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Polícia Civil do Estado de São Paulo

PC-SP
Investigador de Polícia
Edital de abertura de inscrições

AB024-2018
DADOS DA OBRA

Título da obra: Polícia Civil do Estado de São Paulo - PC-SP

Cargo: Investigador de Polícia

(Baseado no Edital de abertura de inscrições)

• Língua Portuguesa
• Constituição Federal
• Direitos Humanos
• Código Penal
• Código de Processo Penal
• Legislação Especial
• Noções de Direito Administrativo
• Noções de Criminologia
• Noções de Lógica
• Noções de Informática
• Atualidades

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Diagramação / Editoração Eletrônica


Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Camila Lopes
Thais Regis

Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Julia Antoneli

Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

Conteúdo para o Cargo de: INVESTIGADOR DE POLÍCIA

Língua Portuguesa

1.1 - Leitura e interpretação de textos;............................................................................................................................................................ 01


1.2 - Ortografia oficial;............................................................................................................................................................................................ 05
1.3 - Acentuação gráfica;....................................................................................................................................................................................... 08
1.4 - Sinônimos e antônimos;.............................................................................................................................................................................. 10
1.5 - Sentido próprio e figurado das palavras;.............................................................................................................................................. 10
1.6 - Pontuação;........................................................................................................................................................................................................ 10
1.7 - Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e
interjeição;................................................................................................................................................................................................................... 13
1.8 - Frases e tipo de frases;................................................................................................................................................................................. 51
1.9 - Oração: termos essenciais da oração, termos integrantes da oração, termos acessórios da oração, coordenação e
subordinação;............................................................................................................................................................................................................. 51
1.10 - Concordância verbal e nominal;............................................................................................................................................................. 59
1.11 - Regência verbal e nominal;...................................................................................................................................................................... 65
1.12 - Colocação pronominal;.............................................................................................................................................................................. 70
1.13 - Significação das palavras;......................................................................................................................................................................... 72
1.14 - Crase;................................................................................................................................................................................................................ 79
1.15 - Análise morfossintática;............................................................................................................................................................................ 81
1.16 - Vícios e figuras de linguagem;................................................................................................................................................................ 81
1.17 - Figuras de sintaxe........................................................................................................................................................................................ 51

Constituição Federal

2.1 - Constituição Federal: artigos 1.º a 16, 37, 39, 41 e 144.................................................................................................................. 01

Direitos Humanos

2.2 Direitos Humanos: conceito e evolução histórica;................................................................................................................................ 01


2.2.2 - Declaração Universal dos Direitos Humanos;.................................................................................................................................. 12
2.2.3 - Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos;.......................................................................................................................... 22
2.2.4 - Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais;.......................................................................................... 32
2.2.5 - Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica);............................................................ 37
2.2.6 - Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (Adotado pela Assembleia Geral
das Nações Unidas na sua resolução 34/169, de 17 de Dezembro de 1979);................................................................................107
2.2.7 - Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes;........................ 54
2.2.8 - Grupos vulneráveis e minorias. Diversidade Étnico-racial: história, preconceito, discriminação, racismo, igualdade,
ações afirmativas;..................................................................................................................................................................................................... 98
2.2.9 - A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas: a polícia judiciária e a promoção dos direitos
fundamentais............................................................................................................................................................................................................103

Código Penal

2.3.1 - Tempo do Crime: artigo 4º;..................................................................................................................................................................... 01


2.3.2 - Lugar do Crime: artigo 6º;....................................................................................................................................................................... 01
2.3.3 - Do crime: artigos 13 a 25;....................................................................................................................................................................... 01
2.3.4 - Da Imputabilidade: artigos 26 e 27;.................................................................................................................................................... 01
2.3.5 - Concurso de Pessoas: artigos 29 a 31;............................................................................................................................................... 08
2.3.6 - Concurso de Crimes: artigos 69 a 71;................................................................................................................................................. 10
SUMÁRIO

2.3.6 - Dos Crimes Contra a Pessoa: artigos 121 a 154;............................................................................................................................ 12


2.3.7 - Dos Crimes Contra o Patrimônio: artigos 155 a 183;.................................................................................................................... 19
2.3.8 - Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual: artigos 213 a 234;....................................................................................................... 29
2.3.9 - Dos Crimes Contra a Incolumidade Pública: artigos 250 a 285;.............................................................................................. 47
2.3.10 - Dos Crimes Contra a Paz Pública: artigos 286 a 288;................................................................................................................. 50
2.3.11 - Dos Crimes Contra a Fé Pública: artigos 289 a 311;................................................................................................................... 32
2.3.12 - Dos Crimes Contra a Administração Pública: artigos 312 a 361............................................................................................ 37

Código de Processo Penal

2.4.1 - Do Inquérito Policial: artigos 4.º a 23;................................................................................................................................................ 01


2.4.2 - Da Restituição de Coisas Apreendidas - artigos 118 a 124;...................................................................................................... 09
2.4.3 - Das Medidas Assecuratórias - artigos 125 a 144-A;..................................................................................................................... 39
2.4.4 - Das Provas: artigos 155 a 250;............................................................................................................................................................... 10
2.4.5 - Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberdade Provisória: artigos 282 a 350............................................................ 22

Legislação Especial

2.5.1 - Decreto-Lei nº 3.688/1941 (Lei das Contravenções Penais);...................................................................................................... 01


2.5.2 - Lei nº 4.898/1965 (Lei de Abuso de Autoridade);.......................................................................................................................... 05
2.5.3 - Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal): artigos 1º ao 4º, 9º-A, 10, 11, 38 a 41, 120 a 125, 146-B, 146-D, 198,
199 e 202;..................................................................................................................................................................................................................109
2.5.4 - Lei nº 7.716/89 (Crimes de Preconceito Racial);............................................................................................................................. 07
2.5.5 - Lei nº 7.960/89 (Prisão Temporária);................................................................................................................................................... 08
2.5.6 - Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente): artigos 2º, 171 a 178, 225 a 244-B;..................................... 09
2.5.7 - Lei nº 8.072/1990 (Crimes Hediondos);............................................................................................................................................. 14
2.5.8 - Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor): artigos 61 a 80;............................................................................. 18
2.5.9 - Lei nº 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa): artigos 1º ao 13;.......................................................................... 20
2.5.10 - Lei nº 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais): artigos 2º, 60 a 76, 88 a 92;.................................................................... 28
2.5.11 - Lei nº 9.296/1996 (Lei de Interceptação Telefônica);.................................................................................................................. 30
2.5.12 - Lei nº 9.455/1997 (Tortura);.................................................................................................................................................................. 30
2.5.13 - Lei nº 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro): artigos 291 a 312-A;............................................................................ 33
2.5.14 - Lei nº 9.605/1998 (Crimes Ambientais): artigos 29 a 69-A;..................................................................................................... 41
2.5.15 - Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso): artigos 93 a 109;....................................................................................................... 49
2.5.16 - Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento): artigos 12 a 21;...................................................................................... 50
2.5.17 - Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha): artigos 1.º a 7º, 10 a 24, e 41;........................................................................... 51
2.5.18 - Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas): artigos 27 a 41, 50 a 53, 60 a 64;............................................................................... 56
2.5.19 - Lei nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação): artigos 1º a 9º, 21 e 22..............................................................64
Decreto estadual nº 58.052/2012;.........................................................................................................................................................71
2.5.20 - Lei nº 12.830/2013 (Investigação criminal conduzida pelo Delegado de Polícia);......................................................... 84
2.5.21 - Lei nº 12.850/2013 (Lei de Combate às Organizações Criminosas);.................................................................................... 84
2.5.22 - Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência): artigos 88 a 91;...................................................................... 88
2.5.23 - Lei nº 13.188/2015 (Direito de resposta ou retificação do ofendido);..............................................................................111
2.5.24 - Lei nº 13.260/2016 (Lei Antiterrorismo);........................................................................................................................................112
2.5.29 - Lei nº 13.344/2016 (Prevenção e Repressão ao Tráfico de Pessoas)..................................................................................107

Noções de Direito Administrativo

2.6.1 - Regime jurídico-administrativo;............................................................................................................................................................ 47


2.6.2 - Princípios básicos da Administração Pública;.................................................................................................................................. 01
2.6.3 - Poderes administrativos;.......................................................................................................................................................................... 12
2.6.4 - Atos administrativos;................................................................................................................................................................................. 17
SUMÁRIO

2.6.5 - Serviços públicos: conceito, princípios e classificação;................................................................................................................ 22


2.6.6 - Responsabilidade civil do Estado;........................................................................................................................................................ 31
2.6.7 - Controle da Administração;.................................................................................................................................................................... 33
2.6.8 - Improbidade administrativa;.................................................................................................................................................................. 74
2.6.9 - Lei Complementar nº 207/1979 (Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo);........................................................ 86
2.6.10 - Lei nº 10.261/1968 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de São Paulo);..........................................105
2.6.11 - Lei Complementar nº 1.151/2011....................................................................................................................................................134

Noções de Criminologia

3.1 - Conceito, método, objeto e finalidade da Criminologia;................................................................................................................ 01


3.2 - Teorias sociológicas da criminalidade;................................................................................................................................................... 04
3.3 - Vitimologia;....................................................................................................................................................................................................... 05
3.4 - O Estado Democrático de Direito e a prevenção da infração penal;......................................................................................... 09
3.5 - Criminologia e o papel da Polícia Judiciária........................................................................................................................................ 10

Noções de Lógica

4.1 - Conceitos iniciais do raciocínio lógico: proposições, valores lógicos, conectivos, tabelas-verdade, tautologia,
contradição, equivalência entre proposições, negação de uma proposição, validade de argumentos;................................ 01
4.2 - Estruturas lógicas e lógica de argumentação;.................................................................................................................................... 01
4.3 - Questões de associação;............................................................................................................................................................................. 01
4.4 - Verdades e mentiras;..................................................................................................................................................................................... 01
4.5 - Diagramas lógicos (silogismos);............................................................................................................................................................... 01
4.6 - Sequências lógicas......................................................................................................................................................................................... 01

Noções de Informática

5.1 - Sistema operacional: conceito de pastas, diretórios, arquivos e atalhos, área de trabalho, área de transferência,
manipulação de arquivos e pastas, uso dos menus, programas e aplicativos, digitalização, interação com o conjunto de
aplicativos para escritório;..................................................................................................................................................................................... 01
5.2 - Editor de texto: estrutura básica dos documentos, edição e formatação de textos, cabeçalhos, parágrafos, fontes,
colunas, marcadores simbólicos e numéricos, tabelas, impressão, controle de quebras e numeração de páginas, legendas,
índices, inserção de objetos, campos predefinidos, caixas de texto;................................................................................................... 07
5.3 - Editor de planilha eletrônica: estrutura básica das planilhas, conceitos de células, linhas, colunas, pastas e gráficos,
elaboração de tabelas e gráficos, uso de fórmulas, funções e macros, impressão, inserção de objetos, campos predefinidos,
controle de quebras e numeração de páginas, obtenção de dados externos, classificação de dados;................................. 14
5.4 - Correio Eletrônico: uso de correio eletrônico, preparo e envio de mensagens, anexação de arquivos;...................... 27
5.5 - Mensageria eletrônica: conceito e utilização;........................................................................................................................................7
5.6 - Voz sobre IP: conceito e utilização;......................................................................................................................................................... 29
5.7 - Ambiente em rede: conceitos, navegadores, navegação internet e intranet, conceitos de URL, links, sites, busca e
impressão de páginas, redes sociais, sistemas de busca e pesquisa, proteção e segurança, configurações, armazenamento
de dados na nuvem (cloud storage);................................................................................................................................................................ 29
5.8 - Hardware: Microcomputadores e periféricos: configuração básica e componentes; Impressoras: classificação e
noções gerais; dispositivos de armazenamento externo: conceito, classificação e noções gerais.......................................... 41

Atualidades

Tópicos atuais no Brasil e no mundo, relativos a economia, política, saúde, sociedade, meio ambiente, desenvolvimento
sustentável, educação, energia, saúde, relações internacionais, segurança e tecnologia, ocorridos a partir de janeiro de
2017, divulgados na mídia nacional e/ou internacional............................................................................................................................ 01
LÍNGUA PORTUGUESA

1.1 Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários, não literários e mistos);....................................................... 01
1.2 Ortografia;............................................................................................................................................................................................................ 05
1.3 Acentuação;......................................................................................................................................................................................................... 08
1.4 Sinônimos e antônimos;................................................................................................................................................................................. 10
1.5 Sentido próprio e figurado das palavras;................................................................................................................................................. 10
1.6 Pontuação;............................................................................................................................................................................................................ 10
1.7 Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção e
interjeição, emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem;................................................................................ 13
1.8 Emprego de tempos e modos verbais;..................................................................................................................................................... 13
1.9 Frases e tipos de frases;.................................................................................................................................................................................. 51
1.10 Oração: termos essenciais da oração, termos integrantes da oração, termos acessórios da oração, coordenação e
subordinação;............................................................................................................................................................................................................. 51
1.11 Concordância verbal e nominal;................................................................................................................................................................ 59
1.12 Regência verbal e nominal;......................................................................................................................................................................... 65
1.13 Colocação pronominal;................................................................................................................................................................................. 70
1.14 Semântica;.......................................................................................................................................................................................................... 72
1.15 Crase;................................................................................................................................................................................................................... 79
1.16 Análise morfossintática;............................................................................................................................................................................... 81
1.17 Vícios de linguagem;..................................................................................................................................................................................... 81
LÍNGUA PORTUGUESA

Interpretar / Compreender
1.1 LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE
DIVERSOS TIPOS DE TEXTOS (LITERÁRIOS, Interpretar significa:
NÃO LITERÁRIOS E MISTOS); - Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
- Através do texto, infere-se que...
- É possível deduzir que...
- O autor permite concluir que...
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacio- - Qual é a intenção do autor ao afirmar que...
nadas entre si, formando um todo significativo capaz de
produzir interação comunicativa (capacidade de codificar Compreender significa
e decodificar). - entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
- o texto diz que...
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. - é sugerido pelo autor que...
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com - de acordo com o texto, é correta ou errada a afirmação...
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a - o narrador afirma...
estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interli-
gação dá-se o nome de contexto. O relacionamento entre Erros de interpretação
as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de seu
contexto original e analisada separadamente, poderá ter - Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai do
um significado diferente daquele inicial. contexto, acrescentando ideias que não estão no texto, quer
por conhecimento prévio do tema quer pela imaginação.
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe- - Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se atenção
rências diretas ou indiretas a outros autores através de cita- apenas a um aspecto (esquecendo que um texto é um con-
ções. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. junto de ideias), o que pode ser insuficiente para o entendi-
mento do tema desenvolvido.
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação - Contradição = às vezes o texto apresenta ideias con-
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A partir trárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivo-
daí, localizam-se as ideias secundárias - ou fundamenta- cadas e, consequentemente, errar a questão.
ções -, as argumentações - ou explicações -, que levam ao Observação - Muitos pensam que existem a ótica do
esclarecimento das questões apresentadas na prova. escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa
prova de concurso, o que deve ser levado em consideração
Normalmente, numa prova, o candidato deve: é o que o autor diz e nada mais.

1- Identificar os elementos fundamentais de uma ar- Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que
gumentação, de um processo, de uma época (neste caso, relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si.
procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um
tempo). pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um pronome
2- Comparar as relações de semelhança ou de diferen- oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se vai
ças entre as situações do texto. dizer e o que já foi dito.
3- Comentar/relacionar o conteúdo apresentado com
uma realidade. Observação – São muitos os erros de coesão no dia
4- Resumir as ideias centrais e/ou secundárias. a dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e
5- Parafrasear = reescrever o texto com outras palavras. do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do
verbo; aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer
Condições básicas para interpretar também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
semântico, por isso a necessidade de adequação ao ante-
Fazem-se necessários: cedente.
- Conhecimento histórico-literário (escolas e gêneros Os pronomes relativos são muito importantes na in-
literários, estrutura do texto), leitura e prática; terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de
- Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que
texto) e semântico; existe um pronome relativo adequado a cada circunstância,
a saber:
Observação – na semântica (significado das palavras) - que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente,
incluem-se: homônimos e parônimos, denotação e conota- mas depende das condições da frase.
ção, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de lingua- - qual (neutro) idem ao anterior.
gem, entre outros. - quem (pessoa)
- Capacidade de observação e de síntese; - cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
- Capacidade de raciocínio. o objeto possuído.
- como (modo)

1
LÍNGUA PORTUGUESA

- onde (lugar) Questões


- quando (tempo)
- quanto (montante) 1-) (SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO PÚ-
BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM ELETRÔ-
Exemplo: NICA – IADES/2014)
Falou tudo QUANTO queria (correto)
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria Gratuidades
aparecer o demonstrativo O). Crianças com até cinco anos de idade e adultos com
mais de 65 anos de idade têm acesso livre ao Metrô-DF.
Dicas para melhorar a interpretação de textos Para os menores, é exigida a certidão de nascimento e, para
os idosos, a carteira de identidade. Basta apresentar um
- Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral do documento de identificação aos funcionários posicionados
assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos candidatos no bloqueio de acesso.
na disputa, portanto, quanto mais informação você absorver Disponível em: <http://www.metro.df.gov.br/estacoes/
com a leitura, mais chances terá de resolver as questões. gratuidades.html> Acesso em: 3/3/2014, com adaptações.
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa
a leitura. Conforme a mensagem do primeiro período do texto,
- Leia, leia bem, leia profundamente, ou seja, leia o tex- assinale a alternativa correta.
to, pelo menos, duas vezes – ou quantas forem necessárias. (A) Apenas as crianças com até cinco anos de idade
- Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma e os adultos com 65 anos em diante têm acesso livre ao
conclusão). Metrô-DF.
- Volte ao texto quantas vezes precisar. (B) Apenas as crianças de cinco anos de idade e os
- Não permita que prevaleçam suas ideias sobre as adultos com mais de 65 anos têm acesso livre ao Metrô-DF.
do autor. (C) Somente crianças com, no máximo, cinco anos de
- Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor idade e adultos com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre
compreensão. ao Metrô-DF.
- Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de (D) Somente crianças e adultos, respectivamente, com
cada questão. cinco anos de idade e com 66 anos em diante, têm acesso
- O autor defende ideias e você deve percebê-las. livre ao Metrô-DF.
- Observe as relações interparágrafos. Um parágrafo (E) Apenas crianças e adultos, respectivamente, com
geralmente mantém com outro uma relação de continua- até cinco anos de idade e com 65 anos em diante, têm
ção, conclusão ou falsa oposição. Identifique muito bem acesso livre ao Metrô-DF.
essas relações.
- Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja,
1-) Dentre as alternativas apresentadas, a única que
a ideia mais importante.
condiz com as informações expostas no texto é “Somente
- Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou
crianças com, no máximo, cinco anos de idade e adultos
“incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora da
com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre ao Metrô-DF”.
resposta – o que vale não somente para Interpretação de
RESPOSTA: “C”.
Texto, mas para todas as demais questões!
- Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia princi-
2-) (SUSAM/AM – TÉCNICO (DIREITO) – FGV/2014 -
pal, leia com atenção a introdução e/ou a conclusão.
adaptada) “Se alguém que é gay procura Deus e tem boa
- Olhe com especial atenção os pronomes relativos,
vontade, quem sou eu para julgá‐lo?” a declaração do
pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc., cha-
mados vocábulos relatores, porque remetem a outros vo- Papa Francisco, pronunciada durante uma entrevista à im-
cábulos do texto. prensa no final de sua visita ao Brasil, ecoou como um
trovão mundo afora. Nela existe mais forma que substância
Fontes de pesquisa: – mas a forma conta”. (...)
http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu- (Axé Silva, O Mundo, setembro 2013)
gues/como-interpretar-textos
http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-me- O texto nos diz que a declaração do Papa ecoou como
lhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas um trovão mundo afora. Essa comparação traz em si mes-
http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-pa- ma dois sentidos, que são
ra-voce-interpretar-melhor-um.html (A) o barulho e a propagação.
http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques- (B) a propagação e o perigo.
tao-117-portugues.htm (C) o perigo e o poder.
(D) o poder e a energia. 
(E)  a energia e o barulho.  

2
LÍNGUA PORTUGUESA

2-) Ao comparar a declaração do Papa Francisco a um Outra diferença importante é com relação ao trata-
trovão, provavelmente a intenção do autor foi a de mostrar mento do conteúdo: ao passo que, nos textos não literários
o “barulho” que ela causou e sua propagação mundo afora. ( jornalísticos, científicos, históricos, etc.) as palavras servem
Você pode responder à questão por eliminação: a segun- para veicular uma série de informações, o texto literário
da opção das alternativas relaciona-se a “mundo afora”, ou funciona de maneira a chamar a atenção para a própria
seja, que se propaga, espalha. Assim, sobraria apenas a al- língua (FARACO & MOURA, 1999) no sentido de explorar
ternativa A! vários aspectos como a sonoridade, a estrutura sintática e
RESPOSTA: “A”. o sentido das palavras.
Veja abaixo alguns exemplos de expressões na lingua-
3-) (SECRETARIA DE ESTADO DE ADMINISTRAÇÃO PÚ- gem não literária ou “corriqueira” e um exemplo de uso da
BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM CONTABI- mesma expressão, porém, de acordo com alguns escritores,
LIDADE – IADES/2014 - adaptada) na linguagem literária:
Concha Acústica
Localizada às margens do Lago Paranoá, no Setor de Linguagem não literária:
Clubes Esportivos Norte (ao lado do Museu de Arte de 1- Anoitece.
Brasília – MAB), está a Concha Acústica do DF. Projetada 2- Teus cabelos loiros brilham.
por Oscar Niemeyer, foi inaugurada oficialmente em 1969 3- Uma nuvem cobriu parte do céu. ...
e doada pela Terracap à Fundação Cultural de Brasília (hoje
Secretaria de Cultura), destinada a espetáculos ao ar livre. Linguagem literária:
Foi o primeiro grande palco da cidade. 1- A mão da noite embrulha os horizontes. (Alvarenga
Disponível em: <http://www.cultura.df.gov.br/nossa- Peixoto)
-cultura/concha- acustica.html>. Acesso em: 21/3/2014, 2- Os clarins de ouro dos teus cabelos cantam na luz!
com adaptações. (Mário Quintana)
3- um sujo de nuvem emporcalhou o luar em sua nas-
Assinale a alternativa que apresenta uma mensagem cença. (José Cândido de Carvalho)
compatível com o texto.
(A) A Concha Acústica do DF, que foi projetada por Os- Como distinguir, na prática, a linguagem literária da
não literária?
car Niemeyer, está localizada às margens do Lago Paranoá,
- A linguagem literária é conotativa, utiliza figuras (pa-
no Setor de Clubes Esportivos Norte.
lavras de sentido figurado), em que as palavras adquirem
(B) Oscar Niemeyer projetou a Concha Acústica do DF
sentidos mais amplos do que geralmente possuem.
em 1969.
- Na linguagem literária há uma preocupação com a
(C) Oscar Niemeyer doou a Concha Acústica ao que
escolha e a disposição das palavras, que acabam dando
hoje é a Secretaria de Cultura do DF.
vida e beleza a um texto.
(D) A Terracap transformou-se na Secretaria de Cultura
- Na linguagem literária é muito importante a maneira
do DF.
original de apresentar o tema escolhido.
(E) A Concha Acústica foi o primeiro palco de Brasília. - A linguagem não literária é objetiva, denotativa, preo-
3-) Recorramos ao texto: “Localizada às margens do cupa-se em transmitir o conteúdo, utiliza a palavra em seu
Lago Paranoá, no Setor de Clubes Esportivos Norte (ao sentido próprio, utilitário, sem preocupação artística. Ge-
lado do Museu de Arte de Brasília – MAB), está a Concha ralmente, recorre à ordem direta (sujeito, verbo, comple-
Acústica do DF. Projetada por Oscar Niemeyer”. As infor- mentos).
mações contidas nas demais alternativas são incoerentes
com o texto. Leia com atenção os textos a seguir e compare as lin-
RESPOSTA: “A”. guagens utilizadas neles.

Literários, não literários e mistos Texto A


Amor (ô). [Do lat. amore.] S. m. 1. Sentimento que pre-
Sabemos que a “matéria-prima” da literatura são as pa- dispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma
lavras. No entanto, é necessário fazer uma distinção entre a coisa: amor ao próximo; amor ao patrimônio artístico de
linguagem literária e a linguagem não literária, isto é, aque- sua terra. 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser
la que não caracteriza a literatura. a outro ser ou a uma coisa; devoção, culto; adoração: amor
Embora um médico faça suas prescrições em determi- à Pátria; amor a uma causa. 3. Inclinação ditada por laços
nado idioma, as palavras utilizadas por ele não podem ser de família: amor filial; amor conjugal. 4. Inclinação forte por
consideradas literárias porque se tratam de um vocabulário pessoa de outro sexo, geralmente de caráter sexual, mas
especializado e de um contexto de uso específico. Ago- que apresenta grande variedade e comportamentos e rea-
ra, quando analisamos a literatura, vemos que o escritor ções.
dispensa um cuidado diferente com a linguagem escrita, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário
e que os leitores dispensam uma atenção diferenciada ao da Língua Portuguesa, Nova Fronteira.
que foi produzido.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Texto B na pele, flor


Amor é fogo que arde sem se ver; que se dissolve na boca. Mas este açúcar
É ferida que dói e não se sente; não foi feito por mim.
É um contentamento descontente; Este açúcar veio
é dor que desatina sem doer. da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
Luís de Camões. Lírica, Cultrix. dono da mercearia.
Este açúcar veio
Você deve ter notado que os textos tratam do mesmo de uma usina de açúcar em Pernambuco
assunto, porém os autores utilizam linguagens diferentes. ou no Estado do Rio
No texto A, o autor preocupou-se em definir “amor”, e tampouco o fez o dono da usina.
usando uma linguagem objetiva, científica, sem preocupa- Este açúcar era cana
ção artística. e veio dos canaviais extensos
No texto B, o autor trata do mesmo assunto, mas com que não nascem por acaso
preocupação literária, artística. De fato, o poeta entra no no regaço do vale.
campo subjetivo, com sua maneira própria de se expres- Em lugares distantes, onde não há hospital
sar, utiliza comparações (compara amor com fogo, ferida, nem escola,
contentamento e dor) e serve-se ainda de contrastes que homens que não sabem ler e morrem de fome
acabam dando graça e força expressiva ao poema (con- aos 27 anos
tentamento descontente, dor sem doer, ferida que não se plantaram e colheram a cana
sente, fogo que não se vê). que viraria açúcar.
Em usinas escuras,
Questões homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
1-) Leia o trecho do poema abaixo.
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
O Poeta da Roça
Sou fio das mata, cantô da mão grosa
Fonte: “O açúcar” (Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Ja-
Trabaio na roça, de inverno e de estio
neiro, Civilização Brasileira, 1980, pp.227-228)
A minha chupana é tapada de barro
Só fumo cigarro de paia de mio. TEXTO II
Patativa do Assaré
A cana-de-açúcar
A respeito dele, é possível afirmar que Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no
Brasil pelos colonizadores portugueses no século XVI. A re-
(A) não pode ser considerado literário, visto que a lin- gião que durante séculos foi a grande produtora de cana-de-
guagem aí utilizada não está adequada à norma culta for- -açúcar no Brasil é a Zona da Mata nordestina, onde os férteis
mal. solos de massapé, além da menor distância em relação ao
(B) não pode ser considerado literário, pois nele não mercado europeu, propiciaram condições favoráveis a esse
se percebe a preservação do patrimônio cultural brasileiro. cultivo. Atualmente, o maior produtor nacional de cana-de-
(C) não é um texto consagrado pela crítica literária. -açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco, Alagoas, Rio
(D) trata-se de um texto literário, porque, no processo de Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir o açúcar, que em
criativo da Literatura, o trabalho com a linguagem pode parte é exportado e em parte abastece o mercado interno, a
aparecer de várias formas: cômica, lúdica, erótica, popular cana serve também para a produção de álcool, importante
etc nos dias atuais como fonte de energia e de bebidas. A imen-
(E) a pobreza vocabular – palavras erradas – não permi- sa expansão dos canaviais no Brasil, especialmente em São
te que o consideremos um texto literário. Paulo, está ligada ao uso do álcool como combustível.

Leia os fragmentos abaixo para responder às questões 2-) Para que um texto seja literário:
que seguem: a) basta somente a correção gramatical; isto é, a expres-
são verbal segundo as leis lógicas ou naturais.
TEXTO I b) deve prescindir daquilo que não tenha correspondên-
O açúcar cia na realidade palpável e externa.
O branco açúcar que adoçará meu café c) deve fugir do inexato, daquilo que confunda a capaci-
nesta manhã de Ipanema dade de compreensão do leitor.
não foi produzido por mim d) deve assemelhar-se a uma ação de desnudamento.
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. O escritor revela, ao escrever, o mundo, e, em especial, re-
Vejo-o puro vela o Homem aos outros homens.
e afável ao paladar e) deve revelar diretamente as coisas do mundo: senti-
como beijo de moça, água mentos, ideias, ações.

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LÍNGUA PORTUGUESA

3-) Ainda com relação ao textos I e II, assinale a opção são / aspergir - aspersão / submergir - submersão / divertir
incorreta - diversão / impelir - impulsivo / compelir - compulsório /
a) No texto I, em lugar de apenas informar sobre o real, repelir - repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso /
ou de produzi-lo, a expressão literária é utilizada principal- sentir - sensível / consentir – consensual.
mente como um meio de refletir e recriar a realidade.
b) No texto II, de expressão não literária, o autor infor- SS e não C e Ç
ma o leitor sobre a origem da cana-de-açúcar, os lugares
onde é produzida, como teve início seu cultivo no Brasil, nomes derivados dos verbos cujos radicais terminem
etc. em gred, ced, prim ou com verbos terminados por tir ou
c) O texto I parte de uma palavra do domínio comum – -meter: agredir - agressivo / imprimir - impressão / admitir
açúcar – e vai ampliando seu potencial significativo, explo- - admissão / ceder - cessão / exceder - excesso / percutir -
rando recursos formais para estabelecer um paralelo entre percussão / regredir - regressão / oprimir - opressão / com-
o açúcar – branco, doce, puro – e a vida do trabalhador que prometer - compromisso / submeter – submissão.
o produz – dura, amarga, triste.
d) No texto I, a expressão literária desconstrói hábitos *quando o prefixo termina com vogal que se junta com
de linguagem, baseando sua recriação no aproveitamento a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simétrico - assimé-
de novas formas de dizer. trico / re + surgir – ressurgir.
e) O texto II não é literário porque, diferentemente do *no pretérito imperfeito simples do subjuntivo. Exem-
literário, parte de um aspecto da realidade, e não da ima- plos: ficasse, falasse.
ginação.
C ou Ç e não S e SS
Gabarito
vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açúcar.
vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó, Ju-
1-) D
çara, caçula, cachaça, cacique.
sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu,
2-) D – Esta alternativa está correta, pois ela remete ao
uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça, caniço, es-
caráter reflexivo do autor de um texto literário, ao passo em perança, carapuça, dentuço.
que ele revela às pessoas o “seu mundo” de maneira peculiar. nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção / de-
ter - detenção / ater - atenção / reter – retenção.
3-) E – o texto I também fala da realidade, mas com um após ditongos: foice, coice, traição.
cunho diferente do texto II. No primeiro há uma colocação palavras derivadas de outras terminadas em -te, to(r):
diferenciada por parte do autor em que o objetivo não é marte - marciano / infrator - infração / absorto – absorção.
unicamente passar informação, existem outros “motivado-
res” por trás desta escrita. O fonema z

S e não Z
sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é subs-
1.2 ORTOGRAFIA; tantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárquicos: freguês,
freguesa, freguesia, poetisa, baronesa, princesa.
sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, metamorfose.
formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis, quiseste.
A ortografia é a parte da Fonologia que trata da correta nomes derivados de verbos com radicais terminados
grafia das palavras. É ela quem ordena qual som devem em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / empreender -
ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma língua são empresa / difundir – difusão.
grafados segundo acordos ortográficos. diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís - Lui-
A maneira mais simples, prática e objetiva de apren- sinho / Rosa - Rosinha / lápis – lapisinho.
der ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras, após ditongos: coisa, pausa, pouso, causa.
familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras é verbos derivados de nomes cujo radical termina com
necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções e, “s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar – pesquisar.
em alguns casos, há necessidade de conhecimento de eti-
mologia (origem da palavra). Z e não S

Regras ortográficas sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de adjetivo:


macio - maciez / rico – riqueza / belo – beleza.
O fonema s sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de origem
não termine com s): final - finalizar / concreto – concretizar.
S e não C/Ç consoante de ligação se o radical não terminar com “s”:
palavras substantivadas derivadas de verbos com radi- pé + inho - pezinho / café + al - cafezal
cais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender - pretensão /
expandir - expansão / ascender - ascensão / inverter - inver- Exceção: lápis + inho – lapisinho.

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LÍNGUA PORTUGUESA

O fonema j * Dica:
- Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto à orto-
G e não J grafia de uma palavra, há a possibilidade de consultar o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), ela-
palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa, gesso. borado pela Academia Brasileira de Letras. É uma obra de
estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento, gim. referência até mesmo para a criação de dicionários, pois
terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com pou- traz a grafia atualizada das palavras (sem o significado). Na
cas exceções): imagem, vertigem, penugem, bege, foge. Internet, o endereço é www.academia.org.br.

Exceção: pajem. Informações importantes


- Formas variantes são formas duplas ou múltiplas,
terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio, equivalentes: aluguel/aluguer, relampejar/relampear/re-
litígio, relógio, refúgio. lampar/relampadar.
verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fugir, - Os símbolos das unidades de medida são escritos
mugir. sem ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar plu-
depois da letra “r” com poucas exceções: emergir, sur- ral, sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg, 20km,
gir. 120km/h.
depois da letra “a”, desde que não seja radical termina- Exceção para litro (L): 2 L, 150 L.
do com j: ágil, agente. - Na indicação de horas, minutos e segundos, não deve
haver espaço entre o algarismo e o símbolo: 14h, 22h30min,
J e não G 14h23’34’’(= quatorze horas, vinte e três minutos e trinta e
quatro segundos).
palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje. - O símbolo do real antecede o número sem espaço:
palavras de origem árabe, africana ou exótica: jiboia, R$1.000,00. No cifrão deve ser utilizada apenas uma barra
manjerona. vertical ($).
palavras terminadas com aje: ultraje.
Fontes de pesquisa:
O fonema ch http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or-
tografia
X e não CH SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
palavras de origem tupi, africana ou exótica: abacaxi, Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
xucro. ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
palavras de origem inglesa e espanhola: xampu, lagar- Saraiva, 2010.
tixa. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
depois de ditongo: frouxo, feixe. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
depois de “en”: enxurrada, enxada, enxoval.
Hífen
Exceção: quando a palavra de origem não derive de
outra iniciada com ch - Cheio - (enchente) O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado para
CH e não X ligar os elementos de palavras compostas (como ex-presi-
dente, por exemplo) e para unir pronomes átonos a verbos
palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, chassi, (ofereceram-me; vê-lo-ei). Serve igualmente para fazer a
mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha. translineação de palavras, isto é, no fim de uma linha, se-
parar uma palavra em duas partes (ca-/sa; compa-/nheiro).
As letras “e” e “i”
Uso do hífen que continua depois da Reforma Or-
Ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem. Com tográfica:
“i”, só o ditongo interno cãibra.
verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar são 1. Em palavras compostas por justaposição que formam
escritos com “e”: caçoe, perdoe, tumultue. Escrevemos com uma unidade semântica, ou seja, nos termos que se unem
“i”, os verbos com infinitivo em -air, -oer e -uir: trai, dói, para formarem um novo significado: tio-avô, porto-ale-
possui, contribui. grense, luso-brasileiro, tenente-coronel, segunda- -fei-
ra, conta-gotas, guarda-chuva, arco-íris, primeiro-ministro,
* Atenção para as palavras que mudam de sentido azul-escuro.
quando substituímos a grafia “e” pela grafia “i”: área (super-
fície), ária (melodia) / delatar (denunciar), dilatar (expandir) 2. Em palavras compostas por espécies botânicas e
/ emergir (vir à tona), imergir (mergulhar) / peão (de estân- zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, abóbora-
cia, que anda a pé), pião (brinquedo). -menina, erva-doce, feijão-verde.

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LÍNGUA PORTUGUESA

3. Nos compostos com elementos além, aquém, re- 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
cém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, recém- “dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h” inicial: de-
-casado. sumano, inábil, desabilitar, etc.

4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algu- 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quan-
mas exceções continuam por já estarem consagradas pelo do o segundo elemento começar com “o”: cooperação,
uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé-de- coobrigação, coordenar, coocupante, coautor, coedição,
-meia, água-de-colônia, queima-roupa, deus-dará. coexistir, etc.

5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio- 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram no-
-Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas combinações ção de composição: pontapé, girassol, paraquedas, para-
históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria, Angola-Brasil, etc. quedista, etc.

6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su- 6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: ben-
per- quando associados com outro termo que é iniciado feito, benquerer, benquerido, etc.
por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super-racional, etc.
- Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas corres-
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, pondentes átonas, aglutinam-se com o elemento seguin-
ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito. te, não havendo hífen: pospor, predeterminar, predetermi-
nado, pressuposto, propor.
8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: - Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccio-
pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc. so, auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre-
-humano, super-realista, alto-mar.
9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abra- - Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma,
ça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc. antisséptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante,
ultrassom, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus,
10. Nas formações em que o prefixo tem como se-
autoajuda, autoelogio, autoestima, radiotáxi.
gundo termo uma palavra iniciada por “h”: sub-hepático,
geo--história, neo-helênico, extra-humano, semi-hospitalar,
Fontes de pesquisa:
super-homem.
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/
ortografia
11. Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
termina com a mesma vogal do segundo elemento: micro-
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
-ondas, eletro-ótica, semi-interno, auto-observação, etc.

** O hífen é suprimido quando para formar outros ter- Questões


mos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS –
Lembrete da Zê! 2014) De acordo com a nova ortografia, assinale o item
Ao separar palavras na translineação (mudança de li- em que todas as palavras estão corretas:
nha), caso a última palavra a ser escrita seja formada por A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial.
hífen, repita-o na próxima linha. Exemplo: escreverei anti- B) supracitado – semi-novo – telesserviço.
-inflamatório e, ao final, coube apenas “anti-”. Na próxima C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som.
linha escreverei: “-inflamatório” (hífen em ambas as linhas). D) contrarregra – autopista – semi-aberto.
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor.
Não se emprega o hífen:
1-) Correção:
1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial = cor-
termina em vogal e o segundo termo inicia-se em “r” ou reta
“s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas consoantes: antir- B) supracitado – semi-novo – telesserviço = seminovo
religioso, contrarregra, infrassom, microssistema, minissaia, C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som = hi-
microrradiografia, etc. droelétrica, ultrassom
D) contrarregra – autopista – semi-aberto = semia-
2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre- berto
fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se com E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor = in-
vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coeducação, autoes- fraestrutura
trada, autoaprendizagem, hidroelétrico, plurianual, autoes- RESPOSTA: “A”.
cola, infraestrutura, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 3-) Questão que envolve ortografia.
2014) De acordo com a nova ortografia, assinale o item I. O cidadão se dirigia para sua SEÇÃO eleitoral. (setor)
em que todas as palavras estão corretas: II. A zona eleitoral ficava A CERCA DE 200 metros de um
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial. posto policial. (= aproximadamente)
B) supracitado – semi-novo – telesserviço. III. O condutor do automóvel INFRINGIU a lei seca. (re-
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som. lacione com infrator)
D) contrarregra – autopista – semi-aberto. IV. Foi encontrada uma VULTOSA soma de dinheiro no
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor. carro. (de grande vulto, volumoso)
V. O policial anunciou o FLAGRANTE delito. (relacione
2-) Correção: com “pego no flagra”)
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial = Seção / a cerca de / infringiu / vultosa / flagrante
correta RESPOSTA: “D”.
B) supracitado – semi-novo – telesserviço = semi-
novo
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som = hi- 1.3 ACENTUAÇÃO;
droelétrica, ultrassom
D) contrarregra – autopista – semi-aberto = semiaberto
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor = in- Quanto à acentuação, observamos que algumas pala-
fraestrutura vras têm acento gráfico e outras não; na pronúncia, ora se
RESPOSTA: “A”. dá maior intensidade sonora a uma sílaba, ora a outra. Por
isso, vamos às regras!

3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ Regras básicas – Acentuação tônica


UFAL/2014)
A acentuação tônica está relacionada à intensidade
com que são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela
que se dá de forma mais acentuada, conceitua-se como sí-
laba tônica. As demais, como são pronunciadas com menos
intensidade, são denominadas de átonas.
De acordo com a tonicidade, as palavras são classifica-
das como:
Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a
última sílaba. Ex.: café – coração – Belém – atum – caju – papel
Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica recai na
penúltima sílaba. Ex.: útil – tórax – táxi – leque – sapato – passível
Proparoxítonas - São aquelas cuja sílaba tônica está
na antepenúltima sílaba. Ex.: lâmpada – câmara – tímpano
– médico – ônibus

Há vocábulos que possuem mais de uma sílaba, mas


em nossa língua existem aqueles com uma sílaba somente:
são os chamados monossílabos.
Armandinho, personagem do cartunista Alexandre
Beck, sabe perfeitamente empregar os parônimos “cestas” Os acentos
“sestas” e “sextas”. Quanto ao emprego de parônimos, da- acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a” e “i”,
das as frases abaixo, “u” e “e” do grupo “em” - indica que estas letras represen-
I. O cidadão se dirigia para sua _____________ eleitoral. tam as vogais tônicas de palavras como pá, caí, público.
II. A zona eleitoral ficava ___________ 200 metros de um Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre
posto policial. aberto: herói – médico – céu (ditongos abertos).
III. O condutor do automóvel __________ a lei seca. acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”,
IV. Foi encontrada uma __________ soma de dinheiro no carro. “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado: tâma-
V. O policial anunciou o __________ delito. ra – Atlântico – pêsames – supôs .
acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a”
Assinale a alternativa cujos vocábulos preenchem cor- com artigos e pronomes: à – às – àquelas – àqueles
retamente as lacunas das frases. trema ( ¨ ) – De acordo com a nova regra, foi totalmen-
A) seção, acerca de, infligiu, vultosa, fragrante. te abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado em
B) seção, acerca de, infligiu, vultuosa, flagrante. palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: mülle-
C) sessão, a cerca de, infringiu, vultosa, fragrante. riano (de Müller)
D) seção, a cerca de, infringiu, vultosa, flagrante. til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vo-
E) sessão, a cerca de, infligiu, vultuosa, flagrante. gais nasais: oração – melão – órgão – ímã

8
LÍNGUA PORTUGUESA

Regras fundamentais Os demais casos de acento diferencial não são mais


utilizados: para (verbo), para (preposição), pelo (substanti-
Palavras oxítonas: vo), pelo (preposição). Seus significados e classes gramati-
Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”, cais são definidos pelo contexto.
“o”, “em”, seguidas ou não do plural(s): Pará – café(s) – ci- Polícia para o trânsito para realizar blitz. = o primeiro
pó(s) – Belém. “para” é verbo; o segundo, preposição (com relação de fi-
Esta regra também é aplicada aos seguintes casos: nalidade).
- Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, se- ** Quando, na frase, der para substituir o “por” por
guidos ou não de “s”: pá – pé – dó – há “colocar”, estaremos trabalhando com um verbo, portanto:
- Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, “pôr”; nos outros casos, “por” preposição. Ex: Faço isso por
seguidas de lo, la, los, las: respeitá-lo, recebê-lo, compô-lo você. / Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
Paroxítonas: Regra do Hiato:
Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
- i, is: táxi – lápis – júri
Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, for a se-
- us, um, uns: vírus – álbuns – fórum
gunda vogal do hiato, acompanhado ou não de “s”, haverá
- l, n, r, x, ps: automóvel – elétron - cadáver – tórax –
acento. Ex.: saída – faísca – baú – país – Luís
fórceps
- ã, ãs, ão, ãos: ímã – ímãs – órfão – órgãos Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quan-
- ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou do seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z. Ra-ul, Lu-iz,
não de “s”: água – pônei – mágoa – memória sa-ir, ju-iz
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se esti-
** Dica: Memorize a palavra LINURXÃO. Para quê? Re- verem seguidas do dígrafo nh. Ex: ra-i-nha, ven-to-i-nha.
pare que esta palavra apresenta as terminações das paro- Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem
xítonas que são acentuadas: L, I N, U (aqui inclua UM = precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim ficará mais fácil a memorização!
Observação importante:
Regras especiais:
Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando
abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento hiato quando vierem depois de ditongo (nas paroxítonas):
de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em
palavras paroxítonas. Antes Agora
** Alerta da Zê! Cuidado: Se os ditongos abertos esti-
verem em uma palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu) bocaiúva bocaiuva
ainda são acentuados: dói, escarcéu. feiúra feiura
Sauípe Sauipe
Antes Agora
assembléia assembleia O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
abolido:
idéia ideia
geléia geleia
Antes Agora
jibóia jiboia
crêem creem
apóia (verbo apoiar) apoia
lêem leem
paranóico paranoico
vôo voo
Acento Diferencial enjôo enjoo

Representam os acentos gráficos que, pelas regras de ** Dica: Memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos
acentuação, não se justificariam, mas são utilizados para que, no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais
diferenciar classes gramaticais entre determinadas palavras acento como antes: CRER, DAR, LER e VER.
e/ou tempos verbais. Por exemplo: Repare:
Pôr (verbo) X por (preposição) / pôde (pretérito perfeito 1-) O menino crê em você. / Os meninos creem em você.
de Indicativo do verbo “poder”) X pode (presente do Indica- 2-) Elza lê bem! / Todas leem bem!
tivo do mesmo verbo). 3-) Espero que ele dê o recado à sala. / Esperamos que
Se analisarmos o “pôr” - pela regra das monossílabas: os garotos deem o recado!
terminada em “o” seguida de “r” não deve ser acentuada, 4-) Rubens vê tudo! / Eles veem tudo!
mas nesse caso, devido ao acento diferencial, acentua-se, Cuidado! Há o verbo vir: Ele vem à tarde! / Eles vêm à
para que saibamos se se trata de um verbo ou preposição. tarde!

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LÍNGUA PORTUGUESA

As formas verbais que possuíam o acento tônico na Quais estão corretas?


raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de “e” A) Apenas I e III.
ou “i” não serão mais acentuadas: B) Apenas II e IV.
C) Apenas I, II e IV.
D) Apenas II, III e IV.
Antes Depois
E) I, II, III e IV.
apazigúe (apaziguar) apazigue
averigúe (averiguar) averigue 2-)
I. Caso o acento das palavras ‘trânsito’ e ‘específicos’
argúi (arguir) argui seja retirado, essas continuam sendo palavras da língua
portuguesa = teremos “transito” e “especifico” – serão ver-
Acentuam-se os verbos pertencentes a terceira pessoa bos (correta)
do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm (verbo vir) II. A regra que explica a acentuação das palavras ‘vários’
A regra prevalece também para os verbos conter, obter, e ‘país’ não é a mesma = vários é paroxítona terminada em
reter, deter, abster: ele contém – eles contêm, ele obtém – eles ditongo; país é a regra do hiato (correta)
obtêm, ele retém – eles retêm, ele convém – eles convêm. III. Na palavra ‘daí’, há um ditongo decrescente = há um
hiato, por isso a acentuação (da - í) = incorreta.
Fontes de pesquisa: IV. Acentua-se a palavra ‘vêm’ para diferenciá-la, em si-
http://www.brasilescola.com/gramatica/acentuacao.htm tuação de uso, quanto à flexão de número = “vêm” é utiliza-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- do para a terceira pessoa do plural (correta)
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. RESPOSTA: “C”.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
1.4 SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS;
Questões 1.5 SENTIDO PRÓPRIO E FIGURADO DAS
PALAVRAS;
1-) (PREFEITURA DE SÃO PAULO/SP – AUDITOR FISCAL
TRIBUTÁRIO MUNICIPAL – CETRO/2014 - adaptada) Assinale
a alternativa que contém duas palavras acentuadas conforme
a mesma regra. “Caro Candidato, o tópico acima será abordado na
(A) “Hambúrgueres” e “repórter”. íntegra em: 1.14 Semântica”
(B) “Inacreditáveis” e “repórter”.
(C) “Índice” e “dólares”.
(D) “Inacreditáveis” e “atribuídos”.
(E) “Atribuídos” e “índice”. 1.6 PONTUAÇÃO;

1-)
(A) “Hambúrgueres” = proparoxítona / “repórter” = pa-
roxítona Os sinais de pontuação são marcações gráficas que
(B) “Inacreditáveis” = paroxítona / “repórter” = paroxítona servem para compor a coesão e a coerência textual, além de
(C) “Índice” = proparoxítona / “dólares” = proparoxítona ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. Um tex-
(D) “Inacreditáveis” = paroxítona / “atribuídos” = regra do to escrito adquire diferentes significados quando pontuado
hiato de formas diversificadas. O uso da pontuação depende, em
(E) “Atribuídos” = regra do hiato / “índice” = proparoxítona certos momentos, da intenção do autor do discurso. Assim,
RESPOSTA: “B”. os sinais de pontuação estão diretamente relacionados ao
contexto e ao interlocutor.
2-) (SEFAZ/RS – AUDITOR FISCAL DA RECEITA FEDERAL –
FUNDATEC/2014 - adaptada) Principais funções dos sinais de pontuação
Analise as afirmações que são feitas sobre acentuação
gráfica. Ponto (.)
I. Caso o acento das palavras ‘trânsito’ e ‘específicos’ seja
retirado, essas continuam sendo palavras da língua portu- 1- Indica o término do discurso ou de parte dele, encer-
rando o período.
guesa.
II. A regra que explica a acentuação das palavras ‘vá-
2- Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Compa-
rios’ e ‘país’ não é a mesma.
nhia). Se a palavra abreviada aparecer em final de período,
III. Na palavra ‘daí’, há um ditongo decrescente.
este não receberá outro ponto; neste caso, o ponto de abre-
IV. Acentua-se a palavra ‘vêm’ para diferenciá-la, em si-
viatura marca, também, o fim de período. Exemplo: Estudei
tuação de uso, quanto à flexão de número.
português, matemática, constitucional, etc. (e não “etc..”)

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LÍNGUA PORTUGUESA

3- Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do Reticências (...)


ponto, assim como após o nome do autor de uma citação:
Haverá eleições em outubro 1- Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lápis,
O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napoleão canetas, cadernos...
Mendes de Almeida) (ou: Almeida.)
2- Indica interrupção violenta da frase.
4- Os números que identificam o ano não utilizam pon- “- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
to nem devem ter espaço a separá-los, bem como os núme-
ros de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250. 3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este
mal... pega doutor?
Ponto e Vírgula ( ; )
4- Indica que o sentido vai além do que foi dito: Deixa,
1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma depois, o coração falar...
importância: “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos dão
pelo pão a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a Vírgula (,)
vida; os de nenhum espírito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)
Não se usa vírgula
2- Separa partes de frases que já estão separadas por
vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; outros, mon- * separando termos que, do ponto de vista sintático,
tanhas, frio e cobertor. ligam-se diretamente entre si:
- entre sujeito e predicado:
3- Separa itens de uma enumeração, exposição de mo- Todos os alunos da sala foram advertidos.
tivos, decreto de lei, etc. Sujeito predicado
Ir ao supermercado;
Pegar as crianças na escola; - entre o verbo e seus objetos:
Caminhada na praia; O trabalho custou sacrifício aos
Reunião com amigos. realizadores.
V.T.D.I. O.D. O.I.
Dois pontos (:)
Usa-se a vírgula:
1- Antes de uma citação
Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto: - Para marcar intercalação:
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abun-
2- Antes de um aposto dância, vem caindo de preço.
Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão
tarde e calor à noite. produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indús-
3- Antes de uma explicação ou esclarecimento trias não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não
Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo querem abrir mão dos lucros altos.
a rotina de sempre.
- Para marcar inversão:
4- Em frases de estilo direto a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração):
Maria perguntou: Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fechadas.
- Por que você não toma uma decisão? b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
Ponto de Exclamação (!) c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de
maio de 1982.
1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera,
susto, súplica, etc. - Para separar entre si elementos coordenados (dis-
Sim! Claro que eu quero me casar com você! postos em enumeração):
Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
2- Depois de interjeições ou vocativos A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais.
Ai! Que susto!
João! Há quanto tempo! - Para marcar elipse (omissão) do verbo:
Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco.
Ponto de Interrogação (?)
- Para isolar:
Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres. - o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasilei-
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze- ra, possui um trânsito caótico.
vedo) - o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Observações: (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014) Se-


- Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expres- gundo a norma-padrão da língua portuguesa, a pontua-
são latina et cetera, que significa “e outras coisas”, seria ção está correta em:
dispensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o A) Hagar disse, que não iria.
acordo ortográfico em vigor no Brasil exige que empre- B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir, bi-
guemos etc. precedido de vírgula: Falamos de política, fu- fes e lagostas, aos vizinhos.
tebol, lazer, etc. C) Chegou, o convite dos Stevensens, bife e lagostas:
para Hagar e Helga
- As perguntas que denotam surpresa podem ter com- D) “Eles são chatos e, nunca param de falar”, disse, Ha-
binados o ponto de interrogação e o de exclamação: Você gar à Helga.
falou isso para ela?! E) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pe-
los Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
- Temos, ainda, sinais distintivos:
1-) a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), sepa- 1-) Correções realizadas:
ração de siglas (IOF/UPC); A) Hagar disse que não iria. = não há vírgula entre ver-
2-) os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas bo e seu complemento (objeto)
pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira opção B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir bi-
aos parênteses, principalmente na matemática; fes e lagostas aos vizinhos. = não há vírgula entre verbo e
3-) o asterisco ( * ) = usado para remeter o leitor a seu complemento (objeto)
uma nota de rodapé ou no fim do livro, para substituir um C) Chegou o convite dos Stevensens: bife e lagostas
nome que não se quer mencionar. para Hagar e Helga.
D) “Eles são chatos e nunca param de falar”, disse Ha-
Fontes de pesquisa: gar à Helga.
http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/ E) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pe-
http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgu- los Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
la.htm RESPOSTA: “E”.
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São 2-) (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – MÉDICO DO TRA-
Paulo: Saraiva, 2010. BALHO – CESPE/2014 - adaptada)
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa A correção gramatical do trecho “Entre as bebidas al-
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. coólicas, cervejas e vinhos são as mais comuns em todo
o mundo” seria prejudicada, caso se inserisse uma vírgula
Questões logo após a palavra “vinhos”.
( ) CERTO ( ) ERRADO
1-) (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014)
2-) Não se deve colocar vírgula entre sujeito e predi-
cado, a não ser que se trate de um aposto (1), predicativo
do sujeito (2), ou algum termo que requeira estar separado
entre pontuações. Exemplos:
O Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa!
Os meninos, ansiosos (2), chegaram!
RESPOSTA: “CERTO”.

3-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014) Em


apenas uma das opções a vírgula foi corretamente empre-
gada. Assinale-a.
A) No dia seguinte, estavam todos cansados.
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas.
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas per-
plexas.
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e
fundamental.
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em peque-
na parte do território.

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LÍNGUA PORTUGUESA

3-) de chuva pluvial


A) No dia seguinte, estavam todos cansados. = correta
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas = não se de criança pueril
separa sujeito do predicado (o sujeito está no final). de dedo digital
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas per-
de estômago estomacal ou gástrico
plexas = não se separa sujeito do predicado.
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e fun- de falcão falconídeo
damental = não se separa sujeito do predicado. de farinha farináceo
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em peque-
de fera ferino
na parte do território. = não se separa sujeito do predicado
RESPOSTA: “A”. de ferro férreo
de fogo ígneo
de garganta gutural
1.7 CLASSES DE PALAVRAS: SUBSTANTIVO,
de gelo glacial
ADJETIVO, NUMERAL, ARTIGO, PRONOME,
VERBO, ADVÉRBIO, PREPOSIÇÃO E de guerra bélico
CONJUNÇÃO E INTERJEIÇÃO, EMPREGO E de homem viril ou humano
SENTIDO QUE IMPRIMEM ÀS RELAÇÕES QUE de ilha insular
ESTABELECEM;
de inverno hibernal ou invernal
1.8 EMPREGO DE TEMPOS E MODOS
VERBAIS; de lago lacustre
de leão leonino
de lebre leporino
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou de lua lunar ou selênico
característica do ser e se relaciona com o substantivo, con- de madeira lígneo
cordando com este em gênero e número.
de mestre magistral
As praias brasileiras estão poluídas. de ouro áureo
de paixão passional
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos
(plural e feminino, pois concordam com “praias”). de pâncreas pancreático
de porco suíno ou porcino
Locução adjetiva dos quadris ciático
Locução = reunião de palavras. Sempre que são ne- de rio fluvial
cessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mesma de sonho onírico
coisa, tem-se uma locução. Às vezes, uma preposição + de velho senil
substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Locu-
ção Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo). Por de vento eólico
exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem freio de vidro vítreo ou hialino
(paixão desenfreada). de virilha inguinal
Observe outros exemplos: de visão óptico ou ótico

* Observação: nem toda locução adjetiva possui um


de águia aquilino adjetivo correspondente, com o mesmo significado. Por
de aluno discente exemplo: Vi as alunas da 5ª série. / O muro de tijolos caiu.
de anjo angelical
Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):
de ano anual
de aranha aracnídeo O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função
de boi bovino dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando
como adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito
de cabelo capilar ou do objeto).
de cabra caprino
de campo campestre ou rural

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LÍNGUA PORTUGUESA

Adjetivo Pátrio (ou gentílico)

Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Observe alguns deles:

Estados e cidades brasileiras:

Alagoas alagoano
Amapá amapaense
Aracaju aracajuano ou aracajuense
Amazonas amazonense ou baré
Belo Horizonte belo-horizontino
Brasília brasiliense
Cabo Frio cabo-friense
Campinas campineiro ou campinense

Adjetivo Pátrio Composto

Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:

África afro- / Cultura afro-americana


Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas
América américo- / Companhia américo-africana
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
Europa euro- / Negociações euro-americanas
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros

Flexão dos adjetivos

O adjetivo varia em gênero, número e grau.

Gênero dos Adjetivos

Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos subs-
tantivos, classificam-se em:

Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento: o moço norte-americano, a
moça norte-americana.

* Exceção: surdo-mudo e surda-muda.

Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no feminino: conflito político-social e desavença político-social.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Número dos Adjetivos Comparativo

Plural dos adjetivos simples Nesse grau, comparam-se a mesma característica atri-
buída a dois ou mais seres ou duas ou mais características
Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de igual-
com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos dade, de superioridade ou de inferioridade.
substantivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e
ruins, boa e boas. Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça No comparativo de igualdade, o segundo termo da
função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a pa- comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou
lavra que estiver qualificando um elemento for, original- quão.
mente, um substantivo, ela manterá sua forma primitiva.
Exemplo: a palavra cinza é, originalmente, um substantivo; Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Supe-
porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará rioridade Analítico
como adjetivo. Ficará, então, invariável. Logo: camisas cin- No comparativo de superioridade analítico, entre os
za, ternos cinza. dois substantivos comparados, um tem qualidade supe-
rior. A forma é analítica porque pedimos auxílio a “mais...do
Veja outros exemplos: que” ou “mais...que”.
Motos vinho (mas: motos verdes)
Paredes musgo (mas: paredes brancas). O Sol é maior (do) que a Terra. = Comparativo de Supe-
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos). rioridade Sintético

Adjetivo Composto Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de


superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São
É aquele formado por dois ou mais elementos. Nor- eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/superior,
malmente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas grande/maior, baixo/inferior.
o último elemento concorda com o substantivo a que se Observe que:
refere; os demais ficam na forma masculina, singular. Caso a) As formas menor e pior são comparativos de supe-
um dos elementos que formam o adjetivo composto seja rioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais mau, res-
um substantivo adjetivado, todo o adjetivo composto fi- pectivamente.
cará invariável. Por exemplo: a palavra “rosa” é, original- b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
mente, um substantivo, porém, se estiver qualificando um (melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações fei-
elemento, funcionará como adjetivo. Caso se ligue a outra tas entre duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se
palavra por hífen, formará um adjetivo composto; como usar as formas analíticas mais bom, mais mau,mais grande
é um substantivo adjetivado, o adjetivo composto inteiro e mais pequeno. Por exemplo:
ficará invariável. Veja: Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois ele-
Camisas rosa-claro. mentos.
Ternos rosa-claro. Pedro é mais grande que pequeno - comparação de
Olhos verde-claros. duas qualidades de um mesmo elemento.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
Telhados marrom-café e paredes verde-claras. Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de Infe-
rioridade
* Observação: Sou menos passivo (do) que tolerante.
- Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer
adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre in- Superlativo
variáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, vesti-
dos cor-de-rosa. O superlativo expressa qualidades num grau muito ele-
- O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois ele- vado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou relativo e
mentos flexionados: crianças surdas-mudas. apresenta as seguintes modalidades:
Superlativo Absoluto: ocorre quando a qualidade de
Grau do Adjetivo um ser é intensificada, sem relação com outros seres. Apre-
senta-se nas formas:
Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a in- 1-) Analítica: a intensificação é feita com o auxílio
tensidade da qualidade do ser. São dois os graus do adje- de palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). Por
tivo: o comparativo e o superlativo. exemplo: O concurseiro é muito esforçado.
2-) Sintética: nesta, há o acréscimo de sufixos. Por
exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Observe alguns superlativos sintéticos: Estudei bastante. = modificando o verbo estudei


Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio
benéfico - beneficentíssimo (bem)
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um adje-
bom - boníssimo ou ótimo tivo (claros)
comum - comuníssimo
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acrescen-
cruel - crudelíssimo
tar ideia de:
difícil - dificílimo Tempo: Ela chegou tarde.
doce - dulcíssimo Lugar: Ele mora aqui.
Modo: Eles agiram mal.
fácil - facílimo
Negação: Ela não saiu de casa.
fiel - fidelíssimo Dúvida: Talvez ele volte.

Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de Flexão do Advérbio


um ser é intensificada em relação a um conjunto de seres.
Essa relação pode ser: Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre-
1-) De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios,
todas. porém, admitem a variação em grau. Observe:
2-) De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
todas. Grau Comparativo
* Note bem: Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo modo
1) O superlativo absoluto analítico é expresso por meio que o comparativo do adjetivo:
dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, an- - de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): Re-
tepostos ao adjetivo. nato fala tão alto quanto João.
2) O superlativo absoluto sintético se apresenta sob - de inferioridade: menos + advérbio + que (do que):
duas formas: uma erudita - de origem latina - outra po- Renato fala menos alto do que João.
pular - de origem vernácula. A forma erudita é constituída - de superioridade:
pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, 1-) Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato
-imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo. A forma
fala mais alto do que João.
popular é constituída do radical do adjetivo português + o
2-) Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato fala
sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.
melhor que João.
3-) Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi-
Grau Superlativo
nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio
– cheíssimo.
O superlativo pode ser analítico ou sintético:
Fontes de pesquisa: - Analítico: acompanhado de outro advérbio: Renato
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf32. fala muito alto.
php muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio de
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- modo
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010. - Sintético: formado com sufixos: Renato fala altíssimo.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. * Observação: as formas diminutivas (cedinho, perti-
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- nho, etc.) são comuns na língua popular.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. Maria mora pertinho daqui. (muito perto)
A criança levantou cedinho. (muito cedo)
Advérbio
Classificação dos Advérbios
Compare estes exemplos:
De acordo com a circunstância que exprime, o advér-
O ônibus chegou. bio pode ser de:
O ônibus chegou ontem. Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás,
além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo,
Advérbio é uma palavra invariável que modifica o sen- aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro,
tido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de tempo, afora, alhures, aquém, embaixo, externamente, a distância,
de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e do próprio à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à es-
advérbio. querda, ao lado, em volta.

16
LÍNGUA PORTUGUESA

Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora, 1-) Estudei bastante para o concurso. (estudei muito,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes, pois “muitos” não dá!). = advérbio
doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, en-
fim, afinal, amiúde, breve, constantemente, entrementes, 2-) Estudei bastantes capítulos para o concurso. (estudei
imediatamente, primeiramente, provisoriamente, sucessiva- muitos capítulos) = pronome indefinido
mente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de
vez em quando, de quando em quando, a qualquer momen- Advérbios Interrogativos
to, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.
Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, depressa, São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como?
acinte, debalde, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à toa, por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referentes
à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse modo, às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja:
dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de
cor, em vão e a maior parte dos que terminam em “-mente”: Interrogação Direta Interrogação Indireta
calmamente, tristemente, propositadamente, pacientemente,
amorosamente, docemente, escandalosamente, bondosa- Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
mente, generosamente. Onde mora? Indaguei onde morava.
Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto, efetiva- Por que choras? Não sei por que choras.
mente, certo, decididamente, deveras, indubitavelmente.
Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de Aonde vai? Perguntei aonde ia.
forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum. Donde vens? Pergunto donde vens.
Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavelmen- Quando voltas? Pergunto quando voltas.
te, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe.
Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em excesso, bas- Locução Adverbial
tante, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto, assaz,
que (equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo, de Quando há duas ou mais palavras que exercem função
muito, por completo, extremamente, intensamente, grande- de advérbio, temos a locução adverbial, que pode expres-
mente, bem (quando aplicado a propriedades graduáveis). sar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordinaria-
Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, somen- mente por uma preposição. Veja:
te, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo: Brando, o lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para
vento apenas move a copa das árvores. dentro, por aqui, etc.
Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, também. afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
Por exemplo: O indivíduo também amadurece durante a modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em
adolescência. geral, frente a frente, etc.
Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por exem- tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, hoje
plo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer aos meus ami- em dia, nunca mais, etc.
gos por comparecerem à festa.
* Observações:
* Saiba que: - tanto a locução adverbial como o advérbio modifi-
- Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se cam o verbo, o adjetivo e outro advérbio:
ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei o Chegou muito cedo. (advérbio)
mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos tarde Joana é muito bela. (adjetivo)
possível. De repente correram para a rua. (verbo)
- Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente,
em geral sufixamos apenas o último: Por exemplo: O aluno - Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais
respondeu calma e respeitosamente. mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio:
Essa matéria é mais bem interessante que aquela.
Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
- O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér-
Há palavras como muito, bastante, que podem aparecer bio: Cheguei primeiro.
como advérbio e como pronome indefinido.
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro - Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito. adverbial desempenham na oração a função de adjunto
Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo e adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros. cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advérbio.
Exemplo:
* Dica: Como saber se a palavra bastante é advérbio Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad-
(não varia, não se flexiona) ou pronome indefinido (varia, verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
sofre flexão)? Se der, na frase, para substituir o “bastante” Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi-
por “muito”, estamos diante de um advérbio; se der para dade e de tempo, respectivamente.
substituir por “muitos” (ou muitas), é um pronome. Veja:

17
LÍNGUA PORTUGUESA

Fontes de pesquisa: * Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf75.php facultativo:
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- Preparei o meu curso. Preparei meu curso.
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010. * A utilização do artigo indefinido pode indicar uma
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- ideia de aproximação numérica:
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. O máximo que ele deve ter é uns vinte anos.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. * O artigo também é usado para substantivar palavras
pertencentes a outras classes gramaticais:
Artigo Não sei o porquê de tudo isso.
O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
* Há casos em que o artigo definido não pode ser
-se como o termo variável que serve para individualizar ou
usado:
generalizar o substantivo, indicando, também, o gênero
- antes de nomes de cidade e de pessoas conhecidas:
(masculino/feminino) e o número (singular/plural).
O professor visitará Roma.
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
“uma”[s] e “uns”). Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre-
sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a
Artigos definidos – São aqueles usados para indicar bela Roma.
seres determinados, expressos de forma individual:
O concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam - antes de pronomes de tratamento:
muito. Vossa Senhoria sairá agora?
Exceção: O senhor vai à festa?
Artigos indefinidos – São aqueles usados para indicar
seres de modo vago, impreciso: - após o pronome relativo “cujo” e suas variações:
Uma candidata foi aprovada! Umas candidatas foram Esse é o concurso cujas provas foram anuladas?
aprovadas! Este é o candidato cuja nota foi a mais alta.

Circunstâncias em que os artigos se manifestam: Fontes de pesquisa:


http://www.brasilescola.com/gramatica/artigo.htm
* Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
numeral “ambos”: reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
Ambos os concursos cobrarão tal conteúdo. Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
* Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.SAC-
do artigo, outros não: CONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi.
São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, A Bahia... 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
* Quando indicado no singular, o artigo definido pode reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
indicar toda uma espécie:
Paulo: Saraiva, 2010.
O trabalho dignifica o homem.
Conjunção
* No caso de nomes próprios personativos, denotando a ideia
de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso do artigo:
Marcela é a mais extrovertida das irmãs. Além da preposição, há outra palavra também inva-
O Pedro é o xodó da família. riável que, na frase, é usada como elemento de ligação:
a conjunção. Ela serve para ligar duas orações ou duas
* No caso de os nomes próprios personativos estarem palavras de mesma função em uma oração:
no plural, são determinados pelo uso do artigo: O concurso será realizado nas cidades de Campinas e
Os Maias, os Incas, Os Astecas... São Paulo.
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito.
* Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a)
para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (o Morfossintaxe da Conjunção
artigo), o pronome assume a noção de qualquer.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) As conjunções, a exemplo das preposições, não exer-
Toda classe possui alunos interessados e desinteressa- cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
dos. (qualquer classe)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação da Conjunção 5) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração


que a explica, que justifica a ideia nela contida. São elas:
De acordo com o tipo de relação que estabelecem, as que, porque, pois (antes do verbo), porquanto.
conjunções podem ser classificadas em coordenativas e Não demore, que o filme já vai começar.
subordinativas. No primeiro caso, os elementos ligados Falei muito, pois não gosto do silêncio!
pela conjunção podem ser isolados um do outro. Esse iso-
lamento, no entanto, não acarreta perda da unidade de Conjunções Subordinativas
sentido que cada um dos elementos possui. Já no segundo
caso, cada um dos elementos ligados pela conjunção de- São aquelas que ligam duas orações, sendo uma delas
pende da existência do outro. Veja: dependente da outra. A oração dependente, introduzida
pelas conjunções subordinativas, recebe o nome de ora-
Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo. ção subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha começado
Podemos separá-las por ponto: quando ela chegou.
Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo. O baile já tinha começado: oração principal
quando: conjunção subordinativa (adverbial temporal)
Temos acima um exemplo de conjunção (e, conse- ela chegou: oração subordinada
quentemente, orações coordenadas) coordenativa – “mas”.
Já em: As conjunções subordinativas subdividem-se em inte-
Espero que eu seja aprovada no concurso! grantes e adverbiais:
Não conseguimos separar uma oração da outra, pois a
segunda “completa” o sentido da primeira (da oração prin- 1. Integrantes - Indicam que a oração subordinada por
cipal): elas introduzida completa ou integra o sentido da principal.
Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período temos uma Introduzem orações que equivalem a substantivos, ou seja,
oração subordinada substantiva objetiva direta (ela exerce as orações subordinadas substantivas. São elas: que, se.
a função de objeto direto do verbo da oração principal). Quero que você volte. (Quero sua volta)

2. Adverbiais - Indicam que a oração subordinada


Conjunções Coordenativas
exerce a função de adjunto adverbial da principal. De acor-
do com a circunstância que expressam, classificam-se em:
São aquelas que ligam orações de sentido completo
a) Causais: introduzem uma oração que é causa da
e independente ou termos da oração que têm a mesma
ocorrência da oração principal. São elas: porque, que, como
função gramatical. Subdividem-se em:
(= porque, no início da frase), pois que, visto que, uma vez
1) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando
que, porquanto, já que, desde que, etc.
ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e não),
Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.
não só... mas também, não só... como também, bem como,
não só... mas ainda.
b) Concessivas: introduzem uma oração que expressa
A sua pesquisa é clara e objetiva.
ideia contrária à da principal, sem, no entanto, impedir sua
Não só dança, mas também canta.
realização. São elas: embora, ainda que, apesar de que, se bem
que, mesmo que, por mais que, posto que, conquanto, etc.
2) Adversativas: ligam duas orações ou palavras, ex- Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.
pressando ideia de contraste ou compensação. São elas:
mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não c) Condicionais: introduzem uma oração que indica a
obstante. hipótese ou a condição para ocorrência da principal. São
Tentei chegar mais cedo, porém não consegui. elas: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde
que, a menos que, sem que, etc.
3) Alternativas: ligam orações ou palavras, expressan- Se precisar de minha ajuda, telefone-me.
do ideia de alternância ou escolha, indicando fatos que se
realizam separadamente. São elas: ou, ou... ou, ora... ora, já... ** Dica: você deve ter percebido que a conjunção con-
já, quer... quer, seja... seja, talvez... talvez. dicional “se” também é conjunção integrante. A diferença é
Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário. clara ao ler as orações que são introduzidas por ela. Acima,
ela nos dá a ideia da condição para que recebamos um
4) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração telefonema (se for preciso ajuda). Já na oração:
que expressa ideia de conclusão ou consequência. São elas: Não sei se farei o concurso...
logo, pois (depois do verbo), portanto, por conseguinte, por Não há ideia de condição alguma, há? Outra coisa: o
isso, assim. verbo da oração principal (sei) pede complemento (objeto
Marta estava bem preparada para o teste, portanto não direto, já que “quem não sabe, não sabe algo”). Portanto,
ficou nervosa. a oração em destaque exerce a função de objeto direto da
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão. oração principal, sendo classificada como oração subordi-
nada substantiva objetiva direta.

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LÍNGUA PORTUGUESA

d) Conformativas: introduzem uma oração que expri- junto das relações que garantem a coesão do enunciado.
me a conformidade de um fato com outro. São elas: confor- O sucesso desse conjunto de relações depende do conhe-
me, como (= conforme), segundo, consoante, etc. cimento do valor relacional das conjunções, uma vez que
O passeio ocorreu como havíamos planejado. estas interferem semanticamente no enunciado.
Dessa forma, deve-se dedicar atenção especial às con-
e) Finais: introduzem uma oração que expressa a fina- junções tanto na leitura como na produção de textos. Nos
lidade ou o objetivo com que se realiza a oração principal. textos narrativos, elas estão muitas vezes ligadas à expres-
São elas: para que, a fim de que, que, porque (= para que), são de circunstâncias fundamentais à condução da histó-
que, etc. ria, como as noções de tempo, finalidade, causa e conse-
Toque o sinal para que todos entrem no salão. quência. Nos textos dissertativos, evidenciam muitas vezes
a linha expositiva ou argumentativa adotada - é o caso
f) Proporcionais: introduzem uma oração que expres- das exposições e argumentações construídas por meio de
sa um fato relacionado proporcionalmente à ocorrência do contrastes e oposições, que implicam o uso das adversati-
expresso na principal. São elas: à medida que, à proporção vas e concessivas.
que, ao passo que e as combinações quanto mais... (mais),
quanto menos... (menos), quanto menos... (mais), quanto Fontes de pesquisa:
menos... (menos), etc. http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84.
O preço fica mais caro à medida que os produtos escas- php
seiam. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
* Observação: são incorretas as locuções proporcio- Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
nais à medida em que, na medida que e na medida em que. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
g) Temporais: introduzem uma oração que acrescenta Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
uma circunstância de tempo ao fato expresso na oração ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
principal. São elas: quando, enquanto, antes que, depois que,
Interjeição
logo que, todas as vezes que, desde que, sempre que, assim
que, agora que, mal (= assim que), etc.
Interjeição é a palavra invariável que exprime emo-
A briga começou assim que saímos da festa.
ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin-
guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de
h) Comparativas: introduzem uma oração que expres-
maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas sim
sa ideia de comparação com referência à oração principal.
a manifestação de um suspiro, um estado da alma de-
São elas: como, assim como, tal como, como se, (tão)... como,
corrente de uma situação particular, um momento ou um
tanto como, tanto quanto, do que, quanto, tal, qual, tal qual, contexto específico. Exemplos:
que nem, que (combinado com menos ou mais), etc. Ah, como eu queria voltar a ser criança!
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem. ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
i) Consecutivas: introduzem uma oração que expressa hum: expressão de um pensamento súbito = interjei-
a consequência da principal. São elas: de sorte que, de modo ção
que, sem que (= que não), de forma que, de jeito que, que
(tendo como antecedente na oração principal uma palavra O significado das interjeições está vinculado à maneira
como tal, tão, cada, tanto, tamanho), etc. como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o senti-
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do do que a expressão vai adquirir em cada contexto em que
exame. for utilizada. Exemplos:
Psiu!
Atenção: Muitas conjunções não têm classificação úni- contexto: alguém pronunciando esta expressão na rua
ca, imutável, devendo, portanto, ser classificadas de acor- ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te chamando!
do com o sentido que apresentam no contexto (grifo Ei, espere!”
da Zê!).
Psiu!
O bom relacionamento entre as conjunções de um contexto: alguém pronunciando em um hospital; sig-
texto garante a perfeita estruturação de suas frases e pa- nificado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silêncio!”
rágrafos, bem como a compreensão eficaz de seu conteú-
do. Interagindo com palavras de outras classes gramaticais Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
essenciais ao inter-relacionamento das partes de frases e puxa: interjeição; tom da fala: euforia
textos - como os pronomes, preposições, alguns advérbios
e numerais -, as conjunções fazem parte daquilo a que se Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
pode chamar de “a arquitetura textual”, isto é, o con- puxa: interjeição; tom da fala: decepção

20
LÍNGUA PORTUGUESA

As interjeições cumprem, normalmente, duas funções: * Observações:


a) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo alegria, 1) As interjeições são como frases resumidas, sintéticas.
tristeza, dor, etc. Por exemplo:
Ah, deve ser muito interessante! Ué! (= Eu não esperava por essa!)
Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe.)
b) Sintetizar uma frase apelativa.
Cuidado! Saia da minha frente. 2) Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é
o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes
As interjeições podem ser formadas por: gramaticais podem aparecer como interjeições. Por exem-
a) simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô plo:
b) palavras: Oba! Olá! Claro! Viva! Basta! (Verbos)
c) grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus! Fora! Francamente! (Advérbios)
Ora bolas! 3) A interjeição pode ser considerada uma “palavra-
-frase” porque sozinha pode constituir uma mensagem.
Classificação das Interjeições Por exemplo:
Socorro! Ajudem-me! Silêncio! Fique quieto!
Comumente, as interjeições expressam sentido de:
Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido! Aten- 4) Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi-
ção! Olha! Alerta! tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: Miau!
Afugentamento: Fora! Passa! Rua! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-
Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva! -quá!, etc.
Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah!
Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem! Âni- 5) Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com
mo! Adiante! a sua homônima “oh!”, que exprime admiração, alegria,
Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva!
tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois do “oh!” exclamativo
Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá!
e não a fazemos depois do “ó” vocativo. Por exemplo:
Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamente!
“Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!” (Olavo Bilac)
Essa não! Chega! Basta!
Oh! a jornada negra!” (Olavo Bilac)
Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Queira Deus!
Desculpa: Perdão!
Fontes de pesquisa:
Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena!
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf89.
Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê!
Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus! Quê! php
Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz! SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios! Puxa! Pô! coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Ora! Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática
Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade! – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa
Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve! Viva! Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
Adeus! Olá! Alô! Ei! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me, Deus! Numeral
Silêncio: Psiu! Silêncio! Numeral é a palavra variável que indica quantidade
Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa! numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pes-
soas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa determi-
* Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis, isto nada sequência.
é, não sofrem variação em gênero, número e grau como os
nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e * Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que
voz como os verbos. No entanto, em uso específico, algu- os números indicam em relação aos seres. Assim, quando
mas interjeições sofrem variação em grau. Não se trata de a expressão é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se
um processo natural desta classe de palavra, mas tão só uma trata de numerais, mas sim de algarismos.
variação que a linguagem afetiva permite. Exemplos: oizinho, Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a
bravíssimo, até loguinho. ideia expressa pelos números, existem mais algumas pala-
vras consideradas numerais porque denotam quantidade,
Locução Interjetiva proporção ou ordenação. São alguns exemplos: década,
dúzia, par, ambos(as), novena.
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma ex-
pressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem Ma- Classificação dos Numerais
ria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus!
Toda frase mais ou menos breve dita em tom exclama- - Cardinais: indicam quantidade exata ou determina-
tivo torna-se uma locução interjetiva, dispensando análise da de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns cardinais têm
dos termos que a compõem: Macacos me mordam!, Valha- sentido coletivo, como por exemplo: século, par, dúzia, dé-
-me Deus!, Quem me dera! cada, bimestre.

21
LÍNGUA PORTUGUESA

- Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém ou - Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar
alguma coisa ocupa numa determinada sequência: primei- exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
ro, segundo, centésimo, etc. conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
- No português contemporâneo, não se usa a conjun-
* Observação importante: ção “e” após “mil”, seguido de centena:
As palavras anterior, posterior, último, antepenúltimo, Nasci em mil novecentos e noventa e dois.
final e penúltimo também indicam posição dos seres, mas Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.
são classificadas como adjetivos, não ordinais.
* Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por
- Fracionários: indicam parte de uma quantidade, ou dois zeros, usa-se o “e”:
seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois quintos, etc. Seu salário será de mil e quinhentos reais. (R$1.500,00)
- Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)
dos seres, indicando quantas vezes a quantidade foi au- - Para designar papas, reis, imperadores, séculos e par-
mentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc. tes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até
décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral
Flexão dos numerais venha depois do substantivo;

Os numerais cardinais que variam em gênero são um/ Ordinais Cardinais


uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/du-
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
zentas em diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatro-
centas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
são invariáveis.
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Os numerais ordinais variam em gênero e número: Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)

- Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido


primeiro segundo milésimo
como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)
primeira segunda milésima
primeiros segundos milésimos ** Dica: Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por
associação. Ficará mais fácil!
primeiras segundas milésimas - Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o or-
dinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do esforço Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
e conseguiram o triplo de produção. Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses tri- - Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se re-
plas do medicamento. fere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e e outra”, “as duas”) e são largamente empregados para
número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/ retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua
duas terças partes. utilização exige a presença do artigo posposto: Ambos os
Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só
dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros. é dispensado caso haja um pronome demonstrativo: Ambos
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau esses ministros falarão à imprensa.
nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de
sentido. É o que ocorre em frases como: Função sintática do Numeral
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade! O numeral tem mais de uma função sintática:
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= - se na oração analisada seu papel é de adjetivo, o nu-
segunda divisão de futebol) meral assumirá a função de adjunto adnominal; se fizer
papel de substantivo, pode ter a função de sujeito, objeto
direto ou indireto.
Emprego e Leitura dos Numerais
Visitamos cinco casas, mas só gostamos de duas.
- Os numerais são escritos em conjunto de três alga-
Objeto direto = cinco casas
rismos, contados da direita para a esquerda, em forma de Núcleo do objeto direto = casas
centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma Adjunto adnominal = cinco
separação através de ponto ou espaço correspondente a Objeto indireto = de duas
um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456. Núcleo do objeto indireto = duas

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LÍNGUA PORTUGUESA

Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

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LÍNGUA PORTUGUESA

fontes de pesquisa: Dicas sobre preposição


http://www.sopor tugues.com.br/secoes/mor f/ 
morf40.php - O “a” pode funcionar como preposição, pronome
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o “a”
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. seja um artigo, virá precedendo um substantivo, servindo
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- para determiná-lo como um substantivo singular e femi-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: nino.
Saraiva, 2010. A matéria que estudei é fácil!
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. - Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois
termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
Preposição Irei à festa sozinha.
Entregamos a flor à professora!
Preposição é uma palavra invariável que serve para *o primeiro “a” é artigo; o segundo, preposição.
ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece,
normalmente há uma subordinação do segundo termo em - Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o
relação ao primeiro. As preposições são muito importantes lugar e/ou a função de um substantivo.
na estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual Nós trouxemos a apostila. = Nós a trouxemos.
e possuem valores semânticos indispensáveis para a com-
preensão do texto. Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas
por meio das preposições:
Tipos de Preposição
Destino = Irei a Salvador.
1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusi- Modo = Saiu aos prantos.
vamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com, Lugar = Sempre a seu lado.
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, Assunto = Falemos sobre futebol.
atrás de, dentro de, para com. Tempo = Chegarei em instantes.
Causa = Chorei de saudade.
2. Preposições acidentais: palavras de outras classes Fim ou finalidade = Vim para ficar.
gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja, Instrumento = Escreveu a lápis.
formadas por uma derivação imprópria: como, durante, ex- Posse = Vi as roupas da mamãe.
ceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto. Autoria = livro de Machado de Assis
Companhia = Estarei com ele amanhã.
3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras va- Matéria = copo de cristal.
lendo como uma preposição, sendo que a última palavra é Meio = passeio de barco.
uma (preposição): abaixo de, acerca de, acima de, ao lado Origem = Nós somos do Nordeste.
de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, Conteúdo = frascos de perfume.
em frente a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
causa de, por cima de, por trás de. Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais.

A preposição é invariável, no entanto pode unir-se a * Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas lo-
outras palavras e, assim, estabelecer concordância em gê- cuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução pre-
nero ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela. positiva por trás de.

* Essa concordância não é característica da preposição, Fontes de pesquisa:


mas das palavras às quais ela se une. http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/
Esse processo de junção de uma preposição com outra SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
palavra pode se dar a partir dos processos de: coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
1. Combinação: união da preposição “a” com o artigo ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
“o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos. Os vocá- Saraiva, 2010.
bulos não sofrem alteração. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
2. Contração: união de uma preposição com outra pa- ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
lavra, ocorrendo perda ou transformação de fonema: de + Pronome
o = do, em + a = na, per + os = pelos, de + aquele = da- Pronome é a palavra variável que substitui ou acom-
quele, em + isso = nisso. panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma
3. Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” prepo- forma.
sição + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal do O homem julga que é superior à natureza, por isso o
pronome “aquilo”). homem destrói a natureza...

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LÍNGUA PORTUGUESA

Utilizando pronomes, teremos: Pronome Reto


O homem julga que é superior à natureza, por isso ele
a destrói... Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na senten-
Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de termos ça, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos flores.
(homem e natureza).
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gê-
Grande parte dos pronomes não possuem significados nero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a
fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro principal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso.
de um contexto, o qual nos permite recuperar a referên- Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim confi-
cia exata daquilo que está sendo colocado por meio dos gurado:
pronomes no ato da comunicação. Com exceção dos pro-
nomes interrogativos e indefinidos, os demais pronomes - 1.ª pessoa do singular: eu
têm por função principal apontar para as pessoas do dis- - 2.ª pessoa do singular: tu
curso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação - 3.ª pessoa do singular: ele, ela
no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, - 1.ª pessoa do plural: nós
os pronomes apresentam uma forma específica para cada - 2.ª pessoa do plural: vós
- 3.ª pessoa do plural: eles, elas
pessoa do discurso.
* Atenção: esses pronomes não costumam ser usa-
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
dos como complementos verbais na língua-padrão. Frases
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala]
como “Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? eu até aqui”, comuns na língua oral cotidiana, devem ser
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for-
fala] mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon-
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem -me até aqui”.
se fala]
* Observação: frequentemente observamos a omissão
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras do pronome reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme- as próprias formas verbais marcam, através de suas desi-
ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência nências, as pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto:
através do pronome seja coerente em termos de gênero Fizemos boa viagem. (Nós)
e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto,
mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado. Pronome Oblíquo

Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nos- Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sen-
sa escola neste ano. tença, exerce a função de complemento verbal (objeto
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
adequada]
[neste: pronome que determina “ano” = concordância * Observação: o pronome oblíquo é uma forma va-
adequada] riante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação in-
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concor- dica a função diversa que eles desempenham na oração:
dância inadequada] pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo
marca o complemento da oração.
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
tônicos.
Pronomes Pessoais
Pronome Oblíquo Átono
São aqueles que substituem os substantivos, indicando São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve são precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica
assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os pronomes fraca: Ele me deu um presente.
“tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a quem se di- Tabela dos pronomes oblíquos átonos
rige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer referência à - 1.ª pessoa do singular (eu): me
pessoa ou às pessoas de quem se fala. - 2.ª pessoa do singular (tu): te
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun- - 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto - 1.ª pessoa do plural (nós): nos
ou do caso oblíquo. - 2.ª pessoa do plural (vós): vos
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Observações: - As preposições essenciais introduzem sempre prono-


- O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso
apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união en- reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da
tre o pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por língua formal, os pronomes costumam ser usados desta
acompanhar diretamente uma preposição, o pronome forma:
“lhe” exerce sempre a função de objeto indireto na oração. Não há mais nada entre mim e ti.
Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
diretos como objetos indiretos. Não há nenhuma acusação contra mim.
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como Não vá sem mim.
objetos diretos.
* Atenção: Há construções em que a preposição, ape-
- Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem com- sar de surgir anteposta a um pronome, serve para introdu-
binar-se com os pronomes o, os, a, as, dando origem a for- zir uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos,
mas como mo, mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, o verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um
lhas; no-lo, no-los, no-la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. pronome, deverá ser do caso reto.
Observe o uso dessas formas nos exemplos que seguem: Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
Trouxeste o pacote? Não vá sem eu mandar.
Sim, entreguei-to ainda há pouco.
Não contaram a novidade a vocês? * A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”
Não, no-la contaram. está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”.
A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil para
No Brasil, essas combinações não são usadas; até mes- mim!
mo na língua literária atual, seu emprego é muito raro.
- A combinação da preposição “com” e alguns prono-
* Atenção: Os pronomes o, os, a, as assumem formas mes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
especiais depois de certas terminações verbais. conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos fre-
- Quando o verbo termina em -z, -s ou -r, o pronome quentemente exercem a função de adjunto adverbial de
assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo tempo que a companhia.
terminação verbal é suprimida. Por exemplo: Ele carregava o documento consigo.
fiz + o = fi-lo
fazeis + o = fazei-lo - A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas:
dizer + a = dizê-la Ela veio até mim, mas nada falou.
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de)
- Quando o verbo termina em som nasal, o pronome inclusão, usaremos as formas retas:
assume as formas no, nos, na, nas. Por exemplo: Todos foram bem na prova, até eu! (=inclusive eu)
viram + o: viram-no
repõe + os = repõe-nos - As formas “conosco” e “convosco” são substituídas
retém + a: retém-na por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais
tem + as = tem-nas são reforçados por palavras como outros, mesmos, próprios,
todos, ambos ou algum numeral.
Pronome Oblíquo Tônico Você terá de viajar com nós todos.
Estávamos com vós outros quando chegaram as más
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos notícias.
por preposições, em geral as preposições a, para, de e com. Ele disse que iria com nós três.
Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função
de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica Pronome Reflexivo
forte.
Quadro dos pronomes oblíquos tônicos: São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcio-
- 1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo nem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito
- 2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação
- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela expressa pelo verbo.
- 1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco Quadro dos pronomes reflexivos:
- 2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas - 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim.
Eu não me lembro disso.
Observe que as únicas formas próprias do pronome tô-
nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As - 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti.
demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto. Conhece a ti mesmo.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo. * Observações:


Guilherme já se preparou. * Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
Ela deu a si um presente. tratamento que possuem “Vossa(s)” são empregados em
Antônio conversou consigo mesmo. relação à pessoa com quem falamos: Espero que V. Ex.ª, Se-
nhor Ministro, compareça a este encontro.
- 1.ª pessoa do plural (nós): nos.
Lavamo-nos no rio. ** Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito
da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua
- 2.ª pessoa do plural (vós): vos. Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu com pro-
Vós vos beneficiastes com esta conquista. priedade.

- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo. - Os pronomes de tratamento representam uma for-
Eles se conheceram. ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao
Elas deram a si um dia de folga. tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo,
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado
* O pronome é reflexivo quando se refere à mesma supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
pessoa do pronome subjetivo (sujeito): Eu me arrumei e saí.
** É pronome recíproco quando indica reciprocidade - 3.ª pessoa: embora os pronomes de tratamento diri-
de ação: jam-se à 2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita
Nós nos amamos. com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessi-
Olhamo-nos calados. vos e os pronomes oblíquos empregados em relação a eles
devem ficar na 3.ª pessoa.
Pronomes de Tratamento Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas pro-
messas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (portan- - Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou
to, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pes- nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo
do texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente.
soa. Alguns exemplos:
Assim, por exemplo, se começamos a chamar alguém de
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
“você”, não poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto
Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
exigirá, ainda, verbo na terceira pessoa.
Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio-
sos em geral
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
teus cabelos. (errado)
à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes-
sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais,
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos
governadores, secretários de Estado, presidente da Repú- seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular
blica (sempre por extenso) ou
Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universi-
dades Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular
Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de Pronomes Possessivos
igual categoria São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
Vossa Meritíssima (sempre por extenso) = para juízes (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo
de direito (coisa possuída).
Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do
cerimonioso singular)
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
NÚMERO PESSOA PRONOME
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se-
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empre- singular primeira meu(s), minha(s)
gados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tra- singular segunda teu(s), tua(s)
tamento familiar. Você e vocês são largamente empregados
no português do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é singular terceira seu(s), sua(s)
de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma plural primeira nosso(s), nossa(s)
vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou plural segunda vosso(s), vossa(s)
literária.
plural terceira seu(s), sua(s)

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Note que: A forma do possessivo depende da pessoa *Em relação ao tempo:


gramatical a que se refere; o gênero e o número concordam - Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em
com o objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribui- relação à pessoa que fala:
ção naquele momento difícil. Esta manhã farei a prova do concurso!

* Observações: - Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, po-


- A forma “seu” não é um possessivo quando resultar rém relativamente próximo à época em que se situa a pes-
da alteração fonética da palavra senhor: Muito obrigado, soa que fala:
seu José. Essa noite dormi mal; só pensava no concurso!

- Os pronomes possessivos nem sempre indicam pos- - Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afasta-
se. Podem ter outros empregos, como: mento no tempo, referido de modo vago ou como tempo
a) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha. remoto:
Naquele tempo, os professores eram valorizados.
b) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40
anos. *Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se fala-
rá ou escreverá):
c) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem - Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer
lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela. fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se falará:
Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, or-
- Em frases onde se usam pronomes de tratamento, tografia, concordância.
o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Excelência
trouxe sua mensagem? - Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende
fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou:
- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi- Sua aprovação no concurso, isso é o que mais deseja-
vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e mos!
anotações.
- Este e aquele são empregados quando se quer fa-
zer referência a termos já mencionados; aquele se refere
- Em algumas construções, os pronomes pessoais oblí-
ao termo referido em primeiro lugar e este para o referido
quos átonos assumem valor de possessivo: Vou seguir-lhe
por último:
os passos. (= Vou seguir seus passos)
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
- O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró-
este está mais bem colocado que aquele. (= este [São Paulo],
prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo, para
aquele [Palmeiras])
que não ocorra redundância: Coloque tudo nos respectivos
ou
lugares.
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
Pronomes Demonstrativos aquele está mais bem colocado que este. (= este [São Paulo],
aquele [Palmeiras])
São utilizados para explicitar a posição de certa palavra
em relação a outras ou ao contexto. Essa relação pode ser - Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
de espaço, de tempo ou em relação ao discurso. invariáveis, observe:
Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque-
*Em relação ao espaço: la(s).
- Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da Invariáveis: isto, isso, aquilo.
pessoa que fala:
Este material é meu. * Também aparecem como pronomes demonstrativos:
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e
- Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo.
pessoa com quem se fala: Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
Esse material em sua carteira é seu? Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
indiquei.)
- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está dis-
tante tanto da pessoa que fala como da pessoa com quem - mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): variam em
se fala: gênero quando têm caráter reforçativo:
Aquele material não é nosso. Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
Vejam aquele prédio! Eu mesma refiz os exercícios.
Elas mesmas fizeram isso.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Eles próprios cozinharam. Menos palavras e mais ações.


Os próprios alunos resolveram o problema. Alguns se contentam pouco.
- semelhante(s): Não tenha semelhante atitude.
Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va-
- tal, tais: Tal absurdo eu não comenteria. riáveis e invariáveis. Observe:

* Note que: Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário,


- Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca,
eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. (ou en- vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer*, alguns, ne-
tão: este solteiro, aquele casado) - este se refere à pessoa nhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos,
mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas,
primeiro lugar. outras, quantas.

- O pronome demonstrativo tal pode ter conotação Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada,
algo, cada.
irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
*
Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que-
- Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em
rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo plu-
com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta, ral é feito em seu interior).
disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que estava vendo. (no
= naquilo) - Todo e toda no singular e junto de artigo significa
inteiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
Pronomes Indefinidos Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discurso, Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quan- Trabalho todo dia. (= todos os dias)
tidade indeterminada.
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém- São locuções pronominais indefinidas: cada qual,
-plantadas. cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que),
seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (=
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma Cada um escolheu o vinho desejado.
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser hu-
mano que seguramente existe, mas cuja identidade é des- Indefinidos Sistemáticos
conhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:
Ao observar atentamente os pronomes indefinidos,
- Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o lu- percebemos que existem alguns grupos que criam oposi-
gar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase. ção de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm
São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, nin- sentido afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm
guém, outrem, quem, tudo. sentido negativo; todo/tudo, que indicam uma totalidade
afirmativa, e nenhum/nada, que indicam uma totalidade
Algo o incomoda? negativa; alguém/ninguém, que se referem à pessoa, e
algo/nada, que se referem à coisa; certo, que particulariza,
Quem avisa amigo é.
e qualquer, que generaliza.
Essas oposições de sentido são muito importantes na
- Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser
construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas
expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade vezes dependem a solidez e a consistência dos argumen-
aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s). tos expostos. Observe nas frases seguintes a força que os
pronomes indefinidos destacados imprimem às afirmações
Cada povo tem seus costumes. de que fazem parte:
Certas pessoas exercem várias profissões. Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
prático.
* Note que: Ora são pronomes indefinidos substanti- Certas pessoas conseguem perceber sutilezas: não são
vos, ora pronomes indefinidos adjetivos: pessoas quaisquer.
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos),
demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns, *Nenhum é contração de nem um, forma mais enfática,
nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer, que se refere à unidade. Repare:
quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s), Nenhum candidato foi aprovado.
tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias. Nem um candidato foi aprovado. (um, nesse caso, é nu-
meral)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes Relativos - O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com o


seu antecedente (o ser possuidor), mas com o consequente
São aqueles que representam nomes já mencionados (o ser possuído, com o qual concorda em gênero e número);
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem não se usa artigo depois deste pronome; “cujo” equivale a do
as orações subordinadas adjetivas. qual, da qual, dos quais, das quais.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de Existem pessoas cujas ações são nobres.
um grupo racial sobre outros. (antecedente) (consequente)
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros
= oração subordinada adjetiva). *interpretação do pronome “cujo” na frase acima: ações
das pessoas. É como se lêssemos “de trás para frente”. Outro
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” exemplo:
e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra Comprei o livro cujo autor é famoso. (= autor do livro)
“sistema” é antecedente do pronome relativo que.
O antecedente do pronome relativo pode ser o prono- ** se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pro-
me demonstrativo o, a, os, as. nome:
Não sei o que você está querendo dizer. O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (referiu-se a)
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem
expresso. - “Quanto” é pronome relativo quando tem por antece-
Quem casa, quer casa. dente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo:
Emprestei tantos quantos foram necessários.
Observe: (antecedente)
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os Ele fez tudo quanto havia falado.
quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, (antecedente)
quantas.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde. - O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre
precedido de preposição.
Note que: É um professor a quem muito devemos.
- O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego, (preposição)
sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser subs-
tituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu - “Onde”, como pronome relativo, sempre possui ante-
antecedente for um substantivo. cedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A casa
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) onde morava foi assaltada.
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a
qual) - Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os em que.
quais) Sinto saudades da época em que (quando) morávamos
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as no exterior.
quais)
- Podem ser utilizadas como pronomes relativos as pa-
- O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente lavras:
pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamente - como (= pelo qual) – desde que precedida das palavras
para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que modo, maneira ou forma:
podem ter várias classificações) são pronomes relativos. To- Não me parece correto o modo como você agiu semana
dos eles são usados com referência à pessoa ou coisa por passada.
motivo de clareza ou depois de determinadas preposições:
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o qual - quando (= em que) – desde que tenha como antece-
me deixou encantado. O uso de “que”, neste caso, geraria dente um nome que dê ideia de tempo:
ambiguidade. Veja: Regressando de São Paulo, visitei o sítio Bons eram os tempos quando podíamos jogar videogame.
de minha tia, que me deixou encantado (quem me deixou
encantado: o sítio ou minha tia?). - Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas numa só frase.
dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utiliza- O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste es-
-se o qual / a qual) porte.
= O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.
- O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e
se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas deixou - Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
de ser poeta, que era a sua vocação natural. ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de
gente que conversava, (que) ria, observava.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes Interrogativos Morfossintaxe do substantivo

São usados na formulação de perguntas, sejam elas di- Nas orações, geralmente o substantivo exerce funções
retas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos, diretamente relacionadas com o verbo: atua como núcleo
referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo impreciso. do sujeito, dos complementos verbais (objeto direto ou in-
São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e variações), direto) e do agente da passiva, podendo, ainda, funcionar
quanto (e variações). como núcleo do complemento nominal ou do aposto, como
Com quem andas? núcleo do predicativo do sujeito, do objeto ou como nú-
Qual seu nome? cleo do vocativo. Também encontramos substantivos como
Diz-me com quem andas, que te direi quem és. núcleos de adjuntos adnominais e de adjuntos adverbiais -
quando essas funções são desempenhadas por grupos de
Sobre os pronomes: palavras.

O pronome pessoal é do caso reto quando tem função Classificação dos Substantivos
de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo
quando desempenha função de complemento. Substantivos Comuns e Próprios
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia Observe a definição:
lhe ajudar.
Cidade: s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas ca-
Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” sas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda a
exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso sede de município é cidade). 2. O centro de uma cidade (em
reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce função oposição aos bairros).
de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo.
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso. Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada ci-
a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se dade. Isso significa que a palavra cidade é um substantivo
devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe). comum.
Substantivo Comum é aquele que designa os seres de
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino, ho-
tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição, mem, mulher, país, cachorro.
diferentemente dos segundos, que são sempre precedidos Estamos voando para Barcelona.
de preposição.
- Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que O substantivo Barcelona designa apenas um ser da es-
eu estava fazendo. pécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio – aquele
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim que designa os seres de uma mesma espécie de forma par-
o que eu estava fazendo. ticular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.

Fontes de pesquisa: Substantivos Concretos e Abstratos


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42.
php Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- existe, independentemente de outros seres.
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- Observação: os substantivos concretos designam seres
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: do mundo real e do mundo imaginário.
Saraiva, 2010. Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra,
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Brasília.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantasma.

Substantivo Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres que


dependem de outros para se manifestarem ou existirem.
Substantivo é a classe gramatical de palavras variáveis, Por exemplo: a beleza não existe por si só, não pode
as quais denominam todos os seres que existem, sejam ser observada. Só podemos observar a beleza numa pessoa
reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e fenôme- ou coisa que seja bela. A beleza depende de outro ser para
nos, os substantivos também nomeiam: se manifestar. Portanto, a palavra beleza é um substantivo
-lugares: Alemanha, Portugal abstrato.
-sentimentos: amor, saudade Os substantivos abstratos designam estados, qualida-
-estados: alegria, tristeza des, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser
-qualidades: honestidade, sinceridade... abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida (estado),
-ações: corrida, pescaria... rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade (sentimento).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Substantivos Coletivos médicos, bois, credores,


junta
examinadores
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, ou-
tra abelha, mais outra abelha. júri jurados
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. legião soldados, anjos, demônios
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
leva presos, recrutas
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne- malta malfeitores ou desordeiros
cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, manada búfalos, bois, elefantes,
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
matilha cães de raça
palavras no plural. No terceiro, empregou-se um substan-
tivo no singular (enxame) para designar um conjunto de molho chaves, verduras
seres da mesma espécie (abelhas). multidão pessoas em geral

O substantivo enxame é um substantivo coletivo. insetos (gafanhotos,


nuvem
mosquitos, etc.)
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, penca bananas, chaves
mesmo estando no singular, designa um conjunto de seres pinacoteca pinturas, quadros
da mesma espécie.
quadrilha ladrões, bandidos
Substantivo coletivo Conjunto de: ramalhete flores
assembleia pessoas reunidas rebanho ovelhas
alcateia lobos repertório peças teatrais, obras musicais
acervo livros réstia alhos ou cebolas
antologia trechos literários selecionados romanceiro poesias narrativas
arquipélago ilhas revoada pássaros
banda músicos sínodo párocos
bando desordeiros ou malfeitores talha lenha
banca examinadores tropa muares, soldados
batalhão soldados turma estudantes, trabalhadores
cardume peixes vara porcos
caravana viajantes peregrinos Formação dos Substantivos
cacho frutas
cancioneiro canções, poesias líricas Substantivos Simples e Compostos

colmeia abelhas Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a


concílio bispos terra.
O substantivo chuva é formado por um único elemento
congresso parlamentares, cientistas
ou radical. É um substantivo simples.
elenco atores de uma peça ou filme
esquadra navios de guerra Substantivo Simples: é aquele formado por um único
elemento.
enxoval roupas
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja
falange soldados, anjos agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois ele-
fauna animais de uma região mentos (guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou
feixe lenha, capim mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, passatempo.
flora vegetais de uma região
frota navios mercantes, ônibus Substantivos Primitivos e Derivados
girândola fogos de artifício Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de ne-
horda bandidos, invasores nhuma outra palavra da própria língua portuguesa. O subs-
tantivo limoeiro, por exemplo, é derivado, pois se originou
a partir da palavra limão.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Substantivo Derivado: é aquele que se origina de ou- - Existem certos substantivos que, variando de gêne-
tra palavra. ro, variam em seu significado:
o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz)
Flexão dos substantivos o cabeça (líder) e a cabeça (parte do corpo)
o capital (dinheiro) e a capital (cidade)
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá- o coma (sono mórbido) e a coma (cabeleira, juba)
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por o lente (professor) e a lente (vidro de aumento)
exemplo, pode sofrer variações para indicar: o moral (estado de espírito) e a moral (ética; conclusão)
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo: o praça (soldado raso) e a praça (área pública)
meninão / Diminutivo: menininho o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora)

Flexão de Gênero Formação do Feminino dos Substantivos Biformes

Gênero é um princípio puramente linguístico, não de- - Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito - aluna.
a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram - Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao
a seres animais providos de sexo, quer designem apenas masculino: freguês - freguesa
“coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa. - Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino
Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e de três formas:
feminino. Pertencem ao gênero masculino os substantivos 1- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa
que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns. Veja 2- troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã
estes títulos de filmes: 3- troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
O velho e o mar
Um Natal inesquecível * Exceções: barão – baronesa, ladrão- ladra, sultão -
Os reis da praia sultana

- Substantivos terminados em -or:


Pertencem ao gênero feminino os substantivos que
acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
A história sem fim
Uma cidade sem passado
- Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: côn-
As tartarugas ninjas
sul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poetisa / duque
- duquesa / conde - condessa / profeta - profetisa
Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
- Substantivos que formam o feminino trocando o -e
Substantivos Biformes (= duas formas): apresentam final por -a: elefante - elefanta
uma forma para cada gênero: gato – gata, homem – mu-
lher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita - Substantivos que têm radicais diferentes no masculi-
Substantivos Uniformes: apresentam uma única forma, no e no feminino: bode – cabra / boi - vaca
que serve tanto para o masculino quanto para o feminino.
Classificam-se em: - Substantivos que formam o feminino de maneira es-
pecial, isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores:
- Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo czar – czarina, réu - ré
se faz mediante a utilização das palavras “macho” e “fê-
mea”: a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes
jacaré fêmea.
- Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes a Epicenos:
pessoas de ambos os sexos: a criança, a testemunha, a Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o indivíduo.
- Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros: in- Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso
dicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o colega e a ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma
colega, o doente e a doente, o artista e a artista. para indicar o masculino e o feminino.
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma
Saiba que: Substantivos de origem grega terminados para designar os dois sexos. Esses substantivos são cha-
em ema ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o mados de epicenos. No caso dos epicenos, quando houver
sistema, o sintoma, o teorema. a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se palavras
macho e fêmea.
A cobra macho picou o marinheiro.
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Sobrecomuns: Gênero dos Nomes de Cidades: Com raras exceções,


Entregue as crianças à natureza. nomes de cidades são femininos.
A histórica Ouro Preto.
A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo mas- A dinâmica São Paulo.
culino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem A acolhedora Porto Alegre.
o artigo nem um possível adjetivo permitem identificar o Uma Londres imensa e triste.
sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
A criança chorona chamava-se João.
A criança chorona chamava-se Maria. Gênero e Significação

Outros substantivos sobrecomuns: Muitos substantivos têm uma significação no masculino


a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma e outra no feminino. Observe:
boa criatura. o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à
Marcela faleceu frente de um bloco carnavalesco, manejando um bastão), a
baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou proibição
Comuns de Dois Gêneros: de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do corpo), o cis-
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. ma (separação religiosa, dissidência), a cisma (ato de cismar,
desconfiança), o cinza (a cor cinzenta), a cinza (resíduos de
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? combustão), o capital (dinheiro), a capital (cidade), o coma
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma (perda dos sentidos), a coma (cabeleira), o coral (pólipo, a cor
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme. vermelha, canto em coro), a coral (cobra venenosa), o crisma
A distinção de gênero pode ser feita através da análise (óleo sagrado, usado na administração da crisma e de outros
do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substan- sacramentos), a crisma (sacramento da confirmação), o cura
tivo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; um jo- (pároco), a cura (ato de curar), o estepe (pneu sobressalente),
vem - uma jovem; artista famoso - artista famosa; repórter a estepe (vasta planície de vegetação), o guia (pessoa que
guia outras), a guia (documento, pena grande das asas das
francês - repórter francesa
aves), o grama (unidade de peso), a grama (relva), o caixa
(funcionário da caixa), a caixa (recipiente, setor de pagamen-
- A palavra personagem é usada indistintamente nos
tos), o lente (professor), a lente (vidro de aumento), o moral
dois gêneros.
(ânimo), a moral (honestidade, bons costumes, ética), o nas-
a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
cente (lado onde nasce o Sol), a nascente (a fonte), o ma-
preferência pelo masculino: O menino descobriu nas nu-
ria-fumaça (trem como locomotiva a vapor), maria-fumaça
vens os personagens dos contos de carochinha.
(locomotiva movida a vapor), o pala (poncho), a pala (parte
b) Com referência a mulher, deve-se preferir o femini-
anterior do boné ou quepe, anteparo), o rádio (aparelho re-
no: O problema está nas mulheres de mais idade, que não ceptor), a rádio (emissora), o voga (remador), a voga (moda).
aceitam a personagem.
Flexão de Número do Substantivo
- Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte. Em português, há dois números gramaticais: o singular,
que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que
Observe o gênero dos substantivos seguintes: indica mais de um ser ou grupo de seres. A característica
Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó do plural é o “s” final.
(pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o
maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o Plural dos Substantivos Simples
proclama, o pernoite, o púbis.
Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata, - Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e
a cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a libi- “n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã –
do, a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa). ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural). Exceção: cânon
- cânones.
- São geralmente masculinos os substantivos de ori-
gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo- - Os substantivos terminados em “m” fazem o plural em
grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o “ns”: homem - homens.
telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, o
eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o traco- - Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural
ma, o hematoma. pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes.

* Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc. * Atenção: O plural de caráter é caracteres.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam- - Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando
-se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; ca- formados de:
racol – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, cônsul substantivo + preposição clara + substantivo = água-
e cônsules. -de-colônia e águas-de-colônia
substantivo + preposição oculta + substantivo = cava-
- Os substantivos terminados em “il” fazem o plural lo-vapor e cavalos-vapor
de duas maneiras: substantivo + substantivo que funciona como determi-
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis nante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis. termo anterior: palavra-chave - palavras-chave, bomba-re-
lógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã, peixe-espa-
Observação: a palavra réptil pode formar seu plural da - peixes-espada.
de duas maneiras: répteis ou reptis (pouco usada).
- Permanecem invariáveis, quando formados de:
- Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de
verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
duas maneiras:
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os sa-
1- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o
ca-rolhas
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
2- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam in-
variáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. * Casos Especiais

- Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural o louva-a-deus e os louva-a-deus


de três maneiras. o bem-te-vi e os bem-te-vis
1- substituindo o -ão por -ões: ação - ações
2- substituindo o -ão por -ães: cão - cães o bem-me-quer e os bem-me-queres
3- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos o joão-ninguém e os joões-ninguém.

- Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: Plural das Palavras Substantivadas


o látex - os látex.
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras
Plural dos Substantivos Compostos classes gramaticais usadas como substantivo, apresentam,
no plural, as flexões próprias dos substantivos.
- A formação do plural dos substantivos compostos Pese bem os prós e os contras.
depende da forma como são grafados, do tipo de pala- O aluno errou na prova dos noves.
vras que formam o composto e da relação que estabele-
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
cem entre si. Aqueles que são grafados sem hífen com-
portam-se como os substantivos simples: aguardente/
* Observação: numerais substantivados terminados
aguardentes, girassol/girassóis, pontapé/pontapés, malme-
em “s” ou “z” não variam no plural: Nas provas mensais con-
quer/malmequeres.
O plural dos substantivos compostos cujos elementos segui muitos seis e alguns dez.
são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e
discussões. Algumas orientações são dadas a seguir: Plural dos Diminutivos

- Flexionam-se os dois elementos, quando forma- Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final
dos de: e acrescenta-se o sufixo diminutivo.
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per- pãe(s) + zinhos = pãezinhos
feitos
animai(s) + zinhos = animaizinhos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-ho-
mens botõe(s) + zinhos = botõezinhos
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos

- Flexiona-se somente o segundo elemento, quan- farói(s) + zinhos = faroizinhos


do formados de: tren(s) + zinhos = trenzinhos
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas colhere(s) + zinhas = colherezinhas
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e al-
to-falantes flore(s) + zinhas = florezinhas
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-re- mão(s) + zinhas = mãozinhas
cos papéi(s) + zinhos = papeizinhos

35
LÍNGUA PORTUGUESA

nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bol-
sos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
funi(s) + zinhos = funizinhos
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos * Observação: distinga-se molho (ô) = caldo (molho
de carne), de molho (ó) = feixe (molho de lenha).
pai(s) + zinhos = paizinhos
pé(s) + zinhos = pezinhos Particularidades sobre o Número dos Substantivos
pé(s) + zitos = pezitos
- Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
Plural dos Nomes Próprios Personativos norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
- Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
sempre que a terminação preste-se à flexão. - Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do
singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probidade,
Os Napoleões também são derrotados. bom nome) e honras (homenagem, títulos).
As Raquéis e Esteres. - Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas
com sentido de plural:
Plural dos Substantivos Estrangeiros Aqui morreu muito negro.
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser es- improvisadas.
critos como na língua original, acrescentando-se “s” (exceto
Flexão de Grau do Substantivo
quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os shorts, os jazz.
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acor-
as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
do com as regras de nossa língua: os clubes, os chopes, os
jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons, os ré-
- Grau Normal - Indica um ser de tamanho considera-
quiens. do normal. Por exemplo: casa
Observe o exemplo: - Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho
Este jogador faz gols toda vez que joga. do ser. Classifica-se em:
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa. Analítico = o substantivo é acompanhado de um adje-
tivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Plural com Mudança de Timbre Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi-
cador de aumento. Por exemplo: casarão.
Certos substantivos formam o plural com mudança de
timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato - Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho
fonético chamado metafonia (plural metafônico). do ser. Pode ser:
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo
Singular Plural que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi-
Corpo (ô) corpos (ó)
cador de diminuição. Por exemplo: casinha.
esforço esforços
fogo fogos Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.
forno fornos php
fosso fossos SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
imposto impostos
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
olho olhos ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
osso (ô) ossos (ó) Saraiva, 2010.
ovo ovos Verbo
poço poços
porto portos Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, núme-
ro, tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o
posto postos nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
tijolo tijolos é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenômeno
(choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer).

36
LÍNGUA PORTUGUESA

Estrutura das Formas Verbais * Dica: Observe que, retirando os radicais, as desinên-
cias modo-temporal e número-pessoal mantiveram-se idên-
Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar ticas. Tente fazer com outro verbo e perceberá que se repetirá
os seguintes elementos: o fato (desde que o verbo seja da primeira conjugação e regu-
- Radical: é a parte invariável, que expressa o significa- lar!). Faça com o verbo “andar”, por exemplo. Substitua o radical
do essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava; fal-am. “cant” e coloque o “and” (radical do verbo andar). Viu? Fácil!
(radical fal-)
- Tema: é o radical seguido da vogal temática que in- - Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alterações
dica a conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei, fizesse.
* Observação: alguns verbos sofrem alteração no radical
fala-r. São três as conjugações:
apenas para que seja mantida a sonoridade. É o caso de: cor-
1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática -
rigir/corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo. Tais altera-
E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir). ções não caracterizam irregularidade, porque o fonema perma-
- Desinência modo-temporal: é o elemento que de- nece inalterado.
signa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo) - Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação
/ falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo) completa. Os principais são adequar, precaver, computar, reaver,
- Desinência número-pessoal: é o elemento que de- abolir, falir.
signa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o número (sin-
gular ou plural): - Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e, normal-
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam (in- mente, são usados na terceira pessoa do singular. Os principais
dica a 3.ª pessoa do plural.) verbos impessoais são:

* Observação: o verbo pôr, assim como seus derivados * haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-se
(compor, repor, depor), pertencem à 2.ª conjugação, pois a ou fazer (em orações temporais).
forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = Existiam)
de haver desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
formas do verbo: põe, pões, põem, etc. Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)
Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
* fazer, ser e estar (quando indicam tempo)
Faz invernos rigorosos na Europa.
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura Era primavera quando o conheci.
dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce- Estava frio naquele dia.
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acento
tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, por * Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza são
exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico não cai impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer, es-
no radical, mas sim na terminação verbal (fora do radical): curecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci cansado”,
opinei, aprenderão, amaríamos. usa-se o verbo “amanhecer” em sentido figurado. Qualquer
Classificação dos Verbos verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser
impessoal para ser pessoal, ou seja, terá conjugação completa.
Classificam-se em: Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
- Regulares: são aqueles que apresentam o radical Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
inalterado durante a conjugação e desinências idênticas às
de todos os verbos regulares da mesma conjugação. Por * São impessoais, ainda:
exemplo: comparemos os verbos “cantar” e “falar”, conju- - o verbo passar (seguido de preposição), indicando tem-
po: Já passa das seis.
gados no presente do Modo Indicativo:
- os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição “de”,
canto falo indicando suficiência:
cantas falas Basta de tolices.
Chega de promessas.
canta falas
cantamos falamos - os verbos estar e ficar em orações como “Está bem,
cantais falais Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem refe-
rência a sujeito expresso anteriormente (por exemplo: “ele
cantam falam está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito como
hipotético, tornando-se, tais verbos, pessoais.

37
LÍNGUA PORTUGUESA

- o verbo dar + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?

- Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural. São unipes-
soais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais (cacarejar, cricrilar, miar, latir, piar).

* Observação: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?

Principais verbos unipessoais:

1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário):


Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)

2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

* Observação: todos os sujeitos apontados são oracionais.

- Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que, além
das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é em-
pregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Importante:

- estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito, escrever/
escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

- Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois, fui) e
ir (fui, ia, vades).

- Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal
(aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das
formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar todos!


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

* Observação: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - Modo Imperativo


Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

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LÍNGUA PORTUGUESA

SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

ESTAR - Modo Indicativo



Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.doPreté.
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

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LÍNGUA PORTUGUESA

HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres

haver

havermos
haverdes
haverem

TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

41
LÍNGUA PORTUGUESA

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

- Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no
próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:

1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já
está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mes-
ma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante
do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço da ideia refle-
xiva expressa pelo radical do próprio verbo.
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respectivos pronomes):
Eu me arrependo
Tu te arrependes
Ele se arrepende
Nós nos arrependemos
Vós vos arrependeis
Eles se arrependem

2. Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto repre-
sentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em
geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os pronomes mencionados,
formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo: A garota
penteou-me.

* Observações:
- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.
- Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do
sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular

Modos Verbais

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro. Existem
três modos:

Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.


Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

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LÍNGUA PORTUGUESA

Formas Nominais

Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:
1-) Infinitivo
1.1-) Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substan-
tivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

1.2-) Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.

2-) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.

* Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1- Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2 – Sim, senhora! Vou estar verificando!

Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.

3-) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o resul-
tado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames, os candidatos
saíram.

Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de
adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

(Ziraldo)

43
LÍNGUA PORTUGUESA

Tempos Verbais

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.

1. Tempos do Modo Indicativo


- Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
- Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.
- Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
- Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
- Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

2. Tempos do Modo Subjuntivo


- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse o
jogo.

Observação: o pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou de-
sejo. Por exemplo: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.

- Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.

Observação: o futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se
ele vier à loja, levará as encomendas.
** Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

Modo Indicativo

Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

44
LÍNGUA PORTUGUESA

Pretérito Perfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

45
LÍNGUA PORTUGUESA

Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de nú-
mero e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

46
LÍNGUA PORTUGUESA

Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e
pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

Modo Imperativo

Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles
Observações:
- No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
- O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

47
LÍNGUA PORTUGUESA

Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

* Observações:
- o verbo parecer admite duas construções:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).

- o verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.
fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Questões sobre Verbo

1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 2014) A assertiva correta quanto à conjugação verbal é:
A) Houveram eleições em outros países este ano.
B) Se eu vir você por aí, acabou.
C) Tinha chego atrasado vinte minutos.
D) Fazem três anos que não tiro férias.
E) Esse homem possue muitos bens.

1-) Correções à frente:


A) Houveram eleições em outros países este ano = houve
C) Tinha chego atrasado vinte minutos = tinha chegado
D) Fazem três anos que não tiro férias = faz três anos
E) Esse homem possue muitos bens = possui
RESPOSTA: “B”.

2-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACAFE/2014) Complete as lacunas com os verbos, tempos e modos
indicados entre parênteses, fazendo a devida concordância.
• O juiz agrário ainda não _________ no conflito porque surgiram fatos novos de ontem para hoje. (intervir - pretérito
perfeito do indicativo)
• Uns poucos convidados ___________-se com os vídeos postados no facebook. (entreter - pretérito imperfeito do indicativo)
• Representantes do PCRT somente serão aceitos na composição da chapa quando se _________ de criticar a atual dire-
toria do clube, (abster-se - futuro do subjuntivo)
A sequência correta, de cima para baixo, é:
A-) interveio - entretinham - abstiverem
B-) interviu - entretiveram - absterem
C-) intervém - entreteram - abstêm
D-) interviera - entretêm - abstiverem
E-) intervirá - entretenham - abstiveram

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) O verbo “intervir” deve ser conjugado como o verbo “vir”. Este, no pretérito perfeito do Indicativo fica “veio”, portan-
to, “interveio” (não existe “interviu”, já que ele não deriva do verbo “ver”). Descartemos a alternativa B. Como não há outro
item com a mesma opção, chegamos à resposta rapidamente!
RESPOSTA: “A”.

3-) (POLÍCIA MILITAR/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO – VUNESP/2014) Considere o trecho a seguir.


Já __________ alguns anos que estudos a respeito da utilização abusiva dos smartphones estão sendo desenvolvidos. Os
especialistas acreditam _________ motivos para associar alguns comportamentos dos adolescentes ao uso prolongado des-
ses aparelhos, e _________ alertado os pais para que avaliem a necessidade de estabelecer limites aos seus filhos.
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e respec-
tivamente, com:
(A) faz … haver … têm
(B) fazem … haver … tem
(C) faz … haverem … têm
(D) fazem … haverem … têm
(E) faz … haverem … tem

3-) Já FAZ (sentido de tempo: não sofre flexão) alguns anos que estudos a respeito da utilização abusiva dos smart-
phones estão sendo desenvolvidos. Os especialistas acreditam HAVER (sentido de existir: não varia) motivos para associar
alguns comportamentos dos adolescentes ao uso prolongado desses aparelhos, e TÊM (concorda com o termo “os espe-
cialistas”) alertado os pais para que avaliem a necessidade de estabelecer limites aos seus filhos.
Temos: faz, haver, têm.
RESPOSTA: “A”.

Vozes do Verbo

Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando se este
é paciente ou agente da ação. Importante lembrar que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três as vozes verbais:

- Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a ação expressa pelo verbo:

Ele fez o trabalho.


sujeito agente ação objeto (paciente)

- Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a ação expressa pelo verbo:

O trabalho foi feito por ele.


sujeito paciente ação agente da passiva

- Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo, agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:

O menino feriu-se.

* Observação: não confundir o emprego reflexivo do verbo com a noção de reciprocidade:


Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro)

Formação da Voz Passiva

A voz passiva pode ser formada por dois processos: analítico e sintético.

1- Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte maneira:

Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exemplo:


A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: os alunos pintarão a escola)
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho)

* Observação: o agente da passiva geralmente é acompanhado da preposição por, mas pode ocorrer a construção com
a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cercada de soldados.

49
LÍNGUA PORTUGUESA

- Pode acontecer de o agente da passiva não estar ex- * Observação: quando o sujeito da voz ativa for inde-
plícito na frase: A exposição será aberta amanhã. terminado, não haverá complemento agente na passiva.
Por exemplo: Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar
(SER), pois o particípio é invariável. Observe a transforma- ** Saiba que:
ção das frases seguintes: - com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva,
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo) porque o sujeito não pode ser visto como agente, paciente
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per- ou agente-paciente.
feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz
ativa) Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) php
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
tivo) coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente) ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa.
Observe a transformação da frase seguinte: Questões
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) 1-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/GO – ANALISTA JUDICIÁ-
RIO – FGV/2014 - adaptada) A frase “que foi trazida pelo
2- Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou instituto Endeavor” equivale, na voz ativa, a:
pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, segui- (A) que o instituto Endeavor traz;
do do pronome apassivador “se”. Por exemplo: (B) que o instituto Endeavor trouxe;
Abriram-se as inscrições para o concurso. (C) trazida pelo instituto Endeavor;
Destruiu-se o velho prédio da escola. (D) que é trazida pelo instituto Endeavor;
(E) que traz o instituto Endeavor.
* Observação: o agente não costuma vir expresso na
voz passiva sintética.
1-) Se na voz passiva temos dois verbos, na ativa tere-
mos um: “que o instituto Endeavor trouxe” (manter o tem-
Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva
po verbal no pretérito – assim como na passiva).
RESPOSTA: “B”.
Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar subs-
tancialmente o sentido da frase.
2-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014 -
adaptada) Ao passarmos a frase “...e É CONSIDERADO por
O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa)
Sujeito da Ativa objeto Direto muitos o maior maratonista de todos os tempos” para a
voz ativa, encontramos a seguinte forma verbal:
A apostila foi comprada pelo concurseiro. A) consideravam.
(Voz Passiva) B) consideram.
Sujeito da Passiva Agente da Passi- C) considerem.
va D) considerarão.
E) considerariam.
Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; o
sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo ativo 2-) É CONSIDERADO por muitos o maior maratonista
assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo. de todos os tempos = dois verbos na voz passiva, então na
Observe: ativa teremos UM: muitos o consideram o maior marato-
- Os mestres têm constantemente aconselhado os alu- nista de todos os tempos.
nos. RESPOSTA: “B”.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos
mestres. 3-) (TRT-16ª REGIÃO/MA - ANALISTA JUDICIÁRIO –
ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC/2014)
- Eu o acompanharei. Transpondo-se para a voz passiva a frase “vou glosar
Ele será acompanhado por mim. uma observação de Machado de Assis”, a forma verbal re-
sultante deverá ser

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LÍNGUA PORTUGUESA

(A) terei glosado Quanto ao período, ele denomina a frase constituída


(B) seria glosada por uma ou mais orações, formando um todo, com sentido
(C) haverá de ser glosada completo. O período pode ser simples ou composto.
(D) será glosada
(E) terá sido glosada Período simples é aquele constituído por apenas uma
oração, que recebe o nome de oração absoluta.
3-) “vou glosar uma observação de Machado de Assis” Chove.
– “vou glosar” expressa “glosarei”, então teremos na pas- A existência é frágil.
siva: uma observação de Machado de Assis será glosada Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso.
por mim.
RESPOSTA: “D”. Período composto é aquele constituído por duas ou
mais orações:
Cantei, dancei e depois dormi.
Quero que você estude mais.
1.9 FRASES E TIPOS DE FRASES;
1.10 ORAÇÃO: TERMOS ESSENCIAIS DA Termos essenciais da oração
ORAÇÃO, TERMOS INTEGRANTES DA
ORAÇÃO, TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO, O sujeito e o predicado são considerados termos
COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO; essenciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis
para a formação das orações. No entanto, existem orações
formadas exclusivamente pelo predicado. O que define a
oração é a presença do verbo. O sujeito é o termo que es-
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para tabelece concordância com o verbo.
estabelecer comunicação. Normalmente é composta por O candidato está preparado.
dois termos – o sujeito e o predicado – mas não obrigato- Os candidatos estão preparados.
riamente, pois há orações ou frases sem sujeito: Trovejou
muito ontem à noite. Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”. “Candida-
Quanto aos tipos de frases, além da classificação em to” é a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno-
verbais (possuem verbos, ou seja, são orações) e nominais minada núcleo do sujeito. Este se relaciona com o verbo,
(sem a presença de verbos), feita a partir de seus elementos estabelecendo a concordância (núcleo no singular, verbo
constituintes, elas podem ser classificadas a partir de seu no singular: candidato = está).
sentido global: A função do sujeito é basicamente desempenhada por
- frases interrogativas = o emissor da mensagem for- substantivos, o que a torna uma função substantiva da ora-
mula uma pergunta: Que dia é hoje? ção. Pronomes, substantivos, numerais e quaisquer outras
- frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou faz palavras substantivadas (derivação imprópria) também po-
um pedido: Dê-me uma luz! dem exercer a função de sujeito.
- frases exclamativas = o emissor exterioriza um estado Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo, subs-
afetivo: Que dia abençoado! tantivo)
- frases declarativas = o emissor constata um fato: A Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no exem-
prova será amanhã. plo: substantivo)
Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos:
(oração) são estruturadas por dois elementos essenciais: o de determinação ou indeterminação e o de núcleo do
sujeito e predicado. sujeito.
O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo Um sujeito é determinado quando é facilmente iden-
em número e pessoa. É o “ser de quem se declara algo”, “o tificado pela concordância verbal. O sujeito determinado
tema do que se vai comunicar”; o predicado é a parte da pode ser simples ou composto.
frase que contém “a informação nova para o ouvinte”, é o A indeterminação do sujeito ocorre quando não é
que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao tema, constituindo possível identificar claramente a que se refere a concor-
a declaração do que se atribui ao sujeito. dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não inte-
Quando o núcleo da declaração está no verbo (que in- ressa indicar precisamente o sujeito de uma oração.
dique ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo signi- Estão gritando seu nome lá fora.
ficativo), temos o predicado verbal. Mas, se o núcleo estiver Trabalha-se demais neste lugar.
em um nome (geralmente um adjetivo), teremos um predi-
cado nominal (os verbos deste tipo de predicado são os O sujeito simples é o sujeito determinado que apre-
que indicam estado, conhecidos como verbos de ligação): senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no
O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação plural; pode também ser um pronome indefinido. Abaixo,
(predicado verbal) sublinhei os núcleos dos sujeitos:
A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o nú- Nós estudaremos juntos.
cleo é “fácil” (predicado nominal) A humanidade é frágil.
Ninguém se move.

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LÍNGUA PORTUGUESA

O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice de
derivação imprópria, transformando-o em substantivo) indeterminação do sujeito.
As crianças precisam de alimentos saudáveis.
As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predi-
O sujeito composto é o sujeito determinado que apre- cado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A men-
senta mais de um núcleo. sagem está centrada no processo verbal. Os principais ca-
Alimentos e roupas custam caro. sos de orações sem sujeito com:
Ela e eu sabemos o conteúdo.
O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda. 1-) os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Amanheceu.
Além desses dois sujeitos determinados, é comum a Está trovejando.
referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o
2-) os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
“antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo do
fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em
sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido pela geral:
desinência verbal ou pelo contexto. Está tarde.
Abolimos todas as regras. = (nós) Já são dez horas.
Falaste o recado à sala? = (tu) Faz frio nesta época do ano.
Há muitos concursos com inscrições abertas.
* Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na pri-
meira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na segun- Predicado é o conjunto de enunciados que contém a
da do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os prono- informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas
mes não estejam explícitos. orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia
Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implícito um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado é
na desinência verbal “-mos” aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com exceção
Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na desi- do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que difere
nência verbal “-ais” do sujeito numa oração é o seu predicado.
Chove muito nesta época do ano.
Mas: Houve problemas na reunião.
Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós
* Em ambas as orações não há sujeito, apenas predi-
Vós cantais bem! = sujeito simples: vós
cado.
O sujeito indeterminado surge quando não se quer - As questões estavam fáceis!
ou não se pode - identificar a que o predicado da oração Sujeito simples = as questões
refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso Predicado = estavam fáceis
contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
Na língua portuguesa, o sujeito pode ser indetermina- Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento.
do de duas maneiras: Sujeito = uma ideia estranha
Predicado = passou-me pelo pensamento
1-) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que Para o estudo do predicado, é necessário verificar se
o sujeito não tenha sido identificado anteriormente: seu núcleo é um nome (então teremos um predicado no-
Bateram à porta; minal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se considerar
Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi- também se as palavras que formam o predicado referem-
nistro. -se apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração.

* Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres
ou composto: de opinião.
Os meninos bateram à porta. (simples) Predicado
Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
O predicado acima apresenta apenas uma palavra que
se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras ligam-se
2-) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres- direta ou indiretamente ao verbo.
cido do pronome “se”. Esta é uma construção típica dos A cidade está deserta.
verbos que não apresentam complemento direto:
Precisa-se de mentes criativas. O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere-se
Vivia-se bem naqueles tempos. ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como elemento
Trata-se de casos delicados. de ligação (por isso verbo de ligação) entre o sujeito e a
Sempre se está sujeito a erros. palavra a ele relacionada (no caso: deserta = predicativo
do sujeito).

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LÍNGUA PORTUGUESA

O predicado verbal é aquele que tem como núcleo O objeto direto preposicionado ocorre principalmente:
significativo um verbo: - com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns
Chove muito nesta época do ano. referentes a pessoas:
Estudei muito hoje! Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais.
Compraste a apostila? (o objeto é direto, mas como há preposição, denomi-
na-se: objeto direto preposicionado)
Os verbos acima são significativos, isto é, não servem
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam pro- - com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes
cessos. de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero cansar a
Vossa Senhoria.
O predicado nominal é aquele que tem como núcleo
significativo um nome; este atribui uma qualidade ou esta- - para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a crise.
do ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujei- (sem preposição, o sentido seria outro: O povo prejudica
to. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da
a crise)
oração por meio de um verbo (o verbo de ligação).
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo,
O objeto indireto é o complemento que se liga indi-
isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao pre-
dicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado do retamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
sujeito: Os dados parecem corretos. Gosto de música popular brasileira.
O verbo parecer poderia ser substituído por estar, andar, Necessito de ajuda.
ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como elemento
de ligação entre o sujeito e as palavras a ele relacionadas. O termo que integra o sentido de um nome chama-se
* A função de predicativo é exercida, normalmente, por complemento nominal, que se liga ao nome que comple-
um adjetivo ou substantivo. ta por intermédio de preposição:
A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a palavra
O predicado verbo-nominal é aquele que apresenta “necessária”
dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No predi- Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”
cado verbo-nominal, o predicativo pode se referir ao sujeito
ou ao complemento verbal (objeto). Termos acessórios da oração e vocativo
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre signifi-
cativo, indicando processos. É também sempre por intermé- Os termos acessórios recebem este nome por serem
dio do verbo que o predicativo se relaciona com o termo a explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o ad-
que se refere. junto adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o vocativo
1- O dia amanheceu ensolarado; – este, sem relação sintática com outros temos da oração.
2- As mulheres julgam os homens inconstantes. O adjunto adverbial é o termo da oração que indi-
ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o
No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função
duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de liga- adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais
ção. Este predicado poderia ser desdobrado em dois: um exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei a
verbal e outro nominal. pé àquela velha praça.
O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado.
As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto
No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona
adverbial são:
o complemento homens com o predicativo “inconstantes”.
- assunto: Falavam sobre futebol.
Termos integrantes da oração - causa: As folhas caíram com o vento.
- companhia: Ficarei com meus pais.
Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o - concessão: Apesar de você, serei feliz.
complemento nominal são chamados termos integrantes da - conformidade: Fez tudo conforme o combinado.
oração. - dúvida: Talvez ainda chova.
Os complementos verbais integram o sentido dos ver- - fim: Estudou para o exame.
bos transitivos, com eles formando unidades significativas. - instrumento: Fez o corte com a faca.
Estes verbos podem se relacionar com seus complementos - intensidade: Falava bastante.
diretamente, sem a presença de preposição, ou indireta- - lugar: Vou à cidade.
mente, por intermédio de preposição. - matéria: Este prato é feito de porcelana.
- meio: Viajarei de trem.
O objeto direto é o complemento que se liga direta- - modo: Foram recrutados a dedo.
mente ao verbo. - negação: Não há ninguém que mereça.
Houve muita confusão na partida final. - tempo: Ontem à tarde encontrou o velho amigo.
Queremos sua ajuda.

53
LÍNGUA PORTUGUESA

O adjunto adnominal é o termo acessório que deter- Questões


mina, especifica ou explica um substantivo. É uma função
adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas que 1-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/
exercem o papel de adjunto adnominal na oração. Também UFAL/2014 - adaptada)
atuam como adjuntos adnominais os artigos, os numerais
e os pronomes adjetivos.
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu
amigo de infância.

O adjunto adnominal se liga diretamente ao substan-


tivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o predi-
cativo do objeto se liga ao objeto por meio de um verbo.
O poeta português deixou uma obra originalíssima.
O poeta deixou-a.
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: ad-
junto adnominal)

O poeta português deixou uma obra inacabada.


O poeta deixou-a inacabada.
(inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do O cartaz acima divulga a peça de teatro “Quem tem
objeto) medo de Virginia Woolf?” escrita pelo norte-americano
Edward Albee. O termo “de Virginia Woolf”, do título em
Enquanto o complemento nominal se relaciona a um português da peça, funciona como:
substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto adnominal se A) objeto indireto.
relaciona apenas ao substantivo. B) complemento nominal.
C) adjunto adnominal.
O aposto é um termo acessório que permite ampliar, D) adjunto adverbial.
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um ter- E) agente da passiva.
mo que exerça qualquer função sintática: Ontem, segunda-
-feira, passei o dia mal-humorado. 1-) O termo complementa a palavra “medo”, que é
substantivo (nome – nominal). Portanto é um complemen-
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo to nominal. O verbo “ter” tem como complemento verbal
“ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao termo (objeto) a palavra “medo”, que exerce a função sintática de
que se relaciona porque poderia substituí-lo: Segunda-feira objeto direto.
passei o dia mal-humorado. RESPOSTA: “B”.
O aposto pode ser classificado, de acordo com seu va-
lor na oração, em: 2-) (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014)
a) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma- ... que acompanham as fronteiras ocidentais chinesas...
nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação com o O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de com-
mundo. plemento que o da frase acima está em:
b) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas (A) A Rota da Seda nunca foi uma rota única...
coisas: amor, arte, ação. (B) Esses caminhos floresceram durante os primórdios
c) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho, da Idade Média.
tudo forma o carnaval. (C) ... viajavam por cordilheiras...
d) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixa- (D) ... até cair em desuso, seis séculos atrás.
ram-se por muito tempo na baía anoitecida. (E) O maquinista empurra a manopla do acelerador.

O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar 2-) Acompanhar é transitivo direto (acompanhar quem
ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não mantendo ou o quê - não há preposição):
relação sintática com outro termo da oração. A função de A = foi = verbo de ligação (ser) – não há complemento,
vocativo é substantiva, cabendo a substantivos, pronomes mas sim, predicativo do sujeito (rota única);
substantivos, numerais e palavras substantivadas esse pa- B = floresceram = intransitivo (durante os primórdios =
pel na linguagem. adjunto adverbial);
João, venha comigo! C = viajavam = intransitivo (por cordilheiras = adjunto
Traga-me doces, minha menina! adverbial);
D = cair = intransitivo;
E = empurra = transitivo direto (empurrar quem ou o
quê?)
RESPOSTA: “E”.

54
LÍNGUA PORTUGUESA

Período Composto por Coordenação Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas


principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer;
O período composto se caracteriza por possuir mais de seja...seja.
uma oração em sua composição. Sendo assim: Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
- Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma ora-
ção) Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas
- Estou comprando um protetor solar, depois irei à principais conjunções são: logo, portanto, por fim, por con-
praia. (Período Composto =locução verbal + verbo, duas seguinte, consequentemente, pois (posposto ao verbo).
orações) Passei no concurso, portanto comemorarei!
- Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar um A situação é delicada; devemos, pois, agir.
protetor solar. (Período Composto = três verbos, três ora-
ções). Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas
principais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na verda-
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer de, pois (anteposto ao verbo).
entre as orações de um período composto: uma relação de Não fui à praia, pois queria descansar durante o Do-
coordenação ou uma relação de subordinação. mingo.
Duas orações são coordenadas quando estão juntas em Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos.
um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco de in-
formações, marcado pela pontuação final), mas têm, ambas, Período Composto Por Subordinação
estruturas individuais, como é o exemplo de:
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. Quero que você seja aprovado!
(Período Composto) Oração principal oração subordinada
Podemos dizer:
1. Estou comprando um protetor solar. Observe que na oração subordinada temos o verbo
2. Irei à praia. “seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singular
Separando as duas, vemos que elas são independen- do presente do subjuntivo, além de ser introduzida por
tes. Tal período é classificado como Período Composto por conjunção. As orações subordinadas que apresentam ver-
Coordenação. bo em qualquer dos tempos finitos (tempos do modo do
Quanto à classificação das orações coordenadas, temos indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas por con-
dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas Sindé- junção, chamam-se orações desenvolvidas ou explícitas.
ticas. Podemos modificar o período acima. Veja:

Coordenadas Assindéticas Quero ser aprovado.


Oração Principal Oração Subordinada
São orações coordenadas entre si e que não são ligadas
através de nenhum conectivo. Estão apenas justapostas. A análise das orações continua sendo a mesma: “Que-
Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci. ro” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração su-
bordinada “ser aprovado”. Observe que a oração subordi-
Coordenadas Sindéticas nada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além disso,
a conjunção “que”, conectivo que unia as duas orações,
Ao contrário da anterior, são orações coordenadas en- desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo surge
tre si, mas que são ligadas através de uma conjunção coor- numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particí-
denativa, que dará à oração uma classificação. As orações pio) chamamos orações reduzidas ou implícitas.
coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos:
aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas. * Observação: as orações reduzidas não são introdu-
zidas por conjunções nem pronomes relativos. Podem ser,
** Dica: Memorize SINdética = SIM, tem conjunção! eventualmente, introduzidas por preposição.
Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas prin-
cipais conjunções são: e, nem, não só... mas também, não 1-) Orações Subordinadas Substantivas
só... como, assim... como.
Nem comprei o protetor solar nem fui à praia. A oração subordinada substantiva tem valor de subs-
Comprei o protetor solar e fui à praia. tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção inte-
grante (que, se).
Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: suas
principais conjunções são: mas, contudo, todavia, entretanto, Não sei se sairemos hoje.
porém, no entanto, ainda, assim, senão. Oração Subordinada Substantiva
Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
Li tudo, porém não entendi! Temos medo de que não sejamos aprovados.
Oração Subordinada Substantiva

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LÍNGUA PORTUGUESA

Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também Todos querem que você seja aprovado. (Todos
introduzem as orações subordinadas substantivas, bem querem isso)
como os advérbios interrogativos (por que, quando, onde, Oração Principal oração Subordinada Substantiva
como). Objetiva Direta

O garoto perguntou qual seu nome. As orações subordinadas substantivas objetivas diretas
Oração Subordinada Substantiva (desenvolvidas) são iniciadas por:
- Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e
Não sabemos quando ele virá. “se”: A professora verificou se os alunos estavam presentes.
Oração Subordinada Substantiva
- Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às ve-
Classificação das Orações Subordinadas Substantivas zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: O
pessoal queria saber quem era o dono do carro importado.
Conforme a função que exerce no período, a oração su-
bordinada substantiva pode ser: - Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às ve-
a) Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu
verbo da oração principal: não sei por que ela fez isso.

É fundamental o seu comparecimento à reu- c) Objetiva Indireta = atua como objeto indireto do
nião. verbo da oração principal. Vem precedida de preposição.
Sujeito
Meu pai insiste em meu estudo.
É fundamental que você compareça à Objeto Indireto
reunião.
Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Meu pai insiste em que eu estude. (Meu pai insiste
Subjetiva nisso)
* Atenção: Observe que a oração subordinada substan- Oração Subordinada Substantiva
tiva pode ser substituída pelo pronome “isso”. Assim, temos Objetiva Indireta
um período simples:
É fundamental isso ou Isso é fundamental. Observação: em alguns casos, a preposição pode estar
Desta forma, a oração correspondente a “isso” exercerá elíptica na oração.
a função de sujeito. Marta não gosta (de) que a chamem de senhora.
Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração Oração Subordinada Substantiva
principal: Objetiva Indireta

- Verbos de ligação + predicativo, em construções do d) Completiva Nominal = completa um nome que


tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É pertence à oração principal e também vem marcada por
claro - Está evidente - Está comprovado preposição.
É bom que você compareça à minha festa.
Sentimos orgulho de seu comportamento.
- Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Soube-se, Complemento Nominal
Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi anunciado, Ficou
provado. Sentimos orgulho de que você se comportou. (Sen-
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro. timos orgulho disso.)
Oração Subordinada Substantiva
- Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar - Completiva Nominal
importar - ocorrer - acontecer
Convém que não se atrase na entrevista. Lembre-se: as orações subordinadas substantivas ob-
jetivas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto
Observação: quando a oração subordinada substantiva que orações subordinadas substantivas completivas nomi-
é subjetiva, o verbo da oração principal está sempre na 3.ª nais integram o sentido de um nome. Para distinguir uma
pessoa do singular. da outra, é necessário levar em conta o termo complemen-
tado. Esta é a diferença entre o objeto indireto e o com-
b) Objetiva Direta = exerce função de objeto direto do plemento nominal: o primeiro complementa um verbo; o
verbo da oração principal: segundo, um nome.

Todos querem sua aprovação no concurso. e) Predicativa = exerce papel de predicativo do sujei-
Objeto Direto to do verbo da oração principal e vem sempre depois do
verbo ser.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Nosso desejo era sua desistência. Forma das Orações Subordinadas Adjetivas
Predicativo do Sujeito
Quando são introduzidas por um pronome relativo e
Nosso desejo era que ele desistisse. (Nosso desejo apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as
era isso) orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvi-
Oração Subordinada Substantiva das. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas
Predicativa reduzidas, que não são introduzidas por pronome relativo
(podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o
Observação: em certos casos, usa-se a preposição ex- verbo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou
pletiva “de” para realce. Veja o exemplo: A impressão é de particípio).
que não fui bem na prova.
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
f) Apositiva = exerce função de aposto de algum ter- Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
mo da oração principal.
No primeiro período, há uma oração subordinada adje-
Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade! tiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome relati-
Aposto vo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito perfeito
do indicativo. No segundo, há uma oração subordinada ad-
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz! jetiva reduzida de infinitivo: não há pronome relativo e seu
Oração subordinada verbo está no infinitivo.
substantiva apositiva reduzida de infinitivo
(Fernanda tinha um grande sonho: isso) Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas

* Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! (:) Na relação que estabelecem com o termo que caracte-
2-) Orações Subordinadas Adjetivas rizam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de
duas maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou
Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui especificam o sentido do termo a que se referem, indivi-
valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As dualizando-o. Nestas orações não há marcação de pausa,
orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem sendo chamadas subordinadas adjetivas restritivas. Existem
a função de adjunto adnominal do antecedente. também orações que realçam um detalhe ou amplificam
dados sobre o antecedente, que já se encontra suficiente-
Esta foi uma redação bem-sucedida. mente definido. Estas orações denominam-se subordinadas
Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal) adjetivas explicativas.
Exemplo 1:
O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adjeti- Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que
vo “bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos outra passava naquele momento.
construção, a qual exerce exatamente o mesmo papel: Oração
Subordinada Adjetiva Restritiva
Esta foi uma redação que fez sucesso.
Oração Principal Oração Subordinada No período acima, observe que a oração em destaque
Adjetiva restringe e particulariza o sentido da palavra “homem”: tra-
ta-se de um homem específico, único. A oração limita o uni-
Perceba que a conexão entre a oração subordinada verso de homens, isto é, não se refere a todos os homens,
adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é mas sim àquele que estava passando naquele momento.
feita pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou
relacionar) duas orações, o pronome relativo desempenha Exemplo 2:
uma função sintática na oração subordinada: ocupa o pa- O homem, que se considera racional, muitas vezes age
pel que seria exercido pelo termo que o antecede (no caso, animalescamente.
“redação” é sujeito, então o “que” também funciona como Oração Subordinada Adjetiva Explicativa
sujeito).
Agora, a oração em destaque não tem sentido restritivo em
Observação: para que dois períodos se unam num pe- relação à palavra “homem”; na verdade, apenas explicita uma
ríodo composto, altera-se o modo verbal da segunda ora- ideia que já sabemos estar contida no conceito de “homem”.
ção.
** Saiba que: A oração subordinada adjetiva explica-
Atenção: Vale lembrar um recurso didático para reco- tiva é separada da oração principal por uma pausa que, na
nhecer o pronome relativo “que”: ele sempre pode ser subs- escrita, é representada pela vírgula. É comum, por isso, que
tituído por: o qual - a qual - os quais - as quais a pontuação seja indicada como forma de diferenciar as
Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta oração é orações explicativas das restritivas; de fato, as explicativas
equivalente a: Refiro-me ao aluno o qual estuda. vêm sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não.

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LÍNGUA PORTUGUESA

3-) Orações Subordinadas Adverbiais A diferença entre a subordinada adverbial causal e a


sindética explicativa é que esta “explica” o fato que aconte-
Uma oração subordinada adverbial é aquela que exerce ceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela apresenta
a função de adjunto adverbial do verbo da oração principal. a “causa” do acontecimento expresso na oração à qual ela
Assim, pode exprimir circunstância de tempo, modo, fim, se subordina. Repare:
causa, condição, hipótese, etc. Quando desenvolvida, vem 1-) Faltei à aula porque estava doente.
introduzida por uma das conjunções subordinativas (com 2-) Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos.
exclusão das integrantes, que introduzem orações subor- Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro que o
dinadas substantivas). Classifica-se de acordo com a con- fato expresso na oração anterior, ou seja, o fato de estar
junção ou locução conjuntiva que a introduz (assim como doente impediu-me de ir à aula. No exemplo 2, a oração
acontece com as coordenadas sindéticas). sublinhada relata um fato que aconteceu depois, já que
primeiro ela chorou, depois seus olhos ficaram vermelhos.
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo. b) Consecutiva = exprime um fato que é consequên-
Oração Subordinada Adverbial cia, é efeito do que se declara na oração principal. São in-
troduzidas pelas conjunções e locuções: que, de forma que,
A oração em destaque agrega uma circunstância de de sorte que, tanto que, etc., e pelas estruturas tão...que, tan-
tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada adver- to...que, tamanho...que.
bial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos acessórios Principal conjunção subordinativa consecutiva: que
que indicam uma circunstância referente, via de regra, a um (precedido de tal, tanto, tão, tamanho)
verbo. A classificação do adjunto adverbial depende da exa- Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou con-
ta compreensão da circunstância que exprime. cretizando-os.
Naquele momento, senti uma das maiores emoções de Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzi-
minha vida. da de Infinitivo)
Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de mi-
c) Condicional = Condição é aquilo que se impõe
nha vida.
como necessário para a realização ou não de um fato. As
orações subordinadas adverbiais condicionais exprimem o
No primeiro período, “naquele momento” é um adjunto
que deve ou não ocorrer para que se realize - ou deixe de
adverbial de tempo, que modifica a forma verbal “senti”. No
se realizar - o fato expresso na oração principal.
segundo período, este papel é exercido pela oração “Quan-
Principal conjunção subordinativa condicional: se. Ou-
do vi o mar”, que é, portanto, uma oração subordinada ad-
tras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde que,
verbial temporal. Esta oração é desenvolvida, pois é introdu-
salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que,
zida por uma conjunção subordinativa (quando) e apresen-
uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo).
ta uma forma verbal do modo indicativo (“vi”, do pretérito Se o regulamento do campeonato for bem elaborado,
perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la, obtendo-se: certamente o melhor time será campeão.
Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de minha Caso você saia, convide-me.
vida.
d) Concessiva = indica concessão às ações do verbo
A oração em destaque é reduzida, apresentando uma da oração principal, isto é, admitem uma contradição ou
das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é um fato inesperado. A ideia de concessão está diretamente
introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por uma ligada ao contraste, à quebra de expectativa. Principal con-
preposição (“a”, combinada com o artigo “o”). junção subordinativa concessiva: embora. Utiliza-se tam-
bém a conjunção: conquanto e as locuções ainda que, ainda
Observação: a classificação das orações subordinadas quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que.
adverbiais é feita do mesmo modo que a classificação dos Só irei se ele for.
adjuntos adverbiais. Baseia-se na circunstância expressa A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu”
pela oração. ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita.
Compare agora com:
Orações Subordinadas Adverbiais Irei mesmo que ele não vá.

a) Causal = A ideia de causa está diretamente ligada A distinção fica nítida; temos agora uma concessão:
àquilo que provoca um determinado fato, ao motivo do que irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A
se declara na oração principal. Principal conjunção subordi- oração destacada é, portanto, subordinada adverbial con-
nativa causal: porque. Outras conjunções e locuções cau- cessiva.
sais: como (sempre introduzido na oração anteposta à ora- Observe outros exemplos:
ção principal), pois, pois que, já que, uma vez que, visto que. Embora fizesse calor, levei agasalho.
As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte. Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em-
Já que você não vai, eu também não vou. bora não estudasse). (reduzida de infinitivo)

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LÍNGUA PORTUGUESA

e) Comparativa= As orações subordinadas adverbiais


comparativas estabelecem uma comparação com a ação 1.11 CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL;
indicada pelo verbo da oração principal. Principal conjun-
ção subordinativa comparativa: como.
Ele dorme como um urso. (como um urso dorme)
Você age como criança. (age como uma criança age) Os concurseiros estão apreensivos.
Concurseiros apreensivos.
*geralmente há omissão do verbo.
No primeiro exemplo, o verbo estar encontra-se na
f) Conformativa = indica ideia de conformidade, ou terceira pessoa do plural, concordando com o seu sujeito,
seja, apresenta uma regra, um modelo adotado para a os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo “apreen-
execução do que se declara na oração principal. Principal sivos” está concordando em gênero (masculino) e núme-
conjunção subordinativa conformativa: conforme. Outras ro (plural) com o substantivo a que se refere: concurseiros.
conjunções conformativas: como, consoante e segundo (to- Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa, número e gê-
das com o mesmo valor de conforme). nero correspondem-se.
Fiz o bolo conforme ensina a receita. A correspondência de flexão entre dois termos é a con-
Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm cordância, que pode ser verbal ou nominal.
direitos iguais.
Concordância Verbal
g) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que
se declara na oração principal. Principal conjunção subordi- É a flexão que se faz para que o verbo concorde com
nativa final: a fim de. Outras conjunções finais: que, porque seu sujeito.
(= para que) e a locução conjuntiva para que.
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas. a) Sujeito Simples - Regra Geral
Estudarei muito para que eu me saia bem na prova. O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo
em número e pessoa. Veja os exemplos:
h) Proporcional = exprime ideia de proporção, ou A prova para ambos os cargos será aplicada
seja, um fato simultâneo ao expresso na oração principal. às 13h.
3.ª p. Singular 3.ª p. Singular
Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: à
proporção que. Outras locuções conjuntivas proporcio-
Os candidatos à vaga chegarão às 12h.
nais: à medida que, ao passo que. Há ainda as estruturas:
3.ª p. Plural 3.ª p. Plural
quanto maior...(maior), quanto maior...(menor), quanto me-
nor...(maior), quanto menor...(menor), quanto mais...(mais),
Casos Particulares
quanto mais...(menos), quanto menos...(mais), quanto me-
nos...(menos).
1) Quando o sujeito é formado por uma expressão par-
À proporção que estudávamos mais questões acertáva- titiva (parte de, uma porção de, o grosso de, metade de, a
mos. maioria de, a maior parte de, grande parte de...) seguida de
À medida que lia mais culto ficava. um substantivo ou pronome no plural, o verbo pode ficar
no singular ou no plural.
i) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao fato A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia.
expresso na oração principal, podendo exprimir noções de Metade dos candidatos não apresentou / apresentaram
simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Principal proposta.
conjunção subordinativa temporal: quando. Outras con-
junções subordinativas temporais: enquanto, mal e locu- Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos
ções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes que, dos coletivos, quando especificados: Um bando de vânda-
antes que, depois que, sempre que, desde que, etc. los destruiu / destruíram o monumento.
Assim que Paulo chegou, a reunião acabou.
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando termi- Observação: nesses casos, o uso do verbo no singular
nou a festa) (Oração Reduzida de Particípio) enfatiza a unidade do conjunto; já a forma plural confere
destaque aos elementos que formam esse conjunto.
Fontes de pesquisa:
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/fra- 2) Quando o sujeito é formado por expressão que in-
se-periodo-e-oracao dica quantidade aproximada (cerca de, mais de, menos de,
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- perto de...) seguida de numeral e substantivo, o verbo con-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. corda com o substantivo.
Cerca de mil pessoas participaram do concurso.
Perto de quinhentos alunos compareceram à solenidade.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últimas
Olimpíadas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Observação: quando a expressão “mais de um” asso- 6) O pronome “que” não interfere na concordância; já o
ciar-se a verbos que exprimem reciprocidade, o plural é “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa do singular.
obrigatório: Mais de um colega se ofenderam na discussão. Fui eu que paguei a conta.
(ofenderam um ao outro) Fomos nós que pintamos o muro.
És tu que me fazes ver o sentido da vida.
3) Quando se trata de nomes que só existem no plu- Sou eu quem faz a prova.
ral, a concordância deve ser feita levando-se em conta Não serão eles quem será aprovado.
a ausência ou presença de artigo. Sem artigo, o verbo
deve ficar no singular; com artigo no plural, o verbo deve 7) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve assumir
ficar o plural. a forma plural.
Os Estados Unidos possuem grandes universidades. Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encanta-
Estados Unidos possui grandes universidades. ram os poetas.
Alagoas impressiona pela beleza das praias. Este candidato é um dos que mais estudaram!
As Minas Gerais são inesquecíveis.
Se a expressão for de sentido contrário – nenhum dos
Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira.
que, nem um dos que -, não aceita o verbo no singular:
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga.
4) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou Nem uma das que me escreveram mora aqui.
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos, muitos, *Quando “um dos que” vem entremeada de substantivo,
quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou “de vós”, o verbo o verbo pode:
pode concordar com o primeiro pronome (na terceira pes- a) ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atravessa o
soa do plural) ou com o pronome pessoal. Estado de São Paulo. (já que não há outro rio que faça o mesmo).
Quais de nós são / somos capazes? b) ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão poluí-
Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso? dos (noção de que existem outros rios na mesma condição).
Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino-
vadoras. 8) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
Observação: veja que a opção por uma ou outra for- Vossa Excelência está cansado?
ma indica a inclusão ou a exclusão do emissor. Quando Vossas Excelências renunciarão?
alguém diz ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e
nada fizemos”, ele está se incluindo no grupo dos omis- 9) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se de
sos. Isso não ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós acordo com o numeral.
sabiam de tudo e nada fizeram”, frase que soa como uma Deu uma hora no relógio da sala.
denúncia. Deram cinco horas no relógio da sala.
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido estiver Soam dezenove horas no relógio da praça.
no singular, o verbo ficará no singular. Baterão doze horas daqui a pouco.
Qual de nós é capaz?
Algum de vós fez isso. Observação: caso o sujeito da oração seja a palavra re-
lógio, sino, torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito.
5) Quando o sujeito é formado por uma expressão que O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas.
indica porcentagem seguida de substantivo, o verbo deve Soa quinze horas o relógio da matriz.
concordar com o substantivo.
10) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum
25% do orçamento do país será destinado à Educação.
sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do singular. São
85% dos entrevistados não aprovam a administração
verbos impessoais: Haver no sentido de existir; Fazer indi-
do prefeito. cando tempo; Aqueles que indicam fenômenos da natureza.
1% do eleitorado aceita a mudança. Exemplos:
1% dos alunos faltaram à prova. Havia muitas garotas na festa.
Faz dois meses que não vejo meu pai.
Quando a expressão que indica porcentagem não é Chovia ontem à tarde.
seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o
número. b) Sujeito Composto
25% querem a mudança.
1% conhece o assunto. 1) Quando o sujeito é composto e anteposto ao verbo, a
concordância se faz no plural:
Se o número percentual estiver determinado por arti- Pai e filho conversavam longamente.
go ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á com eles: Sujeito
Os 30% da produção de soja serão exportados.
Esses 2% da prova serão questionados. Pais e filhos devem conversar com frequência.
Sujeito

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LÍNGUA PORTUGUESA

2) Nos sujeitos compostos formados por pessoas grama- 4) Com as expressões “um ou outro” e “nem um nem
ticais diferentes, a concordância ocorre da seguinte maneira: a outro”, a concordância costuma ser feita no singular.
primeira pessoa do plural (nós) prevalece sobre a segunda pes- Um ou outro compareceu à festa.
soa (vós) que, por sua vez, prevalece sobre a terceira (eles). Veja: Nem um nem outro saiu do colégio.
Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
Primeira Pessoa do Plural (Nós) Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou no
singular: Um e outro farão/fará a prova.
Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Segunda Pessoa do Plural (Vós) 5) Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”,
o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos recebem um
Pais e filhos precisam respeitar-se. mesmo grau de importância e a palavra “com” tem sentido
Terceira Pessoa do Plural (Eles) muito próximo ao de “e”.
O pai com o filho montaram o brinquedo.
Observação: quando o sujeito é composto, formado por O governador com o secretariado traçaram os planos
um elemento da segunda pessoa (tu) e um da terceira (ele), é para o próximo semestre.
possível empregar o verbo na terceira pessoa do plural (eles): “Tu O professor com o aluno questionaram as regras.
e teus irmãos tomarão a decisão.” – no lugar de “tomaríeis”.
Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se a
3) No caso do sujeito composto posposto ao verbo, ideia é enfatizar o primeiro elemento.
passa a existir uma nova possibilidade de concordância: em O pai com o filho montou o brinquedo.
vez de concordar no plural com a totalidade do sujeito, o O governador com o secretariado traçou os planos para o
verbo pode estabelecer concordância com o núcleo do su- próximo semestre.
jeito mais próximo. O professor com o aluno questionou as regras.
Faltaram coragem e competência.
Faltou coragem e competência. Observação: com o verbo no singular, não se pode falar
em sujeito composto. O sujeito é simples, uma vez que as
Compareceram todos os candidatos e o banca.
expressões “com o filho” e “com o secretariado” são adjuntos
Compareceu o banca e todos os candidatos.
adverbiais de companhia. Na verdade, é como se houvesse
uma inversão da ordem. Veja:
4) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concordân-
“O pai montou o brinquedo com o filho.”
cia é feita no plural. Observe:
“O governador traçou os planos para o próximo semestre
Abraçaram-se vencedor e vencido.
com o secretariado.”
Ofenderam-se o jogador e o árbitro.
“O professor questionou as regras com o aluno.”
Casos Particulares *Casos em que se usa o verbo no singular:
Café com leite é uma delícia!
1) Quando o sujeito composto é formado por núcleos O frango com quiabo foi receita da vovó.
sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no singular.
Descaso e desprezo marca seu comportamento. 6) Quando os núcleos do sujeito são unidos por expressões
A coragem e o destemor fez dele um herói. correlativas como: “não só...mas ainda”, “não somente”..., “não
apenas...mas também”, “tanto...quanto”, o verbo ficará no plural.
2) Quando o sujeito composto é formado por núcleos Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
dispostos em gradação, verbo no singular: Nordeste.
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um segun- Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a no-
do me satisfaz. tícia.

3) Quando os núcleos do sujeito composto são unidos 7) Quando os elementos de um sujeito composto são
por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, de acor- resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância é
do com o valor semântico das conjunções: feita com esse termo resumidor.
Drummond ou Bandeira representam a essência da poe- Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apatia.
sia brasileira. Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante na
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta. vida das pessoas.

Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de “adi- Outros Casos


ção”. Já em:
Juca ou Pedro será contratado. 1) O Verbo e a Palavra “SE”
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olimpíada. Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há duas
de particular interesse para a concordância verbal:
* Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam no a) quando é índice de indeterminação do sujeito;
singular. b) quando é partícula apassivadora.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se” b) datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos e estar expressa ou subentendida:
de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na ter- Hoje é dia 26 de agosto.
ceira pessoa do singular: Hoje são 26 de agosto.
Precisa-se de funcionários. c) Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade e
Confia-se em teses absurdas. for seguido de palavras ou expressões como pouco, muito,
Quando pronome apassivador, o “se” acompanha ver- menos de, mais de, etc., o verbo SER fica no singular:
bos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e indiretos Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
(VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nesse caso, o Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido.
verbo deve concordar com o sujeito da oração. Exemplos: Duas semanas de férias é muito para mim.
Construiu-se um posto de saúde.
Construíram-se novos postos de saúde. d) Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo)
Aqui não se cometem equívocos for pronome pessoal do caso reto, com este concordará o
Alugam-se casas. verbo.
No meu setor, eu sou a única mulher.
** Dica: Para saber se o “se” é partícula apassivadora Aqui os adultos somos nós.
ou índice de indeterminação do sujeito, tente transformar
a frase para a voz passiva. Se a frase construída for “com- Observação: sendo ambos os termos (sujeito e pre-
preensível”, estaremos diante de uma partícula apassivado- dicativo) representados por pronomes pessoais, o verbo
ra; se não, o “se” será índice de indeterminação. Veja: concorda com o pronome sujeito.
Precisa-se de funcionários qualificados. Eu não sou ela.
Tentemos a voz passiva: Ela não é eu.
Funcionários qualificados são precisados (ou precisos)?
Não há lógica. Portanto, o “se” destacado é índice de inde- e) Quando o sujeito for uma expressão de sentido par-
terminação do sujeito. titivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o verbo
Agora: SER concordará com o predicativo.
Vendem-se casas.
A grande maioria no protesto eram jovens.
Voz passiva: Casas são vendidas. Construção correta!
O resto foram atitudes imaturas.
Então, aqui, o “se” é partícula apassivadora. (Dá para eu
passar para a voz passiva. Repare em meu destaque. Per-
3) O Verbo “Parecer”
cebeu semelhança? Agora é só memorizar!).
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução
2) O Verbo “Ser”
verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concordâncias:
a) Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona
A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o
sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân- o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho.
cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo do
sujeito. b) A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo
sofre flexão:
Quando o sujeito ou o predicativo for: As crianças parece gostarem do desenho.
(essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho as
a)Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo SER crianças)
concorda com a pessoa gramatical:
Ele é forte, mas não é dois. Atenção: Com orações desenvolvidas, o verbo PARE-
Fernando Pessoa era vários poetas. CER fica no singular. Por Exemplo: As paredes parece que
A esperança dos pais são eles, os filhos. têm ouvidos. (Parece que as paredes têm ouvidos = oração
subordinada substantiva subjetiva).
b)nome de coisa e um estiver no singular e o outro no
plural, o verbo SER concordará, preferencialmente, com o Concordância Nominal
que estiver no plural:
Os livros são minha paixão! A concordância nominal se baseia na relação entre
Minha paixão são os livros! nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se
ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
Quando o verbo SER indicar adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
a) horas e distâncias, concordará com a expressão termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
numérica: A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
É uma hora. seguintes regras gerais:
São quatro horas. 1) O adjetivo concorda em gênero e número quando
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilôme- se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas denun-
tros. ciavam o que sentia.

62
LÍNGUA PORTUGUESA

2) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, a Observação: quando a palavra “só” equivale a “somen-
concordância pode variar. Podemos sistematizar essa fle- te” ou “apenas”, tem função adverbial, ficando, portanto,
xão nos seguintes casos: invariável: Eles só desejam ganhar presentes.
a) Adjetivo anteposto aos substantivos: ** Dica: Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. Se
- O adjetivo concorda em gênero e número com o a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se de advérbio,
substantivo mais próximo. portanto, invariável; se houver coerência com o segundo,
Encontramos caídas as roupas e os prendedores. função de adjetivo, então varia:
Encontramos caída a roupa e os prendedores. Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo
Encontramos caído o prendedor e a roupa. Ele está só descansando. (apenas descansando) - ad-
vérbio
- Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de pa-
rentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural. ** Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois de
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar. “só”, haverá, novamente, um adjetivo:
Encontrei os divertidos primos e primas na festa. Ele está só, descansando. (ele está sozinho e descansan-
do)
b) Adjetivo posposto aos substantivos: 7) Quando um único substantivo é modificado por dois
- O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as cons-
ou com todos eles (assumindo a forma masculina plural se truções:
houver substantivo feminino e masculino). a) O substantivo permanece no singular e coloca-se o
A indústria oferece localização e atendimento perfeito. artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura espanhola
A indústria oferece atendimento e localização perfeita. e a portuguesa.
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos. b) O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e portu-
Observação: os dois últimos exemplos apresentam guesa.
maior clareza, pois indicam que o adjetivo efetivamente se
refere aos dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi Casos Particulares
flexionado no plural masculino, que é o gênero predomi-
nante quando há substantivos de gêneros diferentes. É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per-
mitido
- Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
jetivo fica no singular ou plural. a) Estas expressões, formadas por um verbo mais um
A beleza e a inteligência feminina(s). adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se referem
O carro e o iate novo(s). possuir sentido genérico (não vier precedido de artigo).
É proibido entrada de crianças.
3) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo: Em certos momentos, é necessário atenção.
a) O adjetivo fica no masculino singular, se o substan- No verão, melancia é bom.
tivo não for acompanhado de nenhum modificador: Água É preciso cidadania.
é bom para saúde. Não é permitido saída pelas portas laterais.

b) O adjetivo concorda com o substantivo, se este for b) Quando o sujeito destas expressões estiver deter-
modificado por um artigo ou qualquer outro determinati- minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o verbo
vo: Esta água é boa para saúde. como o adjetivo concordam com ele.
É proibida a entrada de crianças.
4) O adjetivo concorda em gênero e número com os Esta salada é ótima.
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encontrou-as A educação é necessária.
muito felizes. São precisas várias medidas na educação.

5) Nas expressões formadas por pronome indefinido Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso -
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição DE + Quite
adjetivo, este último geralmente é usado no masculino sin-
gular: Os jovens tinham algo de misterioso. Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú-
mero com o substantivo ou pronome a que se referem.
6) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem fun- Seguem anexas as documentações requeridas.
ção adjetiva e concorda normalmente com o nome a que A menina agradeceu: - Muito obrigada.
se refere: Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Cristina saiu só. Seguem inclusos os papéis solicitados.
Cristina e Débora saíram sós. Estamos quites com nossos credores.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Bastante - Caro - Barato - Longe Questões

Estas palavras são invariáveis quando funcionam como 1-) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA
advérbios. Concordam com o nome a que se referem quan- E COMÉRCIO EXTERIOR – ANALISTA TÉCNICO ADMINIS-
do funcionam como adjetivos, pronomes adjetivos, ou nu- TRATIVO – CESPE/2014) Em “Vossa Excelência deve estar
merais. satisfeita com os resultados das negociações”, o adjetivo
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio) estará corretamente empregado se dirigido a ministro de
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. (pro- Estado do sexo masculino, pois o termo “satisfeita” deve
nome adjetivo) concordar com a locução pronominal de tratamento “Vos-
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio) sa Excelência”.
As casas estão caras. (adjetivo) ( ) CERTO ( ) ERRADO
Achei barato este casaco. (advérbio)
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo) 1-) Se a pessoa, no caso o ministro, for do sexo femi-
nino (ministra), o adjetivo está correto; mas, se for do sexo
Meio - Meia masculino, o adjetivo sofrerá flexão de gênero: satisfeito.
O pronome de tratamento é apenas a maneira de como
a) A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo, tratar a autoridade, não concordando com o gênero (o
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi pronome de tratamento, apenas).
meia porção de polentas. RESPOSTA: “ERRADO”.
b) Quando empregada como advérbio permanece in- 2-) (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL – CADASTRO
variável: A candidata está meio nervosa. RESERVA PARA O METRÔ/DF – ADMINISTRADOR - IA-
DES/2014 - adaptada) Se, no lugar dos verbos destacados
** Dica! Dá para eu substituir por “um pouco”, assim no verso “Escolho os filmes que eu não vejo no elevador”,
saberei que se trata de um advérbio, não de adjetivo: “A
fossem empregados, respectivamente, Esquecer e gostar,
candidata está um pouco nervosa”.
a nova redação, de acordo com as regras sobre regência
verbal e concordância nominal prescritas pela norma-pa-
Alerta - Menos
drão, deveria ser
(A) Esqueço dos filmes que eu não gosto no elevador.
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
(B) Esqueço os filmes os quais não gosto no elevador.
sempre invariáveis.
(C) Esqueço dos filmes aos quais não gosto no eleva-
Os concurseiros estão sempre alerta.
dor.
Não queira menos matéria!
(D) Esqueço dos filmes dos quais não gosto no eleva-
* Tome nota! dor.
Não variam os substantivos que funcionam como ad- (E) Esqueço os filmes dos quais não gosto no elevador.
jetivos:
Bomba – notícias bomba 2-) O verbo “esquecer” pede objeto direto; “gostar”,
Chave – elementos chave indireto (com preposição): Esqueço os filmes dos quais
Monstro – construções monstro não gosto.
Padrão – escola padrão RESPOSTA: “E”.

Fontes de pesquisa: 3-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) Considerada


http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49. a substituição do segmento grifado pelo que está entre
php parênteses ao final da transcrição, o verbo que deverá per-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- manecer no singular está em:
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: (A) ... disse o pesquisador à Folha de S. Paulo. (os pes-
Saraiva, 2010. quisadores)
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- (B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu para a
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. ruína dessa sociedade... (as mudanças do clima)
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- (C) No sistema havia também uma estação... (várias es-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. tações)
(D) ... a civilização maia da América Central tinha um
método sustentável de gerenciamento da água. (os povos
que habitavam a América Central)
(E) Um estudo publicado recentemente mostra que a
civilização maia... (Estudos como o que acabou de ser pu-
blicado).

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LÍNGUA PORTUGUESA

3-) 1-) Verbos Intransitivos


(A) ... disse (disseram) (os pesquisadores) Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
(B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu (con- importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
tribuíram) (as mudanças do clima) aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
(C) No sistema havia (várias estações) = permanecerá - Chegar, Ir
no singular Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adver-
(D) ... a civilização maia da América Central tinha (ti- biais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para
nham) (os povos que habitavam a América Central) indicar destino ou direção são: a, para.
(E) Um estudo publicado recentemente mostra (mos- Fui ao teatro.
tram) (Estudos como o que acabou de ser publicado). Adjunto Adverbial de Lugar
RESPOSTA: “C”.
Ricardo foi para a Espanha.
Adjunto Adverbial de Lugar
1.12 REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL; - Comparecer
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por
em ou a.
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um nome último jogo.
(regência nominal) e seus complementos.
2-) Verbos Transitivos Diretos
Regência Verbal = Termo Regente: VERBO
Os verbos transitivos diretos são complementados por
A regência verbal estuda a relação que se estabelece objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição
entre os verbos e os termos que os complementam (obje- para o estabelecimento da relação de regência. Ao empre-
tos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos gar esses verbos, lembre-se de que os pronomes oblíquos
adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma regência, o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses pronomes
o que corresponde à diversidade de significados que estes podem assumir as formas lo, los, la, las (após formas ver-
verbos podem adquirir dependendo do contexto em que bais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após
forem empregados. formas verbais terminadas em sons nasais), enquanto lhe e
A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar, con- lhes são, quando complementos verbais, objetos indiretos.
tentar. São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban-
A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar agra- donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar,
do ou prazer”, satisfazer. admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar,
Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de “agra- castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar, defender,
dar a alguém”. eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar,
proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver, visitar.
Saiba que: Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
O conhecimento do uso adequado das preposições é como o verbo amar:
um dos aspectos fundamentais do estudo da regência ver- Amo aquele rapaz. / Amo-o.
bal (e também nominal). As preposições são capazes de Amo aquela moça. / Amo-a.
modificar completamente o sentido daquilo que está sen- Amam aquele rapaz. / Amam-no.
do dito. Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
Cheguei ao metrô.
Cheguei no metrô. Observação: os pronomes lhe, lhes só acompanham
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no se- esses verbos para indicar posse (caso em que atuam como
gundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. adjuntos adnominais):
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
A voluntária distribuía leite às crianças. Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua car-
A voluntária distribuía leite com as crianças. reira)
Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi empregado Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor)
como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto (obje-
to indireto: às crianças); na segunda, como transitivo direto 3-) Verbos Transitivos Indiretos
(objeto direto: crianças; com as crianças: adjunto adverbial).
Os verbos transitivos indiretos são complementados
Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é um gem uma preposição para o estabelecimento da relação de
fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de ter-
formas em frases distintas. ceira pessoa que podem atuar como objetos indiretos são

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LÍNGUA PORTUGUESA

o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam Informar


os pronomes o, os, a, as como complementos de verbos - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não re- indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
presentam pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos Informe os novos preços aos clientes.
de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos
lhe, lhes. preços)

Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: - Na utilização de pronomes como complementos, veja
- Consistir - Tem complemento introduzido pela prepo- as construções:
sição “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
iguais para todos. Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou so-
bre eles)
- Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complemen-
tos introduzidos pela preposição “a”: Observação: a mesma regência do verbo informar é
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. usada para os seguintes: avisar, certificar, notificar, cientifi-
Eles desobedeceram às leis do trânsito. car, prevenir.

- Responder - Tem complemento introduzido pela pre- Comparar


posição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
quem” ou “ao que” se responde. preposições “a” ou “com” para introduzir o complemento
Respondi ao meu patrão. indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com o) de
Respondemos às perguntas. uma criança.
Respondeu-lhe à altura.
Pedir
Observação: o verbo responder, apesar de transitivo Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na
indireto quando exprime aquilo a que se responde, admite
forma de oração subordinada substantiva) e indireto de
voz passiva analítica:
pessoa.
O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamen-
Pedi-lhe favores.
te.
Objeto Indireto Objeto Direto
- Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complemen-
tos introduzidos pela preposição “com”. Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.
Antipatizo com aquela apresentadora. Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
Simpatizo com os que condenam os políticos que gover- tantiva Objetiva Direta
nam para uma minoria privilegiada.
Saiba que:
4-) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos - A construção “pedir para”, muito comum na lingua-
gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompa- culta. No entanto, é considerada correta quando a palavra
nhados de um objeto direto e um indireto. Merecem desta- licença estiver subentendida.
que, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São verbos Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
que apresentam objeto direto relacionado a coisas e objeto
indireto relacionado a pessoas. Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz
uma oração subordinada adverbial final reduzida de infiniti-
Agradeço aos ouvintes a audiência. vo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa).
Objeto Indireto Objeto Direto
Preferir
Paguei o débito ao cobrador. Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto in-
Objeto Direto Objeto Indireto direto introduzido pela preposição “a”:
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
- O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito Prefiro trem a ônibus.
com particular cuidado:
Agradeci o presente. / Agradeci-o. Observação: na língua culta, o verbo “preferir” deve
Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
ser usado sem termos intensificadores, tais como: muito,
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
antes, mil vezes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
dada pelo prefixo existente no próprio verbo (pre).
Paguei minhas contas. / Paguei-as.
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Mudança de Transitividade - Mudança de Signifi- CHAMAR


cado - Chamar é transitivo direto no sentido de convocar,
solicitar a atenção ou a presença de.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transitivi- Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha-
dade, apresentam mudança de significado. O conhecimen- má-la.
to das diferentes regências desses verbos é um recurso lin- Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
guístico muito importante, pois além de permitir a correta
interpretação de passagens escritas, oferece possibilidades - Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
expressivas a quem fala ou escreve. Dentre os principais, apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predi-
estão: cativo preposicionado ou não.
A torcida chamou o jogador mercenário.
AGRADAR A torcida chamou ao jogador mercenário.
- Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari- A torcida chamou o jogador de mercenário.
A torcida chamou ao jogador de mercenário.
nhos, acariciar, fazer as vontades de.
Sempre agrada o filho quando.
- Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal:
Aquele comerciante agrada os clientes.
Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
- Agradar é transitivo indireto no sentido de causar CUSTAR
agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento in- - Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
troduzido pela preposição “a”. valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial:
O cantor não agradou aos presentes. Frutas e verduras não deveriam custar muito.
O cantor não lhes agradou.
- No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo
*O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indireto: ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração re-
O cantor desagradou à plateia. duzida de infinitivo.

