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1) NOÇÕES PRELIMINARES IMPORTANTES

⇒ Método Trifásico: presente nos arts. 59 e 68, é o método de aplicação de pena no


direito brasileiro
⇒ Princípio da Individualização da Pena (art. 5º, XLVI CRFB)
⇒ Princípio da Secularização: deve o direito ser separado de julgamento pautados na
moralidade individual
⇒ Princípio da Motivação (art. 93, IX CRFB)
⇒ Princípio da Legalidade (art. 5º, XXXIX)
⇒ Princípio da Proporcionalidade
⇒ Princípio da Razoabilidade
⇒ Princípio do Devido Processo Legal (art. 5º, LIV CRFB)
⇒ Princípio do Acesso à Justiça (art. 5º, XXXV CRFB)

2) FIXAÇÃO DA PENA BASE


Art. 59 - o juiz irá fixar a pena base de acordo com 8 circunstâncias judiciais. Essas se dividem
em:
⇒ Circunstâncias judiciais subjetivas (que dizem respeito ao autor do fato)
a) Culpabilidade
b) Motivos
c) Antecedentes
d) Conduta social
e) Personalidade

⇒ Circunstâncias judiciais objetivas (que dizem respeito ao fato do autor)


f) Comportamento da vítima
g) Consequências
h) Circunstâncias em sentido estrito
⇒ Ao calcular a pena base, o juiz irá partir do mínimo legal em direção ao termo médio, pois ele
é o limite MÁXIMO da pena base. O termo médio é calculado pela média aritmética entre o
mínimo e o máximo legal estabelecidos pelo legislador para um tipo penal.
- P. ex.: caso de calúnia no art. 138 ( 6 + 24 = 30 // 30/2 = 15 meses = 1 ano e 3 meses). Ou
seja, no caso de calúnia, o juiz vai valorar as circunstâncias e aplicar o tempo necessário a
partir de 6 meses e irá, no máximo, até 15 meses.

⇒ Ao realizar o cálculo, ISSO VALE PRA QUALQUER FASE, use os valores em MESES.
Os dias seriam as casas decimais que, porventura, vão aparecer. Isso porque na contagem do
tempo no âmbito penal se consideram anos, meses e dias, apenas.

⇒ CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS SUBJETIVAS:

a) CULPABILIDADE:
⇒ Diz respeito ao grau de reprovabilidade pessoal da conduta. Isto é, se o sujeito,
durante o crime, o pratica de tal forma que a conduta se torne ainda mais reprovável, para
além do tipo penal.
- P ex: se o cara quer se vingar, ele já tá errado fazendo o crime e a conduta é mais
reprovável ainda porque ele coloca a satisfação de um desejo pessoal torpe acima
de uma consciência de certo ou errado.
- Se o cara premeditou o crime, é outro ex., porque ele pensa por um período a
respeito do delito, o elabora, o modifica… Em sua visão pessoal a conduta não é
reprovável, o que negativa a culpabilidade dele pela maquinação na realização do
crime.
⇒ IMPORTANTE!!!!!!!!!!!
- NÃO SE CONFUNDE COM CULPABILIDADE NA TEORIA DO DELITO.
Na teoria, avalia-se (a) imputabilidade, (b) exigibilidade de conduta diversa e (c)
potencial conhecimento sobre a ilicitude do fato para ver se o crime é culposo ou
doloso. A culpabilidade para fins de aplicação penal, diz respeito a GRAU DE
REPROVABILIDADE DA CONDUTA.
- Caso você não consiga valorar a culpabilidade, escreva algo como: “não há
elementos que justifiquem uma valoração negativa por maior grau de
reprovabilidade para além daquele previsto pelo legislador no tipo penal.”

