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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

DIREITO PROCESSUAL PENAL

SUMÁRIO

1.a. Princípios no Processo Penal. Do processo em geral e o processo penal na dimensão


dos direitos fundamentais. 2

1.b. Provas no Processo Penal: a prova documental e testemunhal. 4

1.c. Recursos no Processo Penal: Apelação. 6

2.a. Sistemas processuais. 8

2.b. Provas no Processo Penal: Reconhecimentos (pessoas e coisas). Acareação. Prova


pericial. 9

2.c. Os reflexos do Pacto de São José da Costa Rica no processo penal brasileiro. 10

3.a. Princípios da Ação Penal 11

3.b. Indícios e Questões Probatórias. 12

3.c. Recursos no Processo Penal: Embargos de Declaração, Embargos Infringentes e de


Nulidade e Embargos de Divergência. 13
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4.a. Princípios e questões relativas  aos Inquéritos Policiais e Investigações Criminais. 14

4.b. Buscas e Apreensões. Interceptações dos meios de comunicação em geral. 15

4.c. Revisão criminal. 17

5.a. Ação Penal: espécies e requisitos. 18

5.b. O assistente no processo penal brasileiro. 20

5.c. Sigilos: bancário, fiscal e telefônico. 21

6.a. Hipóteses e requisitos para arquivamento de inquéritos e investigações criminais. 22

6.b. Atuação do defensor como forma de tutelar a ampla defesa. 24

6.c. O Ministério Público e o Juiz no processo penal brasileiro. 26

7.a. Efeitos civis da sentença penal condenatória. Reparação do dano. 28

7.b. Funcionários da Justiça. Peritos e Intérpretes. 30

7.c. Cartas: precatória, de ordem e rogatória. 31

8.a. Princípio da proporcionalidade e processo penal. 32

8.b. Prisões. Espécies, requisitos e cabimento. 33

8.c. Habeas Corpus e Mandado de Segurança em matéria penal. 35

9.a. Organização judiciária penal. 36

9.b. Liberdade provisória no CPP e em legislações especiais. 38

9.c. Execução das penas privativas de liberdade. Requisitos. Hipóteses. Cabimento.


Atribuição. 39

10.a. Conflito de atribuições entre Membros do Ministério Público. Declínio de atribuição.


41

10.b. Perpetuatio jurisdictionis 42

10.c: Indulto, graça e anistia. 43

11.a. Jurisdição e Competência 45

11.b. Citações, notificações e intimações no CPP e em leis especiais. FALTANDO 46

11.c: Provas ilícitas 47

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12.a. Execução penal. Atribuições e competência. Participação do Ministério Público no


Conselho Penitenciário. 48

12. b. Sentenças. 49

12.c. Execução da pena de multa. Requisitos. Hipóteses. Cabimento. Atribuição. 50

13.a. Competência da Justiça Federal. 51

13.b.Transação Penal. 54

13c. Execução da pena restritiva de direitos. Hipóteses. Cabimento. Atribuições. 55

14.a. Questões prejudiciais. Exceções. Conflitos. 56

14.b. Recursos: princípios, pressupostos, requisitos e espécies em geral. 58

14.c. Juizados Especiais Criminais. 67

15.a. Medidas assecuratórias ou acautelatórias do CPP e de leis especiais. 69

15.b. Procedimentos relativos aos crimes de competência do Tribunal do Júri 71

15.c. Cooperação Internacional. Relações jurisdicionais com autoridade estrangeira 73

16.a. Proteção especial a vítimas e testemunhas. 74

16.b. Procedimentos Comum (ordinário, sumário e sumaríssimo) e Especiais. 76

16.c. Denúncia. Queixa. Legitimidade. Requisitos. Pressupostos em geral 79

17.a. Restituição de coisas apreendidas. Perdimento de bens. 82

17.b. Lei nº 9.034, de 03.05.1995. 83

17.c. Atos processuais: lugar, forma de realização, prazos e sanções. 85

18.a. Ação Penal originária. Competência, legitimidade e requisitos em geral. 86

18.b. Proteção e benefícios legais a réus ou investigados colaboradores 91

18.c. Recursos no Processo Penal: questões gerais. 93

19.a. Incidentes processuais: falsidade e insanidade mental. 95

19.b. Nulidades no Processo Penal. Princípios. 97

19.c. Procedimento relativo aos crimes de Responsabilidade (Lei n.º 1.079/50 e Decreto-Lei
nº 201/67). 99

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20.a. Prova no Processo Penal: princípios e disposições gerais. 102

20.b. Suspensão condicional do processo. 104

20.c: Recursos especial, extraordinário e ordinário. 107

21.a. Norma de direito processual penal no tempo. 109

21.b. Interrogatório do réu, confissão e perguntas. Procedimentos. Ordem da instrução


processual. 110

21.c: Recurso em sentido estrito. Agravos. Correição parcial. 111

22.a. Incompatibilidades e Impedimentos no Processo Penal 112

22.b. Procedimentos especiais. Ritos. 114

22.c. Procedimento relativo aos crimes de tráfico ilícito e uso indevido de drogas que
causam dependência física ou psíquica e de substâncias entorpecentes. 119

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1.a. Princípios no Processo Penal. Do processo em geral e o processo penal


na dimensão dos direitos fundamentais.
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 27º CPR; OLIVEIRA, Eugênio
Pacelli de. Curso de Processo Penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2014. TÁVORA, Nestor e
ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 3ª ed. Salvador: Jus
Podivm, 2009; LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 15ª Edição. Ed.
Saraiva; Lima, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 2ª edição.
Salvador: 2014.

Legislação básica: CRFB, art. 5º, a partir do inc. XXXIX e art. 129, I; Código de Processo
Penal.

Leituras complementares sugeridas: MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses


difusos em juízo, 20ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 33; ADI 3112 (proibição de proteção
deficiente); HC nº 104.410/RS, (descriminalização do crime de porte de arma desmuniciada
x Princípio da proibição de proteção insuficiente).

Pacelli adota uma noção de Estado Democrático de Direito orientada pela necessidade de
reconhecimento e de afirmação dos direitos fundamentais, não só como meta política, mas
como critério de interpretação do Direito, e, de modo especial, do Direito Penal e do Direito
Processual Penal. “E isso não só é possível como necessário, na medida em que a
intervenção penal vem explicitamente admitida no texto constitucional (ver, por exemplo,
referência expressa, aos crimes de racismo, de tortura, de drogas e entorpecentes, aos
crimes hediondos, bem como à garantia processual da ação privada subsidiária da pública
no caso de inércia do Ministério Público – art. 5º, XLII, XLIII, LIX, CF)” (2014, p. 32).

A partir dessa noção, defende que a tutela penal deve ser dirigida à proteção dos direitos
fundamentais no marco do Direito Penal de Intervenção Mínima, tendo como postulados de
interpretação constitucional a máxima efetividade dos direitos fundamentais e a proibição
de excesso (desdobramentos do princípio da proporcionalidade sistematizados pelo direito
alemão).

Para o autor, os postulados são abstrações deduzidas do sistema dos direitos fundamentais
que configuram a base do nosso ordenamento, como métodos de interpretação e aplicação
das normas jurídicas; já os princípios, tais como as regras, são normas jurídicas implícita
ou explicitamente positivadas nos textos constitucionais ou legais, cuja correta
interpretação só pode ser alcançada se em consonância com os postulados (2014, p. 32-33).

Como o CPP é um Decreto-lei (3.689/41) que tem nítida inspiração fascista, imperioso
proceder à sua ressignificação à luz dos princípios da CRFB/88. Natureza jurídica dos
princípios: normas jurídicas (pós-positivismo/ neoconstitucionalismo). Para Pacelli, os
princípios se apresentam como normas fundantes do sistema processual, sem os quais não
se cumpriria a tarefa de proteção dos direitos fundamentais, visto que o Direito Processual
Penal é essencialmente de fundo constitucional (2010, p. 37).

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Princípio do devido processo legal (art. 5°, LIV, CRFB/88): a) procedimental ou formal:
a pretensão punitiva deve perfazer-se dentro de um procedimento regular, perante
autoridade competente, tendo como alicerce provas validamente colhidas, respeitando-se o
princípio do contraditório e da ampla defesa; b) material: obediência à razoabilidade (STF,
HC nº 45.232), se divide em duas vertentes: I) negativa (proibição do excesso): essa
restrição é adequada a alcançar o fim desejado (adequação)? A restrição é menos gravosa
(necessidade)?; o valor protegido é mais importante que o restringido (proporcionalidade
em sentido estrito?; e II) positiva (dever de proteção ou “proibição de proteção
insuficiência – STF: RE nº 418.376 e ADI 3112): a Constituição prevê, como forma de
proteger os cidadãos, alguns mandados de criminalização; o Estado não é mais inimigo,
mas antropologicamente um amigo. O Direito Penal é locus propício de proteção aos
Direitos Fundamentais. Conferir STF, HC nº 104.410/RS, (descriminalização do crime de
porte de arma desmuniciada x Princípio da proibição de proteção insuficiente).

Garantismo integral x Garantismo penal hiperbólico monocular: interesse particular e


persecução penal por meio da proporcionalidade (Douglas Fischer).

Princípio acusatório: consiste a divisão das funções de acusar, defender e julgar entre
diferentes órgãos. Opõe-se ao Princípio inquisitório, em que há a concentração de duas ou
mais dessas funções nas mãos do mesmo órgão. No Brasil, há o predomínio do Princípio
acusatório (art. 129, I e art. 5°, LIII, CRFB/88 – conferir ADI 1570/2004), porém com
algumas mitigações. O art. 40, CPP, deve ser analisado sob a luz deste princípio e do da
independência funcional do MP (art. 127, §1º, CRFB/88), no sentido de que a atuação do
MP não está vinculada à análise do magistrado.

Princípio da igualdade ou da “paridade de armas”: corolário do devido processo legal,


consiste na concessão de tratamento isonômico às partes no curso do processo. A igualdade
deve ser analisada no aspecto material (“tratar os desiguais desigualmente, na medida de
suas desigualdades”).

Princípio do juiz natural: Origem: direito anglo-saxão, ligado à proibição de criação de


tribunal de exceção; já o direito norte-americano acrescentou a exigência de regra de
competência previamente estabelecida ao fato. O Direito brasileiro adota o princípio em
suas duas vertentes fundamentais: a) vedação ao tribunal de exceção (CRFB/88, art. 5º,
XXXVII); e b) competência para julgamento atribuída pela Constituição (em razão da
matéria e em razão da prerrogativa de função – ex.: art. 5º, XXXVIII, “d” e art. 52, I).

Juiz legal: conforme definido em lei. STF (HC nº 91.253): a criação de varas especializadas
não fere o principio do juiz natural. STJ (HC nº 109.456 – mudança de entendimento) /STF
(RE nº 597.133/RS, Repercussão Geral): o julgamento por Colegiado integrado, em sua
maioria, por magistrados de primeiro grau convocados não viola o princípio do juiz natural
nem o duplo grau de jurisdição, já que o recurso se dirige ao Tribunal e não aos
juízes/desembargadores que nele estejam atuando. Também pode contemplar a
obrigatoriedade do Juiz Imparcial. Identidade física do juiz no Processo Penal: presente no
Júri e agora, como regra, para todos os processos criminais (art. 399, §2°, CPP c/c art. 132,
CPC).

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Princípio do promotor natural: significa a vedação à designação arbitrária de membros


do MP, pela Chefia da Instituição, para patrocinar causas específicas. Tem havido uma
oscilação jurisprudencial sobre a matéria. STJ: não é simétrico como o juiz natural, diz
respeito a indicações manipuladoras feitas pelo Procurador-Geral (com viés político ou de
forma oportunista). STF: há precedente contrário (RE nº 387.974), mas há vários outros em
que reconhece a sua existência (leading case: HC nº 67.759). O princípio do promotor
natural deve ser um reforço ao principio da inamovibilidade e independência funcional
(MAZZILLI, p. 33).

Defensor Natural: A ideia de defensor natural consiste na vedação de nomeação de


defensor diverso daquele defensor público que tem atribuição legal para atuar na causa.
Vedam-se a nomeação de defensor dativo pelo juiz e designações arbitrárias do Defensor
Público Geral (TÁVORA, p. 60-61).

Contraditório: Art. 5º, LV, CRFB/88. Garantia de participação informada (debater toda
matéria decidida em juízo) = informação de qualquer fato contrário ao interesse da parte +
possibilidade de participação ou reação + paridade de armas, ou que a oportunidade da
resposta possa ser dada na mesma intensidade e extensão (aspecto substancial, Elio
Fazzalari). Ex. Súmula STF nº 707.

Ampla defesa: Art. 5º, LV, CRFB/88. Consiste na garantia de utilização pela defesa de
todos os meios admitidos em direito para provar suas alegações. Constitui-se em defesa
técnica (efetuada por profissional) e autodefesa (realizada pelo próprio imputado – direito
de ser ouvido em audiência e direito de presença aos atos), aspectos que se complementam
(RE nº 602.543-RG-QO). Ex. súmulas STF nº 523, 705 e 707.

Não basta a possibilidade em abstrato de uso de todos os meios de defesa pelo acusado – a
defesa tem que ser efetiva (ver observação sobre o aspecto substancial do contraditório).

Inocência presumida (“In dubio pro Reo” e “Favor Rei”): Tem três aspectos: a) quanto à
prova: ônus da prova do fato e autoria é da acusação (Pacelli entende que as excludentes de
ilicitude e culpabilidade devem ser provadas pelo réu); b) quanto ao tratamento: o réu, em
nenhum momento do iter persecutório, pode sofrer restrições pessoais fundadas
exclusivamente na possibilidade de condenação – parcimônia no manejo da prisão
processual e do indiciamento do investigado – desconsideração de processo em que não
haja condenação definitiva para fins civis; c) quanto à restrição da liberdade: não há prisão
cautelar obrigatória – vedação de execução provisória da pena antes do trânsito em julgado
da sentença condenatória.

Direito ao silêncio e não autoincriminação (“Nemo tenetur se detegere”): origem


histórica no direito anglo-saxão. Permite que o acusado permaneça em silêncio durante toda
investigação e em juízo e impede que ele seja compelido a produzir ou contribuir com a
prova contrária ao seu interesse (art. 5°, LXIII, CRFB/88).

Extensão e limites no direito brasileiro: o interrogatório como meio de defesa (STF: HC


94.016) – a mera recusa de manifestação por parte do paciente não pode ser interpretada em
seu desfavor para fins de decretação de prisão preventiva (STF: HC nº 91.514); proteção

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contra o interrogatório sub-reptício; proteção contra a mentira em interrogatório – permite o


réu selecionar as perguntas que vai responder; não protege contra elementos de prova real
que se tenha tornado, por livre vontade do sujeito passivo, rei derelictae (ex.: é possível
fazer DNA a partir de copo jogado no lixo). O STJ entende que é possível inclusive usar
documento falso (HC 130.309/MS); para STF, há crime (HC nº 1.003.314/MS).

“Direito de mentir”: bastante polêmico. Há doutrinadores que defendem que, por conta do
direito ao silêncio, o acusado teria direito de mentir em juízo; para outros doutrinadores, há
apenas a inexigibilidade da verdade, pois, no Brasil, o perjúrio (mentira contada pelo
acusado) não é tipificado – contudo, se a mentira do acusado incriminar terceiro inocente,
deverá responder pelo crime denunciação caluniosa. Também é crime a conduta de acusar-
se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem, nos termos do art.
341 do CP – crime de autoacusação falsa – (Renato Brasileiro, 2014, p. 81). OBS: a
vedação à autoincriminação não pode ser oposta em relação à identificação falsa do
acusado, hipótese em que poderá responder pelo crime de identidade falsa (STF, RE
640.139; STJ, HC 151.866).

Vedação de revisão pro societate: impede que alguém possa ser julgado mais de uma vez
pelo mesmo fato do qual já tenha sido absolvido, por decisão passada em julgado.
Consagrado no Pacto do São José da Costa Rica (art. 8.4). STF: não se aplica o princípio no
caso de extinção de punibilidade baseada em certidão falsa de óbito, podendo ser retomado
o processo (HC nº 84.525). Arquivamento (por atipicidade) proferido por juiz
absolutamente incompetente faz coisa julgada material (HC nº 83.346).

Proibição de prova ilícita (art. 157, CPP): Prova ilícita: violação do direito material.
Prova ilegítima: violação do direito processual. Fonte independente: a prova é ilícita por
derivação, mas, se for possível chegar ao mesmo resultado por outra fonte de prova, não
haverá qualquer ilicitude (STF: HC nº 83.921). Descoberta inevitável: por juízo de
probabilidade, se demonstrada que a prova seria descoberta independentemente da prática
de ato ilícito/ilegítimo (não é considerada ilícita. STJ: HC nº 52.995).

STF: admite a utilização de provas ilícitas/ilegítimas no processo penal em caráter


excepcional e exclusivamente em favor da defesa, após efetuada a ponderação de interesses
com outros princípios constitucionais (ex.: dignidade da pessoa humana).

Princípio da demanda: Correlação entre acusação e sentença – impossibilidade de o juiz


imputar ao réu, de ofício, fatos não descritos na peça acusatória. Fundamenta o instituto da
mutatio libelli. O STF admite que o MP pode re-denunciar um acusado por outros fatos
ocorridos no mesmo contexto, ao argumento de que “a ofensa à coisa julgada exige a
identidade de causa, caracterizada pela identidade do fato, sendo que esta não se verifica
no caso de alteração de um dos elementos que o constitui (tempo, lugar, conduta imputada
ao agente)” (HC nº 82.980).

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Pontos prova oral: 5. Fale sobre os princípios do processo penal.

6. Fale sobre a ampla defesa, a atuação do defensor e a ausência de alegações finais


pelo defensor constituído. Comente sobre o procedimento a ser adotado nesse caso, a
natureza da nulidade e a posição do STF.

7. Fale sobre a imparcialidade do juiz quando atua na fase pré-processual. Qual a


finalidade dessa atuação? Existe reserva de jurisdição?

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1.b. Provas no Processo Penal: a prova documental e testemunhal.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 27º CPR; OLIVEIRA, Eugênio
Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2012. TÁVORA, Nestor e
ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 3ª ed. Salvador: Jus
Podivm, 2009; TÁVORA, Nestor e ROQUE, Fábio. Código de Processual Penal para
concursos. 3ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2012.

Legislação básica: Código de Processo Penal, arts. 231 a 238.

Prova Documental: Segundo Nucci, documento é toda base materialmente disposta a


concentrar e expressar um pensamento, uma ideia ou qualquer manifestação de vontade do
ser humano, que sirva para expressar um fato juridicamente relevante. Segundo PACELLI,
a sua característica principal é a originalidade – daí consideram-se prova documental não
somente os escritos, mas também as provas fotográficas, cinematográficas e desenhos (p.
428-429).

Classificações de documentos:

a) quanto à origem: a.1. Públicos ou oficiais; a.2. Particulares ou privados.

b) quanto à forma: b.1. Originais; b.2. Cópias.

O parágrafo único do art. 232 do CPP assenta que à fotografia do documento devidamente
autenticada, se dará o mesmo valor do original. Nessa linha, o STF já decidiu que a
fotocópia autenticada de cheque tem o valor de corpo de delito.

OBS: Depoimentos prestados em cartório por terceiros sobre um fato criminoso que tenha
presenciado não são prova documental, e sim testemunhal!

OBS: Pareceres opinativos não se equiparam a documentos públicos, não havendo


necessidade sequer de abertura de vista para a parte contrária (STF, RHC nº 94.350/SC).

A valoração dos documentos é feita quanto a dois aspectos: a) verdade ou veracidade dos
fatos representados ou comunicados (em relação ao conteúdo); b) autenticidade (em relação
à forma).

A produção do documento pode ser espontânea ou provocada (art. 234, CPP).

Momento da produção: em regra, a qualquer momento (princípio da liberdade


probatória), inclusive por requisição do juiz da causa (art. 156, II, CPP).

Exceção: art. 479, CPP – proibição de utilização de documento em plenário do Júri que
não tiver sido comunicado à parte contrária com antecedência, pelo menos, de 03 dias.

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OBS: PACELLI reputa indispensável, a despeito do disposto no art. 236, CPP, a atuação do
tradutor em relação aos documentos em língua estrangeira, mesmo que juiz da causa tenha
conhecimentos sobre o respectivo idioma, até mesmo como forma de preservação da
imparcialidade do julgador (p. 429). No mesmo sentido, TÁVORA (Código, p. 342).

Prova Testemunhal: Testemunha é todo indivíduo estranho ao feito (não é vítima nem o
acusado) e equidistante das partes, chamado ao processo para falar sobre fatos perceptíveis
a seus sentidos e relativos ao objeto do litígio.

Características:

(a) Judicialidade – em regra, deve ser produzida em juízo, durante a audiência de


instrução e julgamento, logo após o depoimento do ofendido (art. 400, CPP).

Cuidado! Regras especiais de oitiva de testemunhas: (1) o depoimento da testemunha


residente em outro foro será tomado por meio de carta precatória, rogatória ou de ordem;
(2) as pessoas impossibilitadas de comparecerem por motivo de enfermidade ou doença
serão ouvidas onde estiverem (art. 220, CPP); (3) a testemunha presa poderá ser interrogada
por meio de videoconferência (art. 185, §8º, CPP c/c Lei nº 11.900/09); (4) as pessoas
elencadas no art. 221, CPP, têm a prerrogativa de ajustarem previamente com o juiz dia,
hora e local para a colheita do testemunho.

Súmula STF nº 155: “É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da
expedição de precatória para inquirição de testemunha.”

Súmula STJ nº 273: “Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se


desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado.”

(b) Oralidade – em regra, deve ser colhida verbalmente em contato direto com o juiz e as
partes (art. 204, CPP). Não se veda, entretanto, breve consulta a apontamentos. Quando a
testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intérprete para traduzir as
perguntas e respostas (art. 223, CPP).

Exceções: do mudo, do surdo e do surdo-mudo (art. 192, CPP); possibilidade de certas


autoridades prestarem depoimento por escrito.

(c) Objetividade – o depoimento deve versar sobre os fatos, sem juízo valorativo. A
testemunha não dá parecer ou opinião, somente expõe sua percepção sensorial.

(d) Retrospectividade – o objeto do testemunho são fatos passados.

(e) Imediação – a testemunha deve narrar aquilo que captou imediatamente por meio dos
sentidos;

(f) Individualidade – cada testemunha presta seu depoimento isolada da outra.

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Espécies de testemunhas: (1) Numerárias; (2) Extranumerárias (ouvidas por iniciativa


do juiz (art. 209, CPP), referidas, informantes etc.); (3) Próprias; (4) Impróprias
(instrumentais ou fedatárias); (5) Diretas (“de visu”); (6) Indiretas (“de auditu”); (7)
Laudatórias ou de antecedentes; (8) Testemunha da coroa ou infiltração (agente
infiltrado – Leis nº 9.034/95 e 11.343/06).

Quantidade de testemunhas (número fixado por fato delituoso):

- Procedimento comum ordinário: 08;

- Procedimento comum sumário: 05;

- Procedimento comum sumaríssimo (JECRIM): a Lei nº 9.099/95 é omissa; a doutrina


sugere 03;

- Procedimento do Júri: 08, na primeira fase; 05, na segunda fase.

Em regra, todas as pessoas podem ser testemunhas (art. 202, CPP), inclusive menores,
incapazes, crianças, silvícolas, policiais, juízes, promotores, etc.

Exceção: Estão proibidas de depor as pessoas que em razão de função (ocupação de


natureza pública), ministério (encargo de natureza religiosa ou social), ofício (atividade
manual) ou profissão (atividade predominantemente intelectual) devam guardar segredo,
salvo se, desobrigadas pela parte interessada e não proibidas por regulamentação
pertinente, quiserem dar seu testemunho (art. 207, CPP).

OBS: Corréu não pode ser testemunha no mesmo processo em que foi processado! O
(cor)réu fala no momento do interrogatório e goza da garantia da vedação à
autoincriminação (art. 5°, LXIII, CRFB/88).

Situações especiais:

(I) Estão obrigadas a depor, mas não se lhes defere compromisso os “doentes e
deficientes mentais e aos menores de 14 anos” (art. 208, CPP).

(II) Não são impedidos de depor o ascendente, o descendente, o parente afim em linha
reta, o cônjuge, ainda que desquitado, e o irmão (art. 206, CPP) – insere-se ainda o
companheiro, por equiparação ao cônjuge; mas têm o direito de se recusarem a fazê-lo,
salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e
de suas circunstâncias. Caso optem por prestar depoimento, farão sem compromisso,
devendo ser ouvidas como simples informantes do juízo.

OBS: Em ambos os casos, por não precisarem prestar compromisso de dizer a verdade,
chamam-se as pessoas dos artigos 206 (quando puderem se recusar) e 208 de dispensados.

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Depoimentos prestados em cartório por terceiros sobre um fato criminoso que tenha
presenciado são provas testemunhais; “Entretanto, presta-se unicamente a demonstrar o
fato de ter alguém comparecido na presença de outro e ali afirmado o que consta no
documento. Em nenhuma hipótese pode-se extrair a veracidade do fato afirmado, mas tão
somente de sua afirmação. É, inclusive, o que se contém nos arts. 364 e 368, parágrafo
único, ambos do CPC, aplicáveis, se necessário, por analogia” (PACELLI, p. 429)!

1ª OBS Vitaminada: Forma de inquirição das testemunhas – Sistema do Cross


examination. Após a reforma processual de 2008, empreendidas pela Lei nº 11.690/08, a
forma de inquirição das testemunhas passou a ser feita diretamente pelas partes,
primeiramente, por quem a tiver arrolado como testemunha, em seguida, pela parte ex
adversa, e, por último, pelo juiz que presidir a instrução, o qual, diante do exame direto e
cruzado das perguntas feitas pelas partes, formulará perguntas às testemunhas sobre pontos
não esclarecidos, complementando a inquirição (Brasileiro, p. 665). É o que se extrai do art.
212 do CPP: “As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente pela testemunha,
não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a
causa ou importarem na repetição de outra já respondida. Parágrafo único. Sobre os
pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição”. Tal modificação veio
contribuir para reafirmação do sistema acusatório adotado pela CFRB, abolindo, por sua
vez, o sistema presidencial - no qual o juiz perguntava primeiro e as partes, em seguida,
faziam as perguntas por seu intermédio. A partir de tais mudanças, a produção da prova
oral tornou mais efetivo o exame direto e cruzado do contexto das declarações, melhor
delineando as atividades de acusar, julgar e defender. Vale ressaltar que, muito embora
delineada tais funções, nada impede que o juiz tenha iniciativa probatória para o fim de
esclarecer pontos que ficaram obscuros, após as perguntas das partes, e mesmo para
determinar a oitiva de outras pessoas referidas ou referenciadas pelas testemunhas já
ouvidas. Bem esclarecedora é a lição de Renato Brasileiro (p. 666): “em virtude da
alteração do art. 212 do CPP, a testemunha será colocada, inicialmente, em contato direto
com as partes, sendo inquirida, primeiramente, por quem a arrolou (direct-examination) e,
em seguida, submetida ao exame cruzado pela parte contrária (cross-examination),
cabendo ao magistrado, nesse momento, apenas decidir sobre a admissibilidade das
perguntas, indeferindo aquelas que possam induzir a resposta, não tenham relação com a
causa ou importem na repetição de outra já respondida. Posteriormente, defere-se ao
magistrado a possibilidade de complementar a inquirição quanto aos pontos não
esclarecidos”.

Prova oral MPF: 13. O que é documento? Resposta Vitaminada, à luz de Renato
Brasileiro (p. 677), o conceito de documento pode ser abordado de forma estrita e de modo
amplo. Numa concepção mais restrita, considera-se documento qualquer escrito,
instrumento ou papel, público ou particular, que condensa o pensamento de alguém, sendo
apto a provar um fato ou a realização de algum ato dotado de relevância jurídica. Já numa
concepção mais ampla, pode-se conceituar documento como qualquer objeto que represente
um fato ou ato relevante, como, p. ex., fotografias, filmes, desenhos, esquemas, e-mails,
etc.

Retirado do material MPF: 14. Qual é a oportunidade em que se pode juntar documento
aos autos? Resposta Vitaminada: Em regra, em qualquer fase do processo, a todo

13
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

momento, desde que não tenham propósito protelatório ou tumultuário, hipótese em que o
julgador poderá indeferir a juntada e, se já juntado, determinar o desentranhamento.
Contudo, há exceção, vejamos: com a vigência da Lei nº 11.689/08 e a redação dada ao art.
479 do CPP, não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto durante o
plenário do júri que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três)
dias úteis, dando-se ciência a outra parte (Renato Brasileiro, p. 679).

15. A juntada de documento (extrato bancário) encaminhando pelo Ministério Público


dos EUA, por meio do contato direto, sem tradução, causa nulidade ou anulabilidade?
Resposta Vitaminada: Segundo o art. 236 do CPP, os documentos em língua estrangeira,
sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se necessário, traduzidos por tradutor público,
ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade. Para Renato Brasileiro (p. 680),
não é causa de nulidade ou de anulabilidade, se o documento não vier a interessar ao fato
delituoso. Contudo, se vier a interferir no acertamento desse fato, é causa de nulidade
relativa, devendo ser arguida oportunamente, sob pena de preclusão, além de ser necessária
a comprovação do prejuízo.

16. Fale sobre a evolução do sistema probatório brasileiro no que tange à oitiva de
testemunhas. Vide cross examination acima tratado.

17. Fale sobre a oitiva do réu por precatória e por videoconferência. Tema a ser
tratado no estudo dos procedimento.

18. Quem exerce o poder de polícia em audiência? Como é o procedimento do júri?


Ver o ponto respectivo.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

1.c. Recursos no Processo Penal: Apelação.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR; OLIVEIRA, Eugênio
Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2012. TÁVORA, Nestor e
ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 3ª ed. Salvador: Jus
Podivm, 2009; TÁVORA, Nestor e ROQUE, Fábio. Código de Processual Penal para
concursos. 3ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2012. Lima, Renato Brasileiro. Manual de
Processo Penal. Volume único. 2ª edição. Salvador: 2014.

Legislação básica: Código de Processo Penal.

Cabimento: Em regra, a apelação dirige-se apenas às sentenças (art. 593, I e III) e às


decisões definitivas ou com força de definitiva, salvo se recorríveis por Recurso em
Sentido Estrito (art. 593, II CPP – ex.: decisão que julga pedido de restituição de coisa
apreendida; sequestro, pedido de especialização de hipoteca legal ou arresto, etc.).

Excepcionalmente, por força expressa de texto legal, caberá em relação a decisões de outra
natureza, como a impronúncia e a absolvição sumária (art. 416 do CPP) e a que rejeita a
denúncia ou a queixa no JECRIM (art. 82 da Lei nº 9.099/95).

Prazo: nos termos do CPP, 05 dias para interposição, em petição escrita ou termo nos
autos, e apresentação das razões no prazo de 08 dias, podendo estas serem apresentadas
diretamente na instância superior. O prazo para apresentação de contrarrazões é de 08 dias,
o mesmo para apresentação das razões.

Apelação nos crimes de menor potencial ofensivo: interposição em 10 dias, já


acompanhada de razões (art. 82 da Lei nº 9.099/95), sendo este prazo também para a
apresentação das contrarrazões.

Pacelli sustenta que apenas a defesa poderá optar em arrazoar diretamente no 2º grau
de jurisdição (art. 600, § 4º), na medida em que o órgão do MP de primeiro grau não tem
capacidade postulatória para peticionar perante o juízo ad quem e o órgão de segundo grau
deve ter sua independência funcional assegurada.

Súmula STF nº 448: “O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr
imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público”, independentemente da
ordem de intimação, ou seja, se intimado primeiro o assistente, seu prazo começará a correr

15
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

depois do MP. Se intimado depois do MP, o prazo recursal do assistente começará a correr
da intimação.

Efeitos: Como regra, efeito suspensivo (princípio da presunção de não culpabilidade, ou da


inocência) e efeito devolutivo amplo (“tantum devolutum quantum appellatum”). Pacelli
sustenta que, como pode ser interposta até por termo nos autos, a simples manifestação de
vontade de recorrer bastará para a completa devolução da matéria, restringindo-se o efeito
devolutivo apenas quando o recorrente deseja impugnar parte do julgado, limitando-
se àquela matéria impugnada.

Exceção ao efeito devolutivo amplo: Súmula STF nº 713 (“O efeito devolutivo da apelação
contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição”).

Em razão do efeito suspensivo, além da exigência constitucional de toda prisão decorrer de


ordem escrita e fundamentada de juiz competente, a regra é que o réu apele em liberdade,
impondo-se ao juiz, no caso de condenação, fundamentar a necessidade de manutenção ou
decretação de eventual prisão preventiva, à luz do art. 312 do CPP, impondo-lhe também a
imediata soltura do réu, em caso de absolvição (STF, HC nº 88.420); o STF adotou este
entendimento também em relação ao art. 59 da Lei de Drogas (HC nº 103.529-MC/SP).
Pacelli vislumbra inconstitucionalidade de todas as disposições da legislação esparsa que
vedam expressamente o réu apelar em liberdade (art. 9º Lei 9.034/95; Lei 8.072/90,
9.613/98), as quais padecem do mesmo vício do agora revogado art. 594 do CPP
(condicionava o direito de apelar ao recolhimento à prisão).

Súmula STJ nº 347: “O conhecimento do recurso de apelação do réu independe de sua


prisão”.

Exceção ao efeito suspensivo na apelação: sentença absolutória (art. 596, caput, CPP).

Há a vedação da reformatio in pejus na apelação exclusiva da defesa, como manifestação


da ampla defesa, impedindo-se o agravamento da situação do réu (art. 617, CPP).

No rito do Júri, a soberania popular obstaculizará a vedação da reformatio in pejus,


podendo validamente ser agravada a situação do réu em novo julgamento pela anulação do
anterior (e não pelo Tribunal que julgar a apelação, uma vez que a apelação, caso
procedente, apenas anulará o julgado), em decorrência do reconhecimento de circunstâncias
agravantes, causas de aumento, qualificadoras, não apreciadas ou rejeitadas no primeiro
julgamento. Todavia, caso a nova decisão seja igual à anterior em termos de definição do
crime e suas circunstâncias, o juiz-presidente do Júri não poderá agravar a situação do réu
exclusivamente por ocasião da dosimetria da pena. Há também a vedação da reformatio in
pejus indireta, por meio da qual, no caso de anulação da sentença, por qualquer vício
(exceção à incompetência absoluta, quando ela é incabível), a nova decisão não poderá
superar a condenação imposta anteriormente – ressalvados, como visto, os casos do
Tribunal do Júri.

Processamento: envolve a questão prévia relativa ao juízo de admissibilidade, devendo a


apelação mostrar-se tempestiva e adequada (de preencher os requisitos dos incisos I e III do

16
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

art. 593, CPP, é preciso que não se trate de hipótese impugnável por Recurso em sentido
estrito, sob pena de ofensa ao princípio da unirrecorribilidade das decisões judiciais), sendo
apresentada por quem tem legitimidade e interesse. Recebida a apelação pelo órgão de
primeiro grau, serão atribuídos, em regra, os efeitos devolutivo e suspensivo (art. 597,
CPP), ressalvada a fundamentação na sentença em sentido contrário.

Encerrados os prazos para oferecimento de razões, os autos serão remetidos ao tribunal ad


quem, com ou sem razões, no prazo de 05 dias (art. 601, CPP). Os tribunais superiores
vinham se manifestando pela facultatividade da medida, alterando-se aparentemente a
orientação em decisão recente do STJ – caso o apelado seja o acusado, a falta de
apresentação de contrarrazões pelo defensor constituído, enseja intimação do réu para nova
constituição; persistindo a inércia, haverá a designação de defensor público ou dativo para o
ato, tido como essencial à ampla defesa.

Enunciado n. 23 da 2ª CCR do MPF: é dever funcional do membro do MPF apresentar,


fundamentadamente, contrarrazões em recurso de apelação, por força do princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública.

Ao chegarem ao Tribunal, os autos serão distribuídos ao relator, havendo necessidade de


um revisor caso se trate de delito com pena de reclusão. Na 2ª instância, o MP terá vista dos
autos na condição de custos legis, para exarar parecer no prazo de cinco dias. Em relação à
ordem de manifestação, Pacelli defende que a acusação deverá falar primeiro quando em
recurso exclusivo do MP e em recurso de ambos (acusação/defesa), de sorte que, em
recurso exclusivo da defesa, esta deverá falar antes da acusação, como exigência do
contraditório, qualquer que seja o conceito de parte adotado.

Estando pronto o processo, o relator pedirá dia para julgamento, solicitando inclusão em
pauta (art. 610, caput, CPP). Não há possibilidade de aplicação de mutatio libelli pelo órgão
de 2ª instância (Súmula STF nº 453). Já a emendatio libelli (alteração da classificação do
fato imputado) é perfeitamente possível (arts. 617 c/c 383, 386 e 387, CPP), desde que a
pena não seja agravada, se houver apenas recurso exclusivo da defesa.

Súmula do STJ:

347: O conhecimento de recurso de apelação do réu independe de sua prisão.

Informativo do STF

- Nº 739

Nulidade pela juntada posterior do voto vencido na apelação


A juntada do voto vencido em momento posterior à publicação do acórdão afronta o
princípio da ampla defesa, a ensejar que o tribunal de origem proceda a novo juízo de
admissibilidade do recurso cabível. Com base nessa orientação, a 2ª Turma deferiu, em
parte, “habeas corpus” para reconhecer a nulidade da certidão de trânsito em julgado da
condenação e determinar ao tribunal de justiça que, superada a intempestividade do recurso
interposto, proceda a novo juízo de admissibilidade. Determinou, ainda, fosse oficiado ao

17
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

juízo das execuções para sobrestar o andamento da execução e recolher o mandado de


prisão. Na espécie, o acórdão da apelação fora publicado em determinada data, a constar
decisão unânime, e o voto divergente a ele fora juntado posteriormente. A Turma asseverou
que, ante a ausência do mencionado voto, a defesa teria sido impedida de verificar os
fundamentos e a extensão da divergência para apresentar o recurso cabível. Acentuou que
esse fato não poderia ser tratado como mera irregularidade, em face do manifesto prejuízo
ao paciente. HC 118344/GO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/3/2014.

18
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

2.a. Sistemas processuais.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR; OLIVEIRA, Eugênio
Pacelli de. Curso de Processo Penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010 e 18ª ed.
São Paulo, Atlas, 2014; NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal
Comentado. 9. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009; OLIVEIRA, Eugênio
Pacelli de, FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de Processo Penal e sua
Jurisprudência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010; Curso Alcance – MPF2012 – 1a e 2a
fase – Processo Penal; Edilson Mougenot Bonfim, Curso de Processo Penal, 2012, 7ª
Edição.

Legislação básica: Art. 5º, incisos LIV, LV E LVI, CR. Inúmeros dispositivos esparsos do
CPP.

A caracterização de um sistema processual depende do exame dos seguintes pontos: a)


quem exerce a jurisdição; b) se o juiz pode iniciar um processo de ofício; c) quem é
legitimado a propor a ação penal e se ela é popular, privada ou pública; d) se as funções de
julgar e acusar são atribuídas a órgãos distintos; e) se o réu é sujeito de direitos ou não; f) se
o procedimento é escrito, oral, público ou secreto; g) se o contraditório é observado; h)
como é feita a valoração das provas e i) se há recurso. Com base nestes pontos e na
evolução histórica do processo penal, a doutrina distingue, basicamente, três sistemas
processuais: inquisitório, acusatório e misto.

Confusão conceitual: “Na verdade, não existem dois sistemas nos quais se possa configurar
o processo, um inquisitório e outro acusatório”, ensina Montero Aroca, “mas dois sistemas
de atuação do Direito penal pelos tribunais, dos quais um é não processual, o inquisitório, e
outro sim é processual, o acusatório”. A rigor, a denominação “processo inquisitório”
somente tinha pertinência em um momento histórico — na época das monarquias absolutas
— em que não havia uma bem demarcada distinção entre as funções administrativas e as
jurisdicionais, confiando-se ambas as funções aos distintos órgãos a um só tempo, e os
então impropriamente chamados “tribunais” aplicavam penas sem a realização de um
processo. Logo, eram “inquisitoriais”, mas não configuravam, obviamente, um sistema
processual. Assim, a denominação “processo inquisitório” parece-nos incorreta, pois “não
foi e não pode ser, obviamente, um verdadeiro processo (Edilson Mougenot Bonfim, Curso
de Processo Penal)

Perguntas do oral do 26º: 3) Sistema acusatório e inquisitório. Natureza jurídica do


arquivamento: decisão judicial que tem o condão de produzir coisa julgada formal, já que a
reabertura das investigações está condicionada ao surgimento de novas provas; 25) Quais

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

os direitos relacionados no pacto de San José no que toca ao processo penal? Provas, provas
ilícitas. O que são e pra que servem o reconhecimento e a acareação. O reconhecimento
pode se feito por foto? A acareação viola o nemo tenetur? Quais os sistemas processuais?
Quais as características do sistema inquisitório no CPP?

Inf. nº 514 do STJ:


DIREITO PROCESSUAL PENAL. RECONHECIMENTO DO RÉU POR
FOTOGRAFIA. Para embasar a denúncia oferecida, é possível a utilização do
reconhecimento fotográfico realizado na fase policial, desde que este não seja utilizado de
forma isolada e esteja em consonância com os demais elementos probatórios constantes dos
autos. HC 238.577-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 6/12/2012.

Sistema Acusatório: surge na antiguidade clássica (Grécia e Roma). Funções de acusar e


julgar são exercidas por sujeitos processuais distintos. O processo é iniciado pelo exercício
da ação penal, deduzida por órgão de acusação. O acusado é sujeito de direitos, não objeto
de investigação probatória. A verdade é obtida pelo debate em contraditório, não pela
pesquisa. Vigem os princípios da oralidade e publicidade (Pacelli fala que o processo
verbal é característico do sistema inquisitório, p. 10, ed. 2012). A valoração das provas
segue o sistema da persuasão racional, salvo no tribunal do júri (íntima convicção). Há forte
conexão entre o sistema acusatório e o regime democrático. EUA e Inglaterra adotam um
sistema acusatório puro ou de partes, no qual o juiz assume posição absolutamente inerte e
imparcial. De acordo com Pacelli, o sistema acusatório brasileiro “Por certo que não se trata
de um modelo adversary, ou de partes, tal como é o modelo estadunidense, em que o juiz
se afasta completamente de quaisquer funções probatórias, limitando-se ao controle de
legalidade na instrução judicial. Já o dissemos aqui e repetimos: tal modelo parece-nos
medieval, tomando como premissa legitimadora uma suposta igualdade de partes. Essa
igualdade, ainda que abstratamente comprovada, não pode justificar uma decisão
condenatória fundada em uma insuficiência da defesa. Igualdade processual, abstrata ou
concreta, justifica um processo de partes exclusivamente em matéria não-penal, no bojo do
qual se discute a titularidade de direitos subjetivos. Em processo penal, jamais” (p. 15).
Segundo Pacelli, a CRFB, ao consagrar direitos fundamentais do réu, ao impor a
fundamentação das decisões judiciais e ao erigir instituição autônoma e independente como
titular da ação penal (MP), adotou o sistema acusatório. Porém, diz ele, nosso sistema não é
o acusatório puro ou de partes, pois o juiz não é absolutamente inerte, possuindo iniciativa
probatória subsidiária (sanação de dúvidas) e, também, em favor do réu (isonomia
material). A título de exemplo, vale lembrar que o STF já assentou, “por imperativo do
princípio acusatório, a impossibilidade de o juiz determinar de ofício novas diligências de
investigação no inquérito cujo arquivamento é requerido” (HC 82507/SE, Relator o
Ministro Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 10.12.2002). Delegado de
polícia, no inquérito, pode representar ao juiz para uma prisão ou qualquer medida cautelar
e o juiz deferir sem ouvir o MP? Não, pois as disposições infraconstitucionais devem ser
interpretadas de acordo com a CF. As normas que autorizam o delegado a pedir essa
medida cautelar sem a oitiva do MP são contrárias ao sistema acusatório, pois o MP é o
titular da ação penal, então a ele cabe avaliar e, se for o caso, postular pelas medidas
acessórias, instrumentais, que são as medidas cautelares, não podendo ser essas medidas
deferidas sem a oitiva dele. O delegado não pode requerer diligências porque ele não é

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

titular da ação penal, do contrário, os delegados estariam substituindo o MP. O delegado


tampouco possui capacidade postulatória, tanto que ele não requer, ele representa, tanto é
que, se a representação for negada, ele não pode recorrer. Essa é a posição da 2ª Câmara de
Coordenação e Revisão do MP. Processo : 1.00.001.000095/2010-86 Ementa : A restrição
ao direito à intimidade do suspeito, quanto aos dados bancários, telefônicos ou tributários,
também só podem ser requerida, pela mesma razão, pelo titular da ação penal, que tem
legitimidade e capacidade postulatória e atribuição para verificar se a restrição de direito
é necessária para a persecução penal ou se a prova já coligida é suficiente para embasar
ação penal ou mesmo se há excludente de culpabilidade que impeça a persecução penal,
tornando desnecessária a medida assecuratória. Decisão: Acolhido por unanimidade o
voto da Relatora.

Sistema Inquisitório: surge no fim da Idade Média e se estabelece no Estado Absolutista.


Como reflexo do poder absoluto do soberano, a figura do inquisidor reúne todas as funções
processuais. As funções de acusar e julgar são exercidas pelo inquisidor. O processo é
iniciado pelo próprio inquisidor, que também possui ampla iniciativa probatória. O acusado
é mero objeto de prova, sem direito ao contraditório ou à ampla defesa. O processo é
predominantemente escrito e sigiloso (para Pacelli, é verbal e em segredo, p. 10, ed. 2012).
A valoração das provas segue o sistema de provas tarifadas, sendo a confissão a prova
máxima, normalmente obtida mediante tortura. O nosso CPP, em sua redação original e
antes de receber os influxos da CRFB, possuía forte perfil inquisitório. Influenciado pelo
processo penal fascista italiano, o CPP assentava-se na presunção de culpabilidade do réu –
apregoada por Manzini –, na ampla iniciativa probatória do juiz, inclusive na fase
investigativa, justificada pela busca da verdade real, e no interrogatório como simples meio
de prova. Prova oral do 25o CPR: Dê exemplos de resquícios inquisitivos no processo
penal brasileiro. Para Pacelli, o sistema inquisitório foi inteiramente superado. Entretanto,
traz crítica ao art. 156, o qual faculta ao juiz, de ofício, ordenar, mesmo antes de iniciada a
ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, e o
considera violação patente – e recente – do sistema acusatório (p. 11 e 12, ed. 2012).
Ademais, ainda segundo Pacelli, somente se pode entender sistemas processuais a partir da
deflagração do processo, tudo antes são meros procedimentos informativos, de modo que a
atuação do juiz será examinada no curso do processo. Assim, a atuação do juiz na fase pré-
processual se limitará a tutela das liberdades públicas, não podendo determinar a prisão
cautelar, antes de ajuizada a respectiva ação penal (Pacelli, p. 14 e 15, ed. 2014).

Sistema Misto ou de Fases: surge no século XIX, tendo como marco o Código de
Instrução Criminal da França, de 1808. O processo é dividido em fases: investigação, de
caráter predominantemente inquisitivo, a cargo de um juízo de instrução, e julgamento, na
qual prevalecem os cânones do sistema acusatório. Pacelli adverte que nossa doutrina,
levando em consideração a existência da fase investigativa inquisitiva (inquérito policial ou
outras investigações administrativas), erroneamente classifica como misto o nosso sistema.
Ora, diz ele, inquérito policial não é processo, é procedimento e servirá como meros
elementos informativos, logo não pode servir de critério de caracterização do sistema

21
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

processual. Nosso sistema não é misto, mas acusatório.

Prova oral MPF: 1. Explique os sistemas processuais penais inquisitivo e acusatório.

2. Dê exemplos de resquícios inquisitivos no processo penal brasileiro.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

2.b. Provas no Processo Penal: Reconhecimentos (pessoas e coisas).


Acareação. Prova pericial.
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR; OLIVEIRA, Eugênio
Pacelli de. Curso de Processo Penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010; NUCCI,
Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 9. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2009; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de, FISCHER, Douglas.
Comentários ao Código de Processo Penal e sua Jurisprudência. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2010; Curso Alcance – MPF2012 – 1a e 2a fase – Processo Penal.

Legislação básica: Artigos 226 a 230 do CPP. Artigo 158 e seguintes também do CPP.

Perguntas do oral do 26º: 25) Quais os direitos relacionados no pacto de San José no que
toca ao processo penal? Provas, provas ilícitas. O que são e pra que servem o
reconhecimento e a acareação. O reconhecimento pode se feito por foto? A acareação
viola o nemo tenetur? Quais os sistemas processuais? Quais as características do sistema
inquisitório no CPP?

O reconhecimento de pessoas e coisas é o procedimento tendente à identificação de


pessoas, de alguma maneira envolvidas no fato delituoso, e de coisas, cuja prova da
existência e individualização seja relevante para a apuração das responsabilidades. A
pessoa que vai fazer o reconhecimento deve descrever aquilo que será reconhecido,
evitando-se os inexoráveis erros da precipitação (CPP, art. 226, I). Depois, o objeto do
reconhecimento é colocado ao lado de outros parecidos para que a pessoa aponte o objeto
de sua descrição (CPP, art. 226, II). Quando houver receio de que a pessoa chamada para o
reconhecimento será influenciada pela presença da reconhecida, a autoridade providenciará
para que esta não veja aquela (CPP, art. 226, III). Esse modo sigiloso de reconhecimento,
porém, não pode ser feito em juízo (CPP, art. 226, parágrafo único), em obediência às
exigências da ampla defesa (Pacelli, p. 427). Seguindo-se, todavia, a mesma ratio do artigo
185, § 2º, III combinado com o artigo 217 do CPP, a partir da inovação legislativa operada
pela Lei 11.690/08, é possível admitir o reconhecimento da vítima sem a presença do réu,
permitida a de seu patrono (o que afasta o sigilo), o que se mostra mais de acordo com o
princípio da dignidade humana aplicado à vítima. Se várias forem as pessoas chamadas a
efetuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma fará a prova em separado,
evitando-se qualquer comunicação entre elas (CPP, art. 228). STJ: 3. "A inobservância das
formalidades do reconhecimento pessoal não configura nulidade, notadamente quando
realizado com segurança em juízo, sob o crivo do contraditório, e a sentença vem
amparada em outros elementos de prova." (HC 109048 / SP); “2. Ainda que não
observado totalmente o disposto no artigo 226 do Código de Processo Penal, não há se
falar em nulidade, haja vista não se ter demonstrado eventual prejuízo, o qual nem ao
menos se pode presumir, diante da existência de outras provas da autoria, devidamente

23
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

judicializadas.” (AgRg no REsp 1063031 / PR). De acordo com Pacelli e Fischer, “para o
ato de reconhecimento, se o acusado, regularmente intimado, não comparecer, poderá ele
ser conduzido coercitivamente, para que a testemunha ou testemunhas (e o ofendido)
façam – ou não – a identificação de autoria do delito” (p. 433), inexistindo qualquer ofensa
ao chamado direito ao silêncio. O art. 226 do CPP só descreve o reconhecimento ao
vivo, não prevendo o fotográfico (reconhecimento indireto) – considerado prova
inominada –, o qual, segundo Nucci, deve ser admitido com cautela, com a igual
observância do disposto no art. 226, I, II e IV, do CPP (p. 505). Por outro lado, Pacelli e
Fischer asseveram que “a diferença que pode haver entre o que ela (testemunha) presenciou
e a fotografia que lhe é apresentada em juízo não pode ser aferida e nem controlada.
Condições do tempo (clima), da máquina fotográfica, da pose fotografada, e, enfim, a
diversidade entre o real, o passado da foto e o passado da memória da testemunha,
recomendam a imprestabilidade de semelhante meio de prova” (p. 435). (STJ HC 168667 /
SP). Retrato falado é meio de investigação, não de reconhecimento. O reconhecimento de
imagens e vozes, segundo Nucci, “não ingressa no contexto do art. 226 do CPP, pois
inexiste a previsão de quais as formalidades a observar. Por isso, havendo necessidade de
ser realizado o reconhecimento de alguma imagem ou de voz, existirão duas
possibilidades: a) prova pericial (o exame será feito por especialista e transformar-se-á
em laudo); b) prova testemunhal (a testemunha fornece a sua impressão à autoridade
competente)” (p. 505).

A acareação é meio de prova pelo qual se confrontam pessoas que prestaram depoimentos
divergentes sobre fatos relevantes em suas declarações. Como bem observam Pacelli, e
Fischer, “O procedimento de acareação insere-se com desdobramento da prova
testemunhal e das declarações do ofendido. Não constitui meio autônomo de prova, mas
mera diligência tendente ao esclarecimento de depoimentos em direções diferentes ou de
distintas versões sobre o mesmo fato. De todo modo, não se pode antecipar, pela
divergência, falso testemunho ou falsa perícia” (p. 437). A acareação pode se dar entre:
acusados; acusado e testemunha; testemunhas; acusado ou testemunha e a pessoa ofendida;
pessoas ofendidas. Pacelli critica a acareação dizendo que “é o típico procedimento de
índole intimidatória. No mais das vezes, presta-se apenas a revelar um maior ou menor
grau de temor de uma testemunha em relação à outra. Ademais, o réu não tem qualquer
compromisso com a verdade, ao passo que a testemunha sim”. Quanto ao direito a não
auto-incriminação (nemo tenetur se detegere), previsto no CIDH, o STF esclareceu
recentemente que se restringe apenas à garantia de não ser coagido, moral ou
fisicamente, a produzir provas contra si. A acareação pode ser feita imediatamente após
os testemunhos. Consoante os termos da Lei 11.719/08, também a acareação é realizada na
audiência una de instrução, em face da concentração dos atos processuais. No caso de
acareação entre testemunhas ausentes, segue-se o disposto no artigo 230 do CPP. A
doutrina chama a hipótese do artigo 230 do CPP de confronto.

Prova pericial é uma prova técnica, na medida em que pretende certificar a existência de
fatos cuja certeza, segundo a lei, somente seria possível a partir de conhecimentos
específicos. Perícia é o exame realizado em pessoa ou coisa para comprovação de fatos, por
quem tem conhecimento técnico, científico ou artístico adequado, seja por falta destes
conhecimentos pelo julgador, seja por exigência legal. A partir da Lei 11.690/2008, a
perícia poderá ser realizada por apenas um perito oficial, portador de diploma de curso
24
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

superior, salvo quando o objeto a ser periciado exigir o conhecimento técnico em mais de
uma área de conhecimento específico. Na ausência de perito oficial na comarca, o exame
será realizado por duas pessoas idôneas portadoras de diploma oficial.

Indicação de assistente de acusação: art. 159, §§ 3º e 4º. Tal dispositivo menciona


“ofendido” e “assistente de acusação”, portanto, pode-se concluir que “o ofendido, mesmo
que não habilitado como assistente, poderá requerer a admissão de assistentes técnicos”
(questão 116 da prova obj. 25CPR) (Pacelli, p. 422). Corpo de delito é o conjunto de
elementos sensíveis deixados pelo crime, isto é, todas aquelas alterações perceptíveis no
mundo fenomênico e derivadas da ocorrência do delito que, de alguma forma, comprovam
a existência do fato. O exame de corpo de delito é a análise feita pelo perito nestes
elementos e o laudo de exame de corpo de delito é a peça técnica em que ele descreve os
vestígios e suas conclusões técnicas. Espécies: i) direto – é realizado pelo perito
diretamente sobre o objeto material do crime (o corpo de delito); ii) indireto – é realizado
por perito sobre dados ou vestígios paralelos (ex: ficha médica). 5. Segundo Pacelli, a regra
do art. 167 do CPP não é espécie de exame de corpo de delito indireto, mas prova
exclusivamente testemunhal (art. 167: “não sendo possível o exame de corpo de delito,
pelo desaparecimento de vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”.). A
confissão não supre a ausência do exame de corpo de delito, quando a infração deixar
vestígios (CPP, art. 158). Em comentários ao art. 182 do CPP (“O juiz não ficará adstrito ao
laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte”), Pacelli e Fischer esclarecem
que “o juiz, por não se qualificar como expert, não pode arvorar-se em censor dos peritos
e dos assistentes técnicos. No entanto, omissões, obscuridades, contradições e, enfim,
quaisquer dúvidas sobre o acerto das conclusões lançadas no laudo oficial, podem e
devem justificar a sua rejeição, no todo em parte. Mas, como o objeto da prova pericial
demanda conhecimentos técnicos para a comprovação de fato ou de circunstância
relevante para julgamento do caso penal, deverá o juiz determinar a complementação, o
esclarecimento ou até mesmo a elaboração de novo laudo oficial, recorrendo, se
necessário, a outros peritos ou profissionais com conhecimento na matéria” (p. 360).

Informativos do STJ

Inf. nº 521:
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. DESNECESSIDADE DE OCORRÊNCIA
DE LESÕES CORPORAIS PARA A CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE
LATROCÍNIO TENTADO.
O reconhecimento da existência de irregularidades no laudo pericial que atesta a natureza
das lesões sofridas pela vítima de tentativa de latrocínio (157, § 3º, parte final, do CP) não
resulta na desclassificação da conduta para alguma das outras modalidades de roubo
prevista no art. 157 do CP. Isso porque, para a configuração daquele delito, é irrelevante se a
vítima sofreu lesões corporais. Efetivamente, a figura típica do latrocínio se consubstancia no
crime de roubo qualificado pelo resultado, em que o dolo inicial é de subtrair coisa alheia
móvel, sendo que as lesões corporais ou a morte são decorrentes da violência empregada,
atribuíveis ao agente a título de dolo ou culpa. Desse modo, embora haja discussão doutrinária
e jurisprudencial acerca de qual delito é praticado quando o agente logra subtrair o bem da
25
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

vítima, mas não consegue matá-la, prevalece o entendimento de que há tentativa de latrocínio
quando há dolo de subtrair e dolo de matar, sendo que o resultado morte somente não ocorre
por circunstâncias alheias à vontade do agente. Por essa razão, a jurisprudência do STJ
pacificou-se no sentido de que o crime de latrocínio tentado se caracteriza independentemente
de eventuais lesões sofridas pela vítima, bastando que o agente, no decorrer do roubo, tenha
agido com o desígnio de matá-la. HC 201.175-MS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
23/4/2013

26
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

2.c. Os reflexos do Pacto de São José da Costa Rica no processo penal


brasileiro.
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR; OLIVEIRA, Eugênio
Pacelli de. Curso de Processo Penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010; NUCCI,
Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 9. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2009; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de, FISCHER, Douglas.
Comentários ao Código de Processo Penal e sua Jurisprudência. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2010; Curso Alcance – MPF2012 – 1a e 2a fase – Processo Penal; Edilson Mougenot
Bonfim, Curso de Processo Penal, 2012, 7ª Edição.

Legislação básica: Pacto de São José e CPP.

Pergunta do oral do 26º: 25) Quais os direitos relacionados no pacto de San José no que
toca ao processo penal? Provas, provas ilícitas. O que são e pra que servem o
reconhecimento e a acareação. O reconhecimento pode se feito por foto? A acareação viola
o nemo tenetur? Quais os sistemas processuais? Quais as características do sistema
inquisitório no CPP?

A CIDH, conforme a orientação do STF posterior à EC 45, de 2004, possui status


supralegal, porém abaixo da CRFB. Não obstante a natureza formal de norma supralegal,
integra o bloco de constitucionalidade, visto que dispõe sobre direitos fundamentais:

“PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO INFIEL EM FACE DOS TRATADOS


INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS. INTERPRETAÇÃO DA PARTE
FINAL DO INCISO LXVII DO ART. 5º DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988.
POSIÇÃO HIERÁRQUICO-NORMATIVA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE
DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. Desde a
adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San
José da Costa Rica (art. 7º, 7), ambos no ano de 1992, não há mais base legal para
prisão civil do depositário infiel, pois o caráter especial desses diplomas internacionais
sobre direitos humanos lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico, estando
abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo
supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil
torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior
ou posterior ao ato de adesão. Assim ocorreu com o art. 1.287 do Código Civil de 1916
e com o Decreto-Lei n° 911/69, assim como em relação ao art. 652 do Novo Código
Civil (Lei n° 10.406/2002). ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. DECRETO-
LEI N° 911/69. EQUIPARAÇÃO DO DEVEDOR-FIDUCIANTE AO DEPOSITÁRIO.
PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR-FIDUCIANTE EM FACE DO PRINCÍPIO DA
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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

PROPORCIONALIDADE. A prisão civil do devedor-fiduciante no âmbito do contrato de


alienação fiduciária em garantia viola o princípio da proporcionalidade, visto que: a) o
ordenamento jurídico prevê outros meios processuais-executórios postos à disposição do
credor-fiduciário para a garantia do crédito, de forma que a prisão civil, como medida
extrema de coerção do devedor inadimplente, não passa no exame da proporcionalidade
como proibição de excesso, em sua tríplice configuração: adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito; e b) o Decreto-Lei n° 911/69, ao instituir uma ficção
jurídica, equiparando o devedor-fiduciante ao depositário., para todos os efeitos previstos
nas leis civis e penais, criou uma figura atípica de depósito, transbordando os limites do
conteúdo semântico da expressão "depositário infiel" insculpida no art. 5º, inciso LXVII, da
Constituição e, dessa forma, desfigurando o instituto do depósito em sua conformação
constitucional, o que perfaz a violação ao princípio da reserva legal proporcional.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E NÃO PROVIDO” (RE 349703,
Relator o Ministro CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/2008, DJe-104 de
5.6.2009).

O pacto é fonte imediata de direitos aos acusados e investigados, haja vista a aplicabilidade
imediata imposta pela CRFB no art. 5º, §1º. Com base nesse dispositivo, os operadores do
direito devem aplicar as normas garantidoras de direitos fundamentais, como é o caso da
CIDH, independentemente de lei mediadora.

Traz a CIDH várias garantias aos acusados que são repetidas pelo ordenamento interno,
seja em nível constitucional, seja no próprio CPP. Com isso, o Brasil já implementa um dos
deveres de direito internacional previsto pelo pacto, em seu art. 2º, que é o dever de adequar
o ordenamento interno de modo a tornar efetivos os direitos previstos no instrumento
internacional.

Assim, a CIDH traz, para o processo penal, garantias elencadas nos artigos 7º e 8º, como: a)
devido processo legal; b) direito de petição de toda pessoa privada de liberdade a um órgão
judicial; c) direito de audiência (“one day in court”); d) conhecimento da acusação
pormenorizadamente e do seu acusador, bem como de tempo e meios para elaborar sua
defesa; e) duração razoável do processo “ou de ser posta em liberdade”; f) direito a um
julgador competente, independente e imparcial, anteriormente estabelecido por lei; g)
presunção de inocência; h) assistência gratuita de tradutor ou intérprete, se necessário; i)
defesa técnica, por defensor de sua escolha ou proporcionado pelo Estado, bem como
direito de autodefesa; j) comunicação livre e em particular com seu defensor; k) direito a
recurso (duplo grau de jurisdição); l) direito de inquirir as testemunhas presentes e de obter
o comparecimento de testemunhas e peritos; m) direito a não auto-incriminação (nemo
tenetur se detegere), que o STF esclareceu recentemente que se restringe apenas à garantia
de não ser coagido, moral ou fisicamente, a produzir provas contra si; n) direito do
absolvido a não ser processado novamente pelo mesmo fato; o) publicidade do processo
penal.

Dentre essas garantias, é possível que exista um tratamento mais benéfico pela norma de
direito doméstico. Ocorrendo isso, o artigo 29, item 2, do pacto de São José, determina a
aplicação daquela mais benéfica ao acusado. A CIDH, por exemplo, não demanda que o
acusado seja advogado, caso deseje se defender em juízo sem auxílio técnico. Entretanto,

28
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

isto não afasta a norma de direito interno mais protetiva, que determina a irrenunciabilidade
da defesa técnica no processo penal.

Por fim, importante ressaltar que o desrespeito a quaisquer dessas garantias, por ato de
quaisquer dos três poderes da República, pode levar, a depender da gravidade do ato, à
responsabilização internacional do Brasil perante a Corte Interamericana.

29
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

3.a. Princípios da Ação Penal


Obras consultadas: Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito
Processual Penal. 7ª ed. Ed. Juspodivm, 2012; Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal.
16ª ed. Editora Atlas, 2012, Aury Lopes Jr. Direito Processual Penal e sua Conformidade
Constitucional. Vol. I. 5ª ed. Editora Lumen Juris, 2010. Lima, Renato Brasileiro de.
Manual de Processo Penal. Volume único. 2ª edição. Salvador: Ed. Juspodivm, 2014.

Legislação básica. Arts. 24, 28, 29, 31, 42, 48, 60 do CPP.

1. Ação Penal Pública

a) Obrigatoriedade (ou legalidade processual): Presentes os requisitos legais, o MP é


obrigado a oferecer denúncia (art. 24, 1ª parte, CPP), não se reservando ao Parquet
qualquer juízo de discricionariedade. O art. 28 do CPP implica controle jurisdicional do
preceito em tela.

A Lei nº 9.099/95 (art. 76) relativizou, no tocante às infrações de menor potencial ofensivo,
o princípio no ponto em que permite a transação penal, dando origem ao princípio da
obrigatoriedade mitigada ou da discricionariedade regrada.

No âmbito federal, quem faz o controle da obrigatoriedade, analisando as promoções de


arquivamento, é a 2ª CCR, conforme seu enunciado nº 9 (entende-se institucionalmente que
houve revogação do art. 28 do CPP pelo art. 62, IV, da LC 75/93).

Questão importante e nada pacificada em Pacelli: estaria o órgão do MP compelido à


propositura da ação penal, ainda quando entendesse presentes algumas das causas
excludentes da ilicitude? Uns entendem que sim, tendo em vista a importância de as provas
serem produzidas perante o juiz e não apenas no inquérito; outros entendem que tal
obrigatoriedade viola a independência funcional do MP.

OBS Vitaminada: Renato Brasileiro (p. 216/218) aponta as seguintes exceções ao


princípio da obrigatoriedade: i) transação penal; ii) termo de ajustamento de conduta
nas infrações ambientais em que a solução da controvérsia pode ocorrer sem a intervenção
judicial, seja porque a conduta lesiva sequer iniciou, seja seus efeitos maléficos serão
plenamente reparados com o TAC. Outrossim, como as sanções não penais serão suspensas
pelo celebração e cumprimento do TAC, não se mostra razoável cobrar responsabilidade
penal pela mesma conduta delituosa, nos termos, inclusive, do princípio da subsidiariedade.
De mais a mais, as mesmas sanções a que estariam sujeitas a PJ poderão ser aplicadas por
meio do TAC (interdição temporária de direitos, suspensão parcial ou total de atividades e
prestação pecuniária, tal como prevê o art. 8º da Lei nº 9.605/98), sem que seja necessária a
instauração de um processo penal. Assim, firmado o TAC, e desde que o acordo esteja
sendo cumprido por infração administrativa também capitulada como crime ambiental, não
se faz presente qualquer utilidade no oferecimento da denúncia, condição da ação essencial
para a deflagração da persuctio criminis in judicio. Vale ressaltar que, em sendo reiterada a
prática de ato ilícito ambiental, nada obstará a que o MP ofereça a denúncia, não podendo o
TAC ser utilizado como salvo conduto para que que a empresa poluidora deixe de ser

30
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

fiscalizada e responsabilizada civil e penalmente; iii) parcelamento tributário: a sua


formalização antes do recebimento da denúncia é causa de suspensão da pretensão punitiva
estatal, impedindo o MP, caso não tenha proposto a denúncia, de não oferece-la, v. art. 83,
§2º, da Lei nº 9.340/96. Se o MP já tiver proposto a denúncia e não tiver havido o seu
recebimento, a ação fica suspensa, não correndo o prazo prescricional dos crimes referidos
no art. 83 da Lei nº 9.340/96, extinguindo-se a punibilidade quando a PF ou a PJ efetuar o
pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido
objeto de concessão de parcelamento; iv) acordo de leniência: espécie de colaboração
premiada, prevista na Lei do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. Esse acordo
poderá ser celebrado pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) com
pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infrações à ordem econômica, desde que
colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo correlato e desde
que a colaboração resulte em identificação dos demais envolvidos na infração e na
obtenção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob
investigação. “Nos crimes tipificado na Lei nº 8.137/90 e nos demais diretamente
relacionados à prática de cartel, tais como os tipificados na Lei nº 8.666/93 e no art. 288
do Código Penal, a celebração do acordo de leniência determinada a suspensão do curso
do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia com relação ao agente
beneficiado da leniência. Ademais, cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-
se a punibilidade automaticamente dos crimes acima referidos”; v) colaboração
premiada da nova Lei de Organizações Criminosas: consoante se depreende do art. 4º,
§4º, da Lei nº 12.850/13, se da colaboração do agente resultar um ou mais dos seguintes
resultados (identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das
infrações penais por eles praticadas, a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de
tarefas da organização criminosa, a prevenção de infrações penais decorrentes das
atividades exercidas pela organização criminosa, a recuperação total ou parcial do produto
ou proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa ou a localização de
eventual vítima com sua integridade preservada), o MP poderá deixar de oferecer
denúncia, desde que preenchidos concomitante dois requisitos: I – o colaborador não for o
líder da organização criminosa; II – o colaborador for o primeiro a prestar efetiva
colaboração nos termos deste artigo. Logo, trata-se de exceção ao princípio da
obrigatoriedade, porém o legislador não explicitou o fundamento de direito material a ser
utilizado para o arquivamento do procedimento investigatório que tiver efetivamente
colaborado com as investigações, razão pela qual Renato Brasileiro sugeriu a aplicação por
analogia e subsidiária do art. 87, p. u., da Lei n 12.528/11, que prevê que o cumprimento do
acordo de colaboração premiada acarreta a extinção da punibilidade do colaborador.

b) Indisponibilidade: Uma vez proposta a ação, o MP não pode dela dispor (art. 42, CPP).
Como corolário, também não pode desistir do recurso (art. 576, CPP). A Lei nº 9.099/95
(art. 89) também mitigou o princípio ao prever o sursis processual. Súmula 696 do STF:
“Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas
se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao
Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal”. Para
PACELLI (p. 124), a única diferença entre este princípio e o da obrigatoriedade é que,
enquanto a obrigatoriedade é aplicável antes da ação penal, a indisponibilidade incide após
a deflagração da persecução penal. Súmula 723, STF: “Não se admite a suspensão
condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais
31
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.”

c) Oficialidade: A persecução penal em juízo está a cargo de um órgão oficial, o MP, e na


fase pré-processual, a cargo da autoridade policial ou do MP, em se tratando se ação penal
pública. No caso de ação penal privada, o princípio da oficialidade incide apenas na fase
pré-processual.

d) Autoritariedade: O promotor de justiça (ou Procurador da República) é autoridade


pública. Aplica-se à ação penal privada apenas na fase pré-processual. Na ação penal
pública, aplica-se em ambas as fases.

e) Oficiosidade: Aplicável apenas à ação pública incondicionada, em relação a qual não se


exige qualquer autorização, devendo o MP atuar de ofício, independentemente de
provocação do ofendido ou de terceiros. Não se aplica à ação penal privada, já que, desde a
fase pré-processual, a atuação da polícia investigativa depende de requerimento do
ofendido ou de seu representante legal.

f) Divisibilidade: Em que pesem vozes em contrário, prevalece o entendimento de que o


princípio da indivisibilidade não se aplica às ações penais públicas, as quais são pautadas
pelo princípio da divisibilidade (PACELLI, p. 152). O Ministério Público pode, por
exemplo, oferecer denúncia em relação aos acusados que estão presos e requerer o
prosseguimento das investigações quanto aos acusados soltos. Foi o que aconteceu no Caso
Maluf. Há precedentes no STF (HC 104356/RJ, RHC 95141/RJ, HC 96700/PE) e no STJ
(APn 382/RR, AgRg no REsp 898302/PR, HC 160229/SP) no sentido de que o princípio da
indivisibilidade não se aplica à ação penal pública, mas apenas à ação penal privada.

g) Intranscendência (ou pessoalidade): Mercê da natureza subjetiva da responsabilidade


criminal, a ação não pode prejudicar terceiros que não tenham concorrido de alguma forma
para o delito. Logo, a ação penal privada somente poderá ser propostas em relação ao
provável autor do delito. Entretanto, o falecimento do autor do fato não afasta a obrigação
dos herdeiros indenizarem a vítima, dentro das forças da herança. Arts. 29 do CP e 5º,
XLV, CF.

2. Ação Penal Privada

a) Oportunidade (ou conveniência): É facultado à vítima ofertar ou não a ação. Como


corolários do princípio: i) não exercitado o direito de ação no prazo de 6 meses do
conhecimento do autor do fato supostamente delituoso, opera-se a decadência; ii) pode o
querelante renunciar ao direito de ação, sendo a renúncia irretratável (art. 107, V, CP).

b) Disponibilidade: Uma vez oferecida a queixa, o querelante poderá desistir da ação


penal, perdoando o acusado ou dando azo à perempção. PACELLI elenca a renúncia como
corolário desse princípio e não menciona o sobredito princípio da oportunidade (p. 142).
Ainda segundo PACELLI (p. 160), o princípio da disponibilidade não se aplica à ação
privada subsidiária da pública, pois o interesse público é prevalecente e o seu titular é órgão
público, o MP, reservando-se ao particular apenas a iniciativa. Características do perdão: i)
pode ser expresso ou tácito, processual ou extraprocessual; ii) bilateralidade (exigência de

32
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

aceitação pelo querelado para surtir efeitos); iii) pode ser oferecido até o trânsito em
julgado da sentença (art. 106, §2º, CP); iv) havendo corréus, o perdão oferecido a apenas
um estende-se aos demais. A perempção vem disciplinada no art. 60 do CPP.

c) Indivisibilidade: É a impossibilidade de se fracionar a persecução penal. Caso opte por


oferecer a ação penal, deve o querelante fazê-lo em face de todos os envolvidos. Na
hipótese de ser oferecida denúncia apenas em face de algum(ns) do(s) réu(s), a doutrina
majoritária entende que o MP, enquanto custos legis, não poderá aditar a queixa para incluir
os demais réus, devendo manifestar-se pela extinção da punibilidade se a omissão do
querelante foi voluntária, por ter havido renúncia tácita em relação aos demais réus (art.
107, V, VP). PACELLI (p. 150) entende diferentemente, asseverando ser possível ao MP
realizar o aditamento, pois lhe compete exercer controle final sobre a responsabilização
penal subjetiva e por ser o interesse penal sempre público, além de ser o Parquet o órgão
responsável pela defesa da ordem jurídica.

d) Intranscendência (ou pessoalidade): A ação penal somente pode ser proposta em face
do provável autor do delito.

Leitura Complementar:

- Arts. 76 e 89 da lei 9099/95.

- Súmulas 696 e 723 do STF.

- NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 11ª ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2012.

- RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 18ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

3.b. Indícios e Questões Probatórias.


Obras consultadas: Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito
Processual Penal. 5ª ed. Ed. Juspodivm. Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 16ª ed.
Editora Atlas. Aury Lopes Jr. Direito Processual Penal e sua Conformidade
Constitucional. Vol. I. 5ª ed. Editora Lumen Juris. RANGEL, Paulo. Direito Processual
Penal. 18ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. Lima, Renato Brasileiro de. Manual de
Processo Penal. 2ª Edição. Salvador, Editora Juspodivm, 2014.

Legislação básica: Art.239 do CPP.

O indício, segundo o art. 239 do CPP, é a circunstância conhecida e provada, que, tendo
relação com o fato, autoriza, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras
circunstâncias. Difere da presunção, que, consoante TÁVORA e ALENCAR (p. 442), “é
o conhecimento daquilo que normalmente acontece, a ordem normal das coisas, que uma
vez positivada em lei, estabelece como verídico determinado acontecimento”.

Para Paulo Rangel, indício significa indicar, apontar. É todo e qualquer fato, ou
circunstância, certo e provado, que tenha conexão com o fato, mais ou menos incerto, que
se procura provar. Presunção significaria opinião ou juízo baseado nas aparências,
suposição ou suspeita.

É possível fazer o seguinte silogismo: premissa menor – é o indício, ou seja, a


circunstância conhecida e provada; premissa maior – é o princípio de razão ou regra de
experiência, utilizados na análise daquilo que normalmente acontece (presunção);
conclusão – comparação entre as premissas, que nos permite chegar ao resultado, ao
denominador (TÁVORA; ALENCAR, p. 442).

Sendo assim, exemplifica Paulo Rangel: o fato de Tício ter sido visto com uma arma na
mão no local do crime, no dia e na hora em que o mesmo ocorreu, indica que Tício foi seu
autor. A operação mental (processo de raciocínio lógico) que é realizada para concluir que
Tício é autor do homicídio é a presunção (suposição, suspeita). Indício é o fato provado e
conhecido (Tício estava no local do crime no mesmo horário e dia em que foi praticado,
com uma arma na mão); a presunção é a operação que liga esse fato a outro, qual seja:
Tício é o autor do crime.

Para PACELLI (p. 430-431), o indício não é propriamente um meio de prova, mas a
utilização de um raciocínio dedutivo, para, a partir da prova de um fato ou de uma
circunstância, chegar-se à conclusão da existência de um outro ou de uma outra (verdadeira
presunção feita pelo julgador). A prova indiciária, ou por indícios, terá sua eficácia
probatória condicionada à natureza do fato ou circunstância que se pretende provar por
meio dela (é prova indireta). Por exemplo, tratando-se de prova do dolo ou da culpa, ou
dos demais elementos subjetivos do tipo, que se situam no mundo das ideias, a prova por
indícios será de grande valia (não se pode provar por prova material o que não pode ser
materializado). Contudo, quando se pretende demonstrar por indícios fatos e
circunstâncias que podem ser normalmente provados por prova material (tal como a
materialidade e a autoria), o valor probatório do indício vai ser reduzido.
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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Os indícios podem ser classificados em indício positivo (indica a presença do fato ou


elemento que se quer provar; ratifica a tese sustentada) e indício negativo ou contra
indício (alimenta a impossibilidade lógica do fato alegado e que se deseja provar; informa
uma determinada tese; é o exemplo do álibi).

Nos HC’s 103118/SP e 101519/SP, ambos julgados em 20/03/2012 e relatados pelo Min.
Luiz Fux, a Primeira Turma do STF assentou que os indícios têm aptidão para lastrear
decreto condenatório, haja vista vigorar o sistema do livre convencimento motivado.
Constou das ementas que “O princípio processual penal do favor rei não ilide a
possibilidade de utilização de presunções hominis ou facti, pelo juiz, para decidir sobre a
procedência do ius puniendi, máxime porque o Código de Processo Penal prevê
expressamente a prova indiciária (...) O julgador pode, através de um fato devidamente
provado que não constitui elemento do tipo penal, mediante raciocínio engendrado com
supedâneo nas suas experiências empíricas, concluir pela ocorrência de circunstância
relevante para a qualificação penal da conduta.”

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

3.c. Recursos no Processo Penal: Embargos de Declaração, Embargos


Infringentes e de Nulidade e Embargos de Divergência.
Obras consultadas: Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito
Processual Penal. 5ª ed. Ed. Juspodivm. Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 16ª ed.
Editora Atlas. Aury Lopes Jr. Direito Processual Penal e sua Conformidade
Constitucional. Vol. I. 5ª ed. Editora Lumen Juris.

Legislação básica: Arts. 382, 609, 619 e 620 do CPP. Art. 83, §§ 1º e 2º da Lei nº
9.099/95. Súmulas nº 286, 293 e 455 do STF e nº 158, 168, 207, 315, 316 e 390 do STJ.

1. Embargos de Declaração

Destinam-se a integrar decisão, sentença ou acórdão contra omissões, obscuridades,


contradições e ambiguidades (no âmbito dos juizados, ao invés de ambiguidade, são
opostos no caso de “dúvida”). A competência para exame é do próprio órgão prolator do
julgado. A oposição dar-se-á mediante petição dirigida ao mesmo órgão que proferiu a
decisão inquinada com aqueles vícios. PRAZO: em geral, é de 2 (dois) dias e de 5 (cinco)
dias (em caso de decisão em AP originária no STF ou no caso de oposto no âmbito de
JECRIM). Quando interpostos em face de sentença, são também chamados de
“embarguinhos” (art. 382 do CPP). Têm como efeito a interrupção do prazo para ambas as
partes para a interposição de outros recursos, diversamente do que ocorre no JECRIM,
onde, além de o prazo ser de 05 dias, opera-se a suspensão dos demais prazos recursais (art.
83, §§ 1º e 2º, 9.099/95), o que significa dizer que transcorrido parte do prazo para os
demais recursos, opostos os embargos de declaração, o prazo para os demais recursos volta
a correr pelo que remanescer. Em casos excepcionais, os declaratórios poderão conter efeito
infringente (em casos de omissão ou contradição que alteram a substância da decisão),
hipótese em que a parte adversa deverá ser intimada para apresentar contrarrazões, em
homenagem ao princípio do contraditório. Sendo os embargos evidentemente protelatórios
e declarados como tal, o prazo para a interposição de outro recurso não se interrompe ou
suspende (RISTF, art. 339, § 2º). O STF admite a aplicação do princípio da fungibilidade
para receber embargos de declaração como agravo regimental (AI 837155 ED/PR e HC
112444 ED/RS). Pacelli defende que é possível haver aumento de pena por meio de
embargos de declaração, desde que o recurso tenha sido interposto pela acusação.

2. Embargos Infringentes e de Nulidade

Trata-se de recurso que objetiva o reexame de decisões não unânimes proferidas em sede de
apelação e de recurso em sentido estrito quando o acusado for sucumbente na parte objeto
de divergência. Embora o nome pareça indicar a existência de dois recursos (assim, entende
Renato Brasileiro, p. 1655, 2014; Távora e Alencar, p. 1001, 2013; Pacelli, p. 985, 2014), é
um único recurso com dupla possibilidade de manejo, pois a matéria impugnável é ampla,
incluindo questões de mérito (“infringentes”) e questões processuais (“de nulidade”). Não
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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

tem efeito suspensivo e será interposto no prazo de 10 dias, a contar da publicação do


acórdão, por petição acompanhada de razões. O objeto do recurso é restrito à matéria da
divergência. É recurso privativo da defesa. Mas o MP tem legitimidade para interpô-lo,
desde que o faça em favor da defesa. É apreciado no âmbito do próprio tribunal julgador.
Prevalece na doutrina o entendimento segundo o qual são cabíveis embargos infringentes e
de nulidade contra decisões proferidas em sede de agravo em execução, haja vista sua
similitude com o recurso em sentido estrito. O julgamento dos embargos infringentes e de
nulidade pode dar azo ao que a doutrina convencionou chamar de voto médio, que
representa a adoção de um critério para a obtenção da vontade da maioria, quando os votos
dos membros do órgão colegiado são discrepantes entre si. Como exemplo, há a
divergência sobre o quantitativo de penas. O critério indicado pode variar conforme se
adote a média aritmética das penas votadas pelos membros do tribunal, a pena que se situe
em permeio às demais ou, ainda, a sanção que seja mais favorável ao acusado.

OBS VITAMINADA 1: Tal recurso sobrestará o prazo para interposição de recurso


extraordinário ou recurso especial relativamente à parte unânime, na forma do art. 498 do
CPC, ou seja, o prazo para esses recursos excepcionais que pretendam atacar a parte
unânime e/ou a parte divergente terá início com a publicação do acórdão referente ao
julgamento dos embargos infringentes interpostos. Nesse sentido, entende o STJ, v. RESP
nº 881.847/PE e RESP 785.679/MG. O STF, por sua vez, entende que o art. 498 do CPC,
não se aplica ao processo penal, continuando a aplicar a Súmula 355: “Em caso de
embargos infringentes parciais, é tardio o recurso extraordinário interposto após o
julgamento dos embargos, quanto à parte da decisão embargada por eles não abrangida”. A
propósito, é o teor do seguinte julgado:

EMENTA: Recurso extraordinário criminal: intempestividade: interposição após o


julgamento de embargos infringentes, quanto à parte da decisão recorrida por eles
não abrangida: entendimento que a Súmula 355 documentou e que, em matéria
criminal, não foi modificado pela L. 10.352/01, que alterou o art. 498 do C. Pr.
Civil: precedente (AI 197.032-QO, Pertence, RTJ 167/1030)

(AI 432884 QO, Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma,


julgado em 09/08/2005, DJ 16-09-2005 PP-00024 EMENT VOL-02205-03 PP-
00511)

OBS VITAMINADA 2: Na 18ª edição de seu Curso de Proceso Penal, Pacelli (p. 985 e
988) teceu severas críticas a decisão do STF na AP 470/MG que entendeu que a norma
prevista no art. 333 do RISTF teria sido recepcionada pela ordem constitucional de 1988.
São elas: 1) a delegação de poderes normativos ao STF para regular procedimentos de sua
competência vem de fonte ilegítima do Poder Público, dado que proveniente da
Constituição de 1967, ordem jurídica constitucional instalada com o advento do Golpe
Militar de 1964; 2) a Constituição de 1988 atribuiu competência exclusiva à União para
legislar sobre direito processual, não podendo o STF invadir a competência do Poder
Legislativo para tratar de matéria que é reservada à Lei; 3) a CRFB arrolou taxativamente a
competência recursal do STF; 4) a Lei nº 8.038/90 tratou exaustivamente a respeito das

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

ações penais originárias e sobre os respectivos procedimentos, não contemplando os


embargos infringentes do art. 333 do RISTF, além de que dispôs acerca dos recursos
cabíveis em face de tais ações julgadas pelo plenário, não tratando em momento algum dos
embargos infringentes para atacá-las, já que, segundo o art. 29 da referida Lei, eles são
cabíveis contra decisão de turma, para submeter a matéria ao plenário, e desde que sobre a
matéria nele deduzida haja divergência entre as turmas ou entre a turma e o plenário. Muito
embora todas essas críticas, certo é que o STF entendeu que o art. 333 do RISTF foi
recepcionado pela CRFB, mostrando-se compatível, inclusive, com a Lei nº 8.038/90.
Chegou-se a falar em violação ao duplo grau de jurisdição, que não se trata de princípio
aplicável às ações penais originárias apreciadas pelo STF, por opção do constituinte
originário, até porque a jurisdição dos Tribunais Internacionais é subsidiária e vinculada a
determinados pressupostos objetivos (morosidade, julgamentos de exceção, etc.)

Súmulas do STF:

293: “são inadmissíveis embargos infringentes contra decisão em matéria constitucional


submetida ao plenário dos tribunais”.

455: “da decisão que se seguir ao julgamento de constitucionalidade pelo tribunal pleno,
são inadmissíveis embargos infringentes quanto à matéria constitucional”.

Súmulas do STJ:

207: “É inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos infringentes contra


acórdão proferido no tribunal de origem”

390: “Nas decisões por maioria, em reexame necessário, não se admitem embargos
infringentes”.

Ver também art. 25, lei 12.016/2009.

3. Embargos de Divergência

Trata-se de recurso próprio das instâncias superiores (STF/STJ), que visa uniformizar a
jurisprudência de órgãos fracionários do mesmo tribunal unicamente sobre questão de
direito sufragada por tais órgãos. Devem ser interpostos em petição escrita, já com razões,
no prazo de 15 dias (art. 29 da Lei n° 8.038/90), serem dirigidos ao relator da causa,
intimando-se em seguida o embargado para apresentar contrarrazões no mesmo prazo.
Cabível contra decisão em sede de RE e REsp cujo teor seja divergente do julgamento de
outra turma, seção, órgão especial ou pleno. Não são cabíveis em face de decisão
monocrática de Ministro Relator (STJ, AgRg no EAREsp 10115/SP). “Em sede de
embargos de divergência, os paradigmas devem, necessariamente, ser provenientes de
julgados prolatados em recurso especial, não se prestando para demonstração do dissídio
arestos provenientes de julgamento em habeas corpus, nem em conflito de competência"
(STJ, AgRg nos EREsp 575.684/SP). A legitimidade e o interesse são visualizados sob a
perspectiva da ideia de sucumbência. Ver Súmulas n° 286 do STF e n° 158, 168 (“não
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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do Tribunal se firmou no mesmo


sentido do acórdão embargado”), 315 (“não cabem embargos de divergência no âmbito de
agravo de instrumento que não admite recurso especial”) e 316 (“cabem embargos de
divergência contra acórdão que, em agravo regimental, decide recurso especial”) do STJ. O
processamento é disciplinado pelo regimento interno do tribunal.

Leitura Complementar:

- NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 11ª ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2012.

- RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 18ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

4.a. Princípios e questões relativas aos Inquéritos Policiais e Investigações


Criminais.
Obras consultadas

Fischer e de Oliveira, Douglas e Eugênio Pacelli. Comentários ao Código de Processo


Penal e sua Jurisprudência. 2ª Edição. Lumen Juris Editora, 2011.

Oliveira, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. Ed. Atlas 2012.

Aulas da LFG, Renato Brasileiro, bem como atas do curso Ebeji.

Lima, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 2ª Edição. Salvador: Editora
Juspodivm, 2014.

Legislação básica. CF, arts. 5º, 144. Arts. 4 a 62 do CPP.

Inquérito Policial. Conceito: procedimento administrativo inquisitório e preparatório,


consistente em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa para
apuração da infração penal e de sua autoria, presidido pela autoridade policial, a fim de
fornecer elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.
De uma forma mais simples, é um procedimento administrativo, formado por um conjunto
de diligências, destinadas a investigar um crime. Natureza jurídica: procedimento
administrativo e não ato de jurisdição; vale ressaltar que os vícios constantes do inquérito
policial não afetam a ação penal a que deu origem. Finalidade: colher elementos de
informação relativos à autoria e materialidade da infração penal; destina-se à formação da
opinio delicto (positiva, em caso de denúncia ou queixa, ou negativa, em caso de
arquivamento). Presidência: a cargo da autoridade policial. Polícia administrativa ou de
segurança x polícia judiciária. A administrativa é preventiva, com caráter ostensivo, com
a finalidade de impedir ocorrência de infrações. A polícia judiciária é repressiva, tem a
missão primordial de elaboração do inquérito policial. Segundo o Professor Pacelli, “a
denominação de polícia judiciária somente se explica em universo em que não há a
direção da investigação pelo Ministério Público, como é o brasileiro”. Notitia criminis
apócrifa: com base na cláusula constitucional de vedação do anonimato, o STF teve a
oportunidade de ressaltar a impossibilidade de instauração de persecução criminal - leia-se
inquérito policial ou procedimento investigatório, com base exclusivamente em notitia
criminis apócrifa, salvo quando o documento em questão tiver sido produzido pelo acusado,
ou constituir o próprio corpo de delito. (Inquérito 1.957/PR)

Inquéritos não criminais: Note-se que nos termos do parágrafo único do art. 4º do CPP, a
competência da polícia judiciária não excluirá a atribuição de outras autoridades
administrativas, a quem a lei confere funções tipicamente investigativas. Há os inquéritos
parlamentares, patrocinados pelas CPIs (que remeterão seus relatórios ao MP); os
inquéritos policiais militares; os inquéritos civis (ACP); inquéritos para apuração de crimes
praticados por magistrados ou promotores (investigações presididas por órgãos de cúpula

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

de cada carreira, conforme respectiva legislação orgânica: LC 35/79, art. 33, LC 75/93, art.
18 e Lei n. 8625, art. 41); investigações envolvendo autoridades com prerrogativa de foro
(tramitam no Tribunal respectivo, ex: STF, Inq2411, Dj 25.4.2008). Há também
investigações criminais administrativas realizadas por outros órgãos, como a Fazenda
Pública, o Banco Central, e outros, devendo tais procedimentos ser encaminhados ao MP
quando apurados ilícitos penais. Não há mais investigação judicial, da antiga lei de
falências; hoje, a Lei 11.105/2005 não a prevê, aplicando-se as normas do CPP. Há, ainda,
a possibilidade de investigação por conta do próprio Ministério Público. Em que pese
divergência no âmbito do STF, decisões recentes são favoráveis à possibilidade (HC
91661). O STF aplica a Teoria dos Poderes Implícitos, para justificar o posicionamento. A
CF/88, ao prever as funções institucionais do MP, no art. 129, prevê, além de exercer o
controle externo da atividade policial - o que só pode se relacionar com os procedimentos
investigatórios - (inciso VII), em que pese não haja hierarquia, presume-se, também lhe
atribua a competência para suprir eventuais procedimentos não realizados ou realizados de
forma insuficiente. Pode também o MP requisitar diligências investigatórias e a instauração
de inquérito policial (VIII); ora, se pode requisitar, teria também o poder de realizá-las.
Ainda que não haja um procedimento legal previsto (assim como o inquérito no CPP), a CF
prevê a possibilidade de exercício de "outras funções que lhe forem atribuídas" (inciso IX);
assim, desde que com base em lei, sem usurpação das atribuições da autoridade policial
(leia-se: no caso de haver inquérito em andamento, não caberia), pode sim o MP realizar
investigação criminal. A LC 75/93, em seus arts. 7º, II, e 8º, prevê várias diligências
investigatórias de atribuição do MPF. Além disso, a Lei nº 8625/93, lei orgânica nacional
do MP, em seu art. 26, também explicita várias diligências investigatórias que podem ser
por este realizadas. Nesse sentido STJ HC 190917; Súmula 234 do STJ. O STF admite a
atividade investiga supletiva do parquet, desde que obedecidos “os limites e controles
ínsitos a esta instituição”, não podendo ser “ampla e irrestrita, sem qualquer controle, sob
pena agredir direitos fundamentais”. “O entendimento de que as investigações realizadas
no seio daquela instituição devam ser, necessariamente, subsidiárias, ocorrendo, apenas,
quando não for possível, ou recomendável, que se efetivem pela própria polícia.”.(HC
93930 / RJ, Min. Gilmar Mendes, segunda turma,DJE 03-02-2011).

Crimes contra a ordem tributária: a Lei 9.430/96 não institui a condição de


procedibilidade da ação penal pública para a persecução dos crimes contra a ordem
tributária, não se podendo falar em subordinação da atuação do Ministério Público ao
julgamento da instância administrativa. Entretanto, o STF vem exigindo o encerramento do
procedimento fiscal para a constituição ou não do crédito tributário, como condição
objetiva de punibilidade, rejeitando as denúncias oferecidas antes da conclusão final
administrativa à conta de ausência de justa causa.

OBS Vitaminada: Vale ressaltar que a condição objetiva de punibilidade para o início da
persecução penal, qual seja a conclusão do procedimento fiscal para constituição do crédito
tributário, é exigido apenas para os crimes materiais em que se exige um resultado, não se
aplicando para os crimes formais a exigência de prévia conclusão do respectivo PAF. Nesse
sentido, é o teor da Súmula Vinculante nº 24-STF: “não se tipifica crime material contra
ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do
lançamento definitivo do tributo”. Logo, em se tratando de crimes tributários formais, em
que não há exigência de um resultado, não se exige a prévia constituição do crédito
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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

tributário.

Características do Inquérito Policial: 1- É uma peça escrita – artigo 9º, CPP. 2- É


instrumental – o Estado pode se valer de outros meios para obter esses elementos, por isso é
instrumento, em regra. 3 - É uma peça dispensável – o titular da ação penal pode dispensar
o inquérito (art. 27, CPP). 4 - É uma peça sigilosa – artigo 20, CPP. Vale ressaltar que a Lei
12.681/2012 alterou o artigo 20 do CPP, passando a prever, expressamente, além do sigilo
necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade, que a autoridade
policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à instauração de inquérito
contra os requerentes.

A quem não se opõe esse sigilo? Quem tem acesso ao inquérito mesmo ante o sigilo? Juiz e
promotor. Quanto ao advogado – CF art. 5º, LXIII. Não é só o preso que tem direito a
advogado, mas qualquer pessoa investigada. Se a CF assegura a assistência de um
advogado, como se poderia ter essa assistência preservada se o advogado não tivesse acesso
ao inquérito? O advogado tem acesso às informações já introduzidas nos autos do inquérito,
e não em relação às diligências em andamento (artigo 7º, XIV, Lei 8.906/94 – Estatuto da
OAB). A súmula vinculante n. 14 tem o seguinte teor: “é direito do defensor, no interesse
do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
digam respeito ao exercício do direito de defesa”. Observação: se, nos autos do inquérito,
houve quebra de sigilo de dados, quanto a tais informações, só terá acesso o advogado com
procuração nos autos (HC 82.354 e HC 90.232 STF). Pergunta de prova: delegado negou
acesso aos autos a advogado com procuração, pode impetrar habeas corpus? Ou seria
cabível mandado de segurança? O correto seria mandado de segurança, mas pode impetrar
também habeas corpus. Para o STF, sempre que houver constrangimento à liberdade de
locomoção, mesmo que potencial, será cabível o uso do habeas corpus. Exemplos: quebra
ilegal de sigilo bancário (pode impugnar por HC) e negativa de acesso do advogado aos
autos de inquérito (pode impugnar por HC). Contudo, o livre acesso aos autos do inquérito
não pode ser autorizado pela autoridade investigante, pois os dados de outro investigado
ou as diligências em curso são materiais sigilosos a terceiros (RMS 31.747-SP,
11/10/2011). 5- É uma peça inquisitiva – não há contraditório, tampouco ampla defesa. 6- É
uma peça informativa – visa à colheita de elementos de informação para que o titular da
ação penal possa ingressar em juízo. Elementos de informação são aqueles colhidos na
fase investigatória, sem a participação das partes, ou seja, não há contraditório, nem ampla
defesa. Prestam-se para a fundamentação das medidas cautelares e também para a
estruturação de uma acusação. Existe algum elemento produzido na fase investigatória e
que pode ser levado à fase judicial e utilizado para a condenação? A regra geral é que não,
mas excepcionalmente sim, quanto às provas antecipadas (quando evidenciado o perigo real
e concreto de perecimento do objeto probatório – ex: exame necroscópico), cautelares (ex:
busca e apreensão, interceptação telefônica), irrepetíveis (ex: caso de alguns exames
periciais) e cautelares. Em relação a essas provas, o contraditório é diferido. Vide artigo
155 do CPP com redação determinada pela Lei 11.690/08.  7 - É uma peça indisponível –
delegado não pode arquivar inquérito policial (art. 17, CPP). 8 - É temporário – o prazo
para o término do inquérito é relevante apenas para o acusado preso; para o solto não é tão

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

relevante, podendo ser extrapolado. 9 – Oficiosidade:  tendo a autoridade policial


conhecimento da existência de crime de ação penal pública, deve instaurar o inquérito
policial de ofício.

Formas de Instauração do Inquérito a. De ofício – quando a autoridade policial toma


conhecimento direto e pessoal da infração penal. Inicia-se o inquérito por meio de portaria
(isso para ação penal pública incondicionada); se exigível representação ou requisição
Ministro da Justiça para a ação penal, para o inquérito também o será (art. 5º, p. 4º do CPP).
Se privada a ação, somente haverá inquérito a requerimento do legitimado ativo (p. 5º). b.
Mediante requisição do juiz ou do MP – em face do sistema acusatório, não é aceitável a
requisição da instauração do inquérito pelo juiz, que deve ficar afastado da fase pré-
processual, ressalvada a tutela das garantias públicas. Fischer e Pacelli entendem pela não
recepção da regra pela CF/88. c. Por requerimento do ofendido ou de seu representante
legal – o delegado, diante do requerimento do ofendido, é obrigado a instaurar o inquérito?
Não. Se não houver um mínimo de elementos informativos, o delegado pode indeferir o
pedido de instauração do inquérito. Do despacho do delegado que indefere a instauração do
inquérito, conforme artigo 5º, p. 2º, CPP, cabe recurso ao órgão hierarquicamente superior
da respectiva polícia (Pode ser o delegado geral ou o secretário de segurança pública,
variando de estado pra estado. No âmbito federal, a atribuição pertence à Superintendência
da Polícia Federal). Fischer e Pacelli defendem que o juízo da autoridade policial deve
limitar-se à análise da tipicidade formal do fato; não cabe exame de excludentes. d.
Mediante auto de prisão em fragrante – nessa hipótese não é necessária portaria, o próprio
auto serve como peça inaugural. e. Por notícia oferecida por qualquer do povo – conhecida
como delatio criminis – art. 5º, p. 3º, CPP.

Direito ao silêncio: uma das perspectivas do princípio geral do Nemo tenectur se detegere
(ninguém é obrigado a se descobrir), princípio por força do qual o acusado deixou de ser
objeto de prova e tornou-se sujeito de direitos. No Brasil, o direito ao silêncio, também
designado como um direito a não auto incriminação, tem fundo constitucional (art. 5º,
LXIII), do mesmo modo que a norma que garante ao investigado o direito de identificar os
responsáveis, tanto por sua prisão quanto por seu interrogatório judicial (art. 5º, LXIV)-
Fischer e Pacelli, p. 32. O acusado sequer é obrigado a comparecer perante a autoridade
policial; somente é obrigado a estar presente na diligência de reconhecimento de pessoas
(arts. 226 e 228 CPP). Segundo Pacelli, não há inconstitucionalidade na exigência desta
última.

Identificação Criminal – é formada pela identificação fotográfica e identificação


dactiloscópica. É também uma modalidade de intervenção corporal que não é tido como
inconstitucional. Artigo 5º, LVIII, CF. Sendo norma de eficácia contida, possibilitou que a
lei previsse hipóteses de identificação do civilmente identificado. As Leis 9.034/95 e Lei
10.054/00 foram revogadas pela Lei nº 12.037/2009, que prevê a identificação para
quaisquer pessoas que não apresentem identificação civil, desde que se achem submetidas à
persecução penal. Prevê, ainda, a identificação pelo processo datiloscópico e fotográfico
para aqueles já identificados civilmente, quando (art. 3º) haja situações em que se pode
questionar a identificação civil; fora isso, somente por determinação judicial será cabível a
medida. É também vedada a referência da identificação criminal em atestados de
antecedentes ou em informações não destinadas ao juízo criminal, antes do trânsito em

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

julgado. Com o advento da Lei 12.654, de 8.5.2012 (com vacatio de 180 dias), ao art. 5º da
Lei 12.037/09 foi acrescido um parágrafo, autorizando, nas hipóteses do art. 3º, inc. IV
(quando a identificação for essencial para a investigação criminal), a coleta de material
biológico para a obtenção do perfil genético do investigado. Percebe-se que, no caso dos
condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de natureza grave contra
pessoa, ou por qualquer dos crimes etiquetados como hediondos ou equiparados, a
identificação do perfil genético é obrigatória, mediante extração de DNA, devendo seguir
técnica adequada e indolor. Parte da doutrina, a exemplo de Rogério Sanches, entende que
a obrigatoriedade de fornecimento de material genética é como inconstitucional, por ofensa
ao princípio de presunção da inocência e ao da impossibilidade de obrigação de produzir
prova contra si mesmo. Ressalva, no entanto, a possibilidade de o Estado utilizar vestígios
para colher material útil à identificação do indivíduo.

Indiciamento. É a imputação a alguém, no inquérito policial, da prática do ilícito penal, em


decorrência de indícios convergentes de autoria. Pressupostos do indiciamento: a) Prova da
existência do crime e b) Indícios de autoria. De quem é a atribuição para efetuar o
indiciamento? Segundo o STJ, o MP não pode pedir o indiciamento, pois trata-se de ato
privativo da autoridade policial (HC 10340). A propósito, a nova Lei nº 12.830 de 20 de
junho de 2013, que trata da investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia,
estabeleceu em seu art. 2º, §6º, que “o indiciamento, ato privativo do delegado de polícia,
dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá
indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias”. A autoridade policial não pode
indiciar membro do MP ou magistrado. Caso haja indícios da prática de crime por tais
autoridades, deve remeter os autos ao presidente do tribunal (art. 33 da LC 35/79), ou ao
PGR ou PGJ (ver enunciado 06 da 2ª CCR). No caso da Operação Sanguessuga, que
envolveu o senador Aluízio Mercadante, o STF entendeu que a autoridade policial não pode
indiciar parlamentar sem autorização prévia do ministro relator do inquérito.

Incomunicabilidade do indiciado preso - O artigo 21 do CPP não foi recepcionado pela


CF/88. Se nem estado de defesa não é possível a incomunicabilidade (art. 136, §3º, IV,
CF), o que dizer então em um período de normalidade.

Prazo para a conclusão do inquérito – No caso de réu preso, 10 dias; se o réu estiver
solto, 30 dias. Na Justiça Federal, tratando-se de réu preso, o prazo é de 15 dias,
prorrogável por mais 15, por força do artigo 66 da Lei 5.010/66. Esse prazo é processual ou
penal? É processual, logo, a contagem é ditada pelas regras processuais. Quando falamos
em prisão, tempo de prisão, aí sim esse prazo é penal! No caso do réu solto, o prazo de 30
dias para a conclusão do inquérito é impróprio, ou seja, sua inobservância não produz
qualquer consequência. Se restar caracterizado um excesso abusivo, no caso de réu preso,
não justificado pelas circunstâncias do delito, complexidade das investigações e/ou
pluralidade de réus, é caso de relaxamento da prisão por excesso de prazo, sem prejuízo da
continuidade do processo.

Prazos previstos em leis especiais: - CPPM – 20 dias para réu preso e 40 para réu solto;

- Nova lei de drogas (11.343, art. 51) – 30 dias para réu preso e 90 para réu solto, esse
prazo também pode ser duplicado;

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

- Lei da Economia Popular – 10 dias, esteja o acusado preso ou solto.

Concluído o inquérito policial, para onde ele é remetido? Pelo CPP, o inquérito é
encaminhado ao Poder Judiciário (art. 10, p. 1º, CPP). Quando o juiz recebe os autos do
inquérito, há duas possibilidades: a) Se o crime for de ação penal pública, os autos são
remetidos ao MP; b) Se o crime for de ação penal privada, os autos ficam em cartório
aguardando a iniciativa do ofendido, após, obviamente, a intimação do querelante.

MP com os autos do inquérito – ao receber os autos do inquérito, o que o MP poderá


fazer? a) Oferecer denúncia; b) requerer o arquivamento; c) requisitar diligências, desde
que imprescindíveis, ao seu juízo; Diligências deverão ser requisitadas diretamente à
autoridade policial. Se o juiz indeferir o encaminhamento dos autos à autoridade policial,
cabe correição parcial (não cabe ao juiz, no sistema acusatório, indeferir as diligências,
visto que não exerce atos de investigação e sim apenas de jurisdição); d) Declinar a
competência; e) Suscitar conflito de competência; f) Suscitar conflito de atribuição – é
aquele que se dá entre duas autoridades administrativas, como por exemplo, os órgãos do
MP.

Obs.: o único caso de contraditório em inquérito é o instaurado pela Polícia Federal, a


pedido do Min. da Justiça, visando à expulsão do estrangeiro (Lei n. 6.815, art. 70); neste
caso, o contraditório é obrigatório.

OBS vitaminada: Avocação ou Redistribuição do IPL: é possível, nos ternos do art. 2º,
§4º, da Lei nº 12.830/13, somente podendo ocorrer, mediante despacho fundamentado do
superior hierárquico, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos
procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da
investigação.
Informativos do STF

- Nº 741

Tramitação direta do IP entre Polícia e MP


É INCONSTITUCIONAL lei estadual que preveja a tramitação direta do inquérito policial
entre a polícia e o Ministério Público.
É CONSTITUCIONAL lei estadual que preveja a possibilidade de o MP requisitar
informações quando o inquérito policial não for encerrado em 30 dias, tratando-se de
indiciado solto. Nesse sentido, confira-se o julgado:
ADI: recebimento direto de inquérito policial e requisição de informações pelo
Ministério Público – 2

Em conclusão de julgamento, o Plenário, por maioria, julgou procedente, em parte, pedido


formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do inciso IV art. 35 da Lei
Complementar 106/2003, do Estado do Rio de Janeiro (“Art. 35. No exercício de suas
funções, cabe ao Ministério Público: ... IV - receber diretamente da Polícia Judiciária o
inquérito policial, tratando-se de infração de ação penal pública”) — v. Informativo 391. O
Tribunal reconheceu o caráter procedimental do inquérito e afastou a apontada ofensa à

45
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

competência privativa da União para legislar sobre direito processual (CF, art. 22, I).
Entretanto, entendeu violado o § 1º do art. 24 da CF, porquanto o ato atacado dispõe de
forma diversa do que estabelecido pela norma geral editada pela União sobre a matéria,
qual seja, o § 1º do art. 10 do CPP [“Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10
(dez) dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente,
contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no
prazo de 30 (trinta) dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. § 1º A
autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz
competente”]. Por outro lado, a Corte afirmou a constitucionalidade do inciso V do art. 35
da lei em questão (“V- requisitar informações quando o inquérito policial não for encerrado
em trinta dias, tratando-se de indiciado solto mediante fiança ou sem ela”). Asseverou
competir ao Ministério Público o controle externo da atividade policial, a teor do disposto
no art. 129, VII, da CF (“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: ... VII
- exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar
mencionada no artigo anterior”). Vencidos os Ministros Marco Aurélio, Roberto Barroso,
Cármen Lúcia e Celso de Mello, que julgavam improcedente o pleito. STF. Plenário. ADI
2886/RJ, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, julgado em 3/4/2014.

- Nº 717:
Indiciamento por magistrado
O indiciamento é ato privativo da autoridade policial, segundo sua análise técnico-jurídica
do fato. O juiz não pode determinar que o Delegado de Polícia faça o indiciamento de
alguém. STF. 2ª Turma. HC 115015/SP, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
27/8/2013.

Prova oral MPF: 4. Diferencie arquivamento indireto e arquivamento implícito. Vide


ponto 6.a.

46
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

4.b. Buscas e Apreensões. Interceptações dos meios de comunicação em


geral.
Obras consultadas.

Feitoza, Denilson. Direito Processual Penal, Teoria, Crítica e Praxis. 5ª ed. Ed. Impetus,
2008.

Fischer e Oliveira, Douglas e Eugênio Pacelli de. Comentários ao Código de Processo


Penal e sua Jurisprudência. 2ª Edição. Lumen Juris Editora, 2011.

Oliveira, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. Ed. Atlas 2012.

Nucci, Guilherme de Souza. Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 2ª ed.


RT.

Legislação básica. CF, arts. 5º, 136 e 139. Arts. 240-250 do CPP. Lei nº 9.296/96 e outras
de sigilo.

BUSCAS E APREENSÕES: Enquanto os demais meios de prova já são produzidos, desde


o início, com a observância do contraditório, a busca e apreensão segue procedimento
diverso, em atenção às suas peculiaridades.  Trata-se de medida eminentemente cautelar,
para acautelamento de material probatório, de coisa, de animais e até de pessoas, que não
estejam ao alcance, espontâneo, da Justiça. Não é necessariamente um meio de prova, mas
sim um instrumento, que tanto pode servir para coleta de material probatório, quanto para
acautelamento de outros bens jurídicos. A medida cautelar no que se refere à questão
probatória e à segurança de pessoas, também é excepcional por implicar a quebra da
inviolabilidade do acusado ou de terceiros, tanto no que se refere à inviolabilidade do
domicílio quanto no que diz respeito à inviolabilidade pessoal. Somente quando houver
fundadas razões, quanto à urgência e à necessidade da medida, é que se poderá conceder a
busca e apreensão, tanto na fase de investigação como no curso da ação penal. Como
medida cautelar, exige a presença dos requisitos do fumus boni iures (ou, ainda, do fumus
comissi delicti) e do periculum in mora para a sua determinação.

A busca poderá ser domiciliar ou pessoal. Busca domiciliar: é realizada em residência,


bem como em qualquer compartimento habitado, ou aposento ocupado de habitação
coletiva ou em compartimento não aberto ao público, no qual alguém exerce profissão ou
atividade, nos termos do art. 246 do CPP. Todos esses locais, bem como em quartos de
hotéis, motéis ou equivalentes, quando habitados, encontram-se incluídos e protegidos pela
cláusula constitucional da inviolabilidade de domicílio (art. 5º, XII). O automóvel (assim
como outros veículos, ou aeronaves) não se inclui na definição legal de domicílio, a não ser
quando estiver no interior deste.

Requisitos: a) ordem judicial escrita e fundamentada (reserva de jurisdição! – CPIs não


podem); b) indicação precisa do local, dos motivos e da finalidade da diligência (art. 243,

47
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

CPP); c) cumprimento da diligência durante o dia, salvo se consentida à noite, pelo


morador; d) o uso da força e o arrombamento somente serão possíveis em caso de
desobediência, ou em caso de ausência do morador ou de qualquer pessoa no local (art.
245, §§3º e 4º).

Escritório de Advocacia: não será permitida a apreensão de documento em poder do


defensor do acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito (art. 243, §2º,
do CPP e art. 7º, II, do EOAB). Quando se tratar de outro meio de prova, que não o
documento, e que não esteja relacionado diretamente com o material da defesa, será
possível a busca e apreensão, sobretudo quando se cuidar de próprio corpo de delito, bem
como de instrumentos utilizados na prática do crime e os produtos dele derivados. STJ, HC
149.008-PR, DJe 9/8/2010: “os documentos, as mídias e os objetos pertencentes a clientes
do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho que contenham
informações sobre clientes somente poderão ser utilizados caso ele esteja sendo
formalmente investigado como partícipe ou coautor pela prática do mesmo crime que deu
causa à quebra de inviolabilidade (§ 7º do art. 7º da Lei n. 8.906/1994)”.

Já a busca pessoal não depende de autorização judicial, ainda que se possa constatar, em
certa medida, uma violação à intangibilidade do direito à intimidade e à privacidade,
previstos no art. 5º, X, da CF. (Pacelli, p. 433). Isso desde que prevista em lei a medida,
existam e estejam presentes razões de natureza cautelar (urgentes).  De acordo com o art.
244, é possível quando “houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma
proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for
decretada no curso de busca domiciliar”. Assim, a necessidade ou não de ordem judicial
para a busca pessoal depende do grau de urgência da intervenção do poder público. Fischer
e Pacelli defendem a constitucionalidade da regra em face da ponderação, assim como é
possível a violação do domicílio quando haja situações urgentes (art. 5º, X, da CF).
Exemplos: operações policiais, locais em imediações de onde acabou de se cometer um
crime, revistas em locais de grande acesso de público, situações de flagrante delito – são
situações reconhecidamente carecedoras de policiamento. A autoridade policial deve estar
apta a justificar a medida em atendimento ao estrito cumprimento do dever legal (vedadas,
por exemplo, as escolhas de pessoas de forma discriminatória).

Encontro fortuito de provas: fala-se em encontro fortuito quando a prova de determinada


infração penal é obtida a partir da busca regularmente autorizada para a investigação de
outro crime. Entretanto, a teoria tem limites, conforme exemplo do Pacelli (p. 363): em
investigação de crime contra a fauna, o mandado judicial de busca e apreensão deve
exclusivamente a busca de animais silvestres (art. 243, II, CPP); se os policiais “passam a
revirar gavetas ou armários da residência, é de se ter por ilícitas as provas”, não
relacionadas com o mandado, visto que o local revistado jamais abrigaria o objeto do
mandado. De outro lado, se a busca e apreensão é para drogas, os limites do mandado são
mais extensos, visto que aquelas podem ser acondicionadas em qualquer lugar. A finalidade
do mandado, isto é, a ordem expedida pelo juiz, deverá estar transcrita no mandado. É da
finalidade do mandado que se extrairá a sua extensão para cumprimento (CPP comentado,
p. 511). Para que o encontro de provas de outro crime seja realmente fortuito, a ação
policial deverá ter sido dentro dos limites do mandado.

48
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Sigilo de dados: a depender do conteúdo do mandado, poderá, por exemplo, quando


contiver a finalidade de apreensão de quaisquer elementos de provas, atingir a apreensão de
computadores; no entanto, o acesso aos dados ali contidos exigirá autorização judicial
específica (divergência no tema – STF – sigilo apenas à comunicação de dados e não
aos dados em si – acórdão Sepúlveda x APN 307 Collor)

Extraterritorialidade da atuação policial: art. 250 CPP, in verbis:


Art. 250.  A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no território de jurisdição alheia,
ainda que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão, forem no seguimento de
pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à competente autoridade local, antes da diligência
ou após, conforme a urgência desta.

   § 1o  Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes vão em seguimento da pessoa ou


coisa, quando:

        a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a seguirem sem


interrupção, embora depois a percam de vista;

        b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por informações fidedignas ou
circunstâncias indiciárias, que está sendo removida ou transportada em determinada
direção, forem ao seu encalço.

        § 2o  Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para duvidar da legitimidade
das pessoas que, nas referidas diligências, entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade
dos mandados que apresentarem, poderão exigir as provas dessa legitimidade, mas de
modo que não se frustre a diligência.

INTERCEPTAÇOES DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO EM GERAL: Há diversas


espécies de comunicações (Feitoza): epistolares (correspondência); telegráficas (telegrama,
a qual utiliza códigos de sinais); telefônicas; de dados (informática e telemática);
radioelétricas (ondas hertzianas ou de rádio); eletromagnéticas (ondas eletromagnéticas); e
ambientais (diretamente no meio ambiente, sem meios físicos artificiais). O art. 5º, XII, CF,
institui inviolabilidade de sigilo de diversas espécies de comunicação. Leis que reforçam
inviolabilidades: a) comunicações epistolares (Lei n. 6538/78, arts. 40, 41, I a IV; arts. 152
e 153 do CP); b) comunicações telefônicas (art. 10 da Lei n. 9.296/96; art. 151, p. 1º, II, do
CP); c) comunicações telegráficas ou radioelétricas (art. 151, p. 1º, II, do CP); d)
telecomunicações ou comunicações eletromagnéticas em geral (art. 56 da Lei n. 4.117/62).
A violação de comunicação, não enquadrada em um dos dispositivos, pode ainda, ser,
indiretamente, protegida por outros dispositivos penais, como a violação de segredo (art.
153, 1ª figura, CP).

Interceptação telefônica e de dados: de início, cabe ressaltar que, apesar de o artigo 5º,
inciso XII dispor ser inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, “salvo, no último caso, por
ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal”, dando a entender que só as comunicações
telefônicas é que seria possível a violação, tratando as demais, como sendo intangíveis,
49
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Eugênio Pacelli de Oliveira entende que o direito à intimidade, à privacidade, à honra, e


todas as suas formas de manifestações, podem como regra ser limitados, por não se
tratarem de direito absoluto. Podem e poderão, por isso, ser limitados, sempre que o
respectivo exercício puder atingir outros valores igualmente protegidos na CF, e desde
que haja previsão expressa na lei.

Interceptações: a telemática estuda a manipulação e utilização da informação através do uso


combinado do computador e dos meios de comunicação, como exemplo a comunicação via
internet. A Lei 9.296/96 regulamenta as hipóteses nas quais serão possíveis as
interceptações telefônicas, incluindo-se ali a interceptação do fluxo de comunicações em
sistema de informática e telemática. Nesse sentido STJ e STF. As interceptações, do fluxo
de comunicações em sistema de informática e telemática, deverão ser precedidas de ordem
judicial do juiz competente (reserva de jurisdição), devidamente fundamentada, e poderão
ser decretadas na fase de investigação ou no curso da ação penal, sob segredo de justiça
(art. 1º e 5º da Lei 9.296/96). O pedido de interceptação telefônica não pode ser a
primeira providência investigatória realizada pela autoridade policial, visto que exige,
como medida cautelar, indícios da existência do crime, e a inexistência de outro meio de
prova.

Exige-se, ainda, que haja indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal
punida com pena de reclusão, bem como que a prova do crime não possa ser feita por
outros meios (art. 2º).

O prazo máximo da interceptação será de 15 dias, prorrogáveis por mais 15 (art. 5º),
devendo as diligências ser registradas em autos apartados, preservando-se o sigilo de todo o
procedimento (art. 8º). Além disso, “o prazo de 15 dias previsto no art. 5º da Lei n.
9.296/1996 não se inicia da decisão judicial que autoriza a interceptação telefônica, mas do
dia em que a medida é efetivada” (STJ, HC 135771) – mas deve ser iniciado em prazo
razoável.  Tanto STF, quanto STJ entendem ser possível a renovação do prazo de 15 dias
por mais de uma vez, desde que justificada a medida e o caso reclame a extrapolação do
prazo.

A quebra do sigilo dos dados telefônicos, ou seja, dos registros dos telefonemas dados e
recebidos por determinado aparelho (que não configura hipótese de interceptação), reclama
autorização judicial, posto que tais informações inserem-se no contexto da intimidade e da
privacidade do interessado.

A gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o
inquérito, a instrução processual ou após esta, em virtude de requerimento do MP ou da
parte interessada (art. 9º da lei). A interceptação telefônica, assim como a quebra de sigilo
fiscal ou bancário, pode ser atacada por meio de Habeas Corpus.

Autoridade competente para execução da interceptação: STF, HC 96.986, 05/2012:


“Reconheceu-se a possibilidade excepcional de a polícia militar, mediante autorização
judicial, sob supervisão do parquet, efetuar a mera execução das interceptações, (...).
Consignou-se não haver ilicitude, já que a execução da medida não seria exclusiva de
autoridade policial, pois a própria lei autorizaria o uso de serviços e técnicos das

50
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

concessionárias (Lei 9.296/96, art. 7º) e que, além de sujeitar-se a ao controle judicial
durante a execução, tratar-se-ia apenas de meio de obtenção da prova (instrumento), com
ela não se confundindo”.

Degravação integral da interceptação telefônica: o STF confirmou (neste ano de 2013),


por maioria de votos, a decisão do ministro Marco Aurélio que garantiu ao deputado federal
Sebastião Bala Rocha (PDT-AP) o direito à degravação integral das interceptações
telefônicas feitas no âmbito da Ação Penal (AP) 508, a que responde pela suposta prática
de crimes de corrupção e formação de quadrilha. A maioria dos ministros da Corte
acompanhou o voto do ministro Marco Aurélio, que negou provimento a agravo regimental
apresentado pelo MPF, que questionou a decisão que determinou que fosse feita a
degravação integral. Segundo o ministro, a formalidade é essencial à validação da
interceptação telefônica como prova, e a Lei 9.296/96, que regulamenta a interceptação
telefônica, determina que sempre em que houver a gravação da comunicação, será
determinada sua transcrição. No caso concreto, observou o ministro Marco Aurélio em seu
voto, a formalidade não foi observada, constando em parte do processo apenas trechos de
diálogos, obtidos em dias e horários diversos, não havendo a transcrição integral de
nenhum debate ou conversa envolvendo o réu e os demais envolvidos.

