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Quando alguém nos acusa e ofende, seja em público ou particular,

é muito comum termos a seguinte reação: “vou te processar!”. Sim,


faz todo sentido reagirmos dessa maneira, ou porque fomos
tomados pelo instinto justiceiro, ou porque ouvimos alguma vez na
vida que calúnia, difamação e injúria são crimes contra a honra.
O fato, aqui, é que palavras têm poder, e proferi-las de forma
ofensiva e acusatória a alguém pode não só ferir a pessoa, como
também o Código Penal Brasileiro, que é taxativo quanto às
penalidades aplicadas a quem ousar diminuir alguém. Dito isso,
esclareceremos, neste artigo, os três tipos de crimes contra a honra
e tudo que você precisa saber sobre eles, definindo, exemplificando
e ilustrando ponto por ponto. Portanto, você vai ler:
1. O que são crimes contra a honra?
2. Calúnia: definição e exemplos;
3. Difamação: definição e exemplos;
4. Injúria: definição e exemplos;
5. Diferenças entre calúnia, difamação e injúria;
6. Fui vítima de calúnia, difamação ou injúria. Posso
processar?

Calúnia, injúria e difamação são três crimes contra a honra que, embora pareçam a mesma
coisa, têm definições diferentes.
1) O QUE SÃO CRIMES CONTRA A HONRA?
A honra é um direito fundamental do cidadão. Por certo, tamanha
é a relevância desse bem jurídico que o legislador se preocupou em
separar um capítulo no Código Penal somente para protegê-la,
tipificando condutas que asseguram sua integridade.
Mas afinal, o que é honra? A honra, a saber, é um conjunto de
atributos morais, físicos e intelectuais que fazem da pessoa
merecedora de respeito para si e para sua comunidade. Em
princípio, tal honra pode ser classificada em objetiva e subjetiva.
Esta, é a autoestima, o amor-próprio, o conceito que a pessoa tem
de si mesmo, aquilo que ela acredita sobre seus atributos; aquela, é
a reputação, a fama, o conceito que a sociedade tem do indivíduo,
aquilo que terceiros acreditam sobre seus atributos.
Assim sendo, os crimes contra a honra estão elencados no Capítulo
V, do Código Penal. Hoje, trataremos de cada um deles: calúnia,
difamação e injúria.

2) CALÚNIA: DEFINIÇÃO E EXEMPLOS


A calúnia diz respeito à honra objetiva da pessoa, ou seja, aquilo que
terceiros pensam a seu respeito. O crime consiste em imputar
(acusar) um fato sobre alguém, fato esse criminoso – que esteja
previsto no Código Penal, ou em alguma lei esparsa como crime.
Dos três crimes contra a honra, a calúnia é a mais grave, uma vez
que imputa falsamente à pessoa um crime que ela não cometeu.
Vejamos o que diz a Lei:
Calúnia
“Art. 138 – Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato
definido como crime.
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa.“
Só para exemplificar:
Suponhamos que João publique nas redes sociais uma foto de
Mateus, alegando que este entrou na casa de José na madrugada
passada e furtou sua bicicleta. Partindo do pressuposto que João
inventou uma mentira criminosa sobre Mateus, já que o art. 155 do
Código Penal traz como crime subtrair coisa alheia, João
responderá por crime de calúnia. Então, a falsidade da imputação
(acusação) é elementar para que seja caracterizada a calúnia, bem
como tal fato ser criminoso. Importante ficar atento aqui, pois se
João publicar simplesmente que “Mateus é ladrão”, não configura
calúnia, e sim injúria. Sendo assim, a calúnia se manifesta no
momento em que o caluniador ofende publicamente a vítima e a
pena para ele é detenção de seis meses a dois anos e multa.

Calúnia.

Então, podemos concluir que a calúnia tem como requisitos:


• acusação de um fato criminoso;
• ofensa dirigida a determinada pessoa;
• falsidade da acusação.

3) DIFAMAÇÃO: DEFINIÇÃO E EXEMPLOS


A difamação, do mesmo modo que a calúnia, protege a honra
objetiva da pessoa, isto é, aquilo que terceiros pensam a seu
respeito. Semelhantemente, também existe a imputação
(acusação) de um fato, mas dessa vez não criminoso, apenas
desonroso, que mancha a imagem do indivíduo na sociedade, mas
não o incrimina perante o ordenamento jurídico. Ademais,
diferentemente da calúnia, aqui não importa se o fato é verdadeiro
ou falso, e sim se houve a intenção maldosa por parte do difamador.
Difamação
“Art. 139 – Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
reputação:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.”
Por exemplo:
Digamos que João espalhe pela vizinhança que Maria vai todas as
noites para a casa de José enquanto seu marido está trabalhando.
Nesse cenário, o fato em questão é um ato desonroso, e não
criminoso, já que o adultério não é mais crime desde 2005. A ofensa
fere a honra objetiva (reputação) de Maria perante o bairro,
independente dela ser verdadeira ou falsa, e ainda por cima é clara
a intenção maldosa por parte de João. Isso ofende publicamente a
vítima e o difamador pode ficar detento de três meses a um ano e
ainda pagar multa.