ASPIRAR Muito custa viver tão longe da família.


- Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspi- Verbo Intransitivo Oração Subordinada
rar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

- Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter Custou-me (a mim) crer nisso.
como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (Aspi- Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
rávamos a ele) tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

* Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes- *A Gramática Normativa condena as construções que
soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por
utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”. pessoa: Custei para entender o problema. = Forma
Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (= As- correta: Custou-me entender o problema.
piravam a ela)
IMPLICAR
ASSISTIR - Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
a) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
implicavam um firme propósito.
tar assistência a, auxiliar.
b) ter como consequência, trazer como consequência,
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
- Como transitivo direto e indireto, significa compro-
- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen- meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
ciar, estar presente, caber, pertencer. econômicas.
Assistimos ao documentário.
Não assisti às últimas sessões. * No sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
Essa lei assiste ao inquilino. indireto e rege com preposição “com”: Implicava com quem
não trabalhasse arduamente.
*No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in-
transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de NAMORAR
lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa - Sempre transitivo direto: Luísa namora Carlos há dois
conturbada cidade. anos.

67
LÍNGUA PORTUGUESA

OBEDECER - DESOBEDECER Há uma construção em que a coisa esquecida ou lem-


- Sempre transitivo indireto: brada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve
Todos obedeceram às regras. alteração de sentido. É uma construção muito rara na lín-
Ninguém desobedece às leis. gua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos
clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado de
*Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
“lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas. Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
PROCEDER Não lhe lembram os bons momentos da infância? (=
- Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter momentos é sujeito)
cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto SIMPATIZAR - ANTIPATIZAR
adverbial de modo. - São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
As afirmações da testemunha procediam, não havia Não simpatizei com os jurados.
como refutá-las. Simpatizei com os alunos.
Você procede muito mal.
Importante: A norma culta exige que os verbos e ex-
- Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo- pressões que dão ideia de movimento sejam usados com
sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido a preposição “a”:
pela preposição “a”) é transitivo indireto. Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
O avião procede de Maceió. Cláudia desceu ao segundo andar.
Procedeu-se aos exames. Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.
O delegado procederá ao inquérito.
Regência Nominal
QUERER
- Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter É o nome da relação existente entre um nome (subs-
vontade de, cobiçar. tantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
Querem melhor atendimento. nome. Essa relação é sempre intermediada por uma prepo-
Queremos um país melhor. sição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo
- Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
estimar, amar: Quero muito aos meus amigos. um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos
nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
VISAR nomes correspondentes: todos regem complementos in-
- Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi- troduzidos pela preposição a. Veja:
rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo. Obedecer a algo/ a alguém.
O gerente não quis visar o cheque. Obediente a algo/ a alguém.

- No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como Se uma oração completar o sentido de um nome, ou
objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”. seja, exercer a função de complemento nominal, ela será
O ensino deve sempre visar ao progresso social. completiva nominal (subordinada substantiva).
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar
público.

ESQUECER – LEMBRAR
- Lembrar algo – esquecer algo
- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (prono-
minal)

No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja,


exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e
exigem complemento com a preposição “de”. São, portan-
to, transitivos indiretos:
- Ele se esqueceu do caderno.
- Eu me esqueci da chave.
- Eles se esqueceram da prova.
- Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

68
LÍNGUA PORTUGUESA

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por
Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: para-
lela a; paralelamente a; relativa a; relativamente a.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Questões

1-) (PRODAM – AUXILIAR - MOTORISTA – FUNCAB/2014) Assinale a alternativa em que a frase segue a norma culta da
língua quanto à regência verbal.
A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir.
B) Eu esqueci do seu nome.
C) Você assistiu à cena toda?
D) Ele chegou na oficina pela manhã.
E) Sempre obedeço as leis de trânsito.

69
LÍNGUA PORTUGUESA

1-) 2) Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem


A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir. = prefiro viajar lhe disse isso?
de ônibus a dirigir
B) Eu esqueci do seu nome. = Eu me esqueci do seu 3) Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quanto
nome se ofendem!
C) Você assistiu à cena toda? = correta
D) Ele chegou na oficina pela manhã. = Ele chegou à 4) Orações que exprimem desejo (orações optativas):
oficina pela manhã Que Deus o ajude.
E) Sempre obedeço as leis de trânsito. = Sempre obe-
deço às leis de trânsito 5) A próclise é obrigatória quando se utiliza o pronome
RESPOSTA: “C”. reto ou sujeito expresso:
Eu lhe entregarei o material amanhã.
2-) (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO/SP – Tu sabes cantar?
MÉDICO LEGISTA – VUNESP/2014 - adaptada) Leia o se-
guinte trecho para responder à questão. Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do
A pesquisa encontrou um dado curioso: homens com verbo. A mesóclise é usada:
baixos níveis de testosterona tiveram uma resposta imuno-
lógica melhor a essa medida, similar _______________ . Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
A alternativa que completa, corretamente, o texto é: turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
(A) das mulheres precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
(B) às mulheres Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento
(C) com das mulheres em prol da paz no mundo.
(D) à das mulheres Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
(E) ao das mulheres lizará”:
realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma palavra
2-) Similar significa igual; sua regência equivale à da pa-
que justificasse o uso da próclise, esta prevaleceria. Veja:
lavra “igual”: igual a quê? Similar a quem? Similar à (suben-
Não se realizará...
tendido: resposta imunológica) das mulheres.
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
RESPOSTA: “D”.
nessa viagem.
(com presença de palavra que justifique o uso de pró-
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompanha-
1.13 COLOCAÇÃO PRONOMINAL; ria nessa viagem).

Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo. A


Colocação Pronominal trata da correta colocação dos ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não forem
pronomes oblíquos átonos na frase. possíveis:

* Dica: Pronome Oblíquo é aquele que exerce a função 1) Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
de complemento verbal (objeto). Por isso, memorize: Quando eu avisar, silenciem-se todos.
OBlíquo = OBjeto!
2) Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: Não
Embora na linguagem falada a colocação dos prono- era minha intenção machucá-la.
mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas de-
vem ser observadas na linguagem escrita. 3) Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não se
inicia período com pronome oblíquo).
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo. A Vou-me embora agora mesmo.
próclise é usada: Levanto-me às 6h.

1) Quando o verbo estiver precedido de palavras que 4) Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
atraem o pronome para antes do verbo. São elas: no concurso, mudo-me hoje mesmo!
a) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém,
jamais, etc.: Não se desespere! 5-) Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a pro-
b) Advérbios: Agora se negam a depor. posta fazendo-se de desentendida.
c) Conjunções subordinativas: Espero que me expliquem
tudo! Colocação pronominal nas locuções verbais
d) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se es- - após verbo no particípio = pronome depois do verbo
forçou. auxiliar (e não depois do particípio):
e) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportunidade. Tenho me deliciado com a leitura!
f) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito. Eu tenho me deliciado com a leitura!

70
LÍNGUA PORTUGUESA

Eu me tenho deliciado com a leitura! 1-) Primeiramente identifiquemos se temos objeto di-
- não convém usar hífen nos tempos compostos e nas reto ou indireto. Reconhece o quê? Resposta: a informali-
locuções verbais: dade. Pergunta e resposta sem preposição, então: objeto
Vamos nos unir! direto. Não utilizaremos “lhe” – que é para objeto indireto.
Iremos nos manifestar. Como temos a presença do “que” – independente de sua
função no período (pronome relativo, no caso!) – a regra
- quando há um fator para próclise nos tempos com- pede próclise (pronome oblíquo antes do verbo): que a re-
postos ou locuções verbais: opção pelo uso do pronome conhecem.
oblíquo “solto” entre os verbos = Não vamos nos preocupar RESPOSTA: “A”.
(e não: “não nos vamos preocupar”).
2-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) A substitui-
Observações importantes: ção do elemento grifado pelo pronome correspondente foi
realizada de modo INCORRETO em:
Emprego de o, a, os, as (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu
1) Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os (B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os
pronomes: o, a, os, as não se alteram. (C) para fazer a dragagem = para fazê-la
Chame-o agora. (D) que desviava a água = que lhe desviava
Deixei-a mais tranquila. (E) supriam a necessidade = supriam-na

2) Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes 2-)


finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos: (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu = cor-
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho. reta
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa. (B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os = correta
(C) para fazer a dragagem = para fazê-la = correta
3) Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em, (D) que desviava a água = que lhe desviava = que a
ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para no, na, desviava
nos, nas. (E) supriam a necessidade = supriam-na = correta
Chamem-no agora. RESPOSTA: “D”.
Põe-na sobre a mesa.
3-) (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014)
* Dica: cruzando os desertos do oeste da China − que con-
Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que significa tornam a Índia − adotam complexas providências
“antes”! Pronome antes do verbo! Fazendo-se as alterações necessárias, os segmentos
Ênclise – “en”... lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end, em In- grifados acima foram corretamente substituídos por um
glês – que significa “fim, final!). Pronome depois do verbo! pronome, respectivamente, em:
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do verbo (A) os cruzando - que contornam-lhe - adotam-as
Pronome Oblíquo – função de objeto (B) cruzando-lhes - que contornam-na - as adotam
(C) cruzando-os - que lhe contornam - adotam-lhes
Fontes de pesquisa: (D) cruzando-os - que a contornam - adotam-nas
http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao- (E) lhes cruzando - que contornam-a - as adotam
-pronominal-.html
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- 3-) Não podemos utilizar “lhes”, que corresponde ao
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. objeto indireto (verbo “cruzar” pede objeto direto: cruzar
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- o quê?), portanto já desconsideramos as alternativas “B”
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: e “D”. Ao iniciarmos um parágrafo ( já que no enunciado
Saraiva, 2010. temos uma oração assim) devemos usar ênclise: (cruzan-
do-os); na segunda oração temos um pronome relativo (dá
Questões para substituirmos por “o qual”), o que nos obriga a usar
a próclise (que a contorna); “adotam” exige objeto direto
1-) (IBGE - SUPERVISOR DE PESQUISAS – ADMINIS- (adotam quem ou o quê?), chegando à resposta: adotam-
TRAÇÃO - CESGRANRIO/2014) Em “Há políticas que reco- -nas (quando o verbo terminar em “m” e usarmos um pro-
nhecem a informalidade”, ao substituir o termo destacado nome oblíquo direto, lembre-se do alfabeto: jklM – N!).
por um pronome, de acordo com a norma-padrão da lín- RESPOSTA: “D”
gua, o trecho assume a formulação apresentada em:
A) Há políticas que a reconhecem.
B) Há políticas que reconhecem-a.
C) Há políticas que reconhecem-na.
D) Há políticas que reconhecem ela.
E) Há políticas que lhe reconhecem.

71
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou


1.14 SEMÂNTICA; perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pronúncia:
caminho (subst.) e caminho (verbo);
cedo (verbo) e cedo (adv.);
livre (adj.) e livre (verbo).
Semântica é o estudo da significação das palavras e das
suas mudanças de significação através do tempo ou em de- - Parônimos = palavras com sentidos diferentes, porém
terminada época. A maior importância está em distinguir si- de formas relativamente próximas. São palavras parecidas
nônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e homônimos na escrita e na pronúncia: cesta (receptáculo de vime; ces-
e parônimos (homonímia / paronímia). ta de basquete/esporte) e sesta (descanso após o almoço),
eminente (ilustre) e iminente (que está para ocorrer), osso
Sinônimos (substantivo) e ouço (verbo), sede (substantivo e/ou verbo
“ser” no imperativo) e cede (verbo), comprimento (medida)
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto e cumprimento (saudação), autuar (processar) e atuar (agir),
- abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - abolir. infligir (aplicar pena) e infringir (violar), deferir (atender a) e
Duas palavras são totalmente sinônimas quando são diferir (divergir), suar (transpirar) e soar (emitir som), apren-
substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara der (conhecer) e apreender (assimilar; apropriar-se de), trá-
e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quando, fico (comércio ilegal) e tráfego (relativo a movimento, trân-
ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela outra, sito), mandato (procuração) e mandado (ordem), emergir
em determinado enunciado (aguardar e esperar). (subir à superfície) e imergir (mergulhar, afundar).

Observação: A contribuição greco-latina é responsável Hiperonímia e Hiponímia


pela existência de numerosos pares de sinônimos: adver-
sário e antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e he- Hipônimos e hiperônimos são palavras que pertencem
miciclo; contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo o hipô-
diálogo; transformação e metamorfose; oposição e antítese. nimo uma palavra de sentido mais específico; o hiperônimo,
mais abrangente.
Antônimos O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipôni-
mo, criando, assim, uma relação de dependência semântica.
São palavras que se opõem através de seu significado: Por exemplo: Veículos está numa relação de hiperonímia
ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - censurar; com carros, já que veículos é uma palavra de significado
mal - bem. genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões. Veículos é um
hiperônimo de carros.
Observação: A antonímia pode se originar de um pre- Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em
fixo de sentido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili-
simpático e antipático; progredir e regredir; concórdia e dis- zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita a
córdia; ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista e an- repetição desnecessária de termos.
ticomunista; simétrico e assimétrico.
Fontes de pesquisa:
Homônimos e Parônimos
http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-an-
tonimos,-homonimos-e-paronimos
- Homônimos = palavras que possuem a mesma grafia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
ou a mesma pronúncia, mas significados diferentes. Podem ser coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
a) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e diferen- ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
tes na pronúncia: Saraiva, 2010.
rego (subst.) e rego (verbo); Português: novas palavras: literatura, gramática, redação
colher (verbo) e colher (subst.); / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
jogo (subst.) e jogo (verbo); XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua Por-
denúncia (subst.) e denuncia (verbo); tuguesa – 2ªed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000.
providência (subst.) e providencia (verbo).
Denotação e Conotação
b) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e di-
ferentes na escrita: Exemplos de variação no significado das palavras:
acender (atear) e ascender (subir);
concertar (harmonizar) e consertar (reparar); Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido li-
cela (compartimento) e sela (arreio); teral)
censo (recenseamento) e senso ( juízo); Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido fi-
paço (palácio) e passo (andar). gurado)

72
LÍNGUA PORTUGUESA

Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado) Polissemia


As variações nos significados das palavras ocasionam
o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir mul-
(conotação) das palavras. tiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de um
contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra, mas
Denotação que abarca um grande número de significados dentro de
seu próprio campo semântico.
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo perce-
apresenta seu significado original, independentemente bemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de algo.
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu significado Possibilidades de várias interpretações levando-se em con-
mais objetivo e comum, aquele imediatamente reconheci- sideração as situações de aplicabilidade. Há uma infinidade
do e muitas vezes associado ao primeiro significado que de exemplos em que podemos verificar a ocorrência da po-
aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da lissemia:
palavra. O rapaz é um tremendo gato.
A denotação tem como finalidade informar o receptor O gato do vizinho é peralta.
da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo um ca- Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
ráter prático. É utilizada em textos informativos, como jor- Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua so-
nais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de medi- brevivência
camentos, textos científicos, entre outros. A palavra “pau”, O passarinho foi atingido no bico.
por exemplo, em seu sentido denotativo é apenas um pe-
daço de madeira. Outros exemplos: Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de com-
O elefante é um mamífero. putadores e rede elétrica, por exemplo, temos em comum
As estrelas deixam o céu mais bonito! a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido de “entre-
laçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”, que pode
Conotação
ser utilizada representando “tecido”, “prisão” ou “jogo” – o
sentido comum entre todas as expressões é o formato qua-
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando
driculado que têm.
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes in-
terpretações, dependendo do contexto em que esteja inse-
Polissemia e homonímia
rida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que vão
além do sentido original da palavra, ampliando sua signifi-
A confusão entre polissemia e homonímia é bastante
cação mediante a circunstância em que a mesma é utiliza-
comum. Quando a mesma palavra apresenta vários signifi-
da, assumindo um sentido figurado e simbólico. Como no
exemplo da palavra “pau”: em seu sentido conotativo ela cados, estamos na presença da polissemia. Por outro lado,
pode significar castigo (dar-lhe um pau), reprovação (tomei quando duas ou mais palavras com origens e significados
pau no concurso). distintos têm a mesma grafia e fonologia, temos uma ho-
A conotação tem como finalidade provocar sentimen- monímia.
tos no receptor da mensagem, através da expressividade e A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode
afetividade que transmite. É utilizada principalmente numa significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não é
linguagem poética e na literatura, mas também ocorre em polissemia porque os diferentes significados para a palavra
conversas cotidianas, em letras de música, em anúncios pu- “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma palavra po-
blicitários, entre outros. Exemplos: lissêmica: pode significar o elemento básico do alfabeto, o
Você é o meu sol! texto de uma canção ou a caligrafia de um determinado in-
Minha vida é um mar de tristezas. divíduo. Neste caso, os diferentes significados estão interli-
Você tem um coração de pedra! gados porque remetem para o mesmo conceito, o da escrita.

* Dica: Procure associar Denotação com Dicionário: Polissemia e ambiguidade


trata-se de definição literal, quando o termo é utilizado
com o sentido que consta no dicionário. Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto na
interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado pode
Fontes de pesquisa: ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma interpretação.
http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota- Esta ambiguidade pode ocorrer devido à colocação espe-
cao/ cífica de uma palavra (por exemplo, um advérbio) em uma
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- frase. Vejamos a seguinte frase:
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Pessoas que têm uma alimentação equilibrada frequen-
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- temente são felizes.
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: Neste caso podem existir duas interpretações diferentes:
Saraiva, 2010. As pessoas têm alimentação equilibrada porque são feli-
zes ou são felizes porque têm uma alimentação equilibrada.

73
LÍNGUA PORTUGUESA

De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, ela Seus olhos são como luzes brilhantes.
pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma interpre- O exemplo acima mostra uma comparação evidente,
tação. Para fazer a interpretação correta é muito importan- através do emprego da palavra como.
te saber qual o contexto em que a frase é proferida. Observe agora: Seus olhos são luzes brilhantes.
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção Neste exemplo não há mais uma comparação (note a
do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo, co- ausência da partícula comparativa), e sim símile, ou seja,
micidade. Repare na figura abaixo: qualidade do que é semelhante.
Por fim, no exemplo: As luzes brilhantes olhavam-me.
Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Esta
é a verdadeira metáfora.

Observe outros exemplos:


1) “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando
Pessoa)
Neste caso, a metáfora é possível na medida em que
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio
subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando a
fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.).

2) Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar


(http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto- algum.
-cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014). Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na frase
Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras, acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão que
mas duas seriam: indica uma alma rústica e abandonada (e angustiadamente
Corte e coloração capilar inútil), há uma comparação subentendida: Minha alma é
ou tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma estrada de
terra que leva a lugar algum.
Faço corte e pintura capilar
A Amazônia é o pulmão do mundo.
Fontes de pesquisa:
Em sua mente povoa só inveja.
http://www.brasilescola.com/gramatica/polissemia.
htm
Metonímia
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
É a substituição de um nome por outro, em virtude de
Saraiva, 2010. existir entre eles algum relacionamento. Tal substituição
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- pode acontecer dos seguintes modos:
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
1 - Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (=
Figura de Linguagem, Pensamento e Construção Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis).
2 - Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (=
Figura de Palavra As lâmpadas iluminam o mundo).
3 - Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes
A figura de palavra consiste na substituição de uma da cruz. (= Não te afastes da religião).
palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico, 4 - Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso
seja por uma relação muito próxima (contiguidade), seja Havana. (= Fumei um saboroso charuto).
por uma associação, uma comparação, uma similaridade. 5 - Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Só-
Estes dois conceitos básicos - contiguidade e similaridade - crates tomou veneno).
permitem-nos reconhecer dois tipos de figuras de palavras: 6 - Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu
a metáfora e a metonímia. trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que pro-
duzo).
Metáfora 7 - Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (=
Bebeu todo o líquido que estava no cálice).
Consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em 8 - Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfo-
lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em vir- nes foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás
tude da circunstância de que o nosso espírito as associa dos jogadores).
e percebe entre elas certas semelhanças. É o emprego da 9 - Parte pelo todo: Várias pernas passavam apres-
palavra fora de seu sentido normal. sadamente. (= Várias pessoas passavam apressadamente).
Observação: toda metáfora é uma espécie de compa- 10 - Gênero pela espécie: Os mortais pensam e so-
ração implícita, em que o elemento comparativo não apa- frem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse
rece. mundo).

74
LÍNGUA PORTUGUESA

11 - Singular pelo plural: A mulher foi chamada para ir Antítese


às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram chama-
das, não apenas uma mulher). Consiste no emprego de palavras que se opõem quanto
12 - Marca pelo produto: Minha filha adora danone. (= ao sentido. O contraste que se estabelece serve, essencial-
Minha filha adora o iogurte que é da marca Danone). mente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que
13 - Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (= Al- não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos.
guns astronautas foram à Lua). Observe os exemplos:
14 - Símbolo pela coisa simbolizada: A balança penderá “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado). O corpo é grande e a alma é pequena.
“Quando um muro separa, uma ponte une.”
Saiba que: Sinédoque se relaciona com o conceito de extensão Não há gosto sem desgosto.
(como nos exemplos 9, 10 e 11, acima), enquanto que a metonímia
abrange apenas os casos de analogia ou de relação. Não há ne- Paradoxo ou oximoro
cessidade, atualmente, de se fazer distinção entre ambas as figuras.
É a associação de ideias, além de contrastantes, contra-
Catacrese ditórias. Seria a antítese ao extremo.
Era dor, sim, mas uma dor deliciosa.
Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, Ouvimos as vozes do silêncio.
cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por falta
de um termo específico para designar um conceito, toma-se Eufemismo
outro “emprestado”. Assim, passamos a empregar algumas
palavras fora de seu sentido original. Exemplos: “asa da xíca- É o emprego de uma expressão mais suave, mais nobre
ra”, “batata da perna”, “maçã do rosto”, “pé da mesa”, “braço da ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera,
cadeira”, “coroa do abacaxi”. desagradável ou chocante.
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor.
Perífrase ou Antonomásia (= morreu)
O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
Trata-se de uma expressão que designa um ser através Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato Faltar à verdade. (= mentir)
que o celebrizou. É a substituição de um nome por outro ou
por uma expressão que facilmente o identifique: Ironia
A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua atraindo
visitantes do mundo todo. É sugerir, pela entoação e contexto, o contrário do que
A Cidade-Luz (=Paris) as palavras ou frases expressam, geralmente apresentando
O rei das selvas (=o leão) intenção sarcástica. A ironia deve ser muito bem construída
para que cumpra a sua finalidade; mal construída, pode pas-
Observação: quando a perífrase indica uma pessoa, sar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emissor.
recebe o nome de antonomásia. Exemplos: Como você foi bem na prova! Não tirou nem a nota mínima.
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida praticando o bem. Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jovem. estão por perto.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções. O governador foi sutil como um elefante.

Sinestesia Hipérbole

Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sensa- É a expressão intencionalmente exagerada com o intui-
ções percebidas por diferentes órgãos do sentido. É o cruza- to de realçar uma ideia.
mento de sensações distintas. Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = audi- “Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac)
tivo; áspero = tátil) O concurseiro quase morre de tanto estudar!
No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os aconteci-
mentos. (silêncio = auditivo; escuro = visual) Prosopopeia ou Personificação
Tosse gorda. (sensação auditiva X sensação tátil)
É a atribuição de ações ou qualidades de seres anima-
Fontes de pesquisa: dos a seres inanimados, ou características humanas a seres
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil2.php não humanos. Observe os exemplos:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- As pedras andam vagarosamente.
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- cego que guia.
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: A floresta gesticulava nervosamente diante da serra.
Saraiva, 2010. Chora, violão.

75
LÍNGUA PORTUGUESA

Apóstrofe Zeugma

Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coisa Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita
personificada, de acordo com o objetivo do discurso, que a omissão de um termo já mencionado anteriormente.
pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de
chamamento do receptor da mensagem, seja ele imaginá- português)
rio ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só mo-
pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade dernos. (só havia móveis)
a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidên- Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de)
cia com tal invocação. Realiza-se por meio do vocativo.
Exemplos: Silepse
Moça, que fazes aí parada?
“Pai Nosso, que estais no céu” A silepse é a concordância que se faz com o termo que
Deus, ó Deus! Onde estás? não está expresso no texto, mas, sim, subentendido. É uma
concordância anormal, psicológica, porque se faz com um
Gradação termo oculto, facilmente identificado. Há três tipos de si-
lepse: de gênero, número e pessoa.
Apresentação de ideias por meio de palavras, sinôni-
Silepse de Gênero - Os gêneros são masculino e femi-
mas ou não, em ordem ascendente (clímax) ou descen- nino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordância se
dente (anticlímax). Observe este exemplo: faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos:
Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana
com seus olhos claros e brincalhões... 1) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor
intenso.
O objetivo do narrador é mostrar a expressividade dos Neste caso, o adjetivo bonita não está concordando
olhos de Joana. Para chegar a este detalhe, ele se refere com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence
ao céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e seus ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a
olhos. Nota-se que o pensamento foi expresso em ordem cidade de Porto Velho).
decrescente de intensidade. Outros exemplos:
“Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu 2) Vossa Excelência está preocupado.
amor”. (Olavo Bilac) O adjetivo preocupado concorda com o sexo da pes-
“O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, co- soa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa
lheu-se.” (Padre Antônio Vieira) Excelência.

Fontes de pesquisa: Silepse de Número - Os números são singular e plural.


A silepse de número ocorre quando o verbo da oração não
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil5.
concorda gramaticalmente com o sujeito da oração, mas
php
com a ideia que nele está contida. Exemplos:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. de Salvador.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010. Note que nos exemplos acima, os verbos andaram e
gritavam não concordam gramaticalmente com os sujei-
As figuras de construção (ou sintática, de sintaxe) tos das orações (que se encontram no singular, procissão
ocorrem quando desejamos atribuir maior expressividade e povo, respectivamente), mas com a ideia que neles está
ao significado. Assim, a lógica da frase é substituída pela contida. Procissão e povo dão a ideia de muita gente, por
maior expressividade que se dá ao sentido. isso que os verbos estão no plural.

Elipse Silepse de Pessoa - Três são as pessoas gramaticais:


eu, tu e ele (as três pessoas do singular); nós, vós, eles (as
Consiste na omissão de um ou mais termos numa três do plural). A silepse de pessoa ocorre quando há um
oração e que podem ser facilmente identificados, tanto desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não con-
por elementos gramaticais presentes na própria oração, corda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que
quanto pelo contexto. está inscrita no sujeito. Exemplos:
O que não compreendo é como os brasileiros persista-
A catedral da Sé. (a igreja catedral)
mos em aceitar essa situação.
Domingo irei ao estádio. (no domingo eu irei ao es-
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
tádio)
“Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins
públicos.” (Machado de Assis)

76
LÍNGUA PORTUGUESA

Observe que os verbos persistamos, temos e somos não posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar de-
concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasilei- terminado elemento textual. Os termos anafóricos podem
ros, agricultores e cariocas, que estão na terceira pessoa), muitas vezes ser substituídos por pronomes.
mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, Encontrei um amigo ontem. Ele me disse que te conhe-
os agricultores e os cariocas). cia.
“Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo aca-
Polissíndeto / Assíndeto ba.” (Padre Vieira)

Para estudarmos as duas figuras de construção é ne- Anacoluto


cessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre
período composto. No período composto por coordena- Consiste na mudança da construção sintática no meio
ção, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A da frase, ficando alguns termos desligados do resto do pe-
oração coordenada ligada por uma conjunção (conectivo) ríodo. É a quebra da estrutura normal da frase para a intro-
é sindética; a oração que não apresenta conectivo é assin- dução de uma palavra ou expressão sem nenhuma ligação
dética. Recordado esse conceito, podemos definir as duas sintática com as demais.
figuras de construção: Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.
Morrer, todo haveremos de morrer.
1) Polissíndeto - É uma figura caracterizada pela repe- Aquele garoto, você não disse que ele chegaria logo?
tição enfática dos conectivos. Observe o exemplo: O meni-
no resmunga, e chora, e grita, e ninguém faz nada. A expressão “esses alunos da escola”, por exemplo,
deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma
2) Assíndeto - É uma figura caracterizada pela ausên- interrupção da frase e esta expressão fica à parte, não exer-
cia, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando cendo nenhuma função sintática. O anacoluto também é
no uso de orações coordenadas assindéticas. Exemplos: chamado de “frase quebrada”, pois corresponde a uma in-
Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família. terrupção na sequência lógica do pensamento.
“Vim, vi, venci.” (Júlio César)
Observação: o anacoluto deve ser usado com finalida-
Pleonasmo de expressiva em casos muito especiais. Em geral, evite-o.

Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as Hipérbato / Inversão


mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é real-
çar a ideia, torná-la mais expressiva. É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da
O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo. ordem direta dos termos da oração, fazendo com que o
sujeito venha depois do predicado:
Nesta oração, os termos “o problema da violência” e Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O amor
“lo” exercem a mesma função sintática: objeto direto. As- venceu ao ódio)
sim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o pro- Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria:
nome “lo” classificado como objeto direto pleonástico. Ou- Eu cuido dos meus problemas)
tro exemplo:
Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas. * Observação da Zê!
Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto O nosso Hino Nacional é um exemplo de hipérbato, já
que, na ordem direta, teríamos:
“As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado re-
Neste caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o tumbante de um povo heroico”.
pronome “lhes” exerce a função de objeto indireto pleo-
nástico. Figuras de Som

Observação: o pleonasmo só tem razão de ser quan- Aliteração - Consiste na repetição de consoantes
do confere mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito
pleonasmo vicioso: sonoro significativo.
Vi aquela cena com meus próprios olhos. Três pratos de trigo para três tigres tristes.
Vamos subir para cima. Vozes veladas, veludosas vozes... (Cruz e Sousa)
Ele desceu pra baixo. Quem com ferro fere com ferro será ferido.

Anáfora Assonância - Consiste na repetição ordenada de sons


vocálicos idênticos:
É a repetição de uma ou mais palavras no início de vá- “Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrá-
rias frases, criando, assim, um efeito de reforço e de coe- tico do litoral.”
rência. Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é

77
LÍNGUA PORTUGUESA

Onomatopéia - Ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade:


Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil8.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.

Questões

1-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM BIBLIOTECO-
NOMIA – FGV/2014 - adaptada) Ao dizer que os shoppings são “cidades”, o autor do texto faz uso de um tipo de linguagem
figurada denominada
(A) metonímia.
(B) eufemismo.
(C) hipérbole.
(D) metáfora.
(E) catacrese.

1-) A metáfora consiste em retirar uma palavra de seu contexto convencional (denotativo) e transportá-la para um novo
campo de significação (conotativa), por meio de uma comparação implícita, de uma similaridade existente entre as duas.
(Fonte:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/metafora-figura-de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm)
RESPOSTA: “D”.

2-) (PREFEITURA DE ARCOVERDE/PE - ADMINISTRADOR DE RECURSOS HUMANOS – CONPASS/2014) Identifique a


figura de linguagem presente na tira seguinte:

A) metonímia
B) prosopopeia
C) hipérbole
D) eufemismo
E) onomatopeia

2-) “Eufemismo = é o emprego de uma expressão mais suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar alguma
coisa áspera, desagradável ou chocante”. No caso da tirinha, é utilizada a expressão “deram suas vidas por nós” no lugar de
“que morreram por nós”.
RESPOSTA: “D”.

3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/UFAL/2014)


Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto.
O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, horário
do dia em que o calor é mais intenso, a temperatura do asfalto, medida com um termômetro de contato, chegou a 65ºC.
Para fritar um ovo, seria preciso que o local alcançasse aproximadamente 90ºC.
Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso em: 22 jan. 2014.

78
LÍNGUA PORTUGUESA

O texto cita que o dito popular “está tão quente que b) No caso de nomes próprios geográficos, substitui-se
dá para fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso resulte na expressão
linguagem. O autor do texto refere-se a qual figura de lin- “voltar da”, há a confirmação da crase.
guagem? Faremos uma visita à Bahia.
A) Eufemismo. Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada)
B) Hipérbole.
C) Paradoxo. Não me esqueço da viagem a Roma.
D) Metonímia. Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos jamais
E) Hipérbato. vividos.

3-) A expressão é um exagero! Ela serve apenas para Atenção: Nas situações em que o nome geográfico se
representar o calor excessivo que está fazendo. A figura apresentar modificado por um adjunto adnominal, a crase está
que é utilizada “mil vezes” (!) para atingir tal objetivo é a confirmada.
hipérbole. Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas praias.
RESPOSTA: “B”.
** Dica: Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou A
volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a Campinas. = Volto
de Campinas. (crase pra quê?)
1.15 CRASE; Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!)
ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especificado,
ocorrerá crase. Veja:
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo que,
A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE”
idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a” com Irei à Salvador de Jorge Amado.
o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos pro-
* A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s),
nomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo e com
aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo regen-
o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as quais).
te exigir complemento regido da preposição “a”.
Casos estes em que tal fusão encontra-se demarcada pelo
Entregamos a encomenda àquela menina.
acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo, à qual, às
(preposição + pronome demonstrativo)
quais.
O uso do acento indicativo de crase está condicionado
Iremos àquela reunião.
aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal e no- (preposição + pronome demonstrativo)
minal, mais precisamente ao termo regente e termo regido.
Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome - que exige Sua história é semelhante às que eu ouvia quando criança.
complemento regido pela preposição “a”, e o termo regido (àquelas que eu ouvia quando criança)
é aquele que completa o sentido do termo regente, admi- (preposição + pronome demonstrativo)
tindo a anteposição do artigo a(s). * A letra “a” que acompanha locuções femininas (adver-
Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela con- biais, prepositivas e conjuntivas) recebe o acento grave:
tratada recentemente. - locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às pressas,
Após a junção da preposição com o artigo (destacados à vontade...
entre parênteses), temos: - locuções prepositivas: à frente, à espera de, à procura de...
Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contratada - locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que.
recentemente.
* Cuidado: quando as expressões acima não exercerem a
O verbo referir, de acordo com sua transitividade, clas- função de locuções não ocorrerá crase. Repare:
sifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos referi- Eu adoro a noite!
mos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposição a + o Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer obje-
artigo feminino (à) e com o artigo feminino a + o pronome to direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não preposição.
demonstrativo aquela (àquela).
Casos passíveis de nota:
Observação importante: Alguns recursos servem de
ajuda para que possamos confirmar a ocorrência ou não da *a crase é facultativa diante de nomes próprios femininos:
crase. Eis alguns: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
a) Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a crase *também é facultativa diante de pronomes possessivos
está confirmada. femininos: O diretor fez referência a (à) sua empresa.
Os dados foram solicitados à diretora.
Os dados foram solicitados ao diretor. *facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja ficará
aberta até as (às) dezoito horas.

79
LÍNGUA PORTUGUESA

* Constata-se o uso da crase se as locuções preposi- - não ocorre crase antes de pronomes que requerem o
tivas à moda de, à maneira de apresentarem-se implícitas, uso do artigo.
mesmo diante de nomes masculinos: Tenho compulsão por Os livros foram entregues a mim.
comprar sapatos à Luis XV. (à moda de Luís XV) Dei a ela a merecida recompensa.

* Não se efetiva o uso da crase diante da locução ad- Observação: Pelo fato de os pronomes de tratamento
verbial “a distância”: Na praia de Copacabana, observamos relativos à senhora, senhorita e madame admitirem artigo,
a queima de fogos a distância. o uso da crase está confirmado no “a” que os antecede, no
caso de o termo regente exigir a preposição.
Entretanto, se o termo vier determinado, teremos uma Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia.
locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedestre foi
arremessado à distância de cem metros. *não ocorre crase antes de nome feminino utilizado em
sentido genérico ou indeterminado:
- De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade -, Estamos sujeitos a críticas.
faz-se necessário o emprego da crase. Refiro-me a conversas paralelas.
Ensino à distância.
Ensino a distância. Fontes de pesquisa:
http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-crase-.
* Em locuções adverbiais formadas por palavras repeti- html
das, não há ocorrência da crase. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Ela ficou frente a frente com o agressor. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Eu o seguirei passo a passo. Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Casos em que não se admite o emprego da crase: Saraiva, 2010.

* Antes de vocábulos masculinos. Questões


As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
Esta caneta pertence a Pedro. 1-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA-
FE/2014) Assinale a alternativa que preenche corretamente
* Antes de verbos no infinitivo. as lacunas da frase a seguir.
Ele estava a cantar. Quando________ três meses disse-me que iria _________
Começou a chover. Grécia para visitar ___ sua tia, vi-me na obrigação de ajudá-
-la _______ resgatar as milhas _________ quais tinha direito.
* Antes de numeral. A-) a - há - à - à - às
O número de aprovados chegou a cem. B-) há - à - a - a – às
Faremos uma visita a dez países. C-) há - a - há - à - as
D-) a - à - a - à - às
Observação: E-) a - a - à - há – as
- Nos casos em que o numeral indicar horas – funcio-
nando como uma locução adverbial feminina – ocorrerá 1-) Quando HÁ (sentido de tempo) três meses disse-
crase: Os passageiros partirão às dezenove horas. -me que iria À (“vou a, volto da, crase há!”) Grécia para
visitar A (artigo) sua tia, vi-me na obrigação de ajudá-la A
- Diante de numerais ordinais femininos a crase está (ajudar “ela” a fazer algo) resgatar as milhas ÀS quais tinha
confirmada, visto que estes não podem ser empregados direito (tinha direito a quê? às milhas – regência nominal).
sem o artigo: As saudações foram direcionadas à primeira Teremos: há, à, a, a, às.
aluna da classe. RESPOSTA: “B”.

- Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quando essa não 2-) (EMPLASA/SP – ANALISTA JURÍDICO – DIREITO –
se apresentar determinada: Chegamos todos exaustos a casa. VUNESP/2014)
Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto ad- A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de tra-
nominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos exaus- balho para proceder _____ medidas necessárias _____ exu-
tos à casa de Marcela. mação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart,
sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exumação de
- não há crase antes da palavra “terra”, quando essa Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presidente morreu
indicar chão firme: Quando os navegantes regressaram a de causas naturais, ou seja, devido ____ uma parada cardía-
terra, já era noite. ca – que tem sido a versão considerada oficial até hoje –, ou
Contudo, se o termo estiver precedido por um deter- se sua morte se deve ______ envenenamento.
minante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase. (http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,-
Paulo viajou rumo à sua terra natal. governo-cria-grupo-exumar--restos-mortais-de- jan-
O astronauta voltou à Terra. go,1094178,0.htm 07. 11.2013. Adaptado)

80
LÍNGUA PORTUGUESA

Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, as la-


cunas da frase devem ser completadas, correta e respecti- 1.17 VÍCIOS DE LINGUAGEM;
vamente, por
(A) a ... à ... a ... a
(B) as ... à ... a ... à Todo desvio das normas gramaticais provoca um vício de
(C) às ... a ... à ... a linguagem. São incorreções e defeitos no uso da língua falada
(D) à ... à ... à ... a ou escrita. Origina-se do descaso ou do despreparo linguístico
(E) a ... a ... a ... à de quem se expressa. Os principais vícios de linguagem são:

2-) A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de Barbarismo: todo desvio na grafia, na flexão ou na
trabalho para proceder a medidas (palavra no plural, ge- pronúncia de uma palavra constitui um barbarismo. Existem
neralizando) necessárias à (regência nominal pede prepo- quatro tipos:
sição) exumação dos restos mortais do ex-presidente João - Cacoepia: é a má pronúncia de uma palavra. Ex.: com-
Goulart, sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exu- pania (em vez de companhia), gor (em vez de gol), cadalço
mação de Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presi- (em vez de cadarço);
dente morreu de causas naturais, ou seja, devido a uma - Silabada: é a troca de acentuação prosódica de uma
(artigo indefinido) parada cardíaca – que tem sido a versão palavra. Ex.: récorde (em vez de recorde), rúbrica (em vez de
considerada oficial até hoje –, ou se sua morte se deve a rubrica), íbero (em vez de ibero);
(regência verbal) envenenamento. A / à / a / a - Cacografia: é a má grafia ou má flexão de uma pala-
RESPOSTA: “A”. vra. Ex.: maizena (em vez de maisena), cidadões (em vez de
cidadãos), interviu (em vez de interveio);
3-) (SABESP/SP – ADVOGADO – FCC/2014) - Deslize: é o mau emprego de uma palavra. Ex.: mala
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores fizeram leviana (por mala leve), peixe com espinho (por peixe com
uma escavação arqueológica nas ruínas da antiga cidade espinha), vultuosa quantia (por vultosa quantia).
de Tikal, na Guatemala.
O a empregado na frase acima, imediatamente depois Comete Barbarismo ainda quem abusa do emprego
de chegar, deverá receber o sinal indicativo de crase caso o de palavras estrangeiras, grafando-as como na língua de
segmento grifado seja substituído por: origem. Por princípio, todo estrangeirismo que não possuir
equivalente adequado em nossa língua deve ser aportu-
(A) Uma tal ilação.
guesado. Portanto, convém grafar: abajur, boate, garagem,
(B) Afirmações como essa.
coquetel, checape, píteça, xampu, xortes, e não abat-jour,
(C) Comprovação dessa assertiva.
boite, garage, cocktail, check-up, pizza, shampoo, shorts.
(D) Emitir uma opinião desse tipo.
Tão usadas entre nós são algumas grafias estrangeiras,
(E) Semelhante resultado.
que a estranheza por algumas formas aportuguesadas se
afigura muito natural. Incluem-se ainda como barbarismo
3-)
todas as formas de estrangeirismo, isto é, uso de palavras
(A) Uma tal ilação – chegar a uma (não há acento grave ou expressões de outras línguas:
antes de artigo) - Galicismo (do francês): Mise-en-scène em vez de en-
(B) Afirmações como essa – chegar a afirmações (antes cenação, Parti pris em vez de opinião preconcebida.
de palavra no plural e o “a” no singular) - Anglicismo (do inglês): Weekend em vez de fim de
(C) Comprovação dessa assertiva – chegar à compro- semana.
vação
(D) Emitir uma opinião desse tipo – chegar a emitir Solecismo: Todo desvio sintático provoca um solecis-
(verbo no infinitivo) mo. Existem três tipos:
(E) Semelhante resultado – chegar a semelhante (pala- - de concordância. Ex.: houveram eleições (por houve
vra masculina) eleições), o pessoal chegaram (por o pessoal chegou);
RESPOSTA: “C”. - de regência. Ex.: assisti esse filme (por assisti a esse
filme), ter ódio de alguém (por ter ódio a alguém), não lhe
conheço (por não o conheço);
- de colocação. Ex.: darei-lhe um abraço (por dar-lhe-ei
1.16 ANÁLISE MORFOSSINTÁTICA; um abraço), tenho queixado-me bastante (por tenho me
queixado bastante).

Cacófato: Todo som obsceno resultante da união de


“Caro Candidato, o tópico acima foi abordado sílabas de palavras diferentes provoca um cacófato. Ex.: pre-
na íntegra em: 1.7 Classes de palavras: substantivo, ciso ir-me já, vaca gaúcha, etc.
adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, O cacófato só existe quando a união das sílabas expri-
preposição e conjunção e interjeição, emprego e me obscenidade. Portanto, ela tinha, boca dela, alma minha
sentido que imprimem às relações que estabelecem; 1.8 e outras uniões semelhantes não constituem cacófatos,
Emprego de tempos e modos verbais;” mas simples cacofonias, de menor importância.

81
LÍNGUA PORTUGUESA

Ambiguidade ou Anfibologia: todo duplo sentido, EXERCÍCIOS


causado pela má construção da frase, é uma ambiguidade.
Ex.: Beatriz comeu um doce e sua irmã também. (por: Bea- 01-
triz comeu um doce, e sua irmã também); Mataram o porco I - Meu pai era homem de imaginação; escapou à ta-
do meu tio. (por: Mataram o porco que era de meu tio). noaria nas asas de um calembour. Era um bom caráter, meu
pai, varão digno e leal como poucos.
Redundância: Toda repetição de uma ideia mediante II - Ela tinha agora a beleza da velhice, um ar austero e
palavras ou expressões diferentes provoca uma redundân- maternal; estava menos magra do que quando a vi, na vez
cia ou pleonasmo vicioso. Ex.: subir lá em cima, descer lá passada, numa festa de São João, na Tijuca.
embaixo, entrar pra dentro, sair pra fora, novidade inédita, III - Creio que prefere mais a anedota do que a refle-
hemorragia de sangue, pomar de frutas, hepatite do fíga- xão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que
do, demente mental, e tantas outras expressões presentes faz muito bem.
diariamente no linguajar. Os textos apresentam, respectivamente:
a) cacófato, eco e pleonasmo.
Arcaísmo: Consiste no emprego de palavras ou ex- b) solecismo, cacófato e hiato.
pressões antigas que já caíram de uso. Exemplo: asinha em c) obscuridade, eco e barbarismo.
vez de depressa, antanho em vez de no passado. d) galicismo, cacófato e solecismo.

Neologismo: Emprego de palavras novas que, apesar 02- “O vereador cumprimentou o deputado em seu ga-
de formadas de acordo com o sistema da língua, ainda não binete”. A frase apresenta:
foram incorporadas pelo idioma. Exemplo: As mensagens a) eco.
telecomunicadas foram vistas por poucas pessoas. b) barbarismo.
Eco: Ocorre quando há palavras na frase com termi- c) cacofonia
nações iguais ou semelhantes, provocando dissonância. d) ambiguidade.
Exemplo: A divulgação da promoção não causou comoção 03- Dentre as frases a seguir, a única que não contém
na população. solecismo é:
a) Concluído os relatórios, enviaram o material ao Di-
Hiato: Ocorre quando há uma sequência de vogais, retor.
provocando dissonância. Exemplo: Eu a amo; Ou eu ou a b) Os adevogados desta empresa ganharam todas as
outra ganhará  o concurso. causas.
c) A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro está situada
Colisão: Ocorre quando há repetição de consoantes à Rua Afonso Cavalcanti.
iguais ou semelhantes, provocando dissonância. Exemplo: d) Dado os resultados da última pesquisa, o grupo está
Sua saia sujou. confiante.

04- Nas frases seguintes ocorrem barbarismos. Rees-


creva-as corretamente:
a) Os trabalhadores apenas reinvindicavam o que que-
riam.
b) De domingo, a gente costuma comer macarronada
na casa da avó.
c) Se você ver minha namorada, avise-me, por favor.
d) Esse ginasta soviético bateu o record mundial.
e) - Atenção! Vamos assistir ao show desses acrobatas
geniais - dizia o locutor.
f) A secretária avisava-nos insistentemente: - Não se
esqueçam de colocar a sua rúbrica em cada página do con-
trato.
g) Concerta-se automóvel.
h) Prestei exame vestibular para a Faculdade Íbero-A-
mericana.
i) Uma paralização pode trazer prejuízos incalculáveis.

82
LÍNGUA PORTUGUESA

05- Identifique o tipo de solecismo e corrija-o de acordo RESPOSTAS


com a norma culta:
a) Foi aceito vários aspectos da Constituição que bene- (1.D)
ficiam o povo.
b) Eis o novo regimento escolar. Todos devem obede- (2.D - gabinete do vereador ou do deputado?)
cê-Io.
c) Haviam pessoas e mais pessoas no comício. (3.B - em adevogados, há um barbarismo)
d) Vá na secretaria e pegue sua caderneta.
e) Este é o imóvel que todos sonham. (4.
f) Me diga uma coisa: você vai ou não me fazer este favor? a) (reivindicavam)
g) Este é o prefeito que todos precisam. b) (Aos domingos)
h) Nada resta-me a não ser esse desabafo. c) (Vir)
i) ... as pessoas têm de estar mais alertas para não serem d) (Recorde)
surpreendidas. e) (Espetáculo)
f) (Rubrica)
06- Identifique, dentre os vícios de linguagem citados, g) (conserta)
aqueles que ocorrem nas frases abaixo: h) (Ibero)
a) cacófato i) (Paralisação)
b) eco
c) arcaísmo (5.
d) hiato a) (Solecismo de concordância: “Foram aceitos...”)
e) colisão b) (Solecismo de regência: “...obedecer-lhe.”)
f) pleonasmo c) (Solecismo de concordância: “Havia...”)
d) (Solecismo de regência: “Vá à secretaria...”)
1. Os regulamentos, acabo de redigi-Ios. e) (Solecismo de regência: “... com que todos sonham”)
2. Eu a ouvia extasiado. f) (Solecismo de colocação: “Diga-me...”)
3. Esse texto tem de passar do plano ideal para o real. g) (Solecismo de regência: “,.. de que todos precisam.”)
4. - Não suba em cima do armário - gritava a mãe do h) (Solecismo de colocação: “Nada me resta...”)
moleque. i) (Solecismo de concordância nominal: “...estar mais aler-
5. Já que não posso amá-Ia, já nela não penso mais. ta...”)
6. Este reclame mostra um homem usando galocha.
7. Querida, quero que você me queira bem. (6. 1) f 2) d 3) b 4) f 5) a 6) c 7) e

07- Determine por que ocorre ambiguidade de sentido (7. a) Assustado pode referir-se ao sujeito - eu - ou ao
nas frases seguintes: objeto.
a) Encontrei-o assustado. b) A expressão “do prédio” pode referir-se ao local onde
b) O menino viu o incêndio do prédio. se encontrava o menino ou referir-se ao local do incêndio.
c) Vi uma foto sua no metrô. c) U pronome sua pode referir-se a uma foto em que o
d) Os eleitores revoltam-se contra os deputados por cau- indivíduo aparece ou a uma foto de autoria do indivíduo.
sa dos seus salários. d) Seus pode referir-se tanto a eleitores quanto a depu-
tados.
08- Reescreva as frases abaixo retirando os termos re-
dundantes ou supérfluos: (8. a) Aquela herança deve ser dividida igualmente entre
a) Segundo minha opinião, penso que aquela herança os herdeiros.
deve ser dividida igualmente em duas metades entre os dois b) É melhor começar o trabalho agora do que adiá-lo.
filhos herdeiros. c) Prefiro mais chocolate do que morango.
b) Sinceramente, para ser franco, é melhor começar o d) Eu gostei tanto daquele prato de peixe que o repeti.
trabalho agora do que adiar para depois. e) Este mês ganhei um brinde pela assinatura de uma
c) Prefiro muito mais chocolate do que morango. revista.
d) Eu gostei tanto daquele prato de peixe que eu repeti f) Na volta das férias, tivemos uma surpresa: o caso das
duas vezes. provas desaparecidas chegara a seu final.
e) Este mês ganhei um brinde grátis pela assinatura de g) Anteriormente, estas evidências seriam aceitas como
uma revista. provas do atentado.
f) Na volta das férias, tivemos uma surpresa inesperada: o h) É preciso coragem para encarar as dificuldades.
caso das provas desaparecidas chegara a seu desenlace final.
g) Há poucos dias atrás seriam aceitas estas evidências
tão claras como provas do atentado.
h) É preciso coragem para encarar as dificuldades de
frente.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Exercícios Complementares A. portava-se com muita afabilidade.


B. incutia medo a seus funcionários.
PC-SP - Escrivão de Polícia - 2014 - Questão 01. Para C. era notável por sua humildade.
permanecer na memória, na opinião do autor, o chefe D. expressava-se com cortesia e serenidade.
deve E. ficava encabulado diante dos funcionários.
A. esquivar-se de dar ordens aos funcionários. Pelas palavras (estremecíamos / suando frio), nota-se
B. saber ignorar as reclamações de seus subalternos. que o chefe causava medo aos funcionários.
C. ser amável e permissivo com seus colaboradores. GABARITO OFICIAL: B
D. desconsiderar a hierarquia e tratar a todos como
iguais. PC-SP - Escrivão de Polícia - 2014 - Questão 05. De
E. ter qualidades singulares, que fogem ao usual. acordo com o autor, as atitudes do segundo chefe eram
A. apáticas.
Texto: (...) Mas há outros cujas marcas acabam ficando B. inesperadas.
bem nítidas na memória: são aqueles donos de qualidades C. previsíveis.
incomuns. D. regradas.
GABARITO OFICIAL: E E. vagarosas.

PC-SP - Escrivão de Polícia - 2014 - Questão 02. No Texto (sempre!): (...) Suas atitudes? Dinâmicas, surpreen-
texto, o autor faz referência a três chefes que teve e, ao dentes = se surpreendiam, então eram inesperadas.
apresentá-los, GABARITO OFICIAL: B
A. sugere que os três eram idênticos no modo de agir
e na maneira de se relacionarem com seus funcionários. PC-SP - Escrivão de Polícia - 2014 - Questão 06. No
B. restringe-se à descrição de traços psicológicos, pois contexto do penúltimo parágrafo, ao afirmar que o terceiro
foi o caráter, e não a aparência, daqueles homens que ficou chefe “não era somente um chefe, era um líder”, o autor
gravado em sua memória. chama a atenção para o fato de que esse chefe despertava,
C. recorre a sua própria memória, evocando eventos naqueles com quem trabalhava,
do passado para ilustrar o comportamento desses chefes. A. respeito e consideração.
D. fornece informações sobre seu próprio percurso B. indisciplina e rebeldia.
profissional, mostrando que, embora tivesse trocado de C. ansiedade e aflição.
chefe, nunca trocou de emprego. D. obediência e inveja.
E. estabelece uma escala decrescente de importância, E. submissão e temor.
em que os chefes são mencionados conforme a posição A frase do texto resume bem: Todos sentíamos prazer
que ocupavam na hierarquia da empresa. em trabalhar com ele, e para ele = respeito e admiração.
GABARITO OFICIAL: A
O autor apresenta seus ex-chefes recorrendo as suas
memórias, descrevendo o comportamento de cada um de- PC-SP - Escrivão de Polícia - 2014 - Questão 07. As
les. formas verbais conjugadas no modo imperativo, expres-
GABARITO OFICIAL: C sando ordem, instrução ou comando, estão destacadas em
A. Mas há outros cujas marcas acabam ficando bem
PC-SP - Escrivão de Polícia - 2014 - Questão 03. Se- nítidas na memória: são aqueles donos de qualidades in-
gundo o autor, o primeiro chefe era um homem que comuns. (primeiro parágrafo)
A. era comedido para falar. B. Voltei uns cinquenta minutos depois, cauteloso, e
B. era circunspecto e cauteloso. quase não acreditei no que ouvi... (nono parágrafo)
C. não gostava de correr riscos. C. – Ei rapaz, deixe ligado o microfone, largue isso aí,
D. parecia sempre melancólico. vá pro estúdio e ponha a rádio no ar. (segundo parágrafo)
E. tinha muitos projetos. D. Bem, o fato é que eu era o técnico de som do horá-
rio, precisava “passar” a transmissão lá para a câmara, e o
Texto: (...) o meu primeiro chefe / simpático e sorriden- locutor não chegava para os textos de abertura, publicida-
te como sempre / reencontrei-o num lançamento de livro: de, chamadas. (segundo parágrafo)
era o mesmo / sempre cheio de planos para o futuro. E. ... estremecíamos quando ele nos chamava para
GABARITO OFICIAL: E qualquer coisa, fazendo-nos entrar na sua sala imensa, já
suando frio e atentos às suas finas e cortantes pala-
PC-SP - Escrivão de Polícia - 2014 - Questão 04. A vras. (sexto parágrafo)
respeito do segundo chefe, o autor conta: “... estremecía-
mos quando ele nos chamava para qualquer coisa, fazendo- Aos itens:
-nos entrar na sua sala imensa, já suando frio e atentos às A. há = presente / acabam = presente / são = presente
suas finas e cortantes palavras”. Com isso, percebe-se que B. Voltei = pretérito perfeito / acreditei = pretérito per-
esse chefe feito

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LÍNGUA PORTUGUESA

C. deixe / largue / vá / ponha = verbos no modo impe- Agora, passa a ser crime “conduzir veículo automotor
rativo afirmativo (ordens) com capacidade psicomotora alterada em razão da influên-
D. era = pretérito imperfeito / precisava = pretérito im- cia de álcool ou de outra substância psicoativa que deter-
perfeito / chegava = pretérito imperfeito mine dependência”. Com isso, o limite de álcool passou a
E. fazendo-nos = gerúndio / suando = gerúndio ser uma das formas de se comprovar a embriaguez, e não
GABARITO OFICIAL: C mais um requisito de punição.
O advogado constitucionalista Pedro Serrano avalia
PC-SP - Escrivão de Polícia - 2014 - Questão 08. A que as novas regras possuem conceitos subjetivos que po-
passagem que permanece correta após o acréscimo do
dem abrir espaço para contestações no Supremo Tribunal
acento indicativo de crase, por seu uso ser facultativo no
Federal (STF). “No direito penal, o crime tem que ser previs-
contexto, é:
A. ... o chefe está viajando para à Alemanha. to usando palavras precisas, e não palavras abertas. É muito
B. ... se tinha algo à tratar... vago falar em ‘afetar a capacidade psicomotora’. Isso acaba
C. ... perguntei à sua secretária... jogando na autoridade policial o poder de definir, e não na
D. ... ponha à rádio no ar. lei. Cabe à lei definir qual é
E. Não chamava ninguém do seu pessoal à toda hora... a conduta proibida, e não à autoridade policial”, afirma.
Já para o juiz criminal de São Paulo, Fábio Munhoz Soa-
Uso facultativo: res, um dos que devem julgar casos envolvendo pessoas
A. ... o chefe está viajando para à Alemanha. = sem embriagadas ao volante, a mudança “é um avanço”. “Agora
acento grave ( já há a presença da preposição “para”) basta qualquer tipo de prova que demonstre que você está
B. ... se tinha algo à tratar = proibido (antes de verbo embriagado. Não adianta recusar o bafômetro. A lei aca-
no infinitivo) bou com aquela situação do sujeito que sai cambaleando
C. ... perguntei à sua secretária = ou a sua (pronome
e não tem como comprovar que estava bêbado. Ele é en-
possessivo)
caminhado para a delegacia para o perito fazer o exame
D. ... ponha à rádio no ar = proibido (não há crase, só
presença de artigo) clínico”, diz.
E. Não chamava ninguém do seu pessoal à toda hora (http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/12/nova-
= proibido -lei-seca-poe-fim-brechado-bafometro-mas-depende-de-
GABARITO OFICIAL: C -tribunais.html. 21.12.2012. Adaptado)

PC-SP - Agente de Polícia - 2013 PC-SP - Agente de Polícia – 2013 - Questão 09. De
acordo com o texto,
Nova lei seca põe fim à brecha do bafômetro, A. a Lei Seca passou a considerar que “conduzir veículo
mas depende de tribunais automotor com capacidade psicomotora alterada em
razão da influência de álcool ou de outra substância
Rosanne D’Agostino psicoativa” não é crime.
B. com a mudança no Código Brasileiro de Trânsito, ví-
As novas regras que endurecem a Lei Seca devem acabar
deos, relatos e testemunhas deixam de ser considerados
com a brecha usada por muitos motoristas para fugir de punição.
válidos como prova contra os motoristas que estiverem
Segundo especialistas, recusar o bafômetro não vai mais impedir
o processo criminal, mas há críticas à “subjetividade” do texto. embriagados.
Para advogados, a lei aumenta o poder da autoridade C. para advogados, as novas normas diminuem o poder
policial de dizer quem está embriagado, e, para defensores e a responsabilidade da autoridade policial, o que acabará
da tolerância zero ao volante, a norma transfere aos tribu- dando margem para que motoristas alcoolizados escapem
nais a tarefa de interpretar cada caso, dando margem para da Justiça.
que motoristas alcoolizados escapem da Justiça. D. para escaparem de processo criminal, muitos moto-
A mudança no Código Brasileiro de Trânsito possibili- ristas recusavam-se a fazer o teste do bafômetro, valendo-
ta que vídeos, relatos, testemunhas e outras provas sejam -se do direito de não serem obrigados a produzir provas
considerados válidos contra os motoristas embriagados. contra si mesmos.
Além disso, aumenta a punição administrativa, de R$ 957,70 E. as novas regras tornam mais rigorosa a Lei Seca, em-
para R$ 1.915,40. Esse valor é dobrado caso o motorista seja bora não sejam suficientes para coibir os motoristas,
reincidente em um ano.
que poderão continuar recusando o bafômetro, o que
A lei seca havia sido esvaziada depois que o STJ (Supe-
evita a punição.
rior Tribunal de Justiça) decidiu que o bafômetro e o exa-
me de sangue eram obrigatórios para comprovar o crime.
Motoristas começaram a recusar os exames valendo-se de A única alternativa que está expressa no texto é: Mo-
um direito constitucional: ninguém é obrigado a produzir toristas começaram a recusar os exames valendo-se de um
provas contra si mesmo. O condutor era multado, perdia a direito constitucional: ninguém é obrigado a produzir provas
carteira e tinha o veículo apreendido, mas não respondia a contra si mesmo.
processo. GABARITO OFICIAL: D

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LÍNGUA PORTUGUESA

PC-SP - Agente de Polícia – 2013 - Questão 10. De A conjunção “caso” dá a ideia de condição para que se
acordo com o texto, a crítica feita por advogados com dobre o valor da multa (caso o motorista seja reincidente).
relação à subjetividade da Lei Seca se deve ao fato de Outra conjunção condicional presente nas alternativas e
que, segundo eles, as novas regras que apresenta o mesmo sentido é “se”.
A. não são claras o suficiente, de modo que recusar o GABARITO OFICIAL: B
teste do bafômetro continuará a impedir o processo crimi-
nal contra motoristas embriagados. PC-SP - Agente de Polícia – 2013 - Questão 13. As-
B. continuarão sendo ineficazes para punir aqueles ca- sinale a alternativa correta quanto à concordância verbal
sos em que o motorista, mesmo cambaleando, consegue e nominal.
escapar sem que se possa comprovar que ele estava bê- A. Muito frequente, o desrespeito às leis e o consumo
bado. de álcool antes de dirigir tem provocado cada vez mais
C. possuem conceitos muito vagos, transferindo às au- acidentes de trânsito.
toridades policiais a tarefa de interpretar cada caso, quan- B. Com a nova lei seca e o aumento da fiscalização,
do caberia à lei definir qual é a conduta proibida. espera-se que diminua os acidentes provocados por moto-
D. são muito imprecisas, o que torna a lei inadequada, ristas embriagados.
pois diminui o poder da autoridade policial e a responsabi- C. Com a nova lei seca, tem sido intensificado a apreen-
lidade em avaliar qual é a conduta proibida. são de carteiras de motorista e a condenação de conduto-
E. apesar de muito vagas, tornaram a Lei Seca dema- res embriagados que se envolvem em acidentes.
siadamente severa, o que deve contribuir para que muitos D. Insatisfeitos, alguns juristas têm reclamado do fato
motoristas sejam punidos injustamente. de, segundo eles, a nova lei possuir alguns conceitos pouco
precisos.
E. A fiscalização passa a ser considerado de fundamen-
Texto: Para advogados, a lei aumenta o poder da au-
tal importância para que a nova lei seca possa cumprir o
toridade policial de dizer quem está embriagado (...) Cabe
seu papel.
à lei definir qual é a conduta proibida, e não à autoridade
policial.
Acertos entre parênteses:
GABARITO OFICIAL: C
A. Muito frequente (frequentes), o desrespeito às leis e
o consumo de álcool antes de dirigir tem (têm) provocado
PC-SP - Agente de Polícia – 2013 - Questão 11. A
cada vez mais acidentes de trânsito.
palavra em destaque no trecho – Já para o juiz criminal
B. Com a nova lei seca e o aumento da fiscalização,
de São Paulo, Fábio Munhoz Soares, (...) a mudança “é espera-se que diminua (diminuam) os acidentes provoca-
um avanço”. – tem seu sentido contrário expresso em: dos por motoristas embriagados.
A. retrocesso. C. Com a nova lei seca, tem (têm) sido intensificado
B. devaneio. (intensificadas) a apreensão de carteiras de motorista e a
C. vantagem. condenação de condutores embriagados que se envolvem
D. esperança. em acidentes.
E. progresso. D. Insatisfeitos, alguns juristas têm reclamado do fato
de, segundo eles, a nova lei possuir alguns conceitos pouco
“Avanço” tem o sentido de “progresso”; o enunciado precisos. = correta
quer o sentido contrário: retrocesso. E. A fiscalização passa a ser considerado (considerada)
GABARITO OFICIAL: A de fundamental importância para que a nova lei seca possa
cumprir o seu papel.
PC-SP - Agente de Polícia – 2013 - Questão 12. Con- GABARITO OFICIAL: D
siderando que o termo em destaque em – Esse valor
é dobrado caso o motorista seja reincidente em um ano.
– estabelece relação de condição entre as orações, assinale
a alternativa que apresenta o trecho corretamente reescri-
to, e com seu sentido inalterado.
A. Como o motorista é reincidente em um ano, esse
valor é dobrado.
B. Se o motorista for reincidente em um ano, esse valor
é dobrado.
C. Porque o motorista é reincidente em um ano, esse
valor é dobrado.
D. À medida que o motorista é reincidente em um ano,
esse valor é dobrado.
E. Conforme o motorista for reincidente em um ano,
esse valor é dobrado.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

2.1 - Constituição Federal: artigos 1.º a 16, 37, 39, 41 e 144.................................................................................................................. 01


CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Vale destacar que a Constituição vai além da proteção


2. NOÇÕES DE DIREITO 2.1 dos direitos e estabelece garantias em prol da preservação
CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ARTIGOS 1.º A 16, destes, bem como remédios constitucionais a serem utiliza-
37, 39, 41 E 144. dos caso estes direitos e garantias não sejam preservados.
Neste sentido, dividem-se em direitos e garantias as previ-
sões do artigo 5º: os direitos são as disposições declaratórias
e as garantias são as disposições assecuratórias.
O título II da Constituição Federal é intitulado “Direitos e O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo
Garantias fundamentais”, gênero que abrange as seguintes o direito e a garantia, como no caso do artigo 5º, IX: “é li-
espécies de direitos fundamentais: direitos individuais e co- vre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e
letivos (art. 5º, CF), direitos sociais (genericamente previstos de comunicação, independentemente de censura ou licen-
no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade (artigos 12 e 13, CF) ça” – o direito é o de liberdade de expressão e a garantia
e direitos políticos (artigos 14 a 17, CF). é a vedação de censura ou exigência de licença. Em outros
Em termos comparativos à clássica divisão tridimensional casos, o legislador traz o direito num dispositivo e a garantia
dos direitos humanos, os direitos individuais (maior parte do em outro: a liberdade de locomoção, direito, é colocada no
artigo 5º, CF), os direitos da nacionalidade e os direitos políti- artigo 5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da prisão
cos se encaixam na primeira dimensão (direitos civis e políti- ilegal de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no artigo 5º,
cos); os direitos sociais se enquadram na segunda dimensão LXV1.
(direitos econômicos, sociais e culturais) e os direitos coletivos Em caso de ineficácia da garantia, implicando em viola-
na terceira dimensão. Contudo, a enumeração de direitos hu- ção de direito, cabe a utilização dos remédios constitucio-
manos na Constituição vai além dos direitos que expressa- nais.
mente constam no título II do texto constitucional. Atenção para o fato de o constituinte chamar os remé-
Os direitos fundamentais possuem as seguintes caracte- dios constitucionais de garantias, e todas as suas fórmulas
rísticas principais: de direitos e garantias propriamente ditas apenas de direi-
a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem an- tos.
tecedentes históricos relevantes e, através dos tempos, ad-
Direitos e deveres individuais e coletivos
quirem novas perspectivas. Nesta característica se enquadra
a noção de dimensões de direitos.
O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deveres
b) Universalidade: os direitos fundamentais pertencem
individuais e coletivos”. Da própria nomenclatura do capítulo
a todos, tanto que apesar da expressão restritiva do caput
já se extrai que a proteção vai além dos direitos do indivíduo
do artigo 5º aos brasileiros e estrangeiros residentes no país
e também abrange direitos da coletividade. A maior parte
tem se entendido pela extensão destes direitos, na perspec-
dos direitos enumerados no artigo 5º do texto constitucio-
tiva de prevalência dos direitos humanos. nal é de direitos individuais, mas são incluídos alguns direitos
c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não pos- coletivos e mesmo remédios constitucionais próprios para a
suem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são intransfe- tutela destes direitos coletivos (ex.: mandado de segurança
ríveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do comér- coletivo).
cio, o que evidencia uma limitação do princípio da autono- 1) Brasileiros e estrangeiros
mia privada. O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção con-
d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais não po- ferida pelo dispositivo a algumas pessoas, notadamente,
dem ser renunciados pelo seu titular devido à fundamen- “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País”. No
talidade material destes direitos para a dignidade da pessoa entanto, tal restrição é apenas aparente e tem sido interpre-
humana. tada no sentido de que os direitos estarão protegidos com
e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não podem relação a todas as pessoas nos limites da soberania do país.
deixar de ser observados por disposições infraconstitucio- Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode in-
nais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nu- gressar com habeas corpus ou mandado de segurança, ou
lidades. então intentar ação reivindicatória com relação a imóvel seu
f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem localizado no Brasil (ainda que não resida no país).
um único conjunto de direitos porque não podem ser anali- Somente alguns direitos não são estendidos a todas as
sados de maneira isolada, separada. pessoas. A exemplo, o direito de intentar ação popular exige
g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não se a condição de cidadão, que só é possuída por nacionais titu-
perdem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são lares de direitos políticos.
sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela
falta de uso (prescrição). 2) Relação direitos-deveres
h) Relatividade: os direitos fundamentais não podem O capítulo em estudo é denominado “direitos e garan-
ser utilizados como um escudo para práticas ilícitas ou como tias deveres e coletivos”, remetendo à necessária relação
argumento para afastamento ou diminuição da responsabi- direitos-deveres entre os titulares dos direitos fundamentais.
lidade por atos ilícitos, assim estes direitos não são ilimita- Acima de tudo, o que se deve ter em vista é a premissa re-
dos e encontram seus limites nos demais direitos igualmen- 1 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais
te consagrados como humanos. tomadas em teleconferência.

1
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

conhecida nos direitos fundamentais de que não há direito Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito mais
que seja absoluto, correspondendo-se para cada direito um do que a igualdade de gêneros, envolve uma perspectiva mais
dever. Logo, o exercício de direitos fundamentais é limitado ampla.
pelo igual direito de mesmo exercício por parte de outrem, O direito à igualdade é um dos direitos norteadores de in-
não sendo nunca absolutos, mas sempre relativos. terpretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro enfoque
Explica Canotilho2 quanto aos direitos fundamentais: “a que foi dado a este direito foi o de direito civil, enquadrando-o
ideia de deveres fundamentais é suscetível de ser entendida na primeira dimensão, no sentido de que a todas as pessoas
como o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como ao ti- deveriam ser garantidos os mesmos direitos e deveres. Trata-
tular de um direito fundamental corresponde um dever por -se de um aspecto relacionado à igualdade enquanto liber-
parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o particular dade, tirando o homem do arbítrio dos demais por meio da
está vinculado aos direitos fundamentais como destinatário equiparação. Basicamente, estaria se falando na igualdade
de um dever fundamental. Neste sentido, um direito funda- perante a lei.
mental, enquanto protegido, pressuporia um dever corres- No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu que
pondente”. Com efeito, a um direito fundamental conferido não bastava igualar todos os homens em direitos e deveres
à pessoa corresponde o dever de respeito ao arcabouço de para torná-los iguais, pois nem todos possuem as mesmas
direitos conferidos às outras pessoas. condições de exercer estes direitos e deveres. Logo, não é su-
ficiente garantir um direito à igualdade formal, mas é preciso
3) Direitos e garantias em espécie buscar progressivamente a igualdade material. No sentido
Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu ca- de igualdade material que aparece o direito à igualdade num
put: segundo momento, pretendendo-se do Estado, tanto no mo-
mento de legislar quanto no de aplicar e executar a lei, uma
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem postura de promoção de políticas governamentais voltadas a
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e grupos vulneráveis.
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos notáveis:
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, o de igualdade perante a lei, referindo-se à aplicação unifor-
nos termos seguintes [...].
me da lei a todas as pessoas que vivem em sociedade; e o de
igualdade material, correspondendo à necessidade de discri-
O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um dos
minações positivas com relação a grupos vulneráveis da socie-
principais (senão o principal) artigos da Constituição Federal,
dade, em contraponto à igualdade formal.
consagra o princípio da igualdade e delimita as cinco esferas
de direitos individuais e coletivos que merecem proteção, isto
Ações afirmativas
é, vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade. Os in-
Neste sentido, desponta a temática das ações
cisos deste artigos delimitam vários direitos e garantias que
se enquadram em alguma destas esferas de proteção, poden- afirmativas,que são políticas públicas ou programas privados
do se falar em duas esferas específicas que ganham também criados temporariamente e desenvolvidos com a finalidade
destaque no texto constitucional, quais sejam, direitos de de reduzir as desigualdades decorrentes de discriminações
acesso à justiça e direitos constitucionais-penais. ou de uma hipossuficiência econômica ou física, por meio da
concessão de algum tipo de vantagem compensatória de tais
- Direito à igualdade condições.
Abrangência Quem é contra as ações afirmativas argumenta que, em
Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que o uma sociedade pluralista, a condição de membro de um gru-
constituinte afirmou por duas vezes o princípio da igualdade: po específico não pode ser usada como critério de inclusão
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se que elas des-
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e privilegiam o critério republicano do mérito (segundo o qual
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito o indivíduo deve alcançar determinado cargo público pela sua
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, capacidade e esforço, e não por pertencer a determinada ca-
nos termos seguintes [...]. tegoria); fomentariam o racismo e o ódio; bem como ferem o
princípio da isonomia por causar uma discriminação reversa.
Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro inciso: Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas
defende que elas representam o ideal de justiça compensatória
Artigo 5º, I, CF. Homens e mulheres são iguais em direitos (o objetivo é compensar injustiças passadas, dívidas históricas,
e obrigações, nos termos desta Constituição. como uma compensação aos negros por tê-los feito escravos,
p. ex.); representam o ideal de justiça distributiva (a preocu-
Este inciso é especificamente voltado à necessidade de pação, aqui, é com o presente. Busca-se uma concretização
igualdade de gênero, afirmando que não deve haver nenhu- do princípio da igualdade material); bem como promovem a
ma distinção sexo feminino e o masculino, de modo que o diversidade.
homem e a mulher possuem os mesmos direitos e obrigações. Neste sentido, as discriminações legais asseguram a ver-
2 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direi- dadeira igualdade, por exemplo, com as ações afirmativas, a
to constitucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: proteção especial ao trabalho da mulher e do menor, as garan-
Almedina, 1998, p. 479. tias aos portadores de deficiência, entre outras medidas que

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

atribuam a pessoas com diferentes condições, iguais possi- II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori-
bilidades, protegendo e respeitando suas diferenças3. Tem dade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
predominado em doutrina e jurisprudência, inclusive no Su- sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
premo Tribunal Federal, que as ações afirmativas são válidas. pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
- Direito à vida § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa
Abrangência presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a proteção ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em
do direito à vida. A vida humana é o centro gravitacional em lei ou não resultante de medida legal.
torno do qual orbitam todos os direitos da pessoa humana, § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas,
possuindo reflexos jurídicos, políticos, econômicos, morais e quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na
religiosos. Daí existir uma dificuldade em conceituar o vocá- pena de detenção de um a quatro anos.
bulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa possui deixa § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou
de ter valor ou sentido se ela perde a vida. Sendo assim, a gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se
vida é o bem principal de qualquer pessoa, é o primeiro valor resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
moral inerente a todos os seres humanos4. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de I - se o crime é cometido por agente público;
nascer/permanecer vivo, o que envolve questões como II – se o crime é cometido contra criança, gestante, por-
pena de morte, eutanásia, pesquisas com células-tronco e tador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta)
aborto; quanto o direito de viver com dignidade, o que anos; 
engloba o respeito à integridade física, psíquica e moral, in- III - se o crime é cometido mediante sequestro.
cluindo neste aspecto a vedação da tortura, bem como a ga- § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função
rantia de recursos que permitam viver a vida com dignidade. ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo
Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado nos dobro do prazo da pena aplicada.
incisos que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de um dos § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de
direitos mais discutidos em termos jurisprudenciais e socio- graça ou anistia.
lógicos. É no direito à vida que se encaixam polêmicas dis- § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a
cussões como: aborto de anencéfalo, pesquisa com células hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime
tronco, pena de morte, eutanásia, etc. fechado.
Vedação à tortura
De forma expressa no texto constitucional destaca-se - Direito à liberdade
a vedação da tortura, corolário do direito à vida, conforme O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote-
previsão no inciso III do artigo 5º: ção do direito à liberdade, delimitada em alguns incisos que
o seguem.
Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem
a tratamento desumano ou degradante. Liberdade e legalidade
Prevê o artigo 5º, II, CF:
A tortura é um dos piores meios de tratamento desuma-
no, expressamente vedada em âmbito internacional, como Artigo 5º, II, CF. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar
visto no tópico anterior. No Brasil, além da disciplina cons- de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
titucional, a Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 define os
crimes de tortura e dá outras providências, destacando-se O princípio da legalidade se encontra delimitado neste
o artigo 1º: inciso, prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa a não ser que a lei assim
Art. 1º Constitui crime de tortura: determine. Assim, salvo situações previstas em lei, a pessoa
I - constranger alguém com emprego de violência ou gra- tem liberdade para agir como considerar conveniente.
ve ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: Portanto, o princípio da legalidade possui estrita rela-
a) com o fim de obter informação, declaração ou confis- ção com o princípio da liberdade, posto que, a priori, tudo à
são da vítima ou de terceira pessoa; pessoa é lícito. Somente é vedado o que a lei expressamente
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; estabelecer como proibido. A pessoa pode fazer tudo o que
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; quiser, como regra, ou seja, agir de qualquer maneira que a
3 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentá- lei não proíba.
rios aos artigos I e II. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comen-
tários à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Liberdade de pensamento e de expressão
Brasília: Fortium, 2008, p. 08. O artigo 5º, IV, CF prevê:
4 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM,
Fábio Zambitte. Comentários aos Artigos III e IV. In: BALERA, Artigo 5º, IV, CF. É livre a manifestação do pensamento,
Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos sendo vedado o anonimato.
Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 15.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Consolida-se a afirmação simultânea da liberdade de Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé como
pensamento e da liberdade de expressão. bem entender dentro dos limites da lei. Não há uma crença
Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento. ou religião que seja proibida, garantindo-se que a profissão
Afinal, “o ser humano, através dos processos internos de re- desta fé possa se realizar em locais próprios.
flexão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada mais Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos dis-
do que a opinião de seu emitente. Assim, a regra constitucio- tintos, porém intrinsecamente relacionados de liberdades: a
nal, ao consagrar a livre manifestação do pensamento, impri- liberdade de crença; a liberdade de culto; e a liberdade de
me a existência jurídica ao chamado direito de opinião”5. Em organização religiosa.
outras palavras, primeiro existe o direito de ter uma opinião, Consoante o magistério de José Afonso da Silva6, entra
depois o de expressá-la. na liberdade de crença a liberdade de escolha da religião,
No mais, surge como corolário do direito à liberdade de a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberda-
pensamento e de expressão o direito à escusa por convicção de (ou o direito) de mudar de religião, além da liberdade
filosófica ou política: de não aderir a religião alguma, assim como a liberdade de
descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnos-
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por mo- ticismo, apenas excluída a liberdade de embaraçar o livre
tivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
exercício de qualquer religião, de qualquer crença. A liber-
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos im-
dade de culto consiste na liberdade de orar e de praticar os
posta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.
atos próprios das manifestações exteriores em casa ou em
Trata-se de instrumento para a consecução do direito as- público, bem como a de recebimento de contribuições para
segurado na Constituição Federal – não basta permitir que se tanto. Por fim, a liberdade de organização religiosa refere-se
pense diferente, é preciso respeitar tal posicionamento. à possibilidade de estabelecimento e organização de igrejas
Com efeito, este direito de liberdade de expressão é li- e suas relações com o Estado.
mitado. Um destes limites é o anonimato, que consiste na Como decorrência do direito à liberdade religiosa, asse-
garantia de atribuir a cada manifestação uma autoria certa gurando o seu exercício, destaca-se o artigo 5º, VII, CF:
e determinada, permitindo eventuais responsabilizações por
manifestações que contrariem a lei. Artigo 5º, VII, CF. É assegurada, nos termos da lei, a pres-
Tem-se, ainda, a seguinte previsão no artigo 5º, IX, CF: tação de assistência religiosa nas entidades civis e milita-
res de internação coletiva.
Artigo 5º, IX, CF. É livre a expressão da atividade inte- O dispositivo refere-se não só aos estabelecimentos pri-
lectual, artística, científica e de comunicação, indepen- sionais civis e militares, mas também a hospitais.
dentemente de censura ou licença. Ainda, surge como corolário do direito à liberdade reli-
giosa o direito à escusa por convicção religiosa:
Consolida-se outra perspectiva da liberdade de expres-
são, referente de forma específica a atividades intelectuais, Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por
artísticas, científicas e de comunicação. Dispensa-se, com re- motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou po-
lação a estas, a exigência de licença para a manifestação do lítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
pensamento, bem como veda-se a censura prévia. todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa,
A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impedir a fixada em lei.
divulgação e o acesso a informações como modo de controle
do poder. A censura somente é cabível quando necessária Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por
ao interesse público numa ordem democrática, por exemplo, exemplo, a todos os homens maiores de 18 anos o alis-
censurar a publicação de um conteúdo de exploração sexual tamento militar, não cabe se escusar, a não ser que tenha
infanto-juvenil é adequado.
fundado motivo em crença religiosa ou convicção filosófica/
O direito à resposta (artigo 5º, V, CF) e o direito à indeni-
política, caso em que será obrigado a cumprir uma presta-
zação (artigo 5º, X, CF) funcionam como a contrapartida para
ção alternativa, isto é, uma outra atividade que não contrarie
aquele que teve algum direito seu violado (notadamente ine-
rentes à privacidade ou à personalidade) em decorrência dos tais preceitos.
excessos no exercício da liberdade de expressão.
Liberdade de informação
Liberdade de crença/religiosa O direito de acesso à informação também se liga a uma
Dispõe o artigo 5º, VI, CF: dimensão do direito à liberdade. Neste sentido, prevê o ar-
tigo 5º, XIV, CF:
Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciência
e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos Artigo 5º, XIV, CF. É assegurado a todos o acesso à infor-
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos lo- mação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário
cais de culto e a suas liturgias. ao exercício profissional.
5 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚ-
NIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. 6 SILVA, José Afonso da. Curso de direito
ed. São Paulo: Saraiva, 2006. constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Trata-se da liberdade de informação, consistente na liber- Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX, CF:
dade de procurar e receber informações e ideias por quaisquer
meios, independente de fronteiras, sem interferência. Artigo 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicidade
A liberdade de informação tem um caráter passivo, ao dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o in-
passo que a liberdade de expressão tem uma característica ati- teresse social o exigirem.
va, de forma que juntas formam os aspectos ativo e passivo da
exteriorização da liberdade de pensamento: não basta poder Logo,o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas o
manifestar o seu próprio pensamento, é preciso que ele seja será quando a intimidade merecer preservação (ex: processo
ouvido e, para tanto, há necessidade de se garantir o acesso criminal de estupro ou causas de família em geral) ou quan-
ao pensamento manifestado para a sociedade. do o interesse social exigir (ex: investigações que possam ser
Por sua vez, o acesso à informação envolve o direito de comprometidas pela publicidade). A publicidade é instru-
todos obterem informações claras, precisas e verdadeiras a mento para a efetivação da liberdade de informação.
respeito de fatos que sejam de seu interesse, notadamente
pelos meios de comunicação imparciais e não monopolizados Liberdade de locomoção
(artigo 220, CF). No entanto, nem sempre é possível que a im- Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no artigo
prensa divulgue com quem obteve a informação divulgada, 5º, XV, CF:
sem o que a segurança desta poderia ficar prejudicada e a in-
formação inevitavelmente não chegaria ao público. Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território na-
Especificadamente quanto à liberdade de informação no cional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter-
âmbito do Poder Público, merecem destaque algumas previ- mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
sões.
Primeiramente, prevê o artigo 5º, XXXIII, CF: A liberdade de locomoção é um aspecto básico do direito
à liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o território
Artigo 5º, XXXIII, CF. Todos têm direito a receber dos órgãos do país em tempos de paz (em tempos de guerra é possível
públicos informações de seu interesse particular, ou de inte- limitar tal liberdade em prol da segurança). A liberdade de sair
resse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob do país não significa que existe um direito de ingressar em
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja qualquer outro país, pois caberá à ele, no exercício de sua so-
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. berania, controlar tal entrada. Classicamente, a prisão é a for-
A respeito, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 ma de restrição da liberdade. Neste sentido, uma pessoa so-
regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. mente poderá ser presa nos casos autorizados pela própria
5º, CF, também conhecida como Lei do Acesso à Informação. Constituição Federal. A despeito da normativa específica de
Não obstante, estabelece o artigo 5º, XXXIV, CF: natureza penal, reforça-se a impossibilidade de se restringir
a liberdade de locomoção pela prisão civil por dívida.
Artigo 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, independen- Prevê o artigo 5º, LXVII, CF:
temente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de Artigo 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívida,
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e ines-
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para de- cusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel.
fesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal.
Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo
Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cum- Tribunal Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel,
pre observar que o direito de petição deve resultar em uma qualquer que seja a modalidade do depósito”. Por isso, a úni-
manifestação do Estado, normalmente dirimindo (resolvendo) ca exceção à regra da prisão por dívida do ordenamento é a
uma questão proposta, em um verdadeiro exercício contínuo que se refere à obrigação alimentícia.
de delimitação dos direitos e obrigações que regulam a vida
social e, desta maneira, quando “dificulta a apreciação de um Liberdade de trabalho
pedido que um cidadão quer apresentar” (muitas vezes, em- O direito à liberdade também é mencionado no artigo
baraçando-lhe o acesso à Justiça); “demora para responder aos 5º, XIII, CF:
pedidos formulados” (administrativa e, principalmente, judi-
cialmente) ou “impõe restrições e/ou condições para a formu- Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer traba-
lação de petição”, traz a chamada insegurança jurídica, que traz lho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profis-
desesperança e faz proliferar as desigualdades e as injustiças. sionais que a lei estabelecer.
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por
exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar có- O livre exercício profissional é garantido, respeitados os
pias reprográficas e certidões, bem como de ofertar denúncias limites legais. Por exemplo, não pode exercer a profissão de
de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez na inten- advogado aquele que não se formou em Direito e não foi
ção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públicos em aprovado no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil;
fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que gera não pode exercer a medicina aquele que não fez faculdade
confusões conceituais no sentido do direito de obter certi- de medicina reconhecida pelo MEC e obteve o cadastro no
dões ser dissociado do direito de petição. Conselho Regional de Medicina.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Liberdade de reunião O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja,


Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI, CF: a associação deixará de existir para sempre. Obviamente, é
preciso o trânsito em julgado da decisão judicial que assim
Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacificamen- determine, pois antes disso sempre há possibilidade de re-
te, sem armas, em locais abertos ao público, independen- verter a decisão e permitir que a associação continue em
temente de autorização, desde que não frustrem outra reu- funcionamento. Contudo, a decisão judicial pode suspender
nião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo atividades até que o trânsito em julgado ocorra, ou seja, no
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. curso de um processo judicial.
Em destaque, a legitimidade representativa da associa-
Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com de- ção quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF:
mais na defesa de uma causa, apenas possuindo o dever
de informar tal reunião. Tal dever remonta-se a questões de Artigo 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando ex-
segurança coletiva. Imagine uma grande reunião de pes- pressamente autorizadas, têm legitimidade para representar
soas por uma causa, a exemplo da Parada Gay, que chega seus filiados judicial ou extrajudicialmente.
a aglomerar milhões de pessoas em algumas capitais: seria Trata-se de caso de legitimidade processual extraordi-
absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o prévio aviso do nária, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de
poder público para que ele organize o policiamento e a as- outra(s) pessoa(s) porque a lei assim autoriza.
sistência médica, evitando algazarras e socorrendo pessoas A liberdade de associação envolve não somente o direi-
que tenham algum mal-estar no local. Outro limite é o uso to de criar associações e de fazer parte delas, mas também
de armas, totalmente vedado, assim como de substâncias o de não associar-se e o de deixar a associação, conforme
ilícitas (Ex: embora a Marcha da Maconha tenha sido autori- artigo 5º, XX, CF:
zada pelo Supremo Tribunal Federal, vedou-se que nela tal
substância ilícita fosse utilizada). Artigo 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a as-
sociar-se ou a permanecer associado.
Liberdade de associação
No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º,
- Direitos à privacidade e à personalidade
XVII, CF:
Abrangência
Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação
Prevê o artigo 5º, X, CF:
para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.
Artigo 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida pri-
A liberdade de associação difere-se da de reunião por
sua perenidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião é vada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
exercida de forma sazonal, eventual, a liberdade de associa- a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
ção implica na formação de um grupo organizado que se violação.
mantém por um período de tempo considerável, dotado de
estrutura e organização próprias. O legislador opta por trazer correlacionados no mesmo
Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são associa- dispositivo legal os direitos à privacidade e à personalidade.
ções ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem armas e o Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida-
ideal de realizar sua própria justiça paralelamente à estatal. de, ao abordar a proteção da vida privada – que, em resumo,
O texto constitucional se estende na regulamentação da é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio e de
liberdade de associação. círculos de amigos –, Silva7 entende que “o segredo da vida
O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza: privada é condição de expansão da personalidade”, mas não
caracteriza os direitos de personalidade em si.
Artigo 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na forma A união da intimidade e da vida privada forma a privaci-
da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo dade, sendo que a primeira se localiza em esfera mais estrita.
vedada a interferência estatal em seu funcionamento. É possível ilustrar a vida social como se fosse um grande
círculo no qual há um menor, o da vida privada, e dentro
Neste sentido, associações são organizações resultantes deste um ainda mais restrito e impenetrável, o da intimida-
da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou sem de. Com efeito, pela “Teoria das Esferas” (ou “Teoria dos Cír-
personalidade jurídica, para a realização de um objetivo co- culos Concêntricos”), importada do direito alemão, quanto
mum; já cooperativas são uma forma específica de associa- mais próxima do indivíduo, maior a proteção a ser conferida
ção, pois visam a obtenção de vantagens comuns em suas à esfera (as esferas são representadas pela intimidade, pela
atividades econômicas. vida privada, e pela publicidade).
Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF: “O direito à honra distancia-se levemente dos dois ante-
riores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem
Artigo 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser compul- de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fazem os
soriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabilidade no
decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em 7 SILVA, José Afonso da. Curso de direito
julgado. constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

meio social. O direito à imagem também possui duas co- O reconhecimento do marco inicial e do marco final da
notações, podendo ser entendido em sentido objetivo, com personalidade jurídica pelo registro é direito individual, não
relação à reprodução gráfica da pessoa, por meio de foto- dependendo de condições financeiras. Evidente, seria absur-
grafias, filmagens, desenhos, ou em sentido subjetivo, signi- do cobrar de uma pessoa sem condições a elaboração de do-
ficando o conjunto de qualidades cultivadas pela pessoa e cumentos para que ela seja reconhecida como viva ou morta,
reconhecidas como suas pelo grupo social”8. o que apenas incentivaria a indigência dos menos favorecidos.

