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PRISÃO TEMPORÁRIA

Quando do advento da Constituição Federal de 1988, houve comemoração pela


extinção da mal afamada prisão por averiguação. Decerto que abusos
aconteceram por meio da prisão por averiguação. Porém, o melhor teria sido o
aperfeiçoamento e não sua abrupta extinção.

Um ano depois, em 1989, percebeu-se que, ao se enfraquecer o trabalho policial,


abriu-se espaço para o fortalecimento da criminalidade. Surgiu uma nova forma
de prisão com vistas a auxiliar as atividades investigativas. Trata-se da prisão
temporária, trazida por meio da Lei 7960/89.

Para você que busca a aprovação em concursos públicos e o aprofundamento


de seus estudos jurídicos, elaboramos este artigo para explicar, de forma
sistemática e completa, os principais aspectos em torno da prisão temporária.
Acompanhe!

Passaremos por tópicos como:

 O que é a prisão temporária?


 Prazos e requisitos da prisão temporária;
 Procedimentos da prisão temporária;
 Apontamentos gerais sobre o tema.

Além disso, todos os itens do artigo são embasados na legislação atualizada e


doutrina. Contamos ainda com comentários do nosso entrevistado, o professor
Rafael Dantas, que é delegado da Polícia Federal, além de professor de
Criminologia, Direito Penal, Direito Processual Penal e Legislação Penal
Especial.

Continue a leitura!

O que é a prisão temporária?


A prisão temporária é um tipo de prisão cautelar constitucionalmente
recepcionada.

Mas, quais são as prisões cautelares recepcionadas atualmente? “Prisão


preventiva e prisão temporária. A prisão em flagrante também costuma ser
considerada ‘cautelar’ por parte da doutrina tradicional. Divergimos neste ponto,
por considerar a prisão em flagrante como ‘pré-cautelar’”, como explica o
delegado Rafael Dantas.

De qualquer forma, essas são as três modalidades de prisão que podem ocorrer
antes do trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória. Após a
reforma realizada em 2011, a prisão decorrente da pronúncia e a prisão
decorrente da sentença penal condenatória recorrível deixaram de existir.

Elas agora, como determinam os respectivos arts. 413, § 3º e 387, §1º do Código
de Processo Penal (CPP), passam a ser tratadas como modalidades de prisão
preventiva. Você pode ler mais sobre o tema na obra Fundamentos do Processo
Penal, de Aury Lopes Jr.

Ademais, cabe mencionar que a prisão temporária é uma prisão voltada às


investigações policiais, conforme o inciso I do art. 1º da Lei 7.960/89:

Art. 1° Caberá prisão temporária:

I – quando imprescindível para as investigações do inquérito policial.

Qual é o procedimento da prisão temporária?


Existem dois tipos de competências no assunto da prisão temporária: a
competência para decretá-la e a legitimidade para solicitá-la.

Conforme explica Rafael Dantas, o delegado de polícia não tem autoridade para
decretar a prisão temporária: “No atual cenário constitucional, somente um Juiz
de Direito pode decretar a prisão de uma pessoa. A própria lei 7960/89 é
expressa nesse sentido”.

O artigo 2º da Lei nº 7.960/89 diz que “a prisão temporária será decretada pelo
Juiz”.

No entanto, a prisão temporária pode ser requisitada pelo delegado de polícia ou


pelo Ministério Público, como pontua Dantas:

“O mais natural é que esse pedido venha por meio de uma representação do
delegado de polícia. É essa autoridade que preside o inquérito policial e participa
das investigações. Mas a lei permite que membros do Ministério Público também
requeiram a prisão temporária”, explica.

