Você está na página 1de 173

Direito Processo Penal – 1º Semestre

Aula 25/9/2020
Professora Sandra Silva
Horário de atendimento: 14-16h quinta feira, enviar email ou avisar de que
vamos comparecer, gabinete 225 2º piso.
Disciplina nuclear, temos duas componentes: estática processual, teoria da lei
processual penal, fontes de direito processual penal, interpretação, integração e
aplicação da lei no tempo, modelos processuais, que diferenças fundamentais entre
modelo que temos na europa continental que é modelo acusatório, diferente dos eua,
que é modelo puro.
Vamos perceber que princípios orientadores do processo penal português,
sujeitos processuais, tribunal, mp, partes civis e objeto do processo.
Falamos da dinâmica processual: tramitação do processo, na forma comum e
especial que são três. Temos ainda as medidas de coação.
Vai disponibilizar no Sigarra os documentos para consultar durante a aula.
Avaliação: será por exame final.
Na pratica trazer legislação: código do processo penal e código penal. lei 39/2020
alterou o código. Bibliografia: figueiredo dias: direito processual penal. Dra Maria João
Antunes: direito processual penal.

CONCEITO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL E LOCALIZAÇÃO NO SISTEMA


JURIDICO
As alterações que são introduzidas à legislação penal são o reflexo da
hipersensibilidade à alteração das mundividências sociais. Há algumas formulações para
traduzem a sensibilidade do sistema processual penal à alteração das mundividências
político-sociais.
Roxin diz que direito processual penal é dc aplicado, há quem diga também que
é o sismógrafo da realidade constitucional. Cabral de moncada até vai mais longe, faz
equivaler o sistema politico-constitucional a um mastro do navio, o mastro reage às
alterações do masco, assim também o direito processual seria sensível á modificações
ou a qualquer alteração do dc. Os fundamentos do direito processual são os alicerces
constitucionais do estado; a concreta regulamentação de singulares problemas
processuais deve ser conformada jurídico-constitucionalmente.
Nas matérias que mais sofreram alterações: são temas em que se pode dizer que
são fraturantes, temas que têm provocado uma discussão social mais inflamada, como
a questão da proteção dos direitos dos animais, que justificou alteração da legislação
penal, ou matéria da corrupção que é grande preocupação social. Temos ainda a
questão da violência contra as mulheres. São matérias que se ligam a modificação das
conceções sociais que se repercutem com grande amplitude na legislação penal e
processual penal. Decorre assim da ligação entre programa político-constitucional de
proteção de bem jurídicos e a tarefa que incumbe ao direito penal e direito processual
penal.

O direito penal trata-se do conjunto das normas jurídicas que ligam a certos
comportamentos humanos. Formalmente considerado, o direito processual penal surge
como o conjunto das normas jurídicas que orientam e disciplinam o processo penal. a
função essencial cumpre-se na decisão sobre se na realidade se realizou em concreto
um tipo legal de crime e em caso afirmativo na decisão sobre a consequência jurídica
que dali deriva.
O direito processual penal partilha com direito penal substantivo a tarefa de
tutela de bens jurídico constitucional. Há relação de instrumentalidade entre dois
ramos, o direito penal e direito processual penal ou adjetivo, faz parte de paralelo de
direito penal em sentido amplo.
O dp substantivo define que comportamentos humanos, lesivos ou perigosos
que constituem crime e que consequências devem caber em caso de violação de normas
de conduta ou normas de determinação.
O dp adjetivo cumpre função de tutela de bens, ainda que sanção não seja
aplicada, porque apenas a mera existência de norma de determinação apenas tem
função de persuasão, evitar a pratica do crime. Mas se as normas forem violadas, a
efetivação da sanção supõe o direito processual penal porque nestas matérias e por
força da constituição não há pena sem juízo, não há pena sem processo – nulla poena
sine judicio. Traduz-se assim a instrumentalidade do direito penal adjetivo
relativamente ao substantivo. A este ramo de direito cabe a regulamentação jurídica do
modo como se investiga a prática de um crime e se determina o seu agente, em ordem
á aplicação de uma sanação penal ou á resolução do conflito jurídico-penal de uma
forma desviada da tramitação comum;
Na constituição está pressuposto sentença ou condenação, o processo é o
instrumento através do qual se realiza o direito penal substantivo, quando as normas de
determinação são violadas e quando seja necessário uma aplicação da sanção.
Exemplo.: Art 27 nº2: aplicação de medidas de coação. Presunção de inocência,
32 nº2. temos condenação com transito em julgado e de processo para aplicação de
sanção, art 29 nº1: a ninguém pode ser aplicado pena, tem que haver processo para
aplicação da pena

A instrumentalidade do direito processual penal não apaga a autonomia


axiológica que ainda assim existe entre dois ramos. O dpp é instrumento da realização
do dp substantivo, mas tem outras finalidades que não reconduzem aos fins do próprio
dp substantivo. O direito processual penal não tem como fim apenas o de realizar
objetivo do dp substantivo, os fins deste são autónomos relativamente aquele e
traduzem-se na realização da justiça e descoberta da verdade, ligando-se a este, mas
também temos proteção de df e reafirmação da paz comunitária. Por isso, figueiredo
dias diz que há relação de mutua complementaridade funcional entre direito penal
substantivo e dpp, traduz-se em reciproca implicação. O direito penal influencia o dpp
e o dpp também influencia do dp.

Exemplos de implicação do dp em dpp: o direito penal substantivo tem uma


intervenção fragmentaria e subsidiaria na proteção de bens jurídicos, é instrumento de
ultima ratio. Diz-se que a tutela de dp é fragmentária significa que so intervém quando
há lesões graves de bens jurídicos essenciais, significa que a conduta tem que ter
dignidade penal. Se a intervenção é subsidiária, o dp só intervém quando outros ramos
não assegurem adequada tutela daqueles bens jurídicos, quando haja necessidade de
pena.
Como se reflete no processo penal?
Se o dp não deve punir tudo, então o dpp não deve perseguir tudo. As mesmas
ideias que estão na base de movimento de descriminalização, de redução do âmbito
criminal, pela ideia de fragmentaridade e subsidiariedade, estas mesmas ideias
justificam um principio da oportunidade que se traduz na concessão ao mp da
faculdade de não acusar, não deduzir acusação, apesar de haver indícios que tenha
havido crime. a ideia de uma intervenção de subsidiariedade e fragmentaridade do dp
que justifica ao dpp a mesma coisa, não se deve perseguir tudo.
O nosso sistema acolhe o principio da legalidade, mas faz concessões
relativamente à oportunidade.
Exemplo.:
- caso de deputada do cds que esteve envolvida num suposto crime para
obtenção de subsidio e houve despacho por parte do mp para haver dispensa de pena.
Instituto em que o mp apesar de haver indícios de crime, o mp não tem dúvidas sobre
existência de falsificação suscetível de justificar julgamento, mas entendeu por razões
que se prendem por principio da oportunidade, apesar de indícios é mais conveniente
por razoes politico-criminais haver arquivamento e existir dispensa de pena. É mais
conveniente não sujeitar a julgamento, do que sujeito, apesar de haver indícios.
- Ou o nosso dp assenta na ideia de imputabilidade e inimputabilidade como juízo
duplamente concreto: concretamente ao agente e concretamente ao facto. Repercute-
se no dpp, porque no código anterior havia a suspeita em que agente tivesse anomalia
psíquica, discutia-se à margem do processo a questão da inimputabilidade. Mas se
dizemos que inimputabilidade se reflete na pessoa e no facto, então não se pode discutir
a pessoa, sem discutir o facto ligado ao agente. O agente pode ser imputável a crime de
homicídio, mas inimputável quando a incendio. A anomalia psíquica tem que dar
incapacidade de determinação de factos daquela espécie.
- Ou o nosso dp substantivo valoriza a prevenção geral positiva de
ressocialização, a pena tem em vista a reintegração, evitando-se a reincidência, é
finalidade essencial das penas. Reflete-se no processo, precisando ver qual a pena mais
adequada ao agente e para que se consiga encontrar, é necessário ter atenção ao
momento da determinação da pena. Do ponto de vista processual, traduz-se na
bipartição da ação de julgamento, temos que dividir a audiência de julgamento,
discutindo a culpabilidade e determinação da sanção.
Os franceses chamam de césure a este sistema de bipartição, de divisão da
audiência de julgamento em dois momentos: discussão da culpabilidade e
responsabilidade e momento seguinte para determinação da sanção. No ultimo
momento, seriam chamados os especialistas em direito e ainda outros especialistas que
pudessem auxiliar o juiz para determinação da pena adequada àquela personalidade,
como psiquiatras, técnicos de reinserção social, criminólogos, psicólogos, especialistas
que intervém e que ajudam a evitar a reincidência e a favorecer a reintegração social do
agente. O nosso ordenamento conhece a césure, mas não total.
Na audiência de julgamento, ouvimos testemunhas que vão depor sobre factos,
no final temos as testemunhas abonatórias que falam sobre personalidade e grau de
reinserção social e que são contributos que só relevam para determinação da pena. Não
há duas audiências de julgamento, é unitária, mas havendo prova testemunhal, havendo
esta dualidade, primeiro há aquelas que depõe sobre os factos, depois é que vem as
testemunhas abonatórias.
Produzida prova, temos deliberação e aqui temos duas questões que são
separadas. Se na determinação da sanção, o tribunal tiver duvidas e precisar de
produção prova pode-se abrir a audiência de julgamento novamente. A césure consta
no art 368, 369 do código de processo penal.

Também o dpp influencia o dp, embora pudéssemos pressupor que o dpp por
ser instrumental estivesse secundarizado, mas acaba por o influenciar, como as ideias
de subsidiariedade e fragmentaridade.
Estas ideias são determinadas por razoes processuais: Se todas as infrações e
desvios a normas fossem tidos como crimes e fossem julgados, os tribunais ficavam
assoberbados. Os fenómenos de descriminalização visam redução destas situações, não
se pode perseguir e punir todos os desvios como crime, sob pena de instituições
judiciárias não funcionarem. Os movimentos de descriminalização acontecem por
razoes pragmáticas. O direito contraordenacional é recente, surge em 1982 em
Portugal. Estas infrações eram infrações criminais menores e isso colocava pressão no
sistema de justiça. Essas infrações menores deixaram de ser crimes e passaram a ser
ilícitas, mas ilícitos de natureza contraordenacional que são decididos pelo direito
administrativo. As infrações rodoviárias, se não fossem contraordenação, colocariam
pressão imensa sobre o sistema judicial. São pressões do processo.
A distinção do que é crime e do que não é tem subjacente considerações ou
diferenças de graus. As infrações podem ter dignidade penal, mas por razoes de ordem
pratica e por menor necessidade de pena não são incluídas no direito penal.

Mas pode acontecer o contrario: assim como há descriminalizações substantivas


por pressões processuais, pode haver neocriminalização que surge da pressão do dpp,
na medida em que as dificuldades de natureza processual penal terão contribuído para
uma antecipação da tutela penal e para o surgimento de novas incriminações.
Exemplo.: Há crime de participação de rixa que pune conduta daquele que esteja
envolvido em rixa e resulte em lesões ou morte da vitima. Isto foi introduzido porque
havia dificuldade na prova, não se conseguia provar quem matou. Para não deixar sem
tutela estes bens, o legislador incriminou a própria participação na rixa, art 151 do cp,
por motivos de dificuldade de prova da autoria do homicídio ou de ofensas a integridade
física, dificuldade em ver quem causou a lesão da ofensa.
Ou ainda a corrupção, a incriminação consta no dp desde a versão originaria, mas
houve sempre dificuldade probatória na corrupção, era preciso provar a pratica do
agente de um ato contrário ou não dos deveres do cargo e provar o nexo entre a
vantagem oferecida pelo agente, do corruptor e pratica desse ato. As maiores
dificuldades aconteciam por causa desse nexo, desse acordo corruptivo, a prova entre
nexo contrário dos deveres e a vantagem patrimonial ou não patrimonial oferecida pelo
corruptor. – recebimento de vantagem, art 372 do cpp.
Esta incriminação que surgiu em 2010 colmata dificuldades na prova da
corrupção. Há corrupção ativa que corrompe, e passiva, aquele que sendo funcionário
publico se deixa corromper. Aquele que se deixa corromper aceita vantagem ou solicita
vantagem para praticar ato contrario aos deveres. Há corrupção própria que é contrario
aos deveres do cargo ou impropria que não é contraria aos deveres do cargo.
Corrupção passiva impropria – ato licito, que não é contrario aos deveres. O
enfermeiro ou funcionário que aceita dinheiro para atender, está a fazer algo que lhe
compete, temos corrupção passiva imprópria, mas ainda assim a conduta cabe na
incriminação porque quer evitar-se as decisões dos funcionários sejam movidos por
motivos diferentes da realização da autonomia intencional do estado.
Há grande dificuldade de prova no nexo entre vantagem e deveres do cargo que
se pratica. Às vezes uma empresa favorece autarca com vantagens, bilhetes para assistir
a espetáculos e não há conexão, não há nexo, mas serve para criar ambiente de simpatia
e vai favorecer decisões pretendidas por quem oferece vantagem. Por isso é que
legislador introduz recebimento ou oferecimento de vantagens não devidas para o
exercício de um determinado cargo.

Há grande paralelismo entre os vários institutos dos dois ramos. Despensa de


pena regulada no art 74 do cp. No dpp vamos estudar o arquivamento por dispensa da
pena.
Há ainda outros institutos que tem natureza mista, institutos que não se sabe se
pertencem ao dp substantivo ou dpp, falamos da queixa, acusação particular e da
prescrição do procedimento criminal, institutos de natureza mista, que a pertinência
nos dois ramos é determinada, possuindo em si mesma caraterísticas jurídico-
substantivas e jurídico-processuais. São matérias tratadas no cp, mas que também
funcionam como requisitos de procedibilidade, são condições em que não pode haver
processo. Se se se tratar de crime semi-público, furto simples ou ofensa a integridade
física, sem existir queixa do ofendido não há inicio do processo, são condições de
procedibilidade.
Apesar de serem institutos regulados no cp, não há duvida que tem alcance
processual, são condições de procedibilidade, condições sem as quais não há processo
ou sem as quais não há processo.

Em alguns dos casos, a queixa pode ser condição de punibilidade. Não é apenas
processo que depende da existência de questão, mas a própria dignidade penal do caso
que depende da queixa.
Exemplo. :há algumas condutas que podemos dizer que são piropos que estão
incluídos na criminalização no art 170 do cp, crimes de importunação sexual. Ora este
crime é semipúblico, depende da queixa, a queixa aqui é uma condição da existência do
processo, mas há quem entenda que é condição da dignidade penal do facto. Porque
uma atitude perante esta conduta, há aquelas que ignoram, há pessoas que acham graça
e há pessoas que sentem a sua liberdade sexual atingida, a queixa, a manifestação de
vontade daquele que é ofendido é condição da dignidade penal da conduta.
A queixa funciona como vontade da atitude perante a situação, condição da
própria dignidade penal. conduta tem ou não dignidade penal, depende da conduta da
pessoa que é ofendida pela pratica do crime. a queixa é condição de procedibilidade e
ainda como condição de punibilidade, da dignidade penal da conduta.
Estes institutos são importantes porque têm relevância grande em matéria de
sucessão de leis no tempo, saber que matéria de dp substantivo e dpp importa ver se se
pode aplicar ou não retroativamente uma lei nova. Para além de outras situações como
a de integração de lacunas (art 2 do cp e 5 do cpp e art 1 do cp e 4 do cpp).
O dpp e dp forma parte do direito penal amplo. E direito penal amplo juntamente
com criminologia e politica criminal, Von liszt designa como ciência total do direito
penal.
Que relações se estabelecem entre a criminologia e processo penal que justifica a
inclusão?
A criminologia estuda fenómenos que tem repercussões, como o processo de
seleção da delinquência e a discrepância entre os crimes cometidos e os denunciados.
Há uma espécie de efeito funil no tratamento da criminalidade. São mais os crimes
cometidos do que são conhecidos e são mais os crimes que são conhecidos do que
aqueles que são punidos, temos efeito funil. O efeito funil é natural e por vezes é
desejável, mas em outros casos significa que há fenómeno criminal em que efeito funil
é mais acentuado no âmbito da corrupção ou ainda no crime de aborto.
A partir do momento em que há descriminalização de algumas condutas, antes
desta modificação, o aborto era uma das criminalizações mais acentuadas. A
criminologia estuda o efeito funil e permite-se perceber como se operam.
Outro conceito que criminologia estudou foi o conceito ou ideia da teoria da
labelling approah, teoria da etiquetagem. Percebeu-se que intervenção de instancias
formais de controlo são ineficazes ao crime, como pode gerar uma nova espécie de
delinquência secundária que decorre do estigma que ocorre no processo penal que
impõe sobre delinquente primário que comete infrações de menor gravidade, mas é
imposto um estigma que pode conduzir a pessoa que não cometeria crime e passa a
cometer crimes. Esta teoria tem relevância para crimes de pouca gravidade.
Ajuda ao processo penal a desenvolver mecanismos que evitem os fenómenos
de delinquência secundário, mecanismos que evitem que processo penal e instancias
formais de controlo funcionem como instancias de produção do crime. o momento mais
estigmatizante era o da audiência de julgamento. Tentou-se arranjar soluções para que
acabasse antes desta fase, mas sem deixar de existir tutela para proteção de bens
jurídicos. A criminologia reflete sobre instâncias formais de controlo que participam no
decurso do processo penal – o tribunal, ministério publico e as policias, denunciando
que o criminoso é muitas vezes não propriamente aquele que comete crimes, mas antes
aquele a que o estigma é aplicado com sucesso.
A vitimização secundaria, também a criminologia estuda. Percebeu-se que a
vitima sofre um mal maior do que foi o próprio crime. é preciso construir mecanismos
que minimizem a vitimização secundária sobretudo nos crimes sexuais e da esfera
intima. Temos mecanismos como tomada de declarações para memória futura, 271, é
reflexo de construções teóricas da criminologia. Ouve-se a testemunha, regista-se e
depois reproduzem em audiência de julgamento para não ter que repetir o seu
testemunho ao longo do processo.

O dpp e a politica criminal: um programa político-criminal fundado no


mandamento da necessidade de tutela de bens jurídicos e da reintegração do agente na
sociedade projeta-se necessariamente no processo penal. perante certas formas de
criminalidade, pede-se hoje ao estado que satisfaça paradoxalmente duas ambições:
que limite os poderes do estado, em nome da proteção dos direitos dos cidadãos e que
amplie os poderes do estado, temos assim um processo penal das duas velocidades.
a cada dois anos é aprovada uma lei que define objetivos, prioridades. Esta lei, a
lei 55/2020, contém orientações e diretrizes concretas para os órgãos de perseguição
penal para as policias e para o mp, define que crimes de investigação prioritária e crimes
de prevenção prioritária.
A política criminal definida pelo governo exerce influência decisiva no processo,
essa influência decisiva resulta da existência da lei-quadro da politica criminal que é
concretizada a cada biénio por lei que define os objetivos e a policia e o Ministério
Público estão vinculados a estas diretrizes.
Zipf, com a determinação das consequências jurídicas do crime realiza-se a
decisão político-criminal no caso concreto: o cumprimento das intenções e do programa
político-criminais do sistema dependem de uma justa aplicação das consequências
jurídicas do crime.

Aula 2/10/2020
ESTÁTICA PROCESSUAL
Vamos ver e considerar alguns problemas da teoria geral do direito penal, das
fontes, da interpretação e integração e aplicação da lei no tempo.
Em relação às fontes, e com o positivismo legalista a principal fonte de direito é
a lei, o código de processo penal. o atual é de 1987 que entrou em vigor em 1988 e antes
dele vigorava o código de 1929 que tinha pendor mais autoritário e com revolução de
74 e entrada em vigor da constituição e das alterações no código penal, este código era
incompatível com o novo modelo político e nova conceção de direito penal. foi
necessário novo código, este de 87 já sofreu grandes alterações, as mais importantes
em 98 com alterações dos recursos e introduziu-se forma de processo especial que não
existia na versão originaria que é processo abreviado. Essas foram as principais
alterações. depois desta alteração de 98, a grande alteração foi em 2007, como
resultado de ondas de choque provocadas pelo processo de casa pia, com alterações
profundas no código penal que tocaram no processo penal, como impedimentos de
juízes, medidas de coação, âmbito da prisão preventiva.
Em 2010, houve contrarreforma, em resultado de criticas que se fizeram sentir
sobretudo da parte do mp e dos responsáveis pela investigação nas policias que
evidenciaram ter havido um excesso de garantismo na reforma de 2007, então aqui
estas são sintomáticas desta espécie de movimento endolar que há no dpp, reforma que
garantístico e depois correção desses excessos com modificações de pendor securitário.
Alterações no regime de detenção fora de deflagrante delito, que tinha sido muito
restringido e tornou-se admissível nos casos em que arguido notificado não tinha
comparecido voluntariamente. O caso que foi mote para esta restrição de detenção em
flagrante que foi de pinto de costa que apareceu voluntariamente, mas foi detido nas
instalações do tribunal. Houve excesso de zelo na detenção com aparto publico e este
foi o mote para a restrição da detenção fota deflagrante delito, mas podia ser necessário
para casos de violência domestica e alargou-se de novo, a prisão preventiva também
sofreu alterações, que tinha sido restringido apenas a pena de prisão superior a 5 anos
e depois aconteciam coisas que causavam estapafúrdias, alguém detido por furto
qualificado, aplicação de medias de coação e depois sair do tribunal num carro furtado
naquela hora. Casos mediáticos que soa impulsos para alterações.
Em 2013, foi de novo introduzido alterações ao cpp, como a possibilidade de
valoração das declarações anteriormente prestadas pelo arguido perante juiz com
assistência de advogado, quando nadueinci de julgamento se remetesse ao silencio. Esta
possibilidade de valoração não existia, quando arguido confessava na fase de inquérito
ou na fase de instrução, mesmo perante um juiz, as declarações que prestava que são
confessórias não podiam ser valorados quando no julgamento se remetesse ao silencio.
Se dissesse coisa diferente, considerava-se o que disse para descredibilizar o que disse
na audiência de julgamento, mas se aqui nada dissesse, o que disse antes não se podia
considerar, sendo que causava então limitações à tarefa de perseguição penal e em
2013 introduzirma.se alterações para permitir a valoração. Foi alargado âmbito ao
processo sumário que foi logo repudiado pelo tc, a norma foi julgava inconstitucionais e
declarada inconstitucionais e 2015 legislador revogou as alterações dos dois anos
anteriores. Em 2013, o legislador alargou processo sumario que é de tramitação célere
e que supõe detenção em deflagrante delito e o processo pode correr mais célere,
porque há evidencia que dispensa uma investigação na fase de inquérito para recolher
indícios para sujeitar o sujeito a julgamento. O inquérito serve para evidenciar alguém
para sujeitar a julgamento.
Nos casos de deflagrante delito, essa suspeita decorre da própria situação que
justifica a deteção, quando acabou de cometer crime, estando ai a evidencia que é
suficiência para fundar a suspeitar para sujeitar a julgamento por isso decore mais
rápido. Ate 2013, so se podia julgar os crimes punidos ate 5 anos, porque havia
encurtamento de garantias. Em 2013, o legislador estendeu a todos os crimes, como
crimes de homicídio qualificado que podiam ser também através de processo sumario e
isto pode ser chocante, porque são julgados por tribunais comuns.
Além do cpp, no plano interno temos importantes fontes como a constituição e
em virtude das ligações entre o dc e o dpp, da ideia que dpp é dc aplicado, precisamente
refletindo esta tese, existem normas da constituição que são importantes fontes de dpp,
como art 1 como principio da dignidade humana, art 13 com principio da igualdade, o
art 18 que diz que requisitos que depende a restrição das garantias fundamentais e há
dpp elementos que soa restrição a garantias como escutas telefónicas, são matéria que
convoca o art 18, art 20 que consagra a tutela jurisdicional efetiva, art 27 e 28 sobre
prisão preventiva, 31 sobre habeas corpus, 206 com audiência pública. Há varias normas
da crp que tem relevo para o pp, mas o mais importante é o art 32.

Art 32 da crp: é muito importante. Cada um dos números merecia consideração


individualizada. O processo penal ate podia ser estudado em torno deste artigo.

Nº1: esta autonomização de recurso foi introduzido em 97. Não constava até ai,
muito embora já se entendesse que o recurso era garantia fundamental, não estava era
autonomizado no texto do art 32.
Este principio da plenitude de garantias de defesa é principio de natureza
programática, é clausula geral englobadora de todos os direitos de defesa do arguido,
mesmo os que não estejam precipitados em nenhuma norma, é principio jurisgénico,
permite fundar a partir dele outros direitos concretos que sejam precipitada da ideia de
plenitude de garantias de defesa, mas é norma programática. Este principio à de
salvaguardar-se a outras garantias como realização da justiça e descoberta da verdade
e tutela da esfera de direito de outras pessoas que intervém no processos como vitimas
ou testemunhas que podem conflituar com tutela de garantias do arguido com essas ou
tutela punitiva do estado é preciso haver concordância pratica como figueiredo dias,
Nº2: presunção de inocência que vale como regra de tratamento a dispensar ao
arguido que deve ser de tal ordem que se mostre compatível com a ideia de que
determinada restrições de direito são aplicados a inocente e vale como regra de juízo
ou decisório. Este numero 2 liga a presunção de inocência a celeridade do processo,
deve ser julgado no mais curto prazo compatível com garantias de defesa a presunção
de defesa apara não ser ilusória pressupõe celeridade, não pode dizer que ainda pode
ser assegurado presunção de inocência alguém sob quem pende o estigma de ser
arguido num processo penal, por isso processos que se arrastam nos tribunais são
processos que suscitam interrogações na tutela de presunção de Inocência.

Nº3: defesa técnica, o arguido pode escolher quem pode assistir. A crp assegura
o direito de ter defensor, mas dá direito a escolher defensor. Isto é importante, porque
logo após a queda das torres gemas, foi aprovados nos eua o United states patriotic act,
aprovado em 2001 e nestas hipóteses de terrorismo, atribui-se aos arguidos um
defensor escolhidos pelos órgãos. Mas a constituição impede, a constituição garante a
escolha, porque há relação de confiança entre arguido e defensor para assegura eficácia
da defesa.
A constituição também diz que em certos casos, a lei pode impor atos e, que
assistência por defensor é obrigatória, há dissonância entre crp e outros instrumento de
direitos fundamentais, como no âmbito do internacional dos direitos políticos atribui-se
o direito ao cidadão de defender-se a si mesmo ou defender-se por advogado, mas a
nossa constituição não assegura direito de autodefesa e ate enuncia situações em que
arguido tem que estar assistido, não pode estar sozinho. Portugal foi condenado pelas
nações unidas por causa disto, pela necessidade de ter sempre advogado.

Nº4: a leitura deste numero suscita dificuldades que aprecia resolvidas em 87,
mas foram reabilitadas em algumas conferencias, nomeadamente em 2018, promovido
pela ordem dos advogados, em que Garcia pereira ressuscitou questão que parecia estar
resolvidos. O nº4 diz que toda a instrução é competência de juiz. Em 1976, desde a sua
origem, aquilo que hoje se designa por inquérito tomava o nome de instrução. Em 1976
vigorava o código de 29 que chamava a fase de investigação e instrução, havia duas
instruções, uma instrução de preparação de recolha de prova, que era quase secreta e
depois instrução contraditória em que arguido tinha faculdade de conhecer elementos
de processo e exercer o contraditório possível.
Em 1976, o legislador constituinte quis que fosse da competência do juiz, quis
que fase de investigação, de instrução fosse do juiz e não do mp, isto porque o mp é
magistratura hierarquizada, mas era dependente do poder executivo, do governo, mas
hoje há estatuto de maior autonomia que não existia até 1976. O legislador constituinte
temendo a interferência do poder politico na atividade da intervenção penal, quis que
a instrução, a fase de investigação fosse entregue a juiz. Em 1987 o legislador foi pura
manobra conceptual porque chamou a instrução inquérito e instrução passou a ser fase
subsequente ao inquérito que é facultativo e fase que é de fiscalização da atividade do
mp no inquérito. O legislador chamou à instrução inquérito e assegurou compatibilidade
formal coma constituição, porque toda a instrução é da competência do juiz. Esta
compatibilidade formal suscita dúvida sobre inconstitucionalidade material da norma,
na aparência havia compatibilidade do código penal e crp, mas na verdade aquilo que
legislador constituinte quis que investigação fosse entregue a um juiz não estava
assegurada no cpp. A questão foi levada ao tc ainda antes do cpp ter entrado em vigor,
num processo de fiscalização preventiva, mas este entendeu que não havia
inconstitucionalidade. Este acordo do t tc foi objeto de notação de Figueiredo dias e que
explica razoes porque não se deve entender que deve haver inconstitucionalidade, o
que importa é assegurar núcleo essencial da garantia traduz-se em atribuir ao juiz todos
os atos que são materialmente jurisdicionais que contendam com restrição de df e isso
esta assegurado no cpp. O inquérito é dirigido pelo mp, mas atos que contendam com
df são da competência do juiz.

Que atos durante o inquérito que vos parece que contendem com df e que deveriam
ser da competência de um juiz?
Como medidas de coação, como prisão preventiva, a caução, permanência de
habitação. A prisão preventiva restringe o df do direito de liberdade de circulação, que
são da competência do juiz. Algumas medidas de investigação são do juiz, autorizar
escutas telefónicas, buscas domiciliárias compete ao juiz. O art 268 e 69 temos elenco
de atos processuais que soa da competência do juiz que tem que autorizar e outros caso
que tem que praticar, como fazer buscas nos dossiers de advogador, tem que estar
presente.
Figueiredo dias diz que o que importa porque nenhum df é absoluto, mas temos
que respeitar núcleo essencial de garantia são conjunto de atos que por restringir deve
ser entregue a um juiz e essa competência judicial para atos que restrinjam direitos esta
assegurado no cpp. O núcleo essencial esta assegurado e depois é preciso
compatibilidade art 32 nº4 com outras normas como o 219 que diz que o mp é titular d
ação penal. ser titular da ação penal é ter competência para acusar e instruir processo
que deduz acusação feita pelo mp. 219 que diz que o mp tem titularidade da ação penal,
para acusar e instruir processo que deduz essa acusação e o 32 nº4 diz que tarefa de
investigação é do juiz. A forma de compatibilizar é esta que o código conseguiu, atribuir
competência para investigar ao mp, salvo nos casos que contende com df e cabe ao juiz
de instrução criminal, salvaguardando núcleo fundamental do 32 nº4.

Nº5: processo de estrutura acusatória, é processo acusatório. Há vários modelos


processuais, a contraposição é entre modelos acusatórios e inquisitórios e a nosso
modelo afirma-se como modelo de estrutura acusatória que tem como competente
essencial o principio do contraditório, so que o nosso modelo acusatório não é qualquer,
vem na linha inquisitória da europa continental e por isso o nosso modelo tem estrutura
basicamente acusatório, mas integrada pelo principio de investigação judicial como
refere figueiredo dias.

Nº6: introduzida na revisão de 97, dizendo que há casos que julgamento é feito
sem arguido ressente, assim foi porque o regime original imponha presença na
audiência, mas havia pessoas que não podiam ser localizadas para serem julgadas, não
apreciam e acabam por não ser julgadas, era fator de estrangulamento da eficácia da
perseguição penal. introduziu-se esta noma para passar a haver audiência.

Nº7: assegura a intervenção no processo para assegurar o estatuto do assistente,


sujeito processual que o nosso dpp reconhece e que o distingue de outros ordenamento,
onde figura do assistente não existe. É uma particularidade do nosso ordenamento
jurídico, estatuto atribuído, muito antes de ter nascido as tutelas da vitima.

Nº8: consagra proibições de prova.


Nº9: principio do juiz natural ou legal;
Nº10: estende-se a processo de contraordenações e processos punitivos as
garantias de audiência e de defesa que a crp assegura no processo penal. este artigo é
fundamental como fonte de direito no processo penal.

Também interessa ver o código penal. já vimos a complementaridade funcional


entre o dp substantivo e o dp adjetivo. Esta complementaridade funcional traduz-se na
pratica na necessidade de socorrer ao dp para resolver problemas, há alguns institutos
que interesse para o processo que estão disciplinados no cp. É o caso da queixa e da
acusação particular, art 113 e seguintes. É também prescrição do procedimento
criminal, regulada no cp no art 118 e seguintes.
Também é no cp que vamos encontrar informação sobre qualificação jurídico-
processual dos crimes, os crimes podem ser de natureza pública ou de natureza
particular em sentido amplo e dentro do crimes particulares, temos crime semipúblico
e crimes particulares em sentido estrito.
Os crimes públicos são aqueles cujo procedimento criminal depende apenas da
atuação do mp, tem competência para abrir inquérito e deduzir acusação, nos crimes
particulares em sentido amplo, a competência do mp é integrada por ato de vontade do
particular, nos semipúblico é preciso queixa e nos particulares em sentido estrito é
preciso queixa e dedução particular, é ofendido que se queixa e depois de investigação
do mp, o ofendido acusa. Saber se crime é isto, temos que ver o cp, é aqui que a
propósito d cada tipo de crime que consta esta afirmação.
Se foi publico, qualquer pessoa pode denunciar e se denunciar o mp está
obrigado a abrir inquérito, chegando a conclusão se houve ou não. Se houver indícios
acusa se não, não acusa.

Há outros diplomas, legislação avulsa que interessa, a lei da organização do


sistema judiciário, a lei que regula a constituição do júri, lei de proteção de testemunhas,
lei de mediação penal. são diplomas que interessam ao processo penal e que configuram
legislação avulsa.

No plano internacional, merece destaque a convenção europeia dos direitos


humanos, de 1950. Esta convenção merece destaque por duas razoes:
- permite acesso direto de qualquer cidadão, é particularidade exclusiva desta
convenção. Os cidadãos não podem dirigir-se ao tribunal de justiça da eu, mas pode
apresentar queixas ao tribunal europeu dos dh para controla a conformidade do direito
interno com a convenção. Esta é uma particularidade que merece destaque.
- A outra particularidade é vinculatividade da jurisprudência do tribunal
europeu dos dh que é vinculativa para os estados parte. Quando tribunal condena, essa
decisão condenatória é obrigatório, mas cria também vinculo indireto para outros
estado signatários da convenção e são obrigados a seguir as linhas jurisprudenciais. Tem
eficácia erga omnes.
A convenção europeia dos direitos do homem, tem art 6 que consagra conjunto
de garantias e direitos dirigidos ao arguido e que alguns deles coincidem com art 32 da
crp, como presunção da inocência, principio ao direito do contraditório que é tido como
right of confrontation.
Pacto internacional dos direitos civis e políticos aprovado sob égide da onu e
contem norma de importância como art 14. Temos núcleo de garantias que é
semelhante do ponto de vista substancial e formal da redação que é semelhante a
convenção europeia.

Quanto ao direito da união europeia, o dp e dpp são vistos como os últimos


bastiões de soberania nacional, resistem com força ás pretensões federalistas da união
europeia. no entanto, nos últimos anos acentuaram-se dois fenómenos: o da
internacionalização da criminalidade, a criminalidade já não é isolado dentro das
fonteiras de um estado, tem dimensão transnacional e transcende as fronteiras
soberanas. A preocupação com criminalidade transnacional acentuou-se com acordo
Schengen e eliminação de fronteiras no espaço da união, a preocupação com
criminalidade acentuou-se.
Outra preocupação foi a da criminalidade contra interesses económicos da
união, o crime de fraude na obtenção de subsídios, a corrupção de funcionários dos
órgãos da união, o branqueamento de capitais, a fraude fiscal contra interesses da
união. Todos estes crimes, esta criminalidade contra interesses da união despertou o
interesse da união. Por isso, a criminalidade organizada, sobretudo com eliminação das
fronteiras e criminalidade contra interesses da união, estes fatores levou a necessidade
de resposta comunitária. A primeira materializou-se no tratado de Maastricht que
introduziu-se 3º pilar, a intervenção policial. Depois com o acervo de Schengen foi
introduzido no quadro e foi afirmado com tratado de nice que afirmou liberdade de
pessoas e afirmou-se espaço judiciários comum. Outros passo no aprofundamento do
3º pilar e de intervenção judiciário forma dados com criação da Europol que é serviço
de policia europeu que se articula com policias nacionais. Ente nos é assegurado pela
policia judiciária. Tem como objetivo investigação e combate de criminalidade de
dimensão nacional. Dez anos mais tarde, foi criado a eurojust para segurar a cooperação
no plano judiciário.
Um terceiro passo neste processo foi criação de mandado de detenção europeu
que é decisão emitida num estado membro para captura de outro estado membro que
é procurado por esse estado. Este mandado europeu foi criado em 2003. Há decisão
quadro de 2002 que depois é transposta nos espaço nacional e lei que cria o mandato
europeu no ordenamento português é lei 65/2003.
Mais recentemente, foi criada a decisão europeia de investigação. Já não se trata
de emitir uma ordem de captura de uma pessoa de um estado para valer noutro estado,
a decisão europeia de investigação tem a mesma ideia, mas o objetivo é obtenção de
meios de prova. Esta resulta de diretiva de 2014 que foi transposta pela lei 88/2017.
O ultimo passo com particular relevância é criação da procuradoria europeia que
foi criada em 2017 por regulamento do conselho e esse regulamento foi adaptado ao
ordenamento português em 2019. Em 2020, a 27 de julho foi nomeado o procurador
português que vai exercer funções na procuradoria europeia. O objetivo da
procuradoria é investigar crimes contra os interesses financeiros da união.
Em matéria de cooperação judiciará no espaço europeu há dois aspetos
fundamentais: reforço da eficácia da cooperação policial. Pode dizer-se que estes
institutos, organismos, são expressão da função espada, função ligada a perseguição
penal. e por ouro lado, uma outra função que se liga à defesa dos direitos de o arguido
e das pessoas que são alvo de perseguição, direito do arguido e de outras pessoas,
temos função escudo. As duas dimensões para que haja cooperação judiciário é preciso
que cada estado confie no outro ordenamento jurídico, assenta na relação de confiança
e para que haja confiança essencial para reconhecimento muito, tem que haver quadro
de garantias comuns que os estados assegurem. Para assegura garantias de defesa
comum, o conselho da união aprovou um roteiro para reforço de garantias processuais
do arguido e do suspeito. Este roteiro foi aprovado po resolução e decomponha-se me
5 etapas concretizadas por diretivas, desde matérias como interpretação e integração,
sendo o mais simples, ate etapas ambiciosas como proteção de detidos vulneráveis e
regime de detenção. Destas etapas de matérias mais simples ate complexas, foram
elaboradas diretivas e que justificaram alteração á legislação ordinária. Em Portugal,
forma aprovados diplomas avulsos e noutros casos foi alterado o cpp. Este é alterado
não por força da mudança das conceções sociais, as ultimas que dizem respeito quanto
aos animais, mas temos ainda transposição de diretivas e respeitar compromissos que
estado assumiu.
Estas diretivas favorecem a confiança reciproca e reconhecimento mutuo, bem
como cooperação entre estados que é fundamental para assegurar a perseguição penal.
são funções espada e escudo que estão interligados.

INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE LACUNAS


Quanto a interpretação, não há nenhuma particularidade a assinalar do que já
demos, as regras de interpretação estão consagradas no art 9 do cc. Mas sublinha-se
que sem prejuízo de regras serem as mesmas, se tem dado atenção particular no cpp ao
elemento teleológico de interpretação, assumindo especial relevo as funções do
processo penal. usamos todos elementos, mas o teleológico ou racional adquire
particular importância.
Há necessidade de haver controlo de conformidade com a crp, tem que haver
interpretação conforme á constituição. uma determinada norma de cpp é
inconstitucional, mas não se pode dizer, sem se procurar primeiro interpretar, colher
dela o sentido que se mostre conforme a constituição. a declaração de
inconstitucionalidade ou não aplicação, nós intérpretes so podemos sustentar que é
inconstitucionalidade, mas so podemos dizer se de todo em todo não se conseguir
interpretar em conformidade com a constituição e tribunais só podem deixar de aplicar
se os tribunais não conseguirem aplicar conforme a constituição.
Exemplo.: discute-se as revistas e perícias no âmbito da droga- há uma lei, que
autoriza realização de revistas e perícias para detetar substâncias estupefacientes no
corpo do sujeito. Pode tratar-se de uma revista em sentido próprio, uma atividade
tendente a localização de objeto no exterior do corpo do sujeito, seja no bolso, calças,
bolsa, no perímetro do corpo, uma qualquer substância ela pode ser localizada, mas
pode não ser revista podem ser exames médicos como ecografia para localizar no
interior do organismo e ainda procedimentos médicos para remover dos organismos,
mas a lei não diz do que se trata.
Houve um caso no tribunal que senhora que foi encontrada com quantidade de
droga dentro do sistema genital. A lei diz que a perícia é ordenada pela autoridade
judiciária competente, mas surge a questão do que é. O mp ordenou oralmente, não há
despacho escrito, mas temos que saber qual sentido deve ser atribuído a esta norma.
Há dois sentidos possíveis: se a fase é de inquérito a autoridade competente é o mp,
que tem que ordenou. Outra interpretação possível é sempre o juiz, seja qualquer
fase.se for na fase de inquérito é juiz de instrução.

Mas pergunta-se, qual interpretação mais conforme à constituição?


É aquela que atribui à expressão da lei é que se refere ao juiz, porque é a mais
conforme á constituição e horizonte teleológico que devemos procurar. Só nos casos
em que não seja possível, tribunal deve fazer uma desaplicação da norma.
Aqui é possível interpretação conforme a constituição, mas se a lei dissesse mp,
conflituava com a constituição, porque tinha que ser praticado por juiz, sob pena de
desrespeitar do juiz. Mas como a lei cabe a autoridade judiciária competente devemos
fazer interpretação conforme a constituição.

Quanto à integração de lacunas já temos norma especial, o art 4 do cpp. O


processo de integração de lacunas decompõe-se em três momentos, em três métodos:
- analogia;
- aplicação subsidiária das regras do processo civil;
- aplicação de princípios de processo penal. têm uma dupla função: é a partir
destes princípios que é feito o controlo do recurso ao direito subsidiário; os princípios
gerais do processo penal cumprem uma função integradora, na falta de outras duas
fontes de integração de lacunas da lei processual penal.

São momentos sucessivos, o legislador privilegia a analogia. Mas parece que há


diferença no dp substantivo, porque a analogia é proibida por força do art 29 da crp,
principio da legalidade exige que em matéria penal:
- haja uma lei prévia, proíbe-se retroatividade;
- lei certa, exige-se a determinabilidade da lei;
- uma lei escrita, principio a reserva formal e lei estrita com proibição da
analogia.
Parece haver diferença entre dp substantivo com estas exigências e em matéria
processual penal, em que aparentemente não há qualquer obstáculo para a analogia.
O principio da legalidade criminal (art 29 nº1 da crp) se entende, na medida
imposta pelo seu conteúdo de sentido, ao processo penal, já que a este cabe assegurar
ao arguido todas as garantias de defesa (art 32 nº1 da crp). Com a consequência de não
ser constitucionalmente admissível a aplicação de normas por analogia sempre que tal
aplicação “venha a traduzir-se num enfraquecimento da posição ou numa diminuição
dos direitos processuais do arguido”.
Isto é assim na aparência e podia dizer-se que direito processual penal é adjetivo
e faz sentido que cidadão sofra da necessidade complementar e de atualizar a
regulamentação jurídica do processo. Podia encontrar-se fundamentação, mas o
processo penal não é so tramites, também tem dimensão substantiva, também se
prende com df das pessoas. Por isso naquilo que a analogia representa
enfraquecimentos de df do arguido está proibida esta mesma analogia. a analogia está
proibida quando representa enfraquecimento da posição do arguido, diminuição dos
direitos do arguido ou restrição de outros participantes procedimentais. É o mesmo que
dizer que no processo penal está também proibido. Não há diferença em relação ao dp
substantivo, o art 29 da crp também se estende ao processo penal quando contenda
com df.
Exemplos.: era possível recurso de analogia, ate 2007 a lei resolvia o problema
de alteração de qualificação jurídica no julgamento, o mp tem que deduzir acusação e
na acusação tem que descrever factos, mas quando descreve factos tem que qualificá-
los juridicamente, dizendo quais normas a que factos se subsumem. o juiz apercebendo-
se do erro pelo mp pode alterar a qualificação.
Art 358 nº3 do cpp diz como se deve proceder da fase de julgamento para ser
legitimo a qualificação jurídica. Mas até 2007 não se dizia como se fazia na fase de
instrução, não havendo solução, aplicava-se por analogia a regra que existia para fase
de julgamento. Agora já existe solução no art 303 que disciplina e resolve este problema
e analogia torna-se indispensável.
Outra situação de analogia que continua a ser necessária. A lei não diz que
havendo vários arguidos so um requerer abertura de instrução. So um requer abertura
de instrução, instrução pode seguir-se ao inquérito, é uma espécie de recurso das
decisões do mp, mas se mp acusar ou arquivar, aquele a quem a decisão de arquivar
afete, pode reagir, há mecanismos próprios de reação como requerimento de abertura
de instrução. O mp acusou vários arguidos e um deles quer abertura de instrução e
outros nada afazem. Agora é preciso saber se a decisão instrutória pode aproveitar os
outros, mas há regra que diz que o recurso interposto por arguido aproveita todos os
outros. Havendo então esta norma, aplica-se a fase do recurso para a fase de instrução.

Mas há vezes em que não há norma, quando não existe caso análogo, usa-se
segundo método de integração de lacunas que é aplicação subsidiaria de normas de
processo civil, desde que se harmonizem com princípios de processo penal. é cauteloso
o legislador manda aplicar subsidariamente as normas de processo civil, tendo maior
elaboração doutrinal, jurisprudencial, oferecendo regulamentação mais completa, mas
o legislador foi cauteloso ao reconhecer que entre o dpc e dpp há diferenças estruturais
e que estas podem ser obstáculo a aplicação subsidiária. O dpc dirige-se à composição
de litigio entre partes iguais, ao passo que o dpp é pretensão punitiva comunitária e
decorrem diferenças importantes. No dpc é dado relevo grande á vontade das partes
que podem pôr termo ao litigio, por desistência ou transação, ao passo que no dp a
vontade do arguido e do assistente, da vitima constituída assistente não adquire muita
importância.
Mas tem sempre que respeitar a fisionomia do processo penal.
Exemplos.: Os advogados tendem a praticar atos processuais fora de prazos. No
processo penal para sujeitos processuais privados são prazos perentórios, decorrido
prazo não se pode praticar ato processual, mas o dpc prevê a possibilidade de praticara
to, mediante o pagamento de multa, há três dias que se pode pagar, que vai crescendo
ao lingo dos mesmos. Pode-se aplicar esta norma do dpc ao dpp que não dizia nada? Os
tribunais entenderam que não, mas agora legislador mudou a lei, já não há lacuna e
disciplina é idêntica, vale os mesmos dias.
Outro exemplo é recurso, quando recurso verse elemento de facto e haja prova
gravada, o prazo para recorrer é acrescido de 10 dias, é razoável que assi seja porque
recurso em matéria de facto é mais trabalhoso é preciso transcrever, mas é preciso ver
se também vale para o dpp. O problema também já esta resolvido. Estes foram casos
reais que que se procurou convocar o dpc.

Quando não haja caso análogo, nem haja normas compatíveis do dpc, o terceiro
passo é recurso aos princípios gerais do dpp, princípios que são abstratos e não se
tratam de princípios que disciplinem situações concretas. É sempre necessário tarefa
constitutiva, transformar princípios abstratos em situações concretas.
Os princípios têm dupla função:
- função negativa de controlo, para excluir aplicação das regras do processo civil
quando sejam incompatíveis com regras do dpp.
- e ainda função positiva ou integrativa, quando não haja caso análogo ou
quando sejam incompatíveis normas do processo civil devemos buscar princípios gerais
do dpp e que deve haver tarefa constitutiva deles.

ÂMBITO APLICAÇAO DA LEI PENAL


Quanto ao âmbito material, quando perguntamos por este estamos a questionar
sobre situações ou matérias a que se aplicam o direito processual penal português e há
coincidência entre dp substantivo e dp penal. o dp processual aplica-se a hipóteses
concretas a que se aplica a disciplina penal substantiva. Se matéria é crime, aplica-se a
matéria de direito processual penal, para regular matérias de investigação e regulação
de comportamento aplicar-se-á processo penal.
Mas há alguns desvios da regra da coincidência, porque pratica de facto
consubstancia crime pode gerar formas diferentes de responsabilidade penal, como
disciplinar, contraordenacional ou civil, um mesmo ato humano pode gerar a varias
formas de responsabilidade. A questão é se estas formas formam-se em processos
autónomos ou devem ser discutidos no processo penal.
Exemplo.: operação lex, temos situação em que juízes praticaram possíveis
crimes, mas os mesmos factos também consubstanciam infração disciplinar. No caso
disciplinar foi apreciado de forma separado perante entidade diversa que aprecia a
penal. o concelho de magistratura para caso disciplinar e o stj para responsabilidade
penal, mas nem sempre é assim, em que formas diferentes de responsabilidade, são
discutidos num processo penal: responsabilidade civil por atos que consubstanciem
crime é tramitado no processo penal, através de principio de adesão. Quando gere
danos, a responsabilidade civil por esses danos, é discutida em principio no processo
peal através deste principio de adesão obrigatória. A ideia de coincidência entre dp
substantivo e dprocessual não há coincidência total, porque há matérias que não são dp
substantivo, mas são conhecidos no dpp. Este principio está consagrado no art 71 do
cpp.
Outro exemplo é da responsabilidade contraordenacional, quando uma conduta
suscita questões relacionadas com responsabilidade penal e contraordenacional é no
processo penal que é conhecido a contratação, art 38 do regime geral das
contraordenações. Mais uma vez é afastado, há matéria que não é de dp substantivo e
é de direito processual.
Ainda temos questões prejudicais. É preciso apreciar matéria em crime, matéria
que não tem natureza penal. para que haja crime de furto, é preciso que subtraia coisa
móvel que é alheia. Se houver duvidas sobre propriedade da coisa, como levou o relógio
que estava em cima da secretária porque era meu, a propriedade da coia, que não é
discussão de direito penal, mas de direito civil, é feita no próprio processo penal, saber
de quem é a coisa pode recorrer-se ao direito civil, mas a decisão é questão prejudicial
e questões prejudiciais são conhecidas e valoradas no processo penal por força do
principio da suficiência art 7 do cpp.

Aquele que assume maior relevância é o âmbito temporal, problema da


aplicação da lei no tempo.
O dpp aplica-se ás mesmas matérias do dp substantivo. Se comportamento é
crime, então aplicamos estes dois ramos na tramitação, mas depois este também se
estende em outras matérias que não penal, como responsabilidade civil ou
contraordenacional. E também se estende á investigação de questões prejudiciais
quando sejam necessárias para verificação de um crime.

ÂMBITO PESSOAL
O dpp aplica-se ás mesmas pessoas que o dp substantivo. Há coincidência entre
âmbito pessoal de um e de outro. A lei processual penal aplica-se a todas as pessoas,
nacionais ou não, a quem seja aplicável o direito penal português estendendo-se mesmo
a quem não é arguido em processo penal.
Mas este principio também conhece exceções, há casos em que pessoas estão
imunes da jurisdição penal e esses casos não coincidem com aqueles que traduzem
imunidades de dp substantivo. Há imunidades que são jurisdição, processuais penais
que acrescem a imunidades de dp substantivo.

Na constituição temos a previsão em favor de titulares de órgãos de soberania,


há imunidade constitucionais que são imunidades de jurisdição. Embora estas pessoas
devam responder pelos crimes, assim o processos não se pode iniciar sem determinados
requisitos, não estão sujeitos de imediato a jurisdição penal, ao processo penal.
São situações em que a constituição, em que depende ada autorização de órgão,
como art 130, 157 nº2, 3 e 4 quanto a deputados e 163 c) e 196 nº1 quanto ao governo.
Já se vê porque imunidades adjetivas existem, estes pressupostos ou obstáculos
processuais são aditado com conveniência de não prejudicar o exercício da função para
que aquele titular foi nomeado. Não se use a investigação penal e jurisdição penal para
condicionar o bom exercício da atividade de advogados, presidente. A arma penal é
arma perigosa e quando é indevidamente usada condiciona a atividade politica e
pretende-se evitar isto.

Estas imunidades adjetivas também existem no plano internacional os chefes


de estado ou diplomatas quando creditados de um estado recebem imunidade
constante na convenção sobre relações diplomáticas, assinada em viena em 1961, no
art 31 nº1 desta. Há imunidades pessoais do direito internacional que assistem a um
chefe de estado ou a um diplomata acreditado junto de um estado estrangeiro que se
prendem com a garantia de certas pessoas com funções de representação do estado no
exterior podem desempenhá-las livremente, sem que a sua eventual responsabilidade
criminal perante a lei de outro país prejudique o normal desenvolvimento das relações
internacionais. Também as suas famílias beneficiam desta imunidade diplomática, como
os filhos do chefe do Iraque.
Estes praticaram crime, estão sujeitos a jurisdição penal, mas estão dispensados
de julgamento nos tribunais portugueses. Deveriam ser julgados nos tribunais do estado
que acreditou, estado acreditante do diplomata, ou estado acreditante podia renunciar
a imunidade e estes seriam julgados aqui.
A imunidade tem o mesmo propósito, as relações de estado estrangeiros é de
grande tensão, quando se envia para outro estado é preciso que não se crie obstáculos
ao exercício das suas funções, um diplomata usado como arma de tensão politica, por
isso é que se prevê imunidade, para assegurar o bom exercício. Há imunidade adjetiva,
não é julgado pelos tribunais do estado acreditador, mas tem que ser julgado e
responderá no estado acreditante ou se este renunciar á imunidade.

ÂMBITO ESPACIAL
No que respeito, o principio fundamental é da territorialidade consagrado no art
6 do cpp, a jurisdição penal deve conter-se estritamente dentro dos limites do estado.
O dpp só pode aplicar-se a processos que sejam decididos pelos tribunais nacionais e
estes tribunais nacionais por sua vez so julgam casos a que seja aplicável o direito penal
substantivo português, os tribunais portugueses não aplicam, em regra, salvo o caso do
art 6 nº2 cp, os tribunais portugueses não aplicam dp que não seja dp nacional. Existe
principio da territorialidade, o dpp aplicam-se a processo julgados pelos tribunais
portugueses e esses so aplicam dp substantivo português.
Esta coincidência não ocorre noutros ramos, como no direito civil. Há outras
regras quanto a competência dos tribunais e quanto ao âmbito de aplicação da lei. As
regras estão estabelecidas do cpc e no regulamento de Bruxelas.
Quanto a aplicação do direto substantivo é disciplinado nas regras de conflitos
que constam no código civil. Quando se trata de saber e de resolver questão de
partilhas, pode ser competente tribunal português, se resultar das regras internacionais,
mas o tribunal português ser chamado a aplicar para decidir do regime de bens o direito
de outro ordenamento jurídico se o casamento for lá celebrado- não há coincidência
entre âmbito espacial do direito substantivo e do âmbito espacial do direito adjetivo.
Aqui, essa coincidência existe, porque o direito penal é a matéria que mais importa do
ponto de vista soberania.
Mas há exceção os tribunais nacionais aplicam direitos estrangeiros se crime for
cometido fora de Portugal e lei estrangeira for concretamente mais favorável. Caso
em que tribunais sejam chamados a julgar, aplicarão lei portuguesa, mas se a estrangeira
for favorável então será essa a ser aplicada.

Um problema que se coloca neste âmbito é relação da jurisdição portuguesa com


outras. Parte esta resolvida no âmbito da união europeia, há instrumentos que
disciplinam a relação de varias jurisdições, mas há também problema fora do espaço da
união europeia. Há elenco de normas nos art 229 e seguintes do cpp, do livro quinto e
essas normas que dizem respeito á extradição, revisão, conformação e execução de
sentenças estrangeiras, estas soa densificadas na lei 144/99 que regula cooperação
judicial internacional, como extradição para ouros estados ou para território nacional,
transferência de pessoas condenadas, transferência de processos penais.
O principio fundamental é de que matéria de relações entre jurisdições penais é
resolvido mediante tratados e convenções. Prevalecem tratados e convenções e quando
não existe é que se aplica esta lei de cooperação judicial internacional e 249 e seguintes
do cpc

ÂMBITO TEMPORAL
Interessa distinguir dois conceitos: âmbito de vigência e âmbito de eficácia da lei
- vigência período que medeia ente lei que começa a vigorar e momento em que
deixa de vigorar, este intervalo chama-se vigência
- eficácia é conjunto de situações a que uma determinada lei se aplica, e principio
o âmbito de vigência e de eficácia coincidem. A lei aplica-se ás situações que aconteçam
entre entrada em vigor da lei cessação da vigência, esta é regra, principio geral. há
coincidência.

Mas esta coincidência não existe sempre, há leis que entram em vigor e que se
aplicam às situações que se iniciaram antes da entrada em vigor. A esta situação se
designa aplicação retroativa, a lei entra em vigor, aplica-se a situações que acontecem
no seu período de vigência, mas também a anteriores situações.
Mas também a lei deixa de vigorar e continua a disciplinar situações que se
perpetuam depois da cessação de vigência – aplicação ultraativa.

O princípio geral é principio da coincidência, principio da aplicação para futuro,


não retroatividade lei. Este principio geral que vale por ser princípio geral para todos os
ramos, esta consagrado no art 12 do cc. A lei aplica-se apenas a factos praticados ou
ocorridos depois da entrada em vigor. No âmbito do dpp aplica-se o mesmo principio, o
da aplicação para futuro.
Só que por ser matéria adjetiva, por tradição usa-se expressão diferente, em vez
de aplicação para futuro, diz que em matéria de direito adjetivo, a aplicação é imediata,
tempus regit actum. O principio é o mesmo, mas diz-se que a aplicação é imediata. Este
principio esta consagrado no art 5 do cpp. É principio de acordo com o qual o direito
adjetivo se aplica a todos os atos praticados no domínio de vigência da lei cuja
aplicabilidade se esta a discutir.

Art 5 do cpp: confirmamos o princípio de aplicação imediata, o principio é o


mesmo, a diferença está no momento de critério. Ao passo que no cc usa-se o momento
da pratica do facto, no domínio do processo penal, o momento critério é momento da
pratica do ato.
Ato é ato processual e não é o facto criminal. A lei tem aplicação imediata, aplica-
se a todos os atos processuais que ocorram após a entrada em vigor, momento critério
é do ato processual e não a pratica do crime. refere-se ao ato mesmo que se refira a
crimes cometidos no passado e também não é ao inicio do processo, pode o processo já
se ter iniciado e o ato processual também não incide com fase. Se a lei disciplinar de
forma diferente, a lei nova aplica-se a atos de inquisição de testemunhas numa
audiência de julgamento, ainda que a fase de julgamento já se tenha iniciado. O
momento critério é momento do ato processual e conceito de ato processual é conceito
atomístico, o ato processual é todo e qualquer ato processual juridicamente relevante,
qualquer notificação, reconhecimento, prolação de sentença, é conceito atomístico,
ato é realidade mínima, dai analogia com átomo.
Não corresponde nem à fase processual, nem ao crime.
Apesar de a lei se aplicar a todos os atos processuais depois da sua entrada em
vigor, mantêm-se validos os atos que foram praticados na entrada anterior da lei. A
entrada da lei introduz disciplina nova, mas não prejudica validade dos atos que já se
praticaram no momento anterior àquele.
Exemplo.: em 2007, nas medidas de decisão introduziu-se disciplina diferente. O
arguido era ouvido sempre que possível e conveniente, havia situações em que não
ouvia e não era possível encontrar ou porque não era conveniente, podia fugir, destruir
provas, etc, havia situações em que se não ouvia, porque não se pode ou não era
conveniente.
Mas em 2007, passou a dizer-se que era ouvido, salvo fundamentação.

Restringiu-se, mas esta lei nova aplica-se a processos que já se tenham iniciado no
momento da entrada em vigor?
A lei nova aplica-se a todos os atos, mesmo que atos digam respeito a processo
do passado ou o crime ter sido praticado no passado. Como a audiência do arguido ainda
não aconteceu pode-se aplicar.
Se a medida de coação já tiver sido praticado, esses mantêm validos, não
prejudica a validade dos atos processuais praticado antes, mas a aqueles a quem não se
aplicou tem que ser ouvidos, salvo fundamentação devida. A lei nova aplica-se a atos
que se seguem, mas não prejudica validade dos atos anteriores.
O momento decisivo é momento do ato processual.

A aplicação deste principio geral levanta dificuldades em algumas situações.


- Por um lado, o processo não é um conjunto desarticulado de atos, a entrada
em vigor de uma lei nova que vem regular atos processuais que se aplicam depois, não
pode desligar-se da tramitação. O processo penal não é conjunto avulso de atos, é serie
ordenada de atos processuais e aplicação de lei nova num processo que já está em curso
pode quebrar a harmonia dos atos processuais, o legislador estabelece que em certos
casos, quando a aplicação seja suscetível de prejudicar harmonia dos atos processuais,
o legislador estabelece que nestes casos continua-se a praticar lei antiga, art 5 nº2 b).
Quando a lei nova introduz modificações tao sensíveis que possa conduzir a
perda de harmonia de atos processuais então a lei nova não se aplica, continuando a
aplicar-se a lei antiga, que tem uma eficácia ultraativa, caso de ultatividade ou
sobrevigência da lei antiga. Um caso de eficácia diferida da lei nova, a lei nova não se
aplica, vai-se esperar e continua a aplicar-se a lei antiga, a lei antiga sobrevive, hipótese
de sobrevivência, deixa de vigorar mas aplica-se aos processos que estão em curso e de
eficácia diferida da lei nova, aplica-se apenas a processo que se iniciaram a depois.
Exemplo.: código cpp de 87 introduziu modificações muito grandes na
fisionomia dos processos penais. Questão podia surgir se se aplicava imediatamente o
código de 87 ou se aplicava as regras do código anterior, ou se aplicaria penas as mais
favoráveis continuando no remanescente, aplicando regra antiga. O próprio legislador,
concretizando ideia do art 5 nº2 b) vem dispor que código de processo penal so se
aplicaria a processo que se iniciassem após a entrada em vigor, continuando a aplicar
aos processos pendentes o código de 29.

Mas há outro problema que resulta da circunstância do dpp não ser


regulamentação organizatória, mas sim de formas de trâmites, o dpp tem vertente
adjetiva, mas também tem vertente substantiva. O dpp também contende de modo
direto com df e pode o estatuto dos sujeitos processuais, do arguido ser alterado com
qualquer modificação da lei processual penal. por isso a doutrina portuguesa, procura
aproximar os critérios que presidem da lei substantiva e no plano processual. Estende-
se os princípios do direito substantivo. O principio é o do tratamento mais favorável o
da aplicação retroativa de leis mais favoráveis, retroatividade in mitius e a proibição
da aplicação retroativa das leis penais desfavoráveis, in malam partem. Aproxima-se
as regras de do substantivo com o processual neste campo, defendendo o principio de
tratamento mais favorável que se traduz na imposição da retroatividade in mitius e
proibição de im malam partem.

A doutrina distingue entre dois tipos de normas processuais:


- formais aquelas que se limitam a disciplinar formalismos e tramites do
processo;
- normas processuais materiais ou quase substantivas. As normas processuais
materiais ou quase substantivas não encontram definição, so aquelas que contendem
de modo direto com df, mas não há propriamente definição.

Ao contrario do que pareceria que o dpp seria conjunto de trâmites, mas temos
dimensões do processo que tocam direitos das pessoas e por isso há doutrina que se
deve aplicar ao dpp critérios de aplicação que valem para o dp substantivo, os critérios
constam no art 29 da crp e do art 2 e 3 do cp: principio geral é do tratamento mais
favorável, traduz-se em aplicar retroativamente as leis mais favoráveis, retroatividade
in mitus e pribir aplicação retroativa das leis que sejam desfavoráveis, proibição das lei
in malam partem.

Há duas grandes dimensões: normas que são processuais formais, que são
aquelas que se limitam disciplinar formalismos e tramites processuais. As processuais
materiais são as que contendem com direitos das pessoas.
Exemplos claros disto são apresentados em torno de 3 núcleos que configuram
normas processuais materiais:
- normas que condicionam a efetivação da responsabilidade criminal ao
estabelecerem condições positivas ou negativas de procedibilidade;
exemplo.: aquelas que disciplinam a queixa, acusação ao particular e as que
disciplinam a prescrição do procedimento criminal, como as que fixam prazo de
prescrição ou suspensão de prazo de prescrição ou causas de interrupção, prazos para
a queixa. Estabelecem condições positivas ou negativas de procedibilidade. As positivas
são aquelas que sem as quais não existe processo, as condições negativas são aquelas
que verificadas impedem o processo: se o crime estiver prescrito não pode haver
processo.
Estas normas condicionam afinal a efetivação da responsabilidade penal, se não
há processos não pode haver condenação penal. estas normas independentemente de
estarem reguladas no código penal, são entendidas como matérias de direito processual
material, tem natureza mista, são normas de natureza mista.

- 2º núcleo: normas que contendem diretamente com estatuto do arguido, as


que disciplinam espécies de prova, quando são admissíveis a escutas telefónicas ou
intervenção de agente infiltrado ou intercessão de correio eletrónico ou graus de
recursos, as que dizem respeito a medidas de coação.

- 3º núcleo normas que definem estruturação e grandes linhas da organização


judiciária, normas sobre competência dos tribunais penais e estruturação do sistema
penitenciário, em que se incluem aquelas que disciplinam a liberdade condicional. São
os núcleos das normas.

esta distinção entre normas processuais formais e materiais não atende a um


critério conceptualista, não importa onde uma matéria esta regulada para decidir da
qualificação dela, como norma processual penal formal ou, o que importa é
interpretação teleológica. As materiais são aquelas independentemente da
sistematização, impõe limitações ou restrições de df das pessoas, não importa estarem
no corpo normativo do processo, o que importa é estarem a condicionar ou não os df.
A doutrina define aproximação entre as regras da aplicação da lei no tempo entre
o dpp e dp, mas o legislador não ficou indiferente e procurou resolver o problema. Essa
solução consta do art 5 nº2 a).

