou
regimento interno.
§ 1º Distribuída a representação “IX todos os julgamentos dos
ao órgão competente e ouvido órgãos do Poder Judiciário serão
previamente o juiz, não sendo caso de públicos, e fundamentadas todas as
arquivamento liminar, será instaurado decisões, sob pena de nulidade, podendo
procedimento para apuração da a lei limitar a presença, em determinados
responsabilidade, com intimação do atos, às próprias partes e a seus
representado por meio eletrônico para, advogados, ou somente a estes, em casos
querendo, apresentar justificativa no nos quais a preservação do direito à
prazo de 15 (quinze) dias. intimidade do interessado no sigilo não
§ 2º Sem prejuízo das sanções prejudique o interesse público à
administrativas cabíveis, em até 48 informação; (Redação dada pela Emenda
(quarenta e oito) horas após a Constitucional nº 45, de 2004)”
apresentação ou não da justificativa de
que trata o § 1º, se for o caso, o No CPC, art. 11:
corregedor do tribunal ou o relator no
Conselho Nacional de Justiça “Art. 11. Todos os julgamentos
determinará a intimação do representado dos órgãos do Poder Judiciário serão
por meio eletrônico para que, em 10 públicos, e fundamentadas todas as
(dez) dias, pratique o ato. decisões, sob pena de nulidade.
§ 3º Mantida a inércia, os autos Parágrafo único. Nos casos de
serão remetidos ao substituto legal do segredo de justiça, pode ser autorizada a
juiz ou do relator contra o qual se presença somente das partes, de seus
representou para decisão em 10 (dez) advogados, de defensores públicos ou do
dias.” Ministério Público.”
“Art. 189. Os atos processuais são
(...) 2) CRFB, 93, II, “e” públicos, todavia tramitam em segredo
de justiça os processos:
“e) não será promovido o juiz I - em que o exija o interesse
que, injustificadamente, retiver autos em público ou social;
seu poder além do prazo legal, não II - que versem sobre casamento,
podendo devolvê-los ao cartório sem o separação de corpos, divórcio, separação,
devido despacho ou decisão; (Incluída união estável, filiação, alimentos e
pela Emenda Constitucional nº 45, de guarda de crianças e adolescentes;
2004)” III - em que constem dados
protegidos pelo direito constitucional à
intimidade;
(...) e 3) também o cabimento de IV - que versem sobre arbitragem,
um mandado de segurança contra a inclusive sobre cumprimento de carta
omissão judicial, que imponha a ordem arbitral, desde que a confidencialidade
para que o Juiz decida. estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo.
§ 1º O direito de consultar os
4. Princípio da publicidade autos de processo que tramite em
A CRFB garante que o processo segredo de justiça e de pedir certidões de
deve ser público. seus atos é restrito às partes e aos seus
A publicidade se revela em duas procuradores.
§ 2º O terceiro que demonstrar
dimensões: interesse jurídico pode requerer ao juiz
i) interna – para as próprias partes certidão do dispositivo da sentença, bem
do processo; como de inventário e de partilha
ii) externa – para os terceiros, que resultantes de divórcio ou separação”
podem fiscalizar como o processo está
tramitando. Atenção: a arbitragem que
A publicidade externa pode sofrer envolver o Poder Público não pode ser
restrições, ou para a proteção de sigilosa. Também não se admite sigilo

10
processual convencional perante o § 3º Aplica-se o disposto neste
Poder Judiciário. artigo ao julgamento de recursos
repetitivos e da repercussão geral em
Relação entre publicidade de recurso extraordinário.”
motivação: é íntima, posto que pela
publicidade é que se demonstra como o Dica. Ler a Resolução n. 143 do
Poder está sendo exercido. A função CNJ, que disciplina a publicidade em
publicitária da motivação é tão evidente, processos eletrônicos.
que basta se lembrar o caso do Juiz do
Rio de janeiro que recebeu uma ação 5. Princípio da igualdade processual
proposta pelo MP em que se pedia a CPC, 7º.
retirada do youtube vídeos de O princípio da igualdade é
intolerância religiosa de matriz africana, entendido como a paridade de armas,
e o Juiz decidiu que não se tratavam de com equilíbrio, entre pessoas com
religião; ou o caso em que um Juiz, logo condições de disputar e ganhar (não
após a entrada em vigor da Lei Maria da pode ser Davi contra Golias).
Penha, negou validade a lei e ainda Isso se concretiza:
teceu considerações preconceituosas i) através da imparcialidade do
contras as mulheres. juiz, equidistância;
Relação entre publicidade e ii) preciso que haja igualdade no
precedentes: o CPC tentou estruturar acesso à Justiça (não deve existir de
um sistema de precedentes obrigatórios, restrições discriminatórias);
o que se casa com uma publicidade iii) redução das desigualdades que
diferente, já que todos devem saber qual dificultam o acesso à Justiça, a exemplo
a orientação o Tribunal trilha. Essa da previsão de Justiça Gratuita, que vias
correta divulgação do pensamento do reduzir a desigualdade financeira; a
Tribunal ajuda muito no comportamento sustentação oral a distância – por meio
das partes e dos cidadãos: eletrônico – que reduz uma
desigualdade geográfica; redução de
“Art. 927, § 5º Os tribunais darão
publicidade a seus precedentes, desigualdades com dificuldade de
organizando-os por questão jurídica comunicação (pessoas mudas);
decidida e divulgando-os, iv) igualdade de oportunidade de
preferencialmente, na rede mundial de acessar as informações necessárias ao
computadores.” exercício do contraditório – acesso a
“Art. 979. A instauração e o
julgamento do incidente serão sucedidos
documentos e provas para viabilizar o
da mais ampla e específica divulgação e exercício do contraditório.
publicidade, por meio de registro
eletrônico no Conselho Nacional de 6. Princípio da efetividade
Justiça. O processo, para ser devido, deve
§ 1º Os tribunais manterão banco
eletrônico de dados atualizados com
propiciar a realização do direito
informações específicas sobre questões reconhecido pelo Juiz, que deve ser
de direito submetidas ao incidente, efetivado.
comunicando-o imediatamente ao Apesar de não contar previsão
Conselho Nacional de Justiça para constitucional expressa, foi mencionado
inclusão no cadastro.
§ 2º Para possibilitar a
no CPC:
identificação dos processos abrangidos
pela decisão do incidente, o registro “Art. 4º As partes têm o direito de
eletrônico das teses jurídicas constantes obter em prazo razoável a solução
do cadastro conterá, no mínimo, os integral do mérito, incluída a atividade
fundamentos determinantes da decisão e satisfativa.”
os dispositivos normativos a ela
relacionados.

11
Mesmo assim, é um princípio administração do processo. A noção da
constitucional, porque deriva do devido economia, de obter o máximo de um
processo legal. fim com o mínimo de recursos, ajustada
Esse princípio é imprescindível, à maior produtividade possível.
para fazer frente ao princípio da Efetivo é o processo que realiza o
dignidade da pessoa humana, pois este direito material; eficiente é aquele que
último pode servir de entrave à realiza o direito material com a menor
efetivação. Esses dois princípios demanda de tempo e recursos materiais.
frequentemente acabam em conflito. A eficiência é um meio, para
obtenção de um resultado. Não adianta
Material de Apoio - Direito Processual poupar recursos e não gerar nada.
Civil - Fredie Didier - Aula 03.pdf As utilidades do princípio da
eficiência são: 1) todas as normas
7. Princípio da eficiência processuais devem ser interpretadas de
Não se confunde com a forma a imprimir eficiência ao processo
efetividade. O princípio da eficiência (menor quantidade de atos com o
tem fundo constitucional e melhor resultado possível); 2)
infraconstitucional. interpretar as regras sobre conexão de
Constitucional. A Eficiência está causas para produzir uma prova que
prevista no art. 37, caput, da CRFB, sirva para todas elas; 3) para o juiz
dentre os princípios que cuidam da definir o modo de executar a decisão,
Administração Pública. Ele também se pois um dos poderes mais significativos
aplica ao Poder Judiciário, cf. o próprio do Juiz é o de escolher o meio executivo
dispositivo. nos casos de obrigação de fazer e não
Infraconstitucional. Art. 8º do fazer; e assim por diante.
CPC. Prevê que o Juiz deve observar
uma série de normas, inclusive a 8. Princípio da boa-fé processual
eficiência. “Art. 5º Aquele que de qualquer
Dimensões. O p. da eficiência tem forma participa do processo deve
comportar-se de acordo com a boa-fé.”
uma dimensão administrativa e outra,
O processo deve ser conduzido
processual. Na dimensão administrativa,
por atitudes corretas, tratando-se de um
que aqui não nos interessa, se dirige aos
instrumento é ético.
Tribunais como órgãos da
Todos que participam do processo
Administração Pública (licitação,
devem agir de acordo com a boa-fé.
agentes, orçamento etc.). O CNJ foi
Dessa forma, aplica-se inclusive para o
criado exatamente para otimizar a
juiz.
administração judiciária que não será
Está previsto no art. 5º do CPC.
aqui estudada.
Contudo, ele tem fundo legal ou
A dimensão processual se dirige
constitucional? Sim. O lastro
ao juiz de um determinado caso, que
constitucional da boa-fé processual é o
deve conduzir o processo de modo
devido processo legal, como já
eficiente. O juiz do processo é visto
reconhecido pelo STF.
como um gestor, que deve gerenciá-lo
Outra observação importante:
de modo eficiente. Trata-se de uma
diferença entre boa-fé objetiva e boa-fé
versão atualizada do princípio da
subjetiva.
economia processual. Trata-se de uma
A primeira, boa-fé objetiva, é uma
opção legislativa escolher esse termo,
norma que impõe comportamentos
em lugar de economia; além disso
éticos, qual seja o princípio da boa-fé.
reforça a ideia de levar ao juiz uma
A boa fé subjetiva é um fato, a
arsenal relativo à gestão, à
crença de que se está agindo

12
corretamente. O sujeito que está de boa- forma, a boa-fé orienta e disciplina na
fé acredita que age corretamente. Este negociação.
fato é, quando em vez, levado em
consideração pelo direito, v. g. na posse 9. Princípio da promoção pelo Estado
de boa ou má-fé. Contudo, não se trata da solução consensual do conflito
de uma norma, mas um fato. Parte da premissa de que a
O art. 5º do CPC trata da boa-fé solução consensual é prioritária à
como norma. Ele não pressupõe a heterocomposição. Sob variadas
investigação sobre a crença individual perspectivas, ela é mais rápida, pacifica
de cada um, examinando o que se passa o conflito muita mais que a solução
na mente. Assim, a análise da boa-fé se dada pelo juiz, enfim, mais eficaz.
dá de forma objetiva pelo seu o “Art. 3º Não se excluirá da
comportamento. apreciação jurisdicional ameaça ou lesão
a direito.
O art. 5º, do qual decorre a boa-fé, § 1º É permitida a arbitragem, na
é uma cláusula geral. Como tal, ele forma da lei.
precisa ser concretizado. Ao longo de § 2º O Estado promoverá,
mais de cem anos, os tribunais do sempre que possível, a solução
mundo todo concretizaram o princípio consensual dos conflitos.
§ 3º A conciliação, a mediação e
da boa-fé. São várias. Dentre elas: outros métodos de solução consensual de
i) proíbe comportamentos dolosos conflitos deverão ser estimulados por
no processo; juízes, advogados, defensores públicos e
ii) impede o abuso do direito no membros do Ministério Público,
processo (qualquer exercício abusivo de inclusive no curso do processo judicial.”
direito processual é considerado um O CPC é estruturado para a
ilícito tendo em vista o princípio da solução consensual: tem um capítulo
boa-fé); dedicado aos mediadores e
iii) a proibição de comportamento conciliadores; três meses depois de
contraditório no processo (proibição de publicado o CPC, foi publicada a Lei n.
venire contra factum proprium no 13.140/2015, que avançou ainda mais
processo). Ex.: o sujeito oferece um sobre a mediação; pelo CPC, o réu é
bem à penhora e depois alega que o bem citado para comparecer a uma audiência
é impenhorável. Ex. 2: o juiz entende de tentativa de autocomposição e, se
que vai julgar antecipadamente por não houver, que apresentará defesa.
entender que não há necessidade de
mais provas e, depois, julga 10. Princípio da primazia da decisão de
improcedente por falta de provas; mérito
*Obra específica sobre esse tema: Torna prioritária a solução do
“Comportamento processual conflito. É preciso tomar todas as
contraditório” de Larissa Gaspar Tunala medidas para que o processo seja
iv) serve como fundamento de examinado. O processo não pode ser
interpretação das postulações e das frustrado por questões processuais, pois
decisões, cf. CPC, 322, § 2º e 489, § 3º; elas devem ser sanadas.
v) é a principal fonte do qual Este princípio que está espalhado
decorre o princípio da cooperação, cf. ao longo de todo o CPC: art. 4º; nos
CPC, 6º: tribunais o relator não pode deixar de
“Art. 6º Todos os sujeitos do conhecer de um recurso defeituoso sem
processo devem cooperar entre si para intimar à parte para sanar o vício, cf.
que se obtenha, em tempo razoável, art. 932, p. ú.; um REsp, mas o caso é
decisão de mérito justa e efetiva.” de RE, o REsp deve ser recebido como
vi) o CPC estimula muito a RE, cf. art. 1032; no art. 321, o juiz não
negociação entre as partes e, dessa pode indeferir a PI sem antes determinar
13
que o autor a corrija/emende; e assim 1) o processo deve ser adequado
por diante. objetivamente, de forma que deve se
estruturar de acordo com o direito
11. Princípio do respeito ao discutido (ex. da prisão civil por
autoregramento da vontade no processo alimentos);
Seu propósito é a transformação 2) no aspecto subjetivo, i. é, aos
do processo num ambiente propício ao sujeitos do processo, que é repercussão
exercício da liberdade negocial, i. é, à do princípio da igualdade no processo
vontade das partes como fonte (ex.: preferência de julgamento de
normativa, que não pode ser obstada por processos de idosos; dobra dos prazos
obstáculos injustificáveis. para os entes públicos);
Não é estimulado, mas também 3) critério teleológico, ou seja, o
não é obstado. A autonomia da vontade processo deve ser adequado aos seus
do processo é limitada, como qualquer fins (proibição de intervenção de
autonomia. recursos, limitações de recursais etc.).
Exemplos: Esse princípio da adequação se
1) o CPC é estruturado de modo a dirige a quem? Sua resposta é nova. Ela
estimular a solução consensual, o que pode ser legal, jurisdicional ou negocial.
por si só é incentivador da autonomia da De fato, a adequação abstrata,
vontade; feita pelo legislador, nem sempre funde-
2) é expresso no CPC que as se ao caso concreto. Daí surgindo a
postulações devem ser “interpretadas”, adequação jurisdicional, bem como a
de forma que está reconhecendo que a negocial, que são feitas a partir do caso
postulação é um ato voluntário e que concreto.
isso tem relevância; Alguns autores se referem a
3) o CPC prevê um número muito adaptabilidade ou flexibilidade do
significativo de negócios processuais processo quando querem se referir a
(negócios jurídicos que repercutem no adaptação do processo feita pelo Juiz.
processo). Ex.: permite a escolha Existem previsões expressas. A mais
consensual do perito; ex. 2: um significativa delas é o art. 139, VI,
calendário processual negociado; ex. 3: segundo a qual o juiz pode dilatar
o CPC prevê a possibilidade de prazos e modificar a ordem de produção
negócios processuais atípicos (as partes das provas.
podem criar um negócio processual, cf. Mas o Juiz pode fazer adequações
art. 190 – cláusula geral de negociação atípicas? Trata-se de uma pergunta
sobre o processo); difícil. Em Portugal existe essa
4) expansão notável da possibilidade. No Brasil essa
arbitragem. Inclusive, a Lei de possibilidade foi rechaçada desde a
Arbitragem foi melhorada logo após a primeira fase de aprovação do projeto
publicação do CPC. do NCPC. Contudo, alguns
Assim, não é mais possível doutrinadores continuam entendendo
analisar o Processo Civil brasileiro sem que é possível como consequência do
conhecimento desse princípio do devido processo legal. No caso do
respeito ao autoregramento da vontade. Mensalão, por exemplo, foram feitas
várias adaptações.
12. Princípio da adequação O art. 7º estabelece o dever do
Impõe que, o processo para ser juiz zelar pelo contraditório. Isso pode
considerado devido, deve ser adequado. acabar se concretizando com alguns
A doutrina identifica três critérios de ajustes atípicos, para zelar pelo
adequação do processo: contraditório.

14
A adequação negocial, feita pelas Serra do Sol, posto que o Estado de
próprias partes, cf. art. 190, também é Roraima se estruturou sobre a
possível demarcação, e portanto teve que
estabelecer 18 regras de transição.
13. Princípio da proteção da confiança
Deriva do princípio da segurança 14. Regras fundamentais de processo
jurídica, impondo que se respeito a
confiança que alguém teve em relação a 14.1. Regra da instauração do processo
determinado ato normativo. pela provação das partes
É um tema muito difundido no Mesmo a regra em que o juiz
Direito Administrativo, mas que se podia instaurar de ofício o inventário
expandiu bastante em Direito não existe mais.
Processual. “Art. 2º O processo começa por
Primeiramente, é necessário iniciativa da parte e se desenvolve por
impulso oficial, salvo as exceções
identificar os pressupostos para previstas em lei.”
aplicação do princípio da proteção da A execução de sentença que
confiança: imponha fazer ou não fazer ou dar coisa
1) base da confiança – trata-se de que não dinheiro pode ser instaurada de
um ato normativo; ofício pelo juiz. Na execução de dar
2) confiança na base – existência dinheiro não é possível instaurar sem
de alguém que tenha confiado nesse ato; provocação da parte.
3) exercício da confiança; Existem alguns incidentes
4) frustração, pelo Poder Público, processuais que podem ser instaurados
com outro ato, o ato anterior. de ofício pelo Juiz. É o caso do conflito
O processo é um meio de criação de competência, do incidente de
de atos normativos e, como tal, produz resolução de demandas repetitivas.
base de confiança.
A jurisprudência é uma base da 14.1. O processo se desenvolve por
confiança. Vejamos: impulso do órgão judicial
- cf. art. 927, § 4º: “A modificação A segunda regra do art. 2º.
de enunciado de súmula, de “Art. 2º O processo começa por
jurisprudência pacificada ou de tese iniciativa da parte e se desenvolve por
adotada em julgamento de casos impulso oficial, salvo as exceções
repetitivos observará a necessidade de previstas em lei.”
fundamentação adequada e específica, Essa regra não impede que o
considerando os princípios da segurança autor desista do processo. Ressalvada a
jurídica, da proteção da confiança e da remessa necessária, o impulso oficial
isonomia.”. não se aplica à instância recursal.
- também do art. 926: “Os Agora é possível que as partes, no
tribunais devem uniformizar sua negócio processual, alterem o impulso
jurisprudência e mantê-la estável, oficial.
íntegra e coerente.”
A base da confiança também
surge nas sentenças em que o juiz 14.3. Os juízes e os tribunais deverão
determine a nulidade de um ato que obedecer à ordem cronológica de
vem produzindo efeitos a muito tempo, conclusão para sentenciar
que o juiz realize uma justiça de É a regra de observância da ordem
transição, para que seja amortecida a de conclusão para proferir sentença ou
quebra da estabilidade. Foi o que o STF acórdão.
“Art. 12. Os juízes e os tribunais
fez com a questão da Reserva Raposa deverão obedecer à ordem cronológica

15
de conclusão para proferir sentença ou “§ 5º A primeira lista de
acórdão.” processos para julgamento em ordem
A conclusão é um ato do escrivão cronológica observará a antiguidade da
que encerra os autos. A partir desse ato distribuição entre os já conclusos na data
da entrada em vigor deste Código.”
é que se conta para sentença ou acórdão.
Voltando ao art. 12:
Trata-se de um respeito devido “Art. 12. Os juízes e os tribunais
por qualquer órgão julgador. deverão obedecer à ordem cronológica
Esse dever para a prolação de de conclusão para proferir sentença ou
decisões finais (sentenças e acórdãos). acórdão.
Os juízes e os tribunais deverão § 1º A lista de processos aptos a
julgamento deverá estar
preferencialmente obedecer à ordem permanentemente à disposição para
cronológica de conclusão, cf. Lei n. consulta pública em cartório e na rede
13.526/2016, de forma que a não mundial de computadores.
preferência deve ser motivada. § 2o Estão excluídos da regra do
““Art. 12. Os juízes e os tribunais caput:
atenderão, preferencialmente, à ordem I - as sentenças proferidas em
cronológica de conclusão para proferir audiência, homologatórias de acordo ou
sentença ou acórdão.” de improcedência liminar do pedido;
Esse dispositivo se relaciona com II - o julgamento de processos em
bloco para aplicação de tese jurídica
o seguinte, que também foi alvo da lei: firmada em julgamento de casos
“Art. 153. O escrivão ou chefe de
repetitivos;
secretaria deverá obedecer à ordem
III - o julgamento de recursos
cronológica de recebimento para
repetitivos ou de incidente de resolução
publicação e efetivação dos
de demandas repetitivas;
pronunciamentos judiciais.
IV - as decisões proferidas com
§ 1º A lista de processos
base nos arts. 485 [extinção sem análise
recebidos deverá ser disponibilizada, de
do mérito] e 932 [quando o relator pode
forma permanente, para consulta pública.
decidir monocraticamente];
§ 2º Estão excluídos da regra do
V - o julgamento de embargos de
caput:
declaração;
I - os atos urgentes, assim
VI - o julgamento de agravo
reconhecidos pelo juiz no
interno;
pronunciamento judicial a ser efetivado;
VII - as preferências legais [que
II - as preferências legais.
devem possuir uma ordem cronológica
§ 3º Após elaboração de lista
própria, a exemplo o mandado de
própria, respeitar-se-ão a ordem
segurança, cf. § 3º abaixo] e as metas
cronológica de recebimento entre os atos
estabelecidas pelo Conselho Nacional de
urgentes e as preferências legais.
Justiça;
§ 4º A parte que se considerar
VIII - os processos criminais, nos
preterida na ordem cronológica poderá
órgãos jurisdicionais que tenham
reclamar, nos próprios autos, ao juiz do
competência penal;
processo, que requisitará informações ao
IX - a causa que exija urgência no
servidor, a serem prestadas no prazo de 2
julgamento, assim reconhecida por
(dois) dias.
decisão fundamentada.
§ 5º Constatada a preterição, o
§ 3º Após elaboração de lista
juiz determinará o imediato cumprimento
própria, respeitar-se-á a ordem
do ato e a instauração de processo
cronológica das conclusões entre as
administrativo disciplinar contra o
preferências legais.
servidor.”
§ 4º Após a inclusão do processo
“Art. 153. O escrivão ou o chefe
na lista de que trata o § 1º, o
de secretaria atenderá, preferencialmente,
requerimento formulado pela parte não
à ordem cronológica de recebimento para
altera a ordem cronológica para a
publicação e efetivação dos
decisão, exceto quando implicar a
pronunciamentos judiciais.”
reabertura da instrução ou a conversão
O art. 153, § 1º está de acordo do julgamento em diligência.
com o art. 1046, § 5º: § 5º Decidido o requerimento
previsto no § 4o, o processo retornará à

16
mesma posição em que anteriormente se de uma regra afeta ao sistema
encontrava na lista. dispositivo.
§ 6º Ocupará o primeiro lugar na
lista prevista no § 1o ou, conforme o
Corriqueiramente afirma-se que o
caso, no § 3o, o processo que: sistema adversarial é próprio dos países
I - tiver sua sentença ou acórdão de tradição do common law. Contudo,
anulado, salvo quando houver essa regra não é verdadeira, pois há
necessidade de realização de diligência países fora desse sistema que o adotam.
ou de complementação da instrução;
II - se enquadrar na hipótese do
Também, alguns afirmam que ele
art. 1.040, inciso II. é mais afeto aos países democráticos.
Contudo, há países, como a Alemanha,
Outras normas fundamentais serão consabidamente uma democracia, que
vistas ao longo do curso. adota o sistema inquisitivo.
***** Neste último, a figura do juiz
protagoniza. Ele não é só um defensor e
fiscal, mas intervêm no processo
atuando diretamente na condução.
Material de Apoio - Direito Processual Exemplo: juiz do trabalho pode
Civil - Fredie Didier - Aula 04.pdf executar de ofício suas decisões.
MODELOS DE PROCESSO O modelo inquisitivo portanto
está próximo das regras que atribuem ao
juiz poderes além de fiscalização e
A doutrina costumava dividir os decisão.
dois grandes modos do processo, i. é, o O modelo inquisitivo se
modo de distribuição das funções entre desenvolveu a partir da formulação do
os sujeitos do processo e os papéis que Estado social, que promove e intervêm,
cada um deve exercer. gerando um processo em que a figura
Assim, tínhamos o modelo do Juiz fica mais coerente com todo o
dispositivo/adversarial/acusatório e o sistema jurídico.
modelo inquisitivo ou inquisitorial. Esse modelo é relacionado com a
Se não tiver esses poderes, trata- tradição europeia continental, e o Brasil
se de um modelo dispositivo. Isso entraria nessa leva por ter um direito
porque em todo o mundo o processo se tributário a essa tradição.
inicia por iniciativa das partes. Não Se trabalharmos apenas com esses
existe modelo puro, mas sim a dois modelos, veremos que eles são
predominância de um ou de outro. insuficientes, o Brasil adota o modelo
É dispositivo quando o inquisitivo, face aos poderes que o Juiz
protagonismo do processo é das partes, é dotado em nosso sistema.
cabendo a elas a definição dos rumos do Uma parcela da doutrina que vem
processo, sendo papel do juiz fiscalizar se desenvolvendo nos últimos anos vem
e julgar (papel mais passivo). Os dois acusando o modelo inquisitivo de
pontos são saber se o juiz tem poder autoritário. Essa relação é feita pelos
probatório e poder executório de ofício. garantistas processuais, ramos da
Sempre, portanto, que se vir uma filosofia do processo que vê em
norma processual dando protagonismo qualquer poder ao Juiz, que não o de
da parte em relação ao Juiz, pode-se fiscalização ou de decisão, manifestação
dizer que esta norma observa o de autoritarismo (o entendem como
princípio dispositivo. Ex.: norma que inconstitucional). É muito forte na
prestigia a desistência, que não existe Espanha, e vem se desenvolvendo a
no processo de ADIN, o que se tratada partir dos trabalhos de Glauco Ramos,
Eduardo José da Fonseca Costa. O

17
garantismo processual visam assegurar deve estar ao lado das parte para se
o processo contra o ativismo judicial. chegar a uma decisão de mérito justa e
Enfim, fala-se num modelo efetiva.
cooperativo de processo, com o qual Obs.: há doutrina trazendo outro
mais se coaduna o processo civil dever judicial, o de auxílio. Ex.: a ajuda
brasileiro a partir do CPC/2015. da parte em encontrar patrimônio do
executado para efetivar a jurisdição.
Ex.2: mandar ofício para o TRE para
descobrir o endereço da parte para ser
Ele decorre dos princípios da boa- citada. Para Didier, este dever é o
fé e do devido processo legal, e tem próprio dever de cooperação.
previsão no art. 6º do CPC/2015: Para parte da doutrina, o juiz tem
“Art. 6º Todos os sujeitos do o dever de ajudar a parte em todas as
processo devem cooperar entre si para situações (ex.: doutrina de Mitidiero).
que se obtenha, em tempo razoável,
decisão de mérito justa e efetiva.”
Didier não encontra respaldo para tal.
Ele impõe três deveres judiciais *****
de cooperação:
i) dever de consulta, aquele
imposto ao juiz de consultar as partes PRECLUSÃO
antes de decidir sempre que ele, juiz,
identificar a existência de uma questão É perda de alguma situação
relevante para a solução da causa que jurídica processual ativa.
não tenha sido objeto do contraditório, Situação jurídica ativa é um
cf. art. 10 do CPC: direito (de recorrer), faculdade (escrever
“Art. 10. O juiz não pode decidir, a petição em tantas laudas quanto
em grau algum de jurisdição, com base entender necessário) ou poder.
em fundamento a respeito do qual não se A preclusão pode ocorrer tanto em
tenha dado às partes oportunidade de se relação às partes, quanto em relação ao
manifestar, ainda que se trate de matéria
sobre a qual deva decidir de ofício.”
juiz.
ii) dever de esclarecimento, que Todo processo tem preclusão,
possui dupla dimensão: porque o processo tem que acabar. A
a) é o dever que tem o juiz de medida em que o tempo vai passando e
produzir decisões claras, os atos vão sendo praticados, a
compreensíveis, inteligíveis, que é preclusão opera, já que ela é uma
elemento da motivação; técnica desenvolvida pelo Direito para
b) dever de pedir esclarecimento, 1) promover a duração razoável do
pois o juiz não pode rejeitar uma processo, que 2) prestigia a boa-fé
postulação da parte porque não (evita que as pessoas fiquem
compreendeu o quanto pedido pela escondendo seus argumentos e defesa
parte; para utilizá-los de maneira
iii) dever de prevenção, pois o juiz surpreendente) e 3) mantêm o processo
tem o dever de evitar que o processo estável (elemento de segurança
seja invalidado por uma questão formal. jurídica), proibindo o eterno retrocesso.
O juiz deve avisar as partes que há um Tipos de preclusão. A doutrina
defeito no processo e que ele deve ser clássica costuma identifica a existência
corrigido, ou seja, impedir a frustração de três tipos de preclusão:
do processo. Quando estudamos o i) preclusão temporal – é a perda
princípio da primazia do julgamento do dessa situação jurídica em razão da
mérito, este dever de prevenção é perda de um prazo;
corolário do daquele princípio. O juiz

18
ii) preclusão lógica – quando se determinadas clausas, que vieram da
perde o poder processual porque antes tradição medieval, e foram mantidos
há se comportou de maneira pela atual Constituição. Na Bolívia e no
incompatível com esse poder. Peru existem tribunais indígenas, já que
Trata-se de uma decorrência do aqueles Estados os reconhecem.
princípio da boa-fé, pela da proibição No Brasil existe jurisdição
do venire contra factum proprium arbitral. A arbitragem é, no Brasil,
processual. A parte perde o poder de se jurisdição não Estatal, exercida por
comportar de outra maneira. entes privados.
iii) preclusão consumativa – o Terceiro imparcial é aquele
exercício do direito processual ocasiona desinteressado, equidistante às partes,
seu exaurimento, não podendo ser que não tem interesse na vitória em
novamente exercido. qualquer das partes. A imparcialidade é
Para Didier, há ainda outra um dado subjetivo, ao contrário da
espécie de preclusão: impartialidade.
iv) preclusão decorrente de ato Assim, segundo nosso código,
ilícito – alguns ilícitos processuais tem existem níveis de parcialidade:
como consequência a perda de um impedimento e suspeição. O juiz
poder processual, como uma sanção. impedido ou suspeito não é imparcial.
Ex.: demora irrazoável do juiz para Será estudado mais à frente.
julgar a causa, leva à perda da A imparcialidade é um dos
competência do juiz para julgar a causa. conteúdos essenciais da jurisdição.
***** Imparcialidade não é a mesma
coisa que neutralidade. Não existe
qualquer pessoa neutra (se for gente,
JURISDIÇÃO não é neutra).
ii) “...para, mediante um
processo,...” – não se pode admitir
1. Conceito jurisdição no Brasil exercida sem
Jurisdição é uma função atribuída processo. O processo precede e legitima
a... a jurisdição. Não há jurisdição
i)... “terceiro imparcial” – trata-se instantânea no Brasil.
de um critério objetivo, pois terceiro é iii) “... reconhecer, proteger ou
um sujeito estranho ao conflito. É o que efetivar situações jurídicas
se chama de “impartialidade” da concretamente deduzidas...” – a
jurisdição, ou seja, ela é exercida por jurisdição se caracteriza pelo fato de
que não é parte. Em italiano a expressão atuar em situações concretas. O juiz
é terziatà. examina casos, problemas, não é um
Por conta disso, a jurisdição é um filósofo que especula. Essa é a marca
exemplo de heterocomposição. Esse que distingue a jurisdição da legislação.
terceiro deve ser sempre o terceiro a O legislador, diferentemente, não é
quem se atribui a função jurisdicional? chamado para resolver situações
Isto é, a jurisdição é monopólio do concretas, mas para problemas abstratos
Estado? Sim, a jurisdição é monopólio que talvez nem existam.
do Estado, mas não significa que só ele Mesmo numa ADIN há uma
possa exercê-la, já que esse mesmo situação concreta, pois se leva ao STF o
Estado pode autorizar o exercício da seguinte problema: a
jurisdição por outro sujeito. constitucionalidade de uma Lei
Na Espanha, v. g., existem determinada. Não existe processo sem
tribunais populares que julgam

19
caso. Carnelluti: a jurisdição atua geral, mas a norma que resolve um
sempre por encomenda. determinado caso.
Tradicionalmente, os livros Mas o juiz também acaba criando
trazem a afirmação que este problema é uma norma geral, que se trata do
uma lide, um conflito. Isso na verdade é precedente para casos semelhantes
um erro, que se cometeu, e que não se futuros.
pode mais repetir, pois nem todo caso é Por isso, o juiz, quando julga,
uma lide, embora evidentemente a lide deve ter o olho no caso concreto e nos
seja o principal tipo de caso levado ao casos futuros, posto que o que decide
Judiciário. hoje pode direcionar as demais
A coisa julganda (res in iudicium decisões, bem como repercutir no
deducta) é aquilo que depois se comportamento social das pessoas.
transforma em coisa julgada. vi) “...em decisão insuscetível de
“Reconhecer”, “proteger” ou controle externo...” – vale dizer, é
“efetivar” é o que juiz faz: todos vão ao característica da jurisdição ser ela a
Poder Judiciário ou à procura de última forma de controle.
reconhecimento, ou proteção ou Sabemos que uma lei não pode
efetivação de um direito. Estamos desfazer coisa julgada, muito menos ato
diante dos três tipos de tutela administrativo. A Jurisdição é
jurisdicional que se busca alcançar. controlada jurisdicionalmente, ou seja,
Tutela de conhecimento, tutela cautelar ela se autocontrola.
e tutela de execução se referem, Caso interessante: a Lei de Anistia
respectivamente, a cada uma das não viola a coisa julgada, mas sim que a
espécies de interesses que se levam ao partir de um determinado momento não
Judiciário. mais haverá punição.
iv) “...de modo imperativo...” - O CNJ não interfere nas decisões,
jurisdição é ato de império, não é tendo apenas natureza administrativa.
conselho. É da essência da jurisdição Ele avalia os juízes no aspecto
ser um ato de Poder, de império. correcional.
Assim, não há o que fazer quando vi) “...e apta a tornar-se
se recebe uma citação: o sujeito vai ter indiscutível.” – a jurisdição é a única
que se defender. atividade estatal que possui essa aptidão
v) “... e criativo...” – o Juiz se da indiscutibilidade. Trata-se de um
vale das fontes do Direito para decidir. fenômeno exclusivo da jurisdição: um
Contudo, a criatividade do juiz possui ato administrativo pode ser revogado ou
dois limites: o caso posto e o Direito anulado e, uma lei revogada.
(deve demonstrar que a solução Ficou assim o conceito:
encontrada se encontra de acordo com o “Jurisdição é uma função atribuída a
Direito posto). terceiro imparcial para, mediante um
Além disso, o Juiz não pode processo, reconhecer, proteger ou
ignorar o acúmulo histórico em cima de efetivar situações jurídicas
determinados institutos. Como um concretamente deduzidas de modo
roteirista de novela, o Juiz faz apenas imperativo e criativo, em decisão
um de seus capítulos, não podendo insuscetível de controle externo e apta a
ignorar o que já se passou antes, sob tornar-se indiscutível.”
pena de quebra da lógica jurídica.
A criatividade faz com que o 2. Equivalentes jurisdicionais
exercício da jurisdição produza norma. Equivalentes jurisdicionais são
O juiz vai criar a norma jurídica formas de solução de conflito não
individualizada, que não é a norma

20
jurisdicionais. O conflito pode ser Se feita extrajudicialmente, ela
resolvido de várias maneiras. pode ser levada a homologação judicial
Atualmente se fala muito em têm o direito de levar esse acordo para
sistema multiportas, i. é, existem várias homologação judicial. O CPC,
opções de solução de conflitos para inclusive, deixa isso claro, embora não
serem resolvidos. A jurisdição é apenas seja necessário. Nesse caso, deixa de ser
uma delas. Antigamente se falava em documento extrajudicial que passa a ser
meios alternativos de solução de uma sentença.
conflitos, sendo a jurisdição o principal. ii) pelo tipo, ela pode se dar ou
por transação, em que as partes abrem
2.1. Autotutela mão, reciprocamente, de partes dos seus
É a forma de solução dos conflitos próprios direitos (concessões
em que a solução é imposta por um dos recíprocas), ou por submissão.
conflitantes ao outro. É uma solução A transação não é sinônimo de
bárbara do conflito, que é resolvido pela autocomposição, mas espécie, ao lado
força de um sobre o outro. da submissão, que pode ser tanto de
Embora seja a mais antiga, quem pretendia e abre mão, como pela
permanece ainda hoje permitida em aceitação.
alguns casos. Ex.: legítima defesa; ex. iii) com ou sem a participação de
2: desforço imediato do possuidor um terceiro. As partes podem fazer sua
contra o esbulho; ex. 3: a guerra (no negociação elas mesmas; mas a
Direito Internacional); ex. 4: o poder autocomposição pode resultar da
que tem o ente público de executar as negociação decorrente da ajuda de um
próprias decisões (exemplo: pode o terceiro.
Poder Público rebocar um carro que Quando a autocomposição é
esteja estacionado em local proibido). resultado da atuação de um terceiro, que
Não se pode negar, contudo, que a a facilitou, estaremos diante da
autotutela é, em regra, proibida, a ponto mediação ou da conciliação. Tratam-se
de ser crime, como determina o Código de técnicas de autocomposição, e não
Penal (exercício arbitrário das próprias heterocomposição.
razões). O mediador é um facilitador do
diálogo. O papel dele é de ajudar a
2.2. Autocomposição comunicação. Por exemplo, não pode
É a forma negocial de solução de formular proposta de acordo. Essa
conflitos. O conflito é resolvido pelos técnica que é mais sutil é recomendada
próprios litigantes, consensualmente. para conflitos que envolvem pessoas
Essa espécie de equivalente que já mantinham uma relação
jurisdicional não é só permitida, como permanente entre si (sócios, família,
estimulada pelo Estado. O CPC vizinhos, entre países).
consagra o princípio da promoção pelo A conciliação é uma forma mais
Estado da solução consensual dos agressiva, de participação do terceiro,
conflitos. Trata-se do modo prioritário que pode propor soluções para o
de solução de conflitos. conflito. Ela é mais indicada para
É algo que o Estado tem feito de conflitos entre pessoas que não
maneira muito clara nos últimos anos. possuíam relação pessoal anteriormente,
Ela pode ser: a exemplo de acidentes de trânsito.
i) judicial ou extrajudicial – se já No CPC:
existe um processo pendente, as partes “Seção V
envolvidas chegam a um consenso Dos Conciliadores e
Mediadores Judiciais
sobre o que pode ser feito.

21
Art. 165. Os tribunais criarão Isso é tão importante que as partes
centros judiciários de solução consensual podem escolher o mediador ou
de conflitos, responsáveis pela realização
de sessões e audiências de conciliação e
conciliador; que não se submeterão a
mediação e pelo desenvolvimento de eles; ou que obrigatoriamente se
programas destinados a auxiliar, orientar submeterão a elas.
e estimular a autocomposição. iv) princípio da confidencialidade
§ 1º A composição e a – a confidencialidade estende-se a todas
organização dos centros serão definidas
pelo respectivo tribunal, observadas as
as informações produzidas no curso do
normas do Conselho Nacional de Justiça. procedimento, cujo teor não poderá ser
§ 2º O conciliador, que atuará utilizado para fim diverso daquele
preferencialmente nos casos em que não previsto por expressa deliberação das
houver vínculo anterior entre as partes, partes (cf. §§ 2º e 3º do art. 166 e art. 30
poderá sugerir soluções para o litígio,
sendo vedada a utilização de qualquer
da Lei n. 13140/2016). Se não fosse
tipo de constrangimento ou intimidação assim, as partes ficariam sempre
para que as partes conciliem. desconfiadas do mediador e do
§ 3º O mediador, que atuará conciliador.
preferencialmente nos casos em que “Art. 166. A conciliação e a
houver vínculo anterior entre as partes, mediação são informadas pelos
auxiliará aos interessados a compreender princípios da independência, da
as questões e os interesses em conflito, imparcialidade, da autonomia da
de modo que eles possam, pelo vontade, da confidencialidade, da
restabelecimento da comunicação, oralidade, da informalidade e da decisão
identificar, por si próprios, soluções informada.
consensuais que gerem benefícios § 1º A confidencialidade estende-
mútuos.” se a todas as informações produzidas no
A atividade de conciliação e curso do procedimento, cujo teor não
mediação foi extremamente prestigiada poderá ser utilizado para fim diverso
daquele previsto por expressa
no CPC/2015.
deliberação das partes.
Ler as Leis n. 9307/96 NR § 2º Em razão do dever de sigilo,
13129/2015 e Lei n. 13.140/2016. inerente às suas funções, o conciliador e
Também a Res. 125/2010 do CNJ. o mediador, assim como os membros de
suas equipes, não poderão divulgar ou
2.2.1. Princípios da mediação e depor acerca de fatos ou elementos
oriundos da conciliação ou da mediação.
conciliação § 3º Admite-se a aplicação de
i) princípio da independência – técnicas negociais, com o objetivo de
diz respeito à figura do mediador e do proporcionar ambiente favorável à
conciliador. Eles são independentes no autocomposição.
exercício de suas funções: não podem § 4º A mediação e a conciliação
serão regidas conforme a livre autonomia
sofrer pressão ou ser coagidos, nem de dos interessados, inclusive no que diz
Juiz, de chefe de Tribunal etc. respeito à definição das regras
ii) princípio da imparcialidade – procedimentais.”
não podem ter interesse no conflito. É “Seção IV
possível a arguição de impedimento ou Da Confidencialidade e suas Exceções
Art. 30. Toda e qualquer
suspeição e consequente afastamento. informação relativa ao procedimento de
iii) princípio da autonomia da mediação será confidencial em relação a
vontade – toda mediação e conciliação terceiros, não podendo ser revelada
serve para que os conflitantes resolvam, sequer em processo arbitral ou judicial
eles mesmos, seus conflitos. Essa é o salvo se as partes expressamente
decidirem de forma diversa ou quando
valor principal, protegendo o que as sua divulgação for exigida por lei ou
partes querem. Daí ser ilegal o necessária para cumprimento de acordo
constrangimento para que as partes faça obtido pela mediação.
acordo.

22
§ 1º O dever de confidencialidade as partes estão bem informadas para
aplica-se ao mediador, às partes, a seus decidir o conflito de forma esclarecida.
prepostos, advogados, assessores
técnicos e a outras pessoas de sua
Se o juiz se deparar com uma
confiança que tenham, direta ou parte desamparada por advogado ou do
indiretamente, participado do defensor público, deve suspender a
procedimento de mediação, alcançando: negociação para reestabelecer o
I - declaração, opinião, sugestão, equilíbrio.
promessa ou proposta formulada por uma
parte à outra na busca de entendimento
Além de todos esses princípios, a
para o conflito; Lei n. 13140 traz mais princípios em
II - reconhecimento de fato por seu art. 2º:
qualquer das partes no curso do “CAPÍTULO I
procedimento de mediação; DA MEDIAÇÃO
III - manifestação de aceitação de Seção I
proposta de acordo apresentada pelo Disposições Gerais
mediador; Art. 2º A mediação será orientada
IV - documento preparado pelos seguintes princípios:
unicamente para os fins do procedimento I - imparcialidade do mediador;
de mediação. II - isonomia entre as partes;
§ 2º A prova apresentada em III - oralidade;
desacordo com o disposto neste artigo IV - informalidade;
não será admitida em processo arbitral V - autonomia da vontade das
ou judicial. partes;
§ 3º Não está abrigada pela regra VI - busca do consenso;
de confidencialidade a informação VII - confidencialidade;
relativa à ocorrência de crime de ação VIII - boa-fé.
pública. § 1º Na hipótese de existir
§ 4º A regra da confidencialidade previsão contratual de cláusula de
não afasta o dever de as pessoas mediação, as partes deverão comparecer
discriminadas no caput prestarem à primeira reunião de mediação.
informações à administração tributária § 2º Ninguém será obrigado a
após o termo final da mediação, permanecer em procedimento de
aplicando-se aos seus servidores a mediação.”
obrigação de manterem sigilo das (...)
informações compartilhadas nos termos “Art. 42. Aplica-se esta Lei, no
do art. 198 da Lei no 5.172, de 25 de que couber, às outras formas consensuais
outubro de 1966 - Código Tributário de resolução de conflitos, tais como
Nacional. mediações comunitárias e escolares, e
Art. 31. Será confidencial a àquelas levadas a efeito nas serventias
informação prestada por uma parte em extrajudiciais, desde que no âmbito de
sessão privada, não podendo o mediador suas competências.
revelá-la às demais, exceto se Parágrafo único. A mediação nas
expressamente autorizado.” relações de trabalho será regulada por lei
v) oralidade – pretende à solução própria.”
pelo diálogo; A mediação e conciliação são
vi) informalidade – importante atribuiçoes de mediadores e
porque faz com que as pessoas se conciliadores e devem se realizar em
desarmem, de forma que o processo seja centros de mediação e conciliação, que
mais bem desenvolvido. podem ser judiciários, de entes públicos
Exige-se um ambiente sem como a Defensoria Pública, ou de
formalidades, com cores claras, sem câmaras privadas de conciliação, bem
vestimentas muito solenes, com como administrativas.
linguajar simples; “Art. 174. A União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios criarão
vii) princípio da decisão câmaras de mediação e conciliação, com
informada – os mediadores e atribuições relacionadas à solução
conciliadores devem se resguardar que consensual de conflitos no âmbito
administrativo, tais como:

23
I - dirimir conflitos envolvendo antes de um conflito surgir, para a
órgãos e entidades da administração hipótese dele vir a surgir;
pública;
II - avaliar a admissibilidade dos
ii) compromisso arbitral – trata-se
pedidos de resolução de conflitos, por de uma convenção de arbitragem
meio de conciliação, no âmbito da celebrada para resolver um conflito que
administração pública; já existe. Por isso, ele é naturalmente
III - promover, quando couber, a mais delimitado que a cláusula
celebração de termo de ajustamento de
conduta.”
compromissória.
Nos artigos 32 a 40 a Lei n. Veja bem. A convenção de
13140/2015 funcionam como arbitragem pode veicular regras
regramento geral da autocomposição próprias, sem observar o que está
envolvendo o Poder Público. Isso agora previsto no processo civil comum. Além
se tornou um capítulo de Direito do árbitro, as partes podem definir o
Administrativo. modo como a arbitragem se processa,
bem como as regras de julgamento
2.3. Solução de conflitos por tribunais (equidade, direito estrangeiro etc.).
administrativos
Suas decisões não são definitivas, 3.1. Árbitro
pois podem ser controladas pelo Poder Pode ser qualquer pessoa capaz,
Judiciário. Aqui a função é não precisando ser formado em direito.
administrativa de conflitos, não Normalmente arbitragem é processada e
exercendo função jurisdicional, mas julgada por um tribunal arbitral,
como heterocomposição. composto sempre por número ímpar,
Exemplos: Tribunais de Conta, nada impedindo a arbitragem de árbitro
Tribunais de Contribuintes, Tribunal de único. Geralmente cada parte indica um,
Ética da OAB, CADE, a CVM. e esses dois indicados por sua vez
O Tribunal Marítimo também é escolhem o terceiro.
um tribunal administrativo, mas não Além disso, a arbitragem pode ser
exerce função jurisdicional, já que foi institucional ou não. A institucional se
vetado no CPC/2015 (cf. art. 515, X). dá em câmaras de arbitragem já
estabelecidas e as pessoas contratam
essas câmaras para julgar as causas.
Material de Apoio _ Direito Processual O árbitro é juiz de fato e de
Civil_ Fredie Didier_ Aula 05.pdf direito, i. é, se o arbitro recebe dinheiro
3. Arbitragem para julgar a causa em favor de uma das
Na arbitragem, um terceiro, partes, ele está praticando corrupção,
escolhido pelas partes, é que julga a mesmo sendo ente privado. Mas ele só é
causa, e por isso ela é juiz de fato e de direito para uma
heterocomposição. determinada causa.
Vale dizer: a arbitragem é
jurisdição, mas privada, que nasce de 3.2. Espécies de causas que podem ser
um acordo de vontades. Ela é opcional julgadas por arbitragem
O negócio jurídico que dá origem Trata-se da arbitrabilidade
à arbitragem é a convenção de objetiva, i. é, a aptidão de instaurar
arbitragem. Esta, por sua vez, é uma arbitragem a partir da qualidade do
designação genérica, pois há duas litígio.
espécies: Ela serve apenas à solução de
i) cláusula compromissória – é a conflitos de caráter patrimoniais
convenção de arbitragem celebrada disponíveis.

