Você está na página 1de 8

DOS EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO

Indignidade: é a perda do direito de suceder, pela prática de danos graves


contra o autor da herança ou a membros de sua família. É a privação do
direito hereditário imposto por lei, a quem praticou atos ofensivos ao autor
da herança e a seus familiares.

O instituto da indignidade tem como fundamento princípio de ordem ética.

Tem natureza de pena civil. Art. 5º, XLV da CF/88. Logo, os efeitos da
exclusão da herança por indignidade são pessoais. Portanto, há direito de
representação.

O rol do art. 1814 do CC que trata da exclusão por indignidade é taxativo.

INDIGNIDADE # DESERDAÇÃO

Possuem pontos comuns e pontos distintivos.


Pontos comuns:
1) Ambas induzem à perda do direito de herdar.

2) Não privam os descendentes do direito de representação, pois,


constituindo penalidades, são de ordem pessoal.

Pontos distintos:
1) A indignidade pode alcançar herdeiros legítimos e testamentários. A
deserdação só alcança herdeiros necessários.
2) A exclusão prevista no art. 1814 do CC, independe de iniciativa do
ofendido. A deserdação parte exclusivamente do ofendido.
3) A indignidade é peculiar da sucessão legítima, embora possa
alcançar o legatário (art. 1814 do CC). A deserdação só se verifica na
sucessão testamentária (art. 1964 do CC).
4) Os motivos da indignidade são válidos para a deserdação. Nem todos
os motivos da deserdação configuram a indignidade. (arts. 1814,
1962 e 1963 do CC)

INDIGNIDADE # CAPACIDADE

- Na indignidade a pessoa recebe os bens e os perde. Na incapacidade a


pessoa nunca recebeu os bens, pois não tinha capacidade.
HIPÓTESES DE INDIGNIDADE

Art. 1814 do CC – enumeração taxativa. Neste sentido é a doutrina e a


jurisprudência.

O art. 1.814 do CC corresponde ao art. 1.595 do CC-2016

Art. 1.595. São excluídos da sucessão (arts. 1.708, IV, e 1.741 a 1.745), os herdeiros, ou
legatários: 

     I - que houverem sido autores ou cúmplices em crime de homicídio voluntário, ou


tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar; 
     II - que a acusaram caluniosamente em juízo, ou incorreram em crime contra a sua
honra; 
   III - que, por violência ou fraude, a inibiram de livremente dispor dos seus bens em
testamento ou codicilo, ou lhe obstaram a execução dos atos de última vontade. 

1ª hipótese: trata-se de homicídio voluntário, consumado ou tentado, art. 14


do CP. Homicídio culposo não afasta o herdeiro da sucessão, art. 18, II do
CP. Ou seja, é necessário que esteja presente o elemento “vontade”.
(CATEB, Salomão de Araújo. Direito das sucessões. 4ª ed. São Paulo:
Atlas, 2007, p. 59).

Fundamentos: provérbio alemão “mão ensanguentada não recolhe” e


máxima francesa “ninguém herda dos que assassina”.

Erro sobre a pessoa não afasta o crime, art. 20, §3º do CP.
Não caracteriza indignidade se o herdeiro agiu em legitima defesa, estado
de necessidade e exercício regular do direito, art. 23 do CP, hipóteses de
exclusão da ilicitude.
Não há necessidade de prévia condenação no juízo criminal.
Art. 935 do CC
Art. 63 a 68 e 92 a 94 do CPP.

CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A VIDA

        Homicídio simples

        Art. 121. Matar alguem:

        Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

        Caso de diminuição de pena


        § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral,
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

        Homicídio qualificado

        § 2° Se o homicídio é cometido:

        I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

        II - por motivo futil;

        III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

        IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou


torne impossivel a defesa do ofendido;

        V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:

Feminicídio      

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:   

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição


Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:     

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime


envolve:     

I - violência doméstica e familiar;     

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.      

        Homicídio culposo

        § 3º Se o homicídio é culposo:


        Pena - detenção, de um a três anos.

        Aumento de pena

        § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se
o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

        § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as


conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal
se torne desnecessária. 
         § 6o  A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.       

§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado:      

I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;      

II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com


deficiência;      

III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.      

        Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio

        Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:

        Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três
anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.

        Parágrafo único - A pena é duplicada:

        Aumento de pena

        I - se o crime é praticado por motivo egoístico;

        II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de


resistência.

        Infanticídio

        Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após:

        Pena - detenção, de dois a seis anos.

Direito penal veda a analogia in mala partem.

2ª hipótese: denunciação caluniosa (art. 339 do CP) ou prática de crime


contra a honra (arts. 138, 139, 140, 144 e 339 do CP)

Denunciação caluniosa – a controvérsia sobre qual juízo cível ou criminal.


