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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

Curso de Graduação em Direito

Ketelyn Bertassoni Zabroski

Análise das circunstâncias judiciais contidas no artigo 59 do Código Penal

Ponta Grossa
Dezembro de 2022
Ketelyn Bertassoni Zabroski

Análise das circunstâncias judiciais contidas no artigo 59 do Código Penal

Trabalho apresentado ao Prof. Pablo


Milanese, ministrante da disciplina de Direito
Penal I, ministrada ao 2º ano do curso de
Bacharelado de Direito, para fins avaliativos.

Ponta Grossa
Dezembro de 2022
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho objetiva a citação e explicação de todas as circunstâncias
judiciais contidas no artigo 59 do Código Penal (CP), presentes na primeira fase da aplicação
da pena, considerando a subjetividade de sua aplicação. Ressalta-se que a análise realizada
na elaboração deste trabalho foi realizada por meio de pesquisa qualitativa, utilizando-se de
pesquisa bibliográfica.

2. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
O art. 59 do CP nos traz oito circunstâncias, tais quais deverão ser analisadas
na primeira fase da aplicação da pena, in verbis:

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à


conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de
liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por
outra espécie de pena, se cabível.

A existência ou não de crime é um fator que os magistrados levarão em


consideração ao lidar com o art. 59. Entendendo-os como neutros, contra ou a favor
do réu.
Acerca do tema, Bitencourt (2015, p. 298), preconiza:

As circunstâncias que não constituem nem qualificam o crime são conhecidas na


doutrina como circunstâncias judiciais, circunstâncias legais e causas de aumento e
de diminuição da pena. Os elementos constantes no art. 59 do CP são denominados
circunstâncias judiciais, porque a lei não os define e deixa a cargo do julgador a
função de identificá-los no bojo dos autos e mensurá-los concretamente.

Os conceitos e a análise de cada circunstância são descritos a seguir.


2.1 CULPABILIDADE
A culpabilidade como circunstância judicial é uma norma abrangente, mas não deve
ser confundida com a culpabilidade que é listada como um pré-requisito para a aplicação da
penalidade.
É o que a norma trata por ‘plus’ na reprovabilidade da conduta e diz respeito à
intensidade da intenção ou ao grau de culpabilidade do agente.
Logo, "Culpabilidade: Refere-se ao 'grau de culpabilidade' e não à culpabilidade.
Assim, todos os culpáveis serão punidos, mas aqueles que tiverem um grau maior de
culpabilidade receberão, por justiça, uma sanção mais severa." (CAPEZ; PRADO, 214, p.
141).

2.2 ANTECEDENTES
Os antecedentes dizem respeito à vida pregressa do agente, ou seja, aos fatos que
antecedem a prática do crime.
Casos que não se enquadrem como reincidência poderão ser considerados como
antecedentes, de acordo com os artigos 62 e 64 do CP.

De acordo com Rogério GRECO (2010, p.537)

Os antecedentes dizem respeito ao histórico criminal do agente que não se preste para efeitos
de reincidência. Entendemos que, em virtude do princípio constitucional da presunção de
inocência, somente as condenações anteriores com trânsito em julgado, que não sirvam para
forjar a reincidência, é que poderão ser consideradas em prejuízo do sentenciado, fazendo com
que a sua pena-base comece a caminhar nos limites estabelecidos pela lei penal.

2.3 CONDUTA SOCIAL


A conduta social, diz respeito ao comportamento do agente dentro de um corpo social,
seja no âmbito familiar, de trabalho ou em outras atividades de convivência.
Capez (2013, p. 490) nos traz a sua visão sobre o que difere os antecedentes e a
conduta social, "Enquanto os antecedentes se restringem aos envolvimentos criminais do
agente, a conduta social tem um alcance mais amplo, referindo-se às suas atividades relativas
ao trabalho, seu relacionamento familiar e social e qualquer outra forma de comportamento
dentro da sociedade." Isso significa que a ação social é de natureza comportamental,
enquanto a antecedente e a reincidência dizem respeito à prática de um crime e à intervenção
merecida do Estado.
2.4 PERSONALIDADE
O que é personalidade segundo BITENCOURT (2015, P. 299),

deve ser entendida como síntese das qualidades morais e sociais do indivíduo. Na análise da
personalidade deve-se verificar a sua boa ou má índole, sua maior ou menor sensibilidade
ético-social, a presença ou não de eventuais desvios de caráter de forma a identificar se o
crime constitui um episódio acidental na vida do réu."

São as características morais e psicológicas do indivíduo, seus princípios e suas


vontades.
Salienta ainda SCHMITT (2013, p. 130) "Refere-se ao seu caráter como pessoa
humana. Serve para demonstrar a índole do agente, seu temperamento. São os casos de
sensibilidade, controle emocional, predisposição agressiva, discussões antecipadas, atitudes
precipitadas, dentre outras."