Inviolabilidade de domicílio e sigilo de correspon- Direito à indenização e direito de resposta


dência Com vistas à proteção do direito à privacidade, do direito
Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a inviola- à personalidade e do direito à imagem, asseguram-se dois
bilidade do domicílio e o sigilo das correspondências e co- instrumentos, o direito à indenização e o direito de resposta,
municações. conforme as necessidades do caso concreto.
Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê: Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF:

Artigo 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta, pro-


Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo,
porcional ao agravo, além da indenização por dano material,
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do mo-
moral ou à imagem.
rador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. “A manifestação do pensamento é livre e garantida em ní-
vel constitucional, não aludindo a censura prévia em diversões
O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode e espetáculos públicos. Os abusos porventura ocorridos no
nele entrar sem o consentimento do morador, a não ser EM exercício indevido da manifestação do pensamento são pas-
QUALQUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o mora- síveis de exame e apreciação pelo Poder Judiciário com a con-
dor foi flagrado na prática de crime e fugiu para seu do- sequente responsabilidade civil e penal de seus autores, de-
micílio) ou desastre (incêndio, enchente, terremoto...) ou correntes inclusive de publicações injuriosas na imprensa, que
para prestar socorro (morador teve ataque do coração, está deve exercer vigilância e controle da matéria que divulga”9.
sufocado, desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O DIA por O direito de resposta é o direito que uma pessoa tem
determinação judicial. de se defender de críticas públicas no mesmo meio em
Quanto ao sigilo de correspondência e das comunica- que foram publicadas garantida exatamente a mesma re-
ções, prevê o artigo 5º, XII, CF: percussão. Mesmo quando for garantido o direito de res-
posta não é possível reverter plenamente os danos causa-
Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspondência dos pela manifestação ilícita de pensamento, razão pela
e das comunicações telegráficas, de dados e das comunica- qual a pessoa inda fará jus à indenização.
ções telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas A manifestação ilícita do pensamento geralmente causa
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de inves- um dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que pode
tigação criminal ou instrução processual penal. ser individual ou coletivo, moral ou material, econômico e não
econômico.
O sigilo de correspondência e das comunicações está Dano material é aquele que atinge o patrimônio
melhor regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996. (material ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado
financeiramente e indenizado.
Personalidade jurídica e gratuidade de registro “Dano moral direto consiste na lesão a um interesse que
visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial
Quando se fala em reconhecimento como pessoa pe-
contido nos direitos da personalidade (como a vida, a integri-
rante a lei desdobra-se uma esfera bastante específica dos
dade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os
direitos de personalidade, consistente na personalidade ju-
sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da
rídica. Basicamente, consiste no direito de ser reconhecido
pessoa (como o nome, a capacidade, o estado de família)”10.
como pessoa perante a lei. Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Có-
Para ser visto como pessoa perante a lei mostra-se ne- digo Civil:
cessário o registro. Por ser instrumento que serve como
pressuposto ao exercício de direitos fundamentais, asse- Artigo 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à
gura-se a sua gratuidade aos que não tiverem condição de administração da justiça ou à manutenção da ordem pública,
com ele arcar. a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publi-
Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF: cação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa
poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da
Artigo 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os reconhecida- indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama
mente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nasci- ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
mento; b) a certidão de óbito. 9 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito
constitucional. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
8 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Cur- 10 ZANNONI, Eduardo. El daño en la res-
so de direito constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. ponsabilidad civil. Buenos Aires: Astrea, 1982.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

- Direito à segurança individuais, ela não mais poderá ser considerada puro direi-
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote- to individual, relativizando-se seu conceito e significado, es-
ção do direito à segurança. Na qualidade de direito individual pecialmente porque os princípios da ordem econômica são
liga-se à segurança do indivíduo como um todo, desde sua preordenados à vista da realização de seu fim: assegurar a
integridade física e mental, até a própria segurança jurídica. todos existência digna, conforme os ditames da justiça so-
No sentido aqui estudado, o direito à segurança pessoal cial. Se é assim, então a propriedade privada, que, ademais,
é o direito de viver sem medo, protegido pela solidariedade tem que atender a sua função social, fica vinculada à conse-
e liberto de agressões, logo, é uma maneira de garantir o cução daquele princípio”.
direito à vida. Com efeito, a proteção da propriedade privada está li-
Nesta linha, para Silva11, “efetivamente, esse conjunto de mitada ao atendimento de sua função social, sendo este o
direitos aparelha situações, proibições, limitações e procedi- requisito que a correlaciona com a proteção da dignidade da
mentos destinados a assegurar o exercício e o gozo de algum pessoa humana. A propriedade de bens e valores em geral é
direito individual fundamental (intimidade, liberdade pessoal um direito assegurado na Constituição Federal e, como to-
ou a incolumidade física ou moral)”.
dos os outros, se encontra limitado pelos demais princípios
Especificamente no que tange à segurança jurídica, tem-
conforme melhor se atenda à dignidade do ser humano.
-se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF:
A Constituição Federal delimita o que se entende por
Artigo 5º, XXXVI, CF. A lei não prejudicará o direito ad- função social:
quirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Art. 182, caput, CF. A política de desenvolvimento urbano,
Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroatividade executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes
da lei. gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desen-
Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do volvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-
Direito Brasileiro: -estar de seus habitantes.

Artigo 6º, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e Artigo 182, § 1º, CF. O plano diretor, aprovado pela Câ-
geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e mara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte
a coisa julgada. mil habitantes, é o instrumento básico da política de desen-
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado volvimento e de expansão urbana.
segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o Artigo 182, § 2º, CF. A propriedade urbana cumpre sua
seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles função social quando atende às exigências fundamentais de
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição ordenação da cidade expressas no plano diretor13.
pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão Artigo 186, CF. A função social é cumprida quando a pro-
judicial de que já não caiba recurso. priedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e
graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requi-
- Direito à propriedade sitos:
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a proteção I - aproveitamento racional e adequado;
do direito à propriedade, tanto material quanto intelectual, II - utilização adequada dos recursos naturais disponí-
delimitada em alguns incisos que o seguem. veis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações
Função social da propriedade material
de trabalho;
O artigo 5º, XXII, CF estabelece:
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprie-
Artigo 5º, XXII, CF. É garantido o direito de propriedade. tários e dos trabalhadores.

A seguir, no inciso XXIII do artigo 5º, CF estabelece o Desapropriação


principal fator limitador deste direito: No caso de desrespeito à função social da proprieda-
de cabe até mesmo desapropriação do bem, de modo que
Artigo 5º, XXIII, CF. A propriedade atenderá a sua função pode-se depreender do texto constitucional duas possibili-
social. dades de desapropriação: por desrespeito à função social e
por necessidade ou utilidade pública.
A propriedade, segundo Silva12, “[...] não pode mais ser A Constituição Federal prevê a possibilidade de desa-
considerada como um direito individual nem como institui- propriação por desatendimento à função social:
ção do direito privado. [...] embora prevista entre os direitos
11 SILVA, José Afonso da. Curso de direito 13 Instrumento básico de um processo de pla-
constitucional positivo... Op. Cit., p. 437. nejamento municipal para a implantação da política de desen-
12 SILVA, José Afonso da. Curso de direito volvimento urbano, norteando a ação dos agentes públicos e
constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. privados (Lei n. 10.257/2001 - Estatuto da cidade).

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Artigo 182, § 4º, CF. É facultado ao Poder Público muni- Artigo 184, §3º, CF. Cabe à lei complementar estabelecer
cipal, mediante lei específica para área incluída no plano di- procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o
retor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo processo judicial de desapropriação.
urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessiva- A desapropriação por utilidade ou necessidade pública
mente, de: deve se dar mediante prévia e justa indenização em dinhei-
I - parcelamento ou edificação compulsórios; ro. O Decreto-lei nº 3.365/1941 a disciplina, delimitando o
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urba- procedimento e conceituando utilidade pública, em seu ar-
na progressivo no tempo; tigo 5º:
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da Artigo 5º, Decreto-lei n. 3.365/1941. Consideram-se casos
dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado de utilidade pública:
Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas a) a segurança nacional;
anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da inde- b) a defesa do Estado;
nização e os juros legais14. c) o socorro público em caso de calamidade;
d) a salubridade pública;
Artigo 184, CF. Compete à União desapropriar por inte- e) a criação e melhoramento de centros de população, seu
resse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que abastecimento regular de meios de subsistência;
não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas mi-
e justa indenização em títulos da dívida agrária, com nerais, das águas e da energia hidráulica;
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração,
de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medicinais;
cuja utilização será definida em lei15. h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos;
i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou lo-
Artigo 184, § 1º, CF. As benfeitorias úteis e necessárias gradouros públicos; a execução de planos de urbanização; o
serão indenizadas em dinheiro.
parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua me-
lhor utilização econômica, higiênica ou estética; a construção
No que tange à desapropriação por necessidade ou uti-
ou ampliação de distritos industriais;
lidade pública, prevê o artigo 5º, XXIV, CF:
j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo;
k) a preservação e conservação dos monumentos históri-
Artigo 5º, XXIV, CF. A lei estabelecerá o procedimento
cos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos
para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes e
por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, ain-
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.
da, a proteção de paisagens e locais particularmente dotados
Ainda, prevê o artigo 182, § 3º, CF: pela natureza;
l) a preservação e a conservação adequada de arquivos,
Artigo 182, §3º, CF. As desapropriações de imóveis urba- documentos e outros bens moveis de valor histórico ou artís-
nos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. tico;
m) a construção de edifícios públicos, monumentos come-
Tem-se, ainda o artigo 184, §§ 2º e 3º, CF: morativos e cemitérios;
n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pouso
Artigo 184, §2º, CF. O decreto que declarar o imóvel como para aeronaves;
de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de natu-
União a propor a ação de desapropriação. reza científica, artística ou literária;
p) os demais casos previstos por leis especiais.
14 Nota-se que antes de se promover a de-
sapropriação de imóvel urbano por desatendimento à função
Um grande problema que faz com que processos que
social é necessário tomar duas providências, sucessivas: pri-
tenham a desapropriação por objeto se estendam é a indevi-
meiro, o parcelamento ou edificação compulsórios; depois,
o estabelecimento de imposto sobre a propriedade predial e da valorização do imóvel pelo Poder Público, que geralmen-
territorial urbana progressivo no tempo. Se ambas medidas te pretende pagar valor muito abaixo do devido, necessitan-
restarem ineficazes, parte-se para a desapropriação por de- do o Judiciário intervir em prol da correta avaliação.
satendimento à função social. Outra questão reside na chamada tredestinação, pela
15 A desapropriação em decorrência do desa- qual há a destinação de um bem expropriado (desapropria-
tendimento da função social é indenizada, mas não da mesma ção) a finalidade diversa da que se planejou inicialmente. A
maneira que a desapropriação por necessidade ou utilidade tredestinação pode ser lícita ou ilícita. Será ilícita quando re-
pública, já que na primeira há violação do ordenamento cons- sultante de desvio do propósito original; e será lícita quando
titucional pelo proprietário, mas na segunda não. Por isso, a Administração Pública dê ao bem finalidade diversa, po-
indeniza-se em títulos da dívida agrária, que na prática não rém preservando a razão do interesse público.
são tão valorizados quanto o dinheiro.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Política agrária e reforma agrária § 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades


Enquanto desdobramento do direito à propriedade agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais.
imóvel e da função social desta propriedade, tem-se ainda o § 2º Serão compatibilizadas as ações de política agrícola
artigo 5º, XXVI, CF: e de reforma agrária.

Artigo 5º, XXVI, CF. A pequena propriedade rural, assim As terras devolutas e públicas serão destinadas confor-
definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será me a política agrícola e o plano nacional de reforma agrária
objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de (artigo 188, caput, CF). Neste sentido, “a alienação ou a con-
sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de finan- cessão, a qualquer título, de terras públicas com área supe-
ciar o seu desenvolvimento. rior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurí-
Assim, se uma pessoa é mais humilde e tem uma peque- dica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia
na propriedade será assegurado que permaneça com ela e a aprovação do Congresso Nacional”, salvo no caso de aliena-
torne mais produtiva. ções ou concessões de terras públicas para fins de reforma
A preservação da pequena propriedade em detrimento agrária (artigo 188, §§ 1º e 2º, CF).
dos grandes latifúndios improdutivos é uma das diretrizes- Os que forem favorecidos pela reforma agrária (homens,
-guias da regulamentação da política agrária brasileira, que mulheres, ambos, qualquer estado civil) não poderão nego-
tem como principal escopo a realização da reforma agrária. ciar seus títulos pelo prazo de 10 anos (artigo 189, CF).
Parte da questão financeira atinente à reforma agrária se Consta, ainda, que “a lei regulará e limitará a aquisição ou
encontra prevista no artigo 184, §§ 4º e 5º, CF: o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou ju-
rídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de
Artigo 184, §4º, CF. O orçamento fixará anualmente o vo- autorização do Congresso Nacional” (artigo 190, CF).
lume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante
de recursos para atender ao programa de reforma agrária no Usucapião
exercício. Usucapião é o modo originário de aquisição da proprie-
dade que decorre da posse prolongada por um longo tem-
Artigo 184, §5º, CF. São isentas de impostos federais, es- po, preenchidos outros requisitos legais. Em outras palavras,
taduais e municipais as operações de transferência de imóveis usucapião é uma situação em que alguém tem a posse de
desapropriados para fins de reforma agrária. um bem por um tempo longo, sem ser incomodado, a ponto
de se tornar proprietário.
Como a finalidade da reforma agrária é transformar terras A Constituição regulamenta o acesso à propriedade me-
improdutivas e grandes propriedades em atinentes à função diante posse prolongada no tempo – usucapião – em casos
social, alguns imóveis rurais não podem ser abrangidos pela específicos, denominados usucapião especial urbana e usu-
reforma agrária: capião especial rural.
O artigo 183 da Constituição regulamenta a usucapião
Art. 185, CF. São insuscetíveis de desapropriação para fins especial urbana:
de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em Art. 183, CF. Aquele que possuir como sua área urbana de
lei, desde que seu proprietário não possua outra; até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos,
II - a propriedade produtiva. ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua mo-
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à pro- radia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que
priedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
requisitos relativos a sua função social. § 1º O título de domínio e a concessão de uso
serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos,
Sobre as diretrizes da política agrícola, prevê o artigo 187: independentemente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo
Art. 187, CF. A política agrícola será planejada e executada possuidor mais de uma vez.
na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produ- § 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por
ção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como usucapião.
dos setores de comercialização, de armazenamento e de trans-
portes, levando em conta, especialmente: Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja pú-
I - os instrumentos creditícios e fiscais; blica, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os se-
II - os preços compatíveis com os custos de produção e a guintes requisitos específicos:
garantia de comercialização; a) Área urbana – há controvérsia. Pela teoria da localiza-
III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia; ção, área urbana é a que está dentro do perímetro urbano.
IV - a assistência técnica e extensão rural; Pela teoria da destinação, mais importante que a localiza-
V - o seguro agrícola; ção é a sua utilização. Ex.: se tem fins agrícolas/pecuários e
VI - o cooperativismo; estiver dentro do perímetro urbana, o imóvel é rural. Para
VII - a eletrificação rural e irrigação; fins de usucapião a maioria diz que prevalece a teoria da
VIII - a habitação para o trabalhador rural. localização.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

b) Imóveis até 250 m² – Pode dentro de uma posse Artigo 5º, XXV, CF. No caso de iminente perigo público, a
maior isolar área de 250m² e ingressar com a ação? A juris- autoridade competente poderá usar de propriedade particu-
prudência é pacífica que a posse desde o início deve ficar lar, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver
restrita a 250m². Predomina também que o terreno deve ter dano.
250m², não a área construída (a área de um sobrado, por
exemplo, pode ser maior que a de um terreno). Se uma pessoa tem uma propriedade, numa situação de
c) 5 anos – houve controvérsia porque a Constituição perigo, o poder público pode se utilizar dela (ex: montar uma
Federal de 1988 que criou esta modalidade. E se antes de base para capturar um fugitivo), pois o interesse da coletivi-
05 de outubro de 1988 uma pessoa tivesse há 4 anos dentro dade é maior que o do indivíduo proprietário.
do limite da usucapião urbana? Predominou que só corria o
prazo a partir da criação do instituto, não só porque antes Direito sucessório
não existia e o prazo não podia correr, como também não se O direito sucessório aparece como uma faceta do direito
poderia prejudicar o proprietário. à propriedade, encontrando disciplina constitucional no arti-
d) Moradia sua ou de sua família – não basta ter posse, go 5º, XXX e XXXI, CF:
é preciso que a pessoa more, sozinha ou com sua família, ao
longo de todo o prazo (não só no início ou no final). Logo, Artigo 5º, XXX, CF. É garantido o direito de herança;
não cabe acessio temporis por cessão da posse.
e) Nenhum outro imóvel, nem urbano, nem rural, no Artigo 5º, XXXI, CF. A sucessão de bens de estrangeiros
Brasil. O usucapiente não prova isso, apenas alega. Se al- situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício
guém não quiser a usucapião, prova o contrário. Este requi- do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja
sito é verificado no momento em que completa 5 anos. mais favorável a lei pessoal do de cujus.
Em relação à previsão da usucapião especial rural, des-
taca-se o artigo 191, CF: O direito à herança envolve o direito de receber – seja
devido a uma previsão legal, seja por testamento – bens de
Art. 191, CF. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel uma pessoa que faleceu. Assim, o patrimônio passa para ou-
rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterrup- tra pessoa, conforme a vontade do falecido e/ou a lei de-
termine. A Constituição estabelece uma disciplina específica
tos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior
para bens de estrangeiros situados no Brasil, assegurando
a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho
que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos brasileiros nos
ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do país estrangeiro).
propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiri-
Direito do consumidor
dos por usucapião.
Nos termos do artigo 5º, XXXII, CF:
Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja pú-
Artigo 5º, XXXII, CF. O Estado promoverá, na forma da lei,
blica, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os se- a defesa do consumidor.
guintes requisitos específicos:
a) Imóvel rural O direito do consumidor liga-se ao direito à propriedade
b) 50 hectares, no máximo – há também legislação que a partir do momento em que garante à pessoa que irá adqui-
estabelece um limite mínimo, o módulo rural (Estatuto da rir bens e serviços que estes sejam entregues e prestados da
Terra). É possível usucapir áreas menores que o módulo ru- forma adequada, impedindo que o fornecedor se enrique-
ral? Tem prevalecido o entendimento de que pode, mas é ça ilicitamente, se aproveite de maneira indevida da posição
assunto muito controverso. menos favorável e de vulnerabilidade técnica do consumidor.
c) 5 anos – pode ser considerado o prazo antes 05 de O Direito do Consumidor pode ser considerado um ramo
outubro de 1988 (Constituição Federal)? Depende. Se a área recente do Direito. No Brasil, a legislação que o regulamen-
é de até 25 hectares sim, pois já havia tal possibilidade antes tou foi promulgada nos anos 90, qual seja a Lei nº 8.078, de
da CF/88. Se área for maior (entre 25 ha e 50 ha) não. 11 de setembro de 1990, conforme determinado pela Cons-
d) Moradia sua ou de sua família – a pessoa deve morar tituição Federal de 1988, que também estabeleceu no artigo
na área rural. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:
e) Nenhum outro imóvel.
f) O usucapiente, com seu trabalho, deve ter tornado a Artigo 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cento e
área produtiva. Por isso, é chamado de usucapião “pro labo- vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código
re”. Dependerá do caso concreto. de defesa do consumidor.

Uso temporário A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi


No mais, estabelece-se uma terceira limitação ao direito um grande passo para a proteção da pessoa nas relações de
de propriedade que não possui o caráter definitivo da desa- consumo que estabeleça, respeitando-se a condição de hi-
propriação, mas é temporária, conforme artigo 5º, XXV, CF: possuficiente técnico daquele que adquire um bem ou faz
uso de determinado serviço, enquanto consumidor.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Propriedade intelectual gio e a contrafação. Enquanto que o primeiro caracteriza-se


Além da propriedade material, o constituinte protege pela difusão de obra criada ou produzida por terceiros, como
também a propriedade intelectual, notadamente no artigo 5º, se fosse própria, a segunda configura a reprodução de obra
XXVII, XXVIII e XXIX, CF: alheia sem a necessária permissão do autor”16.

Artigo 5º, XXVII, CF. Aos autores pertence o direito exclusi- - Direitos de acesso à justiça
vo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, A formação de um conceito sistemático de acesso à jus-
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; tiça se dá com a teoria de Cappelletti e Garth, que apontaram
três ondas de acesso, isto é, três posicionamentos básicos
Artigo 5º, XXVIII, CF. São assegurados, nos termos da lei: para a realização efetiva de tal acesso. Tais ondas foram per-
a) a proteção às participações individuais em obras co- cebidas paulatinamente com a evolução do Direito moder-
letivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive no conforme implementadas as bases da onda anterior, quer
nas atividades desportivas; dizer, ficou evidente aos autores a emergência de uma nova
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econô- onda quando superada a afirmação das premissas da onda
mico das obras que criarem ou de que participarem aos cria- anterior, restando parcialmente implementada (visto que até
dores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais hoje enfrentam-se obstáculos ao pleno atendimento em to-
e associativas; das as ondas).
Primeiro, Cappelletti e Garth17 entendem que surgiu uma
Artigo 5º, XXIX, CF. A lei assegurará aos autores de inven- onda de concessão de assistência judiciária aos pobres, par-
tos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem tindo-se da prestação sem interesse de remuneração por par-
como proteção às criações industriais, à propriedade das mar- te dos advogados e, ao final, levando à criação de um aparato
cas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo estrutural para a prestação da assistência pelo Estado.
em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e Em segundo lugar, no entender de Cappelletti e Garth18,
econômico do País. veio a onda de superação do problema na representação dos
interesses difusos, saindo da concepção tradicional de pro-
Assim, a propriedade possui uma vertente intelectual que cesso como algo restrito a apenas duas partes individualiza-
deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto sob o das e ocasionando o surgimento de novas instituições, como
patrimonial. No âmbito infraconstitucional brasileiro, a Lei nº o Ministério Público.
9.610, de 19 de fevereiro de 1998, regulamenta os direitos au- Finalmente, Cappelletti e Garth19 apontam uma terceira
torais, isto é, “os direitos de autor e os que lhes são conexos”. onda consistente no surgimento de uma concepção mais am-
O artigo 7° do referido diploma considera como obras pla de acesso à justiça, considerando o conjunto de institui-
intelectuais que merecem a proteção do direito do autor os ções, mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados: “[...]
textos de obras de natureza literária, artística ou científica; as esse enfoque encoraja a exploração de uma ampla variedade
conferências, sermões e obras semelhantes; as obras cinema- de reformas, incluindo alterações nas formas de procedimen-
tográficas e televisivas; as composições musicais; fotografias; to, mudanças na estrutura dos tribunais ou a criação de no-
ilustrações; programas de computador; coletâneas e enciclo- vos tribunais, o uso de pessoas leigas ou paraprofissionais,
pédias; entre outras. tanto como juízes quanto como defensores, modificações no
Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis, ina- direito substantivo destinadas a evitar litígios ou facilitar sua
lienáveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o direito de solução e a utilização de mecanismos privados ou informais
reivindicar a autoria da obra, ter seu nome divulgado na uti- de solução dos litígios. Esse enfoque, em suma, não receia
lização desta, assegurar a integridade desta ou modificá-la e inovações radicais e compreensivas, que vão muito além da
retirá-la de circulação se esta passar a afrontar sua honra ou esfera de representação judicial”.
imagem. Assim, dentro da noção de acesso à justiça, diversos as-
Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos arti- pectos podem ser destacados: de um lado, deve criar-se o
gos 41 a 44 da Lei nº 9.610/98, prescrevem em 70 anos conta- Poder Judiciário e se disponibilizar meios para que todas as
dos do primeiro ano seguinte à sua morte ou do falecimento pessoas possam buscá-lo; de outro lado, não basta garantir
do último coautor, ou contados do primeiro ano seguinte à meios de acesso se estes forem insuficientes, já que para que
divulgação da obra se esta for de natureza audiovisual ou fo- exista o verdadeiro acesso à justiça é necessário que se apli-
tográfica. Estes, por sua vez, abrangem, basicamente, o direito que o direito material de maneira justa e célere.
de dispor sobre a reprodução, edição, adaptação, tradução, 16 MORAES, Alexandre de. Direitos huma-
utilização, inclusão em bases de dados ou qualquer outra nos fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a
modalidade de utilização; sendo que estas modalidades de 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina
utilização podem se dar a título oneroso ou gratuito. e jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997.
“Os direitos autorais, também conhecidos como copyright 17 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant.
(direito de cópia), são considerados bens móveis, podendo Acesso à Justiça. Tradução Ellen Grace Northfleet. Porto
ser alienados, doados, cedidos ou locados. Ressalte-se que Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1998, p. 31-32.
a permissão a terceiros de utilização de criações artísticas é 18 Ibid., p. 49-52
direito do autor. [...] A proteção constitucional abrange o plá- 19 Ibid., p. 67-73

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Relacionando-se à primeira onda de acesso à justiça, Tribunal do júri


prevê a Constituição em seu artigo 5º, XXXV: A respeito da competência do Tribunal do júri, prevê o
artigo 5º, XXXVIII, CF:
Artigo 5º, XXXV, CF. A lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Artigo 5º, XXXVIII. É reconhecida a instituição do júri, com
a organização que lhe der a lei, assegurados:
O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o princí- a) a plenitude de defesa;
pio de Direito Processual Público subjetivo, também cunhado b) o sigilo das votações;
como Princípio da Ação, em que a Constituição garante a c) a soberania dos veredictos;
necessária tutela estatal aos conflitos ocorrentes na vida em d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos
sociedade. Sempre que uma controvérsia for levada ao Poder contra a vida.
Judiciário, preenchidos os requisitos de admissibilidade, ela
será resolvida, independentemente de haver ou não previsão O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que
específica a respeito na legislação. julgam os seus pares. Entende-se ser direito fundamental o
Também se liga à primeira onda de acesso à justiça, no de ser julgado por seus iguais, membros da sociedade e não
que tange à abertura do Judiciário mesmo aos menos favo- magistrados, no caso de determinados crimes que por sua
recidos economicamente, o artigo 5º, LXXIV, CF: natureza possuem fortes fatores de influência emocional.
Plenitude da defesa envolve tanto a autodefesa quanto a
Artigo 5º, LXXIV, CF. O Estado prestará assistência jurí- defesa técnica e deve ser mais ampla que a denominada am-
dica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência pla defesa assegurada em todos os procedimentos judiciais
de recursos. e administrativos.
Sigilo das votações envolve a realização de votações se-
O constituinte, ciente de que não basta garantir o acesso cretas, preservando a liberdade de voto dos que compõem o
ao Poder Judiciário, sendo também necessária a efetividade conselho que irá julgar o ato praticado.
processual, incluiu pela Emenda Constitucional nº 45/2004 o A decisão tomada pelo conselho é soberana. Contudo, a
inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição: soberania dos veredictos veda a alteração das decisões dos
jurados, não a recorribilidade dos julgamentos do Tribunal do
Júri para que seja procedido novo julgamento uma vez cas-
Artigo 5º, LXXVIII, CF. A todos, no âmbito judicial e admi-
sada a decisão recorrida, haja vista preservar o ordenamento
nistrativo, são assegurados a razoável duração do processo
jurídico pelo princípio do duplo grau de jurisdição.
e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Por fim, a competência para julgamento é dos crimes do-
 
losos (em que há intenção ou ao menos se assume o risco
Com o tempo se percebeu que não bastava garantir o
de produção do resultado) contra a vida, que são: homicídio,
acesso à justiça se este não fosse célere e eficaz. Não signi-
aborto, induzimento, instigação ou auxílio a suicídio e infan-
fica que se deve acelerar o processo em detrimento de di- ticídio. Sua competência não é absoluta e é mitigada, por
reitos e garantias assegurados em lei, mas sim que é preciso vezes, pela própria Constituição (artigos 29, X / 102, I, b) e c)
proporcionar um trâmite que dure nem mais e nem menos / 105, I, a) / 108, I).
que o necessário para a efetiva realização da justiça no caso
concreto. Anterioridade e irretroatividade da lei
O artigo 5º, XXXIX, CF preconiza:
- Direitos constitucionais-penais
Artigo5º, XXXIX, CF. Não há crime sem lei anterior que o
Juiz natural e vedação ao juízo ou tribunal de exceção defina, nem pena sem prévia cominação legal.
Quando o artigo 5º, LIII, CF menciona:
É a consagração da regra do nullum crimen nulla poena
Artigo 5º, LIII, CF. Ninguém será processado nem senten- sine praevia lege. Simultaneamente, se assegura o princípio
ciado senão pela autoridade competente”, consolida o prin- da legalidade (ou reserva legal), na medida em que não há
cípio do juiz natural que assegura a toda pessoa o direito de crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia cominação
conhecer previamente daquele que a julgará no processo em legal, e o princípio da anterioridade, posto que não há crime
que seja parte, revestindo tal juízo em jurisdição competente sem lei anterior que o defina.
para a matéria específica do caso antes mesmo do fato ocorrer. Ainda no que tange ao princípio da anterioridade, tem-
-se o artigo 5º, XL, CF:
Por sua vez, um desdobramento deste princípio encon-
tra-se no artigo 5º, XXXVII, CF: Artigo 5º, XL, CF. A lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu.
Artigo 5º, XXXVII, CF. Não haverá juízo ou tribunal de ex-
ceção. O dispositivo consolida outra faceta do princípio da an-
Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele especialmente terioridade: se, por um lado, é necessário que a lei tenha de-
criado para uma situação pretérita, bem como não reconhe- finido um fato como crime e dado certo tratamento penal a
cido como legítimo pela Constituição do país. este fato (ex.: pena de detenção ou reclusão, tempo de pena,

13
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

etc.) antes que ele ocorra; por outro lado, se vier uma lei pos- Ainda, prevê o artigo 5º, XLIV, CF:
terior ao fato que o exclua do rol de crimes ou que confira
tratamento mais benéfico (diminuindo a pena ou alterando Artigo 5º, XLIV, CF. Constitui crime inafiançável e im-
o regime de cumprimento, notadamente), ela será aplicada. prescritível a ação de grupos armados, civis ou militares,
Restam consagrados tanto o princípio da irretroatividade contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
da lei penal in pejus quanto o da retroatividade da lei penal
mais benéfica. Por fim, dispõe a CF sobre a possibilidade de extradição
de brasileiro naturalizado caso esteja envolvido com tráfico
Menções específicas a crimes ilícito de entorpecentes:
O artigo 5º, XLI, CF estabelece:
Artigo 5º, LI, CF. Nenhum brasileiro será extraditado, salvo
Artigo 5º, XLI, CF. A lei punirá qualquer discriminação o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da
atentatória dos direitos e liberdades fundamentais. naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.
Sendo assim confere fórmula genérica que remete ao
princípio da igualdade numa concepção ampla, razão pela Personalidade da pena
qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas. No en- A personalidade da pena encontra respaldo no artigo
tanto, o constituinte entendeu por bem prever tratamento 5º, XLV, CF:
específico a certas práticas criminosas.
Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF: Artigo 5º, XLV, CF. Nenhuma pena passará da pessoa
do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
Artigo 5º, XLII, CF. A prática do racismo constitui crime decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, es-
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, tendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite
nos termos da lei. do valor do patrimônio transferido.

A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes O princípio da personalidade encerra o comando de o
resultantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles crime ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu
não cabe fiança (pagamento de valor para deixar a prisão turno, a única pessoa passível de sofrer a sanção. Seria fla-
provisória) e não se aplica o instituto da prescrição (perda de grante a injustiça se fosse possível alguém responder pelos
pretensão de se processar/punir uma pessoa pelo decurso atos ilícitos de outrem: caso contrário, a reação, ao invés de
do tempo). restringir-se ao malfeitor, alcançaria inocentes. Contudo, se
Não obstante, preconiza ao artigo 5º, XLIII, CF: uma pessoa deixou patrimônio e faleceu, este patrimônio
responderá pelas repercussões financeiras do ilícito.
Artigo 5º, XLIII, CF. A lei considerará crimes inafiançáveis
e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o Individualização da pena
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo A individualização da pena tem por finalidade concre-
e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo tizar o princípio de que a responsabilização penal é sempre
os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se pessoal, devendo assim ser aplicada conforme as peculiari-
omitirem. dades do agente.
A primeira menção à individualização da pena se encon-
Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes tra no artigo 5º, XLVI, CF:
termos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e ex-
tingue totalmente a punibilidade, a graça e o indulto apenas Artigo 5º, XLVI, CF. A lei regulará a individualização da
extinguem a punibilidade, podendo ser parciais; a anistia, pena e adotará, entre outras, as seguintes:
em regra, atinge crimes políticos, a graça e o indulto, crimes a) privação ou restrição da liberdade;
comuns; a anistia pode ser concedida pelo Poder Legislativo, b) perda de bens;
a graça e o indulto são de competência exclusiva do Presi- c) multa;
dente da República; a anistia pode ser concedida antes da d) prestação social alternativa;
sentença final ou depois da condenação irrecorrível, a graça e) suspensão ou interdição de direitos.
e o indulto pressupõem o trânsito em julgado da sentença
condenatória; graça e o indulto apenas extinguem a punibi- Pelo princípio da individualização da pena, a pena deve
lidade, persistindo os efeitos do crime, apagados na anistia; ser individualizada nos planos legislativo, judiciário e execu-
graça é em regra individual e solicitada, enquanto o indulto tório, evitando-se a padronização a sanção penal. A indivi-
é coletivo e espontâneo. dualização da pena significa adaptar a pena ao condenado,
Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar consideradas as características do agente e do delito.
que o artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra cri- A pena privativa de liberdade é aquela que restringe,
mes de tortura, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos (previs- com maior ou menor intensidade, a liberdade do condena-
tos na Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990). Além disso, são do, consistente em permanecer em algum estabelecimento
crimes que não aceitam fiança. prisional, por um determinado tempo.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição prido pelo Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/1969),
do patrimônio do indivíduo delituoso. que prevê a pena de morte a ser executada por fuzilamento
A prestação social alternativa corresponde às penas res- nos casos tipificados em seu Livro II, que aborda os crimes
tritivas de direitos, autônomas e substitutivas das penas pri- militares em tempo de guerra.
vativas de liberdade, estabelecidas no artigo 44 do Código Por sua vez, estão absolutamente vedadas em quaisquer
Penal. circunstâncias as penas de caráter perpétuo, de trabalhos
Por seu turno, a individualização da pena deve também forçados, de banimento e cruéis.
se fazer presente na fase de sua execução, conforme se de- No que tange aos trabalhos forçados, vale destacar que
preende do artigo 5º, XLVIII, CF: o trabalho obrigatório não é considerado um tratamento
contrário à dignidade do recluso, embora o trabalho força-
Artigo 5º, XLVIII, CF. A pena será cumprida em estabele- do o seja. O trabalho é obrigatório, dentro das condições
cimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a do apenado, não podendo ser cruel ou menosprezar a ca-
idade e o sexo do apenado. pacidade física e intelectual do condenado; como o traba-
lho não existe independente da educação, cabe incentivar
A distinção do estabelecimento conforme a natureza do o aperfeiçoamento pessoal; até mesmo porque o trabalho
delito visa impedir que a prisão se torne uma faculdade do deve se aproximar da realidade do mundo externo, será re-
crime. Infelizmente, o Estado não possui aparato suficiente munerado; além disso, condições de dignidade e segurança
para cumprir tal diretiva, diferenciando, no máximo, o nível do trabalhador, como descanso semanal e equipamentos de
de segurança das prisões. Quanto à idade, destacam-se as proteção, deverão ser respeitados.
Fundações Casas, para cumprimento de medida por meno-
res infratores. Quanto ao sexo, prisões costumam ser exclu- Respeito à integridade do preso
sivamente para homens ou para mulheres. Prevê o artigo 5º, XLIX, CF:
Também se denota o respeito à individualização da pena
nesta faceta pelo artigo 5º, L, CF: Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral.
Artigo 5º, L, CF. Às presidiárias serão asseguradas condi-
Obviamente, o desrespeito à integridade física e moral
ções para que possam permanecer com seus filhos durante o
do preso é uma violação do princípio da dignidade da pes-
período de amamentação.
soa humana.
Dois tipos de tratamentos que violam esta integridade
Preserva-se a individualização da pena porque é tomada
estão mencionados no próprio artigo 5º da Constituição Fe-
a condição peculiar da presa que possui filho no período
deral. Em primeiro lugar, tem-se a vedação da tortura e de
de amamentação, mas também se preserva a dignidade da
tratamentos desumanos e degradantes (artigo 5º, III, CF), o
criança, não a afastando do seio materno de maneira precá- que vale na execução da pena.
ria e impedindo a formação de vínculo pela amamentação. No mais, prevê o artigo 5º, LVIII, CF:
Vedação de determinadas penas Artigo 5º, LVIII, CF. O civilmente identificado não será
O constituinte viu por bem proibir algumas espécies de submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses pre-
penas, consoante ao artigo 5º, XLVII, CF: vistas em lei.
Artigo 5º, XLVII, CF. não haverá penas: Se uma pessoa possui identificação civil, não há por-
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos ter- que fazer identificação criminal, colhendo digitais, fotos, etc.
mos do art. 84, XIX; Pensa-se que seria uma situação constrangedora desneces-
b) de caráter perpétuo; sária ao suspeito, sendo assim, violaria a integridade moral.
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento; Devido processo legal, contraditório e ampla defesa
e) cruéis. Estabelece o artigo 5º, LIV, CF:

Em resumo, o inciso consolida o princípio da humani- Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade ou
dade, pelo qual o “poder punitivo estatal não pode aplicar de seus bens sem o devido processo legal.
sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que
lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados”20 . Pelo princípio do devido processo legal a legislação
Quanto à questão da pena de morte, percebe-se que deve ser respeitada quando o Estado pretender punir al-
o constituinte não estabeleceu uma total vedação, autori- guém judicialmente. Logo, o procedimento deve ser livre de
zando-a nos casos de guerra declarada. Obviamente, deve- vícios e seguir estritamente a legislação vigente, sob pena de
-se respeitar o princípio da anterioridade da lei, ou seja, a nulidade processual.
legislação deve prever a pena de morte ao fato antes dele Surgem como corolário do devido processo legal o con-
ser praticado. No ordenamento brasileiro, este papel é cum- traditório e a ampla defesa, pois somente um procedimento
20 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de que os garanta estará livre dos vícios. Neste sentido, o artigo
direito penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. 5º, LV, CF:

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Artigo 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em flagran-
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o te delito ou por ordem escrita e fundamentada de autori-
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a dade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
ela inerentes. militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.

O devido processo legal possui a faceta formal, pela qual Logo, a prisão somente se dará em caso de flagrante
se deve seguir o adequado procedimento na aplicação da lei delito (necessariamente antes do trânsito em julgado), ou
e, sendo assim, respeitar o contraditório e a ampla defesa. em caráter temporário, provisório ou definitivo (as duas pri-
Não obstante, o devido processo legal tem sua faceta mate- meiras independente do trânsito em julgado, preenchidos
rial que consiste na tomada de decisões justas, que respei- requisitos legais e a última pela irreversibilidade da conde-
tem os parâmetros da razoabilidade e da proporcionalidade. nação).
Aborda-se no artigo 5º, LXII o dever de comunicação ao
Vedação de provas ilícitas juiz e à família ou pessoa indicada pelo preso:
Conforme o artigo 5º, LVI, CF:
Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o local
Artigo 5º, LVI, CF. São inadmissíveis, no processo, as pro- onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
vas obtidas por meios ilícitos. competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.

Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao artigo Não obstante, o preso deverá ser informado de todos os
157 do CPP, são as obtidas em violação a normas constitu- seus direitos, inclusive o direito ao silêncio, podendo entrar
cionais ou legai, ou seja, prova ilícita é a que viola regra de em contato com sua família e com um advogado, conforme
direito material, constitucional ou legal, no momento da sua artigo 5º, LXIII, CF:
obtenção. São vedadas porque não se pode aceitar o des-
cumprimento do ordenamento para fazê-lo cumprir: seria Artigo 5º, LXIII, CF. O preso será informado de seus direi-
paradoxal. tos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe asse-
gurada a assistência da família e de advogado.
Presunção de inocência
Prevê a Constituição no artigo 5º, LVII: Estabelece-se no artigo 5º, LXIV, CF:

Artigo 5º, LVII, CF. Ninguém será considerado culpado Artigo 5º, LXIV, CF. O preso tem direito à identificação
até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório po-
licial.
Consolida-se o princípio da presunção de inocência,
pelo qual uma pessoa não é culpada até que, em definitivo, Por isso mesmo, o auto de prisão em flagrante e a ata
o Judiciário assim decida, respeitados todos os princípios e do depoimento do interrogatório são assinados pelas auto-
garantias constitucionais. ridades envolvidas nas práticas destes atos procedimentais.
Ainda, a legislação estabelece inúmeros requisitos para
Ação penal privada subsidiária da pública que a prisão seja validada, sem os quais cabe relaxamento,
Nos termos do artigo 5º, LIX, CF: tanto que assim prevê o artigo 5º, LXV, CF:

Artigo 5º, LIX, CF. Será admitida ação privada nos cri- Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente
mes de ação pública, se esta não for intentada no prazo le- relaxada pela autoridade judiciária.
gal.
Desta forma, como decorrência lógica, tem-se a previ-
A chamada ação penal privada subsidiária da pública são do artigo 5º, LXVI, CF:
encontra respaldo constitucional, assegurando que a omis-
são do poder público na atividade de persecução criminal Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou nela
não será ignorada, fornecendo-se instrumento para que o mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com
interessado a proponha. ou sem fiança.
Prisão e liberdade
O constituinte confere espaço bastante extenso no ar- Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido ao
tigo 5º em relação ao tratamento da prisão, notadamente princípio da presunção de inocência, entende-se que ela não
por se tratar de ato que vai contra o direito à liberdade. Ob- deve ser mantida presa quando não preencher os requisitos
viamente, a prisão não é vedada em todos os casos, porque legais para prisão preventiva ou temporária.
práticas atentatórias a direitos fundamentais implicam na
tipificação penal, autorizando a restrição da liberdade da- Indenização por erro judiciário
quele que assim agiu. A disciplina sobre direitos decorrentes do erro judiciário
No inciso LXI do artigo 5º, CF, prevê-se: encontra-se no artigo 5º, LXXV, CF:

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Artigo 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado por Regra geral, os tratados internacionais comuns ingres-
erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tem- sam com força de lei ordinária no ordenamento jurídico bra-
po fixado na sentença. sileiro porque somente existe previsão constitucional quanto
à possibilidade da equiparação às emendas constitucionais
Trata-se do erro em que incorre um juiz na apreciação e se o tratado abranger matéria de direitos humanos. Antes
julgamento de um processo criminal, resultando em conde- da emenda alterou o quadro quanto aos tratados de direitos
nação de alguém inocente. Neste caso, o Estado indenizará. humanos, era o que acontecia, mas isso não significa que
Ele também indenizará uma pessoa que ficar presa além do tais direitos eram menos importantes devido ao princípio da
tempo que foi condenada a cumprir. primazia e ao reconhecimento dos direitos implícitos.
Por seu turno, com o advento da Emenda Constitucional
4) Direitos fundamentais implícitos nº 45/04 se introduziu o §3º ao artigo 5º da Constituição
Nos termos do § 2º do artigo 5º da Constituição Federal: Federal, de modo que os tratados internacionais de direitos
humanos foram equiparados às emendas constitucionais,
Artigo 5º, §2º, CF. Os direitos e garantias expressos nesta desde que houvesse a aprovação do tratado em cada Casa
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos do Congresso Nacional e obtivesse a votação em dois turnos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em e com três quintos dos votos dos respectivos membros:
que a República Federativa do Brasil seja parte.
Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções internacio-
Daí se depreende que os direitos ou garantias podem nais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
estar expressos ou implícitos no texto constitucional. Sendo Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quin-
assim, o rol enumerado nos incisos do artigo 5º é apenas tos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
exemplificativo, não taxativo. emendas constitucionais. 

5) Tratados internacionais incorporados ao ordena- Logo, a partir da alteração constitucional, os tratados de


mento interno direitos humanos que ingressarem no ordenamento jurídi-
Estabelece o artigo 5º, § 2º, CF que os direitos e garan- co brasileiro, versando sobre matéria de direitos humanos,
tias podem decorrer, dentre outras fontes, dos “tratados in- irão passar por um processo de aprovação semelhante ao da
ternacionais em que a República Federativa do Brasil seja emenda constitucional.
parte”. Contudo, há posicionamentos conflituosos quanto à
Para o tratado internacional ingressar no ordenamen- possibilidade de considerar como hierarquicamente cons-
to jurídico brasileiro deve ser observado um procedimento titucional os tratados internacionais de direitos humanos
complexo, que exige o cumprimento de quatro fases: a ne- que ingressaram no ordenamento jurídico brasileiro ante-
gociação (bilateral ou multilateral, com posterior assinatura riormente ao advento da referida emenda. Tal discussão se
do Presidente da República), submissão do tratado assina- deu com relação à prisão civil do depositário infiel, prevista
do ao Congresso Nacional (que dará referendo por meio como legal na Constituição e ilegal no Pacto de São José
do decreto legislativo), ratificação do tratado (confirmação da Costa Rica (tratado de direitos humanos aprovado an-
da obrigação perante a comunidade internacional) e a pro- tes da EC nº 45/04), sendo que o Supremo Tribunal Federal
mulgação e publicação do tratado pelo Poder Executivo21. firmou o entendimento pela supralegalidade do tratado de
Notadamente, quando o constituinte menciona os tratados direitos humanos anterior à Emenda (estaria numa posição
internacionais no §2º do artigo 5º refere-se àqueles que te- que paralisaria a eficácia da lei infraconstitucional, mas não
nham por fulcro ampliar o rol de direitos do artigo 5º, ou revogaria a Constituição no ponto controverso).
seja, tratado internacional de direitos humanos.
O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originá- 6) Tribunal Penal Internacional
ria na Constituição Federal, conferindo o caráter de primazia Preconiza o artigo 5º, CF em seu § 4º:
dos direitos humanos, desde logo consagrando o princípio
da primazia dos direitos humanos, como reconhecido pela Artigo 5º, §4º, CF. O Brasil se submete à jurisdição de Tri-
doutrina e jurisprudência majoritários na época. “O princípio bunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado
da primazia dos direitos humanos nas relações internacionais adesão.
implica em que o Brasil deve incorporar os tratados quanto  
ao tema ao ordenamento interno brasileiro e respeitá-los. O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi
Implica, também em que as normas voltadas à proteção da promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388 de 25 de se-
dignidade em caráter universal devem ser aplicadas no Brasil tembro de 2002. Ele contém 128 artigos e foi elaborado em
em caráter prioritário em relação a outras normas”22. Roma, no dia 17 de julho de 1998, regendo a competência
e o funcionamento deste Tribunal voltado às pessoas res-
21 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Di- ponsáveis por crimes de maior gravidade com repercussão
reitos Fundamentais e Prisão Civil. Porto Alegre: Sér- internacional (artigo 1º, ETPI).
gio Antonio Fabris Editor, 2008. “Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja ju-
22 PORTELA, Paulo Henrique Gonçal- risdição é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional
ves. Direito Internacional Público e Privado. Salva- dor: JusPodivm, 2009.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

compete o processo e julgamento de violações contra indi- tem certas distinções que não só devem ser aceitas, como
víduos; e, distintamente dos Tribunais de crimes de guerra também se mostram essenciais. No que tange aos direitos
da Iugoslávia e de Ruanda, criados para analisarem crimes sociais percebe-se que a igualdade material assume grande
cometidos durante esses conflitos, sua jurisdição não está relevância. Afinal, esta categoria de direitos pressupõe uma
restrita a uma situação específica”23. postura ativa do Estado em prol da efetivação. Nem todos
Resume Mello24: “a Conferência das Nações Unidas sobre podem arcar com suas despesas de saúde, educação, cul-
a criação de uma Corte Criminal Internacional, reunida em tura, alimentação e moradia, assim como nem todos se en-
Roma, em 1998, aprovou a referida Corte. Ela é permanente. contram na posição de explorador da mão-de-obra, sendo a
Tem sede em Haia. A corte tem personalidade internacional. grande maioria da população de explorados. Estas pessoas
Ela julga: a) crime de genocídio; b) crime contra a humani- estão numa clara posição de desigualdade e caberá ao Esta-
dade; c) crime de guerra; d) crime de agressão. Para o crime do cuidar para que progressivamente atinjam uma posição
de genocídio usa a definição da convenção de 1948. Como de igualdade real, já que não é por conta desta posição des-
crimes contra a humanidade são citados: assassinato, escra- favorável que se pode afirmar que são menos dignos, menos
vidão, prisão violando as normas internacionais, violação tor- titulares de direitos fundamentais.
tura, apartheid, escravidão sexual, prostituição forçada, este- Logo, a efetivação dos direitos sociais é uma meta a ser
rilização, etc. São crimes de guerra: homicídio internacional, alcançada pelo Estado em prol da consolidação da igual-
destruição de bens não justificada pela guerra, deportação, dade material. Sendo assim, o Estado buscará o crescente
forçar um prisioneiro a servir nas forças inimigas, etc.”. aperfeiçoamento da oferta de serviços públicos com quali-
dade para que todos os nacionais tenham garantidos seus
Direitos sociais direitos fundamentais de segunda dimensão da maneira
A Constituição Federal, dentro do Título II, aborda no mais plena possível.
capítulo II a categoria dos direitos sociais, em sua maioria Há se ressaltar também que o Estado não possui apenas
normas programáticas e que necessitam de uma postura in- um papel direto na promoção dos direitos econômicos, so-
terventiva estatal em prol da implementação. ciais e culturais, mas também um indireto, quando por meio
Os direitos assegurados nesta categoria encontram de sua gestão permite que os indivíduos adquiram condi-
menção genérica no artigo 6º, CF: ções para sustentarem suas necessidades pertencentes a
esta categoria de direitos.
Artigo 6º, CF. Art. 6º São direitos sociais a educação, a
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transpor- 2) Reserva do possível e mínimo existencial
te, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à Os direitos sociais serão concretizados gradualmente,
maternidade e à infância, a assistência aos desampara- notadamente porque estão previstos em normas programá-
dos, na forma desta Constituição.  ticas e porque a implementação deles gera um ônus para o
Estado. Diferentemente dos direitos individuais, que depen-
Trata-se de desdobramento da perspectiva do Estado dem de uma postura de abstenção estatal, os direitos sociais
Social de Direito. Em suma, são elencados os direitos huma- precisam que o Estado assuma um papel ativo em prol da
nos de 2ª dimensão, notadamente conhecidos como direitos efetivação destes.
econômicos, sociais e culturais. Em resumo, os direitos sociais A previsão excessiva de direitos sociais no bojo de uma
envolvem prestações positivas do Estado (diferente dos de Constituição, a despeito de um instante bem-intencionado
liberdade, que referem-se à postura de abstenção estatal), de palavras promovido pelo constituinte, pode levar à ne-
ou seja, políticas estatais que visem consolidar o princípio da gativa, paradoxal – e, portanto, inadmissível – consequência
igualdade não apenas formalmente, mas materialmente (tra- de uma Carta Magna cujas finalidades não condigam com
tando os desiguais de maneira desigual). seus próprios prescritos, fato que deslegitima o Poder Pú-
Por seu turno, embora no capítulo específico do Título blico como determinador de que particulares respeitem os
II que aborda os direitos sociais não se perceba uma intensa direitos fundamentais, já que sequer eles próprios, os admi-
regulamentação destes, à exceção dos direitos trabalhistas, nistradores, conseguem cumprir o que consta de seu Esta-
o Título VIII da Constituição Federal, que aborda a ordem tuto Máximo25.
social, se concentra em trazer normativas mais detalhadas a Tecnicamente, nos direitos sociais é possível invocar a
respeitos de direitos indicados como sociais. cláusula da reserva do possível como argumento para a não
implementação de determinado direito social – seja pela ab-
1) Igualdade material e efetivação dos direitos sociais soluta ausência de recursos (reserva do possível fática), seja
Independentemente da categoria de direitos que esteja pela ausência de previsão orçamentária nos termos do arti-
sendo abordada, a igualdade nunca deve aparecer num sen- go 167, CF (reserva do possível jurídica).
tido meramente formal, mas necessariamente material. Sig- O Ministro Celso de Mello afirmou em julgamento que
nifica que discriminações indevidas são proibidas, mas exis- os direitos sociais “não pode converter-se em promessa
23 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Inter- constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Públi-
nacional Público & Direito Internacional Privado. 3. ed. co, fraudando justas expectativas nele depositadas pela co-
São Paulo: Atlas, 2009. 25 LAZARI, Rafael José Nadim de. Reserva
24 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso do possível e mínimo existencial: a pretensão de eficácia
de Direito Internacional Público. 14. ed. São Paulo: Sarai- da norma constitucional em face da realidade. Curitiba: Juruá,
va, 2000. 2012, p. 56-57.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

letividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento Artigo 7º, I, CF. Relação de emprego protegida contra
de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
infidelidade governamental ao que determina a própria Lei complementar, que preverá indenização compensatória, den-
Fundamental do Estado”26. tre outros direitos.
Sendo assim, a invocação da cláusula da reserva do pos-
sível, embora viável, não pode servir de muleta para que o Significa que a demissão, se não for motivada por justa
Estado não arque com obrigações básicas. Neste viés, geral- causa, assegura ao trabalhador direitos como indenização
mente, quando invocada a cláusula é afastada, entenden- compensatória, entre outros, a serem arcados pelo empre-
do o Poder Judiciário que não cabe ao Estado se eximir de gador.
garantir direitos sociais com o simples argumento de que
não há orçamento específico para isso – ele deveria ter re- Artigo 7º, II, CF. Seguro-desemprego, em caso de desem-
servado parcela suficiente de suas finanças para atender esta prego involuntário.
demanda.
Com efeito, deve ser preservado o mínimo existencial, Sem prejuízo de eventual indenização a ser recebida do
que tem por fulcro limitar a discricionariedade político-ad- empregador, o trabalhador que fique involuntariamente de-
ministrativa e estabelecer diretrizes orçamentárias básicas a sempregado – entendendo-se por desemprego involuntá-
serem seguidas, sob pena de caber a intervenção do Poder rio o que tenha origem num acordo de cessação do contrato
Judiciário em prol de sua efetivação. de trabalho – tem direito ao seguro-desemprego, a ser arca-
do pela previdência social, que tem o caráter de assistência
3) Princípio da proibição do retrocesso financeira temporária.
Proibição do retrocesso é a impossibilidade de que uma
conquista garantida na Constituição Federal sofra um retro- Artigo 7º, III, CF. Fundo de garantia do tempo de ser-
cesso, de modo que um direito social garantido não pode viço.
deixar de o ser.
Conforme jurisprudência, a proibição do retrocesso Foi criado em 1967 pelo Governo Federal para proteger
deve ser tomada com reservas, até mesmo porque segun- o trabalhador demitido sem justa causa. O FGTS é constituí-
do entendimento predominante as normas do artigo 7º, CF do de contas vinculadas, abertas em nome de cada trabalha-
não são cláusula pétrea, sendo assim passíveis de alteração. dor, quando o empregador efetua o primeiro depósito. O
Se for alterada normativa sobre direito trabalhista assegu- saldo da conta vinculada é formado pelos depósitos mensais
rado no referido dispositivo, não sendo o prejuízo evidente, efetivados pelo empregador, equivalentes a 8,0% do salário
entende-se válida (por exemplo, houve alteração do prazo pago ao empregado, acrescido de atualização monetária e
prescricional diferenciado para os trabalhadores agrícolas). juros. Com o FGTS, o trabalhador tem a oportunidade de
O que, em hipótese alguma, pode ser aceito é um retrocesso formar um patrimônio, que pode ser sacado em momentos
evidente, seja excluindo uma categoria de direitos (ex.: abolir especiais, como o da aquisição da casa própria ou da apo-
o Sistema Único de Saúde), seja diminuindo sensivelmente sentadoria e em situações de dificuldades, que podem ocor-
a abrangência da proteção (ex.: excluindo o ensino médio rer com a demissão sem justa causa ou em caso de algumas
gratuito). doenças graves.
Questão polêmica se refere à proibição do retrocesso:
se uma decisão judicial melhorar a efetivação de um direito Artigo 7º, IV, CF. Salário mínimo, fixado em lei, nacio-
social, ela se torna vinculante e é impossível ao legislador nalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vi-
alterar a Constituição para retirar este avanço? Por um lado, tais básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
a proibição do retrocesso merece ser tomada em conceito educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
amplo, abrangendo inclusive decisões judiciais; por outro previdência social, com reajustes periódicos que lhe preser-
lado, a decisão judicial não tem por fulcro alterar a norma, vem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para
o que somente é feito pelo legislador, e ele teria o direito qualquer fim.
de prever que aquela decisão judicial não está incorporada T
na proibição do retrocesso. A questão é polêmica e não há rata-se de uma visível norma programática da Constitui-
entendimento dominante. ção que tem por pretensão um salário mínimo que atenda
a todas as necessidades básicas de uma pessoa e de sua
4) Direito individual do trabalho família. Em pesquisa que tomou por parâmetro o preceito
O artigo 7º da Constituição enumera os direitos indi- constitucional, detectou-se que “o salário mínimo do tra-
viduais dos trabalhadores urbanos e rurais. São os direitos balhador brasileiro deveria ter sido de R$ 2.892,47 em abril
individuais tipicamente trabalhistas, mas que não excluem para que ele suprisse suas necessidades básicas e da família,
os demais direitos fundamentais (ex.: honra é um direito no segundo estudo divulgado nesta terça-feira, 07, pelo Depar-
espaço de trabalho, sob pena de se incidir em prática de tamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconô-
assédio moral). micos (Dieese)”27.

26 RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE 27 http://exame.abril.com.br/economia/noti-


MELLO. cias/salario-minimo-deveria-ter-sido-de-r-2-892-47-em-abril

19
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Artigo 7º, V, CF. Piso salarial proporcional à extensão e à Artigo 7º, XI, CF. Participação nos lucros, ou resulta-
complexidade do trabalho. dos, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, par-
ticipação na gestão da empresa, conforme definido em lei.
Cada trabalhador, dentro de sua categoria de emprego,
seja ele professor, comerciário, metalúrgico, bancário, cons- A Participação nos Lucros e Resultado (PLR), que é co-
trutor civil, enfermeiro, recebe um salário base, chamado de nhecida também por Programa de Participação nos Resul-
Piso Salarial, que é sua garantia de recebimento dentro de tados (PPR), está prevista na Consolidação das Leis do Tra-
seu grau profissional. O Valor do Piso Salarial é estabelecido balho (CLT) desde a Lei nº 10.101, de 19 de dezembro de
em conformidade com a data base da categoria, por isso ele é 2000. Ela funciona como um bônus, que é ofertado pelo em-
definido em conformidade com um acordo, ou ainda com um pregador e negociado com uma comissão de trabalhadores
entendimento entre patrão e trabalhador. da empresa. A CLT não obriga o empregador a fornecer o
benefício, mas propõe que ele seja utilizado.
Artigo 7º, VI, CF. Irredutibilidade do salário, salvo o dis-
posto em convenção ou acordo coletivo. Artigo 7º, XII, CF. Salário-família pago em razão do de-
pendente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei.
O salário não pode ser reduzido, a não ser que anão re-
dução implique num prejuízo maior, por exemplo, demissão Salário-família é o benefício pago na proporção do res-
em massa durante uma crise, situações que devem ser nego- pectivo número de filhos ou equiparados de qualquer con-
ciadas em convenção ou acordo coletivo. dição até a idade de quatorze anos ou inválido de qualquer
idade, independente de carência e desde que o salário-de-
Artigo 7º, VII, CF. Garantia de salário, nunca inferior ao -contribuição seja inferior ou igual ao limite máximo permi-
mínimo, para os que percebem remuneração variável. tido. De acordo com a Portaria Interministerial MPS/MF nº
19, de 10/01/2014, valor do salário-família será de R$ 35,00,
O salário mínimo é direito de todos os trabalhadores, por filho de até 14 anos incompletos ou inválido, para quem
mesmo daqueles que recebem remuneração variável (ex.: ba- ganhar até R$ 682,50. Já para o trabalhador que receber de
seada em comissões por venda e metas); R$ 682,51 até R$ 1.025,81, o valor do salário-família por filho
de até 14 anos de idade ou inválido de qualquer idade será
Artigo 7º, VIII, CF. Décimo terceiro salário com base na de R$ 24,66.
remuneração integral ou no valor da aposentadoria.
Artigo 7º, XIII, CF. duração do trabalho normal não su-
Também conhecido como gratificação natalina, foi insti- perior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
tuída no Brasil pela Lei nº 4.090/1962 e garante que o traba- facultada a compensação de horários e a redução da jornada,
lhador receba o correspondente a 1/12 (um doze avos) da mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho.
remuneração por mês trabalhado, ou seja, consiste no paga- Artigo 7º, XVI, CF. Remuneração do serviço extraordiná-
mento de um salário extra ao trabalhador e ao aposentado no rio superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal.
final de cada ano.
A legislação trabalhista vigente estabelece que a du-
Artigo 7º, IX, CF. Remuneração do trabalho noturno su- ração normal do trabalho, salvo os casos especiais, é de 8
perior à do diurno. (oito) horas diárias e 44 (quarenta e quatro) semanais, no
máximo. Todavia, poderá a jornada diária de trabalho dos
O adicional noturno é devido para o trabalho exercido empregados maiores ser acrescida de horas suplementares,
durante a noite, de modo que cada hora noturna sofre a redu- em número não excedentes a duas, no máximo, para efeito
ção de 7 minutos e 30 segundos, ou ainda, é feito acréscimo de serviço extraordinário, mediante acordo individual, acor-
de 12,5% sobre o valor da hora diurna. Considera-se noturno, do coletivo, convenção coletiva ou sentença normativa. Ex-
nas atividades urbanas, o trabalho realizado entre as 22:00 cepcionalmente, ocorrendo necessidade imperiosa, poderá
horas de um dia às 5:00 horas do dia seguinte; nas atividades ser prorrogada além do limite legalmente permitido. A re-
rurais, é considerado noturno o trabalho executado na lavou- muneração do serviço extraordinário, desde a promulgação
ra entre 21:00 horas de um dia às 5:00 horas do dia seguinte; da Constituição Federal, deverá constar, obrigatoriamente,
e na pecuária, entre 20:00 horas às 4:00 horas do dia seguinte. do acordo, convenção ou sentença normativa, e será, no mí-
nimo, 50% (cinquenta por cento) superior à da hora normal.
Artigo 7º, X, CF. Proteção do salário na forma da lei,
constituindo crime sua retenção dolosa. Artigo 7º, XIV, CF. Jornada de seis horas para o trabalho
realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo
Quanto ao possível crime de retenção de salário, não há negociação coletiva.
no Código Penal brasileiro uma norma que determina a ação
de retenção de salário como crime. Apesar do artigo 7º, X, CF O constituinte ao estabelecer jornada máxima de 6 ho-
dizer que é crime a retenção dolosa de salário, o dispositivo ras para os turnos ininterruptos de revezamento, expressa-
é norma de eficácia limitada, pois depende de lei ordinária, mente ressalvando a hipótese de negociação coletiva, obje-
ainda mais porque qualquer norma penal incriminadora é tivou prestigiar a atuação da entidade sindical. Entretanto, a
regida pela legalidade estrita (artigo 5º, XXXIX, CF). jurisprudência evoluiu para uma interpretação restritiva de

20
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

seu teor, tendo como parâmetro o fato de que o trabalho homens recebem mais porque os empregadores entendem
em turnos ininterruptos é por demais desgastante, penoso, que eles necessitam de um salário maior para manter a famí-
além de trazer malefícios de ordem fisiológica para o tra- lia. Tais disparidades colocam em evidência que o mercado
balhador, inclusive distúrbios no âmbito psicossocial já que de trabalho da mulher deve ser protegido de forma especial.
dificulta o convívio em sociedade e com a própria família.
Artigo 7º, XXI, CF. Aviso prévio proporcional ao tempo
Artigo 7º, XV, CF. Repouso semanal remunerado, prefe- de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei.
rencialmente aos domingos.
Nas relações de emprego, quando uma das partes deseja
O Descanso Semanal Remunerado é de 24 (vinte e qua- rescindir, sem justa causa, o contrato de trabalho por prazo
tro) horas consecutivas, devendo ser concedido preferen- indeterminado, deverá, antecipadamente, notificar à outra
cialmente aos domingos, sendo garantido a todo trabalha- parte, através do aviso prévio. O aviso prévio tem por finalida-
dor urbano, rural ou doméstico. Havendo necessidade de de evitar a surpresa na ruptura do contrato de trabalho, pos-
trabalho aos domingos, desde que previamente autorizados sibilitando ao empregador o preenchimento do cargo vago e
pelo Ministério do Trabalho, aos trabalhadores é assegurado ao empregado uma nova colocação no mercado de trabalho,
pelo menos um dia de repouso semanal remunerado coin- sendo que o aviso prévio pode ser trabalhado ou indenizado.
cidente com um domingo a cada período, dependendo da
atividade (artigo 67, CLT). Artigo 7º, XXII, CF. Redução dos riscos inerentes ao tra-
balho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.
Artigo 7º, XVII, CF. Gozo de férias anuais remuneradas
com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal. Trata-se ao direito do trabalhador a um meio ambiente
do trabalho salubre. Fiorillo28 destaca que o equilíbrio do meio
O salário das férias deve ser superior em pelo menos um ambiente do trabalho está sedimentado na salubridade e na
terço ao valor da remuneração normal, com todos os adicio- ausência de agentes que possam comprometer a incolumida-
de físico-psíquica dos trabalhadores.
nais e benefícios aos quais o trabalhador tem direito. A cada
Artigo 7º, XXIII, CF. Adicional de remuneração para as ati-
doze meses de trabalho – denominado período aquisitivo
vidades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei.
– o empregado terá direito a trinta dias corridos de férias, se
não tiver faltado injustificadamente mais de cinco vezes ao
Penoso é o trabalho acerbo, árduo, amargo, difícil, moles-
serviço (caso isso ocorra, os dias das férias serão diminuídos
to, trabalhoso, incômodo, laborioso, doloroso, rude, que não
de acordo com o número de faltas).
é perigoso ou insalubre, mas penosa, exigindo atenção e vigi-
Artigo 7º, XVIII, CF. Licença à gestante, sem prejuízo do
lância acima do comum. Ainda não há na legislação específica
emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias.
previsão sobre o adicional de penosidade.
São consideradas atividades ou operações insalubres as
O salário da trabalhadora em licença é chamado de sa- que se desenvolvem excesso de limites de tolerância para:
lário-maternidade, é pago pelo empregador e por ele des- ruído contínuo ou intermitente, ruídos de impacto, exposição
contado dos recolhimentos habituais devidos à Previdência ao calor e ao frio, radiações, certos agentes químicos e bio-
Social. A trabalhadora pode sair de licença a partir do último lógicos, vibrações, umidade, etc. O exercício de trabalho em
mês de gestação, sendo que o período de licença é de 120 condições de insalubridade assegura ao trabalhador a per-
dias. A Constituição também garante que, do momento em cepção de adicional, incidente sobre o salário base do em-
que se confirma a gravidez até cinco meses após o parto, a pregado (súmula 228 do TST), ou previsão mais benéfica em
mulher não pode ser demitida. Convenção Coletiva de Trabalho, equivalente a 40% (quarenta
por cento), para insalubridade de grau máximo; 20% (vinte
Artigo 7º, XIX, CF. Licença-paternidade, nos termos fi- por cento), para insalubridade de grau médio; 10% (dez por
xados em lei. cento), para insalubridade de grau mínimo.
O adicional de periculosidade é um valor devido ao em-
O homem tem direito a 5 dias de licença-paternidade pregado exposto a atividades perigosas. São consideradas
para estar mais próximo do bebê recém-nascido e ajudar a atividades ou operações perigosas, aquelas que, por sua na-
mãe nos processos pós-operatórios. tureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado
em virtude de exposição permanente do trabalhador a infla-
Artigo 7º, XX, CF. Proteção do mercado de trabalho da máveis, explosivos ou energia elétrica; e a roubos ou outras
mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei. espécies de violência física nas atividades profissionais de
segurança pessoal ou patrimonial. O valor do adicional de pe-
Embora as mulheres sejam maioria na população de 10 riculosidade será o salário do empregado acrescido de 30%,
anos ou mais de idade, elas são minoria na população ocu- sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou
pada, mas estão em maioria entre os desocupados. Acres- participações nos lucros da empresa.
centa-se ainda, que elas são maioria também na população 28 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso
não economicamente ativa. Além disso, ainda há relevante de Direito Ambiental brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva,
diferença salarial entre homens e mulheres, sendo que os 2009, p. 21.

21
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O Tribunal Superior do Trabalho ainda não tem entendi- que dispõe sobre as modalidades de benefícios da previdên-
mento unânime sobre a possibilidade de cumulação destes cia social. Referida Lei, em seu artigo 19 da preceitua que
adicionais. acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do traba-
lho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho, pro-
Artigo 7º, XXIV, CF. Aposentadoria. vocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause
a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária,
A aposentadoria é um benefício garantido a todo tra- da capacidade para o trabalho.
balhador brasileiro que pode ser usufruído por aquele que Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) é uma contribui-
tenha contribuído ao Instituto Nacional de Seguridade So- ção com natureza de tributo que as empresas pagam para
cial (INSS) pelos prazos estipulados nas regras da Previdência custear benefícios do INSS oriundos de acidente de trabalho
Social e tenha atingido as idades mínimas previstas. Aliás, o ou doença ocupacional, cobrindo a aposentadoria especial.
direito à previdência social é considerado um direito social no A alíquota normal é de um, dois ou três por cento sobre
próprio artigo 6º, CF. a remuneração do empregado, mas as empresas que ex-
põem os trabalhadores a agentes nocivos químicos, físicos
Artigo 7º, XXV, CF. Assistência gratuita aos filhos e de- e biológicos precisam pagar adicionais diferenciados. Assim,
pendentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em quanto maior o risco, maior é a alíquota, mas atualmente o
creches e pré-escolas. Ministério da Previdência Social pode alterar a alíquota se a
empresa investir na segurança do trabalho.
Todo estabelecimento com mais de 30 funcionárias com
Neste sentido, nada impede que a empresa seja res-
mais de 16 anos tem a obrigação de oferecer um espaço fí-
ponsabilizada pelos acidentes de trabalho, indenizando o
sico para que as mães deixem o filho de 0 a 6 meses, en-
trabalhador. Na atualidade entende-se que a possibilidade
quanto elas trabalham. Caso não ofereçam esse espaço aos
bebês, a empresa é obrigada a dar auxílio-creche a mulher de cumulação do benefício previdenciário, assim compreen-
para que ela pague uma creche para o bebê de até 6 meses. dido como prestação garantida pelo Estado ao trabalhador
O valor desse auxílio será determinado conforme negocia- acidentado (responsabilidade objetiva) com a indenização
ção coletiva na empresa (acordo da categoria ou convenção). devida pelo empregador em caso de culpa (responsabilida-
A empresa que tiver menos de 30 funcionárias registradas de subjetiva), é pacífica, estando amplamente difundida na
não tem obrigação de conceder o benefício. É facultativo (ela jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho;
pode oferecer ou não). Existe a possibilidade de o benefício
ser estendido até os 6 anos de idade e incluir o trabalhador Artigo 7º, XXIX, CF. Ação, quanto aos créditos resultantes
homem. A duração do auxílio-creche e o valor envolvido va- das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco
riarão conforme negociação coletiva na empresa. anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de
dois anos após a extinção do contrato de trabalho.
Artigo 7º, XXVI, CF. Reconhecimento das convenções e
acordos coletivos de trabalho. Prescrição é a perda da pretensão de buscar a tutela ju-
risdicional para assegurar direitos violados. Sendo assim, há
Neste dispositivo se funda o direito coletivo do trabalho, um período de tempo que o empregado tem para requerer
que encontra regulamentação constitucional nos artigo 8º seu direito na Justiça do Trabalho. A prescrição trabalhista é
a 11 da Constituição. Pelas convenções e acordos coletivos, sempre de 2 (dois) anos a partir do término do contrato de
entidades representativas da categoria dos trabalhadores en- trabalho, atingindo as parcelas relativas aos 5 (cinco) anos
tram em negociação com as empresas na defesa dos inte- anteriores, ou de 05 (cinco) anos durante a vigência do con-
resses da classe, assegurando o respeito aos direitos sociais; trato de trabalho.
Artigo 7º, XXVII, CF. Proteção em face da automação, na Artigo 7º, XXX, CF. Proibição de diferença de salários,
forma da lei. de exercício de funções e de critério de admissão por motivo
de sexo, idade, cor ou estado civil.
Trata-se da proteção da substituição da máquina pelo ho-
mem, que pode ser feita, notadamente, qualificando o profissio-
Há uma tendência de se remunerar melhor homens
nal para exercer trabalhos que não possam ser desempenhados
brancos na faixa dos 30 anos que sejam casados, sendo pa-
por uma máquina (ex.: se criada uma máquina que substitui o
trabalhador, deve ser ele qualificado para que possa operá-la). tente a diferença remuneratória para com pessoas de dife-
rente etnia, faixa etária ou sexo. Esta distinção atenta contra
Artigo 7º, XXVIII, CF. Seguro contra acidentes de traba- o princípio da igualdade e não é aceita pelo constituinte,
lho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que sendo possível inclusive invocar a equiparação salarial judi-
este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. cialmente.

Atualmente, é a Lei nº 8.213/91 a responsável por tratar Artigo 7º, XXXI, CF. Proibição de qualquer discriminação
do assunto e em seus artigos 19, 20 e 21 apresenta a defi- no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador
nição de doenças e acidentes do trabalho. Não se trata de portador de deficiência.
legislação específica sobre o tema, mas sim de uma norma

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A pessoa portadora de deficiência, dentro de suas limita- II - é vedada a criação de mais de uma organização
ções, possui condições de ingressar no mercado de trabalho e sindical, em qualquer grau, representativa de categoria
não pode ser preterida meramente por conta de sua deficiência. profissional ou econômica, na mesma base territorial, que
será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessa-
Artigo 7º, XXXII, CF. Proibição de distinção entre traba- dos, não podendo ser inferior à área de um Município;
lho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses
respectivos. coletivos ou individuais da categoria, inclusive em ques-
tões judiciais ou administrativas;
Os trabalhos manuais, técnicos e intelectuais são igual- IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em
mente relevantes e contribuem todos para a sociedade, não se tratando de categoria profissional, será descontada em
cabendo a desvalorização de um trabalho apenas por se en- folha, para custeio do sistema confederativo da representa-
quadrar numa ou outra categoria. ção sindical respectiva, independentemente da contribuição
prevista em lei;
Artigo 7º, XXXIII, CF. proibição de trabalho noturno, pe- V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se
rigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer filiado a sindicato;
trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas ne-
de aprendiz, a partir de quatorze anos. gociações coletivas de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser vota-
Trata-se de norma protetiva do adolescente, estabele- do nas organizações sindicais;
cendo-se uma idade mínima para trabalho e proibindo-se o VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicaliza-
trabalho em condições desfavoráveis. do a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou
Artigo 7º, XXXIV, CF. Igualdade de direitos entre o traba- representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um
lhador com vínculo empregatício permanente e o traba- ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos
lhador avulso. termos da lei.
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à
Avulso é o trabalhador que presta serviço a várias em- organização de sindicatos rurais e de colônias de pescado-
presas, mas é contratado por sindicatos e órgãos gestores de res, atendidas as condições que a lei estabelecer.
mão-de-obra, possuindo os mesmos direitos que um traba-
lhador com vínculo empregatício permanente. O direito de greve, por seu turno, está previsto no artigo
A Emenda Constitucional nº 72/2013, conhecida como 9º, CF:
PEC das domésticas, deu nova redação ao parágrafo único
do artigo 7º: Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e so-
Artigo 7º, parágrafo único, CF. São assegurados à catego- bre os interesses que devam por meio dele defender.
ria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais
incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da
XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições esta- comunidade.
belecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às
das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes penas da lei.
da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos
incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração A respeito, conferir a Lei nº 7.783/89, que dispõe sobre
à previdência social.  o exercício do direito de greve, define as atividades essen-
ciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da
5) Direito coletivo do trabalho comunidade, e dá outras providências. Enquanto não for
Os artigos 8º a 11 trazem os direitos sociais coletivos dos disciplinado o direito de greve dos servidores públicos, esta
trabalhadores, que são os exercidos pelos trabalhadores, co- é a legislação que se aplica, segundo o STF.
letivamente ou no interesse de uma coletividade, quais se- O direito de participação é previsto no artigo 10, CF:
jam: associação profissional ou sindical, greve, substituição
processual, participação e representação classista29. Artigo 10, CF. É assegurada a participação dos trabalha-
A liberdade de associação profissional ou sindical tem dores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos
escopo no artigo 8º, CF: em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam
objeto de discussão e deliberação.
Art. 8º, CF. É livre a associação profissional ou sindical,
observado o seguinte: Por fim, aborda-se o direito de representação classista
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a no artigo 11, CF:
fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão compe-
tente, vedadas ao Poder Público a interferência e a interven- Artigo 11, CF. Nas empresas de mais de duzentos empre-
ção na organização sindical; gados, é assegurada a eleição de um representante destes
29 LENZA, Pedro. Curso de direito constitu- com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento
cional esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. direto com os empregadores.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Nacionalidade é evitar a consolidação de ameaças a direitos humanos de


O capítulo III do Título II aborda a nacionalidade, que uma pessoa por parte daqueles que deveriam protegê-los
vem a ser corolário dos direitos políticos, já que somente um – isto é, os governantes e os entes sociais como um todo
nacional pode adquirir direitos políticos. –, e não proteger pessoas que justamente cometeram tais
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga violações.
um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele
passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim 2) Naturalidade e naturalização
de direitos e obrigações. O artigo 12 da Constituição Federal estabelece quem
Povo é o conjunto de nacionais. Por seu turno, povo são os nacionais brasileiros, dividindo-os em duas catego-
não é a mesma coisa que população. População é o conjun- rias: natos e naturalizados. Percebe-se que naturalidade é
to de pessoas residentes no país – inclui o povo, os estran- diferente de nacionalidade – naturalidade é apenas o local
geiros residentes no país e os apátridas. de nascimento, nacionalidade é um efetivo vínculo com o
Estado.
1) Nacionalidade como direito humano fundamental Uma pessoa pode ser considerada nacional brasileira
Os direitos humanos internacionais são completamente tanto por ter nascido no território brasileiro quanto por vo-
contrários à ideia do apátrida – ou heimatlos –, que é o in- luntariamente se naturalizar como brasileiro, como se per-
divíduo que não possui o vínculo da nacionalidade com ne- cebe no teor do artigo 12, CF. O estrangeiro, num conceito
nhum Estado. Logo, a nacionalidade é um direito da pessoa tomado à base de exclusão, é todo aquele que não é nacio-
humana, o qual não pode ser privado de forma arbitrária. nal brasileiro.
Não há privação arbitrária quando respeitados os critérios a) Brasileiros natos
legais previstos no texto constitucional no que tange à perda Art. 12, CF. São brasileiros:
da nacionalidade. Em outras palavras, o constituinte brasilei- I - natos:
ro não admite a figura do apátrida. a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ain-
Contudo, é exatamente por ser um direito que a nacio- da que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a
nalidade não pode ser uma obrigação, garantindo-se à pes- serviço de seu país;
soa o direito de deixar de ser nacional de um país e passar a b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
sê-lo de outro, mudando de nacionalidade, por um processo brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da Re-
conhecido como naturalização. pública Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de
Prevê a Declaração Universal dos Direitos Humanos em
mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição
seu artigo 15: “I) Todo homem tem direito a uma naciona-
brasileira competente ou venham a residir na República
lidade. II) Ninguém será arbitrariamente privado de sua na-
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois
cionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade”.
de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos apro-
funda-se em meios para garantir que toda pessoa tenha
Tradicionalmente, são possíveis dois critérios para a
uma nacionalidade desde o seu nascimento ao adotar o cri-
atribuição da nacionalidade primária – nacional nato –, no-
tério do jus solis, explicitando que ao menos a pessoa terá a
tadamente: ius soli, direito de solo, o nacional nascido em
nacionalidade do território onde nasceu, quando não tiver território do país independentemente da nacionalidade dos
direito a outra nacionalidade por previsões legais diversas. pais; e ius sanguinis, direito de sangue, que não depende do
“Nacionalidade é um direito fundamental da pessoa hu- local de nascimento mas sim da descendência de um nacio-
mana. Todos a ela têm direito. A nacionalidade de um indiví- nal do país (critério comum em países que tiveram êxodo de
duo não pode ficar ao mero capricho de um governo, de um imigrantes).
governante, de um poder despótico, de decisões unilaterais, O brasileiro nato, primeiramente, é aquele que nasce
concebidas sem regras prévias, sem o contraditório, a defe- no território brasileiro – critério do ius soli, ainda que filho
sa, que são princípios fundamentais de todo sistema jurídico de pais estrangeiros, desde que não sejam estrangeiros que
que se pretenda democrático. A questão não pode ser trata- estejam a serviço de seu país ou de organismo internacional
da com relativismos, uma vez que é muito séria”30. (o que geraria um conflito de normas). Contudo, também é
Não obstante, tem-se no âmbito constitucional e in- possível ser brasileiro nato ainda que não se tenha nascido
ternacional a previsão do direito de asilo, consistente no no território brasileiro.
direito de buscar abrigo em outro país quando naquele do No entanto, a Constituição reconhece o brasileiro nato
qual for nacional estiver sofrendo alguma perseguição. Tal também pelo critério do ius sanguinis. Se qualquer dos pais
perseguição não pode ter motivos legítimos, como a prática estiver a serviço do Brasil, é considerado brasileiro nato,
de crimes comuns ou de atos atentatórios aos princípios das mesmo que nasça em outro país. Se qualquer dos pais não
Nações Unidas, o que subverteria a própria finalidade desta estiverem a serviço do Brasil e a pessoa nascer no exterior
proteção. Em suma, o que se pretende com o direito de asilo é exigido que o nascido do exterior venha ao território bra-
30 VALVERDE, Thiago Pellegrini. Comen- sileiro e aqui resida ou que tenha sido registrado em repar-
tários aos artigos XV e XVI. In: BALERA, Wagner (Coord.). tição competente, caso em que poderá, aos 18 anos, ma-
Comentários à Declaração Universal dos Direitos do Ho- nifestar-se sobre desejar permanecer com a nacionalidade
mem. Brasília: Fortium, 2008, p. 87-88. brasileira ou não.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

b) Brasileiros naturalizados Artigo 12, §2º, CF. A lei não poderá estabelecer distinção
entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos pre-
Art. 12, CF. São brasileiros: [...] vistos nesta Constituição.
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade Percebe-se que a Constituição simultaneamente estabe-
brasileira, exigidas aos originários de países de língua por- lece a não distinção e se reserva ao direito de estabelecer as
tuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e ido- hipóteses de distinção.
neidade moral; Algumas destas hipóteses de distinção já se encontram
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes enumeradas no parágrafo seguinte.
na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos inin-
terruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a Artigo 12, § 3º, CF. São privativos de brasileiro nato os cargos:
nacionalidade brasileira. I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
A naturalização deve ser voluntária e expressa. III - de Presidente do Senado Federal;
O Estatuto do Estrangeiro, Lei nº 6.815/1980, rege a IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
questão da naturalização em mais detalhes, prevendo no V - da carreira diplomática;
artigo 112: VI - de oficial das Forças Armadas;
Art. 112, Lei nº 6.815/1980. São condições para a concessão VII - de Ministro de Estado da Defesa.
da naturalização:
I - capacidade civil, segundo a lei brasileira; A lógica do dispositivo é a de que qualquer pessoa no
II - ser registrado como permanente no Brasil; exercício da presidência da República ou de cargo que pos-
III - residência contínua no território nacional, pelo prazo sa levar a esta posição provisoriamente deve ser natural do
mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido país (ausente o Presidente da República, seu vice-presidente
de naturalização; desempenha o cargo; ausente este assume o Presidente da
IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as con- Câmara; também este ausente, em seguida, exerce o cargo
o Presidente do Senado; e, por fim, o Presidente do Supre-
dições do naturalizando;
mo pode assumir a presidência na ausência dos anteriores – e
V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à ma-
como o Presidente do Supremo é escolhido num critério de
nutenção própria e da família;
revezamento nenhum membro pode ser naturalizado); ou a
VI - bom procedimento;
de que o cargo ocupado possui forte impacto em termos de
VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação
representação do país ou de segurança nacional.
no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada
Outras exceções são: não aceitação, em regra, de brasi-
pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a
leiro naturalizado como membro do Conselho da República
1 (um) ano; e (artigos 89 e 90, CF); impossibilidade de ser proprietário de
VIII - boa saúde. empresa jornalística, de radiodifusão sonora e imagens, salvo
se já naturalizado há 10 anos (artigo 222, CF); possibilidade
Destaque vai para o requisito da residência contínua. Em de extradição do brasileiro naturalizado que tenha praticado
regra, o estrangeiro precisa residir no país por 4 anos contí- crime comum antes da naturalização ou, depois dela, crime
nuos, conforme o inciso III do referido artigo 112. No entanto, de tráfico de drogas (artigo 5º, LI, CF).
por previsão constitucional do artigo 12, II, “a”, se o estran-
geiro foi originário de país com língua portuguesa o prazo de 3) Quase-nacionalidade: caso dos portugueses
residência contínua é reduzido para 1 ano. Daí se afirmar que Nos termos do artigo 12, § 1º, CF:
o constituinte estabeleceu a naturalização ordinária no artigo
12, II, “b” e a naturalização extraordinária no artigo 12, II, “a”. Artigo 12, §1º, CF. Aos portugueses com residência per-
Outra diferença sensível é que à naturalização ordinária se manente no País, se houver reciprocidade em favor de bra-
aplica o artigo 121 do Estatuto do Estrangeiro, segundo o qual sileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro,
“a satisfação das condições previstas nesta Lei não assegura salvo os casos previstos nesta Constituição.
ao estrangeiro direito à naturalização”. Logo, na naturalização
ordinária não há direito subjetivo à naturalização, mesmo que É uma regra que só vale se os brasileiros receberem o
preenchidos todos os requisitos. Trata-se de ato discricionário mesmo tratamento, questão regulamentada pelo Tratado de
do Ministério da Justiça. O mesmo não vale para a naturaliza- Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Federativa
ção extraordinária, quando há direito subjetivo, cabendo inclu- do Brasil e a República Portuguesa, assinado em 22 de abril de
sive a busca do Poder Judiciário para fazê-lo valer31. 2000 (Decreto nº 3.927/2001).
As vantagens conferidas são: igualdade de direitos civis,
c) Tratamento diferenciado não sendo considerado um estrangeiro; gozo de direitos polí-
A regra é que todo nacional brasileiro, seja ele nato ou ticos se residir há 3 anos no país, autorizando-se o alistamen-
naturalizado, deverá receber o mesmo tratamento. Neste to eleitoral. No caso de exercício dos direitos políticos nestes
sentido, o artigo 12, § 2º, CF: moldes, os direitos desta natureza ficam suspensos no outro
31 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais to- país, ou seja, não exerce simultaneamente direitos políticos
madas em teleconferência. nos dois países.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

4) Perda da nacionalidade 6) Extradição


Artigo 12, § 4º, CF. Será declarada a perda da naciona- A extradição é ato diverso da deportação, da expulsão
lidade do brasileiro que: e da entrega. Extradição é um ato de cooperação interna-
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença ju- cional que consiste na entrega de uma pessoa, acusada ou
dicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; condenada por um ou mais crimes, ao país que a reclama.
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: O Brasil, sob hipótese alguma, extraditará brasileiros natos
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei mas quanto aos naturalizados assim permite caso tenham
estrangeira; praticado crimes comuns (exceto crimes políticos e/ou de
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao opinião) antes da naturalização, ou, mesmo depois da natu-
brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para ralização, em caso de envolvimento com o tráfico ilícito de
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. entorpecentes (artigo 5º, LI e LII, CF).
A respeito do inciso I do §4º do artigo 12, a Lei nº 818, Aplicam-se os seguintes princípios à extradição:
de 18 de setembro de 1949 regula a aquisição, a perda e a a) Princípio da Especialidade: Significa que o estrangeiro
reaquisição da nacionalidade, e a perda dos direitos políticos. só pode ser julgado pelo Estado requerente pelo crime ob-
No processo deve ser respeitado o contraditório e a iniciativa jeto do pedido de extradição. O importante é que o extra-
de propositura é do Procurador da República. ditado só seja submetido às penas relativas aos crimes que
No que tange ao inciso II do parágrafo em estudo, per- foram objeto do pedido de extradição.
cebe-se a aceitação da figura do polipátrida. Na alínea “a” b) Princípio da Dupla Punibilidade: O fato praticado
aceita-se que a pessoa tenha nacionalidade brasileira e outra deve ser punível no Estado requerente e no Brasil. Logo,
se ao seu nascimento tiver adquirido simultaneamente a na- além do fato ser típico em ambos os países, deve ser punível
cionalidade do Brasil e outro país; na alínea “b” é reconhecida em ambos (se houve prescrição em algum dos países, p. ex.,
a mesma situação se a aquisição da nacionalidade do outro não pode ocorrer a extradição).
país for uma exigência para continuar lá permanecendo ou c) Princípio da Retroatividade dos Tratados: O fato de
exercendo seus direitos civis, pois se assim não o fosse o bra- um tratado de extradição entre dois países ter sido celebra-
sileiro seria forçado a optar por uma nacionalidade e, prova-
do após a ocorrência do crime não impede a extradição.
velmente, se ver privado da nacionalidade brasileira.
d) Princípio da Comutação da Pena (Direitos Humanos):
Se o crime for apenado por qualquer das penas vedadas
5) Deportação, expulsão e entrega
pelo artigo 5º, XLVII da CF, a extradição não será autorizada,
A deportação representa a devolução compulsória de
salvo se houver a comutação da pena, transformação para
um estrangeiro que tenha entrado ou esteja de forma ir-
uma pena aceita no Brasil.
regular no território nacional, estando prevista na Lei nº
6.815/1980, em seus artigos 57 e 58. Neste caso, não houve
prática de qualquer ato nocivo ao Brasil, havendo, pois, mera 7) Idioma e símbolos
irregularidade de visto. Art. 13, CF. A língua portuguesa é o idioma oficial da
A expulsão é a retirada “à força” do território brasileiro República Federativa do Brasil.
de um estrangeiro que tenha praticado atos tipificados no § 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a
artigo 65 e seu parágrafo único, ambos da Lei nº 6.815/1980: bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
Art. 65, Lei nº 6.815/1980. É passível de expulsão o es- poderão ter símbolos próprios.
trangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança
nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou mora- Idioma é a língua falada pela população, que confere
lidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o caráter diferenciado em relação à população do resto do
torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais. mundo. Sendo assim, é manifestação social e cultural de
Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o estran- uma nação.
geiro que: Os símbolos, por sua vez, representam a imagem da na-
a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou perma- ção e permitem o seu reconhecimento nacional e interna-
nência no Brasil; cionalmente.
b) havendo entrado no território nacional com infração à Por esta intrínseca relação com a nacionalidade, a pre-
lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para visão é feito dentro do capítulo do texto constitucional que
fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação; aborda o tema.
c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou
d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei Direitos políticos
para estrangeiro. Como mencionado, a nacionalidade é corolário dos di-
reitos políticos, já que somente um nacional pode adquirir
A entrega (ou surrender) consiste na submissão de um direitos políticos. No entanto, nem todo nacional é titular de
nacional a um tribunal internacional do qual o próprio país direitos políticos. Os nacionais que são titulares de direitos
faz parte. É o que ocorreria, por exemplo, se o Brasil entre- políticos são denominados cidadãos. Significa afirmar que
gasse um brasileiro para julgamento pelo Tribunal Penal In- nem todo nacional brasileiro é um cidadão brasileiro, mas
ternacional (competência reconhecida na própria Constitui- somente aquele que for titular do direito de sufrágio uni-
ção no artigo 5º, §4º). versal.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

1) Sufrágio universal 3) Obrigatoriedade do alistamento eleitoral e do


A primeira parte do artigo 14, CF, prevê que “a soberania voto
popular será exercida pelo sufrágio universal [...]”. O alistamento eleitoral e o voto para os maiores de de-
Sufrágio universal é a soma de duas capacidades eleito- zoito anos são, em regra, obrigatórios. Há facultatividade
rais, a capacidade ativa – votar e exercer a democracia direta para os analfabetos, os maiores de setenta anos e os maiores
– e a capacidade passiva – ser eleito como representante no de dezesseis e menores de dezoito anos.
modelo da democracia indireta. Ou ainda, sufrágio universal
é o direito de todos cidadãos de votar e ser votado. O voto, Artigo 14, § 1º, CF. O alistamento eleitoral e o voto são:
que é o ato pelo qual se exercita o sufrágio, deverá ser direto I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
e secreto. II - facultativos para:
Para ter capacidade passiva é necessário ter a ativa, mas a) os analfabetos;
não apenas isso, há requisitos adicionais. Sendo assim, nem b) os maiores de setenta anos;
toda pessoa que tem capacidade ativa tem também capa- c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
cidade passiva, embora toda pessoa que tenha capacidade No mais, esta obrigatoriedade se aplica aos nacionais
passiva tenha necessariamente a ativa. brasileiros, já que, nos termos do artigo 14, §2º, CF:

2) Democracia direta e indireta Artigo 14, §2º, CF. Não podem alistar-se como eleitores
Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo sufrá- os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obriga-
gio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para tório, os conscritos.
todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito; Quanto aos conscritos, são aqueles que estão prestando
II - referendo; serviço militar obrigatório, pois são necessárias tropas dis-
III - iniciativa popular. poníveis para os dias da eleição.

