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SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO 2º JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER DA COMARCA DE FORTALEZA - CEARÁ

URGENTE

RÉU PRESO

PROC. Nº.: XXXXXXX

Marcelino Holanda Soares, brasileiro, solteiro, operador de maquinas,


portador do CPF sob o nº 589.782.833-49, com Documento de Iden dade de n°
91002223701 SSP/CE, residente e domiciliado na Rua São Leopoldo, nº 1226, Parque
santa fé / Ancuri, CEP: 60874-170, Fortaleza/CE, vem à presença de Vossa Excelência,
com fundamento no ar go 5º, inciso LXV da Cons tuição Federal combinado com os
ar gos 301 e seguintes do Código de Processo Penal, requerer o

RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE

Pelos mo vos de fato e de direito a seguir aduzidos:

I - DOS FATOS

Segundo o inquérito 303 - 613 / 2016 da Delegacia da Defesa da Mulher de


Fortaleza o senhor Marcelino Holanda Soares foi autuado em flagrante delito no dia 05
de junho de 2016, por volta das 03h30min sob a acusação de ter agredido com socos,
puxões de cabelo, palavras de baixo calão e pedradas contra a ví ma, que era sua
companheira na época do fato ocorrido.

II - DO DIREITO

1) RELAXAMENTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

Prender em flagrante é capturar alguém no momento em que comete um


crime. Flagrante é o delito. A flagrância é uma qualidade da infração: o sujeito é preso
ao perpetrar o crime, preso em – a comissão de – um crime flagrante, ou seja, atual. É
o delito que está se consumando. Logo, conclui-se que prisão em flagrante delito é a
prisão daquele que é surpreendido cometendo uma infração penal.

Vejamos os ditames do Código de Processo Penal em seu ar go 306, §1°:

“Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre


serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao
Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada.

§ “1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da


prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão
em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu
advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.”

Destacam-se ainda os ditames do ar go 310 do mesmo diploma processual:

“Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá


fundamentadamente:
I - Relaxar a prisão ilegal; ou
II - Converter a prisão em flagrante em preven va, quando
presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e
se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares
diversas da prisão; ou
“III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.”
Sobre o prazo da conversão prisão em flagrante em prisão preven va,
vejamos o que ensina o professor Eugenio Pacelli de Oliveira, Procurador da República:

“Penso que o Juiz deve despachar ou decidir em 24 horas após o recebimento do APF.
Assim, teríamos uma regra geral de 48 horas (24 para a lavratura do APF e 24 horas
para a decisão). Esse entendimento se jus fica, sobretudo, em razão da natureza
coerci va e excepcional da prisão”.

Logo, devido à ausência da conversão da prisão em flagrante em prisão


preven va no tempo hábil, a prisão do réu passou a configurar uma prisão ilegal, haja
vista que se trata de restrição da liberdade de locomoção do indivíduo sem
observância das normas vigentes. Vejamos o que nos mostra o ar go 5º, inciso LXV da
Cons tuição Federal:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem dis nção de qualquer
natureza, garan ndo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade


judiciária;

O enunciado do disposi vo cons tucional deixa evidente o cabimento do


pedido de relaxamento da prisão sempre que a prisão se apresentar ilegal e, por essa
razão, requer que seja concedido o réu o RELAXAMENTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE,
sob pena de violação dos ar gos 306 e 310 do Código de Processo Penal e do ar go 5º,
incisos II e LIV da Carta Magna.

2) LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA

Liberdade Provisória é um ins tuto que permite ao acusado responder ao


processo em liberdade até a sentença penal condenatória transitada em julgado. Este
ins tuto possui algumas espécies, dentre as quais se encontra a Liberdade Permi da,
ela ocorrerá nos casos em que não é possível a Prisão Preven va, ou seja, quando não
exis rem as hipóteses em que não seja cabível esse po de prisão, o juiz deverá
determinar de imediato a Liberdade Provisória.

A configuração da prisão preven va requer o preenchimento de requisitos


pré-determinados, sendo necessário prova da materialidade de crime e indícios
suficientes de autoria – Fumus Commissi Delic – bem como a existência o Periculum
Liberta s, que seriam os mo vos mo vadores, sendo eles discriminados no ar go 312
do Código de Processo Penal:

Art. 312. A prisão preven va poderá ser decretada como garan a


da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da
instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente
de autoria.

Além dos requisitos pré-determinados pelo ar go 312 do diploma


processual penal, existem as causas legi madoras da prisão preven va presentes no
ar go 313 do supracitado diploma.

O ar go 313 do CPP reza que só será decretada a prisão preven va em


crimes dolosos que tenham pena priva va de liberdade máxima superior que quatro
anos, de reincidência em crime doloso com sentença transitada e julgado, ou ainda
para garan r a execução de medidas prote vas de urgência em crimes que envolvem
violência domés ca e familiar contra a mulher, criança, idoso, enfermo, adolescente ou
pessoa com deficiência.