b) MOTIVOS:
⇒ Na maior parte dos casos de crimes contra a pessoa ou contra o patrimônio privado, os
motivos estão explícitos na própria tipicidade.
P ex: homicídio praticado por motivo torpe e por motivo fútil.
⇒ Em outros casos, motivos específicos são apresentados como circunstâncias
agravantes ou atenuantes ou causas especiais de aumento ou de diminuição da pena.
P ex: Hipóteses agravantes de crime praticado por motivo fútil ou torpe (art. 61,
II, a); atenuantes do motivo de relevante valor social ou moral (art. 65, III, a)
⇒ IMPORTANTE!!!!!!!!!!!
- Em qualquer um dos casos apresentados, os motivos NÃO poderão ser analisados
na pena-base, em decorrência da proibição da dupla incriminação (ne bis in
idem).
- A prova dos motivos (motivação do crime) normalmente é produzida por meio de
depoimentos ou de documentos. Embora os motivos possam ser expostos por
terceiros, normalmente são apresentados pelo próprio autor da conduta em
decorrência da confissão.
A confissão dos motivos agrava a pena?
- Rodrigo Roig Soares pondera, de forma bastante coerente, que “se a confissão da
prática do crime produz efeito atenuante, não há como a confissão dos
motivos servir como meio agravante", concluindo que “quando os motivos não
servirem para mitigar a pena, também não prestarão a incrementá-la”
- Dessa forma, nos casos em que há a confissão e a exposição de motivos, Salo diz
que “a externalização dos motivos integra o ato de confissão, não podendo (a
confissão) ser cindida para atenuar a pena (art 65, III, d) e, ao mesmo tempo,
servir como circunstância de aumento na pena-base.” Sendo assim, ocorre
uma compensação da atenuante da confissão espontânea com a agravante
resultante dos motivos do crime.
c) ANTECEDENTES:
⇒ ATOS INFRACIONAIS NÃO PODEM SER VALORADOS COMO
ANTECEDENTES OU REINCIDÊNCIA, MAS PODEM SER VALORADOS
NEGATIVAMENTE NA CIRCUNSTÂNCIA “PERSONALIDADE”, DESDE QUE
NÃO SEJA COLOCADO COMO PERSONALIDADE DESAJUSTADA OU
VOLTADA PARA A CRIMINALIDADE.
- O que é ato infracional? É o crime cometido pelo menor de idade.

⇒ Quando há maus antecedentes?


- No art. 64, I tem a regra: a partir DO CUMPRIMENTO INTEGRAL DA
PENA OU DÁ EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, UMA CONTAGEM DE 5
ANOS SE INICIA. SE O SUJEITO PRATICA NOVO CRIME DENTRO
DESSE PERÍODO, HÁ REINCIDÊNCIA. SE É APÓS OS 5 ANOS, HÁ
MAUS ANTECEDENTES.

⇒ Inquéritos policiais e ações penais em curso não podem ser usados para NADA
(súmula 444 STJ).
- Dica: preste atenção nos verbos: “apuram”, “investigam”...

⇒ NÃO HÁ BIS IN IDEM se, havendo pluralidade de condenações anteriores, uma for
enquadrada em maus antecedentes e uma em reincidência. Daria pra usar os dois nos
devidos momentos (base e provisória).
- OBS: a reincidência não pode ser circunstância judicial e agravante na mesma
aplicação (súmula 241 STJ).

d) CONDUTA SOCIAL:
⇒ Diz respeito a forma segundo a qual o indivíduo age em sociedade, seja em um espaço
social, na família, no trabalho ou em suas demais relações.
Só pode ser valorada negativamente por testemunha abonatória ou condenatória (p.
ex: amigos e familiares testemunham dizendo ser um sujeito trabalhador e íntegro X
vizinhos que falam que o cara vivia de outros delitos na região). Por isso, é bom ter
algum relato testemunhal.

e) PERSONALIDADE:
⇒ A jurisprudência entende como dispensável o laudo psicossocial, mas é bom ter.
Pensa: o juiz é psicólogo? Psiquiatra? Psicanalista? Convenhamos, até pode ser o caso, se
ele tiver mais de uma formação, mas isso é exceção da exceção. É prudente seguir um
caminho na ausência do laudo, pois o juiz não tem competência para analisar
seguramente tal circunstância.

⇒ Aqui, como mencionado anteriormente, os ATOS INFRACIONAIS PODEM SER


VALORADOS. A jurisprudência entende dessa forma, então basta indicar que é posição
da jurisprudência, se você for valorar negativamente.

⇒ PERICULOSIDADE JAMAIS PODE SER ALEGADA, pois é instituto próprio da


medida de segurança

⇒ Evitar uso de expressões como “personalidade má/voltada para o crime, criminosa…"

⇒ CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS OBJETIVAS:

f) COMPORTAMENTO DA VÍTIMA
⇒ Olha, via de regra, não importa. Irrelevante para o caso. A menos que haja uma
excludente de ilicitude, como a legítima defesa. Mas se houvesse, não estaríamos nem na
aplicação da pena, porque não haveria nem crime. Então, pode valorar como NEUTRA
SEMPRE, sem medo.

g) CONSEQUÊNCIAS
⇒ Essas são as consequências do crime que se vão além do resultado lesivo previsto no
tipo penal ao bem jurídico, pois o dano ou o perigo de dano são resultados inerentes a conduta
típica, dessa forma, sua análise implicaria em ne bis in idem.
- P ex: Homicídio de um pai de família, deixando seis filhos órfãos e sem o
principal e único provedor.