Art 5 nº2 a): resolve os problemas que enunciamos, aplicação imediata que pode
ser problemática em situações como quebra de harmonia ou quando estamos perante
normas que estando no processo tem dimensão substantiva, as normas processuais
materiais, mas esta é qualificação feita pela doutrina, as palavras do legislador estão na
aliena a), o legislador considera relevante a circunstância da lei nova levar a
agravamento sensível, como limitação de direito de defesa, legislador quis resolver,
embora não tenha sido totalmente feliz.
As normas processuais materiais não dizem apenas respeito a agravamento
sensível do arguido, vai muito além disso.
A solução da lei para estas normas processuais materiais, o legislador refere que
não se aplica imediatamente. Manda esperar, manda que a lei nova tenha eficácia
diferida, a lei so se aplica aos processos que se iniciam depois da entrada em vigor e a
lei antiga continua a aplicar-se a processo pendentes. A solução é a mesma –
sobrevigência e eficácia diferida da lei nova.
Não é exatamente aplicação do dp substantivo, porque o que aqui se diz é que
se aplica a lei que está em vigor do momento da pratica do facto e aqui temos o ato, o
legislador so manda recuar ao momento do processo. Os processos pendentes aplicam-
se a lei antiga, aos novos processos aplica-se a lei nova. Há aproximação, mas não é
identificação total.

O art 12 do cc refere que a lei só dispõe para o futuro, mas esta regra está
respeitada logo que a lei nova se aplique a atos processuais que tenham lugar já no seu
domínio de vigência, mesmo que o processo tivesse sido instaurado, ou a infração a que
se refere tivesse sido cometido no domínio da lei antiga. Isto porque o principio da
legalidade so tem incidência substantiva e não processual, a que acresceria o caráter
instrumental e natureza publicista das normas processuais.
O art 5 nº1 relativiza o principio enunciado questionando o bom fundamento da
doutrina subjacente no nº2 da alínea a e b).
O principio da legalidade se estende em certo sentido a toda a repressão penal
e abrange o próprio direito processual penal. importa que a aplicação da lei processual
penal a atos ou situações que decorrem na sua vigência, mas se liguem a uma infração
cometida no domínio da lei processual antiga, não contrarie nunca o conteúdo da
garantia conferida pelo principio da legalidade. Daqui resultaria que não deve aplica-se
a nova lei processual penal a um ato ou situação processual que ocorra em processo
pendente, sempre que da nova lei resulte um agravamento da posição processual do
arguido ou em particular numa limitação do seu direito de defesa, art 5 nº2 a).
Em segundo lugar, a circunstância de o processo ser constituído por uma longa
e completa tramitação, em que os diversos atos se encadeiam uns nos outros de forma
por vezes inextricável, pode conduz a que se não deva aplicar uma alteração legislativa
processual a processos iniciados anteriormente á vigência da lei nova, uma vez que a
solução poderá acarretar uma quebra de harmonia e unidade dos vários atos do
processo, art 5 nº2 b).
Esta mesma razão fundamentou a decisão do legislador processual penal de
restringir a aplicação do cpp de 1987 aos processos iniciados na sua vigência, ou seja, a
partir de 1 de janeiro de 1988.

Aula 9/10/2020
A este propósito, Taipa de Carvalho entende que o regime do Código é insuficiente por
não acautelar adequadamente os DF do arguido.
Como tal, defende que se deverá aplicar exatamente o mesmo regime do Direito Penal
substantivo ao Direito Processual Penal em matéria de aplicação da lei no tempo. Isto porque,
aquilo que se pretende evitar com a entrada em vigor de uma lei processual que seja mais
desfavorável do arguido é o mesmo que no Direito Penal. Evita-se o arbítrio do Estado e proteger
a confiança e segurança jurídica.
O arbítrio do Estado pode manifestar-se quer através da incriminação de condutas que
não o eram, mas pode também surgir através de mudanças ao nível das normas Processuais
Penais. Em vez de tipificar criminalmente uma conduta que não era ilícita, o Estado pode tornar
legítima a prisão preventiva para um crime em que não o seria.
O momento critério para determinação da lei a aplicar será, então o do momento da
prática do facto de acordo com o critério unilateral da conduta.
A lei nova entra em vigor e só se aplica a crimes que aconteçam depois da sua entrada
em vigor, mas isto pode vir a ser excessivo. Isto é, o critério que resulta do Direito Substantivo,
o tempus delicti, conforme dispõe o artigo 3º do Código Penal.
O artigo 5º do CPP dispõe que se aplica a lei nova aos processos que se iniciem após a
sua entrada em vigor.

No entender de taipa de carvalho deve se alargar o principio da legalidade do dp


substantivo a normas processuais materiais. Para Taipa de carvalho, o momento de
critério relevante quando estão em causa as normas materiais é momento da pratica
do facto, da infração criminal, critério é art 3 do código penal, o momento da pratica do
facto atendendo ao critério unilateral da conduta. Esta é a tese de taipa de carvalho, se
estiverem em causa normas materiais penais, a lei nova so se aplica a atos processuais
que digam respeito a crimes depois da entrada em vigor.
Para taipa de carvalho é o momento da pratica do crime, a lei nova entra em
vigor e aplica-se a todos os atos processuais que digam respeito a crime cometidos
depois da entrada em vigor.
Esta posição doutrinal de taipa de carvalho pode revelar-se excessiva, pode gerar
a ingovernabilidade do processo e poe em causa a máquina judiciária. Basta pensar que
o processo é marcha continua demorada de alguns atos do processo que se colocam a
jusante da pratica do facto.
Quando falamos da regulamentação processual falamos de atos processuais
mais próximos do processo, como medidas de coação ou obtenção de determinadas
provas, mas também nos podemos referir a matérias como a liberdade condicional,
instituto que os autores enquadraram nas normas processuais materiais. Ora obrigar o
interprete e aplicador do direito quando está a discutir os formalismos que se deve
observar no recurso de revisão, obrigar ao interprete a ter em mente todas as normas
que estão em vigor desde a pratica do momento da prática do facto e momento em que
o recurso de revisão é interposto. Obrigar a fazer este juízo pode gerar a
ingovernabilidade do processo, pode gerar dificuldades na tramitação do processo, por
isso Mário Chiavaro defendeu construção da teoria das expetativas.

O que este autor propõe é que principio da não retroatividade se destina a


tutelar as expetativas e o que temos que procurar é averiguar o sentido de garantia
do principio, qual momento em que a expetativa de que determinada solução legal se
mantenha e se cristalize. É em função do momento que essa expetativa se cristaliza que
se deve decidir qual o momento determinante para aplicação da lei no tempo. Não tem
que ser sempre o momento de pratica do facto.
Se virmos a proibição da não retroatividade que assenta numa tutela das
expetativas, quando se escolha o momento critério que seria o momento da pratica do
facto, quanto a normas incriminadores aceitamos que a expetativa do agente a quem é
imputável pratica do crime, a quem relativamente a pena se cristaliza no momento da
pratica do facto. A pessoa que comete o crime, diríamos que a expetativa se cristaliza
na pratica do facto, não faria sentido porque violaria a expetativa do agente.
Procuramos averiguar quando se cristaliza e materializa a expetativa, quando olhamos
para recurso de revisão.

Quando podemos dizer que no recurso de revisão se cristaliza o regime do agente?


O recurso de revisão interpõe-se depois do transito em julgado para fazer face a
justiças clamorosas da decisão.
Quando aquele coloca o recurso de revisão, há cristalização da expetativa que
aquele regime seja aquele e não mude. Se uma sentença que transita em julgado, há
fundamento para recurso de revisão.
A prof diria que na pior das hipóteses o momento de cristalização seria o do
trânsito em julgado. Durante o prazo do recurso não pode ser mudado a lei. Deve-se ter
por cristalizado o esquema de recurso ordinário e ainda quanto a recurso extraordinário.
Pode ser mais garantístico, logo que proferida a decisão de 1º instância, todo
esquema de recurso deve-se ter como estável.

A tal tutela de expetativas não serve para reconduzir a único momento temporal,
depende da disciplina sobre que versa a norma que pretendemos aplicar, depende do
instituto que está a ser regulado e instituto que norma nova vem regular.
A doutrina portuguesa e a jurisprudência não aderem a teoria das expetativas,
mas embora não ser defendido a teoria das expetativas tem-se aceitado que o momento
critério relevante quando estejam em causa normas processuais materiais cuja
aplicação vai depender da efetivação da responsabilidade penal, normas processuais
que versam sobre requisitos, legitimidade, prazos da queixa ou da prescrição, momento
critério é o da pratica do facto, como defende Taipa de Carvalho que é sempre o
momento da pratica do facto, quer a restante doutrina que aqui é concordante com
taipa, quer jurisprudência tem aceitado que nas situações em que esteja em causa
normas que versem sobre requisitos e condições de efetivação da responsabilidade
criminal, que versem sobre matérias relativas a queixa ou prescrição, legitimidade para
queixa, causas de interrupção ou suspensão da prescrição. Quando estejam em causa
estas matérias, o momento critério é momento da pratica do crime, de acordo com
critério unilateral da conduta.
Prof diria que não é alheia a consideração de serem matérias disciplinadas no cp
e por isso é que com facilidade, a jurisprudência tenha aceitado como critério momento
da pratica do crime, significa que se prazo da prescrição é de 10 anos e lei nova que
entra depois da pratica do crime alargar para 15 anos, a lei que se aplica é aquela que
se aplica ao momento da pratica do facto, porque a lei antiga é mais favorável do que
a lei nova. É pior que seja 15 do que 10 anos.
Se acontecer o contrário, no momento a pratica do facto há lei que prescreve
prazo de 15 anos, mas surgir lei nova que corta prazo, então aplica-se retroativamente
a lei nova, a lei que é mais favorável ao agente – principio da aplicação retroativa da lei
penal mais favorável.
Se estiver em causa introdução de causa de interrupção de prescrição, introduz
causa de prescrição, o prazo torna-se mais longo. So se vai aplicar essa norma se ela já
estava em vigor na prática do facto, se não estava, não se aplica.

Quanto a estas normas jurídicas que versam sobre condições de efetivação da


responsabilidade criminal, todos convergem que momento critério é momento da
pratica do facto, mas também há alguma consonância no que respeita ao momento
critério em matéria de recursos ordinários, existe acórdão de fixação de jurisprudência
do stj, acórdão nº4/2009 que foi proferido depois das alterações do cpp em 2007, estas
alterações que vieram restringir hipóteses de recuso.
Ate 2007, dizia-se que podia haver recurso para o supremo, mesmo em segundo
grau de recurso. De 1º instancia para relação e depois para supremo, desde que fosse
crime com pena de prisão punível superior a 8 anos, estava sempre aberto as portas
do stj. É mecanismo similar ao mecanismo das alçadas, (não dizer isto no exame), os 8
anos seria o correspondente e teria função equivalente da alçada no processo civil. Se
pena aplicável fosse de 8 anos, pode recorrer ao stj.
Contudo, este aspeto foi mudado, sendo que depois de 2007, considerou-se que
em vez de se atender a moldura abstrata, considerava-se agora a condenação de uma
pena concretamente aplicada ao agente, se for superior a 8 anos.
É diferente: alguém é condenado por roubo, mas a pessoa foi condenada por 5,
esta podia recorrer ao supremo, porque tinha pena punível superior a 8 anos, ate 2007,
mas a partir de 2007 temos em consideração a pena em concreto e por isso agora já não
é admissível o recurso, por ter sido condenado a 5 anos de prisão.
Significa que em alguns processos, a alteração de 2007, suprimiu um grau de
recurso, nos casos de roubo, em que alguém é punido com 5 anos, teria dois recursos,
mas a partir desta altura suprime-se grau de supremo. A questão que se colocou: saber
a que processo e casos criminais a lei nova se aplicaria e o supremo vem dizer que a lei
nova vem aplicar-se a todos os processos em que não haja decisão de 1º instancia, o
momento critério é momento da decisão da 1º instância. Estabiliza-se quanto ao regime
de recursos ordinários.

Em relação a outras matérias depende daquilo que esteja em causa, é necessário


fazer analise casuística e individualizada e não propriamente a critérios estabelecidos na
doutrina e jurisprudência. A medida de coação, é o prazo para requerer a abertura de
instrução, tudo depende da matéria que esteja em causa. Nos dois núcleos de situações
é que temos posição mais estável.

Taipa de carvalho quer que se aplique às normas processuais penais todo o


regime penal substantivo, o problema é ingovernabilidade do processo, porque há
matérias que estão muito a jusante da pratica do facto e era insuscetível de ter em
consideração tudo isto.
A tese do italiano Chiavario diz que depende das expetativas e não pode ser
apenas o critério do momento da pratica do facto.

Outra crítica à tese de taipa é que processo é relação triangular, não interessa
apenas tutela de expetativas do arguido, mas também tutelar expetativa e interesses da
vitima. Ao contrário do dp substantivo strictu sensu que opõe a pretensão do estado
contra a do agente, nas normas processuais penais temos relação mais complexa em
que reentram o interesse punitivo do estado, como também o interesse do arguido e o
interesse da vítima, portanto a solução que se encontre não pode ser unilateral como
art 29 nº1 e 4 do crp. Tem que ser solução que tenha consideração de interesses da
vitima.

Exemplo de casos de sucessão de leis processuais penais materiais:


A lei que altera a qualificação jurídico processual dos crimes, como a alteração
da qualificação jurídica dos crimes. Há crimes públicos, particulares e semipúblicos.
- Os crimes públicos é cuja promoção está na mão do mp;
- no crime semipúblico é necessário queixa;
- crime particular strictu sensu, é necessário queixa e acusação particular.
Se a lei nova altera a qualificação jurídico de crime, crime era publico e passa a
ser crime semipúblico. Qual a lei que se aplica? A lei que estava em vigor na pratica do
crime e dizia que era publico ou lei nova que dizia que o crime era semipúblico? É
matéria que cai naquilo que dissemos que são as regras que fixam a responsabilidade
penal, são normas processuais materiais e a doutrina converge com Taipa aceitando
como critério o momento da prática do facto.

Aula 16/10/2020
Falávamos na aplicação no tempo. A solução consta no art 5 nº1 geral. esta
solução de imediato pode gerar algumas dificuldades por facto de processo ser conjunto
conexo de atos e não dispersos. Aplicação de lei ova pode levar a quebra da harmonia
processual e ainda o fato de contender com df e por isso aplicação imediata da lei pode
comprimir a posição jurídica do arguido e por isso legislador estabelece solução de
sobrevivência da lei e eficácia diferida. Taipa de carvalho na solução do art 5 nº1
considera que há inconstitucionalidade porque nestas normas procedimentais materiais
deve haver critérios que valem para dp substantivo, critério da aplicação da lei que
esteja me momento da pratica do fato a menos que lei nova considera-se mais
favorável. O critério é de aplicação ou tratamento mais favorável do agente, se essa lei
estiver em vigor do momento da pratica do facto melhor, mas se for entrada de lei nova
mais favorável então é essa que se aplica. Imposição de retroatividade de lei nova mais
favorável momento critério é momento da prática do facto
Vimos as criticas e o ponto em que estão de acordo. Toda a doutrina está de
acordo em dizer que critérios do dp substantivo se aplicam a normas processuais penais
que definem condições de efetivação da responsabilidade, matéria que tem que ver com
ação, etc. nestas matérias, taipa entende aplica-se as regras de dp substantivo, regras
do art 29 da crp e art 2 e 3 do cp e o mesmo entende a doutrina a jurisprudência.
Todavia, há certos corretos que se precisa introduzir, mesmo neste ponto em que estão
de acordo. Isto tem necessidade de tutelar outras pessoas que não o arguido, o processo
introduz relação triangular que la estado ao agente mas também a vitima, não se trata
apenas de relação bilateral, porque há nova personagem é preciso haver ajustes no
modelo para comodar os interesses.
Exemplo.: imaginando que se discute discurso de tempo que altera qualificação
jurídica processual dos crimes, saber se é publico, semipúblico, esta matéria é daquelas
que podemos considerar uma norma processual material que diz respeito a condições
d efetivação da responsabilidade criminal, matéria em que acordamos que se aplicam
regras de dp substantivo, critérios do art 29 e 2 e 3 do cp.
Se uma qualquer lei altera qualificação jurídica processual dos crimes a lei que
se aplica é que estava em vigor no momento em que a conduta foi praticada, no pratica
do facto, e menos que lei nova se revele mais favorável. Imaginem que o crime tinha
natureza publica, a lei qualificava aquela condita como crime publico mas a lei nova vem
diz que a lei nova passa a ser semipúblico. Que lei é que se aplica? Quando dizemos que
a lei é mais favorável é do ponto de vista do arguido, do agente. Dir-se-ia aplica-se a lei
nova porque a lei nova é mais favorável ao agente do que a antiga, porque introduz um
pressuposto processual, há de ser mais vantajoso evitar a punição.
Mas há dificuldade na tutela de interesses da vitima. Se prazo é de 6 meses e
criem foi cometido há 7 meses, se se aplicar a lei nova, porque é mais favorável ao
agente retroativamente estamos a deixar sem proteção os interesses do agente, porque
prazo para apresentar queixa já se esgotou ela entrada em vigor da lei.

São essas preocupações de tutela da vitima que têm que ser acomodados,
introduzem corretor a regra que vimos. Portanto o que se dirá é que para proteger tutela
da vitima que não podia adivinhar que uma nova lei teria entrado em vigor e tinha diante
si uma razão ilimitado para dar a conhecer as autoridades de perseguição para dar inico
ao crime, para acomodar expetativas da vitima, o que se tem defendido é que a lei nova
se aplica, mas prazo para se aplicar a queixa so começa a contar depois da entrada em
vigor da lei. Aplica-se a lei nova dizendo que crime depende de queixa, mas o prazo so
começa a contar na entrada em vigor, o que significa que ofendido tem 6 meses para
apresentar queixa.

- Mas se por exemplo que a lei nova entra em vigor e processo já tinha iniciado.
O inquérito já estava em curso, já se tinha iniciado quando a lei nova entra em vigor.
Isso impede a lei de aplicar ao caso? O que tem sido defendido na doutrina é solução
mais simples: se procedimento criminal já se iniciou e a menos que possa haver
duvidas sobre se procedimento e da vontade da vítima, deve-se manter, com efeito a
entrada da lei é desistir da queixa se assim desejar, nada impede de a dar a conhecer à
vitima que afinal em vez de ser crime publico é semipúblico e pode desistir-se da queixa
ou manifestar vontade de forma expressa que processo se mantenha, mas essa
notificação não deve ser obrigatoriamente feita. A consequência da entrada da lei nova
poder a vitima desistir.

- Agora se o crime é semipúblico e que uma lei nova converte num crime publico:
a solução aqui: a lei que se aplica é a lei que estava no momento da prática do facto,
porque a lei nova que converte em crime publico, não se pode aplicar retroativamente
é menos favorável. Isso não causa nenhuma desproteção da tutela das expetativas da
vitima, porque esta já contava com prazo para apresentação de queixa, não há correção
a fazer.

- Uma lei que altera os prazos para apresentação da queixa, o prazo que era de
3 meses é aumentado para 6 meses. O prazo é alongado, aplica-se a lei que estava em
vigor da pratica do crime ou lei que alonga prazo para 6 meses? A lei nova que alonga
prazo é menos favorável, portanto aplica-se a lei no momento da pratica do facto.

- E se o prazo for encurtado era de 6 meses e passa a ser de 3 meses? O prazo


mais curto é de 3 meses, então aplica-se a lei nova retroativamente.
Mas aplicar a lei nova retroativamente pode ser uma consequência indesejável.
No momento em que a lei nova entra em vigor, o prazo para a ser de 3 e já tinha passado
os 3 meses. Se a lei nova se aplicar tout court, o prazo de 6 passa a ser de 3, significa
que ofendido não tem prazo algum para apresentar queixa, porque os 3 meses que
foram concedidas pela lei antiga, já se esgotou no momento em que a lei nova entra em
vigor.
O corretor que se coloca aqui é dizer que se aplica lei nova, mas prazo mais curto
so se conta no momento em que a lei nova entra em vigor. Começa a contar-se o prazo
de 3 meses no momento da lei nova, a vitima gozaria ainda de prazo de 3 meses para
apresentar a queixa.

- Mas se a lei nova entra em vigor e o crime já tinha sido cometido há 4 meses, o
que significa que a vitima se continuasse a aplicar da lei antiga ainda tinha razão ainda
de 2 meses, se prazo era de 6 meses. Dizer-se que lei nova se aplica e que encurta prazo,
mas que por se encontrar na entrada em vigor conduziria de alongamento de prazo,
nestes casos diz-se se a lei nova encurta o prazo, a lei nova que é mais favorável ao
agente aplicar-se-á retroativamente, prazo conta-se na entrada em vigor, a não ser que
de acordo com a lei antiga faltasse menos tempo para o prazo se completar. O prazo da
lei antiga era de 6 meses e na lei nova era 3, o que significa que se contasse o prazo de
acordo com ela o ofendido teria mais 2 meses para apresentar queixa, menos que a lei
nova lhe oferece. Se o prazo for encurtado aplica-se a lei nova, contando esse prazo
mais curto da entrada em vigor da lei nova, a não ser que a segundo a lei antiga faltasse
menos tempo para o prazo que se aplicar.
Resulta do art 297 do cc.
FINALIDADES DO PROCESSO PENAL:
Os modelos processuais é muita condicionada pelo problema dos fins do
processo penal, os fins que vamos referir de acordo com sistemática de figueiredo dias:
realização de justiça, descoberta da verdade e tutela dos df do arguido e o terceiro fim
que é reestabelecimento da paz jurídica comunitária.
O equilíbrio que se estabelece ente fins é diferente consoante modelo, num
modelo mais inquisitório que vigora na Europa continental na idade media, na baixa
idade media, nesse modelo de estrutura inquisitório privilegiava-se a descoberta da
verdade a todo custo mesmo com compressão dos df admitindo tortura.
Num modelo de estado de direito, naturalmente que descoberta da verdade
material sendo primordial encontra limites.
O equilíbrio entre os fins condicionados a resposta dada a modelos processuais.

Quando falamos de finalidade de processo penal, a própria expressão de fins de


processo penal é plurissignificativa, é polissémica, pode ser entendida em dois sentidos:
- perspetiva mais sociológica. Os fins são funções do processo penal, a tarefa
que processo penal é chamado a desempenhar na sociedade, é entendimento de
Luhmann. Luhmann foi sociólogo alemão que foi percursor do direito da teoria dos
sistemas, funcionalismos sistemático. Este faz ressonância para mundo social da teoria
dos sistemas inaugurada na biológica. Para Luhmann, o processo é sistema, tudo é
sistema, para sistema biológico o humano é sistema que recebe imputs do sistema
físico, ambiental, a mesma logica se aplica à sociedade e de acordo com esta
esquemática. Processo seria sistema que desempenhava função dentro do sistema
social que era de legitimar a decisão absorvendo protestos contra a decisão que se
poderia levantar. A finalidade não era chegar a decisões justas, mas decisões que os
destinatários da sociedade pudessem aceitar, que não se levantassem protesto. Não é
justiça material da decisão, mas legitimidade dele para evitar protestos contra decisão
que seria fim do processo penal. o fim é definir regras do jogo de modo que a decisão,
materialmente justa ou não fosse aceite pela sociedade.
Isto tem fundo de verdade, estamos dispostos a aceitar como litigantes no
processo civil ou qualquer nossa pretensão não seja atendida, embora aceitarmos como
justa, mas também esta sujeito a que não esteja colhida, desde que regras de conduta
sejam cumpridos. Desde que regras processuais tenham sido observadas. O processo
tem função da legitimação da função. A tese tem reduto de verdade, isto também se
aplica no futebol, aceita-se que ganha e aceita-se que perde desde que cumpridas regras
de arbitragem.
A função do processo penal é evitar os processos e legitimar a decisão.

- mas podemos entender finalidades noutro sentido: como fins ou valores,


entender as finalidades de perspetiva valorativa e axiológica, vetores que processo
penal deve desempenhar, não no plano do ser, mas no plano de dever ser e é este
entendimento que é acolhido por Figueiredo dias, finalidade como valores que processo
penal deve prosseguir.

Figueiredo Dias fala de três finalidades:


- descoberta da verdade e realização da justiça: esta será sempre uma finalidade
essencial de qualquer processo, o processo visa decisão justa, formalmente justa como
pretende Luhmann, mas materialmente justa conforme à verdade, decisão so será justa
quando assenta em pressupostos fácticos e verdadeiros, a finalidade de processo penal
é descoberta da verdade, tem função epistémica, apurar a verdade dos factos, procurar
discernir como é que as coisas terão acontecido; nas lições fala-se de descoberta da
verdade material, mas evita-se este material. Nas lições fala-se de verdade material para
distinguir da verdade que se prossegue no processo civil que seria verdade mais formal
porque no processo civil o objeto do processo está na disponibilidade das partes, resolve
litígios das partes privadas, por isso no processo civil temos mecanismos indutores de
não verdade como desistência, confissão e transação, são mecanismos de não verdade
porque resolvem o conflito dando como assente uma verdade formal que pode não
corresponder a verdade material aos factos tal como aconteceram.
Exemplo.: Autor alega conjunto de factos, reu tem ónus de contestação, de
contestação especificada, se não consegue provar, damos razão ao autor, a ter como
facto verdadeiros ainda que não sejam.
O mesmo se diga à desistência, autor formula pretensão e elege factos a
sustentar. Se autor desistir do pedido, ou juiz homologa esse pedido, independente da
decisão homologatória ser conforme a verdade material, o que importa é verdade
formal. Processo em que o seu objeto está na disponibilidade das partes, temos
mecanismos indutores da não verdade. Pode traduzir apenas no acordo de vontade.

No processo penal não é assim, aqui procura-se o mais próximo possível da


verdade da situação histórica verificada. Naturalmente, não temos pretensão de
verdade absoluta ontológica, porque essa é sempre impossível de se obter e por isso
evita-se a expressão de verdade material, porque para a usar, o italiano Luigi Ferrajoli,
para este a ideia de chegar a verdade absoluta e inteiramente certa é ingenuidade
epistemológica, trata-se de uma perigosa ilusão, é impossível alcançar a verdade
absoluta. Do ponto de vista epistemológico e do ponto de vista dos valores é ilusão
perigosa.
É impossível aceder a liberdade ontológica porque os nossos sentidos e meios de
conhecimento são limitados, juiz não assistiu a prática do facto e sentidos podem
enganar, porque há limites epistemológicos do conhecimento humano para ceder a
verdade absoluta. Ainda no processo penal temos limites epistemológicos que são
comuns a processo de indagação, existem outros limites normativos e de tempo,
processo penal é tarefa cientifica de investigação, mas a ciência esta disposta a esperar
ate atingir resultado, não há prazo para processo científico, quando mais depressa
melhor, mas a ciência evolui e não há prazo dentro do qual se chega a determinado
resultado.
Mas no processo penal há prazo, a verdade que se procura é verdade que se
obtém dentro do prazo sob pena de colocar em causa outros interesses como paz
jurídica, não podemos esperar 50 anos, deixa de nos interessar, temos limites temporais
e ainda limites que se prendem com recursos humanos e normativos, não nos interessa
verdade obtida a todos os custos, a descoberta da verdade material e ontológica não é
ingenuidade epistemológica mas perigosa ilusão, porque essa pretensão de verdade a
todo o custo sem escrúpulos normativos, foi o que aconteceu na baixa idade media
tornou legitima a tortura. A aspiração a verdade era tao elevada, o suspeito podia não
ser culpado, mas se seria suspeito de alguma coisa saberia e admitia-se tortura para
atingir essa verdade. É esse escrúpulo normativo que se deve considerar quando
falamos da verdade como finalidade essencial do processo. Obter verdade material
pode tornar-se numa ilusão perigosa. A verdade é sempre verdade e limitada por
acontecimentos epistemológicos e limitada por normativos, limitada por df e direitos de
defesa do arguido bem como valores.

- tutela de df das pessoas em particular do arguido: se virmos bem a proteção


dos df das pessoas, proteção de defesa do arguido não é propriamente uma finalidade
a que se dirige o processo.
A proteção dos df é limite à atuação do processo, não se pretende no processo
penal realizar df, o que se pretende é evitar na medida do possível a desproporção de
df na tarefa da indagação da verdade, por isso a correção de df é mais um fim qualquer
que se dirige ao processo penal, um limite à descoberta da verdade. O processo penal
tem como propósito evitar a lesão de df e isto ao longo da sua marcha, mas sobretudo
nos meios de prova e de obtenção da prova. As regras de estado de direito que se
prendem com df das pessoas e que exigem que a decisão final tenha sido lograda de um
modo processualmente válido, vão impedir que em certas situações a obtenção da
verdade material.
A matéria da prova é onde se faz sentir com maior equidade a tensão da
descoberta a verdade e tutela dos df, o respeito pelos df. A tortura é exemplo claro e
um exemplo menos interessante desta tensão, mas podia dizer-se que temos tortura,
mas a tutela de df impede. Temos assim uma proibição da valoração das provas obtidas
mediante tortura, coação ou ofensa a integridade física ou moral das pessoas, art 126.
Esta tensão reflete-se em meios de prova menos gravosos, atingem df, mas
atingem de forma menos gravosa que na tortura, nas buscas domiciliarias ou escutas
telefónicas, são meios de investigação da verdade, meios eficazes e devia-se admitir e
admitimo-las, mas estabelecemos requisitos às escutas telefónicas, as escutas só são
admissíveis para determinados processos, para crimes mais graves e estabelecidos
formalidades das escotas telefónicas. Estas formalidades e requisitos equilibram tutela
de df com pretensão de descoberta da verdade.
Além disso, exige-se também a proteção das suas instituições e viabilização de
uma eficaz administração da justiça penal, já que pretende ir ao encontro da verdade
material.

- restabelecimento da paz jurídica, comunitária e individual: esta finalidade do


processo penal aproxima-se das finalidades do dp substantivo. O processo penal
também visa realizar fins do dp substantivo, sem prejuízo ter finalidades próprias. Esta
é comum ao dp substantivo e dp processual penal e aqui analisa-se em dois vetores:
estabelecimento da paz no interesse individual do arguido e restabelecimento da paz
no interesse da comunidade, que reforça a sua fidelidade aos bens jurídico-penais,
apesar do crime e sendo certo que isso sucederá com tanto maior probabilidade e
eficácia quanto menor for o tempo que medeie entre a prática do crime e a realização
do processo penal, art 26.
Do ponto de vista do arguido, exige celeridade do processo, art 32 nº2 da crp,
deve ser célere e sem entraves para que situação processual do arguido seja
definitivamente resolvida e o seu bom nome não sejam prejudicados ou comprimidos.
Os processos penais que se estendem no tempo e que estão durante décadas, onde
recai uma suspeita sobre alguém, são processos em que este valor está a ser posto em
causa. Mesmo que acabe com decisão justa, esta finalidade já sofreu compressão e
interessa menos decisão justa quando se arrasta no tempo. O estigma na culpa há de se
manter na comunidade, porque a suspeita se propagou.
No plano individual, esta celeridade liga-se a presunção da inocência, ideia
sociológica, poder da comunidade de poder olhar de forma inocente e acreditar nesta
ideia de que arguido deve ser tratado convenientemente.
Mas também interesses para a comunidade, exige-se uma solução célere do
litigio e solução definitiva dele e nesta dimensão adquire sentido e relevo o transito em
julgado, é preciso que seja proferida decisão, proferida em tempo côngruo e que seja
definitiva e que não seja imprevisível. o caso julgado é instituto importante, mas que
também conhece brechas porque estabelecimento de paz tem ligação a outras
finalidades, há tensão entre elas. A verdade está em tensão com tutela dos df, a
descoberta da verdade está também em tensão com estabelecimento da paz. O caso
julgado faz ressonância no estabelecimento da paz jurídica, mas quando a decisão é de
tal forma injusta, quando a injustiça da decisão é clamorosa pode o caso julgado ceder
no interesse da posição da justiça e da verdade material e por isso embora caso julgado
seja inatacável admite-se que em casos limites haja recurso de revisão. Admite-se que
haja alteração de decisão que já transitou em julgado, os requisitos são muito
apertados, no art 439 estão enunciados no cpp, mas há situações em que a decisão é
tao injusta que não pode deixar de ser revista.
É o caso de ter havido por parte de quem decidiu a pratica de um qualquer crime,
diz art 439 nº1 b) quando revisão de sentença é admissível quando a sentença tiver
declarado culpado o juiz em exercício de funções. Neste caso, pode não ser apenas
sobretudo a injustiça material da decisão, mas o facto de ter cometido o crime no
exercício das suas funções relacionadas com as legitimas duvidas sobre a regularidade
de formal, legitimidade formal da decisão. A decisão ate podia ser injusta, mas se foi
cometido crime, há dúvidas sobre justiça da decisão e tem que ser esclarecidas.

As finalidades do processo penal estão em tensão permanentes, são


antinómicas, antitéticas, e essa antinomia das finalidades deve resolver-se. Figueiredo
dias em particular faz apelo a critério que vale no dc que é critério de concordância
pratica entre as varias finalidades do conflito, salvaguardando-se núcleo essencial de
cada um dele. Mas há limite infrangível que se deve ter como incomprimível que é
respeito pela dignidade humana, quando esteja em causa, já nenhuma transação ou
concordância prática será mais possível. A proibição da tortura é proibição absoluta
porque admitir a tortura poria em causa a dignidade e não cede sobre qualquer juízo de
concordância pratica.
Tal tarefa implica, relativamente a cada problema concreto uma mutua
compressão das finalidades em conflito, por forma a atribuir a cada uma a máxima
eficácia possível: de cada finalidade há de salvar-se o máximo conteúdo possível,
otimizando-se os ganhos e minimizando-se as perdas axiológicas e funcionais.
O principio axiológico que preside à ordem jurídica de um estado de direito
material: o principio da dignidade do homem quando em qualquer ponto do sistema ou
da regulamentação processual penal, esteja em causa a garantia da dignidade da
pessoa, em regra do arguido, mas também de outra pessoa, nenhuma transação é
possível, havendo pois que dá prevalência à finalidade do processo penal que dê total
cumprimento àquela garantia constitucional.
MODELOS PROCESSUAIS
O equilíbrio entre finalidades do processo penal vai evoluindo, ao longo da
história. Mesmo no estado de direito, o equilíbrio conhece vários afinamentos. Por
exemplo nos anos a seguir aos ataques a torres gémeas foram aprovadas um conjunto
de medidas que traduzem um equilíbrio entre finalidade e mais próxima de descoberta
verdade e com menor respeito pelos df, United states patriotic act que estabelecia que
o advogado do arguido, acusado de crime de terrorismo, seria nomeado pelo estado e
não pelo próprio.
Do ponto de vista da lei este equilíbrio e afinamentos pontuais de equilíbrios vão-
se verificando e são ressonância das condições sociais, históricas e políticas. O processo
penal é sismógrafo da realidade constitucional, é imperativo porque reage a pequenas
repercussões na sociedade. Tivemos combate a terrorismo com medidas mais rígidas.

A perspetiva é dupla, quanto aos modelos processuais:


- acusatório e inquisitório;
- modelo paritário horizontal, hierárquico e ou vertical

Falamos de categorias que são construídas pelos cientistas do direito a partir dos
dados da realidade, mas que são abstração dos dados. Não se consegue encontrar na
historia do processo penal nenhum modelo inquisitório puro, com caraterísticas de
modelo inquisitório puro. Esta tipologias teoréticas são sempre abstrações e
esquematizações a partir dos dados da realidade, mas que transcendem a realidade e
que soa uteis como grelhas de analise. Há certa incoincidência entre teorética e
processos penais, mas não vamos encontrar nenhum modelo com caraterísticas do
inquisitório, acusatório ou modelo hierárquico.
No que diz respeito aos modelos, vamos estudar em duplas perspetiva, estudar
tipologias e de modelos processuais, vamos ver dicotomia clássica que contrapõe o
acusatório do inquisitório e que acolhe no art 32 da crp que é modelo de estrutura
acusatório.
Há ainda uma dicotomia que contrapõe modelo paritário ao modelo hierárquico.
Este autor percebeu que nos sistemas continentais atuais que se reivindicam como
modelo de acusatoriedade, o nosso, o francês, o italiano, são acusatórios, mas são
diferentes do acusatório do norte americano e é para enquadrar categorialmente essas
diferenças essas duas manifestações de acusatoriedade penal que propõe nova
dicotomia. São modelos acusatórios com caraterísticas diferentes e é um modelo
acusatório continental que ao continental chama de vertical e outro modelo acusatório
norte americano seria paritário ou horizontal.

TIPOLOGIAS DE MODELOS PROCESUAIS


Art 32 contraposição do modelo acusatório e inquisitório. Se reparamos elas
funcionam em espelho, as caraterísticas que ligamos ao acusatório encontramos como
reflexo num contraponto com sistema inquisitório.
- O acusatório e a caraterística é existência de separação absoluta de acusador
e julgador. Temos consagração do principio da acusação, onde há separação entre
entidade que investiga a acusa e entidade competente para julgar. No processo
inquisitório, existe confusão entre investigador e julgador. Num modelo que é mais
próximo de inquisitório puro que é sistema europeu da baixa idade media, que se
vulgarizou no sec 13, era juiz que tinha competência para julgar, quem investigava a
infâmia e noticiava o crime. O processo penal iniciava-se com a infâmia, contida através
de rumores públicos e era juiz a quem competia decidir e que investigava a infâmia, não
havia cisão ou separação. Esta separação é vantajosa para imparcialidade do decisor.
Se alguém que decide já esta comprometido na investigação, mais dificilmente deixará
de condenar o agente. Não é de se esperar que um juiz que esteve envolvido consiga
decidir com imparcialidade. O problema será este.

- No acusatório, o juiz a quem compete julgar tem papel passivo, no inquisitório


o juiz que é personagem principal do processo, tem uma ampla iniciativa e domínio
sobre a matéria probatória. Este tem domínio de prova, é ele que conduz e que ordena
a produção das provas, os sujeitos processuais, são arguido que era objeto do processo
não tinha qualquer poder em matéria probatória. Era juiz que investigava e julgava e
não se podia falar de outro sujeito contraposto ao arguido. A personagem era juiz a
quem competia julgar, investigar e decidir sobre matéria probatória e era única garantia
final do arguido. A única garantia reconhecida nos momentos inquisitórios do processo
penal e garantia judicial que eram fracas porque juiz empenhado na investigação não há
de ser campeão da defesa dos df do reu ou do arguido.

- no acusatório, temos existência de paridade entre acusação e a defesa, uma


paridade no plano jurídico, porque no plano dos factos existem diferenças. As
capacidades de investigação e de recolha de prova da acusação, onde podemos ter
exemplo o norte americano, neste sistema em que há paridade de acusação e defesa,
os meios da acusação são muito mais poderosos do que aqueles que estão disposição
da defesa, isto no plano fáctico. A defesa também tem gabinetes de investigação,
existem competências de investigação e de recolha probatória do lado da defesa. Mas
há desequilíbrio fáctico que é compensado por paridade de iure, de direito, entre
acusação e defesa, que são vistas como partes iguais. São sistema de partes em que
acusação de defesa tem poderes idênticos.
No inquisitório medieval, existe clara desigualdade de posições entre acusação e
defesa, o arguido não era parte, não é processo de parte, não é sujeito, mas objeto a
que processo era feito. Esta reminiscência do inquisitório que vigorou na europa
continental na idade media, esse sistema inquisitório deixou raízes, fala-se da
viscosidade das tradições, o sistema não é já inquisitório na europa continental, mas as
tradições são viscosas.
Embora nosso sistema já não seja inquisitório, esta ideia de que durante muito
tempo arguido foi objeto de processo permanece na arquitetura da dinâmica da
audiência de julgamento. Nos nossos tribunais, o arguido senta-se num lugar destacado
em frente ao juiz e ao mp, lugar diferente daquele que é ocupado das testemunhas que
vai reduzir declarações. É lugar distinto dele.
Na Alemanha, esta atualização da arquitetura da sala de audiência em função da
conceção acusatório já foi feita, ao arguido senta-se ao lado do advogado assim como
nos eua. Mas em Portugal senta-se no lugar destacado. Mas durante muito empo era
banco de réus, era mais desconfortável porque o reu para se sentir desconfortável e as
desigualdades que eram traduzidas por diferentes poderes processais.
- acusatória carateriza-se ela centralidade do julgamento na dinâmica do
processo e marcada pela oralidade, contraditoriedade e publicidade na fase de
julgamento que adquire centralidade. Julgamento nos eua que é oral contraditório
publico e carateriza-se pelas notas de imediação que vai mais longe que imediação que
ocorre no nosso sistema, que é acusatória, mas que vem de natureza inquisitório
anterior.
Nos eua, os peritos são ouvidos na audiência de julgamento. Eles são sempre
ouvidos ao passo que em Portugal a prova pericial é produzida antes da audiência de
julgamento, o relatório do pedido é junto aos autos e obviamente se existir duvidas, so
quando as existam é que arguido é convocado para esclarecer e perícia vale por si e esta
plasmada no relatório e vale independente de perito.
Nos modelos adversariais, a imediação e oralidade, atingem a prova pericial e no
seu elenco, o perito produz depoimento da audiência de julgamento sem essa não seria
considerada.
No sistema inquisitório, temos um caráter essencialmente escrito e secreto da
investigação e o aproveitamento da matéria probatória assim obtida na fase de
julgamento (a instrução/investigação é o eixo central do processo). Temos fase de
instrução de acusação e essa instrução é eminentemente escrita e secreta. Muito
embora no sistema inquisitório, exista julgamento que fosse publico, as acusações
probatórias adquiridas na fase de investigação era aproveitada na audiência de
julgamento e por isso é que pesando as duas fases na balança, esta assumia
preponderância. Havia julgamento, mas no julgamento considerava-se as provas
recolhidas na fase anterior e essas eram adquiridas de forma escrita e secreta. A fase de
investigação tinha preponderância no processo, tinha carater secreto, o carater do
processo é dado pela fase que tem maior preponderância.

Na atualidade quase todos os ordenamentos consagram modelo de estrutura


acusatória. O nosso sistema é acusatório, o belga, o francês e o alemão, mas este
acusatório continental é distinto dos eua, anglo-americano. Damaska procura
sistematizar as diferenças e propõe tipologia nova que distingue hierárquico ou vertical
que seria acusatório de tradição continental e modelo paritário ou continental que
corresponderia modelo acusatório de tradição anglo-americano.
Cada um destes modelos processuais têm na sua base diferente configuração do
estado, o modelo hierárquico ou vertical é típico de estado interventivo que
compreende processo como instrumento de realização de política publica, ao passo que
horizontal são estados reativos que entendem que processo penal é mecanismo de
resolução de conflitos.
No norte-americano mais individualista em que se compreende o processo como
estando na disponibilidade das partes, o que se visa no processo penal é composição do
litigio, ao passo que nos estados continentais, embora seja abstração e generalização,
não vale sempre para todos os estados, mas estados continentais, o estado assume para
a defesa politica, é controlado por funcionários públicos, funcionários judiciais e tem
em vista uma verdade que o estado considere e que esta verdade não está na
disponibilidade das partes e processo destina-se na descoberta da verdade.
O estado ativo que compreende processo como realização de políticas e
estrutura do processo penal de acordo com sistema hierárquico, estados mais reativos
abstencionistas que compreendem como mecanismo de resolução de contitos e
estrutura processo num modelo mais paritário e horizontal.

Caraterísticas de cada um destes modelos:


O modelo hierárquico que seria o nosso, que é modelo acusatório. Não estão
consagradas em nenhum processo penal real, mas para conseguir identificar o modelo
que se enquadraria nesta tipologia como modelo hierárquico que é uma das
modalidades do acusatório, o nosso modelo não é inquisitório, mas é acusatório, Ao
passo que os eua seria modelo paritário ou hierárquico;

- há fragmentação do processo e a sua compreensão como sucessão ordenada


e escalonada de fases, cada fase destinada a finalidade diferente. Fase da fiscalização
da atividade investigatória que é a instrução, fase do julgamento, fase dos recursos, o
processo é visto como sucessão ordenada e atribuída finalidade diferentes;
Ao passo que no paritário a atividade do processo centra-se num único momento
no momento de julgamento. No eua o processo é designado como trial é fase do trial e
fase anterior a julgamento que nem tem designação, porque o centro é julgamento.

- No modelo hierárquico há múltiplos níveis de decisão e as decisões por


instancias inferiores são contra polos das decisões superiores. Admite-se mais
amplamente os recursos. Os recursos são entendidos como momentos normais do
processo e não são apenas encarados como uma garantia, o escalonamento não atinge
apenas 1 instancia, mas outras instancias. O recurso é momento de tramitação normal
do processo.
Há quem diga que esta ideia ampla de recursos, não sendo apenas garantia de
defesa, faz ressonância da tradição inquisitória anterior, ideia de uma certa visão
aristocrática da justiça. Quando mais elevada a instancia, mais qualificada se torna. Da
mesma forma que quanto mais elevada a instância, maior é a qualificação do juiz.
Ao passo que nos paritários, há tendencialmente um único nível decisório. Até
o seculo 20, havia ordenamentos jurídicos democráticos e de estado de direito que não
admitiam recursos em matéria penal, não existiam recursos em matéria penal,
normalizaram-se a partir do sec 20. A tendência era da existência de um único nível
decisório. Agora admite-se recurso em favor de defesa e garantia de defesa no processo
penal, mas o desejável era que se esgotassem na 1º instância.
Além do mais, temos a proibição do art 29 nº5 da crp, assim como nos eua, com
a 5 emenda da constituição temos consagração de regra semelhante a esta, é esta
proibição da 5º emenda da constituição que está na origem da limitação aos recursos.
Esta impede a ideia de segundo julgamento, impede também recurso porque o recurso
é visto como impondo 2º julgamento. Recurso é recurso de cassação e não de
substituição como o nosso. A decisão é proferida pela 1º e a relação decide novamente,
não se limita a revogar ou confirmar e remete para 1º instância novamente, mas o
recurso nestes modelos são cassatórios a instância superior revoga a decisão, mas
remete os autos para nova decisão á 1º instancia.
O recurso de decisão absolutória implica sempre novo julgamento por isso se diz
que recurso de decisões absolutórias caso contrários a posição de nebis inibdem são
apenas admitidos em casos em que ciclo processual tenha sido invocado no julgamento
há recurso para sindicar esse vicio processual. E admite-se recurso de decisões
absolutórias quando um juiz tenha proferido uma decisão absolutória contrariando o
veredito de condenação dos jurados. Os jurados são quem decidem da culpa e da
inocência do arguido, são jurados que dizem que é culpado ou não. Se se for guilty o juiz
em casos pontuais pode afastar-se dos jurados e absolver. Quando juiz absolver não
obstante os jurados acharem que é culpado, pode haver recurso da decisão, porque a
revogação da decisão absolutória restaura o veredito dos jurados e não viola o que diz
a 5º emenda.

- terceiro: no modelo hierárquico há dever de fundamentação das decisões, não


lhes preside a logica garantístico, embora exista, a fundamentação destina-se a
convencer destinatário da decisão, mas além disso, preside o dever de fundamentação
uma logica funcional. As decisões têm que ser fundamentadas, mas se a instancia
superior não tivesse suporte material que pudesse analisar, se a decisão fosse só guilty
ou não guilty não fundamentada, os tribunais superiores não poderiam sindicar. O dever
de fundamentação é garantia e ainda tem dimensão funcional, não podia haver recurso
se não exisse fundamentação das decisões.
No modelo paritário não havendo recurso, há desnecessidade funcional de
dever de fundamentação das decisões, por isso o veredito de guilty não é
fundamentado.

- 4º no modelo hierárquico há ampla e exaustiva documentação de toda a


marcha processual, se processo é fragmentado em fase e há múltiplos níveis de decisão
é preciso que marcha processual seja fundamentada para que não se perca, para que
níveis superiores fosse produzido pelos níveis superiores. No paritário, a oralidade é
decisiva e não há documentação da marcha processual.

- No modelo hierárquico e porque há documentação da marcha processual


embora julgamento tenha dimensão prioritária, embora julgamento seja eixo central, a
prova documentada repercute-se no julgamento, repercute-se e esta ali, é difícil não
ser considerada. No paritário, para evitar esta influencia destes atos na decisão de
julgador, usam duplo processo, existe processo onde estão todos atos processuais
documentados e processo mais reduzido que chega ao juiz. O juiz não vê tudo o que
aconteceu, só são remetidos ao juiz as peças processuais que possam tomar em
consideração, como depoimentos das testemunhas, então não se deve remeter os
depoimentos que as testemunhas deram na fase de instrução. Há duplo dossier. A prova
processual é suprimida, para garantir imparcialidade, evitar que fosse condicionado
sobre aquilo que não pode valorar, mas que está la.
Em Portugal não há duplo dossier, o juiz não pode valorar, então não le
depoimentos das testemunhas, porque é difícil não se deixar influenciar.
No paritário, vale principio de imediação, a prova considerada é apena
produzida na audiência de julgamento. O sistema italiano esta colocado na fronteira
ente modelos hierárquico e paritário, esta mais próximo do paritário, mas introduzem
soluções que procura, aproximar-se de direito anglo e uma dessas soluções é duplo
dossier, mas no inglês vai se mais longo, juiz não tem acesso a nenhum dossiê que seja
transmitido, há ainda acusação, mas em matéria probatória não fica documentada e não
é remetida ao juiz e é isso que os italianos procuraram evitar com o duplo dossier.
O facto de se chamar ao nosso processo como processo, não é so marcha
processual, mas conjunto de papéis, para designar a marcha processual a mesma
palavra que designa conjunto de papeis no processo, é significativo que o nosso modelo
é hierárquico, em que haja documento da marca processual. Os norte-americanos
chamam de trial porque é julgamento que assume preponderância.
A disposição da sala de audiência a mesma coisa, no norte americano o juiz esta
sentado e temos defesa e acusação em lugares paritário, quer defesa e acusação estão
no mesmo patamar lado a lado, de frente para juiz. No nosso ordenamento jurídico, há
um magistrado, há um juiz e magistrado do mp está sentado do lado direito do juiz, os
advogados estão ligeiramente abaixo, do lado esquerdo esta secretario do defensor,
mais abaixo está a secretaria de assistente e o arguido senta-se na cadeira da frente,
não está sentado ao lado do defensor, é apresentado como pessoa a quem o processo
é feito e não como sujeito do processo, é algo que se tem que atualizar.

TRADIÇÃO HISTÓRICA DOS MODELOS PROCESSUAIS


Vamos insistir sobretudo na europa ocidental apesar de podermos ver o que
aconteceu em Inglaterra e que justifica a diferente tradução do processo penal.

- alta idade média:


A estrutura processual acusatória: a lide iniciava com uma accusatio privada.
Vamos começar a nossa análise histórica no sec 5 e 6 d.c. com queda do império romano
do ocidente e invasões bárbaras, o modelo que se instaurou foi de estrutura acusatória
porque não havia distinção entre lide civil e lide penal, dano penal e dano civil, não havia
distinção clara e nos dois casos, sempre que alguém era ofendido com uma determinada
conduta, formulava uma accusatio contra o reu que o reu, o acusado tinha que purgar,
formulava uma accusatio e acusado tinha que purgar indícios da acusação. Era modelo
acusatório porque não havia processo penal, sem que houvesse uma acusação,
acusação que era formulada pelo particular do crime e competia ao acusador purificar-
se dos indícios através de algum dos meios de prova disponíveis.

O sistema probatório da época era constituído por meios de prova que se


qualificaria como meios de prova irracionais, com função decisória, em que a liberdade
do julgador estava totalmente ausente: ordálios, ou juízos de Deus, juramento
purgatório e duelo. Temos aqui uma dimensão decisória e punitiva ou aflitiva.
A escolha do meio de prova dependiam da condição social do acusado, aquele
que tinha que purgar dos indícios, se fossem cavaleiros, a via seria do duelo, se fossem
servos ou de pessoas da modesta condição social, como mulheres a vida eram os
ordálios. Quanto aos membros do clero valia o juramento, mas em qualquer um dos
casos não havia forma de demonstrar a verdade, a preocupação com descoberta da
verdade surge mais tarde. As provas tinham um sentido como um obstáculo que é
preciso ultrapassar. As vezes dizemos que a pessoa foi sujeita a prova difícil, um desafio
e obstáculo, também no meio académico não são formas de provar, mas são obstáculos
para obter aprovação da disciplina. Usamos a palavra de prova como obstáculo para
ultrapassar e da qual resultava a decisão que os meios de prova, eram entendidos. Eram
meios decisórios porque o que se pretendia era verificar se acusado saia sem muitos
danos ou com muitos danos à prova que era submetido, a decisão emergia do resultado
da prova. Quem decidia era Deus, Deus que decidiria revelando a verdade e conduzindo
á verdade e mostrar se era ou não culpado.
Os ordálios haviam vários e alguns cristalizados, estas praticas eram trazidas
pelos povos bárbaros ou germânicos, mas que foram juntando-se com povos que se
havia convertido ao cristianismo e dessa mistura resultou modificação.
Exemplos.:
- Mas os meios comuns era ordálio do ferro em brasa o que se fazia era colocar
ferro em brasa na mão, ligava-se a mão do acusado e analisava-se a evolução da
queimadura, se evoluísse para cura era inocente, se piorasse era porque acusado era
culpado.
- No caso de agua fria a logica era oposta, atava-se o padecente de pés e mãos
e atirava-se a um lago ou rio com água pura, se o padecente emergisse, se viesse a tona
era culpado, se ficasse submerso era inocente, porque a agua pura rejeita os impuros.
A decisão competia em ultima instância a Deus, Deus é que revelaria quem era culpado
e inocente, permitindo o inocente a ultrapassar a prova. Havia julgador, mas tinha
função apenas notarial verificar o resultado. A logica do accusatio: havia acusação e
papel passivo do julgador que não lhe competia decidir.
Nos duelos, o acusador e acusado litigavam e vencedor eram quem tinha razão,
numa fase mais tardia não eram próprios acusadores ou acudo, escolhiam campeões
para o fazerem em seu nome.
- Em relação ao juramento purgatório é tido como antecedente da prova
testemunhal em sentido próprio, mas da figura de testemunhas abonatórias, porque no
juramento purgatório, o acusado era chamado a jurar inocente e que haveria pessoas a
jurar consigo, quanto maior numero e elevação, maior convicção seria. O que se
pretendia era a inocência, a confiança que depositavam no acusado e temos aqui a
figura de testemunhas abonatórias, testemunhas que nada sabem os factos, mas que
são indicados pelo arguido para atestar pela sua conduta de conformismo para com
direito e não são determinantes para medida da pena.
Estas provas eram provas ditas irracionais, não procuram demonstrar a verdade,
embora estivesse presente alguns conhecimentos empíricos, física e química e de
psicologia. Eram ambiente tão saturado de sobrenatural que convicção de se ser
inocente era primeiro passo para ultrapassar a prova. Aquele que se sabia culpado já
partia em desvantagem e aceitava a culpa ou sujeitava-se a prova e partia em
desvantagem e era primeiro passo para não alcançar. Era conhecimentos da psicologia
que de alguma forma davam racionalidade mínima a estas formas de decisão.

- Baixa idade Média:


Este sistema começou a ter erosão alguns seculos mais tarde, foi inaugurado no
sec 5 e sec. 6 que marca inicio da idade media, a alta idade media e partir do sec 9 estes
meios de decisão começam a ser objeto de franca hostilidade no meio eclesiástico, da
parte dos canonistas, daqueles que estudavam os cânones, diziam que ordálios eram
atentar a deus, recusava-se os duelos porque havia efusão de sangue, o que vencia e
provocava o sangue cometeria pecado e quele que sujeitava ao duelo, cometia suicídio.
Eram razões morais, razoes que se prendiam com motivos de ordem moral,
teleológica, mas havia razoes epistemológicas, havia descartar-se da eficácia destes
meios de prova e de decisão, porque eles eram controláveis, o ferro em brasa podia
estar mais quente ou não, o tempo que o padecente estava debaixo de agua era maior
e ou menor, eram fatores que condicionavam o resultado da prova e permitiam fraudes
e manipulações. Por outro lado, possibilidade de apresentação dos litigantes era
problemática, a vontade divina não fazia sentido relevar-se em pessoa interposta. Eram
questões que eram duvidosas, duvidas epistemológicas e que geraram hostilidade em
relação a administração destes meios de prova e decisão.
A partir do sec 12 e sec 13 somou-se este descrédito uma evolução social e
economia que conduziu ao nascimento de grandes sociedades, aumento da
criminalidade e grandes aglomerados urbanos. A evolução é sempre esta. O crescimento
da criminalidade coincidiu com período histórico de centralização do poder política e
arma penal é sempre importante.
Isto do ponto de vista laico, do ponto de vista eclesiástico foi paralelo, o bem
estar social gerou movimento heréticos, heresias, convicções religiosas distintas da
ortodoxia que era ate ai assumida. Esta preocupação no mundo eclesiástico com
escândalos internos da igreja, surgimento de heresias, todos estes movimentos que
traduziam uma forma de criminalidade não contra interesses do estado, mas contra
majestade divina, estes movimentos conduziram a um repensar das forma processuais.

Perguntava-se é como se devia proceder a investigação e punição das heresias, de


crimes de lesa majestade divina. Havia simbiose entre os dois universos, comos e deve
proceder a investigação punitiva dos crimes graves? Deve agir ex officio ou esperar?
Se crime é particularmente grave e se for crime que afete a majestade divina ou
crime de traição grave no mundo laico, forma mais eficaz não é de ficar à espera que o
conhecimento do crime ser levado ao julgamento, mas ao julgador fazer ex officio,
temos introdução do principio da oficialidade, a infâmia resultante de suspeita
manifesta ou de rumores públicos bastava para justificar a abertura do processo.
Deixa a promoção do processo de estar na mão do particular, era preciso haver
accusatio, particular que acusava e depois o acusado teria que purgar indícios, mas
agora o principio da iniciativa privada é substituído pela oficialidade, é entidade publica
que tem iniciativa pelo processo penal, investiga ex officio a suspeita. Este princípio da
oficialidade também traduzem nota de inquisitoriedade, per inquisitionem, ser o
processo inquisitório, significa que não há separação entre quem promovia o processo,
investigava e quem decidia. Era julgador a quem competia julgar a causa que tomava a
iniciativa dos processos. É processo inquisitório.

Esta modificação foi acompanhada de modificação das conceções


epistemológicas e uma consequente modificação dos meios de prova, começou-se a
erodir a confiança nos meios de prova, os ordálios foram proibidos pela hierarquia da
igreja católica no 4º concílio de Latrão, em 1215, já se havia proibido a participação dos
clérigos na sua administração, mas em 1215 foram proibidos definitivamente e também
se reiterou a proibição dos duelos.
Estes meios de prova foram substituídos pelos meios de prova que conhecemos
hoje, documentos, testemunhas, meios de prova racionais. A sua aquisição no processo
fazia-se numa fase de investigação que era tendencialmente escrita e secreta que
assentava na introspeção, os interrogatórios eram feitos separadamente ao arguido,
tudo o que era dito era minuciosamente escrito nos autos e no momento de julgamento
esses registos e anotações privadas eram usados. O julgamento eram encenação
dramática de algo que já vinha decidido a partida.
Quanto às provas, no período histórico implantou-se o que se designou como
sistema de provas legais, predeterminação do valor de cada meio de prova,
hierarquização num esquema de regras a que o julgador estava adstrito, notorium,
probatio plene, probatio semiplena, indicia.
Havia grande aspiração à verdade, pretendia-se a verdade do facto histórico, mas
também se pretendia que a condenação assentasse em provas evidentes, provas
concludentes, claras e portanto não se admitia uma condenação sem patamar
probatório não tivesse atingido, era ideia garantística. Havia regras doutrinais, sistema
de prova legal, mas não era a lei fonte de direito, era o ius commune, formado por regras
doutrinais, formada por doutores e sedimentados na doutrina. Essas regras doutrinais
esclareciam os meios de prova admissíveis e hierarquizavam os meios de prova num
esquema em que tinha no topo o notório e tinha na base os indícios.
A investigação iniciava-se com uma infâmia que resultante de suspeita
manifesta, era suficiente para iniciar o processo. Quanto a prova legal temos
hierarquização num esquema de regra, com o notorium e na base os indícios. Para juiz
condenar era preciso que haja notório ou prova plena, os indícios não eram suficientes
para condenar, apenas legitimava a sujeição a tortura e provas semi-plenas não eram
suficientes, precisava-se de prova plena, essas semi-provas plenas não permitiram a
condenação.

O que é que formava o notorium?


Constituído por deflagrante delito ou documentos autênticos, formavam o
notorium e este tinha eficácia anti processual. O notorium era bastante para condenar
e condenação transitava de imediato em julgado, sem ser admitido o recurso, a eficácia
era antiprocessual, tornava irrelevante o processo. As provas plenas tinham
documentos autênticos e duas testemunhas que declarassem no mesmo sentido. As
provas semi-plenas era com uma testemunha ou por duas que são incapazes, ou por
testemunhas que não fossem concordantes.
Na base estavam os indícios, para sujeitar a tortura, como inimizades com o reu,
a proximidade do sujeito ao local do crime, a fuga após a suspeita, chegavam para
sujeitar a tortura, mas não eram suficientes para assegurar a condenação.

Uma vez que se punha exigência grande para condenar era necessário que se
obtivesse notorium ou prova plena, duas testemunhas concretas ou prova documental,
essa certeza para condenar era difícil de obter.
O deflagrante delito nem sempre se consegue, prova através de documentos é
residual e não seria fácil encontrar testemunhas concordantes a cerca dos factos, as
vezes crimes não são testemunhados por ninguém. Mas havia alguém que sabia coisas,
se seria inocente ou culpado saberia e o próprio acusado ou reu e como a pretensão da
descoberta da verdade era a mais importante das pretensões, a descoberta da verdade
e a todo o custo, legitimava-se a tortura, préparatoire, préalable.
O réu era torturado, sujeito a tortura para que confessasse. A confissão surge
como meio da prova. Como não se conseguia obter por prova, a tortura tinha função
encerrar a parte probatória. Mas os autores começaram a atribuir a confissão o valor de
notorium, notorium iuris. A confissão passou a ter poder probatório, um valor acrescido
já não é remetido apenas da prova, mas seria esta a rainha das provas e o empenho em
obter e legitimar e a reforçar a possibilidade de tortura. Havia tortura antes de confissão
e tortura depois da confissão.

Esta evolução deu-se inicialmente no mundo eclesiástico, mas transitou para o


mundo laico. A simbiose entre dois universos era grande e há até um procurar justificar
a passagem para modelo inquisitório com a bíblia. Surgindo a infâmia podia o juiz
investigar, invocando o livro de genesis, quando alguém matou Abel, foi sangue de Abel
que clamou da terra para Deus e infâmia bastou para que julgamento e punição viessem.
Mas também procuraram uma justificação do modelo inquisitório, os canonistas
foram buscar a novo testamento quando se invoca a bíblia. No evangelho 2º de são João,
mulher apanhada em adultério e que os outros se preparavam para apedrejar porque
era a lei de Moisés assim o determinou. Jesus disse que quem não tiver pecado que atire
uma pedra e ninguém atirou. Mas jesus pergunta à mulher se ninguém a acusou onde
estão os seus acusadores, a mulher disse “não senhor”, jesus disse que para ir. Jesus não
foi movido apenas pela compaixão deixou de condenar por falta de pressupostos, não
havia acusadores então não havia condenação.

- Idade Moderna (sec. XVI E XVII)


Este inquisitório conheceu e transitou para justiça laica e conheceu
endurecimentos sucessivos ao longo dos séculos, com centralização do poder politico
e surgimento de estados, com o seu expoente em Ordonnacen criminelle (Louis XIV) e
Constitutio Criminalis Carolina (Carlos V).
Era modelo inquisitório agressivo, porque no momento inicial se reu se sujeitava
à tortura e resistisse à tortura não era condenado. Se existisse deflagrante delito havia
decisão tomada, mas se não existisse deflagrante delito ou duas testemunhas
concordantes ou documentos autênticos, a única certeza para julgamento era a tortura
e se não confessasse, expurgava os indícios e não era punido.
Mas centralização do poder político e a noção punitiva que se ergueu, pretendia-
se que evitasse um único culpado que fosse absolvido, por isso adotaram expedientes
para evitar a absolvição dos culpados. Não havia preocupação com absolvição de
inocência, o que não se queria era que culpados fossem absolvidos.

Que mecanismos adotados?


- Mecanismo da absolvição, absolutio ab instantia, tortura com reserva de
probas - aquele que resistisse a tortura, em certos crimes podia fazer tortura com recusa
a meios de prova, o que se agente resistisse da tortura, não purgava instância, apenas
havia extinção da instancia, o sujeito podia ser sujeito a nova estrutura se novos indícios
fossem descobertos.
- Outro dos mecanismos era os das penas extraordinárias, poena
extraordinariae, para certos crimes particulares, quando não se podia obter a certeza
necessária para condenar, condenava-se para pena menos grave que a lei consagrava,
era pena extraordinária porque não era apenas comum, era fora da ordem comum.
- Outro mecanismo que surge a partir do sec 16 é aritmética da prova, soma dos
valores probatórios. Para condenar era preciso a prova plena. Se se somasse prova
semiplena, havia prova plena e certeza quanto a condenação. Se tivessem soma de oito
índicos teríamos prova plena. A aritmética da prova foi mecanismo assegurado que
nenhum culpado seria absolvido.
Quando é que este estado de coisas conheceu um termo?
Conheceu com as criticas que se foram formando e eram incisivas no sec 17 e
sec 18. Este sistema sempre gerou erros judiciários e tornaram-se mais patentes no sec
16, mas nos escritos do sec 16 e 17, so erros judiciários são vistos como fenómenos
espúrios. Reconhecemos que há erros judiciários, mas entendemos como fenómenos
residuais que resultam do funcionamento normal do sistema. Sistema é bom, mas
conduz às vezes a maus resultados. Às vezes, os autores judiciários não atuam de acordo
com aquele que deviam ser regras resultantes da dignidade das suas funções.
No sec 17 havia confiança deontológica, havendo conhecimento de erros
judiciários. Mas ao longo do sec 17 e no sec 18 criou-se convicção de que o sistema
estava fatalmente mau: tortura que não se compaginava com exaltação dos direitos
naturais do homem que neste período passou a afirmar-se o sistema de provas legais.
Tortura era criticada pela natural compreensão dos direitos e era fonte permanente de
erros judiciários. Foi com o iluminismo que se colocou um fim à tortura e se
desvalorizasse a confissão como meio de prova, ergueu todo um novo processo penal
de base acusatória, fundado nas aquisições definitivas do pensamento processual inglês.
Os pensadores de Rousseau, Voltaire tiveram ação concreta nesta fase, eram
pequenos êxitos que eram panfletos, escrita panfletária que denunciavam erros
judiciários e que procuram intervir em favor dos arguidos.
Um dos mais conhecidos casos levou a Tratado Da Tolerância por Voltaire e
denúncia caso de Jean Cala que era comerciante de Toulouse, cujo filho se tinha
convertido ao catolicismo, e esse filho aparece morto, os pais afastaram o suicídio,
porque era crime particularmente infamante, era punido o suicida de uma forma
infamante, recusava-se a sepultura e o cadáver era arrastado pelas ruas e era enforcado
simbolicamente. Isto era humilhante e a suspeita recaiu sobre pai, e foi preconceito
religioso e pouco mais que permitiu a tortura de jean calas e a sua condenação. Ele foi
reabilitado depois de morte, reconheceu-se que condenação foi injusta muito por ação
destes pensadores que se forma manifestando e geraram a ruína do sistema
inquisitório, da tortura, confissão e sistema de provas legais. A critica de formas legais é
encabeçada por Voltaire e a frase do mesmo “admitem-se meios provas que não são se
não meras dúvidas”.