2.5 MOTIVOS
Os motivos são as razões que levaram o agente a cometer o crime. Podem tornar o ato
mais ou menos condenável, mas se forem peculiares ao tipo penal pelo qual o indivíduo foi
condenado, não visam aumentar a repreensão. Ou seja, "Correspondem ao ‘porquê’ da prática
da infração penal. Entende-se que esta circunstância judicial só deve ser analisada quando os
motivos não integrem a própria tipificação da conduta, ou não caracterizem circunstância
qualificadora ou agravante, sob pena de bis in idem.” CUNHA (2014, p. 383).
Todavia, existe a possibilidade de um crime ter mais de um motivo. Isto posto, um dos
motivos pode qualificar o crime e os demais servem para aumentá-lo.

2.6 CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME


Diz respeito ao procedimento utilizado pelo agente, a duração e o local do delito, ou
seja, se refere ao modus operandi. Para SCHMITT (2013, p. 136),

Trata-se do modus operandi empregado na prática do delito. São elementos que não compõem
o crime, mas que influenciam em sua gravidade, tais como o estado de ânimo do agente, o
local da ação delituosa, o tempo de sua duração, as condições e o modo de agir, o objeto
utilizado, a atitude assumida pelo autor no decorrer da realização do fato, o relacionamento
existente entre autor e vítima, dentre outros.
Não podemos nos esquecer, também aqui, de evitar o bis in idem pela valoração das
circunstâncias que integram o tipo ou qualificam o crime, ou, ainda, que caracterizam
agravantes ou causas de aumento de pena.

As circunstâncias do crime não podem ser classificadas em um tipo específico,


podendo ter apenas caráter subjetivo ou objetivo.

2.7 CONSEQUÊNCIAS DO CRIME

Nas lições de LIMA (2012, p. 132), “a consequência é o resultado do crime em


relação à vítima, sua família ou sociedade. Assim, as consequências do crime, quando
próprias do tipo, não servem para justificar a exasperação da reprimenda na primeira etapa da
dosimetria. As consequências devem ser anormais à espécie para valoração desta
circunstância judicial, ou seja, que extrapolem o resultado típico esperado. Os resultados
próprios do tipo não podem ser valorados."

Eles podem ser de natureza material quando causam perda de propriedade, ou de


natureza moral quando causam, por exemplo, sofrimento intenso. Não podendo também
existir dupla penalidade pela mesma situação, incorrendo na pena de bis in idem. O
magistrado deverá também se basear em fatos sólidos e irrefutáveis.

2.8 COMPORTAMENTO DA VÍTIMA

Ao determinar a punição, deverá levar-se em consideração o comportamento da


vítima, o que pode retardar a punição do infrator. Ocorre a análise em relação ao ofendido, se
ele de alguma forma participou na prática do crime e/ou colaborou na prática do crime.

O comportamento da vítima é um dos fatores mais importantes hoje, tratado dentro de


uma vertente da criminologia, possuindo estudo próprio conhecido como vitimologia.

Destaca LIMA (2012, p. 33) que “A circunstância judicial do comportamento da


vítima apresenta relevância nos casos de incitar, facilitar ou induzir o réu a cometer o crime.
Caso contrário, se a vítima em nada contribuiu, a circunstância judicial não pode ser valorada
negativamente. Assim, o comportamento da vítima, circunstância taxada como neutra, só tem
relevância jurídica para minorar a pena do réu (se a vítima contribui para o crime, trata-se de
causa de redução da pena-base; se a vítima nada contribui para o crime, trata-se de
circunstância neutra).”
Contudo, o comportamento da vítima deverá ser analisado durante a infracção penal
ou antes, para avaliar essa circunstância.

3. CONCLUSÃO

A ausência de punição para um crime é tão grave quanto uma punição


desproporcional, e por isso o juiz deve estar ciente de sua responsabilidade e tentar impor
uma sanção de forma adequada e proporcional ao crime cometido. A definição de uma
punição específica não exime o juiz da obrigação de motivar sua escolha.

Neste ponto, o que se pode constatar quando analisamos as circunstâncias presentes


no artigo 59 do Código Penal, o juiz, mesmo sabendo que seu arbítrio é permitido , encontra
entendimentos diversos e contraditórios da matéria nos casos analisados. Sendo assim,
assume-se que não se pode esperar que um juiz seja "neutro", mas sim imparcial.

Conclui-se através da análise de tais circunstâncias judiciais, que elas são


indispensáveis para decisão e análise dos fatores penais.

4. REFERÊNCIAS

BITENCOURT, Cezar Roberto. Código Penal Comentado. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

CAPEZ, Fernando; PRADO, Stela. Código Penal Comentado. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2014.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral. 12. ed. Rio de Janeiro: Impetus,
2010.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
v. 1.

SCHMITT, Ricardo Augusto. Sentença Penal Condenatória – Teoria e Prática. 8. ed.


Salvador: Juspodivm, 2013.
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal – Parte Geral. 2. ed. Salvador:
Juspodvim, 2014.

LIMA, Rogério Montai de. Guia Prático da Sentença Penal Condenatória e Roteiro para
o Procedimento no Tribunal do Júri. São Paulo: Método, 2012.

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