24
Cabe arbitragem envolvendo 3.4. Como se relaciona a jurisdição
questões relacionadas ao Poder Público? estatal com a arbitragem
Sim, e já não há mais discussão sobre Arbitro e juiz estatal devem
isso, principalmente a questões cooperar entre si para o melhor
patrimoniais, contratuais envolvendo o exercício da jurisdição por ambos.
Poder Público, cf. L9307/96 NR Ela se dá por meio da carta
L13129/2015: arbitral.
“Capítulo I “CAPÍTULO IV-B
(Incluído pela Lei nº 13.129, de 2015)
Disposições Gerais DA CARTA ARBITRAL
Art. 22-C. O árbitro ou o tribunal
Art. 1º As pessoas capazes de arbitral poderá expedir carta arbitral para
contratar poderão valer-se da arbitragem que o órgão jurisdicional nacional
para dirimir litígios relativos a direitos pratique ou determine o cumprimento, na
patrimoniais disponíveis. área de sua competência territorial, de
§ 1º A administração pública ato solicitado pelo árbitro. (Incluído pela
direta e indireta poderá utilizar-se da Lei nº 13.129, de 2015)
arbitragem para dirimir conflitos Parágrafo único. No
relativos a direitos patrimoniais cumprimento da carta arbitral será
disponíveis.(Incluído pela Lei nº 13.129, observado o segredo de justiça, desde
de 2015) que comprovada a confidencialidade
§ 2º A autoridade ou o órgão estipulada na arbitragem. (Incluído pela
competente da administração pública Lei nº 13.129, de 2015)”
direta para a celebração de convenção A sentença arbitral é título
de arbitragem é a mesma para a executivo judicial. Diante de uma
realização de acordos ou transações.
(Incluído pela Lei nº 13.129, de 2015)
sentença arbitral, o juiz estatal pode
Art. 2º A arbitragem poderá ser de executá-la, posto que o tribunal arbitral
direito ou de eqüidade, a critério das não tem competência para tal. Além
partes. disso, o juiz estatal não exerce juízo de
§ 1º Poderão as partes escolher, homologação da sentença arbitral, nem
livremente, as regras de direito que serão
aplicadas na arbitragem, desde que não
pode se imiscuir (controlar) o mérito da
haja violação aos bons costumes e à sentença arbitral.
ordem pública. É possível apenas entrar com uma
§ 2º Poderão, também, as partes ação para invalidar a sentença arbitral
convencionar que a arbitragem se realize que contenha vício, que é proposta
com base nos princípios gerais de direito,
nos usos e costumes e nas regras
perante o Estado-juiz, o que se admite
internacionais de comércio. em 90 (noventa) dias. Se a sentença for
§ 3º A arbitragem que envolva a anulada, deverá ser proferida outra
administração pública será sempre de sentença arbitral em seu lugar.
direito e respeitará o princípio da
publicidade.(Incluído pela Lei nº
3.5. Negativa de se submeter á
13.129, de 2015)”
Se tem admitido arbitragem arbitragem
envolvendo conflitos coletivos, com Na vigência de uma convenção de
algumas nuances. arbitragem entre as partes, se uma delas
se negar a se submeter à arbitragem,
3.3. Capacidade para opção será necessário ingressar com ação
Só podem optar pela arbitragem judicial para que seja obrigada a tal.
pessoas capazes. A arbitragem está Da mesma forma, se a parte
intimamente ligada à liberdade, ao ignora a convenção de arbitragem
poder que as pessoas têm de escolher o estabelecia e propõe ação perante o
que é melhor para si. Poder Judiciário, cabe ao réu alegar a
existência de convenção de
arbitragem. Se o réu não alegar é como

25
se houvesse uma renúncia tácita à subseção, que sempre leva o nome de
arbitragem. Isso é para deixar claro que uma cidade.
o juiz estatal não pode conhecer de Existem dois artigos do Código
ofício da sua existência. que permite que a jurisdição seja
exercida além dos limites do território:
“Art. 60. Se o imóvel se achar
4. Princípios da jurisdição situado em mais de um Estado, comarca,
seção ou subseção judiciária, a
i) princípio da indelegabilidade – competência territorial do juízo prevento
a jurisdição é função indelegável. estender-se-á sobre a totalidade do
A jurisdição é um complexo de imóvel.”
Poderes: “Art. 255. Nas comarcas
a) poderes ordinatórios – é o contíguas de fácil comunicação e nas
que se situem na mesma região
poder de por o processo em andamento, metropolitana, o oficial de justiça
de dar-lhe impulso (mandar citar, ouvir poderá efetuar, em qualquer delas,
as partes etc.). Os poderes ordinatórios citações, intimações, notificações,
podem ser delegados, cf. CRFB, 93, penhoras e quaisquer outros atos
XIV, bem como no CPC, 152, VI e 201, executivos.”
§ 4º.
b) poderes instrutórios – são os iii) princípio do juiz natural – é
poderes relacionados à produção de um dos mais importantes princípios,
prova. Há expressa previsão de o sendo inclusive um direito fundamental.
tribunal delegar ao juiz de primeira Esse princípio exige que o juiz seja
instância a instrução; competente (dimensão objetiva, poder
c) poderes decisórios – é o poder para julgar o caso) e imparcial
de decidir as questões. Esse não pode (dimensão subjetiva).
ser delegado. Quando se fala em A competência do juiz deve ser
indelegabilidade, o que se quer falar é atribuída por lei, impessoal, fundada em
desse poder. critérios prévios e objetivos. Quer dizer
d) poderes executivos – é o poder que não é possível atribuir competência
de executar as decisões. Por expressa a um juiz para julgar um determinado
previsão normativa, os tribunais podem caso que já existe. Se isso ocorre,
delegar poder executivo a Juízes. estaríamos diante de um tribunal de
exceção (constituído após o caso para
ii) princípio da territorialidade – a resolver aquele caso). Por isso que se
jurisdição é sempre exercida em um diz que o Tribunal de Nuremberg foi
determinado território, que pode ser um tribunal de exceção, diferentemente
maior ou menor: uma comarca (juiz), do TPI.
um País inteiro (o STF). Exatamente para garantir o juiz
Esse limite territorial de exercício natural é que existe a figura da
da jurisdição chama-se “foro”. distribuição, sorteio para o juiz
Na justiça Estadual, o foro chama- competente, para que não haja escolha
se comarca, que ou é uma cidade ou para o juiz.
grupo de cidades, que acaba levando o Também é por conta do juiz
nome da cidade (única ou principal). A natural que se pode discutir a
comarca pode ser divida em distritos imparcialidade através do impedimento
(que pode ser uma cidade, uma região e da suspeição.
da cidade ou mesmo um bairro). Da mesma forma, os atributos da
Na Justiça Federal, o foro é a vitaliciedade, inamovibilidade e
seção judiciária, que é sempre um irredutibilidade de vencimentos são
Estado, que pode se dividir em garantias da sua imparcialidade.

26
*Lembrar do caso prosaico em que, Na jurisdição voluntária, o juiz
quando da criação do Estado de integrará a vontade das partes, posto
Roraima. Houve uma ação popular. que é necessário que o Estado autorize a
Todos os juízes ainda não eram perfectibilização daquela vontade.
vitaliciados. A ação popular era contra o Ela é uma jurisdição
TJRA. Nesse caso o STF decidiu que essencialmente constitutiva de novas
não havia juiz natural em RA situações jurídicas. Adoção,
emancipação, interdição, naturalização,
iv) princípio da inafastabilidade – homologação de divórcio consensual
CRFB, 5º, XXXV: qualquer direito etc.
pode ser levado à apreciação do A terceira característica é a
judiciário (individual, ou coletivo, necessariedade, i. é, os interessados
patrimonial ou personalíssimo). precisam da intervenção jurisdicional
A arbitragem não é uma exclusão para concretizar sua vontade. Sem ela
pela lei da jurisdição (não se admite não se obtém o efeito jurídico desejado.
arbitragem compulsória); além disso, Contudo, há exceções, como o divórcio
ela também é jurisdição. consensual entre pessoas capazes sem
O princípio da inafastabilidade filhos menores pode ser feito
refere-se também o direito de acesso à extrajudicialmente, p. ex. Mas se tratam
Justiça. de exceções a uma regra geral da
A expressão “Poder Judiciário” necessariedade.
refere-se á função jurisdicional, que A quarta característica marcante é
nem sempre é exercida pelo Judiciário. que na jurisdição voluntária predomina
Basta pensar no processo de um caráter inquisitorial do processo.
impeachment. Duas demonstrações: a primeira é a
A expressão “ameaça” consagra existência de alguns procedimentos de
constitucionalmente a tutela inibitória, i. jurisdição voluntária que podem ser
é, contra a prática de um ilícito. instaurados de ofício pelo juiz:
“Jurisdição condicionada”. Na C. “Art. 746 CPC. Recebendo do
de 1969 ainda existia previsão de que a descobridor coisa alheia perdida, o juiz
mandará lavrar o respectivo auto, do qual
lei poderia condicionar o acesso ao constará a descrição do bem e as
Judiciário ao esgotamento da via declarações do descobridor.
administativa. Com a CRFB/88, essa § 1º Recebida a coisa por
previsão foi eliminada. A CRFB prevê o autoridade policial, esta a remeterá em
caso da Justiça Desportiva. Depois seguida ao juízo competente.
§ 2º Depositada a coisa, o juiz
tivemos a lei do habeas data, que só mandará publicar edital na rede mundial
podem ser levadas à apreciação do de computadores, no sítio do tribunal a
Poder Judiciário depois de esgotada a que estiver vinculado e na plataforma de
via administrativa. Depois, a lei da editais do Conselho Nacional de Justiça
súmula vinculante, segundo a qual só ou, não havendo sítio, no órgão oficial e
na imprensa da comarca, para que o dono
cabe reclamação se não houver a ou o legítimo possuidor a reclame, salvo
reversão do ato em âmbito se se tratar de coisa de pequeno valor e
administrativo. Depois, na questão das não for possível a publicação no sítio do
ações previdenciárias foi imposta a tribunal, caso em que o edital será apenas
necessidade de que o benefício tenha afixado no átrio do edifício do fórum.
§ 3º Observar-se-á, quanto ao
sido negado administrativamente, e o
mais, o disposto em lei.”
STF validou esse entendimento (RE “Art. 723 CPC. O juiz decidirá o
631240). pedido no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. O juiz não é
5. Jurisdição voluntária obrigado a observar critério de
legalidade estrita, podendo adotar em

27
cada caso a solução que considerar ação, bem como não há processo, mas
mais conveniente ou oportuna.” apenas procedimento. Por fim, também
O p. ú. tem uma dimensão não se pode falar em coisa julgada.
material (permitir o julgamento por A segunda corrente entende que
equidade) e processual (permite há jurisdição. O fato de não haver lide
adaptações do procedimento de não explica as ações do controle de
jurisdição voluntária –princípio da constitucionalidade nem as ações
adequação judicial do procedimento). preventivas, de forma que se trata de
São exemplos a guarda uma premissa equivocada em si. Além
compartilhada, que já era concedida disso, o outro erro de achar que na
pelos juízes desde muito antes de ser jurisdição voluntária sempre não há
prevista em lei; também a possibilidade lide, quando na verdade o que acontece
de se adaptar o rito da interdição é que pode ser que não haja lide, pois o
quando o interditando estiver em coma, próprio CPC manda citar os
posto que não pode comparecer à interessados, exatamente para que eles
entrevista inicial. se manifestem, e esta pode ser contrária.
Uma quinta características muitas Indo além, é um absurdo dizer que
vezes ovildada é o contraditório, cf. se não há processo pois há previsão
observa do art. 721: expressa de contraditório.
“Art. 721. Serão citados todos os
interessados, bem como intimado o
Além disso, todos os requisitos
Ministério Público, nos casos do art. 178, para se caracterizar uma ação estão
para que se manifestem, querendo, no presentes.
prazo de 15 (quinze) dias.” Quanto as partes, podem mesmo
O melhor exemplo é o caso da não ser conflitantes, mas são partes no
ação de retificação de área de um processo, não havendo nenhuma razão
imóvel, que exige a participação de para não caracterizá-las como tal.
todos os confrontantes. Sobre a coisa julgada, dizer que
Perceba-se que o MP não mais não existe também não tem nenhum
intervêm em qualquer ação da fundamento dogmático a essa
jurisdição voluntária do quanto disposto afirmação. Ex.1: não é possível que, se
no art. 721 e sua referência ao 178. uma ação de mudança de nome for
Além disso, a ação de jurisdição julgada improcedente, o autor renove
voluntária é resolvida pro sentença, da quantas vezes quiser o pedido; ex.2:
qual cabe apelação. num contrato a execução pode sofrer
São vários procedimentos qualquer tipo de defesa mas, se ele
especiais de jurisdição voluntária, ao houver antes sido homologado
par de um procedimento comum judicialmente, restringem-se suas
previsto nos artigos 719 a 725. matérias de defesa porque houve coisa
Aqui acabam as opiniões comuns julgada.
sobre a jurisdição voluntária e começam
as divergências. *****
A primeira é sobre a concepção de
que a jurisdição voluntária é a COMPETÊNCIA
administração pública de interesses
privados. E essa convicção parece ser 1. Conceito
muito forte. Partem do pressuposto de É a quantidade de poder atribuída
que, para haver jurisdição, deve existir a determinado órgão.
lide, daí jurisdição voluntária não sê-lo. Competência legislativa,
Além disso, porque não há lide, competência administrativa,
não se pode falar em partes, nem em competência jurisdicional. Todas essas

28
expressões demonstram a validade do local mais adequado para julgar aquele
conceito “quantidade de poder atribuída tipo de demanda.
a determinado órgão.” Assim, Tradicionalmente, entende-se que
competência é tema de teoria geral do competência adequada é simplesmente
Direito. aquela que consta da norma. Isso é
insuficiente e, por vezes, a lei permite
2. Normas fundamentais da que vários juízos sejam competentes,
competência como na ação coletiva por algum direito
i) juiz natural – visto acima; com repercussão nacional, que pode ser
ii) princípio da tipicidade da proposta em qualquer capital, se seria
competência – as competências devem justo propô-la em uma capital com
estar tipicamente previstas em lei. repercussão ínfima.
Trata-se de princípio super importante Discussões como essas levaram à
em Estado de Direito, posto que as conclusão, com aplicação do devido
autoridades devem exercer seu poder de processo legal, que seja necessário se
acordo com sua competência. atender a esse critério da competência
A primeira reflexão que se extrai adequada.
é a da existência de competências
implícitas. Ao atribuir uma determinada v) regra da competência-
competência, o legislador faz carregar competência – kompetenzkompetenz.
algumas competências implícitas sem as Essa regra significa que todo juiz tem
quais a expressa não poderia ser competência para examinar sua própria
exercida. competência. Por mais incompetente
Quando a C. diz que cabe ao que o juízo seja, ele terá competência
Supremo julgar determinadas causas, para examinar sua própria competência.
está implícito que quem vai julgar os Forum shopping ou forum nom
embargos de declaração sobre esses conviniens. A possibilidade de mais de
julgamentos, pois a competência para um juiz competente, gera a situação de
julgar carrega consigo a competência foros concorrentes. Nesses casos, pode
para esclarecer. o autor escolher um dos foros para
Também do princípio da processar a causa. No forum shopping o
tipicidade pode-se extrair uma regra autor pode escolher onde irá demandar,
fundamental da tipicidade, que é a regra e isso não é ilícito. Como qualquer
de inexistência de vácuo de direito, esse direito dado ao autor pode
competência. ser exercido de maneira abusiva,
Não pode haver uma situação em escolhendo um foro que não lhe trás
que não haja juízo competente. qualquer benefício e, ou prejudica o réu
ou não tem qualquer ligação com a
iii) princípio da indisponibilidade causa e, pelos princípios da boa-fé e da
da competência – um órgão não pode competência adequada podem, nesse
transferir a competência para outro, ou caso, servir para balizar o forum
se negar a julgar. A lei pode autorizar shopping que, repise-se, não é abuso em
uma modificação da competência tese. O abuso do forum shopping fez
surgir uma teoria para o combater, que a
Material de Apoio _ Direito Processual teoria do forum nom conveniens (que
Civil_ Fredie Didier_ Aula 06.pdf surgiu na Escócia), segundo a qual pode
iv) princípio da competência o juiz rejeitar a escolha do foro sob o
adequada – a Lei, quando define uma argumento de que aquele não é o
competência, deve pensar sobre qual o adequado. Essa teoria se desenvolveu
bastante no plano internacional, e a

29
possibilidade de abuso é também bem causa se fixou no primeiro momento
presente. não será mais modificado pelas
vicissitudes processuais supervenientes.
3. Distribuição da competência As exceções a essa regra, previstas no
O primeiro momento advém da próprio art. 43 são:
própria CRFB, que prevê as cinco i) supressão do órgão judiciário;
Justiças brasileiras: Federal, do ii) alteração da competência
Trabalho, Militar, Eleitoral e do absoluta.
Estados. Vale observar que a modificação
Como a competência é em grande superveniente da razão da competência
parte estabelecida na C., sua discussão absoluta sempre repercute na
acaba sendo em boa parte competência. Contudo, é necessário que
constitucionais. Alguns autores o caso ainda não tenha sido julgado,
chegavam a dizer que quando faltasse posto que se já o foi não haverá a
competência no plano constitucional a modificação da competência. Isso se
um juiz, ele na verdade seria um não constatou após a EC 45/2004, quando
juiz. Mas isso se trata de uma discussão várias causas que tramitavam na Justiça
ultrapassada, o que faria da eventual Estadual foram para competência da
sentença um ato inexistente. Justiça do Trabalho, resultando na
Contudo, a distribuição da edição da STJ 367 (“A competência
competência continua nas leis federais, estabelecida pela Emenda Const.
bem como nas C. estaduais, e o 45/2004 não alcança os processos já
regimento interno do tribunal (toda sentenciados.”). Contudo, há uma
competência que chega a um tribunal é exceção, relativa às causas que tratam
distribuída internamente no tribunal por de interesse de menor, em que segundo
seu regimento). o STJ a proteção desse hipossuficiente
Além disso, ainda é possível a força a quebra da perpetuação numa
distribuição por uma cláusula questão de competência relativa (CC
contratual, em que as partes escolhem 114782).
onde a causa irá tramitar.
4. Fixação ou determinação da 5. Classificação da competência
competência i) competência originária e
Quando uma determinada causa é derivada. A competência originária
ajuizada, é preciso saber quem é o significa que a causa será conhecida e
competente para examinar aquela causa. julgada primeiramente naquele órgão. A
Outra coisa é saber quem deve julgá-la derivada decorre do conhecimento da
em tese. Isto é, aqui cabe estudar em causa em grau de recurso. Geralmente a
qual momento a competência para competência originária é dos juízes, mas
julgar determinada causa é fixada. em alguns casos o próprio tribunal é
“Art. 43. Determina-se a competente originariamente, como nas
competência no momento do registro ou ações rescisórias e no controle
da distribuição da petição inicial, sendo
irrelevantes as modificações do estado de
concentrado de constitucionalidade. Em
fato ou de direito ocorridas alguns casos, mais raros, quando o juiz
posteriormente, salvo quando tem que julgar os embargos de
suprimirem órgão judiciário ou alterarem declaração contra a sua decisão, há
a competência absoluta.” competência derivada do juiz singular.
Quando é vara única não há
necessidade de se distribuir. ii) competência absoluta e
Este art. 43 representa a competência relativa – a competência
perpetuação da jurisdição, que é o absoluta é dada por uma regra que não
fenômeno pelo qual o juízo em que a
30
diz respeito ao interesse que não o das 1) a rescisória só pode ser
partes em conflito, e possui um proposta contra a decisão por
regramento mais rigoroso. Nos casos incompetência absoluta;
em que a regra é criada para atender ao 2) somente a incompetência
interesse das partes decorre uma regra absoluta pode ser reconhecida de ofício;
de competência relativa. 3) a incompetência relativa só
O CPC/2015 criou um sistema pode ser alegada pelo réu;
bem diferente ao anterior. No atual há 4) somente a competência
bem mais aproximações entre as duas relativa pode ser objeto de foro de
espécies de competência (absoluta e eleição;
relativa). 5) somente a competência relativa
Esse conjunto de normas comuns pode ser modificada por conexão ou
é chamado de sistema da translatio continência.
iudicii. Consiste num conjunto de regras 6) a incompetência absoluta pode
que buscam preservar os efeitos de um ser alegada durante todo o processo,
processo que foi conduzido por um juiz mas a relativa apenas até o prazo de
incompetente, de forma que a resposta.
incompetência cause a menor Foro de eleição. No foro de
quantidade de inconvenientes possível. eleição, as partes de um negócio
Assim, a incompetência, qualquer decidem que eventual ação relativa
que seja, não gera extinção do processo, aquele negócio deverá processar-se em
mas a simples remessa dos autos ao determinada comarca.
juízo competente. Só gera a extinção d O Código inova ao prever a
processo em duas situações: 1) nos possibilidade de foro de eleição
Juizados Especiais (opção legislativa); internacional:
2) nos casos de incompetência “Art. 25. Não compete à
internacional, em que o juiz entende que autoridade judiciária brasileira o
processamento e o julgamento da ação
a causa não deve tramitar no Brasil. quando houver cláusula de eleição de
A segunda regra é que o juiz deve foro exclusivo estrangeiro em contrato
decidir imediatamente a alegação de internacional, arguida pelo réu na
incompetência, para se evitar que o contestação.
processo tramite, com a produção de § 1º Não se aplica o disposto no
caput às hipóteses de competência
muitos atos, para depois cair na vala da internacional exclusiva previstas neste
incompetência. Capítulo. [prevista no art. 23]
Como novidade do CPC/2015, § 2º Aplica-se à hipótese do caput
reconhecida a incompetência, os autos o art. 63, §§ 1º a 4º.”
são remetidos ao juiz competente, sem “Art. 23. Compete à autoridade
judiciária brasileira, com exclusão de
invalidação dos atos praticados pelo qualquer outra:
incompetente, cabendo ao novo juízo I - conhecer de ações relativas a
verificar se mantém ou não as decisões imóveis situados no Brasil;
já emitidas naqueles autos. II - em matéria de sucessão
No art. 240, o CPC dispõe que os hereditária, proceder à confirmação de
testamento particular e ao inventário e à
efeitos da citação são produzidos
partilha de bens situados no Brasil, ainda
mesmo se o juízo que a determinou seja que o autor da herança seja de
incompetente. nacionalidade estrangeira ou tenha
Também a incompetência domicílio fora do território nacional;
absoluta ou relativa pode ser alegada III - em divórcio, separação
judicial ou dissolução de união estável,
pelo réu na contestação e, além disso,
proceder à partilha de bens situados no
ele pode realizá-la em seu domicílio. Brasil, ainda que o titular seja de
Observações:

31
nacionalidade estrangeira ou tenha (valor da causa). O melhor exemplo é a
domicílio fora do território nacional.” competência do JECív;
O foro de eleição está previsto no c) competência em relação à
CPC, 63: pessoa – são os casos em que a presença
“Art. 63. As partes podem
modificar a competência em razão do
de determinada pessoa em juízo
valor e do território, elegendo foro onde repercute na distribuição. Esse
será proposta ação oriunda de direitos e subcritério leva em consideração o
obrigações. terceiro elemento da ação, que são as
§ 1º A eleição de foro só produz partes. A presença de um ente federal
efeito quando constar de instrumento
escrito e aludir expressamente a
pode determinar a competência da
determinado negócio jurídico. Justiça Federal. Outro é o caso da vara
§ 2º O foro contratual obriga os da Fazenda Pública.
herdeiros e sucessores das partes. Atenção: STJ, 206 – “A existência
§ 3º Antes da citação, a cláusula de vara privativa, instituída por lei
de eleição de foro, se abusiva, pode ser
reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que
estadual, não altera a competência
determinará a remessa dos autos ao juízo territorial resultante das leis de
do foro de domicílio do réu. [fica de processo”. Esta súmula se aplica à
qualquer forma submetido à proibição da tentativa da Fazenda Pública em
decisão surpresa, devendo ouvir o autor deslocar para a capital todas as ações
cf. art. 10 do CPC]
propostas no interior nas comarcas que
§ 4º Citado, incumbe ao réu
alegar a abusividade da cláusula de não possuíam vara da fazenda Pública
eleição de foro na contestação, sob pena Estadual.
de preclusão.” ii) critério funcional – desde o
Assim, as partes modificam a recebimento até a execução são
competência pelo negócio jurídico ou exercidas várias funções dentro do
pelo fato de o réu não alegar a mesmo processo: citação, instrução,
incompetência relativa no momento recursos, execução, tutelas de urgência
adequado. etc. A competência funcional é a
distribuição de funções dentro do
6. Critérios para distribuição da mesmo processo a órgãos da Justiça. A
competência competência funcional é absoluta. Ela
São três, que não concorrem entre pode ser analisada em perspectiva:
si, mas convivem. Em toda causa é a) vertical – distribuição das
possível vislumbrar os três: funções entre as instâncias;
i) critério objetivo – leva em b) horizontal – distribuição das
consideração a demanda como fator de funções na mesma instância. Ex.: num
definição da competência. Como a Tribunal, somente o Pleno ou órgão
demanda possui três elementos (partes, especial pode dizer que uma lei é
causa de pedir e pedido), que inconstitucional; no Processo Penal, o
correspondem exatamente a cada um juiz pronuncia, o Júri condena, e o juiz
dos elementos da demanda: dosa a pena.
a) competência em razão da iii) critério territorial – é preciso
matéria – o legislador leva em saber em que foro (território) a causa irá
consideração a relação jurídica discutida tramitar. Em regra, a competência
(causa de pedir). Trata-se de uma territorial é relativa, mas há casos em
competência absoluta, e por isso ela que ela é absoluta. São eles: nas causas
quebra a perpetuação da jurisdição; coletivas, o foro do lugar onde
b) competência pelo valor da aconteceu ou vai acontecer o dano
cauas – é fixada tendo em vista o pedido (LACP – L7347/85, 2º; ECA, 209, EI,
80); forum rei sitae

32
“Art. 2º As ações previstas nesta demandados no foro de qualquer deles, à
Lei serão propostas no foro do local onde escolha do autor.
ocorrer o dano, cujo juízo terá § 5º A execução fiscal será
competência funcional para processar e proposta no foro de domicílio do réu, no
julgar a causa.” de sua residência ou no do lugar onde for
“Art. 209. As ações previstas encontrado.”
neste Capítulo serão propostas no foro do A segunda regra geral é aquela
local onde ocorreu ou deva ocorrer a prevista no art. 47:
ação ou omissão, cujo juízo terá “Art. 47. Para as ações fundadas
competência absoluta [territorial] para em direito real sobre imóveis é
processar a causa, ressalvadas a competente o foro de situação da coisa.
competência da Justiça Federal e a § 1º O autor pode optar pelo foro
competência originária dos tribunais de domicílio do réu ou pelo foro de
superiores.” eleição se o litígio não recair sobre
“Art. 80. As ações previstas neste direito de propriedade, vizinhança,
Capítulo serão propostas no foro do servidão, divisão e demarcação de terras
domicílio do idoso, cujo juízo terá e de nunciação de obra nova [nesses
competência absoluta [territorial] para casos não há opção, pois estamos diante
processar a causa, ressalvadas as de competência absoluta. Exemplos: no
competências da Justiça Federal e a usufruto, na pode ser escolhido o foro].
competência originária dos Tribunais § 2º A ação possessória
Superiores.” “imobiliária” será proposta no foro de
*Nota sobre a diferença de datas entre situação da coisa, cujo juízo tem
esses diplomas. Em 1985 a doutrina não competência absoluta.”
tinha tanta clareza ao identificar Terceira regra de competência
competência territorial absoluta. relativa, prevista no art. 48:
Quando se deparava com esses casos, “Art. 48. O foro de domicílio do
ela a chamava de funcional, porque era autor da herança, no Brasil, é o
competente para o inventário, a partilha,
absoluta. É o caso do quanto previsto no a arrecadação, o cumprimento de
art. 2º da LACP que colocou a disposições de última vontade, a
competência como funcional, quando na impugnação ou anulação de partilha
verdade é territorial absoluta. extrajudicial e para todas as ações em
A regra geral de fixação da que o espólio for réu, ainda que o óbito
tenha ocorrido no estrangeiro.
competência territorial é que as ações Parágrafo único. Se o autor da
pessoais e as reais mobiliárias, serão herança não possuía domicílio certo, é
propostas no domicílio do réu (art. 46). competente:
I - o foro de situação dos bens
“Art. 46. A ação fundada em imóveis;
direito pessoal ou em direito real sobre II - havendo bens imóveis em
bens móveis será proposta, em regra, no foros diferentes, qualquer destes;
foro de domicílio do réu. III - não havendo bens imóveis, o
§ 1º Tendo mais de um domicílio, foro do local de qualquer dos bens do
o réu será demandado no foro de espólio.”
qualquer deles. Ainda na competência territorial:
§ 2º Sendo incerto ou “Art. 52. É competente o foro de
desconhecido o domicílio do réu, ele domicílio do réu para as causas em que
poderá ser demandado onde for seja autor Estado ou o Distrito Federal.
encontrado ou no foro de domicílio do Parágrafo único. Se Estado ou o
autor. Distrito Federal for o demandado, a ação
§ 3º Quando o réu não tiver poderá ser proposta no foro de domicílio
domicílio ou residência no Brasil, a ação do autor, no de ocorrência do ato ou fato
será proposta no foro de domicílio do que originou a demanda, no de situação
autor, e, se este também residir fora do da coisa ou na capital do respectivo ente
Brasil, a ação será proposta em qualquer federado.”
foro. Esta norma replicou o quanto
§ 4º Havendo 2 (dois) ou mais previsto na CRFB para a União para os
réus com diferentes domicílios, serão
Estados e o DF.
33
Também o art. 53 trata de trata de caso de cabimento do agravo de
competência territorial: instrumento (Didier).
“Art. 53. É competente o foro: O agravo de instrumento cabe em
I - para a ação de divórcio, situações típicas (art. 1.015) e, no
separação, anulação de casamento e
reconhecimento ou dissolução de união
dispositivo, não há previsão da decisão
estável: de incompetência. As hipóteses de
a) de domicílio do guardião de agravo de instrumento são taxativas,
filho incapaz; mas podem ser interpretadas por
b) do último domicílio do casal, analogia, e uma das hipóteses é aquela
caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se
que rejeita a convenção de arbitragem.
nenhuma das partes residir no antigo Essa hipótese permite interpretação
domicílio do casal; analógica, porque decidir sobre
II - de domicílio ou residência do convenção de arbitragem é também
alimentando, para a ação em que se decidir sobre competência.
pedem alimentos;
III - do lugar:
a) onde está a sede, para a ação
em que for ré pessoa jurídica; Primeiramente incumbe ressaltar
b) onde se acha agência ou que, tudo o indica, a fundamentação da
sucursal, quanto às obrigações que a sentença, ao final, estabeleceu uma
pessoa jurídica contraiu;
assertiva não tão precisa: “Desse modo,
c) onde exerce suas atividades,
para a ação em que for ré sociedade ou considerando que esta ação foi
associação sem personalidade jurídica; protocolada no dia 25/01/2013, ou seja,
d) onde a obrigação deve ser 10 (dez) anos, 24 (vinte e quatro) dias
satisfeita, para a ação em que se lhe depois da expropriação...”
exigir o cumprimento;
Perceba-se que antes na
e) de residência do idoso, para a
causa que verse sobre direito previsto no fundamentação consta a afirmação de
respectivo estatuto; que a expropriação ocorreu com a
f) da sede da serventia notarial ou vigência da Lei Municipal n. 1623 de
de registro, para a ação de reparação de 13-6-1997. Nesse sentido, se contarmos
dano por ato praticado em razão do o prazo de 13-6-1997 à data do
ofício;
IV - do lugar do ato ou fato para a protocolo da ação, 25-1-2013, vamos
ação: contar ou pouco mais do que os
a) de reparação de dano afirmados 10 anos e 24 dias.
[extracontratual]; Apenas a título de argumentação,
b) em que for réu administrador por outro lado, se foi a intenção levar
ou gestor de negócios alheios;
V - de domicílio do autor “ou” do em conta a data de entrada em vigor do
local do fato, para a ação de reparação de Código Civil de 2002, i. é, 11-1-2003, a
dano sofrido em razão de delito [ex afirmada prescrição teria ocorrido em
delicto] ou acidente de veículos, 11-1-2013, i. é, 10 (dez) anos e 14
inclusive aeronaves.” (quatorze) dias depois da alegada data
Por fim, o consumidor pode da expropriação.
propor em seu domicílio a ação contra o O autor apelante entende que a
fornecedor. rerago do art. 1228, § é inaplicável por
vários motivos.
7. Recorribilidade da decisão do juiz Primeiramente, a aplicação da
sobre competência regra tornaria todos os prazos reduzidos,
Trata-se de um problema sério do em qualquer desapropriação indireta
CPC/2015. A primeira interpretação, realizada no Brasil. Além de ser fato
literal, diz que essa decisão só pode ser notório que a grande maioria das
impugnada quando se apelar da desapropriações se vale dessa brecha
sentença. A segunda entende que se
34
para não realizar nenhum depósito obras de caráter produtivo, beira a
prévio – ou quando fazem, são valores desfaçatez.
irrisórios – , é evidente que só Mais, o do que se pode observar
declaração da utilidade pública, em do quanto afirmado pelo oficial
abstrato, teria esse condão de fazer avaliador, não se constatou qualquer
supor os requisitos legais do art. 1238, § construção no local. Por favor, vejam o
1º do Código Civil. que o mesmo relatou em sua vistoria de
Mais ainda, deve-se reconhecer avaliação! Esse ponto é crucial para o
que nesse caso de desapropriação deslinde da presente causa.
indireta, seria uma injustiça tremenda Ademais, em nenhum momento, o
aplicar a redução prazo. Ora, sabemos autor concordou, fazendo-se confesso,
que o expropriado não tem ação sobre qualquer data referente ao início
possessória contra o Poder Público! da contagem original do prazo
Assim, como exigir dele qualquer prescricional. Ao contrário, como se
atitude solerte para evitar que a posse se pode observar de sua impugnação,
torne, logo, domínio? A única ação que discordou expressamente da afirmação
ele possui é ressarcitória. Assim, esse da Fazenda Pública Municipal segundo
redutor legal de 5 anos (de 15 para 10 a qual a posse deveria ser contada da
anos) não pode ser aplicado, já que o data da Lei. Isso porque, como se sabe,
STJ equiparou tal ação a uma ação de só pode haver imissão na posse com o
usucapião, usucapião este que não pode depósito do valor arbitrado. Essa seria
ser interrompido por uma possessória. uma primeira data plausível. A segunda
Se não pode interromper esse prazo de data seria a do esbulho.
15 anos a que se chegou por um
exercício de equiparação. Nesse sentido, Material de Apoio _ Direito Processual
o prazo de 15 anos adquire um status Civil_ Fredie Didier_ Aula 01 (II).pdf
próprio.
O segundo ponto que queremos 7. Conexão e continência
ressaltar no âmbito da presente Premissa. Imagine-se duas causas
insurgência é que a respeitável decisão pendentes. Se forem iguais, ocorre a
vergastada toma abstratamente uma litispendência (pendência de dois
alegação feita pelo Município réu como processos com idêntico conteúdo). Se
fato notório, que não está sujeito a forem causas absolutamente diferentes,
prova em contrário. Esse raciocínio não ocorre um fenômeno absolutamente
pode ser validado, posto que se o irrelevante para o direito. São dois
Município quisesse provar esse fato em extremos.
seu favor, com o benefício da redução Entre esses dois extremos ocorre
do prazo, deveria tê-lo feito por prova um fenômeno intermediário, em que
idônea, do que não se desincumbuiu, duas causas são distintas, mas guardam
ocorrendo preclusão. O juízo não pode entre si algum vínculo de semelhança,
se substituir a parte não hipossuficiente algum nexo. Nesses casos temos o que
nesse caso. se chama de conexão ou continência.
Ao contrário também do que se Elas são espécies de relação de
poderia presumir do que expressamente semelhança entre causas pendentes que
constante da Lei municipal, não é o se assemelham.
próprio município que realiza no local
sua função social, mas o empresário que 7.1. Conexão
seja agraciado com o terreno para ali Quando o legislador diz que há
montar sua planta industrial. Desse conexão entre duas causas, ele
modo, o Município alegar que realizou reconhece que são semelhantes, e dá

35
relevância a esse fenômeno, fazendo pois separa a conexão (fato) da reunião
que então se produza alguns efeitos. dos processos (efeito).
Reconhecida a conexão, é preciso A conexão é um fato que pode ser
verificar se esse fato produz efeitos. A alegado por quem? Pelo autor ou pelo
regra geral, seu efeito básico, as causas réu. O autor já costuma fazer isso na
serão reunidas num mesmo juízo para petição inicial, quando já pede para
processamento e julgamento encaminha-la para aquele juízo,
simultâneos. Nesse caso, haverá o solicitando a distribuição por
fenômeno da modificação da dependência. O réu também pode alegar
competência. Um juízo perde e outro conexão, pedindo que seja a causa
ganha a competência para julgar aquela remetida para outro juízo.
causa. O juiz também pode reconhecer a
O legislador dá essa relevância e conexão ex offício e remeter o processo.
assim regulamenta sobre a conexão por Assim, qualquer sujeito do
dois motivos: 1) economia processual processo pode requer ou determinar a
(economia de trabalho); 2) impedir a reunião dos processos pela conexão.
prolação de decisões contraditórias (as
causas no mesmo juízo gera decisões 7.1.1. Casos de conexão
congruentes). O CPC/2015 resolveu um
Contudo a conexão só gera a problema histórico, prevendo três
reunião dos processos se essa hipóteses de conexão. O código anterior
modificação da competência se esta for previa apenas uma hipótese o que
relativa. É preciso que os dois juízos gerava muitas discussões.
tenham a mesma competência absoluta. “Art. 55. Reputam-se conexas 2
Aqui surge um problema: se houver (duas) ou mais ações quando lhes for
comum o pedido ou a causa de pedir.
conexão (vinculo que liga as causas) § 1º Os processos de ações
mas, divergência na competência conexas serão reunidos para decisão
absoluta, não gera-se a reunião de conjunta, salvo se um deles já houver
processos. É possível haver conexão sido sentenciado.”
sem que haja reunião. Conexão é o fato; Esse art. 55, caput possui a
reunião é o efeito dela. O efeito pode hipótese geral é a conexão pela
não se verificar. identidade objetiva. Essa é a que já
Nesse caso, temos o efeito existia no CPC anterior.
excepcional da conexão. Quando há “§ 2º Aplica-se o disposto no
caput:
conexão sem reunião, um dos processos I - à execução de título
será suspenso para aguardar a decisão extrajudicial e à ação de conhecimento
do outro, também para que não haja relativa ao mesmo ato jurídico;
desarmonia. II - às execuções fundadas no
Assim, esses são os dois efeitos da mesmo título executivo.”
conexão: reunião dos processos ou Esse § 2º resolveu grave problema
suspensão de um deles. do sistema anterior.
“§ 3o Serão reunidos para
Exemplos: ações conexas, sendo julgamento conjunto os processos que
uma na vara cível e outra tramitando na possam gerar risco de prolação de
vara de família. Também, uma causa decisões conflitantes ou contraditórias
que esteja em primeira instância e outra caso decididos separadamente, mesmo
que esteja tramitando na segunda. sem conexão entre eles.”
Cf. STJ, 235: “A conexão não Esse § 3º é uma hipótese de
determina a reunião dos processos, se conexão por prejudicialidade, que vai
um deles já foi julgado.” Como se além da regra geral prevista no caput.
percebe, é uma súmula bem redigida, Exemplo: investigação de paternidade
em um juizo e ação de alimentos em
36
outro. Assim, a prejudicialidade entre torno da competência para julgar um ou
causas gera conexão. mais processos.
Podemos ter um conflito positivo,
7.2. Continência em que os juízos disputam a
A continência é uma modalidade competência para julgar a causa, ou
especial de conexão, que leva um negativo, quando o debate é sobre a
regramento diferenciado. incompetência deles.
“Art. 56. Dá-se a continência O conflito pode ser para julgar
entre 2 (duas) ou mais ações quando uma ou mais de uma causa.
houver identidade quanto às partes e à
causa de pedir, mas o pedido de uma,
Além disso, o conflito pode ser
por ser mais amplo, abrange o das entre juízes; entre um juiz e um
demais.” tribunal; ou entre tribunais.
Exemplo: numa ação se pretende No caso de conflito é preciso
anulação de cláusula de contrato, e em instaurar um incidente para definir qual
outra ação se quer anular o contrato será o juízo competente. Esse incidente
inteiro. Veja: os pedidos são diferentes, pode ser provocado por qualquer dos
mas um contem o outro. juízos conflitante, das partes ou pelo
“Art. 57. Quando houver Ministério Público.
continência e a ação continente tiver sido Cuidado: no CPC anterior, o MP
proposta anteriormente, no processo
relativo à ação contida será proferida
interviria em qualquer conflito de
sentença sem resolução de mérito, caso competência. No novo, apenas intervirá
contrário, as ações serão apenas se o conflito de competência for
necessariamente reunidas.” suscitado numa das causas em que já
Quando a ação maior vem antes, a intervêm.
menor deve ser extinta sem julgamento Não se pode falar em conflito se
do mérito. Caso contrário, deve haver entre os conflitantes houver diferença
reunião de processos. A continência hierárquica, i. é, um juiz não pode
pode gerar extinção ou reunião dos conflitar com o próprio Tribunal. Da
processos. mesma forma, um TJ ou TRF não pode
conflitar com o STJ. Nenhum tribunal
O juízo, onde as causas serão do País pode conflitar com o STF, que
reunidas, é chamada de juízo prevento. está acima de todos. Nesses casos vai
A prevenção é o critério para definir prevalecer o que o órgão imediatamente
onde as causas haverão de ser reunidas. superior decidir.
“Art. 58. A reunião das ações A quem compete decidir o
propostas em separado far-se-á no juízo
prevento, onde serão decididas
conflito de competência? No Processo
simultaneamente. Civil, o conflito de competência é
Art. 59. O registro ou a sempre resolvido por um tribunal. Para
distribuição da petição inicial torna estudar par concurso, o candidato deve
prevento o juízo.” estudar a competência do STF, do TRF
Ou seja, onde primeiro a petição e do TJ, pois a competência do STJ é
foi registrada ou distribuída, é o juízo imensa e, sabendo-se as demais, ela
prevento. Trata-se de uma grande seria a que sobra nos casos em que num
novidade, pois se trata de um critério dos três primeiros não estiver.
único de prevenção, além de simples: Se houver tribunal superior no
registro ou distribuição. conflito, o STF é quem julgará o
conflito.
8. Conflito de competência Conflito entre juízes vão para o
Ocorre conflito de competência TJ e TRF, desde que estejam sob a
quando dois ou mais juízos discutem em hierarquia do mesmo tribunal. Conflito

37
entre juízes vinculados a tribunais
diversos é competência do STJ. VII - os habeas corpus, em
matéria criminal de sua competência ou
Obs.: STJ, 428: “Compete ao quando o constrangimento provier de
Tribunal Regional Federal decidir os autoridade cujos atos não estejam
conflitos de competência entre juizado diretamente sujeitos a outra jurisdição;
especial federal e juízo federal da VIII - os mandados de
mesma seção judiciária.”. segurança e os habeas data contra ato
de autoridade federal, excetuados os
Pegadinha de concurso: atenção! casos de competência dos tribunais
Bahia e Piauí são Estados que fazem federais;
parte do TRF1 (ou seja, não existe IX - omissis;
correspondência entre as regiões X - os crimes de ingresso ou
geógráficas do Brasil e as sessões permanência irregular de estrangeiro, a
execução de carta rogatória, após o
judiciárias dos TRF). "exequatur", e de sentença estrangeira,
após a homologação, as causas referentes
9. Competência da Justiça Federal à nacionalidade, inclusive a respectiva
Art. 108 cuida da competência do opção, e à naturalização;
TRF; o art. 109 trata da competência do XI - a disputa sobre direitos
indígenas.”
Juiz federal.
Além disso, há a competência do
9.1. Competência cível dos juízes juiz estadual investido de competência
federais (art. 109) federal, em que os recursos serão
i) em razão da pessoa – incisos I, dirigidos ao respectivo TRF:
“Art. 109.
II e VIII (...)
ii) em razão da matéria – incisos § 3º Serão processadas e julgadas
III, V-A, X e XI; na justiça estadual, no foro do domicílio
iii) funcional – inc. X. dos segurados ou beneficiários, as causas
“Art. 109. Aos juízes federais em que forem parte instituição de
compete processar e julgar: previdência social e segurado, sempre
I - as causas em que a União, que a comarca não seja sede de vara do
entidade autárquica ou empresa juízo federal, e, se verificada essa
pública federal forem interessadas na condição, a lei poderá permitir que
condição de autoras, rés, assistentes ou outras causas sejam também
oponentes, exceto as de falência, as de processadas e julgadas pela justiça
acidentes de trabalho e as sujeitas à estadual.”
Justiça Eleitoral e à Justiça do Ou seja, é preciso que 1) não haja
Trabalho; sede de juízo federal naquela comarca; e
II - as causas entre Estado 2) a existência de Lei que permita que a
estrangeiro ou organismo
ação de competência a Justiça federal
internacional e Município ou pessoa
domiciliada ou residente no País; tramite na Justiça Estadual. Exemplo:
III - as causas fundadas em causas contra o INSS, quando o
tratado ou contrato da União com Estado segurado da previdência tenha domicílio
estrangeiro ou organismo internacional; em cidade onde não há vara federal
IV - omissis; (perceba que essa autorização já consta
V - omissis;
V-A as causas relativas a direitos da própria CRFB); outro exemplo é a
humanos a que se refere o § 5º deste produção antecipada de prova contra
artigo;(Incluído pela Emenda ente federal; usucapião rural quando o
Constitucional nº 45, de 2004) ente fizer parte da ação, quando fica na
comarca de situação do imóvel mesmo
VI - os crimes contra a
organização do trabalho e, nos casos que não haja vara federal; juiz estadual
determinados por lei, contra o sistema cumprindo carta precatória federal.
financeiro e a ordem econômico- Observações:
financeira;

38
1) causas contra o INSS, sejam tramitar (MP não se confunde com o
elas previdenciárias ou assistenciais, ente público).
podem ser demandas na Justiça 4) Se um processo esteja
estadual; tramitando na Justiça estadual e a União
2) execução fiscal federal é peça para intervir no mesmo. Três
sempre na Justiça Federal (que antes era enunciados de súmula do STJ tratam
um exemplo dessa possibilidade, mas desse tema:
com recente alteração legislativa não STJ, 150: “Compete à Justiça
tramita mais); Federal decidir sobre a existência de
3) ação civil pública federal será interesse jurídico que justifique a
sempre na Justiça Federal (se no local presença, no processo, da União, suas
do dano não houver vara federal, vai autarquias ou empresas públicas.”
para aquela mais próxima); STJ, 224: “Excluído do feito o
4) se sobrevier a criação de uma ente federal, cuja presença levara o
Vara Federal na cidade, as causas todas Juiz Estadual a declinar da
que tramitavam na Justiça estadual competência, deve o Juiz Federal
deverão ser redistribuídas para ela (fato restituir os autos e não suscitar
superveniente que modifica a conflito.”
competência absoluta). STJ, 254: “A decisão do Juízo
Federal que exclui da relação
9.1.1. Competência dos juízes federais processual ente federal não pode ser
em razão da pessoa reexaminada no Juízo Estadual.”
i) art. 109, I – “as causas em que A causa não vai para a JF em
a União, entidade autárquica ou quatro situações previstas neste inc. I,
empresa pública federal forem mesmo que delas faça parte um ente
interessadas na condição de autoras, federal: causas eleitorais, trabalhistas,
rés, assistentes ou oponentes, exceto as falência – também a recuperação
de falência, as de acidentes de trabalho judicial e a insolvência civil estão aqui
e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à incluídas, todos casos de competência
Justiça do Trabalho”. Observações: da Justiça Estadual – e as ações de
1) entidade autárquica é uma acidente do trabalho.
designação genérica que abrange as Quando ocorre um acidente de
autarquias, fundações, agências trabalho, a vítima tem direito a uma
reguladoras e conselhos de fiscalização indenização, competência da JT, e a um
profissional; benefício previdenciário (ação
2) além disso, o inciso I refere-se acidentária previdenciária), de
apenas a empresa pública federal (ex. competência da Justiça Estadual,
dos Correios), mas não a sociedade de mesmo sendo contra ao INSS
economia mista! (justamente porque a C. excepcionou,
3) atenção! O MPF não está apesar de não fazer qualquer sentido).
mencionado no inciso I. A presença do Acidentes de outra natureza
MPF faz com que a causa seja da também geram direito a indenização e
competência da JF? Segundo a direito a benefício previdenciário. A
jurisprudência, a presença do MPF primeira será proposta contra o
equivale à presença da União. Didier causador do acidente, caso em que a
discorda dessa orientação ação pode ser proposta na JE ou na JF.
jurisprudencial, que entende que o MPf No segundo caso, a ação previdenciária,
pode atuar em qualquer justiça e apenas contra o INSS, será da competência da
se a causa em que o órgão atua seja de Justiça Federal (pois a C. apenas
competência da JF é que nela deve excepcionou o acidente do trabalho).

