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Aula 25/9/2020
Professora Sandra Silva
Horário de atendimento: 14-16h quinta feira, enviar email ou avisar de que
vamos comparecer, gabinete 225 2º piso.
Disciplina nuclear, temos duas componentes: estática processual, teoria da lei
processual penal, fontes de direito processual penal, interpretação, integração e
aplicação da lei no tempo, modelos processuais, que diferenças fundamentais entre
modelo que temos na europa continental que é modelo acusatório, diferente dos eua,
que é modelo puro.
Vamos perceber que princípios orientadores do processo penal português,
sujeitos processuais, tribunal, mp, partes civis e objeto do processo.
Falamos da dinâmica processual: tramitação do processo, na forma comum e
especial que são três. Temos ainda as medidas de coação.
Vai disponibilizar no Sigarra os documentos para consultar durante a aula.
Avaliação: será por exame final.
Na pratica trazer legislação: código do processo penal e código penal. lei 39/2020
alterou o código. Bibliografia: figueiredo dias: direito processual penal. Dra Maria João
Antunes: direito processual penal.
O direito penal trata-se do conjunto das normas jurídicas que ligam a certos
comportamentos humanos. Formalmente considerado, o direito processual penal surge
como o conjunto das normas jurídicas que orientam e disciplinam o processo penal. a
função essencial cumpre-se na decisão sobre se na realidade se realizou em concreto
um tipo legal de crime e em caso afirmativo na decisão sobre a consequência jurídica
que dali deriva.
O direito processual penal partilha com direito penal substantivo a tarefa de
tutela de bens jurídico constitucional. Há relação de instrumentalidade entre dois
ramos, o direito penal e direito processual penal ou adjetivo, faz parte de paralelo de
direito penal em sentido amplo.
O dp substantivo define que comportamentos humanos, lesivos ou perigosos
que constituem crime e que consequências devem caber em caso de violação de normas
de conduta ou normas de determinação.
O dp adjetivo cumpre função de tutela de bens, ainda que sanção não seja
aplicada, porque apenas a mera existência de norma de determinação apenas tem
função de persuasão, evitar a pratica do crime. Mas se as normas forem violadas, a
efetivação da sanção supõe o direito processual penal porque nestas matérias e por
força da constituição não há pena sem juízo, não há pena sem processo – nulla poena
sine judicio. Traduz-se assim a instrumentalidade do direito penal adjetivo
relativamente ao substantivo. A este ramo de direito cabe a regulamentação jurídica do
modo como se investiga a prática de um crime e se determina o seu agente, em ordem
á aplicação de uma sanação penal ou á resolução do conflito jurídico-penal de uma
forma desviada da tramitação comum;
Na constituição está pressuposto sentença ou condenação, o processo é o
instrumento através do qual se realiza o direito penal substantivo, quando as normas de
determinação são violadas e quando seja necessário uma aplicação da sanção.
Exemplo.: Art 27 nº2: aplicação de medidas de coação. Presunção de inocência,
32 nº2. temos condenação com transito em julgado e de processo para aplicação de
sanção, art 29 nº1: a ninguém pode ser aplicado pena, tem que haver processo para
aplicação da pena
Também o dpp influencia o dp, embora pudéssemos pressupor que o dpp por
ser instrumental estivesse secundarizado, mas acaba por o influenciar, como as ideias
de subsidiariedade e fragmentaridade.
Estas ideias são determinadas por razoes processuais: Se todas as infrações e
desvios a normas fossem tidos como crimes e fossem julgados, os tribunais ficavam
assoberbados. Os fenómenos de descriminalização visam redução destas situações, não
se pode perseguir e punir todos os desvios como crime, sob pena de instituições
judiciárias não funcionarem. Os movimentos de descriminalização acontecem por
razoes pragmáticas. O direito contraordenacional é recente, surge em 1982 em
Portugal. Estas infrações eram infrações criminais menores e isso colocava pressão no
sistema de justiça. Essas infrações menores deixaram de ser crimes e passaram a ser
ilícitas, mas ilícitos de natureza contraordenacional que são decididos pelo direito
administrativo. As infrações rodoviárias, se não fossem contraordenação, colocariam
pressão imensa sobre o sistema judicial. São pressões do processo.
A distinção do que é crime e do que não é tem subjacente considerações ou
diferenças de graus. As infrações podem ter dignidade penal, mas por razoes de ordem
pratica e por menor necessidade de pena não são incluídas no direito penal.
Em alguns dos casos, a queixa pode ser condição de punibilidade. Não é apenas
processo que depende da existência de questão, mas a própria dignidade penal do caso
que depende da queixa.
Exemplo. :há algumas condutas que podemos dizer que são piropos que estão
incluídos na criminalização no art 170 do cp, crimes de importunação sexual. Ora este
crime é semipúblico, depende da queixa, a queixa aqui é uma condição da existência do
processo, mas há quem entenda que é condição da dignidade penal do facto. Porque
uma atitude perante esta conduta, há aquelas que ignoram, há pessoas que acham graça
e há pessoas que sentem a sua liberdade sexual atingida, a queixa, a manifestação de
vontade daquele que é ofendido é condição da dignidade penal da conduta.
A queixa funciona como vontade da atitude perante a situação, condição da
própria dignidade penal. conduta tem ou não dignidade penal, depende da conduta da
pessoa que é ofendida pela pratica do crime. a queixa é condição de procedibilidade e
ainda como condição de punibilidade, da dignidade penal da conduta.
Estes institutos são importantes porque têm relevância grande em matéria de
sucessão de leis no tempo, saber que matéria de dp substantivo e dpp importa ver se se
pode aplicar ou não retroativamente uma lei nova. Para além de outras situações como
a de integração de lacunas (art 2 do cp e 5 do cpp e art 1 do cp e 4 do cpp).
O dpp e dp forma parte do direito penal amplo. E direito penal amplo juntamente
com criminologia e politica criminal, Von liszt designa como ciência total do direito
penal.
Que relações se estabelecem entre a criminologia e processo penal que justifica a
inclusão?
A criminologia estuda fenómenos que tem repercussões, como o processo de
seleção da delinquência e a discrepância entre os crimes cometidos e os denunciados.
Há uma espécie de efeito funil no tratamento da criminalidade. São mais os crimes
cometidos do que são conhecidos e são mais os crimes que são conhecidos do que
aqueles que são punidos, temos efeito funil. O efeito funil é natural e por vezes é
desejável, mas em outros casos significa que há fenómeno criminal em que efeito funil
é mais acentuado no âmbito da corrupção ou ainda no crime de aborto.
A partir do momento em que há descriminalização de algumas condutas, antes
desta modificação, o aborto era uma das criminalizações mais acentuadas. A
criminologia estuda o efeito funil e permite-se perceber como se operam.
Outro conceito que criminologia estudou foi o conceito ou ideia da teoria da
labelling approah, teoria da etiquetagem. Percebeu-se que intervenção de instancias
formais de controlo são ineficazes ao crime, como pode gerar uma nova espécie de
delinquência secundária que decorre do estigma que ocorre no processo penal que
impõe sobre delinquente primário que comete infrações de menor gravidade, mas é
imposto um estigma que pode conduzir a pessoa que não cometeria crime e passa a
cometer crimes. Esta teoria tem relevância para crimes de pouca gravidade.
Ajuda ao processo penal a desenvolver mecanismos que evitem os fenómenos
de delinquência secundário, mecanismos que evitem que processo penal e instancias
formais de controlo funcionem como instancias de produção do crime. o momento mais
estigmatizante era o da audiência de julgamento. Tentou-se arranjar soluções para que
acabasse antes desta fase, mas sem deixar de existir tutela para proteção de bens
jurídicos. A criminologia reflete sobre instâncias formais de controlo que participam no
decurso do processo penal – o tribunal, ministério publico e as policias, denunciando
que o criminoso é muitas vezes não propriamente aquele que comete crimes, mas antes
aquele a que o estigma é aplicado com sucesso.
A vitimização secundaria, também a criminologia estuda. Percebeu-se que a
vitima sofre um mal maior do que foi o próprio crime. é preciso construir mecanismos
que minimizem a vitimização secundária sobretudo nos crimes sexuais e da esfera
intima. Temos mecanismos como tomada de declarações para memória futura, 271, é
reflexo de construções teóricas da criminologia. Ouve-se a testemunha, regista-se e
depois reproduzem em audiência de julgamento para não ter que repetir o seu
testemunho ao longo do processo.
Aula 2/10/2020
ESTÁTICA PROCESSUAL
Vamos ver e considerar alguns problemas da teoria geral do direito penal, das
fontes, da interpretação e integração e aplicação da lei no tempo.
Em relação às fontes, e com o positivismo legalista a principal fonte de direito é
a lei, o código de processo penal. o atual é de 1987 que entrou em vigor em 1988 e antes
dele vigorava o código de 1929 que tinha pendor mais autoritário e com revolução de
74 e entrada em vigor da constituição e das alterações no código penal, este código era
incompatível com o novo modelo político e nova conceção de direito penal. foi
necessário novo código, este de 87 já sofreu grandes alterações, as mais importantes
em 98 com alterações dos recursos e introduziu-se forma de processo especial que não
existia na versão originaria que é processo abreviado. Essas foram as principais
alterações. depois desta alteração de 98, a grande alteração foi em 2007, como
resultado de ondas de choque provocadas pelo processo de casa pia, com alterações
profundas no código penal que tocaram no processo penal, como impedimentos de
juízes, medidas de coação, âmbito da prisão preventiva.
Em 2010, houve contrarreforma, em resultado de criticas que se fizeram sentir
sobretudo da parte do mp e dos responsáveis pela investigação nas policias que
evidenciaram ter havido um excesso de garantismo na reforma de 2007, então aqui
estas são sintomáticas desta espécie de movimento endolar que há no dpp, reforma que
garantístico e depois correção desses excessos com modificações de pendor securitário.
Alterações no regime de detenção fora de deflagrante delito, que tinha sido muito
restringido e tornou-se admissível nos casos em que arguido notificado não tinha
comparecido voluntariamente. O caso que foi mote para esta restrição de detenção em
flagrante que foi de pinto de costa que apareceu voluntariamente, mas foi detido nas
instalações do tribunal. Houve excesso de zelo na detenção com aparto publico e este
foi o mote para a restrição da detenção fota deflagrante delito, mas podia ser necessário
para casos de violência domestica e alargou-se de novo, a prisão preventiva também
sofreu alterações, que tinha sido restringido apenas a pena de prisão superior a 5 anos
e depois aconteciam coisas que causavam estapafúrdias, alguém detido por furto
qualificado, aplicação de medias de coação e depois sair do tribunal num carro furtado
naquela hora. Casos mediáticos que soa impulsos para alterações.
Em 2013, foi de novo introduzido alterações ao cpp, como a possibilidade de
valoração das declarações anteriormente prestadas pelo arguido perante juiz com
assistência de advogado, quando nadueinci de julgamento se remetesse ao silencio. Esta
possibilidade de valoração não existia, quando arguido confessava na fase de inquérito
ou na fase de instrução, mesmo perante um juiz, as declarações que prestava que são
confessórias não podiam ser valorados quando no julgamento se remetesse ao silencio.
Se dissesse coisa diferente, considerava-se o que disse para descredibilizar o que disse
na audiência de julgamento, mas se aqui nada dissesse, o que disse antes não se podia
considerar, sendo que causava então limitações à tarefa de perseguição penal e em
2013 introduzirma.se alterações para permitir a valoração. Foi alargado âmbito ao
processo sumário que foi logo repudiado pelo tc, a norma foi julgava inconstitucionais e
declarada inconstitucionais e 2015 legislador revogou as alterações dos dois anos
anteriores. Em 2013, o legislador alargou processo sumario que é de tramitação célere
e que supõe detenção em deflagrante delito e o processo pode correr mais célere,
porque há evidencia que dispensa uma investigação na fase de inquérito para recolher
indícios para sujeitar o sujeito a julgamento. O inquérito serve para evidenciar alguém
para sujeitar a julgamento.
Nos casos de deflagrante delito, essa suspeita decorre da própria situação que
justifica a deteção, quando acabou de cometer crime, estando ai a evidencia que é
suficiência para fundar a suspeitar para sujeitar a julgamento por isso decore mais
rápido. Ate 2013, so se podia julgar os crimes punidos ate 5 anos, porque havia
encurtamento de garantias. Em 2013, o legislador estendeu a todos os crimes, como
crimes de homicídio qualificado que podiam ser também através de processo sumario e
isto pode ser chocante, porque são julgados por tribunais comuns.
Além do cpp, no plano interno temos importantes fontes como a constituição e
em virtude das ligações entre o dc e o dpp, da ideia que dpp é dc aplicado, precisamente
refletindo esta tese, existem normas da constituição que são importantes fontes de dpp,
como art 1 como principio da dignidade humana, art 13 com principio da igualdade, o
art 18 que diz que requisitos que depende a restrição das garantias fundamentais e há
dpp elementos que soa restrição a garantias como escutas telefónicas, são matéria que
convoca o art 18, art 20 que consagra a tutela jurisdicional efetiva, art 27 e 28 sobre
prisão preventiva, 31 sobre habeas corpus, 206 com audiência pública. Há varias normas
da crp que tem relevo para o pp, mas o mais importante é o art 32.
Nº1: esta autonomização de recurso foi introduzido em 97. Não constava até ai,
muito embora já se entendesse que o recurso era garantia fundamental, não estava era
autonomizado no texto do art 32.
Este principio da plenitude de garantias de defesa é principio de natureza
programática, é clausula geral englobadora de todos os direitos de defesa do arguido,
mesmo os que não estejam precipitados em nenhuma norma, é principio jurisgénico,
permite fundar a partir dele outros direitos concretos que sejam precipitada da ideia de
plenitude de garantias de defesa, mas é norma programática. Este principio à de
salvaguardar-se a outras garantias como realização da justiça e descoberta da verdade
e tutela da esfera de direito de outras pessoas que intervém no processos como vitimas
ou testemunhas que podem conflituar com tutela de garantias do arguido com essas ou
tutela punitiva do estado é preciso haver concordância pratica como figueiredo dias,
Nº2: presunção de inocência que vale como regra de tratamento a dispensar ao
arguido que deve ser de tal ordem que se mostre compatível com a ideia de que
determinada restrições de direito são aplicados a inocente e vale como regra de juízo
ou decisório. Este numero 2 liga a presunção de inocência a celeridade do processo,
deve ser julgado no mais curto prazo compatível com garantias de defesa a presunção
de defesa apara não ser ilusória pressupõe celeridade, não pode dizer que ainda pode
ser assegurado presunção de inocência alguém sob quem pende o estigma de ser
arguido num processo penal, por isso processos que se arrastam nos tribunais são
processos que suscitam interrogações na tutela de presunção de Inocência.
Nº3: defesa técnica, o arguido pode escolher quem pode assistir. A crp assegura
o direito de ter defensor, mas dá direito a escolher defensor. Isto é importante, porque
logo após a queda das torres gemas, foi aprovados nos eua o United states patriotic act,
aprovado em 2001 e nestas hipóteses de terrorismo, atribui-se aos arguidos um
defensor escolhidos pelos órgãos. Mas a constituição impede, a constituição garante a
escolha, porque há relação de confiança entre arguido e defensor para assegura eficácia
da defesa.
A constituição também diz que em certos casos, a lei pode impor atos e, que
assistência por defensor é obrigatória, há dissonância entre crp e outros instrumento de
direitos fundamentais, como no âmbito do internacional dos direitos políticos atribui-se
o direito ao cidadão de defender-se a si mesmo ou defender-se por advogado, mas a
nossa constituição não assegura direito de autodefesa e ate enuncia situações em que
arguido tem que estar assistido, não pode estar sozinho. Portugal foi condenado pelas
nações unidas por causa disto, pela necessidade de ter sempre advogado.
Nº4: a leitura deste numero suscita dificuldades que aprecia resolvidas em 87,
mas foram reabilitadas em algumas conferencias, nomeadamente em 2018, promovido
pela ordem dos advogados, em que Garcia pereira ressuscitou questão que parecia estar
resolvidos. O nº4 diz que toda a instrução é competência de juiz. Em 1976, desde a sua
origem, aquilo que hoje se designa por inquérito tomava o nome de instrução. Em 1976
vigorava o código de 29 que chamava a fase de investigação e instrução, havia duas
instruções, uma instrução de preparação de recolha de prova, que era quase secreta e
depois instrução contraditória em que arguido tinha faculdade de conhecer elementos
de processo e exercer o contraditório possível.
Em 1976, o legislador constituinte quis que fosse da competência do juiz, quis
que fase de investigação, de instrução fosse do juiz e não do mp, isto porque o mp é
magistratura hierarquizada, mas era dependente do poder executivo, do governo, mas
hoje há estatuto de maior autonomia que não existia até 1976. O legislador constituinte
temendo a interferência do poder politico na atividade da intervenção penal, quis que
a instrução, a fase de investigação fosse entregue a juiz. Em 1987 o legislador foi pura
manobra conceptual porque chamou a instrução inquérito e instrução passou a ser fase
subsequente ao inquérito que é facultativo e fase que é de fiscalização da atividade do
mp no inquérito. O legislador chamou à instrução inquérito e assegurou compatibilidade
formal coma constituição, porque toda a instrução é da competência do juiz. Esta
compatibilidade formal suscita dúvida sobre inconstitucionalidade material da norma,
na aparência havia compatibilidade do código penal e crp, mas na verdade aquilo que
legislador constituinte quis que investigação fosse entregue a um juiz não estava
assegurada no cpp. A questão foi levada ao tc ainda antes do cpp ter entrado em vigor,
num processo de fiscalização preventiva, mas este entendeu que não havia
inconstitucionalidade. Este acordo do t tc foi objeto de notação de Figueiredo dias e que
explica razoes porque não se deve entender que deve haver inconstitucionalidade, o
que importa é assegurar núcleo essencial da garantia traduz-se em atribuir ao juiz todos
os atos que são materialmente jurisdicionais que contendam com restrição de df e isso
esta assegurado no cpp. O inquérito é dirigido pelo mp, mas atos que contendam com
df são da competência do juiz.
Que atos durante o inquérito que vos parece que contendem com df e que deveriam
ser da competência de um juiz?
Como medidas de coação, como prisão preventiva, a caução, permanência de
habitação. A prisão preventiva restringe o df do direito de liberdade de circulação, que
são da competência do juiz. Algumas medidas de investigação são do juiz, autorizar
escutas telefónicas, buscas domiciliárias compete ao juiz. O art 268 e 69 temos elenco
de atos processuais que soa da competência do juiz que tem que autorizar e outros caso
que tem que praticar, como fazer buscas nos dossiers de advogador, tem que estar
presente.
Figueiredo dias diz que o que importa porque nenhum df é absoluto, mas temos
que respeitar núcleo essencial de garantia são conjunto de atos que por restringir deve
ser entregue a um juiz e essa competência judicial para atos que restrinjam direitos esta
assegurado no cpp. O núcleo essencial esta assegurado e depois é preciso
compatibilidade art 32 nº4 com outras normas como o 219 que diz que o mp é titular d
ação penal. ser titular da ação penal é ter competência para acusar e instruir processo
que deduz acusação feita pelo mp. 219 que diz que o mp tem titularidade da ação penal,
para acusar e instruir processo que deduz essa acusação e o 32 nº4 diz que tarefa de
investigação é do juiz. A forma de compatibilizar é esta que o código conseguiu, atribuir
competência para investigar ao mp, salvo nos casos que contende com df e cabe ao juiz
de instrução criminal, salvaguardando núcleo fundamental do 32 nº4.
Nº6: introduzida na revisão de 97, dizendo que há casos que julgamento é feito
sem arguido ressente, assim foi porque o regime original imponha presença na
audiência, mas havia pessoas que não podiam ser localizadas para serem julgadas, não
apreciam e acabam por não ser julgadas, era fator de estrangulamento da eficácia da
perseguição penal. introduziu-se esta noma para passar a haver audiência.
Mas há vezes em que não há norma, quando não existe caso análogo, usa-se
segundo método de integração de lacunas que é aplicação subsidiaria de normas de
processo civil, desde que se harmonizem com princípios de processo penal. é cauteloso
o legislador manda aplicar subsidariamente as normas de processo civil, tendo maior
elaboração doutrinal, jurisprudencial, oferecendo regulamentação mais completa, mas
o legislador foi cauteloso ao reconhecer que entre o dpc e dpp há diferenças estruturais
e que estas podem ser obstáculo a aplicação subsidiária. O dpc dirige-se à composição
de litigio entre partes iguais, ao passo que o dpp é pretensão punitiva comunitária e
decorrem diferenças importantes. No dpc é dado relevo grande á vontade das partes
que podem pôr termo ao litigio, por desistência ou transação, ao passo que no dp a
vontade do arguido e do assistente, da vitima constituída assistente não adquire muita
importância.
Mas tem sempre que respeitar a fisionomia do processo penal.
Exemplos.: Os advogados tendem a praticar atos processuais fora de prazos. No
processo penal para sujeitos processuais privados são prazos perentórios, decorrido
prazo não se pode praticar ato processual, mas o dpc prevê a possibilidade de praticara
to, mediante o pagamento de multa, há três dias que se pode pagar, que vai crescendo
ao lingo dos mesmos. Pode-se aplicar esta norma do dpc ao dpp que não dizia nada? Os
tribunais entenderam que não, mas agora legislador mudou a lei, já não há lacuna e
disciplina é idêntica, vale os mesmos dias.
Outro exemplo é recurso, quando recurso verse elemento de facto e haja prova
gravada, o prazo para recorrer é acrescido de 10 dias, é razoável que assi seja porque
recurso em matéria de facto é mais trabalhoso é preciso transcrever, mas é preciso ver
se também vale para o dpp. O problema também já esta resolvido. Estes foram casos
reais que que se procurou convocar o dpc.
Quando não haja caso análogo, nem haja normas compatíveis do dpc, o terceiro
passo é recurso aos princípios gerais do dpp, princípios que são abstratos e não se
tratam de princípios que disciplinem situações concretas. É sempre necessário tarefa
constitutiva, transformar princípios abstratos em situações concretas.
Os princípios têm dupla função:
- função negativa de controlo, para excluir aplicação das regras do processo civil
quando sejam incompatíveis com regras do dpp.
- e ainda função positiva ou integrativa, quando não haja caso análogo ou
quando sejam incompatíveis normas do processo civil devemos buscar princípios gerais
do dpp e que deve haver tarefa constitutiva deles.
ÂMBITO PESSOAL
O dpp aplica-se ás mesmas pessoas que o dp substantivo. Há coincidência entre
âmbito pessoal de um e de outro. A lei processual penal aplica-se a todas as pessoas,
nacionais ou não, a quem seja aplicável o direito penal português estendendo-se mesmo
a quem não é arguido em processo penal.