A democracia brasileira adota a modalidade semidire- 4) Elegibilidade


ta, porque possibilita a participação popular direta no poder O artigo 14, §§ 3º e 4º, CF, descrevem as condições de
por intermédio de processos como o plebiscito, o referendo elegibilidade, ou seja, os requisitos que devem ser preen-
e a iniciativa popular. Como são hipóteses restritas, pode- chidos para que uma pessoa seja eleita, no exercício de sua
-se afirmar que a democracia indireta é predominantemente capacidade passiva do sufrágio universal.
adotada no Brasil, por meio do sufrágio universal e do voto
direto e secreto com igual valor para todos. Quanto ao voto Artigo 14, § 3º, CF. São condições de elegibilidade, na
direto e secreto, trata-se do instrumento para o exercício da forma da lei:
capacidade ativa do sufrágio universal. I - a nacionalidade brasileira;
Por seu turno, o que diferencia o plebiscito do referendo II - o pleno exercício dos direitos políticos;
é o momento da consulta à população: no plebiscito, pri- III - o alistamento eleitoral;
meiro se consulta a população e depois se toma a decisão IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
política; no referendo, primeiro se toma a decisão política e V - a filiação partidária;
depois se consulta a população. Embora os dois partam do VI - a idade mínima de:
Congresso Nacional, o plebiscito é convocado, ao passo que a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente
o referendo é autorizado (art. 49, XV, CF), ambos por meio da República e Senador;
de decreto legislativo. O que os assemelha é que os dois b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Es-
são “formas de consulta ao povo para que delibere sobre tado e do Distrito Federal;
matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Es-
legislativa ou administrativa”32. tadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
Na iniciativa popular confere-se à população o poder d) dezoito anos para Vereador.
de apresentar projeto de lei à Câmara dos Deputados, me-
diante assinatura de 1% do eleitorado nacional, distribuído Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os
por 5 Estados no mínimo, com não menos de 0,3% dos elei- analfabetos.
tores de cada um deles. Em complemento, prevê o artigo
61, §2°, CF: Dos incisos I a III denotam-se requisitos correlatos à na-
cionalidade e à titularidade de direitos políticos. Logo, para
Art. 61, § 2º, CF. A iniciativa popular pode ser exercida ser eleito é preciso ser cidadão.
pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei O domicílio eleitoral é o local onde a pessoa se alista
subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacio- como eleitor e, em regra, é no município onde reside, mas
nal, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos pode não o ser caso analisados aspectos como o vínculo
de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. de afeto com o local (ex.: Presidente Dilma vota em Porto
32 LENZA, Pedro. Curso de direito cons- Alegre – RS, embora resida em Brasília – DF). Sendo assim,
titucional esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, para se candidatar a cargo no município, deve ter domicílio
2011. eleitoral nele; para se candidatar a cargo no estado, deve ter

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

domicílio eleitoral em um de seus municípios; para se candi- São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos,
datar a cargo nacional, deve ter domicílio eleitoral em uma os chefes do Executivo que não renunciarem aos seus manda-
das unidades federadas do país. Aceita-se a transferência do tos até seis meses antes do pleito eleitoral, antes das eleições.
domicílio eleitoral ao menos 1 ano antes das eleições. Ex.: Se a eleição aconteceu em 05/10/2014, necessário que
A filiação partidária implica no lançamento da candidatu- tivesse renunciado até 04/04/2014.
ra por um partido político, não se aceitando a filiação avulsa.
Finalmente, o §3º do artigo 14, CF, coloca o requisito Artigo 14, §7º, CF. São inelegíveis, no território de jurisdi-
etário, com faixa etária mínima para o desempenho de cada ção do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins,
uma das funções, a qual deve ser auferida na data da posse. até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República,
de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de
5) Inelegibilidade Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
Atender às condições de elegibilidade é necessário para anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e can-
poder ser eleito, mas não basta. Além disso, é preciso não didato à reeleição.
se enquadrar em nenhuma das hipóteses de inelegibilidade.
A inelegibilidade pode ser absoluta ou relativa. Na abso-
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos,
luta, são atingidos todos os cargos; nas relativas, são atingi-
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo
dos determinados cargos.
grau ou por adoção, dos Chefes do Executivo ou de quem os
Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os tenha substituído ao final do mandato, a não ser que seja já
analfabetos. titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

O artigo 14, §4º, CF traz duas hipóteses de inelegibili- Artigo 14, §8º, CF. O militar alistável é elegível, atendidas
dade, que são absolutas, atingem todos os cargos. Para ser as seguintes condições:
elegível é preciso ser alfabetizado (os analfabetos têm a fa- I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-
culdade de votar, mas não podem ser votados) e é preciso -se da atividade;
possuir a capacidade eleitoral ativa – poder votar (inalistáveis II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado
são aqueles que não podem tirar o título de eleitor, portanto, pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente,
não podem votar, notadamente: os estrangeiros e os conscri- no ato da diplomação, para a inatividade.
tos durante o serviço militar obrigatório).
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, os
Artigo 14, §5º, CF. O Presidente da República, os militares que não podem se alistar ou os que podem, mas
Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos não preenchem as condições do §8º do artigo 14, CF, ou seja,
e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos se não se afastar da atividade caso trabalhe há menos de 10
mandatos poderão ser reeleitos para um único período sub- anos, se não for agregado pela autoridade superior (suspenso
sequente. do exercício das funções por sua autoridade sem prejuízo de
remuneração) caso trabalhe há mais de 10 anos (sendo que a
Descreve-se no dispositivo uma hipótese de inelegibili- eleição passa à condição de inativo).
dade relativa. Se um Chefe do Poder Executivo de qualquer
das esferas for substituído por seu vice no curso do mandato, Artigo 14, §9º, CF. Lei complementar estabelecerá outros
este vice somente poderá ser eleito para um período subse- casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de
quente. proteger a probidade administrativa, a moralidade para exer-
Ex.: Governador renuncia ao mandato no início do seu
cício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a
último ano de governo para concorrer ao Senado Federal e é
normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do
substituído pelo seu vice-governador. Se este se candidatar e
poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
for eleito, não poderá ao final deste mandato se reeleger. Isto
emprego na administração direta ou indireta.
é, se o mandato o candidato renuncia no início de 2010 o seu
mandato de 2007-2010, assumindo o vice em 2010, poderá
este se candidatar para o mandato 2011-2014, mas caso seja O rol constitucional de inelegibilidades dos parágrafos do
eleito não poderá se reeleger para o mandato 2015-2018 no artigo 14 não é taxativo, pois lei complementar pode estabe-
mesmo cargo. Foi o que aconteceu com o ex-governador de lecer outros casos, tanto de inelegibilidades absolutas como
Minas Gerais, Antônio Anastasia, que assumiu em 2010 no de inelegibilidades relativas. Neste sentido, a Lei Complemen-
lugar de Aécio Neves o governo do Estado de Minas Gerais tar nº 64, de 18 de maio de 1990, estabelece casos de inelegi-
e foi eleito governador entre 2011 e 2014, mas não pode se bilidade, prazos de cessação, e determina outras providências.
candidatar à reeleição, concorrendo por isso a uma vaga no Esta lei foi alterada por aquela que ficou conhecida como Lei
Senado Federal. da Ficha Limpa, Lei Complementar nº 135, de 04 de junho de
2010, principalmente em seu artigo 1º, que segue.
Artigo 14, §6º, CF. Para concorrerem a outros cargos, o
Presidente da República, os Governadores de Estado e do Dis- Art. 1º, Lei Complementar nº 64/1990. São inelegíveis:
trito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos I - para qualquer cargo:
mandatos até seis meses antes do pleito. a) os inalistáveis e os analfabetos;

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

b) os membros do Congresso Nacional, das Assembleias h) os detentores de cargo na administração pública di-
Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais, reta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a ter-
que hajam perdido os respectivos mandatos por infringência ceiros, pelo abuso do poder econômico ou político, que forem
do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Constituição Fede- condenados em decisão transitada em julgado ou proferida
ral, dos dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das por órgão judicial colegiado, para a eleição na qual concor-
Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios e do rem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se
Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; (Redação dada pela Lei
período remanescente do mandato para o qual foram eleitos Complementar nº 135, de 2010)
e nos oito anos subsequentes ao término da legislatura; i) os que, em estabelecimentos de crédito, financiamento
d) os que tenham contra sua pessoa representação jul- ou seguro, que tenham sido ou estejam sendo objeto de pro-
gada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada cesso de liquidação judicial ou extrajudicial, hajam exercido,
em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de nos 12 (doze) meses anteriores à respectiva decretação, cargo
apuração de abuso do poder econômico ou político, para a ou função de direção, administração ou representação, en-
eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem quanto não forem exonerados de qualquer responsabilidade;
como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; j) os que forem condenados, em decisão transitada em
(Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010) julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral,
e) os que forem condenados, em decisão transitada em por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por
julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha
condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o ou por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas
cumprimento da pena, pelos crimes: (Redação dada pela Lei eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma,
Complementar nº 135, de 2010) pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da eleição; (Incluído pela
1. contra a economia popular, a fé pública, a administra- Lei Complementar nº 135, de 2010)
ção pública e o patrimônio público; (Incluído pela Lei Comple- k) o Presidente da República, o Governador de Estado e
mentar nº 135, de 2010) do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Na-
2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o cional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa,
mercado de capitais e os previstos na lei que regula a falência; das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos
(Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) desde o oferecimento de representação ou petição capaz de
3. contra o meio ambiente e a saúde pública; (Incluído autorizar a abertura de processo por infringência a dispositivo
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) da Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei Or-
4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de gânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município,
liberdade; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) para as eleições que se realizarem durante o período rema-
5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver con- nescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 (oito)
denação à perda do cargo ou à inabilitação para o exercício anos subsequentes ao término da legislatura; (Incluído pela
de função pública; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, Lei Complementar nº 135, de 2010)
de 2010) l) os que forem condenados à suspensão dos direitos polí-
6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; ticos, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão
(Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administra-
7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tor- tiva que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimen-
tura, terrorismo e hediondos;
to ilícito, desde a condenação ou o trânsito em julgado até o
8. de redução à condição análoga à de escravo; (Incluído
transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da
pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
pena; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
9. contra a vida e a dignidade sexual; e (Incluído pela Lei
m) os que forem excluídos do exercício da profissão, por
Complementar nº 135, de 2010)
decisão sancionatória do órgão profissional competente, em
10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou
decorrência de infração ético-profissional, pelo prazo de 8
bando; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
(oito) anos, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso
f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou com
pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei Complementar nº 135,
ele incompatíveis, pelo prazo de 8 (oito) anos; (Redação dada
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) de 2010)
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de n) os que forem condenados, em decisão transitada em
cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade in- julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, em razão
sanável que configure ato doloso de improbidade administra- de terem desfeito ou simulado desfazer vínculo conjugal ou
tiva, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se de união estável para evitar caracterização de inelegibilidade,
esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão que reconhecer a
para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, fraude; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto o) os que forem demitidos do serviço público em decor-
no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os orde- rência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de
nadores de despesa, sem exclusão de mandatários que hou- 8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido
verem agido nessa condição; (Redação dada pela Lei Comple- suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei
mentar nº 135, de 2010) Complementar nº 135, de 2010)

29
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas res- f) os que, detendo o controle de empresas ou grupo de
ponsáveis por doações eleitorais tidas por ilegais por decisão empresas que atuem no Brasil, nas condições monopolísticas
transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da previstas no parágrafo único do art. 5° da lei citada na alí-
Justiça Eleitoral, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão, nea anterior, não apresentarem à Justiça Eleitoral, até 6 (seis)
observando-se o procedimento previsto no art. 22; (Incluído meses antes do pleito, a prova de que fizeram cessar o abuso
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) apurado, do poder econômico, ou de que transferiram, por
q) os magistrados e os membros do Ministério Público força regular, o controle de referidas empresas ou grupo de
que forem aposentados compulsoriamente por decisão san- empresas;
cionatória, que tenham perdido o cargo por sentença ou que g) os que tenham, dentro dos 4 (quatro) meses anteriores
tenham pedido exoneração ou aposentadoria voluntária na ao pleito, ocupado cargo ou função de direção, administra-
pendência de processo administrativo disciplinar, pelo prazo ção ou representação em entidades representativas de classe,
de 8 (oito) anos; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de mantidas, total ou parcialmente, por contribuições impostas
2010) pelo poder Público ou com recursos arrecadados e repassados
II - para Presidente e Vice-Presidente da República: pela Previdência Social;
a) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente h) os que, até 6 (seis) meses depois de afastados das fun-
de seus cargos e funções: ções, tenham exercido cargo de Presidente, Diretor ou Supe-
1. os Ministros de Estado: rintendente de sociedades com objetivos exclusivos de opera-
2. os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e ções financeiras e façam publicamente apelo à poupança e
militar, da Presidência da República; ao crédito, inclusive através de cooperativas e da empresa ou
3. o chefe do órgão de assessoramento de informações da estabelecimentos que gozem, sob qualquer forma, de vanta-
Presidência da República; gens asseguradas pelo poder público, salvo se decorrentes de
4. o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas; contratos que obedeçam a cláusulas uniformes;
5. o Advogado-Geral da União e o Consultor-Geral da i) os que, dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito,
República; hajam exercido cargo ou função de direção, administração ou
6. os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e da representação em pessoa jurídica ou em empresa que mante-
Aeronáutica; nha contrato de execução de obras, de prestação de serviços
7. os Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica; ou de fornecimento de bens com órgão do Poder Público ou
8. os Magistrados; sob seu controle, salvo no caso de contrato que obedeça a
9. os Presidentes, Diretores e Superintendentes de autar- cláusulas uniformes;
quias, empresas públicas, sociedades de economia mista e j) os que, membros do Ministério Público, não se tenham
fundações públicas e as mantidas pelo poder público; afastado das suas funções até 6 (seis) meses anteriores ao
10. os Governadores de Estado, do Distrito Federal e de
pleito;
Territórios;
I) os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos
11. os Interventores Federais;
órgãos ou entidades da Administração direta ou indireta da
12. os Secretários de Estado;
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos
13. os Prefeitos Municipais;
14. os membros do Tribunal de Contas da União, dos Es- Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo Poder Pú-
tados e do Distrito Federal; blico, não se afastarem até 3 (três) meses anteriores ao pleito,
15. o Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal; garantido o direito à percepção dos seus vencimentos inte-
16. os Secretários-Gerais, os Secretários-Executivos, os Se- grais;
cretários Nacionais, os Secretários Federais dos Ministérios e III - para Governador e Vice-Governador de Estado e do
as pessoas que ocupem cargos equivalentes; Distrito Federal;
b) os que tenham exercido, nos 6 (seis) meses anteriores à a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-
eleição, nos Estados, no Distrito Federal, Territórios e em qual- -Presidente da República especificados na alínea a do inciso II
quer dos poderes da União, cargo ou função, de nomeação deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se tratar
pelo Presidente da República, sujeito à aprovação prévia do de repartição pública, associação ou empresas que operem
Senado Federal; no território do Estado ou do Distrito Federal, observados os
c) (Vetado); mesmos prazos;
d) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tiverem b) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente
competência ou interesse, direta, indireta ou eventual, no de seus cargos ou funções:
lançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas e 1. os chefes dos Gabinetes Civil e Militar do Governador
contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, ou do Estado ou do Distrito Federal;
para aplicar multas relacionadas com essas atividades; 2. os comandantes do Distrito Naval, Região Militar e
e) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tenham Zona Aérea;
exercido cargo ou função de direção, administração ou repre- 3. os diretores de órgãos estaduais ou sociedades de assis-
sentação nas empresas de que tratam os arts. 3° e 5° da Lei tência aos Municípios;
n° 4.137, de 10 de setembro de 1962, quando, pelo âmbito e 4. os secretários da administração municipal ou membros
natureza de suas atividades, possam tais empresas influir na de órgãos congêneres;
economia nacional;

30
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

IV - para Prefeito e Vice-Prefeito: 6) Impugnação de mandato


a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, Encerrando a disciplina, o artigo 14, CF, aborda a im-
os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente pugnação de mandato.
da República, Governador e Vice-Governador de Estado e do
Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro) meses para Artigo 14, § 10, CF. O mandato eletivo poderá ser im-
a desincompatibilização; pugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias
b) os membros do Ministério Público e Defensoria Pública contados da diplomação, instruída a ação com provas de
em exercício na Comarca, nos 4 (quatro) meses anteriores ao abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
pleito, sem prejuízo dos vencimentos integrais;
c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercício Artigo 14, § 11, CF. A ação de impugnação de mandato
no Município, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito; tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na
V - para o Senado Federal: forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presi- 7) Perda e suspensão de direitos políticos
dente da República especificados na alínea a do inciso II deste Art. 15, CF. É vedada a cassação de direitos políticos,
artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se tratar de cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
repartição pública, associação ou empresa que opere no terri- I - cancelamento da naturalização por sentença transi-
tório do Estado, observados os mesmos prazos; tada em julgado;
b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis II - incapacidade civil absoluta;
para os cargos de Governador e Vice-Governador, nas mes- III - condenação criminal transitada em julgado, en-
mas condições estabelecidas, observados os mesmos prazos; quanto durarem seus efeitos;
VI - para a Câmara dos Deputados, Assembleia Legisla- IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou
tiva e Câmara Legislativa, no que lhes for aplicável, por iden- prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
tidade de situações, os inelegíveis para o Senado Federal, nas V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37,
mesmas condições estabelecidas, observados os mesmos pra- § 4º.
zos;
VII - para a Câmara Municipal: O inciso I refere-se ao cancelamento da naturalização,
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, o que faz com que a pessoa deixe de ser nacional e, por-
os inelegíveis para o Senado Federal e para a Câmara dos tanto, deixe de ser titular de direitos políticos.
Deputados, observado o prazo de 6 (seis) meses para a desin-
O inciso II trata da incapacidade civil absoluta, ou seja,
compatibilização;
da interdição da pessoa para a prática de atos da vida civil,
b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de
entre os quais obviamente se enquadra o sufrágio univer-
Prefeito e Vice-Prefeito, observado o prazo de 6 (seis) meses
sal.
para a desincompatibilização .
O inciso III refere-se a um dos possíveis efeitos da con-
§ 1° Para concorrência a outros cargos, o Presidente da
denação criminal, que é a suspensão de direitos políticos.
República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal
O inciso IV trata da recusa em cumprir a obrigação mi-
e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos
até 6 (seis) meses antes do pleito. litar ou a prestação substitutiva imposta em caso de escusa
§ 2° O Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice- moral ou religiosa.
Prefeito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando O inciso V se refere à ação de improbidade administra-
os seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6 tiva, que tramita para apurar a prática dos atos de improbi-
(seis) meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou dade administrativa, na qual uma das penas aplicáveis é a
substituído o titular. suspensão dos direitos políticos.
§ 3° São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, Os direitos políticos somente são perdidos em dois
o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou afins, até o casos, quais sejam cancelamento de naturalização por
segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de sentença transitada em julgado (o indivíduo naturalizado
Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de volta à condição de estrangeiro) e perda da nacionalidade
Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos 6 (seis) brasileira em virtude da aquisição de outra (brasileiro se
meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato naturaliza em outro país e assim deixa de ser considera-
eletivo e candidato à reeleição. do um cidadão brasileiro, perdendo direitos políticos). Nos
§ 4º A inelegibilidade prevista na alínea e do inciso I deste demais casos, há suspensão. Nota-se que não há perda de
artigo não se aplica aos crimes culposos e àqueles definidos direitos políticos pela prática de atos atentatórios contra a
em lei como de menor potencial ofensivo, nem aos crimes Administração Pública por parte do servidor, mas apenas
de ação penal privada. (Incluído pela Lei Complementar nº suspensão.
135, de 2010) A cassação de direitos políticos, consistente na retirada
§ 5º A renúncia para atender à desincompatibilização dos direitos políticos por ato unilateral do poder público,
com vistas a candidatura a cargo eletivo ou para assunção sem observância dos princípios elencados no artigo 5º, LV,
de mandato não gerará a inelegibilidade prevista na alínea k, CF (ampla defesa e contraditório), é um procedimento que
a menos que a Justiça Eleitoral reconheça fraude ao disposto só existe nos governos ditatoriais e que é absolutamente
nesta Lei Complementar. (Incluído pela Lei Complementar vedado pelo texto constitucional.
nº 135, de 2010).

31
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

8) Anterioridade anual da lei eleitoral editando a matéria para que seja preservado o princípio da
legalidade). A origem deste princípio está na criação do Es-
Art. 16, CF. A lei que alterar o processo eleitoral entrará tado de Direito, no sentido de que o próprio Estado deve
em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à elei- respeitar as leis que dita.
ção que ocorra até um ano da data de sua vigência.  b) Princípio da impessoalidade: Por força dos interes-
ses que representa, a administração pública está proibida de
É necessário que a lei eleitoral entre em vigor pelo promover discriminações gratuitas. Discriminar é tratar al-
menos 1 ano antes da próxima eleição, sob pena de não se guém de forma diferente dos demais, privilegiando ou pre-
aplicar a ela, mas somente ao próximo pleito. judicando. Segundo este princípio, a administração pública
deve tratar igualmente todos aqueles que se encontrem na
1) Princípios da Administração Pública mesma situação jurídica (princípio da isonomia ou igualda-
Os valores éticos inerentes ao Estado, os quais permitem de). Por exemplo, a licitação reflete a impessoalidade no que
que ele consolide o bem comum e garanta a preservação tange à contratação de serviços. O princípio da impessoali-
dade correlaciona-se ao princípio da finalidade, pelo qual o
dos interesses da coletividade, se encontram exteriorizados
alvo a ser alcançado pela administração pública é somente
em princípios e regras. Estes, por sua vez, são estabelecidos
o interesse público. Com efeito, o interesse particular não
na Constituição Federal e em legislações infraconstitucio-
pode influenciar no tratamento das pessoas, já que deve-se
nais, a exemplo das que serão estudadas neste tópico, quais
buscar somente a preservação do interesse coletivo.
sejam: Decreto n° 1.171/94, Lei n° 8.112/90 e Lei n° 8.429/92. c) Princípio da moralidade: A posição deste princípio
Todas as diretivas de leis específicas sobre a ética no se- no artigo 37 da CF representa o reconhecimento de uma
tor público partem da Constituição Federal, que estabelece espécie de moralidade administrativa, intimamente relacio-
alguns princípios fundamentais para a ética no setor público. nada ao poder público. A administração pública não atua
Em outras palavras, é o texto constitucional do artigo 37, como um particular, de modo que enquanto o descumpri-
especialmente o caput, que permite a compreensão de boa mento dos preceitos morais por parte deste particular não é
parte do conteúdo das leis específicas, porque possui um punido pelo Direito (a priori), o ordenamento jurídico adota
caráter amplo ao preconizar os princípios fundamentais da tratamento rigoroso do comportamento imoral por parte
administração pública. Estabelece a Constituição Federal: dos representantes do Estado. O princípio da moralidade
deve se fazer presente não só para com os administrados,
Artigo 37, CF. A administração pública direta e indireta mas também no âmbito interno. Está indissociavelmente li-
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito gado à noção de bom administrador, que não somente deve
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legali- ser conhecedor da lei, mas também dos princípios éticos re-
dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, gentes da função administrativa. TODO ATO IMORAL SERÁ
também, ao seguinte: [...] DIRETAMENTE ILEGAL OU AO MENOS IMPESSOAL, daí a in-
trínseca ligação com os dois princípios anteriores.
São princípios da administração pública, nesta ordem: d) Princípio da publicidade: A administração pública
Legalidade é obrigada a manter transparência em relação a todos seus
Impessoalidade atos e a todas informações armazenadas nos seus bancos de
Moralidade dados. Daí a publicação em órgãos da imprensa e a afixação
Publicidade de portarias. Por exemplo, a própria expressão concurso pú-
Eficiência blico (art. 37, II, CF) remonta ao ideário de que todos devem
Para memorizar: veja que as iniciais das palavras for- tomar conhecimento do processo seletivo de servidores do
Estado. Diante disso, como será visto, se negar indevida-
mam o vocábulo LIMPE, que remete à limpeza esperada da
mente a fornecer informações ao administrado caracteriza
Administração Pública. É de fundamental importância um
ato de improbidade administrativa.
olhar atento ao significado de cada um destes princípios,
No mais, prevê o §1º do artigo 37, CF, evitando que o
posto que eles estruturam todas as regras éticas prescritas
princípio da publicidade seja deturpado em propaganda
no Código de Ética e na Lei de Improbidade Administrativa, político-eleitoral:
tomando como base os ensinamentos de Carvalho Filho33 e
Spitzcovsky34: Artigo 37, §1º, CF. A publicidade dos atos, programas,
a) Princípio da legalidade: Para o particular, legalidade obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter ca-
significa a permissão de fazer tudo o que a lei não proíbe. ráter educativo, informativo ou de orientação social, dela
Contudo, como a administração pública representa os inte- não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracte-
resses da coletividade, ela se sujeita a uma relação de subor- rizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
dinação, pela qual só poderá fazer o que a lei expressamen-
te determina (assim, na esfera estatal, é preciso lei anterior Somente pela publicidade os indivíduos controlarão a
33 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ma- legalidade e a eficiência dos atos administrativos. Os instru-
nual de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lu- mentos para proteção são o direito de petição e as certidões
men juris, 2010. (art. 5°, XXXIV, CF), além do habeas data e - residualmente -
34 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Adminis- do mandado de segurança. Neste viés, ainda, prevê o artigo
trativo. 13. ed. São Paulo: Método, 2011. 37, CF em seu §3º: 

32
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Artigo 37, §3º, CF. A lei disciplinará as formas de par- Em relação à necessidade de motivação dos atos admi-
ticipação do usuário na administração pública direta e nistrativos vinculados (aqueles em que a lei aponta um único
indireta, regulando especialmente: comportamento possível) e dos atos discricionários (aqueles
I -  as reclamações relativas à prestação dos serviços pú- que a lei, dentro dos limites nela previstos, aponta um ou
blicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de mais comportamentos possíveis, de acordo com um juízo de
atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e conveniência e oportunidade), a doutrina é uníssona na de-
interna, da qualidade dos serviços; terminação da obrigatoriedade de motivação com relação
II -  o acesso dos usuários a registros administrativos e aos atos administrativos vinculados; todavia, diverge quanto
a informações sobre atos de governo, observado o disposto à referida necessidade quanto aos atos discricionários.
no art. 5º, X e XXXIII; Meirelles36 entende que o ato discricionário, editado sob
III -  a disciplina da representação contra o exercício ne- os limites da Lei, confere ao administrador uma margem de
gligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na adminis- liberdade para fazer um juízo de conveniência e oportunida-
tração pública. de, não sendo necessária a motivação. No entanto, se houver
tal fundamentação, o ato deverá condicionar-se a esta, em
e) Princípio da eficiência: A administração pública deve razão da necessidade de observância da Teoria dos Moti-
manter o ampliar a qualidade de seus serviços com contro- vos Determinantes. O entendimento majoritário da doutrina,
le de gastos. Isso envolve eficiência ao contratar pessoas (o porém, é de que, mesmo no ato discricionário, é necessária
concurso público seleciona os mais qualificados ao exercí- a motivação para que se saiba qual o caminho adotado pelo
cio do cargo), ao manter tais pessoas em seus cargos (pois administrador. Gasparini37, com respaldo no art. 50 da Lei
é possível exonerar um servidor público por ineficiência) e n. 9.784/98, aponta inclusive a superação de tais discussões
ao controlar gastos (limitando o teto de remuneração), por doutrinárias, pois o referido artigo exige a motivação para
exemplo. O núcleo deste princípio é a procura por produti- todos os atos nele elencados, compreendendo entre estes,
vidade e economicidade. Alcança os serviços públicos e os tanto os atos discricionários quanto os vinculados.
serviços administrativos internos, se referindo diretamente à
conduta dos agentes. 2) Regras mínimas sobre direitos e deveres dos ser-
Além destes cinco princípios administrativo-constitucio- vidores
nais diretamente selecionados pelo constituinte, podem ser O artigo 37 da Constituição Federal estabelece os princí-
apontados como princípios de natureza ética relacionados à pios da administração pública estudados no tópico anterior,
função pública a probidade e a motivação: aos quais estão sujeitos servidores de quaisquer dos Pode-
a) Princípio da probidade:  um princípio constitucional res em qualquer das esferas federativas, e, em seus incisos,
incluído dentro dos princípios específicos da licitação, é o regras mínimas sobre o serviço público:
dever de todo o administrador público, o dever de hones-
tidade e fidelidade com o Estado, com a população, no de- Artigo 37, I, CF. Os cargos, empregos e funções públicas
sempenho de suas funções. Possui contornos mais definidos são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos
do que a moralidade. Diógenes Gasparini35 alerta que alguns estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma
autores tratam veem como distintos os princípios da morali- da lei.
dade e da probidade administrativa, mas não há  caracterís-
ticas que permitam tratar os mesmos como procedimentos Aprofundando a questão, tem-se o artigo 5º da Lei nº
distintos, sendo no máximo possível afirmar que a probi- 8.112/1990, que prevê:
dade administrativa é um aspecto particular da moralidade
administrativa. Artigo 5º, Lei nº 8.112/1990. São requisitos básicos para
b) Princípio da motivação: É a obrigação conferida investidura em cargo público:
ao administrador de motivar todos os atos que edita, ge- I - a nacionalidade brasileira;
rais ou de efeitos concretos. É considerado, entre os demais II - o gozo dos direitos políticos;
princípios, um dos mais importantes, uma vez que sem a III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
motivação não há o devido processo legal, uma vez que a IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do
fundamentação surge como meio interpretativo da decisão cargo;
que levou à prática do ato impugnado, sendo verdadeiro V - a idade mínima de dezoito anos;
meio de viabilização do controle da legalidade dos atos da VI - aptidão física e mental.
Administração. § 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência
Motivar significa mencionar o dispositivo legal aplicável de outros requisitos estabelecidos em lei. [...]
ao caso concreto e relacionar os fatos que concretamente § 3º As universidades e instituições de pesquisa científica
levaram à aplicação daquele dispositivo legal. Todos os atos e tecnológica federais poderão prover seus cargos com
administrativos devem ser motivados para que o Judiciário professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo
possa controlar o mérito do ato administrativo quanto à sua com as normas e os procedimentos desta Lei.
legalidade. Para efetuar esse controle, devem ser observa- 36 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito admi-
dos os motivos dos atos administrativos. nistrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.
35 GASPARINI, Diógenes. Direito Adminis- 37 GASPARINI, Diógenes. Direito Adminis-
trativo. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004. trativo. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

33
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Destaca-se a exceção ao inciso I do artigo 5° da Lei nº 8.112/1990 e do inciso I do artigo 37, CF, prevista no artigo 207 da
Constituição, permitindo que estrangeiros assumam cargos no ramo da pesquisa, ciência e tecnologia.
Artigo 37, II, CF. A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas
ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas
as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.

Preconiza o artigo 10 da Lei nº 8.112/1990:


Artigo 10, Lei nº 8.112/90. A nomeação para cargo de carreira ou cargo isolado de provimento efetivo depende de prévia
habilitação em concurso público de provas ou de provas e títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo de sua validade.
Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso e o desenvolvimento do servidor na carreira, mediante promoção,
serão estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema de carreira na Administração Pública Federal e seus regulamentos.
No concurso de provas o candidato é avaliado apenas pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos concursos de
provas e títulos o seu currículo em toda sua atividade profissional também é considerado. Cargo em comissão é o cargo de
confiança, que não exige concurso público, sendo exceção à regra geral.

Artigo 37, III, CF. O prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período.
Artigo 37, IV, CF. Durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso público
de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na
carreira.

Prevê o artigo 12 da Lei nº 8.112/1990:


Artigo 12, Lei nº 8.112/1990. O concurso público terá validade de até 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado uma única vez,
por igual período.
§1º O prazo de validade do concurso e as condições de sua realização serão fixados em edital, que será publicado no
Diário Oficial da União e em jornal diário de grande circulação.
§ 2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver candidato aprovado em concurso anterior com prazo de validade não expirado.
O edital delimita questões como valor da taxa de inscrição, casos de isenção, número de vagas e prazo de validade. Ha-
vendo candidatos aprovados na vigência do prazo do concurso, ele deve ser chamado para assumir eventual vaga e não ser
realizado novo concurso.

Destaca-se que o §2º do artigo 37, CF, prevê:


Artigo 37, §2º, CF. A não-observância do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade
responsável, nos termos da lei.
Com efeito, há tratamento rigoroso da responsabilização daquele que viola as diretrizes mínimas sobre o ingresso no
serviço público, que em regra se dá por concurso de provas ou de provas e títulos.

Artigo 37, V, CF. As funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos
em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei,
destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento.

Observa-se o seguinte quadro comparativo38:

Função de Confiança Cargo em Comissão


Exercidas exclusivamente por servidores ocupantes Qualquer pessoa, observado o percentual mínimo
de cargo efetivo. reservado ao servidor de carreira.
Com concurso público, já que somente pode exercê-
Sem concurso público, ressalvado o percentual
la o servidor de cargo efetivo, mas a função em si
mínimo reservado ao servidor de carreira.
não prescindível de concurso público.
É atribuído posto (lugar) num dos quadros da
Somente são conferidas atribuições e
Administração Pública, conferida atribuições e
responsabilidade
responsabilidade àquele que irá ocupá-lo
Destinam-se apenas às atribuições de direção, Destinam-se apenas às atribuições de direção,
chefia e assessoramento chefia e assessoramento
De livre nomeação e exoneração no que se refere à
De livre nomeação e exoneração
função e não em relação ao cargo efetivo.
38 http://direitoemquadrinhos.blogspot.com.br/2011/03/quadro-comparativo-funcao-de-confianca.html

34
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Artigo 37, VI, CF. É garantido ao servidor público civil o Artigo 37, X, CF. A remuneração dos servidores públi-
direito à livre associação sindical. cos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente
poderão ser fixados ou alterados por lei específica, ob-
A liberdade de associação é garantida aos servidores servada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revi-
públicos tal como é garantida a todos na condição de direito são geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de
individual e de direito social. índices.

Artigo 37, VII, CF. O direito de greve será exercido nos Artigo 37, XV, CF. O subsídio e os vencimentos dos ocu-
termos e nos limites definidos em lei específica. pantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis,
ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e
O Supremo Tribunal Federal decidiu que os servidores nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
públicos possuem o direito de greve, devendo se atentar
pela preservação da sociedade quando exercê-lo. Enquanto Artigo 37, §10, CF. É vedada a percepção simultânea de
não for elaborada uma legislação específica para os funcio- proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou
nários públicos, deverá ser obedecida a lei geral de greve dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, empre-
para os funcionários privados, qual seja a Lei n° 7.783/89 go ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis
(Mandado de Injunção nº 20). na forma desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos
em comissão declarados em lei de livre nomeação e exone-
Artigo 37, VIII, CF. A lei reservará percentual dos cargos ração.
e empregos públicos para as pessoas portadoras de defi-
ciência e definirá os critérios de sua admissão. Sobre a questão, disciplina a Lei nº 8.112/1990 nos ar-
tigos 40 e 41:
Neste sentido, o §2º do artigo 5º da Lei nº 8.112/1990:
Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exer-
Artigo 5º, Lei nº 8.112/90. Às pessoas portadoras de de- cício de cargo público, com valor fixado em lei.
ficiência é assegurado o direito de se inscrever em concur-
so público para provimento de cargo cujas atribuições sejam
Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo,
compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para
acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabele-
tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das
cidas em lei.
vagas oferecidas no concurso.
§ 1º A remuneração do servidor investido em função ou
cargo em comissão será paga na forma prevista no art. 62.
Prossegue o artigo 37, CF:
§ 2º O servidor investido em cargo em comissão de
Artigo 37, IX, CF. A lei estabelecerá os casos de contra- órgão ou entidade diversa da de sua lotação receberá a
tação por tempo determinado para atender a necessidade remuneração de acordo com o estabelecido no § 1º do art.
temporária de excepcional interesse público. 93.
§ 3º O vencimento do cargo efetivo, acrescido das
A Lei nº 8.745/1993 regulamenta este inciso da Consti- vantagens de caráter permanente, é irredutível.
tuição, definindo a natureza da relação estabelecida entre o § 4º É assegurada a isonomia de vencimentos para
servidor contratado e a Administração Pública, para atender cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo
à “necessidade temporária de excepcional interesse público”. Poder, ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas as
“Em se tratando de relação subordinada, isto é, de re- vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou
lação que comporta dependência jurídica do servidor pe- ao local de trabalho.
rante o Estado, duas opções se ofereciam: ou a relação se- § 5º Nenhum servidor receberá remuneração inferior ao
ria trabalhista, agindo o Estado iure gestionis, sem usar das salário mínimo.
prerrogativas de Poder Público, ou institucional, estatutária,
preponderando o ius imperii do Estado. Melhor dizendo: o Ainda, o artigo 37 da Constituição:
sistema preconizado pela Carta Política de 1988 é o do con-
trato, que tanto pode ser trabalhista (inserindo-se na esfera Artigo 37, XI, CF. A remuneração e o subsídio dos ocu-
do Direito Privado) quanto administrativo (situando-se no pantes de cargos, funções e empregos públicos da admi-
campo do Direito Público). [...] Uma solução intermediária nistração direta, autárquica e fundacional, dos membros
não deixa, entretanto, de ser legítima. Pode-se, com certeza, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
abonar um sistema híbrido, eclético, no qual coexistam nor- Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eleti-
mas trabalhistas e estatutárias, pondo-se em contiguidade vo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões
os vínculos privado e administrativo, no sentido de atender ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamen-
às exigências do Estado moderno, que procura alcançar os te ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer
seus objetivos com a mesma eficácia dos empreendimentos outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal,
não-governamentais”39. porária de excepcional interesse público. Disponível em:
39 VOGEL NETO, Gustavo Adolpho. Con- <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_39/Artigos/
tratação de servidores para atender a necessidade tem- Art_Gustavo.htm>. Acesso em: 23 dez. 2014.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Fede- Artigo 37, XIV, CF. Os acréscimos pecuniários percebi-
ral, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio dos por servidor público não serão computados nem acu-
do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores.
mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o
subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito A preocupação do constituinte, ao implantar tal precei-
do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do to, foi de que não eclodisse no sistema remuneratório dos
Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e servidores, ou seja, evitar que se utilize uma vantagem como
cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em es- base de cálculo de um outro benefício. Dessa forma, qual-
pécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âm- quer gratificação que venha a ser concedida ao servidor só
bito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros pode ter como base de cálculo o próprio vencimento básico.
do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores É inaceitável que se leve em consideração outra vantagem
Públicos. até então percebida.

Artigo 37, XII, CF. Os vencimentos dos cargos do Poder Artigo 37, XVI, CF. É vedada a acumulação remunerada
Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser superio- de cargos públicos, exceto, quando houver compatibili-
res aos pagos pelo Poder Executivo. dade de horários, observado em qualquer caso o disposto
no inciso XI: a)  a de dois cargos de professor; b)  a de um
Prevê a Lei nº 8.112/1990 em seu artigo 42: cargo de professor com outro, técnico ou científico; c)  a
de dois cargos ou empregos privativos de profissionais
Artigo 42, Lei nº 8.112/90. Nenhum servidor poderá per- de saúde, com profissões regulamentadas.
ceber, mensalmente, a título de remuneração, importância su-
perior à soma dos valores percebidos como remuneração, em Artigo 37, XVII, CF. A proibição de acumular estende-se
espécie, a qualquer título, no âmbito dos respectivos Poderes, a empregos e funções e abrange autarquias, fundações,
pelos Ministros de Estado, por membros do Congresso Nacio- empresas públicas, sociedades de economia mista, suas
nal e Ministros do Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indireta-
Excluem-se do teto de remuneração as vantagens previstas mente, pelo poder público.
nos incisos II a VII do art. 61.
Segundo Carvalho Filho40, “o fundamento da proibição
Com efeito, os §§ 11 e 12 do artigo 37, CF tecem aprofun- é impedir que o cúmulo de funções públicas faça com que
damentos sobre o mencionado inciso XI: o servidor não execute qualquer delas com a necessária efi-
ciência. Além disso, porém, pode-se observar que o Cons-
Artigo 37, § 11, CF. Não serão computadas, para efeito tituinte quis também impedir a cumulação de ganhos em
dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI do caput detrimento da boa execução de tarefas públicas. [...] Nota-
deste artigo, as parcelas de caráter indenizatório previstas -se que a vedação se refere à acumulação remunerada. Em
em lei. consequência, se a acumulação só encerra a percepção de
vencimentos por uma das fontes, não incide a regra consti-
Artigo 37, § 12, CF.  Para os fins do disposto no  inciso tucional proibitiva”.
XI do caput deste artigo, fica facultado aos Estados e ao A Lei nº 8.112/1990 regulamenta intensamente a ques-
Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às tão:
respectivas Constituições e Lei Orgânica, como limite único,
o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo Artigo 118, Lei nº 8.112/1990.  Ressalvados os casos pre-
Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e vistos na Constituição, é vedada a acumulação remunera-
cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros da de cargos públicos.
do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto nes- § 1o  A proibição de acumular estende-se a cargos,
te parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais empregos e funções em autarquias, fundações públicas,
e dos Vereadores. empresas públicas, sociedades de economia mista da
União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Territórios e dos
Por seu turno, o artigo 37 quanto à vinculação ou equi- Municípios.
paração salarial: § 2o   A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica
condicionada à comprovação da compatibilidade de ho-
Artigo 37, XIII, CF. É vedada a vinculação ou equipara- rários.
ção de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de re- § 3o  Considera-se acumulação proibida a percepção
muneração de pessoal do serviço público. de vencimento de cargo ou emprego público efetivo com
proventos da inatividade, salvo quando os cargos de que
Os padrões de vencimentos são fixados por conselho de decorram essas remunerações forem acumuláveis na
política de administração e remuneração de pessoal, integra- atividade.
do por servidores designados pelos respectivos Poderes (ar- 40 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ma-
tigo 39, caput e § 1º), sem qualquer garantia constitucional de nual de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lu-
tratamento igualitário aos cargos que se mostrem similares. men juris, 2010.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Art.  119, Lei nº 8.112/1990.   O servidor não poderá esses objetivos primários, deve desenvolver uma atividade
exercer mais de um cargo em comissão, exceto no caso financeira, com o intuito de obter recursos indispensáveis às
previsto no parágrafo único do art. 9o, nem ser remunerado necessidades cuja satisfação se comprometeu quando esta-
pela participação em órgão de deliberação coletiva.  beleceu o “pacto” constitucional de 1988. [...] A importância
Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica à da Administração Tributária foi reconhecida expressamente
remuneração devida pela participação em conselhos de ad- pelo constituinte que acrescentou, no artigo 37 da Carta
ministração e fiscal das empresas públicas e sociedades de Magna, o inciso XVIII, estabelecendo a sua precedência e de
economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como seus servidores sobre os demais setores da Administração
quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta ou Pública, dentro de suas áreas de competência”42.
indiretamente, detenha participação no capital social, obser-
vado o que, a respeito, dispuser legislação específica. Artigo 37, XIX, CF. Somente por lei específica poderá ser
criada autarquia e autorizada a instituição de empresa
Art. 120, Lei nº 8.112/1990.  O servidor vinculado ao re- pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
gime desta Lei, que acumular licitamente dois cargos efetivos, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as
quando investido em cargo de provimento em comissão, fica- áreas de sua atuação.
rá afastado de ambos os cargos efetivos, salvo na hipótese em
que houver compatibilidade de horário e local com o exercício Artigo 37, XX, CF. Depende de autorização legislati-
de um deles, declarada pelas autoridades máximas dos ór- va, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades
gãos ou entidades envolvidos. mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de
qualquer delas em empresa privada.
“Os artigos 118 a 120 da Lei nº 8.112/90 ao tratarem da
acumulação de cargos e funções públicas, regulamentam, Órgãos da administração indireta somente podem
no âmbito do serviço público federal a vedação genérica ser criados por lei específica e a criação de subsidiárias
constante do art. 37, incisos VXI e XVII, da Constituição da destes dependem de autorização legislativa (o Estado
cria e controla diretamente determinada empresa pública
República. De fato, a acumulação ilícita de cargos públicos
ou sociedade de economia mista, e estas, por sua vez,
constitui uma das infrações mais comuns praticadas por
passam a gerir uma nova empresa, denominada subsidiária.
servidores públicos, o que se constata observando o eleva-
Ex.: Transpetro, subsidiária da Petrobrás). “Abrimos um
do número de processos administrativos instaurados com
parêntese para observar que quase todos os autores que
esse objeto. O sistema adotado pela Lei nº 8.112/90 é rela-
abordam o assunto afirmam categoricamente que, a
tivamente brando, quando cotejado com outros estatutos
despeito da referência no texto constitucional a ‘subsidiárias
de alguns Estados, visto que propicia ao servidor incurso
das entidades mencionadas no inciso anterior’, somente
nessa ilicitude diversas oportunidades para regularizar sua
empresas públicas e sociedades de economia mista podem
situação e escapar da pena de demissão. Também prevê a ter subsidiárias, pois a relação de controle que existe entre a
lei em comentário, um processo administrativo simplificado pessoa jurídica matriz e a subsidiária seria própria de pessoas
(processo disciplinar de rito sumário) para a apuração dessa com estrutura empresarial, e inadequada a autarquias e
infração – art. 133” 41. fundações públicas. OUSAMOS DISCORDAR. Parece-nos
que, se o legislador de um ente federado pretendesse, por
Artigo 37, XVIII, CF. A administração fazendária e seus exemplo, autorizar a criação de uma subsidiária de uma
servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de competência fundação pública, NÃO haveria base constitucional para
e jurisdição, precedência sobre os demais setores adminis- considerar inválida sua autorização”43.
trativos, na forma da lei. Ainda sobre a questão do funcionamento da adminis-
tração indireta e de suas subsidiárias, destaca-se o previsto
Artigo 37, XXII, CF. As administrações tributárias da nos §§ 8º e 9º do artigo 37, CF:
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas Artigo 37, §8º, CF. A autonomia gerencial, orçamentária
por servidores de carreiras específicas, terão recursos priori- e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e
tários para a realização de suas atividades e atuarão de indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser fir-
forma integrada, inclusive com o compartilhamento de ca- mado entre seus administradores e o poder público, que tenha
dastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio. por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou
entidade, cabendo à lei dispor sobre:
“O Estado tem como finalidade essencial a garantia do I -  o prazo de duração do contrato;
bem-estar de seus cidadãos, seja através dos serviços públi- II -  os controles e critérios de avaliação de desempenho,
cos que disponibiliza, seja através de investimentos na área direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
social (educação, saúde, segurança pública). Para atingir III -  a remuneração do pessoal.
41 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar 42 http://www.sindsefaz.org.br/parecer_admi-
dos Servidores Públicos da União. Disponível em: <http:// nistracao_tributaria_sao_paulo.htm
www.canaldosconcursos.com.br/artigos/almirmorgado_arti- 43 ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Admi-
go1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013. nistrativo Descomplicado. São Paulo: GEN, 2014.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Artigo 37, § 9º, CF. O disposto no inciso XI aplica-se às graves (pena de advertência), contados da data em que o
empresas públicas e às sociedades de economia mista e fato se tornou conhecido pela administração pública. Se a
suas subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Es- infração disciplinar for crime, valerão os prazos prescricio-
tados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento nais do direito penal, mais longos, logo, menos favoráveis
de despesas de pessoal ou de custeio em geral. ao servidor. Interrupção da prescrição significa parar a con-
tagem do prazo para que, retornando, comece do zero. Da
Continua o artigo 37, CF: abertura da sindicância ou processo administrativo discipli-
nar até a decisão final proferida por autoridade competente
Artigo 37, XXI, CF. Ressalvados os casos especificados não corre a prescrição. Proferida a decisão, o prazo começa
na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão a contar do zero. Passado o prazo, não caberá mais propor
contratados mediante processo de licitação pública que as- ação disciplinar.
segure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, man- Artigo 37, §7º, CF. A lei disporá sobre os requisitos e as
tidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o restrições ao ocupante de cargo ou emprego da adminis-
qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica tração direta e indireta que possibilite o acesso a informa-
e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das ções privilegiadas.
obrigações.
A Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013 dispõe sobre
A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, regulamenta o o conflito de interesses no exercício de cargo ou emprego
art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas do Poder Executivo federal e impedimentos posteriores ao
para licitações e contratos da Administração Pública e dá exercício do cargo ou emprego; e revoga dispositivos da Lei
outras providências. Licitação nada mais é que o conjunto nº 9.986, de 18 de julho de 2000, e das Medidas Provisórias
de procedimentos administrativos (administrativos porque nºs 2.216-37, de 31 de agosto de 2001, e 2.225-45, de 4 de
parte da administração pública) para as compras ou serviços setembro de 2001.
contratados pelos governos Federal, Estadual ou Municipal, Neste sentido, conforme seu artigo 1º:
ou seja todos os entes federativos. De forma mais simples,
podemos dizer que o governo deve comprar e contratar ser- Artigo 1º, Lei nº 12.813/2013. As situações que configu-
viços seguindo regras de lei, assim a licitação é um processo ram conflito de interesses envolvendo ocupantes de cargo ou
formal onde há a competição entre os interessados. emprego no âmbito do Poder Executivo federal, os requisitos
e restrições a ocupantes de cargo ou emprego que tenham
Artigo 37, §5º, CF. A lei estabelecerá os prazos de pres- acesso a informações privilegiadas, os impedimentos poste-
crição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor riores ao exercício do cargo ou emprego e as competências
ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respec- para fiscalização, avaliação e prevenção de conflitos de inte-
tivas ações de ressarcimento.
resses regulam-se pelo disposto nesta Lei.
A prescrição dos ilícitos praticados por servidor encon-
3) Atos de improbidade administrativa
tra disciplina específica no artigo 142 da Lei nº 8.112/1990:
A Lei n° 8.429/1992 trata da improbidade administrativa,
que é uma espécie qualificada de imoralidade, sinônimo de
Art.  142, Lei nº 8.112/1990.   A ação disciplinar pres-
desonestidade administrativa. A improbidade é uma lesão
creverá:
ao princípio da moralidade, que deve ser respeitado estri-
I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com
demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e tamente pelo servidor público. O agente ímprobo sempre
destituição de cargo em comissão; será um violador do princípio da moralidade, pelo qual “a
II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão; Administração Pública deve agir com boa-fé, sinceridade,
III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto á advertência. probidade, lhaneza, lealdade e ética”44.
§ 1o  O prazo de prescrição começa a correr da data em A atual Lei de Improbidade Administrativa foi criada de-
que o fato se tornou conhecido. vido ao amplo apelo popular contra certas vicissitudes do
§ 2o  Os prazos de prescrição previstos na lei penal serviço público que se intensificavam com a ineficácia do
aplicam-se às infrações disciplinares capituladas também diploma então vigente, o Decreto-Lei nº 3240/41. Decorreu,
como crime. assim, da necessidade de acabar com os atos atentatórios à
§ 3o  A abertura de sindicância ou a instauração de moralidade administrativa e causadores de prejuízo ao erá-
processo disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão rio público ou ensejadores de enriquecimento ilícito, infeliz-
final proferida por autoridade competente. mente tão comuns no Brasil.
§ 4o  Interrompido o curso da prescrição, o prazo Com o advento da Lei nº 8.429/1992, os agentes públi-
começará a correr a partir do dia em que cessar a interrupção. cos passaram a ser responsabilizados na esfera civil pelos
atos de improbidade administrativa descritos nos artigos 9º,
Prescrição é um instituto que visa regular a perda do 10 e 11, ficando sujeitos às penas do art. 12. A existência de
direito de acionar judicialmente. No caso, o prazo é de 5 esferas distintas de responsabilidade (civil, penal e adminis-
anos para as infrações mais graves, 2 para as de gravidade 44 LENZA, Pedro. Curso de direito constitu-
intermediária (pena de suspensão) e 180 dias para as menos cional esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

trativa) impede falar-se em bis in idem, já que, ontologica- Perda patrimonial é o gênero, do qual são espécies: des-
mente, não se trata de punições idênticas, embora baseadas vio, que é o direcionamento indevido; apropriação, que é
no mesmo fato, mas de responsabilização em esferas distin- a transferência indevida para a própria propriedade; malba-
tas do Direito. ratamento, que significa desperdício; e dilapidação, que se
Destaca-se um conceito mais amplo de agente público refere a destruição47.
previsto pela lei nº 8.429/1992 em seus artigos 1º e 2º por- O objeto da tutela é a preservação do patrimônio pú-
que o agente público pode ser ou não um servidor público. blico, em todos seus bens e valores. O pressuposto exigível
Ele poderá estar vinculado a qualquer instituição ou órgão é a ocorrência de dano ao patrimônio dos sujeitos passivos.
que desempenhe diretamente o interesse do Estado. Assim, Este artigo admite expressamente a variante culposa, o
estão incluídos todos os integrantes da administração direta, que muitos entendem ser inconstitucional. O STJ, no REsp n°
indireta e fundacional, conforme o preâmbulo da legislação. 939.142/RJ, apontou alguns aspectos da inconstitucionalida-
Pode até mesmo ser uma entidade privada que desempenhe de do artigo. Contudo, “a jurisprudência do STJ consolidou
tais fins, desde que a verba de criação ou custeio tenha sido a tese de que é indispensável a existência de dolo nas con-
ou seja pública em mais de 50% do patrimônio ou receita dutas descritas nos artigos 9º e 11 e ao menos de culpa nas
anual. Caso a verba pública que tenha auxiliado uma enti- hipóteses do artigo 10, nas quais o dano ao erário precisa
dade privada a qual o Estado não tenha concorrido para ser comprovado. De acordo com o ministro Castro Meira,
criação ou custeio, também haverá sujeição às penalidades a conduta culposa ocorre quando o agente não pretende
da lei. Em caso de custeio/criação pelo Estado que seja in- atingir o resultado danoso, mas atua com negligência, im-
ferior a 50% do patrimônio ou receita anual, a legislação prudência ou imperícia (REsp n° 1.127.143)”48. Para Carvalho
ainda se aplica. Entretanto, nestes dois casos, a sanção pa- Filho49, não há inconstitucionalidade na modalidade culposa,
trimonial se limitará ao que o ilícito repercutiu sobre a con- lembrando que é possível dosar a pena conforme o agente
tribuição dos cofres públicos. Significa que se o prejuízo cau- aja com dolo ou culpa.
sado for maior que a efetiva contribuição por parte do poder O ponto central é lembrar que neste artigo não se exi-
público, o ressarcimento terá que ser buscado por outra via ge que o sujeito ativo tenha percebido vantagens indevidas,
que não a ação de improbidade administrativa. basta o dano ao erário. Se tiver recebido vantagem indevi-
A legislação em estudo, por sua vez, divide os atos de da, incide no artigo anterior. Exceto pela não percepção da
improbidade administrativa em três categorias: vantagem indevida, os tipos exemplificados se aproximam
a) Ato de improbidade administrativa que importe muito dos previstos nos incisos do art. 9°.
enriquecimento ilícito (artigo 9º, Lei nº 8.429/1992) c) Ato de Improbidade Administrativa Decorrentes de
Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Financeiro
O grupo mais grave de atos de improbidade administra-
ou Tributário (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)
tiva se caracteriza pelos elementos: enriquecimento + ilíci-
Uma das alterações recentes à disciplina do ISS visou
to + resultante de uma vantagem patrimonial indevida +
evitar a continuidade da guerra fiscal entre os municípios,
em razão do exercício de cargo, mandato, emprego, função
fixando-se a alíquota mínima em 2%.
ou outra atividade nas entidades do artigo 1° da Lei nº
Com efeito, os municípios não poderão fixar dentro de
8.429/1992.
sua competência constitucional alíquotas inferiores a 2%
O enriquecimento deve ser ilícito, afinal, o Estado não
para atrair e fomentar investimentos novos (incentivo fiscal),
se opõe que o indivíduo enriqueça, desde que obedeça aos prejudicando os municípios vizinhos.
ditames morais, notadamente no desempenho de função de Em razão disso, tipifica-se como ato de improbidade
interesse estatal. administrativa a eventual concessão do benefício abaixo da
Exige-se que o sujeito obtenha vantagem patrimonial alíquota mínima.
ilícita. Contudo, é dispensável que efetivamente tenha ocor- d) Ato de improbidade administrativa que atente
rido dano aos cofres públicos (por exemplo, quando um po- contra os princípios da administração pública (artigo 11,
licial recebe propina pratica ato de improbidade administra- Lei nº 8.429/1992)
tiva, mas não atinge diretamente os cofres públicos). Nos termos do artigo 11 da Lei nº 8.429/1992, “cons-
Como fica difícil imaginar que alguém possa se enrique- titui ato de improbidade administrativa que atenta contra
cer ilicitamente por negligência, imprudência ou imperícia, os princípios da administração pública qualquer ação ou
todas as condutas configuram atos dolosos (com intenção). omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialida-
Não cabe prática por omissão.45
b) Ato de improbidade administrativa que importe 47 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ma-
lesão ao erário (artigo 10, Lei nº 8.429/1992) nual de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lu-
O grupo intermediário de atos de improbidade adminis- men juris, 2010.
trativa se caracteriza pelos elementos: causar dano ao erário 48 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Im-
ou aos cofres públicos + gerando perda patrimonial ou di- probidade administrativa: desonestidade na gestão dos
lapidação do patrimônio público. Assim como o artigo an- recursos públicos. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/
terior, o caput descreve a fórmula genérica e os incisos algu- portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.tex-
mas atitudes específicas que exemplificam o seu conteúdo46. to=103422>. Acesso em: 26 mar. 2013.
45 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Adminis- 49 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ma-
trativo. 13. ed. São Paulo: Método, 2011. nual de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lu-
46 Ibid. men juris, 2010.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

de, legalidade, e lealdade às instituições [...]”. O grupo mais “Os atos de improbidade administrativa importarão a sus-
ameno de atos de improbidade administrativa se caracteriza pensão dos direitos políticos, a perda da função pública,
pela simples violação a princípios da administração pú- a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário,
blica, ou seja, aplica-se a qualquer atitude do sujeito ati- na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação pe-
vo que viole os ditames éticos do serviço público. Isto é, o nal cabível”. A única sanção que se encontra prevista na Lei nº
legislador pretende a preservação dos princípios gerais da 8.429/1992 mas não na Constituição Federal é a de multa. (art.
administração pública50. 37, §4°, CF). Não há nenhuma inconstitucionalidade disto, pois
O objeto de tutela são os princípios constitucionais. Bas- nada impediria que o legislador infraconstitucional ampliasse a
ta a vulneração em si dos princípios, sendo dispensáveis o relação mínima de penalidades da Constituição, pois esta não
enriquecimento ilícito e o dano ao erário. Somente é pos- limitou tal possibilidade e porque a lei é o instrumento adequa-
sível a prática de algum destes atos com dolo (intenção), do para tanto51.
embora caiba a prática por ação ou omissão. Carvalho Filho52 tece considerações a respeito de algu-
Será preciso utilizar razoabilidade e proporcionalidade mas das sanções:
para não permitir a caracterização de abuso de poder, dian- - Perda de bens e valores: “tal punição só incide sobre
te do conteúdo aberto do dispositivo. Na verdade, trata-se os bens acrescidos após a prática do ato de improbidade. Se
alcançasse anteriores, ocorreria confisco, o que restaria sem
de tipo subsidiário, ou seja, que se aplica quando o ato de
escora constitucional. Além disso, o acréscimo deve derivar
improbidade administrativa não tiver gerado obtenção de
de origem ilícita”.
vantagem
- Ressarcimento integral do dano: há quem entenda que
Com efeito, os atos de improbidade administrativa não
engloba dano moral. Cabe acréscimo de correção monetária
são crimes de responsabilidade. Trata-se de punição na es- e juros de mora.
fera cível, não criminal. Por isso, caso o ato configure simul- - Perda de função pública: “se o agente é titular de manda-
taneamente um ato de improbidade administrativa desta lei to, a perda se processa pelo instrumento de cassação. Sendo
e um crime previsto na legislação penal, o que é comum no servidor estatutário, sujeitar-se-á à demissão do serviço pú-
caso do artigo 9°, responderá o agente por ambos, nas duas blico. Havendo contrato de trabalho (servidores trabalhistas
esferas. e temporários), a perda da função pública se consubstancia
pela rescisão do contrato com culpa do empregado. No caso
Em suma, a lei encontra-se estruturada da seguinte for- de exercer apenas uma função pública, fora de tais situações,
ma: inicialmente, trata das vítimas possíveis (sujeito passi- a perda se dará pela revogação da designação”. Lembra-se
vo) e daqueles que podem praticar os atos de improbidade que determinadas autoridades se sujeitam a procedimento
administrativa (sujeito ativo); ainda, aborda a reparação do especial para perda da função pública, ponto em que não se
dano ao lesionado e o ressarcimento ao patrimônio público; aplica a Lei de Improbidade Administrativa.
após, traz a tipologia dos atos de improbidade administrati- - Multa: a lei indica inflexibilidade no limite máximo, mas
va, isto é, enumera condutas de tal natureza; seguindo-se à flexibilidade dentro deste limite, podendo os julgados nesta
definição das sanções aplicáveis; e, finalmente, descreve os margem optar pela mais adequada. Há ainda variabilidade na
procedimentos administrativo e judicial. base de cálculo, conforme o tipo de ato de improbidade (a base
No caso do art. 9°, categoria mais grave, o agente obtém será o valor do enriquecimento ou o valor do dano ou o valor da
um enriquecimento ilícito (vantagem econômica indevida) e remuneração do agente). A natureza da multa é de sanção civil,
pode ainda causar dano ao erário, por isso, deverá não só re- não possuindo caráter indenizatório, mas punitivo.
parar eventual dano causado mas também colocar nos cofres - Proibição de receber benefícios: não se incluem as imu-
públicos tudo o que adquiriu indevidamente. Ou seja, poderá nidades genéricas e o agente punido deve ser ao menos sócio
pagar somente o que enriqueceu indevidamente ou este va- majoritário da instituição vitimada.
lor acrescido do valor do prejuízo causado aos cofres públi- - Proibição de contratar: o agente punido não pode par-
ticipar de processos licitatórios.
cos (quanto o Estado perdeu ou deixou de ganhar). No caso
4) Responsabilidade civil do Estado e de seus servi-
do artigo 10, não haverá enriquecimento ilícito, mas sempre
dores
existirá dano ao erário, o qual será reparado (eventualmente, O instituto da responsabilidade civil é parte integrante do
ocorrerá o enriquecimento ilícito, devendo o valor adquirido direito obrigacional, uma vez que a principal consequência da
ser tomado pelo Estado). Na hipótese do artigo 10-A, não se prática de um ato ilícito é a obrigação que gera para o seu
denota nem enriquecimento ilícito e nem dano ao erário, pois auto de reparar o dano, mediante o pagamento de indeniza-
no máximo a prática de guerra fiscal pode gerar. Já no artigo ção que se refere às perdas e danos. Afinal, quem pratica um
11, o máximo que pode ocorrer é o dano ao erário, com o de- ato ou incorre em omissão que gere dano deve suportar as
vido ressarcimento. Além disso, em todos os casos há perda consequências jurídicas decorrentes, restaurando-se o equi-
da função pública. Nas três categorias, são estabelecidas san- líbrio social.53
ções de suspensão dos direitos políticos, multa e vedação de 51 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ma-
contratação ou percepção de vantagem, graduadas conforme nual de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lu-
a gravidade do ato. É o que se depreende da leitura do artigo men juris, 2010.
12 da Lei nº 8.929/1992 como §4º do artigo 37, CF, que prevê: 52 Ibid.
50 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Adminis- 53 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsa-
trativo. 13. ed. São Paulo: Método, 2011. bilidade Civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

40
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po- Sem estes três requisitos, não será possível acionar o Es-
dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os li- tado para responsabilizá-lo civilmente pelo dano, por mais
mites da herança, embora existam reflexos na ação que apu- relevante que tenha sido a esfera de direitos atingida. As-
re a responsabilidade civil conforme o resultado na esfera sim, não é qualquer dano que permite a responsabilização
penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de autoria civil do Estado, mas somente aquele que é causado por um
impede a condenação na esfera cível, ao passo que uma ab- agente público no exercício de suas funções e que exceda as
solvição por falta de provas não o faz). expectativas do lesado quanto à atuação do Estado.
A responsabilidade civil do Estado acompanha o racio- É preciso lembrar que não é o Estado em si que viola os
cínio de que a principal consequência da prática de um ato direitos humanos, porque o Estado é uma ficção formada
ilícito é a obrigação que gera para o seu auto de reparar por um grupo de pessoas que desempenham as atividades
o dano, mediante o pagamento de indenização que se re- estatais diversas. Assim, viola direitos humanos não o Estado
fere às perdas e danos. Todos os cidadãos se sujeitam às em si, mas o agente que o representa, fazendo com que o
regras da responsabilidade civil, tanto podendo buscar o próprio Estado seja responsabilizado por isso civilmente,
ressarcimento do dano que sofreu quanto respondendo por
pagando pela indenização (reparação dos danos materiais
aqueles danos que causar. Da mesma forma, o Estado tem
e morais). Sem prejuízo, com relação a eles, caberá ação de
o dever de indenizar os membros da sociedade pelos danos
regresso se agiram com dolo ou culpa.
que seus agentes causem durante a prestação do serviço,
inclusive se tais danos caracterizarem uma violação aos di- Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal:
reitos humanos reconhecidos.
Trata-se de responsabilidade extracontratual porque Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito público e
não depende de ajuste prévio, basta a caracterização de ele- as de direito privado prestadoras de serviços públicos respon-
mentos genéricos pré-determinados, que perpassam pela derão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
leitura concomitante do Código Civil (artigos 186, 187 e 927) causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
com a Constituição Federal (artigo 37, §6°). contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Genericamente, os elementos da responsabilidade civil
se encontram no art. 186 do Código Civil: Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurídi-
ca autônoma entre o Estado e o agente público que causou
Artigo 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão volun- o dano no desempenho de suas funções. Nesta relação, a
tária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá ao Es-
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. tado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao qual
foi anteriormente condenado a reparar. Direito de regresso
Este é o artigo central do instituto da responsabilidade é justamente o direito de acionar o causador direto do dano
civil, que tem como elementos: ação ou omissão voluntária para obter de volta aquilo que pagou à vítima, considerada
(agir como não se deve ou deixar de agir como se deve), a existência de uma relação obrigacional que se forma entre
culpa ou dolo do agente (dolo é a vontade de cometer uma a vítima e a instituição que o agente compõe.
violação de direito e culpa é a falta de diligência), nexo cau- Assim, o Estado responde pelos danos que seu agente
sal (relação de causa e efeito entre a ação/omissão e o dano causar aos membros da sociedade, mas se este agente agiu
causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que foi pago
pode ser individual ou coletivo, moral ou material, econômi- à vítima. O agente causará danos ao praticar condutas in-
co e não econômico). compatíveis com o comportamento ético dele esperado.54
1) Dano - somente é indenizável o dano certo, espe- A responsabilidade civil do servidor exige prévio proces-
cial e anormal. Certo é o dano real, existente. Especial é o
so administrativo disciplinar no qual seja assegurado contra-
dano específico, individualizado, que atinge determinada ou
ditório e ampla defesa. Trata-se de responsabilidade civil
determinadas pessoas. Anormal é o dano que ultrapassa os
subjetiva ou com culpa. Havendo ação ou omissão com
problemas comuns da vida em sociedade (por exemplo, in-
felizmente os assaltos são comuns e o Estado não responde culpa do servidor que gere dano ao erário (Administração)
por todo assalto que ocorra, a não ser que na circunstân- ou a terceiro (administrado), o servidor terá o dever de in-
cia específica possuía o dever de impedir o assalto, como denizar.
no caso de uma viatura presente no local - muito embora Não obstante, agentes públicos que pratiquem atos vio-
o direito à segurança pessoal seja um direito humano reco- ladores de direitos humanos se sujeitam à responsabilidade
nhecido). penal e à responsabilidade administrativa, todas autôno-
2) Agentes públicos - é toda pessoa que trabalhe dentro mas uma com relação à outra e à já mencionada responsa-
da administração pública, tenha ingressado ou não por con- bilidade civil. Neste sentido, o artigo 125 da Lei nº 8.112/90:
curso, possua cargo, emprego ou função. Envolve os agen-
tes políticos, os servidores públicos em geral (funcionários, Artigo 125, Lei nº 8.112/1990. As sanções civis, penais
empregados ou temporários) e os particulares em colabora- e administrativas poderão cumular-se, sendo independentes
ção (por exemplo, jurado ou mesário). entre si.
3) Dano causado quando o agente estava agindo nesta
qualidade - é preciso que o agente esteja lançando mão das 54 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Adminis-
prerrogativas do cargo, não agindo como um particular. trativo. 13. ed. São Paulo: Método, 2011.

41
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

No caso da responsabilidade civil, o Estado é diretamen- Artigo 38, CF.  Ao servidor público da administração
te acionado e responde pelos atos de seus servidores que direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato
violem direitos humanos, cabendo eventualmente ação de eletivo, aplicam-se as seguintes disposições:
regresso contra ele. Contudo, nos casos da responsabilida- I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou
de penal e da responsabilidade administrativa aciona-se o distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
agente público que praticou o ato. II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do
São inúmeros os exemplos de crimes que podem ser cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela
praticados pelo agente público no exercício de sua função sua remuneração;
que violam direitos humanos. A título de exemplo, peculato, III - investido no mandato de Vereador, havendo compa-
consistente em apropriação ou desvio de dinheiro público tibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo,
(art. 312, CP), que viola o bem comum e o interesse da cole- emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo
tividade; concussão, que é a exigência de vantagem indevida eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a
(art. 316, CP), expondo a vítima a uma situação de constran- norma do inciso anterior;
gimento e medo que viola diretamente sua dignidade; tor- IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o
tura, a mais cruel forma de tratamento humano, cuja pena é exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será
agravada quando praticada por funcionário público (art. 1º, contado para todos os efeitos legais, exceto para promo-
§4º, I, Lei nº 9.455/97); etc. ção por merecimento;
Quanto à responsabilidade administrativa, menciona-se, V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de
a título de exemplo, as penalidades cabíveis descritas no art. afastamento, os valores serão determinados como se no exer-
127 da Lei nº 8.112/90, que serão aplicadas pelo funcionário cício estivesse.
que violar a ética do serviço público, como advertência, sus-
pensão e demissão. 6) Regime de remuneração e previdência dos servi-
Evidencia-se a independência entre as esferas civil, pe- dores públicos
nal e administrativa no que tange à responsabilização do Regulamenta-se o regime de remuneração e previdência dos
agente público que cometa ato ilícito. servidores públicos nos artigo 39 e 40 da Constituição Federal:
Tomadas as exigências de características dos danos aci-
ma colacionadas, notadamente a anormalidade, considera- Artigo  39, CF. A União, os Estados, o Distrito Federal e
-se que para o Estado ser responsabilizado por um dano, ele os Municípios instituirão conselho de política de adminis-
deve exceder expectativas cotidianas, isto é, não cabe exigir tração e remuneração de pessoal, integrado por servidores
do Estado uma excepcional vigilância da sociedade e a plena designados pelos respectivos Poderes. (Redação dada pela
cobertura de todas as fatalidades que possam acontecer em Emenda Constitucional nº 19, de 1998 e aplicação suspensa
território nacional. pela ADIN nº 2.135-4, destacando-se a redação anterior: “A
Diante de tal premissa, entende-se que a responsabili- União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios institui-
dade civil do Estado será objetiva apenas no caso de ações, rão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e
mas subjetiva no caso de omissões. Em outras palavras, planos de carreira para os servidores da administração públi-
verifica-se se o Estado se omitiu tendo plenas condições de ca direta, das autarquias e das fundações públicas”).
não ter se omitido, isto é, ter deixado de agir quando tinha § 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais
plenas condições de fazê-lo, acarretando em prejuízo dentro componentes do sistema remuneratório observará:
de sua previsibilidade. I -  a natureza, o grau de responsabilidade e a complexi-
São casos nos quais se reconheceu a responsabilidade dade dos cargos componentes de cada carreira;
omissiva do Estado: morte de filho menor em creche mu- II -  os requisitos para a investidura;
nicipal, buracos não sinalizados na via pública, tentativa de III -  as peculiaridades dos cargos.
assalto a usuário do metrô resultando em morte, danos § 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão
provocados por enchentes e escoamento de águas pluviais escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento
quando o Estado sabia da problemática e não tomou provi- dos servidores públicos, constituindo-se a participação
dência para evitá-las, morte de detento em prisão, incêndio nos cursos um dos requisitos para a promoção na carreira,
em casa de shows fiscalizada com negligência, etc. facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos
Logo, não é sempre que o Estado será responsabilizado. entre os entes federados.
Há excludentes da responsabilidade estatal, notadamen- § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo
te: a) caso fortuito (fato de terceiro) ou força maior (fato da público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII,
natureza) fora dos alcances da previsibilidade do dano; b) XV,XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a
culpa exclusiva da vítima. lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão
quando a natureza do cargo o exigir.
5) Exercício de mandato eletivo por servidores pú- § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato
blicos eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais
A questão do exercício de mandato eletivo pelo servidor e Municipais serão remunerados exclusivamente por
público encontra previsão constitucional em seu artigo 38, subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de
que notadamente estabelece quais tipos de mandatos ge- qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
ram incompatibilidade ao serviço público e regulamenta a representação ou outra espécie remuneratória, obedecido,
questão remuneratória: em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.

42
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos § 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios dife-
Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a renciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos
menor remuneração dos servidores públicos, obedecido, em pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos
qualquer caso, o disposto no art. 37, XI. definidos em leis complementares, os casos de servidores:
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário I -  portadores de deficiência;
publicarão anualmente os valores do subsídio e da II -  que exerçam atividades de risco;
remuneração dos cargos e empregos públicos. III -  cujas atividades sejam exercidas sob condições es-
§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal peciais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
e dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos § 5º Os requisitos de idade e de tempo de contribuição
orçamentários provenientes da economia com despesas serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no §
correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para 1º, III, a, para o professor que comprove exclusivamente
aplicação no desenvolvimento de programas de qualidade tempo de efetivo exercício das funções de magistério na
e produtividade, treinamento e desenvolvimento, educação infantil e no ensino fundamental e médio.
modernização, reaparelhamento e racionalização do serviço § 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos car-
público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de gos acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada
produtividade. a percepção de mais de uma aposentadoria à conta do
§ 8º A remuneração dos servidores públicos organizados regime de previdência previsto neste artigo.
em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º. § 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pen-
são por morte, que será igual:
Artigo 40, CF.  Aos servidores titulares de cargos efetivos I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor fa-
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, lecido, até o limite máximo estabelecido para os benefícios
incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime do regime geral de previdência social de que trata o art. 201,
de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este
contribuição do respectivo ente público, dos servidores limite, caso aposentado à data do óbito; ou
ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor
que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o limite
neste artigo. máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência
por cento da parcela excedente a este limite, caso em ativida-
de que trata este artigo serão aposentados, calculados os
de na data do óbito.
seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para
3º e 17:
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme
I - por invalidez permanente, sendo os proventos pro-
critérios estabelecidos em lei.
porcionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual ou mu-
de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença
nicipal será contado para efeito de aposentadoria e o
grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei; tempo de serviço correspondente para efeito de dispo-
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao nibilidade.
tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou § 10. A lei não poderá estabelecer qualquer forma de
aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei contagem de tempo de contribuição fictício.
complementar; § 11. Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma
III - voluntariamente, desde que cumprido tempo míni- total dos proventos de inatividade, inclusive quando de-
mo de dez anos de efetivo exercício no serviço público e correntes da acumulação de cargos ou empregos públicos,
cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentado- bem como de outras atividades sujeitas a contribuição para o
ria, observadas as seguintes condições: regime geral de previdência social, e ao montante resultante
a)  sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, da adição de proventos de inatividade com remuneração de
se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e trinta de cargo acumulável na forma desta Constituição, cargo em co-
contribuição, se mulher; missão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, e
b)  sessenta e cinco anos de idade, se homem, e ses- de cargo eletivo.
senta anos de idade, se mulher, com proventos proporcio- § 12. Além do disposto neste artigo, o regime de
nais ao tempo de contribuição. previdência dos servidores públicos titulares de cargo efetivo
§ 2º Os proventos de aposentadoria e as pensões, observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados
por ocasião de sua concessão, não poderão exceder a para o regime geral de previdência social.
remuneração do respectivo servidor, no cargo efetivo em § 13. Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo
que se deu a aposentadoria ou que serviu de referência para em comissão declarado em lei de livre nomeação e exone-
a concessão da pensão. ração bem como de outro cargo temporário ou de emprego
§ 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, público, aplica-se o regime geral de previdência social.
por ocasião da sua concessão, serão consideradas as § 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
remunerações utilizadas como base para as contribuições Municípios, desde que instituam regime de previdência
do servidor aos regimes de previdência de que tratam este complementar para os seus respectivos servidores
artigo e o art. 201, na forma da lei. titulares de cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das

43
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime O estado de sítio é decretado quando estado de defesa
de que trata este artigo, o limite máximo estabelecido para não resolveu o problema, quando o problema atinge todo o
os benefícios do regime geral de previdência social de que país, ou em casos de guerra.
trata o art. 201. A disciplina se encontra do artigo 136, CF ao artigo 141,
§ 15. O regime de previdência complementar de que trata CF, que seguem.
o § 14 será instituído por lei de iniciativa do respectivo Poder
Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus parágrafos, Seção I
no que couber, por intermédio de entidades fechadas DO ESTADO DE DEFESA
de previdência complementar, de natureza pública, que Art. 136, CF. O Presidente da República pode, ouvidos o
oferecerão aos respectivos participantes planos de benefícios Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional,
somente na modalidade de contribuição definida. decretar estado de defesa para preservar ou prontamente res-
§ 16. Somente mediante sua prévia e expressa opção, o tabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública
disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade
tiver ingressado no serviço público até a data da publicação do institucional ou atingidas por calamidades de grandes pro-
ato de instituição do correspondente regime de previdência porções na natureza.
complementar. § 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará
§ 17. Todos os valores de remuneração considerados para o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abran-
o cálculo do benefício previsto no § 3° serão devidamente gidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coerci-
atualizados, na forma da lei. tivas a vigorarem, dentre as seguintes:
§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de I - restrições aos direitos de:
aposentadorias e pensões concedidas pelo regime de que a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
trata este artigo que superem o limite máximo estabelecido b) sigilo de correspondência;
para os benefícios do regime geral de previdência social de que c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
trata o art. 201, com percentual igual ao estabelecido para os II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públi-
servidores titulares de cargos efetivos. cos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União
§ 19. O servidor de que trata este artigo que tenha pelos danos e custos decorrentes.
completado as exigências para aposentadoria voluntária § 2º O tempo de duração do estado de defesa não será
estabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por permanecer em ativi- superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por
dade fará jus a um abono de permanência equivalente ao valor igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua
da sua contribuição previdenciária até completar as exigências decretação.
para aposentadoria compulsória contidas no § 1º, II. § 3º Na vigência do estado de defesa:
§ 20. Fica vedada a existência de mais de um regime I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo
próprio de previdência social para os servidores titulares executor da medida, será por este comunicada imediatamente
de cargos efetivos, e de mais de uma unidade gestora do ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao
respectivo regime em cada ente estatal, ressalvado o disposto preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;
no art. 142, § 3º, X. II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela
§ 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá autoridade, do estado físico e mental do detido no momento
apenas sobre as parcelas de proventos de aposentadoria e de sua autuação;
de pensão que superem o dobro do limite máximo estabelecido III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser
para os benefícios do regime geral de previdência social de que superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;
trata o art. 201 desta Constituição, quando o beneficiário, na IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
forma da lei, for portador de doença incapacitante. § 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação,
o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas,
No título V, aborda-se a defesa do Estado e das institui- submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso
ções democráticas, com outros institutos relevantes para evitar Nacional, que decidirá por maioria absoluta.
impacto na organização do Estado, razão pela qual se promo- § 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será
ve aqui um estudo conjunto. convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias.
§ 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de
Estado de Defesa e Estado de Sítio dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar fun-
O título V, intitulado “Da Defesa do Estado e Das Institui- cionando enquanto vigorar o estado de defesa.
ções Democráticas”, trabalha em seu capítulo I com o Estado § 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado
de Defesa e o Estado de Sítio. de defesa.
Estado de defesa e estado de sítio são duas situações ex-
cepcionais decretadas pelo Chefe do Executivo Federal, cum- Da disciplina do Estado de Defesa no artigo 136, CF po-
pridos determinados requisitos, visando preservar o próprio dem ser extraídos alguns aspectos relevantes.
Estado e suas instituições democráticas. O estado de defesa é Primeiro, a finalidade do Estado de Defesa, que é a preser-
decretado para preservar ou restabelecer, em locais restritos e vação ou restabelecimento em locais restritos e determinados
determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por a ordem pública e a paz social que estejam ameaçados por
grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por grave instabilidade institucional ou calamidade de grande
calamidades de grandes proporções na natureza. proporção.

44
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Ainda, a especificidade que se percebe pela exigência de IV - suspensão da liberdade de reunião;


determinação do local e do prazo de vigência (que não pode V - busca e apreensão em domicílio;
exceder 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias), bem como VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;
pela delimitação de medidas. VII - requisição de bens.
Nota-se que a natureza das medidas cabíveis ora se vol- Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a
tam ao estado de defesa por instabilidade institucional (ca- difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em
sos do inciso I do §1º, restringindo certos sigilos e o direito suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva
de reunião) e ora se voltam ao estado de defesa por calami- Mesa.
dade (caso do inciso II do §1º, com uso temporário de bens
e serviços públicos). No Estado de Sítio também é necessária a oitiva do Con-
Por fim, destaca-se que a decretação do Estado de Defe- selho da República e do Conselho de Defesa Nacional, bem
sa, embora seja feita pelo Presidente da República, não é um como a aprovação pelo Congresso Nacional. As hipóteses
ato arbitrário porque ele deve ouvir a opinião do Conselho são de grave comoção nacional, ineficácia do estado de de-
da República e do Conselho de Defesa Nacional e depois fesa e estado de guerra. Também há requisitos de especifici-
submeter o decreto para aprovação pelo Congresso Nacio- dade quanto ao tempo, áreas abrangidas e medidas coerci-
nal por maioria absoluta. tivas a serem aplicados no Estado de Sítio. Entre as medidas
coercitivas cabíveis no Estado de Sítio, estão as enumeradas
Seção II no artigo 139, CF.
DO ESTADO DE SÍTIO
Art. 137, CF. O Presidente da República pode, ouvidos o Seção III
Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, DISPOSIÇÕES GERAIS
solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o Art. 140, CF. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os
estado de sítio nos casos de: líderes partidários, designará Comissão composta de cinco de
 I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrên- seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das
cia de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de sítio.
durante o estado de defesa;
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agres- Art. 141, CF. Cessado o estado de defesa ou o estado de
são armada estrangeira. sítio, cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da respon-
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar sabilidade pelos ilícitos cometidos por seus executores ou
autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorroga- agentes.
ção, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou
Congresso Nacional decidir por maioria absoluta”. o estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência se-
“Art. 138, CF. O decreto do estado de sítio indicará sua rão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem
duração, as normas necessárias a sua execução e as garan- ao Congresso Nacional, com especificação e justificação das
tias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de providências adotadas, com relação nominal dos atingidos e
publicado, o Presidente da República designará o executor indicação das restrições aplicadas.
das medidas específicas e as áreas abrangidas.
§ 1º O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá O Congresso Nacional, mediante Comissão específica,
ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de exerce atividade fiscalizatória das medidas coercitivas. Prati-
cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decre- cados atos atentatórios serão punidos mesmo após cessado
tado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão o estado de defesa ou de sítio.
armada estrangeira.
§ 2º Solicitada autorização para decretar o estado de sítio Forças armadas
durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, O capítulo II do título V aborda as forças armadas, que
de imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Na- exercem a defesa do Estado.
cional para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato.
§ 3º O Congresso Nacional permanecerá em CAPÍTULO II
funcionamento até o término das medidas coercitivas. DAS FORÇAS ARMADAS

Art. 139, CF. Na vigência do estado de sítio decretado com Art. 142, CF. As Forças Armadas, constituídas pela Ma-
fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as rinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições
pessoas as seguintes medidas: nacionais permanentes e regulares, organizadas com base
I - obrigação de permanência em localidade determinada; na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
II - detenção em edifício não destinado a acusados ou Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria,
condenados por crimes comuns; à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspon- qualquer destes, da lei e da ordem.
dência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informa- § 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais
ções e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na a serem adotadas na organização, no preparo e no emprego
forma da lei; das Forças Armadas.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições As Forças Armadas são compostas por Marinha, Exército
disciplinares militares. e Aeronáutica e o chefe delas é o Presidente da República. Por
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados terem a finalidade de defender a pátria, a Constituição, a lei e
militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixa- a ordem, são permanentes, regulares e hierarquizadas, além de
das em lei, as seguintes disposições:  terem vedações como o direito de greve e o direito de sindica-
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres lização, bem como de filiação a partidos políticos. Pela natureza
a elas inerentes, são conferidas pelo Presidente da República e diversa dos crimes praticados por estes militares, serão julga-
asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou dos por órgão próprio e perdem a garantia do habeas corpus.
reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos militares O alistamento militar é obrigatório, ainda que seja dispensado,
e, juntamente com os demais membros, o uso dos uniformes caso em que ficará como reservista. A mulher não precisa pres-
das Forças Armadas;  tar o serviço militar obrigatório, mas pode ser convocada para
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou a prestação de outros serviços para o Estado, assim como os
emprego público civil permanente, ressalvada a hipótese eclesiásticos.
prevista no art. 37, inciso XVI, alínea ‘c’, será transferido para
a reserva, nos termos da lei;  Intervenção nos Estados e Municípios.
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar A intervenção consiste no afastamento temporário das
posse em cargo, emprego ou função pública civil temporária, prerrogativas totais ou parciais próprias da autonomia dos en-
não eletiva, ainda que da administração indireta, ressalva- tes federados, por outro ente federado, prevalecendo a vonta-
da a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea ‘c’, ficará de do ente interventor. Neste sentido, necessária a verificação
agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto de:
permanecer nessa situação, ser promovido por antiguidade, a) Pressupostos materiais – requisitos a serem verificados
contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela pro- quanto ao atendimento de uma das justificativas para a inter-
moção e transferência para a reserva, sendo depois de dois venção.
anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a b) Pressupostos processuais – requisitos para que o ato da
reserva, nos termos da lei;  intervenção seja válido, como prazo, abrangência, condições,
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;  além da autorização do Poder Legislativo (artigo 36, CF).
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar
A intervenção pode ser federal, quando a União interfere
filiado a partidos políticos;
nos Estados e no Distrito Federal (artigo 34, CF), ou estadual,
VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado
quando os Estados-membros interferem em seus Municípios
indigno do oficialato ou com ele incompatível, por deci-
(artigo 35, CF).
são de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de
paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;
Artigo 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem no
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a
Distrito Federal, exceto para:
pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença
transitada em julgado, será submetido ao julgamento previs- I - manter a integridade nacional;
to no inciso anterior;  II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos Federação em outra;
VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pú-
XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da atividade blica;
militar, no art. 37, inciso XVI, alínea ‘c’;    IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes
IX -  (Revogado) nas unidades da Federação;
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
os limites de idade, a estabilidade e outras condições de trans- a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de
ferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fi-
dos militares, consideradas as peculiaridades de suas ativida- xadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
des, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão
internacionais e de guerra.  judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios cons-
Art. 143, CF. O serviço militar é obrigatório nos termos titucionais:
da lei. a) forma republicana, sistema representativo e regime
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, democrático;
atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após b) direitos da pessoa humana;
alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se c) autonomia municipal;
como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filo- d) prestação de contas da administração pública, direta e
sófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter indireta.
essencialmente militar.  e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de
§ 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do ser- impostos estaduais, compreendida a proveniente de transfe-
viço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a rências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas
outros encargos que a lei lhes atribuir.  ações e serviços públicos de saúde”. 