O sistema estava a ruir e acabou por ruina ser abolida com revolução francesa,
esta revolução concretizou as exigências e a declaração dos direitos do homem e do
cidadão consolidou-as.
Precisávamos de substituir com outro modelo e fez-se com o que se faz hoje
quando há mudanças processuais profundas, copiou-se o que acontece nos outros
países, nessa época, a modernidade estava do outro lado do canal da mancha, direito
inglês que se tornou paradigma da mudança processual. O que era mais visível no
sistema inglês era existência de jurados e foi o que se introduziu, sistema acusatório
composto, peça fundamental existência de júri de julgamento. Havia dois júris, um júri
competente para acusação e outro para julgamento. Os dois eram compostos por leigos
e júri de acusação investigava a suspeita e embora a investigação fosse segredo, havia
delegados que fiscalizavam e transmitiam informação. Esse júri, feita indagação,
acusava e havia outro júri competente para julgar. Como sistema assentava em jurados
como peça fundamental e os jurados não dominavam as complexas regras de prova
legais, eram entroncadas, eram complexas, introduziu-se a intimi conviction, os jurados
decidiam não de acordo com regras probatórias não fixadas, mas de acordo com a sua
convicção pessoal, convicção subjetiva e que não tinha que ser motivada.
Até aí, anteriormente, a decisão do julgador era vinculada, era pré-determinada,
não havia liberdade pelo julgador, não podia afastar-se das regras pré estabelecidas e a
circunstância de não se poder afastar era para evitar o arbítrio do julgador, mas levava
a regras que não eram garantia infalível da verdade. A intime conviction deu liberdade
ao julgador e permitiu que decidisse à margem da prova, decisão que era puramente
subjetiva, perigo novo que se introduziu. Este perigo era menos pelos jurados serem
membros da comunidade, não há razão para que os prejudiquem.
Mas mais tarde o principio da intime conviction transitou para justiça composta
por juízes de carreira e aí o perigo começou a ser maior. Porque não havia garantia de
serem membros da comunidade interessados, os juízes não estavam orbitados a
fundamentar e isso diminuía as garantias de certa decisão. Depois da revolução
francesa, o processo era de índole acusatória, havia separação entre acusação e
julgamento que competia aos jurados, o julgamento era publico e oral contraditório,
mesmo na fase de negociação havia algum controlo e a valoração da prova fazia-se de
acordo com a intime conviction.
Este era processo penal de natureza acusatório.

Mas este processo de natureza acusatório não resistiu muito tempo, com
domínio de napoleão e construção do seu império, fora do território francês nunca se
chegou a implantar este modelo, era entusiamo passageiro de revolucionários
franceses, mas pouco tempo durou. Fora do território francês, em Itália onde o code
d’instruction criminelle era já diferente.
Tratava-se de um processo dualista, processo com duas almas, porque havia 1 º
fase de investigação e de recolha de prova que era secreta, seguia moldes tipicamente
inquisitórios e havia 2º momento oral, publico e contraditório, mais próximo do que
tinha sido desejado no contexto da revolução, era processo duplicado. Ao processo que
tínhamos anterior a revolução francesa, que era secreto, segue-se fase oral publica e
contraditório, duplicação do processo.

O que ficou e que permite dizer que este processo é misto ou de inquisitório
mitificado?
Ficou principio de acusação, a diferença entre investigação e competência para
julgar. Este principio de acusação que existia formalmente era mitigado para se
conceder ampla leitura dos autos. Havia separação entre quem investiga, quem acusa
e quem julga, mas no julgamento não era vedado ao juiz socorrer-se de meios de provas
que eram adquiridos na fase não publica. Na ponderação entre as duas fases, a fase da
investigação adquiria supremacia relativamente a julgamento publico.
Este sistema conheceu endurecimentos superiores ao longo do sec 20, entre
primeira e segunda guerra mundial que coincidiu com estado autoritários e nesses
estados autoritários, como Alemanha, Itália, estes grandes diplomas normativos e
códigos introduziam um inquisitório mitigado ou acusatório formal.
Havia separação entre quem acusa e quem julga, mas no nosso código de
processo penal ate 1945, embora essa separação existisse, ministério publico acusava e
juiz julgava acusação feita pelo mp, era deduzida com base em investigação ao mesmo
juiz a quem competia jugar. Havia separação, mas que era formal, porque o mp acusava
com base em investigação que era feita pelo mesmo juiz que depois era competente
para fazer o julgamento. So a partir de 1945, o mp começou a investigar e a acusar, o
sistema começou a ser mais acusatório.

Aula 19/10/2020
A partir do sec 13, quando se prescindiu da accusatio e passou a ser o juiz
oficiosamente a investigar a suspeita, bastava que existisse a infâmia, é tradução clara
do que dissemos eu no sistema inquisitório não há separação entre entidade que julga
e que investiga. Dispensar a accusatio não é consagrar principio da oficialidade, mas é
algo mais do que isso, é também principio do inquisitório, porque a entidade para abrir
processo tem competência para julgar. O julgador tem grande domínio sobre a prova.
O recurso á tortura e privação da liberdade, todas as possibilidades, traduzem a
ideia de desigualdade entre posição de quem investiga e posição da defesa, o arguido é
objeto do processo. Não há modelo inquisitório que seja modelo puro.
Permite perceber que o nosso sistema é acusatório e é diferente do que se
assocai ao norte americano, porque autos tem peso tao grande, o juiz tem poder de
investigação, porque o nosso juiz não é passivo, todas caraterísticas que são explicadas
pela historia.

No sec 18, o modelo inquisitório entrou em rutura, censurava-se a tortura,


porque não se conciliava com os direitos do homem e censurava-se sistema de provas
legais porque impedia o juiz de decidir com a sua convicção e gerava a resultados
contrários a justiça. Sistema entrou em crise e foi substituído por outro, olhou-se para
o sistema inglês que parece sistema moderno e evoluído, pautado por princípios do
humanitarismo, mas a fase visível que se copiou era a dos jurados. Assente nos jurados
e na livre convicção, diferente de que estava na europa. Foi farol de luminosidade que
Europa copiou.
Em 1106, houve necessidade e esforço de centralização do poder e instituiu-se
mecanismo que era composto por comissários reais com funções que percorriam
território e tinham que recolher informações para fins administrativos e tributários e
obtinham informações através de pessoas que a residiam. Este tornou-se instituição
judiciária, era nomeada pessoa particularmente integras e que tinham a incumbência
de denunciar crimes graves de que tivessem conhecimento. É espécie de júri que
apresentava os suspeitos, pessoas a quem eram imputados aos comissários reais para
decidirem do seu destino. Este júri era de acusação, depois havia júri para julgamento,
pessoas a que eram imputadas eram depois julgadas pelos seus pares, júri diferente. Era
facultativo porque no sec 12 vigorava os meios irracionais que vimos, os ordálios, os
duelos, meios de decisão que existiam e que erma comuns á europa.
Mas em 1215 no concilio de Latão que consagrou proibição dos outros meios de
prova, como duelo, deixou de existir uma alternativa, ou se sujeitava o acusado ao
julgamento dos seus pares ou ele não era julgado. Sucede que acusado não queria
sujeitar-se ao julgamento dos seus pares. Quando deixou de ser meio subsidiários
porque meios de prova deixaram de existir, usou-se mecanismo de prisão, privado da
liberdade em condições precárias, preso ao chão da sala com ferros, espécie de tortura
dirigida ao mesmo aceitar a ser julgado pelos seus pares.
Mais tarde sistema mudou e quem se recusou era tido como confessio e mais
tarde era julgado mesmo que não estivesse de acordo. Os jurados competentes para
julgar decidiam não conforme as provas, mas decidiam segundo a sua convicção pessoal,
proferiam o veredictum, sabiam dizer a verdade que teriam acesso segundo regras da
consciência, eram membros da comunidade e tinham conhecimento pessoal sobre os
factos, profeririam o veredito, não era fundamentado e insuscetível de recurso.

Formulou-se regras mais tarde de law of evidence. Essas regras traduziam-se


com evolução nos tempos e crescimento das sociedades, os jurados deixaram de ter
conhecimento sobre factos pessoais e tinham que atender a outras fontes de
informação, eliminou-se fontes de informação que fossem frágeis, como proibiu-se
rumores, vozes publicas. As primeiras regras eram desta natureza.
No direito inglês, houve um período concreto a partir do sec 15 que tribunais
tinham sistema inquisitivo. Os tribunais de common law tinham este funcionamento
acusatório, havia júri de acusação e júri de julgamento, havia separação e júri de
julgamento decidia conforme a sua convicção. Mas houve tribunais de funcionamento
inquisitório que surgiram nos sec 15 com surgimento das heresias.
Foi constituído tribunal superior, court of high comission, topo de tribunais
eclesiásticos. Havia ainda outro tribunal que se chamava star chamber. Este tribunal era
competente para conhecer de crimes a desobediência real, mas não julgava crimes
graves, como os de traição ou punidos com pena de morte. Estes tribunais tinham
funcionamento inquisitório, admitia-se o juramento do arguido que jurava os factos,
admitia-se pontualmente a tortura, não de forma tao ampla como na Europa, mas tinha
funcionamento próximo do modelo continental. O modelo foi copiado pelos canonistas.
Mas menos nos tribunais de common law, não era paraíso de direitos do arguido, no
continente era garantia da oficialidade, o juiz defenderia da mesma forma como
perseguiria, mas no direito inglês garantias eram escassas, arguido era preso antes do
julgamento, era privado da liberdade, não tinha possibilidade de apresentar
testemunhas, provas, que eram mal vistas pelo direito inglês.
Os jurados surgem como testemunhas da comunidade e sobreponham-se a
outras testemunhas. Ate sec 16, não se podia obter a comparência coativa de
testemunhas, se arguido convocasse e não podia coativamente obriga-las a comparecer.
Mas mesmo que voluntariamente testemunhasse era crime. este sistema no sec 18 era
diferente, já era possível haver coativamente testemunhas, primeiro foi o estado poder
apresentar e depois o arguido conseguiu apresentar. Houve ainda presunção de
inocência. A evolução foi divergente, mas ate chegarmos ao sec 18, o direito inglês não
consagrava amplas garantias do arguido. Era diferente, a tortura não tinha tanta
expressão, mas não era processo garantista.
Que notas essenciais do julgamento dos tribunais de common law:
funcionamento de jurados, existência de regras de prova, law of evidence, regras que
ajudavam os jurados a decidir racionalmente e afastavam provas mais duvidosas. Havia
balizas para estas decisões, dadas por essas regras. Quando se copiou, copiou-se tudo
menos a law of evidence.
O principio da intime conviction foi mal usado e foi pretexto probatório de
elementos que ordenamento jurídico queria ver afastados, elementos de credibilidade
diminuída.

Qual o nosso atual modelo processual?


Acompanhou a historia da evolução continental, estando próximo do francês e
do italiano. A partir do séc. 18 quando se implanta o modelo acusatório, essas
modificações também se fizeram sentir com a constituição de 1822 e 1836 caminhou-
se para modelo acusatório, com a reforma judiciária de 1832.
Neste modelo da reforma judiciaria consagrava-se sistema misto, modelo
processual misto. As fases de investigação era inquisitório e julgamento caraterísticas
acusatórios, como acontecia com o code d’instruction criminelle, que chamaríamos de
código de processo penal, mas era de investigação, dando a revelar a tónica da
investigação. Este não vigorou em Portugal, mas o nosso modelo processual não era
diferente do code.
Seguiu-se código de 1929 que era código de matriz autoritário, período histórico
de ditadura e código de matriz autoritário tinha sistema inquisitório mitigado ou
acusatório formal, ate 1945. Acusatório formal porque mp acusava, o juiz julgava,
simplesmente o mp acusava com base em investigação que tinha sido conduzida pelo
juiz do julgamento.
O sistema atual a crp diz que o nosso sistema tem estrutura basicamente
acusatória, art 32 nº5 e ter esta estrutura segundo Figueiredo cumpre dois requisitos:
consagra principio da acusação, trata-se de garantia de imparcialidade do julgamento,
estabelece separação material entre entidade que dirige instrução do processo e acusa
e, por outro lado, aquela que procede ao julgamento. É separação material e não
meramente formal como a que existia no código de 1929 ate 1945.
O que se pretende com este principio é garantir a imparcialidade do julgamento,
em 1929 não estava garantido porque o juiz que julgava estava comprometido com a
investigação, tinha participado naquela fase. A separação tem que ser material, não
pode ser juiz que investiga e que julga. Por ser separação formal exige que sejam
entidades diferentes, separação funcional e além disso que sejam pessoa diferentes, o
mp que desenvolveu atividades da fase inquérito não pode transitar para outra fase,
com propósito de assegurar, se magistratura é diferente, mas pessoa é a mesma, há
prejuízos que resultam para o arguido.
A separação é material e garante-se através do instituto dos impedimentos,
através do impedimento do art 39 nº1 c).

Art 39 nenhum juiz pode exercer função se tiver intervindo como representante
do mp – tradução do principio da acusação.

Mas para figueiredo dias não chega consagrar principio da causação para sistema
ser acusatório, é preciso reconhecer a participação constitutiva dos sujeitos
processuais, sobretudo o arguido. Não pode ser apenas objeto, é sujeito processual, é
titular de direito de intervenção no processo, quer em matéria de prova, quer em
relação a outro propósitos. Tem direito de constituir advogado, requerer produção de
provas, faculdade de contestar, de interpor recurso das decisões que lhe sejam
desfavoráveis, de ser ouvido. Não é objeto da investigação, é participante constitutivo
da decisão.

O nosso sistema é acusatório, mas vem da linha da inquisitoriedade dos seculos


13 a 18. Essa tradição inquisitória manifesta-se na nossa legislação atual, através da
consagração e principio de investigação judicial. Pretende-se traduzir o poder dever
que ao tribunal pertence de esclarecer e instruir autonomamente, independentemente
das contribuições da acusação e da defesa, o facto sujeito a julgamento, criando ele
próprio as bases necessárias á sua decisão. O nosso juiz não é passivo, não permanece
passivo no debate processual e probatório que entre as partes se desenrola, mas juiz
tem poderes de investigação oficiosa, tem poder de investigar os factos, alem das
contribuições da defesa e da acusação.
Ao contrario do que acontece no sistema anglo-americano a produção das
provas não cabe exclusivamente a defesa e acusação, o juiz tem poder e dever de
ordenar produção de provas necessárias para descoberta da verdade. Se acusação for
menos diligente, não significa que juiz não deva procurar uma verdade mais próxima do
facto histórico que realmente ocorreu.
O principio esta consagrado no art 340 nº1: tribunal ordena a produção de prova
– ordena oficiosamente ou a requerimento. Ordena oficiosamente consagração do
principio de investigação judicial.

Existe ainda outro artigo importante a propósito da investigação judicial, art 348.
No interrogatório de testemunhas usa-se método do interrogatório cruzado e que é
tradução do inglês e que este modo é manifestação arquetípica de acusatoriedade
processual. Método cruzado significa que testemunha é requerida pela pessoa que
indicou e é contrainterrogada por outra pessoa.
A diferente que justifica a menção neste artigo é que entre nos no 348 nº5, o juiz
pode fazer perguntas adicionais, pode interromper a inquisição e fazer perguntas
adicionais que advogado do arguido que indicou a testemunha ou advogado assistente
ou mp não tenha feito. As testemunhas são indicadas por causação ou por defesa e
estão eles a fazer a pergunta, mas o juiz pode interromper, pedindo esclarecimento.

PRINCIPIOS DO DPP
Princípios são importantes porque estruturam o sistema e ajudam a
compreender as normas que são mais voláteis e tem importância ainda pragmática
concreta. os princípios são terceiro método de integração de lacunas. São integrados
por analogia, ou então aplicam-se princípios de dpc que se coadunem com o processo
penal e na falta destes, aplica-se os princípios de dpp.
Estes princípios devem reduzir-se àquele mínimo que possa contar com o
aplauso geral dos membros da comunidade e corresponda à sua consciência ético-
jurídica.

Nesta matéria, na classificação de princípios poderíamos seguir outras


orientações. Figueiredo dias organiza em 4 núcleos:
- princípios relativos a promoção ou iniciativa processual: oficialidade,
legalidade e principio da acusação;
- princípios relativos a prossecução ou marcha processual e neles se incluem
principio da investigação, da suficiência, do contraditório e da concentração.
- relativos a prova, em matéria de prova interessa o principio de investigação,
tem dupla importância, principio da livre apreciação da prova e principio in dubio pro
reo.
- relativos a forma: principio da publicidade, oralidade e da imediação.
Estes princípios alguns deles tem base normativa ou fundamento legal
especifica, o principio da investigação esta no art 341 do cpp, mas o principio da livre
apreciação da prova está no 127 do cpp. Mas há princípios que não estão corporizados
em preceitos legais em concreto, uns que não estão consagrados e que resultam de
normas constitucionais, como in dúbio pro reo, art 29 da crp, decorre do principio de
presunção da inocência.

Estes princípios conhecem principio possível de sinal oposto. Há em abstrato


principio de sinal contrário que nosso ordenamento não acolheu. Ao principio da
acusação, temos principio de inquisição, ao principio da publicidade, principio do
segredo, da legalidade vs oportunidade.
Os princípios do dpp são estes, mas alem destes há outros dois que são tidos
como transversais, como suprapositivos: principio do processo equitativo ou da
lealdade processual e principio da presunção da inocência.

PRINCIPIO DO PROCESSO EQUITATIVA OU DA LEALDADE PROCESSUAL


Está consagrado no Art 6 da convenção dos direitos humanos e art 14 do pacto
dos direitos políticos e foi introduzido no art 20 nº4 na crp, pela revisão de 97.
Este principio do processo equitativo, acentua a dimensão procedimental da
justiça, não interessa que processo conduza a resultados justos, decisões justas,
materialmente, é percurso que seja atingida através de instrumentos ou metodologias
justas. Não basta que decisão seja justa, é preciso que processo seja conduzido de forma
leal, justa, no sentido leal. Acentua dimensão procedimental da justiça, processo justo
assegura prerrogativas dos direitos do arguido.
Figueiredo fala de lealdade processual, lealdade de tramitação, com respeito
pelos df e prerrogativas dos vários participantes.
Alem disto, o principio funciona como clausula geral englobadora de garantias
de defesa do arguido explicitadas nas normas processuais, é garantia que traduza
tramitação legal e completa dos direitos do arguido. Alguns destes direitos estão
concretizados nas normas, outros não estão, mas estes remontam a este principio geral,
clausula geral englobadora.

Este principio cumpre função que já se reconhecia antes de 97, so sendo


introduzido em 97, cumpre função que antes de 97 já se atribuía ao princípio da
completude de garantias de defesa, mas aqui temos interesse em individualizar, para
dar cobertura e serem reconduzidas todas garantais tipificadas na constituição e
servirem como fonte jurisgénica no 32 nº1.
Faz sentido porque o 20 nº4 não se refere apenas a garantias, vale também para
processo civil, administrativo e laboral e não apenas para o penal. tem âmbito de
aplicação lato. E por outro lado, este principio tem alcance abrangente, não se refere
apenas ao arguido assegura e fornecer critério de fundo para eliminar a ponderação de
interesses encabeçados pelos vários sujeitos processuais. É lealdade da tutela dos
direitos do arguido, fornece critério de fundo para orientar ponderação dos interesses
entre vários sujeitos, é critério de juízo de concordância pratica. Processo para ser leal
precisa de proteger os direitos da vitima e do arguido.
Na jurisprudência do tribunal dos direitos humanos há quem veja consagração
de principio de igualdade de armas, no sentido de se atribuir ao arguido direito de se
defender da acusação com os mesmos meios que por esta são usados. Há pretensão de
alguns autores, mas não nos podemos esquecer que processo penal tem natureza
intrinsecamente assimétrica do processo, resulta da diferença de funções institucionais
e processuais do órgão que representa a acusação e do arguido, há diferença de papeis
processuais entre mp e o arguido. Essa diferença de papeis processuais tem
concretizações praticas muito sensíveis. O mp tem dever de objetividade, a defesa não
tem este dever, arguido não está obrigado a levar ao processo lentos que lhe sejam
desfavoráveis, ao defensor tem esse dever. O defensor não pode forjar provas. O
processo penal tem natureza intrinsecamente assimétrica, não tem natureza simétrica
onde se debate duas posições jurídicas encabeçadas por privados, de natureza
equivalente.
Este princípio postula utilização de meios iguais que a acusação também usa,
igualdade no plano jurídico. igualdade de armas não pode significar que devam existir
os mesmos meios, os termos serão diferentes. O que importa é que haja equilíbrio de
posições processuais, em matéria de prova, haja reciprocidade de direito da acusação e
da defesa para produção de prova, quer acusação e defesa tenha acesso a meios
probatórios. Por vezes, por causa da desigualdade fáctica onde esta arguido, é
necessário que lhe sejam atribuídos faculdades processuais para compensar esta
desigualdade, faculdades que compensam esta desigualdade, concretamente o
principio da proibição da autoincriminação, o direito ao silencio é direito que se associa
a este e que apenas é atribuído ao arguido.

PRINCIPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA


Outro principio transversal, supraprincipio que interessa considerar é o principio
da presunção da inocência: consagrado no art 32 nº2 da crp, mas também está
consagrado no art 14 do pacto internacional dos direitos políticos e no art 6 nº2 da
convenção dos direitos humanos.
Antes destes instrumentos internacionais, a primeira consagração deste
princípio consta na dudh e o art 14. Temos duas perspetivas diferentes sobre a
presunção da inocência: uma delas é associada como regra de tratamento e outra é
regra de juízo ou decisório que faz ressonância no art 14 do pacto e com redação
diferente no art 6 nº2 da convenção europeia.
Para se perceber duplo sentido da presunção da inocência. Quando em 1789 se
consagra presunção da inocência, o quadro processual que vigorava na europa era
sistema inquisitório, em que arguido não gozava de nenhum direito, era sujeito a tortura
e prisão cautelar sem qualquer tipo de escrúpulos, antes do julgamento, de uma pena
que se tinha como certa. Com a revolução francesa, queria-se evitar que arguido fosse
tratado como pré-condenado, tínhamos que o tratar que ate transitado em julgado a
decisão ele seria inocente, queria-se tornar legitimo todas as medidas cautelares que
fossem compatíveis com a ideia do estado. Evitar atitude da parte dos juízes, dos
operadores jurídicos em gera que viam no acusado num quase condenado e por isso
essa atitude de basta haver confirmação concorria ao uso da tortura.
Esta preocupação continua a existir, hoje presunção da inocência continua a ter
importante papel. Esta conduzia a admissibilidade inconstitucional de todas as medidas
que afetariam a liberdade do arguido, como a coação, etc. contudo, a crp consagra este
principio e legitima nos art 27 e 28 a prisão preventiva, há compatibilidade mínima entre
as duas figuras jurídicas.
Esta compatibilidade é assegurada devendo atender-se que medidas de coação,
como prisão preventiva não são medidas que sirvam como antecipação da punição, a
finalidade é processual, são medidas de natureza cautelar, visam evitar perigos
processuais, que pode ser perigo de fuga ou de perturbação do inquérito ou da prova.
Se arguido fugir, a decisão que virá a ser proferida é ineficaz, se arguido não
estiver presente e eliminar as provas, a decisão poderá ser eficaz mas não será justa, é
para evitar perigos processuais, não com finalidades punitivas, nem são antecipação da
punição. Não se pode ver prisão preventiva nessa ótica. As medidas de coação para
serem legitimas têm que observar conjunto de requisitos, tão mais exigentes quanto
mais gravosas as medidas de coação, é preciso que haja fortes indícios de crimes graves
com pena de prisão punido com mais de 5 anos e dolosos.
A presunção de inocência manifesta-se quando ao arguido for sujeito a prisão
preventiva, esta na prisão, mas há distinção entre presos preventivos e condenados.
Esta separação que é separação de espaços é tradução do principio de inocência, não
estão como condenados e merecem tratamento penitenciário diferente.
No processo, o arguido, a pessoa acusada deve ser tratada como presumido
inocente, significa outra coisa, a pessoa tem que estar livre na sua pessoa. esta quando
está em prisão preventiva quando é realizada audiência de julgamento e tendo o direito
e dever de estar presente, estará presente, mas livre na sua pessoa, não se pode manter
arguido algemado no decurso do julgamento. É transportado pela policia, mas arguido
esta livre na sua pessoa. é manifestação importante. Outras tem que ver com celeridade
do processo, restrições a publicidade de audiência, captação de som e de imagem.
Além disto, há atitude que exige o juiz, magistrado do mp quando está diante do
arguido não deve tratar como alguém que cometeu o crime, mas tratar de quem tem
diante dele uma possível vitima de erro judiciário, com cordialidade e não com
agressividade.
Tem outra dimensão, funciona como regra de juiz ou decisória. Na dudh a
preocupação era a de que todo o homem fosse tratado como inocente, preocupação
como regra de tratamento a dispensar ao arguido, mas no art 14 do pacto a tónica é
colocada noutro aspeto: o arguido tem direito é que se prove, que se considere
inocente ate que alguém prove com grau de convicção razoável a culpa de quem é
sujeito a julgamento. É regra decisória ou de juízo, o pacto e a convenção europeia são
instrumentos internacionais de direito humanos, são superiores às tradições próprias
dos estados, procuram articular as duas matrizes continental e anglo-saxónica, mas faz
maior ressonância na anglo-saxónica do que na continental.
O que é verdade é que no sec 19 no direito inglês com consagração do principio
de presunção da inocência para evitar de atitude de desfavor dos jurados que se refletia
no veredito. Esta preocupação era importante porque decidiam segundo a convicção e
não tinham que fundamentar.

No séc. 19, quando decidiam com base nas provas, mas se partissem para
apreciação das provas com atitude pessoal desfavorável ao arguido, já pré-convencidos
que aquela pessoa era culpada, ou havia razões de suspeita contra ela, se partisse com
esta atitude pessoal, haveria condenação.
Como regra de tratamento traz tripla consequência:
- funciona como regra de repartição do encargo probatório, não deve impender
sobre arguido, deve ser outrem, o juiz a provar para alem da duvida razoável a
imputação que ao arguido é feita, a presunção de inocência como regra decisória,
materializa-se num critério de repartição do encargo probatório, o burden of proof,
deve recair sobre acusação ou sobre o juiz.

- Há ainda exigência de determinado standard of proof, o que se exige ao mp e


ao juiz é que provem alem da duvida razoável a matéria de imputação. Se essa convicção
alem da duvida razoável não for atingida, então decisão deve favorecer o arguido, in
dubio pro reo. A decisão deve ser o mais liberatória possível, aquela que conduz á
absolvição.
Temos estas duas dimensões encargo probatório recai sobre acusação e
acusação deve provar culpabilidade, não fazendo deve haver decisão favorável e decisão
mais amplamente liberatória e a absolvição.

- Em terceiro lugar, decorre a proibição relativa de meios de prova. O mp e o


juiz têm que se desincumbir de encargo probatório, mas não podem fazer isso de
qualquer forma, devem evitar provas que remontem ao arguido. Não podem fazer isso
com incriminação do arguido, mas claro que todas as provas remontam ao arguido, mas
o que se procura é que mp e em última instancia o juiz se socorram de provas que
obrigam o arguido a ser fonte epistémica. O que não se pode obrigar o arguido é assumir
a sua própria matéria de imputação, a confessar a imputação. So nesse caso funciona
como fonte epistémica da informação.
Esta questão da proibição relativa de meios de prova, liga-se ao privilegie
against self-incrimination ou ao nemo tenetur se ipsum accusare.
Em termos práticos é exigido ao tribunal, é atitude que se exige ao juiz. Quando
ouve testemunhas que vêm em abono do arguido, que vêm dizer algo que é contrario a
imputação ao mp, não pode pensar que estão a mentir por esse facto.

Burden of proof trata-se de encargo probatório, alguém tem que culpar a sua
culpa, encargo recai sobre acusação. Alguém que não ao arguido que tem que provar
culpa numa maneira exigente, em matéria penal, o standard é exigente, é 2º corolário
e proibição relativa de meios de prova. Alguém tem que provar a culpabilidade de forma
convincente, tem que gerar convicção no espirito do juiz, não fazendo, deve haver
absolvição e não pode servir-se do contributo autoincriminatório do arguido.

Aula 23/10/2020
Havia 4 grandes núcleos de princípios, segundo figueiredo dias.
Princípios de formação de processo: da oficialidade, legalidade e da causação.
O que se trata é quem tem competência para promover o processo como é exercida a
competência e assegurar que o juiz que é diferente da competência para acusar e
promover. Tem que ser diferente e deve julgar objeto que é proposta pela acusação.
Obriga a que julgador exerça os seus poderes judicativos sobre objeto que é proposto
pela acusação, não pode o juiz julgar aquela pessoa, tem que julgar com base nos factos
que vem no processo. Juiz tem podres de investigação, mas não pode usar isso para toda
a qualquer suspeita.
- PRINCIPIO DA OFICIALIDADE:
responde à questão de saber a quem cabe o impulso processual, de colocar em
marcha a atividade e a decisão de a submeter ou não a julgamento.
A resposta é que cabe a entidade publica, o mp que exerce ex officio,
independentemente da vontade da pessoa atingida pela pratica do crime.
Exemplo.: mesmo que na relação amorosa, onde há violência de um dos
namorados, estejam ambos apaixonados e não quiserem processo, o mp abre inquérito.
Se numa situação de roubo, a vitima do roubo ate envergonhada não quer
processo crime, o mp abre inquérito mesmo contra vontade da vitima. Se numa situação
de abuso sexual de menores, familiar que abusa sexualmente, comete crime de violação
em relação a um menor, mesmo que jovem na dependência deste familiar não queira
processo porque ama, aquele familiar o mp abre inquérito, porque é crime publico,
mesmo crime de trafego de droga ou corrupção, o mp abre inquérito
independentemente da vontade ou da posição do ofendido, quando exista pessoa
ofendida, ou contra vontade do ofendido. Interessa o interesse publico da punição e mp
abre inquérito.

Tendo em conta que o direito penal é um direito de proteção dos bens


fundamentais da comunidade que só intervém com os seus instrumentos próprios de
atuação onde se verifiquem lesões insuportáveis das condições comunitárias essenciais
de livre realização e desenvolvimento da personalidade de cada homem, torna-se de
imediato compreensível que a generalidade das legislações atuais e entre elas a nossa,
vote no sentido de refutar a promoção processual das infrações tarefa estadual, a
realizar oficiosamente e portanto em completa independência da vontade e da atuação
de quaisquer particulares.
Mp exerce oficiosamente, art 221 nº1 da crp, independentemente da vontade
do sujeito. Não foi sempre assim, na historia do processo penal, a partir do sec 6 da
europa continental, nesta época entre sec 6 e 13, a competência para iniciar a marcha
de processo penal cabia aos particulares atingidos pela prática do crime, a accusatio era
forma de ação privada, eram ofendidos pela pratica do crime, não havia distinção ente
crimes penais e outros e era o acusado que tinha que purgar os indícios que foi acusado
pela vitima. Este principio da oficialidade é aquisição na historia do processo penal
recente, é aquisição do sec 13 e emerge com centralização do poder politico e
compreensão dos crimes como ataques a bens jurídicos comunitários que transcendem
o indicio, há competente politica e dogmática.

O que temos é principio da oficialidade, este analisa-se em 2 momentos:


- momento da abertura do inquérito, neste cabe ao mp como titular da ação
penal abrir inquérito, a iniciativa de processo e cabe-lhe em consequência receber as
queixas, denuncias, participações e decidir do destino a dar-lhe. Tudo isto esta no cpp
no art 53 nº2 a).
Por vezes as queixas são dirigidas a policia, devem órgãos de policia criminal
transmitir no menos curto prazo, art 244 e 245 para abrir inquérito. A competência para
abrir inquérito é mp e receber denuncias. Compete ao mesmo promover o processo
penal após a aquisição da noticia do crime, art 241, cabendo-lhe receber as denuncias,
as queixas e as participações e apreciar, art 53 nº1 a9.
- No 2º momento, momento da decisão de submissão do arguido aos factos e
julgamento ou arquivamento, é também competência do mp, compete acusar ou
arquivar, terminadas a diligências de investigação e apurar indícios de crime, art 53 nº2
c) do cpp e 281 nº1 e 2 e 283 quanto a acusação.

O principio da oficialidade supõe que crimes sejam públicos, em principio os


crimes são públicos e são no em função da natureza comunitário dos interesses
atingidos. Os crimes públicos são aqueles que atingem interesses comunitários mais
fortemente. Dizem-se crimes públicos aqueles em que o mp promove oficiosamente e
por sua própria iniciativa o processo penal e decide com plena autonomia, embora
ligado por um principio de legalidade. Vale neste campo o principio da oficialidade.
Por vezes, interesse é comunitário, por ter particular interesse, o legislador
entendeu que não deve ser entregue apenas nas mãos dos particulares. Os crimes
públicos atingem interesses supraindividuais, como crime de trafego de drogas,
corrupção, peculato, crime de condução sob efeito de álcool, são crimes que atingem
bens jurídicos supraindividuais e por isso não podiam deixar de ser crimes públicos.
Mas depois há crimes que atingem bens individuais, mas esses são tao
importantes que tem valência comunitária, tem projeção comunitária, como a vida,
integridade física, quando é grave, património, quando é severamente atingido, e
portanto esses crimes são públicos. Crime de homicídio é publico, crime de roubo,
ofensa a integridade física é publico, crime de furto qualificada é crime publico, apesar
de interesses em discussão ter referente individual. No caso do homicídio é difícil, mas
mesmo que familiares não gostassem dele, mesmo assim o mp abre inquérito quando
tem noticia crime.

Mas depois há crimes que não são públicos, particulares em sentido amplo: são
aqueles em que a legitimidade do mp para promover o processo precisa de ser integrada
por uma queixa do ofendido ou de outras pessoas (art 49 nº1, art 111 nº1, 2 e 3 do cp).
Neste âmbito temos os crimes semipublico e particular em sentido estrito. A
prof vai-se referir ao particular apenas remontando ao crime particular em sentido
estrito. Há crimes que são semipúblicos e particulares, estes são respetivamente um
desvio e exceção ao principio da oficialidade, sendo que o particular decide sobre a
investigação da pratica da infração e também sobre a submissão da mesma a
julgamento, enquanto que os primeiros comportam apenas uma limitação, na medida
em que neles o mp continua a decidir autonomamente sobre a submissão ou não da
infração a julgamento.

Porque existem estes crimes?


Por um lado, razoes que se prendem com menor dignidade penal do facto e a
circunstância do legislador atribuir ao ofendido uma certa disponibilidade sobre bem
jurídico. Se o titular do bem jurídico entender que é imprescindível a prossecução penal,
apresenta queixa e o mp abre inquérito. Caso contrario o inquérito não é iniciado e a
punição não é dada ao agente.
Mas há crimes que são particularmente graves e razão não será esse, é titular de
esfera da integridade e dignidade da vitima, como os crimes sexuais, que representa um
mal maior para a vítima. Legislador para proteger a dignidade da vítima atribui-lhe a
iniciativa do processo, fazendo dependendo a sua queixa para dar início, para evitar
vitimização secundaria.
Por outro lado. e ligando ao 1º aspeto que foi referido, a questão de economia
processual, também o interesse não é o da vitima, mas para interesse de poupança dos
seus recursos.
Exemplo sabe-se que crimes de furto simples so 10% é que são participados, por
razoes que se prendem com exercício de direito ou pretensões indemnizatórias junto
de companhias de seguro. Se crimes fossem publico, isso assoberbaria os seus recursos,
esgotaria os seus recursos.

Por fim, temos ainda razoes que se reportam a crimes que não só semipúblico,
são particulares em sentido estrito. São crimes particulares e não semipúblico por
razões do estado não querer intervir nas relações familiares para não agudizar o conflito.
Se forem crimes cometidos por parentes são particulares e não semipúblicos se fossem
cometidos por pessoas diferente.
Exemplo.: Furto simples e abuso de confiança simples são exemplos de particular
em sentido estrito. O estado não se desinteressa do seio familiar, tanto assim que
violência domestico é crime púbico, mas estes pequenos delitos de natureza
patrimonial, o estado decidiu refrear-se ainda mais.

Ate também por razoes de economia processual e probatórias, é que existe art
134 do cpp que determina que certos familiares do arguido, familiares próximos têm
direito de recusar o depoimento, os familiares próximos, para não serem colocados em
conflito de lealdade, entre dever de lealdade de verdade e do familiar podem recusar o
depoimento, podem deixar de falar. Este art 134 visa evitar dilema moral das
testemunhas. Nestes crimes do seio da família, o ofendido é muitas vezes a única
testemunha, ou testemunhas que existem eram familiares próximas do arguido. Estar
estado a promover processo penal, sem que haja intervenção ativa da vitima queixando-
se e deduzindo acusação particular, poderá ser desperdício de recursos, porque basta
audiência de julgamentos estas pessoas não falarem, para não haver acusação.

Que diferenças de tramitação entre crimes particulares, semipúblico e publico?


Nos crimes públicos, a iniciativa é do mp do inicio ao fim, abre inquérito e deduz
acusação.
Nos semipúblicos há desvio da oficialidade, ou seja, a competência do mp para
abrir tem que ter ato de vontade do particular que se deve queixar, depois da queixa, a
tramitação cabe exclusivamente ao mp.
Nos crimes particulares há exceção do principio da oficialidade, porque é preciso
que particular se queixe, se a queixa for prestada verbalmente, particular é informado
que tem prazo de 10 dias para constituir assistente, art 246 nº4, caso seja feita por
escrito a queixa, é particular que tem que manifestar o propósito de constituir assistente
e deve fazer no prazo de 10 dias, art 68 nº2 do cpp.
Se não constituir assistente fica a faltar pressuposto processual e o mp quando
tenha aberto inquérito deve arquivá-lo.
Caso haja queixa e particular constitui assistente, o que requer que o particular
pague taxa de justiça e constitua advogados, temos dois desincentivos à constituição de
advogados. Há despesas que não valem a pena para determinados crimes. estes
obstáculos processuais se forem ultrapassados, se constituir assistente, o mp investiga
e no fim do inquérito notifica o assistente, informando-o sobre se existem indícios ou
na pratica do crime na perspetiva do mp e depois é particular que compete acusar, caso
deseje acusar. Se não queixar, mp arquiva.
Mas pode o mp dizer que não há indícios suficientes, ainda assim particular se
quiser pode deduzir acusação e arriscar a realização de julgamento e arriscar a prova
que seja feita no julgamento, não fica vinculado quanto a decisão do mp quanto aos
indícios.

Onde posso saber que crime é publico, semipúblico ou particular em sentido estrito?
Junto do tipo legal de crime ou em norma remissiva mais a frente no cp.

A queixa e acusação particular são pressupostos processuais, são condições ou


requisitos de admissibilidade do processo. Se não existir queixa não pode haver
processo. Esta são matérias que por condicionarem a responsabilidade penal tem
interesse do ponto de vista substantiva, são institutos de natureza mista, condições de
procedibilidade e há quem diga que são condições de punibilidade, dimensão
substantiva que também tem que se prender com dignidade penal do facto. São
matérias que estão reguladas no cp.

Queixa vs denuncia:
Quem tem legitimidade para queixa é apenas o ofendido, ao passo que denuncia
pode ser feita por qualquer pessoa. depois o tempo, queixa tem prazo mais curto, 6
meses, ao passo que na denúncia pode ser feita a todo o tempo se processo penal, se
não prescreve.
Quando a acusação particular é pressuposto processual esta disciplinado no cpp,
embora regras sobre a queixa que estão no cp se apliquem remissivamente com as
adaptações da acusação particular. Art 17 do cp que faz remissão. Mas a acusação
particular e o seu regime estão regulados no cpp, no art 285.
A acusação particular é deduzida pelo assistente nos crimes particulares em
sentido estrito e que define o objeto do processo. O mp nos crimes particulares em
sentido estrito também pode acusar, a seguir ao assistente, o assistente é quem tem
competência para acusação, para decisão de submeter a julgamento ou não. se
assistente acusar, deduzir acusação particular, o mp pode no prazo de 5 dias
acompanhar a acusação particular, art 285 nº4, só acompanha se houver indícios
suficientes. Pode haver divergência, mas mp so acompanha acusação particular se
houver indícios. Esta acusação do mp é secundário em relação a acusação particular. Mp
pode acusar também, mas não pode acusar por factos que alterem substancialmente os
descritos na acusação particular. Pode acusar pelos mesmos factos, mas que não
alterem substancialmente, não pode dele alargar o objeto do processo. Quem define
objetivo é particular com acusação particular.

Nos crimes semipúblicos e públicos quem acusa é o mp, mas por sua vez o
ofendido se se constituir assistente, não é obrigatório nestes campos, ate há crimes
publico em que não pode haver assistente, porque ninguém tem legitimidade para o
efeito, como crime de trafego de droga, o legislador não alarga a legitimidade para se
constituir assistente, como na corrupção que não tem bem jurídico como referente
individual, mas pode assistir-se assistente.
Nos crimes públicos e semipúblico não há se quer constituição de assistente e
não pode haver se quer assistente, mas quando há, se particular quiser constituir
assistente, este também pode acusar, nos termos do 284, mas é acusação do assistente
que é ancilar do mp. O mp acusa e define o objeto e o assistente pode acusar pelos
mesmos factos que não alterem o objeto definido pelo mp.

Regras que legislador sujeita a apresentação da queixa, é o cp art 113 e


seguintes.
Art 113 quem tem legitimidade para queixa, é ofendido, mas a lei diz quem são
ofendidos, titulares de bem jurídico ou dos interesses que a lei quis proteger com a
incriminação. O ofendido é titular do interesse que a lei quis proteger com incriminação.
É titular do bem jurídico. Para saber quem tem legitimidade para acusar temos que ver
tipo legal de crime, e ver que tipo bem protegido.
Exemplo.: Se alguém é agredido com murro na face o titular do bem jurídico é
titular do bem, alguém que é subtraído carteira, o titular é o proprietário da carteira.

Em relação a estes crimes, não há dificuldade de interpretação, mas há outros


que pode suscitar dificuldades.
Exemplo.: crime de violação de domicilio art 190 do cp, o titular do bem jurídico
é quem pode apresentar queixa, mas se por ventura numa casa arrendada entrar pessoa
sem consentimento, é proprietário ou arrendatário. Quem tem legitimidade para a
queixa neste caso? Será quem fruir da casa, ao arrendatário, porque bem jurídico é
reserva da vida privada, encabeça no capitulo contra crime da reserva da vida privada.
Titular de bem jurídico é titular cuja vida privada é devassada.
Há outro tipo legal burla para obtenção de alimentos: o legislador para acautelar
estas hipóteses para sejam sancionadas, disciplinou-as em especial, se alguém se senta
no restaurante e conduta é interpretada como proposta contratual. É apresentado prato
e sai sem pagar, comete crime de burla para obtenção de comida. Que titular do bem
jurídico? Aquele que serviu que se sentiu engando ou será o dono do restaurante cujo
património foi atingido? É o titular do bem jurídico o dono do estabelecimento
comercial porque bem jurídico é património daquele que foi engando.

Há crimes que tutelam interesses supraindividuais, mas que ainda assim se


exigem participações ou queixas como violação de segredo por funcionário, exige-se
queixa ou participação cujo segredo foi revelado, ou crimes como infidelidades
diplomáticas, o procedimento criminal apenas de bem jurídico ser supraindividual
depende de participação ou de queixa consoante as situações e isso não obstante serem
bens jurídico supraindividuais.
Por vezes varias associações para defesa de interesses comunitários, como
associação do ambiente, dos animais, em certos casos a lei atribui a essas associações a
legitimidade para apresentação de queixa, a titularidade do direito de queixa.
Exemplo.: caso conhecidos é legitimidade para a sociedade de autores para
apresentar queixa, para iniciativa do processo por violação dos direitos do autor.
Recentemente processo contra tony carreira que plagiou. A sociedade tem legitimidade
para ser titular de queixa, ainda que não seja titular do bem jurídico por violação de
direitos de autor.

O titular do direito de queixa morre e se assim acontecer, o direito a queixar-se


transmite-se para os seus sucessores que a lei enuncia no art 113 nº2. Apesar de direito
de queixa ter cunho pessoal, mas não se extingue com morte do titular, transmite-se
para sucessores. A lei estabelece duas categorias diferentes:
- o cônjuge e unido de facto, os descendentes e adotados, os ascendente;
- se não existir ninguém naquela categoria, emerge 2º categoria constituída por
irmãos e seus descendentes.

Qualquer destas pessoas pode apresentar queixa independentemente das


restantes, so se passa para 2º categoria se não existir ninguém que caiba na 1º. Não se
passa para 2º categoria, em que havendo alguém na primeira categoria, essa pessoa não
exerce direito de queixa. Se alguém falecer sem ter apresentado queixa pela pratica de
crime de furto, o direito de queixa transmite-se para cônjuge sobrevivo e para os filhos,
a titularidade transmite-se para estes, o cônjuge, os filhos que ele tem e os pais que
estão vivos. Qualquer destas pessoas pode apresentar a queixa, mas se ninguém
apresentar, não se passa para 2º categoria. So se passa para 2 categoria se não tiver
cônjuges, etc.
Não se transmite este direito a nenhuma destas pessoas se tiver
comparticipado na infração, estado não quer que quem praticou crime participe na
ação penal.
Por esta razão ou por pessoa não ter familiar, o direito não se transmite a
ninguém, o mp pode abrir inquérito sem queixa, art 113 nº5.

Às vezes, o ofendido existe, mas é incapaz. A incapacidade para queixa, afere-


se de forma distinta dos critérios do direito civil. A incapacidade e fronteira temporal é
situada nos 16 anos, com paralelismo da imputabilidade penal. São incapazes os
menores de 16 anos e que não possuam discernimento para esse exercício.
Agora no dp já não existe incapacidade de interdição e inabilitação, mas antes
disso no processo penal a capacidade aferia-se casuisticamente e não em torno de
conceito geral de interdito ou inabilitado, eram aferidos casuisticamente, em função da
capacidade natural da pessoa para entender direito de queixa.
Nestes casos de incapacidade é so exercício de direito de queixa que é conferido
a outa pessoa, porque titular dele é ofendido e prova disso é o facto de nos casos do art
116 nº4 se dizer que depois de perfazer 16 anos, o menor que era ate ai incapaz e que
não tinha palavra a dizer na iniciativa do processo, via processo arrancar sem a sua
vontade, pode pôr termo. Não é titularidade de queixa que se transmite é apenas
exercício e quando forem repostas condições de capacidade processual, quando atinge
os 16 anos, tem o direito de por termo ao processo nos termos do art 116 nº4.

A quem é diferido o exercício de queixa?


Ao representante legal, quando menor tenha representante legal nos casos de
menoridade e ainda de incapacidade de direito civil quando haja nomeação de
representante. Quando não haja representante, o direito de queixa é exercido por
qualquer das pessoas a quem cabe a titularidade em caso de morte e por aquela ordem,
art 113 nº4.
Primeiro representante legal e depois as pessoas indicadas no art 113 nº2 nas
duas categorias sucessivamente, por aquela ordem.
Quando o titular do direito de queixa seja menor pode ainda acontecer que
ninguém exerça o direito de queixa, pode o mp dar início ao processo art 113 nº5 se
interesse do menor assim justificar.

Quanto a outras questões, se ofendido for pessoa coletiva, direito de queixa é


exercido por intermédio por órgãos sociais, representação orgânica.
Nos casos normais, quer ofendido seja pessoa coletiva ou singular, pode o direito
de queixa ser intermediário de mandatário forense simples e pode o queixoso constituir
mandatário com poderes judiciários, já não no âmbito de mandato forense, pode
constituir mandato com poderes especiais para exercer o direito de queixa, art 49 nº3
do cpp.

O prazo para queixa é de 6 meses a contar da data do conhecimento dos factos


e de quem forem os seus autores, sem prejuízo do queixoso poder apresentar queixa
mesmo que o sejam os seus factos desconhecidos ou incertos, não se exige que seja
conhecimento integral dos factos porque esse apenas haverá no processo, mas é preciso
que direito de queixa se conta no momento em que quem pode apresentar queixa tenha
conhecimento do crime. nos casos de morte ou incapacidade, o prazo conta-se na data
da morte ou na data de pessoa se tenha tornado capaz.
Se se tratar de menor, o art 113 nº6 diz que o exercício de direito de queixa que
se transmite no caso de incapacidade e não a titularidade, como prova o 116 nº4, mas
há outra manifestação que é o 113 nº6, quando menor completar 16 anos, ele pode
queixar-se, não perde titularidade do direito.

Nos casos em que o ofendido era menor o prazo para se queixar, não é de 6
meses, o direito de queixa não se extingue como nos casos ordinários, é prazo mais
longo, art 115 nº2 por remissão para art 113 nº6, diz que prazo para apresentar queixa
termina nos 6 meses a seguir quando menor faça os 16 anos. É prazo longo e há quem
critique. Sempre para proteger o menor, mas nas situações mais graves que são crimes
públicos, são em geral e são no em particular no caso de crimes sexuais, sabendo isto o
que sobra alem destas situações os crimes de menor gravidade e não se compreende
que os crimes menores de gravidade se crie questão de insegurança jurídica na esfera
do arguido.
Exemplo.: Quando crime foi praticado quando menor tinha 14 anos, o prazo so
começa a contar após fazer os 16 anos. Gera insegurança jurídica que não se justificaria
atenta a natureza das infrações que estão em causa, não são crimes públicos, em relação
a estes não se coloca o problema.
Este prazo é um prazo de caducidade e não de prescrição, não se interrompe ou
suspende nas circunstancias em que cc aponta como causa de suspensão.

Interessa referir que existe entre nós princípios de indivisibilidade passiva da


queixa, quando forem vários comparticipantes na infração, a apresentação da queixa
contra um deles se estende aos demais. A desistência da queixa e não apresentação
tempestiva da queixa contra um, aproveita os outros comparticipantes, art 114, 115 nº5
e 116 nº3.
Esta indivisibilidade existe no lado passivo se forem vários comparticipantes não
se pode escolher os arguidos, mas não existe do lado ativo, se forem titulares vários de
direito de queixa, cada um pode exercer direito de queixa independente dos demais.
Exemplo.: há crime de dano que atinge um bem em compropriedade, cada um
dos proprietários pode apresentar, não há indivisibilidade. Prazo para queixa conta-se
em separado para cada um dos titulares do direito de queixa. Art 115 nº4.

Por fim, a renuncia a e desistência da queixa. O titular do direito de queixa pode


renunciar a esse direito, pode fazer expressamente ou pode fazer de forma tacita.
Há caso particular de renuncia tacita do caso do art 72 nº2 do cpp. Por vezes um
facto que gera responsabilidade penal também gera responsabilidade civil e quando
assim é o lesado pode deduzir pedido cível no processo penal, mas pode fazer também
em separado nos casos do 72. Se procedimento criminal depender de queixa e ofendido
que é lesado deduzir pedido de cível antes de apresentar queixa, tem-se como tendo
renunciado á queixa. Se antes de se queixar, intentou ação contra arguido, numa ação
cível, então renunciou tacitamente a queixa.

Pode haver desistência do direito de queixa, a apresentação da queixa e a sua


desistência. Essa desistência pode acontecer em qualquer momento ate a publicação da
sentença em 1º instância, art 116 nº2. Na 1º instancia, as sentenças não são pulicadas,
são lidas em audiência de julgamento, ate esse momento processual, ate leitura de
audiência de julgamento, pode haver desistência da queixa.
A desistência de queixa não vale tout court, o arguido pode-se opor-se. Se
ofendido queixoso desistir da queixa e arguido contradizer, o processo prossegue. O
arguido tem direito de ver esclarecido a questão penal na sede própria que é julgamento
e opõe-se quando há desistência de queixa, é recebida, notificado o arguido e tem prazo
de 5 dias para que se oponha ou não á existência de queixa. Se não disser nada, a
existência é homologada pela entidade judiciária competente para fase em que
processo se encontre, se se encontrar no inquérito, é competente o mp, se se encontrar
na instrução é competência do juiz de instrução regulada no art 51 do cpp.

Porque é só admissível desistência da queixa ate leitura da sentença na 1º instância,


porque não se admite na fase de recurso?
Podíamos dizer por economia processual, legislador quer apenas atingir uma
determinada fase, mas a fase que se quereria evitar era julgamento, mas legislador
admite desistência de queixa mesmo produzido toda a prova e julgamento chegar a
termo, não permite é depois de se conhecer sentido de decisão. Neste caso, haveria
pressão em caso de condenação, pressão maior sobre arguido no sentido de admitir
condições para a desistência da queixa.
A desistência da queixa não está sujeita condições, mas há contrapartidas para
desistência de queixa. A pretensão penal joga em paralelo na pretensão civil. Transmite-
se para parte civil e desistência do processo penal. mas há condições que são
estabelecidas de forma encoberta fora da marcha processual que legislador antecipa.
No caso de arguido ser condenado, haveria pressões inadmissíveis sobre ele para que
ele pudesse conseguir do queixoso desistência da queixa.
O sinal de 1º instância é sinal muito importante sobre o que poderá vir a ser
sentido definido que irá transitar em julgado.

A desistência da queixa uma vez operada é irrevogável, depois de desistir não


se pode renovar a queixa art 116 nº2 2º partes.
Há desvio em matéria de mediação penal, legislador encontrou esquema que
poe em causa a ideia de irrevogabilidade da desistência de queixa. Quando se logra
acordo que é homologado pelo mp e a assinatura do acordo equivale a desistência de
queixa sem oposição por parte do arguido, mas depois o acordo estabelece condições,
o acordo de mediação penal estabelece conjunto de deveres que devem ser cumpridos
pelo arguido, esses deveres podem prolongar-se por período de 6 meses, e pode dar-se
o caso de acordo não ser cumprido. Se não for, processo reabre-se, neste caso a queixa
pode se renovada. Mecanismo que legislador encontrou, mas não foi feliz, dizendo que
processo ficava em suspensão durante processo de execução do acordo e depois
retomava-se em caso de incumprimento. Mas aqui socorre-se de paralelo com de
existência da queixa e introduziu entorse, porque desistência de queixa é irrevogável,
mas aqui na mediação penal não é irrevogável.

PRINCIPIO DA LEGALIDADE
Responde a questão de saber de que forma se exerce a competência para
promover o processo penal. A oficialidade e legalidade andam emparelhados, um diz
quem tem competência e outro diz que forma a competência se exerce.
Dos art 262 nº2 e 283 nº1 decorre claramente a ideia de que o mp está obrigado
a promover o processo penal, abrindo o inquérito, sempre que tenha adquirido a noticia
de um crime, art 241 e a deduzir acusação se tiver recolhido indícios suficientes de se
ter verificado crime e de quem foi o seu agente.

Fará sentido que mp exerce discricionariamente ou por considerações política ou de


economia processual considerações burocráticas ou será antes dever que mp exerce
no respeito pela lei?
O principio da legalidade dira que competência para promover por parte do mp
é competência que se exerce na estrita obediência da lei. É dever que se exerce quando
se verifica condições objetivas que legislador exige, o mp abre inquérito, deduz a
acusação ou arquiva no 2º momento.

Que condições objetivas que a lei consigna?


Para 1 º momento de abertura de inquérito, basta haver noticia de crime, mp
esta obrigado a abrir inquérito, art 262 nº2 do cpp. Mesmo que noticia pareça menos
fundada, so não será assim no caso de denuncia anonima. Se for anonima e
manifestamente infundado, o mp não abre inquérito. A denuncia anonima regulada no
art 246 nº6 e so determina abertura do inquérito se existir indícios da prática do crime
ou se constituir um crime, é denuncia caluniosa, que pode constituir crime e leva a
abertura de processo contra o autor da própria denuncia. Aqui não se está afastar o
principio da legalidade, mas não basta noticia de crime, é preciso haver substrato para
haver lugar a abertura de inquérito, mas vigora principio de legalidade. havendo noticia
de crime abre-se inquérito, se for denuncia anónima, tem que ter requisitos que a lei
estabelece se cumprir dá lugar a abertura de inquérito.
No 2º momento: dedução de acusação ou arquivamento, os requisitos é
existência de índicos suficientes. Se mp recolher indícios suficientes de que houve crime
e de quem foi agente, acusa, arquivará na hipótese de quando não haja indícios
suficientes, ou quando não haja prova de que não houve crime, o arguido não seja autor
ou quando falta pressupostos processuais.
Acusação art 283 nº1, nº2 diz o que são indícios suficientes e arquivamento o art
277 nº1 e nº2. Remissão do 277 nº2 para 279.
Arquivamento por falta de indícios quando não haja prova que cometeu o crime.
o arquivamento por falta de indícios ao contrario do outro é arquivamento rebus sic
stantibus, mantiveram-se as circunstâncias, se existir novos indícios abre-se processo,
art 279.

Mas porque se consagra principio de legalidade, que sentido?


Historicamente, o principio da legalidade associa-se a modelos de base
inquisitório e conceções retribucionistas dos fins das penas, se se pretendia retribuição
do mal do crime, faz sentido que se persigam todos os crimes, que mp desde que tenha
noticia de crime abre inquérito e acusar. Se conceção dos fins das penas é absoluta e se
pretende mal do crime, então estado está obrigado a investigar e perseguir todos os
crimes.
Numa conceção em que vigora e prevalece conceções relativas ou utilitárias
assentes em considerações de prevenção geral e especial, já principio da legalidade tem
menor peso e pode conhecer desvios ou exceções. Se fim das penas são não de
retribuição do crime, mas o de reforçar ou manter sentimento de confiança
comunitária das normas, proteger os bens e assegurar a ressocialização, então estado
so deverá punir quando as exigências em geral e especial se fizerem sentir. Se não sentir,
pode o estado não perseguir. Tem menor sustentabilidade num sistema em que assente
em conceções preventivas sobre fins das penas.
Compreende-se que no nosso ordenamento que assenta em tradição
inquisitório se tenha caminhado com aceitação de conceções preventivas gerais e
especiais o fim das penas de caminhar para se conhecer alguns desvios da legalidade.

O principio legalidade ainda faz sentido, ainda compreende-se preferência do


nosso ordenamento jurídico pela legalidade, apresenta vantagens do ponto de vista do
principio da igualdade, consagrado no art 13 da crp, a circunstância de vigorar legalidade
assegura que mp não faça acusação de pessoas e trate todos da mesma maneira, sem
atentar no estado ou nas qualidades de pessoa ou nos interesses de terceiro.
O mp não vai acusar ou deixar de acusar porque é presidente de partido
militante. O mp por força da legalidade respeita melhor o principio da igualdade da crp
porque evita que haja aceção de crimes sem que aceções estejam fundados em razoes
materiais bastantes.
Por outro lado, a legalidade põe o mp a salvo de pressões externas que poderiam
insinuar-se a propósito de oportunidade processual exercido por presidente do partido.
Se vigorasse o principio da oportunidade, que mp podia acusar ou deixar de acusar em
função da faculdade de poderes discricionários de acusação, por motivos de
conveniência. Isso poria o mp mais exposto a pressões mais externas que poderiam
insinuar-se a propósito de certa conveniência ou oportunidade, é forma de proteger o
mp dessas forças externas e assegurar objetividade da ação penal. assim, a atividade do
mp desenvolve-se sob o signo da estrita vinculação á lei e não segundo considerações
de oportunidade de qualquer ordem, seja politica, financeira ou até social.
O incumprimento deste dever pode integrar crime penal, art 414 do cp, para
além de infração disciplinar.
Ainda a legalidade assegura a confiança da comunidade no exercício da punição
do estado. se mp está a salvo das pressões externas conformados mais na atuação do
mp e dessa forma se reforça efeito de prevenção geral que se associa a perseguição e
punição penal. Há razoes que justificam que vigore o principio da legalidade.

Ao principio da legalidade que fui referindo associa-se ao principio da


imutabilidade da acusação, significa que uma vez deduzido acusação pelo mp, o mp não
pode renunciar nem desistir dela. Temos aqui excluída tanto a renuncia à acusação,
como a desistência dela; excetuados que sejam os crimes particulares em sentido
amplo, onde é possível tanto a renuncia como a desistência desde que esta se verifique,
sem oposição do arguido, até à publicação da sentença da 1º instância, art 114 nº1 e 2
do cp e art 51.
Não pode haver negociação sobre objeto de imputação como acontece no
sistema anglo-americano em que há a chamados plea bargaining, negociação da
imputação. Ente nos não existe negociação sobre objeto da negociação, ela é tipo dos
sistema anglo-americano onde há disponibilidade do objeto. Antes de julgamento,
acusação e defesa podem entrar em negociação sobre matéria de imputação e pode
arguido declarar-se culpado por infração menos grave para evitar condenação mais
grave. Faz uma guilty plea para evitar julgamento.
Na justiça federal, é isso que acontece, 95% dos casos penais são decididos
através de guilty plea e não de um julgamento. Olhamos para este tendo como referente
dos 5% do universo para são sujeitos a julgamento. esta negociação de imputação tem
consequências gravosa porque parte do pressuposto de que existe igualdade entre
acusação e defesa, mas essa igualdade do ponto de vista jurídico por vezes não tem na
base igualdade fáctica, há desequilíbrio grave entre poder do estado e poder de defesa
que tem que desenvencilhar-se da imputação.
Figueiredo dias propôs figura chamada dos acordos sobre a sentença, figura que
existe já na Alemanha. Em 2011 escreve livro que propõe estes acordos em que não se
negocia a imputação, mas a pena. A imputação é estável, não se negoceia se arguido
responde sobre homicídio qualificado ou simples, não se negoceia a imputação, mas a
sanção apenas. O mecanismo é distinto. Foi muito discutido, chegou a ser posto em
pratico, houve acórdão do stj que anulou decisão em que houve acordo e agora nesta
estratégia nacional de combate a corrupção foi posto que se repensasse estes acordos.
A ministra da justiça foi sempre favorável dos acordos.

Aspetos positivos é acusatoriedade processual, juiz não tem acesso aos


elementos dos autos o que garante maior imparcialidade, daí os italianos imitarem e
haver duplo dossier. Mas há desvantagem da prevalência da plea bargaining. É ainda
mais injusto em países em que desigualdade é ainda maior.
Prof não concorda com a barganing porque há maior pressão com arguidos. Mas
o que se pretende introduzir, nasce da mesma raiz, mas que tem funcionamento
diferente, significa acordos sobre sentença. Mecanismo introduzido na pratica judiciária
na década de 70 na Alemanha, mas era mecanismo que não estava na lei, mecanismo
contra legem. Este modelo e estes mecanismos geraram sempre conjunto serio de
dificuldades eram prescritos pela doutrina, a doutrina era muito critica, mas acabou por
capitular perante permanecia dele na pratica.
Como não era possível eliminar os acordos sobre sentença, começou a surgir
preocupação por parte da jurisprudência, da doutrina e legislador em modelar as arestas
mais agudas e tornar ajustar o regime dos acordos sobre sentença a constituição e lei
geral foi o que aconteceu em 2009 e em 2011, figueiredo concordou na sua junção no
âmbito de um debate.
Professora não é favorável a este mecanismos porque visa assegurar celeridade
do processo e debate entre exigências de funcionalidade, programáticas, mas perante
as exigências materiais, a prevalência deve ser dada a material. Os pedidos de acordo
sobre sentença pretende-se introduzir para combater e estão na estratégia da
corrupção, seria de assegurar eficácia punitiva no âmbito dos processos, classicamente
naqueles que se arrastam, conseguir através de acordos sobre sentença numa área em
que a não punição é elevada. Mas nos crimes mais graves, permitir que agente do crime
possa negociar a sua pena com o mp causa alguma ilusão no estado de direito.

O principio da legalidade conhece principio de sinal oposto que é principio de


oportunidade processual que é dominante noutros sistema jurídicos, nos sistemas
anglo-americano, mas também europa continental, bélgica, em que este principio da
oportunidade está implantado. Este principio diz que mp não estaria obrigado a
promover processo penal mesmo que pressupostos legais estivessem verificados, não
estaria obrigado em nome de índole pragmática, de politico criminal, mas também
considerações sociais, financeiras, de estratégia processual, mp não estaria obrigado a
acusar mesmo que verificados critérios objetivos que a lei consigna por apelo de razoes
de ordem política, razoa de estado, financeiras, burocráticas, solidarização com o
criminoso, como o aborto ou considerações probatórias, quando prova é fraca, não se
acusa porque pode fracassar o estratégia do mp.
Nestes sistemas em que vale oportunidade há ónus de fundamentação da
decisão, não é arbitraria. No nosso ordenamento prevalece a legalidade, mas tem se
manifestado uma certa abertura no sentido de oportunidade processual ou de
legalidade aberta considerações de política criminal, estas manifestações de legalidade
ocorrem sobretudo no domínio da pequena e media criminalidade com introdução de
mecanismos de diversão processual que se traduzem no tratamento da criminalidade a
margem de mecanismos normais, à margem ou sem necessidade de julgamento.