Em termos procedimentais, os principais aspectos da prisão temporária,


segundo mostra Fernando Capez, no livro Curso de Processo Penal, são:

 A prisão temporária pode ser decretada em face da representação da


autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público;
o No caso de representação da autoridade policial, o juiz, antes de
decidir, tem de ouvir o Ministério Público;
 O juiz tem o prazo de vinte e quatro horas, a partir do recebimento da
representação ou requerimento, para decidir fundamentadamente sobre
a prisão;
 O mandado de prisão deve ser expedido em duas vias, uma das quais
deve ser entregue ao indiciado, servindo como nota de culpa;
 Efetuada a prisão, a autoridade policial deve advertir o preso do direito
constitucional de permanecer calado;
 Ao decretar a prisão, o juiz poderá (faculdade) determinar que o preso lhe
seja apresentado, solicitar informações da autoridade policial ou submetê-
lo a exame de corpo de delito;
 O mandado de prisão conterá necessariamente o período de duração da
prisão temporária;
 O prazo de cinco dias (para crimes comuns) ou de trinta dias (para crimes
hediondos) pode ser prorrogado uma vez em caso de comprovada e
extrema necessidade;
 Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade
responsável pela custódia deverá, independentemente de nova ordem da
autoridade judicial, pôr imediatamente o preso em liberdade, salvo se já
tiver sido comunicada da prorrogação da prisão temporária ou da
decretação da prisão preventiva, pois o atraso configura crime de abuso
de autoridade (Lei n. 13.869/2019, art. 12, parágrafo único, IV);
 O preso temporário deve permanecer separado dos demais detentos;
 Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no cômputo do
prazo de prisão temporária.

Qual é o prazo da prisão temporária?


Em regra, esse prazo é de cinco dias, prorrogável por igual período (mais cinco
dias), em casos de extrema e comprovada necessidade. Quanto aos crimes
hediondos, esse prazo é de 30 dias, prorrogável por igual período (mais 30 dias),
também em casos de extrema e comprovada necessidade.

Conforme explica o delegado Dantas, esgotado o prazo da prisão temporária, “o


preso deve ser colocado imediatamente em liberdade, não sendo necessário
alvará de soltura. O nome da prisão já indica isso, ela é temporária (passado seu
tempo, acaba a prisão). O preso somente permanecerá no cárcere, caso haja a
conversão da prisão temporária em preventiva, sem prazo certo definido em lei”.

Quais são os requisitos da prisão temporária?


Art. 1° Caberá prisão temporária:

I – Quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;

II – Quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos


necessários ao esclarecimento de sua identidade;

III – Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida
na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:
(vide rol).

Como explica o professor Fernando Capez, em Curso de Processo Penal,


existiam quatro posições a respeito da aplicação da prisão temporária:

1. Os requisitos seriam alternativos, portanto cabível a prisão temporária em


qualquer das três situações da lei;
2. Os requisitos são cumulativos: seriam necessários os três juntos;
3. A prisão temporária pode ser decretada em qualquer das situações legais,
desde que, com ela, concorram os motivos que autorizam a decretação
da prisão preventiva (CPP, art. 312);
4. A prisão temporária só pode ser decretada naqueles crimes apontados
pela lei. Nestes crimes, desde que concorra qualquer uma das duas
primeiras situações, caberá a prisão temporária.

Assim, se a medida for imprescindível para as investigações ou se o endereço


ou identificação do indiciado forem incertos, caberá a prisão cautelar, mas desde
que o crime seja um dos indicados por lei.

Esta última posição é a mais pacificamente adotada pela doutrina e


jurisprudência e Capez se alia a ela:

“A prisão temporária somente pode ser decretada nos crimes em que a lei
permite a custódia. No entanto, afrontaria o princípio constitucional do estado de
inocência permitir a prisão provisória de alguém apenas por estar sendo suspeito
pela prática de um delito grave. Inequivocamente, haveria mera antecipação da
execução da pena.

Desse modo, entendemos que, para a decretação da prisão temporária, o agente


deve ser apontado como suspeito ou indiciado por um dos crimes constantes da
enumeração legal, e, além disso, deve estar presente pelo menos um dos outros
dois requisitos, evidenciadores do periculum libertatis.

Sem a presença de um destes dois requisitos ou fora do rol taxativo da lei, não
se admitirá a prisão provisória”, explica em seu livro.

O delegado Rafael Dantas, que nos concedeu entrevista para este artigo, se alia
à posição de Capez e explica que existe um delicado equilíbrio no instituto e em
sua decretação a partir dos incisos do art 1º:

“Se interpretarmos a lei de maneira literal e exigirmos a presença dos três


incisos, a decretação da prisão temporária fica quase impossível. Por outro lado,
se exigirmos a presença de apenas um dos incisos, a prisão temporária fica
banalizada.