A gravação ambiental ou de comunicação telefônica:   A gravação ambiental é aquela


realizada no meio ambiente, podendo ser clandestina, quando desconhecida por um ou por
todos os interlocutores, ou autorizada, quando com a ciência e concordância destes ou
quando decorrente de ordem judicial. A gravação de comunicação telefônica clandestina
é aquela realizada por um dos interlocutores; não configura interceptação telefônica.

As gravações clandestinas são evidentemente ilegais, porquanto violam o direito à


privacidade e/ou à intimidade dos interlocutores, razão pela qual, em princípio e como
regra, configuram provas obtidas ilicitamente, pelo que serão inadmissíveis no processo.
Exemplo: gravadores, de câmaras de vídeo, ou por qualquer outro meio.

OBS Vitaminada: Não é esse o entendimento do STF no tocante à gravação de conversa


telefônica por um de seus interlocutores, consoante se pode verificar dos seguintes
julgados:

Habeas corpus. Trancamento de ação penal. investigação criminal realizada pelo


Ministério Público. Excepcionalidade do caso. Possibilidade. gravação clandestina
(gravação de conversa telefônica por um interlocutor sem o conhecimento do
outro). Licitude da prova. Precedentes. ordem denegada. 1. Possibilidade de
investigação do Ministério Público. Excepcionalidade do caso. O poder de
investigar do Ministério Público não pode ser exercido de forma ampla e irrestrita,
sem qualquer controle, sob pena de agredir, inevitavelmente, direitos
fundamentais. A atividade de investigação, seja ela exercida pela Polícia ou pelo
Ministério Público, merece, por sua própria natureza, vigilância e controle. O tema
comporta e reclama disciplina legal, para que a ação do Estado não resulte
prejudicada e não prejudique a defesa dos direitos fundamentais. A atuação deve
ser subsidiária e em hipóteses específicas. No caso concreto, restou configurada
situação excepcional a justificar a atuação do MP: crime de tráfico de influência

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

praticado por vereador. 2. Gravação clandestina (Gravação de conversa telefônica


por um interlocutor sem o conhecimento do outro). Licitude da prova. Por mais
relevantes e graves que sejam os fatos apurados, provas obtidas sem a observância
das garantias previstas na ordem constitucional ou em contrariedade ao disposto
em normas de procedimento não podem ser admitidas no processo; uma vez
juntadas, devem ser excluídas. O presente caso versa sobre a gravação de conversa
telefônica por um interlocutor sem o conhecimento de outro, isto é, a denominada
“gravação telefônica” ou “gravação clandestina”. Entendimento do STF no sentido
da licitude da prova, desde que não haja causa legal específica de sigilo nem
reserva de conversação. Repercussão geral da matéria (RE 583.397/RJ). 3. Ordem
denegada.

(HC 91613, Relator(a):  Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em


15/05/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-182 DIVULG 14-09-2012 PUBLIC
17-09-2012)

EMENTA: PROVA. Criminal. Conversa telefônica. Gravação clandestina, feita


por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro. Juntada da transcrição em
inquérito policial, onde o interlocutor requerente era investigado ou tido por
suspeito. Admissibilidade. Fonte lícita de prova. Inexistência de interceptação,
objeto de vedação constitucional. Ausência de causa legal de sigilo ou de reserva
da conversação. Meio, ademais, de prova da alegada inocência de quem a gravou.
Improvimento ao recurso. Inexistência de ofensa ao art. 5º, incs. X, XII e LVI, da
CF. Precedentes. Como gravação meramente clandestina, que se não confunde
com interceptação, objeto de vedação constitucional, é lícita a prova consistente no
teor de gravação de conversa telefônica realizada por um dos interlocutores, sem
conhecimento do outro, se não há causa legal específica de sigilo nem de reserva
da conversação, sobretudo quando se predestine a fazer prova, em juízo ou
inquérito, a favor de quem a gravou.

(RE 402717, Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em


02/12/2008, DJe-030 DIVULG 12-02-2009 PUBLIC 13-02-2009 EMENT VOL-
02348-04 PP-00650 RTJ VOL-00208-02 PP-00839 RT v. 98, n. 884, 2009, p. 507-
515)

Em algumas hipóteses, a gravação é feita por um dos interlocutores, sem o conhecimento


do outro, para o fim de proteção de determinado interesse daquele, quando, dependendo do
caso concreto, será apta a excluir a ilicitude. O STJ admitiu, inclusive, a gravação feita por
interlocutora irmã da vítima assassinada e outro interlocutor incapaz (HC 75794, 2011). A
regra, porém, é a da inadmissibilidade das gravações ambientais clandestinas, por violação
de direitos de terceiros ou do acusado.

Frequentemente encontram-se na jurisprudência, particularmente no STJ, decisões no


sentido de distinguir a gravação clandestina feita por um dos interlocutores, sem o
conhecimento do outro, daquela realizada por terceiros. Afirma-se que apenas estas últimas
seriam ilícitas.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Para que seja válida a revelação da gravação feita por um dos interlocutores, sem o
conhecimento do outro, é necessário que esteja presente situação de relevância jurídica a
que poderíamos chamar de justa causa, conforme se vê, por exemplo, no art. 153 do CP, no
qual se estabelece ser crime a divulgação de conteúdo de documento particular ou de
correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, sem justa causa. A justa
causa aqui referida diz respeito a uma motivação que possa validamente ser reconhecida
pelo Direito, como é o caso, por exemplo, do estado de necessidade, como causa de
justificação da conduta tipificada penalmente. Justa causa poderá ocorrer, assim, quando a
revelação do conteúdo se destinar a provar fato cuja existência seja relevante para a defesa
de direito daquele que promoveu a gravação. Não só de Direito Penal, como seria o caso de
possível descobrimento da autoria do crime, mas de todo o Direito.

Excludente de ilicitude: Feitoza, p. 676 - seja na recepção, seja na interceptação


telefônica, a gravação que é feita sem ordem judicial, mas amparada por justificativa penal
(legítima defesa, estado de necessidade, contra agentes públicos, assegurar direito de
defesa) afasta a ilicitude da gravação, ensejando sua utilização como prova lícita – desde
que o conteúdo da gravação possa ser utilizado como meio de proteção de direito individual
fundamental. Há precedentes do STF no sentido da aceitação da prova de interceptação
autorizada por um dos interlocutores, como meio de defesa. STJ, Apn 644 (30.11.2011):
“Em preliminar, a Corte Especial decidiu que não há violação aos direitos à intimidade ou à
privacidade na gravação ambiental feita no interior do prédio da prefeitura municipal. E,
diante do virtual conflito entre valores igualmente resguardados pela Constituição, deve
prevalecer um juízo de ponderação, admitindo-se a prova colhida (...)”.

Encontro fortuito de provas: Feitoza (p. 683) cita Antônio Scarance Fernandes e Luiz
Flávio Gomes, que admitem o encontro fortuito de prova na interceptação, referente a
crime diverso, quando este é conexo com o crime investigado e de responsabilidade do
mesmo sujeito. Caso contrário, a prova seria nula, servindo apenas como notitia criminis, a
partir da qual poderia ser feita nova investigação de maneira independente.

Comunicações epistolares: STF, HC 70814 – a administração penitenciária, com


fundamento na segurança pública, ou na disciplina prisional, pode, em caráter excepcional,
respeitada a regra do art. 41 da Lei n. 7210/84 (LEP), proceder á interceptação da
correspondência remetida pelos sentenciados; garantia do sigilo não pode ser salvaguarda
de práticas ilícitas.

Estado de Defesa e Estado de Sítio: podem ser afastadas as garantias de sigilo de


correspondência e de comunicações telegráficas ou telefônicas (art. 136, I, b, c, e art. 139,
III, da CF).

Informativo do STF

- Nº 701

Teoria do juízo aparente


Determinado juiz decreta a interceptação telefônica dos investigados e, posteriormente,
53
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

chega-se à conclusão de que o juízo competente para a medida era o Tribunal. Esta prova
colhida é ilícita? Não necessariamente. A prova obtida poderá ser ratificada se ficar
demonstrado que a interceptação foi decretada pelo juízo aparentemente competente. Não
é ilícita a interceptação telefônica autorizada por magistrado aparentemente competente ao
tempo da decisão e que, posteriormente, venha a ser declarado incompetente. Trata-se da
aplicação da chamada “teoria do juízo aparente”.
Segunda Turma. HC 110496/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 9.4.2013.

- Nº 694

Interceptação telefônica
Não é necessária a transcrição integral dos diálogos captados por meio de interceptação
telefônica. Basta que sejam transcritos os trechos necessários ao embasamento da denúncia
oferecida e que seja entregue à defesa todo o conteúdo das gravações em mídia eletrônica.
No entanto, não haverá, em princípio, qualquer irregularidade caso o juiz da causa entenda
pertinente a degravação de todas as conversas e determine a sua juntada aos autos.
Plenário. AP 508 AgR/AP, rel. Min. Marco Aurélio, 7/2/2013.

Informativo do STJ

- Nº 539

A serendipidade no encontro de provas de novos crimes inicialmente não investigados


é admitida pela jurisprudência. O fato de elementos indiciários acerca da prática de crime
surgirem no decorrer da execução de medida de quebra de sigilo bancário e fiscal
determinada para apuração de outros crimes não impede, por si só, que os dados colhidos
sejam utilizados para a averiguação da suposta prática daquele delito. Com efeito, pode
ocorrer o que se chama de fenômeno da serendipidade, que consiste na descoberta fortuita
de delitos que não são objeto da investigação. (HC 282.096-SP, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, 6ª Turma, julgado em 24/4/2014)

Prova oral MPF: 19. Qual é o recurso cabível em face da decisão que julga o pedido de
devolução dos bens apreendidos?

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

4.c. Revisão criminal.


Obras consultadas.

Oliveira, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. Ed. Atlas 2012.

Lima, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 2ª edição. Salvador: Ed. Juspodivm,
2014.

Legislação básica.

Art. 626 e seguintes do CPP.

O Estado deve sempre se preocupar com a possibilidade de revisão dos atos judiciais,
quando comprovado o equívoco ou a injustiça da decisão, ainda que isso importe em
desconstituir a coisa julgada. Renato Brasileiro afirma que “pode parecer que a revisão
criminal viola a coisa julgada. Pelo contrário. Conquanto tenha por objetivo a
desconstituição de uma decisão irrecorrível, a revisão criminal acaba por valorizar a
coisa julgada, já que o que a sociedade espera é a estabilidade da decisão justa e não a
manutenção de pronunciamento judicial caracterizado por erro de fato ou de direito”
(Brasileiro, p. 1718, 2014). Em matéria penal, quando em risco a liberdade individual,
direito fundamental da pessoa, semelhante preocupação seria ainda mais justificada. A
revisão criminal tem este destino: permitir que a decisão condenatória passada em julgado
possa ser novamente questionada.

Tem natureza jurídica de ação autônoma de impugnação, muito embora esteja situada no
CPP no capítulo dos recursos em geral (Brasileiro, p. 1719, 2014).

A revisão dos processos findos será admitida: I - quando a sentença condenatória for
contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos; II - quando a sentença
condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos;
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado (que
terão de ser pré-constituídas, já que não se admite dilação probatória em sede de revisão
criminal, Renato Brasileiro, p. 1731, 2014) ou de circunstância que determine ou autorize
diminuição especial da pena; IV – configuração de nulidade processual (hipótese que se
extrai art. 626 do CPP). Logo, é ação de fundamentação vinculada. Ainda que o art. 621,
em todos os seus incisos, faça menção de que a natureza da decisão contra a qual poderá ser
requerida a revisão seja condenatória, a doutrina é pacífica no sentido de admitir a revisão
criminal de sentença absolutória imprópria com trânsito em julgado. Ora, embora seja
denominada de absolutória, tem inegável carga condenatória, ao submeter o acusado a
medida de segurança, verdadeira espécie de sanção penal (Brasileiro, p. 1723, 2014).

A revisão poderá ser requerida em qualquer tempo, antes da extinção da pena ou após,
pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Não deve ser exigida capacidade postulatória

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

(advogado habilitado na OAB). Art. 631 do CPP: “Quando, no curso da revisão falecer a
pessoa, cuja condenação tiver de ser revista, o presidente do tribunal, nomeará curador para
a defesa”, não se abrindo prazo para habilitação dos herdeiros, embora nada impeça que os
sucessores se habilitem.

Não será admissível a reiteração do pedido, salvo se fundado em novas provas. Pacelli: a
vedação à reiteração do pedido independe da identidade das partes no pedido anterior; ou
seja, a vedação é para qualquer legitimado.

Segundo o Pretório Excelso, o MP não é legitimado para formalizar a revisão criminal


(RHC 80796). Vale ressaltar que prevalece, na doutrina o entendimento de que o MP
também tem legitimidade para ingressar com pedido de revisão criminal, desde que o faça
logicamente, em favor do acusado, considerando que, em sede de alegações finais, o MP
pode pugnar pela absolvição do acusado, além de que pode impetrar habeas corpus em prol
da proteção à liberdade de locomoção dos cidadãos em geral, v. arts. 385 e 654 do CPP
(Brasileiro, p. 1721, 2014).

Serão julgadas pelo STF, quanto às condenações por ele proferidas. TJ ou TRF, o
julgamento será efetuado pelas câmaras ou turmas criminais, reunidas ou em sessão
conjunta, quando houver mais de uma, e, no caso contrário, pelo tribunal pleno. Relator
não poderá ter pronunciado qualquer decisão em qualquer fase do processo anterior.
Há revisor. O requerimento será instruído com a certidão de trânsito e peças necessárias à
comprovação dos fatos. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a
classificação da infração, absolver o réu, modificar a pena ou anular o processo. Não
poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista. O tribunal, se o interessado o
requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa indenização pelos prejuízos sofridos. A
indenização não será devida se o erro ou a injustiça da condenação proceder de ato ou falta
imputável ao próprio impetrante, como a confissão ou a ocultação de prova em seu poder
ou se a acusação houver sido meramente privada (Pacelli critica e entende que mesmo o
erro judicial na ação privada é indenizável.

Tribunal superior não será competente para revisão criminal se não conheceu do
RESP/RE (prova objetiva do 26º MPF 2011). Se conheceu do RESP/RE, é necessário
verificar se o fundamento da revisão coincide com a questão apreciada no âmbito de tais
recursos. Se coincidir, a competência para o julgamento será do STJ ou do STF, conforme o
caso. Afinal, por força do denominado efeito substitutivo, quando um recurso é conhecido
pelo juízo ad quem, o julgamento proferido pelo Tribunal substituíra a decisão recorrida no
que tiver sido objeto de recurso. Caso a matéria não tenha sido conhecida pela instância
superior, a competência para julgamento da revisão criminal será do Tribunal a quo ou da
Turma Recursal (Brasileiro, p. 1734, 2014)

Súmula 393 do STF: não é necessário o recolhimento do réu à prisão para ação de revisão
criminal.

Caberá revisão criminal se houver mudança jurisprudencial (interpretação do direito), sem


novas provas. Não é permitida revisão criminal no interesse da acusação contra o acusado.
Vedação do in dubio pro societate. Muito embora não se admita a revisão criminal pro

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

societate, o STF já a admitiu em hipótese na qual o acusado teve extinta a sua punibilidade
com base em certidão de óbito falsa, sob o fundamento de inexistência de coisa julgada em
sentido estrito, pois, caso contrário o acusado estaria sendo beneficiado de sua conduta
ilícita e, por sua vez, de sua própria torpeza. Asseverou o STF que a extinção da
punibilidade pela morte do agente ocorre independentemente da declaração, sendo
meramente declaratória a decisão que reconhece, a qual não há de subsistir se o seu
pressuposto é falso (HC nº 84.525/MG, Rel. Min. Carlos Velloso) (Brasileiro, p. 1724,
2014).

Possibilidade de ajuizamento para alteração de julgamento do Tribunal do Júri, havendo


divergência doutrinária quanto à possibilidade de juízo rescisório e/ou de juízo rescidente.
Prevalece no STJ que somente é possível haver o juízo rescidente, já que o Tribunal do Júri
é o juiz natural para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, não cabendo aos
Tribunais em geral substituí-los para desconstituir ou cassar seus julgados, sob pena de
malferir a soberania de seus julgados (RESP nº 1.172.278/GO e Brasileiro, p. 1725/1726,
2014).

Nada obsta a que seja ajuizada revisão criminal de condenações proferidas no âmbito dos
Juizados Especiais, já que elas não se confundem com a rescisória e são expressão da
garantia constitucional da ampla defesa e da realização da justiça. (Brasileiro, p. 1726,
2014).

Não se admite revisão criminal das sentenças que tenham homologado transação penal,
porque não há sentença condenatória, nem absolutória imprópria, quiçá análise da conduta
do acusado e das provas a respeito de existência da autoria e da materialidade delitiva.
Logo, na aplicação do instituto da transação penal, não se analisa fato típico, antijurídico e
culpável, mas apenas faculta-se ao suposto autor do fato a se submeter a um pena restritiva
de direitos ou multa, em troca de não se ver processado e condenado, com todas as
consequências daí resultantes. De igual modo, não se admite revisão criminal das decisões
políticas que determinem o afastamento do Chefe do Poder Executivo e de Ministros de
Estado, em processos de Impeachment, já que se trata de sanção política, decorrentes de
crime de responsabilidade que têm natureza jurídica de infração político-administrativa,
cuja competência é do Poder Legislativo, não podendo o Judiciário revisar os julgados
daquele poder, sob pena de ofender o arranjo constitucional dos poderes (Brasileiro, p.
1726/1727, 2014)

Vale para o caso de atualização da jurisprudência. Se for alteração legislativa, nem precisa
revisão: basta petição à VEC ou HC. Qualquer alteração possível na dosimetria permite
revisão. Revisão criminal não tem efeito suspensivo. Se o acusado foi condenado com
decisão transitada em julgado, não se pode postular liberdade com base na demora do
julgamento da revisão criminal. (HC 169.605-GO), STJ. Diverge-se sobre a
possibilidade de o MP ajuizar revisão criminal. A lei não prevê. Pelo concurso (objetiva) do
MP/SP (2011), entendeu-se incabível. Quem defende sustenta que só poderá em benefício
do condenado. TJ PR entendeu cabível. REVISÃO CRIMINAL Nº. 512.123-9 Cabe
reiteração do pedido de revisão. MP será o polo passivo. (objetiva do MP SP 2011). Cabe
mesmo que morto o requerente (objetiva do TRF 3ª 2010). Só poderá ser proposta uma vez,
salvo se fundada em novas provas. Não se exige capacidade postulatória, ou seja, cabe

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

revisão sem advogado. Tribunal superior só é competente se, concretamente, analisaram o


mérito da decisão condenatória. Relator pode determinar produção de novas provas (ex:
testemunhais) A amplitude da matéria a ser examinada é a maior possível. Tribunal
pode absolver mesmo se pedido for de anulação ou diminuição da pena. Se pedir
absolvição, Greco Filho diz que tribunal não pode anular; Pacelli diz que pode. Assim,
tribunal pode alterar a classificação (mais branda), absolver, modificar a pena ou
anular o processo ou julgar improcedente. JUÍZO RESCINDENTE: tribunal julga
procedente a revisão e desconstitui a decisão anterior. JUÍZO RESCISÓRIO: tribunal
julga novamente, reforma. Se há anulação, não há rescissorium. E aí devolve ao juiz
anterior. Não aplica teoria da causa madura, sob pena de supressão de instância. Deve ser
observado o princípio da ne reformatio in pejus direta por meio do qual não se admite que
o Tribunal, ao reformar o julgado a quo, profira decisão desfavorável ao réu. Do mesmo
modo, deve-se atentar para o princípio da ne reformatio in pejus indireta, aplicável na
hipótese em que o Tribunal, que julgar a revisão criminal, anule e determine que o juízo a
quo profira nova decisão, hipótese em que este ficará adstrito ao máximo de pena imposta
no primeiro decisum, não podendo agravar a situação do acusado.

O ônus da prova na revisão criminal recai sobre o acusado requerente, não se aplicando o
in dubio pro reo, eis que já formada coisa julgada em seu desfavor, havendo um juízo de
veracidade e certeza em relação ao crime pelo qual fora condenado, razão pela qual se
aplica o in dubio contra reo (Brasileiro, p. 1738, 2014).

Recursos cabíveis: todos, com exceção do recurso de apelação e do recurso de embargos


infringentes, cabendo destacar a hipótese de recurso inominado (que faz às vezes de agravo
regimental) quando o relator rejeitar liminarmente o pedido revisional, se deficientemente
instruído e se contrário ao interesse da justiça o apensamento dos autos originais, v. art.
625, §§3º e 4º (Brasileiro, p. 1739)

Súmula de Jurisprudência

393: “Para requerer revisão criminal, o condenado não é obrigado a recolher-se à prisão”.

Informativo do STF

- Nº 733

HABEAS CORPUS IMPETRADO NO ÂMBITO DE PROCESSO DE REVISÃO


CRIMINAL

I – Em se tratando de habeas corpus impetrado no âmbito de processo de revisão criminal, a


controvérsia deve ser examinada e decidida à luz e nos limites admitidos para a revisão de
sentenças, estabelecidos no art. 621 do CPP. A ação de habeas corpus não se mostra
adequada para formular pretensões que ultrapassem esses limites, ampliando as hipóteses
de revisão criminal.
II – É inviável a discussão sobre eventual impedimento ou suspeição de magistrado ou
membro do Ministério Público na via estreita desse habeas corpus por envolver
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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

aprofundada análise de elementos fático-probatórios.


III – Fica afastada a tese de delito único, se os autos evidenciam a continuidade delitiva.
Ainda que se trate de apenas um único contrato de fornecimento de refeições por
determinado prazo, o certo é que um novo crime de desvio de dinheiro público se
consumou a cada nota fiscal emitida pela empresa do corréu sem a devida entrega das
refeições à Prefeitura.
STF. 2ª Turma. RHC 116947/SP, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/12/2013.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

5.a. Ação Penal: espécies e requisitos.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR (Eugênio Pacelli de
Oliveira. Curso de processo penal. Editora Atlas, 2012 e 2014. Nestor Távora. Curso de
direito processual penal. Editora JUSPODIVM, 2009. Lima, Renato Brasileiro de. Manual
de Processo Penal. Editora Juspodivm, 2014).

Espécies:

1) Ação penal pública

1.1) Incondicionada: constitui a regra no ordenamento (a CF adotou o modelo acusatório


público e dispõe o art. 100 do CP que a ação penal é pública, salvo quando a lei
expressamente a declara privativa do ofendido). Conforme destaca Pacelli, do dever estatal
da persecução penal resulta a obrigatoriedade do MP em promover a ação penal. Ou seja,
quando verificada a conduta delituosa e satisfeitas as condições da ação penal não possui o
parquet discricionariedade. Porém, defende Pacelli que, em virtude da independência
funcional do MP, verificada uma das causas de justificação da conduta, pode o parquet
requerer o arquivamento (a prova da existência das excludentes deve se apresentar de modo
incontestável, longe de qualquer dúvida razoável). Nesse sentido é o enunciado 21 da
2ªCCR. O princípio da obrigatoriedade da ação penal traz desdobramentos que se traduzem
na indisponibilidade, oficialidade (legitimação da persecução em órgãos do Estado),
autoritariedade e oficiosidade (algumas das classificações doutrinárias utilizadas, de acordo
com Pacelli).

Pacelli destaca alguns casos em que a ação será pública incondicionada: Lei 8.069/90
quando praticados contra criança ou adolescente, Lei 11.101/05 (Falências), Lei 10.741/03
(Estatuto do Idoso) e crimes eleitorais, sendo que neste último caso é possível a ação
privada subsidiária da pública. Discricionariedade regrada: alguns doutrinadores sustentam
sua existência após a introdução no ordenamento jurídico do instituto da transação penal.
Seria uma forma de mitigação do princípio da obrigatoriedade da ação penal. Pacelli não
concorda com tal entendimento, até mesmo por entender que não existe discricionariedade
na sua aplicação por parte do parquet, mas tão somente em relação à modalidade de pena a
ser objeto de transação.

1.2) Condicionada: impõe-se uma condição de procedibilidade: a representação ou


requisição do Ministro da Justiça, tendo em conta o strepitus iudicii (na tradução livre seria
o escândalo do processo, que pode atingir a vítima). Pacelli observa que no caso de
requisição do Ministro da Justiça, há repercussões de ordem política que são levadas em
consideração, motivo pelo qual existe a referida norma, e que em tais casos a “requisição”
aplica-se a inquérito policial, pois não pode haver requisição de ação penal, pois esta se
insere na titularidade e independência funcional do MP. Pode haver ainda interesse tutelado
que diga respeito às relações de Direito Internacional (art. 7º, §3º, b, do CP – crime
cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil – requisição do Ministro da
Justiça). Há, ainda, casos em que a representação do ofendido serve tão somente para
dimensionar a efetiva lesão ao bem jurídico (representação do ofendido nos crimes de
ameaça – art. 147 do CP e sigilo de correspondência – 151 e seguintes do CP).
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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Características da representação: i) sem ela, não pode sequer ser iniciado o inquérito
policial ou lavrado o auto de prisão em flagrante, contudo, nada obsta que seja preso em
flagrante delito, a fim de que seja cessada a agressão ao bem jurídico e mantida a paz e a
tranquilidade social, podendo a vítima representar o agressor no prazo de 24 horas, prazo
para emissão da nota de culpa (Brasileiro, p. 872 e 874, 2014); ii) consoante STF e STJ,
prescinde de rigor formal; iii) o prazo de 6 meses para seu oferecimento conta-se do
conhecimento da autoria pela vítima e ostenta natureza decadencial; nos juizados, a
representação é apresentada oralmente na audiência preliminar, acaso frustrada a
composição civil (art. 75 da Lei nº 9.099/95); iv) em se tratando de vítima menor de 18
anos, apenas seu representante poderá oferecê-la e o prazo decadencial só inicia quando
atingida a maioridade; v) em caso de morte ou declaração de ausência da vítima, o direito
passa ao CADI – cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 31 do CPP); vi) o MP
não está vinculado, donde pode enquadrar a conduta em dispositivo diverso ou promover o
arquivamento; vii) ostenta eficácia objetiva, de modo que, se a vítima indicar apenas parte
dos envolvidos o MP pode oferecer denúncia contra os demais coautores ou partícipes; viii)
enquanto não oferecida a denúncia é possível a retratação, oferecida a denúncia, a
representação é irretratável (art. 102 do CP e 25 do CPP). A doutrina majoritária admite
retratação da retratação quantas vezes a vítima reputar conveniente (mas dentro do prazo
decadencial).

Característica da requisição do MJ: i) tem por destinatário o PGJ ou PGR; ii) não se
submete a prazo decadencial, podendo ser ofertada enquanto não prescrito o crime; iii) o
MP não está vinculado; iv) ostenta eficácia objetiva (tal como a representação); v) pode
haver retratação, de acordo com o entendimento de Pacelli.

Lei Maria da Penha: a retratação da representação no âmbito da violência doméstica


somente pode ser feita mediante a autoridade judicial em audiência designada para tal fim
(art. 16 da Lei 11.340/06). V. ADI 4424 -  interpretação conforme aos artigos 12, inciso I, e
16, ambos da Lei nº 11.340/2006 -  natureza incondicionada da ação penal em caso de
crime de lesão, pouco importando a extensão desta, se leve ou grave, praticado contra a
mulher no ambiente doméstico.

Em relação a crime contra a honra do servidor público, a despeito do disposto na Súmula


714 do STF1, Pacelli entende que tal espécie de legitimação é alternativa e não concorrente,
pois sendo condicionada à representação, o MP jamais estaria legitimado a agir ex officio,
cabendo, portanto, ao ofendido optar entre a representação ou a propositura de ação privada
(uma opção exclui a outra).

1.3) Subsidiária da pública: prevista no art. 2º, §2º, do Decreto-lei nº 201/67, não foi
recepcionada pela CF/88.

2) Ação penal privada: A doutrina majoritária justifica a existência desta ação com base
no mesmo fundamento utilizado para a ação pública condicionada: o strepitus iudicii. Para
Pacelli, contudo, o fundamento é outro: tão somente reservar-se à vítima a opinio delicti,
pois o ordenamento prevê o perdão e a perempção apenas para a ação privada (se o
fundamento fosse o strepitus iudicii não teria previsto, já que estes institutos incidem
quando já foi divulgada a existência do fato).

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

2.1) Exclusivamente privada (ou propriamente dita): exercida pela vítima ou seu
representante legal, passível de sucessão nos casos de morte ou ausência

2.2) Personalíssima: o direito de ação só pode ser exercido pela vítima. O único exemplo
atualmente é o do art. 236 do CP (induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento
para/de casamento).

2.3) Subsidiária da pública (ou supletiva): funda-se no reconhecimento da existência


também de interesse privado na imposição de sanção penal ao autor (Pacelli). O prazo de 6
meses conferido ao particular para ajuizar a queixa inicia-se após o término do prazo do
MP. A atuação do MP, segundo Nestor Távora, dá-se a título de “interveniente adesivo
obrigatório”, o que lhe confere amplos poderes, previstos no art. 29 do CPP. Pacelli
defende que o MP não pode reduzir o campo temático inaugurado com a queixa, ignorando
ou afastando a imputação já feita pelo particular, porquanto se trata de garantia fundamental
(art. 5º, LIX, CF – verdadeiro direito de ação). Nos dizeres de Pacelli, o que pode a
denúncia substitutiva fazer é narrar o mesmo fato sob o enfoque de novas circunstâncias, de
maneira diversa quanto às consequências, bem como dar a ele nova definição jurídica e
fazer imputações aos mesmos e/ou a outros réus.

Requisitos: por utilizar o programa o termo “requisitos”, havendo divergência na doutrina


sobre o que seriam os mesmos, optou-se por abordar as condições da ação e os pressupostos
processuais, na divisão proposta por Pacelli.

Condições da ação:

A) interesse de agir: conforme destaca Pacelli, não se pode pensar em sanção penal sem a
existência do devido processo legal. Assim, o interesse de agir no processo penal desloca-se
para a seara da efetividade. Nesse contexto, Pacelli entende possível a aplicação futura da
prescrição retroativa, hipótese em que estaria ausente o interesse de agir (utilidade).
Contudo, cumpre observar que a prescrição em perspectiva (prescrição futura) NÃO é
aceita pelo STJ, sendo repelida por jurisprudência já consolidada, conforme enunciado n°
438 da súmula deste tribunal: “é inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da
pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência
ou sorte do processo penal”. Além disso, na prova obj. do 26ºCPR, na questão 100, foi
considerada incorreta a assertiva “o art. 110 CP permite a prescrição em perspectiva”;

B) legitimidade: no tocante à legitimidade remetemo-nos às observações já realizadas no


tópico das espécies de ações penais;

C) possibilidade jurídica do pedido: Pacelli entende de difícil transposição tal pressuposto


para o processo penal, pois é dever da acusação tão somente a imputação de um fato a
alguém, devendo o juiz adequar o fato à norma. Nestor Távora cita como exemplo de
ausência de possibilidade jurídica do pedido a hipótese do fato narrado na inicial
evidentemente não constituir infração penal. Tal posição é rebatida por Pacelli, que entende
que neste caso, nos termos do art. 397, III, do CPP, haverá absolvição sumária, o que
comprova que se trata de questão de mérito;

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

D) condições de procedibilidade: é condição que deve estar presente para que o processo
possa ter início (Brasileiro, p. 202, 2014). Neste ponto, cita-se como exemplos de condições
de procedibilidade impostas pela legislação: I) a representação nos casos de ações penais
públicas condicionadas e nas ações penais privadas: II) a decisão judicial de anulação de
casamento no crime do art. 236 do CP; III) a decisão que decreta a falência, concede a
recuperação judicial e homologa a extrajudicial nos crimes falimentares (Lei 11.101/05).
No tocante à Lei de Falência, o texto é expresso ao referir-se “a condição objetiva de
punibilidade”, mas Pacelli defende que também pode ser enquadrada como condição de
procedibilidade. Entende que é condição objetiva de punibilidade Renato Brasileiro, em
razão do que dispõe o art. 180 da Lei nº 11.101/05, ainda que a lei antiga a tivesse como
condição de procedibilidade (p. 203/204, 2014); IV) nos crimes contra a ordem tributária, já
pacificou o STF que o lançamento definitivo do tributo (SV24) é condição objetiva de
punibilidade e não de procedibilidade, cabendo ressaltar que essa condição objetiva de
punibilidade (a conclusão do processo administrativo) não é exigida para a deflagração da
ação penal pelos crimes formais contra a ordem tributária, a ex. do art. 2º, I, da Lei nº
8.137/90 (Brasileiro, p. 208, 2014);

E) justa causa: o que era antes criação doutrinária tornou-se matéria legal – artigo 395, III,
do CPP após alteração da Lei 11.719/08. Exige-se que a inicial acusatória venha
acompanhada de um suporte probatório mínimo. Visa preservar o estado de dignidade
mínimo do acusado dos efeitos nocivos daquele que sofre uma demanda criminal. Mas para
Pacelli, seu fundamento é também um desdobramento da ampla defesa, eis que o acusado
somente poderá opor-se aos fatos contra si articulados se tiver conhecimento dos elementos
mínimos utilizados na formação da opinio delicti do órgão acusatório. Pacelli entende que a
justa causa pode inclusive ser utilizada no curso de inquérito policial quando absolutamente
inexistentes quaisquer indícios.

F) justa causa duplicada (Brasileiro, p. 197/198, 2014): é o que a exigência, para


persecução penal do crime de lavagem de dinheiro, de que haja lastro probatório mínimo
não somente quanto à ocultação de bens, direitos ou valores, sendo indispensável que a
denúncia venha também instruída com provas demonstrando que tais valores são
provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. É o que, segundo Brasileiro, a
doutrina chama de justa causa duplicada, por haver a dupla exigência de que o lastro
probatório mínimo é exigido não só da ocultação de bens, como também da infração penal
antecedente (ressalte-se que a alteração promovida pela Lei nº 12.683/12 no art. 1º da Lei
nº 9.613/98 estabeleceu que poderá ser qualquer infração penal antecedente que poderá
ensejar os crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores). A esse respeito,
confira-se o art. 2º, §1º, da Lei nº 9.613/98 (com redação dada pela Lei nº 12.683/12): “a
denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal
antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido o autor,
ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente”. Depreende-se, portanto, que,
ainda que seja ignorada a autoria ou desconhecida do crime antecedente ou mesmo tenha
sido extinta a punibilidade por esses crimes, não há qualquer óbice ao oferecimento da
denúncia. Vale destacar qual o sentido da palavra indício naquele dispositivo, para
Brasileiro, representa “uma prova dotada de eficácia persuasiva atenuada (prova
semiplena), não sendo apta, por si só, a estabelecer a verdade de um fato. Em outras
palavras, no momento do recebimento da denúncia, é necessário um início de prova que
63
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

indique a probabilidade de que os bens, direitos ou valores ocultados seja provenientes,


direta ou indiretamente, de infração penal. Portanto, em sede de juízo de admissibilidade,
não há necessidade de um juízo de certeza acerca da infração pretérita”. Nesse sentido, o
STJ no HC nº 128.590/PR.

Questão da prova oral: Quais são as condições da ação penal? (resposta completa na pg
45 do arquivo consolidado de questões do grupo IV – alguém tem esse arquivo).  A
resposta traz como condições específicas genéricas a legitimidade ad causam, interesse de
agir, possibilidade jurídica do pedido e justa causa. Como condições específicas menciona
as condições de procedibilidade e as  condições objetivas de punibilidade.

Condições objetivas de punibilidade: Nestor Távora cita como exemplos a decisão


judicial de anulação de casamento no crime do art. 236 do CP; ingresso no País, do autor de
crime praticado no estrangeiro (art. 7º, parágrafos 2º, “a” e “b”, e 3º, CP); a admissão da
acusação pela Câmara dos Deputados, por 2/3 de seus membros, para que ele seja
submetido a julgamento no STF, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado
Federal, no crimes de responsabilidade (art.86, CF); a decisão que decreta a falência,
concede a recuperação judicial e homologa a extrajudicial nos crimes falimentares (Lei
11.101/05). No tocante à Lei de Falência, o texto é expresso ao referir-se “a condição
objetiva de punibilidade”, mas Pacelli defende que também pode ser enquadrada como
condição de procedibilidade. Nos crimes materiais contra a ordem tributária, já pacificou o
STF que o lançamento definitivo do tributo (Súm. Vinc. 24) é condição objetiva de
punibilidade e não de procedibilidade.

2.Pressupostos processuais:

a) pressupostos de existência: de acordo com Pacelli (p. 119/121, 2014), restringe-se à


existência de órgão investido de jurisdição, podendo-se até admitir a inclusão da existência
de demanda (ato de pedir em juízo e não o próprio pedido). Nos demais casos (ausência de
citação, juiz incompetente, dentre outros), haveria processo;

b) requisitos de validade: *subjetivos: quanto ao juiz, deverá ser o mesmo competente e


imparcial. No tocante às partes deve-se observar a capacidade processual (menor de 18
anos deve ser representado) e capacidade postulatória. *objetivos: pode-se considerar a
necessidade de citação válida e a observância dos requisitos da denúncia ou queixa. Há
quem inclua a inexistência de coisa julgada e ausência de litispendência como requisito
objetivo de validade, mas tal entendimento é controverso, pois faz referência a vícios que se
localizam fora do processo uma vez que tal tema estaria ligado ao tema da admissibilidade
da ação e não à invalidade do processo.

Súmulas do STJ

Súmula 330 - É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do Código de

64
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Processo Penal, na ação penal instruída por inquérito policial. (Súmula 330, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 13/09/2006, DJ 20/09/2006 p. 232)

Súmula 64: Não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução,


provocado pela defesa.

Súmula 52: Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento


por excesso de prazo.

Súmula 21: Pronunciado o réu, fica superada a alegação do constrangimento ilegal da


prisão por excesso de prazo na instrução.

Súmulas do STF

Súmula714: É CONCORRENTE A LEGITIMIDADE DO OFENDIDO, MEDIANTE


QUEIXA, E DO MINISTÉRIO PÚBLICO, CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO
DO OFENDIDO, PARA A AÇÃO PENAL POR CRIME CONTRA A HONRA DE
SERVIDOR PÚBLICO EM RAZÃO DO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES.

Súmula 609: É PÚBLICA INCONDICIONADA A AÇÃO PENAL POR CRIME DE


SONEGAÇÃO FISCAL.

Súmula 608: NO CRIME DE ESTUPRO, PRATICADO MEDIANTE VIOLÊNCIA


REAL, A AÇÃO PENAL É PÚBLICA INCONDICIONADA.

Súmula 594: OS DIREITOS DE QUEIXA E DE REPRESENTAÇÃO PODEM SER


EXERCIDOS, INDEPENDENTEMENTE, PELO OFENDIDO OU POR SEU
REPRESENTANTE LEGAL.

Súmula 554: O PAGAMENTO DE CHEQUE EMITIDO SEM PROVISÃO DE FUNDOS,


APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, NÃO OBSTA AO PROSSEGUIMENTO
DA AÇÃO PENAL.

Súmula 524: ARQUIVADO O INQUÉRITO POLICIAL, POR DESPACHO DO JUIZ, A


REQUERIMENTO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA, NÃO PODE A AÇÃO PENAL SER
INICIADA, SEM NOVAS PROVAS.

Informativo do STF

- Nº 714 :
Denúncia (ação penal) formulada com base em inquérito civil
É possível o oferecimento de ação penal (denúncia) com base em provas colhidas no
âmbito de inquérito civil conduzido por membro do Ministério Público.
STF. Plenário. AP 565/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 7 e 8/8/2013.

65
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

5.b. O assistente no processo penal brasileiro.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR (Eugênio Pacelli de
Oliveira. Curso de processo penal. Editora Atlas, 2012 e 2014. Nestor Távora. Curso de
direito processual penal. Editora JUSPODIVM, 2009).

A assistência no processo penal brasileiro é modalidade de procedimento que viabiliza a


intervenção do ofendido (seu representante legal, no caso do menor de 18 anos e as pessoas
mencionadas no artigo 31 do CPP em caso de ausência ou morte daquele) na ação penal
pública.

OBS Vitaminada: Seu ingresso somente é admitido, após a instauração da demanda, com
o recebimento da denúncia. Na hipótese de rejeição, o assistente não tem legitimidade
recursal para recorrer, nos termos do art. 271 do CPP (Pacelli, p. 486, 2014).

Conforme entendimento de Pacelli, a legitimação do assistente não se dá em razão do


interesse exclusivamente patrimonial da sentença condenatória. Há legitimação também do
ofendido enquanto custos legis na aplicação da sanção penal pelo Estado. Reafirmando sua
posição, Pacelli entende que se o interesse fosse exclusivamente patrimonial não haveria o
reconhecimento quanto à possibilidade da ação penal subsidiária por parte do ofendido, que
possui à disposição o Juízo Cível ab initio. No mesmo sentido entende Nestor Távora, para
quem “a abstração dos interesses do ofendido não é condizente com a efetividade dos
direitos fundamentais da Constituição”. Cumpre ressalvar que há posição minoritária que
reputa a figura do assistente como incompatível com a Constituição, ancorando-se
basicamente em dois argumentos: a) a CF outorgou ao MP o dominus litis, não subsistindo
o art. 268 do CPP e b) o processo penal se transformaria em instrumento de vingança
privada.

Somente os crimes com sujeito passivo determinado admitem a assistência, de acordo com
Nestor Távora. Cumpre observar que Pacelli destaca que no caso do crime do artigo 184 do
CP, há previsão no artigo 530-H da legitimidade de associações de direitos de autor e os
que lhe são conexos, para atuar em nome próprio como assistente.

Pode a pessoa jurídica de direito público atuar como assistente de acusação? Pacelli
entende que sim, mas desde que haja comprovado interesse distinto daquele defendido pelo
MP. Cita como exemplo o caso de um Município que possui interesse em ação penal contra
servidor acusado de peculato por desvio de verbas públicas (o interesse seria em reaver os
bens indevidamente desviados, bem como a aplicação de futura sanção administrativa –
pela amplitude do campo probatório no processo penal). O interesse da pessoa jurídica de
direito público apenas como custos legis não se justifica, de acordo com Pacelli, pois neste
caso o Estado já está representado pelo parquet.

O assistente (ofendido ou as pessoas citadas no art. 31, CPP) pode intervir nas ações
públicas (art. 268, CPP), desde a propositura até o trânsito em julgado (art. 269), recebendo
o processo no estado em que se encontrar. Contudo, conforme destacada Pacelli, sendo a

66
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

atividade do assistente supletiva à do MP enquanto titular da ação, o “seu ingresso nos


autos somente é possível após a instauração da demanda, com o recebimento da denúncia”.
Na hipótese de rejeição da denúncia não se reconhece sua legitimidade recursal nos termos
do art. 271 do CPP (Pacelli, página 478).

O Ministério Público manifestar-se-á a respeito do pedido de assistência (art. 272), sendo


que não caberá recurso da decisão que admitir, ou não, a assistência (art. 273). A doutrina
defende o uso do Mandado de Segurança contra a decisão de inadmissibilidade. Caso o
assistente, devidamente intimado, não compareça a qualquer ato do processo, sem
justificativa para tanto, deixará de ser intimado para os atos posteriores (art. 271, §2º, CPP).
Quais as atribuições do assistente? De acordo com o art. 271, “Ao assistente será permitido
propor meios de prova, requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os
articulados, participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério
Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1o, e 598.” O assistente pode arrolar
testemunhas? A doutrina (LOPES Jr., Aury, 2011, p. 47), entende que não, pois o momento
processual adequado para arrolar testemunha é a denúncia, enquanto que o assistente só
ingressa no processo após a denúncia. No mesmo sentido PACELLI, para quem, de igual
modo, não poderia o assistente arrolar testemunhas tampouco aditar a denúncia. Segundo
essa visão, o assistente só poderia arrolar testemunhas para serem ouvidas no Plenário do
Júri. Há decisão antiga do STF admitindo tal hipótese (HC 72484, p. 01/12/95), bem como
decisão do STJ (HC 744672 , p. 04/06/07) entendendo possível, desde que não se ultrapasse
o número máximo de testemunhas (no mesmo sentido defende Pacelli em relação ao
procedimento do júri).

Há duas grandes discussões acerca do assistente, quais sejam, se ele poderá recorrer de
sentença absolutória, caso o MP não recorra; e se ele poderá recorrer para elevar a pena
fixada na sentença condenatória. O STF pacificou o entendimento de que o assistente
poderá recorrer da sentença absolutória. (HC 100243, p. 25/10/10, HC 102085, p.
27/08/10), caso o MP não recorra (no mesmo sentido defende Pacelli), em que pese
algumas opiniões doutrinárias afirmando a inconstitucionalidade desta interpretação diante
do art. 129, I, CF (titularidade do MP quanto à ação penal pública). Reconheceu-se a
validade da Súmula 210 (“o assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusive
extraordinariamente, na ação penal, nos casos dos arts. 584, § 1º, e 598 do código de
processo penal”) à luz da CF/88. A posição do STJ é a mesma (HC 137339, p. 01/02/11),
admitindo-se a atuação do assistente em caso de inércia do MP ou de recurso parcial. V.
também Súmula 208 STF (“o assistente do MP não pode recorrer extraordinariamente de
decisão concessiva de HC”).

Por outro lado, posicionam-se STF e STJ pela admissibilidade do recurso do assistente para
elevação da pena fixada na sentença condenatória, sob o fundamento de que a legitimidade
do assistente está calcada na busca por uma sentença justa e adequada, e não apenas pelo
interesse econômico resumido na criação do título executivo (art., 63, CPP), a saber: STF,
HC 102085, p. 27/08/10 STJ, HC 137339, p. 01/02/11, Resp. 696038, p. 26/05/08).

Observação: em relação à legitimidade recursal é importante destacar a posição atual de


PACELLI que, revendo entendimento anterior, passou a entender que o assistente somente
pode recorrer, na hipótese de inércia do MPF, para impugnar sentença absolutória e

67
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

extintiva da punibilidade, bem como as decisões de impronúncia (p. 486/187, 2014).


Sustenta ainda que não é possível o recurso do assistente contra sentença condenatória
buscando o agravamento da pena, pois implicaria violação ao devido processo legal em sua
dimensão da igualdade de participação, pelo viés do contraditório e da ampla defesa, para
que haja uma igualdade mínima entre as partes. Afinal de contas, outorgar legitimidade
recursal para agravamento da pena ao assistente, colocaria o acusado em posição de
desvantagem, na medida em que passariam a haver dois órgãos de acusação (p. 488, 2014).

O prazo para o assistente recorrer é o mesmo conferido ao MP, sendo que, como o
exercício dessa faculdade é supletiva, o prazo começará a contar do encerramento do prazo
do MP. Caso não esteja habilitado, o recurso deverá ser interposto no prazo de 15 dias, a
contar do dia em que terminar o prazo do MP, nos termos do parágrafo único do art. 598,
CPP (Súmula n. 448, STF).

O corréu não pode ser assistente da acusação contra os demais corréus (art. 270, CPP). A
assistência deve ser conduzida por advogado habilitado.

Não cabe assistência em sede de execução penal.

A assistência é direito subjetivo do ofendido e demais legitimados, somente podendo ser


indeferido o pedido caso provoque prejuízo à tramitação do feito, caso em que a decisão
poderá ser desafiada por meio de mandado de segurança (Pacelli).

INFORMATIVOS

STJ:

519:

Não há nulidade processual na hipótese em que o assistente de acusação, por não ter
arrazoado recurso interposto pelo MP após ter sido intimado para tanto, deixe de ser
intimado quanto aos atos processuais subsequentes. REsp 1.035.320-SP, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 2/4/2013

Questão cobrada na prova objetiva do TRF da 5ª Região em 2013:

Em relação aos sujeitos do processo, assinale a opção correta.

A) A atividade probatória do assistente de acusação independe do MP, sendo, por isso,


dispensável a oitiva do órgão de acusação no que se refere às postulações probatórias
propostas pelo assistente.  (errada, art. 271, §1º, CPP).

B) Conforme previsão do CPP, a atuação do assistente de acusação, que receberá a causa


no estado em que ela se encontra, é admitida enquanto não transitar em julgado a sentença,

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

vedada a participação de corréu no mesmo processo como assistente do MP. (correta)

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

5.c. Sigilos: bancário, fiscal e telefônico.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR (Eugênio Pacelli de
Oliveira. Curso de processo penal. Editora Atlas, 2012. Nestor Távora. Curso de direito
processual penal. Editora JUSPODIVM, 2009).

Legislação: Lei 9.296/06 e LC 105/01.

Para viabilizar a atuação estatal na apuração dos delitos, é mister o acesso do poder público
às informações veiculadas por qualquer meio. O processo penal só se aproxima da justiça
e verdade material quando não tolera limites à busca da prova. Em um Estado
democrático de direito, em que o poder é visível e legítimo, não se justifica fazer do
sigilo um dogma, até porque os agentes públicos devem fazer o uso devido da informação
sigilosa, sob pena de cometerem crime (BATINI, 1996).

Diante do conflito aparente entre o dever de investigar e o direito à intimidade, devem-se


ponderar os interesses conflitantes no caso concreto (BATINI, 1996). Nesse contexto, de
fundamental importância a disciplina da inadmissibilidade das provas ilícitas. Pacelli
entende que a norma que assegura a vedação ao uso de provas ilícitas serve a um só tempo
como tutela de direitos e garantias individuais, bem como controla a qualidade do material
probatório que pode ser introduzido e valorado no processo.

Garantias constitucionais e obtenção de provas na persecução penal:

Gravações ambientais: apesar de não constar expressamente no ponto, tal matéria tem
sido objeto de questionamento em muitos certames e foi abordada pelo examinador na
questão nº 109 da prova objetiva do 26º Concurso do MPF.  Percebe-se que os dois
primeiros enunciados estão em harmonia com a posição defendida por Eugênio Pacelli,
para quem o que irá determinar a ilicitude da prova no caso de gravação não é o fato de
haver sido realizada por terceiros ou por um dos interlocutores da conversa, mas sim a
existência ou não de justa causa para sua divulgação. Pacelli cita como exemplo de justa
causa o disposto no artigo 153 do CP. Trata-se a justa causa, neste ponto, de acordo com o
autor, de uma “motivação que possa ser validamente reconhecida pelo direito”.  Sustenta
posição no sentido de que as gravações devem ser analisadas dentro do conceito de
tipicidade conglobante de Zaffaroni. Quando não afastada a ilicitude da gravação, sua
utilização deve ser pautada pelo princípio da proporcionalidade. Importante observar ainda
que Pacelli salienta que a gravação feita sem o consentimento de um dos interlocutores e na
qual é obtida a confissão de um crime não é admissível no processo por violar o direito ao
silêncio. Nesse sentido entendeu o STF (HC 69.818).

Sigilo telefônico: podem ser interceptadas as comunicações telemáticas e informáticas, nos


termos do art. 5º, XII, CR: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal”. A Lei 9.296 regulamenta as hipóteses de
interceptações telefônicas (inclui-se também o fluxo de informações em sistema de
informática e telemática).
70
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Contudo, cumpre destacar que é inconstitucional o art. 3º da Lei 9.034/953 na parte não
revogada pela LC 105/01 (ADI 1570) — há comprometimento do princípio da
imparcialidade e consequente violação ao devido processo legal; além disso, as funções
de investigador e inquisidor são conferidas ao Ministério Público e às Polícias Federal e
Civil (CF, artigo 129, I e VIII e § 2o; e 144, § 1o, I e IV, e § 4o)—, é inconstitucional o art.
3º da Lei 9.296/96, ao permitir que o juiz, na fase pré-processual, determine de ofício a
interceptação telefônica. Esse dispositivo deve ser interpretado conforme a CR, limitando-
se sua aplicação à fase processual, quando os postulados da imparcialidade judicial e do
sistema acusatório, embora vigentes, devem ser harmonizados com os princípios da
verdade real e livre convencimento (parecer na ADI 4112 – Duprat). O prazo para a
interceptação é de 15 dias renovável por mais 15. Contudo, a posição do STF (HC
83.515/RS), bem como do STJ (HC 50.193) é no sentido da possibilidade de renovação
tantas vezes quanto for necessário, desde que comprovada a indispensabilidade da
diligência. No entanto, como nenhum direito fundamental pode se restringido
indefinidamente, o excesso não pode ser desarrazoado, caso em que a prova será ilícita.
Nesse sentido se manifestou o STJ no HC 76.686-PR, em decisão inédita, na qual anulou
quase 2 anos de interceptações, eis que foram prorrogadas sem justificativa razoável. Por
fim, conforme destaca Pacelli, a quebra do sigilo dos dados telefônicos (dos registros dos
telefonemas dados e recebidos por um aparelho) também necessitam de autorização judicial
por tais informações estarem abrangidas pela privacidade e intimidade do
investigado/acusado (o STF entende, contudo, conforme decisão no MS 24817, que o sigilo
dos dados telefônicos – e não o conteúdo das comunicações – pode ser acessado por CPI do
Poder Legislativo). Prova encontrada e “crimes de catálogo” – STF HC nº 100.524/PR,
verbis: “É lícita a utilização de informações obtidas por intermédio de interceptação
telefônica para se apurar delito diverso daquele que deu ensejo a essa diligência, (...)
sendo incontestável o reconhecimento da licitude da prova encontrada quando o fato
desvelado fortuitamente se encontre entre os chamados ‘crimes de catálogo’ - isto é, entre
aqueles para a investigação dos quais se permite autorizar a interceptação telefônica”.

Sigilos bancário e fiscal: em relação aos sigilos bancário e fiscal, Pacelli defende que a lei
pode atribuir a outras autoridades do Poder Público a flexibilização do direito à
intimidade/vida privada que não se apresenta como absoluto. Assim, o referido autor
entende não ser inconstitucional a LC 105/01, ao autorizar as autoridades fazendárias,
desde que haja procedimento administrativo ou fiscal instaurado a examinar documentos,
livros, registros, incluindo os referentes a contas e aplicações financeiras. Em relação ao
tema, percebe-se que o STF no julgamento do RE 389.808 entendeu ser necessária
autorização judicial para os atos previsto na LC 105/01. Contudo, em face da mudança na
composição do STF não se sabe ainda qual será a posição definitiva sobre o tema,
encontrando-se pendente de julgamento ADI nº 4010 sobre o tema e repercussão geral
reconhecida no RE nº 601.314/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski. O STJ tem entendido
pela necessidade de autorização judicial (5ª Turma, HC 160.646, julgado em 01.09.2011 –
Informativo STJ nº 482). Porém, Pacelli critica tal posição e entende que a LC 105/01
respeitou a proporcionalidade, bem como a LC nº 75/93 ao permitir acesso aos dados por
parte dos membros do MPU.

No MS 21729, o Pleno do STF havia decidido não poder o BB negar ao MPF


informações sobre nomes de beneficiários de empréstimos concedidos pela instituição,
71
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

com recursos subsidiados pelo erário federal, a pretexto do sigilo bancário.  Contudo,
conforme destaca Pacelli, tal precedente não tratava de quebra de sigilo, mas sim de
rastreamento de verbas públicas.

Acesso aos dados bancários, fiscais e registros telefônicos por CPI: o STF no
julgamento do MS 24.817 entendeu que o sigilo bancário, fiscal e de registros telefônicos
são garantias que não estão cobertas pela reserva absoluta de jurisdição. De fato,
atualmente a jurisprudência não admite, por nenhum motivo, a quebra do sigilo bancário
sem o socorro judicial, exceção feita à CPI. Há hoje dois conceitos de reserva de
jurisdição: um, mais amplo, impedindo o acesso às liberdades públicas a qualquer
autoridade que não o juiz; outro mais, restrito, aplicável às CPIs, relativamente à prisão,
busca domiciliar e interceptação de comunicação de dados e telefônica (PACELLI e
FISCHER, 2011, pp. 307,308 e 310).

Por fim, merece destaque a posição firmada no STF (ACO 730-RJ, julgada em 2004), no
sentido de que a quebra de sigilo bancário é poder inerente às CPIs Federais e
Estaduais, mas não pode ser determinada por CPI Municipal.

Importante inovação legislativa é a que decorre do art. 17-B da Lei nº 9.613/98,


acrescentado pela Lei nº 12.683/12, ao prever que o acesso pelo Ministério Público e pelas
autoridades policiais, exclusivamente, dos dados cadastrais do investigado que informam
qualificação pessoal, filiação e endereço, independentemente de autorização judicial,
mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas telefônicas, pelas instituições financeiras,
pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartão de crédito. Trata-se de
medida destinada ao esclarecimento da identificação civil do investigado. Muito embora o
dispositivo não se restrinja aos Crimes de Lavagem de Dinheiro e de Ocultação de Bens e
Direitos, Pacelli entende que tal disposição deve ficar restrita aos crimes previstos na Lei nº
9.613/98 (p. 361, 2014).

Prova 25ºCPR: questão 107 (violação de sigilo) e 114 (interceptação telefônica)

“114. EM TEMA DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, É CORRETO AFIRMAR


QUE:

a) ( ) a jurisprudência atual dos tribunais superiores não vem admitindo como lícita a
gravação feita por um dos interlocutores da conversa.

b) ( ) o pedido de quebra de sigilo telefônico deverá ser feito sempre por escrito e decidido
de forma fundamentada.

c) ( ) não cabe a quebra do sigilo telefônico para investigação de crime de constrangimento


ilegal (art. 146 do CP).

d) ( ) a interceptação telefônica somente pode ser deferida na fase investigatória, com


exceção dos crimes definidos na Lei 11.3431/2006 que admite a medida em qualquer fase
da persecução criminal. ”
72
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Questão anulada (gabarito inicial marcava letra b).

73
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

6.a. Hipóteses e requisitos para arquivamento de inquéritos e


investigações criminais.
Obras consultadas:

Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 16ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.

Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012.

Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 2ª ed. Salvador: Juspodivm. 2014.

Denilson Feitosa. Direito Processual Penal. Teoria, Crítica e Práxis. 7ª ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2010.

Legislação básica: Art. 17 do CPP, Enunciados 2° CCR: 5, 7, 9, 10, 19, 21, 25, 29, 32, 33,
34, 35, 36, Súmula 524 do STF.

1. Noções Gerais.

Encerradas as investigações, os autos do inquérito são encaminhados ao MP (o delegado


não pode desistir do inquérito ou o arquivar – art. 17 do CPP), que poderá adotar as
seguintes providências: a) oferecer denúncia; b) requisitar novas diligências; e c) requerer o
arquivamento do inquérito se entender: pela existência manifesta de causa excludente da
ilicitude do fato; pela existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente,
salvo inimputabilidade;  que o fato narrado evidentemente não constitui crime; estar extinta
a punibilidade do agente; pela ilegitimidade ad causam; faltar justa causa, ou seja,
elementos probatórios mínimos que permitam sustentar o exercício da ação penal, faltar
condição de procedibilidade ou faltar pressuposto processual negativo, ou seja, houver
impedimento processual que afete a investigação criminal, como por exemplo, a
litispendência.

2. Hipóteses e requisitos para arquivamento de inquéritos e investigações criminais.

Caso requerido o arquivamento, o juiz poderá adotar duas vias possíveis: a) concordar
com o pedido, determinando o arquivamento dos autos, que, em tese, apenas poderão ser
reabertos a partir do surgimento de provas novas – tal decisão, com eficácia preclusiva de
coisa julgada formal, em regra, na medida em que impede, diante daquele conjunto
probatório, a rediscussão ou novas investidas sobre o fato, é denominada de arquivamento
direto. Certo é que arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do
promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. (Súmula 524 do
STF). b) discordar do pedido (art. 28, CPP) encaminhando para o PGJ (MPE) ou para 2°
Câmara de Coordenação e Revisão (MPF, salvo no caso de atribuição originária do PGR,
art. 46, parágrafo único, III, art. 48, II, e art. 62, IV, todos da LC 75/93). Caso o PGR
requeira arquivamento do inquérito, não se aplica o art. 28, CPP, sendo o STF compelido a
determinar a providência (Pet. 2509 Agr/ MG e Pet. 2820 Agr/RN). 2° Câmara de
Coordenação e Revisão do MPF (2° CCR) poderá: a) designar outro membro do MP para
denunciar. A posição majoritária é que esse outro membro é obrigado a oferecer denúncia,

74
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

pois funciona por delegação (Pacelli, 2012, p. 70); b) insistir no arquivamento, caso em que
o juiz é obrigado a arquivar.

Ainda, compete à 2ª Câmara de Coordenação e Revisão homologar o declínio de atribuição


promovido nos autos de inquérito policial que tramite diretamente entre a Polícia Federal e
o Ministério Público Federal (Resolução n.º 63 do E. Conselho de Justiça Federal)
(enunciado n°. 33).

O STF entende que não é possível a retratação do pedido de arquivamento do inquérito


policial sem novas provas (é o que fala Pacelli, mas pela leitura da ementa não parece que a
existência ou não de novas provas seja determinante) (Inq. 2028/BA).

O arquivamento indireto ocorre quando o órgão do Ministério Público se manifesta no


sentido da incompetência do juízo perante o qual oficia, recusando, por isso, atribuição para
a apreciação do fato investigado (PACELLI, p. 71). Duas hipóteses podem ocorrer: a) o
juiz concorda com a manifestação ministerial e declina a sua competência; b) o juiz
discorda. Neste caso, aplica-se, por analogia o art. 28 do CPP, devendo os autos serem
remetidos à 2° CCR no caso do MPF, já que o juiz não pode obrigar o MPF a oferecer a
denúncia, em razão da independência funcional. Nesse sentido veja enunciado n°32 da 2ª
CCR.

Registra-se que o conflito de atribuições entre membros do MP (MPF X MPE): compete ao


STF solucioná-lo (Pet 3258/BA). Se for entre membros do MPF: 2° CCR com recurso ao
PGR (art. 62, VII c/c art. 49, VIII, LC 75/93).

Arquivamento implícito: Segundo Afrânio Jardim, ele se caracteriza quando o MP omite


infratores (arquivamento implícito subjetivo) ou sonega crimes (arquivamento implícito
objetivo) no momento em que oferta a denúncia, sem expressa manifestação ou justificação
desse procedimento (Brasileiro, p. 164, 2014). Dessa forma, deve o juiz invocar o art. 28 do
CPP e, caso não o faça, haveria o arquivamento implícito do IPL. Assim, havendo
aditamento da denúncia, ela deve estar acompanhada por novas provas. O STF (RHC
95141) e o STJ (RHC 24927 / RJ) não adotam o instituto, por ausência de previsão legal,
também Pacelli não o admite (2012, p. 69).

Não é possível a reabertura de inquérito policial quando este houver sido arquivado a
pedido do Ministério Público e mediante decisão judicial, com apoio na extinção da
punibilidade do indiciado ou na atipicidade penal da conduta a ele imputada, casos em que
se opera a coisa julgada material (STF – Informativo 367), ainda que emanada a decisão de
juiz absolutamente incompetente. No RMS 3785/MG, o STJ entendeu ser nula a decisão de
juiz constitucionalmente incompetente que determina o arquivamento do inquérito policial.

75
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

A jurisprudência do STF é farta quanto ao caráter impeditivo de desarquivamento de


inquérito policial nas hipóteses de reconhecimento de atipicidade, mas não propriamente de
excludente de ilicitude.

Não cabe recurso da decisão que determina o arquivamento do inquérito policial ou das
peças de informação (PACELLI, p. 68).

Arquivamento determinado por juiz absolutamente incompetente: segundo Pacelli “o


arquivamento do inquérito por juiz absolutamente incompetente não se subordina ao
princípio da vedação de revisão pro societate, permanecendo em aberto a possibilidade de
instauração da ação penal pelo órgão constitucionalmente legitimado, perante o respectivo
juiz natural, ressalvados os casos de arquivamento por atipicidade da conduta, tendo em
vista a natureza de mérito da referida decisão, desde que limitada, é certo, ao fato tal como
narrado na denúncia ou queixa”.

76
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

6.b. Atuação do defensor como forma de tutelar a ampla defesa.


Obras consultadas:

Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 16ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.

FERNANDES, Antonio Scarance. “Prova e sucedâneos da prova no processo penal”, “in”


Revista Brasileira de Ciências Criminais nº 66, p. 224, item n. 12.2)

Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012.

Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 2ª ed. Salvador: Juspodivm. 2014.

Denilson Feitosa. Direito Processual Penal. Teoria, Crítica e Práxis. 7ª ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2010.

Nestor Távora. Curso de Direito Processual Penal. 3ªed. Editora Jus Podivm, Salvador,
2009.

Legislação básica: Art. 5º, LV, da CF. Art. 261, 263 e 265 do CPP. STF: Súmula
vinculante 14; Súmulas: 523, 701, 704 e 708.

1. Noções Gerais.

A ampla defesa, sob a ótica do acusado, é considerada um direito. Sob o enfoque


publicístico, é considerada garantia. Manifesta-se por via da defesa técnica, autodefesa
(realizada em nome próprio, é renunciável, ao mesmo passo que, se tolhida, gera nulidade
absoluta), defesa efetiva (efetiva atuação do defensor em prol dos interesses do acusado),
bem como pela utilização de todos os meios de prova.

Autodefesa: contempla o direito de audiência, o direito de presença e a capacidade


postulatória do acusado. Esse último desdobramento, contém restrições e consiste,
basicamente, no direito de interpor recursos, impetrar habeas corpus, ajuizar revisão
criminal e formular pedidos relativos à execução da pena.

Defesa técnica: todo ato processual deve ser obrigatoriamente realizado na presença de um
defensor, devidamente habilitado nos quadros da OAB, seja ele constituído, nomeado (por
procuração ou indicado por ocasião do interrogatório) exclusivamente para o ato (ad hoc)
ou dativo (art. 261, CPP). Nos Estados em que a Defensoria Pública já tiver sido
constituída, a defesa dativa será exercida normalmente por um membro da instituição, que
tem, como prerrogativa funcional de destaque, a contagem em dobro de seus prazos
procedimentais (LC 80)

77
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

2. Atuação do defensor como forma de tutelar a ampla defesa.

Qualquer que seja o espaço institucional de sua atuação (Poder Legislativo, Poder
Executivo ou Poder Judiciário), ao Advogado incumbe neutralizar os abusos, fazer cessar o
arbítrio, exigir respeito ao ordenamento jurídico e velar pela integridade das garantias
jurídicas do réu, dentre as quais, destacam-se a prerrogativa contra a autoincriminação e o
direito de não ser tratado, pelas autoridades públicas, como se culpado fosse (STF,
Informativo 498, Transcrições).

Não é por outro motivo que o réu tem o direito de escolher o seu próprio defensor. Essa
liberdade de escolha traduz, no plano da ‘persecutio criminis’, específica projeção do
postulado da amplitude de defesa proclamado pela Constituição (STF - HC 75.962/RJ, Rel.
Min. ILMAR GALVÃO). No entanto, a defesa técnica é aquela exercida por profissional
legalmente habilitado, com capacidade postulatória, constituindo direito indisponível e
irrenunciável. Ao acusado, contudo, não é dado apresentar sua própria defesa, quando não
possuir capacidade postulatória (STF - HC 102.019, Rel. Min. Ricardo Lewandowski).
Mesmo nos Juizados Especiais Criminais: ADI 3.168, Rel. Min. Joaquim Barbosa. Note-se,
porém, que, em recente julgado, a 1ª do Supremo entendeu não haver nulidade em processo
criminal no qual a defesa foi feita por advogado licenciado da OAB. (HC 99.457/RS).

Nesse sentido, se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o
seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se,
caso tenha habilitação (art. 263 do CPP). A ausência de advogado em audiência, caso seja
provado o impedimento antes do início, enseja seu adiamento, caso injustificada, será
nomeado defensor ad hoc para a realização do ato (art. 265, §1° e §2°, CPP), no caso de
falta injustificada do advogado em sessão do júri, haverá adiamento da mesma uma só vez
(art. 456, CPP).

Ainda, o direito à participação da defesa técnica - do advogado - de corréu durante o


interrogatório de ‘todos os acusados’ está incluído no princípio da ampla defesa
(PACELLI, p. 44). Ressalta-se que, em virtude de recente reforma do Código, o advogado
do corréu tem direito a participar do interrogatório e formular perguntas (FERNANDES,
Antonio Scarance). Ver: STF – Informativo 526, Transcrições.

Ausência de alegações finais gera nulidade relativa (HC 80281, STF). No entanto, Eugênio
Pacelli entende que é causa de nulidade absoluta, bem como a ausência de nomeação de
defensor ao réu para a realização do interrogatório (2012, p. 469). Ausência de razões de
apelo, assim como, contrarrazões à apelação do MP não é causa de nulidade por
cerceamento de defesa, se e quando o defensor constituído pelo réu foi devidamente
intimado a apresentá-la (HC 91251/RJ, STF). Pacelli entende que a ausência de
contrarrazões da defesa ao recurso da acusação gera nulidade (2012, p. 893). Já foi
reconhecida a nulidade absoluta no processo em que o advogado constituído pela parte
confessara a imputação, por ausência de defesa técnica (HC, 82672, STF).

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de


prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa (SV nº

78
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

14).

79
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

6.c. O Ministério Público e o Juiz no processo penal brasileiro.


Obras consultadas:

Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 16ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.

FERNANDES, Antonio Scarance. “Prova e sucedâneos da prova no processo penal”, “in”


Revista Brasileira de Ciências Criminais nº 66, p. 224, item n. 12.2)

Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012.

Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 2ª ed. Salvador: Juspodivm. 2014.

Denílson Feitosa. Direito Processual Penal. Teoria, Crítica e Práxis. 7ª ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2010.

Nestor Távora. Curso de Direito Processual Penal. 3ªed. Editora Jus Podivm, Salvador,
2009.

Legislação básica: Art. 251 e seguintes do CPP; art. 257 e seguintes do CPP.

Noções gerais.

Segundo Pacelli, a origem do Ministério Público, ao menos na configuração atual, remonta


ao século XVIII, na França e decorre da necessidade de se impedir a vingança privada.

Com o advento da CRFB/88, operou-se verdadeira consolidação do sistema acusatório no


processo penal brasileiro, caracterizado pela nítida separação entre as funções de acusar,
julgar e defender. Sob essa perspectiva, a atuação judicial deve ser pautada pela
imparcialidade (Pacelli), vedando-se ao juiz a adoção de comportamento tendente ao
reforço da atividade do órgão estatal (MP) legitimado para persecução penal, especialmente
na seara probatória, sob pena de violação da igualdade e paridade de armas.

O Ministério Público e o Juiz no processo penal brasileiro.

O MP, segundo PACELLI, atua com imparcialidade, interessando-lhe não só a condenação


do culpado, mas também a absolvição do inocente. Ele é parte apenas no sentido formal
(enquanto formula pedido), não o sendo em sentido material (parcialidade), pois não há
vinculação entre sua posição processual e a manifestação de direito material que veiculará
na causa, permitindo-o, pois, postular a absolvição do réu. Nesse sentido, o MP não é órgão
da acusação (postulando condenação a todo custo), mas sim órgão legitimado para a
acusação, nas ações penais públicas (PACELLI, p. 452), no sentido de que lhe incumbe a
defesa da ordem jurídica e não propriamente de interesses acusatórios, o que o coloca em
posição de absoluta imparcialidade diante da jurisdição penal. Outra corrente, todavia,
sustenta que o Ministério Público é parcial, já que há interesses antagônicos no processo.

80
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Princípios institucionais: unidade (um só órgão, uma só chefia), indivisibilidade


(possibilidade de um membro suceder ao outro nos autos, sem necessidade de designação
específica) e independência funcional (vinculação apenas à sua consciência jurídica e às
normas de Direito). Garantias de independência: inamovibilidade (salvo por interesse
público, mediante voto da maioria absoluta do CSMPF), irredutibilidade de subsídios e
vitaliciedade.

Resumidamente, o princípio do promotor natural é a vedação do promotor ou acusador


de exceção (PACELLI, p. 461), já admitido pelo STJ.

O Supremo Tribunal Federal, a seu turno, já se manifestou por diversas vezes pela
inexistência do princípio do promotor natural no ordenamento jurídico brasileiro (HC
90.277, Rel. Min. Ellen Gracie; HC 67.759, Pleno, DJ de 1-7-1993). O Ministro Celso de
Mello acolhe o princípio do promotor natural, entendendo que sua aplicação necessita
apenas de ‘interpositio legislatoris’ para efeito de atuação do princípio. Já os Min.
Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio e Carlos Velloso manifestaram-se pela incidência do
postulado, independentemente de intermediação legislativa. Reconhecimento da
possibilidade de instituição de princípio do promotor natural mediante lei (Min. Sydney
Sanches).

Por fim, os poderes investigatórios do Ministério Publico já foram reconhecidos no


âmbito no Supremo Tribunal Federal (RE 535478/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 28.10.2008).

OBS Vitaminada: em 25.06.2013, a PEC 37/2011, que pretendia atribuir à polícia, de


forma exclusiva, a função de investigar, foi rejeitada pelo plenário da Câmara dos
Deputados pela ampla maioria dos parlamentares (430 votos), uma postura que reforça o
poder investigatório do MP.

A favor do poder investigatório do MP, tem-se os seguintes argumentos: trata-se, na


prática, de mera informação preliminar, que servirá de denúncia, devendo ser confirmada
em juízo, sob o prisma do contraditório; a teoria dos poderes implícitos, já que, se conferido
o poder exclusivo de iniciar a ação penal, necessários se faz garantir os meios para tal
incumbência.

Como garantia da imparcialidade, o CPP aplica as causas de suspeição, impedimento e


incompatibilidades aos membros do Ministério Público. Lado outro, incumbe ao juiz dirigir
a marcha processual, atentando não só para a garantia dos direitos e liberdades
fundamentais do réu, mas também para outros bens jurídicos tão caros à sociedade, como a
segurança da comunidade, evitando-se a instituição de um garantismo penal hiperbólico
monocular (com os olhos apenas no réu, descurando-se da sociedade).

O princípio do juiz natural, ínsito aos direitos fundamentais do processo, consiste em saber,
previamente, a autoridade que irá julgado. O juiz natural é aquele constitucionalmente
competente em razão da matéria ou da função exercida pelo réu, pressupondo ainda (do
ponto de vista substancial) o juiz imparcial e independente, sobretudo porque a
imparcialidade sem independência não nos parece realizável. Em outras palavras, proíbe-se
o juízo de exceção, isto é, instituído após o delito com o objetivo exclusivo de julgá-lo.

81
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Nada obsta, porém, a criação de justiças especializadas.

A propósito, prevalece o entendimento de que não constitui afronta ao princípio do juiz


natural a convocação de juízes de primeiro grau para compor órgão julgador colegiado, em
substituição a afastamento, desde que convocação seja feita na forma da lei.

Durante a fase policial, a atuação do juiz deve restringir-se à garantia dos direitos
fundamentais do investigado (cláusulas de reserva), incumbindo à autoridade policial e ao
MP conduzir as investigações. Por fim, a reforma do CPP de 2008 (Lei n.º 11.719/08)
trouxe o princípio da identidade física do juiz, vinculando aquele que realizou a instrução
ao julgamento da causa, com as ressalvas do art. 132 do CPC, aplicado subsidiariamente,
para as hipóteses em que o juiz for convocado, estiver licenciado, afastado por qualquer
motivo, promovido ou aposentado, casos em que o feito será passado ao seu sucessor.

Na fase processual, faculta-se ao juiz uma iniciativa probatória, mas não acusatória, no
sentido de que somente deve se desenvolver a partir da existência de uma dúvida razoável
sobre ponto relevante do processo, não sendo aceitável, porém, em hipótese alguma, a
adoção de posição supletiva ou subsidiária da atuação do órgão de acusação (PACELLI, p.
448).

82
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

7.a. Efeitos civis da sentença penal condenatória. Reparação do dano.


Obras consultadas

Curso de Processo Penal, Eugênio Pacelli de Oliveira, 16ª Edição, editora: Atlas/ 2012;

Direito Penal Esquematizado, vol.1, Parte Geral, Cleber Masson, 4ª edição, editora
Método/2011;

Código Penal para concursos, Rogério Sanches Cunha, 3ª edição, editora Jus Podivm/2010.

Manual de Processo Penal. Renato Brasileiro de Lima. 2ª ed. Salvador: Juspodivm. 2014.

Legislação básica. Artigo 91 do CP; Artigos 63, 64, 65, 66, 67, 68, 387 do CPP.

Previsão legal: A lesão causada pelo crime pode atingir, diretamente, a coletividade do
corpo social, tal como ocorre no tráfico de drogas, como pode afetar mais intensamente o
patrimônio de uma determinada pessoa. À luz do art. 91, I, do CP, é efeito da condenação
“tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime”. Em sintonia com esse
dispositivo, o art. 63 do CPP estatui que: “transitada em julgado a sentença condenatória,
poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para efeito de reparação do dano, o
ofendido, seu representante legal e seus herdeiros”. Nessa linha, o art. 475 – N, I, do CPC
dispõe ser título executivo judicial a sentença penal condenatória transitada em julgado.

Sistemas processuais: Segundo Pacelli há vários e diferentes sistemas processuais


regulando a fixação de responsabilidade civil pelos danos causados pela infração penal, ora
permitindo o ajuizamento simultâneo dos pedidos (penal e cível) em um só juízo
(normalmente o penal), ora prevendo a separação entre as instâncias, com maior ou menor
grau de independência entre elas. No Brasil adota-se o sistema de independência relativa
ou mitigada, em razão da existência de uma subordinação temática de uma instância a
outra (vide art. 935 do CC, segundo o qual, uma vez comprovada no juízo criminal a
existência do fato, bem como a sua autoria, tais questões não poderão ser mais discutidas
no cível).

Execução da sentença penal condenatória: Com a possibilidade de execução civil da


sentença penal condenatória busca-se facilitar a reparação do dano à vítima. Ponderou o
legislador, consoante elucida Cleber Masson, que muito embora as instâncias civil e penal
sejam independentes, e a prática do crime acarrete, em geral, responsabilidade das duas
ordens, não seria razoável, havendo uma sentença penal condenatória transitada em julgado
no bojo da qual esteja reconhecida a autoria e da materialidade, exigir-se da vítima que
inicie nova ação de conhecimento para alcançar o ressarcimento. Dessa forma, já estará
reconhecido o caráter ilícito do fato, bem como a obrigação de reparar (an debeatur),
fazendo-se necessário apenas fixar o quantum debeatur.

Possibilidades à vítima: Como explica Pacelli, será possível à vítima escolher a via

83
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

judicial executória, com a execução da sentença penal condenatória (apurando-se o


quantum debeatur), e, agora, por força do parágrafo único do art. 63, CPP, com a
execução da parcela mínima para reparação dos danos sofridos pela vítima, nos termos do
art. 387, IV, CPP, ou, a via do processo de conhecimento, sendo encaminhados os pedidos
de condenação civil e execução ao juízo cível (art. 63, CPP). Quer dizer, sem o título
executivo, deverá ser ajuizada a ação civil ex delicto, cujo trâmite pode ser suspenso nos
termos do art. 64, parágrafo único do CPP.

Possibilidade de suspensão da ação cível: Não se pode olvidar, ainda, do quanto disposto
no art. 64 do CPP: “intentada a ação penal, o juízo da ação civil poderá suspender o
curso desta, até o julgamento definitivo daquela”. Pacelli explica que: “tratando do
julgamento de um mesmo fato e da mesma causa de pedir, a busca de uma única solução
para ambas as instâncias deve passar pelo modelo processual para o qual sejam previstas
menores restrições à prova e em que o grau de certeza a ser obtido na reconstrução dos
fatos seja elaborado a partir de provas materialmente comprovadas. (...) Com efeito, uma
vez admitida a hipótese de subordinação de uma instância a outra, ainda que apenas em
relação a determinadas questões, a relação de dependência há de ser do juízo cível para o
juízo criminal.”

Coisa julgada no cível: Pacelli enuncia que o CPP, art. 65, dispõe que faz coisa julgada
no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade,
em legítima defesa, em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular do
direito. Expõe que, apesar de parcela da doutrina entender abrangidas pelo dispositivo as
hipóteses de estado de necessidade ou legítima defesa putativas, seu entendimento é em
sentido contrário, não havendo exclusão de responsabilidade civil nas hipóteses de
putatividade por ausência de previsão legal e por entender incabível interpretação extensiva
ou analógica.

Ainda sobre o art. 65 do CPP, Pacelli anota que embora seja vedada a reabertura da
discussão acerca das matérias decididas (excludentes reais), a responsabilidade civil não
estará afastada quando houver expressa previsão legal nesse sentido, ou seja, prevendo a
recomposição do dano, mesmo nas hipóteses de legítima defesa, estado de necessidade,
estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito. Assim, por exemplo, os
art. 929 e 930 CC preveem que o agente causador do dano à coisa deverá indenizar o
proprietário desta ainda que tenha agido – e assim causado o dano – em legítima defesa ou
em exercício regular de um direito (art. 188, I e II CC) ou a fim de remover perigo
iminente, desde que o dono da coisa não seja culpado pelo perigo ou responsável pela
agressão, e que tenha efetivamente sofrido prejuízo.

Paulo Queiroz, citado por Rogério Sanches Cunha explica que: “não fazem coisa julgada no
cível, por não terem natureza condenatória: a) a sentença que concede perdão judicial
(Súmula 18 do STJ); (...) c) a sentença que homologo (sic) a composição e a transação
penal (Lei 9.099/95).”

Cleber Masson explica que em se tratando de extinção da punibilidade derivada de abolitio


criminis ou de anistia, embora ocorra a rescisão da sentença condenatória no âmbito penal,
o efeito civil da reparação do dano persiste. Pondera, igualmente, que se o réu condenado

84
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

com trânsito em julgado for absolvido em revisão criminal, desaparece a força executiva,
mesmo se já tiver sido iniciada a execução civil.

Por fim, dispõe o art. 66 que: “não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação
civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a
inexistência material do fato”.

Absolvição por negativa de autoria: Pacelli enfrenta a questão da decisão judicial


absolutória que preveja negativa de autoria da seguinte forma: na hipótese do art. 386, IV
do CPP (estar provado que o réu não concorreu para a infração penal) a instância cível
ficará vinculada à decisão penal; no caso do art. 386, V (absolvição por ausência de prova
da autoria), não haverá a referida vinculação.

Absolvição sumária: quanto às hipóteses de absolvição sumária, explica que as


disposições do art. 65 do CPP tem como pressuposto a absolvição definitiva proferida após
regular instrução processual que preserve os interesses do ofendido na recomposição
patrimonial do dano, não podendo ser abarcada pela nova redação do art. 397, I e II do
CPP. Dessa forma, não haverá eficácia preclusiva em relação à esfera cível da decisão
penal de absolvição sumária nas hipóteses dos incisos I e II do art. 397 do CPP
(excludentes de ilicitude e culpabilidade). Igualmente, será destituída de força preclusiva a
decisão criminal de absolvição sumária fundada no art. 397, IV, CPP, relativamente à
extinção da punibilidade do fato, porquanto não há que se falar rigorosamente em
absolvição, mas em perda de interesse na intervenção penal por critérios de política
criminal.

Arquivamento do Inquérito policial: também não se vislumbra vinculação, segundo


Pacelli, nas decisões de arquivamento do inquérito policial.

Art. 387, inc. IV, CPP:  hipótese semelhante já era contemplada para os crimes ambientais
(art. 20 da Lei 9.605/98: “a sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o
valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos
sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente”). Tal hipótese prevê um valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo
ofendido, independentemente da habilitação do ofendido e de pedido explícito do órgão
acusatório (sem que o acusado possa arguir eventual ofensa aos princípios do contraditório,
da ampla defesa e da inércia da jurisdição). Vale ressaltar que se trata de valor mínimo,
nada impedindo que o ofendido ajuíze nova ação pleiteando a reparação integral dos danos
sofridos, materiais, morais, estéticos, emergentes e cessantes (Brasileiro, p. 299/302).
Natureza do dano cuja indenização mínima pode ser fixada na sentença condenatória: pode
ser material (emergentes e os lucros cessantes), moral e estético. A propósito, é o teor do
Enunciado nº 16 do 1º Fórum Nacional de Juízes Federais Criminais (FONACRIM): “O
valor mínimo para reparação dos danos causados pelo crime pode abranger danos
morais” (Brasileiro, p. 303, 2014).

Legitimidade do Ministério Público: questão interessantíssima encontra-se no disposto no


artigo 68 do CPP que prevê a legitimação ativa do parquet para a propositura da ação civil
decorrente do delito. Com o advento da CF/88 e com a previsão da instituição da

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Defensoria Pública, a razão de ser da legitimação do MP deixou de existir (pobreza do


titular da ação civil). Solução das mais interessantes veio do STF que sustenta a tese de
uma inconstitucionalidade progressiva (norma ainda constitucional ou norma
constitucional em trânsito para a inconstitucionalidade), preconizada pelo Ministro
Sepúlveda Pertence. Sustenta o mestre que, diante da ausência de positivação normativa do
artigo 134 da CF, isto é, diante da omissão de diversos Estados e da União, no encargo de
instituir e organizar as Defensorias Públicas, o artigo 68 do CPP manteria a sua vigência até
o funcionamento regular dos apontados órgãos de defesa jurídica dos necessitados.

Doutrina majoritária (inclusive Pacelli) entende que o quantum mínimo deve ser
fixado de ofício pelo juiz, por se tratar de um dever estabelecido legalmente (não haveria
necessidade de pedido expresso na inicial). Há posições em sentido contrário entendendo
que em casos tais haveria afronta ao princípio acusatório. Pacelli (p. 657/658) explica que a
nova legislação (art. 387, inc. IV, CPP) deve ser entendida em seus estritos termos
(abarcando apenas os prejuízos materiais efetivamente comprovados), impedindo o
alargamento da instrução criminal para a discussão acerca dos possíveis desdobramentos da
responsabilidade civil. Para o citado autor não há que se pretender discutir (no bojo da
instrução criminal para fins de fixação do valor mínimo), por exemplo, o dever de
reparação do dano moral ou mesmo dos danos emergentes.

Recentes julgados do Superior Tribunal de Justiça sobre o art. 387, inc. IV do CPP:

“PENAL. RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO. REPARAÇÃO PELOS DANOS


CAUSADOS À VÍTIMA. ART. 387, IV, DO CPP. PEDIDO FORMAL E
OPORTUNIDADE DE PRODUÇÃO DE CONTRAPROVA. AUSÊNCIA. OFENSA AO
PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA. RECURSO DESPROVIDO.

I. O art. 387, IV, do Código de Processo Penal, na redação dada pela Lei 11.719, de 20 de
junho de 2008, estabelece que o Juiz, ao proferir sentença condenatória fixará um valor
mínimo para a reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos
sofridos pelo ofendido.

II. Hipótese em que o Tribunal a quo afastou a aplicação do valor mínimo para reparação
dos danos causados à vítima porque a questão não foi debatida nos autos.

III. Se a questão não foi submetida ao contraditório, tendo sido questionada em


embargos de declaração após a prolação da sentença condenatória, sem que tenha
sido dada oportunidade ao réu de se defender ou produzir contraprova, há ofensa ao
princípio da ampla defesa.

IV. Recurso desprovido.” (REsp 1185542 / RS; Data do julgamento: 14/04/2011).

“PROCESSUAL PENAL. INDENIZAÇÃO DO ART. 387, IV, DO CPP.


APLICABILIDADE À AÇÃO PENAL EM CURSO QUANDO A SENTENÇA
CONDENATÓRIA FOR PROFERIDA EM DATA POSTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI
N. 11.719/2008.
86
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

1. A regra estabelecida pelo art. 387, IV, do Código de Processo Penal, por ser de natureza
processual, aplica-se a processos em curso.

2. Inexistindo nos autos elementos que permitam a fixação do valor, mesmo que
mínimo, para reparação dos danos causados pela infração, o pedido de indenização
civil não pode prosperar, sob pena de cerceamento de defesa.

3. Recurso especial conhecido, mas improvido.” (REsp 1176708 / RS; data de julgamento:
12/06/2012)

87
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

7.b. Funcionários da Justiça. Peritos e Intérpretes.


Obras consultadas

Curso de Processo Penal, Eugênio Pacelli de Oliveira, 16ª Edição, editora: Atlas/ 2012;

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 9. ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2009.

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de, FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de Processo


Penal e sua Jurisprudência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 2ª ed. Salvador: Juspodivm. 2014.

Legislação básica. Artigo 274 a 281 do CPP.

Além das partes propriamente ditas, autor e réu, do assistente e do juiz, outras pessoas, em
maior ou menor escala, são também chamadas a intervir no processo, regulando o nosso
CPP as participações dos funcionários da Justiça (Capítulo V, art. 274) e dos peritos e
intérpretes (Capítulo VI).

Auxiliar da justiça é a designação genérica dos auxiliares permanentes (funcionários da


justiça: oficial de justiça, escrivão, etc.) e dos auxiliares eventuais (elementos variáveis:
peritos e intérpretes). Em regra, os auxiliares da justiça gozam de fé pública (presunção
juris tantum).

Os funcionários da justiça são os auxiliares permanentes da Justiça. São os servidores


pagos pelo Estado a serviço do Poder Judiciário. São os escrivães-diretores, escreventes,
oficiais de justiça, auxiliares, dentre outros. O art. 274 do CPP refere-se aos funcionários da
justiça e estabelece que as mesmas prescrições sobre suspeição dos juízes são aplicáveis a
estes. O art. 274 tem em vista a possível interferência do funcionário da Justiça no bom
andamento do processo, em razão dos fatos e/ou circunstâncias pessoais.

Envolvendo estes e quaisquer das partes, buscando-se assim a impessoalidade. De fato,


asseveram Pacelli e Fischer que “o critério legal quanto aos impedimentos e suspeições é
eminentemente objetivo, prescindindo de comprovação de influência, exatamente em razão
das dificuldades práticas de semelhante tarefa. Por isso, impõe-se ao juiz o afastamento do
servidor nas hipóteses antes mencionadas, com o que se evitará quaisquer alegações –
infundadas ou não – de influência do servidor, senão no julgamento, mas na tramitação e
realização concreta dos atos processuais mais relevantes”. Por outro lado, ensina Nucci
que “não há sentido neste dispositivo [art. 274], tendo em vista que os funcionários da
justiça não exercem qualquer ato decisório, de repercussão para a parte, no processo.
Limitam-se a cumprir as ordens do juiz, sem qualquer poder de deliberação próprio”.

Os peritos e intérpretes são os auxiliares eventuais da justiça. Colaboram com o juiz nos
pontos em que este precisa de esclarecimentos ou de conhecimentos especializados. Mas
ainda que não se trate de peritos oficiais e, sim, de particulares, portadores da idoneidade e

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

da habilitação técnica exigida pelo parágrafo primeiro do artigo 159 do CPP, na ausência
dos primeiros estarão todos eles submetidos à disciplina judiciária, em razão de estarem
exercendo função pública, debaixo, pois, do princípio da legalidade que norteia a
Administração Pública. Os arts. 275 a 281 do CPP tratam dos peritos e intérpretes. A
atividade desenvolvida pelos peritos e intérpretes é eminentemente técnica e destina-se à
formação do convencimento judicial na apreciação da prova, o que é suficiente para
dimensionar a sua importância e a necessidade de acautelamento quanto à qualidade e a
idoneidade do serviço prestado. Mostra-se possível a condução coercitiva do
perito/intérprete em caso de seu não comparecimento sem justa causa (CPP, art. 278).
Todavia, observa Nucci: “de que adianta obrigar um profissional qualquer a realizar um
laudo a contragosto, se é ele justamente o encarregado de auxiliar o juiz no seu
esclarecimento sobre a matéria que lhe é desconhecida? Mais eficaz é nomear outro
profissional, menos renitente, para o desempenho da função, em nome do interesse da
justiça e das partes” (p. 581).

O art. 280 do CPP estabelece que as mesmas prescrições sobre suspeição dos juízes são
aplicáveis aos peritos. Os intérpretes são equiparados aos peritos (art. 281, CPP),
recebendo, portanto, idêntico tratamento. Pacelli afirma que as causas de impedimentos e
incompatibilidades também devem ser aplicadas aos peritos e intérpretes, diante da
necessidade de se preservar a sua absoluta imparcialidade diante do caso penal. Não é por
outra razão que os peritos e intérpretes podem responder pelo crime de falsa perícia,
conforme disposto no art. 342 do CP.

O art. 279 do CPP aponta os impedimentos específicos dos peritos. Não podem ser peritos:
a) os que estiverem sujeitos a penas restritivas de direito de interdição temporária do
exercício da profissão ou cargo público; b) os que tiverem prestado depoimento no
processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da perícia; c) os analfabetos e os menores
de 21 anos.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

7.c. Cartas: precatória, de ordem e rogatória.


Obras consultadas:

Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito Processual Penal. 5ª ed. Ed.
Juspodivm, 2011; Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 16ª ed. Editora Atlas, 2012.
Lima, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 2ª ed. Volume único. Salvador:
Editora Juspodivm, 2014.

Legislação básica. Arts. 222; 222-A; 230; 289; 353 a 355 ; 368; 369; 780; 784 a 786 ; art.
202 do CPC; Resolução n. 09 do STJ.

1) Carta precatória

É o ato de cooperação entre órgãos judiciais que não têm entre si relação de subordinação.
O STF e o STJ jamais expedem precatória, pois todos os demais órgãos judiciários do país
lhe são subordinados. Três são os tipos de atos praticados por precatória: a) comunicação
processual; b) realização de prova pericial; c) atos de constrição judicial.

No que concerne aos atos de comunicação processual, um juiz (deprecante) envia carta
precatória para o juiz de outra comarca (deprecado), no intuito de que este cite/intime o réu
ou testemunha para comparecer aos autos. É uma competência funcional horizontal, não
havendo hierarquia entre deprecante e deprecado. De acordo com o art. 354 do CPP, nesta
carta deve haver indicação: “I – do juiz deprecado e o juiz deprecante; II – a sede da
jurisdição de um e de outro; III – o fim para que é feita a citação, com todas as
especificações; IV – o juízo do lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer”.

Algumas observações interessantes:

1.1) Carta precatória e citação: a citação ocorrerá por carta precatória, nas hipóteses em
que o réu residir em comarca distinta da jurisdição do juiz do processo crime. No juízo
deprecado, uma vez exarado o “cumpra-se”, a citação será realizada pelo oficial de justiça
conforme as regras da citação por mandado ou conforme as regras da citação por hora certa
(art. 362 do CPP). Em situações de urgência, é plausível a precatória telegráfica ou por
meios eletrônicos. Se o juízo deprecado não tiver jurisdição sobre o local de residência do
citando ou se este mudou de residência para localidade conhecida, a precatória ganhará
contornos itinerantes (bastará que o juízo deprecado, se ainda estiver em tempo, remeta
carta para o juízo com competência para fazer a citação, comunicando ao juízo deprecante).

1.2) Atraso na instrução criminal e expedição de cartas precatórias: o STJ vem


entendendo que o prazo legalmente estabelecido para a conclusão da instrução criminal não
é absoluto, devendo ser avaliado à luz do princípio da razoabilidade. Nestes termos, em
processos complexos (que envolvem diversos réus e, com isso, a expedição de diversas
precatórias) não há de ser reconhecida a desídia do Estado juiz ou excesso de prazo na
formação da culpa (HC 222778/PE)

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

1.3) O interrogatório pode ser feito por carta precatória, mesmo diante do princípio
da identidade física do juiz (art. 399, 2, CPP)? O princípio da identidade física do juiz
não impede a expedição de cartas precatórias, tendo em vista o maior peso que deve ser
atribuído ao princípio da ampla defesa e ao direito de audiência (de ser ouvido) do réu.

1.4) No caso de falso testemunho cometido em carta precatória (o processo tramita em


SP, mas a testemunha é ouvida e mentiu em Natal), qual órgão julgador possui a
competência territorial para julgar a testemunha pelo crime de falso testemunho? A
competência territorial será do juízo deprecado (Natal), mas análise preliminar sobre delito
(verificar se ele existiu ou não num momento inicial) é feita pelo juízo deprecante (pois ele
tem os autos em mãos para comparar).

2) Carta de ordem.

É semelhante à carta precatória, diferenciando-se desta em virtude do órgão jurisdicional de


que emana, já que naquela os órgãos deprecante e deprecado estão no mesmo grau de
jurisdição, e, nesta, o órgão jurisdicional que solicita o cumprimento é de grau superior.
Geralmente, são determinações dirigidas por um tribunal a um órgão judiciário de
hierarquia inferior que lhe é subordinado. São expedidas para os mesmos fins que a carta
precatória: citação, interrogatório, oitiva de testemunhas, realização de prova pericial e atos
de constrição judicial, etc. Nesse contexto, quando um processo criminal tramitar num
tribunal, a citação também poderá ser efetivada mediante carta de ordem (semelhante à
precatória). A denominação carta de ordem advém da superioridade do órgão que solicita o
cumprimento.

3) Carta rogatória.

A cooperação jurídica internacional pode se dar de três formas: a) cumprimento de cartas


rogatórias; b) homologação de sentenças estrangeiras; e c) auxílio direto. Por carta
rogatória, entende-se o pedido dirigido ao órgão jurisdicional de outro país de colaboração
na prática de um determinado ato processual (citação, inquirições, depoimentos,
notificação, coleta de prova, medidas restritivas e quaisquer outros atos processuais que não
possam ser realizados no país onde tramita a ação).

As cartas rogatórias podem ser ativas e passivas. A ativa é a expedida por autoridade
judiciária nacional para a realização de diligência em outros países (arts. 201 e 210 do CPC
e arts. 368, 369 e 783 do CPP). A rogatória passiva, por sua vez, é proveniente de juízes e
tribunais estrangeiros e tem por objeto a pratica de ato processual no Brasil, após a
concessão do exequatur (do “cumpra-se”) pelo Superior Tribunal de Justiça (arts. 784, 785
e 786 do CPP). Há uma fase, por assim dizer, instrutória. Recebida a rogatória, o
interessado residente no país será intimado para, querendo, impugnar a pretensão
alienígena. Todavia, a impugnação ao cumprimento da rogatória haverá de limitar-se
às questões atinentes a possíveis violações à soberania nacional, à ordem pública ou à
ausência de autenticidade. As rogatórias passivas devem receber o exequatur do
Presidente do STJ ou da Corte Especial (este último caso ocorrerá se houver impugnação às
rogatórias decisórias: art. 105, I, i, CF, RI STJ e Res. 9 do STJ).

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

A admissibilidade e o cumprimento das rogatórias devem respeitar o disposto nas


convenções internacionais (destacando-se a Convenção Interamericana sobre Cartas
Rogatórias, de 1975 e o Protocolo Adicional à Convenção Internacional sobre Cartas
Rogatórias, de 1979). OBS: Segundo o STJ, os requisitos previstos no art. 202 do CPC
somente devem ser observados nas cartas rogatórias ativas (AgRg na CR 3560 / US).

Como regra, o ente estatal não é obrigado a prestar a cooperação solicitada, exceto se o
pedido atender aos requisitos estabelecidos em seu próprio ordenamento interno ou em
tratados.

Não há possibilidade de o MP estrangeiro requerer à autoridade judiciária brasileira


o cumprimento da rogatória, pois se trata de instrumento próprio à cooperação entre
Judiciários (STF, HC 87.759/DF, 2008)

Em regra, as cartas rogatórias subordinam-se, quanto ao conteúdo, à norma do Estado


rogante e, quanto à forma de execução, à lei do Estado rogado.

A partir da Lei 11.419/06, a carta de ordem, carta precatória ou carta rogatória pode ser
remetidas por meio eletrônico, situação em que a assinatura do juiz deverá ser eletrônica, na
forma da lei (art. 202, §3º, do CPC).

De acordo com o STJ, a Corte Especial apenas deve realizar um juízo delibatório quando
do exame das cartas rogatórias, ou seja, deve apenas verificar se estão presentes os
requisitos da Resolução n. 09 do STJ e se não há ofensa à soberania nacional e à ordem
pública (AgRg na CR 4635/CH). Neste cenário, a doutrina e o STJ afirmam que o Brasil
adotou o sistema da contenciosidade limitada na análise das cartas rogatórias e das
sentenças estrangeiras. Por tal sistema, a defesa somente poderá versar sobre: a)
autenticidade de documento; b) a inteligência da decisão; c) a inobservância dos requisitos
da Resolução n. 9 do STJ; d) a afronta à soberania e à ordem pública.

Requisitos: Para maior aprofundamento dos requisitos, ler a Resolução n. 09 do STJ. A


respeito do assunto, vale a pena destacar o seguinte entendimento do STJ: “O trâmite da
carta rogatória pela via diplomática ou pela autoridade central confere autenticidade aos
documentos e à tradução realizada na origem. Assim, resta dispensada a realização de
tradução por profissional juramentado no Brasil, conforme entendimento firmado pela
jurisprudência do STF e desta Corte” ( AgRg nos EDcl nos EDcl na CR 398 / AR).

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

8.a. Princípio da proporcionalidade e processo penal.


Obras consultadas: Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito
Processual Penal. 4ª ed. Juspodivm, 2010; Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 12ª
ed. Atlas, 2009; Douglas Fischer. Delinquência Econômica e Estado Social e Democrático
de Direito. Verbo Jurídico, 2006; André de Carvalho Ramos. Teoria Geral dos Direitos
Humanos na ordem internacional. 2ª ed. Saraiva, 2012; Luís Roberto Barroso. Curso de
direito constitucional contemporâneo. 1ª ed. Saraiva, 2009.

Legislação básica. Art. 5º, LIV, CF.

“O princípio da proporcionalidade quer significar que o Estado não deve agir com demasia,
tampouco de modo insuficiente na consecução de seus objetivos. Exageros, para mais
[excessos] ou para menos [deficiência], configuram irretorquíveis violações ao princípio”
(Juarez Freitas apud Fischer, p. 76). Tal princípio não está previsto expressamente na CF.
Barroso aduz que aludido princípio é “produto da conjugação de ideias vindas de dois
sistemas diversos: (i) da doutrina do devido processo legal substantivo do direito norte-
americano, onde a matéria foi pioneiramente tratada; e (ii) do princípio da
proporcionalidade do direito alemão” (p. 255). No direito norte-americano, a razoabilidade
era um princípio constitucional utilizado como parâmetro para o controle de
constitucionalidade. No direito alemão, a proporcionalidade servia como limitação à
discricionariedade administrativa. Conclui que “um e outro abrigam os mesmos valores
subjacentes: racionalidade, justiça, medida adequada, senso comum, rejeição aos atos
arbitrários ou caprichosos” (p. 258). O STF trata-os como sinônimos, diferentemente de
Humberto Ávila e Luís Virgílio Afonso da Silva, por exemplo.

Tem como pressuposto formal o princípio da legalidade e como pressuposto material o


princípio da justificação teleológica. O princípio da legalidade processual demanda tanto a
regulamentação por lei dos direitos exercitáveis durante o processo, como também a
autorização e a regulamentação de qualquer intromissão na esfera dos direitos e liberdades
dos cidadãos, efetuada por ocasião de um processo penal. Por força deste princípio, todas as
medidas restritivas de direitos fundamentais deverão ser previstas por lei escrita, estrita e
prévia. Por força do princípio da justificação teleológica, busca-se a legitimação do uso da
medida cautelar, a partir da demonstração das razões pelas quais a aplicação da medida
tornou-se necessária em relação ao fim que se objetivava alcançar, cabendo analisar aqui se
o fim almejado é constitucionalmente legítimo e se possui relevância social. Os direitos
fundamentais podem ser limitados e o princípio da proporcionalidade é o limite dessas
limitações (limite dos limites).

O princípio da proporcionalidade, analisado sob dupla perspectiva, encerra a ótica da


proibição do excesso e da vedação da proteção deficiente ou insuficiente. Traduz-se aquela
na impossibilidade de o Estado agir excessiva ou abusivamente na consecução de suas
finalidades, atuando como mecanismo a refrear o jus puniendi, de tal modo a buscar um
equilíbrio entre o ato do Poder Público e a correspondente limitação ou restrição aos
direitos fundamentais do cidadão. Em contraponto, diante do reconhecimento de que o
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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Estado tem o dever de agir na proteção de bens jurídicos de índole constitucional, há


violação à proporcionalidade quando o ente estatal se omite (ainda que parcialmente) na
implementação da tutela penal decorrente da violação de um direito fundamental
(garantismo positivo).

O princípio da proporcionalidade possui ainda requisitos intrínsecos e extrínsecos. São


requisitos extrínsecos: 1) judicialidade: exigência de que as limitações aos direitos
fundamentais somente possam ocorrer por decisão do órgão jurisdicional; e 2) motivação:
em se tratando de decisões que resultem, de alguma forma, em restrição a direitos
fundamentais, será por meio da fundamentação da decisão judicial que se poderá aferir
quais os motivos de fato e de direito levados em consideração pelo magistrado para a
formação de seu convencimento, permitindo ao cidadão impugnar o ato se o entender
inconstitucional ou ilegal.

São requisitos intrínsecos: 1) adequação, princípio da idoneidade ou da conformidade: a


medida restritiva será adequada quando for apta a atingir o fim proposto. Essa adequação
deve ser aferida num plano qualitativo, quantitativo e também em seu âmbito subjetivo de
aplicação. A adequação qualitativa impõe que as medidas sejam qualitativamente aptas a
alcançar o fim desejado. A adequação quantitativa cuida da duração e da intensidade da
medida em relação à finalidade pretendida. Por sua vez, a adequação na determinação do
âmbito subjetivo de aplicação diz respeito à individualização do sujeito passivo da medida
e à proibição de extensão indevida de sua aplicação; 2) necessidade ou exigibilidade ou
princípio da intervenção mínima, da menor ingerência possível, da alternativa menos
gravosa, da subsidiariedade, da escolha do meio mais suave ou da proibição do
excesso: dentre as várias medidas restritivas de direitos fundamentais idôneas a atingir o
fim proposto, deve o Poder Público escolher a menos gravosa, ou seja, aquela que menos
interfira no direito de liberdade e que ainda seja capaz de proteger o interesse público para
o qual foi instituída; 3) princípio da proporcionalidade em sentido estrito: impõe um
juízo de ponderação entre o ônus imposto e o benefício trazido, a fim de se constatar se se
justifica a interferência na esfera de direitos dos cidadãos. No âmbito processual penal, esse
juízo de ponderação opera-se entre o interesse individual e o interesse estatal. De um lado,
o interesse do indivíduo na manutenção de seu ius libertatis, de outro, o interesse estatal
nas medidas restritivas de direitos fundamentais está consubstanciado pelo interesse na
persecução penal, objetivando-se a tutela dos bens jurídicos protegidos pelas normas
penais.

Aplicação no Direito Processual Penal: 1) utilização no campo da validade das provas:


como regra de ponderação para superação de eventuais colisões entre interesses em conflito
- vale lembrar que tanto a doutrina quanto a jurisprudência admitem provas ilícitas em
favor do réu, quando, no caso, isto for razoável. A Lei 11.690/08 tratou do tema em
comento. Em grande parte, acolheu a jurisprudência do STF. Por outro lado, a invocação
em prol da acusação é de pouco aceitação (Távora e Alencar, p. 68). Pacelli entende
possível a aplicação da proporcionalidade somente quando “não estiver em risco a
aplicabilidade potencial e finalística da norma da inadmissibilidade [servil ao controle da
atividade estatal persecutória]”, ou seja, quando “não se puder falar no incremento ou no
estímulo da prática de ilegalidade pelos agentes produtores da prova (Estado)”, o que
ocorre, por exemplo, quando a prova ilícita tenha sido obtida por particular. O autor

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

apresenta como exemplo de aplicação da proporcionalidade pelo STF no caso da cantora


mexicana Glória Trevi (Rcl nº 2.040/DF). O STF autorizou a coleta de material genético da
placenta para exame de DNA sem autorização, para a prova do estupro de que teoricamente
teria sido vítima. (p. 361-365). Por outro lado, não foram admitidas como provas fotos que
foram furtadas do consultório profissional do réu e que, entregues à polícia pelo autor do
furto e que foram utilizadas contra o acusado, para incriminá-lo. (STF, RE 251445,
Transcrições Info/197).

2) critério para a decretação das medidas cautelares: servirá como parâmetro aferidor da
constitucionalidade de medida que implique restrição a direito fundamental. Considerando
a função instrumental dessas medidas cautelares, a qual é voltada para os resultados finais
do processo, visando garantir a efetividade da persecução penal, somente mostrar-se-á
razoável quando não acarretar consequências mais gravosas que eventual condenação. “A
proporcionalidade da prisão cautelar é, portanto, a medida de sua legitimação, a sua ratio
essendi.” (Pacelli, p. 469). 3) fixação das penas em abstrato e em concreto: critérios que
devem ser adotados para definir qual a sanção ou qual a quantidade da pena será
proporcional a um determinado delito. No plano legislativo, deve haver relação
proporcional entre a gravidade abstrata do delito e a pena cominada, considerando os meios
e os fins da pena, além do bem jurídico tutelado penal norma penal. No plano judicial,
quando da aplicação concreta da pena, esta não poderá divorciar-se da gravidade do caso
concreto.

Aplicação na ordem internacional: A proporcionalidade é aplicável na interpretação de


direitos humanos, sendo de expressivo uso pela Corte Europeia de Direitos Humanos, a
qual “indaga se a intervenção estatal está prevista em lei e é eficaz em tese. Após,
comprova se tal intervenção está justificada pela busca de fins legítimos. E finalmente,
analisa se a limitação ao direito era necessária em uma sociedade democrática”. Cite-se o
caso Dudgeon, em que foi analisada a legislação da Irlanda do Norte que criminalizava a
prática homossexual consentida entre adultos. A Corte Europeia identificou um fim
ilegítimo e desnecessário a uma sociedade democrática, além da desproporcionalidade em
impor sanções criminais para fins de atendimento ao clamor de maioria conservadora e
intolerante, não justificando conduta desproporcional violadora do direito à vida privada
(Ramos, p.176-178).

Leitura Complementar:

- NETO, Cláudio Pereira de Souza; SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional: teoria,


história e métodos de trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2012.

- SILVA JÚNIOR, Walter Nunes da. Curso de direito processual penal: teoria
(constitucional) do processo penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.

-STF, 1ª Turma, HC 80949/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

8.b. Prisões. Espécies, requisitos e cabimento.


Obras consultadas: Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito
Processual Penal. 4ª ed. Ed. Juspodivm, 2010; Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal.
12ª ed. Editora Atlas, 2009 e Atualização do Processo Penal – Lei 12.403/11, 2011;
Andrey Borges de Mendonça. Prisão e outras medidas cautelares pessoais. Método, 2011;
Luiz Flávio Gomes e Ivan Luís Marques. Prisão e medidas cautelares.2ª ed. RT, 2011.
Renato Brasileiro de Lima. Manual de Processo Penal. 2ª Ed. Volume único. Ed.
Juspodivm, 2014.

Legislação básica: artigo 5º, XI; LXI; CF. Art. 282 – 320 do CPP. Súmulas 145, 397, 717
e vinculante 11, todas do STF e 21, 52 do STJ.

Prisão: possui diversos sentidos, todos relacionados com a privação da liberdade de


locomoção. Significa desde o próprio local em que está a pessoa presa, como também a
captura, a custódia ou a detenção. Engloba tanto a prisão-pena quanto a prisão processual.
Captura é o ato constitutivo da prisão. Detenção é a privação da liberdade por curto espaço
de tempo até o encaminhamento a Autoridade Policial para lavratura do auto de prisão em
flagrante. Custódia é a manutenção da pessoa presa (Mendonça, p. 86).

Após o advento da CF/88, toda e qualquer prisão antes do trânsito em julgado da


condenação deve vir lastreada em ordem escrita e fundamentada do juiz competente, exceto
transgressão militar e crime militar. Em consequência, toda e qualquer prisão deverá se
pautar na necessidade ou na indispensabilidade da providência, surgindo a necessidade de
preservação da efetividade do processo como fundamentação válida e suficiente para
justificar a segregação excepcional de quem ainda se deva considerar inocente (Pacelli, p.
8-9).

Espécies de prisões: 1º) Prisão penal: é a decretada por juiz para fins penais, durante a fase
investigatória, processual penal ou na sentença. Divide-se em prisão definitiva (ocorre após
o trânsito em julgado) e prisão provisória, cautelar ou processual (que se dá antes do
trânsito em julgado); 2º) Prisão extrapenal: é uma modalidade excepcional de prisão e não
decorre de uma decisão judicial proferida em sede penal. Por exemplo, a do devedor de
alimentos (art. 5º, LXVII, CF) e a prisão administrativa (disciplinar) – (Gomes e Marques,
p. 24). Em sentido contrário, defendendo a inexistência de prisão administrativa
(Mendonça, p. 95 e Pacelli, p. 53). Não subsiste mais a prisão do depositário infiel - RE
466.343/SP, STF. Após a Lei nº 12.403/11, só existem 03 espécies de prisão cautelar:
prisão em flagrante, prisão preventiva e prisão temporária. Foram expressamente revogadas
a prisão decorrente de sentença condenatória recorrível e a decorrente de pronúncia
(Mendonça, p. 87). Luiz Flávio Gomes entende que só existem 02 espécies: prisão
temporária e preventiva, pois a prisão em flagrante, quando preenchidos os requisitos,
converte-se em preventiva (p. 25).

As prisões processuais penais decorrentes de mandado somente poderão ser decretadas pelo
juiz. A CPI não pode determinar prisão, exceto em flagrante delito, pois, toda vez que a

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

CF/88 disser que algo somente poderá ser feito por ordem judicial, trata de juiz stricto
sensu (reserva de jurisdição), essa é a posição do STF. A prisão deve ser decretada por
ordem de juiz, exceto em: prisão em flagrante e recaptura.

Não mais subsiste a prisão para averiguação, aquela feita pela autoridade policial, detendo
as pessoas na via pública, para “averiguá-las”, levando-as ao distrito policial para verificar
se são ou não procuradas.

A prisão, diante da regra da inviolabilidade do domicílio, deve ter em conta o previsto no


art. 5º, XI, da CF, que garante ser inviolável o domicílio, nele somente podendo adentrar,
DURANTE O DIA, por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente,
ou, À NOITE, em caso de flagrante delito ou com o consentimento do morador. Com
mandado judicial, será somente durante o dia, ainda que sem o consentimento do morador.
Mas com o consentimento do morador em qualquer hora. Melhor critério para definição de
noite, visando a objetividade, padronização e segurança: 18h às 6h. Caso haja recusa do
morador da casa em atender ao mandado de prisão de pessoa que esteja sendo ocultada
naquele recinto à noite, deverá a autoridade policial guardar todas as saídas e espera o dia
amanhecer para que arrombe as portas e proceda à captura do acusado.

Requisitos de cautelaridade: fumus comissi delicti (aparência da prática de um fato


delituoso) e periculum libertatis (representa a necessidade e a urgência da medida para
evitar um perigo a um bem jurídico relevante). Ambos os requisitos são analisados sob um
juízo de probabilidade, não sendo a cognição exauriente, aprofundada (Mendonça, p. 29-
33).

Princípio da homogeneidade das prisões processuais: há que ser feita uma relação entre as
prisões processuais e a prisão pena, nos seguintes termos: a prisão processual não pode ser
mais grave que a própria pena que será aplicada ao réu. É decorrência da
proporcionalidade.

Prisão especial: é cabível para determinadas pessoas, em razão das funções públicas por
elas exercidas, da formação escolar por elas alcançada e, finalmente, em razão do exercício
de atividades religiosas. Aplicam-se apenas às prisões provisórias, ou seja, às prisões
cautelares, não se aplicando àquelas resultantes de sentença penal condenatória, também
tratadas como definitivas. Os réus sujeitos à prisão especial têm a possibilidade de auferir a
progressão de regime quando ainda estão confinados nessas celas privativas (Súmula 717
do STF).

Prisão do índio: a interpretação conjugada do art. 231 da CF e do art. 56 do Estatuto do


Índio, assegura “o cumprimento da prisão processual também seja feito em observância das
condições culturais indígenas. Se a pena de prisão, aplicada após o trânsito em julgado,
deve ser cumprida em regime especial de semiliberdade, no local de funcionamento do
órgão federal de assistência aos índios mais próximo da habitação do condenado, com
muito maior razão a prisão processual” (Mendonça, p. 130 e HC 124.622/PE, STJ).

Prisão em flagrante: é aquela que ocorre enquanto a infração está sendo cometida ou
acabou de sê-la. É uma medida restritiva da liberdade, de natureza cautelar e caráter

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

eminentemente administrativo, uma vez que não exige ordem escrita do juiz, até porque o
fato ocorre, em regra, inesperada, inopinada ou desavisadamente.

Funções: a) evitar a fuga do infrator; b) auxiliar na coleta de elementos informativos; c)


impedir a consumação do delito, nas hipóteses em que a infração está sendo praticada, ou
seu exaurimento; d) preservar a integridade física do preso, diante da comoção que alguns
crimes causam na população, evitando-se, assim, possível linchamento (Brasileiro, 861,
2014).

Quanto à natureza jurídica da prisão em flagrante, há divergências doutrinárias a respeito:


a) uns entendem ser medida de caráter precautelar (Brasileiro, p. 862); b) ato
administrativo; c) ato complexo, sendo a prisão-captura – 1ª fase de ordem administrativa,
pré-cautelar – e a comunicação ao juiz e atos consequentes – 2ª fase de ordem processual,
quando a homologação ou manutenção ou transformação da prisão somente deve ocorrer se
presente um dos fundamentos para preventiva (Távora e Alencar, p. 512-513); d) prisão
cautelar (esta última posição é a prevalecente, segundo Renato Brasileiro, p. 863).

Nos crimes de ação penal pública condicionada e nos de ação penal privada, é possível a
prisão em flagrante, já que o art. 301 do CPP não faz qualquer restrição quanto à espécie do
crime ou da ação penal, exigindo-se apenas que seja preso “quem quer seja encontrado em
flagrante delito”, cujo escopo é fazer cessar a agressão, preservar a paz e a tranquilidade
social (ordem pública). Contudo, a lavratura do auto de prisão em flagrante estará
condicionada à autorização da vítima ou de seu representante legal, não se exigindo
qualquer rigor formal, basta que a esteja evidenciada a intenção do ofendido ou de quem
lhe represente legalmente acerca da responsabilização criminal de seu ofensor. Vale
ressaltar que, se a vítima não puder ir imediatamente à delegacia para proceder à
representação, poderá fazê-lo no prazo de entrega da nota de culpa, qual seja: 24 horas
(Brasileiro, 872/873).

Quanto ao sujeito ativo, o flagrante é obrigatório (autoridade policial e seus agentes) ou


facultativo (qualquer pessoa do povo). Quanto ao sujeito passivo, são as pessoas maiores de
18 anos. Mas algumas pessoas sofrem certas restrições sobre a possibilidade de serem
presas em flagrante delito (Promotor, Juiz, Parlamentares, Presidente, Governadores,
Embaixadores e Cônsul)

Estados de flagrância (art. 302, CPP): 1) próprio: incisos I e II, quando o sujeito é
surpreendido praticando uma infração penal ou quando acaba de cometê-la; 2) impróprio:
inciso II (quando o agente é perseguido logo após cometer a infração penal, em situação
que se permita presumir ser o autor da infração); e 3) presumido ou ficto: inciso IV (o
agente é preso logo depois de o crime ter acontecido com instrumentos, armas, objetos ou
papéis que façam presumir ser autor da infração). O rol é taxativo. Causas excludentes de
ilicitude não impedem a prisão em flagrante.

Flagrante preparado ou provocado por obra do agente provocador (súmula 145, STF:
“não há crime, quando a preparação pela polícia torna impossível a consumação”):
fundamenta-se no art. 17, CP (crime impossível). Ocorre quando um agente provocador, ao
mesmo tempo em que induz a prática delituosa, atua adotando medidas para tornar

98
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

impossível a consumação. Portanto, é ilegal.

Flagrante esperado: é aquele em que se aguarda pela prática do delito, prendendo o agente
quando da consumação do crime. É plenamente válido.

Flagrante forjado: cria-se, de modo criminoso, uma situação de flagrância, com o intuito
de prender alguém. Há manifesta ilegalidade, pois os agentes que criaram tal situação
podem ter cometido o delito de denunciação caluniosa ou mesmo abuso de autoridade.

Flagrante prorrogado, retardado ou diferido: é a postergação da prisão em flagrante,


para que a autoridade policial a realize no melhor momento para a colheita de provas. Não
depende de autorização judicial, por ausência de previsão legal (STJ, HC nº 119.205/MS).
OBS Vitaminada: o flagrante retardado tem assento em alguns diplomas legais, como no
art. 53 da Lei de Drogas, no art. 4º-B da Lei de Lavagem de Dinheiro (em que é
determinada pelo juiz a suspensão da ordem de prisão ou de outras medidas assecuratórias,
ouvido, o MP, quando a sua execução puder comprometer as investigações, seja por
impedir a identificação de outros criminosos envolvidos com o esquema de lavagem de
capitais, seja por impedira descoberta de outros bens ocultados) e no art. 8º da Nova Lei de
Organização Criminosa (denominada de ação controlada, consistente em retardar a
intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa
ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a
medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de
informações). Imperioso ressaltar que a ação controlada e, portanto, o retardamento da
realização da prisão em flagrante requerem prévia autorização judicial nos casos dos crimes
de Lavagem de Dinheiro e previstos na Lei de Drogas. Contudo, tal exigência não se faz
presente na Lei nº 12.850/2013, em que há apenas previsão no art. 8º, §1º, no sentido de
que, o juiz competente será previamente comunicado que, se for o caso, estabelecerá os
limites e comunicará ao MP (Brasileiro, 758/762).
Prisão preventiva: “é estabelecida com o intuito de tutelar valores relacionados à
persecução penal (intraprocessuais), assim como interesses da sociedade
(metaprocessuais)” (Mendonça, p. 223). Os pressupostos são a prova da existência do
delito e indícios suficientes de autoria. Os requisitos são a garantia da ordem pública (é a
segurança e a tranquilidade da sociedade posta sob risco ponderável da repetição da ação
delituosa objeto do processo, acompanhado do exame acerca da gravidade do fato e de sua
repercussão, não se confundindo com clamor público), garantia da ordem econômica
(visa evitar a prática de novas infrações penais econômicas, de modo similar a garantia da
ordem pública), conveniência da instrução criminal (busca-se proteger as fontes de prova
contra alteração, destruição ou ameaça por parte do réu, evitando a criação de obstáculos à
instrução processual) e assegurar a aplicação da lei penal (visa evitar que o réu fuja
durante o processo, inviabilizando a futura aplicação da lei penal).