Mas este principio também conhece exceções, há casos em que pessoas estão
imunes da jurisdição penal e esses casos não coincidem com aqueles que traduzem
imunidades de dp substantivo. Há imunidades que são jurisdição, processuais penais
que acrescem a imunidades de dp substantivo.
ÂMBITO ESPACIAL
No que respeito, o principio fundamental é da territorialidade consagrado no art
6 do cpp, a jurisdição penal deve conter-se estritamente dentro dos limites do estado.
O dpp só pode aplicar-se a processos que sejam decididos pelos tribunais nacionais e
estes tribunais nacionais por sua vez so julgam casos a que seja aplicável o direito penal
substantivo português, os tribunais portugueses não aplicam, em regra, salvo o caso do
art 6 nº2 cp, os tribunais portugueses não aplicam dp que não seja dp nacional. Existe
principio da territorialidade, o dpp aplicam-se a processo julgados pelos tribunais
portugueses e esses so aplicam dp substantivo português.
Esta coincidência não ocorre noutros ramos, como no direito civil. Há outras
regras quanto a competência dos tribunais e quanto ao âmbito de aplicação da lei. As
regras estão estabelecidas do cpc e no regulamento de Bruxelas.
Quanto a aplicação do direto substantivo é disciplinado nas regras de conflitos
que constam no código civil. Quando se trata de saber e de resolver questão de
partilhas, pode ser competente tribunal português, se resultar das regras internacionais,
mas o tribunal português ser chamado a aplicar para decidir do regime de bens o direito
de outro ordenamento jurídico se o casamento for lá celebrado- não há coincidência
entre âmbito espacial do direito substantivo e do âmbito espacial do direito adjetivo.
Aqui, essa coincidência existe, porque o direito penal é a matéria que mais importa do
ponto de vista soberania.
Mas há exceção os tribunais nacionais aplicam direitos estrangeiros se crime for
cometido fora de Portugal e lei estrangeira for concretamente mais favorável. Caso
em que tribunais sejam chamados a julgar, aplicarão lei portuguesa, mas se a estrangeira
for favorável então será essa a ser aplicada.
ÂMBITO TEMPORAL
Interessa distinguir dois conceitos: âmbito de vigência e âmbito de eficácia da lei
- vigência período que medeia ente lei que começa a vigorar e momento em que
deixa de vigorar, este intervalo chama-se vigência
- eficácia é conjunto de situações a que uma determinada lei se aplica, e principio
o âmbito de vigência e de eficácia coincidem. A lei aplica-se ás situações que aconteçam
entre entrada em vigor da lei cessação da vigência, esta é regra, principio geral. há
coincidência.
Mas esta coincidência não existe sempre, há leis que entram em vigor e que se
aplicam às situações que se iniciaram antes da entrada em vigor. A esta situação se
designa aplicação retroativa, a lei entra em vigor, aplica-se a situações que acontecem
no seu período de vigência, mas também a anteriores situações.
Mas também a lei deixa de vigorar e continua a disciplinar situações que se
perpetuam depois da cessação de vigência – aplicação ultraativa.
Restringiu-se, mas esta lei nova aplica-se a processos que já se tenham iniciado no
momento da entrada em vigor?
A lei nova aplica-se a todos os atos, mesmo que atos digam respeito a processo
do passado ou o crime ter sido praticado no passado. Como a audiência do arguido ainda
não aconteceu pode-se aplicar.
Se a medida de coação já tiver sido praticado, esses mantêm validos, não
prejudica a validade dos atos processuais praticado antes, mas a aqueles a quem não se
aplicou tem que ser ouvidos, salvo fundamentação devida. A lei nova aplica-se a atos
que se seguem, mas não prejudica validade dos atos anteriores.
O momento decisivo é momento do ato processual.
Ao contrario do que pareceria que o dpp seria conjunto de trâmites, mas temos
dimensões do processo que tocam direitos das pessoas e por isso há doutrina que se
deve aplicar ao dpp critérios de aplicação que valem para o dp substantivo, os critérios
constam no art 29 da crp e do art 2 e 3 do cp: principio geral é do tratamento mais
favorável, traduz-se em aplicar retroativamente as leis mais favoráveis, retroatividade
in mitus e pribir aplicação retroativa das leis que sejam desfavoráveis, proibição das lei
in malam partem.
Há duas grandes dimensões: normas que são processuais formais, que são
aquelas que se limitam disciplinar formalismos e tramites processuais. As processuais
materiais são as que contendem com direitos das pessoas.
Exemplos claros disto são apresentados em torno de 3 núcleos que configuram
normas processuais materiais:
- normas que condicionam a efetivação da responsabilidade criminal ao
estabelecerem condições positivas ou negativas de procedibilidade;
exemplo.: aquelas que disciplinam a queixa, acusação ao particular e as que
disciplinam a prescrição do procedimento criminal, como as que fixam prazo de
prescrição ou suspensão de prazo de prescrição ou causas de interrupção, prazos para
a queixa. Estabelecem condições positivas ou negativas de procedibilidade. As positivas
são aquelas que sem as quais não existe processo, as condições negativas são aquelas
que verificadas impedem o processo: se o crime estiver prescrito não pode haver
processo.
Estas normas condicionam afinal a efetivação da responsabilidade penal, se não
há processos não pode haver condenação penal. estas normas independentemente de
estarem reguladas no código penal, são entendidas como matérias de direito processual
material, tem natureza mista, são normas de natureza mista.
Art 5 nº2 a): resolve os problemas que enunciamos, aplicação imediata que pode
ser problemática em situações como quebra de harmonia ou quando estamos perante
normas que estando no processo tem dimensão substantiva, as normas processuais
materiais, mas esta é qualificação feita pela doutrina, as palavras do legislador estão na
aliena a), o legislador considera relevante a circunstância da lei nova levar a
agravamento sensível, como limitação de direito de defesa, legislador quis resolver,
embora não tenha sido totalmente feliz.
As normas processuais materiais não dizem apenas respeito a agravamento
sensível do arguido, vai muito além disso.
A solução da lei para estas normas processuais materiais, o legislador refere que
não se aplica imediatamente. Manda esperar, manda que a lei nova tenha eficácia
diferida, a lei so se aplica aos processos que se iniciam depois da entrada em vigor e a
lei antiga continua a aplicar-se a processo pendentes. A solução é a mesma –
sobrevigência e eficácia diferida da lei nova.
Não é exatamente aplicação do dp substantivo, porque o que aqui se diz é que
se aplica a lei que está em vigor do momento da pratica do facto e aqui temos o ato, o
legislador so manda recuar ao momento do processo. Os processos pendentes aplicam-
se a lei antiga, aos novos processos aplica-se a lei nova. Há aproximação, mas não é
identificação total.
O art 12 do cc refere que a lei só dispõe para o futuro, mas esta regra está
respeitada logo que a lei nova se aplique a atos processuais que tenham lugar já no seu
domínio de vigência, mesmo que o processo tivesse sido instaurado, ou a infração a que
se refere tivesse sido cometido no domínio da lei antiga. Isto porque o principio da
legalidade so tem incidência substantiva e não processual, a que acresceria o caráter
instrumental e natureza publicista das normas processuais.
O art 5 nº1 relativiza o principio enunciado questionando o bom fundamento da
doutrina subjacente no nº2 da alínea a e b).
O principio da legalidade se estende em certo sentido a toda a repressão penal
e abrange o próprio direito processual penal. importa que a aplicação da lei processual
penal a atos ou situações que decorrem na sua vigência, mas se liguem a uma infração
cometida no domínio da lei processual antiga, não contrarie nunca o conteúdo da
garantia conferida pelo principio da legalidade. Daqui resultaria que não deve aplica-se
a nova lei processual penal a um ato ou situação processual que ocorra em processo
pendente, sempre que da nova lei resulte um agravamento da posição processual do
arguido ou em particular numa limitação do seu direito de defesa, art 5 nº2 a).
Em segundo lugar, a circunstância de o processo ser constituído por uma longa
e completa tramitação, em que os diversos atos se encadeiam uns nos outros de forma
por vezes inextricável, pode conduz a que se não deva aplicar uma alteração legislativa
processual a processos iniciados anteriormente á vigência da lei nova, uma vez que a
solução poderá acarretar uma quebra de harmonia e unidade dos vários atos do
processo, art 5 nº2 b).
Esta mesma razão fundamentou a decisão do legislador processual penal de
restringir a aplicação do cpp de 1987 aos processos iniciados na sua vigência, ou seja, a
partir de 1 de janeiro de 1988.
Aula 9/10/2020
A este propósito, Taipa de Carvalho entende que o regime do Código é insuficiente por
não acautelar adequadamente os DF do arguido.
Como tal, defende que se deverá aplicar exatamente o mesmo regime do Direito Penal
substantivo ao Direito Processual Penal em matéria de aplicação da lei no tempo. Isto porque,
aquilo que se pretende evitar com a entrada em vigor de uma lei processual que seja mais
desfavorável do arguido é o mesmo que no Direito Penal. Evita-se o arbítrio do Estado e proteger
a confiança e segurança jurídica.
O arbítrio do Estado pode manifestar-se quer através da incriminação de condutas que
não o eram, mas pode também surgir através de mudanças ao nível das normas Processuais
Penais. Em vez de tipificar criminalmente uma conduta que não era ilícita, o Estado pode tornar
legítima a prisão preventiva para um crime em que não o seria.
O momento critério para determinação da lei a aplicar será, então o do momento da
prática do facto de acordo com o critério unilateral da conduta.
A lei nova entra em vigor e só se aplica a crimes que aconteçam depois da sua entrada
em vigor, mas isto pode vir a ser excessivo. Isto é, o critério que resulta do Direito Substantivo,
o tempus delicti, conforme dispõe o artigo 3º do Código Penal.
O artigo 5º do CPP dispõe que se aplica a lei nova aos processos que se iniciem após a
sua entrada em vigor.
A tal tutela de expetativas não serve para reconduzir a único momento temporal,
depende da disciplina sobre que versa a norma que pretendemos aplicar, depende do
instituto que está a ser regulado e instituto que norma nova vem regular.
A doutrina portuguesa e a jurisprudência não aderem a teoria das expetativas,
mas embora não ser defendido a teoria das expetativas tem-se aceitado que o momento
critério relevante quando estejam em causa normas processuais materiais cuja
aplicação vai depender da efetivação da responsabilidade penal, normas processuais
que versam sobre requisitos, legitimidade, prazos da queixa ou da prescrição, momento
critério é o da pratica do facto, como defende Taipa de Carvalho que é sempre o
momento da pratica do facto, quer a restante doutrina que aqui é concordante com
taipa, quer jurisprudência tem aceitado que nas situações em que esteja em causa
normas que versem sobre requisitos e condições de efetivação da responsabilidade
criminal, que versem sobre matérias relativas a queixa ou prescrição, legitimidade para
queixa, causas de interrupção ou suspensão da prescrição. Quando estejam em causa
estas matérias, o momento critério é momento da pratica do crime, de acordo com
critério unilateral da conduta.
Prof diria que não é alheia a consideração de serem matérias disciplinadas no cp
e por isso é que com facilidade, a jurisprudência tenha aceitado como critério momento
da pratica do crime, significa que se prazo da prescrição é de 10 anos e lei nova que
entra depois da pratica do crime alargar para 15 anos, a lei que se aplica é aquela que
se aplica ao momento da pratica do facto, porque a lei antiga é mais favorável do que
a lei nova. É pior que seja 15 do que 10 anos.
Se acontecer o contrário, no momento a pratica do facto há lei que prescreve
prazo de 15 anos, mas surgir lei nova que corta prazo, então aplica-se retroativamente
a lei nova, a lei que é mais favorável ao agente – principio da aplicação retroativa da lei
penal mais favorável.
Se estiver em causa introdução de causa de interrupção de prescrição, introduz
causa de prescrição, o prazo torna-se mais longo. So se vai aplicar essa norma se ela já
estava em vigor na prática do facto, se não estava, não se aplica.
Outra crítica à tese de taipa é que processo é relação triangular, não interessa
apenas tutela de expetativas do arguido, mas também tutelar expetativa e interesses da
vitima. Ao contrário do dp substantivo strictu sensu que opõe a pretensão do estado
contra a do agente, nas normas processuais penais temos relação mais complexa em
que reentram o interesse punitivo do estado, como também o interesse do arguido e o
interesse da vítima, portanto a solução que se encontre não pode ser unilateral como
art 29 nº1 e 4 do crp. Tem que ser solução que tenha consideração de interesses da
vitima.
Aula 16/10/2020
Falávamos na aplicação no tempo. A solução consta no art 5 nº1 geral. esta
solução de imediato pode gerar algumas dificuldades por facto de processo ser conjunto
conexo de atos e não dispersos. Aplicação de lei ova pode levar a quebra da harmonia
processual e ainda o fato de contender com df e por isso aplicação imediata da lei pode
comprimir a posição jurídica do arguido e por isso legislador estabelece solução de
sobrevivência da lei e eficácia diferida. Taipa de carvalho na solução do art 5 nº1
considera que há inconstitucionalidade porque nestas normas procedimentais materiais
deve haver critérios que valem para dp substantivo, critério da aplicação da lei que
esteja me momento da pratica do fato a menos que lei nova considera-se mais
favorável. O critério é de aplicação ou tratamento mais favorável do agente, se essa lei
estiver em vigor do momento da pratica do facto melhor, mas se for entrada de lei nova
mais favorável então é essa que se aplica. Imposição de retroatividade de lei nova mais
favorável momento critério é momento da prática do facto
Vimos as criticas e o ponto em que estão de acordo. Toda a doutrina está de
acordo em dizer que critérios do dp substantivo se aplicam a normas processuais penais
que definem condições de efetivação da responsabilidade, matéria que tem que ver com
ação, etc. nestas matérias, taipa entende aplica-se as regras de dp substantivo, regras
do art 29 da crp e art 2 e 3 do cp e o mesmo entende a doutrina a jurisprudência.
Todavia, há certos corretos que se precisa introduzir, mesmo neste ponto em que estão
de acordo. Isto tem necessidade de tutelar outras pessoas que não o arguido, o processo
introduz relação triangular que la estado ao agente mas também a vitima, não se trata
apenas de relação bilateral, porque há nova personagem é preciso haver ajustes no
modelo para comodar os interesses.
Exemplo.: imaginando que se discute discurso de tempo que altera qualificação
jurídica processual dos crimes, saber se é publico, semipúblico, esta matéria é daquelas
que podemos considerar uma norma processual material que diz respeito a condições
d efetivação da responsabilidade criminal, matéria em que acordamos que se aplicam
regras de dp substantivo, critérios do art 29 e 2 e 3 do cp.
Se uma qualquer lei altera qualificação jurídica processual dos crimes a lei que
se aplica é que estava em vigor no momento em que a conduta foi praticada, no pratica
do facto, e menos que lei nova se revele mais favorável. Imaginem que o crime tinha
natureza publica, a lei qualificava aquela condita como crime publico mas a lei nova vem
diz que a lei nova passa a ser semipúblico. Que lei é que se aplica? Quando dizemos que
a lei é mais favorável é do ponto de vista do arguido, do agente. Dir-se-ia aplica-se a lei
nova porque a lei nova é mais favorável ao agente do que a antiga, porque introduz um
pressuposto processual, há de ser mais vantajoso evitar a punição.
Mas há dificuldade na tutela de interesses da vitima. Se prazo é de 6 meses e
criem foi cometido há 7 meses, se se aplicar a lei nova, porque é mais favorável ao
agente retroativamente estamos a deixar sem proteção os interesses do agente, porque
prazo para apresentar queixa já se esgotou ela entrada em vigor da lei.
São essas preocupações de tutela da vitima que têm que ser acomodados,
introduzem corretor a regra que vimos. Portanto o que se dirá é que para proteger tutela
da vitima que não podia adivinhar que uma nova lei teria entrado em vigor e tinha diante
si uma razão ilimitado para dar a conhecer as autoridades de perseguição para dar inico
ao crime, para acomodar expetativas da vitima, o que se tem defendido é que a lei nova
se aplica, mas prazo para se aplicar a queixa so começa a contar depois da entrada em
vigor da lei. Aplica-se a lei nova dizendo que crime depende de queixa, mas o prazo so
começa a contar na entrada em vigor, o que significa que ofendido tem 6 meses para
apresentar queixa.
- Mas se por exemplo que a lei nova entra em vigor e processo já tinha iniciado.
O inquérito já estava em curso, já se tinha iniciado quando a lei nova entra em vigor.
Isso impede a lei de aplicar ao caso? O que tem sido defendido na doutrina é solução
mais simples: se procedimento criminal já se iniciou e a menos que possa haver
duvidas sobre se procedimento e da vontade da vítima, deve-se manter, com efeito a
entrada da lei é desistir da queixa se assim desejar, nada impede de a dar a conhecer à
vitima que afinal em vez de ser crime publico é semipúblico e pode desistir-se da queixa
ou manifestar vontade de forma expressa que processo se mantenha, mas essa
notificação não deve ser obrigatoriamente feita. A consequência da entrada da lei nova
poder a vitima desistir.
- Agora se o crime é semipúblico e que uma lei nova converte num crime publico:
a solução aqui: a lei que se aplica é a lei que estava no momento da prática do facto,
porque a lei nova que converte em crime publico, não se pode aplicar retroativamente
é menos favorável. Isso não causa nenhuma desproteção da tutela das expetativas da
vitima, porque esta já contava com prazo para apresentação de queixa, não há correção
a fazer.
- Uma lei que altera os prazos para apresentação da queixa, o prazo que era de
3 meses é aumentado para 6 meses. O prazo é alongado, aplica-se a lei que estava em
vigor da pratica do crime ou lei que alonga prazo para 6 meses? A lei nova que alonga
prazo é menos favorável, portanto aplica-se a lei no momento da pratica do facto.
- Mas se a lei nova entra em vigor e o crime já tinha sido cometido há 4 meses, o
que significa que a vitima se continuasse a aplicar da lei antiga ainda tinha razão ainda
de 2 meses, se prazo era de 6 meses. Dizer-se que lei nova se aplica e que encurta prazo,
mas que por se encontrar na entrada em vigor conduziria de alongamento de prazo,
nestes casos diz-se se a lei nova encurta o prazo, a lei nova que é mais favorável ao
agente aplicar-se-á retroativamente, prazo conta-se na entrada em vigor, a não ser que
de acordo com a lei antiga faltasse menos tempo para o prazo se completar. O prazo da
lei antiga era de 6 meses e na lei nova era 3, o que significa que se contasse o prazo de
acordo com ela o ofendido teria mais 2 meses para apresentar queixa, menos que a lei
nova lhe oferece. Se o prazo for encurtado aplica-se a lei nova, contando esse prazo
mais curto da entrada em vigor da lei nova, a não ser que a segundo a lei antiga faltasse
menos tempo para o prazo que se aplicar.
Resulta do art 297 do cc.
FINALIDADES DO PROCESSO PENAL:
Os modelos processuais é muita condicionada pelo problema dos fins do
processo penal, os fins que vamos referir de acordo com sistemática de figueiredo dias:
realização de justiça, descoberta da verdade e tutela dos df do arguido e o terceiro fim
que é reestabelecimento da paz jurídica comunitária.
O equilíbrio que se estabelece ente fins é diferente consoante modelo, num
modelo mais inquisitório que vigora na Europa continental na idade media, na baixa
idade media, nesse modelo de estrutura inquisitório privilegiava-se a descoberta da
verdade a todo custo mesmo com compressão dos df admitindo tortura.
Num modelo de estado de direito, naturalmente que descoberta da verdade
material sendo primordial encontra limites.
O equilíbrio entre os fins condicionados a resposta dada a modelos processuais.
Falamos de categorias que são construídas pelos cientistas do direito a partir dos
dados da realidade, mas que são abstração dos dados. Não se consegue encontrar na
historia do processo penal nenhum modelo inquisitório puro, com caraterísticas de
modelo inquisitório puro. Esta tipologias teoréticas são sempre abstrações e
esquematizações a partir dos dados da realidade, mas que transcendem a realidade e
que soa uteis como grelhas de analise. Há certa incoincidência entre teorética e
processos penais, mas não vamos encontrar nenhum modelo com caraterísticas do
inquisitório, acusatório ou modelo hierárquico.
No que diz respeito aos modelos, vamos estudar em duplas perspetiva, estudar
tipologias e de modelos processuais, vamos ver dicotomia clássica que contrapõe o
acusatório do inquisitório e que acolhe no art 32 da crp que é modelo de estrutura
acusatório.
Há ainda uma dicotomia que contrapõe modelo paritário ao modelo hierárquico.
Este autor percebeu que nos sistemas continentais atuais que se reivindicam como
modelo de acusatoriedade, o nosso, o francês, o italiano, são acusatórios, mas são
diferentes do acusatório do norte americano e é para enquadrar categorialmente essas
diferenças essas duas manifestações de acusatoriedade penal que propõe nova
dicotomia. São modelos acusatórios com caraterísticas diferentes e é um modelo
acusatório continental que ao continental chama de vertical e outro modelo acusatório
norte americano seria paritário ou horizontal.
Uma vez que se punha exigência grande para condenar era necessário que se
obtivesse notorium ou prova plena, duas testemunhas concretas ou prova documental,
essa certeza para condenar era difícil de obter.
O deflagrante delito nem sempre se consegue, prova através de documentos é
residual e não seria fácil encontrar testemunhas concordantes a cerca dos factos, as
vezes crimes não são testemunhados por ninguém. Mas havia alguém que sabia coisas,
se seria inocente ou culpado saberia e o próprio acusado ou reu e como a pretensão da
descoberta da verdade era a mais importante das pretensões, a descoberta da verdade
e a todo o custo, legitimava-se a tortura, préparatoire, préalable.
O réu era torturado, sujeito a tortura para que confessasse. A confissão surge
como meio da prova. Como não se conseguia obter por prova, a tortura tinha função
encerrar a parte probatória. Mas os autores começaram a atribuir a confissão o valor de
notorium, notorium iuris. A confissão passou a ter poder probatório, um valor acrescido
já não é remetido apenas da prova, mas seria esta a rainha das provas e o empenho em
obter e legitimar e a reforçar a possibilidade de tortura. Havia tortura antes de confissão
e tortura depois da confissão.
O sistema estava a ruir e acabou por ruina ser abolida com revolução francesa,
esta revolução concretizou as exigências e a declaração dos direitos do homem e do
cidadão consolidou-as.
