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Peças de Liberdade

Noções Gerais:

- Ter conhecimento sobre as prisões cautelares (p. flagrante; p. preventiva; p.


temporária)

- Como diferenciar as peças:

1) Identificar qual é o tipo de prisão cautelar em que o preso foi submetido;

2) Identificar se essa prisão é ilegal (peça de relaxamento) ou desnecessária


(peça de revogação);

Como elaborar a peça:

1) Responda as seguintes perguntas – COM PRO NO FU TE PE


- COMpetência - PROcedimento - NOme da peça -FUndamento
legal

-TEse - PEdidos

Competência

- Endereçamento

Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor(a) Juiz(a) de Direito da Vara Criminal da


Comarca da Cidade de ....do Estado...... (Estadual)

Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor(a) Juiz(a) Federal da Vara Criminal da


Subseção Judiciária de.... do Estado.... (Federal)
Procedimento

Não existe um momento específico para que a peça de liberdade possa ocorrer.

Nome da Peça

- Relaxamento de Prisão em Flagrante;


- Liberdade Provisória;

Fundamento Legal

- Relaxamento da Prisão em Flagrante: art. 5°, LXV, da CF e art. 310, I do


CPP.
- Liberdade Provisória: Art. 5°, LXVI, da CF e art. 310, III do CPP.

Teses

- Ilegalidade: casos de maior Concretude e menor Subjetividade.

- Desnecessidade:

Pedidos
Relaxamento de Prisão em Flagrante

É a peça cabível quando a prisão em flagrante for ilegal. Nela, não são
discutidos os requisitos da prisão preventiva, mas somente a ilegalidade da
prisão em flagrante.

- Nessa peça, o advogado tem uma única tese a sustentar: a prisão em


flagrante é ilegal. Exemplo: Em determinada peça, o advogado alega que o flagrante foi
forjado por policiais. Tese de falta de justa causa: o crime impossível, do art. 17 do CP, em razão
do flagrante preparado.

A ilegalidade do flagrante pode ocorrer em dois momentos:

- No momento da efetiva prisão (Voz de Prisão) – art. 302 e 303 CPP;

- Durante a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante – art. 304 a 310 CPP;

PRAZO

Não tem prazo. Todavia, só faça a peça de relaxamento de prisão em flagrante


se o problema descrever hipótese em que alguém foi preso em flagrante e que
não houve encaminhamento do APF ao juiz, tampouco audiência de custódia.

FUNDAMENTAÇÃO LEGAL

Art. 5º, LXV, da CF


TESES

A tese será sempre a ilegalidade da prisão em flagrante. Exemplo das principais


teses em cada momento.

Momento da Prisão (voz de prisão)

I. Apresentação espontânea: não é possível a prisão em flagrante de quem se


apresenta espontaneamente à autoridade policial. As hipóteses de flagrante estão nos
arts. 302 e 303 do CPP.

II. Uso indevido de algemas: é ilegal a prisão em flagrante quando o uso de


algema se dá de forma arbitrária. Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de
fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia...

III. Crimes formais: é ilegal a prisão em flagrante imposta no momento do


exaurimento do delito. Ex: Se “A”, funcionário público, exige vantagem indevida, e esta é
recebida em momento diverso, ele não poderá ser preso em flagrante no momento do
recebimento, que é mero exaurimento do crime de concussão, mas somente quando fez a
exigência, que foi quando o crime se consumou.
IV. Flagrante preparado: é ilegal o flagrante quando o agente é instigado a
praticar o delito. Ex: o agente é incitado à prática do delito (exemplo do veículo
estacionado).

V. Flagrante forjado: é inexistente a prisão em flagrante quando forjado o


delito. Ex: durante uma blitz, enquanto efetua buscas em um veículo, o agente de trânsito tira,
do seu bolso, uma porção de cocaína, e diz que a encontrou no interior do automóvel para
legitimar a prisão em flagrante do condutor.

VI. Flagrante baseado em prova ilícita: é inexistente o flagrante baseado em


prova ilícita. Ex: policial que pega o celular apreendido para fazer uma análise.

VII. Flagrante em crime impossível: é ilegal a prisão em flagrante na hipótese


de tentativa inidônea.

VIII. Flagrante em crime habitual: em regra, é ilegal a prisão em flagrante nos


crimes habituais. Crimes habituais são aqueles em que as condutas isoladas são atípicas,
mas, quando reunidas, configuram determinado delito. É o caso da casa de prostituição, do art.
Se isso acontecer, peça o relaxamento, tendo por base que, em regra,
229 do CP.
não é possível a prisão em flagrante em crime habitual.