Somente juízo criminal: Carvalho Santos e é o entendimento dominante.
Juízo cível ou criminal: Paulo Nader.
Calúnia – se a imputação for verdadeira não haverá crime.

3ª hipótese: atentada contra à liberdade do de cujus. A liberdade é


fundamental para a própria existência do negócio jurídico.
Em tese, pode configurar o crime previsto no art. 146 do CP,
constrangimento ilegal.
Ver arts. 138 e seguintes do CC, violência, coação, dolo, simulação e
fraude.

Ex: atuação de um herdeiro que impede a confecção do testamento.


Constranger o testador a beneficiá-lo em disposição de última vontade.

RECONHECIMENTO DA INDIGNIDADE

A indignidade é declarada por sentença em processo ordinário


(art. 1815 CC) e não nos autos do inventário. O feito deve ser
distribuído por dependência.

Neste processo serão asseguradas às partes as garantias


constitucionais do contraditório, ampla defesa, duplo grau de
jurisdição, juízo competente, dentre outras.

A exclusão herdeiro por indignidade depende de pronunciamento


judicial.

Pode ser promovida por quem tenha interesse jurídico: filhos do


indigno e demais coerdeiros.

Em relação aos credores há divergência doutrinária.


Admite a promoção por credores: Eduardo de Oliveira Leite.
Não admite: Paulo Nader, fundamento: pedido é de natureza
pessoal e a iniciativa de credores excluiria a possibilidade de
perdão por parte dos demais herdeiros.
Ministério Público: quando da tramitação do projeto no Senado
Federal. O ex-Senador Fernando Henrique Cardoso sugeriu que
fosse acrescentado um § 2º ao art. 1815 do CC, dando
legitimidade ao MP para a propositura da ação.

A emenda foi rejeitada sob o fundamento de excessivas


atribuições ao órgão do Ministério Público.

Não pode ser decretada de ofício.

Existia um projeto tramitando no Senado, cujo relator é


Demóstenes Torres que prevê a legitimidade do MP, fonte: (Folha
de São Paulo, 17/03/11).

A sentença é declaratória, pois apenas reconhece a preexistência e


seus efeitos retroagem à data da abertura da sucessão.

Discussão doutrinária: haveria necessidade de tal ação, quando


houver sentença penal condenatória com trânsito em julgado. Tem
que se examinar as regras dos arts. 935 do CC e 63 do CPP.

A indignidade tem natureza privada, não passa da pessoa do


herdeiro indigno, logo se extingue com o óbito do herdeiro
excluído, art. 1816 do CC.

Prazo para a propositura da ação: 4 anos a partir da abertura da


sucessão, art. 1815, parágrafo único do CC. Art. 3º, I e art. 198, I
ambos do Cód. Civil.

REABILITAÇÃO DO INDIGNO

O perdão é inerente à natureza humana. É possível a reabilitação


do indigno pelo de cujus, art. 1.818 do CC. É ato jurídico
unilateral.
A reabilitação do indigno é prevista na legislação italiana,
espanhola e alemã. (CATEB, Salomão de Araújo. Direito das
sucessões. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 60).

O perdão pode ser feito através de escritura pública, documento


particular assinado por duas testemunhas com firma reconhecida
em cartório ou testamento, art. 1.818 CC.

O perdão tem que ser expresso. Não existe perdão presumido.

Uma vez concedido perdão, o mesmo torna-se irretratável.

EFEITOS DA INDIGNIDADE

1) São pessoais os efeitos da indignidade. É o único


caso de morte civil do direito brasileiro, art. 1.816 do
CC.
2) Perda dos frutos e rendimentos, art. 1817, parágrafo
único do CC. A posse é precária e de má-fé. Art.
1216 CC.
3) Perda do usufruto e da administração dos bens que
couberem aos filhos. A morte do descendente
aquinhoado não restabelece o direito sucessório do
ascendente indigno. O objetivo do legislador foi
evitar o aproveitamento indireto, art. 1.689 do CC.
4) Validade da administração dos bens e atos de
alienação. Art. 1.817 CC. Tem que ser observado se o
terceiro é de boa-fé ou terceiro de má-fé. Se houver
má-fé do terceiro o ato é nulo. Entretanto, a boa-fé se
presume até prova em contrário. Terceiro de boa-fé -
são válidas as alienações onerosas.
5) Direito de indenização pelas despesas feitas. Art.
1.817, parágrafo único CC. Evitar enriquecimento
sem causa que é vedado pelo ordenamento jurídico,
arts. 884 e seguintes do CC.
Se casado o herdeiro excluído, o impedimento legal recai
somente sobre ele, não atingindo seu cônjuge, se não ficar
provado que houve cumplicidade. (CATEB, Salomão de
Araújo. Direito das sucessões. 4ª ed. São Paulo: Atlas,
2007, p. 63).

Você também pode gostar