39
A ação de revisão do benefício 9.1.2. em razão da matéria
também segue as regras: se for i) art. 109, III – “as causas
acidentária trabalhista, será da fundadas em tratado ou contrato da
competência da JE; se for decorrente de União com Estado estrangeiro ou
qualquer outro acidente, da competência organismo internacional;”
da JF. Observações:
1) neste inciso, há competência da
ii) art. 109, II – “as causas entre Justiça Federal pela matéria discutida, e
Estado estrangeiro ou organismo não pela parte;
internacional e Município ou pessoa 2) trata-se de um inciso muito
domiciliada ou residente no País”. raro, pois a jurisprudência lhe
Perceba-se que nesse caso não há emprestou uma interpretação que
nenhum ente federal. praticamente o aniquilou: ele só se
Os recursos nessas ações vão para aplica se o fundamento da causa for
o STJ (o TRF não funciona como unicamente tratado internacional. Se o
segunda instância nesses casos). pedido puder também ser respaldado em
No Direito Internacional sabemos direito interno, a competência não será
que um Estado não pode julgar outro, mais da JF. Por isso, mesmo que o
pelo princípio da imunidade de pedido se fundamente exclusivamente
jurisdição. Como conciliar esse na convenção de Varsóvia, a
princípio com uma previsão competência será da JE, pois o pedido
constitucional como essa? Na verdade, também se baseia no CDC, que é
o Estado estrangeiro é imune à legislação interna.
jurisdição quando ele estiver atuando na Exemplos de causas que se
condição de ente soberano, mas se encaixam nesse inciso: causas de
estiver atuando como particular (ex.: alimentos entre pessoas de países
empregador de funcionários nas diferentes (alimentos internacionais são
embaixadas; ação de despejo por uma regulados por tratado); problemas de
dívida de aluguel de um imóvel). Não se guarda de filhos internacional, que
pode, por exemplo, demandar um também é regulada apenas por tratado
Estado estrangeiro porque ele não internacional.
conferiu o visto. Assim, pode um juiz federal
iii) art. 109, VIII – “os mandados julgar uma causa de família
de segurança e os habeas data contra ii) art. 109, V- A e § 5º - “as
ato de autoridade federal, excetuados causas relativas a direitos humanos a
os casos de competência dos tribunais que se refere o § 5º deste artigo (...)
federais”. Nas hipóteses de grave violação de
O que significa “autoridade direitos humanos, o Procurador-Geral
federal”. Funcionários públicos federais da República, com a finalidade de
são autoridades federais. Contudo, se assegurar o cumprimento de
ele se referisse apenas aos servidores, o obrigações decorrentes de tratados
inc. I já serviria, e este VIII seria internacionais de direitos humanos dos
redundante. Ele existe porque existe quais o Brasil seja parte, poderá
autoridade federal que não é funcionária suscitar, perante o Superior Tribunal
federal. É possível que um ente privado de Justiça, em qualquer fase do
exerça uma função delegada e, como inquérito ou processo, incidente de
tal, seja considerada autoridade federal deslocamento de competência para a
(ex.: reitor de uma universidade Justiça Federal”. Observações:
privada).

40
1) as graves violações de direitos próprio Tribunal ou de juiz federal.”
humanos podem ocorrer tanto no Observações:
âmbito cível quanto no criminal; 1) todo tribunal é competente para
2) o STJ quando julgou o primeiro processar e julgar MS e HD contra seus
pedido de deslocamento, afirmou que a próprios atos (regra geral válida para
federalização somente se justifica se qualquer tribunal);
ficar demonstrado que a JE e as demais 2) onde se lê juiz federal aqui na
autoridades estaduais são ineficientes e letra “c” leia-se também juiz estadual
inoperantes, não estão cumprindo sua investido de jurisdição federal (mesma
função corretamente. lógica de interpretação da letra “e” deve
ser aqui aplicada);
iii) art. 109, X, parte final – “...as c) alínea “b” – “... as ações
causas referentes à nacionalidade, rescisórias de julgados seus ou dos
inclusive a respectiva opção, e à juízes federais da região”. Mais uma
naturalização”. Não há muito o que se vez, duas observações:
considerar, mas apenas que são casos de 1) todo tribunal é competente para
jurisdição voluntária. julgar a ação rescisória de seus
julgados;
iv) art. 109, XI – “a disputa sobre 2) o TRF também tem
direitos indígenas.” Refere-se a direitos competência para julgar ação rescisória
dos índios enquanto coletividade. Não dos julgados dos juízes estaduais
se trata de competência em razão da investidos de jurisdição federal.
pessoa, mas em razão da matéria. *Perceba-se que a competência do TRF
é sempre funcional, independe então da
9.1.3. Competência funcional dos juízes pessoa ou do conteúdo.
federais As demais alíneas, ou parte delas,
i) art. 109, X, parte inicial – “...a aqui não analisadas são competência
execução de carta rogatória, após o criminal.
"exequatur", e de sentença estrangeira,
após a homologação...” ii) competência derivada (inc. II)
– trata-se do julgamento de recursos
9.2. Competência dos TRF contra decisão de juiz federal e de juiz
Se divide em duas espécies: estadual investido de jurisdição federal.
i) competência originária (inc. I) “II - julgar, em grau de recurso, as
a) alínea “e” – “os conflitos de causas decididas pelos juízes federais e
pelos juízes estaduais no exercício da
competência entre juízes federais competência federal da área de sua
vinculados ao Tribunal”. O detalhe é jurisdição.”
que, quando se fala juízes federais *****
vinculados ao TRF, também se deve ler
“juízes estaduais investidos de Material de Apoio _ Direito Processual
jurisdição federal”, cf. STJ, 3: Civil_ Fredie Didier_ Aula 02 (II).pdf
“Compete ao Tribunal Regional TEORIA DA AÇÃO
Federal dirimir conflito de competência
verificado, na respectiva Região, entre
Juiz Federal e Juiz Estadual investido 1. Conceito de ação
de jurisdição federal”. Essa mesma São três sentidos:
lógica deve ser estendida às letras “c” e i) ação como direito de ação, que
“b” significa o direito que todos têm de
b) alínea “c” – “os mandados de provocar o exercício da jurisdição. É o
segurança e os habeas data contra ato do próprio direito de acesso à Justiça. Está

41
no princípio da inafastabilidade da utilizado de agora em diante. Significa o
jurisdição, estudado nas aulas de ato de provocar a atividade
jurisdição. Trata-se de um jurisdicional. Nesse sentido a
a) direito fundamental; expressão é conhecida como demanda.
b) autônomo, i. é, se tem o direito É o exercício do direito de provocar a
de ação independentemente de o autor atividade jurisdicional. Este ato é
ter ou não razão; sempre concreto. A demanda sempre se
c) abstrato, i. é, de ir ao P. refere a uma determinada “situação”, de
Judiciário afirmando qualquer forma que não é uma folha em branco.
problema; Perceba-se que a demanda se liga
d) de conteúdo complexo – i. é, o às duas outras acepções da palavra ação.
direito de ação se desdobra em diversos Veja: a demanda é o exercício do direito
direitos, v. g., direito de escolher o de ação (=primeira acepção), e é
procedimento, direito de exigir uma também o ato pelo qual se afirma ter um
resposta do juiz, o direito de recorrer. direito (=segunda acepção).
Exemplo: o cidadão possui o prazo de *Assim, esse assunto deve ser estudado
120 dias para propor o mandado de com muito cuidado, porque os autores
segurança, mas se perder esse prazo denominam o capítulo de “Ação”,
ainda pode propor outra ação para conceituam a ação pelo primeiro
socorrer seu direito, o que prova que significado e depois começam a estudar
não perdeu o direito de ação, mas a ação pelo significado da “demanda”.
apenas uma das vertentes (a escolha da Quando se estuda a ação como
forma do mandado de segurança); e demanda, há basicamente três pontos
e) deve ser qualificado com todos que são examinados:
os atributos do devido processo legal, i) elementos da ação;
vale dizer, provocar a atividade ii) classificação da ação;
jurisdicional e receber um processo iii) e condições da ação.
devido. A partir do novo CPC, estuda-se
Esse primeiro sentido, em boa apenas elementos e classificação. Não
medida, já foi trabalhado nesse curso, e se estudará mais condições da ação.
não é ele que buscamos nesse momento. O CPC/2015 não usa mais o
A teoria da ação não é sobre o direito de termo condição da ação. As expressões
ação nesse primeiro sentido. “condições da ação” e “carência de
ação”, mencionadas no CPC revogado,
ii) num segundo sentido, a palavra deixaram de ser usadas.
ação é utilizada para designar o direito Aquilo que se estudava em
afirmado em juízo. A palavra é condições da ações hoje deve sê-lo
utilizada nesse sentido no Código Civil, dentro de pressupostos processuais.
art. 195: Contudo, é claro, várias pessoas
“Art. 195. Os relativamente ainda entendem que é possível se
incapazes e as pessoas jurídicas têm ação estudar as “condições da ação”.
contra os seus assistentes ou
representantes legais, que derem causa à
As condições da ação eram,
prescrição, ou não a alegarem classicamente, 3 (três), legitimidade das
oportunamente.” partes, interesse de agir e possibilidade
Esse sentido da palavra ação é jurídica do pedido. O CPC/2015 não se
“material”, e não será utilizado no refere mais a possibilidade jurídica do
estudo do Processo Civil. pedido, pois estas estão relacionadas ao
mérito no novo sistema.
iii) num terceiro sentido, ação é o Assim, vamos estudar apenas os
ato, o agir, e é nesse sentido que será elementos da ação e suas classificações.

42
podem ser umas, e do conflito outras.
2. Elementos da ação Exemplo: numa ação coletiva, as partes
São eles: partes, pedido e causa de da demanda são MP e o réu, mas as
pedir. partes do conflito são o réu e o grupo (o
MP não é parte do conflito coletivo).
2.1. Partes
São dois: aquele que demanda e o Além disso, a parte que seja
outro contra quem é demandado. considerada ilegítima é parte, e pode
Partes da demanda não se alegar a própria ilegitimidade.
confundem com partes do processo. As
partes da demanda são partes do 2.2. Pedido
processo, mas não as únicas. Exemplo: O pedido é o elemento nuclear, a
assistente e o amicus curiae, que são providência que se pleiteia na ação,
partes auxiliares, e que não são aquilo que se pretende.
demandante, nem demandado, mas são É um elemento tão importante que
parte. Note-se que, portanto, as partes está num capítulo da petição inicial.
da demanda são as partes principais no
processo, mas não são as únicas. 2.3. Causa de pedir
Partes do conflito tb. não se É o elemento mais difícil de se
confundem com as partes da demanda, compreender.
posto que nem sempre há
correspondência. As partes da demanda
HIPOTESE DIREITOS
NORMATIVA
(2º) ou “Direito”
FATO RELAÇÃO
JURÍDICO (3º) JURÍDICA (4º) DEMANDA (5º)
(causa de pedir ou “direito”
remota) (causa de pedir
próxima)
FATO (1º) DEVERES

SETA “TEMPO”

a hipótese normativa, pois está é lei,


A causa de pedir está nos abstrata.
momentos “3” e “4”, i. é, é o conjunto A causa de pedir é “4”, i. é, a
do fato jurídico e da relação jurídica. relação jurídica ou, o direito afirmado.
O autor demanda porque afirma um Fundamento jurídico é o direito
direito, que é uma relação jurídica afirmado com “d” minúsculo (direito
(pede-se numa ação uma indenização subjetivo), e não o fundamento
porque houve um acidente). A soma do normativo (Direito).
fato jurídico e do direito afirmado A doutrina diz que, já que há duas
(relação jurídica) é a causa de pedir. partes na causa de pedir, o fato jurídico
Por isso se diz que a causa de é a chamada “causa de pedir remota” e
pedir é composta: a afirmação do fato a relação jurídica é a “causa de pedir
jurídico e de um direito. Note-se que a próxima”.
causa de pedir não é “1” nem “2”. O Causa de pedir significa o
simples fato da vida que não tenha somatório da causa de pedir remota com
sofrido a incidência normativa não a causa de pedir próxima.
serve; e a causa de pedir também não é Teoria da substanciação/
substancialização da causa de pedir é

43
aquela que diz que a causa de pedir A causa de pedir remota se
deve ser o conjunto do fato jurídico e do subdivide em ativa e passiva. É uma
direito. Tanto CPC/73 quanto o subdivisão da remota.
CPC/2015 adotam essa teoria. A causa de pedir remota ativa é o
A teoria que se contrapõe à da fato título, ou fato base (gerador) do
substanciação é a da direito afirmado.
individuação/individualização da causa A causa de pedir passiva é o fato
de pedir, segundo a qual a causa de que impulsiona o interesse de agir, i.
pedir se compõe exclusivamente do é, que leva o sujeito ao Poder Judiciário.
direito afirmado, como se a causa de Exemplo: causa de pedir remota é
pedir fosse apenas a relação jurídica, o inadimplemento do contrato; o fato
quando o fato jurídico estaria fora da título é o contrato; o fato que
causa de pedir. Não foi encampada pelo impulsiona o interesse de agir é o
CPC. inadimplemento; causa de pedir
Estudamos na aula passada a próxima é o direito de resolução.
conexão e que, para que haja conexão,
um dos casos é que tenham a mesma 3. Classificação das ações
causa de pedir. Daí já se percebe um dos 3.1. Ações reais e pessoais
efeitos da adoção de uma ou outra É uma classificação que se dá
teoria. Pela teoria adotada, tanto a causa com base no direito afirmado em juízo.
de pedir remota quanto a próxima Se o direito afirmado foi um direito
devem ser a mesma para poder ocorrer a pessoal, trata-se de uma ação pessoal; se
conexão. foi um direito real, trata-se de uma ação
Exemplos real.
1) numa ação, se pede a anulação, A dificuldade está em saber o que
com contrato em erro (“3”) pelo direito é direito real e o que é direito pessoal.
de invalidar (“4”). Numa outra ação, Observação. As ações
pede-se anulação por contrato em dolo possessórias não são consideradas nem
(“3”), pelo direito de invalidar (“4”). reais, nem pessoais, mas possessórias.
Considerando que nosso CPC adotou a
teoria da substanciação, percebemos que 3.2. Ação reipersecutória
não se tratam de ações com mesma Ação reipersecutória é toda ação
causa de pedir pela diferença no fato que busca a entrega de uma coisa.
jurídico, não se tratando de ações iguais. Assim, ela tanto pode ser ação real (v.
Contudo, se estivéssemos na teoria da g., uma ação reivindicatória) como
individuação, sim, estaríamos diante de pessoal (ação de despejo, p. ex.).
causas idênticas. Isso tudo, como se
percebe, é muito importante para 3.3. Ações imobiliárias e mobiliárias
aplicação da litispendência e da Essa classificação leva em
conexão. consideração o objeto do pedido.
2) ação de alimentos. O fato Se o objeto do pedido é imóvel,
jurídico é o vínculo de família, a estamos diante de ação imobiliária; se o
necessidade de um e a possibilidade do objeto do pedido é um bem móvel, a
outro. O direito é o direito de alimentos; ação mobiliária.
3) ação de resolução de contrato Aqui ocorre um vício de
por inadimplemento. Causa remota é o raciocínio. Nem toda ação real é
contrato inadimplido. Causa próxima é imobiliária, e vice-versa.
o direito à resolução; Contudo, os direitos reais também
Perceba que a causa de pedir se exercem sobre bens móveis. Existe,
próxima é sempre “direito de ...” então, ação real mobiliária. Da mesma

44
forma existe ação pessoal imobiliária, a quando a lei autoriza), previsto por
exemplo do despejo. exemplo nos Juizados Especiais.
real imobiliária Esta acepção de ação dúplice não
pessoal mobiliária é a correta, apesar de ser difundida.
Houve um desvirtuamento do que vem a
3. 4. Ações necessárias ser ação dúplice, que consta no segundo
São as ações que veiculam a sentido abaixo.
afirmação de um direito que somente ii) acepção material – é um tipo de
pode ser exercido em juízo. demanda que veicula um direito que
Estão muito ligadas à jurisdição poderia ter sido levado a juízo pelo réu
voluntária. e essa circunstância faz surgir um
A ação penal; ação de invalidação fenômeno curioso: autor e réu só se
de um negócio são exemplos de ações distinguem efetivamente pela
necessárias. cronologia, i. é, por quem teve a
O interesse de agir nas ações iniciativa de demandar em juízo. O
necessárias é presumido. autor é autor porque foi ele que propôs a
Processo necessário é aquele que ação, enquanto o réu o é porque ele foi
resulta de uma ação necessária. demandado. Tirando isso, não fica claro
quem é autor ou réu.
3.5. Ações de conhecimento, execução e Surge outro fenômeno curioso.
cautelar Quando a ação é dúplice no sentido
É uma classificação de acordo material, a defesa do réu é também, e ao
com a tutela almejada. mesmo tempo, um ataque de forma
Se o que se visa é a certificação automática. É um “cabo-de-guerra”.
de um direito, temos ação de Exemplo de ação dúplice: ação
conhecimento. declaratória. O autor pede para declarar
Se o que se visa é a satisfação de que um direito existe. A defesa é
um direito, temos ação de declarar que o direito não existe
conhecimento. (declaração contrária).
Já com a ação cautelar o que se Outro. Imagine-se um pai que sai
visa é a garantia de outro processo. de casa e vai ao Judiciário oferecer
alimentos. A oferta de alimentos é ação
3.6. Ações sincréticas dúplice. A defesa do réu será o aumento
A classificação acima perdeu dos alimentos.
força pelo advento da ações sincréticas. Assim, quando a ação é dúplice, o
São aquelas que permitem mais de um réu obtém o que quer se defendendo,
tipo de tutela jurisdicional. não sendo necessário reconvir para
O sincretismo processual é a pedir o pedido contrário.
marca do Direito Processual São também exemplos: as ações
brasileiro. O processo sincrético é a possessórias; ADIN e ADC; e a
nossa marca. consignação em pagamento são todas
ações dúplices em sentido material.
3.7. Ação dúplice Perceba-se que há um fato que se
É uma designação que na repete em alguns casos: em ações
linguagem processual assume duas dúplices o devedor é autor.
acepções:
i) acepção processual – é 3.8. Ação declaratória, constitutiva e
sinônimo do que se chama de pedido condenatória
contraposto (pedido que o réu formula Tratam-se de ações de
contra o autor com limitação fática, conhecimento.

45
Para compreender essa custa do devedor. Ex.: tinha que dar um
classificação, é importante fazer uma dinheiro, o Estado pega um bem no
introdução. patrimônio do devedor e converte esse
Na teoria do Direito, fala-se em bem em dinheiro; ex. 2: se o devedor
uma divisão dos direitos em: estivesse obrigado a demolir o muro, o
i) direitos a uma prestação; Estado vai lá com os tratores e derruba
ii) direitos potestativos. o muro. A execução direta é uma
DIREITOS A UMA execução mais violenta e visível, mais
PRESTAÇÃO. Direito a uma prestação ostensiva e, por isso, tradicionalmente,
é o de exigir de alguém uma prestação execução direta é considerada a
(=conduta), que pode ser: de fazer; de execução por excelência e, para alguns
não fazer; ou de dar (dinheiro ou coisa autores, apenas ela é verdadeiramente
distinta de dinheiro). Essas são as execução.
quatro prestações possíveis. Na execução indireta, o Estado
Direitos de personalidade também força o devedor a que ele próprio
podem ser direitos a uma prestação. cumpra a prestação. Para isso, pressiona
Os direitos a uma prestação estão o devedor psicologicamente a cumprir
diretamente ligados à ideia de por si a obrigação. Exemplos:
inadimplemento, ou lesão, ou violação. cominação de multa pelo não
Só em direitos a uma prestação é que se cumprimento (o devedor é compelido à
pode falar nessas hipóteses. prestação sob pena de multa); na
Também em relação aos direitos a execução de alimentos, o Estado
uma prestação é que se pode falar em ameaça com a prisão. A execução
prescrição (CC, 189). indireta é mais barata para o Estado, que
Um outro assunto que é ligado aos se vale de seu poder para pressionar que
direitos a uma prestação é a execução. o próprio devedor cumpra, não
A execução pode ser: necessitando de um grande aparato para
a) forçada ou voluntária; fazer valer sua ordem. Além disso, a
b) em processo autônomo ou em execução indireta é “invisível”, posto
processo sincrético (=fase de um que ela se dá na mente do executado.
processo); Tudo isso para chegarmos à
O processo autônomo de seguinte conclusão: sempre que se vai
execução, em regra, é de título ao Poder Judiciário pedindo o
extrajudicial, enquanto a do título reconhecimento do direito a uma
judicial é em processo sincrético. Diz-se prestação, trata-se de ação
em regra porque, por exemplo, a condenatória. Ação condenatória é
sentença arbitral e a sentença penal portanto a ação que busca o
condenatória são executadas em reconhecimento do direito a uma
processo autônomo. prestação bem com à sua efetivação
(cumprimento) da mesma.
Material de Apoio _ Direito Processual Nas ações condenatórias, que
Civil_ Fredie Didier_ Aula 03 (II).pdf veiculam um direito a prestação, é que
c) execução direta e indireta - tem lugar a prescrição e a execução.
execução é direta quando a prestação Todos dizem, inclusive, que as ações
devida é efetiva a partir da atuação do condenatórias têm por objetivo a
próprio Estado, ao invés do próprio produção de um título executivo, que é
executado, ou seja, o Estado ignora a uma decisão apta a instaurar uma
participação do executado e faz o que execução.
ele devia ter feito. Se trata de uma No Direito brasileiro, de 2005
execução por subrrogação. Claro, à para cá, todas as ações condenatórias

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são consideradas ações sincréticas, vale fazer e não fazer. Note-se que o que era
dizer, são ações que têm por propósito, uma excentricidade em 1973 torna-se
a um só tempo, para certificar e efetivar uma trivialidade em 1994 em relação às
direitos a uma prestação. E a efetivação obrigações de fazer e não fazer (o que
pode se dar de modo direto ou indireto. era excepcional se tornou a regra).
Se a efetivação se der de modo Depois da reforma de 1994, muitos
direto, essa espécie de ação chegaram a afirmar que não mais
condenatória é chamada de ação poderia se falar em ação condenatória
executiva em sentido amplo. Se ela se de fazer e não fazer, pois elas seriam ou
efetivar por execução indireta, ações executivas ou ações
denomina-se ação executiva mandamentais. As condenatórias se
mandamental. restringiriam ás ações de dar coisa ou
Atenção! essa classificação é o dinheiro.
que está acontecendo hoje. Em Em 2002, o legislador
concursos será cobrado o histórico de transformou todas as ações para entrega
como se chegou a esse ponto. Então, de coias distinta de dinheiro em ações
agora segue uma retrospectiva histórica sincréticas. A mesma discussão surgiu:
do desenvolvimento desse tema. como toda ação para entrega de coisa
Em 1973, com o advento do CPC, era sincrética, também deveria se referir
as ações que buscavam o direito a uma a ação executiva ou mandamental. As
prestação eram, em regra, não ações condenatórias se restringiriam
sincréticas. Era necessário àquelas ações condenatórias de dar
primeiramente propor uma ação para dinheiro. Assim, as ações sincréticas
obter o reconhecimento e, depois, uma seriam a regra a partir de então no
ação para executar. As ações de puro sistema.
conhecimento eram as ações Em 2005, o processo histórico de
condenatórias da época. Elas geravam sincretização termina, já que todas as
apenas a certeza quanto ao direito a uma ações de prestação pecuniária se
prestação. Se quisesse efetiva-lo, seria tornaram sincréticas.
necessário propor uma outra ação. Atualmente, todas as ações de
Mas já em 1973 havia, em alguns prestação são sincréticas, de forma que
procedimentos especiais, a possibilidade se perdeu a relevância de distinguir as
de ações de prestação sincréticas. ações executivas em sentido amplo e
Tratavam-se de ações peculiares, mandamentais.
“excêntricas”, como o mandado de As ações condenatórias que em
segurança e as ações possessórias. Eram 1973 era uma espécie do gênero ação de
chamadas executivas em sentido amplo prestação; se transformou (a
ou mandamentais a depender do modo condenatória) numa ação de prestação,
de efetivação: tratando-se de execução bem como e as mandamentais e
direta, tínhamos a ação executiva em executivas passam a ser espécies de
sentido amplo; se a efetivação se desse condenatórias.
por meio indireto, eram executivas Como se pode imaginar, tudo isso
mandamentais. é muito polêmico.
Àquela época, havia o gênero Observações:
ações de prestação que se subdividia em 1) há quem ainda insista na
condenatórias ou sincréticas e, estas, em necessidade de distinguir condenatória
executivas em sentido amplo e (pecuniária), mandamental (fazer e não
mandamentais. fazer) e executiva em sentido amplo
O CPC/73 em 1994 foi reformado (entrega de coisa). Para quem adota essa
para tornar sincréticas todas as ações de opção, as ações de conhecimento são

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cinco: ações declaratórias, a uma transformação, com a criação,
condenatórias, mandamentais, modificação ou extinção de situações
executivas em sentido amplo e jurídicas.
constitutivas. Didier não adota esta O sujeito passivo desse direito
linha que, de resto, é minoritária. Ela é apenas se submete ao exercício do
denominada classificação quinária das direito potestativo, não havendo
ações, justamente porque separa as conduta devida e, por isso, não se pode
ações de conhecimento em cinco. Didier falar em inadimplemento. Não existe
adota a classificação ternária: ações de lesão ou execução a um direito
conhecimento são condenatória, potestativo, também por conta de sua
constitutiva e declaratória. natureza.
Exemplo: numa ação de Como não se fala em
alimentos, trata-se de condenação a inadimplemento e em execução de
prestação de dar dinheiro, sob pena de direito potestativo, também não se fala
prisão, sendo claramente mandamental em prescrição sobre esta espécie de
para obrigação de quantia; nada impede direitos. Os direitos potestativos se
que o juiz num caso de prestação para submetem a decadência. Prazos
entrega de coisa determine que a coisa decadenciais são aqueles para o
seja entregue sob pena de multa. A exercício de direitos potestativos.
técnica de efetivação (direta ou indireta) Exemplos de direitos potestativos:
pode ser usada em muitos casos direito de anular um contrato; direito de
indistintamente; revogar uma procuração; direito de
2) alguns processualistas rescindir uma sentença; direito de
entendem que, como agora, todas as resolver um negócio, direito de
ações de prestação são sincréticas, não interditar alguém. Todos são direitos
se poderia mais falar em ação que consistem num poder de
condenatória. E, aí, as ações de transformação da esfera jurídica de
prestação seriam mandamentais ou outrem.
executivas em sentido amplo. É o Quando se dirige ao Judiciário
pensamento de Ada Pellegrini, mas com a afirmação de um direito
também francamente minoritário. Para potestativo e pede-se seu
esse entendimento, por não haver mais reconhecimento, valemo-nos do que se
ação condenatória, as ações de chama ação constitutiva, a ação pela
conhecimento seriam quatro: qual se afirma o direito potestativo e se
declaratórias, constitutivas, pede o seu reconhecimento. Por isso, as
mandamental e executiva em sentido ações constitutivas servem para a
amplo (classificação denominada criação, extinção ou alteração de
quaternária das ações). situações jurídicas.
Majoritariamente entende-se que Sempre que houver prazo para a
as ações de conhecimento são três propositura de ação constitutiva, trata-se
(ternária): declaratórias, constitutivas e de prazo decadencial. Mas isso não quer
condenatórias, sendo que esta última é dizer que sempre haja prazo para tal,
toda ação de conhecimento em que eu como no caso da ação de divórcio.
afirmo ter o direito a uma prestação e Justamente por conta dessas
peço o reconhecimento desse direito e características não existe execução de
sua efetivação. sentenças em ações constitutivas. Em
DIREITOS POTESTATIVOS. Já regra, as ações constitutivas somente
a outra espécie de direitos, o direito podem produzir efeitos da sentença para
potestativo, é o direito de interferir na a frente. Mas nada impede que o
esfera jurídica de outrem, submetendo-o legislador autorize eficácia retroativa a

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ação constitutiva. Exemplo é o art. 182, nulidade, seja uma ação anulatória,
ação anulatória de ato jurídico: tratam-se de ações constitutivas.
“Art. 182. Anulado o negócio 4) ADIN. O propósito da ADIN é
jurídico, restituir-se-ão as partes ao retirar uma lei do ordenamento, sendo
estado em que antes dele se achavam, e,
não sendo possível restituí-las, serão
portanto claramente constitutiva (tendo
indenizadas com o equivalente.” em vista a inconstitucionalidade retira-
Exemplos de ações constitutivas: se a mesma do sistema). Alguns
1) ação anulatória de ato jurídico; constitucionalistas tratam a ADIN como
2) ação rescisória de sentença; declaratória, o que torna impossível
3) ação de divórcio; explicar como o STF pode, ao julgar
4) ação de exclusão de herdeiro. uma ADIN, modular os efeitos da
São polêmicas as seguintes ações decisão.
(i. é, para alguns não são constitutivas): 5) ação de investigação de
1) ação de interdição (para paternidade. Boa parte dos juristas
submeter alguém ao regime da entendem esta ação como declaratória,
curatela). Com o Estatuto da Pessoa quando na verdade é constitutiva. Ela
com Deficiência, a natureza jurídica não declara a paternidade, mas atribui
constitutiva se revela com ainda mais paternidade, tornando o réu pai do
força, cf. artigos 84 e 85 do EPD; autor, uma transformação jurídica
Polêmica: ainda há civilistas que absurda. Antes, não era pai, mas apenas
tratam a situação do curatelado como o genitor (fornecedor de material
declaratória. genético). Tanto não era pai que se
2) ação de falência. Também é entrou com ação para torná-lo. Trata-se
ação constitutiva, que tem o propósito de ação constitutiva com eficácia
de submeter o empresário a situação retroativa e sem prazo.
jurídica nova, a de falido, em que a Não se pode confundir ação
empresa passa a ser administrada por constitutiva sem prazo, ou ação
terceiro e ele perde seu poder sobre tais constitutiva com eficácia retroativa com
bens. ação declaratória. Até porque é possível
Polêmica: alguns comercialistas que alguém seja pai, sem ser genitor.
tratam a ação de falência como Ação declaratória é aquela que
declaratória. Contudo, para Didier, a sua busca a certeza jurídica. Não se quer a
intençaõ é submeter o devedor ao efetivação de um direito a prestação ou
regime de falido. direito potestativo, mas apenas dar
3) ação de nulidade de ato certeza a uma situação de incerteza. Por
jurídico. conta disso, é obrigado a demonstrar
Como dito há pouco, a ação que existe esta incerteza.
anulatória de ato jurídico é constitutiva, Há duas espécies de ação
mas ela se relaciona com as declaratória.
anulabilidades. A polêmica reside na Regra geral, temos a ação
ação de nulificação, posto que alguns declaratória de existência, inexistência
autores, sobretudo civilistas, quando se ou modo de ser de uma relação jurídica.
referem a ações de nulidade que, por Ou seja, o pedido é que uma relação
serem muito graves, haveria apenas sua jurídica existe, não existe ou os seus
declaração. Trata-se de erro grave, pois termos (=como a ação que tem por
é ação de desfazimento do ato jurídico. objeto interpretar um contrato).
Ora, se o pedido é o desfazimento de São exemplos de ação desse tipo a
um ato jurídico, evidentemente é ação de usucapião; ação declaratória de
constitutiva a ação. Em suma, toda ação inexistência de relação tributária; ação
para invalidar, seja ela uma ação de

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declaratória de existência de união com ação condenatória. Um exemplo
estável. histórico de ação meramente
“Art. 19. O interesse do autor declaratória foi o caso da Clarice, viúva
pode limitar-se à declaração: de Vladir Herzog, jornalista assassinado
I - da existência, da inexistência
ou do modo de ser de uma relação
pela Ditadura Militar em 1975 (que é
jurídica; reconhecida como ápice da violência do
II – (...)” regime de exceção segundo os
A outra é a ação declaratória de historiadores), propôs uma ação para
autenticidade ou falsidade de um declarar a responsabilidade da União
documento. É diferente pois aqui sobre a morte do marido. A União, à
estamos diante da ação declaratória de época, alegou que Clarice não teria
um fato. Como regra, no direito interesse, mas o Poder Judiciário se
brasileiro não cabe ação declaratória de baseou no texto da Lei para assentar o
fato contrário.
“Art. 19. O interesse do autor Mas qual a distinção entre uma
pode limitar-se à declaração: ação condenatória e uma ação
(...)
II - da autenticidade ou da
declaratória quando já seria possível
falsidade de documento.” ajuizar a primeira? A diferença prática é
A ação declaratória é que a segunda interrompe a prescrição,
imprescritível. Não há prazo para se e a outra não, tendo em vista que, se o
obter a certificação de um direito sujeito poderia ter pedido a condenação
(prazos são apenas para se efetivar um e não pediu, não houve comportamento
direito prestacional ou direito no sentido de buscar a efetivação do
potestativo). direito, e a prescrição só é interrompida
As ações declaratórias são quando o credor assim se comporta.
dúplices. O CPC/2015 repete o CPC/1973,
A ADC é realmente declaratória. consagrando a possibilidade de uma
A ADIN, como visto, é constitutiva. decisão declaratória ser título executivo.
A ação declaratória produz efeitos “Art. 515. São títulos executivos
judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de
retroativos. acordo com os artigos previstos neste
Ações condenatórias e Título:
constitutivas também são declaratórias. I - as decisões proferidas no
A declaratória é “meramente” processo civil que reconheçam a
declaratória, que busca apenas a exigibilidade de obrigação de pagar
quantia, de fazer, de não fazer ou de
certificação, preponderantemente entregar coisa;
declaratória, enquanto as outras duas (...)”
possuem mais intentos. Se ambas, ação condenatória e
Nota de aprofundamento. declaratória podem levar a constituição
Imagine-se que estamos em uma de título executivo, qual sua distinção?
situação em que já posso entrar com São quatro as distinções:
uma ação condenatória. Houve uma 1) a ação declaratória não
violação ao direito. Nessa situação, vem interrompe a prescrição, enquanto a
o legislador e dispõe que aquele que já condenatória sim;
puder entrar com a ação condenatória 2) cabimento de ação declaratória
pode se quiser, entrar com uma para declarar autenticidade ou falsidade
meramente declaratória. de documento, que não tem qualquer
“Art. 20. É admissível a ação ligação com ação condenatória;
meramente declaratória, ainda que tenha
ocorrido a violação do direito.”
3) cabimento de ADC, que
Para que o sujeito vai entrar com também não tem nada de condenatória;
uma ação declaratória se já pode entrar
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4) cabimento de ação declaratória Por fim, devemos ressaltar que o
para certificar o modo de ser das processo é um procedimento e o
relações jurídicas, que não têm qualquer procedimento pode ser principal,
ponto de contado com as condenatórias. recursal ou incidental. Vamos aqui
***** cuidar dos pressupostos do
procedimento principal, porque os
pressupostos dos recursos e do
procedimento incidental serão
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS estudados no Intensivo II.

2. Pressupostos de existência do
1. Introdução processo
Esse ponto sofreu muitas São três os pressupostos de
alterações com o CPC/2015. existência do processo:
A primeira premissa é que a i) existência de órgão investido
doutrina quando examina os de jurisdição (exemplo: protocolar uma
pressuposto processuais os classifica em ação sobre direito de saúde na
pressupostos 1) de existência Secretaria de Saúde);
(nascimento) e 2) de validade ii) ato de provocação, ato
(desenvolvimento). introdutório do processo, ato esse que se
A segunda premissa é que só convencionou chamar de demanda. Sem
podemos falar em pressupostos de demanda o processo não existe;
validade se o processo existir. Assim, iii) capacidade de ser parte. Este
jamais podemos afirmar que um pressuposto é que vai tomar mais
processo que não existe é nulo (nulo é tempo.
um processo que existe!).
A terceira premissa: alguns 3. Capacidade de ser parte
autores não aceita o uso da expressão Trata-se da aptidão de ser sujeito
“pressupostos de validade”, preferindo de uma situação processual, de ser parte
“requisitos de validade”. Isso porque de um processo. Também é chamada de
algumas obras falam de requisitos personalidade judiciária.
processuais e, sempre que aparecem, Esta aptidão é absoluta, não
deve estar se referindo aos pressupostos permitindo gradação (como ocorre no
processuais de validade que, por apuro direito civil em relação aos negócios
técnico de nomenclatura, optam por tal jurídicos). Quem tem personalidade
expressão, enquanto os pressupostos judiciária a tem por inteiro.
seriam apenas para o plano da A capacidade de ser parte é um
existência. atributo das pessoas, sejam naturais ou
Outra premissa: existem jurídicas, além de vários outros entes: o
pressupostos que dizem respeito ao condomínio, a massa falida, as
conjunto dos atos processuais e, outros, comunidades indígenas, o nascituro, os
que se referem a cada um dos atos. órgãos públicos como Tribunal de
Exemplos: a competência do juízo é Contas, Ministério Público, Defensoria
pressuposto do processo como um todo; Pública, PROCON, Mesa Diretora do
já a motivação da decisão é um Poder Legislativo etc. Por isso,
pressuposto da decisão apenas. Quando podemos afirmar que há mais de quem
se estuda os pressupostos processuais, possa ser parte que pessoas no mundo.
estamos estudando os pressupostos de Quem não tem capacidade de ser
um processo como um todo. parte? Um morto, por exemplo, já que
sua personalidade desaparece. Contudo

51
já se entende que o morto tem direito a conhecida de ofício pelo Juiz. Essa é
ter um nome e a ser sepultado, de forma apenas a regra, mas há exceções: como
que não parece ser correto que perde sua a incompetência relativa, na existência
personalidade, em face da manutenção de convenção de arbitragem.
de tais direitos da personalidade. Ultimo alerta. Apenas em regra, a
Também não podem ser parte as falta de pressupostos processuais pode
coletividade desorganizadas, que ser alegada a qualquer momento. Da
possuem direitos mas, por serem assim, mesma forma que na incompetência
não podem se dirigir ao Poder Judiciário relativa e na existência de convenção de
(exemplo: os moradores de um Estado). arbitragem, que devem ser alegadas no
Por fim, o problema dos animais, mas primeiro momento sob pena de
onde pesa uma questão polêmica, pois preclusão.
há uma corrente filosófica que prega
que os grandes primatas (orangotango, 4.1. Classificação dos pressupostos de
bonobos, chipanzés e gorilas) seriam validade
sujeitos de direito incapazes, em razão i) subjetivos
de sua proximidade genética e, portanto, a) pressupostos relacionados ao
poderiam ser parte no processo (teoria juiz
do pós-humanismo). 1) competência
Não se pode confundir capacidade 2) imparcialidade
de ser parte, pressuposto de existência, b) pressupostos relacionados às
com capacidade processual e partes
capacidade postulatória, que são 1) capacidade processual ou
pressupostos de validade. capacidade para estar em juízo
Assim, os três pressupostos de 2) capacidade postulatória
existencia se resume na seguinte 3) legitimidade “ad causam” (que
afirmação: para existir um processo é sempre foi estudada sob a rubrica
preciso que alguém demande perante condições da ação, mas não existe mais,
um órgão jurisdicional. sendo deslocada para o estudo dos
pressupostos processuais de validade);
4. Pressupostos processuais de validade ii) objetivos
O primeiro ponto a ser referido é a) pressupostos intrínsecos;
que o exame da validade do processo b) pressupostos extrínsecos
deve observar todo o sistema de 1) negativos
invalidades processuais. Significa dizer 2) positivo, que é o interesse de
que não se pode invalidar um processo agir (que antes constava dentre as
se não houver prejuízo. Mesmo se faltar condições da ação)
um requisito de validade, não levará
“necessariamente” à invalidade do Material de Apoio _ Direito Processual
processo. Lembre-se que um dos Civil_ Fredie Didier_ Aula 04 (II).pdf
princípios que regem o CPC/2015 é o 4.1.1. COMPETÊNCIA E
princípio da primazia da decisão de IMPARCIALIDADE. São pressupostos
mérito. processuais subjetivos já estudados em
Também, não é toda falta de aulas passadas, para onde se remete o
pressuposto de validade que levará à aluno.
extinção do processo. Basta pensar na
incompetência, que gera simples 4.1.2. CAPACIDADE PROCESSUAL
remessa dos autos ao juízo competente. OU CAPACIDADE DE ESTAR EM
Mais: nem toda falta de JUÍZO. Trata-se da aptidão para a
pressuposto processual pode ser prática de atos processuais

52
independentemente de representação. I - não conhecerá do recurso, se a
Ela possui um paralelo com a providência couber ao recorrente;
II - determinará o
capacidade civil, mas não se desentranhamento das contrarrazões, se a
confundem. Se a capacidade civil é a providência couber ao recorrido.”
possibilidade de praticar os atos da vida O art. 76 concretiza o princípio da
civil sem representação, a capacidade primazia da decisão de mérito.
processual refere-se à prática de atos Capacidade processual das
processuais. pessoas jurídicas. As pessoas jurídicas
A regra é que quem tem são processualmente capazes, apesar de
capacidade civil tem capacidade na prática ser muito utilizada a
processual. Mas pode ser de aquele que afirmação “as pessoas jurídicas são
tem capacidade civil mas não tem representadas em juízo”. Na verdade,
capacidade processual (v. g., o réu revel rigorosamente, a pessoa jurídica não é
preso, que tem capacidade civil mas é representada em juízo, mas sim
incapaz processual). Mas é possível que presentada em juízo. Presentar é fazer-
ao contrário não tenha capacidade civil se presente por si. O órgão presenta o
mas tenha capacidade processual (v. g., ente de que ele faz parte. Tanto é assim
o interdito: não tem capacidade civil, que o quando a pessoa fala, ela não
mas tem capacidade processual para precisa de uma carta de preposição,
pedir o levantamento da sua interdição). posto que ela realmente presenta a
Ou seja, as duas capacidades tem uma pessoa jurídica, ou seja, seus órgãos são
grande zona de intersecção, mas ambas a pessoa jurídica. Exemplo: o Ministério
possuem espaços de não coincidência de Público é presentado por um Promotor
cada parte. de Justiça.
Alem disso, só podemos cogitar a “Art. 75. Serão representados em
capacidade processual de quem tem juízo, ativa e passivamente:
capacidade de ser parte (cf. aula I - a União, pela Advocacia-Geral
da União, diretamente ou mediante órgão
passada). vinculado;
Consequências da falta de II - o Estado e o Distrito Federal,
capacidade processual. O juiz deve por seus procuradores;
ouvir a parte determinando a correção III - o Município, por seu prefeito
do defeito. Se o defeito não for ou procurador;
IV - a autarquia e a fundação de
corrigido, a solução do problema variará direito público, por quem a lei do ente
conforme o caso: federado designar;
“Art. 76. Verificada a V - a massa falida, pelo
incapacidade processual ou a administrador judicial;
irregularidade da representação da parte, VI - a herança jacente ou vacante,
o juiz suspenderá o processo e designará por seu curador;
prazo razoável para que seja sanado o VII - o espólio, pelo
vício. inventariante;
§ 1º Descumprida a determinação, VIII - a pessoa jurídica, por quem
caso o processo esteja na instância os respectivos atos constitutivos
originária: designarem ou, não havendo essa
I - o processo será extinto, se a designação, por seus diretores;
providência couber ao autor; IX - a sociedade e a associação
II - o réu será considerado revel, irregulares e outros entes organizados
se a providência lhe couber; sem personalidade jurídica, pela pessoa a
III - o terceiro será considerado quem couber a administração de seus
revel ou excluído do processo, bens; [estabelece a capacidade
dependendo do polo em que se encontre. processual de entes despersonalizados]
§ 2º Descumprida a determinação X - a pessoa jurídica estrangeira,
em fase recursal perante tribunal de pelo gerente, representante ou
justiça, tribunal regional federal ou
tribunal superior, o relator:

53
administrador de sua filial, agência ou houver defensor público na comarca é
sucursal aberta ou instalada no Brasil; que se vai designar uma outra pessoa
XI - o condomínio, pelo
administrador ou síndico.
para ser curador especial, que deve ser
§ 1º Quando o inventariante for qualquer pessoa capaz, mas
dativo, os sucessores do falecido serão normalmente designa-se um Advogado.
intimados no processo no qual o espólio A curatela especial é uma função
seja parte. pública de defesa de alguém. Vale dizer,
§ 2º A sociedade ou associação
sem personalidade jurídica não poderá
cabe ao defensor público defender a
opor a irregularidade de sua constituição parte incapaz, sob pena de outra pessoa
quando demandada. [regra que protege a ser nomeada em seu lugar (não pode se
boa-fé] negar a defender e nem negligenciar a
§ 3º O gerente de filial ou agência sua atuação).
presume-se autorizado pela pessoa
jurídica estrangeira a receber citação para
O curador especial não é parte!
qualquer processo. Trata-se de um representante da parte.
§ 4º Os Estados e o Distrito Parte é o curatelado.
Federal poderão ajustar compromisso O curador especial tem poderes de
recíproco para prática de ato processual condução do processo, não podendo
por seus procuradores em favor de outro
dispor do direito discutido. Também
ente federado, mediante convênio
firmado pelas respectivas procuradorias.” não pode demandar, como por exemplo
[previsão de convenção processual reconvir. Contudo, se admite que o
envolvendo entes da Federação para curador especial oponha embargos à
cooperação. Mas essa possibilidade se execução e interponha mandado de
estende também às entidades da
segurança contra ato judicial, já que
Administração indireta. Cf. enunciado
do FPPC. Didier entende que os MPE e ambas são condutas de defesa.
as DPE também podem celebrar “Art. 72. O juiz nomeará curador
convênios como este para fins de especial ao:
cooperação] I - incapaz, se não tiver
representante legal ou se os interesses
A questão do espólio. O Espólio é deste colidirem com os daquele,
representado pelo inventariante. Mas enquanto durar a incapacidade;
pode acontecer de um inventariante ser II - réu preso revel [que é
dativo, alguém que não é membro da civilmente capaz mas processualmente
família e assume a condição de incapaz], bem como ao réu revel citado
por edital ou com hora certa, enquanto
representante do espólio. No caso de
não for constituído advogado.
inventariante dativo, vai ocorrer como Parágrafo único. A curatela
previsto no § 1º acima: os sucessores do especial será exercida pela Defensoria
falecido serão intimados nos processos Pública, nos termos da lei.”
em que o espólio seja parte, para Capacidade processual das
acompanhar o processo apenas, e não pessoas casadas. Devemos partir de
para estabelecer um litisconsórcio. uma premissa: pessoas casadas são, em
Curador especial. Trata-se de um regra, processualmente capazes. Há
representante processual da parte porem, nuances, situações específicas,
incapaz, designado pelo juiz da causa, em que vigem algumas regras
para aquele determinado processo específicas:
enquanto durar a incapacidade, e só i) peculiaridades da capacidade
naquele processo. Significa dizer que a das pessoas casadas no polo ativo –
curatela especial é uma representação CPC, 73, caput:
processual ad hoc. “Art. 73. O cônjuge necessitará
do consentimento do outro para propor
A Defensoria Pública tem como
ação que verse sobre direito real
função institucional atuar como imobiliário, salvo quando casados sob o
curadora especial. Somente se não regime de separação absoluta de bens.”

