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CARREIRAS

V
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POLICIAIS 2
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M
E

PREPARAÇÃO - CONHECIMENTO - APROVAÇÃO

PRF-PF-PC

Noções de Direito Penal


Noções de Direito Processual Penal
Legislação Especial
Legislação Relativa ao DPRF
Noções de Administração

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ŝ-ŝŦ SUMÁRIO 5

ÍNDICE
NOÇÕES DE DIREITO PENAL ....................................................................................................... 9
1. Introdução ao Direito Penal e Aplicação da Lei Penal ............................................................................12
2. Do Crime ................................................................................................................................................21
3. Concurso de Crimes ...............................................................................................................................31
4. Dos Crimes Contra a Pessoa .................................................................................................................33
5. Dos Crimes Contra o Patrimônio...........................................................................................................58
6. Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual ................................................................................................78
7. Dos Crimes Contra a Fé Pública ............................................................................................................ 81
8. Dos Crimes Contra a Administração Pública ........................................................................................88
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL ................................................................................117
1. Disposições Constitucionais Aplicáveis ao Processo Penal .................................................................. 119
2. Introdução ao Direito Processual Penal .............................................................................................. 120
3. Inquérito Policial .................................................................................................................................. 121
4. Ação Penal .......................................................................................................................................... 128
5. Jurisdição e Competência ....................................................................................................................132
6. Prova................................................................................................................................................... 138
7. Do Juiz, do Ministério Público, do Acusado e Defensor, dos Assistentes e Auxiliares da Justiça ...... 146
8. Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberdade Provisória ........................................................... 148
9. Procedimento dos Crimes de Responsabilidade do Funcionário Público ...........................................155
10. Habeas Corpus e seu Processo ......................................................................................................... 156
LEGISLAÇÃO ESPECIAL ...........................................................................................................160
1. Lei nº 10.826/2003 Estatuto do Desarmamento ................................................................................. 164
2. Lei nº 7.716/1989 Lei de Discriminação Racial .................................................................................... 170
3. Lei nº 10.741/2003 Estatuto do Idoso - Dos Crimes ............................................................................172
4. Lei nº 5.553/1968 Apresentação e Uso de Documento de Identificação Pessoal................................173
5. Lei nº 4.898/1965 Abuso de Autoridade ............................................................................................175
6. Lei nº 9.455/1997 Lei de Tortura .........................................................................................................177
7. Lei nº 8.069/1990 Estatuto da Criança e do Adolescente .................................................................. 179
8. Lei nº 12.850/2013 Da Organização Criminosa (Revoga a Lei nº 9.034/1995) .................................. 195
9. Lei nº 9.099/1995 Juizados Especiais Cíveis e Criminais .................................................................. 200
10. Lei nº 10.259/2001 Juizados Especiais Federais .............................................................................. 208
11. Lei nº 11.340/2006 Lei Maria da Penha ............................................................................................... 211
12. Lei nº 11.343/2006 Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad) ...........................215
13. Decreto-Lei nº 3.688/1941 Lei das Contravenções Penais ................................................................223
6 SUMÁRIO Ş
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14. Lei nº 9.605/1998 Lei dos Crimes Ambientais .................................................................................230


15. Lei nº 7.102, de 20 de Junho de 1983 ................................................................................................237
16. Lei nº 6.815/1980 Estatuto do Estrangeiro....................................................................................... 240
17. Lei nº 10.446/2002 Infrações Penais que Exijam Repressão Uniforme ............................................246
18. Lei nº 10.357/2001 Normas de Controle de Fiscalização Sobre Produtos Químicos ........................246
19. Lei nº 7.102/1983 Segurança para Estabelecimentos Financeiros ....................................................249
20. Lei nº 9.296/1996 Interceptações Telefônicas ..................................................................................251
21. Disposições Penais ............................................................................................................................252
22. Lei nº 7.210/1984 Lei das Execuções Penais ....................................................................................264
23. Direito do Consumidor ..................................................................................................................... 280
LEGISLAÇÃO RELATIVA AO DPRF ........................................................................................... 294
1. Lei nº 4.878, 3 de Dezembro de 1965 .................................................................................................296
2. Lei nº 9.654 de 2 de Junho de 1998 ....................................................................................................303
3. Lei nº 9.503/1997 Código de Trânsito Brasileiro ............................................................................... 306
4. Decreto nº 6.061/2007 Estrutura Regimental do Ministério da Justiça .............................................372
5. Anexos ................................................................................................................................................385
6. Decreto nº 1.655, de 3 de Outubro de 1995........................................................................................392
7. Competências da PRF - Lei 9.503/1997 ..............................................................................................392
8. Decreto nº 6.061, de 15 de Março de 2007 .........................................................................................393
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................406
1. Teorias Administrativas...................................................................................................................... 407
2. Processo Administrativo (Organizacional)......................................................................................... 417
3. Cultura Organizacional ...................................................................................................................... 445
4. Administração Pública ....................................................................................................................... 450
5. Gestão da Qualidade...........................................................................................................................462
6. Gestão de Projetos .............................................................................................................................479
7. Planejamento Estratégico.................................................................................................................. 486
8. Trabalho em Equipe ........................................................................................................................... 496
9. Comunicação Organizacional ............................................................................................................ 499
10. Processo Decisório ............................................................................................................................502
11. Gestão de Processos ..........................................................................................................................505
12. Balanced Scorecard ............................................................................................................................ 511
13. Conceitos Introdutórios ..................................................................................................................... 514
14. Orçamento Público ............................................................................................................................ 519
15. Sistema de Planejamento e Orçamento Brasileiro ............................................................................523
16. Instrumentos de Planejamento PPA, LDO e LOA ..............................................................................528
17. Mecanismos de Ajustes Orçamentários ............................................................................................ 544
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ŝ-ŝŦ SUMÁRIO 7

18. Ciclo Orçamentário - Processo Orçamentário ...................................................................................549


19. Sistemas de Informações de Planejamento e Orçamento..................................................................551
20. Princípios Orçamentários .................................................................................................................562
21. Conta Única do Tesouro Nacional......................................................................................................574
22. Receita Pública .................................................................................................................................576
23. Despesa Pública ................................................................................................................................592
24. Restos a Pagar .................................................................................................................................. 610
25. Despesas de Exercícios Anteriores (DEA) ........................................................................................ 613
26. Suprimento de Fundos (Regime de Adiantamento) ........................................................................ 614
27. Dívida Ativa ...................................................................................................................................... 619
28. Programação e Execução Orçamentária e Financeira ...................................................................... 621
29. Listas de Siglas e Abreviações ..........................................................................................................628
30. Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal .........................................................................628
31. Conceitos Orçamentários ................................................................................................................. 630
32. Receita ............................................................................................................................................. 630
33. Despesa .............................................................................................................................................637
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ŝ#-ŝŦ NOÇÕES DE DIREITO PENAL 9

ÍNDICE
1. Introdução ao Direito Penal e Aplicação da Lei Penal .................................................... 12
Introdução ao Estudo do Direito Penal.......................................................................................... 12
Teoria do Crime ............................................................................................................................. 12
Interpretação da Lei Penal............................................................................................................. 13
Conflito Aparente de Normas Penais.............................................................................................14
Lei Penal no Tempo ....................................................................................................................... 15
Crimes Permanentes ou Continuados............................................................................................16
Lei Excepcional ou Temporária......................................................................................................16
Tempo do Crime ............................................................................................................................16
Lugar do Crime .............................................................................................................................. 17
Da Lei Penal no Espaço .................................................................................................................. 17
Extraterritorialidade ......................................................................................................................19
Pena Cumprida no Estrangeiro ..................................................................................................... 20
Eficácia de Sentença Estrangeira.................................................................................................. 20
Contagem de Prazo ...................................................................................................................... 20
Frações não Computáveis da Pena ............................................................................................... 20
Legislação Especial ........................................................................................................................ 21
2. Do Crime .................................................................................................................... 21
Relação de Causalidade ................................................................................................................. 21
Da Consumação e Tentativa ........................................................................................................ 22
Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz ......................................................................... 23
Arrependimento Posterior............................................................................................................ 23
Crime Impossível - “Quase Crime” ............................................................................................... 23
Crime Doloso ................................................................................................................................ 24
Crime Culposo............................................................................................................................... 24
Preterdolo ..................................................................................................................................... 25
Erro sobre Elemento do Tipo ........................................................................................................ 25
Erro sobre a Pessoa ...................................................................................................................... 26
Erro sobre a Ilicitude do Fato ....................................................................................................... 26
Coação Irresistível e Obediência Hierárquica ............................................................................... 26
Exclusão da Ilicitude ..................................................................................................................... 27
Da Imputabilidade Penal .............................................................................................................. 28
Emoção e Paixão........................................................................................................................... 29
Menores de Dezoito Anos ............................................................................................................. 29
Do Concurso de Pessoas ............................................................................................................... 30
Circunstâncias Incomunicáveis ...................................................................................................... 31
10 NOÇÕES DE DIREITO PENAL Ş
ŝ#-ŝŦ

3. Concurso de Crimes .................................................................................................... 31


Concurso Material .......................................................................................................................... 31
Concurso Formal ........................................................................................................................... 32
Crime Continuado ......................................................................................................................... 32
Multas no Concurso de Crimes...................................................................................................... 33
4. Dos Crimes Contra a Pessoa ........................................................................................33
Dos Crimes Contra a Vida ............................................................................................................. 33
Das Lesões Corporais .................................................................................................................... 42
Da Periclitação da Vida e da Saúde .............................................................................................. 47
Da Rixa .......................................................................................................................................... 49
Dos Crimes Contra Honra.............................................................................................................. 50
Exclusão do Crime ........................................................................................................................ 54
Retratação .................................................................................................................................... 55
Dos Crimes Contra Liberdade Individual ...................................................................................... 55
5. Dos Crimes Contra o Patrimônio ..................................................................................58
Do Furto ........................................................................................................................................ 58
Do Roubo e da Extorsão ................................................................................................................61
Da Usurpação ................................................................................................................................ 66
Do Dano ........................................................................................................................................ 67
Da Apropriação Indébita .............................................................................................................. 68
Do Estelionato e outras Fraudes ................................................................................................... 72
Da Receptação .............................................................................................................................. 76
Disposições Gerais ........................................................................................................................ 78
6. Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual ........................................................................78
Dos Crimes Contra a Liberdade Sexual ......................................................................................... 78
Dos Crimes Sexuais Contra Vulnerável ......................................................................................... 79
Do Rapto .......................................................................................................................................80
Disposições Gerais ........................................................................................................................80
Do Lenocínio e do Tráfico de Pessoa Para Fim de Prostituição ou Outra Forma de Exploração
Sexual ...........................................................................................................................................80
Do Ultraje Público ao Pudor ..........................................................................................................81
Disposições Gerais .........................................................................................................................81
7. Dos Crimes Contra a Fé Pública ................................................................................... 81
Da Moeda Falsa ..............................................................................................................................81
Da Falsidade de Títulos e Outros Papéis Públicos ........................................................................ 82
Da Falsidade Documental ............................................................................................................. 83
De Outras Falsidades .................................................................................................................... 86
Das Fraudes em Certames de Interesse Público ........................................................................... 87
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ŝ#-ŝŦ NOÇÕES DE DIREITO PENAL 11

8. Dos Crimes Contra a Administração Pública................................................................ 88


Dos Crimes Praticados por Funcionário Público Contra a Administração em Geral..................... 88
Dos Crimes Praticados por Particular Contra a Administração em Geral ..................................... 99
Dos Crimes Praticados por Particular Contra a Administração Pública Estrangeira ...................106
Dos Crimes Contra a Administração da Justiça ...........................................................................106
Subtração ou Dano de Coisa Própria em Poder de Terceiro......................................................... 111
Dos Crimes contra as Finanças Públicas .......................................................................................116
12
1. Introdução ao Direito Penal e sa, entretanto se realmente houver intenção, o desejo do indiví-
duo, sua conduta com um propósito específico será dolosa.
Aplicação da Lei Penal Necessita ser voluntária, por exemplo, caso o agente venha
agredir alguém por conta de um espasmo muscular, essa condu-
ta é tida como involuntária.
Introdução ao Estudo do Direito Penal ї A infração penal sempre gera um resultado que pode
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

A Infração Penal é gênero que se divide em duas espécies: ser:


crimes (conduta mais gravosa) e contravenções penais (con- Naturalístico: quando ocorre efetivamente a lesão de um
duta de menor gravidade). Essa divisão é chamada de dicotô- bem jurídico tutelado - protegido - da vítima. Por exemplo, no
mica. A diferença básica incide sobre as penas aplicáveis aos crime de homicídio, quando a vida de alguém é interrompida,
infratores, enquanto o crime é punível com pena de reclusão e causa um resultado naturalístico, pois modificou o mundo ex-
detenção, as contravenções penais implicam prisão simples e terior, não somente do de cujus (falecido) como de sua família.
multa, podendo ser aplicada de forma cumulativa ou não. Jurídico: quando a lesão não se consuma, utilizando o
Para que a conduta seja definida como crime, tem que es- mesmo exemplo acima, caso o agressor não tivesse êxito na
tar tipificada (escrita) em alguma norma penal. Não somente o sua conduta, ele responderia pela tentativa de homicídio,
próprio Código Penal as descreve como também as Leis Com- desde que não cause lesão corporal. Convém ressaltar que,
plementares Penais ou Leis Especiais, por exemplo: Estatuto embora o agente não obteve êxito no resultado pretendido, o
do Desarmamento nº 10.826/2003, Lei de Tortura nº 9.455/97, Código Penal sempre irá punir por aquilo que ele queria fazer
entre outras. Por conseguinte, as Contravenções Penais estão (elemento subjetivo), contudo nesse caso gerou apenas um
previstas em Lei específica, nº 3.688/41, esta também é conhe- resultado jurídico.
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cida como Crime Anão, visto seu reduzido potencial ofensivo.


Como essa conduta não é o cerne do estudo não convém apro- Teoria do Crime
fundar o assunto, basta apenas ressaltar que as Contravenções Sendo o crime (delito) espécie da infração penal, possui
Penais não admitem tentativas, enquanto o Crime é punível, uma nova divisão. Nesse caso, existem diversas correntes
mas, somente se existir previsão legal (Código Penal). doutrinárias para este conceito, entretanto, adotaremos a ma-
Contravenção Prisão joritária, a qual vigora no Direito Penal Brasileiro, classificada
Reclusão Crime Infração Penal Penal simples como Teoria Finalista Tripartida ou Tripartite.
= (Divisão =
Detenção (delito) Dicotômica) (crime anão) Multa
Fato Típico (Está escrito, definido como crime)
Não
Crime +
admite Ilícito (Antijurídica) - (Contra a lei)
+ Grave - Grave tentativa Delito
+
Conduta humana
Proposital = Dolo Culpável (Culpabilidade)
Consciente
Voluntária Descuidada = Culpa Crime se Divide em
ї Fato Típico: para ser considerado fato típico, é fundamen-
Classificação dos tal que a conduta esteja tipificada, ou seja, escrita, em al-
Tipificadas Crimes:
(escritas) Comissivo
guma norma penal. Não obstante, é necessário que exista:
CP Omissivo ▷ Conduta: é a ação do agente, seja ela culposa (des-
LCP Material cuidada) ou dolosa, intencional; comissiva (ação) ou
Leis Especiais Formal
Mera Conduta omissiva (deixar de fazer).
Especial ou própria ▷ Resultado: que seja naturalístico (modificação pro-
Mão própria vocada no mundo exterior pela conduta) ou jurídico
Preterintencional
Permanente (quando não houver resultado jurídico não existe
Putativo crime).
Ameaça a Lesão ▷ Nexo Causal: é o elo entre a ação e o resultado, ou
Lesão Resultado seja, se o resultado foi provocado diretamente pela
(Resultado Naturalístico) (Resultado
Jurídico) ação do agente, houve nexo causal.
Fere Bens Jurídicos ▷ Tipicidade: tem que ser considerado crime, estar
Fundamentais tipificado, escrito.
Caso não existam alguns destes elementos na conduta,
ї Para configurar em infração penal, são necessários al- pode-se dizer que o fato é atípico.
guns pressupostos: ї Ilícito (antijurídico): neste quesito a ação do agente tem
Deve ser uma conduta humana, ou seja, o simples ataque que ser ilícita, pois, nosso ordenamento jurídico prevê lega-
de um animal não configura em crime, porém, caso ele seja lidade em determinadas situações em que, mesmo sendo
instigado por outra pessoa, passa a ser um mero objeto utili- antijurídicas, serão permissivas. São as chamadas de exclu-
zado na prática da conduta do agressor. dentes de ilicitude ou de antijuridicidade, sendo: Legítima
Deve ser uma ação consciente, possível de ser prevista pelo Defesa, Estado de Necessidade, Estrito Cumprimento do
agente, quando esse é descuidado responderá de forma culpo- Dever Legal ou no Exercício Regular de um Direito.
ї Culpável (culpabilidade): é a capacidade de o agente se engravidar em decorrência disso, realizava-se a analogia
receber pena. Em alguns casos, mesmo o agente come- in bonam partem, permitindo também neste caso, o aborto.
tendo um fato típico e ilícito, ele não poderá ser culpável, Ressaltamos que não existe mais o crime de violento atentado
ou seja, não pode ser “preso”, pois incidirá nas excluden- ao pudor, atualmente no Código Penal é tido como estupro.
tes de culpabilidade. A mais conhecida é o menor em In malam partem
conflito com a lei, ele pode cometer uma infração penal (prejudicar) NÃO aceita
(crime), mas não poderá ir preso. É quando, no momento
da ação ou da omissão, o agente é totalmente incapaz Analogia no
de entender o caráter ilícito do fato, ou de determinar-se Direito Penal
de acordo com esse entendimento. Ainda dentro dessa
In bonam partem
espécie, haverá três desdobramentos que são a imputa-
bilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibili- (beneficiar) aceitar
dade de conduta diversa. O princípio da Reserva Legal admite o uso de Normas Pe-
Para que o crime ocorra, é necessário preencher todos os nais em branco.
requisitos, caso exclua alguns dos elementos do fato típico ou Normas Penais em branco são aquelas que precisam ser
se não for ilícito/antijurídico, dizemos que excluiu o crime; caso
não possa ser culpável, o agente será isento de pena. complementadas para que analisemos o caso concreto. Por
exemplo, a vigente Lei de Drogas nº 11.343/06 dispõe sobre
Pode ocorrer de o agente cometer um fato descrito como
crime – Matar alguém – e esse fato não ser considerado crime. diversas condutas ilícitas, entretanto, o que é droga? Para
Ex.: quem mata em legítima defesa comete um fato típico, analisar se determinada substância é droga ou não, o direito
ou seja, escrito e definido como crime. Contudo, esse fato não penal analisa uma portaria da Anvisa (Agência Nacional de Vi-
é ilícito, pois a própria lei autoriza o sujeito a matar em certos gilância Sanitária) nº 344/98, em que todas as substâncias que
casos pré-definidos. estiverem descritas serão consideradas como droga.
Pode ocorrer também, de o agente cometer um fato defi- A Analogia Penal é diferente de Interpretação Analógica,
nido como crime, ou seja, fato típico – escrito e definido no CP nessa situação, a conduta do agente é analisada dentro da
– e ilícito, o ordenamento jurídico não autoriza aquela conduta, própria norma penal, ou seja, é observado a forma como a
e mesmo assim ficar isento de PENA. Assim, pode o sujeito co- conduta foi praticada, quais os meios utilizados. Sendo assim,
meter um crime e não ter pena. a Interpretação Analógica sempre será possível, ainda que
Ex.: quem é obrigado a cometer um crime. Uma pessoa en- mais gravosa para o agente.
costa a arma carregada na cabeça de outra e diz que, se ela não
cometer tal crime, irá morrer. Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Princípio da Legalidade § 2º. Se o homicídio é cometido:

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(Anterioridade - Reserva Legal) III. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi-
Art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
há pena sem prévia cominação legal. que possa resultar perigo comum;
Somente haverá crime quando existir perfeita correspon- Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
dência entre a conduta praticada e a previsão legal (Reserva Nessa situação, caso o agente tenha cometido o homicídio
Legal), que não pode ser vaga, deve ser específica. Exige-se utilizando-se de alguma das formas expostas no inciso III, ocor-
que a lei esteja em vigor no momento da prática da infração pe- rerá a aplicação de uma pena mais gravosa, é o exemplo de Inter-
nal (Anterioridade). Fundamento Constitucional: Art. 5º, XXXIX. pretação Analógica.
ї Princípio: Nullum crimem, nulla poena sine praevia lege.
As normas penais incriminadoras não são proibitivas e sim Interpretação da Lei Penal
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

descritivas. Por exemplo, o Art. 121 - Matar alguém, no Código


Penal, ele não proíbe, ou seja, não matar. Ele descreve uma A matéria Interpretação da Lei Penal passou a ser abordada
conduta, que, se cometida possuirá uma sanção (punição). com mais frequência pelos editais de concurso público. No entan-
Não são to, quando cobrada, não costuma gerar muita dificuldade. Isso
proibitivas Quem pratica porque geralmente a banca examinadora traz na questão uma
um crime não espécie de interpretação e questiona quanto ao seu significado.
Normas Penais age contra a lei, A Interpretação da Lei Penal consiste em buscar o signi-
Incriminadoras mas de acordo ficado e a extensão da letra da lei em relação à realidade e à
São com ela. vontade do legislador.
descritivas Assim, a Interpretação da Lei Penal divide-se em:
Quanto ao Sujeito
A Analogia no Direito Penal só é aceita para beneficiar o
agente. Por exemplo, no antigo ordenamento jurídico, só era Autêntica ou Legislativa
permitido realizar o aborto em decorrência do estupro (pênis É aquela realizada pelo mesmo órgão da qual emana, po-
x vagina), entretanto, a norma penal não abrangia o caso do dendo vir no próprio texto legislativo ou em lei posterior. 13
violento atentado ao pudor (pênis x ânus). Caso a mulher vies- Ex.: Conceito de funcionário público previsto no Art. 327, CP.
Doutrina um tipo penal, mas isso é tão somente aparente, pois os princí-
14 É aquela realizada pelos doutrinadores – estudiosos do pios do direito penal resolvem esse fato. São eles os princípios:
direito penal – normalmente encontrada em livros, artigos e a) Princípio da Especialidade;
documentos. b) Princípio da Subsidiariedade;
Ex.: Código Penal comentado. c) Princípio da Consunção;
Jurisprudencial ou Judicial d) Princípio da Alternatividade.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

É aquela realizada pelo Poder Judiciário na aplicação do


caso concreto, na busca pela vontade da lei. É a análise das Princípio da Especialidade
decisões reiteradas sobre determinado assunto legal. A regra, nesse caso, é que a norma especial prevalecerá
Ex.: Súmulas do Tribunais Superiores e Súmula Vinculante. sobre a norma geral. Dessa forma, a norma no tipo penal incri-
minador é mais completa que a prevista na norma geral.
Quanto ao Modo Isso ocorre por exemplo no crime de homicídio e infanti-
Literal ou Gramatical cídio. O crime de infanticídio possui em sua elementar dados
É aquela que busca o sentido literal das palavras. complementares que o tornam mais especial – completo –
que a norma geral.
Teleológica Repare as elementares do Art. 123 do CP: 1) matar o pró-
É aquela que busca compreender a intenção ou vontade prio filho; 2) logo após o parto; 3) sob o estado puerperal. Es-
da lei. ses são dados que, se presentes, tornam a conduta de matar
alguém um crime específico, diferente do homicídio. Logo, o
Histórica
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Art. 123 (infanticídio) é considerado especial em relação ao


É aquela que busca compreender o sentido da lei por meio Art. 121 (homicídio), que pode ser entendido, nesse caso, como
da análise do momento e contexto histórico em que foi editada. uma conduta genérica.
Sistemática
É aquela que analisa o sentido da lei em conjunto com todo
Princípio da Subsidiariedade
o ordenamento jurídico (as legislações em vigor, os Princípios Usa-se esse princípio sempre que a norma principal mais
Gerais de Direito, a Doutrina e a Jurisprudencial). grave não puder ser utilizada. Nesse caso, usamos a norma
menos grave subsidiária.
Progressiva
A subsidiariedade pode ser expressa ou tácita. Será ex-
É aquela que busca adaptar a lei aos progressos obtidos
pressa sempre que o próprio artigo de lei assim determinar.
pela sociedade.
Um bom exemplo é o Art. 239 que trata da simulação de casa-
Quanto ao Resultado mento. Ele prevê a pena de detenção, de um a três anos, se o
fato não constitui elemento de crime mais grave. Assim, caso
Declarativa não tenha ocorrido crime mais grave será aplicada a pena ex-
É aquela em que se encontra a perfeita correspondência en- pressa em lei. Por outro lado, se ocorrer crime mais grave, deve
tre a letra da lei e a intenção do legislador.
ser aplicado somente esse, ficando atípico o fato menos grave.
Restritiva A subsidiariedade Tácita ocorre quando não há expressa
É aquela em que se restringe o alcance da letra da lei para referência na lei, mas, se um fato mais grave ocorrer, a norma
que corresponda à real intenção do legislador. A lei diz mais subsidiária ficará afastada. Isso ocorre, por exemplo, no crime
do que deveria dizer. do Art. 311 do CTB. Existe, expressa nesse artigo, a proibição
Extensiva da conduta de trafegar em velocidade incompatível com a
É aquela em que se amplia o alcance da letra da lei para segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações
que corresponda à real intenção do legislador. A lei diz menos de embarques e desembarques de passageiros, logradouros
do que deveria dizer. estreitos, ou onde houver grande movimentação ou concen-
tração de pessoas, gerando perigo de dano.
Analógica
É aquela em que a Lei Penal permite a ampliação de seu Contudo, se o agente estiver conduzindo nessas condições
conteúdo por meio da utilização de uma expressão genérica e acabar por atropelar e matar alguém, responderá ele pelo
ou aberta pelo legislador. crime do Art. 302 do CTB, que é homicídio culposo na direção
Ex.: Art. 121, § 2º, III, CP. Homicídio qualificado por de veículo automotor. Assim, esse crime – mais grave – afastará
emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou aquele crime de perigo.
outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
perigo comum. Princípio da Consunção
Esse princípio pode ocorrer quando um crime “meio” é
Conflito Aparente de Normas Penais necessário ou fase normal de preparação para outro crime.
Fala-se em conflito aparente de normas penais quando Como, por exemplo, o crime de lesão corporal fica absorvido
duas ou mais normas aparentemente parecem reger o mesmo pelo crime de homicídio, ou mesmo, o crime de invasão de do-
tema. Na prática, uma conduta pode se enquadrar em mais de micílio que fica absorvido pelo crime de furto.
Não estamos falando em norma especial ou geral, mas sim do tipo representa o mesmo crime. Na prática, não há con-
do crime mais grave que absorveu o crime menos grave que curso material, respondendo o agente por uma pena somente.
simplesmente foi um meio necessário para a execução do cri- ї Costume NÃO revoga nem altera lei.
me mais grave. Sendo assim, podemos dizer que temos três princípios
Ocorre também o princípio da consunção quando, por intrínsecos no Art. 1º do Código Penal, quais sejam, da Legali-
exemplo, o agente falsifica um documento com o intuito de dade, da Anterioridade e da Reserva Legal. É importante res-
cometer o crime de estelionato. Como o crime de falso é meio saltar que apenas a Lei Ordinária pode versar sobre matéria
necessário para o crime de estelionato, funcionando como a penal, tanto para criá-las quanto para extingui-las.
elementar fraude, fica por esse absorvido. Não obstante, convém ressaltar os preceitos existentes nos
Nesse sentido o STJ editou a Súmula 17 que diz o seguinte: tipos penais, por exemplo: Art. 121, CP, Matar alguém. Pena -
Súm. 17. Quando o falso se exaure no estelionato, sem 6 a 20 anos. O preceito primário seria a conduta do agente
mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. - matar alguém - e o preceito secundário seria a cominação da
Outro ponto importante é quando falamos acerca do as- pena - 6 a 20 anos. Para ser considerado crime, é fundamental
sunto crime progressivo e progressão criminosa. Podemos que existam os dois preceitos.
afirmar o seguinte:
No crime progressivo o agente tem um fim específico mais
Lei Penal no Tempo
grave, contudo, necessariamente deve passar por fases ante- Art. 2º. Ninguém pode ser punido por fato que lei pos-
terior deixa de considerar crime, cessando em virtude
riores menos graves. No final das contas, o crime progressivo
dela a execução e os efeitos penais da sentença con-
é um meio para um fim. Isso ocorre no caso do dolo de matar, denatória.
em que o agente obrigatoriamente tem que ferir a vítima an-
Parágrafo único. A Lei posterior, que de qualquer for-
tes – causando lesões corporais. ma modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos an-
Aqui, temos o Princípio da Consunção Imperando. Por teriores, ainda que decididos por sentença transitada
outro lado, a progressão criminosa acontece quando o dolo em julgado.
inicial é menos grave e no meio da conduta o agente muda sua Conflito Temporal
intenção para uma mais grave (repare que temos dois dolos). Regra: Irretroatividade da Lei;
Temos o exemplo do agente que inicia uma ação com Exceção: Retroatividade para beneficiar o réu.
dolo de lesionar desferindo socos na vítima e no meio da ação Retroatividade da Lei
muda de intenção, vindo a esfaqueá-la, causando sua morte. 2000 2005 2008
Veja que, temos duas intenções, contudo, o código penal Julgado

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Lei retroage
punirá o agente somente pelo crime mais grave. Aqui também
usaremos o Princípio da Consunção no exemplo em tela. Lei “A” (mais gravosa) Lei “B” (mais benéfica)
Pena 6 a 10 anos (revo- Pena 4 a 8 anos
No entanto, pode ocorrer progressão criminosa com efeito gada pela Lei “B”) Aplica-se a Lei “B”
concurso material, ou seja, aplicação de mais de um crime. Isso (mais favorável ao réu)
ocorre, por exemplo, no crime de roubo em que o agente no Em regra, o Código Penal sempre adota a Lei vigente, “A”, no
meio da conduta resolve estuprar a vítima, ou seja, aqui temos momento da ação ou omissão do agente, sendo assim, se nesta
uma progressão criminosa com dois dolos, em que o agente época é cometido um crime, aquele irá responder sobre o fato
responderá por dois crimes diversos. descrito no tipo penal. Contudo, por vezes, o processo se estende
no tempo, e o julgamento do agente demora a acontecer, nesse
Princípio da Alternatividade lapso temporal, caso surgir uma nova Lei, “B”, que torne mais
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Temos esse princípio quando tivermos os chamados cri- branda a sanção aplicada sobre o agente, esta irá retroagir ao
mes de ação múltipla ou de conteúdo variado. Aqui, os tipos tempo do fato, beneficiando o réu.
penais descrevem várias condutas para um único crime. Te- Ultra - Atividade da Lei
mos, como exemplo, o Art. 33 da Lei nº 11.343/2006:
2000 2005 2008
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir,
fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter
em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, pres-
crever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer dro- Lei “A” (mais benéfica) Lei “B” (mais gravo- Aplica-se a Lei “A”
gas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em Pena 4 a 8 anos sa) Pena 6 a 10 anos (mesmo revogada)
desacordo com determinação legal ou regulamentar: Lei revogada
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e paga- Não obstante, a regra da irretroatividade, pode ocorrer a
mento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) chamada ultra-atividade de lei mais benéfica. Seria o caso em
dias-multa. que, no momento da ação vigorava a Lei “A”, entretanto, no
Assim, podemos afirmar que, se o agente tiver em depó- decorrer do processo, entrou em vigência nova Lei “B”, revo-
sito e vender a droga não responderá ele por dois crimes, mas gando a Lei “A”, tornando mais gravosa a conduta anterior- 15
somente por um único. Isso se dá, pois qualquer ação nuclear mente praticada pelo agente.
Sendo assim, no momento do julgamento, ocorrerá a ultra- nuados, aplica-se a pena no momento que cessar a conduta
16 -atividade da lei, ou seja, a Lei “A”, mesmo não estando mais do agente, ainda que mais grave ou mais branda, independe
em vigor, irá ultra-agir ao momento do julgamento para be- nessa circunstância a quantificação da pena, o que será con-
neficiar o réu, por ser menos gravosa a punição que o agente siderado, será a lei vigente no momento que cessou a con-
irá receber. duta do agente ou a privação de liberdade da vítima, com a
Abolitio Criminis (Abolição do Crime) prisão dos acusados.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Retroage
2005 2007
Lei Excepcional ou Temporária
Lei “B” deixa de consi- Art. 3º A Lei excepcional ou temporária, embora decor-
Lei “A”
derar como crime o fato rido o período de sua duração ou cessada as circuns-
Pena: 6 a 20 anos descrito na Lei “A”
Consequências: tâncias que a determinaram, aplica-se ao fato pratica-
▷ Tranca e extingue o inquérito policial e a ação penal; do durante sua vigência.
▷ Cassam imediatamente a execução de todos os efei- Lei Excepcional: utilizada em períodos de anormalidade
tos penais. social.
▷ Abolitio Criminis Ex.: Guerra, calamidades públicas, enchentes, grandes
eventos, etc.
▷ Não alcança os efeitos Civis da condenação.
Lei Temporária: período de tempo previamente fixado
Em relação ao Abolitio Criminis, ocorre o seguinte fato: pelo legislador.
quando uma conduta que antes era tipificada como crime
Ex.: Lei que configura o crime de pescar em certa
pelo Código Penal, deixa de existir, ou seja, passa a não ser mais
época do ano - piracema -, após lapso de tempo pre-
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considerada crime, dizemos que ocorreu a abolição do crime.


viamente determinado, a Lei deixa de considerar tal
Diante disso, cessam imediatamente todos os efeitos penais que
incidiam sobre o agente: tranca e extingue o inquérito policial, conduta como crime.
Retroage
caso o acusado esteja preso deve ser posto em liberdade. Entre-
tanto, não extingue os efeitos civis, ou seja, caso o agente tenha 2005 2006
sido impelido em ressarcir a vítima da sua conduta mediante o
pagamento de multa, essa, ainda assim, deverá ser paga. Período de surto Ultra-atividade da lei
Importante ressaltar que, a lei que beneficia o réu, não é endêmico
uma faculdade do Juiz, é um dever, sempre adotada em be- Fato “A” é Crime Fato “A” não é mais crime
nefício do acusado. (notificação de epidemia)

Crimes Permanentes ou Continuados ї De 2005 a 2006, o fato “A” era considerado crime. Aque-
les que infringiram a Lei responderam posteriormente,
Nos crimes permanentes, ou seja, naqueles em que a con- mesmo o fato não sendo considerado mais crime.
sumação se prolonga enquanto não cessa a atividade, apli- ї Só ocorre retroatividade se a Lei posterior expressamen-
ca-se ao fato a lei que estiver em vigência quando cessada a te determinar.
atividade, mesmo que mais grave (severa) que aquela em vi- É importante ressaltar que são leis excepcionais e temporá-
gência quando da prática do primeiro ato executório. O crime rias, ou seja, a lei irá vigorar por determinado tempo, após isso,
se perpetua no tempo, enquanto não cessada a permanência. tal conduta não mais será considerada crime. Entretanto, duran-
É o que ocorre, por exemplo, com o crime de sequestro e cár- te a sua vigência, todos aqueles que cometerem o fato tipificado
cere privado. Assim, será aplicada lei que estiver em vigência em tais normas, mesmo encerrada sua vigência, serão punidos.
quando da soltura da vítima. Observa-se, então, o momento
em que cessa a permanência para daí se determinar qual a
norma a ser aplicada. É o que estabelece a Súmula 711 do STF.
Tempo do Crime
Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento da
Súm. 711. A lei penal mais grave aplica-se ao crime con-
tinuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
anterior à cessação da continuidade ou da permanên- resultado.
cia. Teoria da Atividade: O crime reputa-se praticado no mo-
mento da conduta (momento da execução).
Data do sequestro Prisão
Janeiro
A imputabilidade do agente deve ser aferida no momento
Protrai no tempo Dezembro em que o crime é praticado.
3 meses depois
“B” morre
“A” com 17 anos e 11 meses
Lei “A” Lei “B” Lei “C” Qual Lei utilizar? Atira em “B” “A” com + de 18
4 a 6 anos 6 a 8 anos 10 a 12 anos Lei “C” anos
Ex.: O crime de sequestro é um crime que se protrai no tem- Este princípio traz o momento da ação do crime, ou seja,
po, ou seja, a todo instante ele está se consumando, qual- independente do resultado, para aplicação da lei penal, é con-
quer que seja o momento da prisão ela estará em flagrante. siderado o momento exato da prática delituosa, seja ela co-
Sendo assim, nos casos dos crimes permanentes ou conti- missiva - ação - ou omissiva - omissão.
Ex.: Caso um menor “A”, cometa disparos de arma de
fogo contra “B”, vindo a feri-lo, entretanto, devido às le- Territorialidade (Art.
sões causadas pelos disparos, três meses depois do fato, 5º)
“B” vem a falecer. Nessa época, mesmo “A” tendo com- Lei Penal
pletado sua maioridade penal - 18 anos - ainda assim não
Extraterriotorialidade
poderá ser punido, pois, no momento em que praticou a (Art. 7º)
conduta (disparos contra “B”), era inimputável. Lei Penal
Devemos, contudo, ficar atentos aos crimes permanentes no Espaço
e continuados, no caso do sequestro, por exemplo, em que o
Lei Processual
crime se consuma a todo instante em que houver a privação de Regras Específicas
Penal
liberdade da vítima.
“A” com 17 anos e 11 meses 3 meses depois Falamos em Territorialidade quando se faz a aplicação
Sequestra “B” Preso com 18 da lei penal dentro do próprio Estado que a editou. Dessa
anos
forma, quando aplicamos a lei brasileira em nosso solo, es-
Crime de tamos usando o conceito de Territorialidade.
sequestro
A Territorialidade é tratada no Art. 5°, CP: aplica-se a lei bra-
Nesta situação em questão, “A” não será mais inimpu- sileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
tável, pois no momento de sua prisão já havia completado internacional, ao crime cometido no território nacional.
18 anos, não considerado neste caso, o momento em que se Território Nacional Próprio
iniciou a ação, mas sim, quando cessou. Art. 5º
▷ Lei Brasileira:
Lugar do Crime » Sem prejuízo;
Art. 6º. Considera-se praticado o crime no lugar em ▷ Convenções, tratados e regras internacionais:
que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, » Imunidades.
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o §1º Território por extensão ou assimilação.
resultado. Embarcação ou aeronave brasileira pública (em qualquer
Teoria da Ubiquidade: utilizada no caso de um crime ser lugar).
praticado em território nacional e o resultado ser produzido Embarcação ou aeronave brasileira privada a serviço do Es-
no estrangeiro. O foro competente será tanto o do lugar da tado brasileiro (em qualquer lugar).
ação ou omissão quanto o do local em que produziu ou deveria Embarcação ou aeronave brasileira mercante ou privada,
desde que não esteja em território alheio.

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produzir-se o resultado.
Ambos os lugares são competentes para jugar o processo A Extraterritorialidade é tratada no Art 7:
Art. 7º. Ficam sujeitos a Lei Brasileira, embora cometi-
dos no estrangeiro:
“A”, manda uma carta A carta explote I. Os crimes:
bomba pelo correio efetivamente a) contra a vida ou a liberdade do Presidente de
para LONDRES. em LONDRES.
República;
Local que produziu
Local da ação b) contra o patrimônio ou a fé pública da União,
ou deveria produzir
ou omissão do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
o resultado
Ex.: Nesse caso “A”, residente do Brasil, enviou uma carta Município, de empresa pública, sociedade de
bomba pelo correio para Londres, sendo assim, a carta economia mista, autarquia ou fundação instituí-
da pelo Poder Público;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

efetivamente explode. Desse modo, tanto o Brasil, quan-


to a Inglaterra serão competentes para julgá-lo. c) contra a administração pública, por quem está
a seu serviço;
Da Lei Penal no Espaço d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
domiciliado no Brasil;
Da Aplicação da Lei Penal no Espaço II. Os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obri-
Da Territorialidade
gou a reprimir;
Antes de iniciar o estudo do tópico, temos que ter em mente b) praticados por brasileiros;
que iremos estudar a Lei Penal e não a Lei Processual Penal, que c) praticados em aeronaves ou embarcações bra-
segue outra regra específica. sileiras, mercantes ou de propriedade privada,
Aqui trataremos de como se comporta a Lei Penal Brasi- quando em território estrangeiro e aí não ve-
leira quando ocorrerem crimes no exterior, ou seja, Extrater- nham a ser julgados.
ritorialidade de lei. Portanto, quando falamos em extraterri- § 1º Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo
torialidade estamos tratando somente da Lei Penal e não da a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no 17
Lei Processual Penal. estrangeiro.
§ 2º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira Dessa forma, o Princípio da Territorialidade da Lei Penal é
18 depende do concurso das seguintes condições: mitigado, isto é, não é adotado de forma absoluta e sim tem-
a) entra o agente no território nacional; perada, por esse motivo falamos em Princípio da Territoriali-
b) ser o fato punível também no país em que foi dade Temperada.
praticado; Podemos dar como exemplo as imunidades diplomáticas
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais e consulares concedidas por meio de adesão do Brasil às con-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

a lei brasileira autoriza a extradição; venções de Viena (1961 e 1963), aos diplomatas e aos cônsules
que exercem suas atividades no Brasil.
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro
ou aí não ter cumprido pena; Quando falamos em território nacional, obrigatoriamente
temos que pensar em algumas regras: Todas as embarcações
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro,
ou, por outro motivo não estar extinta a punibili- ou aeronaves brasileiras de natureza pública, onde quer que se
dade, segundo a lei mais favorável. encontrem são consideradas parte do território nacional.
§ 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime come- Para as embarcações e aeronaves de natureza privada, se-
tido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se rão estas consideradas extensão do território nacional quando
reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: se acharem, respectivamente, no mar territorial brasileiro ou
a) não pedida ou negada sua extradição;
no espaço aéreo correspondente. Preste bem atenção, as de
natureza privada, sem estar a serviço do Brasil, somente res-
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
ponderão pela lei brasileira se estiverem dentro do Brasil.
Território Nacional Ex.: Um navio brasileiro privado pelo mar da Argentina
Podemos conceituar território nacional como sendo o espaço deverá responder pelas Leis Penais Argentinas, ou seja,
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onde certo Estado possui sua soberania. caso um brasileiro mate o outro, a lei a ser aplicada é a
Lei Penal Argentina, pois o navio não estava a serviço do
Elementos que constituem um determinado Estado sobe-
Brasil.
rano:
Por outro lado, se o navio estiver em alto mar (terra de nin-
▷ Território;
guém - aplica-se o princípio do pavilhão ou da bandeira) e osten-
▷ Povo; tar a bandeira brasileira e lá um marujo matar o outro, a compe-
▷ Organização jurídica. tência é da lei brasileira.
Consideramos como território nacional as limitações que A mesma regra utilizamos para aeronaves. Uma questão inte-
temos no mapa do país e mais o mar territorial, que representa ressante é por exemplo, se uma aeronave pousar em um país dis-
a extensão de 12 milhas do mar a contar da costa, e sempre na tinto e o piloto cometer um crime e essa aeronave estiver a serviço
maré baixa. O código considera, também, território nacional do Brasil, aplica-se a lei brasileira. Caso a aeronave for particular
o espaço aéreo respectivo e o espaço aéreo correspondente aplica-se a lei do país em que a aeronave estiver pousada.
ao território nacional. Esse sempre devemos considerar como Questão interessante é se o piloto sair do aeroporto e lá
território próprio. fora cometer um crime. Nesse caso temos que perguntar se o
Temos que considerar, também, como território nacional, piloto estava em serviço oficial ou não, se estiver em serviço
o chamado território por extensão, assimilação ou impróprio oficial aplicamos a lei penal brasileira, do contrário, aplica-se a
descrito no §1º do Art. 5º do Código Penal. lei do país onde cometeu o crime.
§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como ex-
tensão do território nacional as embarcações e ae- Resumo dos Conceitos
ronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço Território nacional: é o espaço onde determinado estado
do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, exerce com exclusividade sua soberania.
bem como as aeronaves e as embarcações brasilei- Território próprio: toda a base territorial por nós conheci-
ras, mercantes ou de natureza privada, que se achem, da (o mapa), acrescida do mar territorial, que é extensão de 12
respectivamente no espaço aéreo correspondente ou
em alto mar. milhas mar a dentro, a contar da baixa maré.
§ 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes pra- Território por extensão: embarcações e aeronaves brasi-
ticados a bordo de aeronaves ou embarcações estran- leiras: públicas ou a serviço do estado (qualquer lugar do glo-
geiras, de propriedade privada, achando-se aquelas bo) e privadas em águas ou terras de ninguém.
em pouso no território nacional ou em voo no espaço Territorialidade: aplicação da lei penal no território nacional.
aéreo correspondente, e estas em porto ou mar terri- Territorialidade absoluta: impossibilidade para aplicação de
torial do Brasil. convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime co-
Como mencionado, a Lei Penal aplica-se em todo o terri- metido no território nacional.
tório nacional próprio ou por assimilação. Por esse princípio
Territorialidade temperada: adota como regra a aplicação
aplica-se aos nacionais ou estrangeiros (mesmo que irregular)
da lei penal brasileira no território nacional. Entretanto, com
a Lei Penal brasileira.
determinadas hipóteses, permite a aplicação de lei penal es-
Contudo, em alguns casos, mesmo o fato sendo praticado
trangeira a fatos cometidos no Brasil (Art. 5º do CP).
no Brasil, não será aplicada a Lei Penal a esse fato, isso se deve
quando ocorrer por meio de convenções, tratados e regras de Imunidade: exclusão da aplicação da lei penal.
direito internacional, aqui o Brasil abre mão de punir, ou seja, Imunidade diplomática e consular: são imunidades pre-
nesses casos não se aplicará a Lei Brasileira. vistas em convenções internacionais chancelados pelo Brasil.
Imunidade parlamentar: previstas na Constituição Fede- Município,de empresa pública, sociedade de eco-
ral aos membros do Poder Legislativo. nomia mista, autarquia ou fundação instituída
pelo Poder Público;
Território Nacional c) contra a administração pública, por quem está
▷ Próprio. a seu serviço;
▷ Por assimilação ou extensão. d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
Embarcação e aeronaves brasileiras: públicas ou a serviço do domiciliado no Brasil;
Estado (em qualquer parte do planeta) e privadas ou marcantes II. Os crimes:
em águas ou terras de ninguém. a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obri-
gou a reprimir;
Passaremos a tratar agora dos princípios que regulam a
b) praticados por brasileiro;
aplicação da Lei Penal no Espaço.
c) praticados em aeronaves ou embarcações bra-
Princípio da Territorialidade sileiras, mercantes ou de propriedade privada,
A lei penal de um país terá aplicação aos crimes cometidos quando em território estrangeiro e aí não sejam
dentro de seu território. Aqui, o Estado soberano tem o dever julgados.
de exercer jurisdição sobre as pessoas que estejam sem seu § 1º. Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo
território. a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro.
Princípio da Nacionalidade
§ 2º. Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira
Classificado também como Princípio da Personalidade. depende do concurso das seguintes condições:
Aqui os cidadãos de um determinado país devem obediência a) entrar o agente no território nacional;
às suas leis, onde quer que se encontrem. Podemos dividir b) ser o fato punível também no país em que foi
esse princípio em: praticado;
Princípio da Nacionalidade Ativa c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais
Aplica-se a lei nacional ao cidadão que comete crime no a lei brasileira autoriza a extradição;
estrangeiro, independentemente da nacionalidade do sujeito d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro
passivo ou do bem jurídico lesado. ou não ter aí cumprido a pena;
Princípio da Nacionalidade Passiva e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro
ou, por outro motivo, não estar extinta a punibili-
O fato praticado pelo nacional deve atingir um bem jurídico de dade, segundo a lei mais favorável.
seu próprio estado ou de um concidadão. § 3º. A lei brasileira aplica-se também ao crime come-
Princípio da Defesa, Real ou de Proteção tido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
Aqui se leva em consideração a nacionalidade do bem jurí- reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
dico lesado (sujeito passivo), independentemente da naciona- a) não foi pedida ou foi negada a extradição;

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lidade do sujeito ativo ou do local da prática do crime. b) houve requisição do Ministro da Justiça.
Princípio da Justiça Penal Universal ou da Universalida- A regra é de que a lei penal brasileira apenas aplica-se aos
de crimes praticados no Brasil (conforme estudado no Art. 5º do
Aqui, todo Estado tem o direito de punir todo e qualquer Código Penal). No entanto, há situações que, por força do Art. 7º,
crime, independentemente da nacionalidade do criminoso ou permitem o Estado aplicar sua legislação penal no estrangeiro.
do bem jurídico lesado, ou do local em que o crime foi praticado, Nesta norma, encontram-se diversos princípios, são eles:
bastando que o criminoso se encontre dentro do seu território. Defesa (também chamado de Real): amplia a aplicação
Assim, quem quer que seja que cometa crime dentro do territó- da lei penal em decorrência da gravidade da lesão. É o aplicá-
rio nacional será processado e julgado aqui. vel no Art. 7º nas alíneas do inciso I, são elas:
Princípio da Representação a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da
A Lei Penal brasileira também será aplicada aos delitos República.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

cometidos em aeronaves e embarcações privadas brasileiras Caso seja a prática de latrocínio, não há a extensão da lei
quando se encontrarem no estrangeiro e aí não venham a ser brasileira, visto que o latrocínio é considerado crime contra o
julgadas. patrimônio.
O Código Penal brasileiro adota o princípio da Territoriali- b) contra o patrimônio ou a fé pública da União,
dade como regra e os outros como exceção. Assim, os outros do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
princípios visam disciplinar a aplicação extraterritorial da Lei Município, de empresa pública, sociedade de
Penal brasileira. economia mista, autarquia ou fundação instituí-
da pelo Poder Público;
Extraterritorialidade c) contra a administração pública, por quem está
Art. 7º. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometi- a seu serviço;
dos no estrangeiro: d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
I. Os crimes: domiciliado no Brasil.
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Há discussão qual o princípio aplicável neste caso, haven-
República; do quem sustente ser da defesa, outros dizem ser da naciona-
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, lidade ativa e outra corrente, ainda, afirmando ser relacionado 19
do Distrito Federal, de Estado, de Território, de ao princípio da Justiça Penal Universal.
Justiça Penal Universal (também chamada de Justiça Caso o agente seja processado no exterior e lá, condenado
20 Cosmopolita): amplia a aplicação da legislação penal brasilei- e cumprido pena, estipula-se neste artigo que caso venha no
ra em decorrência da de tratado ou convenção que o Brasil é Brasil a ser condenado pelo mesmo fato (no caso da extrater-
signatário. Vem normatizada peloArt. 7º, II, “a”: ritorialidade incondicionada), deverá se verificar:
a) Que, por tratado ou convenção, o Brasil se obri- Se as penas são idênticas, ou seja, da mesma qualidade, deve-
gou a reprimir. rá ser computada como cumprida no Brasil.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Nacionalidade Ativa: amplia a aplicação da legislação pe- Ex.: As duas são privativas de liberdade.
nal brasileiro ao exterior caso o crime seja praticado por brasi- Se as penas são diversas, ou seja, de qualidade diferente,
leiro. Está prevista no Art. 7º, II, “b”: deverá haver uma atenuação.
b) Praticados por brasileiro; Ex.: no exterior o agente cumpriu pena restritiva de liber-
Representação (também chamado de Pavilhão ou da dade e, no Brasil, foi condenado e teve sua pena substituída
Bandeira ou da Substituição): amplia a aplicação da legisla- pela prestação de serviços comunitários. Neste caso, deverá
ção penal brasileira em decorrência do local em que o crime é se atenuar a pena no Brasil.
praticado. Vem normatizada pelo Art. 7º, II, “c”: Eficácia de Sentença Estrangeira
c) Praticados em aeronaves ou embarcações bra-
sileiras, mercantes ou de propriedade privada, Art. 9º. A sentença estrangeira, quando a aplicação da
quando em território estrangeiro e aí não sejam lei brasileira produz na espécie as mesmas consequên-
julgados. cias, pode ser homologada no Brasil para:
Nacionalidade Passiva: amplia a aplicação da legislação I. Obrigar o condenado à reparação do dano, a res-
penal brasileira em decorrência da nacionalidade da vítima do tituições e a outros efeitos civis;
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crime. Vem normatizada pelo Art. 7º, §3º: II. Sujeitá-lo a medida de segurança.
§3º. A lei brasileira aplica-se também ao crime come- Parágrafo único. A homologação depende:
tido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil. a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido
Tais regras, de que a legislação penal brasileira será apli- da parte interessada;
cada no exterior, valem apenas para os crimes e nunca para as b) para os outros efeitos, da existência de tratado
contravenções penais. Apesar da lei prever, no Art. 7º, que a lei de extradição com o país de cuja autoridade judi-
brasileira também será aplicada no anterior, há determinadas ciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado,
regras para esta aplicação, também normatizadas pelos pará- de requisição do Ministro da Justiça.
grafos do artigo em questão, vejamos: A regra geral é de que a sentença penal estrangeira não
Incondicionada: é a prevista para os casos normatizados precisa ser homologada para produzir efeitos no Brasil. No en-
no Art. 7º, I, alíneas “a” até “d”. Segundo o Código Penal, o tanto, o Art. 9º traz duas situações que necessitam da homolo-
agente será processado de acordo com a lei brasileira, mesmo gação para que a sentença produza efeitos no Brasil, são elas:
que for absolvido ou condenado no exterior (conforme norma- Para a produção de efeitos civis (Ex.: Reparação de danos,
tizado pelo §1º do Art. 7º). Não exige qualquer condição. restituições, entre outros). Neste caso, depende do pedido da
Condicionada: é a prevista para os casos normatizados no parte interessada.
Art. 7º, §2º, alíneas “a” até “e”: São as condições: Para a aplicação de medida de segurança ao agente da In-
a) Entrar o agente no território nacional. fração Penal: caso exista tratado de extradição, necessita de re-
b) Ser o fato punível também no país em que foi quisição do Procurador-Geral da República. Caso inexista trata-
praticado. do de extradição, necessita de requisição do Ministro da Justiça.
c) Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais
a lei brasileira autoriza a extradição. Contagem de Prazo
d) Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro
ou cumprido a pena. Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do pra-
zo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calen-
e) Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro.
dário comum.
Não estará extinta a punibilidade do agente, seja pela bra-
A regra, aqui, é diversa da processual, visto que o dia do
sileira, seja pela lei estrangeira.
começo do prazo penal inclui-se no cômputo do prazo. Por
Hipercondicionada: é a prevista para os casos normatiza- exemplo, determinado agente pratica uma infração penal em
dos no Art. 7º, §3º. Chama-se pela doutrina de hipercondicio- 10 de agosto de 2012. Supondo que esta infração penal possui
nada porque exige, além das condições da condicionada, outras um prazo prescricional de 08 (oito) anos, a pretensão punitiva
duas. São condições: irá prescrever em 09 de agosto de 2020.
▷ Não ser pedida ou, se pleiteada, negada a extradição.
▷ Requisição do Ministro da Justiça. Frações não Computáveis da Pena
Art. 11. Desprezam-se, nas penas privativas de liberda-
Pena Cumprida no Estrangeiro de e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na
Art. 8º. A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena pena de multa, as frações de cruzeiro.
imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, Ou seja, caso após o cálculo da pena, remanescer frações
ou nela é computada, quando idênticas. de dia (por exemplo: o agente é condenado a pena de 15
(quinze) meses de detenção, com uma causa de aumento de Nessa situação, “A” responderá apenas por tentativa de
1/2, a pena torna-se em 22,5 dias. Com a norma deste artigo, homicídio.
despreza-se a fração de metade e a pena final é de 22 dias. Nesta situação, a causa da morte não foi efetivamente o
Do mesmo modo, aplica-se a regra à pena de multa, não tiro disparado por “A”, mas o veneno ingerido anteriormente.
sendo condenado o agente a pagar os centavos. Sendo assim, não foi efetivamente o disparo que causou
o resultado naturalístico da morte de “B”.
Legislação Especial Ex.: “A” atira na cabeça de “B”, esse é socorrido em am-
Art. 12. As regras gerais deste Código aplicam-se aos bulância, no trajeto para o hospital a ambulância capota
fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser causando a morte de “B”. Mesmo “A” tendo concorrido
de modo diverso. diretamente para que “B” estivesse na ambulância, o có-
As infrações penais não estão apenas descritas no Código digo penal manda que “A” responda somente por tenta-
Penal, mas também em outras leis, que se denominam de leis tiva de homicídio.
especiais. Nestes casos, aplica-se, desde que a lei especial não Fato que ocorre após a conduta do agente, entretanto, não
dispuser de modo diverso, as regras gerais do Código Penal. ocorreria se a ação ou omissão não tivesse acontecido.
Quebra nexo causal
2. Do Crime Nexo causal
“B” é socorrido

Relação de Causalidade “A” atira em “B” é atingido,


Ambulância bate
e “B” morre
“B” causa mas sobrevive
Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causa
A ação ou omissão tem que dar causa ao resultado: No exemplo citado, digamos que “B” seja socorrido com
Relação de Causalidade sucesso. Entretanto, devido ao ferimento na cabeça, tenha que
ser submetido à intervenção cirúrgica imprescindível e, durante
Art. 13. O resultado, de que depende a existência do
o procedimento, devido a complicações, vem a falecer. Nesta
crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
situação, “A” responderá por homicídio consumado, pois nin-
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
guém está obrigado a submeter-se a intervenções cirúrgicas.
resultado não teria ocorrido.
A mesma situação ocorre se, devido à internação, “B” contraia
Nexo Causal infecção hospitalar, vindo a falecer. Nessas duas hipóteses, “A”
Relação entre agente e o responderá pelo crime consumado, segundo entendimento do
resultado naturalístico STJ - Superior Tribunal de Justiça. Cabe ressaltar que, mesmo
Ação ou Resultado
Omissão
“B”, estando no hospital, porém, este falece devido a um des-
(lesão)
moronamento provocado por um terremoto, haverá novamente

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Neste caso, antes de tudo, é importante mencionar sobre a a quebra do nexo causal, como no acidente com a ambulância,
responsabilidade do agente. Para o Código Penal existem duas “A” responderá somente pela tentativa de homicídio.
formas de responsabilidades: subjetiva e objetiva.
Subjetiva: nesta situação, o agente pode ser punido na Relevância da Omissão
modalidade culposa, quando não queria o resultado. É o im- O “dever” de agir é um dever Jurídico, é o poder do garan-
perito, imprudente ou negligente. Na modalidade dolosa, tidor ou garantia, ou seja, imposto por Lei. Quando da omis-
quando o agente quis ou assumiu o risco do resultado. O Có- são, o agente tem a possibilidade e o dever jurídico de agir e
digo Penal sempre irá punir sobre aquilo que o agente queria omite-se.
causar, sobre a intenção no momento da conduta. Ex.: Dois policiais observam uma pessoa sendo vítima de
Objetiva: a responsabilidade objetiva não é mais adotada, roubo e nada fazem, nesse caso, os agentes, tendo a pos-
visto que sempre haveria a punição por dolo, não se admitindo sibilidade e o dever de agir, omitiram-se. Nesta situação
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

a forma culposa. ambos responderão pelo resultado, ou seja, por roubo.