As razoes politica criminais que estão na origem destes institutos de diversão, o


integracionismo simbólico, labelling approach (teoria da etiquetagem), etc. estas ideia
de diversão processual acompanham procedimento paralelo do direito substantivo
favorável descriminalização de certa condutas, para não falar de correntes radicais de
abolicionismo pena. Afinal o sistema penal induz o crime em vez de ser eficaz ao crime,
cria criminalidade do que se pretendia da eliminação da criminalidade, feita constatação
surge correntes abolicionistas para acabar o dpenal, mas não se pode acabar com ele é
mal necessário e enquanto não pode ser substituído por coisa melhor, deve
permanecer.
A diversão processual acompanha o que no pano substantivo se verificou e é
movimento de descriminalização, a diversão é correlato adjetivo da descriminalização.
Estas preocupações manifestam-se no domínio da pequena e da media
criminalidade e intuito delas é proteger o arguido, evitar perigo de indução de
delinquência secundária, do distanciamento social do arguido e evitar que este seja
empurrado para carreira delinquente. Foi esta a primeira manifestação, mas mais
recentemente já no sec 21, afirmou-se com mais equidade proteção da vitima que se
manifestou em mecanismos de diversão processual, tutela da vitima surge contra
vitimização secundaria proteger a vitima contra intervenções processuais que possam
causar mais mal do que resulta do próprio crime e devolver o conflito penal a vítima.
O crime é ataque a bens jurídicos comunitários, mas é possível identificar
concreto titular dos bens jurídicos e é preciso que resolução do conflito não se faça à
margem da vítima, que vitima não seja ignorada. Esta preocupação com a vítima nas 2
dimensões levou ao modelo de justiça restaurativa e que surge como complemento ou
alternativa ao modelo de justiça tradicional, entre nós é complemento.
A justiça restaurativa assenta numa ideia de participação ativa de vitima na
resolução penal, são mecanismos em que se exige da vitima o consentimento,
requerimento, participação ativa e são mecanismos que assentam na revalorização e da
reparação como terceira via do sancionamento criminal. Terceira via porque temos
penas e medidas de segurança e haveria terceira via que era reparação, não seria no
processo penal apenas tradução do principio de adesão, pode no processo penal haver
discussão da questão civil, mas a questão é atribui efeitos penais na reparação,
reparação penal como terceira via de sancionamento criminal.
Estes são dois vetores da justiça restaurativa.

Como é que ideias se materializam no nosso sistema processual penal, que


institutos traduzem estas manifestações de diversão processual, que são materialização
alguns deles do modelo de justiça restaurativa e que são soluções adutoras de abertura
a oportunidade processual?
Os mecanismos são 4 com implicações diferentes:
- arquivamento por dispensa de pena, art 280 do ccp
- suspensão provisório do processo, art 281
- processo sumaríssimo, forma especial de processo, é manifestação de
legalidade aberta a considerações politico-criminais;
- mediação penal: cabe aqui, embora não seja a mediação penal uma alternativa
a acusação, porque mediação acontece antes do fim do inquérito. Mas também cabe
aqui.

Arquivamento por dispensa de pena: esta regulado no art 280 do cpp que
remete para art 74 do cp, o art 74 é norma que dispensa de pena é instituto importantes
sobre fins das penas, argumento a favor que torna claro que vale conceção unilateral da
culpa: não há pena sem culpa, mas pode haver culpa sem pena, pode haver culpa com
dispensa de pena.
Os requisitos de que depende a dispensa de pena que é decidida no fim do
julgamento do juiz são os mesmos que valem para arquivamento de dispensa de pena,
é antecipação para fim de inquérito de decisão que em regra caberia ao juiz do
julgamento. Em vez de se esperar para fim de julgamento, antecipa-se.: por economia
processual e por razoes de tutela do arguido para evitar que arguido seja sujeito a
estigma.
A dispensa de pena esta pensada para crimes de natureza bagatelar, de diminuta
criminalidade. Para crimes que são punidos ate 120 dias de multa ou pena de prisão de
x anos, pequena gravidade afere-se segundo requisitos abstratos formal da gravidade
do crime afere-se em abstrato da moldura penal, mas os crimes de pequena gravidade
também obriga olhar para gravidade da infração em concreto e exige-se que seja
pequena. A lei diz que grau de culpa tem que ser diminuto.
Art 74 nº1 a). é preciso que não se oponham razoes de prevenção geral e
especial, é preciso que não há interesse publico na punição, a luz de razoes preventivas.
Estamos perante um caso em que não obstante o mp ter recolhido durante o
inquérito indícios suficientes de se ter verificado crime de quem foi o seu agente, art
283, ele não submete a infração a julgamento: arquiva ou suspende provisoriamente o
processo, o que significa também que o conflito jurídico-penal, já que a decisão tomada
nos termos do art 280 bem como a que dá aplicação ao art 281, não é suscetível de
impugnação.

Qual processo de decisão?


A decisão de arquivamento por dispensa de pena pode acontecer no fim de
inquérito ou da instrução e competência para decidir cabe ao mp e juiz de instrução
criminal, a decisão for proferida no fim do inquérito basta a decisão do mp e
concordância do juiz criminal, art 280 nº1, mas se a decisão for proferida no fim da
instrução, quem decide é juiz de instrução criminal com concordância com mp, há
simetria, mas a lei exige a concordância do arguido.

Mas porque em um caso não se exige e noutro caso se exige a concordância do


arguido?
Na desistência de queixa, a lei também faz depender a homologação da não
oposição do arguido porque quer provar a sua inocência. Mas aqui só é exigido a
concordância do arguido se arquivamento acontecer num certo momento, no fim da
instrução, se acontecer antes, no fim do inquérito não se exige. Porque no final da
instrução exige-se para ter interesse de mostrar a sua inocência, mas no inquérito não
se exige porque se chegou a instrução é porque houve acusação e arguido solicitou
abertura ou houve arquivamento e assistente solicitou abertura.

O art 280 nº2 diz que se acusação já tiver sido deduzida, o juiz de instrução pode
arquivar por dispensa de pena com concordância do mp e do arguido. O que torna
compreensível da concordância é já ter havido acusação. Se já tiver havido, há
chamamento solene a responsabilidade e compreende-se que o arguido que foi
chamado solenemente tenha palavra a dizer no arquivamento por dispensa de pena.
Não implica qualquer injunção para arquivamento, ele pode querer purgar esses indícios
sujeitando-se a julgamento. Quando não existir chamamento solene o legislador
conforma-se, permite que se pudesse arquivar o procedimento por dispensa de pena
sem a concordância do arguido.

A lei diz que se acusação tiver sido deduzida o juiz de instrução pode: a questão é a de
saber se so nos casos em que haja acusação e abertura de instrução é que pode na
fase de instrução juiz arquivar por dispensa de pena, ou pode o juiz arquivar na fase
de instrução se tiver chegado a fase de instrução por via de arquivamento. Mp
arquivou, ao arguido solicitou abertura de instrução, mas tribunal julga que é culpado,
mas pode julgar que há dispensa de pena. No fim da instrução há arquivamento ou só
se pode arquivar no fim da instrução se a instrução tiver sido requerida pelo arguido
a seguir de despacho de acusação pelo mp?
Parece que a lei está a restringir, parece que só quando haja acusação é que juiz
pode arquivar. Podemos dizer que há lacuna e não esta resolvido, é matéria que carece
de solução, incompletude do ordenamento não querida pelo legislador e havendo
lacuna preenchemos dizendo que solução que vale para casos em que há acusação e
abertura de instrução deve valer para estes casos.
Pode arquivar-se por dispensa de pena em qualquer caso em que haja abertura
de instrução. A diferença é que se tiver chegado a instrução por despacho há requisitos
a mais que é concordância do arguido. A resposta de que é possível o juiz arquivar por
dispensa de pena, legislador so sublinhou uma das situações porque nessa justifica um
requisitos a mais que noutra não faz sentido exigir.

Há questão controversa de saber se nos crimes particulares pode haver


arquivamento por dispensa de pena, os crimes particulares no fim de inquérito o mp
não faz nada, so notifica o assistente para acusar ou não e portanto não pode o mp
arquivar por dispensa de pena porque pode haver caso em que assistente não quer
acusar e processo extinguir-se. Nos crimes particulares há quem entenda que possa
haver arquivamento, mas mp deve esperar pela acusação pelo assistente, é questão
controversa, mas que não esta pacificada.

Como requisitos:
- a gravidade abstrata da infração não requeira uma punição superior a 6 meses
de prisão ou 120 dias de multa;
- diminuta ilicitude, alínea a) do nº1, o dano provocado pelo crime tenha sido
reparado, b), não se oponham ao arquivamento por dispensa de pena razoes de
prevenção especial e geral, alínea c).
- nos termos do art 280 que exista um acordo entre o mp e o juiz de instrução
criminal, se o arquivamento acontecer na fase de inquérito;

Aula 30/10/2020
O arquivamento de dispensa de pena e suspensão provisório pode ser no fim da
instrução ou no inquérito, cabendo ao juiz de instrução ou ao mp respetivamente. No
art 207 nº2 no fim da instrução. Costuma-se dizer que a suspensão provisoria do
processo implica sujeição do arguido durante período de tempo que no regime ordinário
pode ir ate 2 anos e regimes especiais ate 5 anos, sujeito a injunções.
Precisamente porque há implicações sobre arguido com imposição de injunções
ou regra de conduta que são equivalentes funcionais de penas, por isso a suspensão
provisória do processo é instituto cabível na faixa da pequena e média criminalidade.

- suspensão provisória do processo:


No arquivamento por dispensa de pena que está pensada para crimes
bagatelares, ligados á pequena criminalidade, a crimes que não ultrapassem os 6 meses
ou puníveis com pena de multa ate 120, conforme resulta do art 74 do cp.
A suspensão já é para crimes puníveis ate 5 anos, é fase mais lata de
criminalidade, os requisitos de ordem formal prendem-se com gravidade abstrata das
condutas, que seja pena não superior a 5 anos. Prende-se com gravidade concreta da
infração, art 281 nº1 e), é preciso que grau de culpa não seja elevado.
Aqui, o processo não é definitivamente arquivado, mas sim suspenso durante
um determinado período de tempo mediante a imposição ao arguido de regras de
conduta ou injunções, conforme resulta do nº1 do 281.

No art 74 do cp remete-se para o art 280, no arquivamento de dispensa de pena


tem que ser diminutas, enquanto aqui basta que grau de culpa não seja elevado, alínea
a) do nº1. Basta que grau de culpa não seja elevado para haver suspensão provisório do
processo. É preciso que não se oponham razoes preventivas especiais ou gerais ou que
fiquem salvaguardas com deveres ou injunções ou regras de conduta aplicáveis ao
arguido art 281 f), sendo de prever que cumprimento de injunções reponde a exigências
de prevenção que se façam sentir.
Cumpridos estes requisitos importa saber a quem cabe a decisão, a decisão
compete ao mp se tomada no fim do inquérito e juiz de instrução criminal se tomada no
fim da instrução, mas não basta decisão do mp ou do juiz de instrução criminal, é preciso
que se mostre cumprido acordo entre varias personagens. Aqui, há semelhança com
regime de dispensa de pena, não basta concordância, aqui é preciso concordância do
arguido e se existir assistente é previso haver concordância do assistente.

Por que razão aqui é preciso e é sempre requerida concordância do arguido, ao


contrário do que sucede com arquivamento de dispensa de pena em que concordância
do arguido é dispensada, a menos se arquivamento aconteça no fim da instrução e
contra arguido já tenha sido deduzido acusação?
O arguido é ouvido muitas vezes, a explicação aqui prende-se pelo facto de na
suspensão provisoria no regime ordinário existir sujeição do arguido a regras de conduta
e injunções. Não se pode aplicar pena a uma pessoa sem que haja julgamento, ou como
fator de legitimação sucedâneo em substituição ao julgamento que aqui não existe sem
o seu acordo.
No arquivamento por dispensa de pena tem lugar no fim da instrução e foi
deduzido acusação contra o arguido, é preciso aqui a concordância do arguido, embora
não haja injunções ou regras de conduta. Processo é arquivado. Aqui exige-se porque
ele foi acusado e como tal já houve chamamento solene e legislador reconhece
interesse de se opor ao arquivamento e ver caso resolvido em julgamento.
Mas há outra situação em que se pergunta ao arguido na desistência de queixa:
Se alguém apresenta queixa e depois quer desistir, independente da fase, é preciso
perguntar ao arguido, a não oposição do arguido. A razão que se dá é que quer que seja
esclarecido no julgamento, art 116 nº2.

Quanto a concordância do juiz de instrução criminal é exigida na dispensa de


pena como suspensão provisória, faz mais sentido exigir na suspensão provisória do
processo porque existe uma imposição e restrições de direitos. Essas restrições que são
equivalentes a penas, cabem por força da crp no monopólio da função jurisdicional, art
202 nº1. Por resto, a restrição de df no âmbito do inquérito depende sempre de
intervenção do juiz, art 32 nº4 da crp.
Por estas duas razoes constitucionais, sempre é de exigir concordância de juiz de
instrução para suspensão provisório de processo. Mais do que arquivamento por
dispensa de pena requeria sempre a intervenção do juiz de instrução criminal.
Quando o cpp de 1997 foi aprovado, o decreto da ar foi remetido para tc, nesse
decreto da ar, não se previa necessidade de intervenção do juiz na suspensão provisoria
quando tivesse acontecido no fim do inquérito, era mp que decidia e juiz não intervenha.
O tc julgou inconstitucional o decreto da ar, num processo de fiscalização preventiva,
acórdão 87/97.

Natureza de intervenção do juiz de instrução criminal: juiz intervém com função


de controlo, não se trata de função de codecisão, não decide a par de mp, desempenha
função de mp, verificação de pressupostos formais e materiais e compete-lhe verificar
se suspensão do processo não será arbitrária. Será arbitraria se não existir indícios
suficientes quando a pratica do crime e mp decidir suspender. Será arbitraria ainda
quando ocorra fora dos pressupostos que a lei admite.
Cumpre ainda verificar se injunções não serão desproporcionais ou excessivas.
Esta função do juiz é de controlo como juiz da liberdade e de garantias. Não tem
competência para decidir ao lado do mp quais injunções convenientes, so lhe cabe
verificar que aqueles que mp escolheu se não são excessivamente restritivas. Tem
função de controlo e garantia. Função em que intervém em defesa de df do arguido.
Talvez por isso, a decisão seja problemática, se tem entendido que o stj
entendeu, num acórdão com força obrigatória geral, de fixação de jurisprudência,
nº16/2009, que não cabe recurso da decisão do juiz que negue a concordância da
suspensão provisória do processo. A concordância do juiz é requisito obrigatório, tem
função de controlo, mas se negar concordância, se não der concordância, o despacho
que profira não é suscetível e impugnação em sede de recurso.

Cumpridos requisitos e havendo concordâncias todas, processo fica suspenso


por período máximo de 2 anos, se arguido cumprir com injunções, processo é arquivado,
caso contrario é remetido para julgamento em termos normais.
Estes casos de suspensão provisória ordinária, mas há casos no art 281 nº7 e 8,
são situações em que suspensão provisória do processo não acontece para tutela do
arguido, mas no sentido de tutela da própria vitima. Considerações político-criminais
emerge novo paradigma de justiça restaurativa e que assenta na atribuição de voz ativa
a própria vitima. Esta suspensa provisória especifica em homenagem destes modelos de
justiça restaurativa e tradução de preocupação de tutela da vítima, contra vitimização
secundaria e contra perigo de roubo à vitima.

Nº7 do art 281: Em processos por crime de violência doméstica não agravado
pelo resultado, o Ministério Público, mediante requerimento livre e esclarecido da
vítima, determina a suspensão provisória do processo, com a concordância do juiz de
instrução e do arguido, desde que se verifiquem os pressupostos das alíneas b) e c) do
n.º 1.
Aquilo que está em causa é suspensão provisória do processo em crimes que
passaram recentemente a ser crimes público.
Exemplo.: crime de violência domestica é desde 2000 publico. É tutela de vitima,
há processo, mesmo que a vitima se desinteresse. É medida de proteção contra a vitima
quando esta inserida em ambientes coativos e não há autonomia de decisão, como
menor que é vitima de praticas sexuais. Podia ate ser menor de 16 anos, tinha já a
capacidade de queixa, mas esta vitima não terá a liberdade suficiente para exercer
direito de queixa. A mesma coisa violência domestica legislador parte do paradigma
fragilizado e pode faltar autonomia da vontade para decidir se quer ou não processo
criminal. Isto nos crimes públicos.
Mas este paternalismo do estado traz inconvenientes, rouba a decisão á vitima,
apesar de ser ela a primeira afetada, pode este jovem que foi vitima de crimes sexuais,
e não ter interesse na apresentação de queixa. Procura-se repor margem de decisão á
vitima.

Também justificam que sejam outros requisitos, nestes casos especiais não vale
limite de pena de prisão ate 5 anos, pode ser superior de 5 anos, desde que seja crime
sexual ou violência domestica não agravada pelo resultado.
Podem ser impostas injunções e regras de conduta, mas não é obrigatória,
porque estes mecanismos podem ser sucedâneos do direito de queixa.
Art 281 nº7 e 8 só remetem para alienas b e c do nº1, os únicos requisitos que
tem que estar preenchidos é b e c do nº1. Não se exige como se exige no corpo do nº1
que sejam impostas ao arguido injunções e regras de conduta, é aspeto importante e
que se prende com natureza do instituto.
Existe neste instituto valorização maior do interesse da vitima, diz-se no nº7 que
é preciso requerimento da vitima, ao passo que no regime ordinário basta concordância
do assistente, nem se exige concordância de todas as vitimas, apenas daquelas que
tenha constituído assistente e iniciativa não tem que ser do assistente. No caso da
violência domestica, tem que haver iniciativa da vitima, mesmo que não constituiu
assistente. No caso de crimes sexuais contra menores, exige-se que mp atue orientado
pelo interesse do menor, nº8.
Art. 282 nº5: O prazo de duração da suspensão é mais dilatado porque são
crimes um pouco mais graves, o legislador admite que suspensão possa ir ate os 5 anos
e não os 2.
É esta a diferença entre regime especial em relação ao geral.

A intervenção do juiz de instrução é função de controlo para verificar se


suspensão não será arbitrária ou se injunções não serão desproporcionais.
Uma suspensão arbitrária será arbitraria quando exige a concordância do
arguido, mas mp decide por arquivamento do processo ou então quando não há indícios
da pratica do crime. a suspensão provisória do processo não é sucedânea do
arquivamento, é sucedâneo de acusação. Se não existir indícios suficientes, não pode
haver arquivamento. Se não existirem, juiz deve rejeitar concordância, porque caso
contrario seria arbitraria.

- Relativamente a mediação penal, introduzida em 2007. Quando a lei foi


aprovada, a introdução de mediação também se compreende a luz de instrumentos
internacionais, impondo medidas que se inscrevem neste paradigma de justiça
restaurativa e Portugal já cumpria esta filosofia, mas legislador medido por entusiasmo
da doutrina e da pressão de instrumentos, introduziu sistema de mediação penal.
Quanto a lei de mediação penal, interessa ver requisitos:
Art 2 da lei da mediação penal: a mediação penal por cautela do legislador so
está acessível para crimes particulares em sentido amplo, semipúblico ou particular em
sentido estrito.
Se se trata de semipúblico é preciso que sejam crimes contra pessoas ou contra
património e tem que se tratar de crimes de pequena gravidade, não superior a 5 anos,
art 2 nº1 e nº2 e nº3 a).

nº3: A mediação penal está prevista para certos tipos legais de crime, não se
admite mediação penal quando sejam crimes contra liberdade e autodeterminação
sexual, também quando seja menor de 16 anos o ofendido. Compreende-se pelo facto
da mediação ser acordo entre ofendido e arguido, para que haja acordo é preciso haver
autonomia da decisão, das duas partes. Não se compreenderia mediação penal em que
não haja igualdade mínima, em que vitima está em situação de fragilidade e não pode
discutir em posição de igualdade, como é o caso do ofendido com menos de 16 anos,
em relação a ele não pode haver mediação. Assim como liberdade de autodeterminação
sexual, autonomia aqui é menor.
Também se exclui por crimes de peculato, que pressupõe um certo mercadejar
com o cargo. Na corrupção, no peculato (funcionário que se serve de bens ou de
dinheiro que lhe foi confiado, mas cuja propriedade não lhe cabe, como presidente da
camara municipal que aproveitando obras da camara, manda maquinas para arranjar a
sua casa). Na corrupção e no tráfego de influencias há mercadejar com deveres do cargo
e legislador considera que não seria adequado, do ponto de vista preventiva, se
permitisse ao arguido mercadejar também neste âmbito, negociando um acordo com
potencial ofendido. São crimes públicos e nunca admitiriam mediação penal.
A mediação penal está afastada nos casos em que seja aplicável o processo
sumaríssimo e sumario porque são instrumentos enraizados com experiencia de
aplicação com campo maior.
Pode o mp em qualquer momento do inquérito remeter para mediação e pode
iniciativa da medição penal resultar de acordo de vontades entre arguido e ofendido
que podem requerer mediação. Esta possibilidade é altamente improvável se forem
crimes semipúblicos ou particulares em sentido estrito, depende de queixa para inicio
do processo e é improvável que vá para mediação penal. Se há queixa, é conflito patente
e pouco provável que queixoso aceite acordar com arguido para remeter para os autos
de mediação penal.
Sendo remetido para os autos, são entregues ao mediador, não é conduzida pelo
mp. É conduzida pelo mediador imparcial que procura aproximar o ofendido e arguido
para estabelecer acordo para restabelecer paz social. Este acordo é livremente moldado
pelo arguido e ofendido pela supervisão do mediador.

O legislador estabeleceu limites do acordo, que consta no art 6 da lei.


Art 6: há dois limites:
- não se pode impor sanções privativas da liberdade, não se pode por outras
privações de liberdade de movimentação, privativa da liberdade;

- também não se pode estabelecer clausulas do acordo que sejam ofensivas da


dignidade do arguido.
Temos interpretado esta condição, clausulas que restrinjam df que por regra
estão imunes ao sancionamento criminal, liberdade religiosa não é compressível para
fins criminais, assim como não se pode estabelecer acordos que restrinjam a liberdade
religiosa ou liberdade sexual. Mas pode-se restringir a liberdade de exercício de
profissão, pode impor-se exercício de atividade para cumprimento de acordo, é sanção
que se pode estabelecer na mediação penal.
Legislador diz que estas sanções não podem ser superiores a 6 meses. Durante
este período, processo ficaria em suspenso, mas não se pode prolongar por mais do que
6 meses.
O legislador não tem intervenção assertiva no âmbito de mediação do acordo,
há quem diga que há inconstitucionalidade por violação de determinabilidade da
matéria penal e das penas, são equivalentes penais, defendido por Lamas leite.

Como fazemos interpretação conforme a crp?


Deve-se olhar para o art 281 nº2 como paralelo relevante. Deve na modelação
do conteúdo do acordo servir-se o ofendido e arguido, sob mediação de mediador
imparcial. O 281 nº2 diz que injunções e regras de conduta possíveis no âmbito da
suspensão provisória do processo que é guiado e que deve orientar na mediação penal.
Em regra, não se deve escolher sanções diversas das que se refere no 281 nº2.

Havendo acordo a assinatura do acordo, equivale a desistência da queixa, art 5


nº4, por parte do ofendido e não oposição por parte de arguido. O mp fiscaliza o acordo
e se concordar, homologa desistência de queixa se achar acordo conforme a
constituição e se não achar conforme devolve ao mediador. Se for homologado não se
pode prolongar por mais de 6 meses, se for cumprido, fica resolvido, se acordo não for
resolvido, o ofendido pode renovar a queixa. Temos aqui entorse do regime da queixa,
a queixa pode ser renovada aqui. – art 6 nº3. Prazo de renovação é de 1 mês.

PRINCIPIO DA ACUSAÇÃO
É o 3º principio de promoção do processo. É estruturante e dai dizemos que o
nosso modelo acusatório, mas não se basta com consagração deste principio. A
imparcialidade, a objetividade que conjuntamente com a independência são condições
indispensáveis de um autentica decisão judicial só estarão asseguradas quando a
entidade julgadora não tenha também funções de investigação preliminar e acusação
das infrações, mas antes possa apenas investigar e julgar dentro dos limites que lhe são
postos por uma acusação fundamentada e deduzida por um órgão diferenciado, em
regra o mp ou um juiz de instrução.
Este impõe separação material entre quem investiga e quem acusa e entidade
competente por outro. Não pode ser separação formal, havia separação formal no
código de 1929 ate 45, era separação formal porque mp acusava e juiz julgava, mas mp
acusava com base em investigação dirigida pelo juiz que faria julgamento. Mas acusação
não se basta com separação formal, é preciso que seja material.
Não pode ser funcional, existiria se o código atribuísse competência ao mp para
investigar e juiz julgar, mas permitisse que magistrado que tivesse intervindo fizesse a
investigação e julgamento. Isto não é possível, a separação tem que ser material, é
assegurada através de mecanismo dos impedimentos do art 39 nº1 alínea c). não pode
intervir no julgamento quem tenha intervindo como representante do mp no processo.
Porque fazemos questão de consagrar principio de acusação?
O juiz que tivesse feito investigação garante menos essa imparcialidade. Fica
comprometido com resultado da investigação. Se magistrado tiver comprometido com
investigação, não vai julgar com imparcialidade. Principio da acusação é importante
porque é pressuposto fundamental da imparcialidade do julgamento, sem principio da
acusação não haveria julgamento imparcial.

Este principio exige que não seja o tribunal de julgamento a ter iniciativa de
investigação. Este é um dos conteúdos essenciais do principio de acusação, postula que
este não tenha iniciativa do processo. Esta implicação do principio da acusação é
acolhida integralmente pelo cpp, já que há um conjunto de diligencias que visam
investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade
deles e descobrir e recolher as provas, em ordem à decisão sobre a acusação, art 262,
estando perante a fase de inquérito. Esta inicia-se quando o mp adquire noticia do
crime, art 241 e 262 nº2, cabendo a esta magistratura a direção do inquérito, art 263,
bem como o encerramento deste, através do arquivamento ou da dedução de acusação.

Costuma dizer-se que a atividade do tribunal está dependente da previa


dedução da acusação por entidade distinta. A dedução da acusação é pressuposto de
toda atividade judicativa, é pressuposto de toda a atividade jurisdicional de
investigação, conhecimento e decisão. Mas não basta apenas que seja deduzida
acusação e essa acusação não é apenas pressuposto ou fator desencadeante do juízo. A
acusação é mais do que isso, fixa e define objeto do processo, da vinculação temática
do julgamento. A atividade cognitória e decisória do tribunal está estritamente limitada
pelo objeto da acusação. Pode-se afirmar que o objeto do processo penal é o objeto da
acusação, sendo este que delimita e fixa os poderes de cognição do tribunal e a extensão
do caso julgado.

Se dizemos que o propósito do principio da acusação é garantir imparcialidade


do julgamento, temos que ver intenção seria. Juiz so será imparcial se julgar objeto que
lhe foi proposto por entidade distinta, por despacho de acusação pelo mp. Para
imparcialidade ser garantida é preciso que juiz não estenda os seus poderes de cognição.
Se o juiz estendesse os seus poderes de investigação, podendo ordenar novas provas
oficiosamente, desde que se afigurem uteis a descoberta da verdade. Sabendo que o
nosso sistema é assim. Se se permitisse que juiz indagasse oficiosamente, para julgar
factos que não constam do objeto definido pela acusação, já iria ser posto em causa a
pretensão da imparcialidade.
Para haver imparcialidade, é necessário:
- que juiz não tenha iniciativa de acusação;
- que acusação não seja pressuposto desencadeante de atividade judicativa do
juiz;
- que acusação defina o objeto do processo e que juiz não possa investigar factos
que transcendam objeto desenhado no despacho de acusação.
O principio da acusação liga-se a matéria do objeto do processo. As testemunhas
podem ainda introduzir variações, mas a questão que se levanta é que tipo de variações
contendem com o objeto do processo.
Princípios atinentes a marcha processual: investigação, concentração,
suficiência e contraditório.

PRINCIPIO DA INVESTIGAÇÃO
É estruturante, define o modelo processual que é de estrutura acusatória e é
com base em principio de investigação. É transversal a marcha processual e tem relevo
na matéria probatória. O juiz pode ordenar oficiosamente a produção de meios de prova
que são necessários para descoberta da verdade, podendo-se designar como principio
da verdade material.
Consiste num poder-dever que ao tribunal incumbe de esclarecer e instruir
autonomamente mesmo para além das contribuições de acusação e da defesa, o facto
sujeito a julgamento, criando aquele mesmo as bases necessárias á sua decisão.

PRINCIPIO DA SUFICIÊNCIA
O processo penal é em principio o lugar adequado ao conhecimento de todas as
questões cuja solução se revele necessária á decisão a tomar. Na decorrência do
procedimento, podem surgir questões de diversa natureza, penal, civil e administrativa,
cuja resolução condiciona o ulterior desenvolvimento do iter, dando a lei competência
ao juiz penal para delas conhecer, revela a sua intenção primacial de considerar que o
processo penal a si mesmo se basta que é a auto-suficiente.
Se se permitisse este fracionamento em virtude do surgimento de questões
prejudiciais, pôr-se-iam em serio risco as exigências compreensíveis e relevantíssimas ,
de concentração processual ou de continuidade do processo penal e permitir-se-ia que
por este modo se levantassem indiretamente obstáculos ao exercício daquele processo.
São questões prejudicais, em que por vezes o tribunal é chamado a decidir não
apenas a questão principal, que se debate saber se alguém cometeu ou não crime, como
também outras questões que não tem natureza penal, mas são necessárias para decisão
penal. dizem-se questões prejuciais aquelas que possuindo objeto ou até natureza
diferente do da questão principal do processo em que surgem e sendo suscetíveis de
constituírem objeto de um processo autónomo, são de resolução previa indispensável
para se conhecer em definitivo a questão principal.
Exemplo.: para saber se há crime de desobediência é preciso saber se há ordem
legitima ordenada pela entidade competente, é preciso saber da para saber se foi
emanada pela entidade competente para se constatar se houve ou não desobediência.
Ou o furto supõe subtração de coisa alheia, se existir controvérsia sobre
propriedade da cosia, alguém que quadro valioso foi-lhe doado ou adquiriu quadro por
usucapião, pode ser preciso discutir matéria de contratos ou direitos reais. São questões
alheias do dp, mas podem ser necessárias para decisão da questão penal. são questões
prejudicais, questões jurídicas autónomas da questão principal, autónomas quanto ao
objeto e quanto a sua natureza, cujo conhecimento prévio e é indispensável para que
se possa decidir a questão principal na medida em que sentido a questão prejudicial
condiciona o sentido a dar a decisão final.
É preciso que seja decisão autónoma que tenha que ser resolvida antes da
questão principal, porque condiciona o sentido de resposta a dar à decisão final.

O pedido cível é questão prejudicial?


É questão autónoma, é decidido no processo penal. as questões prejudicais
podem ser decididas no processo penal, não rouba autonomia cientifica. Pedido cível é
questão autónoma, é forma de responsabilidade separada á penal, mas não se trata de
questão prejudicial porque este pode ser decidido separadamente da questão principal
e não condiciona à decisão final. A conclusão sobre se pedido dever ser deferido ou não,
em nada condiciona a questão de saber se arguido deve ser ou não condenado. Os
critérios de decisão estão totalmente separados.

Pode haver:
- questões prejudiciais penais em processo penal, no crime de denuncia
caluniosa, art 365 do cp, existe quando alguém denuncia outra pessoa pela pratica ou
suspeita da pratica de crime. Para que cometa de crime de denuncia caluniosa tenha ele
denunciado a pratica de crime. temos que saber a denuncia e ver se quem denunciou
incorreu em denuncia caluniosa. São decidas em processo penal. são decidas n processo
onde se debate a questão principal.
É cometimento de crime de denuncia caluniosa por A que cometeu crime que é
ação principal e pode ser necessário para saber se aquele que impute a B o crime de
violação, o tribunal competente para julgar denuncia caluniosa é tribunal da comarca
de porto, mas crime de violação seria o de faro. As questões prejudiciais são decidas
por tribunal da questão prejudicial. Há alteração da competência territorial.

- existem questões prejudicais penais em processo não penal: essas interessam


aos ramos de direito que são competentes para decidir a questão principal. É no
processo não penal que se discute.
Para ver regras nesta matéria, art 92 do cpc.

- questões prejudiciais não penais em processo penal: aqui as vias podem ser
duas e de sentido diferente:
- tese do conhecimento obrigatório, ou suficiência absoluta, o
tribunal penal é competente para conhecer de todas as questões prejudiciais, sejam elas
quais forem e em qualquer circunstancia, exceto caso julgado.
Há vantagens aqui: vantagem de celeridade, sempre que se suspende processo
penal a espera que tribunal decida questão prejudicial há uma perda processual.
Materialmente ela pode basear-se não so na exigência de que se não suscitem
obstáculos á concentração e continuidade do processo penal, como ainda na intenção
primária deste processo de verdade material.
Como desvantagens temos o facto do processo penal e civil tem estruturas
diferentes, ao processo penal interessa verdade material, em termos históricos,
interessa verdade mais próxima de momento histórico enquanto no processo civil, se
aceita verdade meramente formal, é ator que alega factos e o reu que contesta. A
confissão, não impugnação, a transação não significa que dados ficam dado por
provados. O legislador aceita verdade formal que resulta de equilíbrio de regras
processuais. Não é assim no processo penal.
Exemplo.: às vezes, no crime de furto não interessa saber se coisa era alheia ou
não, se era de outrem ou se pertencia ao agente. Interessa saber se agente tinha razoes
para convencer que coisa é sua. A matéria do erro é relevante em matéria penal. outra
das vantagens é a possibilidade que ela abre de apreciação da questão do ponto de vista
jurídico e penalmente relevante.

- devolução obrigatória, surgindo questão prejudicial


suspende-se no tribunal e devolve a questão ao tribunal
materialmente competente: adequação funcional do processo a
cada tipo questão. A tramitação penal é diferente da tramitação
civil, essa estruturação própria torna mais apto o processo penal
para discutir questões penais e civil para questão cível. O processo
é mais adequado para questão a tratar. A evolução permite a
decisão da questão que é funcionalmente mais adequado.
Há vantagem de especialização dos tribunais. Nas comarcas maiores, há tribunais
penais, cíveis, mas nas comarcas pequenas, é o mesmo tribunal que tramita questões
cíveis e penais. Onde existe, é vantajoso que tribunal que saiba de questões penais
decida questões penais, assim como acontece para tribunal cível, isto porque pode não
haver habilitação suficiente para decidir pedido em matéria de outro ramo. A instancia
central penal do porto não conhece questões civis. A existência de separação torna mais
vantajoso que a questão de natureza não penal fosse decidida em tribunais
competentes.

Que solução que a lei estabelece?


Art 7 do cpp: caminho intermedio entre os dois, consagração de principio da
suficiência vale em termos absolutos para as questões prejudicais penais em processo
penal, mas para questões prejudiciais não penais em processo penal este principio é
meramente discricionário, suficiência discricionária ou devolução facultativa, solução
que resulta do nº2. Temos aqui a ideia de que o processo penal se suspenda e a questão
seja devolvida para o tribunal normalmente competente a fim de aí ser decidida.
Teremos pois aqui uma tese intermediária em relação às anteriormente referidas.

Nº2: que requisitos para tribunal penal se abster de decidir e devolver a outro
tribunal? Devolução facultativa.
É previso que estejam cumpridos 3 requisitos:
- que se trate de questão prejudicial não penal, tem que ser matéria cível, de da
ou direito laboral, ou de direito da família, tem que ser matéria não penal;

- é preciso que se trate de questão cuja resolução seja necessária para se


conhecer da existência de crime, não basta que se trate de matéria importante para
verificação da medida da pena, é preciso questão cuja resolução ser necessária para
existência de crime. tem que ser uma questão de cuja resolução dependa a condenação
ou absolvição do agente, tem que ser elemento do tipo incriminador ou causa de
justificação, matérias cuja decisão determina a sua condenação ou não.
exemplo.: no crime de furto que não se sabe que sobretudo que passageiro
levou consigo é seu, saber se quem é pode ser importante para decidir se foi cometido
crime de furto. É e elemento de tipo legal, art 203 o facto da coisa ser alheia, so comete
crime de furto se a coisa for alheia. A natureza não própria, o facto de não saber de coisa
própria do agente é elemento de tipo incriminador a solução de resolver de quem é a
coisa é necessária para se conhecer existência do crime, condiciona a resposta.
- é preciso que a questão não seja convenientemente resolvida em processo
penal, so aqui é tribunal pode devolver a decisão da questão ao tribunal competente.
Convenientemente resolvida é conceito indeterminado, carecido de preenchimento, o
legislador consagra principio de suficiência discricionária. É preenchimento valorativo
de conceito indeterminado, damos ao interprete maior margem de atuação. É pois
através deste requisito da conveniência que a lei põe na mão do juiz penal um amplo
poder discricionário no que respeita à devolução da questão prejudicial. Como refere
Beleza dos santos, há uma discricionariedade livre ou desvinculada que implicaria
conferir a nota de irrecorribilidade à decisão do juiz sobre a devolução.

No código de 29 não fazia isto, confiava nos juízes e dizia quando tinha que haver
devolução e quando não tinha lugar. Agora legislador usa caminho diferente, serve-se
de conceito indeterminado e da margem de atuação ao tribunal para decidir pela
suspensão ou decisão no próprio processo penal.
Embora seja conceito indeterminado não é verdadeira discricionariedade, não é
matéria que esteja dependente da livre resolução do tribunal. Este consta no art 400
nº1 b). as matérias que são de livre resolução do tribunal são matérias pela qual não
pode haver recurso, a decisão que tribunal tome sobre matéria não é passível de
recurso.
Temos entendido que apesar de principio de suficiência discricionária, o
interprete ainda esta vinculado a lei, é conceito indeterminado, mas interprete e
aplicador do direito age vinculado à lei e decisão é passível de recurso, não cai no
âmbito do art 400 nº1 b).

Art 7 nº3: faz uma exigência formal relativamente ao momento da suspensão do


processo para decisão da questão prejudicial no tribunal competente: a ideia de que o
tribunal ordena oficiosamente e o mp, o assistente e o arguido requerem a suspensão
do processo após a acusação ou o requerimento para a abertura da instrução. Quem
pode suspender, quem decide se há suspensão é próprio tribunal, a suspensão pode ser
decidida oficiosamente pelo tribunal. Entende que deve remeter a apreciação para
tribunal competente, mas pode não ser oficiosa, pode ser a requerimento de alguém,
nº3.
Existem limites temporais, não se pode suspender a todo o momento. A lei diz
no nº3 do art 7 que so se pode após acusação ou requerimento para abertura de
instrução. Ou seja, na fase de inquérito não pode haver suspensão.

Nº3 e nº4 do art 7: a suspensão pode ter lugar após a acusação ou a


requerimento de abertura de instrução. Procura legislador equilibrar vantagens e
desvantagens do modelo instaurado. Temos metas de celeridade. Processo fica
suspenso, mas não ad eternum, legislador estabelece prazos.
Se decisão depender de interposição de ação que não está a correr, o prazo
máximo de interposição é de um mês. Se decorrido um mês, ação não tiver sido
proposta, a ação é decidida no processo penal.
Se a decisão de questão prejudicial já está pendente e a ação que está a correr,
processo fica suspenso por período de juiz vai fixar como sendo adequado para decisão
e pode ser prorrogado até um ano se demora na decisão não seja imputável ao
assistente ou ao arguido.
Se for prorrogado ate um ano, importa saber se prazo de prorrogação ou prazo de
suspensão que não pode exceder um ano?
A intenção do legislador foi estabelecer exigência de celeridade. A intenção é a
de que a suspensão não durasse mais do que um ano no seu computo global, não
deveria exceder um ano.
Prof acha que é prazo insuficiente na maioria dos casos.

O mp pode intervir na ação que corra à margem do processo penal, para


promover a celeridade, rápido andamento e informar o tribunal penal, sendo a questão
decidida no processo penal quando se esgotar o prazo determinado para a resolução da
questão prejudicial ou quando a ação não tiver sido proposta no prazo máximo de um
mês.

PRINCIPIO DA CONCENTRAÇÃO:
O principio da concentração do processo penal exige uma prossecução tanto
quanto possível unitária e continuada de todos os termos e atos processuais, devendo
o complexo destes, em todas as fases do processo, desenvolver-se na medida do
possível concentradamente, seja no espaço, seja no tempo.
Adquire importância na audiência de discussão e julgamento, para que decorra
de forma continuada no espaço e no tempo sem que haja interrupções que prejudiquem
continuidade. Demanda este principio que marcha processual no seu todo e audiência
do julgamento decorre sob presidência do mesmo juiz e de forma concentrada no
espaço e no tempo.
O principio da concentração e particular relevância da audiência de julgamento
prende-se com articulação de princípios, um desses princípios é principio da livre
apreciação da prova, juiz aprecia a prova segundo convicção pessoal. é juiz que afere se
a prova merece credibilidade e que peso relativo lhe deve caber no computo dos meios
de prova. O juiz não está vinculado a regras probatória prefixadas pelo legislador. Não
acontece como acontecia no sistema inquisitório medieval no sistema de prova legal,
não acontece que cada valor de meio de prova esteja pré-estabelecido pelo legislador.
Temos no nosso ordenamento jurídico o principio de livre apreciação da prova,
é juiz que avalia o peso relativo que meio de prova deve merecer. Esse principio de livre
apreciação de prova pressupõe que produção da prova pessoal, decorra oralmente e
perante juiz que a vai valorar.

Este princípio liga-se a outros dois princípios: oralidade e da imediação. Tem


enfase particular na prova pessoal, é juiz que compete fiscalizar a credibilidade dos
depoimentos, apreciando o que é dito e a forma como é prestado.
Demanda e liga-se a oralidade e imediação. Estes exigem que haja uma audiência
unitária e continuada em que tenha lugar a apreciação conjunta e esgotante de toda a
matéria do processo. Mas para que convocação do juiz seja segura sobre meios de
prova, não basta oralidade e imediação, é preciso que produção de prova decorra
concentrada no tempo, porque há risco grande de perda de interrupção psicológica na
formação da convicção.
Temos agora meios de registo e audiência de julgamento são documentadas,
mediante áudio e se juiz se se esquecer, pode recorrer a recursos para colmatar
memoria. Mas foras estes casos, à partida o juiz so se pode lembrar se existir
concentração da audiência de julgamento. Temos a noção de que audiência de
julgamento, o ideal é que a audiência decorra do mesmo dia, desde abertura da
audiência até momento em que juiz em audiência le a sentença.
Não tem tido repercussões na law in action, há muitos poucos casos em que isto
aconteça no mesmo dia. É impraticável, mas não significa que tenha sido querido pelo
legislador.

Art 365: salvo em caso de absoluta impossibilidade, declarada em despacho, a


deliberação segue-se ao encerramento da discussão.

Art 372: diz-se que concluída a deliberação e votação, tribunal elabora sentença.
A sentença é lida. Encerra-se discussão, passa-se imediatamente a deliberação,
deliberando-se e votando-se, redige-se a sentença e volta-se à sala e é lida a sentença
publicamente.

Art 373: há casos que são mais complexos, aqui concebemos prazo para que juiz
redija sentença, prazo de 10 dias, só nos processos mais complexos. É este o ideal
normativo, salvo nos casos sumários, nunca sentenças são proferidas em que há
produção de prova e deliberação. É norma programática, mas que tem pouca eficácia
pratica.

O principio da concentração tem importância do prisma temporal, concentração


do tempo, mas desdobra-se este princípio em 3 dimensões:
- exige concentração espacial: audiência de julgamento deve produzir-se por
inteiro no mesmo local, local adequado para produção de atos processuais para onde
devem se chamadas todas as pessoas que têm que participar na audiência de
julgamento. Mas pode haver produção em diferentes locais, seja qual for o sitio, é para
la que as pessoas são convocadas.
Mas a lei estabelece algumas exceções, casos em que existem pessoas em que
não são ouvidas no sitio onde se desenvolve audiência de julgamento e atos inerentes.
Uma das situações é do art 318 do cpp.

Art 318 diz-se que por vezes podem pessoas que precisam de ser ouvidas na
audiência de julgamento, assistente, partes civis, testemunhas, peritos ou consultores
técnicos, estas pessoas podem não prestar declarações nas instalações do tribunal
podendo fazer á distancia através de videoconferência ou excecionalmente declarações
tomadas no domicilio.
Diz-se no nº1 em que casos pode haver videoconferência. A lei 1/2020, no art 7
havia possibilidade de ter lugar através de meios de comunicação à distância, não se
estabelecendo outro requisito para funcionamento desses meios. A lei prevê a
possibilidade de usar quaisquer meios de comunicação á distancia, abriu outras
hipóteses. Esses meios implicam o acordo de todas as partes envolvidas e sendo
processo urgente, não havendo acordo no processo urgente a diligencia processual
devia se ter presencialmente. No processo penal havei acordo que legitimaria a
realização de audiência de julgamento à distancia. Em regra, a produção de atos
processuais á distancia, através de videoconferência ou outro sistema, tem outros
inconvenientes, é mais difícil descredibilizar a testemunha, é mais difícil valorar as suas
reações e de fazer ligação entre meios de prova.
Mas há ainda outra dificuldade: Em termos gerais no art 318, aqueles que não se
conseguem movimentar para o tribunal, é permitido que sejam ouvidos nas instalações
de tribunal. Em tempos de pandemia, agravou-se este aspeto.

Art 319 quanto a tomada de declarações no domicilio.

Temos ainda um 2º núcleo de situações, há pessoas que gozam de prerrogativa


de inquirição, estão disciplinadas pelo art 503 do cc para que remete o art 139 do cpp,
como presidente da republica ou membros do conselho de estado. No caso do
presidente, ele pode ser ouvido em domicilio pessoal ou pode prestar depoimento por
escrito.
Há lei de proteção de testemunhas, a lei 93/99 que estabelece mecanismos de
tutela de testemunhas vulneráveis ou em perigo e com estes dois fundamentos
autoriza-se testemunha a prestar depoimento através de videoconferência e com
ocultação de rosto e de voz.

- continuidade temporal: audiência de julgamento deve ser desenvolvida no


mesmo local e em período curto de tempo. Ela não deve ser interrompida ou adiada,
não deve haver interrupções.
O principio da concentração nessa dimensão temporal encontra manifestação
clara no art 328 do cpp, que diz no nº1 que audiência é contínua, decorrendo sem
qualquer interrupção ou adiamento até ao seu encerramento.
Art 328 nº2: O legislador antecipa a possibilidade de adiar ou interromper, por
motivos de alimentação, repouso ou por outros motivos como impossibilidade de obter
contacto com testemunha, necessidade de realizar perícia, uma alteração da
qualificação jurídica ou alteração dos factos que pode dar lugar a necessidade de
adiamento. Ou motivos muito simples ou mais complexas, art 328 nº3, sendo incidentes
processuais de mais diversa ordem cuja resolução seja essencial para a boa decisão da
causa e que torne altamente inconveniente a continuação da audiência.

Legislador antecipa por razoes desta natureza e distingue entre interrupções e


adiamentos:
- As interrupções fazem-se pelo tempo estritamente necessário para repouso e
supõe que audiência de julgamento seja retomada no mesmo dia em que se tivesse
iniciado.
- Mas pode haver adiamento, com fundamento que legislador enuncia
taxativamente na lei. Estão referidos fundamentos no 328 nº3, mas há dispersos no
código outros fundamentos, como surgimento de questão prejudicial que é fundamento
de adiamento, art 7, c) 328. Mas na qualificação jurídica não está elencada no nº3, há
normas do código, art 358 e 359 e que pode dar lugar a adiamento da audiência de
julgamento. Outros não estão no nº3, mas têm que estar previstos na lei, caso contrário
não há fundamento para adiamento.
Adiamento tem duração maior, mas a lei fixa prazo máximo, não pode exceder
30 dias, art 328 nº6. Neste prazo dos 30 dias, há prazos que não se contam, o prazo de
adiamento de 30 dias suspende-se no período de férias judiciais, não se conta durante
tempo em que autos aguardem a realização de diligencias de prova e também não se
conta entre prolação da sentença e o encerramento de produção de prova. Não conta
o prazo no tempo em que processo vai para recurso e recurso tiver decidido anulação
da decisão, aqui vai decorrer tempo, mas uma vez que exceda os 30 dias, não tem
consequência. Nesse período entre produção de prova e apreciação de recurso e
anulação e regresso para repetição de algumas diligencias não se conta aqui.
Nestes prazos não se conta, não pode ultrapassar, mas se não poder marcar
continuação a audiência de julgamento nos 30 dias, pode impedimento do tribunal ou
dos defensores constituídos, então pode marcar-se para além dos 30 dias. Só releva os
defensores constituídos, aqueles que têm procuração.
Se legislador teve tanto cuidado a fazer isto, é que ultrapassagem dos 30 dias
fora dos casos em que a lei admite tem consequências gravíssimas no processo. E
tinham, ate 2015 previa-se que se adiamento fosse superior a 30 dias, perdia eficácia a
prova produzida, foram ouvidas testemunhas, se entre uma sessão e outra passassem
mais de 30 dias, a prova deixava de produzir eficácia e tínhamos que repetir. Eram
consequências gravosas. Mas porque eram gravosas, havia reação critica a esta
consequência, reação critica que se materializou numa interpretação restritiva da
norma, prova perdia eficácia, mas stj vem dizer que perde eficácia prova pessoal, porque
quanto a prova documental, resultante de escutas telefónicas, o interesse não se
manifesta com tanta veemência. Esta interpretação restritiva que resulta do acórdão
11/2008 de fixação de jurisprudência.
Mas ainda assim as criticas eram severas, dizia-se que esta sanção tão gravosa
não teria sentido agora uma vez que a partir de 2007, todas audiências passaram a ser
gravadas, se juiz se esquece, pode ouvir a gravação. A repetição da produção de prova
tem consequência negativas, do ponto de vista da espontaneidade. Se repetir pode
perder espontaneidade, já houve o ensaio geral.
Se de facto decorressem mais de 30 dias e não se podia aproveitar. Por isso, não
era possível retomar audiência previa, o que se fazia era sessões de fachada ou sessões
empurrão para cumprir o prazo de 30 dias entre sessão e por isso legislador mudou a
sanção. A norma é puramente programática porque não há qualquer sanção. Se se
ultrapassar os 30 dias, não há qualquer consequência processual. E isto não é desejável
porque se vem banalizar adiamentos superiores a 30 dias resultantes do mau
funcionamento do sistema de justiça.

À interrupção ou ao adiamento por período não superior a 5 dias o cpp liga o


efeito da continuação da audiência, esta retoma-se a partir do último ato processual
praticado na audiência interrompida ou adiada; ao adiamento por tempo superior a
cinco dias e até trinta corresponde uma decisão do tribunal, oficiosa ou a requerimento,
no sentido da repetição ou não de alguns dos atos já realizado; ao adiamento superior
a 30 dias, em regra não admissível, liga o cpp o efeito de recomeço da audiência, prova
já realizada perde toda a eficácia, art 328 nº4, 5 e 6.

- O principio de concentração pressupõe que tenha o mesmo espaço,


continuidade temporal e ainda perante o mesmo juiz para assegurar continuidade
psicológica que é pressuposto da livre apreciação da prova. Se audiência de julgamento
em 10 sessões e juiz que vai decidir sobre a prova e direito só assistiu às duas ultimas, o
principio de livre apreciação esta posto em causa, porque temos diferentes juízes.
Temos aqui principio de continuidade do juiz, a lei fala de plenitude da
assistência dos juízes. Se for tribunal singular, o juiz deve ser o mesmo. Mas se for
colegial, a lei estabelece solução para caso de impedimentos, se um dos adjuntos ficar
impedido porque foi transferido ou promovido, nesse caso o juiz promovido deve
continuar a audiência de julgamento ate o final e depois so no fim opera a transferência,
art 328-A nº5.
Se juiz ficar impedido e for temporário, a audiência deve ser adiada e retomada
quando impedimento cessar –art 328 a) nº3.
Mas se impedimento for adjunto que fique permanentemente impedido, como
em caso de morte, então terá que ser substituído e os atos processuais não se repetem,
mas tem que ser presidente a decidir segundo nº7 do art 328-A.

Aula 6/11/2020
- PRINCIPIO DO CONTRADITÓRIO
é principio importante do processo penal, tão importante que legislador
constituinte associou a estrutura acusatória do processo, art 32 nº5 diz que está
vinculado ao principio contraditório.
É principio com tradição histórica longa. Em qualquer processo penal e não penal
e ainda processo penal inquisitória aceitou-se ideia de que se deve ouvir a outra parte
perante decisão que a vai afetar. Deve-se ouvir o arguido antes de proferir decisão
exprime-se em duas máximas: (deve-se ouvir também a outra parte) - audiatur et altera
pars e nemo potest inauditu damnari. Traduz-se a ideia de ouvir a outra parte antes de
proferir a decisão e deve-se ouvir o arguido antes da decisão condenatória.
Mas o contraditório não é este entendido num entendimento de audiência. É
mais do que dever de ouvir o arguido antes de proferir decisão que o afete. O direito ao
contraditório que a crp consagra deve ser entendido como direito à prova, direito a
defender-se, provando. É o sentido que emerge no art 32 nº1 da crp quando assegura
ao arguido a plenitude de garantias de defesa e gozar da facilidade do contraditório, art
32 nº5, significa que tem direito a defender-se da imputação fazendo prova contraria
áquilo que lhe é imputado.
Esta consagração do direito á prova significa que arguido tem faculdade e direito
de apresentar meios de prova na fase de inquérito, instrução e julgamento. Mas nem
sempre foi assim. No direito inglês, este evoluiu desde o sec 13 ate sec 18, que foi
divergente do que se fez sentir na europa, mas aqui apesar da tortura não ser comum,
salvo nos tribunais régios, de existir separação ente acusação e julgamento a entidades
diferentes, apesar disto tudo não se tratava de modelo de garantia de df das pessoas, o
arguido era detido antes do julgamento, tinha poucas possibilidades de apresentar
meios de prova. E quanto a prova testemunhal que era a prova mais recorrível, era
desincentivada. O arguido não podia obter a comparência coativa de testemunhas,
como se testemunhas que aparecessem voluntariamente contra a coroa era
desincentivada através de sanções, consubstanciava crime de depor a favor do arguido,
mesmo que fosse verdade. Cenário onde não era atribuído ao arguido o direito á prova.
Este que é modelo de estrutura acusatória que a europa depois copiou. A ideia de que
direito que arguido tem de fazer prova, é garantia recente e que so encontra
consagração a parir do sec 17 e sec 18. O direito a ser ouvido é que sempre existiu.
Quando se fala em contraditório fala-se da faculdade do arguido fazer prova e
tribunal não pode decidir a imputação sem ouvir a prova do arguido. Mas também se
refere a concreta produção de meio de prova. A aquisição das provas individualmente
consideradas deve fazer-se em moldes contraditórios. Temos concretização no Art 14
e) do pacto internacional dos direitos civis e políticos e art 6 nº3 d) da convenção de
direito humanos, o arguido tem direito de interrogar as testemunhas de acusação e das
defesas. É aqui que reside a nota de que arguido tem direito a indicar as testemunhas
e de interrogar, como interrogar as testemunhas de acusação. Significa isto que o
tribunal não deve aceitar meio probatório, não deve aceitar depoimento de testemunha
sem descredibilizar esse meio probatório. O principio do contraditório expressa-se desta
forma.

Este principio tem expressão por excelência na audiência de julgamento, onde


vale plenamente. Consagrada no art 327, tendo afloramentos ao longo do código. Tem
o principio expressão nas outras fases processuais, embora expressão veja algumas
compressões. Na fase de instrução, o principio do contraditório é reconhecido ao que
respeita ao debate instrutório, art 298 do cpp. No debate vale o principio, mas no que
respeita aos atos de instrução, o contraditório já não vale plenamente. Se arguido
solicitar testemunhas na abertura de instrução, essas podem ser ouvidas pelo juiz de
instrução criminal, sem presença do arguido. O juiz de instrução criminal não está
obrigado a notificar o arguido para assistir à produção de prova por parte de outra
testemunha. A lei não garante o direito de contrainterrogar as testemunhas, nesta fase,
coisa que era impensável na fase de julgamento (art 348 do cpp).

Na fase de inquérito, o contraditório embora exista, está mais comprimido. O


arguido tem direito de indicar provas que resultam em geral do art 61 nº1 g), mas não
tem o direito de intervir constitutivamente na aquisição dos meios probatórios, não tem
direito de estar presente na inquirição de testemunhas, ou na decisão de realização de
busca domiciliaria ou realização de escutas telefónicas ou quaisquer diligencias
probatórias. Em relação a estas diligencias de prova, o contraditório na aquisição de
prova está afastado, com razoes que se prendem com eficácia, irá prejudicar o sucesso
e eficácia da investigação. No entanto, temos direitos que lhe são atribuídos por via do
seu estatuto processual que se relacionam como este principio e que se refletem ao
nível da fase de inquérito, constantes no nº1 do art 61. Também o assistente encontra
direitos de natureza semelhante ao nível desta fase, nº2 do art 69.
É preciso que se garanta a posição jurídica do arguido nestes meios de prova e
legislador encontrou mecanismos, intervém o juiz exercendo função de compensação
da defesa, juiz intervém preventivamente, a autorizar buscas, etc. o sentido desta
intervenção, intervém como juiz das garantias e liberdade. Se arguido não pode intervir
é juiz que intervém no seu interesse para fiscalizar da regularidade e da produção destes
meios de prova.

- princípios relativos à prova: principio da investigação, de livre apreciação da


prova e in dúbio pro reo. Mas há mais princípios relevantes como principio da legalidade
da prova, consagrada no art 125. Figueiredo dias seleciona estes três. Assim como
principio do contraditório é importante em matéria de prova, ele é relevante em matéria
probatória, traduz o direito do arguido intervir em matéria de prova e ainda constitutiva
de meios de prova. Há ainda outro principio sobre a forma e que é importante aqui:
principio da imediação, o tribunal deve escolher meios de prova mais próximos da
matéria a provar.

Quando estudamos a matéria da prova temos que fazer decomposição analítica


do procedimento probatório: momento da amissibilidade da prova, momento da
produção ou aquisição da prova e momento da valoração da prova.
- Na admissibilidade, discute-se a questão de saber que objeto da prova, o que
se deve sujeitar a prova. Ver quais meios de prova admissíveis e resposta é dada pelo
principio da legalidade da prova, exemplo discutimos se são admissíveis as provas
tipificadas pelo legislador e provas atípicas que legislador não tenha previsto e resulta
da evolução cientifica. Aqui também se discute quem tem iniciativa probatória, se cabe
apenas às partes, embora o nosso sistema não seja sistema de partes. se iniciativa
probatória cabe as partes, de acusação e defesa ou se cabe ao tribunal.
- No segundo patamar: produção ou aquisição da prova, interessa ver como cada
meio de prova é produzido no processo. Interessa ver que regras que legislador
estabelece a propósito de cada meio de prova. As regras da prova testemunhas soa
diferentes da tomada de declarações do arguido. A realização de buscar tem regras
próprias. Mas há dois princípios transversais: mediação e do contraditório;
- Patamar da valoração da prova, discute-se que peso probatório a atribuir a cada
meio de prova. É regulada pela livre apreciação da prova, art 127. O juiz aprecia a prova
de acordo com convicção pessoal e tem que atingir patamar de convicção para dar facto
provado ou não provado, seja desfavorável ao não para arguido. Se patamar não for
atingido o juiz não pode deixar de decidir, é proibido o non liquet. É preciso resolver
impasse probatório, que se resolve segundo in dúbio pro reo, que emerge do principio
da presunção de inocência do art 32 nº2 da crp.

PRINCIPIO DA INVESTIGAÇÃO:
Em matéria de admissibilidade discutimos quem é que tem iniciativa probatória
e a resposta depende do sistema do modelo processual que se adote. Num sistema
processual, num processo de estrutura inquisitória a iniciativa cabe ao tribunal. No
inquisitório medieval era juiz que adquiria a noticia de crime, através da infâmia. Em vez
de esperar que fosse deduzido a acusação, tomava iniciativa de investigar, principio da
oficialidade. Investigava e não precisava para julgar que alguém diferente acusasse e
gozava de poder de ordenar qualquer meio de prova, principio da investigação. O juiz
tem mais ampla iniciativa probatória e pode ordenar produção de quaisquer meios de
prova.
Já no modelo acusatório, a prova, a iniciativa probatória cabe as partes, acusação
e defesa e o juiz intervém como arbitro passivo so deferindo ou indeferindo os meios de
prova que tenham requerido.
O nosso modelo é de estrutura acusatória integrado com principio de
investigação judicial. Ou seja, os sujeitos processuais têm iniciativa probatória, tem
direito de indicar os meios de prova, mas juiz tem também poder dever de comprovar
enunciados factuais para tomada de decisão, mesmo na falta de iniciativa das provas
ou colmatando lacunas da iniciativa das portas. Pode o juiz ordenar provas contra
vontade dos sujeitos processuais, juiz não está limitado aos meios de prova que as
partes ofereceram ou venham oferecer.
Exemplo.: se juiz num processo concreto verifica que o arguido está mal
representado e não requer provas que são necessárias para evidenciar a inocência do
arguido, pode o juiz ordenar a produção desses meios de prova. O juiz não é arbitro
passivo a deferir ou não as provas apresentadas pelo defensor ou pelo mp. Tem poder
e dever de ordenar quaisquer meios de prova, da verdade da imputação ou da inocência
do arguido.

Onde é que principio está consagrado?


Art 340 nº1: confirma-se que julgador tem poder e dever de investigar
oficiosamente, independentemente das contribuições dos sujeitos processuais. E tem
poder de ordenar oficiosamente (sublinhar). O principio vale quer para o juiz de
instrução, quer para o juiz de julgamento.

O principio da investigação encontra reflexos num instituto que é a tradução do


contraditório e que é típico de um processo de estrutura acusatória de tipo adversarial,
art 348, consagra método do interrogatório cruzado. Interroga a testemunhas e é
contrainterrogada pela parte contra depoimento atinge. Mas a diferença é que o nosso
sistema conhece principio da investigação, o juiz e jurados pode interromper o
interrogatório cruzado e podem fazer perguntas adicionais. O nosso modelo não é como
o norte americano, o nosso juiz intervém constitutivamente. Pode intervir na produção
de prova testemunhal.

O principio de investigação vale em relação a toda a matéria de investigação e


deve exercer-se da forma mais completa possível. se juiz deixar de ordenar a produção
de meios de prova que sejam indispensáveis para descoberta da verdade, incorre em
nulidade sanável que está prevista no art 120 nº2 d) parte final.
Este principio de investigação exige que deve ser investigação completa e
funciona em caso de duvida, in dúbio pro reo. Vamos perceber que em caso de duvida
irredutível sobre os factos, o juiz decide em favor do arguido. Mas não funciona perante
qualquer estado de duvida, são duvidas insanáveis, que não se consegue esclarecer
porque nenhuma outra prova venha a produzir. essa duvida pelo facto de não se
produzir provas que se podem produzir, essa duvida não se resolve in dúbio pro reo,
produz-se com a prova, mas so depois de produzidas as provas e persistir a duvida é que
intervém in dúbio pro reo. O principio in dubio pro reo releva apenas a partir do
momento em que toda a prova necessária ao desenvolvimento do processo esteja
assente.
Tem importância, mas o nosso sistema é acusatório e quando juiz requer
produção de provas, art 340 nº1, mas deve dar conhecimento aos sujeitos processuais
com antecedência para se pronunciar sobre meios de prova. Não deve ser surpresa, art
340 nº2 do cpp.

- PRINCIPIO DA LIVRE APRECIAÇÃO DA PROVA:


com a produção de prova em julgamento visa-se oferecer ao tribunal as
condições necessárias para que este forme a sua convicção sobre a existência ou
inexistência dos factos e situações que relevam para a sentença. A questão de saber se
a apreciação da prova deve ter lugar na base de regras legais predeterminantes do valor
a atribuir-lhe (sistema de prova legal) ou antes na base da livre valoração do juiz e da
sua convicção pessoal (sistema de prova livre).
é principio relevante no 3º patamar da valoração da prova, mas não nos interessa
na fase de julgamento. Tem importância no que respeita a valoração da prova no
julgamento, mas intervém quando qualquer entidade judiciaria tenha que produzir
decisão em matéria de prova. Quando o mp tem que proferir decisão de arquivar, está
assente nas provas esta decisão. O mp valora as provas de acordo com principio de livre
apreciação. a mesma coisa que juiz de instrução criminal que tem que proferir despacho
de pronuncia ou não pronuncia. Este valora as provas de acordo com este principio. Ou
seja, este principio determina que a entidade competente para apreciar os elementos
de prova que tenham sido produzidos e o modo como eles devem ser por ela
valorados, relevando sobretudo ao nível da audiência de julgamento.
O juiz também pode ter que tomar decisão sobre aplicação de medida de coação,
como prisão preventiva que requer fortes indícios da pratica do crime. O juízo de fortes
índicos assenta nas provas que já foram produzidas, tem que haver prova que há fortes
indícios. O juiz valora as provas para formar juízo de fortes índicos, servindo-se do
principio de livre apreciação da prova. Interessa em todos os momentos processuais,
em que se requeira a estas entidades a apreciação da prova.

O problema do peso a atribuir a cada meio de prova é um dos mais complexos


em processo penal e respostas oscilaram entre dois princípios de sinal oposto:
- sistema da prova legal que vigorou durante seculos;
- e sistema de intime conviction da prova livre, introduzido após a revolução
francesa.
Estamos colocados entre estes dois sistemas extremos.
No que respeita a prova legal, o valor de cada prova era determinado em
abstrato, vinculado o julgador. Havia uma predeterminação normativa do valor a
atribuir a cada prova, subtraindo essa apreciação do juízo do concreto julgador a quem
coubesse, em cada caso, aplicar as regras legais.
Pode ser vista como prova legal negativa ou como prova legal positiva. O
sistema que vigorou na europa continental do art 13 a sec 18 era sistema legal positivo.
Mas a prova legal traduz-se na vinculação do julgador a regras de valoração que estão
pré-determinadas pelo legislador ou pela doutrina. Na europa continental, era a
doutrina que construía. O sistema de prova legal traduz-se na convicção do julgador, de
regras pré-determinada pelo julgador ou pela doutrina que são vinculativas no que
respeita ao valor a atribuir de cada meio de prova.

