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PROCESSO PENAL

PROCESSO PENAL

RESTRIÇÕES CAUTELARES
PRISÃO EM FLAGRANTE
PROCEDIMENTO
Os procedimentos a serem adotados por quem prende em flagrante vai desde captura do
agente até o recolhimento ao xadrez. A doutrina aponta quatro momentos para a realização da
prisão em flagrante.
ͫ CAPTURA DO AGENTE
A captura do agente pode ser feita por qualquer do povo que presencie o estado de flagrante.
A polícia tem o dever de prender, podendo ser responsabilizada caso não faça.
ͫ CONDUÇÃO COERCITIVA até a autoridade policial (ou judicial)
Após a captura, o suposto criminoso deverá ser encaminhado à autoridade competente. Caso
não haja delegado na circunscrição, o agente deverá ser encaminhado ao local mais próximo que
exista uma autoridade policial.
ͫ LAVRATURA DO APF
O delegado de polícia, via de regra, é a autoridade competente para a lavratura do APF. No
entanto, tal prerrogativa não é exclusiva. É possível que outras autoridades presidam a lavratura
do auto, quando o crime for cometido em sua presença (art. 307, CPP), como no caso de juízes e
membros da CPI.
Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da autoridade, ou contra esta, no exercí-
cio de suas funções, constarão do auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações
que fizer o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado pela autoridade,
pelo preso e pelas testemunhas e remetido imediatamente ao juiz a quem couber tomar
conhecimento do fato delituoso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto.
A autoridade, antes de lavrar o auto de prisão em flagrante (APF), deve comunicar IMEDIA-
TAMENTE à família do preso ou pessoa indicada por ele a ocorrência da prisão. A providência é
imperativa e a falta acarreta NULIDADE ABSOLUTA da prisão. Além da família ou outra pessoa,
também deverá haver comunicação imediata ao MP e juiz (Art. 306, CPP).
ATENÇÃO! A não comunicação imediata da prisão para o Juiz e Família do preso (ou pessoa
indicada) gera crime do art. 12 da lei de abuso de autoridade! O mesmo NÃO VALE caso o MP
não seja comunicado!
Quem preside a lavratura do APF é o delegado, ao lado do escrivão de polícia. Caso não haja
um escrivão na hora, é possível a nomeação de qualquer do povo para o ato, o qual deverá prestar
o juramento (art. 305, CPP).
Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada pela auto-
ridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso legal.
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Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados ime-
diatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por
ele indicada.
§ 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao
juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de
seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.
§ 2º No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada
pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.
Logo em seguida, segue-se o seguinte procedimento:
» Oitiva do condutor: em seguida, ouve-se quem levou o preso até a autoridade
policial. Suas declarações serão reduzidas a termo, colhida a assinatura, e a ele será
entregue um recibo. Nesse recibo é constado o estado pelo qual o preso foi apre-
sentado à autoridade policial, eximindo a responsabilidade do condutor a partir daí;
» Oitiva das testemunhas: na sequência, serão ouvidas as testemunhas. Suas decla-
rações também serão reduzidas a termo e assinadas. Como a lei cita testemunhas
no plural, entende-se que haverá pelo menos duas. Nada impede que os policiais
sirvam de testemunhas. Além disso, se eventualmente haver apenas uma testemu-
nha, é possível a captura de mais uma, a qual legitima a apresentação do preso à
autoridade. Essa é uma testemunha de formalidades, diga-se, fedatária.
ATENÇÃO! A falta de testemunhas não impede a prisão!
» Oitiva da vítima: embora a lei não cite a oitiva da vítima, é importante tomar a sua
versão dos fatos, na expectativa de melhor eficiência do inquérito. Vale lembrar que
sem a autorização da vítima nos crimes de ação penal pública condicionada e de
ação penal privada não se pode concretizar a prisão em flagrante.
» Oitiva do conduzido: o preso será ouvido, assegurando-lhe o direito ao silêncio.
Admite-se a presença do advogado, contudo, não é imprescindível para o cum-
primento da prisão. As declarações serão reduzidas a termo e assinadas. Caso o
conduzido não queira assinar, isso não impede o APF, mas apenas será consignado
em termo e assinado também por duas testemunhas.
ATENÇÃO! Na lavratura do APF, deve-se constatar a existência de filhos, e indicação de res-
ponsável, caso haja!
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá,
desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso.
Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório
do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas
assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto.
§ 1º Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará
recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos
atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à
autoridade que o seja.
§ 2º A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas,
nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam teste-
munhado a apresentação do preso à autoridade.
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§ 3º Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto de
prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura
na presença deste.
§ 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a exis-
tência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato
de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
ͫ RECOLHIMENTO AO CÁRCERE
Ao finalizar as oitivas, deve o delegado responder a três perguntas: (1) A prisão foi lícita? (2)
O preso é o suposto autor? (3) Houve mesmo crime? Caso a resposta seja afirmativa nestes três
casos, a autoridade mandará o escrivão lavrar o APF e conduzirá o preso ao xadrez, assim, o dele-
gado terá 24h para:
» Encaminhar o APF ao juiz, o qual deverá relaxar a prisão se for ilegal. Em se tratando
de hipótese lícita de flagrante, o juiz homologará o APF e concederá liberdade pro-
visória (com ou sem fiança) ou converterá, se presente os requisitos, em prisão
preventiva (de modo fundamentado).
ATENÇÃO! O atraso no envio do APF ao juiz não constitui nulidade, mas apenas mera irre-
gularidade (STJ).
» Encaminhar cópia integral dos autos à defensoria pública se o preso não informar
o nome do advogado;
» Entregar a nota de culpa ao preso. Esse documento não é um reconhecimento do
estado de flagrância, mas um documento resumido dos fatos, o qual indica quem
o prendeu e os motivos da prisão. A não entrega da nota de culpa ao preso cons-
titui NULIDADE ABSOLUTA e a autoridade incidirá no art. 12 da lei de ABUSO DE
AUTORIDADE.

