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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE

ALRIANNY DE SOUZA SANTOS, JOANA DÁLETE ACÁCIO DA SILVA,


advogadas inscritas na OAB/SE respectivamente sob os números 10.670,10.696, com
escritório na Av. João Alves Filho, Canindé de São Francisco/SE, vêm, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 5º, LXVIII, da Constituição
Federal, impetrar;

HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR

Em favor de ADAMASTOR LIMA DE SOUZA, brasileiro, solteiro, portadora da


cédula de identidade RG nº 11.851.908-6, inscrita no CPF sob o n° 06487985937, sem
residência física, em função de ato coator praticado pelo Excelentíssimo Juiz que compõem
colegiado na Comarca de Canindé de São Francisco/SE nos autos do inquérito policial;

I- DOS FATOS

Narra o presente que o paciente foi preso em flagrante no dia 15/10/2022 pela suposta
prática do delito previsto no art. 155, caput, do Código Penal.
Como colecionado nos autos do processo 202264000922, o paciente foi preso em
flagrante delito, no dia 15/10/2022, pelo crime de roubo majorado pelo uso de arma branca,
previsto no Art. 157 §2º, VII, CP, O Auto de Prisão em Flagrante foi regularmente lavrado pela
autoridade policial.
Por conseguinte, em audiência de custódia, o juiz converteu a prisão em flagrante
delito em prisão preventiva, fundamentando sua decisão no fato de ser o paciente morador de
rua, motivo que dificultaria a execução da lei penal.
Insta salientar que, em momento oportuno, fora realizado pedido de revogação de
prisão preventiva, tendo sido negado pelo juiz de primeiro grau. Para garantir a proteção do
direito do paciente, a impetração do habeas corpus se tornou medida imperativa, haja vista
evidente lesão à direito constitucional.

II- DA CONFUSÃO SOBRE O PERICULUM LIBERTATIS E A ORDEM PÚBLICA

O artigo 312 do Código Penal traz em seu bojo os preceitos ensejadores a


decretação da prisão preventiva, vejamos:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como


garantia
da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da
instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei
penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria.

Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser


decretada em caso de descumprimento de qualquer das
obrigações impostas por força de outras medidas cautelares.

(grifo nosso)

Como se pode olvidar pela análise do texto legal acima colecionado, para que seja
decretada a prisão preventiva é necessário que haja perigo a ordem pública e econômica,
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal.

Para a aplicação de tal custódia cautelar é extremamente necessário não só a


existência do periculum libertatis como também, concomitantemente, o fumus commissi
delicti. O que, data máxima vênia não ocorre no caso em apreço.
Ademais, mesmo considerando o Paciente como autor do crime, verifica-se não
permanecer qualquer risco à investigação ou instrução criminal, desfazendo-se qualquer
periculum libertatis que pudesse fundamentar a continuidade da prisão, conforme leciona o STJ:
"Sabe-se que o ordenamento jurídico vigente traz a liberdade do
indivíduo como regra. Desse modo, antes da confirmação da condenação pelo
Tribunal de Justiça, a prisão revela-se cabível tão somente quando estiver
concretamente comprovada a existência do periculum libertatis, sendo
impossível o recolhimento de alguém ao cárcere caso se mostrem
inexistentes os pressupostos autorizadores da medida extrema, previstos na
legislação processual penal." (HC 430.460/SP, Rel. Ministro ANTONIO
SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, DJe 16/04/2018)

Trata-se da aplicação do princípio da provisional idade, conforme destaca a respeitável


doutrina, de forma esclarecedora:
"Nas prisões cautelares, a provisional idade é um princípio básico,
pois são elas, acima de tudo, situacionais, na medida em que tutelam uma
situação fática. Uma vez desaparecido o suporte fático legitimador da medida
e corporificado no fumus commissi delicti e/ou no periculum libertais, deve
cessar a prisão. O desaparecimento de qualquer uma das "fumaças" impõe a
imediata soltura do imputado, na medida em que é exigida a presença
concomitante de ambas (requisito e fundamento) para manutenção da
prisão." (LOPES JR, AURY. Direito Processual Penal. 15ª ed. Editora
Saraiva jur, 2018. Versão Kindle, P. 12555)