Precisávamos de substituir com outro modelo e fez-se com o que se faz hoje
quando há mudanças processuais profundas, copiou-se o que acontece nos outros
países, nessa época, a modernidade estava do outro lado do canal da mancha, direito
inglês que se tornou paradigma da mudança processual. O que era mais visível no
sistema inglês era existência de jurados e foi o que se introduziu, sistema acusatório
composto, peça fundamental existência de júri de julgamento. Havia dois júris, um júri
competente para acusação e outro para julgamento. Os dois eram compostos por leigos
e júri de acusação investigava a suspeita e embora a investigação fosse segredo, havia
delegados que fiscalizavam e transmitiam informação. Esse júri, feita indagação,
acusava e havia outro júri competente para julgar. Como sistema assentava em jurados
como peça fundamental e os jurados não dominavam as complexas regras de prova
legais, eram entroncadas, eram complexas, introduziu-se a intimi conviction, os jurados
decidiam não de acordo com regras probatórias não fixadas, mas de acordo com a sua
convicção pessoal, convicção subjetiva e que não tinha que ser motivada.
Até aí, anteriormente, a decisão do julgador era vinculada, era pré-determinada,
não havia liberdade pelo julgador, não podia afastar-se das regras pré estabelecidas e a
circunstância de não se poder afastar era para evitar o arbítrio do julgador, mas levava
a regras que não eram garantia infalível da verdade. A intime conviction deu liberdade
ao julgador e permitiu que decidisse à margem da prova, decisão que era puramente
subjetiva, perigo novo que se introduziu. Este perigo era menos pelos jurados serem
membros da comunidade, não há razão para que os prejudiquem.
Mas mais tarde o principio da intime conviction transitou para justiça composta
por juízes de carreira e aí o perigo começou a ser maior. Porque não havia garantia de
serem membros da comunidade interessados, os juízes não estavam orbitados a
fundamentar e isso diminuía as garantias de certa decisão. Depois da revolução
francesa, o processo era de índole acusatória, havia separação entre acusação e
julgamento que competia aos jurados, o julgamento era publico e oral contraditório,
mesmo na fase de negociação havia algum controlo e a valoração da prova fazia-se de
acordo com a intime conviction.
Este era processo penal de natureza acusatório.
Mas este processo de natureza acusatório não resistiu muito tempo, com
domínio de napoleão e construção do seu império, fora do território francês nunca se
chegou a implantar este modelo, era entusiamo passageiro de revolucionários
franceses, mas pouco tempo durou. Fora do território francês, em Itália onde o code
d’instruction criminelle era já diferente.
Tratava-se de um processo dualista, processo com duas almas, porque havia 1 º
fase de investigação e de recolha de prova que era secreta, seguia moldes tipicamente
inquisitórios e havia 2º momento oral, publico e contraditório, mais próximo do que
tinha sido desejado no contexto da revolução, era processo duplicado. Ao processo que
tínhamos anterior a revolução francesa, que era secreto, segue-se fase oral publica e
contraditório, duplicação do processo.
O que ficou e que permite dizer que este processo é misto ou de inquisitório
mitificado?
Ficou principio de acusação, a diferença entre investigação e competência para
julgar. Este principio de acusação que existia formalmente era mitigado para se
conceder ampla leitura dos autos. Havia separação entre quem investiga, quem acusa
e quem julga, mas no julgamento não era vedado ao juiz socorrer-se de meios de provas
que eram adquiridos na fase não publica. Na ponderação entre as duas fases, a fase da
investigação adquiria supremacia relativamente a julgamento publico.
Este sistema conheceu endurecimentos superiores ao longo do sec 20, entre
primeira e segunda guerra mundial que coincidiu com estado autoritários e nesses
estados autoritários, como Alemanha, Itália, estes grandes diplomas normativos e
códigos introduziam um inquisitório mitigado ou acusatório formal.
Havia separação entre quem acusa e quem julga, mas no nosso código de
processo penal ate 1945, embora essa separação existisse, ministério publico acusava e
juiz julgava acusação feita pelo mp, era deduzida com base em investigação ao mesmo
juiz a quem competia jugar. Havia separação, mas que era formal, porque o mp acusava
com base em investigação que era feita pelo mesmo juiz que depois era competente
para fazer o julgamento. So a partir de 1945, o mp começou a investigar e a acusar, o
sistema começou a ser mais acusatório.
Aula 19/10/2020
A partir do sec 13, quando se prescindiu da accusatio e passou a ser o juiz
oficiosamente a investigar a suspeita, bastava que existisse a infâmia, é tradução clara
do que dissemos eu no sistema inquisitório não há separação entre entidade que julga
e que investiga. Dispensar a accusatio não é consagrar principio da oficialidade, mas é
algo mais do que isso, é também principio do inquisitório, porque a entidade para abrir
processo tem competência para julgar. O julgador tem grande domínio sobre a prova.
O recurso á tortura e privação da liberdade, todas as possibilidades, traduzem a
ideia de desigualdade entre posição de quem investiga e posição da defesa, o arguido é
objeto do processo. Não há modelo inquisitório que seja modelo puro.
Permite perceber que o nosso sistema é acusatório e é diferente do que se
assocai ao norte americano, porque autos tem peso tao grande, o juiz tem poder de
investigação, porque o nosso juiz não é passivo, todas caraterísticas que são explicadas
pela historia.
Art 39 nenhum juiz pode exercer função se tiver intervindo como representante
do mp – tradução do principio da acusação.
Mas para figueiredo dias não chega consagrar principio da causação para sistema
ser acusatório, é preciso reconhecer a participação constitutiva dos sujeitos
processuais, sobretudo o arguido. Não pode ser apenas objeto, é sujeito processual, é
titular de direito de intervenção no processo, quer em matéria de prova, quer em
relação a outro propósitos. Tem direito de constituir advogado, requerer produção de
provas, faculdade de contestar, de interpor recurso das decisões que lhe sejam
desfavoráveis, de ser ouvido. Não é objeto da investigação, é participante constitutivo
da decisão.
Existe ainda outro artigo importante a propósito da investigação judicial, art 348.
No interrogatório de testemunhas usa-se método do interrogatório cruzado e que é
tradução do inglês e que este modo é manifestação arquetípica de acusatoriedade
processual. Método cruzado significa que testemunha é requerida pela pessoa que
indicou e é contrainterrogada por outra pessoa.
A diferente que justifica a menção neste artigo é que entre nos no 348 nº5, o juiz
pode fazer perguntas adicionais, pode interromper a inquisição e fazer perguntas
adicionais que advogado do arguido que indicou a testemunha ou advogado assistente
ou mp não tenha feito. As testemunhas são indicadas por causação ou por defesa e
estão eles a fazer a pergunta, mas o juiz pode interromper, pedindo esclarecimento.
PRINCIPIOS DO DPP
Princípios são importantes porque estruturam o sistema e ajudam a
compreender as normas que são mais voláteis e tem importância ainda pragmática
concreta. os princípios são terceiro método de integração de lacunas. São integrados
por analogia, ou então aplicam-se princípios de dpc que se coadunem com o processo
penal e na falta destes, aplica-se os princípios de dpp.
Estes princípios devem reduzir-se àquele mínimo que possa contar com o
aplauso geral dos membros da comunidade e corresponda à sua consciência ético-
jurídica.
No séc. 19, quando decidiam com base nas provas, mas se partissem para
apreciação das provas com atitude pessoal desfavorável ao arguido, já pré-convencidos
que aquela pessoa era culpada, ou havia razões de suspeita contra ela, se partisse com
esta atitude pessoal, haveria condenação.
Como regra de tratamento traz tripla consequência:
- funciona como regra de repartição do encargo probatório, não deve impender
sobre arguido, deve ser outrem, o juiz a provar para alem da duvida razoável a
imputação que ao arguido é feita, a presunção de inocência como regra decisória,
materializa-se num critério de repartição do encargo probatório, o burden of proof,
deve recair sobre acusação ou sobre o juiz.
Burden of proof trata-se de encargo probatório, alguém tem que culpar a sua
culpa, encargo recai sobre acusação. Alguém que não ao arguido que tem que provar
culpa numa maneira exigente, em matéria penal, o standard é exigente, é 2º corolário
e proibição relativa de meios de prova. Alguém tem que provar a culpabilidade de forma
convincente, tem que gerar convicção no espirito do juiz, não fazendo, deve haver
absolvição e não pode servir-se do contributo autoincriminatório do arguido.
Aula 23/10/2020
Havia 4 grandes núcleos de princípios, segundo figueiredo dias.
Princípios de formação de processo: da oficialidade, legalidade e da causação.
O que se trata é quem tem competência para promover o processo como é exercida a
competência e assegurar que o juiz que é diferente da competência para acusar e
promover. Tem que ser diferente e deve julgar objeto que é proposta pela acusação.
Obriga a que julgador exerça os seus poderes judicativos sobre objeto que é proposto
pela acusação, não pode o juiz julgar aquela pessoa, tem que julgar com base nos factos
que vem no processo. Juiz tem podres de investigação, mas não pode usar isso para toda
a qualquer suspeita.
- PRINCIPIO DA OFICIALIDADE:
responde à questão de saber a quem cabe o impulso processual, de colocar em
marcha a atividade e a decisão de a submeter ou não a julgamento.
A resposta é que cabe a entidade publica, o mp que exerce ex officio,
independentemente da vontade da pessoa atingida pela pratica do crime.
Exemplo.: mesmo que na relação amorosa, onde há violência de um dos
namorados, estejam ambos apaixonados e não quiserem processo, o mp abre inquérito.
Se numa situação de roubo, a vitima do roubo ate envergonhada não quer
processo crime, o mp abre inquérito mesmo contra vontade da vitima. Se numa situação
de abuso sexual de menores, familiar que abusa sexualmente, comete crime de violação
em relação a um menor, mesmo que jovem na dependência deste familiar não queira
processo porque ama, aquele familiar o mp abre inquérito, porque é crime publico,
mesmo crime de trafego de droga ou corrupção, o mp abre inquérito
independentemente da vontade ou da posição do ofendido, quando exista pessoa
ofendida, ou contra vontade do ofendido. Interessa o interesse publico da punição e mp
abre inquérito.
Mas depois há crimes que não são públicos, particulares em sentido amplo: são
aqueles em que a legitimidade do mp para promover o processo precisa de ser integrada
por uma queixa do ofendido ou de outras pessoas (art 49 nº1, art 111 nº1, 2 e 3 do cp).
Neste âmbito temos os crimes semipublico e particular em sentido estrito. A
prof vai-se referir ao particular apenas remontando ao crime particular em sentido
estrito. Há crimes que são semipúblicos e particulares, estes são respetivamente um
desvio e exceção ao principio da oficialidade, sendo que o particular decide sobre a
investigação da pratica da infração e também sobre a submissão da mesma a
julgamento, enquanto que os primeiros comportam apenas uma limitação, na medida
em que neles o mp continua a decidir autonomamente sobre a submissão ou não da
infração a julgamento.
Por fim, temos ainda razoes que se reportam a crimes que não só semipúblico,
são particulares em sentido estrito. São crimes particulares e não semipúblico por
razões do estado não querer intervir nas relações familiares para não agudizar o conflito.
Se forem crimes cometidos por parentes são particulares e não semipúblicos se fossem
cometidos por pessoas diferente.
Exemplo.: Furto simples e abuso de confiança simples são exemplos de particular
em sentido estrito. O estado não se desinteressa do seio familiar, tanto assim que
violência domestico é crime púbico, mas estes pequenos delitos de natureza
patrimonial, o estado decidiu refrear-se ainda mais.
Ate também por razoes de economia processual e probatórias, é que existe art
134 do cpp que determina que certos familiares do arguido, familiares próximos têm
direito de recusar o depoimento, os familiares próximos, para não serem colocados em
conflito de lealdade, entre dever de lealdade de verdade e do familiar podem recusar o
depoimento, podem deixar de falar. Este art 134 visa evitar dilema moral das
testemunhas. Nestes crimes do seio da família, o ofendido é muitas vezes a única
testemunha, ou testemunhas que existem eram familiares próximas do arguido. Estar
estado a promover processo penal, sem que haja intervenção ativa da vitima queixando-
se e deduzindo acusação particular, poderá ser desperdício de recursos, porque basta
audiência de julgamentos estas pessoas não falarem, para não haver acusação.
Onde posso saber que crime é publico, semipúblico ou particular em sentido estrito?
Junto do tipo legal de crime ou em norma remissiva mais a frente no cp.
Queixa vs denuncia:
Quem tem legitimidade para queixa é apenas o ofendido, ao passo que denuncia
pode ser feita por qualquer pessoa. depois o tempo, queixa tem prazo mais curto, 6
meses, ao passo que na denúncia pode ser feita a todo o tempo se processo penal, se
não prescreve.
Quando a acusação particular é pressuposto processual esta disciplinado no cpp,
embora regras sobre a queixa que estão no cp se apliquem remissivamente com as
adaptações da acusação particular. Art 17 do cp que faz remissão. Mas a acusação
particular e o seu regime estão regulados no cpp, no art 285.
A acusação particular é deduzida pelo assistente nos crimes particulares em
sentido estrito e que define o objeto do processo. O mp nos crimes particulares em
sentido estrito também pode acusar, a seguir ao assistente, o assistente é quem tem
competência para acusação, para decisão de submeter a julgamento ou não. se
assistente acusar, deduzir acusação particular, o mp pode no prazo de 5 dias
acompanhar a acusação particular, art 285 nº4, só acompanha se houver indícios
suficientes. Pode haver divergência, mas mp so acompanha acusação particular se
houver indícios. Esta acusação do mp é secundário em relação a acusação particular. Mp
pode acusar também, mas não pode acusar por factos que alterem substancialmente os
descritos na acusação particular. Pode acusar pelos mesmos factos, mas que não
alterem substancialmente, não pode dele alargar o objeto do processo. Quem define
objetivo é particular com acusação particular.
Nos crimes semipúblicos e públicos quem acusa é o mp, mas por sua vez o
ofendido se se constituir assistente, não é obrigatório nestes campos, ate há crimes
publico em que não pode haver assistente, porque ninguém tem legitimidade para o
efeito, como crime de trafego de droga, o legislador não alarga a legitimidade para se
constituir assistente, como na corrupção que não tem bem jurídico como referente
individual, mas pode assistir-se assistente.
Nos crimes públicos e semipúblico não há se quer constituição de assistente e
não pode haver se quer assistente, mas quando há, se particular quiser constituir
assistente, este também pode acusar, nos termos do 284, mas é acusação do assistente
que é ancilar do mp. O mp acusa e define o objeto e o assistente pode acusar pelos
mesmos factos que não alterem o objeto definido pelo mp.
Nos casos em que o ofendido era menor o prazo para se queixar, não é de 6
meses, o direito de queixa não se extingue como nos casos ordinários, é prazo mais
longo, art 115 nº2 por remissão para art 113 nº6, diz que prazo para apresentar queixa
termina nos 6 meses a seguir quando menor faça os 16 anos. É prazo longo e há quem
critique. Sempre para proteger o menor, mas nas situações mais graves que são crimes
públicos, são em geral e são no em particular no caso de crimes sexuais, sabendo isto o
que sobra alem destas situações os crimes de menor gravidade e não se compreende
que os crimes menores de gravidade se crie questão de insegurança jurídica na esfera
do arguido.
Exemplo.: Quando crime foi praticado quando menor tinha 14 anos, o prazo so
começa a contar após fazer os 16 anos. Gera insegurança jurídica que não se justificaria
atenta a natureza das infrações que estão em causa, não são crimes públicos, em relação
a estes não se coloca o problema.
Este prazo é um prazo de caducidade e não de prescrição, não se interrompe ou
suspende nas circunstancias em que cc aponta como causa de suspensão.
PRINCIPIO DA LEGALIDADE
Responde a questão de saber de que forma se exerce a competência para
promover o processo penal. A oficialidade e legalidade andam emparelhados, um diz
quem tem competência e outro diz que forma a competência se exerce.
Dos art 262 nº2 e 283 nº1 decorre claramente a ideia de que o mp está obrigado
a promover o processo penal, abrindo o inquérito, sempre que tenha adquirido a noticia
de um crime, art 241 e a deduzir acusação se tiver recolhido indícios suficientes de se
ter verificado crime e de quem foi o seu agente.
Arquivamento por dispensa de pena: esta regulado no art 280 do cpp que
remete para art 74 do cp, o art 74 é norma que dispensa de pena é instituto importantes
sobre fins das penas, argumento a favor que torna claro que vale conceção unilateral da
culpa: não há pena sem culpa, mas pode haver culpa sem pena, pode haver culpa com
dispensa de pena.
Os requisitos de que depende a dispensa de pena que é decidida no fim do
julgamento do juiz são os mesmos que valem para arquivamento de dispensa de pena,
é antecipação para fim de inquérito de decisão que em regra caberia ao juiz do
julgamento. Em vez de se esperar para fim de julgamento, antecipa-se.: por economia
processual e por razoes de tutela do arguido para evitar que arguido seja sujeito a
estigma.
A dispensa de pena esta pensada para crimes de natureza bagatelar, de diminuta
criminalidade. Para crimes que são punidos ate 120 dias de multa ou pena de prisão de
x anos, pequena gravidade afere-se segundo requisitos abstratos formal da gravidade
do crime afere-se em abstrato da moldura penal, mas os crimes de pequena gravidade
também obriga olhar para gravidade da infração em concreto e exige-se que seja
pequena. A lei diz que grau de culpa tem que ser diminuto.
Art 74 nº1 a). é preciso que não se oponham razoes de prevenção geral e
especial, é preciso que não há interesse publico na punição, a luz de razoes preventivas.
Estamos perante um caso em que não obstante o mp ter recolhido durante o
inquérito indícios suficientes de se ter verificado crime de quem foi o seu agente, art
283, ele não submete a infração a julgamento: arquiva ou suspende provisoriamente o
processo, o que significa também que o conflito jurídico-penal, já que a decisão tomada
nos termos do art 280 bem como a que dá aplicação ao art 281, não é suscetível de
impugnação.
O art 280 nº2 diz que se acusação já tiver sido deduzida, o juiz de instrução pode
arquivar por dispensa de pena com concordância do mp e do arguido. O que torna
compreensível da concordância é já ter havido acusação. Se já tiver havido, há
chamamento solene a responsabilidade e compreende-se que o arguido que foi
chamado solenemente tenha palavra a dizer no arquivamento por dispensa de pena.
Não implica qualquer injunção para arquivamento, ele pode querer purgar esses indícios
sujeitando-se a julgamento. Quando não existir chamamento solene o legislador
conforma-se, permite que se pudesse arquivar o procedimento por dispensa de pena
sem a concordância do arguido.
A lei diz que se acusação tiver sido deduzida o juiz de instrução pode: a questão é a de
saber se so nos casos em que haja acusação e abertura de instrução é que pode na
fase de instrução juiz arquivar por dispensa de pena, ou pode o juiz arquivar na fase
de instrução se tiver chegado a fase de instrução por via de arquivamento. Mp
arquivou, ao arguido solicitou abertura de instrução, mas tribunal julga que é culpado,
mas pode julgar que há dispensa de pena. No fim da instrução há arquivamento ou só
se pode arquivar no fim da instrução se a instrução tiver sido requerida pelo arguido
a seguir de despacho de acusação pelo mp?
Parece que a lei está a restringir, parece que só quando haja acusação é que juiz
pode arquivar. Podemos dizer que há lacuna e não esta resolvido, é matéria que carece
de solução, incompletude do ordenamento não querida pelo legislador e havendo
lacuna preenchemos dizendo que solução que vale para casos em que há acusação e
abertura de instrução deve valer para estes casos.
Pode arquivar-se por dispensa de pena em qualquer caso em que haja abertura
de instrução. A diferença é que se tiver chegado a instrução por despacho há requisitos
a mais que é concordância do arguido. A resposta de que é possível o juiz arquivar por
dispensa de pena, legislador so sublinhou uma das situações porque nessa justifica um
requisitos a mais que noutra não faz sentido exigir.
Como requisitos:
- a gravidade abstrata da infração não requeira uma punição superior a 6 meses
de prisão ou 120 dias de multa;
- diminuta ilicitude, alínea a) do nº1, o dano provocado pelo crime tenha sido
reparado, b), não se oponham ao arquivamento por dispensa de pena razoes de
prevenção especial e geral, alínea c).
- nos termos do art 280 que exista um acordo entre o mp e o juiz de instrução
criminal, se o arquivamento acontecer na fase de inquérito;
Aula 30/10/2020
O arquivamento de dispensa de pena e suspensão provisório pode ser no fim da
instrução ou no inquérito, cabendo ao juiz de instrução ou ao mp respetivamente. No
art 207 nº2 no fim da instrução. Costuma-se dizer que a suspensão provisoria do
processo implica sujeição do arguido durante período de tempo que no regime ordinário
pode ir ate 2 anos e regimes especiais ate 5 anos, sujeito a injunções.
Precisamente porque há implicações sobre arguido com imposição de injunções
ou regra de conduta que são equivalentes funcionais de penas, por isso a suspensão
provisória do processo é instituto cabível na faixa da pequena e média criminalidade.
Nº7 do art 281: Em processos por crime de violência doméstica não agravado
pelo resultado, o Ministério Público, mediante requerimento livre e esclarecido da
vítima, determina a suspensão provisória do processo, com a concordância do juiz de
instrução e do arguido, desde que se verifiquem os pressupostos das alíneas b) e c) do
n.º 1.
Aquilo que está em causa é suspensão provisória do processo em crimes que
passaram recentemente a ser crimes público.
Exemplo.: crime de violência domestica é desde 2000 publico. É tutela de vitima,
há processo, mesmo que a vitima se desinteresse. É medida de proteção contra a vitima
quando esta inserida em ambientes coativos e não há autonomia de decisão, como
menor que é vitima de praticas sexuais. Podia ate ser menor de 16 anos, tinha já a
capacidade de queixa, mas esta vitima não terá a liberdade suficiente para exercer
direito de queixa. A mesma coisa violência domestica legislador parte do paradigma
fragilizado e pode faltar autonomia da vontade para decidir se quer ou não processo
criminal. Isto nos crimes públicos.
Mas este paternalismo do estado traz inconvenientes, rouba a decisão á vitima,
apesar de ser ela a primeira afetada, pode este jovem que foi vitima de crimes sexuais,
e não ter interesse na apresentação de queixa. Procura-se repor margem de decisão á
vitima.
Também justificam que sejam outros requisitos, nestes casos especiais não vale
limite de pena de prisão ate 5 anos, pode ser superior de 5 anos, desde que seja crime
sexual ou violência domestica não agravada pelo resultado.
Podem ser impostas injunções e regras de conduta, mas não é obrigatória,
porque estes mecanismos podem ser sucedâneos do direito de queixa.
Art 281 nº7 e 8 só remetem para alienas b e c do nº1, os únicos requisitos que
tem que estar preenchidos é b e c do nº1. Não se exige como se exige no corpo do nº1
que sejam impostas ao arguido injunções e regras de conduta, é aspeto importante e
que se prende com natureza do instituto.
Existe neste instituto valorização maior do interesse da vitima, diz-se no nº7 que
é preciso requerimento da vitima, ao passo que no regime ordinário basta concordância
do assistente, nem se exige concordância de todas as vitimas, apenas daquelas que
tenha constituído assistente e iniciativa não tem que ser do assistente. No caso da
violência domestica, tem que haver iniciativa da vitima, mesmo que não constituiu
assistente. No caso de crimes sexuais contra menores, exige-se que mp atue orientado
pelo interesse do menor, nº8.