⇒ O expressivo prejuízo material à vítima pode ser considerado

⇒ Quando o crime é cometido na presença de um filho p ex., cuidado com a


argumentação, para não cair em bis in idem com a agravante. Para valorar como consequência
nesse caso, não foque na presença da criança, mas sim nos traumas que a experiência pode
causar.

h) CIRCUNSTÂNCIAS EM SENTIDO ESTRITO


⇒ Tudo que está “em volta” do crime e não constitui uma elementar do tipo e nem
nenhuma outra circunstância judicial.
- Conceito amplo e facilmente confundível. Pense em um crime noturno p. ex.,
você poderia considerar circunstancial e valorar negativamente. Mas, há tipos
penais que prevêem o crime noturno em sua estrutura, sendo uma elementar.
Logo, essa circunstância geralmente será neutra, por falta de detalhes. Siga esse
caminho, leia o tipo penal com muita atenção e cuidado para não confundir com
outra coisa e cometer bis in idem.

1.2) SOBRE O CÁLCULO DA PENA


⇒ PROCURE EVITAR O CÁLCULO COM CADA CIRCUNSTÂNCIA
VALENDO UM OITAVO, ESSE MÉTODO É TERRIVELMENTE PROBLEMÁTICO.
CONTUDO, MUITA GENTE INFELIZMENTE AINDA USA. ENTÃO O PROFESSOR
NÃO DARÁ ERRADO SE ASSIM FIZEREM.
- “Ah mas tá na jurisprudência… Tem juiz que faz…”. TÁ ERRADO!!!!!!
⇒ O juiz pode livremente apreciar a provar e decidir como será a quantificação, desde
que ele fundamente devidamente cada posição e respeite os devidos princípios que regem
a aplicação da pena, como o da individualização, secularização e proporcionalidade. O
que não pode é ultrapassar o termo médio.

2) DA PENA PROVISÓRIA
⇒ O cálculo da pena provisória é feito sobre a pena-base, usando-a como um ponto de
partida. As agravantes atenuantes jamais podem ser aplicadas com valores superiores a um sexto,
esse é o limite.

⇒ Não há muito mistério no geral, basta olhar os arts 61 e 62 (agravantes) e 65


(atenuantes). Deve-se ter cuidado para não confundir com elementares. Sempre tenha muita
atenção ao crime que está sendo analisado, interprete o artigo com calma.

⇒ DA REINCIDÊNCIA: conforme regra do inc. I do art. 64, a partir DO


CUMPRIMENTO INTEGRAL DA PENA OU DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, uma
contagem de 5 anos se inicia. Se o sujeito pratica novo crime DENTRO DESSE PERÍODO,
HÁ REINCIDÊNCIA. SE É APÓS OS 5 ANOS, HÁ MAUS ANTECEDENTES.
- Pode ser compensada com a confissão, bastando que o réu manifeste autoria
própria no crime, não importando se ele negou que praticou crime (p.ex.: ele fala
que foi ele, mas fala que foi em legítima defesa).
- Não se consideram os crimes militares próprios e políticos (Art. 64, II).
- Além disso, condenação anterior por contravenção penal (só há reincidência se for
contravenção seguida de contravenção ou crime seguido de contravenção
[contravenção = crime de menor potencial ofensivo]) ou por pena de multa não
geram reincidência.
⇒ DO MENOR DE 21 OU MAIOR DE 70: é a mais potente de todas as atenuantes e
mais forte que a própria reincidência. Para ser comprovada, precisa de documento hábil
(súmula 74 STJ).
⇒ Sobre o concurso de agravantes e atenuantes
- Caso haja concurso ENTRE AGRAVANTES: realiza-se a soma aritmética. Ex:

⅙ + ⅙ = ⅓.
- Caso haja concursos ENTRE ATENUANTES: realiza-se a mesma soma
aritmética.
- ATENUANTE X AGRAVANTE: se não houver hierarquia entre as agravantes
e atenuantes (e essas forem da mesma natureza), elas irão se anular. P ex: em um
caso que haja 1 agravante subjetiva e 1 atenuante subjetiva, uma compensará a
outra, não modificando a pena-base.
- Porém, caso haja, há um ordem de preferência: Idade > Reincidência > demais
subjetivas > demais objetivas. O que são as subjetivas? São as agravantes ou
atenuantes que, em caso de concurso, devem prevalecer, sendo aquelas, segundo o
art. 67, que dizem respeito aos motivos do crime, personalidade do agente e da
reincidência.
- Sobre a prevalência de uma sobre a outra, pode fazer o seguinte por exemplo:
- Aplicar a agravante com valor inferior a um sexto, aplicando em um oitavo, um
doze avos… e aplicar a atenuante no máximo de um sexto.