Ex.: “A” dispara dois tiros em “B”. Os tiros efetivamente § 2º. A omissão é penalmente relevante quando o omi-
acertam “B” causando sua morte. Nessa situação, a ação tente devia e podia agir para evitar o resultado. O de-
de “A” deu causa ao resultado, que é morte de “B”, man- ver de agir incumbe a quem:
tendo uma relação de causa x efeito, com resultado natu- a) Tenha por Lei obrigação de cuidado, proteção
ralístico: morte. ou vigilância; (dever legal).
Ex.: Pai que deixa de alimentar o filho, e este vem a mor-
Causa Relativamente Independente rer de inanição.
Superveniência de Causa Independente: Carcereiro que observa o preso agonizando à beira da
§ 1º. A superveniência de causa relativamente indepen- morte e nada faz.
dente exclui a imputação quando, por si só, produziu o b) De outra forma, assumiu a responsabilidade
resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se de impedir o resultado; (dever do garantidor).
a quem os praticou. Ex.: Babá que descuida da criança e a deixa morrer.Salva-vi-
Ex.: “A” atira em “B”, contudo “B” morre devido a um ve- das que observa banhista se afogar e nada faz.
neno ingerido anteriormente. A causa efetiva da morte de c) Com seu comportamento anterior, criou o risco 21
“B” foi o envenenamento e não o disparo efetuado por “A”. da ocorrência do resultado.
Ex.: Homem se propõe a ajudar um idoso a atravessar na dedo do pé de “B”. Independente desse resultado, “A”
22 faixa de pedestres. Porém, no meio do caminho, o ho- vai responder por tentativa de homicídio, pois era sua
mem abandona o idoso e este morre atropelado. intenção inicial.
Esses crimes são chamados de crimes omissivos impró- É importante sempre atentar-se para a vontade do agen-
prios ou comissivos por omissão, ou ainda participação por te, pois o Código Penal irá puni-lo somente pelo resultado ao
omissão. Em todos esses casos, o omitente responderá pelo qual quis causar, ou seja, sempre pelo Elemento Subjetivo do
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

resultado, a não ser que este não lhe possa ser atribuído nem agente.
por dolo nem por culpa. O agente tem que ter consciência de
que se encontra na função de agente garantidor. Tentativa
Diz que o crime é tentado, quando, iniciada a execução,
Da Consumação e Tentativa não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agen-
Art. 14º. Diz-se do Crime: te.
I. Consumado, quando nele se reúnem todos os ele- Não se admite Tentativa para:
mentos de sua definição legal. ▷ Crime culposo;
“Iter Criminis”
(caminho do crime)
▷ Contravenções Penais (Art. 4º, L, CP);
Cogitação Consumação
▷ Mera conduta;
Preparação Execução
▷ Crime Preterdoloso.
Alguns tipos penais não aceitam a forma “tentada”, sendo
assim, o fato de iniciar a execução já o torna consumado, como
Não se pune a preparação sal-
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vo se por si só constituir crime O crime se torna por exemplo o crime de: Concussão (Art. 316, CP), nessas si-
autônomo (independente) punível tuações, a consumação é um mero exaurimento.
Para que o crime seja consumado, é necessário que ele Os crimes “tentados” são aqueles que iniciam a fase de
percorra todas as fases do iter criminis, quais sejam: cogita- execução, mas não chegam à consumação por circunstâncias
ção, preparação, execução e consumação. O agente, com sua alheias à vontade do agente, ou seja, o autor quer praticar a
conduta, “caminha” por todas as fases até atingir o resultado. conduta, mas é impedido de alguma forma.
Ex.: Fabrício, com “animus necandi”(vontade de matar) Ex.: “A” com intenção de matar “B”, compra um revólver;
Pedro, pensa em uma forma de consumar seu desejo ao encontrar “B”, no momento que iria iniciar os disparos,
(cogitação). Para isso, compra um revólver e munições é flagrado por um policial que o impede.
(preparação) e desloca-se até a casa da vítima. Ao avis- Ex.: “A” com intenção de matar “B”, compra um revólver; ao
tá-lo, inicia os disparos (execução) contra Pedro, ferindo- encontrar “B” do outro lado da rua, no momento que come-
-o mortalmente (consumação). ça a efetuar os disparos, atinge uma caçamba de entulhos
O Código Penal não admite a punição nas fases de cogi- que trafegava pela via.
tação e preparação, salvo se constituírem crimes autônomos.
As circunstâncias alheias à vontade do agente podem ser
No caso citado acima, se Fabrício fosse preso no momento em
quaisquer fatos, que impeçam que o crime seja consumado.
que estava com o revólver, deslocando-se à casa de Pedro para
matá-lo, iria configurar apenas o crime de porte ilegal de arma Pena do Crime Tentado
de fogo, não poderia de forma alguma ser punido pela tenta-
tiva de matar Pedro. Só se pode punir a intenção do agente, a É a mesma do crime consumado. Devendo ser reduzida de
partir do momento que entra na esfera de execução. 1/3 a 2/3. Quanto mais próximo o crime chegar da consuma-
ção, maior deverá ser a pena.
Outra situação, seria a união de 3 ou mais pes-
soas que planejam assaltar um banco, para isso, Se, quando iniciada a execução, o crime não se consumar
compram ferramentas: picaretas, pás, marretas, por circunstâncias alheias à vontade do agente, incidirá a pena
conseguem a planta do banco, alugam uma casa do crime consumado, com redução no quantum da pena.
nas proximidades, contudo, no momento que pla- Homicídio: pena de 6 a 20 anos.
nejavam a forma como iriam realizar o assalto, são Ex.: João fez disparos contra José causando sua morte.
surpreendidos pela polícia com todos os materiais. Pena - 12 anos
Nesse caso, essas pessoas não responderão pelo cri- Tentativa de homicídio: pena de 6 a 20 anos reduzida de
me de “roubo” (Art. 157 CP), na forma tentada, mas 1 a 2/3.
sim pelo crime de “associação criminosa” (Art. 288 Ex.: João fez disparos contra José que ferido foi socorrido
CP). Mesmo com a posse de todos os materiais que e sobreviveu.
seriam utilizados, eles não haviam entrado na esfera Pena - 4 anos (melhor cenário) - 8 anos (pior cenário).
de execução do roubo. Ex.: João, armado de pistola, efetua 15 disparos contra
Por conseguinte, o Código Penal sempre irá punir o agen- José ficando este em coma por 40 dias, quase vindo a
te por aquilo que ele queria cometer (Elemento Subjetivo), falecer, mas sobrevive.
ou seja, qual era a intenção do agente, ainda que outro seja o Pena - mesmo nesse caso, haverá redução de pena, nes-
resultado. se caso, à mínima, 1/3 - 8 anos - mas deve ser aplicada.
Ex.: “A”, com intenção de matar “B”, efetua vários dis- Existem dois tipo de tentativas, perfeita e imperfeita, am-
paros em sua direção, contudo, acerta apenas um tiro no bas podem ser cruentas e incruentas.
“A” possui um revólver “A” responderá por le-
Tentativa são corporal e NÃO por
com 6 munições
tentativa de homicídio
Perfeita Imperfeita A B

Descarrega a arma em “A” arrepende-se vo-


direção a “B” ferindo-o luntariamente, socorre
USOU todos os NÃO usou todos “B” e impede sua morte
meios os meios (resultado)
Nesta situação, o agente esgota os meios efetuando todos
os disparos, contudo, após finalizá-los, arrepende-se do que
Branca = Incruenta fez, socorre “B” levando-o para um hospital, vindo a salvá-lo.
Vermelha = Cruenta
NÃO
Machucou/lesionou A “desistência voluntária” (ato negativo) e o “arrependi-
Machucou/lesionou
mento eficaz” (ato positivo) têm como consequência a DES-
CLASSIFICAÇÃO DA FIGURA TÍPICA, ou seja, exclui a modalida-
A tentativa será perfeita - crime falho - quando o agente de tentada. Dessa forma o agente responderá pelos atos até
esgotar todos os meios, vindo a acertar ou não a vítima. E im- então praticados; nessas situações, considera-se lesão corporal.
Na tentativa o agente inicia a
perfeita, quando NÃO esgotou todos os meios, mesmo que já execução e é INTERROMPIDO,
tenha atingido a vítima ou ainda sem feri-la, por circunstâncias são circunstâncias ALHEIAS a
alheias à sua vontade. sua vontade
Cogitação Preparação Execução Consumação
Desistência Voluntária e Na desistência voluntária, o agente No arrependimento eficaz o
pode prosseguir, mas INTERROMPE agente termina o ato de execução.
Arrependimento Eficaz voluntariamente sua conduta, não Contudo, evita voluntariamente
termina a execução que o resultado se produza
Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de
prosseguir na execução ou impede que o resultado se
Tentativa: após o início da execução, o crime não se consu-
produza, só responde pelos atos já praticados. ma por vontades alheias ao desejo do agente.
Não se consuma por
VONTADE do próprio Desistência voluntária: mesmo podendo prosseguir, o agente
agente desiste, interrompe por sua vontade própria.
Execução Arrependimento eficaz: finalizados todos os atos de exe-

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cução, o agente por vontade própria, socorre a vítima, impe-
Cogitação Preparação Consumação dindo que o resultado (morte) ocorra.

- Início Arrependimento Posterior


- Não consumação;
- Interferência da vontade Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave
do próprio agente. ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coi-
sa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por
Desistência Voluntária: o agente interrompe voluntaria- ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um
mente a execução do crime impedindo a consumação. a dois terços.
Efetua 2 disparos contra É requisito fundamental que não ocorra violência ou grave
“B” acertando os dois dis- ameaça. Após a consumação do crime, antes que do recebi-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

paros na perna da vítima. mento da denúncia ou queixa - instauração no Poder Judiciá-


Podendo continuar, desiste
voluntariamente rio - o agente repara o dano causado anteriormente.
A B Ex.: Um rapaz é preso pelo furto (Art. 155, CP) de uma tele-
“A” possui um revólver “A” responderá por
visão de 14 polegadas, antes do recebimento da denúncia,
com 6 munições lesão corporal seu advogado - ou representante legal - repara à vítima to-
dos os danos que o agente causou quando subtraiu o bem,
Nessa situação, o agente poderia efetuar mais disparos, nessa hipótese, a pena do agente será reduzida.
porém desiste de continuar a efetuá-los e vai embora, é impor- Caso a reparação do dano ocorra após o recebimento da de-
núncia, a pena será atenuada, por exemplo, em vez de iniciar a
tante ressaltar que a desistência não teve influência de nenhu-
pena no regime de reclusão, irá iniciar em regime semi-aberto.
ma outra circunstância, senão a vontade do próprio agente.
Arrependimento Eficaz: encerrada a execução do crime, Crime Impossível - “Quase Crime”
o agente voluntariamente impede o resultado. Aqui, ele leva a Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia
execução até o fim. Contudo, com sua ação impede que o resul- absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do 23
tado seja produzido. objeto, é impossível consumar-se o crime.
Ineficácia absoluta do meio: o meio empregado ou o ins- ▷ Dolo Eventual - Teoria do Assentimento - Assume o
24 trumento utilizado para a execução do crime jamais o levarão risco do resultado.
a consumação.
▷ Tentar matar alguém utilizando uma arma de brin- Crime Culposo
quedo.
▷ Tentar envenenar alguém com sal. Art. 18, II. Culposo, quando o agente deu causa ao resulta-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Ex.: “A” com intenção de envenenar “B”, coloca sal - erro do por imprudência, negligência ou imperícia.
do tipo putativo - em sua comida, pensando ser arsênico. Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, nin-
Impropriedade absoluta do objeto material: Nessa hipó- guém pode ser punido por fato previsto como crime,
tese, a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta é abso- senão quando o pratica dolosamente.
lutamente inidônea para produção de algum resultado lesivo.
▷ Matar quem já está morto. Culpa
Ex.: “A” com intenção de matar “B”, enquanto este Na conduta culposa, há uma ação voluntária dirigida a
está dormindo, efetua vários disparos. Contudo, “B” já uma finalidade lícita, mas, pela quebra do dever de cuidado
estava morto devido ao veneno administrado por “C” a todos exigidos, sobrevém um resultado ilícito não desejado,
horas atrás. cujo risco nem sequer foi assumido.
Embora o elemento subjetivo do agente seja o dolo - ho-
micídio - esses casos não serão puníveis, pois o meio empre- Requisitos do Crime Culposo
gado “sal” ou o objeto material “o morto” tornam o crime Quebra do Dever Objetivo de Cuidado
A culpa decorre da comparação que se faz entre o com-
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impossível de ser consumado.


Caso a ineficácia absoluta do meio seja relativa, será portamento realizado pelo sujeito no plano concreto e aquele
considerado crime, por exemplo, uma arma antiga de um que uma pessoa de prudência normal, mediana, teria naquelas
colecionador, da segunda guerra mundial, seria quase im- mesmas circunstâncias. Haverá a conduta culposa sempre que
possível cometer um crime com um meio desses, entretan- o evento decorrer de quebra do dever de cuidado por parte
to, caso ela tenha potencial para causar lesão (esteja funcio- do agente mediante uma conduta imperita, negligente ou im-
nando) o crime que o agente tentou praticar com esta arma, prudente.
será considerado punível. Previsibilidade
Crime Doloso Não basta tão somente a quebra do dever de cuidado para
que o agente responda pela modalidade culposa, pois é ne-
Art. 18. Diz-se o crime: cessário que as consequências de sua ação descuidada sejam
I. doloso, quando o agente quis o resultado ou as- previsíveis.
sumiu o risco de produzi-lo.
Modalidades do Crime Culposo
Doloso Imprudência
▷ Doloso direto: quis resultado. É o fazer sem a obrigação de cuidado.
▷ Doloso eventual ou indireto: assumiu o risco de É a culpa de quem age, ou seja, aquela que surge du-
produzir o resultado. rante a realização de um fato sem o cuidado necessário.
Ex.: “A” atira em direção de “B” querendo que a morte Ex.: Ultrapassagem em local proibido, excesso de ve-
desse aconteça.
locidade, trafegar na contramão, manejar arma carre-
Ex.: “A”, caçador, efetua vários disparos a fim de abater
animal. Contudo, é advertido por “B” que naquela dire- gada, atravessar o sinal vermelho, etc.
ção em que está atirando é local habitado. “A” não se Imperícia
importa e continua os disparos, mesmo consciente que É a falta de conhecimento técnico ou habilitação para o
poderia acertar alguém. Um de seus projéteis acerta “C”, exercício de profissão ou atividade.
inocente morador das redondezas. Nessa situação, deve-
rá “A” responder por homicídio doloso - eventual - pois Ex.: Médico ao realizar uma cirurgia e esquece uma
assumiu o risco de produzir o resultado não observando a pinça dentro do abdômen do paciente. Atirador de
advertência que “B” lhe havia feito. O agente sabe o que elite que acerta a vítima, em vez do criminoso. Médico
pode vir a causar, mas não se importa com o resultado. que faz lipoaspiração e causa a morte de paciente.
Ex.: “A” dirigindo em altíssima velocidade e disputando Negligência
um racha com amigos perto de uma movimentada esco-
É o não fazer sem a obrigação de cuidado.
la vem a atropelar “B”, estudante, no momento que este
atravessava a via. “A” nessa situação tinha consciência que É a culpa na sua forma omissiva. Consiste em deixar al-
sua conduta poderia matar alguém. Contudo, não se im- guém de tomar o cuidado devido antes de começar a agir.
portou em continuar. Novamente, o agente sabe que pode Ex.: Deixar de conferir os pneus antes de viajar, bem
acontecer, mas não se importa. como de realizar a devida manutenção do veículo. Dei-
▷ Dolo Direto - Teoria da Vontade - Quer o resultado. xar substância tóxica ao alcance de crianças, etc.
Crime Culposo Circunstâncias: são dados assessórios do crime, que su-
Imprudência Apressado primidos não impedem a punição do agente. Só servem para
Quebra do aumentar ou diminuir a pena.
dever de Imperícia Despreparado Ex.: Ladrão que furta um bem de pequeno valor pensan-
cuidado do ser de grande valor. Responderá pelo furto simples
Negligência sem redução de pena do privilégio.
Previsível Relaxado
Erro Essencial
Culpa Consciente Incide sobre situação, de tal importância, para o tipo que
Na culpa consciente, o agente antevê o resultado, mas não o se o erro não existisse o agente não teria cometido o crime, ou
aceita, não se conforma com ele. O agente age na crença de que pelo menos, não naquelas circunstâncias.
não causará o resultado danoso:
Ex.: O atirador - não o substituto - de facas no circo. Ele atira Erro Inevitável (Invencível ou Escusável)
a faca na crença de que, habilidoso que é, acertará a maça. É aquele que não podia ter sido evitado, nem mesmo com
Mas, ao contrário do que acreditava, ele acerta a moça. o emprego de uma diligência mediana.
Nessas duas situações, exclui-se o dolo e a culpa do agen-
Preterdolo te, sendo assim, exclui o crime.
Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a Ex.: Agente furta caneta pensando que é própria.
pena, só responde o agente que o houver causado ao Sujeito que mantém conjunção carnal com menor
menos culposamente. de 13 anos que aparenta ter 20 anos pela sua proporção
Quando o resultado agravador for imputado a título de física.
culpa, estaremos diante de um crime PRETERDOLOSO. Nele, Bêbado que sai de uma festa e liga carro alheio com
o agente quer praticar um crime, mas acaba excedendo-se e sua chave normalmente, sendo o carro de mesma cor e
produzindo culposamente um resultado mais gravoso do que modelo que o seu.
o desejado. Erro Evitável (Vencível ou Inescusável)
Ex.: O agente desfere soco no rosto da vítima com inten-
ção de lesioná-la, no entanto, ela perde o equilíbrio, bate É aquele que poderia ser evitado pela prudência normal
a cabeça e morre. do homem médio. Exclui o dolo, mas permite a modalidade
culposa se prevista em lei. Quando não prevista a modalida-
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para
de culposa, não ocorre o crime.
outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa,
ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido a Ex.: Caçador confunde vulto em uma moita com o animal
impossibilidade de resistência: que caçava e atira, vindo a causar a morte de um lavrador.

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Nessa situação, caso o fato pudesse ser previsível, deverá
Pena - Reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
o caçador responder por homicídio culposo.
§ 3º. Se da violência resulta lesão corporal grave, a Bêbado sai de uma festa, ao observar carro idêntico
pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da ao seu, tenta desativá-lo com a chave do próprio carro,
multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta não obtendo êxito, quebra o vidro com uma pedra, força
anos, sem prejuízo da multa. a ignição e vai para sua casa. Nesse caso, o agente será
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de punido na modalidade culposa, embora não tendo a in-
outrem: tenção, utilizou-se de uma conduta reprovável.
§ 3º. Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam Erro do Tipo
que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco
Essencial
de produzi-los;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Pena - Reclusão, de quatro a doze anos.


Inevitável Evitável
Erro sobre Elemento do Tipo
Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo le- Dolo/Culpa Dolo/Culpa
gal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por
crime culposo, se previsto em lei.
Elementares: é a descrição típica do crime. Geralmente o Permite a punição
próprio caput. Quando se extrai a elementar, o crime não existe. Excluir a tipicidade por crime culposo SE
Art. 155. Subtrair coisa alheia móvel: Caso o indivíduo previsto em lei
subtraia coisa própria por engano não haverá o crime,
pouco importando sua intenção. Assim, se o agente Acidental
subtrai sua própria bicicleta por “engano”, pensando ▷ Erro sobre a pessoa Art. 20, § 3º - Aberractio in perso-
que está a subtrair bicicleta de seu vizinho não comete na - A pessoa não sofre perigo
crime algum. Não há como punir uma pessoa que sub- ▷ Erro na execução - Aberractio ictus - A pessoa sofre 25
trai suas próprias coisas. perigo
▷ Erro Sucessivo - Aberractio causae - Dolo Geral Municipal, circunstância que sugeriam o desempenho de
26 Irrelevante atividade lícita.
▷ Erro sobre a pessoa Art. 20, §3º. Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o
▷ Não exclui nada, independentemente o agente responde. agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude
do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter
Erro sobre a Pessoa ou atingir essa consciência.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 20, § 3º. O erro quanto à pessoa contra a qual o crime Erro Evitável ou Inescusável = Não isenta de pena, mas terá
é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste direito a uma redução de pena 1/6 a 1/3.
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da Ex.: Atendente de farmácia que, apesar de ciente de que a
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. venda de medicamentos com tarja preta configura trans-
gressão administrativa, não tem consciência de que tal
É o erro na representação do agente, que olha um desco-
prática, com relação a alguns dos medicamentos controla-
nhecido e o confunde com a pessoa que quer atingir. O erro é
dos, caracteriza também o crime de tráfico de drogas.
tão irrelevante, que o legislador determinou que o autor fosse
Diferenças
punido pelo crime que efetivamente cometeu contra o terceiro
inocente - vítima efetiva - como se tivesse atingido a pretendi- Erro de Tipo X Erro de Proibição
da - vítima virtual -, por exemplo: Agente erra sobre dados do O agente acha que sua condu-
“A” atira em “B” por próprio crime. Isenta do dolo e ta é legal, quando na verdade
engano, pois pensei que culpa se inevitável e isenta de é ilegal. Aqui o agente comete
“B” fosse seu pai, quem Vítima efetiva
sósia de “C” dolo mas permite a punição crime, mas não tem pena pois
realmente queria matar por culpa se evitável. culpabilidade fica excluída.
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A B É importante que diferenciemos bem a relação entre erro do


Nessa situação será con- Vítima virtual tipo - exclui o crime - com o erro de proibição - isenta de pena .
siderado para aplicação Naquele o agente sabe que sua conduta é ilícita, entretanto, erra
de pena como se tivesse C
matado”C” seu pai
sobre o próprio tipo penal, ou seja, sua intenção é realizar uma
Pai de “A” conduta, mas acaba cometendo outra. Contudo, nesse o agen-
Esta situação é considerada um irrelevante penal, ou seja, o te desconhece o caráter ilícito do fato, imagina estar praticando
agente quer cometer uma coisa - matar “C” - entretanto, aca- uma conduta lícita, quando na verdade é ilícita - criminosa.
ba matando “B”, porém, independente do resultado, o Código
Penal sempre adota o elemento subjetivo, ou seja, irá puni-lo Coação Irresistível e
pelo fato que ele realmente queria praticar, como na situação Obediência Hierárquica
exposta era contra seu pai, incidirá ainda aumento de pena.
Art. 22. Se o fato é cometido sob coação irresistível ou
Erro sobre a Ilicitude do Fato em estrita obediência a ordem, não manifestamente
Erro de Proibição ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da
Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro coação ou da ordem.
sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; Para que se possa considerar alguém culpado do come-
se evitável, poderá diminui-la de um sexto a um terço. timento de uma infração penal, é necessário que esta tenha
É a errada compreensão de uma determinada regra legal. sido praticada em condições e circunstâncias normais, pois, do
Pode levar o agente a supor que certa conduta seja lícita. contrário, não será possível exigir do sujeito conduta diversa
Ex.: Um rústico aldeão, que nasceu e passou toda a sua da que, efetivamente acabou praticando.
vida em um vilarejo afastado do sertão, agride levemente Nessa situação, o agente obriga uma terceira pessoa a co-
sua mulher, por suspeitar que ela o traísse. É de irrelevan- meter um crime ou ao cumprimento de uma ordem ilegal, a
te importância se o aldeão sabia ou não que sua conduta pessoa coagida não será punida, mas sim, quem o coagiu e o
era ilícita. obrigou a realizar a conduta contra seu consentimento.
Nesse caso é crime, porém o CP determina que, devido às Coação Irresistível
circunstâncias - por força do ambiente onde vive e as expe-
riências acumuladas -, o sujeito não terá PENA, ou seja, exclui- É o emprego de força física ou de grave ameaça para que
se a culpabilidade. alguém faça ou deixe de fazer alguma coisa.
Nesta situação, devido à origem do agente ser de lugar Coação Física - vis absoluta - o sujeito não comete crime.
ermo, e o mesmo não possuiu conhecimento suficiente sobre Ex.: “A” imobiliza “B”, depois, coloca uma arma em sua
fatos que não são permitidos, embora sua conduta seja crimi- mão e força-o a apertar o gatilho. O disparo acerta “C”, que
nosa, nesse caso fático o Juiz não aplicará pena sobre o agente. morre. Nessa situação, devido à coação FÍSICA irresistível,
“B” NÃO comete crime. “A” responderá por homicídio.
Tipos de Erro de Proibição A coação física recai sobre a conduta do agente - elemento
Erro Inevitável ou Escusável = Isenta de Pena do fato típico - pois este foi forçado, nessa situação, exclui-se
Ex.: Dona de casa de prostituição cujo funcionamento era o crime.
de pleno conhecimento das autoridades fiscais, tendo, in- Coação Moral - vis relativa - o sujeito comete crime, mas
clusive, licença de funcionamento fornecido pela Prefeitura ocorre isenção de pena.
Ex.: “A” encosta uma arma carregada na cabeça “B” e or- ferindo João. Mesmo após a cessação da agressão por
dena que ele atire em “C”, caso contrário quem irá morrer é parte de João, Manoel efetua mais dois disparos para ga-
“B”. “B” atira e “C” morre. Nessa situação, ambos cometem rantir o resultado.
crime (“A” e “B”). Contudo, somente “A” terá PENA, “B” es- Nessa situação, Manoel excedeu-se e deverá responder
tará ISENTO de pena devido a coação MORAL irresistível. por homicídio na modalidade dolosa.
Assim sendo, mesmo “B” tendo praticado o ato, sua con- Excesso - responderá
duta foi forçada mediante grave ameaça moral, em que este, por homicídio doloso
temendo por sua própria vida, cometeu o crime. Nessa situa- Legítima defesa
ção a conduta de “B” é típica e ilícita, contudo, não culpável, A B
pois ficará isento de pena. “B” é atingido e cessa a agressão

Obediência Hierárquica “A” mesmo depois de


“A” atira em “B” para se cessada a agressão de “B”
É a obediência à ordem não manifestamente ilegal de su- defender de injusta agressão efetua mais dois disparos
perior hierárquico, tornando viciada a vontade do subordinado para garantir o resultado
e afastando a exigência de conduta diversa. Também exclui a Não obstante, as excludentes de ilicitude, como o próprio
culpabilidade. nome já diz, excluem o caráter ilícito do fato, tornando a con-
Ordem de superior hierárquico: é a manifestação de von- duta lícita e jurídica.
tade do titular de uma função pública a um funcionário que lhe Crime
é subordinado.
Ex.: Um delegado de polícia manda seu subordinado,
aspirante recém-chegado da corporação, que prenda Ilícito
Fato Típico (Antijurídico)
um desafeto seu, para que esse aprenda uma lição.
Caso o aspirante cumpra esta ordem ilegal de seu superior,
ambos estarão cometendo crime, abuso de autoridade; pois,
embora ordem de superior, o aspirante no caso não é obrigado Estado de
Legítima Defesa
Necessidade
a cumpri-la.
Ordem manifestamente não ilegal: a ordem deve ser
aparentemente legal. Se for manifestamente ilegal, deve o su-
Estrito Compri-
bordinado responder pelo crime. mento do Dever
Exercício Regular
Ex.: Delegado de polícia determina que agente prenda do Direito
Legal
Antônio, indiciado por crime de latrocínio e alega que
Antônio tem contra si um mandado de prisão expedido Ocorrendo o fato diante de uma dessas excludentes, ex-

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pela autoridade judiciária. O agente então prende Antô- clui-se também o crime.
nio e o conduz até a delegacia. Acontece que não existia São situações em que a norma penal permite que se cometa
mandado algum contra Antônio. Nessa situação, tanto o crime em determinadas situações, pois, apesar de serem condutas
delegado quanto o agente cometeram crime de abuso de ilícitas, o agente não será punido.
autoridade. Contudo, somente o delegado terá PENA, o
agente ficará isento devido à “aparência” de ordem mani- Estado de Necessidade
festamente NÃO ilegal. Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem
Nessa conduta, o agente pensava estar praticando uma pratica o fato para salvar de perigo atual, que não pro-
ação lícita, entretanto, este foi enganado por seu superior, sob vocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,
alegação de posse de falso mandado de prisão. direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstân-
cias, não era razoável exigir-se.
Exclusão da Ilicitude
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Ocorre quando um bem é lesado para se salvar outro bem


Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: em perigo de ser igualmente ofendido. Ambos possuidores
I. Em estado de necessidade; desses bens têm direito de agir para proteger-se.
II. Em legítima defesa; ї Requisitos para configuração do estado de necessida-
III. Em estrito cumprimento de dever legal ou no de:
exercício regular de direito. ▷ Perigo atual.
Excesso Punível ▷ Direito próprio ou alheio.
Parágrafo único. O agente, em qualquer das hipóteses ▷ Perigo não causado voluntariamente pelo agente.
deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou cul- ▷ Inevitabilidade de comportamento.
poso. ▷ Razoabilidade do sacrifício.
O agente que extrapolar os limites das excludentes deve ▷ Requisito subjetivo.
responder pelo resultado produzido de forma dolosa ou cul- Ex.: Em um cruzeiro marítimo, 10 passageiros estão a
posa. bordo de um navio. No entanto, só existem 9 salva-vidas
Ex.: João saca sua arma para matar Manoel, esse, pre- e o navio está afundando em alto-mar. O único que ficou 27
vendo o ocorrido, vale-se de sua arma e atira primeiro, sem o apetrecho não sabe nadar e para salvar sua vida do
perigo atual desfere facadas em outro passageiro a fim Estrito Cumprimento do Dever Legal
28 de conseguir se salvar.
Em síntese, é a ação praticada por um dever imposto
Ex.: Trabalhador desempregado e vendo os filhos passa-
por lei. É necessário que o cumprimento seja nos exatos
rem fome, entra em supermercado e furta dois pacotes
ditames da lei. Do contrário, o agente incorrerá em excesso,
de arroz e um pedaço de carne seca (furto famélico).
podendo responder criminalmente.
Ex.: Cidadão não tem carteira de motorista e observa um
Exs.: Policial que prende foragido da justiça vindo a cau-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

motorista em avançado estado de infarto, nessa situação,


sar-lhe lesões devido sua resistência.
toma a direção de veículo automotor e dirige perigosa-
Soldado que, em tempos de guerra, executa inimigo.
mente até o hospital, gerando perigo de dano.
A execução efetuada pelo carrasco, quando o orde-
Não irá incidir em estado de necessidade caso o agente dê namento jurídico admite.
causa ao acontecimento.
§ 1º Não pode alegar estado de necessidade quem ti- Exercício Regular de Direito
nha o deve legal de enfrentar o perigo. É o desempenho de uma atividade ou a prática de uma
Um exemplo disso é o bombeiro. Poderá, no entanto, re- conduta autorizada em lei.
cusar-se a uma situação perigosa quando impossível o salva- ▷ Tratamento médico ou intervenção cirúrgica, come-
mento ou o risco for inútil. te lesão corporal para realizar o ato cirúrgico.
▷ Ofendículos - (exercício regular do direito de defesa
Legítima Defesa da propriedade), cerca elétrica, cacos de vidro, ara-
Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando me farpado, etc.
moderadamente dos meios necessários, repele injusta
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A lei não permite o emprego da violência física como meio


agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. para repelir injúrias ou palavras caluniosas, visto que não exis-
Ocorre um efetivo ataque ilícito contra o agente ou tercei- te legítima defesa da honra. Somente a vida ou a integridade
ro, legitimando repulsa. física são abrangidas pelo instituto da legítima defesa.
Requisitos para que subsista a legítima defesa: Admite-se a excludente de legítima defesa real contra
▷ Agressão humana. quem pratica o fato acobertado por causa de exclusão da cul-
▷ Agressão injusta. pabilidade, como o inimputável.
▷ Agressão atual ou iminente. Nos termos do Código Penal e na descrição da excludente
de ilicitude, haverá legítima defesa sucessiva na hipótese de
▷ Agressão a direito próprio ou de terceiro.
excesso, que permite a defesa legítima do agressor inicial.
▷ Meios necessários.
É possível legítima defesa de provocações por meio de
▷ Requisito subjetivo.
injúrias verbais, segundo a sua intensidade e conforme as
Ex.: “A” desafeto de “B” arma-se com um machado e
prestes a desferir um golpe é surpreendido pela reação circunstâncias, pode ou não ser agressão.
de “B”, que saca um revólver e efetua um disparo. Agressão de inimputável constitui legítima defesa.
Ex.: “A” munido de um cão, atiça o animal na direção de Agressão decorrente de desafio, duelo, convite para briga
“B” que para repelir a injusta agressão atira no enfurecido não constitui legítima defesa.
animal. Agressão passada constitui vingança e não legítima defesa.
Ex.: “A”, menor de idade, pega um fuzil e, prestes a atirar Agressão futura não autoriza legítima defesa (mal futuro).
em “B”, é surpreendido por esse que pega uma bazuca, Não existe legítima defesa da honra.
único meio disponível no momento, vindo a “explodir” O agente tem que saber que está na legítima defesa.
“A”.
Legítima defesa e porte ilegal de arma de fogo: Se por-
Os meios necessários para conter a injusta agressão po- tar anteriormente, responde pelo crime do Art. 14 ou Art. 16,
dem ser quaisquer que estejam disponíveis, inexiste equipara- caput do estatuto do desarmamento. Se for contemporâneo,
ção dos meios utilizados. não responde pelo crime dos artigos mencionados.
É necessário que seja atual e iminente. Caso “B” ferido por
“A” desloque-se até sua casa, depois de sofrida agressão, para Da Imputabilidade Penal
apanhar revólver com intuito de se defender, não será mais vá-
Inimputáveis
lido, caso venha efetuar disparos contra “A”.
Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença
Não Configura Legítima Defesa mental ou desenvolvimento mental incompleto ou re-
Ex.: “A” marido traído chega a casa e surpreende “C” tardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteira-
sua esposa em conjunção carnal com “B”. Enfurecido, mente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
pega sua arma e dispara contra a esposa traidora. de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Ex.: “A” surpreendido por cão feroz, dispara para que não Redução de Pena
seja atacado. Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois
Ex.: “A” desafeto de “B” vai a sua procura e efetua disparo. terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde
Mais tarde provou-se que “B” também estava armado e mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
queria igualmente executar “A”. retardado não era inteiramente capaz de entender o ca-
ráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com A embriaguez não exclui a imputabilidade, quais sejam: a
esse entendimento. voluntária - toma por conta própria -, a culposa - toma além da
Imputabilidade: é a capacidade de entender o caráter conta - e a preordenada - toma para criar coragem - sendo que
ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse enten- a última, é causa de aumento de pena, actio libera in causa.
dimento. É a capacidade de entendimento e a faculdade de § 2º A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se
controlar e comandar suas próprias ações. o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortui-
to ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou
ї Imputável (regra): Pode-se imputar (aplicar) pena ao da omissão, a plena capacidade de entender o caráter
sujeito. ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
ї INImputável (exceção): Não pode sofrer pena. Ou seja, entendimento.
é a capacidade de compreensão do agente de que sua No caso da embriaguez por caso fortuito, caso ela seja
conduta é ilícita, inapropriada, é uma das espécies da completa, será causa de isenção de pena, caso seja semicom-
culpabilidade que compõem o fato típico, ou seja, a ca- pleta (semi-imputabilidade), incidirá em diminuição de pena
pacidade de punir, ou não, o agente da conduta. - redução de culpabilidade - de 1/3 a 2/3.

Exclusão da Imputabilidade Emoção e Paixão


Doença Mental Art. 28. Não excluem a imputabilidade penal:
I. A emoção ou a paixão;
É a doença mental de qualquer ordem. Compreende a in-
findável gama de moléstias mentais. A emoção pode, em alguns casos, servir como diminuição
de pena - privilégio -, como no caso do homicídio e lesão cor-
Ex.: Alcoolismo patológico.
poral privilegiado. Os requisitos são: a emoção deve ser inten-
Desenvolvimento Mental Incompleto ou Retardado sa; o agente deve estar sob o domínio dessa emoção; deve ter
Ex.: Silvícola inadaptado - índio - menor de 18 anos. sido provocado por ato injusto da vítima; a reação do agente
deve ser logo após a essa provocação.
Sistema Adotado pela
A injusta provocação pode ser de forma indireta, por
Legislação Brasileira exemplo, alguém que maltrata um animal, com intenção de
provocar o agente, utilizando desse objeto - cachorro - para
Regra: BIOpsicológico

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obter seu desejo.
Não basta ter a enfermidade. No momento da ação ou
omissão, o sujeito tem que ser inteiramente incapaz de en- Menores de Dezoito Anos
tender e compreender o caráter ilícito do fato e determinar- Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são penal-
se de acordo com esse entendimento. mente inimputáveis, ficando sujeitos às normas esta-
Exceção: Biológico belecidas na legislação especial.

Basta tão somente a menoridade - menos de 18 anos - Fundamento Constitucional


para configurar a inimputabilidade. O Art. 228 da CF prevê que são penalmente inimputáveis
os menores de dezoito anos, sujeitos às normas de legislação
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Embriaguez
especial.
Art. 28, II. A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo
álcool ou substância de efeitos análogos. Critério adotado pelo Código Pe-
§ 1º É isento de pena o agente que, por embriaguez com- nal: Sistema Biológico
pleta, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao ї Crime + contravenção penal maior de 18 anos.
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de ї Ato infracional menor de 18 anos.
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de Não sofrem sanção penal pela prática do ilícito, em decor-
acordo com esse entendimento. rência da ausência de culpabilidade. Estão sujeitos ao procedi-
mento e as medidas socioeducativas previstas no ECA em vir-
NÃO Exclui a Imputabilidade Exclui a Imputabilidade
tude das condutas descritas como crime e contravenção penal
Voluntária Caso Fortuito
ser consideradas ato infracional.
Culposa Força Maior
Para auxiliar, convém esquematizar as Excludentes de Im- 29
Preordenada putabilidade:
Relevância Causal
Menoridade Doença mental
30 A conduta deverá ser relevante. Do contrário, não ocorrerá
o concurso de pessoas.
Excluída imputabilidade
(inimputabilidade) Ex.: “A” empresta arma para “B”, que para matar “C” usa
um pedaço de pau. Nessa situação, o auxilio de “A” foi
Desenvolvimento Embriaguez irrelevante para que o crime existisse. Somente “B” res-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

mental Completa ponde por homicídio. Contudo, se ao emprestar a arma,


“A” de qualquer forma incentivou moralmente a atitude
de “B”, esse será partícipe do crime de homicídio.
Incompleto Retardado Caso for- Não houve nexo entre o homicídio e o empréstimo da
Força maior
tuito arma, nessa situação, a conduta de “A” é atípica.
Liame Subjetivo
De acordo com entendimento, essas são as causas justifi-
cantes para a exclusão da imputabilidade, podemos dizer que É a vontade de participar do crime. Pelo menos um agente
são subespécies da culpabilidade, e a espécie que compõem tem que querer participar do crime do outro.
os elementos do crime, juntamente com fato típico e a anti- Ex.: “A”, desafeto de “B”, posiciona-se para matá-lo. “C”,
juridicidade. também inimigo mortal de “B”, sabendo da vontade de
“A”, adere à vontade dele e juntos disparam a arma. Am-
Do Concurso de Pessoas bos responderão por homicídio como coautores.
Art. 29. Quem, de qualquer modo, concorre para o cri- Identidade de Infração
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me incide nas penas a este cominadas, na medida de O Código Penal adotou a teoria Unitária ou Monista, em
sua culpabilidade. que todos que concorrem para o crime, responderão pelo mes-
Sujeitos da infração penal: mo crime, na medida de sua culpabilidade (responsabilidade).
▷ Sujeito Ativo (quem comete a ação). • Teorias do Concurso de Pessoas
▷ Sujeito Passivo (quem sofre a ação). Teoria do Caput
Foco do estudo = Sujeito Ativo do Crime. ▷ Regra:
Quem pode ser sujeito ativo da infração penal: » Monista/ Igualitária / Unitária
▷ Maiores de dezoito anos: ▷ Exceção:
Menor comete ato infracional (tudo que representa crime, » Pluralista (não tem concurso de pessoas)
para o menor é ato infracional, que, na verdade, constitui um Ex.: Corrupção passiva e ativa.
tipo específica, tratado no ECA). • Teoria do Autor
▷ Pessoas Jurídicas em atos lesivos ao meio ambien- ▷ REGRA:
te. » Restritiva (Código Penal)
As pessoas jurídicas podem ser responsabilizadas penal- » Quem pratica o núcleo do tipo (verbo).
mente. ▷ EXCEÇÃO
O Concurso de Pessoas também conhecido como concurso » Domíno do Fato (Doutrina e Jurispridência)
de agentes, ocorre quando duas ou mais pessoas concorrem » Teoria do Partícipe
para o mesmo crime. Colaborar ou concorrer para o crime é ▷ Acessoriedade Limitada
praticar o ato (moral ou material) que tenha relevância para a Não pratica o verbo; contudo, auxilia de qualquer forma.
» Moral: instigado ou induzido.
perpetração do ilícito. » Material: qualquer auxílio.
Requisitos para que Ocorra ▷ Não Ocorre Concurso de Pessoas
» Autor Mediato (homem por traz)
o Concurso de Pessoas » Autoria Colateral
Pluralidade de Agentes » Participação Inócua (ineficaz)
Quem participa na execução do crime é coautor. Quem não » Crimes de concurso necessário
executa o verbo do tipo é partícipe. Ex.: Associação criminosa - Art. 288
Ex.: “A” segura “B” enquanto “C” o esfaqueia até a mor- A exceção é a teoria pluralista:
te. “A” e “C” são coautores do crime de homicídio. (divi- Ex.: Corrupção passiva e ativa.
são de tarefas no crime, ambos participam da execução) Autor (Teoria Restrita):
Ex.: “A” empresta arma para “B”. “B” usa-se da arma ▷ Quem pratica o núcleo do tipo (verbo).
para executar “C”. “B” é autor (executou) e “A” é partíci- Partícipe:
pe (auxiliou de forma material). ▷ Não pratica o verbo; contudo, auxilia de qualquer
O código penal adotou a Teoria Monista de agentes, ou forma.
seja, todos responderão pelo mesmo crime, independente, de » Moral: instigado ou induzido.
qual seja sua participação. » Material: qualquer auxílio.
Mandante = Partícipe.
Autor Mediato (não ocorre concurso):
3. Concurso de Crimes
▷ São usados como instrumentos do crime: Sabemos que, no Direito Penal, a prática de um crime leva
à aplicação de uma sanção penal.
» Inimputável.
Assim, segundo a lógica, entendemos que se um agente
» Doente mental.
cometer um crime, a ele será aplicada uma pena. Da mesma
» Coação irresistível. forma, se um agente cometer mais de um crime, para cada
» Obediência hierárquica. crime cometido será aplicada uma pena correspondente.
Exceção: Teoria Pluralista. Dessa forma, a matéria concurso de crimes vem explicar
Participação em Crime Diverso como deverão ser aplicadas as penas quando o agente, me-
diante uma ou várias condutas, cometer uma pluralidade de
§ 1º Se a participação for de menor importância, a pena
crimes.
pode ser diminuída de um sexto a um terço
Nesse sentido, o Código Penal Brasileiro traz três espécies
§ 2º Se algum dos concorrentes quis participar de cri-
de concurso de crimes: Concurso Material (Art. 69); Concurso
me menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa
pena será aumentada até metade, na hipótese de ter Formal (Art. 70) e Crime Continuado (Art. 71), que serão estu-
sido previsível o resultado mais grave. dados a seguir:
Há hipóteses, todavia, em que o partícipe colabora com Concurso Material
um crime e o autor, no momento da prática do ilícito vai além
do imaginado pelo partícipe. Art. 69. Quando o agente, mediante mais de uma ação
Ex.: É o caso em que dois indivíduos combinam um furto. ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
Sendo que, um deles fica esperando no carro da fuga e não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas
o outro entra na residência. No interior da casa, o autor de liberdade em que haja incorrido. No caso de apli-
além de furtar, encontra a moradora e contra ela dispara cação cumulativa de penas de reclusão e de detenção,
vários tiros. Nessa situação, por força do Art. 29, § 2º, do executa-se primeiro aquela.
CP, os agentes deverão responder por crimes diferentes. § 1º. Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido
O que ficou no carro por furto (pois era esse que queria aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por
praticar) e o autor, por latrocínio. um dos crimes, para os demais será incabível a substitui-
Executem o núcleo ção de que trata o Art. 44 deste Código.
Autor do tipo § 2º. Quando forem aplicadas penas restritivas de
Partícipe
direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as
Coautor
que forem compatíveis entre si e sucessivamente as
Cogitação Preparação Execução Consumação demais.

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- Ajuste A principal característica do concurso material é a plurali-
Regra: teoria Monista,
- Determinação todos responderão pelo
dade de condutas.
- Instigação mesmo crime. Para se configurar o concurso material, devem estar pre-
- Auxílio Exceção: Teoria Pluralista, sentes os seguintes requisitos:
quem quis participar Requisitos Cumulativos:
- Se não chegar a ser tentado do crime menos grave,
(executado) não ocorre crime. ▷ Pluralidade de Condutas (mais de uma ação ou
responderá por ele.
Salvo se por si só configurar omissão).
crime autônomo. ▷ Pluralidade de Crimes (dois ou mais crimes, idênti-
cos ou não).
Circunstâncias Incomunicáveis Consequência: aplicação cumulativa das penas privativas
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as con- de liberdade. Ou seja, somam-se as penas de cada crime co-
dições de caráter pessoal, salvo quando elementares metido.
do crime.
Com mais Pratica dois Pena privativa de
Ex.: “A”, funcionário público, convida “B” para furtar re- de uma ação + ou mais crimes = liberdade aplicada
partição pública em que trabalha. “B”, desconhecendo a ou omissão (idênticos ou comulativamente
função de “A”, acaba aceitando. Nesse caso, “A” respon- não)
derá por peculato (Art. 312 CP) e “B” por furto (Art. 155
CP). Porém, caso “B” soubesse da função pública de “A”, Ex.: José, ao chegar em casa, encontra sua esposa com o
ambos responderiam por peculato. amante. Tomado pela raiva, José pega a sua arma de fogo
Art. 31. O ajuste, a determinação ou instigação e o e atira no amante, vindo a matá-lo. Logo em seguida, dis-
auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não para contra sua esposa, que também morre no local.
são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser No exemplo em questão, verifica-se a ocorrência do con-
tentado. curso material, uma vez que José, com mais de uma ação,
Ex.: “A” é induzido por “B” a cometer suicídio em mo- cometeu dois crimes. Dessa forma, José responderá pela
mento depressivo por qual passava, entretanto, “A” nada prática de dois homicídios dolosos, devendo as penas serem 31
faz. Nessa situação, a conduta de “B” é atípica. aplicadas de forma cumulativa.
No concurso material é indiferente para a aplicação da No entanto, se a conduta for dolosa e houver desígnios
32 pena se os crimes são idênticos ou não. No entanto, a doutrina autônomos (dolo de cometer isoladamente cada crime), por
traz a distinção entre concurso material homogêneo e hete- questão de justiça, será aplicada a regra do concurso material,
rogêneo. ou seja, aplicam-se as penas de forma cumulativa.
▷ Concurso Material Homogêneo: Os crimes pratica- Para se configurar o concurso formal impróprio devem es-
dos são idênticos. tar presentes, além dos requisitos do concurso formal próprio,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

▷ Concurso Material Heterogêneo: Os crimes pratica- os seguintes requisitos:


dos são diferentes. Requisitos Específicos Cumulativos:
▷ Conduta Dolosa.
Concurso Formal ▷ Desígnios Autônomos.
Consequência: aplicação Cumulativa das penas privativas
Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou omis-
de liberdade. Ou seja, somam-se as penas de cada crime co-
são, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-
metido.
lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente
uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto Com apenas
até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativa- uma ação ou Conduta dolosa Pena privativa de
mente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concor- omissão prati- + e desígnios autô- = liberdade aplicada
ca dois ou mais nomos comulativamente
rentes resultam de desígnios autônomos, consoante o dis- crimes
posto no artigo anterior.
Ex.: José, ao chegar em casa, encontra sua esposa com
Parágrafo único Não poderá a pena exceder a que seria
o amante. Tomado pela raiva, com intenção de matar os
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cabível pela regra do Art. 69 deste Código.


dois, joga na direção deles uma granada, vindo a matar a
A principal característica do concurso formal é a Unidade sua esposa e o amante.
de Condutas. No exemplo em questão, verifica-se a ocorrência do con-
Quanto ao Concurso Formal, ele pode ser Próprio ou Im- curso formal impróprio, uma vez que José, ainda que com
próprio. apenas uma ação tenha cometido dois crimes, agiu de forma
Concurso Formal Próprio ou Perfeito dolosa e com desígnios autônomos. Dessa forma, José res-
ponderá pela prática de dois homicídios dolosos, devendo as
Art. 70, caput, 1ª parte penas serem aplicadas de forma cumulativa.
Para se configurar o concurso formal próprio, devem estar
presentes os seguintes requisitos: Crime Continuado
Requisitos Cumulativos: Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação
▷ Unidade de Condutas (uma só ação ou omissão). ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma es-
▷ Pluralidade de Crimes (dois ou mais crimes, idênti- pécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
cos ou não). execução e outras semelhantes, devem os subsequen-
tes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-
Consequência: aplica-se a Exasperação da pena. Ou seja,
se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a
se as penas forem diversas, aplica-se a mais grave; se idênti-
mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso,
cas, aplica-se apenas uma delas, sendo em ambos os casos
de um sexto a dois terços.
aumentadas de um sexto até a metade.
A principal característica do Crime Continuado é a pre-
Exasperação sença do Nexo de Continuidade Delitiva, por meio do qual os
Penas diferentes:
Com uma Pratica dois ou aplica-se a mais grave crimes subsequentes serão concebidos como continuação do
ação ou + mais crimes = aumentada de 1/6 primeiro.
omissão (idênticos ou não) a 1/2 Por isso, o crime continuado é uma ficção jurídica, tendo
Penas idênticas: sido criado para beneficiar o réu, atenuando a pena imposta.
aplica-se apenas uma, Para se configurar o crime continuado devem estar pre-
aumentada de 1/6
a 1/2
sentes os seguintes requisitos:
Requisitos Cumulativos:
Ex.: Um motorista dirigindo em alta velocidade atropela
e mata três pessoas. ▷ Pluralidade de Condutas (mais de uma ação ou
omissão).
Concurso Formal Impróprio ou Imperfeito ▷ Pluralidade de Crimes da mesma espécie (dois ou
Art. 70, caput, 2ª Parte mais crimes da mesma espécie).
Art. 70, caput, 2ª parte. (...) As penas aplicam-se, entre- ▷ Nexo de Continuidade Delitiva (condições de tem-
tanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e po, lugar, maneira de execução e outras condições
os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, semelhantes).
consoante o disposto no artigo anterior. Consequência: aplica-se a exasperação da pena. Ou seja,
O Concurso Formal Impróprio possui os mesmos requisi- se as penas forem diversas, aplica-se a mais grave; se idênti-
tos do concurso formal próprio, isto é: unidade de condutas e cas, aplica-se apenas uma delas; sendo, em ambos os casos,
pluralidade de crimes. aumentadas de um sexto até dois terços.
Ex.: Um caixa de supermercado que subtrai diariamen- culposo pode ser resultado qualificado, mas crime autônomo
te uma pequena quantia do dinheiro de seu caixa. ele não é. Não temos infanticídio culposo também. Só o homi-
cídio admite a forma culposa.
Crime Continuado Específico
ou Qualificado Dos Crimes Contra a Vida
Art. 71, Parágrafo Único Homicídio Simples
Art. 71, Parágrafo único. Nos crimes dolosos, contra
Art. 121. Matar alguém:
vítimas diferentes, cometidos com violência ou gra- Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
ve ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a Caso de Diminuição de Pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo
personalidade do agente, bem como os motivos e as de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de
circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação
se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a
observadas as regras do parágrafo único do Art. 70 e um terço.
do Art. 75 deste Código.
Homicídio Qualificado
Para a configuração do crime continuado específico, é neces-
§ 2º Se o homicídio é cometido:
sária a presença dos requisitos previstos no Art. 71, caput, mais os I. Mediante paga ou promessa de recompensa, ou
seguintes requisitos específicos: por outro motivo torpe;
ї Requisitos Específicos Cumulativos: II. Por motivo fútil;
▷ Crimes Dolosos. III. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que pos-
▷ Vítimas Diferentes. sa resultar perigo comum;
▷ Violência e grave ameaça à pessoa. IV. À traição, de emboscada, ou mediante dissimu-
Consequência: o juiz poderá aumentar a pena de um só lação ou outro recurso que dificulte ou torne im-
dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o possível a defesa do ofendido;
triplo. V. Para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
nidade ou vantagem de outro crime:
ї Para tanto, o juiz deverá considerar: Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
▷ Do agente:
» Culpabilidade. Feminicídio
» Antecedentes. VI. Contra a mulher por razões da condição de sexo
» Personalidade. feminino:
▷ Motivos de circunstâncias do crime. VII. Contra autoridade ou agente descrito nos Arts.

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142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
Multas no Concurso de Crimes sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência
Art. 72. No concurso de crimes, as penas de multa são
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou pa-
aplicadas distinta e integralmente.
rente consanguíneo até terceiro grau, em razão
4. Dos Crimes Contra a Pessoa dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de
2015).
Os direitos e garantias individuais não têm caráter absoluto, Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
por esse motivo, o direito à vida é relativo. § 2º-A. Considera-se que há razões de condição de
Ex.: Pena de morte em caso de guerra externa. (Art. 5º, sexo feminino quando o crime envolve:
XLVII, “a”, CF/88). O crime de homicídio, capitulado nos I. Violência doméstica e familiar;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

crimes contra a vida, está descrito no Art. 121 do Código II. Menosprezo ou discriminação à condição de mu-
Penal, e versa sobre a eliminação da vida humana extrau- lher.
terina. § 7º A Pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um
Vejamos no quadro abaixo quais são os crimes dolosos con- terço) até a metade se o crime for praticado:
tra a vida, e suas principais peculiaridades:
I. Durante a gestação ou nos 3 (três) meses poste-
Crimes Contra a Vida riores ao parto;
Homicídio (Art. 121, CP) São todos crimes de Ação II. Contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior
penal incondicionada. de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
Participação em Suicídio (Art. 122, CP) São Julgados pelo tribunal
III. Na presença de descendente ou de ascendente
do Júri.
Infanticídio (Art. 123, CP) Obs.: O homicídio culposo
da vítima.
é julgado pelo Juiz. Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Aborto (Arts. 124 a 126, CP) A Lei nº 13.104/2015 introduziu no Código penal uma nova
figura típica: o feminicídio. A pena para homicídio qualificado
Dos crimes culposos contra a vida, só temos o homicídio. é de 12 a 30 anos de prisão, e será aumentada em um terço se 33
Os demais não comportam a modalidade culposa, o aborto o crime acontecer durante a gestação ou nos três meses pos-
teriores ao parto; se for contra adolescente menor de 14 anos • São autoridades previstas no Art. 142 da CF/88
34 ou adulto acima de 60 anos ou ainda pessoa com deficiência. Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Mari-
Também se o assassinato for cometido na presença de descen- nha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições
dente ou ascendente da vítima. nacionais permanentes e regulares, organizadas com
Conceito base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
Podemos definir como uma qualificadora do crime de homi- suprema do Presidente da República, e destinam-se
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

cídio motivada pelo ódio contra as mulheres, tendo como ente à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitu-
motivador por circunstâncias específicas em que o pertenci- cionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da
mento da mulher ao sexo feminino é central na prática do delito. ordem.
Entre essas circunstâncias estão incluídos: os assassinatos em • São autoridades do Art. 144 da CF/88
contexto de violência doméstica ou familiar e o menosprezo ou Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
discriminação à condição de mulher. responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
Temos essa qualificadora conhecida como crime fétido. da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do pa-
trimônio, através dos seguintes órgãos:
Razões de Gênero
I. Polícia federal;
A qualificadora do feminicídio não poderá ser provada por
um laudo pericial ou exame cadavérico, porque nem sempre II. Polícia rodoviária federal;
um assassinado de uma mulher será considerado “feminicí- III. Polícia ferroviária federal;
dio”. Assim, para ser configurada a qualificadora do feminicí- IV. Polícias civis;
dio, a acusação tem que provar que o crime foi cometido con- V. Polícias militares e corpos de bombeiros milita-
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tra a mulher por razões da condição de sexo feminino. res.


O feminicídio foi acrescentado no § 2º-A. Essa conduta §8º Guardas municipais
tomou a forma de uma norma explicativa do termo razões da
condição de sexo feminino, podendo ocorrer em duas situações: Homicídio Culposo
▷ Violência doméstica e familiar; § 3º Se o homicídio é culposo:
▷ Menosprezo ou discriminação à condição de mulher; Pena - detenção, de um a três anos.
O § 7º do Art. 121 do CP estabelece causas de aumento de Aumento de Pena
pena para o crime de feminicídio. § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3
A pena será aumentada de 1/3 até a metade se for prati- (um terço), se o crime resulta de inobservância de re-
cado: gra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente
▷ Durante a gravidez ou nos 3 meses posteriores ao deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procu-
parto; ra diminuir as consequências do seu ato, ou foge para
▷ Contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a
ou com deficiência; pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é pra-
▷ Na presença de ascendente ou descendente da ví- ticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior
tima. de 60 (sessenta) anos.
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes cri- § 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá
mes, todos tipificados no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 deixar de aplicar a pena, se as consequências da infra-
de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou ção atingirem o próprio agente de forma tão grave que
tentados: a sanção penal se torne desnecessária.
I. homicídio (Art. 121), quando praticado em ativi- § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a me-
dade típica de grupo de extermínio, ainda que co- tade se o crime for praticado por milícia privada, sob o
metido por um só agente, e homicídio qualificado pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
(Art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII); grupo de extermínio.
Como todo homicídio qualificado, o feminicídio também é
considerado hediondo de acordo com o Art. 1º da Lei nº 8.072/90
Conceito
(Lei de Crimes Hediondos). O homicídio é morte injusta de uma pessoa praticada por
Essa qualificadora foi inserida pela Lei nº 13.142/2015, que outrem. De acordo com Nelson Hungria É o Crime por exce-
acrescentou objetivamente essa ação no rol dos crimes he- lência.
diondos no Art. 1º inciso I-A e também aumentou a pena de 1/3 No Art. 121, caput tem-se o chamado Homicídio Doloso Sim-
a 2/3 no Art. 129 (lesão corporal). ples. No Art. 121, § 1º, tem-se o chamado Homicídio Doloso Pri-
VII. Contra autoridade ou agente descrito nos Arts. vilegiado. O Art. 121, § 2 º, traz o Homicídio Doloso qualificado. O
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do Art.121, § 3º, traz o Homicídio Culposo. O Art. 121, § 4º, do CP traz
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança as Majorantes de Pena, o § 5º traz o Perdão Judicial.
Pública, no exercício da função ou em decorrência E o homicídio preterdoloso? Está previsto no Art. 129, § 3º do
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou pa- CP: é a lesão corporal seguida de morte.
rente consanguíneo até terceiro grau, em razão Homicídio não é genocídio, são dois crimes distintos. Nem
dessa condição: todo homicídio em massa vai ser genocídio. Para ser genocídio
tem que se enquadrar na lei, o propósito tem que ser de exter- Ex.: “A”, portador do vírus HIV (AIDS) e sabedor desta
minar total ou parcialmente um grupo étnico, social ou religioso. condição, com a intenção de matar, tem relação sexual
Se o objetivo não for esse, não temos o genocídio. Pode ser ge- com “B”, com o fim de transmitir voluntária e dolosa-
nocídio segregando membros de um grupo, impedindo o nasci- mente o vírus a este último. Nesta situação, após a trans-
mento no seio de um grupo. Foi o que Saddam Hussein fez com missão, enquanto “B” não morrer, “A” responderá por
os Curdos no Iraque. tentativa de homicídio, após a morte de “B”, “A” respon-
derá por homicídio consumado.
Homicídio Simples
Art. 121. Matar alguém:
Homicídio Privilegiado
Sujeito Ativo: é crime comum, pode ser praticado por Art. 121, § 1º Se o agente comete o crime impelido por
qualquer pessoa. motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o do-
mínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
Sujeito Passivo: da mesma forma, pode ser praticado por provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de
qualquer pessoa. Noronha entende que o Estado também fi- um sexto a um terço.
gura como vítima do homicídio, justificando existir um inte-
O Homicídio Privilegiado é caso de diminuição de pena,
resse do ente político na conservação da vida humana, sua
havendo diminuição de pena de 1/6 a 1/3. Essa diminuição de
condição de existência. pena é direito subjetivo do réu, sendo que, presentes os requi-
Alguns autores dizem ainda que, quando a vítima for Pre- sitos, o juiz deve reduzir a pena.
sidente da República, do Senado Federal ou da Câmara dos
Deputados, o crime pode ser contra a Segurança Nacional. Hipóteses Privilegiadoras
Pode estar enquadrado no Art. 121 do CP ou do Art. 29 da Lei • Se o agente comete o crime por motivo de relevan-
nº 7.170/83, que é matar alguém com motivação política. Caso te valor social
isso ocorra, se está diante do Princípio da Especialidade. No valor social, o agente mata para atender os interesses
Conduta Punida de toda coletividade.
A conduta punível nesse tipo penal nada mais é que tirar a Ex.: Matar estuprador do bairro; matar um assassino que
vida de alguém. Atente-se para a diferença: aterroriza a cidade.
▷ Vida intrauterina: abortamento – aborto. • Se o agente comete o crime por relevante valor
▷ Vida extrauterina: homicídio ou infanticídio. moral: o agente mata para atender interesses par-
Quanto ao início do parto, existem três correntes: ticulares, diferente do valor social
▷ 1ª Corrente: dá-se com o completo e total despren- Esses interesses morais são ligados aos sentimentos de
dimento do feto das entranhas maternas; compaixão, misericórdia ou piedade.
▷ 2ª Corrente: ocorre desde as dores do parto; Ex.: Eutanásia; A mata B porque matou o filho.

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Alguns autores salientam que há uma doutrina cada vez mais
▷ 3ª Corrente: ocorre com a dilatação do colo do útero.
recente de que a ortotanásia não seja crime, mas essa questão,
Forma de execução: trata-se de delito de execução livre, indagada em concurso do MP de SC, foi considerada tão crime
podendo ser praticado por ação ou omissão, meios de execu- como a eutanásia.
ção diretos ou indiretos.
• Se o agente comete o crime sob o domínio de vio-
Tipo Subjetivo: o Art. 121, caput é punido a título de dolo lenta emoção, logo em seguida a injusta provoca-
direto ou dolo eventual. ção da vítima - Homicídio Emocional
Verifica-se o dolo eventual quando o agente assumiu o
Atente-se que domínio não se confunde com mera influên-
risco de praticar a conduta delituosa. Atualmente os tribunais cia. A mera influência é uma atenuante de pena prevista no
vêm entendendo que quando o agente, embriagado, pratica Art. 65 do CP.
homicídio de trânsito, pode ser condenado pelo homicídio do
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

É necessário observar que o homicídio deve ocorrer logo


Art. 121 do CP, tendo em vista que, ao ingerir bebida alcoólica
após a injusta provocação da vítima, ou seja, deve haver ime-
e tomar a direção de um veículo, assumiu o risco de produzir
diatidade da reação (reação sem intervalo temporal). Entende
o evento danoso.
a jurisprudência que, enquanto perdurar o domínio da violenta
Consumação e Tentativa emoção, a reação será considerada imediata.
Trata-se de delito material ou de resultado, ou seja, o deli- Observa-se ainda que a provocação da vítima deve ser in-
to consuma-se com a morte. A morte dá-se com a cessação da justa, e isso não traduz, necessariamente, um fato típico. Pode
atividade encefálica. Cessando a atividade encefálica, o agente haver injusta provocação sem configurar fato típico, mas serve
será considerado morto, conforme se extrai da Lei nº 9.434/97 para configurar o homicídio emocional.
– Lei de Transplantes. A tentativa é possível, considerando que Ex.: Adultério.
o homicídio se trata de crime plurissubsistente, permitindo a Se for injusta a agressão da vítima, será caso de legitima
execução fracionamento. defesa.
O homicídio simples pode ser considerado crime hediondo O privilégio é sempre circunstância do crime. Sendo que
quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio. as circunstâncias subjetivas são incomunicáveis, nos termos do
É o chamado homicídio condicionado. O homicídio pode ser Art. 30 do CP. Já as circunstâncias objetivas são comunicáveis, 35
praticado através de relações sexuais ou atos libidinosos. nos termos do Art. 30, in fine.
Circunstâncias Subjetivas Circunstâncias Objetivas Nesse inciso I o legislador aqui encerrou de forma genéri-
36 Não se comunicam. Comunicam-se. ca, o que permite a interpretação analógica, ou seja, permite
Ligam-se ao motivo ou estado anímico Ligam-se ao meio / modo
ao juiz a análise de outras situações que aqui podem se en-
do agente de execução quadrar.
Como as privilegiadoras aqui citadas são Por Motivo Fútil
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

subjetivas, não haverá comunicabilidade em Segundo alguns autores é aquele que ocorre quando o
relação aos demais autores do crime, logo
não se aplica ao coautor se não restarem móvel apresenta real desproporção entre o delito e a sua cau-
comprovados os mesmos requisitos. sa moral. Tem-se a pequeneza do motivo (matar por pouca
coisa).
Homicídio Qualificado Ex.: Briga de trânsito.
O homicídio qualificado é sempre crime hediondo. Tem caráter SUBJETIVO, pois se refere à motivação do
agente para cometer o crime.
Homicídio Qualificado
É um motivo insignificante, de pouca importância, comple-
§ 2º Se o homicídio é cometido:
tamente desproporcional à natureza do crime praticado.
I. Mediante paga ou promessa de recompensa, ou
por outro motivo torpe; Atente-se que, motivo fútil não se confunde com motivo
injusto, uma vez que a injustiça é característica de todo e qual-
II. Por motivo fútil;
quer crime - injusto penal.
III. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi-
xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de Se não há motivo comprovado nos autos, poderá ser de-
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que possa resultar perigo comum; nunciado por homicídio qualificado pelo motivo fútil? Aqui há
IV. À traição, de emboscada, ou mediante dissimu- duas correntes:
lação ou outro recurso que dificulte ou torne im- 1ª Corrente: a ausência de motivos equipara-se ao motivo fú-
possível a defesa do ofendido; til, pois seria um contrassenso conceber que o legislador punisse
V. Para assegurar a execução, a ocultação, a impu- com pena mais grave quem mata por futilidade, permitindo que
nidade ou vantagem de outro crime: o que age sem qualquer motivo receba sanção mais branda. (MA-
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. JORITÁRIA)
Motivo Torpe 2ª Corrente: a ausência de motivos não pode ser equiparada
É o motivo abjeto, ignóbil, vil, espelhando ganância. ao motivo fútil, sob pena de se ofender o princípio da reserva
É indagado se a qualificadora da torpeza se aplica também legal. É o que entende Cezar Roberto Bitencourt – para ele o
ao mandante, ou apenas para o executor. legislador que deve incluir a ausência de motivo no rol das qua-
Alguns autores dizem que a resposta depende se se en- lificadoras.
tende que essa qualificadora é uma elementar ou se é circuns- Com Emprego de Veneno, Fogo, Explosivo, As-
tância. Entendendo que se trata de circunstância, somente o
fixia, Tortura ou Outro Meio Insidioso ou Cruel,
executor responde pelo homicídio qualificado já que a circuns-
tância subjetiva não se comunica. Por outro lado, entendendo- ou de que Possa Resultar Perigo Comum
se que se trata de elementar subjetiva do crime, haverá co- Neste inciso, novamente se permite a interpretação analó-
municabilidade, estendendo-se a qualificadora ao mandante gica, trazendo alguns exemplos o inciso.
(ambos respondem pela qualificadora – mandante e executor). Tem caráter objetivo, pois se refere aos meios emprega-
Atualmente, prevalece a segunda hipótese, ou seja, que se dos pelo agente para o cometimento do homicídio.
trata de elementar subjetiva do crime, e mandante e executor
Esse inciso permite igualmente a interpretação analógica,
respondem pelo crime qualificado.
trazendo como exemplos o emprego de veneno, fogo, explosi-
Mediante Paga ou Promessa de Recompensa vo, asfixia ou tortura.
No caso de o agente matar mediante paga ou promessa de
No caso do emprego de veneno, é imprescindível que a
recompensa de natureza diversa da econômica, por exemplo,
sexual, continua se tratando de motivo torpe, pois não deixa vítima desconheça estar ingerindo a substância letal.
de se ajustar ao encerramento genérico, somente não con- No caso de tortura, o sofrimento é aquele desnecessário da
figurando o exemplo dado no início do inciso. É o chamado vítima antes da sua morte.
homicídio mercenário. Homicídio qualificado pela Tortura com resultado morte (Art.
Esse homicídio mercenário que nada mais é que um exem- tortura (Art. 121, § 2º, III, CP) 1º, § 3º, Lei nº 9.455/97)
plo de torpeza. O executor é chamado de matador de aluguel. Morte DOLOSA. Morte PRETERDOLOSA.
O crime, mediante paga ou promessa, é crime de concur- O agente tem o dolo de torturar
O agente utiliza a tortura para
so necessário (plurisubsistente – plurilateral – plurisubjetivo), provocar a morte da vítima.
a vítima, e da tortura resulta
exigindo-se pelo menos duas pessoas (mandante e executor). culposamente sua morte.
Neste caso, necessariamente a natureza é econômica, logo Competência do tribunal do júri. Competência do juiz.
se a vantagem era promessa sexual, entre outras, não incidirá A tortura foi o meio utilizado A tortura foi o fim desejado, mas a
a qualificadora. para a morte. morte foi culposa.
A Traição, de Emboscada, ou Mediante Dis- Homicídio Culposo
simulação ou Outro Recurso que Dificulte ou § 3º Se o homicídio é culposo:
Torne Impossível a Defesa do Ofendido Pena - detenção, de um a três anos.
O legislador cita como exemplos a traição, emboscada ou
dissimulação, finalizando de maneira genérica o que também
Conceito
permite a interpretação analógica. Ocorre o homicídio culposo quando o agente realiza uma
conduta voluntária, com violação de dever objetivo de cuida-
Tem caráter objetivo (modo de execução do crime).
do a todos imposto, por negligência, imprudência ou impe-
Conceitos: rícia, produzindo, por consequência, um resultado (morte)
Traição: ataque desleal, quebra de confiança. involuntário, não previsto e nem querido, mas objetivamente
Emboscada: aquele que ataca a vítima com surpresa. Ele previsível, que podia ter sido evitado caso observasse a devida
se oculta para surpreender a vítima. atenção.
Dissimulação: significa fingimento, disfarçando o agente Modalidades de Culpa
a sua intenção hostil.
Culpa negativa. O agente deixa de fazer aquilo que a
Ex.: Aquele que convida para ir à casa de outrem e, lá cautela manda.
Negligência
chegando, mata o convidado. Ex.: Viajar de carro com os freios danificados.
Para Assegurar a Execução, Ocultação, a Im- Culpa positiva. O agente pratica um ato perigoso.
Imprudência
punidade ou Vantagem de Outro Crime Ex.: Trafegar com veículo no centro da cidade a 180 km/h.
Tem caráter subjetivo (refere-se aos motivos do crime). Culpa profissional. É a falta de aptidão para o
exercício de arte, profissão ou ofício para a qual o
Trata das hipóteses de conexão teleológica e consequencial. agente, apesar de autorizado a exercê-la, não possui
ї Quando se comete o crime para assegurar a execução, Imperícia conhecimentos teóricos ou práticos para tanto.
classifica-se o homicídio como qualificado teleológico. Ex.: Médico ginecologista que começa a realizar
Ex.: “A” pretendendo cometer um crime de extorsão me- cirurgias plásticas sem especialização para tanto.
diante sequestro contra uma pessoa muito importante e Por se tratar de infração de médio potencial ofensivo (já
para assegurar a execução mata o segurança do empresário. que a pena mínima é de um ano) há possibilidade de suspen-
ї Já no homicídio consequencial são as seguintes hipóteses: são condicional do processo.
Conexão Consequencial Já quando ocorre o delito previsto no Art. 302 do CTB –
Quer evitar a descoberta do crime cometido pelo agente. homicídio culposo na condução de veículo automotor – a pena
Ocultação
Ex.: Ocultar o cadáver após o homicídio. é detenção de dois a quatro anos + a suspensão ou proibição
O criminoso procura evitar que se descubra que ele foi da permissão de conduzir veículo.

