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Direito Penal 3

Aula 03
Prof. Edimar Mendes
Conteúdo da aula

Dos crimes contra a vida:

Homicídio qualificado – art. 121, § 2º, CP

02
Homicídio qualificado (1)

Art. 121, § 2° Se o homicídio é cometido:

 I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe.

 II - por motivo fútil.

 III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum.

 IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte


ou torne impossível a defesa do ofendido.

 V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:


Homicídio qualificado (2)

Art. 121, § 2° Se o homicídio é cometido:

 VI – contra a mulher por razões de condição de sexo feminino.

 VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro
ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:

 Pena - reclusão, de doze a trinta anos


Homicídio qualificado (3)

 Grupos de qualificadoras (4)

• Motivos (I, II, VI e VII)

• Meios (III)

• Modos (IV)

• Fins (V)

 Tipo derivado qualificado

→ as qualificadoras devem ser consideradas circunstâncias e não elementares do tipo.


Homicídio qualificado (4)

1. MOTIVOS

1.1 Mediante paga ou promessa de recompensa

→ O agente recebe previamente recompensa pelo crime (paga) ou aceita promessa de


pagamento futuro (promessa de recompensa).

→ Também conhecido como crime mercenário ou homicídio mercenário.

→ Paga ou promessa de pagamento deve ter conteúdo econômico (dominante).

→ Divergência. Não é necessário que a recompensa ou sua promessa seja em dinheiro,


podendo ser qualquer vantagem de natureza patrimonial ou pessoal. (BITTENCOURT,
2014; GRECO, 2017).
Jurisprudência sobre o tema (1)

PAGA OU PROMESSA DE RECOMPENSA - MANDANTE X EXECUTOR

“Não obstante a paga ou a promessa de recompensa seja circunstância acidental


do delito de homicídio, de caráter pessoal e, portanto, incomunicável
automaticamente a coautores do homicídio, não há óbice a que tal circunstância
se comunique entre o mandante e o executor do crime, caso o motivo que levou
o mandante a empreitar o óbito alheio seja torpe, desprezível ou repugnante.
(STJ-REsp 1209852/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 15/12/2015, DJe 02/02/2016).
Jurisprudência sobre o tema (2)

INFORMATIVO 575 do STJ

“O reconhecimento da qualificadora da "paga ou promessa de recompensa"


(inciso I do § 2º do art. 121) em relação ao executor do crime de homicídio
mercenário não qualifica automaticamente o delito em relação ao mandante,
nada obstante este possa incidir no referido dispositivo caso o motivo que o
tenha levado a empreitar o óbito alheio seja torpe.” (STJ-REsp 1.209.852-PR, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 15/12/2015, DJe 2/2/2016).
Homicídio qualificado (5)

1.2. Por outro motivo torpe

→ Motivo abjeto, vil, indigno, que causa repugnância, nojo, sensação de repulsa
pelo fato praticado pelo agente.

• Exposição de motivos do Código Penal – parte especial – item 38.

• “Em primeiro lugar, vem o motivo torpe (isto é, o motivo que suscita a aversão
ou repugnância geral, v. g.: a cupidez, a luxúria, o despeito da imoralidade
contrariada, o prazer do mal etc.)”
Homicídio qualificado (6)

1.3. Motivo fútil

→ É o motivo insignificante, que faz com que o comportamento do agente seja


desproporcional.

• “Motivo fútil corresponde a uma reação desproporcional do agente a uma ação


ou omissão da vítima”. (STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel.
para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016) (Info 583).

• Ex: matar garçom por dar troco errado.

• Crime sem motivo não configura motivo fútil (Damásio, 2014).


Jurisprudência sobre o tema (3)

AUSÊNCIA DE MOTIVOS

HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO. RECURSO QUE DIFICULTOU A


DEFESA. MOTIVO FÚTIL. PRONÚNCIA. EXCLUSÃO. QUALIFICADORA MANIFESTAMENTE
IMPROCEDENTE. AUSÊNCIA DE MOTIVOS NÃO SE EQUIPARA À FUTILIDADE.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA. (...) 2. Na hipótese em
apreço, a incidência da qualificadora prevista no art. 121, § 2º, inciso II, do Código
Penal, é manifestamente descabida, porquanto motivo fútil não se confunde com
ausência de motivos, de tal sorte que se o crime for praticado sem nenhuma razão, o
agente somente poderá ser denunciado por homicídio simples (Precedentes STJ). 3.
Ordem concedida para excluir da sentença de pronúncia a qualificadora prevista no
inciso II do § 2º do art. 121 do Código Penal. (STJ-HC 152.548/MG, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 22/02/2011, DJe 25/04/2011).
Jurisprudência sobre o tema (4)

Inexistência de motivo fútil em homicídio decorrente da prática de "racha“

Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP), na hipótese de
homicídio supostamente praticado por agente que disputava "racha", quando o
veículo por ele conduzido - em razão de choque com outro automóvel também
participante do "racha" - tenha atingido o veículo da vítima, terceiro estranho à
disputa automobilística. Motivo fútil corresponde a uma reação desproporcional do
agente a uma ação ou omissão da vítima. No caso de "racha", tendo em conta que a
vítima (acidente automobilístico) era um terceiro, estranho à disputa, não é possível
considerar a presença da qualificadora de motivo fútil, tendo em vista que não houve
uma reação do agente a uma ação ou omissão da vítima. (STJ. 6ª Turma. HC 307.617-
SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 19/4/2016) (Info 583).
Jurisprudência sobre o tema (5)

DOLO EVENTUAL. AGRESSÃO CAUSADA POR MOTIVO FÚTIL. COMPATIBILIDADE.