⇒ IMPORTANTE!!!!!!!!!!!
- A súmula 231 do STJ diz que “A INCIDÊNCIA DA CIRCUNSTÂNCIA
ATENUANTE NÃO PODE CONDUZIR À REDUÇÃO DA PENA ABAIXO
DO MÍNIMO LEGAL”. Além disso, a pena provisória também não pode
ficar acima do máximo legal.
- CONTUDO, apesar da súmula dizer isso, pode sim reduzir em benefício do
réu, mas não pode aumentar além do limite, pois seria uma violação do
princípio da legalidade.

⇒ IMPORTANTÍSSIMO!!!!!!!!!!!!!
- Sobre ATENUANTES INOMINADAS: diferentemente das agravantes, que se
encontram em um rol taxativo, o rol das atenuantes é meramente exemplificativo.
Isto é, podem ser aplicadas atenuantes que não estão previstas no art. 65 com base
nos princípios e interpretações em benefício do réu. A partir da análise do caso,
pode o juiz identificar uma atenuante não prevista e aplicá-la.

3) DA PENA DEFINITIVA
⇒ A pena definitiva é calculada sobre o valor encontrado na pena provisória. Nesta fase,
são analisadas as causas especiais de aumento e diminuição da pena (majorantes e
minorantes), presentes na parte geral e especial. Diferente das atenuantes e agravantes,
essas costumam estar previstas nos tipos penais, normalmente determinando a
quantidade de aumento ou diminuição com uma quantidade variável de pena, por
ex, as hipóteses de crime tentado (pena diminuída de ⅓ a ⅔) ou crime continuado (pena
aumentada de ⅙ a ⅔). Porém, existem casos em que a quantidade de aumento ou
diminuição é fixa, por ex, no caso de homicídio, se a conduta for dolosa, a pena é
aumentada em ⅓.
- CASO DE CRIME CULPOSO: diz o PU do art. 14 que, em caso de crime
culposo, a pena deve ser reduzida de um a dois terços. Para determinar a
quantidade a ser reduzida, o critério é o tamanho do risco criado ao bem jurídico.
Constitui-se uma relação inversamente proporcional: quanto maior o risco, menor
a redução e vice-versa.

⇒ A súmula 231 do STJ só se aplica para a pena provisória, podendo as minorantes


deixar a pena abaixo do mínimo legal e as majorantes acima do máximo legal.
- Caso não existam causas de aumento ou diminuição de pena, a pena provisória é
transformada na pena definitiva.

⇒ Na terceira fase, a pena só pode ser minorada ou majorada dentro do intervalo de um


sexto a dois terços.
- Qual o critério para saber quanto eu aumento ou diminuo? Para saber,
deve-se voltar à pena base: se ela ficou fixada próxima ao mínimo legal, sendo
o grau de responsabilidade baixo, pode aplicar aumentos maiores conforme essa
proximidade (se foi fixada no mínimo, a redução é máxima e o aumento mínimo).
Por outro lado, se ela foi fixada próxima ao termo médio, os aumentos serão
maiores e as reduções menores (se foi fixada no máximo, o aumento é máximo e a
redução é mínima).

⇒ CONCURSO DE MAJORANTES E MINORANTES


- ENTRE MAJORANTES: para evitar um aumento sucessivo e,
consequentemente, maior, aplica-se o método da soma aritmética (cúmulo
material). Ex: ⅓ + ⅓ = ⅙. Aplica-se um só aumento a partir do resultado dessa
soma.
- ENTRE MINORANTES: Utiliza-se aqui o método em cascata (soma sucessiva).
Ex: uma pena provisória de 3 anos, em que se tem 2 minorantes (uma de ⅓ e
outra de 2/3 ), apenas a simples soma dessas duas, levaria a pena a zero. Logo,
deve-se primeiro diminuir 1 ⁄ 3 e, após isso, retirar 2 ⁄ 3 do valor que sobrou após
a primeira diminuição.
- ENTRE MAJORANTE E MINORANTE: aplica-se o método da soma
sucessiva (cascata), também sem importar a ordem. A compensação é VEDADA.
Se os valores forem iguais, procede-se com o método sucessivo, não importando a
ordem.

⇒ PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 68


- Nos casos de concurso de causas de aumento ou de diminuição da parte especial,
o juiz pode escolher realizar um só aumento ou somente uma diminuição,
prevalecendo aquela causa que mais aumente ou diminua.
- De acordo com a jurisprudência, quando existirem 2 minorantes, aplicam-se as
duas, servindo o parágrafo único do 68 somente para as majorantes, aplicando
aquela que mais aumenta a pena e reposicionando a outra como agravante na pena
provisória ou como circunstância judicial.