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Impunidade o autor do crime.
Art. 121, §3º, CP Art. 302, CTB
Ex.: Matar a testemunha ocultar de um crime.
O agente que usufruir a vantagem decorrente da Norma especial: na direção de
Norma geral
prática de outro crime. veículo automotor.
Vantagem
Ex.: Um ladrão mata o outro para ficar com todo o
dinheiro do roubo praticado por ambos. A pena é de 02 a quatro anos
Pena varia de 01 a 03 anos à infração
à infração penal de grande
penal de médio potencial ofensivo.
O STF tem admitido a coexistência do privilégio (caráter sub- potencial ofensivo.
jetivo) com as qualificadoras de caráter objetivo (chamado homi-
Não admite suspensão condi-
cídio privilegiado-qualificado). Admite a suspensão do processo.
cional do processo.
Ex.: “A” matou “B” envenenado porque este último es-
tuprou a filha de “A”. Aumento de Pena
O homicídio privilegiado-qualificado não é considerado
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3


hediondo (pois a existência do privilégio afasta a hediondez (um terço), se o crime resulta de inobservância de re-
do homicídio qualificado). gra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente
Matar por ocasião de outro crime, sem vínculo finalístico, deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procu-
não qualifica o crime. ra diminuir as consequências do seu ato, ou foge para
O crime futuro deve ocorrer para gerar a conexão teleoló- evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a
gica? O crime futuro não precisa ocorrer para gerar esta quali- pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é pra-
ficadora, bastando matar para essa finalidade. ticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior
Há possibilidades do homicídio qualificado ser privilegia- de 60 (sessenta) anos.
do? Sim. Há essa possibilidade, quando as qualificadoras são Aqui se tem o rol das majorantes do homicídio doloso e o
objetivas. rol das majorantes do homicídio culposo.
Ou seja, uma da privilegiadoras, e uma das qualificadoras • Aumento de pena de 1/3
do meio cruel ou da torpeza (objetivas). Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
Para a maioria da doutrina, o homicídio qualificado quan- profissão, arte ou ofício: neste caso, apesar do agente dominar
do também privilegiado não será hediondo, uma vez que o a técnica, não observa o caso concreto. É diferente da imperí- 37
privilégio é preponderante. cia, pois nessa hipótese, o agente não domina a técnica.
Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima: Ex.: Pai culposamente atropela filho na garagem de casa.
38 neste caso, é necessário para a incidência da majorante que o Natureza jurídica da sentença concessiva de perdão ju-
socorro seja possível, e que o agente não tenha risco pessoal dicial: De acordo com a Súmula 18 do STJ: A sentença conces-
na conduta. siva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibili-
Não incide aumento quando terceiros prestarem socorro dade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.
ou morte instantânea incontestável.
Perdão Judicial e Código de Trânsito Brasileiro: O perdão
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Neste caso, não incide também o Art. 135 do CP (omissão


judicial no CTB estava previsto no Art. 300, mas este foi vetado.
de socorro), para evitar o bis in idem.
De acordo com o STF, se o autor do crime, apesar de reunir Causa Específica de Aumento de Pena
condições de socorrer a vítima não o faz, concluindo pela inutilida- § 6º. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a me-
de da ajuda em face da gravidade da lesão, sofre a majorante do tade se o crime for praticado por milícia privada, sob o
Art. 121, § 4º, do CP: pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
Se não procura diminuir as consequências do seu ato; grupo de extermínio.
Se foge para evitar prisão em flagrante: para a maioria da Esse parágrafo foi introduzido no Código Penal pela Lei nº
doutrina esta majorante é aplicável, pois o agente demonstra, ao 12.720 de 27 de setembro de 2012, juntamente com a mudança
fugir do flagrante, ausência de escrúpulo e diminuta responsabili- no § 7º do crime de lesão corporal (Art. 129 do CP) e o novo
dade moral, lembrando que prejudica as investigações.
crime de constituição de milícia privada (Art. 288-A do CP).
Para a doutrina moderna, essa majorante não deveria incidir,
pois a pessoa estaria obrigada, nessa hipótese, a produzir prova É uma majorante de concurso necessário, visto que um
contra si mesma, o que vai de encontro ao instituto de liberdade, grupo não pode ser constituído por uma ou duas pessoas.
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e já que a fuga sem violência não é crime e daí que não poderia O legislador omitiu qual o número mínimo exigido para a
também incidir essa majorante. (Defensoria Pública). configuração desses grupos de extermínio ou milícias, mas a
No homicídio doloso a pena é aumentada de 1/3 se o crime
interpretação que predomina é de no mínimo 03 pessoas.
é praticado contra:
▷ Menor de 14 anos; Para que ocorra essa causa especial de aumento de
pena, se faz necessário um especial fim de agir do grupo
▷ Maior de 60 anos (não abrange aquele que tem ida-
de igual a 60 anos). de milícia privada (pretexto de prestação de serviço de
A idade da vítima deve ser conhecida pelo agente. segurança). Essa majorante também é aplicada se for co-
metida por somente um integrante do grupo, somente se
E se, quando do disparo de arma de fogo, a vítima tenha
menos de 14 anos, e quando falece já é maior de 14, incide a o referido homicídio já teria sido planejado pela milícia an-
majorante? SIM, neste caso analisa-se se na ocasião da ação a teriormente.
vítima era menor de 14 anos. Ex.: O que ocorre nas favelas do Rio de Janeiro.
• Perdão Judicial Induzimento, Instigação ou
§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá
deixar de aplicar a pena, se as consequências da infra-
Auxílio ao Suicídio
ção atingirem o próprio agente de forma tão grave que Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou
a sanção penal se torne desnecessária. prestar-lhe auxílio para que o faça:
Conceito: Segundo alguns autores, perdão judicial é o insti- Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se
tuto pelo qual o Juiz, não obstante a prática de um fato típico e consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentati-
ilícito, por um agente comprovadamente culpado, deixa de lhe va de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
aplicar, nas hipóteses taxativamente previstas em lei, o preceito Parágrafo único. A pena é duplicada:
sancionador cabível, levando em consideração determinadas cir-
Aumento de Pena
cunstâncias que concorrem para o evento.
I. Se o crime é praticado por motivo egoístico;
O perdão judicial somente é concedido após a sentença.
II. Se a vítima é menor ou tem diminuída, por qual-
O perdão judicial é uma causa extintiva da punibilidade.
E caso seja indagado pelo examinador acerca da diferença do quer causa, a capacidade de resistência.
perdão judicial para o perdão do ofendido, é necessário ob- Introdução
servar que:
Para o Direito Penal Brasileiro, não é passível de punição a
Perdão Judicial Perdão do Ofendido conduta do agente que tem como objetivo o extermínio da sua
É ato unilateral (não precisa ser É ato bilateral (precisa ser aceito própria vida, ou seja, aquele que comete o suicídio (autocídio/
aceito pelo agente). pelo agente). autoquíria), bem como a possível lesão que o sujeito venha a
Homicídio culposo ou lesão corporal sofrer caso sua tentativa não obtenha sucesso, devido à falta
Somente na ação penal privada.
culposa. de previsão legal para tal conduta.
O perdão judicial somente ocorre no homicídio culposo, se Contudo, o objetivo da norma penal ao tipificar essa con-
as circunstâncias da infração atingirem o agente de forma tão duta é punir o agente que participa na ocorrência do crime, au-
grave que a sanção penal se torne desnecessária. xiliando, induzindo ou instigando alguém a cometer o suicídio.
Classificação O auxílio deve ser eficaz, ou seja, precisa contribuir efetiva-
É crime simples, comum, e material, pois sua consumação mente para o suicídio. Desse modo, se “A” empresta uma arma
exige resultado. É crime de forma livre. Pode ser praticado por de fogo para “B” se matar, mas este acabe utilizando uma corda
ação ou por omissão IMPRÓPRIA, quando presente o dever de (enforcamento), nesse caso, a conduta de “A” será atípica.
agir. (Art. 13, § 2º, CP) Apontamentos
Condutas acessórias à prática do suicídio: Exige-se que o agente imprima seriedade em sua condu-
▷ Induzir: Implantar a ideia. ta, querendo que a vítima efetivamente se suicide (dolo).
▷ Instigar: Reforçar a ideia preexistente. Não há crime se o agente fala, por brincadeira, para a víti-
▷ Auxiliar: Intromissão no processo físico de causação. ma se matar e esta realmente se mata.
Sujeitos Não caracteriza constrangimento ilegal a coação (força)
exercida para impedir o suicídio (Art. 146, § 3º, II, CP).
Sujeito Ativo: crime comum, pode ser praticado por qual-
quer um. Causas de Aumento de Pena
Sujeito Passivo: alguém que tenha capacidade para agir, (Art. 122, Parágrafo Único) A pena será duplicada
se o crime for cometido:
pois caso contrário será crime de homicídio. Se ela tiver relati-
va capacidade (de 14 até fazer 18 anos – Art. 224, “a” e 217-A, É o que revela individualismo exagerado.
O agente almeja alcançar algum proveito,
CP), incorrerá na pena do Art. 122, parágrafo único, II, CP. econômico ou não, como consequência do
Natureza Jurídica do Art. 122, CP: Nelson Hungria, Luiz Re- suicídio da vítima.
gis Prado, Aníbal Bruno e Rogério Greco – Condição Objetiva Por motivo egoístico Ex.: filho único induz o pai a se suicidar para
de Punibilidade, porque o crime se perfaz quando se instiga, ficar com sua herança. O Vice-presidente
de uma empresa instiga o presidente (o
induz ou auxilia. Mas a lei condiciona a punibilidade dessa con- qual está com depressão) a se matar para
duta à ocorrência do suicídio, ou pelo menos da lesão grave. assumir seu cargo.
São resultados que se encontram fora do Tipo e, por isso, são ATENÇÃO: A vítima tem que ser menor de
condições que a Lei coloca para que o Estado possa exercer o Se a vítima é menor 18 e maior que 14 anos. Caso a vítima seja
ius puniendi. menor de 14 anos o crime será de homicídio.
Art. 13, § 2º, CP. A omissão é penalmente relevante É a pessoa mais propensa a ser influenciada
quando o omitente devia e podia agir para evitar o re- pela participação em suicídio.
sultado. O dever de agir incumbe a quem: Se a vítima tem di-
Ex.: pessoa parcialmente embriagada,
minuída, por qualquer
a) Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção sob efeito de entorpecente, com idade
causa, a capacidade
ou vigilância; avançada.
de resistência

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Obs.: Se o ébrio estiver completamente
b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de
inconsciente o crime será homicídio.
impedir o resultado;
c) Com seu comportamento anterior, criou o risco Pacto de Morte ou Suicídio a Dois
da ocorrência do resultado.
Duas pessoas resolvem se suicidar conjuntamente. Ex.: câmara de gás.
A conduta só é punida na forma dolosa (o agente que par-
Podem ocorrer as seguintes situações:
ticipa), NÃO existindo previsão para modalidade culposa.
Descrição do crime: é conhecido também como o crime de “A” e “B” sobre-
viveram e não
participação em suicídio. Ademais, a participação deve dirigir- ocorreu lesão
Os dois abriram a Os dois responderão por
se a pessoa(as) determinada (as), pois NÃO é punível a parti- torneira de gás. tentativa de homicídio.
corporal grave (ou
cipação genérica (um filme, livro, que estimule o pensamento gravíssima).
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

suicida). “A” e “B” sobre-


“A” responderá por tentati-
Sendo a conduta criminosa composta de vários verbos viveram e não
“A” abriu a va de homicídio e “B” não
(induzir, instigar, auxiliar), ainda que o agente realize as três ocorreu lesão
torneira. responderá por nada (Fato
corporal grave (ou
condutas, o crime será único, respondendo desta forma, ape- gravíssima).
Atípico).
nas pelo Art. 122 do CP.
“A” e “B” sobre-
Considerações viveram, mas “B”
“A” responderá por tenta-
“A” abriu a tiva de homicídio e “B” re-
Na participação material, o auxílio deve ser acessório, ficou com lesão
torneira. sponderá por participação
pois, caso seja direto e imediato, o crime será o de homicí- corporal grave (ou
em suicídio (Art. 122).
gravíssima).
dio, visto que o sujeito não pode, em hipótese alguma, realizar
uma conduta apta a eliminar a vida da vítima. “A” morreu e “B” “A” abriu a
“B” responderá por
Ex.: “A” empresta sua arma de fogo para “B”, contudo, participação em suicídio
sobreviveu. torneira.
(Art. 122).
“B” solicita para que esse (“A”) efetue o disparo em sua
cabeça. “A” morreu e “B” “B” abriu a “B” responderá por 39
sobreviveu. torneira. homicídio.
Roleta-Russa e Duelo Americano na qualidade de partícipe. Mas aqui surgem duas correntes em
40 face da injustiça existente:
Os Sobreviventes Responderão pelo Crime: Corrente Majoritária: o médico responde pelo Art. 121 do
A arma de fogo (revólver) é municiada com um CP e a parturiente responde pelo Art. 123 para sanar a injustiça
único projétil, sendo o gatilho acionado por ambos existente.
Roleta-russa os participantes – conforme sua ordem – girando o Sujeito Passivo: é próprio, ou seja, somente aquele que é
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

“tambor” da arma a cada nova tentativa. “A” gira o


tambor, mira em sua cabeça, e aciona o gatilho. o nascente (durante o parto) ou neonato (logo após o parto).
Diante da especialidade, tanto do sujeito ativo como do
Existem duas armas, sendo que apenas uma sujeito passivo, o crime é considerado bipróprio.
está municiada, cada um escolhe a sua e efetiva
Duelo-Americano Supondo que a mãe mate aquele que supõe ser seu filho,
o disparo contra si mesmo, desconhecendo qual
efetivamente está carregada. mas na verdade é filho de outrem. Nesse caso continuará res-
pondendo pelo crime de infanticídio, diante da aplicação do
Infanticídio Art. 20 do CP, que determina a consideração das qualidades
Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o da vítima virtual.
próprio filho, durante o parto ou logo após: Conduta
Pena - detenção, de dois a seis anos. A conduta punível é tirar a vida extrauterina do próprio fi-
Conceito lho, durante ou logo após o parto.
O Art. 123 do CP é um homicídio especial, dotado de especia- ї Tem-se o matar + as seguintes especializantes:
lizastes, possuindo pena menor, o que implica o fato de ser consi- Elemento temporal constitutivo do tipo: durante ou logo
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derado Homicídio Privilegiado. após o parto. Se for antes do parto, o crime é de aborto. Se,
após o parto, o crime é de homicídio.
Requisitos Influência do estado puerperal: a doutrina afirma que, o
▷ Praticado pela própria mãe contra seu filho; logo após perdura enquanto presente a influência do estado
▷ Durante ou logo após o parto; puerperal. Enquanto a gestante estiver sob a influência do es-
▷ Contra recém-nascido (neonato); tado puerperal, o elemento temporal constitutivo estará pre-
▷ Sob influência de estado puerpério (lapso temporal sente. Estado puerperal é um desequilíbrio fisio-psíquico.
até que a mulher volte ao ciclo menstrual normal). Estado puerperal: Conforme Sanches, é o estado que
Trata-se de um crime próprio (praticado pela própria envolve a parturiente durante a expulsão da criança do
mãe). ventre materno, produzindo profundas alterações psíqui-
cas e físicas.
É um crime comissivo (ação) ou omissivo (omissão im-
própria), sendo também um crime material, consuma-se, efe- Puerpério é o período que se estende do início do parto
até a volta da mulher às condições pré-gravidez.
tivamente, com a morte da vítima.
É preciso, também, que haja uma relação de causa e efei-
Sujeitos to entre o estado puerperal e o crime, pois nem sempre ele
Sujeito Ativo: o sujeito ativo aqui é a mãe, sob influência produz perturbações psíquicas na parturiente. Esse alerta se
do estado puerperal. encontra na exposição de motivos do CP.
Indaga-se se o crime em questão admite concurso de pes- Dependendo do grau do estado puerperal é possível que
soas (coautoria e participação)? a parturiente seja tratada como inimputável ou semi-imputá-
Sobre essa pergunta existem duas correntes: vel? Sim. Dependendo do grau de desequilíbrio fisio-psíquico,
a parturiente pode sofrer o mesmo tratamento do inimputável
1ª Corrente: o estado puerperal é condição personalís- ou semi-imputável. Essa é a posição de Mirabete.
sima incomunicável, logo, não admite concurso de pessoas.
Mas atente-se que o CP não reconhece essa condição perso- Tipo Subjetivo
nalíssima – não tem previsão do Art. 30 do CP. O crime descrito no Art. 123 é punido a título de dolo, não
2ª Corrente: o estado puerperal é condição pessoal comu- havendo possibilidade de punição na modalidade culposa.
nicável, pelo que é admitido o concurso de agentes. (Majori- Consumação e tentativa:
tária) O crime se consuma com a morte, sendo perfeitamente
ї Alguns autores dividem dessa forma: possível a tentativa.
1ª Situação: parturiente e médico matam o nascente ou
neonato. Parturiente responde pelo Art. 123 e o médico tam-
Aborto Provocado pela Gestante
bém responde pelo Art. 123 em coautoria. ou com seu Consentimento
2ª Situação: parturiente, auxiliada pelo médico, mata nas- Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir
cente ou neonato. A parturiente responde pelo Art. 123 e o mé- que outrem lhe provoque:
dico também, como partícipe. Pena - detenção, de um a três anos.
3ª Situação: médico, auxiliado pela parturiente, mata nas- O crime de aborto ocorre quando há a interrupção da gra-
cente ou neonato. O médico responderá pelo crime de homi- videz, ocasionando a morte do produto da geração, procria-
cídio e a parturiente, também responderia pelo Art. 121 do CP ção, concepção, ou seja, é a eliminação da vida intrauterina.
Sob o aspecto jurídico, a gravidez tem início com a nidação Consumação e Tentativa
(implantação do óvulo fecundado no útero – parede uterina). Ocorre com a morte do feto. É dispensável a expulsão do
Portanto, não há crime de aborto quando da utilização de produto da concepção.
meios que inibem a fixação do ovo na parede uterina. É o que É admitida a tentativa.
ocorre com o DIU (diafragma intrauterino).
Espécies de Aborto Classificação Doutrinária
Criminoso Interrupção dolosa da gravidez (Arts. 124 a 127, CP).
O aborto é crime: material, próprio e de mão própria ou co-
mum, instantâneo, comissivo ou omissivo, de dano, unissubjetivo,
Não há crime por expressa previsão legal. Art. 128, CP:
unilateral ou de concurso eventual, plurissubjetivo ou de concurso
I) Quando não há outro meio para salvar a vida da
Legal ou
gestante (aborto necessário ou terapêutico);
necessário, plurissubsistente, de forma livre, progressivo.
Permitido O Art. 20 da LCP diz que constitui contravenção penal a
II) Quando a gravidez resulta de estupro (aborto
sentimental ou humanitário). conduta de anunciar processo, substância ou objeto destinado
Natural Interrupção espontânea da gravidez. Não há crime. a provocar aborto.

Acidental
A gestante sofre um acidente qualquer e perde o Análise do Tipo Penal
bebê. Não é crime, por ausência de dolo.
1ª parte: provocar aborto em si.
Eugênico ou Interrupção da gravidez para evitar o nascimento da É o autoaborto, um crime próprio e de mão própria.
Eugenésico criança com graves deformidades genéticas. É crime.
Admite participação:
Econômico Interrupção da gravidez para não agravar a situação de
ou Social miséria enfrentada pela mãe ou por sua família. É crime. Ex.: Mulher gestante ingere medicamento abortivo que
lhe foi dado por seu namorado e provoca o aborto. Nesta
Objetividade Jurídica situação a gestante é autora de autoaborto e seu namo-
Vida humana. No aborto provocado por terceiro SEM o con- rado é partícipe (induzir, instigar ou auxiliar) deste crime.
sentimento da gestante (Art. 125), protege-se também a integri- Todavia, se o namorado tivesse executado qualquer ato
dade física e psíquica da gestante. de provocação do aborto seria autor do crime previsto no
Art. 126, CP (aborto com o consentimento da gestante).
Objeto Material O partícipe do autoaborto, além de responder por este
O produto da concepção (óvulo fecundado, embrião ou crime, pratica ainda homicídio culposo ou lesão corporal cul-
feto). posa se ocorrer morte ou lesão corporal grave em relação à
Deve haver prova da gravidez, pois se a mulher não está gestante, pois o disposto no Art. 127 não se aplica ao crime do
grávida, ou se o feto já havia morrido por outro motivo qual- Art. 124.
quer será crime impossível por absoluta impropriedade do Quanto à gestante que provoca aborto em si mesma, o
objeto (Art. 17, CP). aborto legal ou permitido, duas situações podem ocorrer:

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O feto deve estar alojado no útero materno. Desse modo, ▷ Se for aborto necessário ou terapêutico: não há cri-
se ocorrer a destruição de um tubo de ensaio que contém um me (estado de necessidade);
óvulo fertilizado in vitro não haverá aborto. ▷ Se for aborto sentimental ou humanitário: há crime,
O feto não necessita ter viabilidade. Basta que esteja vivo pois nesta modalidade somente é autorizado no
antes do crime. aborto praticado pelo médico.
Sujeitos do Crime 2ª parte: consentir para que 3º lhe provoque o aborto.
Sujeito Ativo: Os crimes do Art. 124, CP são de mão pró- O legislador criou uma exceção à teoria monista ou unitá-
pria, pois somente a gestante pode provocar aborto em si ria no concurso de pessoas (Art. 29, Caput, CP) e criou crimes
mesma ou consentir que um terceiro lhe provoque. Não admi- distintos: a gestante responde pelo Art. 124, 2ª parte, CP e o
tem coautoria, mas admite participação. É crime comum nos terceiro que provoca o aborto responde pelo Art. 126, CP.
Esse crime é de mão própria, pois somente a gestante
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

demais casos.
Sujeito Passivo: é o feto. No aborto provocado por terceiro pode prestar o consentimento. Não admite coautoria, mas ad-
SEM o consentimento da gestante (Art. 125) as vítimas são o mite participação.
feto e a gestante. A gestante dever ter capacidade e discernimento para
É crime de forma livre. Pode ser praticado de forma co- consentir (ser maior de 14 anos e ter integridade mental). E o
missiva ou omissiva (Ex.: deixar dolosamente de ingerir me- consentimento deve ser válido (isento de fraude e não tenha
dicamentos necessários para a preservação da gravidez). Se, sido obtido por meio de violência ou grave ameaça).
contudo, o meio de execução for absolutamente ineficaz será Aborto Provocado por Terceiro
crime impossível (Ex.: despachos, rezas e simpatias).
Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento da
Elemento Subjetivo gestante:
É o dolo, direto ou eventual. Pena - reclusão, de três a dez anos.
Não existe o crime de aborto culposo Sujeito ativo: qualquer pessoa
Se a própria gestante agir culposamente e ensejar o abor- Sujeito passivo: produto da concepção e a gestante.
to, o fato será atípico. Já o terceiro que provoca aborto por Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da 41
culpa responde por lesão corporal culposa contra a gestante. gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos. Se o aborto necessário for realizado por ENFERMEIRA, ou
42 Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se por qualquer pessoa que não o médico, duas situações podem
a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ocorrer:
ou débil mental, ou se o consentimento é obtido me- ▷ Há perigo atual para a gestante: estado de necessi-
diante fraude, grave ameaça ou violência. dade (Art. 24, CP);
Considerações ▷ Não há perigo atual: há crime de aborto.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

É crime de concurso necessário. Aborto no Caso de Gravidez Resultante de Estupro


O legislador criou uma exceção à teoria monista ou unitá- II. Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é pre-
ria no concurso de pessoas (Art. 29, Caput, CP) e criou crimes cedido de consentimento da gestante ou quando
distintos: a gestante responde pelo Art. 124, 2ª parte, CP e o incapaz, de seu representante legal.
terceiro que provoca o aborto responde pelo Art. 126, CP. Necessita de três requisitos:
O consentimento da gestante (expresso ou tácito) deve ▷ Ser praticado por médico;
subsistir até a consumação do aborto. Se durante a prática ▷ Consentimento válido da gestante ou de seu repre-
do crime ela se arrepender e solicitar ao terceiro a parali- sentante legal (se for incapaz);
sação das manobras letais, mas não for obedecida, para ela ▷ Gravidez resultante de estupro.
o fato será atípico, e o terceiro responderá pelo crime do
Nesta hipótese, como não há perigo atual para a vida da
Art. 125, CP.
gestante, haverá o crime de aborto se praticado por qualquer
Se três ou mais pessoas associarem-se para o fim de pessoa que não seja o médico.
praticarem abortos, responderão pelo crime de Associação
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O aborto será permitido mesmo que a gravidez resulte


Criminosa (Art. 288, CP) em concurso material com os abor- de ato libidinoso diverso da conjunção carnal (Ex.: Sexo anal,
tos efetivamente realizados. estupro de vulnerável) em razão da mobilidade dos esperma-
Se não tiver o consentimento da gestante responde pelo tozoides. É considerada uma hipótese de analogia in bonam
Art. 125 do CP. partem.
Caso a gestante consentir, mas seu consentimento não Não se exige autorização judicial para a realização desta
seja válido, por se enquadrar em alguma das hipóteses do pa- espécie de aborto permitido.
rágrafo único do Art. 126 (gestante não maior de 14 anos ou
alienada mental ou consentimento obtido através de fraude, Considerações
grave ameaça ou violência), os agentes responderão pelo cri- São causas especiais de exclusão da ilicitude. Embora o
me do Art. 125 do CP. aborto praticado em tais situações seja fato típico, não há cri-
Forma Qualificada me pelo fato de serem hipóteses admitidas pelo ordenamento
jurídico.
Art. 127. As penas cominadas nos dois artigos anterio- Ambos devem ser praticados por médico (este não precisa
res são aumentadas de um terço, se, em consequência de autorização judicial para realizar estas espécies de aborto).
do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo,
a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são Aborto sentimental também é autorizado quando a gra-
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobre- videz decorrer de estupro de vulnerável (analogia in bonam
vém a morte. partem).
Esses resultados são preterdolosos advindos da prática Aborto Econômico: não está previsto no ordenamento ju-
abortiva, ou seja, são resultados que só poderão ser imputa- rídico. Se praticado será crime de aborto.
dos a título de culpa. Se houver dolo em relação a esses resul- De acordo com o Código Penal, existem apenas duas moda-
tados haverá concurso. lidades permissivas de aborto previstas no Art. 128 do CP (abor-
to necessário e aborto sentimental).
Aborto Necessário No entanto, em abril de 2012, o STF no julgamento da
Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico: ADPF 54 passou a admitir uma terceira modalidade: o aborto
Se não há outro meio de salvar a vida da gestante; de feto anencefálico (malformação fetal que leva à ausência de
Depende de dois requisitos: cérebro e à impossibilidade de vida).
▷ Que a vida da gestante corra perigo em razão da Para tanto, não há necessidade de autorização judicial.
gravidez; Basta um laudo formal do médico atestando a anencefalia e a
▷ Que não exista outro meio de salvar sua vida. (Desse inviabilidade de vida.
modo, há crime de aborto quando interrompida a O aborto de feto anencefálico é uma espécie de aborto
gravidez para preservar a saúde da gestante). eugênico.
O risco para a vida da gestante não precisa ser atual. Basta
que exista, isto é, que no futuro possa colocar em perigo a vida Das Lesões Corporais
da mulher. Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de
Não necessita do consentimento da gestante e não haverá outrem:
crime quando a gestante se recusa a fazê-lo e o médico provo- Pena - detenção, de três meses a um ano.
ca o aborto necessário. Lesão Corporal de Natureza Grave
§ 1º Se resulta: § 12 Se a lesão for praticada contra autoridade ou
I. Incapacidade para as ocupações habituais, por agente descrito nos Arts. 142 e 144 da Constituição
mais de trinta dias; Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
II. Perigo de vida; Nacional de Segurança Pública, no exercício da função
ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, com-
III. Debilidade permanente de membro, sentido ou
panheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
função;
em razão dessa condição, a pena é aumentada de um
IV. Aceleração de parto: a dois terços.
Pena - reclusão, de um a cinco anos. Essa qualificadora foi inserida pela Lei nº 13.142/2015.
§ 2º Se resulta: São autoridades previstas no Art. 142 da CF/88:
I. Incapacidade permanente para o trabalho; Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Ma-
II. Enfermidade incurável; rinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são institui-
III. Perda ou inutilização do membro, sentido ou ções nacionais permanentes e regulares, organiza-
função; das com base na hierarquia e na disciplina, sob a
IV. Deformidade permanente; autoridade suprema do Presidente da República, e
V. Aborto:
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos po-
deres constitucionais e, por iniciativa de qualquer
Pena - reclusão, de dois a oito anos. destes, da lei e da ordem.
Lesão Corporal Seguida de Morte São autoridades do Art. 144 da CF/88:
§ 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
de produzi-lo: da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do pa-
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. trimônio, através dos seguintes órgãos:
Diminuição de Pena: I. Polícia federal;
§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de II. Polícia rodoviária federal;
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de vio- III. Polícia ferroviária federal;
lenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da IV. Polícias civis;
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
V. Polícias militares e corpos de bombeiros militares.
Substituição da Pena:
§8º Guardas municipais
§ 5º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda
Lesão corporal é a ofensa humana direcionada à integrida-
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzen-
de corporal ou à saúde de outra pessoa, quer do ponto de vista
tos mil réis a dois contos de réis:

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anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental. A dor,
I. Se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo por si só, não caracteriza lesão corporal.
anterior; No crime de lesão corporal, protege-se a incolumidade
II. Se as lesões são recíprocas. física em sentido amplo: Saúde física ou corporal; Saúde fisio-
Lesão Corporal Culposa lógica (correto funcionamento do organismo) e Saúde mental
§ 6º Se a lesão é culposa: (psicológica).
Pena - detenção, de dois meses a um ano. Topografia do Art. 129
Aumento de Pena Art. 129, caput Lesão dolosa leve.
§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer
qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do Art. 121 deste Lesão dolosa grave - Atenção! O § 1º não traz so-
Código. Art. 129, §1º mente a lesão dolosa grave. Ele também tem lesão
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

preterdolosa grave.
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do
Art. 121. Lesão dolosa gravíssima - também no § 2º tem
Art. 129, §2º
Violência Doméstica preterdolo.
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, des- Lesão seguida de morte (está genuinamente
cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com Art. 129, §3º
preterdolosa).
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevale-
cendo-se o agente das relações domésticas, de coabi- Art. 129, §4º Lesão dolosa privilegiada.
tação ou de hospitalidade. Art. 129, §5º Lesão culposa.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. Art. 129, §6º Majorantes.
§ 10 Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se Art. 129, §7º Perdão judicial.
as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo,
Art. 129, §§ 9, Violência doméstica e familiar (aqui não é só
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
10 e 11 contra mulher).
§ 11 Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será au-
mentada de um terço se o crime for cometido contra Art. 129, § 12 Praticada contra autoridade policial. 43
pessoa portadora de deficiência.
Classificação Lesão Corporal de Natureza Grave
44 Pode ser praticado por ação ou omissão, quando presente § 1º Se resulta
o dever de agir para evitar o resultado, Art. 13, § 2º, CP. I. Incapacidade para as ocupações habituais, por
Ex.: A mãe que deixa o filho pequeno sozinho na cama, mais de trinta dias;
desejando que ele caísse e se machucasse. II. Perigo de vida;
É crime de forma livre. Pode ser praticado por ação ou
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

III. Debilidade permanente de membro, sentido ou


omissão. Pratica lesão quem cria ferimento ou quem agrava o função;
ferimento que já existe.
IV. Aceleração de parto:
Elemento subjetivo é o dolo (direto ou eventual) conhe- Pena - reclusão, de um a cinco anos.
cido como animus laedendi, mas há também a culpa no § 6º
Trata-se de infração de médio potencial ofensivo, conside-
(lesão corporal culposa) e o preterdolo no § 3º (lesão corporal rando que a pena mínima é de um ano.
seguida de morte).
A ação penal é pública incondicionada.
Sujeitos do Crime I. Incapacidade para as ocupações habituais por
Sujeito Ativo: é crime comum, podendo ser praticado por mais de trinta dias.
qualquer pessoa. As ocupações habituais são aquelas rotineiras, física ou
Sujeito Passivo: em regra, qualquer pessoa. mental, do cotidiano do ofendido e não apenas seu trabalho. É
Exceções: Art. 129, § 1º, IV (aceleração de parto) e Art. suficiente tratar-se de ocupação concreta, pouco importando
129, § 2º, V (lesão que resulta aborto). Nestas duas hipóteses se lucrativa ou não.
A atividade deve ser lícita, sendo indiferente se moral ou
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as vítimas são, necessariamente, gestantes. Também na le-


são qualificada pela violência doméstica a vítima precisa ser imoral.
ascendente, descendente, irmã, cônjuge ou companheira do Ex.: Prostituta pode. Ladrão não pode.
agressor. Um bebê de tenra idade pode ser vítima dessa lesão? A
resposta é afirmativa e há jurisprudência nesse sentido, tra-
Exceções: zendo como exemplo a hipótese em que o bebê, em razão da
▷ Art. 129, § 1º, IV (aceleração de parto). agressão não pode ser alimentado, pelo prazo de 30 dias.
▷ Art. 129, § 2º, V (lesão que resulta aborto). É irrelevante a idade da vítima (pode ser idosa ou criança).
Nestas duas hipóteses as vitimas são, necessaria- São exigidos dois exames periciais: um inicial realizado
mente, gestantes. logo após o crime; e um exame complementar realizado logo
▷ Contra ascendente, descendente, irmã, cônjuge ou que decorra o prazo de 30 dias da data do crime.
companheira do agressor. Supondo que a vítima sofra uma lesão ficando com um
▷ Agentes de Segurança descritos no Art. 129, § 12, hematoma no olho, e, por vergonha não saiu de casa pelo pra-
assim com parente consanguíneo até terceiro grau. zo superior a trinta dias, nessa hipótese, restou configurado o
delito de lesões corporais graves? Ensina a doutrina, seguida
Consumação e Tentativa pela jurisprudência, que a relutância por vergonha de praticar
Por ser crime material se consuma com a efetiva lesão da as ocupações habituais não agrava o crime. É a lesão que deve
vítima. A pluralidade de lesões contra a mesma vítima e no incapacitar o agente e não a vergonha da lesão.
mesmo contexto temporal caracteriza crime único, mas deve II. Perigo de vida.
influenciar na dosimetria da pena-base (Art. 59, CP). Perigo de vida é a possibilidade grave, concreta e imediata
A tentativa só é cabível nas modalidades dolosas. Não de a vítima morrer em consequência das lesões sofridas. Tra-
cabe tentativa na lesão culposa e na lesão corporal seguida ta-se de perigo concreto, comprovado por perícia médica, que
de morte. deve indicar, de modo preciso e fundamentado, no que consis-
Contravenção penal de vias de tiu o perigo de vida proporcionado à vítima.
Lesão corporal (Art. 29, CP)
fato (Art. 21, LCP) Nesta hipótese, é crime tipicamente PRETERDOLOSO, pois
Agredir a vítima, sem lesioná-la o resultado agravador deve resultar de culpa do agente.
Lesionar a vítima.
Ex.: empurrão, puxão de cabelo. Se o agente, ao praticar a lesão, quis o resultado ou assumiu
o risco de produzi-lo, responderá por tentativa de homicídio.
Lesão Corporal Leve O crime preterdoloso não está apenas na lesão corporal
A ação penal é pública condicionada à representação seguida de morte. O perigo de vida é um resultado necessa-
da vítima, de competência dos Juizados Especiais Crimi- riamente preterdoloso. O inciso II ora discutido nada mais é
que um crime preterdoloso, isto é, dolo na lesão e culpa no
nais. perigo de vida. Está-se, pois, diante de um crime necessaria-
O conceito de Lesão Leve é considerado por exclusão: mente preterdoloso.
será de natureza leve se não for a lesão de natureza grave III. Debilidade permanente de membro, sentido ou
ou gravíssima. função.
Há jurisprudência admitindo o princípio da insignificância Debilidade é a diminuição ou o enfraquecimento da capa-
na lesão corporal, quanto às lesões levíssimas. Na doutrina, esse cidade funcional. Há de ser permanente, isto é, duradoura e de
posicionamento é Pierangeri. recuperação incerta. Não se exige perpetuidade.
Ex.: O agente não fica cego, mas tem reduzida a capaci- Também é considerada incurável a enfermidade que
dade visual. somente pode ser enfrentada por procedimento cirúrgi-
Membros São os braços, pernas, mãos e pés.
co complexo ou mediante tratamentos experimentais ou
penosos, pois a vítima não pode ser obrigada a enfrentar
São os mecanismos sensoriais por meio dos quais percebemos tais situações.
Sentidos
o mundo externo: visão, audição, tato, olfato e paladar. A transmissão intencional do vírus da AIDS no Brasil é tida
É a atividade inerente a um órgão ou aparelho do corpo
como de natureza letal, pelo que é considerada tentativa de
Função homicídio. O certo seria a criação de tipo penal específico so-
humano: respiratória, circulatória, digestiva etc.
bre a transmissão intencional do vírus da AIDS.
A perda ou inutilização de membro sentido ou função é Em recente julgado o STF afastou essa ideia. Entendeu o
lesão corporal gravíssima (Art. 129, §2º, III, CP). STF, recentemente, que não se trata de tentativa de homicídio
Órgãos duplos: (Ex.: Rins, olhos, pulmões) a perda de um a transmissão intencional do vírus da AIDS.
deles caracteriza lesão grave pela debilidade permanente. Já a III. Perda ou inutilização de membro, sentido ou
perda de ambos configura lesão corporal gravíssima pela per- função.
da ou inutilização. Perda: é a ablação, a destruição ou privação de mem-
A recuperação do membro, sentido ou função por meio cirúr- bro (Ex.: arrancar um braço), sentido (Ex.: perda da audi-
gico ou ortopédico não exclui a qualificadora, pois a vítima não é ção), função (Ex.: ablação do pênis que extingue a função
obrigada a submeter-se a tais procedimentos. reprodutora). Pode concretizar-se por meio de mutilação
IV. Aceleração de parto. (o membro, sentido ou função é eliminado diretamente
É a antecipação do parto, o parto prematuro. A criança pela conduta do agressor) ou amputação (resulta da in-
nasce com vida e continua a viver. tervenção médico-cirúrgica realizada para salvar a vida do
Para incidir essa qualificadora do inciso IV, é imprescindível ofendido).
que o agente saiba ou pudesse saber que a vítima da lesão era Inutilização: falta de aptidão do órgão para desempenhar sua
gestante, sob pena de restar caracterizada a responsabilidade função específica. O membro ou órgão continua ligado ao corpo
penal objetiva, vedada pelo ordenamento jurídico. É necessá- da vítima, mas incapacitado para desempenhar as atividades que
rio observar ainda que, em nenhuma dessas hipóteses o agen- lhe são próprias.
te aceita ou quer o abortamento. Ex.: A vítima ficou paraplégica.
Se em consequência da lesão o feto for expulso morto do ven- A perda de parte do movimento de um membro (braço, per-
tre materno, o crime será de lesão corporal gravíssima em razão do na, mão ou pé) configura lesão grave pela debilidade permanente.
aborto (Art. 129, § 2º, V, CP). Todavia, a perda de todo o movimento caracteriza lesão corporal
Lesão Corporal Dolosa Gravíssima gravíssima pela inutilização.

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§ 2º Se resulta A correção corporal da vítima por meios ortopédicos ou
I. Incapacidade permanente para o trabalho; próteses não afasta a qualificadora, ao contrário do reimplante
realizado com êxito.
II. Enfermidade incurável;
IV. Deformidade permanente.
III. Perda ou inutilização do membro, sentido ou
função; Segundo doutrina e jurisprudências majoritárias, esta qua-
lificadora está intimamente relacionada a questões estéticas.
IV. Deformidade permanente;
Desse modo, precisa ser visível, mas não necessariamente na
V. Aborto: face, e capaz de causar impressão vexatória em quem olha a
Pena - reclusão, de dois a oito anos. vítima.
Em concurso, restou indagado se a expressão gravíssima A vítima não é obrigada a se submeter a intervenção cirúrgica
era criação da lei, doutrina ou jurisprudência. Referida expres- para a reparação da deformidade. Caso, no entanto, se submeta, e
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

são é criação da doutrina que foi seguida pela jurisprudência. a deformidade for corrigida, desaparecerá a qualificadora, sendo
A Lei nº 9.455/97, que é a lei de tortura, adotou a expres- cabível, inclusive, a revisão criminal. A correção da deformidade
são doutrinária gravíssima. Na lei de tortura, no Art. 1º, § 3º, com o uso de prótese (Ex.: olho de vidro, orelha de borracha ou
há expressa menção à lesão grave ou gravíssima. aparelho ortopédico) não exclui a qualificadora.
I. Incapacidade permanente para o trabalho. V. Aborto.
Deve tratar-se de incapacidade genérica para o traba- Essa qualificadora é necessariamente preterdolosa. Há dolo
lho, ou seja, a vítima fica impossibilitada de exercer qual- na lesão e culpa no aborto. Se o agente quer, ou assume o risco do
quer tipo de atividade laborativa remunerada. aborto haverá concurso de crimes.
A incapacidade não significa perpetuidade, basta que A interrupção da gravidez, com a consequente morte
seja uma incapacidade duradoura, dilatada no tempo. do produto da concepção, deve ter sido provocada culpo-
II. Enfermidade incurável. samente, pois se trata de crime preterdoloso.
É a alteração prejudicial da saúde por processo patológico, Se a morte do feto foi proposital, o sujeito responderá por
físico ou psíquico, que não pode ser eficazmente combatida com dois crimes: lesão corporal em concurso formal impróprio com
os recursos da medicina à época do crime. Deve ser provada por aborto sem o consentimento da gestante (Art. 125). É obriga- 45
exame pericial. tório o conhecimento da gravidez por parte do agressor.
Lesão Corporal Seguida de Morte gligência ou imperícia. Desse modo, as consequências, embora
46 previsíveis, não foram previstas pelo agente, ou se foram, ele
§ 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam
não assumiu o risco de produzir o resultado.
que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco
de produzi-lo. Essa espécie de lesão depende de representação
da vítima ou de seu representante legal (Art. 88, Lei nº
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
9.099/95), pois é crime de ação penal pública condicionada
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

É crime exclusivamente preterdoloso (dolo no anteceden- a representação e infração penal de menor potencial ofen-
te – lesão - e culpa no consequente – morte). Esse crime não sivo (pena máxima menor que dois anos).
vai a júri, considerando que não há dolo na morte.
A morte foi ocasionada a título culposo – temos o típico Aumento de Pena
caso de crime preterdoloso (dolo na conduta antecedente e § 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qual-
culpa na posterior). quer das hipóteses do Art. 121, §§ 4º e 6º.
Se presente o dolo direto ou dolo eventual quanto ao re- Art. 121, § 4º, CP. No homicídio culposo, a pena é au-
sultado morte, o sujeito responderá por homicídio doloso. mentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inob-
Essa modalidade de lesão corporal não admite tentativa. servância de regra técnica de profissão, arte ou ofício,
Lesão Corporal Privilegiada ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à
vítima, não procura diminuir as consequências do seu
Diminuição de Pena ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo
§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo DOLOSO o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um
de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de
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violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um Art. 121, § 4º, CP. A pena é aumentada de 1/3 (um ter-
terço. ço) até a metade se o crime for praticado por milícia
Esse privilégio se aplica a todos os tipos de lesão dolosa, privada, sob o pretexto de prestação de serviço de se-
contudo, é incabível nas lesões culposas. gurança, ou por grupo de extermínio.
Mesmas características do homicídio privilegiado (Art. 121, § 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do
§ 1º, do CP). Art. 121.
Substituição da Pena Art. 121, § 5º, CP. Na hipótese de homicídio CULPOSO, o
§ 5º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequên-
cias da infração atingirem o próprio agente de forma
substituir a pena de detenção pela de multa:
tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
I. Se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo
anterior; Violência Doméstica
II. Se as lesões são recíprocas. § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, des-
A situação da substituição de penas somente se aplica ao cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com
caput, considerando que exige que as lesões corporais não se- quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevale-
jam graves. A possibilidade de substituição, assim, somente se cendo-se o agente das relações domésticas, de coabi-
dá com a hipótese de lesões leves. tação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
Quando a Lesão Corporal Leve for Privilegiada
§ 10 Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se
Desse modo, caso as lesões sejam leves, o juiz terá duas as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo,
opções: reduzir a pena de 1/6 a 1/3 (§ 4º) ou substituí-la por aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
multa (§ 5º).
§ 11 Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será au-
Se as Lesões Leves Forem Recíprocas mentada de um terço se o crime for cometido contra
Uma pessoa agride outra e, cessada essa primeira agres- pessoa portadora de deficiência.
são, ocorrer uma outra lesão pela primeira vítima. § 12 Se a lesão for praticada contra autoridade ou agen-
te descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
Lesão Corporal Culposa integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de
§ 6º Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Segurança Pública, no exercício da função ou em de-
Pena - detenção, de dois meses a um ano. corrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão des-
Diferentemente do que ocorre com as lesões dolosas (que
sa condição, a pena é aumentada de um a dois terços.
podem ser leves, graves ou gravíssimas) o CP não fez distinção
(Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
com relação às lesões culposas. Desse modo, qualquer que
seja a intensidade da lesão, o agente responderá por lesão A forma qualificada do § 9º só se aplica à lesão corporal LEVE.
corporal CULPOSA. A gravidade da lesão será levada em con- Considerações
sideração na fixação da pena-base (Art. 59). Pode ser causa supralegal de exclusão da ilicitude (so-
Ocorre lesão corporal culposa quando o agente faltou com mente na lesão corporal leve), desde que presentes os se-
seu dever de cuidado objetivo por meio de imprudência, ne- guintes requisitos, cumulativos:
▷ Deve ser expresso; noso (ação que satisfaça a libido do agente, beijo lascivo, sexo
▷ Livre (não pode ter sido concedido em razão de coa- oral, sexo anal, masturbação, etc.).
ção ou ameaça); Se a intenção é transmitir, por tratar-se de crime formal,
▷ Ser moral e respeitar os bons costumes; não é necessária a transmissão.
▷ Deve ser prévio à consumação da lesão; O § 1º traz a forma qualificada do crime, ou seja, quando o
▷ O ofendido deve ser capaz para consentir (maior de agente tem intenção de transmitir a doença.
18 anos e mentalmente capaz). Perigo de Contágio de Moléstia Grave
Ex.: Durante a relação sexual, a mulher pede ao seu par-
ceiro que a bata com força. Art. 131. Praticar, com o fim de transmitir a outrem
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de
É irrelevante o consentimento do ofendido nos crimes de
produzir o contágio:
lesão corporal grave, gravíssima e seguida de morte, pois o
bem jurídico protegido nestas hipóteses é indisponível. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
É crime de Dano (caso exponha a perigo sem querer ou as-
Apontamentos sumir o risco será hipótese do Art. 132, CP), Formal (não precisa
Autolesão: em razão do princípio da alteridade, não se transmitir) e de Forma Livre.
pune a autolesão. Todavia, pode caracterizar o crime descrito Nesse delito, o agente tem o fim especial de agir, ou seja,
no Art. 171, § 2º, V, CP. pratica um ato (diverso do contato sexual) com a intenção de
Ex.: Jogador de golfe quebra o próprio braço para rece- transmitir uma moléstia grave (qualquer doença que acarre-
ber o valor do seguro. te em prejuízo a saúde da vítima – não sendo venérea), por
Lesões em atividades esportivas: há a exclusão da ilicitu- exemplo, sarampo, tuberculose etc.
de em razão do exercício regular do direito. Ademais, em relação à AIDS, visto seu grau letal, é consi-
Cirurgias emergenciais: se há risco de morte de paciente, derado como tentativa de homicídio (Art. 121 do CP), não há
o médico que atua sem o consentimento do operado estará possibilidade alguma de enquadrá-la como moléstia grave.
amparado pelo estado de necessidade de terceiro. Se não há
risco de morte, a cirurgia depende de consentimento da vítima Perigo para Vida ou Saúde de Outrem
ou de seu representante legal para afastar o crime pelo exercí- Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo
cio regular do direito. direto e iminente:
Cirurgia de mudança de sexo: não há crime de lesão cor- Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não
poral gravíssima por ausência de dolo de lesionar a integrida- constitui crime mais grave.
de corporal ou a saúde do paciente. Atualmente é permitida a Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um
realização dessa cirurgia – redesignação sexual – inclusive na terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a

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rede pública de saúde (Portaria do Ministério da Saúde nº 1.707 perigo decorre do transporte de pessoas para a presta-
de 19/08/08). Desse modo, o médico que realiza esta cirurgia ção de serviços em estabelecimentos de qualquer natu-
não comete crime por estar acobertado pelo exercício regular reza, em desacordo com as normas legais.
de direito. Estará configurado o crime quando o agente, de qualquer
forma, expor em perigo a vida de uma pessoa determinada.
Cirurgia de esterilização sexual: não há crime na conduta
Tal ação pode ser praticada de forma livre, ou seja, não exige
do médico que realiza esta cirurgia (vasectomia, ligadura de uma conduta específica.
trompas etc.) com a autorização do paciente, apesar da elimi-
Ex.: Soltar uma pedra do alto de um viaduto em um carro
nação da função reprodutora. Exercício regular de direito. que passa pela rodovia com intenção de causar um acidente.
Da Periclitação da Vida e da Saúde Caso a conduta do agente não seja contra uma pessoa de-
terminada, será configurado um crime diverso que será avalia-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Perigo de Contágio Venéreo do de acordo com a situação (Arts. 250 a 259 do CP).
Art. 130. Expor alguém, por meio de relações sexuais Abandono de Incapaz
ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia ve- Art. 133. Abandonar pessoa que está sob seu cuidado,
nérea, de que sabe ou deve saber que está contami- guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer mo-
nado: tivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. abandono:
§ 1º Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena - detenção, de seis meses a três anos.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Se do abandono resulta lesão corporal de natureza
grave:
§ 2º Somente se procede mediante representação.
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
Esse crime configura-se quando o agente transmite ou
expõe a perigo de contágio de uma doença venérea (sífilis, § 2º Se resulta a morte:
gonorreia etc.), bem como, caso ele a desconheça, venha a Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
infectar uma possível vítima. Aumento de Pena
A forma de transmitir a doença pode ser por meio de rela- § 3º As penas cominadas neste artigo aumentam-se de 47
ções sexuais (pênis x vagina), ou por qualquer outro ato libidi- um terço:
I. Se o abandono ocorre em lugar ermo; É um crime OMISSIVO PRÓPRIO ou PURO, pois a conduta
48 II. Se o agente é ascendente ou descendente, côn- omissiva está prevista no artigo em tela do Código Penal que
juge, irmão, tutor ou curador da vítima. ocorre quando o agente deixa de fazer o que lhe é imposto por
III. Se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. lei – prestar socorro.
Essa figura típica incrimina a conduta do agente, que Comumente é praticado apenas por uma pessoa, sendo
tendo o dever de cuidado, guarda, vigilância ou autoridade que é perfeitamente possível que haja o concurso de agentes,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

abandona, desampara, deixa de prestar o devido cuidado para Art. 29 do CP.


quem seja incapaz. Sujeitos do Crime
Ex.: A mãe deixa o filho em um parque central enquan- Sendo um crime comum, o sujeito ativo pode ser qualquer
to percorre lojas realizando compras, ou então, deixa-o pessoa, enquanto o sujeito passivo são as pessoas elencadas
dentro do veículo enquanto está no interior de um super- no caput do próprio artigo: Criança abandonada ou extraviada
mercado. Uma babá, que deixa a criança sozinha dentro (Perigo Abstrato). Pessoa ferida ou inválida com sérias dificul-
de casa enquanto vai à feira. dades de movimentação (Perigo Abstrato). Ao desamparo ou
Ademais, existem as figuras qualificadas caso, do abando- em grave e eminente perigo (Perigo Concreto).
no, resulte em lesão corporal de natureza grave, ou a morte do
Consumação e Tentativa
incapaz. Por conseguinte, ocorre também o aumento de pena
nas hipóteses descritas nos incisos do § 3º deste artigo. O crime se consuma no momento da omissão, ademais,
não será configurado o crime quando a vítima ofereça resis-
Exposição ou Abandono tência que torne impossível a prestação de auxílio, ou então,
caso ela esteja manifestamente em óbito.
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de Recém-Nascido
Art. 134. Expor ou abandonar recém-nascido, para Não admite tentativa.
ocultar desonra própria: Descrição do Crime
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. O crime pode ser cometido de duas formas distintas:
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Falta de assistência imediata: o agente pode prestar so-
Pena - detenção, de um a três anos. corro, sem risco pessoal, mas deliberadamente não o faz.
§ 2º Se resulta a morte: Falta de assistência mediata: o agente não pode prestar
Pena - detenção, de dois a seis anos. pessoalmente o socorro, mas também não solicita o auxílio da
Esse delito é considerado uma forma privilegiada do cri- autoridade pública.
me de abandono de incapaz, artigo anterior, no entanto, nesse Observações
caso, a vítima é determinada – o recém-nascido – ademais, tal
conduta visa proteção da honra do agente. A simples condição de médico não o coloca como garan-
tidor.
Ex.: Uma jovem de 18 anos, mãe solteira, que abandona
seu filho recém-nascido para preservar sua imagem pe- Pessoa inválida e pessoa ferida: é imprescindível que se
rante a família. encontrem ao desamparo no momento da omissão.
Por conseguinte, também existe a forma qualificada do Se apenas uma pessoa presta o socorro, quando diversas
crime, expressa nos parágrafos primeiro e segundo, no caso poderiam tê-lo feito sem risco pessoal, não há crime para nin-
de a ação resultar em lesão corporal de natureza grave ou a guém.
morte do recém-nascido. Omissão de socorro a pessoa idosa (igual ou superior a 60
anos), responde conforme o Art. 97, Lei nº 10.741/03 – Estatuto
Omissão de Socorro do Idoso.
Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível
Considerações
fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou ex-
traviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se
ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses ca- da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e
sos, o socorro da autoridade pública: triplicada, se resulta a morte.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. A causa de aumento de pena é exclusivamente preterdo-
losa, o agente tem o dolo de se omitir (não presta o socorro)
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se
e disto, acaba resultando uma consequência não deseja pelo
da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e
omitente.
triplicada, se resulta a morte.
Essa norma penal tipifica a conduta omissa do agente que não Condicionamento de Atendimento
presta auxílio – desde que tal prestação não incorra em risco pes- Médico-Hospitalar Emergencial
soal – ou, quando não puder fazê-lo, deixa de pedir socorro para
autoridade pública. Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou
qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio
Classificação de formulários administrativos, como condição para o
É considerado um crime COMUM, visto que pode ser prati- atendimento médico-hospitalar emergencial:
cado por qualquer pessoa. Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da Descrição do Crime
negativa de atendimento resulta lesão corporal de natu- Apenas pode ser executado pelos meios/condutas indica-
reza grave, e até o triplo se resulta a morte. dos no tipo penal, sendo as seguintes:
Esse delito tipifica a conduta do estabelecimento que ▷ Privar a vítima de alimentos ou cuidados indispensá-
presta atendimento médico-hospitalar emergencial e venha veis: caso a intenção do agente, ao privar a vitima de
a exigir cheque, nota promissória ou qualquer garantia, como alimentos, seja matá-la, responderá pelo crime de
também, que sejam preenchidos formulários como condição homicídio (tentado ou consumado);
necessária para que o socorro possa ser prestado. ▷ Sujeitar a vítima a trabalhos excessivos ou inade-
Existe ainda o aumento de pena, tratado no parágrafo úni- quados;
co, que é quando resulta em lesão corporal grave ou ainda a ▷ Abusar dos meios de disciplina ou correção.
morte. As formas qualificadas do crime de maus-tratos (lesão
Inserido no Código Penal pela Lei nº 12.653/2012 coibindo corporal de natureza grave e morte) são exclusivamente pre-
uma prática que era comum em estabelecimentos médico- terdolosas – conduta dolosa no antecedente e culpa no con-
-hospitalares particulares. sequente.
Maus-Tratos Aumenta-se a pena de 1/3 se o crime é praticado contra
pessoa menor de 14 anos.
Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de Considerações
educação, ensino, tratamento ou custódia, quer pri- A esposa não pode ser vítima de maus-tratos pelo ma-
vando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, rido, visto que não se encontra sob sua autoridade, guarda
quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, ou vigilância. Desse modo, o marido poderá responder pelo
quer abusando de meios de correção ou disciplina: crime de lesão corporal (Art. 129 do CP).
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. Tratando-se de criança ou adolescente sujeita à autori-
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza dade, guarda ou vigilância de alguém e submetida a vexame
grave: ou constrangimento, aplica-se o Art. 232 da Lei nº 8.069/90
Pena - reclusão, de um a quatro anos. (ECA): submeter criança ou adolescente sob sua autorida-
§ 2º Se resulta a morte: de, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. pena: detenção de seis meses a dois anos.
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é prati- A diferença entre o crime de maus-tratos e o crime de
cado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. Tortura (Lei nº 9.455/97), reside no fato de que nesta a víti-
ma é submetida a intenso sofrimento físico ou mental como
Esse artigo tipifica a conduta do agente que pratique, sob

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forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter pre-
a pessoa que esteja subordinada à sua autoridade, guarda ou
vigilância, atos não condizentes como forma ou a pretexto de ventivo (Art. 1º, II, Lei nº 9.455/97).
educá-la, ensiná-la, tratá-la ou reprimi-la. Caso a vítima seja idosa, incide o crime previsto no Art. 99
da Lei nº 10.741/2003 - Estatuto do Idoso.
Classificação
Trata-se de um crime PRÓPRIO, ou seja, o sujeito ativo Da Rixa
deve ser superior hierárquico do sujeito passivo. Art. 137. Participar de rixa, salvo para separar os con-
É um crime comissivo ou omissivo, porém suas condutas tendores:
são vinculadas, ou seja, o artigo traz, expressamente, a forma Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
como a conduta do agente deve ocorrer. Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal de na-
Haverá crime único desde que as condutas sejam pratica- tureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

das contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático. pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Sujeitos do Crime Introdução
Sujeito Ativo: é um crime próprio, ou seja, somente aquele A rixa é um conflito tumultuoso que ocorre entre três ou
que tem o sujeito passivo sob sua autoridade, guarda ou vigi- mais pessoas, acompanhada de vias de fato (luta, briga), em
lância, para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia. que os participantes desferem violências recíprocas, não sen-
Sujeito Passivo: é aquele que se encontra sob a autoridade, do possível identificar dois grupos distintos.
guarda ou vigilância de outra pessoa, para fins de educação, en-
sino, tratamento ou custódia. Classificação
É um crime comum, pois pode ser praticado por qualquer
Consumação e Tentativa pessoa.
O crime consuma-se com a exposição da vítima ao perigo. Ainda, enquadra-se em um delito plurissubjetivo, plurila-
Não se exige o dano efetivo. teral ou de concurso necessário, visto que, para configurar o
A conduta de privação de alimentos ou cuidados indispen- crime, devem existir no mínimo três pessoas. Por conseguinte,
sáveis (modalidade omissiva) não admite tentativa. Contudo, basta que apenas um dos participantes seja imputável (dois 49
as demais condutas admitem a tentativa. menores e um maior de 18 anos).
Também é considerado um crime de condutas contrapos- agravador – lesão corporal grave ou morte - todos aqueles que
50 tas, ou seja, todos os participantes estão trocando agressões participaram responderão na modalidade qualificada.
entre si, ora apanha, ora bate. Ainda, não importa se a morte ou a lesão corporal grave
Sujeitos do Crime seja produzida em um dos rixosos ou então em uma terceira
pessoa, alheia à rixa (apaziguador ou mero transeunte).
No crime de rixa, ao mesmo tempo em que o agente é
Há aqui três sistemas de punição:
sujeito ativo, ele também é um sujeito passivo, pois assim
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

como ele agride também está sofrendo uma agressão - reci- Sistema da solidariedade absoluta: se da rixa resultar
procidade. lesão grave ou morte, todos os participantes respondem
pelo evento (lesão grave ou homicídio), independentemen-
Consumação e Tentativa te de se apurar quem foi o seu real autor.
A consumação ocorre no momento em que os participan- Sistema da cumplicidade correspectiva: havendo lesão
tes iniciam as vias de fato ou ainda as violências recíprocas. grave ou morte, e não sendo apurado seu autor, todos os par-
Admite a tentativa, quando ocorre, por exemplo, a inter- ticipantes respondem por esse resultado, sofrendo, entretanto,
venção policial no momento em que iriam se iniciar as agres- sanção intermediária à de um autor e de um partícipe.
sões. Sistema da autonomia: a rixa é punida por si mesma, in-
dependentemente do resultado morte ou lesão grave, o qual,
Descrição do Crime se ocorrer, somente qualificará o delito. Apenas o causador da
Os três ou mais rixosos devem combater entre si, pois lesão grave ou morte, se identificado, é que responderá tam-
participa da rixa quem nela pratica, agressivamente, atos de bém pelos delitos dos Arts. 121 e 129 do CP.
violência material. O CP adotou o princípio ou sistema da autonomia, nos ter-
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Não há rixa quando lutam entre si dois ou mais grupos mos do Art. 137, parágrafo único:
contrários, perfeitamente definidos. Nesse caso, os membros Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal de
de cada grupo devem ser responsabilizados pelos ferimentos natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na
produzidos nos membros do grupo contrário. rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
O crime pode ser praticado de forma comissiva (o agente
que participa efetivamente da rixa), ou omissiva (quando o Apontamentos
omitente podia e devia agir para evitar o resultado). Até mesmo o rixoso que sofreu lesão corporal grave res-
Ex.: O policial que assiste a três pessoas brigando entre ponde pela rixa qualificada (todos os que se envolvem no tu-
si e nada faz para impedir o resultado. multo, daí sobrevindo lesão corporal grave ou morte respon-
Não há crime na conduta de quem ingressou no tumulto dem pela rixa qualificada).
somente para separar os contendores. O resultado agravador (lesão corporal grave ou a morte)
Considerações pode ser doloso ou culposo, não se tratando de crime essen-
cialmente preterdoloso.
Sendo considerado um crime de perigo abstrato, para que
se configure o crime não há necessidade de que os participan- Caso o resultado seja lesões leves ou ocorra uma tentativa de
tes sofram lesões, o simples fato de participar da rixa já acar- homicídio, não é capaz de qualificar a rixa.
reta em crime. Dos Crimes Contra Honra
O contato físico é dispensável, sendo perfeitamente pos-
sível a rixa a distância com o arremesso de objetos, tiros, etc. Crime Conduta Honra ofendida
Há ofensa da honra objetiva.
Na possibilidade em que ocorre lesão corporal de natureza Calúnia: Art. Imputar fato criminoso Ofende-se a reputação, diz
leve em algum dos participantes e o agente que a causou pos- 138, CP sabidamente falso. respeito ao conceito perante
sa ser identificado, nessa hipótese, ele responderá pelo crime terceiros.
de rixa em concurso material com o crime de rixa, se resulta Imputar fato desonroso,
em lesão corporal grave/gravíssima ou a morte, estará confi- Difamação: em regra não importan-
Ofende-se a honra objetiva.
gurado o crime de rixa qualificada. Art. 139, CP do se verdadeiro ou
falso.
Quando houver briga entre torcidas, não configura rixa,
Ofende-se a honra subjetiva,
mas sim o tipo penal descrito no Art. 41-B da Lei nº 10.671/2003 Injúria: É a atribuição de quali-
a autoestima, ou seja, o que
– Estatuto do Torcedor - tem-se um tipo penal específico in- Art. 140, CP dade negativa.
a vítima pensa dela mesma.
cluído pela Lei nº 12.299/2010.
Rixa qualificada: também é conhecida como rixa comple-
Calúnia
xa, sendo: Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal de fato definido como crime:
natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. § 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a im-
A rixa qualificada é um dos últimos resíduos da respon- putação, a propala ou divulga.
sabilidade penal objetiva - antigamente adotada pelo orde- § 2º É punível a calúnia contra os mortos.
namento jurídico brasileiro - pois, nesta hipótese, independe Exceção da Verdade
qual dos rixosos foi o responsável pela produção do resultado § 3º Admite-se a prova da verdade, salvo:
I. Se, constituindo o fato imputado crime de ação Consumação
privada, o ofendido não foi condenado por senten- O crime de calúnia se consuma quando 3ª pessoa toma co-
ça irrecorrível; nhecimento do fato imputado. Não é necessário que a vítima
II. Se o fato é imputado a qualquer das pessoas in- tome conhecimento da ofensa.
dicadas no nº I do Art. 141; Calúnia X Denunciação Caluniosa
III. Se do crime imputado, embora de ação pública, Calúnia (Art. 138, CP) Denunciação Caluniosa (Art. 339, CP)
o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
Dar causa à instauração de investigação
Honra objetiva (o que os outros pensam de mim). policial, de processo judicial, instau-
Caluniar alguém, imputan-
ração de investigação administrativa,
Sujeitos do Crime do-lhe falsamente fato
inquérito civil ou ação de improbidade
Sujeito Ativo/Passivo: qualquer pessoa (crime comum). definido como crime.
administrativa contra alguém, imputan-
Os mortos também podem ser caluniados, mas seus pa- do-lhe crime de que o sabe inocente.
rentes é que serão os sujeitos passivos do crime. Não há regra É crime contra a Administração da
É crime contra honra.
semelhante no tocante aos demais crimes contra a honra. Justiça.
Podem, ainda, serem vítimas os menores e os loucos. Regra: Ação Penal Privada. Ação Penal Pública Incondicionada.
A pessoa jurídica também pode ser sujeito passivo do Admite (é circunstância que importa na
Não admite a imputação
diminuição da pena pela metade (Art.
crime de calúnia, pois pode cometer crimes ambientais (Lei falsa de contravenção.
339 §2º, CP).
nº 9.605/98).
§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a im-
Mas, observe-se que não podem praticar tal crime pessoas
putação, a propala ou divulga.
que desfrutam de inviolabilidade.
Ex.: Parlamentares. ▷ Propalar: relatar verbalmente.
Aqui se indaga se advogados são imunes à prática do cri- ▷ Divulgar: relatar por qualquer outro meio (panfle-
me de calúnia. Os advogados não têm imunidade profissional tos, outdoors, gestos etc).
na calúnia, possuindo a imunidade somente no que tange à Considerações
difamação e à injúria. Observa-se que também é punível a conduta daquele
Objeto Material que propaga, divulga a calúnia criada por outrem.
É a pessoa que tem sua honra objetiva ofendida. Responde pelo caput quem cria a falsidade e responde pelo
§ 1º do CP a pessoa que divulga (diversa da pessoa que criou – se
Núcleo do Tipo for a mesma pessoa, o §1º configura pos facto impunível).
A conduta típica consiste em caluniar alguém (imputar fal- Exclui-se o crime quando o agente age:
samente um fato definido como crime). ▷ Com animus jocandi: intenção de brincar.

