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CAPÍTULO V

CRIMES CONTRA A
HONRA
CONCEITOS INICIAIS
Honra é o conjunto de qualidades físicas, morais e intelectuais de um ser humano, que o fazem
merecedor de respeito perante terceiros (sociedade) e a si próprio (autoestima).

A honra pode ser classificada em duas grandes espécies:


a) Honra objetiva: é a visão que terceiros (sociedade) tem acerca de determinada pessoa. É a
reputação do indivíduo perante a sociedade.
b) Honra subjetiva: é o sentimento que cada pessoa possui de si mesma (autoestima).
b.1) Honra dignidade: qualidades morais
b.2) Honra decoro: qualidades físicas e intelectuais

Calúnia Consumação: quando a imputação chega ao


Objetiva conhecimento de terceiro, sendo irrelevante se a
Difamaçã vítima tomou ou não ciência do fato.

Honra o
Consumação: quando a vítima toma
Subjetiva Injúria conhecimento da ofensa, sendo irrelevante se foi
na presença (injúria imediata) da vítima ou através
de outra pessoa (injúria mediata).
CALÚNIA
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala (verbal) ou divulga
(qualquer outro meio).
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos (as vítimas são o cônjuge e familiares)
Imputar (atribuir dolosamente) FALSAMENTE a alguém a prática de um FATO definido como CRIME.
a) FATO, ou seja, uma conduta (ação/omissão) criminosa.
Não basta dizer, por exemplo, “Fulano é assassino” – não
há um fato aí, há um adjetivo, o que consistiria em injúria,
como será melhor visto à frente. Seria necessário dizer, por
exemplo, que Fulano matou Ciclano naquele dia. Veja, aqui
sim temos um FATO.
b) FALSO – não há calúnia quando se atribui a determinada
pessoa um delito que realmente ela cometeu.
c) CRIMINOSO - é insuficiente a imputação falsa de qualquer
fato, pois este deve ser definido como crime, qualquer que
seja sua espécie (doloso/culposo, reclusão/detenção,
ação/omissão etc). Ainda, caso a imputação falsa seja de
contravenção penal caracteriza difamação.
DIFAMAÇÃO
 Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
 Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Imputar (atribuir dolosamente) a alguém a prática de um FATO ofensivo à sua reputação.
a) O fato ofensivo pode ser verdadeiro ou falso
b) A prática de fato ofensivo que caracterize contravenção penal constitui Difamação
c) Embora não haja previsão legal, quem propala/divulga o fato ofensivo comete novo crime de difamação.

INJÚRIA
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Ofender dolosamente a dignidade ou o decoro da vítima, mediante xingamento ou atribuição de qualidade
negativa. Não há imputação de fato.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente (na presença da vítima) a
injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria (legítima defesa anômala)
Causa de extinção da punibilidade (CP, art. 107, IX) através de sentença declaratória (Súmula 18 do STJ).
INJÚRIA QUALIFICADA
Injúria REAL
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio
empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
 
É a modalidade de injúria em que o agente, para ofender a vítima, não emprega palavra/xingamento, mas
violência (lesão corporal – concurso material – Ação penal pública incondicionada) ou vias de fato
(violência sem lesão – fica absorvida – Ação penal privada) consideradas humilhantes.
Exemplos: jogar fezes; rasgar saia; tapa no rosto; cuspir; molhar cabelo com cerveja etc.

Injúria RACIAL (PRECONCEITUOSA)

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião,
origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa.
É a modalidade de injúria em que o agente, para ofender a vítima, utiliza-se de referências preconceituosas
relacionadas à raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou deficiência.
Exemplos: Seu negro safado; Você é uma velha gagá; Seu perneta inútil etc.
Ação penal pública condicionada à representação
INJÚRIA PRECONCEITUOSA X RACISMO
Os crimes de RACISMO previstos na Lei nº 7.716/89 pressupõem uma divisão dos seres humanos com base
em características, sejam elas referentes à raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Art. 5º, XLII CF/88 - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
O crime de racismo é imprescritível - Importante! O STF (HC n. 154.248) decidiu que o crime de injúria
racial (CP, art. 140, § 3º) equipara-se ao de racismo e por este motivo deve ser considerado
imprescritível.

INJÚRIA RACIAL RACISMO

*
EXCLUSÃO DOS CRIMES DE INJÚRIA E DIFAMAÇÃO Excludentes de ilicitude

Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:


I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
* Trata-se de “imunidade judiciária”, alcançando tanto a ofensa oral quanto escrita;
* Prevalece o entendimento que não abrange o magistrado, pois não é parte. Porém abrange o MP,
advogado e testemunhas
* A ofensa deve ter relação de causalidade com o exercício da defesa em juízo.
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de
injuriar ou difamar;
* Art. 5º, IV CF/88 - IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever do ofício.
* Modalidade especial de “estrito cumprimento de dever legal”. Ex: relatório de inquérito policial
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá
publicidade.

Não se aplica ao delito de calúnia, pois além de não haver previsão legal, o Estado tem interesse em apurar a prática de
crimes *
EXCEÇÃO DA VERDADE
É o instrumento adequado para viabilizar ao agente provar suas imputações e se fundamenta no interesse
público em apurar a efetiva responsabilidade pelos fatos imputados.
Trata-se de incidente processual facultativo (o acusado pelo delito contra a honra não é obrigado a se valer da
exceção da verdade) e prejudicial (impede a análise do mérito do crime contra a honra).

CALÚNIA DIFAMAÇÃO INJÚRIA


(Art. 138, § 3º) (Art. 139, § único) (Art. 140)

Regra: admissibilidade Regra: não admite NÃO admite em hipótese


Exceções: Exceção em que se admite: alguma
I - Fato imputado é de ação I – O ofendido é funcionário
penal privada e o ofendido público e a ofensa é relativa
não foi condenado por ao exercício de suas funções
sentença irrecorrível;
II – Fato imputado contra o
Presidente da República ou
Chefe de governo
estrangeiro;
III – O ofendido pela calúnia Art. 143, CP - RETRATAÇÃO (retirar o que foi dito)
foi absolvido por sentença Calúnia/difamação + antes da sentença (1ª instância, transitada ou não)
irrecorrível.
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA
Aplicável a todos os crimes (Calúnia, Difamação e Injúria) em qualquer modalidade.

Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos
crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra os Presidentes do Senado
Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal; (Lei nº 14.197/21)
* Deve haver nexo de causalidade com o desempenho das funções, não abrangendo a vida
privada da vítima
III - na presença de várias pessoas (mínimo 3 pessoas), ou por meio que facilite a divulgação da
calúnia, da difamação ou da injúria. Capaz de provocar maior prejuízo à honra da vítima
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de
injúria.       
§ 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em
dobro. Crime plurissubjetivo ou de concurso necessário
§ 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede
mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena. 

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