Ou seja, os "indigitados fundamentos de cautelar idade devem ser apreciados sob o signo
temporal, devendo ser atuais independentemente de se tratar de novo decreto de prisão ou de
restabelecimento de prisão há muito revogada, seja em virtude da ausência dos requisitos do
artigo 312 do Código de Processo Penal, seja em virtude da ausência de fundamentação idônea"
(AgRg no REsp 1.195.873/MT, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA).
Afinal, a conversão em prisão preventiva seria cabível somente diante dos requisitos
dos Arts. 312 e 313 do CPP:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da


ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal
ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo
estado de liberdade do imputado.
Art. 313. Nos termos do Art. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva:
I - Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 (quatro) anos;
II - Se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença
transitada em julgado, ressalvado o disposto no Inciso I do Caput do art. 64
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência;

Situações que não estão mais presentes no presente quadro, uma vez que não há indícios
de que o Paciente em liberdade ponha em risco a instrução criminal, a ordem pública ou risco
à ordem econômica.
Cabendo destacar que, a constituição federal estabelece que todas as decisões judiciais
devem ser fundamentadas, assim, o magistrado não pode se valer de argumentos vagos e
genéricos, conforme ocorrera no presente caso.
Nesse sentido é art.93, IX, da CF:

ART.93, IX - "Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão


públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo
a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito
à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à
informação."

Além disso, há o art. 489, parágrafo 1, II, do CPC, estabelecendo que não será
considerada fundamentada decisão que "empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem
explicar o motivo concreto de sua incidência no caso". Em que pese se trata de dispositivo do
cpc, não impede que seja considerado no processo penal. Assim, tomando como base o referido
dispositivo, a mera alegação de que o acusado põe risco a ordem pública não é suficiente para
fundamentar a decisão, uma vez que poderia ser utilizada para decretar a prisão em qualquer
situação.

Desse modo, tal decisão viola claramente preceitos estabelecidos no ordenamento


jurídico pátrio, desse modo, não pode vigorar. E, além de que, não demostra a presença do
periculum libertais, requisito essencial para justificar a aplicação de prisão preventiva.
Portanto, considerando que ausentes os requisitos que pudessem motivar a conversão
em prisão preventiva, não subsistem motivos à manutenção da prisão cautelar, conforme
precedentes sobre o tema:

EMENTA: HABEAS CORPUS - FURTO QUALIFICADO -


PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA - AUSÊNCIA DE DADOS
CONCRETOS JUSTIFICADORES DA MANUTENÇÃO DA
SEGREGAÇÃO CAUTELAR - CITAÇÃO POR EDITAL -
PACIENTE MORADOR DE RUA - APLICAÇÃO DE MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO - POSSIBILIDADE -
ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. A prisão
preventiva somente deve ser decretada quando absolutamente
necessária, ou seja, quando estiverem presentes os requisitos
autorizadores previstos nos artigos 312 e 313 do Código
Processual Penal e as medidas cautelares diversas da prisão se
mostrarem insuficientes ou inadequadas. 2. Embora a não
localização do réu seja suficiente para a decretação da cautelar
extrema, constatado que se trata de indivíduo morador de rua, o
mais adequado é a imposição de medidas cautelares diversas da
prisão, que sejam aptas a vincular o paciente perante o juízo a
quo. 3. Observados os critérios dispostos no artigo 282 do CPP,
recomenda-se a concessão da liberdade provisória com a
imposição de medidas cautelares diversas da prisão, previstas
no artigo 319 do CPP.

Como se vê, não basta que haja o perigo abstrato do delito praticado, é
imprescindível a presença de carga probatória do perigo a ordem pública. O que não é a
realidade do caso em apreço.