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A imputação de fato definido como Contravenção Penal ▷ Com animus consulendi: intenção de aconselhar.
(Decreto-Lei nº 3.688/41) não constitui calúnia, pois não é crime,
▷ Com animus narrandi: intenção de narrar (é o ani-
mas poderá caracterizar difamação.
mus da testemunha).
Atribuir falsamente a alguém a prática de um fato atípico não
▷ Com animus corrigendi: intenção de corrigir.
constitui crime de calúnia, mas poderá configurar outro crime con-
tra a honra. ▷ Com animus defendendi: intenção de defender direito
Ex.: dano culposo. Exceção da Verdade
Fato Determinado § 3º Admite-se a prova da verdade, salvo:
É imprescindível a imputação da prática de um fato deter- I. Se, constituindo o fato imputado crime de ação
minado, ou seja, de uma situação concreta, contendo autor, privada, o ofendido não foi condenado por senten-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

objeto e suas circunstâncias. ça irrecorrível;


Pessoa Certa e Determinada II. Se o fato é imputado a qualquer das pessoas in-
A ofensa deve se dirigir a pessoa certa e determinada. dicadas no nº I do Art. 141;
Ex.: Dizer que no dia 25 de dezembro, por volta de III. Se do crime imputado, embora de ação pública,
20h00min, Roberto se fantasiou de papai noel e praticou o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
um furto na casa de Pedro, o qual reside no centro da Trata-se de incidente processual, forma de defesa indireta,
cidade de Cascavel/PR. por meio da qual o acusado de ter praticado calúnia pretende
provar a veracidade do que alegou.
Falsidade da Imputação
Somente haverá o crime de calúnia quando o fato for falso.
Deve ser falsa a imputação do fato definido como crime.
Essa falsidade pode recair sobre o fato (o crime imputado à Desse modo, se a imputação é verdadeira o fato é atípico.
vitima não ocorreu) ou sobre o envolvimento no fato (o crime A exceção da verdade é o instrumento adequado para se pro-
ocorreu, mas a vítima não praticou tal delito). var a veracidade do fato imputado a outrem.
Quando o ofensor, agindo de boa-fé, supõe erroneamen- A regra é a admissibilidade da exceção da verdade. Toda-
te ser verdadeira a afirmação, incidirá em Erro de Tipo. Desse via, em três situações previstas pelo CP não será admitida a 51
modo, o fato será atípico, pois excluirá o dolo do fato típico. sua utilização:
I. Se, constituindo o fato imputado crime de ação Art. 138 Art. 139
52 privada, o ofendido não foi condenado por senten-
ça irrecorrível; Admite prova da verdade.
A regra é não admitir a prova da
II. Se o fato é imputado a qualquer das pessoas in- verdade.
dicadas no inciso I do Art. 141; Exceção: Art. 139, Parágrafo único.
(Presidente da República ou chefe de governo es- Exceções: Art. 138, § 3º I, II e III. Ofendido funcionário público mais
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

trangeiro). ofensa funcional.


III. Se do crime imputado, embora de ação pública, Procedência gera a absolvição Procedência gera a absolvição, pois se
o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. sob o fundamento da atipi- trata de hipótese de exercício regular
cidade. de direito. Descriminante especial.
Difamação
Admite exceção de notorie-
Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo Também.
dade.
à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Injúria
Conceito Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade
Difamar é imputar a alguém um fato ofensivo à sua repu- ou o decoro:
tação. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Subsiste o crime de difamação ainda que seja verdadeira § 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena:
a imputação (salvo quando o ofendido é funcionário público I. Quando o ofendido, de forma reprovável, provo-
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e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções), desde que cou diretamente a injúria;
dirigida a ofender a honra alheia.
II. No caso de retorsão imediata, que consista em
Objetividade Jurídica outra injúria.
Honra objetiva (o que os outros pensam de mim). § 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato,
que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
Objeto Material considerem aviltantes:
É a pessoa que tem sua honra objetiva ofendida.
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,
Espécie de Honra Ofendida além da pena correspondente à violência.
A difamação ofende a honra objetiva. § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos refe-
rentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de
Consumação e Tentativa
pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Se consuma no momento em que um terceiro toma co-
Pena - reclusão de um a três anos e multa.
nhecimento da ofensa.
Considerações Conceito
Morto não pode ser vítima de difamação. Injuriar é atribuir qualidade negativa à alguém.
Tendo em vista que pessoa jurídica tem reputação, então Espécie de Honra Ofendida
pode ser vítima de difamação. Ofende a honra subjetiva da pessoa (o que a pessoa acha
O crime é punido a título de dolo, sendo imprescindível a de si própria). A consumação ocorre quando a ofensa chega ao
vontade de ofender a reputação, a intenção de ofender a honra. conhecimento da vítima.
Em regra, admite tentativa. No caso de difamação verbal, Ofende a dignidade ou o decoro da vítima:
não se admite a tentativa.
Na injúria, é irrelevante o fato de a qualidade negativa atri-
Exceção da Verdade buída à vítima ser ou não verdadeira. Desse modo, se o agente
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se chama uma pessoa de gorda, com a intenção de injuriar, estará
admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é configurado o crime de injúria, mesmo que a vítima seja mes-
relativa ao exercício de suas funções. mo gorda ou obesa.
Na difamação, a exceção da verdade somente é admitida ▷ Dignidade: ofende as qualidades morais da pessoa.
se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao Ex.: Chamar alguém de vagabundo.
exercício de suas funções. É indispensável a relação de causali- ▷ Decoro: ofende as qualidades físicas (Ex.: Chamar
dade entre a imputação e o exercício da função pública. alguém de monstro) ou intelectuais
Na difamação, a consequência da exceção da verdade, Ex.: Chamar alguém de retardado, idiota.
ao contrário da calúnia, atinge a ilicitude, e não a atipicida-
de da conduta, pois é uma hipótese especial de exercício Queixa-Crime ou Denúncia
regular do direito. A queixa-crime ou denúncia ajuizada pelo crime de injúria
A procedência da exceção da verdade na difamação gera deve descrever, minuciosamente sob pena de inépcia, quais
a absolvição, sendo uma forma especial de exercício regular foram as ofensas proferidas contra a vítima, por mais baixas e
de direito. repudiáveis que possam ser.
Formas de Execução O perdão judicial é causa de extinção da punibilidade (Art.
Pode ser praticado por ação ou omissão. 107, IX, CP). A sentença que concede o perdão judicial é decla-
Ex.: “A” estende a mão para cumprimentar “B” e este ratória da extinção da punibilidade (Súmula 18, STJ).
recusa o cumprimento. Só o perdão do ofendido tem que ser aceito, o perdão do
juiz não é oferecido, mas sim imposto.
Consumação e Tentativa Trata-se de um direito subjetivo do acusado, e não uma fa-
É crime de execução livre: pode ser praticado por meio culdade do juiz. Preenchidos os requisitos, o juiz deve perdoar.
de palavras, gestos, escritos etc. Aliás, pode ser praticado por ▷ Quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
ação ou omissão (o único exemplo dado pela doutrina de in- diretamente a injúria;
júria por omissão é ignorar ou não retribuir um cumprimento,
como forma de humilhar a pessoa na frente de outras). A provocação tem que ser reprovável e direta.
▷ No caso de retorsão imediata, que consista em outra
Como a injúria protege a honra subjetiva, o crime se consu-
injúria.
ma quando a vítima toma conhecimento da injúria, dispensan-
do-se o efetivo dano à sua honra (é crime formal). Consuma Retorsão é o revide. Deve ser imediata. É modalidade anô-
mala de legítima defesa. Não há retorsão contra ofensa passa-
no momento em que o fato chega ao conhecimento da vítima,
da. Existe apenas retorsão imediata no crime de injúria.
dispensando efetivo dano a sua dignidade ou decoro.
A tentativa é possível somente na forma escrita. A injúria Injúria Real
realizada verbalmente não admite tentativa. § 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato,
Exceção da verdade: a injúria não admite exceção da que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
verdade, pois o ofensor atribui uma qualidade negativa à ví- considerem aviltantes:
tima e não um fato. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,
além da pena correspondente à violência.
Elemento Subjetivo É a injúria praticada com um meio de execução especial:
É o dolo (direto ou eventual). Não admite a modalidade mediante violência ou vias de fato. Aqui a violência ou as vias
culposa de injúria. de fato são o meio e a injúria é o fim. O agente usa da violência
Injúria Contra Funcionário Público X Desacato para injuriar.
Injúria contra funcionário público Desacato (Art. 331, CP) Ex.: Jogar ovos em um cantor, cuspir na cara, dar tapa
A ofensa é realizada na presença
no rosto.
Atribuir qualidade negativa ao Aviltantes: humilhantes.
do funcionário público no
funcionário público durante sua
ausência.
exercício da função ou em razão O meio de execução é a violência ou então as vias de fato.
dela. Se a injúria real for praticada com vias de fato, a vias de fato
É crime contra a Administração fica absorvida.

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É crime contra a honra.
Pública. A lei impõe o concurso material obrigatório entre as penas
Ação Penal Pública Incondicio- de injúria real e do resultante da violência (homicídio, lesão
Ação Penal Privada (Regra). corporal etc.).
nada.
Ex.: “A” Durante uma audiência Injúria Qualificada
Ex.: “A” Fala a seus vizinhos que o
judicial chama o Juiz de
Promotor da cidade é bandido. § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos refe-
corrupto.
rentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de
Considerações pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Atenção às imunidades! Quem detém imunidade por Pena - reclusão de um a três anos e multa.
palavras, opiniões e votos não pratica calúnia, injúria ou Assim como nos demais crimes contra a honra, a ofensa
difamação. São eles: senadores, deputados federais, depu- deve ser dirigida a pessoa ou pessoas determinadas.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

tados estaduais/distritais, vereadores no limite da verean- Injúria Qualificada X Crime de Racismo


ça, advogado (que tem imunidade profissional na injúria Injúria Qualificada (Art. 140,
- Art. 7º, § 2º, do EOAB - a calúnia foi afastada pelo STF). Crime de Racismo (Lei nº 7.716/89)
§ 3º, CP)
Pessoa jurídica pode ser vítima de injúria? Não, pois ela É crime afiançável. É crime inafiançável.
não tem honra subjetiva, não tem dignidade, decoro. Quanto a
isso não há divergência. Ação Penal Pública Condicio-
Ação Pública Incondicionada.
Mirabete entende que pessoa jurídica não pode ser vítima nada a Representação.
de nenhum crime contra a honra, pois esse capítulo se aplicaria Prescritível. Imprescritível.
apenas às pessoas físicas. Atribuir a alguém qualidade Manifestações preconceituosas gen-
Perdão Judicial negativa. eralizadas ou segregação racial.
§ 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena: Ex.: Hotel que proíbe a hospedagem
Ex.: Chamar uma pessoa de pessoas negras.
I. Quando o ofendido, de forma reprovável, provo- negra de macaco. Ex.: Empresa que não contrata
cou diretamente a injúria; pessoas da religião evangélica.
II. No caso de retorsão imediata, que consista em 53
outra injúria.
Prevalece na doutrina, que a injúria preconceito não admite o Não se aplica este inciso no caso de injúria, pois neste cri-
54 perdão judicial do Art. 140, § 1º, tratando-se de violação mais séria me já existe a figura da injúria qualificada (Art. 140, § 3º, CP)
à honra da vítima, ferindo uma das metas fundamentais do Estado razão pela qual evita-se o bis in idem desta forma.
Democrático de Direito, qual seja, dignidade da pessoa humana. Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante
paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena
Disposições Comuns em dobro.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo aumentam- Hipótese de crime plurissubjetivo ou de concurso necessá-
se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: rio. O pagamento, em ambos os casos, pode ser em dinheiro
I. Contra o Presidente da República, ou contra chefe ou qualquer outro bem e a vantagem não precisa ser necessa-
de governo estrangeiro; riamente econômica.
II. Contra funcionário público, em razão de suas Ex.: Promessa de emprego, de casamento, de favores
funções; sexuais.
III. Na presença de várias pessoas, ou por meio que Essa majorante não se aplica ao mandante, apenas ao executor.
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou
da injúria. Exclusão do Crime
IV. Contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou Art. 142. Não constituem injúria ou difamação punível:
portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. I. A ofensa irrogada em juízo, na discussão da cau-
Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante sa, pela parte ou por seu procurador;
paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena II. A opinião desfavorável da crítica literária, artís-
em dobro. tica ou científica, salvo quando inequívoca a inten-
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Este artigo não traz qualificadoras, mas sim causas de au- ção de injuriar ou difamar;
mento de pena, majorantes (a serem consideradas pelo juiz na III. O conceito desfavorável emitido por funcionário
terceira fase de aplicação da pena). público, em apreciação ou informação que preste
É uma majorante aplicada a todos os crimes do capítulo – no cumprimento de dever do ofício.
injúria, difamação e calúnia. Nenhum desses crimes escapa do Parágrafo único. Nos casos dos ns. I e III, responde pela
aumento quando preenchidos os requisitos. injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
Aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é co- Esse dispositivo não se aplica ao crime de calúnia, pois há
metido: neste crime o interesse do Estado e da sociedade em realizar
I. Contra o Presidente da República, ou contra chefe a sua apuração.
de governo estrangeiro; Ex.: advogado diz que o promotor foi subornado pelo
A pena é aumentada de 1/3, em razão da importância das réu para pedir sua absolvição.
funções desempenhadas pelo Presidente da República e pelo A imunidade é relativa: para a maioria, a ressalva exarada
chefe de governo estrangeiro. A conduta criminosa, além de pela expressão salvo quando se tem intenção de injuriar ou
atentar contra a honra de uma pessoa, ofende também os in- difamar se aplica não apenas ao inciso II, como também aos
teresses de toda a nação que ela representa. incisos I e III. Esse é o entendimento da maioria.
II. Contra funcionário público, em razão de suas Nas hipóteses dos incisos I e III responde pela injúria ou difa-
funções. mação aquele que dá publicidade ao fato. É imprescindível, para
Esse aumento de pena não se aplica quando a conduta se tanto, o animus ofendendi.
refere à vida privada do funcionário público. I. A ofensa irrogada em juízo, na discussão da cau-
É necessário o nexo de causalidade entre a ofensa e o exer- sa, pela parte ou por seu procurador;
cício da função pública. Esta excludente de ilicitude não se aplica quando a ofensa
III. Na presença de várias pessoas, ou por meio que é dirigida ao juiz (magistrado), pois este não é parte na causa.
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou Para o advogado, de acordo com o Art. 7º, § 2º, da Lei nº
da injúria. 8.906/94 (Estatuto da OAB): O advogado tem imunidade pro-
A expressão “várias pessoas” se refere a no mínimo três fissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato pu-
pessoas. Não se incluindo neste número o ofensor, a vítima e níveis em qualquer manifestação de sua parte, no exercício de
eventuais coautores e partícipes. sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções
O STF, após o julgamento da ADPF nº 130-7/DF decidiu que disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer.
a Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67) não foi recepcionada pela A expressão ou desacato foi declarada inconstitucional pelo
CF/88. Desse modo, aos crimes contra a honra praticados por STF, nos autos da ADIN 1.127-8. Desse modo, o advogado pode
meio da imprensa (oral ou escrita) serão aplicadas as disposi- praticar o crime de desacato.
ções do Código Penal (Arts. 138 a 145). II. A opinião desfavorável da crítica literária, artís-
IV. Contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou tica ou científica, salvo quando inequívoca a inten-
portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. ção de injuriar ou difamar;
Esse inciso foi inserido no CP pela Lei nº 10.741/03 (Estatuto III. O conceito desfavorável emitido por funcionário
do Idoso). O ofensor tem que ter conhecimento da idade da víti- público, em apreciação ou informação que preste
ma no momento do crime. no cumprimento de dever do ofício.
Cuida-se de modalidade especial de estrito cumprimento Espécies de Ação Penal
do dever legal. A regra geral é que os crimes contra a honra (Calúnia/Difa-
Ex.: Delegado de Polícia que, ao relatar o inquérito poli- mação/Injúria) são de Ação Penal privada.
cial, refere-se ao indiciado como pessoa de alta periculo- ▷ Todavia, há três exceções:
sidade, covarde e impiedoso.
» Pública Condicionada: a requisição do Ministro
Retratação da Justiça (crime contra o Presidente da Repú-
blica ou chefe de governo estrangeiro);
Art. 143. O querelado que, antes da sentença, se retra- » Pública Condicionada: a representação do
ta cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento ofendido (crime contra funcionário público em
de pena. razão de suas funções ou crime de injúria quali-
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha ficada – discriminação);
praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de » Pública incondicionada: injúria real se resulta
meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim lesão corporal.
desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se Crime contra a honra de funcionário público: Tratando-
praticou a ofensa. se de ofensa em razão da função, a ação penal é pública con-
É necessário observar que, retratação não se confunde dicionada a representação.
com confissão da calúnia ou da difamação. Retratar-se é escu- Tratando-se de ofensa sem vínculo com a função pública,
sar-se, retirar o que disse, trazer a verdade novamente à tona. a ação penal é privada.
Trata-se de causa extintiva da punibilidade.
Súm. 714, STF. É concorrente a legitimidade do ofendi-
Se o querelado se retrata, há exclusão do crime, mas isso do mediante queixa e do MP condicionada a represen-
não importa em exclusão de indenização na seara cível. tação do ofendido, para a ação penal por crime contra
Atente-se que, somente em relação a calúnia e a difama- a honra de servidor público em razão do exercício de
ção há possibilidade de retratação, não abrangendo a injúria. suas funções.
Atente-se que, na lei de imprensa, havia previsão relativa a
injúria, mas esta não foi recepcionada pela CF, nos termos de Dos Crimes Contra
decisão proferida pelo STF.
Na retratação não se exige a concordância do ofendido.
Liberdade Individual
A retratação deve ser total e incondicional. Deve ainda, Dos Crimes contra a Liberdade Pessoal
abranger tudo o que foi dito pelo ofensor. Constrangimento ilegal
Pedido de Explicações Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou

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grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por
Art. 144. Se, de referências, alusões ou frases, se infere qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não
calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias,
responde pela ofensa. Aumento de Pena
Possui as seguintes características: § 1º As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro,
▷ É medida facultativa, pois a vítima não precisa dele quando, para a execução do crime, se reúnem mais de
se valer para o oferecimento da ação penal. três pessoas, ou há emprego de armas.
▷ Somente pode ser utilizado antes do ajuizamento da § 2º Além das penas cominadas, aplicam-se as corres-
ação penal. pondentes à violência.
▷ Não possui procedimento específico. § 3º Não se compreendem na disposição deste artigo:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

▷ Não interrompe ou suspende o prazo decadencial. I. A intervenção médica ou cirúrgica, sem o consenti-
mento do paciente ou de seu representante legal, se
O requerido não pode ser compelido a prestar as informa-
justificada por iminente perigo de vida;
ções solicitadas. Desse modo, caso se omita, não poderá sofrer
II. A coação exercida para impedir suicídio.
qualquer espécie de sanção.
Ameaça
Ação Penal
Art. 147. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou ges-
Art. 145. Nos crimes previstos neste Capítulo somente to, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe
se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do mal injusto e grave:
Art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do
Parágrafo único. Somente se procede mediante repre-
Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do Art. sentação.
141 deste Código, e mediante representação do ofendi-
do, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no Sequestro e Cárcere Privado
caso do § 3º do Art. 140 deste Código. (Redação dada Art. 148. Privar alguém de sua liberdade, mediante se- 55
pela Lei nº 12.033. de 2009). questro ou cárcere privado:
Pena - reclusão, de um a três anos. Consuma-se com a efetiva privação da liberdade ou
56 § 1º A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: locomoção da vítima.
I. Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge A tentativa é perfeitamente difícil já que a privação da li-
ou companheiro do agente ou maior de 60 (ses- berdade pode ser antecedida de violência e se o agente age
senta) anos; de forma violenta, mas não consegue privar sua liberdade por
II. Se o crime é praticado mediante internação da circunstâncias alheias a sua vontade, terá havido tentativa.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

vítima em casa de saúde ou hospital; ▷ Qualificadoras: Art. 148, § 1º:


III. Se a privação da liberdade dura mais de quinze I. Ascendente, descendente, cônjuge ou compa-
dias. nheiro do agente ou maior de 60 anos.
IV. Se o crime é praticado contra menor de 18 (de- Neste caso, para qualificar não abrange o parentesco cola-
zoito) anos; teral, por afinidade, padrasto, ou madrasta do agente.
V. Se o crime é praticado com fins libidinosos. O idoso deve ter MAIS de 60 anos quando de sua liberta-
§ 2º Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou ção, não importando se quando da privação da liberdade tinha
da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou menos de 60 anos.
moral: II. Se o crime é praticado mediante internação da
Pena - reclusão, de dois a oito anos. vítima em casa de saúde ou hospital: Neste caso,
Trata-se de infração de médio potencial ofensivo, admitin- tem que ser internação simulada ou fraudulenta.
do-se a suspensão condicional do processo. III. Se a privação da liberdade dura mais de quinze
As pessoas que são impossibilitadas de se locomover po- dias: Este prazo inicia-se no momento da privação
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dem ser vítimas do delito? A liberdade de movimento não dei- da vítima, até sua libertação.
xa de existir quando se exerce à custa de aparelhos ou com o IV. Crime praticado contra menor de 18 anos: neste
auxílio de outrem. inciso basta que a vítima seja maior de 18 anos ao fi-
Essa é a posição que prevalece no Brasil. Há doutrinadores nal do sequestro, pouco importando se tinha menos
estrangeiros que afirmam que não seria esse o delito, mas sim que 18 anos no inicio do cárcere.
o de constrangimento ilegal em se tratando de pessoas que não V. Se praticado com fins libidinosos: trata-se de
podem se locomover. ação penal pública incondicionada (e não ação pri-
Caso a vítima seja Presidente da República, do SF, CD e vada, como era anterior a 2005).
STF, e, havendo motivação política, o delito pode ser consi- Redução a Condição Análoga à de Escravo
derado crime contra a Segurança Nacional (Art. 28 da Lei nº
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de es-
7.170/83).
cravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a
▷ Conduta: é a privação da liberdade. Pode ser execu- jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições de-
tada mediante: gradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer
» Sequestro: é privação da liberdade sem confi- meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com
namento. o empregador ou preposto:
Ex.: Sítio, casa. Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da
» Cárcere Privado: é a privação da liberdade com pena correspondente à violência.
confinamento. § 1º Nas mesmas penas incorre quem:
Ex.: Porão. I. Cerceia o uso de qualquer meio de transporte por
Quando o crime for praticado mediante cárcere privado, parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local
deve fixar esse meio mais gravoso na fixação da pena. de trabalho;
▷ O crime pode ser praticado por ação ou omissão. II. Mantém vigilância ostensiva no local de trabalho
Ex.: Médico que não concede alta para paciente já cura- ou se apodera de documentos ou objetos pessoais
do. do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
▷ Tipo subjetivo: O dolo é a finalidade especial do trabalho.
crime. § 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é co-
Se a finalidade for obter vantagem econômica, o delito metido:
será o previsto no Art. 159 do CP. Se o fim for satisfazer preten- I. Contra criança ou adolescente;
são, deixa de ser o delito do Art. 148 e passa a ser o delito pre-
II. Por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, re-
visto no Art. 345 (exercício arbitrário das próprias razões). Ex.:
médico que não concede alta para paciente com a finalidade ligião ou origem.
de satisfazer pretensão tida como legítima – pagamento do Dos Crimes contra a
tratamento – o delito será de exercício arbitrário das próprias
razões. Inviolabilidade do Domicílio
Na hipótese em que a finalidade é causar sofrimento físico Violação de Domicílio
ou mental, o delito será o de tortura. Art. 150. Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosa-
▷ Consumação e tentativa: Trata-se de delito per- mente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de
manente, e sua consumação se protrai no tempo. direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. § 4º Somente se procede mediante representação, sal-
§ 1º Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar vo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.
ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou Correspondência Comercial
por duas ou mais pessoas:
Art. 152. Abusar da condição de sócio ou empregado
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da de estabelecimento comercial ou industrial para, no
pena correspondente à violência. todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir
§ 2º Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é come- correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo:
tido por funcionário público, fora dos casos legais, ou Pena - detenção, de três meses a dois anos.
com inobservância das formalidades estabelecidas em
Parágrafo único. Somente se procede mediante repre-
lei, ou com abuso do poder.
sentação.
§ 3º Não constitui crime a entrada ou permanência em
casa alheia ou em suas dependências: Dos Crimes contra a
I. Durante o dia, com observância das formalidades Inviolabilidade dos Segredos
legais, para efetuar prisão ou outra diligência;
II. A qualquer hora do dia ou da noite, quando al-
Divulgação de Segredo
gum crime está sendo ali praticado ou na iminência Art. 153. Divulgar alguém, sem justa causa, conteú-
de o ser. do de documento particular ou de correspondência
confidencial, de que é destinatário ou detentor, e
§ 4º A expressão “casa” compreende:
cuja divulgação possa produzir dano a outrem:
I. Qualquer compartimento habitado;
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
II. Aposento ocupado de habitação coletiva;
§ 1º Somente se procede mediante representação.
III. Compartimento não aberto ao público, onde al-
§ 1º-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas
guém exerce profissão ou atividade.
ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não
§ 5º Não se compreendem na expressão “casa”: nos sistemas de informações ou banco de dados da
I. Hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita- Administração Pública:
ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
nº II do parágrafo anterior; § 2º Quando resultar prejuízo para a Administração Pú-
II. Taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. blica, a ação penal será incondicionada.
Dos Crimes contra a Inviolabilidade Violação do Segredo Profissional
de Correspondência Art. 154. Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de
que tem ciência em razão de função, ministério, ofício

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Violação de Correspondência ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a
Art. 151. Devassar indevidamente o conteúdo de cor- outrem:
respondência fechada, dirigida a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único. Somente se procede mediante repre-
sentação.
Sonegação ou Destruição de Correspondência
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, co-
§ 1º Na mesma pena incorre:
nectado ou não à rede de computadores, mediante
I. Quem se apossa indevidamente de correspon- violação indevida de mecanismo de segurança e com
dência alheia, embora não fechada e, no todo ou o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou infor-
em parte, a sonega ou destrói; mações sem autorização expressa ou tácita do titular
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Violação de Comunicação Telegráfi- do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter


vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
ca, Radioelétrica ou Telefônica
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e mul-
II. Quem indevidamente divulga, transmite a ou-
ta. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
trem ou utiliza abusivamente comunicação tele-
gráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou con- § 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distri-
versação telefônica entre outras pessoas; bui, vende ou difunde dispositivo ou programa de com-
putador com o intuito de permitir a prática da conduta
III. Quem impede a comunicação ou a conversação definida no caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
referidas no número anterior;
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da
IV. Quem instala ou utiliza estação ou aparelho ra- invasão resulta prejuízo econômico. (Incluído pela Lei
dioelétrico, sem observância de disposição legal. nº 12.737, de 2012)
§ 2º As penas aumentam-se de metade, se há dano § 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de
para outrem. comunicações eletrônicas privadas, segredos comer-
§ 3º Se o agente comete o crime, com abuso de função ciais ou industriais, informações sigilosas, assim defini-
em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico: das em lei, ou o controle remoto não autorizado do dis- 57
Pena - detenção, de um a três anos. positivo invadido: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e § 5º A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a
58 multa, se a conduta não constitui crime mais grave. subtração for de veículo automotor que venha a ser trans-
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) portado para outro Estado ou para o exterior.
§ 4º Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois § 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se
terços se houver divulgação, comercialização ou transmis- a subtração for de semovente domesticável de produção,
são a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações ainda que abatido ou dividido em partes no local da sub-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) tração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
§ 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o O crime de furto está descrito no rol dos crimes contra o pa-
crime for praticado contra: (Incluído pela Lei nº 12.737, trimônio, mais precisamente, no Título II do Código Penal. Furto
de 2012) é se apropriar de algo alheio para si ou para outra pessoa.
I - Presidente da República, governadores e prefei- Existem várias modalidades de furto, dentre as quais se desta-
tos; (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) cam: o furto de coisa comum, furto privilegiado e o furto qualifica-
do. Há que se distinguir furto de roubo: a principal diferença entre
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; (In- os dois é que no roubo há emprego de violência e no furto não há.
cluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Se- Bem Jurídico Tutelado
nado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, Tutela-se a propriedade, a posse e a detenção, desde que
da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de legítimas.
Câmara Municipal; ou (Incluído pela Lei nº 12.737,
de 2012) Classificação
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IV - dirigente máximo da administração direta e indi- É considerado um crime COMUM (praticado por qualquer pes-
reta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. soa) e MATERIAL (para sua consumação exige um resultado).
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) É um crime doloso (ânimo de assenhoramento definitivo
Ação penal da coisa. Vontade de se tornar dono / proprietário do bem).
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Sujeitos do Crime
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, so- Sujeito Ativo: qualquer pessoa (exceto o proprietário).
mente se procede mediante representação, salvo se o Sujeito Passivo: qualquer pessoa (proprietário, possuidor
crime é cometido contra a administração pública direta ou detentor do bem). Pode ser pessoa física ou jurídica.
ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados,
Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas con- Consumação e Tentativa
cessionárias de serviços públicos. (Incluído pela Lei nº De acordo com a teoria da inversão da posse, ocorre a
12.737, de 2012) consumação do furto no momento em que o bem sai da esfera
de disponibilidade da vítima e passa para a do autor do delito.
5. Dos Crimes Contra o Patrimônio E de acordo com o STJ não se exige a posse mansa e pa-
cífica do bem para a sua consumação, bastando que o agente
Do Furto obtenha a simples posse do bem, ainda que por um curto pe-
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia
ríodo de tempo.
móvel: Precedentes do STJ e STF considera-se consumado o cri-
me de furto com a simples posse, ainda que breve, do bem
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
subtraído, não sendo necessária que a mesma se dê de forma
§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é pra- mansa e pacífica, bastando que cesse a clandestinidade, ainda
ticado durante o repouso noturno. que por curto espaço de tempo.
§ 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a
coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão Furto Consumado
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou Há perda dos bens subtraídos;
aplicar somente a pena de multa. APF (Auto de Prisão em Flagrante) de apenas um dos
§ 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou agentes e fuga dos comparsas;
qualquer outra que tenha valor econômico. Subtração e posse de apenas parte dos bens;
Furto Qualificado APF (Auto de Prisão em Flagrante) no caso de flagrante
§ 4º A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, presumido.
se o crime é cometido: Por circunstâncias alheias à vontade do agente, este
a) com destruição ou rompimento de obstáculo à
não consegue consumar o furto. É admitida a tentativa,
subtração da coisa; pois se trata de crime material (exige resultado).
b) com abuso de confiança, ou mediante fraude, Tipo Subjetivo
escalada ou destreza; O delito é punido a título de dolo. Mas, atente-se que é
c) com emprego de chave falsa; necessária a vontade de apoderamento definitivo, ou seja, a
d) mediante concurso de duas ou mais pessoas. intenção de não mais devolver a coisa à vítima.
O furto de uso é fato atípico. Mas para ser caracterizado o Coisa subtraída de pequeno valor: bem cujo valor seja de
furto de uso são necessários três requisitos: a internação desde até um salário mínimo na data do fato.
o início de uso momentâneo da coisa, ser coisa não consumível
“Coisa de pequeno valor” não se confunde com “coisa de
(infungível) e a restituição seja imediata e integral à vítima.
valor insignificante”. A primeira, se também presente a prima-
Qual crime pratica o proprietário que subtrai coisa sua na
legítima posse de terceiro? Há prática do delito de exercício riedade do agente, enseja a incidência do privilégio; a segunda
arbitrário das próprias razões. E, aqui, pode se enquadrar no conduz à atipicidade do fato, em decorrência do princípio da
Art. 345 ou 346 do CP, a depender da qualidade da posse do insignificância (criminalidade de bagatela).
agente. Presentes estes dois requisitos legais, o juiz é obrigado a
E a coisa pública de uso comum, pode ser objeto material aplicar o privilégio ao criminoso (direito subjetivo do acusado).
de furto?
A coisa pública, de uso comum, a todos pertence, não Furto Qualificado-Privilegiado
podendo ser subtraída e configurar furto. Sucede que, depen- O STF aceita a possibilidade de se aplicar o privilégio (Art.
dendo da situação, há possibilidade da prática de crime am- 155, §2º, CP) às figuras qualificadas (Art. 155, §§ 4º e 5º, CP)
biental, do delito de usurpação de águas e do crime de dano. desde que não haja imposição isolada de pena de multa em de-
Ex.: Furto de parte de estátua. corrência do privilégio.
A vigilância física ou eletrônica em estabelecimentos comer- STF entendeu que no furto qualificado pelo concurso de
ciais torna o crime impossível? Primeiramente, deve-se analisar agentes, não há óbice ao reconhecimento do privilégio, desde
a natureza do equipamento. Se, por exemplo, se tem um equi- que estejam presentes os requisitos ensejadores de sua aplica-
pamento que impede por si só a saída do estabelecimento com ção, quais sejam, a primariedade do agente e o pequeno valor
o bem seria configurado o crime impossível. O fato de haver câ- da coisa furtada.
meras ou seguranças apenas dificulta a consumação. § 3º. Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou
Furto Noturno qualquer outra que tenha valor econômico.
Art. 155, § 1º, CP. A pena aumenta-se de um terço, se o Trata-se de normal penal interpretativa. Entende por qual-
crime é praticado durante o repouso noturno. quer outra energia térmica, mecânica, radioatividade e gené-
O repouso noturno só era aplicado ao furto simples (caput). tica (sêmen de animal).
Porém a jurisprudência hoje admite a previsão do aumento de
pena tanto para o furto simples (caput) quanto para o furto qua- Furto de Sinal de TV a Cabo
lificado (§§ 4º, 5º). 1ª Corrente: não é crime. A energia se consome, se esgota
Aplica-se esta causa de aumento de pena, desde que o e pode, inclusive, terminar, ao passo que sinal de TV não se

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fato seja praticado durante o repouso noturno. gasta, não diminui. É adotada por Bittencourt.
Não importa se a casa estava ou não habitada, ou o seu mo- 2ª Corrente: o furto de sinal de TV se encaixa no §3º do
rador estava ou não dormindo (divergência). Art. 155, pois é uma forma de energia. É uma corrente adotada
Aplica-se esta majorante, também, aos furtos cometidos pelo STJ.
durante o repouso noturno em veículos estacionados em vias Furto de Energia X estelionato no Consumo de Energia
públicas, bem como em estabelecimentos comerciais (Diver-
Estelionato no Consumo de
gência jurisprudencial). Furto de Energia Elétrica
Energia
Repouso Noturno Noite No furto de energia elétrica, o Nesse caso o agente está
agente não está autorizado via autorizado, via contrato, a gastar
Período em que as pessoas se recolhem em contrato, a gastar energia. energia.
Ausência de luz solar.
suas casas para descansarem (dormirem).
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Período que vai da O agente, mediante fraude, altera


Varia conforme a região: grandes metrópoles O agente, mediante artifício, por
aurora ou crepúsculo. o medidor de consumo da ener-
ou pequenas cidades do interior. exemplo, ligação clandestina,
gia, indicando valor menor que o
subtrai a energia.
efetivamente consumido.
Furto Privilegiado
§ 2º. Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a Furto Qualificado
coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão § 4º. A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa,
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou se o crime é cometido:
aplicar somente a pena de multa.
I. Com destruição ou rompimento de obstáculo à
Aplica-se apenas ao furto simples (caput) e ao furto noturno. subtração da coisa;
Não se aplica ao furto qualificado (§§ 4º e 5º).
Ex.: Arrombamento de fechaduras, janelas, portas, ca-
Criminoso primário: aquele que não é reincidente. Não deados, cofres, trincos.
precisa ser portador de bons antecedentes. Se já transcorrido Se o obstáculo destruído for inerente à própria coisa não
o prazo de 5 anos entre a data de cumprimento ou extinção incidirá esta forma qualificada.
da pena e a infração penal posterior, o agente readquire a sua Ex.: Quebrar o vidro da porta de um carro com o objetivo 59
condição de primário (Art. 64, I, CP). de furtar o veículo (furto simples).
Todavia, caso o agente quebre o vidro apenas para viabi- Furto Mediante Fraude Estelionato (Art. 171, CP)
60 lizar o furto do CD-Player, ou de qualquer outro objeto que É qualificadora do crime. É elementar do crime.
se encontra em seu interior, responderá por furto qualificado. Deve ser empregada antes ou
Antecede o apossamento da coisa.
durante a subtração do bem.
Se o agente, apenas desliga o alarme não incidirá a qualifi-
É utilizada para diminuir a vigilân- É utilizada para induzir a vítima
cadora, pois não houve destruição ou rompimento de obstáculo. F cia da vítima sobre o bem, permitin- em erro, mediante uma falsa
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Caso a violência seja empregada após a consumação do R do ou facilitando a substrução. percepção da realidade.
furto, o agente responderá por furto em concurso com o crime A
Há a subtração do bem sem que
Ocorre a entrega espontânea (em-
U bora viciada) do bem pela vítima
de dano (Art. 163). a vítima perceba.
D ao agente.
De acordo com Fernando Capez, o furto da bolsa para Ex.: “A” e “B”, banidos, se dis-
E
obter o que está em seu interior não qualifica o delito, pois a farçam de técnicos de TV a cabo Ex.: “A” se disfarça de manobrista e
bolsa não é obstáculo e sim forma de transportar as coisas. O e pedem para consertar a TV de fica parado em frente a um restau-
“C”. Enquanto “C” permanece em rante. “B” entrega seu veículo para
obstáculo seria um cadeado. seu quarto “A” e “B” aproveitam que o falso manobrista o estacione.
Há decisões que entendem pela aplicabilidade da qualifi- sua distração para furtar objetos “A” desaparece com o carro.
na sala de estar.
cadora quando há ligação direta no veículo.
III. Com emprego de chave falsa;
II. Com abuso de confiança, ou mediante fraude, Segundo alguns autores, chave falsa é todo o instrumento,
escalada ou destreza; com ou sem forma de chave, destinado a abrir fechaduras
▷ Confiança é circunstância subjetiva incomunicável o Ex.: Grampos, arames, estiletes, micha etc.
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concurso de pessoas (Art. 30, CP). A chave verdadeira, obtida fraudulentamente, não gera a
Ex.: Famulato (furto praticado por empregado domésti- qualificadora do inciso III.
co contra o patrão). IV. Mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Essa qualificadora pressupõe dois requisitos: Responderá por furto qualificado mesmo se um dos inte-
▷ A vítima tem que depositar, por qualquer motivo (amiza- grantes for menor de 18 anos.
de, parentesco, relações profissionais etc.), uma especial § 5º A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a
confiança no agente; subtração for de veículo automotor que venha a ser trans-
portado para outro Estado ou para o exterior.
▷ O agente deve se aproveitar de alguma facilidade
§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se
decorrente da confiança nele depositada para co-
a subtração for de semovente domesticável de produ-
meter o crime. ção, ainda que abatido ou dividido em partes no local
A vítima tem que depositar, por qualquer motivo (amiza- da subtração.
de, parentesco, relações profissionais etc.), uma especial con-
fiança no agente; Considerações Gerais
O agente deve se aproveitar de alguma facilidade decor- Bens Imóveis e Energia Elétrica
rente da confiança nele depositada para cometer o crime. Os bens considerados imóveis pela legislação civil e que
puderem ser deslocados de um local para outro podem ser
Furto Mediante Abuso de Confiança Apropriação Indébita
objeto de furto.
O agente exerce a posse em
O agente tem mero contato com a coisa.
nome de outrem.
Ex.: Navios, prédios, terrenos, carro, moto, animal de es-
O agente pode até ter posse, mas essa é uma timação, celular.
O agente tem posse
posse precária vigiada. A energia elétrica ou qualquer outra que possua valor eco-
desvigiada
O dolo é superveniente à nômico é equiparada a coisa móvel (Art. 155, § 3º, CP).
O dolo está presente desde o início da posse.
posse. Ex.: Energia genética, energia nuclear, energia mecâni-
Fraude é o artifício (emprego de algum objeto, instru- ca. Desse modo, a ligação clandestina de energia elétrica
mento ou vestimenta para enganar o titular do bem) ou ardil “gato” é crime de furto.
(conversa enganosa), isto é, o meio enganoso empregado pelo Modalidades de Furto
agente para diminuir a vigilância da vítima ou de terceiro sobre
Abigeato: furto de gado.
um bem móvel, permitindo ou facilitando sua subtração.
Famulato: furto praticado pelo empregado doméstico
▷ A fraude como qualificadora há de ser empregada an- contra o patrão. Não precisa ser realizado na residência do pa-
tes ou durante a subtração da coisa, ou seja, antecede a trão, pode ser em qualquer lugar.
consumação do crime. Furto famélico: hipótese em que o agente subtrai alimentos
▷ Um ponto muito relevante é a diferenciação entre fur- para saciar sua fome ou de sua família, pois se encontra em situa-
to mediante fraude e estelionato. ção de extrema miséria e pobreza.
Destreza: trata-se de peculiar habilidade física ou manual O furto famélico configura estado de necessidade, preen-
permitindo ao agente despojar a vítima sem que esta perceba. chidos os seguintes requisitos:
Ex.: Batedores de carteira ou punguistas. ▷ Fato praticado para mitigar a fome;
▷ Que haja subtração de coisa capaz de contornar Ex.: Cabelo.
imediatamente e diretamente a emergência (fome). Cadáver pode ser objeto de furto, desde que possua dono.
▷ Inevitabilidade do comportamento lesivo. Ex.: Cadáver de faculdade de medicina.
§ 5º A pena é de reclusão de três a oito anos, se a sub-
▷ Impossibilidade de trabalho ou insuficiência dos re-
tração for de VEÍCULO AUTOMOTOR que venha a ser
cursos auferidos. transportado para outro Estado ou para o exterior. (In-
Somente pode ser aplicado o furto famélico àquele que cluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
está desempregado? Não. Caso os recursos obtidos sejam in- Esta majorante só incide quando o furto for de veículo
suficientes, pode ser reconhecido o furto famélico. automotor, não abrangendo embarcação nem aeronave, além
disso, o veículo automotor deve ser levado para outro Estado
Princípio da Insignificância no Furto ou país. Esqueceu-se de colocar o DF na qualificadora, porém a
O princípio da insignificância é causa supralegal de exclu- doutrina penal entende que o DF está abrangido também, pois
são da tipicidade (o fato não será crime). o legislador ao utilizar a expressão Estado considerou os entes
Exige a Presença dos Seguintes Requisitos da federação, dentre eles o DF.
Requisitos objetivos: mínima ofensividade da conduta; au- Não basta a intenção de ultrapassar os limites do Estado
sência de periculosidade social; reduzido grau de reprovabilida- ou do país, sendo necessário que este ato seja consumado.
de do comportamento; e inexpressividade da lesão jurídica. Furto de Coisa Comum
Requisitos subjetivos: importância do objeto material para
Art. 156. Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para
a vítima (situação econômica + valor sentimental do bem); e cir-
si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a
cunstâncias e resultado do crime.
coisa comum:
O princípio da insignificância, desde que presentes seus re-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
quisitos objetivos e subjetivos, é em tese aplicável tanto ao furto
simples como ao furto qualificado. § 1º Somente se procede mediante representação.
Ex.: Duas pessoas, em concurso de agentes, furtam uma § 2º Não é punível a subtração de coisa comum fungível,
penca de bananas. cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.
Subtração de cartão bancário ou de crédito: não há crime
de furto (princípio da insignificância). Eventual utilização do
Do Roubo e da Extorsão
cartão, para saques em dinheiro ou compras em geral, carac- Roubo
teriza o crime de estelionato (Art. 171, CP).
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para ou-
Apontamentos trem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa,

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Principais diferenças entre os crimes que mais são confun- ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
didos em provas de concurso: impossibilidade de resistência:
• Furto X Apropriação Indébita Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
O furto é diferente da apropriação indébita (Art. 168, CP), pois § 1º Na mesma pena incorre quem, LOGO DEPOIS de sub-
no primeiro a posse é vigiada e a subtração reside exatamente na traída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave
retirada do bem desta esfera de vigilância. Já no segundo, a vítima ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
entrega ao agente a posse desvigiada de um bem. detenção da coisa para si ou para terceiro.
• Furto X Peculato § 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
I. Se a violência ou ameaça é exercida com empre-
O funcionário público que subtrai ou concorre para que
go de arma;
seja subtraído bem público ou particular, que se encontra sob
II. Se há o concurso de duas ou mais pessoas;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

a guarda ou custódia da Administração Pública, valendo-se


da facilidade que seu cargo lhe proporciona, pratica o crime III. Se a vítima está em serviço de transporte de va-
de peculato furto (Art. 312, §1º, CP), também conhecido como lores e o agente conhece tal circunstância.
peculato impróprio. IV. Se a subtração for de veículo automotor que ve-
nha a ser transportado para outro Estado ou para
• Furto X Exercício Arbitrário das Próprias Razões o exterior;
Se um credor subtrai bens do devedor para se ressarcir de dívida V. Se o agente mantém a vítima em seu poder, res-
não paga, o crime não será de furto, mas de exercício arbitrário das tringindo sua liberdade.
próprias razões (Art. 345, CP). § 3º Se da VIOLÊNCIA resulta lesão corporal grave, a
É pacífico o entendimento de que a coisa abandonada (res pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da
derelicta), a coisa de ninguém (res nullius) não podem ser multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta
objeto do crime de furto, como também a coisa perdida (res anos, sem prejuízo da multa.
desperdita), porém a coisa perdida constitui o crime de apro- O crime de roubo está tipificado no rol dos crimes contra o
priação de coisa achada, Art.169, II, do CP. patrimônio. Esse crime assemelha-se muito ao crime de furto,
O ser humano não pode ser objeto de furto, salvo se forem contudo possui elementos que, agregados à conduta “subtrair”, 61
partes definidas e com valor econômico. formam um novo crime.
No roubo há a subtração de coisa móvel alheia, porém com Situações nas quais o roubo é considerado consumado:
62 o emprego de violência ou grave ameaça contra a pessoa, ele- ▷ Destruição ou perda do bem subtraído;
mentos esses que empregados, fazem com que a vítima entre- ▷ Prisão em flagrante de um dos ladrões e fuga do(s)
gue a coisa móvel, funcionando como circunstâncias especiais
comparsa(s) com o bem subtraído.
que relevam a distinção para o crime furto.
Classificação Roubo Impróprio
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de sub-


É crime comum / Formal (STJ e STF) / instantâneo / plurissub- traída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave
sistente / de dano / de concurso eventual. ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
Ofende o patrimônio, integridade física e liberdade indivi- detenção da coisa para si ou para terceiro.
dual do indivíduo (Crime COMPLEXO).
Roubo Próprio (caput) Roubo Impróprio (§ 1º)
É crime de forma livre: admite qualquer meio de execução.
Emprego de Grave Ameaça Violência ou Grave
ameaça ou qualquer
Também denominada de violência moral ou vis compulsi- Meios de outro meio que reduza a Violência ou Grave
va (consiste na promessa de mal grave, iminente e passível de Execução vítima à impossibilidade Ameaça.
realização). de resistência (violência
Emprego de Violência imprópria).
Momento
Também denominada de violência própria, violência física Logo depois de subtrair
de Emprego Antes ou Durante a sub-
ou vis absoluta (consiste no emprego de força física sobre a a coisa, mas antes da
do meio de tração do bem.
vítima, mediante lesão corporal ou vias de fato, para facilitar consumação do furto.
execução
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a subtração do bem. Assegurar a impunidade


Qualquer Outro Meio que Reduza a Vítima à Impossibilidade Finalidade
Permitir a subtração do do crime ou a detenção
do meio de
de Resistência execução
bem. da coisa (o bem já foi
Também conhecida como violência imprópria ou violên- subtraído).
cia indireta. Abrange todos os outros meios (diferentes da
O roubo impróprio não admite a violência imprópria
violência ou grave ameaça) que impossibilitam a resistência
(qualquer outro meio que reduza a vítima à impossibilidade
da vítima no momento da execução do roubo.
de resistência).
Ex.: Drogar ou embriagar a vítima, usar soníferos (o famo-
so “Boa noite Cinderela”) ou hipnose etc. Para falarmos em roubo impróprio é imprescindível o
Não admite o princípio da insignificância, pois o desvalor prévio apoderamento da coisa.
da conduta é elevado, o que justifica a rigorosa atuação do O roubo impróprio consuma-se no momento em que o sujeito
direito penal. utiliza a violência à pessoa ou grave ameaça, ainda que não tenha
O elemento subjetivo é o dolo e exige-se o fim de assenho- êxito em sua finalidade de assegurar a impunidade do crime ou
ramento definitivo da coisa (animus rem sibi habendi). Não é a detenção da coisa subtraída para si ou para terceiro (é Crime
admitida a modalidade culposa. Formal).
O crime de roubo admite arrependimento posterior? Para
Causas de Aumento de Pena
a maioria da doutrina o roubo próprio admite arrependimento
posterior quando praticado mediante violência imprópria (Ex.: § 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
uso de psicotrópicos). Para a minoria, violência imprópria não I. Se a violência ou ameaça é exercida com empre-
admite arrependimento posterior, pois não deixa de ser espé- go de arma;
cie de violência. II. Se há o concurso de duas ou mais pessoas;
Sujeitos do Crime III. Se a vítima está em serviço de transporte de va-
lores e o agente conhece tal circunstância.
Sujeito Ativo: qualquer pessoa (crime comum), exceto o
proprietário da coisa alheia móvel. IV. Se a subtração for de veículo automotor que ve-
Sujeito Passivo: o proprietário, possuidor ou detentor da nha a ser transportado para outro Estado ou para
coisa alheia móvel, assim como qualquer outra pessoa que o exterior;
seja atingida pela violência ou grave ameaça. Pessoa Jurídica V. Se o agente mantém a vítima em seu poder, res-
também pode ser sujeito passivo. tringindo sua liberdade.
Consumação e Tentativa Se a violência ocorrer nos termos do inciso um deste pará-
Consuma-se o crime de roubo, no momento em que o grafo, aplica-se tanto às armas próprias quanto às impróprias.
agente se torna possuidor do bem subtraído mediante grave Ex.: (Próprias) revólveres, pistolas, espingardas etc.)
ameaça ou violência. Para que o agente se torne possuidor, é (Impróprias) facas, navalhas, taco de beisebol, te-
desnecessário que a coisa saia da esfera de vigilância da víti- souras, machado etc.
ma, bastando que cesse a clandestinidade ou a violência. (Para Se o crime é cometido em concurso de agentes e somente
esta corrente, o crime de Roubo é Formal). um deles utiliza a arma, a causa de aumento de pena se es-
A tentativa é plenamente admitida, haja vista o caráter tende a todos os envolvidos no roubo, independentemente de
plurissubsistente do crime de roubo. serem coautores ou partícipes.
agente de transpor a fronteira para a aplicação do aumento
Efetivo uso: incide a causa de aumento.
de pena.
Porte ostensivo: Incide a causa de aumento.
Arma de fogo Ex.: Um veículo foi roubado e desmanchado em Casca-
Porte simulado de arma: não incide a causa
de aumento, mas caracteriza o roubo simples vel/PR e suas peças foram encaminhadas para São Paulo
(grave ameaça). ou para o Paraguai.
Esta majorante só incide quando o roubo for de veículo
Absoluta ineficácia de arma: não incide a automotor, não abrangendo embarcação nem aeronave, além
causa de aumento, mas caracteriza o roubo disso, o veículo automotor deve ser levado para outro Estado
Arma com defeito simples (grave ameaça). ou país.
Relativa ineficácia de arma: incide a causa do
aumento. • Se o agente mantém a vítima em seu poder, res-
tringindo sua liberdade
Não incide a causa de aumento, mas caracteri- Na hipótese desta qualificadora, a vítima deve ter restrin-
za o roubo simples (grave ameaça). gida sua liberdade por tempo juridicamente relevante.
Arma Conforme o STF, arma desmuniciada ou sem Ex.: Pedro, mediante grave ameaça, subtrai o carro de
desmuniciada possibilidade de pronto municiamento não Rafael, e com ele permanece até abandoná-lo em um lo-
configura o crime tipificado no Art. 14 da Lei
cal distante, evitando, dessa forma, o pedido de socorro
10.826/03 (Estatuto do Desarmamento).
às autoridades.
Não incide a causa de aumento, mas caracteri- Roubo Qualificado
Arma de brinquedo
za o roubo simples (grave ameaça). § 3º Se da VIOLÊNCIA resulta lesão corporal grave, a
pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da
• Se há o concurso de duas ou mais pessoas multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta
anos, sem prejuízo da multa.
Incide esta qualificadora ainda que um dos envolvidos seja
inimputável (Ex.: Menor de 18 anos) ou não possa ser identi- Roubo qualificado pela lesão corporal grave (7 a 15 anos);
ficado. Roubo qualificado pela morte [latrocínio] (20 a 30 anos).
Essa qualificadora incide ainda que apenas um dos envol- De acordo com o texto legal, somente é possível a incidência
vidos no roubo pratique atos executórios ou esteja presente das qualificadoras quando o resultado agravador resultar de vio-
no local do crime. Desse modo, aplica-se tanto aos coautores lência. Desse modo, se resultar de grave ameaça não incidirá esta
quanto aos partícipes. qualificadora.
• Se a vítima está em serviço de transporte de valo- Imagine a seguinte situação hipotética: “A” apontou uma
arma de fogo para “B”, senhora de 80 anos, e anunciou o as-
res e o agente conhece tal circunstância salto. “B”, com o susto da situação, sofreu um infarto fulmi-

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Tem por finalidade conceder maior proteção às pessoas nante e morreu em razão da grave ameaça empregada, mo-
que prestam serviços relacionados ao transporte de valores, mento em que “A” subtrai a bolsa da vítima. Nesta situação,
exclui-se o proprietário dos bens. “A” responderá por roubo consumado em concurso formal
Ex.: Carros-fortes, office-boys, estagiários, funcionários com homicídio culposo.
de bancos etc. Segundo o Art. 1º da Lei nº 8.072/90, O latrocínio, consu-
Exige-se que o agente tenha conhecimento desta circuns- mado ou tentado, é crime hediondo.
tância. De acordo com a Súmula 603 do STF a competência
• Se a subtração for de veículo automotor que ve- para o processo e julgamento do latrocínio é do Juiz Singu-
nha a ser transportado para outro Estado ou para lar e não do Tribunal do Júri. Isso ocorre porque o latrocínio
o exterior é crime contra o patrimônio e o Tribunal do Júri só julga os
crimes dolosos contra a vida.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Fundamenta-se na maior dificuldade de recuperação do


bem pela vítima, quando ocorre a ultrapassagem das frontei- O resultado agravador (morte) pode ter sido causado de
ras estaduais ou internacionais. forma dolosa ou culposa. Percebe-se, então, que o latrocínio
não é crime exclusivamente preterdoloso (dolo no anteceden-
Não incide esta causa de aumento de pena na hipótese de
te e culpa no consequente). Admite-se a tentativa se o resulta-
transporte de componentes isolados (peças) do veículo auto-
do agravador, morte, ocorrer de forma dolosa.
motor para outro Estado ou para o exterior.
Qual crime pratica o assaltante que, duas semanas após o
Esta majorante só incide quando o roubo for de veiculo
assalto, mata gerente que o reconheceu como um dos crimino-
automotor, não abrangendo embarcação nem aeronave. Além
sos? Não pode ser o Art. 157, § 3º, uma vez que exige o fator tem-
disso a causa de aumento de pena somente terá incidência
po e o fator nexo. O crime será de roubo em concurso material
quando o veículo automotor efetivamente for transportado
com homicídio qualificado pela conexão consequencial.
para outro Estado ou para o Exterior.
De acordo com Cleber Masson, a majorante é compatível Considerações
com a forma tentada em uma única hipótese: quando o agente De acordo com a Súmula 610 do STF: Há crime de latrocí-
é perseguido logo após a subtração e foge em direção a fron- nio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize
teira de outro País ou Estado, mas acaba sendo preso antes o agente a subtração de bens da vítima. Atenção para as se- 63
que transponha a fronteira. Nesse caso basta a intenção do guintes situações:
Subtração do Bem Morte da Vítima Latrocínio Extorsão (Art. 158, §1º, primeira
Roubo (Art. 157, §2º, II, CP)
64 parte, CP)
Consumado Consumado Consumado
Crime COMETIDO por duas ou Se há o CONCURSO de duas ou
Tentada Consumado Consumado mais pessoas. mais pessoas.
Tentada Tentada Tentada Admite coautoria, mas não admite Admite coautoria e partici-
participação. pação.
Consumado Tentada Tentada
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Extorsão Qualificada
Extorsão Art. 158, § 2º, CP. Aplica-se à extorsão praticada me-
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou gra- diante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
ve ameaça, e com o intuito de obter para si ou para ou- Se, da violência resulta lesão corporal grave (7 a 15
trem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que anos), se resulta morte (20 a 30 anos).
se faça ou deixar fazer alguma coisa: Se, o resultado agravador (lesão corporal grave ou morte)
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. ocorrer em razão da grave ameaça empregada, o agente res-
§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ponderá pelo crime de Extorsão simples (caput).
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um A extorsão qualificada pela morte, consumada ou tentada
terço até metade. é crime hediondo (Art. 1º, IV, Lei nº 8.072/90).
§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante violência
• Extorsão mediante restrição da liberdade da vítima
o disposto no § 3º do artigo anterior.
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da li-
liberdade da vítima, e essa condição é necessária
berdade da vítima, e essa condição é necessária para a
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para a obtenção da vantagem econômica, a pena é


obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclu-
de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da
são, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se re-
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte,
sulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as pe-
aplicam-se as penas previstas no Art. 159, §§ 2º e 3º,
nas previstas no Art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.
respectivamente.
A extorsão, ao contrário do roubo, não pode ser praticada Popularmente conhecido como o crime de “Sequestro re-
mediante violência imprópria (Qualquer outro meio que redu- lâmpago”.
za a vítima à impossibilidade de resistência).
Este crime, além de atentar contra o patrimônio da vítima,
Segundo Nelson Hungria, uma das formas mais frequen- viola também sua liberdade de locomoção.
tes de extorsão é a famosa “Chantagem” (praticada mediante Ex.: “A”, mediante uso de arma de fogo, ameaça de mor-
ameaça de revelação de fatos escandalosos ou difamatórios, te “B”, o qual estava saindo de sua residência, e o cons-
para coagir o ameaçado a “comprar” o silêncio do ameaça- trange a dirigir seu veículo até um caixa eletrônico para
dor). É um crime de ação penal pública incondicionada. que “B” saque dinheiro para entregar a “A”.
Diferencia-se do Roubo (Art. 157, § 2º, V, CP), pois é im-
Classificação
prescindível um comportamento de “B” (digitar a senha do
Extorsão é crime comum / de forma livre / formal / instantâ- cartão do banco) para a consumação do crime de extorsão.
neo / plurissubsistente / de dano / doloso (não admite a modali- Diferenças entre o “sequestro relâmpago” com a extorsão
dade culposa) / de concurso eventual. mediante sequestro
É considerado um crime complexo, pois protege vários
bens jurídicos. (patrimônio, integridade física e liberdade in- Sequestro Relâmpago Extorsão Mediante
dividual). (Art. 158, §3º, CP) Sequestro (Art. 159, CP)
É crime formal / de consumação antecipada. A obtenção da Restrição da liberdade. Privação da liberdade.
indevida vantagem econômica pelo agente é exaurimento do
crime que será levado em consideração na dosimetria da pena- Não há encarceramento da vítima.
A vítima é colocada no
-base (Art. 59, CP). cárcere.