Art. 282 nº5: O prazo de duração da suspensão é mais dilatado porque são
crimes um pouco mais graves, o legislador admite que suspensão possa ir ate os 5 anos
e não os 2.
É esta a diferença entre regime especial em relação ao geral.
nº3: A mediação penal está prevista para certos tipos legais de crime, não se
admite mediação penal quando sejam crimes contra liberdade e autodeterminação
sexual, também quando seja menor de 16 anos o ofendido. Compreende-se pelo facto
da mediação ser acordo entre ofendido e arguido, para que haja acordo é preciso haver
autonomia da decisão, das duas partes. Não se compreenderia mediação penal em que
não haja igualdade mínima, em que vitima está em situação de fragilidade e não pode
discutir em posição de igualdade, como é o caso do ofendido com menos de 16 anos,
em relação a ele não pode haver mediação. Assim como liberdade de autodeterminação
sexual, autonomia aqui é menor.
Também se exclui por crimes de peculato, que pressupõe um certo mercadejar
com o cargo. Na corrupção, no peculato (funcionário que se serve de bens ou de
dinheiro que lhe foi confiado, mas cuja propriedade não lhe cabe, como presidente da
camara municipal que aproveitando obras da camara, manda maquinas para arranjar a
sua casa). Na corrupção e no tráfego de influencias há mercadejar com deveres do cargo
e legislador considera que não seria adequado, do ponto de vista preventiva, se
permitisse ao arguido mercadejar também neste âmbito, negociando um acordo com
potencial ofendido. São crimes públicos e nunca admitiriam mediação penal.
A mediação penal está afastada nos casos em que seja aplicável o processo
sumaríssimo e sumario porque são instrumentos enraizados com experiencia de
aplicação com campo maior.
Pode o mp em qualquer momento do inquérito remeter para mediação e pode
iniciativa da medição penal resultar de acordo de vontades entre arguido e ofendido
que podem requerer mediação. Esta possibilidade é altamente improvável se forem
crimes semipúblicos ou particulares em sentido estrito, depende de queixa para inicio
do processo e é improvável que vá para mediação penal. Se há queixa, é conflito patente
e pouco provável que queixoso aceite acordar com arguido para remeter para os autos
de mediação penal.
Sendo remetido para os autos, são entregues ao mediador, não é conduzida pelo
mp. É conduzida pelo mediador imparcial que procura aproximar o ofendido e arguido
para estabelecer acordo para restabelecer paz social. Este acordo é livremente moldado
pelo arguido e ofendido pela supervisão do mediador.
PRINCIPIO DA ACUSAÇÃO
É o 3º principio de promoção do processo. É estruturante e dai dizemos que o
nosso modelo acusatório, mas não se basta com consagração deste principio. A
imparcialidade, a objetividade que conjuntamente com a independência são condições
indispensáveis de um autentica decisão judicial só estarão asseguradas quando a
entidade julgadora não tenha também funções de investigação preliminar e acusação
das infrações, mas antes possa apenas investigar e julgar dentro dos limites que lhe são
postos por uma acusação fundamentada e deduzida por um órgão diferenciado, em
regra o mp ou um juiz de instrução.
Este impõe separação material entre quem investiga e quem acusa e entidade
competente por outro. Não pode ser separação formal, havia separação formal no
código de 1929 ate 45, era separação formal porque mp acusava e juiz julgava, mas mp
acusava com base em investigação dirigida pelo juiz que faria julgamento. Mas acusação
não se basta com separação formal, é preciso que seja material.
Não pode ser funcional, existiria se o código atribuísse competência ao mp para
investigar e juiz julgar, mas permitisse que magistrado que tivesse intervindo fizesse a
investigação e julgamento. Isto não é possível, a separação tem que ser material, é
assegurada através de mecanismo dos impedimentos do art 39 nº1 alínea c). não pode
intervir no julgamento quem tenha intervindo como representante do mp no processo.
Porque fazemos questão de consagrar principio de acusação?
O juiz que tivesse feito investigação garante menos essa imparcialidade. Fica
comprometido com resultado da investigação. Se magistrado tiver comprometido com
investigação, não vai julgar com imparcialidade. Principio da acusação é importante
porque é pressuposto fundamental da imparcialidade do julgamento, sem principio da
acusação não haveria julgamento imparcial.
Este principio exige que não seja o tribunal de julgamento a ter iniciativa de
investigação. Este é um dos conteúdos essenciais do principio de acusação, postula que
este não tenha iniciativa do processo. Esta implicação do principio da acusação é
acolhida integralmente pelo cpp, já que há um conjunto de diligencias que visam
investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade
deles e descobrir e recolher as provas, em ordem à decisão sobre a acusação, art 262,
estando perante a fase de inquérito. Esta inicia-se quando o mp adquire noticia do
crime, art 241 e 262 nº2, cabendo a esta magistratura a direção do inquérito, art 263,
bem como o encerramento deste, através do arquivamento ou da dedução de acusação.
PRINCIPIO DA INVESTIGAÇÃO
É estruturante, define o modelo processual que é de estrutura acusatória e é
com base em principio de investigação. É transversal a marcha processual e tem relevo
na matéria probatória. O juiz pode ordenar oficiosamente a produção de meios de prova
que são necessários para descoberta da verdade, podendo-se designar como principio
da verdade material.
Consiste num poder-dever que ao tribunal incumbe de esclarecer e instruir
autonomamente mesmo para além das contribuições de acusação e da defesa, o facto
sujeito a julgamento, criando aquele mesmo as bases necessárias á sua decisão.
PRINCIPIO DA SUFICIÊNCIA
O processo penal é em principio o lugar adequado ao conhecimento de todas as
questões cuja solução se revele necessária á decisão a tomar. Na decorrência do
procedimento, podem surgir questões de diversa natureza, penal, civil e administrativa,
cuja resolução condiciona o ulterior desenvolvimento do iter, dando a lei competência
ao juiz penal para delas conhecer, revela a sua intenção primacial de considerar que o
processo penal a si mesmo se basta que é a auto-suficiente.
Se se permitisse este fracionamento em virtude do surgimento de questões
prejudiciais, pôr-se-iam em serio risco as exigências compreensíveis e relevantíssimas ,
de concentração processual ou de continuidade do processo penal e permitir-se-ia que
por este modo se levantassem indiretamente obstáculos ao exercício daquele processo.
São questões prejudicais, em que por vezes o tribunal é chamado a decidir não
apenas a questão principal, que se debate saber se alguém cometeu ou não crime, como
também outras questões que não tem natureza penal, mas são necessárias para decisão
penal. dizem-se questões prejuciais aquelas que possuindo objeto ou até natureza
diferente do da questão principal do processo em que surgem e sendo suscetíveis de
constituírem objeto de um processo autónomo, são de resolução previa indispensável
para se conhecer em definitivo a questão principal.
Exemplo.: para saber se há crime de desobediência é preciso saber se há ordem
legitima ordenada pela entidade competente, é preciso saber da para saber se foi
emanada pela entidade competente para se constatar se houve ou não desobediência.
Ou o furto supõe subtração de coisa alheia, se existir controvérsia sobre
propriedade da cosia, alguém que quadro valioso foi-lhe doado ou adquiriu quadro por
usucapião, pode ser preciso discutir matéria de contratos ou direitos reais. São questões
alheias do dp, mas podem ser necessárias para decisão da questão penal. são questões
prejudicais, questões jurídicas autónomas da questão principal, autónomas quanto ao
objeto e quanto a sua natureza, cujo conhecimento prévio e é indispensável para que
se possa decidir a questão principal na medida em que sentido a questão prejudicial
condiciona o sentido a dar a decisão final.
É preciso que seja decisão autónoma que tenha que ser resolvida antes da
questão principal, porque condiciona o sentido de resposta a dar à decisão final.
Pode haver:
- questões prejudiciais penais em processo penal, no crime de denuncia
caluniosa, art 365 do cp, existe quando alguém denuncia outra pessoa pela pratica ou
suspeita da pratica de crime. Para que cometa de crime de denuncia caluniosa tenha ele
denunciado a pratica de crime. temos que saber a denuncia e ver se quem denunciou
incorreu em denuncia caluniosa. São decidas em processo penal. são decidas n processo
onde se debate a questão principal.
É cometimento de crime de denuncia caluniosa por A que cometeu crime que é
ação principal e pode ser necessário para saber se aquele que impute a B o crime de
violação, o tribunal competente para julgar denuncia caluniosa é tribunal da comarca
de porto, mas crime de violação seria o de faro. As questões prejudiciais são decidas
por tribunal da questão prejudicial. Há alteração da competência territorial.
- questões prejudiciais não penais em processo penal: aqui as vias podem ser
duas e de sentido diferente:
- tese do conhecimento obrigatório, ou suficiência absoluta, o
tribunal penal é competente para conhecer de todas as questões prejudiciais, sejam elas
quais forem e em qualquer circunstancia, exceto caso julgado.
Há vantagens aqui: vantagem de celeridade, sempre que se suspende processo
penal a espera que tribunal decida questão prejudicial há uma perda processual.
Materialmente ela pode basear-se não so na exigência de que se não suscitem
obstáculos á concentração e continuidade do processo penal, como ainda na intenção
primária deste processo de verdade material.
Como desvantagens temos o facto do processo penal e civil tem estruturas
diferentes, ao processo penal interessa verdade material, em termos históricos,
interessa verdade mais próxima de momento histórico enquanto no processo civil, se
aceita verdade meramente formal, é ator que alega factos e o reu que contesta. A
confissão, não impugnação, a transação não significa que dados ficam dado por
provados. O legislador aceita verdade formal que resulta de equilíbrio de regras
processuais. Não é assim no processo penal.
Exemplo.: às vezes, no crime de furto não interessa saber se coisa era alheia ou
não, se era de outrem ou se pertencia ao agente. Interessa saber se agente tinha razoes
para convencer que coisa é sua. A matéria do erro é relevante em matéria penal. outra
das vantagens é a possibilidade que ela abre de apreciação da questão do ponto de vista
jurídico e penalmente relevante.
Nº2: que requisitos para tribunal penal se abster de decidir e devolver a outro
tribunal? Devolução facultativa.
É previso que estejam cumpridos 3 requisitos:
- que se trate de questão prejudicial não penal, tem que ser matéria cível, de da
ou direito laboral, ou de direito da família, tem que ser matéria não penal;
No código de 29 não fazia isto, confiava nos juízes e dizia quando tinha que haver
devolução e quando não tinha lugar. Agora legislador usa caminho diferente, serve-se
de conceito indeterminado e da margem de atuação ao tribunal para decidir pela
suspensão ou decisão no próprio processo penal.
Embora seja conceito indeterminado não é verdadeira discricionariedade, não é
matéria que esteja dependente da livre resolução do tribunal. Este consta no art 400
nº1 b). as matérias que são de livre resolução do tribunal são matérias pela qual não
pode haver recurso, a decisão que tribunal tome sobre matéria não é passível de
recurso.
Temos entendido que apesar de principio de suficiência discricionária, o
interprete ainda esta vinculado a lei, é conceito indeterminado, mas interprete e
aplicador do direito age vinculado à lei e decisão é passível de recurso, não cai no
âmbito do art 400 nº1 b).
PRINCIPIO DA CONCENTRAÇÃO:
O principio da concentração do processo penal exige uma prossecução tanto
quanto possível unitária e continuada de todos os termos e atos processuais, devendo
o complexo destes, em todas as fases do processo, desenvolver-se na medida do
possível concentradamente, seja no espaço, seja no tempo.
Adquire importância na audiência de discussão e julgamento, para que decorra
de forma continuada no espaço e no tempo sem que haja interrupções que prejudiquem
continuidade. Demanda este principio que marcha processual no seu todo e audiência
do julgamento decorre sob presidência do mesmo juiz e de forma concentrada no
espaço e no tempo.
O principio da concentração e particular relevância da audiência de julgamento
prende-se com articulação de princípios, um desses princípios é principio da livre
apreciação da prova, juiz aprecia a prova segundo convicção pessoal. é juiz que afere se
a prova merece credibilidade e que peso relativo lhe deve caber no computo dos meios
de prova. O juiz não está vinculado a regras probatória prefixadas pelo legislador. Não
acontece como acontecia no sistema inquisitório medieval no sistema de prova legal,
não acontece que cada valor de meio de prova esteja pré-estabelecido pelo legislador.
Temos no nosso ordenamento jurídico o principio de livre apreciação da prova,
é juiz que avalia o peso relativo que meio de prova deve merecer. Esse principio de livre
apreciação de prova pressupõe que produção da prova pessoal, decorra oralmente e
perante juiz que a vai valorar.
Art 372: diz-se que concluída a deliberação e votação, tribunal elabora sentença.
A sentença é lida. Encerra-se discussão, passa-se imediatamente a deliberação,
deliberando-se e votando-se, redige-se a sentença e volta-se à sala e é lida a sentença
publicamente.
Art 373: há casos que são mais complexos, aqui concebemos prazo para que juiz
redija sentença, prazo de 10 dias, só nos processos mais complexos. É este o ideal
normativo, salvo nos casos sumários, nunca sentenças são proferidas em que há
produção de prova e deliberação. É norma programática, mas que tem pouca eficácia
pratica.
Art 318 diz-se que por vezes podem pessoas que precisam de ser ouvidas na
audiência de julgamento, assistente, partes civis, testemunhas, peritos ou consultores
técnicos, estas pessoas podem não prestar declarações nas instalações do tribunal
podendo fazer á distancia através de videoconferência ou excecionalmente declarações
tomadas no domicilio.
Diz-se no nº1 em que casos pode haver videoconferência. A lei 1/2020, no art 7
havia possibilidade de ter lugar através de meios de comunicação à distância, não se
estabelecendo outro requisito para funcionamento desses meios. A lei prevê a
possibilidade de usar quaisquer meios de comunicação á distancia, abriu outras
hipóteses. Esses meios implicam o acordo de todas as partes envolvidas e sendo
processo urgente, não havendo acordo no processo urgente a diligencia processual
devia se ter presencialmente. No processo penal havei acordo que legitimaria a
realização de audiência de julgamento à distancia. Em regra, a produção de atos
processuais á distancia, através de videoconferência ou outro sistema, tem outros
inconvenientes, é mais difícil descredibilizar a testemunha, é mais difícil valorar as suas
reações e de fazer ligação entre meios de prova.
Mas há ainda outra dificuldade: Em termos gerais no art 318, aqueles que não se
conseguem movimentar para o tribunal, é permitido que sejam ouvidos nas instalações
de tribunal. Em tempos de pandemia, agravou-se este aspeto.
Aula 6/11/2020
- PRINCIPIO DO CONTRADITÓRIO
é principio importante do processo penal, tão importante que legislador
constituinte associou a estrutura acusatória do processo, art 32 nº5 diz que está
vinculado ao principio contraditório.
É principio com tradição histórica longa. Em qualquer processo penal e não penal
e ainda processo penal inquisitória aceitou-se ideia de que se deve ouvir a outra parte
perante decisão que a vai afetar. Deve-se ouvir o arguido antes de proferir decisão
exprime-se em duas máximas: (deve-se ouvir também a outra parte) - audiatur et altera
pars e nemo potest inauditu damnari. Traduz-se a ideia de ouvir a outra parte antes de
proferir a decisão e deve-se ouvir o arguido antes da decisão condenatória.
Mas o contraditório não é este entendido num entendimento de audiência. É
mais do que dever de ouvir o arguido antes de proferir decisão que o afete. O direito ao
contraditório que a crp consagra deve ser entendido como direito à prova, direito a
defender-se, provando. É o sentido que emerge no art 32 nº1 da crp quando assegura
ao arguido a plenitude de garantias de defesa e gozar da facilidade do contraditório, art
32 nº5, significa que tem direito a defender-se da imputação fazendo prova contraria
áquilo que lhe é imputado.
Esta consagração do direito á prova significa que arguido tem faculdade e direito
de apresentar meios de prova na fase de inquérito, instrução e julgamento. Mas nem
sempre foi assim. No direito inglês, este evoluiu desde o sec 13 ate sec 18, que foi
divergente do que se fez sentir na europa, mas aqui apesar da tortura não ser comum,
salvo nos tribunais régios, de existir separação ente acusação e julgamento a entidades
diferentes, apesar disto tudo não se tratava de modelo de garantia de df das pessoas, o
arguido era detido antes do julgamento, tinha poucas possibilidades de apresentar
meios de prova. E quanto a prova testemunhal que era a prova mais recorrível, era
desincentivada. O arguido não podia obter a comparência coativa de testemunhas,
como se testemunhas que aparecessem voluntariamente contra a coroa era
desincentivada através de sanções, consubstanciava crime de depor a favor do arguido,
mesmo que fosse verdade. Cenário onde não era atribuído ao arguido o direito á prova.
Este que é modelo de estrutura acusatória que a europa depois copiou. A ideia de que
direito que arguido tem de fazer prova, é garantia recente e que so encontra
consagração a parir do sec 17 e sec 18. O direito a ser ouvido é que sempre existiu.
Quando se fala em contraditório fala-se da faculdade do arguido fazer prova e
tribunal não pode decidir a imputação sem ouvir a prova do arguido. Mas também se
refere a concreta produção de meio de prova. A aquisição das provas individualmente
consideradas deve fazer-se em moldes contraditórios. Temos concretização no Art 14
e) do pacto internacional dos direitos civis e políticos e art 6 nº3 d) da convenção de
direito humanos, o arguido tem direito de interrogar as testemunhas de acusação e das
defesas. É aqui que reside a nota de que arguido tem direito a indicar as testemunhas
e de interrogar, como interrogar as testemunhas de acusação. Significa isto que o
tribunal não deve aceitar meio probatório, não deve aceitar depoimento de testemunha
sem descredibilizar esse meio probatório. O principio do contraditório expressa-se desta
forma.
PRINCIPIO DA INVESTIGAÇÃO:
Em matéria de admissibilidade discutimos quem é que tem iniciativa probatória
e a resposta depende do sistema do modelo processual que se adote. Num sistema
processual, num processo de estrutura inquisitória a iniciativa cabe ao tribunal. No
inquisitório medieval era juiz que adquiria a noticia de crime, através da infâmia. Em vez
de esperar que fosse deduzido a acusação, tomava iniciativa de investigar, principio da
oficialidade. Investigava e não precisava para julgar que alguém diferente acusasse e
gozava de poder de ordenar qualquer meio de prova, principio da investigação. O juiz
tem mais ampla iniciativa probatória e pode ordenar produção de quaisquer meios de
prova.
Já no modelo acusatório, a prova, a iniciativa probatória cabe as partes, acusação
e defesa e o juiz intervém como arbitro passivo so deferindo ou indeferindo os meios de
prova que tenham requerido.
O nosso modelo é de estrutura acusatória integrado com principio de
investigação judicial. Ou seja, os sujeitos processuais têm iniciativa probatória, tem
direito de indicar os meios de prova, mas juiz tem também poder dever de comprovar
enunciados factuais para tomada de decisão, mesmo na falta de iniciativa das provas
ou colmatando lacunas da iniciativa das portas. Pode o juiz ordenar provas contra
vontade dos sujeitos processuais, juiz não está limitado aos meios de prova que as
partes ofereceram ou venham oferecer.
Exemplo.: se juiz num processo concreto verifica que o arguido está mal
representado e não requer provas que são necessárias para evidenciar a inocência do
arguido, pode o juiz ordenar a produção desses meios de prova. O juiz não é arbitro
passivo a deferir ou não as provas apresentadas pelo defensor ou pelo mp. Tem poder
e dever de ordenar quaisquer meios de prova, da verdade da imputação ou da inocência
do arguido.
- as positivas que foram as que vigoraram entre sec 13 e 18, prefixaram o valor
de cada meio de prova e obrigavam o juiz a dar como provados os factos, desde que
provas requeridas pela lei estivessem verificados, ainda que juiz estivesse convencido
pessoalmente pela inocência. Estes meios de prova pré-determinam o valor e obrigam
a julgador a dar como provado a hipótese acusatória, mediante a verificação dos
pressupostos, ainda que esteja pessoalmente convencido do contrário.
A regra de unus testis nullus testis converteu-se em regra de prova legal positiva.
Passou-se a dizer que quando existir uma testemunha, não se pode condenar, mas se
existir duas, o juiz está obrigado a condenar. Na prova legal positiva, verificado
depoimento concordante de duas testemunhas, está obrigado a condenar. Tinham
cunho positivo, obrigava a condenar ainda que a sua convicção seja pela inocência do
arguido. Evoluiu para sistema de hierarquia das provas e aritmética da prova.
Limites internos:
- regras da experiência: Art 127 consagra livre apreciação da prova e legislador
vincula a convicção do juiz ao respeito das regras da experiência. É convicção sobre
prova que está vinculada ao respeito das regras de experiencia. Que regras de
experiencia? São padrões estereotipados de comportamento pessoal que podem ser
usados para apreciar conduta de pessoa. valor que se estabelece a certos indícios
assenta na máxima de experiência, quem é inocente não foge. Se fugiu, então pode ser
culpado.
Exemplo.: tratava-se de crime de ameaça e foram ouvidos o ofendido e do lado
do arguido, ele prestou declarações confirmando que sim é verdade, mas negou logo.
Houve testemunha indicada pelo arguido que estava a fazer trabalhos e via o local onde
os factos ocorreram. A testemunha do ofendido diz que assistiu aos factos e que estava
a trabalhar num jardim de uma casa do ofendido, mas a testemunha do arguido explicou
que a casa estava desabitada e que cadeado esteve fechado a manhã toda e ninguém
tinha entrado. A testemunha do ofendido diz que foi transportado pelo patrão e por isso
é que não havia la carro nenhum e que subiu pelo portão. Não soube explicar. As regras
da experiencia intervém aqui, é estranho alguém passar por cima do portão. O juiz
considera as regras da experiencia porque é contrario a regras da experiencia.
- Juiz tem que fundamentar a matéria de facto, decorre do art 205 da crp e no
que respeita ao cpp está consagrado no art 97 nº5 em matéria de facto e de direito, mas
interessa a fundamentação da matéria de facto. Legislador é mais assertivo na
regulamentação em particular da fundamentação na sentença. Legislador teve cuidado
no momento da redação da norma.
Art 374 do cpp: fundamentação da matéria de facto, juiz deve elencar factos que
considera provados e aqueles que não estão provadas, mas não basta, juiz tem que fazer
exposição de motivos de facto e de direito que fundamentam a decisão. Deve indicar
de meios de prova que deu como provados ou não os meios de prova e deve indicar a
fundamentação. Deve dizer o que a testemunha disse que permite afirmar que foi
provado determinado facto.