Há três situações claras em que poderá ser imposta a prisão preventiva: a) a qualquer
momento da fase de investigação ou do processo, de modo autônomo e independente (art.
311, CPP); b) como conversão da prisão em flagrante, quando insuficientes ou
inadequadas outras medidas cautelares (art. 310, II, CPP), e c) em substituição à medida
cautelar eventualmente descumprida (art. 282, §4º, CPP). Nas primeiras hipóteses, a e b, a
99
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

prisão preventiva dependerá da presença das circunstâncias fáticas e normativas do art. 312,
CPP, bem como daquelas do art. 313, CPP; na última, apontada na alínea c, retro, não se
exigirá a presença das hipóteses do art. 313, CPP. De outro lado, não será cabível a
preventiva, a) para os crimes culposos e b) quando não for prevista pena privativa da
liberdade para o delito (art. 283,§1º, CPP) - (Pacelli, p. 33). Adite-se que os crimes dolosos
devem ter pena abstrata máxima superior a 04 anos (art. 313, I, CPP), quantitativo
conciliável ao máximo autorizador da substituição por restritiva de direitos. “Não se imporá
a prisão preventiva e nem mesmo qualquer outra medida cautelar nas infrações
consideradas de menor potencial ofensivo, segundo assim dispuser a respectiva Lei
9.099/95, no âmbito dos Juizados Especiais Criminais. É que ali o processo se orienta pela
informalidade e pela pacificação do conflito, ostentando, portanto, natureza conciliatória.
Por fim, pensamos que, para as infrações penais para as quais sejam cabíveis e (desde que)
aceitas as hipóteses de suspensão condicional do processo, tais como previstas no art. 89 da
Lei 9.099/95, não se poderá recorrer às novas medidas cautelares. E assim nos parece
porque a suspensão do processo, em si, já determina a ausência de necessidade de
preservação da efetividade do processo. Não bastasse isso, as condições exigidas e impostas
para a suspensão, segundo o ali disposto (art. 89, I, II, III e IV), já oferecem garantias
acauteladoras, guardando, inclusive, identidade com as novas regras trazidas pela Lei
12.403/11” (Pacelli, p. 15-16). Pode ser decretada a qualquer tempo até o trânsito em
julgado do processo. É possível que o juiz a decrete de ofício, desde que em curso ação
penal (sistema acusatório). Quanto ao prazo, não existe previsão legal de prazo máximo,
exceção feita na Lei nº 12.850/13, art. 22, p.u., (A instrução criminal deverá ser encerrada
em prazo razoável, o qual não poderá exceder a 120 (cento e vinte) dias quando o réu
estiver preso, prorrogáveis em até igual período, por decisão fundamentada, devidamente
motivada pela complexidade da causa ou por fato procrastinatório atribuível ao réu), que
revogou a Lei nº 9.0340/95, art. 8º (81 dias, para o término da instrução criminal, se estiver
o acusado preso, tal prazo vem sendo utilizado como parâmetro pela jurisprudência, sem
embargo da análise casuística e dos requisitos do art. 312 do CPP). Deve durar enquanto
estiverem presentes os requisitos que autorizaram sua decretação, não podendo ter prazo
indefinido (TEORIA DOS TRÊS CRITÉRIOS desenvolvida pela Corte Interamericana
de DH (caso Lacayo) que leva em consideração: (i) complexidade do assunto; (ii)
atividade processual do interessado; (iii) conduta das autoridades judiciais). Eventual
excesso deve ser analisado à luz do caso concreto e do princípio da razoabilidade. Excedido
o prazo na prisão cautelar, impõe-se o seu relaxamento, seja pela via do habeas corpus¸
seja ex officio, pelo tribunal, na apreciação de eventual recurso.

Entende-se que o ofendido, que ainda não é querelante, tem legitimidade para requerer a
prisão preventiva. O assistente da acusação somente poderá requerer a prisão
preventiva na fase processual, pois é a partir daí que pode ser admitido, conforme art.
268, CPP (Pacelli, p. 43). É admissível que o juiz encampe a fundamentação do MP para
decretação da prisão preventiva (fundamentação per relationem ou aliunde), ou seja, trata-
se de uma fundamentação relacionada a outra fundamentação.

Prisão temporária: tem natureza cautelar, visa a auxiliar na fase de investigação de


determinados crimes. Foi declarada constitucional (STF, ADI 162). Somente pode ser
decretada durante o inquérito policial ou até antes dele. A partir do recebimento da
denúncia não tem mais cabimento (Mendonça, p. 313), de sorte que, havendo necessidade
100
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

de manutenção da custódia cautelar, deverá ser decretada a prisão preventiva, a


requerimento do MP, por representação da autoridade policial ou por requerimento do
querelante ou do assistente. O juiz não pode decretá-la (a prisão temporária) de ofício. Se
o juiz decretar de ofício cabe HC. Para sua decretação há a necessidade da conjugação dos
pressupostos da cautelaridade (fumus comissi delicti e periculum libertatis) e do crime estar
inserido no rol do ar. 1º da Lei nº 7.960/89. Entende-se que devem estar
cumulativamente preenchidas uma das situações previstas nos incisos I ou II com os
crimes enumerados no inciso III (rol taxativo). A decisão deve ser fundamentada e
expedida no prazo de 24 horas.

E a vítima nos crimes de ação privada tem interesse na instrução criminal? Há duas
posições: a) Não pode requerer porque a lei não prevê; b) Pode requerer porque a vítima é
titular da ação privada. Essa posição é mais adequada ao sistema do CPP. A doutrina
admite que a vítima (nos crimes de ação penal privada) requeira a devolução do IP à
autoridade policial para novas diligências. Assim, aplica-se extensivamente essa regra para
o pedido de decretação de prisão temporária (interpretação sistemática). Se o MP como
titular da ação penal pública pode requerer a decretação da prisão temporária, o titular da
ação penal privada também pode.

O prazo de duração é, em regra, de 05 dias, prorrogável por mais 05 dias, em caso de


comprovada e extrema necessidade. Exceção: crimes hediondos e equiparados têm o prazo
de 30 dias prorrogável por mais 30 dias, também em caso de comprovada e extrema
necessidade. Nada impede que o juiz fixe prazo menor, se a medida for mais adequada ao
caso concreto (Mendonça, p. 324). Seu termo inicial é a partir da efetiva prisão do
investigado. O entendimento jurisprudencial majoritário é no sentido que a contagem
do prazo dá-se segundo o disciplinado no CP, embora o instituto seja de natureza
processual penal. Antes de findar o prazo da prisão temporária, somente o juiz pode
autorizar a liberação do preso, ou seja, somente o juiz pode revogá-la. Expirado o prazo, o
investigado é automaticamente colocado em liberdade, sem a necessidade de que seja
expedido alvará de soltura, salvo se houver uma prorrogação da temporária ou tiver sido
decretada a preventiva.

Ocorrendo a conversão da temporária em preventiva, haverá perda do objeto de eventual


HC impetrado para impugnar a temporária, em razão de fundamentação autônoma e
superveniente para a prisão (STF, HC 96.680). Eventuais irregularidades da prisão
temporária restam prejudicadas com a conversão em preventiva.

Prisão domiciliar: medida cautelar inédita no CPP (art. 317). Será admitida quando o
agente for: I) maior de 80 anos; II) extremamente debilitado por motivo de doença grave;
imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos de idade ou com
deficiência; IV) gestante a partir do 7º mês de gravidez ou sendo esta de alto risco. Não se
confunde com a prisão domiciliar prevista na LEP (art. 117). Esta é a denominada prisão
domiciliar-pena e é uma forma de cumprimento de pena. A prevista no CPP é a prisão
domiciliar processual, podendo ser decretada autonomamente (quando o juiz verificar a
desnecessidade da preventiva – art. 282, § 6º e 310, II, ambos do CPP – mesmo que não
esteja em alguma das situações elencadas no art. 318, CPP) ou em caráter substitutivo da
prisão preventiva (art. 318, CPP – rol taxativo). A prisão domiciliar não se confunde,

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

também, com o recolhimento domiciliar - art. 319, V, CPP – (Gomes e Marques, p. 163-
165).

Prisão para fins extradição (art. 82 do Estatuto do Estrangeiro, com a redação dada pela
Lei nº 12.878, de 04 de novembro de 2013): a autoridade estrangeira poderá requerer a
prisão preventiva de investigado ou condenado em seu Estado, por via diplomática ou pelo
Ministério da Justiça, até mesmo antes da existência do procedimento formal de extradição.
Nessa hipótese, o Estado estrangeiro deverá no prazo de 90 dias apresentar o pedido formal
de extradição, sob pena de, ultrapassado tal, ser restituída imediatamente a liberdade do
representado. Em tais hipóteses, segundo Pacelli (p. 581, 2014), a prisão preventiva se
fundamentará na garantia da aplicação da lei penal. A propósito, vale conferir o teor da
nova disposição do art. 82 da Lei nº 6.815/80, dada pela Lei nº 12.878/13:

Art. 82. O Estado interessado na extradição poderá, em caso de urgência e antes da


formalização do pedido de extradição, ou conjuntamente com este, requerer a prisão
cautelar do extraditando por via diplomática ou, quando previsto em tratado, ao Ministério
da Justiça, que, após exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade
exigidos nesta Lei ou em tratado, representará ao Supremo Tribunal Federal. 
§ 1o O pedido de prisão cautelar noticiará o crime cometido e deverá ser fundamentado,
podendo ser apresentado por correio, fax, mensagem eletrônica ou qualquer outro meio que
assegure a comunicação por escrito. 
§ 2o O pedido de prisão cautelar poderá ser apresentado ao Ministério da Justiça por meio
da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), devidamente instruído com a
documentação comprobatória da existência de ordem de prisão proferida por Estado
estrangeiro.  
§ 3o O Estado estrangeiro deverá, no prazo de 90 (noventa) dias contado da data em que
tiver sido cientificado da prisão do extraditando, formalizar o pedido de extradição. 
§ 4o Caso o pedido não seja formalizado no prazo previsto no § 3 o, o extraditando deverá
ser posto em liberdade, não se admitindo novo pedido de prisão cautelar pelo mesmo fato
sem que a extradição haja sido devidamente requerida.” 

Informativos do STJ
Inf. nº 523:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. ILEGALIDADE DE PRISÃO PROVISÓRIA
QUANDO REPRESENTAR MEDIDA MAIS SEVERA DO QUE A POSSÍVEL PENA A
SER APLICADA. É ilegal a manutenção da prisão provisória na hipótese em que seja
plausível antever que o início do cumprimento da reprimenda, em caso de eventual
condenação, dar-se-á em regime menos rigoroso que o fechado. De fato, a prisão provisória
é providência excepcional no Estado Democrático de Direito, só sendo justificável quando
atendidos os critérios de adequação, necessidade e proporcionalidade. Dessa forma, para a
imposição da medida, é necessário demonstrar concretamente a presença dos requisitos
autorizadores da preventiva (art. 312 do CPP) — representados pelo fumus comissi delicti e

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

pelo periculum libertatis — e, além disso, não pode a referida medida ser mais grave que a
própria sanção a ser possivelmente aplicada na hipótese de condenação do acusado. É o que se
defende com a aplicação do princípio da homogeneidade, corolário do princípio da
proporcionalidade, não sendo razoável manter o acusado preso em regime mais rigoroso do que
aquele que eventualmente lhe será imposto quando da condenação. HC 182.750-SP, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013.

Inf. nº 521:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO
CONCRETA E INDIVIDUALIZADA PARA A IMPOSIÇÃO DAS MEDIDAS
CAUTELARES PREVISTAS NO ART. 319 DO CPP. É necessária a devida
fundamentação — concreta e individualizada — para a imposição de qualquer das
medidas alternativas à prisão previstas no art. 319 do CPP. Isso porque essas medidas
cautelares, ainda que mais benéficas, representam um constrangimento à liberdade individual.
Assim, é necessária a devida fundamentação em respeito ao art. 93, IX, da CF e ao disposto no
art. 282 do CPP, segundo o qual as referidas medidas deverão ser aplicadas observando-se a
"necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos
casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais", bem como a
"adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do
indiciado ou acusado". HC 231.817”SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/4/2013.
Leitura complementar:

- Julgados STJ: HC 202.200/RJ; RHC 25.575/PI; AgRg no HC 140.556/PR; HC


165.334/PE; HC 184.660/SP; HC 183.568/GO; REsp 435.430/MS.

- Julgados STF: HC 106446/SP e HC 102098/SP.

- MARCÃO, Renato. Prisões cautelares, liberdade provisória e medidas cautelares


restritivas. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Prova Oral MPF: 9. Fale sobre o entendimento do STF e do STJ sobre a necessidade de
prisão para apelar e apresente o seu posicionamento pessoal.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

8.c. Habeas Corpus e Mandado de Segurança em matéria penal.


Obras consultadas: Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito
Processual Penal. 4ª ed. Ed. Juspodivm, 2010; Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal.
12ª ed. Editora Atlas, 2009; Grinover, Gomes Filho e Scarance Fernandes. Recursos no
processo penal. 4ª ed. RT, 2005. Renato Brasileiro de Lima. Manual de Processo Penal. 2ª
Ed. Volume único. Ed. Juspodivm, 2014.

Legislação básica: artigo 5º, LXVIII, LXIX, CF. Lei nº 12.016/09. Artigos 647-667 do
CPP.

Mandado de segurança em matéria penal: é regulamentado pela Lei n. 12.016/09 e


cabível para a tutela de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
data (princípio da subsidiariedade ou residualidade). Trata-se de ação constitucional de
natureza cível destinada à obtenção de ordem judicial dirigida à autoridade apontada como
coatora (ou violadora do alegado direito), por meio do qual se exige dessa autoridade
determinado comportamento (é uma ordem), comissivo ou omissivo, suficiente a fazer
cessar a ilegalidade ou abuso de poder. É um poderoso instrumento de controle incidental
das ações/omissões do poder público. “A cognição desenvolvida no mandado de segurança
é, no plano horizontal, sumária, por limitada à apreciação da existência de direito líquido e
certo. Já no plano vertical, a cognição é parcial, pois somente se examina prova documental
produzida no processo” (Távora e Alencar, p. 1.048). A autoridade coatora, que deverá
responder como sujeito passivo na ação de mandado de segurança, é exatamente aquela
responsável pela prática do ato, ainda que futuro (se iminente), violador do alegado direito,
com poderes, então, para a sua revisão. Em matéria penal, nem sempre o que estará em
disputa é a liberdade do réu. Se o for, o remédio constitucional destinado a proteger o
jurisdicionado será o habeas corpus. No complexo das relações processuais que envolvem
as partes do processo penal, são atribuídas a elas determinadas faculdades, bem como
determinados direitos subjetivos. A violação a essas faculdades e/ou direitos subjetivos é
que ensejará a impetração de mandado de segurança. “O MP pode mover, portanto,
mandado de segurança para assegurar a aplicação da lei processual penal, quando a
providência não favorecer o réu ou, quando o beneficiar, o crime não estabeleça, em
abstrato, pena privativa de liberdade” (Távora e Alencar, p. 1.049). Direito líquido e certo
é aquele apto a ser exercido imediatamente pelo seu titular, independentemente de instrução
probatória e da eventual complexidade da questão jurídica. É técnica de sumarização da
demanda. O procedimento será o mesmo aplicável à matéria cível. Como toda impetração
em que se queira o reconhecimento de direito à acusação veicula interesse também da
defesa, é de se exigir a intimação ou citação do réu – quando ele não compuser ainda a
relação jurídica processual – na posição de litisconsorte passivo, sob pena de nulidade
(súmula 701, STF). No âmbito penal, da mesma forma que no âmbito cível, a utilização do
mandado de segurança contra decisão judicial é excepcional, somente sendo admitido nos
casos de decisão judicial teratológica ou de ato irrecorrível que cause gravame à parte (STJ,
AgRg no REsp 964.154/MT). Não obstante o teor da súmula 267 do STF (“não cabe
mandado de segurança contra ato passível de recurso ou correição”), tem sido admitido o
writ quando o recurso cabível é desprovido de efeito suspensivo, ou visando dar efeito
suspensivo ao recurso apresentado.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

A competência para o julgamento do mandado de segurança está assentada em 02


elementos: qualificação da autoridade coatora (federal ou estadual) e hierarquia da
autoridade (Grinover, Gomes Filho e Scarance Fernandes, p. 413).

Aplica-se, também no processo penal, o prazo decadencial de 120 dias, contados de quando
o interessado tomou conhecimento do ato coator, sem prejuízo de que, caso tenha sido
ultrapassado esse prazo, o interessado propor ação ordinária.

Hipóteses de cabimento do mandado de segurança em matéria penal: I) decisão de


indeferimento de habilitação do assistente (art. 268, CPP); II) de indeferimento de vista dos
autos fora de cartório, em juízo, ou mesmo na Polícia, quando não for o caso de exigência
de sigilo das investigações (art. 798, CPP); III) nos procedimentos de sequestro, arresto ou
de restituição de bens apreendidos (arts. 118 e ss do CPP); IV) para que se atribua efeito
suspensivo a recurso que não seja dotado desse efeito, e; finalmente, V) em todas as
situações em que, por não existir ameaça, nem potencial (caso de infração penal cuja pena
cabível seja exclusivamente de multa), à liberdade individual, não seja cabível o habeas
corpus, e estiver configurada a prática de ilegalidade pelos agentes públicos, em prejuízo ao
regular exercício de direitos subjetivos (Pacelli, p. 842-843). Para fins de trancamento do
inquérito ou ação penal em desfavor de pessoa jurídica (Távora e Alencar, p. 1.052), ou
para qualquer outra finalidade destinada a resguardar seus interesses, desde que inexista
recurso previsto para tanto. “Dada a importância da tutela das liberdades e dos direitos
fundamentais pela via potenciada das ações constitucionais, os tribunais têm admitido a
impetração de um remédio [MS] pelo outro [HC]” (Grinover, Gomes Filho e Scarance
Fernandes, p. 407).

OBS Vitaminada: O art. 5º da Lei nº 12.016/09 estatui os requisitos negativos para


impetração de Mandado de Segurança, sem os quais a segurança pretendida não será
concedida, são eles: I) não poder o ato coator ser atacado por recurso administrativo com
efeito suspensivo, muito embora seja pacífico o entendimento de que não se exige o
exaurimento das vias administrativas para impetração do mandamus (Súmula nº 469 do
STF, para as hipóteses de omissão da autoridade administrativa, conforme se depreende de
seu teor: “a existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso
de mandado de segurança contra omissão da autoridade”). Contudo, interposto o recurso
administrativo com efeito suspensivo, o impetrante carecerá de interesse processual, porque
ausente o objeto da impetração, até que se conclua o processo administrativo e o deslinde
lhe seja desfavorável. II) se, contra a decisão judicial hostilizada, não houver recurso
dotado de efeito suspensivo, ou seja, o mandado de segurança somente poderá ser utilizado
de forma subsidiária. III) Não pode ser impetrado contra decisão judicial transitada em
julgado, na mesma linha do enunciado nº 268 da Súmula de Jurisprudência do STF: “não
cabe mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado”, até porque tal
remédio constitucional não é sucedâneo de revisão criminal.

Habeas corpus: instrumento destinado a preservar (cunho preventivo) ou restabelecer


(cunho repressivo ou liberatório) a liberdade de locomoção ilegalmente ameaçada ou
violada. Embora inserido no Código de Processo Penal entre os recursos, trata-se de
verdadeira ação autônoma de impugnação de natureza penal, cuja tramitação pode
ocorrer antes mesmo do início da ação penal. O habeas corpus pode ser impetrado tanto

105
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

antes quanto depois do trânsito em julgado da decisão restritiva de direitos, podendo,


inclusive, ser utilizado como substitutivo do recurso cabível ou mesmo ser impetrado
cumulativamente a ele. Impõe-se, como regra, que toda a matéria de prova suscitada no
habeas corpus já acompanhe a petição que o veicula. Outrossim, a ilegalidade deve ser
patente, até porque não se presta o writ ao aprofundado reexame de fato e provas,
consoante a jurisprudência do STF e do STJ. Para a configuração de ato atentatório da
liberdade de locomoção não é necessário ordem de prisão determinada por autoridade
judiciária ou que o titular do direito se encontre preso. Será objeto do writ tanto a ameaça
real quanto a potencial. Por ameaça potencial, entende-se o simples início de qualquer
atividade persecutória que tenha por objeto a apuração de fato imputado ou imputável à
pessoa individualizada. Nesse sentido, a simples instauração de inquérito policial ou de
procedimento investigatório será suficiente para configurar situação de ameaça potencial à
liberdade de locomoção, quando dirigida a fato certo e a pessoa previamente determinada e,
desde que, para a conduta, seja prevista imposição de pena privativa de liberdade (Pacelli,
p. 851-852). Apesar de o tema ser controvertido na jurisprudência, segundo a doutrina, o
habeas corpus pode cumprir o papel da revisão criminal e enfrentar a coisa julgada para
combater condenações proferidas por juiz absolutamente incompetente ou veiculadas em
processo absolutamente nulo, reconhecer a prescrição da pretensão punitiva (STF, AI
544607 QO/SP) ou, até mesmo, reconhecer a atipicidade manifesta da conduta.

O HC não será cabível quando se tratar de privação de liberdade decorrente de punição


disciplinar. O que é efetivamente vedado ao controle judicial é o exame acerca da
conveniência ou oportunidade da medida disciplinar adotada, não sendo obviamente
vedada a apreciação de sua legalidade. O HC é cabível para modificar decisão de
internação de menor e adolescente por aplicação de medida socioeducativa prevista no
ECA (STF, HC 85.503/SP). É também cabível para discutir aspectos atinentes à exclusão
de criminalidade (atipicidade, licitude e ausência de culpabilidade) e da pena (prescrição),
mesmo tratando-se de processo suspenso em virtude do art. 89 da Lei n. 9.099/95 (STF, HC
85.747/SP). Como regra geral, não compete ao STF conhecer de HC impetrado contra
decisão do relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar
(Súmula n. 691). Entretanto, esse entendimento vem sendo mitigado pela Corte Suprema
quando verificado de plano a manifesta ilegalidade da decisão indeferitória liminar (STF,
HC/MC 86.864). E tal súmula vem sendo aplicada pelo STJ, quando a liminar é indeferida
pelos Tribunais locais e federais.

Casuística legal do habeas corpus (art. 648 do CPP): espécies de coação ilegal ao direito de
ir e vir. No que toca à justa causa (existência de fundamento jurídico e suporte fático
caracterizadores do constrangimento à liberdade ambulatória), ela pode receber o mesmo
tratamento dispensado às condições da ação, caso em que a concessão do writ determinará
o encerramento do processo, sem solução de mérito, fazendo coisa julgada formal e, uma
vez reunido material probatório apto a lastrear uma imputação penal, poderá ser realizada
nova persecução penal, ou pode ser também incluída nas questões de mérito da ação penal
ou do inquérito policial. Neste caso, quando o fato em apuração ou já imputado revelar-se
manifestamente atípico, o juiz ou tribunal concederá a ordem para trancar o inquérito ou a
ação, cuja decisão terá efeito de coisa julgada material (Pacelli, p. 857).

A fixação da competência para o julgamento do habeas corpus atenderá à qualidade da

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

função exercida pela autoridade, primeiro da perspectiva da eventual prerrogativa de foro


desta, para crimes comuns, depois em razão da hierarquia jurisdicional dos juízos
envolvidos.

Quanto à legitimação, prevê o art. 654 do CPP que o HC poderá ser impetrado por qualquer
pessoa, independentemente de capacidade postulatória, em seu favor ou de outrem, além do
MP. No § 2o do mesmo dispositivo, estabelece que também os juízes e Tribunais poderão
expedir, de ofício, ordem de habeas corpus, quando no curso do processo verificarem
que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal. Também pode ser
impetrado por pessoa jurídica, em favor de pessoa física. A pessoa jurídica não poderá
figurar como paciente no HC, segundo entendimento do STF (HC 92.921/BA).

OBS VITAMINADA: Em que pese todas as hipótese de cabimento tratados, certo é que
ambas as turmas da 3ª Seção do STJ (v. HC nº 290.867/SP, Rel. Exma. Min. Maria Thereza
de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 15.05.2014; e HC nº 288.310/MG, Rel. Exma. Min.
Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe de 13.05.2014), alinhando-se ao entendimento firmado na
1ª Turma do STF (HC nº 109.956/PR, Rel. Exmo. Min. Marco Aurélio, DJe de
11.09.2012), não tem conhecido dos habeas corpus substitutivos de recursos ordinários ou
excepcionais cabíveis, ou de revisão criminal, por ofensa à lógica recursal prevista pelo
constituinte originário e ordenamento jurídico por ele engendrado, com o propósito de
resgatar a função precípua de sanar ilegalidade ou abuso de poder que resulte em coação ou
ameaça à liberdade de locomoção. A 2ª Turma do STF, por sua vez crítica tal
posicionamento, admitindo a impetração substitutiva (ex.: RHC nº 120551/MT, Rel.
Exmo.  Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 25.04.2014).

Quanto ao procedimento, o pedido será apresentado em forma de petição, na qual se exporá


fato, o nome da pessoa cuja liberdade está ameaçada, bem como da autoridade responsável
por esta. A autoridade coatora geralmente é agente do Poder Público, no entanto, a
jurisprudência aceita a impetração de HC contra ato de particular. Apresentada a petição, o
juiz poderá ouvir o paciente (art. 656, CPP). O pedido de informações da autoridade
coatora só é previsto expressamente no Tribunal (art. 662, CPP), também não sendo exigida
a manifestação do MP no procedimento em primeira instância, cabendo-lhe, porém, ser
intimado desse pronunciamento (tal intimação justifica-se até mesmo em face do cabimento
de RSE contra a decisão concessiva ou denegatória, ex vi do art. 581, X CPP). Segundo a
doutrina, a depender do caso concreto, tendo em vista a gravidade da infração praticada, é
conveniente a oitiva do MP em 24 horas (art. 660 do CPP por analogia). Apesar de não
prevista em lei, a jurisprudência vem se consolidando no sentido de permitir a concessão de
liminar em processo de habeas corpus, aplicando-se por analogia a Lei do Mandado de
Segurança. Procedente o pedido e deferida a ordem, o paciente será posto imediatamente
em liberdade, comunicando-se o fato à autoridade responsável pela custódia (art. 660, § 5o,
CPP). Quando se tratar de pedido preventivo, a ordem consistirá na expedição de salvo-
conduto, assinado pelo juiz (art. 660, § 4o, CPP). Ressalte-se que, na segunda instância e
também nas instâncias superiores, sempre será ouvido o Ministério Público.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Súmulas do STF

SÚMULA Nº 695: NÃO CABE "HABEAS CORPUS" QUANDO JÁ EXTINTA A PENA


PRIVATIVA DE LIBERDADE.

SÚMULA Nº 694: NÃO CABE "HABEAS CORPUS" CONTRA A IMPOSIÇÃO DA


PENA DE EXCLUSÃO DE MILITAR OU DE PERDA DE PATENTE OU DE FUNÇÃO
PÚBLICA.

SÚMULA Nº 693: NÃO CABE "HABEAS CORPUS" CONTRA DECISÃO


CONDENATÓRIA A PENA DE MULTA, OU RELATIVO A PROCESSO EM CURSO
POR INFRAÇÃO PENAL A QUE A PENA PECUNIÁRIA SEJA A ÚNICA
COMINADA.

SÚMULA Nº 692: NÃO SE CONHECE DE "HABEAS CORPUS" CONTRA OMISSÃO


DE RELATOR DE EXTRADIÇÃO, SE FUNDADO EM FATO OU DIREITO
ESTRANGEIRO CUJA PROVA NÃO CONSTAVA DOS AUTOS, NEM FOI ELE
PROVOCADO A RESPEITO.

SÚMULA Nº 691: NÃO COMPETE AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


CONHECER DE "HABEAS CORPUS" IMPETRADO CONTRA DECISÃO DO
RELATOR QUE, EM "HABEAS CORPUS" REQUERIDO A TRIBUNAL SUPERIOR,
INDEFERE A LIMINAR. (MITIGADA, caso haja flagrante ilegalidade à liberdade de
locomoção do paciente)

SÚMULA Nº 606: NÃO CABE "HABEAS CORPUS" ORIGINÁRIO PARA O


TRIBUNAL PLENO DE DECISÃO DE TURMA, OU DO PLENÁRIO, PROFERIDA EM
"HABEAS CORPUS" OU NO RESPECTIVO RECURSO.

SÚMULA Nº 395: NÃO SE CONHECE DE RECURSO DE "HABEAS CORPUS" CUJO


OBJETO SEJA RESOLVER SOBRE O ÔNUS DAS CUSTAS, POR NÃO ESTAR MAIS
EM CAUSA A LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO. Na nova ordem constitucional,
somente se admite RHC para atacar decisão denegatória da ordem.

SÚMULA Nº 344: SENTENÇA DE PRIMEIRA INSTÂNCIA CONCESSIVA DE


"HABEAS CORPUS", EM CASO DE CRIME PRATICADO EM DETRIMENTO DE
BENS, SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO, ESTÁ SUJEITA A RECURSO "EX
OFFICIO".

SÚMULA Nº 208: O ASSISTENTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO PODE


RECORRER, EXTRAORDINARIAMENTE, DE DECISÃO CONCESSIVA DE
"HABEAS CORPUS".

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Informativos do STF

- Nº 725

Estagiário de Direito não pode fazer sustentação oral em habeas corpus por ele
impetrado
O estagiário de Direito pode impetrar habeas corpus no STF, mas não terá direito de fazer
sustentação oral de seu pedido. Segundo a 1ª Turma do STF, a sustentação oral é ato
privativo de advogado. STF. 1ª Turma. HC 118317/SP, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/
o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 22/10/2013.

- Nº 722

Incompetência do STF para julgar HC impetrado contra delegado chefe da Interpol


no Brasil
O STF decidiu que não tem competência para julgar habeas corpus cuja autoridade
apontada como coatora seja delegado federal chefe da Interpol no Brasil.
STF. Plenário. HC 119056 QO/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/10/2013.

- Nº 711

HC impetrado de próprio punho pelo próprio paciente e ausência de documentos

Determinado réu preso impetrou, de próprio punho, sem assistência de advogado, um


habeas corpus no STJ, que não conheceu da ação pelo fato de que o pedido não foi
acompanhado de documentos ou informação processual sobre a situação do paciente. O
STF entendeu que o STJ deveria ter conhecido do habeas corpus lá impetrado e solicitado
informações ao juízo das execuções criminais, apontado como autoridade coatora, a fim de
esclarecer as alegações contidas na inicial do writ. Com a adoção desta providência, o STJ
supriria o fato do HC estar mal instruído. Não é razoável que o tribunal se recuse a pedir
informações à autoridade impetrada e indefira liminarmente o HC ao entendimento de que
este deveria estar instruído de forma satisfatória, considerando que a CF/88 e o CPP não
exigem que o remédio heroico seja instruído com documentos. STF. 2ª Turma. RHC
113315/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/6/2013.

- Nº 709

Trancamento de ação penal por meio de HC e Tribunal do Júri

O controle judicial prévio de admissibilidade de qualquer acusação penal, mesmo em


âmbito de habeas corpus, é legítimo e não ofende os princípios constitucionais do juiz
natural e do monopólio da titularidade do Ministério Público em ação penal de iniciativa
pública, quando a pretensão estatal estiver destituída de base empírica idônea, ou melhor
dizendo desprovida de justa causa, não atendendo aos requisitos previstos no art. 41 do
CPP. STF. Plenário. RE 593443/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão
Min. Ricardo Lewandowski, 6/6/2013.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

- Nº 702

Habeas corpus
Não é possível, na via do habeas corpus, discutir-se a correta tipificação dos fatos
imputados ao paciente na ação penal. Ponderou-se, ainda, não ser lícito ao magistrado,
quando do recebimento da denúncia, em mero juízo de admissibilidade da acusação,
conferir definição jurídica aos fatos narrados na peça acusatória. O momento adequado para
fazê-lo seria na prolação da sentença, ocasião em que poderia haver a emendatio libelli ou a
mutatio libelli, se a instrução criminal assim o indicar. STF. 1ª Turma. HC 111445/PE,
rel. Min. Dias Toffoli, 16/4/2013.

- Nº 701

Habeas corpus
Não cabe habeas corpus de decisão monocrática de Ministro do STJ que nega seguimento a
idêntica ação constitucional lá impetrada por ser substitutivo de recurso ordinário.
Primeira Turma. HC 116114/MG, rel. Min. Dias Toffoli, 9.4.2013.

- Nº 697

Habeas Corpus substitutivo


A jurisprudência admite a utilização do habeas corpus como substitutivo de recurso próprio
(o chamado “habeas corpus substitutivo”)? Trata-se de tema extremamente polêmico,
estando o STF dividido.

Panorama da jurisprudência atual:


STJ e 1ª Turma do STF: mostram-se contrários ao HC substitutivo. Sustentam que não é
possível a impetração de habeas corpus substitutivo de recurso próprio, mas que, se a
ilegalidade exposta for flagrante, ou então a decisão combatida for teratológica, é possível
que Tribunal conceda habeas corpus de ofício.
2ª Turma do STF: afirma que a eventual existência de recurso cabível não constitui óbice à
impetração de habeas corpus, desde que o direito-fim se identifique direta ou
imediatamente com a liberdade de locomoção física do paciente. Nesse sentido, é o HC
112851/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 5/3/2013.

- Nº 696

Empate na votação de HC
Se houver empate na votação de um habeas corpus em julgamento no STJ ou STF, deverá
prevalecer a decisão mais favorável ao paciente, não sendo necessária a convocação de
magistrado de outra Turma para fins de desempate. Segunda Turma. HC 113518/GO, rel.
Min. Teori Zavascki, 26.2.2013.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Informativos do STJ:

- Nº 513:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CABIMENTO DE HABEAS
CORPUS SUBSTITUTIVO DE AGRAVO EM EXECUÇÃO.
Não é cabível a impetração de habeas corpus em substituição à utilização de agravo em
execução na hipótese em que não há ilegalidade manifesta relativa a matéria de direito
cuja constatação seja evidente e independa de qualquer análise probatória. É imperiosa a
necessidade de racionalização do habeas corpus, a bem de prestigiar a lógica do sistema
recursal, devendo ser observada sua função constitucional, de sanar ilegalidade ou abuso de
poder que resulte em coação ou ameaça à liberdade de locomoção. Sendo assim, as hipóteses de
cabimento do writ são restritas, não se admitindo que o remédio constitucional seja utilizado
em substituição a recursos ordinários ou de índole extraordinária, tampouco como sucedâneo de
revisão criminal. Nesse sentido, o STF, sensível a essa problemática, já tem pronunciado
também a inadequação de impetrações manejadas em substituição ao recurso próprio. Para o
enfrentamento de teses jurídicas na via restrita do habeas corpus, é imprescindível que haja
ilegalidade manifesta relativa a matéria de direito cuja constatação seja evidente e independa de
qualquer análise probatória. HC 238.422-BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 6/12/2012.

Leitura Complementar

- Questão prova oral 26º CPR: O Ministério Público pode interpor mandado de segurança
em matéria penal?

- Súmulas: 266, 267, 268, 395, 405, 606, 691, 692, 693, 694, 695, 701, STF; 105, 169 e
376, STJ. Enunciados 2ª CCR: 3, 18.

- Julgados STJ: HC 183.643/RS; HC 111.561/SP; HC 167.337/SP; HC 147.837; HC


163.835.

- Julgados STF: HC 92499/SP; HC 100333/SP; HC 101830/SP; HC 101970/PA.

Prova Oral MPF: 20. O Ministério Público pode interpor mandado de segurança em
matéria penal?

111
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

9.a. Organização judiciária penal.


Principais obras consultadas: Resumos dos Grupos do 25º e 26o CPR; Eugenio Pacelli.
Curso de Processo Penal. 16ª. Edição. Ed. Atlas; Norberto Cláudio Pancaro Avena.
Processo Penal. 4ª. Edição. Ed. Método. Renato Brasileiro de Lima. Manual de Processo
Penal. 2ª Ed. Volume único. Ed. Juspodivm, 2014. Anotações de aula do Curso Alcance
2013 para Procurador da República.

Legislação básica: CF, 5º LIII, XXXVII; CF, 102, 105, 107, 125; Código de Processo
Penal Militar: Decreto-Lei n° 1.002/69.

O tema “organização judiciária”, segundo Dinamarco, compreende: 1) As questões


relativas às garantias institucionais do Poder Judiciário e individuais dos juízes; 2) A
estrutura judiciária brasileira. Aqui será tratado apenas o último aspecto no tocante às
competências criminais de maneira genérica, vez que o item 1 já foi abordado no programa
de Direito Constitucional (3, ‘b’, do programa) e as competências criminais serão
abordadas nos itens 11.a e 13.a de processo penal.

No caso específico, sendo o processo penal um instrumento da jurisdição, ele foi objeto de
repartição de competências com o objetivo de melhor operacionalizar e racionalizar a
administração da justiça, surgindo daí a ideia de especialização do poder judiciário, tendo
em vista a especificidade de determinadas matérias.

Fazendo uma relação com a organização judiciária penal brasileira, podemos relacionar no
caso de repartição de competências o critério ratione materiae, por meio da alocação de
atribuições a justiças especializadas (eleitoral, trabalho e militar), não obstante a
competência subsidiária da justiça comum (federal e estadual).

Além deste critério, um segundo critério utilizado para a repartição de competências é


baseado no próprio agente do crime (ou foro por prerrogativa de função, também chamado
de competência originária dos Tribunais). Tais competências são reguladas diretamente
pela Constituição Federal, sendo inconstitucional a sua criação por meio de lei ordinária,
sendo esse um dos fundamentos utilizados pelo STF para declarar inconstitucional o artigo
84 do CPP (ADI 2797).

Vale ressaltar um terceiro critério de competência ratione loci, ou seja, relativo ao lugar
onde ocorreu a infração, baseado nas leis infraconstitucionais, sem relação com o tema
abordado. Salvo neste terceiro critério, os demais são absolutos, não permitindo
prorrogação, sob pena de violação ao princípio do juízo natural, o que inclui a competência
da justiça estadual.

Com tais observações de caráter geral, analisemos os órgãos que compõem a organização
judiciária penal brasileira:

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

2. Supremo Tribunal Federal

Órgão de superposição. Não é considerado órgão da jurisdição comum e nem da


especializada, pois se sobrepõem a todas elas em sua função de guardião da Constituição.
Exerce jurisdição sobre todo o território nacional e todos os tribunais superiores e últimas
instâncias (JEsp e JEF) convergem a ele. Sua competência em matéria penal é dividida em:

a) competência originária:

- art. 102, I, “b”: julgar nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-
Geral da República;

- art. 102, I, “c”: julgar nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os
membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de
missão diplomática de caráter permanente;

- art. 102, I, “d”: julgar o "habeas-corpus", sendo paciente o Presidente da República, o


Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros, o
Procurador-Geral da República, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas
da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;

- art. 102, I, “d”: julgar o "habeas-corpus" quando o coator for Tribunal Superior ou quando
o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente
à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição
em uma única instância;

- art. 102, I, “j”: julgar a revisão criminal de seus julgados;

b) competência recursal ordinária (102, II, CF): julgar os recursos ordinários em habeas
corpus e em MS decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a
decisão, e julgar o recurso ordinário em ações penais que tenham por objeto o crime
político (esses crimes, se não forem propriamente militares ou eleitorais, são julgados em
1a instância pelos juízes federais, da sentença cabendo recurso ordinário constitucional
diretamente para o STF, em qualquer caso, e não há recurso para os TRFs).

c) competência recursal extraordinária (102, III): julgar as causas decididas em única ou


última instância, quando a decisão recorrida: contrariar dispositivo da Constituição;
declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; julgar válida lei ou ato de governo
local contestado em face da Constituição; julgar válida lei local contestada em face de lei
federal.

É cabível RE também contra decisão das Turmas Recursais dos Juizados Especiais, desde
que a controvérsia se amolde ao sobredito permissivo constitucional.

O pressuposto recursal da repercussão geral (ou seja, que a discussão das questões

113
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

constitucionais ultrapasse os interesses subjetivos na causa) é exigido também para os REs


de natureza penal (AI 664567 QO/RS, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 18.6.2007 – Inf. 472).

3. Superior Tribunal de Justiça

Também órgão de superposição. Não é considerado integrante da Justiça comum, mas


sobrepõe-se a seus órgãos (Justiças Federal, Estaduais, do DF e Territórios). Exerce
jurisdição sobre todo o território nacional e tem a missão precípua de resguardar a
integridade da legislação federal, uniformizando sua aplicação.

Compõe-se de 33 Ministros, escolhidos na forma do art. 104, parágrafo único da CF e tem


como órgãos o Plenário, a Corte Especial (21 Ministros) e três Seções, cada uma delas
composta de duas Turmas com cinco Ministros cada. Não integram as Turmas o Presidente,
o Vice-Presidente e o Coordenador-Geral da Justiça Federal. À 3a Seção (e suas Turmas)
cabe processar e julgar os feitos relativos a matéria penal em geral.

a) Competência originária:

- art. 105, I, “a”: julgar, nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito
Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça
dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do
Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e
do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

- art. 105, I, “c”: julgar os habeas corpus, quando o coator ou paciente for os Governadores
dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores
dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de
Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de
Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;
ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante
da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

b) competência para julgamento do incidente de deslocamento de causa em trâmite na


Justiça Estadual para Justiça Federal (art. 109, §5°): suscitado pelo PGR em caso de grave
violação de direitos humanos, com finalidade de assegurar cumprimento de obrigações
assumidas em tratados internacionais dos quais o Brasil seja parte. O STJ acrescenta um
terceiro requisito: incapacidade das autoridades estaduais de desempenharem a contento as
suas funções (IDC 2/DF, IDC 1/PA).

c) Competência recursal ordinária (art. 105, II): julgar o recurso ordinário em "habeas-
corpus" decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou
pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for
denegatória.

d) Competência recursal especial (art. 105, III): julgar, em recurso especial, as causas
decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
114
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: I)


contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; II) julgar válida lei ou ato de
governo local contestado em face de lei federal; III) der a lei federal interpretação
divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

4. Justiça Comum Federal

Com competências discriminadas nos art. 108 e 109 da CF, compõe-se de cinco Tribunais
Regionais Federais (localizados em Brasília, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto
Alegre) com jurisdição territorial sobre cada uma das cinco regiões em que se divide o
território nacional e de juízes federais. O território, para determinação da jurisdição de cada
juiz, é dividido em Seções Judiciárias, correspondentes a cada Estado e ao DF.

OBS Vitaminada: foram criados mais quatro novos TRFs, nos termos da EC nº 73, de 03 de
junho de 2013. São eles o da 6ª Região, com sede em Curitiba, Estado do Paraná, e
jurisdição nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul; o da 7ª Região,
com sede em Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, e jurisdição no Estado de Minas
Gerais; o da 8ª Região, com sede em Salvador, Estado da Bahia, e jurisdição nos Estados
da Bahia e Sergipe; e o da 9ª Região, com sede em Manaus, Estado do Amazonas, e
jurisdição nos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. Com isso, o TRF da 1ª
Região ficará com jurisdição sobre o DF, Goiás, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso,
Maranhão e Piauí; o da 3ª Região ficará com jurisdição restrita a São Paulo; o da 4ª Região
terá jurisdição reduzida ao Rio Grande do Sul; o da 5ª Região deixa de ter jurisdição sobre
o Estado de Sergipe. O art. 2º da EC nº 73/2013 previa que a criação dos novos TRFs
deveria ocorre no prazo de 6 meses. Contudo, o Min. Luiz Fux deferiu liminar, requerida na
ADI 5.017, ad referendum do plenário, para suspender os efeitos da EC nº 73/2013. Tal
liminar ainda não foi apreciada pelo plenário.

Os TRFs são compostos de, no mínimo, sete desembargadores, nos termos do art. 107 da
CF e submetem-se à regra do quinto constitucional, nos termos do art. 94.

5. Justiça Comum dos Estados

Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios constitucionais estabelecidos.


Podem ser citados como princípios estabelecidos: os vetores federativo e republicano,
separação funcional dos Poderes, garantias da magistratura, das garantias da magistratura,
das vedações dos juízes, da competência dos tribunais, do quórum para a decretação de
inconstitucionalidade, da autonomia administrativa e financeira do Judiciário, da ordem
cronológica dos pagamentos pela Fazenda Pública.

Possui competência residual, segundo a Constituição Federal. Cumpre à Constituição do


Estado definir a competência dos tribunais de justiça, sendo a lei de organização judiciária
de iniciativa do próprio tribunal de justiça.

6. Justiça do Distrito Federal e Territórios

É organizada e mantida pela União, a quem compete, inclusive, legislar sobre a organização
judiciária. A estrutura é similar à da Justiça dos Estados.
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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

7. Justiça Militar dos Estados

A lei estadual poderá criar a Justiça Militar Estadual, constituída, em primeiro grau, pelos
Conselhos de Justiça e, em segundo, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou, nos Estados em
que o efetivo da PM seja superior a 20 mil integrantes, pelo Tribunal de Justiça Militar,
com competência para julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes
militares.

8. Justiça Militar da União

Tem competência para julgar os crimes militares, definidos em lei. Não possui competência
para julgar os crimes comuns conexos aos militares. A ela estão sujeitos os militares das
forças armadas (da ativa, da reserva ou reformados), bem como os civis, e não os militares
estaduais.

O STM é composto de 15 Ministros, na forma do art. 123 da CF. Não há turmas, apesar de
sua previsão legal: todos os Ministros participam de todos os julgamentos. Tem
competência originária para julgar os oficiais generais, bem como quaisquer habeas corpus.
Além disso, funciona como órgão de 2a instância da Justiça Militar, uma vez que não há
tribunais regionais.

Os Conselhos de Justiça (“Especial”, que julga oficial, exceto os generais, é constituído a


cada processo; e “Permanente”, que julga praças e civis, constituído a cada trimestre) são
formados por um juiz-auditor (civil, concursado) e quatro militares, e passam a atuar após o
recebimento da denúncia. As decisões na fase inquisitorial (prisão preventiva, p. ex.) são
tomadas pelo juiz-auditor monocraticamente.

9. Justiça Eleitoral

Genericamente, a Justiça Eleitoral possui competência para julgar os crimes eleitorais, bem
como os crimes comuns que com eles sejam conexos.

O TSE é composto por sete Ministros, na forma do art. 119 da CF. Não tem competência
originária ratione personae em matéria penal (a CF não recepcionou os dispositivos do
Código Eleitoral no assunto).

Os TREs existem nas capitais dos Estados e no DF. Compõem-se, também, de sete juízes,
na forma do art. 120 da CF.

As funções de juízes eleitorais são exercidas pelos juízes de direito. Cada Estado da
Federação divide-se em Zonas Eleitorais, que via de regra (mas não necessariamente)
correspondem às comarcas, e o juiz eleitoral será o juiz de direito respectivo. Havendo mais
de um juiz na Comarca, cabe ao Tribunal designar aquele(s) com competência para os
serviços eleitorais.

As Juntas Eleitorais não tem competência em matéria penal.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

9.b. Liberdade provisória no CPP e em legislações especiais.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 25º CPR; Eugenio Pacelli. Curso de
Processo Penal. 14ª Ed. 2011. Idem. 18ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2014. Lima,
Renato Brasileiro de Lima. Manual de Processo Penal. Volume único. 2ª Ed. Salvador: Ed.
Juspodivm, 2014

Legislação básica: arts. 5o, LXVI, da Constituição Federal e 310 do Código de Processo
Penal.

Conceito: liberdade concedida ao réu mediante condições. Segundo Pacelli, a expressão


consiste na “explicitação de diferentes maneiras da restituição da liberdade daquele que
tenha sido preso em flagrante ou, agora, preventivamente”. Note-se que o instituto só
possui cabimento nos casos de prisões em flagrante legais, e desde que ausentes os
requisitos da prisão preventiva.

Natureza jurídica: medida cautelar diversa da prisão.

Espécies:

a) liberdade provisória em que é vedada a fiança: é a concedida no caso de crimes


inafiançáveis, ou seja, quando o legislador ou constituinte vedou a concessão de fiança,
após a prisão em flagrante e quando não for necessária a prisão preventiva. A medida pode
ser cumulada com outras medidas cautelares, desde que diversas da prisão e da fiança.

Os crimes inafiançáveis são: crimes de racismo; crimes de tortura, tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; crimes
cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático (arts. 5o, XLII e XLIII, da CF, 323, CPP).

OBS Vitaminada: embora o próprio constituinte tenha considerado os crimes hediondos e o


tráfico de drogas como inafiançáveis, certo é que o STF julgou inconstitucional o art. 44 da
Lei nº 11.343/06, que vedava a concessão de liberdade provisória (HC nº 104.339/SP, Rel.
Exmo. Min Gilmar Mendes, DJe de 06.12.2012 – Inf. 665-STF), de sorte que agora ela
somente não será admitida se presentes os requisitos previstos no art. 312 do CPP. A esse
respeito, Pacelli entende que esse mesmo entendimento é de ser aplicado as demais
hipóteses que vedam a liberdade provisória, com o seguinte argumento (p. 604/605, 2014):

“Não cabe à lei, e nem à Constituição, afirmar necessidades prévias em matéria de


prevenção contra determinados riscos, quando estes, os riscos, fundamento daquelas,
somente podem ser constatados, in loco, em cada caso concreto. Essa vem a ser, de fato, a
hipótese de qualquer medida acauteladora em processos de conhecimentos humanos.
Medida cautelar é antecipação de juízo (de conhecimento), a depender, sempre, de certo
nível de visibilidade de perigo (periculum in mora), o que somente será possível ao exame
das situações e circunstâncias concretas de cada caso. Jamais no plano abstrato das normas.

117
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

A Lei nº 12.403/11, nesse contexto, reforça tudo aquilo que vem de afirmar, prevendo
medidas cautelares alternativas, tanto à prisão quanto à fiança, oferecendo às partes e ao
magistrado um leque mais amplo de opções na tutela da efetividade do processo.

O art. 283, caput, CPP, por exemplo, reitera a necessidade de ordem judicial escrita e
fundamentada para a decretação de qualquer prisão, incluindo a conversão da prisão em
flagrante para preventiva (art. 310, II).

Portanto, são absolutamente inválidas e inconstitucionais todas as proibições ex lege, ou


seja, como mera decorrência da lei de restituição de liberdade, tais como aquelas previstas:
(a) outrora no art. 2º, II, da Lei n 8.072/90 (vedação que desapareceu em razão da alteração
operada pela Lei nº 11.464/07), dos crimes hediondos; (b) da inafiançabilidade da Lei nº
9.455/97, que trata dos crimes de tortura; (c) da Lei nº 10.826/03, do Estatuto do
Desarmamento (vedação, como visto alhures, declarada inconstitucional na ADI 3.112-1);
(d) Lei nº 11.343/06, relativa ao tráfico de entorpecentes. Entre as vedações remanescentes,
ao que se vê, o legislador parece ter se convencido do equívoco, ao menos em relação à Lei
nº 9.613/98 (lavagem de dinheiro). A Lei nº 12.683/12 revogou o art. 3º da referida
legislação, que impedia a restituição da liberdade para aqueles delitos”.

Também não poderá ser concedida fiança aos que, no mesmo processo, a tiverem quebrado
anteriormente ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os
arts. 327 e 328 deste Código; em caso de prisão civil ou militar; quando presentes os
motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312, CPP).

b) liberdade provisória com fiança: cabível sempre após a prisão em flagrante, quando
não for necessária a preventiva. Será imposta, obrigatoriamente, a fiança, além de outra
cautelar, se entender necessário o juiz. Pode ser concedida em qualquer fase da
investigação ou do processo. O art. 322 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/11,
conferiu a autoridade policial o poder de conceder nos casos em que a pena privativa de
liberdade máxima não seja superior a 4 anos. Nas demais hipóteses, a fiança deverá ser
requerida ao juiz (que decidirá em 48 horas).

A imposição de fiança será cabível para todos os crimes, à exceção: dos quais não seja
imposta pena privativa da liberdade (art. 283, §1º, CPP); quando for cabível a transação
penal; quando for proposta e aceita suspensão condicional do processo (art. 76 e art. 89, da
Lei 9.099/95); nos crimes culposos, salvo situação excepcional, em que seja possível a
aplicação da pena privativa da liberdade ao final do processo, em razão das condições
pessoais do agente; para os quais é vedada expressamente a fiança (art.323 e art. 324, CPP).

c) liberdade provisória sem fiança: cabível após a prisão em flagrante, quando


inadequada ou incabível a preventiva, com a imposição de qualquer outra medida cautelar,
por julgar o juiz desnecessária a fiança.

Pacelli entende que essa diferenciação de liberdade provisória com fiança e liberdade
provisória sem fiança perdeu o sentido jurídico, uma vez que a fiança pode ser aplicada
isolada ou cumulativamente, junto a outras medidas cautelares, segundo o art. 282, §1º,
CPP, referido ao art. 319, VIII, CPP.

118
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

d) liberdade provisória vinculada, ao comparecimento obrigatório a todos os atos do


processo, sob pena de revogação, quando o juiz, após examinar os autos da prisão em
flagrante, entende presentes indícios de que o agente agiu amparado por uma das causas
excludentes de ilicitude (art. 310, parágrafo único, CPP). Em princípio, não é cabível a
imposição de outras medidas cautelares.

Liberdade provisória na legislação extravagante:

Diversas leis extravagantes vedam a concessão da liberdade provisória, a exemplo: Lei n.


9.034/95 (Art. 7º Não será concedida liberdade provisória, com ou sem fiança, aos agentes
que tenham tido intensa e efetiva participação na organização criminosa), Lei n. 10.826/03
(Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória),
Lei n. 11.343/2006 (Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta
Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória,
vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos). Ver citação acima de Pacelli.

O STF entende que todas essas vedações legislativas à restituição da liberdade são
inconstitucionais, por confrontarem com os princípios constitucionais da presunção de
inocência e da dignidade humana. Ver: HC 94404/SP, ADI 3112/DF e HC 104.339/SP.

Anota-se que as leis n. 8072/90 e 9613/98, em suas redações originais, traziam comandos
semelhantes (art. 2o, I e 3o, respectivamente), os quais posteriormente foram alterados pelo
próprio legislador.

119
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

9.c. Execução das penas privativas de liberdade. Requisitos. Hipóteses.


Cabimento. Atribuição.
Principais obras consultadas: Resumo dos Grupos do 25º, 26º e 27º CPR; Fernando
Capez. Execução Penal - Simplificado. 14a Edição. Ed. Saraiva, 2011; Cleber Masson.
Direito Penal Esquematizado – Parte Geral. 4a Edição. Ed. Método, 2011; Artur de Brito
Gueiros Souza. Curso de Direito Penal – Parte Geral. Ed. Elsevier, 2011; Mirabete, Júlio
Fabrini. Processo Penal. Editora Atlas, 1992; Nucci, Guilherme de Souza. Leis penais e
processuais penais comentadas, 2009, Revista dos Tribunais; Marcão, Renato. Lei de
Execução Penal Anotada. Ed. Saraiva, 2011.

Legislação básica: arts. 5o, XLVI, da Constituição Federal; 33, caput e §§1o, 2o e 3o, 34 a
37, do Código Penal; 2o, caput e parágrafo único, 52; 65; 66; 68, I; 82; 83; 86 a 88; 91; 93 a
95; 106, caput, V e §1o; 107, caput e §2o; 115; 117 a 119, todos da Lei de Execução Penal
(LEP).

1. Noções Gerais.

A sentença penal condenatória transitada em julgado é o título executivo, na esfera


criminal, pelo qual se executa a pena imposta naquela decisão. O referido título está
corporificado em um instrumento denominado guia de recolhimento (antigamente
denominado carta de guia pelo art. 674 do CPP).

2. Conceito.

Pena privativa de liberdade é a modalidade de sanção penal que retira do condenado seu
direito de locomoção, em razão da prisão por tempo determinado, podendo ser, no
ordenamento jurídico brasileiro, de três espécies: reclusão, detenção e prisão simples.

Por sua vez, regime ou sistema penitenciário é o meio pelo qual se efetiva o cumprimento
da pena privativa de liberdade, classificando-se em: fechado, semiaberto e aberto.

3. Requisitos

Além de aguardar o trânsito em julgado, o juízo da condenação deverá esperar pela prisão
do condenado, sem o que não será possível expedir a guia, afinal ela deverá conter a data
do término do cumprimento da pena (art. 106, V, da LEP) e, sem o dia do início, não há
sequer como saber aquela data.

O art. 106 da LEP traz de modo expresso que a guia de recolhimento, extraída pelo escrivão
e assinada pelo juiz, será remetida à autoridade administrativa incumbida da execução, bem
como os demais requisitos que deverá conter.

120
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Ao Ministério Público se dará ciência da guia de recolhimento. Mirabete 4 entende que o


Conselho Penitenciário também deverá ser cientificado, nos termos do art. 677 do CPP, o
qual ainda estaria em vigor. Fernando Capez5 entende desnecessária essa providência, uma
vez que a Lei de Execução Penal nada menciona a respeito.

Ressalte-se que a LEP é expressa ao afirmar que ninguém será recolhido, para cumprimento
de pena privativa de liberdade, sem a guia expedida pela autoridade judiciária, não podendo
o estabelecimento carcerário receber qualquer preso sem a apresentação desse documento,
sob pena de responderem os responsáveis por abuso de autoridade (art. 4º, a, da Lei n.
4.898/65).

As guias de recolhimento serão registradas em livro especial, segundo a ordem cronológica


de recolhimento, e anexadas ao prontuário do condenado, aditando-se, no curso da
execução, o cálculo das remições e de outras retificações posteriores.

4. Hipóteses.

É possível mencionar os seguintes regimes penitenciários da pena privativa de liberdade: a)


fechado: cumpre a pena em estabelecimento penal de segurança máxima ou média
(penitenciária); b) semiaberto: cumpre a pena em colônia penal agrícola, industrial ou em
estabelecimento similar; c) regime aberto: trabalha ou frequenta cursos em liberdade,
durante o dia, e recolhe-se em Casa do Albergado ou estabelecimento similar à noite e nos
dias de folga; d) regime especial: cabível para mulheres e idosos, em estabelecimento
adequado às suas condições pessoais; e) prisão domiciliar: aplicável aos presos do regime
aberto com mais de 70 anos ou acometidos de doença grave, às condenadas gestantes e às
condenadas com filho menor ou deficiente físico ou mental (art. 117, LEP); f) regime
disciplinar diferenciado (RDD)6 : o preso provisório ou condenado pode ser submetido,
caso tenha praticado, no curso da execução penal, fato previsto como crime doloso,
configurador de falta grave, e que tenha ocasionado a subversão da ordem ou da disciplina
interna do cárcere, ou seja, apresentem alto risco para a ordem e a segurança do
estabelecimento penal ou da sociedade, ou caso recaiam sobre ele fundadas suspeitas de
envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou
bando (art. 52, §§, da LEP).

Cumpre registrar que a prisão domiciliar vem sendo concedida aos presos do regime aberto
em não havendo Casa do Albergado (STF, HC 95344/RS) e, excepcionalmente, aos presos
do regime semiaberto, quando somente há estabelecimento penal para o regime fechado, o
estabelecimento adequado ao regime esteja superlotado e não haja Casa do Albergado para
que cumpram a pena no regime mais brando (STF, HC 96169/SP; STJ, HC 193394/SP),
pois configura constrangimento ilegal impor ao apenado cumprimento de pena em regime
mais gravoso do que aquele fixado na condenação ou no curso da execução penal.

5. Cabimento.

A execução definitiva das penas privativas de liberdade é aquela originada de sentença


penal condenatória ou absolutória imprópria (que impõe medida de segurança) transitada
em julgado.

121
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

O STJ e o STF não se admitem a expedição de guia de recolhimento antes do trânsito em


julgado da condenação, por violar o princípio do estado de inocência, o que não impede que
sejam concedidos os benefícios da execução àquele condenado que esteja preso
preventivamente.

6. Atribuição.

A competência para a expedição da guia de recolhimento é do juízo do processo de


conhecimento, o qual deverá aguardar o trânsito em julgado.

Competente para a execução provisória é o juízo da execução, como se extrai dos arts. 2o e
seu parágrafo único, 65 e 66, da Lei de Execução Penal.

No que diz respeito ao magistrado, “Em se tratando de execução de pena definitiva ou


provisória, compete ao Juízo da execução do local de cumprimento da reprimenda decidir
sobre os incidentes que surgirem durante a execução, por força do art. 65 da LEP” (STJ,
CC 81284/RS) bem como: a) a aplicação da lei penal mais benigna; b) declarar extinta a
punibilidade; c) decidir sobre a soma e unificação de penas; d) decidir sobre progressão ou
regressão de regime; d) decidir sobre a detração e a remição de pena; e) decidir sobre as
condições da suspensão condicional da pena (sursis), quando não fixadas da condenação,
realizando a audiência admonitória; f) decidir sobre o livramento condicional; g) autorizar
saídas temporárias; h) determinar a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em
privativa de liberdade; i) determinar a conversão da pena privativa de liberdade em
restritiva de direitos; j) determinar a aplicação de medida de segurança e de substituição da
pena por medida de segurança; h) determinar a revogação da medida de segurança; l)
determinar a desinternação e o restabelecimento da situação anterior; m) determinar o
cumprimento de pena ou de medida de segurança em outra comarca; n) determinar a
remoção do condenado para estabelecimento penal federal de segurança máxima (86, § 1º,
LEP), cuja admissão dependerá de decisão do juízo federal competente, após receber os
autos de transferência enviados pelo juízo da execução; o) zelar pelo cumprimento da pena
e da medida de segurança; p) inspecionar mensalmente os estabelecimentos penais,
tomando providências para o seu adequado funcionamento e promovendo, quando for o
caso, a apuração da responsabilidade; interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal
que estiver funcionando em condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos
legais; q) compor e instalar o Conselho da Comunidade; r) emitir anualmente atestado de
pena a cumprir.

7. Progressão de regime para preso estrangeiro.

Artur Gueiros menciona que historicamente sempre prevaleceu a vedação dos benefícios
prisionais ao cumprimento de pena do preso estrangeiro. Afirma, expressamente, discordar
desse posicionamento. Ressalta que “A jurisprudência mais recente do STF e do STJ parece
inclinar-se no sentido da efetiva superação dos óbices anteriormente apontados, permitindo
que seja concedido ao preso estrangeiro a progressão do regime fechado para outro menos
severo”.

Nesse sentido: “Pena privativa de liberdade. Progressão de regime. Admissibilidade.

122
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Condenação por tráfico de drogas. Estrangeira sem domicílio no país e objeto de processo
de expulsão. Irrelevância. HC concedido. Voto vencido. O fato de o condenado por tráfico
de droga ser estrangeiro, estar preso, não ter domicílio no país e ser objeto de processo de
expulsão, não constitui óbice à progressão de regime de cumprimento da pena” (STF, HC
97147, Rel. Min. Ellen Gracie, Rel. p/acórdão Min. Cezar Peluso, DJe de 11.02.2010).
E o STJ: V. Na hipótese, constata-se o constrangimento ilegal, na medida em que o
benefício da progressão ao regime semiaberto, deferido em 1º Grau, foi cassado, pelo
acórdão impugnado, sem fundamentação plausível, tão somente em virtude de se tratar de
paciente estrangeiro, em situação irregular no país, com Inquérito de expulsão em
andamento. VI. Nos termos da jurisprudência do STF e do STJ, a condição de estrangeiro,
em situação irregular no país, não constitui óbice, por si só, à concessão do benefício da
progressão de regime prisional, e tampouco a existência de processo de expulsão impede o
deferimento da progressão de regime ao estrangeiro, já que a efetivação da expulsão poderá
ser realizada após o cumprimento da pena, ou mesmo antes, nos termos do art. 67 da Lei
6.815/80, que dispõe que, "desde que conveniente ao interesse nacional, a expulsão do
estrangeiro poderá efetivar-se, ainda que haja processo ou tenha ocorrido condenação". VII.
Consoante entendimento do STF, "o fato do condenado por tráfico de droga ser estrangeiro,
estar preso, não ter domicílio no país e ser objeto de processo de expulsão, não constitui
óbice à progressão de regime de cumprimento da pena" (STF, HC 97.147/MT, Rel.
Ministra ELLEN GRACIE, Relator p/ acórdão Ministro CEZAR PELUSO, SEGUNDA
TURMA, DJe de 12/02/2010), porquanto "é do Poder Executivo a prerrogativa de decidir o
momento em que, por conveniência do interesse nacional, a expulsão deva efetivar-se,
independentemente da existência de processo ou condenação (art. 67 do Estatuto do
Estrangeiro). De modo que, se o não fez até agora, essa autoridade, é porque julgou
adequado que o cumprimento da pena ocorra integralmente em território nacional. E,
julgando-o assim, não pode subtrair ao condenado estrangeiro nenhum dos seus direitos
constitucionais, que abrangem o da individualização da pena. Entre nós, qualquer pessoa
tem direito à progressão de regime, nos termos do art. 112 da LEP. A só condição de
estrangeiro não lhe retira a possibilidade de reinserção na sociedade" (STF, HC 97.147/MT,
Rel. Ministra ELLEN GRACIE, Relator p/ acórdão Ministro CEZAR PELUSO,
SEGUNDA TURMA, DJe de 12/02/2010). Em igual sentido: STJ, AgRg no HC
229.244/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, DJe de
22/11/2012; STJ, HC 186.490/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, DJe de 13/02/2012. VIII. Ademais, trata-se, in casu, de progressão para
o regime semiaberto, no qual a regra é o trabalho interno, em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar, que independe de visto de permanência ou qualquer outro requisito
de regularidade administrativa. IX. Habeas corpus não conhecido. X. Ordem concedida, de
ofício, para, cassando o acórdão impugnado, restabelecer a decisão do Juízo das Execuções,
concessiva do benefício, ao paciente, da progressão ao regime semiaberto, por preenchidos
os requisitos objetivo e subjetivo para tal. (HC 262.597/SP, Rel. Ministra ASSUSETE
MAGALHÃES, SEXTA TURMA, julgado em 22/10/2013, DJe 19/12/2013)
Entretanto, se o estrangeiro já estiver com a sua expulsão decretada, maior cautela deverá
ser adotada para que lhe sejam deferidos os benefícios executórios, tendo em vista a
redução da vigilância que a concessão da progressão de regime lhe impõe, p. ex. A
propósito, o “STJ entende que a concessão de benefícios executórios que impliquem
redução da vigilância ao preso estrangeiro, que tenha decretada a expulsão, decorrente de
123
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

sua situação irregular no país, deve estar amparada em elementos concretos que
assegurem a futura aplicação da medida”, nos termos do HC nº 213.729/SP (Rel. Ministro
MOURA RIBEIRO, QUINTA TURMA, julgado em 04/02/2014, DJe 11/02/2014)

8. Progressão de Regime (Obs. Vitaminada)

Não se faz mais necessário o exame criminológico em todos os casos, deve haver decisão
motivada a respeito das peculiaridades do caso, tendo em vista que o art. 112 da LEP
somente exige que o apenado tenha cumprido 1/6 da pena e ostente bom comportamento
carcerário, comprovado pelo diretor carcerário, respeitadas as normas que vedam a
progressão. Em geral, exige-se o cumprimento de 1/6 da pena. Nos crimes hediondos,
exige-se que o apenado primário cumpra 2/5 da pena e o reincidente, 3/5 da pena, v. art. 2º,
§2º, da Lei nº 8.072/90.

Imperioso salientar que o STF declarou a inconstitucionalidade do art. 2º, §1º, da Lei nº
8.072/90 que estabelecia que as penas privativas de liberdade aplicadas em decorrência da
prática de crimes hediondos deveriam ser cumpridas em regime integralmente fechado, o
que impediria, cuja interpretação dada pelos tribunais pátrios era de que não seria admitida
a progressão de regime. Assim, sob o fundamento de ofensa à garantia da individualização
da pena e do direito a ressocialização do preso, foi declarado inconstitucional tal
dispositivo, passando-se admitir a progressão de regime para os crimes hediondos. Nesse
sentido, confira-se o teor do julgado:

PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - RAZÃO DE SER. A progressão no


regime de cumprimento da pena, nas espécies fechado, semi-aberto e aberto, tem como razão maior
a ressocialização do preso que, mais dia ou menos dia, voltará ao convívio social. PENA - CRIMES
HEDIONDOS - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - ÓBICE - ARTIGO 2º, § 1º,
DA LEI Nº 8.072/90 - INCONSTITUCIONALIDADE - EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL.
Conflita com a garantia da individualização da Pena - artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição
Federal - a imposição, mediante norma, do cumprimento da Pena em regime integralmente fechado.
Nova intelligence do principia da individualização da pena, em evolução jurisprudencial, assentada
a inconstitucionalidade do artigo 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.

(HC 82959, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 23/02/2006, DJ 01-
09-2006 PP-00018 EMENT VOL-02245-03 PP-00510 RTJ VOL-00200-02 PP-00795)

E tal controvérsia veio a ser sanada com a nova redação conferida pela Lei nº 11.464/07 ao
art. 2º, §1º, da Lei nº 8.072/90, que estabelece que “a pena por crime previsto neste artigo
será cumprida inicialmente em regime fechado”. Verifica-se que esse dispositivo também
padece de inconstitucionalidade, na medida em que ofende o princípio da individualização
da pena, ao fixar ex lege a obrigatoriedade de regime inicial fechado para os crimes
hediondos, de tortura, de tráfico ilícito de entorpecentes, e de terrorismo, sem avaliação de
cada caso concreto. Destarte, mais uma vez o STF declarou incidentalmente a
inconstitucionalidade desse dispositivo, agora com a redação dada pela Lei nº 11.464/07, in
verbis (Inf. 672-STF):

É inconstitucional o § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90 (“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da


tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: ... § 1o A

124
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado”). Com base
nesse entendimento, o Plenário, por maioria, deferiu habeas corpus com a finalidade de alterar para
semiaberto o regime inicial de pena do paciente, o qual fora condenado por tráfico de drogas com
reprimenda inferior a 8 anos de reclusão e regime inicialmente fechado, por força da Lei
11.464/2007, que instituíra a obrigatoriedade de imposição desse regime a crimes hediondos e
assemelhados — v. Informativo 670. Destacou-se que a fixação do regime inicial fechado se dera
exclusivamente com fundamento na lei em vigor. Observou-se que não se teriam constatado
requisitos subjetivos desfavoráveis ao paciente, considerado tecnicamente primário. Ressaltou-se
que, assim como no caso da vedação legal à substituição de pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos em condenação pelo delito de tráfico — já declarada inconstitucional pelo STF
—, a definição de regime deveria sempre ser analisada independentemente da natureza da infração.
Ademais, seria imperioso aferir os critérios, de forma concreta, por se tratar de direito subjetivo
garantido constitucionalmente ao indivíduo. Consignou-se que a Constituição contemplaria as
restrições a serem impostas aos incursos em dispositivos da Lei 8.072/90, e dentre elas não se
encontraria a obrigatoriedade de imposição de regime extremo para início de cumprimento de pena.
Salientou-se que o art. 5º, XLIII, da CF, afastaria somente a fiança, a graça e a anistia, para, no
inciso XLVI, assegurar, de forma abrangente, a individualização da pena. Vencidos os Ministros
Luiz Fux, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio, que denegavam a ordem. HC 111840/ES, rel. Min.
Dias Toffoli, 27.6.2012. (HC-111840)

9. Súmulas.

STJ, 269: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes


condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.

STJ, 439: Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em
decisão motivada.

STJ, 440: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime


prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na
gravidade abstrata do delito.

STF, SV nº 26: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime
hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º
da Lei nº 8.072/90, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos
do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado a realização de
exame criminológico.

STF, 716: Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação


imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da
sentença condenatória.

STF, 717: Não impede a progressão do regime de execução da pena, fixada em sentença
não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial.

STF, 718: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui
motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a

125
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

pena aplicada.

STF, 719: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada
permitir exige motivação idônea.

10. Informativos de Jurisprudência:

STJ:

Inf. nº 532:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. PROCESSO ADMINISTRATIVO PARA
APLICAÇÃO DE FALTA DISCIPLINAR AO PRESO. RECURSO REPETITIVO (ART.
543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar, no âmbito da execução penal, é
imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do
estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado
constituído ou defensor público nomeado. No âmbito da execução penal, a atribuição de
apurar a conduta faltosa do detento, assim como realizar a subsunção do fato à norma legal, ou
seja, verificar se a conduta corresponde a uma falta leve, média ou grave, e aplicar eventual
sanção disciplinar é do diretor do estabelecimento prisional, em razão de ser o detentor do
poder disciplinar (Seção III do Capítulo IV da LEP). Não se olvida, entretanto, que, em razão
do cometimento de falta de natureza grave, determinadas consequências e sanções disciplinares
são de competência do juiz da execução penal, quais sejam, a regressão de regime (art. 118, I),
a revogação de saída temporária (art. 125), a perda dos dias remidos (art. 127) e a conversão de
pena restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 181, § 1º, d, e § 2º). A propósito, o art.
48 estabelece que a autoridade administrativa “representará” ao juiz da execução penal para
adoção dessas sanções disciplinares de competência do juiz da execução penal. Dessa forma,
constata-se que a LEP não deixa dúvida ao estabelecer que todo o "processo" de apuração da
falta disciplinar (investigação e subsunção), assim como a aplicação da respectiva punição, é
realizado dentro da unidade penitenciária, cuja responsabilidade é do seu diretor. Somente se
for reconhecida a prática de falta disciplinar de natureza grave pelo diretor do estabelecimento
prisional, é que será comunicado ao juiz da execução penal para que aplique determinadas
sanções, que o legislador, excepcionando a regra, entendeu por bem conferir caráter
jurisdicional. No tocante à formalização dessa sequência de atos concernentes à apuração da
conduta faltosa do detento e aplicação da respectiva sanção, o art. 59 da LEP é expresso ao
determinar que: “praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para a sua
apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa”. E mais, mesmo sendo a
referida lei do ano de 1984, portanto, anterior à CF de 1988, ficou devidamente assegurado o
direito de defesa do preso, que abrange não só a autodefesa, mas também a defesa técnica, a ser
realizada por profissional devidamente inscrito nos quadros da OAB. Não por outro motivo o
legislador disciplinou expressamente nos arts. 15, 16 e 83, § 5º, da LEP, a obrigatoriedade de
instalação da Defensoria Pública nos estabelecimentos penais, a fim de assegurar a defesa
técnica daqueles que não possuírem recursos financeiros para constituir advogado. Ademais,
vale ressaltar que o direito de defesa garantido ao sentenciado tem assento constitucional,
mormente porque o reconhecimento da prática de falta disciplinar de natureza grave acarreta
consequências danosas que repercutem, em última análise, em sua liberdade. Com efeito, os
incisos LIV e LV do art. 5º da CF respaldam a obrigatoriedade da presença de defensor
regularmente constituído na OAB, em procedimento administrativo disciplinar, no âmbito da

126
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

execução da pena. No particular, registre-se que a Súmula Vinculante 5, a qual dispõe que “a
falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição”, não se aplica à execução penal. Primeiro, porque todos os precedentes utilizados
para elaboração do aludido verbete sumular são originários de questões não penais, onde
estavam em discussão procedimentos administrativos de natureza previdenciária (RE 434.059);
fiscal (AI 207.197); disciplinar-estatutário militar (RE 244.027); e tomada de contas especial
(MS 24.961). Segundo, porque, conforme mencionado, na execução da pena está em jogo a
liberdade do sentenciado, o qual se encontra em situação de extrema vulnerabilidade,
revelando-se incompreensível que ele possa exercer uma ampla defesa sem o conhecimento
técnico do ordenamento jurídico, não se podendo, portanto, equipará-lo ao indivíduo que
responde a processo disciplinar na esfera cível-administrativa. Ademais, observa-se que o
Regulamento Penitenciário Federal, aprovado pelo Dec. 6.049/2007 – que disciplina as regras
da execução da pena em estabelecimento prisional federal, seguindo a diretriz traçada pela Lei
7.210/1984 (LEP) –, determina expressamente a obrigatoriedade de instauração de
procedimento administrativo para apuração de falta disciplinar, bem como a
imprescindibilidade da presença de advogado. Seria, portanto, um verdadeiro contrassenso
admitir que o preso que cumpre pena em estabelecimento penal federal, regido pelo aludido
Decreto, possua mais direitos e garantias em relação àquele que esteja cumprindo pena em
presídio estadual. Ademais, quanto ao disposto no art. 118, I e § 2º, da LEP – que determina
que o apenado deva ser ouvido previamente antes de ser regredido definitivamente de regime –,
mesmo que se entenda que somente o juiz possa ouvi-lo, não se pode perder de vista que antes
de ser aplicada qualquer sanção disciplinar pela prática de falta grave deve ser instaurado o
devido procedimento administrativo pelo diretor do presídio. Somente após todo esse
procedimento é que o diretor do estabelecimento prisional representará ao juiz da execução
para que aplique as sanções disciplinares de sua competência, dentre elas, quando for o caso, a
regressão de regime, ocasião em que o apenado deverá ser previamente ouvido, por meio de sua
defesa técnica. Dessarte, verifica-se que a defesa do sentenciado no procedimento
administrativo disciplinar revela-se muito mais abrangente em relação à sua oitiva prevista no
art. 118, § 2º, da LEP, tendo em vista que esta tem por finalidade tão somente a questão acerca
da regressão de regime, a ser determinada ou não pelo juiz da execução. Nota-se que os
procedimentos não se confundem. Ora, se de um lado, o PAD visa apurar a ocorrência da
própria falta grave, com observância do contraditório e da ampla defesa, bem como a aplicação
de diversas sanções disciplinares pela autoridade administrativa; de outro, a oitiva do apenado
tem como único objetivo a aplicação da sanção concernente à regressão de regime, exigindo-se,
por óbvio, que já tenha sido reconhecida a falta grave pelo diretor do presídio. Conquanto a
execução penal seja uma atividade complexa, pois desenvolve-se nos planos jurisdicional e
administrativo, da leitura dos dispositivos da LEP, notadamente do seu art. 66, que dispõe sobre
a competência do juiz da execução, conclui-se que não há nenhum dispositivo autorizando o
magistrado instaurar diretamente procedimento judicial para apuração de falta grave. Assim,
embora o juiz da Vara de Execuções Penais possa exercer, quando provocado, o controle de
legalidade dos atos administrativos realizados pelo diretor do estabelecimento prisional, bem
como possua competência para determinadas questões no âmbito da execução penal, não lhe é
permitido adentrar em matéria de atribuição exclusiva da autoridade administrativa, no que
concerne à instauração do procedimento para fins de apuração do cometimento de falta
disciplinar pelo preso, sob pena de afronta ao princípio da legalidade. REsp 1.378.557-RS, Rel.
Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 23/10/2013.

127
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

DIREITO PROCESSUAL PENAL. ILEGALIDADE NO RECONHECIMENTO DE


FALTA GRAVE.
A mudança de endereço sem autorização judicial durante o curso do livramento condicional,
em descumprimento a uma das condições impostas na decisão que concedeu o benefício, não
configura, por si só, falta disciplinar de natureza grave. Com efeito, essa conduta não está
prevista no art. 50 da LEP, cujo teor estabelece, em rol taxativo, as hipóteses de falta grave, a
saber, as situações em que o condenado à pena privativa de liberdade: a) incitar ou participar de
movimento para subverter a ordem ou a disciplina; b) fugir; c) possuir, indevidamente, instrumento
capaz de ofender a integridade física de outrem; d) provocar acidente de trabalho; e) descumprir, no
regime aberto, as condições impostas; f) inobservar os deveres previstos nos incisos II e V do artigo
39 da LEP; e g) tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. Desse modo, não é possível
o reconhecimento da falta grave com fundamento na simples mudança de endereço durante o curso
do livramento condicional, sem que evidenciada situação de fuga, sob pena de ofensa ao princípio
da legalidade. HC 203.015-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
26/11/2013.

Inf. nº 522:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. IMPOSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DE
MEDIDA DE SEGURANÇA EM ESTABELECIMENTO PRISIONAL COMUM. O
inimputável submetido à medida de segurança de internação em hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico não poderá cumpri-la em estabelecimento prisional comum,
ainda que sob a justificativa de ausência de vagas ou falta de recursos estatais. Isso
porque não pode o paciente ser submetido a situação mais gravosa do que aquela definida
judicialmente. HC 231.124-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 23/4/2013.

Inf. nº 519
DIREITO PROCESSUAL PENAL. INOCORRÊNCIA DE FALTA GRAVE PELA
POSSE DE UM CABO USB, UM FONE DE OUVIDO E UM MICROFONE POR
VISITANTE DE PRESO.
No âmbito da execução penal, não configura falta grave a posse, em estabelecimento
prisional, de um cabo USB, um fone de ouvido e um microfone por visitante de preso.
Primeiramente, os referidos componentes eletrônicos não se amoldam às hipóteses previstas no
art. 50, VII, da Lei 7.210/1984 porque, embora sejam considerados acessórios eletrônicos, não
são essenciais ao funcionamento de aparelho de telefonia celular ou de rádio de comunicação e,
por isso, não se enquadram na finalidade da norma proibitiva que é a de impedir a comunicação
intra e extramuros. Além disso, também não há como falar em configuração de falta grave, pois
a conduta praticada por visitante não pode alcançar a pessoa do preso, tendo em vista que os
componentes eletrônicos não foram apreendidos com o detento, mas com seu visitante. HC
255.569-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/3/2013.

Inf. nº 0517:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. FALTA GRAVE DECORRENTE DA POSSE DE
CHIP DE TELEFONIA MÓVEL POR PRESO.
No âmbito da execução penal, configura falta grave a posse de chip de telefonia móvel por
preso. Essa conduta se adéqua ao disposto no art. 50, VII, da LEP, de acordo com o qual
constitui falta grave a posse de aparelho telefônico, de rádio ou similar que permita a
comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. Trata-se de previsão normativa
128
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

cujo propósito é conter a comunicação entre presos e seus comparsas que estão no ambiente
externo, evitando-se, assim, a deletéria conservação da atividade criminosa que, muitas vezes,
conduziu-os ao aprisionamento. Portanto, há de se ter por configurada falta grave também pela
posse de qualquer outra parte integrante do aparelho celular. Conclusão diversa permitiria o
fracionamento do aparelho entre cúmplices apenas com o propósito de afastar a aplicação da lei
e de escapar das sanções nela previstas. HC 260.122-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 21/3/2013.

129
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

10.a. Conflito de atribuições entre Membros do Ministério Público.


Declínio de atribuição.
Principais obras consultadas: Curso de Processo Penal, Eugênio Pacelli de Oliveira, 16ª
Edição, Editora Atlas/2012; Curso de Direito Processual Penal, Nestor Távora e Rosmar
Rodrigues Alencar, 5ª edição, editora Jus Podivm/2011. Manual de Processo Penal, Renato
Brasileiro de Lima, 2ª edição, volume único, Editora Juspodivm, 2014.

Legislação básica: Arts. 26, VII; 62, VII; 49, VIII; 124, VI; 136, VI da Lei Complementar
75/93. art. 102, I, f; 105, I, d, da CF. Art.10, X, da Lei n. 8.625/93.

1. Conceito: Segundo Eugênio Pacelli de Oliveira (p. 73), por conflito de atribuições deve-
se entender a divergência estabelecida entre membros do Ministério Público acerca da
responsabilidade ativa para a persecução penal em razão da matéria ou das regras
processuais que definem a distribuição das atribuições ministeriais.

Atenção: O conflito de atribuições não se confunde com o conflito de competência. Há


conflito de competência quando for praticado “ato de conteúdo jurisdicional com força
bastante para atrair a tipificação de conflito negativo de competência (...) Paulo Cézar
Pinheiro Carneiro... O juiz, quando determina o encaminhamento dos autos do inquérito
para outro órgão do Ministério Público, o faz exercitando unicamente a atividade
administrativa como chefe que é dos serviços administrativos do cartório” (STF, Pet.
3631/SP, Pleno, DJ de 6.3.2008).  Tratando-se de controvérsia entre órgãos do Ministério
Público sobre ato que caiba a um deles praticar, ter-se-á um conflito de atribuições.

2. Competência: para dirimir conflitos de atribuições entre órgãos do MP pode ser


sintetizada da seguinte forma:

a) Se o conflito de atribuições se der entre órgãos do Ministério Público pertencentes ao


mesmo Estado da Federação, a competência para dirimir recairá sobre o Procurador-Geral
de Justiça (Lei n. 8.625/93, art.10, X);

b) Caso o conflito se estabeleça no âmbito do Ministério Público Federal, entre


Procuradores da República, caberá à 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério
Público Federal seu processo e julgamento, com possibilidade de recurso para o
Procurador-Geral da República (arts. 49, VIII, e 62,  VII, da LC 75/93);

c) Se o conflito de atribuições ocorrer entre órgãos do Ministério Público Militar, a


competência será da Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Militar, com
recurso para o Procurador-Geral da Justiça Militar (LC 75/93, art. 136,  VI c/c art. 124, VI);

d) Caso o conflito se dê entre integrantes de ramos diferentes do Ministério Público da


União, a competência para dirimi-lo será do Procurador-Geral da República (LC 75/93, art.
26, VII);

e) Grande Celeuma: Caso o conflito de atribuições se dê entre Procurador da República e


Promotor de Justiça [Exemplo: Pet 4680, Rel. Min. Marco Aurélio, 29/9/2012 (falsificação

130
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

de papéis públicos, art. 293 do CP – guias de recolhimento – DARF- irregulares)] ou entre


Promotores de Justiça de Estados diferentes (Pet. 3631/SP, Rel. Min. Cezar Peluso,
Tribunal Pleno, DJ de 6.3.2008), a competência para dirimi-lo será do Supremo Tribunal
Federal (art. 102, I, f, CF).

3. Prova do MPF: Pacelli lembra que já foi cobrada em concurso do Ministério Público
Federal a tese segundo a qual caberia ao Procurador Geral da República - PGR solucionar
os conflitos de atribuições referidos no parágrafo anterior (entre membros de Ministérios
Públicos diferentes). O citado autor discorda da posição, argumentando que o PGR não
possuiria hierarquia superior aos Procuradores-Gerais de Justiça dos Estados e a resolução
de conflitos entre autoridades deve ser atribuída a quem detenha hierarquia funcional sobre
mencionadas autoridades.

4. Tribunais Superiores:

Entendimento do STF: a) Atual: O Supremo Tribunal Federal hoje possui jurisprudência


pacifica no sentido de que compete a ele, STF, o julgamento do conflito de atribuições
entre Ministérios Públicos diferentes, como se se tratasse de uma causa entre União e
Estado ou entre Estados, nos exatos moldes do art. 102, “f”, da CF, já que nem mesmo o
encampamento das posições ministeriais pelos juízos implicaria conflito de jurisdição. O
conflito que se tem é, em verdade, de atribuições. “EMENTA (...) Magistrados que se
limitaram a remeter os autos a outro juízo a requerimento dos representantes do
Ministério Público. Inexistência de decisões jurisdicionais. Oposição que se resolve em
conflito entre órgãos de Estados diversos. (...)” (STF, Pet. 3631/SP, Pleno, DJ de
6.3.2008). Nesse sentido, analisando o interesse subjacente ao direito controvertido e
verificando não haver ofensa à interesse federal, não há que se falar em atribuição do MPF
para o caso, conforme se depreende da Pet 5117/BA, Rel.:  Min. Marco Aurélio, Primeira
Turma, julgado em 11/02/2014, DJe de 26.02-2014. b) Antigo: Antes o STF preferia tratar
a matéria em apreço como “conflito de jurisdição”, ao entendimento de que a simples
tramitação dos inquéritos policiais perante os juízos já significaria o “encampamento” por
estes das manifestações ministeriais em dissenso; caberia, assim, ao Superior Tribunal de
Justiça resolver a questão, cf. art. 105, I, d, CF.

Entendimento do STJ: diverge do atual entendimento do STF. V. CAt. 231/SP, DJe


04/06/2012): “Evidenciado que as autoridades judiciárias se pronunciaram a respeito da
controvérsia, ainda que acolhendo as manifestações do Ministério Público Federal e
estadual, configura-se o conflito de competência. Precedentes”. O parecer, da lavra do
Subprocurador-Geral da República Juarez Tavares, datado de 14/10/2010, é no sentido de
que se conheça do conflito como de competência, e não como conflito de atribuição. Isso
em razão de que, tendo tanto o Judiciário federal quanto o estadual homologado as
manifestações ministeriais, a discordância se verifica entre os magistrados, e não entre os
membros do Parquet. No caso, nem sequer foi apresentada denúncia, pois nenhum membro
do Ministério Público, seja federal seja estadual, entendeu ser competente para tanto. E,
acolhendo as respectivas manifestações ministeriais, os Juízes de primeira instância
também concluíram pela negativa de competência. Tal a circunstância, verifica-se conflito
negativo de competência, e não de atribuição, e, posta a questão nesses termos, evidencia-
se a competência do STJ para decidir a questão, porquanto os juízos em divergência se

131
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

encontram submetidos a Tribunais distintos (art. 105, I, d, da CF). Nesse sentido, há


diversos precedentes da Terceira Seção, por exemplo: CAt n. 123/CE, DJ de 13/5/2002;
CAt n. 159/SP, Ministro José Arnaldo da Fonseca, DJ 21/3/2005; e CAt n. 180/RS, DJ
6/3/2006.

Pacelli: discorda do atual entendimento do STF: “Afinal, a atribuição do Ministério


Público exerce-se perante a jurisdição. Fosse a hipótese de a atividade ser desenvolvida
por um ou outro membro do Ministéiro Público, federal e estadual, fora da jurisdição, isto
é, providências unicamente administrativas, aí, sim, estaria correta a decisão da Suprema
Corte (...)” (p. 74).

5. Declínio de atribuições: Enunciados da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF:

a) Enunciado nº 25: Não se sujeita à revisão da 2ª Câmara o declínio de atribuição de um


órgão para outro no âmbito do próprio Ministério Público Federal.  (15.04.2009);

b) Enunciado nº 32: Compete à 2ª Câmara homologar declínio de atribuição promovido por


membro do Ministério Público Federal em favor do Ministério Público Estadual ou de
outro ramo do Ministério Público da União, nos autos de peças de informação ou de
procedimento investigatório criminal (17.05.2010);

c) Enunciado nº 33: Compete à 2ª Câmara homologar o declínio de atribuição promovido


nos autos de inquérito policial que tramite diretamente entre a Polícia Federal e o
Ministério Público Federal (Resolução n.º 63 do E. Conselho de Justiça Federal).
(17.05.2010)

d) Enunciado nº 34: Quando o declínio de atribuições, em procedimento administrativo


criminal, tiver por base entendimento já expresso em enunciado da 2ª Câmara, os autos
poderão ser remetidos diretamente ao Ministério Público com a respectiva atribuição,
comunicando-se, por ofício, à 2ª Câmara de Coordenação e Revisão. Aplicação analógica
do §3º, art. 6º, da Resolução 107 do CSMPF, de 6.4.2010;

e) Enunciado nº 35: Quando o declínio de atribuições, em inquérito policial, tiver por base
entendimento já expresso em enunciado da 2ª Câmara, os autos poderão ser remetidos
diretamente ao Ministério Público com a respectiva atribuição, comunicando-se à 2ª
Câmara de Coordenação e Revisão, com o envio de cópia por meio eletrônico. Aplicação
analógica do §3º, art. 6º, da Resolução 107 do CSMPF, de 6.4.2010. Na hipótese, o
Procurador oficiante deverá comunicar ao juízo e à autoridade policial. (001ª Sessão de
Coordenação, de 17.05.2010);

6. OBS Vitaminada: Na hipótese em que o Procurador da República pugna pela


declinação da competência, não tendo oferecido a denúncia, e o juiz não concordar com a
declinação por se entender competente, não poderá ele obriga-lo a oferecer a peça
acusatória, sob pena de violação ao princípio da independência funcional (art. 127, §1º, da
CR). Nesse caso, deverá o juiz receber a manifestação ministerial como se fosse um pedido
de arquivamento indireto do inquérito policial ou do procedimento investigatório criminal,
aplicando, analogicamente, o art. 28 do CPP, remetendo os autos à 2ª CCR (Brasileiro, p.

132
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

165, 2014).

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

10.b. Perpetuatio jurisdictionis


Principais obras consultadas: Curso de Processo Penal, Eugênio Pacelli de Oliveira, 16ª
Edição, editora: Atlas/2012; Curso de Direito Processual Penal, Nestor Távora e Rosmar
Rodrigues Alencar, 5ª edição, editora Jus Podivm/2011; Processo Penal Esquematizado,
Norberto Avena, Método/2009. Anotações de aula do Curso Alcance 2013 para Procurador
da República. Lima. Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 2ª Edição. Volume
único. Salvador: Juspodivm, 2014.

Legislação básica: arts. 96, CF; 74, §3°, e 492, §§1°e 2°, 81, 83, 108, 399, §2°, CPP;
87, CPC.

1. Princípio da Perpetuatio jurisdictionis:  Eugênio Pacelli de Oliveira explica que, por


força do princípio em questão, em regra, a ação penal instaurada perante um juízo
territorialmente competente deverá ali ter prosseguimento (perpetua-se a competência), a
não ser quando excepcionada, nas hipóteses legais, a incompetência (descritas abaixo).
Norberto Avena leciona que “significa possibilidade de substituição da competência
relativa de um juízo por outro” (p.  611). Competência relativa: de foro ou territorial. Tal
postulado é perfeitamente aplicável ao processo penal e pretende impedir modificações da
competência em nome da mais célere e efetiva prestação da tutela jurisdicional penal.

2. Correlação com o princípio da identidade física do juiz: nas palavras de Eugênio


Pacelli de Oliveira, a “perpetuatio jurisdictionis” seria como uma companheira inseparável
do princípio da identidade física do juiz (sufragado expressamente pela lei processual penal
a partir das alterações promovidas pela Lei 11719/2008 – art. 399, § 2°, CPP), pois ambos
os princípios voltam-se a prestigiar o julgamento da causa pelo juízo ao qual distribuída e
perante o qual realizou-se a instrução probatória. Presume a lei que o juiz que primeiro
tomou conhecimento da causa e colheu as provas, tendo contato com as partes e suas
alegações, entre outros, possui mais condições para julgar a causa rápida e efetivamente.

3. Parte da doutrina e dos Tribunais sustenta a aplicação do art. 87 do CPC para o


processo penal, tendo em vista a permissão do art. 3º do CPP.  Há quem sustente a
aplicação pura e simples do art. 87 do CPC ao argumento de que a competência deve ser
fixada no momento em que proposta a ação. Mirabete fala que o art. 83 do CPP teria
acolhido expressamente a perpetuatio. Pacelli discorda da solução apontada com base no
art. 87 do CPC, aduzindo que o próprio artigo ressalva a possibilidade de alteração da
competência em razão da matéria.

No julgamento do RHC 83181/RJ, o STF (DJ 22/10/2004) entendeu que a competência


deve ser apurada no momento do ajuizamento da ação e que a aplicação, por analogia, do
art. 87 do CPC, “deve ser vista como norma de prudência, que visa preservar o princípio
do juiz natural” (no caso entendeu-se pela permanência da competência territorial da vara
criminal de Magé/RJ mesmo após a instalação de uma vara regional no local do crime –
Piabetá/RJ).

Nesse sentido, pela aplicabilidade do art. 87 do CPC ao processo penal, é o posicionamento


de Renato Brasileiro de Lima (v. p. 546/547, 2014). A esse respeito, vale conferir o teor do
134
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

art. 87 do CPC: “Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São


irrelevantes as modificações do estado de fato e de direito ocorridas posteriormente, salvo
quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou
da hierarquia”. Observa-se, portanto, que são irrelevantes as modificações do estado de fato
ou de direito, salvo em três hipóteses: a) quando ocorrer a extinção de órgão judiciário,
como sucedeu com os Tribunais de Alçada (EC nº 45/04); b) quando a competência for
alterada em razão da matéria, a ex. da Lei nº 9.299/96 que conferiu ao Tribunal do Júri a
competência para processar e julgar os crimes dolosos contra a vida praticados por militar
contra civil, ainda que cometidos em serviço; c) quando a competência for alterada em
razão da hierarquia, quando o acusado venha ser diplomado a cargo que lhe confira
prerrogativa de foro, hipótese em que cessa automaticamente a competência do Juiz de 1ª
Instância, cabendo-lhe remeter os autos ao Tribunal competente, após a diplomação do
acusado.

4. Hipóteses de perpetuatio jurisdictionis:

a) art. 81, CPP: na hipótese de reunião de processos, ainda que o Juiz sentenciante absolva
ou desclassifique o crime que atraiu a sua competência, deverá julgar os demais (essa regra
tem aplicação no juízo singular e nos tribunais, não se estendendo ao Tribunal do Júri); o
motivo é simples: aproveitamento da instrução ali realizada, já que a desclassificação, em
regra, somente é feita na fase decisória, após a colheita da prova. Assim, o princípio da
“perpetuatio jurisdictionis”, consoante enunciam Nestor Távora e Rosmar Rodrigues
Alencar (p. 270) permite que, havendo reunião de feitos pela conexão ou continência, o
juízo prevalente continue competente para julgar as demais infrações mesmo que
desclassifique ou absolva a infração que determinou a sua competência (a competência é
“perpetuada”). V. também (HC 132135, Rel. Min. Jorge Mussi, p. 17/05/11, e HC 90014,
Rel. Min. Maria Thereza A. de Moura, p. 10/05/10).

b) Segundo o entendimento do STJ, a competência territorial deve ser arguida no prazo da


defesa, através de exceção (art. 108, CPP), sob pena de preclusão (HC 132982, Rel. Min.
Arnaldo Esteves Lima, p. 05/04/10) e perpetuação da competência;

c) Além disso, entendem STF e STJ que havendo a criação de uma nova Vara no interior,
com competência territorial sobre uma região anteriormente abrangida pela competência da
Vara da Capital, não há modificação da competência, devendo o processo prosseguir na
Vara da Capital (STF, RHC 83181, p. 22/10/04, e STJ, Resp 849276, p. 13/10/09).

5. Exceções à regra da perpetuatio jurisdictionis:

5.1. Modificação de competência territorial por normas de organização judiciária: Pacelli


reconhece que não há razões para rechaçar, de plano, modificações de competência
territorial determinadas por normas de organização judiciária (com previsão constitucional
– art. 96 da CF/88). Atenção: estas normas podem prever a alteração da competência
territorial por matéria (que não se confunde com alteração de competência material e,
portanto, constitucional). Assim, não haveria qualquer ilegalidade na alteração excepcional
da regra da “perpetuatio jurisdictionis” consubstanciada na alteração de “competência
territorial de processos já em curso, salvo quando encerrada a instrução” (em homenagem

135
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

ao princípio da identidade física do juiz) “e desde que fundadas em criações de novas


varas especializadas por matéria e/ou de novas varas que possam configurar, nos termos
da lei processual penal, como o lugar da infração penal (caso típico da interiorização da
Justiça)” – o local do crime, em regra, é o mais apropriado para a produção da prova, além
de constar expressamente de regra de competência territorial prevista no art. 70 CPP (p.
269). “Tal não será, porém, o caso de simples aumento de varas criminais entre aquelas já
existentes no mesmo foro ou comarca, quando, então, nada justificará a divisão
quantitativa dos processos em curso” (p. 269). Nesse sentido, válidas as Resoluções 314/03
e 517/06 do Conselho da Justiça Federal que criaram varas federais especializadas em
determinados crimes eis que ausente qualquer violação ao princípio do juiz natural - já que
se cuida de competência territorial por matéria, e não competência material constitucional.
Como dito cima, discordam de Pacelli o STF (RHC 83181/RJ) e o STJ (HC 63720/DF, DJ
13/11/06), que entendem pela perpetuação do foro em razão da aplicação analógica do 87
CPC e em respeito ao princípio constitucional do juiz natural (Pacelli critica e entende que
a questão nada tem a ver com este princípio – juiz natural é o juiz constitucional, seja em
razão da matéria, seja em razão da prerrogativa de função).

5.2. Na hipótese de conexão ou continência, a extinção da punibilidade em relação ao crime


que atraiu a competência daquele Juízo, enseja a remessa dos demais crimes para os
respectivos Juízos competentes (STJ, CC 110998, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, 3a Seção, p. 04/06/10 e HC 108.350/RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
T6, DJe 24/08/2009; ver também CC 122.195/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe
11/06/2012). Em sentido contrário, verifiquei um único julgado do STF, no qual apenas se
afirma, sem qualquer aprofundamento, que “IV – A posterior extinção da punibilidade de
um dos feitos e o reconhecimento da incompetência do outro, que também atraíram a
competência da Justiça Federal não extingue a competência desta em razão da
perpetuação de jurisdição, nos termos do art. 81 do CPP. Precedentes.” (HC 100154,
Primeira Turma, p. 22/2/2011).

5.3 Se o Juiz, na primeira fase do procedimento do Júri, desclassificar o crime, ou absolver


ou impronunciar o réu pelo crime que atraiu a competência do Júri, deverá remeter o
processo para o Juízo competente. (art. 81, parágrafo único, CPP). Se a desclassificação for
feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu Presidente caberá proferir a sentença (arts. 74, §
3°, e 492, §§ 1° e 2°, CPP), se da desclassificação não resultar modificação da competência
de jurisdição – juiz natural, p. ex., na desclassificação para crime militar, hipótese em que
os autos devem ser encaminhados à Justiça Militar. Tal não ocorre, contudo, no caso da
desclassificação da qual resulte crime de competência dos Juizados Especiais Criminais,
pois caberá ao juiz Presidente adotar as providências previstas na Lei n° 9.099/95
(transação penal etc.), nos termos do art. 492, §1°, CPP, com a redação dada pela Lei n°
11.689/08 (Pacelli, p. 272-3).

6. Súmulas:

a) enunciado 33 do STJ: “A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”.

OBS Vitaminada: a súmula 33 do STJ foi editada sob a ótica do processo civil, muito
embora existam julgados do STJ a aplicando no processo penal. É que, no processo penal, o

136
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

art. 109 do CPP não faz nenhuma restrição quanto à espécie de competência, se relativa ou
absoluta. Outrossim, é sabido que todos os juízes tem ao menos competência para se
autoproclamarem incompetentes (princípio do Kompetenz-Kompetenz) ou para delimitarem
sua competência, pouco importando ser ela absoluta ou relativa. Assim, segundo Brasileiro
(p. 314/316), tal enunciado não deve ser aplicado ao processo penal, já que nele a
competência territorial geralmente é determinada pelo local da consumação do delito,
independentemente do interesse das partes. Ora, acima desse interesse há interesse pública
em buscar a verdade, de sorte que é muito mais provável que provas idôneas sejam
encontradas onde se deram os fatos, ainda que o acusado resida em local diverso. Portanto,
no processo penal, admite-se ao juiz o poder de declinar de ofício a sua incompetência
relativa até o momento da prolação da sentença, ou seja, até que não se tenha encerrado sua
jurisdição sobre a ação penal em questão. Entretanto, com a inserção do princípio da
identidade física do juiz no processo penal pela Lei nº 11.719/08, esse entendimento de que
a incompetência relativa poderá ser declarada de ofício merece nova análise, a fim de que o
juiz recipiente não tenha de renovar toda a instrução penal a fim de que tal princípio seja
respeitado. Dessa forma, Brasileiro, na mesma linha de Pacelli, pensam que o
reconhecimento da incompetência relativa somente pode ocorrer até o início da instrução
processual, de modo que, uma vez esta tenha início, a matéria não mais poderia ser
debatida, ante a incidência da preclusão, inclusive, para o juiz. Vale ressaltar que, se o juízo
recipiente entender que a competência é do juízo declinante ou mesmo de outro, deverá
suscitar conflito negativo, perante o Tribunal compete. Contudo, se aceitar a competência, o
processo retomará seu curso regular, devendo o magistrado proferir decisão ratificando os
atos instrutórios realizados noutro juízo, bem como o recebimento da denúncia, a fim de
que evitar que sejam anulados pela declaração de nulidade do juízo anterior. É bem verdade
que se trata de nulidade relativa que, inexistindo prejuízo para o acusado, não há de ser
proclamada, até porque o processo não é um fim em si mesmo.

b) Enunciado 706 do STF: “É relativa a nulidade decorrente da inobservância da


competência penal por prevenção”.

137
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

10.c: Indulto, graça e anistia.


Principais obras consultadas: Curso de Direito Penal Brasileiro, Luiz Regis Prado, 10ª
edição revista, atualizada e ampliada, volume 1, editora: Revista dos Tribunais/2010;
Código Penal para concursos, Rogério Sanches Cunha, 3ª edição, editora Jus Podivm/2010;
Direito Penal Esquematizado, Cleber Masson,  Método, 2009. Rogério Greco. Curso de
Direito Penal. 14ª edição. Editora Impetus, 2012.

Legislação básica: art. 5o, XLIII, 21, XVII e 48, VIII, 84, XII  da CF/88; art. 107, 359 do
CP; Lei nº. 8.072/90, art. 2º, I; Lei de Execução Penal nº. 7.210/1984; art. 188; Decreto n.
4.495/02.; Lei nº. 6.683/1979, art. 1º.

1. Noções gerais: Cleber Masson ensina que “são modalidades de indulgência soberana
emanadas de órgãos estranhos ao Poder Judiciário, que dispensam, em determinadas
hipóteses, a total ou parcial incidência da lei penal” (p. 816).  Extinguem a punibilidade a
anistia, a graça e o indulto (art. 107, inc. II, CP). O Estado renuncia ao seu direito de punir
(Rogério Sanches, p. 219/220), perdoando a prática de infrações penais, que, normalmente,
têm cunho político, nada impedindo que, pela anistia, seja renunciado o poder-dever de
punir crimes comuns (Rogério Greco, p. 695).

2. Anistia:

2.1 Noção: Segundo Cleber Masson “é a exclusão, por lei ordinária” editada pelo
Congresso Nacional (art. 21, XVII e 48, VIII, CF/88) “de um ou mais fatos criminosos do
campo da incidência do Direito Penal” (p. 816). Destina-se, preponderantemente, a delitos
políticos (anistia especial) e a crimes comuns – abolitio criminis de efeito temporário e só
retroativo (ex tunc) (STF, ADI 104/RO, rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno,
4/6/2007). Pode ser concedida antes ou depois da sentença penal condenatória, sempre
retroagindo a de beneficiar os agentes (Rogério Greco, p. 696).

Natureza objetiva – o que importa, em regra, é o fato, não o destinatário, por exemplo: o
artigo 1º da Lei nº. 6.683/79. Extingue os efeitos penais da sentença condenatória se
anterior ao trânsito em julgado. Salvo quando condicionada, a anistia não pode ser recusada
pelo destinatário e, uma vez concedida, é irrevogável (mesmo que o anistiado não cumpra
as condições impostas; hipótese em que poderá responder, eventualmente, pelo ilícito
previsto no art. 359 do CP).

2.2. Legitimidade para que a anistia seja concedida: o juiz de ofício, ou a requerimento do
interessado ou do Ministério Público, por proposta da autoridade administrativa ou do
Conselho Penitenciário, declara a extinção da punibilidade (Art. 187 da LEP).

2.3. Competência para declarar a extinção da punibilidade: se concedida ao tempo da ação


em 1º grau, será do juiz que conduz a ação; se estiver em sede recursal ou em caso de
competência originária, será pelo Tribunal em que estiver o recurso ou competente, por
conseguinte, depois do trânsito em julgado da condenação, será do juízo da execução (Art.

138
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

66, III da LEP e Súmula 611 do STF).

2.4. Classificação: a) própria (quando concedida antes da condenação); imprópria


(concedida após a condenação); b) irrestrita, geral ou absoluta (de concessão ampla e
indistinta); restrita, parcial ou relativa (circunscrita a determinados agentes ou limitada a
uma categoria de crimes especificados em lei, a determinadas circunstâncias – réu primário
e de boa conduta social, p. ex.); c) incondicionada; condicionada (a lei impõe alguma
condição, ex: ressarcimento do dano), neste caso poderá ser recusada; d) comum (incide
sobre delitos comuns); especial (crimes políticos; Luiz Regis Prado obtempera que a anistia
volta-se especialmente a estes delitos, o que não exclui sua aplicação a crimes comuns).

3. Indulto e Graça:

3.1 Noção: serão tratados em conjunto em vista das inúmeras semelhanças que possuem.
Ambos são atos privativos do Presidente da República, concedidos via decreto presidencial
(art. 84, XII, CF/88 – poder de graça) – pode delegar a atribuição de indultar a Ministro de
Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União (art. 84,
parágrafo único, CF/88). O indulto tem caráter coletivo, e a graça, individual. A graça
ostenta caráter subjetivo e o indulto possui natureza mista, pois é analisado o “quantum”, a
espécie da pena e o comportamento carcerário. A graça é solicitada, enquanto o indulto é
espontâneo.

3.2 Legitimidade para requerer a concessão da graça (chamada pela LEP de indulto
individual):   poderá ser provocada por petição do condenado, por iniciativa do Ministério
Público, do Conselho Penitenciário, ou da autoridade administrativa (art. 188, LEP), sendo
que a petição acompanhada dos documentos que a instruírem, será entregue ao Conselho
Penitenciário para a elaboração de parecer e posterior encaminhamento ao Ministério da
Justiça (art. 189 da LEP).

3.3 Efeitos: A graça atinge apenas o cumprimento da pena, restando íntegros os efeitos
penais secundários e os efeitos de natureza civil, assim como o indulto, o qual “extingue as
sanções penais mencionadas no decreto presidencial, subsistindo os demais efeitos, penais
e extrapenais, não abarcado pelo benefício” (Cleber Masson, p. 820).

3.4 Classificação: Luiz Regis Prado (p. 669) explica que o indulto pode ser pleno (quando
extingue completamente a punibilidade) ou parcial (quando diminui a pena). Não admite
recusa, salvo em se tratando de comutação da pena ou de indulto condicionado. Comutação
da pena consiste na substituição da pena imposta por uma de menor gravidade e admite
recusa por parte do condenado.

3.5. Condições: Pode obter o indulto aquele que está em gozo de sursis ou de livramento
condicional, permitindo-se também a soma das penas de duas condenações para verificar se
estão dentro ou fora dos limites previstos no decreto de indulto. Tanto a graça quanto o
indulto, diferentemente da anistia, dependem de sentença condenatória transitada em
julgado. No caso de recurso da acusação visando a alterar a quantidade de pena ou as
condições exigidas para concessão do indulto e da comutação, a aplicação desses institutos
não será possível (STJ, HC 69385/SP, julgamento com base no Decreto n. 4.495/02).

139
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Entretanto, no caso de sentença recorrível, a doutrina entende que estará indultado o


sentenciado quando a decisão tiver transitado em julgado para a acusação. Nesse sentido,
jurisprudência do STF pela possibilidade de concessão de indulto antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória, desde que tenha havido recurso exclusivo da defesa (HC
105.022/DF, pub. 9/6/2011 e diversos precedentes que remontam à década de 70). Atenção:
o cometimento pelo apenado de crime doloso caracteriza a falta grave (art. 52, da LEP),
independentemente do trânsito em julgado de eventual sentença penal condenatória, por se
tratar de procedimento administrativo, todavia, a ocorrência de falta grave não deve
interferir no lapso temporal necessário para o livramento condicional ou para concessão de
indulto e comutação da pena, salvo se o requisito for expressamente previsto no próprio
Decreto Presidencial (STJ HC 205.863/RS, julg. em 15/05/2012, e diversos precedentes).

4. Crimes insuscetíveis de anistia, graça e indulto: os crimes hediondos, a prática de


tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo, consumados ou
tentados (arts. 5°, XLIII, CF; 2°, I,  Lei n. 8.072/90; e 1°, §6°, da Lei n. 9.455/97).
Divergência: como a Constituição Federal vedou expressamente apenas a graça e anistia, há
entendimento de que a regra do art. 2º, I da Lei 8.072/1990 é inconstitucional por abranger
hipótese não prevista na Constituição, já a outra posição entende constitucional porquanto a
graça é gênero do qual indulto é espécie (posição do STF no informativo 486, HC
90.364/MG de 31/10/2007).
Informativo do STF

- Nº 733

MAGISTRADO NÃO PODE EXIGIR QUE O RÉU FAÇA EXAME


CRIMINOLÓGICO PARA CONCEDER O INDULTO SE ESSA CONDIÇÃO NÃO
FOI PREVISTA NO DECRETO

O Presidente da República editou um Decreto Presidencial concedendo o “indulto


natalino”. O TJ condicionou a concessão do indulto à realização, pelo sentenciado, de
exame criminológico. Ocorre que o Decreto Presidencial em nenhum momento estabeleceu,
como um dos requisitos para a concessão do indulto, que o apenado fosse submetido a
exame criminológico. Logo, tal condição é indevida. Preenchidos os requisitos previstos
no Decreto, não pode o Judiciário exigir a realização do exame criminológico para aferição
do mérito do sentenciado, por absoluta falta de previsão legal. STF. 2ª Turma. HC
116101/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/12/2013.

140
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Quadro sinótico das diferenças

ANISTIA GRAÇA INDULTO

Lei editada pelo Congresso Ato privativo do Presidente da Ato privativo do Presidente da
Nacional República – geralmente, um República – geralmente, um
decreto. decreto.

Natureza objetiva: dirige-se Natureza subjetiva: depende do Natureza mista: é analisado o


aos fatos praticados, e não às destinatário, até porque é “quantum”, a espécie da pena e
qualidade de seu destinatário. individual. o comportamento carcerário

Espontânea (independe de Depende de provocação do Espontâneo (independe de


qualquer solicitação) interessado qualquer solicitação)

Dirige-se preponderantemente Crimes comuns Crimes comuns


aos delitos políticos

Extinguem os efeitos penais da Subsistem os demais efeitos, Subsistem os demais efeitos,


sentença condenatória se penais e extrapenais penais e extrapenais
anterior ao trânsito em julgado

Pode ser concedida a qualquer Exigem o trânsito em julgado Exigem o trânsito em julgado
tempo. da sentença condenatória, ao da sentença condenatória. ao
menos para a acusação. menos para a acusação.

141
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

11.a. Jurisdição e Competência


Principais obras consultadas: Curso de Processo Penal, Eugênio Pacelli de Oliveira, 16ª
Edição, editoraAtlas/2012; Curso do Nestor Távora, 2011. Manual do Vicente Greco, 2012.
Aulas do Curso de Direito Processual Penal, LFG, por Renato Brasileiro, no ano de 2012.
Aulas do Curso Alcance para 1ª fase de Procurador da República, ministradas por Elisa
Pitarro, no ano de 2013. Renato Brasileiro de Lima. Manual de Processo Penal. Volume
único, 2ª Edição. Salvador: Ed. Juspodivm, 2014.

Legislação básica: artigos 5°, LIII, 27, §1°, 29, X, 109, da CF; art. 118, LC 35/79; arts. 70
a 84 CPP.

1. Jurisdição Penal:

É monopolizada pelo Estado e realiza a função de aplicação do Direito Penal, por meio do
Processo Penal, aos fatos violadores de bens, direitos e valores reconhecidos pelo corpo
social, na exata medida e proporção previamente indicadas em lei (Pacelli, 2010, p. 221).
Para Vicente Greco: Princípios fundamentais: a) inércia: a atividade jurisdicional se
desenvolve quando provocada (o que não quer dizer que o juiz não deva impulsionar de
ofício o processo); b) indeclinabilidade: o juiz não pode recusar-se a aplicar o direito, nem
a lei pode excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão a direito individual; c)
inevitabilidade ou cogência: a atividade dos órgãos jurisdicionais é incontrastável, isto é,
não é possível a oposição juridicamente válida de qualquer instituto para impedir que a
jurisdição alcance os seus objetivos e produza os seus efeitos; d) indelegabilidade: as
atribuições do Judiciário somente podem ser exercidas, segundo a discriminação
constitucional, pelos órgãos do respectivo poder, por meio de seus membros legalmente
investidos, sendo proibida a abdicação dessas funções em favor de órgãos legislativos ou
executivos (citam-se duas exceções à indelegabilidade: a carta precatória e a carta de
ordem, contudo, não são verdadeiras exceções, porque a delegação ocorre se um órgão
atribui a outro competência que ele não tem, e, no caso das duas hipóteses, a autoridade
deprecada já tem em sua competência genérica o poder de cumprir cartas precatórias ou de
ordem); e) substitutividade: o Estado, por uma atividade sua, substitui a atividade
daqueles que estão em conflito na lide, os quais, aliás, estão proibidos de “fazer justiça com
as próprias mãos”, tentando satisfazer pessoalmente a pretensão, ainda que legítima; f)
definitividade: ao se encerrar o desenvolvimento legal do processo, a manifestação do juiz
torna-se imutável, não admitindo revisão por outro poder, já as decisões administrativas são
sempre passíveis de revisão pelo Judiciário quanto à sua legalidade.

2. Competência:

A competência decorre da necessidade de distribuição de parcelas da jurisdição, derivada


da própria CF/88, reunidas sob a proteção da cláusula assecuratória do art. 5°, LIII, CF/88.

Juiz natural (constitucional): entendido como órgão da jurisdição cuja competência,


estabelecida anteriormente ao cometimento do fato, deriva de fontes constitucionais,
legitimado a partir da vedação, imposta ao legislador infraconstitucional, da instituição do
juízo ou tribunal de exceção (art. 5, XXXVII, CR/88). Regime de mutirão e varas
142
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

especializadas: Não viola o juiz natural a designação de dois ou mais juízes para atuação
em determinado juízo em regime de mutirão ou quando criadas varas especializadas. Nesse
último caso, segundo o STF, a especialização de varas não é matéria submetida à reserva
legal, valendo-se os tribunais do poder de auto-organização, por meio de portarias e
provimentos (HC 85.060 e 91509). Convocação de juízes de 1º grau, para substituir
desembargadores em tribunais: Igualmente não viola o princípio do juiz natural, havendo
previsão expressa no art. art. 118, da Lei Complementar 35/79. Mas a convocação deverá
ocorrer mediante escolha da maioria absoluta do tribunal, afastados quaisquer critérios de
natureza subjetiva (ADI 1481/STF). É possível o julgamento por Turma ou Câmara
formada por maioria de juízes convocados, desde que essa convocação tenha sido feita na
forma do art. 118, da Lei Complementar 35/79 (STJ reiteradamente e STF, no RE 597133,
rep. Geral, pub. 04/2011), uma vez que o julgamento será feito pelo juiz natural da causa,
qual seja: o próprio tribunal, além de que a distribuição dos processos é feita de forma
aleatória e julgamentos são realizados em observância ao princípio da publicidade, do
devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa. Juiz legal (infraconstitucional):
competência em razão do lugar, da natureza da infração, do domicílio, da prevenção e da
distribuição.

Competência absoluta: determinada em razão do interesse público, sendo indisponível e


inafastável por qualquer decisão dos interessados que concretamente estejam integrando
determinada relação processual (partes ou órgão julgador). Não se submete à preclusão,
podendo ser alegada até mesmo após o trânsito em julgado da sentença condenatória (não
se admitindo, todavia, a declaração da incompetência absoluta para sindicar sentença
absolutória, ante a proibição de revisão pro societate).

Competência relativa: é aquela que pode ser flexibilizada, tutela o processo em curso,
podendo as partes processuais excepcionarem a incompetência relativa do juízo, por meio
da exceção de incompetência, sob pena de preclusão. Também o juízo, ex officio, pode
declinar da incompetência relativa no processo penal (art. 109, CPP). Pacelli entende que
essa última hipótese fica restrita até o momento da audiência de instrução e julgamento em
face do princípio da identidade física do juiz (2012, p. 255-256).

Critérios definidores da competência, segundo Pacelli: a) critérios constitucionais – em


razão da matéria (ratione materiae) e em razão da pessoa ou prerrogativa de função (ratione
personae); b) critérios infraconstitucionais – competência territorial, que leva em
consideração o lugar (ratione loci), a natureza da infração, o domicílio ou residência do réu,
a prevenção e a distribuição. Nestor Távora fala também em competência funcional: leva-se
em conta como elemento de distribuição os atos processuais praticados, analisando-se três
aspectos principais – fase do processo, objeto do juízo e grau de jurisdição (p. 237 e 238).

Competência em razão da matéria (ratione materiae): a CF/88 adota o critério de


especialização para ditar a repartição de competência em razão da matéria, delimitando-se,
em primeiro momento, a existência de uma jurisdição penal, encarregada e especializada
em matéria criminal. A partir desse critério, estabeleceram-se competências distintas em
relação à titularidade do bem, valor ou interesse jurídico atingido (justiça comum Federal e
Estadual) ou em relação à natureza jurídica do delito (Tribunal do Júri e a jurisdição
especial da Justiça Eleitoral e Militar). São da competência da Justiça Eleitoral os crimes

143
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

definidos em lei como crimes eleitorais e da Justiça Militar os crimes qualificados como tal
na legislação. A Justiça do Trabalho não tem jurisdição penal.  Sobre competência da
Justiça Federal, v. ponto 13.a.

Competência em razão da pessoa (ratione personae): é prevista a jurisdição colegiada,


ou competência originária dos tribunais, estabelecida em razão das relevantes funções
públicas exercidas pelo autor – ou acusado – da infração penal. A competência será sempre
do tribunal ao qual está vinculada a autoridade (exceção ao art. 70, CPP). Mesmo que a
infração penal seja cometida antes do exercício da função ou cargo, enquanto o acusado
estiver exercendo-o terá assegurado o foro privativo, perdendo-o assim que o exercício
terminar (caráter itinerante da ação penal). Vide: Lei 8038/90. Na ADI 2797/STF, o STF
declarou a inconstitucionalidade da Lei n. 10.628/02 (v. art. 84 CPP), considerando
impossível a permanência da competência por prerrogativa de foro, quando cessa o
exercício da função. Apesar disso, quando a ação de improbidade é capaz de gerar a perda
do cargo de autoridades com prerrogativa de foro, os tribunais têm considerado que a
competência será do órgão jurisdicional de 2° grau (Pet 3211/STF e Recl. 2790/STJ). OBS
VITAMINADA: Em que pese tal entendimento ter sido adotado pelo STJ, certo é que
houve uma reviravolta na jurisprudência da Corte para assentar que não se estende para
ações civis por improbidade administrativa o foro de prerrogativa de função, consoante se
depreende dos seguintes julgados proferidos no AgRg na Rcl nº 12.514-MT (Rel. Ari
Pagendler, Corte Especial, julgado em 16.09.2013, v. Inf. nº 527 do STJ) e no EDcl no
AgRg no REsp nº 1.216.168-RS, 2ª Turma, julgado em 24.09.2013).