Portanto, como não há o preenchimento dos requisitos pré-determinados


pelo ar go 312 e muito menos as causas legi madoras apresentadas pelo ar go 313,
ambos do Código de Processo Penal, não há que se falar em decretação da prisão
preven va. Logo, não sendo possível a prisão preven va, torna-se necessária a
determinação imediata da Liberdade Provisória.
Resta também comprovado, pelas razões expostas a seguir, que não
existem quaisquer indícios de que o indiciado buscaria se livrar de eventual sanção
penal, se condenado.

O indiciado é primário, não constando em seu nome nenhuma sentença


transitada em julgado, conforme folha de antecedentes criminais em anexo (fls. 14).

Vejamos o que diz o entendimento do Superior Tribunal de Jus ça acerca de


tal tema:

SÚMULA 444 - É vedada a u lização de inquéritos policiais e ações penais em curso


para agravar a pena-base. (Súmula 444, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, DJe
13/05/2010)

Não sendo a primariedade suficiente como, acrescenta-se que:

O indiciado possui residência fixa.

Acrescenta-se o fato que o mesmo é hipossuficiente não tem condições de


pagar quaisquer fianças que seja arbitrada pela autoridade em virtude de suas
condições financeiras, haja vista que o mesmo acha-se desempregado, que é a razão
pela qual a medida deve ser concedida SEM O ARBITRAMENTO DE FIANÇA, vejamos os
ditames do ar go 350, caput, do Código de Processo Penal:

“Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a


situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade
provisória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e
328 deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso.”

Vejamos agora o entendimento dos tribunais pátrios acerca deste tema:

“EMENTA. HABEAS CORPUS - PRISÃO EM FLAGRANTE - FURTO - LIBERDADE


PROVISÓRIA - PRESTAÇÃO DE FIANÇA - PACIENTE SEM CONDIÇÕES PARA PAGAR A
FIANÇA ARBITRADA - CONCESSÃO INDEPENDENTE DO PAGAMENTO.
De acordo com o art. 350 do Código de Processo Penal, será concedida a
liberdade provisória ao paciente que não ver condições financeiras para prestar a
fiança arbitrada, mediante compromisso de comparecer a todos os atos do processo.
Ordem concedida. (TJMG: 100000950568590001 MG 1.0000.09.505685-9/000(1)
Resumo: Habeas Corpus - Prisão em Flagrante - Furto - Liberdade Provisória -
Prestação de Fiança - Paciente Sem Condições Para Pagar a Fiança Arbitrada -
Concessão Independente do Pagamento. Relator(a): ANTÔNIO ARMANDO DOS
ANJOS Julgamento: 29/09/2009 Publicação: 20/10/2009)”

Entendimento idên co tem o Tribunal de Jus ça de São Paulo, ao dispor o


seguinte julgado:

“Ementa. Habeas Corpus - Furto Tentado - Pedido de liberdade provisória -


Arbitramento de fiança - Impossibilidade financeira - Concessão da ordem. (TJSP -
3293363020108260000 SP Relator(a): Souza Nucci Julgamento: 25/11/2010 Órgão
Julgador: 14ª Câmara de Direito Criminal Publicação: 10/12/2010)”

Requer, portanto, pelos fatos e fundamentos acima expostos, que seja


concedida a LIBERDADE PROVISÓRIA sem o pagamento de fiança em favor do
requerente nos termos do ar go 321 e 350, caput, ambos do CPP.

III - PEDIDO

Ante todo o exposto, requer que Vossa Excelência, se digne à:

A conceder o RELAXAMENTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE, devido à ausência


de realização da audiência de custódia no prazo determinado em lei, sob pena de
violação dos ar gos 306 e 310 do CPP e ar go 5º, incisos II e LIV da Lex Mater;

A concessão da LIBERDADE PROVISÓRIA, sem pagamento de fiança, sob


pena de violação do ar go 321 e 350, caput – ambos do CPP – em virtude da
primariedade e circunstâncias judiciais favoráveis, bem como pela ausência do
preenchimento dos requisitos pré-determinados e das causas legi madoras da prisão
preven va.
Caso assim não se entenda, desde já postula também a concessão da
LIBERDADE PROVISÓRIA cumulada com as medidas cautelares previstas no art. 319 do
CPP.

Ademais, conforme sentença fixada pelos juízes Francisco Pascoal Pinheiro


Júnior, José Nilton Galdino Salus ano Júnior e Maria Renata de Oliveira Moura, em 29
de setembro de 2023, concluíram em subs tuir a pena por medidas restri vas de
direito ou penas alterna vas.

Nestes termos,

Pede e aguarda deferimento.

Fortaleza/CE. 05 de outubro de 2023.

Edneide de Castro Oliveira (Thalía)


OAB 12122

Flávia Schevchenco Ferreira


OAB 34344

Vitória Caroline Paz de Abreu


OAB 56565

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