Difamação.

Visto isso, podemos concluir que a difamação tem como requisitos:


• acusação de um fato que seja desonroso – e não criminoso;
• ofensa dirigida a determinada pessoa;
• deve haver a intenção de ofender.

4) INJÚRIA: DEFINIÇÃO E EXEMPLOS


A injúria, diferentemente da calúnia e da difamação, tutela a honra
subjetiva do indivíduo, que é aquilo que a própria vítima pensa
sobre si, ou seja, sobre seus atributos morais, físicos e intelectuais.
Esta é a primeira diferença. A segunda, a saber, é que na injúria não
há imputação de fato algum, e, sim, de uma característica negativa
sobre alguém. Se enquadram aqui xingamentos ou palavras
negativas, que insultam e afetam a autoestima da vítima. Sendo
assim, o Direito Penal protege o amor-próprio de cada um também:
Injúria
“Art. 140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o
decoro.
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.”
Visto isso, é bem provável que você esteja se perguntando qual a
diferença entre dignidade e decoro. A dignidade, a saber, é a ofensa
sobre os atributos morais de alguém. Então, chamar uma pessoa
de “ladrão”, “corrupto” ou “mentiroso”, por exemplo, é cometer
injúria, já que são características contrárias ao que ela acredita
possuir e abala a sua autoestima; já o decoro, faz menção aos
atributos físicos e intelectuais de alguém. Então seria, por exemplo,
chamar um indivíduo de “baleia”, “loira burra” ou “feia”. Tudo isso
ofende pessoalmente a vítima e o injuriador pode ficar de um a seis
meses detento e ter que pagar multa.
Injúria.

Assim, podemos concluir que a injúria tem como requisitos:


• imputação de uma característica negativa;
• ofensa dirigida a determinada pessoa;
• deve haver a intenção de ofender.

5) DIFERENÇAS ENTRE CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA


Dá vontade mesmo de trocar a ordem para calúnia, injúria e
difamação, sai bem mais fluido. Mas, é proposital. Calúnia e
difamação ficam lado a lado porque ambas narram um fato de
maneira acusatória e atingem a honra objetiva do indivíduo
(reputação da pessoa perante a sociedade). A diferença é que,
enquanto a calúnia narra um crime, a difamação narra apenas um
ato desonroso. Mas, as duas narram. Por outro lado, a injúria fica
separada pois, ao contrário das demais, atinge a honra subjetiva do
indivíduo (sua dignidade pessoal) e não narra fato algum.
Em outras palavras, atente para os exemplos a seguir:
• CALÚNIA: acusar alguém de algo criminoso, ferindo sua
reputação perante a sociedade.
Ex.: “Vi João no ônibus, parado atrás de uma mulher e ele
estava abusando sexualmente dela.”
Veja, o sujeito está narrando um fato criminoso sobre João, já que
importunação sexual é crime e gera pena de até cinco anos de
prisão.
• DIFAMAÇÃO: acusar alguém de algo desonroso (não
criminoso), ferindo sua reputação perante a sociedade. É a
famosa “fofoca”.
Ex.: “Vi Joaquim no restaurante com uma mulher que não era
sua esposa.”
Perceba. O sujeito, aqui, está também narrando um fato, mas dessa
vez não criminoso, apenas desonroso, já que adultério não é mais
crime desde 2005.
• INJÚRIA: ofender alguém com palavras de baixo calão ferindo
seu respeito pessoal. É o famoso “xingamento”.
Ex.: “Você é agressor”,”você é mentiroso”, “você é estuprador”,
“você é adúltero”.
Repare. O sujeito, dessa vez, não está narrando fato algum, apenas
ofendendo a honra pessoal do outro o reduzindo a uma
característica pejorativa.
6) FUI VÍTIMA DE CALÚNIA, DIFAMAÇÃO OU INJÚRIA. POSSO
PROCESSAR?
A resposta para esta pergunta é: não só pode como deve! Quem se
sentir caluniado, difamado ou injuriado pode pedir ajuda na Justiça.
O primeiro passo a ser dado pela vítima é dirigir-se a uma delegacia
e fazer um registro de ocorrência (queixa-crime). Nessa
circunstância, será aberto um inquérito policial, que se manifesta
como uma investigação dos fatos e provas apresentados pela
vítima e que tem como fim o encaminhamento ou não da denúncia
pelo Ministério Público. Havendo a recepção dessa denúncia pela
Justiça, inicia-se o trâmite processual, em que um oficial de Justiça
notifica a outra parte que está sendo aberto um processo judicial
contra ela .
Em seguida, entra a figura do Advogado Criminalista, especialista
em Direito Penal que representa o réu em todo o processo,
defendendo-o por meio de provas, dispositivos legais e experiência
em casos de crime contra a honra.

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