Momento de lavratura do APF

A) Assistência jurídica: é ilegal a prisão em flagrante quando o preso for


impedido de estar assistido por advogado durante seu interrogatório.

B) Comunicação à Defensoria Pública: é ilegal a prisão em flagrante quando, se


necessária, ausente a comunicação do flagrante à DP. De acordo com o art. 306, § 1º,
do CPP, em até 24 horas, contadas da prisão, a Defensoria Pública deve receber cópia do APF,
caso o autuado não tenha sido acompanhado por advogado.

C) Ausência de nota de culpa: é ilegal a prisão em flagrante caso o preso não


receba a nota de culpa. A nota de culpa é o documento fornecido ao preso onde constam o
motivo da prisão, o nome de quem o prendeu e o conduziu à autoridade policial e o nome das
testemunhas ouvidas. A nota de culpa deve ser entregue no prazo de 24 horas, contadas da
prisão.

D) Encaminhamento do APF ao juiz: é ilegal a prisão em flagrante caso o APF


não seja encaminhado ao juiz no prazo de 24 horas.

E) Comunicação imediata: é ilegal a prisão caso o juiz, o MP e a família do


preso não sejam comunicados imediatamente da prisão.

F) Incomunicabilidade do preso: é ilegal a prisão em flagrante caso o preso seja


mantido incomunicável.
G) Lavratura de APF em crime de ação penal privada: é ilegal a lavratura do
APF sem autorização da vítima. Nos crimes de ação penal privada e de ação penal
pública condicionada, se não houver manifestação favorável da vítima, o APF não pode ser
lavrado, sob pena de relaxamento.

PEDIDOS

Os pedidos serão sempre os mesmos: o relaxamento da prisão em flagrante e a


expedição de alvará de soltura. Jamais peça outra coisa – absolvição, por exemplo.

Peça na prática

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da … Vara Criminal da Comarca de Macapá.

Processo nº: xxx

João, nacionalidade …, estado civil …, profissão …, residente no endereço …, vem, por seu
advogado, requerer o relaxamento da prisão em flagrante, com fundamento no artigo 5º, LXV,
da Constituição Federal, pelas razões a seguir:

I. DOS FATOS (faz um resumo do enunciado sem inventar informações)


No dia 12 de junho de 2016, ao desembarcar no aeroporto da cidade de Macapá, o requerente
foi à esteira de bagagens e retirou uma mala de cor preta, idêntica à sua. Entretanto, ao chegar
no saguão do aeroporto, ele foi surpreendido por agentes de segurança, que, após confirmarem
que a mala pertencia a outra pessoa, prenderam-no em flagrante pelo crime de furto.
Após ser ouvido, o delegado de polícia lavrou auto de prisão em flagrante em seu desfavor.
Ademais, a autoridade policial negou-lhe o pedido de comunicação da prisão aos seus
familiares, pois mora na cidade de Goiânia, e não é possível realizar ligações interurbanas do
telefone da delegacia.
O requerente está preso há quarenta e oito horas, e, até o momento, o juiz competente, o
Ministério Público e a Defensoria Pública não foram comunicados da prisão.

II. DO DIREITO
Portanto, Excelência, é inegável que a prisão em flagrante do requerente é ilegal.
Como se percebe na descrição dos fatos, ele imaginou que estava pegando a sua mala, e não a
de outra pessoa. Destarte, agiu em erro de tipo, nos termos do artigo 20 do Código Penal.
Além disso, a autoridade policial não comunicou o fato à família do preso, em violação ao art.
306, caput, do Código de Processo Penal. O juiz competente e o Ministério Público também não
foram comunicados, com prevê o mesmo dispositivo, e não houve encaminhamento de cópia do
auto de prisão em flagrante à Defensoria Pública, como determina o art. 306, § 1º, do Código de
Processo Penal.
Por fim, o delegado de polícia também agiu em oposição ao art. 306, § 1º, do Código de Processo
Penal ao não encaminhar o auto de prisão em flagrante ao juiz competente no prazo de 24 (vinte
e quatro) horas.

III. DO PEDIDO
Diante do exposto, requer seja reconhecida a ilegalidade da prisão em flagrante e imposto o seu
relaxamento, com fundamento no artigo 5º, LXV, da Constituição Federal. Ademais, pede a
expedição de alvará de soltura.
Pede deferimento.
Macapá, data….
Advogado….
Liberdade Provisória

A liberdade provisória é a peça a ser feita quando o enunciado descrever


situação em que o cliente foi preso em flagrante, tudo dentro da legalidade, mas
ausentes os pressupostos da prisão preventiva.