54
Observações: responsabilidade civil solidária dos
1) o CPC exige que se um cônjuge cônjuges. Um caso curioso de
litisconsórcio necessário mesmo
quiser propor ação real imobiliária, o havendo solidariedade]
outro deve consentir. Não se trata de III - fundada em dívida contraída
litisconsórcio necessário ativo, mas de por um dos cônjuges a bem da família;
necessidade de consentimento. [cf. CC, 1643, 1644]
Trata-se de um reflexo de IV - que tenha por objeto o
reconhecimento, a constituição ou a
imposição do CC, 1647. extinção de ônus sobre imóvel de um ou
O próprio CPC dispõe que essa de ambos os cônjuges.
exigência de consentimento não se iii) peculiaridades da capacidade
aplica ao regime de separação absoluta. processual das pessoas casadas nas
Esse consentimento pode ter sido ações possessórias –
dado já no pacto antenupcial, ou alguma “Art. 73.
outra convenção processual. (...)
Contudo, pode acontecer de o § 2º Nas ações possessórias, a
participação [termo genérico porque
cônjuge não poder dar o consentimento serve tanto para designar o
(ex.: estar em coma), ou se recusar a dá- consentimento no polo ativo e o
lo sem motivação justa. Nesses dois litisconsórcio necessário no polo
casos, cf. art. 74. Trata-se de um passivo] do cônjuge do autor ou do réu
procedimento de jurisdição voluntária. somente é indispensável nas hipóteses de
“Art. 74. O consentimento “composse” [polo ativo] ou de “ato por
previsto no art. 73 pode ser suprido ambos praticado” [polo passivo].”
judicialmente quando for negado por um Por fim, quanto à união estável, a
dos cônjuges sem justo motivo, ou previsão do CPC:
quando lhe seja impossível concedê-lo. “Art. 73.
Parágrafo único. A falta de (...)
consentimento, quando necessário e não § 3º Aplica-se o disposto neste
suprido pelo juiz, invalida o processo.” artigo à união estável comprovada nos
O que o juiz tem de fazer caso se autos.”
depare com a ausência de O CPC criou uma classificação
consentimento? O juiz deverá intimar o das uniões estáveis: aquelas que
cônjuge preterido para que venha a possuem prova nos autos, e outra que
juízo manifestar-se sobre o tema. Cf. não possui essa característica, não
CC, 1650: fazendo jus à proteção. União estável
“Art. 1.650. A decretação de comprovada nos autos segundo Didier é
invalidade dos atos praticados sem apenas aquela averbada em cartório das
outorga, sem consentimento, ou sem pessoas naturais (o que agora é possível,
suprimento do juiz, só poderá ser
demandada pelo cônjuge a quem cabia cf. Provimento 37/2014 do CNJ).
concedê-la, ou por seus herdeiros.”
ii) peculiaridades da capacidade 4.1.3. Capacidade postulatória
das pessoas casadas no polo passivo – Alguns atos exigem, além da
atenção: nesses casos, o que se exige é o capacidade processual, a capacidade
litisconsórcio passivo necessário. técnica a complementando. Esses atos
“Art. 73 são os atos postulatórios.
(...) Essa capacidade técnica é a
§ 1º Ambos os cônjuges serão capacidade postulatória, i. é, a
necessariamente citados para a ação:
I - que verse sobre direito real capacidade técnica exigida para a
imobiliário, salvo quando casados sob o prática dos atos postulatórios.
regime de separação absoluta de bens; Apenas algumas pessoas possuem
II - resultante de fato que diga capacidade postulatória, profissionais da
respeito a ambos os cônjuges ou de ato área jurídica: advogados, Defensores
praticado por eles; [cuida dos casos de

55
Públicos e membros do Ministério “Art. 662. Os atos praticados por
Público. São duas razões: quem não tenha mandato, ou o tenha sem
poderes suficientes, são ineficazes em
i) qualifica o exercício da relação àquele em cujo nome foram
jurisdição; praticados, salvo se este os ratificar.
ii) protege as pessoas, porque a Parágrafo único. A ratificação há
atividade jurídica é muito técnica, e a de ser expressa, ou resultar de ato
pessoa desacompanhada de um inequívoco, e retroagirá à data do ato.”
profissional terá muita dificuldade no Assim, a STJ, 115 (“Na instância
debate jurídico. especial é inexistente recurso interposto
Em alguns casos a Lei atribui por advogado sem procuração nos
capacidade postulatória ao leigo. autos.”) acabou superada.
“Art. 105. A procuração geral
Exemplos: habeas corpus, Justiça do para o foro, outorgada por instrumento
Trabalho, Juizados Especiais em causas público ou particular assinado pela parte,
de valor de até 20 (vinte) salários habilita o advogado a praticar todos os
mínimos, a mulher que se afirma vitima atos do processo, exceto receber citação,
de violência doméstica (se restringe a confessar, reconhecer a procedência do
pedido, transigir, desistir, renunciar ao
pedir as medidas protetivas de urgência, direito sobre o qual se funda a ação,
e depois deve ser acompanhada de receber, dar quitação, firmar
advogado) etc. compromisso e assinar declaração de
Qual consequência da falta de hipossuficiência econômica, que devem
capacidade postulatória quando a lei a constar de cláusula específica.
§ 1º A procuração pode ser
exige? De acordo com o art. 76 ela deve
assinada digitalmente, na forma da lei.
ser sanada. Se não corrigir, o ato é § 2º A procuração deverá conter o
considerado nulo (cf. art. 4º do nome do advogado, seu número de
EAOAB). inscrição na Ordem dos Advogados do
O advogado deve demonstrar em Brasil e endereço completo.
§ 3º Se o outorgado integrar
juízo que recebeu a procuração
sociedade de advogados, a procuração
(instrumento da representação judicial). também deverá conter o nome dessa, seu
“Art. 104. O advogado não será número de registro na Ordem dos
admitido a postular em juízo sem Advogados do Brasil e endereço
procuração, salvo para evitar preclusão, completo.
decadência ou prescrição, ou para § 4º Salvo disposição expressa em
praticar ato considerado urgente. sentido contrário constante do próprio
§ 1º Nas hipóteses previstas no instrumento, a procuração outorgada na
caput, o advogado deverá, fase de conhecimento é eficaz para todas
independentemente de caução, exibir a as fases do processo, inclusive para o
procuração no prazo de 15 (quinze) dias, cumprimento de sentença.”
prorrogável por igual período por
despacho do juiz.
Poderes gerais são aqueles que
§ 2º O ato não ratificado será não precisam estar previstos
considerado ineficaz relativamente expressamente na procuração, bastando
àquele em cujo nome foi praticado, constituir o Advogado pela procuração
respondendo o advogado pelas despesas que ele já os possuirá. O poder especial
e por perdas e danos.”
deve constar expressamente da
O advogado de atua sem procuração para que possa praticar o ato
procuração pratica atos ineficazes em pelo cliente: “receber citação,
relação “àquele em cujo nome foi confessar, reconhecer a procedência do
praticado”. Ou seja, é ato válido, pedido, transigir, desistir, renunciar ao
praticado por agente capaz, mas o direito sobre o qual se funda a ação,
defeito é a falta de procuração, que gera receber, dar quitação, firmar
a ineficácia relativa do ato. I. é, pode compromisso e assinar declaração de
ser sanada. O CPC, 104, § 2º é hipossuficiência econômica”.
reprodução do art. 662 do CC:

56
Advogados públicos não precisam está em juízo defendendo em nome
juntar procuração porque a própria próprio direito próprio, ou seja, há uma
condição de advogado público já coincidência, na legitimação
outorga a ele o mandato judicial. extraordinária, entre o legitimado e o
titular da relação litigiosa. Trata-se da
4.1.4. Legitimação para a causa situação mais corriqueira, a regra é que
Ela sempre foi tratada como a legitimação seja ordinária.
condição da ação, mas o CPC/2015 não Didier entende que toda discussão
trouxe, pelo menos expressamente, essa sob legitimação ordinária trata-se de
categoria (cf. supra). discussão de mérito. Contudo, prevalece
Legitimação para a causa é a que a legitimação ordinária é uma
aptidão para conduzir em um dos polos análise de pressuposto processual e, por
do processo a discussão em torno de isso, ele é aqui estudado.
determinada situação jurídica. Note-se Legitimidade extraordinária.
que a pessoa pode ser capaz e ter Trata-se da situação quando alguém tem
advogado, mas não ter legitimidade para autorização para estar em juízo em
discutir determinado assunto em juízo. nome próprio defendendo direito alheio.
Assim, toda análise para Sempre que houver legitimação
legitimação para a causa depende da extraordinária haverá uma não
relação entre o sujeito e o que se discute coincidência entre o legitimado e o
em juízo. Não há como saber se alguém titular do direito litigioso.
tem legitimidade em tese, mas apenas à Segundo Didier, exatamente
luz de uma situação concretamente porque há legitimação extraordinária há
aduzida. Essa inclusive é a distinção um problema processual, de
entre legitimação e capacidade de ser legitimidade para a causa (e não de
parte. mérito, cf. visto acima).
A legimitidade ad causam, São exemplos: legitimação para
sempre aferível à luz do caso concreto, ações coletiva; para impetrar habeas
pode ser classificada: corpus; art. 3º, § 2º, II da Lei n.
i) exclusiva ou concorrente – na 13188/2015 – direito de resposta ou
exclusiva, somente um sujeito pode retificação realizados pelos meios de
discutir o assunto em juízo. Na comunicação; terceiro interessado no
legitimação concorrente, mais de uma mandado de segurança.
pessoa tem legitimidade para discuti-lo. Legitimação extraordinária é
Exemplos: todos os credores solidários sinônimo de substituição processual.
podem cobrar a dívida em juízo; todas Substituto processual se refere ao
as associações de MP ou Defensoria legitimado extraordinário.
podem propor ação coletiva. Existe legitimação extraordinária,
Em regra, a legitimidade é também, quando se vai a juízo
exclusiva. defendendo um direito que também é do
A legitimidade concorrente é autor, como o caso do condômino.
indispensável para compreender o Há duas distinções muito
litisconsórcio unitário, que será importantes. A primeira entre
estudado mais à frente e, quando substituição processual e sucessão
ocorrer, deveremos nos lembrar que há processual, quando uma parte será
casos em que o Direito permite que trocada pela outra (uma sucede a outra,
mais de uma pessoa dispute o mesmo como no caso de sair a parte que morreu
direito em juízo. e em seu lugar entrar o espólio). A
ii) ordinária e extraordinária - segunda é entre substituição processual
ordinária é legitimação quando alguém (que é parte, e age em nome próprio,

57
ainda que no interesse alheio – e é o possa discutir em juízo como substituto
substituto processual que vai pagar processual.”
custas e sofrer as multas processuais; a Assim, no último caso do p. ú.
competência em razão da pessoa poderá acima, ele recorre não como terceiro
ser influenciada; sobre ele incidirão os prejudicado, mas como legitimado
impedimentos e suspeições judiciais) e extraordinário.
representação processual (o Ou seja, se o processo é
representante processual não é parte, conduzido por um substituto, o
mas o representado; age em nome substituído pode ser assistente
alheio defendo direito alheio – exemplo: litisconsorcial; e, se o substituto é um
numa ação de investigação de terceiro, mesmo assim pode recorrer.
paternidade, o incapaz é a parte,
enquanto a mãe seu representante
processual). Material de Apoio _ Direito Processual
O processo conduzido pelo Civil_ Fredie Didier_ Aula 05 (II).pdf
legitimado extraordinário e sua coisa Pressupostos processuais objetivos - são
julgada vai atingir o substituído? Sim, relacionados aos atos, cf. visto acima
caso contrário não haveria o menor 4.1.5. Pressupostos objetivos intrínsecos
sentido na atribuição de legitimação Uma regra simples: para que o
extraordinária. processo seja válido, é necessário
Ela está prevista no CPC, 18: respeito ao procedimento (cadeia
“Art. 18. Ninguém poderá procedimental legalmente prevista).
pleitear direito alheio em nome próprio, É intrínseco porque é analisado à
salvo quando autorizado pelo luz do próprio processo para verificar
ordenamento jurídico.(...)” sua validade: o processo não será valido
Perceba-se que não há mais mera se o MP não intervier caso sua
referência à lei como fonte de intervenção seja obrigatória; se a parte
legitimação extraordinária. É possível não juntar procuração e documentos
que o negócio jurídico também preveja indispensáveis à propositura da ação.
a legitimação extraordinária. Se é
possível ceder o direito, também se 4.1.5.1. Citação
pode ceder a legitimidade, o que se dará A citação cumpre um duplo papel
por negócio jurídico (ex.: atribuir à como pressuposto processual: é uma
imobiliária a legitimação para cobrar os condição de eficácia do processo em
aluguéis). relação ao réu (sem a citação o processo
O CPC trouxe duas novidades: só produz efeitos para o autor); e, em
i) o p. ú. do art. 18: segundo lugar, trata-se de um requisito
“Parágrafo único. Havendo
substituição processual, o substituído
de validade da sentença eventualmente
poderá intervir como assistente proferida contra o réu.
litisconsorcial.” “LIVRO VI
ii) art. 996 (legitimidade para DA FORMAÇÃO, DA SUSPENSÃO E
DA EXTINÇÃO DO PROCESSO
recorrer): TÍTULO I
“Art. 996. O recurso pode ser DA FORMAÇÃO DO PROCESSO
interposto pela parte vencida, pelo Art. 312. Considera-se proposta a
terceiro prejudicado e pelo Ministério ação quando a petição inicial for
Público, como parte ou como fiscal da protocolada, todavia, a propositura da
ordem jurídica. ação só produz quanto ao réu os efeitos
Parágrafo único. Cumpre ao mencionados no art. 240 depois que for
terceiro demonstrar a possibilidade de a validamente citado.”
decisão sobre a relação jurídica
submetida à apreciação judicial atingir “Art. 240. A citação válida, ainda
direito de que se afirme titular ou que quando ordenada por juízo incompetente,

58
induz litispendência, torna litigiosa a autos, impugnar a execução, podendo
coisa e constitui em mora o devedor, arguir:
ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 I - falta ou nulidade da citação se,
da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de na fase de conhecimento, o processo
2002 (Código Civil). correu à revelia; (...)”
§ 1º A interrupção da prescrição, O fato de o CPC se referir à
operada pelo despacho que ordena a querela nullitatis como uma forma de
citação, ainda que proferido por juízo
incompetente, retroagirá à data de
defesa em execução, nada impede que
propositura da ação. ela seja proposta autonomamente.
§ 2º Incumbe ao autor adotar, no Obs.: Na PUC/SP prevalece uma
prazo de 10 (dez) dias, as providências ideia segundo a qual a citação é um
necessárias para viabilizar a citação, sob pressuposto de existência do processo.
pena de não se aplicar o disposto no § 1º.
§ 3º A parte não será prejudicada
E, como tal, a querela nullitatis seria
pela demora imputável exclusivamente uma ação declaratória de inexistência.
ao serviço judiciário.”
Não há necessidade que o réu seja 4.1.6. Pressupostos objetivos
citado para uma sentença proferida a extrínsecos
favor do réu. Por isso ela aparece entre Pressupostos extrínsecos são fatos
os requisitos de validade. estranhos ao processo que condicionam
Uma sentença proferida “contra” sua validade.
réu revel não citado ou réu revel citado Se dividem em dois grupos:
invalidamente o CPC considera essas negativo e positivo.
duas hipóteses de sentenças gravemente Pressupostos extrínsecos
defeituosas. Elas podem ser impugnadas negativos. É todo fato que não pode
mesmo após o prazo da ação rescisória. ocorrer para que o processo seja válido.
São chamados de vícios Todo pressuposto começa com a
transrescisórios, por meio da chamada “inexistência de...”:
querela nullitatis. Perceba que essa i) inexistência de coisa julgada;
querela nullitatis é uma ação ii) inexistência de litispendência;
constitutiva que tem o propósito de iii) inexistência de convenção de
invalidar a decisão judicial naqueles arbitragem;
dois casos (réu revel não citado ou iv) inexistência de perempção.
citado invalidamente) e que não tem Os pressupostos negativos
prazo para ser proposta. Ela serve como também são chamados impedimentos
instrumento de reação na execução da processuais.
sentença. Pressuposto extrínseco positivo.
CPC, 525, § 1º, I e 535, I: Trata-se do interesse de agir. Precisa
“Art. 525. Transcorrido o prazo haver interesse de agir para que o
previsto no art. 523 sem o pagamento processo seja válido. Ele sempre foi
voluntário, inicia-se o prazo de 15
(quinze) dias para que o executado,
trabalhado como condição da ação, e
independentemente de penhora ou nova não como pressuposto processual mas,
intimação, apresente, nos próprios autos, vale lembrar, condição da ação é um
sua impugnação. termo que o CPC não mais utiliza.
§ 1º Na impugnação, o executado O exame do interesse de agir tem
poderá alegar:
duas dimensões.
I - falta ou nulidade da citação se,
na fase de conhecimento, o processo A primeira é a utilidade. O
correu à revelia; (...)” processo deve propiciar algum
“Art. 535. A Fazenda Pública benefício, proveito, para aquele que
será intimada na pessoa de seu demanda. Assim é que, quando o
representante judicial, por carga, remessa
processo perde seu objeto, ocorre a
ou meio eletrônico, para, querendo, no
prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios falta de interesse de agir superveniente.

59
Da mesma forma, quando o valor mérito, ou seja, é um problema
a ser executado é tal pequeno que vai processual, levando à extinção do
ser absorvido pelos custos da execução, processo sem exame do mérito;
ela se torna inútil. 2) alguns autores mais antigos
A segunda dimensão do interesse defendem a existência de uma terceira
de agir é a necessidade. Além de útil, o dimensão do interesse de agir, qual seja
processo deve ser o meio necessário à o interesse “adequação”, do
obtenção daquela utilidade, i. é, é procedimento àquilo que se pede.
preciso demonstrar que há necessidade Exemplo: se aquilo que se quer depende
para se dirigir ao Poder Judiciário. de prova pericial, e me valho do
Aqui há um problema relacionado mandado de segurança, então me vali de
com a inafastabilidade da Jurisdição. O um procedimento inadequado, faltando
raciocínio é o seguinte: a jurisdição é interesse de agir na modalidade
inafastável, mas se valer dela sem adequação.
necessidade é tido como conduta Crítica. Erro na escolha do
abusiva. procedimento nada tem a ver com o
Como vimos, existem as interesse processual, tendo mais relação
chamadas ações necessárias, porque o com a análise intrínseca, e não de dados
direito só pode ser exercitado dirigindo- fora do processo; além disso a
se primeiramente ao PJ, e nelas o inadequação pode ser sempre sanada,
interesse processual (necessidade) é enquanto o interesse processual
presumido. (utilidade e/ou necessidade) existe ou
Devemos abordar três questões não.
novas sobre a necessidade como
dimensão do interesse de agir: 4.1.7. Teoria da asserção
i) posicionamento do STF Observação inicial. Essa teoria se
segundo o qual não pode o segurado da desenvolveu ao tempo em que se falava
Previdência propor ação contra o INSS em condições da ação, e servia para
sem antes formular essa demanda explicar como as condições da ação
administrativamente (RE 631240 j. deveriam ser analisadas pelo juiz.
ago/2014) – leitura obrigatória; Como não mais podemos falar em
ii) ação de exibição de documento condições da ação, deveremos visualizar
contra bancos, em que o STJ entendeu a teoria da asserção como o juiz irá
que esta ação depende de prévia analisar a legitimidade ad causam e o
solicitação ao banco daqueles interesse processual.
documentos (REsp 1349453 j. De acordo com essa teoria, a
dez/2014); presença de legitimidade ou interesse de
iii) relativamente à L. 13188/2015 agir deve ser feita apenas à luz do
(direito de resposta e retificação) que, quanto afirmado pela parte. O exercício
em seu art. 5º: é, tomadas as afirmações como
“Art. 5º Se o veículo de verdadeiras, há legitimidade e interesse
comunicação social ou quem por ele de agir? Ou seja, sobre legitimidade e
responda não divulgar, publicar ou
transmitir a resposta ou retificação no
interesse de agir não se produz provas.
prazo de 7 (sete) dias, contado do Pela asserção, de duas uma: ou, da
recebimento do respectivo pedido, na leitura do que afirmado pela parte, você
forma do art. 3º, restará caracterizado o já verifica a existência de legitimidade e
interesse jurídico para a propositura interesse ou, depois, se constatado
de ação judicial.”
supervenientemente a falta de qualquer
Observações finais:
um dos dois, o juiz deve extinguir com
1) a falta de interesse de agir leva
análise do mérito.
sempre a uma decisão que não é de

60
Ex.1: A entra com ação de Elas não são avaliadas apenas na PI,
alimentos contra B. A afirma que é mas em todos os atos.
amigo de B, e que está precisando de Ex.1: pode haver interesse de agir
alimentos, e que B pode pagar. O juiz, e não haver interesse para recorrer;
ao ler a PI, percebe prima facie que não Ex. 2: num mesmo processo, autor
existe legitimidade ad causam de B, e réu estão litigando, mas num
mesmo sendo verdadeira a afirmação da determinado momento se unem para se
amizade, da necessidade de alimentos e defender da pretensão de um terceiro
da capacidade de pagá-los, tendo em que aparece no processo.
vista que não existe vínculo de família. Ex. 3: numa homologação de
Ex. 2: A entra com ação de acordo, o juiz embute no acordo
alimentos contra B, afirmando que cláusulas que as partes não estipularam.
viveu em união estável, que precisa e Os advogados das partes assinam
que o réu pode pagar. Se tudo for conjuntamente uma petição de
verdade, estão presentes legitimidade e embargos de declaração (um
interesse. Depois, se a prova demonstrar litisconsórcio);
que um desses elementos não está Ex. 4: se um juiz é alvo de
presente, não se trata mais de análise de arguição de suspeição, ele se torna parte
pressupostos, tratando-se de caso de (caso interessante em que o próprio juiz
improcedência, já que a falta de tem capacidade postulatória mas, se
legitimidade e de interesse dependeu de quiser recorrer, precisa de advogado!);
prova. Ex. 5: a seguradora o é tanto do
Ou seja, pela teoria da asserção, a autor do dano como da vítima. Como
falta de legitimidade ou de interesse será sua posição no processo, quando
deve ser algo macroscópico. em qualquer das duas situações ela vai
Didier não adota a teoria da pagar a indenização?
asserção, porque para ele falta de A análise das capacidades, da
interesse de agir é sempre falta de legitimidade e do interesse é dinâmica, e
pressuposto processual; e a falta de deve ser feita em cada ato. Assim que:
legitimidade leva a uma decisão de “Art. 17. Para postular em juízo é
mérito; independentemente, num caso necessário ter interesse e legitimidade.”
ou noutro, sendo ou não macroscópico. Ou seja, não é para propor ação,
Mas trata-se de uma teoria muito mas para “postular” (que é um termo
difundida. mais geral e abarca essa realidade
dinâmica da análise das capacidades,
4.1.8. Dinamicidade das capacidades legitimidade e interesse).
processuais, do interesse processual e da *****
legitimidade
O processo é um conjunto de
situações jurídicas, decorrendo de várias
relações jurídicas. NEGÓCIOS JURÍDICOS
Num mesmo processo, os sujeitos PROCESSUAIS
assumem diversas posições jurídicas. E
como assim ocorre, pode acontecer de, 1. Definição
num mesmo processo, a parte ter É todo negócio jurídico que possa
interesse para uma coisa e não ter para repercutir num processo existente ou
outra. As capacidades, o interesse e a futuro. Exemplo: cláusula de eleição de
legitimidade devem ser aferidas foro.
dinamicamente, e não estaticamente. Esse conceito revela a noção de
que o negócio jurídico processual pode
ter se formado durante a pendência do
61
processo, como pode se formar antes do ii) negócios sobre o objeto
processo existir, para um futuro litigioso do processo e negócio sobre o
processo. próprio processo.
Negócios sobre o objeto litigioso
2. Classificação dos negócios jurídicos são os casos de autocomposição já
processuais estudados.
i) unilaterais, bilaterais ou O foco serão os negócios sobre o
plurilaterais – refere-se ao número de processo, sem interferir no direito
vontades exigido para a formação do litigioso. Eles podem ter um de dois
negócio: uma vontade, unilateral objetos: ou se negocia mudanças no
(renúncia ao recurso, desistência do procedimento (permitindo por exemplo
processo são exemplos); duas vontades, a redução dos prazos; ou que as
bilateral (ex. do acordo de suspensão do postulações tenham quantidade máxima
processo, foro de eleição); e mais de de páginas; ou para inverter a ordem de
duas vontades, plurilaterais (num produção de provas) bem como sobre as
processo com vários litisconsortes, eles situações jurídicas processuais (como a
fazem um acordo com a outra parte para renúncia ao recurso, sobre a quantidade
substituir o bem penhorado). de testemunhas)
Observações:
1) os acordos bilaterais e iii) negócios expressos e negócios
plurilaterais podem ser estudados tácitos – no primeiro a vontade é
conjuntamente, posto que sua diferença expressamente revelada, por escrito ou
é apenas de número (inclusive alguns oralmente (o que é a regra). Os negócios
autores nem tratam dos bilaterais). tácitos são aqueles em que a vontade
Os negócios bilaterais/ não se revela expressamente. Nestes
plurilaterais se dividem em duas últimos, podem ser pelo
espécies: 1) os acordos ou convenções, silêncio/omissão (p. ex. quando o réu
negócios plurilaterais em que as não alega a convenção de arbitragem, o
vontades estão direcionadas à mesmas que significa renúncia à arbitragem) ou
consequências (foro de eleição; acordo comissivo, que se dá quando a parte se
de suspensão do processo); 2) e os comporta de uma maneira que pode ser
contrato processuais, negócio reconhecida como vontade negocial
plurilateral em que as vontades se (comportamento concludente), a
destinam a fins diversos (exemplo da exemplo do que previsto no art. 1.000
colaboração premiada – um lado quer do CPC:
acesso a prova, e o outro quer um “Art. 1.000. A parte que aceitar
benefício na sentença). expressa ou tacitamente a decisão não
poderá recorrer.
*A colaboração premida, segundo Parágrafo único. Considera-se
alguns, pode ser utilizada no âmbito das aceitação tácita a prática, sem nenhuma
ações de improbidade administrativa. reserva, de ato incompatível com a
2) nos acordos plurilaterais, o juiz vontade de recorrer. [negócio tácito que
pode ser sujeito, i. é, o negócio jurídico se revela por um ato]”
pode envolver partes e juiz? Alguns Com base na classificação dos
entendem que juiz não celebra negócio negócios expressos e tácitos é que se
processual; de outro, como Didier, vão compreender os poderes do
entendem que sim (pelo exemplo do assistente simples (cf. aulas à frente).
calendário processual previsto no art.
191 do CPC). iv) divide os negócios processuais
naqueles que dependem e os que não
dependem de homologação judicial.

62
Há negócios que somente podem acordo de saneamento do processo;
produzir efeitos depois de homologados suspensão convencional do processo;
pelos Juiz, como a desistência do convenção sobre ônus da prova; escolha
processo. consensual do perito; desistência;
Outro negócio que depende de renúncia ao prazo.
homologação é o acorde de saneamento Atípicos são os negócios não
previsto no CPC, 357, § 2º: regulados pela legislação, que podem
“Seção IV ser criados pelas partes. Ou seja, vale
Do Saneamento e da Organização do para o direito processual o que vale para
Processo
o material: é possível inventar um
Art. 357. Não ocorrendo negócio jurídico processual. Eles foram
nenhuma das hipóteses deste Capítulo, permitidos pelo CPC/2015: princípio
deverá o juiz, em decisão de saneamento da atipicidade dos negócios
e de organização do processo: processuais.
(...)
II - delimitar as questões de fato
São exemplos: atribuição de
sobre as quais recairá a atividade legitimidade extraordinária; negociar
probatória, especificando os meios de que no processo os custos serão
prova admitidos; divididos; que não poderão recorrer;
(...) para que não haja execução provisória;
V - designar, se necessário,
audiência de instrução e julgamento.
para dispensar mutuamente a presença
(...) de assistente técnicos em perícias;
§ 2º As partes podem apresentar acordo para limitar o número de
ao juiz, para homologação, delimitação testemunhas; inverter a ordem de
consensual das questões de fato e de produção de provas. Todos são
direito a que se referem os incisos II e
exemplos de acordos atípicos.
IV, a qual, se homologada, vincula as
partes e o juiz.” A colaboração premiada em
Em regra, os negócios não improbidade administrativa é um
dependem de homologação judicial. exemplo que vem sendo cogitado de
Para depender, ou a lei expressamente o negócio processual atípico.
“Art. 190. Versando o processo
exige, ou as partes inserem a cláusula
sobre direitos que admitam
que exige a homologação como sua autocomposição, é lícito às partes
condição. plenamente capazes estipular mudanças
“Seção III no procedimento para ajustá-lo às
Dos Atos das Partes especificidades da causa e convencionar
Art. 200. Os atos das partes sobre os seus ônus, poderes, faculdades e
consistentes em declarações unilaterais deveres processuais, antes ou durante o
ou bilaterais de vontade produzem processo.
imediatamente a constituição, (...)”
modificação ou extinção de direitos O CPC, 190 é a cláusula geral de
processuais.
permissão dos negócios jurídicos
Parágrafo único. A desistência da
ação só produzirá efeitos após processuais atípicos.
homologação judicial.” Critérios para avaliar a validade
dos negócios processuais:
v) negócios típicos e atípicos - a) capacidade para negociar, i. é,
típicos são os negócios processuais capacidade processual. É necessário
previstos na Lei. Eles já existiam no capacidade processual para se celebrar
CPC/73. O CPC/2015 preservou os que negócios processuais;
já existiam como, também, veiculou b) a Fazenda Pública também
outros novos. pode celebrar negócios jurídicos
São exemplos de negócios típicos: processuais. Inclusive a L13140 rege a
foro de eleição; calendário processual;

63
auto composição celebrada pelo Poder b) o negócio jurídico processual
Público; também pode ser objeto de invalidação
c) o Ministério Público, a apenas parcial;
Defensoria Pública também podem. No c) negócio processual tanto pode
caso do MP, inclusive, deve-se dar ser invalidado por hipótese de nulidade
atenção à Res. n.118 do CNMP de (agente incapaz, objeto ilícito etc.)
dez/2014, que expressamente disciplina quanto por de anulabilidade (vícios de
as convenções processuais celebradas vontade). Quando se tratar de
pelo MP; anulabilidade, ela dependerá de
d) o incapaz representado também provocação do juiz; quando se tratar de
pode (a representação supre a nulidade, pode atuar de ofício.
incapacidade). “art. 190. (...)
e) os Estados podem celebrar Parágrafo único. De ofício
[nulidades] ou a requerimento
convênios para que os procuradores de [anulabilidades], o juiz controlará a
um atuem pelo outro (o que se trata de validade das convenções previstas neste
um negócio processual). artigo, recusando-lhes aplicação somente
A vulnerabilidade é uma questão nos casos de nulidade ou de inserção
que coloca as pessoas incapazes sem abusiva em contrato de adesão ou em que
alguma parte se encontre em manifesta
condição para estabelecer negócios situação de vulnerabilidade.”
processuais. A fragilidade faz com que
o negócio seja nulo. O CPC não define “Art. 142. Convencendo-se, pelas
o que seja vulnerabilidade. Como se circunstâncias, de que autor e réu se
apura então? São indícios de serviram do processo para praticar ato
simulado ou conseguir fim vedado por
vulnerabilidade: a ausência de lei [fraude à lei], o juiz proferirá decisão
participação de advogado na celebração que impeça os objetivos das partes,
do negócio; quando o sujeito está numa aplicando, de ofício, as penalidades da
situação que o próprio direito considera litigância de má-fé.”
de vulneráveis, como consumidor, Esse art. 142 tem importância
trabalhador, o índio, o deficiente, a capital no controle de validade dos
mulher vítima de violência doméstica negócios jurídicos processuais.
etc.(*). O mais complicado é distinguir o
*Em março de 2016 o TST editou uma que pode ser negociado atipicamente.
instrução normativa para interpretar o Esse é o grande desafio dos próximos
CPC (In. 39/2016). Nessa instrução anos. Algumas diretrizes podem ajudar:
normativa preventivamente, o TST a) na dúvida, cabe o negócio (in
afirmou que o art. 190 não se aplica ao dubio pro libertate);
Processo do Trabalho. Essa previsão b) não se pode negociar a não
causa estranheza em dois pontos: a aplicação de uma norma cogente (v. g.,
própria previsão do CPC já resguarda os negociar para que o MP não intervenha;
vulneráveis, além do fato de a JT dispensar a remessa necessária);
também processar e julgar os dissídios c) não é lícito negociar se objeto
coletivos, onde no mais das vezes o MP do negócio puder atingir terceiro (v. g. o
e os sindicatos é que figuram nos polos acordo de sigilo, posto que a
da ação, e esses entes não podem ser publicidade do processo não serve
considerados vulneráveis. apenas para as partes. O processo
Outras regras sobre a validade dos sigiloso só pode ocorrer na arbitragem);
negócios processuais: d) licitude do objeto tal qual
a) só será invalidade se levar ao determina o CC (exemplo: não se pode
prejuízo de alguma das partes; negociar processualmente em que a

64
confissão seja sob tortura, i. é, que uma 2. Classificação
prova ilícita se torne lícita); i) ativo, passivo ou misto
e) não se pode negociar se a
matéria for reservada a lei (v. g., não se ii) inicial ou ulterior (=superve-
pode criar um recurso); e niente) – o litisconsórcio inicial está no
f) sempre que houver um negócio processo que já nasce com
típico, ali estarão os requisitos para ele litisconsórcio. O litisconsórcio ulterior é
ser negociado (sob pena de fraude. Ex.: o que se forma com o processo já em
foro de eleição não é admitido para andamento.
competência que não a relativa). O litisconsórcio superveniente
É plenamente possível negócios pode ocorrer em três situações:
processuais em causas coletivas. Na a) em razão da conexão – a
verdade são possíveis durante o conexão de causas pode levar à reunião
processo, bem como quando se firma de processos, daí a reunião de processos
compromisso de ajustamento de pode gerar um litisconsórcio;
conduta, onde se podem prever vários b) em razão da sucessão – é o
negócios processuais. casso da morte do réu, em que seus
Interpretação. Os negócios herdeiros assumem o polo da ação antes
processuais podem ser interpretados de ocupado pelo réu;
acordo com as regras gerais de c) intervenções de terceiro -
interpretação: boa-fé, usos e costumes, algumas intervenções de terceiro geram
que prestigie a vontade sobre o litisconsórcio superveniente
declarado etc. (CC, 112, 113, 114 e (denunciação da lide; chamamento ao
423). processo).
Pode-se aplicar a teoria da
imprevisão nos negócios processuais, a iii) litisconsórcio unitário e
determinar sua revisão em razão da simples – trata-se de uma classificação
onerosidade excessiva. que leva em consideração o direito
Os negócios processuais são discutido pelos litisconsortes. Assim,
irrevogáveis, em regra, como o são os leva em consideração o direito material.
negócios jurídicos, salvo se no próprio “Art. 116. O litisconsórcio será
negócio ou a lei previr uma hipótese de unitário quando, pela natureza da relação
jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito
revogação. de modo uniforme para todos os
Cabe à parte alegar o litisconsortes.”
inadimplemento de um negócio Por outro lado, se o juiz puder
processual, não sendo dado ao juiz fazê- decidir de forma diferente para cada
lo de ofício. litisconsorte, teremos decisão diferente
***** para cada litisconsorte.
Como se identifica quando é
unitário e quando é simples? Não há
opção para o juiz no litisconsórcio
Material de Apoio _ Direito Processual unitário, a não ser decidir de modo igual
Civil_ Fredie Didier_ Aula 06 (II).pdf para os litisconsortes. Se existir a
LITISCONSÓRCIO “possibilidade” do juiz decidir de
maneira diferente, já se torna simples.
1. Conceito Duas perguntas respondem sobre
É a presença de mais de uma parte a qualidade do litisconsórcio:
em um ou ambos os polos da relação a) os litisconsortes estão
processual. decidindo quantas relações jurídicas?
Olhando para o caso, se mais de uma

65
relação jurídica estiver sendo discutida, for de entrega de uma casa, indivisível;
trata-se de litisconsórcio simples. Se for etc.
uma única relação jurídica, passamos Ex.5: vários aposentados pelo
para segunda pergunta; INSS em litisconsórcio pleiteando um
b) esta única relação jurídica reajuste previdenciário. São vários
discutida é indivisível? Se a resposta for pensionistas (daí, várias relações),
“é indivisível”, então se trata de redundando em litisconsórcio simples.
litisconsórcio unitário. Apesar de poder ser diferente já torna o
Vamos testar essas regras: litisconsórcio em simples (ex.:
Ex. 1: dois condôminos em possibilidade de algum deles desistir da
litisconsórcio indo a juízo para defender ação). Regra desse exemplo: causas
o condomínio. Trata-se de uma só repetitivas geram litisconsórcio
relação jurídica, e o litisconsórcio é simples. Essas causas de massa podem
unitário (ou o juiz protege o condomínio gerar vários litisconsórcios
ou não, e o faz para ambos (consumerista, trituário, FGTS).
condôminos). Esse caso revela a Ex. 6: alguém propõe uma ação
seguinte situação: sempre que houver para anular um contrato. Um terceiro
colegitimação para tutela de direito propõe outra contra os dois primeiros. É
indivisível, o litisconsórcio é unitário. um litisconsórcio unitário, pois e o
Ex. 2: o MP e uma criança se negócio for mantido válido, será para os
litisconsorciam para propor ação de dois; e invalidado, também. Aqui é uma
alimentos. Trata-se de litisconsórcio “dica”: se a ação é constitutiva, tende a
unitário, por conta de ser uma só relação ser litisconsórcio unitário.
jurídica. Nesse caso há apenas um Consequência processual da
credor. Esse caso apresenta uma regra: espécie unitário ou simples do
sempre que houver litisconsórcio entre litisconsórcio. Para sabermos é
legitimado ordinário (incapaz) e importante distinguir a conduta
extraordinário (MP), este litisconsórcio determinante da conduta alternativa.
é unitário. Conduta determinante é aquela
Ex. 3: MP estadual e o MPF em que a uma parte toma e que a coloca
litisconsórcio propõe uma ação civil numa posição desfavorável no processo.
pública. Trata-se de um litisconsórcio Exemplos: revelia, não recorrer,
unitário, pois ambos querem um só confessar, desistir, renunciar, etc.
direito coletivo. Extraímos seguinte Conduta alternativa é aquela que
regra, sem exceção: litisconsórcio pode levar a parte a uma posição
entre dois legitimados favorável (exemplo: recorrer, contestar,
extraordinários é unitário. produzir provas etc.).
Ex. 4: dois credores solidários Podemos criar três regras para
cobrando uma obrigação solidária. Se o explicar o regime de tratamento dos
litisconsórcio se forma em razão da litisconsortes:
solidariedade obrigacional. Aqui surge a 1º) conduta determinante de um
dúvida. Não só porque a obrigação, litisconsorte não prejudica o outro.
sendo uma só, mas solidária, seria um Observação: se o litisconsórcio for
litisconsórcio unitário. A obrigação simples, a conduta determinante vai
solidária pode ser divisível ou prejudicar quem a realizou; se unitário,
indivisível. Regra: a solidariedade é ineficaz, inclusive para quem a
obrigacional pode levar a um praticou;
litisconsórcio unitário ou simples, a 2º) a conduta alternativa de um
depender da divisibilidade da litisconsorte unitário aproveita ao outro;
obrigação. Dar dinheiro é divisível; se

66
3º) a conduta alternativa de um “Art. 113. (...)
litisconsorte simples não beneficia o § 1º O juiz poderá limitar o
litisconsórcio facultativo quanto ao
outro. número de litigantes na fase de
“Art. 117. Os litisconsortes serão conhecimento, na liquidação de sentença
considerados, em suas relações com a ou na execução, quando este
parte adversa, como litigantes distintos, comprometer a rápida solução do litígio
exceto no litisconsórcio unitário, caso em ou dificultar a defesa ou o cumprimento
que os atos e as omissões de um não da sentença.
prejudicarão os outros, mas os poderão § 2º O requerimento de limitação
beneficiar.” interrompe o prazo para manifestação ou
resposta, que recomeçará da intimação
iv) litisconsórcio por comunhão, da decisão que o solucionar.”
conexão e afinidade – trata-se de uma Segundo o art. 1015, VIII, cabe
classificação pela intensidade do agravo de instrumento da decisão que
vínculo entre os litisconsortes. rejeita o requerimento de limitação, i. é,
Se discutem a mesma coisa, l. por não cabe AI contra a decisão que acolhe
comunhão; se discutem interesses o desmembramento.
distintos mas ligados entre si, l. por Esse litisconsórcio multitudinário
conexão; se direitos distintos mas por afinidade ativo, recusável, também
parecidos, l. por afinidade. Não há uma é chamado de litisconsórcio facultativo
quarta espécie de vínculo entre os impróprio.
litisconsortes. Segundo o art. 139, VI, o juiz
Exemplos: litisconsortes por pode dilatar os prazos processuais, de
comunhão, aquele da obrigação forma que pode resolver o problema do
solidária; litisconsórcio por conexão, o prazo para se defender prejudicado no
filho entra com investigação de litisconsórcio ativo multitudinário.
paternidade, e a mãe pede o
ressarcimento das despesas do parto, v) litisconsórcio necessário ou
litisconsortes por afinidade, as causas facultativo – necessário é aquele
repetitivas. imposto para que o processo seja
“TÍTULO II regular; o facultativo o opcional. A
DO LITISCONSÓRCIO questão é saber quando será necessário.
Art. 113. Duas ou mais pessoas “Art. 114. O litisconsórcio será
podem litigar, no mesmo processo, em necessário por disposição de lei ou
conjunto, ativa ou passivamente, quando: quando, pela natureza da relação jurídica
I - entre elas houver comunhão de controvertida [i. é, unitário ou simples], a
direitos ou de obrigações relativamente à eficácia da sentença depender da citação
lide; de todos que devam ser litisconsortes.”
II - entre as causas houver
conexão pelo pedido ou pela causa de Segundo esse art. 114, chegamos
pedir; à conclusão que o litisconsórcio será
III - ocorrer afinidade de questões necessário quando for unitário ou
por ponto comum de fato ou de direito.” quando a lei o impuser.
Todo litisconsórcio por afinidade Devemos forçosamente concluir
é simples. que a lei exigir que o litisconsórcio seja
O litisconsórcio por afinidade necessário, tende a ser um litisconsórcio
pode dar margem ao surgimento do simples, já que o unitário já é, por
chamado litisconsórcio multitudinário, natureza, necessário. Exemplos:
i. é, de multidão. O litisconsórcio usucapião imobiliária exige a citação de
multitudinário por afinidade ativo é todos os confinantes (l. necessário por
recusável, i. é, será possível determinar força de lei e simples, cf. 246, § 3º do
o desmembramento deste litisconsórcio CPC); o litisconsórcio na demarcação
se isso comprometer a duração razoável de terras (CPC, 574), é simples.
do processo ou dificultar a defesa.
67
Assim, o litisconsórcio necessário Enfim, podemos ter as seguintes
por força de lei é excepcional, para combinações de litisconsórcio:
suprir a regra geral do unitário. - unitário facultativo (ex.: em
Concluímos que nem todo litisconsórcio regra, no polo ativo);
necessário é unitário. - unitário necessário (ex.: em
O litisconsórcio necessário regra, no polo passivo; em alguns casos
unitário gera alguns problemas. A previstos na lei);
leitura do CPC passa a impressão de - simples necessário (ex.: por
que o litisconsórcio unitário é força de lei);
necessário. Mas se trata de uma regra - simples facultativo (ex.:
com exceções, porque existem afinidade).
litisconsórcios unitários facultativos. E
identificá-los é um problema. Observação. Aprofundamento
Vale observar que dentre aqueles sobre uma reflexão nova trazida pelo
seis exemplos acima, os casos 1, 2 e 3 CPC/2015. É possível um terceiro tipo
são unitários e facultativos. de litisconsórcio, que não está no art.
Temos as seguinte premissas: 114. Trata-se de um litisconsórcio
- se o litisconsórcio unitário for necessário, ativo ou passivo, decorrente
passivo, ele é l. necessário (em regra); de uma convenção processual.
- o litisconsórcio necessário ativo Exemplo: imagine-se um acordo de
é excepcionalíssimo. Isto, por duas cotistas em que preveja que qualquer
razões: 1) não se pode condicionar o ação para discuti-lo somente pode ser
acesso ao Judiciário à vontade de outra proposto contra os demais, ou que só
pessoa; 2) ninguém pode ser obrigado ir pode ser proposta por cotistas que
a juízo. titularizem X% do capital social.
São exemplos do litisconsórcio Segundo Didier, trata-se de uma
necessário ativo: LSA, 159, § 4º, previsão plenamente possível.
quando o Conselho da S/A não admite Qual a natureza da sentença
processar o Administrador e, diante proferida sem a participação de um
dessa decisão, só pode ser suplantada litisconsorte necessário? Deve-se
por sócios que somem pelo menos 5% primeiramente averiguar qual tipo de
do capital social; o CPC, 599, § 2º, litisconsórcio estamos tratando.
também relacionado à S/A de capital Tratando-se de litisconsórcio necessário
fechado, que também exige os unitário, será nula a sentença, vale dizer,
acionistas que somem ao menos 5% do cabe inclusive querela nullitatis;
capital social. tratando-se de litisconsórcio necessário
Dinamarco e Nery veem simples, será ineficaz.
litisconsórcio necessário ativo em casos “Art. 115. A sentença de mérito,
de cotitularidade de direito indivisível. quando proferida sem a integração do
contraditório, será:
O STJ encampou essa ideia em um I - nula, se a decisão deveria ser
caso, em que na ação de revisão de uniforme em relação a todos que
financiamento imobiliário tinha que ser deveriam ter integrado o processo;
proposta por ambos os cônjuges. [litisconsórcio necessário unitário]
Segundo Nery, aquele que quer II - ineficaz, nos outros casos,
apenas para os que não foram citados.
demandar contra a vontade dos demais [litisconsórcio necessário simples]
deve colocá-los no polo passivo. Didier
e outros não aceitam essas soluções, (...)”
mas que apenas deve ser intimado o Nos casos de litisconsórcio
cotitular do direito, para que tome a facultativo unitário, a coisa julgada se
atitude que julgar cabível. estende para atingir quem poderia ter

68
sido litisconsorte mas não foi? Sim, iii) ação de produção antecipada
tratando-se de um caso em que a coisa de provas – o juiz pode determinar a
julgada atinge terceiros (posição intervenção de todo aquele que entender
majoritária). Alguns entendem que não necessário na produção da prova:
se estende, o que gera um problema “Art. 382.
prático que é a repropositura da ação. § 1º O juiz determinará, de ofício
ou a requerimento da parte, a citação de
Litisconsórcio alternativo, interessados na produção da prova ou no
sucessivo e eventual deve ser estudado fato a ser provado, salvo se inexistente
após a cumulação de pedidos, pois são caráter contencioso.”
assuntos dependentes.
***** iv) embargos de terceiro, CPC,
675, p. ú.:
“Parágrafo único. Caso
identifique a existência de terceiro titular
de interesse em embargar o ato [de
INTERVENÇÃO apreensão], o juiz mandará intimá-lo
“IUSU IUDICIS” pessoalmente.”

É possível defender uma


1. Conceito intervenção iusu iudicis atípica, i. é,
Trata-se da intervenção de um fora das hipóteses legais? Segundo
terceiro por determinação do Juiz. Didier, sim. Neste curso já foram dados
No CPC/39 havia uma previsão dois exemplos: o juiz pode intimar o
genérica dessa intervenção iusu iudicis. cônjuge preterido nos casos do art. 73
No CPC/2015 houve, ao menos 4 do CPC; também que o juiz pode
(quatro) hipóteses: intimar o cotitular de direito indivisível.
i) CPC, 115, p. ú.: A base normativa são dois
“Parágrafo único. Nos casos de princípios: do contraditório (dever do
litisconsórcio passivo necessário, o juiz
determinará ao autor que requeira a juiz zelar por ele); e o princípio da
citação de todos que devam ser eficiência (o juiz deve cuidar para que o
litisconsortes, dentro do prazo que processo não sofra posteriormente uma
assinar, sob pena de extinção do nova discussão intentada por terceiro).
processo.” *****
ii) amicus curiae, cf. art. 138:
“Art. 138. O juiz ou o relator,
considerando a relevância da matéria, a
especificidade do tema objeto da INTERVENÇÃO
demanda ou a repercussão social da LITISCONSORCIAL VOLUNTÁRIA
controvérsia, poderá, por decisão
irrecorrível, de ofício ou a requerimento
das partes ou de quem pretenda
manifestar-se, solicitar ou admitir a
1. Conceito
participação de pessoa natural ou Tem duas acepções na prática
jurídica, órgão ou entidade especializada, jurídica: numa primeira, trata-se de
com representatividade adequada, no sinônimo de assistência litisconsorcial;
prazo de 15 (quinze) dias de sua e, na segunda, é o litisconsórcio
intimação.”
facultativo ulterior ativo simples.
A intervenção do amicus curiae
Imagine que João protocole ação
será estuda mais adiante. O que importa
contra o Banco pedido algo; José pede
aqui é mostrar que pode se dar por
para entrar na ação, por estar em
determinação judicial.
situação afim à de João. José vai se
aproveitar da ação. João e José estão em

69
situação de afinidade, e poderiam ter 1.1. Noções fundamentais
proposto a ação ao mesmo tempo, mas Parte – é o sujeito parcial do
José quer propor a assistência depois do contraditório.
início da ação. Terceiro – é quem está fora do
Trata-se de situação muito comum processo.
na prática, sobretudo quando o que foi a Intervenção de terceiro – é o
juízo primeiro consegue uma liminar. ingresso de terceiro em processo alheio
Durante muito tempo a doutrina tornando-se parte. Ex.: a testemunha
encarou essa intervenção como ilícita, não será parte no processo.
porque o sujeito estaria intervindo Incidente do processo – é todo
escolhendo o juiz, com burla ao juiz procedimento novo que surge em razão
natural. de um processo que já existe e a ele se
De uns dez anos para hoje, tem incorpora (como se fosse um “galho”; é
havido uma maior boa vontade com um desvio que se incorpora ao processo,
essa intervenção, sob o fundamento de tornando-o mais complexo). Toda
que ela é capaz de gerar maior intervenção de terceiro é um incidente
economia processual, bem como do processo. Em nenhum hipótese a
respeito à igualdade, com pessoas em intervenção de terceiro gera processo
situações afins recebendo o mesmo novo, pois se assim não fosse não seria
tratamento. intervenção. Por isso que os embargos
Num sistema de respeito aos de terceiro não são exemplo das
precedentes, isso ganha ainda mais intervenções de terceiro, já que
força, porque situações afins devem ser constituem um processo novo.
tratadas de forma equivalente.
Essa doutrina acabou influenciado 1.2. Razão de a legislação processual
a L12016/2009, que no art. 10, § 2º diz: prever as intervenções de terceiro
“§ 2º O ingresso de litisconsorte Parte-se de uma premissa que
ativo não será admitido após o despacho todo processo, de alguma maneira,
da petição inicial.”
repercute em quem dele não faz parte.
A regra tem o condão de prevenir
Essas repercussões ora são
que interessados adentrem no processo
afetivas, econômicas e jurídicas (desta é
depois que já houver a concessão da
exemplo a sublocação). O legislador
liminar, num ato de esperteza. A
previu hipóteses que terceiros afetados
contrario senso desse dispositivo, temos
pelo processo possam dele participar. A
que até o despacho é permitido o
regra é apenas os terceiros que sofram
ingresso do assistente litisconsorcial
impacto jurídico possam participar do
voluntário.
processo. Excepcionalmente se permite
Se admitido no mandado de
o ingresso com impacto econômico.
segurança, por que não nas demais
De um lado garantem o
ações? Nesse sentido é que se estudou
contraditório de quem pode ser afetado
aqui o instituto.
pela decisão do processo, bem como, de
*****
outro lado, a garantia de economia
processual.