Essas regras de prova legal podem ser negativas ou positivas:


- serão negativos quando diminuam ou excluam o valor de certos elementos de
prova, fixando situações na falta das quais o juiz não pode ver como confirmados os
factos mesmo que esteja convencido que aconteceu de determinada forma. A regra
probatória legal é unus testis nullus testis. Esta regra diz que uma testemunha é
insuficiente para condenar, para condenar é preciso duas testemunhas concordantes. É
prova legal negativa, limita-se a excluir ou diminuir o peso de meios probatórios e fixar
condições pela qual não se pode condenar. Se existir apenas uma, não é possível
condenar.
As regras de prova legal negativas têm cunho garantístico, visam evitar arbítrio
e assentam em regras de experiencia que estão consolidadas. A probabilidade de fazer
falsa imputação é grande. Mas probabilidade de duas pessoas faltarem a verdade e
sejam concordantes é menor. Assim exigimos para que se possa condenar a duas
testemunhas, proíbe-se que se condene com uma.

- as positivas que foram as que vigoraram entre sec 13 e 18, prefixaram o valor
de cada meio de prova e obrigavam o juiz a dar como provados os factos, desde que
provas requeridas pela lei estivessem verificados, ainda que juiz estivesse convencido
pessoalmente pela inocência. Estes meios de prova pré-determinam o valor e obrigam
a julgador a dar como provado a hipótese acusatória, mediante a verificação dos
pressupostos, ainda que esteja pessoalmente convencido do contrário.
A regra de unus testis nullus testis converteu-se em regra de prova legal positiva.
Passou-se a dizer que quando existir uma testemunha, não se pode condenar, mas se
existir duas, o juiz está obrigado a condenar. Na prova legal positiva, verificado
depoimento concordante de duas testemunhas, está obrigado a condenar. Tinham
cunho positivo, obrigava a condenar ainda que a sua convicção seja pela inocência do
arguido. Evoluiu para sistema de hierarquia das provas e aritmética da prova.

No sec 18 tudo isto ruiu, abandonou-se o sistema de provas positivas com a


consagração do critério da intime conviction. Que razoes justificaram essa passagem?
- primeira razão era a critica feita ao sistema inquisitório, criticava-se as varias
dimensões que estavam ligadas. Deveu-se ao surgimento de um discurso de proteção
dos direitos naturais do homem e do entendimento de que a tortura era fonte de erros
judiciários.
Por exemplo a tortura que era objeto das críticas mais severas, não era alheia a
circunstancias de vigorar sistema de provas legais. O julgador que esteva obrigado a ter
prova plena para condenar. As exigências do plano probatório colocarem-se numa
fasquia muito alta, so era possível condenar quando existisse confissão, ou duas
testemunhas concordantes, so nestas condições tornou mais apetecível a tortura,
porque o flagrante delito e outros meios eram excecionais, eram raros e so arguido sabia
se tinha cometido ou não. a tortura foi legitimada pelas exigências da formação de
convicção pelo tribunal serem colocadas num patamar tao alto. A critica à tortura
determinou a ruina do sistema legal. Além da tortura ser contraria ao entendimento jus
racionalista;

- havia critica de regime epistemológica. Os autores apontavam também para a


existência de fragilidades epistemológicas deste modelo- As regras das provas legais
assentavam em máximas de experiencia. A confissão tinha peso grande, porque em
regra as pessoas não admitem factos desfavoráveis. O peso de duas testemunhas
concordantes tinham peso, porque era improvável que duas pessoas dissessem a
mesma coisa e fosse mentira. Tinham na sua base regras de experiencia epistemológicas
fundadas. Estava aqui subjacente um raciocínio falacioso, uma vez que se tomavam
como verdades absolutas aquilo que eram realidades de natureza meramente
tendencial, generalizações.
Mas o risco é que transformavam a indução judiciaria em dedução mascarada.
No fundo, o raciocínio que era imposto ao juiz era dedutivo, imponha-se exercício
subsuntivo. A regra da prova legal dizia que sempre que testemunhas eram
concordantes, dizem a verdade.
Mas o vicio epistemológico é aqui: o que é levado ao raciocínio judiciário, não
tem validade geral, incorre-se numa falacia, da generalização abusiva. Em regra, quando
duas pessoas dizem a mesma coisa é verdade, é uma regra que acontece na maioria dos
casos, mas não sempre, podem combinar para mentir. É esta falacia de transformar a
maioria das situações e generalizar para todas as situações.

- terceiro aspeto critico que é mais pragmático. No sec 18 quis-se copiar o


sistema inglês, seriam as pessoas do acusado que determinariam a culpabilidade ou não
avaliando provas que fossem deduzidas.
A introdução de júri popular era inconciliável com sistema de provas legais,
porque os juízes laicos não podiam aplicar as regras que revestiam grande
complexidade, não eram facilmente almejáveis por quem não fosse jurista e porque se
entendia que era na convicção intima dos jurados, emanação da razão individual e
soberania popular que residia o critério da verdade. Na sua convicção intima, como
expressão da soberania popular, é nesta que reside critério ultimo da verdade. Temos
convicção jusracionalista e principio democrático que justificavam esta consideração e
transição para o sistema de intime conviction.
Aqui na intime conviction, decidiam segundo a sua convicção, que não tinham
que fundamentar. Não interessava que provas tinham sido produzidas ou que peso a lei
atribuía a cada prova, interessava apenas a convicção dos jurados e não tinha que estar
assente em critérios racionais. Como não havia motivação em matéria de facto, não
havia possibilidade de recurso.

Este principio de livre apreciação da prova nesta configuração foi consagrado no


code d’instruction criminelle, mas sofreu perversões no sec 20, com a aplicação deste
sistema de convicção intima aos julgamentos feitos por juízes de carreira. Em 1908
introduziu-se o julgamento por jurados na fase de julgamento, mas a acusação que após
a revolução francesa também competia aos jurados, passou a pertencer a órgão do
estado que já decidia segundo a livre apreciação. em Itália, nunca se introduziu tribunal
de jurados, mas tivemos livre apreciação da prova e ao longo do sec 20, na construção
de estado autoritários, na Alemanha, Espanha, Itália, o principio da livre apreciação
sofreu interpretação autoritária. Passou a usar-se este principio como critério para
introduzir no processo provas que foram produzidas em contravenção das provas legais.
Exemplo.: estabelecem-se regras de processo penal da prova por
reconhecimento, art 147 a questão que se colocava é se não fosse cumprido, se se
fizesse reconhecimento e se não se cumprisse as regras? O juiz perguntava a
testemunha que conhecia a pessoa presente na audiência como agente, a testemunha
ou dizia que reconhecia ou então não reconhecia e dizia que sim. a questão era se estava
diligencia podia ser considerada? Pode, a prova por reconhecimento não é feita assim,
mas temos principio da livre apreciação que permite isto. Serve para introduzir meios
de prova inadmissíveis ou que tivessem sido irregularmente produzidos. Este momento
da proposição da prova e da valoração da prova que se quis com evolução doutrinal se
quis limar. Temos introdução e autoritarismo.
Este principio levava a admitir qualquer prova desde que juiz estivesse
convencido, mesmo que prova fosse proibida pelo legislador.
Este principio da livre apreciação de prova para ser conforme com estrutura
acusatória tem que sofrer alguma explicação. A doutrina consciente destes
desvirtuamentos históricos, passou a assinalar conteúdo negativo e positivo.
- conteúdo negativo: a livre apreciação tem este conteúdo porque juiz não esta
vinculado a regras probatórias preestabelecidas em matéria de valoração. Deve decidir
segundo a sua convicção pessoal.
- conteúdo positivo: juiz deve decidir segundo convicção pessoal, mas a
convicção do juiz deve ser estribada em critérios objetivos e racionais, deve ser
convicção motivada e suscetível de reapreciação em sede de recuso.

O principio da livre apreciação da prova, consagrado no art 127 do cp tem esta


dupla dimensão, negativa porque desvincula o juiz da obediência de critérios valorativos
pré-determinados pelo julgador, juiz é livre na convicção da prova. Mas tem dimensão
positiva, juiz deve valorar a prova segundo convicção pessoal, mas com respeito de
critérios objetivos e racionais e é suscetível de motivação e reapreciação em sede de
recurso.

Que limites do conteúdo positivo da livre apreciação?


A livre apreciação esta sujeito a limites, conteúdo positivo.
- São limites internos ou lógicos que se traduzem na obediência de critérios
objetivos e racionais, traduz-se na obediência das regras de experiencia.
- Mas há limites externos: aqueles que se traduzem no dever de fundamentar a
convicção e na suscetibilidade de reapreciação em sede de recurso.

Limites internos:
- regras da experiência: Art 127 consagra livre apreciação da prova e legislador
vincula a convicção do juiz ao respeito das regras da experiência. É convicção sobre
prova que está vinculada ao respeito das regras de experiencia. Que regras de
experiencia? São padrões estereotipados de comportamento pessoal que podem ser
usados para apreciar conduta de pessoa. valor que se estabelece a certos indícios
assenta na máxima de experiência, quem é inocente não foge. Se fugiu, então pode ser
culpado.
Exemplo.: tratava-se de crime de ameaça e foram ouvidos o ofendido e do lado
do arguido, ele prestou declarações confirmando que sim é verdade, mas negou logo.
Houve testemunha indicada pelo arguido que estava a fazer trabalhos e via o local onde
os factos ocorreram. A testemunha do ofendido diz que assistiu aos factos e que estava
a trabalhar num jardim de uma casa do ofendido, mas a testemunha do arguido explicou
que a casa estava desabitada e que cadeado esteve fechado a manhã toda e ninguém
tinha entrado. A testemunha do ofendido diz que foi transportado pelo patrão e por isso
é que não havia la carro nenhum e que subiu pelo portão. Não soube explicar. As regras
da experiencia intervém aqui, é estranho alguém passar por cima do portão. O juiz
considera as regras da experiencia porque é contrario a regras da experiencia.

Podemos tirar ilações do comportamento futuro das pessoas, mas as regras da


experiencias entendidas no sentido mais lato incluem regras da logica, leis cientificas e
universais e leis probabilísticas.
- A lei da não ubiquidade, da logica, assente numa logica, que determina a
absolvição de um arguido quando se prove que não se encontrava no local da prática do
facto à data do crime; Uma pessoa não pode estar em dois sítios ao mesmo tempo – lei
da não ubiquidade, que tem que ter em conta estas regras;
- Juiz também deve obedecer a leis cientificas universais que formam o cariz
cientifico. Elas são universais porque validade não esta assente em jogo de
probabilidade, mas podem ser refutadas em função da evolução da ciência que conduz
a refutação. A verdade é provisoria. As leis cientificas universais, a teoria da relatividade,
são leis cientificas universais, aceites enquanto paradigma cientifico não mudar, mas
podem conduzir a determinada decisão. Juiz está vinculado a essas regras na sua
decisão.
Exemplo.: defendeu-se teoria geocêntrica e depois tornou-se dominante a teoria
heliocêntrica, o juiz não pode valorar prova segundo teoria geocêntrica.

- Vinculado ainda a leis cientificas probabilísticas que oferecem uma medida de


certeza graduada pela mera probabilidade. Estão na base do valor probatórios das
analises de adn ou de tipo de sangue. Assentam numa probabilidade quase ínfima de
duas pessoas ter o mesmo perfil genético. Não é probabilidade nula porque os gémeos
têm o mesmo código genético ou probabilidade de duas pessoas terem o mesmo tipo
de sangue. Estas provas assentam o seu peso devendo atender a leis cientificas
probabilísticas, claro que há desvio da lei e conclusão de juiz deve tomar, que é da
responsabilidade do juiz. A garantia que é dada é de 99,9%.
Estes formam limites internos ou lógicos.

Mas temos ainda os limites externos: constituídos por dever de fundamentação


e suscetibilidade de revisão da decisão.

- Juiz tem que fundamentar a matéria de facto, decorre do art 205 da crp e no
que respeita ao cpp está consagrado no art 97 nº5 em matéria de facto e de direito, mas
interessa a fundamentação da matéria de facto. Legislador é mais assertivo na
regulamentação em particular da fundamentação na sentença. Legislador teve cuidado
no momento da redação da norma.
Art 374 do cpp: fundamentação da matéria de facto, juiz deve elencar factos que
considera provados e aqueles que não estão provadas, mas não basta, juiz tem que fazer
exposição de motivos de facto e de direito que fundamentam a decisão. Deve indicar
de meios de prova que deu como provados ou não os meios de prova e deve indicar a
fundamentação. Deve dizer o que a testemunha disse que permite afirmar que foi
provado determinado facto.
Mas não é suficiente, diz no nº2 que juiz deve fazer indicação e exame critico das
provas que serviu para formar a decisão do tribunal, deve indicar os raciocínios de que
se serviu para atribuir mais peso a uma testemunha, em detrimento da outra. Deve
indicar que critérios de valoração, máxima de experiência e critérios lógicos que se
serviu para formar convicção num determinado sentido e não do outro.

- Estes critérios de valoração podem ser apreciados em recurso. Recurso em


matéria de facto permite ao juiz do tribunal superior sindicar as provas da decisão que
tribunal inferior proferiu, mesmo quando recurso é de revista. O tribunal da relação é
recurso de apelação que pode ser em matéria de facto ou de direito, mas recurso para
supremo é de revista, conhece apenas de direito.
Mas mesmo assim, sendo recurso para supremo, recurso de revista e devendo
juiz conhecer de direito, no art 410 nº2, consagra recurso de revista ampliado: os juízes
conselheiros, embora conheçam apenas de direito, podem apreciar pontos de facto
quando do texto da fundamentação resulte contradição insanável da fundamentação
e entre fundamentação da decisão ou erro na apreciação da prova.
Os juízes do supremo so podem detetar erro na apreciação de prova se critérios
de valoração da prova estiverem plasmados no texto da fundamentação. O juiz tem que
seguir critérios lógicos que são reapreciados em sede de recurso de apelação, em
matéria de facto e ate em recurso de revista são apreciados, nos termos do art 410 nº2.

Este principio indica que juiz decida segundo a sua convicção que está assente
em critérios lógicos. Mas este principio da livre apreciação de prova sofre limites
normativos. O legislador intervém em matéria de valoração. há limites normativos a
livre apreciação da prova, legislador sobrepõe-se a consciência do juiz na valoração da
prova, introduzindo provas probatórias legais, quer negativas, quer positivas. Há
intervenção do legislador pontual em matéria de intervenção que se traduziu em limites
negativos de intervenção.
- os limites negativos introduzidos pelo legislador: impedem a decisão do
julgador de assentar nos seguintes fatores:
- proibição de valoração do silencio, quer total, quer parcial. Mesmo que
juiz esteja convencido que o silencio é suspeito, não pode valorar silencio em
desfavor do arguido., nos termos da alínea do art 343 nº1 e nº1 do art 345 do
cpp. O arguido tem direito ao silencio, art 61 nº1 d), pelo que não pode estar
obrigado a prestar declarações sobre a matéria de imputação, cabendo ao
tribunal esclarecê-lo quanto a esse direito de não responder.
Trata-se de um direito á não autoincriminação que tem proteção
constitucional (art 32 nº1 e 3 da crp).

- Ou proibição de valoração das declarações, hipótese prevista no art


345 nº4. Nos casos, em que a declarações prestadas por um coarguido contra
outro coarguido quando aquele que declare se recuse a responder a algumas
perguntas.

- Temos ainda proibição do depoimento indireto e do ouvir dizer, art 129


e proibição de valoração de rumores públicos, art 130.

- Outro limite negativo não absoluto é exigência de corroboração dos


depoimentos prestados por testemunhas anonimas. Já não é proibição de
valorar, não se proíbe a valoração, podem ser valorados, mas não podem valer
por si só. Tem que ser prorrogado, art 19 nº2 da lei de proteção de testemunhas.

- mas há limites positivos normativos à livre apreciação da prova: são situações


em que em vez de excluir ou limitar o valor de certos meios de prova, aqui atribui-se um
peso reforçado a certos meios de prova.
- É o caso do Art 344: confissão do arguido, tem peso probatório
reforçado;
- ainda o caso da prova pericial, art 163.

Nestes casos, quer confissão, quer prova pericial tem peso probatório que se
subtrai à livre apreciação de julgador. Preenchidos requisitos têm valor de prova plena,
o juiz condena sem produção de outras provas. Mas se juiz duvidar da confissão, não
tem valor plena e se juiz divergir do conteúdo dos pareceres dos peritos, deve
fundamentar a divergência. São ainda interferências do legislador limitadas, porque se
fossem mais interferências, nem se podia dizer que era sistema de liberdade de
produção de prova.

Relativamente aos limites negativos em particular:


- proibição de valoração do silencio. Arguido tem direito ao silencio e no art 345
e 343 o arguido é informado que tem direito ao silencio e essa omissão não é
considerada em seu desfavor. Quer a omissão total, quer omissão parcial, em que
arguido decide falar, mas se recusa a responder a algumas questões. O juiz nos dois
casos, mesmo que considere suspeito este silencio, o juiz não pode valorar o silencio em
desfavor do arguido.
Esta solução legal do art 343 e 345 nº1 é concretização do direito ao silencio, é
reforço deste direito. Porque se podia consagrar o direito ao silencio e admitir-se a
valoração do silencio. Com a proibição da tortura, no sec 18, pretendia-se salvaguardar
a liberdade do arguido, mas um autor defendia que quando arguido não pudesse
declarar, mas podia punir-se o arguido remitente que podia ser penas corporais. Não se
podia torturar arguido para confessar, mas se se recusasse a colaborar tinha penas
corporais. É forma diferente de fazer a mesma coisa.
Bentham no sec 19 tinha visão mais refratária quanto ao silencio, entendia que
não se podia obrigar o arguido a prestar declarações, nem mediante força, nem sanções,
mas juiz não estava dispensado de considerar todas as fontes de informação. O silencio
tinha valor informativo, se silencio for apto a confirmar suspeita, o juiz deve averiguar a
culpabilidade do arguido. Temos proibição de coagir o arguido mediante força.
Temos aqui prerrogativa odiosa, direito que era conferido ao arguido, mas que
trazia consequências desfavoráveis. Por isso é que ordenamentos a partir da década 60,
consagrou-se proibição da valoração desfavorável do silencio. Mesmo que juiz acha
suspeito o silencio, não pode valorar silencio contra arguido.

- declarações dos coarguidos, casos em que há comparticipação criminosa. Umas


vezes arguidos estão calados, mas um pode falar, prestar declarações e quando o faz,
pode confessar a imputação, ou pode desculpar-se ou atribuindo responsabilidade aos
factos do co-arguido, em caso de comparticipação, pode dar-se o caso de cada um deles
falar, mas atribuindo responsabilidade ao outro e questão é de saber como valorar
declarações?
Legislador intervém, consagrando limite normativo a livre apreciação da prova.
Mas nem sempre foi assim e antes de ser consagrado havia divergências doutrinárias:
Havia quem dissesse que não era meio admissível de prova, Rodrigo Santiago, se
a imputa responsabilidade a b, este não é meio admissível de prova, porque são meio
de defesa e podem ser valoradas como meio de defesa e não como meio de prova de
imputação do ouro coarguido.
Outra posição era de Dina dizendo que a declaração de coarguido é meio
admissível de prova, mas o legislador deve ter escrúpulo particular na sua valoração,
porque coarguidos tem especial interesse em atribuir responsabilidade nos outros
coarguidos e estão em posição melhor mais credível. Devemos ter cuidado e escrúpulo
na valoração da fonte provavelmente inquinada de informação. Dina sustenta as
exigências de corroboração que não consta da lei. Os tribunais atendiam a declarações
prestados do arguido contra outro, mas so condenavam quando existisse meios de
prova que as confirmasse no plano da atendibilidade. Mas esta é evolução doutrinal.

Mas no art 345 nº4 estabelece o facto de existir duas pessoas que são coarguidos
que respondem perante o mesmo crime.
Exemplo.: a decide falar e b remete ao silencio. a diz que a ideia foi de b e que
ele apenas deu boleia para aquela zona, pediu para esperar e entretanto a policia chega.
Os juízes e jurados decidem fazer perguntas e ainda defensor de b. perguntam
perguntas difíceis e não responde, pode não responder e tem direito parcial ou total de
silencio e não se pode valorar contra a o facto de que não responder, mas aqui o que se
diz no art 345 nº4 é que não se pode valorar as declarações de a contra b, contra outro
coarguido a quem as declarações apresentam. Ter em atenção isto, é erro comum no
exame: não podem ser valoradas contra o outro coarguido, contra ele podem ser
valoradas, mas não em relação ao outro.

A lei proíbe isto porque se a estiver calado e b falar e responder pode ser
valorado contra b e contra a, mesmo que a tenha decidido remeter-se ao silencio,
legitimamente, não é para proteger o direito ao silencio de a. é porque quando arguido
b deixa de responder algumas perguntas impede a fiscalização efetiva das prestações
que preste. Furta-se ao contraditório e impede que haja fiscalização efetiva pelo
tribunal daquilo que está a ser dito. Este depoimento que não é bem fiscalizado porque
não responde algumas perguntas é depoimento mais frágil, com menores garantias de
verdade e por isso legislador entende que não deve ser considerado. Impede a
fiscalização pelo coarguido a quem a declaração que afeta e ainda impede o
conhecimento da verdade.
Esta norma vale também no caso em que a e b falam os dois.

- Terceiro limite: proibição de testemunho de ouvir dizer ou depoimento


indireto. a proibição consta no art 129 nº1 do cpp.
Art 129 nº1: se depoimento resultar de pessoas determinadas, pode chamar a
fonte originaria da declaração, a pessoa a quem a testemunha ouviu chamar o que sabe.
Caso contrario não vale como meio de prova, é o que resulta do nº1.
Depois temos situações excecionais em que pode ter sido tomado em conta, no
nº1 2º parte, quando haja anomalia psíquica, morte ou impossibilidade de serem
encontradas

Porque proíbe o depoimento indireto ou testemunho de ouvir dizer?


Porque são meios de prova mais falíveis. Há perdas de informação e que é
intrinsecamente mais falível. É também menos controlado, a fonte originaria da
informação não esta presente enão é sujeita a contrainterrogatório, nem é sujeita a
fiscalização por parte do julgador. Há compressão do principio da imediação e do
contraditório e por isso é que legislador entende que o depoimento indireto não pode
ser valorado.

Os rumores e vozes publicas art 130 também não podem ser valoradas. É caso
em que a testemunha diz que a pessoa é isto e aquilo so porque ouviu dizer. Os rumores
públicos não são meios de prova, não têm valor de prova.

- 4º limite negativo: depoimento de testemunhas anonimas, para além do


silencio, o depoimento indireto pode ser verdadeiro, mas não pode valorar, assim como
os rumores públicos. São limites negativos à livre apreciação, não pode valorar ainda
que esteja convencido da sua veracidade.

No art 19 nº2 da lei de proteção de testemunhas (lei 93/99): há meios de prova


que tem valor menor. O anonimato de testemunhas é medida de proteção em caso de
crimes organizados, em que há perigo de intimação e perigo para vida, pode adotar-se
anonimato, o legislador permite perante determinados tipos de crimes que a
testemunha dê o seu depoimento sem que tenha de revelar a sua identidade.
Testemunha é anonima mas que pode prestar depoimento. Há um processo em que
temos que averiguar a veracidade da testemunha.
Quando isto acontece, o que a testemunha disser pode ser valorado. Se se ouve
testemunha anonima, é para ser valorado. Mas legislador salvaguarda o facto de
nenhuma decisão poder se basear apenas em testemunhas anonimas. Proíbe-se que a
decisão condenatória e já não a absolvitória se funde exclusivamente em depoimento
de testemunhas anonimas. É preciso que depoimento destas seja corroborado por
outras fontes de prova, pode o juiz considerar perante outros meios probatórios.

É permitido a corroboração cruzada? Uma testemunha anonima corroborar


outra testemunha anonima?
Não, não pode haver. O tribunal não pode considerar o depoimento, apenas
pode considerar quando for corroborado por outra fonte que não anonima.

Quanto aos limites positivos:


- confissão do arguido, art 344: foi sempre objeto de grande discussão, houve
período histórico em que era prova rainha, depois foi visto com grandes reservas, e
precisamente no código atual, o legislador atribui mediante preenchimento de
requisitos valor de prova plena. Prova plena significa que juiz pode dispensar outros
meios de prova, art 344 nº2 a).
pergunta para oral: o que significa prova plena, ter em mente o art 344 a) e b).
tribunal deve dispensar a produção de outra prova, deve considerar como factos
provados e passar para alegações orais.
Se existir testemunhas bastante credível e tribunal fique com convicção que é
verdade, nunca produz este valor, nunca tem valor de prova plena. O tribunal tem que
ouvir as provas que têm que ser ouvidas. Não tem consequência por força da lei como
é o caso da confissão. O juiz tem que respeitar o contraditório. Não há consequência
imposta pela lei, como é o caso da confissão. A produção do depoimento não dispensa
a produção de outras provas, so acontece com a confissão.

Requisitos para que haja confissão tenha valor de prova plena:


- tem que ser confissão livre, sem coação integral e sem reservas. Integral é
confissão que inclua todos os factos da imputação e sem reservas não se pode invocar
outros factos suscetíveis de dar aos que foram confessados tratamento diferente.
No caso de a confissão ser parcial, não possuirá eficácia probatória plena.
Exemplo.: num homicídio confessar-se e invocar legitima defesa;

- tem que ser uma confissão em crime que não seja punível com pena que não
ultrapasse os 5 anos (alínea c): Isto porque se tem entendido que são mais prováveis
confissões falsas quando são crimes mais graves, de maior mediatismo. Para além disso,
o legislador pretende, a contrario favorecer uma ideia de consenso no âmbito da
pequena e média criminalidade, admitindo concessões em favor de uma verdade forma.
Exemplo.: no homicídio não era possível existir confissão.

- a solução de dar peso probatório a confissão é vista como consenso, a aceitação


dos factos pelo arguido acaba por conduzir ou facilitar a solução do caso penal. estas
soluções de consenso, fundadas no acordo, são soluções que so são admissíveis nos
processos de pequena e media criminalidade, prisão ate 5 anos. Quando crime é mais
grave, o estado não renuncia à descoberta da verdade material, renuncia mais aceitando
a situação consensual quando crime seja menos grave.
Num crime de homicídio, violação ou terrorismo aceitamos menos mal as
soluções consensuais.

- é preciso que seja processo em que não haja coarguidos, ou havendo, todos
eles confessem os factos no mesmo sentido (alínea a).
Porque esta exigência?
Faz sentido porque alternativas não eram viáveis. Um dele confessando e outros
não, não se pode estender confissão do que declara aos demais, porque seria violar a
liberdade de declaração dos outros, haveria erosão do seu direito ao silencio. A
confessa, a confissão vale em relação a a, não pode dar provado os factos que a confessa
e estender aos outros. A confissão tem como consequência dar os factos provados. O
tribunal não pode dar os factos de a provados, sem que b confesse. Não pode dar como
provados em relação a um e dar como controvertidos em relação a outro.
Quando um confesse e outro não, os factos continuam a ter-se como
controvertidos, a confissão não tem valor de prova plena e produz-se prova toda e
fazem-se contas. Vemos provas e fica convencido ou não quanto a imputação. Não pode
é dar como factos provados por força da lei, não pode por força da lei darem esses factos
como provados. Se esses estiverem preenchidos, a confissão tem valor de prova plena,
dispensa-se outros meios de prova.

- o tribunal em sua convicção, suspeitar do caráter livre da confissão,


nomeadamente duvidas sobre a imputabilidade plena do arguido ou da veracidade dos
factos confessados, (alínea b).
Parece que resulta do art 344 que legislador impõe conclusão probatória
positiva, factos dão-se como provados, mesmo contra convicção pessoal do julgador. A
lei manda que os factos se deem como provados.
Não é isto, deve-se entender que o art 344 atribui valor reforçado a confissão,
mas não exclui a livre apreciação da prova, porque no art 344 nº3 b) diz-se que confissão
não tem valor de prova plena se tribunal na sua convicção suspeitar do carater livre da
confissão por duvidas da imputabilidade do arguido ou dos factos confessados. Se juiz
não acreditar na veracidade da confissão e tiver duvidas sobre a sua liberdade, porque
há duvida de imputabilidade do arguido, não considera os factos como provados. Há
margem de liberdade. Afinal julgador pode afastar valor de prova plena, pode divergir
do que resulta da própria lei, mesmo que estejam preenchidos os requisitos.
A confissão não afasta a livre apreciação do juiz, pode afastar a prova plena da
confissão se suspeitar da veracidade dos factos confessados ou tiver duvidas sobre
liberdade do arguido, suspeitar que não é plenamente imputável, art 344 nº3 b).

Aula 13/11/2020
O principio da livre apreciação supõe que entidade competente para decidir seja
juiz no momento da prolação da decisão final. Uma autoridade judiciária quando seja
chamada a apreciar prova e decidir, o principio que vale é livre apreciação. A entidade
aprecia a prova segundo a sua convicção pessoal sujeita a critérios racionais, a lei fala
de regras de experiencia e suscetível de controlo em sede de motivação e de recurso.
Tem significado negativo no sentido de que juiz está desvinculado de critérios
normativos que sejam vinculativos em matéria das provas, não há regras que tarifam
valor das provas.
Tem também significado positivo, porque não é convicção puramente subjetivo,
é sempre livre apreciação condicionada ao respeito de regras de experiencia, sujeita a
fundamentação e recurso, em sede de recurso.
É principio geral, mas legislador intervém em matéria de valoração e sobrepõe
os seus critérios aos do juiz e faz-se numa dimensão negativa, estabelecendo regras
negativas de valoração, que excluem ou limitam determinadas provas.
As regras positivas, situações em que legislador sobrepõe o seu comando
normativo á convicção do juiz atribuindo valor reforçado a certas provas, como
confissão que tem valor de prova plena se verificar requisitos do art 344. A livre
apreciação da prova não é totalmente excluída, porque juiz pode deixar de atribuir valor
de prova plena quando suspeitar que confissão que não é livre.

- falta ver aspeto em que lei atribui a prova pericial uma prova de valor pleno.
Art 163 do cpp diz que juízo técnico, cientifico e artístico inerente a prova pericial
esta subtraído da livre apreciação. parece que decorre da lei que julgador esta vinculado
pelo juízo técnico, artístico que esta na prova pericial, que não pode dele afastar-se.
Temos precisão: juiz não está vinculado pelo parecer dos peritos, o juiz esta
vinculado ao juízo que seja estritamente técnico que está na perícia. Se se pedir analise
psíquica que seja determinante da sua inimputabilidade. Na parte pericial em que perito
discuta a existência de anomalia psíquica, as consequências no plano cognitivo e
funcional, em tudo o que diga respeito a juízo cientifico, o juiz está vinculado.
Mas se perito for alem das suas competências e se se pronunciar se anomalia
psíquica é determinante ou não é de inimputabilidade, já emite decisão jurídica. A
inimputabilidade supõe existência de substrato biológico, anomalia psíquica, mas tem
também plano normativo que escapa á competência do perito. Se perito no seu
relatório emitir opinião sobre saber se pessoa é ou não inimputável nessa parte que
extravasa as competências, o juiz não esta vinculado nesta parte.

Art 163 nº2: diz que juiz se pode afastar do juízo cientifico. Mesmo relativamente
a este juízo, pode afastar-se da opinião dos peritos, desde que se fundamente. O juiz
não pode fundamentar a divergência apelando a conhecimentos que não estão na base
da perícia. Se é perícia que convoca conhecimentos de ordem medica, juiz só pode
divergir de acordo com regras de ordem medica, regras metodológicas daquela área
artística ou cientifica. O que significa que ou juiz tem domínio dessas áreas, que é
excecional, ou então para divergir da perícia, tem que se basear em outros peritos. Não
pode simplesmente discordar.
Também se permite e exige do juiz que faça controlo do respeito do perito pelas
regras metodológicas aplicadas a área cientifica. Se for notório que perito deixou de
observar as regras metodológicas, juiz pode afastar, mas tem que pedir nova perícia.
O juiz está vinculado pelas regras cientificas e técnicas que são típicas em
determinada área de conhecimento que ele não domina. Se é necessário prova pericial
quando há apreciação de factos que exigem conhecimentos científicos, então juiz fica
vinculado ao juízo dos peritos daquela área e só pode divergir fazendo apelo a
conhecimentos da mesma área.

PRINCIPIO IN DÚBIO PRO REO


O principio da livre apreciação da prova exige que o julgador esteja pessoalmente
convencido da veracidade dos factos, para alem de toda a duvida razoável. Exige-se
convicção para alem da duvida razoável. Mas nem sempre é possível chegar a este grau
de convicção e não se elimina a duvida. Como proceder em situações de impasse
probatório? Apesar de toda a prova recolhida pelo tribunal, requerida pela acusação e
de defesa não é possível subtrair os factos à duvida.
No processo civil, há mecanismos próprios de superação da duvida, que resultam
do ónus da prova. O autor tem o papel de provar os factos constitutivos e reu tem que
provar factos extintivos ou modificativos dos factos do autor. Se o autor não conseguir
provar, então esses factos não se dão como provados, a mesma coisa para o réu. O
funcionamento do ónus da prova resolve problemas, mas não é transponível para o
processo penal. No civil, o objeto do processo está na disponibilidade dos sujeitos
processuais, compete às partes fazer prova e recai sobre elas o risco de condução
probatória do processo. Se não conseguirem fazer a prova, impendem sobre si as
consequências desfavoráveis – principio da autorresponsabilidade probatória das
partes, que se liga ao principio dispositivo.
No processo penal não é assim, não existe disponibilidade sobre objeto do
processo. Temos estrutura acusatória integrando o principio da investigação, em ultimo
termo compete ao juiz esclarecer factos que estão sujeitos a sua decisão e julgamento.
Se em ultima instancia compete ao juiz esclarecer factos, tendo o dever de instruir e
esclarecer o facto sujeito a julgamento, não se poderia aceitar que a falta pudesse
redundar em desfavor do arguido. Sobretudo no processo como o nosso que é integrado
por principio de investigação, não fazia sentido falar de ónus de prova e que fosse
impender sobre arguido.
Se por força do principio de investigação não se pode recair sobre arguido
consequências desvantajosas da falta de prova dos factos, como deve o juiz agir?
É seguro que não pode suspender o julgamento, proibição de non liquet, art 8 do
cc. Se não pode suspender e não pode desfavorecer a defesa, a única razão seria de que
juiz favorecesse o arguido.

Questão que se coloca é saber se isto não será um ónus da prova unilateral a cargo da
acusação?
Não é ónus da prova, porque supõe equilíbrio na posição entre sujeitos
processuais, no nosso sistema não há disponibilidade sobre objeto e não há
autorresponsabilidade probatória das partes.
Mas não será ónus da prova material, unilateral a cargo da acusação? Não se
pode dizer que é ónus da prova formal porque não é um processo dispositivo das partes,
segundo o qual as partes teriam o dever de produzir as provas necessárias a escorar as
suas afirmações de facto, sob pena de não verem os factos respetivos ser tidos como
provados.

Mas se decisão favorecesse arguido e desfavorece a acusação, não será ónus material
a cargo da acusação?
Não se pode falar em ónus material, porque decisão que favoreça arguido, não
é no nosso sistema uma decisão desfavorável a acusação. O mp no nosso sistema está
pautado por critério de objetividade e de legalidade, investiga a favor da defesa e a
favor do estado. O cpp prevê a legitimidade do mp para recorrer no exclusivo interesse
do arguido, assim vai a objetividade do mp. O mp não está empenhado a condenar, mas
empenhado na verdade material, seja verdade acusatória, ou exculpatória. Seja arguido
que tem culpa ou conclusão de que é inocente, é a verdade. Por isso, não se pode dizer
que decisão desfavorável do arguido seja favorável à acusação. Não é ónus de prova
material, porque decisão desfavorável do arguido não é favorável para o mp e vice-
versa.

Posto isto, o principio in dubio pro reo não vale apenas nos sistemas como o
nosso. O principio da investigação judicial, num sistema em que o tribunal tem o poder-
dever de investigar oficiosamente os factos sujeitos a julgamento a despeito ou mesmo
contra a vontade dos sujeitos processuais, a duvida do juiz não poderia ser resolvida em
desfavor do arguido. Este principio explica porque a decisão tem que ser favorável ao
arguido, mas não é essa a razão.
Deve haver outro fundamento: principio da presunção da inocência, pode ser
regra de juízo ou regra de tratamento. Nesta dimensão probatória liga-se ao dubio pro
reo. Este é fundamento do principio in dubio pro reo, está consagrada no art 32 nº2 da
crp, mas também consta em diplomas internacionais que vinculam estados que não
estão com a mesma matriz que o nosso, art 6 da convenção dos direitos humanos e no
art 14 do pacto internacional dos direitos políticos. Se se presume que é inocente, a
prova da culpa tem que ser feita por pessoa diferente do arguido e não se logrando essa
prova, a decisão deve favorecer o arguido, parece que in dubio pro reo é decorrência da
presunção da inocência. Não é arguido que tem que provar que não cometeu o crime,
é o estado que tem que provar.
Mas esta ligação levanta problemas entre os dois princípios: A presunção da
inocência é correlato processual do principio da culpa (nulla poena sine culpa). Não
pode haver pena sem prova cabal do crime da culpa do agente quanto aos factos.
Surge problema de que há matérias que interessam ao dp, mas que não se ligam
à culpa, como aplicação de medida de segurança que não supõe culpa. Ligar in dubio
pro reo à culpa, seria tornar inaplicável o dubio pro reo nas medidas de segurança que
são aplicáveis a inimputáveis, incapazes de culpa, estando em causa meramente a
perigosidade do agente.
Como resolver problema?
Cristina Líbano Monteiro defende que o principio in dubio pro reo não assenta
na presunção de inocência, não se trata de proteger inocente, mas de colocar limites a
função punitiva do estado, do ius puniendi estatal. Trata-se de impor limites a
intervenção do estado nos casos de duvida probatória. O objeto seria para proteção da
legitimidade da intervenção penal do estado, seja através de penas, seja através de
medidas segurança. A intervenção do estado não seria legitima no caso de duvida
probatória.

Na ótica da professora Sandra Oliveira e Silva, o problema é que priva o dubio


pro reo do seu suporto histórico e constitucional tradicional pelo que ficaria em risco de
ser afastado ao nível do direito positivo, sem que houvesse constitucionalidade.
Se legislador ordinário for contra presunção de inocência, viola o art 32 nº2 da
qual decorre in dubio pro reo. Há reforço constitucional que desaparece porque fala de
fundamento da legitimidade punitiva do estado. Cristina apercebeu-se e justifica no art
205 da crp que consagra dever de fundamentação das decisões jurisdicionais, o
contraforte de in dubio pro reo. Diz que se tribunal não consegue atingir patamar de
convicção que é exigido para condenar, então não pode condenar porque não consegue
encontrar razoes positivas do convencimento que justifica a decisão. O dever de
fundamentação seria contraforte de in dubio pro reo. O juiz tem que dar razoes da
culpabilidade e se não as poder dar não pode fazer outra coisa se não absolver.

Professora acha que esta posição de Cristina tem um custo sério, o facto de se
desligar o in dubio reo do seu étimo histórico enfraquece principio e ainda mais quando
se retira in dubio da alçada constitucional do art 32 nº2, sem que lhe seja outorgada
equivalência com o dever fundamentação da decisão judicial. O 205 não fornece
garantia equivalente ao art 32 nº2 porque o dever de motivar as decisões torna possível
a fiscalização da efetiva observância do in dubio pro reo num sistema que consagre o
principio in dubio, mas não tem o poder de tornar inconstitucional lei que restrinja ou
elimine o principio in dubio. O dever de fundamentação é compatível com in dubio pro
reo, como o seu contrário. Não diz os critérios que vinculam o juiz no momento de
decidir.
Se estiver consagrado o principio in dubio pro societate, se sistema disser que
em caso de duvida irremovível, a decisão deve desfavorecer o arguido e favorecer a
punição do estado, o juiz consegue fundamentar da decisão dizendo que ficou em
estado de duvida e aplicar medida sancionatória. O dever de fundamentação só é
mecanismo de fiscalização se for cumprido o principio in dubio pro reo ou o principio
contrário. O dever de fundamentação apenas obriga a fundamentar de acordo com
principio que sistema estabeleceu.

Professora defende que devemos encontrar a justificação do in dubio pro reo na


presunção da inocência. A inocência no sentido do art 32 nº2, entendido não como uma
presunção de audiência de culpa, mas como uma ausência de quaisquer pressupostos
que dependa a legitimidade do estado, de qualquer pressuposto legitimador da
intervenção punitiva do estado.
Se se trata de penas, o fundamento da legitimidade da intervenção do estado é
a culpa. Mas se for medida de segurança, o fundamento é pratica de ilícito típico e
perigosidade do agente. A inocência deve ser lida no sentido mais amplo, ausência de
qualquer pressuposto de que dependa a legitimidade de intervenção do estado.

Primeiro aspeto pratico:


- alcance do in dubio que só vale em matéria de facto, quando existem duvidas
sobre os factos e não vale sobre matéria de direito. Se é imputado ao arguido pratica de
crime de corrupção e juiz tem duvidas na interpretação do tipo legal, essas duvidas serão
resolvidas por apelo dos critérios de interpretação gerais, do art 9 do cc. Deve juiz
obedecer aos cânones interpretativos gerais e a decisão resultante da boa aplicação dos
cânones pode favorecer arguido ou desfavorecer. O juiz não está vinculado nas dúvidas
de interpretação sobre in dubio pro reo.

Questão diferente é se a violação de in dubio pro reo é questão de direito: in


dubio não vale em questões de direito, mas a sua violação é questão de direito ou de
facto? A resposta a esta pergunta é importante porque permite saber se stj, em sede de
recurso de revista, que so conhece questões de direito pode discutir ou não a violação
de in dubio. Se pode ser objeto de acórdão de revista. A resposta é afirmativa, a questão
do in dubio pro reo é questão de direito em sede de revista, nos termos do art 434.
Há violação quando o juiz tendo permanecido em duvida sobre os factos e
resolve a duvida em desfavor do arguido.
Contudo, tem-se por habito invocar nos recursos como sendo violação de in
dubio pro reo, mas que não é: Advogados dizem que foi violado, porque no entender
deles juiz devia ter ficado em duvida e devia ter decidido em favor. Mas so é in dubio
pro reo quando juiz fica em duvida e decide em desfavor. Não nos casos em que fica
convencido sobre os factos, mas o advogado entende que deveria ter ficado em duvida.
Haveria violação se ficasse com duvida e tivesse decidido em desfavor do arguido. É
matéria de facto que só pode ser conhecida pelo tribunal da relação.

O principio in dubio pro reo vale em matéria de facto e obriga a decisão favorável
ao arguido que não é decisão absolutória. Essa é a mais favorável, mas in dubio pro reo
impõe que se decida em favor do arguido sobre a duvida que exista e depende da
natureza do facto, saber se duvida conduz a absolvição ou não. o principio in dubio pro
reo pode ser aplicado sem qualquer limitação aos elementos fundamentadores e
agravantes da incriminação, mas também ás causas de exclusão da ilicitude e da culpa,
às condições objetivas da punibilidade, bem como ás circunstancias modificativas
atenuante e em geral a todas as circunstancias relevantes em matéria de determinação
da medida da pena que tenham por efeito a não aplicação da pena ao arguido ou a
diminuição da pena concreta.
Exemplo.: in dubio pro reo vale quando estejam em causa pressuposto fácticos
do tipo incriminador, os elementos de facto. Ora está em causa imputação do arguido
da pratica de homicídio, se existem duvidas se a vitima morreu, ou sobre se for arguido
que matou a vitima, essa duvida deve ser decidida em favor dando-se como não provado
a morte ou a não imputação, leva a absolvição.
Mas pode ser sobre circunstancias agravantes: premeditação, no despacho de
acusação diz-se que agente planeou o crime com antecedência, que comprou caçadeira,
que escolheu melhor horário e no dia que era mais adequado, disparou. é circunstancia
agravante e vale em relação a ela o in dubio pro reo. Se houver duvidas, o juiz deve dar
como não provada a premeditação. Mas não significa não será condenado, será, mas
não de forma tao agravada.
Vale também quanto a pressuposto das causas de justificação. Se existe duvida
sobre pressuposto da legitima defesa deve-se dar como provado e provado a legitima
defesa, deve-se absolver o arguido.
mas se duvida incide sobre situação atenuante, deve-se provar o facto, mas não
conduz a absolvição. É condenado, mas com aquela atenuação.
in dubio pro reo vale também para condições objetivas de punibilidade.

Há dúvida que se coloca se vale também quando estejam em causa elementos


de facto de pressupostos processuais, por exemplo a prescrição, que é pressuposto
processual negativo. Se processo tiver prescrito não pode haver processo ou punição. A
punição está sujeita a causa de interrupção e suspensão. Se duvida for sobre facto que
condiciona a suspensão do prazo prescricional ou se interrompe, questão é se
verificação ou não daquele facto deve ser resolvida em favor do arguido ou não. não
está em causa a punição do agente, com a punição com penas e medidas de segurança,
mas está em causa pressuposto que depende do processo. A resposta da doutrina é que
in dubio pro reo vale também ao nível de pressupostos processuais. Como se tratam de
pressupostos da existência da admissibilidade do processo, e sem processo, não pode
haver intervenção punitiva do estado, são factos mediatamente legitimadores dessa
intervenção punitiva pelo que sujeitos ao principio.
A inocência não é só ausência de culpa, mas a ausência de legitimidade da
intervenção do estado, estamos a criar as bases para que se estenda o in dubio pro reo
para os pressupostos processuais. É legitimidade para intervir abrindo o processo que
pode conduzir ou não a aplicação de sanção, sujeição ao processo é matéria que
depende da legitimidade da intervenção do estado. Essa legitimidade pressupõe que
estejam cumpridos os pressupostos definidos na lei para tornar legitima essa
intervenção. Se pressupostos não estiverem cumpridos, a duvida deve favorecer ao
arguido.

in dubio pro reo tem esta abrangência, vale para tipo incriminador, para causas
de justificação, condições de punibilidade, nesse domínio em que esteja em duvida
sobre os factos e não sobre interpretação das normas.
Mas há certos domínios em que parece haver exceções do in dubio pro reo:
- crimes contra a honra: art 180 nº2 b) do cp diz-se o ónus probatório a cargo do
arguido quando queira afastar a punição por difamação. Art 180 incrimina a difamação
e nº2 aplica-se a injuria. A conduta não é punida, estabelece-se ónus probatório de
provar os factos ofensivos da honra que imputou a vitima para evitar a punição por
difamação ou injuria. Pode afastar a punição se provar que os factos desonrosos que
referiu são verdadeiros. Cabe ao arguido o ónus de provar que são verdadeiros factos
que imputou a outra pessoa, a vitima. Temos ónus de prova a cargo do arguido. Existe
exceção do in dubio pro reo.
Temos questão de saber se exceção que consta no art 180 nº2 b) é ou não
inconstitucional, se não é presunção de culpa contrária à presunção de inocência, do art
32 nº2 da crp?
Não é inconstitucional, porque não se trata de presunção de culpa e porque in
dubio pro reo é afastado num aspeto circunscrito. Não é afastado em relação a crime
de difamação no seu todo, é afastado no que diz respeito a causa de justificação, que é
assim que a doutrina qualifica, é afastado na causa de justificação especifica, mas não é
afastada em relação a elementos do tipo incriminador. Em relação e eles vale nas
circunstancias agravantes. Vale nesta concreta causa de justificação, outras que
existem, legitima defesa, etc, continua a valer. É limitação circunscrita e não se traduz
na violação da presunção de inocência, as vezes podemos fazer restrição, que tem que
ser proporcional e não afetar núcleo.
E por ser restrição mínima, é afastamento fundada racionalmente, porque o que
se pretende com solução foi criar área de risco permitido que favoreça liberdade de
expressão.

Legislador tinha duas opções:


- Proibia de todo com sanções criminais a imputação de factos ou juízos ofensivos
da honra;
- ou foi o que fez: criava área de risco permitido. É possível fazer juízos e
imputações de factos ofensivos da honra, desde que factos sejam verdadeiros. O agente
não é punido, tem liberdade de expressão. Compensou esta área permitida com ónus
probatório daquele que tem que provar se se tratar de factos, que os factos são
verdadeiros.

Este quadro em que não há violação da presunção da inocência, não significa que
solução do nosso legislador não mereça censura. O tribunal europeu dos direitos
humanos já condenou o estado português por violação do direito a liberdade de
expressão, na medida em que alcance das normas incriminadores é excessivo. Não
violam a presunção da inocência, mas viola liberdade de expressão, segundo
entendimento deste tribunal.
Exemplo:. Pessoa que escreveu livro e alguém que escreve outra obra cientifica
a rebater as posições da autora e diz que tinha que voltar à escola. A senhora apresentou
queixa-crime e o tribunal condenou o autor e colocou recurso e o tribunal europeu
condenou o estado português.

- há outras exceções: consagradas na lei e outras discutidas no plano das ideias:


em matéria de criminalidade económico-financeira, crimes de corrupção, peculato e
noutros que geram proveitos económicos avultados.
São crimes difíceis de investigar porque são crimes sem vitima e em que há
mecanismos de ocultação eficazes, como paraísos fiscais e homem de palha. É para
colmatar estas dificuldades de investigação que se tem proposto soluções que traduzem
no afastamento do in dubio pro reo.
Há uma que esta consagrada na lei que resulta do art 7 e 9 da lei 5/2002
estabelece medidas de combate a criminalidade organizada, como trafego de armas, de
pessoas, branqueamento de capitais, são crimes que se presume lucros avultados, mas
também ao terrorismo. Nestes domínios, temos mecanismos de perda alargada de bens
a favor do estado. O instituto de perda de vantagens, regulada no art 109 e 110 e 111.
São vantagens daquele concreto crime. Aqui é perda alargada, não apenas vantagens
do crime, mas todas as vantagens que se presume resultarem de atividade criminosa
duradoura pela qual agente foi condenado, cujos contornos não se consegue apurar e
não se consegue punir o agente.
Exemplo:. Se na operação de trafego de droga se aprende gramas de cocaína e
há mala com 2 milhões de euros, a perda de 2 milhões não se justifica a luz do art 111
porque não são lucros daquela droga que não foi transacionada, mas supõe-se que são
de operações bem-sucedidas com carater de habitualidade. A perda de habitualidade é
perda de vantagens que resultou de atividade criminosa duradoura.
O legislador quer obter essa perda e estabelece mecanismo de perda alargada
que pressupõe presunção da origem ilícita dos bens. Legislador presume que este
dinheiro tem origem da atividade criminosa do agente e é arguido que tem que provar
a origem licita dos bens. Art 7 da lei 5/2002 estabelece presunção e art 9 diz que arguido
tem que provar a origem licita dos bens. Se não se conseguir provar a prova, a presunção
mantem-se e perda é decretada.

Questão que se coloca é de saber se a solução não é inconstitucional?


Doutrina entende que não, porque é mecanismo extrapenal, é mecanismo
administrativo destinado a privar o condenado de bens que terá adquirido de forma
ilícita, mas é medida de confisco, não é medida de reação penal. situação diferente se
verificaria caso a presunção estivesse na base da aplicação de uma pena, ou seja, se a
lei estabelecesse uma presunção de culpa.
A doutrina diz isto e ainda diz que tem que ser aplicada em processo penal por
questão de garantia, apesar de não ser mecanismo penal, o fundamento desta medida
é suspeita de que aqueles bens tem origem ilícita e na pratica de crimes que não se
conseguiu apurar e provar. Estas coisas que levantam duvidas por ser burla de etiqueta.
Não será verdadeiramente reação penal? duvida que está colocada no tribunal europeu.

- Outra solução que não está consagrada na lei, mas é discutida e legislador já
tentou introduzir, mas sempre com o veto do tc: incriminação do enriquecimento
ilícito. Arguido é punido por bens que são incompatíveis com os seus rendimentos. Há
presunção da origem ilícita de certos bens que só é ilidida mediante prova do arguido
que os bens têm origem licita, mas na perda alargada a consequência é confisco dos
bens, aqui a consequência é aplicação de sanção, de pena de prisão que pode ir até 5
anos pelo crime cujo elemento núcleo é a existência de património incongruente com
rendimentos declarados, cuja consequência licita agente não consegue provar.
Há violação do principio da presunção de inocência, temos consagração de
verdadeira presunção de culpa que ao arguido competiria ilidir. Há diferença de grau
entre esta e a medida anterior, uma coisa é confisco, outra coisa é aplicação de pena
cujo tipo objetivo é definido na circunstancia de deter bens que são incompatíveis com
os seus rendimentos. Temos violação do principio in dubio pro reo, da presunção de
inocência e do principio nemo. Por isso a censura tem sido muito grane.
Legislador tentou construir como um crime de suspeita, o agente é punido por
se encontrar em situação patrimonial que evidência a prática de crimes que não se
conseguiu provar. Há quem diga que se constrói como crime de falsidade, agente seria
punido por violar deveres de declaração de rendimentos, se se verificasse que agente
tem património que não declarou, seria punido por falsidade, por não ter declarado o
património. Este não merece censura que apontamos.

- Princípios da forma: principio da oralidade, imediação e da publicidade.


São princípios relativos a forma e que respeitam a forma pela qual se atinge a
decisão penal. são princípios que valem na audiência de julgamento, ajudam a moldar a
estrutura da audiência, mas não exclusivamente. Também o da imediação liga-se a
prova, o que mostra o carater convencional destas classificações.

PRINCIPIO DA ORALIDADE
O principio da oralidade que significa que decisão penal proferida pelo juiz deve
assentar em elementos de prova obtidos ou apresentados oralmente perante entidade
a quem compete decidir e não com base em elementos de prova recolhidos noutras
fases e documentadas nos autos.
Este principio tem plena aplicação na audiência de julgamento, mas não vale na
fase de inquérito ou instrução. Na do inquérito, as testemunhas, o arguido, estes não
são ouvidos por quem tem competência para decidir, pelo mp e não é o mp que em
regra ouve o arguido, essas tarefas estão delegadas nos funcionários e órgãos de policia
criminal. Os depoimentos são redigidos em autos e mp valora, acusa ou não acusa. A
decisão do mp é tomada com base em elementos de prova que não foram produzidos
perante mp.
Mesma na audiência apesar de vigorar o principio da oralidade, a existência de
registos, a transcrição de provas produzidas oralmente é conveniente para preservar a
prova oral. Para preservar informação é conveniente que se redija atas e autos que são
uteis não apenas com valor preparatório da decisão, documental, para que juiz no
momento de decidir possa recordar ásperos lacunosos, como também garantir
fiscalização probatória em sede de recurso. Serve também para os desembargadores da
relação verem se decisão sobre factos foi bem tomada ou não aceder a prova. A prova
já foi produzida ou seria produzida em recurso ou o acesso a prova faz-se através dos
suportes em que prova esta documentada ou gravada. O principio da oralidade não
preclude a necessidade de haver suporte escrito que se traduz em elaboração de atas,
autos, etc. este principio não implica a total exclusão da escrita, pelo que não se impede
o tribunal de registar em autos ou atas os atos processuais, para efeitos de preparação
da decisão ou do seu controlo em sede de recurso. No entanto, a regra é a de que a
sentença deve assentar na memoria da prova que foi oralmente produzida e não dos
documentos presentes nos autos.
Esses suportes são importantes por isso legislador no art 99 está bem
explicitamente disciplinado e nos vários momentos do processo estabelece como se
fazem. No art 275 temos para fase de inquérito. Art 275 estabelece principio geral, mas
estabelece discricionariedade ao mp.

Art 275 Nº1: são reduzidas a auto, que é redigida por sumula, mas permite ao
mp que não documente diligencias cuja documentação acha que é desnecessária.
Parece que há margem de discricionária. Mas a doutrina entende que todas as
diligencias devem ser documentadas.

Na fase de instrução, art 296. Contempla debate instrutório e há regras para a


redação do auto em debate instrutório. Sendo debate instrutório temos ata, regras que
constam no art 305 do cpp e alem do debate, a instrução pode contemplar atos
instrutórios e também há regras de documentação, art 296.

Na fase de julgamento, a documentação está prevista no art 363 e 364. Este


registo documental das declarações facilitam o acesso á prova pelos tribunais
superiores. Este registo documental das declarações é obrigatório sob pena de nulidade
processual, art 363, pelo que só haverá lugar à repetição da prova em casos excecionais
(art 430).
Excecionalmente são documentadas por outra forma que permite a produção de
declaração. Aqui não se permite as sumulas. Que outros meios? São meios de escrita
que tem abreviaturas. O registo faz-se através de gravação de áudio e quando não estão
disponíveis, adia-se audiência de julgamento, porque não há outra solução compatível
com a lei.
Esta produção de prova é importante em sede de recurso dos factos ou até
mesmo coadjuvar o juiz que pode ser duvidas sobre alguns pontos da matéria factual,
quando juiz se esquece e serve para relembrar, mas serve sobretudo para assunção de
prova em matéria de facto pelo tribunal de relação.
Na audiência de julgamento assenta em meios de prova produzidos oralmente
pelo juiz, sendo que a consulta dos autos é meramente subsidiária, embora possa aceder
a prova documentada no registo audiofónico. Nas demais fases processuais ocorre a
documentação da prova uma vez que o principio da oralidade não assume a mesma
importância. Por exemplo, na fase de inquérito, a decisão do mp assenta em prova que
não foi produzida oralmente perante si, mas que foi registada em auto e perante outra
pessoa.

PRINCIPIO DA IMEDIAÇÃO
Principio relativo a forma do processo, embora este principio possa ser
perspetivado sobre duplo entendimento: sentido formal, que é principio da forma, ou
material ou objetivo e será principio da prova.
- Em sentido subjetivo ou formal, determina que juiz tenha contacto direto e
imediato sobre elementos de prova cujo contributo deve valorar. Isto releva sobretudo
no âmbito das provas pessoais, uma vez que o juiz deve ouvir presencialmente as
testemunhas, o arguido e o perito, deve ele próprio estabelecer uma relação de
proximidade comunicante com os participantes do processo para ter perceção própria
e pessoal sobre material. Contacto direto entre juiz e meios de prova. Possibilidade
prevista no art 355 do cpp.
- sentido objetivo ou material impõe que juiz utilize fontes imediatas de
informação, em detrimento dos sucedâneos probatórios, ou seja, que o juiz deve
privilegiar na decisão do caso os meios de prova que tenham maior proximidade com os
factos em causa. O principio da imediação diz respeito a relação entre meios de prova e
factos a provar, os meios de prova devem ser os mais próximos possíveis com os factos
a provar, porque tem mais garantias. Esta dimensão material recebe acolhimento nos
art 129, 356 e 357 do cpp. Por exemplo, o juiz deve ouvir a testemunha presencial em
vez de ouvir a testemunha indireta.

Em regra, há coincidência entre ambos, mas pode não haver inteira


coincidência. Quanto juiz ouve testemunha indireta, existe imediação formal, está em
contacto direto com a fonte cuja informação vai valorar, mas não existe imediação
material, porque esse meio de prova que juiz ouve não é prova mais próxima dos factos
a provar. A prova mais próxima seria a testemunha presencial. Numa situação dessas
em que juiz valora testemunha de ouvir dizer, há imediação em sentido formal.

O legislador quer a imediação formal e material e por isso consagra-se o


principio nas suas dimensões. A formal resulta do art 355 nº1 do cpp, diz-se que não
valem em julgamento provas que não tiverem sido produzidas em sede de audiência,
produzidas e examinadas perante juiz que deve ter em consideração.
Principio da imediação material como regra de preferência de provas mais
próximas dos factos a provar, como regra de proibição relativa de sucedâneos
probatórios. A imediação material é regra de preferência das provas mais próximas dos
factos. Vemo-la a contrario do art 356 e 357 que são normas que dizem em que casos
excecionais é permitido valorar atas prestadas anteriormente do processo e no art 129
do cpc, onde se proíbe valoração do depoimento indireto.
O juiz deve valorar o depoimento em detrimento de atas ou autos em que
estejam no mesmo processo porque o depoimento da testemunha oferece mais
garantias do que autos ou atas. Assim como depoimento da testemunha em detrimento
do livro que realizou.
Não é regra de proibição absoluta de sucedâneos, há sempre solução de
compromisso entre exigências de verdade, quando não exista outros meios de prova
que sejam mais fiáveis, em certos casos permite-se que os meios de prova menos fiáveis
sejam consideradas.

Art 129: o juiz não pode valorar depoimento prestado por testemunha quando
venha dizer o que ouviu dizer. A razão pela qual se proíbe o depoimento indireto prende-
se com situação de ser menor a garantia oferecida por este meio de prova, em
comparação com testemunho presencial. São testemunhas que fator de erro e de
distorção se multiplicam. Se pessoa conta mal e conta a outra pessoa, esses fatores
multiplicam-se. Temos preferência pela prova presencial, há maior fiabilidade.
É testemunho mais frágil e menos controlável, porque a testemunha do ouvir
dizer está a ser ouvida pelo juiz, mas a fonte originaria da informação escapa ao
contraditório da defesa e da fiscalização do juiz. Não apenas provas menos fidedignas
como menos controladas na sua aquisição.
Legislador procura compromisso entre garantia da maior atendibilidade
epistémica das provas e exigências da descoberta material por isso quando testemunha
não estiver presente por condições objetivas, não controláveis pelas autoridades de
perseguição penal, como casos de amnesia permanente, de coma irreversível ou
quando a testemunha direta se recusa a prestar declaração, quando testemunha
presencial não poder produzir depoimento, então legislador permite que se valore o
testemunho do ouvir dizer. Quando não se permite ouvir a testemunha presencial, é
este meio de prova que está mais próximo, quando a testemunha morreu, ou não pode
ser encontrada.

Outro domínio em que há solução de compromisso é leitura das declarações


anteriores das testemunhas reproduzidas nos autos. Também aqui há razoes de
natureza epistemológica para preferir o depoimento da testemunha, é que por muito
fiel que seja o auto, o legislador estabelece regras no art 99 para elaboração dos autos,
ou por muito fiel que seja reprodução áudio, nada imita a experiencia pessoal do juiz
sobre os meios de prova e sobre fontes de prova e por isso se proíbe em geral leitura e
valoração das declarações anteriormente prestada, quer por testemunhas, quer por
arguido.
A proibição não é apenas de leitura. O que é proibido não é ler, o que não pode
é valorar. E nos casos em que é permitido valorar, excecionalmente, ele pode valorar
ainda que não leia. Esta ultima afirmação não é pacifica, mas é o que resulta do acórdão
de fixação de jurisprudência, nº8/2017, questão de saber nos casos em que é possível
valorar, se valoram se forem lidas ou não. se se ler as declarações, facilita ao
contraditório. O stj entendeu que não era obrigatória a leitura, mas tem que ficar
consignado em ata, nos termos do art 356 nº9 que se vem tomar em considerações
depoimentos anteriores registados nos autos, para não ser surpresa para sujeitos essa
valoração.

Esta proibição da valoração do depoimento não são só proibições de produção


de prova, no sentido de proibição de meio de prova. O que é proibido é todo o meio de
prova. Não se proíbe apenas a leitura, proíbe-se que juiz considere o conteúdo das
declarações, mesmo que tenha acesso por outra via que não a leitura do auto. Proíbe-
se a inquerição de pessoas que estiveram presentes na tomada de declarações e saibam
o que a testemunha disse, testemunha presta declarações perante alguém , ora a lei não
reprova apenas a leitura do autos e valoração dos autos, estende-se a toda a matéria
da prova, que se considera o que a testemunha disse na fase anterior e por isso não se
pode ouvir testemunha quem tenha participado na sua produção, art 356 nº7.
Se lei não permite que se valore o que está nos autos, ainda que nada se dissesse,
decorreria da logica que não permita a valoração das testemunhas que estiveram no
momento de prestação das declarações, porque permitir isso permitiria a fraude a lei.
Se a testemunha fala perante o policia, então é proibido o que está no auto, como
chamar o policia para perguntar o que a testemunha disse.

A lei repudia a valoração das declarações constantes nos autos por razoes
epistemológicos, apelando a dois aspetos:
- fragilidade intrínseca dos autos. É difícil, por mais perfeito que reproduza na
integralidade o depoimento. Cerca de 1/3 não fica refletido no auto.
- mesmo na parte em que se regista há certa transposição da linguagem da
testemunha para linguagem burocrática do tribunal. São convertidas na linguagem
estandardizada na policia e no mp. Perde-se a riqueza do discurso da testemunha, por
conversão desse discurso em linguagem estandardizada. Falta de qualidade intrínseca
dos registos. Claro que no registo áudio não há estas criticas;
- eventual e maior dificuldade de controlo a correspondência entre o que esta
registado no auto e a verdade. É mais fácil controlar a veracidade do depoimento
quando testemunha depõe perante o juiz ou por outra entidade no que nos casos em
que vê o depoimento registado, sendo que atende-se melhor às suas reações, como
ruborizar, gaguejar, etc. Torna mais difícil controlo da veracidade esclarecer lacunas ou
contradições no depoimento. A testemunha pode mentir de forma melhor no caso dos
autos.
Estas criticas atingem sobretudo os autos escritos, não valem para registo áudio
ou vídeo, mas também aqui há alguma perda, não se pode perguntar a esse vídeo. O
resto é possível. no registo vídeo, apreciar a constância do depoimento, as reações para
linguísticas (ruborizar, gaguejar) da pessoa que contribuem para ver a credibilidade do
testemunho.

Apesar da maior fragilidade dos autos e do registo vídeo há situações de


compromisso, em que se pode valorar o que a testemunha disse na fase anterior.
Regula-se no art 356 que vale para depoimentos das testemunhas, para depoimento de
todas as pessoas, salvo para arguido e art 357 que vale em relação ao arguido.

Temos que distinguir situações de permissão leitura aquisitiva e situações de


leitura não aquisitiva:
- A leitura aquisitiva destina-se a valoração do depoimento, o depoimento é lido
para ser valorado. As declarações são lidas para valerem por si só como prova que
suporte as convicções do tribunal.
- A leitura não aquisitiva não se faz para valorar, mas para através da sua leitura
esclarecer contradições, complementar ou fiscalizar esse depoimento e o que é
prestado na audiência de julgamento. Se o que foi prestado na audiência tiver em
contradição, o depoimento é lido para se discutir a credibilidade da testemunha e
esclarecer eventuais contradições.