Sujeitos do Crime Finalidade de se obter


Finalidade de se obter indevida
Por ser um crime comum, não se exige uma qualidade es- qualquer vantagem, como
vantagem econômica.
pecial do sujeito ativo ou passivo, portanto pode ser cometido/ condição ou preço do resgate.
sofrido por qualquer pessoa.
Considerações
Consumação e Tentativa Se a vantagem é devida (legítima), verdadeira ou suposta-
Súm. 96, STJ. O crime de extorsão consuma-se inde- mente, o agente responderá pelo crime de exercício arbitrário das
pendentemente da obtenção da vantagem indevida. próprias razões (Art. 345, CP).
A tentativa é admitida. A vantagem indevida deve ser econômica, pois se não o
for, estará afastado o crime de extorsão.
Causa de Aumento de Pena
Ex.: “A”, mediante violência ou grave ameaça, coage “B”
▷ Se o crime é COMETIDO por duas ou mais pessoas; a assumir a autoria de um crime de difamação praticado
▷ Se o crime é cometido com emprego de arma; contra “C”.
Diferenças entre o crime de extorsão e roubo: ї É crime complexo.
Roubo Extorsão Resulta da fusão da extorsão (Art. 158) e sequestro (Art. 148).
O extorsionário faz com que a Objeto Material
O ladrão subtrai.
vítima lhe entregue. A pessoa privada de sua liberdade e também aquela lesa-
O agente busca vantagem O agente busca vantagem
da em seu patrimônio.
imediata. mediata (futura). É crime hediondo em todas as suas modalidades (tenta-
dos ou consumados). (Art. 1º, IV, Lei nº 8.072/90).
Não admite bens imóveis. Admite bens imóveis também.
Núcleo do Tipo
Admite violência imprópria. Não admite violência imprópria.
“Sequestrar”: privar uma pessoa de sua liberdade de loco-
A colaboração da vítima é dis- A colaboração da vítima é moção por tempo juridicamente relevante.
pensável. indispensável. Sujeitos do Crime
Diferenças entre o crime de Extorsão e Constrangimento Sujeito Ativo: qualquer pessoa (crime comum). Se o sujei-
ilegal to ativo for funcionário público e cometer o crime no exercício
A extorsão se distingue do crime de constrangimento de suas funções, responderá também pelo crime de abuso de
ilegal (Art. 146, CP), pois, no primeiro há a presença de um autoridade (Arts. 3º, “a” e 4º, “a”, Lei nº 4.898/65).
elemento subjetivo do tipo (especial fim de agir do agente) Pessoa que simula o próprio sequestro para extorquir seus
representado pela vontade de obter indevida vantagem eco- pais, mediante o auxílio de terceiros, responde por extorsão
nômica, para si ou para outrem. (Art. 158).
Diferenças entre o crime de Extorsão e Concussão Sujeito Passivo: pessoa que sofre a lesão patrimonial e
pessoa privada de sua liberdade.
Extorsão (Art. 158) Concussão (Art. 316)
A vítima deve ser necessariamente uma pessoa humana.
Crime contra a Administração Desse modo, a privação da liberdade de um animal (de extin-
Crime Contra o Patrimônio.
Pública. ção ou raça) configura o crime de extorsão (Art. 158, CP).
Se a vítima for menor de 18 anos ou maior de 60 anos o
Há emprego de violência ou Não há emprego de violência ou
grave ameaça. grave ameaça. crime será qualificado (§ 1º).
Supondo que haja subtração de animal de outrem e infor-
Em regra é praticado por particu-
Em regra é praticado por fun-
ma que somente será devolvido caso seja pago resgate. Há
lar, mas funcionário público pode prática do crime de extorsão mediante sequestro? Não haverá
cionário público, mas particular
praticar caso empregue violência tal crime já que o tipo penal se remete à pessoa. Nessa hipóte-
pode ser coautor ou partícipe.
ou grave ameaça. se, será configurado o delito de extorsão.

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É possível concurso de crimes de roubo e extorsão, por Elemento Subjetivo
exemplo o agente, após roubar o carro da vítima, a obriga a Dolo + (especial fim de agir) com o fim de obter, para si
entregar o cartão 24h com a senha, conforme STJ. ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço
do resgate. Não se admite a modalidade culposa.
Extorsão Mediante Sequestro
Art. 159. Sequestrar pessoa com o fim de obter, para Espécie da Vantagem
si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição A maioria da doutrina entende que a vantagem deve ser
ou preço do resgate: econômica e indevida.
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. Se a vantagem for devida, o agente responderá pelos
§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) ho- crimes de sequestro (Art. 148) e exercício arbitrário das pró-
ras, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior prias razões (Art. 345) em concurso formal.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por Consumação e Tentativa


bando ou quadrilha: Consuma-se com a privação da liberdade da vítima, in-
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. dependente da obtenção da vantagem pelo agente. É crime
§ 2º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: formal. A tentativa é possível.
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. Juízo Competente
§ 3º Se resulta a morte: O Juízo Competente para julgamento é o do local em que
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. ocorreu o sequestro da vítima, e não o da entrega do even-
§ 4º Se o crime é cometido em concurso, o concorrente tual resgate.
que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação Se os parentes da vítima realizarem o pagamento do res-
do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois gate, ocorrerá o exaurimento do crime.
terços.
Crime Permanente
Objetividade Jurídica É Crime Permanente (a consumação se prolonga no tempo
Patrimônio e liberdade individual. Integridade física e vida e dura todo o período em que a vítima estiver privada de sua 65
humana (§ 2º e § 3º). liberdade).
Por ser crime permanente, é cabível a prisão em flagrante ▷ Prática do crime em concurso de pessoas: não é
66 a qualquer tempo, enquanto durar a permanência. exigível Associação Criminosa, basta o concurso de
A privação da liberdade do sequestrado há de ser mantida pessoas;
por tempo juridicamente relevante. ▷ Esclarecimento por parte de um dos criminosos a
autoridade sobre o crime;
Classificação Doutrinária
▷ Facilitação da libertação do sequestrado, ou seja,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Crime comum / de forma livre/ FORMAL / PERMANENTE /


que a delação seja eficaz.
plurissubsistente / de dano / de concurso eventual.
De acordo com a jurisprudência, deve ser aplicada a dela-
Ação Penal ção premiada quando a vítima é libertada diretamente por um
A Ação Penal é pública incondicionada em todas as espé- dos sequestradores.
cies do crime. A redução de pena é proporcional conforme a maior ou
Figuras Qualificadas menor colaboração do agente. Quanto mais auxiliar, maior
a redução.
§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro)
horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou A delação deve ser EFICAZ, ou seja, deve ter contribuí-
maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é come- do decisivamente para a libertação da vítima. Desse modo, a
tido por bando ou quadrilha. Pena - reclusão de 12 a pena não será diminuída se o refém foi solto por outro motivo
20 anos. qualquer, diverso da informação prestada pelo sequestrador.
Incide a qualificadora quando na data do sequestro a ví- Presentes os requisitos legais, o juiz é obrigado a reduzir
tima possuía, por exemplo, 59 anos e 11 meses e na data da a pena do criminoso (é direito subjetivo do réu).
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libertação possuía mais de 60 anos, pois o crime de extorsão A redução da pena da delação premiada não se comunica
mediante sequestro é crime permanente (a consumação pro- aos demais coautores ou partícipes que não denunciaram o
longa-se no tempo por vontade do agente). fato à autoridade (circunstância pessoal), pois não facilita-
E se o crime se deu em exatas 24 horas, incide a qualifi- ram a libertação do refém.
cadora? Não. Tem que ser mais de 24 horas. Extorsão Indireta
Se o crime é cometido por associação criminosa e esta for
Art. 160. Exigir ou receber, como garantia de dívida,
usada para qualificar o delito, não pode haver a punição pelo
abusando da situação de alguém, documento que
Art. 288 do CP, sob pena de ocorrência do bis in idem.
pode dar causa a procedimento criminal contra a víti-
§ 2º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: ma ou contra terceiro:
Pena - reclusão de 16 a 24 anos. Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
§ 3º Se resulta a morte: O crime de extorsão se consuma no momento em que é
Pena - reclusão de 24 a 30 anos. realizada a conduta de constrangimento mediante o uso de
No roubo e na extorsão só existe a qualificadora quan- violência ou grave ameaça, portanto considerado crime for-
do a lesão corporal de natureza grave ou a morte resultam mal. A obtenção da vantagem indevida configura mero exau-
da “violência”, ao passo que nesta hipótese o crime será rimento do crime.
qualificado quando do FATO resultar lesão corporal de na-
tureza grave ou morte. Portanto o resultado agravador pode Da Usurpação
ser provocado por violência própria, violência imprópria ou Alteração de Limites
GRAVE AMEAÇA.
Art. 161. Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qual-
Não incidirá esta qualificadora se o resultado agravador for quer outro sinal indicativo de linha divisória, para apro-
produzido por força maior, caso fortuito ou culpa de terceiro. priar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Ex.: cai um raio no barraco onde a vítima era mantida Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
em cativeiro e esta morre.
§ 1º Na mesma pena incorre quem:
A morte ou lesão corporal grave podem ter sido provo-
cadas dolosa ou culposamente. Não é crime exclusivamente Usurpação de Águas
preterdoloso (dolo no antecedente e culpa no consequente). I. Desvia ou represa, em proveito próprio ou de ou-
A pena da extorsão mediante sequestro qualificada pela trem, águas alheias;
morte (24 a 30 anos) é a maior do Código Penal. Esbulho Possessório
Delação Premiada II. Invade, com violência a pessoa ou grave ameaça,
§ 4º Se o crime é cometido em concurso, o concorrente ou mediante concurso de mais de duas pessoas,
terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho
que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do possessório.
sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. § 2º Se o agente usa de violência, incorre também na
É causa especial de diminuição da pena que somente pode pena a esta cominada.
ser aplicada pelo Juiz (Delegados e Promotores não podem). § 3º Se a propriedade é particular, e não há emprego de
Requisitos para a incidência deste parágrafo: violência, somente se procede mediante queixa.
Supressão ou Alteração de Núcleos do Tipo
Marca em Animais Destruir: extinguir a coisa (dano físico total).
Ex.: Quebrar totalmente um espelho; queimar um tele-
Art. 162. Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado fone celular.
ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de pro- Inutilizar: tornar uma coisa imprestável aos fins a que se
priedade: destina.
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. Ex.: Retirar a bateria de um carro.
Deteriorar: estragar parcialmente um bem, diminuindo-
Do Dano lhe o valor ou a utilidade (dano físico parcial).
Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Ex.: Riscar a lataria de um veículo.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Sujeitos do Crime
Dano Qualificado Sujeito Ativo: é crime comum, pode ser praticado por
Parágrafo único. Se o crime é cometido: qualquer pessoa, exceto o proprietário da coisa.
I. Com violência à pessoa ou grave ameaça; Se o proprietário danificar coisa própria, que se acha
II. Com emprego de substância inflamável ou explosi- em poder de terceiro por determinação judicial ou conven-
va, se o fato não constitui crime mais grave; ção, responderá pelo previsto no Art. 346, CP.
III. Contra o patrimônio da União, Estado, Municí- Sujeito Passivo: qualquer pessoa (proprietário ou possui-
pio, empresa concessionária de serviços públicos dor legítimo da coisa).
ou sociedade de economia mista; Elemento Subjetivo
IV. Por motivo egoístico ou com prejuízo considerá- É o Dolo. A finalidade do agente deve ser unicamente des-
vel para a vítima: truir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, Importante: não existe o crime de dano culposo.
além da pena correspondente à violência. Se o dano constituir-se em meio para a prática de outro
Objetividade Jurídica crime, ou então como qualificadora de outro crime, será por
este absorvido. Ex.: Furto qualificado pela destruição ou rom-
Patrimônio das pessoas físicas ou jurídicas.
pimento de obstáculo (Art. 155, § 4º, I, CP): o dano, crime-
Não há crime de dano quando a conduta do agente recair meio, será absorvido pelo furto, crime-fim.
sobre res derelicta (coisa abandonada) ou res nullius (coisa
de ninguém). Todavia se a conduta recair sobre res despedita Consumação e Tentativa
(coisa perdida) haverá crime, pois se trata de coisa alheia. É crime material. Desse modo, ele se consuma quando
o agente efetivamente destrói, inutiliza ou deteriora a coisa

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Objeto Material alheia. A tentativa é plenamente possível.
Coisa alheia, móvel ou imóvel, sobre a qual incide a con-
duta do agente. Dano Simples
O crime de dano simples (caput) é IMPO, Infração de Me-
Dano em Documentos (Públicos ou Privados) nor Potencial Ofensivo, de competência do Juizado Especial
Se o agente danificou para impedir utilização do docu- e de ação penal privada (Art. 167, CP).
mento como prova de algum fato juridicamente relevante,
Classificação Doutrinária
responderá pelo crime de supressão de documento (Art. 305,
CP). Todavia, se a conduta foi praticada unicamente com o Crime comum / material / doloso / de forma livre / instan-
tâneo / plurissubjetivo / de concurso eventual e não transeun-
objetivo de prejudicar o patrimônio da vítima, responderá o
te (deixa vestígios materiais).
agente pelo crime de dano (Art. 163, CP).
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Tipo Misto Alternativo, Crime de Ação Dano Qualificado


Múltipla ou de Conteúdo Variado Parágrafo único. Se o crime é cometido:
I. Com violência à pessoa ou grave ameaça;
Haverá crime único na prática de várias condutas com ob-
II. Com emprego de substância inflamável ou explosi-
jeto material no mesmo contexto fático.
va, se o fato não constitui crime mais grave;
É Crime de Forma Livre = Admite qualquer meio de exe-
III. Contra o patrimônio da União, Estado, Municí-
cução. pio, empresa concessionária de serviços públicos
Pode ser praticado por omissão, desde que presente o ou sociedade de economia mista;
dever jurídico de agir (Art. 13, §2º, CP). IV. Por motivo egoístico ou com prejuízo considerá-
Ex.: Empregada doméstica deixa, dolosamente, de fe- vel para a vítima:
char as janelas da casa da patroa durante uma chuva para Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa,
que sejam danificados os objetos eletrônicos da casa. além da pena correspondente à violência.
O agente que pratica a conduta de pichar, grafitar ou por
qualquer outro meio conspurcar (poluir) edificação ou monu- Com Violência à Pessoa ou Grave Ameaça
mento urbano responderá pelo crime previsto no Art. 65 da Lei A vítima da violência ou grave ameaça pode ser pessoa 67
nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais). diversa da vítima do dano.
Ex.: Ameaçar a empregada doméstica de seu vizinho aprovados na segunda fase do concurso de Delegado de Polícia
68 para quebrar a vidraça de sua janela. Civil de um Estado qualquer. Então, no dia da prova oral, “A” sa-
A violência ou grave ameaça deve ocorrer antes ou duran- bota o carro de “B” para que este não consiga chegar a tempo
te a prática do crime de dano, pois, se ocorrer depois, o agente para realizar o exame e seja eliminado do concurso.
responderá pelo crime de dano simples em concurso material De acordo com o Art. 167 do CP, nesta hipótese de dano a
com o crime de lesão corporal (Art. 129) ou ameaça (Art. 147). ação penal é privada.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

De acordo com o Art. 167, CP, nesta hipótese de dano a


ação penal será pública incondicionada. Introdução ou Abandono de
Com Emprego de Substância Inflamável ou Explo-
Animais em Propriedade Alheia
Art. 164. Introduzir ou deixar animais em propriedade
siva, se o Fato não Constitui Crime Mais Grave
alheia, sem consentimento de quem de direito, desde
A expressão “se o fato não constitui crime mais grave” que o fato resulte prejuízo:
informa que esta qualificadora é expressamente subsidiá-
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.
ria, ou seja, somente incidirá o dano qualificado quando a
lesão ao patrimônio alheio não caracterizar um crime mais Dano em Coisa de Valor Artístico,
grave, nem funcionar como meio de execução de um delito
mais grave. Arqueológico ou Histórico
Ex.: “A” explode o carro de “B” que estava no estacio- Art. 165. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada
namento: “A” responderá pelo crime de dano qualifica- pela autoridade competente em virtude de valor artís-
do. Todavia se “A” explodiu o carro de “B” com a inten- tico, arqueológico ou histórico:
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ção de matá-lo, e efetivamente alcançou este resultado Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
responderá pelo crime de homicídio qualificado (Art.
121, §2º, III, CP). Alteração de Local
De acordo com o Art. 167 do CP, nesta hipótese de dano, a Especialmente Protegido
ação penal será pública incondicionada. Art. 166. Alterar, sem licença da autoridade competen-
Contra o Patrimônio da União, Estado, Mu- te, o aspecto de local especialmente protegido por lei:
nicípio, Empresa Concessionária de Serviços Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Públicos ou Sociedade de Economia Mista Ação Penal
Não incide esta qualificadora na hipótese de dano contra Art. 167. Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo
o patrimônio de autarquias, empresas públicas, fundações pú- e do Art. 164, somente se procede mediante queixa.
blicas e empresas permissionárias de serviços públicos. Res-
ponderá o agente pelo crime de dano simples nesta situação. Da Apropriação Indébita
Também não incide esta qualificadora na conduta prati-
cada contra imóveis locados ou usados pelos entes descritos Apropriação Indébita
neste inciso.
Art. 168. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem
De acordo com o entendimento do STJ, o preso que da- a posse ou a detenção:
nifica (destrói, deteriora ou inutiliza) as paredes e grades da
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
cela dos presídios ou delegacias, com o objetivo de fuga não
responde pelo crime de dano. Vejamos uma jurisprudência so- Aumento de Pena
bre o tema: § 1º. A pena é aumentada de um terço, quando o agen-
Conforme entendimento, há muito fixado nesta Corte te recebeu a coisa:
Superior (STF), para a configuração do crime de dano, I. Em depósito necessário;
previsto no Art. 163 do CPB, é necessário que a vontade II. Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário,
seja voltada para causar prejuízo patrimonial ao dono inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
da coisa (animus nocendi). Dessa forma, o preso que III. Em razão de ofício, emprego ou profissão.
destrói ou inutiliza as grades da cela onde se encontra,
com o intuito exclusivo de empreender fuga, não comete Conceito
crime de dano. 2. Parecer do MPF pela concessão da A principal característica do crime de apropriação indébita
ordem. 3. Ordem concedida, para absolver o paciente é a existência de uma situação de quebra de confiança, pois a
do crime de dano contra o patrimônio público (Art. 163, vítima entrega, voluntariamente, uma coisa móvel ao agente,
Parágrafo Único, III, do CPB). e este, logo após, inverte seu ânimo no tocante ao bem, pas-
De acordo com o Art. 167 do CP, nesta hipótese de dano a sando a comportar-se como seu dono.
ação penal será pública incondicionada. Objetividade Jurídica
Por Motivo Egoístico ou com Prejuí- Patrimônio.
zo Considerável para a Vítima Objeto Material
Motivo egoístico é aquele ligado à obtenção de um futuro Coisa alheia móvel sobre a qual recai a conduta criminosa
benefício, de ordem moral ou econômica. Ex.: “A” e “B” foram (imóveis não).
Para o STJ é possível a prática do crime de apropriação A pessoa recebe a posse ou
O agente já possuía a intenção
indébita de coisas fungíveis (móveis que podem substituir-se detenção de coisa de maneira
de se apropriar do bem antes de
por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade). legítima, surgindo a vontade de
alcançar a sua posse ou detenção.
Ex.: Dinheiro. se apropriar posteriormente.

Núcleo do Tipo Ex.: Pessoa vai a uma locadora de Ex.: Pessoa vai a uma locadora
veículos, aluga um veículo, gosta de veículos, já com a intenção de
É o verbo “apropriar” que significa tomar para si, fazer sua dele e decide não devolver. alugar o veículo e não devolvê-lo.
coisa alheia.
• Posse/Detenção Legítima e Desvigiada Consumação
Ocorre no momento em que o agente inverte seu ânimo
A posse ou a detenção do bem deve ser LEGÍTIMA e tam-
em relação a coisa alheia móvel, ou seja, ele passa a se com-
bém desvigiada. Desse modo, o crime de apropriação indébita
portar como dono do bem. Pode se dar de duas maneiras:
deve preencher os seguintes requisitos:
Se consuma com a prática de algum ato de disposição
A vítima entrega o bem voluntariamente: se houver fraude Apropriação do bem, incompatível com a condição de possuidor ou
para a entrega o crime será de estelionato, se houver violência indébita detentor.
ou grave ameaça à pessoa o crime será de roubo ou de extor- própria
Ex.: Vender, doar, permutar, emprestar o bem.
são. Negativa de Se consuma no momento em que o agente se recusar
O agente tem a posse ou detenção desvigiada do bem: se restituição expressamente a devolver o bem ao seu proprietário.
a posse ou detenção for vigiada e o bem for retirado da vítima
sem sua autorização o crime será de furto. Tentativa
O agente recebe o bem de boa-fé: se ao receber o bem o A apropriação indébita própria admite tentativa.
agente já tinha a intenção de apropriar-se dele, o crime será de Ex.: “A” é preso em flagrante no momento em que doava
estelionato. Obs.: a boa-fé é presumida. os DVDs de “B”, do qual tinha a posse legítima e desvi-
giada.
Modificação posterior no comportamento do agente: após
A apropriação indébita negativa de restituição não admite
entrar licitamente (de boa-fé) na posse ou detenção da coisa,
tentativa (conatus), pois é crime unissubsistente: ou o sujeito
o agente passa a se comportar como se fosse dono. Momento
recusa a devolver o bem, e o crime estará consumado, ou o de-
em que apresenta seu ânimo de assenhoramento definitivo
volve ao dono, e o fato será atípico.
(animus rem sibi habendi). Essa alteração no comportamento
do agente ocorre de duas formas: Ação Penal
a) Prática de algum ato de disposição (venda, doação, A Ação Penal é pública incondicionada.
locação, troca etc.). Também conhecida como apro- Competência
priação indébita própria.

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Local em que o agente se apropria da coisa alheia móvel,
b) Recusa na restituição (a vítima solicita a devolução dela dispondo ou negando-se a restituí-la ao seu titular. (Art.
do bem e o agente expressamente se recusa a devol- 70, caput, CPP).
ver). Também denominada negativa de restituição.
Quando o crime de apropriação indébita for praticado por
Sujeitos do Crime algum representante (comercial ou não) da vítima, a competên-
Sujeito Ativo: qualquer pessoa, desde que tenha a posse cia será do local em que o agente deveria ter prestado contas
ou detenção lícita da coisa alheia móvel. Sempre pessoa di- dos valores recebidos.
versa do proprietário. Classificação Doutrinária
Sujeito Passivo: proprietário ou possuidor (pessoa física Crime comum / material / de forma livre / de concurso even-
ou jurídica) do bem. tual / doloso / em regra plurissubsistente, ou unissubsistente (ne-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Elemento Subjetivo gativa de restituição) / instantâneo.


Dolo. Doutrina e jurisprudência defendem a necessidade 01. O Art. 102 do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) pre-
do ânimo de assenhoramento definitivo da coisa. Desse modo, vê uma modalidade especial de apropriação indébita,
não responderá por este crime aquele que simplesmente se quando praticada contra idoso:
esquece de devolver o bem na data previamente combinada. Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos,
Não se admite a modalidade culposa. pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-
lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
Apropriação Indébita “De Uso” Pena - reclusão de 1 a 4 anos.
Não se pune a apropriação indébita “de uso”: situação em 02. O Art. 5º, “caput”, da Lei dos Crimes Contra o Sistema
que a pessoa usa momentaneamente a coisa alheia, para em Financeiro Nacional (Lei nº 7.492/86) também contém
seguida restituí-la integralmente ao seu proprietário. uma modalidade especial de apropriação indébita:
Apropriação Indébita X Estelionato Art. 5º. Apropriar-se, quaisquer das pessoas menciona-
Apropriação indébita das no Art. 25 desta lei, de dinheiro, título, valor ou qual-
Estelionato (Art. 171, CP)
(Art. 168, CP) quer outro bem móvel de que tem a posse, ou desviá-lo
em proveito próprio ou alheio: 69
O dolo é posterior ou subsequente. O dolo é anterior ou antecedente.
Pena - reclusão de 2 a 6 anos e multa.
Trata-se de crime próprio, pois somente pode ser prati- Apropriação Indébita Previdenciária
70 cado pelo controlador e pelos administradores de instituição
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as
financeira (diretores e gerentes).
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e
Aumento de Pena forma legal ou convencional:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de um terço, quando o agente
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

recebeu a coisa:
I. Recolher, no prazo legal, contribuição ou outra im-
I. Em depósito necessário; portância destinada à previdência social que tenha
II. Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquida- sido descontada de pagamento efetuado a segura-
tário, inventariante, testamenteiro ou depositário dos, a terceiros ou arrecadada do público;
judicial; II. Recolher contribuições devidas à previdência so-
cial que tenham integrado despesas contábeis ou
III. Em razão de ofício, emprego ou profissão.
custos relativos à venda de produtos ou à prestação
A pena será aumentada de um terço quando o agente re- de serviços;
cebeu a coisa: III. Pagar benefício devido a segurado, quando as
respectivas cotas ou valores já tiverem sido reem-
Em Depósito Necessário bolsados à empresa pela previdência social.
De acordo com a doutrina majoritária, esta causa de au- § 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontanea-
mento de pena incide apenas no depósito necessário miserá- mente, declara, confessa e efetua o pagamento das
vel, previsto no Art. 647, II, CC (é o que se efetua por ocasião contribuições, importâncias ou valores e presta as in-
de alguma calamidade, como inundação, incêndio, saque ou formações devidas à previdência social, na forma de-
finida em lei ou regulamento, antes do início da ação
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naufrágio).
fiscal.
Na Qualidade de Tutor, Curador, Síndi- § 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar
co, Liquidatário, Inventariante, Testa- somente a de multa se o agente for primário e de bons
antecedentes, desde que:
menteiro ou Depositário Judicial I. Tenha promovido, após o início da ação fiscal e an-
O fundamento do tratamento penal mais rigoroso repousa tes de oferecida a denúncia, o pagamento da contri-
na relevância das funções exercidas pelas pessoas indicadas buição social previdenciária, inclusive acessórios; ou
neste inciso, as quais recebem coisas alheias para guardar con- II. O valor das contribuições devidas, inclusive aces-
sigo, necessariamente, até o momento da devolução. sórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela
previdência social, administrativamente, como sen-
A palavra “síndico” deve ser substituída pela expressão “ad- do o mínimo para o ajuizamento de suas execuções
ministrador judicial”, em razão da alteração ocorrida pela Lei nº fiscais.
11.101/2005 (Lei de Falência e Recuperação Judicial do Empresá-
rio e da Sociedade Empresária). Objetividade Jurídica
Seguridade social (saúde, previdência e assistência social
Em Razão de Ofício, Emprego ou Profissão - Art. 194, CF/88). Não se trata de crime contra o patrimônio.
Não necessita de relação de confiança entre o agente e a
vítima. Objeto Material
Contribuição previdenciária arrecadada e não recolhida.
Prestação de serviço em subordinação e dependência.
Emprego Núcleo do Tipo
Ex.: Dono de um supermercado e seus funcionários.
Deixar de repassar, significa deixar de recolher. (Recolher
Ocupação mecânica ou manual, que necessita de um é depositar a quantia recebida - descontada ou cobrada).
determinado grau de habilidade, e que seja útil ou
Ofício necessário às pessoas em geral. É crime omissivo próprio ou puro (não admite tentativa).
Ex.: Mecânico, sapateiro etc. Lei Penal em Branco Homogênea
Atividade em que não há hierarquia e necessita de Deve ser complementada pela legislação previdenciária
Profissão conhecimentos específicos (técnico e intelectual). em relação aos prazos de recolhimento.
Ex.: Advogado, dentista, médico, arquiteto, contador etc.
Sujeitos do Crime
Apropriação Indébita Privilegiada Sujeito Ativo: qualquer pessoa, crime comum (admite
O Art. 170 do Código Penal dispõe o seguinte: coautoria e participação).
Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o dis- Sujeito Passivo: União Federal.
posto no Art. 155, § 2º. Competência
Art. 155, § 2º, CP. Se o criminoso é primário, e é de peque- Sendo o sujeito ativo União Federal, a competência será da
no valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de Justiça Federal (crime praticado em detrimento dos interesses
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, da União).
ou aplicar somente a pena de multa.
Portanto, é possível a caracterização da apropriação in- Elemento Subjetivo
débita privilegiada, em qualquer de suas espécies. É o dolo.
É dispensável (prescindível) o fim de assenhoramento A hipótese do inciso I não se aplica mais, em razão regra
definitivo (animus rem sibi habendi), pois o núcleo do tipo é contida no Art. 9, §2º, Lei nº 10.684/03 e do entendimento do
“deixar de repassar”, e não “apropriar-se” como no crime de STJ sobre o assunto.
apropriação indébita. Justa Causa e Prévio Esgotamento
Não se admite a forma culposa. da Via Administrativa
Consumação Lei nº 9.430/96. Dispõe sobre a legislação tributária
Para a maioria da doutrina é crime formal. Para o STF é federal, as contribuições para a seguridade social, o
crime material, pois deve haver a efetiva lesão aos cofres da processo administrativo de consulta; e dá outras pro-
União. vidências:
Se a conduta for praticada mediante fraude, o crime será Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos
de sonegação de contribuição previdenciária, previsto no Art. crimes contra a ordem tributária previstos nos Arts. 1º e 2º
337-A, CP. da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes
contra a Previdência Social, previstos nos Arts. 168-A e
É Crime Unissubsistente 337-A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940
A conduta se exterioriza em um único ato, suficiente para (Código Penal), será encaminhada ao Ministério Público
a consumação. depois de proferida a decisão final, na esfera administrati-
Ação Penal va, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspon-
dente. (Redação dada pela Lei nº 12.350, de 2010).
Ação penal pública incondicionada.
§ 1º Na hipótese de concessão de parcelamento do
Hipótese de Dificuldades Financeiras crédito tributário, a representação fiscal para fins pe-
Firmou-se o entendimento de que há inexigibilidade de con- nais somente será encaminhada ao Ministério Público
duta diversa (causa supralegal de exclusão da culpabilidade). após a exclusão da pessoa física ou jurídica do parce-
O STJ já decidiu que o fato é atípico em face da ausência lamento. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011).
de dolo. § 2º É suspensa a pretensão punitiva do Estado refe-
rente aos crimes previstos no caput, durante o período
Extinção da Punibilidade em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada
§ 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontanea- com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no
mente, declara, confessa e efetua o pagamento das parcelamento, desde que o pedido de parcelamento
contribuições, importâncias ou valores e presta as in- tenha sido formalizado antes do recebimento da de-
formações devidas à previdência social, na forma de- núncia criminal. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011).
finida em lei ou regulamento, antes do início da ação § 3º A prescrição criminal não corre durante o período
fiscal.

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de suspensão da pretensão punitiva. (Incluído pela Lei
A ação fiscal tem início com a lavratura do Termo de Início nº 12.382, de 2011).
da Ação Fiscal (TIAF). § 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no
Para que ocorra a extinção da punibilidade, devem-se caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica re-
preencher, cumulativamente, três requisitos: lacionada com o agente efetuar o pagamento integral
▷ Espontânea declaração e confissão do débito; dos débitos oriundos de tributos, inclusive acessórios,
▷ Prestação de informações à Previdência Social; que tiverem sido objeto de concessão de parcelamen-
▷ Pagamento integral do débito previdenciário ANTES to. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011).
do início da Ação Fiscal.
Princípio da Insignificância
Para o STJ o pagamento integral do débito previdenciário,
ANTES ou DEPOIS do recebimento da denúncia, é causa de Para o STF, é possível a aplicação do princípio da insigni-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

extinção da punibilidade (Art. 9º, § 2º, Lei nº 10.684/03). HC ficância (causa supralegal de exclusão da tipicidade - o fato
63.168/SC. não será crime) quando o valor do débito previdenciário não
ultrapassar R$10.000,00 (dez mil reais). O fundamento está
Perdão Judicial e Aplicação Iso- no Art. 20 da Lei nº 10.522/2002, que determina o arquiva-
lada de Pena de Multa mento das execuções fiscais, sem cancelamento na distribui-
§ 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou apli- ção, quando os débitos inscritos como dívida ativa da União
car somente a de multa se o agente for primário e de não excedam este valor.
bons antecedentes, desde que: Forma Privilegiada
I. Tenha promovido, após o início da ação fiscal e an- Nos termos do Art. 170 do CP aplica-se o Art. 155, § 2º, para
tes de oferecida a denúncia, o pagamento da contri- este crime (forma privilegiada).
buição social previdenciária, inclusive acessórios; ou
II. O valor das contribuições devidas, inclusive Apropriação de Coisa Havida por Erro,
acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-
cido pela previdência social, administrativamente, Caso Fortuito ou Força da Natureza
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas Art. 169. Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao 71
execuções fiscais. seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Classificação
72 Parágrafo único. Na mesma pena incorre: É um crime COMUM, ou seja, pode ser praticado por qual-
Apropriação de Tesouro quer pessoa.
I. Quem acha tesouro em prédio alheio e se apro- É um crime instantâneo - consuma-se no momento da prá-
pria, no todo ou em parte, da quota a que tem di- tica do ato - com efeitos permanentes.
reito o proprietário do prédio;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Admite a modalidade comissiva (pratica a conduta do es-


Apropriação de Coisa Achada telionato) ou omissiva (mantém a vítima em erro).
II. Quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria,
total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono Sujeitos do Crime
ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade Sujeito Ativo: sendo um crime comum, admite qualquer
competente, dentro no prazo de quinze dias. pessoa.
Art. 170. Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se
o disposto no Art. 155, § 2º. Sujeito Passivo: qualquer pessoa - física ou jurídica - que
seja mantida em erro, desde que seja determinada, NÃO se
Do Estelionato e outras Fraudes admite uma vítima incerta.
O crime de estelionato exige VÍTIMA CERTA E DETERMI-
Estelionato NADA, logo, se a vítima for incerta ou indeterminada, trata-se
Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, de crime contra a economia popular - Art. 2º, XI, Lei nº 1.521/51.
em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em Ex.: Adulteração de balança, de bomba de combustível,
erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
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de taxímetro.
fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de qui- Se a vítima for incapaz ou alienada, o crime será o do Art.
nhentos mil réis a dez contos de réis. 173 do CP: abuso de incapazes - Abusar, em proveito próprio
§ 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o
ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor,
prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o dispos- ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo
to no Art. 155, § 2º. qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito
§ 2º Nas mesmas penas incorre quem: jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro.
Disposição de Coisa Alheia Como Própria Consumação e Tentativa
I. Vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou ADMITE tentativa, ademais a fraude deve ser idônea a lu-
em garantia coisa alheia como própria; dibriar a vítima, pois, do contrário, será crime impossível em
Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria face da ineficácia absoluta do meio de execução (Art. 17 do
II. Vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia CP).
coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, Consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita causando o
ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante
prejuízo à vitima, passando pelos momentos de:
pagamento em prestações, silenciando sobre qual-
quer dessas circunstâncias; ▷ Emprego de fraude pelo agente;
Defraudação de Penhor ▷ Situação de erro na qual a vítima é colocada ou man-
III. Defrauda, mediante alienação não consentida tida;
pelo credor ou por outro modo, a garantia pigno- ▷ Obtenção de vantagem ilícita pelo agente;
ratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Fraude na Entrega de Coisa ▷ Prejuízo sofrido pela vítima.
IV. Defrauda substância, qualidade ou quantidade Descrição
de coisa que deve entregar a alguém;
A vantagem ilícita deve ser de natureza econômica (pa-
Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor de Seguro
trimonial): se a vantagem for lícita, estará configurado o cri-
V. Destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa pró- me de exercício arbitrário das próprias razões, Art. 345 do CP:
pria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão,
consequências da lesão ou doença, com o intuito de
embora legítima, salvo quando a lei o permite.
haver indenização ou valor de seguro;
Fraude no Pagamento por Meio de Cheque ▷ Daí que o STF entendeu que o ponto eletrônico, ou a
cola eletrônica são fatos atípicos em face da inexis-
VI. De instituto de economia popular, assistência
social ou beneficência. tência de vantagem econômica. Esse foi o entendi-
mento prevalecente, apesar de haver minoria do STF
§ 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometi-
do contra idoso. que afirma tratar-se de fato típico.
Esse crime tem o objetivo de punir a conduta do agente ▷ O silêncio pode ser usado como meio fraudulento
que, utilizando-se de uma fraude, induz ou mantém alguém para a prática de estelionato, bem como a mentira
em erro, no intuito de obter uma vantagem ilícita sobre essa (tem que ser fraudulenta).
vítima. ▷ A fraude bilateral não exclui o crime.
Formas de Execução enquanto o título não é convertido em valor material, não há
Ardil - caracteriza-se pela fraude de forma intelectual, efetivo proveito do agente, podendo ser impedido de realizar
fraude moral, representada pela conversa enganosa. É a lábia. a conversão por circunstâncias alheias a sua vontade. Assim,
Ex.: “A”, alegando ser especialista em conserto de com- o crime ainda está na fase de execução. (MAJORITÁRIA).
putadores, convence “B” a entregar-lhe seu notebook Figuras Equiparadas
para conserto.
Artifício - caracteriza-se pela fraude de forma material. § 2º Nas mesmas penas incorre quem:
O agente utiliza algum instrumento ou objeto para enganar a • Disposição de Coisa Alheia como Própria
vítima. I. Vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou
Ex.: “A” se disfarça de manobrista e fica parado na por- em garantia coisa alheia como própria;
ta de um restaurante para que “B” voluntariamente lhe Nessa situação, admite-se que o bem seja móvel ou imó-
entregue seu carro. Ou ainda, aquele que utiliza o bilhe- vel. É quando o agente, na posse do bem de um terceiro, utili-
te premiado ou um documento falso. za-o como se fosse próprio.
Qualquer Outro Meio Fraudulento - é uma situação de in- Ex.: O inquilino de um imóvel, que aluga para uma ter-
terpretação analógica.
ceira pessoa por um valor superior, na intenção de obter
Ex.: O silêncio. “A” comerciante entrega a “B”, cliente, lucro, sem o consentimento ou ciência do proprietário
troco além do devido, mas este nada fala e nada faz, fi-
real do imóvel.
cando com o dinheiro para si.
Estelionato e Crime Impossível - Qualquer que seja o meio • Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria
de execução (artifício, ardil ou outro meio fraudulento) empre- II. Vende, permuta, dá em pagamento ou em ga-
gado na prática da conduta, somente haverá a tentativa quando rantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou
litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a tercei-
apresentar idoneidade para enganar a vítima. A idoneidade leva
ro, mediante pagamento em prestações, silencian-
em conta as condições pessoais do ofendido. do sobre qualquer dessas circunstâncias;
Se o meio fraudulento for capaz de enganar a vítima, esta- Nessa situação, o bem é da própria pessoa, podendo tam-
rá caracterizado o conatus. Caso não tenha intenção de iludir bém ser imóvel ou móvel.
a vítima ou apresente-se grosseiro será crime impossível, pois Ex.: O agente vende veículo para três pessoas ao mes-
há impropriedade absoluta do meio de execução. (Art. 17 do mo tempo, no entanto, tal bem se encontra em busca e
CP). apreensão por falta de pagamento, existe um ônus judi-
Estelionato e Reparação do Dano: a reparação do cial sobre o patrimônio.
dano não apaga o crime de estelionato, porém, depen- Trata-se de crime de duplo resultado: vantagem + prejuízo,

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dendo do momento que ocorrer a indenização à vítima, punindo-se aquele que pratica um dos núcleos do tipo, silen-
podem ocorrer as seguintes situações: ciando sobre a circunstância.
▷ Se ANTERIOR ao RECEBIMENTO da DENÚNCIA ou • Defraudação de Penhor
QUEIXA, é possível o reconhecimento do arrepen-
III. Defrauda, mediante alienação não consentida
dimento posterior, isso irá diminuir a pena de um a
dois terços, nos termos do Art. 16 CP. pelo credor ou por outro modo, a garantia pigno-
ratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
▷ Se ANTES da SENTENÇA, pode ser aplicada a ate-
nuante genérica de acordo com o Art. 65, III, c, parte Seria a hipótese em que, um devedor, recebendo algo
final, do CP. como penhor (garantia) de um credor, pratica ato de posse
▷ Se POSTERIOR à SENTENÇA, não surte efeito algum. do bem, sem o consentimento dele (credor).
Ex.: Um empresário resolve penhorar seu veículo para le-
Estelionato Privilegiado
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

vantar fundos para o investimento na sua empresa, entre-


§ 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o tanto a empresa que penhorou o veículo decide alugá-lo
prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto para que possa obter lucro.
no Art. 155, § 2º. • Fraude na Entrega de Coisa
O prejuízo de “pequeno valor” deve ser dano igual ou infe-
IV. Defrauda substância, qualidade ou quantidade
rior a um salário mínimo vigente à época do fato.
de coisa que deve entregar a alguém;
Considerações Pode ocorrer tanto em bens móveis quanto imóveis.
Súm. 17, STJ. Quando o falso se exaure no estelionato, Ex.: Uma construtora vende imóveis na planta com di-
sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. mensão de 200m2, contudo, ao cabo das obras, na en-
Empregando a fraude, sem a intenção de se enriquecer e trega da chave aos proprietários, esses constatam que os
só com a intenção de prejudicar alguém, não se trata de este- imóveis só possuem 170m2.
lionato. É necessário buscar a obtenção de indevida vantagem Caso a qualidade, quantidade do objeto seja superior, não
econômica. existe o crime (se o imóvel tivesse 230m2, por exemplo).
Quando o agente, mediante fraude, consegue obter da Deve-se ter em mente que, na hipótese de RELAÇÃO CO- 73
vítima um título de crédito, o delito está consumado? Não, MERCIAL, pode-se estar diante do Art. 175 do CP.
• Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor título, o agente retira todo o numerário depositado
74 de Seguro ou apresenta uma contraordem de pagamento (sus-
V. Destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa tação).
própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou Fraude do cheque ocorre pelo agente que tem a conta
agrava as consequências da lesão ou doença, com encerrada, não é este estelionato do inciso VI, é estelionato
o intuito de haver indenização ou valor de seguro; simples do caput.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

É pressuposto fundamental deste crime, a prévia existên- Considerações


cia de um contrato de seguro em vigor. Caso não exista seguro, Súm. 521, STF. O foro competente para o processo e jul-
será crime impossível, diante da impropriedade absoluta do gamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade
objeto material (Art. 17 do CP). Nessa situação o sujeito pas- da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos,
sivo deste crime será necessariamente a seguradora, sendo é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo
também admissível a hipótese de tentativa. sacado.
Por conseguinte, é um crime FORMAL, ou seja, consuma- Súm. 244, STJ. Compete ao foro do local da recusa pro-
se com a prática da conduta típica (destruir, ocultar, autole- cessar e julgar o crime de estelionato mediante cheque
sionar e agravar), ainda que o sujeito NÃO consiga alcançar a sem provisão de fundos.
indevida vantagem econômica pretendida.
O Art. 70, caput, 1ª parte, CPP diz que a competência é, em
Na hipótese em que a fraude é perpetrada por terceiro, regra, do local da consumação do delito.
sem o conhecimento do segurado, sabendo que esse será o
Súm. 554, STF. O pagamento de cheque emitido sem pro-
beneficiário do valor da apólice, o delito será o previsto no Art.
visão de fundos, APÓS o recebimento da denúncia, não
171, caput, do CP.
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obsta ao prosseguimento da ação penal.


• Fraude no Pagamento por meio de Cheque Desse modo, entende-se que o pagamento de cheque sem
VI. Emite cheque, sem suficiente provisão de fun- previsão de fundos, ATÉ o RECEBIMENTO da DENÚNCIA, impe-
dos em poder do sacado, ou lhe frustra o paga- de o prosseguimento da ação penal, ou seja, é causa extintiva
mento. de punibilidade.
Sujeito Ativo: é um crime próprio (o titular da conta ban- Na hipótese do inciso VI do Art. 171, a tentativa é possível,
cária), ademais, ADMITE coautoria e participação. por exemplo: o correntista dolosamente emite um cheque sem
Sujeito Passivo: a pessoa física ou jurídica que suporta suficiente provisão de fundos, mas seu pai, agindo sem seu
prejuízo patrimonial. conhecimento, deposita montante superior em sua conta cor-
Somente existe o crime, quando provado que, desde o iní- rente antes da apresentação da folha de cheque.
cio, EXISTE a má-fé do agente, ou seja, desde o momento em Segundo STJ, a emissão de cheques como garantia de dí-
que colocou o cheque em circulação ele já não tinha intenção vida (pós-datado), e não como ordem de pagamento à vista,
de honrar seu pagamento; seja pela ausência de suficiência de não constitui crime de estelionato, na modalidade prevista
provisão de fundos, seja pela frustração de seu pagamento. no Art. 171, § 2º, VI, CP. Entretanto, é possível a responsabiliza-
Sendo assim, deve haver a finalidade específica que é a inten- ção do agente pelo estelionato na modalidade fundamental,
ção de fraudar / enganar a vítima. se demonstrado seu dolo em obter vantagem ilícita em pre-
Súm. 246, STF. Comprovado NÃO ter havido fraude, não juízo alheio no momento da emissão fraudulenta do cheque.
se configura crime de emissão de cheque sem fundos. Mas atente-se que, se o agente pós-datar o cheque saben-
Ex.: “A” compra um produto na loja de “B”, no momento da do da inexistência de fundos, há má-fé e configurará o Art. 171,
compra não possui dinheiro na conta. Ocorre que pretendia caput, do CP. Assim, se emissão do cheque é fraudulenta - pre-
realizar o depósito na conta antes que “B” apresentasse a sente a má-fé - caracteriza o Art. 171, caput.
folha de cheque ao banco. Todavia acaba se esquecendo de
realizar o depósito. Desse modo o cheque é devolvido por Apontamentos
falta de fundos. NÃO É CRIME, pois o inciso VI do Art. 171 do ▷ Emitir cheque, encerrando, logo após, a conta: tem-
CP, NÃO admite a forma culposa. se o Art. 171, § 2º, VI, aplicando-se as Súmulas 521 do
Esse crime se consuma no instante em que o banco se STF e 224 do STJ.
nega a efetuar o pagamento do cheque, quer pela ausência ▷ Emitir cheque de conta encerrada: aplica-se o Art. 171,
de fundos, quer pelo recebimento de contraordem (sustação) caput, sem aplicação das súmulas.
expedida pelo correntista, daí resulta o prejuízo patrimonial do ▷ Frustrar pagamento de cheque para não pagamento
ofendido. É crime material. de dívida de jogo é crime? Nos termos do Art. 814
A falsidade ideológica é ante factum impunível, pois quem do CC, as dívidas de jogo não obrigam a pagamen-
assina o cheque é o responsável pela fraude e não outra pessoa. to, mas não se pode recobrar dívida dessa natureza
O crime do inciso VI do Art. 171, pode ser praticado de então paga.
DUAS formas: Causa de Aumento de Pena
▷ O agente coloca o cheque em circulação sem ter di- Art. 171, § 3º, CP. A pena aumenta-se de um terço, se o
nheiro suficiente na conta; crime é cometido em detrimento de entidade de direi-
▷ O agente possui fundos quando da emissão do che- to público ou de instituto de economia popular, assis-
que, no entanto, antes do beneficiário apresentar o tência social ou beneficência.
Fundamenta-se na maior extensão dos danos produzidos, Duplicata Simulada
pois com a lesão ao patrimônio público e ao interesse social Art. 172. Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que
toda coletividade é prejudicada. não corresponda à mercadoria vendida, em quantida-
Súm. 24, STJ. Aplica-se ao crime de estelionato, em que de ou qualidade, ou ao serviço prestado.
figure como vítima entidade autárquica da Previdência Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Social, a qualificadora do § 3º do Art. 171, CP. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele
Não se aplica o § 3º no caso de estelionato contra o Ban- que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de
co do Brasil, considerando que esta não é entidade de Direito Registro de Duplicatas.
Público.
§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido Abuso de Incapazes
contra idoso. (Incluído pela Lei nº 13.228, de 2015) Art. 173. Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessi-
Jogos de Azar: há o crime de estelionato caso seja empregado dade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação
meio fraudulento visando eliminar totalmente a possibilidade de ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer de-
vitória por parte dos jogadores. les à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico,
em prejuízo próprio ou de terceiro:
Ex.: Adulteração de máquina de caça-níquel para que os
apostadores nunca vençam. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Falsidade Documental: o sujeito que falsifica documen- Induzimento à Especulação
to (público ou particular) e, posteriormente, dele se vale Art. 174. Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inex-
para enganar alguém, obtendo vantagem ilícita em prejuízo periência ou da simplicidade ou inferioridade mental
alheio responderia, EM TESE, por dois crimes: estelionato e de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou
falsidade documental (Art. 171, caput, e Art. 297 - documen- à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou
to público ou 298 - documento particular), contudo, nessa devendo saber que a operação é ruinosa:
situação, o crime de estelionato absorve o crime de falsidade Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
documental. É esse o teor da súmula do STJ:
Súm. 17, STJ. Quando o falso se exaure no estelionato,
Fraude no Comércio
sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. Art. 175. Enganar, no exercício de atividade comercial, o
adquirente ou consumidor:
Ocorre o “Princípio da Consumação”, que é quando o crime-
fim (estelionato) absorve o crime-meio (falsidade documental). I. Vendendo, como verdadeira ou perfeita, merca-
Isso desde que a fé pública, o patrimônio ou outro bem jurídico doria falsificada ou deteriorada;
qualquer não possam mais ser atacados pelo documento falsifi- II. Entregando uma mercadoria por outra:
cado e utilizado por alguém como meio fraudulento para obten- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

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ção de vantagem ilícita em prejuízo alheio. § 1º Alterar em obra que lhe é encomendada a qualida-
de ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso,
Competência pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor va-
O Art. 70 do CPP prevê que a competência será, em re- lor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como
gra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração. precioso, metal de outra qualidade:
Verifica-se nesta regra que no estelionato o juízo competente Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
será o do local em que o sujeito obteve a vantagem ilícita em § 2º É aplicável o disposto no Art. 155, § 2º.
prejuízo alheio.
Súm. 107, STJ. Compete à justiça comum estadual pro- Outras Fraudes
cessar e julgar crime de estelionato praticado mediante Art. 176. Tomar refeição em restaurante, alojar-se em
falsificação das guias de recolhimento das contribuições hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

previdenciárias, quando não ocorre lesão à autarquia federal. de recursos para efetuar o pagamento:
É crime de competência da Justiça Estadual. No entanto, Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
será de competência da Justiça Federal quando for praticado Parágrafo único. Somente se procede mediante repre-
em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou suas sentação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias,
entidades autárquicas ou empresas públicas. (Art. 109, IV, CF). deixar de aplicar a pena.
Súm. 48, STJ. Compete ao juízo do local da obtenção da
vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato Fraudes e Abusos na Fundação ou
cometido mediante falsificação de cheque. Esta súmula Administração de Sociedade por Ações
está relacionada ao crime definido pelo estelionato em Art. 177. Promover a fundação de sociedade por ações,
sua modalidade fundamental (caput). fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público
Súm. 521, STF. O foro competente para o processo e julga- ou à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição
mento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da da sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a
emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o ela relativo:
do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato 75
(Ou seja, local da agência bancária) não constitui crime contra a economia popular.
§ 1º Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui Receptação Qualificada
76 crime contra a economia popular: § 1º Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter
I. O diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, ex-
ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balan- por à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito
ço ou comunicação ao público ou à assembleia, faz próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
afirmação falsa sobre as condições econômicas da industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
em parte, fato a elas relativo; § 2º Equipara-se à atividade comercial, para efeito
II. O diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio
qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de irregular ou clandestino, inclusive o exercício em re-
outros títulos da sociedade; sidência.
III. O diretor ou o gerente que toma empréstimo à § 3º Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou
sociedade ou usa, em proveito próprio ou de ter- pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela con-
ceiro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia au- dição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por
torização da assembleia geral; meio criminoso:
IV. O diretor ou o gerente que compra ou vende, Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou
por conta da sociedade, ações por ela emitidas, ambas as penas.
salvo quando a lei o permite; § 4º A receptação é punível, ainda que desconhecido ou
V. O diretor ou o gerente que, como garantia de isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
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crédito social, aceita em penhor ou em caução § 5º Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode
ações da própria sociedade; o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar
VI. O diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o dis-
desacordo com este, ou mediante balanço falso, dis- posto no § 2º do Art. 155.
tribui lucros ou dividendos fictícios; § 6º Tratando-se de bens e instalações do patrimônio
VII. O diretor, o gerente ou o fiscal que, por inter- da União, Estado, Município, empresa concessionária
posta pessoa, ou conluiado com acionista, conse- de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a
gue a aprovação de conta ou parecer; pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro.
VIII. O liquidante, nos casos dos nºs I, II, III, IV, V e Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir,
VII; ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de
produção ou de comercialização, semovente domesti-
IX. O representante da sociedade anônima estran-
cável de produção, ainda que abatido ou dividido em
geira, autorizada a funcionar no País, que pratica os partes, que deve saber ser produto de crime: (Incluído
atos mencionados nos nºs I e II, ou dá falsa informa- pela Lei nº 13.330, de 2016)
ção ao Governo.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 2º Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
anos, e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem
Esse artigo tipifica a conduta do agente que adquire, re-
para si ou para outrem, negocia o voto nas delibera-
cebe, transporta, conduz, dentre outras condutas, com intuito
ções de assembleia geral.
de obter vantagem, produto de crime (furto, roubo, extorsão,
Emissão Irregular de Conhecimento estelionato etc.). É considerado como delito, a conduta de
adquirir (receptação própria), como a de influenciar para que
de Depósito ou “Warrant” uma terceira pessoa adquira esses produtos (receptação im-
Art. 178. Emitir conhecimento de depósito ou warrant, própria).
em desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Classificação
A conduta do caput é considera como um crime comum,
Fraude à Execução pois pode ser praticada por qualquer agente. Ademais, no § 1º,
Art. 179. Fraudar execução, alienando, desviando, des- considera-se um crime PRÓPRIO, pois exige uma qualidade es-
truindo ou danificando bens, ou simulando dívidas: pecífica do agente, devendo ele ser comerciante ou industrial,
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. mesmo que ele exerça de forma clandestina ou ilegal.
Parágrafo único. Somente se procede mediante queixa. Ex.: Um ferro velho que vende peças de veículos furtados.
A receptação é crime acessório, pois depende da existên-
Da Receptação cia do crime anterior. Não é necessário que o crime anterior
Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou seja contra o patrimônio.
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe Ex.: Receptar bem oriundo do crime de corrupção passiva.
ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de É um crime de ação múltipla e conteúdo variado, ou seja,
boa-fé, a adquira, receba ou oculte: a prática de várias condutas contra o mesmo bem, caracteriza
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. crime único (adquire e vende).
O bem imóvel não pode ser objeto material do crime de ▷ Desproporção entre valor e preço;
receptação, somente bens móveis. ▷ Condição de quem a oferece.
Sujeitos do Crime No crime de receptação simples (caput) é necessário que o
agente tenha certeza de que o bem é produto de crime, pois,
Sujeito Ativo (caput): pode ser qualquer pessoa, exceto em caso de dúvida (culpa ou dolo eventual), o agente respon-
quem seja autor ou coautor do crime antecedente (furto, ex- derá pelo crime de receptação culposa (§ 3º).
torsão, roubo).
Sujeito Ativo (da receptação qualificada §1º): é um crime Norma Penal Explicativa
próprio, somente aquela pessoa que desempenha atividade § 4º A receptação é punível, ainda que desconhecido
comercial ou industrial. ou isento de pena o autor do crime de que proveio a
Ex.: Dono de ferro velho de carros e peças usadas. coisa.
▷ Admite a participação. Ainda que ocorra a extinção da punibilidade do crime an-
▷ A atividade deve ser habitual ou contínua. tecedente, haverá o crime de receptação (Art. 180 do CP).
Ex.: A morte do agente do crime anterior, prescrição etc.
Sujeito Passivo: é a vítima do crime anterior, ou seja, don-
de veio o produto do furto. Esse parágrafo dá certa autonomia ao crime de receptação
em relação ao crime antecedente.
Consumação e Tentativa Ex.: Ricardo, menor de idade, subtrai o DVD de um
Receptação Própria (caput): Adquirir, receber - crime ma- veículo e o vende a Pedro, o qual conhece a origem cri-
minosa do bem. Nesta situação, mesmo sendo Ricardo
terial/instantâneo - transportar, conduzir ou ocultar - crime
inimputável, Pedro responderá pelo crime de receptação.
permanente - ambos admitem a tentativa.
Segundo alguns autores, a receptação é crime acessório
Receptação Imprópria (2ª parte do caput): INFLUIR - cri-
e pressupõe outro crime para que exista. Sucede que não há
me FORMAL e UNISSUBSISTENTE - NÃO admite tentativa.
submissão à punição do crime principal para que seja punido,
Descrição ou seja, sua punição é independente.
Se o crime pressuposto está prescrito ou teve extinta a pu-
Própria: adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar,
nibilidade, não desaparece a receptação.
em proveito próprio ou alheio, coisa que SABE ser produto de
crime. Receptação Privilegiada
Imprópria: ou Influir para que terceiro, de boa-fé, a adqui- § 5º Na hipótese do § 3º. Receptação CULPOSA. se o cri-
ra, receba ou oculte: minoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração
Na receptação imprópria, caso o agente influenciador seja as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
o autor do crime antecedente, responderá APENAS por este Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do Art. 155:

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delito, e não pela receptação. Trata-se de post factum impuní- Art. 155, § 2º. Se o criminoso é primário, e é de pequeno
vel (Ex.: “A” coautor do furto de um computador, influi para valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de re-
que “B”, de boa-fé, o compre). clusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços,
Considerações ou aplicar somente a pena de multa.
A expressão “coisa que sabe” é indicativa de dolo direto A receptação privilegiada (2ª parte do §5º) somente se
e implicitamente abrange o dolo eventual? Prevalece que, a aplica à receptação dolosa (própria ou imprópria); culposa e
expressão coisa que sabe indica apenas dolo direto. Assim, o qualificada NÃO!
caput do artigo não pune o dolo eventual. Receptação dolosa (caput)
Imaginando que Rogério venda um carro à Vânia. Após uma Receptação Culposa (§3º) +
semana que vendeu o carro, Vânia fica sabendo que o carro é + Criminoso primário
produto de crime, mas permanece com ele. Houve prática de re-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Criminoso primário +
ceptação? Nesse caso, não se pode esquecer que se trata de dolo + Coisa de pequeno valor
superveniente, e esse não configura o crime. Assim, o dolo super- Tendo em consideração as =
veniente não configura o crime. A má-fé deve ser contemporânea circunstâncias Art. 155, §2º, CP:
a qualquer das condutas previstas no tipo. = Substituir a pena de reclusão pena
Perdão Judicial de detenção;
Receptação Culposa (Juiz deixa de aplicar a pena) Diminuí-la de um a dois terços ou
§ 3º Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou aplicar somente a pena de multa.
pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela con- Causa de Aumento de Pena
dição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por
§6º Tratando-se de bens e instalações do patrimônio
meio criminoso: (Alterado pela Lei nº 9.426, de 1996):
da União, Estado, Município, empresa concessionária
Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa, de serviços públicos ou sociedade de economia mista,
ou ambas as penas. a pena prevista no caput deste artigo APLICA-SE EM
É necessário observar três circunstâncias que indicam ser o DOBRO.
bem produto de crime: Aplicável somente para a receptação SIMPLES (caput). 77
▷ Sua natureza; Não se aplica à receptação qualificada nem à culposa.
É possível a receptação da receptação, por exemplo, “A” É aplicada a imunidade na violência doméstica e familiar
78 adquire um relógio produto de furto e o vende a “B”, este ven- contra a mulher no ambiente familiar?
de o mesmo bem a “C” ciente de sua origem criminosa. 1ª Corrente: para Maria Berenice Dias, jurista brasileira, não
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, se admite imunidade patrimonial na violência doméstica e fa-
ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de miliar contra a mulher, benefício afastado pelo Art. 7º, IV, da
produção ou de comercialização, semovente domesti- Lei nº 11.340/06.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

cável de produção, ainda que abatido ou dividido em 2ª Corrente: diz que a Lei Maria da Penha não vedou, ex-
partes, que deve saber ser produto de crime: pressamente, qualquer imunidade, diferente do Estatuto do
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Idoso que vedou a imunidade para o idoso.
Tem prevalecido a 2ª Corrente.
Disposições Gerais
Imunidades Penais Absolutas 6. Dos Crimes Contra a Dignidade
ou Escusas Absolutórias Sexual
Art. 181. É isento de pena quem comete qualquer dos
crimes previstos neste título, em prejuízo: Dos Crimes Contra a Liberdade Sexual
I. Do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II. De ascendente ou descendente, seja o parentes-
Estupro
co legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
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Trata-se de causa de extinção da punibilidade. permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
No caso do inciso I, abrange-se também a união estável, os Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
separados de fato e ainda as uniões homoafetivas. § 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
Não importa o Regime de comunhão de bens do casamento. grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior
de 14 (catorze) anos:
Ex.: Separação total de bens. Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
No caso do inciso II, não se aplica esta escusa na hipótese § 2ºSe da conduta resulta morte:
de parentesco por afinidade (sogra, genro, cunhado...). Ou- Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
trossim, verifica-se que não há abrangência aos colaterais e
afins. Sujeitos
Sujeito Ativo: na conjunção carnal, podem ser sujeitos ati-
Imunidade Patrimonial Relativa vo e passivo tanto homem quanto mulher. Trata-se de crime
Art. 182. Somente se procede mediante representa- comum.
ção, se o crime previsto neste título é cometido em Da mesma forma, os atos libidinosos diversos, pode ser su-
prejuízo: jeito passivo e ativo qualquer pessoa, ainda que do mesmo sexo.
I. Do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; Sujeito Passivo: trata-se de delito comum, qualquer um
II. De irmão, legítimo ou ilegítimo; pode ser vítima do crime, inclusive a prostituta e a esposa,
III. De tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. quando cometido pelo marido.
Após a entrada em vigor da Lei nº 6.515/77, o desquite não Art. 7º, III, da Lei Maria da Penha: afirma que a violência
existe mais no ordenamento jurídico brasileiro. sexual é forma de violência contra a mulher sim.
Aos ex-cônjuges divorciados não se aplica essa imunidade. Art. 226, II ,do CP: fala que é causa de aumento de pena
No caso dos incisos II e III, é necessária efetiva coabitação, nos crimes sexuais se o crime é cometido por cônjuge
para incidência desta imunidade. ou companheiro:
Este é um dos artigos do Código Penal que mais caem em Conduta
concurso. Portanto, é muito importante decorá-lo! O Art. 213 pune “constranger”, que é o núcleo do tipo.
Inaplicabilidade das Imunidades Esse constrangimento deve se dar mediante violência ou
grave ameaça.
Art. 183. Não se aplica o disposto nos dois artigos an-
É necessário observar que, a violência é uma das formas
teriores:
de se executar o crime. A outra forma é a grave ameaça, e aqui
I. Se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em é necessário observar que não basta a ameaça, devendo essa
geral, quando haja emprego de grave ameaça ou ser grave.
violência à pessoa; O constrangimento se dá para a prática de conjunção carnal
II. Ao estranho que participa do crime; ou pela prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
III. Se o crime é praticado contra pessoa com idade Abrange o beijo lascivo? Beijo lascivo, de acordo com Nel-
igual ou superior a 60 (sessenta) anos. son Hungria é aquele beijo que causa desconforto para quem
Este inciso foi incluído pelo Estatuto do Idoso (Lei nº olha. É interessante observar que beijo lascivo já foi conside-
10.741/03). Preste muita atenção, pois este é um dos dispositi- rado atentado violento ao pudor por conta dessa expressão
vos deste assunto que mais cai em concurso público. porosa (atos libidinosos).
Assim, atos libidinosos devem ser considerados os atos de Conduta
natureza sexual que atentam, de forma intolerável e relevante, Este artigo visa punir o ato de ter conjunção carnal ou pra-
contra a dignidade sexual da vítima. ticar atos libidinosos diversos da conjunção carnal, mediante:
Aqui se indaga se o contato físico é ou não dispensável ї Fraude: quando, por exemplo, há o relacionamento amo-
para a prática de estupro. roso com o irmão gêmeo.
▷ 1ª Corrente: O contato físico entre os sujeitos é in- ї Outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação
dispensável. de vontade da vítima: quando ocorre por exemplo, o te-
▷ 2ª Corrente: diz que o contato físico entre os sujeitos mor reverencial, a embriaguez moderada.
é dispensável. Ex. obrigar a vítima a se masturbar. A fraude utilizada na execução do crime não pode anular
Mas atente-se que aqui deve haver resistência da a capacidade de resistência da vítima, caso em que estará
vitima. configurado o delito de estupro de vulnerável.
ї Tipo subjetivo: o crime é punido a título de dolo. Ex.: boa noite Cinderela.
▷ Consumação e tentativa: Consumação e Tentativa
Consuma-se o delito com a prática do ato de libidinagem, O crime consuma-se com a prática do ato de libidinagem
que é gênero de conjunção carnal e atos libidinosos, visado pelo agente, sendo admissível a tentativa.
pelo agente.
Trata-se de delito plurissubsistente, admitindo tentativa. Assédio Sexual
A depender do caso concreto, já entendeu o STJ que po- Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter
derá haver o concurso de crimes, levando-se em conta os vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se
momentos da prática de cada conduta. o agente da sua condição de superior hierárquico ou
ї Qualificadora Idade da Vítima: ascendência inerente ao exercício de emprego, cargo
ou função.
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior
de 14 (catorze) anos: Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.224,
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. de 15 de 2001)
Essa questão deve ser analisada antes e depois da Lei § 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é
nº12.015/2009. menor de 18 (dezoito) anos.