1.3. Classificação das intervenções de


Material de Apoio _ Direito Processual
terceiro
Civil_ Fredie Didier_ Aula 07.pdf
i) intervenções espontâneas e
INTERVENÇÕES DE TERCEIROS
provocadas – espontânea quando o
terceiro pede para entrar no processo
(recurso de terceiro; assistência);
1. Introdução

70
provocada é aquela em que o terceiro é negócios jurídicos processuais, fica a
trazido ao processo (denunciação da pergunta se seria possível conceber
lide; chamamento ao processo; intervenções atípicas por eles (ex.: uma
incidente de desconsideração da assistência sem os pressupostos da
personalidade jurídica). prevista em Lei). Didier entende que é
ii) intervenção ad excludendo e possível por obra dos negócios
ad coadjuvandum – divisão das processuais atípicos, juntamente com
intervenções espontâneas. Na segunda, outros doutrinadores, mas é uma
o terceiro intervêm para ajudar uma das questão nova.
partes (assistência); na primeira, o
terceiro intervêm para se contrapor ao 1.4. Momento das intervenções de
que as partes querem (ocorre em alguns terceiro
casos de recurso de terceiro, como O CPC possui um padrão. As
quando este recorre de uma decisão que intervenções espontâneas podem se dar
homologa um acordo). ao longo de todo o processo
iii) intervenções de terceiro que (assistência, amicus curiae, recurso de
ampliam subjetivamente o processo terceiro). Já as intervenções provocadas
(ampliam o rol, como a assistência) e as possuem outro padrão, que é até o
que modificam subjetivamente o saneamento do processo. Como
processo (o terceiro entra no lugar de exceção, o incidente de desconsideração
alguma das partes, ocorrendo sucessão, da personalidade jurídica, provocado,
como na novel alteração do réu – art. por previsão expressa do CPC, pode ser
338). realizado a qualquer momento,
“Art. 338. Alegando o réu, na inclusive no Tribunal.
contestação, ser parte ilegítima ou não
ser o responsável pelo prejuízo invocado,
o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze)
1.5. Controle pelo magistrado
dias, a alteração da petição inicial para O juiz controlará a entrada do
substituição do réu. terceiro no processo, verificando se
Parágrafo único. Realizada a estão presentes os pressupostos de sua
substituição, o autor reembolsará as intervenção.
despesas e pagará os honorários ao
procurador do réu excluído, que serão
Se se admitir um negócio
fixados entre três e cinco por cento do processual atípico que crie um
valor da causa ou, sendo este irrisório, intervenção atípica, o juiz irá controlar
nos termos do art. 85, § 8º.” o ingresso de acordo com as cláusulas
iv) intervenções de terceiro que do negócio.
ampliam objetivamente o processo A decisão que admite ou não a
(denunciação da lide, incidente de intervenção de terceiro é impugnável
desconsideração da personalidade por agravo de instrumento. Só a decisão
jurídica), e intervenções de terceiro que que admite o amicus curiae é a única
não ampliam objetivamente o processo sobre intervenção de terceiro da qual
(assistência, amicus curiae). não cabe recurso (exceção ao inc. IX do
v) intervenções de terceiros art. 1015).
típicas e atípicas – as primeiras são
expressamente reguladas e previstas por 1.6. Processo de execução
Lei. Atípicas são aquelas fora das Possui intervenções próprias dessa
hipóteses legais. Por exemplo, espécie de personalidade jurídica, que
intervenção litisconsorcial voluntária se serão estudadas no momento
desenvolveu na praxe forense como apropriado. A assistência e o incidente
uma intervenção atípica. Atualmente, de desconsideração de personalidade
com a abertura feita pelo CPC aos jurídica podem ocorrer na execução.

71
processo, que não agrega pedido novo
Observações: (apenas adere ao que está sendo
1) o legislador pode criar discutido) que pode se dar tanto no polo
procedimento que proíba intervenção de passivo quanto no ativo desde que tenha
terceiros. Exemplo: Juizados Especiais interesse jurídico na causa.
(L 9099, art. 10, com a seguinte “TÍTULO III
ressalva: CPC, 1062). DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
“Art. 1.062. O incidente de CAPÍTULO I
desconsideração da personalidade DA ASSISTÊNCIA
jurídica aplica-se ao processo de Seção I
competência dos juizados especiais.” Disposições Comuns
2) As leis que regulamentam a Art. 119. Pendendo causa entre 2
ADI, ADC e ADPF também proíbem a (duas) ou mais pessoas, o terceiro
intervenção de terceiros em seus juridicamente interessado em que a
procedimentos. Mas devem ser anotadas sentença seja favorável a uma delas
três ponderações: a) o histórico que poderá intervir no processo para assisti-
la.
levou essas leis a assim proibirem é que Parágrafo único. A assistência
o STF tinha um entendimento, antes da será admitida em qualquer procedimento
edição dessas leis, que o indivíduo não e em todos os graus de jurisdição,
poderia intervir nesse tipo de processo recebendo o assistente o processo no
porque, sendo objetivos, ela não se estado em que se encontre.
Art. 120. Não havendo
justificava, já que nenhum interesse do impugnação no prazo de 15 (quinze)
indivíduo estava em jogo. Mas essa dias, o pedido do assistente será deferido,
proibição genérica proíbe que salvo se for caso de rejeição liminar.
colegitimados intervenham nas ações Parágrafo único. Se qualquer
dessas espécies que tenham sido parte alegar que falta ao requerente
interesse jurídico para intervir, o juiz
propostas? Não, porque a proibição é
decidirá o incidente, sem suspensão do
para indivíduos; b) a proibição genérica processo.”
não diz respeito à intervenção de A grande questão é saber o que é
amicus curiae. o interesse jurídico que condiciona a
intervenção.
1.7. Diferenças do CPC/2015 para o Para entendê-lo, é necessário
anterior no que tange às intervenções de partir da premissa que existe duas
terceiro dimensões de interesse jurídico a
i) criou novas espécies como a justificar a intervenção.
intervenção de amicus curiae, de A primeira é chamada de interesse
desconsideração da personalidade jurídico, forte, direito ou imediato. A
jurídica e aquelas previstas nos artigos segunda, o interesse jurídico fraco,
338 e 339 (a serem estudadas na indireto ou reflexo. Se o interesse é da
contestação); primeira categoria, a assistência será a
ii) foi extinta a nomeação à assistência litisconsorcial. Se da
autoria, e em seu lugar vieram as segunda, trata-se de assistência simples.
intervenções dos artigos 338 e 339. Essa divisão no CPC é nova, pois antes
iii) reformulou a oposição, que apenas a doutrina a realizava. Além
antes era intervenção de terceiro e agora disso, ela se justifica porque para cada
é procedimento especial uma dessas espécies há um regime
jurídico como se verá adiante.
2. Assistência Há duas variações de interesse
2.1. Conceito e espécies jurídico forte a justificar uma
É uma intervenção de terceiro assistência litisconsorcial: 1º) quando o
espontânea, a qualquer momento do terceiro pede para intervir no processo
72
quando ele se afirma titular do direito alheio. Mas essa legitimação
discutido (art. 18, p. ú., por exemplo); extraordinária é subordinada.
ou quando o terceiro seja cotitular do Os poderes do assistente simples
direito discutido (v. g. o condômino); e são amplos (pode recorrer, impugnar,
2º) quando o terceiro for um alegar, produzir prova), com a diferença
colegitimado extraordinário. que sua atuação fica vinculada à
Há uma relação íntima entre vontade do assistido.
assistência litisconsorcial e “Art. 122. A assistência simples
litisconsórcio unitário. A assistência não obsta a que a parte principal
reconheça a procedência do pedido,
litisconsorcial é litisconsórcio desista da ação, renuncie ao direito sobre
facultativo unitário ulterior, com o o que se funda a ação ou transija sobre
mesmo regramento, sem nenhuma direitos controvertidos.”
referência. Por isso o CPC póssui Todos os casos são negócios
apenas um art. para regular a assistência jurídicos processuais realizados pelo
litisconsorcial: assistido. Se o assistido celebra
“Seção III negócios jurídicos, está manifestando
Da Assistência Litisconsorcial sua vontade, e o assistente nada pode
Art. 124. Considera-se
litisconsorte da parte principal o opor a essas manifestações de vontade.
assistente sempre que a sentença influir Mesmo com essas limitações,
na relação jurídica entre ele e o observe a previsão do art. 121, p. ú:
adversário do assistido.” “Parágrafo único. Sendo revel ou,
de qualquer outro modo, omisso o
Já o interesse jurídico fraco, assistido, o assistente será considerado
seu substituto processual.”
indireto ou mediato, que autoriza a
É difícil compatibilizar esse
assistência simples. O terceiro pede para
dispositivo com o art. 122. Se houver
intervir já afirmando que não é titular da
negócio jurídico praticado pelo
relação jurídica discutida originalmente,
assistido, o assistente fica vinculado
mas sim de outra, que não a discutida, e
(art. 122). Contudo, as omissões do
que possui com o assistido, e que vai
assistido poderão ser supridas pelo
sofrer um efeito da primeira se o
assistente (art. 121, p. ú.). Ex.: se o
assistido perder. Assistente intervêm
assistido não recorrer, o assistente pode
para discutir direito do assistido, pois
suprir essa omissão. Mas, a ausência de
defender este último é defender a sim
recurso do assistido, não significa seu
mesmo por consequência.
interesse claro em não recorrer, sem que
Outro bom exemplo é a ação em
isso revele só sua negligência, i. é, o
trâmite para anular uma escritura
assistido estivesse aceitando a decisão?
pública em razão de dolo. O tabelião
Apenas se for expressa essa vontade,
que lavrou a escritura pode ser
pela renúncia ao direito de recorrer, não
assistente simples do réu para evitar que
pode o assistente simples se opor.
no futuro seja contra si proposta uma
Ato-fato é um ato em que é
ação de regresso.
irrelevante saber-se da vontade. Quando
O Assistente simples não se torna
o assistido pratica um ato-fato, o
litisconsorte do assistido, mas sim um
assistente não se vincula.
auxiliar do assistido. Um exemplo de
Atenção. Há omissões que são
parte auxiliar do assistido. Tem a sua
negociais (cf. retro). Se for esse o caso,
atuação subordinada à vontade do
elas se encaixam no art. 122, e não no
assistido. O assistente simples é um
121, p. ú. A não alegação de convenção
legitimado extraordinário, atua em juízo
de arbitragem é renúncia, de forma que
em nome próprio defendendo direito
se configura uma omissão negocial, e

73
ela não pode ser alegada pelo assistente o Ministério Público estaria ali sofrendo
(configurando o art. 122). algum dano? Pode ser também a
Defensoria Pública no caso de Defensor
2.2. Coisa julgada ou a OAB em caso de advogado. Didier
O assistente simples se submete à entende que justifica sim, o interesse
coisa julgada? Não, pois aquilo que se para atuar como assistente simples. Os
julgou não se refere ao assistente, mas a Tribunais não têm aceito. Contudo, se
uma relação entre o assistido e a outra não se vê o interesse institucional, no
parte. mínimo legitimação como amicus
O assistente simples se submete à curiae se configura.
eficácia da intervenção, ou justiça da iii) No ano de 2.008 houve um
decisão ou eficácia preclusiva da caso no STF paradigmático. Uma
decisão. Não se trata de coisa julgada indústria de tabaco foi discutir a
(que basicamente é sobre o dispositivo) constitucionalidade de determinado ato
porque representa a submissão do normativo, em controle difuso. O
assistente simples à inteireza da sindicado das indústrias de tabaco pediu
fundamentação da decisão e porque o para intervir e ser assistente simples da
assistente simples dela pode escapar, indústria, para ajudar na construção do
sem necessidade de propor ação precedente, e o STF admitiu, i. é, uma
rescisória. assistência simples, de um sindicado,
“Art. 123. Transitada em julgado numa ação individual sobre o
a sentença no processo em que interveio fundamento de que havia um interesse
o assistente, este não poderá, em
processo posterior, discutir a justiça da
da categoria na formação do
decisão, salvo se alegar e provar que: precedente. Interesse da categoria nunca
I - pelo estado em que recebeu o foi admitido como legitimador de
processo ou pelas declarações e pelos assistência, mas esse precedente
atos do assistido, foi impedido de reconfigurou o instituto.
produzir provas suscetíveis de influir na
sentença;
iv) Art. 896-C, § 8º da CLT.
“Art. 896-C. Quando houver
II - desconhecia a existência de
multiplicidade de recursos de revista
alegações ou de provas das quais o
fundados em idêntica questão de direito,
assistido, por dolo ou culpa, não se
a questão poderá ser afetada à Seção
valeu.”
Especializada em Dissídios Individuais
Perceba-se que são duas hipóteses ou ao Tribunal Pleno, por decisão da
em que o assistente não sofrerá a maioria simples de seus membros,
eficácia preclusiva da sentença. As duas mediante requerimento de um dos
configuram o que se chama de exceptio Ministros que compõem a Seção
male gestis processus. Especializada, considerando a relevância
da matéria ou a existência de
entendimentos divergentes entre os
2.3. Aprofundamentos sobre a Ministros dessa Seção ou das Turmas do
assistência simples Tribunal. (Incluído pela Lei nº
i) É possível falar em uma 13.015, de 2014)
assistência simples decorrente de um (...)
§ 8º O relator poderá admitir
negócio jurídico, fora do que prevê a manifestação de pessoa, órgão ou
lei? Sim, conforme visto acima. entidade com interesse na controvérsia,
ii) Interesse institucional. inclusive como assistente simples, na
Exemplo: um promotor esteja sendo forma da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro
processado por um ato praticado como de 1973 (Código de Processo Civil).
(Incluído pela Lei nº 13.015, de 2014)
promotor. O MP poderia intervir neste (...)”
caso como assistente simples do Perceba-se que esse § 8º
promotor sob o fundamento de que há corrobora a alteração dos contornos do
um interesse jurídico institucional, pois
74
que pode configurar interesse indireto Já o p. ú. se refere a todas as
para permitir a intervenção do assistente pessoas de Direito Publico, em qualquer
simples, na linha do precedente do STF causa, com interesse econômico
mencionado em iii retro demonstrado. Cf. adiando supra, esta é a
hipótese de intervenção de terceiro
3. Intervenção especial de ente público baseada em interesse econômico. A
da Lei n. 9469/97 intervenção é para estabelecer questões
de fato e de direito. Muitos defendem
São duas modalidades. Ambas que essa intervenção especial de ente
estão no art. 5º dessa lei. Uma no caput público é, na verdade, uma espécie de
e outro no p. ú. São muito próximas da amicus curiae, de forma a auxiliar na
assistência, pois são espontâneas, a construção da decisão. Assim, poderia
qualquer tempo, em qualquer dos polos ser um amicus curiae especial ou
e que não agregam pedido novo ao assistente especial.
processo.
“Art. 5º A União poderá intervir Material de Apoio - Processo Civil
nas causas em que figurarem, como -Daniel Assumpção - Aula 08.pdf
autoras ou rés, autarquias, fundações
públicas, sociedades de economia mista e
4. Denunciação da lide (CPC, 125/129)
empresas públicas federais. (...)” 4. 1. Conceito
O art. 5º, caput, trás as três É uma intervenção provocada, que
peculiaridades dessa intervenção pode partir tanto do autor quanto do réu.
especial. São elas: Trata-se de uma intervenção
i) exclusiva da União; coercitiva, i. é, com a citação do
ii) intervenção que dispensa a terceiro, automaticamente temos a
demonstração de interesse jurídico (o integração dele ao processo.
legislador presume que haja interesse Além disso, é uma intervenção
jurídico da União); ação, passando a termos um processo
iii) cabe nas AUT, FUND, SEM e objetivamente complexo, já que teremos
EP federais. duas ações no mesmo processo, a
Processo que SEM é parte é de principal e a secundária.
competência da Justiça Estadual. Se a Essa demanda criada pela
união intervier, o processo vai ser denunciação da lide tem quatro
remetido à Justiça Federal. características: é incidente (posto que
Poderia uma Lei estadual criar depende de um processo em trâmite);
uma intervenção como esta para o regressiva (fundada num direito de
Estado? Na opinião de Didier, seguindo regresso da parte contra o terceiro);
Paula Sarno, seria possível. eventual (i. é, revela a prejudicialidade
“art. 5º (...) entre as ações principal e secundária: se
Parágrafo único. As pessoas o denunciante ganhar a ação principal,
jurídicas de direito público poderão, como não suportará danos, não terá o
nas causas cuja decisão possa ter
reflexos, ainda que indiretos, de natureza
que cobrar regressivamente, a
econômica, intervir, independentemente denunciação da lide acaba prejudicada,
da demonstração de interesse jurídico, e o juiz nem chega a decidi-la; e
para esclarecer questões de fato e de antecipada (vale dizer, ela cobra um
direito, podendo juntar documentos e dano futuro e eventual, ou seja, dispensa
memoriais reputados úteis ao exame da
matéria e, se for o caso, recorrer,
o interesse de agir. A economia
hipótese em que, para fins de processual que a denunciação da
deslocamento de competência, serão proporciona faz o legislador optar por
consideradas partes.” sua possibilidade, justificando a
dispensa do interesse de agir).

75
Observação: o CPC, 125, caput, indenizatória por ato ilícito contra a
deixa bastante claro, de forma expressa, Fazenda Pública, e vem seguida do
que a denunciação da lide é facultativa, questionamento de ele pode denunciar a
ou melhor, que não é obrigatória. lide o agente público. Nessa ação contra
Assim, sem denunciação da lide, o a Fazenda Pública, a responsabilidade é
direito de regresso fica preservado. objetiva, enquanto a do agente é
Acaba sendo uma escolha da parte. Se subjetiva. Esta denunciação da lide
não houver, é possível a ação de ocasionaria a ampliação do fundamento
regresso. jurídico originalmente debatido na ação
principal, como se percebe.
4.2. Cabimento Historicamente o STJ não admitia
CPC, 125. (teoria restritiva), sob o entendimento
i) evicção – perda da coisa em que iria prejudicar muito o autor.
razão de decisão judicial. Teremos Atualmente, o STJ (cf. REsp
como parte o adquirente evicto, que vai 1187456/RJ) entende que o cabimento
denunciar a lide ao alienante evicto, dependerá de uma análise do caso
sendo que a parte contrária é o pretenso concreto da efetiva ofensa à celeridade
dono da coisa. de economia processual.
O CPC/1973 admitia a Exemplo: se o Estado acusar
denunciação per saltum, i. é, a culpa exclusiva da vítima, é claro que
denunciação de qualquer sujeito denunciar a lide ou não ao agente
participante da cadeia de transmissão do público envolvido não irá causar
bem. Não existe mais. Em primeiro relevante diferenciação no prazo da
lugar, o art. 125, I trata da denunciação análise do caso (observe-se que a culpa
do alienante imediato. Depois, o art. já foi vinculada na ação principal).
1072, II do CPC revoga o art. 456 do
CC, de onde a doutrina e jurisprudência 4.3. Qualidade processual do
tiravam a possibilidade da denunciação denunciado
per saltum. Na ação secundária, o denunciado
ii) a existência de direito de à lide é réu; na ação principal ele será
regresso previsto em Lei ou contrato. litisconsorte do denunciante (cf. art. 127
Os contratos mais comuns são os de e 128, I).
seguro e de plano de saúde. “Art. 127. Feita a denunciação
Temos aqui uma grande pelo autor, o denunciado poderá assumir
a posição de litisconsorte do denunciante
discussão, travada entre duas teorias. A e acrescentar novos argumentos à petição
primeira, restritiva, defendida por inicial, procedendo-se em seguida à
Nelson Nery, entende que não cabe citação do réu.
incluir no processo fundamento jurídico Art. 128. Feita a denunciação
novo, vale dizer, só se pode denunciar a pelo réu:
I - se o denunciado contestar o
lide quando o direito regressivo pedido formulado pelo autor, o processo
decorrer do objeto da demanda. A teoria prosseguirá tendo, na ação principal, em
ampliativa, defendida por Dinamarco litisconsórcio, denunciante e denunciado;
de HTJr, entende que é possível a (...)”
ampliação. É um litisconsórcio ulterior, ativo
A atual posição da doutrina é ou passivo, necessário (atenção, a DL é
impossível de ser referida, pois o STJ facultativa, mas optando o denunciante
tem muitas decisões nos dois sentidos. por fazê-la, necessariamente o
Assim, esse tema quando cai em prova litisconsórcio se forma) e unitário
envolve uma pergunta direcionada. O (resultado uniforme para denunciante e
mais comum é que envolva uma ação denunciado).

76
Observação: ou seja, o no art. 126 do CPC. Haverá a suspensão
litisconsorte se torna coautor ou coréu. do processo principal; cita-se o terceiro;
Mas, mesmo em uma dessas situações, o terceiro se torna coautor; como
ele não é titular do direito material coautor, o terceiro pode acrescentar
discutido na ação principal. O novos argumentos à petição inicial, cf.
denunciado a lide é legitimado art. 127.
extraordinário, já que defende em nome “Art. 126. A citação do
próprio o direito do denunciante. denunciado será requerida na petição
inicial, se o denunciante for autor, ou na
contestação, se o denunciante for réu,
3.4. Cumprimento de sentença devendo ser realizada na forma e nos
Exemplo: um Hospital (H) entra prazos previstos no art. 131.
com ação contra o paciente (P), de Art. 127. Feita a denunciação
indenização (cobrança). Esse paciente pelo autor, o denunciado poderá assumir
a posição de litisconsorte do denunciante
faz uma denunciação da lide contra o e acrescentar novos argumentos à petição
plano de saúde (S), onde consta um inicial, procedendo-se em seguida à
pedido regressivo. No exemplo, temos citação do réu.”
dois pedidos, o que pode gerar duas Assim, não cabe ao denunciado
condenações: a primeira, sobre a pelo autor alterar o objeto da ação
cobrança, e a segunda, sobre o direito principal, já que não é o titular do
de regresso. Dentro da melhor técnica, P objeto (causa de pedir e pedido)
paga H, e S ressarce P. Contudo, é discutido nela.
possível que P não tenha o valor
decorrente da condenação, o que na 4.7. Denunciação pelo réu
prática acabou gerando uma série de Será realizada no prazo da
problemas práticos. Daí, que o CPC, resposta (momento preclusivo), por
128 passou a prever o cumprimento de tópico na própria contestação (cf. art.
sentença diretamente contra o 126). Segue-se a citação do terceiro, que
denunciado. integra a lide como réu (na
denunciação) e corréu (na ação
4.5. Denunciação sucessiva principal).
É a denunciação da denunciação. No art. 128, são previstas,
Ocorrem os mesmos sujeitos. Há exemplificativamente, algumas postura
expressa previsão dessa possibilidade do denunciado:
no art. 125, § 2º. Contudo, no sistema “Art. 128. Feita a denunciação
atual há uma limitação, i. é, só pode pelo réu:
I - se o denunciado contestar o
ocorrer uma denunciação da pedido formulado pelo autor, o processo
denunciação. prosseguirá tendo, na ação principal, em
“Art. 125 (...) § 2º Admite-se uma litisconsórcio, denunciante e denunciado;
única denunciação sucessiva, promovida II - se o denunciado for revel, o
pelo denunciado, contra seu antecessor denunciante pode deixar de prosseguir
imediato na cadeia dominial ou quem com sua defesa, eventualmente
seja responsável por indenizá-lo, não oferecida, e abster-se de recorrer,
podendo o denunciado sucessivo restringindo sua atuação à ação
promover nova denunciação, hipótese em regressiva;
que eventual direito de regresso será III - se o denunciado confessar os
exercido por ação autônoma.” fatos alegados pelo autor na ação
principal, o denunciante poderá
4.6. Denunciação da lide pelo autor prosseguir com sua defesa ou, aderindo a
O momento é o da propositura da tal reconhecimento, pedir apenas a
procedência da ação de regresso.
ação principal. A denunciação da lide
Parágrafo único. Procedente o
será um tópico da petição inicial, sob pedido da ação principal, pode o autor, se
pena de preclusão. Ela está consagrada for o caso, requerer o cumprimento da

77
sentença também contra o denunciado, demandado, quando ele chama ao
nos limites da condenação deste na ação processo os demais fiadores ou esses
regressiva.”
juntamente com o devedor principal.
A conclusão é que a atuação do
O inc. III trata do devedor
denunciado não determina a postura do
solidário, que vai chamar ao processo os
denunciante.
demais.
Observação: esse tipo de
5. Chamamento ao processo
chamamento a processo do inc. III é
CPC, 130 a 132.
limitado á obrigação de pagar quantia.
5.1. Conceito
Info. 490 e REsp 1009947/SC. O STJ
É uma intervenção provocada,
entende que a expressão “pagamento da
exclusiva do réu, forçada (i. é, a citação
‘dívida’” significa obrigação de
integra o terceiro), realizada nos casos
pagamento da dívida comum. No STF o
de coobrigação em que nem todos
entendimento é o mesmo, cf. STF, RE
estejam no polo passivo.
607381 AgR/SC e STJ, REsp
Segundo o CC, 275, o credor tem
1203244/SC, segundo os quais na ação
o direito de exigir de um ou de alguns
de fornecimento de remédio contra o
dos devedores. O chamamento ao
Município e o Estado não cabe
processo confronta essa regra, pois o
chamamento da União.
réu é quem escolhe contra quem o “CAPÍTULO III
credor vai litigar. Essa possibilidade é DO CHAMAMENTO AO PROCESSO
confirmada pela jurisprudência do STJ, Art. 130. É admissível o
cf. AgRg no REsp 1281020/DF, ao chamamento ao processo, requerido pelo
dizer que o chamamento ao processo réu:
I - do afiançado, na ação em que o
forma um litisconsórcio passivo fiador for réu;
ulterior, vale dizer, o credor deverá II - dos demais fiadores, na ação
litigar contra o réu originário e aquele proposta contra um ou alguns deles;
que foi chamado ao processo. III - dos demais devedores
Assim o certo é que o credor solidários, quando o credor exigir de um
ou de alguns o pagamento da dívida
escolhe contra quem vai “propor” a comum.
ação, mas quem decide com quem ele
vai “litigar” é o réu. 5.3. Procedimento
Deve ser colocado um tópico na
5.2. Cabimento contestação. Será realizada a citação do
Segundo o inc. I, o réu fiador terceiro. Cf. art. 131 o prazo será de 30
pode chamar ao processo o devedor dias ou 2 meses, se estiver em comarca
principal. ou sessão judiciária diferente. O
Obs. 1: esse chamamento garante vencimento desse prazo torna o
ao fiador o exercício futuro e eventual chamamento ao processo ineficaz.
do direito ao benefício de ordem. Art. 131. A citação daqueles que
Obs. 2: não cabe o inverso, i. é, o devam figurar em litisconsórcio passivo
devedor principal não pode chamar ao será requerida pelo réu na contestação e
processo o fiador. Se o credor resolveu deve ser promovida no prazo de 30
(trinta) dias, sob pena de ficar sem efeito
litigar contra o devedor principal, este o chamamento.
não pode chamar ao processo o fiador. Parágrafo único. Se o chamado
Trata-se de uma regra oculta, pela qual residir em outra comarca, seção ou
o réu só pode chamar ao processo subseção judiciárias, ou em lugar incerto,
quem seja tão ou mais responsável que o prazo será de 2 (dois) meses.
ele. Obviamente, o vencimento deve
A segunda possibilidade (inc. II) é vencer por culpa do réu para que ocorra.
aquela em que apenas um dos fiadores é Se não houve sua culpa, não haverá

78
ineficácia do chamamento (ex.: a § 2º foi insuficiente, ao não prever esta
demora normal da escrivania ou da espécie de desconsideração).
máquina do judiciário, não incidirá a
sanção). 6.2. Cabimento
Art. 132. A sentença de Esse incidente é obrigatório.
procedência valerá como título executivo Contudo o art. 134, § 2º prevê a única
em favor do réu que satisfizer a dívida, a
fim de que possa exigi-la, por inteiro, do
hipótese de dispensa do procedimento: a
devedor principal, ou, de cada um dos formação de litisconsórcio passivo
codevedores, a sua quota, na proporção inicial entre sociedade e sócios.
que lhes tocar.” Ou seja, seja no processo de
conhecimento ou no de execução, o
6. Incidente de desconsideração da credor pode colocar na PI todo mundo
personalidade jurídica como executado.
6.1. Introdução Obs.: essa obrigatoriedade
A desconsideração da também se aplica aos Juizados Especiais
personalidade jurídica não é uma (CPC, 1062). Nesse caso, o art. 136
novidade absoluta, mas uma realidade já prevê que cabe agravo de instrumento,
consagrada. Até a edição do CPC, de forma que deverá ser admitido esse
várias leis tratavam da desconsideração, recurso nos Juizados.
mas sempre tratando de direito material, A qualquer momento do processo
e o procedimento ficou ao sabor da o incidente poderá se instaurado (CPC,
construção jurisdicional. A novidade, 134, caput). Assim, com a
então, fica a cargo do procedimento. desconsideração admitida na fase de
O art. 133, § 1º é importante conhecimento, deve ser realizada sem
porque afirma que a desconsideração constrição judicial. Já na fase de
em si depende da configuração dos execução e no processo de execução a
pressupostos legais, e não é função do desconsideração pode ser seguida de
CPC prever tais requisitos (“O pedido penhora.
de desconsideração da personalidade Segundo o art. 792, § 3º, o termo
jurídica observará os pressupostos inicial da fraude à execução nesse caso
previstos em lei.”). é a citação da parte cuja personalidade
Tradicionalmente, o devedor é a se pretende desconsiderar. Dessa forma,
sociedade e o sócio é apenas não é necessário que o credor se afobe
responsável patrimonial secundário. em logo propor a desconsideração, pois
Mas o STJ criou outras duas espécies de a citação da sociedade (vamos imaginar
desconsideração da personalidade o caso tradicional) já gera um efeito de
jurídica: considerar as alienações realizadas
i) desconsideração inversa – o pelos sócios, a partir de então, em
devedor é o sócio, e a responsabilidade fraude à execução.
patrimonial secundária é da sociedade Obs.: o art. 137 não contraria o
(o art. 133, § 2º prevê aplicação da 792, § 3º. Ele apenas afirma que a
desconsideração do CPC a ela); ineficácia em razão da fraude à
ii) desconsideração da execução depende do acolhimento do
personalidade jurídica econômica – o pedido.
devedor principal é uma sociedade, a
responsável patrimonial secundária é 6.3. Procedimento
outra sociedade, desde que sejam do 1) pedido da parte ou do MP
mesmo grupo econômico. O fato de ser como fiscal da ordem jurídica (CPC,
uma desconsideração leva à aplicação 133, caput);
do incidente (de forma que o CPC, 133,

79
Obs. 1: não cabe de ofício (o CC, fases do processo de conhecimento, no
50 também já exigia); cumprimento de sentença e na execução
fundada em título executivo
Obs. 2: o CPC, 133, § 4º exige a extrajudicial.
configuração dos pressupostos legais § 1º A instauração do incidente
específicos. será imediatamente comunicada ao
2) Instaura-se o incidente, o que distribuidor para as anotações devidas.
deve ser comunicado imediatamente ao § 2º Dispensa-se a instauração do
incidente se a desconsideração da
distribuidor para as devidas anotações personalidade jurídica for requerida na
(art. 134, § 1º) petição inicial, hipótese em que será
3) citação do sócio (tradicional) citado o sócio ou a pessoa jurídica.
ou da sociedade (desconsideração § 3º A instauração do incidente
inversa) para defesa em 15 (quinze) dias suspenderá o processo, salvo na hipótese
do § 2º.
para impugnar o pedido e especificar § 4º O requerimento deve
provas. A lei não chama de contestação. demonstrar o preenchimento dos
Obs.: na vigência do CPC/73, o pressupostos legais específicos para
STJ havia consolidado a aplicação do desconsideração da personalidade
contraditório diferido, i. é, a partir do jurídica.
Art. 135. Instaurado o incidente,
pedido de desconsideração, vinha a
o sócio ou a pessoa jurídica será citado
decisão de acolhimento e, só depois, se para manifestar-se e requerer as provas
informava os sócios e permitia-se a cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
reação. Contudo, o art. 135 do NCPC Art. 136. Concluída a instrução,
consagra para essa desconsideração o se necessária, o incidente será resolvido
por decisão interlocutória.
contraditório tradicional, e não o
Parágrafo único. Se a decisão for
diferido. Na verdade, o contraditório proferida pelo relator, cabe agravo
diferido não desapareceu, mas apenas interno.
nas hipóteses do art. 9º, p. ú. (tutelas Art. 137. Acolhido o pedido de
provisórias – urgência ou evidência). desconsideração, a alienação ou a
) produção de provas oneração de bens, havida em fraude de
execução, será ineficaz em relação ao
) agravo de instrumento, se for o requerente.”
caso (CPC, 136, caput).
Obs.: o relator, 7. Amicus curiae
monocraticamente, pode deferir a
desconsideração em processo originário 7.1. Introdução
ou em grau de recurso (CPC, 932, VI), Em tradução livre, é o amigo da
sendo cabível o agravo interno de sua corte, que vai ajudá-la a qualificar o
decisão, cf. art. 136, p. ú. Cf. art. 1.021. julgamento no aspecto jurídico.
“CAPÍTULO IV
DO INCIDENTE DE
Esse amicus curiae não pode ter
DESCONSIDERAÇÃO DA interesse jurídico na demanda. Ele deve
PERSONALIDADE JURÍDICA ter interesse institucional. Assim, não se
Art. 133. O incidente de confunde com o perito, que tem sua
desconsideração da personalidade atuação no aspecto fático.
jurídica será instaurado a pedido da parte
CPC, 138, caput. Pode ser uma
ou do Ministério Público, quando lhe
couber intervir no processo. pessoa natural, jurídica, um órgão ou
§ 1º O pedido de desconsideração uma entidade especializada. Nos três
da personalidade jurídica observará os últimos caso exige-se a
pressupostos previstos em lei. representatividade adequada.
§ 2º Aplica-se o disposto neste
Obs. 1: para todos acima, é
Capítulo à hipótese de desconsideração
inversa da personalidade jurídica. obrigatório o requisito do notório
Art. 134. O incidente de conhecimento jurídico da matéria.
desconsideração é cabível em todas as

80
Obs. 2: a representatividade Trata-se de intervenção
adequada exige a existência de uma voluntária, já que depende da vontade
correlação entre a matéria e a área de do terceiro querer participar.
atuação (o que estará definido pelo Imagine-se uma decisão
objeto social daquela pessoa jurídica ou interlocutória que defere o ingresso e
órgão). Revela uma situação típica de requer a manifestação. Essa decisão é
tutela coletiva que se manifesta em irrecorrível.
intervenção de amicus curiae. Obs.: a decisão interlocutória
Será interessante saber qual será a pode indeferir o pedido da parte para
postura do STF sobre a nova previsão que o terceiro ingresso, ou o pedido do
da possibilidade de a pessoa natural terceiro para ingressar. Essa é uma
poder intervir, já que no seu decisão recorrível, porque não entra na
entendimento anterior não admitia. previsão do art. 138, caput. Cf. art.
1015, IX, se é considerado terceiro
7. 2. Natureza jurídica interveniente, será agravável; se se
O CPC tratou a figura do amicus mantiver o entendimento do STF, sendo
curiae como um terceiro interveniente auxiliar do juízo, o recurso cabível será
típico. a apelação, cf. art. 1009, § 1º.
Cf. Inf. 489 do STF e TP ADI-ED Assim que o amicus curiae
3615/PB, pelo qual a Corte entende que ingressa no processo o juiz delimita
se trata de um auxiliar eventual do seus poderes, cf. art. 138, § 2º. Contudo,
juízo. há pelo menos dois poderes já previstos
pelo CPC: i) manifestação por escrito
7.3. Cabimento em 15 (quinze) dias, cf. caput; ii)
Art. 138, caput. Prevê três legitimidade recursal para embargos de
hipóteses de cabimento do amicus declaração e RE e REsp no IRDR, cf.
curiae: §§ 1º e 3º. O prazo de 15 (quinze) dias
i) relevância da matéria; pode ser ampliado (art. 139, VI)
ii) especificidade do tema; Obs. 2: Art. 138, § 1º. A
iii) repercussão social. intervenção do amicus curiae não altera
São hipóteses alternativas, que no competência.
caso concreto tendem a se confundir.
Todas são conceito jurídico 8. Alienação de coisa litigiosa
indeterminado. Não é intervenção de terceiro,
Obs. 1: no CPC/73, havia um rol mas é assunto afim. Cf. art. 109 do
legal exauriente de cabimento CPC.
específico do amicus curiae. No sistema Numa determinada ação o objeto
do NCP se previram as hipóteses é a discussão da propriedade de coisa. A
genéricas cf. se percebe da lista retro. partir do momento em que temos a
Além disso, cabe em qualquer processo, citação do réu, a coisa se torna litigiosa
a qualquer momento, em qualquer grau (cf. art. 240, caput). Ainda assim, ele,
de jurisdição. réu, não perde sua disponibilidade sobre
a coisa.
7.4. Procedimento Assim, o réu pode alienar esta
A intervenção pode ser provocada coisa litigiosa para terceiro. Cf. art. 792,
pelo juiz de ofício ou por pedido da I, considera-se fraude a credores.
parte, mas também pode ser espontânea No caso em que ocorre essa
por pedido do terceiro. alienação, pode ocorrer a sucessão
processual, em que o comprador assume
o polo passivo da ação, desde que haja

81
anuência do autor (§ 1º). Não havendo a
anuência, teremos uma hipótese de 2. Petição inicial
substituição processual: serão mantidas O ato processual que
as partes originais do processo, mas instrumentaliza a propositura da ação é
aquele que alienou ali fica no interesse a petição inicial (“PI”).
do comprador. E, justamente por conta
disso, o § 2º prevê que o comprador 2.1. Introdução
pode ingressar no processo como Trata-se de um ato solene
Assistente litisconsorcial do vendedor. (depende de requisitos formais). A
petição inicial exerce dupla função
dentro do processo: 1) para provocar a
Material de Apoio - Processo Civil instauração do processo; 2) identificar a
-Daniel Assumpção - Aula 09 (II).pdf demanda (partes, causa de pedir e
1. Formação do processo pedido).
“Art. 2º O processo começa por Obs.: nos juizados especiais, cf.
iniciativa da parte e se desenvolve por art. 14 da L9099/95, chama o ato de
impulso oficial, salvo as exceções
previstas em lei.”
provocação da jurisdição de “pedido”,
Este artigo dispõe sobre o muito mais informal que a petição
princípio da inércia da jurisdição, que é inicial. Esse é um dos motivos pelo qual
voltada ao início do processo, já que não deve existir remessa dos autos a
depois está sujeito ao impulso oficial. outro órgão da Justiça em caso de
O termo inicial do processo é a incompetência do JECiv.
propositura da ação.
“LIVRO VI 2.2. Requisitos formais
DA FORMAÇÃO, DA SUSPENSÃO E Trata-se de um ato escrito em
DA EXTINÇÃO DO PROCESSO língua portuguesa (todo ato praticado no
TÍTULO I processo deve sê-lo, salvo algumas
DA FORMAÇÃO DO PROCESSO
Art. 312. Considera-se proposta a
expressões estrangeiras consagradas),
ação quando a petição inicial for assinada pelo advogado e seu endereço
protocolada, todavia, a propositura da (CPC, 106, I, exigindo-se emenda).
ação só produz quanto ao réu os efeitos Parece ter havido um erro, pois no art.
mencionados no art. 240 depois que for 106, § 1º faz parecer que se refere
validamente citado.”
apenas ao para advogado em causa
Primeiro há o protocolo, depois
própria houve silêncio da Lei.
seu registro. A depender do caso, ainda “Art. 105. A procuração geral
ocorrerá distribuição, nos foros com para o foro, outorgada por instrumento
mais de uma vara. público ou particular assinado pela parte,
Obs.: no momento da propositura habilita o advogado a praticar todos os
da ação, teremos uma relação jurídica atos do processo, exceto receber citação,
confessar, reconhecer a procedência do
processual linear, i. é, ainda integra pedido, transigir, desistir, renunciar ao
apenas autor e juiz. Só se direito sobre o qual se funda a ação,
complementará com a citação, i. é, receber, dar quitação, firmar
relação tríplice. Podemos então afirmar compromisso e assinar declaração de
que o processo tem uma formação hipossuficiência econômica, que devem
constar de cláusula específica.
gradual: primeiro na relação autor juiz, § 1º A procuração pode ser
depois agregando o réu. assinada digitalmente, na forma da lei.
Litispendência. Pendência do § 2º A procuração deverá conter o
processo. Ela já gera efeitos para o autor nome do advogado, seu número de
desde a propositura, enquanto para o inscrição na Ordem dos Advogados do
Brasil e endereço completo.
réu, esses efeitos da litispendência são § 3º Se o outorgado integrar
gerados desde a citação. sociedade de advogados, a procuração

82
também deverá conter o nome dessa, seu artigos 1050 e 1051. Enquanto não
número de registro na Ordem dos estabelecido o cadastro o requisito
Advogados do Brasil e endereço
completo.
formal aqui tratado não é exigível.
§ 4º Salvo disposição expressa em Qualificação deficitária
sentido contrário constante do próprio (incompleta). Se for do autor, ou 1)
instrumento, a procuração outorgada na estamos diante de um problema de
fase de conhecimento é eficaz para todas ignorância do art. 319, II, ou 2) estamos
as fases do processo, inclusive para o
cumprimento de sentença.
diante de um ato de má-fé (supressão de
Art. 106. Quando postular em alguma informação que o autor acha
causa própria, incumbe ao advogado: negativa). Trata-se de um vício sanável,
I - declarar, na petição inicial ou devendo ser determinada a emenda da
na contestação, o endereço, seu número PI.
de inscrição na Ordem dos Advogados
do Brasil e o nome da sociedade de
O mais comum é a qualificação
advogados da qual participa, para o deficitária do réu. Se esse defeito ainda
recebimento de intimações; assim permitir a citação do réu, ela será
II - comunicar ao juízo qualquer admitida (não será considerado
mudança de endereço. impeditivo para andamento do
§ 1º Se o advogado descumprir o
processo).
disposto no inciso I, o juiz ordenará que
se supra a omissão, no prazo de 5 (cinco) Obs. 1: requerimento ao juiz para
dias, antes de determinar a citação do diligências (CPC, 319, § 1º).
réu, sob pena de indeferimento da Obs. 2: no § 3º há permissão para
petição. a qualificação dispensada quando for
§ 2º Se o advogado infringir o
impossível ou extremamente onerosa.
previsto no inciso II, serão consideradas
válidas as intimações enviadas por carta Serve principalmente para as ações
registrada ou meio eletrônico ao possessórias contra multidões.
endereço constante dos autos.” iii) fato(s) e fundamentos
Requisitos da petição inicial estão jurídicos – repertiram o erro do CPC
no CPC, 319: anterior, colocando fato no singular,
“” além do que pode ser apenas um
i) endereçamento – será declarado fundamento jurídico.
o juízo ou o Tribunal. Obs.1: trata-se do dispositivo que
Obs. 1: possível que, já na inicial, consagra a teoria da substanciação
se saiba o nome do Juiz. Contudo, não (causa de pedir formada pelos fatos e
pode ser feita a indicação, pois seria fundamentos jurídicos).
confundir juiz com juízo. Havendo a Obs. 2: o fundamento “legal”
indicação, é considerada mera (=indicação de artigo de lei, norma
irregularidade. legal) não é requisito da petição inicial,
Obs. 2: a competência do juízo é mas o fundamento “jurídico”
irrelevante, i. é, cumpre-se o requisito iv) pedido
formal com a indicação de qualquer a) aspectos
juízo. 1) processual – trata-se da espécie
ii) nomes e qualificação das partes de tutela;
Obs. 1: deve ser indicada a 2) aspecto material – bem da vida,
existência de união estável. Contudo, i. é, a vantagem prática pretendida.
refere-se àquela já reconhecida, seja por
contrato registrado ou por decisão b) requisitos formais
judicial. 1) art. 322, caput c/c 324, caput:
Obs. 2: endereço eletrônico certeza e determinação
(email) se refere apenas àqueles Certeza. Tanto do pedido
cadastrados no Poder Judiciário cf. imediato (indicação da espécie de tutela

83
pretendida); quanto do mediato (gênero - se o valor depender de ato a ser
do bem da vida). Segundo AgRg no praticado pelo réu, também não há
REsp 764820/MG, não existe pedido como exigir que o pedido seja
incerto! determinado. O pedido deve ser de
Obs.: art. 322, § 2º, interpretação condenação do réu a prestar as contas e
do pedido – conjunto da postulação e a pagar o saldo.
princípio da boa-fé.
Cf. STJ, AgRg no REsp c) pedido implícito – a regra do
526638/SP, em que pode ser CPC, 492, é que o juiz só pode conceder
considerado pedido fora da parte “DO o que for pedido pelo autor.
PEDIDO” da petição inicial. A petição Excepcionalmente, mesmo sem pedido,
deve ser levada em consideração como o juiz poderá conceder tutela, mesmo
um todo. sem pedido. Trata-se do pedido
Cf. STJ, REsp 1155274/PE, implícito (não feito, mas decorre da
segundo o qual o pedido que poderia ter narrativa) e que tem previsão legal:
sido feito em razão da causa de pedir 1) despesas e custas processuais
não pode ser decidido. Ou seja, deve (CPC, 322, § 1º);
haver o pedido em alguma parte da PI 2) honorários advocatícios (CPC,
de forma expressa, sob pena de ser uma 322, § 1º) – obs.: decisão omissa quanto
decisão extrapetita. aos honorários advocatícios – parte não
Determinação. Só será exigida no pede e o juiz não concede – quando, cf.
pedido mediato. Significa quantidade art. 85, § 18, caberá ação de cobrança
(liquidez) de bens da vida pretendidos desses honorários, revogando
pelo autor. parcialmente a STJ, 453;
A determinação do pedido pode 3) prestações vincendas em
ser excepcionada, pelo chamado pedido relações de trato sucessivo (CPC, 323);
genérico, art. 324, § 1º (i. é, pedido 4) correção monetária nas
ilíquido). São elas: obrigações de pagar quantia.
- ações universais, universalidade Obs.: REsp 1112524/DF, inf. 445
de bens, que pode ser fática (biblioteca) STJ: a correção monetária serve para
ou jurídica ( evitar um minus, e não para entregar um
- ação indenizatória, quando for plus. Assim, a correção monetária é
impossível a fixação do valor do dano. juridicamente entendida como pedido
Isto porque o ato ilícito ainda está implícito;
gerando efeitos. 5) juros moratórios (obrigações de
Obs. 1: se o valor indenizatório pagar quantia). Não se aplica aos juros
depende de perícia, ela em tese deveria contratuais!
ser feita para apurar o valor da causa Obs.: STF, 254: “Incluem-se os
antes da propositura. Contudo, ela seria juros moratórios na liquidação, embora
jogada fora assim que o réu a omisso o pedido inicial ou a
impugnasse, sendo necessário fazer condenação.” Ou seja, mesmo sem
outra, judicial. Assim, se for necessário menção aos juros, mesmo na sentença,
fazer uma perícia para se chegar ao eles devem ser levados em consideração
valor, pode ser feito pedido genérico na no cálculo da dívida.
propositura da ação; 6) alimentos – atenção:
Obs. 2: o dano moral é - numa ação de investigação de
determinado (CPC, 292, V), paternidade (cf. L8560/ 92, art. 7º, que
ultrapassando a jurisprudência do STJ permite, bem como cf. AgRg no Ag
que havia se assentado no sistema 778187/PR);
anterior.