Mas não é suficiente, diz no nº2 que juiz deve fazer indicação e exame critico das
provas que serviu para formar a decisão do tribunal, deve indicar os raciocínios de que
se serviu para atribuir mais peso a uma testemunha, em detrimento da outra. Deve
indicar que critérios de valoração, máxima de experiência e critérios lógicos que se
serviu para formar convicção num determinado sentido e não do outro.
Este principio indica que juiz decida segundo a sua convicção que está assente
em critérios lógicos. Mas este principio da livre apreciação de prova sofre limites
normativos. O legislador intervém em matéria de valoração. há limites normativos a
livre apreciação da prova, legislador sobrepõe-se a consciência do juiz na valoração da
prova, introduzindo provas probatórias legais, quer negativas, quer positivas. Há
intervenção do legislador pontual em matéria de intervenção que se traduziu em limites
negativos de intervenção.
- os limites negativos introduzidos pelo legislador: impedem a decisão do
julgador de assentar nos seguintes fatores:
- proibição de valoração do silencio, quer total, quer parcial. Mesmo que
juiz esteja convencido que o silencio é suspeito, não pode valorar silencio em
desfavor do arguido., nos termos da alínea do art 343 nº1 e nº1 do art 345 do
cpp. O arguido tem direito ao silencio, art 61 nº1 d), pelo que não pode estar
obrigado a prestar declarações sobre a matéria de imputação, cabendo ao
tribunal esclarecê-lo quanto a esse direito de não responder.
Trata-se de um direito á não autoincriminação que tem proteção
constitucional (art 32 nº1 e 3 da crp).
Nestes casos, quer confissão, quer prova pericial tem peso probatório que se
subtrai à livre apreciação de julgador. Preenchidos requisitos têm valor de prova plena,
o juiz condena sem produção de outras provas. Mas se juiz duvidar da confissão, não
tem valor plena e se juiz divergir do conteúdo dos pareceres dos peritos, deve
fundamentar a divergência. São ainda interferências do legislador limitadas, porque se
fossem mais interferências, nem se podia dizer que era sistema de liberdade de
produção de prova.
Mas no art 345 nº4 estabelece o facto de existir duas pessoas que são coarguidos
que respondem perante o mesmo crime.
Exemplo.: a decide falar e b remete ao silencio. a diz que a ideia foi de b e que
ele apenas deu boleia para aquela zona, pediu para esperar e entretanto a policia chega.
Os juízes e jurados decidem fazer perguntas e ainda defensor de b. perguntam
perguntas difíceis e não responde, pode não responder e tem direito parcial ou total de
silencio e não se pode valorar contra a o facto de que não responder, mas aqui o que se
diz no art 345 nº4 é que não se pode valorar as declarações de a contra b, contra outro
coarguido a quem as declarações apresentam. Ter em atenção isto, é erro comum no
exame: não podem ser valoradas contra o outro coarguido, contra ele podem ser
valoradas, mas não em relação ao outro.
A lei proíbe isto porque se a estiver calado e b falar e responder pode ser
valorado contra b e contra a, mesmo que a tenha decidido remeter-se ao silencio,
legitimamente, não é para proteger o direito ao silencio de a. é porque quando arguido
b deixa de responder algumas perguntas impede a fiscalização efetiva das prestações
que preste. Furta-se ao contraditório e impede que haja fiscalização efetiva pelo
tribunal daquilo que está a ser dito. Este depoimento que não é bem fiscalizado porque
não responde algumas perguntas é depoimento mais frágil, com menores garantias de
verdade e por isso legislador entende que não deve ser considerado. Impede a
fiscalização pelo coarguido a quem a declaração que afeta e ainda impede o
conhecimento da verdade.
Esta norma vale também no caso em que a e b falam os dois.
Os rumores e vozes publicas art 130 também não podem ser valoradas. É caso
em que a testemunha diz que a pessoa é isto e aquilo so porque ouviu dizer. Os rumores
públicos não são meios de prova, não têm valor de prova.
- tem que ser uma confissão em crime que não seja punível com pena que não
ultrapasse os 5 anos (alínea c): Isto porque se tem entendido que são mais prováveis
confissões falsas quando são crimes mais graves, de maior mediatismo. Para além disso,
o legislador pretende, a contrario favorecer uma ideia de consenso no âmbito da
pequena e média criminalidade, admitindo concessões em favor de uma verdade forma.
Exemplo.: no homicídio não era possível existir confissão.
- é preciso que seja processo em que não haja coarguidos, ou havendo, todos
eles confessem os factos no mesmo sentido (alínea a).
Porque esta exigência?
Faz sentido porque alternativas não eram viáveis. Um dele confessando e outros
não, não se pode estender confissão do que declara aos demais, porque seria violar a
liberdade de declaração dos outros, haveria erosão do seu direito ao silencio. A
confessa, a confissão vale em relação a a, não pode dar provado os factos que a confessa
e estender aos outros. A confissão tem como consequência dar os factos provados. O
tribunal não pode dar os factos de a provados, sem que b confesse. Não pode dar como
provados em relação a um e dar como controvertidos em relação a outro.
Quando um confesse e outro não, os factos continuam a ter-se como
controvertidos, a confissão não tem valor de prova plena e produz-se prova toda e
fazem-se contas. Vemos provas e fica convencido ou não quanto a imputação. Não pode
é dar como factos provados por força da lei, não pode por força da lei darem esses factos
como provados. Se esses estiverem preenchidos, a confissão tem valor de prova plena,
dispensa-se outros meios de prova.
Aula 13/11/2020
O principio da livre apreciação supõe que entidade competente para decidir seja
juiz no momento da prolação da decisão final. Uma autoridade judiciária quando seja
chamada a apreciar prova e decidir, o principio que vale é livre apreciação. A entidade
aprecia a prova segundo a sua convicção pessoal sujeita a critérios racionais, a lei fala
de regras de experiencia e suscetível de controlo em sede de motivação e de recurso.
Tem significado negativo no sentido de que juiz está desvinculado de critérios
normativos que sejam vinculativos em matéria das provas, não há regras que tarifam
valor das provas.
Tem também significado positivo, porque não é convicção puramente subjetivo,
é sempre livre apreciação condicionada ao respeito de regras de experiencia, sujeita a
fundamentação e recurso, em sede de recurso.
É principio geral, mas legislador intervém em matéria de valoração e sobrepõe
os seus critérios aos do juiz e faz-se numa dimensão negativa, estabelecendo regras
negativas de valoração, que excluem ou limitam determinadas provas.
As regras positivas, situações em que legislador sobrepõe o seu comando
normativo á convicção do juiz atribuindo valor reforçado a certas provas, como
confissão que tem valor de prova plena se verificar requisitos do art 344. A livre
apreciação da prova não é totalmente excluída, porque juiz pode deixar de atribuir valor
de prova plena quando suspeitar que confissão que não é livre.
- falta ver aspeto em que lei atribui a prova pericial uma prova de valor pleno.
Art 163 do cpp diz que juízo técnico, cientifico e artístico inerente a prova pericial
esta subtraído da livre apreciação. parece que decorre da lei que julgador esta vinculado
pelo juízo técnico, artístico que esta na prova pericial, que não pode dele afastar-se.
Temos precisão: juiz não está vinculado pelo parecer dos peritos, o juiz esta
vinculado ao juízo que seja estritamente técnico que está na perícia. Se se pedir analise
psíquica que seja determinante da sua inimputabilidade. Na parte pericial em que perito
discuta a existência de anomalia psíquica, as consequências no plano cognitivo e
funcional, em tudo o que diga respeito a juízo cientifico, o juiz está vinculado.
Mas se perito for alem das suas competências e se se pronunciar se anomalia
psíquica é determinante ou não é de inimputabilidade, já emite decisão jurídica. A
inimputabilidade supõe existência de substrato biológico, anomalia psíquica, mas tem
também plano normativo que escapa á competência do perito. Se perito no seu
relatório emitir opinião sobre saber se pessoa é ou não inimputável nessa parte que
extravasa as competências, o juiz não esta vinculado nesta parte.
Art 163 nº2: diz que juiz se pode afastar do juízo cientifico. Mesmo relativamente
a este juízo, pode afastar-se da opinião dos peritos, desde que se fundamente. O juiz
não pode fundamentar a divergência apelando a conhecimentos que não estão na base
da perícia. Se é perícia que convoca conhecimentos de ordem medica, juiz só pode
divergir de acordo com regras de ordem medica, regras metodológicas daquela área
artística ou cientifica. O que significa que ou juiz tem domínio dessas áreas, que é
excecional, ou então para divergir da perícia, tem que se basear em outros peritos. Não
pode simplesmente discordar.
Também se permite e exige do juiz que faça controlo do respeito do perito pelas
regras metodológicas aplicadas a área cientifica. Se for notório que perito deixou de
observar as regras metodológicas, juiz pode afastar, mas tem que pedir nova perícia.
O juiz está vinculado pelas regras cientificas e técnicas que são típicas em
determinada área de conhecimento que ele não domina. Se é necessário prova pericial
quando há apreciação de factos que exigem conhecimentos científicos, então juiz fica
vinculado ao juízo dos peritos daquela área e só pode divergir fazendo apelo a
conhecimentos da mesma área.
Questão que se coloca é saber se isto não será um ónus da prova unilateral a cargo da
acusação?
Não é ónus da prova, porque supõe equilíbrio na posição entre sujeitos
processuais, no nosso sistema não há disponibilidade sobre objeto e não há
autorresponsabilidade probatória das partes.
Mas não será ónus da prova material, unilateral a cargo da acusação? Não se
pode dizer que é ónus da prova formal porque não é um processo dispositivo das partes,
segundo o qual as partes teriam o dever de produzir as provas necessárias a escorar as
suas afirmações de facto, sob pena de não verem os factos respetivos ser tidos como
provados.
Mas se decisão favorecesse arguido e desfavorece a acusação, não será ónus material
a cargo da acusação?
Não se pode falar em ónus material, porque decisão que favoreça arguido, não
é no nosso sistema uma decisão desfavorável a acusação. O mp no nosso sistema está
pautado por critério de objetividade e de legalidade, investiga a favor da defesa e a
favor do estado. O cpp prevê a legitimidade do mp para recorrer no exclusivo interesse
do arguido, assim vai a objetividade do mp. O mp não está empenhado a condenar, mas
empenhado na verdade material, seja verdade acusatória, ou exculpatória. Seja arguido
que tem culpa ou conclusão de que é inocente, é a verdade. Por isso, não se pode dizer
que decisão desfavorável do arguido seja favorável à acusação. Não é ónus de prova
material, porque decisão desfavorável do arguido não é favorável para o mp e vice-
versa.
Posto isto, o principio in dubio pro reo não vale apenas nos sistemas como o
nosso. O principio da investigação judicial, num sistema em que o tribunal tem o poder-
dever de investigar oficiosamente os factos sujeitos a julgamento a despeito ou mesmo
contra a vontade dos sujeitos processuais, a duvida do juiz não poderia ser resolvida em
desfavor do arguido. Este principio explica porque a decisão tem que ser favorável ao
arguido, mas não é essa a razão.
Deve haver outro fundamento: principio da presunção da inocência, pode ser
regra de juízo ou regra de tratamento. Nesta dimensão probatória liga-se ao dubio pro
reo. Este é fundamento do principio in dubio pro reo, está consagrada no art 32 nº2 da
crp, mas também consta em diplomas internacionais que vinculam estados que não
estão com a mesma matriz que o nosso, art 6 da convenção dos direitos humanos e no
art 14 do pacto internacional dos direitos políticos. Se se presume que é inocente, a
prova da culpa tem que ser feita por pessoa diferente do arguido e não se logrando essa
prova, a decisão deve favorecer o arguido, parece que in dubio pro reo é decorrência da
presunção da inocência. Não é arguido que tem que provar que não cometeu o crime,
é o estado que tem que provar.
Mas esta ligação levanta problemas entre os dois princípios: A presunção da
inocência é correlato processual do principio da culpa (nulla poena sine culpa). Não
pode haver pena sem prova cabal do crime da culpa do agente quanto aos factos.
Surge problema de que há matérias que interessam ao dp, mas que não se ligam
à culpa, como aplicação de medida de segurança que não supõe culpa. Ligar in dubio
pro reo à culpa, seria tornar inaplicável o dubio pro reo nas medidas de segurança que
são aplicáveis a inimputáveis, incapazes de culpa, estando em causa meramente a
perigosidade do agente.
Como resolver problema?
Cristina Líbano Monteiro defende que o principio in dubio pro reo não assenta
na presunção de inocência, não se trata de proteger inocente, mas de colocar limites a
função punitiva do estado, do ius puniendi estatal. Trata-se de impor limites a
intervenção do estado nos casos de duvida probatória. O objeto seria para proteção da
legitimidade da intervenção penal do estado, seja através de penas, seja através de
medidas segurança. A intervenção do estado não seria legitima no caso de duvida
probatória.
Professora acha que esta posição de Cristina tem um custo sério, o facto de se
desligar o in dubio reo do seu étimo histórico enfraquece principio e ainda mais quando
se retira in dubio da alçada constitucional do art 32 nº2, sem que lhe seja outorgada
equivalência com o dever fundamentação da decisão judicial. O 205 não fornece
garantia equivalente ao art 32 nº2 porque o dever de motivar as decisões torna possível
a fiscalização da efetiva observância do in dubio pro reo num sistema que consagre o
principio in dubio, mas não tem o poder de tornar inconstitucional lei que restrinja ou
elimine o principio in dubio. O dever de fundamentação é compatível com in dubio pro
reo, como o seu contrário. Não diz os critérios que vinculam o juiz no momento de
decidir.
Se estiver consagrado o principio in dubio pro societate, se sistema disser que
em caso de duvida irremovível, a decisão deve desfavorecer o arguido e favorecer a
punição do estado, o juiz consegue fundamentar da decisão dizendo que ficou em
estado de duvida e aplicar medida sancionatória. O dever de fundamentação só é
mecanismo de fiscalização se for cumprido o principio in dubio pro reo ou o principio
contrário. O dever de fundamentação apenas obriga a fundamentar de acordo com
principio que sistema estabeleceu.
O principio in dubio pro reo vale em matéria de facto e obriga a decisão favorável
ao arguido que não é decisão absolutória. Essa é a mais favorável, mas in dubio pro reo
impõe que se decida em favor do arguido sobre a duvida que exista e depende da
natureza do facto, saber se duvida conduz a absolvição ou não. o principio in dubio pro
reo pode ser aplicado sem qualquer limitação aos elementos fundamentadores e
agravantes da incriminação, mas também ás causas de exclusão da ilicitude e da culpa,
às condições objetivas da punibilidade, bem como ás circunstancias modificativas
atenuante e em geral a todas as circunstancias relevantes em matéria de determinação
da medida da pena que tenham por efeito a não aplicação da pena ao arguido ou a
diminuição da pena concreta.
Exemplo.: in dubio pro reo vale quando estejam em causa pressuposto fácticos
do tipo incriminador, os elementos de facto. Ora está em causa imputação do arguido
da pratica de homicídio, se existem duvidas se a vitima morreu, ou sobre se for arguido
que matou a vitima, essa duvida deve ser decidida em favor dando-se como não provado
a morte ou a não imputação, leva a absolvição.
Mas pode ser sobre circunstancias agravantes: premeditação, no despacho de
acusação diz-se que agente planeou o crime com antecedência, que comprou caçadeira,
que escolheu melhor horário e no dia que era mais adequado, disparou. é circunstancia
agravante e vale em relação a ela o in dubio pro reo. Se houver duvidas, o juiz deve dar
como não provada a premeditação. Mas não significa não será condenado, será, mas
não de forma tao agravada.
Vale também quanto a pressuposto das causas de justificação. Se existe duvida
sobre pressuposto da legitima defesa deve-se dar como provado e provado a legitima
defesa, deve-se absolver o arguido.
mas se duvida incide sobre situação atenuante, deve-se provar o facto, mas não
conduz a absolvição. É condenado, mas com aquela atenuação.
in dubio pro reo vale também para condições objetivas de punibilidade.
in dubio pro reo tem esta abrangência, vale para tipo incriminador, para causas
de justificação, condições de punibilidade, nesse domínio em que esteja em duvida
sobre os factos e não sobre interpretação das normas.
Mas há certos domínios em que parece haver exceções do in dubio pro reo:
- crimes contra a honra: art 180 nº2 b) do cp diz-se o ónus probatório a cargo do
arguido quando queira afastar a punição por difamação. Art 180 incrimina a difamação
e nº2 aplica-se a injuria. A conduta não é punida, estabelece-se ónus probatório de
provar os factos ofensivos da honra que imputou a vitima para evitar a punição por
difamação ou injuria. Pode afastar a punição se provar que os factos desonrosos que
referiu são verdadeiros. Cabe ao arguido o ónus de provar que são verdadeiros factos
que imputou a outra pessoa, a vitima. Temos ónus de prova a cargo do arguido. Existe
exceção do in dubio pro reo.
Temos questão de saber se exceção que consta no art 180 nº2 b) é ou não
inconstitucional, se não é presunção de culpa contrária à presunção de inocência, do art
32 nº2 da crp?
Não é inconstitucional, porque não se trata de presunção de culpa e porque in
dubio pro reo é afastado num aspeto circunscrito. Não é afastado em relação a crime
de difamação no seu todo, é afastado no que diz respeito a causa de justificação, que é
assim que a doutrina qualifica, é afastado na causa de justificação especifica, mas não é
afastada em relação a elementos do tipo incriminador. Em relação e eles vale nas
circunstancias agravantes. Vale nesta concreta causa de justificação, outras que
existem, legitima defesa, etc, continua a valer. É limitação circunscrita e não se traduz
na violação da presunção de inocência, as vezes podemos fazer restrição, que tem que
ser proporcional e não afetar núcleo.
E por ser restrição mínima, é afastamento fundada racionalmente, porque o que
se pretende com solução foi criar área de risco permitido que favoreça liberdade de
expressão.
Este quadro em que não há violação da presunção da inocência, não significa que
solução do nosso legislador não mereça censura. O tribunal europeu dos direitos
humanos já condenou o estado português por violação do direito a liberdade de
expressão, na medida em que alcance das normas incriminadores é excessivo. Não
violam a presunção da inocência, mas viola liberdade de expressão, segundo
entendimento deste tribunal.
Exemplo:. Pessoa que escreveu livro e alguém que escreve outra obra cientifica
a rebater as posições da autora e diz que tinha que voltar à escola. A senhora apresentou
queixa-crime e o tribunal condenou o autor e colocou recurso e o tribunal europeu
condenou o estado português.
- Outra solução que não está consagrada na lei, mas é discutida e legislador já
tentou introduzir, mas sempre com o veto do tc: incriminação do enriquecimento
ilícito. Arguido é punido por bens que são incompatíveis com os seus rendimentos. Há
presunção da origem ilícita de certos bens que só é ilidida mediante prova do arguido
que os bens têm origem licita, mas na perda alargada a consequência é confisco dos
bens, aqui a consequência é aplicação de sanção, de pena de prisão que pode ir até 5
anos pelo crime cujo elemento núcleo é a existência de património incongruente com
rendimentos declarados, cuja consequência licita agente não consegue provar.
Há violação do principio da presunção de inocência, temos consagração de
verdadeira presunção de culpa que ao arguido competiria ilidir. Há diferença de grau
entre esta e a medida anterior, uma coisa é confisco, outra coisa é aplicação de pena
cujo tipo objetivo é definido na circunstancia de deter bens que são incompatíveis com
os seus rendimentos. Temos violação do principio in dubio pro reo, da presunção de
inocência e do principio nemo. Por isso a censura tem sido muito grane.
Legislador tentou construir como um crime de suspeita, o agente é punido por
se encontrar em situação patrimonial que evidência a prática de crimes que não se
conseguiu provar. Há quem diga que se constrói como crime de falsidade, agente seria
punido por violar deveres de declaração de rendimentos, se se verificasse que agente
tem património que não declarou, seria punido por falsidade, por não ter declarado o
património. Este não merece censura que apontamos.
PRINCIPIO DA ORALIDADE
O principio da oralidade que significa que decisão penal proferida pelo juiz deve
assentar em elementos de prova obtidos ou apresentados oralmente perante entidade
a quem compete decidir e não com base em elementos de prova recolhidos noutras
fases e documentadas nos autos.
Este principio tem plena aplicação na audiência de julgamento, mas não vale na
fase de inquérito ou instrução. Na do inquérito, as testemunhas, o arguido, estes não
são ouvidos por quem tem competência para decidir, pelo mp e não é o mp que em
regra ouve o arguido, essas tarefas estão delegadas nos funcionários e órgãos de policia
criminal. Os depoimentos são redigidos em autos e mp valora, acusa ou não acusa. A
decisão do mp é tomada com base em elementos de prova que não foram produzidos
perante mp.
Mesma na audiência apesar de vigorar o principio da oralidade, a existência de
registos, a transcrição de provas produzidas oralmente é conveniente para preservar a
prova oral. Para preservar informação é conveniente que se redija atas e autos que são
uteis não apenas com valor preparatório da decisão, documental, para que juiz no
momento de decidir possa recordar ásperos lacunosos, como também garantir
fiscalização probatória em sede de recurso. Serve também para os desembargadores da
relação verem se decisão sobre factos foi bem tomada ou não aceder a prova. A prova
já foi produzida ou seria produzida em recurso ou o acesso a prova faz-se através dos
suportes em que prova esta documentada ou gravada. O principio da oralidade não
preclude a necessidade de haver suporte escrito que se traduz em elaboração de atas,
autos, etc. este principio não implica a total exclusão da escrita, pelo que não se impede
o tribunal de registar em autos ou atas os atos processuais, para efeitos de preparação
da decisão ou do seu controlo em sede de recurso. No entanto, a regra é a de que a
sentença deve assentar na memoria da prova que foi oralmente produzida e não dos
documentos presentes nos autos.
Esses suportes são importantes por isso legislador no art 99 está bem
explicitamente disciplinado e nos vários momentos do processo estabelece como se
fazem. No art 275 temos para fase de inquérito. Art 275 estabelece principio geral, mas
estabelece discricionariedade ao mp.
Art 275 Nº1: são reduzidas a auto, que é redigida por sumula, mas permite ao
mp que não documente diligencias cuja documentação acha que é desnecessária.
Parece que há margem de discricionária. Mas a doutrina entende que todas as
diligencias devem ser documentadas.
PRINCIPIO DA IMEDIAÇÃO
Principio relativo a forma do processo, embora este principio possa ser
perspetivado sobre duplo entendimento: sentido formal, que é principio da forma, ou
material ou objetivo e será principio da prova.
- Em sentido subjetivo ou formal, determina que juiz tenha contacto direto e
imediato sobre elementos de prova cujo contributo deve valorar. Isto releva sobretudo
no âmbito das provas pessoais, uma vez que o juiz deve ouvir presencialmente as
testemunhas, o arguido e o perito, deve ele próprio estabelecer uma relação de
proximidade comunicante com os participantes do processo para ter perceção própria
e pessoal sobre material. Contacto direto entre juiz e meios de prova. Possibilidade
prevista no art 355 do cpp.