Concurso de crimes e concurso de pessoas e foro por prerrogativa: em regra, aplica-se o art.
78, III, CPP e Súmula 704, STF (Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e
do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao
foro por prerrogativa de função de um dos denunciados), exceção: no caso de crimes
dolosos contra a vida haverá separação dos processos.

Inquérito policial para investigar detentores de foro especial: não pode ser instaurado de
ofício, devendo ser requerida sua instauração pelo MP ao Tribunal competente (não é
conduzido pelo tribunal, mas supervisionado). Inquérito 2411/STF: tratando-se de acusados
com foro por prerrogativa de função, é indispensável prévia autorização do tribunal
competente para o início das investigações e indiciamento. Quando se tratar de
competência originária do PGR ou do PGJ para a denúncia, não é necessário que a decisão
do arquivamento seja submetida à análise do Poder Judiciário, salvo nas hipóteses em que
decisão de arquivamento for capaz de gerar coisa julgada material, situação em que deve
haver uma decisão jurisdicional (ex: atipidade, extinção da punibilidade). A investigação de
crime praticado por um membro do MPF tramita perante o PGR. Crimes de
responsabilidade: não configuram verdadeiramente infrações penais, mas de natureza
eminentemente política, e estão submetidas a processo e julgamento perante a jurisdição
política, integrada, em geral, por órgãos do Poder Legislativo. Deputado Estadual e
Prefeito: o foro de prerrogativa de função dos deputados estaduais decorre do art. 27, §1°, e
dos prefeitos do art. 29, X, todos da CF/88. Entende-se que todos os crimes de competência
da justiça estadual, praticados por deputado estadual ou prefeito, serão julgados pelo TJ,
incluindo os crimes contra a vida, já se da competência da justiça federal, serão julgados
pelo TRF, bem como pelo TRE se da competência da justiça eleitoral (aplica-se a ambos a

144
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Súmula nº 702 do STF).

Extensão de foros privativos nas Constituições Estaduais (CE): as CE não podem afastar ou
modificar as regras estabelecidas na CF/88 (sob pena de ofensa ao juiz natural). Ver súmula
721 do STF (A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual). Na ADI n°
2.587, o STF reconheceu a constitucionalidade da criação na CE de foro por prerrogativa de
função. Pacelli entende que o foro deferido às autoridades na CE é restrito ao julgamento de
crimes estaduais, excluídos os demais juízes naturais previstos na CF/88, qual sejam, o
tribunal do júri, os juízes federais e eleitorais (2012, p. 211). Contudo, o STF no
julgamento da QO-INQ n° 2051-6/TO entendeu que o secretário do estado teria foro
privativo perante o TRF (e não juiz federal) se o crime fosse federal. O STF estende,
portanto, às autoridades com foro privativo exclusivamente previsto na CE, a simetria de
jurisdição no âmbito da Justiça Federal e da Justiça Eleitoral (2012, p. 211).

Jurisdição competente – Prerrogativa de foro


Cargos do Poder STF (Foro privativo fixo, STJ (Foro privativo fixo, independe TJ/TRF/TRE (este apenas para
independe da natureza da infração) da natureza da infração) apreciar e julgar crimes eleitorais)
Executivo - Presidente; - Governadores - Prefeitos
- Vice-Presidente;
- Ministros do STF e de Estado; e
- Autoridades equiparadas a
Ministros de Estado, como AGU,
Chefe da Casa Civil, da
Controladoria-Geral da União e
Presidente do Banco Central;
- Comandante das Forças Armadas;
(Excetuado o crime de
responsabilidade do Presidente da
República, cuja competência será
do Senado Federal)
Judiciário Membros dos tribunais superiores, Membros do TRF, TRE, TJ e TRT Juízes de Direito, Federais, do
inclusive STF Trabalho, e Militares da União.
Legislativo Membros do Congresso Nacional Deputados estaduais
Outros - Procurador-Geral da República; - Membros do TCE e dos TCM; - Membros do MP da União (MPF,
- Membros do TCU - Membros do MP da União que MPT, MPM e MPDF) e MPE.
- Chefe de missão diplomática. atuem perante tribunais. - Foro móvel, em relação aos crimes
eleitorais, quando a competência
será do TRE.
- Deputados estaduais e prefeitos
são julgados pelo TRE, se o crime é
eleitoral e TRF, se o crime é federal.

145
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Competência territorial: uma vez definido o juiz natural (estabelecido na CF/88), ou seja,
a competência de jurisdição, o próximo passo é descobrir o juízo competente, cuja
definição é estabelecida pela legislação ordinária. Competência em razão do lugar (ratione
loci): o CPP adotou o critério do lugar da infração (racione loci) como primeira regra de
fixação da competência. Deve-se entender como lugar da infração o local do resultado
(teoria do resultado), sendo que, no caso de tentativa, deve-se verificar o local dos últimos
atos de execução, conforme art. 70, CPP. Nos casos dos chamados crimes à distância
(início da execução ocorre em território nacional e a consumação fora dele ou vice-versa) a
competência será ou do local onde se praticou o último ato de execução ou onde se
consumou ou deveria se consumar. OBS Vitaminada: não confundir o critério de fixação da
competência local, em razão do local onde se fizeram sentir os resultados da conduta
criminosa, com a local do crime e, por sua vez, com a Teoria da Ubiquidade que trata da
regra da aplicação da lei penal no espaço, em que o Código Penal, considera como
praticada a conduta tanto no lugar da ação ou omissão (praticada no território nacional ou
fora dele), como no lugar do resultado (tanto no território brasileiro, quanto fora dele). A
Teoria da Ubiquidade visa preservar a soberania brasileira para processar e julgar os crimes
que tenham tocado, ainda que em parte, o território nacional (Renato Brasileiro, p. 490,
2014). Já no caso dos crimes plurilocais (parte do iter crimines é realizado em mais de um
lugar), a regra é primeiro observar o local do resultado. Exceção: Lei 9.099/95 adota a
teoria da atividade (mas Pacelli fala em ubiquidade!). Obs. STJ entende que em caso de
crime doloso contra a vida se aplica a teoria da atividade. Vide súmulas 521 do STF (“o
foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade
de emissão de cheque sem provisão de fundos, é do lugar onde se deu a recusa do
pagamento pelo sacado”), 48, STJ (“compete ao juízo do local da obtenção da vantagem
ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque”).

Competência em razão da natureza da infração: estabelecida por normas de organização


judiciária, distribuindo-se a competência criminal por meio de varas especializadas (art. 74,
CPP). Também a competência do Júri e dos Juizados Especiais Criminais são em razão da
natureza, mas essas não são determinadas pelas normas de organização judiciária, sendo a
primeira firmada em razão da matéria e a segunda em razão do rito. Sobre o JEC, v. ponto
14.c.

Competência em razão do domicílio ou residência do réu: apenas aplicável quando não


conhecido o local da infração ou quando se tratar de ação penal privada (arts. 72 e 73,
CPP).

Prevenção: é critério subsidiário de determinação de competência (relativa – vide súmula


706, STF – “É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por
prevenção”). Aplica-se diante da concorrência de dois ou mais juízes igual e
originariamente competentes (critério do local da infração não é suficiente) ou quando
desconhecido o local da infração e o réu não tem domicílio fixo ou possui mais de um, ou
seu paradeiro é desconhecido. A competência será firmada em favor de quem realizou o
primeiro ato decisório (art. 83, CPP), seja na fase processual ou pré-processual (com a
determinação de cautelares pessoais, reais ou probatórias).

Distribuição: antecedência na distribuição do inquérito ou de qualquer diligência anterior à

146
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

denúncia ou queixa fixará a competência quando houver na mesma circunscrição judiciária


mais de um juiz competente (art. 75, CPP), mas apenas se nenhum juiz tiver praticado ato
decisório anterior, caso contrário, aplicar-se-á a regra do art. 83, CPP (distribuição por
prevenção).

Modificação de competência.

Conexão (pluralidade de condutas): consiste em aproximação entre eventos, estabelecendo


pontos de afinidade, de contato ou de influência na respectiva apuração. Espécies: a)
intersubjetiva (art. 76, I, CPP): hipótese de pluralidade de sujeitos, pode ser por
simultaneidade (duas ou mais infrações houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por
várias pessoas reunidas), por concurso (concurso de agentes para a prática de várias
infrações) ou por reciprocidade (por várias pessoas, umas contra as outras); b) material ou
teleológica (art. 76, II, CPP): em razão da finalidade ou motivação da prática de um crime,
tendo em vista a existência de outro anterior; c) instrumental ou probatória (art. 76, III,
CPP): trata da questão da influência da prova de um crime na apuração de outro.
Consequência: reunião dos processos, até a prolação da sentença (art. 82, CPP). Conexão
no caso de foro privativo determinado pela CF e crime doloso contra a vida, prevalece o
foro de prerrogativa de função, por ser em tese mais favorável. Contudo, em se tratando se
foro previsto na exclusivamente na CE e o crime cometido for doloso contra vida,
prevalece a competência funcional do Júri, hipótese em que haverá a separação obrigatória
dos processos.

Continência (unidade de conduta): quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela
mesma infração (art. 77, I, CPP), ou quando se verifica concurso formal de crimes ou
aberratio ictus ou aberratio criminis. Consequência: reunião dos processos, até a prolação
da sentença (art. 82, CPP).

Eleição do juízo prevalente: deve ser entendido como juízo do domínio, ou seja, o juízo que
deverá fazer prevalecer a sua jurisdição quando em concurso (ou em concorrência) com as
outras, em razão de conexão ou continência. Aplica-se as regras do art. 78, CPP.

Separação dos processos conexos ou continentes: a) obrigatória: concurso entre jurisdição


penal e Juizado da Criança e do Adolescente (art. 79, II, CPP e Súmula 90, STJ), entre
crime militar e comum (art. 79, I, CPP), se um dos acusados é acometido de doença mental
após a prática do crime e recusa de jurado por parte de correu (art. 469, CPP); b)
facultativa: quando o juiz reputar conveniente, por qualquer razão que possa tumultuar ou
inviabilizar a marcha do processo (art. 80, CPP).

Prorrogação de competência: ocorre quando o órgão jurisdicional originariamente


incompetente para o julgamento de determinado processo adquire a competência em
virtude da aplicação de quaisquer das regras processuais que impõem a reunião dos
processos. Aplica-se para os casos em que a competência for relativa.

Incidente de deslocamento de competência: I) quem julga? 3ª Seção do Superior Tribunal


de Justiça; II) quem instaura? PGR; Quando? Qualquer fase do IP ou processo; III)
Requisitos? Grave violação aos DH; possibilidade de responsabilização internacional do

147
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Brasil; incapacidade ou falta de vontade de o Estado Membro, por suas instituições/


autoridades, levar a cabo a persecução penal (requisito implícito). Incidente de
deslocamento n. 01: não se deferiu o deslocamento de competência (Caso Dorothy Stang).
Incidente de deslocamento n. 02: deferiu-se o deslocamento (Caso Manoel Mattos).
Transferência de processos (art. 21, Convenção de Palermo): vários processos de mesma
organização criminosa podiam ser concentrados no mesmo país. Está previsto no projeto de
lei do CPP. Sobre perpetuatio jurisdictionis, v. ponto 10.a.

Informativo do STF

- Nº 715

Competência territorial pelo lugar da consumação da infração

Em regra, o CPP acolhe a teoria do resultado, considerando como lugar do crime o local
onde o delito se consumou (crime consumado) ou onde foi praticado o último ato de
execução (no caso de crime tentado), nos termos do art. 70 do CPP. Excepcionalmente, no
caso de crimes contra a vida (dolosos ou culposos), se os atos de execução ocorreram em
um lugar e a consumação se deu em outro, a competência para julgar o fato será do local
onde foi praticada a conduta (local da execução). Adota-se a teoria da atividade. STF. 1ª
Turma. RHC 116200/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/8/2013.

Informativo do STJ

- Nº 526:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR
O CRIME DE PECULATO-DESVIO.
Compete ao foro do local onde efetivamente ocorrer o desvio de verba pública – e não ao
do lugar para o qual os valores foram destinados – o processamento e julgamento da ação
penal referente ao crime de peculato-desvio (art. 312, "caput", segunda parte, do CP).
Isso porque a consumação do referido delito ocorre quando o funcionário público efetivamente
desvia o dinheiro, valor ou outro bem móvel. De fato, o resultado naturalístico é exigido para a
consumação do crime, por se tratar o peculato-desvio de delito material. Ocorre que o resultado
que se exige nesse delito não é a vantagem obtida com o desvio do dinheiro, mas sim o efetivo
desvio do valor. Dessa forma, o foro do local do desvio deve ser considerado o competente,
tendo em vista que o art. 70 do CPP estabelece que a competência será, de regra, determinada
pelo lugar em que se consumar a infração. CC 119.819-DF, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 14/8/2013.

Inf. nº 518
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR
ESTELIONATO PRATICADO MEDIANTE FRAUDE PARA A CONCESSÃO DE
APOSENTADORIA. No caso de ação penal destinada à apuração de estelionato praticado
mediante fraude para a concessão de aposentadoria, é competente o juízo do lugar em que

148
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

situada a agência onde inicialmente recebido o benefício, ainda que este, posteriormente,
tenha passado a ser recebido em agência localizada em município sujeito a jurisdição
diversa. Segundo o art. 70 do CPP, a competência será, em regra, determinada pelo lugar em
que se consumar a infração, o que, em casos como este, ocorre no momento em que recebida a
indevida vantagem patrimonial. Assim, embora tenha havido a posterior transferência do local
de recebimento do benefício, a competência já restara fixada no lugar em que consumada a
infração. CC 125.023-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/3/2013.

Inf. nº 515:

DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR


OS SUPOSTOS RESPONSÁVEIS PELA TROCA DE MENSAGENS DE CONTEÚDO
RACISTA EM COMUNIDADES DE REDE SOCIAL NA INTERNET. Ainda que os
possíveis autores dos fatos criminosos tenham domicílio em localidades distintas do
território nacional, compete ao juízo do local onde teve início a apuração das condutas
processar e julgar todos os supostos responsáveis pela troca de mensagens de conteúdo
racista em comunidades de rede social na internet, salvo quanto a eventuais processos em
que já tiver sido proferida sentença. Em situações como essa, embora cada mensagem
constitua crime único, existe conexão probatória entre os processos instaurados para a apuração
das condutas. A circunstância na qual os crimes teriam sido praticados – troca de mensagens
em comunidade virtual – estabelece uma relação de confiança, ainda que precária, entre os
usuários, cujo viés pode facilitar a identificação da autoria. Com efeito, ao ingressar em uma
comunidade virtual, o usuário tem a expectativa de que os demais membros compartilhem da
sua opinião. Dessa maneira, não é incomum que o vínculo estabelecido vá além da mera
discussão, propiciando uma autêntica troca de informações, inclusive pessoais, entre os
usuários desse espaço. Ademais, é a forma por meio da qual os membros interagem na
comunidade virtual que cria o nexo entre as mensagens que ali circulam e, consequentemente,
estabelece um liame entre as condutas supostamente ilícitas. Assim, embora a competência para
processar e julgar o crime de racismo praticado por meio da internet se estabeleça de acordo
com o local de onde 332 partiram as manifestações tidas por ofensivas, o modus operandi
consistente na troca de mensagens em comunidade virtual deve ser considerado como apto a
caracterizar a conexão probatória (art. 76, III, do CPP). Portanto, constatada a suposta
ocorrência de crimes conexos, a competência deve ser fixada pela prevenção, em favor do juízo
no qual as investigações tiveram início, com ressalva apenas quanto a eventuais processos em
que já tenha sida proferida a sentença. Com efeito, de acordo com o disposto no art. 82 do CPP,
se, “não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a
autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros
juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva”. Ainda acerca desse ponto, deve ser
mencionada a Súmula 235 do STJ, segundo a qual a “conexão não determina a reunião dos
processos, se um deles já foi julgado”. Precedente citado: CC 102.454-RJ, DJe 15/4/2009. CC
116.926-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 4/2/2013.

149
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

11.b. Citações, notificações e intimações no CPP e em leis especiais.


(Ponto incluído pelo Grupo Santo Graal Vitaminado 28)

Principais obras consultadas: 1) Oliveira, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal.
18ª edição. São Paulo: Editora Atlas, 2014; 2) Lima, Renato Brasileiro de. Manual de
Processo Penal. Volume único. 2ª edição. Salvador: Editora Juspodivm, 2014; 3) Távora,
Nestor; Alencar, Rosmar Rodrigues de. Curso de Direito Processual Penal. 8ª edição.
Salvador: Editora Juspodivm, 2013.

Legislação básica: art. 351 a 372 do CPP e art. 2º, §2º, da Lei nº 9.613/98, com redação
dada pela Lei nº 12.683/12.

1) Citação no CPP e em leis especiais

1.1. Conceito: modalidade de ato processual cujo objetivo é chamar o acusado ao


processo, para que dele tenha conhecimento e possa exercer o contraditório, a ampla
defesa, o direito ao silêncio (o nemo tenetur se detegere), completando-se,
consequentemente, a formação do processo e a angulação da relação processual
(acusação, juiz e defesa), nos termos do art. 363, caput, do CPP. A citação chamará o
acusado para que exerça a sua defesa no prazo de 10 dias (procedimento ordinário e
sumário), com a apresentação de resposta escrita. Apresentada a resposta escrita e não
sendo o caso de absolvição sumária, na forma do art. 397 do CPP, o juiz designará
audiência de instrução, na qual os atos instrutórios serão concentrados, com a
inquirição do ofendido, a oitiva das testemunhas, peritos, e, por último, com o
interrogatório do acusado (Pacelli, 609/610).

1.2. Espécies:

a) Citação por mandado: quando a citação tiver se realizada no mesmo território de


jurisdição do juízo em que deflagrada a ação penal, porque conhecido o lugar
onde o réu pode ser localizado, a regra é a citação pessoal, por mandado do qual
constará o nome do juiz para o qual foi distribuída a ação penal; o nome do
querelante, nas ações iniciadas por queixa; o nome do réu, ou, se for
desconhecido, os seus sinais característicos; a residência, caso conhecida; a
finalidade do ato citatório (dar conhecimento da ação penal e do prazo para
apresentação da defesa); o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá
comparecer; a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz (art. 352 do CPP).
Requisitos da citação por mandado: I – leitura da mandado ao citando pelo
oficial e entrega da contrafé, na qual se mencionarão o dia e hora da citação; II –
declaração do oficial de justiça, na certidão, da entrega da contrafé, na qual se
mencionarão dia e hora da citação. O prazo para o oferecimento da resposta no
processo penal conta-se da data do ato citatório e não da juntada do mandado
efetivamente cumprido, como no processo civil (Súmula nº 710 do STF)

b) Citação por precatória: dar-se-á quando o réu tem endereço certo e conhecido,

150
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

porém fora do território da jurisdição do juiz processante, por meio da qual juiz
deprecante (o da ação penal) solicita a colaboração do juiz deprecado (aquele
que exerce jurisdição no território em que reside o réu), para que realize o
cumprimento da citação. Na carta precatória, deverá conter a indicação dos
juízes deprecado e deprecante; a sede da jurisdição de um e de outro; a
finalidade a que se destina, com todas as suas especificações (conhecimento de
que há ação penal deflagrada contra si e do prazo para apresentar defesa); o
juízo do lugar, o dia e o horário em que o réu deverá comparecer (art. 354 do
CPP). Devolução: ocorrerá independentemente de translado, depois de lançado
o “cumpra-se” e de feita a citação por mandado do juiz deprecado. Caráter
itinerante da carta precatória: verificado que o réu se encontra em território
sujeito à jurisdição de outro juízo, a este o juízo deprecado remeterá para a
consecução da diligência, desde que haja tempo para realização da citação e
comunicando de tudo o juízo deprecante. Havendo urgência na realização do
ato citatório, poderá a carta precatória com essa finalidade ser remetida por
meios telegráficos ou eletrônicos, a qual deverá conter os requisitos previstos no
art. 354 do CPP, de forma resumida, e a firma reconhecida do juiz (admitindo-se
que assine com sua assinatura eletrônica). O prazo para o oferecimento da
resposta no processo penal conta-se da data do ato citatório e não da juntada do
mandado efetivamente cumprido, como no processo civil (Súmula nº 710 do
STF). Ocultação do réu no juízo deprecado: quando réu se ocultar para ser
citado, o oficial de justiça de tudo certificará e procederá imediatamente à
citação por hora certa, na forma dos art. 227 a 229 do CPC. Após aperfeiçoada a
citação por hora certa, o mandado será restituído ao juízo deprecante.

c) Citação por hora certa: caso o oficial de justiça verifique que o réu se oculta
para ser citado, certificará a ocorrência e procederá de imediato à citação por
hora certa, na forma do art. 227 a 229 do CPC. Assim certificada a suspeita
ocultação, o oficial procurará o réu, por três vezes, intimando qualquer pessoa
da família, ou em sua falta a qualquer vizinho que, no dia imediato, voltará, a
fim de efetuar a citação na hora que designar. No dia e hora designados em cada
uma das três vezes que procurar o réu, o oficial de justiça, independentemente
de despacho, comparecerá ao domicílio do acusado, a fim de realizar a
diligência, se não estiver presente, procurará saber as razões da ausência, dando
por feita a citação, ainda que que citando se tenha ocultado em outra comarca.
Da certidão da ocorrência, o oficial e justiça deixará a contrafé com pessoa da
família ou com qualquer vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome.
Realizada a citação por hora certa, o escrivão enviará ao réu carta, telegrama ou
radiograma, dando-lhe de tudo ciência. Pacelli critica a redação dada ao
parágrafo único do art. 362 do CPP (“completada a citação por hora certa, se o
acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo”), ao argumento
de que a citação do acusado, após a reforma empreendida pela Lei nº 11.719,
não é mais para comparecer a fim de que seja interrogado, mas para apresentar
defesa no prazo de 10 dias. Contudo, caso o acusado compareça em juízo ou
constitua advogado, antes da audiência de instrução, nada impede que o juiz
renove o prazo de defesa escrita, adotando o mesmo procedimento adotado para
a citação editalícia, prevista no art. 363, §4º, do CPP, privilegiando-se o
151
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

exercício da ampla defesa do réu. O prazo para o oferecimento da resposta no


processo penal conta-se da data do ato citatório e não da juntada do mandado
efetivamente cumprido, como no processo civil (Súmula nº 710 do STF). Assim,
o prazo para apresentação da defesa terá início, após a última tentativa de
citação do ofendido, oportunidade em que terá lavrado a certidão considerando
realizado tal ato.

d) Citação por edital: é utilizada quando não tenha sido o réu encontrado em
endereço apontado na denúncia, ou não se conheça o seu paradeiro, ou seja, não
se tenha ciência a respeito de endereço certo e sabido. É comumente chamada de
citação ficta, já que não é realizada pessoalmente, porém há uma presunção de
que ao término do prazo de quinze dias, após a publicação do edital, o acusado
tomou conhecimento da ação penal contra si movida, disparando o prazo de 10
dias para a apresentação de defesa (rito sumário e comum). Do edital deverá
constar: I - o nome do juiz que a determinar; II - o nome do réu, ou, se não for
conhecido, os seus sinais característicos, bem como sua residência e profissão,
se constarem do processo; III – a finalidade da citação; IV – o juízo em que
tramita a ação; V – o prazo que será contado do dia da publicação na imprensa,
se houver, ou da sua afixação na porta do foro. Não é necessário transcrever a
peça acusatória no edital, nem a confecção de um resumo dos fatos, basta a
indicação dos dispositivos da lei penal infringidos no corpo do edital (súmula nº
366 do STF). Tal modalidade de citação, segundo Pacelli (p. 614), visa impedir
a paralisação da ação penal, quando não localizado o acusado. É bem verdade
que, com a nova redação do art. 366 do CPP, dada pela Lei nº 9.271/96, a
paralisação do processo é justamente o que ocorre, bem como a suspensão do
prazo prescricional, sendo admitida a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e, havendo os requisitos do art. 312 do CPP, a decretação
da prisão preventiva. Saliente-se que a suspensão do processo e do curso do
prazo processual independe de requerimento do MP, isso quer dizer que opera-
se automaticamente. Comparecendo o acusado citado via edital, a qualquer
tempo, o juiz dará prosseguimento ao processo, nos termos do art. 394 e ss. do
CPP, valendo destacar que o prazo para a defesa do réu citado por edital terá
início a partir do seu comparecimento pessoal ou do advogado devidamente
constituído. Por fim, a

e) Citação do militar e do funcionário público: a do militar, será feita por


intermédio do chefe do respectivo serviço. Isso quer dizer que será requisitada a
citação do militar ao seu superior hierárquico, em cuja requisição deverá conter
as mesmas formalidades do mandado de citação. Já o funcionário público será
citado pessoalmente, a única ressalva diz respeito a oportunidade em deva
comparecer em juízo, como acusado, situação, em que serão notificados ele e o
chefe da repartição, este com o propósito de preservar a continuidade do serviço
pública, em razão da ausência justificada ao citando, indicando o dia e a hora do
comparecimento. Pacelli ressalta que deverá ser informado apenas e unicamente
o compromisso de comparecimento do funcionário, sem qualquer referência à
imputação penal, para que se preserve a sua intimidade e à sua privacidade.

152
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

f) Citação por meio de carta rogatória: é a modalidade de citação do acusado que


residir ou for domiciliado no estrangeiro, ou, ainda que localizado no território
nacional, estiver a serviço de legações estrangeiras (embaixadas e consulados).
O pedido de citação de tal acusado será encaminhado pelo juiz ou Tribunal ao
Ministro da Justiça que enviará, via diplomática, às autoridades estrangeiras
competentes. Somente serão citados no estrangeiro por carta rogatória os
acusados cujo endereço seja conhecido, hipótese em que expedida a carta
precatória, o curso do prazo prescricional será suspenso até o seu cumprimento.
Caso se desconheça o endereço do acusado no estrangeiro, ou seja, não se tenha
certeza a respeito do seu paradeiro, segue-se a regra da citação por edital (art.
368 do CPP). Afinal é necessário que seja demonstrado a imprescindibilidade da
expedição da rogatória.

g) Citações por meio de carta de ordem: é a citação determinada por Tribunal


Superior ou não, para que os órgãos inferiores procedam a citação do acusado
que resida perante suas jurisdições, caso ele não resida no local da sede do
Tribunal.

1.3. Citação do réu preso: será sempre feita pessoalmente, não se admitindo, por óbvio, a
citação por edital, nos termos do art. 360 do CPP que acolheu o entendimento
consolidado na súmula 351 do STF (“é nula a citação por edital de réu preso, na
mesma unidade da federação em que o juiz exerce a sua jurisdição”), vale dizer de
forma mais ampla. Assim, esteja preso onde estiver, o réu será citado pessoalmente,
seja por mandado ou por carta precatória. Após, a realização da citação e a
apresentação de sua defesa, quando o juízo designar a audiência de instrução e
julgamento, requisitará a sua presença à autoridade policial, não havendo mais que se
falar em dispensa desse ato processual, ao argumento de que seria suficiente a mera
requisição à autoridade policial (art. 399, §1º, do CPP). Consolida-se uma imposição
já contida na ordem jurídica brasileira, prevista no art. 8º, b e c, do Pacto de São José
da Costa Rica, ao dispor que o réu tem direito à “comunicação prévia e
pormenorizada da acusação formulada, bem como ter prazo para preparar a sua
defesa”.

1.4. Citação do incapaz: é feita na pessoa de seu representante legal ou de seu curador.

1.5. Revelia e suspensão do prazo prescricional

A única consequência da revelia no processo penal para o réu é a não intimação dele
para a prática dos atos subsequentes, exceção feita à intimação da sentença, que
deverá ser realizada pessoalmente. Saliente-se que a revelia poderá operar-se em
razão da ausência do réu em qualquer dos atos processuais relevantes, a exemplo, da
defesa escrita e do interrogatório.

O art. 366 do CPP previu que, se o citado por edital não comparecer aos autos, o
processo será suspenso, assim como prazo prescricional, sendo admitida a produção
antecipada de provas consideradas urgentes e, havendo os requisitos do art. 312 do
CPP, a decretação da prisão preventiva. Essa suspensão do processo e do curso do

153
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

prazo processual independe de requerimento do MP, isso quer dizer que opera-se
automaticamente. Comparecendo o acusado citado via edital, a qualquer tempo, o
juiz dará prosseguimento ao processo, nos termos do art. 394 e ss. do CPP, valendo
destacar que o prazo para a defesa do réu citado por edital terá início a partir do seu
comparecimento pessoal ou do advogado devidamente constituído. Por fim, a
suspensão do processo encontra limite no prazo prescricional previsto para o
reconhecimento da prescrição da pena em abstrato, ou seja, conforme estiver
previsto no art. 109 do CP ou em legislação específica. Nesse sentido, é a súmula
nº 415 do STJ: “o período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo
máximo da pena cominada”. Contudo, há precedente do STF em sentido diverso,
entendendo pela suspensão ad eternum do processo, verdadeira hipótese de
imprescritibilidade (RE nº 460.971/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence). Tal
controvérsia está com repercussão geral reconhecida no RE nº 600.851/DF (até
19.05.2014, não julgada)

1.6. Citação nos crimes de lavagem de dinheiro: o art. 2º, §2º, da Lei n 9.613/98, com a
redação dada pela Lei nº 12.683/12, prevê que “no processo por crime previsto nesta
Lei, não se aplica o art. 366 do Decreto-Lei 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código
de Processo Penal), devendo o acusado que não comparecer nem constituir advogado
ser citado por edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com a nomeação de
defensor dativo”. Dessa previsão legal é de ser aplicada a revelia aos acusados de
lavagem de dinheiro que venham de ser citados por edital. Assim ultrapassado o
prazo de 15 dias da publicação do edital e 10 dias para apresentação de resposta
escrita, ao réu deverá ser nomeado defensor dativo. Outrossim, na exposição de
motivos da nova Lei, assim fundamentou o legislador a respeito de tal previsão legal
(Brasileiro, p. 1211): “Trata-se de medida de política criminal diante da
incompatibilidade material existente entre os objetivos desse novo diploma legal e a
macrocriminalidade representada pela lavagem de dinheiro ou ocultação de bens,
direitos e valores oriundos de crime de especial gravidade. A suspensão do processo
constituiria um prêmio para os delinquentes astutos e afortunados e um obstáculo à
descoberta de uma grande variedade de ilícitos que se desenvolvem em parceria com
a lavagem ou a ocultação” (item 63 da Exposição de Motivos 692/MJ).

2) Intimações e notificações no CPP:

Brasileiro apresenta a seguinte distinção: Intimação é a comunicação feita a alguém


quanto a um ato já realizado, p. ex., a intimação da sentença proferida. Enquanto
notificação diz respeito à ciência a alguém ou a terceiros quanto à determinação judicial
impondo o cumprimento de certa providência, v.g., a notificação para comparecimento
da testemunha ou do réu à AIJ. Pacelli, por sua vez, entende não haver diferença entre
um e outro instituto. Para este, é meio procedimental que noticia a existência de ato
processual e que possibilita o exercício das faculdades e ônus processuais reservados às
partes, bem como viabiliza o efetivo cumprimento do dever legal de comparecimento e
participação de terceiros no processo penal. Visa, portanto, a dar ciência inequívoca do
ato processual a ser realizado.

Intimação dos advogados constituídos pelo réu ou pelo querelante se dará pela imprensa

154
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

oficial. Caso não haja na comarca, o escrivão a providenciará, por mandado ou por via
postal com AR ou por qualquer outro meio idôneo.

O defensor dativo será intimado pessoalmente, via mandado, e não por meio da
imprensa (art. 370, §4º, do CPP).

A Defensoria Pública da União e dos Estados serão intimados pessoalmente, mediante a


entrega dos autos com vista, cujos prazos são contados em dobro.

O MP e MPF são intimados pessoalmente por via pessoal e nos autos, não sendo
admitida a citação por mandado.

Por fim, basta que as partes tenham conhecimento da expedição da carta precatória para
oitiva de testemunha, sendo desnecessária a intimação da data em que se realizará a
audiência no juízo deprecado. Pacelli entende que é medida restritiva ao direito à ampla
defesa, apesar de dizer que tal direito não é de todo restringido com a nomeação de
defensor ad hoc para o ato.

Súmulas:
STJ
Enunciado 273: Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária
intimação da data da audiência no juízo deprecado.

Informativo do STF

- Nº 738

Comunicações processuais por DJe e início da contagem dos prazos

No caso de intimação por Diário de Justiça eletrônico, o termo inicial dos prazos
processuais será o primeiro dia útil seguinte ao da data da publicação. Considera-se como
data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no
Diário da Justiça eletrônico. STF. 1ª Turma. HC 120478/SP, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 11/3/2014.

- Nº 705

Ausência de citação e comparecimento do réu


Diante do comparecimento do preso em juízo, não é possível invocar nulidade por ausência
de citação. STF. 2ª Turma. RHC 106461/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 7/5/2013.

155
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

11.c: Provas ilícitas


Principais obras consultadas: Eugênio Pacelli de Oliveira. Curso de Processo Penal. 2012
e 2014. Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. 2011 e 2013. Denilson Feitoza, DPP,
suplemento eletrônico da 5ª edição, 2008. Renato Brasileiro de Lima. Manual de Processo
Penal. Volume único. 2ª edição. Salvador: Juspodivm, 2014.

Legislação básica: art. 5º, LVI, da CF; art.157 do CPP.

NOÇÕES GERAIS: prova ilegal é aquela obtida por meio de violação de normas
constitucionais ou legais, de natureza material ou processual. É gênero, do qual derivam
duas espécies: (i) provas ilícitas ou obtidas por meios ilícitos: a prova ilícita é aquela obtida
mediante violação a regras de direito material; e (ii) provas ilegítimas ou obtidas por meios
ilegítimos: é aquela prova obtida mediante violação a regras de direito processual. Nos
termos do art. 5º, LVI, da CF, são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos. Também o art. 157, caput, do CPP, com a redação que lhe deu a Lei n.º 11.690/08,
reproduz a mesma vedação, devendo as provas obtidas ilicitamente ser desentranhadas dos
autos. Note-se que o constituinte, assim como o legislador infraconstitucional, não fez a
distinção promovida pela doutrina (entre prova ilícita e ilegítima) (2012, p. 359). Segundo
Denilson Feitoza, nos Estados Unidos, a proibição contra a admissão, no processo, de prova
obtida inconstitucionalmente tem sido conhecida como "princípio da exclusão" ou,
conforme denominação mais empregada em português, "regra de exclusão" ("exclusionary
rule"), que equivale, em terminologia brasileira, ao princípio da inadmissibilidade das
provas obtidas por meios ilícitos ou princípio da licitude das provas.

A norma assecuratória da inadmissibilidade das provas obtidas com violação de direito,


com efeito, presta-se, a um só tempo, a tutelar direitos e garantias individuais, bem como a
própria qualidade do material probatório a ser introduzido e valorado no processo. A
vedação das provas obtidas ilicitamente também oferece repercussão no âmbito da
igualdade processual, no ponto em que, ao impedir a produção probatória irregular pelos
agentes do Estado (controle da regularidade da atividade estatal persecutória) –
normalmente os responsáveis pela prova –, equilibra a relação de forças relativamente à
atividade instrutória desenvolvida pela defesa. Na realidade, a vedação da prova não ocorre
unicamente em relação ao meio escolhido, mas também em relação aos resultados que
podem ser obtidos com a utilização de determinado meio lícito de prova (2012, p. 335-
336).

Ensina ainda Pacelli que o melhor momento para o juiz apreciar a ilicitude da prova e o seu
consequente desentranhamento dos autos é logo após a apresentação da defesa escrita,
desde que a prova tenha sido juntada em momento anterior. Tratando-se de prova
apresentada em audiência, deve o juiz, de imediato, apreciar a questão. Na primeira
hipótese (exame e decisão antes da audiência), caberá RESE (art. 581, XIII); durante a
audiência, o recurso será de apelação, se, e somente se, a sentença for proferida em
audiência. A decisão que não reconhece a ilicitude da prova, por sua vez, é irrecorrível, o
que não impede que seja reapreciada a matéria por ocasião de eventual recurso de apelação
156
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

(2012, p. 336). É de se ter em mente, consoante o citado doutrinador, que, não obstante a
previsão de preclusão da decisão de desentranhamento da prova ilícita (art. 157, § 3º), a
matéria diz respeito à questão de interesse público, indisponível às partes. Por isso, a
matéria poderá ser conhecida quando do julgamento do mérito. A única ressalva fica por
conta do Tribunal do Júri – aos jurados não cabe o conhecimento de prova desentranhada,
pois julgam sem necessidade de motivação. Uma observação: o § 4º do art. 157 foi vetado e
tinha a seguinte redação: “O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada
inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão”.

APROVEITAMENTO DA PROVA ILÍCITA: o princípio da proporcionalidade vem


sendo utilizado pela jurisprudência da Alemanha e de alguns países da Europa para fins de
permitir, sempre excepcionalmente, o aproveitamento de provas obtidas ilicitamente. O
direito norte-americano, apesar da reconhecida tecnologia de provas ali existentes, exibe,
como regra, quase absoluta, a vedação à prova ilícita, se e quando produzida pelos agentes
do Estado, aceitando, sem maiores problemas, a prova obtida ilicitamente por particulares.
No âmbito do ordenamento jurídico nacional, leciona ainda Pacelli que a prova da
inocência do réu deve sempre ser aproveitada, em quaisquer circunstâncias, e que, na
hipótese de aproveitamento da prova ilícita em favor da acusação, o critério de
proporcionalidade poderá validamente ser utilizado, quando não estiver em risco a
aplicabilidade potencial e finalística da norma da inadmissibilidade (função de controle da
atividade estatal, responsável pela produção da prova). Assim, quando não se puder falar no
incremento ou no estímulo da prática de ilegalidade pelos agentes produtores da prova,
entende Pacelli ser possível, em tese, a aplicação da regra de proporcionalidade em favor da
acusação. Entretanto, doutrina e jurisprudência tendem a admitir o aproveitamento da prova
ilícita apenas em favor do réu. Essa matéria foi abordada na questão 118 da prova objetiva
do 26ºCPR (considerou-se o item III falso, apesar das lições de Pacelli, que inspiraram a
elaboração da questão).

PROVA ILÍCITA POR DERIVAÇÃO (Teoria dos Frutos da Árvore Venenosa10 ou


Envenenada - fruits of the poisonous tree - art.157, §1º, do CPP): São os meios probatórios
que, não obstante produzidos validamente, em momento posterior, encontram-se afetados
pelo vício da ilicitude da prova originária que a eles se transmite, contaminando-os por
efeito de repercussão causal. Este instituto surgiu no direito norte-americano, nos casos
Silverstrong Vs U.S (1920) e Nardone Vs U.S (1939). O STF, já em 1996, aplicou a teoria
dos frutos da árvore envenenada, através do julgamento proferido no HC 73.351. Cita-se
também o HC 74.116 e o HC 76.641.

A teoria da ilicitude por derivação é uma imposição da aplicação do princípio da


inadmissibilidade das provas obtidas ilicitamente. Neste sentido, explica Pacelli que a
teoria dos fruits of the poisonous tree nada mais é que simples consequência lógica da
aplicação do princípio a que se fez menção (2012, p. 353-354).

LIMITAÇÕES À PROVA ILÍCITA POR DERIVAÇÃO:

1) Teoria da Fonte Independente ou “Independent Source Doctrine” (Case: Bynum Vs U.S


– 1960). Se o órgão da persecução penal demonstrar que obteve legitimamente novos
elementos de informação, a partir de uma fonte autônoma de prova, que não guarde

157
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

qualquer relação de dependência com a prova originariamente ilícita (ausência fática de


relação de causalidade ou de dependência lógica ou temporal), tais dados probatórios são
plenamente admissíveis no processo. Essa teoria é utilizada pelo STF, desde 2004, no
julgado HC 83921. O CPP, a partir de 2008, com redação determinada pela Lei n.º 11.690,
adotou a teoria em comento, no §1º do art.157, que assim preceitua: “[...] salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem
ser obtidas por uma fonte independente das primeiras”. Alerta Denilson Feitoza que a
referência a não estar evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras foi
desnecessária, pois, se não há nexo, a prova não é derivada da prova ilícita.

2) Teoria (Limitação) da Descoberta Inevitável. Se o órgão da persecução penal demonstrar


que a prova derivada da ilícita teria sido produzida de qualquer maneira,
independentemente da prova ilícita originária, tal prova deve ser considerada válida. Na
descoberta inevitável, admite-se a prova ainda que presente eventual relação de causalidade
ou de dependência entre as provas (a ilícita e a descoberta), exatamente em razão de se
tratar de meios de prova rotineiramente adotados em determinadas investigações. A
aplicação dessa teoria, todavia, não pode ser feita com base em mera especulação. É
indispensável a existência de dados concretos que confirmem que a descoberta seria
inevitável. Também tem origem no direito norte-americano, sendo chamada de “Inevitable
Discovery Limitation” (Case: Nix Vs Williams. Williams II – 1984). NÃO há precedentes
do STF adotando essa teoria. Ainda assim, parcela da doutrina (ex. Pacelli e Denilson
Feitoza) entende que a descoberta inevitável estaria prevista no §2º do art.157 do CPP,
muito embora a lei se refira à “fonte independente”.

3) Teoria (Limitação) da Mancha Purgada ou Teoria dos Vícios Sanados ou da Tinta


Diluída ou da Conexão Atenuada. É também conhecida como Teoria do Nexo Causal
Atenuado ou “Purged Taint” (criação norte-americana; caso Wong Sun Vs U.S – 1963).
Segundo essa teoria, não se aplica a teoria da prova ilícita por derivação, se o nexo causal
entre a prova primária e a secundária for atenuado em virtude do decurso do tempo, de
circunstâncias supervenientes na cadeia probatória ou da vontade de um dos envolvidos em
colaborar com a persecução criminal. Ex.: “A” delata “B”, que delata “C”. Como a
confissão de “A” foi obtida por meio ilícito, as delações de “B” e “C” estariam
contaminadas pela prova ilícita originária – Teoria da Prova Ilícita por Derivação. Mas,
tempo mais tarde, “C”, em juízo, mediante seu advogado, confessa o crime. Neste caso,
entendeu a doutrina norte-americana pela inocorrência de prova ilícita, já que a confissão
de “C” estaria “diluída”, em função do tempo e de outras circunstâncias. NÃO é aplicada
pelo STF. Entretanto, para alguns doutrinadores pátrios, essa teoria passou a constar no
art.157, §1º, do CPP: “[...] salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas
e outras [...]”.

4) Teoria do Encontro Fortuito de Provas. Teoria desenvolvida no Brasil (segundo Renato


Brasileiro). Tem aplicação nos casos em que, no cumprimento de diligência relativa a um
delito, a autoridade policial casualmente encontra provas relacionadas a outro delito, que
não estava na linha de desdobramento normal da investigação. E esses novos elementos
poderão ser utilizados em função dessa teoria; ressalva-se o desvio de finalidade da
diligência (p. ex., em cumprimento de mandado de busca de animais silvestres, policiais
reviram gavetas da residência). Fala-se em encontro fortuito quando a prova de

158
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

determinada infração penal é obtida a partir da busca regularmente autorizada para a


investigação de outro crime. Ex.: uma vez realizada interceptação telefônica, devidamente
autorizada, em crime punido com reclusão, as informações obtidas podem ser usadas para
subsidiar denúncia de crimes punidos com detenção, desde que conexos àqueles; caso não
haja conexão entre os delitos, as informações obtidas através da interceptação podem
funcionar como notitia criminis para o início de novas investigações (STF - HC 83.515 e,
mais recentemente, HC 102.304). “Encontro fortuito de prova da prática de crime punido
com detenção. [...] O Supremo Tribunal Federal, como intérprete maior da
Constituição da República, considerou compatível com o art. 5º, XII e LVI, o uso de
prova obtida fortuitamente através de interceptação telefônica licitamente conduzida,
ainda que o crime descoberto, conexo ao que foi objeto da interceptação, seja punido
com detenção.” (AI 626.214-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 21-9-2010,
Segunda Turma, DJE de 8-10-2010). Pacelli discorda do STF e diz que não é a conexão
que justifica a licitude da prova, mas o fato de que, uma vez franqueada a violação
dos direitos à privacidade e intimidade dos moradores da residência, não haveria
razão alguma para a recusa de provas de quaisquer outros delitos, punidos ou não
com reclusão (p. 358, 2012).

Questão interessante diz respeito à possibilidade de aproveitamento de prova obtida, por


exemplo, por meio de interceptação telefônica, cuja competência jurisdicional é atribuída
apenas ao juiz criminal, devidamente autorizada para a apuração de determinado crime, em
outro processo, de natureza diversa, isto é, não criminal. Eventual aproveitamento da prova
(emprestada) por juiz cível não implica violação à competência de jurisdição (STF, QO em
Pet. 3.683-2).

159
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

12.a. Execução penal. Atribuições e competência. Participação do


Ministério Público no Conselho Penitenciário.
Principais Obras Consultadas: Resumo do 26º CPR (no corpo do resumo são citadas, de
maneira incompleta, algumas obras).

Legislação Básica: art.61 a 74, 78 a 81 da Lei 7.210/84. Lei 11.671/2008. Súmulas do


STJ: 192.

1.1. Execução Penal: fase do processo penal de cumprimento da pretensão executória, na


qual “o Judiciário é o órgão encarregado de proferir comandos pertinentes à execução da
pena, embora o efetivo cumprimento se dê em estabelecimentos administrados pelo
Executivo, sob a sua responsabilidade” (NUCCI/2008, 401). No dizer de NUCCI, o
propósito da execução penal: “É processo jurisdicional, cuja finalidade é tornar efetiva a
pretensão punitiva do Estado, envolvendo, ainda, atividade administrativa. Nessa ótica, está
a posição de Ada Pellegrini Grinover, para quem “a execução penal é atividade complexa,
que se desenvolve, entrosadamente, nos planos jurisdicional e administrativo. Nem se
desconhece que dessa atividade participam dois Poderes estatais: o Judiciário e o
Executivo, por intermédio, respectivamente, dos órgãos jurisdicionais e dos
estabelecimentos penais”. (...)“Assegura-se, portanto, a aplicação do contraditório, da
ampla defesa, do duplo grau de jurisdição, do direito à prova, do direito de não se auto-
incriminar, dentre outros, que regem o desenvolvimento regular do devido processo legal.”

Importante registrar que a LEP se aplica tanto aos presos definitivos como aos presos
provisórios internados em estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária. Por outro lado,
dentro da sistemática ressocializadora que norteia a LEP, o condenado e o internado tem
garantidos todos os seus direitos que não tenham sido atingidos pela Lei ou pela sentença.
Neste aspecto, há controvérsia a propósito do direito do preso ao sigilo de correspondência,
uns entendendo que este direito não é afetado pela restrição da liberdade, restando
normalmente garantido pelo artigo 5º, XII, da Constituição Federal e outros entendendo que
se trata de restrição natural decorrente da prisão, visto que não existem direitos absolutos e
ao Estado é imposto o dever de garantir a segurança dentro do presídio e da sociedade, o
que seria incompatível com a defesa da inviolabilidade de correspondência dos presos. Na
realidade, a solução da questão passa por entender que não existem direitos
fundamentais absolutos e que, por isso mesmo, os princípios são mandados de
otimização. Em assim sendo, a questão posta deve ser resolvida pelo princípio da
proporcionalidade. Com essa argumentação, o STF já decidiu pela validade da regra do
artigo 41, parágrafo único da LEP, que permite que o diretor do presídio, por ato motivado,
suspenda ou restrinja tal direito. A Suprema Corte assim decidiu por entender que o
direito à privacidade e à intimidade do preso deve ceder espaço aos ditames de
segurança pública, disciplina prisional e a própria preservação da ordem jurídica,
uma vez que "a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode
constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas" (HC 70.814-5, 1ª Turma
1994). Para o Min. Relator deste Habeas Corpus, as correspondências poderiam ser abertas
"em todas as hipóteses que alvitrem o interesse social ou se trate de proteger ou resguardar
direitos ou liberdades de outrem ou do Estado, também constitucionalmente assegurados".

160
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

1.2. Atribuições e competências (art.62 a 64):

a) Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária: é subordinado ao Ministério


da Justiça. A ele incumbe: propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do
delito, administração da Justiça Criminal e execução das penas e das medidas de segurança;
contribuir na elaboração de planos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as metas e
prioridades da política criminal e penitenciária; promover a avaliação periódica do sistema
criminal para a sua adequação às necessidades do País; estimular e promover a pesquisa
criminológica; elaborar programa nacional penitenciário de formação e aperfeiçoamento do
servidor; estabelecer regras sobre a arquitetura e construção de estabelecimentos penais e
casas de albergados; estabelecer os critérios para a elaboração da estatística criminal;
inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem assim informar-se, mediante
relatórios do Conselho Penitenciário, requisições, visitas ou outros meios, acerca do
desenvolvimento da execução penal nos Estados, Territórios e Distrito Federal, propondo
às autoridades dela incumbida as medidas necessárias ao seu aprimoramento; representar ao
Juiz da execução ou à autoridade administrativa para instauração de sindicância ou
procedimento administrativo, em caso de violação das normas referentes à execução penal;
representar à autoridade competente para a interdição, no todo ou em parte, de
estabelecimento penal.

b) Juízo da execução (art. 65 e art. 66): vide item de Direito Processual Penal 9c para
detalhamento de suas atribuições (LEP, art. 66). Quanto à competência, o juízo da execução
é aquele definido pelas normas de organização judiciária e na ausência de um juízo
específico, a competência para jurisdicionar a execução é do juiz do processo
(sentenciante). Outrossim, a Súmula 192 do STJ define que “Compete ao Juízo das
Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça
Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à
administração estadual”. Importante atentar que quando se tratar de preso recolhido a
presídio federal de segurança máxima, nos termos previstos na Lei n. 11.671/08, a atividade
jurisdicional da execução penal passa a ser do juízo federal da seção ou subseção onde
localizado o estabelecimento (art. 2° da Lei 11.671/08). No entanto, esclarece a lei, no caso
da prisão provisória, ao juízo federal, vai competir apenas a sua fiscalização, sendo que a
competência para o processo e respectivos incidentes permanece com o juiz de origem (art.
4° e §§ da Lei). No caso dos presídios federais de segurança máxima, para a
transferência do preso, inicialmente o juiz de origem decide pela necessidade e envia o
processo ao juiz federal competente a quem cabe decidir sobre a transferência. Acaso
o juiz federal rejeite a transferência, o juiz de origem poderá suscitar o conflito de
competência perante o tribunal competente, o qual o analisará em caráter prioritário
(art. 9° da Lei).

c) Ministério Público (art. 67 e art. 68): intervém como parte e fiscal da lei,
obrigatoriamente, em toda a execução da pena, devendo ser ouvido e se pronunciar sobre
todos os pedidos formulados, manifestar-se em todos os incidentes, postulando medidas –
inclusive em favor do executado – e recorrendo de decisões, cumprindo as diversas
incumbências previstas exemplificativamente no artigo 68 da LEP: I - fiscalizar a

161
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

regularidade formal das guias de recolhimento e de internamento; II – requerer: a) todas as


providências necessárias ao desenvolvimento do processo executivo; b) a instauração dos
incidentes de excesso ou desvio de execução; c) a aplicação de medida de segurança, bem
como a substituição da pena por medida de segurança; d) a revogação da medida de
segurança; e) a conversão de penas, a progressão ou regressão nos regimes e a revogação da
suspensão condicional da pena e do livramento condicional; f) a internação, a desinternação
e o restabelecimento da situação anterior. III - interpor recursos de decisões proferidas pela
autoridade judiciária, durante a execução. Parágrafo único. O órgão do Ministério Público
visitará mensalmente os estabelecimentos penais, registrando a sua presença em livro
próprio. Destaca-se a obrigação de visitar mensalmente os estabelecimentos penais,
registrando a sua presença em livro próprio.

d) Conselho Penitenciário (art. 69 e art. 70): órgão consultivo e fiscalizador da execução


penal, integrado por membros nomeados pelo Governador do Estado, dentre professores e
profissionais da área criminal, com mandato de 04 anos, tem atribuição de emitir parecer
sobre indulto e comutação (exceto indulto pelo estado de saúde), inspecionar
estabelecimentos e serviços penais, apresentar no primeiro trimestre de cada ano, ao
CNPCP, relatório dos trabalhos efetuados no exercício anterior e supervisionar os
patronatos e a assistência aos egressos (obs.: não pode interpor agravo em execução, STJ,
RHC 24238, 5ª Turma, 2009).

e) Departamento Penitenciário Nacional (art. 71 e art. 72): subordinado ao Ministério


da Justiça, é o órgão executivo da política penitenciária, e de apoio administrativo e
financeiro do CNPCP. Tem atribuições de acompanhar a fiel aplicação da LEP no país,
inspecionar estabelecimentos e serviços penais, assistir e colaborar com as unidades
federativas – inclusive na formação dos servidores e no ensino profissionalizante dos
condenados e internados –, estabelecer cadastro nacional de vagas – em especial para
presos em regime disciplinar –, administrar o Fundo Penitenciário Nacional, coordenando e
supervisionando os estabelecimentos penais federais.

f) Departamento Penitenciário Local (art. 73 e art. 74): a legislação local poderá criar
Departamento Penitenciário ou órgão similar, com as atribuições que estabelecer, o qual
terá por finalidade supervisionar e coordenar os estabelecimentos penais da Unidade da
Federação a que pertencer.

g) Patronato (art. 78 e 79): público ou particular, presta assistência a albergados e


egressos, apoiando a reintegração social, dando alojamento e alimentação pelo prazo de 2
meses (renovável por igual período), orientando condenados a PRD’s e fiscalizando as
PSC’s, bem como o cumprimento de sursis e do livramento condicional.

h) Conselho da Comunidade (art. 80 e art. 81): cada comarca tem um, formado por
representantes da comunidade, composto, no mínimo, por 1 representante de associação
comercial ou industrial, 1 advogado indicado pela Seção da Ordem dos Advogados do
Brasil, 1 Defensor Público indicado pelo Defensor Público Geral e 1 assistente social
escolhido pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional de Assistentes Sociais. Tem por
atribuição visitar mensalmente os estabelecimentos penais, apresentando relatórios ao juízo
da execução e ao Conselho Penitenciário, diligenciando na obtenção de recursos materiais e

162
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

humanos para assistência aos segregados.

i) Defensoria Pública (art. 81-A e art. 81-B): reconhecida como órgão de execução pela
Lei n. 12.313/10, deve velar pela execução da pena e medida de segurança, oficiando no
processo de execução e incidentes, defendendo os necessitados, de forma individual ou
coletiva, com as diversas incumbências previstas exemplificativamente no artigo 81-B da
LEP, dentre as quais se destaca o dever de visitar periodicamente os estabelecimentos
penais, registrando presença em livro próprio. Importante consignar que no caso dos
presídios federais de segurança máxima, oficiará a Defensoria Pública Federal.

1.3. Participação do Ministério Público no Conselho Penitenciário: depende da


legislação estadual, pois não há previsão na LEP ou em lei federal quanto à sua
composição, mas decorre dos arts. 129, IX, CF, e 25, VI, Lei 8.625/93 (LONMP). É
comum a participação de membros do MPU, a qual é necessária ante as suas atribuições,
sobretudo quanto à fiscalização de estabelecimentos e serviços prisionais e à adoção de
medidas protetivas dos direitos dos presos.

Importante consignar que o STF já se manifestou sobre a participação de membro do


parquet em conselho tutelar na ADI 3463 (ementa transcrita no info. STF 669 e julgado
noticiado no info. STF 646), ajuizada pelo PGR em face de dispositivo do ADCT da
Constituição Fluminense, dando interpretação conforme ao dispositivo, no sentido de
permitir a participação do membro, mas sem direito à voto, participando apenas como
convidado. Segundo o Min. AYRES BRITTO o rol de competência do MP não constitui
enumeração taxativa, dele podendo constar funções compatíveis com as suas finalidades
institucionais, que são a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis. “Penso que a possibilidade de participação do
Ministério Público fluminense no Conselho Estadual de Defesa da Criança e do
Adolescente não é inconstitucional se se entender que o Parquet comporá esse órgão
enquanto membro convidado e sem direito a voto, exatamente como se dá, como ilustração,
com a participação do Ministério Público Federal no Conselho Nacional do Meio
Ambiente”, exemplificou. A decisão foi tomada segundo à compreensão que os membros
do MP não podem participar da administração pública, o que poderia desvirtuar as próprias
funções institucionais constitucionalmente cominadas.

1.4. Informativos do STF


- Nº 738

Presídios federais
O controle da transferência ou da permanência do preso nos presídios federais deve ser
exercido tanto pelo juiz de origem como pelo juiz federal responsável pelo presídio federal.
No entanto, depois de ter sido deferido o requerimento pelo magistrado de execução
estadual, não cabe ao juiz federal corregedor do presídio exercer juízo de valor sobre a
gravidade das razões do solicitante, salvo se evidenciadas condições desfavoráveis ou
inviáveis da unidade prisional. STF. 1ª Turma. HC 112650/RJ, Rel. Min. Rosa Weber,
julgado em 11/3/2014.
163
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

- Nº 736

Não havendo Casa do Albergado, é permitido o cumprimento da pena em prisão


domiciliar
Constatada pelo juízo da execução a inexistência, no Estado-membro, de estabelecimento
prisional para cumprimento de pena em regime aberto, permite-se o início do cumprimento
em prisão domiciliar, até ser disponibilizada vaga no regime adequado. STF. 1ª Turma.
HC 113334/RS, red. p/ acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 18/2/2014.

- Nº 731

A remição da pena deve ser efetuada pelos dias trabalhados pelo condenado e não
pelas horas
A LEP estabelece que o cálculo da remição da pena será efetuado pelos dias trabalhados
pelo condenado (art. 126, § 1º, II, da Lei nº 7.210/84), não podendo o Judiciário construir
uma nova forma de cálculo com base nas horas trabalhadas. STF. 2ª Turma. HC
114393/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/12/2013.

- Nº 718

Transferência para presídio federal sem oitiva prévia da defesa


A transferência de preso para presídio federal de segurança máxima sem a sua prévia oitiva,
desde que fundamentada em fatos caracterizadores de situação emergencial, não configura
ofensa aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa, da individualização da
pena e da dignidade da pessoa humana. STF. 1ª Turma. HC 115539/RO, rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 3/9/2013.

- Nº 706

Execução penal (progressão no caso de crimes hediondos)


A exigência de cumprimento de um 1/6 da pena para a progressão de regime se aplica a
crimes hediondos praticados antes da vigência da Lei 11.464/2007, que, ao alterar a redação
do art. 2º da Lei 8.072/90, passou a exigir o cumprimento de 2/5 da pena, para condenado
primário, e 3/5, para reincidente. Para os crimes anteriores à Lei nº 11.464/2007, como o
antigo § 1º era inconstitucional, o STF considera que é possível a progressão de regime
cumprido 1/6 da pena (art. 112 da LEP). No mesmo sentido é o entendimento do STJ
(Súmula 471-STJ). Para os crimes posteriores à Lei nº 11.464/2007, foi prevista a
possibilidade de progressão de regime para crimes hediondos, conforme os requisitos
previstos no § 2º do art. 2º (2/5 se primário e 3/5 se reincidente). STF. Plenário. RE
579167/AC, rel. Min. Marco Aurélio, 16/5/2013.

- Nº 705

Regressão
O inciso I do art. 118 da LEP afirma que o apenado irá regredir de regime se praticar um

164
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

fato definido como crime. Segundo a jurisprudência do STF e do STJ, não é necessário que
o juiz das execuções penais aguarde que a pessoa seja condenada com trânsito em julgado
para determinar a sua regressão. STF. 1ª Turma. HC 110881/MT, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Rosa Weber, 7/5/2013.

1.5. Informativo do STJ

- Nº 539

Para que o juiz decrete a perda dos dias remidos na fração de 1/3 é necessária
fundamentação concreta
Reconhecida falta grave no decorrer da execução penal, não pode ser determinada a perda
dos dias remidos na fração máxima de 1/3 sem que haja fundamentação concreta para
justificá-la. STJ. 6ª Turma. HC 282.265-RS, Rel. Min. Rogerio Shietti Cruz, julgado
em 22/4/2014.

A prática de novo crime durante a vigência do livramento condicional não gera a


perda dos dias remidos
A prática de crime no curso do livramento condicional não pode ser considerada como falta
grave e não gera, por isso, a perda de 1/3 dos dias remidos (art. 127 da LEP). O
cometimento de novo delito durante a vigência do livramento condicional já traz graves
consequências que são previstas no art. 88 do Código Penal. Esse dispositivo não menciona
a perda dos dias remidos. Desse modo, não há a possibilidade de imposição de faltas
disciplinares ao beneficiado com o livramento condicional. STJ. 6ª Turma. HC 271.907-
SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/3/2014.

- Nº 538

Indulto natalino e interpretação objetiva de suas regras

A regra prevista no art. 1º, I, do Dec. 7.873/2012, que admite a concessão de indulto
coletivo aos condenados a pena inferior a oito anos, não pode ser interpretada de forma a
permitir que também obtenham o benefício aqueles que, embora condenados a pena total
superior a esse limite, tenham menos de oito anos de pena remanescente a cumprir na data
da publicação do referido diploma legal. STJ. 5ª Turma. HC 276.416-SP, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 27/3/2014.

1.6. Questões de Concurso: não constam questões no 25ª e 26º CPR.

1.7. Leitura Complementar: Lei 7210/84 – art. 61 a 74 e art.78 a 81.

165
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

12. b. Sentenças.
Principais Obras consultadas: Resumo do 26º CPR; Resumo 25ª CPR; Resumo Grupo
Magistratura; Pacelli. Eugênio. Curso de Processo Penal. 16ª ed. São Paulo: Atlas, 2012. e
18ª edição. São Paulo: Atlas, 2014. Anotações de Curso Alcance para Procurador da
República, tendo ministrado o tema a Prof. Elisa Pitarro, no ano de 2013.

Legislação básica: arts. 381 a 393 CPP. Súmulas do STF: 453.

1.1. Atos decisórios: são atos privativos do juiz, como regra, praticados após a fase
instrutória, como provimento final, mas podendo ser realizados na fase pré-processual
(como, por exemplo, com o reconhecimento da causa extintiva da punibilidade, art. 61,
CPP), ou antes, da fase instrutória (absolvição sumária).

1.2. Sentença: por meio dela o juiz criminal julga definitivamente o mérito da pretensão
penal, resolvendo-o em todas as etapas possíveis, a saber: a da imputação da existência do
fato, a imputação da autoria do fato e, por fim, o juízo de adequação jurídico-penal da
conduta (extinguem o processo com julgamento de mérito da pretensão punitiva). Espécies:
a) condenatória (art. 387, CPP); b) absolutória (art. 386, CPP); c) absolutória imprópria
(absolve, mas impõe medida de segurança); e) absolutória sumária (art. 397, CPP).

Correlação entre sentença e pedido: a providência final no processo penal condenatório é a


condenação ou absolvição do réu nas sanções que ele se achar em curso. O pedido será
sempre genérico, no sentido de com ele se viabilizar a correta aplicação da lei penal. O juiz
criminal está apenas vinculado à imputação dos fatos, atribuindo-lhes, uma vez
reconhecidos, a consequência jurídica que achar adequada, tanto no que respeita à
classificação (juízo de tipicidade) quanto à pena e à quantidade a ser imposta (Pacelli). De
acordo com o princípio da correlação, o réu não poderá ser condenado por fato não descrito
na denúncia ou queixa, ou por fato diverso daquele ali mencionado, sem que antes se
proceda a correção da inicial (mutatio libelli).

a) Emendatio Libelli: é a correção da inicial (libelo) para fim de adequar o fato narrado e
efetivamente provado ao tipo penal previsto em lei, ainda que a pena seja mais grave (art.
383, CPP); não fere o princípio do contraditório, pois o réu não se defende da capitulação,
mas da imputação da prática de conduta criminosa, ou seja, o réu se defende dos fatos
imputados; por isso a reclassificação da conduta poderá ser adotada em qualquer grau de
jurisdição. Contudo, em razão do princípio da proibição da ne reformatio in pejus, se
houver apenas recurso da defesa, o tribunal poderá corrigir a capitulação se da emenda não
resultar pena mais grave. Se da alteração resultar crime para o qual seja prevista a
suspensão condicional do processo, o juiz deverá abrir vista ao MP para a proposta; se
houver modificação de competência do juízo, para lá deverão ser remetidos os autos.

OBS Vitaminada: Diante da necessidade de maior aprofundamento do tema, transcrevo


trecho do curso do alcance que, além de adentrar mais no tema, traz informações a respeito
do momento adequado para se proceder a emendatio libelli e, se deve ser oportunizada a

166
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

defesa antes de o juiz proceder a reclassificação da conduta, vejamos:

A emendatio libelli é uma emenda na capitulação legal. Serve para ajustar o fato imputado,
narrado, à capitulação legal. Ex.: narrou-se um roubo e, ao final, capitulou-se o fato como
estupro. Nessa situação, deverá ser oportunizado ao MP que se emende a inicial. Em quase
90% dos casos decorre de um erro material.

Questões polêmicas: quando juiz realizar a emendatio, ele deve ouvir a defesa? 1ª
posição (majoritária): não há necessidade, porque o réu se defende dos fatos e não da
capitulação legal, os quais na emendatio permanecem inalterados. 2ª posição (isolado, mas
defensável): Geraldo do Prado defende que nem sempre é fácil diferenciar a emendatio e a
mutatio, sem contar que a capitulação legal serve de parâmetro para a concessão de uma
série de benefícios. Os Tribunais podem realizar emendatio? A Súmula 453 do STF
nega a possibilidade de mutatio a ser realizada pelo Tribunal, não proíbe a emendatio.
Hipoteticamente, o Tribunal pode promover a devida correção, sem que isso acabe
promovendo uma reformatio in pejus.

O juiz pode realizar a emendatio no recebimento da denúncia? Pode, ainda que o art. 383
do CPP esteja inserido no capítulo da sentença, indicando que a modificação da capitulação
legal do fato (emendatio) deveria ser efetuada nessa oportunidade, certo é que não há
qualquer problema na situação de o juiz proceder a emendatio antes, ou seja, no
recebimento da denúncia, desde que se trate de erro material.

b) Mutatio Libelli: em consequência de prova existente nos autos de elemento ou


circunstância da infração penal não contida na acusação, haverá aditamento da denúncia
pelo MP que dará nova definição jurídica ao fato (imputação de fato novo), ficando o juiz
adstrito aos termos do aditamento, não sendo o instituto manejável nas ações penais
privadas, salvo se subsidiária da pública (art. 384, CPP). Em caso de não aditamento,
caberá ao juiz aplicar o art. 28, CPP, e, mantendo-se a imputação inicialmente feita pelo
órgão revisor, poderá o juiz absolver o réu, pela ausência de imputação típica. A regra em
questão somente poderá ser aplicada na primeira instância, sob pena da supressão de
instância (S. 453 do STF).

OBS Vitaminada: Trechos da aula de Processo do Alcance que aprofunda mais o tema:

A mutatio libelli era um dos temas mais complicados de se estudar antes de 2008. Era
prevista no art. 384 do CPP. A sua antiga redação permitia que o próprio juiz realizasse a
mutatio, poderia alterar a imputação, independentemente de manifestação do MP. Essa
possibilidade surgiu no CPP num período em que o próprio juiz poderia deflagrar a ação
penal. Com a CF/88, tal competência passou a ser atribuição privativa do MP. Com a
reforma de 88, isso mudou, de modo que, para o juiz promover a mutatio, é necessário a
provocação do MP.
Pode ocorrer, durante a instrução criminal, o surgimento de um novo elemento que venha a
mudar a imputação, surgindo um crime diferente daquele narrado na denúncia. Cabe ao
promotor, nessa situação, aditar a denúncia. Não interessa se o crime descoberto seja mais
ou menos grave, tendo pena menor ou maior. É o que se depreende do art. 384 do CPP.

167
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

A mutatio hoje significa um aditamento da denúncia feito pelo membro do MP, em razão
de uma dado novo ou fato novo que surgiu durante a instrução criminal, levando ao
reconhecimento de outro crime, diverso daquele imputado na denúncia.
No art. 384 do CPP, não há previsão da possibilidade de o juiz provocar o aditamento.
Quando o juiz se deparar com essa situação, o que ocorrerá? Qual será o controle a ser
realizado pelo juiz, já que não há mais a previsão de o juiz provocar o promotor. Segundo
§1º do art. 384 do CPP, não procedendo o órgão do MP ao aditamento, caberá ao juiz
aplicar o art. 28 do CPP e remeter os autos ao PGJ ou à 2ª CCR. Se o PGJ ou a 2ª CCR
concordarem com o promotor ou procurador e devolver o feito para o magistrado, o que ele
deverá fazer? Há duas orientações: 1ª – Tourinho: resta ao juiz, nesse caso, absolver o
acusado, já que ele está convencido de que o fato imputado não ocorreu; 2ª –
Jurisprudência que prevalece: o que juiz deverá fazer aqui é condenar nos moldes da
denúncia, até porque ele recebeu a denúncia, então existe uma imputação válida. Caso
contrário, se a solução fosse a absolvição, poderia redundar numa coisa julgada injusta.
Se o promotor aditar a denúncia e o juiz receber o aditamento, impondo até o deslocamento
da competência, o juiz não poderá condenar com base nos fatos constantes no recebimento
da denúncia, ficando o juiz adstrito na sentença aos termos do aditamento. É que se
verifica no art. 384, §4º, do CPP. Antes da reforma de 2008, o CPP permitia ao juiz
condenar pelos dois crimes. Então, havia o aditamento e a mutatio, de sorte que juiz
poderia condenar tanto pelos termos da denúncia feita inicialmente como pelos termos do
aditamento. Isso era possível em caso de agregação de qualificadoras: na hora de o juiz
sentenciar, ele podia condenar pelo furto simples ou qualificado, por exemplo, ainda que o
aditamento versasse somente para agregar a qualificadora. Hoje, deve o juiz ficar adstrito
ao aditamento.
Podem surgir situações nas quais haverá dúvida acerca da aplicação da emendatio, se o juiz
pode desclassificar direto na própria sentença, ou da mutatio, e, por sua vez, de aditamento.
Ex1: Indivíduo foi denunciado por furto qualificado com emprego de fraude. Furto
qualificado tem pena de 2 a 8 anos. Durante a instrução criminal, surgem elementos novos,
que levam a reconhecer o estelionato (art. 171). Quem se defende um furto qualificado
pelo emprego de fraude, está se defendendo de um estelionato? É a mesma coisa? Não. Se
não é a mesma coisa, há a necessidade de mutatio, deve o promotor promover o
aditamento. Ex2: Homicídio culposo na modalidade imprudência e, no curso da instrução,
percebe-se que o homicídio culposo foi em verdade praticado por negligência. Quem se
defende por homicídio culposo por imprudência defende-se por homicídio por negligência,
ainda que se esteja no mesmo tipo penal? Não é possível a desclassificação na própria
sentença, há necessidade de mutatio, ainda que se esteja no mesmo tipo penal. Ex3:
Cidadão denunciado por roubo (subtração + grave ameaça). No curso da instrução penal,
subsiste apenas o furto (coisa alheia móvel). Nesse caso, há possibilidade de se
desclassificar da imputação na sentença? Há necessidade de mutatio, de aditamento? Quem
se defende de um roubo, está automaticamente se defendendo de um furto? Sim, porque o
roubo é um crime complexo (subtração de coisa alheia móvel + violência). O próprio juiz
pode alterar na sentença, ou seja, pode promover a mutatio de ofício. Como se está
excluindo uma circunstância do crime, a imputação pode ser desclassificada, ou seja, não
havendo a agregação de fato novo que exija manifestação do réu, não será necessário a sua
oitiva.

168
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Como identificar essa prova nova que leva a necessidade de alteração dessa imputação? Na
audiência, se o juiz recebe o aditamento, há a necessidade de cindir a audiência e haver
toda uma instrução criminal sobre a mutatio. Deverá o juiz marcar uma nova audiência,
não importando se se trata do procedimento ordinário ou do sumário, ainda que neste rito
não haja previsão legal de cisão da audiência.

c) Fixação do valor mínimo para a reparação do dano causado pela infração: tem
como requisitos que o dano tenha sido objeto da discussão ao longo do processo e que os
prejuízos materiais sejam efetivamente comprovados (haja liquidez e certeza quanto à sua
natureza). Para o STJ, há necessidade de pedido expresso para fixação do quantum
indenizatório, pois se decidiu que: “A fixação de indenização sem o correspondente pedido
implica violação ao princípio da correlação, incidente sobre os processos cíveis e penais.”
(REsp.12902263, 5ª Turma, 2012). Pacelli (p. 657/658, 2012) e Renato Brasileiro (p. 301,
2014) entendem contrariamente que a fixação do valor mínimo para reparação do dano
independe de pedido expresso na denúncia, já que é efeito genérico e automático da
condenação, nos exatos termos do art. 387, IV, do CPP.

1.3. Coisa julgada: é uma qualidade da decisão judicial da qual não caiba mais recurso.
Coisa julgada em matéria penal: a) sentença absolutória: a eficácia preclusiva da coisa,
neste caso, visa impedir novas investidas acusatórias contra o réu absolvido (proíbe-se a
revisão pro societate); b) sentença condenatória: pode ser a qualquer tempo rescindida por
meio da revisão criminal (art. 621 e seguintes, CPP); c) coisa julgada formal: decisões
judiciais que, quando passadas em julgado, impedem a rediscussão da matéria unicamente
em relação ao contexto em cujo processo foi prolatada [ex.: decisão que rejeita denúncia
por ausência de pressupostos processuais; decisão que determina o arquivamento do
inquérito (em regra)]; d) coisa julgada material: decisão judicial que não pode ser
reapreciada em qualquer processo. No processo penal apenas as sentenças absolutórias
possuem essa qualidade (ex.: decisão de arquivamento por atipicidade da conduta).

Limites: a) subjetivos: em face do princípio da intranscendência, entende-se que a pena não


passará da pessoa do condenado (art. 5, XLV, CR/88); b) objetivos: para Pacelli é a
realidade histórica, afastando a possibilidade de discussão sobre o mesmo fato tal como
efetivamente realizado, independente do acerto ou equívoco da imputação (2010, p. 634-
365); contudo, o STF (HC 82980,1ª Turma, 2009) já decidiu que a alteração da imputação
da conduta imputada ao agente não ofende a coisa julgada, mesmo que a realidade histórica
seja a mesma, por considerarem que não há identidade de fato (tempo, lugar e conduta
imputada ao agente).

1.4. Informativos de Jurisprudência

Inf. nº 528 do STJ:


Para que seja fixado na sentença valor mínimo para reparação dos danos causados pela
infração, com base no art. 387, IV, do CPP, é necessário pedido expresso do ofendido ou do
Ministério Público e a concessão de oportunidade de exercício do contraditório pelo réu.
REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/08/2013, DJe 27/8/2013

169
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

DIREITO PROCESSUAL PENAL. IRRETROATIVIDADE DO ART. 387, IV, DO CPP,


COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI 11.719/2008. A regra do art. 387, IV, do CPP, que
dispõe sobre a fixação, na sentença condenatória, de valor mínimo para reparação civil
dos danos causados ao ofendido, aplica-se somente aos delitos praticados depois da
vigência da Lei 11.719/2008, que deu nova redação ao dispositivo. Isso porque se trata de
norma híbrida - de direito material e processual - mais gravosa ao réu, de sorte que não pode
retroagir. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.

1.5 Questões de Prova:

Questão 111 Objetiva do 26º CPR.

111. ASSINALE A ALTERNATIVA FALSA, A RESPEITO DA MUTATIO LIBELLI:

a) ( ) Enquanto na emendatio a definição jurídica refere-se unicamente à classificação dada


ao fato, na mutatio libelli a nova definição será do próprio fato. Sendo assim, não se altera
simplesmente a capitulação feita na inicial, mas a própria imputação do fato;

b) ( ) Conforme o CPP, não procedendo o órgão do Ministério público ao aditamento, o


assistente de acusação poderá fazê-lo, no prazo de cinco dias, desde que previamente
habilitado nos autos;

c) ( ) Na ordem anterior à Lei n. 11.719/08, cabia ao próprio magistrado a alteração


(mutatio) da acusação (libelli) quando, da nova definição jurídica, surgisse crime cuja pena
fosse igual ou inferior àquela do delito imputado inicialmente ao réu. Conforme a
legislação atual, que corrigiu o antigo defeito, independentemente da pena, o novo delito só
pode ser julgado se promovido o aditamento da acusação pelo órgão do Ministério Público,
ficando o magistrado, na sentença, adstrito aos termos do aditamento;

d) ( ) Há casos em que o elemento (ou circunstância) está contido implicitamente na peça


acusatória. É o que ocorre, por exemplo, nas desclassificações operadas pela alteração feita
no elemento subjetivo da conduta (dolo e culpa). Neste sentido, já se pronunciou o STF,
quando desclassificou o peculato doloso para peculato culposo, entendendo que a
modificação do dolo para culpa não implicaria mutatio libelli, tendo o acusado se defendido
amplamente dos fatos a ele imputados. Logo, seria típico caso de emendatio.

Gabarito oficial: B

170
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

12.c. Execução da pena de multa. Requisitos. Hipóteses. Cabimento.


Atribuição.
Principais Obras consultadas: Resumo do 26º CPR. Mirabete, Júlio Fabbrini. Execução
Penal. Atual. por Renato N. Fabbrini. 11.a. Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007. Prado, Luiz
Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 8.a. Ed. São Paulo: Editora RT, 2008, v. I.
Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 14. Ed.São Paulo: Editora Saraiva,
2009, v. I. Queiroz, Paulo. Curso de Direito Penal. 8. Ed. Salvador: Editora Juspodivm,
2012, v. I.

Legislação básica: art. 51 do Código Penal. Art. 164, 168 e 169 da Lei de Execuções
Penais – LEP. Lei de Execuções Fiscais – lei 6830/80.

1.1Noções Gerais: nos termos do artigo 49 do Código Penal, a pena de multa consiste no
pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença. No entanto, a multa não é
o pagamento, e sim a obrigação de pagar ao Estado certa quantia. O pagamento é a
execução ou a satisfação da obrigação (Mirabete, p. 693). Os valores das multas constituem
recursos do Fundo Penitenciário Nacional.

1.2. Execução da pena de multa: a execução da pena de multa seguia o rito dos artigos
164 e 165 da Lei de Execuções Penais. Entretanto, a Lei 9.268/95 deu nova redação ao
artigo 51 do Código Penal, existindo divergência na doutrina quanto à extensão da
revogação dos artigos da LEP. A multa é uma sanção penal, não constituindo um tributo.
No entanto, o artigo 51 do Código Penal estabelece que transitada em julgado a sentença
condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se lhe as normas da
legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas
interruptivas e suspensivas da prescrição. Por essa razão, regem a matéria a Lei de
Execuções Fiscais, o Código Tributário Nacional e o artigo 578 e parágrafo único do CPC.

1.3. Requisitos: a multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em
julgada a sentença (artigo 50 do CP). O STJ, interpretando o artigo 50 do Código Penal,
estabeleceu que, com o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, e não efetuado
o pagamento da pena de multa no prazo do artigo 50 do Código Penal, o Juízo das
Execuções Penais deve comunicar o fato à Fazenda Pública, que procederá à execução nos
termos da Lei 6.830/80 (REsp 1181905, 5ª Turma, 2011). Assim, antes da remessa da
certidão da sentença condenatória com trânsito em julgado à Fazenda Pública deve o juízo
da Execução Penal notificar o condenado para que, dentro do prazo de 10 dias, efetue o
pagamento (PRADO, p. 568). Pela necessidade de intimação prévia: Mirabete (p. 712).

1.4. Hipóteses: verificam-se as seguintes hipóteses: a) estando o condenado preso: é


possível o desconto na remuneração do trabalho do preso (artigo 170 da LEP), ainda que
com parcelamento. Caso não haja o pagamento, em que pese cumprida a pena privativa de
liberdade ou obtido o livramento condicional, segue-se à sua execução fiscal; b) estando o
condenado solto: atende ao pedido de parcelamento, efetua-se o desconto em folha ou se
procede à execução fiscal. A legislação ainda estabelece 3 (três) formas de pagamento da
multa: a) pagamento integral; b) pagamento parcelado; c) desconto em folha (vencimentos

171
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

e salários). O pagamento integral é feito mediante recolhimento do valor ao Fundo


Penitenciário. Já o parcelamento deste valor está previsto no artigo 169 da LEP (pedido em
10 dias a partir da intimação para pagamento), conforme Bitencourt (p. 617). O desconto no
vencimento ou salário do condenado é a última modalidade de pagamento ou cobrança (art.
168 da LEP), quando (art. 50 do CP): a) aplicada isoladamente; b) aplicada
cumulativamente com pena restritiva de direitos; c) concedida a suspensão condicional da
pena. Caso o condenado esteja preso, a multa será cobrada mediante desconto na sua
remuneração (art. 170 da LEP).

1.5. Cabimento: a execução da pena de multa é cabível quando não haja o pagamento
espontâneo por parte do condenado no prazo legal. Não é possível a conversão da pena de
multa em pena privativa de liberdade, ainda que seja nos Juizados Especiais (STF, HC
79474, 2ª Turma, 1999). Não é possível a execução provisória da pena de multa (STJ, HC
53192, 5ª Turma, 2006).

1.6. Atribuição: em que pese o artigo 164 da LEP atribuir a legitimidade ativa para a
execução da pena de multa ao Ministério Público, consolidou-se no STJ que a titularidade
cabe à Fazenda Pública (AgRg no Ag 572.041, 5ª Turma, 2004), em decorrência da
conversão da sanção penal de multa em dívida de ativa da Fazenda Pública a qual caberá
propor execução fiscal, se não houver o pagamento voluntário da obrigação. Pela
legitimidade da Fazenda Pública: Prado, p. 568; Queiroz, p. 515. Pela legitimidade do
Ministério Público: Mirabete, p. 713; Bitencourt, p. 619.

1.7. Questões de Prova: não constam questões no 25º e no 26º CPR.

172
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

13.a. Competência da Justiça Federal.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 25° e do 26° CPR; Eugênio Pacelli de
Oliveira, Curso de processo penal. 16ª edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012; Raquel
Fernandez Perrini. Competência da Justiça Federal. 2ª edição. Editora Juspodivm, 2011;
Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito Processual Penal. 6ª edição.
Editora Juspodivm, 2011; Lima, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Volume
único. 2ª edição. Salvador: Editora Juspodivm, 2014. Oliveira, Eugênio Pacelli de Oliveira.
Curso de Processo Penal. 18 Edição. São Paulo: Ed. Atlas, 2014.g

Legislação básica: CRFB/88, especialmente art. 109. CPP

A Constituição da República utilizando-se de um critério que, segundo Pacelli, “pode ser


explicado a partir da busca de um dimensionamento mais ou menos preciso das questões
que podem afetar, direta ou indiretamente, os interesses federais e/ou nacionais”,
estabelece a competência da Justiça Federal de primeira instância na esfera criminal no
artigo 109, especialmente os incisos IV, V, V-A, VI, VII, VIII, IX, X, XI, e no §5°,
analisados a seguir:

IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimentos de bens,


serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,
excluídas as contravenções penais e ressalvadas a competência da Justiça Eleitoral e à
Justiça do Trabalho.

A primeira observação a ser feita é no sentido de que a ausência de expressa inclusão da


fundação púbica federal no referido inciso não retira a competência da Justiça Federal para
o julgamento das infrações cometidas em detrimento de seus bens, serviços ou interesses,
pois, em última análise, a lesão atingirá o interesse da União, instituidora e mantenedora
daquela.

A segunda observação é de que o inciso combina dois critérios determinantes da


competência: em razão da matéria – crimes políticos e infrações penais – e em razão da
pessoa – União, autarquias, empresas públicas e fundações públicas, sendo este segundo
preponderante, pois, ressalvado o crime político, só serão da competência da Justiça
Federal os crimes cometidos contra as pessoas ali indicadas.

Os crimes políticos, segundo a doutrina majoritária e a jurisprudência do STF, são aqueles


definidos pela Lei n° 7.170/83, que, com motivação e objetivos políticos, exponham a lesão
real ou potencial a integridade territorial e a soberania nacional, o regime representativo e
democrático, a Federação e o Estado de Direito ou a pessoa dos chefes dos poderes da
União. (RC 1468. Rel. Maurício Correa. Tribunal Pleno. SJ 16.08.2000).

Bens da União para aferição da competência da Justiça Federal são aqueles descritos no
artigo 20, incisos I a XI, da CRFB/88, ou seja, aqueles que integram seu patrimônio. Em
relação aos bens das autarquias federais, empresas públicas e fundações públicas, devem

173
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

ser considerados os bens integrantes do seu patrimônio.

Por serviços deve-se atentar para a própria atividade do ente federal e a sua finalidade, ao
passo que interesse e os direitos de cada um, ou, nas palavras de Raquel Fernandez Perrini,
“o conceito de interesse assume conotação ampla, tendo em vista sua íntima relação com
os demais objetos materiais referidos, vale dizer, a ofensa direta a bem ou serviço
acarreta, por via reflexa, ofensa a interesses dos entes federais, sendo tênues os limites que
os separam”.

Quanto à existência do interesse da União para justificar a competência da Justiça Federal,


Pacelli entende que, “de maneira geral, sempre que houver uma norma autorizando a
gestão, administração ou fiscalização de qualquer atividade ou serviço, por órgão da
Administração Pública Federal, estará caracterizado o interesse público federal. Por
exemplo, a destinação de verbas públicas federais a Municípios ou Estados, mediante
convênio, para determinada e específica finalidade, indica a existência de interesse
público federal na fiscalização e destinação dada à aludida verba. Note-se que a existência
de fiscalização por convênio já afasta a hipótese de se tratar de verba federal repassada e
já incorporada ao patrimônio do Município, quando então a competência seria estadual,
diante da ausência de interesse público federal” (p. 241, 2014).

Nesse sentido, é o teor dos enunciados 208 (“compete à Justiça Federal processar e julgar
prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão
federal”) e 209 (“compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de
verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal”) da Súmula de Jurisprudência
do STJ.

Na linha de tais enunciados, o STJ assentou ser competência da Justiça Federal apreciar
crimes relacionados ao desvio de verbas federais repassadas ao SUS para gerenciamento do
serviços pelo Estado, Município ou particulares, caracteriza o interesse federal, na medida
em que compete ao Ministério da Saúde a gestão e administração do Sistema, mesmo em se
tratando de repasses fundo a fundo ou mediante convênio (AgRg no CC nº 122.555-RJ,
Rel. Exmo. Min. Og Fernandes, julgado em 14.08.2013 – Inf. nº 527-STJ). Com base na
mesma fundamentação, o STJ tem afirmado ser da competência da Justiça Federal as
situações de crimes que envolvam os recursos do FUNDEB, desde que haja
complementação com recursos federais.

Em recente posicionamento do STF na ACO nº 1206/SP (Rel. Min. Ellen Gracie,


05.10.2011, Inf. 643-STF), o plenário definiu ser competência da Justiça Federal o
julgamento de crimes envolvendo a aplicação de recursos do FUNDEB, independentemente
de ter havido ou não complementação de verbas pela União. Entendeu-se que a titularidade
da União na política geral da Educação seria suficiente para firmar a competência da
criminal federal, ainda que as verbas atingidas já estivessem integralizadas no orçamento
dos demais entes, já que haveria um interesse moral (político-social) da União em assegurar
sua adequada destinação, atraindo a competência da Justiça Federal e a atribuição do
Ministério Público Federal. Vale ressaltar que o julgado também afirmou que, em se
tratando de fato que possa ser subsumido às hipóteses de improbidade administrativa, a
competência seria da Justiça Federal, porque tais recursos, além de não pertencerem à

174
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

União, o indivíduo que praticou tal conduta não seria agente público federal (Pacelli, fls.
242/243, 2014). Confira-se o teor da ementa:

Ementa: CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES. CARACTERIZAÇÃO.


AUSÊNCIA DE DECISÕES DO PODER JUDICIÁRIO. COMPETÊNCIA DO STF. ART.
102, I, f, CF. FUNDEF. COMPOSIÇÃO. ATRIBUIÇÃO EM RAZÃO DA MATÉRIA.
ART. 109, I E IV, CF. 1. Conflito negativo de atribuições entre órgãos de atuação do
Ministério Público Federal e do Ministério Público Estadual a respeito dos fatos constantes
de procedimento administrativo. 2. O art. 102, I, f, da Constituição da República recomenda
que o presente conflito de atribuição entre os membros do Ministério Público Federal e do
Estado de São Paulo subsuma-se à competência do Supremo Tribunal Federal . 3. A
sistemática de formação do FUNDEF impõe, para a definição de atribuições entre o
Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual, adequada delimitação da
natureza cível ou criminal da matéria envolvida 4.A competência penal, uma vez presente o
interesse da União, justifica a competência da Justiça Federal (art. 109, IV, CF/88) não se
restringindo ao aspecto econômico, podendo justificá-la questões de ordem moral. In casu,
assume peculiar relevância o papel da União na manutenção e na fiscalização dos recursos
do FUNDEF, por isso o seu interesse moral (político-social) em assegurar sua adequada
destinação, o que atrai a competência da Justiça Federal, em caráter excepcional, para
julgar os crimes praticados em detrimento dessas verbas e a atribuição do Ministério
Público Federal para investigar os fatos e propor eventual ação penal. 5. A competência da
Justiça Federal na esfera cível somente se verifica quando a União tiver legítimo interesse
para atuar como autora, ré, assistente ou opoente, conforme disposto no art. 109, inciso I,
da Constituição. A princípio, a União não teria legítimo interesse processual, pois, além de
não lhe pertencerem os recursos desviados (diante da ausência de repasse de recursos
federais a título de complementação), tampouco o ato de improbidade seria imputável a
agente público federal. 6. Conflito de atribuições conhecido, com declaração de atribuição
ao órgão de atuação do Ministério Público Federal para averiguar eventual ocorrência de
ilícito penal e a atribuição do Ministério Público do Estado de São Paulo para apurar
hipótese de improbidade administrativa, sem prejuízo de posterior deslocamento de
competência à Justiça Federal, caso haja intervenção da União ou diante do reconhecimento
ulterior de lesão ao patrimônio nacional nessa última hipótese.

(ACO 1109, Relator(a):  Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão:  Min. LUIZ FUX
(art. 38, IV, b, do RISTF), Tribunal Pleno, julgado em 05/10/2011, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-047 DIVULG 06-03-2012 PUBLIC 07-03-2012)

Referido entendimento afetará questões consolidadas, como quando se tratar de recursos do


SUS transferidos fundo a fundo, de transferência regular e automática, diretamente do
Fundo Nacional de Saúde aos demais entes, independentemente de convênio, não haveria
razão a justificar a competência da Justiça Federal. Contudo, se o repasse do FNS for
vinculado a determinada finalidade e submetido ao controle e fiscalização de órgão público
federal, seja por convênio ou outros instrumentos semelhantes, a competência será
inolvidavelmente da Justiça Federal (Pacelli, fls. 242/243, 2014).

Pacelli entende que tal entendimento aplicado aos recursos do FUNDEB em breve será
aplicado aos recursos do SUS, ainda que transferidos fundo a fundo, tais recursos sejam

175
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

incorporados ao orçamento do ente recebedor, não seja necessária a fiscalização do TCU ou


a existência de Convênio com tal finalidade.

A respeito da existência ou da inexistência de interesse federal ou da lesão a bens, serviços


ou interesses da União, vale conferir os seguintes julgados veiculados nos Informativos do
STJ de 2013 e de 2014 até

Inf. nº 511/2013: Compete à Justiça Federal o julgamento de crime consistente na


apresentação de Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) falso à
Polícia Rodoviária Federal. (CC 124.498-ES, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Des.
Conv. Do TJ/PE), julgado em 12/12/12).

Inf. nº 514/2013: Compete à Justiça Estadual, e não à Justiça Federal, processar e julgar crime
de estelionato cometido por particular contra particular, ainda que a vítima resida no
estrangeiro, na hipótese em que, além de os atos de execução do suposto crime terem ocorrido
no Brasil, não exista qualquer lesão a bens, serviços ou interesses da União. (CC 125.237-SP,
Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/2/2013).

Inf. nº 536/2014: Compete à Justiça Estadual processar e julgar a suposta prática de delito de
falsidade ideológica praticado contra Junta Comercial. (…) A jurisprudência do STJ
sedimentou o entendimento de que, para se firmar a competência para processamento de
demandas que envolvem Junta Comercial de um estado, é necessário verificar a existência de
ofensa direta a bens, serviços ou interesses da União, conforme determina o art. 109, IV, da CF.
Caso não ocorra essa ofensa, como na hipótese em análise, deve-se reconhecer a competência
da Justiça Estadual. (CC 130.516-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/2/2014).

V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a


execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro ou
reciprocamente.

Considerando ser da União a atribuição de manter relação com Estados estrangeiros e


participar de organizações internacionais (art. 21, I, CR), e de celebrar tratados e
convenções na ordem internacional, a competência da Justiça Federal é a consequência.
Entretanto, não basta determinado crime estar previsto em tratado ou convenção
internacional para firmar a competência federal, sendo necessário também que sua
execução tenha iniciado no Brasil ou o resultado aqui tenha ocorrido (ou devesse ocorrer,
na hipótese de tentativa) e o resultado se produzisse ou a conduta tivesse início no
estrangeiro, ou vice-versa. Em outras palavras, é preciso a transnacionalidade. A título
exemplificativo, o crime de tráfico interno de drogas é da competência da justiça estadual,
ao passo que o tráfico internacional será julgado pela justiça federal (Súmula 522, STF:
“Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quanto então a competência será da Justiça
Federal, compete à Justiça dos Estados o processo e julgamento dos crimes relativos a
entorpecentes”).

V-A – as causas relativas a direitos humanos a que se refere o §5° deste artigo.

§5° - Nas hipóteses de grave violação de direito humanos, o Procurador-Geral da


República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.

Tal norma, inserida na Constituição por meio da EC n° 45/04 (Reforma do Judiciário), tem
por escopo evitar que, diante da insuficiência ou inoperância dos meios de apuração e
punição dos delitos envolvendo causas relativas direitos humanos, o Estado Brasileiro seja
acionado junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos por descumprimento das
obrigações assumidas no plano internacional.

Sobre a questão, o Superior Tribunal de Justiça, no IDC 2/DF (27.10.2010), entendeu que o
incidente de deslocamento de competência fundamenta-se, essencialmente, em três
pressupostos: a existência de grave violação a direitos humanos; o risco de
responsabilização decorrente do descumprimento de obrigações jurídicas assumidas em
tratados internacionais; e a incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer
respostas efetivas. Sobre esse último pressuposto, Pacelli discorda, afirmando que
“bastaria o desaforamento do julgamento, para outro juízo igualmente estadual. Aliás,
foram nesse sentido alguns dos votos vencidos”. Segundo seu entendimento, “será da
Justiça Federal em razão da matéria, do mesmo modo que ocorre em relação aos tratados
e convenções internacionais, com a diferença de que, quanto aos demais (tratados), exige-
se a internalização da conduta”, ao passo que no caso deste inciso não haveria tal
necessidade.

VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos determinados por lei, contra o


sistema financeiro e a ordem econômico-financeira.

Segundo Pacelli, a jurisprudência dos Tribunais Superiores consolidou-se, contrariamente à


Constituição, no sentido de que em regra os crimes contra a organização do trabalho são da
competência da justiça estadual (arts. 197 a 207, CP), restando competente a justiça federal
apenas para os crimes que atingirem o direito dos trabalhadores coletivamente, ou seja,
somente atrairá a competência da justiça federal se houver ofensa a interesse geral na
manutenção dos princípios básicos sobre os quais se estrutura o trabalho no país. Neste
sentido, vale lembrar a súmula 115 do extinto TRF segundo a qual compete “à Justiça
Federal processar e julgar os crimes contra a organização do trabalho, quando tenham
por objeto a organização geral do trabalho ou direitos dos trabalhadores considerados
coletivamente”, a qual tem sido seguida pelo STF (ARE 706.368 AgR/SP. Segunda Turma.
DJe 21.11.2012) e pelo STJ (CC 123.714/MS, Terceira Seção, DJe 05.11.2012)

Entretanto, cabe mencionar o entendimento da jurisprudência no sentido de que o delito do


artigo 149, CP (crime de redução à condição análoga à de escravo), caracterizado como
crime contra a organização do trabalho, embora previsto em capítulo diverso, é da
competência da justiça federal, pois a lesão transcende a pessoa do trabalhador, atingindo
num plano coletivo o direito dos trabalhadores. (STF, Pleno RE 398041/PA, de 19.12.08,
STJ, Sexta Turma, RHC 255583, de 20.08.2012).

No tocante aos crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem econômico-financeira a


competência, em regra, é da justiça estadual, salvo nos casos determinados em lei.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

No primeiro caso, a Lei n° 7.492.86 (Lei do Colarinho Branco), em seu artigo 26, prevê ser
da competência da justiça federal o processamento e julgamento dos crimes cometidos
contra o sistema financeiro nacional.

Interessante questão envolvendo a competência federal e a norma em questão diz respeito


ao leasing financeiro que, embora não constitua financiamento propriamente dito, enseja a
competência da justiça federal, configurando o delito do artigo 19 (Obter, mediante fraude,
financiamento em instituição financeira: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e
multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é cometido em
detrimento de instituição financeira oficial ou por ela credenciada para o repasse de
financiamento). CC 113.434/SP, de 16.06.2011. Sexta Turma. Por outro lado, quando se
tratar de crime envolvendo factoring, a competência é da justiça estadual, já que tais
empresas não são consideradas instituições financeiras. (CC 98.062, de 06.09.2010.
Terceira Seção). Sobre crimes envolvendo factoring, vale conferir o seguinte julgado
publicado no Informativo nº 528/2013 do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar
a conduta daquele que, por meio de pessoa jurídica instituída para a prestação de serviço de
factoring, realize, sem autorização legal, a captação, intermediação e aplicação de recursos
financeiros de terceiros, sob a promessa de que estes receberiam, em contrapartida, rendimentos
superiores aos aplicados no Mercado”. (CC 115.338-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 26/6/2013)

No segundo caso, atualmente apenas a Lei n° 8.176/91 prevê como competência da justiça
federal o disposto no artigo 2° (Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de
usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem
autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo.
Pena: detenção, de um a cinco anos e multa. § 1° Incorre na mesma pena aquele que, sem
autorização legal, adquirir, transportar, industrializar, tiver consigo, consumir ou
comercializar produtos ou matéria-prima, obtidos na forma prevista no caput deste artigo),
mas, segundo Pacelli, as condutas descritas no artigo 1° também seriam da competência da
justiça federal, “dado o alcance do interesse envolvido na proteção de tais valores
econômicos, de âmbito desenganadamente nacional”. Ainda, segundo o autor, “a mesma
legislação, em seu art. 4°, institui o Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis, cujos
gerenciamentos e fiscalização são atribuídos a organismo da Administração Pública
Federal, o que, a nosso juízo, reforça o entendimento no sentido de que se cuidaria de
questão de interesse nacional”.

Quanto aos crimes descritos na Lei nº 8.137/90, que trata dos crimes contra a ordem
tributária, econômica e contra as relações de consumo, a competência é da justiça estadual,
a não ser que afetem os interesses da União ou de suas entidades (por exemplo: tributos de
arrecadação federal), quando a competência passará a ser da justiça federal. Serão da
competência da justiça federal os delitos dos artigos 168-A e 337-A, CP, já que o INSS é
uma autarquia federal.

VII – os “habeas-corpus”, em matéria criminal de sua competência ou quando o


constrangimento provier de autoridades cujos atos não estejam diretamente sujeitos a
outra jurisdição;

178
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

VIII – os mandados de segurança e os “habeas-data” contra ato de autoridade federal,


excetuados os casos de competência dos tribunais federais;

A competência da justiça federal em “habeas-corpus” e em mandado de segurança


depende de dois requisitos, alternativamente: (1) matéria criminal afeta à competência da
justiça federal; (2) autoridade não sujeita a outra jurisdição.

IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência


da Justiça Militar;

Entende-se por navio para fins de atrair a competência da justiça federal apenas as
embarcações de grande porte, aptas a realizarem viagens marítimas. (CC 43.404/SP, Rel.
Ministro Arnaldo Esteves Lima, Terceira Seção, julgado em 14/02/2005, DJ 02/03/2005, p.
184). Referida noção também pode ser extraída na leitura do artigo 11 da Lei 2.180/54. Se a
embarcação estiver ancorada no porto, não será competente a justiça federal, ante a
necessidade de situação de deslocamento internacional ou ao menos em situação de
potencial deslocamento. CC 116.011/SP, de 23.11.11.

Já em relação às aeronaves, a jurisprudência entende que será da competência da justiça


federal quaisquer infrações cometidas a bordo de qualquer aeronave, pouco importando seu
porte e autonomia e se em solo ou em voo. (STF - RHC 86998, Relator(a): Min. Marco
Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, julgado em
13/02/2007, DJe-004 Divulg 26-04-2007 Public 27-04-2007 DJ 27-04-2007 PP-00070
Ement VOL-02273-02 PP-00223 RT v. 96, n. 863, 2007, p. 501-506). Entretanto, convém
ressaltar que se o crime ocorrer durante o direito de passagem inocente, tanto em navio
como em aeronave, o Brasil não tem jurisdição, em razão do princípio da bandeira.

X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro;

Esse dispositivo é interpretado no sentido de que compete aos juízes federais o processo e o
julgamento de todo e qualquer crime, previsto no Código Penal ou na Legislação Especial,
cometido pelo estrangeiro com o intuito de regularizar seu ingresso e permanência no
Brasil. É elementar para atrair a competência da justiça federal que o crime se relacione
com o ingresso ou com a permanência irregular de estrangeiro (Brasileiro, p. 441, 2014).
No Estatuto do Estrangeiro encontram-se, rigorosamente falando, apenas três delitos
envolvendo o ingresso ou permanência irregular de estrangeiros – artigo 125, incisos XI,
XII e XIII. No Código Penal, têm-se as condutas previstas no art. 338: reingressar no
território nacional o estrangeiro que dele foi expulso, com pena de reclusão de 1 a 4 anos,
sem prejuízo de nova expulsão, após o cumprimento da pena; no art. 309 (Fraude de lei
sobre estrangeiro): usar documento, para entrar ou permanecer no território nacional, nome
que não é seu, pena de detenção de 1 a 3 anos, e multa; art. 309, p.u.: atribuir a estrangeiro
falsa qualidade para promover-lhe a entrada em território nacional, pena de reclusão de 1 a
4 anos, e multa; 310: prestar-se a figurara como proprietário de ação, título ou valor
pertencente a estrangeiro, nos casos que a este é vedada por lei ou a propriedade ou a posse
de tais bens, detenção de 6 meses a 3 anos, e multa.

179
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

XI – as disputas sobre direitos indígenas.

A jurisprudência dominante, conferindo interpretação extensiva ao art. 109, inciso XI da


CF, pacificou o entendimento de que os todos feitos que versem sobre a cultura indígena,
bem como acerca de disputas de interesses da comunidade, competem à Justiça Federal.
Um exemplo da competência da justiça federal pode ser extraído no julgamento do HC
122.375/PR, de 14.11.2011, no qual se discutia o porte de espingardas, nos limites da
reserva indígena, com finalidade exclusiva de caça de subsistência.

Recentemente, no Informativo 527, o STJ apreciou conflito de competência envolvendo os


crimes de calúnia e difamação praticados no contexto de disputa pela posição de cacique
em comunidade indígena, hipótese em que assentou ser a competência da Justiça Federal:
“Compete à Justiça Federal – e não à Justiça Estadual – processar e julgar ação penal
referente aos crimes de calúnia e difamação praticados no contexto de disputa pela posição de
cacique em comunidade indígena. O conceito de direitos indígenas, previsto no art. 109, XI, da
CF/88, para efeito de fixação da competência da Justiça Federal, é aquele referente às matérias
que envolvam a organização social dos índios, seus costumes, línguas, crenças e tradições, bem
como os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, compreendendo, portanto, a
hipótese em análise” (CC 123.016-TO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
26/6/2013).

Não havendo tais interesses, a competência passa a ser da justiça estadual, nos termos da
súmula 140 do Superior Tribunal de Justiça: “compete à justiça comum processar e julgar
crime em que o indígena figure como autor ou como vítima”.

CASUÍSTICA:

(1) Nos crimes contra as agências da ECT, a competência depende da natureza econômica
do serviço prestado. Se explorado diretamente ou por particular mediante convênio
(agência dos correios comunitária), a competência é da justiça federal. Por outro lado, se
explorado por particular, mediante franquia, a competência é da justiça estatual.CC
122.596-SC, 8/8/2012.

(2) Os crimes do estatuto do desarmamento somente atrairão a competência da justiça


federal no caso de tráfico internacional de armas. O fato de a arma ser de uso restrito não
atrai a competência federal. (HC 160547/SP, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma,
DJe 25/10/2010).

(3) O crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista é da competência da


justiça federal. Súmula 165, STJ e RHC 24.605/BA, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta
Turma, ,DJe 11/10/2010.

(4) Os crimes cometidos contra juiz estadual investido da função eleitoral são da
competência da justiça federal, por atentar contra interesse da União, representada que está,
em caso tais, por um de seus órgãos. (HC 18078/RJ, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido,
Sexta Turma, DJ 24/06/2002, p. 345);

180
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

(4A) O crime de liberação de organismo geneticamente modificado no meio ambiente é da


competência da justiça federal, porque se presume que os efeitos vão além do Estado no
qual é liberado (CC 41.301/RS, Rel. Ministro Gilson Dipp, Terceira Seção, DJ 17/05/2004,
p. 104);

(5) O STJ deu interpretação restritiva à súmula 147 (“Compete à Justiça Federal processar
e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com
o exercício da função”), para afastar sua aplicação aos juízes federais, ocupantes de cargos
cuja natureza jurídica não se confunde com a de funcionário público, mas sim de órgão do
Poder Judiciário, o que reclama tratamento e proteção diferenciados, em razão da própria
atividade por eles exercida. Assim, no caso de crime cometido contra juiz federal, ainda
que fora do exercício de suas funções, a competência é da justiça federal. (CC 89397/AC,
Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, 10/06/2008); Pacelli discorda
dessa posição, alegando que a existência de “verdadeira personificação do cargo público,
como se este (o cargo) fosse inseparável da pessoa que o exerce” (p. 237, 2014).

(6) No crime de furto mediante fraude praticado pela internet contra correntista da CEF é
da competência da justiça federal, pois o correntista é mero prejudicado, sendo sujeito
passivo a CEF, que teve seu sistema de vigilância fraudado. (CC 86241/PR, Rel. Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, DJ 20/08/2007);

(7) Os crimes contra as entidades de fiscalização profissional são de competência da justiça


federal, devido à sua natureza jurídica: autarquia. (CC 43.623/PR, Rel. Ministra Laurita
Vaz, Terceira Seção, DJ 11/10/2004, p. 233);

(8) O delito de importação e posse de medicamento sem registro no órgão competente


(artigo 273, §1°-B, I, CP), desde que caracterizada a transnacionalidade da conduta, é da
competência da justiça federal. CC 119.594-PR/STJ;

(9) Os crimes de malversação de verbas públicas oriundas do FUNDEF são de competência


da justiça federal, já que, diante do caráter nacional da política de educação, fica
evidenciado o interesse da União na correta aplicação dos recursos públicos. CC 123.817-
PB/STJ;

(10) O crime de divulgação de imagens com pornografia infantil em redes sociais da


internet é da competência da justiça federal, tendo em vista que a divulgação de imagens
pornográficas com crianças e adolescentes por meio de imagens na internet não se restringe
a uma comunicação eletrônica entre pessoas residentes no Brasil, uma vez que qualquer
pessoa, em qualquer lugar do mundo, poderá acessar a página, denotando a
transnacionalidade. CC 120.999-CE/STJ.

(11) Os crimes contra o meio ambiente somente atrairão a competência da justiça federal
quando caracterizada lesão a bens, serviços ou interesses da União, de suas autarquias ou
empresas públicas, nos termos do artigo 109, IV, CR. Exemplos: (a) desmatamento ilegal
em Parque Nacional das Araucárias, criado pela União e de administração do IBAMA. CC
104.492/SC; (b) crimes cometidos contra espécies em extinção, dado o manifesto interesse
do IBAMA. CC 37.127/MG; (c) Enunciado nº 30, 2ª CCR: O processo e julgamento do

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

crime de pesca proibida (art. 34, caput e parágrafo único da Lei n.º 9.605/98) competem à
Justiça Federal quando o espécime for proveniente de rio federal, mar territorial, zona
econômica exclusiva ou plataforma continental.

(12) Os crimes de uso de documentos falso atraem a competência da justiça federal se


atingirem bens, interesses ou serviços da União, autarquias, empresas públicas, como
exemplos: (a) uso de CNH perante autoridade da Polícia Federal. CC 123.745-PR/STJ; (b)
uso de documento fasto e falsa identidade cometidos por chinês perante o Consulado-Geral
do Brasil em Xangai, na China. CC 122.119-DF/STJ; (c) uso de documento falso
(passaporte português) por cidadã brasileira, com vistas ao ingresso nos Estados Unidos da
América. CC 119.645/MG; (d) falsificação de carteira de arrais amador por civil é da
competência da justiça federal, porque o artigo 144, §1°, III, CR fala da competência da
justiça federal;

(13) Os crimes de moeda falsa são da competência da justiça federal, a menos que seja
falsificação grosseira que pode caracterizar estelionato, da competência da justiça estadual.
Súmula 73 do STJ. “A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em
tese, o crime de estelionato, da competência da justiça estadual”.

(14) Enunciado nº 37 (2ª CCR): Não é atribuição do Ministério Público Federal a


persecução penal de contravenções penais, ainda que ocorra, com a infração, prejuízo a
bem, serviços ou interesse direto e específico da União, suas entidades autárquicas ou
empresas públicas.

(15) Compete à justiça federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, ‘a’, do CPP –
Súmula 122, STJ;

(16) Roubo contra carteiro de bens particulares: mesmo que os bens sejam particulares, é
crime federal. Crime praticado contra funcionário público “propter officium”.

Por fim, registre-se que, em regra, nos casos de prerrogativa de função não importa se o
crime é de competência federal ou não, quem julga é o órgão em que ele tem prerrogativa
(ex. juiz estatual: TJ; juiz federal ou MPF: TRF, etc., salvo justiça eleitoral – art. 108, CR).
Exceção: prefeito: prefeito será julgado no TJ, se cometer crime estadual; no TRF, se crime
federal; e no TRE, se crime eleitoral.

Informativos do STF:
- Nº 730

Usar passaporte estrangeiro falso perante companhia aérea: competência da Justiça


Estadual
Uso de passaporte boliviano falso perante a empresa privada de aviação: crime de
competência da Justiça Estadual. STF. 1ª Turma. RE 686241 AgR/SP e RE 632534
AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 26/11/2013.

182
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

- Nº 716

Desclassificação de crime e perda superveniente da competência da Justiça Federal


O réu respondia a um processo na Justiça Federal acusado de ter praticado um crime federal
em concurso com um delito estadual. Ambos os delitos estavam sendo processados na
Justiça Federal em razão da conexão probatória (art. 76, III, do CPP e Súmula 122 do STJ).
Ocorre que, no momento da sentença, o juiz federal entendeu que a classificação oferecida
pelo Ministério Público não estava correta e que o crime federal imputado deveria ser
desclassificado para outro delito (de competência da Justiça Estadual). Nesse caso, o juiz
federal, ao desclassificar a conduta do delito federal para o crime estadual, deverá julgar-se
incompetente para continuar no exame da causa e declinar a competência para a Justiça
Estadual, nos termos do § 2º do art. 383 do CPP. STF. 2ª Turma. HC 113845/SP, rel.
Min. Teori Zavascki, julgado em 20/8/2013.

- Nº 715

Crime de estupro conexo com pornografia infantil

Crimes de pedofilia e pornografia infantil de caráter transnacional praticados no mesmo


contexto dos delitos de estupro e atentado violento ao pudor, contra as mesmas vítimas,
devem ser considerados conexos e julgados conjuntamente na Justiça Federal. STF. 2ª
Turma. HC 114689/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/8/2013.

- Nº 694

Competência

Não configura “crime militar” o desacato praticado contra militar das Forças Armadas que
estava no exercício de atividade de policiamento em favela pacificada. O exercício de
policiamento ostensivo em favelas, em tempo de paz, mesmo que desempenhado por
militares das Forças Armadas, não constitui serviço militar, mas sim atividade típica de
segurança pública. Logo, este desacato não é competência da Justiça Militar, mas sim da
Justiça Comum Federal. A competência é da Justiça Federal pelo fato do militar das Forças
Armadas ser um agente público da União (art. 109, IV, da CF). Segunda Turma. HC
112936/RJ, rel. Min. Celso de Mello, 5/2/2013.

Informativos do STJ
Inf. nº 532:

DIREITO PROCESSUAL PENAL. DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA PARA


APURAÇÃO DA PRÁTICA DO CRIME PREVISTO NO ART. 241 DO ECA.
Não tendo sido identificado o responsável e o local em que ocorrido o ato de publicação de
imagens pedófilo-pornográficas em site de relacionamento de abrangência internacional,
competirá ao juízo federal que primeiro tomar conhecimento do fato apurar o suposto crime de

183
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

publicação de pornografia envolvendo criança ou adolescente (art. 241 do ECA). Por se tratar
de site de relacionamento de abrangência internacional – que possibilita o acesso dos dados
constantes de suas páginas, em qualquer local do mundo, por qualquer pessoa dele integrante –
deve ser reconhecida, no que diz respeito ao crime em análise, a transnacionalidade necessária
à determinação da competência da Justiça Federal. CC 130.134-TO, Rel. Min. Marilza
Maynard (Desembargadora convocada do TJ-SE), julgado em 9/10/2013

Inf. nº 528

DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DE


AÇÃO PENAL REFERENTE À PRÁTICA DE CRIME CONTRA O SISTEMA
FINANCEIRO NACIONAL POR MEIO DE SOCIEDADE QUE DESENVOLVA A
ATIVIDADE DE FACTORING.
Compete à Justiça Federal processar e julgar a conduta daquele que, por meio de pessoa
jurídica instituída para a prestação de serviço de factoring, realize, sem autorização legal,
a captação, intermediação e aplicação de recursos financeiros de terceiros, sob a promessa
de que estes receberiam, em contrapartida, rendimentos superiores aos aplicados no
mercado. Isso porque a referida conduta se subsume, em princípio, ao tipo do art. 16 da Lei
7.492/1986 (Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional), consistente em fazer
“operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida mediante declaração falsa,
instituição financeira, inclusive de distribuição de valores mobiliários ou de câmbio”. Ademais,
nessa hipótese, apesar de o delito haver sido praticado por meio de pessoa jurídica criada para a
realização de atividade de factoring, deve-se considerar ter esta operado como verdadeira
instituição financeira, justificando-se, assim, a fixação da competência na Justiça Federal. CC
115.338-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/6/2013

Inf. nº 527
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR
AÇÃO PENAL REFERENTE AOS CRIMES DE CALÚNIA E DIFAMAÇÃO
ENVOLVENDO DIREITOS INDÍGENAS.
Compete à Justiça Federal – e não à Justiça Estadual – processar e julgar ação penal
referente aos crimes de calúnia e difamação praticados no contexto de disputa pela
posição de cacique em comunidade indígena. O conceito de direitos indígenas, previsto no
art. 109, XI, da CF/88, para efeito de fixação da competência da Justiça Federal, é aquele
referente às matérias que envolvam a organização social dos índios, seus costumes, línguas,
crenças e tradições, bem como os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
compreendendo, portanto, a hipótese em análise. CC 123.016-TO, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 26/6/2013

DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DE


CRIME DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS.
Não comprovada a procedência estrangeira de DVDs em laudo pericial, a confissão do
acusado de que teria adquirido os produtos no exterior não atrai, por si só, a competência
da Justiça Federal para processar e julgar o crime de violação de direito autoral previsto

184
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

no art. 184, § 2º, do CP. Preliminarmente, embora o STF tenha se manifestado pela existência
de repercussão geral acerca da definição de competência para processamento de crime de
reprodução ilegal de CDs e DVDs em face da eventual transnacionalidade do delito (RE
702.560-PR), a matéria ainda não foi dirimida. Nesse contexto, conforme decisões exaradas
neste Tribunal, caracterizada a transnacionalidade do crime de violação de direito autoral, deve
ser firmada a competência da Justiça Federal para conhecer da matéria, nos termos do art. 109,
V, da CF. Contudo, caso o laudo pericial não constate a procedência estrangeira dos produtos
adquiridos, a mera afirmação do acusado não é suficiente para o deslocamento da competência
da Justiça Estadual para a Justiça Federal. Ademais, limitando-se a ofensa aos interesses
particulares dos titulares de direitos autorais, não há que falar em competência da Justiça
Federal por inexistir lesão ou ameaça a bens, serviços ou interesses da União. CC 127.584-PR,
Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/6/2013

DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DE


CRIME DE SONEGAÇÃO DE ISSQN.
Compete à Justiça Estadual – e não à Justiça Federal – o julgamento de ação penal em
que se apure a possível prática de sonegação de ISSQN pelos representantes de pessoa
jurídica privada, ainda que esta mantenha vínculo com entidade da administração
indireta federal. Isso porque, nos termos do art. 109, IV, da CF, para que se configure hipótese
de competência da Justiça Federal, é necessário que a infração penal viole bens, serviços ou
interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, o que não ocorre
nas hipóteses como a em análise, em que resulta prejuízo apenas para o ente tributante, pessoa
jurídica diversa da União – no caso de ISSQN, Municípios ou DF. CC 114.274-DF, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/6/2013

Inf. nº 518
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR
ESTELIONATO PRATICADO MEDIANTE FRAUDE PARA A CONCESSÃO DE
APOSENTADORIA. No caso de ação penal destinada à apuração de estelionato
praticado mediante fraude para a concessão de aposentadoria, é competente o juízo do
lugar em que situada a agência onde inicialmente recebido o benefício, ainda que este,
posteriormente, tenha passado a ser recebido em agência localizada em município sujeito
a jurisdição diversa. Segundo o art. 70 do CPP, a competência será, em regra, determinada
pelo lugar em que se consumar a infração, o que, em casos como este, ocorre no momento em
que recebida a indevida vantagem patrimonial. Assim, embora tenha havido a posterior
transferência do local de recebimento do benefício, a competência já restara fixada no lugar em
que consumada a infração. CC 125.023-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
13/3/2013.
Inf. nº 511
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA. CONTRAVENÇÃO PENAL.
É da competência da Justiça estadual o julgamento de contravenções penais, mesmo que
conexas com delitos de competência da Justiça Federal. CC 120.406-RJ, Rel. Min. Alderita
Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE), julgado em 12/12/2012.

185
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA. USO DE DOCUMENTO FALSO


JUNTO À PRF.
Compete à Justiça Federal o julgamento de crime consistente na apresentação de
Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) falso à Polícia Rodoviária
Federal. A competência para processo e julgamento do delito previsto no art. 304 do CP deve
ser fixada com base na qualificação do órgão ou entidade à qual foi apresentado o documento
falsificado, que efetivamente sofre prejuízo em seus bens ou serviços, pouco importando, em
princípio, a natureza do órgão responsável pela expedição do documento. Assim, em se
tratando de apresentação de documento falso à PRF, órgão da União, em detrimento do serviço
de patrulhamento ostensivo das rodovias federais, previsto no art. 20, II, do CTB, afigura-se
inarredável a competência da Justiça Federal para o julgamento da causa, nos termos do art.
109, IV, da CF. CC 124.498-ES, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora
convocada do TJ-PE), julgado em 12/12/2012 (Informativo nº 0511).

Prova oral MPF: 3. Fale sobre competência e jurisdição penal.

186
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

13.b.Transação Penal.
Obras consultadas: Resumos do 25° e 26° CPR. Eugenio Pacelli de Oliveira. Curso de
Processo Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012. Nestor Távora e Rosmar Rodrigues
Alencar. Curso de Direito Processual Penal. Salvador: Editora Juspodivm, 2011. Lima,
Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 2ª edição. Volume único. Salvador:
Editora Juspodivm, 2014.

Legislação básica: Lei 9.099/95 – artigo 76.

Noções gerais: Na Constituição da República de 1988 (art. 98, I), às infrações de menor
potencial ofensivo reservou-se o procedimento mais célere dos Juizados Especiais, em que
estão presentes os institutos da composição civil dos danos, da transação penal e da
suspensão condicional do processo, adotando, desta forma, um discurso despenalizador e
descarcerizador, de acordo com a tendência do mundo globalizado.

Conceito: A transação penal caracteriza-se como um acordo celebrado entre o titular da


ação penal (Ministério Público) e o suposto autor do delito, por meio do qual é proposta a
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, dispensando-se a instauração do
processo nos crimes cuja pena máxima seja igual ou inferior a 02 anos.

Assistência por advogado: A transação penal exige a presença de defesa técnica na


audiência preliminar, pois os princípios norteadores dos juizados especiais, tais como
oralidade, informalidade e celeridade, não podem afastar o devido processo legal, do qual o
direito à ampla defesa é corolário. HC 88797/RJ, rel. Min. Eros Grau, 22.8.2006. (HC-
88797).