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Artigo 35, CF. O Estado não intervirá em seus Municí- Artigo 144, § 8º, CF. Os Municípios poderão constituir
pios, nem a União nos Municípios localizados em Território guardas municipais destinadas à proteção de seus bens,
Federal, exceto quando: serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por
dois anos consecutivos, a dívida fundada; Artigo 144, § 9º, CF. A remuneração dos servidores po-
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; liciais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita fixada na forma do § 4º do art. 39. 
municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas
ações e serviços públicos de saúde;  Artigo 144, § 10, CF. A segurança viária, exercida para a
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representa- preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
ção para assegurar a observância de princípios indicados na e do seu patrimônio nas vias públicas: 
Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de
ordem ou de decisão judicial”. trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que asse-
gurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e 
Artigo 36, CF. A decretação da intervenção dependerá: II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e
I - no caso do art. 34, IV (livre exercício dos Poderes), de dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executi-
solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo vos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na
coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal forma da lei.
Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judi- EXERCÍCIOS
ciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Supe-
rior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; 1. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Sobre o conceito de
III de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de re- Constituição, assinale a alternativa CORRETA.
presentação do Procurador-Geral da República, na hipótese do (A) É o estatuto que regula as relações entre Estados
art. 34, VII (observância de princípios constitucionais), e no soberanos.
caso de recusa à execução de lei federal.
(B) É o conjunto de normas que regula os direitos e
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a am-
deveres de um povo.
plitude, o prazo e as condições de execução e que, se cou-
(C) É a lei fundamental e suprema de um Estado, que
ber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação
contém normas referentes à estruturação, à formação dos
do Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa do
poderes públicos, direitos, garantias e deveres dos cidadãos.
Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
(D) É a norma maior de um Estado, que regula os
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou
direitos e deveres de um povo nas suas relações.
a Assembleia Legislativa, far-se-á convocação extraordiná-
ria, no mesmo prazo de vinte e quatro horas.
§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII (execução de decisão/lei 2. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Dentre as formas de
federal e violação de certos princípios constitucionais), ou do classificação das Constituições, uma delas é quanto à ori-
art. 35, IV (idem com relação à intervenção em municípios), gem.
dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Em relação às características de uma Constituição quan-
Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender to à sua origem, assinale a alternativa CORRETA.
a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao (A) Dogmáticas ou históricas.
restabelecimento da normalidade. (B) Materiais ou formais.
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autorida- (C) Analíticas ou sintéticas.
des afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedi- (D) Promulgadas ou outorgadas.
mento legal.
artigo 42, CF, “os membros das Polícias Militares e Corpos 3. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Sobre a supremacia
de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na da Constituição da República, assinale a alternativa CORRE-
hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito TA.
Federal e dos Territórios. § 1º Aplicam-se aos militares dos (A) A supremacia está no fato de o controle da consti-
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier tucionalidade das leis só ser exercido pelo Supremo Tribunal
a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § Federal.
9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica (B) A supremacia está na obrigatoriedade de submis-
dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as pa- são das leis aos princípios que norteiam o Estado por ela
tentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores. § instituído.
2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Fede- (C) A supremacia está no fato de a interpretação da
ral e dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei específica constituição não depender da observância dos princípios
do respectivo ente estatal. que a norteiam.
(D) A supremacia está no fato de que os princípios e
Artigo 144, § 7º, CF. A lei disciplinará a organização e o fundamentos da constituição se resumam na declaração de
funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pú- soberania.
blica, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

4. (PC/PI - Delegado de Polícia – UESPI/2014) Entre 7. (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) A propó-
os chamados sentidos doutrinariamente atribuídos à Cons- sito dos princípios fundamentais da República Federativa do
tituição, existe um que realiza a distinção entre Constituição Brasil, reconhece-se que:
e lei constitucional. Assinale a alternativa que o contempla. (A) o pluralismo político está inserido entre seus obje-
(A) Sentido político tivos.
(B) Sentido sociológico. (B) a livre iniciativa é um de seus fundamentos e se con-
(C) Sentido jurídico. trapõe ao valor social do trabalho.
(D) Sentido culturalista. (C) a dignidade é também do nascituro, o que desau-
(E) Sentido simbólico. toriza, portanto, a prática da interrupção da gravidez quando
decorrente de estupro.
5. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) A Repú- (D) a promoção do bem de todos, sem preconceito de
blica Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outra forma de dis-
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se criminação, é um de seus objetivos.
em Estado Democrático de Direito (art. 1º da CF). (E) o legislativo, o executivo e o judiciário, dependentes
Com base no enunciado acima é correto afirmar, exceto: e harmônicos entre si, são poderes da união.
(A) são objetivos fundamentais da república federativa
do Brasil erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as 8. (DPE/DF - Analista - Assistência Judiciária -
desigualdades sociais e regionais. FGV/2014) Sobre os Princípios Fundamentais da República
(B) a soberania, a cidadania e o pluralismo político não Federativa do Brasil, à luz do texto constitucional de 1988, é
são fundamentos da república federativa do brasil. INCORRETO afirmar que:
(C) ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer (A) a República Federativa do Brasil tem como funda-
alguma coisa senão em virtude de lei. mentos: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa hu-
(D) é livre a manifestação de pensamento, sendo mana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o
vedado o anonimato. pluralismo político.
(E) construir uma sociedade livre, justa e solidária é um (B) a República Federativa do Brasil tem como objetivos
dos objetivos fundamentais da república federativa do Brasil. fundamentais: construir uma sociedade livre, justa e solidária;
garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
6. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) A Cons-
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
tituição brasileira inicia com o Título I dedicado aos “princí-
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
pios fundamentais”, que são as regras informadoras de todo
(C) todo o poder emana do povo, que o exerce unica-
um sistema de normas, as diretrizes básicas do ordenamento
mente por meio de representantes eleitos.
constitucional brasileiro. São regras que contêm os mais im-
(D) entre outros, são princípios adotados pela República
portantes valores que informam a elaboração da Constitui-
Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, os se-
ção da República Federativa do Brasil. guintes: a independência nacional, a prevalência dos direitos
Diante dessa afirmação, analise as questões a seguir e humanos e o repúdio ao terrorismo e ao racismo.
assinale a alternativa correta. (E) a autodeterminação dos povos, a não intervenção e
I - Nas relações internacionais, a República brasileira re- a defesa da paz são princípios regedores das relações inter-
ge-se, entre outros, pelos seguintes princípios: autodetermi- nacionais da República Federativa do Brasil.
nação dos povos, defesa da paz, igualdade entre os Estados,
concessão de asilo político. 9. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) O art.
II - Os princípios não são dotados de normatividade, ou 5º da Constituição Federal trata dos direitos e deveres indi-
seja, possuem efeito vinculante, mas constituem regras jurí- viduais e coletivos, espécie do gênero direitos e garantias
dicas efetivas. fundamentais (Título II). Assim, apesar de referir-se, de modo
III - Violar um princípio é muito mais grave que trans- expresso, apenas a direitos e deveres, também consagrou as
gredir uma norma qualquer, pois implica ofensa a todo o garantias fundamentais. (LENZA, Pedro. Direito Constitucio-
sistema de comandos. nal Esquematizado, São Paulo: Saraiva, 2009,13ª. ed., p. 671).
IV - São princípios que norteiam a atividade econômica Com base na afirmação acima, analise as questões a se-
no Brasil: a soberania nacional, a função social da proprieda- guir e assinale a alternativa correta.
de, a livre concorrência, a defesa do consumidor; a proprie- I - Os direitos são bens e vantagens prescritos na norma
dade privada. constitucional, enquanto as garantias são os instrumentos
V - A diferença de salários, de critério de admissão por através dos quais se assegura o exercício dos aludidos di-
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil a qualquer dos reitos.
trabalhadores urbanos e rurais fere o princípio da igualdade II - O rol dos direitos expressos nos 78 incisos e parágra-
do caput do art. 5º da Constituição Federal. fos do art. 5º da Constituição Federal é meramente exempli-
(A) Apenas I, II, III estão corretas. ficativo.
(B) Apenas II e IV estão corretas. III - Os direitos e garantias expressos na Constituição Fe-
(C) Apenas III e V estão corretas. deral não excluem outros decorrentes do regime e dos prin-
(D) Apenas I, III, IV e V estão corretas. cípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
(E) Todas as afirmações estão corretas. que o Brasil seja parte.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

IV - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra 12. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) O devi-
e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização do processo legal estabelecido como direito do cidadão na
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Constituição Federal configura dupla proteção ao indiví-
V - É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sen- duo, pois atua no âmbito material de proteção ao direito
do assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, de liberdade e no âmbito formal, ao assegurar-lhe parida-
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias. de de condições com o Estado para defender-se.
(A) Apenas I, II e III estão corretas. Com base na afirmação acima, analise as questões a
(B) Apenas II, III e IV estão corretas. seguir e assinale a alternativa correta.
(C) Apenas III e V estão corretas. I - Ninguém será processado nem sentenciado senão
(D) Apenas IV e V estão corretas. pela autoridade competente.
(E) Todas as questões estão corretas. II - A lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse
10. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) Os remé- social o exigirem.
dios constitucionais são as formas estabelecidas pela Consti- III - São admissíveis, no processo, as provas obtidas
tuição Federal para concretizar e proteger os direitos funda- por meios ilícitos.
mentais a fim de que sejam assegurados os valores essenciais e IV - Ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
indisponíveis do ser humano. quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
Assim, é correto afirmar, exceto: fiança.
(A) O habeas corpus pode ser formulado sem advogado, V - Não haverá prisão civil por dívida, nem mesmo a
não tendo de obedecer a qualquer formalidade processual, e o do depositário infiel.
próprio cidadão prejudicado pode ser o autor. (A) Apenas I, II e IV estão corretas.
(B) O habeas corpus é utilizado sempre que alguém sofrer (B) Apenas I, III e V estão corretas.
ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua (C) Apenas III e IV estão corretas.
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. (D) Apenas IV e V estão corretas.
(C) O autor da ação constitucional de habeas corpus re- (E) Todas as questões estão corretas.
cebe o nome de impetrante; o indivíduo em favor do qual se
impetra, paciente, podendo ser o mesmo impetrante, e a auto-
13. (PC/MG - Investigador de Polícia - FU-
ridade que pratica a ilegalidade, autoridade coatora.
MARC/2014) Sobre a Lei Penal, é CORRETO afirmar que
(D) Caberá habeas corpus em relação a punições discipli-
(A) não retroage, salvo para beneficiar o réu.
nares militares.
(B) não retroage, salvo se o fato criminoso ainda não
(E) O habeas corpus será preventivo quando alguém se
for conhecido.
achar ameaçado de sofrer violência, ou repressivo, quando for
(C) retroage, salvo disposição expressa em contrário.
concreta a lesão.
(D) retroage, se ainda não houver processo penal ins-
11. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) Ainda em taurado.
relação aos outros remédios constitucionais analise as questões
a seguir e assinale a alternativa correta. 14. (PC/MG - Investigador de Polícia - FU-
I - O habeas data assegura o conhecimento de informa- MARC/2014) Sobre as garantias fundamentais estabeleci-
ções relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros das na Constituição Federal, é CORRETO afirmar que
ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter (A) a Lei Penal é sempre irretroativa.
público. (B) a prática do racismo constitui crime inafiançável
II - Será concedido habeas data para a retificação de dados, e imprescritível.
quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou (C) não haverá pena de morte em nenhuma circuns-
administrativo. tância.
III - Em se tratando de registro ou banco de dados de enti- (D) os templos religiosos, entendidos como casas de
dade governamental, o sujeito passivo na ação de habeas data Deus, possuem garantia de inviolabilidade domiciliar.
será a pessoa jurídica componente da administração direta e
indireta do Estado. 15. (PC/MG - Investigador de Polícia - FU-
IV - O mandado de injunção serve para requerer à autori- MARC/2014) NÃO figura entre as garantias expressas no
dade competente que faça uma lei para tornar viável o exercí- artigo 5º da Constituição Federal:
cio dos direitos e liberdades constitucionais. (A) a obtenção de certidões em repartições públicas.
V - O pressuposto lógico do mandado de injunção é a de- (B) a defesa do consumidor, prevista em estatuto
mora legislativa que impede um direito de ser efetivado pela próprio.
falta de complementação de uma lei. (C) o respeito à integridade física dos presos, garanti-
(A) Todas as afirmações estão corretas. do pela lei de execução penal.
(B) Apenas I, II e III estão corretas. (D) a remuneração do trabalho noturno superior ao
(C) Apenas II, III e IV estão corretas. diurno, posto que contido na legislação ordinária traba-
(D) Apenas II, III e V estão corretas. lhista.
(E) Apenas IV e V estão corretas.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL

16. (PC/MG - Investigador de Polícia - FU- Nos termos da Constituição Federal, assinale a opção
MARC/2014) A casa é asilo inviolável do indivíduo, po- correta
dendo-se nela entrar, sem permissão do morador, EXCETO (A) A lei não pode retroagir, porque a situação versa so-
(A) em caso de desastre. bre direitos indisponíveis de Pedro
(B) em caso de flagrante delito. (B) A lei não pode retroagir para prejudicar a coisa jul-
(C) para prestar socorro. gada formada em favor de Pedro.
(D) por determinação judicial, a qualquer hora. (C) A lei pode retroagir, pois não há direito adquirido de
Pedro diante de nova legislação.
17. (Prefeitura de Florianópolis/SC - Administrador (D) A lei pode retroagir, porque não há ato jurídico per-
- FGV/2014) Em tema de direitos e garantias fundamentais, feito em favor de Pedro diante de pagamentos pendentes.
o artigo 5º da Constituição da República estabelece que é:
(A) livre a manifestação do pensamento, sendo fomen- 20. (SP-URBANISMO - Analista Administrativo - Jurí-
tado o anonimato; dico - VUNESP/2014) João apresenta requerimento junto à
(B) assegurado o direito de resposta, proporcional ao Prefeitura do Município de São Paulo, pleiteando que lhe seja
agravo, que substitui o direito à indenização por dano mate- informado o número de licitações, na modalidade pregão, rea-
rial, moral ou à imagem; lizadas pela São Paulo Urbanismo desde 2010. O pleito de João
(C) assegurado a todos o acesso à informação e res- (A) não encontra previsão expressa como direito funda-
guardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício mental na Constituição Federal, mas, todavia, deverá ser aco-
profissional; lhido em virtude do texto constitucional prever que a lei não
(D) livre a expressão da atividade intelectual, artística, excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
científica e de comunicação, ressalvados os casos de censura direito
ou licença; (B) é constitucionalmente previsto, pois é a todos
(E) direito de todos receber dos órgãos públicos infor- assegurado, mediante o pagamento de taxa, o direito de
mações de seu interesse particular, sendo vedada a alegação petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
de sigilo por imprescindibilidade à segurança da sociedade ilegalidade ou abuso de poder
e do Estado. (C) não encontra amparo constitucional, uma vez que a
obtenção de certidões em repartições públicas será atendida
18. (TJ-RJ - Técnico de Atividade Judiciária - apenas se o objeto do pedido for para defesa de direitos ou
FGV/2014) A partir da Emenda Constitucional nº 45/2004, para esclarecimento de situações de interesse pessoal.
os tratados e convenções internacionais sobre direitos hu- (D) encontra amparo constitucional, pois todos têm di-
manos: reito a receber dos órgãos públicos informações de seu inte-
(A) sempre terão a natureza jurídica de lei, exigindo a resse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
sua aprovação, pelo Congresso Nacional e a promulgação, prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, res-
na ordem interna, pelo Chefe do Poder Executivo; salvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
(B) sempre terão a natureza jurídica de emenda cons- sociedade e do Estado.
titucional, exigindo, apenas, que a sua aprovação, pelo Con- (E) é constitucionalmente previsto, devendo ser
gresso Nacional, se dê em dois turnos de votação, com o respondido em 48 (quarenta e oito) horas, pois a todos, no
voto favorável de dois terços dos respectivos membros; âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
(C) podem ter a natureza jurídica de emenda constitu- duração do processo e os meios que garantam a celeridade
cional, desde que a sua aprovação, pelo Congresso Nacional, de sua tramitação.
se dê em dois turnos de votação, com o voto favorável de
três quintos dos respectivos membros; 21. (TCE/PI - Assessor Jurídico - FCC/2014) A teoria da
(D) podem ter a natureza jurídica de lei complementar, reserva do possível
desde que o Congresso Nacional venha a aprová-los com (A) significa a inoponibilidade do arbítrio estatal à efeti-
observância do processo legislativo ordinário; vação dos direitos sociais, econômicos e culturais.
(E) sempre terão a natureza jurídica de atos de direito (B) gira em torno da legitimidade constitucional do con-
internacional, não se integrando, em qualquer hipótese, à trole e da intervenção do poder judiciário em tema de imple-
ordem jurídica interna. mentação de políticas públicas, quando caracterizada hipótese
de omissão governamental.
19. (OAB - Exame de Ordem Unificado - FGV/2014) (C) considera que as políticas públicas são reservadas
Pedro promoveu ação em face da União Federal e seu pedi- discricionariamente à análise e intervenção do poder judiciário,
do foi julgado procedente, com efeitos patrimoniais venci- que as limitará ou ampliará, de acordo com o caso concreto.
dos e vincendos, não havendo mais recurso a ser interposto. (D) é sinônima, em significado e extensão, à teoria do
Posteriormente, o Congresso Nacional aprovou lei, que foi mínimo existencial, examinado à luz da violação dos direitos
sancionada, extinguindo o direito reconhecido a Pedro. Após fundamentais sociais, culturais e econômicos, como o direito à
a publicação da referida lei, a Administração Pública federal saúde e à educação básica.
notificou Pedro para devolver os valores recebidos, comuni- (E) defende a integridade e a intangibilidade dos direi-
cando que não mais ocorreriam os pagamentos futuros, em tos fundamentais, independentemente das possibilidades
decorrência da norma em foco. financeiras e orçamentárias do estado.

50
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

22. (Prefeitura de Recife/PE - Procurador - FCC/2014) 25. (TRT/16ª REGIÃO/MA - Analista Judiciário -
A Emenda Constitucional nº 72, promulgada em 2 de abril FCC/2014) Pietro, nascido na Itália, naturalizou-se bra-
de 2013, tem por finalidade estabelecer a igualdade de sileiro no ano de 2012. No ano de 2011, Pietro acabou
direitos entre os trabalhadores domésticos e os demais cometendo um crime de roubo, cuja autoria foi apurada
trabalhadores urbanos e rurais. Nos termos de suas dis- apenas no ano de 2013, sendo instaurada a competente
posições, a Emenda ação penal, culminando com a condenação de Pietro, pela
(A) determinou a extensão ao trabalhador domésti- Justiça Pública, ao cumprimento da pena de 05 anos e 04
co, dentre outros, dos direitos à remuneração do servi- meses de reclusão, em regime inicial fechado, por senten-
ço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por ça transitada em julgado. Neste caso, nos termos estabe-
cento a do normal e à proteção do mercado de trabalho lecidos pela Constituição federal, Pietro
da mulher, mediante incentivos específicos. (A) não poderá ser extraditado, tendo em vista a
(B) instituiu vedação ao legislador para conferir tra- quantidade de pena que lhe foi imposta pelo Poder Ju-
tamento diferenciado aos trabalhadores domésticos, em diciário.
relação aos trabalhadores urbanos e rurais. (B) não poderá ser extraditado, pois o crime foi co-
(C) não determinou a extensão ao trabalhador do- metido antes da sua naturalização.
méstico, dentre outros, dos direitos à proteção em face (C) poderá ser extraditado.
da automação e à proteção do mercado de trabalho da (D) não poderá ser extraditado, pois não cometeu
mulher, mediante incentivos específicos. crime hediondo ou de tráfico ilícito de entorpecentes e
(D) determinou a extensão ao trabalhador domés- drogas afim.
tico, dentre outros, dos direitos à proteção em face da (E) não poderá ser extraditado, pois a sentença con-
automação e ao piso salarial proporcional à extensão e à denatória transitou em julgado após a naturalização.
complexidade do trabalho.
(E) não determinou a extensão ao trabalhador do- RESPOSTAS
méstico, dentre outros, dos direitos à remuneração do
serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta
1. Resposta: “C”. Constituição é muito mais do que
por cento a do normal e ao piso salarial proporcional à
um documento escrito que fica no ápice do ordenamen-
extensão e à complexidade do trabalho.
to jurídico nacional estabelecendo normas de limitação e
organização do Estado, mas tem um significado intrínseco
23. (MDIC - Agente Administrativo - CESPE/2014)
sociológico, político, cultural e econômico. Independente
Com referência à CF, aos direitos e garantias fundamen-
do conceito, percebe-se que o foco é a organização do
tais, à organização político-administrativa, à administra-
Estado e a limitação de seu poder.
ção pública e ao Poder Judiciário, julgue os itens subse-
cutivos.
2. Resposta: “D”. Quanto à origem, a Constituição
A CF prevê o direito de greve na iniciativa privada e
determina que cabe à lei definir os serviços ou atividades pode ser outorgada, quando imposta unilateralmente pelo
essenciais e dispor sobre o atendimento das necessidades agente revolucionário, ou promulgada, quando é votada,
inadiáveis da comunidade. sendo também conhecida como democrática ou popular.
Certo ( )
Errado ( ) 3. Resposta: “B”. A Constituição Federal e os demais
atos normativos que compõem o denominado bloco de
24. (TJ/MT - Juiz de Direito - FMP/2014) Assinale a constitucionalidade, notadamente, emendas constitucio-
alternativa correta. nais e tratados internacionais de direitos humanos aprova-
(A) O rol de direitos sociais nos incisos do art. 7º e dos com quórum especial após a Emenda Constitucional
seguintes é exaustivo. nº 45/2004, estão no topo do ordenamento jurídico. Sen-
(B) É vedada a redução proporcional do salário do do assim, todos os atos abaixo deles devem guardar uma
trabalhador sob qualquer hipótese. estrita compatibilidade, sob pena de serem inconstitucio-
(C) É assegurado ao trabalhador o gozo de férias nais. Por isso, estes atos que estão abaixo na pirâmide, se
anuais remuneradas com, no mínimo, um terço a mais do sujeitam a controle de constitucionalidade.
que o salário normal.
(D) A licença à gestante, sem prejuízo do emprego e 4. Resposta: “A”. Carl Schmitt propõe que o concei-
do salário, não está constitucionalmente prevista, mas é to de Constituição não está na Constituição em si, mas
determinada pela CLT. nas decisões políticas tomadas antes de sua elaboração.
(E) O direito à licença paternidade, sem prejuízo do Sendo assim, o conceito de Constituição será estruturado
emprego e do salário, não está constitucionalmente pre- por fatores como o regime de governo e a forma de Es-
visto, mas é determinado pela CLT. tado vigentes no momento de elaboração da lei maior. A
Constituição é o produto de uma decisão política e variará
conforme o modelo político à época de sua elaboração.

51
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

5. Resposta: “B”. Todas as alternativas descrevem ca- berdade de locomoção – garantia do habeas corpus). “II”
racterísticas, atributos do Estado Democrático de Direito está correta, afinal, o próprio artigo 5º prevê em seu §2º
que é a República Federativa brasileira, notadamente: er- que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição
radicação da pobreza e diminuição de desigualdades (ar- não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
tigo 3º, III, CF); soberania, cidadania e pluralismo político por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
(artigo 1º, I, II e V, CF); princípio da legalidade (artigo 5º, II, República Federativa do Brasil seja parte”, fundamento que
CF); liberdade de expressão (artigo 5º, IV, CF); construção também demonstra que o item “III” está correto. O item
de sociedade justa, livre e solidária (artigo 3º, I, CF). Sendo IV traz cópia do artigo 5º, X, CF, que prevê que “são in-
assim, incorreta a afirmação de que soberania, cidadania violáveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
e pluralismo político não são fundamentos da República das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
Federativa do Brasil, pois estão como tais enumerados no material ou moral decorrente de sua violação”; o que faz
artigo 1º, CF, além de decorrerem da própria estrutura de também o item V com relação ao artigo 5º, VI, CF que diz
um Estado Democrático de Direito. que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
6. Resposta: “D”. O item “I” descreve alguns dos prin- garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
cípios que regem as relações internacionais brasileiras, e a suas liturgias”. Sendo assim, todas afirmativas estão
enumerados no artigo 4º, CF, estando correto; o item “II” corretas.
afasta a normatividade dos princípios, o que é incorreto,
pois os princípios têm forma normativa e, inclusive, po- 10. Resposta: “D”. O habeas corpus é garantia pre-
dem ser aplicados de forma autônoma se não houver lei vista no artigo 5º, LXVIII, CF: “conceder-se-á habeas corpus
específica a respeito ou se esta se mostrar inadequada, por sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
isso mesmo, correta a afirmação do item “III”; os princípios violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
descritos no item “IV” são alguns dos que regem a ordem ilegalidade ou abuso de poder”. A respeito dele, a lei bus-
econômica, enumerados no artigo 170, CF, restando corre- ca torná-lo o mais acessível possível, por ser diretamente
ta; o item “V” traz um exemplo de violação ao princípio da relacionado a um direito fundamental da pessoa humana.
igualdade material, assegurado no artigo 5º, CF e refletido O objeto de tutela é a liberdade de locomoção; a propo-
em todo texto constitucional, estando assim correto. Logo, situra não depende de advogado; o que propõe a ação é
apenas o item “II” está incorreto. denominado impetrante e quem será por ela beneficiado é
chamado paciente (podendo a mesma pessoa ser os dois),
7. Resposta: “D”. O artigo 1º, CF traz os princípios contra quem é proposta a ação é a denominada autori-
fundamentais (fundamentos) da República Federativa do dade coatora; e é possível utilizar habeas corpus repres-
Brasil: “I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da sivamente e preventivamente. Por sua vez, a Constituição
pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da Federal prevê no artigo 142, §2º que “não caberá habeas
livre iniciativa; V - o pluralismo político”. O princípio de “A” corpus em relação a punições disciplinares militares”.
se encontra no inciso V; o de “B” no inciso IV; o de “C” no
inciso III, pois viola a dignidade humana da mãe forçá-la a 11. Resposta: “A”. No que tange ao tema, destaque
dar luz à um filho que resulte de estupro; o de “E” decorre para os seguintes incisos do artigo 5º da CF: “LXXI - con-
dos incisos I e II e é previsão do artigo 2º, que dispõe que ceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de
“são Poderes da União, independentes e harmônicos entre norma regulamentadora torne inviável o exercício dos di-
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Somente resta a reitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas ine-
alternativa “D”, que apesar de realmente trazer um objetivo rentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; LXXII
da República Federativa brasileira – previsto no artigo 3º, - conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhe-
IV, não tem a ver com os princípios fundamentais, mas sim cimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
com os objetivos. constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público; b) para a retifica-
8. Resposta: “C”. A democracia brasileira adota a mo- ção de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
dalidade semidireta, porque possibilita a participação po- sigiloso, judicial ou administrativo”. Os itens “I” e “II” repe-
pular direta no poder por intermédio de processos como tem o teor do artigo 5º, LXXII, CF. Já o item “III” decorre
o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. Como são logicamente da previsão dos direitos fundamentais como
hipóteses restritas, pode-se afirmar que a democracia indi- limitadores da atuação do Estado, logo, as informações
reta é predominantemente adotada no Brasil, por meio do requeridas serão contra uma entidade governamental da
sufrágio universal e do voto direto e secreto com igual va- administração direta ou indireta. Por sua vez, o item “IV”
lor para todos. Contudo, não é a única maneira de se exer- reflete o artigo 5º, LXXI, CF, do qual decorre logicamente
cer o poder (artigo 14, CF e artigo 1º, parágrafo único, CF). o item “V”, posto que a demora do legislador em regula-
mentar uma norma constitucional de aplicabilidade me-
9. Resposta: “E”. “I” está correta porque a principal di- diata, que necessita do preenchimento de seu conteúdo,
ferença entre direitos e garantias é que os primeiros servem evidencia-se em risco aos direitos fundamentais garantidos
para determinar os bens jurídicos tutelados e as segundas pela Constituição Federal.
são os instrumentos para assegurar estes (ex: direito de li-

52
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

12. Resposta: “A”. Nos termos do artigo 5º, LIII, CF, 19. Resposta: “B”. No que tange à segurança jurídica,
“ninguém será processado nem sentenciado senão pela tem-se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF: “XXXVI - a lei
autoridade competente”, restando o item “I” correto; pelo não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
artigo 5º, LX, CF, “a lei só poderá restringir a publicidade e a coisa julgada”. A coisa julgada se formou a favor de
dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o Pedro e não pode ser quebrada por lei posterior que alte-
interesse social o exigirem”, motivo pelo qual o item “II” re a situação fático-jurídica, sob pena de se atentar contra
está correto; e prevê o artigo 5º, LXVI, CF que “ninguém a segurança jurídica.
será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir
a liberdade provisória, com ou sem fiança”, confirmando o 20. Resposta: “D”. Trata-se de garantia constitucio-
item “IV”. Por sua vez, o item “III” está incorreto porque “são nal prevista no artigo 5º, XXXIII, CF: “todos têm direito a
inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilí- receber dos órgãos públicos informações de seu interes-
citos” (artigo 5º, LVI, CF); e o item “V” está incorreto porque se particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
a jurisprudência atual ainda aceita a prisão civil do devedor prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
de alimentos, sendo que o texto constitucional autoriza ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segu-
tanto esta quanto a do depositário infiel (artigo 5º, LXVII, rança da sociedade e do Estado”.
CF).
21. Resposta: “B”. A teoria da reserva do possível
13. Resposta: “A”. Preconiza o artigo 5º, XL, CF: “XL busca impedir que se argumente por uma obrigação infi-
- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. nita do Estado de atender direitos econômicos, sociais e
Assim, se vier uma lei posterior ao fato que o exclua do culturais. No entanto, não pode ser invocada como muleta
rol de crimes ou que confira tratamento mais benéfico (di- para impedir que estes direitos adquiram efetividade. Se
minuindo a pena ou alterando o regime de cumprimento, a invocação da reserva do possível não demonstrar cabal-
notadamente), ela será aplicada. mente que o Estado não tem condições de arcar com as
despesas, o Poder Judiciário irá intervir e sanar a omissão.
14. Resposta: “B”. Neste sentido, prevê o artigo 5º,
XLII, CF: “XLII - a prática do racismo constitui crime ina-
22. Resposta: “C”. A Emenda Constitucional nº
fiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
72/2013, que ficou conhecida no curso de seu processo
termos da lei”, restando “B” correta. “A” é incorreta porque
de votação como PEC das domésticas, deu redação ao
a lei penal retroage para beneficiar o réu; “C” é incorreta
parágrafo único do artigo 7º, o qual estende alguns dos
porque é aceita a pena de morte para os crimes militares
direitos enumerados nos incisos do caput para a catego-
praticados em tempo de guerra; “D” é incorreta porque
ria dos trabalhadores domésticos, quais sejam: “IV, VI, VII,
igrejas não possuem inviolabilidade domiciliar.
VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI,
15. Resposta: “D”. Embora o direito previsto na alter- XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas
nativa “D” seja um direito fundamental, não é um direito em lei e observada a simplificação do cumprimento das
individual, logo, não está previsto no artigo 5º, e sim no obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes
artigo 7º, CF, em seu inciso IX (“remuneração do trabalho da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos
noturno superior à do diurno”). nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua
integração à previdência social”. Os direitos descritos na
16. Resposta: “D”. A propósito, o artigo 5º, XI, CF dis- alternativa “C” estão previstos nos incisos XXVII e XX do
põe: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela artigo 7º da Constituição, não estendidos aos emprega-
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo dos domésticos pela emenda.
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar so-
corro, ou, durante o dia, por determinação judicial”. Sen- 23. Resposta: “Certo”. O artigo 9º, CF disciplina o di-
do assim, não cabe o ingresso por determinação judicial a reito de greve: “É assegurado o direito de greve, compe-
qualquer hora, mas somente durante o dia. tindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele
17. Resposta: C. Dispõe o artigo 5º, CF em seu inciso defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades
XIV: “é assegurado a todos o acesso à informação e res- essenciais e disporá sobre o atendimento das necessida-
guardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício des inadiáveis da comunidade. § 2º Os abusos cometidos
profissional”. sujeitam os responsáveis às penas da lei”.

18. Resposta: “C”. Estabelece o §3º do artigo 5º,CF:


“Os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Con-
gresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos
dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais”. Logo, é necessário o preenchimento de
determinados requisitos para a incorporação.

53
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

24. Resposta: “C”. “A” está incorreta porque o rol de


direitos sociais do artigo 7º é apenas exemplificativo, não ANOTAÇÕES
excluindo outros que decorram das normas trabalhistas,
dos direitos humanos internacionais e das convenções
e acordos coletivos; “B” está incorreta porque a redução ___________________________________________________
proporcional pode ser aceita se intermediada por nego-
ciação coletiva, evitando cenário de demissão em mas- ___________________________________________________
sa; “D” está incorreta porque a licença-gestante encontra ___________________________________________________
arcabouço constitucional, tal como a licença-paternidade,
restando “E” também incorreta (artigo 7º, XVIII e XIX, CF. ___________________________________________________
Sendo assim, “C” está correta, conforme disposto no artigo
7º: “gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, ___________________________________________________
um terço a mais do que o salário normal” (artigo 7º, XVII,
___________________________________________________
CF).
___________________________________________________
25. Resposta: “C”. Nos termos do artigo 5º, LI, CF, “ne-
nhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em ___________________________________________________
caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou
de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpe- ___________________________________________________
centes e drogas afins, na forma da lei”. Embora a condena-
___________________________________________________
ção tenha ocorrido após a naturalização, o crime comum
foi praticado antes dela, permitindo a extradição de Pietro. ___________________________________________________

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54
DIREITOS HUMANOS

2.2 Direitos Humanos: conceito e evolução histórica;................................................................................................................................ 01


2.2.1 Estado Democrático de Direito;............................................................................................................................................................... 11
2.2.2 Direitos Humanos e Cidadania;................................................................................................................................................................ 12
2.2.3 Declaração Universal dos Direitos Humanos;..................................................................................................................................... 12
2.2.4 Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos;............................................................................................................................. 22
2.2.5 Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais;............................................................................................. 32
2.2.6 Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica);............................................................... 37
2.2.7 Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes;........................... 54
2.2.8 Estatuto de Roma;.......................................................................................................................................................................................... 60
2.2.9 Grupos vulneráveis e minorias. Diversidade étnico-racial: história, preconceito, discriminação, racismo, igualdade,
ações afirmativas...................................................................................................................................................................................................... 98
2.2.9 - A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas: a polícia judiciária e a promoção dos direitos
fundamentais............................................................................................................................................................................................................103
2.2.6 - Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (Adotado pela Assembleia Geral das
Nações Unidas na sua resolução 34/169, de 17 de Dezembro de 1979);........................................................................................104
DIREITOS HUMANOS

inalienáveis e imprescritíveis, válidos em qualquer tempo


2.2 DIREITOS HUMANOS: CONCEITO E e lugar, que devem ser respeitados por todos os Estados e
EVOLUÇÃO HISTÓRICA; membros da sociedade. O direito natural é, então, comum
a todos e, ligado à própria origem da humanidade, repre-
senta um padrão geral, funcionando como instrumento de
validação das ordens positivas2.
Teoria geral dos direitos humanos é o estudo dos direi- O direito natural, na sua formulação clássica, não é um
tos humanos, desde os seus elementos básicos como con- conjunto de normas paralelas e semelhantes às do direito
ceito, características, fundamentação e finalidade, passan- positivo, e sim o fundamento deste direito positivo, sendo
do pela análise histórica e chegando à compreensão de sua formado por normas que servem de justificativa a este, por
estrutura normativa. Sem prejuízo, envolve a compreensão exemplo: “deve se fazer o bem”, “dar a cada um o que lhe é
dos documentos históricos que levaram à afirmação des- devido”, “a vida social deve ser conservada”, “os contratos
tes internacional e nacionalmente, bem como o estudo de devem ser observados” etc.3
seu fundamento básico, a dignidade da pessoa humana, e Em literatura, destaca-se a obra do filósofo Sófocles4
de sua estrutura jurídica central, a Organização das Nações intitulada Antígona, na qual a personagem se vê em con-
Unidas. A maioria dos aspectos de uma teoria geral do di- flito entre seguir o que é justo pela lei dos homens em de-
reitos humanos será estudada neste tópico, ao passo que trimento do que é justo por natureza quando o rei Creonte
outros o serão no seguinte, notadamente, classificação, ca- impõe que o corpo de seu irmão não seja enterrado porque
racterísticas e noções sobre dimensões de direito. havia lutado contra o país. Neste sentido, a personagem
Antígona defende, ao ser questionada sobre o descumpri-
a) Primeira noção e conceito preliminar mento da ordem do rei: “sim, pois não foi decisão de Zeus;
Na atualidade, a primeira noção que vem à mente e a Justiça, a deusa que habita com as divindades subter-
quando se fala em direitos humanos é a dos documentos râneas, jamais estabeleceu tal decreto entre os humanos;
internacionais que os consagram, aliada ao processo de tampouco acredito que tua proclamação tenha legitimida-
transposição para as Constituições Federais dos países de- de para conferir a um mortal o poder de infringir as leis
mocráticos. Contudo, é possível aprofundar esta noção se divinas, nunca escritas, porém irrevogáveis; não existem a
tomadas as raízes históricas e filosóficas dos direitos huma- partir de ontem, ou de hoje; são eternas, sim! E ninguém
nos, as quais serão abordadas em detalhes adiante, acres- pode dizer desde quando vigoram! Decretos como o que
centando-se que existem direitos inatos ao homem inde- proclamaste, eu, que não temo o poder de homem algum,
pendentemente de previsão expressa por serem elementos posso violar sem merecer a punição dos deuses! [...]”.
essenciais na construção de sua dignidade. O desrespeito às normas de direito natural - e porque
Logo, um conceito preliminar de direitos humanos não dizer de direitos humanos - leva à invalidade da norma
pode ser estabelecido: direitos humanos são aqueles ine- que assim o preveja (Ex: autorizar a tortura para fins de
rentes ao homem enquanto condição para sua dignidade investigação penal e processual penal não é simplesmente
que usualmente são descritos em documentos internacio- inconstitucional, é mais que isso, por ser inválida perante
nais para que sejam mais seguramente garantidos. A con- a ordem internacional de garantia de direitos naturais/hu-
quista de direitos da pessoa humana é, na verdade, uma manos uma norma que contrarie a dignidade inerente ao
busca da dignidade da pessoa humana. homem sob o aspecto da preservação de sua vida e inte-
gridade física e moral).
b) Fundamento filosófico
O direito natural se contrapõe ao direito positivo, lo- c) Conceito contemporâneo e primeiros documen-
calizado no tempo e no espaço: tem como pressuposto a tos históricos
ideia de imutabilidade de certos princípios, que escapam à Enfim, quando questões inerentes ao direito natu-
história, e a universalidade destes princípios transcendem a ral passam a ser colocadas em textos expressos tem-se
geografia. A estes princípios, que são dados e não postos a formação de um conceito contemporâneo de direitos
por convenção, os homens têm acesso através da razão co- humanos. Entre outros documentos a partir dos quais tal
mum a todos (todo homem é racional), e são estes princípios concepção começou a ganhar forma, destacam-se: Mag-
que permitem qualificar as condutas humanas como boas ou na Carta de 1215, Bill of Rights ao final do século XVII e
más, qualificação esta que promove uma contínua vinculação Constituições da Revolução Francesa de 1789 e Americana
entre norma e valor e, portanto, entre Direito e Moral.1 de 1787. No entanto, o documento que constitui o marco
As premissas dos direitos humanos se encontram no
conceito de lei natural. Lei natural é aquela inerente à huma- 2 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos
nidade, independentemente da norma imposta, e que deve humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt.
ser respeitada acima de tudo. O conceito de lei natural foi São Paulo: Cia. das Letras, 2009.
fundamental para a estruturação dos direitos dos homens, 3 MONTORO, André Franco. Introdução à
ficando reconhecido que a pessoa humana possui direitos ciência do Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos 2005.
humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. 4 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução
São Paulo: Cia. das Letras, 2009. Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003.

1
DIREITOS HUMANOS

mais significativo para a formação de uma concepção con- No berço da civilização grega continuou a discussão a
temporânea de direitos humanos é a Declaração Universal respeito da existência de uma lei natural inerente a todos os
de Direitos Humanos de 1948. Após ela, muitos outros do- homens. As premissas da concepção de lei natural estão jus-
cumentos relevantes surgiram, como o Pacto Internacional tamente na discussão promovida na Grécia antiga, no espa-
de Direitos Civis e Políticos e Pacto Internacional de Direi- ço da polis. Neste sentido, destaca Assis7 que, originalmente,
tos Humanos, Sociais e Culturais, ambos de 1966, além da a concepção de lei natural está ligada não só à de natureza,
Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de mas também à de diké: a noção de justiça simbolizada a partir
São José da Costa Rica) de 1969, entre outros. da deusa diké é muito ampla e abstrata, mas com a legislação
passou a ter um conteúdo palpável, de modo que a justiça
d) Finalidade deveria corresponder às leis da cidade; entretanto, é preci-
A finalidade primordial dos direitos humanos é garantir so considerar que os costumes primitivos trazem o justo por
que a dignidade do homem não seja violada, estabelecen- natureza, que pode se contrapor ao justo por convenção ou
do um rol de bens jurídicos fundamentais que merecem legislação, devendo prevalecer o primeiro, que se refere ao na-
proteção inerentes, basicamente, aos direitos civis (vida, turalmente justo, sendo esta a origem da ideia de lei natural.
segurança, propriedade e liberdade), políticos (participa- De início, a literatura grega trouxe na obra Antígona uma
ção direta e indireta nas decisões políticas), econômicos discussão a respeito da prevalência da lei natural sobre a lei pos-
(trabalho), sociais (igualdade material, educação, saúde e ta. Na obra, a protagonista discorda da proibição do rei Creonte
bem-estar), culturais (participação na vida cultural) e am- de que seu irmão fosse enterrado, uma vez que ele teria traído
bientais (meio ambiente saudável, sustentabilidade para as a pátria. Assim, enterra seu irmão e argumenta com o rei que
futuras gerações). Percebe-se uma proximidade entre os nada do que seu irmão tivesse feito em vida poderia dar o direi-
direitos humanos e os direitos fundamentais do homem, o to ao rei de violar a regra imposta pelos deuses de que todo ho-
que ocorre porque o valor da pessoa humana na qualidade mem deveria ser enterrado para que pudesse partir desta vida:
de valor-fonte da ordem de vida em sociedade fica expres- a lei natural prevaleceria então sobre a ordem do rei.8
so juridicamente nestes direitos fundamentais do homem. Os sofistas, seguidores de Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.),
o primeiro grande filósofo grego, questionaram essa con-
e) Histórico cepção de lei natural, pois a lei estabelecida na polis, fruto da
vontade dos cidadãos, seria variável no tempo e no espaço,
O surgimento dos direitos humanos está envolvido
não havendo que se falar num direito imutável; ao passo que
num histórico complexo no qual pesaram vários fatores:
Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), que o sucedeu, estabeleceu
tradição humanista, recepção do direito romano, senso
uma divisão entre a justiça positiva e a natural, reconhecen-
comum da sociedade da Europa na Idade Média, tradição
do que a lei posta poderia não ser justa9.
cristã, entre outros5. Com efeito, são muitos os elementos
Aristóteles10 argumenta: “lei particular é aquela que cada
relevantes para a formação do conceito de direitos huma-
comunidade determina e aplica a seus próprios membros;
nos tal qual perceptível na atualidade de forma que é difícil
ela é em parte escrita e em parte não escrita. A lei universal
estabelecer um histórico linear do processo de formação é a lei da natureza. Pois, de fato, há em cada um alguma me-
destes direitos. Entretanto, é possível apontar alguns fato- dida do divino, uma justiça natural e uma injustiça que está
res históricos e filosóficos diretamente ligados à construção associada a todos os homens, mesmo naqueles que não têm
de uma concepção contemporânea de direitos humanos. associação ou pacto com outro”.
É a partir do período axial (800 a.C. a 200 a.C.), ou seja, Nesta linha, destaca-se o surgimento do estoicismo, dou-
mesmo antes da existência de Cristo, que o ser humano trina que se desenvolveu durante seis séculos, desde os últimos
passou a ser considerado, em sua igualdade essencial, três séculos anteriores à era cristã até os primeiros três sécu-
como um ser dotado de liberdade e razão. Surgiam assim los desta era, mas que trouxe ideias que prevaleceram durante
os fundamentos intelectuais para a compreensão da pes- toda a Idade Média e mesmo além dela. O estoicismo organi-
soa humana e para a afirmação da existência de direitos zou-se em torno de algumas ideias centrais, como a unidade
universais, porque a ela inerentes. Durante este período moral do ser humano e a dignidade do homem, considerado
que despontou a ideia de uma igualdade essencial entre filho de Zeus e possuidor, como consequência, de direitos ina-
todos os homens. Contudo, foram necessários vinte e cinco tos e iguais em todas as partes do mundo, não obstante as
séculos para que a Organização das Nações Unidas - ONU, inúmeras diferenças individuais e grupais11.
que pode ser considerada a primeira organização interna-
cional a englobar a quase-totalidade dos povos da Terra, 7 ASSIS, Olney Queiroz. O estoicismo e o
proclamasse, na abertura de uma Declaração Universal dos Direito: justiça, liberdade e poder. São Paulo: Lúmen, 2002.
Direitos Humanos de 1948, que “todos os homens nascem 8 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução
livres e iguais em dignidade e direitos”6. Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003.
9 ASSIS, Olney Queiroz. O estoicismo e o
5 COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. Direitos Direito: justiça, liberdade e poder. São Paulo: Lúmen, 2002.
Humanos e Crítica Moderna. Revista Jurídica Consulex. São 10 ARISTÓTELES. Retórica. Tradução
Paulo, ano XIII, n. 300, p. 27-29, jul. 2009. Marcelo Silvano Madeira. São Paulo: Rideel, 2007. 
6 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação 11 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação
Histórica dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, Histórica dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2004. 2004.

2
DIREITOS HUMANOS

Influenciado pelos estóicos, Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), Referido documento, em sua abertura, expõe a noção de
um dos principais pensadores do período da jovem repú- concessão do rei aos súditos, estabelece a existência de
blica romana, também defendeu a existência de uma lei na- uma hierarquia social sem conceder poder absoluto ao so-
tural. Neste sentido é a assertiva de Cícero12: “a razão reta, berano, prevê limites à imposição de tributos e ao confisco,
conforme à natureza, gravada em todos os corações, imu- constitui privilégios à burguesia e traz procedimentos de
tável, eterna, cuja voz ensina e prescreve o bem, afasta do julgamento ao prever conceitos como o de devido proces-
mal que proíbe e, ora com seus mandados, ora com suas so legal, habeas corpus e júri. Não que a carta se assemelhe
proibições, jamais se dirige inutilmente aos bons, nem fica a uma declaração de direitos humanos, principalmente ao
impotente ante os maus. Essa lei não pode ser contestada, se considerar que poucos homens naquele período eram
nem derrogada em parte, nem anulada; não podemos ser de fato livres, mas ela foi fundamental naquele contexto
isentos de seu cumprimento pelo povo nem pelo senado; histórico de falta de limites ao soberano16. A Magna Carta
não há que procurar para ela outro comentador nem intér- de 1215 instituiu ainda um Grande Conselho que foi o em-
prete; não é uma lei em Roma e outra em Atenas, - uma brião para o Parlamento inglês, embora isto não signifique
antes e outra depois, mas uma, sempiterna e imutável, entre que o poder do rei não tenha sido absoluto em certos mo-
todos os povos e em todos os tempos”. mentos, como na dinastia Tudor. Havia um absolutismo de
Com a queda do Império Romano, iniciou-se o período fato, mas não de Direito.
medieval, predominantemente cristianista. Um dos grandes Em geral, o absolutismo europeu foi marcado profun-
pensadores do período, Santo Tomás de Aquino (1225 d.C. damente pelo antropocentrismo, colocando o homem no
-1274 d.C.)13, supondo que o mundo e toda a comunidade centro do universo, ocupando o espaço de Deus. Natural-
do universo são regidos pela razão divina e que a própria mente, as premissas da lei natural passaram a ser ques-
razão do governo das coisas em Deus fundamenta-se em tionadas, já que geralmente se associavam à dimensão do
lei, entendeu que existe uma lei eterna ou divina, pois a ra- divino. A negação plena da existência de direitos inatos ao
zão divina nada concebe no tempo e é sempre eterna. Com homem implicava em conferir um poder irrestrito ao so-
base nisso, Aquino14 chamou de lei natural “a participação berano, o que gerou consequências que desagradavam a
da lei eterna na lei racional”. Sobre o conteúdo da lei natural, burguesia.
definiu Aquino (2005, p. 562) que “todas aquelas coisas que O príncipe, obra de Maquiavel (1469 d.C. - 1527 d.C.)
devem ser feitas ou evitadas pertencem aos preceitos da lei considerada um marco para o pensamento absolutista, re-
de natureza, que a razão prática naturalmente apreende ser lata com precisão este contexto no qual o poder do sobe-
bens humanos”. Logo, a lei natural determina o agir virtuoso, rano poderia se sobrepor a qualquer direito alegadamente
o que se espera do homem em sociedade, independente- inato ao ser humano desde que sua atitude garantisse a
mente da lei humana. manutenção do poder. Maquiavel17 considera “na condu-
ta dos homens, especialmente dos príncipes, contra a qual
Com a concepção medieval de pessoa humana é que se
não há recurso, os fins justificam os meios. Portanto, se um
iniciou um processo de elaboração em relação ao princípio
príncipe pretende conquistar e manter o poder, os meios
da igualdade de todos, independentemente das diferenças
que empregue serão sempre tidos como honrosos, e elo-
existentes, seja de ordem biológica, seja de ordem cultural.
giados por todos, pois o vulgo atenta sempre para as apa-
Foi assim, então, que surgiu o conceito universal de direitos
rências e os resultados”.
humanos, com base na igualdade essencial da pessoa15.
No processo de ascensão do absolutismo europeu, a
Os monarcas dos séculos XVI, XVII e XVIII agiam de
monarquia da Inglaterra encontrou obstáculos para se es- forma autocrática, baseados na teoria política desenvolvi-
tabelecer no início do século XIII, sofrendo um revés. Ao se da até então que negava a exigência do respeito à Ética,
tratar da formação da monarquia inglesa, em 1215 os barões logo, ao direito natural, no espaço público. Somente num
feudais ingleses, em uma reação às pesadas taxas impostas momento histórico posterior se permitiu algum resgate da
pelo Rei João Sem-Terra, impuseram-lhe a Magna Carta. aproximação entre a Moral e o Direito, qual seja o da Revo-
12 CÍCERO, Marco Túlio. Da República. lução Intelectual dos séculos XVII e XVIII, com o movimen-
Tradução Amador Cisneiros. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. to do Iluminismo, que conferiu alicerce para as Revoluções
13 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. Francesa e Industrial - ainda assim a visão antropocentrista
permaneceu, mas começou a se consolidar a ideia de que
Tradução Aldo Vannucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache
não era possível que o soberano impusesse tudo incondi-
e Fidel García Rodríguez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat
cionalmente aos seus súditos.
Pinto de Oliveira. Edição Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, Com efeito, quando passou a se questionar o conceito
2005b. v. VI, parte II, seção II, questões 57 a 122. de Soberano, ao qual todos deveriam obediência mas que
14 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. não deveria obedecer a ninguém. Indagou-se se os indiví-
Tradução Aldo Vannucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache
e Fidel García Rodríguez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat 16 AMARAL, Sérgio Tibiriçá. Magna Carta:
Pinto de Oliveira. Edição Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, Algumas Contribuições Jurídicas. Revista Intertemas: revista
2005b. v. VI, parte II, seção II, questões 57 a 122. da Toledo. Presidente Prudente, ano 09, v. 11, p. 201-227, nov.
15 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação 2006.
Histórica dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 17 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe.
2004. Tradução Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2007.

3
DIREITOS HUMANOS

duos que colocaram o Soberano naquela posição (pois sem d.C.), que avançou nos estudos de Locke e na obra O Espí-
povo não há Soberano) teriam direitos no regime social e, rito das Leis estabeleceu em definitivo a clássica divisão de
em caso afirmativo, quais seriam eles. As respostas a estas poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Por fim, merece
questões iniciam uma visão moderna do direito natural, re- menção o pensador Rousseau (1712 d.C. - 1778 d.C.), de-
conhecendo-o como um direito que acompanha o cidadão fendendo que o homem é naturalmente bom e formulando
e não pode ser suprimido em nenhuma circunstância.18 na obra O Contrato Social a teoria da vontade geral, aceita
Antes que despontassem as grandes revoluções que pela pequena burguesia e pelas camadas populares face
interromperam o contexto do absolutismo europeu, na In- ao seu caráter democrático. Enfim, estes três contratualis-
glaterra houve uma árdua discussão sobre a garantia das tas trouxeram em suas obras as ideias centrais das Revo-
liberdades pessoais, ainda que o foco fosse a proteção do luções Francesa e Americana. Em comum, defendiam que
clero e da nobreza. Quando a dinastia Stuart tentou trans- o Estado era um mal necessário, mas que o soberano não
formar o absolutismo de fato em absolutismo de direito, possuía poder divino/absoluto, sendo suas ações limitadas
ignorando o Parlamento, este impôs ao rei a Petição de pelos direitos dos cidadãos submetidos ao regime estatal.
Direitos de 1948, que exigia o cumprimento da Magna Car- No entanto, Rousseau era o pensador que mais se dife-
ta de 1215. Contudo, o rei se recusou a fazê-lo, fechando renciava dos dois anteriores, que eram mais individualistas
por duas vezes o Parlamento, sendo que a segunda vez e trouxeram os principais fundamentos do Estado Liberal,
gerou uma violenta reação que desencadeou uma guerra porque defendia a entrega do poder a quem realmente es-
civil. Após diversas transições no trono inglês, despontou a tivesse legitimado para exercê-lo, pensamento que mais se
Revolução Gloriosa que durou de 1688 até 1689, conferin- aproxima da atual concepção de democracia.
do-se o trono inglês a Guilherme de Orange, que aceitou a
Declaração de Direitos - Bill of Rights. 1) O primeiro grande movimento desencadeado foi a
Todo este movimento resultou, assim, nas garantias Revolução Americana. Em 1776 se deu a independência das
expressas do habeas corpus e do Bill of Rights de 1698. Por treze Colônias da América Continental Britânica, registrada
sua vez, a instituição-chave para a limitação do poder mo- na Declaração de Direitos do Homem e, posteriormente,
nárquico e para garantia das liberdades na sociedade civil na Declaração de Independência. Após diversas batalhas,
foi o Parlamento e foi a partir do Bill of Rights britânico que a Inglaterra reconheceu a independência em 1783. Desta-
surgiu a ideia de governo representativo, ainda que não do cam-se alguns pontos do primeiro documento: o artigo I
povo, mas pelo menos de suas camadas superiores19. do referido documento assegura a igualdade de todos de
Tais ideias liberais foram importantes como base para o maneira livre e independente, considerando esta como um
Iluminismo, que se desencadeou por toda a Europa. Desta- direito inato; o artigo II estabelece que o poder pertence ao
ca-se que quando isso ocorreu, em meados do século XVIII, povo e que o Estado é responsável perante ele; o artigo V
se dava o advento do capitalismo em sua fase industrial. O prevê a separação dos poderes e o artigo VI institui a rea-
processo de formação do capitalismo e a ascensão da bur- lização de eleições diretas, necessariamente. A declaração
guesia trouxeram implicações profundas no campo teórico, americana estava mais voltada aos americanos do que à
gerando o Iluminismo. humanidade, razão pela qual a Revolução Francesa costu-
O Iluminismo lançou base para os principais eventos ma receber mais destaque num cenário histórico global.
que ocorreram no início da Idade Contemporânea, quais
sejam as Revoluções Francesa, Americana e Industrial. Ti- 2) Já a Revolução Francesa decorreu da incapacidade
veram origem nestes movimentos todos os principais fatos do governo de resolver sua crise financeira, ascendendo
do século XIX e do início do século XX, por exemplo, a dis- com isso a classe burguesa (sans-culottes), sendo o primei-
seminação do liberalismo burguês, o declínio das aristo- ro evento de tal ascensão a Queda da Bastilha, em 14 de
cracias fundiárias e o desenvolvimento da consciência de julho de 1789, seguida por outros levantes populares. Der-
classe entre os trabalhadores20. rubados os privilégios das classes dominantes, a Assem-
Jonh Locke (1632 d.C. - 1704 d.C.) foi um dos pensado- bleia se reuniu para o preparo de uma carta de liberdades,
res da época, transportando o racionalismo para a política, que veio a ser a Declaração dos Direitos do Homem e do
refutando o Estado Absolutista, idealizando o direito de re- Cidadão.21
belião da sociedade civil e afirmando que o contrato entre Entre outras noções, tal documento previu: a liberda-
os homens não retiraria o seu estado de liberdade. Ao lado de e igualdade entre os homens quanto aos seus direitos
dele, pode ser colocado Montesquieu (1689 d.C. - 1755 (artigo 1º), a necessidade de conservação dos seus direitos
naturais, quais sejam a liberdade, a propriedade, a segu-
18 COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. Direitos
rança e a resistência à opressão (artigo 2º); a limitação do
Humanos e Crítica Moderna. Revista Jurídica Consulex. São
direito de liberdade somente por lei (artigo 4º); o princípio
Paulo, ano XIII, n. 300, p. 27-29, jul. 2009. da legalidade (artigo 7º); o princípio da inocência (artigo
19 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação 9º); a manifestação livre do pensamento (artigos 10 e 11); e
Histórica dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, a necessária separação de poderes (artigo 16).
2004.
20 BURNS, Edward McNall. História da 21 BURNS, Edward McNall. História da
civilização ocidental: do homem das cavernas às naves civilização ocidental: do homem das cavernas às naves
espaciais. 43. ed. Atualização Robert E. Lerner e Standisch espaciais. 43. ed. Atualização Robert E. Lerner e Standisch
Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2. Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2.

4
DIREITOS HUMANOS

3) Por sua vez, a Revolução Industrial, que começou na No entender de Kelsen23, a justiça não é a característica
Inglaterra, criou o sistema fabril, o que reformulou a vida que distingue o Direito das outras ordens coercitivas por-
de homens e mulheres pelo mundo todo, não só pelos que é relativo o juízo de valor segundo o qual uma ordem
avanços tecnológicos, mas notadamente por determinar pode ser considerada justa. Percebe-se que a Moral é afas-
o êxodo de milhões de pessoas do interior para as cida- tada como conteúdo necessário do Direito, já que a justiça
des. Os milhares de trabalhadores se sujeitavam a jornadas é o valor moral inerente ao Direito.
longas e desgastantes, sem falar nos ambientes insalubres .A Segunda Guerra Mundial chegou ao fim somente
e perigosos, aos quais se sujeitavam inclusive as crianças. em 1945, após uma sucessão de falhas alemãs, que im-
Neste contexto, surgiu a consciência de classe22, lançando- pediram a conquista de Moscou, desprotegeram a Itália e
-se base para uma árdua luta pelos direitos trabalhistas. impossibilitaram o domínio da região setentrional da Rús-
Fato é que quanto maior a autonomia de vontade - sia (produtora de alimentos e petróleo). Já o evento que
buscada nas revoluções anteriores - melhor funciona o culminou na rendição do Japão foi o lançamento das bom-
mercado capitalista, beneficiando quem possui maior nú- bas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. O mundo somente
mero de bens. Assim, a classe que detinha bens, qual seja tomou conhecimento da extensão da tirania alemã quando
a burguesia, ampliou sua esfera de poder, enquanto que os exércitos Aliados abriram os campos de concentração
o proletariado passou a ser vítima do poder econômico. na Alemanha e nos países por ela ocupados, encontran-
No Estado Liberal, aquele que não detém poder econômico do prisioneiros famintos, doentes e brutalizados, além de
fica desprotegido. O indivíduo da classe operária sozinho milhões de corpos dos judeus, poloneses, russos, ciganos,
não tinha defesa, mas descobriu que ao se unir com outros homossexuais e traidores do Reich em geral, que foram
em situação semelhante poderia conquistar direitos. Para perseguidos, torturados e mortos24.
tanto, passaram a organizar greves. Vale ressaltar a constituição de um órgão que foi o res-
Nasceu, assim, o direito do trabalho, voltado à prote- ponsável por redigir o primeiro documento de relevância
ção da vítima do poder econômico, o trabalhador. Parte-se internacional abrangendo a questão dos direitos humanos.
do princípio da hipossuficiência do trabalhador, que é o Em 26 de junho de 1945 foi assinada a carta de organização
das Nações Unidas, que tem por fundamento o princípio
princípio da proteção e que gerou os princípios da prima-
da igualdade soberana de todos os estados que buscassem
zia, da irredutibilidade de vencimentos e outros. Nota-se
a paz, possuindo uma Assembleia Geral, um Conselho de
que no campo destes direitos e dos demais direitos eco-
Segurança, uma Secretaria, em Conselho Econômico e So-
nômicos, sociais e culturais não basta uma postura do in-
cial, um Conselho de Mandatos e um Tribunal Internacional
divíduo: é preciso que o Estado interfira e controle o poder
de Justiça25.
econômico.
Entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de 1946
realizou-se o Tribunal de Nuremberg, ao qual foram subme-
Entre os documentos relevantes que merecem men-
tidos a julgamento os principais líderes nazistas, o principal
ção nesta esfera, destacam-se: Constituição do México de argumento levantado foi o de que todas as ações pratica-
1917, Constituição Alemã de Weimar de 1919 e Tratado de das foram baseadas em ordens superiores, todas dotadas de
Versalhes de 1919, sendo que o último instituiu a Organiza- validade jurídica perante a Constituição. Explica Lafer26: “No
ção Internacional do Trabalho - OIT (que emitia convenções plano do Direito, uma das maneiras de assegurar o primado
e recomendações) e pôs fim à Primeira Guerra Mundial. do movimento foi o amorfismo jurídico da gestão totalitária.
No final do século XIX e no início de século XX, o mun- Este amorfismo reflete-se tanto em matéria constitucional
do passou por variadas crises de instabilidade diplomática, quanto em todos os desdobramentos normativos. A Cons-
posto que vários países possuíam condições suficientes tituição de Weimar nunca foi ab-rogada durante o regime
para se sobreporem sobre os demais, resultado dos avan- nazista, mas a lei de plenos poderes de 24 de março de 1933
ços tecnológicos e das melhorias no padrão de vida da so- teve não só o efeito de legalizar a posse de Hitler no poder
ciedade. Neste contexto, surgiram condições para a eclosão como o de legalizar geral e globalmente as suas ações futu-
das duas Guerras Mundiais, eventos que alteraram o curso
da história da civilização ocidental. Entre estas, destaca-se 23 KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito.
a Segunda Guerra Mundial, cujos eventos foram marcados 6. ed. Tradução João Baptista Machado. São Paulo: Martins
pela desumanização: todos com o devido respaldo jurídico Fontes, 2003.
perante o ordenamento dos países que determinavam os 24 BURNS, Edward McNall. História da
atos. A teoria jurídica que conferiu fundamento a um Direi- civilização ocidental: do homem das cavernas às naves
to que aceitasse tantas barbáries, sem perder a sua valida- espaciais. 43. ed. Atualização Robert E. Lerner e Standisch
de, foi o Positivismo que teve como precursor Hans Kelsen, Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2.
com a obra Teoria Pura do Direito. 25 BURNS, Edward McNall. História da
civilização ocidental: do homem das cavernas às naves
espaciais. 43. ed. Atualização Robert E. Lerner e Standisch
22 BURNS, Edward McNall. História da Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2.
civilização ocidental: do homem das cavernas às naves 26 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos
espaciais. 43. ed. Atualização Robert E. Lerner e Standisch humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt.
Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2. São Paulo: Cia. xdas Letras, 2009.

5
DIREITOS HUMANOS

ras. Dessa maneira, como apontou Carl Schmitt - escrevendo No âmbito nacional, destacam-se as positivações
depois da II Guerra Mundial -, Hitler foi confirmado no poder, nos textos das Constituições Federais. Afinal, como expli-
tornando-se a fonte de toda legalidade positiva, em virtude ca Lafer31, a afirmação do jusnaturalismo moderno de um
de uma lei do Parlamento que modificou a Constituição. Tam- direito racional, universalmente válido, gerou implicações
bém a Constituição stalinista de 1936, completamente igno- relevantes na teoria constitucional e influenciou o proces-
rada na prática, nunca foi abolida”. so de codificação a partir de então. Embora muitos direitos
No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral humanos também se encontrem nos textos constitucionais,
das Nações Unidas elaborou a Declaração Universal dos Di- aqueles não positivados na Carta Magna também possuem
reitos Humanos. Um dos principais pensadores que contri- proteção porque o fato de este direito não estar assegurado
buiu para a Declaração Universal dos Direitos Humanos de constitucionalmente é uma ofensa à ordem pública interna-
1948 foi Maritain27, que entendia que os direitos humanos cional, ferindo o princípio da dignidade humana.
da pessoa como tal se fundamentam no fato de que a pes-
soa humana é superior ao Estado, que não pode impor a f) Documentos históricos brasileiros
ela determinados deveres e nem retirar dela alguns direitos, Primeiramente, quanto aos documentos históricos,
por ser contrário à lei natural. Em suma, para o filósofo o tem-se que estes são registros que comprovam fatos impor-
homem ético é fiel aos valores da verdade, da justiça e do tantes ocorridos em determinado período utilizados para
amor, e segue a doutrina cristã para determinar seus atos: edificar a sucessão dessas ações a partir de uma lógica ela-
tais elementos determinam o agir moral e levam à produ- borada por historiadores32. Quando se fala em documentos
ção do bem na sociedade humanista integral. históricos brasileiros associados aos direitos humanos, três
Moraes28 lembra que a Declaração de 1948 foi a mais sentidos podem ser depreendidos: um primeiro se refere
importante conquista no âmbito dos direitos humanos fun- à posição dos direitos humanos nos textos constitucionais
damentais em nível internacional, muito embora o instru- que precederam os de 1988, um segundo às leis específi-
mento adotado tenha sido uma resolução, não constituin- cas que foram elaboradas e não estão mais vigentes e que
do seus dispositivos obrigações jurídicas dos Estados que contribuíram para a solidificação de direitos humanos, e um
a compõem. O fato é que desse documento se originaram terceiro aos documentos elaborados pelo Estado - alguns
muitos outros, nos âmbitos nacional e internacional, sen- de caráter confidencial - que constituem relatos pertinentes
do que dois deles praticamente repetem e pormenorizam à violação dos direitos humanos.
o seu conteúdo, quais sejam: o Pacto Internacional dos Di-
reitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Evolução dos textos constitucionais
Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966.
Pouco a pouco os textos constitucionais evoluíram
Ainda internacionalmente, após os pactos menciona- até que chegássemos à Constituição Federal de 1988, que
dos, vários tratados internacionais surgiram. Nesta linha, confere a mais ampla proteção dos direitos humanos entre
Piovesan29 apontou os seguintes documentos: Convenção todas as Constituições anteriores. Extrai-se de Lenza33 algu-
Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Dis- mas questões sobre o histórico e a posição dos direitos e
criminação Racial, Convenção sobre a Eliminação de todas garantias fundamentais nestes documentos:
as formas de Discriminação contra a Mulher, Convenção so- - Constituição de 1824: foi o primeiro texto constitu-
bre os Direitos da Criança, Convenção sobre os Direitos das cional desde a independência do Brasil. Foi elaborada por
Pessoas com Deficiência, Convenção contra a Tortura, etc. um Conselho de Estado, formado após a dissolução por
Ao lado do sistema global surgiram os sistemas regio- Dom Pedro I da Assembleia Geral Constituinte e Legislati-
nais de proteção, que buscam internacionalizar os direitos va. Suas características mais marcantes foram o centralismo
humanos no plano regional, em especial na Europa, na administrativo e político com a instituição de um Poder Mo-
América e na África30. Resultou deste processo a Conven- derador, o unitarismo e o absolutismo. Com efeito, o mode-
ção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da lo proposto estava muito distante do Estado Democrático
Costa Rica) de 1969. de Direito. No entanto, o texto, influenciado pela revolução
Francesa, estabeleceu um rol de direitos civis e políticos que
27 MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem se perpetuou nas Constituições seguintes, apesar de ter
e a lei natural. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio mantido o sistema da escravidão. O marco para a necessi-
Editora, 1967. dade de uma nova Constituição foi o Decreto nº 1 de 1889:
28 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos regulamentou o primeiro governo provisório da República.
fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da
Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e 31 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos
jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997. humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt.
29 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos São Paulo: Cia. das Letras, 2009.
e o Direito Constitucional Internacional. 9. ed. São Paulo: 32 WEHLING, Arno. Documentos históricos
Saraiva, 2008. do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1999.
30 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos 33 LENZA, Pedro. Curso de direito
e o Direito Constitucional Internacional. 9. ed. São Paulo: constitucional esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
Saraiva, 2008. 2011.

6
DIREITOS HUMANOS

- Constituição de 1891: foi a primeira Constituição lhadores foram definidos com maior eficácia. O Ato Ins-
republicana, influenciada pela norteamericana, adotando titucional nº 5 de 1968 foi um marco a parte, perdurando
o federalismo e o presidencialismo. O estabelecimento por 10 anos, trazendo uma plena centralização no Poder
da tripartição de poderes é compatível com as diretivas Executivo, permitindo-se o fechamento do Congresso Na-
de direitos humanos que viriam a se sagrar. A declaração cional, a declaração de intervenções, o confisco de bens,
de direitos também foi aprimorada, extinguindo-se as pe- a declaração de estado de sítio; a suspensão do habeas
nas de galés, banimento e morte (salvo tempo de guerra); corpus; e a exclusão da apreciação do Judiciário dos atos
mantendo-se a proteção das clássicas liberdades civis e praticados com base no ato.
políticas, mas nada falando sobre direitos dos trabalhado-
res. Foi o primeiro texto constitucional a trazer um remédio - Constituição de 1969 (Emenda Constitucional):
constitucional, o habeas corpus. Após a revolução de 1930 em verdade, tratou-se de manifestação de um novo po-
se encerrou a primeira fase da República e instituído um der constituinte originário. Manteve em vigor o AI nº 5,
segundo governo provisório que levou Getúlio Vargas ao somente dissolvido em 1978 no governo Geisel. Era o
poder (Decreto nº 19.398 de 1930), pressuposto para o se-
início da redemocratização. Em destaque, o movimento
guinte texto constitucional.
Diretas Já no ano de 1983, que embora não tenha conse-
guido revogar o voto indireto gerou pressão para que um
- Constituição de 1934: Em destaque, o abalo dos
civil fosse eleito após 20 anos de ditadura militar, quem
ideais do liberalismo econômico e da democracia libe-
ral da Constituição de 1891. O texto foi influenciado pela seja Tancredo Neves, falecido sem assumir o governo pois
Constituição de Weimar da Alemanha de 1919, trazendo a adoeceu na véspera da posse. José Sarney assumiu o pri-
perspectiva de um Estado social de Direito. Foram manti- meiro governo civil no seu lugar e convocou a constituin-
dos os direitos clássicos, mas inseridos títulos sobre a or- te que deu origem ao texto de 1988.
dem econômica e social, a segurança nacional e a família,
a educação e a cultura. Pela primeira vez foram previstos o Algumas leis específicas relevantes
mandado de segurança e a ação popular, bem como cons- São inúmeras as leis específicas que no decorrer da
titucionalizados o voto secreto e o feminino. história brasileira marcaram as perspectivas que surgiriam
sobre direitos humanos, por exemplo: Lei de Extinção do
- Constituição de 1937: a Constituição de 1937 foi Tráfico Negreiro no Brasil de 1850; Lei do Ventre Livre de
outorgada por Getúlio Vargas influenciada por ideais au- 1871, tornando livres os filhos de escravas; Lei dos Sexa-
toritários e fascistas, instalando a ditadura (Estado Novo) genários de 1885, libertando escravos que por sua idade
após eventos como a intentona comunista e a divulgação não tinham mais valor; Lei Áurea de 1888, libertando to-
de rumores de um golpe de Estado pelos comunistas. Em dos os escravos; etc.
busca de apoio popular, trouxe direitos trabalhistas como o
salário mínimo. Embora a tripartição fosse mantida, o po- Documentos governamentais sobre direitos hu-
der de fato ficou centralizado no Executivo. Não se repetiu manos
a menção do mandado de segurança e da ação popular, Como se percebeu no estudo da evolução dos textos
não se tratou dos princípios da irretroatividade da lei e da constitucionais, o Brasil passou por períodos de violação
reserva legal, restringindo-se também a liberdade de ex- de direitos humanos, nos quais muitos registros foram
pressão. Aceitou-se a pena de morte para crimes políticos e omitidos. Neste sentido, instituiu-se a Comissão Nacio-
de homicídio por motivo fútil ou com extremos de perver- nal da Verdade que, por meio da análise de documentos
sidade. Em resumo, liberdades civis e políticas antes decla- históricos antes considerados sigilosos, pretende trazer
radas foram limitadas em prol do regime ditatorial.
às claras graves violações de direitos humanos cometidas
por agentes do Estado ou pessoas a seu serviço, especial-
- Constituição de 1946: Após o fim da 2ª Guerra Mun-
mente no período de 1964 a 1988, promovendo o mapea-
dial e movimentos internos como o Manifesto dos Minei-
mento e o esclarecimento dos casos de torturas, mortes,
ros, Getúlio Vargas caiu. Com a Constituição de 1946, o país
foi, “redemocratizado”, já que essa constituição restaurou desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres.
os direitos e garantias individuais, sendo estes, até mes- g) Institucionalização dos direitos e garantias fun-
mo ampliados, do mesmo modo que os direitos sociais. O damentais
mandado de segurança e a ação popular foram retomados, Prosseguindo com o estudo, destaca-se que os direi-
assegurou-se a inafastabilidade do Poder Judiciário, veda- tos e garantias fundamentais tomam por base os direi-
ram-se penas de morte, banimento, confisco e perpétuas, tos humanos reconhecidos no âmbito internacional. Com
reconheceu-se o direito de greve. No ano de 1964 se deu o efeito, após o processo de internacionalização dos direi-
golpe militar, promulgando-se atos institucionais que alte- tos humanos vieram o de regionalização de tais direitos
raram a ordem constitucional. e o de incorporação, transpondo-as para o ordenamento
interno.
- Constituição de 1967: concentrou o poder no âm- Com efeito, quando se fala em institucionalização dos
bito federal, sendo a separação de poderes quase uma direitos e garantias fundamentais, refere-se ao modo pelo
formalidade. Assegurou-se a possibilidade de suspensão qual a Constituição brasileira disciplina a os direitos e ga-
de direitos políticos por 10 anos, mas direitos dos traba- rantias fundamentais.

7
DIREITOS HUMANOS

O principal fator que influenciou o tratamento da te- O preâmbulo do texto constitucional é apenas uma
mática é o fato de que a Constituição de 1988 demarcou prévia do que está por vir, isto é, de um rol extremamente
o processo de democratização do Brasil, consolidando a detalhado de direitos e garantias fundamentais assegu-
ruptura com o regime autoritário militar instalado em 1964. radas à pessoa humana abrangendo todas as dimensões
Após um longo período de 21 anos, o regime militar di- de direitos humanos: “Nós, representantes do povo brasi-
tatorial no Brasil caiu, deflagrando-se num processo de- leiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para
mocrático. As forças de oposição foram beneficiadas neste instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
processo de abertura, conseguindo relevantes conquistas exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade,
sociais e políticas. Este processo culminou na Constituição a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igual-
de 198834. dade e a justiça como valores supremos de uma socie-
“A luta pela normalização democrática e pela conquista dade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada
do Estado de Direito Democrático começará assim que ins- na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
talou o golpe de 1964 e especialmente após o AI5, que foi internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
o instrumento mais autoritário da história política do Brasil. promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONS-
Tomará, porém, as ruas, a partir da eleição de Governado- TITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”.
res em 1982. Intensificar-se-á, quando, no início de 1984, as Após, o texto constitucional é formado por expressões
multidões acorreram entusiásticas e ordeiras aos comícios de cunho valorativo importantíssimo em termos de prote-
em prol da eleição direta do Presidente da República, inter- ção de direitos humanos consagrados, a exemplo: cidada-
pretando o sentimento da Nação, em busca do reequilíbrio nia (art. 1º, II); dignidade da pessoa humana (art. 1º, III); so-
da vida nacional, que só poderia consubstanciar-se numa ciedade livre, justa e solidária (art. 3º, I); bem de todos, sem
nova ordem constitucional que refizesse o pacto político- preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
-social”35. outras formas de discriminação (art. 3º, IV); prevalência dos
A atual Constituição institucionaliza a instauração de direitos humanos (art. 4º, II); inviolabilidade do direito à
um regime político democrático no Brasil, além de introdu- vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade
zir indiscutível avanço na consolidação legislativa dos di- (art. 5º, caput); direitos sociais (art. 6º, caput); soberania po-
reitos e garantias fundamentais e na proteção dos grupos pular (art. 14, caput); etc.
vulneráveis brasileiros. Assim, a partir da Constituição de Talvez a expressão mais relevante, se é que é possí-
1988 os direitos humanos ganharam relevo extraordinário, vel delimitar somente uma, seja a dignidade da pessoa
sendo este documento o mais abrangente e pormenoriza- humana, que acaba por englobar todas as demais. Assim,
do de direitos humanos já adotado no Brasil36. reconhece-se a pessoa humana enquanto ser digno, aos
Piovesan37 lembra que o texto de 1988 inova ao disci- quais são garantidos direitos e deveres fundamentais, e
plinar primeiro os direitos e depois questões relativas ao isto abre espaço para compreender o Direito apenas tendo
Estado, diferente das demais, o que demonstra a priorida- em vista ditames éticos.
de conferida a estes direitos. Logo, o Estado não existe para
o governo, mas sim para o povo. h) Dignidade da pessoa humana
O tópico anterior permitiu perceber que a Constituição A dignidade da pessoa humana é o valor-base de inter-
brasileira está arraigada no ideário dos direitos humanos, pretação de qualquer sistema jurídico, internacional ou na-
o que torna o Brasil um país muito receptivo ao processo cional, que possa se considerar compatível com os valores
de internacionalização de tais direitos, sendo signatário da éticos, notadamente da moral, da justiça e da democracia.
grande maioria dos tratados de direitos humanos relevan- Pensar em dignidade da pessoa humana significa, acima de
tes. Neste sentido, a Carta de 1988 é a primeira Constitui- tudo, colocar a pessoa humana como centro e norte para
ção brasileira a elencar a prevalência dos direitos humanos qualquer processo de interpretação jurídico, seja na elabo-
como princípio regente nas relações internacionais que es- ração da norma, seja na sua aplicação.
tabeleça38. Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana
34 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e como o principal valor do ordenamento ético e, por con-
direito constitucional internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana
2008. como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or-
35 SILVA, José Afonso da. Curso de direito dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a
constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. própria exclusão de sua personalidade.
36 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do
direito constitucional internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito
2008. numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na
37 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos
direito constitucional internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de
2008. condições existenciais mínimas, a participação saudável e
38 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe des-
direito constitucional internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, tilação dos valores soberanos da democracia e das liber-
2008. dades individuais. O processo de valorização do indivíduo

8
DIREITOS HUMANOS

articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem humanos sagra-se, inicialmente, na instituição de um siste-
olvidar que o espectro de abrangência das liberdades in- ma global de proteção que associou a criação de uma or-
dividuais encontra limitação em outros direitos fundamen- ganização internacional com fins de manutenção da paz,
tais, tais como a honra, a vida privada, a intimidade, a ima- qual seja a Organização das Nações Unidas, com a elabo-
gem. Sobreleva registrar que essas garantias, associadas ao ração de documentos declaratórios de direitos humanos,
princípio da dignidade da pessoa humana, subsistem como sendo o primeiro a Declaração Universal de Direitos Hu-
conquista da humanidade, razão pela qual auferiram pro- manos de 1948.
teção especial consistente em indenização por dano moral Pouco a pouco tal sistema foi se ampliando, seja pela
decorrente de sua violação”39. inclusão de novos membros à Organização das Nações
Para Reale40, a evolução histórica demonstra o domínio Unidas, tornando mais ampla sob o aspecto territorial
de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma a proteção da pessoa humana, seja pela elaboração de
ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores outros documentos internacionais voltados tanto para
fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte as pessoas abstrata e genericamente concebidas quanto
é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de para aquelas que façam parte de grupos vulneráveis na
Reale41: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a sociedade.
pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O ho- Não obstante, a Organização das Nações Unidas des-
mem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo de suas origens reconheceu a importância do estabeleci-
entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais mento de sistemas regionais de proteção de direitos hu-
da mesma espécie. O homem, considerado na sua obje- manos, sagrando a proteção internacional com respeito
tividade espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido às particularidades sociais, econômicas e culturais de cada
de seu dever ser, é o que chamamos de pessoa. Só o ho- região do planeta.
mem possui a dignidade originária de ser enquanto deve O sistema global de proteção estabelece-se nota-
ser, pondo-se essencialmente como razão determinante do damente no âmbito da Organização das Nações Unidas,
processo histórico”. primeira e mais importante organização internacional no
A abertura da Constituição brasileira a valores e prin- processo de internacionalização dos direitos humanos.
cípios sustentada no princípio da dignidade da pessoa hu-
Ela foi criada em 1945 para manter a paz e a segurança
mana confere novo sentido à ordem jurídica, rompendo
internacionais, bem como promover relações de amizade
com as barreiras do positivismo (artigo 1º, III, CF).
entre as nações, cooperação internacional e respeito aos
Na fase Positivista, os princípios entravam nos Códigos
direitos humanos43. Ao lado da Declaração Universal dos
apenas como válvulas de segurança, eram meras pautas
Direitos Humanos de 1948, a Carta das Nações Unidas de
programáticas supralegais, não possuindo normatividade;
1945 é considerada um dos principais marcos à concep-
ao passo que na fase Pós-positivista, as Constituições des-
ção contemporânea de direitos humanos.
tacam a hegemonia axiológica dos princípios, transforman-
No entanto, muitos outros documentos compõem a
do-os em pedestal normativo que dá base a todo edifício
jurídico dos novos sistemas constitucionais42. Esta fase Pós- estrutura normativa de proteção dos direitos humanos no
-positivista, da nova hermenêutica constitucional, somente âmbito global. Em destaque: Pacto Internacional de Di-
ganhou forma devido à Constituição de 1988. reitos Civis e Políticos de 1966; Pacto Internacional dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966; Estatuto
i) Organização das Nações Unidas de Roma de 1998; Convenção sobre a eliminação de to-
Após a ruptura com o sistema positivista diante das das as formas de discriminação contra a mulher de 1979;
consequências da 2ª Guerra Mundial, compreendeu-se a Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra
necessidade de se criar um sistema de proteção internacio- a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desuma-
nal de direitos humanos, mas não bastava um resgate das nos ou Degradantes de 1975; Convenção contra a Tortura
premissas da lei natural: seria preciso garantir segurança e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou De-
jurídica para que situações semelhantes às atrocidades do gradantes de 1984; Convenção Internacional sobre os Di-
pós-guerra jamais se repetissem. reitos da Criança de 1989; Convenção das Nações Unidas
Com efeito, tal a proteção internacional dos direitos sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência de 2006;
Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos de 1955;
39 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. etc. São inúmeros os documentos internacionais voltados
Recurso de Revista n. 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: à proteção dos direitos humanos, algum de caráter gené-
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira. Brasília, 05 de rico, outros de caráter específico.
setembro de 2012j1. Disponível em: www.tst.gov.br. Acesso em: A Liga das Nações funcionou de 1920 a 1946, dissol-
17 nov. 2012. vida na sua 21ª sessão e tendo seus bens transferidos à
40 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. ONU, encerradas as contas da comissão de liquidação em
São Paulo: Saraiva, 2002. 1947. A Liga das Nações possuía dois organismos autôno-
41 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. mos, a Organização Internacional do Trabalho - OIT, cria-
São Paulo: Saraiva, 2002. 43 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito
42 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito Internacional Público & Direito Internacional Privado. 3. ed.
constitucional. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. São Paulo: Atlas, 2009.

9
DIREITOS HUMANOS

da pelo Tratado de Versalhes, e a Corte Permanente de rem à obrigações da Carta e forem aceitos pela Assembleia
Justiça Internacional - CPJI, cujo estatuto foi elaborado em Geral após recomendação do Conselho de Segurança. Vale
1920, as quais remanescem, embora a segunda com outra lembrar que não há qualquer distinção entre tais membros,
nomenclatura e estatuto44. uma vez que o artigo 2º da Carta consolida o princípio da
No ano de 1944, em Dumbarton Oaks, realizou-se uma igualdade entre todos os membros, de modo que cada
conferência visando constituir a nova organização, prepa- membro das Nações Unidas tem a obrigação de respeitar
rando-se proposições iniciais a respeito dela. Em fevereiro todas as diretivas da Carta de 1945 com boa-fé e de so-
de 1945, Churchill, Stalin e Roosevelt resolveram os últimos lucionar suas controvérsias internacionais prioritariamen-
pontos a respeito da nova organização, decidindo-se, ain- te de modo pacífico50. O descumprimento dos preceitos
da, pela convocação de uma conferência na cidade de São da Carta pode gerar suspensão ou, nos casos mais gra-
Francisco no dia 25 de abril do mesmo ano. A Conferên- ves, expulsão, mediante recomendação do Conselho de
cia de São Francisco, oficialmente denominada Conferência Segurança à Assembleia Geral, conforme artigos 5º e 6º,
das Nações Unidas para a Organização Internacional, estava embora nunca tenham ocorrido na prática nenhuma das
aberta às Nações Unidas que lutaram contra as potências hipóteses. Quanto aos propósitos (objetivos) e princípios
do Eixo (Japão, Itália e Alemanha)45. “O novo organismo das Nações Unidas, extrai-se do próprio site da organi-
somente seria eficaz caso contasse com a aprovação das zação:
grandes potências. No entanto, ele não poderia restringir-se “As Nações Unidas são regidas por uma série de pro-
tão somente aos grandes Estados, pois seria o oposto ao pósitos e princípios básicos aceitos por todos os Países-
espírito universalista apresentado como base da nova orga- -Membros da Organização.
nização internacional”46. Os propósitos das Nações Unidas são:
“Até a fundação das Nações Unidas, em 1945, não era - Manter a paz e a segurança internacionais;
seguro afirmar que houvesse, em Direito Internacional Pú- - Desenvolver relações amistosas entre as nações;
blico, preocupação consciente e organizada sobre o tema - Realizar a cooperação internacional para resolver os
dos direitos humanos. De longa data alguns tratados avul- problemas mundiais de caráter econômico, social, cultural
sos cuidaram, incidentalmente, de proteger certas minorias e humanitário, promovendo o respeito aos direitos huma-
dentro do contexto de sucessão de Estados”47. nos e às liberdades fundamentais;
A Carta da ONU entrou em vigor no dia 24 de outubro - Ser um centro destinado a harmonizar a ação dos
de 1945 quando efetuado o depósito dos instrumentos de povos para a consecução desses objetivos comuns.
ratificação dos membros permanentes do Conselho de Se-
gurança e da maioria dos outros signatários. Após isso, mui-
As Nações Unidas agem de acordo com os seguintes
tos países ingressaram na ONU. Por isso, os membros po-
princípios:
dem ser divididos entre originários e admitidos, não haven-
- A Organização se baseia no principio da igualdade
do diferenças entre direitos e deveres em relação a eles48.
soberana de todos seus membros;
Assim, a Organização das Nações Unidas foi criada em
- Todos os membros se obrigam a cumprir de boa fé
1945 para manter a paz e a segurança internacionais, bem
os compromissos da Carta;
como promover relações de amizade entre as nações, coo-
- Todos deverão resolver suas controvérsias inter-
peração internacional e respeito aos direitos humanos49.
nacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam
Dos artigos 3º e 4º extrai-se a distinção entre os mem-
bros originários, quais sejam os que participaram da Confe- ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais;
rência das Nações Unidas sobre a Organização Internacional - Todos deverão abster-se em suas relações interna-
em 1945 ou assinaram a Declaração das nações Unidas de cionais de recorrer à ameaça ou ao emprego da força con-
1942, e os membros aceitos, isto é, os que se compromete- tra outros Estados;
- Todos deverão dar assistência às Nações Unidas em
44 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso qualquer medida que a Organização tomar em conformi-
de Direito Internacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, dade com os preceitos da Carta, abstendo-se de prestar
2000. auxílio a qualquer Estado contra o qual as Nações Unidas
45 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso agirem de modo preventivo ou coercitivo;
de Direito Internacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva,
2000. 50 O mesmo artigo 2º traz interessante regra
46 SEITENFUS, Ricardo. Manual das no artigo 6º: “A Organização fará com que os Estados que não
organizações internacionais. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do são Membros das Nações Unidas ajam de acordo com esses
Advogado, 2008. Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz
47 REZEK, J. F. Direito Internacional Público: e da segurança internacionais”. Trata-se de um dos poucos
curso elementar. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. casos em que um tratado tem efeito em relação aos terceiros
48 REZEK, J. F. Direito Internacional Público: Estados, como adverte Celso D. de Albuquerque Mello (Curso
curso elementar. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. de Direito Internacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva,
49 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito 2000). Tal regra perde importância se considerado que
Internacional Público & Direito Internacional Privado. 3. ed. atualmente praticamente todos os países soberanos do globo
São Paulo: Atlas, 2009. fazem parte das Nações Unidas.