Antes da Lei 12.015/09 Após a Lei 12.015/09


Objetividade Jurídica
Trata-se de delito pluriofensivo, resguardando a dignidade
Atualmente, trata-se de qual-
A idade da vítima era mera circun- ificadora prevista no §1º, cuja
sexual do indivíduo e a liberdade de exercício do trabalho, o
direito de não ser discriminado.

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stância judicial a ser analisada pelo pena varia de 08 a 12 anos. É
juiz no momento do art. 59 do CP. qualificadora irretroativa, vez Sujeitos
que maléfica.
Sujeito Ativo: só pode ser praticado por superior hierár-
quico ou ascendente em relação de emprego, cargo ou função.
Estavam previstos no Art. 223 do CP. Previu o Art. 213, §1º que:
Se da violência resultar lesão grave, Se da conduta resultar lesão Sujeito Passivo: é o subalterno ou subordinado do autor.
a pena era de 08 a 12 anos. grave: a pena será de 08 a
Nessa hipótese, a grave ameaça não 12 anos.
Conduta
estava abrigada. Se da conduta resultar morte, É a insistência inoportuna de alguém em posição privile-
A expressão “do fato” amplia exag- nos termos do §2, a pena é de giada, que usa dessa vantagem para obter favores sexuais de
eradamente o espectro punição. 12 a 30 anos. um subalterno.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Considerações
Tratando-se de resultado qualificador morte, o agente res- Alguns autores ditam que não é crime a mera relação entre
ponderá pelos dois crimes, e, em se tratando de morte dolosa, o docente e aluno, por ausência entre os dois sujeitos do vínculo
agente irá responder perante o Tribunal do Júri. do trabalho.
Trata-se de crime habitual, logo é imprescindível a prática
Violação Sexual Mediante Fraude de reiterados atos constrangedores. Neste caso, não se admite
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato li- tentativa.
bidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio
que impeça ou dificulte a livre manifestação de vonta- Dos Crimes Sexuais Contra Vulnerável
de da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. Sedução
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de Este crime foi revogado pelo Art. 217.
obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qual- Estupro de Vulnerável
quer pessoa, contra qualquer pessoa, devendo ser observado que, Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato 79
no que tange à conjunção carnal. libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos; § 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, constitui efeito
80 § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações obrigatório da condenação a cassação da licença de
descritas no caput com alguém que, por enfermidade localização e de funcionamento do estabelecimento.
ou deficiência mental, não tem o necessário discer- Do Rapto
nimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
outra causa, não pode oferecer resistência. (Incluído Este crime foi revogado pelos Arts. 219 a 222.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

pela Lei nº 12.015, de 2009)


§ 2º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Disposições Gerais
Este crime foi revogado pelos Arts. 223 e 224.
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. Ação Penal
§ 4º Se da conduta resulta morte: Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. Título, procede-se mediante ação penal pública condi-
cionada à representação.
Corrupção de Menores Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a ação penal pública incondicionada se a vítima é me-
satisfazer a lascívia de outrem: nor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. ї Regra: ação penal pública condicionada a representação
da vítima.
Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.015,
de 2009). ї Exceção: Vítima menor de 18 anos: ação penal pública
incondicionada.
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Sujeitos ї Exceção: Vítima vulnerável: ação penal pública incondi-


Sujeito Ativo: qualquer pessoa. cionada.
Sujeito Passivo: somente a pessoa menor de 14 anos. Aumento de Pena
Consumação e Tentativa Art. 226. A pena é aumentada:
Consuma-se com a prática do ato que importa na satisfa- I. de quarta parte, se o crime é cometido com o
ção da lascívia de outrem, independentemente deste conside- concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
rar-se satisfeito. Admite tentativa. II. de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou
madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
Satisfação de Lascívia Mediante curador, preceptor ou empregador da vítima ou por
Presença de Criança ou Adolescente qualquer outro título tem autoridade sobre ela;
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de
14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção
Do Lenocínio e do Tráfico de Pessoa
carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascí- Para Fim de Prostituição ou Outra
via própria ou de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Forma de Exploração Sexual
Favorecimento da Prostituição ou de Mediação Para Servir a Lascívia de Outrem
Art. 227. Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
Outra Forma de Exploração Sexual de Pena - reclusão, de um a três anos.
Criança ou Adolescente ou de Vulnerável § 1º Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, des-
outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 cendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou
(dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiên- curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de
cia mental, não tem o necessário discernimento para educação, de tratamento ou de guarda:
a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
abandone: § 2º Se o crime é cometido com emprego de violência,
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. grave ameaça ou fraude:
§ 1º Se o crime é praticado com o fim de obter vanta- Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena cor-
gem econômica, aplica-se também multa. respondente à violência.
§ 2º Incorre nas mesmas penas: § 3º Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se
I. quem pratica conjunção carnal ou outro ato libi- também multa.
dinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior
de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput Favorecimento da Prostituição ou
deste artigo; Outra Forma de Exploração Sexual
II. o proprietário, o gerente ou o responsável pelo Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra
local em que se verifiquem as práticas referidas no forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou difi-
caput deste artigo. cultar que alguém a abandone:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, ir- Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
mão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, I. vende, distribui ou expõe à venda ou ao público
preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, qualquer dos objetos referidos neste artigo;
por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção II. realiza, em lugar público ou acessível ao público,
ou vigilância: representação teatral, ou exibição cinematográfica
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo,
§ 2º Se o crime é cometido com emprego de violência, que tenha o mesmo caráter;
grave ameaça ou fraude: III. realiza, em lugar público ou acessível ao públi-
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena co, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter
correspondente à violência. obsceno.
§ 3º Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se
também multa.
Disposições Gerais
Aumento de Pena
Casa de Prostituição
Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, esta- aumentada:
belecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou
I. (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.015, de
não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietá-
rio ou gerente: 2009).
II. (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.015, de
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
2009).
Rufianismo III. de metade, se do crime resultar gravidez; e
Art. 230. Tirar proveito da prostituição alheia, parti- IV. de um sexto até a metade, se o agente transmite
cipando diretamente de seus lucros ou fazendo-se à vitima doença sexualmente transmissível de que
sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: sabe ou deveria saber ser portador.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes defini-
dos neste Título correrão em segredo de justiça.
§ 1º Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14
(catorze) anos ou se o crime é cometido por ascenden- Art. 234-C. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.015, de
te, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, com- 2009).
panheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador
7. Dos Crimes Contra a Fé Pública

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da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra for-
ma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Da Moeda Falsa
§ 2º Se o crime é cometido mediante violência, grave Art. 289. Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda
ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificul- metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no
te a livre manifestação da vontade da vítima: estrangeiro:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
da pena correspondente à violência. § 1º Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria
ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca,
Tráfico Internacional de Pessoa cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moe-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

da falsa.
para Fim de Exploração Sexual
§ 2º Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira,
Este crime foi revogado pelos Arts. 231 a 232. moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois
de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de
Do Ultraje Público ao Pudor seis meses a dois anos, e multa.
Ato Obsceno § 3º É punido com reclusão, de três a quinze anos, e
multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fis-
Art. 233. Praticar ato obsceno em lugar público, ou
aberto ou exposto ao público: cal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza
a fabricação ou emissão:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
I. De moeda com título ou peso inferior ao deter-
Escrito ou Objeto Obsceno minado em lei;
Art. 234. Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob II. De papel-moeda em quantidade superior à au-
sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de torizada.
exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa § 4º Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circu- 81
ou qualquer objeto obsceno: lar moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada.
Modos de Falsificar instrumento ou qualquer objeto especialmente desti-
82 nado à falsificação de moeda:
Fabricando a moeda (manufaturando, fazendo a cunha-
gem): o próprio agente produz (cria) a moeda. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Alterando (modificando, adulterando): utilizando moe- Emissão de Título ao Portador
da verdadeira (autêntica), a altera (transforma cédula de dois
reais em cem reais).
sem Permissão Legal
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 292. Emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, ficha,


Considerações vale ou título que contenha promessa de pagamento em
O objeto material também pode ser a moeda estrangeira, dinheiro ao portador ou a que falte indicação do nome
desde que tenha curso legal no Brasil, ou no país de origem, da pessoa a quem deva ser pago:
ou seja, quando circulada não pode ser recusada como meio Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
de pagamento. Parágrafo único. Quem recebe ou utiliza como dinheiro
Fragoso, ensina que inexistirá o crime quando houver qualquer dos documentos referidos neste artigo incor-
adulteração para que o valor nominal seja diminuído em rela- re na pena de detenção, de quinze dias a três meses,
ção ao verdadeiro. ou multa.
É imprescindível, além das características apontadas, que
a falsificação seja convincente, isto é, capaz de iludir os desti- Da Falsidade de Títulos e
natários da moeda. Outros Papéis Públicos
Nem sempre a falsificação grosseira constituirá fato atípi-
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co, já que este ocorrerá somente quando não haja qualquer Falsificação de Papéis Públicos
possibilidade de iludir alguém. Do contrário, poderá se confi- Art. 293. Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
gurar o crime de estelionato. Este, aliás, é o entendimento do I. Selo destinado a controle tributário, papel selado
Superior Tribunal de Justiça: ou qualquer papel de emissão legal destinado à ar-
Súm. 73. A utilização de papel-moeda grosseiramente recadação de tributo;
falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, II. Papel de crédito público que não seja moeda de
de competência da Justiça Estadual. curso legal;
III. Vale postal;
Crimes Assimilados ao de Moeda Falsa IV. Cautela de penhor, caderneta de depósito de
Art. 290. Formar cédula, nota ou bilhete representativo caixa econômica ou de outro estabelecimento
de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes mantido por entidade de direito público;
V. Talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro do-
verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou bilhete reco- cumento relativo a arrecadação de rendas públicas
lhidos, para o fim de restituí-los à circulação, sinal indica- ou a depósito ou caução por que o poder público
tivo de sua inutilização; restituir à circulação cédula, nota seja responsável;
ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos para o fim VI. Bilhete, passe ou conhecimento de empresa de
de inutilização: transporte administrada pela União, por Estado ou
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. por Município:
Parágrafo único. O máximo da reclusão é elevado a doze Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
anos e multa, se o crime é cometido por funcionário que § 1º Incorre na mesma pena quem:
trabalha na repartição onde o dinheiro se achava recolhi- I. Usa, guarda, possui ou detém qualquer dos pa-
do, ou nela tem fácil ingresso, em razão do cargo.(Vide péis falsificados a que se refere este artigo;
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II. Importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, em-
Observações presta, guarda, fornece ou restitui à circulação selo
Neste delito, da mesma forma, é necessário que a forma- falsificado destinado a controle tributário;
ção da moeda com fragmentos e a supressão do sinal indicati- III. Importa, exporta, adquire, vende, expõe à ven-
vo sejam capazes de iludir. da, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
Não é necessário o dano para consumar-se o delito, basta empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma,
a mera formação da cédula a partir dos fragmentos, com a su- utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício
pressão do sinal identificador de recolhimento. de atividade comercial ou industrial, produto ou
Há autores que ditam que, ao contrário do que ocorre com o mercadoria:
crime de moeda falsa (Art. 298, CP), a aquisição e o recebimento a) em que tenha sido aplicado selo que se destine
da moeda nas condições descritas no Art. 290, caput, não foram a controle tributário, falsificado;
elevados à categoria de crime principal, subsistindo o delito de b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação
receptação. tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação.
Petrechos para Falsificação de Moeda § 2º Suprimir, em qualquer desses papéis, quando le-
Art. 291. Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gítimos, com o fim de torná-los novamente utilizáveis,
gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Ex.: Uma impressora de alta capacidade que tenha con-
§ 3º Incorre na mesma pena quem usa, depois de alte- dições de imprimir cédulas falsas. Contudo, depende - lo-
rado, qualquer dos papéis a que se refere o parágrafo gicamente - do contexto fático em que se apresente.
anterior.
§ 4º Quem usa ou restitui à circulação, embora recebido
Da Falsidade Documental
de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou altera- Falsificação do Selo ou Sinal Público
dos, a que se referem este artigo e o seu § 2º, depois de
Art. 296. Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
conhecer a falsidade ou alteração, incorre na pena de
detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. I. Selo público destinado a autenticar atos oficiais
da União, de Estado ou de Município;
§5º Equipara-se a atividade comercial, para os fins do
inciso III do § 1º, qualquer forma de comércio irregular II. Selo ou sinal atribuído por lei à entidade de di-
ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou reito público, ou a autoridade, ou sinal público de
outros logradouros públicos e em residências. tabelião:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Esse artigo do Código Penal traz a tipificação da conduta
daquele agente que pratica atos de falsificação de papéis pú- § 1º Incorre nas mesmas penas:
blicos, ou seja, aqueles que são chancelados pelo Estado como I. Quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
sendo verdadeiros. Dessa forma, o crime possui diversas con- II. Quem utiliza indevidamente o selo ou sinal ver-
dutas típicas, mas a principal está no caput, pois pune quem: dadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito pró-
falsifica ou adultera O documento. prio ou alheio.
De acordo com o § 1º, pune-se com a mesma pena do III. Quem altera, falsifica ou faz uso indevido de
caput - reclusão de dois a oito anos - quem guarda, possui marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros sím-
ou detém quaisquer dos papéis que constam no inciso I ao bolos utilizados ou identificadores de órgãos ou
VI do caput. Ademais, a falsificação engloba nos incisos II e III entidades da Administração Pública.
deste parágrafo, aplica punição às outras condutas ligadas, es- § 2º Se o agente é funcionário público, e comete o cri-
pecificamente, à falsificação de selo destinado ao controle tri- me prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de
butário, ou então, de produtos ou mercadorias sobre os quais sexta parte.
incide o controle tributário. Esse delito visa incriminar o agente que falsifica SELOS ou
Em relação ao § 2º, pune-se quem efetuou a supressão SINAIS públicos - objetos que atestam um documento como
do sinal indicativo de inutilização com intenção de tornar no- verdadeiro - por meio da fabricação (contrafação - próprio
vamente utilizável. agente fabrica um selo ou sinal falso), ou pela alteração (mo-
dificação de selo ou sinal verdadeiro).
O § 3º diz que é punido quem USA, desde que esse não

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seja o mesmo autor que suprimiu o documento, pois senão, Tais itens - selo ou sinal - não são considerados docu-
mentos públicos, e sim, objetos que o criminoso utiliza para
responderá pela caput.
falsificação.
O § 4º é a figura privilegiada do Art. 293, pois pune quem Ex.: Carimbo, selo de identificação etc.
recebe de boa-fé e repassa o documento falsificado após re- A falsidade tipificada nesse artigo é MATERIAL, ou seja, a
conhecer a sua falsidade. forma do documento é modificada (alteração), ou fabricada
Por fim, o § 5º trata da equiparação das condutas reco- (contrafação).
nhecidas como atividade comercial expressa no Art. 1º, inciso
III, exercidas em locais irregulares e clandestinos, em locais pú- Falsificação de Documento Público
blicos ou até mesmo se praticada dentro da própria residência Art. 297. Falsificar, no todo ou em parte, documento pú-
do agente. blico, ou alterar documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Petrechos de Falsificação
§ 1º Se o agente é funcionário público, e comete o cri-
Art. 294. Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar me prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de
objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer sexta parte.
dos papéis referidos no artigo anterior: § 2º Para os efeitos penais, equiparam-se a documento pú-
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. blico o emanado de entidade paraestatal, o título ao por-
Art. 295. Se o agente é funcionário público, e comete o tador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade
crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
sexta parte. § 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz in-
A figura típica do Art. 294, prevê a conduta do agente que serir:
possua objetos que tenham como fim específico a falsificação I. Na folha de pagamento ou em documento de
de quaisquer papéis públicos mencionados no Art. 293 do Có- informações que seja destinado a fazer prova pe-
digo Penal. rante a previdência social, pessoa que não possua
Caso esse objeto possua a capacidade de falsificar, mas sua a qualidade de segurado obrigatório;
função principal não é esta, a sua posse não será considerada II. Na Carteira de Trabalho e Previdência Social do 83
como objeto (petrecho). empregado ou em documento que deva produzir
efeito perante a previdência social, declaração falsa 171), estelionato, do Código Penal, visto que, a conduta visa
84 ou diversa da que deveria ter sido escrita; obter vantagem indevida mediante o uso de fraude. Sendo
III. Em documento contábil ou em qualquer outro assim, a falsificação é “meio” (uso da fraude) para o fim (a
documento relacionado com as obrigações da em- vantagem), que é o crime de estelionato. Por conseguinte, de
presa perante a previdência social, declaração falsa acordo com o princípio da consunção, o crime mais grave ab-
ou diversa da que deveria ter constado. sorve o menos grave.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos do- Súm. 17, STJ. Quando o falso se exaure no estelionato,
cumentos mencionados no § 3º, nome do segurado sem mais potencialidade lesiva, é por ele absorvido.
e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do
contrato de trabalho ou de prestação de serviços.
Falsificação de Documento Particular
Para provar a materialidade do crime, é INDISPENSÁVEL a Art. 298. Falsificar, no todo ou em parte, documento
realização de exame de corpo de delito, direto ou indireto, no particular ou alterar documento particular verdadeiro:
documento, NÃO podendo supri-lo pela confissão do acusado Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
(Art. 158 do CPP), ou seja, pela perícia no documento. Este artigo do Código Penal tem por objetivo tipificar a
Este título do Código Penal tem por objetivo tipificar a con- conduta do agente que falsifica, total ou parcialmente, docu-
duta do agente que falsifica, total ou parcialmente, documen- mento particular, bem como aquele que altera documentos
to público, bem como aquele que altera documentos públicos particulares verdadeiros com intenção de obter vantagem ilí-
verdadeiros com intenção de obter vantagem ilícita. cita.
A falsidade tipificada nesse artigo é material, ou seja, a Para configurar o crime de falsificação, faz-se necessário
forma do documento é modificada (alteração), ou falsificada que esse tenha capacidade de ludibriar terceiros, pois a falsifi-
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(contrafação), total ou parcialmente. cação ou modificação grosseira ou sem potencialidade lesiva


Documento para o Direito Penal deve possuir as seguintes não configura o crime, ou seja, de acordo com o Art. 17 do CP
características: é um crime impossível por absoluta impropriedade do objeto,
podendo configurar estelionato.
▷ Forma escrita;
Nessa situação, o documento em si é falso, porém os da-
▷ Elaborado por pessoa determinada;
dos podem ser verdadeiros, pois o agente que emite/falsifica
▷ Conteúdo revestido de relevância jurídica; o documento, não tem competência para fazê-lo.
▷ Possuir eficácia probatória.
▷ Portanto, documento público é aquele confecciona- Considerações
do pelo funcionário público, nacional ou estrangeiro, Se a falsidade do documento é material, o agente respon-
no desempenho de suas atividades, em conformi- de pelo Art. 298 do CP, falsificação de documento particular,
dade com as formalidades legais. caso seja ideológica, o agente responderá pelo Art. 299 do CP,
Caso a agente seja funcionário público, responde com au- falsidade ideológica.
mento de pena de sexta parte, conforme preceitua o §1º desse Caso o agente que utilize o documento falsificado ou mo-
artigo. dificado seja o mesmo que o falsificou, responderá pelo crime
A fotocópia (xerox/traslado), sem autenticação, não tem do Art. 304 do CP, uso de documento particular falsificado.
eficácia probatória. Desse modo, não é classificado como do- Documento público nulo, se torna documento particular.
cumento público para fins penais. Atos públicos nulos, feitos por oficiais incompetentes, são do-
§ 2º Para os efeitos penais, equiparam-se a documento cumentos particulares.
público o emanado de entidade paraestatal, o título ao Na hipótese de documento particular, com firma reconheci-
portador ou transmissível por endosso, as ações de so- da em cartório, temos um documento público? Falsificando os
ciedade comercial, os livros mercantis e o testamento escritos do documento, o delito será o do Art. 298 do CP. Porém,
particular. se a conduta for para falsificar o selo do tabelião, o delito é o do
Entidades paraestatais, integrantes do terceiro setor, são Art. 297.
as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que Na hipótese em que um indivíduo falsifica um docu-
atuam ao lado e em colaboração com o Estado (ex.: SESC, SE- mento particular com o objetivo de praticar o CRIME DE
NAI, SESI, SENAC e ONGs). SONEGAÇÃO FISCAL, responderá pelo crime previsto no
Título ao portador: cheque ao portador (nominal). Art. 1º, III e IV, da Lei nº 8.137/90.
Título transmissível por endosso: cheque, duplicata, nota Falsidade Ideológica
promissória, letra de câmbio.
Art. 299. Omitir, em documento público ou particular,
Ações de sociedade comercial: sociedades anônimas, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou
sociedades em comandita por ações. fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia
Livros mercantis: destinados a registrar as atividades em- ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obri-
presariais. gação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
Testamento particular. relevante:
Na hipótese em que o agente que faz uso do documento Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o docu-
falsificado ou modificado seja o mesmo que falsificou - os pa- mento é público, e reclusão de um a três anos, e multa,
péis públicos - esse delito (Art. 297) será absorvido pelo (Art. se o documento é particular.
Parágrafo único. Se o agente é funcionário público, e Esse delito tipifica a conduta do funcionário público que,
comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a fal- devido às qualidades que seu cargo propicia, atesta ou certi-
sificação ou alteração é de assentamento de registro fica aquilo que sabe ser falso, em benefício de terceiros, para
civil, aumenta-se a pena de sexta parte. que obtenham vantagem, isenção ou ônus de obrigações junto
Diferentemente dos Arts. 297 e 298, que tratam da falsi- à Administração Pública (caput).
dade material, em que o conteúdo pode ser verdadeiro, mas o A certidão ou atestado são verdadeiros, porém os dados
documento em si é falso, esse artigo aborda a falsidade ideo- informados para que tal pessoa obtenha vantagem sobre a
Administração são falsos.
lógica, em que o documento é verdadeiro, mas o conteúdo, a
ideia é falsa. A falsidade ideológica também é conhecida como Falsidade Material de
falso ideal, falso intelectual ou falso moral. Atestado ou Certidão
Falsidade Material Falsidade Ideológica § 1º Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão,
A forma do documento é falsa, ou alterar o teor de certidão ou de atestado verdadeiro,
A forma do documento é verda- para prova de fato ou circunstância que habilite alguém
porém os dados podem ser verda-
deira, mas a ideia contida é falsa. a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de
deiros.
caráter público, ou qualquer outra vantagem:
Núcleos do Tipo Pena - detenção, de três meses a dois anos.
Omitir: o funcionário público no momento da elaboração § 2º Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se,
de um documento, deixa de inserir (omissão) informação que além da pena privativa de liberdade, a de multa.
nesse deveria constar. É a falsidade imediata. Configura também a conduta do agente que, ao contrário
Inserir: aquele que insere no documento público ou par- de atestar ou certificar, falsifica atestado, certidões ou altera o
ticular informação falsa ou diversa que deveria ser escrita. É a seu conteúdo em benefício de terceiros que desejam obter as
falsidade imediata. mesmas vantagens já mencionadas no caput (§ 1º).
Fazer inserir: é o particular que fornece a informação falsa De acordo com o § 2º, caso a conduta tenha o fim de ob-
ao funcionário público competente, que por erro a insere no tenção de lucro, além da pena de restrição de liberdade, o
documento verdadeiro. É chamada falsidade mediata. agente será apenado também com o pagamento de multa.
Caso o agente que utilizar o documento falsificado ou mo-
dificado seja o mesmo, esse delito (Art. 299) será absorvido Falsidade de Atestado Médico
pelo Art. 171, estelionato, do Código Penal, visto que a conduta Art. 302. Dar o médico, no exercício da sua profissão,
busca obter vantagem indevida mediante o uso de fraude. atestado falso:
Para que seja configurado o crime de falsidade ideológica, Pena - detenção, de um mês a um ano.
o agente deve ter um especial fim de agir, ou seja, um dolo Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de

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específico, de prejudicar um direito, criar uma obrigação ou lucro, aplica-se também multa.
alterar a verdade sobre um fato. O artigo visa punir o médico que, no exercício da sua pro-
fissão, fornece atestado falso independente de ele ser espe-
Falso Reconhecimento de Firma ou Letra cialista ou não na área, imputando diagnóstico falso ao pacien-
Art. 300. Reconhecer, como verdadeira, no exercício de te que o solicita.
função pública, firma ou letra que o não seja: NÃO é necessário que o médico seja especialista da área a
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o do- qual ele tenha fornecido o atestado falso.
cumento é público; e de um a três anos, e multa, se o Ex.: Um médico cirurgião plástico, atesta um distúrbio
documento é particular. psiquiátrico para que a pessoa consiga obter licença ou
Esse crime é classificado como próprio, pois somente pode qualquer alguma outra vantagem. Embora ele não seja
ser cometido por funcionário público no exercício da função, neurologista, responderá pelo crime de falso atestado.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ou seja, aquele que tem a competência para o reconhecimento. Caso o médico seja funcionário público, responderá pelo
O delito configura-se quando o funcionário público reco- crime do Art. 301, caput do Código Penal.
nhece (atesta, afirma), como verdadeiro a firma ou letra que Sendo a conduta realizada com o objetivo de obter lucros,
sabe ser falsa. além da pena de detenção, será aplicada também uma multa
Não admite a modalidade culposa, porém o agente pode- (parágrafo único).
rá vir a responder na esfera administrativa e civil. (STJ. RMS
26.548/PR - 2010) Reprodução ou Adulteração
Certidão ou Atestado de Selo ou Peça Filatélica
Art. 303. Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica
Ideologicamente Falso que tenha valor para coleção, salvo quando a reprodu-
Art. 301. Atestar ou certificar falsamente, em razão de ção ou a alteração está visivelmente anotada na face
função pública, fato ou circunstância que habilite al- ou no verso do selo ou peça:
guém a obter cargo público, isenção de ônus ou de ser- Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
viço de caráter público, ou qualquer outra vantagem: Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, para fins 85
Pena - detenção, de dois meses a um ano. de comércio, faz uso do selo ou peça filatélica.
Artigo revogado pelo Art. 39 da Lei 6.538/78 que trata do É necessário que o documento suprimido, o alterado ou
86 mesmo crime. ocultado tenha seu valor probatório insubstituível, ou seja,
caso seja cópia do documento original, NÃO estará configu-
Uso de Documento Falso rado o crime.
Art. 304. Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados O autor deve agir com finalidade específica, qual seja, exe-
ou alterados, a que se referem os Arts. 297 a 302: cutar o crime em benefício próprio ou de outrem, ou em pre-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. juízo alheio (ausente esse elemento, outro poderá ser o delito).
O crime de documento falso é um crime classificado dou-
trinariamente como remetido e acessório. De Outras Falsidades
Crime remetido: pois tem a conduta típica descrita em ar- Falsificação do Sinal Empregado
tigos diferentes: Arts. 297 a 302, ou seja, é quando o agente
efetivamente faz o uso dos documentos mencionados nesses no Contraste de Metal Precioso
artigos. ou na Fiscalização Alfandegária,
Crime acessório: pois necessita da prática de crime an- ou para Outros Fins
terior - Art. 297 a 302 - para caracterizar-se crime. Antes de
ocorrer efetivamente o uso do documento falso, já houve um Art. 306. Falsificar, fabricando-o ou alterando-o, marca
crime anterior, consumado no momento em que esse foi fabri- ou sinal empregado pelo poder público no contraste de
cado, alterado, modificado etc. metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou usar
marca ou sinal dessa natureza, falsificado por outrem:
Apontamentos Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
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A consumação ocorre no momento da utilização de quais-


quer dos documentos falsificados dos Arts. 297 a 302 do Có- Falsa Identidade
digo Penal. Art. 307. Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa iden-
É necessário que haja o uso, não sendo suficiente a simples tidade para obter vantagem, em proveito próprio ou
alusão ao documento falso. alheio, ou para causar dano a outrem:
Para configurar o instituto da tentativa, irá depender de Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o
que maneira que o crime de uso de documento falso seja pra- fato não constitui elemento de crime mais grave.
ticado. Esse delito torna típica a conduta de atribuir, para si pró-
No caso do comento ser mal feito e a falsidade seja eviden- prio ou parar terceira pessoa, falsa identidade para obtenção
te (GROSSEIRA), afasta a falsidade do documento. de vantagem ou causar dano a terceiro, na tentativa de incri-
miná-lo, por exemplo:
Apesar de haver corrente sustentando que, para a carac-
Da leitura do verbo nuclear “atribuir” conclui-se que o cri-
terização do crime basta que o escrito saia da esfera de dis-
me é comissivo (praticado por ação), não ocorrendo a hipótese
ponibilidade do agente, ainda que empregado em finalidade
em que o agente silencia acerca da identidade equivocada que
diversa daquela a que se destinava, de acordo com a maioria,
lhe atribuem.
é imprescindível que o documento falso seja utilizado em sua
Não ocorre o uso de documento falso (Art. 304 do CP),
específica destinação probatória.
quando o agente somente atribui - verbalmente - ser outra
Agente deve apresentar de forma espontânea o docu- pessoa, deve ser capaz de iludir.
mento a terceiros. A doutrina vem aceitando que, se o agente O crime de falsa identidade é um CRIME SUBSIDIÁRIO, ou
for solicitado a entregar por agente policial, o crime persiste. seja, caso venha a ser utilizado para prática de um crime mais
Ex.: Em uma blitz de trânsito, quando o condutor apre- grave, será atribuída a pena desse. Seria o caso do estelionato
senta uma Carteira Nacional de Habilitação ao ser essa (Art. 171 do CP), por exemplo, pois o agente utiliza-se da frau-
solicitada pelo agente público. de da falsa identidade para obtenção de vantagem. Ocorre o
Caso o agente que utilize o documento falsificado ou mo- chamado princípio da consunção, em que o crime fim (estelio-
dificado seja o mesmo que praticou a falsificação, responderá nato) absorve o crime meio (falsa identidade).
apenas pelo crime da falsificação do documento.
Uso de Documento de Identidade Alheia
Supressão de Documento Art. 308. Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor,
Art. 305. Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício caderneta de reservista ou qualquer documento de iden-
próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, docu- tidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize,
mento público ou particular verdadeiro, de que não documento dessa natureza, próprio ou de terceiro:
podia dispor: Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o do- o fato não constitui elemento de crime mais grave.
cumento é público, e reclusão, de um a cinco anos, e Esse crime descreve a conduta do agente que utiliza de
multa, se o documento é particular. documento - verdadeiro - de uma terceira pessoa para se pas-
O crime desse artigo, tem por objetivo tipificar a conduta sar por ela, sendo conhecido como o “Uso de documento de
do agente que dispõe de documento público ou particular ver- identidade alheia”. Se utilizar documento falso é o Art. 304 CP.
dadeiro, quando não o podia, com intuito de destruir, suprimir O agente efetivamente utiliza o documento alheio como se fos-
ou ocultar informações na intenção de causar prejuízo para se próprio, sendo que a simples posse de documentos de terceiro
outrem ou vantagem para si ou para terceiros. não caracteriza o crime.
É punido tanto o agente que fez o uso do documento alheio, O §2º é uma figura equiparada. Esse parágrafo versa u ma
quanto a pessoa que o emprestou - cedeu - para que aquele o forma própria de crime, podendo ser cometido somente por
utiliza-se. funcionário público que tenha competência legítima para tais
O crime de falsa identidade é subsidiário, ou seja, caso condutas.
constituir crime mais grave será atribuído ao autor o crime Considerações
mais grave. Desse modo, se o agente USAR documento falso,
A alteração de placa com utilização de fita adesiva é obje-
embora em nome de 3ª pessoa, (Ex.: colar sua fotografia em
to de controvérsia. Para alguns autores, não se apresentando
um documento de identidade alheio) responderá pelo crime adulteração concreta e definitiva com objetivo de fraudar a
de uso de documento falso (Art. 304, CP), haja vista que a propriedade, o licenciamento ou o registro do veículo, trata-se
substituição de fotografia em documento público caracteriza de simples infração administrativa. Para outros doutrinadores,
o crime de falsificação de documento público (Art. 297, CP). há o crime do Art. 311 do CP.
Fraude de Lei Sobre Estrangeiro Guilherme Nucci, ensina que a falsificação grosseira não
constitui o delito, mas mera infração administrativa
Art. 309. Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer
Ex.: O agente modifica a placa do carro utilizando uma
no território nacional, nome que não é o seu:
fita isolante preta.
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Atribuir a estrangeiro falsa qualidade Das Fraudes em Certames
para promover-lhe a entrada em território nacional:
(Acrescentado pela L-009.426-1996)
de Interesse Público
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Fraudes em Certame de Interesse Público
De acordo com Mirabete, a expressão território nacional Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o
deve ser tomada no seu sentido jurídico, incluindo, portanto, fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer
o mar territorial e o espaço aéreo correspondente à coluna at- a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
mosférica.
I. Concurso público;
O parágrafo único, traz um crime comum, cuja conduta
II. Avaliação ou exame público;
típica consiste em atribuir a estrangeiro falsa qualidade para
III. Processo seletivo para ingresso no ensino supe-
promover-lhe a entrada em território nacional.
rior;
Art. 310. Prestar-se a figurar como proprietário ou
IV. Exame ou processo seletivo previstos em lei:
possuidor de ação, título ou valor pertencente a es-
trangeiro, nos casos em que seja vedada por lei a Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
propriedade ou a posse de tais bens: (Alterado pela § 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita,
por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas

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L-009.426-1996).
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. às informações mencionadas no caput.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à administra-
Adulteração de Sinal Identificador ção pública:
de Veículo Automotor Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é
Art. 311. Adulterar ou remarcar número de chassi ou
qualquer sinal identificador de veículo automotor, de cometido por funcionário público.
seu componente ou equipamento: Introduzido no Código Penal em 2011 pela Lei 12.550, visa
evitar as fraudes cometidas em provas de concursos públicos,
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
devido às precárias condições de fiscalização do Estado. Pro-
§ 1º Se o agente comete o crime no exercício da função tege o sigilo da boa administração pública, vestibulares, pro-
pública ou em razão dela, a pena é aumentada de um
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

cessos seletivos, concursos públicos etc.


terço.
Por ser um crime comum, pode ser praticado por qualquer
§ 2º Incorre nas mesmas penas o funcionário público pessoa e, se praticado por funcionário público, a pena aumen-
que contribui para o licenciamento ou registro do veí- ta-se de um terço (Art. 311-A, § 3º do CP).
culo remarcado ou adulterado, fornecendo indevida- Figura equiparada (Art. 311 - A, § 1º): em análise ao tipo
mente material ou informação oficial. referido, a conduta é autenticamente um concurso de pessoas
O sinal de identificação é a placa do veículo, numeração do na modalidade participação, ou seja, um agente auxilia o outro
motor, marcação dos vidros etc. na prática do crime.
A pessoa que recebe o veículo já adulterado, sabendo des- Qualificadora (Art. 311 - A, § 2º): o dano que afeta a Admi-
sa circunstância, não pratica o crime do Art. 311, mas sim o do nistração Pública é analisado em sentido amplo, e não somen-
Art. 180 (receptação). te o dano material. Por ser um crime contra a fé pública, afeta
O § 1º é uma causa especial de aumento de pena, se o principalmente a moral da Administração e abala a credibilida-
funcionário público comete o crime prevalecendo-se do car- de depositada pelas pessoas no Estado.
go. Exige-se, para incidir o aumento de pena, uma qualidade Consumação: Consuma-se com a simples prática dos núcleos,
especial do agente, ser funcionário público, ou seja, um crime dispensando a obtenção da vantagem particular buscada pelo 87
PRÓPRIO. agente ou mesmo eventual dano à credibilidade do certame.
Considerações Peculato Furto § 1º
88 Aplicando-se o princípio da especialidade, a violação de Também chamado de peculato impróprio. Só haverá este
sigilo funcional envolvendo certames de interesse público, não crime se o funcionário público valer-se dessa qualidade para
caracteriza o crime do Art. 325, mas sim o do Art. 311-A do CP. subtrair o bem. Caso contrário, o crime será o de furto (Art.
Entendeu o STF que o uso de cola eletrônica não é crime. 155 do CP). Caso o particular não tenha conhecimento da qua-
Entretanto, se o candidato teve acesso privilegiado ao gabarito lidade de funcionário público, responderá por furto, enquanto
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

da prova, pratica o crime junto com a pessoa que lhe forneceu. esse último, responderá por peculato.
Exs.: “A” funcionário público, valendo-se do cargo, sub-
8. Dos Crimes Contra a Administração trai bem móvel da administração com auxílio de “B”, o
qual conhecia sua função. Ambos respondem por pecu-
Pública lato, Art. 312 do CP.
“A” funcionário público, valendo-se do cargo, subtrai
Dos Crimes Praticados por bem móvel da administração com auxílio de “B”, o qual
desconhecia a função de “A”. “A” responderá por pecula-
Funcionário Público Contra a to (Art. 312 do CP), e “B” por furto (Art. 155 do CP).
Administração em Geral “A” funcionário público, sem aproveitar do cargo que
ocupa, com auxilio de “B”, subtrai bem móvel da repar-
Peculato tição em que “A” trabalha. Ambos respondem por furto
Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, (Art. 155 do CP).
valor ou qualquer outro bem móvel, público ou parti- São considerados crimes próprios, pois exigem a quali-
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cular, de que tem a posse em razão do cargo, ou des- dade de funcionário público para sua classificação.
viá-lo, em proveito próprio ou alheio: A conduta é sempre dolosa (apropriar-se, desviar, sub-
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. trair). Existe, no entanto, previsão para modalidade culposa
§ 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, (vide § 2º, peculato culposo).
embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o É um crime comissivo, por conseguinte, pode incorrer em
subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito
omissão imprópria, quando o agente, como garantidor, po-
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe pro-
porciona a qualidade de funcionário. dendo evitar, nada faz para que o crime não seja consumado
Peculato Culposo (Art. 13, § 2°, CP).
§ 2º Se o funcionário concorre culposamente para o Peculato Culposo
crime de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano. Sujeitos do Crime
§ 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do Sujeito Ativo: o funcionário público (crime próprio), mas
dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a admite-se coautoria e participação de particulares, desde que
punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a tenham conhecimento da qualidade de funcionário público do
pena imposta. agente.
Esse artigo tem por objetivo tipificar a conduta do fun-
Se, comprovado que o particular desconhecia a qualidade
cionário público que, aproveitando do cargo que ocupa,
funcional do agente, responde por apropriação indébita.
apropria-se de bem público ou particular. É necessário que o
agente utilize das facilidades do seu cargo, pois, se não o fizer, Sujeito Passivo: o Estado e secundariamente o particular,
responderá normalmente, a depender do caso concreto, nos pessoa física ou jurídica, diretamente lesada em seu patrimônio.
crimes elencados no Titulo II. Dos Crimes Contra O Patrimônio, Consumação e Tentativa
do Código Penal, por exemplo, o furto. (Art. 155 do CP). Admite tentativa.
Peculato Apropriação Tratando-se do peculato apropriação, peculato furto e pe-
Art. 312. apropriar-se o funcionário público de dinhei- culato culposo, são crimes materiais, pois estarão consumados
ro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou par- com a efetiva posse do bem móvel. No caso do peculato des-
ticular, de que tem a posse em razão do cargo.(...) vio, é um crime formal, pois se consuma no momento em que
Nessa situação o funcionário público já possui a posse ou ocorre o desvio do destino da verba.
detenção lícita do bem (em razão do cargo que ocupa), porém Figura Culposa
passa a se comportar como se fosse o dono (pratica atos de
§ 2º Se o funcionário concorre culposamente para o
disposição da coisa, venda, troca, doação etc.), não mais de-
crime de outrem:
volvendo ou restituindo o bem à Administração Pública.
Essa situação é quando o funcionário público, por impru-
Peculato-Desvio dência, imperícia ou negligência, diante de sua conduta, per-
Art. 312. (...) ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio. mite que um terceiro pratique um crime contra a Administra-
Também chamado de peculato próprio, valendo-se do ção Pública.
cargo, o agente desvia, em proveito próprio ou de outrem; Caso o agente não seja funcionário público, ou sendo,
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou par- não se utilize das facilidades que o cargo lhe proporciona
ticular. para a subtração, incorrerá no crime de furto.
É importante considerar que: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
▷ É o único crime culposo da espécie dos delitos fun- Conduta
cionais.
Pune-se a conduta do agente que inverter, no exercício do seu
▷ É o único crime de menor potencial ofensivo entre os cargo, a posse de valores recebidos por erro de terceiro. O bem
delitos funcionais.
apoderado, ao contrário do que ocorre no peculato apropriação,
O funcionário público só responderá por este crime se o
não está naturalmente na posse do agente, derivando de erro
crime doloso de outrem (terceiro) chegar a se consumar.
alheio.
§ 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do
dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a O erro do ofendido deve ser espontâneo, pois, se provoca-
punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a do pelo funcionário, poderá configurar o crime de estelionato.
pena imposta. Classificação
No crime de peculato culposo, a reparação do DANO, se
São considerados crimes próprios, pois exigem a qualidade de
precede (é anterior) à sentença irrecorrível , extingue a
punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena im- funcionário público para sua Classificação.
posta. Somente para o peculato culposo. No Peculato Doloso A conduta é sempre dolosa (apropriar-se). Não existe, no
não é possível aplicação do § 3°. entanto, a forma culposa.
Sentença Irrecorrível É um crime comissivo, por conseguinte, pode incorrer em
Antes da sentença irrecorrível, extingue a punibilidade. omissão imprópria, quando o agente, como garantidor, po-
A reparação do dano após a sentença irrecorrível, há re- dendo evitar, nada faz para que o crime não seja consumado
dução de metade da pena imposta. E, isso é feito pelo juiz da (Art. 13, § 2º, CP).
execução penal.
Considerações Sujeitos do Crime
Se a posse do bem (peculato apropriação ou desvio) de- Sujeito Ativo: o funcionário público (crime próprio), mas
corre de violência ou grave ameaça, há crime de roubo (Art. admite-se coautoria e participação de particulares, desde que
157) ou extorsão (Art. 158 do CP). tenham conhecimento da qualidade de funcionário público do
agente.
Peculato
Peculato apropriação (caput 1ª parte);
Sujeito Passivo: o Estado e secundariamente o particular,
Peculato Peculato desvio (peculato próprio) (caput 2ª parte); pessoa física ou jurídica, diretamente lesada em seu patrimônio.
Doloso Peculato mediante erro de outrem (peculato estelionato) Consumação e Tentativa
(Art. 313).

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Peculato • ADMITE Tentativa
(§2)
Culposo Sendo esse um crime material, consuma-se com a efetiva
O Peculato de Uso não é crime, mas pode caracterizar ato apropriação. Neste caso há divergência, alguns autores sus-
de improbidade administrativa (Art. 9º, Lei nº 8.429/92). É o tentam que a consumação se dará somente no momento em
fato em que, por exemplo, um funcionário público apropria- que o agente percebe o erro de terceiro e não o desfaz, ou seja,
se temporariamente de veículo público, no intuito de realizar a consumação não se dá no momento do recebimento da coi-
diligências de caráter pessoal, restituindo o veículo ao pátio da sa, mas sim no instante em que o agente se apropria da coisa
repartição logo após o uso. recebida por erro, agindo como se dono fosse.
Se há desvio da verba em proveito da própria Adminis-
tração, com utilização diversa da prevista em sua destinação, Descrição
temos configurado o crime do Art. 315 do CP. O funcionário público que, no exercício do cargo, recebeu
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

de terceiro, o qual estava em erro, dinheiro ou qualquer outra


Apontamentos
utilidade, e não prossegue com a efetiva destinação correta
O princípio da insignificância é causa supralegal de exclu- do recurso.
são da tipicidade, ou seja, o fato não será considerado crime.
Sendo assim, há duas posições sobre o assunto: Apontamentos
▷ STJ: não admite a incidência do princípio da insigni- Se o funcionário público se apropriou de dinheiro ou qual-
ficância nos crimes contra a Administração Pública, quer utilidade que recebeu fora do exercício do cargo, respon-
pois a norma penal busca resguardar não somente derá pelo crime de: Apropriação de coisa havida por erro, caso
o aspecto patrimonial, mas a moral administrativa. fortuito ou força da natureza.
▷ STF: admite a aplicação do princípio da insignificân-
Art. 169, CP. Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda
cia nos crimes contra a administração pública. (HC
107370/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 26.4.2011). ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza.
Se o particular, por engano quanto à pessoa, coisa ou
Peculato Mediante Erro de Outrem obrigação, entrega objeto a funcionário público, em razão do
Art. 313. Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade cargo deste, e se ele se apropria do bem, há crime de peculato 89
que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: mediante erro de outrem (Art. 313, CP).
Inserção de Dados Falsos em Modificação ou Alteração Não
90
Sistema de Informações Autorizada de Sistema de Informações
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema
a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevida- de informações ou programa de informática sem auto-
mente dados corretos nos sistemas informatizados ou rização ou solicitação de autoridade competente:
bancos de dados da Administração Pública com o fim
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e


de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou multa.
para causar dano:
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. até a metade se da modificação ou alteração resulta
Pune-se a conduta do funcionário público autorizado que dano para a Administração Pública ou para o adminis-
insere ou facilita inserção de dados falsos, altera ou exclui in- trado.
devidamente dados nos sistema de informação da Administra- Consiste em punir a conduta do funcionário público que
ção Pública com o objetivo de receber vantagem indevida, tal modifica ou altera, sem autorização, os sistemas de informa-
crime é também conhecido como peculato eletrônico. ções da Administração Pública.
Classificação Classificação
Trata-se de crime de mão própria, pois exige a qualida- São considerados crimes próprios, pois exigem a qualida-
de de funcionário público autorizado para sua Classificação, de de funcionário público para sua Classificação.
ou seja, não é qualquer funcionário público, mas sim aquele A conduta é sempre dolosa (modificar, alterar). NÃO exis-
Ş
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autorizado a inserir, alterar ou excluir dados nos sistemas in-


te, no entanto, a possibilidade da forma culposa.
formatizados ou banco de dados.
É um crime comissivo, por conseguinte pode incorrer em
A conduta é sempre dolosa (inserir, alterar ou excluir).
Não existe, no entanto, a possibilidade da forma culposa. omissão imprópria, quando o agente, como garantidor, po-
dendo evitar, nada faz para que o crime não seja consumado
É um crime comissivo, por conseguinte, pode incorrer em
omissão imprópria, quando o agente, como garantidor, po- (Art. 13, § 2º, CP).
dendo evitar, nada faz para que o crime não seja consumado Sujeitos do Crime
(Art. 13, § 2º, CP). Sujeito Ativo: o funcionário público (crime próprio), não
Sujeitos do Crime exige a qualidade de ser funcionário autorizado, ademais é
possível a coautoria e participação do particular que tenha
Sujeito Ativo: o funcionário público autorizado (crime de consciência da função pública do agente.
mão própria), sendo possível a coautoria e participação do
Sujeito Passivo: o Estado e secundariamente o particular,
particular que tenha consciência da função pública do agente. pessoa física ou jurídica, diretamente prejudicada.
Sujeito Passivo: o Estado e secundariamente o particular,
pessoa física ou jurídica, diretamente lesada em seu patrimô- Consumação e Tentativa
nio. • ADMITE Tentativa
O crime se consuma no momento da efetiva modificação
Consumação e Tentativa ou alteração do sistema de informação, sendo que, se resultar
• ADMITE Tentativa em dano, é causa de aumento de pena conforme parágrafo
Sendo um crime formal, consuma-se com a devida inser- único desse artigo.
ção, alteração ou exclusão, não sendo necessário o efetivo re- Descrição
cebimento da vantagem indevida, considerada apenas mero Para configuração do crime em tela é necessário que a mo-
exaurimento do crime. dificação ou alteração ocorra sem autorização, pois tal conduta
Descrição resume-se ao dolo do agente, à vontade livre de provocar as
Visa punir o funcionário autorizado, o qual detém aces- modificações.
so aos sistemas de informação da Administração Pública, e, Os crimes previstos nos Arts. 313-A e 313-B, ambos do CP,
aproveitando-se dessa situação, realiza condutas indevidas são conhecidos como peculato eletrônico.
causando prejuízo para Administração, bem como, aos parti-
culares.
Extravio, Sonegação ou Inutilização
de Livro ou Documento
Apontamentos
Art. 314. Extraviar livro oficial ou qualquer documento,
É possível a ocorrência do erro do tipo, escusável ou ines- de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou
cusável, do agente que acredita estar agindo corretamente e inutilizá-lo, total ou parcialmente:
acaba inserindo, excluindo ou alterando de forma equivocada, Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não
dados verdadeiros. constitui crime mais grave.
Mesmo sendo um crime de mão própria, é possível a figura Para configuração deste crime, é indispensável que o fun-
da participação e coautoria, seja ela material ou moral. cionário público tenha a posse do livro ou documento em ra-
zão do cargo que ocupa. É considerado como sendo um crime
Extraviar, sonegar ou
subsidiário, pois comumente sendo aplicado, caso o resultado Destruir, suprimir ou ocul- inutilizar livro oficial ou
não constitua crime mais grave. Conduta tar documento público ou qualquer documento
particular verdadeiro. de que tem guarda em
Classificação razão do cargo.
É considerado crime próprio, pois exige a qualidade de funcio-
nário público para sua Classificação. Há finalidade específica de
Tipo tirar proveito próprio ou de Não se exige qualquer
A conduta é sempre dolosa (extravio, inutilização, sone- Subjetivo outrem, ou visando causar finalidade específica.
gação). Não existe, no entanto, a possibilidade da forma cul- prejuízo alheio.
posa.
É um crime comissivo, por conseguinte, pode incorrer em Reclusão, de 2 a 6 anos,
e multa, se o documento Reclusão de 1 a 4 anos,
omissão imprópria, quando o agente, como garantidor, po- Pena é público, e reclusão, de se o fato não constitui
dendo evitar, nada faz para que o crime não seja consumado 1 a 5 anos, e multa, se o crime mais grave.
(Art. 13, § 2º, CP). documento é particular.

