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A prisã o preventiva poderá ser decretada se presente qualquer dos fundamentos do artigo

312 do CPP, qual seja, para preservar a garantia da ordem pública (periculosidade do
indivíduo), da ordem econômica (economia popular), pela conveniência da instrução
criminal (impedir a obstruçã o do processo), ou para assegurar a aplicação da lei penal
(fuga do agente); se estiverem presentes provas da existência do crime e indícios
suficientes de autoria.
Além disso, devem estar presentes quaisquer das condiçõ es de admissibilidade previstas
no artigo 313 do CPP, ressaltando que nã o cabe prisã o preventiva de crime culposo.
Necessá rio, também, que a decisã o que decretou a prisã o preventiva esteja devidamente
motivada e fundamentada, observando o contido no artigo 315 do CPP, que foi alterado
pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime), a fim de evitar abusos pelo Poder Judiciá rio.
Dessa forma, o pedido de revogaçã o de prisã o preventiva terá cabimento quando os
motivos autorizadores da prisã o preventiva deixarem de existir, levando-se em
consideraçã o que a mesma é regida pela clá usula rebus sic stantibus (a prisã o se adequa a
necessidade do momento).
Ao pleitear a revogaçã o, deve se argumentar por que a prisã o preventiva nã o deve
subsistir, e colacionar toda a documentaçã o necessá ria a comprovar suas alegaçõ es, bem
como apontar a aplicaçã o de outras medidas cautelares disponíveis no artigo 319 do CPP.
Espero ter ajudado.
Segue modelo abaixo.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA


COMARCA DE ________________ – ESTADO DO __________.

Autuação por dependência


Autos sob nº: XXXXXXXXXXXXXXX

FULANO DE TAL, devidamente qualificado nos autos em epígrafe, atualmente recolhido


no Setor de Carceragem Temporária da Delegacia de Polícia Civil desta Cidade, por
intermédio de seu defensor constituído, conforme instrumento particular de procuraçã o
anexo, vêm, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, apresentar
PEDIDO DE REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA
Com fundamento no artigo 5º, inciso LXV, da Constituiçã o Federal, e no artigo 316 do
Có digo de Processo Penal, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.
1. DA SÍNTESE FÁTICA:

O Requerente foi preso em flagrante no dia 20 de maio de 2018, por ter, em tese, praticado
o crime descrito no artigo 157 “caput”, c/c o seu § 2º, inciso II, do Có digo Penal.

Apó s ser realizada Audiência de Custó dia, este Juízo decretou a prisã o preventiva do
Requerente, embasando a sua decisã o para o fim de resguardar a ordem pú blica, a
conveniência da instruçã o criminal, e assegurar a aplicaçã o lei penal, nos termos do art.
312 do Có digo de Processo Penal.

Todavia, no presente momento processual nã o é mais cabida a manutençã o da prisã o


cautelar contra o Requerente, em razã o que se passa a expor.
2. DOS FUNDAMENTOS:
A Requerente pugna pela sua liberdade para que possa responder adequadamente ao
processo, pela aplicabilidade do Princípio da Presunçã o de Inocência, até que se esgotem
todos os recursos da ampla defesa e contraditó rio, onde a prisã o cautelar é uma exceçã o.
Pela sistema implantado pela Lei nº 12.403/2011, as prisõ es cautelares sã o a ú ltima ratio,
ou seja, deve ser o ultimato final de todas as medidas cautelares disponíveis em nosso
ordenamento jurídico.
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos
casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais;

II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais


do indiciado ou acusado.

(...)

§ 6º A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição
por outra medida cautelar (art. 319). (Grifo nosso)

Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz
deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares
previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282
deste Código. (Grifo Nosso)
Vale ressaltar que o Requerente possui trabalho e residência fixa (CTPS e comprovante de
endereço anexo), e é réu primá rio, nã o ostentando qualquer condenaçã o criminal,
comprometendo-se a comparecer em todos os atos processuais solicitados.
Apesar de o Requerente estar sendo investigado em inquéritos policiais, isto nã o pode ser
considerado como fato desabonador de sua conduta, tendo em vista que a Constituiçã o
Federal afirma que somente é considerado culpado apó s condenaçã o penal transitada em
julgado:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LVII. Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória. (Grifo Nosso)
Referido dispositivo consolida o Princípio da Presunçã o de Inocência, garantia
constitucional que permite ao acusado de uma infraçã o penal nã o ser considerado culpado,
até que esgotadas todas as fases do processo, e ao final haja sentença penal condenató ria
com trâ nsito em julgado. Diante disso, nã o se pode considerar, por si só , inquéritos policiais
em curso como instrumento idô neo a justificar a manutençã o da prisã o preventiva da
Requerente. Segue jurisprudência neste sentido:
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA NA SENTENÇA DE
PRIMEIRO GRAU. RÉU QUE PERMANECERA SOLTO DURANTE A INSTRUÇÃO CRIMINAL.
EXISTÊNCIA DE INQUÉRITOS POLICIAIS EM ANDAMENTO. FUNDAMENTO QUE, POR SI
SÓ, NÃO JUSTIFICA A PRISÃO PREVENTIVA. ORDEM CONCEDIDA. 1. A existência de
inquéritos policiais em andamento não justifica, por si só, a decretação da prisão
preventiva. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. 2. Ordem concedida. (TRF-3 –
HC 2501 SP 2010.03.00.002501-2. Rel.: Nelton dos Santos. Data Julg.: 08/06/2010. Segunda
turma).
Nesta linha de raciocínio, o Có digo de Processo Penal estabelece medidas que assegurem o
desenvolvimento regular do processo com a presença do acusado sem sacrifício de sua
liberdade, deixando a prisã o cautelar apenas para as hipó teses de absoluta necessidade.
Passa-se a analisar a ausência do requisito ensejador da prisã o cautelar, previsto no artigo
312 do Có digo de Processo Penal.
O Requerente nã o apresenta nenhum risco para a ordem pública, pelo qual entende-se
pela expressão da necessidade de se manter em ordem a sociedade, que, como regra, é
abalada pela prática de um delito[1]. Verifica-se que o Requerente foi preso em flagrante
em 20/05/18, e até a presente data, passaram-se 10 (dez) meses e 08 (oito) dias de prisã o,
restabelecendo a ordem pú blica, nã o existindo nenhum fato que demonstre que a
sociedade encontra-se abalada pelo crime, razã o pela qual nã o se pode cometer a injustiça
de presumir uma periculosidade inexistente.
Impor ao Requerente o cumprimento antecipado de uma pena é fechar os olhos aos
princípios que norteiam o ordenamento jurídico, em especial, no que se refere a presunçã o
de inocência e a dignidade da pessoa humana.
Deve-se levar em consideraçã o que outros acusados de participaçã o no crime estã o em
liberdade, nã o podendo o Requerente, que teve uma menor participaçã o no crime,
responder o processo custodiado.
No que tange a conveniência da instrução criminal, o Requerente nã o pretende, e de
nenhuma forma perturbará ou dificultará a busca da verdade real, no desenvolvimento da
marcha processual, nã o podendo, também, presumir tal fato, pois inexiste nos autos
quaisquer elementos que indiquem um entendimento em sentido contrá rio, como mesmo
afirmado por este Juízo em sua decisã o.
Ademais, o Requerente tem consciência de que a instruçã o criminal é o meio há bil de
exercer o direito constitucional do contraditó rio e da ampla defesa, e de provar sua
inocência, razã o pela qual nã o se pode presumir que a mesma se voltará contra o ú nico
meio que possibilitará o exercício de sua defesa.
Por fim, quanto a aplicação da lei penal, que visa garantir a finalidade ú til do processo,
qual seja, garantir ao Estado o seu exercício do direito de punir, aplicando a sançã o devida
a quem é considerado o autor de uma infraçã o penal, também nã o se encontra presente.
Dessa forma, é perfeitamente cabível que sejam impostas medidas cautelares diversas da
prisã o, previstas no artigo 319 do Có digo de Processo Penal:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para
informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para
evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou
acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou
financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou
grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do
Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à
ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.
Portanto, a liberdade poderá ser concedida ao Requerente, decretando, subsidiariamente,
as medidas cautelares diversas da prisã o, conforme preconiza os artigos 319 e 320 ambos
do Có digo de Processo Penal, isto porque, as suas circunstâ ncias e condiçõ es pessoais dã o
ensejo a aplicaçã o de tais medidas.
3. DOS PEDIDOS:
Diante de todo o exposto, pede-se, encarecidamente a Vossa Excelência, nos termos do
artigo 316, ab initio, do Có digo de Processo Penal, a revogaçã o da prisã o preventiva do
requerente FULANO DE TAL, com a expediçã o do competente alvará de soltura, e a
aplicaçã o de medidas cautelares previstas no artigo 319 do Có digo de Processo Penal, as
quais Vossa Excelência entender ser justa e cabível ao presente caso.
Nestes termos, pede e espera deferimento.
_______________, ___ de _________ de 2019.
ADVOGADO
OAB/___, Nº _________.
____________________

[1] (NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado – 14. ed. rev., atual. e
ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 725.

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