4) CONCURSO DE CRIMES
⇒ Nos casos em que se verificam pluralidade de delitos incidem as regras relativas ao
concurso de crimes, que está presente nos artigos: 69, 70 e 71 do CP.
a) CONCURSO MATERIAL
- Configura-se concurso material quando o autor, mediante mais de um a
ação ou omissão (pluralidade de condutas), pratica dois ou mais crimes
(pluralidade de delitos), idênticos ou não (art. 69, caput, do Código Penal).
Nas hipóteses de ocorrência de crimes idênticos, o concurso material é
classificado como homogêneo; quando ocorrem crimes diversos, há
concurso material heterogêneo.
OBS: A pluralidade de condutas ou de delitos deve ser analisada com
cuidado. Ex: Se o agente furta vários objetos de uma casa, o mesmo
cometeu apenas um crime de furto, pois só há um contexto, uma unidade
temporal, que reúne no mesmo instante ações para um mesmo fim (Reale
Jr.).
- Portanto, um concurso material é a realização de inúmeras condutas em
situações distintas de tempo, local e maneira de agir.
⇒ CÁLCULO DO CONCURSO MATERIAL
- O juiz deve aplicar o cúmulo das penas, isto é, a soma das sanções
individualmente aplicadas a cada crime e, após realizar o procedimento para cada
delito, somam-se as penas aplicadas. A crítica ao cúmulo material se dá
exatamente pelo fato de que a soma pode resultar em uma pena muito extensa e
desproporcional em relação à gravidade dos fatos, fazendo possível a existência
de penas que superam a própria expectativa de vida do condenado.
- Em um caso de concurso material de penas restritivas de direito, essas
serão cumpridas simultaneamente , se compatíveis entre si e sucessivamente as
demais, de acordo com o §2 do Art. 69. Ex: Uma pessoa seja condenada
primeiramente a 2 anos de prisão, sanção substituída por multa e limitação de
final de semana, advindo, posteriormente, nova condenação a 3 anos de privação
de liberdade, substituída por prestação de serviço à comunidade e prestação
pecuniária, ao invés de o julgador proceder ao recálculo, mantém a autonomia das
penas e permite o seu cumprimento simultâneo. Se em ambas as condenações a
privação de liberdade fosse substituída por prestação de serviços comunitários, p.
ex., em face de sua identidade, o cumprimento das penas seria sucessivo

b) CONCURSO FORMAL
- Há concurso formal, quando o autor, mediante uma ação (unidade de
conduta) produz dois ou mais resultados ilícitos (pluralidade de
delitos). Divide-se em dois tipos: próprio e impróprio
- Concurso Formal Próprio: não há dolo na conduta do agente, ou
seja, ele não quer a produção dos resultados ilícitos
conscientemente, mas os produz (ex: motorista bêbado que comete
múltiplos homicídios). Nesse caso, o método de cálculo das penas
é a exasperação, que consiste na aplicação daquela que, dentre as
demais for mais grave (se as penas forem distintas entre si) ou
uma delas aumentada de um sexto a um meio (se forem iguais).
OBSERVAÇÃO: se a exasperação resultar em uma pena mais
prejudicial ao réu do que aquela que seria obtida via soma, opta-se
pela regra da soma, como no concurso material.
- Concurso Formal Impróprio: há dolo, o agente conscientemente
empreende uma conduta almejando a produção dos resultados (ex:
motorista psicopata perverso quer atropelar uma multidão no
comício do Lula). Para calcular a pena, as demais são somadas,
como é feito no concurso material.

c) CRIME CONTINUADO
- O crime continuado ocorre quando um agente, mediante uma pluralidade
de ações, gera uma pluralidade de resultados que, diferentemente do
concurso material, podem ser identificados por circunstâncias similares
entre ambos (tempo, local, modo).
- Método de cálculo: semelhante ao do concurso formal próprio, pois se
aplica uma única pena exasperada. Se as penas dos demais crimes forem
idênticas, se aplica a mais grave. Se distintas, uma qualquer aumenta de
um sexto a dois terços. Se a exasperação for mais prejudicial, aplica-se a
soma, tal qual no concurso material.
- REQUISITOS IMPRESCINDÍVEIS: é necessário uma periodicidade
entre as condutas; as lesões precisam ser de um mesmo bem jurídico;
deve haver um nexo modal, temporal ou espacial entre as condutas;
identidade (semelhança) entre as condutas.