84
- nas demais ações: aqui ocorre o - § 1º: requisitos cumulativos – 1)
embate entre os princípios da inércia e que os pedidos não sejam incompatíveis
da dignidade da pessoa humana. Deve entre si, mas com a obs.: cf. art. 327, §
ser feito o juízo de ponderação. 3º, não é cabível na cumulação
7) astreintes – gera direito de imprópria; 2) que o mesmo juízo seja
crédito que não faz parte do pedido do competente. Obs.: se houver diferentes
autor. Se considerar que a multa não competências absolutas, haverá
funcionou, é pedido implícito exclusão do pedido; se houver
(Dinamarco, Marinoni). Por outro lado, diferentes competências relativas, se o
se a multa funcionar, e a parte obedecer réu alegar incompetência relativa, em
o comando da decisão, o autor recebe caso de pedidos conexo, rejeita; se não
exatamente o que pediu, não se trata de forem conexos, o juiz exclui o pedido;
pedido implícito. 3) mesmo procedimento para todos os
pedidos cumulados. Essa regra tornaria
4. Cumulação de Pedidos incompatível uma cumulação de pedido
pelo procedimento comum com outro
41. Espécies de cumulação especial, mas o CPC, 327, § 2º prevê
a) própria – todos os pedidos que casuisticamente, se as técnicas
podem ser acolhidos. Pode ser: diferenciadas do procedimento especial
a.1) simples – independência entre forem compatíveis com o procedimento
os pedidos. Exemplo: cumulação das comum, pode haver a cumulação.
diferentes espécies de dano (moral, V) valor da causa – CPC, 291: a
estético e material); toda causa será atribuído um valor. Há
a.2) sucessiva – há relação de alguns critérios legais de atribuição do
prejudicialidade entre os pedidos (se o valor, cf. artigos 292 e 293. Será
primeiro for rejeitado o segundo é estimativo nos casos de não haver valor
prejudicado). Decorre da ordem lógica econômico e nos casos de valor
das coisas. Exemplo: paternidade e econômico inestimável (neste, gera
alimentos. pedido genérico, como na petição de
b) imprópria – apenas um dos herança), casos em que será atribuído
pedidos cumulados pode ser acolhido: qualquer valor.
b.1) subsidiária/eventual – CPC, VI) pedido de provas – CPC:
336, caput – ordem de preferência o basta uma indicação genérica de provas
autor. Na eventualidade do pedido que não é preclusiva, i. é, sua ausência
anterior ser rejeitado, o posterior poderá não impedirá a especificação de provas
se acolhido ou rejeitado. pelo autor posteriormente (cf. REsp
b.2) alternativa – não há ordem 329034/MG).
legal, lógica ou no pedido do autor, e o VII) opção pela não realização da
juiz pode acolher qualquer um dos audiência do CPC, 334.
pedidos.
3. Instrução da petição inicial
4.2. Requisitos para cumulação de CPC, 320. Exige que a petição
pedidos (CPC, 327) seja instruída por documentos
Regras: indispensáveis à propositura da ação.
- os pedidos não precisam ser São aqueles cuja ausência criam um
conexos (mesma causa de pedir), de impedimento ao julgamento do mérito:
forma que é possível cumular causas de certidão de óbito no inventário; certidão
pedir. Também não precisam ser contra de casamento no divórcio.
o mesmo réu (!) – cf. AgRg no REsp
953731/SP;

85
Obs.: tratando-se de vício sanável, que tipo de decisão se trata. Alguns
cf. AgRg no Ag 908395/DF, determina- entendem como se trata de um despacho
se a emenda da PI. (STJ, REsp 1235006/MG); outros
julgados entendem que se trata de
Material de Apoio - Processo Civil decisão interlocutória (STJ, AgRg no
-Daniel Assumpção - Aula 10 (II).pdf Ag 1423164/SC). Há aqui um ponto
importante, pois cf. art. 1001 do CPC,
POSTURAS DO JUIZ os despachos são irrecorríveis; além
PERANTE A PETIÇÃO INICIAL disso, se considerada decisão
interlocutória, como não consta do art.
1. Emenda da petição inicial (art. 321) 1015 do CPC, não cabe agravo de
Sempre que houver na PI um instrumento. Contudo, cabe impugná-la
vício formal sanável, a emenda da PI é na apelação, cf. art. 1009, § 1º.
direito do autor (cf. STJ, REsp Obs.: tanto se considerado
812323/MG). O efeito prático é que a despacho ou decisão interlocutória,
sentença de indeferimento, quando deve constar nesse pronunciamento,
cabível emenda, é nula. Cabendo com precisão, o que deve ser corrigido
emenda, o autor deve ser intimado para ou complementado. Mas essa indicação
tal. com precisão não exige a forma de
O prazo atual é de 15 (quinze) correção. Exemplo não exigido:
dias. “emende a PI para corrigir o valor da
“Art. 321. O juiz, ao verificar que causa cf. o art. tal”. Se não houver
a petição inicial não preenche os indicação, cabe embargos de declaração
requisitos dos arts. 319 e 320 ou que
apresenta defeitos e irregularidades
contra essa omissão.
capazes de dificultar o julgamento de *Embargos de declaração cabem contra
mérito, determinará que o autor, no prazo qualquer espécie de pronunciamento
de 15 (quinze) dias, a emende ou a judicial.
complete, indicando com precisão o que 5) É possível a determinação de
deve ser corrigido ou completado.
Parágrafo único. Se o autor não
emendas sucessivas, mas o ideal é que o
cumprir a diligência, o juiz indeferirá a autor se aproxime do saneamento do
petição inicial.” vício.
Observações: 6) Preclusão pro judicato.
1) art. 106, § 1º - no caso de Segundo o art. 321 do CPC, sem
emenda para fazer constar o endereço emenda a consequência é o
do advogado o prazo é de 5 (cinco) dias; indeferimento da PI. Ou seja, quer dizer
2) o prazo de emenda de 15 que o juiz não poderá dar continuidade
(quinze) dias é, historicamente, ao processo se não houver a emenda (cf.
considerado um prazo dilatório, ou seja, STJ, AgRg no Ag 979541/DF).
admite ser prorrogado. Em casos
excepcionais, é possível o aumento 2. Indeferimento da PI
desse prazo, para salvar o processo; 2.1. Indeferimento
3) segundo o STJ (cf. REsp No indeferimento, temos um vício
871661/RS), trata-se de um prazo formal insanável, ou seja, a própria lei
impróprio, i. é, se a emenda ocorrer considera insanável.
depois do prazo, ela será admitida. Trata-se de um fenômeno
Contudo, desde que antes da eventual necessariamente liminar, i. é, antes da
extinção do processo. citação do réu. Se já houve citação, não
4) A determinação da emenda é haverá indeferimento da PI. Se o réu
um pronunciamento judicial. O STJ alegar algum vício, e ele for acatado,
ainda não chegou a um consenso sobre

86
não pode ser indeferida a PI, mas sim iv) pedidos incompatíveis entre si.
outra situação, a diante tratada. Trata-se de uma causa de inépcia para
Se o indeferimento for total, com as hipóteses de cumulação própria. Na
a extinção do processo, teremos uma cumulação imprópria a
sentença, que pode ser objeto de incompatibilidade dos pedidos não gera
apelação (art. 1009, caput). vício, como vimos na aula passada (art.
Contudo, é possível que este 327, § 3º).
indeferimento seja parcial. Nesse caso, II) manifesta ilegitimidade de
teremos uma diminuição subjetiva e/ou parte (carência de ação);
objetiva do processo. Trata-se de uma III) falta de interesse de agir
decisão interlocutória terminativa, (carência de ação);
recorrível por agravo de instrumento, cf. *A possibilidade jurídica do pedido não
art. 354, p. ú. consta mais no rol de condições da
ação.
2.2. Cabimento do indeferimento da IV) não emenda da petição inicial.
inicial (art. 330) Obs.: no art. 295, V do CPC/73
“Seção III havia a previsão de que a inadequação
Do Indeferimento da Petição procedimental era caso de
Inicial
Art. 330. A petição inicial será
indeferimento da inicial. No novo CPC,
indeferida quando: a inadequação procedimental passou a
I - for inepta; constar como hipótese de emenda da
II - a parte for manifestamente inicial.
ilegítima;
III - o autor carecer de interesse
processual;
2.3. Procedimento
IV - não atendidas as No caso de indeferimento
prescrições dos arts. 106 e 321.” imparcial, cabe AI, com possibilidade
I) Petição inepta de juízo de retratação.
O § 1º vai especificar os casos de No indeferimento total, será
petição inepta: recorrível por apelação. Nesse caso
“§ 1o Considera-se inepta a também caberá juízo de retratação, cf.
petição inicial quando: art. 331, caput. O prazo para o juiz é de
I - lhe faltar pedido ou causa de
pedir;
5 (cinco) dias, mas é impróprio.
II - o pedido for indeterminado, Se não for caso de retratação,
ressalvadas as hipóteses legais em que se teremos na sequência: 1) citação do réu
permite o pedido genérico; para responder o recurso
III - da narração dos fatos não (contrarrazões); 2) chegando no
decorrer logicamente a conclusão;
Tribunal, teremos: 2.1) inadmissão; 2.2)
IV - contiver pedidos
incompatíveis entre si.” negar provimento; 2.3) provimento da
i) falta de pedido ou causa de apelação (gera então anulação da
pedir; sentença e prosseguimento em primeiro
ii) pedido genérico, quando exigir grau, devendo ser observado o art. 331,
pedido determinado (exemplo: o pedido § 2º - audiência de
de dano moral deverá ser quantificado a conciliação/mediação. Se não houver,
partir de agora). É uma previsão que vai retorna o processo ao primeiro grau e
na contramão do próprio espírito do tem início o prazo de 15 dias para
CPC, pois poderia caber uma apresentar contestação. Se houver a
determinação de emenda, no máximo; audiência do art. 334, após o retorno
iii) da narração dos fatos não dos autos as partes serão intimadas para
decorrer logicamente a conclusão (trata- comparecer a esta audiência).
“§ 2o Sendo a sentença reformada
se da peça incompreensível);
pelo tribunal, o prazo para a contestação

87
começará a correr da intimação do I) quando o pedido contrariar
retorno dos autos, observado o disposto súmula do STJ/STF;
no art. 334.”
“Art. 334. Se a petição inicial
II) quando o pedido contrariar
preencher os requisitos essenciais e não precedente criado no julgamento de
for o caso de improcedência liminar do RE/REsp repetitivos;
pedido, o juiz designará audiência de III) quando o pedido contrariar
conciliação ou de mediação com precedente criado em IRDA (incidente
antecedência mínima de 30 (trinta) dias,
devendo ser citado o réu com pelo menos
de resolução de demandas repetitivas,
20 (vinte) dias de antecedência.” de competência do TJ ou TRF, e que só
Ainda sobre o procedimento, o chega no STJ e STF por meio de REsp
art. 331, § 3º, prevê a intimação do réu ou RE) ou IAC (incidente de assunção
do transito em julgado se não houver de competência, que pode ter a mesma
apelação. sistemática do IRDA, mas também pode
“§ 3º Não interposta a apelação, o ser suscitado nos tribunais superiores
réu será intimado do trânsito em julgado diretamente).
da sentença.” IV) pedido que contrariar súmula
de TJ sobre direito local, estadual e
3. Julgamento liminar de improcedência municipal (já que não cabe REsp nem
3.1. Introdução RE).
Temos aqui uma sentença liminar V) no § 1º temos a já mencionada
de rejeição do pedido, pois proferida hipótese de prescrição e decadência.
antes da citação do réu. Estamos
falando de uma sentença de mérito, e 3.3. Procedimento
não de sentença terminativa, cf. art. 487, 1) sentença liminar de
I do CPC. improcedência; daí, duas possibilidades:
Obs.: essa rejeição do pedido, cf. 1.1) não interposição de apelação
art. 332, § 1º, também pode estar pelo autor. Cf. art. 332, § 2º, intima-se o
fundada em prescrição e decadência, cf. réu do trânsito em julgado;
art. 487, II. 1.2) apelação do autor. Permite-se
Como esse julgamento é de o juízo de retratação em 5 (cinco) dias,
mérito, e vem antes mesmo da citação que é prazo impróprio (art. 332, § 3º).
do réu, a doutrina o denomina Não havendo retratação, teremos a
“julgamento antecipadíssimo do citação do réu para responder ao
mérito”. recurso (apresentação de contrarrazões).
Essa técnica de julgamento é 2) Se a apelação for inadmitida ou
voltada aos chamados “processos se negado provimento, a sentença de
repetitivos”, i. é, aqueles que versam improcedência liminar se mantêm.
sobre a mesma questão jurídica, típicos 3) Se o Tribunal der provimento à
de conflitos de massa. apelação, teremos: 3.1) anulação da
sentença, que pode se dar a) pela
3.2. Cabimento inaplicação do art. 332 ou b) pela
Requisito fixo: art. 332, caput. superação/distinção do entendimento
Trata-se de causas que dispensem a sumulado ou da tese fixada no
instrução probatória. São causas que precedente.
têm questões exclusivamente de direito A grande questão que fica aqui é a
(são extremamente raras) ou de fato. possibilidade do Tribunal dar
Nestas últimas, a instrução é afastada provimento reformando a sentença, ou
através da presunção de veracidade dos seja, inverter o resultado de mérito.
fatos alegados. Parte da doutrina (HTJr) entende que
Requisitos alternativos (incisos e não cabe, mas a majoritária (Néry;
§ 1º do art. 332):
88
Scarpinella; Didier) entende que cabe O conceito legal está no art. 238:
esta espécie de julgamento, desde que o ato pelo qual o demandado é chamado
processo esteja “maduro” (pronto) para para integrar a relação jurídica
julgamento. Obs.: como fica o processual.
contraditório em favor do réu, nesse “Art. 238. Citação é o ato pelo
caso? Na verdade, essa previsão vale se qual são convocados o réu, o executado
ou o interessado para integrar a relação
o contraditório tiver sido estabelecido processual.”
nas contrarrazões (que têm conteúdo de A citação é um ato de integração
contestação, ou seja, torna-se uma peça coercitivo do processo, não havendo
híbrida na forma e direito). opção ao réu. A expressão integrado
“CAPÍTULO III
DA IMPROCEDÊNCIA LIMINAR tem esse sentido. É claro que a
DO PEDIDO integração não se dá apenas pela
Art. 332. Nas causas que citação, pois pode se dar de maneira
dispensem a fase instrutória, o juiz, espontânea, quando se dispensa a
independentemente da citação do réu, citação. Assim, é um equívoco dizer “o
julgará liminarmente improcedente o
pedido que contrariar:
réu se deu por citado”, porque esse
I - enunciado de súmula do fenômeno não existe. O réu ou é
Supremo Tribunal Federal ou do integrado pela citação ou
Superior Tribunal de Justiça; espontaneamente.
II - acórdão proferido pelo Obs.: essa integração espontânea
Supremo Tribunal Federal ou pelo
Superior Tribunal de Justiça em
do réu pode se dar por meio de uma
julgamento de recursos repetitivos; alegação de nulidade da citação. Se a
III - entendimento firmado em citação é nula, não está o réu integrado.
incidente de resolução de demandas Mas o réu deve estar atendo ao art. 239,
repetitivas ou de assunção de § 1º: o termo inicial da contestação será
competência;
IV - enunciado de súmula de
a data de ingresso no processo.
“Art. 239. Para a validade do
tribunal de justiça sobre direito local.
processo é indispensável a citação do réu
§ 1º O juiz também poderá
ou do executado, ressalvadas as
julgar liminarmente improcedente o
hipóteses de indeferimento da petição
pedido se verificar, desde logo, a
inicial ou de improcedência liminar do
ocorrência de decadência ou de
pedido.
prescrição.
§ 1º O comparecimento
§ 2º Não interposta a apelação, o
espontâneo do réu ou do executado
réu será intimado do trânsito em
supre a falta ou a nulidade da citação,
julgado da sentença, nos termos do art.
fluindo a partir desta data o prazo
241.
para apresentação de contestação ou
§ 3º Interposta a apelação, o juiz
de embargos à execução.”
poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
§ 4º Se houver retratação, o juiz Perceba que essa previsão
determinará o prosseguimento do suplantou o art. 334 (da audiência de
processo, com a citação do réu, e, se conciliação/mediação). Trata-se de uma
não houver retratação, determinará a incongruência do procedimento.
citação do réu para apresentar
contrarrazões, no prazo de 15 (quinze)
dias.” 4.2. Efeitos
A) Efeitos processuais
4. Citação 1) indução à litispendência (art.
A última postura que o juiz pode 240, caput).
determinar é a citação do réu, se a *Litispendência é termo equívoco, que
petição estiver em termo. pode significar pendência da ação (cf.
aula passada em “formação do
4.1. Conceito processo”), bem como pressuposto
processual negativo. No art. 240, caput,

89
é o termo litispendência é utilizado com no art. 398 mora desde o momento do
pressuposto processual negativo (cf. ato ilícito.
REsp 778976/PB, segundo o qual 3) interrupção da prescrição.
havendo ações idênticas em diferentes No CPC/73 funcionava assim: 1)
processos, teremos a manutenção do citação dentro do prazo legal, entendia-
processo em que houver a primeira se que o despacho do cite-se é que
citação válida). interrompia a prescrição, que retroagia
2) Prevenção do juízo (art. 59). desde a data da propositura; e 2) fora do
Esta prevenção do juízo pela citação. prazo legal, a prescrição interrompia-se
No CPC/73 havia duas regras: 1) com a citação.
art. 106, pela qual a prevenção era no Com o novo CPC temos um
primeiro despacho; 2) a segunda, do art. problema. Ele trata da interrupção da
219, que era com a primeira citação. prescrição nos parágrafos do art. 240. O
Alguns tentavam conciliar essas duas § 1º repete a regra anterior: o despacho
regras distintas, mas na verdade havia “cite-se” é que interrompe a prescrição,
mesmo essa antinomia. No art. 240, que retroage desde a data da propositura
caput, o novo CPC não prevê mais esse (compatibilizando o CPC com o CC). O
efeito (não interessa mais quando é problema é que § 2º prevê que a citação
citado o réu). Há apenas o art. 59, que realizada fora do prazo legal (de dez
fala do primeiro registro da petição dias) não se aplica o § 1º. Mas o § 3º
inicial, ou da primeira distribuição. O prevê que a parte não será prejudicada
registro ocorre em comarca de vara por demora imputável apenas ao serviço
única; a distribuição ocorre nas judiciário (ou seja, se a culpa não for do
comarcas com mais de uma vara. Toda autor, não será prejudicado).
petição inicial é registrada e, em alguns Assim, no caso do § 2º, a
casos (nas comarcas de vara única) não prescrição não se interrompe? Pela
há distribuição. leitura do art. 240, não há interrupção
“Art. 59. O registro ou a da prescrição, havendo prescrição
distribuição da petição inicial torna intercorrente, o que levará o réu a todas
prevento o juízo.”
as atitudes protelatórias. Assim, a
B) Efeito materiais
doutrina vem dizendo que deve
1) tornar a coisa litigiosa (art. 240,
continuar como no sistema anterior,
caput).
apesar de não haver tal previsão legal,
O objeto do processo é a disputa
ou seja, a interrupção da prescrição
sobre a coisa ou direito. A partir do
desde a citação se ocorrer fora do prazo.
momento que ocorre a citação, esta “Art. 240. A citação válida, ainda
coisa ou direito estará vinculada ao quando ordenada por juízo incompetente,
resultado do processo. Após a citação induz litispendência, torna litigiosa a
do réu, então, qualquer alienação ou coisa e constitui em mora o devedor,
oneração da coisa/direito será fraude à ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398
da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
execução. O ato de fraude à execução é 2002 (Código Civil).
ineficaz perante o credor (autor). § 1º A interrupção da prescrição,
2) constituição do devedor em operada pelo despacho que ordena a
mora (art. 240, caput). No Código Civil, citação, ainda que proferido por juízo
artigos 397 e 398, também há previsão incompetente, retroagirá à data de
propositura da ação.
de outras formas de constituir o devedor § 2º Incumbe ao autor adotar, no
em mora, que não a citação. No art. 397, prazo de 10 (dez) dias, as providências
caput, há previsão do vencimento do necessárias para viabilizar a citação, sob
termo certo da obrigação; no p. ú., pena de não se aplicar o disposto no § 1º.
possibilidade de interpelação e da
notificação quando não há termo certo;

90
§ 3º A parte não será prejudicada A citação, nesse último caso, é
pela demora imputável exclusivamente real (certeza de ciência) ou ficta
ao serviço judiciário.
§ 4º O efeito retroativo a que se
(presunção de ciência)? Como consta na
refere o § 1º aplica-se à decadência e aos lei, parece ser uma citação real, com o
demais prazos extintivos previstos em paralelo entre o funcionário que recebe
lei.” a citação na empresa e do porteiro, mas
é uma disposição perigosa ao extremo.
4.3. Formas de citação A doutrina não tem tratado desse tema.
A) Forma postal “Art. 248. Deferida a citação pelo
Ocorre por meio de carta A.R. correio, o escrivão ou o chefe de
Nos termos do art. 247, caput, secretaria remeterá ao citando cópias da
petição inicial e do despacho do juiz e
pode ser realizada em qualquer foro do comunicará o prazo para resposta, o
território nacional, dispensando a carta endereço do juízo e o respectivo cartório.
precatória (exceção ao princípio da § 1º A carta será registrada para
territorialidade). entrega ao citando, exigindo-lhe o
A citação pelo correio exige a carteiro, ao fazer a entrega, que assine o
recibo.
colaboração do réu, posto que se exige a § 2º Sendo o citando pessoa
assinatura do A.R. e, se ele se recusar, jurídica, será válida a entrega do
frustra-se a citação. mandado a pessoa com poderes de
No caso do réu pessoa jurídica, o gerência geral ou de administração ou,
STJ vinha aplicando duas teorias que ainda, a funcionário responsável pelo
recebimento de correspondências.
foram encampadas pelo art. 248, § 2º: 1) § 3º Da carta de citação no
teoria da aparência, pela qual não era processo de conhecimento constarão os
necessária a assinatura de um sócio, mas requisitos do art. 250.
apenas alguém que aparentasse ter § 4º Nos condomínios edilícios ou
poderes de gerência ou administração nos loteamentos com controle de acesso,
será válida a entrega do mandado a
(exemplo: citação válida do banco na funcionário da portaria responsável pelo
pessoa do gerente da agência); 2) teoria recebimento de correspondência, que,
do risco, pela citação realizada na entretanto, poderá recusar o recebimento,
pessoa do funcionário responsável pelo se declarar, por escrito, sob as penas da
recebimento das correspondências. lei, que o destinatário da correspondência
está ausente.”
Nesses dois casos estamos diante de
uma citação real (certeza que a
pessoa jurídica tem conhecimento do B) Oficial de Justiça (mandado de
processo). citação)
Quanto à citação pelo correio da No art. 247 temos a previsão das
pessoa natural temos o art. 248, § 4º. hipóteses em que é obrigatória a citação
Temos a previsão da citação na pessoa por oficial de Justiça.
do funcionário responsável pelo Observações:
recebimento das correspondências nos 1) no processo de execução não é
condomínios edilícios ou loteamentos mais obrigatória a citação por oficial de
com controle de acesso. O porteiro pode Justiça;
se recusar se afirmar para o carteiro que 2) no inc. V, se o autor pedir para
o citando não se encontra (essa previsão ser realizada por oficial de Justiça,
é esdrúxula e gera uma série de assim o será, mas ele deve justificar
consequências absurdas, pois prevê um essa escolha.
verdadeiro diálogo entre porteiros e Na citação por oficial, temos duas
carteiros que nunca ocorrerá, bem como possibilidades:
nenhum deles possui fé pública para 1) citação real – localização do
certificar nada). réu, com a leitura do mandado,
assinatura do contramandado pelo

91
citando, e entrega da contra-fé (cópia da estabelecido pelo próprio oficial de
petição inicial). Perceba-se que houve Justiça. O oficial de Justiça retorna no
colaboração do réu. Mesmo se houver dia marcado, e: se o réu estiver
resistência do réu, ela não gera nenhum esperando oficial, ele realiza a citação
efeito, pois ela constará na certidão e o real; se o réu não é localizado, teremos a
oficial de Justiça tem fé pública. citação ficta, na pessoa de um terceiro,
Obs.: cf. art. 695, § 1º abre uma não necessariamente o da véspera (art.
exceção, pois nas chamadas ações de 253, § 2º).
família, o réu não recebe a contra-fé. Feita a citação ficta, cf. art. 254,
“Art. 247. A citação será feita deve ser realizada uma verdadeira
pelo correio para qualquer comarca do informação ao réu (carta, telegrama ou
país, exceto:
I - nas ações de estado, observado
correspondência eletrônica).
o disposto no art. 695, § 3º; Obs.: essa informação posterior ao
II - quando o citando for incapaz; réu, cf. STJ REsp 687115/GO é
III - quando o citando for pessoa indispensável, sob pena de nulidade
de direito público; absoluta da citação por hora certa.
IV - quando o citando residir em
local não atendido pela entrega
No prazo de contestação o réu
domiciliar de correspondência; pode aparecer com um advogado
V - quando o autor, constituído, que deverá contestar.
justificadamente, a requerer de outra A outra possibilidade é o
forma.” vencimento do prazo sem defesa,
quando lhe será indicado um curador
Material de Apoio - Processo Civil especial que, em regra, é a Defensoria
-Daniel Assumpção - Aula 11 (II).pdf Pública (que nesse caso exerce função
4.3. Formas de citação (continuação) atípica, não interessando se o réu tem ou
2) Citação ficta (por hora certa) não condição econômica de suportar as
Requisitos despesas do processo). Esse curador
a) objetivos duas diligências especial obrigatoriamente apresentará
frustradas, em horários em que uma contestação em defesa do réu revel
presumivelmente o réu estaria no local. citado por hora certa. Consequência
b) subjetiva: ocultação maliciosa prática: esse réu sempre terá defesa, ou
do réu pelo advogado constituído ou pelo
procedimento: Defensor Publico.
1) na segunda diligência, não
encontrando o réu, o oficial de Justiça C) citação por edital
selecionará qualquer auxiliar e, na Trata-se de forma mais onerosa,
ausência, qualquer vizinho (Cf. CPC, demorada e complexa de citação. Além
252, caput). A doutrina admite que seja disso, é a citação mais ficta do sistema,
feita em qualquer pessoa que esteja no partindo da premissa de que o réu lerá o
endereço (não necessariamente familiar, edital.
mas que esteja no endereço, como um Um problema dessa modalidade é
empregado doméstico. Exemplo: um que muitas vezes ela é requerida de má-
estudante que vive numa república, fé pelo autor, prejudicando o autor. Nos
pode ser feito em alguém que more no termos do art. 258 está previsto que se a
mesmo endereço). Também pode ser alegação do autor das condições da
feita no porteiro, cf. art. 252, p. ú. citação por edital for dolosa, além da
Assim, qualquer desses sujeitos se nulidade, será aplicada uma multa de
torna auxiliar eventual do juízo. Ele cinco vezes o salário mínimo.
deve avisar o réu do retorno do oficial Hipóteses:
de Justiça no primeiro dia útil
subsequente num determinado horário,
92
i) réu desconhecido, quando não Nos artigos 246, § 1º, 1050, 1051
sabe quem é o réu (ex.; tenho uma do NCPC consta o dever de cadastro do
dívida, o credor morre, e não sei se tem endereço eletrônico às pessoas jurídicas
herdeiros e não encontro seu de direito público ou privado, salvo
inventário); ou incerto – indefinição de microempresas e empresas de pequeno
quem é o réu, i. é, sua individualização, porte. Mas o Tribunal deve criar o
como no caso das ações de reintegração cadastro para que essa empresas possam
de posse contra multidões; se cadastrar.
iii) local incerto, em que está o Obs.: assim, os 30 dias exigidos
réu, quando não é possível precisar o pela Lei só poderão ser cobrados a
exato local; ou local ignorado, i. é, não partir do momento que o Tribunal
se sabe onde está o réu; ou local instituir o cadastro.
inacessível, nos casos da Obs.2: depois da instituição, as
jurídica/política (réu em outro país que empresas que não se cadastrarem (ato
não tem relações diplomáticas com o administrativo exigido pelo CPC), a
Brasil), ou física/ geográfica sanção processual, segundo a doutrina,
(permanente ou temporária), ou social será a do art. 180, IV, i. é, litigância de
(réu num local abandonado pelo Poder má-fé (multa que pode ser de 1% a 10%
Público, tomado pela criminalidade). do valor da causa) por oposição de
Esta última nem todos doutrinadores resistência injustificada ao andamento
admitem. do processo.
III) casos expressos em lei – *****
procedimentos editais, i. é.,
procedimentos em que há previsão
expressa de citação por edital. Cf. CPC,
259, inclui nesses procedimento AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E
especiais a ação de usucapião de MEDIAÇÃO
imóvel, bem como a ação de (CPC, 334)
recuperação e substituição de título ao
portador (atenção, porque eram ações
especiais, passando para procedimentos Em regra, o réu será citado para
editais). comparecer a esta audiência.
Procedimento: Exceções: direito que não admite
1) em regra, publicação na rede autocomposição, o réu é citado para
mundial de computadores. Por exceção, contestar em 15 (quinze) dias.
a publicação em jornal de circulação Essa audiência é obrigatória?
local; Segundo o § 4º do art. 334, não haverá
2) o juiz determina o número de audiência:
publicações; i) quando o direito não admitir
3) o prazo de edital (20 a 60 dias), autocomposição;
para o réu tomar ciência e, após esse Atenção! Direito que não admite
prazo é que tem início para o prazo de autocomposição não é o mesmo que
contestação conforme o caso. direito indisponível! Direito
Obs.: CPC, 253, III. Se houver indisponível pode ter transação quanto à
mais de uma publicação, o termo inicial forma, momento e prazos para o seu
do prazo de edital é a primeira. exercício (exemplo: direito ao meio
D) meio eletrônico ambiente sustentável pode ser objeto de
A questão é a segurança jurídica, TAC; direito a alimentos, também
pois o endereço eletrônico do réu deve indisponível, é objeto de quantificação,
ser indicado na petição inicial. forma de pagamento etc.). Ou seja,

93
direito indisponível admite dois meses, cf. § 2º. Segundo a doutrina,
autocomposição. a continuidade de audiências depende
ii) manifestação expressa de da vontade de ambas as partes.
ambas as partes do desinteresse na 6) a designação com no mínimo
realização da audiência (§ 4º, I). Para o 20 minutos de distância entre o início da
autor, essa manifestação deve vir na PI, anterior e posterior (§ 12).
e para o réu deve vir com antecedência Deveres impostos pela Lei a quem
mínima de 10 (dez) dias antes da participa da audiência:
audiência. 1) às partes: comparecimento
Obs.1: litisconsórcio passivo. (pois a ausência injustificada é
CPC, 334, § 6º: todos os réus devem se considerada ato atentatório à dignidade
manifestar contra a audiência. da justiça, sancionada com a multa de
Obs. 2: para o autor, o momento 2% sobre o valor da causa, que tem
da alegação é a PI. Contudo, não há como credor a União – demanda da JF,
preclusão temporal. O réu, mesmo ou o Estado – demanda da JE).
diante da omissão na PI, alega não ter Obs. 1: mesmo a parte que
interesse na audiência. A audiência manifesta seu desinteresse tem o dever
ainda assim ocorrerá, a não ser que o de comparecer.
autor peticione também pela não Obs. 2: ausência justificada não
ocorrência da audiência. gera multa. Se tivermos um réu
Obs. 3: “das ações de família”. residente em outra comarca, também
CPC, 695. Audiência obrigatória. não se pode exigir a presença, a não ser
Obs. 4: alguns doutrinadores que seja disponibilizada alguma
como Câmara, Medina, Greco que tecnologia como videoconferência.
entendem que a não realização desta 2) Comparecimento dos
audiência basta a manifestação de uma advogados e defensores públicos: § 9º.
das partes. Conflita com a posição de Obs. 1: Na ausência do advogado
Nery e Marinoni, que entendem que por da parte, indica-se um advogado dativo.
intenção clara do legislador é necessário Obs. 2: autocomposição sem a
o desinteresse de autor e réu presença dos advogados é válida.
(inteligência da Lei, cf. art. 334, § 4º, I). 3) conciliador/mediador:
Procedimento: princípios previstos no art. 166 do CPC,
1) após a PI é designada a em especial o dever de sigilo sobre o
audiência; que acontece na audiência (só consta no
2) réu toma conhecimento da termo o que as partes concordarem;
audiência na citação; impedimento deles de serem testemunha
3) autor será intimado na pessoa no processo).
do advogado (§ 3º) *****
4) em regra, esta audiência deve
ser realizada no centro de solução
consensual de conflitos (mantidos pelos
Tribunais). Quem a realizará será o CONTESTAÇÃO
conciliador/mediador.
Exceção: a audiência pode ser
realizada na Vara Judicial em que 1. Introdução
tramita o processo, caso específico em CPC/73: diferentes respostas do
que quem conduz a audiência é o Juiz. réu (em alguns casos, exigidas em peças
Cf. art. 334, § 1º. autônomas, noutras como tópico da
5) pode ocorrer mais de uma própria contestação).
audiência, mas no prazo máximo de

94
No CPC/2015, todas as diferentes aplicável o art. 335, I, a sua contestação
respostas do réu são lançadas numa só já apresentada vai ser considerada
peça, que é a contestação (ex.: prematura. Cf. art. 218, § 4º será
impugnação ao valor da causa; considerado tempestivo o ato processual
impugnação à concessão de gratuidade praticado antes do início do prazo.
da justiça; incompetência relativa; iii) art. 231. Direito que não
reconvenção). admite autocomposição, são os prazos
tradicionais, de juntada do AR, do
2. Cabimento mandado, vencimento do prazo edital,
Não cabe contestação sempre que da citação por correio eletrônico
você tiver uma sentença liminar, cf. art. (quando começar a ocorrer).
330 e 332, pois se dá antes da citação do
réu. Material de Apoio - Processo Civil
Não cabe também quando houver -Daniel Assumpção - Aula 12 (II).pdf
a autocomposição em audiência, cf. art. 4. Matérias de defesa
334, § 11. 4.1. Defesas processuais (preliminares)
Ou seja, cabe: 1) não sendo Antecedem logicamente as
sentença liminar; 2) não havendo defesas de mérito, por isso são
audiência; 3) não havendo chamadas preliminares.
autocomposição na audiência. Têm por objeto a regularidade
formal do processo. Elas têm previsão
3) Prazo no art. 337:
Quinze dias. A) defesas processuais dilatórias –
Observação: haverá prazo em seu acolhimento aumenta o tempo de
dobro (art. 180, 183 – MP e FP; 229, duração do processo:
litisconsortes com diferentes advogados I) inexistência ou nulidade da
de diferentes sociedade de advogados). citação. Caso acolhida, a consequência é
Termo inicial: a devolução do prazo de resposta do
i) audiência (art. 334) frustrada. O réu, já que para fazer essa alegação ele
réu sai intimado, comparecendo ou não; se integrou ao processo.
ii) data do protocolo da petição do II) incompetência absoluta ou
réu afirmando seu desinteresse na relativa. Ocasiona a remessa do
realização da audiência do art. 334. processo ao juízo competente;
Obs. 1: Art. 335, § 1º – em caso VIII) conexão. Ocasionará a
de litisconsórcio passivo, o termo inicial reunião dos processos perante o juízo
de contestação é autônomo, contado da prevente. Obs.: a continência também
data de cada petição pelo desinteresse. terá esse mesmo efeito. Atenção ao
É possível que haja uma audiência CPC, 55, § 3º (processos não conexos
do CPC, 334, com contestação de com risco de decisões conflitantes ou
litisconsorte já protocolada. contraditórias).
Obs. 2: petição inicial do autor B) defesas processuais
omissa quanto à audiência. O réu faz peremptórias – aquelas cujo
uma petição de desinteresse. Ainda acolhimento gera extinção terminativa
pode haver audiência do art. 334 com do processo: inépcia da PI; perempção;
contestação já protocolada. litispendência; coisa julgada material;
Obs. 3: em relação as duas obs. convenção de arbitragem (cláusula
anteriores. Se houver audiência, não compromissória ou compromisso
seria o caso de aplicação do inc. I arbitral); e carência de ação, que podem
(abertura do prazo para contestar)? Se ser falta de interesse e ilegitimidade
houver audiência e o juiz entender

95
(incisos IV, V, VI, VII, X e XI i) incapacidade de parte, ou seja,
respectivamente). qualquer vício relacionado com a
Obs.: cf. artigos 338 e 339 do capacidade de estar em juízo;
CPC, pois em qualquer hipótese em que ii) defeito de representação, vício
o réu alegar a ilegitimidade passiva na capacidade postulatória (pessoa que
deve indicar qual é o terceiro postula em causa própria sem ser
legitimado. O autor será intimado e terá advogado; procuração com prazo
15 (quinze) dias para falar sobre essa vencido; advogado suspenso pela OAB
alegação. Se o autor concordar com o etc.);
réu, teremos uma hipótese de sucessão iii) falta de autorização (CPC, 73:
processual, com modificação do polo ações reais imobiliárias envolvendo
passivo. pessoas casadas ou em união estável
reconhecida por decisão judicial, em
cartório etc.). Se as pessoas estiverem
(aula 12 – pegar material – assisti no polo passivo, deve-se realizar um
adiantada) (cont. CPC, art. 337) litisconsórcio necessário (contra o
c) dilatórias potencialmente casal); se for no polo ativo, o
peremptórias – caso seja acolhida, essa litisconsórcio não é necessário, mas
defesa vai dar ao autor uma facultativo, pois podemos ter no polo
consequência para o saneamento do ativo um cônjuge autorizado por outro
vício. De duas uma: (outorga uxória/marital – conjugal –
1) caso o autor tenha uma postura processual). Se não houver autorização,
ativa, i. é, saneie o vício, essa defesa extingue-se o processo.
terá sido dilatória (uma vez saneado o
vício o processo vai seguir); (XII) falta de caução ou outra
2) se o autor tiver uma postura prestação exigida em lei – em alguns
omissiva, deixando de sanear o vício, a casos para propor a ação é necessário
defesa passa a ser peremptória (o juiz caução. Exemplos: art. 968, II (ação
não terá outra escolha que não a rescisória, de 5% do valor da causa) e
extinção do processo). art. 83 (autor não residente no Brasil e
sem imóveis aqui no País).
(III) incorreção no valor da causa. “Outra prestação exigida em lei”.
Nos termos do art. 293, § 3º do Exemplo é o art. 486, § 2º
CPC, a correção do valor da causa pode (repropositura de ação no caso de
ser feita de ofício pelo juiz. sentença terminativa sem resolução do
No caso de ser tratada na defesa, o mérito), em que o autor terá que quitar
próprio juiz também pode corrigir o as custas processuais do primeiro
valor da causa. Será na sequência processo.
exigido do autor o pagamento de custas
(a incorreção invariavelmente é para (XIII) indevida concessão da
diminuir, e a correção para aumentar. Se gratuidade de justiça. Se houver a
for para diminuir – caso raro – o revogação do benefício, será exigido do
processo não para; se para aumentar, o autor o recolhimento das custas iniciais.
processo é paralisado para que o vício
seja sanado). 4.2. Defesa de mérito
Trata-se da impugnação ao
(IX) reúne três matérias de defesa conteúdo da pretensão do autor. A
diferentes: defesa processual impugna vícios
formais (forma pela qual pretende),

96
enquanto a defesa de mérito o réu i) exceções pontuais – levam a
impugna a pretensão em si. analisar fato a fato, i. é, fatos que não
A) defesa de mérito direta – é uma admitem confissão – a própria lei veda a
impugnação da causa de pedir, por isso confissão como meio de prova (fatos
pode ser fática, em que se demonstra a que fundamentam direitos
falsidade dos fatos alegados pelo autor; indisponíveis);
ou jurídica, em que se alega a ii) da ausência de instrumento
inadequação da fundamentação jurídica público que a lei repute da substância
do autor; do ato – são atos jurídicos que só podem
B) defesa de mérito indireta – não ser provados por um instrumento
há impugnação a causa de pedir. O réu público específico (previsões do Direito
não contraria as alegações do autor: ele material, como o CC, e outras leis). Ex.:
alega um fato novo, impeditivo, o réu não impugna que João morreu,
modificativo ou extintivo do direito mas o juiz não pode considerá-lo morto
autor. enquanto não for juntada a respectiva
Exemplos: impeditivo, como a certidão de óbito. Assim também
incapacidade da parte (cobrança de um quando há alegação de casamento
contrato inadimplido, e o réu alega-se (exige a certidão de casamento) etc.
incapaz quando da celebração do iii) quando os fatos não
contrato, de forma que não gera impugnados não possam ser presumidos
efeitos); modificativo, como numa como verdadeiros em razão da
compensação parcial; extintivo, a impugnação de outros fatos. Ou seja, a
prescrição e a decadência. impugnação no quanto realizada, em
conjunto, contradiz os fatos não
5. Princípio da impugnação específica especificamente impugnados. São os
dos fatos casos que representam uma
CPC, 341: subordinação lógica entre os fatos.
“Art. 341. Incumbe também ao Exceção geral. Prevista pelo art.
réu manifestar-se precisamente sobre 341, p. ú.: nenhuma impugnação
as alegações de fato constantes da
petição inicial, presumindo-se
significa a todos os fatos controvertidos,
verdadeiras as não impugnadas, salvo que é a contestação por negativa geral,
se: tratando-se de prerrogativa do Defensor
I - não for admissível, a seu Público (novidade inserida pelo CPC,
respeito, a confissão; no lugar do MP que até a CRFB/88 era
II - a petição inicial não estiver
acompanhada de instrumento que a lei
quem defendia os pobres. Cuidado!) do
considerar da substância do ato; advogado dativo e do curador especial.
III - estiverem em contradição
com a defesa, considerada em seu 6. Princípio da eventualidade
conjunto. “Art. 342. Depois da
Parágrafo único. O ônus da contestação, só é lícito ao réu deduzir
impugnação especificada dos fatos não novas alegações quando:
se aplica ao defensor público, ao I - relativas a direito ou a fato
advogado dativo e ao curador especial.” superveniente;
Ou seja, cabe ao réu, na II - competir ao juiz conhecer
contestação, rebater pontualmente, os delas de ofício;
fatos alegados pelo autor. Fato não III - por expressa autorização
legal, puderem ser formuladas em
impugnado, é fato incontroverso, e este qualquer tempo e grau de jurisdição.”
é presumido como verdadeiro É todo construído com base na
independentemente de prova. preclusão consumativa. Cabe ao réu
Esse princípio, tem exceções, de alegar na contestação todas as matérias
duas naturezas:

97
de defesa, sob pena de não podê-las ser titular de direito em face do
alegar depois. substituído, e a reconvenção deverá ser
proposta em face do autor, também na
Esse princípio da eventualidade qualidade de substituto processual.
tem limite: princípio da boa-fé
processual. É normal que haja algum § 6o O réu pode propor
grau de contradição entre as teses possa reconvenção independentemente de
existir (ex.: não há dano vs. se entender oferecer contestação.”
que houve, não foi de tanto). O 1. Conceito
princípio da eventualidade obriga a Trata-se de uma resposta do réu,
aceitação desse pequena contradição. mas indiscutivelmente ter natureza
Contudo, o réu não pode modificar a jurídica de ação. É um contra ataque
verdade dos fatos para cada matéria de do réu, que estabelece um processo
defesa alegada. objetiva complexo: um processo com
Exceções: alegação de fato ou duas ações – a ação principal, do autor
direito superveniente; matérias contra o réu, e a ação reconvencional,
conhecíveis de ofício (p. ex., decadência de réu contra o autor.
legal); previsão legal de alegação a Obs. 1: “ação principal”, termo
qualquer tempo (p. ex., decadência tradicional, é a ação do autor contra o
convencional). réu. Mas observado mais detidamente,
trata-se de um termo errado, pois trata a
ação reconvencional como acessória,
quando na verdade não o é, já que ela
RECONVENÇÃO independe da sorte da ação original (se
houver extinção da ação principal, o
processo segue com a reconvencional,
1. Regramento cf. CPC, 343, § 2º).
“CAPÍTULO VII Obs. 2: a reconvenção é uma
DA RECONVENÇÃO faculdade do réu. Isto porque, caso não
reconvenha, ele mantêm o direito de
Art. 343. Na contestação, é ação (perde apenas o direito de
lícito ao réu propor reconvenção para
manifestar pretensão própria, conexa reconvir).
com a ação principal ou com o
fundamento da defesa. 2. Condições da ação
2.1. Legitimidade
§ 1o Proposta a reconvenção, o Trata-se da legitimidade cruzada:
autor será intimado, na pessoa de seu
advogado, para apresentar resposta no
A (autor) litiga contra B (réu); o réu B
prazo de 15 (quinze) dias. da ação principal é quem tem
legitimidade para ser autor da ação
§ 2o A desistência da ação ou a reconvencional a ser proposta contra o
ocorrência de causa extintiva que autor A.
impeça o exame de seu mérito não
obsta ao prosseguimento do processo
Obs. 1: princípio da identidade
quanto à reconvenção. bilateral (art. 343, § 5º) – é necessário,
nas duas ações (original e
§ 3o A reconvenção pode ser reconvencional), identidade de espécie
proposta contra o autor e terceiro. de legitimação. Exemplo: numa ação
§ 4o A reconvenção pode ser
popular, o prefeito tenta demandar o
proposta pelo réu em litisconsórcio autor por danos morais a título
com terceiro. reconvencional, contudo não é possível
pois o autor da ação popular ali está em
§ 5o Se o autor for substituto nome próprio defendendo direito que
processual, o reconvinte deverá afirmar

98
não é próprio, mas da coletividade iv) conexão – CPC, 343, caput.
(legitimidade extraodinária). Temos a conexão tradicional, do art. 55,
Obs. 2: é possível uma diminuição caput, pela identidade do pedido ou da
subjetiva da demanda por meio da causa da pedir; e também uma conexão
reconvenção, ou seja, deixar de repetir típica (exclusiva) da reconvenção, com
na reconvenção o litisconsórcio os fundamentos de defesa. Nesta, na
formado na ação originária. Exemplo contestação, o réu elabora uma defesa
A/B vs. C; daí C vs. A; ou A vs. B/C, de mérito indireta (fato impeditivo,
daí B vs. A apenas. modificativo ou extintivo), que será o
Obs.3: ampliação subjetiva, cf. fato constitutivo do seu direito na
art. 343, §§ 3º e 4º, i. é, formação de reconvenção.
litisconsórcio com terceiros na
reconvenção. Ex.: A vs. B, daí B vs. 4. Procedimento
A/C. A reconvenção será apresentada
na própria contestação.
2.2. Interesse de agir O art. 343, § 6º prevê a
Necessidade. A reconvenção possibilidade da reconvenção sem a
entrega para o réu algo que ele não contestação. Nessa hipótese específica,
obtém com a improcedência do pedido tudo leva a crer que o réu deva elaborar
do autor. Por isso não cabe reconvenção sua reconvenção com uma petição
nas chamadas ações dúplices (o réu não inicial.
precisa pedir o bem da vida pois a Haverá intimação do réu (do
improcedência da ação já lhe o autor-reconvindo), na pessoa do
concederá). advogado (art. 343, § 1º). O prazo é de
Adequação. Quando houver uma 15 dias para contestação.
forma específica de contra ataque Obs. 1: pode haver reconvenção
prevista em lei, qual seja, o pedido da reconvenção (“folclore processual”);
contraposto. Atenção! não existe mais o Obs. 2: pode ocorrer revelia (Cf.
procedimento sumário (agora há apenas AgRg no REsp 439931/SP).
o procedimento comum). Assim, Segue o procedimento comum as
atualmente, apenas nos referimos ao duas ações. Elas seguem juntas e, em
procedimento dos JECív, onde o pedido regra, serão decididas ao mesmo tempo.
contraposto é plenamente utilizado. Teremos uma sentença recorrível por
apelação. Excepcionalmente,
3. Pressupostos processuais poderemos ter uma extinção terminativa
i) litispendência – é necessário um de uma das ações (não tem sentido o
processo em trâmite; juiz “carregar peso morto”) e, nesse
ii) identidade procedimental das caso, cf. art. 354, p. ú., caberá agravo de
duas ações. instrumento, sendo possível também a
iii) competência – temos aqui uma extinção de uma das ações com
hipótese de competência funcional, julgamento de mérito, cf. CPC, 356,
espécie de competência absoluta: é pois pode haver o julgamento parcial de
competente para julgar a reconvenção o mérito.
juízo da ação principal. *****
Obs.: se entre as ações principal e
reconvencional houver diferentes
competências pela matéria ou em razão
da pessoa, não cabe reconvenção, mas REVELIA
apenas ação autônoma.

99
1. Conceito defesa, alguma matéria aproveita ao
Trata-se de um estado de fato segundo réu
gerado pela simples ausência jurídica de ii) direitos indisponíveis –
contestação. Fazenda Pública, por exemplo (cf. REsp
Obs. 1: ausência “jurídica” para 939086/RS). Alguns entendem que a FP
evitar a revelia. Não basta a nem sempre defende direitos
contestação, mas uma contestação indisponíveis, mas em concursos adotar
admissível. Ex.: STJ, REsp 669954/RJ – a primeira tese.
contestação intempestiva não impede a *Fazenda Pública não tem direito a
revelia. contestação por negativa geral. Atenção
Obs. 2: o réu pode reconvir sem para não confundir!
contestar. Nesse caso, teremos um réu iii) ausência de instrumento
revel. Isto porque devemos divisar a público que a lei repute como
revelia (estado de fato) com os efeitos indispensável à prova do ato (cf. art.
da revelia. 341, I e II, mesmo visto na obrigação de
Obs.: pode existir uma revelia impugnação específica).
ineficaz. iv) se o autor fizer alegações
inverossímeis (aparência de falsidade).
2. Efeitos Elas são percebidas pelas máximas de
2.1. Presunção de veracidade dos fatos experiência (do que costuma acontecer
alegados pelo autor em situações parecidas). Não presumir
Na revelia não há presunção de verdadeiro é exigir prova.
direito, pois iura novit curia (o juiz Também se o autor alegar fatos
conhece o direito). Ocorre uma em contradição com documentos
presunção relativa (cf. STJ, REsp constantes dos autos. Geralmente, esses
984897/PR). Exceções constam do art. documentos não são do autor, mas do
345. réu em, por exemplo, uma contestação
i) litisconsórcio passivo – pode intempestiva, ou por um assistente do
haver um réu que contesta e outro revel. réu, um amicus curiae.
Tratando-se de litisconsórcio unitário, a
contestação de um réu sempre aproveita 2.2. Dispensa de intimação do réu revel
aos demais. Já no simples, tudo vai Quando estamos diante de um ato
depender da matéria de defesa alegada: processual postulatório, intimamos a
a) se for matéria de interesse exclusivo parte na pessoa do advogado e, nesta
do contestante, não vamos aplicar o art. hipótese, a dispensa da intimação (obs.:
345, I (os fatos contra o réu revel serão art. 346 – réu revel com advogado é
presumidos verdadeiros); se o interesse intimado normalmente, ou seja, o efeito
é comum, não há presunção. não é gerado).
Ex.: sujeito atropelado por um Quando diante de um ato material,
caminhão da Coca-Cola e o motorista. que deve ser praticado pela parte, a
Alega que estava na faixa de pedestre e intimação do réu revel é obrigatória. A
o farol estava vermelho. A Coca-Cola intimação é pessoal, mesmo do réu
alega que o motorista feriu o segurança, revel.
roubou o caminhão e saiu da garagem. Ou seja, a dispensa de intimação é
O motorista não contesta. Em outro só para ato postulatório de réu revel sem
caso, afirma que o motorista estava de advogado constituído.
licença, bem como o farol estava aberto
e o autor não estava na faixa de 2.3. Julgamento antecipado do mérito
pedestres. Perceba que na segunda Art. 355, II

100
Trata-se de um efeito que depende
da geração de outro efeito da revelia,
qual seja, o efeito da presunção de 1. Não incidência da presunção de
veracidade. veracidade na revelia
Se ocorrer a presunção de
3. Ingresso do réu revel no processo veracidade, ocorre o julgamento
Significa que não há preclusão antecipado do mérito (CPC, 355).
temporal do réu para entrar no processo. Sem a presunção, haverá a
Contudo, recebe o processo no estado intimação do autor (e não do réu que é
em que se encontra, i. é, ele suporta revel) para especificação de provas. Ou
todas as preclusões já verificadas no seja, quer dizer que o autor continua
processo. com o ônus da prova (CPC, 348).
O réu revel participa da instrução Obs.: praxe forense. Tanto na PI
probatória (STF, 231). Cf. art. 349 do quanto na contestação o PJ admite um
CPC. O procedimento probatório pedido genérico de provas, de forma
depende do momento do ingresso: que depois da contestação do réu o juiz
A) provas causais – pericial e oral precisa saber exatamente quais provas
1) propositura – para o autor, na as partes querem produzir. Ou seja, essa
PI; no réu, na contestação. Contudo, o especificação também é exigida quando
autor é intimado para especificar há revelia.
provas, se não houver a presunção de
veracidade; o réu também pode 2. Réplica
especificar; Trata-se de uma manifestação do
2) admissibilidade – ocorre em autor sobre a contestação do réu, no
regra no saneamento; prazo de 15 (quinze) dias.
3) produção, dividida em dois A réplica só será cabível em duas
momentos: 3.1) fase da preparação hipóteses:
(arrolar testemunhas ou quesitos da i) se constar da contestação uma
perícia); 3.2) fase da realização (oitiva; defesa de mérito indireta (defesa com
perícia); fato novo, baseada num fato impeditivo,
4) valoração – na sentença. modificativo ou extintivo do direito do
autor), cf. art. 350;
B) provas pré-constituídas ii) se o réu elaborou uma defesa
(documental): processual, i. é, quando na contestação
1) propositura – para o autor, na houver preliminares, cf. art. 351.
PI; para o réu na contestação. Contudo, Obs. 1: contestação só com defesa
cf. REsp 1121031/MG, documentos de mérito direta não enseja a réplica;
podem ser juntados ao processo a Obs. 2: se a contestação ocorrer
qualquer momento, desde que sejam de juntada de documentos, haverá
boa-fé. Não se admite a “guarda de intimação para manifestação do autor
trunfos”. em 15 (quinze) dias. Não é réplica mas,
2) admissibilidade; na verdade, na prática, o autor não se
3) valoração. detém a tratar dos documentos
acostados à contestação, e acaba
realizando uma réplica à contestação.