São 3 situações em que se permite leitura de depoimentos anteriores:


1º núcleo de situações:
- casos de tomada de declarações para memoria futura: regulados no art 271 e
294. Acontece que em virtude de doença grave de testemunha ou deslocação desta para
estrangeiro, regulada nos casos do art 271 e na lei de proteção de testemunhas e no
estatuto da vitima, nesses casos a testemunha é ouvida antecipadamente com garantias
análogas de que é revestida a prestação na audiência de julgamento. É ouvida perante
o juiz e com garantia do contraditório, o defensor é convocado e formula perguntas a
testemunhas. São cumpridas garantias de judicialidade que são típicas da audiência de
julgamento.

- pratica de atos processuais ao abrigo do art 319 e 320 do cpp. Casos em que
testemunha não pode prestar depoimento e é ouvida no momento anterior, em que se
tem medo que a testemunha morra ou caso em que testemunha está doente e pode
prestar declarações e pode prestar em domicilio. Há as mesmas de garantia do
inquisitório. Aqui permite-se leitura porque são declarações que oferecem mesmas
garantais de qualidade epistemológica das que são produzidas na ausência de
julgamento, garantias mínimas de judicialidade são garantidas, perante presença do
juiz. Art 356 nº1 e 356 nº2 a) remetem para artigo 319 e 320 e 271.

2º núcleo de situações:
- art 356 nº4, permite-se leitura e valoração de declarações prestada perante
autoridade judiciaria, perante juiz ou magistrado do mp se declarantes não podem
comparecer por morte, anomalia psíquica superveniente ou impossibilidade duradoura,
parecida com 129 nº2. Exceções que valem para valorar depoimento, também
legitimam neste caso se forem prestadas perante juiz ou mp. A razão de ser desta
solução é solução de compromisso, ideal era so valorar o que foi dito na audiência, mas
se testemunha não pode estar, por razoes objetivas, então estes compromissos entre
fidelidade e garantia do contraditório cedem para se assegurar a descoberta da verdade
material.

3º nucelo:
- art 356 b) quando sujeitos processuais estiverem de acordo na sua leitura,
então pode ler-se e valorar. Seja quem for a entidade perante a qual declarações foram
produzidas, por 356 nº5 estende a possibilidade quando for prestado perante mp.
O fundamento da leitura é o acordo, dá-se relevo ao acordo.

Um sentido diferente tem a leitura de declarações para esclarecer contradições,


é leitura não aquisitiva. É possível ler declarações anteriores para esclarecer
declarações que foram feitas na audiência, mas o que se trata é de valoração do
depoimento da audiência art 356 nº3. Permite-se quando haja contradições e nos casos
da testemunha não se recordar. No art 96 nº3 do cpp diz que a testemunha pode
socorrer-se de apontamentos, claro que deve-se controlar a espontaneidade, mas pode
socorrer-se em apontamento para auxiliar a memoria.
Também a lei regula casos excecionais em que é possível valorar as declarações
anteriores do arguido. É possível ler quando ele próprio o solicite seja qual for a razão e
esta possibilidade consta no art 357 nº1 a).
Trata-se de liberdade de manifestação do arguido, o arguido pode escolher falar
ou não, e se escolher falar pode controlar o conteúdo, o modo das declarações. Se
arguido tem liberdade de declaração, escolhendo falar, escolhe o modo, o momento, o
conteúdo, as circunstancias das declarações. Pode optar por falar e não falar, e pode
dizer para reproduzir o se já disse.

Outra situação b) do art 357 nº1, temos situações em que se pode valorar
declarações do arguido, desde que haja o preenchimento de 3 requisitos:
- prestado perante entidade judiciaria, perante juiz, jic ou magistrado do mp, a
lei diz quem são as entidades no art 1 b) remissão. Cuidado para o exame com policia,
policia judiciaria não é entidade judiciaria para efeitos do código.
- 2º requisito: declarações prestadas com defensor, seja mandatado ou nomeado
oficiosamente esteja presente. A lei no art 64 b), diz que é obrigatória a presença do
defensor perante interrogatórios.
- 3º requisito arguido ser informado de que tem direito ao silencio e deve ser
informado que decidindo declarar as declarações que prestem podem ser valoradas
contra si, art 141 nº4 b). esta informação é dada em todos os interrogatórios que
arguido faz, so não é informado quando faz declarações perante policia, art 144 nº2, fala
de interrogatórios perante policia judiciaria e exceciona.

Não é requisito, mas é cautela suplementar prevista no 141 nº7, quando é


ouvido o seu interrogatório é registado, através de registo áudio ou audiovisual
podendo usar outros meios que possam reproduzir as declarações. Ou é áudio ou
audiovisual e se não existir, são reproduzidas declarações em auto. Mas a lei prefere o
áudio ou áudio visual, apenas é possível autos e sumulas quando não se já possível
áudio, porque áudio dá maiores garantias.
Esta solução existe depois de 2013, antes não era possível. so era possível se
existisse contradições daquilo que arguido dissesse. A lei mudou para estender
possibilidades de valoração. Temos que saber se esta norma não cumpre o direito ao
silencio.

Aula 20/11/2020
Art 357 nº1 b) que permite a leitura de declarações anteriores prestadas pelo
arguido mesmo que não compareça a audiência de julgamento ou comparecendo, mas
estando em silencio, desde que fossem prestadas perante autoridade judiciaria com a
presença de assistente. Preenchidos requisitos, as declarações podem ser valoradas
para convicção do julgador, mesmo que arguido falte ou presente esteja em silencio.

Esta não existia na versão originaria do cpp, a declaração de leitura de


declarações só era possível quando ele solicitasse ou quando existisse divergência entre
declarações do julgamento e das anteriormente prestadas. Uma vez que estivesse em
silencio, não havia contradições e não se podia ler declarações. Esta solução legal
levantava problemas aos operadores judiciários, a quem cabe a investigação, como o
mp. Levantava problemas porque primeiro no interrogatório, confessava os factos ou
fazia declarações incriminatórias para evitar medida de coação mais gravosa,
circunstancia do arguido demonstrar espirito de colaboração era valorada
favoravelmente para se recusar medida de coação. Mas este arguido que tinha assim
procedido no primeiro interrogatório judicial ou de outro, mas em audiência de
julgamento exercia direito ao silencio, legitimamente e as autoridades viam-se
impedidas que valorar as anteriores declarações, que tinham sido prestadas de forma
livre e voluntaria. Não havia duvida que as declarações eram expressão voluntaria,
porque não valora-las?
Em 2013, o legislador alterou a lei, e alguma doutrina continua a criticar a solução
legal, havendo resistência para evitar a sua introdução, nomeadamente pelos tribunais,
essas resistências não foram vencidas e manifestam-se críticos, dizendo que a solução
legal, por um lado é violadora do direito ao silencio porque ultrapassa silencio do
arguido valorando declarações prestadas anteriormente e diz que declaração
condiciona a defesa do arguido, porque sabendo que podem ser valoradas as
declarações mais tarde, se coíbe muito tempo de declarar, prejudicando a sua defesa.
O arguido tem que falar para evitar a coação, ou falando comprometer a sua posição
processual podendo ser valorada na sede de julgamento e os autores dizem que é
limitação do direito de defesa.

Porque haverá o direito ao silencio? Porque será esta solução?


O arguido deve poder não falar porque há risco estando ele na posição de
arguido e havendo presunção de inocência, há ainda risco de ser mal interpretado e
valorado contra si, ainda que declarações não sejam autoincriminatórias. Visa-se
assegurar liberdade de declaração, que declare o que quer e que seja ato de vontade.
Proíbe-se valoração do silencio porque se pudesse valorar silencio, o arguido teria que
declarar para evitar esta consequência. Quer-se garantir que arguido possa escolher
entre declarar ou não e quando declara que seja produto da vontade. O direito ao
silencio é dimensão negativa da liberdade de declaração, garantia da mesma.
O que se pretendia quando se proibia que se considerassem declarações
anteriores ao julgamento, queria-se garantir liberdade de declaração, era norma que
era mecanismo profilático, garantia de declarações possivelmente não livres. Havia
estigma de desconfiança em relação das declarações pré-judiciais, prestadas nas fases
mais controladas pela policia e não se valorava declarações porque se temia que não
fossem livres. Desde que se assegurem garantias sucedâneas da liberdade de
declaração, desde que se rodeiam os interrogatórios de todas garantias para
declarações serem livres, não se vê obstáculo para a sua valoração. Havia quem
entendesse que podiam ser valoradas declarações prestadas pela policia, outros diziam
que apenas devia ser valorado quando fossem prestados juiz. Legislador foi cauteloso,
apenas valoração perante autoridade judiciarias e não perante policia e com presença
de defensor.

Quanto ao direito ao silencio impede que se possa valorar declarações anteriores


que arguido livremente prestou. Não se pode ultrapassar silencio com o que foi
prestado. Mas esta critica é discutível, o direito ao silencio não pode consistir no
apagamento das declarações anteriores, não é forma de comprimir o direito ao silencio.
Assim como não pode comprimir quando se valora os depoimentos do coarguido
ou de testemunhas, o direito ao silencio não garante que seja a melhor estratégia,
depende do grau probatório em relação ao arguido. O que interessa é que provas sejam
adquiridas de forma valida, pode valorar-se testemunhos que não é violação do direito
ao arguido e ainda valorar depoimentos de coarguido ou declarações anteriores do
arguido, porque não é violação do direito ao silencio, desde que seja expressão livre e
esclarecida, sendo ponto fundamental.

PRINCIPIO DA PUBLICIDADE
É principio importante que está consagrado no art 206 da crp, em relação a
audiência de julgamento e é importante porque é garantia subjetiva, na convenção
europeia dos dh e no pacto internacional a publicidade é vista como uma das garantias
de defesa do arguido, o art 6 da convenção enuncia garantias e uma delas é publicidade
das audiências, assim como art 14.
Mas a publicidade é garantia objetiva, mecanismo que permite ao povo em
nome do qual as sentenças são proferidas, exercer controlo sobre bondade do processo
judicial, faz-se critica pelo facto dos tribunais não terem legitimidade democrática, a
publicidade é garantia mínima que assegura democraticidade da função judicial, função
que permite à população geral participar de forma passiva, ainda, mas participar na
administração da justiça.
Este principio encontra acolhimento na crp, art 206, mas é densificado no que ao
processo penal respeita no art 86 e seguintes.

Que conteúdo deste principio?


Art 86 nº6 diz que conteúdo do principio, a publicidade do processo implica
direito de assistência do povo em geral a audiências de julgamento e debates
instrutórios. O processo é publico, por isso todas as pessoas, não tendo interesse
particular no seu desfecho, podem assistir a audiência de julgamento e debate.
Em 2007, alargou-se publicidade e dizia-se em 2007 que este implicava o direito
de assistência pelo publico em geral a realização de todos os atos processuais, o que
levantou problemas, significava que se podia assistir a interrogatórios, a realização de
perícias que não seria impraticável. Mas so audiência de julgamento e debate instrutório
é que consentem que isto aconteça.
Além disto, implica o direito de narração ou reprodução dos seus termos, pelos
meios de comunicação social e implica o direito de consulta do auto e obtenção de
copias, extratos e certidões de quaisquer partes. Cada um dos direitos é densificado no
código.

O principio da publicidade não tem o mesmo relevo em toda a tramitação do


processo, terá mais incidência nas fases mais luminosas, a sua importância é menor no
inquérito e na instrução.
Na audiência de julgamento, é a crp que consagra isto art 206 e art 321 nº1 do
cpp diz que são publicas as audiências de julgamento, sob pena de nulidade insanável.
Temos imposição constitucional sob pena de nulidade, mas a circunstancias de serem
publicas não obsta que possa haver restrições a publicidade, como assistência do
publico em geral na audiência e narração dos atos processuais pelos meios sociais, por
razões de salvaguarda da dignidade das pessoas e da moral pública ou de garantia do
normal funcionamento da audiência.

Art 87 nº2 concretiza o 206 da crp. Pode haver restrição da audiência de


julgamento, haver restrição da publicidade se for necessário para salvaguardar honra
ou normal desenvolvimento do ato processual.
Nas situações em que seja de antever alguma indisciplina na sala de audiências,
por ser processo de grande comoção, pode determinar-se que seja feita à porta fechada.
Ou para preservar a saúde das pessoas seja necessário limitar acesso ao publico, essa
limitação pode existir. É limitada a sala que seja conforme a exigências de saúde publica,
algumas pessoas terão que ficar de fora.
Quando processo toque em esferas de intimidade da vítima, pode excluir-se
publicidade da audiência para proteger as consequências de vitimização secundaria.

Há alguns casos que a lei acautela, no art 87 nº3 que se diz que nos casos em que
seja processo de trafego de pessoas e autodeterminação sexual, nos atos processuais,
há exclusão da publicidade. A regra inverte-se. Nos casos gerais, a regra é publicidade,
juiz ponderando circunstância do caso pode determinar a exclusão do acesso ao publico.
Nos casos do art 87 nº3 a regra é de exclusão da publicidade e so será afastada se não
houver obstáculo oriundo do acesso ao publico. trata-se de casos com especial
sensibilidade e não é necessário despacho judicial para excluir a publicidade da
audiência.
Em relação ao art 87 nº3, em 2019, procurando transpor-se uma diretiva que é
uma das etapas do roteiro para favorecimento de defesa do arguido, roteiro de 2009
que se compunha em 5 etapas que correspondia a uma ou mais diretivas. A ultima
diretiva dizia respeito a proteção de menores, havendo alteração no art 87 nº3 que diz
que em regra a publicidade esta excluída quando se trate de menores, mas estava a
prepara-se outros trabalhos legislativos relativo ao regime de trafego de órgãos e de
pessoas e em setembro voltou-se a alterar o art 87 nº3, mas em vez de ter referencia da
legislação de maio, legislador volta a tirar os menores. Os menores deixaram de ter esta
proteção, as audiências so deixam de ser publicas se juiz assim o determinar.

Se for determinado a exclusão da publicidade ao julgamento, há momento de


audiência que é inevitavelmente publico: leitura da sentença, art 87 nº5, é sempre
publica.

A outra dimensão em que a publicidade pode ser excluída é nos casos de


narração ou reprodução dos atos processuais pelos meios de comunicação social. É
objeto de culto dos meios de comunicação social, por ser objeto de atração social, o
legislador entendeu que devia compatibilizar: garantia de informação e liberdade de
imprensa, art 37 da crp e contrapondo-se a necessidade da dignidade e dos direitos
dos participantes processuais, quer seja a vitima, para proteção da honra, bom nome,
e a personalidade da vitima, pensemos em vitimas menores ou vitimas sexuais mas
também proteger a dignidade e direitos de defesa do arguido, evitar que seja julgado
e condenado à margem do processo judicial, numa espécie de julgamento no pelourinho
pelos órgãos sociais.
Estende-se para alem da declaração da sentença, está em causa o direito á
ressocialização do condenado, com respeito à dignidade da pessoa humana.

Nesta ponderação que legislador fez no art 88, consagra como regra a
possibilidade de os órgãos de comunicação social acompanharem o processo penal.
contudo, no nº2 do mesmo artigo consagram-se exceções a esta regra,
proibindo-se, sob pena de desobediência civil simples, art 348 nº1 a).
- os meios de comunicação social têm direito de narrar atos processuais, mas
não tem direito de transmitir ou reter imagens do decurso de audiência de
julgamento, ao menos que se autorize por despacho da autoridade judiciaria. Para
evitar que julgamento fosse transmitido, o aparato de instrumentos técnicos, de
microfones, de camaras pode perturbar a regularidade dos atos processuais e legislador
proíbe transmissão de imagens e tomadas de som.

- Proíbe reprodução de peça processual ou de documentos incorporados no


processo, antes da sentença de 1º instância, salvo se tiverem sido obtidas mediante
solicitação para esse fim, ou se para tal tiver havido autorização expressa da autoridade
judiciaria que presidir á fase do processo no momento da publicação. esta norma
permite a reprodução de excertos dessas mesmas peças processuais nas suas noticias
ou reportagens por pare dos órgãos de comunicação social, desde que não reproduzam
integralmente essas mesmas peças ou documentos.

- proíbe-se a publicitação por qualquer meio, da identidade de vitimas de


crimes de trafego de órgãos humanos, trafico de pessoas, contra a liberdade e
autodeterminação sexual, a honra, exceto se a vitima consentir expressamente na
revelação da sua identidade ou se o crime for praticado através do órgão de
comunicação social.
Art 88 nº2 a) estava a reproduzir-se elemento do processo, uma peça processual.
Proíbe-se na alínea c) a publicitação de identidade de certos crimes.

Isto quanto a audiência de julgamento e nas fases anteriores do processo? A audiência


de julgamento é publica, mas e as fases anteriores á mesma?
em relação as fases anteriores temos que considerar outra norma da crp, a crp
consagra publicidade da audiência, mas no art 20 nº3, diz-se que legislador deve
assegurar o segredo de justiça, a lei define a adequada proteção de justiça. Fora da
audiência de julgamento, convivem no processo espaços de publicidade e de segredo.
Existe no processo segredo de justiça. o segredo de justiça visa proteger a integridade
da investigação enquanto que estas normas relevam para fases processuais posteriores
ao inquérito e visam acautelar proteção das partes no processo.
os jornalistas que violaram esta norma não cometem um crime de violação de
segredo, mas de desobediência.

Para que serve segredo de justiça?


a doutrina italiana distingue entre segredo interno e segredo externo:
- segredo interno que impede ou limita o acesso do conhecimento de elementos
do processo por parte dos próprios sujeitos processuais, arguido ou defensor, do
assistente, do ofendido, impede que os sujeitos processuais acedam a informações
constantes no processo e não o tribunal ou mp, em relação a eles não é estabelecida
restrição de acesso aos autos. Há segredo interno para garantir eficácia da perseguição
penal, para evitar intromissão do arguido sobre fontes de prova. No momento de
estratégia de investigação que se está a construir o que se pretende é evitar que possa
por em causa o que foi adquirido, como destruição de provas pelo arguido que saiba
que está a ser investigado.
- segredo externo tem âmbito diferente, este visa evitar que comunidade em
geral tenha acesso aos elementos do processo, impede o acesso ás informações
constantes dos autos por parte das pessoas estranhas á relação jurídica processual,
evitar pessoas que a ele sejam estranhos. A finalidade é outra, não se trata de proteger
a eficácia da perseguição penal embora de forma acessória possa estar em causa, mas
visa-se proteção da honra das pessoas envolvidas no processo, tutela dos df da vitima e
do arguido.
Proteção do nome do arguido, sobretudo na fase inicial em que a suspeita está
a ser densificada, há interesse que comunicação social e pessoas em geral possa aceder
ao processo porque ira criar estigma e prejuízo a honra que sairia injustificado e ainda
proteger a vitima, fenómeno de vitimização secundaria, evitando-se dar a conhecer a
sua identidade.
Como é que legislador gere espaços de segredo e de publicidade?
Até 2007, havia perspetiva diacrónica na regulamentação do segredo de justiça
havia fases que eram publicas, audiência de julgamento por força da lei, havendo
publicidade interna e externa e fases que por força da lei eram sujeitas a segredo de
justiça. No inquérito, prevaleceria segredo interno e segredo externo, na instrução era
levantado o segredo interno, mas mantinha-se o segredo externo e na audiência de
julgamento que não havia segredo e é assegurada publicidade interna e externa.
Mas este regime por ser regime que deixa pouco acauteladas as defesas do
arguido era objeto de criticas que atingiam o segredo interno, dizia-se que segredo
interno tal como configurado na lei deixava sem proteção das defesas do arguido em
casos em que garantais eram necessárias.
criticava-se o segredo externo, dado existir circunstancia de ser violado o
segredo de justiça porque matérias de segredo eram divulgadas nos meios de
comunicações e de se ter instalado a impunidade cronica de divulgação e segredo de
justiça. Critica-se a institucionalização da violação do segredo de justiça e não haver
punição.
Procurou-se atalhar essas duas criticas, as criticas em relação a impunidade
cronica do segredo de justiça como solução de redução dos espaços de segredo,
resolvem-se e minimizam-se os dois problemas, se não há segredo, não se pode violar
segredo, a violação do segredo da justiça pelos meios de comunicação não é possível
porque não há segredo e quanto a segredo interno, asseguram-se defesa do arguido,
que pode ter conhecimento de elemento do processo para se defender. Mas as criticas
eram violentas.
O legislador procurou atacar as criticas que se dirigiam ao segredo de justiça e o
aspeto mais critico dizia respeito na relação do segredo de justiça e defesa do arguido.

Estas criticas já vinham desde 1997, num acórdão do tc 121/97, discutia-se a


norma do processo penal que impedia o arguido de aceder aos autos e às informações
deles constantes para fundamentar a decisão, quando pretendesse recorrer do
despacho que lhe aplicava prisão preventiva, não estava autorizado a aceder aos autos
e a questão era de saber se solução legal respeitava o art 32 nº1 que garante a plenitude
de garantais do arguido.
O tc entendeu que era inconstitucional, é incompatível com asseguramento de
garantias de defesa, da interpretação das normas do processo penal no sentido de
impedir sempre de forma abstrata e rígido ao acesso do arguido aos autos na fase de
inquérito. Se não podia aceder aos autos para recorrer dos autos da prisão preventiva,
significa que recurso que possa interpor é de matéria, quando em teoria, é de direito e
de facto, mas na pratica o recurso é estritamente em matéria de direito. Se não pode
aceder aos autos, a matéria de facto é apenas em teoria, porque legislador não pode
sindicar matéria de facto, porque não tem acesso ás provas e condiciona a garantias de
defesa, quando lhe era aplicável as medidas de coação.
Logo em 97, tc proferiu acórdão julgando inconstitucional o art 86 do cpp lido
nestes termos.

A doutrina e na jurisprudência foi-se levantando questão de saber que sendo assim o


recurso que aplica prisão preventiva, não devia o principio valer para o momento
anterior á decisão da prisão preventiva?
As medidas de coação são aplicadas depois do arguido ser ouvido sobre elas, há
direito de audição do arguido sobre medidas de coação, são aplicáveis a seguir ao
interrogatório do arguido, o arguido tem que ser ouvido. Essa audição do arguido faz-se
num interrogatório judicial, entende o tc que devia ser assegurado o acesso aos autos
para corrigir um eventual erro judiciário, a questão é se não haveria possibilidade acesso
aos autos durante interrogatório judicial, prévio de aplicação da medida de coação para
evitar erro judiciário?
Em vez de termos atitude reativa, acesso aos autos pata corrigir erro, talvez fosse
melhor ter atitude preventiva, permitir acesso aos autos pelo arguido para fazer valer
a sua defesa eficaz, para evitar erro judiciário.
Esta discussão foi sobretudo visível no âmbito do processo casa pia, a partir de
2003, foram aplicadas medidas de coação gravosa a alguns arguidos que foram
interrogados, mas foram apenas informados que estavam a ser instituídos como
arguidos, nada era mais dito se não o tipo legal e da classificação das vitimas, não era
permitido acesso aos elementos de prova em que indícios se sustentavam.

Houve recursos para tc e questão foi decidida em tc no acórdão 416/2003 e


607/2003, a proteção do segredo de justiça tem a mesma densidade no interrogatório
quer no recurso que decretou o despacho de prisão preventiva, deve admitir-se em
ambos os casos o seu afastamento quando esteja em causa as garantias do arguido,
tendo julgado inconstitucional por violação do principio da plenitude da defesa, quando
interpretadas que não deve ser assegurado o acesso aos autos quando seja ouvido em
1º interrogatório judicial prévio á aplicação de medida de coação. Estes acórdãos
estenderam para evitar cometimento do erro judiciário.
o legislador absorveu estes entendimentos no art 141 e art 194 do código.
Situações em que segredo externo deixa de existir para garantir direitos defesa do
arguido para impugnar medidas de coação. Estava em causa medidas de coação
gravosas, mas legislador estendeu a outras medidas de coação.

Que outras situações que consagra?


No art 141 nº4: disciplina-se 1º interrogatório judicial, o art 194 que regula
procedimento prévio às medidas de coação, remete para regras do art 141.

Estabelece-se procedimento em 3 momentos, em relação aos quais se afasta


segredo de justiça permitindo ao acesso aos autos:
- No 1º momento o arguido tem direito de informação sobre os factos que lhe
são imputados e elementos do processo onde há suspeita desses factos. Art 194 remete
para art 141 nº4 e diz o que tem que ser dito ao arguido.
B) tem que ser dado informação dos factos imputados, sempre que forem
conhecidos circunstancias de tempo e modo. Não basta dizer que é suspeito de crimes,
não basta indicação genérica, é preciso que sejam identificados os factos e
circunstancias de forma a arguido inocente poder afastar imputação.
E) informar dos elementos do processo que indiciam factos imputados, permite-
se que não seja dada informação desde que em concreto as autoridades de perseguição
penal entendam que informação ao arguido ponha em causa a investigação. Em alguns
casos pode não se dar a conhecer elementos, mas essa decisão deve assentar numa
ponderação em concreto dos inconvenientes da revelação. Tem que haver prejuízo para
descoberta da verdade ou que se cause perigo da liberdade e direitos dos participantes
processuais, este 1º patamar é direito de informação sobre factos imputados e
momento do processo.

- Existe 2º patamar constituído por dever de fundamentação da decisão sempre


que lhe seja aplicado a medida de coação, o despacho deve ser fundamentado, onde
há também dever de descrever os factos, a circunstancia do tempo e modo e enunciação
dos elementos do processo que indiciam os factos provados, salvo se dessa enunciação
resultar perigo grave para veracidade, ou perigo para vida e recolha de informações.

- 3º patamar constituído pelo direito de acesso aos autos durante o período de


interrogatório judicial e o prazo de recurso da decisão que lhe aplique uma decisão de
coação.
Tem direito de ser informado, de ver no despacho os contornos da imputação e
tem ainda o direito de aceder aos autos, consultar os elementos do processo. Esse
direito resulta do art 194 nº8 e é faculdade de acesso aos autos que é triplamente
limitada, é limitada:
- quanto ao tempo, arguido não tem direito aos autos ad eternum, tem
direito ao acesso aos autos durante o tempo que demora interrogatório judicial
e do prazo que goze para recorrer da medida de coação que lhe seja aplicada,
art 219 e do nº1 do art 411. O interrogatório pode demorar mais ou menos
tempo, dura tempo necessário para se poder ouvir arguido e exercer a sua
defesa. No processo em que se demora mais tempo quando arguido fala e
quando nada diz o processo é mais célere. Não há prazos, mas a única indicação
que existe é que interrogatório quando alguém seja detido em flagrante delito,
deve ser sujeito a interrogatório judicial e validada a decisão num prazo máximo
de 48 horas, entre detenção e a apresentação de juiz não deve mediar mais do
que 48 horas, mas não significa que despacho do juiz não venha ocorrer para
alem dos 48, depende do tempo em que arguido exerce a sua defesa.
O prazo para recorrer a lei estabelece, que é prazo de 30 dias.
Há três limites de acesso aos autos, elementos a consulta e terceiro limita que
resulta de ponderação feita em concreto pelas autoridades judiciais:
- temporal so pode aceder aos autos durante o tempo do interrogatório judicial
e do prazo que goze para recorrer, art 411, prazo de 30 dias.
- não pode consultar todos os elementos do processo, só pode consultar os
autos que sejam determinantes para aplicação das medidas de coação. Se mp quiser
manter sobre reserva alguns elementos e entende que não deve dar a conhecer de
imediato e pode arguido condicionar o processo se souber, então se mp quiser manter
sob reserva elemento de facto pode fazer, mas assume risco de ser improcedente a sua
pretensão. Quando promove a media de coação tem que fundamentar e no seu
requerimento invoca elemos de prova que entende que pode invocar, mas se não
invocar tudo, corre o risco de ser improcedente, de não aplicação da medida de coação
do mp, mp assume risco de improcedência da sua pretensão, mas pode manter sobre
reserva e se não forme usados como fundamento do momento da coação, não podem
ser consultados pelo arguido porque não sabe se existem.
- 3º limite ainda se pode impedir o acesso aos autos com fundamento na
existência de um grave prejuízo para investigação, impossibilidade da descoberta da
verdade e perigo para a vida dos sujeitos, art 194 nº8 remete para nº4 b).

Ao lermos o art 141 nº4 e) e o art 194 nº6 b), ao lermos as exceções, a redação
não é a exatamente a mesma. No art 141 nº4 e) diz-se que pode ser impedida a
informação, pode deixar-se de dar informação sobre elementos do processo quando
essa informação ponha em causa a justificação e dificulte a descoberta da verdade, já
no art 194 diz-se que juiz pode deixar de identificar ou impedir o acesso do arguido
quando puser em causa gravemente. São coisas diferentes: puser em causa a
investigação, do outro lado diz causar gravemente a investigação. São critérios de
decisão diferentes que foi notada pela doutrina. O parâmetro da decisão deve ser o
mesmo e o mais exigente, mais próximo do art 194, mas deve ser sempre o mesmo nos
dois momentos. O que não significa que resultado seja o mesmo. O critério é o mesmo,
o mesmo critério de decisão, mas resultado da ponderação é que pode ser diferente,
porque perigo que resulta de informar o arguido sobre elementos do processo é menor
do perigo do arguido a aceder aos elementos do auto.
Dizer ao arguido que imputação resulta de depoimento da testemunha e dizer
as suas declarações, causa menor perigo para a vida da testemunha, do que permitir
que arguido veja os autos, o sitio onde ela mora, etc, depois procurando-a, criando
perigo para ela. O critério de decisão deve ser o mesmo, a mesma régua, mas resultado
de ponderação pode ser diferente.

Esta solução que legislador introduziu nestes dois artigos tem sido aplaudido
pela doutrina e jurisprudência, foi razoável porque estavam em causa as garantias de
defesa do arguido e não se pode restringir as garantias de defesa de forma abstrata
através de lei. A lei vem exigir que se informe sempre arguido dos factos, que se
fundamente o despacho indicando os factos e permite saber os factos imputados e
também que haja indicação de elementos do processo, mas esses direitos de acesso aos
elementos do processo, elementos de prova podem ser limitados por uma decisão que
pondere em concreto direitos de defesa e perigo de acesso a informações, por outro.
Mas o legislador foi mais longe e eliminou o segredo de justiça como regra geral
e abstrata mesmo fora dos casos em que esteja em causa medidas de coação. No art 86
diz-se que processo penal é em regra publica, deixa de haver segredo de justiça na fase
de inquérito e instrução. Permite-se é que em certos casos se determine a sujeição da
fase de inquérito a segredo de justiça, para esses efeitos é preciso decisão da autoridade
judiciaria a determinar que essa fase decorra em segredo de justiça.
Há duas formas de ser proferido decisão:
- decisão pelo jic;
- ou pelo mp

No art 86 nº2 atribui-se ao jic. Pode ser de interesse do arguido para evitar
violação dos seus direitos. Requer sujeição do processo a segredo de justiça que se dirige
ao jic.
A mesma coisa o ofendido e assistente que podem entender que conhecimento
publico do processo afeta esfera da intimidade, requerem sujeição a segredo, art 86 nº2,
decide ouvindo o mp, ponderando entre interesses da perseguição penal que são
favoráveis ao segredo e interesses dos sujeitos processuais que requerem.

Mas segredo de justiça pode ser determinado pelo mp, determina quando os
interesses da investigação ou direitos dos sujeitos o justificam. A decisão do mp orienta-
se pela pretensão de funcionalidade, da garantia de eficácia da decisão. Quando seja o
mp a sujeitar a segredo, esta sujeito a validação judicial por parte do jic no prazo de 72
horas, art 86 nº3.
Esta validação foi objeto de avaliação da doutrina. Diz que a intervenção do juiz
pode ser fundamental ao nível dos dlg, juiz como juiz das garantias, mas por outro lado
colocar-se nas ultimas mãos do juiz pode ser problemático na divisão de funções entre
entidades. O segredo de justiça apenas pode vigorar na fase de inquérito e a entidade
dominante é o mp. Pode haver conflito de competência. Tem-se entendido que a
decisão que cabe em ultima instancia ao juiz, ou valida a decisão no caso do art 86 nº3,
para evitar conflitos de competência é que intervenção do juiz é como juiz de garantias
e de liberdade, não tem que interferir no plano de investigação do mp, nem é chamado
para se pronunciar sobre necessidade de investigação. Deve toma-las como mp
apresenta e ponderar as exigências de investigação, de ponderar com interesses
contrapostos dos outros sujeitos. Juiz faz apenas ponderação, entre exigência do mp
que deve ser considerada nos exatos termos que mp apresenta e dos interesses
processuais. É chamado apenas para fazer essa ponderação e não deve intrometer-se
na gestão que apenas compete ao mp.

Art 89 nº6: vimos que há casos em que levantamento do segredo de justiça é


indispensável para assegurar defesa do arguido, art 194 e 141, mesmo que processo
esteja em segredo de justiça deve-se dar informações ao arguido desde que cumpridos
requisitos. O legislador não se ficou por aqui, eliminando segredo de justiça na fase de
inquérito e de instrução, so pode haver segredo na fase inquérito e quando seja
requerido e agora no art 89 nº6 temos de aceder aos autos por parte dos sujeitos
processuais.
Quando mp e juiz decidam esse segredo de justiça implica proibição de aceder
aos atos processuais, de tomada de conhecimento do teor dos atos processuais e
proibição de divulgação dos atos, art 88, significa que ninguém, nem mesmo os sujeitos
podem conhecer elementos do processo e que publico em geral não pode aceder aos
atos processuais, nem comunicação social pode divulgar.
Interessa o acesso dos sujeitos: art 89, não se pode consultar o processo, é regra.
Pode requerer-se consulta, mas o mp pode inferi-la invocando segredo de justiça, art
89 nº1. Só que inquérito está sujeito a prazos, no art 276, e é comum que prazos sejam
excedidos, porque prazos de duração são meramente ordenadores e não perentórios.
Ou seja, a circunstância de se ultrapassar prazos não implica a extinção do inquérito,
prossegue para sustentar a decisão do mp de acusar ou não, são prazos ordenadores.
Claro que há consequências de não serem observados os prazos, como disciplinares e
processuais, mas não há encerramento do inquérito.
Acontece que tendo terminado o prazo de duração do inquérito, este não
termina. Inquérito sujeito a segredo ultrapassa prazo, regula no art 89 nº6, se mp
demora mais tempo a investigar do que tempo que legislador lhe atribui. Não se pode
imputar em regra ao arguido ou aos outros sujeitos a falta de diligencia do mp, não pode
penalizar o arguido e por isso se diz que terminados os prazos normais do inquérito, o
segredo de justiça é levantado, apenas o segredo interno, o que significa que sujeitos
processuais têm direito a consultar os elementos do processo, art 89 nº6. Mas traz uma
clausula de salvaguarda para evitar prejuízo dos interesses da investigação, permite-se
que por despacho do juiz possa adiar-se acesso dos participantes processuais aos
elementos.

A regra é que terminados os prazos normais do art 276, o assistente, ofendido e


arguido podem consultar elementos de processo, a menos que mp requeira ao jic, antes
do prazo do inquérito terminar que acesso aos autos seja adiado. Esse adiamento é
prazo máximo de 3 meses, há limite objetivo, que pode ser prorrogado para crimes mais
graves. A prorrogação ocorre por uma só vez.
Em regra, o adiamento de acesso aos autos pelo período que juiz fixar não pode
exceder os 3 meses, mas pode ser menos, como 2 meses. Para crimes mais graves de i
a m) do art primeiro, nesses casos alem de adiamento, pode haver prorrogação por uma
só vez e por prazo indispensável a conclusão da investigação, pode haver aqui
prorrogação para além dos 3 meses.
Quando esta norma entra em vigor, em 2007, levanta duvida de saber se 2º prazo
de prorrogação estava sujeito a limite absoluto de 3 meses ou se poderia ser qualquer
prazo desde que fosse indispensável para conclusão das investigações. O primeiro
prazo é de 3 meses, o segundo prazo está sujeito a prazo de 3 meses e prazo
indispensável para conclusão ou se só está sujeito a prazo relativo do prazo
indispensável ainda que superior aos 3 meses. O supremo no acórdão 5/2010, vem
entender o tal segundo prazo da prorrogação que é período indispensável para
conclusão, sem estar sujeito ao prazo de 3 meses. Nos crimes mais graves, pode
prorrogar-se prazo indispensável, mesmo que superior a 3 meses, desde que seja tempo
estritamente necessário para concluir investigação.
Professora entende que não é uma solução razoável, ou ainda dizer que
prorrogação seja uma só vez quando se diz que seja prazo indispensável, seria melhor
permitir-se fiscalização permanente do juiz, ia prorrogando á medida que considerasse
necessário. Não faz sentido esta solução, se legislador quisesse isto diria que para
criminalidade geral prazo é de 3 meses e para estes crimes mais graves seria superior a
3 meses, mas legislador não fez isto, cria prazo de 3 meses e prazo especial para esta
categoria.

Há acórdão do tc que 428/2008 que julga inconstitucional a norma do 89 nº6


quando lida no sentido que ultrapassados prazos deve ser facultado todos os elementos
do processo, incluindo os que são atinentes a reserva da vida privada e que ainda não
tenham sido apreciados para aferir a sua inclusão ou da restituição das pessoas a que se
referem.

Ultrapassado o prazo podem aceder a todos os elementos do processo? É ilegítimo


não dar dossiers todos?
Depende, porque se contender com a reserva da vida privada das outras pessoas,
se mp ainda não analisou os elementos para saber se têm interesse para processo para
ser introduzidos no processo ou restituídos, estes não podem ser mostrados ao arguido.
Temos que compatibilizar, arguido pode aceder, mas é preciso ter em consideração das
outras pessoas, é preciso fazer ponderação. Interpretar a lei impondo o acesso a todos
os documentos ao arguido, diz o tc que será fazer incorrer essa norma a
inconstitucionalidade. Não se pode mostrar tudo, os elementos de reserva da vida
privada não devem ser mostrados. Há transparência menor do que se esperaria.
Apesar de tudo isto, há quem julgue que fomos longe demais com a publicidade
do processo. Há efeito perverso, que sendo processo publico e arguido exercer poderes
de fiscalização, é mais difícil dizer que prova recolhida do inquérito não deve ser
valorada na fase de julgamento. Quando inquérito era secreto, fase de investigação para
sustentar a suspeita, não podíamos sujeitar alguém a julgamento sem suspeita, esta
deve ser feita em segredo, o arguido não precisa de saber para serem tuteladas,
defende-se da acusação quando é dada a conhecer, na fase de julgamento, é ali que
tudo se decide. A fase primeira é fase necessária para evitar que se sujeite a julgamento
alguém que lhe foi imputado os factos. É fase célere e que se sujeitava a segredo de
justiça. No sistema anglo-americano é a mesma coisa. A partir do momento em que
inquérito deixa de ser fase compacta e secreta, deixa de fazer sentido de que o que se
recolhe no inquérito não pode ser valorada no julgamento. É esta perversão que se
verifica.
Norma do art 120 nº3 do cpp que diz respeito a arguição de nulidade, se for
cometido nulidade do inquérito, o prazo é de 5 dias após o despacho de pronuncia ou
de acusação. Só depois do despacho de pronuncia e de acusação porque se pressuponha
que arguido não tinha acesso ao processo. Mas continua a fazer sentido isto? Que só
começa a contar após deduzir acusação? Há filosofia do código que veio a ser alterada.
Começa a pensar que se deve voltar ao segredo de justiça, estabelecer como regra.

SUJEITOS PROCESSUAIS
O processo penal é realidade dinâmica que vive dos impulsos de pessoas, as
pessoas que intervém no processo são participantes processuais que intervém no
processo, independente da função. Nesta categoria ampla de participantes,
autonomiza-se categoria de sujeitos processuais.
Um critério tradicional de distinção era adotado por Beling, autor alemão, que
dizia que os sujeitos processuais são as pessoas cujo processo penal não pode existir,
decompõem relação triangular do processo penal.
Que pessoas são estas? O que é preciso existir e que pessoas devem intervir?
O ofendido nem tanto porque o crime é contra bens jurídicos comunitários. Para
estar do lado oposto ao arguido, irá estar o mp. No processo penal as personagens são
arguido, o mp, representação da pretensão punitiva do estado, e o juiz a quem compete
decidir a imputação, da culpabilidade ou da inocência do arguido.

Esta é conceção de beling, mas figueiredo dias parte de conceção diferente, o


que importa para distinguir sujeitos processuais é que sejam reconhecidos poderes de
conformação autónoma da tramitação do processo, em vista da sua decisão final, ou
seja, que lhe seja atribuída uma intervenção processual, poderes funcionais que possam
conformar a marcha processual e codecidir o processo. É faculdade ativa quando
conseguem intervir e determinar a decisão final quando se atribui alguém o poder de
produzir provas ou requerer abertura de instrução, de interpor recurso, de usar de
armas processuais que acabam por ter impacto decisivo na decisão final. O critério de
figueiredo são pessoas que não se limitam a praticar atos singulares cujo conteúdo se
esgota da atividade, são poderes de intervenção processual e capacidade funcional de
modelar e codeterminarem a decisão final. Neste sentido, são sujeitos processuais os
anteriores, o mp, o arguido e juiz, mas temos também o assistente e as partes civis, que
são sujeitos processuais apenas num sentido formal porque a relação jurídica que
encabeçam é de natureza cível, são sujeitos processuais num sentido formal, mas não
material porque estão no processo para satisfazer pretensão que tem natureza cível.
Temos também defensor do arguido que não é mera representação do mesmo.
São meros participantes o advogado do assistente, o assistente tem que ser
representado por advogado ainda que ele próprio seja advogado, como advogado que
no exercício das suas funções é difamado no exercício das suas funções, é ofendido e
pode constituir assistente. O assistente é sujeito processual, o advogado já não é,
porque a sua intervenção se esgota na representação judiciaria.
São também participantes processuais os órgãos de policia criminal que
intervém no inquérito e na instrução, mas fazem na dependência funcional de uma
autoridade judiciária, do jic ou do mp e não são sujeitos processuais, mas meros
participantes. O ofendido é mero participante, apenas adquire estatuto de estatuto se
o mesmo constituir assistente.
A vitima merece lugar de destaque a partir de 2015, no art 67-a e a questão que
se coloca é de saber se é ou não sujeito processual. Trata-se de uma figura hibrida
colocada entre assistente e ofendido. Tem alguns direitos processuais, direitos de
informação e de proteção assistencial, mas porque não tem direitos de participação
ativa, não é sujeito processual, sendo apenas um mero participante processual.

Outra questão que se coloca é de saber se processo penal português é processo de


partes? É processo de sujeitos, mas é de partes?
O reconhecimento de estatuto de sujeito processual do arguido derivado do
facto de entre nós vigorar um modelo acusatório, não há este modelo sem principio de
acusação e sem reconhecimento de estatuto de sujeito.
Não, o processo penal não é processo de partes porque não existe o
antagonismo típico entre acusação e defesa que carateriza processo de partes. O mp
representa pretensão punitiva do estado, mas não é entidade estritamente interessada
na condenação do arguido, decisão condenatória não deve ser vista como decisão
favorável ao mp, nem decisão absolutória ser desfavorável ao mp, porque pauta a sua
atuação segundo objetividade, legalidade e verdade. Tanto interessa a verdade que
redunde em condenação ou em absolvição quando arguido seja inocente. Prova disto é
o mp recorrer no exclusivo interesse do arguido, art 411 nº1 a).
Segunda razão para se sustentar que não é processo de partes porque não há
disponibilidade sobre o objeto do processo. neste sentido, o mp não pode desistir da
acusação, uma vez que a tenha deduzido nem transigir sobre o seu objeto, não se
admitindo a negociação da imputação. Não existe cá, como no processo penal inglês a
possibilidade de negociar a matéria de imputação, não está nas mãos do mp negociar a
pretensão punitiva do estado, depois é que deduzido a acusação, a acusação não pode
ser desistida pelo mp. Claro que se o mp tem dever de objetividade se da prova
produzida chega-se a conclusão que arguido é inocente, mp desiste da acusação. Não
existe disponibilidade sobre objeto, mp não pode desistir da acusação, embora possa
pugnar mais tarde pela acusação e não se permite os acordos, a plea bargaining.
Terceiro argumento para sustentar ideia de que não é processo de partes porque
não há principio de autorresponsabilidade probatória dos sujeitos processuais, nem da
acusação, nem da defesa. O juiz tem poder de investigação e incumbe em ultima
instancia o facto submetido a julgamento, não obstante segundo o principio do
contraditório, todos terem o poder de requerer produção de quaisquer provas.

- tribunal ou juiz: temos que ter em consideração o que diz a crp, onde há
monopólio da função jurisdicional, art 202. A intervenção do tribunal é importante, só
se pode aplicar penas privativas da liberdade quando é o tribunal a fazê-lo, art 27.
Todas as intervenções na fase de inquérito que conduzam a restrições de direito
têm que ser mediadas pelo juiz, art 32 nº4 da crp. A presença do juiz é decisiva, so juiz
pode aplicar penas privativas da liberdade e so na fase de inquérito pode ordenar a
pratica de atos processuais restritivos de df.
A crp diz quais caraterísticas fundamentais do poder judicial no art 203 diz que
tribunais são independentes. A 1º caraterística é a sua independência e esta significa a
absoluta liberdade dos tribunais no exercício das suas funções decisórias, proibição de
intromissões e influencias no exercício dessas funções.

A independência analisa-se numa perspetiva objetiva ou subjetiva:


- tribunais são independentes no sentido objetivo das outras funções do estado,
do legislativo, por isso parlamentos não exercem controlo politico, os tribunais são
independes do executivo e por isso os governos não podem dar instrução nem exercer
qualquer tipo de ação disciplinar sobre os juízes que é exercida pelo conselho superior
de magistratura que tem composição heterógena, com 17 membro, presidido pelo
presidente do supremo e há 7 juízes de carreira, 7 pessoas eleitas pela ar, 2 membros
designados pelo presidente, temos estrutura heterogénea que permite que haja
controlo externo da atividade, mas não controlo politico.
A ação disciplinar sobre os juízes exerce-se com base neste órgão, mas é ação
que se exerce sobre conduta do juiz e não sobre o mérito ou demérito da sua decisão.
O mérito so é sindicável em recurso, o conselho não se pode pronunciar, aqui, o juiz
goza das prerrogativas de irresponsabilidade, o juiz não pode ser responsabilizado por
ter decidido mal. Pode haver responsabilidade do estado por privações injustificadas,
mas juiz não pode ser responsabilizado, so pode ser quando comete algum crime no
exercício das suas funções. O conselho não exerce controlo sobre conteúdo da decisão.

Os juízes ou tribunais também são independentes relativamente a outros


tribunais, os tribunais so estão vinculados a decisões por outros tribunais em sede de
recurso. Mas fora dos limites do recurso não há constrangimentos do tribunal em
relação a outros.

- independência subjetiva, pessoal, do próprio juiz. Deve eliminar-se todos os


constrangimentos da liberdade decisória do concreto juiz. Interessa pelo estatuto
remuneratório, deve ser adequada que liberta de solicitações que podia condicionar
liberdade de decisão. Ou ainda interessa a atividade publica do juiz, este deve evitar ter
uma ação publica demasiado visível, ligar-se a grandes grupos de interesse, lobbies,
grupos de vida publica, como clubes de futebol, deve distanciar-se porque há duvida
sobre liberdade de decisão que se pode levantar, mantendo uma posição de recato e
evitar participar em atividades que admitam subordinação a outros órgãos, não
devendo por isso circular entre a função política e a função jurisdicional.
Devem ser independentes, devem obedecer apenas a lei e embora possam ter
convicções ideológicas e filosóficas, devem tanto possível arredar-se do processo
quando essas mundividências sejam contrarias aos princípios da constituição. Há
compromisso ético de 2008 dos juízes portugueses e diz-se que deve opor-se a qualquer
tentativa de politização da sua função e abster-se de praticar atividades que ponham
em causa a sua independência. O principio de bangalore da conduta judicial que é
documento subscrito sob égide da onu diz coisa parecida diz que o juiz deve estar isento
de influencias do ramo executivo e legislativa.
Estes documentos tornam claro que se não é proibido por lei que juiz possa a
exercer funções politicas, e são múltiplos os casos, é desejável que não haja circulação
entre a magistratura e a politica, porque esta circulação é de molde a gerar suspeita
sobre a liberdade do juiz e da independência. Do ponto de vista ético e de documentos
de soft law, é desaconselhado mas não proibido.

Outra caraterística é a imparcialidade, juiz ser imparcial, deve manter posição de


terceiro quer em relação a matéria, quer em relação às pessoas, deve manter posição
de descomprometimento, desinteressada em relação as pessoas e causa. Esta
imparcialidade do juiz que se liga a sua independência, a imparcialidade no processo é
garantida através de mecanismos de impedimentos e suspeições, art 39 do cpp.
Há diferença entre impedimento e suspeição: impedimento é taxativo e tem
funcionamento automático, só existe impedimento que a lei estabelece e tem
funcionamento ope legis, o juiz deve declarar-se impedido quando haja situação
contemplada na lei, sem mais. Se não se declarar impedido, pode qualquer sujeito
requerer que ele se declare impedido, art 41 nº2.
As suspeições não são assim, não são taxativas, há clausula geral, art 43 nº2 e
não tem funcionamento automática. Preenchida clausula geral é preciso que alguém
verifique a suspeição, e isso compete a tribunal superior a que questão respeita.
Tribunal da relação pode considerar que está nessa situação ou o juiz pode ele próprio
determinar que esta na situação.

Que impedimentos?
Há impedimentos do art 39 nº1 a) e b) e nº3 quando juiz está relacionado com
as partes do processo.
Há impedimentos que resultam na participação do juiz naquele processo para o
passado ou para futuro, para futuro quando juiz é indicado como testemunha, art 39
nº1 d) pode estar impedido de intervir, mas interessa a intervenção anterior, c).
Se juiz é testemunha, se disser sob compromisso de honra que não tem
conhecimento dos factos, não intervém como testemunha e mantém funções, mas se
disser que tem conhecimento, temos impedimento e intervém como testemunha.
Temos disciplina no nº2 do art 39 quando se indica o juiz como testemunha, quando não
nos interessa que seja juiz.

Os impedimentos são taxativos, mas há quem critique o cpp por estabelecer


menos impedimentos do que aqueles que o cpp estabelece, a matéria de impedimentos
judiciais no cpc consta no art 115 e de facto há la impedimentos que o cpp não
reconhece, como no cpc diz que está impedido quem tenha dado parecer, ao passo que
o cpp não fala de jurisconsultos, quem deu parecer pode intervir como juiz. Mas
figueiredo diz que se deve aplicar subsidiariamente ao processo penal. Este
impedimento que no cpc dos jurisconsultos que tenha dado parecer que consta no art
115 nº1 c) deve valer também no processo penal, remissão art 39 nº1 c) para este 115.
Em cpc diz também quem está impedido quando tenha intervindo antes e o seu
cônjuge, no cpp não se estabelece o cônjuge. O impedimento do cpc deve entender-se
que se aplica, art 115 nº1 d) para o processo penal.
Há outras situações que são acauteladas de forma mais forte no processo penal,
no art 115 nº1 a) quando o juiz intervém como autor e como reu, não pode intervir como
juiz. No cpp há regra semelhante e mais protetora, porque juiz se for arguido ou se for
ofendido ou assistente, a competência para decidir cabe a outro tribunal da mesma
hierarquia e da mesma espécie com sede mais próxima do tribunal competente, temos
proibição do juiz se julgar a si mesmo. Se juiz for ofendido e assistente e fosse
competente para julgar o caso, a competência não lhe cabe a ele nem a outra comarca,
art 23, é forma de proteger a imparcialidade.

Temos questão que se discutiu de saber até que ponto intervenções anteriores
do juiz no mesmo processo podem ser fundamento de impedimento. Na redação
originaria o impedimento resultava do art 39 nº1 c) e d), e depois no art 40 a versão
originaria dizia que estava impedido para intervir como juiz quem tivesse intervindo na
fase de instrução, estava impedido de julgar. Esse impedimento que existe no art 40 b)
era manifestação do principio da acusação, o objeto do processo só se cristaliza com
despacho de pronuncia, devem estar impedidos de participar no julgamento como juízes
quando tenham proferido esse despacho.

Mas outras intervenções do juiz mais pontuais, juiz como juiz de instrução
sujeitou o arguido a medida de coação, juiz que ordenou escutas, este estará impedido
de intervir como juiz no momento de julgamento? Em 98 e em 2007 se foi alargando
âmbito dos impedimentos, não se previa outros impedimentos para alem da b) e agora
estende-se âmbito dos impedimentos.
A) do art 40 está impedido de intervir em julgamento o juiz que em momento
anterior do processo tenha aplicado medida de coação do art 200 a 202, fica impedido
de intervir no julgamento. Tal limitação resulta do facto de a aplicação de todas estas
medidas exigir a verificação de fortes indícios da pratica de crime. assim, de modo, a
garantir imparcialidade do julgamento, o legislador decidiu, nestes casos, impedir o juiz
que aplicou essas medidas de exercer as suas funções no quadro do julgamento. isto
porque a indagação probatória do juiz de instrução nestas hipóteses é mais profunda.
Estas medidas de coação são prisão preventiva, obrigação de permanência de habitação
e proibição de condutas, são 3 medidas de coação mais graves. Juiz que tenha aplicado
uma delas está impedido de intervir.

Mas porquê estas três medidas?


São as mais graves, mas além disso as medidas de coação dependem da
existência de indícios, mas nestas três medidas temos a suposição de fortes indícios. É
exigido o juiz que faça juízo de forte indiciação. Se juiz se convence que há fortes indícios
da pratica do crime, dificilmente consegue libertar-se prejuízo e decidir com
imparcialidade. So nestes 3 casos é que juiz que interveio pontualmente numa fase
anterior esta impedido. Mas se aplicar outra medida de coação ou ordenar escutas
telefónicas, apreensão de correspondência não fica impedido. Mas art 43 nº2 pode ser
fundamento de suspeição.

Aula 27/11/2020
A garantia de imparcialidade é assegurada através de impedimentos e
suspeições. Impedimentos estão enunciados de forma taxativa e são de utilização
automática, é o próprio juiz que se declara como impedido. Mas o código civil estabelece
elenco mais amplo do que estabelece no cpp, por isso a doutrina, figueiredo dias e nuno
brandão defendem que se aplica subsidiariamente o art 115 do cpc naquilo que seja
omisso o cpp e no caso contrário, há dois impedimentos do cpp que se aplicam ao cpc,
por não estarem previstos neste.
As suspeições, ao contrário dos impedimentos, não são taxativos, nem de
funcionamento automático. Estão fixados através de clausula geral, art 43 nº2 que diz
que se verificar alguma das situações de clausula geral pode pedir-se recusa do juiz ou
o juiz pode pedir a escusa. Quer o pedido formulado pelas partes, quer pelo juiz, são
avaliados por tribunal superior, a sua escusa do juiz tem que ser decido por tribunal
superior ou quando os sujeitos pedirem.

Qual o fundamento de suspeição?


Art 43 nº1: intervenção do juiz pode ser recusada quando seja suspeita, por
existir motivo sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a sua imparcialidade.
Quando tais circunstâncias objetivas forem aptas a gerar desconfiança de que
perdeu a imparcialidade, ainda que não a tenha perdido, aqui há apenas a suspeita, mas
reforça a confiança da comunidade, há fundamento para pedido de recusa ou pedido
de escusa. O que importa é salvaguardar a imparcialidade do juiz e pode não a ter
perdido, mas a aparência é condição da realidade, é preciso que se pareça imparcial
para ser assegurada a imparcialidade. Se motivo existir, ainda que juiz esteja ainda
imparcial, ainda assim há fundamento de suspeição.

No nº2 diz que intervenções processuais do juiz que não gerarem impedimento,
mas pode haver lugar a suspeição.
Os impedimentos do art 39 nº1 c) e d) são fundados em intervenções anteriores
ou futuras e impedimento do art 40 a) e b) é fundado em intervenção anterior do juiz,
se intervenção anterior do juiz não gerar impedimento, juiz que aplica medida de coação
que não seja das mais gravosas, que determina a apreensão da correspondência, se
intervenção do juiz não gerar impedimento, pode porventura ser fundamento de escusa
ou de recusa, mas é necessário que seja intervenção repetida e incisiva e que seja
rodeada por circunstâncias particulares.

Os tribunais têm sido cautelosos nos pedidos de escusa e de recusa, porque


colocam em causa a confiança da comunidade nos tribunais e ainda coloca em causa o
prestigio. As suspeições não operam automaticamente, pelo que nestes casos para que
se dê o afastamento do juiz em processo, terá que se dar lugar a um incidente de
suspeição junto do tribunal superior àquele a que o julgador pertence. Esse incidente
pode ter origem num requerimento de alguma das partes processuais ( nº3 do art 43)
ou na iniciativa do próprio juiz. este último não podendo declarar a sua escusa, tem de
a pedir junto do tribunal superior competente para o efeito, art 43 nº4, que em regra se
trata do tribunal imediatamente superior nos termos da alínea a) do art 45 nº1.
Na apreciação destas questões, os tribunais devem atender se o juiz em concreto
tem alguma predisposição contra ou a favor do arguido. Devem procuram determinar
se existe alguma razão objetiva, legitima que sustente a existência de duvidas sobre a
imparcialidade da sua decisão, declarando nesse caso a escusa do juiz.

O critério é defendido por figueiredo dias e nuno brandão para apreciação e de


decisão deve ser individual/objetivo, tem que ser individual e objetiva, tem que se
atender a força media de resistência a paixões contrárias à administração da justiça,
deve atender-se a frequência e intensidade das intervenções daquele concreto juiz no
processo e circunstancialismo que rodeia a intervenção. O critério é apertado porque se
permitisse que qualquer circunstância fosse apta a fundamentar pedido de escusa ou
recusa criaria duvida, fragilizaria a confiança das pessoas na administração da justiça,
pretendendo-se deste modo diminuir os pedidos.
Temos que atender a amizade do juiz ou inimizade deste com os sujeitos
processuais, mas apenas se considera para este feito a inimizade do juiz e não das partes
para com o juiz, intervenção do juiz em processos conexos com aqueles.
Dá-se o afastamento de um juiz que tenha intervindo num processo anterior ou
em fases anteriores do mesmo processo. O juiz não pode julgar um processo quando
tenha sido magistrado do mp, porque já teve intervenção na acusação, mas se a
intervenção for em processos conexos, seja na fase de inquérito como magistrado do
mp, quer seja intervenção como juiz no outro processo, há fundamento de suspeição,
porque juiz ao ter decidido no processo conexo, já formou sobre ele uma convicção e
manterá essa convicção e sendo os mesmos factos, é razoável que juiz não se consiga
distanciar da convicção que formou.
São estas situações que em regra podem gerar incidente procedente de recusa
ou de escusa de juiz.

Competência dos tribunais penais:


Está subjacente principio do juiz natural ou legal, é principio constitucional que
está consagrado no art 32 nº9 da crp, e diz-se que nenhuma causa pode ser subtraída
ao tribunal, cuja competência esteja fixada em lei anterior, condensa principio de juiz
natural.
Tem sólida tradição, remonta a revolução francesa e ao iluminismo, porque
antes desta a prerrogativa de julgar era do rei. Não havia separação de poderes e era
prerrogativa do monarca, mas como não podia fazer isso por si mesmo, delegava esse
poder aos juízes, podendo o rei avocar a causa, decidindo ele mesmo ou aforar o
tribunal, tirar e atribuir a outros, ou criava tribunais ad hoc, criados para concreto
julgamento de causa. No sec 18 manifestou-se a consciência acrítica dos juízes e com
revolução francesa e principio da separação de poderes repudiou-se esta conceção. As
causas penais passaram a ser julgadas na sua sede natural.

O conteúdo essencial deste principio: direito dos cidadãos de serem julgados


por tribunal competente, proibindo-se o desaforamento e ainda proibição de criação
de tribunais excecionais, para julgamento de casos concretos.
O sentido é mais amplo e a doutrina não é completamente consensual qual o
exato alcance do principio de juiz natural, mas temos dito que se extrai três corolários,
reflete-se em três dimensões:
- reserva de lei formal, competências dos tribunais são definidos por lei e têm
que o ser;
- anterioridade da fixação de competências, devem ser fixadas em momento
anterior, é o que diz a crp no art 32 nº9, fixadas anteriormente ao momento da pratica
do facto que se sujeita a julgamento ou pelo menos antes da instauração do processo.
Mas isto é o ideal, mas há hesitações doutrinais aqui, sendo que Figueiredo dias entende
que o principio não obsta a uma modificação da ordem de competência dos tribunais
ocorrida ulteriormente à prática do facto, desde que seja uma modificação global e não
para cada caso concreto. Esta modificação deve preservar o núcleo essencial deste
principio.
- a lei fixa competências, cabe á lei, de forma geral e abstrata, definir as
competências dos tribunais penais, mas deve fixar através de uma ordem taxativa de
competências, proibindo-se que uma qualquer entidade determine em concreto
modificação do esquema de competências fixadas na lei. É definido de forma geral e
abstrata e não pode qualquer entidade modificar competências.

Não é consensual na doutrina âmbito do juiz natural e há duvidas quanto a este


segundo corolário, o da anterioridade da fixação. Idealmente, competências são fixadas
anteriormente à pratica do facto, mas a constituição não diz nada sobre isto.
Taipa de carvalho considera indispensável que competência seja fixada antes do
momento da pratica do facto, evitando perigos de subversão das competências e diz
que embora o art 32 nº9 não esclareça, este é decorrência do principio da legalidade,
art 29 que se aplica também para competências. Caso os factos tivessem sido praticados
antes da alteração do mapa judiciário, os processos teriam de continuar a ser julgador
nos tribunais definidos de acordo com a lei anterior.
Figueiredo Dias pensa de forma diferente o principio do juiz natural não impede
que haja modificações globais no esquema de distribuição de competências, não
impede que haja alterações do mapa judiciário e desde que alteração seja global das
competências e não modificação para caso concreto. Pode acontecer que um
determinado caso penal seja julgado por tribunal que não existia ou não tinha
competência no momento em que crime foi cometido, quando tribunal não existia ou
não era cometente e por força da lei, mas surge depois, torna-se competente, mas
apenas se se tratar de uma modificação global do mapa judiciário. Não se pode é
permitir que haja modificações de competência dirigida para o caso concreto, essas
seriam violadoras do principio do juiz natural, mas modificações do mapa global, geral
das competências não seriam proibidas. Para figueiredo é salvaguardar o núcleo
essencial que é constituído pela proibida de desaforamento, retirar a competência de
um tribunal e entregar a outro para aquele caso concreto e proibição de criação de
tribunal ad hoc para um determinado caso.
Impor que aquele tribunal que julgasse só porque existia antes, paralisava a ação
da justiça. A posição de Figueiredo é razoável.

O principio geral de repartição de competências é este, mas que critérios legais de


repartição. Tem que estar definidos em lei, mas que critério?
Esses critérios são três, as competências são determinadas através de repartição
material, funcional ou territorial. A competência por conexão é conjunto de desvios à
regra de competências.
- competência material distribuição da jurisdição por espécies diferentes de
tribunais, considerando a qualidade do arguido ou a gravidade e natureza do crime.
- funcional: distribuição da jurisdição por diferentes categorias de tribunais
considerando as categorias ou graus em que se divide o processo;
- territorial competência define-se consoante o lugar onde o crime foi cometido.

COMPETÊNCIA FUNCIONAL
Reparte-se jurisdição dos tribunais em função dos vários segmentos em que
processo se divide, atendendo às fases ou aos graus de divisão. Temos competência
funcional por graus que distingue os tribunais de 1º, 2º e 3 instância e temos
competência funcional por fases que autonomiza tribunais de instrução, de julgamento,
de recurso e de execução de penas.

COMPETÊNCIA MATERIAL
Distribui-se a jurisdição de diferentes espécies de tribunais, consoante a
qualidade do arguido (critério subjetivo) ou natureza ou gravidade da infração por ele
cometido (critério objetivo). Pode ser subjetivo quando é qualidade do arguido ou
objetivo quando se atende a gravidade do crime ou natureza do crime.
Atendendo ao critério subjetivo, há certas pessoas que são julgadas por
tribunais de hierarquia superior. O comum dos cidadãos é julgado na 1º instancia, depois
havendo recurso para tribunais superiores, mas julgamento é feito pelos tribunais de
comarca. Mas há certas pessoas que pela dignidade das suas funções são julgados por
hierarquia superior, como o presidente da republica, presidentes da assembleia e 1º
ministro que são julgados pelo supremo, art 11 nº3 a).
Se se tratar de crimes cometidos por juízes do supremo, ou juízes de relação ou
magistrados a exercerem funções nestes tribunais, atendendo a qualidade das suas
funções. Não faz sentido que juiz de supremo ser julgado por juiz a iniciar carreira, em
homenagem da sua qualidade de funções, são julgados pelas secções criminais do
supremo.
Se se tratar de juiz de direito ou magistrado do mp que exerça funções de
comarca, então julgamento compete à secção criminal do tribunal de relação, art 12 nº3
a). Temos critério subjetivo, atende-se a qualidade da pessoa em causa.
Quanto às outras pessoas, como presidente de camara, professor de direito,
advogado, por mais mediático que seja a sua intervenção, ou cirurgião por mais decisivo
que seja intervenção no salvamento de vidas, todos os outros são julgados por tribunal
singulares, coletivo ou de júri que funciona ao nível da comarca. São julgados pela
comarca que se subdividem tribunais coletivos, singulares ou de júri. Singular apenas
com 1 júri, coletivo é composto por 3 e o tribunal de júri é composto por um colégio,
sete membros efetivos, com 3 juízes de carreira, com 4 jurados e 4 suplentes.