5) REGIMES DE PENA
⇒ É a terceira etapa do Art. 59, a definição do regime inicial de cumprimento da pena
privativa de liberdade (PPL), devendo ser feito junto à pena base. São 3 os regimes iniciais:
aberto, semiaberto e fechado. E existem ainda duas espécies de PPL: detenção e reclusão.
⇒ O tipo penal traz em seu texto se a PPL correspondente é de detenção ou reclusão.
Ex: Desacato
Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa
- Em tese, a pena de reclusão é mais grave (é admitido o início do cumprimento no
regime aberto semiaberto ou fechado) e de detenção mais branda (se inicia no
semi-aberto e aberto).
- Porém, há no final do art. 33 a inserção de uma ressalva quanto à pena de
detenção: “salvo necessidade de transferência para regime fechado.”. Dessa
forma, na prática, ao ser possibilitado excepcionalmente o regime fechado nos
crimes em que há previsão de pena de detenção, a legislação penal tornou sem
qualquer efeito a diferença entre as espécies de PPL.
⇒ O regime inicial obedece uma forma progressiva, dessa forma, a sanção do condenado
irá se adequando às atuais condições do mesmo, podendo ampliar (progressão) ou diminuir
(regressão) os espaços de liberdade.
⇒ Em regra, quando a pena fixada pelo juiz for inferior a 4 anos, o regime inicial de
pena é o aberto; entre 4 e 8 anos, semiaberto; superior a 8 anos, fechado.
OBS: A exceção se dá nos tipos contidos na Lei dos Crimes Hediondos, que, em regra,
deverão sempre se iniciar no regime fechado, independentemente da quantidade de pena
fixada.

⇒ Regime aberto:
- Condenado não reincidente e com pena inferior a 4 anos
- Cumprido em Casa de ALbergado ou outro estabelecimento de segurança mínima
- Art 36 CP, 115 e 117 LEP

⇒ Regime Semiaberto
- Condenado não reincidente e com pena superior a 4 e inferior a 8 anos
- Cumprido em Colônia Agrícola, Industrial ou similar
- Segurança média
- Art. 35 CP (possível o trabalho interno ou externo e cursos profissionalizantes)

⇒ Regime Fechado
- Pena superior a 8 anos
- Penitenciária (art. 86 LEP), estabelecimento de segurança máxima ou média
- Trabalho diurno e isolamento noturno (art. 34 CP)
- Trabalho interno, mas possível ser fora em obras públicas e devendo retornar

⇒ Regime especial para mulheres (art. 37 CP)

6) DA SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE


⇒Requisitos para conversão no art. 44:
- A pena privativa de liberdade deve ser inferior a 4 anos, o crime não pode ser
cometido mediante emprego de violência ou grave ameaça ou ser culposo (inc. I).
- O réu não pode ser reincidente em crime doloso. Isso é a regra, mas o juiz pode
conceder mesmo se ele for reincidente se julgar socialmente recomendável (inc.
II).
- Deve ser analisada a culpabilidade lato sensu (culpabilidade, antecedentes,
conduta social, personalidade, motivos e circunstâncias). Se o conjunto for
desfavorável, o réu não tem direito a substituição (inc. III).

⇒ IMPORTANTE!!!!!!
- Crime ou contravenção cometido com emprego de violência ou grave ameaça
contra mulher em ambiente doméstico impede a substituição (súmula 588 STJ)

⇒ Caso a pena seja menor ou igual a 1 ano, cabe substituição por multa OU pena
restritiva de direitos. Se for superior a um ano e inferior a 4, cabe multa + restritiva OU
duas restritivas.

⇒ Espécies de pena restritiva de direitos


- Prestação pecuniária (é um valor pago ao estado, não à vítima)
- Perda de bens e valores
- Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas (art. 46)
- Interdição temporária de direitos (p. ex.: não poder dirigir por um período[art.
47]))
- Limitação de fim de semana (art. 48)

7) PENA DE MULTA
⇒ Como fixar?
- PRIMEIRO CRITÉRIO: o juiz deve observar a culpabilidade lato sensu
(culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade, motivos e circunstâncias) e
fixar a quantidade de dias-multa entre 10 e 360 dias.
- SEGUNDO CRITÉRIO: para definir o valor do dia multa, deve ser levada em conta a
situação econômica do réu. O valor mínimo consiste em um trinta avos (1/30) do
salário mínimo vigente à época e não pode ser 5x maior que o valor desse salário.
- A inadimplência não gera prisão visto que a prisão por dívidas é proibida no Brasil, o
país é signatário do Pacto de São José da Costa Rica, que traz essa determinação.
- Se a situação econômica do réu for favorável a ponto da multa fixada não lhe surtir
efeitos, o juiz pode triplicar o valor da multa.
- O valor é sempre atualizado conforme os índices de correção monetária.