- sentido objetivo ou material impõe que juiz utilize fontes imediatas de
informação, em detrimento dos sucedâneos probatórios, ou seja, que o juiz deve
privilegiar na decisão do caso os meios de prova que tenham maior proximidade com os
factos em causa. O principio da imediação diz respeito a relação entre meios de prova e
factos a provar, os meios de prova devem ser os mais próximos possíveis com os factos
a provar, porque tem mais garantias. Esta dimensão material recebe acolhimento nos
art 129, 356 e 357 do cpp. Por exemplo, o juiz deve ouvir a testemunha presencial em
vez de ouvir a testemunha indireta.
Art 129: o juiz não pode valorar depoimento prestado por testemunha quando
venha dizer o que ouviu dizer. A razão pela qual se proíbe o depoimento indireto prende-
se com situação de ser menor a garantia oferecida por este meio de prova, em
comparação com testemunho presencial. São testemunhas que fator de erro e de
distorção se multiplicam. Se pessoa conta mal e conta a outra pessoa, esses fatores
multiplicam-se. Temos preferência pela prova presencial, há maior fiabilidade.
É testemunho mais frágil e menos controlável, porque a testemunha do ouvir
dizer está a ser ouvida pelo juiz, mas a fonte originaria da informação escapa ao
contraditório da defesa e da fiscalização do juiz. Não apenas provas menos fidedignas
como menos controladas na sua aquisição.
Legislador procura compromisso entre garantia da maior atendibilidade
epistémica das provas e exigências da descoberta material por isso quando testemunha
não estiver presente por condições objetivas, não controláveis pelas autoridades de
perseguição penal, como casos de amnesia permanente, de coma irreversível ou
quando a testemunha direta se recusa a prestar declaração, quando testemunha
presencial não poder produzir depoimento, então legislador permite que se valore o
testemunho do ouvir dizer. Quando não se permite ouvir a testemunha presencial, é
este meio de prova que está mais próximo, quando a testemunha morreu, ou não pode
ser encontrada.
A lei repudia a valoração das declarações constantes nos autos por razoes
epistemológicos, apelando a dois aspetos:
- fragilidade intrínseca dos autos. É difícil, por mais perfeito que reproduza na
integralidade o depoimento. Cerca de 1/3 não fica refletido no auto.
- mesmo na parte em que se regista há certa transposição da linguagem da
testemunha para linguagem burocrática do tribunal. São convertidas na linguagem
estandardizada na policia e no mp. Perde-se a riqueza do discurso da testemunha, por
conversão desse discurso em linguagem estandardizada. Falta de qualidade intrínseca
dos registos. Claro que no registo áudio não há estas criticas;
- eventual e maior dificuldade de controlo a correspondência entre o que esta
registado no auto e a verdade. É mais fácil controlar a veracidade do depoimento
quando testemunha depõe perante o juiz ou por outra entidade no que nos casos em
que vê o depoimento registado, sendo que atende-se melhor às suas reações, como
ruborizar, gaguejar, etc. Torna mais difícil controlo da veracidade esclarecer lacunas ou
contradições no depoimento. A testemunha pode mentir de forma melhor no caso dos
autos.
Estas criticas atingem sobretudo os autos escritos, não valem para registo áudio
ou vídeo, mas também aqui há alguma perda, não se pode perguntar a esse vídeo. O
resto é possível. no registo vídeo, apreciar a constância do depoimento, as reações para
linguísticas (ruborizar, gaguejar) da pessoa que contribuem para ver a credibilidade do
testemunho.
- pratica de atos processuais ao abrigo do art 319 e 320 do cpp. Casos em que
testemunha não pode prestar depoimento e é ouvida no momento anterior, em que se
tem medo que a testemunha morra ou caso em que testemunha está doente e pode
prestar declarações e pode prestar em domicilio. Há as mesmas de garantia do
inquisitório. Aqui permite-se leitura porque são declarações que oferecem mesmas
garantais de qualidade epistemológica das que são produzidas na ausência de
julgamento, garantias mínimas de judicialidade são garantidas, perante presença do
juiz. Art 356 nº1 e 356 nº2 a) remetem para artigo 319 e 320 e 271.
2º núcleo de situações:
- art 356 nº4, permite-se leitura e valoração de declarações prestada perante
autoridade judiciaria, perante juiz ou magistrado do mp se declarantes não podem
comparecer por morte, anomalia psíquica superveniente ou impossibilidade duradoura,
parecida com 129 nº2. Exceções que valem para valorar depoimento, também
legitimam neste caso se forem prestadas perante juiz ou mp. A razão de ser desta
solução é solução de compromisso, ideal era so valorar o que foi dito na audiência, mas
se testemunha não pode estar, por razoes objetivas, então estes compromissos entre
fidelidade e garantia do contraditório cedem para se assegurar a descoberta da verdade
material.
3º nucelo:
- art 356 b) quando sujeitos processuais estiverem de acordo na sua leitura,
então pode ler-se e valorar. Seja quem for a entidade perante a qual declarações foram
produzidas, por 356 nº5 estende a possibilidade quando for prestado perante mp.
O fundamento da leitura é o acordo, dá-se relevo ao acordo.
Outra situação b) do art 357 nº1, temos situações em que se pode valorar
declarações do arguido, desde que haja o preenchimento de 3 requisitos:
- prestado perante entidade judiciaria, perante juiz, jic ou magistrado do mp, a
lei diz quem são as entidades no art 1 b) remissão. Cuidado para o exame com policia,
policia judiciaria não é entidade judiciaria para efeitos do código.
- 2º requisito: declarações prestadas com defensor, seja mandatado ou nomeado
oficiosamente esteja presente. A lei no art 64 b), diz que é obrigatória a presença do
defensor perante interrogatórios.
- 3º requisito arguido ser informado de que tem direito ao silencio e deve ser
informado que decidindo declarar as declarações que prestem podem ser valoradas
contra si, art 141 nº4 b). esta informação é dada em todos os interrogatórios que
arguido faz, so não é informado quando faz declarações perante policia, art 144 nº2, fala
de interrogatórios perante policia judiciaria e exceciona.
Aula 20/11/2020
Art 357 nº1 b) que permite a leitura de declarações anteriores prestadas pelo
arguido mesmo que não compareça a audiência de julgamento ou comparecendo, mas
estando em silencio, desde que fossem prestadas perante autoridade judiciaria com a
presença de assistente. Preenchidos requisitos, as declarações podem ser valoradas
para convicção do julgador, mesmo que arguido falte ou presente esteja em silencio.
PRINCIPIO DA PUBLICIDADE
É principio importante que está consagrado no art 206 da crp, em relação a
audiência de julgamento e é importante porque é garantia subjetiva, na convenção
europeia dos dh e no pacto internacional a publicidade é vista como uma das garantias
de defesa do arguido, o art 6 da convenção enuncia garantias e uma delas é publicidade
das audiências, assim como art 14.
Mas a publicidade é garantia objetiva, mecanismo que permite ao povo em
nome do qual as sentenças são proferidas, exercer controlo sobre bondade do processo
judicial, faz-se critica pelo facto dos tribunais não terem legitimidade democrática, a
publicidade é garantia mínima que assegura democraticidade da função judicial, função
que permite à população geral participar de forma passiva, ainda, mas participar na
administração da justiça.
Este principio encontra acolhimento na crp, art 206, mas é densificado no que ao
processo penal respeita no art 86 e seguintes.
Há alguns casos que a lei acautela, no art 87 nº3 que se diz que nos casos em que
seja processo de trafego de pessoas e autodeterminação sexual, nos atos processuais,
há exclusão da publicidade. A regra inverte-se. Nos casos gerais, a regra é publicidade,
juiz ponderando circunstância do caso pode determinar a exclusão do acesso ao publico.
Nos casos do art 87 nº3 a regra é de exclusão da publicidade e so será afastada se não
houver obstáculo oriundo do acesso ao publico. trata-se de casos com especial
sensibilidade e não é necessário despacho judicial para excluir a publicidade da
audiência.
Em relação ao art 87 nº3, em 2019, procurando transpor-se uma diretiva que é
uma das etapas do roteiro para favorecimento de defesa do arguido, roteiro de 2009
que se compunha em 5 etapas que correspondia a uma ou mais diretivas. A ultima
diretiva dizia respeito a proteção de menores, havendo alteração no art 87 nº3 que diz
que em regra a publicidade esta excluída quando se trate de menores, mas estava a
prepara-se outros trabalhos legislativos relativo ao regime de trafego de órgãos e de
pessoas e em setembro voltou-se a alterar o art 87 nº3, mas em vez de ter referencia da
legislação de maio, legislador volta a tirar os menores. Os menores deixaram de ter esta
proteção, as audiências so deixam de ser publicas se juiz assim o determinar.
Nesta ponderação que legislador fez no art 88, consagra como regra a
possibilidade de os órgãos de comunicação social acompanharem o processo penal.
contudo, no nº2 do mesmo artigo consagram-se exceções a esta regra,
proibindo-se, sob pena de desobediência civil simples, art 348 nº1 a).
- os meios de comunicação social têm direito de narrar atos processuais, mas
não tem direito de transmitir ou reter imagens do decurso de audiência de
julgamento, ao menos que se autorize por despacho da autoridade judiciaria. Para
evitar que julgamento fosse transmitido, o aparato de instrumentos técnicos, de
microfones, de camaras pode perturbar a regularidade dos atos processuais e legislador
proíbe transmissão de imagens e tomadas de som.
Ao lermos o art 141 nº4 e) e o art 194 nº6 b), ao lermos as exceções, a redação
não é a exatamente a mesma. No art 141 nº4 e) diz-se que pode ser impedida a
informação, pode deixar-se de dar informação sobre elementos do processo quando
essa informação ponha em causa a justificação e dificulte a descoberta da verdade, já
no art 194 diz-se que juiz pode deixar de identificar ou impedir o acesso do arguido
quando puser em causa gravemente. São coisas diferentes: puser em causa a
investigação, do outro lado diz causar gravemente a investigação. São critérios de
decisão diferentes que foi notada pela doutrina. O parâmetro da decisão deve ser o
mesmo e o mais exigente, mais próximo do art 194, mas deve ser sempre o mesmo nos
dois momentos. O que não significa que resultado seja o mesmo. O critério é o mesmo,
o mesmo critério de decisão, mas resultado da ponderação é que pode ser diferente,
porque perigo que resulta de informar o arguido sobre elementos do processo é menor
do perigo do arguido a aceder aos elementos do auto.
Dizer ao arguido que imputação resulta de depoimento da testemunha e dizer
as suas declarações, causa menor perigo para a vida da testemunha, do que permitir
que arguido veja os autos, o sitio onde ela mora, etc, depois procurando-a, criando
perigo para ela. O critério de decisão deve ser o mesmo, a mesma régua, mas resultado
de ponderação pode ser diferente.
Esta solução que legislador introduziu nestes dois artigos tem sido aplaudido
pela doutrina e jurisprudência, foi razoável porque estavam em causa as garantias de
defesa do arguido e não se pode restringir as garantias de defesa de forma abstrata
através de lei. A lei vem exigir que se informe sempre arguido dos factos, que se
fundamente o despacho indicando os factos e permite saber os factos imputados e
também que haja indicação de elementos do processo, mas esses direitos de acesso aos
elementos do processo, elementos de prova podem ser limitados por uma decisão que
pondere em concreto direitos de defesa e perigo de acesso a informações, por outro.
Mas o legislador foi mais longe e eliminou o segredo de justiça como regra geral
e abstrata mesmo fora dos casos em que esteja em causa medidas de coação. No art 86
diz-se que processo penal é em regra publica, deixa de haver segredo de justiça na fase
de inquérito e instrução. Permite-se é que em certos casos se determine a sujeição da
fase de inquérito a segredo de justiça, para esses efeitos é preciso decisão da autoridade
judiciaria a determinar que essa fase decorra em segredo de justiça.
Há duas formas de ser proferido decisão:
- decisão pelo jic;
- ou pelo mp
No art 86 nº2 atribui-se ao jic. Pode ser de interesse do arguido para evitar
violação dos seus direitos. Requer sujeição do processo a segredo de justiça que se dirige
ao jic.
A mesma coisa o ofendido e assistente que podem entender que conhecimento
publico do processo afeta esfera da intimidade, requerem sujeição a segredo, art 86 nº2,
decide ouvindo o mp, ponderando entre interesses da perseguição penal que são
favoráveis ao segredo e interesses dos sujeitos processuais que requerem.
Mas segredo de justiça pode ser determinado pelo mp, determina quando os
interesses da investigação ou direitos dos sujeitos o justificam. A decisão do mp orienta-
se pela pretensão de funcionalidade, da garantia de eficácia da decisão. Quando seja o
mp a sujeitar a segredo, esta sujeito a validação judicial por parte do jic no prazo de 72
horas, art 86 nº3.
Esta validação foi objeto de avaliação da doutrina. Diz que a intervenção do juiz
pode ser fundamental ao nível dos dlg, juiz como juiz das garantias, mas por outro lado
colocar-se nas ultimas mãos do juiz pode ser problemático na divisão de funções entre
entidades. O segredo de justiça apenas pode vigorar na fase de inquérito e a entidade
dominante é o mp. Pode haver conflito de competência. Tem-se entendido que a
decisão que cabe em ultima instancia ao juiz, ou valida a decisão no caso do art 86 nº3,
para evitar conflitos de competência é que intervenção do juiz é como juiz de garantias
e de liberdade, não tem que interferir no plano de investigação do mp, nem é chamado
para se pronunciar sobre necessidade de investigação. Deve toma-las como mp
apresenta e ponderar as exigências de investigação, de ponderar com interesses
contrapostos dos outros sujeitos. Juiz faz apenas ponderação, entre exigência do mp
que deve ser considerada nos exatos termos que mp apresenta e dos interesses
processuais. É chamado apenas para fazer essa ponderação e não deve intrometer-se
na gestão que apenas compete ao mp.
SUJEITOS PROCESSUAIS
O processo penal é realidade dinâmica que vive dos impulsos de pessoas, as
pessoas que intervém no processo são participantes processuais que intervém no
processo, independente da função. Nesta categoria ampla de participantes,
autonomiza-se categoria de sujeitos processuais.
Um critério tradicional de distinção era adotado por Beling, autor alemão, que
dizia que os sujeitos processuais são as pessoas cujo processo penal não pode existir,
decompõem relação triangular do processo penal.
Que pessoas são estas? O que é preciso existir e que pessoas devem intervir?
O ofendido nem tanto porque o crime é contra bens jurídicos comunitários. Para
estar do lado oposto ao arguido, irá estar o mp. No processo penal as personagens são
arguido, o mp, representação da pretensão punitiva do estado, e o juiz a quem compete
decidir a imputação, da culpabilidade ou da inocência do arguido.
- tribunal ou juiz: temos que ter em consideração o que diz a crp, onde há
monopólio da função jurisdicional, art 202. A intervenção do tribunal é importante, só
se pode aplicar penas privativas da liberdade quando é o tribunal a fazê-lo, art 27.
Todas as intervenções na fase de inquérito que conduzam a restrições de direito
têm que ser mediadas pelo juiz, art 32 nº4 da crp. A presença do juiz é decisiva, so juiz
pode aplicar penas privativas da liberdade e so na fase de inquérito pode ordenar a
pratica de atos processuais restritivos de df.
A crp diz quais caraterísticas fundamentais do poder judicial no art 203 diz que
tribunais são independentes. A 1º caraterística é a sua independência e esta significa a
absoluta liberdade dos tribunais no exercício das suas funções decisórias, proibição de
intromissões e influencias no exercício dessas funções.
Que impedimentos?
Há impedimentos do art 39 nº1 a) e b) e nº3 quando juiz está relacionado com
as partes do processo.
Há impedimentos que resultam na participação do juiz naquele processo para o
passado ou para futuro, para futuro quando juiz é indicado como testemunha, art 39
nº1 d) pode estar impedido de intervir, mas interessa a intervenção anterior, c).
Se juiz é testemunha, se disser sob compromisso de honra que não tem
conhecimento dos factos, não intervém como testemunha e mantém funções, mas se
disser que tem conhecimento, temos impedimento e intervém como testemunha.
Temos disciplina no nº2 do art 39 quando se indica o juiz como testemunha, quando não
nos interessa que seja juiz.
Temos questão que se discutiu de saber até que ponto intervenções anteriores
do juiz no mesmo processo podem ser fundamento de impedimento. Na redação
originaria o impedimento resultava do art 39 nº1 c) e d), e depois no art 40 a versão
originaria dizia que estava impedido para intervir como juiz quem tivesse intervindo na
fase de instrução, estava impedido de julgar. Esse impedimento que existe no art 40 b)
era manifestação do principio da acusação, o objeto do processo só se cristaliza com
despacho de pronuncia, devem estar impedidos de participar no julgamento como juízes
quando tenham proferido esse despacho.
Mas outras intervenções do juiz mais pontuais, juiz como juiz de instrução
sujeitou o arguido a medida de coação, juiz que ordenou escutas, este estará impedido
de intervir como juiz no momento de julgamento? Em 98 e em 2007 se foi alargando
âmbito dos impedimentos, não se previa outros impedimentos para alem da b) e agora
estende-se âmbito dos impedimentos.
A) do art 40 está impedido de intervir em julgamento o juiz que em momento
anterior do processo tenha aplicado medida de coação do art 200 a 202, fica impedido
de intervir no julgamento. Tal limitação resulta do facto de a aplicação de todas estas
medidas exigir a verificação de fortes indícios da pratica de crime. assim, de modo, a
garantir imparcialidade do julgamento, o legislador decidiu, nestes casos, impedir o juiz
que aplicou essas medidas de exercer as suas funções no quadro do julgamento. isto
porque a indagação probatória do juiz de instrução nestas hipóteses é mais profunda.
Estas medidas de coação são prisão preventiva, obrigação de permanência de habitação
e proibição de condutas, são 3 medidas de coação mais graves. Juiz que tenha aplicado
uma delas está impedido de intervir.
Aula 27/11/2020
A garantia de imparcialidade é assegurada através de impedimentos e
suspeições. Impedimentos estão enunciados de forma taxativa e são de utilização
automática, é o próprio juiz que se declara como impedido. Mas o código civil estabelece
elenco mais amplo do que estabelece no cpp, por isso a doutrina, figueiredo dias e nuno
brandão defendem que se aplica subsidiariamente o art 115 do cpc naquilo que seja
omisso o cpp e no caso contrário, há dois impedimentos do cpp que se aplicam ao cpc,
por não estarem previstos neste.
As suspeições, ao contrário dos impedimentos, não são taxativos, nem de
funcionamento automático. Estão fixados através de clausula geral, art 43 nº2 que diz
que se verificar alguma das situações de clausula geral pode pedir-se recusa do juiz ou
o juiz pode pedir a escusa. Quer o pedido formulado pelas partes, quer pelo juiz, são
avaliados por tribunal superior, a sua escusa do juiz tem que ser decido por tribunal
superior ou quando os sujeitos pedirem.
No nº2 diz que intervenções processuais do juiz que não gerarem impedimento,
mas pode haver lugar a suspeição.
Os impedimentos do art 39 nº1 c) e d) são fundados em intervenções anteriores
ou futuras e impedimento do art 40 a) e b) é fundado em intervenção anterior do juiz,
se intervenção anterior do juiz não gerar impedimento, juiz que aplica medida de coação
que não seja das mais gravosas, que determina a apreensão da correspondência, se
intervenção do juiz não gerar impedimento, pode porventura ser fundamento de escusa
ou de recusa, mas é necessário que seja intervenção repetida e incisiva e que seja
rodeada por circunstâncias particulares.
COMPETÊNCIA FUNCIONAL
Reparte-se jurisdição dos tribunais em função dos vários segmentos em que
processo se divide, atendendo às fases ou aos graus de divisão. Temos competência
funcional por graus que distingue os tribunais de 1º, 2º e 3 instância e temos
competência funcional por fases que autonomiza tribunais de instrução, de julgamento,
de recurso e de execução de penas.
COMPETÊNCIA MATERIAL
Distribui-se a jurisdição de diferentes espécies de tribunais, consoante a
qualidade do arguido (critério subjetivo) ou natureza ou gravidade da infração por ele
cometido (critério objetivo). Pode ser subjetivo quando é qualidade do arguido ou
objetivo quando se atende a gravidade do crime ou natureza do crime.
Atendendo ao critério subjetivo, há certas pessoas que são julgadas por
tribunais de hierarquia superior. O comum dos cidadãos é julgado na 1º instancia, depois
havendo recurso para tribunais superiores, mas julgamento é feito pelos tribunais de
comarca. Mas há certas pessoas que pela dignidade das suas funções são julgados por
hierarquia superior, como o presidente da republica, presidentes da assembleia e 1º
ministro que são julgados pelo supremo, art 11 nº3 a).
Se se tratar de crimes cometidos por juízes do supremo, ou juízes de relação ou
magistrados a exercerem funções nestes tribunais, atendendo a qualidade das suas
funções. Não faz sentido que juiz de supremo ser julgado por juiz a iniciar carreira, em
homenagem da sua qualidade de funções, são julgados pelas secções criminais do
supremo.
Se se tratar de juiz de direito ou magistrado do mp que exerça funções de
comarca, então julgamento compete à secção criminal do tribunal de relação, art 12 nº3
a). Temos critério subjetivo, atende-se a qualidade da pessoa em causa.
Quanto às outras pessoas, como presidente de camara, professor de direito,
advogado, por mais mediático que seja a sua intervenção, ou cirurgião por mais decisivo
que seja intervenção no salvamento de vidas, todos os outros são julgados por tribunal
singulares, coletivo ou de júri que funciona ao nível da comarca. São julgados pela
comarca que se subdividem tribunais coletivos, singulares ou de júri. Singular apenas
com 1 júri, coletivo é composto por 3 e o tribunal de júri é composto por um colégio,
sete membros efetivos, com 3 juízes de carreira, com 4 jurados e 4 suplentes.
O tribunal de júri tem pouca tradição entre nós. Entre nós so funciona quando
haja requerimento nesse sentido. O seu funcionamento é também diferente, o nosso
tribunal decide todas as questões de culpabilidade e de determinação da sanção nº3
do art 2 do decreto-lei 387-A/87. É composto por 3 juízes de carreira, por 4 jurados e 4
suplentes e critério da decisão é da maioria, art 365 nº5 do cpp, a e não da unanimidade
como acontece nos eua.
A escolha do júri, dos leigos que vai integrar é feito através dos cadernos
eleitorais, há pré-sorteio de 100 pessoas, depois essas 100 são sujeitas a inquérito sobre
cumprimento de requisitos de capacidade para exercício de funções, depois essas que
correspondam a inquérito e respostas sejam validas que não sofram de nenhuma
incapacidade, seleciona-se 18, faz-se audiência para apuramento, essas pessoas são
entrevistadas. Estas regras estão no regime decreto lei 387-a/87 de 29 de dezembro.