Sujeitos do Crime Emprego Irregular de Verbas


Sujeito Ativo: somente funcionário público (crime pró-
prio), ademais é possível a coautoria e participação do parti- ou Rendas Públicas
cular que tenha consciência da função pública do agente. Art. 315. Dar às verbas ou rendas públicas aplicação di-
Sendo o sujeito ativo servidor em exercício junto a reparti- versa da estabelecida em lei:
ção fiscal ou tributária, o extravio de livre oficial, processo fis- Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
cal, ou qualquer documento por ele causado, configura crime Este tipo penal visa penalizar o administrador público que
especial previsto no Art. 3°, I, da Lei nº 8.137/90. destina a verba pública para projetos, despesas ou gastos que
Sujeito Passivo: o Estado e, por conseguinte, o particular, não foram previstos no Orçamento Público, ou então, que não
pessoa física ou jurídica prejudicada. foram autorizados pela Lei Orçamentária Anual.
Consumação e Tentativa Classificação
• ADMITE Tentativa São considerados crimes próprios, pois exigem a qualida-
O crime se consuma no momento do efetivo extravio ou de específica do funcionário público dotado de competência
inutilização, mesmo que seja de forma parcial, bem como, com para utilizar e destinar as verbas públicas.
a sonegação. A conduta é sempre dolosa (destinar a verba para outra

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Descrição situação a qual não era prevista). Não existe possibilidade
para modalidade culposa.
Por ser um crime subsidiário, há depender do resultado
É um crime comissivo, por conseguinte, pode incorrer em
naturalístico que ocasionar, o crime será absorvido de acordo
com sua especificidade (princípio da consunção), conforme
omissão imprópria, quando o agente, como garantidor, po-
em alguns dos casos exposto abaixo. dendo evitar, nada faz para que o crime não seja consumado
(Art. 13, §2°, CP).
▷ Quando há o dolo específico de agir, responde pelo
Art. 305 do CP. Sujeitos do Crime
▷ Caso o funcionário não seja o responsável pela guar- Sujeito Ativo: é crime próprio, pois o sujeito ativo será so-
da do livro ou do documento, responderá pelo Art. mente aquele funcionário público que tenha o poder de ad-
337 do CP. ministração de verbas ou rendas pública (Ex.: Presidente da
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

▷ Se praticado por advogado ou procurador, respon- República, Ministros, Governadores etc.), ademais, é possível
derá pelo Art. 356 do CP. a coautoria e participação do particular que tenha consciência
O crime tipificado no Art. 314, além de ser próprio, é subsi- da função pública do agente.
diário em relação ao delito previsto no Art. 305, que exige dolo Tratando-se de Prefeito Municipal, há crime próprio, preva-
específico. Veja as diferenças: lecendo pelo principio da especialidade o disposto no Art. 1º, III,
do Decreto-Lei nº 201/67.
Art. 314. Extra-
Art. 305. Supressão de vio, sonegação ou
Sujeito Passivo: o Estado e secundariamente o particular,
documento público. inutilização de livro ou pessoa física ou jurídica, diretamente prejudicada.
documento.
Consumação e Tentativa
Objetividade Crime contra a adminis- • ADMITE Tentativa
Crime contra a fé pública.
Jurídica tração pública. O crime se consuma no momento da efetiva destinação ou
aplicação das verbas ou rendas públicas.
Qualquer pessoa (crime Funcionário público 91
Sujeito Ativo
comum). (crime próprio).
A simples destinação, sem posterior aplicação, constitui
tentativa, gerando perigo para a regularidade administrativa.
Descrição Descrição
92 Caso o agente público seja o Presidente da República, ele Sendo um crime formal, e a consumação ocorrendo com
responderá pela lei de improbidade administrativa, Art. 11, Lei a mera exigência da vantagem indevida. Pouco importa se o
nº 1.079/50. Por conseguinte, sendo prefeito, responderá pelo funcionário público recebe ou não. Porém, caso receba, haverá o
Art. 1º, III, do Decreto-Lei nº 201/67. exaurimento do crime.
Considerações
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Apontamentos
Segundo o STF Se a vantagem for devida, o agente funcionário públi-
co responderá pelo crime de abuso de autoridade, Lei nº
RT 617/396. Se o orçamento for aprovado por decreto 4.898/65.
do próprio Poder Executivo, e não por lei, não há o que
Caso a vantagem seja para a própria Administração Pú-
se falar neste crime.
blica, poderá haver o crime de excesso de exação (Art. 316, §
RT 883/462. Para que caracterize esse crime, é neces- 1º, CP).
sário que a lei que destina as verbas ou rendas públi- O particular que se disfarça de policial e exige dinheiro (van-
cas, seja em sentido formal e material. tagem indevida) para não efetuar a prisão de alguém, respon-
derá pelo crime de extorsão (Art. 158, CP).
Concussão
Mesmo que seja funcionário público, mas que não tenha a
Art. 316. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indireta- competência para a prática do mal prometido, não responde por
mente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, este crime, mas por extorsão.
mas em razão dela, vantagem indevida: No crime de concussão, o agente exige a vantagem indevida.
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Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Ademais, no crime de corrupção passiva, Art. 317 do CP, O agente
§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribuição so- solicita, recebe ou aceita promessa de vantagem indevida.
cial que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando
devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gra-
Excesso de Exação
voso, que a lei não autoriza: Art. 316, § 1º Se o funcionário exige tributo ou contri-
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
buição social que sabe ou deveria saber indevido, ou,
quando devido, emprega na cobrança meio vexatório
§ 2º Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou ou gravoso, que a lei não autoriza:
de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
aos cofres públicos:
Art. 316, § 2º Se o funcionário desvia, em proveito pró-
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. prio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para
No crime de concussão, o funcionário público exige uma recolher aos cofres públicos:
vantagem indevida e a vítima, temendo represálias, cede a Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
essa exigência. Trata-se da cobrança integral e pontual de tributos, em
Trata-se de uma forma especial de extorsão, executada que o funcionário público exige ilegalmente tributo ou con-
por funcionário público. tribuição social em benefício da Administração Pública.
Classificação Classificação
São considerados crimes próprios, pois exigem uma quali- São considerados crimes próprios, pois exige uma quali-
dade específica, ser funcionário público. dade específica, ser funcionário público.
A conduta é sempre dolosa (exigir). Não existe possibili- A conduta é sempre dolosa (exigir tributo ou contribuição
dade para modalidade culposa. social ou desviar o recebimento indevido). NÃO existe possi-
É um crime comissivo, por conseguinte pode incorrer em bilidade para modalidade culposa.
omissão imprópria, quando o agente, como garantidor, po- É um crime comissivo, por conseguinte, pode incorrer em
dendo evitar, nada faz para que o crime não seja consumado omissão imprópria, quando o agente, como garantidor, po-
(Art. 13, §2º, do CP). dendo evitar, nada faz para que o crime não seja consumado
(Art. 13, § 2º, CP).
Sujeitos do Crime Sujeitos do Crime
Sujeito ativo: somente funcionário público (crime pró- Sujeito Ativo: somente funcionário público (crime pró-
prio), ademais, é possível a coautoria e participação do parti- prio), ademais, é possível a coautoria e participação do parti-
cular que tenha consciência da função pública do agente. cular que tenha consciência da função pública do agente.
Sujeito passivo: o Estado e, por conseguinte, o particular, Sujeito Passivo: o Estado e, por conseguinte, o particular,
pessoa física ou jurídica prejudicada. pessoa física ou jurídica prejudicada.
Consumação e Tentativa Consumação e Tentativa
• ADMITE Tentativa • ADMITE Tentativa
O crime é formal, sendo assim, está consumado no mo- O § 1º diz que o crime é formal, sendo assim, está con-
mento da exigência. sumado no momento da exigência do tributo ou contribuição
social por meio vexatório e gravoso, mesmo que a vítima não Classificação
realize o pagamento. São considerados crimes próprios, pois exigem uma quali-
O § 2º refere-se ao crime material, sendo consumado no dade específica, ser funcionário público.
momento que ocorre o desvio em proveito próprio ou de ou- A conduta é sempre dolosa (solicita, recebe ou aceita pro-
trem, tendo recebido indevidamente. messa). Não existe possibilidade para modalidade culposa.
Descrição É um crime comissivo, por conseguinte, pode incorrer em
§ 1º do Excesso de Exação omissão imprópria, quando o agente, como garantidor, po-
Exigir um tributo ou contribuição social que sabe ou deve- dendo evitar, nada faz para que o crime não seja consumado
ria saber indevido. (Art. 13, § 2º, do CP).
Ex.: Tributo que já foi pago pelo contribuinte; ou a quan- Sujeitos do Crime
tia cobrada é superior à fixada em lei. Sujeito Ativo: é o funcionário público no exercício da fun-
Exigir um tributo ou contribuição social devido, porém em- ção, aquele fora da função, mas em razão dela, ou o particular
pregando meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. que está na iminência de assumir, e atue criminosamente em
Ex.: Meio vexatório: humilhar, causar vergonha ou cons- razão dela. Pode ter a participação do particular que tenha
trangimento na vítima. Meio gravoso: causar maiores consciência da função pública do agente.
despesas ao contribuinte. Sujeito Passivo: o Estado e, por conseguinte, o particular,
§ 2º da Qualificadora pessoa física ou jurídica prejudicada.
O desvio do tributo ou contribuição social indevido ocor- O particular só será vítima se a corrupção partir do funcio-
re antes de sua incorporação aos cofres públicos, pois, caso nário corrupto.
ocorra depois, o funcionário público responderá pelo crime de Consumação e Tentativa
peculato desvio (Art. 312, caput, 2ª parte do CP). Admite tentativa somente na modalidade solicitar, quando
Considerações formulada por meio escrito (carta interceptada).
De acordo com o STF, existem cinco espécies de tributos: im- O crime é formal, sendo assim, nesse delito, existem
postos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimos compul- três momentos em que o crime pode se consumar. No mo-
sórios e contribuições sociais. mento da solicitação, no momento do recebimento, ou
Segundo o STJ, a custa e emolumentos concernentes então no instante em que o agente aceita a promessa de
recebimento, independe do efetivo pagamento ou rece-
aos serviços notariais e registrais possuem natureza tribu-
bimento para o crime estar consumado, caso ocorra, será
tária, qualificando-se como taxas remuneratórias de serviços mero exaurimento do crime.
públicos. Desse modo, comete o crime de excesso de exação
Descrição

Ş
ŝ#-ŝŦ
aquele que exige custas ou emolumentos que sabe ou deve-
ria saber indevido. Solicitar: a conduta parte do funcionário público que pede
Prevalece que a expressão deveria saber configura dolo a vantagem indevida. Nesta situação, o funcionário público
eventual, entretanto há doutrina no sentido de que se trata de responde por corrupção passiva e o particular, caso entregue
modalidade culposa do tipo. a vantagem indevida, não responderá por crime algum (fato
atípico).
Corrupção Passiva Receber: a conduta parte do particular que oferece a van-
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, tagem indevida e o funcionário público recebe. Nesta situação,
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou o funcionário público responde por corrupção passiva e o par-
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem in- ticular por corrupção ativa.
devida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Aceitar promessa de tal vantagem: a conduta parte do
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. particular que promete vantagem indevida ao funcionário
público e este aceita a promessa. Nesta situação, o funcio-
§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em conse-
nário público responde por corrupção passiva e o particular
quência da vantagem ou promessa, o funcionário re-
por corrupção ativa. OBS.: não é necessário que o funcionário
tarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o público efetivamente receba a vantagem prometida, pois o
pratica infringindo dever funcional. crime estará consumado com a mera aceitação de promessa.
§ 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou re- Espécies de Corrupção Passiva
tarda ato de ofício, com infração de dever funcional,
cedendo a pedido ou influência de outrem: Corrupção Passiva Própria Corrupção Passiva Imprópria
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. O funcionário público negocia um O funcionário público negocia um
Apesar de possuir certas semelhanças com o delito de con- ato ILÍCITO. ato LÍCITO.
cussão, nesse delito podemos dizer que é menos constrange- Ex.: PRF solicita R$ 100,00 para Ex.: Juiz de Direito recebe dinheiro
não multar motorista sem carteira de autor de ação judicial para
dor para a vítima, pois não há a coação moral da exigência, a de habilitação. agilizar os trâmites do processo.
honra da imagem do emprego vexatório, ocorre simplesmente
a solicitação, o recebimento ou a simples promessa de rece- Ex.: Comerciantes dão dinheiro para que policiais mili- 93
bimento. tares realizem rondas diárias no bairro onde os comer-
ciantes trabalham. É crime, pois os servidores públicos veículo. O policial atende ao pedido. Nesta situação, o po-
94 já são remunerados pelo Estado para realizarem estas licial praticou o crime de corrupção passiva privilegiada e
atividades. Pedro é partícipe deste crime.
Considerações O § 2º tem grande incidência em concursos. É o famoso
Dar um jeitinho.
Particular que oferece ou promete vantagem indevida: O
particular que oferece ou promete vantagem indevida ao fun- Diferenças Importantes
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

cionário público, responde pelo crime de corrupção ativa, Art. Corrupção Passiva Privilegiada
Prevaricação (Art. 319, CP)
333, do CP. (Art. 317, §2º, CP)
Exceção à teoria unitária ou monista no concurso de pessoas: Retardar ou deixar de praticar,
Art. 29, CP. Quem, de qualquer modo, concorre para o indevidamente, ato de ofício,
Se o funcionário pratica, deixa de ou praticá-lo contra disposição
crime incide nas penas a este cominadas, na medida de praticar ou retarda ato de ofício, expressa de lei, PARA SATISFAZ-
sua culpabilidade. com infração de dever funcio- ER INTERESSE OU SENTIMENTO
Portanto, a regra é que todos aqueles que concorrem nal, CEDENDO A PEDIDO OU PESSOAL.
para a prática de um crime responderão pelo mesmo crime. INFLUÊNCIA DE OUTREM.
Obs.: Não há intervenção alheia
Como se trata de exceção, o funcionário público que recebe nesse crime.
ou aceita promessa de vantagem indevida responde por cor-
rupção passiva, Art. 317, enquanto o particular que oferece Facilitação de Contrabando
ou promete vantagem indevida responde por corrupção ati-
va, Art. 333.
ou Descaminho
Art. 318. Facilitar, com infração de dever funcional, a prá-
Ş
ŝ#-ŝŦ

Não configura o crime de corrupção passiva o recebimen-


to, pelo funcionário público, de gratificações usuais de peque- tica de contrabando ou descaminho (Art. 334):
no valor por serviços extraordinários (desde que não se trate Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
de ato contrário à lei), ou pequenas doações ocasionais, geral- Conduta: a conduta criminosa consiste em facilitar, por
mente no Natal ou no Ano Novo. ação ou omissão, o contrabando ou o descaminho.
Caso a vantagem recebida seja revertida em favor da pró- Sujeitos do Crime
pria Administração Pública não haverá o crime de corrupção
Sujeito Ativo: é crime próprio, somente o funcionário pú-
passiva. Todavia, o funcionário público estará sujeito à prática
blico incumbido de impedir a prática do contrabando ou des-
de ato de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92).
caminho poderá intentá-lo. Caso não ostente essa atribuição
Causa de Aumento de Pena funcional, responderá pelo delito de contrabando ou descami-
§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em conse- nho, na condição de partícipe.
quência da vantagem ou promessa, o funcionário re- Sujeito Passivo: O Estado.
tarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o Exceção à teoria unitária ou monista no concurso de pes-
pratica infringindo dever funcional. soas (Art. 29, CP)
O que seria o exaurimento do crime funciona como causa O funcionário público que facilita, com infração de dever
de aumento de pena para o funcionário público. A pena será funcional, a prática de contrabando ou descaminho, responde
aumentada em 1/3. pelo crime do Art. 318. Já o particular que realiza o contraban-
Se a violação praticada pelo agente público constitui, por do ou descaminho responde pelo crime do elo crime do Art.
si só, um novo crime, haverá concurso formal ou material entre 334 ou Art. 334 - A.
a corrupção e a infração dela resultante. Todavia, nessa hipó-
tese, a corrupção deixa de ser qualificada, pois do contrário Conceito
incidirá no bis in idem, considerando-se o mesmo fato duas Contrabando: é a importação ou exportação de mercado-
vezes em prejuízo do funcionário réu. ria cuja entrada ou saída é proibida no Brasil. Ex.: máquinas
caça-níquel, cigarros, quando em desacordo com autorização
Corrupção Passiva Privilegiada legal.
§ 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou re- Descaminho: a importação ou exportação é permitida, po-
tarda ato de ofício, com infração de dever funcional, rém o agente frauda o pagamento do tributo devido.
cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Consumação
Punem-se, nesse dispositivo, os famigerados favores ad- Ocorre no momento em que o funcionário público efe-
ministrativos. tivamente facilita o contrabando ou descaminho. É crime
Nesta hipótese, o particular não oferece ou promete van- formal ou de consumação antecipada.
tagem indevida ao funcionário público. Ele apenas pede para Não é necessário que a outra pessoa (autor do crime de
que esse DÊ UM JEITINHO de praticar, deixar de praticar ou contrabando ou descaminho - Art. 334) tenha sucesso em sua
retardar ato de ofício, com infração de dever funcional. empreitada criminosa. Desse modo, mesmo que esta outra
Ex.: Pedro é abordado numa Blitz e seu veículo está pessoa não obtenha êxito na realização do crime do Art. 334,
com o IPVA atrasado. Diante disso, ele pede ao policial o crime de contrabando e descaminho estará consumado, pois
rodoviário que não aplique a devida multa ou apreenda o é crime formal.
Tentativa Descrição
Admitida somente na forma comissiva (ação). A forma Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado: Retardar,
omissiva não admite o conatus. deixar de praticar ou praticá-lo. A realização de mais de um des-
tes verbos, no mesmo contexto fático, caracteriza crime único.
Elemento Subjetivo Todavia, tal fato será levado em conta pelo juiz no momento de
Dolo. Não se admite a modalidade culposa. fixação da pena-base (Art. 59 do CP).
Competência Considerações
Os crimes de contrabando e descaminho são decompetên- Retardar (atrasar / adiar): o funcionário público não realiza
cia da Justiça Federal, pois ofendem interesse da União (Art. o ato de ofício dentro do prazo legal. Deixar de praticar (abs-
109, IV, CF/88). ter-se de praticar): não praticar o ato de ofício.
Súm. 151, STJ. A competência para o processo e jul- +
gamento por crime de contrabando e descaminho Indevidamente: (injustificavelmente / ilegalmente)
define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da =
apreensão dos bens. Prevaricação
Prevenir e reprimir o contrabando e o descaminho são atri- Nessas duas hipóteses a prevaricação é crime omissivo
buições da Polícia Federal (Art. 144, § 1º, II, CF/88). próprio ou puro (condutas omissivas). Não admite tentativa
(conatus).
Prevaricação NÃO há crime quando o funcionário público deixa de agir
Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, em razão de caso fortuito ou força maior.
ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa Ex.: A falta de efetivo (pessoal) na repartição, incêndio,
de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: inundação etc.
Praticar (realizar um ato)
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Para que configure o delito de prevaricação, faz-se ne- +
cessário que a ação ou omissão seja praticada de forma in- Contra Disposição Expressa de Lei
devida, infrinja o dever funcional do agente público. =
Classificação Prevaricação
É considerado crime de mão própria, pois exige uma qua- Nesta hipótese a prevaricação é crime comissivo. Admite
lidade específica, ser funcionário público e possuir determina- tentativa (conatus).
do dever funcional. Apontamentos

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Assim, é imprescindível que o funcionário tenha a atribui- Interesse Pessoal: é qualquer vantagem ou proveito de
ção para a prática do ato, pois, do contrário, não se pode con- caráter moral ou patrimonial. Caso o funcionário público exi-
siderar violação ao dever funcional. ja ou receba uma vantagem indevida a pretexto de praticar,
A conduta é sempre dolosa, a qual se divide em três tipos: retardar ou omitir a prática de um ato de ofício, o crime será
1) Retardar indevidamente ato de ofício; 2) Deixar de praticar de concussão (Art. 316 do CP) ou corrupção passiva (Art. 317
ato de ofício; 3) Praticar contra disposição expressa em lei. do CP).
NÃO admite a forma culposa. Sentimento Pessoal: vingança, ódio, amizade, inimizade,
inveja, amor.
Sujeitos do Crime Ex.: Promotor de Justiça solicita o arquivamento de in-
Sujeito Ativo: somente funcionário público (crime pró- quérito policial o qual investiga crime que supostamen-
prio). te foi praticado por seu amigo de infância.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Sujeito Passivo: o Estado e, por conseguinte, o particular, A desídia (preguiça), negligência ou comodismo (sem
pessoa física ou jurídica prejudicada. o fim de satisfazer interesse ou sentimento pessoal): não há
crime de prevaricação. Todavia, o funcionário público poderá
Consumação e Tentativa incorrer em ato de improbidade administrativa.
Consuma-se o crime com o retardamento, a omissão ou Diferenças Importantes
a prática do ato, sendo dispensável a satisfação do interesse
visado pelo servidor. Condescendência Criminosa
Prevaricação (Art. 319, CP)
(Art. 320, CP)
A tentativa não é admitida nas condutas retardar deixar de
praticar, pois é crime omissivo próprio ou puro. Já a conduta DEIXAR o funcionário, POR
praticá-lo contra disposição expressa de lei admite a tentativa Retardar ou DEIXAR de PRATICAR,
INDULGÊNCIA, DE RESPONSABIL-
indevidamente, ATO DE OFÍCIO,
por ser crime comissivo, ou seja, que exige uma ação. ou praticá-lo contra disposição
IDADE subordinado que cometeu
infração no exercício do cargo ou,
É um crime formal. Para a consumação basta a intenção expressa de lei, para SATISFAZER
quando lhe falte competência, não
do funcionário público de satisfazer interesse ou sentimento INTERESSE OU SENTIMENTO
levar o fato ao conhecimento da
pessoal, mesmo que não consiga êxito na concretização deste PESSOA. 95
autoridade competente.
resultado.
Prevaricação Imprópria racteriza-se a conduta, até mesmo quando o aparelho não tiver
96 Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agen- bateria, visto que existem meios alternativos para a sua ativação.
te público de cumprir seu dever de vedar ao preso o Condescendência Criminosa
acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o Art. 320. Deixar o funcionário, por indulgência, de res-
ambiente externo: ponsabilizar subordinado que cometeu infração no exer-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. cício do cargo ou, quando lhe falte competência, não
levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
Esse crime foi introduzido pela Lei nº 11.466/07 e recebe
várias denominações por parte da doutrina, prevaricação im- Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
própria, prevaricação em presídios, omissão do dever de vedar Esse tipo penal tem por objetivo punir o superior hierárquico
ao preso o acesso a aparelhos de comunicação. Todas essas que por indulgência (clemência) deixa de punir seu subordina-
classificações são aceitáveis, haja vista o legislador não confe- do, bem como aquele que, sem competência para responsa-
rir, na elaboração do tipo, o nomem iuris da conduta, deixando bilização, tendo conhecimento de alguma infração, não leva a
para que a doutrina o fizesse. informação aquém de competência para punir o agente público.
Tem como base o poder disciplinar da Administração Pú-
Classificação blica.
É um crime doloso, não exigindo qualquer fim específico
da conduta. Não é admitida a culpa. Classificação
É um crime simples, pois ofende um único bem jurídico e É considerado um crime próprio: omissivo próprio: sendo
é um crime próprio, ou seja, podendo ser cometido somente que ato está na inação (deixar de agir).
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ŝ#-ŝŦ

por agente público que tenha o dever funcional de impedir a O dolo está na conduta de se OMITIR, sendo assim, não
entrada de aparelhos de comunicação ou Diretor de Peniten- admite a forma culposa.
ciária.
Sujeitos do Crime
Sujeitos do Crime Sujeito Ativo: somente funcionário público hierarquica-
Sujeito Ativo: por ser um crime próprio, pode ser come- mente superior ao servidor infrator.
tido por agente público que deve ser interpretado de forma Sujeito Passivo: o Estado e, por conseguinte, o particular,
restrita, pois o agente deve ser incumbido de evitar a conduta pessoa física ou jurídica prejudicada.
descrita no tipo, para exemplificar podemos citar os agentes
penitenciários, carcereiros e até mesmo pelos policiais respon- Consumação e Tentativa
sáveis pela escolta. • NÃO Admite Tentativa
O preso que for encontrado na posse de aparelho de co- É um crime formal e omissivo próprio ou PURO. Con-
municação não comete este crime, contudo incide em falta suma-se no momento em que o funcionário superior, de-
grave. Já o particular que fornece o aparelho para o preso pois de tomar conhecimento da infração, suplanta prazo
comete o crime do Art. 349-A do CP. legalmente previsto para a tomada de providências contra
Consumação e Tentativa o subordinado infrator.
Por ser um crime formal, dá-se a consumação no momen- Descrição do Crime
to em que o agente público ou Diretor de Penitenciária não O crime ocorre com a mera omissão do funcionário pú-
faz nada para impedir a entrada de aparelho de comunicação blico que, ao tomar conhecimento da infração (administrativa
ao preso, contudo devendo saber que tal situação é ilícita. É ou penal) cometida pelo subordinado no exercício do cargo,
dispensável o efetivo acesso do preso ao aparelho de comu- deixa de tomar qualquer providência para responsabilizá-lo,
nicação. ou, quando lhe faltar competência para tanto, não levar o fato
Não é possível a tentativa, haja vista ser este um crime ao conhecimento da autoridade competente. Não necessita da
omissivo próprio. efetiva impunidade do infrator.
Descrição do Crime O fato será atípico quando o superior hierárquico, por ne-
gligência, não tomar conhecimento da infração cometida pelo
A finalidade deste crime é impedir que o preso tenha aces- funcionário público subalterno no exercício do cargo.
so a qualquer tipo de aparelho de comunicação que possa se
comunicar com qualquer pessoa (familiares, advogados, ou- Considerações
tros presos). Deve haver o nexo funcional, ou seja, a infração deve ter
Os aparelhos eletrônicos podem ser, telefones (fixos ou sido praticada no exercício do cargo público ocupado pelo fun-
móveis) walkie-talkies ou até mesmo uma webcam. cionário público.
O fato é atípico quando o aparelho não tem nenhuma ca- Ex.: Policial civil pratica peculato e o Delegado, após to-
pacidade de comunicação ou, de qualquer forma, impossibi- mar conhecimento do caso, por indulgência (tolerância)
litado de funcionar. O mesmo acontece para cópias falsas de nada faz.
aparelhos. Indulgência: é sinônimo de tolerância, perdão, clemência.
Telefones celulares sem crédito tipificam a conduta, pois se Se o funcionário público superior hierárquico se omite para
verifica a possibilidade da obtenção de créditos de formas ilíci- atender sentimento ou interesse pessoal, responderá pelo crime
tas, por exemplo, extorsões baseadas em falsos sequestros. Ca- de prevaricação.
Se o superior hierárquico se omite com o objetivo de rece- Apontamentos
ber alguma vantagem indevida do funcionário público infrator, Caso o patrocínio seja referente à instauração de proces-
responderá pelo crime de corrupção passiva (Art. 317 do CP). so licitatório ou a celebração de contrato junto à Administra-
Não configura o crime em tela, eventuais irregularidades ção Pública, cuja invalidação seja decretada pelo Judiciário, o
praticadas pelo subordinado “extra officio” (fora do cargo) e agente responderá pelo Art. 91 da Lei nº 8.666/90.
toleradas pelo superior hierárquico.
Violência Arbitrária
Advocacia Administrativa Art. 322. Praticar violência, no exercício de função ou a
Art. 321. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse pretexto de exercê-la:
privado perante a administração pública, valendo-se Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da
da qualidade de funcionário: pena correspondente à violência.
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Esse delito tem por objetivo tipificar a conduta do agente
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo: público que atua com violência no exercício da sua função ou
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa. a pretexto dela.
Esse delito visa tipificar a conduta do agente que tem por Grande parte da doutrina entende que o presente artigo
objetivo defender, apadrinhar, advogar, interesse alheio pe- foi revogado tacitamente pela Lei nº 4.898/65 (Lei de abuso
rante a Administração Pública. de autoridade). Entretanto, há decisões de Tribunais Superio-
res reconhecendo a vigência do artigo em comento.
Classificação
É considerado crime próprio, pois exige uma qualidade Classificação
específica, ser funcionário público. A conduta é sempre dolosa: que pode ser praticada pela
A conduta é sempre dolosa. que pode ser praticada pela ação ou omissão. Não existe possibilidade para modalidade
ação ou omissão. Não existe possibilidade para modalidade culposa.
culposa. É um crime comissivo, por conseguinte, pode incorrer em
É um crime comissivo, por conseguinte pode incorrer em omissão imprópria, quando o agente, como garantidor, po-
omissão imprópria, quando o agente, como garantidor, po- dendo evitar, nada faz para que o crime não seja consumado
dendo evitar, nada faz para que o crime não seja consumado (Art. 13, §2º, CP).
(Art. 13, §2º, CP). Sujeitos do Crime
Sujeitos do Crime Sujeito Ativo: somente funcionário público (crime pró-
Sujeito Ativo: somente funcionário público (crime pró- prio), não exige a qualidade específica de ser um policial, ade-
prio). Não necessariamente advogado, como diversas ques- mais, é possível a coautoria e participação do particular que
tenha consciência da função pública do agente.

Ş
ŝ#-ŝŦ
tões afirmam.
Admite-se o concurso de terceiro não qualificado, na mo- Sujeito Passivo: o Estado e, por conseguinte, o particular,
dalidade de coautoria ou participação, desde que conhecedor pessoa física ou jurídica prejudicada.
da condição funcional do agente público. Consumação e Tentativa
Sujeito Passivo: o Estado e, por conseguinte, o particular,
pessoa física ou jurídica prejudicada. • ADMITE Tentativa
Consuma-se no momento da prática do ato de violência
Consumação e Tentativa (ação), com a lesão provocada.
• ADMITE Tentativa Descrição do Crime
Consuma-se com a prática de ato revelador do patrocínio, Conforme já mencionado, não é condição necessária que
que ofenda a moralidade administrativa, independente de ob- para incidir em violência arbitrária ou abuso de autoridade a
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

tenção de vantagem. condição específica de policial.


Descrição do Crime Ex.: Um fiscal sanitário que, no gozo de suas atribuições,
Utilizando da qualidade de funcionário, o agente público de- ao encontrar uma bandeja de iogurte vencida, decide
fende interesse alheio de forma direta: pelo próprio funcionário, por lacrar o estabelecimento pelo prazo de noventa dias,
ou então, de forma indireta: participação de uma terceira pessoa. além da aplicação da multa de R$ 100.000,00. Nessa hi-
pótese, é claro observar que o agente abusou da atribui-
Considerações ção do seu cargo prejudicando um particular. Pois, sua
A advocacia administrativa exige mais do que um mero ato decisão, não foi proporcional ao agravo.
de encaminhamento ou protocolado de papéis. É necessário Considerações
que se verifique o efetivo patrocínio de uma causa, complexa
ou não, perante a administração. • Figura Qualificadora Especial
• Figura Qualificadora Caso o agente seja ocupante de cargo em comissão, fun-
ção de direção ou assessoramento, Art. 327,§2º, CP.
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo:
O simples emprego de intimidação moral, formada por
Para ensejar na qualificadora, o agente que pratica o ato de ameaças, não é suficiente para caracterizar o crime desse artigo. 97
patrocínio deve ter conhecimento de que o pleito é ilegítimo.
A pena do crime de violência arbitrária será somada à pena Exercício Funcional Ilegalmente
98 correspondente à violência.
Antecipado ou Prolongado
Abandono de Função Art. 324. Entrar, no exercício de função pública antes de
Art. 323. Abandonar cargo público, fora dos casos per- satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-
mitidos em lei: -la, sem autorização, depois de saber oficialmente que
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

foi exonerado, removido, substituído ou suspenso:


Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
§ 1º. Se do fato resulta prejuízo público:
O exercício ilegal de função pública afeta toda uma estru-
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. tura organizacional da Administração Pública, influindo dire-
§ 2º. Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa tamente na prestação de serviço público e no seu normal fun-
de fronteira: cionamento. O referido crime tem por finalidade punir quem
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. entra, exerce ou continua no serviço público de forma ilegal. É
Tutela-se o regular desenvolvimento das atividades admi- um crime de ação penal pública incondicionada.
nistrativas, punindo-se a interrupção do trabalho do servidor Classificação
público que abandona suas atividades, fora dos casos permi- É um crime simples, de mão própria e formal.
tidos em lei. É um crime doloso, não existindo a modalidade culposa.
Classificação Sujeitos do Crime
Trata-se de um crime de mão própria, ou seja, que só pode Sujeito Ativo: é o funcionário público já nomeado que ain-
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ser cometido pelo próprio agente. da não cumpriu todas as exigências para entrar no cargo ou
É um crime omissivo próprio, cometido por um funcionário que deixou de ser funcionário por ter sido exonerado, suspen-
específico, no momento em que não cumpre com suas fun- so, removido etc.
ções. Se for pessoa inteiramente alheia à função pública, o crime
Pune-se somente na modalidade dolosa. é o previsto no Art. 328 do CP.
Sujeito Passivo: é o Estado.
Sujeitos do Crime
Sujeito Ativo: embora o dispositivo diga abandono de fun-
Consumação e Tentativa
Por ser um crime formal, o delito se consuma com o pri-
ção, entende a doutrina que somente o funcionário ocupante de
meiro ato realizado pelo funcionário público em alguma das
cargo público pode cometer o crime, logo não prevalece a regra condições do tipo penal, não necessitando que a Administra-
do Art. 327, CP. ção Pública sofra um efetivo dano ou prejuízo. A tentativa é
Sujeito Passivo: A Administração Pública. possível, haja vista o caráter plurissubsistente do crime.
Consumação e Tentativa Descrição do Crime
• NÃO Admite Tentativa A primeira parte do caput versa uma norma penal em
É consumado após um tempo relevante, sendo previsto branco homogênea, pois necessita de complementação por
uma probabilidade de dano à Administração, porém sem ne- legislação específica para saber quais são as exigências legais.
cessidade que esse realmente ocorra para a efetiva consuma- A segunda parte do caput descreve um elemento norma-
ção do crime. tivo específico, sendo necessário que o agente tenha o efetivo
conhecimento de sua situação perante a Administração Pública.
Há doutrinadores que dizem que só haverá o crime de
Aquele que ingressa no exercício da função pública, antes
abandono após 31 dias ou mais de ausência injustificada no
de apresentar sua declaração de bens, incide no crime em tela
trabalho. se praticar algum ato inerente ao cargo.
Descrição do Crime
Violação de Sigilo Funcional
• Forma Qualificada pelo Prejuízo Art. 325. Revelar fato de que tem ciência em razão do
§ 1º Se do fato resulta prejuízo público: cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. lhe a revelação:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, ou multa, se
Nessa hipótese, compreende duas espécies de prejuízo,
o fato não constitui crime mais grave.
sendo o prejuízo social ou coleto, bem como aquele que afeta
§1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
os serviços públicos e o interesse da coletividade.
I. Permite ou facilita, mediante atribuição, forneci-
• Forma Qualificada Pelo Lugar de Fronteira mento e empréstimo de senha ou qualquer outra
§ 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sis-
temas de informações ou banco de dados da Admi-
de fronteira: nistração Pública;
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. II. Se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
Considera-se fronteira a faixa situada até 150 Km de largu- §2º Se da ação ou omissão resulta dano á Administra-
ra, ao longo das fronteiras terrestres. ção Pública ou a outrem:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. Funcionário Público
Certos assuntos da Administração Pública possuem caráter Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efei-
sigiloso e são imprescindíveis à segurança da sociedade e do tos penais, quem, embora transitoriamente ou sem re-
Estado. Esse artigo tem por finalidade preservar os interesses muneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
públicos, privados e coletivos do sigilo das informações ne- § 1º Equipara-se a funcionário público: quem exerce car-
cessárias ao normal funcionamento da máquina pública. É um go, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem
crime de ação penal pública incondicionada. trabalha para empresa prestadora de serviço contratada
Classificação ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública.
É um crime simples, de mão própria (somente pode ser
§ 2º A pena será aumentada da terça parte quando os
cometido por funcionário público que tenha o dever de asse- autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocu-
gurar o sigilo) e formal. pantes de cargos em comissão ou de função de direção
É considerado um crime doloso não tendo especificado ou assessoramento de órgão da administração direta,
em seu tipo penal um especial fim de agir. Não admite a mo- sociedade de economia mista, empresa pública ou fun-
dalidade culposa. dação instituída pelo poder público.
Sujeitos do Crime São funcionários públicos não só aqueles que desempe-
nham cargos criados por lei, regularmente investidos e no-
Sujeito Ativo: por ser um crime de mão própria, exige-se meados, remunerados pelo cofres públicos, como também os
uma qualidade especial do sujeito ativo do crime, podendo que exercem emprego público (contratados, mensalistas, dia-
ser tanto o funcionário público em efetivo exercício, quanto o ristas, tarefeiros, nomeados a título precário) e, ainda, todos
aposentado, afastado ou em disponibilidade, podendo o par- que, de qualquer forma, exercem função pública.
ticular ser partícipe do crime (Art. 325 do CP) se concorreu de Para fins penais, considera-se funcionário público aquele
qualquer modo com a revelação da informação. que trabalha para uma empresa particular que mantém convê-
Sujeito Passivo: é o ente público que teve o seu segredo nio com o Poder Público, e para este presta serviço.
revelado e, eventualmente, o particular lesado pela revelação
do segredo.
Dos Crimes Praticados por Particular
Consumação e Tentativa Contra a Administração em Geral
O delito passa a ser consumado no momento em que a Usurpação de Função Pública
informação sigilosa é revelada a terceira pessoa, não exigindo Art. 328. Usurpar o exercício de função pública:
que tal informação seja de conhecimento geral do público.
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.

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A tentativa somente é aceita se for uma conduta por es- Parágrafo único. se do fato o agente aufere vantagem:
crito e, por circunstâncias alheias à vontade do agente, a carta
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
não chega ao destino.
Introdução
Descrição do Crime
Esse crime foi criado com o intuito de punir aquele que
Figuras Equiparadas do § 1º
exerce função pública sem possuir legitimidade para tanto,
Inciso I, exemplo: “A”, um analista da Receita Federal, re- pois o Estado tem interesse em preservação da função das
vela a senha do banco de dados do cadastro dos contribuintes, pessoas realmente investidas ao exercício das funções públi-
para que sua amiga encontre o endereço de seu ex-namorado.
cas. É um crime de ação penal pública incondicionada.
Inciso II, exemplo: “A”, analista da Receita Federal, utiliza a
senha restrita do banco de dados dos servidores para desco- Classificação
brir informações fiscais de seus colegas de repartição. É um crime simples, comum e formal.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Qualificadora § 2º É considerado um crime doloso, não dependendo de nenhu-


Nessa figura, existe a lesão à Administração Pública ou a ma finalidade. Não é admitida a culpa.
algum particular, ou seja, é considerado um crime de dano. Sujeitos do Crime
Aplicando-se o princípio da especialidade, a violação de Sujeito Ativo: Por ser um crime comum, pode ser prati-
sigilo funcional envolvendo certames de interesse público não cado por qualquer pessoa, inclusive por funcionário público.
caracteriza o crime do Art. 325, mas sim o do Art. 311-A do CP. Ex.: um escrivão que atue exercendo tarefas exclusivas de um
Delegado de Polícia.
Violação de Sigilo de Proposta
Sujeito Passivo: Imediatamente é a Administração Pública
de Concorrência e secundariamente a pessoa física ou jurídica à qual recaiu a
Art. 326. Devassar o sigilo de proposta de concorrência conduta criminosa.
pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Consumação e Tentativa
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Trata-se de crime formal. Consuma-se o delito com a prá-
Revogado tacitamente pelo Art. 94 da Lei nº 8.666/93 (Lei tica de ato exclusivo, que só pode ser praticado por pessoa 99
das Licitações). legalmente investida no ofício usurpado.
A tentativa é plenamente possível. No caso do agente ser Ex.: “A”, policial civil, vai cumprir um mandado de prisão
100 impedido de executar ato de ofício por circunstâncias alheias preventiva expedido em face de “B”, este se agarra a um
a sua vontade. poste para não ser preso.
Nesta hipótese, (Resistência Passiva) não se configura o cri-
Descrição do Crime me de Resistência. Todavia, o agente responderá pelo crime de
A figura qualificada (Art. 328, parágrafo único) se refere Desobediência (Art. 330, CP).
a um crime material, visto que o agente aufere vantagem do
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Violência:
delito, sendo a vantagem de qualquer natureza.
A violência deve ser dirigida contra pessoa, pois se for di-
Resistência rigida contra coisa o agente responderá pelo crime de dano
qualificado (Art. 163, parágrafo único, III, CP).
Art. 329. Opor-se à execução de ato legal, mediante
violência ou ameaça a funcionário competente para A violência deve ser empregada durante a execução do
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: ato legal, pois se for empregada antes ou depois o agente res-
ponderá pelo crime de ameaça (Art. 147, CP) ou lesão corporal
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
(Art. 129, CP).
§ 1º Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
A violência deve ser empregada para impedir o cumpri-
Pena - reclusão, de um a três anos. mento da ordem, se for outra a causa, o crime será outro.
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo Figura qualificada (Art. 329, § 1º, CP): O que seria o exau-
das correspondentes à violência. rimento do crime funciona como uma qualificadora. Nesta hi-
Introdução pótese o crime é material.
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Esse crime visa proteger a Administração Pública e, tam- Considerações


bém, a atuação do funcionário público na realização de atos Legalidade do Ato: o ato deve ser legal, mesmo que in-
legais e a integridade física e moral do particular que lhe pres- justo.
ta auxílio. É um crime de ação penal pública incondicionada. Ex.: O juiz decretou a prisão preventiva de “A” pois ele é
Classificação o principal suspeito de ter estuprado oito mulheres numa
É um crime pluriofensivo (atinge mais de um bem jurídi- pequena cidade do interior. No momento da realização da
co), comum e formal. prisão, “A” agrediu os policiais militares, pois jurava que era
inocente. Uma semana após a prisão, “B” o verdadeiro es-
É um crime doloso e mais a intenção de impedir a execu-
tuprador fez duas novas vítimas e foi preso em flagrante. O
ção de ato legal (especial fim de agir). Não se admite a moda- juiz mandou soltar “A”, mas este responderá pelo crime de
lidade culposa. resistência, pois o ato, apesar de injusto, era legal.
Sujeitos do Crime
Desobediência
Sujeito Ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (cri-
me comum). Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário
público:
O funcionário público pode ser sujeito ativo deste crime
nas situações em que age como particular. Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
O sujeito ativo (autor) pode ser pessoa alheia à execução O crime de desobediência, também conhecido como “re-
do ato legal. Ex.: Filho que procura resistir à prisão legítima sistência passiva”, apresenta pontos em comum com o crime
do pai mediante violência ou grave ameaça. de resistência (Art. 329 do CP), porém se diferencia pela au-
sência de violência ou grave ameaça ao funcionário público ou
Sujeito Passivo: primariamente o Estado e, secundaria- a pessoa que está auxiliando o funcionário. É um crime de ação
mente, o funcionário público agredido ou ameaçado pela re- penal pública incondicionada.
sistência.
Classificação
Consumação e Tentativa
É um crime simples, comum e formal.
É crime formal. Não importa se o agente consegue ou não
Dolo. O agente deve ter consciência da legalidade da or-
impedir a execução do ato legal, o crime estará consumado.
dem e da competência do funcionário público, sob pena de
Em regra admite tentativa, com exceção de ameaça verbal. atipicidade do fato (o fato não será crime). Não se admite a
Descrição do Crime modalidade culposa.
Opor-se: impedir a execução do ato legal. O ato legal deve Pode ser praticado por ação ou por omissão.
ser específico e concreto, isto é, apto a gerar efeitos imediatos Sujeitos do Crime
e dirigido a pessoa(s) determinada(s).
Sujeito Ativo: qualquer pessoa, desde que vinculada ao
• Espécies de Resistência cumprimento da ordem legal imposta pela autoridade pública.
Resistência ATIVA: é o crime de resistência do Art. 329, Se o agente devia cumprir a ordem, por dever de ofício,
caput, do Código Penal. tipifica-se, em tese, o delito de prevaricação.
Resistência PASSIVA: o agente, sem o emprego de violên- Sujeito Passivo: é o Estado de forma imediata e mediata-
cia ou ameaça a funcionário público competente ou a quem mente é o funcionário público o qual teve a ordem descumpri-
lhe presta auxilio, se opõe à execução de ato legal. da injustificadamente.
Consumação e Tentativa Classificação
ї A consumação depende do tipo de ordem: Crime de forma livre, admitindo qualquer meio de execu-
Se for uma omissão do agente: no momento em que o ção.
agente atuar, violando, assim, a ordem de abster-se; Dolo. Vontade livre e consciente de agir com a finalidade
Se for uma ação do agente: no momento em que transcor- de desprestigiar a função pública do ofendido. Não se admite
rer o prazo para que o agente realize determinado ato e este a modalidade culposa.
não cumpra a ordem dada. É um crime formal. Independe, para sua consumação, de
Admite-se a tentativa na modalidade comissiva (ação). um resultado naturalístico.
Não é cabível na modalidade omissiva.
Sujeitos do Crime
Conduta Sujeito Ativo: crime comum (pode ser praticado por qual-
Desobedecer (Recusar cumprimento / Desatender / Des- quer pessoa).
cumprir) ordem legal de funcionário público competente para É possível que o funcionário público seja autor do crime
emiti-la. Necessita da presença de dois requisitos: de desacato, pois, ao cometer este delito, ele se despe de sua
Existência de uma ordem legal: não se trata de uma mera qualidade de funcionário público e passa a atuar como um
solicitação ou pedido. particular. Nesta situação não importa se o agente é ou não
Ordem emanada de funcionário público competente: o superior hierárquico do funcionário público ofendido.
funcionário deve possuir competência funcional para emitir a O advogado pode praticar (ser sujeito ativo) o crime de
ordem. desacato caso ofenda funcionário público no exercício da fun-
Considerações ção ou em razão dela.
Segundo a Jurisprudência, pratica o crime de desobediência Sujeito Passivo: o Estado, primariamente, e o funcionário
o indivíduo que se recusa a identificar-se criminalmente nos casos público ofendido, secundariamente.
previstos em lei. Assim, como o indiciado que se recusa a identifi- Será vítima somente o funcionário público assim definido
car-se civilmente. no caput do Art. 327 do CP, não abrangendo o equiparado.
Pratica o crime previsto no Art. 307 da Lei nº 9.503/97 (Código Consumação e Tentativa
de Trânsito Brasileiro), o indivíduo que viola a suspensão ou proi-
bição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo É crime Formal. Ocorre no momento em que o funcionário
automotor. público é ofendido. Não importa se sente ou não ofendido com
Desobediência X Resistência os atos praticados. Não é necessário que outras pessoas pre-
senciem a ofensa proferida.

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Desobediência (Art. 330, CP) Resistência (Art. 329, CP)
Admite-se a tentativa, salvo quando a ofensa é praticada
Não há emprego de violência ou Há emprego de violência ou verbalmente.
ameaça. ameaça.
Descrição do Crime
Apontamentos
O autor deste crime deve ter ciência de que o ofendido é
ї Não é crime de desobediência a conduta do agente que
funcionário público e se encontra no exercício da função públi-
se recusa a realizar:
ca ou que a ofensa é proferida em razão dela. Deve ter ainda
▷ Teste de bafômetro; o propósito de desprestigiar a função pública do funcionário
▷ Exame de sangue (hematológico); público (especial fim de agir).
▷ Exame de DNA; Não é necessário que o funcionário público se encontre no
▷ Dosagem alcoólica; interior da repartição pública. Basta que esteja no exercício da
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

▷ Exame grafotécnico. função pública.


Lembre-se de que ninguém é obrigado a produzir prova Ex.: Pedro encontra o Juiz de Direito no supermercado e
contra si mesmo, pois trata-se de desdobramento lógico da ga- o chama de corrupto.
rantia constitucional ao silêncio. Haverá crime único de desacato caso o agente ofenda
vários funcionários públicos no mesmo contexto fático, pois
Desacato o sujeito passivo é a Administração Pública.
Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da
função ou em razão dela: Considerações
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Não haverá o crime de desacato caso a ofensa diga res-
Todo funcionário público representa o Estado e age em peito à vida particular do funcionário público. Todavia, poderá
seu nome a todo o momento em que exerce sua função. O caracterizar crime contra a honra.
crime de desacato (Art. 332 do CP) foi criado com o intuito Ex.: Afirmar que o Promotor de Justiça foi visto saindo
de proteger o agente público e o prestígio da função exercida de um prostíbulo.
pelo funcionário público. É um crime de ação penal pública Vejamos as diferenças entre os crimes de injúria (Art. 140 101
incondicionada. do CP) e desacato (Art. 331 do CP).
Desacato (Art. 331, CP) Injúria (Art. 140, CP) valor a pretexto de convencer (influir) o Delegado a não
102 instaurar uma investigação contra o filho de “A”.
A ofensa é proferida na PRE- A ofensa é proferida na AUSÊN-
SENÇA do funcionário público. CIA do funcionário público. Considerações
Caso a aludida influência seja real, poderá haver outro cri-
Crime contra a Administração me (corrupção).
Crime contra a honra.
Pública.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Ação Penal Pública Incondicio- Regra: Ação Penal iniciativa Causa de Aumento de Pena, Parágrafo Único
nada. privada. Caso o agente, além de toda a fraude empregada, alega
Tráfico de Influência que a vantagem também se destina ao funcionário público,
será aquele merecedor de pena majorada, visto que o bem ju-
Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para rídico tutelado no tipo é mais gravemente afetado, qual seja, o
outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pre- prestígio da Administração Pública.
texto de influir em ato praticado por funcionário públi-
co no exercício da função: Corrupção Ativa
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a
Parágrafo único. a pena é aumentada da metade, se o funcionário público, para determiná-lo a praticar, omi-
agente alega ou insinua que a vantagem é também tir ou retardar ato de ofício:
destinada ao funcionário. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
O crime de tráfico de influência foi criado pela Lei nº Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se,
9.127/95, porém antes de sua criação, o delito era chamado de em razão da vantagem ou promessa, o funcionário re-
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exploração de prestígio (Art. 357 do CP), sendo esse um crime tarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo
contra a Administração da justiça e o tráfico de influência (Art. dever funcional.
332 do CP) contra a Administração Pública. O crime em apreço O crime de corrupção ativa está tipificado no Art. 333 do
é de ação penal pública incondicionada. Código Penal e faz parte dos crimes cometidos por particular
Classificação contra a Administração Pública. Isso não quer dizer que não
possa ser cometido por funcionário público que, se praticá-
É classificado como crime simples, comum e FORMAL.
-lo, estará se despindo de sua função pública e agindo como
É um crime doloso e com um especial fim de agir (vanta- um particular.
gem para si ou para outrem). Não é admitida a modalidade
É um crime de ação penal pública incondicionada.
culposa.
Sujeitos do Crime Classificação
É considerado um crime formal, que para sua consumação
Sujeito Ativo: por ser um crime comum, pode ser pratica-
não se exige um resultado.
do por qualquer pessoa.
Classificado como plurissubsistente, podendo sua conduta
Sujeito Passivo: de maneira imediata é o Estado e media-
ser fracionada em diversos atos.
tamente, o comprador da influência (pessoa que paga ou pro-
mete vantagem), com o fim de obter benefício do funcionário É um crime doloso, acrescido de um especial fim de agir
público. (determinar o funcionário público a praticar, omitir ou retar-
dar ato de ofício).
Consumação e Tentativa
É um crime de consumação antecipada ou formal, caracte-
Sujeitos do Crime
rizando-se pela realização da conduta descrita no tipo penal, Sujeito Ativo: crime comum (qualquer pessoa).
independentemente da obtenção da vantagem. Observação: Funcionário público também pode ser sujeito ativo deste
com o núcleo do tipo “obter”, o crime é material, consumando crime, desde que realize a conduta sem aproveitar-se das faci-
o delito no momento da obtenção da vantagem. lidades inerentes à sua condição funcional.
Tentativa é possível em determinados casos, do contrá- Ex.: Pedro, analista judiciário do TRF, oferece dinheiro a
rio não será admitida, pois se a conduta for realizada ver- um Delegado de Polícia para que este não o prenda em
balmente não há que se falar em tentativa. flagrante pela prática do crime de porte ilegal de arma
de fogo.
Descrição do Crime O particular só responderá por corrupção ativa se este ofe-
Por haver vários núcleos do tipo (exigir, solicitar, obter, recer ou prometer vantagem indevida. A simples entrega de
cobrar), o crime de tráfico de influência é classificado como vantagem ilícita solicitada por funcionário público não confi-
crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, responden- gura crime nestes casos, o particular será vítima secundária de
do o agente se praticado no mesmo contexto fático, por crime corrupção passiva (Art. 317 do CP).
único, mesmo se realizar mais de um núcleo do tipo. Sujeito Passivo: o Estado e, secundariamente, a pessoa
Segundo STJ é dispensável para a caracterização do delito que física ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa.
o agente efetivamente influa em ato praticado por funcionário pú-
blico, basta que o mesmo alegue ter condições para tanto. Consumação e Tentativa
Ex.: “A”, dizendo ser amigo de um Delegado de Polícia, É crime formal. Ocorre a consumação com a oferta ou
sem realmente sê-lo, solicita a “B” que entregue certo promessa de vantagem indevida ao funcionário público,
independentemente da sua aceitação. Ofereceu ou prome- ção ativa, pois o agente não ofereceu nem prometeu vanta-
teu, o crime já está consumado. gem indevida. Nessa hipótese, duas situações podem ocorrer:
Também não é necessária a prática, omissão ou retarda- ▷ O funcionário público Dá o jeitinho. Responderá por
mento do ato de ofício. Desse modo, se o agente oferece ou corrupção passiva privilegiada (Art. 317, § 2º, CP) e o
promete a vantagem indevida ao funcionário público, o crime particular será partícipe deste crime;
estará consumado. ▷ O funcionário público Não dá o jeitinho. O fato é atí-
A tentativa é possível, salvo quando o crime é praticado pico para ambos.
verbalmente.
Contrabando e Descaminho
Descrição do Crime
Vantagem Indevida: não precisa ser necessariamente pa- Descaminho (Art. 334)
trimonial/econômica. Pode ter qualquer natureza: patrimonial, Antes da publicação da Lei nº 13.008/2014, o Art. 334 do
sexual, moral etc. Código Penal tipificava a prática dos crimes de contrabando
Meios de Execução: o delito de corrupção ativa pode ser e descaminho como crime único, atribuindo pena de reclusão
praticado de duas formas: de um a quatro anos. Com a nova redação ocorre a separação
dos crimes de contrabando e descaminho, tornando-os crimes
Oferecer vantagem indevida: nesta hipótese, a conduta
autônomos.
parte do particular que põe à disposição a vantagem indevida
ao funcionário público e este a recebe. Desse modo, o particular Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de
praticou o crime de corrupção ativa (Art. 333 do CP) e o funcio- direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou
nário público o crime de corrupção passiva (Art. 317 do CP). pelo consumo de mercadoria
PROMETE vantagem indevida: nesta hipótese, a conduta Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
parte do particular que promete a vantagem indevida ao fun- § 1º Incorre na mesma pena quem:
cionário público e este a aceita. Desse modo, o particular prati- I. pratica navegação de cabotagem, fora dos casos
cou o crime de corrupção ativa (Art. 333 do CP) e o funcionário permitidos em lei;
público o crime de corrupção passiva (Art. 317 do CP). Não é II. pratica fato assimilado, em lei especial, a des-
necessário que o particular efetivamente cumpra sua promes- caminho;
sa para que ocorra a consumação do delito, basta a simples III. vende, expõe à venda, mantém em depósito
promessa. ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
Não se configura a infração penal quando a oferta ou ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
promessa tem o fim de impedir ou retardar ato ilegal. industrial, mercadoria de procedência estrangeira
que introduziu clandestinamente no País ou impor-
Causa de Aumento de Pena tou fraudulentamente ou que sabe ser produto de

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Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, introdução clandestina no território nacional ou de
em razão da vantagem ou promessa, o funcionário re- importação fraudulenta por parte de outrem;
tarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo IV. adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
dever funcional. ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
A corrupção ativa é um crime formal. Desse modo, o que industrial, mercadoria de procedência estrangei-
seria o exaurimento do crime (retardar ou omitir ato de ofí- ra, desacompanhada de documentação legal ou
cio, ou o praticar infringindo dever funcional) funciona como acompanhada de documentos que sabe serem
uma causa de aumento de pena. falsos.
Considerações § 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efei-
tos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular
O crime de corrupção ativa é uma exceção à Teoria Unitária
ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ou Monista do concurso de pessoas (Art. 29 do CP), pois o par-


exercido em residências.
ticular que oferece ou promete vantagem indevida responde
pelo crime de corrupção ativa (Art. 333 do CP), já o funcionário § 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de desca-
público que recebe ou aceita promessa de vantagem indevida minho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou
responde pelo crime de corrupção passiva (Art. 317 do CP). fluvial.
No Descaminho, as mercadorias apreendidas são legais no
Corrupção Ativa território brasileiro, porém não há o devido pagamento de tri-
Corrupção Passiva (Art. 317, CP)
(Art. 333, CP)
butos pela entrada e saída de mercadorias.
Sujeito Ativo: Particular Sujeito Ativo: Funcionário Público
• Descrição do Crime
Fato Atípico ՚ Solicitar ▷ Objeto Material: tributos não recolhidos.
Oferecer ՜ Receber ▷ Núcleo do Tipo: iludir, ou seja, ludibriar, frustrar o
Prometer ՜ Aceitar Promessa pagamento do tributo.
▷ Sujeito Ativo: crime comum (qualquer pessoa) por
Apontamentos ser um crime comum, pode ser praticado por qual-
Na hipótese em que o particular pede para o funcionário quer pessoa, até mesmo um funcionário público, 103
público dar um jeitinho não responderá pelo crime de corrup- desde que o funcionário não tenha o dever funcio-
nal de impedir a prática do crime de contrabando e crimes tipificam o mesmo resultado, qual seja, o descaminho
104 descaminho. ou o contrabando.
▷ Sujeito Passivo: o Estado São crimes materiais
Ex.: Tício, policial civil, auxilia Caio a contrabandear caixas (consumam-se com a produção de um resultado)
de cigarro para o outro lado da fronteira. Tício não tem um O agente importa ou exporta a mercadoria proibida
especial dever funcional de evitar tal conduta, portanto res- pelas vias ordinárias (caminhos normais), ou seja,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ponderá pelo crime de descaminho ou contrabando capitu- pela fiscalização alfandegária: o crime estará
lados, respectivamente, nos Art. 334 e 334-A do CP, como consumado no instante em que a mercadoria é
partícipe ou coautor, a depender do contexto fático. Contrabando liberada pela autoridade alfandegária.

Contrabando (Art. 334-A) O agente se vale dos meios clandestinos para


importar ou exportar a mercadoria proibida. O
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: crime estará consumado no momento da entrada
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. ou saída da mercadoria do território nacional.
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
Se consuma com a liberação da mercadoria (per-
I. pratica fato assimilado, em lei especial, a contra- Descaminho mitida) sem o pagamento de tributo devido pela
bando; sua entrada ou saída do Brasil.
II. importa ou exporta clandestinamente mercado-
ria que dependa de registro, análise ou autorização Crimes específicos: por ter natureza genérica ou residual,
de órgão público competente; o crime de contrabando e descaminho somente será aplicado
III. reinsere no território nacional mercadoria brasi- quando a conduta de descaminho ou contrabando de merca-
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leira destinada à exportação; doria não configurar algum crime específico.


IV. vende, expõe à venda, mantém em depósito Ex.: O indivíduo que importar ou exportar drogas, sem
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio autorização ou em desacordo com determinação legal,
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou responderá pelo crime de tráfico internacional de drogas
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; (Art. 33, Lei nº 11.343/06. Lei de Drogas).
V. adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio O indivíduo que importar ou exportar arma de fogo,
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou acessório ou munição, sem autorização da autoridade
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. competente, responderá pelo crime de tráfico internacio-
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efei- nal de arma de fogo (Art. 18, Lei nº 10.826/03. Estatuto do
tos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular Desarmamento).
ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o Competência para julgamento: Justiça federal, pois
exercido em residências. ofendem interesses da União (Art. 109, IV, CF/88).
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de contra- Súm. 151, STJ: A competência para o processo
bando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou e julgamento por crime de contrabando ou
fluvial. descaminho define-se pela prevenção do Juízo
Diferentemente do que ocorre no Descaminho, no crime Federal do lugar da apreensão dos bens.
de Contrabando as mercadorias são proibidas no território
brasileiro. Dessa forma, NÃO é possível a aplicação do princí- Impedimento, Perturbação ou
pio da insignificância. Fraude de Concorrência
• Descrição do Crime: Art. 335. Impedir, perturbar ou fraudar concorrência
▷ Objeto Material: mercadoria contrabandeada. pública ou venda em hasta pública, promovida pela
▷ Núcleos do Tipo: importar, exportar mercadoria con- administração federal, estadual ou municipal, ou por
trabandeada. entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar con-
corrente ou licitante, por meio de violência, grave
▷ Sujeito Ativo: crime comum (qualquer pessoa).
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
▷ Sujeito Passivo: o Estado.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa,
• Importante além da pena correspondente à violência.
A importação de bebidas é legal, porém a legislação traz Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém
uma restrição quanto à quantidade. Caso ocorra o excesso da de concorrer ou licitar, em razão da vantagem oferecida.
quantidade permitida incidirá o Contrabando, Art. 334-A. Dife- Revogado tacitamente pelos Art. 93 e 95 da Lei nº 8.666/93
rentemente ocorre no caso do crime de Descaminho, Art. 334, (Lei das Licitações)
no qual ocorre a sonegação do tributo devido.
É mais uma exceção à teoria monista ou unitária no con- Inutilização de Edital ou de Sinal
curso de pessoas (Art. 29, caput, CP). Haja vista ser a conduta Art. 336. Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou cons-
do funcionário público que facilita o contrabando ou desca- purcar edital afixado por ordem de funcionário público;
minho (Art. 318 do CP) ser mais reprovável em razão de sua violar ou inutilizar selo ou sinal, empregado por deter-
natureza funcional perante a administração pública, as condu- minação legal ou por ordem de funcionário público, para
tas foram separadas e com penas distintas, porém, ambos os identificar ou cerrar qualquer objeto:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. É um crime doloso, e não depende de nenhuma finalidade
O que é protegido nesse crime é a Administração Pú- específica. Não admite a modalidade culposa.
blica, pois acarreta complicação ao interesse público e o
normal desenvolvimento de suas atividades.
Sujeitos do Crime
Sujeito Ativo: por ser um crime comum, pode ser cometi-
Classificação do por qualquer pessoa, desde que não seja pelo funcionário
É considerado um crime simples, pois ofende um único bem público responsável pela custódia dos documentos.
jurídico e também material, pois para sua consumação gera um Sujeito Passivo: primeiramente é o Estado, e secundaria-
resultado naturalístico. mente a pessoa jurídica ou física que foi prejudicada pela ação
É um crime doloso, não possuindo um especial fim de agir. criminosa.
Não é admitida a modalidade culposa. Consumação e Tentativa
Sujeitos do Crime Consuma-se o crime no momento da subtração de livro
Sujeito Ativo: por ser um crime comum, pode ser pratica- oficial, processo ou documento, mediante apoderamento
do por qualquer pessoa, até mesmo funcionário público. do agente ou no momento da inutilização total ou parcial
Sujeito Passivo: o Estado. da coisa.
A tentativa é possível devido o crime ser de caráter pluris-
Consumação e Tentativa subsistente.
É exigido para sua consumação um resultado natura-
Descrição do Crime
lístico, não sendo suficiente para a consumação a conduta
descrita no tipo. Subtrair e inutilizar são os núcleos do tipo. Subtrair
é retirar um dos elementos do tipo (livro oficial, proces-
É possível que haja o fracionamento do iter criminis, por-
so ou documento) da custódia do funcionário público, se
tanto é admitida a tentativa. apoderando do item.
Descrição do Crime
Sonegação de Contribuição
Edital: tem natureza administrativa (licitação) ou judicial
(citação). Previdenciária
Selo ou sinal: qualquer tipo de marca feita por determi- Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social pre-
nação legal (lacre de interdição da vigilância sanitária). videnciária e qualquer acessório, mediante as seguin-
Núcleos do tipo: rasgar, inutilizar, conspurcar (sujar) e tes condutas:
violar. I. Omitir de folha de pagamento da empresa ou de
Não haverá o crime se os objetos materiais referidos no documento de informações previsto pela legislação

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tipo perderam utilidade, como na hipótese do edital com previdenciária segurados, empregado, empresário,
prazo vencido. trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a
Não pratica o crime aquele que reage, moderadamente, este equiparado que lhe prestem serviços;
contra ato abusivo (ilegal) de funcionário público, rasgando, II. Deixar de lançar mensalmente nos títulos pró-
por exemplo, tira de papel afixada por oficial de justiça na prios da contabilidade da empresa as quantias des-
porta de sua moradia, anunciando seu despejo. contadas dos segurados ou as devidas pelo empre-
gador ou pelo tomador de serviços;
Subtração ou Inutilização de
III. Omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros
Livro ou Documento auferidos, remunerações pagas ou creditadas e
Art.337. Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, li- demais fatos geradores de contribuições sociais
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

vro oficial, processo ou documento confiado à custódia previdenciárias:


de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
serviço público: § 1º É extinta a punibilidade se o agente, esponta-
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não neamente, declara e confessa as contribuições, im-
constitui crime mais grave. portâncias ou valores e presta as informações devi-
Essa conduta de subtração, inutilização de livro oficial, das à previdência social, na forma definida em lei ou
processo ou documento é prevista em vários tipos do Código regulamento, antes do início da ação fiscal.
Penal. As leituras dos Arts. 305, 314, 337 e 356 são relativa- § 2º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou apli-
mente semelhantes, porém cada crime possui uma especifi- car somente a de multa se o agente for primário e de
cação diferente que os caracteriza. Esse crime é de ação penal bons antecedentes, desde que:
pública incondicionada. II. O valor das contribuições devidas, inclusive
acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-
Classificação cido pela previdência social, administrativamente,
Considerado um crime simples, pois ofende um único bem como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas 105
jurídico e comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. execuções fiscais.
§ 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua fo- Dos Crimes Contra a
106 lha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00
(um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir Administração da Justiça
a pena de um terço até a metade ou aplicar apenas a
Reingresso de Estrangeiro Expulso
de multa.
Art. 338. Reingressar no território nacional o estrangei-
§ 4º O valor a que se refere o parágrafo anterior será
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ro que dele foi expulso:


reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo
do reajuste dos benefícios da previdência social. de nova expulsão após o cumprimento da pena.
No caso do § 1º, preenchidos os requisitos para a concessão, A expulsão do estrangeiro está regulada na Lei nº 6.815/80.
é dever do juiz conceder o perdão ou aplicar a pena de multa. Estatuto do Estrangeiro. Ocorrendo qualquer das hipóteses
Trata-se de direito público subjetivo do réu. elencadas no Art. 65 desta lei, caberá ao Presidente da Repú-
blica, por meio de decreto, analisar o cabimento e conveniên-
Dos Crimes Praticados por cia da expulsão (ato discricionário administrativo).
Particular Contra a Administração Para tipificar a conduta, é indispensável, após a edição do
decreto de expulsão, que o agente tenha efetivamente saído
Pública Estrangeira do país, retornando em seguida. Desta forma, não configura o
crime a recusa do estrangeiro expulso em deixar o país.
Corrupção Ativa em Transação
Denunciação Caluniosa
Comercial Internacional
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Art. 339. Dar causa à instauração de investigação poli-


Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indi- cial, de processo judicial, instauração de investigação
retamente, vantagem indevida a funcionário público administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade
estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de
praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à que o sabe inocente:
transação comercial internacional: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. § 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço), serve de anonimato ou de nome suposto.
se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário § 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é
público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofício, ou o de prática de contravenção.
pratica infringindo dever funcional. O crime de denunciação caluniosa está capitulado no Art.
339 do Código Penal e versa sobre dar causa à instauração de
Tráfico de Influência em Transação algum procedimento de investigação contra alguém, imputan-
Comercial Internacional do-lhe falsamente crime, sabendo que esse não o cometeu. O
crime de denunciação caluniosa é de ação penal pública in-
Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
condicionada.
para outrem, direta ou indiretamente, vantagem ou
Tal crime é também chamado calúnia qualificada.
promessa de vantagem a pretexto de influir em ato
praticado por funcionário público estrangeiro no exer- Classificação
cício de suas funções, relacionado a transação comer- É considerado um crime pluriofensivo, ou seja, ofende
cial internacional:) mais de um bem jurídico como estudaremos no tópico Sujei-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. tos do Crime, desse mesmo artigo.
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o É um crime comum, podendo ser praticado por qualquer
agente alega ou insinua que a vantagem é também pessoa e unissubjetivo, praticado por um só agente, mas ad-
destinada a funcionário estrangeiro. mite concurso de pessoas.
O elemento subjetivo é o dolo direto, pois é indispensável
Funcionário Público Estrangeiro que o agente tenha o conhecimento da inocência da pessoa a
Art. 337-D. Considera-se funcionário público estrangeiro, quem imputou falsamente o crime, segundo STJ.
para os efeitos penais, quem, ainda que transitoriamen- Sujeitos do Crime
te ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou fun- Sujeito Ativo: qualquer pessoa (crime comum).
ção pública em entidades estatais ou em representações
diplomáticas de país estrangeiro. Sujeito Passivo: o Estado e a pessoa acusada falsamente
de crime.
Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público
estrangeiro quem exerce cargo, emprego ou função Consumação e Tentativa
em empresas controladas, diretamente ou indireta- Por ser um crime material, consuma-se no momento em
mente, pelo Poder Público de país estrangeiro ou que se tem a efetiva instauração da investigação policial, de
em organizações públicas internacionais. processo judicial, instauração de investigação administrativa,
inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra Comunicação Falsa de Crime
alguém que o sabe ser inocente.
É admitida a tentativa.
ou Contravenção
Art. 340. Provocar a ação de autoridade, comunicando-
Ex.: “A” vai à Delegacia e de forma dolosa, imputa “B” a
prática de um crime de roubo, de que o sabia não ter co- lhe a ocorrência de crime ou contravenção que sabe
metido, com o fim de instaurar inquérito policial contra “B”. não se ter verificado:
O Delegado, contudo, já havia encerrado o referido caso e Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
prendido o verdadeiro responsável pelo crime. Constatando
a manobra de “A”, o Delegado o prendeu em flagrante. Introdução
É necessário observar que não se faz necessário que seja a Em que pese ser muito semelhante o caput ao crime de
informação formalizada no inquérito policial. Basta que a con- denunciação caluniosa, veremos que suas diferenças são facil-
duta criminosa desencadeie atos preliminares de investigação. mente perceptíveis.
Aqui já se encontra consumado o crime e esse é o entendimen-
to que prevalece.
Classificação
É considerado um crime SIMPLES por ofender um único
Descrição do Crime bem jurídico e COMUM, podendo ser cometido por qualquer
A falsa imputação deve estar relacionada com crime, se pessoa.
for contravenção, estará caracterizada a forma privilegiada de
É um crime CAUSAL ou MATERIAL, sendo que a consuma-
denunciação caluniosa (Art. 339, § 2º, do CP).
ção depende de alguma medida tomada pela autoridade.
A expressão “contra alguém” versa que deve ser dada a
falsa imputação de pessoa determinada, indicando nome e O elemento subjetivo do agente é o DOLO direto, portanto
atributos pessoais. se a pessoa tem DÚVIDA sobre a existência da infração o fato
é atípico.
Considerações
Ex.: “A” não tem certeza se seu relógio foi furtado ou se
Diferença entre o crime de calúnia e denunciação caluniosa.
foi perdido, e mesmo assim comunica à autoridade), não
DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA (Art. tendo previsão da modalidade culposa.
CALÚNIA (Art. 138, CP)
339, CP)
Sujeitos do Crime
Dar causa à instauração de in- Sujeito Ativo: por ser um crime comum ou geral, pode ser
vestigação policial, de processo
Caluniar alguém, imputan- judicial, instauração de investigação cometido por qualquer pessoa.
do-lhe falsamente fato administrativa, inquérito civil ou ação Sujeito Passivo: o Estado.
definido como crime. de improbidade administrativa contra

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alguém, imputando-lhe crime de que Consumação e Tentativa
o sabe inocente. Por ser um crime material, a mera comunicação falsa não é
É crime contra a Administração da suficiente para a consumação do delito, exigindo a provocação
É crime contra a honra.
Justiça. da ação da autoridade para fazer algo (conduta positiva). Con-
suma-se no momento em que a autoridade toma providência
Regra: Ação Penal Privada. Ação Penal Pública Incondicionada.
para apurar a ocorrência do crime, ou contravenção, comuni-
Não admite a imputação
Admite (é circunstância que importa cado falsamente.
na diminuição da pena pela metade
falsa de Contravenção Penal.
(Art. 339, §22, CP).
A tentativa é possível. Vejamos como exemplo um indi-
víduo que comunica à autoridade um crime ou contravenção
Ex.: José assaltou o Banco do Brasil o Calúnia. que sabe inexistente e, por circunstâncias alheias a sua von-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

José assaltou o Banco do Brasil: eu afirmo isso para o Dele- tade, a autoridade não toma nenhuma providência, tem-se o
gado, querendo a instauração de procedimento inútil e crimino- crime tentado.
so o denunciação caluniosa.
Pode ser praticado o crime de denunciação caluniosa até Descrição do Crime
mesmo pelo Promotor de Justiça que denuncia alguém saben- O delito é comunicação falsa de crime ou contravenção
do ser inocente. Essa denúncia criminosa do Promotor de Jus- (Art. 340 do CP). O agente não acusa nenhuma pessoa, mas
tiça é denominada denúncia temerária ou abusiva. a ocorrência de um crime inexistente. Se o agente vier a indi-
O advogado não tem imunidade penal na calúnia e, nem vidualizar o autor, o STF já decidiu: responde por denuncia-
tampouco, na denunciação caluniosa. ção caluniosa (Art. 339 do CP).
Denunciação Caluniosa Privilegiada O núcleo do tipo provocar significa dar causa à ação da
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é autoridade, podendo ocorrer de várias formas, uma delas é
de prática de contravenção. que o crime ou contravenção penal comunicado não existiu
A pena é reduzida de metade se a imputação é de con- ou houve o fato, mas foi absolutamente diverso do comuni-
travenção penal. Passa-se a ter infração de menor potencial cado para a autoridade. Por isso é considerado um crime de 107
ofensivo, admitindo-se a suspensão condicional do processo. forma livre.
Considerações A autoridade que recebe essa notícia de crime legalmente
108 Caracteriza uma figura equiparada de estelionato (Art. 171, deve ter poderes de investigar a prática de delitos.
§ 2º, V, do CP) quando a comunicação falsa de crime ou con- Não configura o crime quando o réu chama para si a exclu-
travenção é um meio fraudulento para que o agente obtenha siva responsabilidade de ilícito penal de que deve ser conside-
o valor do seguro. O delito (Art. 340 do CP) se torna um ante- rado concorrente (RT 371/160).
factum impunível. Aplica-se o princípio da consunção. Considerações
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Ex.: “A” esconde seu automóvel que é amparado por Para facilitar o entendimento do crime, exemplos:
contrato de seguro e comunica à autoridade que sofreu
Vantagem Pecuniária:
um furto, já com a intenção de receber o dinheiro do se-
Ex.: “A” recebe dinheiro do verdadeiro autor do crime
guro.
para autoacusar-se.
Atentem-se às diferenças: Sacrifício:
Na denunciada caluniosa, o agente imputa a infração penal Ex.: Mãe se autoacusa para livrar o filho que cometeu um
imaginária a pessoa certa e determinada. crime.
Na comunicação falsa de crime, apenas comunica a Exibicionismo:
fantasiosa infração, não a imputando a ninguém ou, im- Ex.: Criminoso se autoacusa para que tenha reputação
putando, aponta personagem fictício. entre a bandidagem de sua comunidade.
Álibi:
Autoacusação Falsa Ex.: “A” imputa a si próprio crime menos grave para se
Art. 341. Acusar-se, perante a autoridade, de crime ine- livrar de crime mais grave, alegando ser no mesmo horá-
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xistente ou praticado por outrem: rio, porém em lugar diferente.