Não há incompatibilidade na coexistência da qualificadora do motivo fútil com o dolo


eventual em caso de homicídio causado após pequeno desentendimento entre agressor e
agredido. Precedentes do STJ e STF. (STJ-REsp 1601276/RJ, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe 23/06/2017).

INCOMPATIBILIDADE ENTRE DOLO EVENTUAL E A QUALIFICADORA DE MOTIVO FÚTIL.

É incompatível com o dolo eventual a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2°, II, do
CP). (STJ-HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis
Júnior, julgado em 19/4/2016, DJe 16/5/2016.
Jurisprudência sobre o tema (6)
CIÚME
STJ: Esta Corte possui jurisprudência no sentido de que, a depender do contexto, o ciúme pode
caracterizar o motivo torpe que qualifica o crime de homicídio, cabendo ao Tribunal do Júri tal
valoração, caso a caso. Precedentes. Agravo regimental desprovido. (STJ-AgRg no AREsp
1134833/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 12/12/2017, DJe
01/02/2018).

VINGANÇA
A verificação se a vingança constitui ou não motivo torpe deve ser feita com base nas
peculiaridades de cada caso concreto, de modo que, não se pode estabelecer um juízo a priori,
seja positivo ou negativo. Conforme ressaltou o Pretório Excelso: “a vingança, por si só, não
substantiva o motivo torpe; a sua afirmativa, contudo, não basta para elidir a imputação de
torpeza do motivo do crime, que há de ser aferida à luz do contexto do fato.”(HC 83.309/MS, 1ª
Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 06/02/2004). [...] (STJ-HC 80.107/SP, Rel. Ministro
FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 08/11/2007, DJ 25/02/2008, p. 339)
Homicídio qualificado (7)

2. MEIOS

2.1. Meio Insidioso

É o meio utilizado pelo agente sem que a vítima dele tome conhecimento.

2.2. Cruel

Aquele que causa um sofrimento excessivo à vítima.

Veneno → substância que provoque lesão ou perigo de lesão à saúde ou à vida.

Fogo → enseja perigo comum (risco a um número indeterminado de pessoas).


Homicídio qualificado (8)

Explosivo → nitroglicerina (dinamite).

Asfixia → supressão da respiração.

Tortura → provocar dor, angústia e grave sofrimento à vítima.

2.3. Perigo Comum

→ aquele capaz de afetar número indeterminado de pessoas.


Homicídio qualificado (9)

3. MODOS

3.1. À Traição

→ Ataque repentino, inesperado. “(...) o agente colhe a vítima por traz, desprevenida
(Nucci, 2014).

3.2. De Emboscada

→ Pressupõe o ocultamento do agente. Trata-se de uma espécie de traição em que o


agente se coloca escondido, de tocaia, aguardando a vítima passar para efetuar o
ataque.
Homicídio qualificado (10)

3.3. Mediante Dissimulação

Quando o agente oculta a intenção homicida, fazendo-se passar por amigo, conselheiro, a
fim de facilitar o cometimento do delito.

3.4. Recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido

Dificultar → a vítima tem alguma possibilidade de defesa, ainda que dificultada pela ação
do agente.

Tornar impossível → é eliminar completamente qualquer possibilidade de defesa por


parte da vítima.
Homicídio qualificado (11)

4. FINS

4.1. Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime

→ Significa que o homicídio deverá ter relação com outro crime (Conexão).

• Conexão Teleológica

• O homicídio como meio para cometer outro crime.

• Ex: Homicídio para poder provocar um incêndio ou homicídio da babá para


assegurar o sequestro da criança
Homicídio qualificado (12)

• Conexão Consequencial

• O homicídio é cometido com a finalidade de assegurar a ocultação, impunidade ou


vantagem de outro crime (já cometido).

• Ocultação → pretende-se manter desconhecido o fato criminoso (ex: marido que


mata única testemunha que o viu enterrar o corpo de sua mulher).

• Impunidade → infração conhecida, autoria ignorada (ex: agente que mata única
testemunha que presenciou o homicídio ou o agente do crime de estupro mata a
vítima que o reconheceu).
Homicídio qualificado (13)

• Competência para julgamento do homicídio doloso

• Tribunal do Júri

• Competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida (CF/88, art. 5º, XXXVIII).

• Latrocínio X Homicídio doloso

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