- Aqui o flagrante não tem vícios, mas não tem motivo para que o criminoso
aguarde preso o desfecho da persecução penal.

- Como identificar a peça: O objetivo da peça será a demonstração de que as


hipóteses do art. 312 e 313 do CPP não estão presentes.

MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

Procure, no rol do art. 319, alguma medida cautelar diversa para que seja
concedida a liberdade provisória ao seu cliente. Ex.: Imagine que um funcionário
público é preso em flagrante pela prática do peculato (CP, art. 312). Como juiz, ao receber o
APF, você tem duas opções para que ele não volte a praticar o crime durante a persecução
penal: afastá-lo do cargo ou decretar a preventiva. Considerando que, em nosso exemplo, o
afastamento seria suficiente para que a prática delituosa fosse interrompida, por qual motivo a
prisão seria decretada?

FIANÇA

A fiança nada mais é do que uma das medidas cautelares diversas da prisão
(CPP, art. 319, VIII). As hipóteses de vedação à fiança estão nos arts. 323 e 324
do CPP. Se nenhuma estiver presente, peça a fiança.

COMPETÊNCIA

- Local do crime;

- Art. 109 do CF (competência da Justiça Federal);

- Crimes dolosos contra a vida (endereçamento à Vara do Júri);

- Demais delitos (tráfico de drogas, roubo, estupro etc.), exceto se o problema


disser que existe vara especializada, enderece a peça à vara criminal genérica;

FUNDAMENTAÇÃO

Art. 5º, LXVI, da CF; ao art. 310, III, do CPP; e ao art. 321 do CPP.

TESES
Arts. 311 a 314 do CPP.

PEDIDOS

O pedido está restrito à concessão da liberdade provisória e à expedição de


alvará de soltura.

Peça na prática

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da … Vara do Júri da Comarca …

Processo nº: xxx

Francisco, nacionalidade …, profissão …, estado civil …, residente e domiciliado no endereço


…, na cidade de …, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por seu advogado,
requerer a Liberdade Provisória, com fundamento nos art. 5º, LXVI, da Constituição Federal, e
nos arts. 310, III, e 321, ambos do CPP, pelas razões a seguir expostas:

I. DOS FATOS (resume o enunciado sem inventar informações)


Na madrugada do dia 11 de agosto de 2017, o requerente ouviu um barulho no quintal de sua
casa. Imediatamente, pegou a sua arma de fogo, devidamente registrada, e foi ao local para
averiguar o que estaria acontecendo, momento em que foi surpreendido por um homem que
havia invadido o imóvel. Assustado, o invasor tentou correr em fuga, atitude erroneamente
interpretada pelo requerente, que acreditou que o homem o atacaria. Em movimento reflexo de
defesa, ele disparou um tiro contra o invasor, que acabou falecendo em virtude do ferimento.
Em seguida, policiais militares chegaram ao local do ocorrido e o prenderam em flagrante pela
prática do homicídio. Encaminhado à autoridade policial, foi lavrado auto de prisão em
flagrante.

II. DO DIREITO
Portanto, Excelência, está evidente hipótese de legítima defesa (CP, arts. 23, II, e 25), causa de
exclusão da ilicitude, ainda que em hipótese de descriminante putativa (CP, art. 20, § 1º),
devendo ser concedida a liberdade provisória do requerente, com fundamento no art. 310,
parágrafo único, e 314, ambos do CPP.
A pessoa falecida havia invadido a casa do requerente, o que, por si só, já fez com que o
requerente assumisse posição defensiva. Ademais, ao fazer movimento brusco, forçou o
requerente a lutar por sua vida, levando-o a crer que seria vítima de um ataque injusto.
Ademais, o requerente jamais esteve envolvido em atividade criminosa, tem residência fixa e
trabalha, estando evidente que não existe risco à ordem pública ou à instrução criminal (CPP,
art. 312), não havendo motivo para a decretação da prisão preventiva. Logo, a liberdade
provisória lhe é garantida, com fundamento no art. 5º, LXVI, da CF e art. 321 do CPP

III. DO PEDIDO
Diante do exposto, requer seja concedida a liberdade provisória, com fundamento nos arts. 5º,
LXVI, da CF; 310, I, do CPP; 310, parágrafo único, do CPP; 314 do CPP; e 321 do CPP. Ademais,
pede a expedição de alvará de soltura.
Pede deferimento.
Comarca …, data ….
Advogado (OAB …).

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