A solução encontrada pela doutrina e pela jurisprudência adota duas


combinações possíveis para autorizar a prisão preventiva. Nessa linha, devem
ser combinados os incisos I e III ou os incisos II e III”, explica.

Quanto à interpretação dos incisos do art. 1º da Lei, o professor explica que os


incisos I e II mencionam as situações em que a liberdade do indiciado traz um
risco às investigações. Por isso, recebem a denominação latina de periculum
libertatis.

“No inciso I, deve-se demonstrar que a liberdade do investigado está


inviabilizando as investigações de algum modo. Ele pode destruir provas,
incomodar testemunhas, liderar um grupo de criminosos, entre outras razões. É
necessário ficar evidente que a prisão do indiciado é imprescindível para o
andamento das investigações.
Já o inciso II traz outras duas hipóteses em que se percebe a intenção de evitar
a impunidade. Ou o indiciado não tem residência fixa, o que indica uma maior
probabilidade de fuga, ou não fornece elementos suficientes sobre sua
identidade, o que pode levar a erros do sistema de justiça criminal (como a prisão
de inocentes em casos de homônimos)”.

Ações Diretas de Inconstitucionalidade números 3360 e 4109

O Supremo Tribunal Federal brasileiro, em 11 de fevereiro de 2022, julgou as


ADIs 3360 (ação proposta pelo Partido Social Liberal, PSL) e 4109 (ação
proposta pelo Partido Trabalhista Brasileiro, PTB). Trata-se de ações judiciais de
controle de constitucionalidade concentrado, nas quais a validade da Lei nº
7.960/89, que estabelece a prisão temporária, foi questionada.

O plenário da Suprema Corte, acompanhando o voto do Ministro Edson Fachin,


estabeleceu a interpretação uniformizada que deve ser aplicada para as
hipóteses de prisão temporária. Os requisitos devem constar desde a
representação da autoridade policial ou o requerimento do órgão ministerial (art.
2º, caput, da Lei nº 7.960/89).

Para que a prisão temporária seja decretada, conforme interpretação do STF,


deve-se demonstrar a presença de cinco requisitos, de forma cumulativa:

1º) a prisão temporária ser imprescindível para as investigações do inquérito


policial (art. 1º, I, Lei nº 7.960/1989) (periculum libertatis – a soltura do acusado
pode prejudicar as investigações).A imprescindibilidade deve ser constatada a
partir de elementos concretos, e não meras conjecturas. Também é vedada a
utilização da prisão temporária como prisão para averiguações, em violação ao
direito à não autoincriminação, ou quando fundada no mero fato de o
representado não possuir residência fixa (inciso II);

2º) houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado nos crimes


previstos no art. 1º, III, Lei nº 7.960/1989 (fumus comissi delicti), vedada a
analogia ou a interpretação extensiva do rol previsto no dispositivo;

3º) for justificada em fatos novos ou contemporâneos que fundamentem a


medida (art. 312, § 2º, do Código de Processo Penal);

4º) a medida for adequada à gravidade concreta do crime, às circunstâncias do


fato e às condições pessoais do indiciado (art. 282, II, Código de Processo
Penal);

5º) não for suficiente a imposição de medidas cautelares diversas, previstas nos
arts. 319 e 320 do Código de Processo Penal (não cabimento de outra medida
cautelar – art. 282, § 6º, do Código de Processo Penal).

Após este julgamento, é nítido que o instituto da prisão temporária se aproximou


mais da prisão preventiva. Inclusive, porque os requisitos de números 3, 4 e 5 já
são exigidos para a prisão preventiva.
Um dos objetivos do julgado foi consolidar o entendimento de que a prisão
temporária só pode ser utilizada quando for estritamente necessário para a
investigação criminal. O enrijecimento dos requisitos, pelo entendimento do STF
nas ADIs 3309 e 4109, ajuda a evitar a banalização do instituto, ao exigir
demonstração sólida dos fundamentos que justificam a prisão temporária.

A decisão buscava, também, evitar prisões arbitrárias. Conforme o voto do


Ministro Fachin, a utilização da prisão temporária como forma de prisão para
averiguação ou em violação ao direito a não autoincriminação, compreendido a
questão da condução coercitiva de investigados, não é compatível com a
Constituição da República. Isso caracterizaria, em tese, abuso de autoridade.