III-CONDIÇÕES PESSOAIS

Excelência, as condições pessoais do paciente são totalmente favoráveis ao pedido que


ora se faz.
Tal requisito é pautado na possibilidade de o acusado dificultar a instrução
processual, ou até mesmo não comparecer nas palavras do doutrinador Fernando Capez:

Conveniência da instrução criminal: visa impedir que o


agente perturbe ou impeça a produção de provas, ameaçando
testemunhas, apagando vestígios do crime, destruindo
documentos etc. Evidente aqui o periculum in mora, pois não
se chegará a verdade real se o réu permanecer solto até o final
do processo, diante da sua provável evasão.

(grifo nosso)
Em que pese os atos supostamente praticados pelo Paciente, não há que se falar em
perigo a instrução criminal, inclusive já se encontra com audiência de instrução e julgamento
datada para o dia 05/01/2023.
Ademais, o cujo paciente nunca fora processado criminalmente, sendo réu primário,
sendo este o único criminal em curso, o que pesa sobre paciente é a questão de não obter
residência física, por se encontrar morando no lugar do delito.

Neste tópico os ilustres legisladores almejavam a prevenção da fuga do agente do


distrito da culpa, o que inviabilizaria a aplicação da lei penal, ou seja, é aplicável aos
investigados que não tem residência fixa ou qualquer causa que o ligue ao distrito de culpa.

Ademais, pelo exposto, tem-se que a medida de conversão em prisão preventiva


constitui ato ilegal, que infringe o Art. 5º, XV, da CRFB/88, que protege o direito de
locomoção, constatando-se coação ilegal.

Neste toar, nos termos do Art. 648, I, do CPP, tem-se que

Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:

I - Quando não houver justa causa

Portanto, observa-se que nos termos do Art. 5º, LXVIII da CRFB/88 e Art. 647 e 648,
I, do CPP, o Habeas Corpus, remédio constitucional utilizado para combater lesão ou ameaça
à direto de Locomoção, é cabível e medida de concessão urgente.

IV- DA CONCESSÃO DA MEDIDA LIMINAR

Como fora amplamente relatado e debatido alhures, não sobrepujam razões para a
manutenção do cerceamento da liberdade do paciente, haja vista o mesmo sempre ter
contribuído para o bom andamento processual e nunca ter se esquivado das autoridades
policiais.

Neste liame, no caso sob exame, o constrangimento ilegal é manifesto, diante da


decisão do juiz de 1º grau que determinou o recolhimento do Paciente a prisão, antes do
trânsito em julgado da sentença condenatória.

Ressalte-se que não estão presentes os requisitos da prisão preventiva elencados no


art. 312, do CPP, não sendo, pois, aplicável o permissivo do art. 387, parágrafo único do
mesmo Códex.
Assim sendo, estando caracterizados os requisitos do fumus boni iuris e do
periculum in mora, diante da determinação de expedição do mandado de prisão sem
obediência aos ditames legais, mister se faz a expedição liminar de salvo conduto em favor
do impetrante, a fim de que possa ser afastada qualquer ameaça de prisão, antes do trânsito
em julgado da decisão condenatória.

V- DOS PEDIDOS

Diante dos fundamentos expostos, finda por postular o impetrante:

Seja emitido juízo positivo de admissibilidade quanto aos termos do artigo 653 do
Código de Processo Penal, a concessão do HABEAS CORPUS, revogando-se a decisão que
decretou a prisão em desfavor de Adamastor, com a expedição do competente alvará de soltura,
e a aplicação de medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal, as
quais Vossa Excelência entender ser justa e cabível ao presente caso.
Por fim, o Paciente se prontifica a colaborar com o feito, comparecer em juízo,
apresentando-se espontaneamente, e auxiliar no desenvolvimento da Ação Penal em que se
encontra no polo passivo, segundo artigo 656 do Código de Processo Penal.
Nestes Termos,
Pede e Espera Deferimento.

CANINDÉ DE SÃO FRANCISCO/SE 05 DE DEZEMBRO DE 2022

ALRIANNY DE SOUZA SANTOS


OAB/SE 10.670
JOANA DÁLETE ACÁCIO DA SILVA
OAB/SE 10.696

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