Material de Apoio - Processo Civil


-Daniel Assumpção - Aula 13 (II).pdf
PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E JULGAMENTO CONFORME O
SANEAMENTO ESTADO DO PROCESSO

101
CPC, 355. Trata-se da sentença de
mérito que acolha ou rejeite o pedido do
1. Extinção do processo nos termos do autor (CPC, 487, I).
art. 354 Será cabível sempre que for
Será possível duas espécies de desnecessária a instrução probatória.
sentença: “Seção II
i) sentença terminativa, cf. art. Do Julgamento Antecipado do Mérito
Art. 355. O juiz julgará
485; antecipadamente o pedido, proferindo
ii) sentença de mérito (definitiva), sentença com resolução de mérito,
cf. art. 487, II (prescrição e decadência) quando:
e art. 487, III (sentença homologatória I - não houver necessidade de
de autocomposição). produção de outras provas;
“CAPÍTULO X II - o réu for revel, ocorrer o
DO JULGAMENTO CONFORME O efeito previsto no art. 344 e não houver
ESTADO DO PROCESSO requerimento de prova, na forma do art.
Seção I 349.”
Da Extinção do Processo Em resumo o processo funciona
Art. 354. Ocorrendo qualquer das assim: fase postulatória > fase de
hipóteses previstas nos arts. 485 e 487, saneamento > fase instrutória > fase
incisos II e III, o juiz proferirá sentença. decisória. Se não há necessidade da fase
Parágrafo único. A decisão a que
se refere o caput pode dizer respeito a instrutória, ou seja, não são necessárias
apenas parcela do processo, caso em que mais provas, passa-se à fase decisória,
será impugnável por agravo de já que o processo não admite vácuo em
instrumento.” seu procedimento.
Veja que o julgamento antecipado Segundo o art. 355, ocorre o
do mérito – mais a frente – admite julgamento antecipado do mérito:
qualquer tipo de sentença, de mérito ou i) se não são necessárias outras
terminativa (cf. art. 355), ao contrário provas (i. é, a prova já produzida é
do julgamento conforme o estado do suficiente, o que só pode ser prova
processo. documental). Pode ser porque no caso
O art. 354 imagina que a decisão concreto não há prova ou não há
do caput pode ter como objeto apenas necessidade de provas;
parcela do processo (cf. acima). Essa Obs.: no art. 374 há previsão de
hipótese é comumente chamada de uma série de fatos que não necessitam
“extinção parcial do processo” de prova, posto que o juiz os
(expressão tecnicamente incorreta, considerarão verdadeiros mesmo sem a
tendo em vista que a extinção do prova, como por exemplo o fato
processo é expressão que só pode se notório;
referir à sua totalidade). Na verdade, ii) se ocorrer a presunção de
trata-se da decisão de diminuição da veracidade na revelia – a prova neste
demanda, que pode ser subjetiva (= caso seria inútil.
exclusão de um litisconsorte); ou
objetiva (= exclusão de pedido – 3. Julgamento antecipado parcial do
terminativa, como por exemplo a mérito
incompetência absoluta para um dos “Seção III
pedidos – ou ela decisão de parcela do Do Julgamento Antecipado Parcial do
pedido, com base no art. 487, II ou III). Mérito
Art. 356. O juiz decidirá
Nesses casos, cf. 354, p. ú., cabe o parcialmente o mérito quando um ou
agravo de instrumento. mais dos pedidos formulados ou
parcela deles:
2. Julgamento antecipado do mérito I - mostrar-se incontroverso;

102
II - estiver em condições de – a ideia é de fragmentação do
imediato julgamento, nos termos do art. julgamento do mérito:
355.
§ 1o A decisão que julgar
Obs. 1: expressa previsão de que o
parcialmente o mérito poderá julgamento parcial do mérito pode
reconhecer a existência de obrigação reconhecer obrigação líquida ou ilíquida
líquida ou ilíquida. (art. 356, § 1º);
§ 2o A parte poderá liquidar ou Obs. 2: é uma decisão da qual
executar, desde logo, a obrigação
reconhecida na decisão que julgar
cabe cumprimento provisório (§ 2º),
parcialmente o mérito, com dispensa da caução. Veja que se
independentemente de caução, ainda trata de mais uma hipótese de dispensa,
que haja recurso contra essa interposto. além daquelas previstas no art. 521;
§ 3o Na hipótese do § 2o, se Obs. 3: é possível a criação de
houver trânsito em julgado da decisão,
a execução será definitiva.
autos suplementares para esse
§ 4o A liquidação e o cumprimento provisório (§ 4º).
cumprimento da decisão que julgar Ou seja, passamos a ter duas
parcialmente o mérito poderão ser técnicas de julgamento do mérito: a de
processados em autos suplementares, a julgamento total e a de julgamento
requerimento da parte ou a critério do
parcial.
juiz.
Julgamento Integral Julgamento parcial
§ 5o A decisão proferida com
Do Mérito Do Mérito
base neste artigo é impugnável por
agravo de instrumento.” Julgado por sentença. Julgado por
interlocutória
Trata-se de uma decisão parcial de Cabe apelação Cabe agravo de
mérito que acolha ou rejeite o pedido do instrumento
autor. Apenas um “naco” do processo Em regra, não cabe Cabe cumprimento de
foi decidido, e o restante dele segue cumprimento de sentença provisório.
com a parte não decida. Ou seja, trata-se sentença provisório
(pq em regra a
de uma decisão interlocutória de mérito
apelação tem duplo
da qual cabe agravo de instrumento efeito)
(CPC, art. 1015, II e o próprio 356, § Cabe sustentação oral. Não cabe sustentação
5º). oral.
Cabimento desse tipo de Cabe recurso adesivo. Não cabe recurso
julgamento. Seus requisitos são: adesivo.
i) um só pedido e que parcela dele *Seria melhor o legislador ter criado um
seja decido; ou sistema mais homogêneo (como na
ii) cumulação de pedidos sustentação oral e no recurso adesivo).
(julgamento de um dos pedidos, mas
não de todos, sob pena de ser caso do 4. Saneamento e organização do
art. 355) processo
“Seção IV
As hipóteses são: Do Saneamento e da Organização do
i) pedido incontroverso – será Processo
necessário um reconhecimento jurídico
do pedido parcial. Trata-se então de Art. 357. Não ocorrendo
uma decisão interlocutória nenhuma das hipóteses deste Capítulo,
deverá o juiz, em decisão de
homologatória;
saneamento e de organização do
Obs.: essa hipótese já se encontra processo:
contemplada no art. 354, de forma que
essa “novidade” não era necessária, i. é, I - resolver as questões
o inciso I seria desnecessário; processuais pendentes, se houver;
ii) quando parcela da pretensão
II - delimitar as questões de fato
estiver pronta para imediato julgamento sobre as quais recairá a atividade

103
probatória, especificando os meios de no art. 465 e, se possível, estabelecer,
prova admitidos; desde logo, calendário para sua
realização.
III - definir a distribuição do
ônus da prova, observado o art. 373; § 9o As pautas deverão ser
preparadas com intervalo mínimo de 1
IV - delimitar as questões de (uma) hora entre as audiências.”
direito relevantes para a decisão do Em regra, haverá uma decisão
mérito; escrita, mas sendo possível, como
V - designar, se necessário,
exceção, a possibilidade de uma
audiência de instrução e julgamento. audiência de saneamento na qual ele
seria dado pela via oral. Essa exceção
§ 1o Realizado o saneamento, as cabe apenas havendo na causa
partes têm o direito de pedir complexidade de questões de fato e/ou
esclarecimentos ou solicitar ajustes, no
prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o
direito (cf. art. 357, § 3º).
qual a decisão se torna estável. Obs. 1: saneamento
compartilhado, decorrente do princípio
§ 2o As partes podem apresentar da cooperação, prevista no art. 6º. Será
ao juiz, para homologação, delimitação realizado em conjunto pelo juiz e pelas
consensual das questões de fato e de
direito a que se referem os incisos II e
partes (participação efetiva e ampla).
IV, a qual, se homologada, vincula as Obs. 2: essas audiências devem
partes e o juiz. ser designadas com distância mínima de
uma hora (art. 357, § 9º). Serve para que
§ 3o Se a causa apresentar o juiz não fique atrapalhado, i. é, para
complexidade em matéria de fato ou de
que ela realmente cumpra sua função.
direito, deverá o juiz designar
audiência para que o saneamento seja assim, não podem ser marcadas de
feito em cooperação com as partes, quinze em quinze minutos, por
oportunidade em que o juiz, se for o exemplo.
caso, convidará as partes a integrar ou
esclarecer suas alegações.
4.2. Conteúdo (art. 357)
§ 4o Caso tenha sido i) resolução das questões
determinada a produção de prova processuais pendentes – é a hora de
testemunhal, o juiz fixará prazo comum saneamento de qualquer eventual vício
não superior a 15 (quinze) dias para formal que tenha resistido até então;
que as partes apresentem rol de ii) incisos II e IV – tratam da
testemunhas.
delimitação de questões, de fato e de
§ 5o Na hipótese do § 3o, as direito. O juiz vai dizer o que interessa
partes devem levar, para a audiência naquele processo. Essa delimitação
prevista, o respectivo rol de concentra a atividade do juiz e das
testemunhas. partes no que interessa.
§ 6o O número de testemunhas Obs. 1: a partir do momento em
arroladas não pode ser superior a 10 que se delimita a questão de fato, já se
(dez), sendo 3 (três), no máximo, para a decide quais meios de prova serão
prova de cada fato. produzidos.
Obs. 2: é possível que haja acordo
§ 7o O juiz poderá limitar o
número de testemunhas levando em
das partes com essa delimitação, cuja
conta a complexidade da causa e dos eficácia depende de homologação do
fatos individualmente considerados. juiz. Por isso se diz que se trata de um
acordo plurilateral que envolve tanto as
§ 8o Caso tenha sido partes quanto o juiz.
determinada a produção de prova
pericial, o juiz deve observar o disposto
iii) distribuição do ônus da prova;

104
iv) inc. V – designação da intimação para manifestação sobre o
audiência de instrução e julgamento. documento juntado aos autos que,
Obs.: o único capítulo da decisão enfim, não foi essencial para a
de saneamento recorrível, por AI, é o do fundamentação do juiz. A decisão não
art. 357, III. Por isso é tão importante o foi considerada nula, mas válida); STJ,
art. 357, § 1º, que prevê um prazo de 5 REsp 639257/MT (a indicação de
(cinco) dias para as partes pedirem quesitos e de assistente técnico é
esclarecimentos ou solicitar ajustes. admitida até o início da perícia).
ii) limitações materiais – existem
alguns direitos materiais que não podem
ser violados pela produção da prova:
TEORIA GERAL DAS privacidade, intimidade, integridade; a
PROVAS vedação das provas ilícitas (vedação
constitucional);
iii) limitações humanas – a maior
1. Relação da prova com a verdade parte das fontes de provas é a própria
Função da prova. É o pessoa humana (testemunha, parte, o
convencimento do juiz da veracidade perito etc.), já que ela possui percepções
das alegações de fato elaboradas pelas da realidade (ex.: dez pintores pintarão
partes num processo. da mesma forma a mesma paisagem?).
A verdade é inalcançável. Os Além disso, a valoração das provas será
filósofos do direito afirmam que a feita por uma pessoa humana, o juiz.
verdade é uma utopia. Veja, a verdade Assim é que se trabalha com a
não é um valor que interessa apenas ao figura da “quase verdade” ou “verdade
Direito, mas a várias áreas do possível”. “Fatos, verdades e
conhecimento que trabalham com ela. conjecturas” de Miguel Reale. Trata-se
Todos já chegaram à mesma conclusão: então da aparência da verdade, e é com
é inalcançável e, mesmo que a se isso que devemos nos satisfazer.
pudesse a ela chegar, nesse dia não Obs.: não se deve confundir a
saberíamos se dela realmente se trata. quase verdade com a verossimilhança.
Assim, a busca da verdade é As duas trabalham com a aparência da
prestigiada, a ponto da doutrina afirmar verdade. A primeira, quase verdade,
que há um direito constitucional à decorre das provas produzidas; a
prova, que está implícitos nos princípios verossimilhança decorre da mera
da ampla defesa e do contraditório. alegação de fato, analisada sob a ótica
Este direito tem limitações, ou das máximas de experiência. Verossímil
sejá, como os demais, não absoluto. São é uma alegação que parece verdadeira
de três ordens: sobre o que costuma acontecer em
i) limitações processuais - situações semelhantes. A tutela
relacionadas ao procedimento definitiva provêm da quase verdade, e
probatório, que deve respeitar decorre do juízo de certeza; a tutela
determinadas formas e prazos; provisória decorre da verossimilhança
Obs.: essa regularidade formal decorrente de juízo de probabilidade.
exigida no procedimento probatório
deve ser compreendida à luz do 2. Objeto da prova
princípio da instrumentalidade das 2.1. O que deve ser provado?
formas. Assim, se de um vício formal Quando falamos em prova
não decorrer prejuízo (à parte contrária pensamos na parte fática da demanda.
e ao processo) não há nulidade. Cf. STJ, Segundo HTJr., os fatos são o objeto da
AgRg no REsp 792281/SP (não houve prova; segundo outra corrente, o objeto

105
da prova são as alegações de fato possuem cores, vermelho e azul. As
(Dinamarco). A razão está com o pessoas do Estado do Rio grande do Sul
segundo: o fato é ou não é (ocorreu ou conhecem cada qual e suas cores?
não ocorreu), e não verdadeiro ou falso; Também é possível que várias pessoas
mas a alegação de fato é que pode ser não tenham mais conhecimento que
falsa ou verdadeira. Itamar Franco foi presidente por conta
Contudo, é possível que do impeachment do Fernando Collor).
excepcionalmente, pode ser que a prova b) fatos confessados. Trata-se de
recaia sobre a alegação de direito, nos uma previsão esdrúxula do CPC, pois o
casos do art. 376, desde que haja fato confessado já é prova produzida.
determinação do juiz nesse sentido. Além disso, a confissão não é prova
“Art. 376. A parte que alegar plena (prova que não admite prova em
direito municipal, estadual, estrangeiro contrário).
ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e
a vigência, se assim o juiz determinar.”
c) fatos admitidos como
Obs. 1: provar alegação de direito incontroversos. Ela decorre da ausência
significa que, se for norma legal, provar de impugnação, que pode ser
que ela existe e que vige. decorrência, por sua vez, da revelia ou
Obs. 2: o meio de produzir essa da falta de impugnação específica.
prova é qualquer meio, da forma como Exceções: art. 351 e art. 341, dos fatos
demandar o caso concreto. não impugnados que não serão
admitidos como incontroversos.
2.2. Exclusão do objeto de prova d) fato presumido – a presunção é
Refere-se a determinadas o resultado de um processo mental: um
alegações de fato: fato indiciário (provado) faz gerar a
i) quando a alegação não for presunção de que um fato presumido é
objeto de consideração pelo juiz, i. é, verdadeiro, mesmo sem prova.
desprezada pelo juiz, de forma que se Decorrem:
torna inútil: fato impertinente (estranho 1) da presunção legal (prevista em
ao objeto do processo); fato irrelevante lei, que fala qual o fato indiciário e a
(incapaz de influenciar a formação do presunção – ex.: averbação da penhora
convencimento do juiz) presume que todos terceiros conheçam
ii) quando a alegação for o gravame; provado que o filho foi
considerada verdadeira concebido durante o casamento,
independentemente de prova (caso de presume-se a paternidade);
prova inútil). Cf. art. 374: 2) da presunção judicial (decorre
“Art. 374. Não dependem de do juiz, no caso concreto. Há uma
prova os fatos: extrema, talvez impossível,
I - notórios; possibilidade de provar o fato
II - afirmados por uma parte e presumido. O processo mental é
confessados pela parte contrária;
III - admitidos no processo como
baseado nas máximas da experiência, i.
incontroversos; é, se aconteceu “A”, invariavelmente
IV - em cujo favor milita ocorre “B”).
presunção legal de existência ou de Toda presunção judicial é relativa;
veracidade.” a presunção legal pode ser relativa ou
a) fato notório. Aqui no Brasil absoluta.
trabalhamos com a notoriedade relativa, A presunção absoluta é a que não
i. é, não precisa ser de conhecimento de admite prova em contrário. Essa prova
todos, mas de conhecimento geral, que gera uma vinculação obrigatória,
leva em consideração determinado local tornando-se irrelevante o
e momento (exemplo: em Parintins, o convencimento pessoal juiz, daí por que
boi caprichoso e o boi garantido
106
não caber prova. Assim, essa presunção pontualmente, como no CDC, para
absoluta retira a alegação do objeto do tutela do idoso (pessoa), para tutela do
prova. meio ambiente (matéria). O legislador
A presunção relativa admite prova fala em redistribuição, o que entre dois
em contrário. Se admite, a alegação não significa inversão do ônus da prova
é excluída do objeto da prova. Ocorre “judicial”, que depende do
apenas inversão do ônus da prova, e a preenchimento de requisitos legais:
parte contrária pode provar que a a) art. 373, § 1º - requisito
alegação é falsa. positivo, quando a parte contrária tiver
mais facilidade para produzir a prova.
3. Ônus da prova (CPC, 373) b) art. 373, § 2º - o legislador
3.1. Regras de distribuição consagrou o requisito negativo: não
Sistemas: cabe inversão se o encargo for de
i) distribuição fixa – feita desincumbência impossível ou
abstratamente pela Lei, desconsiderando excessivamente difícil. Ou seja, não
eventuais particularidades do caso adianta ser difícil de provar para uma
concreto; parte, mas apenas para ela. O melhor
ii) distribuição dinâmica do ônus exemplo é o da “prova diabólica”, i. é, a
da prova – será feita concretamente pelo prova de impossível produção, que recai
juiz. Para essa decisão, o juiz levará em sobre um fato negativo indeterminado
conta a maior facilidade da parte em (não-fato e a indeterminação é do local
produzir a prova. e momento). Ex.: passar a ter o ônus de
provar que nunca tomou Fanta uva na
Material de Apoio - Processo Civil vida. Provar o não-fato pode ainda ser
-Daniel Assumpção - Aula 14 (II).pdf possível (exemplo: provar que não
iii) sistema hibrido tomou fanta uva em uma determinada
Art. 373, I e II – sistema estático festa), mas o não-fato indeterminado é
- autor: fatos constitutivos impossível.
- réu: fatos impeditivos, Essa inversão judicial sempre
modificativos e extintivos. depende de uma inversão judicial. Essa
Obs. 1: primeiramente, a decisão judicial sobre redistribuição
preocupação é com o fato constitutivo. deve ser tomada no saneamento (art.
Depois é que se exige do réu a 357, III). Contudo, não ocorre
desincumbência de seu ônus. preclusão, i. é, é possível que ocorra
Obs. 2: o réu não tem o ônus de depois desse momento e, em respeito ao
provar o “fato contrário”, i. é, o fato contraditório, a parte que recebe o ônus
logicamente incompatível com o fato deve ser intimada para que possa pedir a
constitutivo. Ex.: o autor alega que o produção da prova. Tudo isso pode ser
réu estava no bar; o réu alega que não compreendido do art. 373, § 1º.
poderia estar no bar porque estava na
aula. Quem vai ter que provar é o autor 3.2. Outras espécies de inversão do ônus
que o réu estava no bar. A alegação da prova
serve como impugnação. a) convencional – CPC, 373, § 3º.
Com o novo CPC, o sistema Aquela que decorre de acordo entre as
passou a ser híbrido pela previsão do partes. É hipótese muito rara. Pode se
art. 373, § 1º, regral geral da dar antes ou durante o processo. Já era
redistribuição do ônus da prova, ou seja, previsto no CPC anterior. Não é
vale em qualquer espécie de processo, admitida em direito indisponível, nem
para qualquer sujeito processual, para no caso de gerar excessiva dificuldade
qualquer matéria. Antes, ele aparecia de a parte se desincumbir do ônus;

107
b) legal – não é propriamente uma c) sistema do livre convencimento
inversão, mas apenas uma previsão ou sistema da persuasão íntima – dá
específica em Lei em sentido inverso às uma liberdade ilimitada ao juiz, que não
regras do art. 373, I e II. Ela não está adstrito à prova, mas às suas
depende de preenchimento de requisitos percepções pessoais.
legais, bastando ao juiz aplicar a regra d) livre convencimento motivado
específica no momento de julgar. (persuasão racional) – o juiz não está
Exemplos: CDC, 12, § 3º, 14, § 3º, 37 adstrito à valorações legais (liberdade
(exemplo: alegar que o produto ou de valorar a prova sem regras legais
serviço tem defeito o ônus já recai no pré-determinadas). Contudo essa sua
fornecedor). liberdade é limitada, pela motivação da
atribuição da carga de convencimento
3.3. Inversão do ônus de adiantamento dos meios de prova. Motivação é
de custas justificação. Motivar é justificar as
Cf. art. 95, a regra é que o autor opções valorativas, através da
adianta sempre que ele pede, quando razoabilidade, i. é, aquela que seria
tanto ele quanto o réu pedem, quando o utilizada pelo homem médio. A
juiz pede ou quando o MP pede. O réu valoração deve atender a expectativa.
tem o ônus quando ele, réu, pede. Obs.: o CPC fala apenas em
Pela inversão do ônus da prova, o convencimento motivado, sem a
réu tem o ônus da prova e, portanto, de expressão “livre”. Trata-se de uma
suas custas? Segundo o STJ, REsp modificação importante. O juiz nunca
1063639/MS, não há inversão das foi livre para aplicar o direito. A
custas. O art. 375 não é a mesma coisa expressão livre refere-se à valoração da
que o art. 95. Mas ainda segundo o STJ, prova, mas de forma condicionada
AgRg na MC 17695/PR, com a inversão (liberdade limitada). Dessa forma, a
do ônus da prova, é o réu que passa a justificativa deve ser razoável. Em
arcar com as consequências da ausência provas objetivas ainda podem ser
da prova (se a prova não for produzida, adotada a expressão “livre
o réu e que vai se prejudicar). Assim, convencimento motivado” porque ainda
gera uma inversão no interesse de que a há muita doutrina defendendo esse
prova seja produzida. Acaba que na sistema.
prática o réu se vê forçado a adiantar Obs. 2: nosso sistema ainda
tais custas. possui algumas normas específicas de
norma tarifada. As mais escandalosas
4. Valoração da prova são as do art. 215 e 225 que preveem
É a atribuição a cada prova prova plena (i. é, que não admitem
produzida de sua carga de prova em contrário). É tão tarifada que
convencimento. é, simplesmente, rejeitada, como se
Sistemas: fosse uma desobediência civil.
a) ordálias e juízos de Deus – se O art. 227 do CC foi revogado, e
dava por meio de sacrifícios físicos. Era o art. 401 do CPC/73, sobre a
aplicado em uma época em que o necessidade de prova escrita em
Direito e a religião não eram separados. contratos acima de dez salários
b) prova legal ou tarifada – a mínimos, não foi repetida.
carga de convencimento de cada meio
de prova era fixada abstratamente pelo 5. Prova ilícita
legislador. Não há liberdade para do CRFB, art. 5º, LVI. Trata da
juiz. vedação da utilização da prova ilícita no
processo. Significa que o juiz não pode

108
considerar a prova ilícita na formação torna-se indisponível, e a prova a ser
do seu convencimento. produzida representa interesse público
Todas as exceções à vedação por conta desse raciocínio (ela faz parte
estão associadas ao processo penal. Ex.: do processo, pois é produzida para
para determinados crimes é possível a convencer o juiz). Assim, pode-se
interceptação telefônica. Na área cível, dispor do direito material, o que não é
na há exceções previstas na CRFB. bem acatado em relação à prova, que
Por conta dessa falta de previsão, pode ser produzida pelo juiz.
criou-se a teoria proporcionalista A segunda resistência é que, com
(Marinoni, Barbosa Moreira) que sugere a produção de ofício, o juiz violaria a
uma admissão excepcional da prova isonomia, pois estaria substituindo uma
ilícita, desde que quatro requisitos das partes em relação ao ônus da prova.
sejam verificados: Contudo, o que o juiz procura é a
a) gravidade do caso – situação isonomia real, pois se as partes possuem
limite que justifique a exceção; uma desigualdade técnica (i. é,
b) espécie de relação jurídica – advogado), de forma que está
aqui é onde vamos encontrar a equilibrando a disputa.
explicação para o nome da teoria. A Em terceiro lugar, o juiz perderia
vedação constitucional da utilização da sua imparcialidade, pois estaria
prova ilícita serve para preservar alguns favorecendo a parte que não se
valores fundamentais: privacidade e desincumbiu de seu ônus. Sem a prova,
intimidade. Nesses casos, a aceitação da a parte que tinha seu ônus estaria
prova ilícita depende dos valores prejudicada. O juiz, contudo, não sabe o
tutelados no caso concreto. Exemplo: a resultado da prova a priori, antes dela
integridade física e mental de um produzi-la. Produzida a prova, o juiz
incapaz teria mais relevância que a favorecerá a parte que fez a alegação
privacidade e intimidade; verdadeira, e não simplesmente estará
c) impossibilidade de produzir a favorecendo abstratamente aquele cujo
prova de outra maneira de forma lícita; ônus da prova acabou suprindo com
d) imprescindibilidade na seus poderes instrutórios.
formação do convencimento do juiz. Obs.: os poderes instrutórios e o
ônus da prova são regras de julgamento
6. Poderes instrutórios do juiz aplicável no caso de ausência de prova.
Art. 370. Prevê de maneira A ausência de provas pode decorrer
expressa a produção de prova de ofício. inclusive do exercício dos poderes
Existem resistência a este tipo de instrutórios do juiz (ou seja, o juiz
conduta do juiz. Nos países de tradição mandou fazer a prova de ofício, mas a
de common law isso é impensável. Nos prova restou inconclusiva). Além disso,
países de civil law já possuem uma é possível que naquele caso concreto
atividade mais enfática dos juízes na não haja condições para o exercício do
produção de prova, em maior ou menor poder instrutório.
grau. Obs. 2: apesar de se falar em
A primeira justificativa é que, se o poderes instrutórios, o juiz não tem o
direito material discutido é disponível, dever de produzir prova de ofício,
então as partes também podem dispor tratando-se de faculdade do juiz.
do direito à prova. Contudo, o que deve
ficar claro é que a relação de direito 7. Prova emprestada
material não é a mesma coisa que a de Acabou consagrada no art. 372 do
direito processual. Neste caso, que CPC. Trata-se de uma prova oral ou
possui natureza de direito público, pericial , produzida em um processo

109
“A” e que será trasladada para o processo como prova documentada (e
processo “B”. A prova emprestada é deve ser concedido o prazo de 15 dias
prova documental, já que foi veiculada para a parte se manifestar sobre tal
por um termo de audiência ou por um prova).
laudo pericial. Trata-se de uma prova O juiz do processo de destino da
que, no seu conteúdo, é oral ou pericial, prova é livre para valorar essa prova
mas na forma é documental (hibridez emprestada, i. é, a valoração realizada
entre conteúdo e forma, por isso pelo julgador original não vincula o
considerada atípica pela doutrina). O outro julgador.
que vai para o processo “B” é esta prova
documental. 8. Ação de produção antecipada de
Obs. 1: prova documental não é provas
emprestada. Artigos 381 a 383 do CPC.
Obs. 2: origem da prova
emprestada seja um processo. O STJ 8.1. Introdução
(HC 52209/RS) permitiu que prova Trata-se do processo autônomo
utilizada em inquérito policial foi com o simples e único fim de produzir
utilizada numa ação civil pública por prova. Assim que o art. 382, p. ú. já diz
improbidade administrativa. Assim, o que nesse processo o juiz não valora a
inquérito civil também pode produzir prova e nem se manifesta sobre
provas a serem emprestadas na ACP consequências jurídicas daqueles fatos.
(REsp 1280321). Ou seja, o inquérito é O juiz se limita a produzir a prova.
procedimento investigativo, e os
elementos de prova nele produzidos 8.2. Hipóteses de cabimento
podem ser utilizados. Perceba-se que Art. 381:
esses entendimentos forma produzidos I) cautelar – será cabível quando
antes do CPC/2015, mas o professor houver um receio de que a espera para a
entende que essa posição irá se manter, produção da prova a torne
já que está é mesmo a função de tais extremamente difícil ou impossível. É a
procedimentos. ideia clássica do periculum in mora;
O empréstimo de prova deve II) não é cautelar – sempre que a
respeitar o contraditório (CPC, 272). prova a ser produzida puder ajudar na
Exemplo: um processo “A” entre Maria autocomposição. Sempre que existir
e João é produzida uma perícia. Ela direito material que admita a
quer levar essa perícia ao processo “B” autocomposição, pode ser aplicado esse
em que Maria litiga contra Paulo. É uma inciso, para esclarecer fatos.
situação possível, tendo em vista que III) não é cautelar – quando o
Paulo não participou da produção da prévio conhecimento de fatos puder
prova pericial? Se Paulo não se opõe ao justificar ou evitar a propositura de
empréstimo (situação possível), o ação. Refere-se a conflito de qualquer
empréstimo está liberado. E se Paulo natureza (dúvida fática).
resistir alegando violação ao princípio
do contraditório? Segundo STJ, EREsp 8.3. Aspectos procedimentais
617428/SP entende que a identidade de Foro – domicílio do réu ou local
partes não é condição para o de produção da prova. Quem escolhe: o
empréstimo da prova. Cf. Informativo n. autor.
536 STJ AgRg no AREsp 24940, Obs.: competência delegada – art.
segundo o qual o respeito ao 381, § 4º: se não houver vara federal no
contraditório significa seu respeito no local, pode ser utilizada a vara estadual.
processo de destino e, como ela entra no

110
Prevenção – esta ação não gera a (cumprimento de sentença – sentença
prevenção. O processo em que a prova condenatória).
será utilizada terá distribuição livre. Obs.: temos o processo sincrético,
Cumulação de meios de prova – em que a fase de conhecimento, após a
salvo se a produção conjunta acarretar sentença, dá ensejo à fase de
excessiva demora (art. 383, § 3º). cumprimento de sentença (duas fases
Expressa inadmissão de defesa e sucessivas de um mesmo processo).
de recurso, salvo apelação se o processo A extinção da execução significa
for extinto por indeferimento do pedido a extinção do processo autônomo de
de prova (art. 382, § 4º). execução ou da fase de cumprimento de
***** sentença (as duas se dão por sentença).
A extinção na fase de cumprimento de
sentença significará sempre a extinção
do processo sincrético.
Material de Apoio - Processo Civil Obs.: na decisão de primeiro grau,
-Daniel Assumpção - Aula 15 (II).pdf ou estamos diante de uma sentença ou
SENTENÇA de uma decisão interlocutória (art. 203,
§ 2º), identificada através de conceito
residual:
1. Conceito “§ 2º Decisão interlocutória é
CPC, 203, § 1º: todo pronunciamento judicial de natureza
“§ 1º Ressalvadas as disposições decisória que não se enquadre no § 1o.”
expressas dos procedimentos especiais, Ela pode ter conteúdo, cf. art. 485,
sentença é o pronunciamento por meio terminativa; cf. art. 487, de mérito; ou
do qual o juiz, com fundamento nos arts. ainda, incidental. Perceba: só no caso da
485 e 487, põe fim à fase cognitiva do incidental, o conteúdo e o efeito são
procedimento comum, bem como
extingue a execução.”
diferentes da sentença. No caso de
Trata-se de: decisão interlocutória com conteúdo do
- pronunciamento o juiz (decisão) art. 485 e 487, ela só se distingue da
de primeiro grau de jurisdição; sentença pelo efeito.
- o legislador se valeu de um Exemplo: decisão que excluiu
critério híbrido: primeiro interessa o litisconsorte do processo porque era
conteúdo (uma das matérias previstas parte ilegítima (art. 485, VI – conteúdo
nos artigos 485 ou 486); depois, de sentença; mas o efeito não é da
considera-se o efeito da decisão sobre o extinção da fase de conhecimento).
processo (extinção da fase cognitiva do Obs. 2: art. 203, § 1º.
procedimento comum ou da execução). “Ressalvadas as disposições expressas
Obs.: essa extinção refere-se àquela de dos procedimentos especiais,...” ou seja,
primeiro grau, pois é possível que a nos procedimento especiais teremos
parte recorra. sentenças que não extinguem a fase de
É possível a existência de uma conhecimento. Ex.: ação de demarcação
sentença que extingue a fase cognitiva, e divisão de terras.
representando a extinção do processo
(sentença de improcedência; sentença 2. Classificação das sentenças
meramente declaratória; sentença 2.1. Quanto ao conteúdo da sentença
constitutiva. Nenhuma dessas sentenças Introdução
cumprimento de sentença). Mas é Duas correntes:
possível também que a extinção da fase - teoria ternária das sentenças.
cognitiva não extinga o processo, pois Origem em Liebman e com seguidores
após dela haverá a fase executiva como Dinamarco, Barbosa Moreira e
HTJr.: sentença meramente declaratória;

111
sentença constitutiva e sentença que elas não se encaixavam em
condenatória. nenhuma das espécies anteriores.
- teoria quinaria. Origem em
Pontes de Miranda, com seguidores D) Sentença executiva lato sensu
como Marinoni, Watanabe. São cinco: É seguida de execução (mera fase
as três acima, da teoria ternária; mais a procedimental).
executiva lato sensu e mandamental. Atualmente, toda sentença é
A) Sentença meramente executada por cumprimento de
declaratória sentença. Nesse sentido, não existiria
A.1) quanto ao conteúdo – é a mais sentença condenatória, mas apenas
declaração da existência/inexistência, as executivas lato sensu.
ou do modo de ser, de uma relação
jurídica; E) Sentença mandamental
A.2) quanto ao efeito – é a certeza Tem como conteúdo uma ordem
jurídica (que é pai; que é proprietário dirigida ao réu.
pela usucapião etc.). Seu efeito é a satisfação da
Obs.: esta é a regra do conteúdo sentença mandamental pelo
de uma sentença declaratória. cumprimento da ordem. Não há
Excepcionalmente pode ter como execução, nem por cumprimento de
conteúdo a autenticidade ou falsidade sentença nem por processo autônomo de
documental, ou seja, um fato, e não uma execução.
relação jurídica (único fato que pode ser
objeto de uma sentença declaratória, por 2.2. Quanto à resolução do mérito
disposição legal); bem como a lei em A) sentença terminativa –
tese, nas ações de controle de sentença que não resolve o mérito
constitucionalidade (processo objetivo). (decide o processo mas não o conflito),
cf. art. 485:
B) Sentença constitutiva i) sentença de indeferimento da
Seu conteúdo é a criação, petição inicial (CPC, 330);
modificação ou extinção de uma relação ii) paralisação do processo por
jurídica. O efeito, a alteração da mais de um ano por negligência das
situação jurídica das partes. partes. Trata-se de hipótese rara, já que:
Ex.: conteúdo de uma sentença de a) o processo está sujeito, em regra, ao
divórcio é a mudança do estado civil, e impulso oficial; b) nas hipóteses em que
efeitos, tantos os patrimoniais, o andamento do processo dependa de
familiares etc. atos do autor, o que pode gerar a
previsão do inc. III; c) não há que se
C) Sentença condenatória falar em desídia do réu que, na quase
Conteúdo. É a imputação ao réu totalidade dos casos, já possui interesse
do cumprimento de uma prestação. na protelação do processo. Assim, sobra
Efeito. Permitir a prática de atos apenas a possibilidade de abandono
executivos voltados à satisfação desta bilateral do processo para justificar
obrigação reconhecida. essa espécie de extinção;
Obs.: Liebman, quando iii) não prática de atos/diligências
conceituou a sentença condenatória, pelo autor por mais de 30 (trinta) dias
levou em consideração apenas o efeito. (abandono unilateral do processo).
Contudo, é fato que na época de Após a contestação, a extinção por
Liebmam, execução se dava apenas por abandono depende de requerimento do
processo de execução. Por isso forma réu (texto antigo da súmula adotado
criadas as duas próximas espécies, já pelo CPC, mas na verdade basta a

112
anuência do réu, após a provocação do renúncia à arbitragem pela propositura
juiz ao réu, já que o réu pode estar da ação, e o réu pelo silêncio.
interessado no julgamento do mérito). Se já existir decisão do juízo
Não gera a extinção, em qualquer arbitral reconhecendo sua competência
caso, o inventário e a execução (pois não haverá espaço para análise da
nessa gera a prescrição intercorrente, cf. convenção de arbitragem, de forma que
art. 921 do CPC). a única possibilidade para o juízo estatal
Além disso, temos ineficácia do é reconhecer sua vinculação ao juízo
abandono, no caso das ações de controle arbitral.
de constitucionalidade. viii) desistência do processo – a
Obs.: art. 485, § 1º, II e III – a extinção, nesse caso de desistência,
extinção depende de prévia intimação depende de anuência do réu depois de
pessoal do autor para dar andamento ao protocolada a contestação (§ 4º), bem
processo em 5 (cinco) dias, o que se com só cabe a desistência até a prolação
trata de um prazo impróprio. da sentença (§ 5º).
iv) ausência de pressupostos Obs.: processo coletivo:
processuais (cf. aulas acima do Prof. 1) especial (ações de controle de
Didier); constitucionalidade) – a desistência é
v) perempção; litispendência; e ineficaz (não será homologada pelo
coisa julgada “material”, que são os STF);
pressupostos processuais negativos. 2) comum – haverá publicação de
São pressupostos processuais edital convocando os legitimados ativos
negativos: todos se referem a uma a assumirem o polo ativo do processo.
mesma ação em diferentes processos, i. Esses legitimados ativos, inclusive MP,
é, mesmas partes, causa de pedir e não têm o dever de assumir o polo
pedido. ativo.
A primeira hipótese: três ix) ações intransmissíveis -
processos extintos por abandono, gera a extingue-se o processo. Exemplo:
perempção. divórcio.
Na segunda hipótese, trata-se de Obs.: se ocorrer a confusão
duas ou mais ações idênticas em (extinção da obrigação quando mesmo
trâmite, gerando litispendência. sujeito reúne posição de credor e
Já na terceira, da coisa julgada devedor), antes referida no CPC/73, art.
material, tem-se um processo com a 267, X, não teve previsão repetida no
decisão de mérito transitada em julgado CPC/2015, pois agora gera uma
e sobrevêm outro processo com a sentença de mérito, de improcedência..
mesma ação. Obs. 2: a sentença terminativa,
vi) carência de ação – é gerada com base nos incisos I, IV, VI e VII e
pela ilegitimidade de parte e da falta de na litispendência a repropositura da
interesse jurídico de agir. A ação depende da correção do vício que
possibilidade jurídica de pedido não é levou à extinção terminativa (art. 486, §
mais mencionada pelo CPC. 1º).
vii) arbitragem – a primeira Obs. 3: cf. art. 485, § 7º, cabe
hipótese é a da alegação do réu da juízo de retratação em 5 (cinco) dias.
existência de convenção de arbitragem Em caso de apelação, o juiz pode anular
(cláusula compromissória, celebrada sua sentença e dar continuidade ao
antes da ocorrência de problema, ou processo.
compromisso arbitral, que vem depois
da lide). O autor demonstra sua B) sentença definitiva – é a
sentença que resolve o mérito, i. é,

113
resolve o conflito de interesses (art. fundamentação (nos dois casos é
487). viciada: desconformidade com as
Tem a seguinte divisão: exigências do art. 489, § 1º do CPC). A
i) genuína/verdadeira sentença de falta de fundamentação gera a nulidade
mérito (I) – acolhe ou rejeita o pedido absoluta (mais grave que a falta de
do autor, pois seu fundamento é o relatório).
direito material alegado pelo autor. Obs. 1: fundamentação per
Obs.: no inciso II está a sentença relationem, de outra decisão, é
de mérito com fundamento em admitida, como regra geral (STJ
prescrição e decadência. Ela não deixa também assim entende). Atenção: no
de ser uma forma do juiz rejeitar o art. 1021, § 3º, uma exceção: no agravo
pedido do autor, mas uma forma interno.
específica dela. Obs. 2: segundo entendimento do
ii) falsas/impuras sentenças de FONAJE, o art. 489, § 1º é inaplicável
mérito – tratam-se de sentenças nos juizados especiais.
homologatórias de autocomposição: iii) dispositivo – conclusão
reconhecimento jurídico do pedido, decisória. Parte da sentença em que se
transação e renúncia. Nessa hipótese, acolhe ou rejeita o pedido do autor.
não é juiz que resolve o conflito, mas da O dispositivo é o responsável pela
vontade das partes. geração de efeitos da sentença.
A ausência de dispositivo gera a
3. Elementos da sentença inexistência jurídica da sentença.
Para sentença terminativa, e para Sentença sem dispositivo não é
as homologatórias, não existe uma sentença, porque não é decisão.
estrutura formal prevista em lei,
bastando a fundamentação (exigência 4. Princípio da congruência, adstrição,
constitucional), ainda que concisa, correlação
breve. Por vezes a fundamentação é CPC, 492. A sentença está adstrita
apenas a referência ao texto legal. ao pedido. Há vedação para concessão
Para a sentença genuína de mérito diferente do pedido (extra petita); ou
e de prescrição e decadência, cf. art. além do pedido (ultra petita).
487, I e II, haverá uma estrutura forma A adstrição é mais ampla do que
imposta pela Lei (CPC, 489): sugerido pela lei, pois ser refere às
i) relatório – indicação do nome partes, causa de pedir e o pedido.
das partes, breve resumo da pretensão e Razões do princípio. Esse
da defesa e, por fim, registro dos princípio está fundamentado da inércia
principais atos praticados. da jurisdição e no contraditório.
Ausência do relatório é vício, mas Mas há exceções: pedidos
que gera nulidade apenas relativa. Nos implícitos (conceder o que não for
termos do art. 38 da L9099/95, nos pedido, só possível nas hipóteses
Juizados Especiais há previsão de previstas em lei); fungibilidade (o
dispensa do relatório. melhor exemplo é a possessória); o
ii) fundamentação – resultado prático equivalente, nas ações
exteriorização da razões do decidir, de fazer/não fazer (art. 497, caput).
devendo respeitar o quanto disposto no
art. 489, § 1º (roteiro de 5. Sentença extra petita
fundamentação). Concede diferente do que foi
Ou seja, considera-se ausência de pedido. O pedido tem o imediato (tutela
fundamentação 1) a falta de jurisdicional) e mediato (bem da vida).
fundamentação ou 2) a pseudo- Assim é extra petita a sentença que

114
concede diferente espécie de tutela, bem causas de pedir. Já para acolher o
com aquela que concede bem da vida de pedido, deverá enfrentar todos os
natureza distinta. fundamentos da defesa, mas pode
Obs. 1: sentença extra causa apenas se referir a apenas uma causa de
petendi. Deve-se lembrar que a pedir.
vinculação é apenas aos fatos jurídicos, Sentença citra petita cabe
pois em razão do princípio iura novit embargos de declaração, por omissão.
cúria, o juiz pode decidir com base em Se permanecer, cabe apelação, cf. art.
fundamento jurídico distinto da causa 1013, § 3º, II (o Tribunal decide o
de pedir. pedido ainda não decidido, ou seja, o
Obs. 2: sentença extra partes. O Tribunal complementa o julgado)
juiz deixa de decidir para a parte e *****
decide para terceiro.
Diante de uma sentença extra
petita, o recurso cabível é a apelação,
com uma grande novidade, do ar. 1013, Material de Apoio - Processo Civil
§ 3º, II: se houver provimento desse -Daniel Assumpção - Aula 01 on line
recurso, o Tribunal anula a sentença e já (II).pdf
decide o pedido. Se houver transito em COISA JULGADA
julgado, cabe ação rescisória, cf. art.
966, V, pois o art. 492 afirma que não
pode haver sentença extra petita. 1. Introdução
Coisa julga remete ao trânsito em
6. Sentença ultra petita julgado, tratando-se de correlação
Aquela que concede além do indissociável. O trânsito em julgado é
pedido. Perceba-se que se refere à um estado de fato pelo qual toda
quantidade de bem da vida, superior à decisão passará. A decisão passa em
pedida. julgado:
Obs. 1: não existe sentença ultra - se não for interposto o recurso
causa petendi. cabível (voluntariedade dos recursos).
Obs. 2: é possível sentença ultra Obs.: há uma exceção a essa via, do
partes. O juiz decide para as partes, mas reexame necessário, cf. CPC, 496, no
decide também para teceiros. qual a sentença obrigatoriamente é
Em caso de sentença ultra petita, revista pelo Tribunal;
caberá apelação. Se a apelação for - se houve exaurimento dos
provida, o Tribunal anula apenas partes recursos cabíveis.
excedente da sentença. A decisão terminativa (que não
Se transitar em julgado, cabe ação resolve o mérito), como qualquer outra,
rescisória. Nesse caso, teremos uma transita em julgado, gerando a coisa
desconstituição parcial. julgada formal, ou seja, a
imutabilidade e indiscutibilidade da
7. Sentença citra petita decisão dentro do processo que foi
É a sentença aquém do pedido, proferida. Trata-se de um fenômeno
deixando de decidir pedido. Só vai endoprocessual.
acontecer na cumulação de pedidos. Há doutrina, neste caso, que não
Obs. 1: há decisão citra causa coaduna com a expressão coisa julgada
petendi, que tem a ver com causa de formal, atribuindo-lhe a denominação
pedir, também aplicada nos preclusão máxima.
fundamentos de defesa. Para rejeitar o Mas podemos ter também a
pedido do autor, deve enfrentar todas as decisão de mérito (ou decisão

115
definitiva), i. é, que resolve o mérito e, autônomo e independente da decisão
transitando em julgado, produz também recorrida não ser objeto de impugnação.
coisa julgada formal. Para o STJ (CE, REsp
Importante observar que, toda 736650/MT), temos apenas um trânsito
decisão transita em julgado e, em todo em julgado da decisão do processo. Ou
trânsito em julgado, é gerada coisa seja, os capítulos não impugnados só
julgada formal. Conclui-se que toda transitam em julgado após a última
decisão gera coisa julgada formal. decisão do processo.
Já a decisão de mérito, ao transitar Já o STF, cf. 1ª T, RE 666589/DF,
em julgado, também poderá formar a admite que capítulo não recorrido
coisa julgada material, i. é, a transite em julgado.
imutabilidade e indiscutibilidade da Obs.: no CPC, 975, caput, (“O
decisão para fora do processo. Temos direito à rescisão se extingue em 2
aqui a eficácia exoprocessual ou (dois) anos contados do trânsito em
panprocessual. julgado da última decisão proferida no
Observação: para essa decisão de processo.”) temos que o termo inicial
mérito, transitada em julgado, gera-se do prazo para propositura da ação
coisa julgada material apenas se houve rescisória, de 2 (dois) anos, é o trânsito
cognição exauriente, ou seja, se houver em julgado da última decisão proferida
juízo de certeza. Isto quer dizer que no processo. Na STJ, 401 (“O prazo
toda decisão sobre tutela provisória é decadencial da ação rescisória só se
decisão de mérito, que um dia transita inicia quando não for cabível qualquer
em julgado mas que, posto que recurso do último pronunciamento
decorrentes de cognição sumária, levam judicial.”), esse entendimento já era
a um juízo de probabilidade, não de adotado.
certeza, resultando em coisa julgada
formal (cf. CPC, 304, § 6º). 3. Conceito de coisa julgada
“Art. 304. CPC, 502: é a autoridade que
(...) torna a decisão imutável e indiscutível.
§ 6º A decisão que concede a “Seção V
tutela não fará coisa julgada, mas a Da Coisa Julgada
estabilidade dos respectivos efeitos só Art. 502. Denomina-se coisa
será afastada por decisão que a revir, julgada material a autoridade que torna
reformar ou invalidar, proferida em ação imutável e indiscutível a decisão de
ajuizada por uma das partes, nos termos mérito não mais sujeita a recurso.”
do § 2º deste artigo.”
Há uma divergência histórica na
Observação: dizer “coisa julgada”
doutrina:
refere-se a coisa julgada material.
- Liebman (e Dinamarco).
Quando nos referimos a coisa julgada
Liebman demonstrou que eficácia da
formal, devemos utilizar a expressão
decisão é diferente da imutabilidade
completa. Esse detalhe é muito
(podemos ter uma decisão mutável
importante em concursos.
eficaz). Justamente por isso temos o
cumprimento provisório de sentença.
2. Trânsito em julgado parcial
Também demonstrou que a coisa
Temos aqui uma decisão que julga
julgada material é diferente dos efeitos
parte do processo, e a parte sobejante
da decisão (já que os efeitos vêm antes
continua tramitando.
da coisa julgada, como elas se
O trânsito em julgado ocorre
confundiriam?). O problema é que para
quanto a essa parte já julgada? E o
Liebman a coisa julgada material é uma
recurso parcial é possível ou necessário
qualidade da decisão que torna seus
para evitar a preclusão? Temos aqui em
efeitos imutáveis e indiscutíveis. A
vista a possibilidade de capítulo