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
A lei 13.964/19 (pacote anticrime) alterou o art. 310 do CPP, no que tange à chamada audiência
de custódia. Após 24 h recebido o APF, o juiz deverá realizar audiência de custódia, com todas as
prerrogativas processuais ao preso. Nessa audiência estarão presentes o acusado, acompanhado
de advogado, e o membro do MP.
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de ATÉ 24 (VINTE E
QUATRO) HORAS após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia
com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e
o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente (...)
Na audiência de custódia, caberá ao juiz, em uma primeira análise, verificar a idoneidade da
prisão. Se ilícita, o juiz RELAXARÁ. Caso lícita, a prisão será HOMOLOGADA. Neste caso, parte-se
para a segunda etapa, que consiste em:
ͫ Conceder liberdade provisória (mediante termo de comparecimento), com ou sem
fiança;
Aqui o juiz fará o controle jurisdicional da prisão em flagrante, fazendo jus ao direito consti-
tucional da liberdade. Vale lembrar que o pacote anticrime inovou o CPP ao afirmar que o agente
que for reincidente, ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou ainda que porta
arma de fogo de uso restrito, nestes casos estão impedidos de serem libertos provisoriamente. No
entanto, o entendimento doutrinário criado até o momento é que tal dispositivo é flagrantemente
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inconstitucional. Portanto, restaria apenas a conversão em preventiva nestes casos, o que nem
sempre se enquadra nas hipóteses listadas de cabimento.
ͫ Converter a prisão em flagrante em preventiva.
Neste caso, o juiz verificará os pressupostos legais, tendo como norte as inovações do pacote
anticrime, juntamente com as hipóteses de cabimento.
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato em
qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, FUNDAMENTADAMENTE, con-
ceder ao acusado LIBERDADE PROVISÓRIA, mediante termo de comparecimento obrigatório
a todos os atos processuais, sob pena de revogação.
§ 2º Se o juiz verificar que o agente é REINCIDENTE ou que INTEGRA ORGANIZAÇÃO CRI-
MINOSA ARMADA OU MILÍCIA, ou que PORTA ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO, deverá
DENEGAR a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares.
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da audiência
de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá administrativa, civil e
penalmente pela omissão.
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput
deste artigo, a não realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará tam-
bém a ILEGALIDADE DA PRISÃO, a ser relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo
da possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva.

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