Cabimento: De acordo com o artigo 76 da Lei n° 9.099/95, a transação penal somente seria
cabível em ação penal pública incondicionada e em crimes de ação penal condicionada à
representação. Contudo, embora a Lei seja silente sobre a possibilidade de transação nos
crimes de ação penal privada, os Tribunais Superiores posicionaram pela sua aplicação
também para as ações privadas (APn 634/RJ, Rel. Min. Felix Fischer. Corte Especial. DJe
03.04.2012), sendo que, neste caso, cabe ao ofendido a formulação da proposta, e o silêncio
do querelante não constitui óbice ao prosseguimento da ação penal. O Ministério Público
também poderá formular proposta em ação penal de iniciativa privada, desde que não haja
formal oposição do querelante (RHC 8123-AP/STJ). Quanto à possibilidade de transação
penal em crimes de ação penal privada, foi editado o enunciado 112 do FONAJE: “na ação
pena de iniciativa privada, cabem transação penal e suspensão condicional do processo,
mediante proposta do Ministério Público”.

Não cabimento: é incabível a aplicação da transação penal se restarem demonstrados os


seguintes fatos (art. 76, §2°, Lei n° 9.099/95): (1) Ter sido o autor da infração condenado,
pela prática de crime (não se admite contravenção), à pena privativa de liberdade, por
sentença definitiva. Observe-se que a norma fala em “sentença definitiva”, que não é a
mesma coisa que sentença com trânsito em julgado. Nesse sentido, Brasileiro (p. 1385,

187
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

2014): “caso o trânsito em julgado da sentença condenatória à pena privativa de liberdade


tenha ocorrido após a prática da infração de menor potencial ofensiva, mas antes da
audiência preliminar, há quem entenda que é possível a transação, já que o juiz deve levar
em conta as circunstâncias objetivas e subjetivas no momento em que o fato delituoso foi
praticado, e não na data designada para a audiência preliminar. Prevalece, porém, o
entendimento de que a lei não se utilizou do termo reincidência exatamente para impedir a
transação em tais situações, vez que, apesar de não reincidente, fica evidente que a proposta
de transação é incompatível com as finalidades de intervenção penal em sujeito com
condenação definitiva à pena privativa de liberdade”, (2) Ter sido o agente beneficiado
anteriormente, no prazo de cinco anos, pela transação penal, ou seja tenha sido submetido a
aplicação de pena restritiva ou multa. Destarte, não haverá óbice à transação penal se a
pena tiver sido cumprida há mais de cinco anos e nem a condenação por contravenção
penal. (3) Não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,
bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
(4) Renato Brasileiro cita mais uma hipótese em que não haveria de ser sequer proposta a
transação penal nos casos em que o termo circunstanciado puder ser arquivado, com
fundamento no art. 395 e 397 do CPP, aplicados analogicamente às infrações penais de
menor potencial ofensivo, como nas seguintes hipóteses: a) ausência de pressuposto
processual ou de condição para o exercício da ação penal; b) falta de justa causa para o
exercício da ação penal; c) atipicidade da conduta; d) existência manifesta de causa
excludente da ilicitude; e) existência manifesta de causa excludente da culpabilidade, salvo
a inimputabilidade; f) existência de causa extintiva da punibilidade.

Hipóteses em que não cabe a transação, mesmo em caso de pena máxima não superior
a dois anos: (1) Art. 291, §1º do CTB – crime de lesão corporal culposa no trânsito quando
o agente: a) estiver sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que
determine dependência; b) estiver participando, em via pública, de corrida, disputa ou
competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de
veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente; c) estiver transitando em
velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por
hora); (2) Art. 41 da Lei n. 11.340/06 – Crimes praticados com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099,
de 26 de setembro de 1995; (3) Quando, em concurso de crimes, a pena máxima final
ultrapassar dois anos. Sendo concurso material, somam-se as penas; no formal ou na
continuidade delitiva, deve levar-se em conta o acréscimo dos artigos 70 ou 71 do Código
Penal. Ressalte-se que não obsta o oferecimento da transação penal o fato de o crime de
menor potencial ofensivo estiver sendo processado perante o juízo comum ou pelo tribunal
do júri, em razão de continência ou conexão que justificou a deslocamento da competência.
É o que dispõe o art. 60, p.u., da Lei nº 9.099/95: “na reunião de processos, perante o juízo
comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e
continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos
civis”; (4) Art. 90-A, da Lei 9.099 – no âmbito da Justiça Militar. Entretanto, considerando
que o artigo 90-A foi introduzido pela Lei n° 9.839/99, de 27.09.99, e que se trata de norma
de direito material, pode ser aplicada transação aos crimes militares cometidos antes da
vigência da Lei 9.839/99.

188
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Transação Penal: direito subjetivo ou poder-dever do MP? A transação penal, nos


dizeres de Pacelli, configura direito subjetivo do réu, sendo que a discricionariedade
reservada ao MP é unicamente quanto à pena a ser proposta na transação, se restritiva de
direito ou multa. Ainda segundo o mencionado doutrinador, no caso de o Parquet entender
pela impossibilidade de transação, deve o magistrado aplicar o art. 28, CPP c/c art. 62, LC
75/93. Contudo, caso o posicionamento final do MP seja pelo não cabimento da transação,
com o consequente oferecimento da denúncia, o juiz pode resguardar o direito subjetivo do
réu (em face do princípio da inafastabilidade da jurisdição), deixando de receber a denúncia
por falta de justa causa ou interesse de agir, sob o fundamento de existir solução mais
adequada ao fato e ao suposto autor. No mesmo sentido, o enunciado 86 do FONAJE: “em
caso de não oferecimento de proposta de transação penal ou de suspensão condicional do
processo pelo Ministério Público, aplica-se, por analogia, o disposto no art. 28 do CPP”.

Em que pese a posição do mencionado doutrinador, corroborada pelo enunciado do


FONAJE, a jurisprudência dos Tribunais Superiores caminha em sentido oposto,
entendendo que a transação penal, assim como a suspensão condicional do processo, é um
poder-dever do Ministério Público, e não direito subjetivo do réu. STF - RE 296.185, 2ª
Turma, Rel. Min. Neri da Silveira, DJ de 22⁄02⁄2005 e HC 83.250⁄SP, 1ª Turma, Rel. Min.
Joaquim Barbosa; STJ - APn 634/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, CORTE
ESPECIAL, julgado em 21/03/2012, DJe 03/04/2012.

Sentença homologatória: Feita a transação, ao juiz é defeso alterar os seus termos, mas,
tão somente, homologá-la ou não homologá-la. Contudo, o juiz pode reduzir até a metade a
proposta de multa, se a julgar excessiva. Da sentença que homologa a transação cabe
recurso de apelação (§5º do art 76).

Descumprimento da transação: Quanto ao descumprimento da transação penal,


pacificou-se o entendimento nos Tribunais Superiores, especialmente na Corte Suprema no
RE 602.072/RS, cuja repercussão foi reconhecida, pela possibilidade de ajuizamento de
ação penal. Consoante entendimento do Relator, Ministro Cezar Peluso, a “homologação
da transação penal não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas,
retorna-se ao status quo ante, possibilitando ao Ministério Público a continuidade da
persecução penal (situação diversa daquele em que se pretende a conversão automática
deste descumprimento em pena privativa de liberdade)”.

Situações especiais: (a) Nos crimes do Estatuto do idoso, somente cabe a transação para
os crimes ali previstos, com pena máxima não superior a dois anos. Sendo a pena
superior a dois anos, mas não a quatro, aplica-se o rito célere da Lei 9.099/95, mas sem a
possibilidade de transação (a Constituição protege o idoso, e não o seu agressor, negando-
lhe a possibilidade de se beneficiar da transação, Vide ADI 3.096-5 - STF). (b) Nos crimes
ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de transação penal somente poderá ser
formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, salvo em caso
de comprovada impossibilidade (art. 27, Lei 9605/98). (c) No caso de reunião de processos
por conta de conexão ou continência, no juízo comum ou na vara do júri (ex: homicídio e
ameaça a testemunha – esta é atraída pra o Júri), serão observados os institutos da transação
penal e da composição dos danos civis (art. 60, parágrafo único, da Lei 9.099/95).

189
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Observações:

(1) Não havendo justa causa para o oferecimento da denúncia, não é possível oferecer a
transação penal, devendo o MP promover o arquivamento do feito;

(2) Só é possível propor a transação penal na fase pré-processual, de modo que, iniciado o
processo e não tendo o MP formulado anteriormente, nem a defesa requerido, não é mais
possível aplicá-la na fase judicial (STF, informativo 568);

(3) Enunciado nº 2 do FONAJE: O Ministério Público, oferecida a representação em Juízo,


poderá propor diretamente a transação penal, independentemente do comparecimento da
vítima à audiência preliminar;

(4) Enunciado nº 13 do FONAJE: É cabível o encaminhamento de proposta de transação


por carta precatória;

(5) Enunciado nº 20 do FONAJE - A proposta de transação de pena restritiva de direitos é


cabível, mesmo quando o tipo em abstrato só comporta pena de multa;

(6) Enunciado nº 44 do FONAJE: No caso de transação penal homologada e não cumprida,


o decurso do prazo prescricional provoca a declaração de extinção de punibilidade pela
prescrição da pretensão executória;

(7) Enunciado nº 58 do FONAJE: A transação penal poderá conter cláusula de renúncia à


propriedade do objeto apreendido;

(8) Enunciado nº 68 do FONAJE: É cabível a substituição de uma modalidade de pena


restritiva de direitos por outra, aplicada em sede de transação penal, pelo juízo do
conhecimento, a requerimento do interessado, ouvido o Ministério Público;

(9) Enunciado nº 72 do FONAJE: A proposta de transação penal e a sentença


homologatória devem conter obrigatoriamente o tipo infracional imputado ao autor do fato,
independentemente da capitulação ofertada no termo circunstanciado;

(10) Enunciado nº 77 do FONAJE: O juiz pode alterar a destinação das medidas penais
indicadas na proposta de transação penal;

(11) Enunciado nº 92 do FONAJE: É possível a adequação da proposta de transação penal


ou das condições da suspensão do processo no juízo deprecado ou no juízo da execução,
observadas as circunstâncias pessoais do beneficiário;

(12) Enunciado nº 102 do FONAJE: As penas restritivas de direito aplicadas em transação


penal são fungíveis entre si.

190
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

13c. Execução da pena restritiva de direitos. Hipóteses. Cabimento.


Atribuições.
Obras consultadas: Resumos do 25° e 26° CPR. Nestor Távora e Rosmar Rodrigues
Alencar. Curso de Direito Processual Penal. Ed. Juspdivm. 6ª E. 2011. Guilherme de Souza
Nucci. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 5ª Edição. 2008. Ed. RT. Távora e
Alencar. Curso de Direito Processual Penal. 8ª edição. Salvador: Ed. Juspodivm, 2013.

Legislação básica: Código Penal- arts. 43 a 48. Lei de Execução Penal- arts. 147 a 155.

Com o advento da Lei nº 9.714/98, pela qual houve uma expansão da possibilidade da
aplicação das penas alternativas (prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de
serviços à entidades públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de
semana), criaram-se, em todo país, Varas de Execução de Penas Alternativas, que a partir
de então passaram a fiscalizar o cumprimento da pena.

Hipóteses de pena restritiva de direitos:

(1) Prestação de serviços à comunidade: é dever do Juízo da execução designar a


entidade ou programa comunitário ou estatal, devidamente credenciado ou convencionado,
junto ao qual o condenado deverá trabalhar gratuitamente, de acordo com suas aptidões;
determinar a intimação do condenado, cientificando-o da entidade, dias e horário em que
deverá cumprir a pena; alterar a forma de execução, a fim de ajustá-la às modificações
ocorridas na jornada de trabalho, tendo início a execução com primeiro comparecimento do
condenado na instituição em que deverá realizar suas tarefas (art.149, §§, LEP). A
prestação do trabalho terá a duração de oito horas semanais, podendo ser realizado em
qualquer dia, inclusive domingos e feriados, de forma a não prejudicar a jornada normal de
trabalho, nos horários estabelecidos pelo juiz, cabendo à entidade beneficiada encaminhar,
mensalmente ao Juízo da execução, relatório circunstanciado sobre as atividades do
condenado, bem como a qualquer tempo, comunicar a ausência ou a falta disciplinar.

(2) Limitação de fim de semana: consistente na obrigação do condenado de comparecer,


aos sábados e domingos, por cinco horas diárias, em casa de albergado ou em outro
estabelecimento adequado (art. 48, CP). Cabe ao juízo da execução determinar o local, dias
e horários em que o condenado deverá cumprir a pena e o primeiro comparecimento será
contado como início de seu cumprimento (art.151), sendo que, durante o referido período,
poderão ser ministrados cursos e palestras, ou outras atividades educativas (art. 152, LEP).
Especialmente nos casos de violação doméstica contra a mulher, por força da Lei nº
11.340/06, o juízo poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a
programas de recuperação e reeducação (art. 152, parágrafo único).

(3) Interdição temporária de direitos: o CP prevê cinco modalidades: (I) proibição do


exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo; (II)
proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação
especial, de licença ou autorização do poder público; (III) suspensão de autorização ou de
habilitação para dirigir veículo; (IV) proibição de frequentar determinados lugares; e (5)
proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exames públicos. O Juízo da execução
191
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

comunicará a autoridade responsável pelo controle do direito interditado a pena aplicada e


intimará o condenado sobre a sua execução. Entretanto, na hipótese I, a execução somente
terá início quando for baixado um ato para tanto. No tocante aos itens II e III, o Juízo da
execução determinará a apreensão dos documentos que autorizam o exercício do direito
interditado. Deve-se atentar que, com o advento do CTB, a suspensão de autorização ou de
habilitação para dirigir veículo, sofreu alterações, passando a ser uma sanção principal
sanção, isolada ou cumulativamente com outras penalidades nos casos de homicídio
culposo, lesão corporal culposa, embriaguez ao volante e participação em competição não
autorizada (arts. 302, 303, 306 e 308), com duração de dois meses a cinco anos (art. 293).
Com trânsito em julgado da sentença condenatória, o réu é intimado a entregar à autoridade
judiciária, em quarenta e oito horas, a permissão para dirigir ou a carteira de habilitação. Se
o condenado estiver recolhido a estabelecimento prisional, o cumprimento dessa pena
alternativa não terá início. A multa reparatória no art. 297 nada mais do que a indenização
estabelecida em favor da vítima, nas situações em que sofrer dano em razão dos crimes de
trânsito. É modalidade indenizatória que muito se aproxima do valor mínimo fixado na
sentença para reparação do dano, nos termos do art. 387, IV, do CPP.

Demais penalidades advindas com a Lei 9.714/98: as penalidades trazidas como inovação
pela referida lei (por exemplo, prestação pecuniária e perdas de bens e valores) não
possuem previsão legal para o procedimento de execução, tendo em vista que o legislador,
ao atualizar o CP, esqueceu-se de fazer as modificações necessárias na LEP. Para Nucci,
apesar dessa omissão, o cumprimento de tais penas deve ser espontâneo, “sob pena de
reconversão em pena privativa de liberdade. Não teria sentido obrigar o Estado a executar
coercitivamente um determinado valor (...)”. Assim, cabe ao condenado cumprir a pena de
pronto, visto que o interesse é seu em fazê-lo, visto que, se intimado a cumprir a pena
alternativa e assim não proceder, o caminho será a conversão em pena privativa de
liberdade. Na prestação pecuniária, o valor se destina à vítima e a seus descendentes, ou a
entidade pública ou privada, é fixado em dinheiro em montante não inferior a um salário
nem 360 salários mínimo.

OBS Vitaminada: Embora o montante da prestação pecuniária possa ser abatido caso a
indenização por dano civil venha ter valor superior ao montante estabelecido pelo Juízo
penal, como pena restritiva de direito na modalidade pecuniária, certo é que tal
característica não afasta a natureza de tal sanção que é pena, de sorte que a execução
competirá ao Ministério Público que oficiar perante ao juízo das execuções. Assim,
eventual descumprimento da prestação pecuniária ensejará em reconversão da pena
restritiva de direitos em pena privativa de liberdade fixada na sentença condenatória, nos
moldes do art. 44, §4º, do CP. De mais a mais, não se confunde com a ação civil ex delicto,
cuja atribuição para desconto é da vítima, que, sendo carente, deverá ser patrocinada pela
Defensoria, e, em sua ausência ou em locais onde não esteja devidamente aparelhada, pelos
órgãos do ministério público local.

Conversão das penas restritivas de direitos: há conversão nas hipóteses do art. 44, §§ 4º
e 5º, do CP: (I) houver o descumprimento injustificado da restrição imposta; (II) quando
sobrevier condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime. Neste último caso, o
juiz poderá deixar de aplicar a conversão se for possível ao condenado cumprir a pena
substitutiva anterior.

192
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

A Lei de Execução Penal prevê outras situações específicas de conversão das penas
restritivas em prisão e que, a despeito da nova redação do CP, ainda estão em vigor. No
caso da prestação de serviço à comunidade: (a) não for encontrado por estar em lugar
incerto e não sabido ou desatender à intimação por edital; (b) não comparecer,
injustificadamente, à entidade ou programa em que deva prestar serviço; (c) recusar-
se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto; (d) praticar falta grave;
(e) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução
tenha sido suspensa.

Comete falta grave o condenado à pena restritiva de direito que: (I) descumprir,
injustificadamente, a restrição imposta; (II) retardar, desmotivadamente, o cumprimento da
obrigação imposta; (III) inobservar os deveres previstos nos incisos II e V do art. 39 da
LEP. Na limitação de fim de semana haverá conversão, nos termos 181, § 2º, da LEP, se o
executado não comparecer ao estabelecimento designado para o cumprimento da pena,
recusar-se a exercer a atividade determinada pelo juiz ou se ocorrer qualquer das hipóteses
das letras a, d e e do parágrafo anterior. Na hipótese de o condenado exercer, sem motivo
justificado, o direito interditado ou ocorrer, também, qualquer das situações das letras “a” e
“e” do § 1º do art. 181 da LEP, ocorrerá a conversão da pena substitutiva pela prisional. A
pena privativa de liberdade aplicada deverá ter a mesma duração da pena restritiva
de direito, descontando-se eventual período já cumprido dessa sanção alternativa
antes de sua conversão. Durante sua execução, ela também pode ser convertida em
restritiva de direitos, se atendidos os seguintes requisitos: (a) a pena prisional não for
superior a dois anos; (b) o condenado a esteja cumprindo em regime aberto; (c) tenha sido
cumprido pelo menos um quarto da pena; (d) os antecedentes e a personalidade do
condenado indiquem ser a conversão recomendável.

A pena de prestação de serviço a entidades públicas pode ser cumprida em menor tempo
pelo condenado, ao qual é facultado realizar mais de uma hora de tarefa por dia. Contudo,
essa redução nunca poderá ser inferior à metade da sanção prisional fixada na sentença (art.
46, § 4º).

Cabimento: só poderá haver execução da pena restritiva de direitos após o trânsito em


julgado, segundo atual entendimento dos Tribunais Superiores. Em qualquer fase da
execução, poderá o Juiz, motivadamente, alterar, a forma de cumprimento das penas de
prestação de serviços à comunidade e de limitação de fim de semana, ajustando-as às
condições pessoais do condenado e às características do estabelecimento, da entidade ou do
programa comunitário ou estatal. (Artigo 148, LEP)

Atribuições: De acordo com o artigo 147 da LEP, "transitada em julgado a sentença que
aplicou a pena restritiva de direitos, o juiz de execução, de ofício ou a requerimento do
Ministério Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando
necessário, a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares". Destarte,
com a simples remessa da decisão transitada em julgado à Vara Especializada de Execução
é possível dar início à execução da pena restritiva de direitos. No âmbito federal há vara
específica destinada à execução das penas alternativas.

193
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

14.a. Questões prejudiciais. Exceções. Conflitos.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 25º CPR. Resumo do Grupo do 26º
CPR; OLIVEIRA; Resumo do Grupo do 27º CPR; Eugênio Pacelli de. Curso de Processo
Penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010; ALVES, Leonardo Barreto Moreira.
Nicolau. Direito Processual Penal. Ed. Juspodvim, 2012; TAVORA, Nestor; ALENCAR,
Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. Juspodvim, 2010. Lima, Renato
Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 2ª edição. Volume único. Salvador: Ed.
Juspodivm, 2014.

Legislação básica: Artigos 92 a 94, 95 a 111, e 113 a 117, todos do CPP.

Questões Prejudiciais – arts. 92 a 94 CPP. São todas aquelas relacionadas ao mérito da


causa, que necessitam ser julgadas antes deste. A respeito do tema, o Brasil adota o sistema
eclético ou misto, já que diferencia as questões prejudiciais homogêneas das questões
prejudiciais heterogêneas.

Eugenio Pacelli afirma que: “trata-se de matéria cuja solução é prejudicial ao julgamento da
ação penal, no sentido de atuarem como pressupostos (fundamentos de origem) da própria
definição da existência do crime. Em uma palavra, integram, como elementar, o tipo penal
imputado ao réu”. (p. 286)

Dessa forma:

• Homogêneas (ou comuns, ou imperfeitas ou não-devolutivas): possuem natureza penal.


Podem ser resolvidas na mesma jurisdição, ou no mesmo ramo do direito. Depende de juiz
com mesma competência. Exemplo da decisão sobre a exceção da verdade nos crimes de
calúnia.

Exemplo mais eloquente é a apreciação do crime de receptação, cujo tipo penal apresenta
como elementar o fato de se saber ser a coisa (adquirida, recebida, transportada, conduzida
ou ocultada) produto de crime. A solução do crime de receptação exige o exame prévio do
furto ou roubo anterior da coisa.

Nada impede que o juiz da causa prejudicada (o da receptação, no exemplo dado) resolva
como lhe parecer de direito uma (o furto ou o roubo anteriores) e outra (receptação)
questão, mesmo quando não for territorialmente competente para o julgamento de ambas.

• Heterogêneas (ou perfeitas ou devolutivas): possuem natureza extrapenal, e devem ser


resolvidas em outro juízo. Podem ser devolutivas absolutas ou obrigatórias (obrigam a
suspensão do processo) ou devolutivas relativas ou facultativas (facultam a suspensão do
processo).

O CPP trata expressamente da questão prejudicial obrigatória e facultativa.

194
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

A questão prejudicial obrigatória é aquela que impõe a suspensão do processo penal até
que haja decisão prolatada por juízo cível, conforme dispõe o art. 92 do CPP e refere-se ao
estado civil das pessoas. Exemplo: TJ – RMS 30675/AM – 22/11/2011. MANDADO DE
SEGURANÇA. RECURSO. AÇÃO PENAL. INDÍGENA. ASSISTÊNCIA DA FUNAI. Índio
denunciado por crime de toxico que pede assistência da FUNAI, todavia recusada pelo
Juiz ao entendimento de que por possuir documentos e viver na cidade o indígena está
integrado. (...) Apuração da condição de indígena que deve observar a inteligência
constitucional (art. 231 CF) e que não cabe à jurisdição criminal. (...)

A questão prejudicial facultativa é aquela que permite ao juiz criminal, de acordo com o
seu critério suspender o processo, aguardando solução de determinada questão em outra
esfera. Possui previsão legal no art. 93 do CPP, devendo a questão relativa ao estado civil
das pessoas ser solucionada no âmbito civil (que é prejudicial obrigatória!). Contudo, caso
se trate de questão diversa ao estado civil, poderá o juiz suspender o feito, realizando-se a
produção das provas urgentes e inadiáveis, fixando prazo razoável para tanto, a fim de que
não se alcance a prescrição. Terminando ou prestes a expirar o prazo de suspensão, o juízo
verificará se a questão já está resolvida no cível. Estando solucionada a controvérsia,
procederá ao julgamento da ação penal, porém, se não tiver, decidirá a questão prejudicial,
retomando a sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusação
e da defesa. Como exemplos, pode-se citar a posse, no caso do crime de esbulho e a
seguinte jurisprudência: STJ – HC 131937/SP – 19/04/2012. PROCESSUAL PENAL.
HABEAS CORPUS. DELITOS CONTRA A PROPRIEDADE INDUSTRIAL.
COMPETÊNCIA. MEDIDA CAUTELAR PREPARATÓRIA. PREVENÇÃO DO JUÍZO.
QUESTÃO PREJUDICIAL HETEROGÊNEA FACULTATIVA. SUSPENSÃO DA AÇÃO
PENAL. DISCRICIONARIEDADE DO JUIZ. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
PENDÊNCIA DA AÇÃO DE ANULAÇÃO DE REGISTROS. TIPICIDADE DA CONDUTA.
ORDEM DENEGADA.

Em ambos os casos, a suspensão do curso da ação penal será decretada pelo juiz de ofício
ou a requerimento das partes, e do despacho que denegar a suspensão do processo, não cabe
recurso.

Não se confundem questões prejudiciais com questões preliminares. As primeiras dizem


respeito ao mérito da causa, influindo, diretamente, na natureza da sentença a ser proferida
pelo juiz, já que refletem na tipicidade da conduta. As questões preliminares refletem, tão-
somente na regularidade forma do processo, e interferem na validade dos atos praticados.

Exceções – Exceção é “a defesa indireta apresentada por qualquer pessoa com o intuito de
prolongar o trâmite processual, até que uma questão processual relevante seja resolvida, ou
com a finalidade de estancar, definitivamente, o seu curso, porque processualmente
incabível o prosseguimento da ação” (NUCCI, 2008, p. 277).

O Código de Processo Penal prevê (artigo 95), cinco espécies de exceções: 1. Suspeição; 2.
Incompetência do juízo; 3. Litispendência; 4. Ilegitimidade de parte (tanto a “ilegitimidade
ad causam” como a “ilegitimidade ad processum”); 5. Coisa julgada.

195
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Essas exceções deverão ser processadas em autos apartados. Como regra geral, não
suspenderão o andamento da ação penal (art. 111 do CPP).

Obs. Apesar de não mencionada expressamente no CPP, deve-se reconhecer também a


exceção de impedimento, em face do que dispõe o seu art. 112, no sentido de que a
incompatibilidade ou impedimento poderá ser arguida pelas partes, seguindo-se o processo
estabelecido para a exceção de suspeição.

Todas as questões relativas às exceções poderão ser reconhecidas de ofício pelo juiz da
causa e, à exceção da incompetência relativa (que, pela doutrina majoritária, pode ser
reconhecida de ofício até a apresentação da defesa preliminar), podem ser alegadas pelas
partes a qualquer tempo.

Pontos importantes para o estudo das exceções de suspeição, impedimento e


incompatibilidade:

A arguição de suspeição precederá a qualquer outra, salvo quando fundada em motivo


superveniente (art. 96 do CPP); Para Eugenio Pacelli, a imparcialidade do juiz é requisito
de validade do processo, estando inserido no devido processo legal constitucional, como
uma das principais conquistas do modelo acusatório do processo; Os casos de impedimento
referem-se a influência dos fatos e/ou circunstancias que tocam diretamente ao processo em
curso; A razão da suspeição decorrerá de fato, evento, circunstâncias e convicções pessoais
cuja origem esteja fora do processo judicial em que se questiona a imparcialidade do juiz;
Embora as exceções devam ser arguidas pelos interessados na primeira oportunidade que
falarem nos autos, o fato é que, tratando-se de questão ligada ao devido processo legal, no
que toca à imparcialidade da jurisdição, a suspensão, o impedimento ou a incompatibilidade
poderão ser reconhecidos mesmo após o transito em julgado da ação condenatória (exceto
quando absolutória a decisão).

Pontos importantes para o estudo da exceção de incompetência: Eugenio Pacelli afirma que
o reconhecimento de ofício, pelo juiz, da incompetência relativa no processo penal deve
estar resolvida até a fase de instrução; Não esquecer que a súmula 33 do STJ só é aplicável
ao processo civil.

Pontos importantes para o estudo das demais exceções: Por ilegitimidade de parte, deve-se
entender o incidente acerca da legitimação ativa para o processo penal, uma vez que a ação
poderá ser pública ou privada, o que determinará sua titularidade; Para Eugenio Pacelli, a
exceção de ilegitimidade de parte não se trata de matéria sujeita à preclusão, podendo ser
arguida pelo réu em qualquer fase do processo, como matéria de defesa, mesmo após o
trânsito em julgado; Na exceção de ilegitimidade de parte, é cabível também a alegação de
ilegitimidade ad processum. Exemplo mais comum é do menor de 18 anos; Quanto à
exceção de coisa julgada, lembrar que o que passa em julgado é a realidade histórica
(ocorrida), e não a realidade imputada ou descrita na acusação.

As exceções podem ser: peremptórias – proporcionam a extinção do processo sem


julgamento do mérito, denominada absolvição de instancia, o que ocorre com as exceções
de litispendência e coisa julgada; dilatórias – proporcionam o prosseguimento do feito,

196
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

procrastinando-o, o que ocorre com as exceções de suspeição, incompetência do juízo e de


ilegitimidade de parte.

Por fim, cabe recapitular que as questões prejudiciais dizem respeito ao próprio mérito do
fato criminoso, constituindo verdadeiros pressupostos (da existência) do crime, enquanto as
preliminares cuidam de questões relativas à validade do processo, portanto, da regularidade
da tutela jurisdicional em determinado processo.

Conflito de Jurisdição – arts. 113/117 do Código de Processo Penal.

Conforme adverte Eugenio Pacelli, o que vem tratado no CPP como conflito de jurisdição é
tanto o conflito de competência quanto o conflito entre jurisdições diferentes. Embora a
doutrina majoritária não contemple tal distinção, colocando todas as hipóteses dentro do
conflito de competência, Pacelli afirma que, quando o conflito ocorre entre órgãos de
jurisdições distintas – tal o exemplo da jurisdição federal e estadual, ou entre a jurisdição
militar e federal, ou entre a estadual e a eleitoral-, já se utilizou e ainda se utiliza a
expressão conflito de jurisdição.

Surge, assim, o conflito, toda vez que dois ou mais juízes pretendem (conflito positivo) ou
recusam-se (conflito negativo) oficiar em um processo para apreciar determinado fato.

Legitimidade: Partes interessadas, MP, juízes ou tribunais envolvidos.

Conflito positivo: Não suspende necessariamente o processo (o relator poderá suspender,


conforme preceitua o art. 116 § 2º CPP e, em tal caso, formará autos próprios).

Conflito negativo: suspende o processo até a decisão do conflito. Corre nos próprios autos
do processo principal (art. 116 § 1º CPP).

Competência: o art. 116 refere apenas o tribunal competente, podendo haver regra
diferenciada nas normas regimentais, Constituições Estaduais etc.

Avocatória: art. 117 CPP. Seria a possibilidade de chamar para si o julgamento de uma
causa. Há divergência quanto à recepção ou não do instituto pela Constituição Federal. Para
Nucci, tanto o STJ quanto o STF tem o poder de avocar, uma vez que podem dirimir
conflitos de competência e chamar para si o julgamento de processos. Eugenio Pacelli,
implicitamente, reconhece a avocatória, quando afirma que: “A Constituição Federal não
atribui aos tribunais de segunda instância o poder de avocatória em relação a outro tribunal
de mesma hierarquia, tal como ocorre, por exemplo, com o STF e o STJ.” (P. 299).

A Constituição Federal prevê que compete ao STF julgar os conflitos de competência entre
o STJ e quaisquer tribunais (TRF, TJ), entre os tribunais superiores (STJ, TSE, TST e
STM) e entre estes (tribunais superiores) e quaisquer tribunais, conforme o disposto no art.
102, I, o, da CF.

Compete ao STJ apreciar e resolver os conflitos de competência entre quaisquer tribunais

197
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

(TRF, TJ`s), entre tribunal e juiz a ele não vinculado (TRF e Juiz de Direito; TJ e Juiz
Federal) e entre juízes vinculados a tribunais diversos, conforme 105, I, d da CF.

Vale destacar que, na linha de julgados do STF, somente órgão jurisdicional


hierarquicamente superior ao juízo comum (federal, estadual) poderia anular ou rever a
decisão de primeiro grau.

Súmulas do STJ

244: “Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato


mediante cheque sem provisão de fundos”.

200: “O juízo federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de
passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou”.

172: “Compete a Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridae,
ainda que praticado em serviço”.

151: “A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou


descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens”.

147: “Compete a Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário
público federal, quando relacionados com o exercício da função”.

122: “Compete a justiça federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, "a", do Código de
Processo Penal”.

107: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado
mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando
não ocorrente lesão à autarquia federal”.

104: “Compete a Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso
de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino”.

90: “Compete a Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do
crime militar, e a comum pela prática do crime comum simultâneo aquele”.

75: “Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de
promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal”. Ressalvadas as hipóteses
em que o crime for praticado em detrimento do sistema penitenciário federal, situação em
que ensejaria a competência da Justiça Federal.

62: “Compete a Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na carteira de
trabalho e previdência social, atribuído a empresa privada”.

59: “Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado,


proferida por um dos juízos conflitantes”.

198
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

48: “Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante falsificação de cheque”.

42: “Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento”.

38: “Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo


por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse
da União ou de suas entidades”.

6: “Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de


trânsito envolvendo viatura de polícia militar, salvo se autor e vítima forem policiais
militares em situação de atividade”.

199
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

14.b. Recursos: princípios, pressupostos, requisitos e espécies em geral.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 25º CPR. Resumo do Grupo do 26º
CPR. Resumo do Grupo do 27º CPR; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo
Penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010; idem, 18ª edição. São Paulo: Ed. Atlas,
2014; ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Nicolau. Direito Processual Penal. Ed.
Juspodvim, 2012; TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito
Processual Penal. Juspodvim, 2010. Lima, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 2ª
edição. Volume único. Salvador: Ed. Juspodivm, 2014. Oliveira, Eugênio Pacelli. 18ª
edição. São Paulo: Ed. Atlas, 2014.

Legislação básica: Artigo 574 e seguintes do CPP.

No capítulo sobre recursos, Eugenio Pacelli faz uma observação, no que tange às súmulas
vinculantes. Pare ele, deve-se ter o cuidado para que a súmula não se ponha como obstáculo
à compreensão das inevitáveis diferenças das circunstancias pessoais de cada réu, o que, em
processo penal, faz toda a diferença.

Princípios recursais no processo penal:

a) duplo grau de jurisdição: direito à revisão da decisão, com sua substituição por outra,
proferida por órgão jurisdicional hierarquicamente superior na estrutura jurisdicional.

O reexame necessário é instituto ainda previsto no CPP, nas seguintes hipóteses:

1. da decisão concessiva de Habeas Corpus (art. 574, I);

2. da decisão absolutória e de arquivamento de inquérito, em processos de crimes contra a


economia popular e contra a saúde pública;

3. quando o relator indefere liminarmente a revisão criminal, por não estar o pedido
suficientemente instruído (art. 625, par. 3, do CPP);

4. do indeferimento liminar de Habeas Corpus pelo Tribunal (art. 663 do CPP);

5. da decisão concessiva de reabilitação criminal (art. 746 CPP).

Pacelli entende que somente a 1ª, 2ª, 3ª ainda persistem. Contudo, defende não ser possível
aceitar nenhuma delas, dentro de um contexto garantista, e em cujo interior se reserva ao
Ministério Público a titularidade da ação penal pública. No sistema do Código de Processo
Penal de 1941, a medida era compreensível, já que até mesmo a iniciativa da instauração da
ação penal era reservada ao juiz. Logo, podendo propor a ação penal, por óbvio, nenhum
obstáculo haveria em interpor ele mesmo o denominado recurso de ofício. Contudo, no
atual sistema inaugurada com Constituição de 1988, não há mais como aceitar a existência
da remessa necessária. E questiona que lógica haveria em reexaminar necessariamente a

200
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

concessão de habeas corpus, se o acusado deveria ser imediatamente posto em liberdade (p;
938, 2014).

b) taxatividade: necessidade de expressa previsão do recurso em lei federal.

c) singularidade/unirrecorribilidade/unicidade: em regra, cada decisão judicial pode ser


objeto de uma espécie recursal (exceção: interposição simultânea de REsp e RE).

d) fungibilidade: não havendo erro grosseiro ou má-fé e sendo observado o prazo do


recurso errôneo e o do adequado, a parte não é prejudicada pela interposição de um recurso
por outro;

e) voluntariedade: é a regra, excepcionada pelo recurso de ofício (remessa obrigatória ou


reexame necessário), nos casos da sentença concessiva de habeas corpus; da absolvição ou
arquivamento de inquérito em crime contra a economia popular e a saúde pública; da
decisão que concede reabilitação criminal; do indeferimento monocrático da revisão
criminal, no Tribunal, por insuficiência na sua instrução.

Outra exceção à voluntariedade, é a que envolve a extensão subjetiva do efeito devolutivo


do recurso (art. 580 do CPP).

f) complementaridade: possibilidade de integração do recurso já interposto, havendo


mudança da decisão judicial, como correção de erro material, acolhimento de outro recurso
ou juízo de retratação, caso em que se abre prazo para novo recurso.

g) proibição de reformatio in pejus (efeito prodrômico da sentença): o réu não pode ter
sua situação agravada, direta ou indiretamente, em razão de recurso por ele interposto. Há
quem entenda que, nos caso de nulidade em razão da incompetência absoluta do juízo e de
anulação das decisões do Tribunal do Júri em que seja determinada a prolação de nova
decisão dos jurados, não haveria a proibição acerca da possibilidade de agravamento da
pena (contra esta possibilidade: STF, HC 89544/RN). Há julgados tanto admitindo o
agravamento da situação do acusado, quanto proibindo. Contudo, contra essa possibilidade,
Renato Brasileiro (p. 1567, 2014) afirma que, “apesar do dissenso, tem prevalecido a
posição no sentido de que a nova decisão deve limitar-se, como teto, à pena estabelecida
pela primeira decisão. Impõe-se, assim, que a nova condenação pelo Juiz natural da causa
não exceda o quantum de pena anteriormente fixado, em observância ao princípio ne
reformatio in pejus”. Esse entendimento é de ser aplicado na reformatio in pejus indireta,
tanto nas decisões proferidas no âmbito do Tribunal do Júri, quanto em razão de vícios
atinentes à incompetência absoluta.

Tal entendimento também vem sendo compartilhado por Pacelli que, revendo posição
anterior – que admitia a reformatio in pejus indireta no casos de incompetência absoluta,
seja em razão da matéria ou da função exercida pelo acusado, o dever de subordinação à
quantidade de pena imposta na primeira decisão se dirigia “contra o princípio do juízo
natural, não no que concerne a prevalência de sua jurisdição, já garantida com o
reconhecimento da nulidade, mas no que respeita à liberdade de seu convencimento e o
livre convencimento e do livre exercício da tarefa judicante. Não nos parece possível,

201
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

assim, falar-se em vedação da reformatio in pejus indireta, sob pena de fazer-se prevalecer
regra legislativa de natureza ordinária (CPP, art. 617) sobre o princípio de fonte
constitucional” (Brasileiro, p. 1566, 2014) –, passou a não fazer qualquer distinção na
proibição de reformatio in pejus indireta. Nesse sentido, vale conferir o seguinte trecho de
sua obra: “se o fundamento da regra repousa na afirmação de liberdade recursal da
defesa, de modo a não reduzir a sua pretensão de modificação da condenação, deve ele
prevalecer também sobre o juiz natural. Pensamos, aliás, que essa é a melhor maneira de
se alinhar a solução da questão aos ditames da citada Súmula 160, do STF (“é nula a
decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação,
ressalvados os casos de recurso de ofício”). Se ali, a ausência de alegação foi suficiente
para se afastar o vício de incompetência absoluta, por que não o seria aqui? Ao fim e ao
cabo, não se teria também a omissão dos órgãos públicos no curso do processo enfim
anulado? Em resumo: anulada a decisão condenatória unicamente em razão de recurso da
defesa, o máximo de pena e sua espécie aplicadas na sentença anulada vincularão o juiz a
quem for encaminhados os autos” (p. 910, 2014)

*Reformatio in pejus direta: por meio da qual se entende que se “só a defesa recorre, tendo
a acusação se conformado com o provimento jurisdicional, a situação do réu não poderá ser
piorada” (TAVORA, ALENCAR, p. 751).

*Reformatio in pejus indireta: ocorre quando o tribunal ad quem, em sede de recurso


promovido exclusivamente pela defesa, anula decisão anterior, remetendo os autos ao órgão
a quo para proferir novo julgado, que não pode piorar a situação do acusado (ou seja, o
montante da pena fixada na condenação). “Assim, tal sentença, apesar de ter sua nulidade
decretada pelo juízo ad quem, continua produzindo um efeito jurídico (efeito prodrômico),
qual seja, o de estabelecer o limite máximo de pena a ser eventualmente imposta, ao
acusado na nova sentença prolatada pelo juízo competente” (Brasileiro, p. 1566, 2014).
Portanto, o efeito prodrômico nada mais é do o efeito de limitar o conteúdo da condenação
da nova sentença a ser proferida pelo juízo a quo, ou seja, este não poderá colocar o
acusado em situação pior do que aquela inicialmente estabelecida na sentença anulada.

Essa vedação da reformatio in pejus é aplicável ao juiz-presidente do Júri, ao fixar a pena,


caso o resultado do segundo julgamento seja exatamente o mesmo do primeiro, mas não
para os jurados, cuja decisão poderia agravar a pena do réu, de modo que,
independentemente do veredicto do Conselho de Sentença, ao dosar a pena, o Juiz-
Presidente do Tribunal se vê limitado ao montante da pena estabelecida no primeiro
julgamento.

h) consumação: interposto o recurso, de regra, ocorre a preclusão consumativa, exaurindo-


se essa faculdade processual.

i) suplementaridade: não há consumação no caso de decisão que não se submeta à


unicidade recursal, quando pode ser interposto outro recurso, após o primeiro.

Pressupostos recursais:

a) previsão legal: os recursos são os previstos em lei federal (taxatividade);

202
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

b) forma prescrita em lei: deve ser observada na sua interposição.

c) tempestividade: deve ser interposto no prazo legal.

Requisitos: são as condições (ou pressupostos) recursais, divididos entre objetivas e


subjetivas.

Requisitos objetivos:

a) cabimento: deve haver previsão legal para sua interposição em face da decisão
recorrida.

b) adequação: o recurso deve ser o previsto em lei para a decisão impugnada.

c) tempestividade: deve ser interposto no prazo legal.

d) inexistência de fatos impeditivos: não pode haver renúncia (anterior ao recurso),


desistência (posterior ao recurso) ou deserção (no caso de ação penal privada).

e) motivação: a regra é a dispensa da motivação nos recursos ordinários da defesa, mas ela
é requisito nos recursos da acusação, no REsp, no RE e nas apelações de sentenças do
Tribunal do Júri.

Requisitos Subjetivos:

a) interesse recursal/sucumbência: a parte deve ter sido vencida, com a procedência ou


improcedência, integral ou parcial, da pretensão punitiva.

b) legitimidade: o recurso deve ser oferecido por quem é parte na relação processual, tendo
capacidade para tanto, ou por terceiro, quando autorizado pela lei.

Espécies recursais em geral:

a) apelação (art. 593, CPP)

b) recurso em sentido estrito (art. 581, CPP)

c) embargos infringentes e de nulidade (art. 609, parágrafo único, CPP)

d) embargos declaratórios (art. 386, CPP)

e) embargos de divergência (no STJ e STF, art. 29 da Lei 8038/90)

f) carta testemunhável (art. 639, CPP)

g) reclamação contra a lista geral de jurados (art. 426, caput, CPP)

h) agravo em execução (art. 197, LEP)

203
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

i) correição parcial (na Justiça Federal, art. 6º da Lei 5.010/66)

j) recurso especial (art. 105, III, CF; arts. 26 a 29, Lei 8.038/90)

l) recurso extraordinário (art. 102, III, CF; arts. 26 a 29, Lei 8.038/90)

m) recurso ordinário em habeas corpus (arts. 102, II, “a”, e 105, II, “a”, CF; arts. 30 a 32,
Lei 8.038/90)

n) recurso ordinário em mandado de segurança (arts. 102, II, “a”, e 105, II, “b”, CF;
arts. 33 a 35, Lei 8.038/90)

o) recurso ordinário, para o STF, contra sentença por crime político (art. 102, II, “b”,
CF)

p) agravo regimental (regimentos internos dos Tribunais)

q) agravo de instrumento contra decisão que denega RE e REsp (art. 28, Lei 8.038/90,
c/c o art. 544 do CPC)

Se houver divergência entre acusado e seu defensor, prevalece a vontade de quem tem o
interesse em recorrer. Isso porque, no caso de recurso, vige o princípio da non
reformatio in pejus.

Sum. 705, STF: A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência
do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta.

Sum. 708, STF: É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da
renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro.

Obs.: o MP não pode desistir de recurso por ele interposto. art. 576, CPP: Art. 576. O
Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto. É decorrência lógica
do princípio da indisponibilidade e da obrigatoriedade da ação penal.

Deserção: Hipóteses:

- Falta de preparo do recurso do querelante em crimes de exclusiva ação penal privada.

Art. 806, § 2º: § 2o A falta do pagamento das custas, nos prazos fixados em lei, ou
marcados pelo juiz, importará renúncia à diligência requerida ou deserção do recurso
interposto.

204
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Pressupostos recursais subjetivos:

A) Legitimidade recursal:

Art. 577, CPP: “O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo
querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor. Parágrafo único. Não se admitirá,
entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão”.

- Assistente da acusação (embora não previsto no rol do art. 577): seu recurso é subsidiário
ao do titular da ação penal.

Súm. 208, STF: O assistente do Ministério Público não pode recorrer,


extraordinariamente, de decisão concessiva de habeas-corpus.

Obs.: esta súmula precisa ser revista, pois, hoje, o HC vem sendo utilizado para
trancamento de ação penal, o que repercute na ação civil para reparação dos danos causados
pelo crime (justificando o interesse do assistente para recorrer nestas hipóteses).

Sum. 210, STF: O assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusive


extraordinariamente, na ação penal, nos casos dos arts. 584, parágrafo 1º e 598 do
Código de Processo Penal.

Prazo: - Assistente já habilitado: 5 dias. - Assistente não habilitado: 15 dias. Obs.: em


ambas as hipóteses, o prazo começa a correr após o decurso do prazo do MP.

Sum. 448, STF: O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr
imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público.

B) Interesse recursal: deriva da sucumbência.

Assistente de acusação: embora os autores SCARANCE e Pacelli entendam que o


interesse do assistente não se limita a interesse patrimonial, pois, o seu interesse é também
voltado para a correta aplicação da lei penal. A maioria ainda entende que o assistente de
acusação procura a condenação, para obter a reparação de dano, seja de ordem moral ou
material. Sob esse enfoque, é muito comum a afirmativa de que o assistente não teria
interesse em recorrer da sentença para aumentar a pena privativa de liberdade. Mas, essa
afirmação não é correta em sua inteireza é preciso verificar em que hipóteses ela terá
aplicação, o que dependerá do caso concreto, p. ex., para evitar a ocorrência da prescrição
retroativa, obtendo assim o título executivo para a reparação do dano, sendo subjacente o
interesse na reparação do dano.

205
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

EFEITOS DOS RECURSOS

Efeito Devolutivo ou Suspensivo:

a) Devolutivo (Tantum Devolutum Quantum Apellatum): O conhecimento do Tribunal


fica condicionado aquilo que foi objeto de impugnação por parte do recorrente.

Ex: se o MP apela dizendo não se conformar com a substituição de pena privativa por uma
restritiva, isso é o que o Tribunal pode dar para o MP. Ele não pode aumentar o quantum da
pena.

O efeito devolutivo é delimitado na petição de interposição do recurso.

OBS Vitaminada (Brasileiro, p. 1601/1603):

O efeito devolutivo varia apenas em sua extensão e profundidade.

A extensão da devolução (ou dimensão horizontal do recurso) é fixada a partir da matéria


que é impugnada, ou seja, o recurso pode impugnar todos os capítulos da decisão, hipótese
em que a extensão da devolução será total (caberá ao tribunal conhecer de tudo o que foi
discutido na causa, já que tudo foi levado ao seu conhecimento), ou impugnar apenas um
ou alguns deles, situação em que a extensão da devolução será parcial (caberá ao tribunal
conhecer somente daquilo a ele foi levado pela via do recurso). A extensão do efeito
devolutivo é mitigada pelo princípio da reformatio in mellius, tendo em vista que tanto em
recurso exclusivo da acusação que pretendia agravar a situação do acusado, quanto em
recurso da defesa em que tal matéria não tenha sido sequer ventilada, é plenamente possível
que a situação do réu seja melhorada, ainda que a apreciação da questão não tenha sido
expressamente devolvida ao Tribunal pelo recorrente. A única ressalva que merece ser feita
é que a devolutividade da apelação contra decisões do Júri é adstrita aos fundamentos da
sua interposição. Portanto, a devolutividade é limitada (Súmula 713 do STF).

Entende-se por profundidade (ou dimensão vertical do recurso) a devolução automática ao


Tribunal, dentro dos limites fixados pela extensão, de todas as alegações, fundamentos e
questões referentes à matéria devolvida. Fixada a extensão do recurso, a profundidade para
apreciação da questão devolvida é a será na maior extensão possível, podendo levar tudo o
que o for relevante para a prolação de uma nova decisão, obviamente, dentro dos limites da
matéria impugnada. Se a matéria não for adequadamente delimitada pela defesa na peça de
interposição, prevalece o entendimento de que toda a matéria que gerou a sucumbência será
devolvida ao Tribunal, excetuado o recurso contra decisão do Júri que tem fundamentação
vinculada.

Tendo em conta dos limites fixados pelo âmbito de impugnação dos recursos para o órgão
jurisdicional superior, a doutrina costa classificar os recursos da seguinte forma: a) Recurso
de instância iterada: existe quando se devolve ao Tribunal apenas o conhecimento de
decisão de cunho processual, obrigando o Tribunal a conhecer apenas do teor daquela
decisão, p. ex., recurso contra decisão de pronúncia, devolve ao tribunal apenas reexame
processual da decisão impugnada, não sendo viável ao Tribunal reexaminar o conteúdo de
direito material. O recurso em sentido estrito é exemplo típico de recurso de instância
206
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

iterada; b) Recurso de instância reiterada: devolve-se ao tribunal o conhecimento de toda a


matéria, tendo ele toda a liberdade para decidir, como se estivesse na qualidade de órgão
jurisdicional de segundo grau. Tem-se por exemplo o recurso de apelação em que se ataca
decisões de mérito.

b) Efeito Suspensivo: Consiste no impedimento da eficácia da decisão recorrida em virtude


da interposição de um recurso.

Obs.:

- A apelação contra sentença absolutória não é dotada de efeito suspensivo; a apelação


contra sentença condenatória é dotada de efeito suspensivo (arts. 596 e 597 do CPP).

- Recursos Extraordinários: art. 27 §2º, da Lei 8.038/90; art. 637, CPP: Art. 637. O recurso
extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez arrazoados pelo recorrido os autos do
traslado, os originais baixarão à primeira instância, para a execução da sentença. Apesar
dos recursos extraordinários não serem dotados de efeito suspensivo, em virtude do
Princípio da presunção de inocência não é possível a execução provisória de sentença
condenatória sem trânsito em julgado, somente sendo possível o recolhimento à prisão
quando baseado em um dos pressupostos do art. 312.

Efeito regressivo, diferido ou iterativo: Consiste na devolução da matéria impugnada


para reexame ao mesmo órgão jurisdicional que prolatou a decisão recorrida. Ocorre
quando temos aquela hipóteses de juízo de retratação. Ex.: agravo regimental nos
Tribunais.

Efeito extensivo: Consiste na extensão benéfica dos efeitos do recurso ao corréu que não
recorreu, desde que a decisão esteja fundamentada em motivos de caráter objetivo. Esse
efeito é válido não só para recursos, mas também para revisão criminal e HC. Esse efeito
extensivo pode ser dado no próprio recurso ou por intermédio de posterior HC.

Efeito substitutivo: Uma vez conhecido o recurso, o julgamento proferido pelo Tribunal
tem o condão de substituir a decisão recorrida naquilo que tiver sido objeto de impugnação,
seja nas hipóteses de provimento, seja nas hipóteses de negativa de provimento. Isso é
importante para fins de determinação da competência para o julgamento da revisão
criminal.

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Decisões interlocutórias:

A regra é a irrecorribilidade, salvo se tal decisão constar do art. 581, CPP. Mas existe
sempre a possibilidade de se impugnar essa decisão por meio de HC (em favor do acusado)
ou de que essa decisão interlocutória irrecorrível seja abordada em preliminar de outro
recurso (ex.: em preliminar de uma apelação, alegando que teria havido ofensa à ampla
defesa).

207
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Rol do art. 581 - Esse rol é taxativo ou cabe analogia?

A maioria da doutrina diz que o rol é taxativo e que, portanto teríamos hipóteses numerus
clausus de cabimento deste recurso. Mas esse não é o melhor entendimento, haja vista que
o rol é da década de 40. Admite-se a utilização da interpretação extensiva quando ficar
clara a intenção da lei de também abranger a hipótese (ex.: RSE contra rejeição do
aditamento à peça acusatória). No entanto, quando ficar clara a intenção da lei de não
abranger a hipótese, não se admitirá interpretação extensiva.

Momento da decisão e cabimento do RSE: Só para decisões tomadas no curso do


processo. Se a decisão foi tomada na sentença o recurso cabível é apelação.

Dicas para resolver algumas questões:

1) Se a decisão for anterior à sentença condenatória ou absolutória, talvez seja cabível o


RSE (verificar rol do art. 581, CPP);

2) Se a decisão estiver contida na sentença condenatória ou absolutória, o recurso cabível


será o de apelação, mesmo que somente de parte da decisão se recorra;

3) Se a decisão for proferida pelo juízo das execuções, o recurso cabível será o de agravo
em execução, mesmo que tal decisão conste do rol do art. 581, CPP.

RSE pro et contra e RSE secundum eventum litis:

O recurso é pro et contra quando é admitido para ambas as situações (comporta o sim e o
não, ou seja, seja para constituir ou reconhecer uma situação jurídica, seja para
desconstituir ou afastar uma situação juríduca). Será, no entanto, secundum eventum litis,
quando cabível para uma única situação. A maioria dos casos de RSE são secundum
eventum litis.

Os incisos VIII, X, XI e XII são casos de RSE pro et contra.

Cabimento do RSE

Art.581.Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:

I - que não receber a denúncia ou a queixa; (Na lei 9.099-95, da rejeição da denúncia
cabe apelação)

STF, 707: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer


contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de
defensor dativo.

STF, 709: Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso
contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.

II - que concluir pela incompetência do juízo;

208
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;

V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir


requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou
relaxar a prisão em flagrante; (no DL 201-67 cabe RESE da decisão que concede ou
denega a prisão preventiva)

VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;

VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;

IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva


da punibilidade;

X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;

XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;

XII – que conceder, negar ou revogar livramento condicional; O LC é concedido pelo


Juiz da Execução, pelo que o recurso cabível é o agravo em execução.

XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;

XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir; (Nestor Távora diz que este
inciso foi revogado pelo atual art. 426, caput, CPP)

XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;

XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;

XVII – que decidir sobre a unificação de penas; É matéria de execução penal. Caberia
agravo em execução, previsto na LEP.

XVIII - que decidir o incidente de falsidade;

XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado;

XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra;

XXI- que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774;

XXII - que revogar a medida de segurança;

XXIII - são matérias de execução, cabendo agravo em execução.

Do indeferimento do RESE cabe a CARTA TESTEMUNHÁVEL.

Cabe retratação. Portanto, é dotado de efeito regressivo.

209
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Prazo do RESE é de 05 dias (interposição). O prazo para arrazoar é de 02 dias (art. 588,
CPP).

É um recurso motivado, já que tem razões e contrarrazões. O ofendido pode interpor o


RESE, em duas hipóteses (art. 584, § 1º, CPP):

a) IMPRONÚNCIA (a partir da Lei 11689/2008, acredito que no caso de impronúncia o


ofendido poderá interpor apelação e não RESE)

b) QUANDO HÁ EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

ATENÇÃO: o recurso da vítima é sempre subsidiário, ou seja, a vítima somente pode


recorrer quando o MP não recorreu. A vítima tem 05 dias ou 15 dias? 05 dias quando está
habilitada como assistente e 15 dias quando não está habilitada como assistente. Os prazos
são contados a partir da data em que finalizado o prazo do MP.

Em regra se processa por instrumento (583, CPP). Excepcionalmente vai nos próprios
autos: rejeição da denúncia, por exemplo.

– De comum, o RESE não tem efeito suspensivo. As exceções ficam por conta do art. 584,
CPP (perda de fiança; decisão que denegue a apelação ou a julgue deserta; decisão que
julga quebrada a fiança; desclassificar de crime doloso para outro crime de competência do
juízo singular, por ocasião do art. 410, CPP.

– Atenção: No RESE não cabe a apresentação de razões no segundo grau como


acontece com a apelação.

APELAÇÃO

A interposição deve ser feita em 5 dias. As razões e contrarrazões poderão ser apresentadas
em até 8 dias.

A apresentação de razões fora do prazo é considerada uma mera irregularidade.

O CPP prevê que as razões da apelação podem ser apresentadas na segunda instância. Para
a doutrina, tal dispositivo somente pode ser invocado pela defesa. Invocado esse benefício
pela defesa, ao promotor do caso caberá a apresentação de contrarrazões.

Há diferença entre apelação ordinária (crimes punidos com reclusão) (existe revisor) e
apelação sumária (crimes punidos com as demais hipóteses), nesta não há revisor.

Hipóteses de cabimento A apelação está prevista na Lei 9.099/95 para os seguintes casos
(arts. 76, caput e §5º, e art. 82):

- decisão homologatória da transação penal;

- decisão que rejeita a peça acusatória;

210
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

– decisão de mérito.

– Também cabe apelação contra as decisões de impronúncia e de absolvição sumária (art.


416, CPP). A absolvição sumária no procedimento comum também vai comportar apelação.

– Por fim, vejamos as hipóteses de cabimento da apelação com fundamento no art. 593:

- sentenças condenatórias ou absolutórias proferidas por juiz singular: a apelação nessa


hipótese é um recurso de fundamentação livre;

- das decisões definitivas ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular, desde
que tais decisões não estejam listadas no rol do art. 581, CPP (aqui a apelação é subsidiária)
– por decisão definitiva entende-se aquela em que o juiz decide o mérito e extingue o
processo ou procedimento, porém, sem condenar ou absolver o acusado. Decisão com força
definitiva, por sua vez, são aquelas que extinguem o processo sem julgamento do mérito,
assim como aquelas que resolvem um procedimento incidental de modo definitivo. À
semelhança do inciso anterior, nesse caso o recurso de apelação também será de
fundamentação livre.

- decisões do tribunal do júri - Aqui temos um recurso de fundamentação vinculada. Não se


tem a mesma liberdade das hipóteses anteriores. Súm. 713, STF.

Procedimento da apelação:

- Diferenças entre apelação ordinária e apelação sumária: a apelação ordinária é a prevista


para os crimes punidos com reclusão; a apelação sumária para as demais hipóteses (e para
ela não existe a figura do revisor).

- Sustentação oral: Súm. 431, STF. Ela é possível. É preciso ser intimado da data de
julgamento, sob pena de nulidade.

– Emendatio libelli: pode ser feita pelos tribunais (a mutatio, porém, não) - Súm. 453, STF.

– No CPP, a apelação pode ser:

a) Principal: interposta pela parte

b) Subsidiária ou Supletiva – interposta pelo assistente de acusação, que terá o prazo de 15


dias contados do término do prazo de recurso para o MP (artigo 598, parágrafo único).

Quem tem legitimidade para apelar:

a) Réu de próprio punho e em nome próprio – não precisa da capacidade postulatória. É


a manifestação do interesse em interpor o recurso de apelação. As razões não serão
ofertadas pelo réu, o juiz nomeará um advogado para arrazoar.

b) Advogado constituído ou Defensor Público ou Defensor ad hoc.

211
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE

EMBARGOS INFRINGENTES

EMBARGOS DE NULIDADE

Versam sobre o mérito (jus puniendi)

Versam sobre o vício processual (de um ato ou do procedimento).

Prazo de 10 dias

Recurso exclusivo da defesa

Somente contra decisão não unânime do Tribunal.

Os embargos infringentes são cabíveis para atacar decisão proferida em sede de apelação,
em RESE ou em agravo em execução.

Limites estão no voto vencido, ou seja, somente se pode pedir o que o voto vencido
reconheceu.

Não são cabíveis embargos infringentes no STJ e no STF. Lá são cabíveis os EMBARGOS
DE DIVERGÊNCIA, como regra.

Não são cabíveis: na revisão criminal (ressalva do STF, conforme registro abaixo); no HC;
no julgamento de competência originária dos tribunais (ressalva do STF, segundo texto
abaixo); o STJ já admitiu no julgamento de carta testemunhável contra denegação RSE
(REsp 336.607/DF); admite-se em agravo de execução, porque este em tudo se assemelha
ao RSE.

ATENÇÃO: no STF, EXCEPCIONALMENTE, é possível a interposição de EMBARGOS


INFRINGENTES, para atacar DECISÃO NÃO UNÂNIME, conforme seu RISTF, art. 333,
I, II e V), quando julgar procedente a ação penal (AP 470); quando julgar improcedente a
revisão criminal; ou no recurso ordinário criminal (a exemplo da competência que lhe é
atribuída para julgar em segundo grau os crimes políticos) for desfavorável ao réu.

Não pode ser interposto pelo próprio réu, que, nesse caso, não tem capacidade postulatória.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Cabem contra tudo. Fundamento: arts. 382 e 619, do CPP. No CPP, além de obscuridade,
contradição e omissão, fala-se também em ambigüidade. Prazo: 02 dias, nos Tribunais; 05
dias, no STF e nos juizados especiais.

Os embargos de declaração INTERROMPEM o prazo de outros recursos. EXCEÇÃO:


interposição contra decisão proferida em Juizados Especiais, hipótese em que há suspensão.

212
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

CARTA TESTEMUNHAVEL

É recurso de pouca utilização prática, e dirige-se contra a decisão que denega recurso
interposto (art. 639, I, CPP), ou que impede o seguimento de recurso já admitido (art. 639,
II). Mas, somente será cabível quando a lei não previr expressamente outro recurso. Contra
a decisão que nega seguimento à apelação, por exemplo, cabe recurso em sentido estrito
(581, XV, CPP). Contra a decisão que não admite REsp ou RE, cabe agravo de instrumento
(art. 28 da L. 8038/90). Assim, a carta testemunhável dirige-se, basicamente, contra a
denegação do recurso em sentido estrito. O prazo é de 48 horas, não possuindo efeito
suspensivo.

É cabível a retratação do juiz, no sentido de receber o recurso ao qual foi negado


seguimento.

O Tribunal irá julgar a carta testemunhável e o recurso não recebido, em razão da economia
processual, se houver suficiente instrução, nos termos do art. 644, CPP.

CORREIÇÃO PARCIAL OU RECLAMAÇÃO

É um recurso ou uma providência administrativa? STF: é um recurso. A maioria da


doutrina também se inclina nesse sentido, porque o seu julgamento implica em revisão e
reforma de uma decisão judicial.

Prazo de 05 dias.

Tem previsão na Lei 5.010/66, que organizou a Justiça Federal. Ali dispõe (art. 6º) que a
correição parcial pode ser requerida pela parte ou pelo MP, contra ato ou despacho
do juiz de que não caiba recurso, ou omissão que importe erro de ofício ou abuso de
direito. EXEMPLO: juiz que inverteu o procedimento ou a ordem das testemunhas. É
destinado a corrigir error in procedendo, mas não error in judicando, segundo Capez.

Há discussão quanto ao seu procedimento. Capez afirma que Tourinho Filho defende ser o
procedimento do recurso em sentido estrito. Não obstante isso, aduz que a maioria se
inclina que o procedimento é do agravo de instrumento do CPC, se não houver previsão
expressa em sentido contrário, em normas de organização judiciária.

É cabível na fase do IP, mas desde que seja contra ato do Juiz.

Quando o tribunal julga a correição parcial não pode punir o juiz imediatamente (porque o
juiz tenha errado). O Tribunal corrige o erro, mas não pune o juiz porque para ser punido é
necessária a instauração de procedimento administrativo.

213
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

AGRAVO EM EXECUÇÃO

Está previsto no art. 197, da LEP.

Será cabível contra decisões proferidas pelo juízo da execução. Nos termos da Súmula 700
do STF: é de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da
execução penal

O procedimento a ser seguido é o do RSE.

Legitimidade: MP, acusado e defensor podem entrar com o agravo em execução. E, além
deles, quem também tem legitimidade para ajuizar esse recurso são os familiares do
executado (cônjuge, parente ou descendente). O assistente não pode.

Atenção: o Conselho Penitenciário não pode interpor agravo em execução. Ele pode até
provocar um incidente na execução, mas não pode ajuizar este recurso.

Efeito suspensivo: não há. O agravo em execução não é dotado de efeito suspensivo. Isso
está expressamente previsto no art. 197, LEP.

Recursos Especiais e Extraordinários


Espécie recursal Recurso Extraordinário Recurso Especial
Tribunal competente para STF STJ
o julgamento
Finalidade Manter a integridade da CF Manter a integridade da
legislação federal
Ato judicial recorrido Decisão judicial ou Acórdão Acórdão de um Tribunal
Hipóteses de cabimento: - contrariar dispositivo da CRFB; - contrariar tratado ou lei
(Quando a decisão - declarar a inconstitucionalidade federal, ou negar-lhes vigência;
recorrida) de tratado ou de lei federal; - julgar válido ato de governo
- julgar válida lei ou ato de local contestado em face de lei
governo local contestado em face federal;
da CRFB; - der a lei federal interpretação
- julgar válida lei local contestada divergente da que lhe haja
em face de lei federal. atribuído outro Tribunal.
Requisitos: - Existência de uma decisão - Existência de uma decisão
judicial (decisão administrativa judicial (decisão administrativa
não permite a interposição) não permite a interposição)
- Esgotamento dos recursos - Esgotamento dos recursos
ordinários ordinários
- Existência de questão jurídica - Existência de uma questão
constitucional jurídica infraconstitucional
(Prequestionamento) (Prequestionamento)
Decisão dos Juizados Cabimento contra as decisões de NÃO cabe contra decisões de
Turmas Recursais Turmas Recursais (não são
tribunais)1

1
Súmula 203 do STJ: Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão dos juizados
especiais.

214
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Obs.: No âmbito dos Juizados Especiais Federais, cabe Pedido de Uniformização de


Jurisprudência que será julgado pela Turma de Uniformização Nacional – art. 14 da Lei n°
10.259/2001 - e equivale ao interposto pela divergência jurisprudencial – art. 105, III, ‘c’,
da CF). Tem finalidade garantir a autoridade das leis federais e uniformizar sua aplicação
em todo o país, mediante exame adstrito à legalidade. Caberá a Turma de Uniformização
da, integrada por juízes de Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da Justiça
Federal, dirimir a divergência quando ela se der entre decisões de turmas de diferentes
regiões ou da proferida em contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ.

OBS Vitaminada: aplicam-se os mesmos requisitos previstos para o recurso especial e o


extraordinário no processo civil, bem como as mesmas súmulas do STF e do STJ. Vale
ressaltar que as súmulas do STF, para o recurso extraordinário, são aplicáveis ao recurso
especial, uma vez que antes da CF/88, aquele recurso fazia as vezes de recurso especial.
Contudo, nada impede que o STJ e o STF, mesmo não conhecendo ou conhecendo do
recurso e negando-lhe provimento, conceda habeas corpus de ofício, quando no curso do
processo alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal, nos termos do art. 654,
§2º, do CPP.

Informativo do STF

- Nº 735

Não cabem embargos infringentes no STF para discutir o quantum da pena aplicada
A divergência estabelecida na fixação da dosimetria da pena não enseja o cabimento de
embargos infringentes no STF.
AP 470 EI - décimos quartos-AgR/MG, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em
13/2/2014.

- Nº 729

Se o Ministro não conhece de HC impetrado no STJ, deve-se interpor agravo


regimental
Não se conhece de habeas corpus ou de recurso ordinário em habeas corpus perante o STF
quando, da decisão monocrática de Ministro do STJ que não conhece ou denega o habeas
corpus, o impetrante não interpõe agravo regimental. É necessário que primeiro o paciente
exaure (esgote), no tribunal a quo (no caso, o STJ), as vias recursais ainda cabíveis (no
caso, o agravo regimental). 2ª Turma. RHC 116711/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 19/11/2013.

- Nº 724

Impossibilidade de deserção de recurso em ação penal pública por falta de pagamento


de cópias
Julgar deserto um recurso em ação penal pública, por falta de pagamento de fotocópias,
significa um rigor formal excessivo, por impossibilitar o exercício da ampla defesa.

215
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

STF. 1ª Turma. HC 116840/MT, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 15/10/2013.

- Nº 720

Cabimento de embargos infringentes no STF

São cabíveis embargos infringentes contra decisão do STF que tiver condenado o réu em
processo de competência originária daquela Corte, desde que tenha havido, no mínimo,
quatro votos divergentes.
Os embargos infringentes do STF estão previstos no art. 331, I, do RISTF, que foi
recepcionado pela CF/88 com força de lei ordinária e não foi revogado pela Lei n.
8.038/90.

AP 470 AgR - vigésimo quinto/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão
Min. Teori Zavascki.
AP 470 AgR - vigésimo sexto/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso.
AP 470 AgR - vigésimo sétimo/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 18.9.2013 (Info 720).

- Nº 714

Empate em votação e decisão mais favorável ao réu


Em julgamento ocorrido no STF, havendo empate quanto à decisão de condenar ou
absolver o acusado, deverá prevalecer o entendimento mais favorável ao réu. Plenário. AP
565/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 7 e 8/8/2013.

- Nº 709

Recurso ordinário contra decisão denegatória de HC

Se o impetrante, prejudicado com a decisão do HC, interpuser o recurso ordinário fora do


prazo, este recurso deverá ser recebido como se fosse um HC substitutivo. 2ª Turma. RHC
111931/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 4/6/2013.

- Nº 702

STF aplicou o art. 191 do CPC por analogia permitindo que as partes do “Mensalão”
tivessem prazo em dobro para recorrer
STF admitiu que as partes (MP e defesa) tivessem prazo em dobro para recorrer (embargos
de declaração) no caso do “Mensalão”, utilizando como argumento o fato de que havia, no
caso, um litisconsórcio passivo (vários réus), com advogados diferentes, devendo, portanto,
ser aplicada, por analogia, a regra prevista no art. 191 do CPC. AP 470 Vigésimo Segundo
AgR/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki,
17/4/2013.

216
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

14.c. Juizados Especiais Criminais.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 25º CPR. Resumo do Grupo do 26º
CPR; OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 13. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2010; ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Nicolau. Direito Processual Penal.
Ed. Juspodvim, 2012; TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito
Processual Penal. Juspodivm, 2010. Lima, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 2ª
edição. Volume único. Salvador: Juspodivm, 2014.

Legislação básica: Artigo 60 e seguintes da Lei 9.099/95 e artigos 1º, 2º e 11 da Lei


10.259/2001.

Estabelece o art. 394 § 2º CPP que o procedimento sumaríssimo é o aplicável aos processos
que tiverem por fim a apuração das infrações de menor potencial ofensivo. O rito está
inteiramente previsto na Lei n.9099/95.

Art. 60 da Lei n. 9.099/95: são crimes de menor potencial ofensivo as contravenções penais
e os crimes a que lei comine pena máxima não superior a 2 anos, cumulada ou não com
multa.

Sobre os juizados especiais criminais, Eugenio Pacelli afirma que se pode falar em um
modelo consensual de Justiça. Mas adverte o autor que a informalidade e a preocupação
com a funcionalidade do sistema (consensual) podem atingir níveis perturbadores de
irracionalidade.

Se a infração de menor potencial ofensivo for praticada em conexão ou continência com


crime de competência do juízo comum ou do tribunal do júri, será este último o órgão
competente para o julgamento de ambas as infrações, com a aplicação dos institutos
despenalizadores apena no que se refere às infrações de menor potencial ofensivo. Inclusive
esse é um dos motivos pelos quais Eugenio Pacelli posiciona-se contrariamente ao
entendimento de ser absoluta a competência dos Juizados Especiais.

Os institutos despenalizadores são aplicáveis aos crimes da justiça eleitoral, se de menor


potencial ofensivo, e inaplicáveis para a Justiça Militar, por expressa vedação legal.

Termo Circunstanciado: Art. 69 da Lei n. 9.099/95. Em havendo prática de infração penal


de menor potencial ofensivo, a autoridade policial deverá proceder ao termo
circunstanciado de ocorrência (TCO) e não ao inquérito policial, embora, caso instaure este
último, não haverá qualquer vício para a futura ação penal. Cumpre ressaltar que o TCO
será encaminhado imediatamente ao Juizado pela autoridade policial, com o autor do fato e
a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

Princípios norteadores dos juizados especiais criminais: I. Oralidade; II. Informalidade;


III. Economia processual; IV. Celeridade.

217
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Ademais, são objetivos do Juizado Criminal, sempre que possível, a reparação dos danos
sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

Atos chamatórios: as citações são pessoais, por mandado, vedada a citação editalícia.
Havendo a necessidade de realizar citação por edital, o processo deverá ser encaminhado ao
juízo comum, no qual será adotado o procedimento sumário.

Transação penal: art. 76. Nos casos de ação penal pública, o MP poderá propor a
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa ao autor do fato. Em caso de ação
penal privada, há entendimento no sentido do não cabimento da transação. Por outro lado,
há quem defenda o cabimento, mediante proposta do querelante.

Possibilidade de transação penal para o crime de lesão corporal culposa no trânsito,


conforme art. 291, parágrafo 1 do CTB, com a redação dada pela Lei n. 11.705/08, exceto
se o agente estiver: (a) sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa
que determine dependência; (b) participando, em via pública, de corrida, disputa ou
competição automobilística, não autorizada pela autoridade competente; e (c) transitando
em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h.

No julgamento da ADI 3096/DF, o STF deu interpretação conforme à Constituição ao


artigo 94 do Estatuto do Idoso, para somente admitir a aplicação das normas processuais
previstas na Lei n. 9.099/95, rejeitando a possibilidade de transação penal aos autores dos
delitos contra o idoso.

Para Eugenio Pacelli, a transação constitui direito subjetivo do réu. Há discussão


doutrinária sobre o tema, como já retratado no ponto 13.b, em que prevalece ser um poder-
dever do MP, segundo a jurisprudência do STJ.

Há possibilidade de o Ministério Público ingressar com nova ação, de conteúdo


condenatório, em face do descumprimento do ajuste firmado na transação penal. Esse foi o
posicionamento adotado pelo STF: RE 602.072/2009.

Há possibilidade, também, de oferecimento de sursis processual (suspensão condicional


do processo) que, conforme determina o art. 89 da Lei n. 9.099/95, é aplicável a todos os
crimes, desde que a pena mínima cominada seja igual ou inferior à um ano, que o acusado
não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os
demais requisitos exigidos para a suspensão condicional da pena (art. 77 do CP).

O feito ficará suspenso pelo prazo de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, período no qual o réu fica
submetido a determinadas condições legais. Destarte, o magistrado poderá fixar outras
condições, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

Durante o período de suspensão do processo, fica suspenso também o curso do prazo


prescricional. Findo o prazo com o cumprimento das condições estabelecidas, haverá a
extinção da punibilidade do agente.

A suspensão será revogada (obrigatoriamente) se, no curso do prazo, o beneficiário vier a


ser processado por outro crime ou não efetuar, podendo, a reparação do dano.
218
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

A suspensão será facultativa se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por
contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.

O procedimento sumaríssimo do Juizado Especial Criminal possui duas fases distintas,


quais sejam, a fase preliminar, que é pré-processual e se desenvolve na audiência
preliminar, e a fase processual propriamente dita que se desenvolve ao longo da audiência
de instrução e julgamento.

1) Fase preliminar: composição civil dos danos (art. 74); direito de representação verbal
(art. 75); transação penal (art. 76).

2) Fase do procedimento sumaríssimo propriamente dita:

- Sendo complexo o fato, pode o juiz encaminhar o feito ao juízo comum. Lá serão
oferecidas denúncia ou queixa por escrito (nesse caso, o rito a ser adotado é o sumário);

- Inviabilizada a transação penal, serão oferecidas denúncia ou queixa orais (art. 77);

- Ordem judicial de citação pessoal do réu, para ciência da acusação e comparecimento à


audiência (art. 78);

- No curso da audiência serão realizados os seguintes atos (art. 81):

1. Advogado do réu responderá a acusação;

2.1. Juiz poderá rejeitar a inicial acusatória com base no art. 395 CPP. Encerra-se o
procedimento.

2.2. Não sendo o caso de rejeição, o juiz receberá a denúncia ou a queixa prosseguindo a
audiência;

3. Juiz decidirá quanto à absolvição sumária do acusado (art. 397 CPP);

4. Inquirição da vítima e das testemunhas que tenham sido arroladas ou trazidas pelas
partes;

5. Interrogatório do réu;

6. Debates orais entre as partes;

7. Sentença, ao final da audiência.

Recursos: Apelação (art. 82) contra a decisão de rejeição da denúncia ou queixa, bem
como da sentença, no prazo de 10 dias, unicamente por petição (vedado o termo) já
acompanhada das razões. O julgamento compete às Turmas Recursais.

Cabível, ainda, os embargos declaratórios (art. 83), no prazo de 5 dias, e os embargos


suspendem o prazo da apelação.

219
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Também é possível a interposição de Recurso Extraordinário (art. 102, III CF) contra a
decisão proferida por Turma Recursal.

A teoria para o lugar do crime, nos Juizados Especiais, não foi expressamente prevista
pela Lei. Pacelli entende que a mais adequada aos princípios processuais que informa os
juizados especiais é a teoria da ubiquidade. Contudo, prevalece na doutrina o entendimento
de que rege a competência territorial do Juizado Especial Criminal a teoria da atividade.

Nos Juizados Criminais é dispensável a intimação pessoal das partes, inclusive do


Ministério Público e defensores nomeados, especificamente para o julgamento da apelação
pelas Turmas Recursais, bastando-se a intimação pela imprensa, por forca do disposto no
art. 82, parágrafo 4, da Lei n. 9.099/95. Nesse sentido: STF, HC n. 76.915/RS.

OBS: Não é possível proposta de transação penal realizada pelo juiz, à revelia do MP. É o
entendimento de Eugenio Pacelli e da Jurisprudência: Tratando-se de apelação interposta
no sistema dos juizados especiais criminais, impõe-se ao recorrente o dever de apresentar,
com a petição recursal, as razões de apelação, no prazo único de dez dias, conforme dispõe
o § 1º do art. 82 da Lei 9.099/95 (“A apelação será interposta no prazo de 10 (dez) dias,
contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por
petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente”). Com base nesse
entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus em que condenados pela prática dos crimes
previstos no art. 10 da Lei 9.437/97 e no art. 29 da Lei 9.605/98 alegavam constrangimento
ilegal por cerceamento de defesa, em razão de a Sétima Turma de Recursos de Santa
Catarina não conhecer de recurso de apelação interposto em seu benefício, porque
desacompanhado das razões recursais. Precedentes citados: HC 79843/MG (DJU de
30.6.2000) e HC 85210/SP (DJU de 1º.7.2005). HC 86454/SC, rel. Min. Carlos Velloso,
18.10.2005. (HC-86454).

Informativos do STJ:

220
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

15.a. Medidas assecuratórias ou acautelatórias do CPP e de leis especiais.


Principais obras consultadas: Eugênio Pacelli de Oliveira. Curso de Processo Penal, 16ª
Edição, 2012. Editora Atlas. Leonardo de Medeiros Garcia, Roberval Rocha. Ministério
Público Federal edital sistematizado. 2.ed. Bahia: Juspodivm, 2012. Lima, Renato
Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2014.

Legislação: Previstas dos artigos 125 a 144-A do Código de Processo Penal; Lei nº
9.613/98; Lei 11.343/06;

Alienação Antecipada – Art. 144-A CPP: “O juiz determinará a alienação antecipada


para preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de
deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção. (Incluído
pela Lei nº 12.694, de 2012)

§ 1o O leilão far-se-á preferencialmente por meio eletrônico. (Incluído pela Lei nº 12.694,
de 2012)

§ 2o Os bens deverão ser vendidos pelo valor fixado na avaliação judicial ou por valor
maior. Não alcançado o valor estipulado pela administração judicial, será realizado novo
leilão, em até 10 (dez) dias contados da realização do primeiro, podendo os bens ser
alienados por valor não inferior a 80% (oitenta por cento) do estipulado na avaliação
judicial. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)

§ 3o O produto da alienação ficará depositado em conta vinculada ao juízo até a decisão


final do processo, procedendo-se à sua conversão em renda para a União, Estado ou Distrito
Federal, no caso de condenação, ou, no caso de absolvição, à sua devolução ao acusado.
(Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)

§ 4o Quando a indisponibilidade recair sobre dinheiro, inclusive moeda estrangeira, títulos,


valores mobiliários ou cheques emitidos como ordem de pagamento, o juízo determinará a
conversão do numerário apreendido em moeda nacional corrente e o depósito das
correspondentes quantias em conta judicial. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)

§ 5o No caso da alienação de veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à


autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de
certificado de registro e licenciamento em favor do arrematante, ficando este livre do
pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, sem prejuízo de execução fiscal em
relação ao antigo proprietário. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)

§ 6o O valor dos títulos da dívida pública, das ações das sociedades e dos títulos de crédito
negociáveis em bolsa será o da cotação oficial do dia, provada por certidão ou publicação
no órgão oficial. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)

§ 7o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)”

Conceito: Trata-se da possibilidade de o juiz antecipar a alienação de bens frutos de

221
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

crimes, antes mesmo da decisão final da justiça. Visa a alienação dos bens evitando-se a
lotação de depósitos judiciais, deterioração, a perda de valor dos bens apreendidos e ainda
evitar sua deterioração decorrente da dificuldade em fazer a sua manutenção. A alienação
deve ser realizada preferencialmente, por meio de leilão eletrônico.

Na alienação antecipada com o objetivo de preservar o valor dos bens, sempre que estes
estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou houver dificuldade
para sua manutenção, deve-se observar o valor estipulado pela administração judicial; caso
esse valor não alcance o montante estabelecido, os bens poderão ser alienados por
valor não inferior a 80% do estipulado na avaliação judicial (inclusive foi esta questão
cobrada recentemente no concurso para juiz do TRF 3).

A nova lei teve origem em projeto (PL 2057/07) apresentado pela Comissão de Legislação
Participativa da Câmara dos Deputados, a pedido da Associação dos Juízes Federais do
Brasil (Ajufe).

Na opinião do Relator da Comissão, Fábio Trad, a medida vai conferir maior agilidade e
presteza no retorno do valor desses bens para a União, para que a própria União possa
implementar políticas públicas que combatam a delinquência organizada

Proteção de juízes: Já o presidente da Ajufe, Ninno Oliveira Toldo, destacou a importância


da proteção aos profissionais da justiça.

Pela nova lei, juízes, integrantes do Ministério Público e seus familiares que estiverem em
"situação de risco" poderão ter proteção da Polícia Federal e das polícias civil e militar,
além de órgãos de segurança institucional. "É uma lei muito importante para a sociedade
porque é um passo no sentido da modernidade, no tratamento da criminalidade organizada e
no sistema de proteção a magistrados e aos membros do Ministério Público colocados em
situação de risco."

Julgamentos colegiados: A lei também adota julgamentos colegiados para os crimes


cometidos por organização criminosa. Ou seja, nesse tipo de delito, a decisão não será de
um juiz individualmente, mas sim de um conjunto de magistrados.

Veto: o sancionar a lei, a presidente Dilma vetou um dispositivo aprovado no Congresso


que excluía da possibilidade de alienação antecipada os bens que a União ou o estado
indicassem para ser utilizados pelas polícias.

A medida foi considerada normal pelo presidente da Ajufe. Segundo Ninno Oliveira, o veto
não afeta o objetivo da lei. (Fonte:
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITO-E-JUSTICA/423165-
PUBLICADA-LEI-QUE-PERMITE-A-VENDA-ANTECIPADA-DE-BENS-
RESULTANTES-DE-CRIMES.html)

Busca e apreensão: tem por objeto o material probatório e como finalidade resguardar os
meios de prova. A devolução de tais bens não está sujeita a prazo fixo, sendo mantida a
medida enquanto interessarem ao processo.

222
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Sequestro (art. 125). É a retenção de bens adquiridos com o resultado da infração penal.

Objeto: pode incidir sobre bens móveis ou imóveis.

Cabimento: caberá o sequestro (antes ou durante ação penal) dos bens imóveis e móveis
(para móvel, só cabe sequestro se não for cabível busca e apreensão do art. 240), adquiridos
pelo indiciado com os proventos da infração, ainda que já tenham sido transferidos a
terceiro. Pacelli entende exigível também periculum in mora (pág. 308, Curso de Processo
Penal 2012). No caso de bens móveis, porém, se o bem for ele próprio o produto da
infração, a medida cabível será busca e apreensão. No caso de bens imóveis, deve ser
levado à inscrição no Registro de Imóveis (art. 128, CPP).

Legitimidade: pode ser decretado de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do


ofendido ou mediante representação da autoridade policial

Procedimento: autuado em apartado, Juiz de ofício decreta o sequestro, a requerimento do


MP ou ofendido, ou representação da autoridade policial. Pode ser decretado na fase
investigatória ou no curso da ação penal. No primeiro caso, a denúncia ou queixa devem ser
oferecidas no prazo de 60 dias após a conclusão da diligência, sob pena de levantamento da
medida.

Requisitos para decretação: a) existência do fato criminoso; b) indícios veementes da


origem ilícita dos bens (art. 126, CPP) – exceção a este requisito encontra-se no Decreto-
Lei nº 3.240/41 (norma especial em relação ao art. 125, CPP), que exige apenas a existência
de prova ou indício de algum crime perpetrado contra a Fazenda Pública, sendo irrelevante
a origem dos bens que sofrerão a constrição; e c) perigo da demora – requisito não expresso
na lei, mas que pode ser inferido do art. 131, I, CPP (OLIVEIRA, 2010, p. 333).

Processamento: é processado em apartado e admite o oferecimento de embargos tanto pelo


acusado (alegando que o bem não foi adquirido com os proventos da infração), quanto por
terceiros (alegando boa-fé). Os embargos não podem ser julgados até o trânsito em julgado
da sentença.

Sentença absolutória ou extintiva da punibilidade: levantamento imediato do sequestro


(muito embora ainda possa haver o direito do lesado à recomposição civil). Obs.: também
poderá ser levantado por terceiro que preste caução suficiente (art. 131, II, CPP).

Sentença condenatória: o bem será levado a leilão, recolhendo-se o apurado ao Tesouro


Nacional, depois de retirado o que couber ao lesado ou terceiro de boa-fé (art. 133, CPP).
Embargos: de terceiro e do indiciado. Embargos de terceiro de boa-fé (rito de embargos do
CPC é aplicável subsidiariamente), se transferência foi a título oneroso. Embargos pelo
acusado, se bens não foram adquiridos com proventos da infração. Não haverá decisão
nesses embargos antes da coisa julgada da ação penal.

Levantamento: (Brasileiro, p. 1095/1097, 2014) conforme dispõe o art. 131 do CPP: o


sequestro será levantado, I - se a ação penal não for intentada no prazo de sessenta dias,
contado da data em que ficar concluída a diligência. Vale ressaltar que o prazo de 60 dias
para o MP propor a ação penal não tem natureza absoluta, podendo ser dilatado, em casos
223
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

de complexidade da causa e/ou pluralidade de acusados. Evidentemente, se o excesso for


abusivo, não havendo qualquer razão para a decretação da medida, os bens sequestrados
deverão ser liberados; II - se o terceiro, a quem tiverem sido transferidos os bens, prestar
caução que assegure a aplicação do disposto no art. 74, II, b, segunda parte, do Código
Penal. O dispositivo fala apenas em terceiro. Logo, não poderia oferecer aceita caução do
próprio acusado; III - se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o réu, por sentença
transitada em julgado. Uma outra hipótese não trazida no CPP que poderia ensejar o
levantamento do sequestro seria a procedência dos embargos do acusado (quando provados
que o bem não foi adquiridos com os proventos da infração penal) ou de terceiro de boa-fé
(que tenha comprado o bem sequestrado de boa-fé).
Condenação: se é condenado, bem é avaliado e levado a leilão, indo o produto para o
lesado ou terceiro de boa fé e o resto ao Tesouro.
O DL 3240/41 disciplina o cabimento de sequestro de qualquer bem do indiciado
(salvo os absolutamente impenhoráveis), ainda que em poder de terceiros, desde que
estes os tenham adquirido dolosamente, ou com culpa grave, em crime praticado em
prejuízo da Fazenda. Ou seja, o DL não exige que o bem seja provento (proveito) da
infração, bastando indícios veementes da responsabilidade. O prazo para a ação penal, neste
DL, é de 90 dias da decretação. No Informativo 420 do STJ, reconheceu-se a vigência desse
decreto, o qual não foi revogado pelo CPP, que lhe é posterior, por ser este norma geral,
enquanto tal diploma é norma especial.

Hipoteca legal (art. 134). Medida destinada a garantir a solvabilidade do devedor na


liquidação de obrigação ou responsabilidade civil decorrente de infração penal.

Objeto: incide apenas sobre bens imóveis do acusado, independentemente da origem ou da


fonte de aquisição da propriedade. Trata-se de exceção à impenhorabilidade de bem de
família (art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90).

Ocasião: qualquer fase do processo e, segundo Oliveira, mesmo antes da ação penal (2010,
p. 335).

Finalidade: assegurar responsabilização civil futura da vítima (prioridade), despesas


processuais e penas pecuniárias (somente após ressarcimento da vítima).

Bens: incide sobre imóveis do indiciado.

Requisitos: certeza da infração (existência do fato) e indícios suficientes de autoria. Não se


exige que bem seja proveito da infração.

Legitimidade: ofendido requer, em autos apartados, a especialização em qualquer fase do


processo (ou antes da ação, segundo Pacelli, pág. 311), designa o(s) imóvel (is) e estima
valor da responsabilidade. Juiz manda arbitrar a responsabilidade e avaliar imóvel.
Contraditório em dois dias e decisão. Réu pode oferecer caução para evitar hipoteca.

Cancelamento: absolvição ou extinção da punibilidade com coisa julgada. Processamento:


o ofendido deve estimar o valor aproximado da responsabilidade civil e apontará o imóvel

224
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

de valor correspondente; o juiz, após breve e rápida instrução, arbitra o valor provisório da
responsabilidade civil e determina a avaliação do imóvel indicado. Não haverá inscrição do
imóvel se o acusado oferecer caução equivalente idônea (art. 135, §6º, CPP). Sentença
absolutória ou extintiva da punibilidade: cancelamento da hipoteca (muito embora ainda
possa haver o direito do lesado à recomposição civil). Sentença condenatória: os autos da
hipoteca são encaminhados ao juízo cível para liquidação da execução (art. 143, CPP).

Arresto (art. 136): É a retenção de quaisquer bens para fins de garantia da solvabilidade do
devedor. Arresto prévio de bem imóvel: trata-se de medida preparatória à inscrição da
hipoteca (art. 136, CPP) e será revogada se não for inscrita a hipoteca em 15 dias. Arresto
de bens móveis: cabível quando o acusado não possua bens imóveis ou, possuindo-os,
sejam eles insuficientes para a satisfação da responsabilidade civil.

Modalidades: há duas modalidades, sempre em autos apartados: a) arresto preparatório


para hipoteca legal (decretado no início do pedido da hipoteca, revogando-se em 15 dias
se não for promovida a hipoteca); b) arresto de móveis subsidiariamente à hipoteca, se o
responsável não possuir bens imóveis ou os tiver em valor insuficiente. Se deterioráveis
e fungíveis, cabe avaliação e venda em leilão. Das rendas dos móveis pode juiz arbitrar
recursos para manutenção do indiciado e sua família. Depósito e administração do bem
arrestado segue CPC.

Levantamento: absolvição ou extinção da punibilidade com coisa julgada.

Observações para hipoteca e arresto: cabe ao MP requerer hipoteca legal e arresto se


houver interesse da Fazenda ou se o ofendido for pobre e o requerer (art. 142). Com a coisa
julgada condenatória, autos de hipoteca ou arresto vão ao juízo cível. STJ já decidiu que
cabe HC para questionar medidas assecuratórias, pois pode resultar na violação do direito
de ir e vir (REsp 865.163-CE, Og Fernandes, 2/6/2011).

Medidas assecuratórias na Lei nº 9.613/98: são duas: a) sequestro e b) apreensão de


bens, direitos ou valores do acusado (a apreensão equivale à medida de busca e apreensão
do art. 240, com ordem judicial de apreensão de coisas produto do crime). Legitimidade:
ambas podem ser decretadas de ofício, a requerimento do MP e representação da
Autoridade Policial. Ocasião: no curso do inquérito ou ação. Requisitos: basta
comprovação de indícios de autoria e da materialidade. Procedimento: o das medidas
assecuratórias acima, com alterações da 9.613/98. Foi excluído o prazo de 120 dias para o
levantamento dos bens sequestrados ou apreendidos, se o MP não propusesse a ação em
120 dias da conclusão da diligência, pela Lei nº 12.683/12.

Medidas assecuratórias na Lei 11.343/06: são basicamente a) apreensão e adoção de


outras medidas assecuratórias previstas no CPP sobre bens móveis e imóveis ou valores
consistentes em produtos dos crimes ou que constituam proveito auferido com sua prática,
desde que haja indícios suficientes da proveniência ilícita; b) sequestro e c) declaração de
indisponibilidade. Os bens sujeitos a essas medidas poderão ser alienados antecipadamente
(cautelarmente) ou serem perdidos ao final para a União. Procedimento: o juiz, de ofício, a

225
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

requerimento do MP ou representação da autoridade policial, ouvido o MP, havendo


indícios, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação, a apreensão e outras medidas
assecuratórias aos bens móveis e imóveis ou valores consistentes em produtos dos crimes
sobre droga, ou que constituam proveito auferido com sua prática, procedendo-se na forma
dos arts. 125 a 144 do CPP. Após, facultará ao acusado, em 5 dias, provas da origem lícita.
Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado.
Não havendo prejuízo para instrução e comprovado o interesse público/social, mediante
autorização judicial, ouvido o MP e cientificada a Senad, os bens apreendidos poderão ser
utilizados pelos órgãos ou pelas entidades que atuam na prevenção e repressão,
exclusivamente para tais fins. A autoridade policial poderá deles fazer uso, sob sua
responsabilidade e com o objetivo de sua conservação, mediante autorização judicial,
ouvido o MP. Apreensão de dinheiro ou cheques: a autoridade policial requererá ao Juiz a
intimação do MP, o qual deverá requerer ao juízo, em caráter cautelar, a conversão do
cheque em moeda nacional e o depósito em conta. No curso da ação penal, MP, em petição
autônoma, requererá, cautelarmente, proceda-se à alienação dos bens apreendidos,
excetuados aqueles que a SENAD indicar para uso e custódia da autoridade policial, de
órgãos de inteligência ou militares e de órgãos envolvidos nas ações de prevenção,
exclusivamente no interesse dessas atividades. Requerimento será autuado em apartado
para tramitação autônoma. Provado o nexo entre o tráfico e o bem apreendido e se houver
risco de perda do valor econômico do bem, há a alienação antecipada ou cautelar
(avaliação, ciência à Senad, intimação da União, MP e interessado antes e leilão
antecipado). Juiz dirime controvérsias e determina alienação antecipada em leilão, cujo
produto ficará em conta judicial até o final da ação penal, quando será transferido ao Funad,
se condenatória. Terão apenas efeito devolutivo os recursos interpostos contra as decisões
proferidas no curso do procedimento previsto neste artigo. Ao proferir a sentença de mérito,
o juiz decidirá sobre o perdimento do que foi apreendido, sequestrado ou declarado
indisponível. O que foi apreendido e não foi objeto de tutela antecipada ou cautelar, após
decretado o seu perdimento em favor da União, será revertido ao Funad. Compete à Senad
a alienação dos bens apreendidos e não leiloados em caráter cautelar, cujo perdimento já
tenha sido decretado em favor da União. Transitada em julgado, o juiz, de ofício ou a
requerimento do MP, remeterá à Senad relação dos bens, direitos e valores declarados
perdidos em favor da União, indicando, quanto aos bens, o local em que se encontram e a
entidade ou o órgão em cujo poder estejam. A União, por intermédio da Senad, poderá
firmar convênio com os Estados e com organismos para a prevenção e repressão, com
vistas na liberação de equipamentos e de recursos por ela arrecadados, para programas
sobre drogas. STF já decidiu não ser exigida a continuidade ou permanência na
utilização de bens no tráfico de entorpecentes para o seu confisco. Para Baltazar Jr., não
devem ser vendidos antecipadamente bens não sujeitos a depreciação rápida, como imóveis
ou joias (2010, p. 666).

Medidas assecuratórias na Lei nº 11.343/06: a) O art. 60 prevê e b) O art. 61 prevê a


possibilidade de utilização dos bens apreendidos pelos órgãos ou entidades que atuam na
prevenção do uso de drogas e na reinserção de usuários e dependentes, bem como na
repressão ao tráfico ilícito, desde que não haja prejuízo para a produção da prova e esteja
comprovado o interesse público ou social e desde que não seja a hipótese do art. 62; c) O
art. 62 prevê que os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de
transporte, os maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza
226
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

utilizados na prática dos crimes sejam mantidos sob custódia da polícia judiciária, exceto as
armas. Tais bens poderão ser destinados ao uso pela autoridade de polícia judiciária e por
órgãos de inteligência ou militares. Não sendo este o caso, o MP poderá, após a propositura
da ação penal, requerer a venda antecipada dos bens em leilão. Os valores apurados devem
ficar depositados em conta judicial, juntamente com o dinheiro e os cheques apreendidos,
até o trânsito em julgado da sentença, quando poderá ser a quantia restituída a quem de
direito ou destinada ao Funad (§9º). Obs.1: terão efeito unicamente devolutivo os recursos
interpostos contra as decisões proferidas nos procedimentos de alienação, sequestro ou
qualquer outra medida acautelatória (art. 62, §10). Obs.2: o STF já decidiu não ser exigida
a continuidade ou permanência na utilização de bens no tráfico de entorpecentes para o seu
confisco. Obs.3: para Baltazar Jr., não devem ser vendidos antecipadamente bens não
sujeitos a depreciação rápida, como imóveis ou joias (2010, p. 666).

Informativo de Jurisprudência

STJ. Medida Assecuratória. Razoabilidade. No curso do inquérito policiais, o juízo pode


(de oficio, a requerimento do MP ou representante da autoridade policial) determinar o
sequestro de bens, direitos ou valores do investigado (Art. 4, da Lei n. 9.613/98), contudo é
consabido, também, que essas medidas assecuratórias devem ser levantadas caso a ação
penal não se inicie em 120 dias (§1º do referido dispositivo). Sucede que, conforme entende
o STJ, eventual atraso no encerramento das diligências deve ser analisado conforme as
peculiaridades de casa procedimento. Na hipótese, o decreto do sequestro de bens e do
bloqueio dos ativos financeiros em questão deu-se em 2006 e até hoje não há sinal de que o
MP tenha oferecido a denúncia. Assim, defere-se o levantamento deles porque foram
ultrapassados os limites da razoabilidade. HC 144.407, Rel.Min. Laurita Vaz, j.16.6.2011,
5ª T. Info 477. Vale ressaltar qe a Lei nº 12.683/12 revogou a tal prazo para a propositura
de denúncia, nos crimes que versarem sobre Lavagem de Capitais, de sorte que se aplica o
prazo de 60 dias, que, como revela o julgado, não é peremptório, pode ser ampliado
conformidade a complexidade das investigações e do número de investigados.

Informativo do STF

- Nº 741

Impossibilidade de se manter o valor da fiança sem analisar a situação econômica do


agente
O CPP prevê que o valor da fiança poderá ser reduzido ou até dispensado se assim
recomendar a situação econômica do preso. Logo, o juiz, para indeferir o pedido da defesa
para dispensa da fiança, deverá fundamentar sua decisão na análise da capacidade
econômica do agente. Não se pode, portanto, manter a fiança sem levar em consideração
esse fator essencial. 2ª Turma. HC 114731, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
1º/4/2014.

227
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Informativo do STJ:

513:
Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. CAUTELAR DE SEQUESTRO. DEFERIMENTO
DO PEDIDO SEM PRÉVIA INTIMAÇÃO DA DEFESA.
Não acarreta nulidade o deferimento de medida cautelar patrimonial de sequestro sem
anterior intimação da defesa. Na hipótese de sequestro, o contraditório será diferido em prol
da integridade do patrimônio e contra a sua eventual dissipação. Nesse caso, não se caracteriza
qualquer cerceamento à defesa, que tem a oportunidade de impugnar a determinação judicial,
utilizando os meios recursais legais previstos para tanto. RMS 30.172-MT, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2012

228
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

15.b. Procedimentos relativos aos crimes de competência do Tribunal do


Júri
Principais obras consultadas: Eugênio Pacelli de Oliveira. Curso de Processo Penal, 16ª
Edição, 2012. Editora Atlas. Baltazar Jr., Curso Modular de Direito Processual Penal. Ed.
Conceito Editorial. Leonardo de Medeiros Garcia, Roberval Rocha. Ministério Público
Federal edital sistematizado. 2.ed. Bahia: Juspodivm,2012. Lima, Renato Brasileiro de.
Manual de Processo Penal. 2ª edição. Volume único. Salvador: Juspodivm, 2014.
Anotações de aulas do Curso Alcance para o Concurso de Procurador da República,
ministradas pela Prof. Eloisa Pitarro, em 2013.

Legislação: Artigos 406 a 497 do Código de Processo Penal; Artigo 74, §1 do Código de
Processo Penal; Artigo 5º, inciso XXXVIII da Constituição Federal; Súmula 721 STF.

Origem do júri atual: Magna Carta, de 1.215.

Princípios constitucionais do Júri: a) soberania dos veredictos; se houver recurso ao


tribunal que anule o julgamento, haverá novo júri; revisão criminal: tramitará no tribunal e
poderá desconstituir a decisão do júri, pois será favorável ao condenado; b) plenitude de
defesa; c) sigilo das votações: em sala especial, longe das vistas populares.

Competência: crimes dolosos contra a vida: homicídio, infanticídio, instigação ao suicídio


e aborto. Pessoas com prerrogativa de foro previsto na Constituição Federal serão julgados
pelo Tribunal competente, porque é prevalecente sobre a competência constitucional do
Tribunal do Júri, em face do princípio da especialidade. Contudo, se o foro especial estiver
previsto em lei ordinária, em lei de organização judiciária, ou exclusivamente na
Constituição Estadual, prevalecerá a competência constitucional do júri (Brasileiro, p. 461).
É o teor da Súmula 721 do STF: “A competência constitucional do Tribunal do Júri
prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela
Constituição estadual”.

Competência no caso de concurso de agentes em que um deles tenha prerrogativa de


foro prevista na CRFB e outro não: deverá haver a separação de processos, na medida em
que ambas as competências – a do Júri e a do Tribunal Competente – estão previstas na
Constituição Federal, sendo inadmissível, que norma prevista no CPP (continência, art. 77,
I) possa prevalecer sobre preceitos constitucionais. Assim, o detentor de foro por
prerrogativa de função será julgado pelo Tribunal competente e o coautor no Tribunal do
Júri do local do crime doloso contra a vida, não se admitindo que o privilégio de foro de um
dos agentes atraia a competência do Tribunal do Júri para julgar coautor, por serem
competências previstas na Constituição Federal, de sorte que as normas de continência
previstas no CPP não podem sobre elas prevalecer.

Genocídio: competência do Júri Federal, se praticado por meio de crimes dolosos contra a
vida. Lei infraconstitucional pode investir júri da competência de outros crimes, inclusive,
poderia atribuir a competência para julgar o crime de genocídio. A respeito do tema, vale
229
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

conferir o seguinte trecho das anotações das aulas do Curso Alcance para Procurador da
República, ministradas pela Prof. Eloisa Pitarro, em 2013:

Genocídio não é crime doloso contra a vida, mas sim crime contra a humanidade, de
competência da justiça federal. O problema é que acabam por envolver o genocídio com o
homicídio.
A lei nº 2889/56 define genocídio e elenca as hipóteses de genocídio.
Ex.: Um indivíduo com a intenção de eliminar um grupo, ele mata vinte pessoas.
Que crime ele cometeu? Para Nucci, cada morte corresponde a um genocídio em concurso
material ou em concurso formal, conforme a sua prática. No entanto, poder-se-ia sustentar
como tese de defesa que o genocídio exige pluralidade de vítimas. Assim, o agente deveria
responder por um só genocídio. Tanto para o Nucci, quanto pela tese de defesa, a
competência é da justiça federal.
O STF enfrentou a questão, entendendo que os bens jurídicos tutelados são
distintos: genocídio – crime contra a humanidade; homicídio – crime contra a vida. Não
tem como dizer que absorve, tendo em vista a autonomia entre o genocídio e os 20 crimes
de homicídio.
Assim, o STF entendeu que a competência constitucional do Tribunal do Júri, para
julgar o homicídio, promoverá um tipo de atração de forma a atrair a competência para
julgar o genocídio. Nesse sentido, confira-se:

EMENTAS: 1. CRIME. Genocídio. Definição legal. Bem jurídico protegido. Tutela penal
da existência do grupo racial, étnico, nacional ou religioso, a que pertence a pessoa ou
pessoas imediatamente lesionadas. Delito de caráter coletivo ou transindividual. Crime
contra a diversidade humana como tal. Consumação mediante ações que, lesivas à vida,
integridade física, liberdade de locomoção e a outros bens jurídicos individuais, constituem
modalidade executórias. Inteligência do art. 1º da Lei nº 2.889/56, e do art. 2º da
Convenção contra o Genocídio, ratificada pelo Decreto nº 30.822/52. O tipo penal do delito
de genocídio protege, em todas as suas modalidades, bem jurídico coletivo ou
transindividual, figurado na existência do grupo racial, étnico ou religioso, a qual é posta
em risco por ações que podem também ser ofensivas a bens jurídicos individuais, como o
direito à vida, a integridade física ou mental, a liberdade de locomoção etc. 2. CONCURSO
DE CRIMES. Genocídio. Crime unitário. Delito praticado mediante execução de doze
homicídios como crime continuado. Concurso aparente de normas. Não
caracterização. Caso de concurso formal. Penas cumulativas. Ações criminosas
resultantes de desígnios autônomos. Submissão teórica ao art. 70, caput, segunda
parte, do Código Penal. Condenação dos réus apenas pelo delito de genocídio. Recurso
exclusivo da defesa. Impossibilidade de reformatio in peius. Não podem os réus, que
cometeram, em concurso formal, na execução do delito de genocídio, doze homicídios,
receber a pena destes além da pena daquele, no âmbito de recurso exclusivo da defesa. 3.
COMPETÊNCIA CRIMINAL. Ação penal. Conexão. Concurso formal entre genocídio e
homicídios dolosos agravados. Feito da competência da Justiça Federal. Julgamento
cometido, em tese, ao tribunal do júri. Inteligência do art. 5º, XXXVIII, da CF, e art.
78, I, cc. art. 74, § 1º, do Código de Processo Penal. Condenação exclusiva pelo delito
de genocídio, no juízo federal monocrático. Recurso exclusivo da defesa.
Improvimento. Compete ao tribunal do júri da Justiça Federal julgar os delitos de

230
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

genocídio e de homicídio ou homicídios dolosos que constituíram modalidade de sua


execução.
(RE 351487, Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/08/2006,
DJ 10-11-2006 PP-00050 EMENT VOL-02255-03 PP-00571 RTJ VOL-00200-03 PP-
01360 RT v. 96, n. 857, 2007, p. 543-557 LEXSTF v. 29, n. 338, 2007, p. 494-523)

Competência para julgamento nas hipóteses em que há conexão e/ou continência: a)


Se o juiz sumariante desclassifica, impronuncia ou absolve sumariamente o réu com relação
ao crime de competência do Tribunal do Júri, remeterá os processos ao juiz competente
(art. 81, par. único, CPP). b) Se o Tribunal do Júri desclassifica o crime doloso contra a
vida, competirá ao Juiz-Presidente julgar todos os crimes cujos processos foram reunidos,
inclusive aquele objeto da desclassificação, não se aplicando o caput do art. 81, e sim o art.
492, §§1º e 2º, CPP. Em suma, o Tribunal do Júri apenas julgará crimes não dolosos contra
a vida na hipótese de conexão com crime doloso contra a vida e desde que não tenha havido
a desclassificação deste. Julgará os crimes conexos, contudo, mesmo que absolva o réu do
crime doloso contra a vida, já que em tal hipótese ocorrerá o próprio julgamento do mérito
do crime.

Impronúncia: trata-se de decisão interlocutória mista, porque encerra o processo sem,


porém, julgar a pretensão punitiva (Oliveira, 2010, p. 694). Contudo, se se tem em mira a
teoria dos recursos, deve ser classificada como sentença, já que contra tal decisão, cabe
apelação. Conforme art. 414, par. único, CPP, nos casos de impronúncia, enquanto não
ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se
houver prova nova. Para Oliveira, tal dispositivo viola a vedação de revisão pro societate,
na medida em que o houve instrução processual prévia, com contraditório e ampla
participação dos interessados e não se pronunciou porque ausentes a materialidade delitiva
e indícios suficientes de autoria (julgamento de mérito, portanto, mesmo que a finalidade de
tal medida se dirija a justificar a possibilidade de nova persecução penal pelo Tribunal
competente para julgar os crimes dolosos contra a vida. (2014, p. 729/730).

Composição: Juiz-Presidente e 25 jurados leigos sorteados dentre os alistados (o Conselho


de Sentença é integrado por 7 jurados). São assegurados ao Tribunal do Júri: a)
Plenitude de defesa; b) Sigilo das votações; c) Soberania dos veredictos; d) Competência
para os crimes dolosos contra a vida. Procedimento bifásico: a) Primeira fase: instrução
preliminar ou judicium accusationis. É destinada à formação da culpa. Fase reservada para
a decisão acerca da possível existência de um crime da competência do Tribunal do Júri. O
juiz deve emitir apenas um juízo de probabilidade/admissibilidade. Desenvolve-se perante
o juiz singular e o procedimento é praticamente o mesmo do procedimento comum do rito
ordinário. Segue esquema: Denúncia → Recebimento → Citação → Resposta Escrita →
Réplica → Audiência Concentrada → Decisão proferida de imediato ou em 10 dias, com
possibilidade de: 1) Absolvição Sumária (apelação); 2) Impronúncia (apelação); 3)
Desclassificação (RSE) e 4) Pronúncia (RSE). b) Segunda fase: judicium causae. Destina-
se ao julgamento propriamente dito. Segue esquema: Despacho do art. 422 → Diligências
→ Relatório → Organização da pauta → Designação de data para julgamento → Sessão
de julgamento.

Hipóteses de absolvição sumária: a) provada a inexistência do fato; b) provado não ser o

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

acusado autor ou partícipe do fato; c) o fato não constituir infração penal; d) demonstrada
causa de isenção de pena ou de exclusão do crime, à exceção dos casos de
inimputabilidade, para os quais seja cabível a aplicação de medida de segurança. Obs.:
Pacelli entende inconstitucionais as hipóteses “a” e “b”, pois a decisão fundada em tais
hipóteses abrange grande parte do núcleo central do mérito da matéria criminal (2010, p.
691).

Hipóteses de desclassificação: a) Desclassificação pelo juiz sumariante – o juiz remete os


autos ao juiz competente, que deverá renovar os atos de instrução, em observância ao
princípio da identidade física do juiz (art. 74, §3º, e 419, CPP); b) Desclassificação pelo
Tribunal do Júri: o juiz-presidente julga, na forma do art. 492, §1º, CPP, se não resultar da
desclassificação uma modificação da competência de jurisdição, como, por exemplo, na
desclassificação para crime militar.

Procedimento escalonado em duas fases: I - judicium accusationis: prazo máximo de 90


(noventa dias), rito ordinário (em regra), salvo o infanticídio (sumário, pois pena é de 1 a 3
anos). Nas alegações finais, MP, querelante e assistente (se houver) pedirão, em regra, a
pronúncia do réu. MP pode pedir absolvição. Se querelante pedir absolvição, há perempção
em relação ao crime de ação privada. Defensor do réu só pode pedir a impronúncia,
desclassificação ou a absolvição sumária, sob pena de nulidade; ou, em caso de pronúncia,
a desqualificação do crime (afastamento das qualificadoras contidas na denúncia). Poderá
calar-se, ainda, como estratégia de defesa (STF RT 601/443). Não pode a defesa limitar-se
a pedir a pronúncia. As nulidades da instrução criminal nos processos da competência do
júri devem ser arguidas nas alegações finais (STF e STJ JSTJ 21/131).

Decisões: a) PRONÚNCIA, se existirem indícios de autoria e houver prova da


materialidade. Revela um juízo de probabilidade, e não de certeza. Fundamentação limitada
à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios de autoria ou de
participação. Da pronúncia deve constar a narração do fato delituoso, incluindo as
qualificadoras e as causas de aumento. Deve o juiz declarar o dispositivo legal e especificar
as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena, manutenção, revogação ou
substituição da prisão ou medida restritiva; as causas de privilégio e de diminuição de pena,
bem como as atenuantes e agravantes poderão reconhecidas em plenário ainda que não
constantes da pronúncia; pronúncia delimitará o campo temático, especificando,
necessariamente, as qualificadoras e as causas de aumento de pena, dispensada menção às
privilegiadoras e demais causas de diminuição, bem como as agravantes e atenuantes. No
plenário, as causas de diminuição de pena serão objeto de quesitação e as causas agravantes
e atenuantes, de alegação nos debates, para fins de reconhecimento na dosimetria.
Pronúncia deverá enfrentar a tese apresentada pela defesa, sem adentrar ao mérito, sem
eloquência acusatória. Se réu for inimputável, será o caso de absolvição sumária (RT
720/422) se a inimputabilidade for a única tese de defesa. No STF (JSTF 181/296): a
natureza jurídica da pronúncia é de decisão meramente interlocutória - interlocutória mista
(encerra fase procedimental bem delimitada e é impugnável mediante RSE - Trata-se de
decisão). Na dúvida sobre se pronuncia ou não, deve o juiz pronunciar (in dúbio pro
societatis). Enunciado 191 da Súmula do STJ: A pronúncia é causa interruptiva da
prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime. Se houve
eloquência acusatória na pronúncia, não se anula se jurados não tiveram acesso à pronúncia

232
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

ou ao acórdão em que verificada esta (HC 94731/MT, 1º.12.2009. A pronúncia não deve
conter referência a circunstâncias agravantes (arts. 61 e 62 do CP), nem atenuantes (arts. 65
e 66 do CP). Só mencionará as qualificadoras e causas de aumento. Podem ser mencionadas
qualificadores ou causas de aumento de pena descritas implícita ou explicitamente na
denúncia. Se a qualificadora ou causa de aumento não estiver relatada expressa ou
implicitamente, exige-se prévio aditamento pelo MP. As qualificadoras/causas de aumento
só devem ser excluídas quando manifestamente improcedentes. A pronúncia não deve se
referir a concurso material (matéria de aplicação da pena), concurso formal (matéria de
fixação da pena) nem crime continuado. Se juiz entender que outras pessoas também
responsáveis não foram incluídas na denúncia, encaminhará os autos ao MP para
aditamento; se já houve pronúncia, o caminho será nova ação. Recurso da pronúncia:
R.S.E. MP poderá recorrer em favor de réu. Outros efeitos da pronúncia: transitando em
julgado, preclui processualmente ao juiz, sendo imutável a admissibilidade da acusação; a
sentença de pronúncia não faz coisa julgada, já que não vincula o Tribunal do Júri, apenas
acarreta preclusão ao juiz; juiz não poderá sequer corrigir irregularidades ou sanar
nulidades, salvo a situação do art. 416 (verificação de fato superveniente que modifique a
classificação do delito – ex: morte da vítima – havendo antes manifestação das partes), caso
em que o MP deve aditar a acusação.

b) IMPRONÚNCIA, se não existirem indícios de autoria ou não houver prova da


materialidade. Natureza jurídica: terminativa, com extinção do processo sem julgamento de
mérito. Alguns a chamam de “absolvição de instância”. Cabe apelação, apesar de ser uma
decisão interlocutória mista. Se o juiz impronunciar o crime doloso contra a vida, não
poderá proferir decisão quanto aos crimes conexos, salvo se for o juiz competente para
tanto (abrindo-se prazo para defesa e inquirição de novas testemunhas). Recurso da
sentença de impronúncia ou absolvição sumária: apelação. Defesa pode recorrer se
pretender a absolvição sumária. Despronúncia: decisão do tribunal que julga procedente o
recurso da defesa, o recurso em sentido estrito, contra a sentença de pronúncia (decisão de
impronúncia obtida em grau de recurso);

c) DESCLASSIFICAÇÃO, ocorre quando o juiz entende não ser crime doloso contra a
vida (desclassificação própria) ou ser outro crime de competência do júri (imprópria), mas
de capitulação diversa, hipótese em que pronunciará o acusado. Desafia R.S.E. O 1º RSE
será exclusivo da acusação. Defesa não pode recorrer primeiramente da desclassificação. Se
MP entrar com RSE, réu poderá entrar com outro RSE protestando pela absolvição
sumária. Se juiz a quem foi remetido os autos discordar, suscitará conflito de competência.
Se réu foi denunciado por crime doloso contra a vida e outros crimes conexos, não pode
juiz pronunciar um e impronunciar o outro (salvo manifesta ausência de justa causa para
reunião de processos). Quando a desclassificação do crime doloso contra a vida for pelo
júri, a competência será sempre do juiz-presidente. Mas se o júri absolver pelo crime doloso
contra a vida, ocorrerá julgamento de mérito desse crime e aí o júri julgará os conexos
restantes. Desclassificando o juiz na 1ª fase, mesmo que seja competente para sentenciar,
reabrirá para defesa prazo e indicação de testemunhas.

d) ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA (rol taxativo), se convencido inequivocamente da


inexistência do fato, falta de prova de não ter sido o réu autor ou partícipe, se o fato não
consistir em infração penal, falta de pressuposto para aplicação da pena ou da extinção da

233
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

punibilidade, à exceção dos casos de inimputabilidade para os quais seja cabível a aplicação
de medida de segurança. Cabe apelação. Não há reexame necessário na absolvição sumária.

e) FASES DO JÚRI: Primeira fase encerra-se com o trânsito em julgado da sentença de


pronúncia. A absolvição sumária foi ampliada e passou a ser prevista para todos os
procedimentos (art. 397), sem recurso de ofício (serão duas possibilidades de absolvição
sumária, segundo LFG). Defesa pode recorrer no caso de absolvição por inimputabilidade
decorrente de doença mental, desenvolvimento mental retardado ou incompleto, para evitar
medida de segurança. Segunda fase (judicium causae): Juiz presidente do Júri recebe o
processo e intima interessados (MP, querelante, advogado) para apresentarem rol de até 5
testemunhas por contexto fático para oitiva em plenário, indicando meios de prova,
facultando a juntada de documentos. Se o MP não tiver arrolado o número máximo de
testemunhas, o assistente pode completar. Pacelli: a competência do júri para os crimes
conexos não é absoluta. Deste modo, se resultar em grande quantidade de testemunhas
(crime doloso mais crimes conexos), pode haver a separação facultativa dos processos, com
fundamento no art. 80 do CPP.

Cláusula de imprescindibilidade da testemunha (art. 461): se, intimada, não comparecer,


condução coercitiva, podendo ou não ser adiado para o primeiro dia desimpedido o
julgamento. Mas se ela não for encontrada no endereço indicado, após regulares diligências
certificadas pelo oficial, julgamento será realizado sem ela. Se residentes fora, serão
inquiridas na forma de justificação, por carta precatória. Juiz ordena diligências e sana
nulidades (saneamento), determinando as providências necessárias, admitindo ou
indeferindo provas (antes da sessão).

Reunião é o conjunto de sessões (sessão = funcionamento diário do tribunal). Logo, uma


reunião é o evento que reúne o juiz e os 25 jurados para julgarem vários processos num
dado período. Numa sessão (funcionamento diário), pode haver o julgamento de um ou
mais processos. Um só processo pode demorar dois ou três dias (duas ou três sessões).
Sorteio de 25 jurados que julgarão os processos da próxima reunião.

Julgamento: compromisso dos jurados; leitura do relatório feito pelo juiz; oitiva do
ofendido, se possível; oitiva das testemunhas da acusação; serão indagadas inicialmente
pelo juiz, depois pelo MP, assistente, querelante e advogado, diretamente; jurados poderão
perguntar, mas por intermédio do juiz; oitiva das testemunhas de defesa; perito, acareação e
reconhecimento de pessoas e coisas; partes poderão requerer esclarecimento da prova
pericial se o fizerem pelo menos dez dias antes do plenário; interrogatório; debates (réplica,
tréplica); leitura da explicação dos quesitos; formulação dos quesitos; processamento do
julgamento; votação; sentença pelo juiz-presidente do júri; encerra-se com a sentença do
juiz presidente.

Desaforamento: se interesse de ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a


imparcialidade do júri (jurados: aplicam-se as regras de impedimento, suspeição e
incompatibilidade. Máximo de 3 recusas imotivadas) ou a segurança pessoal do acusado, o
Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado
ou mediante representação do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do
julgamento para outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos,

234
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

preferindo-se as mais próximas. Se há influência do réu no município, cabe o


desaforamento, mas não diretamente à capital sem fundamentação. Primeiro, deve-se ir
para as comarcas mais próximas. Se o desaforamento se fundar na dúvida fundada sobre a
parcialidade do júri, as comarcas mais distantes têm preferência sobre as mais próximas,
inclusive permite-se seja na capital do Estado (STJ: HC 219.739-RJ). Súmula 712 STF: “é
nula a decisão que determina o desaforamento do processo da competência do júri sem
audiência da defesa”. Na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia ou quando
efetivado o julgamento (do júri), não se admitirá o pedido de desaforamento, salvo, quanto
a fato ocorrido durante ou após a realização de julgamento anulado. Sendo relevantes os
motivos alegados, o relator poderá determinar, fundamentadamente, a suspensão do
julgamento pelo júri. Desaforamento por excesso de serviço: ouvem-se juiz e parte
contrária, se julgamento não puder ser realizado em 6 meses do trânsito da pronúncia. Não
havendo excesso de serviço, réu pode pedir que o tribunal determine imediato julgamento.
Não cabe desaforamento por simples alegação de dúvida quanto à imparcialidade dos
jurados (STJ: HC 106.102-SP). Não há recurso da decisão sobre o desaforamento.
Reaforamento: volta à comarca originalmente competente, se desaparecidas as causas que
determinaram o desaforamento: não é cabível, salvo se houver novos impedimentos no
foro novo e no antigo aqueles desapareceram (STF – HC 67.581 – GO).