Há incompatibilidades, juiz, pessoa de direito ou advogado não pode ser jurado.
Quanto ao tribunal coletivo, é também fixada com base num critério objetivo e
qualitativo e num critério objetivo quantitativo. do ponto de vista qualitativo, o tribunal
coletivo é competente para julgar nos casos do art 14 nº2 a) e nº1. A alínea b) do nº2 do
art 14 estabelece um critério quantitativo.
Pelo facto de ter uma competência material quantitativa superior e uma
competência material qualitativa idêntica à do tribunal do júri, os casos que não sejam
julgador junto daquele por falta de requerimento, serão julgados no tribunal coletivo.
Ao nível da competência deste tribunal, importa destacar os casos de concurso
de crimes em que a sua moldura penal abstrata ultrapasse os 5 anos ainda que o limite
máximo de cada um dos crimes que compõe o concurso seja inferior a esta moldura.
Assim para crimes que sem qualquer fundamento de conexão processual, seriam
julgados no tribunal singular, pelo facto de terem uma pena inferior a 5 anos, será
competente o tribunal coletivo por terem sido cometidos em concurso. para estes
efeitos, a pena máxima do concurso é aferida pela soma dos limites máximos das
molduras penais em abstrato de cada um dos crimes cometidos.
Por que é que legislador quis que estes crimes contra autoridade publica fossem da
competência do tribunal singular?
Estes crimes são mais graves, deviam ser julgados pelos tribunais coletivos,
porque oferece mais garantias ao arguido graças ao maior formalismo, mas está
remetido para tribunal singular. Porque é que se dispensa esta garantia? Sendo crimes
cometidos contra autoridade publica, a tarefa de recolha da prova está simplificada e
recolha da prova oferece mais garantias de verdade, é isto que legislador presume,
presume que a pessoa de autoridade publica que foi vitima do crime, fará recolha de
prova que garante maior fidelidade, determinando a não necessidade do tribunal
coletivo. É confiança que se deposita na autoridade publica que fez recolha da prova e
se dispensa o tribunal coletivo e entregamos julgamento ao tribunal singular.
O tribunal singular tem critério residual, quando outro critério não se aplique, é
competente o tribunal singular. Não há lacunas entre critérios, não é necessário critério
residual, porque temos o qualitativo, mas onde não estiver regulado, a competência é
do tribunal de qualquer das formas quis o legislador estabelecer este critério.
Art 16 nº3: que tem uma disciplina curiosa, atribui ao mp a competência para
atribuir ao tribunal singular competência que por força da lei caberia ao tribunal
coletivo, nos termos do art 14 nº2 b).
Parece que contraria o corolário da lei fixar as competências, que não pode ser
contrariado por nenhuma entidade. Vamos ver se conflitua esta norma com o principio
do juiz natural (art 32 nº9).
A questão que se coloca é saber se esta norma viola ou não a regra do juiz natural?
Aparentemente esta norma conflitua com a ideia de que a competência dos
tribunais deve estar fixada através de lei geral e abstrata estabelecendo elenco taxativa,
não alterável por qualquer entidade e neste preceito parece indicar que a definição da
competência do tribunal depende não da lei, mas de uma decisão do mp .
Mas a verdade o que se entendeu no tc é que não há violação do principio e
argumentos apontados, segundo vários argumentos:
- É a lei que continua a atribuir a competência ao tribunal singular, é o art 16 nº3
que atribui competência, atribuindo ainda ao mp para verificados determinados
requisitos concretizar para a hipótese em apreço uma competência que já está definida
na lei. É a lei que define requisitos e é a lei que estipula competência do mp para o caso
em apreço.
- segundo argumento é o de que esta atribuição da competência ao tribunal
singular não ofende o núcleo essencial do juiz natural, que é constituído por proibição
da criação de tribunal ad hoc e proibição de desaforamento. O desaforamento tem
conotação territorial, retirar competência em uma área territorial e colocar para ouro
tribunal noutra área diferente. No caso concreto, a competência territorial é respeitada,
simplesmente passa a pertencer ao tribunal de júri quando antes pertencia ao coletivo.
Mas no nº2 temos critério diferente, sendo crime que compreende morte de
uma pessoa, o tribunal competente é onde o agente atuou e não onde o resultado se
produziu, art 19 nº2.
O critério não era este, porque se modificou para crimes de homicídio ou a morte de
uma pessoa?
Porque era comum que a vitima do crime quando não faleça de imediato, é
assistida medicamente acabe por falecer num grande hospital e passavam a ser esses
tribunais onde o resultado por acaso se produziu, mas so se produziu por causa dos
sistemas de assistência médica, por fator externo, estranho à vontade do agente, não
estando nos planos do agente e legislador alterou a regra.
No caso da omissão, o lugar do resultado é onde devia ter atuado.
Art 21: localização duvidosa, como crimes informáticos, que são crimes
aterritoriais, é difícil saber onde se produziu, é numa esfera intangível, é importante ver
este artigo para este caso.
Nos termos do art 29 nº1, a conexão do processo pode ocorrer ab initio, forma-
se um so processo para julgar os vários crimes cometidos pelo mesmo agente ou vários
agentes com crime conexo desde a sua origem.
Ou pode ser conexão superveniente, quando se perceber que há fatores
conexos e apensa-se os processos que estavam a ser tramitados, nº2 do mesmo artigo.
Mas como acontece quando alguém comete vários crimes e não estão cumpridos
requisito da conexão?
Quanto a punição do concurso, assenta nas regras de cumulo jurídico, quando
alguém comete vários crimes é condenado numa única pena e essas estão no art 77.
Tomam-se em consideração as penas parcelares aplicáveis a crime que agente cometer,
somam-se essas penas que dá limite máximo da moldura, o limite mínimo é dado pela
moldura mais grave e determina-se uma pena única que foi aquele que agente vai
cumprir.
O modelo do plano substantivo é do cumulo, mas não significa que esta pena
única que tem que ser encontrada decorra de um único processo, não significa que se
organize num so processo os crimes de concurso. O que pode acontecer é que quando
não se aplica as regras da conexão é que tribunal da ultima condenação é lhe deferido
a competência para aplicar as regras de concurso.
Exemplo.: agente é punido por homicídio e roubo, o roubo foi o ultimo e depois
de transitado em julgado por estes dois, o tribunal que apurou responsabilidade pelo
roubo determina, art 471 do cpc, a pena única.
- MP:
É magistratura dotado de estatuto que lhe assegura autonomia externa,
autonomia em relação ao governo. A atuação no processo pauta-se por critério de
legalidade e objetividade.
Art 219: mp é titular da ação penal, nos termos da constituição, exercendo a sua
competência de acordo com o principio da legalidade.
O mp é titular da ação penal, art 219 e art 53 do cpp concretiza em que se traduz
o facto de ser titular da ação penal. No processo penal, compete ao mp colaborar com
o tribunal, pautando a sua atuação por critérios de estrita objetividade, significa que é
ao mp que a lei reconhece um leque variado de competências a esta entidade, como o
facto de lhe competir receber denuncias, dirigir o inquérito (b) do nº2 do art 53), deduzir
acusação (c) do nº2 do art 53 e 263 nº2). Embora saibamos que o mp não realiza todos
os atos que estão no inquérito, alguns são realizados pelos órgãos policiais.
Há uma questão que diz respeito á constitucionalidade da direção do inquérito
pelo mp, porque art 34 diz que toda a instrução é da competência do juiz. A instrução
em 76 era o que hoje se designa por inquérito, o legislador queria dizer que toda a fase
de investigação seria da competência de juiz. A aparente contradição entre norma
constitucional e do cpp foi refutada, não se considerou existir constitucionalidade.
Aula 4/12/2020
- ARGUIDO
Terceiro vértice da relação triangular que compõe a relação penal. Beling
defende esta conceção da relação, sem a qual não existe processo penal.
Mas para nós sujeitos processuais é quem tem direitos autónomos que
permitem conformar a marcha processual. Também arguido tem poderes autónomos,
mas no modelo medieval, o arguido era objeto da investigação, não tinha quaisquer
direitos processuais, a única garantia era da judicialidade, julgado por um juiz, que
também estava incumbido de recolher a prova, por isso a garantia da judicialidade não
era imparcial.
O arguido hoje é sujeito processual, claro que há vestígios, como o lugar que
ocupa o arguido na sala de audiência, ainda se senta num lugar de destaque, não pela
especial dignidade, mas pela marca de estigma e talvez não fizesse sentido. Não é assim
no modelo alemão em que o arguido se senta ao lado do defensor.
O arguido tem estatuto especifico, estatuto legal composto com direitos e
deveres consagrado no art 60 do cpp que lhe permitem conformar a marcha processual
e codeterminar a decisão final do processo. Começa com os direitos e depois enuncia os
deveres. Quando falamos nas testemunhas que são meros participantes também tem
direitos e deveres, mas coloca enfoque nos deveres e só depois enuncia os direitos.
Mas a atribuição deste estatuto pode ser um ferreto que é imposto para
determinada pessoa, sobretudo quando os casos sejam objeto de grande mediatização.
Para evitar a ofensa da honra e do bom nome, o legislador enunciou estas situações
fundamento e em 2007 tornou mais exigentes os pressupostos de que depende
constituição do arguido.
Na alínea a) dizia-se suspeita, mas agora é fundada, na d) não se estabelecia a
ressalva, quando a noticia seja manifestamente infundada, não há lugar a constituição
de arguido. Temos este equilíbrio.
Art 59: outros casos, se alguém tiver sido inquerido como testemunha e existir
suspeita fundada que cometeu o crime, a entidade que procede a inquirição deve
constituir-se como arguida, nº1.
Nº2: pessoa pode ser constituída arguida a seu pedido, quando estejam a efetuar
diligencias que a afetem, essa pessoa pode requerer constituição como arguida.
Nos casos do art 57, 58 e 59 a aquisição do estatuto so opera através de ato
formal de órgão de policia criminal ou de autoridade judiciária, art 58 nº2. Comunicação
oral ou por escrito, pode ser por escrito quando há despacho de acusação. É feita ao
visado, com explicação de direitos processuais que lhe cabem, art 58 nº2. Este
formalismo é requerido em todos os casos de constituição de arguido e por isso não há
constituição de arguido ope legis.
Mas isto ate 2007 não era claro na lei, no art 57 nº3 o legislador agora remete
para os nº2 do art 58 e é clara, é manifesto que legislador quis que nos casos do art 57
existisse comunicação, mas a questão discutiu-se e defendia que o art 57 era ope legis,
mas nunca sucede por força da lei, é necessário a comunicação do art 58 nº2. Por isso
as declarações que a pessoa preste não podem ser valoradas como meios de prova, art
58 nº5. Se a pessoa já devia ser arguida e não tiver sido constituída como tal, as
declarações que preste não podem ser valoradas nem contra si nem contra outros
coarguidos.
no art 59 nº3 remete para normas do 58 nº2, mas a remissão está errada, porque
em vez de remeter para o nº2 a 7, como o 57 nº3 faz, remete-se para 3 e 4, corrigir de
2 a 7.
O arguido tem direito ao silencio, art 61 nº1 d), o silencio não pode ser valorado
contra o arguido.
O arguido tem direito a ser assistido por defensor, art 61 nº1 f), em todos os atos
processuais que participe e comunicar em privado com ele. Deve constituir advogado
ou nomear defensor. Estes direitos e) e f) do art 61 são concretização do art 32 nº3 da
crp que assegura o direito de defesa técnica ou formal do arguido.
Mas tem também deveres como o caso de dever comparecer prante o juiz, o mp
e os órgãos de policia criminal sempre que a lei o exigir, de responder com verdade ás
perguntas feitas por entidade competente sobre a sua identidade, etc.
A constituição e cpp não asseguram apenas direito de ter defensor, mas também
de escolher um defensor. Nas situações em que não possa custear a despesa de
constituição de defensor, pode pedir nomeação de um, despesas suportadas pelo
estado. Quando é defensor oficioso, o arguido não pode escolher. Quando não tenha
capacidade económica, não pode escolher quem seja o seu defensor.
Quando o arguido seja ele próprio jurista e com pratica do foro, advogado ou
juiz, parece não haver razoes urgentes para não admitir a autodefesa em processo
penal. Numa interpretação de normas ordinárias conforme a crp e aos textos
internacionais, deve admitir-se autodefesa nos casos em que arguido tenha
experiencia no foro ou seja jurista, a menos que se trate da prática de atos processuais
que a serem levados a cabo pelo arguido poderia desfavorecer direitos de outras
pessoas.
exemplo:. Crime sexual ou violência domestica, é preciso inquirir a vitima como
testemunha na audiência de julgamento e essa inquirição que for feita na audiência, é
feita em contraditório, é inquirida contra outros sujeitos processuais, pode ser inquerida
pelo defensor, se for ele próprio a defensor é ele que vai inquirir vitima. Não faz sentido.
Acórdão correia de matos contra Portugal, mas o tribunal dos direitos humanos
não condenou o estado português, naquela dicotomia entre crp e os textos
internacionais. O comité de direitos humanos da onu teve entendimento diferente e
censurou estado português por ter violado o art 14 nº3 d) do pacto.
- DEFENSOR:
Em face disto, interessa saber qual a posição processual do defensor. Para alguns
o defensor é mero representante judiciário do arguido, exerceria faculdades e poderes
processuais que ao arguido são atribuídos.
Esta compreensão como representante acaba por ignorar dois aspetos:
- fonte da defesa, da aquisição de estatuto de defensor não ser apenas mandato,
mas a lei. Há casos em que a lei impõe a constituição de defensor e não se pode ver
como mero representante judiciário;
- ou a situação de defensor agir em defesa do arguido, ultrapassa a questão de
representação, mesmo que arguido não queira ou se desinteresse em relação a essa
defesa, continua a lhe ser atribuído um defensor.
Não é mero representante, em Portugal, é muito mais, trata-se de um defensor
que é órgão autónomo de administração da justiça, competindo atuar no sentido da
descoberta da verdade e da realização da justiça. Claro que este pensamento de órgão
autónomo foi problemático durante algum tempo. Na Alemanha autoritária, a ideia de
que defensor era órgão autónomo, levou ao entendimento que defensor não era
necessário, se lhe cabe desempenhar função que a lei atribui ao tribunal e ao mp, para
quê o defensor? Devemos interpretar que é órgão autónomo, mas desempenha funções
no exclusivo interesse da defesa do arguido. Só deve levar elementos que sejam
favoráveis ao arguido, não deve apresentar elementos factuais que sejam desfavoráveis,
mas pode fazê-lo. contudo, não há possibilidade de manipular provas ou compelir o
arguido à mentira ou destruir provas, sob pena de estarmos perante crime de
favorecimento pessoal.
O defensor surge assim como uma forma de ao abrigo do principio do fair trial,
se estabelecer alguma igualdade de armas ente a acusação e a defesa.
- ASSISTENTE
É também um sujeito processual, por força da constituição, no art 32 nº7 diz que
o ofendido tem direito a intervir, trata-se de uma garantia com dignidade constitucional.
É a própria constituição que é fonte. É tradição portuguesa que parece ser uma
originalidade nossa, a nossa lei atribuía direitos ao mesmo. No art 281 do cpp foi
inspirado na Alemanha, mas lá não se refere ao assistente. A nossa lei pelo contrario
atribui grande importância processual ao mesmo.
a lei impõe que o assistente Art 70 nº1: é sempre representado por advogado e
mesmo que ofendido seja advogado tem que ser representado por outro advogado,
acórdão 15/2016 do stj.
O advogado do assistente não é sujeito processual é representante judiciário do
assistente, não tem poderes para alem daqueles que resultam da representação do
assistente. Não pode agir contra vontade do assistente.
- VITIMA
Não é sujeito processual, é figura nova introduzida em 2015, de natureza hibrida
porque está situada em meio caminho entre sujeitos processuais e mero participante
processual. Bem vistas as coisas, melhor lhe cabe a qualificação como participante
processual do que como sujeito.
Á vitima são reconhecidos determinados direitos, art 67-a nº4, tem direito a
assistência, direito de participação ativa no processo. pareceria que por ter
participação ativa que seria sujeito processual, mas reduz-se muito esta participação. Á
vitima há direitos de informação sobre andamento dos autos, direito de assistência, de
proteção, direito de comunicar ao mp ou ao tribunal existência de provas, mas não o
direito de requerer novas provas, apenas pode oferecer provas, não tem direito que a
habilite a recorrer de qualquer despacho.
Estes direitos estão condensados no estatuto da vitima e regime jurídico da
violência domestica, lei 112/2009. Direito a informação, a ser ouvido, proteção contra
a vitimização secundaria, ser ouvida em determinada circunstâncias e direito de
proteção a concessão de apoios económicos. No cpp temos o direito de intervenção na
suspensão provisória do processo, art 281 nº7, vitima pode ser ouvida e tem o direito
de ser informada sobre modificação do estatuto do arguido quando seja especialmente
perigoso, art 212 nº4 e 247 nº4 do cpp.
Nos termos do art 82-A, o tribunal em caso de condenação do arguido, pode
oficiosamente arbitrar uma quantia a titulo de reparação pelos prejuízos sofridos pela
vitima quando não tenha deduzido pedido de indemnização civil no processo penal ou
em separado nos termos do art 72 e 77 e se verifiquem particulares exigências de
proteção.
- PARTES CIVIS
São sujeitos processuais apenas no sentido formal, porque encabeçam relações
civis e são sujeitos em sentido formal do processo penal porque essa pretensão civil é
discutida em processo penal.
A pratica de crime pode originar vários tipos de responsabilidade, o mesmo facto
que é crime pode levar a outras responsabilidades.
Exemplo.: alguém que trabalha em supermercado e tira dinheiro da queixa,
temos responsabilidade disciplinar, civil e penal. A questão que se coloca é de saber qual
a natureza de outras formas de responsabilidade se confunde com a responsabilidade
penal e qual o lugar onde essas formas se vão discutir.
Interessa ver a articulação da responsabilidade penal com a civil. Não se
confunde a civil com a penal e interessa ver qual é o lugar onde a pretensão
indemnizatória emergente da responsabilidade civil se vai discutir.
Quanto à primeira questão, a responsabilidade civil conserva natureza
substantiva mas vai ser discutida em processo penal. Na articulação processual, são
pensados dois modelos distintos:
- de absoluta independência, cada uma delas seria discutida em tribunal
diferente, a pretensão civil discute-se á margem do penal. o pedido cível é tramitado
nos tribunais próprios, embora a decisão quanto à ocorrência do crime possa ter força
de caso julgado material no processo civil.
- interdependência ou de adesão: a indemnização civil por danos conexos é
processado no âmbito do processo penal, por razoes de aproveitamento do material
probatório, sendo a conduta do agente o facto gerador de responsabilidade civil e penal,
não há porque repetir a atividade probatória em dois processos separados, de economia
processual e de tutela do lesado.
Art 130 nº1 e nº2, nº1 remete para lei 104/2009 cria fundo de reparação de
vitimas de violência domestica. Nestes casos quando lesante não tenha bens que
possam suportar pagamento de indemnização, essa indemnização é paga por fundo
estadual.
Nº2: o estado pode desistir em favor do lesado que seja vitima.
Mas o que é que o tribunal pode conhecer? O que fica precludido? Que critérios se
pode usar para ver qual o objeto do processo?
A identidade do objeto analisa-se de forma subjetiva e objetiva:
- subjetiva interessa que seja a mesma pessoa a que imputação seja feita,
identidade do agente. o crime terá que ser praticado pelo mesmo agente. sempre que
um crime é apontado a outra pessoa ou mais pessoas em comparticipação isso
determina a perda de identidade subjetiva do objeto.
Exemplo.: se crime foi afinal praticado por pessoa diferente da acusada,
extravasa o objeto do processo. Se discutimos crime de homicídio e vem acusado a e
afinal quem matou foi b, não pode conhecer-se da responsabilidade de b naquele
processo, extravasa o âmbito do objeto do processo. Os factos materiais são os mesmos,
mas não se pode julgar pessoa que não tenha sido acusado.
Ou se chegar à conclusão que a agiu com b em coautoria não se pode julgar b
pela prática de homicídio, seja como cúmplice ou como coautor, não se pode julgar por
quem não tenha sido julgado e deve ser discutido num processo á parte;
Aula 11/12/2020
- normativista de Eduardo correia: Isto foi notado por Eduardo correia, dizia que
é impossível um critério dar unidade a acontecimento real, o que dá unidade é sempre
perspetiva que um sujeito elege, ou seja, é sempre uma perspetiva subjetiva.
Fora desse critério de relevância e ponto de vista eleito, não há unidade entre os
factos, a unidade naturalística é impossível. É o tipo legal que carateriza e o critério legal
para dar unidade ao objeto é também o tipo legal. Sendo o crime negação de valores e
valores estando nos tipos legais, a unidade e pluralidade de infrações aferem-se
segundo tipo legal violado, um acontecimento real só releva caso se tenha traduzido na
negação de valores jurídico-criminais.
O problema da identidade do processo penal erradica do tipo legal, ainda que
mudem os factos naturalísticos descritos na acusação, o que releva é identidade de
juízos de valor que esses factos negam, identidade dos valores do ordenamento que
esses factos negam e esses valores estão materializados no tipo, o que significa que a
identidade do objeto reside na identidade do tipo legal.
Se na acusação se descreve factos que se subsumem a um tipo legal e no
julgamento entende-se que os factos são outros e não os que estão inscritos na
acusação, mas que ainda se inscrevem no mesmo tipo legal, então juiz pode conhecer
desses mesmos factos. A atividade do juiz deve estender-se de forma esgotante aos
factos naturalísticos descritos na acusação e todos os factos que constituam com esses
uma unidade dada pelo tipo legal. O juiz tem que investigar todos os factos que
concretamente ou hipoteticamente traduzam a mesma violação jurídico-penal violada,
ao mesmo tipo legal que foi violado.
exemplo.: Se se diz que a cometeu crime de furto porque naquele dia subtraiu
um relógio valioso e é acusada por furto, juiz não está apenas obrigado a investigar estes
factos que estão na acusação. Tem que investigar todos os factos que se inscrevam com
os acusados, os factos que sejam polarizados por aquele tipo legal, se não foi no dia x,
mas y e se não foi relógio e foi colar, para Eduardo ainda seria admissível que tribunal
conhecesse, o que dá unidade ao objeto é tipo legal.
- mas esta reflete-se em plano mais substancial, é que conduz a maus resultados
porque permite que juiz conheça de factualidades que não são suportáveis pela
formulação feita na acusação. Desrespeita o principio da acusação, uma vez que permite
ao tribunal conhecer de factos não previstos pela acusação. Esta construção leva ao
surgimento de surpresas incriminatórias para o arguido ao nível do processo.