O tribunal de júri tem pouca tradição entre nós. Entre nós so funciona quando
haja requerimento nesse sentido. O seu funcionamento é também diferente, o nosso
tribunal decide todas as questões de culpabilidade e de determinação da sanção nº3
do art 2 do decreto-lei 387-A/87. É composto por 3 juízes de carreira, por 4 jurados e 4
suplentes e critério da decisão é da maioria, art 365 nº5 do cpp, a e não da unanimidade
como acontece nos eua.
A escolha do júri, dos leigos que vai integrar é feito através dos cadernos
eleitorais, há pré-sorteio de 100 pessoas, depois essas 100 são sujeitas a inquérito sobre
cumprimento de requisitos de capacidade para exercício de funções, depois essas que
correspondam a inquérito e respostas sejam validas que não sofram de nenhuma
incapacidade, seleciona-se 18, faz-se audiência para apuramento, essas pessoas são
entrevistadas. Estas regras estão no regime decreto lei 387-a/87 de 29 de dezembro.
Há incompatibilidades, juiz, pessoa de direito ou advogado não pode ser jurado.

A competência do tribunal de júri, refere a constituição no art 207, este é


competente para julgar os crimes mais graves, salvo os de terrorismo e de
criminalidade altamente organizada.
porquê que a constituição exclui estes dois?
É proteção dos jurados que está em causa. Convocam perigo especial, para as
pessoas a quem é cometido o dever de julgar. para os juízes de carreira faz parte do
perigo das suas funções, mas impor ao mesmo risco aos jurados, pareceu ao constituinte
um ónus excessivo e é essa razão de proteção de jurados, não se pode exigir que passem
por este perigo quando não são juízes.

Mas a constituição não diz o que é terrorismo ou altamente organizada. A


criminalidade altamente organizada é conceito mais flutuante que terrorismo, o
terrorismo ainda aparece com alguns contornos, mas o cpp define este conceito, mas
esta definição do cpp que consta no art 1 m) é definição cujos contornos se foram
alargando com o tempo. Em 1987 previa-se uma conceção que hoje não se prevê, é
conceito elástico, porque legislador foi expandindo o conceito.
Inclui-se na definição legal por exemplo o trafego de influência, quando alguém
diz que deixa isso comigo porque sou amigo do presidente da camara e consigo que
processo seja tramitado mais depressa. Ainda que pessoa não queira exercer influencia,
mas esse crime é crime de trafego de influencia.
Mas este reveste a tal gravidade que está subjacente a norma do art 207 da crp? O
perigo que se quer acautelar existe?
Claramente que não.
Na definição de competência do tribunal de júri não precisamos de ter atenção
a art 1 m), é critério orientador, mas apenas tem esse caráter, não é cogente. O
legislador constituinte não pretendia integrar todos os conceitos que legislador
ordinário vem incluir aqui, temos que verificar caso a caso, ver se é de criminalidade
altamente organizada ou não.
Por exemplo em relação ao crime de trafego drogas, chegou ao tc a questão de
saber se tribunal de júri podia julgar este trafego de droga ou se era de criminalidade
altamente organizada, entendeu-se que era inconstitucional atribuir o julgamento de
trafego de droga ao tribunal de júri, porque é considerada criminalidade altamente
organizada.

Que crimes cabem na competência do tribunal de júri?


Competência do tribunal de júri é feita através de critério qualitativo e
quantitativo.
O primeiro está no art 13 nº1 que remete para determinados capítulos do cp,
corresponde ao art 236 a 246 e 308 e 346 remissão. Este tribunal pode apenas julgar
crimes particularmente graves.
Para além deste critério qualitativo que se atende a natureza aos tipos legais de
crime, considera-se no nº2 do art 13 um critério quantitativo que considera a gravidade
do crime que é indiciada pela moldura. São da competência do tribunal de júri os crimes
puníveis cujo limite máximo seja superior a 8 anos.
Na articulação entre dois critérios prevalece o qualitativo. Se o crime for um
destes do elenco do art 13 nº1, ele é da competência do tribunal de júri mesmo que em
concreto seja um crime com uma pena que não ultrapasse os 8 anos.
Exemplo.: o trafego de influencias, não é criminalidade altamente organizada,
cabe no elenco dos crimes cuja competência pertence ao tribunal de júri, mas é punível
com pena de prisão de 1 a 5 anos, mas é julgado na mesma aqui, porque o qualitativo
prevalece sobre o quantitativo.

Para haver intervenção do tribunal de júri é necessário que haja requerimento


de algum dos sujeitos processuais ( nº1 e nº2 do art 13), que deve obedecer ao disposto
nos nº3 e 5 do mesmo artigo. Na falta de requerimento, é tribunal coletivo que é
competente, conforme resulta do art 14.

art 14: temos critério qualitativo e quantitativo. no qualitativo há exata


correspondência entre o 14 nº1 e art 13 nº1, remissão deste artigo para 236 a 246 e 308
a 346.
quanto ao critério quantitativo rege o art 14 nº2 b), é competente para conhecer
os crimes cuja pena de prisão ultrapasse os 5 anos.
na a) temos manifestação do critério qualitativo diz-se que tribunal coletivo além
do art 14 nº1, julga crimes de homicídio ou outros crimes em que seja elemento do
crime uma morte de pessoa, são da competência do tribunal coletivo, é critério
qualitativo, é pela natureza do crime que se atribui competência ao coletivo.
O critério qualitativo prevalece sobre quantitativo, no homicídio privilegiado,
que é doloso, a pena de prisão é 1 a 5 anos, é crime que é da competência do tribunal
coletivo, art 14 nº1 a), em que pena de prisão não excede os 5 anos, por força do
elemento objetivo da morte. É competente, mesmo que a prisão não exceda os 5 anos.

Quanto ao tribunal coletivo, é também fixada com base num critério objetivo e
qualitativo e num critério objetivo quantitativo. do ponto de vista qualitativo, o tribunal
coletivo é competente para julgar nos casos do art 14 nº2 a) e nº1. A alínea b) do nº2 do
art 14 estabelece um critério quantitativo.
Pelo facto de ter uma competência material quantitativa superior e uma
competência material qualitativa idêntica à do tribunal do júri, os casos que não sejam
julgador junto daquele por falta de requerimento, serão julgados no tribunal coletivo.
Ao nível da competência deste tribunal, importa destacar os casos de concurso
de crimes em que a sua moldura penal abstrata ultrapasse os 5 anos ainda que o limite
máximo de cada um dos crimes que compõe o concurso seja inferior a esta moldura.
Assim para crimes que sem qualquer fundamento de conexão processual, seriam
julgados no tribunal singular, pelo facto de terem uma pena inferior a 5 anos, será
competente o tribunal coletivo por terem sido cometidos em concurso. para estes
efeitos, a pena máxima do concurso é aferida pela soma dos limites máximos das
molduras penais em abstrato de cada um dos crimes cometidos.

Quanto ao tribunal singular, é competente para conhecer dos crimes previstos


no art 16, também aqui a competência é fixada com critério qualitativo e quantitativo.
Em relação ao critério qualitativo, resulta do art 16 nº2 a). Remissão para crimes
do art 347 a 358 do cp e critério quantitativo consta do art 14 nº2 b), dos crimes cuja
pena não exceda os 5 anos, seja igual ou inferior a 5 anos.
Também aqui o critério qualitativo prevalece sobre o quantitativo.
Se crime for um dos enunciados no art 16 nº2 a), algum dos crimes tipificados
naqueles artigos, é da competência do singular mesmo que prisão seja superior a 5 anos.
exemplo.: art 354: Como o motim de presos, que pena de prisão é de 1 a 8 anos,
seria da competência do coletivo, mas como critério qualitativo prevalece, é este o
competente.
O tribunal singular tem competência para conhecer os crimes contra autoridade
publica, art 347, como desobediência, motim de presos, etc.

Por que é que legislador quis que estes crimes contra autoridade publica fossem da
competência do tribunal singular?
Estes crimes são mais graves, deviam ser julgados pelos tribunais coletivos,
porque oferece mais garantias ao arguido graças ao maior formalismo, mas está
remetido para tribunal singular. Porque é que se dispensa esta garantia? Sendo crimes
cometidos contra autoridade publica, a tarefa de recolha da prova está simplificada e
recolha da prova oferece mais garantias de verdade, é isto que legislador presume,
presume que a pessoa de autoridade publica que foi vitima do crime, fará recolha de
prova que garante maior fidelidade, determinando a não necessidade do tribunal
coletivo. É confiança que se deposita na autoridade publica que fez recolha da prova e
se dispensa o tribunal coletivo e entregamos julgamento ao tribunal singular.

O tribunal singular tem critério residual, quando outro critério não se aplique, é
competente o tribunal singular. Não há lacunas entre critérios, não é necessário critério
residual, porque temos o qualitativo, mas onde não estiver regulado, a competência é
do tribunal de qualquer das formas quis o legislador estabelecer este critério.

Art 16 nº3: que tem uma disciplina curiosa, atribui ao mp a competência para
atribuir ao tribunal singular competência que por força da lei caberia ao tribunal
coletivo, nos termos do art 14 nº2 b).
Parece que contraria o corolário da lei fixar as competências, que não pode ser
contrariado por nenhuma entidade. Vamos ver se conflitua esta norma com o principio
do juiz natural (art 32 nº9).
A questão que se coloca é saber se esta norma viola ou não a regra do juiz natural?
Aparentemente esta norma conflitua com a ideia de que a competência dos
tribunais deve estar fixada através de lei geral e abstrata estabelecendo elenco taxativa,
não alterável por qualquer entidade e neste preceito parece indicar que a definição da
competência do tribunal depende não da lei, mas de uma decisão do mp .
Mas a verdade o que se entendeu no tc é que não há violação do principio e
argumentos apontados, segundo vários argumentos:
- É a lei que continua a atribuir a competência ao tribunal singular, é o art 16 nº3
que atribui competência, atribuindo ainda ao mp para verificados determinados
requisitos concretizar para a hipótese em apreço uma competência que já está definida
na lei. É a lei que define requisitos e é a lei que estipula competência do mp para o caso
em apreço.
- segundo argumento é o de que esta atribuição da competência ao tribunal
singular não ofende o núcleo essencial do juiz natural, que é constituído por proibição
da criação de tribunal ad hoc e proibição de desaforamento. O desaforamento tem
conotação territorial, retirar competência em uma área territorial e colocar para ouro
tribunal noutra área diferente. No caso concreto, a competência territorial é respeitada,
simplesmente passa a pertencer ao tribunal de júri quando antes pertencia ao coletivo.

Outra critica que se faz: quando a competência á atribuída ao tribunal singular


este não pode aplicar àquele caso pena superior a 5 anos, resulta do art 16 nº4 e
solução que até parece boa, do ponto de vista do principio do juiz natural, era da
competência coletiva, agora é do singular, mas há freio que se põe, não pode aplicar
pena superior que em regra o tribunal singular possa aplicar.
Mas é merecedor de outra critica, pode violar o principio da reserva da função
jurisdicional, (art 202 da crp), porque acaba por ser mp a colocar limite á jurisdição do
tribunal. A moldura penal estabelece limite, os tribunais não podem aplicar penas
superiores aos que a lei prevê, mas a moldura penal para aquele crime era superior,
superior a 5 anos, mas se mp entende que não se deve aplicar pena de prisão superior
aos 5 anos, remete para os autos para tribunal singular que não pode aplicar pena
superior a 5 anos. Legislador permite que mp limite a função jurisdicional do juiz, limite
que tribunal não pode ultrapassar. Por isso, o juiz passa a estar limitado na sua decisão
não só pela lei, como também pelo próprio entendimento do mp.

Não está a por nas mãos do mp tarefa que era do juiz?


Também o tc se pronunciou e aqui entendeu que não havia violação do princípio
da reserva da função jurisdicional do art 202 da crp, porque a norma não retira
competência do tribunal para julgar, mas apenas estabelece que o tribunal deve julgar
dentro dos limites estabelecidos pela lei.
A lei atribui ao mp a titularidade da ação penal, art 219 da crp, o que significa
investigar e sustentar a acusação, mas também representar a função punitiva do estado
e traçar limites à intervenção do tribunal. Há sempre limites à jurisdição quando mp
exerce esta função. Quando mp acusa por determinados factos já está a estabelecer
limites á cognição do tribunal, tribunal só pode conhecer aqueles factos, só pode
condenar por aqueles factos e não outros factos mesmo que se tenham verificado. O
mp como representante da pretensão punitiva do estado limita sempre pelo exercício
de competência legais, como art 16 nº3 limita sempre a esfera jurisdicional.
Temos ainda outro exemplo, quando tribunal condena e decide, pode haver
recursos e se recurso for interposto por arguido ou do mp no exclusivo interesse do
arguido, o tribunal superior não pode agravar a pena aplicada pela 1º instancia. A inação
do mp, ou a sua ação em exclusivo interesse do arguido acaba por limitar o tribunal
superior, fica limitado pela pena decidida pelo tribunal a quo. Quando o mp não recorra
também, fica vinculado ao limite da pena fixada na 1º instancia, resulta da inação do
mp.
Se o mp tivesse recorrido no interesse do estado, o tribunal já podia aplicar pena
mais alta. É a atuação ou falta da atuação que condiciona a jurisdição do tribunal, temos
proibição da reformatio in pejus, constante no art 409 do cpp, impedindo o tribunal
superior de modificar a decisão do tribunal a quo em prejuízo do arguido, quando o
recurso tenha sido intentado apenas pelo arguido ou pelo mp no interesse do arguido.
Ninguém discute a incompatibilidade com a constituição. Também não há
razoes para censurar o art 16 nº4.

COMPETÊNCIA TERRITORIAL, art 19 e seguintes.


A regra geral é de que é competente o tribunal em cuja área o crime foi
cometido. A atribuição nestes termos tem que ver com comodidade do trabalho
probatório, é mais fácil obter recolha de prova quando o tribunal competente se situa
no lugar onde foi cometido o crime e ainda por haver razoes de prevenção geral, porque
é naquela área que o crime é discutido e onde há maior alarme social. A regra geral é a
do lugar da consumação do crime que determina a competência do tribunal.
Tratando-se de crime material, o crime consuma-se onde o resultado tenha
produzido, é lugar do resultado que determina a competência.

Mas no nº2 temos critério diferente, sendo crime que compreende morte de
uma pessoa, o tribunal competente é onde o agente atuou e não onde o resultado se
produziu, art 19 nº2.
O critério não era este, porque se modificou para crimes de homicídio ou a morte de
uma pessoa?
Porque era comum que a vitima do crime quando não faleça de imediato, é
assistida medicamente acabe por falecer num grande hospital e passavam a ser esses
tribunais onde o resultado por acaso se produziu, mas so se produziu por causa dos
sistemas de assistência médica, por fator externo, estranho à vontade do agente, não
estando nos planos do agente e legislador alterou a regra.
No caso da omissão, o lugar do resultado é onde devia ter atuado.

No nº3: crimes continuados ou permanentes. Os crimes que se consumam por


atos sucessivos ou reiterados como crime de sequestro ou continuado. O tribunal
competente é onde se efetuou o ultimo ato.
nº4: no âmbito da tentativa, é competente para dela conhecer o tribunal em cuja
área se tiver praticado o ultimo ato de execução ou o ultimo ato de preparação.

Art 21: localização duvidosa, como crimes informáticos, que são crimes
aterritoriais, é difícil saber onde se produziu, é numa esfera intangível, é importante ver
este artigo para este caso.

Art 22: casos em que foram cometidos no estrangeiro.

COMPETÊNCIA POR CONEXÃO


Questão da competência por conexão é conjunto de regras de desvio a regra
geral de competências e a sua distribuição. A regra geral é que para cada crime e cada
arguido há um processo e um tribunal cometente, mas pode haver crimes que são
conexos entre si ou de crimes cometidos por diferentes arguidos no mesmo processo e
serem julgados num mesmo processo, ou situação em que o mesmo arguido pratica
muitos crimes e será julgado apenas num processo e num tribunal.
Só há conexão quando há razões materiais que justificam, que se prende com
economia processual, aproveitamento probatório e salvaguarda do prestigio dos
tribunais, ou até por razões de ordem lógica, uma vez que a conexão permite evitar que
haja contradição de julgados em crimes materialmente relacionados. Se existem um
crime cometido por várias pessoas, naturalmente esse crime deve ser apreciada num so
processo por razoes de economia processual, se produz-se a prova e vale para
apuramento de ambos e ainda razoes de prestigio para evitar contradição de julgados.
Seria demolidor para pessoas que dois coatores num crime de roubo, um ser absolvido
e outro condenado, viesse a ser pronunciado duas sentenças diferentes, são estes
motivos que justificam a conexão.

Nos termos do art 29 nº1, a conexão do processo pode ocorrer ab initio, forma-
se um so processo para julgar os vários crimes cometidos pelo mesmo agente ou vários
agentes com crime conexo desde a sua origem.
Ou pode ser conexão superveniente, quando se perceber que há fatores
conexos e apensa-se os processos que estavam a ser tramitados, nº2 do mesmo artigo.

Pode haver conexão objetiva ou subjetiva:


- objetiva quando contenda com identidade do crime cometido ou quando haja
relação material entre os vários crimes (c, d e e do nº1 do art 24), um so crime praticado
por uma das pessoas ou relação material entre vários crimes é objetivo;
- subjetivo: atende-se à identidade e unidade do agente, quando sejam vários
crimes cometidos pela mesma pessoa, independentemente de existir conexão material
entre eles (alínea a e b) do nº1 do art 24 e art 25).
O cpp conhece as duas modalidades de conexão subjetiva e objetiva. A objetiva
está no art 24 nº1 c, d e c). É preciso que haja ligação material entre os crimes, mesmo
crime cometido por varias pessoas, ou quando haja relação de causa e efeito.
Por exemplo, casos da alínea a), a prova da ação ou omissão típica aproveita a
imputação de todos os crimes ao agente, o que traz vantagens ao nível da economia
processual.
E) situação de conexão objetiva: diversos crimes cometidos por varias pessoas.
São vários crimes, mas há conexão material entre ambos.

Casos de conexão subjetiva constam no art 24 a e b e art 25, atende-se à unidade


de agente, a mesma pessoa que comete crimes diferentes.
É preciso sublinhar que legislador não estabelece casos puramente de conexão
subjetiva, interessa a mesmidade do agente, mas temos que somar mais alguma coisa.
A alínea a) não basta que seja mesmo agente, é preciso que haja ligação entre
crimes. A mesma coisa na alínea b) os crimes têm que ter relação, mesmo lugar, causa
efeito uns dos outros ou uns que se destinam a continuar os outros.
No art 25 temos proximidade da conexão objetiva, é necessário que os crimes
sejam cometidos na área da mesma comarca.
Não havendo conexão objetiva à luz do direito processual, pode contudo haver
um concurso ao nível do direito substantivo, de acordo com o previsto nos art 77 e 78
do cp.
art 77 nº1: aplica-se uma única pena a alguém que tenha praticado vários crimes,
antes de transitar em julgado a condenação por qualquer deles. Pelo que pode um
agente ser punido por um concurso de crimes em casos em que não se tenha verificado
uma conexão puramente objetiva por eles, ou seja, em que não haja lugar a conexão
processual.
Exemplo.: se D comete um crime de homicídio e um crime de furto em dias
diferentes e comarcas diferentes, apesar de processualmente não haver conexão, temos
substantivamente um concurso de crimes.

Mas como acontece quando alguém comete vários crimes e não estão cumpridos
requisito da conexão?
Quanto a punição do concurso, assenta nas regras de cumulo jurídico, quando
alguém comete vários crimes é condenado numa única pena e essas estão no art 77.
Tomam-se em consideração as penas parcelares aplicáveis a crime que agente cometer,
somam-se essas penas que dá limite máximo da moldura, o limite mínimo é dado pela
moldura mais grave e determina-se uma pena única que foi aquele que agente vai
cumprir.
O modelo do plano substantivo é do cumulo, mas não significa que esta pena
única que tem que ser encontrada decorra de um único processo, não significa que se
organize num so processo os crimes de concurso. O que pode acontecer é que quando
não se aplica as regras da conexão é que tribunal da ultima condenação é lhe deferido
a competência para aplicar as regras de concurso.
Exemplo.: agente é punido por homicídio e roubo, o roubo foi o ultimo e depois
de transitado em julgado por estes dois, o tribunal que apurou responsabilidade pelo
roubo determina, art 471 do cpc, a pena única.

Se este tribunal da ultima condenação não tiver competência material, no caso


anterior teria porque tinha sido o tribunal coletivo onde foi julgado o furto, mas pode
acontecer que não tenha competência material.
Exemplo.: homicídio no Porto e furto cometido na comarca de Coimbra, o
tribunal da ultima condenação é do furto, é tribunal singular. Neste caso como pena
única é elevada e não pertence ao conhecimento do tribunal singular, o tribunal que iria
aplicar as regras do cumulo seria o tribunal coletivo de Coimbra, art 471 do cpp.

A questão de conexão dos processos organiza-se num só processo, a conexão


pode ser originaria, estabelecida ab initio ou superveniente, se não for detetada a
conexão originariamente e processos são apenados num único processo
posteriormente, mas importa saber qual o tribunal com competência para este
processo?
Art 27 e 28 refere-se à competência em caso de conexão. No caso de
competência material e funcional, se processos conexos fossem cada um deles da
competência de tribunais de diferente hierarquia, passa a ser competente para todos o
tribunal de hierarquia ou espécie mais elevada.
exemplo.: se um crime for cometido em comparticipação por um juiz
desembargador e por um advogado, ambos serão julgados no supremo tribunal de
justiça, apesar de tal prerrogativa, em condições normais, só se aplicar aos juízes. Para
conhecer da responsabilidade dos desembargadores seria competente o tribunal
coletivo, mas o tribunal que é competente é da hierarquia mais elevada, são todos
julgados pelo supremo.
Quanto ao territorial, consta no art 28.

A lei estabelece obstáculos à conexão, situações em que não pode haver


conexão de processos.
- Resulta do art 24 nº2 que conexão não opera quando os processos estejam em
fases diferentes, a conexão visa eficiência processual, mas se processos estiverem em
fases diferentes, as razoes de economia processual apontariam para sentido oposto,
seria contrario à ideia de celeridade. Só opera relativamente aos processos que se
encontrarem simultaneamente na fase de inquérito, instrução ou julgamento.
- não poderá haver conexão nos casos previstos no art 26. Por exemplo, num
crime em que haja comparticipação entre agentes maiores e agentes menores de 16
anos, não poderá haver conexão.
- resulta da lei do regime dos titulares dos cargos políticos, quando há
responsáveis que são titulares de cargos políticos, em crime de corrupção, o corrompido
tem cargo politico e o corrupto é cidadão, é obstáculo à conexão, serão julgados em
separado os crimes cometidos por titulares e não titulares de cargos políticos.
Assim como processos de crimes que haja relação militar e outros que não seja,
essa não permite a conexão, art 113 do código de justiça militar.
No regime geral das infrações, art 46 (lei nº15/2001) temos limite a conexão
quando os crimes tributários não sejam da mesma natureza, são situações em que
conexão de considera inconveniente e não deve operar.

Recentemente a estratégia nacional de combate a corrupção, grupo de trabalho


presidido por maria João Antunes e dentro as propostas que la consta diz respeito a
formação de processos monstruosos, onde envolve muitos arguidos e factos, adquirem
complexidade maior e demoram mais tempo. A critica que se faz em relação a esses
processo é pela dificuldade da administração de justiça. O arguido pode requerer
abertura de instrução no prazo de 20 dias, mas pode não chegar os 20 dias para ler o
despacho de 4000 mil paginas. Torna de facto a tarefa da defesa complexa, porque ao
passo que os prazos do tribunal e do mp, salvo quanto ao recurso são meramente
ordenadores, os prazos de sujeitos processuais são perentórios.
Estes processos monstruosos suscitam objeções, das garantais do arguido,
porque é difícil exercer a defesa e ainda difícil representar adequadamente a pretensão
punitiva do estado e há interesse que não se formem processos complexos. É preciso
fazer ligação entre equilíbrio da megraprocessualização e salamização arbitraria do
objeto processual, não é bom quando factos tenham relação material entre si, esse
pedaço de vida factualmente não convém que seja salamizado obrigando ao arguido a
responder ao longo de vários processos perante órgãos de perseguição punitiva.
Equilíbrio entre formação de processos monstruosos e divisão de processos.
Estabelecem-se novos fundamentos para processos novos, art 30 diz casos em
que processo estavam a ser tramitados conjuntamente devem ser separados. São
fundamentos que dizem respeito a pretensão punitiva do estado, como b); outras tem
que ver com interesse do arguido, interesse na defesa, quando conexão retardar
julgamento do arguido a e c) existir alargamento da prisão preventiva. Perspetiva das
garantais de defesa e pretensão punitiva pode separa processo.
art 30 do cpp: a lei antecipa dando a possibilidade de separação dos processos.
a separação pode dar-se oficiosamente ou a requerimento e depende sempre da
verificação de alguma das causas previstas no nº1 do art 30. contudo, a requerimento
de algum dos arguidos, a separação pode também ocorrer quando outro arguido haja
requerido a intervenção do júri, conforme dispõe o nº2, de modo a evitar que alguém
que não quis ser julgado pelo júri o seja.

Que tribunal tem competência para conhecer dos processos separados?


A lei diz que tem competência o tribunal que era o competente para julgar os
processos apensados, art 31, estabelece-se uma regra de perpetuação da competência,
pelo que o tribunal competente para conhecer do processo conexo continua a ser
competente para os processos separados.
O sentido da norma é evitar manipulação das regras das competência,
impedindo o uso deste mecanismo para evitar o conhecimento da causa por um
determinado tribunal.
Há exceção a esta ideia, que consta no art 31 b) remete e está em conexão com
o art 30 nº1, no caso de separação de processo do art 30 vale a regra. A contrário não
vale quando separação de processo foi determinada no art 30 nº2. Este diz que pode
haver separação de processo, quando um dos arguidos tenha requerido o tribunal de
júri e outros não pretendam ser julgados pelo júri, pode haver separação de processos.
Obviamente que a regra da prorrogação da competência não vale, so vai ser julgado
pelo tribunal de júri o arguido que quer intervenção do tribunal de júri, os outros serão
julgados pelo tribunal coletivo.

- MP:
É magistratura dotado de estatuto que lhe assegura autonomia externa,
autonomia em relação ao governo. A atuação no processo pauta-se por critério de
legalidade e objetividade.

Art 219: mp é titular da ação penal, nos termos da constituição, exercendo a sua
competência de acordo com o principio da legalidade.

Quando se fala de dever de objetividade e de legalidade, de autonomia externa,


não podemos esquecer que mp é magistratura diferente da judicial.
A principal diferença resulta do facto de ser magistratura hierarquizada, nº4 do
art 219, os magistrados estão sujeitos a hierarquia e encontram-se vinculados pelas
instruções emitidas pelos seus superiores hierárquicos. No topo está o procurador da
republica, o que não acontece com magistrados judiciais, não há hierarquia a não ser
para efeitos de recurso. Existe no mp hierarquia e faz com que atuação seja diferente
dependendo dos magistrados.
Foi proferida diretiva pela procuradora da republica a tornar doutrina vinculativa
o parecer do conselho consultivo, pediu parecer ao conselho consultivo do mp e
esclareceu quais são as linhas da subordinação do mp e dizia-se que o superior tem
poder de dar ordens em processos pendentes ao inferior hierárquico que está sujeito
ao dever de obediência, mas sem refletir isto no processo. Isto gerou polemica porque
permite manipulações e prejudica a autonomia interna. Ver qual o autor mediato, autor
moral da decisão comprometia as garantias de defesa do arguido, porque arguido não
sabia quem é que decidiu e essa pessoa que decidiu podia estar sujeita a impedimento,
porque impedimentos também valem para estes, art 47 nº1.
Isto foi objeto de criticas sobretudo o de não transparecer para processo penal
que foram dadas ordens. A procuradora suspendeu a eficácia da diretiva, pediu-se novo
parecer ao conselho consultivo e emendou o que disse, é legitimo dar essas ordens em
processo concretos, mas essas ordens devem ser dadas por escrito e devem estar
registadas num dossier à margem de processo. No processo, o inferior hierárquico que
deve obediência deve fazer menção que cumpre dever de obediência hierárquica, para
sujeitos saberem que foi outrem que não aquele titular de inquérito. Se ordens forem
ilegais não devem ser observadas.
Esse dossier pode ser consultado, desde que autorizado pelo titular de inquérito.
Foi proferida diretiva pela procuradora, seria absurdo o sigilo, so que os
magistrados do mp não estão satisfeitos ainda. Saber onde pode ir a subordinação
hierárquica, mas prof diz que não choca ou repugna.

O mp é titular da ação penal, art 219 e art 53 do cpp concretiza em que se traduz
o facto de ser titular da ação penal. No processo penal, compete ao mp colaborar com
o tribunal, pautando a sua atuação por critérios de estrita objetividade, significa que é
ao mp que a lei reconhece um leque variado de competências a esta entidade, como o
facto de lhe competir receber denuncias, dirigir o inquérito (b) do nº2 do art 53), deduzir
acusação (c) do nº2 do art 53 e 263 nº2). Embora saibamos que o mp não realiza todos
os atos que estão no inquérito, alguns são realizados pelos órgãos policiais.
Há uma questão que diz respeito á constitucionalidade da direção do inquérito
pelo mp, porque art 34 diz que toda a instrução é da competência do juiz. A instrução
em 76 era o que hoje se designa por inquérito, o legislador queria dizer que toda a fase
de investigação seria da competência de juiz. A aparente contradição entre norma
constitucional e do cpp foi refutada, não se considerou existir constitucionalidade.

O mp tem competência para receber denuncias, dirigir inquérito, arquivar ou


deduzir oposição, tem competência para interpor recurso das decisões mesmo que seja
do interesse do arguido e promover a execução das reações criminais. Não lhe cabe ter
uma posição de adversário, posição antagónica em relação ao arguido, podendo este
recorrer no exclusivo interesse do arguido, art 401 nº1 a).
O mp não exerce estas competências por si só, é coadjuvado na condução nas
tarefas materiais de investigação pelos órgãos de policia criminal.
A definição que a lei dá de policias é funcional e não orgânica ou institucional. A
lei tem um artigo 1 c) diz que são todas as entidades judiciais, entidades policiais a quem
cabe praticar atos processuais, ordenados por entidade judiciaria, é definição funcional,
quando a policia desempenha tarefa no processo penal porque é confiado pela entidade
judiciaria ou pela lei, é órgão de policia criminal.

A lei 49/2008 regula também esta matéria.


Art 3 da lei de organização da investigação criminal: há órgãos de policia criminal
com competência especifica ou com competência genérica.

Como se relacionam os órgãos de policia e o mp? Os órgãos de policia coadjuvam o


mp, mas como se materializa?
há três modelos:
- total autonomia entre as duas entidades. A policia investiga com total
autonomia e liberdade de atuação total os factos e no fim da investigação que fazem
elaboram relatório e remete para o mp, o mp não interfere na investigação, recebe e
oferece denuncia ou não, apenas sustenta e deduz acusação com base nas opções
tomadas pela polícia. É modelo de total autonomia ou independência com vantagem de
dar liberdade criativa ou critica, da autonomia tática e técnica, mas que tem
inconveniente de dificultar fiscalização da atuação da polia por parte da magistratura;
- absoluta dependência da policia perante o mp, modelo em que policias estão
dependentes do mp, estão sujeitos do ponto de vista orgânico e funcional, encontram
sujeitas a uma dependência funcional, mas também hierárquica.
Não é este modelo seguido.

- O nosso é modelo de dependência funcional, os órgãos de policia estão sujeitos


a orientações do mp, estão na dependência funcional do mp quando intervém no
processo penal, mas não prejudica hierarquia que os órgãos policiais estão sujeitos,
apenas estão sujeitos a dependência quando intervém no processo, art 56 do cpp, 263
do cpp e no art 2 da lei de organização da investigação criminal.
Cabe assim ás policias coadjuvar e colaborar com o mp, pelo que se tratam de
participantes processuais. Não são sujeitos processuais, apesar de possuírem algumas
competências no âmbito do processo penal, destacando-se neste âmbito os poderes
previstos ao nível do art 248 do cpp, nomeadamente quanto à adoção de medidas
cautelares quanto aos meios de prova.

Esta dependência funcional reflete-se no facto da policia coadjuvar o mp,


significa que o mp tem competência para dirigir o inquérito e pode a qualquer momento
avocar o processo, nº7 do art 5 da lei 49/2008, fiscalizar andamento das investigações
feitas pela policia e dar instruções especificas sobre quaisquer atos. Qualquer noticia de
crime que policia obtenha tem que dar conhecimento, mas há autonomia técnica ou
tática.
O mesmo pode iniciar logo as investigações e deve praticar atos urgentes quanto
à prova, não deve deixar perder a prova. Pode impulsionar diligencias por si mesmas,
sem esperar pelo mp, sem prejuízo de acolher orientações dadas pelo mp.

Aula 4/12/2020
- ARGUIDO
Terceiro vértice da relação triangular que compõe a relação penal. Beling
defende esta conceção da relação, sem a qual não existe processo penal.
Mas para nós sujeitos processuais é quem tem direitos autónomos que
permitem conformar a marcha processual. Também arguido tem poderes autónomos,
mas no modelo medieval, o arguido era objeto da investigação, não tinha quaisquer
direitos processuais, a única garantia era da judicialidade, julgado por um juiz, que
também estava incumbido de recolher a prova, por isso a garantia da judicialidade não
era imparcial.
O arguido hoje é sujeito processual, claro que há vestígios, como o lugar que
ocupa o arguido na sala de audiência, ainda se senta num lugar de destaque, não pela
especial dignidade, mas pela marca de estigma e talvez não fizesse sentido. Não é assim
no modelo alemão em que o arguido se senta ao lado do defensor.
O arguido tem estatuto especifico, estatuto legal composto com direitos e
deveres consagrado no art 60 do cpp que lhe permitem conformar a marcha processual
e codeterminar a decisão final do processo. Começa com os direitos e depois enuncia os
deveres. Quando falamos nas testemunhas que são meros participantes também tem
direitos e deveres, mas coloca enfoque nos deveres e só depois enuncia os direitos.

Mas quem é arguido?


É pessoa cuja imputação penal se discute, mas o nosso legislador não foi
poupado nas definições. No art 1 não cuidou de definir o que se entende por arguido, a
circunstância de não ter definido quem é arguido não deve escamotear a sua
importância, porque regula ainda assim situações fundamento que uma vez verificadas
dão lugar á constituição como arguido, mas essa constituição não opera ope legis, não
basta situação de fundamento para ter qualidade de arguido, é por isso que tem que ser
acompanhada essas situações de fundamento de ato formal, por autoridade judiciária
ou por órgão criminal que atribui à pessoa qualidade de arguido, implicando a
enunciação dos direitos e deveres que lhe cabe. Foi legislador cuidadoso na definição
de situações de fundamento e do modo como opera.

Que situações de fundamento?


Art 57, 58 e 59. A norma central é art 58 nº1 diz-se que situações em que é
obrigatória a constituição como arguido. Estas situações fundamento podem
condensar-se em duas:
- situações em que são praticadas sobre arguido diligencias processuais que
pessoalmente afetem e restrinjam os seus direitos fundamentais enquanto pessoa. O
arguido é detido ou é aplicado medida de coação, comprime de imediato os direitos do
arguido e impõe o estatuto correspondente para defender-se destes atos. É preciso
constituir arguido para munido com esse estatuto poder reagir contra medidas;
- casos em que há uma suspeita minimamente fundada de que agente praticou
o crime e é comunicada ao arguido ou que foi levantado auto da noticia que dê uma
pessoa como agente de um crime, desde que essa noticia não seja manifestamente
infundada, são situações da alínea a) e d).
Na definição destas situações, o legislador quis equilíbrio, ideia de constituição
de arguido é garantia, é estatuto de garantia da pessoa a quem respeita, porque lhe
atribui conjunto de direitos e faculdades processuais que simples suspeito não tem,
como direito ao silencio, de requerer produção de provas, reagir contra medidas
compressivas dos seus direitos. Esses direitos processuais só o arguido tem e que não
tem o mero suspeito. A atribuição do estatuto é uma garantia, garantir posição
processual da pessoa a quem a imputação é feita.

Mas a atribuição deste estatuto pode ser um ferreto que é imposto para
determinada pessoa, sobretudo quando os casos sejam objeto de grande mediatização.
Para evitar a ofensa da honra e do bom nome, o legislador enunciou estas situações
fundamento e em 2007 tornou mais exigentes os pressupostos de que depende
constituição do arguido.
Na alínea a) dizia-se suspeita, mas agora é fundada, na d) não se estabelecia a
ressalva, quando a noticia seja manifestamente infundada, não há lugar a constituição
de arguido. Temos este equilíbrio.

Estas situações fundamento no art 58 dão lugar à constituição do arguido, mas


se correr inquérito contra pessoa determinada, mas nunca for ouvida, nunca for detida
ou aplicada medida de coação, pode não ser constituída como arguido no final de
inquérito. Esta é diligencia do inquérito, em todo o inquérito que corra contra pessoa
determinada, essa pessoa é constituída como arguido e interrogada como tal, mas pode
não ser possível como alguém que se escapuliu. Há indícios para acusar, mas não se
conseguiu ouvir. Ou outras vezes o arguido não está em Portugal, não está disponível
para ser ouvido e não é constituído como arguido. Quando inquérito chega ao fim, a
constituição opera, nos termos do art 57 com a dedução da acusação, constitui-se a
pessoa acusada como arguido.
Pode haver lugar ao arquivamento, levando a abertura de instrução e com o
requerimento de abertura de instrução é constituída pessoa em causa como arguida.

Art 59: outros casos, se alguém tiver sido inquerido como testemunha e existir
suspeita fundada que cometeu o crime, a entidade que procede a inquirição deve
constituir-se como arguida, nº1.
Nº2: pessoa pode ser constituída arguida a seu pedido, quando estejam a efetuar
diligencias que a afetem, essa pessoa pode requerer constituição como arguida.
Nos casos do art 57, 58 e 59 a aquisição do estatuto so opera através de ato
formal de órgão de policia criminal ou de autoridade judiciária, art 58 nº2. Comunicação
oral ou por escrito, pode ser por escrito quando há despacho de acusação. É feita ao
visado, com explicação de direitos processuais que lhe cabem, art 58 nº2. Este
formalismo é requerido em todos os casos de constituição de arguido e por isso não há
constituição de arguido ope legis.
Mas isto ate 2007 não era claro na lei, no art 57 nº3 o legislador agora remete
para os nº2 do art 58 e é clara, é manifesto que legislador quis que nos casos do art 57
existisse comunicação, mas a questão discutiu-se e defendia que o art 57 era ope legis,
mas nunca sucede por força da lei, é necessário a comunicação do art 58 nº2. Por isso
as declarações que a pessoa preste não podem ser valoradas como meios de prova, art
58 nº5. Se a pessoa já devia ser arguida e não tiver sido constituída como tal, as
declarações que preste não podem ser valoradas nem contra si nem contra outros
coarguidos.

no art 59 nº3 remete para normas do 58 nº2, mas a remissão está errada, porque
em vez de remeter para o nº2 a 7, como o 57 nº3 faz, remete-se para 3 e 4, corrigir de
2 a 7.

O arguido tem direito ao silencio, art 61 nº1 d), o silencio não pode ser valorado
contra o arguido.
O arguido tem direito a ser assistido por defensor, art 61 nº1 f), em todos os atos
processuais que participe e comunicar em privado com ele. Deve constituir advogado
ou nomear defensor. Estes direitos e) e f) do art 61 são concretização do art 32 nº3 da
crp que assegura o direito de defesa técnica ou formal do arguido.
Mas tem também deveres como o caso de dever comparecer prante o juiz, o mp
e os órgãos de policia criminal sempre que a lei o exigir, de responder com verdade ás
perguntas feitas por entidade competente sobre a sua identidade, etc.
A constituição e cpp não asseguram apenas direito de ter defensor, mas também
de escolher um defensor. Nas situações em que não possa custear a despesa de
constituição de defensor, pode pedir nomeação de um, despesas suportadas pelo
estado. Quando é defensor oficioso, o arguido não pode escolher. Quando não tenha
capacidade económica, não pode escolher quem seja o seu defensor.

Também é importante referir que a constituição não assegura ao contrario do


que acontece com o pidcp e convenção europeia dos dh, o direito a autodefesa em
processo penal. No art 6 nº3 c) da convenção e no pacto no art 14 nº3 d) assegura direito
a defender-se a si próprio ou a escolher a ser assistido por defensor.
A constituição não defende o direito de defender-se a si próprio, a constituição
concede logo margem de apreciação ao legislador ordinário para estabelecer situações
em que a presença de defensor e a sua defesa é obrigatória.
Esta disparidade entre constituição e textos internacionais gerou discussão. O tc
tem entendido que imposição do legislador nas situações em impõe assistência
obrigatória de defensor não é inconstitucional por duas razoes:
- preparação e habilitação técnica do defensor que arguido não tem e que é
necessário para atos processuais de extrema complexidade;
- distanciamento que é necessário entre os factos e função de defesa para que
seja bem exercida, não pode haver defesa demasiado apaixonada e de envolvimento
emocional sob pena de defesa ser ineficaz.

Quando o arguido seja ele próprio jurista e com pratica do foro, advogado ou
juiz, parece não haver razoes urgentes para não admitir a autodefesa em processo
penal. Numa interpretação de normas ordinárias conforme a crp e aos textos
internacionais, deve admitir-se autodefesa nos casos em que arguido tenha
experiencia no foro ou seja jurista, a menos que se trate da prática de atos processuais
que a serem levados a cabo pelo arguido poderia desfavorecer direitos de outras
pessoas.
exemplo:. Crime sexual ou violência domestica, é preciso inquirir a vitima como
testemunha na audiência de julgamento e essa inquirição que for feita na audiência, é
feita em contraditório, é inquirida contra outros sujeitos processuais, pode ser inquerida
pelo defensor, se for ele próprio a defensor é ele que vai inquirir vitima. Não faz sentido.

Acórdão correia de matos contra Portugal, mas o tribunal dos direitos humanos
não condenou o estado português, naquela dicotomia entre crp e os textos
internacionais. O comité de direitos humanos da onu teve entendimento diferente e
censurou estado português por ter violado o art 14 nº3 d) do pacto.

Art 64: quais casos em que é necessária a assistência do defensor. Temos 3


situações:
- casos em que arguido é especialmente vulnerável, impõe-se assistência por
defensor, alínea a), d), situações em que se justifica a constituição e obrigatoriedade de
defensor pro causa da vulnerabilidade;
- atos que são especialmente complexos e necessário defesa técnica, situações
dos recursos, art 64 nº1 e);
- situações em que assistência se justifica pela relevância processual do ato, o
que seja decisivo em termos de prova para decisão absolutória ou acusatória, art 64 nº1
b), c), f) e g). É obrigatória na audiência, debate instrutório, tomada de declarações para
memória futura. Todos estes atos têm impacto direto na formação da prova que juiz
fará valoração para acusar ou absolver.
A não comparecência do defensor nestas hipóteses constitui uma nulidade
insanável, art 119 c) do cpp.

- DEFENSOR:
Em face disto, interessa saber qual a posição processual do defensor. Para alguns
o defensor é mero representante judiciário do arguido, exerceria faculdades e poderes
processuais que ao arguido são atribuídos.
Esta compreensão como representante acaba por ignorar dois aspetos:
- fonte da defesa, da aquisição de estatuto de defensor não ser apenas mandato,
mas a lei. Há casos em que a lei impõe a constituição de defensor e não se pode ver
como mero representante judiciário;
- ou a situação de defensor agir em defesa do arguido, ultrapassa a questão de
representação, mesmo que arguido não queira ou se desinteresse em relação a essa
defesa, continua a lhe ser atribuído um defensor.
Não é mero representante, em Portugal, é muito mais, trata-se de um defensor
que é órgão autónomo de administração da justiça, competindo atuar no sentido da
descoberta da verdade e da realização da justiça. Claro que este pensamento de órgão
autónomo foi problemático durante algum tempo. Na Alemanha autoritária, a ideia de
que defensor era órgão autónomo, levou ao entendimento que defensor não era
necessário, se lhe cabe desempenhar função que a lei atribui ao tribunal e ao mp, para
quê o defensor? Devemos interpretar que é órgão autónomo, mas desempenha funções
no exclusivo interesse da defesa do arguido. Só deve levar elementos que sejam
favoráveis ao arguido, não deve apresentar elementos factuais que sejam desfavoráveis,
mas pode fazê-lo. contudo, não há possibilidade de manipular provas ou compelir o
arguido à mentira ou destruir provas, sob pena de estarmos perante crime de
favorecimento pessoal.
O defensor surge assim como uma forma de ao abrigo do principio do fair trial,
se estabelecer alguma igualdade de armas ente a acusação e a defesa.

A constituição refere-se ao advogado como elemento essencial de administração


da justiça, não se refere ao defensor, mas devemos entender que ela é mais ampla,
refere-se aos advogados, mas todo o defensor é advogado.
O defensor é entendido como sujeito processual pelo facto de possuir poderes
processuais e a sua missão transcende a mera representação do arguido, tem dever de
intervir na defesa do arguido para exercer interesse comunitário, para que seja apenas
punido os verdadeiros culpados.
Transcende a vontade do arguido e tem dimensão comunitário e por isso é
sujeito processual e não mero participante. Há atos que apenas se pode praticar pelo
defensor, art 64 e não pelo arguido e há atos que só o arguido pode praticar que o
defensor não pode substituir, são atos do art 63 nº1 2º parte, atos que a lei reserva ao
arguido, como prestar declarações.
Exemplo.: as declarações têm que ser prestadas pelo arguido ou concordância
do arguido em relação a determinadas penas.

- ASSISTENTE
É também um sujeito processual, por força da constituição, no art 32 nº7 diz que
o ofendido tem direito a intervir, trata-se de uma garantia com dignidade constitucional.
É a própria constituição que é fonte. É tradição portuguesa que parece ser uma
originalidade nossa, a nossa lei atribuía direitos ao mesmo. No art 281 do cpp foi
inspirado na Alemanha, mas lá não se refere ao assistente. A nossa lei pelo contrario
atribui grande importância processual ao mesmo.

A partir do momento em que uma pessoa se constitui assistente, pode intervir


em qualquer altura do processo. no entanto, tem de requerer ao juiz essa intervenção
no prazo legalmente previstonº3 do art 68, consoante a fase em que o processo de
encontre:
a) até cinco dias antes do inicio do debate instrutório ou da audiência do
julgamento;
b) nos casos do art 284 e da alínea b) do nº1 do art 287 no prazo estabelecido
para a prático dos respetivos atos
c) no prazo para interposição de recurso da sentença.

A constituição de assistente como opera?


Art 68 do cpp consiste no titular dos interesses que a lei especialmente quis
proteger com a incriminação, desde que maior de 16 anos. tem legitimidade para
constituir o ofendido. O legislador adota conceito estrito ou típico de ofendido onde não
se incluem os simples lesados, estes podem adquirir estatuto de partes civis, mas não
são para este efeito ofendido e não se podem constituir assistentes.
Saber quem é o titular do bem jurídico pode implicar tarefa delicada do tipo legal
que é melindrosa dos tipos legais que protegem bens supraindividuais, como violação
de segredo de justiça, pode ser problemático saber se há ofendido particular e saber
quem é.

A jurisprudência do stj tem feito extensão de conceito de ofendido, estende


conceito a situações em que está em causa bens jurídicos supraindividuais.
São os casos do:
- acórdão 1/2003 de fixação de jurisprudência, diz que ofendido é pessoa cujo
prejuízo se pretendia com a falsificação, pode constituir-se assistente no crime de
falsificação documentos.
- acórdão de fixação de jurisprudência 2/2005: crimes de abuso de confiança
contra a ss;
- acórdão de fixação de jurisprudência nº8/2006: Depois no crime de denuncia
caluniosa confundem-se interesses da tutela da honra com a realização da justiça, é a
pessoa que foi alvo da calunia que pode constituir assistente.
- Acórdão nº10/2010 quando há crime de desobediência qualificada decorrente
de violação de providencia cautelar.
Depois é a lei que alarga, no art 68 nº1 e) atribui-se legitimidade para
constituição de assistente para pessoas em certos tipos de crimes, como crimes contra
a paz ou crimes particularmente difíceis de investigar e que auxilio que assistente possa
prestar como mp, seja fundamental. Os crimes de trafego de influencia, prevaricação,
peculato, são crimes resistentes à investigação e que comprometem toda a comunidade
que deve estar empenhada, todas as pessoas tem legitimidade para constituir-se como
assistente.
Mas temos problema, assistente intervém como colaborador do mp na defesa
punitiva do estado. Quando no art 68 nº1 e) permite que qualquer pessoa constitua
assistente e começou a acontecer que sobretudo nos crimes com importância
mediática, os jornalistas tenham constituído assistente, o propósito do seu jornalista
não é o de ajudar o mp na investigação, o que pretende é aceder de forma privilegiada
aos autos, em momento prévio àquilo que seria momento normal do levantamento do
segredo externo. Quando se esgota, art 89 nº6, os prazos normais, o segredo externo é
levantado, é nestes casos onde há desfasamento entre segredo interno e externo que
se torna útil para jornalistas.
Estamos numa situação de fraude a lei e prof defende que quando é manifesto
que interesse é outro que não ajudar à colaboração do mp, não deve haver constituição
do assistente. Se propósito não é esse, essa constituição não deve ser admitida.
Nos casos de crime de corrupção, o legislador favorece a constituição de
assistente de determinadas pessoas, na lei 19/2008 de 21 de abril se diz que está
dispensada taxa de justiça a constituição de justiça das associações que visam combater
a corrupção. Em leis avulsas prevê-se outros casos de legitimidade extensiva para a sua
constituição, como associações de consumidores, domínio popular, comunidade de
emigrantes para crimes discriminatórios.

No art 68 c) e d) os casos de sucessão do estatuto de assistente, em que há morte


e quem tem legitimidade para constituir assistente e situações de incapacidade, alguém
que em representação do ofendido poderá constituir como assistente.

Estatuto de assistente é sujeito processual porque tem direito e poderes


autónomos para determinar a marcha processual, assistente intervém como
colaborador do mp, subordinando a sua intervenção à do mp. Em crimes particulares
em sentido estrito, é posição do assistente que adquire predominância, não subordina
a sua atuação à do mp, é o oposto porque é nestes que assistente incumbe acusar. Mas
fora destes casos, de crime particular em sentido estrito, o assistente é colaborador do
mp e tem poderes processuais definidos no art 69 nº2: requerer produção de provas,
interpor recurso, etc.

a lei impõe que o assistente Art 70 nº1: é sempre representado por advogado e
mesmo que ofendido seja advogado tem que ser representado por outro advogado,
acórdão 15/2016 do stj.
O advogado do assistente não é sujeito processual é representante judiciário do
assistente, não tem poderes para alem daqueles que resultam da representação do
assistente. Não pode agir contra vontade do assistente.

- VITIMA
Não é sujeito processual, é figura nova introduzida em 2015, de natureza hibrida
porque está situada em meio caminho entre sujeitos processuais e mero participante
processual. Bem vistas as coisas, melhor lhe cabe a qualificação como participante
processual do que como sujeito.
Á vitima são reconhecidos determinados direitos, art 67-a nº4, tem direito a
assistência, direito de participação ativa no processo. pareceria que por ter
participação ativa que seria sujeito processual, mas reduz-se muito esta participação. Á
vitima há direitos de informação sobre andamento dos autos, direito de assistência, de
proteção, direito de comunicar ao mp ou ao tribunal existência de provas, mas não o
direito de requerer novas provas, apenas pode oferecer provas, não tem direito que a
habilite a recorrer de qualquer despacho.
Estes direitos estão condensados no estatuto da vitima e regime jurídico da
violência domestica, lei 112/2009. Direito a informação, a ser ouvido, proteção contra
a vitimização secundaria, ser ouvida em determinada circunstâncias e direito de
proteção a concessão de apoios económicos. No cpp temos o direito de intervenção na
suspensão provisória do processo, art 281 nº7, vitima pode ser ouvida e tem o direito
de ser informada sobre modificação do estatuto do arguido quando seja especialmente
perigoso, art 212 nº4 e 247 nº4 do cpp.
Nos termos do art 82-A, o tribunal em caso de condenação do arguido, pode
oficiosamente arbitrar uma quantia a titulo de reparação pelos prejuízos sofridos pela
vitima quando não tenha deduzido pedido de indemnização civil no processo penal ou
em separado nos termos do art 72 e 77 e se verifiquem particulares exigências de
proteção.

Quem é afinal a vitima? Será que posição de vitima se confunde ao ofendido?


art 67-A nº1 são vitimas aquelas que tenham sofrido dano, enquanto ofendido é
construído em torno de bem jurídico. O conceito de vitima é construído à moda anglo-
saxónica. Não são conceitos equivalentes.
A vitima e qualquer pessoa singular que tenha sofrido danos resultante da
pratica do crime. Também são vitimas os familiares da pessoa que tenha morrido. O
conceito de vitima não equivale ao ofendido, é mistura entre conceito de ofendido e
lesado, porque é pessoa que sofreu dano, mas terá que ser apenas singular e não
coletiva.
Maria João Antunes critica a pulverização de normas, se existe estatuto de
vitima, seria no estatuto onde se devia condenar soluções e não dividir ao longo de
diplomas diversos.

- PARTES CIVIS
São sujeitos processuais apenas no sentido formal, porque encabeçam relações
civis e são sujeitos em sentido formal do processo penal porque essa pretensão civil é
discutida em processo penal.
A pratica de crime pode originar vários tipos de responsabilidade, o mesmo facto
que é crime pode levar a outras responsabilidades.
Exemplo.: alguém que trabalha em supermercado e tira dinheiro da queixa,
temos responsabilidade disciplinar, civil e penal. A questão que se coloca é de saber qual
a natureza de outras formas de responsabilidade se confunde com a responsabilidade
penal e qual o lugar onde essas formas se vão discutir.
Interessa ver a articulação da responsabilidade penal com a civil. Não se
confunde a civil com a penal e interessa ver qual é o lugar onde a pretensão
indemnizatória emergente da responsabilidade civil se vai discutir.
Quanto à primeira questão, a responsabilidade civil conserva natureza
substantiva mas vai ser discutida em processo penal. Na articulação processual, são
pensados dois modelos distintos:
- de absoluta independência, cada uma delas seria discutida em tribunal
diferente, a pretensão civil discute-se á margem do penal. o pedido cível é tramitado
nos tribunais próprios, embora a decisão quanto à ocorrência do crime possa ter força
de caso julgado material no processo civil.
- interdependência ou de adesão: a indemnização civil por danos conexos é
processado no âmbito do processo penal, por razoes de aproveitamento do material
probatório, sendo a conduta do agente o facto gerador de responsabilidade civil e penal,
não há porque repetir a atividade probatória em dois processos separados, de economia
processual e de tutela do lesado.

Esta via de adesão está consagrada no art 71 e apresenta vantagens.


- 1º vantagem é de economia processual e evita-se julgamentos contraditórios.
Ao resolver questão penal resolve-se questão civil e evita-se que haja duplicação do
processo, que se tenha que ouvir testemunhas duas vezes e que haja entendimento
diferente. Claro que este argumento mostra que não é urgente, porque nos sistemas de
absoluta independência também se evita isto dando força de caso julgado e evita-se a
discussão sobre facto ilícito e culposo;
- outra razão prende-se com proteção da vitima, permite a essa pessoa que sem
incómodos e sem despesas adicionais possa obter reparação dos danos causados e com
alguma desformalização na apresentação da pretensão. As regras do pedido cível são
muito simplificadas.

Cpp prevê conjunto de exceções em que se admite a dedução em separado do


pedido cível, no art 72, apesar de estar consagrado o principio no art 71. Mas podemos
encontrar varias razoes:
- c) pode deduzir separado quando haja grande demora do processo penal,
quando esteja mais de 8 meses, o lesado pode deduzir pedido cível em separado. Quer-
se evitar que esta falta de celeridade do processo penal causa prejuízo ao lesado, não
se quer que espere para alem do prazo razoável.
- se não houver ainda danos liquidados ao tempo de acusação não se faz o
processo penal esperar para se apurar os danos. Deduz-se o pedido civil em separado;
- circunstancia do pedido ser formulado contra pessoa com responsabilidade
meramente civil, art 73. A questão discute-se então quem sofreu os danos e arguido
responsável pelos danos, mas se tiver que intervir a seguradora de automóveis, em que
morre uma pessoa. Há seguro obrigatório e o que é demandado para pagar os prejuízos
é em 1º linha para pagar é a seguradora, desde que estejam nos limites acordados.
Nestes casos, em que existe pessoa com responsabilidade civil pode deduzir-se pedido
em separado.
- crimes dependentes de queixa ou de acusação particular, aí pode ser feito
separado e o legislador ate associa consequência. Se pedido civil tiver sido apresentado
antes da penal, equivale a renuncia, art 72 nº2.
- processo penal tiver sido arquivado ou tiver terminado antes do julgamento,
nesses casos não há momento especial para apreciação do pedido cível.

Quanto á questão da materialidade da indemnização: esta tem natureza


jurídica civil. Não perde pelo facto se ser discutida no processo penal.
Art 129 do cpp diz-se que a indemnização por danos é regulada por direito civil.

Tem variadas consequências:


- Critérios de avaliação constam no art 433 do cc, podendo uma absolvição penal
ser compatível com condenação cível porque os critérios não são os mesmos, pode
existir amnistias, mas sobrevive indemnização cível.
No crime de dano pressupõe o dolo, é obrigado a indemnização, mesmo que não
seja acusado, porque agiu não como dolo. Ou responsabilidade pelo risco no cc, claro
que no dp não existe esta responsabilidade objetiva.

- Outra consequência: embora o pedido cível seja tramitado no processo penal,


deve-se respeitar alguns princípios fundamentais do processo civil, como principio do
pedido. Não há condenação a uma indemnização se não for formulado o
correspondente pedido e o juiz fica limitado ao pedido, não pode condenar a mais do
que foi pedido.
Pode haver renuncia, confissão ou transação ao contrário na imputação penal.
Claro que certos formalismos mais complexos como conversão do pedido
reconvencional e o despacho saneador estão ausentes no processo penal e temos outra
questão em que está ausente que é efeito cominatório da falta de contestação. Se
demandado não contestar pedido cível não se dão como provados os factos, art 73.
Pedido cível é deduzido depois da acusação, prazo é de 10 dias, se constituir
assistente art 77 nº1. Se o lesado não constituir assistente, quiser deduzir pedido cível
tem prazo de 20 dias, art 77 nº2, contados do despacho de acusação ou não havendo
despacho de pronúncia, tendo para isso de ser notificado desses despachos.
Há casos, art 76 em que é obrigatória constituição de mandatário, quando
pedido seja superior ao valor da alçada da 1º instancia, de 5 mil euros.

Art 82-a: introduzida em 98 e é instituto dissonante em relação a reparação civil.


Dissonante porque se prevê uma reparação oficiosa, que não está vinculada ao principio
do pedido. Juiz condena mesmo sem pedido, é condenação oficiosa que apenas é
arbitrada em caso de acusação e só é arbitrada quando particulares exigências da vitima
imponham.
Esta norma teve escassa aplicação nos tribunais, mas legislador instituiu casos
em que reparação oficiosa é obrigatória, constam em legislação avulsa: estatuto da
vitima, art 16, quanto ás vitimas especialmente vulneráveis, são aquelas que estão
definidas no art 67-a nº1 b) do cpp e no art 21 nº2 do regime jurídico de prevenção da
violência domestica, estabelece-se reparação em favor de vitima de violência
domestica.
Este art 82 parece introduzir a ideia de que reparação funciona como 3º via de
sancionamento penal, a par das penas e medidas de segurança. Esta ideia de reparação
como 3º via está presente em outros institutos, como na dispensa de pena ou
arquivamento em caso de dispensa de pena e é uma das injunções.
Pode ser fator de atenuação da pena. Há instituto previsto no art 206 do cp que
nos crimes de burla qualificada, dano qualificado, crimes contra património que são
crimes públicos, nesses crimes o art 206 reconhece a reparação como instrumento de
diversão. Se for reparado dano e houver acordo, extingue-se a responsabilidade penal.
Se não existir acordo, a reparação conduz a atenuação da pena.

Art 130 nº1 e nº2, nº1 remete para lei 104/2009 cria fundo de reparação de
vitimas de violência domestica. Nestes casos quando lesante não tenha bens que
possam suportar pagamento de indemnização, essa indemnização é paga por fundo
estadual.
Nº2: o estado pode desistir em favor do lesado que seja vitima.

PROBLEMA DO OBJETO DO PROCESSO


É importante porque se liga ao principio da acusação, este principio da acusação,
impõe separação material entre quem acusa e quem julga e impõe que iniciativa do
julgador seja precedida de uma investigação e de uma acusação levada a cabo por
entidade distinta, só que essa acusação e essa investigação prévias não são fator
desencadeante do julgamento, essa acusação delimita objeto do julgamento, de tal
forma que o juiz não possa investigar factos que não estejam no objeto do despacho de
acusação. a acusação do mp fixa e delimita o objeto do processo gerando uma
vinculação temática do tribunal. Daqui resulta que o juiz não pode julgar nem decidir
elementos que não estejam no objeto que é proposto pela acusação.
As testemunhas obviamente que vão acrescentar informações, são factos
instrumentais, àqueles que constam no despacho de acusação. O despacho de acusação
é sucinto e depois testemunhas vão acrescentar. O que é vedado ao juiz é de conhecer
factos que transcendam o objeto do processo delimitado. O problema é ver que factos
é licito conhecer porque se incluem no objeto do processo daqueles factos que não têm
essa caraterística, não são factos instrumentais e que transcendem objeto do processo.
Não há duvida que acusação deve delimitar o âmbito do julgamento. O
julgamento deve ser delimitado pela acusação é algo que se liga à imparcialidade do
julgamento e que se liga para evitar surpresas do ponto de vista do arguido.

Interessa dizer que objeto do processo delimita os poderes de cognição do


tribunal e define os limites do caso julgado, aquilo que o tribunal podia conhecer, ou
aquilo que conheceu e estava nos limites do objeto, fica precludido o poder do tribunal
de averiguar novamente aquele objeto. O objeto do processo é importante para
delimitar os poderes e para esclarecer o que fica consumido com caso julgado.

A este respeito levantam-se duas construções:


- compreensão diferenciada, é minoritária e foi defendida por Karl Peters. o
conceito de objeto deverá valer de forma diferenciada consoante os momentos em que
é analisado, defendendo que objeto do processo era realidade dinâmica que podia
sofrer estreitamentos desde o momento inicial, âmbito do processo era mais amplo
quando estivesse a discutir os poderes do tribunal e seria mais estreito quando estivesse
a discutir alcance para o caso julgado. deste modo, na primeira função incluem-se quer
todas as matérias referidas pela acusação, já ao nível da delimitação do caso julgado,
relevam para o objeto apenas as matérias de que o tribunal poderia, tendo em conta as
circunstâncias fácticas e normativas, ter conhecido efetivamente, não se precludindo
uma nova apreciação das matérias de que o tribunal não poderia ter conhecido em
virtude da falta de verificação de pressupostos processuais ou da falta de competência.
O que o tribunal podia conhecer é mais do que se devia entender como
precludido pelo caso julgado. Para este autor está precludido pelo caso julgado que
cabendo aos poderes de cognição do tribunal tivesse havido possibilidade fáctica e
jurídica de conhecer. Só fica consumido pelo caso julgado o que cabe nos poderes de
cognição.
Exemplo.: discute-se se tribunal pode conhecer de furto, imputado furto
qualificado ao arguido e parece que está em relação a outras condutas de furto simples.
As condutas de furto simples estão no âmbito de cognição do tribunal.
Ou o furto simples é crime semipúblico, se tribunal até teve conhecimento de
crime, mas não foi deduzido queixa, então não tem possibilidade de conhecer, o que
significa que esses factos só podem ser conhecidos num processo posterior.

- compreensão unitária do objeto: o objeto do processo terá o mesmo alcance


e extensão em cada uma das dimensões para caso julgado e para conhecimento da
cognição. Esta doutrina entende que os interesses da perseguição penal não podem
sobrelevar perante os interesses do arguido, não se pode deixar de parte os interesses
do arguido, o que estava a fazer a segunda teoria, estava a ignorar os interesses do
arguido.
Quando uma matéria caiba no objeto do processo, o tribunal deve conhecer
todos os factos do processo, de forma esgotante considerando resolvido aquilo que
tribunal pode conhecer, ainda que não tenha conhecido. Para conceito unitário há
estreita ligação entre principio da unidade ou indivisibilidade do objeto e principio da
consunção, estes são dois dos 3 princípios em que se analisa o problema do objeto do
processo.

Temos 3 princípios essenciais que esta doutrina define o objeto do processo,


principio da identidade, indivisibilidade e da consunção:
- o primeiro, principio da identidade, diz que objeto deve ser o mesmo desde o
inicio ate o transito em julgado, mas a dificuldade está em ver se o objeto é o mesmo.
- unidade ou indivisibilidade diz que objeto do processo deve ser conhecido e
julgado na sua totalidade, de forma unitária ou indivisível, não podendo a acusação ter
conhecimento parcial do objeto do processo (o mp define o objeto do processo com a
acusação, não podendo esperar pelo aparecimento de novas provas para discutir esse
objeto). Se integram objeto do processo devem ser conhecidos de forma total e
indivisível todos os factos que integrem o objeto do processo, ainda que esses factos
não estejam mencionados na acusação. o arguido não está protegido contra a
possibilidade de um juiz conhecer de todos os elementos que integram o objeto do
processo, ainda que se tratem de factos que não tendo sido concretamente
mencionados na acusação, se considerem fazer parte do processo.
- consunção o tribunal deve ter como irrepetivelmente decidida toda a matéria
que integre o objeto do processo, ainda que essas matéria não tenham sido
efetivamente conhecidas. assim, consideram-se abrangidos pelo caso julgado todos os
elementos que o tribunal podia e devia ter conhecido. Diz respeito ao que deve estar
consumido pelo caso julgado, aquilo que tribunal podia ter conhecido, ainda que não
tenha conhecido, que a questão que se submete a tribunal deve-se ter como decidida,
considera-se precludido e deve se estender a questões que o tribunal não conheceu,
mas devia tê-lo feito.

Castanheira neves diz que a unidade e a consunção constituem face e reverso da


mesma moeda, respeitam ao mesmo problema, mas de diferentes perspetivas. O
principio da unidade perspetiva o objeto do ponto de vista daquilo que tribunal deve
conhecer e prescreve que conhecimento seja indivisível e total, já a consunção
perspetiva a totalidade do objeto do sentido de conhecimento já realizado, aquilo que
tribunal devia ter conhecido e deve se ter como precludido. São face e reverso da
mesma moeda, refere-se a totalidade normativa do objeto do processo.