Ordem de preferência para julgamento: processos com réus presos preferem aos soltos;
se todos presos, preferência para os presos há mais tempo; se presos há um tempo igual,
preferência ao pronunciado antes.

Jurados: Chamam-se os 25. No mínimo, devem estar presentes 15 no dia. 7 comporão o


conselho de sentença para a sessão de julgamento. Se MP não comparecer, adia para o
primeiro dia desimpedido. Se não houver justa causa, o juiz comunicará ao Procurador-
Geral. Se o advogado não comparecer e outro não for constituído, adia para o primeiro dia
desimpedido e comunica à OAB (logo, o julgamento será adiado pelo não comparecimento
do MP e do defensor). Instala-se a sessão se estiverem presentes pelo menos 15 dos 25.
Caso haja pelo menos 15 ou mais (mas não 21), sorteiam-se suplentes até atingir 25. Os
suplentes serão convocados para sessões subsequentes. Quem não comparecer: multa, se
não houver justa causa. Juiz retira as cédulas com os nomes das urnas e as recoloca com os
nomes dos presentes. Porteiro vai ao corredor e chama as partes, anunciando o processo a
ser julgado. Se réu estiver solto e, devidamente intimado, não comparecer, será julgado
assim mesmo. Sorteia-se Conselho de Sentença (7 jurados). A defesa e, após, a acusação
podem recusar até 3 jurados cada, imotivadamente. Dois ou mais réus com advogados
diferentes que divirjam sobre um determinado jurado: separam-se os julgamentos, sendo o
recusante julgado no dia útil seguinte. Compromisso judicial de imparcialidade e justiça.

Início da instrução em plenário: Ordem de inquirição de testemunhas e do


interrogatório em plenário: é inversa à do procedimento comum, mas Oliveira propõe
uma unificação (2010, p.710). Testemunhas em plenário: máximo de 5 por fato. Juiz, MP,
assistente, querelante e advogado tomam sucessiva e diretamente as declarações da vítima,
se possível. Juiz, MP, assistente, querelante e advogado tomam sucessiva e diretamente as
declarações das testemunhas arroladas pela acusação. Advogado de defesa, juiz, MP tomam
as declarações da testemunha arrolada pela defesa. Jurados podem perguntar à vítima e à
testemunha por intermédio do juiz. Partes e jurados podem pedir acareação,

235
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

reconhecimento de pessoas e coisas, esclarecimentos dos peritos. Interrogatório: o Juiz


não intervém. Feito diretamente pelo MP, assistente, querelante, advogado, que
perguntarão ao réu diretamente. Jurado pode perguntar via juiz. Algemas: só em
casos excepcionais. Diligências essenciais e impossíveis de pronto atendimento poderão ser
pedidas, o que acarretará dissolução do júri. Sentença. Ata. Até o momento da abertura dos
trabalhos da sessão, o juiz decidirá os casos de isenção e dispensa dos jurados, bem como
eventuais pedidos de adiamento. Não cabe designação de promotor ad hoc.

Não comparecimento do jurado não mais importará perda dos direitos políticos. Mas se for
motivação política, filosófica ou religiosa e não cumprir prestação alternativa, há suspensão
dos direitos políticos. São isentas as pessoas do presidente da república, ministros de
Estado, governadores, prefeito, secretários, parlamentares, magistrados, órgãos do MP,
Delegados de Polícia e servidores da Segurança Pública, serventuários da justiça etc.
Analfabeto pode ser jurado.

Tribunal do Júri implica um juiz mais 25 jurados (sorteados dentre os alistados).

Conselho de sentença significa um juiz mais 7 jurados escolhidos. Parentes podem ser
jurados na mesma sessão, mas não no mesmo conselho de sentença.

Havendo concurso de pessoas (mais de um réu), o jurado que integrar o conselho de


sentença anterior para o julgamento de corréu está impedido de participar do
julgamento de outro corréu.

Incomunicabilidade dos jurados: não significa isolamento de jurado (pode haver


comunicação que não verse sobre o mérito do julgamento) entre os jurados durante
recessos, desde haja fiscalização pelo juiz togado. Eles podem: pedir informações e
esclarecimentos durante a instrução, perguntar às testemunhas (via juiz) e consultar autos.

Sorteado, o jurado, primeiramente, deverá declarar-se suspeito ou impedido. Se não o fizer,


a parte o fará. A arguição pela parte deve ocorrer logo após o sorteio do jurado, sob pena de
preclusão. Juiz rejeita se a arguição for ilidida pelo jurado e não for de pronto demonstrada,
registrando em ata. Para o STF, se resultado do julgamento não sofreu influência
impedimento ou suspeição, não haverá nulidade.

Estouro de urna: se, em consequência do impedimento, suspeição, incompatibilidade,


dispensa ou recusa, não houver número para a formação do Conselho de Sentença, o
julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido, após sorteados os suplentes.

Alegações finais: defesa não pode concordar com a acusação integralmente. Defesa pode:
pedir desclassificação para crime menos grave; pedir exclusão de qualificadoras e
agravantes; apresentar teses de defesas alternativas, mesmo que incompatíveis entre si. Na
tréplica não pode ser apresentada tese defensiva nova, mas há posições em contrário como
Nucci: a inovação na tréplica é cabível (princípio da plenitude de defesa), devendo o MP
utilizar o aparte (que é a intervenção de uma das partes durante a manifestação da outra,
previsto no art. 497, XII, do CPP, quando sentir que deve fornecer uma explicação aos
jurados quanto à inadmissibilidade do argumento novo apresentado pela defesa na tréplica).

236
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Após debates, permite-se reinquirição de testemunha e acareação. Tempo: 1h30 para cada
parte (para cada réu), 1h para réplica e tréplica. Proibições: sob pena de nulidade, partes
não poderão fazer referência a pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a
acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que
beneficiem ou prejudiquem o acusado; leitura de documento ou a exibição de objeto que
não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se
ciência à outra parte (vale para defesa também).

Quesitação: não deverá ser feito quesito sobre a suficiência ou insuficiência de prova.
Enunciado 156 do STF: É absoluta a nulidade do julgamento pelo Júri por falta de quesito
obrigatório. Se defesa alega legítima defesa, é obrigatória quesitação sobre moderação e
elemento subjetivo do excesso punível, ainda que jurados afirmem negativamente ao
quesito sobre uso dos meios necessários. Respondido categoricamente pelos jurados que o
crime não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do paciente, resta prejudicada
a formulação de quesito acerca da configuração de desistência voluntária, pois são teses
excludentes. Para reconhecimento de nulidade, imprescindível a demonstração de prejuízo
na inversão da ordem dos quesitos. Nulidades relativas quanto aos quesitos devem ser
apresentadas na sessão, pena de preclusão. Ordem dos quesitos: a) materialidade do fato;
b) a autoria ou participação (quesitos na participação não devem se limitar à mera
referência à ação de participação, pois há diferentes modalidades de participação); se quatro
jurados responderem negativamente a qualquer um dos dois primeiros quesitos
(materialidade e autoria), encerra-se a votação, absolvendo. Se positiva a resposta aos dois
primeiros, vem o terceiro quesito; c) se o acusado deve ser absolvido (Pacelli: é a
substituição do direito positivo pelo sentimento de justiça do júri); d) se existe causa de
diminuição de pena alegada pela defesa (inclui as causas de diminuição de pena e as
privilegiadoras também; mesmo que não alegada pela defesa, deve haver o quesito). Obs.:
agravantes e atenuantes não constarão de quesitos, devendo ser reconhecidas por ocasião da
sentença (art. 492, I, b); e) se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de
pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a
acusação (inclui o acréscimo resultante do concurso formal e do crime continuado. Ambas
devem constar obrigatoriamente da pronúncia).

Sentença: incluirá agravantes e atenuantes alegadas nos debates (juiz pode reconhecer de
ofício atenuante não tratada nos debates – STF, HC 106376, 03/2011). No caso de
desclassificação do crime doloso contra a vida para outro que não o seja, o julgamento dos
crimes conexos (não dolosos contra a vida) é competência para julgamento será do juiz-
presidente. Neste caso, juiz não poderá considerar o crime como doloso. Logo: afastamento
de dolo pelo júri: juiz tem que acatar. Se as respostas do júri foram positivas quanto à
materialidade e autoria, no caso de desclassificação, não estará o juiz impedido de absolver;
logo, no reconhecimento da materialidade e da autoria do fato pelo júri com posterior
desclassificação, juiz não tem que acatar. Quando da leitura da sentença na sessão, há o
início do prazo recursal, mesmo que tal documento seja impresso depois. Advogado pode
recorrer oralmente e apresentar razões depois.

Enunciados de Súmulas de Jurisprudência

1) STF:

237
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

721: A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro por


prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.

603: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do


tribunal do júri.

206: É nulo o julgamento ulterior pelo júri com a participação de jurado que funcionou em
julgamento anterior do mesmo processo.

156: É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, por falta de quesito obrigatório.

Informativos de Jurisprudência

Informativos do STF

- Nº 732

Protesto por Novo Júri: Pessoas condenadas após o fim do protesto por novo Júri não
têm direito a esse recurso
As pessoas condenadas pelo Tribunal do Júri após a entrada em vigor da Lei nº
11.689/2008 (09/08/2008) não têm direito ao recurso “protesto por novo júri”, ainda que o
crime tenha sido cometido antes da referida lei revogadora. STF. 2ª Turma. RE 752988
AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 10/12/2013 (Info 732).

- Nº 711

Discussão sobre qualificadora em sede de HC no STF

A jurisprudência do STF é consolidada no sentido de que as qualificadoras somente podem


ser excluídas pela Corte quando se mostrarem manifestamente improcedentes.
Na hipótese em tela, a 1ª Turma do STF entendeu que a qualificadora apontada não era
manifestamente improcedente, de forma que caberia ao conselho de sentença (júri popular)
decidir se o paciente praticara o ilícito motivado por ciúme, bem como analisar se esse
sentimento, no caso concreto, constituiria motivo fútil apto a qualificar o crime em
comento.
STF. 1ª Turma. HC 107090/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 18.6.2013.

- Nº 706

Tribunal do júri e cerceamento de defesa

O CPP determina que, se o advogado do acusado não comparecer à sessão designada para o
Júri, sem apresentar escusa (justificativa) legítima, e se outro advogado não for constituído
pelo réu, o juiz deverá designar nova data para o julgamento, intimando a Defensoria
Pública para que participe do novo julgamento e faça a defesa do acusado caso este não
apresente novamente defensor constituído. O novo julgamento deverá ser marcado com

238
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

uma antecedência mínima de 10 dias, a fim de que o defensor do acusado possa conhecer o
processo. Tal previsão está contida no art. 456 do CPP. No caso concreto, o advogado
constituído do réu não apareceu na sessão de julgamento, tendo sido designado novo júri
com antecedência de 12 dias e intimação da Defensoria Pública.
No dia do júri, a defesa em Plenário foi feita pelo Defensor Público, tendo ele alegado não
ter tido tempo suficiente para conhecer os autos. O réu foi condenado, tendo sido
impetrados sucessivos habeas corpus até que a questão chegasse ao STF.
A 2ª Turma do STF decidiu que, apesar da decisão do juiz de adiar o júri ter sido praticada
em conformidade com a lei, no caso concreto, o prazo concedido para que o Defensor
Público tivesse para estudar o processo (12 dias) foi muito exíguo considerando que se
tratava de uma causa complexa e com vários volumes de autos. Dessa forma, o julgamento
foi considerado nulo por conta da violação aos princípios da razoabilidade, da
proporcionalidade e, ainda, do devido processo legal substantivo (e não o meramente
formal). STF. 2ª Turma. HC 108527/PA, rel. Min. Gilmar Mendes, 14/5/2013.

STF. Júri. Omissão de quesitos e nulidade. Desde que alegada a legitima defesa, seria
obrigatória a formulação dos quesitos sobre a moderação e o elemento subjetivo do excesso
punível, ainda que os jurados tivessem respondido negativamente ao quesito sobre o uso
dos meios necessários. HC 98458, red. p/ac Min. Celso de Mello, 31.5.2011. 2ª T. Info 629.

Informativos do STJ
- Nº 538

Ausência de testemunha arrolada no plenário do Júri


A sessão de julgamento do Tribunal do Júri só pode ser adiada caso a testemunha faltante
tenha sido intimada com a cláusula de imprescindibilidade. No caso concreto julgado pelo
STJ, entretanto, o mandado de intimação da testemunha foi expedido para endereço diverso
do indicado pela defesa, motivo pelo qual o oficial de justiça não a encontrou e,
consequentemente, ela não compareceu ao Tribunal do Júri, o que fez com que o causídico
responsável pela defesa do paciente requeresse o adiamento da sessão de julgamento, sendo
este pedido, no entanto, indeferido pelo Juiz Presidente. Diante disso, o STJ anulou o
julgamento. Para a Corte, ainda que a testemunha não tenha sido indicada como
imprescindível, não se pode admitir que a defesa seja prejudicada por um equívoco do
Estado, que expediu mandado de intimação para endereço distinto daquele indicado pelos
advogados do acusado, obrando em evidente cerceamento de defesa. 5ª Turma. HC
243.591-PB, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 18/2/2014.

- Nº 537

Decisão de pronúncia e intimação do réu por edital


O art. 420, parágrafo único, do CPP, com a redação dada pela Lei 11.689/2008, estabeleceu
a possibilidade de a intimação da decisão de pronúncia ser feita por edital, ao acusado que
não for encontrado. De acordo com o STJ, aludido dispositivo, por ter índole processual,
deve ser aplicado imediatamente, mesmo aos crimes ocorridos antes de sua vigência. No
entanto, tal norma processual penal não pode ser aplicada aos fatos anteriores à Lei
9.271/1996, em que foi decretada a revelia do réu, uma vez que tal compreensão implicaria
239
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

a sua submissão a julgamento pelo Tribunal do Júri sem que sequer se tenha certeza da sua
ciência acerca da acusação que pesa contra si. Assim, não é admitido que a intimação da
decisão de pronúncia seja realizada por edital quando o processo houver transcorrido desde
o início à revelia do réu que também fora citado por edital. HC 226.285-MT, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/2/2014. Logo, mesmo que o processo tenha
tramitado à revelia do réu, caso seja pronunciado, deverá ser tentada a sua intimação
pessoal.

Intimação do réu por edital para a sessão de julgamento do Júri


No procedimento relativo aos processos de competência do Tribunal do Júri, o acusado
solto que, antes da Lei 11.689/2008, tenha sido intimado pessoalmente da decisão de
pronúncia pode, após a vigência da referida Lei, ser intimado para a sessão plenária por
meio de edital caso não seja encontrado e, se não comparecer, poderá ser julgado à revelia.
HC 210.524-RJ, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 11/3/2014.

Nulidade pela leitura de documento no Júri que não havia sido juntado aos autos com
antecedência mínima de 3 dias
É nulo o julgamento no Tribunal do Júri que tenha ensejado condenação quando a acusação
tiver apresentado, durante os debates na sessão plenária, documento estranho aos autos que
indicaria que uma testemunha havia sido ameaçada pelo réu, e a defesa tiver se insurgido
contra essa atitude fazendo consignar o fato em ata. HC 225.478-AP, Rel. Min. Laurita
Vaz e Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 20/2/2014.

- Nº 516-STJ
No caso em que o Tribunal, em apelação, determine a realização de novo júri em razão do
reconhecimento de que a decisão dos jurados fora manifestamente contrária à prova dos
autos, não é possível que se conceda às partes o direito de inovar no conjunto probatório
mediante a apresentação de novo rol de testemunhas a serem ouvidas em plenário. A
preparação prevista no art. 422 do CPP, que consiste, entre outras coisas, na apresentação do rol
de testemunhas que irão depor em plenário, é ato antecedente ao julgamento em si. Praticado o
referido ato de preparação — que não se confunde com o ato de julgamento propriamente dito
—, ocorrerá, em regra, a sua preclusão consumativa. Dessa maneira, tendo sido provida
apelação tão somente para a realização de novo julgamento, não será possível repetir a
realização de outro ato (o de preparação) que já fora consumado, sendo cabível proceder apenas
ao novo julgamento do acusado. Além do mais, se o Tribunal ad quem determina um novo
julgamento por estar convencido de que o veredicto exarado pelo Conselho de Sentença
anterior seria manifestamente contrário à prova dos autos, deve o novo Júri realizar uma nova
análise sobre o mesmo acervo de provas anteriormente analisado. Caso contrário, estar-se-ia, no
novo Conselho de Sentença, diante do primeiro juízo de valoração de prova inédita — que não
fora valorada no primeiro julgamento — sem que fosse possível outro pleito de anulação desse
novo julgamento com base no art. 593, III, d, do CPP, visto que a norma contida na parte final
do § 3º do aludido dispositivo impede a interposição de segunda apelação fundamentada no
mesmo motivo. HC 243.452-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 26/2/2013

- Nº 513-STJ:

240
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Deve ser reconhecida a nulidade absoluta de ação penal, desde a sessão de julgamento em
Tribunal do Júri, na hipótese em que um dos jurados do Conselho de Sentença tenha
integrado o júri de outro processo nos doze meses que antecederam à publicação da lista
geral de jurados, considerando que o placar da votação tenha sido o de quatro a três em
favor da condenação do réu, ainda que a defesa tenha deixado de consignar a insurgência
na ata de julgamento da sessão. De acordo com o § 4º do art. 426 do CPP, não pode ser
incluída na lista geral de jurados a pessoa que tenha integrado Conselho de Sentença nos doze
meses que antecederem à publicação da lista. Tratando-se de nulidade absoluta, é cabível o seu
reconhecimento, mesmo considerando a falta de registro da insurgência na ata de julgamento da
sessão viciada. Além do mais, é evidente o prejuízo ao réu diante de uma condenação apertada,
pelo placar de quatro a três, tendo em vista que há possibilidade de o voto do jurado impedido
ter sido decisivo na condenação. HC 177.358-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 5/2/2013

STJ. Acordo. Cooperação jurídica internacional. Anulado o processo penal, com a


remessa dos respectivos autos à justiça federal, o Ministério Público Estadual não pode
sustentar o pedido de auxílio direto nos autos de inquérito civil, sob pena de se ampliar os
termos de um acordo internacional restrito à repressão penal. AgRg no AgRg na SS 2.382,
Rel.Min. Ari Pargendler, j.2.3.2011. Corte Especial. Info 465.

STJ. HC. Pronúncia. Desclassificação. Júri. O paciente foi pronunciado pela suposta
prática de crime doloso contra a vida (Art. 121, caput, do CP), uma vez que deu causa a
acidente automobilístico quando dirigia em velocidade excessiva e embriagado, o que
resultou a morte de uma pessoa. A decisão de pronúncia encerra simples juízo de
admissibilidade da acusação, exigindo o ordenamento jurídico somente o exame da
ocorrência do crime e de indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de
certeza necessária à prolação de uma sentença condenatória, sendo que as dúvidas, nessa
fase processual, resolvem-se contra o réu e a favor da sociedade, a teor do art. 413 do CPP.
Afirmar se o recorrente agiu com dolo eventual ou culpa consciente é tarefa que deve ser
analisada de acordo com a narrativa dos fatos expostos na denúncia, com o auxílio do
conjunto fático-probatório produzido, no âmbito do devido processo legal, pelo tribunal do
júri, o que impede a análise do elemento subjetivo de sua conduta neste STJ. HC 199.100,
Rel. Min Jorge Mussi, j. 4.8.2011, 5ª T. Info 480.

STJ. Júri. Contradição. Quesitos. Denegado “habeas corpus” no qual se pretendia anular
o julgamento proferido pelo Tribunal do Júri, ante a suposta contradição entre os quesitos
votados pelo corpo de jurados. Na espécie, uma das testemunhas ouvidas em plenário
afirmou que, na data dos fatos em questão, o paciente encontrava-se em município distante
do local dos crimes. Julgada parcialmente procedente a ação penal, o paciente foi
condenado pelo crime de homicídio duplamente qualificado; foi absolvida a testemunha
pelo crime de falso testemunho. A análise de eventual contradição entre os quesitos
apresentados, hipótese de nulidade processual absoluta, não estaria preclusa, pois arguida
oportunamente em apelação criminal. Não se desconhece a existência de julgado do STF
segundo o qual existe contradição nas respostas aos quesitos quando os jurados concluem
pela autoria do fato tido por delituoso e, ao mesmo tempo afastam a prática do crime de
falso testemunho por quem apresentou o álibi em favor do acusado. Contudo, afastado o
aludido posicionamento, entendeu-se não haver inocorrência quando os jurados respondem

241
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

negativamente ao quesito relativo ao falso testemunho e, positivamente, ao questionamento


relativo à autoria do crime. Para tanto, ponderou-se que os juízes leigos podem ter
considerado que a testemunha não teria praticado o crime de falso testemunho, porquanto
amparada por alguma causa excludente de ilicitude ou culpabilidade. Não é incomum que
pessoas inquiridas em julgamento no Tribunal do Júri sintam-se ameaçadas ou
constrangidas a prestar depoimento em um ou outro sentido, o que em tese caracteriza
coação moral irresistível, apta para afastar a configuração do delito de falso testemunho.
Assim, uma vez sendo possível aos jurados afastar a prática do crime de falso testemunho
por motivos que não estão ligados à verdade ou mentira do depoimento prestado, não se
pode atestar que a resposta negativa ao quesito correspondente ao falso testemunho
implique a veracidade do que foi dito por certa testemunha ao falar em juízo, notadamente
se apresentar álibi isolado, contestado em outras provas colhidas no processo. Acobertados
os jurados pelo sigilo de suas votações e existindo provas aptas a fundamentar o édito
condenatório, a modificação da conclusão do julgado violaria o princípio constitucional da
soberania dos veredictos. HC 119.132, Rel. Min. Jorge Mussi, j.3.11.2011. Info 486.

STJ. Juri Imparcialidade. Desaforamento. Não se olvida que o réu, em crimes dolosos
contra a vida, deve ser julgado por seus pares no distrito da culpa. Contudo, a lei processual
possibilita o desaforamento do julgamento para outra comarca quando haja interesse de
ordem pública, dúvida quanto à segurança do réu ou imparcialidade do júri (art. 427 do
CPP). No caso, trata-se de réu (integrante da polícia militar estadual) com forte influência
política e social na região, onde atuou por longos anos como oficial militar, a demonstrar a
efetiva existência de dúvidas acerca da isenção e imparcialidade dos membros do conselho
de sentença. Além disso, já a existência de pedido de desaforamento pelo Parquet referente
ao mesmo réu, nos autos de outra ação penal (muito semelhante ao caso), que foi acolhido
por este STJ, por estar devidamente configurada a necessidade de desaforamento. Assim, as
peculiaridades do caso demonstram a efetiva existência de dúvidas acerca da
imparcialidade do júri, motivo que justifica o deslocamento do julgamento para uma cidade
na mesma circunscrição, porém mais afastada. REsp 1.195.265, Rel. Min. Gilson Dipp, j.
6.9.2011. 5ª T. Info 482)

STJ. Júri. Soberania dos veredictos. A fundamentação contida no acórdão não incide em
qualquer aberração, pois o reconhecimento de que a decisão do Tribunal do júri seja
manifestamente contrária à prova dos autos exige que o Tribunal analise a prova e diga se
ela conduz, ou não, a um juízo sobre a participação do paciente no fato criminoso. HC
172.097. Rel p/ac Min. Napoleão N. Maia, j.22.2.2011. 5ª T. Info 464.

STJ. Identidade física do juiz. Art. 399, §2º do CPP. Art. 132 CPC. O principio da
identidade física do introduzido no sistema processual penal pátrio pela Lei 11.719/08.
Deve ser analisado à luz das regras especificas do art. 132 do CPC. O fato de o juiz
substituto ter sido designado para atuar na vara do tribunal do júri, em razão de férias da
juíza titular, realizando o interrogatório do réu e proferindo a decisão de pronúncia, não
apresenta qualquer vício apto a ensejar a nulidade do feito. HC 161.881, Rel. Min. Laurita
Vaz, j. 17.5.2011. 5ª T. Info. 473.

242
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

243
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

15.c. Cooperação Internacional. Relações jurisdicionais com autoridade


estrangeira
Principais obras consultadas: Eugênio Pacelli de Oliveira. Curso de Processo Penal, 16ª
Edição, 2012. Editora Atlas. Baltazar Jr., Curso Modular de Direito Processual Penal. Ed.
Conceito Editorial. Leonardo de Medeiros Garcia, Roberval Rocha. Ministério Público
Federal edital sistematizado. 2.ed. Bahia: Juspodivm,2012. Oliveira. Eugênio Pacelli de.
Curso de Processo Penal. 18ª edição. São Paulo: Ed. Atlas, 2014.

Legislação: Artigos 222-A do Código de Processo Penal; Artigos 105, I, “i”, 109, X da
Constituição Federal; Artigos 15 a 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro; Artigos 483 a 484 do Código de Processo Civil; Artigos 34 a 40 da Lei
9.307/96; Resolução nº 9 do STJ; Artigo 109, I e III da Constituição Federal; Decreto
678/92 – Pacto de São José da Costa Rica;

Cooperação ou colaboração penal internacional é o auxílio que um país presta a outro


para a realização de medidas de natureza penal ou processual penal, no interesse do bom
andamento da repressão penal exercida pelos Estados Soberanos. A cooperação
internacional é objeto do direito penal internacional, ramo do Direito das Gentes. A
cooperação é disciplinada por tratados e pelo direito interno. Tratados multilaterais
relevantes com o Brasil: a) Convenção Interamericana sobre Assistência Mútua em Matéria
Penal (D. 6.340/08); b) Protocolo de Medidas Cautelares do Mercosul (D. 2.626/98); c)
Protocolo de Assistência Jurídica Mútua em Assuntos Penais do Mercosul (D. 3468/00); d)
Acordo de Extradição no Mercosul (D. 4.975/04); e) Convenção de Mérida (contra
Corrupção: recuperação de ativos); f) Convenção de Palermo (contra crime organizado
internacional: define organização criminosa); g) Convenção de Viena contra o Tráfico de
drogas de 1998; h) Convenção para a Repressão do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio e seu
Protocolo Final, de 1950 (Decreto 46.981, de 08/10/1959); h) Convenção da UNIDROIT
sobre Bens Culturais Furtados ou Ilicitamente Exportados (Decreto 3.166, de 14/09/1999).

Carta rogatória: é solicitação entre países soberanos para o cumprimento de ato


processual necessário ao andamento de ação judicial em curso em um ou outro país
(Oliveira, 2010, p. 937). Classificação quanto ao objeto: a) Ordinatórias: rogam-se atos de
comunicação processual; b) Instrutórias: roga-se a produção de prova; c) Executórias:
rogam-se medidas restritivas de direito, tanto cautelares quanto antecipatórias (ex. busca e
apreensão de menores, arresto, obtenção de prova mediante quebra de sigilo). As carta
rogatórias passivas têm o exequatur concedido pelo STJ, por meio do procedimento
regulamentado pela Resolução 9/2005 e são cumpridas pelos Juízes Federais. Pressupostos
para concessão do exequatur: a) Conformidade com a ordem pública brasileira; b)
Autenticidade (autenticação consular ou tramitação diplomática). Obs.: membros do MP
(do exterior) que tenham status de magistrado podem requerer rogatória. Cartas rogatórias
ativas: só serão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando
a parte requerente com os custos de envio (art. 222-A, CPP). Normas especiais em tratados
de que o Brasil é parte: a) Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias; b) Protocolo

244
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

de Las Leñas. Se o MP estrangeiro está dentro da estrutura do Judiciário (como na Itália),


cabe ao MP estrangeiro enviar ao Brasil carta rogatória que será tratada aqui como de
autoridade judicial, sujeita, portanto, ao exequatur.

Homologação de sentença estrangeira: trata-se de processo, pois há lide. Discute-se se a


natureza da decisão seria constitutiva ou declaratória. Em relação a matéria penal, o Brasil
só admite a homologação de sentença estrangeira para: a) obrigar o condenado à reparação
de dano, à restituição e a outros efeitos civis; b) sujeitá-lo à medida de segurança. Pode ser
requerida pelo PGR e pela parte interessada. A homologação é de competência do STJ e o
procedimento está provisoriamente regulamentado na Resolução nº 9/2005. A execução da
sentença homologada compete aos juízes federais. Pressupostos para homologação (juízo
de delibação): a) competência internacional do prolator; b) citação ou revelia legal; c)
autenticação por cônsul brasileiro (ou tramitação diplomática) e tradução por tradutor
oficial ou juramentado no Brasil; d) ter passado em julgado e estar revestida das
formalidades necessárias à execução no local em que proferida; e) conformidade com a
ordem pública brasileira. Obs.: O Protocolo de Las Leñas dispensa, no âmbito do
MERCOSUL, a iniciativa da parte, admitindo que a homologação de sentenças emanadas
dos países do bloco tenha início por carta rogatória.

Extradição: é ativa quando o Brasil é o Estado requerente. É passiva quando o Brasil é o


Estado requerido. Requisitos e condições: a) não cabe em caso de crime político ou de
opinião; b) não cabe extradição de brasileiro, salvo naturalizado, em caso de crime comum,
praticado antes da naturalização ou de comprovado envolvimento em tráfico de drogas; c)
exige-se dupla incriminação; d) não pode haver jurisdição nacional ou processo sobre crime
imputado ao extraditando; e) exige-se jurisdição do país requerente sobre o crime imputado
ao extraditando; f) a pena cominada deve ser superior a um ano; g) não pode haver
prescrição segundo a lei brasileira ou a do país requerente; h) não submissão do
extraditando, no país requerente, a tribunal ou juízo de exceção; i) tem que haver
condenação definitiva ou prisão decretada por autoridade judicial estrangeira; j) a pena de
morte ou perpétua tem que ser comutada para pena de no máximo 30 anos. Prisão para
extradição: A Lei 6.815 prevê que o Ministro da Justiça estabeleceria a prisão para fins de
extradição. Hoje, entende-se que é o STF, por meio do relator do processo que vai analisar
a necessidade de prisão. Até 2004, o STF entendia que a prisão por extradição não era a
preventiva, permanecia como única prisão processual obrigatória. Gilmar defendeu que não
seria obrigatória e hoje o STF entende que é possível a concessão de liberdade provisória
excepcionalmente no processo de extradição. A propósito, em 2013, a regulamentação da
matéria foi alterada, nos ternos da Lei nº 12.878, conferindo nova redação ao art. 82 do
Estatuto do Estrangeiro que passou a admitir a prisão cautelar/preventiva do extraditado,
em caso de urgência e antes da formalização do pedido de extradição pelas vias
diplomáticas, ou mediante pedido ao MJ, havendo tratado de extradição entre os Estados
envolvidos. O pedido de prisão cautelar deve ser fundamentado e o MP representará ao STJ
para que a prisão preventiva seja decretada. O Estado interessado na extradição que pedir a
prisão cautelar antes de pedir formalmente a extradição, deverá formalizar tal pedido em até
90 dias, sob pena de o extraditando ser posto em liberdade, não se admitindo novo pedido
de prisão cautelar pelo mesmo fato, sem que a extradição tenha sido devidamente pleiteada.
Nesse sentido, confira-se:

245
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Art. 82.  O Estado interessado na extradição poderá, em caso de urgência e antes da


formalização do pedido de extradição, ou conjuntamente com este, requerer a prisão
cautelar do extraditando por via diplomática ou, quando previsto em tratado, ao Ministério
da Justiça, que, após exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade
exigidos nesta Lei ou em tratado, representará ao Supremo Tribunal Federal.      (Redação
dada pela Lei nº 12.878, de 2013)

§ 1o  O pedido de prisão cautelar noticiará o crime cometido e deverá ser fundamentado,
podendo ser apresentado por correio, fax, mensagem eletrônica ou qualquer outro meio que
assegure a comunicação por escrito.      (Redação dada pela Lei nº 12.878, de 2013)

§ 2o  O pedido de prisão cautelar poderá ser apresentado ao Ministério da Justiça por meio
da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), devidamente instruído com a
documentação comprobatória da existência de ordem de prisão proferida por Estado
estrangeiro.     (Redação dada pela Lei nº 12.878, de 2013)

§ 3o  O Estado estrangeiro deverá, no prazo de 90 (noventa) dias contado da data em que
tiver sido cientificado da prisão do extraditando, formalizar o pedido de extradição.      
(Redação dada pela Lei nº 12.878, de 2013)

§ 4o  Caso o pedido não seja formalizado no prazo previsto no § 3 o, o extraditando deverá
ser posto em liberdade, não se admitindo novo pedido de prisão cautelar pelo mesmo fato
sem que a extradição haja sido devidamente requerida.     (Redação dada pela Lei nº
12.878, de 2013)

Auxílio direto: não envolve a competência de corte superior. É prestado


administrativamente ou, se necessária tutela de direitos, instaura-se um processo perante
juiz de primeira instância. Autoridades Centrais no Brasil: Departamento de Recuperação
de Ativos e Cooperação Jurídica Internação da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério
da Justiça - DRCI/MJ; Departamento de Estrangeiros da Secretária Nacional de Justiça/MJ
– DEEST/MJ; Procuradoria-Geral da República – MPF; Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República. INTERPOL (organização internacional de polícia criminal): não
é uma polícia internacional. É uma organização internacional de policias. Difusão vermelha
da Interpol: inscrição do nome e demais dados qualificativos do foragido da justiça de um
Estado na Agência de Polícia Internacional - Interpol, que retransmite tais dados para as
instituições policiais a ela interligadas. Alguns países aceitam a difusão vermelha da
Interpol como equivalente a um mandado de prisão, efetuando, assim, a captura do foragido
enquanto não encaminhada por via diplomática o pedido formal de extradição. No Brasil,
entende-se que há necessidade de um pronunciamento judicial, mesmo havendo a
difusão vermelha.

246
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Transferência de presos: possibilidade de estrangeiro, que tenha cometido crime num


país, cumpra a pena no seu. É mecanismo de cooperação jurídica de natureza humanitária.
No Brasil, baseia-se em tratados bi ou multilaterais, inexistindo normas internas. Há acordo
com: Argentina, Canadá, Chile, Espanha, Paraguai, Reino Unido. Brasil é parte da
Convenção de Manágua (Convenção Interamericana sobre Cumprimento de Sentenças
Penais no Exterior). Dependendo do tratado, a transferência poderá ser solicitada pelo país
onde está preso, pelo de sua nacionalidade ou pelo próprio preso. Concessão é ato
discricionário. Preso tem que consentir. Não cabe antes da coisa julgada. Deve haver um
mínimo de pena a cumprir. Delito deve ser crime em ambos os países. Pedidos de
transferência seguem a via diplomática. No Brasil, a autoridade central é o MJ. Não cabe
novo julgamento pelo mesmo fato. Revisão criminal, anistia, indulto etc.: só podem ser
conhecidos e concedidos pelo país da condenação, porém o pedido de livramento
condicional e outras condições de execução (ex: progressão de regime) pode ser conhecido
e deferido país que recebe.

Autoridades centrais: a) DRCI (MJ): para recuperação de ativos; b) PGR: para


cooperação no Tratado de Auxílio Mútuo em Matéria Penal Brasil/Portugal e
Brasil/Canadá; c) Departamento de Estrangeiros do MJ: transferência de presos, processar e
opinar sobre expulsão, extradição, deportação.

Redes de Cooperação: visam solucionar dificuldades na cooperação, como acessos a


informação, prazos e procedimentos. Brasil faz parte de três: a) IberRed (Rede de
Cooperação Ibero-americana): pontos de contato designados nos MJ´s, MP´s e Judiciários
de 22 países; cooperação cível e penal, sem substituir-se aos demais meios; b) Rede
Judiciária da CPLP: entre MJ´s; c) Rede Hemisférica.

Transferência de processo penal: o ato de colaboração penal internacional; atos judiciais


já praticados são convalidados, passando-se a observar o disposto na legislação processual
penal interna do país destinatário. Pressupõe tratado bi ou multilateral.

Leitura complementar: Portela, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e


Privado. 6ª edição. Salvador: Ed. Juspodivm, 2014.

247
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

16.a. Proteção especial a vítimas e testemunhas.


Principais obras consultadas: Lima, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 2ª
edição. Volume único. Salvador: Editora Juspodivm, 2014; Oliveira, Eugênio Pacelli de.
Curso de Processo Penal. 18ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2014; Resumo do Grupo
do 27º CPR; Resumo do Grupo do 26º CPR (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de
Processo Penal. 15 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2011. p. 427/428. - NUCCI,
Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5 ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2010. p. 1107/1122. - LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de
Processo Penal. Vol. 1. Niterói: Impetus, 2011. p. 1112/1114.). Resumo do Grupo do 25º
CPR.

Legislação: Lei 9807/99

1. NOÇÕES GERAIS

- A Lei n.º 9.807/99 atua em três frentes: (a) estabelece normas para a organização e
manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas, a
serem desenvolvidos no âmbito da União, dos Estados e do Distrito Federal, sob a
supervisão do Ministério da Justiça; (b) institui o Programa de Proteção Federal de
Assistência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, regulamentado pelo Decreto n.º
3.518/00; e (c) dispõe sobre a proteção dos acusados/condenados que tenham
colaborado com a investigação policial e o processo penal.

2. COMPETÊNCIA PARA PROMOVER A PROTEÇÃO

- A competência para promover a proteção depende da competência para apuração do


crime cometido: se federal, cabe à União; se estadual, cabe ao Estado/Distrito Federal.
Tais entes podem celebrar convênios com integrantes da Rede Voluntária de Proteção,
que compreende o conjunto de associações civis, entidades e demais organizações não
governamentais que se dispõem a receber, sem auferir lucros ou benefícios, os admitidos no
programa, proporcionando-lhes moradia e oportunidades de inserção social em local
diverso de sua residência. Cada programa será dirigido por um Conselho Deliberativo,
composto por representantes do MP, do Poder Judiciário e de órgãos públicos e privados
relacionados com a segurança pública e a defesa dos direitos humanos, ao qual caberá
decidir, por maioria absoluta, sobre o ingresso e as providências necessárias ao
cumprimento do programa.

3. SUJEITOS DA PROTEÇÃO

- Podem ser INCLUÍDOS nos programas, mediante expressa anuência, as pessoas que
tenham colaborado com a investigação ou processo criminal e estejam coagidas ou
expostas à grave ameaça: (a) vítimas; (b) testemunhas (Nucci inclui também o
informante); (c) réus colaboradores (tal como previsto no art. 5º e ss. da lei nº 12.850/13,
para aqueles que colaborem efetivamente com a persecução penal – colaboração premiada

248
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

–, cuja proteção se destinará ao colaborador e a à sua família, quando necessário); (d)


cônjuge, companheiro, ascendentes, descendentes e dependentes que tenham
convivência habitual com a vítima/testemunha; (e) agentes infiltrados, quando
devidamente autorizados por decisão judicial, em procedimentos investigatórios para
apuração de organizações criminosas (v. art. 14, II, da Lei nº 12.850/13). Em síntese,
pode-se apontar como potenciais beneficiários do programa as pessoas que se encontram
em situação de risco decorrente da colaboração prestada a procedimento criminal em
que figuram como vítima ou testemunha, que estejam no gozo de sua liberdade e cuja
personalidade e conduta sejam compatíveis com as restrições de comportamento exigidas
pelo programa, ao qual desejam voluntariamente aderir. O ingresso é sempre voluntário,
mas o protegido fica obrigado ao cumprimento das normas estabelecidas pelo programa. A
exclusão do protegido poderá se dar a qualquer tempo, por solicitação do próprio
interessado ou decisão do Conselho Deliberativo, motivada pela cessação dos motivos que
geraram a proteção ou por conduta incompatível.

- Estão EXCLUÍDOS: (a) indivíduos com personalidade/conduta incompatível com as


restrições do programa; (b) condenados cumprindo pena; e (c) indiciado/acusado em
prisão cautelar.

Tal exclusão não trará prejuízo a eventual prestação de medidas de preservação da


integridade física desses indivíduos. A exclusão da pessoa protegida do programa poderá
ocorrer a qualquer tempo por solicitação do próprio interessado ou por deliberação do
conselho, cessados os motivos que ensejaram a proteção ou em razão de conduta
incompatível.

4. PARTICIPAÇÃO DO MP

- O MP deve ser ouvido antes da admissão e da exclusão da vítima/testemunha/réu no


programa e deve estar representado por outro membro da instituição no Conselho
Deliberativo do programa.

5. MEDIDAS DE PROTEÇÃO

- A proteção deve considerar: a gravidade da coação/ameaça, a dificuldade de


prevenir/reprimir a coação/ameaça pelos meios convencionais e a importância para
produção da prova.

- Com base nessas variáveis, define-se qual a medida de proteção a ser adotada em prol da
testemunha/vítima dentre aquelas dos arts. 13 e 14, que trazem um rol exemplificativo:
(a) segurança na residência, incluindo controle de telecomunicações; (b) escolta e
segurança nos deslocamentos da residência; (c) transferência de residência ou acomodação
provisória em local compatível com a proteção; (d) preservação da identidade, imagem e
dados pessoais (para esse fim, o STF, no RHC 89.137 e HC 90.321, permitiu a omissão do
nome da testemunha em peça da denúncia diante da gravidade dos fatos); (e) ajuda
financeira mensal, caso o protegido esteja impossibilitado de trabalhar ou não tenha uma
fonte de renda; (f) suspensão temporária das atividades, sem prejuízo da remuneração,
quando servidor público ou militar; (g) apoio e assistência social, médica e psicológica; (h)

249
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

sigilo quanto aos atos praticados em razão da proteção concedida; (i) apoio do órgão
executor do programa para cumprimento de obrigações civis e administrativas que exijam
comparecimento pessoal; (j) alteração de nome e registros da pessoa protegida (medida
excepcional, sujeita ao procedimento sumaríssimo e à prévia oitiva do MP). O delator
também poderá ser beneficiado por medidas especiais de segurança e proteção à integridade
física, na prisão ou fora dela, e custódia em dependência separada dos demais presos, em
caso de prisão cautelar (art. 15).

*OBS.: Pacelli defende o cabimento das regras trazidas pela Lei 11.900/09, que cuida do
interrogatório por videoconferência, sempre que a presença do acusado puder influenciar no
ânimo da vítima ou das testemunhas, causando-lhe temor ou intimidação.

6. DURAÇÃO E EXTINÇÃO DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO

- A proteção terá duração de dois anos, podendo ser prorrogada excepcionalmente.

7. DELAÇÃO PREMIADA: PROTEÇÃO AOS RÉUS COLABORADORES

- A Lei 9.807/99 representou a democratização do instituto da delação premiada, por


permitir a sua aplicação a qualquer crime. Ao indiciado/acusado pela prática de qualquer
crime que colaborar voluntariamente com a investigação/processo criminal, o juiz poderá
conceder, de ofício ou a requerimento das partes: (a) perdão judicial e a extinção da
punibilidade (art. 13), contanto que seja primário, atenda aos requisitos subjetivos do art.
13, parágrafo único (ligados à personalidade, circunstâncias do crime e repercussão social
do fato) e a colaboração tenha resultado na recuperação do produto do crime, na
identificação dos demais coautores/partícipes e/ou na localização da vítima com sua
integridade física preservada (para Nucci, esses 3 requisitos objetivos sempre serão
alternativos, enquanto para Renato Brasileiro, entende que só serão exigidos
cumulativamente se o delito praticado permitir a sua incidência simultânea, como ocorre
com a extorsão mediante sequestro; do contrário, basta que estejam presentes apenas um ou
dois deles); ou (b) redução da pena de 1/3 a 2/3 (art. 14), quando não for possível o
perdão judicial, constituindo causa pessoal de redução de pena não passível de extensão aos
coautores e partícipes (STJ, HC 33.833).

*Outras hipóteses de delação premiada (segundo Nucci, deve-se aplicar sempre aquela
que se mostrar mais favorável ao réu colaborador): (a) art. 159, §4º, do CP (delação
premiada no crime de extorsão mediante sequestro); (b) art. 25, §2º, da Lei 7.492/86 e art.
16, §único, da Lei 8.137/90 (delação premiada nos crimes contra a ordem tributária,
econômica e contra as relações de consumo); (c) art. 8º, §único, da Lei 8.072/90 (delação
premiada nos crimes hediondos); (d) art. 4º e ss. da Lei 12.850/13 (colaboração premiada
nos crimes praticados em organização criminosa); (e) art. 1º, §5º, da Lei 9.613/98 (delação
premiada no crime de lavagem de capitais); (f) art. 41 da Lei 11.343/06 (delação premiada
no crime de tráfico de drogas). STJ REsp 1109485/DF 12/04/12 “2. A Lei 9.807/99 (Lei de

250
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Proteção a Vítimas e Testemunhas), que trata da delação premiada, não traz qualquer
restrição relativa à sua aplicação apenas a determinados delitos.”

Inovação legislativa: Art. 19-A, par. un. – Qualquer que seja o rito processual
criminal, o juiz, após a citação, tomará antecipadamente o depoimento das pessoas
incluídas nos programas de proteção previstos nesta Lei, devendo justificar a eventual
impossibilidade de fazê-lo no caso concreto ou o possível prejuízo que a oitiva
antecipada traria para a instrução criminal.

Lei nº 12.850/13:

Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial,


reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por
restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a
investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou
mais dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das
infrações penais por eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização
criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização
criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais
praticadas pela organização criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
§ 1o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do
colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato
criminoso e a eficácia da colaboração.
§ 2o  Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a
qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a
manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão
de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na
proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de
outubro de 1941 (Código de Processo Penal).
§ 3o O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador,
poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam
cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.
§ 4o Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de oferecer
denúncia se o colaborador:
I - não for o líder da organização criminosa;
II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.

251
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

§ 5o Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade
ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.
§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a
formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o
investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o
caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.
§ 7o Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo termo, acompanhado das
declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para
homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade,
podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor.
§ 8o O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos
legais, ou adequá-la ao caso concreto.
§ 9o Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado
pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de
polícia responsável pelas investigações.
§ 10. As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas
autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas
exclusivamente em seu desfavor.
§ 11.  A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia.
§ 12.  Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador
poderá ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade
judicial.
§ 13.  Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será feito pelos meios
ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive
audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações.
§ 14.  Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu
defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a
verdade.
§ 15.  Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o
colaborador deverá estar assistido por defensor.
§ 16.  Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas
nas declarações de agente colaborador.
Art. 5o São direitos do colaborador:
I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica;
II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados;
III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes;
IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados;
V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado
ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito;

252
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou


condenados.
Art. 6o O termo de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por escrito e
conter:
I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados;
II - as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia;
III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor;
IV - as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de polícia,
do colaborador e de seu defensor;
V - a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando
necessário.
Art. 7o O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo
apenas informações que não possam identificar o colaborador e o seu objeto.
§ 1o As informações pormenorizadas da colaboração serão dirigidas diretamente ao
juiz a que recair a distribuição, que decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
§ 2o O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de
polícia, como forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no
interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao
exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados
os referentes às diligências em andamento.
§ 3o O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso assim que recebida a
denúncia, observado o disposto no art. 5o.

253
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

16.b. Procedimentos Comum (ordinário, sumário e sumaríssimo) e


Especiais.
Principais obras consultadas: Lima. Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 2ª
edição. Volume único. Salvador: Ed. Juspodivm, 2014. (Resumo do Grupo do 26º CPR
(OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 15 ed. Rio de Janeiro: Lúmen
Juris, 2011. p. 427/428. - NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais
Comentadas. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 1107/1122. - LIMA, Renato
Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Vol. 1. Niterói: Impetus, 2011. p. 1112/1114.)

Legislação: Lei 11.719/08; Lei 11.690/08; Lei 9.099/95 e Lei 10.259/01.

1. NOÇÕES GERAIS

- A Lei 11.719/08 modificou a disciplina dos procedimentos penais, classificando-os não


mais de acordo com a natureza da pena (reclusão, detenção ou prisão simples), mas
conforme a quantidade de pena.

2. PROCEDIMENTO COMUM

(a) ORDINÁRIO: crime com pena máxima cominada igual ou superior a 4 anos.

(b) SUMÁRIO: crime com pena máxima cominada inferior a 4 anos e superior a 2
anos.

(c) SUMARÍSSIMO: infrações de menor potencial ofensivo (contravenções penais e


crimes com pena máxima igual ou inferior a 2 anos, cumulada ou não com multa,
submetidos ou não a procedimento especial).

3. PROCEDIMENTO ESPECIAL (aprofundamento no item 22b)

Previstos para atender as peculiaridades do direito material, a exemplo dos seguintes:


procedimento aplicável aos crimes de violência doméstica e familiar (Lei 11.340/06),
procedimento aplicável aos crimes de competência originária dos tribunais (Lei
8.038/90) procedimento aplicável aos crimes contra a honra (arts. 519 a 523 CPP),
procedimento aplicável aos crimes contra a propriedade imaterial (arts. 524 a 530-I
CPP), procedimento aplicável aos crimes funcionais (arts. 513 a 518 CPP),
procedimento aplicável aos crimes de tráfico de drogas (Lei 11.343/06), procedimento
aplicável aos crimes falimentares (Lei 11.101/05), procedimento aplicável aos crimes
eleitorais (Código Eleitoral), procedimento aplicável aos crimes de lavagem de dinheiro
(Lei nº 9.034, com a redação dada pela Lei nº 12.683/12).

*OBS.: Quando uma infração de menor potencial ofensivo for encaminhada para o
juízo comum (devido à complexidade da prova, à impossibilidade de citação pessoal do
acusado ou à conexão/continência), o processo seguirá o procedimento sumário, com a

254
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

possibilidade de aplicação dos institutos despenalizadores da Lei 9.099/95 e da Lei


10.259/01 a essa infração. Para Pacelli, o recurso cabível em relação às IMPO é aquele
previsto na Lei 9.099/95 e na Lei 10.259/01, mas a sua apreciação deve ser feita pelo
tribunal com competência recursal sobre o juízo que tiver processado a infração.

- Para aferição da pena máxima cominada e determinação do procedimento cabível, NÃO


SÃO CONSIDERADAS agravantes e atenuantes, mas DEVEM SER
CONSIDERADAS as qualificadoras, causas de aumento e diminuição de pena e o
concurso de crimes.

- Conexão entre crime sujeito a procedimento comum ORDINÁRIO/SUMÁRIO e


infração de menor potencial ofensivo (procedimento comum SUMARÍSSIMO):
devem-se somar as penas dos delitos e observar o procedimento cabível de acordo com o
resultado obtido, sem prejuízo da aplicação dos institutos despenalizadores em relação à
infração de menor potencial ofensivo.

- Conexão de crime submetido a procedimento COMUM e crime submetido a


procedimento ESPECIAL: como o critério que diferencia o procedimento comum do
procedimento especial não é a quantidade de pena máxima cominada, não cabe a soma das
penas dos crimes; deve-se adotar o procedimento mais amplo, ou seja, aquele que oferece
às partes maiores oportunidades para o exercício de suas faculdades processuais.

4. PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO

- É o procedimento padrão/modelo, aplicando-se subsidiariamente a todos os demais


procedimentos (art. 394, §5º CPP). A fase preambular do procedimento ordinário, que
compreende (a) a possibilidade de rejeição da peça acusatória (art. 395 CPP), (b) o
recebimento da peça acusatória seguido da citação do acusado para apresentação da
defesa escrita (art. 396 CPP) e (c) a possibilidade de absolvição sumária (art. 397
CPP), aplica-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não
regulados pelo CPP (art. 394, §4º CPP).

*OBS1: Pacelli critica a aplicação do art. 396 CPP ao procedimento sumaríssimo, por ser
incompatível a exigência de apresentação de defesa escrita com a informalidade e a ideia de
conciliação das partes que norteiam o JEC.

1º) Oferecimento da peça acusatória

2º) Recebimento da peça acusatória: não sendo o caso de rejeição (inépcia formal, falta
de condição da ação, pressuposto processual ou justa causa), o recebimento da peça
acusatória ocorre imediatamente após o oferecimento da peça acusatória, exatamente
como ocorria antes da Lei nº 11.719/08 (STJ, HC 138089).

3º) Citação do acusado: serve para dar ciência ao acusado da existência do processo
(contraditório) e para chamá-lo ao processo a fim de se defender (ampla defesa). Vício na
citação gera nulidade absoluta dos atos processuais, mas, como exceção, pode ser sanada
com o comparecimento do acusado ao processo (art. 570 CPP). Com a Lei 11.719/08,
passaram a existir no processo penal 3 modalidades de citação: a citação pessoal (regra), a
255
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

citação por edital e a citação por hora certa (novidade).

*OBS1: No caso de o acusado citado por edital não comparecer nem constituir advogado,
dá-se a suspensão do processo (norma processual) + suspensão do prazo prescricional
(norma material) até que ele compareça ao processo ou constitua advogado, quando então
começará a correr o prazo para a resposta à acusação (art. 366 CPP c/c art. 396, §único,
CPP). Por sua natureza mista, tal norma sujeita-se ao princípio da irretroatividade da lei
penal mais gravosa. Se o acusado foi citado pessoalmente ou por hora certa e não
comparece, tem-se a revelia, que acarreta a nomeação de defensor dativo e
prosseguimento do processo (não há suspensão).

*OBS2: O único efeito da revelia no processo penal é a desnecessidade de intimação do


acusado para a prática dos demais atos processuais, SALVO no caso da sentença
condenatória, em que o acusado deve ser intimado por ter legitimidade para recorrer (a par
da legitimidade do defensor).

4º) Resposta à acusação (defesa escrita): é peça obrigatória de defesa introduzida pela
Lei 11.719/08, apresentada pelo defensor no prazo de 10 dias a partir da efetiva citação
(Súmula 710/STF), contendo preliminares, questões de mérito, documentos e justificações,
especificação das provas e rol de testemunhas (art. 396-A CPP), sob pena de preclusão. Sua
ausência gera a nomeação de advogado dativo para apresentá-la, em prazo adicional de 10
dias, sob pena de nulidade absoluta. As exceções serão autuadas em apartado (art. 111
CPP).

*OBS.: Para Pacelli, se, após a resposta à acusação, o juiz se convencer da falta de
condição da ação/pressuposto processual, é possível a anulação de ofício do recebimento da
peça acusatória (art. 564, IV, c/c art. 41, CPP).

5º) Apreciação da possibilidade de absolvição sumária: novidade incorporada ao rito


ordinário pela Lei 11.719/08, cabível nas hipóteses de (a) existência manifesta de causa
excludente da ilicitude, (b) existência manifesta de causa excludente da culpabilidade,
SALVO inimputabilidade (medida de segurança exige prévia instrução), (c) atipicidade
ou (d) presença de causa extintiva da punibilidade. A absolvição sumária é atacável por
apelação (nos casos “a”, “b” e “c”) ou por RESE (no caso “d”) e, em qualquer caso, faz
coisa julgada material.

*OBS1: Pacelli sustenta que, embora a absolvição sumária esteja prevista como fase
seguinte à resposta à acusação, nada impede que o juiz, antes mesmo de citar o réu, decida
pela sua absolvição sumária.

*OBS2: Renato Brasileiro defende que, a despeito da falta de previsão expressa no


procedimento comum, é necessária a oitiva do MP após a apresentação da resposta à
acusação, porque, do contrário, o juiz poderia absolver sumariamente o acusado a partir de
documento sobre o qual o MP não teve ciência.

STF – INF. 654 - HC: vista ao “parquet” após defesa prévia e nulidade

A 1ª Turma indeferiu habeas corpus em que alegada nulidade em virtude de abertura


256
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

de vista ao Ministério Público após a juntada de defesa prévia. Na espécie, o paciente


fora denunciado pela prática de calúnia (CP, art. 138), com a causa de aumento de pena
prevista no art. 141, II, do CP (“contra funcionário público, no exercício das funções”). A
defesa prévia fora apresentada com novos documentos com o fito de demonstrar a
improcedência da persecução criminal. Após, o juízo instara a acusação a manifestar-se
sobre essa peça apresentada e acerca dos documentos que a acompanharam. Cumprida a
diligência, o magistrado recebera a denúncia, sem antes intimar o acusado para ciência da
petição apresentada pelo órgão ministerial e, ato contínuo, designara audiência de instrução.
De início, rememorou-se que a defesa prévia manejada nos termos do art. 396 do CPP
[“Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a
rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à
acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias”] não se confundiria com defesa
preliminar, anterior ao recebimento da acusação, estabelecida em procedimentos
como os das Leis 8.038/90, 9.099/95 ou 11.343/2006. Em seguida, asseverou-se que, no
caso, o juízo teria intimado o Ministério Público para pronunciar-se quanto à sequência da
ação penal. Ademais, reputou-se descabido transportar para essa fase processual a ordem
alusiva às alegações finais, momento em que seria impossível a inversão da ordem prevista
em lei. Sublinhou-se que, apresentada defesa prévia em que articuladas, até mesmo,
preliminares, seria cabível a audição do parquet para se definir sobre o prosseguimento da
ação penal. HC 105739/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, 7.2.2012. (HC-105739)

6º) Designação de audiência una de instrução e julgamento no prazo de 60 dias: Para


Pacelli, deve ser promovido nessa fase um saneamento liminar do processo, com a
resolução de questões antecedentes à audiência de instrução e julgamento, sobretudo
daquelas que veiculam matéria submetida à preclusão (ex: exceções, desentranhamento da
prova ilícita, substituição de testemunhas, admissão de assistentes técnicos).

7º) Audiência una de instrução e julgamento: novidade trazida pela Lei 11.719/08, é
expressão do princípio da oralidade, que envolve a concentração dos atos processuais, a
imediatidade, a irrecorribilidade das decisões interlocutórias e a identidade física do juiz
(novidade do art. 399, §2º CPP).

- Ordem dos atos processuais na audiência una: (1) oitiva do ofendido; (2) oitiva de
testemunhas de acusação e de defesa: o não comparecimento pode ensejar condução
coercitiva + multa + sanções penais pela desobediência. Com a Lei 11.690/08, o sistema
presidencialista de inquirição das testemunhas foi substituído pelo sistema do exame
direto e cruzado (cross-examination), pelo qual a parte que arrolou pergunta primeiro e
depois pergunta a parte contrária, admitindo-se que, ao final, o juiz complemente a
inquirição. A inobservância dessa regra é causa de nulidade relativa (STJ, HC 147.634 e
HC 188.349), por isso, deve argumentar no momento oportuno, ou seja, em termo de
audiência, sob pena de preclusão. Apesar de revogados os arts. 397 e 405 CPP, a doutrina
(Pacelli) e a jurisprudência (STJ, HC 112.860) continuam admitindo a substituição de
testemunha, aplicando-se o art. 408 CPC; (3) esclarecimento dos peritos: o pedido deve
ser formulado com antecedência mínima de 10 dias, podendo os esclarecimentos darem-se
por escrito ou comparecimento pessoal do perito na audiência (art. 159, §5º, do CPP);
(4) acareação; (5) reconhecimento de pessoas e coisas; (6) interrogatório do acusado: é
meio de defesa que, depois da Lei 11.719/08, passou a ser realizado ao final da

257
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

instrução. A inquirição se dá pelo sistema presidencialista, em que as perguntas são feitas


pelo juiz, com a intervenção das partes ao final. Pacelli defende a unificação dos sistemas
de inquirição de testemunhas e interrogatório do réu, aplicando-se o sistema do cross
examination em ambas; (7) diligências: antes da Lei 11.719/08, essa era a fase do art. 499
do CPP; depois, o pedido de diligências passou a ser feito na própria audiência una de
instrução e julgamento, após o interrogatório do acusado, quando verificado o
surgimento de alguma necessidade ao longo da instrução. Devem ser indeferidas as
diligências que representem prova irrelevante, prova impertinente ou prova protelatória; (8)
alegações finais orais: antes da Lei 11.719/08, eram apresentadas por escrito e em
momento próprio, na fase do art. 500 do CPP; depois, passaram a ser apresentadas, EM
REGRA, oralmente na própria audiência una, pelo prazo de 20min, prorrogáveis por
mais 10min, para cada uma das partes, e de 10min para o assistente de acusação (caso em
que a defesa terá 10min adicionais). EXCEÇÃO: ocorre a apresentação de alegações finais
através de memoriais em razão do deferimento de diligências ou diante da complexidade
do caso e/ou pluralidade de acusados, caso em que cada parte terá prazo de 5 dias e o
juiz deverá proferir a sentença em 10 dias. A falta de oportunidade para o oferecimento das
alegações finais defensivas ou a sua não apresentação é passível de nulidade absoluta
(STF, HC 94168); (9) sentença: deve atender ao princípio da correlação entre a
acusação e a sentença). É neste momento processual que o juiz pode se valer da
emendatio libelli ou da mutatio libelli.

- Com a Lei 11.719/08, o juiz penal, além de tornar certa a obrigação de indenizar (an
debeatur), já poderá fixar na própria sentença condenatória um valor mínimo a título de
reparação pelos danos causados (quantum debeatur), que poderá ser imediatamente
executado no juízo cível, sem que seja necessária a liquidação.

5. PROCEDIMENTO COMUM SUMÁRIO (arts. 531 a 538 CPP)

- Idêntico ao procedimento comum ordinário, SALVO nos seguintes aspectos:


Aspectos processuais dissonantes: Ordinário Sumário
Número máximo de testemunhas - 8 testemunhas. - 5 testemunhas
para cada parte:
Prazo para a realização da 60 dias. 30 dias.
audiência una:

Diligências: Possibilidade de requerimento de Não há previsão legal de requerimento


diligências (art. 402 CPP). de diligências. Contudo, o juiz pode
invocar o princípio da busca da verdade e
determina-las.
Alegações finais: Possibilidade de substituição das Não há previsão legal de substituição
alegações orais por memoriais (art. das alegações orais por memoriais.
403 CPP). Nada impede, se determinadas
diligências probatórias.
Sentença: Pode ser apresentada fora da Não há previsão legal de apresentação
audiência (art. 404 CPP). fora da audiência. Nada impede, se
determinadas diligências probatórias.

258
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

4. PROCEDIMENTO COMUM SUMARÍSSIMO (Lei 9.099/95 e Lei 10.259/01)

- É aquele observado nos Juizados Especiais Criminais (JEC), para processamento das
infrações de menor potencial ofensivo (IMPO), estando devidamente detalhado no
ITEM 14C DO PROGRAMA. Fases:

1º) Fase preliminar: após a lavratura do termo circunstanciado da ocorrência pela


autoridade policial, devem o autor do fato e a vítima comparecer a uma audiência
preliminar, cujo objetivo maior será a composição civil dos danos causados pela
infração penal (art. 72 Lei 9.099/95) e a transação penal (art. 76 Lei 9.099/95), com
imposição de pena diversa da privativa de liberdade.

- A sentença homologatória da composição civil é irrecorrível e não constitui título


executivo no cível (art. 74 Lei 9.099/95), importando a renúncia ao direito de queixa/direito
de representação.

- A transação penal tem lugar, em REGRA, quando não se faz possível a composição civil
dos danos (EXCEÇÃO: nos crimes ambientais, uma das condições para a aplicação da
transação penal é a prévia composição do dano). Para Pacelli, trata-se de direito subjetivo
do réu, determinado por lei sempre que preenchidos os requisitos legais, embora a
jurisprudência dos Tribunais Superiores esteja firmada no sentido de que se trata de um
poder-dever ("I - A transação penal, assim como a suspensão condicional do processo, não
se trata de direito público subjetivo do acusado, mas sim de poder-dever do Ministério
Público (Precedentes desta e. Corte e do c. Supremo Tribunal Federal)". (v. APn .634-RJ,
Rel. Exmo. Sr. Min. Felix Fischer, Corte Especial, DJe de 03.04.2012) 2; se o MP entende
não ser o caso de transação, o juiz deve aplicar analogicamente o art. 28 do CPP, a exemplo
da Súmula 696/STF (“Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão
condicional do processo, mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz
dissentindo, remeterá a questão ao procurador-geral, aplicando por analogia o art. 28 do
Código de Processo Penal”). A maioria da doutrina, porém, vislumbra um caso de
discricionariedade regrada do MP.
2
EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME DE TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIICADO,
DESCLASSIFICADO PARA LESÃO CORPORAL GRAVE. PRETENDIDO DIREITO SUBJETIVO À
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (ART. 89 DA LEI Nº 9.099/95) OU À SUSPENSÃO DA
PENA (ART. 77 DO CP). ORDEM DENEGADA. O benefício da suspensão condicional do processo não
traduz direito subjetivo do acusado. Presentes os pressupostos objetivos da Lei nº 9.099/95 (art. 89) poderá o
Ministério Público oferecer a proposta, que ainda passará pelo crivo do magistrado processante. Em havendo
discordância do juízo quanto à negativa do Parquet, deve-se aplicar, por analogia, a norma do art. 28 do CPP,
remetendo-se os autos à Procuradoria-Geral de Justiça (Súmula 696/STF). Não há que se falar em
obrigatoriedade do Ministério Público quanto ao oferecimento do benefício da suspensão condicional do
processo. Do contrário, o titular da ação penal seria compelido a sacar de um instrumento de índole
tipicamente transacional, como é o sursis processual. O que desnaturaria o próprio instituto da suspensão, eis
que não se pode falar propriamente em transação quando a uma das partes (o órgão de acusação, no caso) não
é dado o poder de optar ou não por ela. Também não se concede o benefício da suspensão condicional da
execução da pena como direito subjetivo do condenado, podendo ela ser indeferida quando o juiz processante
demonstrar, concretamente, a ausência dos requisitos do art. 77 do CP. Ordem denegada.

(HC 84342, Relator(a):  Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado em 12/04/2005, DJ 23-06-2006
PP-00053 EMENT VOL-02238-01 PP-00127 LEXSTF v. 28, n. 331, 2006, p. 393-402 RT v. 95, n. 852,
2006, p. 473-477)

259
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

2º) Fase contenciosa: recusada a transação penal, devem ser observados os seguintes
passos: (1) oferecimento oral da peça acusatória: a acusação deve ser depois reduzida a
termo; (2) designação da audiência de instrução e julgamento, com a citação do
acusado e intimação dos demais interessados: no JEC, não cabe citação por edital nem
por hora certa. Não se encontrando o réu para citá-lo, o juiz deve remeter o processo para
o juízo comum, para a adoção do rito sumário; (3) audiência de instrução e julgamento:
deve-se tentar novamente a conciliação das partes ou reabrir o prazo para a transação penal;
restando infrutíferas tais tentativas, deve ser apresentada a defesa preliminar oral, quando
o juiz decidirá acerca do recebimento da peça acusatória. Recebida a acusação, seguem-
se a oitiva da vítima e das testemunhas, o interrogatório do réu, as razões finais orais e
a sentença; (4) recurso: da sentença, cabe apelação, em 10 dias, acompanhada das razões
no ato de interposição. No JEC, é dispensável a intimação pessoal das partes - inclusive MP
e defensores nomeados - para o julgamento da apelação pelas Turmas Recursais, bastando-
se a intimação pela imprensa (art. 82, § 4º, Lei 9.099/95).

5. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

- Os procedimentos especiais são objeto do ITEM 22B DO PROGRAMA. Conveniente


apenas destacar, aqui, a existência, em alguns deles, da defesa preliminar, que é uma peça
defensiva apresentada entre o oferecimento e o recebimento da peça acusatória, com o
objetivo de impedir a instauração de lides temerárias, exigindo que o recebimento da peça
acusatória seja fundamentado. São procedimentos especiais penais com defesa preliminar:
(a) Lei de drogas (art. 55 Lei 11.343/06) = 10 dias; (b) procedimento originário dos
tribunais (art. 4º Lei 8.038/90) = 15 dias; (c) crimes funcionais afiançáveis (art. 514 CPP)
= 15 dias; (d) JEC (art. 81 Lei 9.099/95) = defesa preliminar oral. A ausência de defesa
preliminar é causa de nulidade relativa (STF, HC 94011 e Súmula 330/STJ).

6. INFORMATIVOS
Informativo do STF

- Nº 711

Entrevista reservada entre o Defensor e o réu antes da audiência


Antes do INTERROGATÓRIO, o réu tem direito de conversar reservadamente com seu
defensor. A isso se dá o nome de “direito de entrevista”. A legislação não impõe a
obrigatoriedade de se assegurar à defesa, já anteriormente constituída (fosse ela pública ou
privada), a realização de entrevista prévia ao réu antes do início de audiência para
INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS. Assim, não existe direito de entrevista no caso de
inquirição de testemunhas. 1ª Turma. HC 112225/DF, rel. Min. Luiz Fux, 18/6/2013.

- Nº 707

260
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Ordem de inquirição das testemunhas


I – Não deve ser reconhecida a nulidade pela inobservância da ordem de formulação de
perguntas às testemunhas (art. 212 do CPP) se a parte não demonstrou prejuízo.
II – A inobservância do procedimento previsto no art. 212 do CPP pode gerar, quando
muito, nulidade relativa, cujo reconhecimento necessita da demonstração de prejuízo.
III – A demonstração de prejuízo é essencial à alegação de nulidade, seja ela relativa ou
absoluta, eis que o princípio do pas de nullité sans grief compreende, inclusive, as
nulidades absolutas. STF. Plenário. HC 115336/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, 21.5.2013.

Informativos do STJ:
- Nº 515:
Para a comprovação da prática do crime de violação de direito autoral de que trata o § 2º
do art. 184 do CP, é dispensável a identificação dos produtores das mídias originais no
laudo oriundo de perícia efetivada nos objetos falsificados apreendidos, sendo, de igual
modo, desnecessária a inquirição das supostas vítimas para que elas confirmem eventual
ofensa a seus direitos autorais. De acordo com o § 2º do art. 184 do CP, é formalmente típica
a conduta de quem, com intuito de lucro direto ou indireto, adquire e oculta cópia de obra
intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista
intérprete ou do direito do produtor de fonograma. Conforme o art. 530-D do CPP, deve ser
realizada perícia sobre todos os bens apreendidos e elaborado laudo, que deverá integrar o
inquérito policial ou o processo. O exame técnico em questão tem o objetivo de atestar a
ocorrência ou não de reprodução procedida com violação de direitos autorais. Comprovada a
materialidade delitiva por meio da perícia, é totalmente desnecessária a identificação e
inquirição das supostas vítimas, até mesmo porque o ilícito em exame é apurado mediante ação
penal pública incondicionada, nos termos do inciso II do artigo 186 do CP. HC 191.568-SP,
Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 7/2/2013 (Informativo nº 0515).

Prova oral MPF: 10. Quais são as hipóteses em que cabe a citação por edital e a
citação por hora certa?

261
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

16.c. Denúncia. Queixa. Legitimidade. Requisitos. Pressupostos em geral


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR (OLIVEIRA, Eugênio
Pacelli de. Curso de Processo Penal. 15 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2011. p. 427/428.
- NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5 ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 1107/1122. - LIMA, Renato Brasileiro de. Manual
de Processo Penal. Vol. 1. Niterói: Impetus, 2011. p. 1112/1114). Resumo do Grupo do 27º
CPR. Lima, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Volume único. 2ª edição.
Salvador: Ed. Juspodivm, 2014. Távora, Nestor; Alencar, Rosmar Rodrigues. Curso de
Direito Processual Penal. 8ª edição. Salvador: Ed. Juspodivm, 2014.

Legislação: Lei 11.719/08.

1. ESPÉCIES DE PEÇA ACUSATÓRIA: DENÚNCIA x QUEIXA-CRIME

1.1) DENÚNCIA: é a peça inaugural da ação penal pública (incondicionada e


condicionada), de titularidade do MP.

- PRAZO PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA:

REGRA: CPP/CPPM: acusado preso = 5 dias; acusado solto = 15 dias

EXCEÇÕES: (a) Lei de drogas = 10 dias (acusado preso ou solto); (b) Código Eleitoral
= 10 dias (acusado preso ou solto); (c) Lei de abuso de autoridade = 48 horas (acusado
preso ou solto); (d) Lei de crimes contra a economia popular = 2 dias (acusado preso ou
solto); (e) Lei de Falências: 5 dias (preso)/15 dias (solto)/15 dias após relatório do
administrador judicial (solto),

QUADRO SINÓTICO (Távora e Alencar, p. 196, 2013):


PRAZOS PARA OFERTA DE DENÚNCIA
Hipótese Prazo
Regra Geral – CPP 5 dias (preso)/15 dias (solto)
Crime eleitoral 10 dias
Crimes de imprensa Aplica-se a regra geral (ADPF nº 130)
Tráfico de drogas 10 dias
Abuso de autoridade 48 horas
Crimes contra economia popular 2 dias
Lei de Falências 5 dias (preso)/15 dias (solto)/15 dias após
relatório do administrador judicial (solto)
- CONSEQÜÊNCIAS DE A DENÚNCIA SER OFERECIDA FORA DO PRAZO: (a)
cabimento da ação penal privada subsidiária da pública; (b) relaxamento da prisão, se
a extrapolação do prazo for abusiva; (c) perda do subsídio, segundo o art. 801 CPP (para
parte da doutrina não foi recepcionado pela CF/88); e (d) eventual crime de prevaricação.

262
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

1.2) QUEIXA-CRIME: é a peça inaugural da ação penal privada (exclusiva,


personalíssima e subsidiária da pública), de titularidade do ofendido ou de seu
representante legal, podendo passar ao cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou
irmão do ofendido em caso de morte, salvo na ação penal privada personalíssima.

- PRAZO PARA OFERECIMENTO DA QUEIXA-CRIME: o ofendido/representante


legal perde o direito de oferecer a queixa se não o fizer no prazo de 6 meses, contado, em
REGRA, a partir do momento em que se souber quem é o autor do delito (art. 38 CPP).
Renato Brasileiro defende que, estando o acusado preso, o ofendido/representante legal tem
prazo de 5 dias para o oferecimento da queixa.

STF – Apn 562/MS, 24/06/2010. PENAL E PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL


ORIGINÁRIA. DIFAMAÇÃO E INJÚRIA. QUEIXA. PRAZO DECADENCIAL.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE EX VI ART. 103 C/C ART. 107, INCISO IV, AMBOS
DO CÓDIGO PENAL. OFERECIMENTO FORA DO PRAZO DE SEIS MESES.
CONTAGEM DO LAPSO TEMPORAL NOS TERMOS DO ART. 10 DO CÓDIGO
PENAL.

Como regra, o prazo da decadência é de 06 (seis) meses e em se tratando de causa de


extinção da punibilidade o prazo tem natureza penal, devendo ser contado nos termos
do art. 10 do Código Penal e não de acordo com o art. 798, § 1º do Código de Processo
Penal, quer dizer, inclui-se no cômputo do prazo o dies a quo. Assim, tendo em vista
que ambas as queixas foram oferecidas quando já esgotado o prazo legal, há que se
reconhecer a extinção da punibilidade do querelado em razão da decadência. Queixas
rejeitadas.

2. REQUISITOS DA PEÇA ACUSATÓRIA (art. 41 CPP)

2.1) REQUISITOS ESSENCIAIS: são de observância obrigatória; vício enseja a inépcia


formal e a consequente rejeição da denúncia/queixa. A arguição da inépcia formal deve
se dar até a prolação da sentença, sob pena de preclusão, quando só poderá ser discutida a
nulidade da sentença (STF, RHC 99787).

*OBS.: Para Pacelli e Douglas Fischer, a formulação do pedido de condenação não é


requisito essencial da peça acusatória. Nestor Távora entende ser requisito essencial, ainda
que implícito, nos termos da inicial.

(a) EXPOSIÇÃO DO FATO CRIMINOSO COM TODAS AS SUAS


CIRCUNSTÂNCIAS: serve para viabilizar o exercício do direito de defesa, pois, no
processo penal, o acusado defende-se dos fatos que lhe são imputados (e não da sua
capitulação legal). Na narrativa do fato, há os elementos necessários/essenciais
(necessários para identificar a conduta como fato típico, cuja ausência é causa de nulidade
absoluta – ex: criptoimputação) e os elementos secundários/acidentais (ligados às
circunstâncias de tempo ou espaço, cuja ausência nem sempre prejudica a ampla defesa,
podendo produzir uma nulidade relativa). DENÚNCIA NOS CRIMES CULPOSOS:

263
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

não basta citar a modalidade da culpa, devendo o MP descrever em que consistiu a


imprudência, a negligência e a imperícia. DENÚNCIA NOS CRIMES SOCIETÁRIOS
OU CRIMES DE GABINETE: segundo a posição antiga do STF (HC 85579), a
denúncia genérica, que não individualizava a conduta de cada um dos denunciados, era
considerada apta, bastando a indicação de que os acusados eram responsáveis pela
condução da sociedade empresarial. Na posição atual do STF (HC 80549 e HC 85327),
quando se tratar de crimes societários, a denúncia não pode ser genérica, devendo
estabelecer o vínculo do administrador ao ato ilícito que lhe está sendo imputado. Nesse
sentido também entende o STJ, consoante se depreende dos seguintes julgados:

“2. Nos chamados crimes societários, embora a vestibular acusatória não possa ser de todo
genérica, é válida quando, apesar de não descrever minuciosamente a atuação individual do
acusado, demonstra um liame entre o seu agir e a suposta prática delituosa, estabelecendo a
plausibilidade da imputação e possibilitando o exercício da ampla defesa, caso em que se
consideram preenchidos os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal”. (RHC
31.811-ES, Rel. Exmo. Sr. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe de 25.03.2014)

“Não obstante, em regra, a denúncia não possa ser genérica, aceita-se, por válida, nos
crimes societários, a exordial acusatória que, apesar de não descrever detalhadamente a
conduta do acusado, demonstra nexo entre os seus atos e a prática criminosa a estabelecer a
plausibilidade da imputação, a partir de indícios como a condição de sócio ou administrador
da empresa, o que possibilita o exercício da ampla defesa, hipótese em que se consideram
preenchidos os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal. Precedentes do STJ”.
(RHC 35.309-BA, Rel. Exmo. Sr. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe de
05.12.2013)

*OBS.: Pacelli distingue a acusação geral (quando o órgão da acusação imputa a todos os
acusados o mesmo fato delituoso, independentemente das funções por eles exercidas na
empresa) da acusação genérica (quando vários fatos delituosos são atribuídos aos agentes,
imputando a acusação tais fatos de maneira genérica a todos os integrantes da sociedade),
entendendo que somente a acusação genérica NÃO deve ser admitida, permitindo-se a
acusação geral, porque nesta só há um fato delituoso, sendo possível a defesa.

(b) IDENTIFICAÇÃO DO ACUSADO: qualificação do acusado ou esclarecimentos


pelos quais se possa identificá-lo. Para Renato Brasileiro, desde a Lei 11.719/08, que
revogou o art. 363, II, CPP, extinguindo a possibilidade de citação por edital quando o
acusado fosse pessoa incerta, não cabe mais denúncia/queixa contra pessoa incerta.

(c) APRESENTAÇÃO DA PEÇA ACUSATÓRIA EM VERNÁCULO: a


denúncia/queixa deve ser apresentada por escrito na língua pátria. EXCEÇÃO: no JEC, há
previsão de oferecimento da denúncia ou queixa oral, que será reduzida a termo
posteriormente (art. 77 da Lei 9.099/95).

2.2) REQUISITOS NÃO-ESSENCIAIS: podem não estar presentes na peça acusatória;


vício admite convalidação.

(a) CLASSIFICAÇÃO DO CRIME: capitulação jurídica do crime, que não vincula o

264
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

juiz. Segundo Pacelli, o equívoco na classificação não é causa de inépcia, mas a sua
ausência pode justificar a rejeição da peça acusatória por inépcia, quando importar
violação à ampla defesa.
EMENDATIO LIBELLI (art. 383 CPP)* MUTATIO LIBELLI (art. 384 CPP)
- Atribuição de nova definição jurídica aos - Atribuição de nova definição jurídica aos
fatos descritos na peça acusatória, sem fatos descritos na peça acusatória, em razão
alteração na descrição inicial desses fatos. do surgimento, na instrução processual,
de prova de elementar ou circunstância
não contida na descrição dos fatos na
peça acusatória.
- Realizada de forma automática e direta - Depende de aditamento pelo MP, oitiva
pelo juiz. da defesa, recebimento do aditamento
pelo juiz e nova instrução**.
- Pode ser realizada pelo juízo a quo ou - Realizada somente pelo juízo a quo. O
pelo juízo ad quem (respeitado o princípio juízo ad quem não pode realizá-la, sob pena
que veda a reformatio in pejus na 2ª de supressão de instância (Súmula
instância). 453/STF).
- Pode ocorrer em crimes de ação penal - Cabível só nos crimes de ação penal
pública ou crimes de ação penal privada. pública e ação penal privada subsidiária
da pública (art. 384, caput, CPP), devendo
o aditamento ser feito pelo MP. Alguns
doutrinadores defendem também ser cabível
na ação penal privada personalíssima,
quando o aditamento deve ser feito pelo
próprio querelante, atentando-se sempre
para eventual renúncia tácita operada.
*OBS.: Para a doutrina majoritária e a jurisprudência (STF, HC 87324; STJ, HC 165278), a
emendatio libelli só é cabível no momento da sentença. Doutrina minoritária (Renato
Brasileiro, Scarance Fernandes) diz que a emendatio libelli pode se dar já no momento do
recebimento da peça acusatória, de maneira incidental e provisória, quando caracterizado o
excesso da acusação.

**Com a Lei 11.719/08, no caso de recebimento do aditamento por conta da mutatio


libelli, a sentença condenatória estará adstrita aos termos do aditamento, em observância ao
princípio da correlação ou da adstrição, NÃO podendo haver condenação pela
imputação originária, SALVO (a) aditamento feito para incluir elemento especializante
(ex.: qualificadora); e (b) crimes complexos (ex.: furto e roubo).

(b) ROL DE TESTEMUNHAS: para a acusação, deve ser apresentado na peça acusatória,
sob pena de preclusão. Com base no princípio da busca da verdade, o juiz pode ouvir as
testemunhas não arroladas no momento oportuno como testemunhas do juízo. O número
máximo de testemunhas por fato varia com o procedimento, não ingressando na contagem
os ofendidos e os informantes: (a) COMUM ORDINÁRIO = 8; (b) COMUM
SUMÁRIO = 5; (c) SUMARÍSSIMO = 5 ou 3 (divergência, Renato Brasileiro, Távora e
Alencar entendem ser 3); (d) 1ª FASE DO JÚRI = 8; (e) 2ª FASE DO JÚRI = 5; (f) LEI
DE DROGAS = 5.
265
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

(c) SUBSCRIÇÃO PELO MP OU PELO ADVOGADO: a ausência de assinatura na


peça acusatória será considerada mera irregularidade se não houver dúvidas acerca da sua
autenticidade ou se for facilmente identificável a pessoa que a elaborou (ex: cota da
denúncia assinada pelo MP). No caso da queixa, o ofendido/representante legal deve
assinar junto com o advogado ou, se o advogado assina sozinho, deve ter uma procuração
com poderes especiais.

(d) PROCURAÇÃO NA QUEIXA-CRIME: A procuração deve conter poderes


especiais, devendo dela constar o nome do querelado e menção do fato criminoso (art.
44 CPP). A procuração defeituosa pode ser sanada a qualquer momento, mediante
ratificação dos atos processuais (STJ, REsp 663934 e STF, HC 84397).

3. ADITAMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA

- O aditamento da peça acusatória pode ser feito até a prolação da sentença. Espécies: (a)
aditamento próprio = acréscimo de fatos (aditamento próprio real) ou sujeitos (aditamento
próprio pessoal) não contidos na inicial; o recebimento do aditamento próprio real
interrompe a prescrição quanto ao fato novo (STJ, REsp 276841). (b) aditamento
impróprio = correção de omissões da peça acusatória, sem inovar na acusação (art. 569
CPP).

- LEGITIMIDADE: (a) aditamento da denúncia = MP; (b) aditamento da queixa =


ofendido/representante legal, desde que não tenha havido renúncia tácita quanto a alguns
dos acusados (princípio da indivisibilidade da ação penal privada). MP pode promover o
aditamento impróprio da queixa em qualquer espécie de ação penal privada (art. 45 CPP),
mas o aditamento próprio é restrito à ação penal privada subsidiária da pública. Para
Pacceli, o MP, como fiscal da indivisibilidade da ação penal privada, pode, em qualquer
ação privada, aditar a queixa para incluir sujeito não apontado pelo querelante, apenas não
lhe sendo permitido o aditamento para incluir fato novo.

- RECURSO: RESE (se ocorrer por decisão interlocutória) ou apelação (se ocorrer em
sede de sentença).

4. REJEIÇÃO DA PEÇA ACUSATÓRIA

*OBS.: Desde a Lei 11.719/08, não há mais diferença entre rejeição x não recebimento da
peça acusatória.

- CAUSAS DE REJEIÇÃO (art. 395 do CPP): (a) inépcia da peça acusatória (inépcia
formal = não preenchimento de seus requisitos obrigatórios previstos no art. 41 do CPP);
(b) ausência dos pressupostos processuais/condições da ação; (c) ausência de justa
causa (inépcia material = falta de lastro probatório mínimo para o início do processo).

*OBS.: É possível a rejeição parcial da peça acusatória quando o juiz verificar um excesso

266
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

de acusação.

- COISA JULGADA: somente coisa julgada formal (removido o defeito, nova peça
acusatória pode ser oferecida).

- RECURSOS CONTRA A REJEIÇÃO: como REGRA, cabe RESE (art. 581, I do


CPP), sendo obrigatória a intimação do acusado para apresentar contrarrazões (Súmula
707/STF). EXCEÇÕES: apelação nos JECs (art. 82 da Lei 9.099/95) e agravo
regimental nos processos de competência originária dos tribunais. O acórdão que provê o
recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela, sendo
considerado como o marco interruptivo da prescrição, salvo quando nula a decisão de
primeiro grau (Súmula 709/STF).

5. RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA

- O recebimento da denúncia/queixa NÃO precisa ser fundamentado (STF, HC 95354),


SALVO nos procedimentos especiais em que houver previsão de defesa preliminar.

- MOMENTO PARA O RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA: imediatamente


após o oferecimento da denúncia/queixa, desde que não seja caso de rejeição da peça
acusatória (STJ, HC 138089).

- CONSEQUÊNCIAS DO RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA: (a) fixação


da competência por prevenção (art. 83 CPP) e (b) interrupção da prescrição (art. 117, I,
CPP), SALVO no caso de recebimento por juiz absolutamente incompetente (STF, Inq
1544 e HC nº 104.907-PE, Rel. Min. Celso de Mello, 10.05.2011 – Inf. 626-STF).

- RECURSO CONTRA O RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA: em REGRA,


a decisão é irrecorrível. Como EXCEÇÃO, pode-se usar um HC buscando o
trancamento do processo e, no caso de competência originária dos tribunais, cabe agravo
regimental.

6. SÚMULAS

STF

709: Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a
rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.

453: Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de
Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude
de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.

267
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

7. INFORMATIVOS
Informativo do STF

- Nº 702

Emendatio libelli no recebimento da denúncia


Não é lícito ao magistrado, quando do recebimento da denúncia, em mero juízo de
admissibilidade da acusação, alterar a definição jurídica aos fatos narrados na peça
acusatória. O momento adequado para fazê-lo é na prolação da sentença, ocasião em que
pode haver a emendatio libelli ou a mutatio libelli, se a instrução criminal assim o indicar.
1ª Turma. HC 111445/PE, rel. Min. Dias Toffoli, 16/4/2013.

Informativo do STJ

- Nº 538

Denúncia inepta em caso de homicídio na forma omissiva imprópria


É inepta denúncia que impute a prática de homicídio na forma omissiva imprópria quando
não há descrição clara e precisa de como a acusada – médica cirurgiã de sobreaviso –
poderia ter impedido o resultado morte, sendo insuficiente a simples menção do não
comparecimento da denunciada à unidade hospitalar, quando lhe foi solicitada a presença
para prestar imediato atendimento a paciente que foi a óbito. De igual modo, é também
inepta denúncia que, ao descrever a conduta da acusada como sendo dolosa, o faz de forma
genérica, a ponto de ser possível enquadrá-la tanto como culpa consciente quanto como
dolo eventual. 6ª Turma. RHC 39.627-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
8/4/2014.

Nº 522:

DIREITO PROCESSUAL PENAL. POSSIBILIDADE DE RECONSIDERAÇÃO DA


DECISÃO DE RECEBIMENTO DA DENÚNCIA APÓS A DEFESA PRÉVIA DO RÉU.
O fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o juízo de primeiro grau de, logo
após o oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do CPP,
reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a presença de
uma das hipóteses elencadas nos incisos do art. 395 do CPP, suscitada pela defesa. Nos
termos do art. 396, se não for verificada de plano a ocorrência de alguma das hipóteses do art.
395, a peça acusatória deve ser recebida e determinada a citação do acusado para responder por
escrito à acusação. Em seguida, na apreciação da defesa preliminar, segundo o art. 397, o juiz
deve absolver sumariamente o acusado quando verificar uma das quatro hipóteses descritas no
dispositivo. Contudo, nessa fase, a cognição não pode ficar limitada às hipóteses mencionadas,
pois a melhor interpretação do art. 397, considerando a reforma feita pela Lei 11.719/2008, leva
à possibilidade não apenas de o juiz absolver sumariamente o acusado, mas também de fazer
novo juízo de recebimento da peça acusatória. Isso porque, se a parte pode arguir questões
preliminares na defesa prévia, cai por terra o argumento de que o anterior recebimento da
denúncia tornaria sua análise preclusa para o Juiz de primeiro grau. Ademais, não há porque dar

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

início à instrução processual, se o magistrado verifica que não lhe será possível analisar o
mérito da ação penal, em razão de defeito que macula o processo. Além de ser desarrazoada
essa solução, ela também não se coaduna com os princípios da economia e celeridade
processuais. Sob outro aspecto, se é admitido o afastamento das questões preliminares
suscitadas na defesa prévia, no momento processual definido no art. 397 do CPP, também deve
ser considerado admissível o seu acolhimento, com a extinção do processo sem julgamento do
mérito por aplicação analógica do art. 267, § 3º, CPC. REsp 1.318.180-DF, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 16/5/2013.

269
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

17.a. Restituição de coisas apreendidas. Perdimento de bens.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 25º CPR; Eugênio Pacelli de
Oliveira. Curso de Processo Penal. 15. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011; Norberto
Avena. Processo Penal Esquematizado. 15. ed. São Paulo: Método, 2010; Nestor Távora e
Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito Processual Penal. 6. ed. rev. ampl. e atual.
Salvador: JusPodivm, 2011; Renato Brasileiro de Lima. Manual de Processo Penal.
Volume II. Niterói, RJ: Impetus, 2012. LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo
Penal. 2ª edição. Volume único. Salvador: Juspodivm, 2014

Legislação básica: art. 91, CP; arts. 4º, § 3º, Lei nº 9.613/98; art. 60, § 3º e 62 Lei nº
11.343; art. 6º, 118-121, 133, 240, CPP; art. 5º, II, Lei 12.016/09.

Todas as coisas e os bens que puderem constituir matéria de prova do fato ilícito deverão
ser recolhidos e apreendidos pela autoridade policial, permanecendo à disposição dos
interesses da persecução penal. É o que ocorre por ocasião das diligências policiais (art. 6º,
CPP), seja durante o inquérito, seja por ordem judicial expressa, via mandado de busca e
apreensão (art. 240 e segs, CPP).

Como regra, a matéria tratada no incidente é matéria civil, relacionada à propriedade do


bem apreendido, à exceção daquelas mencionadas no art. 91, CP. Há situações em que a
restituição é condicionada: a) No art. 4º, § 3º, da Lei nº 9.613/98, com a redação dada pela
Lei nº 12.683/12, a liberação depende do comparecimento pessoal do acusado ou de
interposta pessoa em cujo nome estejam os bens apreendidos; já no art. 60, § 3º, da Lei nº
11.343/06, a restituição depende do comparecimento pessoal do acusado; b) Na Lei nº
11.343/06, o perdimento dos instrumentos do crime não depende de que sejam coisas “cujo
fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito”, pois o art. 62 prevê o
perdimento do bem independentemente da ilicitude, desde que tenha sido utilizado para a
prática do crime (Baltazar Jr., 2010, p. 664). Vide art. 243, CR.

Por outro lado, a restituição será vedada quando: a) ainda apresentar relevância ao processo
(art. 118, CPP); b) sendo produto do crime ou instrumento cuja posse ou fabrico
constituam, por si mesmo, um delito e sendo qualquer bem ou valor que constitua produto
auferido com o crime (art. 119, CPP). No caso de apreensão de coisa adquirida com o
produto da infração, cuja restituição seja negada, procede-se a seu sequestro (art. 121,
CPP); c) quando houver dúvida sobre o legítimo direito do requerente (art. 120, CPP).

Processamento: O pedido de restituição pode ser apreciado pela autoridade policial quando
inexistirem dúvidas acerca da propriedade do bem e do direito do requerente; se duvidoso,
o pedido será feito em apartado perante o juiz competente para a ação penal, deferindo-se
prazo de cinco dias para produção de provas. Também é dele a competência se a coisa
estiver em poder de terceiros de boa-fé, com prazo de dois dias ao interessado para a
comprovação da propriedade (art. 120, § 2º, CPP); deve ser ouvido o MP, segundo
PACELLI (ob cit., p. 315), se o pedido foi realizado perante autoridade judicial (art. 120, §
3º, CPP). Quando a prova for de difícil elucidação, o juiz criminal declinará a competência
ao juízo cível (art. 120, § 4º, CPP). Quanto às consequências jurídicas da decisão que
resolve o incidente, especial atenção à que o indefere; aí o recurso cabível, segundo
270
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

PACELLI, é o de apelação, por se tratar de decisão com força de decisão definitiva (art.
593, II, CPP), a resolver o mérito do incidente (STJ, RMS 25.043). Segundo AVENA (ob
cit., p. 401-402), considerando-se a ausência de efeito suspensivo da apelação, é possível a
impetração de Mandado de Segurança (art. 5º, II, Lei 12.016/09). O mesmo autor refere ser
cabível o writ em face da decisão do delegado que indefere o pedido (TRF2R, AC n.
2002.51.1009869-7).

Quanto ao produto do crime ou de seu proveito, aplica-se o art. 133, CPP, com a venda do
bem em leilão após o trânsito em julgado da sentença condenatória, recolhendo-se o valor
ao Tesouro Nacional, descontado valor do terceiro de boa-fé. Se não houver pedido de
restituição, pela ausência de interessados, o juiz, após 90 dias do trânsito em julgado,
decretará a perda dos bens em favor da União (art. 122). Tratando-se de coisas cuja
utilidade seja somente probatória, será devolvida ao proprietário. Se não houver prova de
domínio, o juiz, no mesmo prazo supra referido, determinará a venda em leilão,
depositando-se o saldo à disposição do juízo de ausentes.

Coisas apreendidas (Destinação ao final do processo)

Instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte
ou detenção constitua fato ilícito (atenção p/ Lei de Drogas); estão sujeitas a perdimento em
favor da União, ressalvado direito do lesado e do terceiro de boa-fé, mediante apreciação na
sentença penal (art. 91, CP).

Serão inutilizados ou recolhidos a museu criminal, se houver interesse em sua conservação


(art. 124, CPP).

Produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente
com a prática do fato criminoso estão sujeitos a perdimento em favor da União, ressalvado
direito do lesado e do terceiro de boa-fé, mediante apreciação na sentença penal (art. 91,
CP). O valor apurado será recolhido ao Tesouro Nacional, depois de descontado o que
couber ao lesado ou terceiro de boa-fé.

Se não houver pedido de restituição – não forem os bens apreendidos reclamados -, o juiz,
decorrido o prazo de 90 dias após o trânsito em julgado da sentença condenatória ou
absolutória, decretará a perda dos bens em favor da União e ordenará a venda em leilão
público, depositando-se o saldo à disposição do juízo de ausentes.

Coisas adquiridas com produto da infração estão sujeitas a sequestro (art. 121, CPP), e,
transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz, de ofício ou a requerimento do
interessado, determinará a avaliação e a venda dos bens em leilão público, recolhendo-se o
apurado em favor do Tesouro Nacional, depois de retirado o que couber ao lesado ou
terceiro de boa-fé (art. 133, CPP).

Demais coisas devem permanecer apreendidas enquanto interessarem ao processo (art.


118, CPP)

271
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

OBS1: O art. 20, §3º, I, da Lei nº 7.716/89, que define os crimes resultantes de preconceito
de raça ou de cor, prevê o recolhimento de instrumentos utilizados na prática, no
induzimento ou na incitação à discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional, como os que veiculem a suástica, ou a busca e apreensão dos
exemplares do material respectivo.

OBS2: Em relação ao crime de reprodução de obra com violação de direito autoral (art.
184, §§ 1º, 2º e 3º, CP, e art. 530-G, CPP, introduzidos pela Lei nº 10.695/03), o juiz
determina, na sentença, a destruição dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos, bem
como o perdimento em favor da Fazenda Nacional dos equipamentos apreendidos que se
destinem à prática do ilícito.

OBS3: STJ - O perdimento de bens utilizados para tráfico ilícito de entorpecentes depende
da demonstração de que tal bem seja utilizado habitualmente, ou que seja preparado para a
prática da atividade ilícita (AgRg no AREsp 175.758/MG, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, Quinta Turma, julgado em 06/11/2012).

OBS4: Info. 470/STJ - Compete ao juízo federal criminal que ordenou a busca e apreensão
(suscitado) processar e julgar o pedido de restituição dos pássaros silvestres apreendidos
pela Polícia Federal concomitantemente à atuação administrativa do IBAMA, que
acompanhou o cumprimento do mandado (CC 115.000-MS, Rel. Min. Maria Thereza de
Assis Moura, julgado em 27/4/2011).

LEITURA COMPLEMENTAR: Eugênio Pacelli de Oliveira. Curso de Processo Penal,


16. ed. São Paulo: Atlas, 2012; Renato Brasileiro de Lima. Manual de Processo Penal.
Volume II. Niterói, RJ: Impetus, 2012.

272
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

17.b. Lei nº 9.034, de 03.05.1995 – LEI REVOGADA – PONTO


REFEITO NOS TERMOS DA LEI Nº 12.850/13.
Principais obras consultadas: Material TRF1; Guilherme de Souza Nucci. Leis Penais e
Processuais Penais Comentadas. Volume 2. 6. ed. rev. atual. e ref. São Paulo: RT, 2012;
Marcelo Batlouni Mendroni. Crime Organizado. Aspectos Gerais e Mecanismos Legais. 3.
ed. São Paulo: Atlas, 2009. Oliveira, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 18ª
edição. São Paulo: Atlas, 2014.

Legislação básica: Lei nº 12.850/13

TÉCNICAS ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO (TEI)

Conforme o artigo 50, § 1º, da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção
(Convenção de Mérida, de 2003), as Técnicas Especiais de Investigação (TEI) designam os
procedimentos de investigação policial e de colheita de provas utilizados na apuração da
materialidade e da autoria das novas formas de criminalidade organizada nacional ou
transnacional.

Enquadram-se no conceito de TEI:

a) vigilância eletrônica e de outras índoles, a ex. da interceptação telefônica e ambiental


(óptica/acústica);

b) quebra de sigilo bancário e financeiro, fiscal e eleitoral;

c) delação premiada;

d) ação controlada/flagrante diferido, gênero do qual faz parte a entrega vigiada, seja de
dinheiro (art. 2º, i, Convenção de Mérida: trata-se da técnica consistente em permitir que
remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais Estados, o atravessem ou
entrem nele, com o conhecimento e sob a supervisão de suas autoridades competentes, com
o fim de investigar um delito e identificar as pessoas envolvidas em sua ocorrência), seja
de drogas (60 § 4º Lei 11.343/06);

f) operações secretas, a ex. da infiltração de agentes de polícia ou de inteligência.

Tais TEI foram previstas, sobretudo, na Lei 9.034/95, que cuida dos meios operacionais
(instrumentos para investigação ou formação de provas) para prevenção e repressão dos
crimes praticados em (1) quadrilha ou bando, em (2) associação ou em (3) organização
criminosa.

Para alguns doutrinadores, trata-se de bom exemplo do chamado “direito penal de


emergência”, caracterizado pela quebra de garantias justificada por uma situação
excepcional.

273
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

(1) Quadrilha ou bando: Art. 288 do CP (Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha
ou bando, para o fim de cometer crimes). Número mínimo de participantes: 4

(2) Associação Criminosa para a prática de genocídio: art. 2º, L 2889/56 (genocídio):
Associarem-se mais de três pessoas prática dos crimes mencionados no art. 1º - Número
mínimo de participantes: 4;

(3) Associação Criminosa para o Tráfico 35, L 11343/06 (drogas): Associarem-se duas ou
mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos
nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei [tráfico e fabricação] – Número mínimo de
participantes: 2.

(4) Convenção de Palermo: Grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum
tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações
graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou
indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material - Número mínimo de
participantes: 3.

(4) Organização Criminosa é definida pela Lei nº 12.850/13 (art. 1º, §1º) como “a
associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela
divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional”. Número mínimo de participantes: 4. Aplicabilidade restrita às
organizações que se destinarem a praticar a) os crimes que cominem pena máxima superior
a 4 anos ou tenham caráter transnacional; b) infrações penais previstas em tratado ou
convenção internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse
ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente (art. 1º, §2º, I); c) atos terroristas, mediante
organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as normas de direito
internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo, bem
como os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas, ocorram ou possam ocorrer
em território nacional (art. 1º, §2º, II).

Pacelli afirma que a nova Lei nº 12.850/13 inaugura um modalidade de persecução penal
conhecida como a questionável plea bargaining (fls. 835, 2014), previsto no direito
estadunidense, em que se tem uma forma de justiça negociada entre a pessoa indiciada e os
órgãos de persecução penal. A lei nº 12.850/13 pretende instituir uma modalidade de
negociação penal, com parcial flexibilização do princípio da obrigatoriedade da ação penal,
já que esta será oferecida, mesmo em face daquele com quem o Estado firmou o Termo de
Acordo de Colaboração Premiada e de onde resultaram a identificação dos demais
integrantes da organização, ou a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas
da organização criminosa, ou a prevenção de infrações penais, ou a recuperação total ou
parcial do produto dos crimes praticados pela organização, ou a localização de eventual
vítima com a sua integridade física preservada. Contudo, será beneficiado pelo perdão
judicial com a redução de até 2/3 da pena privativa de liberdade ou a substituição da pena

274
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

por restritiva de direitos.

Pacelli chama atenção para as principais alterações, são elas (p. 836 e ss., 2014):

1ª) O Juiz criminal não é e nem pode ser o protagonista das operações tendentes ao
estabelecimento de acordos de colaboração premiada, em homenagem ao sistema
acusatório, e também com o escopo de conferir mais responsabilidade aos órgãos de
persecução penal, notadamente quando estas se dirigem ao enfrentamento de complexas
organizações criminosas;

2ª) Papel de suma relevância dos advogados aos quais cumprirão o papel de defender os
interesses dos acusados que colaborarem em troca do perdão do judicial, e mesmo os
orientando e aconselhando em relação ao acordo de colaboração;

3ª) O acordo de colaboração não é direito subjetivo do eventual investigado e/ou


processado, ou seja, não parece existir o direito a formalização do acordo por intervenção
judicial, não podendo o juiz avançar sobre a matéria que a ainda não se encontra sob a sua
jurisdição. Isso quer dizer, para Pacelli, ainda que o MP não tem formulado acordo de
colaboração premiada, o juiz poderia reconhecê-la na sentença, se o acusado atuou
eficientemente e prol da satisfação dos requisitos para redução ou substituição da pena
privativa de liberdade ou, em sendo o caso, conceder o perdão judicial. A colaboração
premiada deve ser vista com cautelas, levando em consideração que nem todo colaborador
pode estar interessado nos resultados concretos da investigação, mas nos benefícios que
dela poderiam advir, ou mesmo para ocultar outras práticas criminosas que tenha praticado.

4ª) Nenhuma sentença será proferida com base apenas nas declarações do colaborador. É
necessário que outras provas confirmem tais declarações.

5º) A delação, a traição ou qualquer expressão que pretenda traduzir o ato de revelação da
estrutura e formação hierárquica da organização criminosa, de seus atores e o modo de
operação, ou ainda informações acerca da localização da vítima ou do produto ou do
proveito das ações criminosas, levadas a efeito pela organização, nada disso, para Pacelli,
vai de encontro a qualquer conceito de ética, até porque se alinha a outros institutos
admitidos no ordenamento, como arrependimento e a consciência moral. Como diz, “a
menos, é claro, que se passe à ideia de que a ética há de ser determinada pelo grau de
lealdade entre os partícipes de determinado empreendimento”, que se dirige a fins ilícitos e
contrariamente ao bem comum. Deve-se, portanto, afastar dessas premissas equivocadas,
porque desvinculadas da moralidade, senão o conceito de moral não servirá de mais nada.

6º) Não se trata de imposição de pena sem processo, mas, de mera colaboração para
desvendar fatos que revelem crimes, autoria, resultado ou o paradeiro de vítimas, que, ao
final, serão considerados por ocasião da sentença e, ainda assim, se esta for julgada
procedente. Ora, não se admite no ordenamento jurídico pátrio, a imposição de pena
privativa de liberdade sem o devido processo legal. Essa é a razão, inclusive, para se aplicar
apenas a penas restritivas de direitos e multa, na hipótese de transação penal.

275
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

PROCEDIMENTOS – O artigo 3º da Lei nº 12.850/13 dispõe: “em qualquer fase de


persecução criminal (pode ser durante as investigações ou no curso da ação penal), serão
permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da
prova”:

I – Colaboração premiada: consiste na concessão de perdão judicial pelo juiz, a


requerimento das partes, mediante termo de acordo de colaboração premiada que deverá ser
feito por escrito e conter: a) o relato da colaboração e seus possíveis resultados; b) as
condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia ; c) a declaração
de aceitação do colaborador e de seu defensor; d) as assinaturas do representante do
Ministério Público ou do delegado de polícia, do colaborador e de seu defensor; e) a
especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário.
A concessão do perdão judicial está condicionada a que o colaborador tenha contribuído
efetiva e voluntariamente com as investigações e com o processo criminal, desde que dessa
colaboração advenha ou mais dos seguintes resultados: I - a identificação dos demais
coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles
praticadas; II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da
organização criminosa; III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades
da organização criminosa; IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito
das infrações penais praticadas pela organização criminosa; V - a localização de eventual
vítima com a sua integridade física preservada. Portanto, firmado o acordo de colaboração
premiada ou mesmo que este não tenha sido firmado, mas o acusado tenha contribuído para
os obtenção de tais resultados, o juiz poderá, a requerimento das partes, conceder perdão
judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por
restritiva de direitos em favor do colaborador. É bem verdade que a concessão do benefício
levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e
a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.
O Art. 4º, § 3o, da Lei nº 12.850/13, prevê que o prazo para oferecimento de denúncia ou o
processo, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis
por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o
respectivo prazo prescricional.
Observadas as condições para a formação do termo de acordo de colaboração premiada, e
se vislumbre quaisquer dos resultados em tela, o Ministério Público poderá deixar de
oferecer denúncia se o colaborador: a) não for o líder da organização criminosa; b) for o
primeiro a prestar efetiva colaboração para elucidar os fatos de onde venham advir
quaisquer dos resultados em destaque.
A nova lei admite ainda que a possibilidade de a colaboração premiada ser feita após a
prolação da sentença, hipótese em que a pena poderá ser reduzida até a metade ou será
admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.
Como já retratado o juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a
formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o
investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso,

276
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor. Realizado o acordo, o


termo, acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da investigação, será
remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e
voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de
seu defensor. O juiz ficará equidistante apenas se pronunciará sobre os aspectos formais da
colaboração premiada, podendo recusar a homologação da proposta que não atender aos
requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto.
Vale ressaltar que, conforme o art. 7o da Lei nº 12.850/14, o pedido de homologação do
acordo será sigilosamente distribuído, contendo apenas informações que não possam
identificar o colaborador e o seu objeto. As informações pormenorizadas da colaboração
serão dirigidas diretamente ao juiz a que recair a distribuição, que decidirá no prazo de 48
(quarenta e oito) horas. O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao
delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao
defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam
respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial,
ressalvados os referentes às diligências em andamento. O acordo de colaboração premiada
deixa de ser sigiloso assim que recebida a denúncia.
Homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser
ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de polícia responsável pelas
investigações. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador
poderá ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade
judicial.
Admite-se que as partes possam retratar-se da proposta, caso em que as provas
autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente
em seu desfavor.
Na oportunidade da sentença, o juiz apreciará os termos do acordo homologado e sua
eficácia, de forma a identificar se os fins pretendidos foram alcançados e qual seria a
importância da colaboração no contexto da apuração dos fatos, para que sejam garantidos,
em sendo o caso, o perdão judicial, a redução da pena privativa de liberdade em até 2/3 ou
substituição da pena restritiva de liberdade por restritiva de direitos.
O colaborador, nos depoimentos que prestar, renunciará, na presença de seu defensor, ao
direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade. O defensor
deverá sempre estar presente nos atos em que o colaborador participar, para lhe garantir a
defesa e a devida assistência, consciente, todavia, da relativização do direito fundamental a
não autoincriminação.
O colaborador poderá a) usufruir das medidas de proteção previstas na legislação
específica, tais como aquelas previstas na lei de proteção à testemunha; b) ter nome,
qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados; c) ser conduzido, em
juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes; d) participar das audiências sem
contato visual com os outros acusados; e) não ter sua identidade revelada pelos meios de
comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito; e)
cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou condenados.

277
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

II – Captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos: requerem


autorização judicial circunstanciada, ou seja, proferida em termos minuciosos, explicando o
motivo da quebra do sigilo, nos termos da legislação de regência. Ver ponto que trata de
quebra de sigilo telefônico.

III - Ação controlada (flagrante diferido/não atuação policial/retardamento do


flagrante): é conceituada como o retardamento da intervenção policial ou administrativa
relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida
sob observação e acompanhamento para que a medida se concretize no momento mais
eficaz à formação de provas e obtenção de informações (art. 8º da Lei nº 12.850/13). Pode-
se entender como o ato de postergar a prisão do agente envolvido em organização
criminosa, mesmo estando a autoridade policial diante da realização do crime, sob o
fundamento de se aguardar o momento oportuno para tanto, colhendo-se mais provas e
informações. Aqui a lei se refere somente às “organizações criminosas”.

Trata-se de modalidade de flagrante obrigatório, mas discricionário quanto ao momento da


prisão. Não se trata de flagrante facultativo, que é a modalidade em que qualquer pessoa
maior de 18 anos pode prender.

A ação controlada em decorrência de investigação de crimes previstos na Lei nº 9.613/98


(art. 4º-B da Lei Lavagem de dinheiro, incluído pela Lei nº 12.683/12) e na Lei 11.343/06
(Drogas, v. art. 53, II), exigem autorização judicial. Contudo, não se exige autorização
judicial para persecução penal de crimes praticados por organizações criminosas, no
contexto da Lei nº 12.850/13, já que, além de não conter previsão nesse sentido, estabelece
que o retardamento da intervenção seja previamente comunicado ao juiz competente que,
em sendo o caso, estabelecerá os limites do diferimento da atuação e comunicará ao MP.
Tal comunicação será restrita ao juiz, ao MP e ao delegado de polícia, como forma de
garantir o êxito das investigações. Ao final da diligência, será elaborada auto
circunstanciado de seus termos.

Caso a ação controlada envolva a transposição de fronteiras, o retardamento da


interceptação policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das
autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de
sorte a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do
crime.

É indispensável que o agente policial atue com proporcionalidade/razoabilidade: não pode


o agente policial que se aproxima de uma organização criminosa protelar a prisão em
flagrante para permitir, por exemplo, que várias mortes ocorram com a justificativa de não
atuar para colheita de maior número de provas e maior apreensão de criminosos. O que se
tolera é, por exemplo, postergar o flagrante em um crime financeiro qualquer para que
outro seja cometido, até que se atinja um montante confiável de provas.

278
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

IV – Infiltração de agentes: trata-se de medida requerida pelo delegado de polícia ou pelo


MP, após manifestação técnica do delegado de polícia, quando solicita no curso de um IPL,
ao juiz, o qual poderá autorizar tal modus operandi, mediante circunstanciada, motivada e
sigilosa autorização judicial, onde estabelecerá os limites da infiltração. Sendo requerida
pelo delegado, o MP deverá ser ouvido. É medida de ultima ratio, somente podendo ser
deferida se a prova que ela pretenda alcançar não puder ser obtida por outros meios
disponíveis. Assim, deverá o requerente expor as razões pelas quais os instrumentos
existentes no ordenamento jurídico pátrio não se mostram suficientes para se obter a prova
que a infração penal subjacente pretenda alcançar. PRAZO: 6 meses, sem prejuízo de
eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade (art. 10, §3º, da Lei nº
12.850/13). Findo o prazo, o relatório circunstanciado será apresentado ao juiz que dará
imediatamente ciência ao MP. Entretanto, nada impede que o delegado de polícia determine
que seu agentes elabore relatório da atividade de infiltração, ou mesmo que o MP requisite.

O pedido para que haja a infiltração deverá conter a descrição da necessidade e


indispensabilidade da medida, ante às demais existentes no ordenamento, o alcance das
tarefas dos agentes, e, sempre que possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas
e local da infiltração. Tal pleito será distribuído sigilosamente, sem qualquer referência a
informações que possam indicar a operação subjacente ou identificar o agente a ser
infiltrado.

Caso haja indícios de o agente infiltrado sofre risco iminente, a operação será sustada,
mediante requisição do MP ou do delegado de polícia, dando-se imediata ciência ao MP e
ao juiz.

O agente infiltrado deverá atuar com base no princípio da proporcionalidade, em atenção


aos fins da investigação, respondendo por eventuais excessos praticados. Considera-se não
punível a prática de crime praticado no curso da investigação, quando inexigível conduta
diversa.

O art. 14 da Lei nº 12.850/13 estabelece que são direitos do agente: I - recusar ou fazer
cessar a atuação infiltrada; II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o
disposto no art. 9o da Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das
medidas de proteção a testemunhas; III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua
voz e demais informações pessoais preservadas durante a investigação e o processo
criminal, salvo se houver decisão judicial em contrário; IV - não ter sua identidade
revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de comunicação, sem sua prévia
autorização por escrito.

Pacelli considera a infiltração de agentes inconstitucional, por se esbarrar no princípio da


legalidade e da moralidade sob a égide do qual o agente público deve pautar sua atuação,
não se admitindo qualquer forma de contribuição estatal na prática de delitos, ainda que na
tentativa de legitimação segundo a nobreza dos fins. Ressalta que, no Brasil, há uma
infinidade de mecanismos (como interceptação telefônicas, gravações ambientais, etc.) para
que as investigações possam ser bem sucedidas, com o devido amparo da lei e da
moralidade. Segundo ele, a infiltração de agentes no interior de organizações criminosas
abre espaço – e perigoso espaço – para a flexibilização dos juízos de conveniência de

279
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

determinadas atuações, com a consequente e indevida ampliação, do manejo da


discricionariedade, a ser justificada por critérios preferencialmente utilitários (p. 874/877,
2014).

As considerações do material confeccionado pelo grupo do 27º CPR no tocante à infiltração


de agentes foram preservadas, no que interessa quando pertinentes ao novo contexto
inaugurado pela Lei nº 12.850/13, vejamos:

Agente infiltrado (undercover agent): pessoa integrante da estrutura dos serviços policiais
ou de inteligência (no Brasil, ABIN, COAF etc.) que é introduzida dentro de uma
organização criminosa, ocultando-se sua verdadeira identidade e tendo como finalidade a
obtenção de informações para que seja possível a sua desarticulação. É meio de obtenção
de provas.

Também requer autorização judicial circunstanciada, devendo ser sigilosa.

Nucci entende pela possibilidade de cômputo do agente infiltrado para a configuração do


crime de quadrilha ou bando, o qual exige a cooperação de, pelo menos, quatro pessoas.
Assim, se uma delas for um agente infiltrado, seria possível punir os outros três.

Agente infiltrado pode ser testemunha: testemunha da coroa ou testemunha do Estado.


Sendo testemunha deve depor com nome verdadeiro, porque já deve ter entrado no
programa de proteção de testemunhas.

Apesar de ser possível que o agente infiltrado venha a cometer crimes em conjunto com os
criminosos a fim de justificar a sua participação no grupo, a sua atuação deve se pautar
pelos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, não sendo viável, por exemplo, o
agente matar uma pessoa para demonstrar aos pretensos comparsas a sua efetiva intenção
de participar da organização. No entanto, Marcelo Mendroni observa que, caso o agente
policial seja obrigado pelos comparsas a matar alguém, sob pena de revelar a sua identidade
e, com isso, ser executado, poderá ser absolvido com fundamento na tese da coação moral
irresistível (p. 112).

V - Acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações: O delegado de


polícia e o Ministério Público terão acesso, independentemente de autorização judicial,
apenas aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a qualificação
pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas,
instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito
(art. 15). As empresas de transporte possibilitarão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, acesso
direto e permanente do juiz, do Ministério Público ou do delegado de polícia aos bancos de
dados de reservas e registro de viagens (art. 16). As concessionárias de telefonia fixa
ou móvel manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades
mencionadas no art. 15, registros de identificação dos números dos terminais de origem e
de destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais (art. 17).

O STF não admite que o MP quebre o sigilo bancário diretamente, salvo em uma única
exceção: quando se trata de dinheiro público, situação em que vigora o princípio da
publicidade. Fora de tal hipótese, a prova é ilícita e, portanto, inadmissível.
280
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Pacelli sustenta que os acesso aos dados cadastrais que informem exclusivamente a
qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas
telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de
crédito mostra-se constitucional, porque há redução sensível quanto ao conteúdo da
privacidade a ser acessado, ainda que se reconheça, como o fazemos, que a medida ostenta
dimensão mais alargada da privacidade e da intimidade do investigado. De mais a mais,
impõe-se a indispensável existência de regular procedimento investigatório, a legitimar as
medidas apontadas na nova Lei de Organizações Criminosas. Acredita que o STF não
recuará da exigência geral de autorização judicial para quaisquer providências tendentes a
atingir certos graus de intimidade e de privacidade nas liberdades públicas, a inviabilizar o
aplicação do art. 15 da Lei nº 12.850/13, mesmo em se tratando de apuração de fatos
praticados por organizações criminosas, a demandar maior mobilidade nas investigações.

De outro lado, Pacelli entende ser inconstitucional a previsão contida no art. 17 da Lei nº
12.850/13, que permite que o MP e o delegado de polícia tenham acesso,
independentemente de autorização judicial, aos registros de identificação dos números dos
terminais de origem e de destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e
locais, que serão mantidos à disposição de tais autoridades pelas concessionárias de
telefonia fixa ou móvel, pelo prazo de 5 anos. Ora, segundo ressalta, aí não se trata mais de
informações acerca do nome, da qualificação e do endereço do investigado, mas de dados
essencialmente conectados com o exercício da intimidade e da privacidade, razão pela qual
se impõe a necessidade de autorização judicial, como desdobramentos das comunicações
dessa natureza.

VEDAÇÃO DE JUIZ INQUISIDOR (MANTIDO DO MATERIAL ANTERIOR


APENAS COM FINS ILUSTRATIVOS) – O artigo 3º da LEI nº 9.034/95 foi declarado
inconstitucional pelo STF na ADI nº 1.570-2/DF. Aludida decisão teve por finalidade coibir
a figura do juiz inquisidor, porquanto, o dispositivo em questão violaria o sistema
acusatório, ao atribuir ao juiz a tarefa de colher provas fora do processo, agindo de ofício
(reunião, na figura do juiz inquisidor, das funções de acusar, defender e julgar). O STF
ainda entendeu que, com relação aos termos “bancárias” e “financeiras” do inciso III do
artigo 2º, a análise estaria prejudicada em razão do advento da LC 105/2001, que
regulamenta o sigilo bancário e financeiro, inclusive sua quebra. Quanto ao sigilo fiscal e
eleitoral, o STF declarou a inconstitucionalidade do 3º Lei 9.034/95: o juiz não pode
realizar pessoalmente busca e apreensão de documentos relacionados ao pedido de quebra
de sigilo porque comprometeria o princípio da imparcialidade e, consequentemente,
violaria o devido processo legal. Deixou expresso, também, que as funções de investigador
e inquisidor são conferidas pela CR/88 ao Ministério Público e às Polícias Federal e Civil
(129, I e VIII e § 2º; e 144, § 1º, I e IV, e § 4º, CR/88) e que a realização de inquérito é
função que a Constituição reserva à polícia, não ao juiz. Confira-se a ementa:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 9034/95. LEI


COMPLEMENTAR 105/01. SUPERVENIENTE. HIERARQUIA SUPERIOR.
REVOGAÇÃO IMPLÍCITA. AÇÃO PREJUDICADA, EM PARTE. "JUIZ DE
INSTRUÇÃO". REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS PESSOALMENTE.
COMPETÊNCIA PARA INVESTIGAR. INOBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL. IMPARCIALIDADE DO MAGISTRADO. OFENSA. FUNÇÕES DE

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

INVESTIGAR E INQUIRIR. MITIGAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO MINISTÉRIO


PÚBLICO E DAS POLÍCIAS FEDERAL E CIVIL. 1. Lei 9034/95. Superveniência da Lei
Complementar 105/01. Revogação da disciplina contida na legislação antecedente em
relação aos sigilos bancário e financeiro na apuração das ações praticadas por organizações
criminosas. Ação prejudicada, quanto aos procedimentos que incidem sobre o acesso a
dados, documentos e informações bancárias e financeiras. 2. Busca e apreensão de
documentos relacionados ao pedido de quebra de sigilo realizadas pessoalmente pelo
magistrado. Comprometimento do princípio da imparcialidade e consequente violação
ao devido processo legal. 3. Funções de investigador e inquisidor. Atribuições
conferidas ao Ministério Público e às Polícias Federal e Civil (CF, artigo 129, I e VIII e
§ 2o; e 144, § 1o, I e IV, e § 4o). A realização de inquérito é função que a Constituição
reserva à polícia. Precedentes. Ação julgada procedente, em parte. (ADI 1570, Relator(a):
Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 12/02/2004, DJ 22-10-2004 PP-
00004 EMENT VOL-02169-01 PP-00046 RDDP n. 24, 2005, p. 137-146 RTJ VOL-00192-
03 PP-00838) (grifou-se)

ASPECTOS PROCESSUAIS DA NOVA LEI DE CRIME ORGANIZADO C/C LEI


Nº 12.694/2012:

O procedimento a ser adotado na fase judicial é o ordinário, devendo a instrução criminal


ser encerrada no prazo de 120 dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis em até igual
período, mediante decisão fundamentada, devidamente motivada em razão da
complexidade da causa ou de fato procrastinatório imputável ao réu.