Além disso, a decisão estabeleceu limites à aplicação da circunstância de o


investigado não possuir residência fixa (inciso II do art. 1º da Lei 7.960/1989).

Prisão temporária como medida cautelar

Conforme consolidado pelo STF, é inconstitucional a decretação da prisão


temporária quando se verificar, exemplificativamente, apenas uma situação de
vulnerabilidade econômico-social. Por exemplo, como é o caso de moradores de
rua ou desabrigados. Este tipo de situação incorreria em violação ao princípio
constitucional da igualdade em sua dimensão material.

Além disso, a prisão temporária sempre foi entendida como uma medida
cautelar. Para adequar esta circunstância à CF/88, o julgado estabeleceu de
forma clara que a prisão temporária só pode ser aplicada como ultima ratio, ou
seja, como última alternativa.

Isto já poderia ser extraído das disposições do § 6º do art. 282 do Código de


Processo Penal, que determinava que a prisão só poderá ser determinada
quando a imposição de outra medida cautelar diversa da prisão for inapta e,
consequentemente, trouxer prejuízos irreparáveis à investigação em razão do
investigado estar em liberdade.

No entanto, a previsão expressa agora consolida, definitivamente, este


entendimento.

O objetivo da utilização do instituto como última instância é atender ao princípio


constitucional da não culpabilidade. A partir dele, entende-se que a liberdade é
a regra e a imposição das medidas cautelares diversas da prisão, a exceção. Já
a prisão (preventiva ou temporária), a exceção da exceção (ultima ratio).

Assim, a decretação da prisão temporária não requer apenas os critérios da Lei


nº 7.960/89. Considerando o julgamento das ADIs 3309 e 4109, para decretar a
prisão temporária, deve-se demonstrar a presença dos requisitos legais
acompanhados, também, dos fundamentos aptos a justificar a implementação
da medida cautelar.

Em quais crimes cabe prisão temporária?


O artigo 1º, inciso III, prevê que cabe prisão temporária quando “houver fundadas
razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria
ou participação do indiciado nos seguintes crimes:

a) Homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);

b) Sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);

c) Roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);

d) Extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);

e) Extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);

f) Estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo
único);

g) Atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223,
caput, e parágrafo único);

h) Rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo
único);

i) Epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);

j) Envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal


qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285);

l) Quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;

m) Genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em


quaisquer das formas típicas;

n) Tráfico de drogas (art. 12 da lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);

o) Crimes contra o sistema financeiro (lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986);

p) Crimes previstos na Lei de Terrorismo (incluído pela lei nº 13.260, de 2016)”.

Conforme explica o delegado Dantas, o rol do inciso III é taxativo:

“Por envolver uma situação que afeta o estado de liberdade das pessoas, é
taxativo e demanda uma interpretação restritiva. A doutrina denomina esse rol
de fumus comissi delicti, que, literalmente, significa a fumaça da prática de um
crime.

Como sabemos que onde há fumaça provavelmente há fogo, a lei 7960/89 tratou
de destacar no rol quais crimes são considerados suficientemente graves. Os
indícios de sua prática autorizam a prisão de seu autor”.
No entanto, também existem outras hipóteses de decretação de prisão
temporária, também expressamente previstas em lei, no caso de crimes
hediondos, como explica Dantas:

“O rol é taxativo, porém, outra lei, a dos Crimes Hediondos (8072/90), também
possui um rol de delitos, os quais se submetem à prisão temporária”.

A Lei 8072/90 diz, em seu art. 2º:

“Art. 2º: Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins e o terrorismo (…). § 4º: A prisão temporária, sobre
a qual dispõe a lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos
neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em
caso de extrema e comprovada necessidade”.

Assim, existe previsão legal expressa de aplicação de prisão temporária para


crimes hediondos, e por prazo bem maior que a aplicação para crimes comuns.
Os crimes hediondos, ao lado dos equiparados, se submetem à prisão
temporária, e estão descritos no art. 1º da Lei 8072/90:

Art. 1º: São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no


decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados
ou tentados:

I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art.
121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII);

I – A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º) e lesão


corporal seguida de morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade
ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição;

II – Latrocínio (art. 157, § 3º, in fine);

III – Extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º);

IV – Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§


1º, 2º e 3º);

V – Estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º);

VI – Estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º);

VII – Epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º);


VII-B – Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a
fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com a
redação dada pela lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).