Mas o que é que o tribunal pode conhecer? O que fica precludido? Que critérios se
pode usar para ver qual o objeto do processo?
A identidade do objeto analisa-se de forma subjetiva e objetiva:
- subjetiva interessa que seja a mesma pessoa a que imputação seja feita,
identidade do agente. o crime terá que ser praticado pelo mesmo agente. sempre que
um crime é apontado a outra pessoa ou mais pessoas em comparticipação isso
determina a perda de identidade subjetiva do objeto.
Exemplo.: se crime foi afinal praticado por pessoa diferente da acusada,
extravasa o objeto do processo. Se discutimos crime de homicídio e vem acusado a e
afinal quem matou foi b, não pode conhecer-se da responsabilidade de b naquele
processo, extravasa o âmbito do objeto do processo. Os factos materiais são os mesmos,
mas não se pode julgar pessoa que não tenha sido acusado.
Ou se chegar à conclusão que a agiu com b em coautoria não se pode julgar b
pela prática de homicídio, seja como cúmplice ou como coautor, não se pode julgar por
quem não tenha sido julgado e deve ser discutido num processo á parte;

- analisa-se num prisma objetivo, é necessário o mesmo agente e o mesmo


crime imputado e dificuldade é aí, saber quando o crime seja o mesmo. significa que a
realidade material levada à apreciação do tribunal tem de ser sempre a mesma. assim
estamos perante o mesmo objeto do processo ainda que os tipos legais aplicáveis aquela
realidade sejam distintos desde que se discutam os mesmos factos. o tipo legal pode ser
o mesmo e o objeto ser diferente e vice-versa.
Não se trata de um problema de qualificação jurídica, o que releva não é o
nomen iuris, mas realidade material, conjunto de factos que se encerra num
determinado nomen iuris. A mera identidade de qualificação não dá unidade do objeto.
Pode a qualificação ser a mesma e termos objeto diferente e pode a qualificação ser
diferente e termos o mesmo objeto.
Exemplo.: A circulava no passeio, mas b puxou com violência a carteira, praticou
b crime de furto, quando é roubo. Na sede de julgamento, juiz ouve testemunhas, o
arguido e arguido confessa e provam-se todos os factos, mas juiz percebe que é roubo.
Não há alteração do objeto do processo, embora a qualificação seja diferente. A
qualificação é diferente, mas o objeto é o mesmo.
Ou pode ser ao contrário: ser o mesmo tipo legal, a mesma qualificação, mas o
objeto ser diferente. Como alguém que é acusado de furto e subtraiu colar de
diamantes, quando não o tinha feito, mas fez no algarve. É o mesmo tipo legal, mas não
é o mesmo objeto.
Crime para esse efeito é mais do que qualificação, implica realidade material que
sobre nomen iuris se encerra.

ao longo da história, surgiram varias teses com a finalidade de procurar definir o


critério objetivo, saber o que significa já é mais difícil. Que critérios para se saber que
crime é o mesmo?
Há varias teses:
- tese naturalista de beling: defendida na Alemanha por Beling, entre nós foi
recebida por castanheira neves e liga-se a correntes positivistas. Essas teses positivistas
tiveram repercussão no direito penal e no cpp: no dp, ditando ideia que unidade e
pluralidade de crimes se definem com base na unidade naturalística da ação. Esta
conceção refletiu-se ainda no dpp, o objeto do processo é acontecimento histórico que
é delimitado por critérios fácticos.
O que julga, investiga e é objeto do processo são os factos, a prova incide sobre
factos e objeto da tarefa probatória da investigação e do julgamento é constituída por
factos, só que estes ligam-se a cadeia de acontecimentos. O que é objeto do processo
é cadeia de acontecimentos históricos na sua dimensão naturalística em que
inscrevem os factos singulares e é essa cadeia que importa averiguar no objeto do
processo. Deste modo, o objeto do processo será o acontecimento fundamental a
analisar no processo, devendo manter-se o mesmo se mantiver o mesmo, tolerando-se
a existência de pequenas variações.
Esta tese é acolhida ainda pela Alemanha, mas apresenta diversas dificuldades
de ordem pratica porque o critério de acontecimento histórico é fluido, não tem nada
que lhes dê unidade. É sempre escolhido um critério que faz ressonância da perspetiva
do julgador para dar objetividade aos factos, mas não há nada que permita e garanta
essa unidade ao conjunto de factos, esta é grande dificuldade, em encontrar um
elemento aglutinador ou unificador de elemento histórico e casuísmo que construção
teórico acaba por cair. Escolhe como critério aglutinador um ou outro consoante o que
seja mais conveniente para processo, não há um critério, vai flutuando consoante o caso
concreto. o problema desta teoria é não conseguir encontrar um critério fáctico
aglutinador que define o momento histórico e que una todos os seus elementos pelo
que tem tendência a redundar no casuísmo.
fica por responder as perguntas de quando é que a modificações de circunstância
alteram a essência do acontecimento histórico, transformando-o num acontecimento
diferente? No fundo, o que é que distingue os acontecimentos históricos: o local, a
conduta, a intenção?

Aula 11/12/2020
- normativista de Eduardo correia: Isto foi notado por Eduardo correia, dizia que
é impossível um critério dar unidade a acontecimento real, o que dá unidade é sempre
perspetiva que um sujeito elege, ou seja, é sempre uma perspetiva subjetiva.
Fora desse critério de relevância e ponto de vista eleito, não há unidade entre os
factos, a unidade naturalística é impossível. É o tipo legal que carateriza e o critério legal
para dar unidade ao objeto é também o tipo legal. Sendo o crime negação de valores e
valores estando nos tipos legais, a unidade e pluralidade de infrações aferem-se
segundo tipo legal violado, um acontecimento real só releva caso se tenha traduzido na
negação de valores jurídico-criminais.
O problema da identidade do processo penal erradica do tipo legal, ainda que
mudem os factos naturalísticos descritos na acusação, o que releva é identidade de
juízos de valor que esses factos negam, identidade dos valores do ordenamento que
esses factos negam e esses valores estão materializados no tipo, o que significa que a
identidade do objeto reside na identidade do tipo legal.
Se na acusação se descreve factos que se subsumem a um tipo legal e no
julgamento entende-se que os factos são outros e não os que estão inscritos na
acusação, mas que ainda se inscrevem no mesmo tipo legal, então juiz pode conhecer
desses mesmos factos. A atividade do juiz deve estender-se de forma esgotante aos
factos naturalísticos descritos na acusação e todos os factos que constituam com esses
uma unidade dada pelo tipo legal. O juiz tem que investigar todos os factos que
concretamente ou hipoteticamente traduzam a mesma violação jurídico-penal violada,
ao mesmo tipo legal que foi violado.
exemplo.: Se se diz que a cometeu crime de furto porque naquele dia subtraiu
um relógio valioso e é acusada por furto, juiz não está apenas obrigado a investigar estes
factos que estão na acusação. Tem que investigar todos os factos que se inscrevam com
os acusados, os factos que sejam polarizados por aquele tipo legal, se não foi no dia x,
mas y e se não foi relógio e foi colar, para Eduardo ainda seria admissível que tribunal
conhecesse, o que dá unidade ao objeto é tipo legal.

Há paralelismo entre critério da unidade de infrações e da identidade de objeto


e este foi mais longe na sua obra “caso julgado e poderes de cognição do juiz”. Do ponto
de vista substantivo, o facto de uma conduta preencher uma pluralidade de tipos legais
não significa sempre que tenham sido cometidos vários crimes, uma conduta preenche
tipos legais, mas há relações de hierarquia entre tipos legais, de especialidade e de
consunção e que dão origem ao problema do concurso aparente de normas.
Exemplo.: Alguém que mata o pai, não comete dois crimes, o de homicídio
simples e qualificado, temos aqui relação de especialidade, de hierarquia. Quando há
vários tipos legais violados não significa que tenha cometido vários crimes.

Há também situações em que há pluralidade de tipos legais, há concurso efetivo,


mas por alguma razão são unificadas normativamente, como crime continuado, é
construído com base de concursos crimes, mas o agente vai ser punido como se existisse
apenas um crime. Todas essas condutas farão parte também de um mesmo objeto no
plano processual.
Eduardo defende isto do ponto de vista adjetivo, a circunstância de alguém ter
sido acusado pela pratica de um crime implica o juiz olhar para todos os tipos legais de
crimes potencialmente aplicáveis, que estejam em relação de unidade jurídica ou
normativa com os primeiramente acusados. Todos os tipos legais que estejam em uma
relação de concurso aparente com o que foi acusado e todas as situações em que se
afirme entre condutas imputadas ao agente, situação de continuação criminoso. O juiz
esta obrigado a investigar os factos descritos na acusação, os factos que formem e que
se subsumem ao mesmo tipo legal, o juiz tem que investigar todos os factos que gerem
incriminação que estejam em relação normativa com o tipo legal que é referido no
despacho de acusação. Poderes de cognição estendem-se de forma vasta.
Exemplo.: crime de roubo inclui crime de furto ou crime de ameaça ou de
ofensas corporais. Para Eduardo, se agente está acusado de crime de furto, mas se apura
que usou de violência para subtrair e deve ser condenado por roubo, surgindo novos
factos, é problema de objeto do processo, mas esses factos novos que embora não
pertençam ao mesmo tipo legal acusado são factos que inscrevem com a mesma
unidade normativa, o tipo legal acusado. O outro a que factos novos se subsumem
fazem parte do tipo legal complexo de roubo. Enquanto unidade normativa poder ser
afirmada, então objeto é o mesmo. Aqui, não ocorrerá um desrespeito pelo principio da
identidade do objeto.
- no despacho de acusação se diz que a nas férias de verão, aproveitou ausência
dos vizinhos e entrou nas casas e subtraiu determinados objetos, levado pela facilidade
da situação, entra em várias casas. Temos crime de furto na forma de continuado. Se se
descobrir na audiência de julgamento não entrou na c e d, entrou na de e e f, o tribunal
não está impedido de conhecer, porque estas condutas estão numa relação de unidade
normativa com outras que foram acusadas e é o que basta para tribunal conhecer, para
estar perante o objeto do processo.

Mas Eduardo estende ainda os poderes de cognição, o objeto é definido em


torno do tipo legal e ainda com extensão, não importa apenas tipo legal, mas relação de
unidade normativa entre o acusado e outros. Dentro do objeto, o tribunal pode e deve
conhecer e se não conhecer, se não conhecer, fica precludido pelo caso julgado. Mas
Eduardo alarga ainda mais para matérias que não pertençam ao objeto do processo,
alargamento extraordinário dos poderes de cognição que se justifica com exigências do
material probatório.
Eduardo sustenta que se pode conhecer mais do que está no objeto do processo
quando a infração que se descobre no julgamento se apoie em todo ou em partes nos
factos naturalísticos descritos na acusação. O objeto não é o mesmo, é outra infração
que se apura no julgamento, mas uma vez que assenta nos factos naturalísticos no
despacho de acusação pode conhecer. Quando os factos são diferentes e há relação
normativa, quando violação jurídica é a mesma, o objeto é o mesmo e tribunal deve
conhecer, quando violação jurídica é diferente, mas que se apoia nos factos descritos
na acusação, não há identidade do objeto porque violação jurídica é outra, mas por
razoes de aproveitamento do material probatório, convém ao tribunal poder conhecer
e se não conhecer não fica precludido o conhecimento posterior.
Exemplo.: quando alguém comete o mesmo crime com a mesma ação, casos de
concurso ideal. Se se apurar que afinal matou uma e descobre-se que mata outra
também, o tribunal pode conhecer dela porque se apoia nos mesmos factos e por
economia processual permite-se que tribunal conheça. Eduardo Correia defende
excecionalmente se pode conhecer do crime não por pertencer ao mesmo objeto do
processo, mas porque por razoes de economia processual se estende, os poderes de
cognição do tribunal.
Há uma espécie de autorutura do pensamento que se justificam por razoes de
ordem pragmática.
Quais são as criticas a esta posição?
Castanheira neves refere três criticas metodológicas, criticas materiais.
- Quanto a metodológico, os normativistas aceitam rutura e corte radical entre
mundo do ser e dos factos e do dever ser, das valorações e por isso a realidade concreta
deixa de valer por si mesma e interessam factos que sejam subsumíveis a categoria
normativa e há jogo entre categorias normativas e que se desligam da realidade.
Interessam apenas as relações entre essas categorias divorciadas do mundo. Em suma,
para castanheira, o momento material não é mais do que um fator fungível na
manipulação categorial normativa, esta é a critica geral, metodológica, que aponta este
aspeto, que separam o mundo da realidade dos valores.

- mas esta reflete-se em plano mais substancial, é que conduz a maus resultados
porque permite que juiz conheça de factualidades que não são suportáveis pela
formulação feita na acusação. Desrespeita o principio da acusação, uma vez que permite
ao tribunal conhecer de factos não previstos pela acusação. Esta construção leva ao
surgimento de surpresas incriminatórias para o arguido ao nível do processo.
Exemplo.: nos crimes complexos de roubo, acusado de furto, mas descobre-se
houve violência, o tribunal pode conhecer, mas o tipo de roubo é complexo que agrega
o furto, as ofensas ou as ameaças e portanto todos estes elementos fácticos tem
unidade normativa.
Diferente é o que se diz que subtraiu a carteira, vem acusado de furto e apura-
se que afinal não foi isso que aconteceu e apenas houve agressão. Permitir-se que a
acusado de furto seja condenado por ofensas corporais so porque há elemento comum,
talvez seja excessivo. No plano das soluções materiais, a tese de Eduardo é criticável.

- critica à autorutura, os princípios de Eduardo cedem perante razões puramente


pragmáticas que se prendem com o aproveitamento probatório e essas razões não
podem fazer ceder porque se assim for, a garantia que é instituída pelo objeto do
processo é garantia meramente aparente, o arguido deixa de estar defendido contra
alargamentos do processo. As razoes processuais devem ser secundários do ponto de
vista do arguido.

- tese do pedaço de vida de figueiredo dias: para este, importa não abandonar
nem a base factual como fizeram os normativista, nem esquecer a consideração de
elementos normativos, critica a falha dos naturalísticos. O objeto do processo, tem esta
dupla dimensão, dimensão fáctica e normativa. é para figueiredo, o objeto do processo
é constituído por pedaço de vida descrito na acusação que tem que se manter o mesmo
no julgamento. Claro que pode haver pequenas modificações, desde que se diga que o
pedaço de vida é o mesmo.
Exemplo.: a acusação é puzzle que não está completo, mas já se percebe a
imagem que representará. Pode descobrir-se peças novas para completar, desde que
peças encaixem e ainda representem a mesma imagem.

O pedaço de vida que não se deve mudar, mas o que dá unidade ao pedaço de
vida? O pedaço de vida agrega por um lado elementos factuais e elementos normativos.
O factual é composto por conjunto de factos em conexão natural e esses factos devem
manter-se os mesmos, mas esses factos não relevam por si mesmos, apenas tem que
integrar a mesma valoração jurídica e social.
Na parte estritamente jurídica, para figueiredo o que dá unidade de sentido a
conduta são as valorações, mas no dp essas valorações só nos interessam se traduzirem
bens jurídicos. O que dá unidade de sentido é bem jurídico que essas condutas violam.
A unidade normativa é representada pelo bem jurídico. Interessa elemento factual, os
mesmos factos e importa elementos normativo que ofendam o mesmo bem jurídico.

Mas não basta isto, é preciso que sentido social da conduta seja o mesmo, é
preciso que do ponto de vista da valoração social da conduta tenhamos ainda alguma
unidade.
exemplo.: como alguém subtrair um colar que julga que não tem valor, mas
descobrem que é de valor. os factos são os mesmos, à exceção do colar. a unidade de
sentido normativa é a mesma, porque bem jurídico é mesmo, a propriedade, mas do
ponto de vista da valoração é diferente. é o mesmo tipo legal e os factos, é outra
valoração social e isto basta para estarmos fora dos limites do processo.

A lei no cpp não resolve totalmente, mas parcialmente, legislador procura


encontrar critérios para decidir quais são os poderes de cognição do tribunal quando é
que tribunal pode conhecer para alem dos factos que estão na acusação. Não resolve
por completo o objeto do processo porque interessa também à decisão e o âmbito do
caso julgado. Nada se diz, temos que nos basear aqui na doutrina.
O legislador apenas diz o que tribunal pode conhecer quando a acusação não
seja completa e essa resposta é dada por critério relacional de alteração substancial dos
factos. É relacional porque estamos a comparar coisas quando os factos se alteram. A
lei estabelece limites aos poderes de cognição do tribunal através do critério da
alteração substancial dos factos. isto significa que o tribunal pode conhecer de novos
factos no processo desde que isso não se traduza numa alteração substancial do
enunciado pela acusação, ou quando haja lugar, pelo despacho de pronuncia.
Este critério de alteração dos factos está definido no art 1 f), temos duplo critério
que não é cumulativo, é alternativo. Basta que uma das situações de verifique para que
haja alteração substancial de factos, significa ou uma gravação dos limites máximos da
sanção ou imputação de crime diverso. Basta uma dessas para que haja alteração
substancial.

Quanto à agravação das sanções, temos que consultar a moldura do tipo legal
acusado e moldura do tipo legal a que subsume e que é apurado na audiência e vemos
se agrava ou não.
Exemplo.: acusação diz que há homicídio, de 8 a 16 anos, mas descobrem-se
factos novos para haver alteração do processo, descobre-se que comete crime
qualificado, de 12 a 25 anos. Temos limite máximo é 25 anos, há agravação do limite
máximo. Para que haja alteração de factos que haja de facto alteração dos factos, os
factos têm que mudar. Se não mudarem não há alteração dos factos.
Diferente é se alguém é acusado de matar o pai e mp acusou por homicídio
simples, mas juiz percebe que é qualificado. Aqui não há alteração dos factos.
Temos primeiro critério quantitativo, que resulta da agravação dos limites
máximos das sanções aplicáveis.
Mas também há critério qualitativo, pode haver alteração substancial dos factos
que resulte de imputação de crime diverso, o que resulta das teorias, aderimos á tese
de figueiredo dias, mas se for manifesto resultado diferente de outras teorias, devemos
enriquecer a resposta, dizendo a teoria de Eduardo Correia.

Este conceito de alteração substancial dos factos aparece varias vezes, art 284 e
285, com 1º momento, depois no art 303 e 309, 2º momento, aparece com mais
importante no art 358 e 359 e ainda no art 424 nº3 nas fases de recurso. Em cada um
destes artigos se fala neste conceito, mas problema substancial dos factos só contende
com a questão do objeto do processo quando referido ao momento do julgamento, so
art 358 e 359 resolvem problema do objeto do processo, porque é definido na acusação
e tem virtualidade de delimitar os poderes de cognição do tribunal de julgamentos. Só
aqui há essa preocupação de delimitar os poderes de cognição em função do que é
descrito no despacho de acusação.
Nos momentos anteriores, no art 284 não é isso que está em causa. Este artigo
diz respeito a faculdade do assistente tem nos crimes públicos e semipúblicos. Pode
acusar com os mesmos factos ou pode acusar por outros factos desde que não alterem
substancialmente a acusação publica, art 284 nº1.
No art 285 diz-se coisa parecida, fala-se de acusação particular, em particular em
sentido estrito quem acusa é assistente ou também o mp pelos mesmos factos e no art
285 nº4 por outros que não alterem substancialmente aqueles. Qual sentido das
proibições? O legislador proíbe no art 284 e proíbe no art 285 o mp. Não podem ser
recebidas e devem ser rejeitadas, art 311 b). No inicio do julgamento, antes de iniciar a
audiência há momento de saneamento dos autos, vai verificar se há nulidades ou não e
depois marcar a audiência. Nessa fase de saneamento o juiz pode rejeitar a acusação do
mp que ultrapasse substancialmente os factos descritos na acusação particular e pode
rejeitar a acusação do assistente que altera substancialmente a acusação do mp.
Estes limites existem porque estas normas do art 284 e 285 que atribui
competência para acusar ao mp e ao assistente, essas normas devem ser respeitadas, a
preocupação é fazer respeitar a distribuição de competência para acusar e evitar que
sejam subvertidas. Seriam subvertidas se no caso da competência para acusar era do
mp e assistente viesse acusar por factos que alterassem a acusação do mp. Se se
permitisse esta alteração substancial, estaríamos a subverter os papeis.

art 303 e 309 fala-se do problema da alteração substancial dos factos mas não
se relaciona com o objeto do processo, porque não se estabilizou. na instrução pode
conduzir a alargamento do processo, so se finaliza com despacho de pronuncia.
art 303: a lei diz como se deve proceder no contexto da instrução se descobrem
factos que alterem substancialmente ou alterem não substancialmente os descritos na
acusação e no requerimento de abertura de instrução. no 303 manda comparar com o
que se apura na instrução, com aquilo que consta no despacho de acusação. o conceito
é relacional. o que se quer evitar é que o que se descobre na instrução altere
substancialmente o que vinha descrito na acusação e no requerimento de abertura de
instrução. O jic não pode pronunciar o arguido por factos que alterem substancialmente
os descritos na acusação.
se for substancial não pode ser atendível. se juiz violar a proibição do art 303 nº1
a decisão instrutória é nula nessa parte, art 309 nº1. a o juiz não pode pronunciar sobre
factos que alterem substancialmente e se o fizer, a decisão instrutória é nula.

O que acontece quando há factos novos e que alterem os descritos na acusação e na


abertura da instrução?
Juiz não deve conhecer deles, mas se factos novos forem autonomizáveis, forem
passiveis de subsunção criminal autónoma, esses factos devem ser comunicados ao mp
e a comunicação ao mp vale como denuncia para que mp abre inquérito quanto a eles,
art 303 nº4.

Se alteração for não substancial. Juiz de instrução pode pronunciar pelos factos
novos, mas tem que permitir ao arguido o exercício do contraditório. O juiz
oficiosamente comunica os factos novos ao defensor, interroga o arguido e apresenta
prazo para defesa, art 303 nº1. Pode conhecer dela, mas tem que permitir exercício do
contraditório nos termos do art 303 nº1.

Qual o sentido destas normas do art 303 e 309?


O problema não é a identidade do objeto do processo. O legislador preocupa-se
com o facto do juiz de instrução não pode investigar para além do que já foi investigado
na fase de inquérito. O que se pretende sublinhar é que a instrução não é fase de
investigação complementar ao inquérito, não é fase que se destine a ser mais um
inquérito a seguir ao inquérito. A fase de instrução é fase de verificação da atividade do
mp, é ao mp que incumbe investigar e depois o jic vai fiscalizar a atividade do mp e
perceber se é bem ou mal desenvolvida. o jic pode fazer atos de investigação, mas não
deve alargar âmbito da investigação, pode praticar atos de investigação, mas dento do
âmbito de investigação que o mp estabeleceu, não se pode investigar coisas que não
foram feitas na fase de inquérito.
exemplo.: no inquérito investigasse a conduta de a e que se dizia que havia
concurso que tinha praticado. mas as coisas não ficaram bem apuradas e o mp decide
apenas acusar por furto, o assistente requereu abertura de instrução dizendo que
também bateu e isso foi investigado pelo mp, mas entendeu mal dizendo que não tinha
havido motivos para acusar. o juiz pode pronunciar ou não pelas ofensas? pode
pronunciar sobre factos que não alterem substancialmente os inscritos na acusação e
na abertura de instrução, pode, porque não estão inscritas na acusação, mas estão no
requerimento de abertura de instrução. é para isto que serve a instrução.
mas não serve a instrução quando no inquérito só houve noticia do furto, só se
ouviu testemunhas quanto ao furto e só acusou por furto. neste caso, o jic não pode
alargar o âmbito da investigação feita pelo mp, não pode pronunciar pelas ofensas,
porque essas não foram investigadas pelo mp e a instrução não é outro inquérito a
seguir do inquérito, destina-se a fiscalizar a atividade do mp no inquérito. não deve o
juiz pronunciar sobre esses factos. a atividade de juiz é de controlo, é de sindicância.

já na fase de julgamento, art 358 e 359.


art 358: se existir alteração não substancial dos factos, dos factos descritos na
acusação ou não pronuncia o tribunal pode conhecer desses factos novos, mas tem que
permitir exercício ao arguido do contraditório. na fase de julgamento compara-se o
despacho de acusação, com o despacho de pronuncia com o que se descobre no
julgamento que quer se levar à decisão final. se surgem factos novos, mas que não
alteram substancialmente o que estava no despacho de pronuncia, tribunal pode
conhecer, mas tem que haver exercício do contraditório. é a mesma solução que consta
no art 303 nº1, com apenas diferença do prazo, no art 303 deve ser 8 dias, mas aqui não
há limite.
este prazo para preparação de defesa e possibilidade de exercer contraditório
não existe se factos novos forem invocados pela defesa, nos termos do art 38 nº2.

art 359: se a alteração for substancial, o tribunal não pode ter em conta. é
solução paralela da instrução. aqui, o juiz não pode conhecer dos factos, sob pena da
decisão ser nula, art 379 nº1 b).
se factos forem autonomizáveis, diz-se no nº2 que comunicação deles ao mp vale
como denuncia para mp proceder por esses factos. estes factos autonomizáveis são
passiveis de subsunção jurídica criminal autónoma, que em si mesmos já são crime.
exemplo:. alguém acusado de crime de furto, mas descobre-se no julgamento
que usou de violência, esses factos são subsumíveis jurídico criminal autónoma. estes
factos seriam julgados num processo autónomo a partir daquele momento pelo mp que
correria em paralelo.
ou houve furto e agressões. descobrem-se as agressões, estes são factos
subsumíveis juridicamente autónomos, comunica ao mp e abre processo autónomo.

Problema é quando os factos não são autonomizáveis, quando não são em si


mesmo crime.
exemplo.: homicídio de a por b e descobre-se no julgamento que era o pai e que
agia para o matar. Descobriram-se factos novos que não estavam na acusação, não se
sabia que era pai dele. O homicídio qualificado, há alteração substancial dos factos,
porque há agravação, vamos ao art 1 f) do cpp, a alteração é substancial o tribunal não
pode conhecer, mas estes não são autonomizáveis, ser pai não é crime. Não há nada
para investigar num processo á parte.
O que acontece é que no art 359 nº3 permite-se o caso julgado de consenso, se
existir acordo entre sujeitos processuais, entre mp, ofendido e assistente pode
continuar-se julgamento por esses factos também, se não existir, diz o nº1 que não se
pode conhecer os factos. O arguido nunca consentirá ser julgado por esses factos
porque não são autonomizáveis e ser conhecidos em processo á parte e sem o seu
consentimento não será julgado por aqueles. O art 359 nº3 não resolve o problema,
porque ninguém iria querer ser julgado de forma mais gravosa.

Até 2007 admitia-se a extinção da instancia ou suspensão da instancia que fazia


com que todos os factos, os novos e investigados regressassem á fase de inquérito,
processo ficava suspenso, o mp reformulava a acusação incluindo factos novo e quando
tudo estivesse feito retomasse. Na situação de extinção, havia decisão formal, processo
terminava e iniciava-se um novo processo em que todos os factos eram analisados e o
mp acusava e seguia-se julgamento. Defendia-se na jurisprudência.
Mas em 2007 com alterações ao cpp dizia-se que o arguido não tem culpa que o
mp tenha sido pouco diligente e que não investigou factos que deveria ter investigado,
não pode ser onerado pela falta de diligência. E suspensão da instância onera, porque
há maior demora processual e vai-se prejudicar a presunção da inocência do arguido e
julgamento em prazo razoável. Paulo de Sousa Mendes defende que não se pode onerar
o arguido e legislador acolhe esta solução. Por isso mesmo o art 359 nº1 refere que a
alteração substancial dos factos descritos na acusação ou na pronúncia não pode ser
tomada em conta pelo tribunal para o efeito de condenação no processo em curso, nem
implica extinção da instância. Se os factos novos alteram, deve tê-los em conta para
dentro da moldura dada agravar a medida concreta da pena.

QUALIFICAÇAO JURIDICA DOS FACTOS


Não se confunde com problema da identidade do objeto, a alteração do objeto
supõe que haja modificação dos factos, apesar de uma simples modificação dos factos
não ser suficiente para alteração do objeto. Para figueiredo o momento factual e
momento normativo não se podem divorciar, mas não há modificação do objeto de
processo quando há problema da qualificação jurídica. Vive a paredes meias do objeto
do processo, mas com ele não se confunde. Pode haver modificação de qualificação dos
factos e quando assim é, o tribunal pode conhecer, sem que conhecimento coloque a
em causa a estabilidade do objeto do processo.
O tribunal é livre de conhecer o direito, decorre do principio iura novit curia, e
não há obstáculo a que o tribunal qualifique de forma diferente os factos por
comparação com aquilo que vinha da acusação, é principio fundamental, não se
encontra vinculado nem à subsunção legal dos factos, nem à interpretação da lei
realizada pela acusação. Mas temos que ter em conta, a par desta ideia que é razoável
que arguido dê como certa a qualificação dos factos no despacho de acusação, porque
este é corolário de trabalho de investigação, levado a cabo por uma magistratura e
convém que qualificação seja exata e correta. É em torno dos factos e qualificação deles
que arguido constrói a sua defesa em torno dos mesmos. Se qualificar mal, o arguido
pode julgar desnecessários determinados elementos de prova, quando seriam
necessários perante a qualificação correta dada pelo juiz, é razoável que essa
qualificação seja tida como relevante para construir a estratégia de defesa.
Exemplo.: não faz sentido demonstrar a não violência, se sou acusado de furto,
não necessito de o provar.
Por isso se qualificação jurídica dos factos for modificada pelo tribunal e pode,
sendo uma das prerrogativas de órgão judicial, poe em causa a estratégia de defesa e é
necessário compatibilizar a ideia de que determinação do direito é o cerne da função
judicial e juiz não esta vinculado ao enquadramento normativo que é feito na acusação.
O tribunal tem liberdade de dizer o direito e ainda o facto da correção pelo tribunal de
eventuais erros de qualificação ou interpretação dos factos diferentes da que foi feita
pelo mp pode destruir a defesa. Temos que compatibilizar a possibilidade de dizer
direito com prerrogativas de defesa arguido.
Esta matéria está regulada art 303 do cpp e art 358:

No código de 29, havia art 447 que dizia que tribunal é livre de convolar a
qualificação jurídica, mas havia propostas doutrinais que defendiam que não obstante
a liberdade, devia dar-se ao arguido de exercer o seu contraditório. Quando o novo
código entrou em vigor em 1987 não resolvia esta questão, surgindo a duvida sobre se
constituiria alteração substancial dos factos a simples alteração da qualificação jurídica
quando se traduzisse na subsunção dos factos a uma figura criminal mais grave.
Perante este problema, o stj veio determinar no seu assento 2/93 que vem
resolver controvérsia, dizendo que não constitui alteração substancial dos factos a
mera alteração qualificação jurídica deles, ainda que seja alteração de qualificação para
figura criminal mais grave. O assento faz interpretação vinculativa das normas.
Resulta daqui que o tribunal seria livre para alterar a qualificação, mesmo que
ao agente fosse aplicado tipo legal mais grave. Esta circunstância de por força da
alteração de qualificação, o arguido ser condenado por pena mais grave sem ser
prevenido para alteração de qualificação e sem possibilidade de apresentar defesa,
levantava duvidas esta hipótese, dai o figueiredo dias consentir com possibilidade de lhe
dar contraditório. Estas duvidas foram levadas ao tc, declarou inconstitucional no seu
acórdão 445/97 estas normas do nº 1º f) do art 303, 309, 359 quando lidas na
interpretação dadas pelo assento nº2/93, de acordo com a qual não constitui alteração
substancial dos factos a qualificação jurídica, mesmo que conduza a pena mais grave, na
medida em que não haja prevenção ao arguido. A inconstitucionalidade não está no
facto do supremo ter dito que não é alteração substancial dos factos, a
inconstitucionalidade está em pretender mudar a qualificação e não se dar possibilidade
de defesa do arguido.

O legislador em 98 recebeu este entendimento e compatibilizou a possibilidade


do tribunal dizer o direito com o exercício do contraditório do arguido e resolve com o
art 358 nº3, aplica-se a disciplina de não alteração substancial dos factos á situação em
que haja alteração da qualificação jurídica. Aplica a mesma disciplina a realidades
distintos e que conservam a sua autonomia.
A solução: sempre que tribunal entender que a interpretação das normas feita
pela acusação e enquadramento jurídico feito pela acusação não é correta, o tribunal
deve previamente prevenir o arguido e deve conferir prazo para apresentação de
defesa, art 303 que remete para art 358, e é assim quando há mudança para figura
criminal mais grave ou menos grave. Deve ser dada possibilidade de apresentação da
defesa por parte do arguido, seja quando haja qualificação jurídica mais grave ou menos
grave, mesmo que a menos grave beneficie o arguido.

Mas ás vezes não há erro de qualificação, mas há divergência de qualificação,


divergência entre o mp e do juiz, acontece em casos de fronteira.
Exemplo.: filha que tem conta bancaria com a mãe e dinheiro pertence à mãe e
filha retira dinheiro da conta. Temos furto ou abuso de confiança? Há divergência entre
juiz e o mp, resulta da interpretação das normas ou de enquadramento.
Ou no caso de alguém que está no café a beber cerveja e nota que cliente deixa
a nota e foi-se embora, tira a nota e paga com ela. Temos burla por omissão quando
empregador erra e entrega troco a pessoa errada que não pagou?
O tribunal é o dominus da questão de direito, pode alterar a qualificação, mas
o tribunal tem que dar possibilidade de exercer a defesa.

Em 98 introduziu solução para julgamento, mas não para instrução. Havia lacuna
que doutrina preenchia por analogia, aplicava-se por analogia. Agora legislador já
resolve no art 303 nº5, já não é necessário recurso de analogia.
Quando no art 358 nº3 legislador manda aplicar a solução pensada para
alteração não substancial dos factos não diz que as coisas são a mesma realidade, têm
autonomia, mas justifica-se a aplicação da mesma solução.
Na resolução do caso pratico: perceber fase processual, perceber se há alteração
e para isso é preciso comparar dependente da fase processual, no julgamento temos
que comparar o despacho de pronuncia com o que acontece no julgamento, se existir
alteração, temos que ver se é qualificação jurídica, solução no art 358 nº3, mas se
alteração for de facto, substrato factual mudar, temos que ir ao art 1 f) e perceber se
alteração é substancial ou não substancial. Sendo substancial aplica-se art 358 nº1, não
sendo substancial aplica-se o art 359.

Aula 18/12/2020
MEDIDAS DE COAÇÃO
Estas são meios de constrangimento que comportam restrições a liberdade e
visam garantir eficácia do processo. As finalidades são endoprocessuais, visa-se evitar
que arguido fuja e já não possa ser julgado ou sendo julgado não possa ser encontrado
e sobre ele ser executado a pena, ou evitar que destrua provas ou condicionar
testemunhas e não possa recolher informações justas para descoberta da verdade. Estas
medidas visam garantir que o processo se desenvolva corretamente, sobretudo ao nível
da investigação, evitando a perda do material probatório e permitindo a descoberta da
verdade material, por outro lado, têm como fim a preservação da utilidade da decisão
sinal, possibilitar a aplicação da pena, procurando assim mitigar o perigo de fuga do
arguido.
Mas por serem medidas de constrangimento aplicadas antes do transito em
julgado de decisão condenatório conflitua com o principio de presunção da inocência,
falando deste principio como regra de tratamento. A circunstancias destas medidas
serem aplicadas antes do transito em julgado obrigam a que seja comunitariamente
suportáveis, na eventualidade de serem aplicadas a inocente, porque se presume a
inocência da pessoa a quem se aplica. No entanto, a própria constituição prevê
expressamente a possibilidade de aplicação da prisão preventiva, medida de coação
mais grave na alínea b) do nº3 do art 27 e no art 28, pelo que existe uma autorização
constitucional expressa para a aplicação destas medidas.

O legislador rodeou as medidas de coação de requisitos apertados.


Interessa ver requisitos quanto a finalidades endoprocedimentais das medidas
de coação, não são antecipações de punição, não são penas, nem se quer são
mecanismos de antecipação de punição. As medidas de coação quando sejam privativas
de liberdade de movimento podem ser descontados na pena de prisão, nos termos do
art 80 do cp. Há instituto do desconto, mas não são antecipações de punição.
Não são meios de constrangimento para obter colaboração do arguido no
decurso do processo. Pode haver essa aparência, mas não é o que acontece. O que
importa é que não tenha sido assim e não é incompatível, quando está em prisão
preventiva e porque colabora deixa de estar, não é meio de coação que visa
constrangimento, mas o facto de em virtude de ter colaborado, pode deixar de estar em
prisão preventiva, uma vez que já não justifica o receio de destruir meios de prova.
Estas medidas estão sujeitas a principio de necessidade e portanto, só podem
ser aplicadas quando se verificarem exigências de natureza cautelar, determinados
perigos, periculum libertatis enunciados no art 204 do cpp e esses perigos são três:
a) Fuga ou perigo de fuga. Pode aplicar-se medida de coação, seja prisão
preventiva seja outras. Para qualquer medida com exceção do termo de
identidade e residência. Se arguido fugiu pode aplicar-se medida de coação,
aplica-se quando regressar.
O perigo de fuga: não fugiu ainda, mas há evidencias de que se prepara para
fugir, prof sublinha que nenhum elemento por si só é suficiente para afirmar
perigo de fuga. Por crime ser grave não se justifica que há perigo de fuga ou
arguido que não reside em Portugal que há perigo de fuga. O elemento isolado
não serve para estribar esta convicção, mas surge por vários indícios conjugados
que pode servir para fundamentar o perigo de fuga. Há indícios mais fortes do
que outros. Nenhum vale por si.

b) Outro perigo é o de perturbação de decurso do inquérito e do processo e


perigo de conservação ou veracidade da prova. Não se pode aplicar medida
de coação para constranger o arguido a colaborar, mas pode aplicar-se para
evitar que arguido destrua provas ou dissipe as provas.

estes requisitos são aproblemáticos, tem natureza endoprocedimental, não se


confunde com finalidade das penas a aplicação de medidas de coação com estes
fundamentos, mas a aliena c) é mais problemática, porque as finalidades que se
pretende acautelar estão perigosamente próximas da finalidade da pena.

c) quando haja perigo em função da natureza do arguido. estamos perante


exigências de defesa social e de restauração da paz jurídica que são as que
presidem á aplicação de penas e por isso carater problemático destas
soluções ou das medidas aplicadas na alínea c).
O legislador ocupou-se desta alínea e em 2007 procurou evitar que aplicação de
medidas de coação surja como resposta do estado perante expetativas
comunitárias de cometimento do crime, expetativas criadas pela comunicação
social e por isso acrescentou referencias que crime resulte de conduta do arguido
e que seja grave. é perigo que o arguido continue atividade criminosa.

pode-se aplicar medidas de coação para proteção do arguido quando o crime seja
mediático?
pode ser aplicado quando haja perigo de retaliação? a resposta é negativa, não
se protege o arguido com proteção da medida de coação. não pode haver este
fundamento para proteger o arguido.

além destes fundamentos endoprocededimentais, o legislador estabelece


princípios rigoroso constantes no art 193 e seguintes.
- há principio da legalidade que não consta no art 193, so pode ser aplicado
medidas de coação que constam em lei formal, no cp e ainda legislação avulsa, como
crime de prevenção contra vitima de violência domestica, temos medidas de coação no
art 32 da lei, mas so se pode aplicar medidas de coação previstas na lei, o juiz não pode
criar medidas ad hoc fora dos termos que a lei admite, esta consagrado no art 191 nº1
do cpp.

- consagra-se principio da proporcionalidade, em sentido amplo ou proibição do


excesso no art 193 do cpp, este principio decompõe-se em três dimensões: necessidade,
adequação e proporcionalidade em sentido estrito.
- na necessidade resulta que so pode ser aplicado medidas de coação
quando sejam necessárias para satisfazer finalidades de natureza cautelar, art
193 nº1 1º parte, pelo que se não o forem não poderão ser aplicadas. assim terá
que se verificar uma das hipóteses do art 204;
- consagra-se no nº1 principio da adequação, as medidas de coação têm
que ser idóneas a satisfazer exigências cautelares que caso reclama, mas nem
todos são adequadas, como caução que não é adequada para se evitar a
continuação da atividade criminosa por parte do arguido, ou para evitar a fuga
do arguido. a suspensão de funções não serve para evitar crime de fuga, mas
para evitar continuação da atividade criminosa se foi cometida no contexto de
funções ou para evitar destruição das provas. cada medida de coação deve ser
adequada a função que visa acautelar.
- as medidas devem ser proporcionais á gravidade do crime, pelo que aos
crimes de menor gravidade dever-se-ão aplicar as medidas menos graves e aos
crimes mais graves as medidas mais pesadas.
Afere-se em relação a gravidade abstrata do crime, legislador estabelece
catalogo abstrato de medidas e requisitos formais são mais exigentes quanto a
medida de coação, a prisão preventiva apenas pode ser aplicada a pena de prisão
punível com mais de 5 anos de prisão. afere-se em abstrato e também em
concreto, em função das sanções que venham a ser aplicadas. se crime é em
abstrato grave, mas se existe circunstancias que diminua ilicitude do agente e se
espera pena menos pesada, não se deve aplicar pena gravosa, é
proporcionalidade que se afere também em concreto.

a proporcionalidade reflete-se no momento da execução das medidas de


coação, nº4 do art 193, não se deve prejudicar exercício de df que não sejam
incompatíveis com exigências cautelares que caso requer.
exemplo.: quando se estabelece obrigação de apresentação periódica, deve ser
feita a apresentação no posto policial próximo da residência ou local de trabalho para
que não fique prejudicado de forma inadmissível a sua vida pessoal ou a sua atividade
profissional.

art 192 nº6 reflete-se ainda a proporcionalidade, ideia da proporcionalidade


aferida em concreto, não se deverá aplicar qualquer medida de coação ou de garantia
patrimonial quando houve fundados motivos para crer na existência de causas de
isenção da responsabilidade ou da extinção do procedimento criminal. Se existir causas
de extinção da responsabilidade não se pode aplicar medida de coação.

- outro principio é da subsidiariedade, art 193 nº2 e nº3. determina que as


medidas de coação mais gravosas serão subsidiarias em relação ás restantes.
a prisão preventiva é medida mais gravosa e é subsidiaria relativamente ás
demais medidas de coação, mas obrigação de permanência na habitação por ser medida
que restringe o ius ambulandi é subsidiário àquelas que precedem no catalogo. todas as
medidas estão sujeitas a este principio, todas elas são subsidiarias relativamente as que
estão antes no catalogo, catalogo organizado de forma crescente, mas legislador
sublinhou a subsidiariedade, quer na permanência de habitação, quer na prisão
preventiva e dentro das duas, é ainda mais subsidiário a prisão preventiva, art 193 nº2
e nº3, só podem ser aplicadas quando todas as outras sejam insuficientes.
Não foi sempre este o regime que legislador estabelece, até 1987 previa-se lista
de crimes incalcináveis, crimes em relação aos quais não se podia aplicar a caução e
única medida admissível era prisão preventiva, não se podia assegurar liberdade do
arguido através de sistema de caução, ou pessoa fica preso ou é libertada mediante
caução. Havia crimes que não se podia conceder liberdade provisoria, a regra era a
prisão, mediante caução, mas depois havia crimes incalcináveis. Em 87, em
cumprimento da excecionalidade da prisão preventiva, transformou em medida de
ultima ratio, excecional como a crp imponha. Mas já no âmbito da vigência do código de
87, previa-se art 209 que estabelecia obrigação adicional de fundamentação quando juiz
entender de não aplicar a prisão preventiva a certas categorias de crimes, decorrendo a
ideia de que havia presunção da adequação e da proporcionalidade da prisão preventiva
para certas categorias de crimes. Quando juiz não quisesse aplicar prisão preventiva
nesses crimes, tinha dever de fundamentação da sua decisão. Esta previsão de dever
especial de fundamentação foi eliminado porque era inútil, porque juízes estão sempre
a fundamentar as decisões, e se realmente queria obrigar-se a fundamentar mais,
porque havia presunção iuris tantum que prisão preventiva era adequado, era
inconstitucional porque contrariava a crp.

- principio de precaridade: as medidas de coação supõem para ser aplicadas a


existência de razoes cautelares que devem ser revogadas ou substituídas quando
pressupostos que justificaram a aplicação desapareçam ou atenuam.
A precaridade das medidas de coação está evidenciada no art 212 e seguintes.
As medidas devem ser oficiosamente examinadas de 3 em 3 meses ou em certos
momentos processuais mesmo que não haja iniciativa do arguido, em que se atenuaram
exigências de medidas, é exame imposto pela lei. As outras são substituídas ou
revogadas se existir iniciativa do arguido, não se impõe reexame periódica, nestas mais
graves, há esse reexame.

art 213 nº5: suscetível de recurso nos termos gerais. Quando se aplica medida
de coação, arguido dispõe de medida de reação que é recurso. A medida de coação se
é prisão preventiva e arguido recorre achando que não estava preenchidos requisitos.
A lei diz que prazo para decisão de recurso de decisão que aplique medida de coação é
de 1 mês, prazo para interpor recurso é de 1 mês, 1 mês já passou e depois o mp tem
direito a responder ao recurso interposto, é preciso haver despacho de recurso e depois
processo sobe para tribunal superior e prazo de 1 mês para apreciar, mas facilmente
alcança-se 3 meses.
Acontece que o recurso quando é apreciado já houve o 1º reexame da prisão
preventiva e uma corrente jurisprudencial entendia que quando houvesse reexame
tornava-se inútil o recurso da decisão que aplicava medida de coação, porque houve juiz
que reapreciou e entendia que mantinham-se os pressupostos, o recurso da 2º decisão
tornou-se supervenientemente inútil.
A solução consta neste numero, é que não gera inutilidade supervenientemente,
mas se os fundamentos são usados para estribar o recurso forem concretamente
apreciados no momento de reexame e tenha havido uma decisão que os concretamente
aprecie, aí há inutilidade superveniente, mas não existe inutilidade superveniente em
geral.

Art 214 diz que as medidas de coação se extinguem em determinados


momentos, quando há decisão de arquivamento, extingue-se medida de coação,
quando haja recurso da sentença absolutória.

Art 215: ideia de precaridade, sujeito a prazos. Norma nuclear é 215 que
estabelece prazo de prisão preventiva. O legislador estabelece prazos em função de
fases processuais, prisão preventiva 4 meses até dedução de acusação, depois de
deduzida acusação fica mais 4 meses até o fim de instrução.
São prazos base, mas há crimes que admitem prazos mais longos, do nº2 que são
mais difíceis de investigar e entende-se que possa durar mais tempo a prisão preventiva.
Nº3: os prazos podem ser ainda maiores que para alem de crimes do nº2, se
processo for de especial complexidade que tem que ser declarada em 1º instância

Nº5: prevê que prazos com alongamentos possa ser elevado em mais 6 meses se
houver recurso para tc.
O prazo máximo da prisão preventiva até transito em julgado é bastante longo,
3 anos e 4 meses no art 215 nº3 até transito em julgado e com alongamento do nº5, há
3 anos e 10 meses. Pode até exceder estes 4 anos se se aplicar ao caso o nº6 que diz que
se arguido for condenado na 1º instância, e sentença for confirmada em recurso, prazo
eleva-se para metade da pena que foi fixada. Se foi condenado a 12 anos de prisão,
houve recurso para relação e relação confirmou a pena e arguido vai recorrer para
supremo, decisão não transitou em julgado, de acordo com regras gerais não podia estar
em prisão preventiva mais de 3 anos e 10 meses, mas prisão preventiva pode elevar-se
a metade da pena aplicada que tenha sido confirmada, por isso a prisão preventiva pode
ir até 6 anos.
O recurso é garantia do arguido e presunção da inocência vale ate transito em
julgado, mas arguido interpõe recursos dilatórios, aproveitam e exploram faculdades
que a lei prevê. A prisão preventiva pode elevar-se para metade por causa do regime de
liberdade condicional.

Temos dificuldade quanto ao sentido de confirmação: pode acontecer que seja


aplicada pena de 10 anos de prisão na 1º instancia e na relação decidam 12 e depois há
recurso para o supremo, a prisão preventiva apenas pode durar 5 anos, porque se
pressupõe que dois tribunais confirmem, só há confirmação quanto aos 10.
Se 1º instância aplica 12 anos de prisão e relação confirma parcialmente
condenando em 10, so há confirmação nos 10, não pode a prisão preventiva durar mais
do que 5 anos.
Outras medidas de coação constam no 218, são contados com referencia aos
prazos de prisão preventiva, elevados ao dobro. No art 220 prazo é o mesmo da prisão
preventiva e a mesma coisa do art 221.
Quanto a medidas de prazo elevado ao dobro, há acórdão de fixação de
jurisprudência que são elevados ao dobro, mas não beneficiam do alongamento do
prazo prevista no art 215 nº2, 3 e 5. No que respeita a medida de coação com proibição
de contacto, o prazo é o prazo da prisão preventiva, mas pode-se dizer que há
fungibilidade entre duas medidas.
Se se esgotar prazo de prisão preventiva, pode aplica-se qualquer medida de
coação, exceto a permanência na habitação. Ao passo que nas outras medidas de
coação, o arguido possa estar em prisão preventiva e possa ser-lhe aplicado a proibição
de contacto, esses dois prazos contam-se autonomamente. Se arguido teve 3 anos e 4
meses em prisão preventiva, pode também lhe ser aplicado a medida de proibição de
contacto.
Mas quando lhe é aplicado a medida de coação de obrigação de permanência no
domicilio com a prisão preventiva, apenas pode ser aplicado quando não ultrapasse o
prazo da prisão preventiva. O legislador encara este não como medida autónoma, mas
como forma menos gravosa de prisão preventiva e por isso não tem verdadeira
autonomia nesse sentido. se arguido já esteve em prisão preventiva e colocar em
permanência de habitação, o prazo da prisão preventiva é contado para efeitos da
permanência na habitação.

- principio da judicialidade, art 194 nº1, medidas de coação estão sujeitas a


judicialidade, são aplicadas por um juiz, que é jic (art 268 nº1 b)), na fase de inquérito e
da instrução e juiz do julgamento na fase do julgamento.
Há reserva de judicialidade, exceto quanto ao termo de identidade e residência
que pode ser aplicado por órgão de policia criminal ou pelo mp, não está sujeita ao
principio da judicialidade.

Se medidas de coação forem aplicadas na fase de inquérito estão sujeitas ao


principio de pedido, o dominus durante a fase de inquérito é o mp e é este que está
mais ocorrente das exigências cautelares do caso e compete a este requerer aplicação
de medidas de coação, não podendo o juiz aplicar medidas de coação se não tiver havido
requerimento do mp e não podendo em certos casos aplicar medida de coação mais
grave, quanto a sua natureza ou modalidade de execução, do que aquela que tenha sido
requerida pelo mp. Tem que haver requerimento do mp como em certos casos não pode
o juiz aplicar medida de coação mais grave do que aquela que tenha sido requerida pelo
mp.

Art 194 nº3: nº2 e nº3 funcionam como normas espelho. Conclui-se que
vinculação do juiz depende do fundamento da medida de coação, são 3 fundamentos:
- fuga ou perigo de fuga,
- perturbação do decurso do inquérito e perigo para aquisição da prova;
- continuação da atividade criminosa ou perturbação da ordem e da
tranquilidade jurídica.
b) Há uma das alienas que se prende com exigências probatórias que na fase de
inquérito é o mp que controla, domina. Quando haja perigo na aquisição da prova,
quem melhor sabe do que é preciso para acautelar a prova é o mp. Nestes casos, juiz
não pode aplicar medida mais grave do que for aplicado por mp, porque aplicar medida
mais grave põe em causa os objetivos do mp. Quando perigo seja para obtenção de
prova, o juiz esta vinculado pelo requerimento do mp e não pode aplicar medida mais
grave. Ainda assim, pode o tribunal aplicar uma medida de coação diferente requerida
pelo mp, desde que menos grave.
Quando os perigos forem as outros alíneas, a e c), o juiz pode aplicar medida
diversa, mesmo que mais grave, art 194 nº2.

Podem as medidas de coação serem aplicadas por requerimento do assistente?


Existe uma parte da doutrina que defende que para além do mp, também o
assistente deveria ter possibilidade de requerer a aplicação de medidas de coação para
o arguido em casos de crimes contra as pessoas, com o fundamento da c) do art 204,
para evitar o perigo da continuação da atividade criminosa. Esta tese encontra o seu
apoio normativo nos termos do art 268 nº2.
Maria João Antunes diz que não, existe um artigo 268 nº1 b) que atribui ao juiz
de instrução competência para aplicar medidas de coação e no nº2 do art 268 diz que
juiz pode aplicar qualquer destes atos desta lista que está no nº1 do art 268 a
requerimento do mp, da autoridade ou do assistente. Há esta norma, mas esta é geral
que vale para quaisquer atos enunciados do art 268, ao passo que art 194 é norma
especial que apenas vale para medidas de coação, por isso norma especial derroga
norma geral e por isso assistente não tem esta competência. A doutrina maioritária
entende que a competência para requerer aplicação de medidas de coação pertence
apenas ao mp.
No entanto, há tese de mestrado que defende o contrário, se a tese dela não
vale em geral, faz sentido em alguns casos. Em certos crimes onde está em causa
proteger a vitima, como violência domestica se vitima constituir assistente, deve ter
faculdade de requerer medida de caução porque é ela que se justifica a medida de
coação, mas não vale como regra geral.

Estas medidas de coação são aplicadas pelo juiz, com exceção do termo de
identidade e se forem aplicadas na fase de inquérito estão sujeitas ao principio do
pedido e juiz fica vinculado pela medida de coação aplicada pelo mp, não podendo
aplicar medida mais grave quando se ligue a conservação da prova, b) do art 214.
Às vezes é difícil saber o que são medidas mais graves e porque?
Porque o legislador admite a cumulação de medidas, e podemos questionar se é
mais grave aplicação de duas medidas ou uma só? Depende, se se fala de cumulação da
coação com exercício da profissão e juiz em vez dessas duas que mp quer, pretende
aplicar prisão preventiva, o nosso juízo é que duas medidas são menos gravosas do que
a prisão preventiva. O critério atende a medida de restrição de df e não numero de
medidas, não é critério quantitativo. A possibilidade de cumulação não permite afastar
a ideia de restrição de df.

Art 200 proibição e imposição de condutas, não consagra uma medida de


coação, mas várias. Temos medidas de coação de gravidade diferente, como por
exemplo não se ausentar para estrangeiro, ou sem autorização, em tempos de covid isto
não é relevante, mas o facto de não se poder ausentar de freguesia, é bem mais gravoso.
Não nos devemos iludir pela epigrafe. Se mp requer medida do art 200 b) não permite
ao juiz o da aplicação da aliena c) com fundamento no perigo de perturbação da prova,
não pode o juiz aplicar porque a medida da alínea c) é mais gravosa do que a b).

PROCEDIMENTO DE APLICAÇAO DE MEDIDAS DE COAÇAO


É preciso que a pessoa seja constituída arguida, não se pode aplicar medida de
coação, a pessoa que não seja arguida, art 192 nº1. No art 58 nº1 b) a pessoa que se
pretenda aplicar medida de coação tem que ser arguida.
2º passo requerimento do mp na fase de inquérito, caso contrário, se não tiver
havido, juiz pode agir oficiosamente. Imaginando que estamos na fase de inquérito e há
requerimento do mp, antes de juiz decidir, art 194 nº4 dá possibilidade do arguido
exercer o contraditório. O legislador reforçou o contraditório em 2007, o arguido é
ouvido sempre, ressalvados os casos de impossibilidade devidamente fundamentada.
Podia ser inconveniente ouvir arguido no caso de conhecimento prévio da
medida pudesse conduzir a materialização do perigo que se pretendia evitar. Se se
pretende aplicar medida para evitar fuga, se sabe, foge. Como se evita agora através do
art 257, detém-se arguido e é conduzido para aplicação da medida de coação.
Entre 2007 e 2010, reforçou-se o contraditório do arguido, salvo se existir
impossibilidade, também se limitaram a possibilidade de detenção fora de flagrante
delito. Se arguido sabe que é arguido e que será interrogado com vista a aplicação de
medida de coação, o arguido iria continuar o crime e não podia haver detenção, porque
so podia haver quando o arguido não comparecesse voluntariamente, esse requisito não
estava preenchido. Havia esta dificuldade em 2010, legislador voltou a ampliar os
fundamentos para os casos fora de flagrante delito.

A audição do arguido processa-se em interrogatório, o arguido é ouvido em


interrogatório, não é ouvido em principio por escrito, não é essa intenção porque há
prazos curtos que são incompatíveis com o escrito.
Os prazos de decisão dependem, se arguido estiver detido ou não:
- se estiver detido: prazo de decisão corresponde a prazo máximo de detenção,
às 48 horas. O arguido ou outra pessoa não pode estar detida por mais de 48 horas,
regime que consta no art 254 nº1 a) e seguintes quanto aos prazos.

Suscitou questão, saber se 48 é prazo ate decisão do juiz ou de apresentação ao juiz,


podendo juiz decidir depois das 48 horas?
O entendimento é o de que o prazo de 48 horas é prazo de apresentação ao juiz,
podendo a decisão ocorrer para alem das 48 horas, desde que depois da apresentação
ao juiz tudo decorra com maior celeridade, podendo praticar atos fora do horário
expediente, nos termos do art 203 do cp.
Não faria sentido o prazo de expedição, quando seja processo complexo, ao
impor que prazo seja de 48 horas, estaríamos a restringir possibilidade de defesa do
arguido. Teria que consultar processo apressadamente porque tinha que fazer em
tempo útil, para juiz decidir e se quisesse falar, tinha que falar rápido porque o juiz tinha
que decidir. Não se pode restringir estas faculdades porque estaria a restringir as
possibilidades de defesa do arguido.

- Se arguido não tiver detido prazo é de 5 dias, art 194 nº5, tem que ser
notificado para comparecer, para ser interrogado e proferir a decisão. Não se previa
prazo nenhum antes.
Quando arguido é ouvido é informado dos factos que lhe são imputados, os
elementos do processo em que assenta os factos, salvo se existir inconvenientes no art
141 nº4 e) para a prestação dessa informação. O despacho que aplique medida de
coação também é fundamentado e arguido no prazo de recurso e durante interrogatório
pode consultar os elementos do processo que sejam determinantes para aplicação de
medida de coação.
TERMO DE IDENTIDADE E RESIDENCIA
É tratado pelo código como medida de caução, menos gravosa, mas este regime
afasta-se das demais e pergunta-se se é medida de coação, porque é de aplicação
obrigatória, conforme resulta do art 196 nº1 do cpp, tem que ser aplicado sempre que
alguém é constituído arguido, não depende da verificação de exigências cautelares.
Depois pode ser aplicado pelo mp ou por órgão de policia criminal, não esta
sujeito ao principio da judicialidade. É medida cumulável com qualquer outra, seja
qualquer for, mesmo que seja prisão preventiva.
Não se extingue, quando outras extingam, art 214 nº1 e) a contrário resulta que
termo de identidade so se extingue com extinção da pena e não como as outras quando
haja recurso da decisão absolutória ou outras.
Duvida-se se estamos perante medida de coação, porque parece assinalar-se
outro efeito que se prende com julgamento do arguido na ausência. Quando é prestado
o termo de identidade, o arguido é informado que está obrigado a apresentar-se
perante autoridade judiaria, tem que informar se houver saída para estrangeiro,
informado que informações serão feitas por via postal simples e de que não
comparecendo pode ser representado pelo defensor nos atos em que deve estar
presente.
É este conteúdo no termo de identidade de residente, não restringe direitos,
apenas tem que indicar morada, sempre que se ausente por mais de 5 dias tem que
dizer para onde e se faltar as diligencias para ser convocado será representado pelo
defensor.

A importância é o de permitir o julgamento na ausência. Arguido é notificado


para audiência de julgamento, por contacto pessoal, via postal registada ou via postal
simples e so pode haver notificação por via postal simples se tiver prestado termo de
identidade e não tiver alterado morada. Se arguido for notificado por uma destas 3
vias, e não compareça, arguido pode ser ouvido na 2º data.
Se arguido não tiver prestado termo de identidade não pode ser notificado por
via postal simples, apenas pode ser pelas duas formas e facilmente uma das duas pode
frustrar-se. Se pessoa indicou morada que é falsa, a notificação por contacto pessoal ou
por via postal registada frustra-se e se frustra-se e não se pode fazer por via postal
simples, então arguido não pode ser julgado. Se não for comparecer, temos uma
situação de contumácia. se existir termo de identidade, então já poderá haver
julgamento na sua ausência.
A importância do termo de identidade permite notificação por via postal
simples e vem ampliar possibilidades de julgamento na ausência.

Na versão originaria era diferente e a constituição em 97 vem permitir


julgamento na ausência. Parece não ser compatível com jurisprudência do tribunal
europeu dos direitos humanos e convenção dos direitos humanos, nem como due,
nomeadamente com uma diretiva que Portugal está obrigado a transpor e que impõe
que haja garantias solidas que o arguido não comparece na audiência de julgamento
porque não quer, apesar de saber a data de julgamento. O due exige que julgamento se
faça quando a não comparência resulte de ato de renuncia, em que seja expressa,
dizer que não quer, ou tácita, porque arguido sabe, mas não comparece. Mas o sistema
como está configurado não nos permite saber se arguido saiba, basta que haja
negligencia, esquece-se de informar a morada.
Também se exige nestes casos em que não é manifesto que tenha havido
renuncia a possibilidade de repetição do julgamento que o nosso código também não
assegura, tem que ser notificado por contacto pessoal da sentença e a sentença so é
executado quando for notificado por contacto pessoal e não recorra.

REAÇÃO AO DESPACHO DE ACUSAÇÃO:


Os modos de reação são dois: recurso e habeas corpus. São meios de reação
diferentes.
- recurso serve para impugnar despacho que aplique, substitua ou pretenda
manutenção de uma qualquer medida de coação;
- segundo serve para reagir perante medidas de privação de liberdade ilegais,
ilegais por se terem esgotado prazos ou pela sua génese.
O recurso impugna o despacho na sua génese, o habeas corpus reage à situação,
situação de prisão ilegal, porque foi aplicada fora dos pressupostos, quer a prisão seja
ilegal ou se tiver mantido fora dos prazos.

O recurso está no art 219, mas este art 219 apenas se refere a uma dimensão do
recurso, que é prazo para a decisão, em tudo o mais vale regras gerais, no art 411 prazo
para interposição de recurso, os critérios que deve obedecer interposição do recurso art
412. O art 219 apenas diz que prazo para decisão e de uma concreta espécie de recurso.
O recurso da decisão que aplique, substitua ou mantenha medidas de coação, o prazo
para decidir é de 30 dias.
Esta norma existia no código originário e havia discussão sobre saber se o que
estava no art 219 era prazo mais curto para decisão de certos tipos de recurso ou se
estava indiretamente a limitar o recurso a certos casos. Havia quem entendesse que o
que se está a dizer é que valem regras gerais quanto a legitimidade para recorrer e
interesse em agir, pode recorrer de qualquer decisão que aplique medida de coação, o
recurso pode ser feito pelo arguido, in bonam partem ou pelo mp contra o arguido, in
malam partem, mas quando recurso seja de decisão que comprima direitos do arguido,
esse recurso deve ser decidido em prazo mais curto. Se há restrição de df do arguido
deve ser aferida pelo tribunal superior com mais celeridade. Se não está em causa
restrição de df, então se não foi aplicada medida de coação, então não há pressa para
decidir, pode decidir alem dos 30 dias.
Mas há quem diga que esta norma refere legitimidade para agir, apenas poderá
haver recurso quanto ás decisões que mantenham a medida de coação, nas outras não
pode.
Em 2007, o legislador adere a 2º entendimento e restringe recurso in bonam
partem, deixa de ser possível recorrer em desfavor do arguido, apenas pode se recorrer
das decisões o arguido e o mp no interesse do arguido.
Mas em 2010, legislador voltou a solução anterior e pretende que a conceção
primeira valha. Pode recorrer de qualquer despacho dos que apliquem ou que não
apliquem, com prazo de 30 dias.

Fundamentos para recurso, podem ser qualquer uns:


- podem ser por violação de requisitos formais, aplicou-se prisão preventiva
para crime que apenas é punido com dois anos de prisão, é inadmissível, ou porque foi
aplicado por entidade errada.
- Ou requisitos materiais, em que a medida de coação é desproporcional no caso
concreto.

Temos habeas corpus que pode ser por detenção legal ou por prisão ilegal art
223. Por prisão ilegal pode ser por prisão preventiva ilegal ou como prisão enquanto
pena. Interessa a primeira modalidade.
Requerimento pode ser feito por qualquer preso ou de qualquer cidadão no gozo
dos seus direitos políticos, nos termos do art 222 nº1.
Não há formalidades especiais. É apreciado pelo stj num prazo célere, art 223
nº2, em 8 dias e por isso é que fundamentos tenham que ser estritamente formais, 223
nº2 enuncia que prisão determinada por quem não tinha competência, como pelo mp
em vez do juiz, ser motivado por factos que a lei não admite, para crimes com prisão
inferior a 5 anos ou se esgotarem-se os prazos.
Estes fundamentos porque razão?
Porque o habeas corpus é excecional e tem pouca tradição entre nós. É limitado
a sua aplicação visa-se atalhar as privações arbitrarias da liberdade e resolver situações
de flagrante ilegalidade e teria que ser assim para justificar o prazo curto de decisão.
A lei diz que o habeas corpus e recurso não estão sujeitos a situação de
litispendência ou caso julgado, pode recorrer-se e interpor-se providencia de habeas
corpus porque fundamentos podem não ser os mesmos. O habeas corpus é tao
excecional que não se circunscreve nos meios de recurso normal, o que gera
discrepância entre duas decisões.

Há medidas de garantia patrimonial, caução e arresto preventivo. A caução


carcerária que é medida de coação, e caução económica é medida de garantia
patrimonial, cumprem finalidade análogas às providencias cautelares no direito civil.
Estão sujeitas a fumus bonis iuris e periculum in mora.

Você também pode gostar