A ação penal que apure crimes praticados por organizações criminosas poderá ser julgada
por um colegiado de 1º grau, instaurado pelo juiz prevento e gestor das provas, do qual
participará, quando houver risco à sua integridade física, declinado em decisão
fundamentada, da qual será dado conhecimento à respectiva Corregedoria. Confira-se o teor
da Lei nº 12.694/2012

Art. 1o Em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por
organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de colegiado para a prática de
qualquer ato processual, especialmente:  
I - decretação de prisão ou de medidas assecuratórias;  
II - concessão de liberdade provisória ou revogação de prisão;  
III - sentença;  
IV - progressão ou regressão de regime de cumprimento de pena;  
V - concessão de liberdade condicional;  
VI - transferência de preso para estabelecimento prisional de segurança máxima; e  
VII - inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado.  

282
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

§ 1o O juiz poderá instaurar o colegiado, indicando os motivos e as circunstâncias que


acarretam risco à sua integridade física em decisão fundamentada, da qual será dado
conhecimento ao órgão correicional.  
§ 2o O colegiado será formado pelo juiz do processo e por 2 (dois) outros juízes
escolhidos por sorteio eletrônico dentre aqueles de competência criminal em exercício no
primeiro grau de jurisdição.  
§ 3o A competência do colegiado limita-se ao ato para o qual foi convocado.  
§ 4o As reuniões poderão ser sigilosas sempre que houver risco de que a publicidade
resulte em prejuízo à eficácia da decisão judicial.  
§ 5o A reunião do colegiado composto por juízes domiciliados em cidades diversas
poderá ser feita pela via eletrônica.  
§ 6o As decisões do colegiado, devidamente fundamentadas e firmadas, sem exceção,
por todos os seus integrantes, serão publicadas sem qualquer referência a voto divergente
de qualquer membro.  
§ 7o Os tribunais, no âmbito de suas competências, expedirão normas regulamentando
a composição do colegiado e os procedimentos a serem adotados para o seu funcionamento.
Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de
3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas,
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a
4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional.  
QUESTÕES

(Juiz TRF 5ª Região – 2013) Os procedimentos de ação controlada, afastamento de sigilo


de informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais e infiltração de agentes de polícia
ou de inteligência dependem de prévia autorização judicial estritamente sigilosa, sendo, por
essa razão, considerados medidas de produção antecipada de prova. ERRADO. Ação
controlada não depende de autorização prévia. Na nova lei de organização criminosa, o
controle é a posteriori. A 11.343/06 fala em autorização prévia. A 12.850/2013 não fala em
infiltração de agentes de inteligência, só agentes policiais.

LEITURA COMLEMENTAR: Marcelo Batlouni Mendroni. Crime Organizado.


Aspectos Gerais e Mecanismos Legais. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

283
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

17.c. Atos processuais: lugar, forma de realização, prazos e sanções.


Principais obras consultadas: Resumo dos Grupos do 27º, 26º e 25º CPR; Eugênio Pacelli
de Oliveira. Curso de Processo Penal, 15. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. Fauzi
Hassan Choukr. Código de Processo Penal – Comentários Consolidados e Crítica
Jurisprudencial, 3. ed. rev., atual. e comentada. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. Eugênio
Pacelli de Oliveira e Douglas Fisher. Comentários ao Código de Processo Penal e sua
Jurisprudência, 4. ed, rev. e atual. até dezembro de 2011 – São Paulo: Atlas, 2012.

Legislação básica: arts. 791 a 808, CPP; Lei nº 1.408/51; e Lei nº 9.800/99.

O processo penal desenvolve-se por meio da prática dos diversos atos processuais que
integram os distintos procedimentos previstos no Código de Processo Penal e nas
legislações não codificadas. Esses atos processuais, como atos jurídicos que são, seguem as
mesmas classificações geralmente referidas a estes, sobretudo no que respeita à distinção
fundada na manifestação de vontade: atos processuais e fatos processuais.

*Atos processuais: a vontade encontra-se presente.

*Fatos processuais: a constituição, modificação ou extinção de direitos decorrem de


eventos nos quais não intervém a vontade.

Classificação dos atos, segundo Pacelli:

1) Postulatórios: requerimentos feitos pelas partes, em especial o autor; a defesa, a rigor,


não postula, e sim contesta e refuta as imputações e alegações feitas na denúncia ou queixa;

2) Instrutórios: toda a atividade probatória desenvolvida pelas partes, que ocorre,


normalmente, na fase de instrução criminal, mas pode ocorrer até mesmo por ocasião da
interposição (art. 231, CPP) e do julgamento do recurso (art. 616, CPP);

3) Decisórios: privativos do juiz, praticados após fase instrutória, de regra. Mas podem ser
praticados na fase pré-processual e mesmo antes do início da fase instrutória (absolvição
sumária).

Quanto à aplicação imediata da lei processual penal, Fauzi Hassan Choukr afirma que a
doutrina sempre se contentou com a adequação da ideia, no conhecido aforismo latino
tempus regit actum. No entanto, pode o assunto ser considerado sob um enfoque diverso
daquele empregado pelos clássicos processualistas penais, conforme nos aponta Binder.
Partindo do conteúdo da Constituição da Argentina, segundo a qual ninguém pode ser
condenado sem um julgamento prévio fundamentado em lei anterior ao fato do processo,
Binder afirma que podemos concluir que a organização legal do processo deve ser também
anterior ao fato que motiva esse processo. Tão anterior quando a tipificação dos delitos
pelos quais esse processo foi iniciado. Existe uma relação paralela entre a legalidade prévia
da tipificação dos delitos e a estruturação legal prévia do processo. E conclui que “este

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

paralelismo não surge somente do conceito de função motivadora da norma, que também
fundamenta o princípio da legalidade penal, mas do fato político comum de que, em sentido
amplo, a irretroatividade da lei penal – a lei penal propriamente dita e a lei processual penal
– está relacionada com o controle da arbitrariedade no exercício do poder penal”. O
processo é uma unidade – não divisível em atos específicos dotada de um certo significado
de política criminal. O processo é regido pela lei processual penal como um todo. A
jurisprudência, porém, não faz essa distinção, aplicando o princípio tempus regit actum
para as normas processuais, salvo quando contiverem uma natureza “mista”, ou seja,
conteúdo de direito penal.

No processo penal os atos processuais são públicos (exceto quando a intimidade ou o


interesse social exigirem – CR 5º, LX ou quando possam colocar em risco a ordem – CPP
792), podendo ser realizados a qualquer tempo e hora, desde que previamente intimadas as
partes, independentemente de férias ou feriados, à exceção das sessões de julgamento, cujo
início não será designado para estas datas, podendo, porém, continuar as sessões iniciadas
em dia útil (CPP 797).

Local de realização: em regra é a sede do juízo, salvo a possibilidade de realização em


outro lugar, em caso de necessidade (oitiva de testemunha doente), como refere o § 2º do
art. 792 do CPP.

Atos processuais via videoconferência. Matéria de competência legislativa da União (STF


HC 90900); vide Lei 11.900/09. Pacelli e Fischer: a previsão não mitiga a ampla defesa; a
única diferença é que o acusado não estará fisicamente diante do juiz, mas será a ele
garantido atuar como se presente estivesse. Entendimento diverso incorre em maximização
de valorização da forma.

Lei 9.800/99 (prática de atos processuais que dependam de petição escrita via fax):
aplicável no processo penal, também meios similares, como transmissões eletrônicas via
computador.

Prazo: intervalo de tempo estabelecido pela lei ou judicialmente (quando silente aquela)
para prática de um ato processual, compreendido entre termos inicial e final. Segundo o art.
798 do CPP, todos são contínuos e peremptórios, salvo exceção legal. O prazo não corre em
cartório, apesar da literalidade do CPP; defesa ampla e igualdade não podem realizar-se
sem consulta direta aos autos do processo, pelo tempo efetivo e integral do prazo. É direito
do advogado retirar os autos (Lei 8.906/94, art. 7º, XV). Quando houver pluralidade de
acusados e defensores, cada qual gozará, individualmente, do mesmo prazo reservado à
acusação. Os prazos começam a correr, salvo ressalvas expressas, da data da
intimação; da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se presente a parte
a ser intimada; do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da
decisão (art. 798, §5º, do CPP). Exclui-se o dia do começo e inclui-se o do vencimento,
com a observação de que tanto o termo inicial quanto o final devem ser dias úteis. Súmula
710 do STF: “No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da
juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem”. O prazo para o MP
(intimação pessoal é prerrogativa do membro do MPF: LC 75/93, art. 18, II, h) conta-se a
partir do ingresso dos autos na instituição, e não da data de seu efetivo encaminhamento ao

285
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

membro que oficia no feito (STF HC 83255). Não há prazo em dobro para o MP; apenas
para a Defensoria Pública (LC 80/94, art. 44, I).

Sanções: o art. 801 do CPP impõe perda de tantos dias de vencimento quanto os excedidos
por juízes e promotores em seus feitos, além do dobro dos dias para contagem de tempo de
serviço. Pacelli e Fischer entendem inconstitucional a previsão – ofensa à irredutibilidade
dos subsídios. Deve-se impor a penalidade administrativa por eventual conduta desidiosa.
De ordinário, ocorre também a preclusão (a não ser no caso de prazo impróprio).

OBS1: STF - O entendimento consolidado na jurisprudência é o de que, intimada a defesa


da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação da data da audiência no
juízo deprecado (Súmula 273/STJ). Contudo, se o réu for assistido pela Defensoria Pública
e, na sede do juízo deprecado, a Instituição estiver instalada e estruturada, será obrigatória a
intimação da Defensoria acerca do dia do ato processual designado, sob pena de nulidade.
Primeira Turma. RHC 106394.

OBS2: STF - Nos termos do art. 389 do CPP, a sentença será publicada quando entregue
em mão do escrivão. Logo, a publicação não se confunde com a intimação. A publicação é
o ato de tornar pública a decisão (independentemente da publicação no Diário Oficial), e
daí em diante, imutável por seu próprio prolator, enquanto a intimação ocorre comumente
com a divulgação da sentença na imprensa oficial. HC 103686.

OBS3: STJ - Embora o Código de Processo Penal (CPP) determine que os interrogatórios
dos réus sejam individuais, nada impede que o advogado de outro corréu participe do
questionamento. HC 198668.

SÚMULAS

STF

710: “No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos
autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem”.

LEITURA COMPLEMENTAR: Eugênio Pacelli de Oliveira. Curso de Processo Penal,


18ª ed. São Paulo: Atlas, 2014; Fernando da Costa Tourinho Filho. Processo Penal. Vol. 3.
34. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

18.a. Ação Penal originária. Competência, legitimidade e requisitos em


geral.
Principais obras consultadas: Resumo dos Grupos do 27º CPR e do 26º CPR. Oliveira,
Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 18ª edição. São Paulo: Editora Atlas, 2014)

Legislação básica: Lei n. 8038/90, Lei n. 8658/93.

1. Noções gerais

A ação penal originária consiste na demanda cuja competência para processamento e


julgamento pertence a algum tribunal, os quais têm competência para regulamentar qual de
seus órgãos (plenário, corte especial, câmaras criminais reunidas ou turmas criminais) irão
julgar as ações penais originárias, não se exigindo que Prefeitos, p. ex., sejam julgados pelo
Plenário do Tribunal (STF, JSTF – 233/288; RT nº 750/523, Pacelli, p. 786, 2014).

Incumbe salientar que a ação penal originária terá lugar em virtude de previsão normativa
de prerrogativa de foro para determinados cargos. Não obstante, tal postulado só terá
assento na hipótese de prática de infração penal, haja vista que a Constituição da República
não a prevê para ações cíveis, mesmo as de improbidade.

As competências originárias do STF e do STJ são estabelecidas em razão do cargo/função


desempenhado pelo réu, não importando a natureza jurídica do bem violado (Luiza Cristina
Frischeisen).

Fundamento: a proteção do exercício de cargos de grande importância institucional contra


as pressões que sujeitariam mais facilmente os julgadores de primeira instância. Para
NUCCI, a previsão dessa espécie de ação é incompatível com o princípio republicano.

Para o STF, “no plano federal, as hipóteses de competência cível ou criminal dos tribunais
da União são previstas na Constituição da República ou dela implicitamente decorrentes,
salvo quando esta remeta à lei a sua fixação” (ADI 2797, 15.09.2005). Logo, norma
infraconstitucional não pode criar novas hipóteses de competência originária de tribunais da
União.

Constituições que previram o foro por prerrogativa: 1937, 1967/1969 e 1988.

Para MIRABETE, incluem-se as contravenções no conceito de infrações penais sujeitas à


ação penal originária.

Ação penal originária x duplo grau: das decisões proferidas em tais ações, não cabe
apelação. Logo, não há falar em duplo grau de jurisdição (Pacelli, p. 790, 2014). Contudo,
se o processo é de competência de tribunal inferior, será cabível a interposição de RE ou
REsp, ao STF e ao STF, respectivamente, desde que preenchidos os requisitos legais.

287
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Há com isso a violação da Convenção Americana de Direitos Humanos (artigo 8º)? Não,
porque, embora não caiba reexame de matéria de fato, é permitido reexaminar matéria de
direito (RE ou REsp).

Outrossim, o duplo grau não é uma garantia constitucional, segundo o STF, e a análise pelo
colegiado de uma ação originária preenche uma das finalidades do postulado: que a causa
seja analisada por diversos julgadores, cada um sendo revisor do voto dos demais.

2. Competência

São competentes para processar e julgar a ação penal originária: o STF, o STJ, os TRFs, os
TJs, o STM e os TREs, dependendo da autoridade processada e da natureza do crime.

O TSE tem competência penal originária? O artigo 22, inciso I, alínea “d” do Código
Eleitoral prevê competir originariamente a ele os crimes eleitorais, e os comuns que lhes
forem conexos, cometidos pelos seus próprios juízes e pelos juízes dos Tribunais
Regionais. Essa disposição não foi recepcionada pela CR/88, que prevê, expressamente,
caber tal competência, respectivamente ao STF e ao STJ.

Regras contidas na Constituição de 1988:

Tribunais de Justiça dos Estados/DF: artigos 29, X e 96, III;

Senado Federal: artigo 52, I e II, competirá privativamente processar e julgar o Presidente
da República e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como
os Ministros de Estados e os Comandantes das Forças Armadas nos crimes de mesma
natureza conexos com aqueles;

Supremo Tribunal Federal: artigos 53, § 1º e 102, I, "b" e "c";

Superior Tribunal de Justiça: artigo 105, I, "a";

Tribunais Regionais Federais: artigo 108, I, "a".

Em casos de crimes eleitorais e militares, e com ritos especiais, a ação penal pode
originariamente ter curso perante os Tribunais Eleitorais e Militares.

Dessa maneira, a competência da ação penal originária varia conforme o foro da autoridade
e a natureza do crime:

TJ’S: processam e julgam, originariamente, prefeitos, juízes estaduais e do Distrito Federal


e Territórios, bem como os membros do Ministério Público Estadual (Promotores e também
Procuradores de Justiça, inclusive o Procurador-Geral), nos crimes comuns e de
responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral, caso em que serão julgados
pelo TRE;

TRF’S: processam e julgam, originariamente, os juízes federais da área de sua jurisdição,


incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência


da Justiça Eleitoral. Também julgam prefeitos em casos de crimes praticados em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União Federal, empresas públicas e autarquias
federais. A respeito, vide súmulas 208 e 209 do STJ, bem como 702 do STF;

STJ: processa e julga, originariamente, nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e
do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais
de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos
Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais
Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos
Municípios e os membros do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais.
Logo, inclui-se na competência originária do STJ o processo e o julgamento dos crimes
eleitorais cometidos por tais autoridades. Portanto, os Procuradores Regionais Eleitorais são
julgados pelo STJ;

STF: processa e julga, originariamente, nas infrações penais comuns, o Presidente da


República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros
e o Procurador-Geral da República e nas infrações penais comuns e nos crimes de
responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, salvo em caso de crime de responsabilidade cometido em conexão com o de
Presidente da República ou Vice, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de
Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente. Também se
inclui na competência do Supremo o processo e o julgamento da ação penal originária por
crimes eleitorais cometidos por tais autoridades;

STM: processa e julga originariamente os oficiais-generais das Forças Armadas, pela


prática de crimes militares definidos em lei. Contudo, se o oficial em questão for
comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, a competência passa a ser do STF.
Também lhe compete processar e julgar o comandante do teatro de operações pela prática
de crime militar em tempo de guerra, condicionada a instauração da ação penal à requisição
do Presidente da República;

TRE’S: os Tribunais Regionais Eleitorais possuem competência originária para o processo


e julgamento dos crimes eleitorais cometidos por Juízes Eleitorais, bem como por
deputados estaduais e distritais, prefeitos e membros do Ministério Público. Também
julgam os juízes federais e os procuradores da república acusados de crimes eleitorais.

3. Procedimento

Os arts. 1º a 12, da Lei n. 8.038/90 regulam o procedimento no STF e no STJ. A Lei n.


8.658/93 estende tais normas aos TJs e TRFs e revoga os arts. 556 a 562 do CPP, que
tratavam da matéria.

Regimentos internos dos tribunais: podem estabelecer normas complementares, mas sem
fugir das balizas traçadas pela lei.

Inquérito originário: é possível a existência de uma fase investigatória anterior ao processo

289
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

judicial. O inquérito não é um requisito da ação penal originária pois, se os elementos


forem suficientes, o Ministério Público poderá desde logo oferecer denúncia.

De quem é a competência/atribuição para a condução dessa investigação inicial? No STF,


entende-se que, nas causas sujeitas a sua competência originária, cabe ao MPF, e não à
polícia federal, a iniciativa do procedimento investigatório preliminar, sob a supervisão do
Ministro-Relator responsável (Pet-QO 3825, 10.10.2007). Assim, quem detiver foro por
prerrogativa de função não pode ser indiciado sem a prévia autorização do relator do caso.
Até mesmo a instauração do IPL depende de autorização.

Sempre se entendeu que o IPL deve tramitar perante o Juízo competente para a ação
ulterior, não sendo admissível em primeira instância. (STF HC76672-0). Recentemente,
porém, entendeu-se que a competência penal originária por prerrogativa não desloca por si
só para o tribunal respectivo as funções de polícia judiciária (STF HC 82507-SE).

Auto de prisão em flagrante: dependendo do crime cometido e da autoridade envolvida,


pode ser lavrado auto de prisão em flagrante, que deve ser remetido ao presidente do
Tribunal a que couber o processo criminal.

Prazos: são mais alargados que os do processo penal comum.

Prazo para denúncia: o MP terá o prazo de 15 dias para oferecer a denúncia ou pedir
arquivamento, se o réu estiver solto, podendo o relator deferir diligências complementares,
que interromperão o curso do prazo (art. 1º, § 1º, da Lei nº 8.038/90). Se o réu estiver preso,
o prazo é de 5 dias, e não se interrompe, salvo se o relator relaxar a prisão (art. 1º, § 2º, da
Lei nº 8.038/90).

Ação penal privada: a lei não fala de prazos para oferecimento da queixa. Logo, o prazo de
oferecimento é o decadencial (6 meses).

Atribuições do relator: ao relator, escolhido na forma do regimento do tribunal, cabem as


decisões sobre prisão, fiança, relaxamento, liberdade provisória, sendo que destas decisões
cabe agravo para o próprio tribunal.

Ele será o juiz da instrução e terá as atribuições que a legislação processual confere aos
juízes singulares. Compete-lhe declarar extinta a punibilidade e convocar magistrados para
realizar interrogatórios e outros atos de instrução na sede do tribunal ou no local onde se
deva produzir o ato instrutório.

Também é o relator quem decide sobre eventual arquivamento, podendo submeter a decisão
ao tribunal (art. 3º, I, da Lei nº 8.038/90). Arquivado, não cabe recurso de terceiros. O
pedido de arquivamento do Procurador-Geral deve ser sempre atendido. O artigo 28 do
CPP: não é aplicável aos casos de competência originária no STF. Para o Tribunal, o
pedido o arquivamento do inquérito pelo PGR equivale a uma decisão, pela exegese do
artigo 62, inciso IV da LC 75/90, que estabelece competir às Câmaras de Coordenação e
Revisão “manifestar-se sobre o arquivamento de inquérito policial, inquérito parlamentar
ou peças de informação, exceto nos casos de competência originária do Procurador-Geral”.

290
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

O Superior Tribunal de Justiça também já se pronunciou nesse sentido, no que diz respeito
aos processos de sua própria competência, entendendo, da mesma forma, que o
Subprocurador atua por delegação do Procurador-Geral, de modo que não teria sentido a
remessa dos autos para uma nova apreciação. Porém, o Supremo Tribunal Federal, nos
casos de competência do Superior Tribunal de Justiça, decidiu que caberia aplicar o art. 28,
porque a delegação concedida ao Subprocurador não impede que o procurador-geral, que
tem competência para dar a última palavra em questão de arquivamento, possa rever esse
ato e efetuar um controle, o qual é hierárquico e realiza-se dentro da estrutura do Ministério
Público.

Em âmbito regional, os cinco tribunais regionais federais entendem aplicável o disposto no


art. 28, com a remessa dos autos à Câmara Criminal do Ministério Público do pedido de
arquivamento feito pelo procurador-regional.

No que tange aos tribunais de justiça, a aplicabilidade do art. 28 dá-se também segundo os
moldes da Lei Orgânica do Ministério Público, que autoriza o colégio de procuradores a
fazer a revisão do ato do próprio procurador-geral de Justiça que requeira arquivamento,
desde que haja pedido do legítimo interessado.

Defesa preliminar: é anterior ao recebimento da denúncia. Apresentada a queixa ou


denúncia, far-se-á a notificação do acusado para apresentar resposta no prazo de 15 dias
(art. 4º da Lei nº 8.038/90). O réu é notificado com cópia da inicial, do despacho do relator
e de documentos que este indicar.

Se não se souber o paradeiro do acusado, ou ele dificultar o cumprimento da diligência,


será notificado por edital, que conterá o resumo da acusação, para que compareça ao
Tribunal em 5 dias, e terá vista aos autos por 15 dias. Se for domiciliado no exterior, será
expedida rogatória.

Se, com a resposta, vierem novos documentos, a acusação terá vista para se manifestar em
5 dias, sendo ouvido também o MP na ação privada (art. 4º, caput e parágrafo único da Lei
nº 8.038/90). Para Pacelli, trata-se de regra típica de processo de natureza cível, não
havendo razão alguma para que a acusação se manifeste a respeito de eventuais
documentos trazidos com a defesa escrita, uma vez que sobre tais documentos o MP ou o
querelante poderão manifestar-se por ocasião da instrução e das alegações finais. E conclui,
o processo penal não se orienta pela ampla acusação, mas, ao contrário, pela ampla defesa
(p. 788, 2014)

Recebimento da denúncia: apresentada a resposta, o relator pedirá dia para que o tribunal
delibere sobre o recebimento ou rejeição da acusação ou a improcedência da acusação, se a
decisão não depender de outras provas. Nesta sessão, é facultada a sustentação oral das
partes por 15 minutos (art. 6º, caput e parágrafos, da Lei nº 8.038/90).

De se observar que a Lei de 1990 já diferenciava a rejeição da denúncia da absolvição


sumária, diferenciação esmiuçada no CPP apenas pela reforma de 2008. Aliás, trata-se do
primeiro dispositivo legal que expressamente autoriza o tribunal a decidir liminarmente
pela improcedência da acusação por ausência de “justa causa”. Pacelli entende que as

291
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

hipóteses de absolvição sumária do art. 397 do CPP (I- existência manifesta de causa
excludente da ilicitude do fato; II – existência manifesta de causa excludente da
culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III – que o fato narrado evidentemente
não constitui crime; ou IV – extinta a punibilidade do agente) poderão ser aplicadas às
ações penais originárias (p. 789, 2014).

Encerrados os debates, passa-se à deliberação. O Presidente poderá, se o interesse público o


exigir, limitar a presença ao recinto das partes e dos seus advogados ou mesmo somente dos
advogados.

Recebida a denúncia ou a queixa, o réu será citado e será designado dia e hora para o
interrogatório. O MP, o querelante e o assistente serão intimados da decisão.

Defesa Prévia: após o interrogatório, abre-se o prazo de cinco dias para a defesa prévia. Se
o acusado não comparecer, conta-se o prazo para defesa prévia da nomeação e intimação de
defensor dativo (art. 7º da Lei nº 8.038/90).

Na defesa prévia, o acusado deve arguir exceções em sentido estrito, arrolar testemunhas e
indicar demais provas.

Pacelli diz não fazer muito sentido ter uma defesa prévia, a que se segue o recebimento ou
não da peça acusatória, e em seguida, procede-se ao interrogatório, com a abertura de novo
prazo para defesa, razão pela qual defende que o procedimento inaugurado pela Lei n
11.719/2008 poderia ser plenamente aplicado à espécie, até porque mais alinhado com
sistema acusatório, preconizado pela Constituição Federal de 1988 (p. 788/790, 2014).

Intimações: se o relator determinar, as intimações serão feitas por carta com AR.

Instrução: segue as regras do CPP. Aplicam-se a ela as regras do CPP e do Regimento


interno do tribunal respectivo.

O relator poderá delegar a realização de atos instrutórios e mesmo do interrogatório a juiz


ou membro de tribunal com competência territorial no local do cumprimento de carta de
ordem.

Concluída a oitiva de testemunhas, as partes terão prazo de 5 dias para o requerimento de


diligências (art. 10). Após, terão 15 dias para alegações escritas (alegações finais), sendo
comum o prazo da acusação e assistente, assim como dos corréus (art. 11). Na ação penal
de iniciativa privada, o Ministério Público terá vista, por igual prazo (5 dias), após as
alegações das partes.

O relator ainda poderá determinar a realização de provas imprescindíveis, marcando data


para julgamento, intimando as partes no prazo mínimo de 48 horas. A inobservância do
prazo de 48 horas entre a publicação da pauta e o julgamento sem a presença das partes
acarreta nulidade (Súm. 117/STJ).

As testemunhas arroladas, intimadas com 15 dias de antecedência, serão inquiridas pelo


relator, e facultativamente pelos demais membros do colegiado. Admitem-se reperguntas.

292
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Findas as inquirições e efetuadas diligências necessárias, as partes serão ouvidas por 1 hora,
prorrogáveis pelo Presidente. O assistente terá ¼ do tempo da acusação. Na ação privada, o
Procurador-Geral falará por último, por meia hora.

Julgamento: passa-se ao julgamento. A decisão é por maioria de votos. O julgamento pode


ser realizado em mais de uma sessão, a critério do tribunal.

Se o interesse público o exigir, o Presidente limitará a presença ao recinto das partes e dos
seus advogados ou mesmo somente aos advogados.

Ações contra magistrados: tramitam em segredo de Justiça (artigo 52, § 6º da LOMAN),


sendo, de regra, processadas pelo Tribunal Pleno ou Órgão Especial do Tribunal e não por
uma Câmara ou Turma do Tribunal.

Recursos: da decisão condenatória do STF, cabe revisão criminal. Da absolutória, não cabe
recurso. Da condenatória do STJ, cabe revisão por ele, e recurso extraordinário para o STF.

Alterações do CPP x ação penal originária: as Leis n. 11.719/08 e 11.690/08 são aplicáveis
ao rito da ação penal originária? O §4° do art. 394 do CPP aduz que “as disposições dos
arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau,
ainda que não regulados neste Código”. Assim, aparentemente, a lei veda a aplicação
dessas modificações às ações penais originárias.

No entanto, Fisher e Pacelli entendem ser possível, p.ex, a absolvição sumária nas ações
originárias, se presentes as hipóteses elencadas no art. 397 do CPP. Igualmente, não veem
óbice de se realizar o interrogatório do réu como último ato do processo, antes do
julgamento pelo colegiado.

Na Apn 478-0 (Inf. 699-STF), reconheceu-se a incidência dos artigos 396 e 396-A do CPP
em ação penal originária, sob o argumento de respeito ao due processo of Law, bem como
diante da existência de relação de complementariedade entre o CPP e a Lei n. 8.038/90.

Recentemente, o Pleno do STF decidiu que o interrogatório do acusado, mesmo nas ações
penais originárias, deve ser realizado ao final, mesmo a Lei n. 8.038/90 estabelecendo o
contrário. Vide STF AP 528-AgR/DF e STJ HC 205364/MG. Contudo, se, ao tempo do
interrogatório, não vigorava a Lei n. 11.719/08, o ato não precisa ser repetido (tempus regit
actum).

Suspensão condicional do processo: é cabível em tese, mas constitui faculdade do MP. Se o


juiz discordar, deve aplicar o artigo 28 do CPP. Todavia, em se tratando de atribuição
originária do Procurador-Geral de Justiça, se este deixar de ofertar o benefício, o
magistrado deve acatar a manifestação do chefe do Ministério Público. STF. HC
83458/BA.

4. Legitimidade

Ativa: dependerá da natureza da ação penal, se pública ou privada.

293
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Ação penal pública, condicionada ou incondicionada: feita pelo Ministério Público (ou pela
vítima, nos casos de ação subsidiária da pública, havendo inércia do MP).

STF – PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA;

STJ – SUBPROCURADORES GERAIS DA REPÚBLICA, MEDIANTE DELEGAÇÃO


DO PGR;

TRF – PROCURADORES REGIONAIS DA REPÚBLICA;

TJ – PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA;

TRE – PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL;

STM – PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA MILITAR

Ação penal privada: ofendido ou seu representante legal. No caso de sua morte ou ausência,
passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Passiva: será da autoridade detentora do foro por prerrogativa de função, conforme as


normas estatuídas na Constituição da República, ou mesmo nas constituições dos Estados.

A esse respeito, importa mencionar que o STF entende possível as constituições dos
Estados estenderem o foro por prerrogativa de função a autoridades outras, além das
previstas já na própria Constituição da República, desde que esta não seja contrariada. A
respeito, ver ADI 469/PB e ADI 2587/GO.

5. Requisitos em geral

Os requisitos da denúncia na ação penal originária são os mesmos da ação penal comum e
estão enumerados no artigo 41, do Código de Processo Penal: exposição do fato criminoso,
com todas as suas circunstâncias, qualificação do acusado ou esclarecimentos sobre a sua
identidade, classificação do crime e, quando necessário, rol de testemunhas.

Havendo desrespeito ao comando contido nesse artigo de lei, a denúncia será inepta e,
portanto, será rejeitada.

Descrição do fato: o acusador deve fazer a imputação do fato criminoso, e não apenas a
descrição dele, sempre com todas as suas circunstâncias, entendidas estas como as que
influem na capitulação da conduta, sob pena de inépcia da inicial.

No caso de concurso de pessoas, deve-se detalhar a participação de cada um dos agentes,


para evitar a denúncia genérica. Admite-se, porém, a denúncia geral.

Os Tribunais Superiores não admitem a imputação alternativa (subjetiva ou objetiva),


porque consideram que viola a ampla defesa. Por isso, a imputação tem que ser certa, bem

294
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

delimitada.

Qualificação completa do acusado ou elementos que possam individualizá-lo: se não for


possível fornecer a qualificação completa, basta a identidade física (e não a formal), ou
seja, é suficiente que a pessoa esteja individualizada de maneira a não se confundir com
nenhuma outra (art. 259 CPP).

Capitulação da conduta: indicação do dispositivo de lei que considera a conduta como fato
típico. A capitulação pode ser modificada pelo juiz na sentença. Admite-se, porém, que ele
a indique no limiar do processo, p. ex.: quando esta influir na competência ou quando
houver a possibilidade de concederem-se benefícios processuais ao réu.

Rol de testemunhas: é um ônus, não de um requisito. Se o acusador não arrolar


testemunhas, isso não ensejará a inépcia da denúncia/queixa, mas poderá ocasionar a
improcedência da demanda. Depois deste momento, admite-se apenas a substituição de
testemunhas.

Pressupostos processuais e condições da ação penal: os pressupostos processuais podem ser


de existência ou de validade. Estes últimos são, por exemplo, a competência e a
imparcialidade do juiz.

As condições da ação são o interesse de agir, a legitimidade das partes, a possibilidade


jurídica do pedido e as condições de procedibilidade.

Condições de procedibilidade são circunstâncias exigidas pela lei para o regular exercício
do direito de ação: representação da vítima nos crimes de ação penal condicionada;
requisição do Ministro da Justiça para os crimes praticados contra a honra do Presidente da
República; exame pericial nos crimes contra a propriedade imaterial; decretação da falência
por sentença, nos crimes falimentares.

Em algumas hipóteses, a lei estabelece que a ação penal, contra certas autoridades, só pode
prosseguir mediante autorização de órgãos legislativos. Por exemplo, até o advento da EC
n. 35/01, os Senadores e os Deputados Federais só poderiam ser processados pelo STF após
emissão de licença da casa respectiva. A partir da EC n. 35/01, eles puderam ser
denunciados diretamente no STF. Contudo, recebida a denúncia contra o Senador ou
Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência
à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da
maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação, período
em que não correrá a prescrição, enquanto durar o mandato.

Já quando se tratar de crime comum cometido pelo Presidente da República durante o


exercício das funções, a denúncia somente pode ser recebida após a autorização, por dois
terços dos membros da Câmara dos Deputados. Para oferecer a denúncia, não é necessária
tal autorização.

No HC 80511/MG, o STF entendeu que os Governadores somente podem ser processados


criminalmente após prévia autorização da Assembleia Legislativa. Idem no HC 86015/PB:
“a competência originária do Superior Tribunal de Justiça não implica a
295
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

inconstitucionalidade da exigência pela Constituição Estadual da autorização prévia da


Assembleia Legislativa.” O STJ, porém, decidiu que a apreciação do pedido de prisão
preventiva pela Corte prescinde da autorização da Câmara Distrital tendo em vista a
natureza cautelar da providência (Inq 650DF, 15/04/10)

Justa causa: é um lastro mínimo de prova que deve fornecer arrimo à acusação, tendo em
vista que a simples instauração do processo penal já atinge o chamado status dignitatis do
imputado. Tal arrimo de prova nos é fornecido pelo inquérito policial ou pelas peças de
informação, que devem acompanhar a acusação penal.

No AgRg na APn 650/BA, DJe 30/06/2001, o STJ decidiu que, para a deflagrar a
persecução criminal, faz-se necessário que a peça acusatória venha lastreada em elementos
mínimos de prova que a justifiquem.

O conceito de “justa causa” não se encontra nos textos legais, mas sim nas construções
pretorianas, de que é exemplo o seguinte aresto: “há justa causa, para a denúncia, quando a
imputação narrar fato descrito como infração penal, subscrita por órgão que tenha
legitimidade, não restar caracterizada extinção da punibilidade, encontrar respaldo fático
(juízo de possibilidade) e ensejar o exercício do direito de defesa”.

6. Jurisprudência

Foro por prerrogativa x aposentadoria no cargo: o foro especial por prerrogativa de função
não se estende a magistrados aposentados. RE 549.560, 22-3-2012 e STJ: APN 623, RHC
25008/ES.

Conselheiros do Tribunal de Contas Estadual: são julgados perante o STJ, nas infrações
penais comuns e nos crimes de responsabilidade (CF, art. 105, I, a), não cabendo o
deslocamento, para a esfera de atribuições da Assembleia Legislativa local, ainda que
mediante emenda à Constituição do Estado (ADI 4.190-MC-REF, 11-6-2010.).

Defesa oral: a defesa oral nas sessões de julgamento das ações penais originárias, prevista
no inciso I do artigo 12 da Lei 8.038/1990, é mera faculdade STJ HC 146289/AM.

Desmembramento: é possível o desmembramento da ação penal originária, para garantir a


celeridade e a razoável duração do processo. Assim, é possível a separação do processo
relativamente aos demais acusados, mantendo a competência do Tribunal apenas em
relação à pessoa que tem prerrogativa de foro. STF Inq 2527 AgR/PB e STJ QO na Apn
514/PR.

Interrogatório em ação penal originária: é possível delegar o interrogatório dos réus e


outros atos da instrução processual a juízes federais das respectivas Seções Judiciárias,
escolhidos mediante sorteio. STF. AP 470 QO/MG

Ordem de oitiva das testemunhas: sob pena de nulidade do processo, as testemunhas da


acusação devem ser ouvidas em primeiro lugar. STF. HC 87297/MT.

296
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Quórum para condenação de magistrado em ação penal originária: não se aplica às ações
penais originárias contra magistrados o art. 27, §6º, da LOMAN (a condenação somente
poderia ocorrer com o voto de 2/3 dos membros do colegiado). Para a condenação, basta a
maioria de votos. A perda do cargo, então, decorrerá da condenação criminal. STF. RHC
84903/RN.

Intimação prévia do acusado e defensor para a sessão que delibera sobre o recebimento da
denúncia em ação penal originária: é obrigatória. Se não ocorrer, haverá nulidade absoluta.
HC 58.410/PE, 14.05.2007. STJ. HC 184585/MA.

Réus com foros por prerrogativa distintos: trata-se de hipótese de continência, (CPP, art.
77). Os processos devem ser reunidos no juízo de maior graduação (CPP, art. 78, III), se
não existir, no caso, hipótese excepcional que autorize a separação das ações. STJ. AgRg na
APn 527/MT.

Decisão sobre o recebimento da denúncia: no rito da Lei n. 8038/90, deve ser


fundamentada, mesmo que de forma sucinta, abordando as questões trazidas pelo acusado
na defesa preliminar, para ensejar o controle processual e possibilitar o exercício da ampla
defesa. STJ. HC 29937/RJ.

INQUÉRITO POLICIAL. CRIME DE AÇAO PENAL PÚBLICA. PEDIDO DE


ARQUIVAMENTO PELO PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA. ÚNICO INDICIADO
COM PRERROGATIVA DE FORO. IRRECUSABILIDADE. PREJUÍZO PARA A
COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL. ARQUIVAMENTO E DEVOLUÇAO. 1- Nos crimes
de ação penal pública de competência originária do Tribunal, a manifestação do Procurador
Geral de Justiça pelo arquivamento do Inquérito Policial é irrecusável, em razão de
titularidade exclusiva de ação penal, prevista no art. 129, I, da CF. 2- Arquivado o Inquérito
Policial em relação ao único indiciado com prerrogativa de foro, resta prejudicada a
competência do Tribunal quanto aos demais indiciados, devendo os autos baixarem ao juízo
de origem. (TJPI - Inquérito Policial: IP 201100010002432 PI. Relator(a): Des. Erivan José
da Silva Lopes. Julgamento: 08/02/2011. Órgão Julgador: 2a. Câmara Especializada
Criminal).

RECURSO ESPECIAL. SUPOSTO CRIME DE QUEBRA DE SEGREDO DE JUSTIÇA


(ART. 10 DA LEI N.º 9.296/96) EM TESE PERPETRADO POR PROMOTOR DE
JUSTIÇA. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA ORIGINÁRIA. PEDIDO DE
ARQUIVAMENTO FEITO PELO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA. REVISÃO
PELO COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA. SUBSEQÜENTE
AJUIZAMENTO DE AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA. DESCABIMENTO.
INEXISTÊNCIA DE INÉRCIA DO ÓRGÃO MINISTERIAL. 1. Hipótese em que houve
expressa manifestação do Procurador-Geral de Justiça pelo arquivamento do inquérito. Ato
contínuo, houve pedido de revisão da manifestação pelo Colégio de Procuradores de
Justiça, com subseqüente ajuizamento de ação penal privada subsidiária da pública. 2.
Contexto que não autoriza a iniciativa privada para promover a ação penal pública, em
substituição ao órgão ministerial, o que só se admite se tivesse havido inércia deste. 3.
Recurso especial desprovido. (STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 857063 PR
2006/0134209-0. Relator(a): Ministro GILSON DIPP. Julgamento: 25/02/2008. Órgão

297
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Julgador: T5 - QUINTA TURMA. Publicação: DJ 23.06.2008 p. 1).

Processo: EXC 11 SE. Relator(a): SUZANA MARIA CARVALHO OLIVEIRA.


Julgamento: 03/02/2010. Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 169, Data
12/02/2010, Página 4/5. Ementa - EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. MAGISTRADA
APOSENTADA. INEXISTÊNCIA DE PRERROGATIVA DE FORO POR EXERCÍCIO
DE FUNÇÃO. INCOMPETÊNCIA DESTE TRIBUNAL PARA JULGAR AÇÃO PENAL
ORIGINÁRIA MOVIDA CONTRA A EXCIPIENTE. REMESSA DOS AUTOS AO
JUÍZO DA 3ªZONA ELEITORAL. 1- Uma vez aposentada, em caráter definitivo, no cargo
de Juíza de Direito da Comarca de Aquidabã/SE, a excipiente não mais possui a
prerrogativa de função, devendo os autos da Ação Penal nº 17/2009, movida pelo
Ministério Público Eleitoral, serem remetidos ao Juízo da 3ª Zona Eleitoral, para
processamento e julgamento do feito. 2- Procedência da Exceção.

Processo: APn 623 DF 2008/0084533-0. Relator(a): Ministra LAURITA VAZ. Julgamento:


20/10/2010. Órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIAL. Publicação: DJe 17/11/2010.
Ementa - AÇÃO PENAL. QUESTÃO DE ORDEM. DENÚNCIA OFERECIDA COM
DEFESAS PRELIMINARES APRESENTADAS. DESEMBARGADORES
DENUNCIADOS. APOSENTAÇÃO. PERDA DA PRERROGATIVA DE FORO.
PRECEDENTES DO STJ E DO STF. JUÍZES DE DIREITO E PROCURADOR DE
JUSTIÇA TAMBÉM DENUNCIADOS. SUPERVENIENTE COMPETÊNCIA DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. ARGUIDO PELO MPF O COMPROMETIMENTO DE
MAIS DA METADE DOS DESEMBARGADORES DO TJES, COM INTERESSE
DIRETO OU INDIRETO NO DESLINDE DE CONTROVÉRSIAS LEVANTADAS
NOS AUTOS. PEDIDO DE REMESSA DO FEITO AO STF. ART. 102, INCISO I,
ALÍNEA N, DA CF. NECESSIDADE DE, PRIMEIRO, HAVER
PRONUNCIAMENTO DOS MEMBROS DO TJES. REMESSA DOS AUTOS À
CORTE ESTADUAL CAPIXABA, INCLUINDO AS PETIÇÕES E EXPEDIENTES
AVULSOS, MESMO OS JÁ ARQUIVADOS.

Informativo do STF

- Nº 740

Renúncia ao mandato de réu com foro por prerrogativa de função


Determinado Deputado Federal respondia a uma ação penal que tramitava no STF em
virtude do cargo que ocupava (art. 102, I, “b”, da CF/88). Foram praticados todos os atos
de instrução. Após o Ministério Público apresentar alegações finais, o réu renuncixaou ao
seu mandato. O STF decidiu que cessou sua competência para julgar o réu. Como
consequência, determinou a remessa do feito ao juízo de 1º grau. Para o STF, a situação
dos autos é diferente do precedente firmado na AP 396/RO, no qual o réu (também ex-
Deputado Federal) renunciou ao mandato um dia antes do julgamento. Segundo a Corte,
naquele caso, o processo já estava pronto para ser julgado. Ademais, afirmou-se que não
havia, na presente hipótese, perigo de prescrição da pena em abstrato. STF. Plenário. AP
536 QO/MG, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/3/2014.

298
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

- Nº 735

A regra geral é de que haja o desmembramento dos processos quando houver corréus
sem prerrogativa de foro no STF
O desmembramento de inquéritos ou de ações penais de competência do STF deve ser a
regra geral, admitida exceção nos casos em que os fatos relevantes estejam de tal forma
relacionados, que o julgamento em separado possa causar prejuízo relevante à prestação
jurisdicional. STF. Plenário. Inq 3515 AgR/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
13/2/2014.

- Nº 734

Réu que, durante o julgamento na instância ordinária, passou a ter foro privativo no
STF

Se o TJ inicia o julgamento criminal de um réu, esse julgamento é suspenso por um pedido


de vistas e, antes de ser retomado, o acusado assume um mandato eletivo que lhe garante
foro privativo no STF, nessa hipótese, o TJ deverá remeter o processo imediatamente ao
STF para que lá seja julgado.
Entretanto, no caso concreto noticiado neste Informativo, tendo em conta as
particularidades da situação, o STF decidiu, excepcionalmente, afastar seu entendimento
sobre o tema e declarar que o acórdão do TJ que continuou o julgamento da apelação foi
válido.
Em outras palavras, pelo entendimento consolidado do STF, o TJ, mesmo tendo iniciado o
julgamento, não deveria tê-lo continuado. A providência correta seria remeter o recurso
para ser julgado pelo STF logo após a diplomação do réu no cargo de Deputado Federal.
Ocorre que, como já dito, o STF entendeu que o caso concreto possuía duas
peculiaridades que permitiriam convalidar esse julgamento:
1ª) Atualmente, o réu não é mais Deputado Federal. Isso significa que, mesmo
anulado o acórdão do TJ, se fosse ser realizado novo julgamento da apelação, esta
seria apreciada novamente pelo TJ.
2ª) A defesa sabia que deveria imediatamente informar o TJ quando o réu foi
diplomado Deputado Federal. No entanto, optou por comunicar ao Tribunal somente
após o término do julgamento, que não fora favorável ao réu. Desse modo, isso indica
que houve má-fé processual a fim de protelar o julgamento.

STF. Plenário. AP 634 QO/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/2/2014.

Informativo do STJ:

- nº 522:

Não é necessária a ratificação de denúncia oferecida em juízo estadual de primeiro grau


na hipótese em que, em razão de superveniente diplomação do acusado em cargo de
prefeito, tenha havido o deslocamento do feito para o respectivo Tribunal de Justiça sem
que o Procurador-Geral de Justiça tenha destacado, após obter vista dos autos, a
ocorrência de qualquer ilegalidade. Isso porque tanto o órgão ministerial que ofereceu a
299
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

denúncia como o magistrado que a recebeu eram as autoridades competentes para fazê-lo
quando iniciada a persecução criminal, sendo que a competência da Corte Estadual para
processar e julgar o paciente só adveio quando iniciada a fase instrutória do processo. Assim,
tratando-se de incompetência superveniente, em razão da diplomação do acusado em cargo
detentor de foro por prerrogativa de função, remanescem válidos os atos praticados pelas
autoridades inicialmente competentes, afigurando-se desnecessária a ratificação de denúncia
oferecida. Desse modo, não há que se falar em necessidade de ratificação da peça inaugural,
tampouco da decisão que a acolheu, uma vez que não se tratam de atos nulos, mas válidos à
época em que praticados. Ademais, não tendo o órgão ministerial — após análise da denúncia
ofertada e dos demais atos praticados no Juízo inicialmente competente — vislumbrado
qualquer irregularidade ou mácula que pudesse contaminá-los, conclui-se, ainda que
implicitamente, pela sua concordância com os termos da denúncia apresentada. HC 202.701-
AM, Rel. Ministro Jorge Mussi, 5ª Turma, julgado em 14/5/2013

- nº 511: Não é possível o processamento e julgamento no STJ de denúncia


originariamente apresentada pelo Ministério Público estadual na Justiça estadual,
posteriormente encaminhada a esta corte superior, se a exordial não for ratificada pelo
Procurador-Geral da República ou por um dos Subprocuradores-Gerais da República. A
partir do momento em que houve modificação de competência para o processo e julgamento do
feito, a denúncia oferecida pelo parquet estadual somente poderá ser examinada por esta Corte
se for ratificada pelo MPF, órgão que tem legitimidade para atuar perante o STJ, nos termos
dos arts. 47, § 1º, e 66 da LC n. 35/1979, dos arts. 61 e 62 do RISTJ e em respeito ao princípio
do promotor natural. APn 689-BA, Corte Especial, Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em
17/12/2012.

OBS Vitaminada: Observe-se que o julgado veiculado no Inf. nº 522 é mais recente que o
publicado no Inf. nº 511, muito embora este tenha sido prolatado pela Corte Especial, enquanto
àquele pela 5ª Turma. Note-se que não há qualquer manifestação no julgado a respeito do
momento em que a ação penal se encontrava no Inf. nº 511, se a diplomação do réu é anterior
ou posterior ao oferecimento da denúncia.

300
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

18.b. Proteção e benefícios legais a réus ou investigados colaboradores


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 27º CPR. Oliveira, Eugênio Pacelli
de. Curso de Processo Penal. 18ª edição. São Paulo: Ed. Atlas, 2014.

Legislação básica: Art. 13 e seguintes da Lei 9.807/99 e Decreto 3518/00 e Lei nº


12.850/13

1. Noções Gerais.

A proteção aos réus colaboradores está prevista na Lei n. 9.807/99, regulamentada pelo
Decreto 3518/2000, que instituiu o Programa de Proteção Federal de Assistência a Vítimas,
Testemunhas Ameaçadas, e a réus colaboradores na investigação de crimes.

Conforme registra Pacelli, a tutela legal terá a duração de 2 anos, podendo,


excepcionalmente, ser prorrogada.

Afirma-se que a referida lei é bastante injusta no tocante à proteção dada ao réu
colaborador, se comparada à proteção dada às vítimas e testemunhas ameaçadas, uma vez
que a sobredita legislação, em seu art. 2º, §1º prevê a extensão da proteção aos cônjuges ou
companheiros, ascendentes, descendentes e dependentes das vítimas e testemunhas, não
prevendo o mesmo auxílio em relação aos réus colaboradores. Contudo, tais direitos foram
estendidos aos réus colaboradores e aos seus familiares, conforme previsão contida no art.
5º, I, c/c o art. 6º, ambos da Lei nº 12.850/13.

2. Benefícios concedidos a réus e investigados colaboradores

Diversos dispositivos legais contemplam a colaboração premiada no ordenamento


brasileiro que, em geral, impõe redução da pena ao colaborador de 1/3 a 2/3 e,
excepcionalmente o perdão judicial, cuja modalidade de extinção da punibilidade por
delação premiada foi prevista inicialmente na Lei 9.613/98 (o art. 1º, §5º, dessa lei foi
recentemente alterado pela Lei nº 12.683/2012, para possibilitar ao juiz a fixação de regime
aberto ou semiaberto, in verbis: “A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser
cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou
substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou
partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que
conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e
partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime”. Todos os
permissivos legais, que admitiam a delação premiada e a concessão benefício consequente,
vincularam a eficácia ou a eficiência da contribuição do agente, ou a identificação dos
autores e partícipes, ou a localização e/ou proteção da vítima, ou a recuperação do produto
do crime, etc. Segundo Pacelli (p. 849, 2014):

a) No art. 159, §4º, do Código Penal, em relação à libertação da vítima na extorsão


mediante sequestro, hipótese em que, se o crime for cometido em concurso, o
concorrente que o denunciar à autoridade facilitando a libertação do sequestrado,
terá sua pena reduzida de 1 a 2/3;

301
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

b) Nos crimes contra o sistema financeiro nacional, cometidos em quadrilha ou coautoria,


o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade
policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois
terços, consoante previsão do art. 25, §2º, da Lei nº 7.492/86;

c) Nos crimes contra ordem tributária, reproduz-se igual previsão a dos crimes contra o
SFN, qual seja: cometidos em quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe que
através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a
trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços, conforme dispõe o
art. 16, parágrafo único, da Lei nº 8.137/90;

d) Nos crimes de lavagem de dinheiro, o art. 1º, §5º, da Lei nº 9.613/98 com a redação
dada pela Lei nº 12.683/12, prevê que o autor, coautor ou partícipe que colaborar
espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à
apuração das infrações penais relacionadas a tais crimes, à identificação do
autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores
objeto do crime, poderá ter pena reduzida de 1 a 2/3, iniciar o cumprimento da pena
em regime inicial aberto ou semiaberto, ter a pena privativa de liberdade substituída
por restritiva de direitos, ou mesmo ser agraciado com o perdão judicial.

e) Na Lei nº 9.807/99, Lei de Proteção à Testemunha, o perdão judicial foi estendido a


todos os tipos de crime em que o acusado que, sendo primário, tenha colaborado
efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa
colaboração tenha resultado (art. 13): I - a identificação dos demais coautores ou
partícipes da ação criminosa; II - a localização da vítima com a sua integridade física
preservada; III - a recuperação total ou parcial do produto do crime. O perdão
judicial e a consequente extinção da punibilidade ao colaborador poderão ser
concedidos ao acusado de ofício ou a requerimento das partes, devendo o juiz
levar em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias,
gravidade e repercussão social do fato criminoso. Portanto, há aspectos objetivos e
subjetivos para a concessão da benesse. O art. 14 da Lei de Proteção à Testemunha
possibilita, ainda, ao indiciado ou ao acusado, mesmo não sendo primário, que tenha
colaborado voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na
identificação dos demais coautores ou partícipes do crime, na localização da vítima
com vida e na recuperação total ou parcial do crime, no caso de condenação, terá a
pena reduzida de 1 a 2/3.

f) Na Lei nº 11.343/06, consta a previsão de que o indiciado ou o acusado que


colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na
identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou
parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de 1 a 2/3.

g) A Lei nº 12.850/13 também trouxe a previsão de perdão judicial, redução da pena


privativa de liberdade de 1/3 a 2/3 ou a sua substituição por restritiva de direitos em
favor daquele que colaborar efetiva e voluntariamente colaborar com a investigação e
o processo criminal, desde que dessa colaboração provenha um ou mais dos seguintes
resultados: I – a identificação dos demais coautores e partícipes da organização

302
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II – a revelação da estrutura


hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III – a prevenção de
infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa; IV – a
recuperação total ou parcial do produto do crime ou do proveito das infrações penais
praticadas pela organização criminosa; V – localização de eventual vítima com sua
integridade física preservada (art. 4º). Em qualquer caso, a concessão do benefício
levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a
gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração. A Lei
nº 12.850/13 prevê, ainda o seguintes benefícios: a) o prazo para o oferecimento da
denúncia pode ser suspenso por até 6 meses, prorrogáveis por igual período, até que
sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo
prescricional; b) relativiza o princípio da obrigatoriedade no oferecimento da ação
penal pelo MP, eis que o órgão ministerial poderá deixar de oferecer a denúncia se o
colaborador: I – não for o líder da organização criminosa; II – for o primeiro a prestar
efetiva colaboração nos termos previstos no art. 4º da Lei nº 12.850/13. A colaboração
pode ser posterior a sentença, hipótese em que a pena poderá ser reduzida até a metade
ou admitida a progressão de regime, ainda que ausentes os requisitos objetivos. O
acordo de colaboração premiada poderá ser feito entre o delegado de polícia (quando
feito sob a presidência deste o MP deverá manifestar-se) ou o órgão do MP, o
investigado ou acusado e seu defensor. Pacelli entende ser inconstitucional a hipótese
de o acordo de colaboração premiada ser encabeçado pela autoridade policial, por se
trata de questão intimamente relacionada à função do titular da ação penal, além de
que o delegado de polícia não tem capacidade postulatória e legitimação ativa para
encerrar qualquer modalidade de persecução penal, muito menos na hipótese em que
puder ser concedido o perdão judicial ou a redução da pena, ou a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos (fls. 853 e ss., 2014). No mais, ver o
ponto que trata das organizações criminosas.

Pacelli entende que a colaboração premiada prevista na Lei nº 12.850/13 somente pode ser
concedida aos casos em que envolver crimes praticados no seio de organização criminosa
(associação de 4 ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão
de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas sejam
superiores a 4 anos, ou que tenham caráter transnacional, ou que estejam previstas em
tratado ou convenção internacional, cuja execução tenha sido iniciada no País e o
resultado tivesse de ocorrer no estrangeiro, ou vice-versa, ou em que envolvam
organizações terroristas, reconhecidas por organismos internacionais de que o Brasil faça
parte, cujos atos terroristas ou mesmo preparatórios tenham ocorram ou possam ocorrem
em território nacional), muito embora as normas mais favoráveis contidas em tal Lei
possam ser estendidas demais hipóteses de delação premiada prevista no ordenamento,
como o perdão judicial e a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos.

Conforme o STF, para a concessão do perdão judicial, não basta a mera colaboração,
porquanto requer-se a sua efetividade para a investigação ou processo.

Para Pacelli, não será necessária a concorrência simultânea de todos os objetivos

303
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

declinados, até porque, em determinados crimes, isso nem sequer será possível. P. ex., no
homicídio consumado, não será exigida a localização da vítima com a sua integridade física
preservada, nem mesmo a recuperação total ou parcial do produto do crime.

3. Medidas protetivas

Serão aplicadas em benefício do réu ou indiciado colaborador, na prisão ou fora dela,


medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física, e a de seus familiares,
considerando ameaça ou coação eventual ou efetiva. Estando sob prisão temporária,
preventiva ou em decorrência de flagrante delito, o colaborador será custodiado em
dependência separada dos demais presos. No caso de cumprimento da pena em regime
fechado, poderá o juiz criminal determinar medidas especiais que proporcionem a
segurança do colaborador em relação aos demais apenados.

4. Depoente especial.

O Decreto 3518/00 prevê a figura do depoente especial. Entende-se por depoente especial
(i) o réu detido ou preso, aguardando julgamento, indiciado ou acusado sob prisão cautelar
em qualquer de suas modalidades, que testemunha em inquérito ou processo judicial, se
dispondo a colaborar efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal,
desde que dessa colaboração possa resultar a identificação de autores, coautores ou
partícipes da ação criminosa, a localização da vítima com sua integridade física preservada
ou a recuperação do produto do crime; (ii) a pessoa que, não admitida ou excluída do
Programa, corra risco pessoal e colabore na produção da prova.

O Serviço de Proteção ao Depoente Especial consiste na prestação de medidas de proteção


assecuratórias da integridade física e psicológica do depoente especial, aplicadas isoladas
ou cumulativamente, consoante as especificidades de cada situação, compreendendo, dentre
outras: I - segurança na residência; II - escolta e segurança ostensiva nos deslocamentos da
residência; III - transferência de residência; IV - sigilo em relação aos atos praticados em
virtude da proteção concedida; e V - medidas especiais de segurança e proteção da
integridade física, inclusive dependência separada dos demais presos, na hipótese de o
depoente especial encontrar-se sob prisão temporária, preventiva ou decorrente de flagrante
delito.

5. Casuística.

AGRAVO REGIMENTAL. OITIVA DE CO-RÉU COMO TESTEMUNHA OU


INFORMANTE. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO NÃO PROVIDO. O sistema
processual brasileiro não admite a oitiva de corréu na qualidade de testemunha ou, mesmo,
de informante, como quer o agravante. Exceção aberta para o caso de corréu colaborador ou
delator, a chamada delação premiada, prevista na Lei 9.807/1999. A hipótese sob exame,
todavia, não trata da inquirição de acusado colaborador da acusação ou delator do
agravante, mas pura e simplesmente da oitiva de codenunciado. Daí por que deve ser
aplicada a regra geral da impossibilidade de o corréu ser ouvido como testemunha ou,

304
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

ainda, como informante. Agravo regimental não provido. AP 470 MG. Julgamento:
18/06/2009.

Quanto à segunda assertiva, considerou-se que, em virtude de serem corréus, e não


testemunhas em sentido próprio, as quais devem ser estranhas aos fatos objeto do
julgamento, eles poderiam ser ouvidos nesta fase da ação penal, na condição de
informantes, que é uma “testemunha imprópria”, que não presta compromisso. Reportando-
se ao que decidido no HC 89671/RJ (DJU de 16.2.2007), asseverou-se que os dois corréus
firmaram acordo de delação premiada com o parquet federal, ostentando a qualidade de
corréus colaboradores, porém, por não terem sido denunciados, não foram ouvidos na fase
do interrogatório judicial, daí por que foram arrolados, na denúncia, como testemunhas de
acusação. Aduziu-se que a oitiva dos referidos corréus seria fundamental tanto para
submeter suas declarações pré-processuais ao crivo do contraditório quanto para possibilitar
o cumprimento, pelos mesmos, dos termos do acordo de delação premiada firmada,
salientando-se que a Lei 9.807/99 condiciona a concessão do perdão, com a consequente
extinção da punibilidade, à efetividade da colaboração prestada pelos corréus “delatores”.
Concluiu-se, assim, ser perfeitamente viável o aproveitamento dos depoimentos dos corréus
nesta fase de oitiva de testemunhas de acusação, e não haver qualquer ilegalidade na
colheita dos seus depoimentos, sob o crivo do contraditório, na condição de informantes.
Vencido o Min. Marco Aurélio que não admitia o depoimento dos corréus nem como
testemunhas nem como informantes. AP 470 QO/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa,
23.10.2008. (AP-470).

HABEAS CORPUS. TRÁFICO TRANSNACIONAL DE DROGAS. DOSIMETRIA.


DELAÇÃO PREMIADA. PERDÃO JUDICIAL. ART. 13 DA LEI N. 9.807/99.
MATÉRIA NÃOAPRECIADA PELA CORTE DE ORIGEM. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. WRIT NÃO CONHECIDO NESSE PONTO. CAUSA ESPECIAL DE
DIMINUIÇÃO DE PENA.REQUISITOS. AUSÊNCIA DE PREENCHIMENTO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃOEVIDENCIADO. 1. Inviável o reconhecimento,
diretamente por esta Corte Superior de Justiça, do instituto da delação premiada, previsto
no art. 13 da Lei n.º 9.807/99, com a concessão de perdão judicial ao paciente e a
consequente extinção da punibilidade, tendo em vista que essa questão não foi analisada
pelo Tribunal de origem, sob pena de incidir-se na indevida supressão de instância. 2. Não
há como aplicar-se a redução de pena prevista no art. 14 da Lei n.º 9.807/99 quando não
houve efetiva colaboração com a investigação policial e o processo criminal, tampouco o
fornecimento de informação eficaz para a desarticulação da organização criminosa da qual
o paciente supostamente faria parte. ART. 40, INCISO I, DA LEI 11.343/06.
PRETENDIDO AFASTAMENTO.IMPOSSIBILIDADE. ELEMENTOS CONCRETOS
DOS AUTOS QUE EVIDENCIAM A TRANSNACIONALIDADE DO DELITO.
FINALIDADE DO AGENTE. MAJORANTE DEVIDAMENTE JUSTIFICADA.
ILEGALIDADE NÃO DEMONSTRADA. 1. Para a incidência da majorante prevista no
inciso I do art. 40 da Lei n.º 11.343/06, é desnecessário que haja a efetiva transposição das
fronteiras nacionais, bastando apenas a finalidade do agente de levar a substância
entorpecente para o exterior. APLICAÇÃO DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO
PREVISTA NO § 4º DO ART. 33 DA LEI 11.343/2006. INTEGRAÇÃO EM

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA


MINORANTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. 1. Embora
tecnicamente primário, infere-se que o acórdão combatido manteve o afastamento da
aplicação da causa especial de diminuição em comento por considerar que o paciente
integraria organização criminosa, o que demonstraria não ser merecedor da benesse
almejada. 2. Para concluir-se que o condenado não integrava organização criminosa,
necessário o revolvimento de todo o conjunto fático-probatório, o que é incabível na via
estreita do remédio constitucional. 3. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa
extensão, denegada a ordem. (STJ - HABEAS CORPUS: HC 156349 SP 2009/0240125-0.
Relator(a): Ministro JORGE MUSSI. Julgamento: 05/04/2011. Órgão Julgador: T5 -
QUINTA TURMA. Publicação: DJe 14/04/2011).

306
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

18.c. Recursos no Processo Penal: questões gerais.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 27º e do 26º CPR.

Legislação básica: Artigos 574 a 580 do Código de Processo Penal

1. Teoria Geral.

Segundo Pacelli, há duas perspectivas com as quais é possível se elaborar uma teoria dos
recursos. A primeira apoia-se no interesse do Estado no controle dos atos jurisdicionais,
que se preocupa com a qualidade e a regularidade da atividade judicial. A segunda, por sua
vez, é vista sob o ângulo dos interesses dos jurisdicionados, ou seja, as partes que se
submetem às decisões. Nesse sentido, os recursos se prestariam também a uma revisão das
decisões, mas sob outro fundamento, qual seja, a amplitude do direito de defesa.

Lembra o aludido autor que, quanto maior o número de recursos, maior a possibilidade de
amplo exercício da tutela de direitos; por outro lado, mais morosa a atividade jurisdicional.
Impõe-se, portanto, um sopesamento dos interesses diante da natureza dos valores em
disputa. Conclui-se que a liberdade individual ameaçada pela sanção penal deve prevalecer
sobre a busca da realização de uma justiça célere. Em contrapartida, a revisão das decisões
judiciais não pode ultrapassar os limites das garantias individuais, impõem-se, assim,
limites e condicionamentos, definidos pelas leis e pela CF.

Assegura que, ante a exigência constitucional, em regra, toda pessoa submetida ao processo
penal tem o direito de obter uma nova decisão acerca da matéria de seu interesse. Nesse
contexto, o duplo grau de jurisdição integra o direito à ampla defesa, como uma de suas
mais relevantes emanações.

Natureza jurídica: o poder de recorrer é aspecto, elemento, desdobramento, modalidade do


próprio direito de ação e de defesa. Recurso, quanto à interposição, é ônus processual,
faculdade que, se não exercida, pode acarretar consequências desfavoráveis

2. Princípios Recursais em Matéria Penal

Duplo grau de jurisdição: a exigência do duplo grau, enquanto garantia individual,


permite ao interessado a revisão do julgado contrário aos seus interesses, implicando o
direito à obtenção de uma nova decisão em substituição à primeira. Pacelli afirma que o a
exigência do duplo grau de jurisdição não alcança as instâncias extraordinárias. Desse
modo, em uma ação penal de competência originária dos tribunais de segunda instância não
se poderá alegar violação ao duplo grau de jurisdição pela inexistência de recurso ordinário
cabível, pois a previsão deste ou a sua ausência decorre da própria Constituição.
Excepcionalmente, porém, o STJ e o STF exercerão jurisdição ordinária recursal, ao
julgarem determinadas causas em recurso ordinário.

Voluntariedade: Em regra, no processo penal, os recursos são voluntários. Quanto às

307
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

previsões legais de recursos de ofício contra decisões que veiculam conteúdo contrário aos
interesses da acusação, Pacelli entende que, dentro de um sistema garantista, são
inconstitucionais. Contudo, registre-se que há precedente do STJ em sentido contrário
(Resp 760.221/PA).

Taxatividade: os recursos dependem de previsão legal. O rol dos recursos e as hipóteses de


cabimento configuram um elenco taxativo.

Unirrecorribilidade: Em geral, contra cada decisão cabe apenas um único recurso.


Exceção: interposição simultânea de Resp e RE.

Complementariedade: o recorrente poderá complementar a fundamentação de seu recurso


se houver integração ou complementação da decisão.

Dialeticidade: o recorrente deve indicar claramente os motivos pelos quais pede o reexame
da decisão, porque somente assim a parte contrária poderá apresentar suas contrarrazões,
formando o contraditório em matéria recursal.

Fungibilidade: o recurso erroneamente interposto pode ser conhecido pelo outro, desde
que não haja má-fé (CPP, Art. 579) e o erro não seja grosseiro.

Proibição da reformatio in pejus: em se tratando de recurso da defesa e não vendo recurso


da acusação, a situação do recorrente não pode ser agravada, nem do ponto de vista
quantitativo, nem qualitativo. É uma das manifestações do princípio da ampla defesa. Em
favor da acusação, nem mesmo eventual nulidade pode ser reconhecida se não alegada em
recurso. A proibição da "reformatio in pejus" indireta decorre deste princípio. Quando o
tribunal "ad quem" anula/cassa sentença proferida pelo juízo a quo, os autos retornam para
este juízo, para a prolação da nova sentença, sem nulidade. A doutrina majoritária afirma
que a nova sentença não pode piorar o gravame anteriormente imposto ao réu. Isso porque
o recurso foi interposto somente pela defesa, restando o trânsito em julgado para a parte
acusatória. Assim, no mesmo sentido da proibição da "reformatio in pejus", não pode ser
piorada a situação do réu. É o que muitos chamam de vedação de reforma para pior.

3. Efeitos dos Recursos

Obstativo de coisa julgada: no sistema brasileiro todos os recursos obstam o trânsito em


julgado da decisão impugnada. Assim, o primeiro e constante efeito dos recursos é
exatamente o de impedir a preclusão.

Devolutivo: Diz respeito à identificação da matéria devolvida ao conhecimento da instância


recursal. Como os recursos são voluntários, cabe ao interessado delimitar a matéria a ser
objeto de reapreciação e de nova decisão pelo órgão jurisdicional competente.

Suspensivo: efeito suspensivo do recurso significa que, em certas hipóteses, a sua


interposição impede a produção imediata dos efeitos da decisão.

Iterativo (ou regressivo ou diferido): Devolução do recurso ao próprio órgão prolator da


decisão impugnada, como ocorre no juízo de retratação, presente nos seguintes recursos: (a)

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

recurso em sentido estrito (art. 589 do CPP); (b) carta testemunhável (art. 643 do CPP) e (c)
agravo em execução.

4. Súmulas

STF
SÚMULA Nº 713 - O EFEITO DEVOLUTIVO DA APELAÇÃO CONTRA DECISÕES
DO JÚRI É ADSTRITO AOS FUNDAMENTOS DA SUA INTERPOSIÇÃO.

SÚMULA Nº 705 - A RENÚNCIA DO RÉU AO DIREITO DE APELAÇÃO,


MANIFESTADA SEM A ASSISTÊNCIA DO DEFENSOR, NÃO IMPEDE O
CONHECIMENTO DA APELAÇÃO POR ESTE INTERPOSTA.

SÚMULA Nº 700 - É DE CINCO DIAS O PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DE


AGRAVO CONTRA DECISÃO DO JUIZ DA EXECUÇÃO PENAL.

SÚMULA Nº 699 - O PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO, EM PROCESSO


PENAL, É DE CINCO DIAS, DE ACORDO COM A LEI 8038/1990, NÃO SE
APLICANDO O DISPOSTO A RESPEITO NAS ALTERAÇÕES DA LEI 8950/1994 AO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

SÚMULA Nº 448 - O PRAZO PARA O ASSISTENTE RECORRER,


SUPLETIVAMENTE, COMEÇA A CORRER IMEDIATAMENTE APÓS O
TRANSCURSO DO PRAZO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. (MITIGADA)

SÚMULA Nº 431 - É NULO O JULGAMENTO DE RECURSO CRIMINAL, NA


SEGUNDA INSTÂNCIA, SEM PRÉVIA INTIMAÇÃO, OU PUBLICAÇÃO DA PAUTA,
SALVO EM "HABEAS CORPUS". (MITIGADA)

SÚMULA Nº 210 - O ASSISTENTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PODE RECORRER,


INCLUSIVE EXTRAORDINARIAMENTE, NA AÇÃO PENAL, NOS CASOS DOS
ARTS. 584, § 1º, E 598 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.

5. Casuística

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL PENAL. ALEGAÇÃO DE


OFENSA AO ARTIGO 5°, PARÁGRAFOS 1° E 3°, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS
HUMANOS. EMENDA CONSTITUCIONAL 45/04. GARANTIA QUE NÃO É
ABSOLUTA E DEVE SE COMPATIBILIZAR COM AS EXCEÇÕES PREVISTAS NO
PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL. PRECEDENTE. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO
AO PRINCÍPIO DA IGUALDADE. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Agravo
que pretende exame do recurso extraordinário no qual se busca viabilizar a interposição de
recurso inominado, com efeito de apelação, de decisão condenatória proferida por Tribunal
Regional Federal, em sede de competência criminal originária. 2. A Emenda Constitucional
45/04 atribuiu aos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, desde que

309
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

aprovados na forma prevista no § 3º do art. 5º da Constituição Federal, hierarquia


constitucional. 3. Contudo, não obstante o fato de que o princípio do duplo grau de
jurisdição previsto na Convenção Americana de Direitos Humanos tenha sido internalizado
no direito doméstico brasileiro, isto não significa que esse princípio revista-se de natureza
absoluta. 4. A própria Constituição Federal estabelece exceções ao princípio do duplo grau
de jurisdição. Não procede, assim, a tese de que a Emenda Constitucional 45/04 introduziu
na Constituição uma nova modalidade de recurso inominado, de modo a conferir eficácia
ao duplo grau de jurisdição. 5. Alegação de violação ao princípio da igualdade que se
repele porque o agravante, na condição de magistrado, possui foro por prerrogativa de
função e, por conseguinte, não pode ser equiparado aos demais cidadãos. O agravante foi
julgado por 14 Desembargadores Federais que integram a Corte Especial do Tribunal
Regional Federal e fez uso de rito processual que oferece possibilidade de defesa preliminar
ao recebimento da denúncia, o que não ocorre, de regra, no rito comum ordinário a que são
submetidas as demais pessoas. 6. Agravo regimental improvido. AI 601832 AgR / SP -
SÃO PAULO. Julgamento: 17/03/2009.

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. DECISÃO CONCESSIVA DE


HABEAS CORPUS. REMESSA DE OFÍCIO (ART. 574, INCISO I, DO CPP).
DISPOSITIVO NÃO REVOGADO PELO ART. 129, INCISO I, DA CF/88. Na linha de
precedentes do Pretório Excelso, o reexame necessário previsto no art. 574 do CPP não foi
tacitamente revogado pelo art. 129, inciso I, da Constituição Federal, devendo o juiz de
primeiro grau remeter a decisão que conceder habeas corpus à apreciação da instância
superior. Recurso provido.” (STJ, 5ª Turma, Resp 760.221/PA, Rel. Min. FELIX
FISCHER, j. 15.12.2005, DJ 27.03.2006).

Embargos de declaração em agravo regimental. Julgado da Turma que não conheceu do


regimental. Recurso que não ataca os fundamentos da decisão embargada. Súmula
nº 284/STF. 1. Acórdão da Turma que não conheceu de agravo regimental intempestivo e,
ainda, que aplicou, ao caso, os princípios da unirrecorribilidade e singularidade recursal. 2.
Embargos de declaração em que se alega omissão no julgado quanto ao mérito da causa,
não atacando os fundamentos do acórdão embargado. Incidência da Súmula nº 284/STF. 3.
Embargos de declaração rejeitados. (STF - EMB.DECL. NO AG.REG. NOS EMB.DECL.
NO AGRAVO DE INSTRUMENTO: AI 517428 SP. Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI.
Julgamento: 28/02/2012. Órgão Julgador: Primeira Turma. Publicação: ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-065 DIVULG 29-03-2012 PUBLIC 30-03-2012. Parte(s): MIN. DIAS
TOFFOLI, ROBERTO CORREIA DA SILVA GOMES CALDAS E OUTRO(A/S),
MUNICÍPIO DE GUARUJÁ, ANGELO BROETTO E OUTRO(A/S), PROCURADOR-
GERAL DO MUNICÍPIO DE GUARUJÁ).

310
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

19.a. Incidentes processuais: falsidade e insanidade mental.


Principais Obras consultadas: Resumos do 27º CPR e do 26º CPR. Resumo Grupo
Magistratura (p.109). Avena, Norberto. Processo Penal esquematizado. 4ª Edição. São
Paulo: Editora Método, 2012. Nucci, Guilherme de Souza Código de Processo Penal
Comentado. 8ª Edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. Oliveira, Eugênio
Pacelli de. Curso de Processo Penal. 15ª Edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
Távora, Nestor; Alencar, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 4ª Edição.
Salvador: Juspodivm, 2010.

Legislação básica: arts. 145 a 154 do CPP.

1. Incidentes processuais:

Processos incidentes, segundo Pacelli (2011, pág. 295) são procedimentos em que se
discute: a) questões tipicamente preliminares: como exceções de suspeição,
incompatibilidade ou impedimento, exceções de incompetência do juízo, de litispendência,
de ilegitimidade de parte e de coisa julgada, bem como conflito de jurisdição. Devem ser
resolvidas antes do exame de mérito; b) questões de natureza acautelatória de cunho
patrimonial: restituição de coisas apreendidas, medidas assecuratórias (sequestro, arresto,
inscrição de hipoteca); c) questões tipicamente probatórias: seja no âmbito da aferição da
culpabilidade (incidente de sanidade mental), seja no da materialidade do delito (incidente
de falsidade documental).

Segundo o autor, são características dos processos incidentes: processamento em apenso


aos autos da ação penal, reclamando, como regra, o pronunciamento prévio do juízo;
como regra, não suspendem a ação penal.

1.1. Incidente de Falsidade: trata-se de um procedimento incidente voltado à constatação


de autenticidade de um documento, inclusive produzido eletronicamente (art. 11, caput, e
§2º da Lei 11.419/2006), inserido nos autos de um processo principal (Nucci, pág. 145).
Não há previsão de cabimento na fase do inquérito policial. Cabe pacificamente para
arguir falsidade material e a jurisprudência majoritária também admite para
falsidade ideológica. Pacelli destaca que o documento sobre o qual paira dúvida quanto à
autenticidade não é aquele que constitui o objeto material do delito, mas quaisquer outros
que possam interferir na apreciação da imputação penal. O documento que constitui o
próprio objeto material do delito (ex.: falsificação de documento público ou particular)
deve ser, necessariamente, periciado, independentemente de arguição, não como incidente,
mas como questão principal, ligada à própria materialidade do delito.

- Legitimidade: partes ou ex officio (art. 147, CPP). Se feita por procurador exige poderes
especiais.

- Procedimento: deve ser dirigido ao juiz, de forma escrita. O magistrado então concede
prazo de 48h à parte contrária para manifestação. Em seguida, abre o prazo de 3 dias,

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

sucessivamente, para alegação das partes. Havendo necessidade, determina diligências,


decidindo em seguida. O CPP, ao contrário do que faz o art. 394 do CPC, não atribui ao
incidente de falsidade efeito suspensivo sobre o andamento do processo principal.

- Recurso: RESE contra a decisão que resolve o incidente, seja ela pela procedência ou
improcedência (art. 581, XVIII, CPP). Somente após o trânsito em julgado, caso seja o
documento considerado falso, haverá o desentranhamento.

- Providências do Ministério Público: tendo sido reconhecida a falsidade do documento, é


preciso apurar o crime a ela pertinente. Os autos do incidente seguem, juntamente com o
documento desentranhado, às mãos do representante do MP, mas tal decisão não o vincula,
podendo denunciar ou requerer o arquivamento, conforme o caso (Nucci, pág. 329).

- Efeitos: “Qualquer que seja a decisão, não fará coisa julgada em prejuízo de ulterior
processo penal ou civil” (art. 148, CPP). A decisão, dessa forma, é limitada ao
procedimento incidente. Reconhecida a falta de autenticidade da prova, desentranha-se esta
e determina-se a apuração do falso, em processo principal.

1.2 Incidente de sanidade mental: trata-se de procedimento incidente instaurado quando


há dúvida sobre a sanidade mental do acusado de prática criminosa, tanto em relação à
condição mental do indivíduo ao tempo do fato, quanto ao momento atual, ou seja,
enquanto tramita o inquérito policial ou o processo penal.

- Legitimidade: juiz ex officio, a requerimento do Ministério Público, do defensor, do


curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado (art. 149, CPP). Pacelli
entende que o rol de legitimados não é taxativo, diante do evidente e eminente interesse
público na apuração de tal questão. Para o autor, seria possível que qualquer pessoa
interessada provocasse o incidente de insanidade mental (Pacelli, pág. 324). A autoridade
policial não poderá determinar diretamente a realização do exame pericial, ao contrário do
que normalmente ocorre em relação às demais perícias (art. 6º, VII, CPP). Existindo
suspeita quanto à sanidade mental do investigado, deverá a autoridade policial representar
ao juiz para a realização do exame psiquiátrico (art. 149, §1º, CPP).

- Procedimento: o juiz determina a instauração do incidente por meio de portaria, com a


nomeação de curador, suspendendo o curso do processo (se ocorrer na fase do inquérito,
este não se suspende), ressalvando-se os atos urgentes e produção de provas inadiáveis. O
juiz somente instaurará o incidente quando haja dúvida razoável da possibilidade de
insanidade. Ou seja, há duas variantes: 1) não basta o mero requerimento (não é um direito
público subjetivo) (o juiz precisa aferir se há dúvida razoável) e 2) o juiz tem que aferir o
cabimento; a falta de motivação não implica o exame, a situação esporádica de alguém
estar tomando remédio ou ter sido submetido a uma internação não justificam o incidente.
O juiz verificando a primeira vista que o réu é louco pode dispensar o incidente (e o laudo)?
Não, nem que o juiz tenha sido médico psiquiátrico, o juiz deve instaurar o incidente. Mas
o juiz não está vinculado ao laudo, porque senão quem estaria julgando seria o perito.

312
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Efeitos do laudo:

a) Conclui pela normalidade mental na época do fato e atualmente: prosseguimento normal


do processo principal, podendo a sentença ser tanto absolutória quanto condenatória;

b) Conclui pela normalidade mental na época do fato e incapacidade atual: o processo deve
continuará suspenso até que o indivíduo se restabeleça ou ocorra a extinção da punibilidade
(art. 152, CPP). Havendo restabelecimento, a sentença será absolutória ou condenatória.

c) Conclui pela incapacidade na época do fato: o incidente deve ser apensado ao processo,
que terá prosseguimento e na fase de sentença abrem-se 2 possibilidades: c.1) Indivíduo
inimputável: absolvição, com aplicação de medida de segurança (absolvição imprópria) ou
sem aplicação de medida de segurança (absolvição própria), conforme art. 26, caput, CP;
c.2) Indivíduo semi-imputável: absolvição sem aplicação de medida de segurança ou
condenação (nesta, porém, deve-se reduzir a pena de 1/3 a 2/3 ou aplicar medida de
segurança, caso haja indicativos de periculosidade), conforme o art. 26, parágrafo único e
98, ambos do CP.

Se a loucura surgir no curso da execução da pena privativa de liberdade, o juiz, de ofício, a


requerimento do MP ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da
pena por medida de segurança

-Internação prevista no §1º do art. 152, CPP – considerações críticas: Pacelli defende que a
possibilidade do juiz internar provisoriamente o acusado configura verdadeira antecipação
dos resultados finais de uma ação penal condenatória. Assim, como não se permite a
privação da liberdade do acusado sadio a não ser com fundamentação em razões de
natureza cautelar, também não se poderia privar a liberdade do inimputável, ainda mais se
tratando de privação sem prazo certo para terminar, tudo a depender da recuperação mental
do acusado (Pacelli, pág. 325). O STJ possui jurisprudência no sentido de que somente
se resultante de prisão preventiva que tenha sido decretada quando presentes os
pressupostos é que se torna viável a aplicação da internação antes da sentença (RHC
22666, 5ª Turma, 2008).

- Recurso: segundo Nestor Távora, a decisão que determina a instauração do incidente é


irrecorrível, mas é possível a impetração de mandado de segurança. Contra a decisão que
rejeita o incidente é cabível HC (Távora, p. 328).

1.3. Questões de prova: questão 119, II da prova Objetiva do 26º CPR.

119. Considerando os posicionamentos adotados recentes pelo STJ, analise as assertivas


abaixo:

I - As informações obtidas de forma anônima somente são aptas a ensejar a instauração de


ação penal quando corroboradas por outros elementos de prova colhidos em diligências
preliminares realizadas durante a investigação criminal; Correto

313
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

II - O exame previsto no art. 149, do CPP, somente é imprescindível quando houver dúvida
fundada a respeito da higidez mental do acusado, tanto em função da superveniência de
enfermidade no curso da instrução criminal quanto pela presença de indícios plausíveis de
que, quando do cometimento do delito, era incapaz de entender o caráter ilícito da conduta
perpetrada ou de determinar-se de acordo com esse entendimento; Correto

III - Na forma do art. 366, do CPP, a produção antecipada de provas deve ser utilizada em
todos os casos em que o processo tenha sido suspenso em razão da ausência do réu citado
por edital, mesmo sem a avaliação do risco concreto do perecimento da prova; Errado, é
necessária a avaliação do risco de perecimento.

IV - Nos casos de interceptação telefônica, há a necessidade de se identificar todos os


interlocutores por meio de perícia técnica ou de degravação dos diálogos na íntegra por
peritos oficiais, sob pena de nulidade da prova; Errado, só o que interessa.

V - Admite-se a detração por prisão ocorrida em outro processo, desde que o crime pelo
qual o sentenciado cumpre pena tenha sido praticado anteriormente à prisão cautelar
proferida no processo do qual não resultou a condenação. Correta, Vedação à Conta
Corrente.

a) ( ) Todas as assertivas são verdadeiras;

b) ( ) Somente as assertivas I e II são verdadeiras;

c) ( ) Somente as assertivas III e IV são falsas;

d) ( ) Somente a assertiva V é falsa.

Gabarito oficial: C.

1.4. Leitura Complementar: as obras acima referidas.

314
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

19.b. Nulidades no Processo Penal. Princípios.


Principais Obras Consultadas: Resumos do 27º CPR e 26º CPR; Anotações de Aula do
Curso Alcance para Procurador da República, ministradas pela Prof. Elisa Pitarro, no ano
de 2013; Avena, Norberto. Processo Penal esquematizado. 4ª Edição. São Paulo: Editora
Método, 2012. Grinover, Ada Pellegrini; Gomes Filho, Antônio Magalhães; Fernandes,
Antônio Scarance. As nulidades no processo penal. 12ª Edição. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011. Nucci, Guilherme de Souza Código de Processo Penal Comentado. 8ª
Edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. Oliveira, Eugênio Pacelli de.
Curso de Processo Penal. 15ª Edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. Távora, Nestor;
Alencar, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 4ª Edição. Salvador:
Juspodivm, 2010.

Legislação Básica: arts. 563 a 573 do CPP. Súmulas do STF: 155, 156,160, 162, 206,
361, 366, 351, 352, 431, 523, 564, 706 a 709, 712.

1. Nulidades processuais: a doutrina nacional diverge a respeito do conceito de nulidade


processual. Para alguns é o vício processual decorrente da inobservância de exigências
legais (Fernando Capez), para outros é a sanção que se aplica ao ato viciado (José Frederico
Marques, Paulo Rangel) e, ainda, há os adeptos de uma posição eclética, levantando que
sob um aspecto é vício, sob outro, sanção, podendo ser definida como uma falha ou
imperfeição que invalida ou pode invalidar o ato processual ou todo o processo (Mirabete).
Eugênio Pacelli, citando Grinover, Gomes Filho e Fernandes, afirma que nulidade não é a
essência do ato irregular, mas a sua consequência (Pacelli, pág. 811). A nulidade
processual, diferentemente da nulidade do direito privado (automática, congênita), não
decorre necessariamente do texto legal, mas depende de uma decisão judicial que a
reconheça, retirando a eficácia do ato praticado irregularmente; desta forma, mesmo vícios
gravíssimos podem não afetar a validade do ato, se não for reconhecida a nulidade e houver
trânsito em julgado da sentença final (Grinover, pág. 21). Embora exista um rol de
nulidades no art. 564 do CPP, tal rol é exemplificativo (Nucci, p. 894)

1.1. Princípios: o que a doutrina e jurisprudência chamam de princípios Pacelli chama de


regras aplicáveis às nulidades no processo penal (Pacelli, 2011, p. 810).

a) Princípio do prejuízo: sem ofensa à finalidade da norma não há prejuízo e, por isso, o
reconhecimento da nulidade nessa hipótese consagraria um formalismo exagerado e inútil.
Somente a atipicidade relevante dá lugar à nulidade (pas de nullité sans grief). Assim,
deverá ser aferida a capacidade para a produção de prejuízos aos interesses das partes e/ou
ao regular exercício da jurisdição (art. 563, CPP: “Nenhum ato será considerado nulo, se da
nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.”). Nos casos em que restar
evidenciada a ausência de prejuízo, não se cogita de nulidade, mesmo se tratando de
nulidade absoluta. É o posicionamento adotado pelo STJ (HC 104.062, 5ª Turma, 2011) e
pelo STF: “A demonstração de prejuízo, a teor do art. 563 do CPP, é essencial à alegação
de nulidade, seja ela relativa ou absoluta, eis que, conforme já decidiu a Corte, "o âmbito
normativo do dogma fundamental da disciplina das nulidades - pas de nullité sans grief-
315
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

compreende as nulidades absolutas" (HC 81.510, 1ª Turma, 2002).”

Há, no entanto, entendimento diverso na doutrina. Ada Pellegrini Grinover sustenta que as
nulidades absolutas não exigiriam demonstração de prejuízo, porque nelas este seria
evidente. Por outro viés, Tourinho Filho afirma existir uma presunção juris et de jure de
prejuízo, inadmitindo prova em contrário. Tais argumentos são rebatidos por Paulo Rangel,
que se filia ao entendimento adotada na jurisprudência do STF e STJ – de que haveria
necessidade de demonstração de prejuízo mesmo na nulidade absoluta (Rangel, pág. 769).
Pacelli defende que não parece exato afirmar que nas nulidades absolutas o prejuízo seja
presumido. O que existiria é verdadeira afirmação ou pressuposição da existência de
prejuízo, não se cuidando de inversão de ônus da prova, passível de alteração no plano
concreto, mas de previsão abstrata da lei. Assim, o que poderá ser objeto de prova, segundo
o autor, é a existência ou não da violação à lei, ou seja, da irregularidade. Mas, uma vez
demonstrada esta, o prejuízo dela decorrente seria sua consequência inevitável (Pacelli,
pág. 817).

b) Princípio do interesse (Art. 565, CPP): Se a irregularidade resulta da preterição de


formalidade instituída para a garantia de uma determinada parte, somente esta poderá
invocar a nulidade, não sendo possível à outra fazê-lo por simples capricho. No entanto, a
aplicação dessa regra sofre mitigação no processo penal, por possuir o MP, no bojo de ação
pública, como objetivo sempre a obtenção de título executivo válido, razão pela qual não se
pode negar seu interesse na obediência de todas as formalidades legais, inclusive as que
asseguram a participação da defesa (Grinover, pág. 31). De acordo com a doutrina, esse
princípio também não se aplica as nulidades absolutas.

c) Princípio da convalidação: em consonância com os princípios da instrumentalidade das


formas e efetividade do processo, o ordenamento estabelece remédios pelos quais será
possível aproveitar a atividade processual atípica. Nesses casos previstos em lei, sanada a
irregularidade ou reparado o prejuízo, será possível que o ato viciado venha a produzir os
efeitos que dele eram esperados, com a convalidação do ato praticado em desconformidade
com o modelo legal. Elementos fundamentais para a convalidação: 1) que o ato, mesmo que
atípico, tenha atingido a sua finalidade; 2) que não tenha havido prejuízo para as partes; 3)
que o contraditório tenha sido preservado. Algumas formas de saneamento: 1) a preclusão
(nas nulidades relativas); 2) a prolação da sentença (art. 249, §2º, CPC: “Quando puder
decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade, o juiz não a
pronunciará nem mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta”); 3) coisa julgada (no
processo penal só sana os vícios formais que poderiam ser reconhecidos em favor da
acusação, no tocante à defesa há remédios para reconhecimento da nulidade mesmo após o
trânsito em julgado: revisão criminal – art. 626, VI, CPP, cabimento de HC por coação
ilegal por ser o processo nulo – art. 648, VI, CPP); 4) Suprimento (art.569), 5) Retificação
(correção do ato); Ratificação (art.568).

Convalidação de atos decisórios: Em princípio, a jurisprudência do STF entendia que, para


os casos de incompetência absoluta, somente os atos decisórios seriam anulados. Isso em
conformidade com o art. 113, §2º, do CPC, que estatui: “declarada a incompetência
absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz
competente”. Portanto, admitia-se a ratificação de atos não decisórios. Posteriormente, a

316
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

partir do julgamento do HC nº 83.006-SP, Pleno, por maioria, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ
29.08.2003, a jurisprudência do Tribunal evoluiu para admitir a possibilidade de ratificação
pelo juízo competente inclusive quanto aos atos decisórios. (STF, HC 88.262). "Tanto a
denúncia quanto o seu recebimento emanados de autoridades incompetentes rationae
materiae são ratificáveis no juízo competente.” (STF, HC 83.006, Pleno, 2003). No entanto,
em recente julgamento, o STF decidiu em sentido diverso (HC 109.893, 1ª Turma, 2012).
Contudo, à luz do princípio da identidade física do juiz, Renato Brasileiro (p. 320, 2014)
afirma que o posicionamento da jurisprudência do STF, veiculada no HC 83.006, está a
merecer nova reflexão. “Ora se doravante o juiz que presidir a instrução deve proferir a
sentença, como se pode, então, admitir que a prova colhida perante o juízo incompetente
seja reaproveitada perante seu juízo natural? A nosso juízo, portanto, uma vez
reconhecida a incompetência absoluta ou relativa, há de ser reconhecida a nulidade dos
atos probatórios, renovando-se a instrução perante o juiz natural da causa, em fiel
observância ao princípio da identidade física do juiz”.

d) Princípio da extensão, sequencialidade, causalidade ou contaminação: a nulidade de um


ato ocasiona a nulidade dos que lhe forem consequência ou decorrência (art. 573, §1º,
CPP). Dessa forma, trata-se de saber se o ato declarado nulo (nulidade originária) também
atingiu outros atos ligados àquele (nulidade derivada). Conforme ensina Grinover, Gomes
Filho e Scarance, a nulidade na fase postulatória (ex.: da denúncia) do processo se propaga
sempre para os demais atos, enquanto a invalidade dos atos de instrução, em regra, não
contamina os outros atos de produção de prova validamente realizados (Grinover, pág. 30).

1.2. Classificação:

a) Atos inexistentes: são aqueles que contêm vício gravíssimo, decorrente da violação de
elementos constitutivos do ato processual. Tem-se um não ato, uma aparência de ato. Ex.:
sentença proferida por quem não se acha investido da função jurisdicional, sentença
publicada exatamente na mesma data em que foi publicada a portaria de promoção do juiz
sentenciante (STJ, HC 14420, 5ª Turma, 2000). Não só não produzem efeitos como
também não podem ser convalidados (Pacelli, pág. 813).

b) Atos nulos: são aqueles em que a falta de adequação ao tipo legal pode levar ao
reconhecimento de sua inaptidão para produzir efeitos no mundo jurídico (Grinover, pág.
20). Divide-se em: b.1 Nulidade absoluta: a gravidade do ato viciado é flagrante e, em
regra, manifesto o prejuízo que sua permanência acarreta para a efetividade do
contraditório ou para a justiça da decisão. O vício afeta não só o interesse de algum
litigante, mas de todo e qualquer (presente, passado e futuro) acusado, em todo e qualquer
processo. Ex.: violações a princípios fundamentais do processo penal, tais como o do juiz
natural, o do contraditório e da ampla defesa, o da imparcialidade do juiz. b. 2 Nulidade
relativa: dependem da valoração das partes quanto à existência e à consequência do
eventual prejuízo, estão sujeitas a prazo preclusivo, quando não alegadas a tempo e modo
pelo interessado. Dizem respeito a interesse das partes em determinado e específico
processo.

c) Atos irregulares: são atos que desatendem às prescrições legais, mas nem por isso há
comprometimento dos objetivos para os quais a forma foi instituída, de sorte que podem ser

317
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

considerados meramente irregulares, sem que sua eficácia esteja em jogo (Grinover, pág.
20). Nulidades ocorridas na fase policial não têm o condão de tornar nula a ação penal
(STF, ARE 654192 AgR, 2ª Turma, 2011).

1.3. Nulidade e incompetência absoluta: o direito processual penal brasileiro veda a


"reformatio in pejus" direta ou indireta (efeito prodrômico da sentença), obstando, assim,
que decisões posteriores, ainda que oriundas do Tribunal do Júri (STF, HC 89544, 2ª
Turma, 2009), ou de juízos absolutamente incompetentes (STF HC 75907, 1ª Turma,
1997), imponham ao acusado quadro mais gravoso que o da primeira condenação,
ressalvadas as hipóteses de cassação de absolvição sumária por recurso "ex officio" (STF
HC 68922, 1ª Turma, 1991).

1.4. Nulidades. Efeito devolutivo: não se admite o reconhecimento da nulidade absoluta


ex officio em prejuízo da defesa (STF, HC 80.263, Pleno, 2003). Súmula 160 do STF: “é
nula a decisão do Tribunal que acolhe contra o réu, nulidade não arguida no recurso da
acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício”.

1.5. Hipóteses de nulidade previstas no art. 564 do CPP (anotações de aula do Curso
Alcance para Procurador da República, ministrada pela Prof. Eloisa Pitarro, em
2013): O art. 564 do CPP não traz rol de nulidade taxativo, nem tampouco indica entre as
hipótesese nele previstas quando se terá causa de nulidade absoluta ou relative. São elas:

I – violação a regra de competência, suspeição ou suborno do juiz: dependendo-se do que


foi violado, ter-se-á nulidade absoluta.

Violação a regra de suspeição: é causa de ofensa à imparcialidade do julgador. A suspeição


é causa de nulidade relativa. 1ª Orientação: apesar da gravidade do vício da suspeição, o art.
96 do CPP sinaliza o momento preclusivo para o vício ser alegado. 2ª Orientação: a
suspeição se esbarra num dos pilares do sistema acusatório, qual seja a imparcialidade do
julgador, logo é absoluta. Por que aqui legislador não fala do impedimento? Art. 252 do
CPP diz que o juiz não poderá exercer a jurisdição nas hipóteses em que esteja impedido,
ou seja, nessas situações, o vício é a inexistência dos atos que praticar no feito, não
havendo que se falar em nulidade.

II – ilegitimidade de parte: tanto ad causam como ad processum. Pacelli: entende que o


menor pratica crime, mas não possui capacidade processual para responder uma ação penal,
não havendo, portanto, pressuposto processual de validade. Logo, seria nula a relação
processual. Ada: questões relacionadas à idade do indivíduo condicionada ao exercício da
ação, logo haveria ilegitimidade ad causa e nulidade absoluta. Para Marcelus Pollastri, não
há qualquer possibilidade de que um menor venha a responder uma ação penal, logo se
houver violação a pressuposto de existência e o vício seria de inexistência processual.

A atribuição dos membros do MP é pressuposto processual de validade, cuja inobservância


é causa de nulidade absoluta. Nessa situação, a denúncia nem sequer deveria ser recebida,
em razão da ausência de pressuposto de validade.

III – por falta de formulas ou dos termos seguintes:

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

a) Vício na denúncia ou na queixa: é a que não narra os fatos de forma precisa. É possível
haver denúncia de forma genérica. Em se tratando de crime societário ou multitidinário, a
denúncia pode ser genérica e, no curso da instrução, haja a individualização da imputação
será detalhada. No entanto, defender isso é um absurdo, porque torna defesa difícil, por não
se saber em face do que se defender. Não se precisa qualificar em detalhe se a identidade
física for precisa, conforme o art. 259. A capitulação do fato criminoso é o 3º requisitos não
é imprescindível, porque o réu se defende dos fatos. Tendo testemunhas, deverá o MP
arrolá-las. A ausência desses requisitos torna a denúncia inepta.

b) O exame de corpo de delito, ressalvado o exame de corpo de delito do art. 167 do CPP
(exame de corpo de delito indireto). É possível tratar dos crimes da Lei de Drogas e contra
a Propriedade Imaterial com o exame de corpo de delito indireto? Não, porque nas
respectivas leis, o exame de corpo de delito é condição de procedibilidade. Ora, não se tem
como dizer que um individuo com vários sacolés com pó branco significa que ele estava de
posse de cocaína, por ser necessário e imprescíndivel o exame pericial;

c) Nomeação do curador do menor e do ausente. A nomeação de curador especial para o


menor se fazia necessária na vigência do CC pretérito. A ausência de defensor ao réu
presente é causa de nulidade absoluta.

d) Não intervenção do MP nos crime de ação pública, qual é a conseqüência? Em concursos


do MP, defender que é hipótese de nulidade absoluta, porque se ele é o titular da ação
penal, atribuição outorgada pela CR. No entanto, a jurisprudência vem entendendo que o
que causa a nulidade não é a ausência de sua intervenção, mas a ausência de notificação do
MP para praticar os demais atos da Ação Penal. Tendo o órgão ministerial sido intimado e
este venha quedar-se inerte, isso será causa de mera irregularidade, não trazendo qualquer
nulidade processual. Contudo, há julgados entendendo que se trata de nulidade absoluta. A
posição mais correta é a primeira, mas atentar para o enunciado da questão.

Qual a conseqüência da não intervenção do MP, nos crimes de ação penal privada
subsidiária da pública, quando o membro do MP deixa transcorrer o prazo de 15, em
estando o réu solto, ou de 5 dias, estando o réu preso, para propor a denúncia, e não propõe
a ação penal 6 meses após o término desse interstício (ausência total de manifestação do
MP)? Ultrapassado o prazo de 6 meses para propor a denúncia, o particular interessado
poderá propor a ação penal privada subsidiária da pública. No entanto, o MP deverá
intervir, podendo a qualquer momento retomar a ação penal.

Ainda que o MP possa retornar como parte principal, o art. 572 do CPP sinaliza casos em
que estão sujeitos a um prazo para que se possa alegar eventuais nulidades, remetendo a
alínea d do art. 564, parte final. Pode-se depreender dessa remissão que a não intervenção
ministerial é causa de nulidade relativa, tendo em vista que está sujeita a prazo preclusivo,
ou seja, um momento fatal para ser alegado pelo Parquet.

e) Traz a hipótese de nulidade decorrente da não ocorrência de citação ou de intimação. A


citação é uma forma de trazer o individuo para o processo, para lhe dar conhecimento da
ação penal contra si proposta. A citação e a intimação são atos essenciais para o exercício
do contraditório e da ampla defesa.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

O art. 570 traz uma regra de convalidação para os vícios decorrentes da ausência de citação
ou de intimação e notificação, que estará sanada com o comparecimento espontâneo do
interessado antes de o ato se consumar, ainda que o faça com a intenção meramente arguí-
la. É uma regra específica de convalidação.

A ausência de intimação do réu para o seu interrogatório e de formalidades inerentes a


consecução desse ato também é causa de nulidade relativa. Hoje, a regra é que o
interrogatório seja invertido, para fazê-lo após o final da instrução. Os vícios mais comuns
relacionados ao interrogatório são: a) o juiz não permite que o réu tenha entrevista
reservada com seu defensor antes do interrogatório. Ainda que o interrogatório seja
invertido, deve ser observada essa regra. Em caso relatado pela Min. Carmen Lúcia, o
advogado vinha acompanhado réu desde a fase inquisitiva e não alegou no momento
oportuno o fato de o juiz não ter facultado a entrevista reservada do réu com seu advogado,
além de não ter feito constar em ata. O STF entendeu que, nesse caso, não haveria nulidade
alguma, tendo vista que o advogado já tinha tido a oportunidade de ter entrevista reservada
desde o inquérito.

Como é a concessão dos prazos? Através de intimação. Parte final da alínea “e” remete ao
art. 570 do CPP.

f) A sentença de pronuncia e a entrega da respective cópia, com o rol de testemunhas, nos


processos perante o Tribunal do Júri. Qual o vício mais freqüente na pronúncia? Resposta:
o vício mais comum é quando o juiz se excede na linguagem, quando ele se prolonga na
fundamentação. Com a pronúncia, o juiz encerra a primeira fase do júri. A Constituição
Federal exige a fundamentação, mas essa não há de ser demasiada para que não influencie
na imparcialidade do júri. Importante conferir o art. 413 do CPP, §3º, que diz que a
fundamentação deve ser sucinta, traz a necessidade de o juiz pronunciante limitar a
fundamentação de sua decisão no tocante à prova materialidade delitiva e aos indícios de
autoria, de forma a não comprometer a imparcialidade dos jurados.

Existem decisões do STF no sentido de que o excesso de nulidade por si só não é causa de
nulidade. O que é causa de nulidade seria a inobservância do art. 478, I, do CPP, Segundo o
qual, durante os debates, as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências à
decisão de pronúncia. Se a pronúncia for utilizada durante os debates pela acusação, não há
que se falar em nulidade.

Para Elois Pitarro, o excesso de linguagem seria causa de nulidade absoluta. Ora, como o
art. 472, parágrafo único, do CPP traz a obrigatoriedade de os jurados receberem cópia da
decisão pronúncia, isso leva a crer que o excesso de linguagem haveria de influenciar no
julgamento soberano que lhes incumbe.

g) A ausência de intimação do réu para a sessão de julgamento pelo tribunal do júri, quando
a lei não permitir o julgamento a revelia. Essa alínea sempre trouxe interpretação
controvertida. No entanto, o que ela queria dizer é que haverá nulidade quando o réu for
julgado a revelia, nas hipóteses em que a lei não admite. Hoje, a situação mudou. Essa
situação mudou pela seguinte razão: antes da reforma de 2008, havia duas situações em que
o processo ficava paralisado: 1) o réu deveria ser intimado pessoalmente da sentença de

320
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

pronúncia, sob pena de o processo ficar parado e a prescrição continuar correndo


(ocorrendo a chamada crise de instância, segundo Vicente Grillo); 2) conforme o art. 451
do CPP, antes da reforma, o réu pronunciado que estava sendo julgado por crime
inafiançável deveria comparecer ao plenário, não podendo ser julgado a revelia, mais uma
vez haveria a paralisação do processo. Essas situações não mais persistem mais. Hoje, caso
o réu esteja solto e não se consiga citá-lo pessoalmente, ele deverá ser citado por edital. O
art. 457 do CPP diz que o julgamento não será paralisado, o plenário será realizado estando
presente ou não. Se o acusado preso não for conduzido para o plenário, o julgamento
será adiado para o primeiro dia desimpedido contado de sua reunião. Agora, poderá o
acusado ou seu defensor se manifestar que ele não quer se fazer presente. É direito do
réu está ou não presente no julgamento, estando preso ou não. É o que a doutrina
chama de julgamento de cadeiras vazias. Ele pode ser julgado a revelia, se assim quiser.
Hoje, pode-se ter plenário sem que o réu esteja presente. Alguns autores sempre
defenderam isso.

h) Falta de intimação das testemunhas. O art. 422 do CPP estabelece que o MP e as partes
serão intimadas para apresentar testemunhas no prazo de 5 dias, após a preclusão da
pronúncia, ou seja, não sendo ela mais sujeita a recurso.

i) Não se façam presente o número mínimo de 15 jurados, para a constituição do Júri. A


inobservância desse número mínimo de jurados é causa de nulidade absoluta, tendo em
vista que se destina a formação de uma composição heterogênea de jurados e a garantir
julgamento imparcial do acusado.

j) Falta do sorteio de jurados do conselho de sentença e a sua incomunicabilidade que diz


respeito ao fato criminoso. Agora, os jurados podem conversar sobre outros assuntos que
não diversos ao fato criminoso.

k) Falta dos quesitos e de suas respectivas respostas. Os vícios mais comuns são os quesitos
complexos: é aquele em que o jurado responde num só quesito a mais de uma pergunta ou a
inversão da ordem de quesitação prevista no CPP.

l) Falta de acusação e a defesa na sessão de julgamento. Aqui prevalece o princípio da


oralidade, devendo a defesa se fazer presente, assim como a acusação.

m) O vício mais freqüente numa sentença é a ausência de fundamentação. No Júri, a


fundamentação é bem peculiar, tendo em vista que esta não é necessária no veredicto dos
jurados, devendo o juiz se limitar a trazer os fundamentos necessários tão-somente para a
dosimetria da pena, não lhe cabendo fazer juízo valorativo sobre o julgamento realizado
pelos jurados.

1.6. Súmulas:
STF:
712: “É nula a decisão que determina o desaforamento de processo da competência do júri
sem audiência da defesa. 

321
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

708: “É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do
único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro.

707: “Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao


recurso interpôs da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo”.

706: “É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por


prevenção”.

523: “No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua
deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”.
 
366: Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora na
transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.

361: No processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se


impedido o que tiver funcionado, anteriormente, na diligência de apreensão. Um só perito
não oficial. Ver art. 159 e §§ do CPP.

351: É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz
exerce a sua jurisdição.

160: É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso
da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.

155: É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de


carta precatória para inquirição de testemunha.

1.7. Informativos do STF

- Nº 705
Réu assistido por advogado suspenso/licenciado
Qual é a consequência processual do réu ter sido defendido no processo por um advogado
que esteja suspenso ou licenciado da OAB? O art. 4º, parágrafo único, da Lei 8.906/94:
afirma que são NULOS os atos praticados por advogado impedido, suspenso, licenciado ou
que esteja exercendo atividade incompatível com a advocacia. Vale ressaltar, no entanto,
que existem julgados do STJ e do STF afirmando que esta nulidade somente deverá ser
declarada se ficar comprovada a existência de prejuízo. Nesse sentido: STJ 6ª Turma. AgRg
no REsp 1084495/RS, julgado em 06/11/2012; STF 1ª Turma. HC 99457, julgado em
13/10/2009. No julgado noticiado neste Informativo, a 1ª Turma do STF declarou nulos os
atos processuais praticados por advogado com inscrição suspensa na OAB. Deve-se
destacar que o advogado estava suspenso apenas por conta de débitos com a Ordem e
mesmo assim foi declarada a nulidade. HC 110271/ES, rel. Min. Marco Aurélio,
7/5/2013.

322
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

- Nº 695

Direito do réu de comparecer à audiência, sob pena de nulidade absoluta


O acusado, embora preso, tem o direito de comparecer, de assistir e de presenciar os atos
processuais, notadamente aqueles que se produzem na fase de instrução do processo penal.
A violação a este direito enseja nulidade absoluta do ato realizado sem a sua presença. HC
111728/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 19.2.2013.

1.8. Informativos do STJ


Inf. nº 531:

PROCESSO PENAL. REFERÊNCIA À DECISÃO DE PRONÚNCIA DURANTE OS


DEBATES NO JÚRI. As referências ou a leitura da decisão de pronúncia durante os debates
em plenário do tribunal do júri não acarretam, necessariamente, a nulidade do julgamento, que
somente ocorre se as referências forem feitas como argumento de autoridade que beneficiem ou
prejudiquem o acusado. AgRg no REsp 1.235.899-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, julgado em 5/11/2013 (Informativo nº 0531).

Inf. nº 530:

DIREITO PROCESSUAL PENAL. UTILIZAÇÃO DE TERMOS MAIS FORTES E


EXPRESSIVOS EM SENTENÇA. A utilização de termos mais fortes e expressivos na
sentença penal condenatória – como “bandido travestido de empresário” e “delinquente
de colarinho branco” – não configura, por si só, situação apta a comprovar a ocorrência
de quebra da imparcialidade do magistrado. Com efeito, o discurso empolgado, a utilização
de certos termos inapropriados em relação ao réu ou a manifestação de indignação no tocante
aos crimes não configuram, isoladamente, causas de suspeição do julgador. Ademais, as causas
de suspeição de magistrado estão dispostas de forma taxativa no art. 254 do CPP, dispositivo
que não comporta interpretação ampliativa. REsp 1.315.619-RJ, Rel. Min. Campos Marques
(Desembargador convocado do TJ-PR), julgado em 15/8/2013.

Inf. nº 513:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. SUSTENTAÇÃO ORAL. PEDIDO DE
ADIAMENTO DO JULGAMENTO EM RAZÃO DE OUTRO COMPROMISSO DO
ADVOGADO. Não é nulo o julgamento colegiado de mandado de segurança por ausência
de sustentação oral no caso em que a defesa pede seu adiamento apenas na véspera da
sessão, declinando, para tanto, a necessidade de estar presente em outro compromisso
profissional do qual já tinha conhecimento há mais de um mês. Em primeiro lugar, é
facultativo o deferimento do pedido de adiamento da apreciação de processo por órgão
colegiado. Além disso, não é possível acolher o referido pedido sem que se apresente
motivação adequada, apta a demonstrar a efetiva necessidade de modificação da pauta, o que
não ocorre na hipótese em que o requerente, incidindo em clara desídia, sequer apresenta sua
motivação em tempo hábil, não diligenciando nem mesmo em prol da apreciação tempestiva da
petição pelo relator do processo. Por fim, é de destacar que, de acordo com o art. 565 do CPP,
nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para a qual tenha
concorrido. RMS 30.172-MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
4/12/2012.

323
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

1.7. Questões de Prova: questão 117 da prova Objetiva do 25º CPR; questão 116 da prova
Objetiva do 26º CPR.

117. Sujeito preso em flagrante como incurso nas penas do artigo 289 do CP,
identifica-se com o nome de Adélio Pimenta, apresentando documento, sendo colhidas
suas impressões digitais. denunciado pelo procurador da república, é citado
pessoalmente, apresenta defesa preliminar e comparece à audiência de instrução e
julgamento, quando lhe é concedida a liberdade provisória. Na sentença condenatória,
proferida na forma do artigo 403, § 3° do CPP, o juiz decreta a sua prisão preventiva,
tendo em vista a notícia de que o réu se envolvera em nova fraude. Ao ser cumprido o
mandado de prisão, verifica-se que o nome Adélio Pimenta pertence a pessoa diversa
que, em tempos passados, perdera parte de seus documentos. o processo correra em
nome de pessoa falsamente identificada e o verdadeiro nome do acusado é
desconhecido. estando os autos para julgamento da apelação, o tribunal deverá:

a) ( ) anular todo o processo, já que desde a denúncia a ação se desenvolveu em face de


parte ilegítima, o que configura nulidade absoluta.

b) ( ) anular somente a sentença, uma vez que o erro na identificação do réu não invalida o
processo, tendo em vista sua citação pessoal e sua presença nos atos processuais.

c) ( ) considerar como mero erro material e efetuar a correção no nome da parte, em grau de
apelação.

d) ( ) reformar a sentença e absolver Adélio, já que verdadeiramente não foi ele o autor do
crime. Gabarito Oficial: B.

116. Analise os enunciados seguintes:

I - tratando-se de recursos contra sentença absolutória, mesmo as nulidades absolutas não


poderão ser reconhecidas ex officio quando em prejuízo da defesa. Tal se dá, inclusive, se
houver vício de incompetência absoluta, não alegado pelo recorrente, em recurso que
objetive a reforma da sentença absolutória;

II - as nulidades absolutas dizem respeito à violação a regras e princípios fundamentais do


processo, configurando verdadeiro interesse público. EM FUNÇÃO DISSO, não precluem
e, como regra, não se submetem aos efeitos da coisa julgada.

III - é relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção;

IV - salvo quando nula a decisão de primeiro grau o acórdão que provê o recurso contra a
rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela;

V - é nula a decisão que determina o desaforamento de processo da competência do júri


sem prévia audiência da defesa.

ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:

324
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

a) ( ) Todos os enunciados são verdadeiros;

b) ( ) Há um enunciado falso;

c) ( ) Existem dois enunciados falsos;

d) ( ) Existem três enunciados falsos.

Gabarito oficial: A

1.6. Leitura Complementar: as obras acima referidas e os precedentes do STJ e STF.

325
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

19.c. Procedimento relativo aos crimes de Responsabilidade (Lei n.º


1.079/50 e Decreto-Lei nº 201/67).
Principais Obras consultadas: Resumo do 27º CPR. Baltazar Júnior, José Paulo. Crimes
Federais. 7ª Edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. Jesus, Damásio Evangelista
de. Crimes de responsabilidade, in: Revista Justitia, São Paulo: 1988. Malcher, José Lisboa
da Gama. Manual de Processo Penal. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2009.Reale,
Miguel; Reale Jr., Miguel. Do processo contra o Presidente da República por crime de
responsabilidade. Revista do TRF da 1ª Região, 2006.Tourinho Filho, Fernando da Costa.
Processo Penal, vol. 4. 34ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2012. Marmelstein. George.
Disponível em: http://www.georgemlima.xpg.com.br/impeachment2.pdf.

Legislação básica: Lei nº 1.079/50; Lei nº 7.106/83 e Decreto- Lei nº 201/67. Súmulas do
STF: 208, 209, 703,702, 722. Súmulas do STJ: 164.

Ver ainda ponto 11 B – Direito Penal

Conforme ensina Damásio E. de Jesus, a expressão "crime de responsabilidade"", na


legislação brasileira, apresenta um sentido ambíguo, uma vez que se refere a crimes e a
infrações político-administrativas não sancionadas com penas de natureza criminal. Para o
autor, são crimes de responsabilidade próprios, ou em sentido estrito, os crimes previstos no
Código Penal e na legislação como praticados por funcionários públicos, no exercício da
função (ex.: peculato, concussão, corrupção passiva; Lei nº 4898/65, crimes praticados por
Prefeitos, previstos no Decreto-Lei 201/67 – art. 1º). Já os crimes de responsabilidade
impróprios, na verdade não são crimes, mas sim infrações político-administrativas e estão
previstos na Lei nº 1.079/50, Lei 7.106/83 e no Dec.Lei 201/67, quando trata desse tipo de
infração – art. 4º).

A Lei 1.079/50 aplica-se aos crimes de responsabilidade do Presidente da República,


Ministro de Estado (inclusive o Advogado-Geral da União e o Presidente do BACEN –
art.25, parágrafo único da Lei nº 10.683/93 concede status de Ministro de Estado), Ministro
do STF e PGR. A lei 10.828/00 acrescentou o art. 39-A na lei 1.079/50, ampliando o rol de
agentes sujeitos à responsabilização, conforme parágrafo único do artigo supra: "o disposto
neste artigo aplica-se aos Presidentes, e respectivos substitutos quando no exercício da
Presidência, dos Tribunais Superiores, dos Tribunais de Contas, dos Tribunais Regionais
Federais, do Trabalho e Eleitorais, dos Tribunais de Justiça e de Alçada dos Estados e do
Distrito Federal, e aos Juízes Diretores de Foro ou função equivalente no primeiro grau de
jurisdição".

O julgamento é feito pelo Senado (trata-se de infração político-administrativa) e a sanção é


a perda do cargo e a inabilitação para o exercício de função pública (a lei diz 5 anos, mas a
CR diz 8 anos).

O conceito de crime de responsabilidade, bem como do seu processo e julgamento é


competência privativa da União (art. 22, I, CR), conforme reafirma o STF – ADI 4190,
ADI 2220, ADI 3279. Nesse sentido: Súmula 722/STF: "São da competência legislativa da
união a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas
326
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

normas de processo e julgamento". O STF diz que estas penas são autônomas: se houver
renúncia, pode ser aplicada a inabilitação, apesar de não haver “perda do cargo”.

1.1. Rito dos Crimes de Responsabilidade na lei 1.079/50: de acordo com tal legislação
(art. 14-38), tem-se o seguinte rito:

1) “DENÚNCIA”: é o mecanismo por meio do qual o cidadão leva ao conhecimento da


Câmara dos Deputados o fato (art. 14);

2) COMISSÃO ESPECIAL (CD): criada para emitir parecer, em 10 dias, abordando se a


“denúncia” será objeto de deliberação;

3) VOTAÇÃO: lido o parecer na Casa, a denúncia será objeto de votação, necessidade de


quórum de 2/3 (art.51, I, CF). Antes disso, porém, há um debate, em que 5 representantes
de cada partido poderão falar, por 1 hora, sobre o parecer, assegurando-se à comissão
resposta a todos os apontamentos;

4) ACUSAÇÃO: admitida a denúncia, considera-se decretada a acusação pela CD. Nos


termos do art.86, §1º, II, o Presidente ficará suspenso das suas funções após a instauração
do processo pelo Senado.

(5) ENVIO AO SENADO: sendo crime de responsabilidade, vai para o SF, com a
constituição de comissão de 3 membros (da CD) para acompanhar a acusação. OBS: para o
Ministro de Estado, só vai para o Senado se for conexo com crime de responsabilidade do
Presidente. Do contrário, vai para o STF, se houver denúncia do PGR, tal qual ocorre no
crime comum. Para Miguel Reale e Miguel Reale Júnior deve se dar uma nova leitura a
essa previsão de comissão de 3 membros da CD pois isto importaria em converter a Câmara
em órgão acusatório, em contradição manifesta com o papel que desempenhou dando justa
interpretação à Carta de 1988, que deixou de conferir-lhe - como faziam os Estatutos de
1946 e 1969 - processo de acusação (judicium accusationis). (Reale, pág. 30). Segundo
José Afonso da Silva, não cabe ao Senado Federal decidir se instaura ou não o processo.
Quando o texto do art. 86 diz que, admitida a acusação por dois terços da Câmara, será o
presidente submetido a julgamento perante o Senado Federal nos crimes de
responsabilidade, não deixa a este possibilidade de emitir juízo de conveniência de
instaurar ou não o processo, pois que esse juízo de admissibilidade refoge à sua
competência e já fora feito por quem cabia (Câmara dos Deputados).

6) NOTIFICAÇÃO DO ACUSADO: o Presidente do Senado Federal intima o acusado para


comparecer;

7) PROCEDIMENTO: sob presidência do Presidente do STF, são lidas as teses de acusação


e defesa e inquiridas testemunhas (podendo haver acareação), há debates orais de até 2
horas.

8) VOTAÇÃO: após os debates, é feito um relatório pelo Presidente do STF, o qual será
submetido a votação entre senadores.
327
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

9) CONDENAÇÃO: a condenação implica perda do cargo e inabilitação para o exercício


de função pública pelo prazo de 8 anos. A condenação somente será proferida por 2/3 dos
votos do Senado Federal, nos termos do art. 52, parágrafo único da CF.

Aplica-se subsidiariamente o regimento interno das casas e o CPP. Para o PGR e Ministro
do STF (art. 44-73), o rito é semelhante, com uma diferença: o feito começa já no SF (não
há autorização da CD). O próprio SF vota com base em parecer de comissão especial, se a
“denúncia” será ou não objeto de deliberação. A condenação, pela lei, depende de “maioria
simples”, mas a Constituição Federal diz que a condenação se dá pelo quórum de 2/3 (art.
52, parágrafo único).