VIII – Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de


criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).

Parágrafo único. Consideram-se também hediondos o crime de genocídio


previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956, e o de
posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art. 16 da Lei
nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, todos tentados ou consumados.

Qual é a diferença entre prisão preventiva e prisão


temporária?
Consolidada na nossa Constituição, a presunção de inocência é uma garantia
fundamental que assegura que o acusado deve ser tratado como inocente até o
trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

No entanto, a presunção de inocência não é absoluta: ela pode ser relativizada


pelo uso de prisões cautelares. O que permite a coexistência da garantia
constitucional e das prisões cautelares são os requisitos, fundamentos e
princípios das medidas cautelares.

Neste sentido, vejamos o art. 283 do CPP:

Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de
prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em julgado.

Desta forma, pode-se prender alguém antes do trânsito em julgado de sentença


condenatória apenas nas hipóteses descritas acima: flagrante, ou quando existe
necessidade cautelar.

Assim, o direito brasileiro recepciona apenas as seguintes hipóteses de prisão


pré-condenação definitiva:

 Prisão em flagrante (tratada pelo prof. Aury Lopes Jr. enquanto pré-
cautelar);
 Prisões Cautelares:
o Prisão preventiva;
o Prisão temporária.

A prisão temporária é prevista pela Lei 7960/89, enquanto a preventiva é


aplicada pelo Código de Processo Penal.

Conforme explica o delegado Rafael Dantas, os requisitos autorizadores da


prisão preventiva são mais exigentes e envolvem a demonstração de conjunto
probatório mais robusto em relação à temporária:
“Por isso, a praxe é a de que a prisão temporária ocorra no início das
investigações, de modo que essas possam prosperar. Já a prisão preventiva
acontece mais ao final das apurações ou até mesmo durante o processo penal.

Em que pesem as diferenças, ambas são prisões provisórias, que envolvem uma
situação de cautelaridade. Uma pessoa é levada ao cárcere não porque é
considerada definitivamente culpada, mas porque sua liberdade traz risco à
sociedade ou à persecução penal”.

Enquanto a prisão temporária só é cabível no inquérito, a preventiva também


pode ser decretada no curso do processo. Como já visto, o prazo da prisão
temporária é de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco, ou de 30 dias,
prorrogáveis por mais 30, no caso de crimes hediondos.

Por outro lado, a prisão preventiva não possui prazo pré-definido. Ela permanece
enquanto durarem as circunstâncias que embasaram sua decretação, observada
a razoabilidade.

Além disso, a prisão preventiva pode ser decretada de ofício pelo juiz, na fase
processual. A prisão temporária não pode ser decretada pelo juiz em nenhuma
circunstância.

Esquematizando
PRISÃO
TEMPORÁRIA
Base Legal Lei n. 7.960, de 21 de dezembro de 1989.
Prisão cautelar de natureza processual destinada a possibilitar
Conceito as investigações a respeito de crimes graves, durante o
inquérito policial.
Decretação Autoridade Judiciária
Art. 1º Lei 7.960/89: Imprescindibilidade da medida para as
investigações do inquérito policial; Indiciado não tem
residência fixa ou não fornece dados necessários ao
esclarecimento de sua identidade; Fundadas razões da autoria
ou participação do indiciado em qualquer um dos seguintes
Fundamentos crimes: homicídio doloso, sequestro ou cárcere privado (art.
148 do CP), roubo, extorsão, estupro, atentado violento ao
pudor, rapto violento (art. 219 do CP, revogado pela Lei n.
11.106/2005), epidemia com resultado morte, envenenamento
de água potável ou substância alimentícia e, por fim, crimes
contra o sistema financeiro.
Em geral: cinco dias, prorrogáveis por mais cinco;Para crimes
Prazo
hediondos: 30 dias, prorrogáveis por mais 30.

Referências Bibliográficas sobre prisão temporária


LOPES JR., Aury. Fundamentos do Processo Penal: introdução crítica. 8ª. ed. –
São Paulo : SaraivaJur, 2022

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 29ª. ed. – São Paulo : SaraivaJur,
2022.

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