Rio Branco-AC, 2023/1 Capítulo V – DOS CRIMES CONTRA A HONRA Conceito: É o conjunto de qualidades físicas, morais e intelectuais de um ser humano, que o fazem merecedor de respeito no meio social e promovem sua auto estima. Honra bem que todos possuímos, inerente a pessoa humana, honra tanto penal como constitucional tem suas garantias e proteção. Honra bem jurudico, viés a ação penal Proteção constitucional: Cuida-se de direito fundamental do homem, previsto no art. 5º, X, da Constituição Federal. Espécies de honra: (Objetiva e subjetiva) 1. Objetiva: é a visão que a sociedade tem acerca das qualidades físicas, morais e intelectuais de determinada pessoa. É reputação de cada indivíduo no meio social. (Calúnia e Difamação) É o conceito que as pessoas tem em relação a nos. Reputação de cada individuo no meio social, extraído com base a terceiros tem em relação a nos. 2. Subjetiva: É o sentimento que cada pessoa possui acerca das suas próprias qualidades físicas, morais e intelectuais. É o juízo que cada um faz de si mesmo. (EX_Injúria) A honra objetiva e a subjetiva constituem bens jurídicos disponíveis, razão disto o consentimento do ofendido figura como causa de exclusão da ilicitude da conduta. Por ser disponível o bem jurídico protegido, estabelece o Código Penal à ação penal privada para os crimes contra a honra (art. 145 do CP), admitindo-se, de conseguinte, a extinção da punibilidade também pela renúncia ao direito de queixa e pelo perdão do ofendido. Art. 138. Calúnia. Caluniar consiste em atribuir falsamente a alguém a prática de um fato definido como crime. Precisa muito mais que insulto, xingamento, um exemplo, tem que ter um fato com dia, ano, e um fato falso. xingamento é injuria e não calunia. Atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de algum fato criminoso (doloso ou culposo, punido com reclusão ou detenção) que saiba ser falso. Se o fato for verdadeiro não há que se falar em calúnia. Ex: No dia 02 de outubro de 2017, por volta das 15h, Caio, com emprego de arma de fogo, ameaçou a Tício, dele subtraindo o seu relógio. Não basta chamar Caio de ladrão para que o crime se configure, pois tal fato constitui injúria. Para configuração da calúnia é imprescindível a imputação de fato determinado, contendo autor, objeto e suas circunstâncias. É fundamental que o fato se dirija a pessoa certa e determinada. Elementos do Tipo: Objetividade jurídica: Tutela-se a honra. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa (crime comum). Sujeito Passivo: Qualquer pessoa, inclusive os inimputáveis Na calúnia irrrogada contra os mortos, são os sujeitos passivos seus cônjuges, ascendentes, descendentes ou irmãos. Elemento subjetivo: É o dolo de dano, consiste na vontade e consciência de caluniar alguém, atribuindo-lhe falsamente a prática de fato definido como crime, de que o sabe inocente. (direto ou eventual). Da Consumação: Com o conhecimento da imputação falsa por terceira pessoa. Da Tentativa: não é admissível, na forma verbal. Na forma escrita é perfeitamente possível sua configuração. Considerações acerca dos § 1º, § 2º e § 3º: A disposição constante no § 1º, objetiva punir aquele que propalar ou divulga a calúnia, ou seja, aquele que ouviu a calúnia e a espalhou. Propalar significa propagar, espalhar; divulgar é tornar público e notório por qualquer meio. Quanto ao § 2º, é punível a calúnia contra os mortos, o sujeito passivo são os familiares destes. Quanto ao § 3º, este trata da exceção da verdade: Exceção da verdade, é oportunidade assegurada ao querelado (acusado) de provar que o suposto fato ofensivo é verdadeiro. Somente é admitida na calúnia e difamação. Querelante (Quam Acusa) e querelado (Acusado) ... A falsidade da imputação é presumida, sendo, entretanto, uma presunção relativa, uma vez que a lei permite que o querelado (ofensor) se proponha a provar, no mesmo processo, que sua imputação era verdade, tal possibilidade se dará através da exceção da verdade. Hipóteses que não se admite a exceção da verdade: I. Nos crimes de ação privada, a vontade do ofensor não pode se sobrepor à vontade da vítima, ou seja, em ela não tendo interesse em promover a ação não pode terceira pessoa tomar as providencias devidas; Ex: Crime de Injúria. II. Não cabe exceção da verdade quando a ofensa feita contra presidente da República ou chefe de governo estrangeiro; III. Não cabe exceção em já tendo ocorrido à absolvição do ofendido. Art. 139. Difamação. O núcleo do tipo é o verbo imputar a alguém fato ofensivo a sua reputação. Imputar consiste em atribuir o fato ao ofendido. Reputação é o conceito que o ofendido goza no meio social. Conforme anteriormente mencionado é um crime que atenta contra a honra objetiva, é pressupõe assim como no crime de calúnia a prática de um fato ofensivo, que não seja crime, a determinada pessoa. Ex: João vive embriagado. Em regra não se admite a exceção da verdade no crime de difamação, no entanto, em sendo a ofensa proferida em face da reputação de funcionário publico, estando este em exercício de suas funções é possível. Ex: João todos os dias trabalha embriagado. A exceção da verdade nesse caso ao contrário do delito de calúnia, funciona com causa de exclusão de ilicitude, e não como causa de exclusão de tipicidade. Na calúnia, a falsidade da imputação integra o tipo penal; logo provada a sua veracidade, exclui-se o tipo penal. Na difamação, ao contrário, pouco importa que o fato seja verdadeiro ou falso, de modo que, provada a veracidade da imputação, no caso em que tal prova é permitida, ela funcionará como causa excludente de ilicitude. Elementos do tipo: Objetividade jurídica: Tutela-se a honra. Com a punição da difamação, protege-se especificamente a reputação, o conceito que o sujeito passivo desfruta no meio social. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa. Sujeito Passivo: Qualquer pessoa, inclusive os menores e os doentes mentais. Elemento subjetivo: É o dolo (direto ou eventual). Da Consumação: Com o conhecimento da imputação ofensiva por terceira pessoa. Da Tentativa: inadmissível, salvo se for feita por escrito. Art. 140. Injúria. Ao contrário dos delitos de calúnia e difamação, que tutelam a honra objetiva, o bem protegido por essa norma penal é a honra subjetiva, que é constituída pelo sentimento próprio de cada pessoa acerca dos seus atributos morais. A injúria ao contrario da difamação, não se consubstancia na imputação de fato concreto, determinado, mas, sim, na atribuição de qualidades, negativas ou defeitos. Consiste ela em uma opinião pessoal do agente sobre o sujeito passivo. São os insultos ou xingamentos. Ex: ladrão, vagabundo, corcunda, estúpido, corno, grosseiro, caloteiro. Ressalve-se que ainda que a qualidade negativa seja verdadeira, isso não retira o cunho injurioso da manifestação. Não há a imputação de fatos precisos, como ocorre na calúnia e difamação, mas sim a atribuição genérica de qualidades negativas ou de fatos vagos e indeterminados. É inadmissível a exceção da verdade no crime de injúria. Elementos do Tipo: Objetividade jurídica: Tutela-se a honra. Protege-se especificamente a dignidade e o decoro. Dignidade é o sentimento que o próprio indivíduo possui acerca de seu valor social e moral. Decoro a sua respeitabilidade. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa (crime comum). Sujeito Passivo: Qualquer pessoa. Tipo objetivo: Na injuria não há imputação de um fato, mas a opinião que o agente dá a respeito do ofendido. Ela precisa chegar a conhecimento da vítima, ainda que por meio de terceiros. Elemento subjetivo: Dolo (direto ou eventual). Da Consumação: Quando chega ao conhecimento do ofendido. Da Tentativa: É possível, no caso de meio escrito, pois há um iter criminis passível de ser fracionado. Perdão Judicial. Provocação e retorsão (§ 1º): Duas são as hipóteses de perdão judicial. Há nesses casos o crime de injúria, porém o juiz deixa de aplicar a pena. Provocação: Quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria. Há uma provocação imediata retorquida com uma injúria. Retorsão: Há uma provocação consistente em uma injúria que é retorquida com outra injúria. Da Injúria real (§ 2º): Trata-se de modalidade de injúria cujo meio de execução é a violência ou as vias de fato. Ex: empurrões, puxões de cabelo, bofetadas. Da qualificadora (§ 3º): Sobredita qualificadora foi inserida no Código Penal pela Lei n. 14.532/03, que majorou a pena se a injúria for cometida mediante a utilização de elementos referentes a religião ou à condição de pessoa idosa ou com deficiência. Ex: Negar ou obstar emprego em empresa privada; recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador. É crime imprescritível e inafiançável (art. 5º, XLII, da CF) Das disposições comuns dos crimes contra a honra: O art. 141 do Código Penal elenca as causas de aumento de pena aplicáveis aos crimes contra a honra em suas três modalidades – calúnia, difamação e injúria. Preceitua que as penas cominadas a tais delitos aumentam de um terço, se cometidos: a) contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; b) contra funcionário público, em razão de suas funções ou contra os Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal. c) na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. d) contra criança, adolescente, pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. Tal exceção decorre em razão de que o parágrafo 3º, do art. 140, do CP, assim já o considerou. § 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) De acordo com a resolução 305 do CNJ, são considerados redes sociais os sítios da internet, plataformas digitais e aplicativos de computador ou dispositivo eletrônico móvel voltados à interação publica e social, que possibilite a comunicação, a criação ou o compartilhamento de mensagens, arquivos ou de informações de qualquer natureza O art. 142 do CP, estabelece que não constitui injúria ou difamação punível: a) a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou seu procurador; b) a opinião desfavorável da critica literária, artística ou cientifica, salvo quando a intenção inequívoca de injuriar ou difamar. c) o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever de ofício. No caso dos incisos supra responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade. O art. 143 estabelece que o ofensor (querelado) que se retrata antes da sentença cabalmente da calúnia ou da difamação fica isento da pena. Retratar significa retirar o que disse, reconsiderar o que foi afirmado anteriormente. Deve englobar tudo que o que foi dito. É causa extintiva de punibilidade. (art. 107, VI, do Código Penal). Independe de aceitação. O art. 144 prevê a possibilidade de quem se julga ofendido no vir através de uma notificação judicial vir a requerer explicações acerca do real significado do que contra ele foi dito. O art. 145 dispõe que em regra a ação penal é privada. No entanto, comporta quatro exceções: a) É pública condicionada à requisição do Ministério da Justiça quando a ofensa for feita contra a honra do presidente da República ou chefe de governo estrangeiro. b) Se os delitos forem cometidos contra o funcionário público, em razão de suas funções, é publica condicionada a representação. c) É publica condicionada a representação na prevista no art. 140, § 3º, do CP. d) No caso da injúria real ( art. 140, § 2º do CP) a ação penal é pública incondicionada se a vítima sofrer lesão corporal. Da exceção de notoriedade O artigo 523 do CPP não faz menção apenas à exceção da verdade, mas também a notoriedade do fato imputado. Consiste esta na oportunidade facultada ao réu de demonstrar que suas afirmações são do domínio público. A exceção de notoriedade é admitida tanto no crime de calúnia quanto no delito de difamação. Assim, se o fato já é de domínio público, não há como se atentar contra a honra objetiva.