10
DIREITOS HUMANOS

- Cabe às Nações Unidas fazer com que os Estados que Alguns filósofos e teóricos passaram a refletir sobre
não são membros da Organização ajam de acordo com es- as melhores formas de organização política e social que
ses princípios em tudo quanto for necessário à manuten- poderiam ser adotadas para a proteção da coletividade e
ção da paz e da segurança internacionais; das liberdades individuais.
- Nenhum preceito da Carta autoriza as Nações Unidas Nestas reflexões refutaram a tese de que o poder polí-
a intervir em assuntos que são essencialmente da alçada tico derivaria de dádiva Divina, pois concluíram que o po-
nacional de cada país”51. der da sociedade deveria vir das pessoas que a formavam.
Então, o homem, e somente ele, estaria incumbido de
descobrir quais seriam os direitos básicos de todo ser hu-
mano e como deveria se organizar socialmente para que
2.2.1 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO esses direitos fossem respeitados.
Com essa racionalização dos direitos naturais, os quais
até então eram divinos, foram surgindo movimentos que
Sempre que o Brasil se encontra em tempos de elei- reduziram o poder do rei absolutista.
ções, os candidatos empunham a bandeira da democracia, Além de outros embasamentos para os direitos natu-
sobem ao palanque e bradam em seus discursos invocan- rais do homem e aqueles fundamentados meramente na fé
do o Estado Democrático de Direito, as vezes nem eles e em Deus acelerou o rompimento definitivo entre Estado
sabem o que estão dizendo. e religião.
A ideia do Estado Democrático de Direito da maneira Foi aí que surgiu o conceito de jusnaturalismo, ou seja,
como hoje é conhecido é em decorrência de um exten- de que existem direitos que são naturais ao homem e que
so processo da evolução da forma como as sociedades fluem da própria natureza humana os direitos básicos para
foram se organizando ao longo dos séculos, como bem que o ser humano pudesse viver de forma digna.
lembrou a professora Terezinha Seixas em suas aulas mag- Dentre os filósofos e teóricos que se destacaram na
nificamente ministradas no inicio do curso de graduação procura dos direitos naturais e irrenunciáveis do homem,
em Ciências Sociais e Jurídicas. Explanava a referida pro- convém destacar alguns que ofereceram suas contribui-
fessora que as origens do Estado Democrático de Direito ções, cujas ideias permanecem atuais.
é oriundo dos antigos povos gregos e seus inesquecíveis Thomas Hobbes defendia, já em 1651, que somente o
pensadores, que já no século V a I a. C. dentre eles citava direito de amparar-se a si mesmo era irrenunciável, sendo
Sócrates, Platão e Aristóteles que criou a teoria do “Estado todos os outros direitos decorrentes deste, o que serviu
Ideal”, pensadores que refletiam sobre a melhor forma de de fundamento à reivindicação das duas conquistas funda-
organização da sociedade para o atendimento do interes- mentais do mundo moderno no campo político: o princí-
se comum. pio da tolerância religiosa e o da limitação dos poderes do
Entretanto, foi no final do século XIX que as grandes Estado. Desses princípios nasceu de fato o Estado liberal
bases do Estado de Direito foram consolidadas. moderno.
No término do século XVIII, observamos nos livros de Já John Locke, teórico do liberalismo, destacava três di-
História a queda dos Estados absolutistas, modelo de Re- reitos naturais básicos: a liberdade, a propriedade e a vida,
gime político que superou o modelo feudal e que concen- defendendo, até mesmo, o direito de qualquer povo desti-
trava todo o poder nas mãos dos reis soberanos, conside- tuir o poder que não garantisse tais direitos.
rados representantes de Deus na Terra. Jean - Jacques Rousseau, em fins do século XVIII defen-
Nos Estados absolutistas, os reis passavam a ter pode- dia que todos os homens nascem livres, e a liberdade faz
res plenos, reunindo em suas mãos os Poderes Executivo, parte da natureza do homem e os direitos inalienáveis do
Legislativo e Judiciário, além do controle espiritual dos sú- homem seriam a garantia equilibrada da igualdade e da li-
ditos. berdade, é dele também aquela idéia de que a organização
Assim, eles, os reis, governavam de forma arbitrária e social deve basear-se em um contrato social firmado entre
despótica, gerando uma série de injustiças e desequilíbrios todos os cidadãos que compõem a sociedade e a partir do
sociais e prejudicando, sobretudo, os interesses de uma contrato social surgiu a vontade geral que é soberana e
nova classe social que então ascendia – a burguesia. que objetiva a realização do bem geral.
O abuso de poder por parte do rei absolutista revoltou Charles de Montesquieu (1748) contribuiu com essa ra-
a burguesia, classe econômica, política e social ascendente cionalização quando lançou as sementes da ideia de sepa-
na época, que buscaram novos modelos de organização ração dos poderes (tripartição das funções do Estado), obra
social onde o poder do rei fosse restrito e controlado. de importância fundamental na defesa dos direitos indivi-
A revolução burguesa, segundo o professor José Job- duais: “existem as leis da natureza, assim chamadas porque
son Arruda, culminou com o fim do absolutismo monár- decorrem unicamente de nosso ser. Para conhecê-las bem
quico e da política econômica mercantilista, onde a bur- é preciso considerar o homem antes do estabelecimento
guesia favorecida pelo crescimento econômico pretendia das sociedades” .
mais liberdade para ampliação dos negócios. Nas ultimas linhas demonstramos a transição do mun-
51 http://www.onu.org.br/conheca-a-onu/ do medieval para o mundo moderno, representada pelo
propositos-e-principios-da-onu/ nascimento e pela queda dos Estados absolutistas, onde os

11
DIREITOS HUMANOS

fatos históricos contribuíram definitivamente para a con-


solidação do Estado moderno e de direitos naturais do ser 2.2.2 DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA;
humano, na geração do que hoje conhecemos como direi-
tos humanos. Tais fatos históricos produziram documentos
que até hoje fundamentam os direitos humanos no mundo. Cidadania é a tomada de consciência de seus direitos,
Na Inglaterra, país que durante o século XVII foi palco tendo como contrapartida a realização dos deveres. Isso
de importantes movimentos em defesa das liberdades indi- implica no efetivo exercício dos direitos civis, políticos e so-
viduais e contra arbitrariedades do Estado, dentre os quais cioeconômicos, bem como na participação e contribuição
destacamos os seguintes: para o bem-estar da sociedade. A cidadania deve ser en-
I - Revolução Puritana, 1628 tendida como processo contínuo, uma construção coletiva,
– Petition of Rights, que institui a necessidade de apro- significando a concretização dos direitos humanos.
vação parlamentar de tributos e a proibição de punição de Cidadão é todo aquele que participa, colabora e ar-
súditos sem amparo na lei; gumenta sobre as bases do direito, ou seja, é um agente
II - Habeas Corpus Act – 1679, em proteção à liberdade e atuante que exerce seus direitos e deveres. Ser cidadão im-
ao devido processo legal; plica em não se deixar oprimir nem subjugar, mas enfrentar
III - Revolução Gloriosa – 1689 – Bill of Rights, obrigato- o desafio para defender e exercer seus direitos.
riedade de aprovação das leis pelo Parlamento, garantia de Direitos Humanos são valores, princípios e normas que
liberdade religiosa. se referem ao respeito à vida e à dignidade. A expressão
Aproveitando a maré de reviravoltas que ecoavam da refere-se a organizações, grupos e pessoas que atuam na
metrópole, os Estados Unidos da América declararam, em defesa desse ideário. Os direitos humanos estão consagra-
1776, sua independência, afirmando em sua Carta de Inde- dos em declarações, convenções e pactos internacionais,
pendência valores como os da igualdade de todos os ho- sendo a referência maior a Declaração Universal dos Direi-
mens e a existência de certos direitos inalienáveis, como a tos Humanos. A Constituição do Brasil se compromete no
vida, a liberdade e a busca pela felicidade. artigo 1º, à prevalência dos direitos humanos nas relações
Mas o marco principal e mais significativo acontecimento internacionais e, no art. 5º e os seguintes, definem os direi-
histórico na edificação dos direitos humanos e consequente- tos e garantias fundamentais.
mente do direito, foi a Revolução Francesa de 1789, da qual deri- Democracia significa governo do povo, assegurada
vou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, um dos pelo gozo dos direitos de cidadania. Assim, quando há iso-
principais documentos históricos que marcam o início do Estado nomia, ou seja, igualdade diante da lei, há democracia. A
moderno. A Declaração de 1789 assegurava que “todos os ho- visão clássica de democracia é assentada nos princípios da
mens são iguais pela natureza e perante a lei” e que “a finalida- participação coletiva e igualdade de todos, frente ao siste-
de da sociedade é a felicidade comum – o governo é instituído ma de representação política e de igualdade perante a lei.
para garantir a fruição de seus direitos naturais e imprescritíveis. O art. 1º da Constituição do Brasil afirma a democracia for-
Esses direitos são a liberdade, a segurança e a propriedade” malmente, definindo como seus fundamentos a soberania,
Já Hans Kelsen, no século XX, também conceituou o Es- a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores so-
tado como sujeito artificial como a personalização da ordem ciais do trabalho, da livre iniciativa e o pluralismo político.
jurídica, e como a lei passa a ter a partir de então um papel Fonte: http://visaohumanistica.blogspot.com.
essencial na organização das sociedades, sendo o instrumen- br/2011/03/conceitos-basicos.html
to por meio do qual o poder do povo se manifesta e que vin-
cula a todos de forma igualitária: governantes e governados
são igualmente sujeitos às determinações da lei.
A lei passa a representar a vontade dos cidadãos, pois a 2.2.3 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
partir do comportamento destes que influencia o desenvol- HUMANOS;
vimento das sociedades, devendo assim por todos ser respei-
tada, não importando a sua condição, implicando finalmente
a ideia de Estado de Direito. Declaração Universal dos Direitos Humanos
O Estado de Direito nos dias atuais tem um significado
de fundamental importância no desenvolvimento das socie- Adotada e proclamada pela Resolução n° 217 A (III) da 
dades, após um amplo processo de afirmação dos direitos Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro
humanos, sendo um dos fundamentos essenciais de organi- de 1948
zação das sociedades políticas do mundo moderno. Preâmbulo
Mesmo assim continuamos no Século XXI com o objeti- O preâmbulo é um elemento comum em textos cons-
vo de buscarmos mecanismos de aperfeiçoamentos para o titucionais. Em relação ao preâmbulo constitucional, Jorge
modelo do Estado para que o mesmo atinja o quanto antes o Miranda52 define: “[...] proclamação mais ou menos sole-
equilíbrio entre a liberdade e igualdade dos seres humanos e ne, mais ou menos significante, anteposta ao articulado
possa proporcionar o ideal de oportunidades de desenvolvi- constitucional, não é componente necessário de qualquer
mento com saúde, segurança, habitações dignas, educação Constituição, mas tão somente um elemento natural de
para todos.
Fonte: http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revis- 52 MIRANDA, Jorge (Coord.). Estudos sobre a
ta_artigos_leitura&artigo_id=10143 constituição. Lisboa: Petrony, 1978.

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DIREITOS HUMANOS

Constituições feitas em momentos de ruptura histórica ou Considerando que os povos das Nações Unidas reafir-
de grande transformação político-social”. Do conceito do maram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais,
autor é possível extrair elementos para definir o que re- na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de
presentam os preâmbulos em documentos internacionais: direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promo-
proclamação dotada de certa solenidade e significância ver o progresso social e melhores condições de vida em uma
que antecede o texto do documento internacional e, em- liberdade mais ampla,
bora não seja um elemento necessário a ele, merece ser Considerando que os Estados-Membros se compromete-
considerada porque reflete o contexto de ruptura histórica ram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o
e de transformação político-social que levou à elaboração respeito universal aos direitos humanos e liberdades funda-
do documento como um todo. No caso da Declaração de mentais e a observância desses direitos e liberdades,
1948 ficam evidentes os antecedentes históricos inerentes Considerando que uma compreensão comum desses di-
às Guerras Mundiais. reitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno
Considerando que o reconhecimento da dignidade ine- cumprimento desse compromisso,
rente a todos os membros da família humana e de seus di- Todos os países que fazem parte da Organização das
reitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da Nações Unidas, tanto os 51 membros fundadores quanto os
justiça e da paz no mundo, que ingressaram posteriormente (basicamente, todos demais
O princípio da dignidade da pessoa humana, pelo qual países do mundo), totalizando 193, assumiram o compromis-
todos os seres humanos são dotados da mesma dignidade so de cumprir a Carta da ONU, documento que a fundou e
e para que ela seja preservada é preciso que os direitos que traz os princípios condutores da ação da organização.
inerentes à pessoa humana sejam garantidos, já aparece no
preâmbulo constitucional, sendo guia de todo documento. A Assembleia  Geral proclama
Denota-se, ainda, a característica da inalienabilidade A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos
dos direitos humanos, pela qual os direitos humanos não como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas
possuem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são in- as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão
transferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se es-
comércio, o que evidencia uma limitação do princípio da force, através do ensino e da educação, por promover o res-
autonomia privada. peito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos di- progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar
reitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultraja- o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos,
ram a consciência da Humanidade e que o advento de um tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto
mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da A Assembleia Geral é o principal órgão deliberativo das
necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do Nações Unidas, no qual há representatividade de todos os
homem comum, membros e por onde passam inúmeros tratados internacionais.
A humanidade nunca irá esquecer das imagens vistas
quando da abertura dos campos de concentração nazis- Artigo I
tas, nos quais os cadáveres esqueléticos do que não eram Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade
considerados seres humanos perante aquele regime polí- e direitos. São dotadas de razão  e consciência e devem agir
tico se amontoavam. Aquelas pessoas não eram conside- em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
radas iguais às demais por possuírem alguma caracterís- O primeiro artigo da Declaração é altamente representati-
tica, crença ou aparência que o Estado não apoiava. Daí a vo, trazendo diversos conceitos chaves de todo o documento:
importância de se atentar para os antecedentes históricos a) Princípios da universalidade, presente na palavra todos,
e compreender a igualdade de todos os homens, indepen- que se repete no documento inteiro, pelo qual os direitos hu-
dentemente de qualquer fator. manos pertencem a todos e por isso se encontram ligados a
Considerando essencial que os direitos humanos sejam um sistema global (ONU), o que impede o retrocesso.
protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta a
seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tira- igualdade formal perante a lei, mas é preciso realizar esta
nia e a opressão, igualdade de forma a ser possível que todo homem atinja
Por todo o mundo se espalharam, notadamente du- um grau satisfatório de dignidade. Neste sentido, as discrimi-
rante a Segunda Guerra Mundial, regimes totalitários alta- nações legais asseguram a verdadeira igualdade, por exem-
mente opressivos, não só por parte das Potências do Eixo plo, com as ações afirmativas, a proteção especial ao trabalho
(Alemanha, Itália, Japão), mas também no lado dos Aliados da mulher e do menor, as garantias aos portadores de defi-
(Rússia e o regime de Stálin). ciência, entre outras medidas que atribuam a pessoas com
Considerando essencial promover o desenvolvimento de diferentes condições, iguais possibilidades, protegendo e
relações amistosas entre as nações, respeitando suas diferenças.53
Depois de duas grandes guerras a humanidade conse-
guiu perceber o quanto era prejudicial não manter relações 53 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
amistosas entre as nações, de forma que o ideal de paz à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
ganhou uma nova força. Fortium, 2008.

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DIREITOS HUMANOS

b) Princípio da dignidade da pessoa humana: a digni- Reforça-se o princípio da igualdade, bem como o da dig-
dade é um atributo da pessoa humana, segundo o qual ela nidade da pessoa humana, de forma que todos seres humanos
merece todo o respeito por parte dos Estados e dos demais são iguais independentemente de qualquer condição, possuin-
indivíduos, independentemente de qualquer fator como do os mesmos direitos visando a preservação de sua dignidade.
aparência, religião, sexualidade, condição financeira. Todo O dispositivo traz um aspecto da igualdade que impede
ser humano é digno e, por isso, possui direitos que visam a distinção entre pessoas pela condição do país ou território
garantir tal dignidade. a que pertença, o que é importante sob o aspecto de pro-
c) Dimensões de direitos humanos: tradicionalmente, os teção dos refugiados, prisioneiros de guerra, pessoas perse-
direitos humanos dividem-se em três dimensões, cada qual guidas politicamente, nacionais de Estados que não cumpram
representativa de um momento histórico no qual se eviden- os preceitos das Nações Unidas. Não obstante, a discrimina-
ciou a necessidade de garantir direitos de certa categoria. ção não é proibida apenas quanto a indivíduos, mas também
A primeira dimensão, presente na expressão livres, refere-se quanto a grupos humanos, sejam formados por classe social,
aos direitos civis e políticos, os quais garantem a liberda- etnia ou opinião em comum56. “A Declaração reconhece a ca-
de do homem no sentido de não ingerência estatal e de pacidade de gozo indistinto dos direitos e liberdades assegu-
participação nas decisões políticas, evidenciados historica- rados a todos os homens, e não apenas a alguns setores ou
mente com as Revoluções Americana e Francesa. A segun- atores sociais. Garantir a capacidade de gozo, no entanto, não
da dimensão, presente na expressão iguais, refere-se aos é suficiente para que este realmente se efetive. É fundamental
direitos econômicos, sociais e culturais, os quais garantem aos ordenamentos jurídicos próprios dos Estados viabilizar os
a igualdade material entre os cidadãos exigindo prestações meios idôneos a proporcionar tal gozo, a fim de que se per-
positivas estatais nesta direção, por exemplo, assegurando fectibilize, faticamente, esta garantia. Isto se dá não somente
direitos trabalhistas e de saúde, possuindo como antece- com a igualdade material diante da lei, mas também, e prin-
dente histórico a Revolução Industrial. A terceira dimensão, cipalmente, através do reconhecimento e respeito das desi-
presente na expressão fraternidade, refere-se ao necessário gualdades naturais entre os homens, as quais devem ser res-
olhar sobre o mundo como um lugar de todos, no qual cada guardadas pela ordem jurídica, pois é somente assim que será
qual deve reconhecer no outro seu semelhante, digno de possível propiciar a aludida capacidade de gozo a todos”57.
direitos, olhar este que também se lança para as gerações
futuras, por exemplo, com a preservação do meio ambiente Artigo III
e a garantia da paz social, sendo o marco histórico justa- Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segu-
mente as Guerras Mundiais.54 Assim, desde logo a Declara- rança pessoal.
ção estabelece seus parâmetros fundamentais, com esteio Segundo Lenza58, “abrange tanto o direito de não ser
na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de morto, privado da vida, portanto, direito de continuar vivo,
1789 e na Constituição Francesa de 1791, quais sejam igual- como também o direito de ter uma vida digna”. Na primeira
dade, liberdade e fraternidade. Embora os direitos de 1ª, 2ª esfera, enquadram-se questões como pena de morte, abor-
e 3ª dimensão, que se baseiam nesta tríade, tenham surgido to, pesquisas com células-tronco, eutanásia, entre outras
de forma paulatina, devem ser considerados em conjunto polêmicas. Na segunda esfera, notam-se desdobramentos
proporcionando a plena realização do homem55. como a proibição de tratamentos indignos, a exemplo da
Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta a tortura, dos trabalhos forçados, etc.
igualdade formal perante a lei, mas é preciso realizar esta A vida humana é o centro gravitacional no qual orbitam to-
igualdade de forma a ser possível que todo homem atinja dos os direitos da pessoa humana, possuindo reflexos jurídicos,
um grau satisfatório de dignidade. políticos, econômicos, morais e religiosos. Daí existir uma difi-
Neste sentido, as discriminações legais asseguram a culdade em conceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que
verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afirma- uma pessoa possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a
tivas, a proteção especial ao trabalho da mulher e do me- vida. Sendo assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa,
nor, as garantias aos portadores de deficiência, entre outras é o primeiro valor moral de todos os seres humanos. Trata-se
medidas que atribuam a pessoas com diferentes condições, de um direito que pode ser visto em 4 aspectos, quais sejam: a)
iguais possibilidades, protegendo e respeitando suas dife- direito de nascer; b) direito de permanecer vivo; c) direito de ter
renças. uma vida digna quanto à subsistência e; d) direito de não ser
privado da vida através da pena de morte59.
Artigo II 56 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção Fortium, 2008.
de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,  religião, 57 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.  Fortium, 2008.
54 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 58 LENZA, Pedro. Curso de direito
Tradução Celso Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, constitucional esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2004. 2011.
55 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários 59 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
Fortium, 2008 Fortium, 2008.

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DIREITOS HUMANOS

Por sua vez, o direito à liberdade é posto como consec- Artigo 1º, Convenção da ONU contra Tortura e Outros
tário do direito à vida, pois ela depende da liberdade para o Tratamentos ou Penas Cruéis
desenvolvimento intelectual e moral. Assim, “[...] liberdade 1. Para os fins da presente Convenção, o termo “tor-
é assim a faculdade de escolher o próprio caminho, sendo tura” designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos
um valor inerente à dignidade do ser, uma vez que decorre agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente
da inteligência e da volição, duas características da pessoa a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pes-
humana”60. soa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela
O direito à segurança pessoal é o direito de viver sem ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de
medo, protegido pela solidariedade e liberto de agressões, ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras
logo, é uma maneira de garantir o direito à vida61. pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação
de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são
Artigo IV infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com
escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará
as suas formas.  como tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequên-
“O trabalho escravo não se confunde com o trabalho cia unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes
servil. A escravidão é a propriedade plena de um homem a tais sanções ou delas decorram.
sobre o outro. Consiste na utilização, em proveito próprio, 2. O presente Artigo não será interpretado de maneira a
do trabalho alheio. Os escravos eram considerados seres restringir qualquer instrumento internacional ou legislação
humanos sem personalidade, mérito ou valor. A servidão, nacional que contenha ou possa conter dispositivos de al-
por seu turno, é uma alienação relativa da liberdade de tra- cance mais amplo.
balho através de um pacto de prestação de serviços ou de
uma ligação absoluta do trabalhador à terra, já que a servi- Artigo VI
dão era uma instituição típica das sociedades feudais. A ser- Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares,
vidão, representava a espinha dorsal do feudalismo. O servo reconhecida como pessoa perante a lei.
pagava ao senhor feudal uma taxa altíssima pela utilização “Afinal, se o Direito existe em função da pessoa huma-
do solo, que superava a metade da colheita”62. na, será ela sempre sujeito de direitos e de obrigações. Ne-
A abolição da escravidão foi uma luta histórica em todo gar-lhe a personalidade, a aptidão para exercer direitos e
o globo. Seria totalmente incoerente quanto aos princípios contrair obrigações, equivale a não reconhecer sua própria
da liberdade, da igualdade e da dignidade se admitir que existência. [...] O reconhecimento da personalidade jurídica
um ser humano pudesse ser submetido ao outro, ser trata- é imprescindível à plena realização da pessoa humana. Tra-
do como coisa. O ser humano não possui valor financeiro e ta-se de garantir a cada um, em todos os lugares, a possi-
nem serve ao domínio de outro, razão pela qual a escravi- bilidade de desenvolvimento livre e isonômico”63.
dão não pode ser aceita. O sistema de proteção de direitos humanos estabeleci-
do no âmbito da Organização das Nações Unidas é global,
Artigo V razão pela qual não cabe o seu desrespeito em qualquer
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento localidade do mundo. Por isso, um estrangeiro que visite
ou castigo cruel, desumano ou degradante. outro país não pode ter seus direitos humanos violados,
Tortura é a imposição de dor física ou psicológica por independentemente da Constituição daquele país nada
crueldade, intimidação, punição, para obtenção de uma prever a respeito dos direitos dos estrangeiros. A pessoa
confissão, informação ou simplesmente por prazer da pes- humana não perde tal caráter apenas por sair do território
soa que tortura. A tortura é uma espécie de tratamento ou de seu país. Em outras palavras, denota-se uma das facetas
castigo cruel, desumano ou degradante. A Convenção das do princípio da universalidade.
Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (Resolução n° Artigo  VII
39/46 da Assembleia Geral das Nações Unidas) foi estabe- Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qual-
lecida em 10 de dezembro de 1984 e ratificada pelo Brasil quer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a
em 28 de setembro de 1989. Em destaque, o artigo 1 da igual proteção contra qualquer discriminação que viole a
referida Convenção: presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal dis-
criminação.
60 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários Um dos desdobramentos do princípio da igualdade
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: refere-se à igualdade perante à lei. Toda lei é dotada de
Fortium, 2008. caráter genérico e abstrato que evidencia não aplicar-se a
61 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários uma pessoa determinada, mas sim a todas as pessoas que
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: venham a se encontrar na situação por ela descrita. Não
Fortium, 2008. significa que a legislação não possa estabelecer, em abstra-
62 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários 63 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
Fortium, 2008. Fortium, 2008.

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DIREITOS HUMANOS

to, regras especiais para um grupo de pessoas desfavoreci- temente de pressões externas para que o julgamento se dê
do socialmente, direcionando ações afirmativas, por exem- num ou noutro sentido. O juízo também deve ser imparcial,
plo, aos deficientes, às mulheres, aos pobres - no entanto, não possuindo amizade ou inimizade em graus relevantes
todas estas ações devem respeitar a proporcionalidade e a para com o acusado. Afinal, o direito à liberdade é consa-
razoabilidade (princípio da igualdade material). grado e para que alguém possa ser privado dela por uma
condenação criminal é preciso que esta se dê dentro dos
Artigo VIII trâmites legais, sem violar direitos humanos do acusado.
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais
competentes remédio efetivo para os atos que violem os Artigo XI
direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direi-
constituição ou pela lei. to de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade
Não basta afirmar direitos, é preciso conferir meios tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento
para garanti-los. Ciente disto, a Declaração traz aos Esta- público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as ga-
dos-partes o dever de estabelecer em suas legislações in- rantias necessárias à sua defesa.
ternas instrumentos para proteção dos direitos humanos. O princípio da presunção de inocência ou não culpa-
Geralmente, nos textos constitucionais são estabelecidos bilidade liga-se ao direito à liberdade. Antes que ocorra a
os direitos fundamentais e os instrumentos para protegê- condenação criminal transitada em julgado, isto é, proces-
-los, por exemplo, o habeas corpus serve à proteção do di- sada até o último recurso interposto pelo acusado, este
reito à liberdade de locomoção. deve ser tido como inocente. Durante o processo penal,
o acusado terá direito ao contraditório e à ampla defesa,
Artigo IX bem como aos meios e recursos inerentes a estas garan-
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exi- tias, e caso seja condenado ao final poderá ser considerado
lado. culpado. A razão é que o estado de inocência é inerente ao
Prisão e detenção são formas de impedir que a pes- ser humano até que ele viole direito alheio, caso em que
soa saia de um estabelecimento sob tutela estatal, privan- merecerá sanção.
do-a de sua liberdade de locomoção. Exílio é a expulsão “Através desse princípio verifica-se a necessidade de o
ou mudança forçada de uma pessoa do país, sendo assim Estado comprovar a culpabilidade do indivíduo presumido
também uma forma de privar a pessoa de sua liberdade de inocente. Está diretamente relacionado à questão da pro-
locomoção em um determinado território. Nenhuma des- va no processo penal que deve ser validamente produzida
tas práticas é permitida de forma arbitrária, ou seja, sem o para ao final do processo conduzir a culpabilidade do in-
respeito aos requisitos previstos em lei. divíduo admitindo-se a aplicação das penas previamente
Não significa que em alguns casos não seja aceita a pri- cominadas. Entretanto, a presunção de inocência não afas-
vação de liberdade, notadamente quando o indivíduo tiver
ta a possibilidade de medidas cautelares como as prisões
praticado um ato que comprometa a segurança ou outro
provisórias, busca e apreensão, quebra de sigilo como me-
direito fundamental de outra pessoa.
didas de caráter excepcional cujos requisitos autorizadores
devem estar previstos em lei”65.
Artigo X
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma
omissão que, no momento, não constituíam delito peran-
audiência justa e pública por parte de um tribunal in-
te o direito nacional ou internacional. Tampouco será im-
dependente e imparcial, para decidir de seus direitos e
posta pena mais forte do que aquela que, no momento da
deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal
contra ele. prática, era aplicável ao ato delituoso.
“De acordo com a ordem que promana do preceito Evidencia-se o princípio da irretroatividade da lei penal
acima reproduzido, as pessoas têm a faculdade de exigir in pejus (para piorar a situação do acusado) pelo qual uma
um pronunciamento do Poder Judiciário, acerca de seus lei penal elaborada posteriormente não pode se aplicar a
direitos e deveres postos em litígio ou do fundamento de atos praticados no passado - nem para um ato que não era
acusação criminal, realizado sob o amparo dos princípios considerado crime passar a ser, nem para que a pena de um
da isonomia, do devido processo legal, da publicidade dos ato que era considerado crime seja aumentada. Evidencia
atos processuais, da ampla defesa e do contraditório e da não só o respeito à liberdade, mas também - e principal-
imparcialidade do juiz”64. mente - à segurança jurídica.
Em outras palavras não é possível juízo ou tribunal de
exceção, ou seja, um juízo especialmente delegado para o Artigo XIINinguém será sujeito a interferências na sua
julgamento do caso daquela pessoa. O juízo deve ser esco- vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua cor-
lhido imparcialmente, de acordo com as regras de organi- respondência, nem a ataques à sua honra e reputação.
zação judiciária que valem para todos. Não obstante, o juí- Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interfe-
zo deve ser independente, isto é, poder julgar independen- rências ou ataques.
64 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários 65 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
Fortium, 2008. Fortium, 2008.

16
DIREITOS HUMANOS

A proteção aos direitos à privacidade e à personalidade 2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país,
se enquadra na primeira dimensão de direitos fundamen- inclusive o próprio, e a este regressar.
tais no que tange à proteção à liberdade. Enfim, o exercício A nacionalidade é um direito humano, assim como a li-
da liberdade lega-se também às limitações a este exercício: berdade de locomoção. Destaca-se que o artigo não men-
de que adianta ser plenamente livre se a liberdade de um ciona o direito de entrar em qualquer país, mas sim o de
interfere na liberdade - e nos direitos inerentes a esta liber- deixá-lo.
dade - do outro.
“O direito à intimidade representa relevante manifes- Artigo XIV
tação dos direitos da personalidade e qualifica-se como 1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de
expressiva prerrogativa de ordem jurídica que consiste em procurar e de gozar asilo em outros países. 
reconhecer, em favor da pessoa, a existência de um espaço 2. Este direito não pode ser invocado em caso de per-
indevassável destinado a protegê-la contra indevidas inter- seguição legitimamente motivada por crimes de direito
ferências de terceiros na esfera de sua vida privada”66. comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios
Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida-
das Nações Unidas.
de, ao abordar a proteção da vida privada - que, em resu-
O direito de asilo serve para proteger uma pessoa per-
mo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio
seguida por suas opiniões políticas, situação racial, con-
e de círculos de amigos -, Silva67 entende que “o segredo
da vida privada é condição de expansão da personalidade”, vicções religiosas ou outro motivo político em seu país de
mas não caracteriza os direitos de personalidade em si. “O origem, permitindo que ela requeira perante a autoridade
direito à honra distancia-se levemente dos dois anteriores, de outro Estado proteção. Claro, não se protege aquele que
podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem de praticou um crime comum em seu país e fugiu para outro,
si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fazem os caso em que deverá ser extraditado para responder pelo
outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabilidade crime praticado.
no meio social. O direito à imagem também possui duas O direito dos refugiados é o que envolve a garantia de
conotações, podendo ser entendido em sentido objetivo, asilo fora do território do qual é nacional por algum dos
com relação à reprodução gráfica da pessoa, por meio de motivos especificados em normas de direitos humanos,
fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido subjetivo, notadamente, perseguição por razões de raça, religião, na-
significando o conjunto de qualidades cultivadas pela pes- cionalidade, pertença a um grupo social determinado ou
soa e reconhecidas como suas pelo grupo social”68. convicções políticas. Diversos documentos internacionais
O artigo também abrange a proteção ao domicílio, lo- disciplinam a matéria, a exemplo da Declaração Universal
cal no qual a pessoa deseja manter sua privacidade e pode de 1948, Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refu-
desenvolver sua personalidade; e à correspondência, en- giados, Quarta Convenção de Genebra Relativa à Proteção
viada ao seu lar unicamente para sua leitura e não de ter- das Pessoas Civis em Tempo de Guerra de 1949, Convenção
ceiros, preservando-se sua privacidade. relativa ao Estatuto dos Apátridas de 1954, Convenção so-
bre a Redução da Apatridia de 1961 e Declaração das Na-
Artigo XIII ções Unidas sobre a Concessão de Asilo Territorial de 1967.
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e Não obstante, a constituição brasileira adota a concessão
residência dentro das fronteiras de cada Estado. de asilo político como um de seus princípios nas relações
Não há limitações ao direito de locomoção dentro do internacionais (art. 4º, X, CF).
próprio Estado, nem ao direito de residir. Vale lembrar que “A prática de conceder asilo em terras estrangeiras a
a legislação interna pode estabelecer casos em que tal di- pessoas que estão fugindo de perseguição é uma das ca-
reito seja relativizado, por exemplo, obrigando um funcio-
racterísticas mais antigas da civilização. Referências a essa
nário público a residir no município em que está sediado
prática foram encontradas em textos escritos há 3.500
ou impedindo o ingresso numa área de interesse estatal.
anos, durante o florescimento dos antigos grandes impé-
São exceções à liberdade de locomoção: decisão judi-
cial que imponha pena privativa de liberdade ou limitação rios do Oriente Médio, como o Hitita, Babilônico, Assírio e 
da liberdade, normas administrativas de controle de vias e Egípcio antigo.
veículos, limitações para estrangeiros em certas regiões ou Mais de três milênios depois, a proteção de refugiados
áreas de segurança nacional e qualquer situação em que foi estabelecida como missão principal da agência de refu-
o direito à liberdade deva ceder aos interesses públicos69. giados da ONU, que foi constituída para assistir, entre ou-
tros, os refugiados que esperavam para retornar aos seus
66 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. países de origem no final da II Guerra Mundial.
Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. A Convenção de Refugiados de 1951, que estabeleceu
67 SILVA, José Afonso da. Curso de direito o ACNUR, determina que um refugiado é alguém que ‘te-
constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. mendo ser perseguida por motivos de raça, religião, na-
68 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. cionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra
Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em
69 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: país’.
Fortium, 2008.

17
DIREITOS HUMANOS

Desde então, o ACNUR tem oferecido proteção e as- Na sua segunda sessão, no final de 1946, a Assembleia
sistência para dezenas de milhões de refugiados, encon- Geral criou a Organização Internacional para os Refugiados
trando soluções duradouras para muitos deles. Os padrões (OIR), que assumiu as funções da Agência das Nações Uni-
da migração se tornaram cada vez mais complexos nos das para a Assistência e a Reabilitação (ANUAR). Foi inves-
tempos modernos, envolvendo não apenas refugiados, mas tida no mandato temporário de registrar, proteger, instalar
também milhões de migrantes econômicos. Mas refugiados e repatriar refugiados. [...] Cedo se tornou evidente que a
e migrantes, mesmo que viajem da mesma forma com fre- responsabilidade pelos refugiados merecia um maior es-
quência, são fundamentalmente distintos, e por esta razão forço da comunidade internacional, a desenvolver sob os
são tratados de maneira muito diferente perante o direito auspícios da própria Organização das Nações Unidas. As-
internacional moderno. sim, muito antes de terminar o mandato da OIR, iniciaram-
Migrantes, especialmente migrantes econômicos, deci- -se as discussões sobre a criação de uma organização que
dem deslocar-se para melhorar as perspectivas para si mes- lhe pudesse suceder.
mos e para suas famílias. Já os refugiados necessitam des- O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Re-
locar-se para salvar suas vidas ou preservar sua liberdade. fugiados (ACNUR) Na sua Resolução 319 A (IV) de 3 de
Eles não possuem proteção de seu próprio Estado e de fato Dezembro de 1949, a Assembleia Geral decidiu criar o Alto
muitas vezes é seu próprio governo que ameaça persegui- Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. O
-los. Se outros países não os aceitarem em seus territórios, e Alto Comissariado foi instituído em 1 de Janeiro de 1951,
não os auxiliarem uma vez acolhidos, poderão estar conde- como órgão subsidiário da Assembleia Geral, com um
nando estas pessoas à morte ou à uma vida insuportável nas mandato inicial de três anos. Desde então, o mandato do
sombras, sem sustento e sem direitos”70. ACNUR tem sido renovado por períodos sucessivos de cin-
As Nações Unidas71 descrevem sua participação no his- co anos [...]”.
tórico do direito dos refugiados no mundo:
“Desde a sua criação, a Organização das Nações Unidas Artigo XV
tem dedicado os seus esforços à proteção dos refugiados no 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 
mundo. Em 1951, data em que foi criado o Alto Comissaria- 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua na-
do das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), havia cionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
um milhão de refugiados sob a sua responsabilidade. Hoje Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga um
este número aumentou para 17,5 milhões, para além dos 2,5 indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele pas-
milhões assistidos pelo Organismo das Nações Unidas das se a integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim de
Obras Públicas e Socorro aos Refugiados da Palestina, no direitos e obrigações. Não é aceita a figura do apátrida ou
Próximo Oriente (ANUATP), e ainda mais de 25 milhões de heimatlos, o indivíduo que não possui nenhuma naciona-
pessoas deslocadas internamente. Em 1951, a maioria dos lidade.
refugiados eram Europeus. Hoje, a maior parte é provenien- É possível mudar de nacionalidade nas situações pre-
te da África e da Ásia. Atualmente, os movimentos de refu- vistas em lei, naturalizando-se como nacional de outro Es-
giados assumem cada vez mais a forma de êxodos maci- tado que não aquele do qual originalmente era nacional.
ços, diferentemente das fugas individuais do passado. Hoje, Geralmente, a permanência no território do pais por um
oitenta por cento dos refugiados são mulheres e crianças. longo período de tempo dá direito à naturalização, abrindo
Também as causas dos êxodos se multiplicaram, incluindo mão da nacionalidade anterior para incorporar a nova.
agora as catástrofes naturais ou ecológicas e a extrema po-
breza. Daí que muitos dos atuais refugiados não se enqua- Artigo XVI
drem na definição da Convenção relativa ao Estatuto dos Re- 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer
fugiados. Esta Convenção refere-se a vítimas de perseguição restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito
por razões de raça, religião, nacionalidade, pertença a um de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam
grupo social determinado ou convicções políticas. [...] de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e
Existe uma relação evidente entre o problema dos refu- sua dissolução. 
giados e a questão dos direitos humanos. As violações dos 2. O casamento não será válido senão com o livre e
direitos humanos constituem não só uma das principais cau- pleno consentimento dos nubentes.
sas dos êxodos maciços, mas afastam também a opção do O casamento, como todas as instituições sociais, varia
repatriamento voluntário enquanto se verificarem. As viola- com o tempo e os povos, que evoluem e adquirem novas
ções dos direitos das minorias e os conflitos étnicos encon- culturas. Há quem o defina como um ato, outros como um
tram-se cada vez mais na origem quer dos êxodos maciços, contato. Basicamente, casamento é a união, devidamente
quer das deslocações internas. [...] formalizada conforme a lei, com a finalidade de construir
família. A principal finalidade do casamento é estabele-
70 http://www.acnur.org/t3/portugues/a-quem- cer a comunhão plena de vida, impulsionada pelo amor e
ajudamos/refugiados/ afeição existente entre o casal e baseada na igualdade de
71 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS direitos e deveres dos cônjuges e na mútua assistência.72
- ONU. Direitos Humanos e Refugiados. Ficha normativa nº Não é aceitável o casamento que se estabeleça à força para
20. Disponível em: <http://www.gddc.pt/direitos-humanos/ 72 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil
Ficha_Informativa_20.pdf >. Acesso em: 13 jun. 2013. brasileiro. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6.

18
DIREITOS HUMANOS

algum dos nubentes, sendo exigido o livre e pleno con- Artigo XIX
sentimento de ambos. Não obstante, é coerente que a lei Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e ex-
traga limitações como a idade, pois o casamento é uma pressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência,
instituição séria, base da família, e somente a maturidade ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações
pode permitir compreender tal importância. e ideias por quaisquer meios e independentemente de fron-
teiras.
Artigo XVII Silva76 entende que a liberdade de expressão pode ser
1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em so- vista sob diversos enfoques, como o da liberdade de comu-
ciedade com outros. nicação, ou liberdade de informação, que consiste em um
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua pro- conjunto de direitos, formas, processos e veículos que via-
priedade. bilizam a coordenação livre da criação, expressão e difusão
“Toda pessoa [...] tem direito à propriedade, podendo da informação e do pensamento. Contudo, o a manifesta-
o ordenamento jurídico estabelecer suas modalidades de ção do pensamento não pode ocorrer de forma ilimitada,
aquisição, perda, uso e limites. O direito de propriedade, devendo se pautar na verdade e no respeito dos direitos à
constitucionalmente assegurado, garante que dela nin- honra, à intimidade e à imagem dos demais membros da
guém poderá ser privado arbitrariamente [...]”73. O direito sociedade.
à propriedade se insere na primeira dimensão de direitos
Artigo XX
humanos, garantindo que cada qual tenha bens materiais
1. Toda pessoa tem direito à  liberdade de reunião e
justamente adquiridos, respeitada a função social.
associação pacíficas. 
Artigo XVIII
O direito de reunião pode ser exercido independente-
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, mente de autorização estatal, mas deve se dar de maneira
consciência e religião; este direito inclui a liberdade de pacífica, por exemplo, sem utilização de armas.
mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma as-
essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto sociação.
e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou Por sua vez, “a liberdade de associação para fins lícitos,
em particular. vedada a de caráter paramilitar, é plena. Portanto, ninguém
Silva74 aponta que a liberdade de pensamento, que poderá ser compelido a associar-se e, uma vez associado,
também pode ser chamada de liberdade de opinião, é con- será livre, também, para decidir se permanece associado
siderada pela doutrina como a liberdade primária, eis que ou não”77.
é ponto de partida de todas as outras, e deve ser entendida Artigo XXI
como a liberdade da pessoa adotar determinada atitude 1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no gover-
intelectual ou não, de tomar a opinião pública que crê ver- no de seu país, diretamente ou por intermédio de represen-
dadeira. Tal opinião pública se refere a diversos aspectos, tantes livremente escolhidos. 
entre eles religião e crença. 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço
A liberdade de religião atrela-se à liberdade de cons- público do seu país. 
ciência e à liberdade de pensamento, mas o inverso não 3. A vontade do povo será a base  da autoridade do
ocorre, porque é possível existir liberdade de pensamento governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas
e consciência desvinculada de cunho religioso. Aliás, a li- e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou pro-
berdade de consciência também concretiza a liberdade de cesso equivalente que assegure a liberdade de voto.
ter ou não ter religião, ter ou não ter opinião político-parti- “Na sociedade moderna, nascida de transformações
dária ou qualquer outra manifestação positiva ou negativa que culminaram na Revolução Francesa, o indivíduo é vis-
da consciência75. to como homem (pessoa privada) e como cidadão (pessoa
No que tange à exteriorização da liberdade de religião, pública). O termo cidadão designava originalmente o habi-
ou seja, à liberdade de expressão religiosa, não é devida tante da cidade. Com a consolidação da sociedade burgue-
sa, passa a indicar a ação política e a participação do sujeito
nenhuma perseguição, assim como é garantido o direito de
na vida da sociedade”78.
praticá-la em grupo ou individualmente.
Democracia (do grego, demo+kratos) é um regime de
governo em que o poder de tomar decisões políticas está
com os cidadãos, de forma direta (quando um cidadão se
reúne com os demais e, juntos, eles tomam a decisão políti-
73 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos
fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da 76 SILVA, José Afonso da. Curso de direito
Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997. 77 LENZA, Pedro. Curso de direito
74 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. 2011.
75 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários 78 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: e política. In: CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São
Fortium, 2008. Paulo: Scipione, 2000.

19
DIREITOS HUMANOS

ca) ou indireta (quando ao cidadão é dado o poder de ele- só o sentimento de importância para a sociedade por parte
ger um representante). Uma democracia pode existir num daquele que faz algo útil nela. No entanto, a geração de
sistema presidencialista ou parlamentarista, republicano ou empregos não se dá automaticamente, cabendo aos Esta-
monárquico - somente importa que seja dado aos cidadãos dos desenvolverem políticas econômicas para diminuir os
o poder de tomar decisões políticas (por si só ou por seu índices de desemprego o máximo possível.
representante eleito), nos termos que este artigo da Decla- A remuneração é a retribuição financeira pelo trabalho
ração prevê. A principal classificação das democracias é a realizado. Nesta esfera também é necessário o respeito ao
que distingue a direta da indireta - a) direta, também cha- princípio da igualdade, por não ser justo que uma pessoa
mada de pura, na qual o cidadão expressa sua vontade por que desempenhe as mesmas funções que a outra receba
voto direto e individual em casa questão relevante; b) indi- menos por um fator externo, característico dela, como sexo
reta, também chamada representativa, em que os cidadãos ou raça. No âmbito do serviço público é mais fácil con-
exercem individualmente o direito de voto para escolher trolar tal aspecto, mas são inúmeras as empresas privadas
representante(s) e aquele(s) que for(em) mais escolhido(s) que pagam menor salário a mulheres e que não chegam a
representa(m) todos os eleitores. ser levadas à justiça por isso. Não obstante, a remuneração
Não obstante, se introduz a dimensão do Estado Social, deve ser suficiente para proporcionar uma existência dig-
de forma que ao cidadão é garantida a prestação de servi- na, com o necessário para manter assegurados ao menos
ços públicos. Isto se insere na segunda dimensão de direitos minimamente todos os direitos humanos previstos na De-
humanos, referentes aos direitos econômicos, sociais e cul- claração.
turais - sem os quais não se consolida a igualdade material. Os sindicatos são bastante comuns na seara trabalhista
e, como visto, a todos é garantida a liberdade de associa-
Artigo XXII ção, não podendo ninguém ser impedido ou forçado a in-
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à gressar ou sair de um sindicato.
segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela
cooperação internacional e de acordo com a organização e Artigo XXIV
recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a
e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desen- limitação razoável das horas de trabalho e férias perió-
volvimento da sua personalidade. dicas remuneradas.
Direitos econômicos, sociais e culturais compõem a se- Por mais que o trabalho seja um direito humano, nem
gunda dimensão de direitos fundamentais. O Pacto interna- somente dele é feita a vida de uma pessoa. Desta forma,
cional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 assegura-se horários livres para que a pessoa desfrute de
é o documento que especifica e descreve tais direitos. de momentos de lazer e descanso, bem como impede-se a
uma maneira geral, são direitos que não dependem pura- fixação de uma jornada de trabalho muito exaustiva. São
mente do indivíduo para a implementação, exigindo presta- medidas que asseguram isto a previsão de descanso se-
ções positivas estatais, geralmente externadas por políticas manal remunerado, a limitação do horário de trabalho, a
públicas (escolhas políticas a respeito de áreas que neces- concessão de férias remuneradas anuais, entre outras.
sitam de investimento maior ou menos para proporcionar Quanto aos artigos XXIII e XXIV, tem-se que é forneci-
um bom índice de desenvolvimento social, diminuindo de- do “[...] um conjunto mínimo de direitos dos trabalhadores.
sigualdades). Entre outros direitos, envolvem o trabalho, a De forma geral, os dispositivos em comento versam sobre
educação, a saúde, a alimentação, a moradia, o lazer, etc. o direito ao trabalho, principal meio de sobrevivência dos
Como são inúmeras as áreas que necessitam de investimen- indivíduos que ‘vendem’ força de trabalho em troca de uma
to estatal, naturalmente o atendimento a estes direitos se remuneração justa. Ademais, estabelecem a liberdade do
dá de maneira gradual. cidadão de escolher o trabalho e, uma vez obtido o empre-
go, o direito de nele encontrar condições justas, tanto no
Artigo XXIII tocante à remuneração, como no que diz respeito ao limite
1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de horas trabalhadas e períodos de repouso (disposição
de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho constante do artigo XXIV da Declaração). Garantem ainda o
e à proteção contra o desemprego. direito dos trabalhadores de se unirem em associação, com
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a o objetivo de defesa de seus interesses”79.
igual remuneração por igual trabalho.
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remune- Artigo XXV
ração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz
sua família, uma existência compatível com a dignidade hu- de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusi-
mana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios ve alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os
de proteção social.  serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e ne- de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros
les ingressar para proteção de seus interesses. casos de perda dos meios de subsistência fora de seu con-
O trabalho é um instrumento fundamental para assegu- trole.    
rar a todos uma existência digna: de um lado por propor- 79 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
cionar a remuneração com a qual a pessoa adquirirá bens à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
materiais para sua subsistência, de outro por gerar por si Fortium, 2008.

20
DIREITOS HUMANOS

O ideal é que todas as pessoas possuam um padrão Ainda, a Declaração de 1948 deixa clara que a educa-
de vida suficiente para garantir sua dignidade em todas as ção não envolve apenas o aprendizado do conteúdo pro-
esferas: alimentação, vestuário, moradia, saúde, etc. Bem se gramático das matérias comuns como matemática, portu-
sabe que é um objetivo constante do Estado Democrático guês, história e geografia, mas também a compreensão de
de Direito proporcionar que pessoas cheguem o mais pró- abordagens sobre assuntos que possam contribuir para a
ximo possível - e cada vez mais - desta circunstância. formação da personalidade da pessoa humana e conscien-
Fala-se em segurança no sentido de segurança pública, tizá-la de seu papel social.
de dever do Estado de preservar a ordem pública e a inco- Não obstante, da parte final da Declaração extrai-se
lumidade das pessoas e do patrimônio público e privado80. a consciência de que a educação não é apenas a formal,
Neste conceito enquadra-se a seguridade social, na qual o aprendida nos estabelecimentos de ensino, mas também
Estado, custeado pela coletividade e pelos cofres públicos, a informal, transmitida no ambiente familiar e nas demais
garante a manutenção financeira dos que por algum moti- áreas de contato da pessoa, como igreja, clubes e, notada-
vo não possuem condição de trabalhar. mente, a residência. Por isso, os pais têm um papel direto
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados na escolha dos meios de educação de seus filhos.
e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou
fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
Artigo XXVII
A proteção da maternidade tem sentido porque sem
1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente
isto o mundo não continua. É preciso que as crianças se-
da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de par-
jam protegidas com atenção especial para que se tornem
adultos capazes de proporcionar uma melhora no planeta. ticipar do processo científico e de seus benefícios. 
2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses
Artigo XXVI morais e materiais decorrentes de qualquer produção cien-
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será tífica, literária ou artística da qual seja autor.
gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. Os conflitos que se dão entre a liberdade e a proprie-
A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico- dade intelectual se evidenciam, principalmente, sob o as-
-profissional será acessível a todos, bem como a instrução pecto da liberdade de expressão, na esfera específica da
superior, esta baseada no mérito. liberdade de comunicação ou informação, que, nos dizeres
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desen- de Silva81, “compreende a liberdade de informar e a liberda-
volvimento da personalidade humana e do fortalecimento de de ser informado”. Sob o enfoque do direito à liberdade
do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fun- e do direito de acesso à cultura, seria livre a divulgação de
damentais. A instrução promoverá a compreensão, a tole- toda e qualquer informação e o acesso aos dados disponí-
rância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou veis, independentemente da fonte ou da autoria. De outro
religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em lado, há o direito de propriedade intelectual, o qual possui
prol da manutenção da paz.  um caráter dualista: moral, que nunca prescreve porque o
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gêne- autor de uma obra nunca deixará de ser considerado como
ro de instrução que será ministrada a seus filhos. tal, e patrimonial, que prescreve, perdendo o autor o direito
A Declaração Universal de 1948 divide a disponibilida- de explorar benefícios econômicos de sua obra82. Cada vez
de e a obrigatoriedade da educação em níveis. Aquela edu- mais esta dualidade entre direitos se encontra em conflito,
cação que é considerada essencial, qual seja, a elementar, uma vez que a evolução tecnológica trouxe meios para a
deve ser gratuita e obrigatória. Já a educação fundamental, cópia em massa de conteúdos protegidos pela proprieda-
de grande importância, deve ser gratuita, mas não é obri- de intelectual.
gatória. Esta nomenclatura adotada pela Declaração equi-
para-se ao ensino fundamental e ao ensino médio no Brasil,
Artigo XVIII
sendo elementar o primeiro e fundamental o segundo. A
Toda pessoa tem direito a uma ordem social e inter-
educação técnico-profissional refere-se às escolas voltadas
ao ensino de algum ofício, não complexo a ponto de exigir nacional em que os direitos e  liberdades estabelecidos na
formação superior e, justamente por isso, possuem menor presente Declaração possam ser plenamente realizados.
duração e menor custo; ao passo que a educação superior Como já destacado, o sistema de proteção dos direi-
é a que se dá no âmbito das universidades, formando pro- tos humanos tem caráter global e cada Estado que assumiu
fissionais de maior especialidade numa área profissional, compromisso perante a ONU ao integrá-la deve garantir o
com amplo conhecimento, razão pela qual dura mais tem- respeito a estes direitos no âmbito de seu território. Com isso,
po e é mais onerosa. As duas últimas são de maior custo e a pessoa estará numa ordem social e internacional na qual
não podem ser instituídas de tal forma que sejam garanti- seus direitos humanos sejam assegurados, preservando-se
das vagas para todas as pessoas em sociedade, entretanto, sua dignidade. Em outras palavras, “devidamente empare-
exige-se um critério justo para a seleção dos ingressos, o
qual seja baseado no mérito (os mais capacitados conse- 81 SILVA, José Afonso da. Curso de direito
guirão as vagas de ensino técnico-profissional e superior). constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
80 LENZA, Pedro. Curso de direito 82 PAESANI, Liliana Minardi. Direito
constitucional esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, e Internet: liberdade de informação, privacidade e
2011. responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

21
DIREITOS HUMANOS

lhadas, portanto, a ordem social e a ordem internacional se para afastamento ou diminuição da responsabilidade por
manifestam, a seu modo, como as duas faces das instituições atos ilícitos, assim os direitos humanos não são ilimitados
humanitárias, tanto estatais quanto particulares, orientando e encontram seus limites nos demais direitos igualmente
seus passos a serviço da comunidade humana”83. consagrados como humanos. Isto vale tanto para os indi-
Artigo XXIX víduos, numa atitude perante os demais, quanto para os
1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, Estados, ao externar o compromisso global assumido pe-
em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade rante a ONU.
é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa
estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei,
exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhe- 2.2.4 PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS
cimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de CIVIS E POLÍTICOS;
satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e
do bem-estar de uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese al- Prezado Candidato, os pactos apresentados nesse
guma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princí- conteúdo, podem conter artigos e parágrafos com a
pios das Nações Unidas. mesma textualização.
Explica Canotilho84 que “a ideia de deveres fundamen-
tais é suscetível de ser entendida como o ‘outro lado’ dos Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
direitos fundamentais. Como ao titular de um direito fun-
damental corresponde um dever por parte de um outro ti- DECRETO Nº 592, DE 6 DE JULHO DE 1992.
tular, poder-se-ia dizer que o particular está vinculado aos
direitos fundamentais como destinatário de um dever fun- Atos Internacionais. Pacto Internacional sobre Direitos
damental. Neste sentido, um direito fundamental, enquanto Civis e Políticos. Promulgação.
protegido, pressuporia um dever correspondente”. Esta é a
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição
ideia que a Declaração de 1948 busca trazer: não será asse-
que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e
gurada nenhuma liberdade que contrarie a lei ou os demais
Considerando que o Pacto Internacional sobre Direitos
direitos de outras pessoas, isto é, os preceitos universais
Civis e Políticos foi adotado pela XXI Sessão da Assembleia-
consagrados pelas Nações Unidas.
-Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966;
Considerando que o Congresso Nacional aprovou o tex-
Artigo XXX
to do referido diploma internacional por meio do Decreto
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser
interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, gru- Legislativo n° 226, de 12 de dezembro de 1991;
po ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou Considerando que a Carta de Adesão ao Pacto Interna-
praticar qualquer ato destinado à destruição  de quais- cional sobre Direitos Civis e Políticos foi depositada em 24
quer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos. de janeiro de 1992;
“A colidência entre os direitos afirmados na Declara- Considerando que o pacto ora promulgado entrou em
ção é natural. Busca-se com o presente artigo evitar que, vigor, para o Brasil, em 24 de abril de 1992, na forma de seu
no eventual choque entre duas normas garantistas, os su- art. 49, § 2°;
jeitos nela mencionados se valham de uma interpretação
tendente a infirmar qualquer das disposições da Declaração DECRETA:
ao argumento de que estão respeitando um direito em de-
trimento de outro”85. Nenhum direito humano é ilimitado: Art. 1° O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polí-
se o fossem, seria impossível garantir um sistema no qual ticos, apenso por cópia ao presente decreto, será executado e
todas as pessoas tivessem tais direitos plenamente respeita- cumprido tão inteiramente como nele se contém.
dos, afinal, estes necessariamente colidiriam com os direitos
das outras pessoas, os quais teriam que ser violados. Este é Art. 2° Este Decreto entra em vigor na data de sua pu-
um dos sentidos do princípio da relatividade dos direitos blicação.
humanos - os direitos humanos não podem ser utilizados
como um escudo para práticas ilícitas ou como argumento Brasília, 06 de julho de 1992; 171° da Independência e
104° da República.
83 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
Fortium, 2008.
84 CANOTILHO, José Joaquim Gomes.
Direito constitucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra:
Almedina, 1998.
85 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
Fortium, 2008.

22
DIREITOS HUMANOS

ANEXO AO DECRETO QUE PROMULGA O PACTO 2.  Na ausência de medidas legislativas ou de outra na-
INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E PO- tureza destinadas a tornar efetivos os direitos reconhecidos no
LÍTICOS/M R E - PACTO INTERNACIONAL SOBRE presente Pacto, os Estados do presente Pacto comprometem-se
DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS a tomar as providências necessárias com vistas a  adotá-las,
levando em consideração seus respectivos procedimentos cons-
PREÂMBULO titucionais e as disposições do presente Pacto. 
3.  Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a: 
os Estados Partes do presente pacto, a)  garantir que toda pessoa, cujos direitos e liberdades reco-
Considerando que, em conformidade com os princípios nhecidos no presente pacto tenham sido violados, possa dispor
proclamados na Carta das Nações Unidas, o reconhecimen- de um recurso efetivo, mesmo que a violência tenha sido per-
to da dignidade inerente a todos os membros da família petrada por pessoa que agiam no exercício de funções oficiais; 
humana e de seus direitos iguais e inalienáveis constitui o b)  garantir que toda pessoa que interpuser tal recurso terá
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, seu direito determinado pela competente autoridade judicial,
Reconhecendo que esses direitos decorrem da dignidade administrativa ou legislativa ou por qualquer outra autorida-
inerente à pessoa humana, de competente prevista no ordenamento  jurídico do Estado
Reconhecendo que, em conformidade com a Declaração em questão; e a desenvolver as possibilidades de recurso ju-
Universal dos Direitos do Homem, o ideal do ser humano li- dicial; 
vre, no gozo das liberdades civis e políticas e liberto do temor c)  garantir o cumprimento, pelas autoridades competen-
e da miséria, não pode ser realizado a menos que se criem tes, de qualquer decisão que julgar procedente tal recurso.
condições que permitam a cada um gozar de seus direitos
civis e políticos, assim como de seus direitos econômicos, so- Artigo 3º
ciais e culturais, Os Estados partes do presente pacto comprometem-se a
Considerando que a Carta das nações Unidas impõe aos assegurar a homens e mulheres igualdade no gozo de todos
Estados a obrigação de promover o respeito universal e efeti- os direitos civis e políticos enunciados no presente pacto.
vo dos direitos e das liberdades do homem,
Compreendendo que o indivíduo por ter deveres para
Artigo 4º
com seus semelhantes e para com a coletividade a que per-
1.  Quando situações excepcionais ameacem a existência
tence, tem a obrigação de lutar pela promoção e observância
dos direitos reconhecidos no presente Pacto, da nação e sejam proclamadas oficialmente, os Estados partes
Acordam o seguinte: do presente Pacto podem adotar, na estrita medida exigida pela
situação, medidas que suspendam as obrigações decorren-
PARTE I tes do presente Pacto, desde que tais medidas não sejam in-
compatíveis com as demais obrigações que lhes sejam impos-
Artigo 1º tas pelo Direito Internacional e não acarretem discriminação
1.  Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em alguma apenas por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião
virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto po- ou origem social. 
lítico e asseguram livremente seu desenvolvimento econômi- 2.  A disposição precedente não autoriza qualquer suspen-
co, social e cultural.  são dos artigos 6°, 7°, 8° (§§1° e 2°), 11, 15, 16 e 18. 
2.  Para a consecução de seus objetivos, todos os povos 3.  Os Estados Partes do presente pacto que fizerem uso
podem dispor livremente de suas riquezas e de seus recursos do direito de suspensão devem comunicar imediatamente aos
naturais, sem prejuízo das obrigações decorrentes da coo- outros Estados Partes do Presente Pacto, por intermédio do Se-
peração econômica internacional, baseada no princípio do cretário-Geral das Nações Unidas, as disposições que tenham
proveito mútuo, e do Direito internacional. Em caso algum, suspenso, bem como os motivos de tal suspensão. Os Estados
poderá um povo ser privado de seus meios de subsistência.  Partes deverão fazer uma nova comunicação, igualmente por
3.  Os Estados partes do presente pacto, inclusive aqueles intermédio do Secretário-Geral da Organização das Nações
que tenham a responsabilidade de administrar territórios não- Unidas, na data em que terminar tal suspensão.
-autônomos e territórios sob tutela, deverão promover o exercí-
cio do direito à autodeterminação e respeitar esse direito, em Artigo 5º
conformidade com as disposições da Carta das nações unidas. 1.  Nenhuma disposição do presente pacto poderá ser in-
terpretada no sentido de reconhecer a um Estado, grupo ou
PARTE II indivíduo qualquer direito de dedicar-se a quaisquer atos
que tenham por objetivo destruir os direitos ou liberdades
Artigo 2º
reconhecidos no presente Pacto ou impor-lhes limitações mais
1.  Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se
amplas do que aquelas nele prevista. 
a respeitar e a garantir a todos os indivíduos que se achem
2.  Não se admitirá qualquer restrição ou suspensão dos
em seu território e que estejam sujeito a sua jurisdição os di-
reitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação direitos humanos fundamentais reconhecidos ou vigentes em
alguma por motivo de raça, cor, sexo, religião, opinião polí- qualquer Estado Parte do presente pacto em virtude de leis,
tica ou outra natureza, origem nacional ou social, situação convenções, regulamentos ou costumes, sob pretexto de
econômica, nascimento ou qualquer outra condição.  que o presente pacto não os reconheça ou os reconheça em
menor grau. 

23
DIREITOS HUMANOS

PARTE III ii)  qualquer serviço de caráter militar e, nos países em


que se admite a isenção por motivo de consciência, qual-
Artigo 6º quer serviço nacional que a lei venha a exigir daqueles que
1.  O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este se oponha ao serviço militar por motivo de consciência; 
direito deverá ser protegido pela lei. Ninguém poderá ser ar- iii)  qualquer serviço exigido em casos de emergência ou
bitrariamente privado de sua vida.  de calamidade que ameacem o bem-estar da comunidade; 
2.  nos Países em que a pena de morte não tenha sido iv)  qualquer trabalho ou serviço que faça parte das
abolida, esta poderá ser imposta apenas nos casos de cri- obrigações cívicas normais.
mes mais graves, em conformidade com legislação vigente
na época em que o crime foi cometido e que não esteja em Artigo 9°
conflito com as disposições do presente pacto, nem com a 1.  Toda pessoa tem à liberdade e a segurança pessoais. 
Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Ge- Ninguém poderá ser preso ou encarcerado arbitraria-
nocídio. Poder-se-á aplicar essa pena apenas em decorrên- mente. Ninguém poderá ser privado de sua liberdade, salvo
cia de uma sentença transitada em julgado e proferida por pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os pro-
tribunal competente.  cedimentos. 
3.  Quando a privação da vida constituir um crime de 2.  Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada
genocídio, entende-se que nenhuma disposição do presente das razões da prisão e notificada, sem demora, das acusa-
artigo autorizará qualquer Estado Parte do presente pacto ções formuladas contra ela. 
a eximir-se, de modo algum, do cumprimento de quaisquer 3.  Qualquer pessoa presa ou encerrada em virtude de in-
das obrigações que tenham assumido em virtude das dis- fração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença
posições da Convenção sobre a Prevenção e a Punição do do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer
Crime de Genocídio.  funções e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou
4.  Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que
indulto ou comutação da pena. A anistia, o indulto ou a co- aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas
a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegu-
mutação de pena poderão ser concedidos em todos os casos. 
rem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a
5.  A pena de morte não deverá ser imposta em casos
todos os atos do processo e, se necessário for, para a execução
de crimes cometidos por pessoas menores de 18 anos, nem da sentença. 
aplicada a mulheres em estado de gravidez.  4.  Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por
6.  Não se poderá invocar disposição alguma do presen- prisão ou encarceramento terá de recorrer a um tribunal
te artigo para retardar ou impedir a abolição da pena de para que este decida sobre a legalidade de seu encarceramen-
morte por um Estado Parte do presente pacto. to e ordene sua soltura, caso a prisão tenha sido ilegal. 
5.  Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento
Artigo 7º ilegais terá direito à reparação.
Ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a pe-
nas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 10
Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu 1.  Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser trata-
livre consentimento, a experiências médicas ou científicas. da com humanidade e respeito à dignidade inerente à pes-
soa humana. 
Artigo 8º 2.  a) as pessoas processadas deverão ser separadas,
1.  Ninguém poderá ser submetido à escravidão; a es- salvo em circunstância excepcionais, das pessoa condenadas e
cravidão e o tráfico de escravos, em todos as suas formas, receber tratamento distinto, condizente com sua condição de
ficam proibidos.  pessoa não-condenada. 
b)  as pessoa processadas, jovens, deverão ser separadas
2. Ninguém poderá ser submetido à servidão. 
das adultas e julgadas o mais rápido possível.
3.  a) Ninguém poderá ser obrigado a executar traba-
3.  O regime penitenciário num tratamento cujo objetivo
lhos forçados ou obrigatórios;  principal seja a reforma e a reabilitação moral dos prisioneiros.
b)  A alínea “a” do presente parágrafo não poderá ser Os delinquentes juvenis deverão ser separados dos adultos e
interpretada no sentido de proibir, nos países em que certos receber tratamento condizente com sua idade e condição ju-
crimes sejam punidos com prisão e trabalhos forçados, o rídica.
cumprimento de uma penas de trabalhos forçados, imposta
por um tribunal competente;  Artigo 11
c)  Para os efeitos do presente parágrafo, não serão con- Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir
siderados “trabalhos forçados ou obrigatórios”:  com uma obrigação contratual.
i)  qualquer trabalho ou serviço , não previsto na alí-
nea “b”, normalmente exigido de um indivíduo que tenha Artigo 12
sido encerrado em cumprimento de decisão judicial ou que, 1.  Toda pessoa que se ache legalmente no território de
tendo sido objeto de tal decisão, ache-se em liberdade con- um Estado terá o direito de nele livremente circular e escolher
dicional;  sua residência. 

24
DIREITOS HUMANOS

2.  Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qual- e)  de interrogar ou fazer interrogar as testemunhas
quer país, inclusive de seu próprio país.  da acusação e de obter o comparecimento e o interrogató-
3.  Os direito supracitados não poderão constituir objeto rio das testemunhas de defesa nas mesmas condições de que
de restrição, a menos que estejam previstas em lei e no intuito dispõe as de acusação; 
de proteger a segurança nacional e a ordem, a saúde ou a f)  de ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso
moral pública, bem como os direitos e liberdades das de- não compreenda ou não fale a língua empregada durante o
mais pessoas, e que sejam compatíveis com os outros direitos julgamento; 
reconhecidos no presente pacto.  g)  de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem
4.  Ninguém poderá ser privado do direito de entrar em a confessar-se culpada. 
seu próprio país. 4. O processo aplicável a jovens que não sejam maiores
Artigo 13 nos termos da legislação penal levará em conta a idade dos
Um estrangeiro que se ache legalmente no território de menores e a importância de promover sua reintegração social. 
um estado parte do presente pacto só poderá dele ser expul- 5.  Toda pessoa declarada culpada por um delito terá o
so em decorrência de decisão adotada em conformidade direito de recorrer da sentença condenatória e da pena a
com a lei e, a menos que razões imperativas de segurança uma instância, em conformidade com a lei. 
nacional a isso se oponham, terá a possibilidade de expor 6.  Se uma sentença condenatória passada em julgado
as razões que militem contra sua expulsão e de ter seu caso for posteriormente anulada ou se indulto for concedido,
reexaminado pelas autoridades competentes, ou por uma ou pela ocorrência ou descoberta de fatos novos que provem
várias pessoas especialmente designadas pelas referidas au- cabalmente a existência de erro judicial, a pessoa que sofreu
toridades, e de fazer-se representar com esse objetivo. a pena decorrente dessa condenação deverá ser indenizada,
de acordo com a lei, a menos que fique provado que se lhe
Artigo 14 pode imputar, total ou parcialmente, não-revelação dos fa-
1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e tos desconhecidos em tempo útil. 
as cortes de justiça. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida 7.  ninguém poderá ser processado ou punido por um
publicamente e com as devidas garantias por um tribunal delito pelo qual já foi absolvido ou condenado por sen-
competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, tença passada em julgado, em conformidade com a lei e os
na apuração de qualquer acusação de caráter penal formu- procedimentos penais de cada país.
lada contra ela ou na determinação de seus direitos e obri-
gações de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser Artigo 15
excluídos de parte ou da totalidade de um julgamento, que 1.  Ninguém poderá ser condenado por atos ou omis-
por motivo de moral pública, de ordem pública ou de segu- sões que não constituam delito de acordo com direito
rança nacional em uma sociedade democrática, quer quan- nacional ou internacional, no momento em que foram
do o interesse da vida privada das partes o exija, quer na cometidos. Tampouco poder-se-á impor pena mais grave
medida em que isso seja estritamente necessário na opinião do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se,
da justiça, em circunstâncias específicas, nas quais a publici- depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de
dade venha a prejudicar os interesses da justiça; entretanto, pena mais leve, o delinquente deverá beneficiar-se. 
qualquer sentença proferida em matéria penal ou civil deverá 2.  nenhuma disposição do presente Pacto impedirá o
tornar-se pública, a menos que o interesse de menores exija julgamento ou a condenação de qualquer indivíduo por atos
procedimento oposto, ou o processo diga respeito a contro- ou omissões que, no momento em que foram cometidos,
vérsia matrimoniais ou á tutela de menores.  eram considerados delituosos de acordo com os princí-
2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se pios gerais de direito reconhecidos pela comunidade das
presuma sua inocência enquanto não for legalmente com- nações.
provada sua culpa. 
3.  Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em Artigo 16
plena igualdade, a, pelo menos, as seguintes garantias:  Toda pessoa terá direito, em qualquer lugar, ao reco-
a)  de ser informado, sem demora, numa língua que nhecimento de sua personalidade jurídica.
compreenda e de forma minuciosa, da natureza e dos moti- Artigo 17
vos da acusação contra ela formulada;  1.  Ninguém poderá ser objeto de ingerência arbitrá-
b)  de dispor do tempo e do meios necessários à pre- rias ou ilegais em sua vida privada, em sua família, em seu
paração de sua defesa e a comunicar-se com defensor de sua domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais
escolha;  às suas honra e reputação. 
c)  de ser julgado sem dilações indevidas;  2.  Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas
d)  de estar presente no julgamento e de defender-se ingerências ou ofensas 
pessoalmente ou por intermédio de defender de sua escolha;
de ser informado, caso não tenha defensor, do direito que lhe Artigo 18
assiste de tê-lo e, sempre que o interesse da justiça assim exi- 1.  Toda pessoa terá direito à liberdade de pensamen-
ja, de ter um defensor designado “ex officio” gratuitamente, to, de consciência e de religião. Esse direito implicará a
se não tiver meios para remunerá-lo;  liberdade de ter ou adotar uma religião ou uma crença de

25
DIREITOS HUMANOS

sua escolha e a liberdade de professar sua religião ou cren- 2.  O exercício desse direito estará sujeito apenas às res-
ça, individual ou coletivamente, tanto pública como privada- trições previstas em lei e que se façam necessárias, em um
mente, por meio do culto, da celebração de ritos, de práticas sociedade democrática, no interesse da segurança nacional,
e do ensino.  da segurança e da ordem públicas, ou para proteger a saúde
2.  Ninguém poderá ser submetido a medidas coerciti- ou a moral públicas ou os direitos a liberdades das demais
vas que possam restringir sua liberdade de ter ou de adotar pessoas. O presente artigo não impedirá que se submeta a
uma religião ou crença de sua escolha.  restrições legais o exercício desse direito por membros das
3.  A liberdade de manifestar a própria religião ou cren- forças armadas e da polícia. 
ça estará sujeita apenas a limitações previstas em lei e que 3.  Nenhuma das disposições do presente artigo permi-
se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a tirá que Estados Partes da Convenção de 1948 da Organiza-
saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das ção do Trabalho, relativa à liberdade sindical e à proteção do
demais pessoas.  direito sindical, venham a adotar medidas legislativas que
4.  Os Estados partes do presente Pacto comprometem- restrinjam - ou aplicar a lei de maneira a restringir - as ga-
-se a respeitar a liberdade dos pais - e, quando for o caso, rantias previstas na referida Convenção.
dos tutores legais - de assegurar a educação religiosa e
moral dos filhos que esteja de acordo com suas próprias Artigo 23
1.  A família é o elemento natural e fundamental da
convicções.
sociedade e terá o direito de ser protegida pela sociedade e
pelo Estado. 
Artigo 19 2.  Será reconhecido o direito do homem e da mulher
1.  Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões.  de, em idade núbil, contrair casamento e construir família. 
2.  Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; 3.  Casamento algum será sem o consentimento livre e
esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e di- pleno dos futuros esposos. 
fundir informações e ideias de qualquer natureza, indepen- 4.  Os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar
dentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou as medidas apropriadas para assegurar a igualdade de di-
por escrito, em forma impressa ou artística, ou qualquer ou- reitos e responsabilidades dos esposos quanto ao casamento,
tro meio de sua escolha.  durante o mesmo e o por ocasião de sua dissolução. Em caso
3.  O exercício do direito previsto no § 2º do presente de dissolução, deverão adotar-se disposições que assegurem
artigo implicará deveres e responsabilidades especiais.  a proteção necessária para os filhos.

Consequentemente, poderá estar sujeito a certas res- Artigo 24


1.  Toda criança, terá direito, sem discriminação alguma
trições, que devem, entretanto, ser expressamente previstas
por motivo de cor, sexo, religião, origem nacional ou social,
em lei e que se façam necessárias para: 
situação econômica ou nascimento, às medidas de prote-
a)  assegurar o respeito dos direitos e da reputação das ção que a sua condição de menor requerer por parte de sua
demais  pessoas;  família, da sociedade e do Estado. 
b)  proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou 2.  Toda criança deverá ser registrada imediatamente
a moral pública. após seu nascimento e deverá receber um nome. 
3.  Toda criança terá o direito de adquirir uma nacio-
Artigo 20 nalidade.
1.  Será proibido por lei qualquer propaganda em fa-
vor de guerra.  Artigo 25
2.  Será proibida por lei qualquer apologia do ódio na- Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qual-
cional, radical, racial ou religioso que constitua incitamento quer das formas de discriminação mencionadas no artigo 2°
à discriminação, à hostilidade ou à violência. e sem restrições infundadas: 
a)  de participar da condução dos assuntos públicos,
Artigo 21 diretamente ou por meio de representantes livremente es-
Direito de reunião pacífica será reconhecido. O exercí- colhidos; 
b)  de votar e de ser eleito em eleições periódicas, au-
cio desse direito estará sujeito apenas às restrições previstas
tênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário e por
em lei e que se façam necessárias, em um sociedade demo-
voto secreto, que garantam a manifestação da vontade dos
crática, no interesse da segurança nacional, da segurança ou
eleitores; 
da ordem públicas, ou para proteger a saúde públicas ou os c)  de ter acesso em condições gerais de igualdade, às
direitos e as liberdades das pessoas. funções públicas de seu país.

Artigo 22 Artigo 26
1.  Toda pessoa terá o direito de associar-se livremente Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito,
a outras, inclusive o direito de construir sindicatos e de a sem discriminação alguma, a igual proteção da lei. A este
eles filiar-se, para a proteção de seus interesses.  respeito, a lei deverá proibir qualquer forma de discrimi-

26
DIREITOS HUMANOS

nação e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz O relatório será encaminhado ao Secretário-geral, que
contra qualquer discriminação por motivo de raça, cor, sexo, enviará ao Comitê e que poderá distribuir cópias a agências
língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem interessadas mediante autorização deste. Cabe ao relatório
nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qual- descrever eventuais fatores que dificultem a implementa-
quer outra situação. ção dos direitos descritos no Pacto. (artigo 40, PIDCP).
O Comitê não só estudará os relatórios, incluindo co-
Artigo 27 mentários e podendo encaminhá-los ao Conselho Econô-
 No caso em que haja minorias étnicas, religiosas ou mico e Social com tais reflexões, como também elaborará
linguísticas, as pessoas pertencentes a essas minorias não seu próprio relatório com comentários e o transmitirá aos
poderão ser privadas do direito de ter, conjuntamente com Estados-partes, os quais poderão se manifestar sobre refe-
outras membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de ridos comentários. (artigo 40, PIDCP).
professar e praticar sua própria religião e usar sua própria
língua. Recebimento de denúncias
A competência do Comitê deve ser reconhecida pelo
PARTE IV Estado-parte, de forma que sem tal declaração o Comitê
não apreciará denúncias de violações aos direitos humanos
Comitê de Direitos Humanos
civis e políticos descritos no Pacto. Esta declaração pode
O Comitê de Direitos Humanos foi instituído pelo Pacto
ser retirada a qualquer momento pelo Estado-parte.
Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966, que o
O procedimento para que as reclamações sejam pro-
disciplina nos artigos 28 a 45.
cessadas pelo Comitê, nos termos do artigo 41 do PIDCP,
Composição e eleição é o seguinte:
É composto por 28 membros que sejam eleitos pelos a) um Estado-parte que acredite que outro não está
Estados-partes do Pacto, dotados de reputação moral e re- cumprindo o Pacto leva a reclamação a conhecimento dele,
conhecida competência em matéria de direitos humanos que terá 3 meses para se manifestar esclarecendo os fatos;
(artigo 28, PIDCP). Tais pessoas constarão e uma lista de b) se em 6 meses do recebimento da primeira comuni-
indicados pelos Estados-partes, cada qual indicando duas, cação pelo Estado-parte a questão não for satisfatoriamen-
sendo possível que uma pessoa seja indicada mais de uma te dirimida entre os interessados, ambos poderão subme-
vez por Estados diferentes (artigo 29, PIDCP). ter a comunicação ao Comitê;
A eleição se dará em reunião convocada pelo Secre- c) o Comitê se assegurará que houve esgotamento de
tário-geral da Organização das Nações Unidas na sede da recursos internos ou que, ainda que não tenha havido, se
Organização, que será instaurada com ao menos 2/3 dos fez presente prolongamento injustificado da apuração;
Estados-partes, aplicando-se o quorum da maioria absoluta d) as reuniões do Comitê serão confidenciais;
dos votos entre os presentes e votantes (artigo 30, PIDCP). e) o Comitê colocará bons ofícios a serviço dos Esta-
Não é possível que figure no Comitê mais de um nacional do dos-partes interessados, mas isso não dispensa o requisito
mesmo Estado (artigo 31, PIDCP). do esgotamento de recursos internos;
O mandato é de 4 anos, sendo possível uma recondução f) o Comitê pedirá informações aos Estados-partes;
(artigo 32, PIDCP). g) tais Estados-partes poderão ter representantes pe-
Cabe aos próprios membros a decisão de expulsão de rante o Comitê;
um membro que não esteja bem desempenhando suas fun- h) em 12 meses do recebimento da notificação pelo Comi-
ções, comunicando ao Secretário-geral, que iniciará um pro- tê após não darem resultado as negociações entre os Estados-
cedimento para o preenchimento da vaga (artigo 33, PIDCP). -partes, ele deverá apresentar relatório, cujo conteúdo será, no
Os membros prestarão compromisso de desempenhar caso de solução por bons ofícios, uma breve exposição dos
de forma imparcial e consciente suas funções (artigo 38, PI- fatos e da solução alcançada, e no caso de não solução por
DCP).
tal meio, uma breve exposição dos fatos com juntada do texto
Já a mesa do Comitê terá 12 membros, que terão man-
das observações escritas e orais apresentadas pelos interessa-
dato de 2 anos, cabendo uma recondução (artigo 39, PIDCP).
dos, encaminhando-o aos Estados-partes em questão.
Tanto os membros do Comitê quanto da Comissão de
O artigo 42 do PIDCP descreve o procedimento para
Conciliação que será estudada adiante possuem os privilé-
gios e imunidades inerentes a quem está em missão pelas quando as providências do artigo 41 forem insuficientes:
Nações Unidas (artigo 43, PIDCP). a) formação de Comissão ad hoc, com consentimento
dos interessados, que colocará bons ofícios à disposição
Relatórios gerais dos Estados-partes buscando uma solução amistosa, sen-
Os Estados-partes deverão apresentar relatórios sobre do formada por 5 membros designados com anuência dos
as medidas adotadas para tornar efetivos os direitos civis e interessados, os quais terão que ser nacionais de algum Es-
políticos abrangidos pelo Pacto, dentro de um ano da ratifi- tado-parte que tenha reconhecido a competência do Co-
cação do Pacto e, depois, cada vez que o Comitê solicitar. mitê mas não nacionais dos Estados-partes envolvidos na
(artigo 40, PIDCP). controvérsia;

27
DIREITOS HUMANOS

b) não havendo concordância sobre a composição da serem denúncias anônimas e não constituírem abuso de
Comissão em 3 meses, os membros sobre os quais houve direito ou serem incompatíveis com as disposições do Pac-
divergência serão eleitos pelo Comitê, entre seus próprios to, e nos termos do artigo 5º, que a mesma questão já não
membros, por votação secreta e mediante quórum de 2/3 esteja sendo examinada por uma outra instância interna-
do total dos membros; cional de investigação ou decisão.
c) a Comissão elegerá seu Presidente e estabelecerá Após, adota-se o procedimento descrito nos artigos 4º
seu procedimento, reunindo-se geralmente em Genebra, e 5º do protocolo:
sem prejuízo de se reunir em outra localidade; a) Admitida a denúncia, o Comitê levará ao conheci-
d) as informações obtidas pelo Comitê poderão ser mento dos Estados-partes no referido Protocolo que te-
usadas pela Comissão, que também poderá pedir novas nham alegadamente violado qualquer das disposições do
informações; Pacto as comunicações que lhe forem apresentadas;
e) estudada a questão, a Comissão apresentará rela- b) Dentro de seis meses, os Estados destinatários das
tório no prazo de 12 meses do conhecimento da comu- comunicações submeterão por escrito ao Comitê as expli-
nicação, encaminhando- ao Presidente do Comitê, que o cações ou declarações que esclareçam a questão e o recur-
enviará aos Estados-partes interessados. so, se existente, que tiver sido adotado por aquele Estado;
O relatório da Comissão terá o seguinte conteúdo, tra- c) O Comitê examinará as comunicações recebidas em
zido no próprio artigo 41 do PIDCP: virtude do Protocolo tendo em conta todas as informações
a) se ela não puder terminar o exame da questão, ape- escritas que lhe forem submetidas pelo indivíduo e pelo
nas exporá o estágio deste exame; Estado Parte interessado;
b) se houver alcançado a solução amistosa, fará sim- d) O Comitê realizará as suas sessões a portas fechadas
ples exposição do fato e da solução alcançada; quando examinar as comunicações previstas no Protocolo;
c) se não alcançar solução amistosa, trará suas con- e) O Comitê comunicará seu parecer ao Estado-parte
clusões sobre os fatos inerentes à questão controversa e interessado e ao indivíduo.
sua opinião sobre uma possível solução amistosa, juntando Não obstante, O Comitê incluirá no seu relatório anual,
observações escritas e orais dos interessados, caso em que elaborado nos termos do artigo 45 do Pacto, um resumo
os Estados-partes comunicarão no prazo de 3 meses do re- das suas atividades, desempenhadas nos termos do Pro-
cebimento do relatório ao Presidente do Comitê se aceitam tocolo.
ou não seus termos. Abaixo, seguem os artigos que regulamentam o Co-
mitê.
Não há qualquer problema em os Estados-partes op-
tarem por solucionar a controvérsia perante outro órgão
Artigo 28
das Nações Unidas ou de organização diversa (artigo 44,
1.  Constituir-se-á um comitê de Direitos Humanos
PIDCP). O Comitê submeterá à Assembléia-Geral, por meio
(doravante denominado o “Comitê” no presente pacto). O
do Conselho Econômico e Social, um relatório sobre suas
Comitê será composto de dezoito membros e desempenhará
atividades (artigo 45, PIDCP).
as funções descritas adiante. 
Denúncias por particulares e o protocolo facultati-
2.  O Comitê será integrado por nacionais dos Estados
vo ao PIDCP
partes do presente Pacto, os quais deverão ser pessoas de
Embora o PIDCP não tenha previsto diretamente um
elevada reputação moral e reconhecida competência em
mecanismo para a apresentação de denúncias pelos indi-
víduos ao Comitê, o protocolo facultativo ao Pacto, de 16 matéria de direitos humanos, levando-se em consideração
de dezembro de 1966, o fez. A denúncia somente pode ser a utilidade da participação de algumas pessoas com expe-
recebida se o Estado houver ratificado o Protocolo Faculta- riência jurídica. 
tivo (artigo 1º, PPIDCP). 3.  Os membros do Comitê serão eleitos e exercerão suas
Ainda é grande a resistência de muitos Estados em funções a titulo pessoal.
consentir que indivíduos tenham o poder de encaminhar
petições individuais, assumindo independência na arena Artigo 29
internacional para acusá-los da inobservância de deter- 1.  Os membros do Comitê serão eleitos em votação se-
minado direito. Neste sentido, mesmo que muitos países creta dentre uma lista de pessoas que preencham os requi-
tenham assinado o protocolo facultativo, como as decisões sitos previstos no artigo 28 e indicadas, com esse objetivo,
do Comitê não possuem força obrigatória e vinculante, pelos Estados Partes do presente Pacto. 
percebe-se uma dificuldade em implementá-las. 2.  Cada Estado parte no presente Pacto poderá indicar
Aceita a competência, “[...] o indivíduo que se conside- duas pessoas. Essas pessoas deverão ser nacionais do Estado
rar vítima de violação de qualquer dos direitos enunciados que as indicou. 
no Pacto e que tenha esgotado todos os recursos internos 3.  A mesma pessoa poderá ser indicada mais de uma
disponíveis, poderá apresentar uma comunicação escrita vez.
ao Comitê para que este a examine” (artigo 2º, PPIDCP).
Além do esgotamento dos recursos na via interna, sal- Artigo 30
vo excesso dos prazos razoáveis (artigo 5º, PPIDCP), são 1.  A primeira eleição realizar-se-á no máximo seis me-
requisitos de admissibilidade, nos termos do artigo 3º, não ses após a data da entrada em vigor do presente Pacto. 

28
DIREITOS HUMANOS

2.  Ao menos quatro meses antes da data de cada eleição declarada a vaga, o Secratário-Geral das Nações Unidas
do Comitê, e desde que não seja uma eleição para preencher comunicará tal fato aos Estados Partes do presente pacto,
uma vaga declarada nos termos do artigo 34, o Secretário- que poderão, no prazo de dois meses, indicar candidatos, em
-Geral da Organização das Nações Unidas convidará, por conformidade com o artigo 29, para preencher a vaga. 
escrito, os Estados Partes do Presente Protocolo a indicar, no 2.  O Secretário-Geral da organização das Nações uni-
prazo de três meses, os candidatos a membro do Comitê.  das organizará uma lista por ordem alfabética dos candi-
3.  O Secretário-Geral da Organização das Nações Uni- datos assim designados e a comunicará aos Estados Partes
das organizará uma lista por ordem alfabética de todos os
do presente pacto. A eleição destinada a preencher tal vaga
candidatos assim designados, mencionando os Estados Par-
será realizada nos termos das disposições pertinentes desta
tes que os tiverem indicado, e a comunicará aos Estados par-
tes do presente Pacto, no máximo um mês antes da data de parte do presente Pacto. 
cada eleição.  3.  Qualquer membro do Comitê eleito para preencher
4.  Os membros do Comitê serão eleitos em reuniões dos uma vaga em conformidade com o artigo 33 fará parte do
Estados Partes convocadas pelo Secretário-Geral da Organi- Comitê durante o restante do mandato do membro que dei-
zação das Nações Unidas na sede da Organização. Nessas xar vago o lugar do Comitê, nos termos do referido artigo.
reuniões, em que o “quorum” será estabelecido por dois ter-
ços dos Estados Partes do presente Pacto, serão eleitos mem- Artigo 35
bros do Comitê os candidatos que obtiverem o maior número  Os membros do Comitê receberão, com a aprovação
de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas,
dos Estados Partes presentes e votantes. honorários  provenientes de recursos da Organização das
Nações Unidas, nas condições fixadas, considerando-se a
Artigo 31 importância das funções do Comitê, pela Assembleia-Geral.
1.  O Comitê não poderá ter mais de um nacional de um
mesmo Estado.  Artigo 36
2.  Nas eleições do Comitê, levar-se-ão em consideração Secretário-Geral da Organização das nações Unidas
uma distribuição geográfica equitativa e uma representação colocará à disposição do Comitê o pessoal e os serviços
das diversas formas de civilização, bem como dos principais necessários ao desempenho eficaz das funções que lhe são
sistemas jurídicos. atribuídas em virtude do presente Pacto.