8) SURSIS (SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA)


⇒ Consiste na suspensão da execução da pena para colocar o condenado em um período de
prova. Isto é, um período em que ele será monitorado e, caso cumpra corretamente todas as
exigências do período, sua pena será extinta.

⇒ O que devo ter em mente quanto a isso?


- É UM INSTITUTO PRATICAMENTE INEFICAZ. Após o desenvolvimento do
método de substituição da pena privativa de liberdade e da própria legislação, o sursis
perdeu funcionalidade, restando apenas duas hipóteses de aplicação, e são hipóteses
complicadas, porque a aplicação do sursis é complicada.
- O art. 77 traz esse instituto
- Ele só é aplicado em casos nos quais a substituição também pode ser aplicada,
pois ambos obedecem ao critério de observância da culpabilidade lato sensu
(substituição no inc. III do art. 44 e inc. II do art. 77). Ou seja, não é uma medida
alternativa caso a substituição não seja possível, já que obedecem ao mesmo
critério. Além disso, o cara que consegue a substituição da pena dificilmente vai
requerer o sursis, pois sua situação já é favorável. Logo, se o critério retorna uma
resposta negativa à análise, nenhum dos dois também pode ser aplicado.
- A título de curiosidade, as únicas possibilidades remanescentes são o sursis etário
(se for maior de 70 anos) e o sursis humanitário (caso de debilidade de saúde).
Mas, ainda assim, obedecem ao critério do inc. III do art. 77.

9) AÇÃO PENAL
⇒ Consiste no direito de obter o pronunciamento do judiciário sobre a procedência da pretensão
punitiva.
⇒ arts. 100 a 106 do CP e 24 a 62 do CPP.

⇒ Das espécies de Ação Penal


a) Ação Penal Pública
- Envolve um crime contra o interesse ou patrimônio público.
- Via de regra, a ação penal será sempre pública incondicionada.
- Empreendida pelo MP pelo oferecimento da DENÚNCIA
- Se divide em dois tipos:
- Pública Incondicionada: não depende da vontade do lesado, o Estado por
si só pode investigar o crime e iniciar a ação.
- Pública Condicionada: depende da vontade (representação) do indivíduo,
de seu representante ou do Ministério da Justiça. Nem o inquérito pode ser
aberto sem a representação, a representação pode ser escrita ou oral. A
retratação (tipo desistência) é possível até o oferecimento da denúncia
(frisa-se: oferecimento, e não recebimento).
- IMPORTANTE!!!!!! A retratação do ofendido pode ser,
excepcionalmente, ignorada nos casos envolvendo a Lei Maria da
Penha, pois a mulher pode estar sob coação do parceiro ou de
terceiros ou pode se encontrar em extrema vulnerabilidade
emocional e física.
- Quando depender de representação, geralmente será indicado no
artigo (ex: arts. 130, 147, 152).
- O direito de representação decai no período de 6 meses
contados a partir da data em que o ofendido tomou
conhecimento do possível autor do crime.
- Princípios que a regem:
- Legalidade/obrigatoriedade (art. 24 CPP): o MP não pode se eximir do
seu dever de agir para investigar um crime visto que afeta o interesse ou o
patrimônio público.
- Indisponibilidade (art. 42 CPP): uma vez oferecida a denúncia, o MP não
pode dispor (“largar”) dela.
- Intranscendência: a denúncia só pode ser oferecida contra o provável
autor do fato.
- Divisibilidade: já havendo uma ação penal contra um réu, sempre será
possível o MP lançar uma ação pelo mesmo fato contra outro réu.
- Oficialidade: o Estado tem o dever de agir e determinar as normas penais
e de sanção penal.
b) Ação Penal Privada
- Caracterizada quando o interesse do ofendido se sobrepõe ao interesse público.
- Feita por meio da QUEIXA CRIME.
- A lei expressamente determina quando será privada (exs: arts. 145, 167, 184).
- O indivíduo com idade entre 18 e 21 anos tem o direito de queixa concorrente ao
seu representante legal (súmula 544 STF).
- O direito de queixa decai após 6 meses contados a partir do dia em que o
ofendido tomou conhecimento de quem seria o possível autor do crime. A
pretensão punitiva permanece, mas não pode ser satisfeita.
- A renúncia cabe apenas na ação privada e só pode ser exercida antes do início da
ação. Pode ser escrita ou tácita. É diferente de perdão e perempção, pois só pode
ocorrer antes do início da ação.
- O perdão pode ser exercido após o início da ação. Expresso ou tácito, obsta a
ação, o perdão dado a um aproveita a todos, se dado por um dos ofendidos não
pode prejudicar os outros, se o querelado (acusado) recusa não tem efeito,
admissível até o trânsito em julgado.
- Além da privada genérica, se divide em outros dois tipos:
- Privada Subsidiária da Pública: ocorre quando o MP não oferece a
denúncia dentro do prazo (após o recebimento do inquérito serão 5 dias
se o acusado estiver preso e 15 dias se solto).
- O ofendido pode entrar com queixa substitutiva dentro do
prazo de 6 meses após o MP perder o seu prazo.
- Privada Personalíssima: se o ofendido morrer, a ação morre também (ex:
antigo crime de adultério).
- Princípios que a regem:
- Conveniência/oportunidade: autor ou representante não são obrigados a
propor a ação penal. Exercerão o direito conforme conveniência e
interesse.
- Intranscendência: a queixa só pode ser oferecida contra o provável autor
do fato.
- Disponibilidade: o ofendido ou representante podem dispor da ação.
10) JURISPRUDÊNCIA DO STJ