Exemplo.: nos crimes complexos de roubo, acusado de furto, mas descobre-se
houve violência, o tribunal pode conhecer, mas o tipo de roubo é complexo que agrega
o furto, as ofensas ou as ameaças e portanto todos estes elementos fácticos tem
unidade normativa.
Diferente é o que se diz que subtraiu a carteira, vem acusado de furto e apura-
se que afinal não foi isso que aconteceu e apenas houve agressão. Permitir-se que a
acusado de furto seja condenado por ofensas corporais so porque há elemento comum,
talvez seja excessivo. No plano das soluções materiais, a tese de Eduardo é criticável.
- tese do pedaço de vida de figueiredo dias: para este, importa não abandonar
nem a base factual como fizeram os normativista, nem esquecer a consideração de
elementos normativos, critica a falha dos naturalísticos. O objeto do processo, tem esta
dupla dimensão, dimensão fáctica e normativa. é para figueiredo, o objeto do processo
é constituído por pedaço de vida descrito na acusação que tem que se manter o mesmo
no julgamento. Claro que pode haver pequenas modificações, desde que se diga que o
pedaço de vida é o mesmo.
Exemplo.: a acusação é puzzle que não está completo, mas já se percebe a
imagem que representará. Pode descobrir-se peças novas para completar, desde que
peças encaixem e ainda representem a mesma imagem.
O pedaço de vida que não se deve mudar, mas o que dá unidade ao pedaço de
vida? O pedaço de vida agrega por um lado elementos factuais e elementos normativos.
O factual é composto por conjunto de factos em conexão natural e esses factos devem
manter-se os mesmos, mas esses factos não relevam por si mesmos, apenas tem que
integrar a mesma valoração jurídica e social.
Na parte estritamente jurídica, para figueiredo o que dá unidade de sentido a
conduta são as valorações, mas no dp essas valorações só nos interessam se traduzirem
bens jurídicos. O que dá unidade de sentido é bem jurídico que essas condutas violam.
A unidade normativa é representada pelo bem jurídico. Interessa elemento factual, os
mesmos factos e importa elementos normativo que ofendam o mesmo bem jurídico.
Mas não basta isto, é preciso que sentido social da conduta seja o mesmo, é
preciso que do ponto de vista da valoração social da conduta tenhamos ainda alguma
unidade.
exemplo.: como alguém subtrair um colar que julga que não tem valor, mas
descobrem que é de valor. os factos são os mesmos, à exceção do colar. a unidade de
sentido normativa é a mesma, porque bem jurídico é mesmo, a propriedade, mas do
ponto de vista da valoração é diferente. é o mesmo tipo legal e os factos, é outra
valoração social e isto basta para estarmos fora dos limites do processo.
Quanto à agravação das sanções, temos que consultar a moldura do tipo legal
acusado e moldura do tipo legal a que subsume e que é apurado na audiência e vemos
se agrava ou não.
Exemplo.: acusação diz que há homicídio, de 8 a 16 anos, mas descobrem-se
factos novos para haver alteração do processo, descobre-se que comete crime
qualificado, de 12 a 25 anos. Temos limite máximo é 25 anos, há agravação do limite
máximo. Para que haja alteração de factos que haja de facto alteração dos factos, os
factos têm que mudar. Se não mudarem não há alteração dos factos.
Diferente é se alguém é acusado de matar o pai e mp acusou por homicídio
simples, mas juiz percebe que é qualificado. Aqui não há alteração dos factos.
Temos primeiro critério quantitativo, que resulta da agravação dos limites
máximos das sanções aplicáveis.
Mas também há critério qualitativo, pode haver alteração substancial dos factos
que resulte de imputação de crime diverso, o que resulta das teorias, aderimos á tese
de figueiredo dias, mas se for manifesto resultado diferente de outras teorias, devemos
enriquecer a resposta, dizendo a teoria de Eduardo Correia.
Este conceito de alteração substancial dos factos aparece varias vezes, art 284 e
285, com 1º momento, depois no art 303 e 309, 2º momento, aparece com mais
importante no art 358 e 359 e ainda no art 424 nº3 nas fases de recurso. Em cada um
destes artigos se fala neste conceito, mas problema substancial dos factos só contende
com a questão do objeto do processo quando referido ao momento do julgamento, so
art 358 e 359 resolvem problema do objeto do processo, porque é definido na acusação
e tem virtualidade de delimitar os poderes de cognição do tribunal de julgamentos. Só
aqui há essa preocupação de delimitar os poderes de cognição em função do que é
descrito no despacho de acusação.
Nos momentos anteriores, no art 284 não é isso que está em causa. Este artigo
diz respeito a faculdade do assistente tem nos crimes públicos e semipúblicos. Pode
acusar com os mesmos factos ou pode acusar por outros factos desde que não alterem
substancialmente a acusação publica, art 284 nº1.
No art 285 diz-se coisa parecida, fala-se de acusação particular, em particular em
sentido estrito quem acusa é assistente ou também o mp pelos mesmos factos e no art
285 nº4 por outros que não alterem substancialmente aqueles. Qual sentido das
proibições? O legislador proíbe no art 284 e proíbe no art 285 o mp. Não podem ser
recebidas e devem ser rejeitadas, art 311 b). No inicio do julgamento, antes de iniciar a
audiência há momento de saneamento dos autos, vai verificar se há nulidades ou não e
depois marcar a audiência. Nessa fase de saneamento o juiz pode rejeitar a acusação do
mp que ultrapasse substancialmente os factos descritos na acusação particular e pode
rejeitar a acusação do assistente que altera substancialmente a acusação do mp.
Estes limites existem porque estas normas do art 284 e 285 que atribui
competência para acusar ao mp e ao assistente, essas normas devem ser respeitadas, a
preocupação é fazer respeitar a distribuição de competência para acusar e evitar que
sejam subvertidas. Seriam subvertidas se no caso da competência para acusar era do
mp e assistente viesse acusar por factos que alterassem a acusação do mp. Se se
permitisse esta alteração substancial, estaríamos a subverter os papeis.
art 303 e 309 fala-se do problema da alteração substancial dos factos mas não
se relaciona com o objeto do processo, porque não se estabilizou. na instrução pode
conduzir a alargamento do processo, so se finaliza com despacho de pronuncia.
art 303: a lei diz como se deve proceder no contexto da instrução se descobrem
factos que alterem substancialmente ou alterem não substancialmente os descritos na
acusação e no requerimento de abertura de instrução. no 303 manda comparar com o
que se apura na instrução, com aquilo que consta no despacho de acusação. o conceito
é relacional. o que se quer evitar é que o que se descobre na instrução altere
substancialmente o que vinha descrito na acusação e no requerimento de abertura de
instrução. O jic não pode pronunciar o arguido por factos que alterem substancialmente
os descritos na acusação.
se for substancial não pode ser atendível. se juiz violar a proibição do art 303 nº1
a decisão instrutória é nula nessa parte, art 309 nº1. a o juiz não pode pronunciar sobre
factos que alterem substancialmente e se o fizer, a decisão instrutória é nula.
Se alteração for não substancial. Juiz de instrução pode pronunciar pelos factos
novos, mas tem que permitir ao arguido o exercício do contraditório. O juiz
oficiosamente comunica os factos novos ao defensor, interroga o arguido e apresenta
prazo para defesa, art 303 nº1. Pode conhecer dela, mas tem que permitir exercício do
contraditório nos termos do art 303 nº1.
art 359: se a alteração for substancial, o tribunal não pode ter em conta. é
solução paralela da instrução. aqui, o juiz não pode conhecer dos factos, sob pena da
decisão ser nula, art 379 nº1 b).
se factos forem autonomizáveis, diz-se no nº2 que comunicação deles ao mp vale
como denuncia para mp proceder por esses factos. estes factos autonomizáveis são
passiveis de subsunção jurídica criminal autónoma, que em si mesmos já são crime.
exemplo:. alguém acusado de crime de furto, mas descobre-se no julgamento
que usou de violência, esses factos são subsumíveis jurídico criminal autónoma. estes
factos seriam julgados num processo autónomo a partir daquele momento pelo mp que
correria em paralelo.
ou houve furto e agressões. descobrem-se as agressões, estes são factos
subsumíveis juridicamente autónomos, comunica ao mp e abre processo autónomo.
No código de 29, havia art 447 que dizia que tribunal é livre de convolar a
qualificação jurídica, mas havia propostas doutrinais que defendiam que não obstante
a liberdade, devia dar-se ao arguido de exercer o seu contraditório. Quando o novo
código entrou em vigor em 1987 não resolvia esta questão, surgindo a duvida sobre se
constituiria alteração substancial dos factos a simples alteração da qualificação jurídica
quando se traduzisse na subsunção dos factos a uma figura criminal mais grave.
Perante este problema, o stj veio determinar no seu assento 2/93 que vem
resolver controvérsia, dizendo que não constitui alteração substancial dos factos a
mera alteração qualificação jurídica deles, ainda que seja alteração de qualificação para
figura criminal mais grave. O assento faz interpretação vinculativa das normas.
Resulta daqui que o tribunal seria livre para alterar a qualificação, mesmo que
ao agente fosse aplicado tipo legal mais grave. Esta circunstância de por força da
alteração de qualificação, o arguido ser condenado por pena mais grave sem ser
prevenido para alteração de qualificação e sem possibilidade de apresentar defesa,
levantava duvidas esta hipótese, dai o figueiredo dias consentir com possibilidade de lhe
dar contraditório. Estas duvidas foram levadas ao tc, declarou inconstitucional no seu
acórdão 445/97 estas normas do nº 1º f) do art 303, 309, 359 quando lidas na
interpretação dadas pelo assento nº2/93, de acordo com a qual não constitui alteração
substancial dos factos a qualificação jurídica, mesmo que conduza a pena mais grave, na
medida em que não haja prevenção ao arguido. A inconstitucionalidade não está no
facto do supremo ter dito que não é alteração substancial dos factos, a
inconstitucionalidade está em pretender mudar a qualificação e não se dar possibilidade
de defesa do arguido.
Em 98 introduziu solução para julgamento, mas não para instrução. Havia lacuna
que doutrina preenchia por analogia, aplicava-se por analogia. Agora legislador já
resolve no art 303 nº5, já não é necessário recurso de analogia.
Quando no art 358 nº3 legislador manda aplicar a solução pensada para
alteração não substancial dos factos não diz que as coisas são a mesma realidade, têm
autonomia, mas justifica-se a aplicação da mesma solução.
Na resolução do caso pratico: perceber fase processual, perceber se há alteração
e para isso é preciso comparar dependente da fase processual, no julgamento temos
que comparar o despacho de pronuncia com o que acontece no julgamento, se existir
alteração, temos que ver se é qualificação jurídica, solução no art 358 nº3, mas se
alteração for de facto, substrato factual mudar, temos que ir ao art 1 f) e perceber se
alteração é substancial ou não substancial. Sendo substancial aplica-se art 358 nº1, não
sendo substancial aplica-se o art 359.
Aula 18/12/2020
MEDIDAS DE COAÇÃO
Estas são meios de constrangimento que comportam restrições a liberdade e
visam garantir eficácia do processo. As finalidades são endoprocessuais, visa-se evitar
que arguido fuja e já não possa ser julgado ou sendo julgado não possa ser encontrado
e sobre ele ser executado a pena, ou evitar que destrua provas ou condicionar
testemunhas e não possa recolher informações justas para descoberta da verdade. Estas
medidas visam garantir que o processo se desenvolva corretamente, sobretudo ao nível
da investigação, evitando a perda do material probatório e permitindo a descoberta da
verdade material, por outro lado, têm como fim a preservação da utilidade da decisão
sinal, possibilitar a aplicação da pena, procurando assim mitigar o perigo de fuga do
arguido.
Mas por serem medidas de constrangimento aplicadas antes do transito em
julgado de decisão condenatório conflitua com o principio de presunção da inocência,
falando deste principio como regra de tratamento. A circunstancias destas medidas
serem aplicadas antes do transito em julgado obrigam a que seja comunitariamente
suportáveis, na eventualidade de serem aplicadas a inocente, porque se presume a
inocência da pessoa a quem se aplica. No entanto, a própria constituição prevê
expressamente a possibilidade de aplicação da prisão preventiva, medida de coação
mais grave na alínea b) do nº3 do art 27 e no art 28, pelo que existe uma autorização
constitucional expressa para a aplicação destas medidas.
pode-se aplicar medidas de coação para proteção do arguido quando o crime seja
mediático?
pode ser aplicado quando haja perigo de retaliação? a resposta é negativa, não
se protege o arguido com proteção da medida de coação. não pode haver este
fundamento para proteger o arguido.
art 213 nº5: suscetível de recurso nos termos gerais. Quando se aplica medida
de coação, arguido dispõe de medida de reação que é recurso. A medida de coação se
é prisão preventiva e arguido recorre achando que não estava preenchidos requisitos.
A lei diz que prazo para decisão de recurso de decisão que aplique medida de coação é
de 1 mês, prazo para interpor recurso é de 1 mês, 1 mês já passou e depois o mp tem
direito a responder ao recurso interposto, é preciso haver despacho de recurso e depois
processo sobe para tribunal superior e prazo de 1 mês para apreciar, mas facilmente
alcança-se 3 meses.
Acontece que o recurso quando é apreciado já houve o 1º reexame da prisão
preventiva e uma corrente jurisprudencial entendia que quando houvesse reexame
tornava-se inútil o recurso da decisão que aplicava medida de coação, porque houve juiz
que reapreciou e entendia que mantinham-se os pressupostos, o recurso da 2º decisão
tornou-se supervenientemente inútil.
A solução consta neste numero, é que não gera inutilidade supervenientemente,
mas se os fundamentos são usados para estribar o recurso forem concretamente
apreciados no momento de reexame e tenha havido uma decisão que os concretamente
aprecie, aí há inutilidade superveniente, mas não existe inutilidade superveniente em
geral.
Art 215: ideia de precaridade, sujeito a prazos. Norma nuclear é 215 que
estabelece prazo de prisão preventiva. O legislador estabelece prazos em função de
fases processuais, prisão preventiva 4 meses até dedução de acusação, depois de
deduzida acusação fica mais 4 meses até o fim de instrução.
São prazos base, mas há crimes que admitem prazos mais longos, do nº2 que são
mais difíceis de investigar e entende-se que possa durar mais tempo a prisão preventiva.
Nº3: os prazos podem ser ainda maiores que para alem de crimes do nº2, se
processo for de especial complexidade que tem que ser declarada em 1º instância
Nº5: prevê que prazos com alongamentos possa ser elevado em mais 6 meses se
houver recurso para tc.
O prazo máximo da prisão preventiva até transito em julgado é bastante longo,
3 anos e 4 meses no art 215 nº3 até transito em julgado e com alongamento do nº5, há
3 anos e 10 meses. Pode até exceder estes 4 anos se se aplicar ao caso o nº6 que diz que
se arguido for condenado na 1º instância, e sentença for confirmada em recurso, prazo
eleva-se para metade da pena que foi fixada. Se foi condenado a 12 anos de prisão,
houve recurso para relação e relação confirmou a pena e arguido vai recorrer para
supremo, decisão não transitou em julgado, de acordo com regras gerais não podia estar
em prisão preventiva mais de 3 anos e 10 meses, mas prisão preventiva pode elevar-se
a metade da pena aplicada que tenha sido confirmada, por isso a prisão preventiva pode
ir até 6 anos.
O recurso é garantia do arguido e presunção da inocência vale ate transito em
julgado, mas arguido interpõe recursos dilatórios, aproveitam e exploram faculdades
que a lei prevê. A prisão preventiva pode elevar-se para metade por causa do regime de
liberdade condicional.
Art 194 nº3: nº2 e nº3 funcionam como normas espelho. Conclui-se que
vinculação do juiz depende do fundamento da medida de coação, são 3 fundamentos:
- fuga ou perigo de fuga,
- perturbação do decurso do inquérito e perigo para aquisição da prova;
- continuação da atividade criminosa ou perturbação da ordem e da
tranquilidade jurídica.
b) Há uma das alienas que se prende com exigências probatórias que na fase de
inquérito é o mp que controla, domina. Quando haja perigo na aquisição da prova,
quem melhor sabe do que é preciso para acautelar a prova é o mp. Nestes casos, juiz
não pode aplicar medida mais grave do que for aplicado por mp, porque aplicar medida
mais grave põe em causa os objetivos do mp. Quando perigo seja para obtenção de
prova, o juiz esta vinculado pelo requerimento do mp e não pode aplicar medida mais
grave. Ainda assim, pode o tribunal aplicar uma medida de coação diferente requerida
pelo mp, desde que menos grave.
Quando os perigos forem as outros alíneas, a e c), o juiz pode aplicar medida
diversa, mesmo que mais grave, art 194 nº2.
Estas medidas de coação são aplicadas pelo juiz, com exceção do termo de
identidade e se forem aplicadas na fase de inquérito estão sujeitas ao principio do
pedido e juiz fica vinculado pela medida de coação aplicada pelo mp, não podendo
aplicar medida mais grave quando se ligue a conservação da prova, b) do art 214.
Às vezes é difícil saber o que são medidas mais graves e porque?
Porque o legislador admite a cumulação de medidas, e podemos questionar se é
mais grave aplicação de duas medidas ou uma só? Depende, se se fala de cumulação da
coação com exercício da profissão e juiz em vez dessas duas que mp quer, pretende
aplicar prisão preventiva, o nosso juízo é que duas medidas são menos gravosas do que
a prisão preventiva. O critério atende a medida de restrição de df e não numero de
medidas, não é critério quantitativo. A possibilidade de cumulação não permite afastar
a ideia de restrição de df.
- Se arguido não tiver detido prazo é de 5 dias, art 194 nº5, tem que ser
notificado para comparecer, para ser interrogado e proferir a decisão. Não se previa
prazo nenhum antes.
Quando arguido é ouvido é informado dos factos que lhe são imputados, os
elementos do processo em que assenta os factos, salvo se existir inconvenientes no art
141 nº4 e) para a prestação dessa informação. O despacho que aplique medida de
coação também é fundamentado e arguido no prazo de recurso e durante interrogatório
pode consultar os elementos do processo que sejam determinantes para aplicação de
medida de coação.
TERMO DE IDENTIDADE E RESIDENCIA
É tratado pelo código como medida de caução, menos gravosa, mas este regime
afasta-se das demais e pergunta-se se é medida de coação, porque é de aplicação
obrigatória, conforme resulta do art 196 nº1 do cpp, tem que ser aplicado sempre que
alguém é constituído arguido, não depende da verificação de exigências cautelares.
Depois pode ser aplicado pelo mp ou por órgão de policia criminal, não esta
sujeito ao principio da judicialidade. É medida cumulável com qualquer outra, seja
qualquer for, mesmo que seja prisão preventiva.
Não se extingue, quando outras extingam, art 214 nº1 e) a contrário resulta que
termo de identidade so se extingue com extinção da pena e não como as outras quando
haja recurso da decisão absolutória ou outras.
Duvida-se se estamos perante medida de coação, porque parece assinalar-se
outro efeito que se prende com julgamento do arguido na ausência. Quando é prestado
o termo de identidade, o arguido é informado que está obrigado a apresentar-se
perante autoridade judiaria, tem que informar se houver saída para estrangeiro,
informado que informações serão feitas por via postal simples e de que não
comparecendo pode ser representado pelo defensor nos atos em que deve estar
presente.
É este conteúdo no termo de identidade de residente, não restringe direitos,
apenas tem que indicar morada, sempre que se ausente por mais de 5 dias tem que
dizer para onde e se faltar as diligencias para ser convocado será representado pelo
defensor.
O recurso está no art 219, mas este art 219 apenas se refere a uma dimensão do
recurso, que é prazo para a decisão, em tudo o mais vale regras gerais, no art 411 prazo
para interposição de recurso, os critérios que deve obedecer interposição do recurso art
412. O art 219 apenas diz que prazo para decisão e de uma concreta espécie de recurso.
O recurso da decisão que aplique, substitua ou mantenha medidas de coação, o prazo
para decidir é de 30 dias.
Esta norma existia no código originário e havia discussão sobre saber se o que
estava no art 219 era prazo mais curto para decisão de certos tipos de recurso ou se
estava indiretamente a limitar o recurso a certos casos. Havia quem entendesse que o
que se está a dizer é que valem regras gerais quanto a legitimidade para recorrer e
interesse em agir, pode recorrer de qualquer decisão que aplique medida de coação, o
recurso pode ser feito pelo arguido, in bonam partem ou pelo mp contra o arguido, in
malam partem, mas quando recurso seja de decisão que comprima direitos do arguido,
esse recurso deve ser decidido em prazo mais curto. Se há restrição de df do arguido
deve ser aferida pelo tribunal superior com mais celeridade. Se não está em causa
restrição de df, então se não foi aplicada medida de coação, então não há pressa para
decidir, pode decidir alem dos 30 dias.
Mas há quem diga que esta norma refere legitimidade para agir, apenas poderá
haver recurso quanto ás decisões que mantenham a medida de coação, nas outras não
pode.
Em 2007, o legislador adere a 2º entendimento e restringe recurso in bonam
partem, deixa de ser possível recorrer em desfavor do arguido, apenas pode se recorrer
das decisões o arguido e o mp no interesse do arguido.
Mas em 2010, legislador voltou a solução anterior e pretende que a conceção
primeira valha. Pode recorrer de qualquer despacho dos que apliquem ou que não
apliquem, com prazo de 30 dias.
Temos habeas corpus que pode ser por detenção legal ou por prisão ilegal art
223. Por prisão ilegal pode ser por prisão preventiva ilegal ou como prisão enquanto
pena. Interessa a primeira modalidade.
Requerimento pode ser feito por qualquer preso ou de qualquer cidadão no gozo
dos seus direitos políticos, nos termos do art 222 nº1.
Não há formalidades especiais. É apreciado pelo stj num prazo célere, art 223
nº2, em 8 dias e por isso é que fundamentos tenham que ser estritamente formais, 223
nº2 enuncia que prisão determinada por quem não tinha competência, como pelo mp
em vez do juiz, ser motivado por factos que a lei não admite, para crimes com prisão
inferior a 5 anos ou se esgotarem-se os prazos.
Estes fundamentos porque razão?
Porque o habeas corpus é excecional e tem pouca tradição entre nós. É limitado
a sua aplicação visa-se atalhar as privações arbitrarias da liberdade e resolver situações
de flagrante ilegalidade e teria que ser assim para justificar o prazo curto de decisão.
A lei diz que o habeas corpus e recurso não estão sujeitos a situação de
litispendência ou caso julgado, pode recorrer-se e interpor-se providencia de habeas
corpus porque fundamentos podem não ser os mesmos. O habeas corpus é tao
excecional que não se circunscreve nos meios de recurso normal, o que gera
discrepância entre duas decisões.