Supondo que João assuma autoria de crime pratica-
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. do por outrem, e não só assume a autoria, mas também
O que leva uma pessoa a se autoacusar falsamente tem imputa a coautoria a outrem, que não o autor do delito.
fundamento em vários motivos, por exemplo, alguém que Nessa situação, Fernando Capez1 diz que o agente irá res-
recebe certa vantagem para assumir um crime praticado por ponder pelos Art. 341 e 339, em concurso formal imperfeito,
outra pessoa ou o próprio pai diz ter sido o autor de um deli- soma das penas.
to para que o filho não seja preso.
Para evitar esse comportamento, o crime de autoacusa- Falso Testemunho ou Falsa Perícia
ção falsa está tipificado no Art. 341 do Código Penal. Crime Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
de ação penal pública incondicionada. verdade como testemunha, perito, contador, tradutor
ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,
Classificação inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Considerado um crime simples por ofender um único bem Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
jurídico que é a Administração da justiça. Comum, podendo
§ 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço se
ser cometido por qualquer pessoa.
o crime é praticado mediante suborno ou se cometido
É um crime doloso, não tendo previsão para crime culposo. com o fim de obter prova destinada a produzir efeito
Crime formal, não exigindo para sua consumação um re- em processo penal, ou em processo civil em que for
sultado naturalístico, sendo possível então a tentativa. parte entidade da administração pública direta ou in-
Sujeitos do Crime direta.
§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no
Sujeito Ativo: por ser um crime comum, pode ser pratica-
processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata
do por qualquer pessoa, porém se ocorreu realmente o crime,
ou declara a verdade.
não pode ser sujeito ativo o próprio autor, coautor ou partícipe
do crime ocorrido. Muitas vezes o testemunho é o único meio probatório para
Sujeito Passivo: é o Estado. a autoridade competente louvar-se da decisão. A testemunha
que mente, nega ou cala a verdade não sacrifica apenas inte-
Consumação e Tentativa resses individuais, mas atinge o Estado, responsável por asse-
É um crime formal, consumando-se no momento em que o gurar a eficácia da justiça.
sujeito efetua a autoacusação perante a autoridade, indepen-
dentemente se a autoridade tomou alguma providência. O Código Penal, visando preservar a busca pela verdade,
A tentativa só é possível quando a autoacusação é come- versa em seu Art. 342 o crime de falso testemunho ou falsa
tida por meio escrito, não se admitindo quando praticado ver- perícia, sendo esse um crime de ação penal pública incondi-
balmente. cionada.
Descrição do Crime Classificação
Não há que se falar em autoacusação falsa quando essa É um crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, pois
conduta for de CONTRAVENÇÃO PENAL. a prática de várias condutas típicas no tocante ao mesmo objeto
O agente que se autoacusa não pode ser autor, coautor ou material acarreta crime único.
partícipe do delito anterior. 1 - Fernando Capez é um professor, jurista e político brasileiro.
Trata-se de crime de médio potencial ofensivo, admitindo- ї Calar a Verdade:
se a suspensão condicional do processo. ▷ Reticência;
É um crime doloso, não exigindo qualquer finalidade es- ▷ Permanecer em silêncio sobre a verdade de deter-
pecífica. minado fato.
Crime de mão própria, comissivo ou omissivo e instantâneo. Ex.: O juiz, durante a oitiva da testemunha formula várias
Sujeitos do Crime perguntas a esta, mas ela nada responde.
Sujeito Ativo: crime de mão própria, somente podendo O agente deve saber que falta com a verdade. Não há
ser praticado pela testemunha, perito, contador, tradutor ou crime quando a testemunha ou perito é acometido por erro
intérprete. indesejado, pelo esquecimento dos fatos ou mesmo pela de-
formação inconsciente da lembrança em razão da passagem
Crime de mão própria. Em que pese o STF já ter admitido
do tempo.
a coautoria quando o advogado instrui a testemunha, são fre-
quentes as decisões de nossos Tribunais afirmando a incompa- É imprescindível que a falsidade verse sobre fato ju-
tibilidade do instituto com o delito de falso testemunho, face a ridicamente relevante (apto a influir de algum modo na
sua característica de mão própria. Desta forma, deve se tratar decisão final da causa). Desse modo, exige-se que a fal-
de mera participação. sidade tenha potencialidade lesiva, de modo a influir no
Toda testemunha pratica o delito, ou apenas aquela que futuro julgamento da causa.
presta compromisso? A corrente majoritária entende que se a Considerações
lei não submete a testemunha informante ao compromisso de
Falso Testemunho e Carta Precatória: na hipótese de fal-
dizer a verdade, não pode cometer o ilícito do Art. 342 do CP.
so testemunho prestado através de carta precatória, o foro
Entretanto, já teve julgados no STF dizendo ser crime.
competente para processar e julgar este crime é do juízo de-
A vítima, por não ser testemunha (sequer equiparada),
precado (comarca onde o falso testemunho foi prestado e
não pratica o crime do Art. 322, podendo ser autora de outro
delito, como por exemplo, denunciação caluniosa. Art. 339 do onde o delito se consumou).
CP. Falso Testemunho em CPI: responde pelo crime previsto
Sujeito Passivo: é o Estado e, secundariamente, a pessoa no Art. 4º, II da Lei nº 1.579/52 a pessoa que presta falso teste-
prejudicada pelo falso testemunho ou pela falsa perícia. munho perante CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).
Consumação e Tentativa Apontamentos
Consumação ocorre no momento em que o depoimento
é encerrado ou que o laudo pericial, os cálculos, a tradução Teoria Subjetiva: O crime em estudo adotou a teoria subje-
ou interpretação são entregues concluídos. Sendo admitida a tiva: só há crime quando o depoente (testemunha) tem cons-
ciência da divergência entre sua versão e o fato presenciado.

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tentativa.
Desse modo, é possível que haja o crime de falso testemunho
É fato atípico a conduta de mentir para evitar sua própria
incriminação, pois ninguém é obrigado a produzir prova contra ainda que o fato seja verdadeiro. Nesta hipótese, é necessário
si mesmo. que a testemunha narre um fato que realmente ocorreu, mas
não foi presenciado por ela.
Descrição do Crime Se o falso testemunho ou falsa perícia se der perante a jus-
Testemunha: aquela pessoa chamada para depor no pro- tiça do trabalho, o seu processo e julgamento estarão afetos
cesso, sob o compromisso de dizer a verdade fática. Perito: ao juízo criminal federal, por ser atingido interesse da União.
quem fornece laudos técnicos de conhecimentos específicos,
que escapam da ciência do Juiz. Contador: especialista em Aumento de Pena
assuntos contábeis. Pessoa que apresenta os cálculos a se- § 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se
rem eventualmente efetuados. Tradutor: tem a função de o crime é praticado mediante suborno ou se cometido
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

adaptar textos em língua estrangeira para o vernáculo (idio- com o fim de obter prova destinada a produzir efeito
ma pátrio). Intérprete: responsável pela comunicação daque- em processo penal, ou em processo civil em que for
le que não conhece o idioma nacional. parte entidade da administração pública direta ou in-
O crime em tela possui três núcleos: direta.
ї Fazer Afirmação Falsa: ї São três as causas de aumento de pena:
▷ Falsidade positiva; ▷ Mediante suborno;
▷ Mentir para a autoridade. ▷ Com o fim de obter prova destinada a produzir efeito
Ex.: Pedro mente para o juiz, dizendo que na data do em processo penal;
crime estava viajando com Ronaldo (acusado) para Flo- ▷ Com o fim de obter prova destinada a produzir efeito
rianópolis. em processo civil em que for parte entidade da ad-
ї Negar a Verdade: ministração pública direta ou indireta.
▷ Falsidade negativa; Retratação: Art. 342, § 2º. O fato deixa de ser punível se,
▷ Recusar-se a confirmar a veracidade de um fato. antes da sentença, no processo em que ocorreu o ilícito, o
Ex.: “A” nega que presenciou o latrocínio praticado por agente se retrata ou declara a verdade. Trata-se de causa de 109
“B” contra “C”. extinção da punibilidade (Art. 107, VI, do CP).
A retratação formulada pelo autor deve comunicar-se aos Sujeito Passivo: é o Estado e de forma mediata, e secun-
110 partícipes do delito. dariamente, figurará no polo passivo o indivíduo que sofreu a
Em processo de competência do Tribunal do Júri, é possí- coação.
vel a retratação extintiva da punibilidade, mesmo após a de- Ex.: Magistrado, delegado, réu, testemunha, jurado
cisão de pronúncia, desde que anterior à sentença de mérito. etc.
Corrupção Ativa de Testemunha ou Perito Consumação e Tentativa
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer Ocorre a consumação no momento do emprego da violên-
outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor cia ou grave ameaça do agente.
ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar A tentativa é possível, visto que o crime tem caráter plu-
a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução rissubsistente.
ou interpretação: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de Ex.: “A” manda uma carta ameaçadora para uma teste-
28.8.2001) munha de um processo judicial, mas por circunstâncias
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.(Redação
alheias a sua vontade, a carta se extravia nos Correios.
dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Segundo STJ, o crime de coação no curso do processo, por
ser um crime formal, se consuma tão só com o emprego da grave
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a
ameaça ou violência contra qualquer das pessoas referidas no Art.
um terço, se o crime é cometido com o fim de obter pro-
344 do CP, independentemente do efetivo resultado pretendido
va destinada a produzir efeito em processo penal ou em
ou de a vítima ter ficado intimidada. (STJ. REsp 819.763/PR)
processo civil em que for parte entidade da administra-
ção pública direta ou indireta. Descrição do Crime
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Conduta: trata-se de modalidade especial de corrupção Se a conduta descrita no tipo penal for realizada no curso de
ativa, abrangendo o mesmo comportamento criminoso, acres- processo de uma CPI, o agente incidirá no crime previsto no Art.
cido do núcleo dar. 4º, I, da Lei nº 1.579/52 que versa sobre as Comissões Parlamen-
Para configurar o delito em tela é necessário que haja al- tares de Inquérito.
gum procedimento oficial em andamento. Não basta para a configuração do delito que a violência ou
Consumação: trata-se de crime formal, logo se consuma grave ameaça seja proferida às pessoas do Art. 344. É neces-
com a simples realização de uma das condutas previstas no sário que se faça tal injusto com o interesse de favorecimento
caput, sendo desnecessária a prática de qualquer ato pelos pos- próprio ou alheio.
síveis corrompidos. Ex.: “A” amigo do réu, ameaça a testemunha a depor em
favor do amigo. / “B” réu em processo judicial, intimida
Coação no Curso do Processo o perito a não revelar o verdadeiro resultado do laudo
Art. 344. Usar de violência ou grave ameaça, com o pericial.
fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra Considerações
autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que fun-
Se da conduta criminosa resulta violência, restarão carac-
ciona ou é chamada a intervir em processo judicial, terizados dois crimes, incidindo em concurso material obriga-
policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: tório, somando as penas da coação no curso do processo mais
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da o crime de violência (lesão corporal ou homicídio).
pena correspondente à violência.
A razão pela qual existe esse crime é para impedir que Exercício Arbitrário das Próprias Razões
frustrem a eficiência da Administração da justiça com vio- Art. 345. Fazer justiça pelas próprias mãos, para satis-
lência ou ameaças e para garantir o regular andamento dos fazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o
processos ou em juízo arbitral. Crime esse de ação penal permite:
pública incondicionada. Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa,
Classificação além da pena correspondente à violência.
É um crime pluriofensivo, pois atinge mais de um bem Parágrafo único. Se não há emprego de violência, so-
jurídico, primeiramente a Administração da justiça, e secunda- mente se procede mediante queixa.
riamente a integridade física ou a liberdade individual. Como disposto no Art. 345 do Código Penal, não é aceita
Doloso e com um especial fim de agir, apresentado no tipo a justiça entre particulares e a ninguém é dado o direito de
com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio. Não admi- versar sobre a justiça privada se não o próprio poder judiciário,
te a modalidade culposa. que tem a competência para resolver as divergências existen-
Considerado um crime comum, instantâneo, de concurso tes entre os indivíduos. Em regra, esse crime é de ação penal
eventual, e em regra comissivo. privada, contudo será de ação penal pública incondicionada se
estiver presente a violência.
Sujeitos do Crime
Sujeito Ativo: por ser um crime comum, pode ser cometido Classificação
por qualquer pessoa, não sendo necessário que o agente tenha Crime simples, pois atinge um único bem jurídico. Co-
interesse no próprio processo. mum, cometido por qualquer pessoa.
É um crime doloso, acompanhado com um elemento sub- Fraude Processual
jetivo específico “para satisfazer pretensão, embora legítima”.
Art. 347. Inovar artificiosamente, na pendência de pro-
Não sendo admitida a modalidade culposa.
cesso civil ou administrativo, o estado de lugar, de coi-
Em regra é comissivo e instantâneo, consumando-se em
sa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou
um momento determinado.
o perito:
A ação penal será pública incondicionada quando o cri- Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
me é praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da
Parágrafo único. Se a inovação se destina a produzir
União, Estado ou Município.
efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as
Sujeitos do Crime penas aplicam-se em dobro.
Sujeito Ativo: pode ser cometido por qualquer pessoa, mas O crime de fraude processual é um crime tacitamente sub-
se o agente for funcionário público e comete o delito prevale- sidiário, somente sendo aplicável quando o fato não constituir
cendo-se de sua condição, serão imputados dois crimes: exer- crime mais grave. Delito esse de ação penal pública incondi-
cício arbitrário das próprias razões + abuso de autoridade (Lei cionada.
nº 4.898/65).
Classificação
Ex.: “A” policial, proprietário de uma casa, encosta a
viatura na frente de seu imóvel, entra na residência e, de Considera-se um crime simples, pois ofende um único
arma em punho, expulsa “B”, que não pagara o aluguel bem jurídico que é a Administração da justiça.
do mês anterior. O crime de fraude processual também é considerado um
Sujeito Passivo: primeiramente é o Estado, e secunda- crime formal ou de consumação antecipada, pois independe
riamente a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta do resultado naturalístico.
criminosa. Em regra é comissivo, considerado também um crime
de dano, pois causa lesão à Administração da justiça.
Consumação e Tentativa Crime de concurso eventual, normalmente praticado por
Existe divergência entre os doutrinadores, mas majorita- um só agente, mas o concurso é plenamente possível.
riamente foi classificado como um crime formal, consumando-
se mesmo que a pretensão não seja atingida. Sujeitos do Crime
É plenamente aceitável a tentativa, visto o caráter pluris- Sujeito Ativo: considerado um crime comum, logo, é pas-
subsistente (ação composta por vários atos) do crime. sível de ser cometido por qualquer pessoa. (vítima, acusado ou
mesmo advogado)
Descrição do Crime
Foge do alcance do tipo o perito, uma vez que, se inovar
O núcleo do tipo fazer justiça pelas próprias mãos, tem
o estado de coisa, pessoa ou lugar no decorrer dos exames
sentido de satisfazer pretensão pessoal. Essa pretensão pode

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periciais, incorrerá no crime previsto no Art. 342 do CPl.
ser de qualquer natureza, ligada ou não à propriedade, mas
exigindo-se ao menos uma aparência de direito legítimo. Sujeito Passivo: de forma imediata é o Estado, e de forma
mediata é a pessoa prejudicada no processo administrativo,
Ex.: Marido indignado com a traição da esposa, a expulsa
da casa que construíram juntos. penal ou civil.
A pretensão deve ser legítima, pois do contrário, a condu- Consumação e Tentativa
ta acarretará na incidência de outros crimes, tais como o furto, Consuma-se no momento em que o agente utiliza o meio
roubo, estelionato, apropriação indébita, entre outros. fraudulento para a inovação na pendência do processo.
Ex.: “A”, indignado com a traição de sua esposa, vai até a A tentativa, entretanto, deve apresentar potencialidade
casa de “B” que é o homem que se deitou com ela e, para real para enganar o juiz ou o perito. Se o artifício (fraude) for
fazer justiça com as próprias mãos, obriga a mulher de grosseiro ou perceptível é crime impossível (Art. 17 do CP) por
“B” a manter relações sexuais com “A”.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ineficácia absoluta do meio.


Subtração ou Dano de Coisa Para o STJ não é exigido para a consumação do crime de
fraude processual que o Juiz ou o perito sejam realmente in-
Própria em Poder de Terceiro duzidos a erro, basta que a inovação seja apta para produzir o
Art. 346. Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa pró- resultado, mesmo que a pessoa não tenha interesse no proces-
pria, que se acha em poder de terceiro por determina- so. (STJ. HC 137.206/SP).
ção judicial ou convenção: Descrição do Crime
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. É um crime doloso e também necessita de um elemento
Sujeitos do Crime subjetivo específico que é a intenção de induzir a erro o juiz ou
Sujeito Ativo: somente pode ser executado pelo proprie- perito, não sendo admitida a modalidade culposa.
tário da coisa (crime próprio). Sendo que o concurso de pes- Estado de lugar, de coisa ou de pessoa é onde deve recair a
soas é plenamente possível. conduta artificiosa, para enganar o juiz ou perito.
Sujeito Passivo: será o estado, e secundariamente o indiví- Ex.: Limpar as manchas de sangue onde ocorreu o crime /
duo possuidor da coisa ou aquele contra quem foi empregada Colocar uma arma de fogo na mão de uma pessoa assassi- 111
violência. nada para simular um suicídio.
Nem toda a inovação caracteriza o surgimento do crime de É plenamente possível a tentativa.
112 fraude processual, pois esse elemento normativo do tipo deve
ser empregado de forma artificiosa (ardil, fraude). Descrição do Crime
O parágrafo único aparentemente versa uma causa espe- Não é necessário que o autor do crime esteja em persegui-
cial de aumento de pena sendo um tipo penal autônomo, pois ção, fuga ou esteja sendo procurado pela autoridade pública no
a conduta de inovar artificiosamente foi cometida em processo momento em que recebe o auxílio. Basta que, de forma idônea,
o agente auxilie o criminoso a escapar da ação da autoridade
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

penal que ainda não foi iniciado.


▷ Trata-se de infração subsidiária, logo absorvida pública.
quando a finalidade constituir crime mais grave. Não existe o crime de favorecimento pessoal (Art. 348
Conduta: os objetos materiais do crime são taxativos, do CP) quando a conduta de auxiliar a subtrair-se à ação de
e desta forma, descabida qualquer integração analógica em autoridade pública for referente a um crime cometido por
relação às inovações que poderão ser praticadas pelo agente. um agente menor de idade ou qualquer outro inimputável,
Pressupõe-se a existência de processo - civil ou adminis- já que estes inimputáveis não cometem crimes, mas atos
trativo - em andamento. infracionais que acabarão sofrendo medidas de proteção ou
medidas socioeducativas no caso dos menores de idade ou
Em atenção ao princípio da inexigibilidade de conduta di-
versa, já se entendeu que não ocorre o ilícito quando o autor medidas de segurança quando forem doentes mentais ou
de um crime de homicídio nega a autoria e dá sumiço à arma, tiverem desenvolvimento mental incompleto ou retardado.
atuando no direito natural de autodefesa (RT 258/356). Não há crime quando o agente estiver em escusa absolu-
tória (cônjuge, ascendente, descendente ou irmão), quando o
Favorecimento Pessoal agente que cometeu o crime anterior estiver acobertado por
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Art. 348. Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pú- uma excludente de ilicitude ou causa excludente de culpabi-
blica autor de crime a que é cominada pena de reclusão: lidade. E se o agente for absolvido pelo crime anterior, estará
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. excluído o crime de favorecimento pessoal.
§ 1º Se ao crime não é cominada pena de reclusão: O favorecimento deve ocorrer APÓS o cometimento do cri-
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. me e nunca para o cometimento do crime. Se o favorecimento
for ajustado previamente, antes da consumação do crime, in-
§ 2º Se quem presta o auxílio é ascendente, descenden-
cidirá o agente como partícipe segundo o Art. 29 do Código
te, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.
Penal: Quem de qualquer modo concorre para o crime, incide
O crime de favorecimento pessoal basicamente consiste
nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
em prestar auxílio ao agente condenado com pena de reclusão
para que escape da ação da autoridade pública. É um crime de O agente que presta o auxílio deve ter ciência da atual
ação penal pública incondicionada. situação do criminoso, se não, tem-se excluído o dolo.
Ex.: Tício de forma voluntária, empresta seu carro a Mé-
Classificação vio para que este faça uma viajem de negócios, quando
Em análise ao Art. 348 do CP pode ser verificado que se na verdade, Mévio, que acabara de cometer um crime,
trata de um crime acessório, pois depende da prática anterior pretendia fugir da polícia. Desta forma Tício não respon-
de um crime com pena de reclusão (contravenção não). de pelo crime.
Somente pode ser praticado de forma comissiva (ação),
não havendo possibilidade de auxílio à subtração de autor Favorecimento Real
de crime mediante uma conduta omissiva. Art. 349. Prestar a criminoso, fora dos casos de coauto-
O agente que deixa de comunicar à autoridade pública o ria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro
local onde está escondido o autor do crime, mesmo que esta o proveito do crime:
circunstância seja de conhecimento do agente, não comete Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
crime algum. O Código Penal prevê mais uma espécie de favorecimen-
Sujeitos do Crime to, demonstrando ser este um crime acessório, pois necessita
Sujeito Ativo: não é exigida qualquer qualidade específica de algum crime já praticado anteriormente não alcançando as
do agente. contravenções penais.
A vítima do crime anterior pode ser sujeito ativo do crime Classificação
de favorecimento pessoal (Art. 348 do CP). Ex.: uma vítima de É um crime de forma livre, ou seja, o favorecimento pode
roubo (Art. 157 do CP), logo após a ocorrência do crime, enga- acontecer de diversas formas, como esconder o bem subtraí-
na os policiais, prestando-lhes falsas informações do paradeiro do, aplicar no banco os valores provenientes de um esteliona-
do criminoso para que tenha êxito em sua fuga. to, deixar um cofre aberto para que o agente que cometeu o
Consumação e Tentativa crime guarde os documentos roubados no assalto.
Por ser um crime material, o crime se consuma com o efe- É um crime doloso com um elemento subjetivo específi-
tivo auxílio, ainda que seja por curto período de tempo. Caso co, no qual a finalidade do agente é tornar seguro o proveito
o criminoso tenha sido pego, o agente responderá pelo crime do crime, porquanto o agente deve ter a ciência de que seu
da mesma forma, já que a conduta de auxiliar o criminoso teve comportamento será efetivo para auxiliar o criminoso, não se
êxito, mesmo que breve. admitindo portanto a modalidade culposa.
Sujeitos do Crime
Receptação própria “ocultar” Favorecimento real
Sujeito Ativo: o crime de favorecimento real é comum, (Art. 180, caput, 1ª parte, CP) (Art. 349, CP)
podendo ser praticado por qualquer pessoa, salvo coautor ou
partícipe do crime que antecede o favorecimento. Crime contra a Administração da
Crime Contra o Patrimônio.
Justiça.
Ex.: Tício, conhecido de Mévio, se dispõe a auxiliar Mévio
a esconder o dinheiro que será roubado de uma casa lo- Quem se beneficia é qualquer
O próprio autor do crime
outra pessoa que não seja o
térica. Se efetivamente vier a ocorrer o roubo, Tício será autor do crime anteriormente
anteriormente cometido é o
partícipe do crime, por auxiliar Mévio. O intuito de auxiliar beneficiado pela conduta.
praticado.
deve vir de forma posterior ao cometimento do crime.
O proveito pode ser tanto
Sujeito Passivo: é o Estado e secundariamente, a vítima Exige-se que o proveito seja
econômico quando de outra
econômico.
do delito anterior. natureza.

Consumação e Tentativa Favorecimento Real Impróprio


É considerado um crime formal ou de consumação anteci- Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou
pada, ou seja, o crime se consuma no instante em que o agente facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunica-
presta devido auxílio ao criminoso no intuito de tornar seguro ção móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal,
o proveito do crime, mesmo que não venha a ocorrer efetiva- em estabelecimento prisional.
mente essa finalidade. A tentativa é plenamente aceitável em Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
face do caráter plurissubsistente do delito. Esse crime foi introduzido pela Lei nº 12.012/2009 e o le-
gislador não atribuiu denominação alguma para esse crime,
Descrição do Crime transferindo essa tarefa à jurisprudência e à doutrina.
O auxílio deve ser destinado a tornar seguro o proveito do Classificação
crime.
É um crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, ou
Favorecimento Pessoal. Art. 348 CP: seja, se o agente vier a cometer mais de um núcleo do tipo no
▷ Objeto material: autor de crime anterior; Se busca a mesmo contexto fático, configurará crime único.
fuga do criminoso. É um crime de forma livre, admitindo qualquer meio de
▷ Quanto ao resultado: crime material (prevalece). execução.
▷ Escusa absolutória: possui hipótese de escusa ab- Ex.: A esposa de um detento que oculta um aparelho ce-

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lular em suas partes íntimas e leva ao interno no dia de
solutória, se quem presta o auxílio é cônjuge, as-
visita ou joga o aparelho por cima dos muros da cadeia e
cendente, descendente ou irmão do criminoso, fica
até mesmo coloca os aparelhos no interior de alimentos
isento de pena. É a chamada escusa absolutória, (bolo, torta).
presente no § 2º do Art. 348 do CP.
Sujeitos do Crime
Favorecimento Real. Art. 349 CP:
Sujeito Ativo: é um crime comum, podendo ser praticado
▷ Objeto material: proveito de crime anterior; Pres-
por qualquer pessoa, vale ressaltar que até mesmo um preso
ta-se auxílio não ao criminoso em si, mas indireta- pode ser sujeito ativo do crime tipificado no Art. 349-A, so-
mente, assegurando para ele a ocultação da coisa, mente se este estiver em alguma permissão de saída ou saída
proveito do crime (real). temporária e também pode ser partícipe, por exemplo, o preso
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

▷ Quanto ao resultado: crime formal. que induz sua esposa a levar a ele o aparelho de comunicação.
▷ Escusa absolutória: não tem previsão de escusa ab- Sujeito Passivo: é o Estado.
solutória. Consumação e Tentativa
Para que possa ocorrer o crime do Art. 349, é necessário É considerado crime de mera conduta, ou seja, a lei sequer
que o crime anterior tenha alcançado a consumação e se no prevê qualquer resultado naturalístico. Consuma-se o crime
crime não houve qualquer tipo de proveito, também não ha- quando é praticada qualquer das condutas descritas no tipo
verá o crime de favorecimento real. (ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entra-
da de aparelho de comunicação ou similar em estabelecimen-
Considerações to prisional).
Quem estuda de maneira superficial o crime de favoreci- A tentativa é plenamente possível.
mento real, certamente poderia interpretar de forma errônea Ex.: Tício, em horário de visita, ao tentar ingressar no
as diferenças entre os crimes de receptação própria (CP, Art. presídio onde seu primo está preso, esconde em sua blu-
180, caput, 1ª parte) na modalidade “ocultar” e favorecimento sa um aparelho celular e acaba sendo preso em flagrante 113
real (CP, Art. 349). Vamos observar as diferenças: durante a revista pessoal.
Descrição do Crime Arrebatamento de Preso
114 O objeto material do crime pode ser qualquer instrumento Art. 353. Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do po-
que tenha potencial de comunicação. (aparelho telefônico, wal- der de quem o tenha sob custódia ou guarda:
kie-talkie, webcam). Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena
Não é exigido qualquer fim específico, basta o dolo, por correspondente à violência.
parte do agente, de levar ao poder do preso o aparelho de co-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

municação. Conduta
Somente uma conduta é prevista para a prática do crime,
Exercício Arbitrário ou Abuso de Poder consubstanciada no núcleo arrebatar preso, com o fim de mal-
Art. 350. Ordenar ou executar medida privativa de li- tratá-lo (linchamento). Arrebatar significa arrancar, levar, retirar
berdade individual, sem as formalidades legais ou com com violência.
abuso de poder: Se não tiver o fim de maltratá-lo, não configurará este cri-
Pena - detenção, de um mês a um ano. me, mas poderá incorrer no Art. 351 do CP. promover ou facili-
Parágrafo único. Na mesma pena incorre o funcioná- tar fuga de pessoa presa.
rio que:
I. Ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou
Motim de Presos
a estabelecimento destinado a execução de pena Art. 354. Amotinarem-se presos, perturbando a ordem
privativa de liberdade ou de medida de segurança; ou disciplina da prisão:
II. Prolonga e execução de pena ou de medida de Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
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segurança, deixando de expedir em tempo opor- pena correspondente à violência.


tuno ou de executar imediatamente a ordem de Considerações
liberdade; No tipo penal não há descrição de quantos presos são ne-
III. Submete pessoa que está sob sua guarda ou cessários para configurar o motim. Para alguns autores, três
custódia a vexame ou a constrangimento não au- presos são suficientes. Já Mirabete exige no mínimo quatro. To-
torizado em lei; davia, nenhum entendimento está consolidado, sendo essencial
IV. Efetua, com abuso de poder, qualquer diligência. que constitua um ajuntamento tumultuário de aprisionados.
Os crimes de exercício arbitrário e abuso de poder, tanto o
caput como as figuras equiparadas do parágrafo único foram re- Patrocínio Infiel
vogados pela Lei nº 4.898/65. Art. 355. Trair, na qualidade de advogado ou procura-
dor, o dever profissional, prejudicando interesse, cujo
Fuga de Pessoa Presa ou Submetida patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
a Medida de Segurança Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
Art. 351. Promover ou facilitar a fuga de pessoa legal-
mente presa ou submetida a medida de segurança Patrocínio Simultâneo ou Tergiversação
detentiva: Parágrafo único. Incorre na pena deste artigo o advoga-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. do ou procurador judicial que defende na mesma causa,
§ 1º Se o crime é praticado à mão armada, ou por mais simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.
de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a pena é Sujeitos
de reclusão, de dois a seis anos. Sujeito Ativo: o crime em tela somente poderá ser pratica-
§ 2º Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se do por advogado ou procurador judicial devidamente inscrito
também a pena correspondente à violência. nos quadros da OAB. Não estão incluídos no dispositivo os
§ 3º A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o cri- promotores e procuradores de justiça.
me é praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda Sujeito Passivo: é o Estado e, possivelmente, o outorgante
está o preso ou o internado. do mandato que foi prejudicado.
§ 4º No caso de culpa do funcionário incumbido da cus-
tódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de três Conduta
meses a um ano, ou multa. Pode se dar por ação (Ex.: Manifesta-se no processo de
forma contrária aos interesses da parte defendida), ou por
Evasão Mediante Violência omissão (Ex.: Deixa de recorrer).
contra a Pessoa Conforme alguns autores, o patrocínio infiel deve ser em-
Art. 352. Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o in- preendido em causa judicial, pouco importando a natureza
divíduo submetido a medida de segurança detentiva, ou espécie. Desta forma, a atuação extrajudicial do profissio-
usando de violência contra a pessoa: nal, como em inquérito policial, sindicância etc. não caracte-
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena riza o crime em estudo, sendo o agente passível, apenas, de
correspondente à violência punição disciplinar.
Consumação e Tentativa Consumação e Tentativa
Consuma-se com a ocorrência do efetivo prejuízo ao pa- A consumação dependerá da conduta praticada:
trocinado, ainda que a situação possa ser revertida. Se a conduta do agente for solicitar, o crime se consuma
A tentativa é possível apenas na forma comissiva. com o simples pedido, independentemente do aceite da víti-
O dispositivo traz duas formas de infidelidade profissional: ma enganada (crime formal).
Patrocínio simultâneo: consiste na conduta do advogado A TENTATIVA é possível, porém dependerá de como será
ou procurador que, concomitantemente, zela (ainda que por praticado o delito.
interposta pessoa) os interesses de partes contrárias.
STF diz que, para a configuração do delito de exploração
Patrocínio sucessivo ou tergiversação: consiste na condu- de prestígio, não é necessário que o agente influa na atuação
ta do advogado que renuncia ao mandato de uma parte (ou
das pessoas do tipo (juiz, jurado, perito etc.), bastando que
por ela é dispensado) e passa, em seguida, a representar a
o pedido da vantagem seja a PRETEXTO de influir. (STF. RHC
outra.
75.128/RJ)
No parágrafo único é dispensável a comprovação de
Ex.: “A”, alegando conhecer um jurado, sem realmente
efetivo prejuízo ao patrocinado traído - delito formal.
conhecê-lo, solicita a “B” uma determinada vantagem
Sonegação de Papel ou Objeto para supostamente convencer o jurado a absolver seu
irmão, réu em determinada ação penal.
de Valor Probatório
Art. 356. Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de Descrição do Crime
restituir autos, documento ou objeto de valor proba- Exige-se um especial fim de agir por parte do agente, por-
tório, que recebeu na qualidade de advogado ou pro- tanto só caracteriza o crime na forma dolosa, não admitindo
curador: a forma culposa.
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. Causa de Aumento de Pena
Exploração de Prestígio Parágrafo único. As penas aumentam-se de um terço, se
o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade
Art. 357. Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra
também se destina a qualquer das pessoas referidas
utilidade, a pretexto de INFLUIR em juiz, jurado, órgão
do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tra- no artigo.
dutor, intérprete ou testemunha: Não é exigida a afirmação explícita de qualquer das pes-
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. soas indicadas no caput desse artigo, basta a insinuação.
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um terço, se Se restar provado que o destinatário da vantagem é uma
o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade das pessoas indicadas no tipo penal, restará a este a corrup-

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ŝ#-ŝŦ
também se destina a qualquer das pessoas referidas ção passiva (Art. 317 do CP) e ao particular e ao intermediador
neste artigo. o crime de corrupção ativa (Art. 333 do CP).

Introdução Considerações
Versa de forma similar ao crime de tráfico de influência Art. Exploração de prestígio Tráfico de influência
332 do CP. Com a edição da Lei nº 9.127/95, esses dois crimes (Art. 357 do CP) (Art. 332 do CP)
foram diferenciados e o Art. 332 passou a ser o crime de tráfico Solicitar ou receber. Solicitar, exigir, cobrar ou obter.
de influência. Esse delito é de ação penal pública incondicio- Ato de disposição específica
Ato praticado por funcionário
nada. relativa aos órgão ou funcionários
público no exercício da função.
da administração da justiça.
Classificação
Violência ou Fraude em
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

É um crime simples, pois ofende um único bem jurídico


que é a administração da justiça. Arrematação Judicial
Considerado um crime comum, podendo ser praticado por Art. 358. Impedir, perturbar ou fraudar arrematação
qualquer pessoa. judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou lici-
É um crime formal quando o agente (SOLICITAR) ou ma- tante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou
terial (RECEBER). oferecimento de vantagem:
É conhecido como um crime de ação múltipla ou de con- Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa,
teúdo variado, mesmo o agente praticando mais de um verbo além da pena correspondente à violência.
do tipo no mesmo contexto, responderá por um único crime.
Desobediência a Decisão Judicial
Sujeitos do Crime
Sujeito Ativo: por ser considerado um crime comum, pode sobre Perda ou Suspensão de Direito
ser cometido por qualquer pessoa, pois a própria Descrição do Art. 359. Exercer função, atividade, direito, autoridade
Crime não exige qualquer qualidade do agente. ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão
Sujeito Passivo: o Estado, e também o servidor utilizado judicial: 115
na fraude, bem como a pessoa ludibriada pelo agente. Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
Dos Crimes contra as Finanças Públicas Oferta Pública ou Colocação
116
de Títulos no Mercado
Contração de Operação de Crédito
Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta pú-
Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operação de blica ou a colocação no mercado financeiro de títulos da
crédito, interno ou externo, sem prévia autorização le-
dívida pública sem que tenham sido criados por lei ou
gislativa:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

sem que estejam registrados em sistema centralizado de


Pena - reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
liquidação e de custódia:
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena, au-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
toriza ou realiza operação de crédito, interno ou externo:
I. Com inobservância de limite, condição ou mon-
tante estabelecido em lei ou em resolução do Se- ANOTAÇÕES
nado Federal;
II. Quando o montante da dívida consolidada ultra-
passa o limite máximo autorizado por lei.
Inscrição de Despesas Não
Empenhadas em Restos a Pagar
Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em restos
a pagar, de despesa que não tenha sido previamente
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empenhada ou que exceda limite estabelecido em lei:


Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

Assunção de Obrigação no Último


Ano do Mandato ou Legislatura
Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obri-
gação, nos dois últimos quadrimestres do último ano
do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser
paga no mesmo exercício financeiro ou, caso reste par-
cela a ser paga no exercício seguinte, que não tenha
contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Ordenação de Despesa não Autorizada


Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Prestação de Garantia Graciosa


Art. 359-E. Prestar garantia em operação de crédito
sem que tenha sido constituída contragarantia em va-
lor igual ou superior ao valor da garantia prestada, na
forma da lei:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Não Cancelamento de Restos a Pagar


Art. 359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou de promover
o cancelamento do montante de restos a pagar inscrito
em valor superior ao permitido em lei:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

Aumento de Despesa Total com Pessoal


no Último Ano do Mandato ou Legislatura
Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que acar-
rete aumento de despesa total com pessoal, nos cento
e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da
legislatura:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
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ŝ#-ŝŦ NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 117

ÍNDICE
1. Disposições Constitucionais Aplicáveis ao Processo Penal ...........................................119
2. Introdução ao Direito Processual Penal ..................................................................... 120
Lei Processual Penal no Espaço ...................................................................................................120
Lei Processual Penal no Tempo ....................................................................................................121
Interpretação da Lei Processual Penal .........................................................................................121
3. Inquérito Policial ....................................................................................................... 121
Polícia Administrativa X Polícia Judiciária ...................................................................................121
Atribuição .....................................................................................................................................121
Características do Inquérito Policial ............................................................................................ 122
Valor Probatório do Inquérito Policial .........................................................................................124
Vícios ...........................................................................................................................................124
Incomunicabilidade .....................................................................................................................124
Notícia Crime ............................................................................................................................... 125
Procedimentos do Inquérito Policial ...........................................................................................126
Arquivamento do Inquérito ........................................................................................................ 127
Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) ..............................................................................128
4. Ação Penal ............................................................................................................... 128
Classificação das Ações (Titular do Direito) ................................................................................128
Ação Penal Pública ......................................................................................................................128
Ação Penal Privada ......................................................................................................................130
Ação Penal em Alguns Casos Especiais ........................................................................................131
5. Jurisdição e Competência ......................................................................................... 132
Classificação da Competência .................................................................................................... 132
Competência Absoluta X Competência Relativa ......................................................................... 137
Conexão e Continência ................................................................................................................ 137
6. Prova ....................................................................................................................... 138
Teoria Geral da Prova ..................................................................................................................138
Provas em Espécies .....................................................................................................................140
Exame de Corpo Delito .................................................................................................................141
Interrogatório ..............................................................................................................................142
Ofendido ......................................................................................................................................142
Testemunha .................................................................................................................................143
Reconhecimento de Pessoas e Objetos .......................................................................................144
Acareação ....................................................................................................................................144
Documentos.................................................................................................................................145
Dos Indícios..................................................................................................................................145
Busca e Apreensão ......................................................................................................................145
118 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL Ş
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7. Do Juiz, do Ministério Público, do Acusado e Defensor, dos Assistentes e Auxiliares


da Justiça .................................................................................................................... 146
Juiz...............................................................................................................................................146
Ministério Público ........................................................................................................................147
Acusado (Réu ou Querelado) ......................................................................................................147
Defensor ......................................................................................................................................147
Assistente ....................................................................................................................................147
Funcionários da Justiça ...............................................................................................................148
Peritos e Intérpretes ....................................................................................................................148
Atos de Terceiros .........................................................................................................................148
8. Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberdade Provisória ..................................... 148
O que é Prisão? ............................................................................................................................148
Principais Prisões Disciplinares/Administrativas ........................................................................148
Prisão Preventiva......................................................................................................................... 152
Prisão Temporária (Lei nº 7.960/89) .......................................................................................... 153
Uso de Algemas ...........................................................................................................................154
Liberdade Provisória ...................................................................................................................154
9. Procedimento dos Crimes de Responsabilidade do Funcionário Público ..................... 155
Ação Penal Instruída por Inquérito Policial .................................................................................156
10. Habeas Corpus e seu Processo ................................................................................. 156
Surgimento ..................................................................................................................................156
Natureza Jurídica .........................................................................................................................156
Pedidos do Habeas Corpus............................................................................................. 156
Espécies de Habeas Corpus ............................................................................................ 156
Legitimidade................................................................................................................................ 157
Coação Ilegal ............................................................................................................................... 157
Formalidade do Pedido de Habeas Corpus ....................................................................... 158
Competência para Conhecimento do Habeas Corpus ............................................................... 158
1. Disposições Constitucionais A plenitude da defesa significa que, em se tratando de
tribunal do júri, pode o acusado alegar quaisquer tipos de
Aplicáveis ao Processo Penal justificativas, mesmo não sendo técnicas. Pode, por exemplo,
apelar para o sentimentalismo a fim de convencer o conselho
ї Princípio da presunção de inocência ou do estado de de sentença. Pode até invocar uma excludente de ilicitude não
inocência, da situação jurídica de inocência ou da não existente, como, por exemplo, a legítima defesa da honra.
culpabilidade ї Princípio do favor rei, favor libertatis, in dubio pro réu,
Art. 5º, LVII, da CF: ninguém será considerado culpado favor inocente ou da prevalência do interesse do réu
até o trânsito em julgado de sentença penal condena- Art. 5º, LVII, da CF: ninguém será considerado culpado até
tória. o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Decorrente desse princípio é que o ônus da prova perten- Esse princípio decorre diretamente do princípio da inocên-
ce à acusação, cabendo-lhes provar que o fato é típico e de cia, de forma que, havendo dúvida sobre a culpabilidade do
circunstâncias qualificadoras ou causas de aumento de pena. réu, deve o juiz absolvê-lo. Importante notar que ele não tem
Caberá ao réu, no entanto, provar as excludentes da ilicitu- aplicação na denúncia, pois na dúvida o promotor denuncia, e
de, culpabilidade e as causas extintivas da punibilidade. Vale também não tem aplicação na pronúncia (1° fase do júri).
ressaltar que a acusação deverá trazer um juízo de certeza Esse princípio não está expresso na Constituição Federal;
para que se condene o réu e, ao contrário, caso o réu crie uma está implícito.
dúvida sobre a existência de uma excludente, deverá o juiz ї Princípio do contraditório ou da bilateralidade da au-
sentenciar em favor do acusado. diência
ї Princípio da igualdade processual ou da paridade das Art. 5º, LV, da CF: aos litigantes, em processo judi-
armas - par conditio cial ou administrativo, e aos acusados em geral são
Art. 5º, da CF: Todos são iguais perante a lei, sem dis- assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasi- meios e recursos a ela inerentes.
leiros e aos estrangeiros residentes no País a inviola- É o princípio pelo qual oportuniza a parte contraditar tudo o
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à que é dito contra ela. Se a acusação alega algum fato, deverá o
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: acusado ter a oportunidade de desconstituir a alegação da acu-
Procede desse princípio a necessidade de um advogado sação. É com base nisso que o tempo de audiência é distribuído.
para defesa do acusado, exceto quando ele mesmo o for. Esse Se no júri a acusação tem uma hora e meia para falar e mais uma
princípio se materializa sempre que para uma das partes for hora de réplica, a defesa também terá uma hora e meia para
deferida uma oportunidade de se pronunciar no processo, da falar mais uma hora para a tréplica.
mesma forma a outra parte terá esse direito. ї Princípio do juiz natural

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ї Princípio da ampla defesa Art. 5º, LIII, da CF: ninguém será processado nem sen-
Art. 5º, LV, da CF: aos litigantes, em processo judicial tenciado senão pela autoridade competente.
ou administrativo, e aos acusados em geral são asse- Esse princípio garante ao acusado que ele seja julgado por
gurados o contraditório e ampla defesa, com os meios um juiz imparcial e definido anteriormente à ocorrência do cri-
e recursos a ela inerentes. me; veda-se, portanto, o juízo ou tribunal de exceção ou tribu-
A ampla defesa se subdivide em autodefesa e defesa téc- nais ad hoc. Vale ressaltar que não fere o princípio do juiz natural
nica. a convocação de juízes de primeiro grau feita pelos tribunais e a
A segunda é aquela exercida pelo advogado, pois este sim criação de novas varas para igualar os acervos do juízo.
tem capacidade postulatória, com exceção de o próprio acusa- ї Princípio da publicidade
Art. 5º, XXXIII, da CF: todos têm direito a receber dos
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
do ser advogado. A defesa técnica é indisponível.
A primeira é exercida pelo próprio acusado de forma que órgãos públicos informações de seu interesse particu-
pode influenciar o magistrado no seu interrogatório. Vale no- lar, ou de interesse coletivo ou geral, que serão pres-
tar que a autodefesa é disponível, podendo o acusado ficar tadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
calado quando da audiência (direito ao silêncio). No entanto, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
o interrogatório é dividido em duas partes: a qualificação e segurança da sociedade e do Estado. 
as perguntas, não podendo o acusado mentir na 1ª, sob pena Art. 5º, LX, da CF: a lei só poderá restringir a publicida-
de estar cometendo a contravenção Penal prevista no Art. 68 de dos atos processuais quando a defesa da intimidade
da Lei de Contravenções penais; caso atribua outra identida- ou o interesse social o exigirem.
de a si, restará configurado o crime do Art. 307 do CP (falsa Art. 93, IX, da CF: todos os julgamentos dos órgãos
identidade). Na segunda parte do interrogatório não pode o do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas
acusado imputar falsamente um crime a si, pois estaria co- todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
metendo o delito de autoacusação falsa (Art. 341, CP). limitar a presença, em determinados atos, às próprias
ї Princípio da plenitude da defesa partes e a seus advogados, ou somente a estes, em ca-
Art. 5º, XXXVIII, da CF: é reconhecida a instituição do sos nos quais a preservação do direito à intimidade do
júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: interessado no sigilo não prejudique o interesse públi- 119
a) plenitude de defesa. co à informação.
É o princípio que traduz a transparência da atividade ju- sentença justa, que se fundamentem na verdade dos fatos, a
120 risdicional do Estado, de forma que, em regra, os atos serão fim de respeitar todos os direitos constitucionais do homem,
públicos. Essa norma, porém, admite exceções, de forma que, a ampla defesa, a presunção de inocência, dentre outros.
se a defesa da intimidade ou o interesse social o exigir, o ato A manifestação da aplicação das normas de processo pe-
não será público. No inquérito policial vigora o sigilo. nal é o que chamamos de persecução penal, sendo esta o ob-
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

ї Princípio da vedação das provas ilícitas jeto do nosso estudo.


Art. 5º, LVI, da CF: são inadmissíveis, no processo, as Ela comporta duas fases distintas: uma preliminar, de na-
provas obtidas por meios ilícitos. tureza administrativa, em que ocorrem as investigações presi-
Provas ilícitas são aquelas que violam dispositivos legais didas pela autoridade policial; e outra fase de natureza judicial,
ou constitucionais, não acolhendo o CPP a posição doutrinária em que se desenrola o processo propriamente dito e é presidi-
de que ela seria aquela que violasse direito material, e pro- da por um juiz de direito.
va ilegítima a que violasse direito processual. Também são Persecução penal
vedadas as provas derivadas das ilícitas pela teoria do fruto Crime Pena
das árvores envenenadas ou do efeito à distância (fruits of the Investigações + Processo Judicial
poisonous tree). Os princípios do Direito Processual Penal serão trabalha-
Como exceções à vedação das provas derivadas das ilíci- dos ao longo do material, para que assim você veja a aplicação
tas, temos a teoria da fonte independente, a da descoberta deles nas diversas fases da persecução penal.
inevitável, a da mancha purgada ou tinta diluída e, por último,
a teoria da proporcionalidade que aceita a utilização da prova Lei Processual Penal no Espaço
ilícita em defesa do acusado inocente.
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Aqui estudaremos a abrangência territorial do Código de


ї Princípios da economia processual, celeridade proces- Processo Penal, ou seja, o código é aplicado, em regra, nos cri-
sual e duração razoável do processo mes praticados em todo o território nacional. Porém, há algu-
Art. 5º, LXXVIII, da CF: a todos, no âmbito judicial e mas exceções que estão previstas no Art. 1º do código:
administrativo, são assegurados a razoável duração do I. Os tratados, as convenções e regras de direito
processo e os meios que garantam a celeridade de sua internacional;
tramitação. Quando o Brasil homologa a sua participação em um tra-
O princípio em comento traduz a ideia de, que para que o tado ou convenção internacional que disciplina regras proces-
processo penal seja justo, deverá ele também ser célere. São suais próprias, o Código de Processo Penal Brasileiro não é
consequências desse princípio da duração razoável das prisões adotado, ou seja, determinados crimes, mesmo que cometidos
cautelares e a chamada carta precatória itinerante. no território brasileiro, podem ser julgados por tribunal estran-
ї Princípio do devido processo legal (due process of law) geiro. Ex.: a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas
Art. 5º, LIV, da CF: ninguém será privado da liberdade estabelece que os diplomatas, quando cometerem crimes no
ou de seus bens sem o devido processo legal. território de outro país, serão julgados pelas leis de sua nação
Esse princípio traduz a ideia da própria existência do pro- de origem.
cesso penal, de forma que não se poderá culpar alguém sem II. As prerrogativas constitucionais do Presidente
um mínimo de produção de provas por meio de um processo e da República, dos ministros de Estado, nos crimes
que possa ser garantido o seu direito de defesa. conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes
2. Introdução ao Direito Processual de responsabilidade (Constituição, Arts. 86, 89, §
2º, e 100);
Penal Aqui tratamos das infrações político-administrativas, defi-
nidas na Lei nº 1.079/50, os chamados de crimes de responsa-
Após a prática de um crime, cabe ao Estado a sua apuração
bilidade que, na verdade, não se referem à matéria criminal e
para fins da aplicação da pena prevista no Direito Penal. Ele é são julgados pelo Senado Federal, adotando o procedimento
o único titular do jus puniendi, que é o direito de aplicar uma específico da referida lei para o seu processo e julgamento.
sanção a quem comete um delito. III. Os processos da competência da Justiça Militar;
Como vivemos em um Estado Democrático de Direito, o Es- A Justiça Militar tem a competência constitucional para
tado sofre limitações quanto ao uso de determinadas modalida- a deliberação das infrações penais militares, descritas nos
des de penas, quanto aos meios utilizados para apurar um cri- Arts. 9º e 10 do Código Penal Militar. No julgamento desses
me, às medidas adotadas e ao andamento processual, visando a casos, a justiça militar adota os procedimentos previstos no
respeitar a dignidade da pessoa humana, harmonizando-a com Código Processual Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.002/69).
as medidas legais pertinentes à elucidação de um delito, bem IV. Os processos da competência do tribunal especial;
como com a consequente aplicação posterior da pena. V. Os processos por crimes de imprensa.
Dessa forma, definimos o processo penal como um con- Quanto às duas últimas exceções referentes à aplicação do
junto de normas jurídicas tendentes a direcionar a atuação CPP na apuração e julgamento dos crimes, o parágrafo úni-
da polícia judiciária, assim como de todo o poder judiciário co do Art. 1º prevê que, na falta de norma, sejam aplicada as
criminal, objetivando a uma investigação, um processo e uma regras previstas no Código de Processo Penal de forma subsi-
diária. Um exemplo de tribunal especial seria o próprio tribu- tiva (PM, por exemplo) é suficiente para impedir a criminalida-
nal militar que adota procedimentos próprios. Nos casos de de. Sua atuação é marcada pela realização de diligências que
crimes de imprensa, vale o CPP, pois a referida Lei teve os seus objetivam descobrir a autoria e a existência de um crime.
efeitos suspensos temporariamente pelo STF, enquanto aguar- ї Características da Polícia Judiciária
da decisão do plenário quanto à constitucionalidade da Lei. Direção: delegado de polícia de carreira (bacharel em di-
A regra então é a aplicação do CPP nos delitos cometidos reito aprovado em concurso público).
no território nacional, somente não sendo aplicadas suas nor- Espécies: a polícia judiciária é dividida em Polícia Judiciá-
mas, nas hipóteses acima descritas. ria Estadual e Federal.
Lei Processual Penal no Tempo Nível Estadual
Polícia
A lei processual penal é aplicada no tempo da sua vigên- Civil
Polícia
cia, ou seja, a partir do momento em que ela entra em vigor, Judiciária
começa a regular todos os atos processuais penais que serão Polícia
praticados daquele dia em diante, até a revogação da Lei. Nível Federal
Federal
É importante analisarmos que, se um processo estiver em ї Conceito de Inquérito Policial
andamento, sendo regulado pelas normas vigentes do CPP, e
Inquérito policial é um procedimento administrativo inqui-
tivermos uma alteração nas normas, os atos praticados na vi-
sitivo, anterior ao processo, presidido pela autoridade policial
gência da lei anterior continuarão válidos, pois o que importa
(delegado de polícia) que conduz diligências, as quais objeti-
é o tempo da vigência da lei. A legislação nova será aplicada
vam apurar a autoria (responsável pelo crime) e a materialida-
aos processos futuros e não aos passados.
de (existência) da infração penal. Essas informações colhidas
Interpretação da Lei Processual Penal no inquérito policial (indícios de autoria e materialidade do
crime) serão disponibilizadas ao titular da ação penal para que
A aplicação da lei processual penal segue as mesmas re- este possa promover o processo judicial, que é a 2ª fase da
gras de hermenêutica que disciplinam a interpretação da le- persecução penal. Mas fiquemos ainda com o inquérito.
gislação em geral. Interpretar significa definir o sentido e al- ї Finalidade
cance de determinado conceito.
Informar o titular da ação penal sobre o resultado da in-
Em função da impossibilidade de se poder escrever na lei vestigação, colaborando na formação da sua opinião quanto à
todo o seu significado ou ainda se prever todas as situações existência e à autoria de determinado crime.
possíveis de ocorrer na vida real, o Art. 3º do Código de Proces-
ї Natureza
so Penal prevê que a lei processual penal admitirá:
Procedimento administrativo inquisitivo.
▷ Interpretação extensiva.
ї Procedimento
▷ Aplicação analógica.

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Não pode ser confundido com processo, pois as regras são
▷ Suplemento dos princípios gerais de direito.
outras; é comum as provas de concursos falarem que o inqué-
3. Inquérito Policial rito policial é um PROCESSO, o que está errado.
ї Administrativo
Vamos partir da ideia de que a persecução penal é fer- O inquérito policial é um procedimento administrativo,
ramenta utilizada pelo Estado para materializar a aplicação porque é realizado pela polícia judiciária, que é um órgão do
da pena ao autor de um crime. Ela se compõe de duas fases poder executivo, a qual tem a função de administrar a coisa
distintas: uma administrativa e outra judicial. Vamos agora es- pública. Apesar do nome polícia judiciária, ela não é subordi-
tudar essa fase administrativa, chamada de inquérito policial. nada ao poder judiciário e sim ao poder executivo, haja vista NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
o delegado de polícia ser subordinado ao secretário de segu-
Polícia Administrativa X rança pública e este ser submisso ao governador do Estado,
Polícia Judiciária responsável pela administração pública.

Polícia Administrativa Atribuição


É chamada também de polícia ostensiva, pois manifesta É a delimitação legal do poder conferido à autoridade po-
a sua atuação por meio do uso de fardas e viaturas carac- licial para investigar crimes. Por essas regras, saberemos se a
terizadas, para que, dessa forma, mostre à sociedade que investigação é de competência da polícia federal ou estadual
está presente. A polícia administrativa não é responsável e de qual delegacia ou comarca. As regras são as seguintes:
pela produção do inquérito policial, pois ela atua visando Territorial
prevenir o crime.
Regra Geral: teoria do resultado.
Ex.: Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Fer-
roviária Federal, Polícia Marítima (desempenhada pela PF). A atribuição é definida pela circunscrição (delimitação terri-
torial da atuação daquela delegacia) da Consumação do crime.
Polícia Judiciária Exceção: teoria da atividade.
É polícia de Repressão, que atua após a prática do crime, A atribuição é definida pela circunscrição da Prática dos 121
pois é utopia acreditar que a existência da polícia administra- Atos Executórios.
Essa regra é aplicada nos seguintes casos: Escrito
122 ▷ Crimes tentados Todas as diligências realizadas no curso de um inquérito
▷ Homicídio doloso (STJ) policial devem ser passadas a termo (escritas), para que seja
Apesar de o homicídio doloso ser um crime que tem resul- facilitada a troca de informações entre os órgãos responsáveis
tado, o STJ decidiu que as investigações referentes a tal fato
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

pela persecução penal.


devem ser realizadas pela polícia com circunscrição no local O delegado de polícia tem a faculdade de filmar ou gra-
da prática dos atos executórios, pois assim se garante uma co- var diligências realizadas, mas isso não afasta a obrigação de
lheita de provas mais eficiente e também pode ser dada uma transcrever todas por escrito.
resposta mais satisfatória à sociedade lesada. Art. 405, § 1º, CPP. Sempre que possível, o registro
Ex.: Uma pessoa dispara uma arma de fogo com a in- dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido
tenção de matar outra em uma pequena cidade do in-
e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de
terior do país e o disparo não mata imediatamente a
gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica
vítima, que é levada para o pronto socorro de uma cida-
similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior
de vizinha maior e lá ocorre o óbito. Se fosse adotada a
teoria do resultado, toda a investigação ficaria por con- fidelidade das informações.
ta da polícia do local onde a vítima morreu, mas adota- Sendo assim, é possível que o delegado, havendo meios,
se a teoria da atividade e a investigação é realizada pela documente os atos do IP através das formas de tecnologia
polícia do local da prática dos atos executórios. existentes, inclusive captação de som e imagem.

Material Discricionário
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A atribuição é definida pela natureza do crime, com a atua- Discricionariedade é a liberdade dentro da lei (esta deter-
ção de uma delegacia especializada em determinado tipo de mina ou autoriza a atuação do Estado). Assim sendo, o de-
delito. legado tem liberdade na adoção e condução das diligências