a) Circunstâncias judiciais

1) O aumento da pena-base em virtude das circunstâncias judiciais desfavoráveis (art. 59


CP) depende da fundamentação concreta e específica que extrapole os elementos
inerentes ao tipo penal.
2) Não há ilegalidade na análise conjunta de circunstâncias judiciais comuns aos corréus,
desde que seja feita de forma fundamentada e com base nas semelhanças existentes.
3) A culpabilidade normativa, que engloba a consciência da ilicitude e a exigibilidade de
conduta diversa e que constitui elementar do tipo penal, não se confunde com a
circunstância judicial da culpabilidade (art. 59 do CP), que diz respeito à demonstração
do grau de reprovabilidade ou censurabilidade da conduta praticada.
4) A premeditação do crime evidencia maior culpabilidade do agente criminoso autorizando
a majoração da pena-base
5) O prazo de cinco anos do art. 64, I, do Código Penal, afasta os efeitos da reincidência,
mas não impede o reconhecimento de maus antecedentes.
6) Os atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para a elevação da
pena-base, tampouco para a reincidência.
7) Os atos infracionais podem ser valorados negativamente na circunstância judicial
referente à personalidade do agente.
8) Os atos infracionais não podem ser considerados como personalidade desajustada ou
voltada para a criminalidade para fins de exasperação da pena-base
9) A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e,
simultaneamente, como circunstância judicial. (Súmula 241/STJ)
10) O registro decorrente da aceitação de transação penal pelo acusado não serve para o
incremento da pena-base acima do mínimo legal em razão de maus antecedentes,
tampouco para configurar a reincidência.
11) É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a
pena-base. (Súmula 444/STJ)
12) Havendo diversas condenações anteriores com trânsito em julgado, não há bis in idem se
uma for considerada como maus antecedentes e a outra como reincidência.
13) Para valoração da personalidade do agente é dispensável a existência de laudo técnico
confeccionado por especialista nos ramos da psiquiatria ou da psicologia.
14) O expresso prejuízo do causado à vítima justifica o aumento da pena-base, em razão das
consequências do crime
15) O comportamento da vítima em contribuir ou não para a prática do delito não acarreta o
aumento da pena-base, pois a circunstância judicial é neutra e não pode ser utilizada em
prejuízo do réu.

b) Agravantes e atenuantes

1) A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do


mínimo legal. (Súmula 231/STJ)
2) Em observância ao critério trifásico da dosimetria da pena estabelecido no art. 68 do
Código Penal, não é possível a compensação entre institutos de fases distintas
3) O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige
fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação
do número de majorantes. (Súmula 443/STJ)
4) Incide a atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea “d”, na chamada confissão
qualificada, hipótese em que o autor confessa a autoria do crime, embora alegando causa
excludente de ilicitude ou culpabilidade.
5) A condenação transitada em julgado pelo crime de porte de substância entorpecente para
uso próprio gera reincidência e maus antecedentes, sendo fundamento idôneo para
agravar a pena tanto na primeira como na segunda fase da dosimetria.
6) Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento
hábil. (Súmula 74/STJ)
7) Diante do reconhecimento de mais de uma qualificadora, somente uma enseja o tipo
qualificado, enquanto as outras devem ser consideradas circunstâncias agravantes, na
hipótese de previsão legal, ou, de forma residual, como circunstância judicial do art. 59
do CP.
8) A agravante da reincidência pode ser comprovada com a folha de antecedentes criminais,
não sendo obrigatória a apresentação de certidão cartorária.
9) É possível, na segunda fase do cálculo da pena, a compensação da agravante da
reincidência com a atenuante da confissão espontânea.
10) Nos casos em que há múltipla reincidência, é inviável a compensação integral entre a
reincidência e a confissão.

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