116
coisa julgada é um manto aos efeitos da remota, mesmo que fosse distribuída
sentença; para mesma vara, tendo em vista que
Contudo, uma corrente doutrinária cada juiz possui uma enormidade de
começa a criticar essa premissa de que casos para julgar). Ordinariamente, o
os efeitos, protegidos pela coisa julgada, requerido é que vai noticiar a existência
não podem ser mudados. Eles poderiam de coisa julgada naquele caso. Contudo,
sim ser mudados, por circunstâncias principalmente em ações contra grandes
supervenientes, em especial pela empresas, é possível que ocorra conflito
vontade das partes (exemplos: uma de duas coisas julgadas materiais para
semana após decisão da ação que mesma ação, por erro mesmo. Para
sentenciou pelo afastamento da Barbosa Moreira, Dinamarco e HTJr., a
paternidade, o pretenso pai reconhece segunda coisa julgada material é
como seu o filho autor da ação viciada, podendo ser rescindida em até
improcedente; no caso do divórcio, dois anos, cf. art. 966, IV. Depois desse
quando essas pessoas vão lá e se casam prazo, a segunda coisa julgada material
novamente, restabelecendo a situação substitui a primeira.
jurídica anterior). Daí:
- Barbosa Moreira, Nelson 5. Função positiva da coisa julgada
Nery. A coisa julgada material é uma Tratamos aqui da vinculação do
situação jurídica por meio da qual o juiz na decisão de mérito.
conteúdo da decisão se torna imutável e Usamos a teoria da identidade da
indiscutível. relação jurídica:
- dois processos, com ações
4. Função negativa da coisa julgada diferentes;
É aquela que cria um - mesma relação jurídica nos dois
impedimento ao julgamento do mérito. processos, sendo que 1) em um deles,
É a hipótese em que estamos aparece como questão principal; e 2) no
diante de uma sentença terminativa, cf. outro aparece como questão prejudicial.
CPC, 485, V. No processo em que é questão
“Art. 485. O juiz não resolverá o principal, já temos a decisão de mérito,
mérito quando: com transito em julgado e coisa julgada
(...)
V - reconhecer a existência de
material.
perempção, de litispendência ou de No segundo processo ela aparece
coisa julgada; (...)” como questão prejudicial, e a solução
Para tal, devemos trabalhar com a estará vinculada à coisa julgada material
teoria da tríplice identidade (tria do processo anterior.
eadem): Exemplo: existência de relação
- dois processos com a mesma sexual entre réu e genitora do autor
ação; e (pedido de declaração de paternidade),
- um deles já produziu coisa com a sentença de mérito declarando
julgada material. réu pai e o trânsito em julgado (coisa
Obs.: mesma ação significa julgada material). Daí, no segundo
identidade dos elementos da ação processo, entre as mesmas partes, com
(partes, causa de pedir e pedido). causa de pedir o direito aos alimentos, e
A coisa julgada material é a condenação em alimentos. Na
matéria de ordem pública. Como tal, contestação do réu, este alega que não
pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, tem o dever de pagar os alimentos já
de forma que a sentença terminativa que não é pai do autor. Essa alegação é
poderia inclusive ser prolatada de ofício a questão prejudicial da paternidade.
(apesar de ser uma possibilidade bem Entretanto, a questão da paternidade já

117
está resolvida por coisa julgada de lei nos limites da questão principal
material, e não há mais interesse na expressamente decidida.
§ 1º O disposto no caput aplica-se
discussão do tema antes definido. à resolução de questão prejudicial,
decidida expressa e incidentemente no
6. Limites objetivos processo, se:
CPC, 504: limita os efeitos da I - dessa resolução depender o
coisa julgada material ao dispositivo, julgamento do mérito;
II - a seu respeito tiver havido
posto que não fazem coisa julgada: contraditório prévio e efetivo, não se
- motivos; aplicando no caso de revelia;
- verdade dos fatos. III - o juízo tiver competência em
“Art. 504. Não fazem coisa razão da matéria e da pessoa para
julgada: resolvê-la como questão principal.
I - os motivos, ainda que § 2º A hipótese do § 1º não se
importantes para determinar o alcance da aplica se no processo houver restrições
parte dispositiva da sentença; probatórias ou limitações à cognição que
II - a verdade dos fatos, impeçam o aprofundamento da análise da
estabelecida como fundamento da questão prejudicial.”
sentença.” Caso não preenchidos os
O dispositivo acaba sendo requisitos, continuamos tendo uma
redundante, pois bastava se referir aos solução apenas para o processo. Os
motivos, que englobam tanto os fáticos requisitos legais são:
quanto os jurídicos. Enfim, o que o i) requisitos positivos (CPC, 503,
dispositivo expressa é que não faz coisa § 1º):
julgada a fundamentação. 1) da solução da questão
Contudo, há uma novidade no art. prejudicial depender o julgamento do
503, que envolve a solução da questão mérito;
prejudicial. Atenção:
A questão prejudicial - se a solução da questão
necessariamente será decidida, pois dela prejudicial se der obiter dicta (an
depende o julgamento do mérito. No passant, resolvida, mas não essencial ao
CPC revogado, para que essa decisão da julgamento de mérito), não faz coisa
questão prejudicial fizesse coisa julgada julgada material;
material, as partes tinham que propor - se for decidida como ratio
ação declaratória incidental. Por outro decidendi da decisão de mérito
lado, sem ação declaratória incidental, a (fundamento determinante do
solução tinha efeitos apenas dentro do julgamento de mérito), pode fazer coisa
processo. julgada material.
Obs.: o CPC, 1054 previu que 2) exige-se contraditório prévio e
para todas ações propostas até o dia 17- efetivo (afasta a coisa julgada material
3-2016, estão valendo as regras do CPC no caso de revelia).
revogado quanto a ação declaratória Atenção: para haver revelia, é
incidental com o objetivo de alcançar necessária ausência jurídica de
coisa julgada material nas questões contestação. Ora, mas se não há
prejudiciais. contestação, como o ponto alegado se
Já o CPC/2015 passou a prever torna uma questão (desde Carnelluti
que para chegar à coisa julgada material questão é o ponto controvertido...)? Não
sobre a questão prejudicial, não é mais foi o réu que controverteu o ponto?
necessária a ação declaratória Assim, a questão prejudicial só é
incidental, mas apenas o preenchimento possível nesse caso se houver
dos requisitos legais. impugnação de terceiro interveniente,
“Art. 503. A decisão que julgar
total ou parcialmente o mérito tem força

118
algo muito raro (v. g., um assistente do - no art. 472 do CPC/73, previa-se
réu revel). que a coisa julgada material não
3) o juiz ter competência, pela prejudica ou beneficia terceiros. Dizia-
matéria ou pessoa, para decidir a se que a CJM tinha efeitos inter partes.
questão prejudicial como questão - no CPC, 507 vem disposição de
principal. que a CJM não “prejudica” terceiros. Se
Para entender esse ponto, não prejudica, podemos concluir que
devemos fazer um juízo de abstração. beneficia, diferentemente do que previa
Pensamos em um processo que tenha o CPC/73.
como objeto principal aquela questão Essa constatação gera uma
prejudicial. Para esse processo haveria pergunta: de que forma a CJM beneficia
uma competência absoluta para julgar terceiros? Atualmente temos cinco
essa questão? Se ela for a mesma do correntes doutrinárias.
juízo do processo da questão 1ª) Marinoni: foi adotado no
prejudicial, o requisito está satisfeito. Direito brasileiro o fenômeno do
Exemplo: imagine-se um collateral estoppel do Direito Norte-
processo, na Justiça Trabalhista, em que Americano;
a empregada doméstica demanda um 2ª) Scarpinella: o CPC adotou a
casal. Para demandar o casal, a coisa julgada material secundum
reclamante alegou que eles viviam em eventum litis in utilibus.
união estável. Nesse processo, o(s) Basicamente para essas duas
réu(s) alega(m) a inexistência da união primeiras correntes, a ideia é de
estável, que se torna uma questão indivíduos, com seus direitos
prejudicial para viabilizar a condenação. individuais, de origem comum, fática ou
Imagine-se um processo em que a união jurídica.
estável seja o tema debatido, e ela será Exemplo: 10.000 consumidores
de competência da Justiça Estadual. No em tese lesados por um banco. Um
processo trabalhista, o Juiz Federal do deles, João, entra com ação contra o
Trabalho deverá decidir a união estável, banco baseado nessa lesão. Se ele
mas ela não fará coisa julgada material. consegue procedência, todos os outros
ii) requisito negativo – CPC, 503, 9.099 consumidores se aproveitam desta
§ 2º: havendo um processo que tenha procedência. O banco não poderia
restrições probatórias (não se pode alegar que não foi parte nestes outros
produzir qualquer tipo de prova) ou com processos, porque ele não pode ser
limitações à cognição, impedem o considerado terceiro para a coisa
aprofundamento na análise da questão julgada referida à qual ele está
prejudicial. Nesses casos, a solução da vinculado.
questão prejudicial não faz coisa julgada Se, ao contrário, houve
material. Mandado de segurança, improcedência da ação, os 9099
processos que tramitam nos Juizados consumidores restantes estão livres para
Especiais Cíveis (não admitem prova discutir seus direitos em outro processo.
pericial complexa e têm restrições à Eles não podem ser prejudicados porque
prova testemunhal), no inventário e a coisa julgada não prejudica terceiros.
partilha (a prova não documental não Crítica: esse entendimento torna
será ali decidida) são alguns exemplos absolutamente desnecessária a ação
de processos em que há restrições coletiva com fundamento no direito
probatórias e ou limitações cognitivas. individual homogêneo.
3ª) Didier: o terceiro é o
7. Limites subjetivos litisconsorte unitário facultativo que não
Comparação: participou do processo. Se ele tivesse

119
participado, claro, o resultado deveria 9. Coisa julgada material nas chamadas
ser o mesmo para todo mundo. relações continuativas
4ª) Leonardo Greco: esta norma Tratamos aqui das relações
é para os cotitulares do direito que não jurídicas de direito material de trato
participaram do processo. continuado, aquele tipo de obrigação
Essas duas correntes são muito que se decide em juízo, mas que
próximas. continua a ter prestações vincendas.
Crítica: é pacífico que o titular do Segundo Dinamarco, há “condenação
direito substituído processualmente está para o futuro”: alimentos e a ação
vinculado à coisa julgada material pro revisional ou renovatória de locação são
et contra (“para o bem e para o mal”). bons exemplos.
5ª) Delore: nada mudou, porque a Para estas espécies de relações
norma é ineficaz. Se a norma beneficia jurídicas, temos o art. 505, I, que
alguém, é porque necessariamente permite a revisão da decisão de mérito
prejudica outrem. Trata-se de uma transitada em julgado em razão de
norma suicida. circunstâncias supervenientes, de fato
Crítica: a norma não permite ou de direito:
prejudicar terceiro, o que é diferente de “Art. 505. Nenhum juiz decidirá
prejudicar parte que está em ambos novamente as questões já decididas
relativas à mesma lide, salvo:
processos. I - se, tratando-se de relação
jurídica de trato continuado, sobreveio
8. Eficácia preclusiva da coisa julgada modificação no estado de fato ou de
material direito, caso em que poderá a parte pedir
CPC, 508. Dentro da CJM temos a revisão do que foi estatuído na
sentença;
tanto as alegações feitas e decididas, II - nos demais casos prescritos
quanto aquelas que poderiam ter sido em lei.”
feitas, mas não foram (reputadas como Doutrina minoritária (Greco
alegadas e repelidas): Filho) entende que nessas relações de
“Art. 508. Transitada em julgado trato continuado não há coisa julgada
a decisão de mérito, considerar-se-ão
deduzidas e repelidas todas as alegações material.
e as defesas que a parte poderia opor Outra corrente doutrinária (Nery,
tanto ao acolhimento quanto à rejeição HTJr.) entende que nesses casos, na
do pedido.” sentença, há uma cláusula rebus sic
Quanto à figura do réu, inclui-se stantibus implícita. Crítica: esta
na eficácia preclusiva da coisa julgada cláusula é de direito contratual, de
todos os fundamentos de defesa, forma que não deveria estar aqui
inclusive os de ordem pública. explicando fenômenos de direito
Para o autor, conta a eficácia processual.
preclusiva, todos os fundamentos da A terceira corrente (Barbosa
causa de pedir da ação. Segundo o Moreira, Araken de Assis): uma
entendimento do STJ (cf. 1ª T, REsp mudança de fato ou de direito gera uma
875635/MG), havendo para um pedido nova causa de pedir, ou seja, temos
duas causas de pedir “A” e “B”; se no nova ação tendo em vista que modificou
processo “1”, usei apenas a causa de um dos elementos da ação. Tendo uma
pedir “A”, posso entrar com o processo nova ação, a revisão da decisão não
“2” com a causa de pedir “B”, posto que viola a CJM.
não há obrigação para o autor cumular
causas de pedir (isto porque mudando a
causa de pedir, muda-se a ação). 10. Relativização da coisa julgada
material

120
decisão do STF, quer dizer que deve ser
10.1. Introdução utilizada em matéria de defesa da
Formas de relativização da coisa impugnação ao cumprimento de
julgada material, temos: sentença.
- formas típicas – já incorporadas
ao sistema e reconhecidas, como a ação 10.3. Coisa material injusta
rescisória (CPC, 966, incisos) e a ação De um lado a coisa julgada
anulatória de sentença de mérito material, gerando algo essencial a
homologatória (CPC, 966, § 4º); qualquer ordenamento jurídico: a
- formas atípicas – que segurança jurídica.
cuidaremos neste tópico, são a coisa Do outro corner, justificando a
julgada inconstitucional (prevista em relativização, temos a preservação de
Lei, sendo considerada atípica porque é preceitos e valores constitucionais
recente e ainda envolta em muitas fundamentais.
discussões); e a coisa julgada injusta O choque decorre do fato da CJM
(além de ser muito polêmica, é apenas violar tais preceitos ou valores
doutrinária e jurisprudencial). (exemplos: moralidade administrativa,
meio ambiente saudável, preço justo
10.2. Coisa julgada material numa desapropriação, preservação da
inconstitucional racionalidade e da proporcionalidade,
Prevista no art. 525, §§ 12 a 15 direitos fundamentais, etc.). Exemplo: o
(execução comum) e, com mesmo teor, STF já permitiu a relativização em ação
no art. 535, §§ 3º a 8º (execução contra de investigação de paternidade
Fazenda Pública). Será, então, aplicada uma regra de
Imagine-se uma decisão, que tem proporcionalidade. Será que sempre
como fundamento a norma legal “A”. será melhor manter a segurança jurídica,
Trata-se de decisão de mérito que ou na verdade de quando em vez vale a
transitou em julgado. Contudo, essa pena a relativização?
norma “A” é declarada inconstitucional Dinamarco, HTJr, Tereza Arruda
pelo STF, no controle incidental ou Alvim Wambier defendem essa
concentrado. Automaticamente, a coisa relativização, lembrando que fica
julgada material com base na Lei “A” é limitado a hipóteses excepcionalíssimas.
inconstitucional. Críticas:
A consequência prática: a decisão 1ª) Nery: sem estabilização das
do processo, do dia em que transitou em relações jurídicas, não se cumpre a
julgado, deve ser comparada com a promessa de inafastabilidade da
decisão do STF, também do dia em que jurisdição;
transitou em julgado. Se: 2ª) Marinoni: mesmo sendo
- o trânsito em julgado do excepcional, acaba-se perdendo o
processo foi antes do transito em sentimento de segurança jurídica.
julgado da decisão do STF, o resultado 3ª) Barbosa Moreira: com a
é que a alegação dessa matéria deve ser relativização, podemos estar diante de
realizada em ação rescisória. Para essa uma eternização do conflito. Estamos
ação rescisória, o termo inicial é a data buscando a justiça e, para isso
do trânsito em julgado da decisão do relativizamos a coisa julgada? Quantas
STF. Ou seja, nesse caso, há vezes?
possibilidade de correrem prazos *****
enormes;
- se o trânsito em julgado da ação
foi após o trânsito em julgado da

121
PRECEDENTE JUDICIAL Assim, há uma tradição brasileira
de respeito aos precedentes. Não há
tradição no ensino, de respeito aos
1. Introdução precedentes. Mas há tradição de normas
O tema dos precedentes é novo no que “não pegavam”, certamente porque
Brasil, mas foi encampado com força mal trabalhadas nos cursos de Direito.
com o advento do CPC/2015, sendo Com o novo código, há um passo
talvez a marca principal do novo definitivo, e talvez irreversível, com um
diploma quanto aos precedentes novo sistema de precedentes, e cujo
judiciais obrigatórios. Este tema está estudo será inevitável. Assim, é
disperso e entranhado em vários provável que será uma nova realidade
institutos e subsistemas do novo CPC. daqui em diante.
Mas deve ser feita uma Outro ponto que se afirma é que o
desmistificação do tema. Força sistema de precedentes engessa a
obrigatória dos precedentes costuma ser evolução do Direito. Cabe a pergunta: a
relacionado com os países que aplicam própria lei engessa o Direito,
o sistema do common law, com se fosse transformando o Juiz em uma máquina?
intrínseco a tais países e estranho a Da mesma forma, os precedentes não
países como o nosso. O Brasil estria se têm essa força. O sistema de
transformando em um país do common precedentes impõe ao juiz da causa o
law? dever de observar o precedente, i. é,
Na verdade, o common law é uma examiná-lo, enfrentá-lo como
tradição milenar, começando no séc. XI. obrigatório que é. O juiz só tem três
Não é possível uma transformação da opções: ou o aplica, ou o distingue, ou
tradição de um país. Também não é entende que ele foi superado.
intrínseco ao common law o respeito aos O sistema de precedentes
precedentes, pois a força obrigatória dos promove a igualdade; a confiança
precedentes é do séc. XIX, de forma (segurança jurídica, pois o Direito deve
que o sistema viveu e funcional 800 ser previsível, inclusive evitando que as
anos sem essa etapa. pessoas acorram ao Judiciário,
Além disso, a tradição brasileira evitando-se as demandas temerárias);
não é incompatível com os precedentes. acelera os processos (o debate fica mais
Ainda no séc. XIX tínhamos um sistma ágil, pois a controvérsia fica sobre se o
de precedentes, acanhado, mas por caso é distinto ou se há algum tipo de
exemplo era obrigatório o seguimento superação); dá racionalidade ao Direito
das orientações do Supremo Tribunal de (porque não fica submetido ao
Justiça. Além disso, desde 1891, temos voluntarismo de cada juiz).
controle difuso, situação que se Além de tudo isso, o sistema de
relaciona com o precedente. Na década precedentes obrigatórios exige que nós
de 1930 (Estado Novo), houve dois repensemos uma série de institutos
decretos que obrigavam os Tribunais a jurídicos consagrados a partir de uma
seguir os precedentes do STF; e na perspectiva tradicional.
década de 1960 surgiram as súmulas. A Assim, o conceito de processo, era
partir dos anos 1990 já temos mudanças dado a partir da solução de um caso.
legislativas para reforçar os poderes dos Agora, o processo tem o condão de
juízes para, ora dispensar o reexame resolver o caso e se fixa um precedente
necessário, ora para aumentar a para outros casos. Todos devem lembrar
autonomia do relator com decisões que cada processo serve a um só tempo
monocráticas, ora proibindo recursos. para resolver o problema que foi
Tudo em razão de precedentes.

122
submetido ao Judiciário, e criar um - autoriza decisões monocráticas
precedente para casos futuros. do relator nos casos em que os recursos
Isso redunda no contraditório e estão em consonância ou contraste com
motivação das decisões. O contraditório o precedente obrigatório;
deixa de ser visto apenas como uma - na reclamação para fazer valer
discussão em torno da solução do caso, precedente obrigatório.
e passa a ser visto também como em E assim por diante.
torno da fixação do precedente para Fala-se muito que o sistema de
casos futuros. Por isso se permite que o precedentes parte da atuação criativa na
amicus curiae recorra no incidente de construção do Direito, o que estaria
resolução de demandas repetitivas, onde errado pois se trata de função do Poder
se fixa um precedente obrigatório. Da Legislativo.
mesma forma a motivação, que passa a Trata-se de uma falácia, tendo em
ser encarada como um duplo discurso vista que o Direito surge da atuação de
(Mitidiero) – discurso para duas plateias diversos papéis. A função do legislador
–, quais sejam: para as partes (solução é apresentar um programa, um conjunto
do caso) e para a comunidade (fixação de textos que tentam prever o futuro. O
do precedente). julgador interpreta esse programa para
O sistema promove uma série de aplicar em casos e suas particularidades,
princípios, além de exigir que complementado a atividade legislativo
repensemos os institutos tradicionais. com esse sentido concreto. Ligando as
Mais um exemplo está expresso duas pontas está a doutrina, que fornece
na intervenção de terceiros. Na Lei n. o repertório e os padrões dogmáticos
13.015, que institui o recurso de revista para permitir que o juiz decida com
repetitivo na justiça Trabalhista, é racionalidade, de forma controlável
possível que um sujeito interessado argumentativamente. Norma e o que
possa intervir como assistente para resulta da interpretação de um texto.
ajudar na construção do precedente,
porque ele impõe a reconstrução de 2. Conceitos fundamentais para
noções básicas tradicionais como compreensão do sistema de precedentes
assistência, contraditório e motivação. Imagine-se uma decisão judicial,
O Código de Processo Civil com sua fundamentação e o dispositivo.
estruturou (e foi organizado para isso) No dispositivo, o juiz vai fixar a
com base no sistema de precedentes norma jurídica individualizada do caso
obrigatórios, que é percebido em todas concreto. Exemplo: João deve a José.
passagens: Sobre essa norma é que recai a coisa
- na improcedência liminar do julgada (estabilidade da decisão que
pedido (se o pedido contrariar um resolve o caso).
precedente obrigatório, e a causa Na fundamentação, o juiz terá de
dispensar produção de provas em expressar uma norma jurídica geral do
audiência, o juiz pode julgar caso concreto v. g., “quem lesa outrem
liminarmente o pedido); tem de indenizar”.
- na tutela provisória, se o pedido Em toda decisão judicial, sem
estiver em consonância com precedente exceção, identificamos a norma que
obrigatório, o juiz pode conceder a regula o caso e a norma geral para
tutela antecipada liminarmente; aquele caso. Em toda decisão judicial é
- autoriza a quebra do efeito possível identificar a norma geral que
suspensivo da apelação; solucionou na individual resolvendo o
- dispensa do reexame necessário; caso.

123
Norma jurídica geral do caso com uma argumentação jurídica
concreto. Esse nome identifica tudos adequada.
que precisamos saber sobre ela: A decisão judicial passa a ser
- geral: serve para inúmera vista na dupla perspectiva: solução do
situações hipotéticas; caso (presente no dispositivo) e
- caso: a norma foi construída a construção de um precedente
partir de um caso, vale dizer, nasceu (fundamentação).
tendo em vista as peculiaridades de O precedente tem um núcleo, que
determinado caso. O juiz diante daquele é a norma jurídica geral construída.
caso olha para o Direito positivo, e Essa norma jurídica geral, que compõe
identifica a norma jurídica para aquele seu núcleo é a chamada norma do
caso. A norma só pode ser precedente.
compreendida a partir do caso. A norma do precedente tem um
Exemplo: um chefe de departamento de nome técnico: ratio decidendi. Está é o
escolha pede para fazer segunda fundamento normativo da decisão. Ela
chamada de prova final, com o também é universalizável, dada sua
argumento de que passou mal na data de aptidão para ser aplicada em outros
realização da prova original. Um casos. Trata-se de uma noção
primeiro julgador entende que o indispensável, que traduzida para o
regimento é claro ao vedar segunda português pode ser “razão de decidir”
chamada de prova final; o segundo ou “fundamento(s) determinantes”.
entende que a lei não pode ser Quando uma ratio decidendi
interpretado de forma tão fria, pois começa a ser aplicada reiteradamente a
situações limites podem realmente outros casos, surge o que se chama
mudar a compreensão inicial que se dá à jurisprudência. Jurisprudência é a
norma. A aluna apresenta um atestado reiterada aplicação de um precedente.
onde consta que a mesma “compareceu Se a jurisprudência passa a prevalecer
ao hospital ‘dizendo’ que estava num Tribunal, se torna jurisprudência
passando mal”, ou seja, o atestado não dominante.
provava nada. Daí o pedido foi negado. No Brasil, tanto o precedente
No semestre seguinte, um caso quanto a jurisprudência produzem efeito
parecido, um primeiro julgador avalia jurídico. Trata-se de uma peculiaridade
que já há precedente negando; um nossa. Não só a jurisprudência tem
segundo avalia que não houve negativa força normativa.
do direito em tese, mas se negou que Súmula é o enunciado, o texto, da
“aquele que afirmou ter passado por um ratio decidendi, que tem sido
mal súbito e não comprovou não tem reiteradamente aplicado no Tribunal.
direito à segunda chamada de prova Temos: lei > precedente >
final”. Pois bem: a norma jurídica geral jurisprudência > súmula. Lei e súmula
só pode ser compreendida à luz do caso são textos normativos. Obviamente a
em que foi construída, fundamenta a súmula que repita o texto da lei não faz
solução do caso e, ainda, serve como nenhum sentido, pois a súmula é o texto
modelo para solução de casos futuros da ratio. Daí, claro, súmula não é
semelhantes. A esse conjunto formado precedente, mas enunciado, texto.
por caso, argumentação jurídica e Súmula tem a ver com precedentes, não
norma jurídica geral dá-se o nome de se confundem.
precedente judicial. Quando se diz que A súmula não pode ser aplicada
há um precedente, é que há houve como um artigo de lei. Ela é o texto de
decisão num caso semelhante àquele, uma norma construída a partir de um
que foi construída a partir de um caso caso. Assim, se não interpretada a

124
súmula a partir da origem da ratio, fundamentação comentários laterais,
caminha-se pelo erro de interpretá-la impressões pessoais, opiniões, previsões
como se Lei fosse. Da mesma forma que, embora constem no texto da
não se pode redigir a súmula fundamentação não constituem ratio
ignorando a sua origem. decidendi, tendo em vista que sua
“LIVRO III eliminação não altera a solução dada no
DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E dispositivo. Exemplo: num caso em que
DOS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS
DECISÕES JUDICIAIS
o STF decidia sobre a união
homoafetiva, o Tribunal recebeu uma
TÍTULO I ADI por omissão, que foi indeferida
DA ORDEM DOS PROCESSOS E DOS porque o Ministro afirmou que não
PROCESSOS DE COMPETÊNCIA tinha cabimento mas, acrescentou que
ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS
lhe parecia que o caso era de ADPF, e
CAPÍTULO I passou a dissertar sobre ADPF, o que
DISPOSIÇÕES GERAIS era absolutamente irrelevante para o
caso (foi quase um convite para que
Art. 926. Os tribunais devem propusessem a ADPF). Essas
uniformizar sua jurisprudência e mantê-
la estável, íntegra e coerente.
manifestações laterais que não ser de
§ 1º Na forma estabelecida e fundamento para o caso levam o nome
segundo os pressupostos fixados no de obiter dictum (plura obiter dicta).
regimento interno, os tribunais editarão A importância o obiter dicta no
enunciados de súmula correspondentes a sistema de precedentes é que ele não
sua jurisprudência dominante.
tem efeito de precedente, não possui
§ 2º Ao editar enunciados de
súmula, os tribunais devem ater-se às nenhum de seus efeitos. O que foi
circunstâncias fáticas dos precedentes obiter dictum em um caso, pode ser
que motivaram sua criação.” ratio decidendi de um outro, mas não no
caso em que funcionou como tal. Não é
Pode ocorrer de uma decisão ter inútil, tem papel importante na
duas ratione decidendi. Nada impede movimentação do sistema, da
que haja ratione decidendi também em argumentação, podendo servir de o
decisões conteúdo processual e Tribunal sinalizar o comportamento que
homologatórias. vai adotar no futuro.
Um problema que ocorre no O próprio voto vencido é um
Brasil é que os Ministros podem por obiter dictum, passando a compor o
exemplo concordarem com a conclusão, acórdão sem realizar o fundamento da
mas cada um com uma ratio decidendi, decisão. O voto vencido numa apelação,
pois há uma dispersão destas. Foi assim por exemplo, pode fazer o processo
no caso da união homoafetiva realizar prosseguir.
família (testes de casasmento, união Ratio decidendi, obiter dictum,
estável ou um tertium genius), no qual o súmula e jurisprudência são conceitos
precedente foi que se forma família, importantes no contexto do estudo dos
mas não houve precedente em ser precedentes.
casamento, união estável ou outra
forma. Se trata de ratio decidendi, deve 3. Eficácia do precedente
ser encampada pela maioria dos Partimos de duas premissas:
membros do Tribunal, geral força de - a eficácia do precedente parte da
precedente obrigatório. lei, atribuído a determinadas decisões
Atenção! Nem tudo que está na automaticamente, não se tratando de
fundamentação é ratio decidendi. As uma decisão do juiz;
vezes, o Tribunal acrescenta na

125
- os efeitos decorrem da ratio I - as decisões do Supremo
decidendi. Sempre que se falar em Tribunal Federal em controle
concentrado de constitucionalidade; [1]
eficácia do procedente, estamos falando II - os enunciados de súmula
da eficácia da ratio decidendi. vinculante;
O precedente tem dois efeitos: o III - os acórdãos em incidente
persuasivo e o obrigatório. de assunção de competência ou de
Persuasivo é o efeito retórico, resolução de demandas repetitivas e
em julgamento de recursos
servindo ao menos para tentar extraordinário e especial repetitivos;
convencer o juiz de suas razões. Por [2]
pior ou singelo que seja o precedente, IV - os enunciados das súmulas
há sempre o efeito retórico. Esse é um do Supremo Tribunal Federal em
efeito mínimo. matéria constitucional e do Superior
Tribunal de Justiça em matéria
Já o efeito obrigatório é o que infraconstitucional; [3]
impõe que o precedente deve ser V - a orientação do plenário ou
seguido. O precedente obrigatório do órgão especial aos quais estiverem
também é persuasivo. vinculados. [4]
No Brasil, contudo, não é possível § 1º Os juízes e os tribunais
observarão o disposto no art. 10 e no
restringir a eficácia do precedente a
art. 489, § 1º, quando decidirem com
esses dois efeito. Há pelo menos mais fundamento neste artigo. [5]
quatro efeitos dos precedentes em nosso § 2º A alteração de tese jurídica
sistema: adotada em enunciado de súmula ou
- efeito obstativo (obstam em julgamento de casos repetitivos
poderá ser precedida de audiências
postulações, recursos, demandas,
públicas e da participação de pessoas,
remessa necessária); órgãos ou entidades que possam
- efeito autorizante (determinados contribuir para a rediscussão da tese.
precedentes autorizam tutela § 3º Na hipótese de alteração de
antecipada); jurisprudência dominante do Supremo
- efeito rescindente (uma decisão Tribunal Federal e dos tribunais
superiores ou daquela oriunda de
do STF em controle de julgamento de casos repetitivos, pode
constitucionalidade posterior a uma haver modulação dos efeitos da
decisão judicial pode autorizar a sua alteração no interesse social e no da
rescisão – CPC, 525, § 15); segurança jurídica.
- efeito revisional (quando temos § 4º A modificação de
enunciado de súmula, de jurisprudência
uma sentença que regula uma relação pacificada ou de tese adotada em
jurídica que se prolonga no tempo julgamento de casos repetitivos
(família, serviço público, tributária etc.), observará a necessidade de
muitos defendem que sobrevindo um fundamentação adequada e específica,
precedente contrário à decisão, esta considerando os princípios da
segurança jurídica, da proteção da
deve ser revista). confiança e da isonomia.
O complexo eficacial do (...)”
precedente é muito maior. O precedente [1] Todo mundo sabe que decisão
pode produzir mais de um efeito. Por do STF em controle concentrado de
exemplo, em IRDR, serve para constitucionalidade deve ser observada
concessão de uma tutela antecipada, ou por todos dado o efeito vinculante. Mas
para que o relator negue seguimento a isto já ocorre desde a CRFB/88 bem
um recurso. como da Leis da ADIN e ADPF.
Contudo, o que se entendia vinculante, e
4. Rol dos precedentes obrigatórios o são até hoje, são os dispositivos de
“Art. 927. Os juízes e os tais decisões, pois estamos falando aqui
tribunais observarão:
da coisa julgada.

126
Mas e o precedente dessas ações? Contudo, esses dois dispositivos
“- Lei com determinado conteúdo é também se aplicam à formação do
inconstitucional”. Esse art. 927, I precedente, e não só à sua aplicação.
estabelece que o precedente é Dessa forma, o § 1º do art. 927 é
vinculante. Não teria sentido um incompleto (disse menos que queria).
dispositivo sobre precedentes que se O art. 489, § 1º, V e VI dispõem
referisse à coisa julgada. que não é fundamentada a decisão que
[2] O inc. III consagra que os apenas menciona enunciado de súmula,
precedentes construídos nesses sem identificar seus fundamentos
incidentes são obrigatórios. determinantes nem demonstrar que o
Esses precedentes vão organizar e caso sob julgamento se ajusta àqueles
reunir todos os argumentos favoráveis e fundamentos; ou que deixar de seguir
contrários a determinadas teses enunciado de súmula, jurisprudência ou
jurídicas. Uma vez feita essa coleta, precedente invocado pela parte, sem
essa amostra, será formado um demonstrar a existência de distinção no
precedente obrigatório. caso em julgamento ou a superação do
Esses incidentes do inc. III, ao entendimento.
lado do procedimento para criação de
súmula vinculante são procedimentos 5. Deveres institucionais para
criados para construção de precedentes consolidação e efetivação do sistema de
obrigatórios. Eles formam um precedentes
microssistema, um conjunto de normas Ao montar esse sistema de
jurídicas que podemos chamar de precedentes obrigatórios, o CPC imputa
microssistema de formação aos Tribunais cinco deveres:
concentrada de precedentes 1º) dever de publicidade – os
obrigatórios. Através dele é feita tribunais tem o dever comunicar, de dar
publicidade da discussão, e uma coleta publicidade aos seus precedentes: CPC,
de todos argumentos em favor e contra, 927, § 5º:
inclusive com audiências pública, “§ 5º Os tribunais darão
intervenção do amicus curiae. Não publicidade a seus precedentes,
organizando-os por questão jurídica
havendo regramento em um sobre decidida e divulgando-os,
determinado ponto, busca-se a regra preferencialmente, na rede mundial de
prevista para outro e se aplica. computadores.”
*Eles se juntam ao recurso de revista No art. 979, do IRDR, que se
repetitivos da Lei n. 13015/2015. aplica a todos os precedentes acima
[3] súmulas do STF em matéria referidos:
constitucional e súmulas do STJ em “Art. 979. A instauração e o
matéria infraconstitucional federal são julgamento do incidente serão sucedidos
da mais ampla e específica divulgação e
também precedentes obrigatórios. publicidade, por meio de registro
[4] diferentemente dos outros eletrônico no Conselho Nacional de
precedentes que são nacionais, um Justiça.
Tribunal está vinculado aos próprios § 1º Os tribunais manterão banco
precedentes. Os juízes de primeira eletrônico de dados atualizados com
informações específicas sobre questões
instância devem obediência aos de direito submetidas ao incidente,
precedentes dos respectivos tribunais. comunicando-o imediatamente ao
[5] o art. 10 é aquele que proíbe Conselho Nacional de Justiça para
decisão surpresa, que tem base em inclusão no cadastro.
questão não posta em debate. O art. 489, § 2º Para possibilitar a
identificação dos processos abrangidos
§ 1º cuida das decisões não
pela decisão do incidente, o registro
fundamentadas. eletrônico das teses jurídicas constantes

127
do cadastro conterá, no mínimo, os necessária uma digressão, estabelecendo
fundamentos determinantes da decisão algumas premissas.
e os dispositivos normativos a ela
relacionados.
A teoria do direito contemporâneo
§ 3º Aplica-se o disposto neste usam muito o termo coerência e
artigo ao julgamento de recursos integridade para se referir tanto ao
repetitivos e da repercussão geral em direito positivo, à ciência jurídica e às
recurso extraordinário. [também ao decisões dos tribunais. E as palavras são
procedimento de súmula vinculantes e
ao recurso de revista da Lei n.
utilizadas ao bel prazer do doutrinador.
13.015/2015]” A teoria da integridade de
Dworkin é muito famosa. Para
2º) dever de uniformização - Alexander Peczenik há utilização da
significa que não é mais uma faculdade expressão coerência. Essas teorias estão
do Tribunal, como se entendia ao tempo no plano da filosofia do direito.
do CPC/73. Cf. CPC, 926, caput. Aqui, os termos integridade e
Na Lei n. 13015/2015, que regula coerência passaram de termos
os recursos de revista repetitivos, filosóficos para legais, aplicados de
também há essa previsão para os forma prática. É preciso dar sentido
recursos de revista perante os TRT. dogmático a essas expressões.
3º) dever de estabilizar – além de Tratam-se de dois deveres que,
uniformizar, devem manter estável sua embora diferentes, visam o mesmo
jurisprudência. É o dever de evitar que propósito: a consistência da
haja mudanças repentinas, inesperadas, jurisprudência. Daí porque esses dois
sem justificativa de sua jurisprudência. deveres se amalgamam.
Num determinado acórdão do A terceira premissa é que esses
STJ, um Min. se referiu ao fenômeno da deveres impõem condutas aos
“jurisprudência banana boat”. A Tribunais. As vezes a mesma conduta é
jurisprudência do STJ se parecia com imposta tanto pelo dever de integridade
essa brincadeira, mudando de sentido quanto pelo de coerência.
bruscamente a qualquer momento. A A quarta premissa é que a
mudança da jurisprudência deve ser integridade e a coerência somente
justificada, e o dever de estabilidade poderão ser alcançadas se houver o
está relacionado à inércia enfrentamento de todos os argumentos
argumentativa, i. é, para aplicar o favoráveis e contrários à tese jurídica
precedente não há necessidade de (profunda fundamentação).
elencar argumento (carga de motivação A quinta premissa é que sem
menor), mas para afastá-lo a carga de integridade e coerência não ocorre
motivação deve ser maior (peso aptidão para a jurisprudência ser
argumentativo maior). universalizada, i. é, aplicada a diversos
4º) dever de integridade; e casos.
5º) dever de coerência. A sexta premissa é que a
Os dois últimos são analisados integridade e coerência são postulados
conjuntamente. hermenêuticos, i. é, normas de
A jurisprudência do tribunal, além interpretação do Direito: o direito há de
de pública, uniforme e estável, deve ser ser interpretado de forma integral e
também integra e coerência. A coerente.
integridade e coerência são duas A última premissa é que veremos
incógnitas, saber o que o CPC quis dizer que existem critérios para aferição da
com essas previsões. coerência e da integridade. Esses
Para podermos tentar critérios devem ser examinados a partir
compreender essas previsões, é de um balanceamento entre eles. Não é

128
um formulário, mas devem ser A coerência consegue examinar tudo
ponderados, não podendo ser analisados quanto possa contra ela ser arguido.
em conserto, se eles podem ser - a coerência das decisões impõe
atendidos na medida do possível. que o Tribunal respeite as decisões
Critérios para integridade. anteriores num mesmo sentido, além da
Segundo Didier, temos os seguintes linha evolutiva do desenvolvimento da
critérios: jurisprudência. Na imagem de Dworkin,
- respeito à unidade do Direito – o o desenvolvimento judicial do Direito
Direito é um. A decisão deve respeitar o se dá como um romance, em cadeia,
Direito em toda a sua complexidade, sendo necessário manter a lógica da
pois ele não é só a Lei. Não é possível novela. Inclusive no momento da
decidir fora do Direito, mas apenas em superação, ele também deve ser
sua consonância. Não se admite um coerente, demonstrando a evolução da
Direito alternativo, proibindo o jurisprudência e a necessidade de
voluntarismo judicial. “O Direito é mudança, em diálogo com o passado,
como uma esfera; toca o chão em único chamado dever de autoreferência.
ponto, mas sobre esse ponto recai todo o - outro critério é aquele de
peso da esfera” (Souto Maior). MacCormick (livro sobre
- a decisão deve respeitar o argumentação), em que afirma que os
Direito como sistema, e não como precedentes são coerentes se
amontoado de normas. Daí o dever de conseguirmos encontrar em relação a
reconhecimento de microssistemas elas uma norma superior que lhes seja
normativos. O professor deu também o comum. Há incoerência, por exemplo,
exemplo da previsão do art. 927 que numa jurisprudência que estende um
logicamente estendeu para as súmulas benefício de dobra de prazo para os
comuns do STF a força de precedente núcleos de prática jurídica de uma
apenas se tratar de matéria faculdade pública e não o faz para outro
constitucional, o que decorre de uma uma faculdade privada (a norma é a
visão sistemática do Direito. Ainda, a facilitação do acesso à Justiça). No
questão da necessidade de se preservar a âmbito criminal, não pode considerar
relação íntima entre direito processual e insignificante furto de margarina e não
direito material (por exemplo, um juiz o ser o furto de detergente.
que diz que não posso renunciar a uma - a jurisprudência é coerente
impenhorabilidade, se o direito material quando ela tem em conta os padrões e
permite a doação do bem, eu não as construções doutrinárias, que
poderia então renunciar à fornecem as condições objetivas de um
impenhorabilidade?; também, a questão diálogo jurídico racional. Decisões que
da denunciação da lide e os casos de extrapolam o padrão, o repertório
direito material com que se relacionam, teórico aceito, adotando uma concepção
e assim por diante). A questão aqui é a inexistente, ou visões peculiares de
interelação das normas, tendo a ver com determinados institutos jurídicos. Houve
a interpretação sistemática do Direito, um caso, por exemplo, em que no
bem como o postulado da sua unidade. mesmo julgamento o STF se reportou a
Critérios de coerência. Para uma norma de competência como
jurisprudência ser coerente: norma processual, depois procedimental
- não podem ser contraditórias, e, depois, de organização judiciária.
sem coerência lógica. É um critério
obvio; “LIVRO III
- dever de completude, DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E
DOS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS
relacionado ao dever de fundamentação. DECISÕES JUDICIAIS

129
meramente com a súmula. Distinção é
TÍTULO I comparar os casos. Assim é que
DA ORDEM DOS PROCESSOS E DOS
PROCESSOS DE COMPETÊNCIA
afirmamos nas aulas de sentença que o
ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS relatório, no NCPC, resultou valorizado.
Daí que o relatório não pode mais ser
CAPÍTULO I aquela formalidade que os Juízes
DISPOSIÇÕES GERAIS odeiam fazer.
Art. 926. Os tribunais devem
O termo em inglês que se refere à
uniformizar sua jurisprudência e mantê- distinção são distinguish ou
la estável, íntegra e coerente. distinguishing.
§ 1º Na forma estabelecida e Como dissemos , o CPC não
segundo os pressupostos fixados no precisava prever a distinção, mas a
regimento interno, os tribunais editarão
enunciados de súmula correspondentes a
regulamentou no caso dos recursos
sua jurisprudência dominante. repetitivos (nos casos em que há
§ 2º Ao editar enunciados de paralisação dos demais casos análogos),
súmula, os tribunais devem ater-se às e a parte pode requerer a distinção do
circunstâncias fáticas dos precedentes seu caso para retirá-lo do rol dos
que motivaram sua criação.”
processos sustados.
“art. ‘1037.
6. Aspectos práticos da dinâmica dos (...)
precedentes § 9º Demonstrando distinção entre
Um precedente não pode ser a questão a ser decidida no processo e
aquela a ser julgada no recurso especial
ignorado. Pode ser aplicado (489, § 1º,
ou extraordinário afetado, a parte poderá
V), superado, ou distinguido. Não existe requerer o prosseguimento do seu
sistema de precedentes se que haja processo.
distinção e superação. § 10. O requerimento a que se
Distinção e superação. Numa refere o § 9º será dirigido:
primeira acepção, proceder à distinção é I - ao juiz, se o processo
sobrestado estiver em primeiro grau;
um método de confronto entre o caso o II - ao relator, se o processo
precedente, é o cotejo, ou distinção sobrestado estiver no tribunal de origem;
método. Além disso, também pode III - ao relator do acórdão
significar o resultado a que se chega recorrido, se for sobrestado recurso
após o confronto, e o caso apresenta especial ou recurso extraordinário no
tribunal de origem;
peculiaridades, de forma a se concluir IV - ao relator, no tribunal
que o precedente não se aplica. superior, de recurso especial ou de
O juízo de distinção não é capaz recurso extraordinário cujo
de revogar ou desrespeitar o precedente, processamento houver sido sobrestado.
contrariando-o, mas apenas afirmando § 11. A outra parte deverá ser
ouvida sobre o requerimento a que se
que ele não se aplica ao caso. refere o § 9º, no prazo de 5 (cinco) dias.
E mais. Não há precedente cuja § 12. Reconhecida a distinção no
aplicação dispense a distinção. Ou caso:
seja, não existe precedente perfeito, e a I - dos incisos I, II e IV do § 10, o
distinção é atividade ineliminável da próprio juiz ou relator dará
prosseguimento ao processo;
Jurisdição. Mesmo no caso das súmulas II - do inciso III do § 10, o relator
vinculantes, a distinção sempre é comunicará a decisão ao presidente ou ao
possível. Inclusive, a distinção nem vice-presidente que houver determinado
dependeria de Lei, pois ela é o corolário o sobrestamento, para que o recurso
do princípio da igualdade. especial ou o recurso extraordinário seja
encaminhado ao respectivo tribunal
Fazer a distinção é comparar o superior, na forma do art. 1.030,
caso com aquele que gerou o parágrafo único.
precedente, e não compará-lo

130
§ 13. Da decisão que resolver o realizado com base nele, pois as pessoas
requerimento a que se refere o § 9º acreditaram nele. A eficácia retroativa
caberá:
I - agravo de instrumento, se o
nesses casos gera uma postura que viola
processo estiver em primeiro grau; obscenamente a segurança jurídica,
II - agravo interno, se a decisão confiança e boa-fé.
for de relator.” Nada impede que o Tribunal
Este procedimento, apesar de não supere para o futuro, não superando no
previsto para o IRDR, se aplica caso, i. é, já avisa que nenhum outro
totalmente a eles (vínculo do caso será julgado daquela maneira. Cf.
microssistema de formação de art. 927, § 3º:
precedentes obrigatórios). “§ 3º Na hipótese de alteração de
Superação. Superar um jurisprudência dominante do Supremo
precedente é revogá-lo, mudar a Tribunal Federal e dos tribunais
superiores ou daquela oriunda de
orientação. Um sistema de precedentes julgamento de casos repetitivos, pode
não vive sem a superação, o que não haver modulação dos efeitos da alteração
quer dizer que isso confronte com a no interesse social e no da segurança
estabilidade da jurisprudência. Esta jurídica.”
estabilidade significa não ser alterada ao Já um precedente recente pode ser
bel prazer do voluntarismo judicial e modificado com eficácia retroativa, pois
pegando as pessoas de surpresa. A não houve tempo suficiente para gerar
Suprema Corte Americana já se confiança na base. Logo depois que saiu
pronunciou que a escravidão era a EC 45/2004 o STF entendeu que
legítima, depois a condenou; num competência para ações acidentárias
momento afirmou que não era legal o seria na Justiça Cível e, três meses
aborto, depois que ele não poderia ser depois decidiu que caberia mesmo à
proibido. A sociedade muda, junto com Justiça do Trabalho.
a percepção sobre o Direito, havendo a O Tribunal pode ainda realizar o
superação do precedente. Mas a julgamento alerta (Cabral), quando o
superação deve obedecer critérios órgão não supera mas avisa que há uma
rigorosos para não gerar insegurança. tendência de a superação vir acontecer,
Premissas: quebrando a confiança legítima. É feita
- quem revoga e supera o através de um obiter dictum, cf. art.
precedente é o Tribunal que o criou; 927, § 2º:
- é inadmissível superação “§ 2º A alteração de tese jurídica
adotada em enunciado de súmula ou em
implícita, i. é, mudar a jurisprudência julgamento de casos repetitivos poderá
sem afirmar expressamente que está ser precedida de audiências públicas e da
operando tal mudança, i. é, não dialogar participação de pessoas, órgãos ou
com o passado, pois isso é uma entidades que possam contribuir para a
arbitrariedade com a sociedade; rediscussão da tese.”
- declaração dos motivos que Este dispositivo revala uma
justificam a superação (como a curiosidade: a superação de um
modificação dos costumes ou mesmo precedente obrigatório pode se dar de
alterações legislativas que são contrárias forma concentrada. Superação
aos precedentes ou, ainda, a concentrada de precedente, em contrário
modificação do próprio pensamento a ideia da superação difusa em casos
jurídico); concretos. Exemplo: súmula vinculante
- superação de um precedente que só pode ser vinculada por um
seja longevo tem que possuir uma procedimento administrativo
eficácia modulada. Não se pode superar concentrado de revisão ou
um precedente destruindo tudo que foi cancelamento.

131
A Lei n. 13.015/2015 ficou
melhor que o próprio CPC – que sofreu
modificações no Senado quanto ao tema
– no tema superação.
“§ 4º A modificação de enunciado
de súmula, de jurisprudência pacificada
ou de tese adotada em julgamento de
casos repetitivos observará a necessidade
de fundamentação adequada e específica,
considerando os princípios da segurança
jurídica, da proteção da confiança e da
isonomia.”
Esse § 4º traz pela primeira vez
em um diploma processual um dever de
observância do princípio da confiança,
que já é tão caro nas relações jurídicas
com base em Direito Público.
No art. 525, § 12, já tratava do
tema da proteção da confiança:
Ҥ 12. Para efeito do disposto no
inciso III do § 1º deste artigo, considera-
se também inexigível a obrigação
reconhecida em título executivo judicial
fundado em lei ou ato normativo
considerado inconstitucional pelo
Supremo Tribunal Federal, ou fundado
em aplicação ou interpretação da lei ou
do ato normativo tido pelo Supremo
Tribunal Federal como incompatível com
a Constituição Federal, em controle de
constitucionalidade concentrado ou
difuso.
§ 13. No caso do § 12, os efeitos
da decisão do Supremo Tribunal Federal
poderão ser modulados no tempo, em
atenção à segurança jurídica.”
Ou seja, admite inclusive que o
entendimento adotado em controle
difuso pelo STF, que são aqueles onde
há produção dos precedentes da corte,
inclusive com a possibilidade de
modulação de efeitos.

132

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