1.2. Rito dos Crimes de Responsabilidade dos Governadores na lei 1.079/50:

A lei traz também procedimento de crimes de responsabilidade de Governador (art.74 a


79), que nos crimes comuns, responde perante o STJ. No que toca a competência para
julgamento nos crimes de responsabilidade a questão é polêmica. Muitos doutrinadores
defendem que deve ser observado o disposto na Constituição Estadual, no entanto esse não
é o entendimento do Pretório Excelso. Conforme a jurisprudência consolidada do STF
compete à União estabelecer as regras sobre o procedimento nos crimes de
responsabilidade, não podendo o legislador estadual definir sujeitos de responsabilidade,
crimes, órgãos jurisdicionais e processo, que não estejam previstos na lei federal.

Assim, entre as regras da Lei 1.079/50 e as regras da Constituição Estadual, no que forem
conflitantes, aplica-se a primeira. Na ADI 1628 ficou definido que o órgão competente para
julgar os Governadores por crime de Estado é o Tribunal Especial previsto no art.78, §3º da
lei 1.079/50, o qual possui composição mista (5 membros do Legislativo e 5
desembargadores sob a presidência do Presidente do TJ local. Salienta-se que, deve se
aplicar o disposto no art. 86 da CF no que toca ao quórum para o juízo de admissibilidade
da denúncia, devendo, assim, haver manifestação favorável de 2/3 da Assembléia
Legislativa para que o Governador seja submetido a julgamento perante o Tribunal
Especial, conforme decisão proferida na Adin 1634.

Resumindo, segundo Marmelstein, tem-se o seguinte procedimento nos crimes de


responsabilidade dos governadores:

1. O cidadão faz o protocolo da denúncia perante a Assembléia Legislativa (apresentação


da denúncia);

2. É formada, na Assembléia Legislativa, comissão especial para dar parecer sobre se a


denúncia deve ou não ser objeto de deliberação, conforme dispuser o Regimento Interno da
Assembléia (juízo político de mera conveniência e oportunidade, bem como de análise dos
aspectos formais da denúncia);

3. Antes de submeter o parecer à apreciação do Plenário, a Comissão Especial deverá, em


obséquio ao princípio da ampla defesa e do contraditório, conceder aos acusados a
possibilidade de contraditar a denúncia, sem contudo, iniciar o “processo” propriamente
328
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

dito;

4. Apresentado o parecer, a Assembleia deliberará, em escrutínio aberto, acerca da


admissibilidade ou não da denúncia, atuando tal qual a Câmara dos Deputados;

5. Admitida a acusação do Governador, por dois terços da Assembleia Legislativa, será ele
submetido a julgamento perante o tribunal especial de que fala o art. 78, da Lei 1.079/50;

6. Instaurado o processo pelo tribunal especial, ficará o Governador suspenso


temporariamente de suas funções;

7. Após o regular processamento, em que se observarão todas as garantias processuais


decorrentes do due process of law (contraditório, ampla defesa, publicidade, motivação
etc), aplicando-se, no que couber, o Código de Processo Penal, o tribunal especial, que
ocupará papel semelhante ao do Senado Federal, no julgamento do Presidente da
República, cujo veredicto pela procedência da denúncia dependerá do voto favorável de
dois terços dos membros do Tribunal Especial.

Ainda de acordo com a ADI 1628, decidiu-se que o prazo de inabilitação para as
autoridades estaduais é de cinco anos, não sendo aplicável o prazo de 8 anos, pois a
Constituição não cuidou da matéria no que diz respeito a tais autoridades, estando, assim,
em vigor o disposto no art.78 da lei 1079.

1.3. Rito dos Crimes de Responsabilidade do Decreto-lei 201/67:

O DL 201/67 trata da responsabilidade de agentes políticos em dois aspectos:

a) infrações político-administrativas de Prefeitos/Vereadores, sujeitas a julgamento pelas


Câmaras de Vereadores, com sanção de perda do mandato (art. 4º-7º). O rito nessas
infrações consta no art.5º do Decreto.

b) crimes de responsabilidade de Prefeitos: crimes comuns, de ação pública incondicionada


do MP, julgados pelo Judiciário, acarretando pena privativa de liberdade, perda do cargo e
a inabilitação para o exercício de função pública por 5 anos (art. 1º).

A denúncia não fica subordinada a pronunciamento prévio da Câmara de Vereadores (STJ,


REsp. 52803, 6ª Turma, 1994). Não há que se falar em declaração política da perda do
mandato pela Câmara de Vereadores como condição para o oferecimento da denúncia (STJ,
REsp. 38706, 6ª Turma, 1996).

À época da edição da lei, não havia prerrogativa de foro para Prefeito. Hoje, ele é julgado
por Tribunal (art.29, X, CF). Assim, tem-se a situação do Prefeito quando do recebimento
da denúncia:

1) Prefeito que ainda está no mandato: observa-se o rito da Lei 8.038/90 (art. 1º-12) c/c Lei
8.658/93;

329
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

2) Prefeito que não está mais no mandato: não possui foro (os autos descem à primeira
instância) e segue o rito do DL 201, que é “comum” (correspondente ao ordinário, antes da
Lei 11.719/08), com as seguintes modificações:

a) há “defesa prévia” do acusado, em 5 dias, antes do recebimento da denúncia – se não for


encontrado, será nomeado defensor, para apresentação da defesa (art. 396, CPP). A
ausência de intimação para apresentação de defesa prévia é causa de nulidade absoluta
(REsp. 92.209, 5ª Turma, 2009).

b) recebida a denúncia, há manifestação obrigatória sobre prisão preventiva: é a previsão do


inciso II do art. 2º, no entanto, no regime atual não há necessidade do exame de prisão
preventiva de forma obrigatória, podendo ser decretada, assim como nos outros crimes de
forma compatível com sua natureza cautelar. A razão histórica para essa esdrúxula previsão
é de que ao tempo da edição do DL 201/67 a prisão preventiva era obrigatória para os
crimes apenados com pena de reclusão em período igual ou superior a 10 anos, o que veio a
ser alterado com a Lei nº 5349/67 (Baltazar, pág. 352).

c) da concessão ou denegação da preventiva cabe recurso em sentido estrito, com efeito


suspensivo, em autos apartados (5 dias).

A pena de inabilitação para o exercício da função pública prevista no art. 1º, § 2º, do DL n.
201/1967, foi elevada ao status de pena restritiva de direitos com o advento da Lei n.
7.209/1984, sendo, portanto, autônoma, em relação à privativa de liberdade. Além disso,
aquela possui natureza jurídica distinta desta, devendo os seus prazos prescricionais fluírem
de forma diversa.” (REsp 1.182.397-RS, 5ª Turma, 2012).

Os delitos referidos no art. 1º do Dec.-lei 201/67 só podem ser cometidos por prefeito, em
razão do exercício do cargo ou por quem, temporária ou definitivamente, lhe faça às vezes.
Assim, o presidente da Câmara Municipal, ou os vereadores, ou qualquer servidor do
Município não podem ser sujeito ativo de nenhum daqueles crimes, a não ser como
copartícipe (...)" (RHC 107675, Primeira Turma, 2011).

De acordo com a Súmula 702 do STF: “A competência do Tribunal de Justiça para julgar
Prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais
casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.” Logo, em
se tratando de crime que atraia a competência da Justiça Federal, ele será julgado pelo TRF,
já em sendo o crime eleitoral, compete ao TRE processar a ação, etc.

1.4. Questões de Prova: questão 103 Objetiva do 26º CPR.

103. ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA:

a) ( ) Os Vereadores podem responder pelos crimes definidos no Decreto-lei n. 201/67


somente quando forem alcançados pelo disposto no art. 29 do Cód. Penal;

b) ( ) Sentença penal condenatória por crimes contra as finanças públicas, embora constitua

330
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

título executivo no cível não faz coisa julgada extrapenal para abranger o ressarcimento de
dano e multa civil prevista na Lei n. 8.429/92 nem a multa aplicável pelo Tribunal de
Contas;

c) ( ) A Lei n. 10.028, de 2000, definiu crimes comuns e crimes de responsabilidade;

d) ( ) A Lei n. 1.079, porque editada em 1950, é inaplicável aos presidentes dos Tribunais
de Contas.

Gabarito oficial: D

1.5. Leitura Complementar: obras acima referidas.

331
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

20.a. Prova no Processo Penal: princípios e disposições gerais.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 27º CPR. Lima, Renato Brasileiro de.
Manual de Processo Penal. 2ª edição. Volume único. Salvador: Ed. Juspodivm, 2014.

Legislação básica: Art. 5º, LV, LVI e LVIII, CF; Arts. 7º, 155 a 250, 399, § 2º, e 564, III,
'b', CPP; Art. 50, § 1º, Lei 11.343/2006; Lei 9.807/1999 (proteção à testemunha); Lei
11.900/2009 (interrogatório por videoconferência); Lei 12.037/2009 (identificação
criminal); e Lei 12.654/2012 (identificação genética para fins criminais).

1. Conceito.

Segundo lecionam TÁVORA e ALENCAR, prova consiste em tudo aquilo que contribui
para a formação do convencimento do magistrado (o CPP não traz um rol exaustivo de
meios de prova). NUCCI (2011, p. 388), por sua vez, alerta que prova pode ser: a) o ato de
provar a exatidão ou a verdade do fato alegado no processo; b) o meio, o instrumento pelo
qual se faz essa prova (ex.: prova testemunhal); c) o resultado ou produto extraído da
análise dos instrumentos de prova.

Objetivo da prova: reconstrução dos fatos investigados no processo, buscando uma verdade
judicial, uma certeza jurídica, que pode ou não corresponder à realidade histórica.

2. Teoria da prova.

Trata-se do estudo dos princípios e regras aplicáveis ao estudo da prova, sem a análise dos
meios de prova.

2.1 Princípios Regentes:

a) Contraditório e ampla defesa: as partes tem direito à prova. Necessidade de efetiva


participação do réu na formação do convencimento judicial. A ampla defesa é que autoriza
o ingresso de provas ilícitas favoráveis à defesa. Doutrina de Élio FAZZALARI: paridade
de armas.

b) Identidade física do juiz: importante inovação trazida pela Lei nº 11.719/2008 ao art.
399, § 2º, CPP. Se o provimento judicial final deve demonstrar sempre um juízo de certeza,
quando condenatória a sentença, o juiz da instrução está mais apto a proferir a sentença.
Assim, “o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença”. Para PACELLI, o art.
132 do CPC é aplicável subsidiariamente ao processo penal.

c) Verdade material: tradicionalmente, diz-se que o processo civil contenta-se com uma
certeza derivada da simples ausência de impugnação aos fatos articulados na inicial, ao
passo que o processo penal não admite a verdade formal, exigindo-se a materialização da
prova pela acusação (as correntes mais atuais criticam essa noção tradicional de verdade
formal/verdade material). Segundo PACELLI, toda verdade judicial é sempre uma verdade

332
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

processual. Nesse passo, Brasileiro entende que se trata do princípio da busca da verdade,
ou seja, buscar a reconstituição dos fatos imputados ao acusado de forma mais próxima
possível da que real e efetivamente aconteceram, já que impossível é reproduzir
fidedignamente tais fatos.

d) Inocência: compete à acusação todo o ônus probatório (deve provar a existência do


crime, bem como sua autoria). Para PACELLI, o novo art. 156, I, CPP, é inconstitucional,
por ferir o modelo acusatório. O juiz não deve tutelar a investigação, nem tomar qualquer
providência de ofício nesta fase. Quanto ao art. 156, II, CPP, o juiz não pode desigualar as
forças produtoras da prova no processo, sob pena de violação ao contraditório, ampla
defesa e igualdade das partes – apenas será permitido fazê-lo quando em benefício da
defesa ou quando existir dúvida sobre prova produzida (não em caso de ausência de prova,
quando a absolvição se impõe).

e) Livre convencimento motivado: o juiz não está preso a nenhum critério de valoração
prévia da prova, mas deve declinar as razões pelas quais optou por tal ou qual prova. Não
se aplica ao júri (íntima convicção).

3. Questões gerais.

- O novo art. 155, CPP, estabelece impedimento ao magistrado de fundar condenação


exclusivamente em material colhido na fase de investigação (exceto as provas antecipadas e
não repetíveis – ex.: perícias técnicas).

- Segundo PACELLI, é legítima a exigência de meios de prova específicos para a


constatação de determinados fatos, se justificada pela proteção de valores reconhecidos pela
ordem jurídica. Não se trata de hierarquia entre as provas (prova tarifada), mas de meio
mais adequado para a prova de determinado fato. É o caso da vedação às provas ilícitas (art.
5º, LVI, CR e art. 157, CPP) ou das limitações quanto à matéria relativa ao estado das
pessoas.

- Quem faz a alegação é que deve provar (art. 156, CPP). Assim, a acusação deve fazer
prova quanto à autoria e à materialidade, mas à defesa incumbe a prova acerca de
excludente eventualmente alegada.

- A regra no processo penal é que a prova pode ser produzida a qualquer tempo, incluindo a
fase recursal, e até mesmo em segunda instância, respeitado o contraditório. Exceção:
antecedência de 3 dias úteis do plenário para juntar documentos no procedimento do júri
(art. 479, CPP).

- O art. 157, CPP fala em provas ilícitas como sendo aquelas obtidas com violação a
normas constitucionais ou legais; a doutrina, contudo, distingue: a) provas ilícitas seriam
aquelas obtidas com violação ao direito material; b) provas ilegítimas são as que violam
normas de direito processual.

- Teoria dos frutos da árvore venenosa: o atual art. 157, § 1º, CPP, dispõe: “são também
333
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de
causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte
independente das primeiras”. Fonte de prova independente: é a prova não relacionada com
os fatos que geraram a produção da prova contaminada. Descoberta inevitável: admite-se a
prova, ainda que presente eventual relação de causalidade ou de dependência entre as
provas (a ilícita e a descoberta), exatamente em razão de se tratar de meios de prova
rotineiramente adotados em determinadas investigações. Com isso, evita-se a contaminação
da totalidade das provas que sejam subsequentes à ilícita.

- No que tange aos delitos materiais, há que se ressaltar a necessidade de feitura de exame
de corpo de delito, haja vista que são crimes que deixam vestígios. Tal exame visa à
constatação da materialidade delitiva. No ponto, merece destaque a possibilidade de
realização do aludido exame de forma direta (através do exame cadavérico) ou indireta (que
consiste no raciocínio utilizado sobre o ocorrido, através das demais provas realizadas em
juízo, em virtude da impossibilidade de realização do exame de corpo de delito direto).

4. Súmulas

STJ:

455: “A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do
CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso
do tempo”.

5. Pontos relevantes.

- O STJ, sistematicamente, aceita a gravação da conversa feita por um dos interlocutores,


sem o consentimento do outro, com base na aplicação do p. da proporcionalidade (STJ, HC
4654/RS; RHC 5944/PR).

- A jurisprudência do STF e a doutrina nacional majoritária (na contramão da tendência


mundial, relatada por JOSÉ ADÉRCIO citado por PACELLI, p. 314) não aceitam a
possibilidade de quebra do sigilo bancário diretamente pelo MP (STF, RECR 215.301/CE).
No MS 21.729-4, entendeu-se que “em se tratando de informações relativas a desvios de
verbas públicas federais, o MP poderia obter tais informações diretamente da instituição
financeira”.

- Teoria do encontro fortuito de provas: quando a prova de determinada infração penal é


obtida a partir da busca regularmente autorizada para a investigação de outro crime. O STF
já reconheceu a licitude da prova de outro crime, diverso daquele investigado, obtida por
meio de interceptação telefônica autorizada, de início, para a apuração de crime punido
com reclusão (AI 626214 AgR).

- No caso Glória Trevi, artista mexicana que alegou ter sido vítima de estupro nas

334
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

dependências da PF, o STF deferiu a produção de exame de DNA na placenta da gestante,


recolhida sem a autorização desta, com fundamento em uma necessária ponderação entre
valores constitucionais contrapostos, admitindo, então, a aplicação da proporcionalidade na
produção da prova (STF, RCL 2.040/DF).

- HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES.


MINORANTE DO § 4º DO ART. 33 DA LEI N. 11.343/2006. QUANTIDADE E
VARIEDADE DA DROGA, MAUS ANTECEDENTES E DEDICAÇÃO À ATIVIDADE
CRIMINOSA. INAPLICABILIDADE DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO. PRESUNÇÃO
HOMINIS. POSSIBILIDADE. INDÍCIOS. APTIDÃO PARA LASTREAR DECRETO
CONDENATÓRIO. SISTEMA DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO.
REAPRECIAÇÃO DE PROVAS. DESCABIMENTO NA VIA ELEITA. ELEVADA
QUANTIDADE DE DROGA APREENDIDA. CIRCUNSTÂNCIA APTA A AFASTAR
A MINORANTE PREVISTA NO ART. 33, § 4º, DA LEI Nº 11.343/06, ANTE A
DEDICAÇÃO DO AGENTE A ATIVIDADES CRIMINOSAS. ORDEM DENEGADA. 1.
O § 4º do artigo 33 da Lei de Entorpecentes dispõe a respeito da causa de diminuição da
pena nas frações de 1/6 a 2/3 e arrola os requisitos necessários para tanto: primariedade,
bons antecedentes, não dedicação à atividades criminosas e não à organização criminosa. 2.
Consectariamente, ainda que se tratasse de presunção de que o paciente é dedicado à
atividade criminosa, esse elemento probatório seria passível de ser utilizado mercê de,
como visto, haver elementos fáticos conducentes a conclusão de que o paciente era dado à
atividade delituosa. 3. O princípio processual penal do favor rei não ilide a possibilidade de
utilização de presunções hominis ou facti, pelo juiz, para decidir sobre a procedência do ius
puniendi, máxime porque o Código de Processo Penal prevê expressamente a prova
indiciária, definindo-a no art. 239 como "a circunstância conhecida e provada, que, tendo
relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras
circunstâncias". Doutrina (LEONE, Giovanni. Trattato di Diritto Processuale Penale. v. II.
Napoli: Casa Editrice Dott. Eugenio Jovene, 1961. p. 161-162). Precedente (HC 96062,
Relator (a): Min. MARÇO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 06/10/2009, DJe-213
DIVULG 12-11-2009 PUBLIC 13-11-2009 EMENT VOL-02382-02 PP-00336). 4.
Deveras, o julgador pode, mediante um fato devidamente provado que não constitui
elemento do tipo penal, utilizando raciocínio engendrado com supedâneo nas suas
experiências empíricas, concluir pela ocorrência de circunstância relevante para a
qualificação penal da conduta. 5. A criminalidade dedicada ao tráfico de drogas organiza-se
em sistema altamente complexo, motivo pelo qual a exigência de prova direta da dedicação
a esse tipo de atividade, além de violar o sistema do livre convencimento motivado previsto
no art. 155 do CPP e no art. 93, IX, da Carta Magna, praticamente impossibilita a
efetividade da repressão a essa espécie delitiva. 6. O juízo de origem procedeu a atividade
intelectiva irrepreensível, porquanto a apreensão de grande quantidade de droga é fato que
permite concluir, mediante raciocínio dedutivo, pela dedicação do agente a atividades
delitivas, sendo certo que, além disso, outras circunstâncias motivaram o afastamento da
minorante. 7. In casu, o Juízo de origem ponderou a quantidade e a variedade das drogas
apreendidas (1,82g de cocaína pura, 8,35g de crack e 20,18g de maconha), destacando a
forma como estavam acondicionadas, o local em que o paciente foi preso em flagrante (bar
de fachada que, na verdade, era ponto de tráfico de entorpecentes), e os péssimos
antecedentes criminais, circunstâncias concretas obstativas da aplicação da referida
minorante. 8. Ordem denegada. (STF - HABEAS CORPUS: HC 111666 MG. Relator(a):
335
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Min. LUIZ FUX. Julgamento: 08/05/2012. Órgão Julgador: Primeira Turma Publicação:
DJe-100 DIVULG 22-05-2012 PUBLIC 23-05-2012. Parte(s): MIN. LUIZ FUX,
DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, LACY GAVIÃO DE CARVALHO JÚNIOR,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL).

Prova oral MPF: 11. Qual foi o sistema adotado acerca das provas ilícitas no Brasil?

12. Apresente exceções à proibição do uso de provas ilícitas.

336
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

20.b. Suspensão condicional do processo.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 27º CPR

Legislação básica: Lei n.9.099/95 e artigo 366 do Código de Processo Penal.

A primeira hipótese de suspensão do processo penal é aquela prevista no art. 366 do CPP.
A aludida norma dispõe que se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz
determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso,
decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

Urge consignar que o retromencionado instituto não é aplicável aos crimes da Lei nº
9.613/98 (Crimes de Lavagem de Dinheiro), mesmo com a alteração trazida pela Lei nº
12.683/12. Assim, nos casos previstos na mencionada norma, deve o acusado que não
comparecer, nem constituir advogado, ser citado por edital, prosseguindo o feito até o
julgamento, com a nomeação de defensor dativo (art.2º, §2º).

Há ainda a previsão contida no art. 89 da Lei 9099: Nos crimes em que a pena mínima
cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério
Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro
anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por
outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da
pena (art. 77 do Código Penal).

Com a mudança da pena máxima para os crimes de menor potencial ofensivo para 2 anos –
passível de transação (Lei 11.313/06, que unificou os prazos dos juizados estaduais e
federais), passou-se a discutir se não deveria mudar, por analogia, o prazo da suspensão
condicional do processo. O STJ, porém, afirmou a impossibilidade de se utilizar o patamar
de dois anos (RHC 12033). Pacelli concorda com o STJ, pois não é possível vislumbrar
uma subordinação jurídica entre os institutos da transação penal e da suspensão condicional
do processo, já que esta não pode ter sua aplicação condicionada a nenhuma imposição de
sanção penal prevista em lei.

A suspensão condicional do processo não acarreta total paralisação do processo, haja vista a
imposição de certas restrições de direitos que exigem comportamentos do réu. O que se
suspende é o curso regular do processo.

Pacelli não vê problema na proposta de suspensão no curso da ação penal, desde que não
haja sentença. Havendo já decisão definitiva, ainda que não passada em julgado, não
poderá, obviamente, ser realizada a suspensão, por impossibilidade lógica, tanto em relação
ao processo, já julgado, como em relação à própria existência da sentença. Ora, se o
tribunal baixasse os autos para o fim de ser realizada a suspensão do processo, a sentença
então proferida seria ignorada, como se fosse inexistente. O que poderia ser feito seria a
anulação da sentença, mas esta poderia não ter efeito algum, caso o juiz e o MP

337
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

entendessem não estarem presentes as hipóteses exigidas para a aplicação do art. 89. E
mais: ainda que o MP e o juiz acolhessem a ideia de suspensão do processo, o réu poderia
recuar da tese do recurso e não aceitar a suspensão.

De qualquer forma, após o encerramento da instrução, poderá ser excepcionalmente


admitida a suspensão condicional do processo, desde que ainda não sentenciado o processo,
pois o próprio CPP admite a reabertura da instrução nesta fase.

Se não for oferecida a suspensão condicional do processo, o acusado deverá adotar


providências imediatas, sob pena de preclusão. Deverá valer-se, então, de ações de natureza
autônoma, tendo em vista a ausência de previsão de recurso nominado. Assim, se apreciada
a questão, tanto pelo juiz quanto pelo MP, a recusa da suspensão deve ser impugnada
imediatamente, antes da instrução criminal; se não levantada, por quaisquer das partes ou
pelo juiz, somente uma providência liminar poderá permitir o conhecimento prévio da
questão antes da prolação da sentença condenatória, exceção feita à hipótese de
possibilidade da suspensão que decorrer de desclassificação. Nesta hipótese, poderá ser
feita a suspensão por ocasião da sentença, já que a desclassificação só ocorre neste
momento; deverá ser aberta vista ao MP.

SUSPENSÃO DO PROCESSO AO FINAL DA INSTRUÇÃO PROBATÓRIA – SÓ SE


HOUVER DESCLASSIFCAÇÃO

Por fim, mesmo que o MP proponha a suspensão, o juiz pode recusá-la. Neste caso, Pacelli
entende ser cabível, por analogia, o RESE fundado no art. 581, I (não recebimento da
denúncia).

A suspensão do processo será cabível em quaisquer procedimentos, incluindo os especiais,


desde que preenchidas as condições do art. 89. Exceções: Justiça Militar (art. 90-A da Lei
9099) e lei de violência doméstica.

No que tange à lei de violência doméstica, há que se tecer maiores esclarecimentos. Com
efeito, urge consignar que o artigo 41, da Lei 11.340/2006, preceitua: “Aos crimes
praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995”. Ocorre que a
referida vedação não abrange expressamente a hipótese da suspensão condicional do
processo.

Neste diapasão, insta salientar que o supracitado instituto não está atrelado aos Juizados
Especiais Criminais e aos crimes de menor potencial ofensivo, apenas por encontrar-se
estipulado no art. 89 da Lei nº 9.099/95.

Logo, a doutrina e a jurisprudência oscilam em aceitar a aplicação ou não da benesse da


suspensão condicional do processos aos feitos de que tratam a Lei Maria da Penha.

Suspensão condicional do processo no qual o réu se encontra fora da sede do juízo

338
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Se a denúncia ainda não foi recebida (já que o art. 89 prevê a aceitação da suspensão antes),
o juiz deprecado, mesmo após a aceitação do acordo (suspensão) pelo réu, deve devolver os
autos ao juiz originariamente competente, para que ali se realizem os aludidos atos
processuais (de recebimento de denúncia e suspensão do processo). Afinal, são atos de
conteúdo decisório.

Em caso de incompetência relativa, porém, poderá o juízo deprecado homologar a


suspensão e receber a denúncia, se houver convalidação. Já no caso de incompetência
absoluta, tanto o ato de recebimento da peça acusatória quanto o do interrogatório
eventualmente realizados serão irremediavelmente nulos.

Se a denúncia já houver sido recebida, nada impede que o juiz deprecado, diante da recusa
das condições oferecidas, proceda ao interrogatório, na forma e na medida em que for
deprecado o ato. Aliás, poderá o juízo de origem até mesmo delegar ao deprecado a fixação
de algumas das condições a serem cumpridas, sobretudo quando couber a este a
fiscalização de seu cumprimento, caso em que se poderá falar em uma espécie de
antecipação da homologação pelo juízo originariamente competente.

Suspensão do processo: direito ou discricionariedade?

É mais cômodo falar em discricionariedade do MP, ainda mais a partir da concepção de que
o Estado tem o direito de punir. Como vimos, Pacelli não concorda com a ideia de ius
puniendi, pois o Estado tem é o dever, seja da tutela, seja da prestação jurisdicional, pelo
Judiciário, como também da prestação da ação penal, pelo MP.

Ademais, quando a lei estabelece qualquer graduação ou alternativa à sanção penal


tradicional, o acusado ou qualquer pessoa que estiver sob ameaça de sua imposição tem
verdadeiro direito a não ser punido fora dos limites da lei. Ex: erro na dosimetria da pena –
réu tem direito a ver corrigido o equívoco (não só pela revisão criminal).

Por essas razões, Pacelli contesta a ideia da discricionariedade. Prova disso é que o
legislador estabelece requisitos objetivos (não haver condenação, não estar sendo
processado, cumprir os requisitos do sursis). Aliás, se o sursis é direito, porque a suspensão
do processo não o é?

Está certo que a titularidade para a iniciativa da suspensão do processo é do MP. Não
obstante, o STF, mesmo a reconhecendo, entende que a suspensão é direito subjetivo do
acusado (HC 75197). Já o STJ entende que se trata de faculdade do órgão de acusação.
Pacelli observa ainda que a suspensão condicional do processo, ao contrário da transação
(de iniciativa postulatória do MP), ocorre quando o juiz já está no exercício da jurisdição.
Isso porque, apesar de o art. 89 fazer referência à aceitação da proposta antes do
recebimento da denúncia, o fato é que a realidade tem demonstrado que a comprovação da
presença de todos os requisitos legais para a aplicação da suspensão somente irá ocorrer
quando já em curso a ação penal, isto é, quando já recebida a denúncia. Assim, a suspensão
estaria inteiramente ao alcance do Judiciário, não havendo razão plausível para que a recusa

339
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

do membro do MP à propositura (da suspensão) impeça a afirmação do citado direito


individual.

Destarte, se o MP se recusar a oferecer a proposta, cabe a aplicação do art. 28. Nesse


sentido, há a Súmula 696 do STF: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da
suspensão condicional do processo, mas se recusando o promotor de Justiça a propô-la, o
juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o
art. 28 do CPP”.

Em caso de aplicação da suspensão de ofício pelo juiz, cabe aplicação analógica do art.
581, I, utilizando-se a parte do RESE.

Questão interessante: é possível que se questione a denúncia mesmo após a suspensão


condicional do processo, em sede de HC. Além disso, o STF admitiu, no caso Francenildo-
Palocci, que a análise da suspensão condicional do processo se desse apenas após a
avaliação quanto ao recebimento da denúncia, a fim de não transformar aquela em loteria,
fazendo-se necessário exame da denúncia à luz do art. 41 do CPP.

Revogação e cumprimento da suspensão

A revogação pode ser obrigatória (processo por outro crime) ou facultativa (processo por
contravenção).

Uma vez cumpridas todas as exigências feitas ao acusado, deverá o juiz julgar extinta a
punibilidade, com todos os consectários daí decorrentes, ou seja, os efeitos da coisa julgada
material, por tratar se de solução do mérito da pretensão penal. É de se registrar, ainda, que
nessa hipótese nem sequer haverá condenação.

Do mesmo modo, por não haver participação do ofendido na suspensão do processo, nem
na fixação dos limites da reparação do dano, nada impede a rediscussão da matéria no juízo
cível, para o fim de apuração de eventual responsabilidade civil remanescente.

Ação privada

Segundo a Lei 9099/95, a suspensão do processo não é cabível na ação penal privada, no
curso da qual já seria possível a utilização de uma série de medidas tendentes à
disponibilidade da pretensão punitiva (perdão, renúncia, perempção).

Para Pacelli, porém, não haveria qualquer obstáculo na suspensão em ações privadas, pois,
em regra, a reparação do dano não implica renúncia ao direito de queixa, salvo nos
juizados.

No entanto, seria possível a aplicação das demais exigências, de modo que caberia a
aplicação in bonam partem.

340
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Nesse caso, todavia, e porque a admissibilidade da suspensão do processo para as ações


privadas decorreria de aplicação da analogia, não se poderia afirmar a existência de direito
do querelado, ou seja, do réu, à aplicação do art. 89. A conveniência e a oportunidade
permaneceriam com o querelante, tal como ocorre com a própria ação penal privada. Em
tais ações, evidentemente, o papel do MP é de custos legis, não cabendo a ele a propositura
da suspensão.

Cabimento: concurso de crimes, tentativa, causa de aumento e de diminuição

A suspensão do processo não pode ocorrer quando o acusado estiver sendo processado no
momento em que é feita a proposta. A consequência disso é a impossibilidade de suspensão
quando se tratar de concurso de crimes.

O STF partiu de outro critério: consideração da pena abstratamente cominada nos referidos
concursos.

Assim, mesmo em caso de concurso, desde que a pena mínima cominada, aplicando-se a
soma dos crimes (no concurso material) e o acréscimo decorrente do concurso formal e do
crime continuado, não seja superior, abstratamente, a um ano, será possível a aplicação do
art. 89 da Lei nº 9099/95 (HC 8026/RS).

Com a nova composição do Supremo, contudo, mudou-se o entendimento: deve ser


considerada a pena mínima de cada crime, isoladamente, e não a soma de ambas, aceitando,
porém, a impossibilidade da suspensão se uma delas (penas mínimas) fosse superior a um
ano.

Recentemente, porém, há notícia de decisão que não aplicou a pena mínima de cada crime,
e sim a pena mínima do concurso.

SUSPENSÃO EM CONCURSO DE CRIMES – PENA MÍNIMA NO CONCURSO

Pacelli entende que as causas de diminuição e de aumento, bem como as qualificadoras,


podem e devem ser consideradas para fins de aplicação da suspensão condicional do
processo.

Já em relação às circunstâncias agravantes e atenuantes, porque dependentes,


necessariamente, de exame particularizado do caso concreto, isso não ocorre.

No caso de tentativa, Pacelli entende que o percentual a ser considerado deve ser sempre o
mínimo (da diminuição ou do aumento), pela simples razão de que o exame há de se fundar
em dados abstratos, isto é, da lei, não podendo estar condicionado ao eventual julgamento
do caso concreto.

341
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

SÚMULAS:

STF

723: “Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma
da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a
um ano”.

696: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo,


mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão
ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.

STJ

337: “É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na


procedência parcial da pretensão punitiva”.

243: “O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais


cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena
mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o
limite de um (01) ano.

Jurisprudência

HABEAS CORPUS. CRIME DE LESÃO CORPORAL COMETIDA NO ÂMBITO


FAMILIAR CONTRA MULHER. LEI MARIA DA PENHA. SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO. ARTIGO 41 DA LEI Nº 11.340/06.
INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO FEDERAL. POSSIBILIDADE.
ORDEM CONCEDIDA. 1. Na interpretação literal do artigo 41 da Lei Maria da Penha
(11.340/06), o artigo 89 da Lei nº 9.099/95, não se aplica aos delitos de violência doméstica
contra a mulher, cometidos no âmbito familiar. 2. Sopesados, porém, o conteúdo da Lei em
questão e o disposto no artigo 226, parágrafo 8º, da Carta Magna, e contrariando o
entendimento adotado por esta E. Sexta Turma, conclui-se que, no caso em exame, a
melhor solução será a concessão da ordem, porque o paciente e a ofendida continuam a
viver sob o mesmo teto. 3. Ordem concedida, para cassar o v. acórdão hostilizado e a
r.sentença condenatória, determinando-se a realização de audiência, para que o paciente se
manifeste sobre a proposta de suspensão condicional do processo oferecida pelo Ministério
Público Estadual. (STJ, HC 154.801/MS, Rel. Ministro CELSO LIMONGI
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em
14/12/2010, DJe 03/11/2011).

Suspensão condicional do processo e recebimento ou não da denúncia. 1. O recebimento ou


não da denúncia deve preceder à audiência do réu e à deliberação judicial sobre a suspensão
condicional do processo, que ficarão prejudicadas se rejeitada a inicial acusatória. 2. Não
cabe cogitar de suspensão condicional do processo, antes da instauração deste, que só
ocorre com o recebimento da denúncia. (STF - HABEAS CORPUS: HC 81968 SP.
342
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Relator(a): SEPÚLVEDA PERTENCE. Julgamento: 17/06/2002. Órgão Julgador: Primeira


Turma. Publicação: DJ 02-08-2002 PP-00083 EMENT VOL-02076-05 PP-00892 RTJ
VOL-00191-02 PP-00544. Parte(s): IVAN MACEDO OU IVAM MACEDO, MOACIR
CARLOS MESQUITA E OUTRO, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA).

343
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

20.c: Recursos especial, extraordinário e ordinário.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR.

Legislação básica: Art. 102, II e III, 105, II e III, CF; Arts. 541 a 546, CPC; Art. 50, § 1º,
Lei 11.343/2006; Arts. 26 a 35, Lei 8.038/1990; Arts. 307 a 309 e 321 a 329, RISTF; Arts.
244 a 254 e 255 a 257, RISTJ.

Súmulas - STF: 210, 279, 280, 281, 282, 283, 284, 285, 286, 287, 288, 400, 456, 528, 634,
635, 636, 639, 640, 727 e 735; e STJ: 7, 13, 83, 123, 126, 203, 207 e 211.

1. Noções gerais.

Os recursos de índole extraordinária (extraordinário e especial) constituem via


excepcionalíssima de impugnação. Por isso, o STF e STJ fazem uma leitura restritiva das
hipóteses de cabimento.

Os supracitados recursos se prestam a resguardar a uniformidade da interpretação da lei e


da Constituição da República. Em regra, possuem apenas efeito devolutivo (contudo, a
prisão só poderá decorrer de medida cautelar, e não de execução provisória da decisão
condenatória).

Questões gerais do REsp e do RE:

a) têm como finalidade a higidez e uniformidade do direito objetivo infraconstitucional e


constitucional (função nomofilática);

b) somente podem ser interpostos depois do exaurimento dos recursos locais (Súmulas
207/STJ e 281/STF);

c) havendo embargos de declaração ou infringentes com julgamento posterior à sua


interposição, devem ser reiterados, sob pena de negativa de seguimento (Súmula 418/STJ);

d) reclamam o prévio exame na decisão recorrida da questão legal ou constitucional


suscitada (prequestionamento), que deve constar do seu voto vencedor (Súmula 320/STJ),
mas pode ser provocado por embargos de declaração (Súmulas 282 e 356/STF e 211/STJ);

e) não autorizam o reexame de prova (Súmulas 07/STJ e 279/STF), a interpretação de


cláusula contratual (Súmula 05/STJ) ou a análise de violação a direito local (Súmula
280/STF).

2. Recurso especial.

2.1 Cabimento: contra acórdão proferido, em única ou última instância, por Tribunal, que:
“a”) contrariar tratado ou lei federal ou negar-lhes vigência, “b”) julgar válido ato de
governo local contestado em face de lei federal; “c”) der à lei federal interpretação

344
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

divergente de outro Tribunal. De acordo com PACELLI (p. 770), contraria a lei federal a
decisão cuja interpretação do direito aplicável não leva em consideração norma expressa
sobre a matéria; nega-lhe vigência aquela que, expressamente, afirma a sua não-
aplicabilidade ou sua revogação.

2.2 Interposição e procedimento: interposto no prazo de 15 dias, perante o Presidente do


Tribunal local, com a expressa indicação do fundamento constitucional e das razões do
pedido de reforma, deve ser objeto de contrarrazões, para posterior juízo de admissibilidade
pela Corte local. Em sendo negado seguimento, cabível a interposição de agravo nos autos,
no prazo de 05 dias (matéria penal), atacando especificamente a decisão recorrida (Súmula
182/STJ). Pode ser submetido ao rito dos recursos repetitivos (art. 543-C,CPC), quando
houver multiplicidade de recursos sobre a mesma matéria, havendo o sobrestamento dos
recursos que tratam de igual questão de direito.

2.3 Questões específicas do REsp: a) não é cabível contra decisão de Turma Recursal
(Súmula 203/STJ); b) o dissídio jurisprudencial (alínea “c”) deve ser demonstrado mediante
o cotejo analítico entre os acórdãos divergentes de Tribunais diversos, não podendo
sustentar tese contrária à jurisprudência do STJ (Súmulas 13 e 83/STJ), devendo ser
realizado o cotejo analítico entre o acórdão recorrido e o paradigma, juntado a cópia deste.
Ademais, a jurisprudência do STJ exige que não pode ser utilizado como acórdão
paradigma aquele que tenha sido prolatado em HC, RHC, MS ou RMS, remédios
constitucionais que não possuem o mesmo objeto, a mesma natureza e a mesma extensão
material ínsitas ao recurso especial, cujo âmbito congnitivo é mais restrito, destinado
apenas e exclusivamente a preservar a higidez e a uniformidade na aplicação de lei federal
em todo território nacional. É o que se depreende dos seguintes julgados prolatados nos
AgRg's nos REsp's nºs 1.347.588-SP (Rel. Exma. Sra. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
Sexta Turma, DJe de 14.04.2014) e 1.329.137-RS (Rel. Exmo. Sr. Min. Moura Ribeiro,
DJe de 14.10.2013):

“PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. (I) - ART. 255/RISTJ.
INOBSERVÂNCIA. (II) - ACÓRDÃOS PARADIGMAS PROFERIDOS EM
HABEAS CORPUS. IMPROPRIEDADE. (III) - AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE
DISPOSITIVO DE LEI VIOLADO. RECURSO ESPECIAL COM
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
…................................................................................................................................
2. "A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça é pacífica quanto à
impossibilidade de acórdão proferido em sede de habeas corpus, mandado de
segurança e recurso ordinário servir de paradigma para fins de alegado dissídio
jurisprudencial, ainda que se trate de dissídio notório, eis que os remédios
constitucionais não guardam o mesmo objeto/natureza e a mesma extensão material
almejados no recurso especial". (AgRg nos EREsp 998.249/RS, Rel. Min.
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 21/09/2012)
3. A ausência de indicação do dispositivo violado enseja a aplicação do enunciado
nº 284 do Pretório Excelso, pois caracteriza deficiência na fundamentação, o que

345
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

dificulta a compreensão da controvérsia.


4. Agravo regimental improvido”.

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ACÓRDÃO


PARADIGMA PROFERIDO EM HABEAS CORPUS. IMPROPRIEDADE.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADO. PRECEDENTES.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Esta Corte possui entendimento jurisprudencial no sentido de que não se
prestam para o conhecimento do apelo pelo art. 105, III, alínea "c", da Constituição
Federal, os julgamentos proferidos em mandado de segurança, recurso ordinário em
mandado de segurança e habeas corpus, os quais têm um âmbito cognitivo muito mais
amplo do que o recurso especial, destinado exclusivamente à uniformização da
interpretação da legislação federal, daí porque, tal julgado não se presta a configurar a
divergência jurisprudencial.
2. Agravo regimental não provido”..

3. Recurso extraordinário.

3.1 Cabimento: contra decisão, de única ou última instância, que: “a”) contrariar dispositivo
da CF, “b”) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; “c”) julgar válida lei
ou ato de governo local contestado em face da CF; “d”) julgar válida lei local contestada
em face de lei federal. A ofensa deve ser direta, e não meramente reflexa ao texto
constitucional (AI-Agr 671.908).

3.2 Interposição e procedimento: idênticos ao REsp, exceto quanto à preliminar de


repercussão geral, que deve ser formalmente destacada (art. 543-A, CPC), sob pena de
negativa de seguimento, podendo ser adotado o rito do art. 543-B, CPC, com
sobrestamento, quando houver multiplicidade de recursos versando acerca da matéria cuja
repercussão geral foi reconhecida. O STF reconhece a aplicabilidade da repercussão
geral aos processos criminais (AI-QO 664.567-2/RS).

3.3 Questões específicas do RE: a) quanto à alínea “b”, somente é possível se a declaração
de inconstitucionalidade foi previamente submetida a incidente de inconstitucionalidade na
Corte local, com a remessa dos autos ao plenário ou a Corte Especial, devendo o recorrente
juntar o inteiro teor do acórdão que julgar o incidente; b) a hipótese da alínea “d” trata de
competências legislativas constitucionais (inconstitucionalidade formal); c) é cabível
mesmo contra decisão de turma recursal dos juizados especiais (Súmula 640/STF); d) o
MPF é parte legítima para interpor RE das decisões dos TJ's nas representações de
inconstitucionalidade (art. 37, p. ú., LC 75/1993).

3.4 Necessário frisar, outrossim, a necessidade da existência de repercussão geral, em


matéria criminal, para que ocorra o conhecimento de recurso extraordinário, nos termos do
§3º do artigo 102 da Constituição Federal. Neste diapasão, saliente-se que a Norma Maior
não restringiu o supracitado requisito de admissibilidade recursal à esfera cível, alcançando,
desta forma, também a seara criminal. A lei nº 11.418/2006 regulamentou, em âmbito
infraconstitucional, o mencionado instituto, através da inserção dos dispositivos 543-A e
346
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

543-B no Código de Processo Civil, cujo conteúdo deve ser observado e aplicado na esfera
criminal, conforme entendimento firmado pelo STF. Por fim, interessante esclarecer a
inexistência, até hoje, de interposição de recurso extraordinário, envolvendo matéria
criminal, não conhecido por inexistência de repercussão geral.

4. Recurso ordinário.

4.1 Recurso ordinário em habeas corpus: cabível contra acórdão de única instância de
Cortes locais ou de Tribunal Superior, quando denegado o HC, tendo prazo de 5 dias, sendo
dirigido ao STJ e ao STF, dependendo da Corte de origem, onde deve ser objeto de prévia
manifestação do MPF em 2 dias. Segundo PACELLI (p. 769), nada impede que o
interessado se valha do habeas corpus substitutivo do recurso ordinário, a ser impetrado
diretamente no STJ (art. 105, I, 'c', CF) – tese esta que não tem sido mais inadmitida pelo
STJ e pela primeira turma do STF (tendo início com o julgado proferido no HC nº
109.956/PR, Rel. Exmo. Sr. Min. Marco Aurélio, julgado em 07.08.2012, DJe de
11.09.2012), por ofensa à lógica do sistema recursal estatuído pelo poder constituinte
originário.

4.2 Recurso ordinário em mandado de segurança: cabível contra acórdão de única instância
de Cortes locais ou do STJ quando denegado o MS, tendo prazo de 15 dias, aplicável o
procedimento da apelação cível na Corte recorrida, sendo dirigido ao STJ ou STF,
dependendo da origem da decisão impugnada.

4.3 Recurso ordinário, para o STF, contra sentença por crime político: cabível contra
sentença de Juiz Federal em crime político (Lei 7.170/1983), no prazo de 5 dias para a
interposição e 8 dias para as razões, aplicável o procedimento da apelação criminal, sendo
dirigido ao STF (STF, HC 74.782-5/RJ).

4.4 Importante salientar a divergência a respeito da admissibilidade ou não de habeas


corpus substitutivo de recurso ordinário. Neste sentido, recente julgado do STJ (HC
239.550-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 18/9/2012.) lecionou que “(...) a” nova
orientação deu-se em resposta ao alargamento da admissibilidade do remédio constitucional
em detrimento das vias recursais próprias constitucionalmente previstas, como é o caso do
recurso ordinário em habeas corpus (arts. 102, II, a, e 105, II, a, da CF). A possibilidade de
impetração de habeas corpus como substitutivo de recurso no processo penal abarrotou as
cortes superiores e passou a inviabilizar os demais pronunciamentos jurisdicionais. Dessa
forma, fez-se necessária a mudança de orientação para retomar a ordem constitucional,
observados os princípios do devido processo legal, da celeridade e economia processual e
da razoável duração do processo. Assim, não se conheceu do habeas corpus, mas a ordem
foi concedida de ofício para revogar a prisão preventiva por falta de fundamentação, sendo
ainda possível a expedição de novo decreto prisional fundamentado ou a adoção de outras
medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP (...).

347
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

5. Jurisprudência

EMENTA: Habeas corpus substitutivo de recurso ordinário constitucional. Artigo 102,


incisoII, alínea a, da Constituição Federal. Inadequação da via eleita ao caso concreto.
Precedente da Primeira Turma. Flexibilização circunscrita às hipóteses de flagrante
ilegalidade, abuso de poder ou teratologia. Não ocorrência. Writ extinto. 1. Impetração
manejada em substituição ao recurso ordinário constitucional prescrito no art.102, inciso II,
alínea a, da Carta da Republica, a qual esbarra na decisão da Primeira Turma, que, em
sessão extraordinária datada de 7/8/12, assentou, quando do julgamento do HC nº
109.956/PR, Relator o Ministro Março Aurélio, a inadmissibilidade do habeas corpus que
tenha por objetivo substituir o recurso ordinário. 2. Nada impede, entretanto, que esta
Suprema Corte, quando do manejo inadequado do habeas corpus como substitutivo
(art. 102, inciso II, alínea a, da CF), analise a questão de ofício nas hipóteses de flagrante
ilegalidade, abuso de poder ou teratologia, o que não é o caso dos autos. 3. Habeas corpus
extinto, por inadequação da via processual eleita. (STF - HABEAS CORPUS: HC 113291
RS. Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI. Julgamento: 04/09/2012. Órgão Julgador: Primeira
Turma. Publicação: DJe-191 DIVULG 27-09-2012 PUBLIC 28-09-2012. Parte(s): MIN.
DIAS TOFFOLI, LUIZ FELIPE STODUTO DE MENDONÇA, PAULO RICARDO
MACHADO, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA).

DECISÃO - Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão que possui a


seguinte "REEXAME NECESSÁRIO E APELAÇÕES CÍVEIS - AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - DENÚNCIA CRIMINAL - AUTOR DO
CRIME QUE, AO SER PRESO EM FLAGRANTE, UTILIZOU O NOME DE OUTRA
PESSOA - CULPA DE TERCEIRO - AFASTADA A RESPONSABILIDADE OBJETIVA
DO ESTADO - AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO NEXO DE CAUSALIDADE -
INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR - EM REEXAME NECESSÁRIO,
REFORMAR A SENTENÇA, PREJUDICADOS OS RECURSOS VOLUNTÁRIOS" (fl.
252). Neste RE, fundado no art. 102, III, a, da Constituição, alegou-se, em suma, ofensa aos
arts. 5º, X, e 37, § 6º, da mesma Carta. A Procuradoria Geral da República manifestou-se
pelo não conhecimento do recurso extraordinário (fls. 364-367). A pretensão recursal não
merece acolhida. O acórdão recorrido decidiu a questão em exame com fundamento na
análise do acervo probatório existente nos autos, conforme se observa no seguinte trecho:
"No caso em comento, tem-se que, ao ser preso em flagrante delito, o meliante se
identificou perante a autoridade policial como sendo o primeiro recorrente, o que resultou
na denúncia deste último, que teve que responder a processo criminal, sendo,ao final,
absolvido por ausência de provas de sua participação no crime. Verifica-se, pois, que não
restou caracterizada a falha na prestação do serviço pelo Estado, ora segundo recorrente,
porquanto agiu nos limites de sua competência, sendo levado a erro pela falsa afirmação do
terceiro que cometeu o crime. Desse modo, a responsabilidade civil pode ser elidida em
razão da excludente mencionada, qual seja, culpa de terceiro, que claramente demonstra
inexistir nexo causal entre o ato do Estado e o dano sofrido" (fl. 255). Assim, para se
chegar à conclusão contrária à adotada pelo Tribunal de origem quanto à existência de nexo
de causalidade a ensejar o dever de indenizar, necessário seria o reexame do conjunto
fático-probatório constante dos autos, o que atrai a incidência da Súmula 279 do STF.
Nesse sentido, destaco as ementas dos seguintes julgados: "RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DO ESTADO. PRISÃO ILEGAL. INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE
348
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

REEXAMINAR FATOS E PROVAS. REQUISITOS PARA CONFIGURAÇÃO DA


RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO" (AI 510.346/AC-AgR, Rel. Min.Cármen Lúcia). "AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL E PENAL.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACÓRDÃO RECORRIDO COM
DUPLO FUNDAMENTO -LEGAL E CONSTITUCIONAL. SÚMULA N. 283/STF.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ATO ILÍCITO PRATICADO POR
AGENTES PÚBLICOS. PRISÃO ILEGAL. ART. 302 DO CPP. MATÉRIA FÁTICA.
SÚMULA N. 279/STF. 1. Acórdão impugnado mediante recurso extraordinário consta
duplo fundamento - legal e constitucional - e a não-interposição do recurso especial tornou
definitivo o fundamento infraconstitucional que amparou o acórdão recorrido (Súmula n.
283/STF). 2. Súmula n. 283/STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a
decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange
todos eles.3. Precedentes: RE 539.915-AgR, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, 1ª Turma, DJ
5.2.2009; RE 596.414-AgR, Rel. Min. EROS GRAU, 2ª Turma, DJ 24.4.2009; RE 524863-
AgR, Rel. Min. MARÇO AURÉLIO, 1ª Turma, DJ 7.11.2008. 4. Súmula n. 279/STF
dispõe verbis: 'Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário'. 5. É que o
recurso extraordinário não se presta ao exame de questões que demandam revolvimento do
contexto fático-probatório dos autos, adstringindo-se à análise da violação direta da ordem
constitucional. 6. Agravo regimental a que se nega provimento" (AI 804.596/SE-AgR, Rel.
Min. Luiz Fux). No mesmo sentido, menciono as seguintes decisões, entre outras: AI
709.538/SP, Rel. Min. Dias Toffoli; RE 628.085/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia; AI 614.547-
AgR/RS, Rel. Min. Joaquim Barbosa; AI 798.396/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes. Isso
posto, nego seguimento ao recurso (CPC, art. 557, caput). Publique-se. Brasília, 4 de
fevereiro de 2013.Ministro RICARDO LEWANDOWSKI- Relator. (STF - RECURSO
EXTRAORDINÁRIO: RE 662176 MG. Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI.
Julgamento: 04/02/2013. Publicação: DJe-027 DIVULG 07/02/2013 PUBLIC 08/02/2013.
Parte(s): JACKSON SOARES DOS SANTOS, CLEIDE CAMPOS VIEIRA, ESTADO DE
MINAS GERAIS, ADVOGADO-GERAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS).

Súmulas do STF:

272: “Não se admite como o ordinário, recurso extraordinário de decisão denegatório de


mandado de segurança”. Erro grosseiro.

279: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”.

280: “Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário”.

281: “É inadmissível recurso extraordinário, quando couber, na Justiça de origem, recurso


ordinário da decisão impugnada”. Isso quer dizer que é necessário o prévio exaurimento da
instância, com o manejo de todos os recursos possíveis, sob pena de supressão de instância.

282: “É inadmissível recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a


questão federal suscitada”. Trata-se da necessidade de prequestionamento da matéria

349
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

constitucional, em se tratando de RE, e da matéria federal, sendo RESP.

283: “É inadmissível recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de


um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles”.

284: “É inadmissível recurso extraordinário, quando a deficiência de sua fundamentação


não permitir a exata compreensão da controvérsia”.

356: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios,
não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.

399: “Não cabe recurso extraordinário por violação de lei federal, quando a ofensa for a
regimento de tribunal”.

456: “O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa


aplicando o direito à espécie”.

513: “A decisão que enseja a interposição de recurso ordinário ou extraordinário não é a do


plenário, que resolve o incidente de inconstitucionalidade, mas a do órgão (Câmaras,
Grupos ou Turmas) que completa o julgamento do feito”.

528: “Se a decisão contiver partes autônomas, a admissão parcial, pelo Presidente do
Tribunal a quo, de recurso extraordinário que sobre qualquer delas se manifestar, não
limitará a apreciação de todas pelo Supremo Tribunal Federal, independentemente de
interposição de agravo de instrumento”.

636: “Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da


legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas
infraconstitucionais pela decisão recorrida”.

640: “É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau
nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal”.

735: “Não cabe recurso extraordinário contra decisão que defere liminar”.

Súmulas do STJ:

7: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”.

13: “A divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja recurso especial”

83: “Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal
se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida”.

126: “É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos


constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a
parte vencida não manifesta recurso extraordinário”.

350
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

203: “não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos
juizados especiais”.

207: “é inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos infringentes contra o


acórdão proferido no tribunal de origem”.

211: “inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de


embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal “a quo”. Prequestionamento deve
ser explícito no recurso especial. O STF admite o prequestionamento implícito, nos termos
da Súmula nº 356 do STJ.

320: “a questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito do
prequestionamento”. Tal enunciado quer dizer que o Tribunal deverá ter debatido a
controvérsia, não se mostrando suficiente que apenas o voto vencido tenha ventilado a
questão.

418: “é inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão de


embargos de declaração, sem posterior ratificação”.

351
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

21.a. Norma de direito processual penal no tempo.


Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 27º CPR. Curso de Processo Penal,
Eugênio Pacelli de Oliveira, 16ª Edição, Editora Atlas/2012; Processo Penal
Esquematizado, Norberto Avena, Método/2009. Manual de Processo Penal, v. 1., Renato
Brasileiro, Impetus, 2011.

Legislação básica: Art. 2º do Código de Processo Penal.

1. Noção: Vigora aqui o conhecido brocardo “tempus regit actum”, no sentido de que se
aplica a norma processual penal de imediato, devendo os atos processuais serem regidos
pela legislação em vigor ao tempo de sua prática, sem prejuízo da validade dos atos já
realizados sob a égide da legislação anterior e dos seus respectivos efeitos e/ou
consequências jurídicas (art. 2º do CPP), e independentemente da data em que foi praticado
o crime.

Em relação aos processos já em curso (com recebimento da denúncia) por ocasião da


entrada em vigor de nova lei, três sistemas de aplicação podem ser hipoteticamente
concebidos: i) o da unidade processual, no qual o processo é concebido como um todo
unitário, devendo ser regido por uma única lei, que deve ser a antiga (a não ser que se
aplique a nova com efeitos retroativos, em prejuízo aos atos já praticados até a sua
vigência); ii) o das fases processuais, no qual distinguir-se-iam fases processuais autônomas
(postulatória, ordinatória, instrutória, decisória e recursal), podendo cada uma ser regida
por uma lei diferente; e iii) o do sistema do isolamento dos atos processuais, prevalecente
na doutrina e consagrado expressamente pelo art. 2º do CPP, segundo o qual a lei nova não
atinge os atos processuais já praticados, nem seus efeitos, mas se aplica aos atos
processuais futuros, em vias de ser praticado, sem limitações relativas às fases processuais.

2. Normas processuais materiais ou mistas: Questão que se coloca aqui é a divisão, feita
em doutrina e em jurisprudência, das normas processuais em dois tipos: as genuinamente
processuais (às quais se aplica o art. 2º do CPP) e as normas processuais materiais ou
mistas (que contêm disposições de direito penal e processual penal). A regra da
irretroatividade da norma penal desfavorável ao acusado deve prevalecer sobre os
comandos de natureza processual. Há questão afeta à nomenclatura que não pode ensejar
confusão: normas processuais materiais têm natureza mista, independentemente do diploma
normativo em que venham. Já as normas processuais heterotópicas são normas
genuinamente processuais que vêm em diplomas de cunho material.

Nos casos de normas processuais materiais, não pode ocorrer a separação entre uma e outra,
do que resultaria uma terceira legislação. Assim, a regra é a impossibilidade de
fragmentacão normativa. Pacelli apresenta uma exceção: normas atinentes às chamadas
causas extintivas da punibilidade, a exemplo da prescrição, as quais são portadoras de
mensagens/juízos legislativos de ausência de interesse punitivo, devendo ser sempre

352
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

aplicadas.

Casuística: há diversas normas mistas na Lei 9.099/95 (tanto que foi dada interpretação
conforme a seu art. 90, na ADI 1719-9); a redação atual do art. 366 do CPP não pode ter
aplicação imediata por ter caráter misto e ser considerada prejudicial ao acusado; quanto à
extinção do protesto por novo júri, prevaleceu que a lei que se aplica ao recurso é aquela
em vigor ao tempo em que surge o direito ao recurso – no caso, ao tempo da decisão
condenatória; no que concerne à alteração para ação penal pública incondicionada ou
condicionada à representação no crime de estupro e demais delitos contra a dignidade
sexual (Lei 12.015/09), Pacelli defende ter natureza mista (portanto, não aplica-se de forma
imediata); o art. 399, §2º, do CPP, alterado pela Lei 11.719/08 e que estabelece o princípio
da identidade física do juiz no âmbito do processo penal, trata-se de norma de natureza
processual, logo deve ser aplicado de forma imediata sobre os atos processuais em curso
(STJ HC 139.670/DF, DJe 22/10/2012).

As noções de vigência, validade, revogação, derrogação e ab-rogação da norma processual


não apresentam particularidades em face das regras aplicáveis à generalidade das normas.

353
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

21.b. Interrogatório do réu, confissão e perguntas. Procedimentos. Ordem


da instrução processual.
Principais obras consultadas: Curso de Processo Penal, Eugênio Pacelli de Oliveira, 18ª
Edição, editora: Atlas/2014; Curso de Processo Penal, Eugênio Pacelli de Oliveira, 16ª
Edição, editora Atlas/2012; Curso de Direito Processual Penal, Nestor Távora e Rosmar
Rodrigues Alencar, 5ª edição, editora Jus Podivm/2011. Processo Penal Esquematizado,
Norberto Avena, Método/2009. Manual de Processo Penal, v. 1. Renato Brasileiro de Lima.
Manual de Processo Penal. 2ª edição. Volume único. Salvador: Ed. Juspodivm, 2014.

Legislação básica: arts. 185-201, CPP.

1. Interrogatório do réu: V. Arts. 185-196, CPP. Inicialmente concebido como meio de


prova, hoje prevalece a leitura do interrogatório como meio de defesa. É oportunidade na
qual pode ser exercida a autodefesa (direito de audiência), como também pode ser exercido
o direito ao silêncio. Por força dessa natureza, Pacelli não admite condução coercitiva para
interrogatório, apesar do art. 260 do CPP, cuja primeira parte estaria revogada
(diferentemente é a situação do reconhecimento pessoal, não abarcado pelo “nemo tenetur
se detegere”), até porque se trata de meio de defesa, podendo o réu renunciar a este meio de
defesa. Também por isso, Pacelli defende que há nulidade absoluta do processo se realizado
sem que se dê ao réu a oportunidade de ser submetido a interrogatório (mas ressalta que o
STF considera nulidade relativa, sujeita, portanto, à preclusão).

Há, porém, quem veja o interrogatório também como fonte de prova, no caso de o acusado
resolver responder às perguntas formuladas (o que poderá ser levado em conta pelo juiz).

Desde 2008, é o último ato da audiência de instrução e não mais o primeiro do processo
penal (400, CPP). O STF (inf. 602) tem decisão no sentido de que o interrogatório
validamente realizado na vigência da lei anterior não precisa ser refeito, apesar das críticas
de parte da doutrina (Renato Brasileiro) de que o ideal, em face da ampla defesa, seria
oportunizar ao acusado novo interrogatório. Vale lembrar que nos procedimentos especiais
da Lei de Drogas e da Lei 8.038/90, bem como no procedimento ordinário do processo
penal militar, o interrogatório continua vindo no início da instrução.

É ato que deve ser realizado na presença do defensor técnico do acusado (CPP, art. 185),
sob pena de nulidade absoluta. Outras características: é personalíssimo (só pelo acusado),
individual (se mais de um acusado, são interrogados separadamente), oral (há
particularidades quanto a surdos e mudos, conforme art. 192), público (salvo restrições
justificáveis), realizável a qualquer tempo antes do trânsito, protegido pelo direito ao
silêncio e pela garantia de autodeterminação do acusado (vedados métodos voltados à
obtenção de confissão, bem como perguntas capciosas, ameaças, hipnose, polígrafo e
afins), bifásico (o juiz ouve o acusado sobre sua pessoa e sobre a imputação feita/fatos – é
apenas em relação a esta segunda parte do interrogatório que não se pode exigir do acusado
354
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

o compromisso com a verdade) e em contraditório (embora continue o sistema


presidencialista – não se aplicando aqui o cross-examination hoje vigente para a oitiva de
testemunhas e do ofendido –, de maneira que o juiz inicia as perguntas e depois verifica se
as partes (acusação e defesa, nesta ordem) querem fazer perguntas, as quais são filtradas
pelo juiz – a art. 188 CPP; entretanto, Pacelli entende que os procedimentos de
interrogatório e tomada de depoimentos, inclusive no Tribunal do Júri, devem ser
unificados e propõe que todos sigam o contido no art. 212, CPP).

Quanto ao acusado solto, o interrogatório se dá na sala de audiências do Fórum, quando


comparecer a presença do juiz, no curso do processo penal, onde ser á qualificado e
interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. Quanto ao preso, dá-se
no interior do presídio, ou por videoconferência ou, quando inviáveis essas opções,
requisitando-se a presença do réu. A propósito, vale conferir o teor do art. 185 e §§ do CPP:

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo
penal, será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.
§ 1o O interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no estabelecimento
em que estiver recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do
Ministério Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade do
ato.
§ 2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento
das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em
tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes
finalidades:
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso
integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o
deslocamento;
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante
dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra
circunstância pessoal;
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não
seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217
deste Código;
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública.
§ 3o Da decisão que determinar a realização de interrogatório por videoconferência, as
partes serão intimadas com 10 (dez) dias de antecedência.
§ 4o Antes do interrogatório por videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo mesmo
sistema tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de instrução e
julgamento de que tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código.

355
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

§ 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de


entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência,
fica também garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação
entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do
Fórum, e entre este e o preso.
§ 6o A sala reservada no estabelecimento prisional para a realização de atos processuais por
sistema de videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa,
como também pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil.
§ 7o Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas hipóteses em que o
interrogatório não se realizar na forma prevista nos §§ 1o e 2o deste artigo.
§ 8o Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo, no que couber, à realização de
outros atos processuais que dependam da participação de pessoa que esteja presa, como
acareação, reconhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou tomada de
declarações do ofendido.
§ 9o Na hipótese do § 8o deste artigo, fica garantido o acompanhamento do ato processual
pelo acusado e seu defensor.

2. Confissão: v. arts. 197 a 200 CPP (art. 198 revogado – CF/88 e Lei nº 10.792/03, que
alterou o art. 186 CPP). É meio de prova pelo qual o acusado admite a prática da infração a
ele imputada – o que, para ter validade, deve ser feito perante autoridade competente, de
maneira livre, espontânea e expressa, sendo verossímil e compatível com as demais provas
do processo (evitando-se o risco de autoacusação falsa, para proteger o verdadeiro autor,
seja por motivação afetiva ou econômica). A confissão pode dar-se também fora do
interrogatório, quando será tomada por termo nos autos.

A confissão, além de ato personalíssimo, é retratável e divisível: o acusado pode


arrepender-se dela, se ainda em tempo, e o juiz, dentro de seu livre convencimento, poderá
valer-se apenas de parte da confissão.

Não terá valor algum quando prestada unicamente na fase de inquérito (ou administrativa),
se não confirmada perante o juiz, em razão da exigência do contraditório e da ampla defesa
na produção de provas e da consequente necessidade de repetição na fase instrutória da
ação penal (art. 155, caput, CPP). Contudo, se o juiz fizer menção a confissão
espontaneamente realizada na fase policial e a utilizar em conjunto com as demais provas
colhidas nos autos, deverá aplicar a atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do CP. Nesse
sentido, é a jurisprudência do STJ:

“ROUBO. CONFISSÃO EXTRAJUDICIAL. RETRATAÇÃO EM JUÍZO. UTILIZAÇÃO


PARA A CONDENAÇÃO. ATENUANTE CONFIGURADA. RECONHECIMENTO E
APLICAÇÃO NA SENTENÇA. AFASTAMENTO PELO TRIBUNAL. COAÇÃO
ILEGAL PRESENTE. 1. A confissão realizada em sede policial quanto ao delito de
roubo, mesmo que posteriormente retratada em juízo, é suficiente para fazer incidir a

356
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

atenuante do art. 65, III, d, do Código Penal, quando expressamente utilizada para a
formação do convencimento do julgador, pouco importando se a admissão da prática
do ilícito foi espontânea ou não, integral ou parcial. (...) (HC 217.687/SP, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 25/09/2012, DJe 03/10/2012)

HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. (1) IMPETRAÇÃO


SUBSTITUTIVA DE RECURSO ESPECIAL. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. (2)
PENA-BASE. ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. NÃO
OCORRÊNCIA. QUANTIDADE DA SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE APREENDIDA.
(3) CONFISSÃO EXTRAJUDICIAL. OCORRÊNCIA. RETRATADA EM JUÍZO.
EFETIVA UTILIZAÇÃO NA SENTENÇA CONDENATÓRIA COMO PARTE DA
FUNDAMENTAÇÃO. INCIDÊNCIA DA ATENUANTE QUE SE FAZ IMPERATIVA.
(4) CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE PENA. NÃO INCIDÊNCIA.
DEDICAÇÃO À ATIVIDADE CRIMINOSA. AFERIÇÃO. REVOLVIMENTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. (5) SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS. PENA SUPERIOR A 4 ANOS. IMPOSSIBILIDADE.
PACIENTE BENEFICIADO COM O REGIME SEMIABERTO. (6) WRIT
PREJUDICADO QUANTO AO REGIME E, NO MAIS, NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO.

..................................................................................................................................................

3. Deve ser reconhecida a atenuante da confissão espontânea, prevista no art. 65, III,
d, do Código Penal, ainda que haja retratação em juízo, quando o juiz se vale dela
para formar seu convencimento.

...................................................................................................................................................

6. Habeas corpus prejudicado quanto ao regime e, no mais, não conhecido. Ordem


concedida, de ofício, a fim de reconhecer a atenuante da confissão espontânea e reduzir a
pena do paciente para 5 (cinco) anos de reclusão, mais 500 (quinhentos) dias-multa,
mantidos os demais termos da sentença e do acórdão.

(HC 221.449/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA


TURMA, julgado em 17/12/2013, DJe 03/02/2014)

É tratada como circunstância atenuante no CP – art. 65, III, “d”.

357
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

21.c: Recurso em sentido estrito. Agravos. Correição parcial.


Principais obras consultadas: Curso de Processo Penal, Eugênio Pacelli de Oliveira, 18ª
Edição, editora: Atlas/2014; Curso de Processo Penal, Eugênio Pacelli de Oliveira, 16ª
Edição, editoraAtlas/2012; Curso de Direito Processual Penal, Nestor Távora e Rosmar
Rodrigues Alencar, 5ª edição, editora Jus Podivm/2011. Processo Penal Esquematizado,
Norberto Avena, Método/2009. Resumo do Grupo do 27º CPR.

Legislação básica: Código de Processo Penal (arts. 581-592) e Lei de Execução Penal (art.
197).

1. Recurso em sentido estrito: é o recurso cabível para impugnar as decisões


interlocutórias do magistrado previstas no art. 581 do CPP. Nestor Távora aponta que uma
diferença marcante para com o recurso de agravo do CPC seria a possibilidade de
interposição de RESE contra algumas espécies de sentenças, nos termos do caput do art.
581 do CPP. Para Pacelli e Avena, entretanto, somente cabe RESE em face de decisão
interlocutória (Pacelli: decisão interlocutória mista – encerra o processo ou determinada
fase procedimental).

1.1 Cabimento: art. 581 CPP. Observar mudanças promovidas pela Lei nº 11.689/08.
Contra a sentença de impronúncia caberá apelação, e não mais RESE – RESE cabível
somente contra a decisão que pronunciar o réu. Atenção: a Lei nº 11.719/98 prevê extinção
de punibilidade como hipótese de absolvição sumária, e Pacelli diz que houve revogação
implícita do art. 581, VIII, então absolvição sumária por causa de extinção da punibilidade
enseja apelação (Nestor diverge).

Art. 581, V – Pacelli aí inclui a decisão acerca do deferimento, do indeferimento e da


substituição de qualquer das medidas cautelares pessoais trazidas pela Lei nº 12.403/11,
além da liberdade provisória vinculada.

Dispositivos do art. 581 que perderam aplicabilidade: XI (hipótese em que se pretender


atacar decisão concessiva, denegatória ou revogatória de suspensão condicional da penal
ensejará apelação ou agravo de execução, conforme for o caso); XII (que conceder, negar
ou revogar livramento condicional), XVII (que decidir sobre a unificação de penas), XIX
(que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado), XX (que
impuser medida de segurança por transgressão de outra), XXI (que mantiver ou substituir a
medida de segurança, nos casos do art. 774), XXII (que revogar a medida de segurança) e
XXIII ( que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a
revogação), são todas hipóteses de agravo de execução); e XXIV, que não tem mais
aplicação em face do disposto no atual art. 51 do CP, com redação dada pela Lei nº
9.268/96.

Na prova objetiva do 26º a questão 120 versava sobre RESE mas foi anulada. O gabarito
preliminar apontava que todas as alternativas ensejavam o cabimento do RESE. A doutrina,
como mencionado acima, aponta que as hipóteses legais ligadas a incidentes da execução

358
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

penal não ensejam mais RESE, e sim agravo em execução.

Súmula 707 do STF: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer
contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de
defensor dativo. Súmula 709 do STF: Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o
acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo
recebimento dela.

1.2 Procedimento: Prazo de interposição: 5 dias, por petição ou por termo nos autos. Prazo
de 2 dias para arrazoar e contrarrazoar (contando-se da intimação). Nos casos do art. 583, o
recurso subirá nos próprios autos; nos demais casos, por instrumento ou traslado (com as
peças do art. 587, sendo obrigatórias a decisão recorrida, a certidão de sua intimação, se por
outra forma não for possível verificar-se a oportunidade do recurso, e o termo de
interposição, o translado dever ser extraído, conferido e concertado no prazo de 5 dias). Há
exceções quanto ao prazo de interposição: da decisão que incluir ou excluir jurado da lista
geral cabe recurso no prazo de 20 dias (obs.: para Nestor Távora houve revogação tácita
dessa regra do p. único do art. 586 pela Lei 11.689/08, de maneira que não mais cabe RESE
nessa hipótese, e sim reclamação do art. 426, § 1º); se o RESE é interposto pelo assistente
de acusação não habilitado (contra a extinção da punibilidade), o prazo é de 15 dias após o
término do prazo do MP.

O que delimita a matéria recursal é a petição de interposição e não as razões – assim como
ocorre com a apelação, não há necessidade de oferecimento das razões para conhecimento
do recurso (Pacelli). Do não recebimento do RESE cabe carta testemunhável.

1.3 Efeitos: Ausência de efeito suspensivo, salvo art. 584, CPP (perda de fiança; decisão
que denegue a apelação ou a julgue deserta – nos demais casos não cabe RESE e sim
agravo). Na hipótese de interposição contra decisão de pronúncia, apesar de a lei falar que
só se suspende o julgamento (584, §2º), a doutrina defende (Avena e Pacelli) que o próprio
processo será suspenso, uma vez que nesse caso o recurso sobe em regra nos próprios autos
(583, II – exceção é o p. único), além de que os autos só são conclusos ao magistrado para
diligências que antecedem a decisão do plenário com a preclusão da decisão de pronúncia
(art. 421). O que não fica suspensa é a possibilidade de decretação ou manutenção da
prisão, mesmo em face da interposição de RESE contra a decisão de pronúncia ou contra a
decisão que denega a apelação (no caso da sentença decretar/manter prisão). Cabe juízo de
retratação (efeito regressivo ou iterativo ou diferido).

2. Agravos

2.1 Agravo nos próprios autos (Lei 12.322/10): É cabível diante de decisões denegatórias
de recurso extraordinário e de recurso especial. O prazo para interposição é de 5 dias, a teor
do art. 28, Lei 8.038/90. A esse respeito, o STF já se pronunciou no sentido de que o prazo
de 10 dias previsto no art. 544 do CPC, alterado pela Lei 12.322/10, não se aplica na seara
processual penal (inf. 644).

359
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

2.2 Agravo em execução: art. 197 da LEP. Das decisões proferidas pelo Juiz (nas
execuções) caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo. A LEP não dispôs acerca do
rito processual a ser aplicado. O entendimento minoritário defende que o rito seria o do
agravo de instrumento (Grinover). Partidário da corrente majoritária, Pacelli, com respaldo
no STJ e STF, sustenta que o rito a ser seguido é o do RESE, por ser mais adequado às
questões penais (no mesmo sentido, Avena). O prazo para sua interposição é de 5 dias
(Súmula 700 do STF: É de cinco dias o prazo para a interposição de agravo contra decisão
do juiz da execução penal). Legitimação ampla: o Ministério Público, o condenado, o
representante legal, o cônjuge, os parentes ou descendentes (art. 195, LEP).

2.3 Agravo regimental: Os Regimentos Internos dos Tribunais preveem o recurso de


agravo regimental (art. 39, Lei 8.038/90), cujo prazo normalmente é de 5 dias.

3. Correição parcial: Para Nestor Távora, é instrumento de natureza administrativa


decorrente do direito de petição e com efeitos jurisdicionais. Avena pondera que a matéria é
dividida – há ainda quem veja como sucedâneo recursal e inclusive quem o considere como
recurso (aqui a posição de Pacelli).

3.1 Cabimento: É a medida cabível contra atos do magistrado que, por erro de ofício ou
abuso de poder, importem em inversão tumultuária do processo, dilatação abusiva de
prazos ou paralisação injustificada de feitos. Deve ser ato do juiz praticado com “error in
procedendo” e do qual não caiba recurso. (v. art. 6°, Lei n° 5.010/66)

Pacelli diz que poderá ser endereçado tanto contra ato específico praticado em determinado
processo como em relação a atos futuros, desde que demonstrada a viabilidade do temor de
repetição da ilegalidade.

3.2 Procedimento: No âmbito federal, a Lei n° 5.010/66 traz prazo de interposição de 5


dias. Há discussão quanto ao seu procedimento. Tourinho Filho defende ser o procedimento
do recurso em sentido estrito. Pacelli sustenta que o procedimento, em regra, é o do agravo
de instrumento do CPC, salvo previsão expressa em sentido contrário nas normas de
organização judiciária.

3.3 Efeitos: Segundo Avena, normalmente tem-se aceito o efeito regressivo, além do efeito
devolutivo. Quanto ao efeito suspensivo, depende de previsão de cada Tribunal (regimento)
ou dos códigos de organização judiciária.

360
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

22.a. Incompatibilidades e Impedimentos no Processo Penal


Principais obras consultadas: Resumo dos Grupos do 27º e do 26º CPR; Eugênio Pacelli.
Curso de Processo Penal. 16ª ed. São Paulo: Atlas, 2012. Lima, Renato Brasileiro de.
Manual de Processo Penal. 2ª Edição. Volume único. Salvador: Ed. Juspodivm, 2014.

Legislação básica: arts. 251 a 256, do CPP.

Distinções (Pacelli):

Suspeição: as hipóteses de suspeição configuram situações da realidade externa ao


processo levado ao conhecimento do juiz. Ex: inimizade capital; ou quando o juiz estiver
respondendo a outro processo por fato análogo. Ligação do juiz com a parte. Guilherme de
Souza Nucci lembra que é dever da parte, sob pena de preclusão, levantar a suspeição tão
logo tome conhecimento da sua existência, sob pena de não o fazendo aceitar a
imparcialidade do julgador. São hipóteses de suspeição previstas no CPP, em o juiz se dará
por suspeito, e, se não fizer, poderá ser recusado pelas partes: I - se for amigo íntimo ou
inimigo capital de qualquer deles; II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente,
estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja
controvérsia; III  - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro
grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por
qualquer das partes; IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; V - se for credor ou
devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; Vl - se for sócio, acionista ou
administrador de sociedade interessada no processo. A suspeição não poderá ser
declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo
para criá-la.

Impedimento: os casos de impedimento referem-se a fatos ou circunstâncias atinentes e


intimamente ligados ao próprio processo submetido inicialmente à jurisdição do juiz. Ex:
quando o juiz for interessado no feito ou tiver funcionado no processo como defensor.
Interesse do juiz pelo objeto do processo. Não há originalidade na cognição da matéria
fática pelo órgão julgador, daí o impedimento (HC 94641, STF). No impedimento, o
Código estabelece que o juiz não possui, para o caso, poder jurisdicional, como consectário
deve ser afastado de toda forma, não se submetendo ao efeito da preclusão. (NUCCI,
Manual de Processo penal e execução penal, pág. 330)

Incompatibilidade: as incompatibilidades compreenderão todas as demais situações que


possam interferir na imparcialidade do julgador e que não estejam arroladas entre as
hipóteses de suspeição ou impedimento. Ex: razões de foro íntimo.

Na prática não há diferença entre impedimento e incompatibilidade pois a sanção cominada


é a mesma - ato processual nulo. Para Hélio Tornaghi trata-se de ato inexistente. Pacelli diz
que, tratando-se de questão ligada ao devido processo legal, no que toca à imparcialidade

361
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

da jurisdição, a suspeição, o impedimento e a incompatibilidade poderão ser reconhecidos


mesmo após o trânsito em julgado da ação condenatória (exceto quanto absolutória a
decisão, tendo em vista a vedação da revisão pro societate).

Pacelli diz que o CPP inicia o tratamento das exceções referindo-se à exceção de suspeição
e que os impedimentos e incompatibilidades são tratados em capítulo específico, como se
se tratasse de matéria distinta. Contudo, diz que a distinção no tratamento da matéria é
absolutamente equivocada, uma vez que todas elas se ocupam da tutela de um único e
mesmo valor positivado no ordenamento processual: a imparcialidade da jurisdição. A
imparcialidade do juiz é requisito de validade do processo, estando inserido no devido
processo legal constitucional, como uma das principais conquistas do modelo
acusatório de processo. Cumpre ressaltar ser dever de ofício do magistrado declarar-se
impedido ou suspeito, preservando-se o princípio do juiz natural.

Há possibilidade de recusa de magistrado de qualquer grau de jurisdição, cabendo ao


regimento interno determinar quem será o substituto. Em caso de impedimento ou
suspeição do relator, necessária se faz uma nova distribuição.

Art. 255.  O impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessará pela


dissolução do casamento que Ihe tiver dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas,
ainda que dissolvido o casamento sem descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o
padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem for parte no processo.

Os órgãos do MP não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for
seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive, e a eles se estendem, no que lhe for aplicável, as prescrições relativas à
suspeição e aos impedimentos dos juízes (CPP, art. 258). Interposta a exceção, deve o juiz
encaminhá-la ao membro do parquet (promotor ou procurador da república). O código de
processo penal não prevê recurso da decisão que afasta ou mantém o membro do MP nos
autos, contudo pode-se imaginar a impetração de eventual mandado de segurança (caso
julgada procedente), habeas corpus (caso julgada improcedente) e eventual pedido de
nulidade em apelação, caso fique demonstrada a ocorrência de prejuízo à parte.

O juiz, o órgão do MP, os serventuários ou funcionários de justiça e os peritos ou


intérpretes abster-se-ão de servir no processo, quando houver incompatibilidade ou
impedimento legal, que declararão nos autos. Se não se der a abstenção, a
incompatibilidade ou impedimento poderá ser arguido pelas partes, seguindo-se o processo
estabelecido para a exceção de suspeição (art. 112).

Nucci admite exceção de impedimento/suspensão durante a fase do inquérito policial em


relação aos magistrados e membros do Ministério Público, criticando o artigo 107 do CPP
que determina que a autoridade policial declare-se suspeita ou impedida, mas menciona não
ser cabível a oposição da exceção.

362
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Causas de impedimento:

Art.  252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:

I -  tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério
Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;

II -  ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como
testemunha;

III -  tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito,
sobre a questão;

IV  - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.

Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem
entre si parentes, consangüíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
inclusive.

SÚMULAS

STJ

234: A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não


acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.

INFORMATIVOS

STF

Nº 727

Não se deve anular julgamento colegiado no qual participou julgador impedido se a


exclusão de seu voto não alterar o resultado da decisão
No julgamento de determinado Recurso Especial, a Turma do STJ, por unanimidade de
votos (5x0), proferiu decisão contrária ao réu. Posteriormente, descobriu-se que
determinada Ministra estava impedida e não poderia ter votado. O STF entendeu que não
deveria ser decretada a nulidade do julgamento considerando que a Turma é composta por
cinco julgadores e, se fosse excluído o voto da Ministra impedida, mesmo assim não
haveria modificação no resultado do julgamento. Em suma, não se verifica prejuízo na
hipótese em que Ministro impedido participa de julgamento cujo resultado é unânime, pois
a subtração do voto desse magistrado não teria a capacidade de alterar o resultado da
votação. 1ª Turma. HC 116715/SE, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 5/11/2013.

363
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Informativo 522 STF - A atuação de juiz na fase do IP não gera impedimento (processos
penais originários STF/STJ – julgamento final pelo órgão colegiado).

364
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

22.b. Procedimentos especiais. Ritos.


Obras consultadas: Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 16ª ed. São Paulo: Atlas,
2012. Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 18ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. Guilherme
de Souza Nucci. Código de Processo Penal Comentado. 6ª ed. São Paulo: Editora RT, 2007.
Júlio Fabbrini Mirabete. Processo Penal. 18ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007. Fernando
da Costa Tourinho Filho. Código de Processo Penal Comentado. 10ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, v. II, 2007. TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito
processual penal. 4ª ed. Salvador: Juspodivm, 2010. JUNIOR, AURY LOPES. Direito
Processual Penal. 9ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Legislação básica. Lei nº 8.038/90. Art. 85, 513 e ss e art. 519 e ss, do CPP. Código
Eleitoral. Lei nº 11.101/05.

1. Noções Gerais.

Procedimento especial é todo aquele previsto no âmbito dos CPP ou Leis Especiais para as
hipóteses legais específicas, incorporando regras próprias de tramitação processual visando
à apuração dos crimes que constituem o objeto de sua disciplina.

2.Processos de competência originária.

A Lei nº 8.038/90 regulamenta o procedimento a ser seguido nos crimes de competência


originária dos Tribunais Superiores.

Fase investigatória: o inquérito policial tramitará perante o próprio órgão da jurisdição,


competente para o processo e julgamento da futura ação penal.

Prazo para oferecimento da denúncia ou para requerer o arquivamento do inquérito ou das


peças informativas: 15 dias acusado solto e 5 dias para acusado preso.

A instrução, a ser presidida pelo juiz relator, escolhido segundo dispuser o Regimento
Interno, inicia-se com a apresentação da denúncia ou da queixa ao Tribunal.

O Tribunal, antes de receber a queixa ou a denúncia, deve notificar o acusado, para que
ofereça a resposta, ou contestação, no prazo de 15 dias. Eugênio Pacelli entender ser
aplicável às ações penais originárias o disposto no art. 366 do CPP (p. 778).

Apresentada a resposta, e contendo ela documentos juntados pelo réu, sobre estes terá vista
o órgão da acusação (art. 5º). Em seguida, o tribunal, e não só o relator, deverá se
manifestar sobre o recebimento ou sobre a rejeição da denúncia, prevendo o art. 6º que
poderá ser ainda, e desde logo, julgada improcedentes a acusação se a decisão não depender
de outras provas.

365
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Para o ato de recebimento da peça acusatória, o tribunal designará dia, podendo as partes se
manifestar oralmente pelo prazo de 15 minutos. Entende Eugênio Pacelli que, quando se
tratar de rejeição da denúncia, o juízo que sobre a matéria se estende é simplesmente de
viabilidade da ação. No entanto, sustenta ser aplicável por analogia o art. 397 do CPP,
quanto ao conteúdo da matéria versada no aludido dispositivo (p. 779).

Recebida a peça acusatória, segue-se o interrogatório do acusado, para o que será


determinada a sua citação (art. 7º). Eugênio Pacelli sustenta que o interrogatório poderá ser
realizadp, por analogia, como último ato da instrução (p. 780). Nesse sentido já entendeu o
Supremo Tribunal Federal na AP 528-Agr/DF, REl. Min. Ricardo Lewandowski.

A não ser que se entenda aplicável a nova regra do interrogatório, será aberto o prazo de
cinco dias para a defesa prévia (art. 8º), após o que, para a oitiva das testemunhas, deve ser
observado o rito comum dos crimes punidos com reclusão. Ouvidas as testemunhas, será
facultado às partes o requerimento de diligencias final, no prazo de cinco dias. Feito isso, as
partes poderão oferecer, no prazo de 15 dias, as suas alegações finais escritas, após o que,
se não determinada de ofício, a realização de quaisquer diligencias, será designado dia para
o julgamento do processo (art. 11). Na data marcada, após a manifestação oral das partes,
pelo prazo de uma hora, se procederá ao julgamento (art. 12).

3. Dos crimes de responsabilidade de funcionários públicos.

Cuidava-se de rito estabelecido para os crimes comuns (crimes funcionais próprios) e não
infrações políticas, cujos agentes não tenham foro por prerrogativa de função.

Oferecida denúncia ou queixa nos crimes afiançáveis, o juiz ordenará a notificação do


acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de 15 (quinze) dias. De acordo com
entendimento sumulado do STJ, esta apresentação de defesa preliminar seria desnecessária
na ação penal que foi instituída por inquérito policial. Entende-se que a nulidade por
inobservância do art. 514 do Código de Processo Penal é relativa, devendo ser demonstrado
efetivo prejuízo. Não obstante a existência de entendimento sumulado do STJ no sentido de
que, na ação penal instruída por inquérito policial, é desnecessária a resposta preliminar de
que trata o art. 514 do Código de Processo Penal, há precedentes do STF que flexibilizam
tal enunciado, argumentando que a Suprema Corte objetiva não contrariar os princípios do
contraditório e da ampla defesa. Nesse sentido, segundo a atual jurisprudência da Corte
Suprema, para o caso de crimes funcionais típicos afiançáveis, a defesa preliminar é
indispensável mesmo quando a denúncia é lastreada em inquérito policial (vide HC
85779/RJ).

A jurisprudência assentou o entendimento de que, tendo a denúncia imputado ao paciente


crimes funcionais e não funcionais, não se aplica o art. 514 do Código de Processo Penal,
que trata da defesa preliminar.

O juiz rejeitará a denúncia ou queixa, caso se convença da inexistência do crime ou da


improcedência da ação. Recebida a denúncia ou a queixa, segue-se o rito comum ordinário

366
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

com a citação do acusado (TÁVORA, p. 723).

Apenas anota-se o entendimento de Eugênio Pacelli que sustenta estarem revogados os arts.
514 e 516 do CPP, entendendo que agora o rito é o ordinário.

O autor Aury Lopes Jr faz uma crítica contundente à súmula 330 do STJ, dizendo que ela é
um absurdo. Para ele, com inquérito ou sem ele, é necessária a resposta preliminar, sob
pena de ocorrência de nulidade absoluta e, para finalizar, completa dizendo que, após a
adoção do procedimento ordinário, a súmula perdeu completamente seu objeto.

Entretanto, no julgamento do HC 113620, noticiado no dia 7 de junho de 2012, o Ministro


Luiz Fux deixou expresso que o entendimento do Supremo Tribunal Federal é o mesmo da
súmula 330 do STJ, nos seguinte termos: “é desnecessária a resposta preliminar de que trata
o artigo 514 do Código de Processo Penal, na ação penal instruída por inquérito policial.
Dessa forma, uma vez que a ação penal foi instruída junto com o inquérito policial, é
evidente que a exigência de notificação prévia do servidor público foi devidamente
reparada.

4. Dos crimes contra a honra.

Embora ainda constantes do CPP como procedimento especial, os crimes contra a honra,
incluindo o de difamação, submetem-se ao rito sumaríssimo dos Juizados Especiais
Criminais, constituindo infrações de menor potencial ofensivo, pois a pena máxima é a do
crime de calúnia e não supera dois anos. Contudo, havendo concurso material entre calúnia
e difamação e/ou injúria, será excedida a competência do JECRIM, devendo o processo
seguir o rito estabelecido nos arts. 519 e seguintes do CPP.

As disposições do CPP aplicam-se somente para crimes de ação penal privada (princípio da
disponibilidade), ou seja, não abrange os crimes contra a honra do Presidente da República
e de funcionário público no exercício da função, nem a injúria real, bem como ritos
previstos em lei especial, como os do código eleitoral, e os com da Lei 8038/90. Outrossim,
no caso de crime contra funcionário público, a ação pode ser ajuizada mediante queixa
(súmula 714 do STF), ocasião em que poderá ser aplicado este rito.

Quando o crime contra a honra tiver como ofendido o Presidente da República ou Chefe de
Governo estrangeiro, a ação penal somente se procede mediante requisição do Ministro da
Justiça.

Assim, antes de receber a queixa, o juiz oferecerá às partes oportunidade para se


reconciliarem, fazendo-as comparecer em juízo e ouvindo-as, separadamente, sem a
presença dos seus advogados, não se lavrando termo.

Se o juiz receber a queixa sem designar a audiência de conciliação às partes, caracteriza


nulidade absoluta, pois é uma condição de procedibilidade para apurarem-se os referidos
crimes contra a honra.

367
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Quanto às consequências do não comparecimento do querelante à audiência de conciliação,


duas posições se formaram na doutrina. Há posição que exige a presença do querelante, sob
pena de perempção (Aury Lopes Jr.). A segunda posição sustenta a possibilidade de
condução coercitiva do querelado, a fim de que ouça os argumentos do juiz.

Por outro lado, quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato
imputado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de 2 (dois) dias. Não se admite
referida exceção nos crimes de injúria, pois aqui é ferida a honra subjetiva da pessoa.

Quando se tratar de querelado que goze de prerrogativa de função, a exceção será decidida
pelo tribunal competente para julgar o funcionário público que depois devolverá o processo
ao juízo de origem, conforme interpretação do artigo 85, do CPP. Nesse sentido: STF - HC
74649/SP.

Cabe recurso da decisão que inadmite a exceção da verdade? Não. É irrecorrível, cabendo
ao querelado, caso condenado, insurgir-se em preliminar de eventual apelação. Há posição
contrária, admitindo a apelação (TRF5 - ACR 4792 CE 2006.81.00.009517-3).

Por fim, caso o crime contra a honra for praticado por meio da imprensa, deve seguir o rito
previsto na Lei n. 5250/67. Contudo, atualmente, diversos artigos dessa Lei não foram
recepcionados pela Constituição Federal de 1988, como decidiu o Supremo Tribunal
Federal, ao julgar o mérito da Argüição de Descumprimento Fundamental 130-7, de modo
que o rito ali previsto também não foi recepcionado, porque incompatível com a nova
ordem constitucional, não tendo mais aplicabilidade. A esse respeito, confira a seguinte
notícia veiculada no sítio eletrônico do STF:

Quinta-feira, 30 de abril de 2009

Supremo julga Lei de Imprensa incompatível com a Constituição Federal

Por maioria, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou que a Lei de Imprensa (Lei nº
5250/67) é incompatível com a atual ordem constitucional (Constituição Federal de 1988).
Os ministros Eros Grau, Menezes Direito, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Cezar
Peluso e Celso de Mello, além do relator, ministro Carlos Ayres Britto, votaram pela total
procedência da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 130. Os
ministros Joaquim Barbosa, Ellen Gracie e Gilmar Mendes se pronunciaram pela parcial
procedência da ação e o ministro Marco Aurélio, pela improcedência.

Na sessão desta quinta-feira (30), a análise da ADPF foi retomada com o voto do ministro
Menezes Direito. O julgamento do processo, ajuizado pelo Partido Democrático Trabalhista
(PDT) contra a norma, teve início no último dia 1º, quando o relator, ministro Carlos Ayres
Britto, votou pela procedência integral da ação.

Naquela oportunidade, Ayres Britto entendeu que a Lei de Imprensa não pode permanecer
no ordenamento jurídico brasileiro, por ser incompatível com a Constituição Federal de
1988. O ministro Eros Grau adiantou seu voto, acompanhando o relator.

Missão democrática
368
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Hoje (30), o ministro Menezes Direito seguiu o entendimento do relator, pela total
procedência do pedido.

O ministro destacou que a imprensa é a única instituição “dotada de flexibilidade para


publicar as mazelas do Executivo”, sendo reservada a outras instituições a tarefa de tomar
atitudes a partir dessas descobertas. Segundo ele, a imprensa apresenta uma missão
democrática, pois o cidadão depende dela para obter informações e relatos com as
avaliações políticas em andamento e as práticas do governo. Por isso, essa instituição
precisa ter autonomia em relação ao Estado.

“Não existe lugar para sacrificar a liberdade de expressão no plano das instituições que
regem a vida das sociedades democráticas”, disse o ministro, revelando que há uma
permanente tensão constitucional entre os direitos da personalidade e a liberdade de
informação e de expressão. “Quando se tem um conflito possível entre a liberdade e sua
restrição deve-se defender a liberdade. O preço do silêncio para a saúde institucional dos
povos é muito mais alto do que o preço da livre circulação das ideias”, completou, ao citar
que a democracia para subsistir depende da informação e não apenas do voto.

Segundo Menezes Direito, “a sociedade democrática é valor insubstituível que exige, para a
sua sobrevivência institucional, proteção igual a liberdade de expressão e a dignidade da
pessoa humana e esse balanceamento é que se exige da Suprema Corte em cada momento
de sua história”. Ele salientou que deve haver um cuidado para solucionar esse conflito sem
afetar a liberdade de expressão ou a dignidade da pessoa humana.

Dignidade da pessoa humana

Ao votar no mesmo sentido do relator, a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha afirmou
que o ponto de partida e ponto de chegada da Lei de Imprensa é “garrotear” a liberdade de
expressão. Ela acrescentou ainda que o direito tem “mecanismos para cortar e repudiar
todos os abusos que eventualmente [ocorram] em nome da liberdade de imprensa”.

Cármen Lúcia também ponderou que o fundamento da Constituição Federal é o da


democracia e que não há qualquer contraposição entre a liberdade de expressão e de
imprensa com o valor da dignidade da pessoa humana. Muito pelo contrário, afirmou, o
segundo princípio é reforçado diante de uma sociedade com imprensa livre.

Desarmonia com princípios

A Lei de Imprensa, editada em período de exceção institucional, é totalmente incompatível


com os valores e princípios abrigados na Constituição Federal de 1988. Este o argumento
do ministro Ricardo Lewandowski para acompanhar o voto do relator, ministro Carlos
Ayres Britto, no sentido da revogação integral da Lei 5.250/67.

Para Lewandowski, o texto da lei além de não se harmonizar com os princípios


democráticos e republicanos presentes na Carta Magna, é supérfluo, uma vez que a matéria
se encontra regulamentada pela própria Constituição. Diversos dispositivos constitucionais
garantem o direito à manifestação de pensamento – direito de eficácia plena e
aplicabilidade imediata, frisou o ministro.
369
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

O ministro votou pela procedência integral da Arguição de Descumprimento de Preceito


Fundamental (ADPF) 130, acompanhando os votos já proferidos pelo relator e pelos
ministros Eros Grau, Carlos Alberto Menezes Direito e Cármen Lúcia Antunes Rocha.

Parcial procedência do pedido

O ministro Joaquim Barbosa votou pela parcial procedência do pedido, ressalvando os


artigos 20, 21 e 22, da Lei de Imprensa. De acordo com ele, esses artigos que versam sobre
figuras penais ao definir os tipos de calúnia, injúria e difamação no âmbito da comunicação
pública e social são compatíveis com a Constituição Federal. “O tratamento em separado
dessas figuras penais quando praticadas através da imprensa se justifica em razão da maior
intensidade do dano causado à imagem da pessoa ofendida”, afirmou.

Para o ministro, esse tratamento especializado é um importante instrumento de proteção ao


direito de intimidade e útil para coibir abusos não tolerados pelo sistema jurídico, não
apenas em relação a agentes públicos. “Entendo que a liberdade de expressão deve ser a
mais ampla possível no que diz respeito a agentes públicos, mas tenho muita reticência em
admitir que o mesmo tratamento seja dado em relação às pessoas privadas, ao cidadão
comum”, disse.

Durante o voto, Joaquim Barbosa defendeu que não basta ter uma imprensa livre, mas é
preciso que seja diversa e plural, de modo a oferecer os mais variados canais de expressão
de ideias e pensamentos. Ele criticou a atuação de grupos hegemônicos de comunicação
que, em alguns estados, dominam quase inteiramente a paisagem áudio-visual e o mercado
público de ideias e informações, com fins políticos. De acordo com ele, a diversidade da
imprensa deve ser plena a ponto de impedir a concentração de mídia que, em seu entender,
é algo extremamente nocivo para a democracia.

Em retomada posterior, o ministro reajustou seu voto ao da ministra Ellen Gracie, também
pela manutenção dos artigos 1º, parágrafo 1º, artigo 14 e artigo 16, inciso I, que proíbem a
propaganda de guerra, de processos de subversão da ordem política e social ou de
preconceitos de raça ou classe. De acordo com ele, é possível interpretar a linguagem para
que o texto seja compatível com a ordem constitucional vigente.

De acordo com o ministro, quanto à questão dos preconceitos, também mencionados nos
mesmos dispositivos, “suprimir pura e simplesmente as expressões a eles correspondentes
equivalerá, na prática, a admitir que, doravante a proteção constitucional, a liberdade de
imprensa compreende também a possibilidade de livre veiculação desses preconceitos sem
qualquer possibilidade de contraponto por parte dos grupos sociais eventualmente
prejudicados”.

Resolução de conflitos pelo Judiciário

O ministro Cezar Peluso também seguiu o voto do relator pela não recepção da Lei de
Imprensa pela Constituição Federal de 1988. Para ele a Constituição Federal não prevê
caráter absoluto a qualquer direito, sendo assim, “não poderia conceber a liberdade de
imprensa com essa largueza absoluta”.

370
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

“A Constituição tem a preocupação não apenas de manter um equilíbrio entre os valores


que adota segundo as suas concepções ideológicas entre os valores da liberdade de
imprensa e da dignidade da pessoa humana”, afirmou o ministro, ressaltando que a
liberdade de imprensa é plena dentro dos limites reservados pela Constituição.

Peluso afirmou que “talvez não fosse prático manter vigentes alguns dispositivos de um
sistema que se tornou mutilado e a sobrevivência de algumas normas sem organicidade
realmente poderia levar, na prática, a algumas dificuldades”. De acordo com o ministro, até
que o Congresso Nacional entenda a necessidade da edição de uma lei de imprensa – o que,
para ele, é perfeitamente compatível com o sistema constitucional – cabe ao Judiciário a
competência para decidir algumas questões relacionadas, por exemplo, ao direito de
resposta.

Manutenção de artigos

Na sequência do julgamento da ação contra a Lei 5250/67, no Supremo Tribunal Federal


(STF), a ministra Ellen Gracie acompanhou a divergência iniciada pelo ministro Joaquim
Barbosa, e votou pela procedência parcial da Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 130, mantendo em vigor alguns artigos da Lei de Imprensa, que
segundo ela estão em harmonia com a Constituição.

No entendimento da ministra, o artigo 220 da Constituição Federal de 1988, quando diz que
nenhum diploma legal pode se constituir em embaraço à plena liberdade de informação,
quis dizer que a lei que tratar dessas garantias não poderá impor empecilhos ou dificultar o
exercício da liberdade de informação.

A ministra ressaltou em seu voto que devem ser mantidos, na lei, artigos que, para ela, não
agridem a Constituição Federal – no caso os artigos 1º, parágrafo 1º, 2º (caput), 14, 16
(inciso I), 20, 21 e 22.

Nova lei é atribuição do Congresso Nacional

Primeiro e único a divergir, o ministro Marco Aurélio votou pela total improcedência da
ação ajuizada contra a Lei de Imprensa. “Deixemos à carga de nossos representantes, dos
representantes do povo brasileiro, a edição de uma lei que substitua essa, sem ter-se
enquanto isso o vácuo que só leva à babel, à bagunça, à insegurança jurídica, sem uma
normativa explícita da matéria”, afirmou.

Em diversas ocasiões durante o seu o voto o ministro questionou qual preceito fundamental
estaria sendo violado pela Lei de Imprensa. “A não ser que eu esteja a viver em outro
Brasil, não posso dizer que a nossa imprensa hoje é uma imprensa cerceada. Temos uma
imprensa livre”, disse.

Segundo Marco Aurélio, a Lei de Imprensa foi “purificada pelo crivo equidistante do
próprio Judiciário”, que não aplica os dispositivos que se contrapõem à Constituição
Federal. Ele também afastou o argumento de que a edição da norma durante o período
militar tornaria a lei, a priori, antidemocrática. “Não posso, de forma alguma, aqui proceder
a partir de um ranço, de um pressuposto de que essa lei foi editada em regime que aponto
371
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

não como de chumbo, mas como regime de exceção, considerado o essencialmente


democrático.”

O ministro citou ainda trechos de editorial publicado no jornal Folha de S. Paulo, no dia 30
de março de 2008. Um dos trechos lidos diz o seguinte: “Sem a Lei de Imprensa, só
grandes empresas teriam boas condições de proteger-se da má aplicação da lei comum,
levando processos até as mais altas instâncias do Judiciário. Ficariam mais expostos ao jogo
bruto do poder, e a decisões abusivas de magistrados, os veículos menores e as iniciativas
individuais”.

Com a revogação da Lei de Imprensa, dispositivos dos Códigos Penal e Civil passarão a ser
aplicados pelos magistrados para julgar processos contra empresas de comunicação e
jornalistas.

Decano do STF vota pela revogação total da Lei de Imprensa

O decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, manifestou seu
posicionamento pela revogação total da Lei de Imprensa. “Nada mais nocivo e perigoso do
que a pretensão do Estado de regular a liberdade de expressão e pensamento”, disse o
ministro.

Informar e buscar informação, opinar e criticar são direitos que se encontram incorporados
ao sistema constitucional em vigor no Brasil, salientou Celso de Mello. Nesse sentido,
prosseguiu o ministro, as críticas dos meios de comunicação social dirigidas às autoridades
- citou como exemplo -, por mais dura que sejam, não podem sofrer limitações arbitrárias.
Essas críticas, quando emitidas com base no interesse público, não se traduzem em abuso
de liberdade de expressão, e dessa forma não devem ser suscetíveis de punição. Essa
liberdade é, na verdade, um dos pilares da democracia brasileira, asseverou o decano.

Mas a liberdade de expressão não é absoluta – como aliás nenhum direito, disse o ministro,
explicando que o próprio direito à vida tem limites, tendo em vista a possibilidade de pena
de morte (artigo 5º, XLVII) nos casos de guerra.

Indenização

Se o direito de informar tem fundamento constitucional, salientou o ministro, o seu


exercício abusivo se caracteriza ilícito e como tal pode gerar, inclusive, o dever de
indenizar. Celso de Mello explicou que a própria Carta Magna reconhece a quem se sentir
lesado o direito à indenização por danos morais e materiais.

Limitações

A mesma Constituição que garante a liberdade de expressão, frisou Celso de Mello, garante
também outros direitos fundamentais, como os direitos à inviolabilidade, à privacidade, à
honra e à dignidade humana. Para Celso de Mello, esses direitos são limitações
constitucionais à liberdade de imprensa. E sempre que essas garantias, de mesma estatura,
estiverem em conflito, o Poder Judiciário deverá definir qual dos direitos deverá prevalecer,
em cada caso, com base no princípio da proporcionalidade.
372
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

Direito de Resposta

O ministro lembrou que o direito de resposta existe na legislação brasileira desde 1923,
com a Lei Adolpho Gordo. Hoje, disse Celso de Mello, esse direito ganhou status
constitucional (artigo 5º, V), e se qualifica como regra de suficiente densidade normativa,
podendo ser aplicada imediatamente, sem necessidade de regulamentação legal.

Por isso, a eventual ausência de regulação legal pela revogação da Lei de Imprensa pelo
STF, na tarde desta quinta (30), não será obstáculo para o exercício dessa prerrogativa por
quem se sentir ofendido, seja para exigir o direito de resposta ou de retificação.

O ministro Celso de Mello votou pela procedência integral da Arguição de


Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 130, julgando que a Lei de Imprensa
(Lei 5250/67) é completamente incompatível com a Constituição de 1988.

Ministro Gilmar Mendes

O ministro Gilmar Mendes julgou a ação parcialmente procedente, mantendo as regras que
disciplinam o direito de resposta presentes na Lei de Imprensa. De acordo com o presidente
do STF, “o direito de resposta é assegurado no plano constitucional, mas necessita no plano
infraconstitucional de normas de organização e procedimento para tornar possível o seu
efetivo exercício”, afirmou.

Durante o voto, a questão do direito de resposta gerou divergentes opiniões dos ministros.
Gilmar Mendes disse ver com grande dificuldade a supressão das regras da Lei de
Imprensa. “Nós estamos desequilibrando a relação, agravando a situação do cidadão,
desprotegendo-o ainda mais; nós também vamos aumentar a perplexidade dos órgãos de
mídia, porque eles terão insegurança também diante das criações que certamente virão por
parte de todos os juízes competentes”, defendeu.

O ministro previu fenômenos que podem surgir a partir da jurisprudência no sentido da


revogação da lei, especialmente o direito de resposta: um de completa incongruência da
aplicação do direito de resposta, com construções as mais variadas e eventualmente até
exóticas, ou um caso estranho de ultratividade dessa lei que não foi recebida. “A falta de
parâmetros vai continuar aplicando o direito de resposta (previsto na lei revogada)”,
afirmou.

Informativo nº 522 do STJ


DIREITO PROCESSUAL PENAL. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DE EXCEÇÃO DA
VERDADE OPOSTA EM FACE DE AUTORIDADE QUE POSSUA PRERROGATIVA
DE FORO. A exceção da verdade oposta em face de autoridade que possua prerrogativa
de foro pode ser inadmitida pelo juízo da ação penal de origem caso verificada a ausência
dos requisitos de admissibilidade para o processamento do referido incidente. Com efeito,
conforme precedentes do STJ, o juízo de admissibilidade, o processamento e a instrução da
exceção da verdade oposta em face de autoridades públicas com prerrogativa de foro devem ser
realizados pelo próprio juízo da ação penal na qual se aprecie, na origem, a suposta ocorrência
de crime contra a honra. De fato, somente após a instrução dos autos, caso admitida a exceptio

373
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

veritatis, o juízo da ação penal originária deverá remetê-los à instância superior para o
julgamento do mérito. Desse modo, o reconhecimento da inadmissibilidade da exceção da
verdade durante o seu processamento não caracteriza usurpação de competência do órgão
responsável por apreciar o mérito do incidente. A propósito, eventual desacerto no
processamento da exceção da verdade pelo juízo de origem poderá ser impugnado pelas vias
recursais ordinárias. Rcl 7.391-MT, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19/6/2013
5. Do processo penal eleitoral.

São crimes de ação penal pública incondicionada, na qual o Ministério Público oferecerá a
denúncia dentro do prazo de 10 (dez) dias.

Em razão do silêncio do Código Eleitoral (CE) a respeito da condição ou não de preso do


acusado, Eugênio Pacelli entende que o prazo de 10 dias deve ser aplicado apenas quando
se tratar de denunciado solto, devendo ser respeitado o prazo de 5 dias se ele se encontrar
enclausurado (art. 46 do CPP por analogia).

No caso de o magistrado discordar das razões apresentadas para o requerimento de


arquivamento do MP, deverá fazer a remessa dos autos ao Procurador Regional Eleitoral
para tomar as medidas do art. 28 do CPP (art. 357, § 1°, do CE). No entanto, a 2ª CCR
entende que os autos devem ser remetidos à ela, tendo havido derrogação do mencionado
artigo do CE pelo art. 62, IV, da LC nº 75/93 (enunciado n. 29.)

Ainda, Eugênio Pacelli ensina que nos casos de ação penal originária, se o Procurador
Regional Eleitoral requerer o arquivamento e houver discordância do órgão julgador,
caberá ao Procurador-Geral Eleitoral analisar as razões invocadas.

Eugênio Pacelli sustenta a observância do disposto no art. 394, § 4°, do CPP, que determina
a aplicação dos arts. 395, 396 e 397, a todos os procedimentos de primeira instância.

O art. 359 do CE fala em depoimento pessoal do acusado, mas deve ser interpretado como
meio de defesa, permitindo-se a participação dos interessados, tal como agora ocorre no
interrogatório no processo penal comum.

Após a instrução, as partes apresentarão alegações finais escritas no prazo de 5 dias.


Decorrido esse prazo, e conclusos os autos ao Juiz dentro de quarenta e oito horas, terá o
mesmo 10 dias para proferir a sentença.

Das decisões finais de condenação ou absolvição cabe recurso inominado, a ser interposto
no prazo de 10 dias já acompanhando das razões.

Tratando-se de decisão interlocutória, simples ou mista, aplica-se o recurso em sentido


estrito, por analogia, desde que no prazo de 3 dias, nos termos do art. 258 do CE. São
cabíveis embargos de declaração, no processo penal eleitoral, no prazo previsto no art. 258
do Código Eleitoral, qual seja: 3 (três) dias. Eugênio Pacelli sustenta não ser aplicável o art.
600, §.4°, do CPP ao processo em análise, já que os prazos eleitorais são integrais.

As medidas cautelares pessoais introduzidas no CPP pela Lei nº 12.403/11 são também
admitidas no processo penal eleitoral, nos limites e na extensão em que aplicáveis no
374
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

processo geral (Pacelli, 2014, 825)

Por fim, nenhuma autoridade poderá, desde 5 dias antes e até 48 horas depois do
encerramento da eleição, prender ou deter qualquer eleitor, salvo flagrante delito ou em
virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável, ou ainda, por desrespeito
a salvo-conduto. Referido prazo é de 15 dias, em se tratando de candidatos, mesários de
mesas receptoras e fiscais dos partidos.

6. Crimes falimentares.

São crimes de ação penal pública incondicionada, cujo rito é o sumário (art. 185 da Lei nº
11.105/05) e cuja competência é do Juiz Criminal da jurisdição onde tenha sido decretada a
falência, concedida a recuperação judicial ou homologado o plano de recuperação
extrajudicial. Não há mais o inquérito judicial falimentar.

A sentença que decreta a falência ou concede a recuperação judicial ou a recuperação


extrajudicial é condição objetiva de punibilidade dos crimes falimentares.

O prazo para oferecimento da denúncia regula-se pelo art. 46 do CPP, salvo se o MP,
estando o réu solto ou afiançado, decidir aguardar a apresentação da exposição
circunstanciada de que trata o art. 186 da Lei nº 11.101/05, devendo, em seguida, oferecer a
denúncia. Na omissão do MP, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá
oferecer ação penal privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6
meses.

Eugênio Pacelli sustenta que os credores poderão ser assistentes da acusação por força do
art. 188 da Lei nº 11.101/05, c.c., o art. 268 do CPP .

Por fim, Eugênio Pacelli afirma a impossibilidade de aplicação do novo rito aos crimes
praticados antes da Lei nº 11.101/05, já que as novas regras processuais são mais gravosas
comparadas ao rito comum anteriormente aplicável.

7. Informativos

STF:
- Nº 736

Não é possível aplicar a fase de absolvição sumária do art. 397 do CPP para o
procedimento previsto na Lei nº 8.038/90
No procedimento previsto na Lei nº 8.038/90 não é necessário que seja aplicada, por
analogia, a fase de absolvição sumária estabelecida no art. 397 do CPP. Isso porque o rito
previsto nessa lei especial já traz a previsão do denunciado apresentar uma resposta
preliminar e a possibilidade do Tribunal julgar improcedente a acusação antes mesmo da
ação penal se iniciar. Dessa forma, o art. 4º da Lei nº 8.038/1990 tem a mesma finalidade e
substitui a absolvição sumária do art. 397 do CPP. Não é cabível, em se tratando de ação

375
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

penal originária (Lei nº 8.038/1990), que seja assegurado ao acusado citado para a
apresentação da defesa prévia prevista no art. 8º da Lei nº 8.038/1990 o direito de se
manifestar nos moldes preconizados no art. 396-A do CPP, com posterior deliberação
acerca de absolvição sumária prevista no art. 397 do CPP. STJ. Corte Especial. AgRg na
APN 697-RJ, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 3/10/2012. STF. 2ª Turma. HC
116653/RJ, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2014.

376
Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Gustavo Campos

22.c. Procedimento relativo aos crimes de tráfico ilícito e uso indevido de


drogas que causam dependência física ou psíquica e de substâncias
entorpecentes.
Obras consultadas: Curso de Processo Penal. Eugênio Pacelli de Oliveira. 18ª Edição. São
Paulo: Ed. Atlas, 2014. Curso de Processo Penal. Eugênio Pacelli de Oliveira. 16ª Edição.
JUNIOR, Aury Lopes. Direito Processual Penal. 9ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Legislação básica: Lei n º 11.346/2006, arts. 48-59 e 70; CPP, arts. 395-397.

1 – Introdução: O procedimento para apuração de tais crimes encontra-se delineado,


basicamente, na Lei nº 11.343/2006, especificamente nos termos dos artigos 48 a 59, os
quais revogaram os dispositivos pertinentes das Leis nº 6.368/1976 e 10.409/2002. Diz-se
basicamente porque tais dispositivos devem ser complementados pelas inovações
procedimentais trazidas pela Lei 11.719/2008, como adiante demonstrado.

2 – Aspectos gerais - artigos 48 e 49 da Lei nº 11.343/2006: Importante registrar que a


Lei n.º 11.343/2006 tem como uma das principais finalidades prescrever regime jurídico
distinto entre as infrações cometidas pelo usuário e pelo traficante, o que ensejou o
estabelecendo de dois ritos diferentes para cada uma daquelas espécies. Enquanto os tipos
ligados ao propósito de prevenção ao uso indevido (arts. 28, caput e §1º, 33, §3º, e 38) são
submetidos ao rito sumaríssimo disciplinado pela Lei n.º 9.099/95, as infrações penais
ligadas ao combate/repressão ao tráfico de drogas (artigos 33, caput, e §§ 1º e 2º, 34, 35,
36, 37 e 39, § único) submetem-se ao procedimento previsto nos artigos 50 a 59 da Lei n.º
11.343/2006, com aplicação subsidiária do procedimento ordinário do CPP. Deve-se
advertir, no entanto, que, em havendo concurso de crimes entre o tipo do art. 28 e o tipo de
tráfico, fazendo surgir a figura do usuário-traficante, não haverá aplicação do rito dos
Juizados Especiais, devendo-se aplicar o rito previsto nos artigos 50 a 59 mesmo em
relação ao delito do art. 28. A doutrina pondera, no entanto, que o concurso entre os crimes
do art. 28 e 33, §3º (“Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de
seu relacionamento, para juntos a consumirem”), por serem ambos de menor potencial
ofensivo, podem ser processados perante o Juizado Especial, ao contrário do que sugere a
literalidade do art. 48, §1º.

3 – Da investigação – artigos 50 a 54: O art. 50, §1º, estabelece que, ocorrendo prisão em
flagrante, há necessidade de confecção de laudo de constatação da natureza e quantidade da
droga, firmado por perito oficial ou, na falta dele, por pessoa idônea. Tal laudo é provisório,
servindo unicamente como lastro probatório mínimo, sendo o laudo toxicológico definitivo
o documento capaz de ensejar eventual condenação. Este último, nos termos do §2º, deve
ser elaborado por dois peritos (a expressão “participar” justifica tal conclusão).

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Deve-se ponderar, no entanto, que a Lei nº 11.690/08 inovou no tema, assentando que a
perícia oficial poderia ser levada a cabo por um único perito. Para Pacelli, mesmo em se
tratando de norma posterior à Lei 11.343/06, esta deve prevalecer, por ser especial e por
não ter havido mandamento genérico de aplicação, a quaisquer procedimentos, dos
dispositivos da Lei nº 11.690/08.

Em qualquer fase da persecução, desde que autorizadas judicialmente, ouvido o MP,


poderão ser adotas medida especiais de investigação, tais como a infiltração de agentes de
polícia no seio de organização criminosa e a ação controlada, esta com o retardamento da
prisão em flagrante, desde que conhecidos o itinerário provável e alguns agentes do delito,
com o fim de identificar/responsabilizar maior número de autores. A denúncia poderá ser
instruída apenas com laudo preliminar de constatação, devendo o laudo definitivo
(toxicológico) ir aos autos até três dias antes da audiência una (52, § ú, I).

Em havendo as diligencias complementares, a saber, procedimentos investigatórios levados


a cabo mesmo após o envio do inquérito ao Poder Judiciário, nos termos do art. 52,
parágrafo único I e II, tem-se a necessidade de se reabrir o contraditório, devendo o Juiz
admitir na audiência nova manifestação do réu, reabrindo também a instrução.

(Juiz TRF 5ª Região – 2013) Os procedimentos de ação controlada, afastamento de sigilo


de informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais e infiltração de agentes de polícia
ou de inteligência dependem de prévia autorização judicial estritamente sigilosa, sendo, por
essa razão, considerados medidas de produção antecipada de prova. ERRADO. Ação
controlada não depende de autorização prévia. Na nova lei de organização criminosa, o
controle é a posteriori. A 11.343/06 fala em autorização prévia. A 12.850/2013 não fala em
infiltração de agentes de inteligência, só agentes policiais.

4 – Da instrução criminal – artigos 54 a 59: Suma do procedimento (arts. 50/59):


oferecimento denúncia, notificação réu, apresentação de defesa preliminar escrita – arrolar
até 5 testemunhas (prazo 10 dias), recebimento, designação de audiência una de
instrução/julgamento, citação pessoal réu e intimação do MP/assistente e eventual
requisição pelo juiz de laudos periciais. Ordem de atos na audiência: interrogatório, oitiva
de testemunhas da acusação e da defesa, debates orais 20min, prorrogáveis por mais 10 min
e sentença.

Advirta-se que tal procedimento foi alterado pela Lei 11.719/2008. Sendo assim, diante da
regra contida no art. 394, §4º do CPP, tem-se que deverá ser observado em todo
procedimento de primeira instância, seja comum ou especial, as etapas dos arts. 395 a 397,
ou seja: 1) a peça acusatória poderá ser rejeitada por questões processuais alinhadas no art.
395; 2) se não o for, a denúncia ou queixa será recebida, determinando-se a citação do
acusado para apresentação da resposta escrita no prazo de 10 dias (art. 396 e art. 396-A); 3)
com a resposta, o juiz poderá absolver sumariamente o acusado, nas hipóteses mencionadas
no art. 397, CPP.

Para Pacelli, não há mais necessidade de se proceder à notificação para defesa preliminar,
pois se deve aplicar o art. 396 do CPP ao invés dos arts. 55 e 56 da Lei 11.343/06. Apesar
de esta ser Lei especial, há mandamento específico na Lei 11.719/2008, como visto,

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determinando sua aplicação a quaisquer procedimentos de primeira instancia.

Em qualquer fase da persecução, admite a lei a figura do “agente infiltrado” e do “flagrante


diferido”.

5 – Medidas cautelares: A aplicação das medidas cautelares diversas da prisão deve ter
preferência, sempre que adequadas e necessárias, em especial quando não houver
expectativa de imposição de pena privativa de liberdade ao final do processo.

6 – Competência da Justiça Federal: Quando caracterizada a transnacionalidade do delito


(aqueles previstos nos arts. 33 a 37), a competência será da Justiça Federal (art. 70 da Lei
11343).

“É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,


condicionado à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra do
servidor público em razão do exercício de suas funções”.

(...)IV - É possível o arrolamento de testemunhas pelo assistente de acusação desde que


observado o limite do art. 398, do CPP (Precedentes do STF).

Referido dispositivo permitia que a diligência fosse realizada pelo juiz, o que, no entender
do STF viola o sistema acusatório. Eis a redação da norma tida por inconstitucional: “Art.
3º Nas hipóteses do inciso III do art. 2º desta lei, ocorrendo possibilidade de violação de
sigilo preservado pela Constituição ou por lei, a diligência será realizada pessoalmente pelo
juiz, adotado o mais rigoroso segredo de justiça”.

7 – Informativos

STF:

Nº 734
O crime de tráfico de drogas, com a redução do § 4º do art. 33, é equiparado a
hediondo, estando sujeito a progressão com requisitos objetivos mais rígidos
A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006
não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas, limitando-se, por critérios de
razoabilidade e proporcionalidade, a abrandar a pena do pequeno e eventual traficante, em
contrapartida com o grande e contumaz traficante, ao qual a Lei de Drogas conferiu
punição mais rigorosa que a prevista na lei anterior. Assim, se o indivíduo é condenado por
tráfico de drogas e recebe a diminuição prevista no § 4º do art. 33, mesmo assim terá
cometido um crime equiparado a hediondo. 1ª Turma. RHC 118099/MS e HC
118032/MS, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/2/2014.

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