Artigo 32 Artigo 37
1.  Os membros do Comitê serão eleitos par um mandato 1.  Secretário-Geral da Organização das nações Unidas
de quatro anos. Poderão, caso suas candidaturas sejam apre- convocará os Membros do comitê para a primeira reunião,
sentadas novamente, ser reeleitos. Entretanto, o mandato de a realizar-se na sede da Organização. 
nove dos membros eleitos na primeira eleição expirará ao 2.  Após a primeira reunião, o Comitê deverá reunir-se
final de dois anos; imediatamente após a primeira eleição, em todas as ocasiões previstas em suas regras de procedi-
o presidente da reunião a que se refere o § 4° do artigo 30 mento. 
indicará, por sorteio, os nomes desses nove membros.  3.  As reuniões do Comitê serão realizadas normalmen-
2.  Ao expirar o mandato dos membros, as eleições se te na sede da Organização da Nações Unidas ou no Escritó-
realizarão de acordo com o disposto nos artigos precedentes rio das Nações Unidas em Genebra.
desta Parte do presente pacto.
Artigo 38
Artigo 33
Todo membro do comitê deverá, antes de iniciar suas
1.  Se, na opinião unânime dos demais membro do Comi-
funções, assumir, em sessão pública, o compromisso solene
tê deixar de desempenhar suas funções por motivos distintos
de que desempenhará suas funções imparcial e consciente-
de uma ausência temporária, o Presidente comunicará tal
mente.
fato ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas,
que declarará vago o lugar que o referido membro ocupava. 
Artigo 39
2.  Em caso de morte ou renúncia de um membro do
1.  O Comitê elegerá sua mesa para um período de dois
Comitê, o Presidente comunicará imediatamente tal fato ao
anos. Os membros da mesa poderão ser reeleitos. 
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, que de-
2.  o próprio Comitê estabelecerá suas regras de pro-
clarará vago o lugar desde a data da morte ou daquela em
que a renúncia passe a produzir efeitos. cedimento; esta, contudo, deverão conter, entre outras, as
seguintes disposições: 
Artigo 34 a)  o “quorum” será de doze membros; 
1.  Quando uma vaga for declarada nos termos do arti- b)  as mesas do Comitê tomadas por maioria de votos
go 33 e o mandato do membro a ser substituído não expiar dos membros presentes.
no prazo de seis meses a contar da data em que tenha sido

29
DIREITOS HUMANOS

Artigo 40 b)  se, dentro de um prazo de seis meses, a contar da


1.  os Estados Partes do presente Pacto comprometem- data do recebimento da comunicação original pelo Estado
-se a submeter relatórios sobre as medidas por eles adota- destinatário, a questão não estiver dirimida satisfatoria-
das para tornar efetivos os direitos reconhecidos no pre- mente para ambos os Estados Partes interessados, tanto um
sente Pacto e sobre o progresso alcançado no gozo desses como o outro terão o direito de submetê-lo ao comitê, me-
direitos:  diante notificação endereçada ao Comitê ou outro Estado
a)  dentro do prazo de um ano, a contar do início da interessado; 
vigência do presente Pacto nos Estados Partes interessados;  c)  o comitê tratará de todas as questões que se  lhe sub-
metam em virtude do presente Artigo somente após ter-se
b)  a partir de então, sempre que o Comitê vier a soli-
assegurado de que todos os recursos jurídicos internos dispo-
citar. níveis tenham sido utilizados e esgotados, em consonância
2.  Todos relatórios serão submetidos ao Secretário-Ge- com os princípios do Direito internacional geralmente reco-
ral da Organização das nações Unidas, que os encaminha- nhecido. Não se aplicará esta regra quando a aplicação dos
rá. Para exame, ao Comitê. Os relatórios deverão sublinhar, mencionados recursos se prolongar injustificadamente. 
caso existam, os fatores e as dificuldades que prejudiquem d)  o comitê realizará reuniões confidenciais quando
a implementação do presente pacto.  estiver examinando as comunicações previstas no presente
3.  O Secretário-Geral da Organização das Nações Uni- Artigo; 
das poderá, após consulta ao Comitê, encaminhar às agên- e)  sem prejuízo das disposições da alínea  “c’, o Comitê
cias especializadas cópias das partes dos relatórios que di- colocará seus bons ofícios à disposição dos Estados Partes 
interessados no intuito de se alcançar uma solução amistosa
gam respeito à sua esfera de competência. 
para a questão, baseada no respeito aos direitos humanos e
4.  O Comitê estudará os relatórios apresentados pelos
a liberdades fundamentais reconhecidos no presente Pacto. 
Estados partes do presente pacto e transmitirá aos Esta- f)  em todas as questões que se lhe submetem em virtu-
dos Partes seu próprio relatório, bem como os comentários de do  presente artigo, o Comitê poderá solicitar aos Estados
gerais que julgar oportunos. O Comitê poderá igualmen- Partes interessados, a que se faz referência na alínea b), que
te transmitir ao Conselho Econômico e social os referidos lhe forneçam quaisquer informação pertinentes; 
comentários, bem como cópias dos relatórios que houver g)  os estados Partes interessados, a que se faz referência
recebido dos Estados partes do Presente pacto.  na alínea “b”, terão o direito de fazer-se representar quando
5.  Os Estados Partes no presente pacto poderão sub- as questões forem examinadas no Comitê e de apresentar 
meter ao Comitê as observações que desejarem formular suas observações verbalmente e/ou por escrito; 
relativamente aos comentários feitos nos termos do § 4° do h)  o Comitê, dentro dos doze meses seguintes à data de
presente artigo. recebimento da notificação mencionada na b), apresentará
relatório em que: 
Artigo 41 i)  se houver sido alcançada uma solução nos termos da
1.  Com base no presente Artigo, todo Estado parte do alínea e), o comitê restringir-se-á, em seu relatório, a uma
presente pacto poderá declarar, a qualquer momento, que breve exposição dos fatos e da solução alcançada; 
reconhece a competência do Comitê para receber e exami- ii)  se não houver sido alcançada solução alguma nos
nar as comunicações em que um Estado parte alegue que termos alínea “e”, o comitê restringir-se-á, em seu relatório, a
outro Estado Parte não vem cumprindo as obrigações que uma breve exposição dos fatos; serão anexados ao relatório
lhe impõe a Pacto. As referidas comunicações só serão rece- o texto das observações escritas e as atas das observações
bidas e examinadas nos termos do presente Artigo no caso orais apresentadas pelos Estados Partes interessados.
de serem apresentadas por um Estado Parte que houver Para cada questão, o relatório será encaminhado aos
feito uma declaração em que reconheça, com relação a si Estados partes interessados. 
próprio, a competência do Comitê. O Comitê não receberá 2.  As disposições do presente Artigo entrarão em vigor
comunicação alguma relativa a um Estado Parte que não a partir do momento em que dez Estados Partes do presente
houver feito uma declaração dessa natureza. As comunica- Pacto houverem feito as declarações mencionadas no pa-
ções recebidas em virtude do presente Artigo estarão sujei- rágrafo §1º deste Artigo. As referidas declarações serão de-
tas ao procedimento que se segue:  positadas pelos Estados partes junto ao Secretário-Geral da
a) se um Estado Parte do presente Pacto considerar que Organização Nações Unidas, que enviará cópia das mesmas
outro Estado Parte não vem cumprindo as disposições da aos demais Estados Partes. Toda declaração poderá ser reti-
presente Convenção poderá, mediante comunicação escrita, rada, a qualquer momento, mediante notificação endereça-
levar a questão ao conhecimento deste Estado Parte. Dentro da ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem prejuízo
de um prazo de três meses, a contar da data do recebimento do exame de quaisquer questões que constituam objeto de
da comunicação, o Estado destinatário fornecerá ao Estado uma comunicação já transmitida nos termos deste artigo;
que enviou a comunicação explicações ou quaisquer outras em virtude do presente artigo, não se receberá qualquer
declarações por escrito que esclareçam a questão, as quais nova comunicação de um Estado Parte uma vez que o Se-
deverão fazer referência, até onde seja possível e pertinente, cretário-Geral tenha recebido a notificação sobre a retirada
aos procedimentos, nacionais e aos recursos  jurídicos ado- da declaração, a menos que o Estado parte interessado haja
tados, em trâmite ou disponíveis sobre a questão;  feito uma nova declaração.

30
DIREITOS HUMANOS

Artigo 42 d)  se o relatório da comissão for apresentado nos ter-


1.  a) se uma questão submetida ao Comitê, nos termos mos da alínea “c”, os Estados partes interessados comunica-
do artigo 41, não estiver dirimida satisfatoriamente para os rão, no prazo de três meses a contar da data do recebimen-
Estado Partes interessados, o Comitê poderá, com consenti- to do relatório, ao presidente do comitê se aceitam ou não
mento prévio dos Estados Partes interessados, constituir uma os termos do relatório da Comissão. 
comissão “ad hoc” (doravante denominada “ a Comissão). A 8.  As disposições do presente artigo não prejudicarão
Comissão colocará seus bons ofícios à disposição dos Estados as atribuições do Comitê previstas no artigo 41. 
Partes interessados no intuito de se alcançar uma solução 9.  Todas as despesas dos membros da Comissão serão
amistosa para a questão baseada no respeito ao presente repartidas equitativamente entre os Estados Partes interes-
Pacto;  sados, com base em estimativas a serem estabelecidas pelo
b)  a comissão será composta de cinco membros designa- Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. 
dos com o consentimento dos Estados Partes interessados. Se 10.  Secretário-Geral da Organização das Nações Uni-
os Estados Partes interessados não chegarem a um acordo a das poderá, caso seja necessário, pagar as despesas dos
respeito da totalidade ou de parte da composição da comis-
membros da Comissão antes que sejam reembolsadas pe-
são dentro do prazo de três meses, os membros da Comissão
los Estados Partes interessados, em conformidade com o §
em relação aos quais não se chegou a acordo serão eleitos
9° do presente artigo.
pelo Comitê, entre os seus próprios membros, em votação
secreta e por maioria de dois terços dos membros do comitê. 
Artigo 43
2. Os membros da Comissão exercerão suas funções a
Os membros do Comitê e os membros da Comissão de
título pessoal. Não poderão ser nacionais dos Estados interes-
Conciliação “ad hoc” que forem designados nos termos do artigo
sados, nem de Estados que não seja Parte do presente Pacto,
42 terão direitos às facilidades, privilégios e imunidades que se
nem de um Estado Parte que não tenha feito a declaração
concedem aos peritos no desempenho de missões para a organi-
prevista no artigo 41. 
zação das nações unidas, em conformidade com as seções perti-
3.  A própria Comissão elegerá seu presidente e estabele-
nentes da Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações
cerá suas regras de procedimento.
Unidas.
4.  As reuniões da Comissão, serão normalmente na sede
da Organização das Nações Unidas ou no Escritório das Na- Artigo 44
ções Unidas em Genebra. Entretanto, poderão realizar-se em As disposições relativas à implementação do presente
qualquer outro lugar apropriado que a Comissão determinar, pacto aplicar-se-ão sem prejuízo dos procedimentos instituí-
após consulta ao Secretário-Geral da Organização das Na- dos em matéria de direitos humanos, pelos - ou em virtude
ções Unidas e aos Estados partes interessados.  dos membros - instrumentos constitutivos e pelas Conven-
5.  O secretariado referido no artigo 36 também presta- ções da Organização das Nações Unidas e das agências es-
rá serviços às comissões designadas em virtude do presente pecializadas e não impedirão que os Estados partes a recor-
artigo.  rer a outros procedimentos para a solução de controvérsias
6.  As informações obtidas e coligidas pelo Comitê serão em conformidade com os acordos internacionais gerais ou
colocadas à disposição da Comissão, a qual poderá solicitar especiais vigentes entre eles.
aos Estados partes interessados que lhe forneçam qualquer
outra informação pertinente.  Artigo 45
7.  Após haver estudado a questão sob todos os seus as- Comitê submeterá à Assembleia-Geral, por intermédio do
pectos, mas, em qualquer caso, no prazo de doze meses após Conselho Econômico e social, um relatório sobre suas atividades.
dela ter tomado conhecimento, a Comissão apresentará um
relatório ao Presidente do Comitê, que o encaminhará aos PARTE V
Estados Partes interessados: 
a)  se a Comissão não puder terminar o exame da ques- Artigo 46
tão, restringir-se-á, em seu, a uma breve exposição sobre o Nenhuma disposição do presente Pacto poderá ser
estágio em que se encontra o exame da questão;  interpretada em detrimento das disposições da Carta
b)  se houver sido alcançado uma solução amistosa para das Nações unidas e das constituições das agências es-
a questão, baseada no respeito dos direitos humanos reco- pecializadas, as quais definem as responsabilidades respec-
nhecidos no presente pacto, a Comissão restringir-se-á, em tivas dos diversos órgãos da Organização das Nações Unidas
seu relatório, a uma breve exposição dos fatos e da solução e das agências especializadas relativamente às questões tra-
alcançada;  tadas no presente pacto.
c)  se não houver sido alcançada solução nos termos da
alínea “b”, a Comissão incluirá no relatório suas conclusões Artigo 47
sobre os fatos relativos à questão debatida entre os Estados Nenhuma disposição do presente Pacto poderá ser in-
Partes interessados assim como sua opinião sobre a possibili- terpretada em detrimento do direito inerente a todos os
dade de solução amistoso para a questão, o relatório incluirá povos de desfrutar e utilizar plena e livremente suas ri-
as observações escritas e as atas das observações orais feitas quezas e seus recursos naturais. 
pelos Estados Partes interessados;    

31
DIREITOS HUMANOS

PARTE VI Artigo 52
Independentemente das notificações prevista no § 5°
Artigo 48 do artigo 48, o Secretário-Geral da Organização das Nações
1.  O presente pacto está à aberto à assinatura de todos os Unidas comunicará a todos os Estados referidos no § 1° do
Estados Membros da Organização das nações Unidas ou mem- referido artigo: 
bros de qualquer de suas agências especializadas, de todo Estado a)  as assinaturas, ratificações e adesões recebidas em
Parte do estatuto da Corte Internacional de Justiça, bem como de conformidade com o artigo 48; 
qualquer outro Estado convidado pela Assembleia-Geral a tornar- b)  a data de entrada em vigor do pacto, nos termos do
-se Parte do presente Pacto.  artigo 49, e a data de entrada em vigor de quaisquer emen-
2.  O presente pacto está sujeito à ratificação. Os instrumen- das, nos termos do artigo 51.
tos de ratificação serão depositados junto ao Secretário-Geral da
Organização das Nações unidas.  Artigo 53
3.  O presente Pacto está aberto à adesão de quaisquer dos 1.  O presente Pacto, cujos textos em chinês, espanhol,
Estados mencionados no § 1° do presente artigo.  francês, inglês e russo são igualmente autênticos, será de-
4.  Far-se-á adesão mediante depósito do instrumento de positado nos arquivos da Organização das Nações Unidas. 
adesão junto ao Secretário-Geral da Organização das Nações
2.  O Secretário-Geral da Organização das Nações Uni-
Unidas. 
das encaminhará cópias autênticas do presente Pacto a to-
5.  O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas
dos os Estados mencionados no artigo 48. 
informará todos os Estados que hajam assinado o presente Pacto
ou ele aderido do depósito de cada instrumento de ratificação
ou adesão. Em fé quê, os abaixo-assinados, devidamente autori-
Artigo 49 zados por seus respectivos Governos, assinaram o presente
1.  O presente Pacto entrará em vigor três meses após a Pacto, aberto à assinatura em nova York, aos 19 dias do mês
data do depósito, junto ao Secretário-Geral da Organização das de dezembro do ano mil novecentos e sessenta e seis.
Nações Unidas, do trigésimo-quinto instrumento de ratificação
ou adesão. 
2.  Para os Estados que vierem a ratificar o presente Pacto 2.2.5 PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS
ou a ele aderir após o depósito do trigésimo-quinto instrumento ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS;
de ratificação ou adesão, o presente Pacto entrará em vigor três
meses após a data do depósito, pelo Estado em questão, de seu
instrumento de ratificação ou adesão.

Artigo 50 Decreto nº 591 - de 6 de julho de 1992


Aplicar-se-á as disposições do, presente Pacto, sem qual- Presidente da República, no uso da atribuição que lhe
quer limitação ou exceção, a todas unidades constitutivas dos confere o artigo 84, inciso VIII, da Constituição, e 
Estados federativos. Considerando que o Pacto Internacional sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais foi adotado pela XXI Sessão
Artigo 52 da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 19 de dezem-
1.  Qualquer Estado Parte do presente Pacto poderá pro- bro de 1966;
por emendas e depositá-las junto ao Secretário-Geral da Or- Considerando que o Congresso Nacional aprovou o tex-
ganização das Nações Unidas. O Secretário-Geral comunicará to do referido diploma internacional por meio do Decreto
todas as propostas de emendas aos Estados Partes do presente Legislativo n. 226(1), de 12 de dezembro de 1991;
Pacto, pedindo-lhes que o notifiquem se desejam que se convo- Considerando que a Carta de adesão ao Internacional
que uma conferência dos Estados Partes destinada a examinar sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais depositada em
as propostas e submetê-las a votação. Se pelo menos um terço 24 de janeiro de 1992;
dos Estados Partes se manifestar a favor da referida convocação, Considerando que o Pacto ora promulgado entrou em
o Secretário-Geral convocará a conferência sob os auspícios da vigor, para o Brasil, em 24 de abril de 1992;
Organização das Nações Unidas. Qualquer emenda adotada considerando que o Pacto ora promulgado entro em vi-
pela maioria dos Estados Partes presentes e votantes na con- gor, para o Brasil, em 24 de abril de 1992, na forma de seu
ferência será submetida à aprovação da Assembleia-Geral das artigo 27, § 2°; decreta:
Nações Unidas. 
2.  Tais emendas entrarão em vigor quando aprovadas pela Art. 1° O pacto Internacional sobre Direitos Econômicos,
Assembleia-Geral das Nações Unidas e aceitas em conformida- Sociais e Culturais, apenso por cópia ao presente Decreto,
de com seus respectivos procedimentos constitucionais, por uma será executado e cumprido tão inteiramente como nele se
maioria de dois terços dos Estados Partes no presente Pacto.  contém.
3.  Ao entrarem em vigor, tais emendas serão obrigatórias
para os Estados Partes que as aceitaram, ao passo que os de- Art. 2° Este Decreto entra em vigor na data de sua pu-
mais Estados Partes permanecem obrigados pelas disposições blicação. 
do presente Pacto e pelas emendas anteriores por eles acei- Fernando Collor - Presidente da República. 
tas.

32
DIREITOS HUMANOS

ANEXO AO DECRETO QUE PROMULGA O PACTO mente nos planos econômico e técnico, até o máximo de
INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS ECONÔMI- seus recursos disponíveis, que visem assegurar, progressi-
COS, SOCIAIS E CULTURAIS/M  R  E vamente, por todos os meios apropriados, o, pleno exercício
e dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo,
Pacto Internacional Sobre Direitos Econômicos, em particular, a adoção de medidas legislativas. 
Sociais e Culturais 2.  Os Estados Partes do presente pacto comprometem-
-se a garantir que os direitos nele enunciados se exercerão
PREÂMBULO sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou de outra natureza, ori-
os Estados Partes do presente pacto, gem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou
Considerando que, em conformidade com os princípios qualquer outra situação. 
proclamados na Carta das Nações Unidas, o reconhecimen- 3.  Os países em desenvolvimento, levando devidamente
to da dignidade inerente a todos os membros da família em consideração os direitos humanos e a situação econômi-
humana e de seus direitos iguais e inalienáveis constitui o ca nacional, poderão determinar em que medida garanti-
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, rão os direitos econômicos reconhecidos no presente Pacto
Reconhecendo que esses direitos decorrem da dignidade àqueles que não sejam seus nacionais.
inerente à pessoa humana,
Reconhecendo que, em conformidade com a Declaração Artigo 3º
Universal dos Direitos do Homem, o ideal do ser humano Os Estados partes do presente pacto comprometem-se
livre, liberto do temor e da miséria, não pode ser realizado a assegurar a homens e mulheres igualdade no gozo de
a menos que se criem condições que permitam a cada um todos os direitos econômicos, sociais e culturais enunciados
gozar de seus direitos econômicos, sociais e culturais, assim no presente pacto.
como de seus direitos civis e políticos,
Considerando que a Carta das nações Unidas impõe aos Artigo 4º
Estados a obrigação de promover o respeito universal e efe- Os Estados partes do presente Pacto reconhecem que,
tivo dos direitos e das liberdades do homem, no exercício dos direitos assegurados em conformidade com
Compreendendo que o indivíduo por ter deveres para
o presente Pacto pelo Estado, este poderá submeter tais di-
com seus semelhantes e para com a coletividade a que per-
reitos unicamente às limitações estabelecidas em lei, so-
tence, tem a obrigação de lutar pela promoção e observân-
mente na medida compatível com a natureza desses direitos
cia dos direitos reconhecidos no presente Pacto,
e exclusivamente com o objetivo de favorecer o bem-estar
Acordam o seguinte:
geral em uma sociedade democrática.
PARTE I
Artigo 5º
1.  Nenhuma das disposição do presente Pacto pode-
Artigo 1º
1.  Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em rá ser interpretada no sentido de reconhecer a um Esta-
virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto do, grupo ou indivíduo qualquer direito de dedicar-se a
político e asseguram livremente seu desenvolvimento eco- quaisquer atividades ou de praticar quaisquer atos que
nômico, social e cultural.  tenham por objetivo destruir os direitos ou liberdades re-
2.  Para a consecução de seus objetivos, todos os povos conhecidos no presente Pacto ou impor-lhes limitações mais
podem dispor livremente de suas riquezas e de seus recur- amplas do que aquelas nele prevista. 
sos naturais, sem prejuízo das obrigações decorrentes da 2.  Não se admitirá qualquer restrição ou suspensão
cooperação econômica internacional, baseada no princípio dos direitos humanos fundamentais reconhecidos ou vigen-
do proveito mútuo, e do Direito internacional. Em caso al- tes em qualquer País em virtude de leis, convenções, regu-
gum, poderá um povo ser privado de seus meios de subsis- lamentos ou costumes, sob pretexto de que o presente Pacto
tência.  não os reconheça ou os reconheça em menor grau.
3.  Os Estados partes do presente pacto, inclusive aque-
les que tenham a responsabilidade de administrar territórios PARTE III
não-autônomos e territórios sob tutela, deverão promover
o exercício do direito à autodeterminação e respeitar esse Artigo 6º
direito, em conformidade com as disposições da Carta das 1.  Os Estados Partes do Presente Pacto reconhecem o
nações unidas. direito ao trabalho, que compreende o direito de toda pes-
soa de ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um tra-
PARTE II balho livremente escolhido ou aceito, e tomarão medidas
apropriadas para salvaguarda esse direito. 
Artigo 2º 2.  As medidas que cada Estado parte do presente pacto
1.  Cada Estados Partes do presente Pacto comprome- tomará a fim de assegurar o pleno exercício desse direito de-
tem-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio como verão incluir a orientação e a formação técnica e profissio-
pela assistência e cooperação internacionais, principal- nal, a elaboração de programas, normas e técnicas apropria-

33
DIREITOS HUMANOS

das para assegurar um desenvolvimento econômico, social e Artigo 9°


cultural constante e o pleno emprego produtivo em condi- Os Estados Partes do presente Pacto de toda pessoa à
ções que salvaguardem aos indivíduos o gozo das liberdades previdência social, inclusive ao seguro social.
políticas e econômicas fundamentais. 
Artigo 10
Artigo 7º  Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que: 
Os Estados Partes do presente pacto o reconhecem o di- 1.  Deve-se conceder à família, que é o elemento natu-
reito de toda pessoa de gozar de condições de trabalho ral e fundamental da sociedade, as mais amplas proteção e
justas e favoráveis, que assegurem especialmente:   assistência possíveis, especialmente para a sua constituição
a)  uma remuneração que proporcione, no mínimo, a e enquanto ela for responsável pela pela criação e educação
todos os trabalhadores:  dos filhos. O matrimônio deve ser contraído com livre con-
i)  um salário equitativo e uma remuneração igual por sentimento dos futuros cônjuges. 
um trabalho de igual valor, sem qualquer distinção; em par-
2.  Deve-se conceder proteção às mães por um período
ticular, as mulheres deverão ter a garantia de condições de
de tempo razoável antes e depois do parto. Durante esse
trabalho não inferiores às dos homens e receber a mesma
período, deve-se conceder às mães que trabalhem licença
remuneração que ele por trabalho igual; 
remunerada ou licença acompanhada de benefícios previ-
ii)  uma existência decente para eles e suas famílias, em
conformidade com as disposições do presente Pacto.  denciários adequados. 
b)  a segurança e a higiene no trabalho;  3.  Devem-se adotar medidas especiais de proteção e de
c)  igual oportunidade para todos de serem promo- assistência em prol de todas as crianças e adolescentes,
vidos, em seu trabalho, á categoria superior que lhes corres- sem distinção por motivo i de filiação ou qualquer outra con-
ponda, sem outras considerações que as de tempo de traba- dição. Devem-se proteger as crianças e adolescentes contra
lho e capacidade;  a exploração econômica e social. O emprego de crianças e
d)  o descanso, o lazer, a limitação razoável das horas adolescentes em trabalhos que lhes sejam nocivos à saúde
de trabalho e férias periódicas remuneradas, assim como ou que lhes façam correr perigo de vida, ou ainda que lhes
a remuneração dos feridos. venham a prejudicar o desenvolvimento normal, será punido
por lei. 
Artigo 8º Os Estados devem também estabelecer limites de idade
1.  Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se sob os quais fique proibido e punido por lei o emprego assa-
a garantir:  lariado da mão-de-obra infantil.
a)  o direito de toda pessoa de fundar com outras sindi-
catos e de filiar-se ao sindicato de sua escolha, sujeitando-se Artigo 11
unicamente aos organização interessada, com o objetivo de 1.  Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o
promover e de proteger seus interesses econômicos e sociais. direito de toda pessoa a nível de vida adequado para si
O exercício desse direito só poderá ser objeto das restrições próprio e sua família, inclusive à alimentação, vestimenta
previstas em lei e que sejam necessárias, em uma socieda- e moradia adequadas, assim como a uma melhoria contí-
de democrática, no interesse da segurança nacional ou da nua de suas condições de vida. Os Estados Partes tomarão
ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades medidas apropriadas para assegurar a consecução desse di-
alheias;  reito, reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial
b)  o direito dos sindicatos de formar federações ou con- da cooperação internacional fundada no livre consentimen-
federações nacionais e o direito desta de formar organiza- to. 
ções sindicais internacionais ou de filiar-se às mesmas; 
2.  Os Estados Partes do presente pacto, reconhecendo o
c)  o direito dos sindicatos de exercer livremente suas ati-
direito fundamental de toda pessoa de estar protegida con-
vidades, sem quaisquer limitações além daquelas previstas
tra a fome, adotarão, individualmente e mediante coopera-
em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade democrá-
ção internacional, as medidas, inclusive programas concre-
tica, no interesse da segurança nacional ou da ordem públi-
ca, ou para proteger os direitos e as liberdades das demais tos, que se façam necessárias para: 
pessoas;  a)  melhorar os métodos de produção, conservação e
d)  o direito de greve, exercido de conformidade com as distribuição de gêneros alimentícios pela plena utilização
leis de cada país.  dos conhecimentos técnicos e científicos, pela difusão de
2.  O presente artigo não impedirá que se submeta a res- princípios de educação nutricional e pelo aperfeiçoamento
trições legais o exercício desses direitos pelos membros das ou reforma dos regimes agrários, de maneira que se assegu-
forças armadas, da política ou da administração pública.  rem a exploração e a utilização mais eficazes dos recursos
3.  Nenhuma das disposições do presente artigo permiti- naturais; 
rá que os Estados Partes da Convenção de 1948 da Organiza- b)  assegurar uma repartição equitativa dos recursos ali-
ção Internacional do Trabalho, relativa à liberdade sindical mentícios mundiais em relação às necessidades, levando-se
e à proteção do direito sindical, venha a adotar medidas em conta os problemas tanto dos países importadores quan-
legislativas que restrinjam - ou a aplicar a lei de maneira to dos exportadores de gêneros alimentícios.
a restringir - as garantias previstas na referida Convenção.

34
DIREITOS HUMANOS

Artigo 12 4.  Nenhuma das disposições do presente artigo poderá


1.  Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o ser interpretada no sentido de restringir a liberdade de in-
direito de toda pessoa desfrutar o mais elevado nível possível divíduos e de entidades de criar e dirigir instituições de
de saúde física e mental.  ensino, desde que respeitados os princípios enunciados no
2.  As medidas que os Estados partes do presente Pac- § 1° do presente artigo e que essas instituições observem os
to deverão adotar com o fim de assegurar o pleno exercício padrões mínimos prescritos pelo Estado.
desse direito incluirão as medidas que se façam necessárias
para assegurar:  Artigo 14
a)  a diminuição da mortalidade infantil, bem como o Todo Estado Parte do presente Pacto que, no momento
desenvolvimento são das crianças;  em que se tornar Parte, ainda não tenha garantido em seu
b)  a melhoria de todos os aspectos de higiene do traba- próprio território ou territórios sob sua jurisdição a obrigato-
lho e do meio ambiente;  riedade e a gratuidade da educação primária, se compro-
c)  a prevenção e tratamento das doenças epidêmicas, mete a elaborar e a adotar, dentro de um prazo de dois
endêmicas, profissionais e outras, bem como a luta contra anos, um plano de ação detalhado destinado à implemen-
essas doenças;  tação progressiva, dentro de um número razoável de anos
d)  a criação de condições que assegurem a todos assis- estabelecidos no próprio plano, do princípio da educação pri-
tência médica e serviços médicos em caso de enfermidade. mária obrigatória e gratuita para todos.

Artigo 13 Artigo 15
1.  Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o 1.  Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem a
direito de toda pessoa à educação. Concordam em que a cada indivíduo o direito de: 
educação deverá visar o pleno desenvolvimento da perso- a)  participar da vida cultural; 
nalidade humana e do sentido de sua dignidade e for- b)  desfrutar o progresso científico e suas aplicações; 
talecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades c)  beneficiar-se da proteção dos interesses morais e
materiais decorrentes de toda a produção científica, literária
fundamentais. Concordam ainda em que a educação de-
ou artística de que seja autor. 
verá capacitar todas as pessoas a participar efetivamente de
2.  As medidas que os Estados Partes do presente  Pacto
uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância
deverão adotar com a finalidade de assegurar o pleno exer-
e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos
cício desse direito aquelas necessárias à conservação, ao de-
raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades das
senvolvimento e à difusão da ciência e da cultura. 
Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 
3.  Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se
2.  Os Estados partes do Presente Pacto reconhecem que,
a respeitar a liberdade indispensável à pesquisa científi-
com o objetivo de assegurar o pleno exercício desse direito:  ca e à atividade criadora. 
a)  a educação primária deverá ser obrigatória e aces- 4.  Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem os
sível gratuitamente a todos;  benefícios que derivam do fomento e do desenvolvimento
b)  a educação secundária em suas diferentes formas, da cooperação e das ralações internacionais no domínio da
inclusive a educação secundária técnica e profissional, deve- ciência e da cultura.
rá ser generalizada e tornar-se acessível a todos, por todos
os meios apropriados e, principalmente, pela implementa- PARTE IV
ção progressiva do ensino gratuito; 
c)  a educação de nível superior deverá igualmente tro- Artigo 16
nar-se acessível a todos, com base na capacidade de cada 1.  Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se
um, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela a apresentar, de acordo com as disposições da presente parte
implementação progressiva do ensino gratuito;  do Pacto, relatórios sobre as medidas que tenham adotado
d)  dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do pos- e sobre o progresso realizado com o objetivo de assegurar a
sível, a educação de base para aquelas que não receberam observância dos direitos reconhecidos no Pacto. 
educação primária ou não concluíram o ciclo completo de
educação primária;  2.  a) todos os relatórios deverão ser encaminhados ao
e)  será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimen- Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, o qual
to de uma rede escolar em todos os níveis de ensino, im- enviará cópias dos mesmos ao Conselho Econômico e social,
plementar-se um sistema de bolsas estudo e melhorar conti- para exame, de acordo com as disposições do presente Pacto; 
nuamente as condições materiais do corpo docente.  b)  o Secretário-Geral da Organização das Nações Uni-
3.  Os Estados Partes do presente Pacto comprome- das encaminhará também às agências especializadas có-
tem-se a respeitar a liberdade dos pais - e, quando for o pias dos relatórios - ou de todas as partes pertinentes dos
caso, dos tutores legais - de escolher para seus filhos escolas mesmos - enviados pelos Estados Partes do presente Pacto
distintas daquelas criadas pelas autoridades públicas, sem- que sejam igualmente membros das referidas agências espe-
pre que atendam aos padrões mínimos de ensino prescritos cializadas, na medida em que os relatórios, ou partes deles,
ou aprovados pelo Estado, e de fazer com que seus filhos guardem relação com questões que sejam da competência de
venham a receber educação religiosa ou moral que seja de tais agências, nos termos de seus respectivos instrumentos
acordo com suas próprias convicções.  constitutivos.

35
DIREITOS HUMANOS

Artigo 17 Artigo 22
1.  Os Estados Partes do presente Pacto apresentarão O Conselho Econômico e Social Poderá levar ao conheci-
seus relatórios por etapas, segundo um programa a ser es- mento de outros órgãos da Organização das Nações Unidas,
tabelecido pelo Conselho Econômico e social no prazo de um de seus órgãos subsidiários e das agências especializadas
ano a contar da data da entrada em vigor do presente Pacto, interessadas, às quais incumba a prestação técnica, quais-
após consulta aos Estados Partes e às agências especializa- quer questões suscitadas nos relatórios mencionados
das interessadas.  nesta parte do presente Pacto que se possam ajudar essas
2.  Os relatórios poderão indicar os fatores e as dificul- entidades a pronunciar-se, cada um adentro de sua esfera
dades que prejudiquem o pleno cumprimento das obriga- de competência, sobre a conveniência de medidas interna-
ções previstas no presente Pacto.  cionais que possam contribuir para a implementação efetiva
3.  Caso as informações pertinentes já tenham sido en- e progressiva do presente Pacto.
caminhadas à Organização das Nações Unidas ou a uma
agência especializada por um Estado Parte, não será ne- Artigo 23
cessário reproduzir as informações, sendo suficiente uma Os Estados Partes do presente Pacto concordam em que
referência precisa às mesmas. as medidas de ordem internacional destinadas a tornar
efetivos os direitos reconhecidos no referido Pacto, incluem,
Artigo 18 sobretudo, a conclusão de convenções, a adoção de reco-
Em virtude das responsabilidades que lhes são conferi- mendações, a prestação de assistência técnica e a orga-
das pela Carta das Nações Unidas no domínio dos direitos nização, em conjunto com os governos interessados, e no
humanos e das liberdades fundamentais, o Conselho Eco- intuito de efetuar consultas e realizar estudos, de reuniões
nômico e social poderá concluir acordos com as agências regionais e de reuniões técnicas.
especializadas sobre a apresentação, por estas, de relató-
rios relativos aos progressos realizados quanto ao cumpri- Artigo 24
mento das disposições do, presente Pacto que correspondam Nenhuma das disposições do presente Pacto poderá ser
interpretada em detrimento das disposições da Carta das
ao seu campo de atividades. Os relatórios poderão incluir
Nações Unidas ou das constituições das agências especia-
dados sobre as decisões e recomendações referentes ao
lizadas, as quais definem as responsabilidades respectivas
cumprimento das disposições do presente Pacto adotadas
dos diversos órgãos da Organização das Nações Unidas e
pelos órgãos competentes das agências especializadas.
agências especializadas relativamente às matérias tratadas
Artigo 19
no presente Pacto.
O Conselho Econômico e social poderá encaminhar
à Comissão de Direitos Humanos, para fins de estudo e de
Artigo 25
recomendação de ordem geral, ou para informação, caso
Nenhuma das disposições do presente Pacto poderá ser
julgue apropriado, os relatórios concernentes aos direitos interpretada em detrimento do direito inerente a todos
humanos que apresentarem os Estados nos termos dos ar- os povos de desfrutar e utilizar pela e livremente suas ri-
tigos 16 e 17 e aqueles concernentes aos direitos humanos quezas e seus recursos naturais.
que apresentarem as agências especializadas nos termos do
artigo 18. PARTE V
Artigo 20 Artigo 26
Os Estados Partes do presente Pacto e as agências es- 1.  O presente Pacto está aberto à assinatura de to-
pecializadas interessadas poderão encaminhar ao Conselho dos os Estados membros da Organização das Nações Unidas
Econômico e Social comentários sobre qualquer recomenda- ou membros de qualquer de suas agências especializadas,
ção de ordem geral feita em virtude do artigo 19 ou sobre de todo Estado Parte do Estatuto da Corte Internacional de
qualquer referência a uma recomendação de ordem geral Justice, bem como de qualquer outro Estado convidado pela
que venha a constar de relatório da Comissão de Direitos Assembléia-Geral das Nações Unidas a tornar-se Parte do
Humanos ou de qualquer documento mencionado no refe- Presente Pacto. 
rido relatório. 2.  O presente Pacto está sujeito à ratificação. Os ins-
trumentos de ratificação serão depositados junto ao Secretá-
Artigo 21 rio-Geral da Organização das Nações Unidas. 
O Conselho Econômico e social poderá apresentar oca- 3.  O presente Pacto está aberto à adesão de qualquer
sionalmente à Assembléia-Geral relatórios que contenham dos Estados mencionados no § 1º do presente artigo. 
recomendações de caráter geral bem como resumo das 4.  Far-se-à a adesão mediante depósito do instrumen-
informações recebidas dos Estados Partes do presente Pacto to de adesão junto ao Secretário-Geral da Organização das
e das agências especializadas sobre as medidas adotadas e Nações Unidas. 
o progresso realizado com a finalidade de assegurar a ob- 5.  O Secretário-Geral da Organização das Nações Uni-
servância geral dos direitos reconhecidos no presente Pacto. das informará todos os Estados que hajam assinado o pre-
sente Pacto ou a ele aderido, do depósito de cada instrumen-
to de ratificação ou de adesão.

36
DIREITOS HUMANOS

Artigo 27 Em fé quê, os abaixo-assinados, devidamente autori-


1.  O presente Pacto entrará em vigor três meses após a zados por seus respectivos Governos, assinaram o presente
data do depósito, junto ao Secretário-Geral da Organização Pacto, aberto à assinatura em Nova York, aos 19 dias do mês
das Nações Unidas, do trigésimo-quinto instrumento de ra- de dezembro do ano mil novecentos e sessenta e seis.
tificação ou adesão. 
2.  Para os Estados que vierem a ratificar o presente Pac-
to ou a ele aderir após o depósito do trigésimo-quinto ins-
2.2.6 CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS
trumento de ratificação ou adesão, o presente Pacto entrará
HUMANOS (PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA
em vigor três meses após a data do depósito, pelo Estado em
RICA);
questão, de seu instrumento de ratificação ou adesão.

Artigo 28
Aplicar-se-á as disposições do, presente Pacto, sem qual-
quer limitação ou exceção, a todas unidades constitutivas Convenção Americana de Direitos Humanos (“Pac-
dos Estados federativos. to de San José da Costa Rica”)

Artigo 29 DECRETO n° 678, de 6 de novembro de 1992.


1.  Qualquer Estado Parte do presente Pacto poderá Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Hu-
propor emendas e depositá-las junto ao Secretáio-Geral da manos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro
Organização das Nações Unidas. O Secretário-Geral comu- de 1969.
nicará todas as propostas de emendas aos Estados Partes do O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do
presente Pacto, pedindo-lhes que o notifiquem se desejam cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição
que se convoque uma conferência dos Estados Partes des- que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e
tinada a examinar as propostas e submetê-las a votação. Considerando que a Convenção Americana sobre Direi-
Se pelo menos um terço dos Estados Partes se manifestar a tos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), adotada
favor da referida convocação, o Secretário-Geral convocará no âmbito da Organização dos Estados Americanos, em São
a conferência sob os auspícios da Organização das Nações José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, entrou em
Unidas. Qualquer emenda adotada pela maioria dos Estados vigor internacional em 18 de julho de 1978, na forma do
Partes presentes e votantes na conferência será submetida à segundo parágrafo de seu art. 74;
aprovação da Assembléia-Geral das Nações Unidas.  Considerando que o Governo brasileiro depositou a car-
2.  Tais emendas entrarão em vigor quando aprovadas ta de adesão a essa convenção em 25 de setembro de 1992;
pela Assembléia-Geral das Nações Unidas e aceitas em con- Considerando que a Convenção Americana sobre Direi-
formidade com seus respectivos procedimentos constitucio- tos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) entrou em
nais, por uma maioria de dois terços dos Estados Partes no vigor, para o Brasil, em 25 de setembro de 1992 , de confor-
presente Pacto.  midade com o disposto no segundo parágrafo de seu art. 74;
3.  Ao entrarem em vigor, tais emendas serão obrigató- A primeira fase do chamado processo de elaboração
rias para os Estados Partes que as aceitaram, ao passo que dos tratados é a negociação. No Brasil, compete à União
os demais Estados Partes permanecem obrigados pelas dis- “manter relações com Estados estrangeiros e participar de
posições do presente Pacto e pelas emendas anteriores por organizações internacionais”, nos termos do artigo 21, I
eles aceitas. da Constituição Federal. O único agente nas relações in-
ternacionais com competência exclusiva é o Presidente da
Artigo 30 República, que manterá as relações com o respectivo Es-
Independentemente das notificações prevista no § 5° do tado estrangeiro e celebrará tratados, convenções e atos
artigo 26, o Secretário-Geral da Organização das Nações internacionais, que precisam apenas do referendo do Con-
Unidas comunicará a todos os Estados referidos no § 1° do gresso Nacional, conforme dispõe o artigo 84, VII e VIII da
referido artigo:  Constituição Federal. O momento seguinte é o da assina-
a)  as assinaturas, ratificações e adesões recebidas em tura do tratado por esta autoridade competente. Contudo,
conformidade com o artigo 26;  a exigibilidade dos tratados depende de atos posteriores.
b)  a data de entrada em vigor do pacto, nos termos do A colaboração entre os Poderes Executivo e Legislativo é
artigo 49, e a data de entrada em vigor de quaisquer emen- indispensável para a conclusão de um tratado no ordena-
das, nos termos do artigo 51. mento jurídico brasileiro, já que muito embora a compe-
tência seja exclusiva do Presidente da República, cabe ao
Artigo 31 Congresso Nacional, por meio de um decreto legislativo,
1.  O presente Pacto, cujos textos em chinês, espanhol, autorizar a ratificação do ato internacional. Nos termos do
francês, inglês e russo são igualmente autênticos, será de- artigo 49, I da Constituição Federal “é da competência ex-
positado nos arquivos da Organização das Nações Unidas.  clusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitivamente
2.  O Secretário-Geral da Organização das Nações Uni- sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acar-
das encaminhará cópias autênticas do presente Pacto a to- retem encargos ou compromissos gravosos ao patrimô-
dos os Estados mencionados no artigo 48.  nio nacional”. Quanto ao Pacto de São José da Costa Rica,

37
DIREITOS HUMANOS

este foi negociado e assinado pela autoridade do Executi- Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal
vo competente e posteriormente submetido à aprovação dos Direitos Humanos, só pode ser realizado o ideal do ser
do Congresso Nacional, a qual foi concedida pelo Decreto humano livre, isento do temor e da miséria, se forem cria-
Legislativo n° 27/92. Somente depois esta foi promulgada das condições que permitam a cada pessoa gozar dos seus
pelo Decreto n° 678/92 e ratificada pelo Brasil perante a direitos econômicos, sociais e culturais, bem como dos seus
Organização dos Estados Americanos. direitos civis e políticos; e
Considerando que a Terceira Conferência Interamerica-
DECRETA: na Extraordinária (Buenos Aires, 1967) aprovou a incorpo-
ração à própria Carta da Organização de normas mais am-
Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos plas sobre os direitos econômicos, sociais e educacionais e
(Pacto de São José da Costa Rica), celebrada em São José da resolveu que uma Convenção Interamericana sobre Direitos
Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa por cópia ao Humanos determinasse a estrutura, competência e processo
presente decreto, deverá ser cumprida tão inteiramente como dos órgãos encarregados dessa matéria;
nela se contém. Convieram no seguinte:
Pelo preâmbulo da Convenção denotam-se os antece-
Art. 2° Ao depositar a carta de adesão a esse ato inter- dentes históricos e as intenções envoltas em sua elabora-
nacional, em 25 de setembro de 1992, o Governo brasileiro ção. Basicamente, os direitos humanos já haviam sido reco-
fez a seguinte declaração interpretativa: “O Governo do Brasil nhecidos internacionalmente desde a criação da ONU e a
entende que os arts. 43 e 48, alínea d , não incluem o direito elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos
automático de visitas e inspeções in loco da Comissão Inte- de 1948 por todos os Estados-membros da organização.
ramericana de Direitos Humanos, as quais dependerão da Entretanto, ainda se buscava um caminho para a efetivação
anuência expressa do Estado”. deles, garantindo a dignidade inerente à pessoa humana
em qualquer localidade, independentemente de fatores
Art. 3° O presente decreto entra em vigor na data de sua externos. Neste sentido, optou-se por um processo de re-
publicação. gionalização dos direitos humanos, no qual as peculiarida-
des das grandes regiões globais poderiam ser levadas em
Brasília, 6 de novembro de 1992; 171° da Independência consideração, permitindo maior efetividade das normas de
e 104° da República. direitos humanos. Assim, os países da América se reuniram
para a formação de uma organização específica, a Organi-
Depois do processo de internacionalização dos direitos zação dos Estados Americanos, e para a assunção de um
humanos, iniciou-se um processo de regionalização deles, compromisso internacional continental pela preservação
ou seja, adaptação do conteúdo de cada uma das decla- dos direitos humanos.
rações de direitos até então proferidas a determinadas re-
giões do globo. PARTE I - DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS
PROTEGIDOS
ANEXO
CONVENÇÃO AMERICANA DE D A primeira parte da Convenção trata do aspecto ma-
IREITOS HUMANOS (1969) terial da proteção dos direitos humanos na América. No
(PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA) capítulo I, são estabelecidos os deveres dos Estados-partes,
que são os de respeito e adoção das disposições do pacto
PREÂMBULO no ordenamento jurídico interno; no capítulo II são enume-
rados os direitos civis e políticos, que são praticamente os
Os Estados Americanos signatários da presente Convenção, mesmos declarados no âmbito internacional, embora mais
Reafirmando seu propósito de consolidar neste Conti- amplos em relação a alguns direitos; no capítulo III ocorre
nente, dentro do quadro das instituições democráticas, um uma remissão à Carta da Organização dos Estados Ameri-
regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no canos no tocante aos direitos econômicos, sociais e cultu-
respeito dos direitos humanos essenciais; rais, de realização progressiva; no capítulo IV são tratados
Reconhecendo que os direitos essenciais da pessoa hu- os casos de suspensão de garantias, interpretação e apli-
mana não derivam do fato de ser ela nacional de determi- cação; no capítulo V abordam-se os deveres das pessoas.
nado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os
atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma CAPÍTULO I - ENUMERAÇÃO DOS DEVERES
proteção internacional, de natureza convencional, coadju-
vante ou complementar da que oferece o direito interno dos Artigo 1º Obrigação de respeitar os direitos
Estados americanos; 1. Os Estados-partes nesta Convenção comprometem-se
Considerando que esses princípios foram consagrados a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a ga-
na Carta da Organização dos Estados Americanos, na De- rantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja su-
claração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na jeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma, por motivo
Declaração Universal dos Direitos do Homem, e que foram de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de
reafirmados e desenvolvidos em outros instrumentos inter- qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição
nacionais, tanto de âmbito mundial como regional; econômica, nascimento ou qualquer outra condição social.

38
DIREITOS HUMANOS

2. Para efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser hu- jurídica. A personalidade é, portanto, o conceito básico da
mano. ordem jurídica, que a estende a todos os homens, consa-
Os Estados-membros da OEA assumem o compro- grando-a na legislação civil e nos direitos constitucionais
misso de respeitar os direitos humanos declarados neste de vida, liberdade e igualdade. É qualidade jurídica que se
documento para com todos os seres humanos que ingres- revela como preliminar de todos os direitos e deveres”87.
sem em território de sua jurisdição, não apenas nacionais.
Nota-se, ainda, que não há ser humano que possa não ser Artigo 4º Direito à vida
considerado como pessoa. 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida.
Artigo 2º Dever de adotar disposições de direito interno Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o
Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida
artigo 1° ainda não estiver garantido por disposições legis- arbitrariamente.
lativas ou de outra natureza, os Estados-partes comprome- Atenção: a Convenção assegura a proteção à vida des-
tem-se a adotar, de acordo com as suas normas constitucio- de a concepção! Não obstante, veda a morte por razões
nais e com as disposições desta Convenção, as medidas le- arbitrárias, por exemplo, pena de morte sem o devido pro-
gislativas ou de outra natureza que forem necessárias para cesso legal.
tornar efetivos tais direitos e liberdades. 2. Nos países que não houverem abolido a pena de mor-
O conteúdo da Convenção tem um caráter genérico, te, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em
de forma que meios específicos para assegurar os direitos cumprimento de sentença final de tribunal competente e em
nela previstos dentro do ordenamento interno são neces- conformidade com a lei que estabeleça tal pena, promul-
sários. Este artigo deixa claro o dever dos Estados-partes gada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se
de adaptar o ordenamento interno a este contexto. estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique
atualmente.
CAPÍTULO II - DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS No ideário de proteção à vida, impedindo a aplicação
de pena de morte, a Convenção adota um posicionamento
Em relação à primeira dimensão de direitos, aponta de não retrocesso. Basicamente, para os casos e nas loca-
Bobbio86: “[...] o desenvolvimento dos direitos do homem lidades em que a pena de morte foi abolida não é possível
passou por três fases: num primeiro momento, afirmaram- passar a aplicá-la.
-se os direitos de liberdade, isto é, todos aqueles direitos 3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados
que tendem a limitar o poder do Estado e a reservar para que a hajam abolido.
o indivíduo, ou para os grupos particulares, uma esfera de Os países que adotavam pena de morte antes da Con-
liberdade em relação ao Estado; num segundo momento,
venção não podem ampliar sua aplicação para outros cri-
foram propugnados os direitos políticos, os quais – conce-
mes, mas não são obrigados a aboli-la plenamente.
bendo a liberdade não apenas negativamente, como não
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada
impedimento, mas positivamente, como autonomia – ti-
a delitos políticos, nem a delitos comuns conexos com delitos
veram como consequência a participação cada vez mais
políticos.
ampla, generalizada e frequente dos membros de uma co-
A aplicação de pena de morte por crimes políticos sig-
munidade no poder político (ou liberdade no Estado) [...]”.
nificaria uma violação dos direitos políticos, que permitem
Estes dois momentos representam a formação da primeira
o livre exercício do pensamento perante o Estado. Sem isto,
dimensão de direitos humanos, correspondentes aos direi-
não há democracia. Assim, somente cabe pena de morte
tos civis e políticos, os quais são abordados neste capítu-
lo da Convenção. Em geral, tais direitos não exigem uma para certos delitos comuns mais graves aos quais já se apli-
postura ativa estatal, mas sim de abstenção, deixando de cava tal pena antes da Convenção naquele Estado-parte.
se ingerir em direitos humanos individuais e permitindo 5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que,
que as pessoas participem das decisões políticas. no momento da perpetração do delito, for menor de dezoito
anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em esta-
Artigo 3º Direito ao reconhecimento da personalidade do de gravidez.
jurídica Não é possível aplicar pena de morte a menores de 18
Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua per- anos (proteção à criança e ao adolescente) e nem às mu-
sonalidade jurídica. lheres grávidas (proteção da maternidade e da infância).
“O conceito de personalidade está umbilicalmente li- 6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar
gado ao de pessoa. Todo aquele que nasce com vida tor- anistia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser
na-se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade. Esta concedidos em todos os casos. Não se pode executar a pena
é, portanto, qualidade ou atributo do ser humano. Pode de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão
ser definida como aptidão genérica para adquirir direitos ante a autoridade competente.
e contrair obrigações ou deveres na ordem civil. É pres-
suposto para a inserção e atuação da pessoa na ordem 87 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil
86 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. brasileiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.
Tradução Celso Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

39
DIREITOS HUMANOS

Segundo Bitencourt88, anistia “é o esquecimento jurí- visando impedir que eles pratiquem crimes; preventiva es-
dico do ilícito e tem por objeto fatos (não pessoas) defini- pecial no sentido de impedir o autor do crime que volte
dos como crimes, de regra, políticos, militares ou eleitorais, a delinquir. Há, ainda, a função social ou ressocializadora,
excluindo-se, normalmente, os crimes comuns”; ao passo que visa permitir que o condenado seja devolvido à socie-
que indulto coletivo ou propriamente dito “destina-se a dade em condições de não mais cometer crimes e conviver
um grupo determinado de condenados e é delimitado pela pacificamente.
natureza do crime e quantidade da pena aplicada, além de
outros requisitos que o diploma legal pode estabelecer”; já Artigo 6º Proibição da escravidão e da servidão
a comutação da pena é o indulto parcial, não extinguindo a 1. Ninguém poderá ser submetido a escravidão ou ser-
punibilidade, mas diminuindo a pena a ser cumprida. vidão e tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfico de
Artigo 5º Direito à integridade pessoal mulheres são proibidos em todas as suas formas.
1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integri- 2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho
dade física, psíquica e moral. forçado ou obrigatório. Nos países em que se prescreve, para
São garantias inerentes ao direito à vida e ao direito à certos delitos, pena privativa de liberdade acompanhada de
saúde. trabalhos forçados, esta disposição não pode ser interpreta-
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas da no sentido de proibir o cumprimento da dita pena, impos-
ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa ta por um juiz ou tribunal competente. O trabalho forçado
privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido não deve afetar a dignidade, nem a capacidade física e inte-
à dignidade inerente ao ser humano. lectual do recluso.
Tortura é a imposição de dor física ou psicológica por Se todo ser humano é uma pessoa e, como tal, dotada
crueldade, intimidação, punição, para obtenção de uma de dignidade, aceitar a escravidão seria absurdo. Inerente a
confissão, informação ou simplesmente por prazer da pes- isto se encontra a vedação de trabalhos forçados: não sig-
soa que tortura, sendo assim uma espécie de trato cruel, nifica que não pode existir trabalho obrigatório, mas a ne-
desumano ou degradante. As penas também não podem gativa em cumpri-lo não pode impedir o cumprimento da
ser cruéis, desumanas ou degradantes, por exemplo, de pena, embora o desempenho do trabalho possa gerar sua
trabalhos forçados. O cumprimento da pena, ainda que em diminuição proporcional aos dias trabalhados. Havendo
si ela não seja cruel, a exemplo da privativa de liberdade,
trabalho obrigatório, este não pode influenciar a dignidade
deve se dar de maneira digna, não se aceitando a falta de
e nem a capacidade física ou intelectual do acusado, por
estrutura nos estabelecimentos prisionais.
exemplo, colocar um professor para limpar os banheiros
3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente.
da prisão e não para ministrar aulas aos detentos é uma
Pelo princípio da personalidade da pena o crime pode
violação.
ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu turno,
3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios
a única pessoa passível de sofrer a sanção. Seria flagrante
para os efeitos deste artigo:
a injustiça se fosse possível alguém responder pelos atos
a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de
ilícitos de outrem: caso contrário, a reação, ao invés de res-
tringir-se ao malfeitor, alcançaria inocentes. pessoa reclusa em cumprimento de sentença ou resolução
4. Os processados devem ficar separados dos condena- formal expedida pela autoridade judiciária competente. Tais
dos, salvo em circunstâncias excepcionais, e devem ser sub- trabalhos ou serviços devem ser executados sob a vigilância
metidos a tratamento adequado à sua condição de pessoas e controle das autoridades públicas, e os indivíduos que os
não condenadas. executarem não devem ser postos à disposição de particu-
Trata-se de um benefício inerente à presunção de ino- lares, companhias ou pessoas jurídicas de caráter privado;
cência: os que ainda são considerados inocentes perante a b) serviço militar e, nos países em que se admite a isen-
lei devem ficar separados dos culpados. ção por motivo de consciência, qualquer serviço nacional
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem que a lei estabelecer em lugar daquele;
ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especia- c) o serviço exigido em casos de perigo ou de calamidade
lizado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento. que ameacem a existência ou o bem-estar da comunidade;
Para proteger as crianças e os adolescentes tem-se um d) o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações
sistema específico para processo e condenação criminal, cívicas normais.
bem como local próprio de execução da pena. Evidencia-se que trabalho obrigatório não significa tra-
6. As penas privativas de liberdade devem ter por fina- balho forçado. Nestes casos, não há trabalho forçado, por
lidade essencial a reforma e a readaptação social dos con- mais que o indivíduo na verdade não queira desempenhá-
denados. -lo.
A pena tem função retributiva e preventiva (geral e es-
pecial). Retributiva por ser uma resposta ao mal causado Artigo 7º Direito à liberdade pessoal
pelo criminoso para a sociedade. Preventiva geral no sen- 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança
tido de intimidar todos os destinatários da norma penal, pessoais.
88 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de A liberdade aparece ligada à segurança porque a priva-
direito penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. ção da liberdade de um por parte do Estado visa, necessa-
riamente, a preservação da segurança dos demais.

40
DIREITOS HUMANOS

2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, sal- infiel, utilizando-se da tese de que os tratados de direitos
vo pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas humanos têm status supralegal, ou seja, encontram-se
Constituições políticas dos Estados-partes ou pelas leis de acima das leis ordinárias, porém abaixo da Constituição Fe-
acordo com elas promulgadas. deral. Neste sentido, a súmula vinculante n° 25 e Habeas
3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarce- Corpus n° 87.585-8/TO.
ramento arbitrários.
A legislação deve ser expressa a respeito dos casos em Artigo 8º Garantias judiciais
que se admite a privação da liberdade de locomoção. 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devi-
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das das garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou
razões da detenção e notificada, sem demora, da acusação Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
ou das acusações formuladas contra ela. anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzi- penal formulada contra ela, ou na determinação de seus di-
da, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade reitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de
autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem o direito qualquer outra natureza.
de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liber- Evidencia-se o direito ao contraditório, consistente
dade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberda- em poder ouvir e dar uma resposta a respeito dos fatos
de pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu controversos levados a juízo, em qualquer esfera. Também
comparecimento em juízo. traz o princípio do juiz natural e da vedação ao tribunal de
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a re- exceção, de forma que sempre será fixado o juízo compe-
correr a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este tente de maneira prévia por regras de organização judiciá-
decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou ria, avaliando-se ainda se aquele juízo atribuído é de fato
detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a detenção fo- imparcial (não possuindo inimizades ou amizades para com
rem ilegais. Nos Estados-partes cujas leis prevêem que toda as partes).
pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade
tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a 2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se
fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, presuma sua inocência, enquanto não for legalmente com-
tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso provada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem di-
reito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa.
O estado de inocência é inerente à pessoa humana, de
Os itens 4 a 6 tratam do devido processo legal (ampla
forma que somente pode ser considerada culpada após o
defesa e contraditório) garantidos àquele que é privado de
trânsito em julgado do processo criminal que apure de-
sua liberdade de locomoção. É preciso que a pessoa seja
vidamente o ilícito (princípio da presunção de inocência).
notificada a respeito dos motivos da acusação, seja levada
a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por
ao juiz que decidirá sobre a manutenção da prisão e possa
um tradutor ou intérprete, caso não compreenda ou não fale
interpor recurso contra tal decisão.
a língua do juízo ou tribunal;
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da
não limita os mandados de autoridade judiciária competen-
acusação formulada;
te expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessá-
alimentar. rios à preparação de sua defesa;
Uma das maiores polêmicas jurídicas brasileiras nos d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de
últimos anos envolve justamente este dispositivo da Con- ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-
venção: enquanto ela somente permite a prisão por dívida -se, livremente e em particular, com seu defensor;
em caso de obrigação alimentar, a Constituição brasileira e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor
a permite também para os depositários infiéis (aquele que proporcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a
fica vinculado ao cumprimento de uma obrigação mera- legislação interna, se o acusado não se defender ele próprio,
mente contratual, cuja função que lhe é confiada envolve nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;
a guarda de uma coisa específica, devendo conservá-la e f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes
restituí-la in natura quando for exigida pelo depositante no Tribunal e de obter o comparecimento, como testemu-
ou pagar o preço equivalente se a coisa não mais existir nhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz
na sua esfera de disponibilidade). Ocorre que os tratados sobre os fatos;
de direitos humanos, a partir da Emenda Constitucional n° g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma,
45/04, cumpridas as condições do artigo 5°, §3° são consi- nem a confessar-se culpada; e
derados como emendas constitucionais; mas a Convenção h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal su-
em estudo foi ratificada antes desta alteração legislativa, perior.
havendo posicionamentos diversos a respeito dela possuir Todas as garantias enumeradas fazem parte do de-
ou não o caráter constitucional. Depois de muitas discus- vido processo legal, formado pelo binômio contraditório
sões, o Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 05 de de- + ampla defesa. Pelo princípio do devido processo legal
zembro de 2008 que é ilegal a prisão civil do depositário “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem

41
DIREITOS HUMANOS

o devido processo legal. Corolário a esse princípio, asse- Artigo 10. Direito à indenização
guram-se aos litigantes, em processo judicial ou adminis- Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme a
trativo, e aos acusados em geral o contraditório e a am- lei, no caso de haver sido condenada em sentença transitada
pla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”89. São em julgado, por erro judiciário.
meios, por exemplo, a conferência de um tradutor e de um Uma pessoa injustamente condenada por um erro esta-
defensor, público ou privado, e ainda os direitos ao silêncio tal na apuração do ilícito tem direito a indenização.
e à não produção de provas contra si. São recursos as vias
de questionamento da decisão judicial perante outro juiz Artigo 11. Proteção da honra e da dignidade
ou tribunal superior. 1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação reconhecimento de sua dignidade.
de nenhuma natureza. 2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou
Assim, não é que a confissão não seja um meio de pro- abusivas em sua vida privada, em sua família, em seu domi-
va válido: é válida, mas não pode ser obtida à força, por cílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua
exemplo, mediante tortura ou ameaça. honra ou reputação.
4. O acusado absolvido por sentença transitada em jul- 3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais
gado não poderá ser submetido a novo processo pelos mes- ingerências ou tais ofensas.
mos fatos. Privacidade e personalidade são direitos que parecem
Não cabe revisão criminal pro societate - em favor da interligados, uma vez que a primeira é condição de expan-
sociedade. Não importa se o acusado foi indevidamente são da segunda. A honra pode ser objetiva, no que tange ao
absolvido, transitada em julgado a decisão não poderá ser modo como o mundo vê a pessoa, e subjetiva, referindo-se
processado novamente pelo mesmo fato. A revisão crimi- à maneira como ela se vê. Para o bom desenvolvimento da
nal só é possível se surgirem provas para absolver o réu personalidade é preciso garantir a privacidade, cabendo à lei
condenado criminalmente, nunca para condená-lo. proteger todos estes bens jurídicos.
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for
necessário para preservar os interesses da justiça. Artigo 12. Liberdade de consciência e de religião
O segredo de justiça é limitado a alguns casos porque, 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de re-
ligião. Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião ou
em regra, “o direito subjetivo das partes e advogados à
suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como
intimidade somente estará garantido se não prejudicar o
a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças,
interesse público à informação”90.
individual ou coletivamente, tanto em público como em privado.
Artigo 9º Princípio da legalidade e da retroatividade
2. Ninguém pode ser submetido a medidas restritivas que
Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões
possam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas
que, no momento em que foram cometidos, não constituam
crenças, ou de mudar de religião ou de crenças.
delito, de acordo com o direito aplicável. Tampouco poder- 3. A liberdade de manifestar a própria religião e as pró-
-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no momento prias crenças está sujeita apenas às limitações previstas em lei
da ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o delito, e que se façam necessárias para proteger a segurança, a or-
a lei estipular a imposição de pena mais leve, o deliquente dem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades
deverá dela beneficiar-se. das demais pessoas.
Há uma regra dominante em termos de conflito de leis 4. Os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a
penais no tempo que é a da irretroatividade da lei penal, que seus filhos e pupilos recebam a educação religiosa e moral
sem a qual não haveria nem segurança e nem liberdade que esteja de acordo com suas próprias convicções.
na sociedade, em flagrante desrespeito ao princípio da le- Uma das esferas da liberdade de pensamento é a liber-
galidade e da anterioridade da lei. Logo, o tempo rege a dade de crença religiosa. Cada qual tem direito a professar
ação - tempus regit actum - e uma lei somente abrange os a crença que quiser no Estado democrático, não podendo
atos praticados durante a sua vigência, não antes (retroati- ser tolhido deste direito. No entanto, há algumas limitações
vidade) nem depois (ultra-atividade). Contudo, o princípio lógicas ao exercício deste direito, notadamente quanto às co-
da irretroatividade vige somente quanto à lei mais severa, lisões com outros direitos humanos: por exemplo, não pode
de forma que a lei que for mais favorável ao réu irá retroa- ser aceita a prática de sacrifício humano nos cultos religiosos.
gir, no que se consolida o princípio da retroatividade da lei A religiosidade é um dos aspectos em que os pais in-
mais benéfica.91 fluenciam os filhos e, por isso, possuem direito de vê-los edu-
cados em consonância com tais crenças.
89 LENZA, Pedro. Curso de direito
constitucional esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, Artigo 13. Liberdade de pensamento e de expressão
2011. 1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e
90 LENZA, Pedro. Curso de direito de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, rece-
constitucional esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, ber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, sem
2011. considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou
91 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de
direito penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. sua escolha.

42
DIREITOS HUMANOS

“Na verdade, o ser humano, através dos processos in- Artigo 14. Direito de retificação ou resposta
ternos de reflexão, formula juízos de valor. Estes exteriori- 1. Toda pessoa, atingida por informações inexatas ou
zam nada mais do que a opinião de seu emitente. Assim, ofensivas emitidas em seu prejuízo por meios de difusão le-
a regra constitucional, ao consagrar a livre manifestação galmente regulamentados e que se dirijam ao público em
do pensamento, imprime a existência jurídica ao chamado geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua
direito de opinião”92. retificação ou resposta, nas condições que estabeleça a lei.
2. O exercício do direito previsto no inciso precedente 2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximi-
não pode estar sujeito à censura prévia, mas a responsabili- rão das outras responsabilidades legais em que se houver
dades ulteriores, que devem ser expressamente previstas em incorrido.
lei e que se façam necessárias para assegurar: 3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda
a) o respeito dos direitos e da reputação das demais pes- publicação ou empresa jornalística, cinematográfica, de rá-
soas; dio ou televisão, deve ter uma pessoa responsável, que não
b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, seja protegida por imunidades, nem goze de foro especial.
ou da saúde ou da moral públicas. A publicação de um conteúdo ofensivo dá ao ofendido
Silva93 explica que “o homem se torna cada vez mais direito de resposta (direito de em local idêntico, com mes-
livre na medida em que amplia seu domínio sobre a natu- mo destaque e circulação, expor seus argumento contrários
reza”, ou seja, com a evolução da sociedade, a tendência é à ofensa publicada), mas não exime o ofensor de responder
que o círculo que delimita a esfera da liberdade se amplie. por seu ato. Para garantir isto, nos meios de comunicação
Entretanto, o direito à liberdade nunca foi assegurado de é preciso de um responsável que não seja impedido de ser
forma irrestrita, assim como nunca se defendeu no cam- processado regularmente, ou seja, que não possua imuni-
po ético que alguém pudesse exercê-lo sem limites. Não dades ou goze de foro especial.
significa que é aceita a censura prévia, como era comum
nos regimes ditatoriais, mas que é preciso limitar a veicula- Artigo 15. Direito de reunião
ção de conteúdos que violem direitos humanos alheios ou É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas.
atentem contra a moral social. Por exemplo, se uma pessoa O exercício desse direito só pode estar sujeito às restrições
publicar um conteúdo ofensivo a outra cometerá violação previstas em lei e que se façam necessárias, em uma socie-
da honra, se divulgar conteúdos antissemitas praticará cri- dade democrática, ao interesse da segurança nacional, da
me de preconceito e discriminação. segurança ou ordem públicas, ou para proteger a saúde ou
3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais
pessoas.
e meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou
O direito de reunião evidencia a liberdade de expres-
particulares de papel de imprensa, de frequências radioelé-
são conferida aos indivíduos e aos grupos sociais. Grupos
tricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão
de pessoas podem se reunir para manifestar algum pen-
de informação, nem por quaisquer outros meios destinados
samento, respeitados os limites legais, por exemplo, não é
a obstar a comunicação e a circulação de ideias e opiniões.
autorizada a presença de armas, ou ainda, é preciso infor-
A propriedade dos meios de comunicação não pode
mar o poder público para que ele tome providências para
ser utilizada para manipulação do pensamento da popu-
garantir a segurança numa manifestação grupal principal-
lação.
mente se ela tiver grande repercussão (exemplificando, al-
4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura
gumas paradas gays chegam a reunir milhões de pessoas).
prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, Artigo 16. Liberdade de associação
para proteção moral da infância e da adolescência, sem pre- 1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se livre-
juízo do disposto no inciso 2. mente com fins ideológicos, religiosos, políticos, econômicos,
Antes de permitir que um espetáculo chegue ao pú- trabalhistas, sociais, culturais, desportivos ou de qualquer
blico é aceita a avaliação prévia do conteúdo, limitando o outra natureza.
acesso, por exemplo, a determinada faixa etária. 2. O exercício desse direito só pode estar sujeito às res-
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, trições previstas em lei e que se façam necessárias, em uma
bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religio- sociedade democrática, ao interesse da segurança nacional,
so que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade, da segurança e da ordem públicas, ou para proteger a saúde
ao crime ou à violência. ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais
Permitir o incentivo a este tipo de pensamento con- pessoas.
trário à paz mundial vai contra o que os sistemas global e 3. O presente artigo não impede a imposição de restri-
regional de proteção de direitos humanos buscam. ções legais, e mesmo a privação do exercício do direito de
associação, aos membros das forças armadas e da polícia.
92 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES Entidades associativas têm legitimidade para represen-
JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. tar seus filiados judicial ou extrajudicialmente, podendo
ed. São Paulo: Saraiva, 2006. defender, em nome próprio, direitos de seus associados.
93 SILVA, José Afonso da. Curso de direito Logo, caracteriza a união das forças individuais num grupo
constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. organizado e devidamente autorizado por lei. Ninguém é

43
DIREITOS HUMANOS

obrigado a ingressas ou permanecer em uma associação. Artigo 20. Direito à nacionalidade


Nenhuma associação pode defender interesses ilícitos (por 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.
exemplo, seria absurdo permitir que o PCC ou o Comando 2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em
Vermelho fossem consideradas associações, posto que reú- cujo território houver nascido, se não tiver direito a outra.
nem criminosos). Enfim, a lei pode limitar, com razoabilida- 3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua na-
de e proporcionalidade, a liberdade de associação. cionalidade, nem do direito de mudá-la.
Com estas regras, impede-se que uma pessoa não se
Artigo 17. Proteção da família vincule jurídica e politicamente a um Estado, integrando o
1. A família é o núcleo natural e fundamental da socie- povo e desfrutando de direitos e obrigações. No mínimo,
dade e deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado. terá a nacionalidade do território em que tiver nascido. A
2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de figura do apátrida é vedada. Em certos casos, será possível
contraírem casamento e de constituírem uma família, se ti- mudar de nacionalidade, não podendo a pessoa ser impe-
verem a idade e as condições para isso exigidas pelas leis dida.
internas, na medida em que não afetem estas o princípio da
não-discriminação estabelecido nesta Convenção. Artigo 21. Direito à propriedade privada
3. O casamento não pode ser celebrado sem o consenti- 1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo de seus bens. A
mento livre e pleno dos contraentes. lei pode subordinar esse uso e gozo ao interesse social.
4. Os Estados-partes devem adotar as medidas apro- O direito à propriedade é garantido, mas não de forma
priadas para assegurar a igualdade de direitos e a adequada ilimitada. Entre os limites possíveis destaca-se o do respeito
equivalência de responsabilidades dos cônjuges quanto ao à função social. Por exemplo, não poderá manter a proprie-
casamento, durante o mesmo e por ocasião de sua dissolu- dade aquele que não a torna produtiva.
ção. Em caso de dissolução, serão adotadas as disposições 2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo
que assegurem a proteção necessária aos filhos, com base mediante o pagamento de indenização justa, por motivo de
unicamente no interesse e conveniência dos mesmos. utilidade pública ou de interesse social e nos casos e na forma
estabelecidos pela lei.
5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos
O item se refere ao instituto da desapropriação, pelo
nascidos fora do casamento, como aos nascidos dentro do
qual o Estado toma a propriedade de um bem em prol do
casamento.
interesse coletivo, indenizando o proprietário.
A proteção da família é essencial porque ela é a base
3. Tanto a usura, como qualquer outra forma de explora-
da estrutura social. O tradicional modo de constituição da
ção do homem pelo homem, devem ser reprimidas pela lei.
família é o casamento, tanto que ele é protegido nesta Con-
Usura significa agiotagem, uma pessoa emprestar di-
venção e na DUDH, sendo o consentimento dos nubentes
nheiro por juros abusivos e utilizar meios controversos para
um requisito essencial. Durante o casamento, as obriga-
receber os juros e o valor emprestado de volta.
ções devem ser partilhadas e, em caso de dissolução, deve
ser priorizado o melhor interesse dos filhos para decidir a
Artigo 22. Direito de circulação e de residência
respeito de guarda, visitas e alimentos. No mais, os filhos
1. Toda pessoa que se encontre legalmente no território
nascidos dentro ou fora do casamento são equiparados.
de um Estado tem o direito de nele livremente circular e de
nele residir, em conformidade com as disposições legais.
2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qual-
Artigo 18. Direito ao nome
quer país, inclusive de seu próprio país.
Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de
3. O exercício dos direitos supracitados não pode ser res-
seus pais ou ao de um destes. A lei deve regular a forma de
tringido, senão em virtude de lei, na medida indispensável,
assegurar a todos esse direito, mediante nomes fictícios, se
em uma sociedade democrática, para prevenir infrações pe-
for necessário.
nais ou para proteger a segurança nacional, a segurança ou
O nome é um modo de individualização da pessoa na-
a ordem públicas, a moral ou a saúde públicas, ou os direitos
tural. “Integra a personalidade, individualiza a pessoa não
e liberdades das demais pessoas.
só durante a sua vida como também após a sua morte, e
4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso 1 pode
indica a sua procedência familiar”94.
também ser restringido pela lei, em zonas determinadas, por
motivo de interesse público.
Artigo 19. Direitos da criança
A liberdade de circulação dentro de seu país ou em um
Toda criança terá direito às medidas de proteção que a
território em que entre legalmente não é plena: pode ser
sua condição de menor requer, por parte da sua família, da
restringida em virtude de lei, bem como visando proteger o
sociedade e do Estado.
interesse público e a segurança social.
A criança é parte fundamental da sociedade, represen-
5. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do
tando seu futuro. Protegê-la significa garantir que no futuro
qual for nacional e nem ser privado do direito de nele entrar.
existirão adultos preparados para construir uma sociedade
6. O estrangeiro que se encontre legalmente no território
melhor. Para tanto são criados inúmeros mecanismos. No
de um Estado-parte na presente Convenção só poderá dele
Brasil, destaca-se o Estatuto da Criança e do Adolescente.
ser expulso em decorrência de decisão adotada em confor-
94 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil midade com a lei.
brasileiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.

44
DIREITOS HUMANOS

Nota-se que não se garante o livre ingresso em territó- Artigo 25. Proteção judicial
rio que não o do próprio país, para tanto é preciso respeitar 1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápi-
as regras do país para recebimento de estrangeiros - ape- do ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou
nas se veda a expulsão arbitrária do que já esteja lá. tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem
7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo seus direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição,
em território estrangeiro, em caso de perseguição por delitos pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal
políticos ou comuns conexos com delitos políticos, de acordo violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no
com a legislação de cada Estado e com as Convenções inter- exercício de suas funções oficiais.
nacionais. No Brasil, entre outros instrumentos, destacam-se o
O asilo político é instituição pela qual um Estado con- mandado de segurança, o habeas corpus e o habeas data.
fere abrigo e proteção a um indivíduo que tenha fugido 2. Os Estados-partes comprometem-se:
de um outro Estado no qual sofria perseguição por delitos a) a assegurar que a autoridade competente prevista
políticos ou conexos a ele. pelo sistema legal do Estado decida sobre os direitos de toda
8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou pessoa que interpuser tal recurso;
entregue a outro país, seja ou não de origem, onde seu direi- b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e
to à vida ou à liberdade pessoal esteja em risco de violação
c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades com-
em virtude de sua raça, nacionalidade, religião, condição so-
petentes, de toda decisão em que se tenha considerado pro-
cial ou de suas opiniões políticas.
cedente o recurso.
9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.
A extradição é permitida, dentro dos limites da legisla- Não basta prever tais garantias, é preciso conferir es-
ção de direitos humanos. trutura ao Judiciário para cumpri-las.

Artigo 23. Direitos políticos CAPÍTULO III - DIREITOS ECONÔMICOS,


1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos SOCIAIS E CULTURAIS
e oportunidades:
a) de participar da condução dos assuntos públicos, di- Artigo 26. Desenvolvimento progressivo
retamente ou por meio de representantes livremente eleitos; Os Estados-partes comprometem-se a adotar as provi-
b) de votar e ser eleito em eleições periódicas, autênti- dências, tanto no âmbito interno, como mediante coopera-
cas, realizadas por sufrágio universal e igualitário e por voto ção internacional, especialmente econômica e técnica, a fim
secreto, que garantam a livre expressão da vontade dos elei- de conseguir progressivamente a plena efetividade dos di-
tores; e reitos que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre
Participar das decisões políticas de maneira direta ou educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Orga-
indireta é um direito político de primeira dimensão. Exis- nização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo
tem modalidades de participação direta, consolidando a de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via
democracia direta, mas geralmente, como são muitos os legislativa ou por outros meios apropriados.
indivíduos que podem participar em sociedade, adota-se a
democracia indireta, na qual são eleitos representantes por CAPÍTULO IV - SUSPENSÃO DE GARANTIAS,
meio do voto. Ainda assim, são comuns alguns mecanis- INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO
mos de participação direta, como o plebiscito, o referendo
e a iniciativa popular, formando um modelo de democracia Artigo 27. Suspensão de garantias
misto. 1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra
c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às emergência que ameace a independência ou segurança
funções públicas de seu país. do Estado-parte, este poderá adotar as disposições que, na
2. A lei pode regular o exercício dos direitos e oportuni-
medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências
dades, a que se refere o inciso anterior, exclusivamente por
da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtu-
motivo de idade, nacionalidade, residência, idioma, instru-
de desta Convenção, desde que tais disposições não sejam
ção, capacidade civil ou mental, ou condenação, por juiz
competente, em processo penal. incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o
O acesso às funções públicas geralmente se dá por Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma
concurso público, não podendo utilizar critérios preconcei- fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou
tuosos para admissão. origem social.
A limitações de direitos humanos é permitida, mas não
Artigo 24. Igualdade perante a lei é possível que ela viole premissas ligadas à dignidade hu-
Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguin- mana, como raça, cor, sexo, idioma, religião. Por exemplo,
te, têm direito, sem discriminação alguma, à igual proteção na situação descrita no artigo seria aceitável autorizar tra-
da lei. balhos forçados compatíveis com a dignidade humana.
Trata-se do princípio da igualdade perante a lei. Assim, 2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos
a lei é válida para todas as pessoas, embora possa esta- direitos determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao re-
belecer regramentos específicos para certos grupos sociais conhecimento da personalidade jurídica), 4 (direito à vida),
vulneráveis. 5 (direito à integridade pessoal), 6 (proibição da escravidão

45
DIREITOS HUMANOS

e da servidão), 9 (princípio da legalidade e da retroativida- tivo contenha as disposições necessárias para que continuem
de), 12 (liberdade de consciência e religião), 17 (proteção da sendo efetivas no novo Estado, assim organizado, as normas
família), 18 (direito ao nome), 19 (direitos da criança), 20 da presente Convenção.
(direito à nacionalidade) e 23 (direitos políticos), nem das É possível que Estados-partes firmem entre si tratados
garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos. específicos, caso em que deverão se atentar para as normas
Nem precisaria especificar, pois tais direitos estão liga- da Convenção.
dos justamente a raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem
social. Entretanto, a especificação aumenta a segurança ju- Artigo 29. Normas de interpretação
rídica. Nenhuma disposição da presente Convenção pode ser
interpretada no sentido de:
3. Todo Estado-parte no presente Pacto que fizer uso do
a) permitir a qualquer dos Estados-partes, grupo ou in-
direito de suspensão deverá comunicar imediatamente aos divíduo, suprimir o gozo e o exercício dos direitos e liber-
outros Estados-partes na presente Convenção, por intermé- dades reconhecidos na Convenção ou limitá-los em maior
dio do Secretário Geral da Organização dos Estados Ame- medida do que a nela prevista;
ricanos, as disposições cuja aplicação haja suspendido, os b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou li-
motivos determinantes da suspensão e a data em que haja berdade que possam ser reconhecidos em virtude de leis de
dado por terminada tal suspensão. qualquer dos Estados-partes ou em virtude de Convenções
Assim, o direito de suspensão é, basicamente, a pos- em que seja parte um dos referidos Estados;
sibilidade do Estado-parte da Organização dos Estados c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes
Americanos, por alguma razão específica e discriminada ao ser humano ou que decorrem da forma democrática re-
em suas justificativas, de deixar de cumprir parte do con- presentativa de governo;
teúdo da Convenção Americana de Direitos Humanos, d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a De-
respeitados os limites consagrados internacionalmente no claração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e ou-
que tange à dignidade humana. tros atos internacionais da mesma natureza.
A Convenção não pode ser usada para contrariar os
Artigo 28. Cláusula federal preceitos que ela visa proteger, para permitir a violação de
1. Quando se tratar de um Estado-parte constituído direitos humanos fundamentais consagrados.
como Estado federal, o governo nacional do aludido Esta-
Artigo 30. Alcance das restrições
do-parte cumprirá todas as disposições da presente Con-
As restrições permitidas, de acordo com esta Conven-
venção, relacionadas com as matérias sobre as quais exerce ção, ao gozo e exercício dos direitos e liberdades nela re-
competência legislativa e judicial. conhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordo com
A forma federativa de Estado tem origem nos Estados leis que forem promulgadas por motivo de interesse geral e
Unidos, em 1787. No federalismo por agregação, os Esta- com o propósito para o qual houverem sido estabelecidas.
dos independentes ou soberanos abrem mão de parcela de No decorrer da Convenção são reconhecidos vários
sua soberania para agregar-se entre si e formarem um Es- casos em que é possível limitar direitos humanos, mas
tado Federativo, mas mantendo a autonomia entre si: foi o sempre é preciso ter em mente o interesse da coletividade
que ocorreu nos Estados Unidos. Mas também é possível o e a finalidade pelas quais foram aceitas.
federalismo por desagregação, quando a federação surge
a partir de um Estado unitário e resolve descentralizar-se, Artigo 31. Reconhecimento de outros direitos
a exemplo do Brasil desde 1891. Dentro da federação há Poderão ser incluídos, no regime de proteção desta Con-
repartição de competências entre a União e as unidades venção, outros direitos e liberdades que forem reconhecidos de
federativas. Como a União que firma os compromissos in- acordo com os processos estabelecidos nos artigo 69 e 70. As
ternacionais, nem sempre ela terá competência para fazer sentenças da corte trazem direitos e liberdades por ela reco-
cumprir todas as normas deles, que podem ser da alçada nhecidos e que deverão ser cumpridos pelo Estado-parte a
qual se referem.
das unidades federativas.
2. No tocante às disposições relativas às matérias que
CAPÍTULO V - DEVERES DAS PESSOAS
correspondem à competência das entidades componentes
da federação, o governo nacional deve tomar imediatamen- Artigo 32. Correlação entre deveres e direitos
te as medidas pertinentes, em conformidade com sua Cons- 1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comu-
tituição e com suas leis, a fim de que as autoridades compe- nidade e a humanidade.
tentes das referidas entidades possam adotar as disposições 2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos di-
cabíveis para o cumprimento desta Convenção. reitos dos demais, pela segurança de todos e pelas justas
Enfim, o máximo que é possível para a União é alertar exigências do bem comum, em uma sociedade democrática.
as suas unidades federativas para que elas tomem provi- Explica Canotilho95 quanto aos direitos fundamentais,
dências para o cumprimento das normas convencionadas mas o mesmo vale para os direitos humanos: “a ideia de
internacionalmente. deveres fundamentais é suscetível de ser entendida como
3. Quando dois ou mais Estados-partes decidirem cons- 95 CANOTILHO, José Joaquim Gomes.
tituir entre eles uma federação ou outro tipo de associação, Direito constitucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra:
diligenciarão no sentido de que o pacto comunitário respec- Almedina, 1998.

46
DIREITOS HUMANOS

o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como ao titular de Artigo 35. A Comissão representa todos os Membros da
um direito fundamental corresponde um dever por parte Organização dos Estados Americanos.
de um outro titular, poder-se-ia dizer que o particular está Logo, a representatividade dos Estados perante a Co-
vinculado aos direitos fundamentais como destinatário de missão não é direta. São eleitos 7 representantes que ma-
um dever fundamental. Neste sentido, um direito funda- nifestarão o ideário de toda a organização na matéria que
mental, enquanto protegido, pressuporia um dever corres- é de sua competência.
pondente”. Logo, a um direito humano conferido à pessoa
corresponde o dever de respeito ao arcabouço de direitos Artigo 36. 1. Os membros da Comissão serão eleitos a
conferidos às outras pessoas. título pessoal, pela Assembleia Geral da Organização, a par-
Considera-se um aspecto da característica da relativi- tir de uma lista de candidatos propostos pelos governos dos
dade dos direitos humanos, que não podem ser utilizados Estados-membros.
como um escudo para práticas ilícitas ou como argumento 2. Cada um dos referidos governos pode propor até três
para afastamento ou diminuição da responsabilidade por candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de
atos ilícitos. Assim, os direitos humanos não são ilimitados qualquer outro Estado-membro da Organização dos Estados
e encontram seus limites nos demais direitos igualmente Americanos. Quando for proposta uma lista de três candi-
consagrados como humanos. datos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado
diferente do proponente.
PARTE II - MEIOS DE PROTEÇÃO Cada Estado-membro pode apresentar uma lista com
três candidatos e, possuindo este número, um deles deverá
A segunda parte da Convenção analisa os meios de ser de outra nacionalidade.
proteção aos direitos humanos que deverão ser garantidos,
criando a Comissão Interamericana de Direitos Humanos Artigo 37. 1. Os membros da Comissão serão eleitos por
e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Assim, “a quatro anos e só poderão ser reeleitos um vez, porém o
Convenção Americana estabelece um aparato de monito- mandato de três dos membros designados na primeira elei-
ramento e implementação dos direitos que enuncia. Esse ção expirará ao cabo de dois anos. Logo depois da referida
aparato é integrado pela Comissão Interamericana de Di- eleição, serão determinados por sorteio, na Assembleia Ge-
reitos Humanos e pela Corte Interamericana”96. ral, os nomes desses três membros.
2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacio-
CAPÍTULO VI - ÓRGÃOS COMPETENTES
nal de um mesmo país.
O mandato é de 4 anos, aceita uma reeleição.
Artigo 33. São competentes para conhecer de assuntos
Não é permitido que dois nacionais do mesmo país
relacionados com o cumprimento dos compromissos assu-
componham a Comissão.
midos pelos Estados-partes nesta Convenção:
a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, do-
Artigo 38. As vagas que ocorrerem na Comissão, que
ravante denominada a Comissão; e
não se devam à expiração normal do mandato, serão preen-
b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, dora-
chidas pelo Conselho Permanente da Organização, de
vante denominada a Corte.
acordo com o que dispuser o Estatuto da Comissão.
Estes dois órgãos ficam, então, vinculados à OEA e são
os responsáveis pela implementação no plano do conti- O Conselho Permanente da Organização preencherá as
nente americano dos direitos humanos garantidos na Con- vagas que surjam por motivos diversos de fim de mandato,
venção. por exemplo, morte ou renúncia do membro da Comissão.

CAPÍTULO VII - COMISSÃO INTERAMERICANA Artigo 39. A Comissão elaborará seu estatuto e subme-
DE DIREITOS HUMANOS tê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu pró-
prio Regulamento.
SEÇÃO 1 - ORGANIZAÇÃO
O regulamento da Comissão discrimina como se dá a
Artigo 34. A Comissão Interamericana de Direitos Hu- sua atuação em detalhes. Por sua vez, o Estatuto da Co-
manos compor-se-á de sete membros, que deverão ser pes- missão foi aprovado pela resolução AG/RES. 447 (IX-O/79),
soas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em adotada pela Assembleia Geral da OEA, em seu Nono Pe-
matéria de direitos humanos. ríodo Ordinário de Sessões, realizado em La Paz, Bolívia, em
Alta autoridade moral e reconhecido saber em matéria outubro de 1979. Nota-se que o Regulamento não passa
de direitos humanos são conceitos subjetivos. Nota-se que pelo crivo da Assembleia, mas somente o Estatuto. isto é
não é exigida formação em Direito. coerente porque enquanto o Regulamento é mais formal,
tratando de questões ligadas ao modo de atuação da Co-
96 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o missão, o Estatuto é mais profundo, trazendo princípios e
direito constitucional internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, finalidades que regem a Comissão.
2008.

47
DIREITOS HUMANOS

Artigo 40. Os serviços da Secretaria da Comissão devem Artigo 43. Os Estados-partes obrigam-se a proporcionar
ser desempenhados pela unidade funcional especializada à Comissão as informações que esta lhes solicitar sobre a
que faz parte da Secretaria Geral da Organização e deve dis- maneira pela qual seu direito interno assegura a aplicação
por dos recursos necessários para cumprir as tarefas que lhe efetiva de quaisquer disposições desta Convenção.
forem confiadas pela Comissão. A Comissão precisa de tais informações para decidir os
Secretarias são órgãos administrativos e burocráticos casos que lhe sejam submetidos, por exemplo, para reco-
que mantém o funcionamento da instituição principal. Não mendar uma ampliação na proteção de forma que as viola-
há uma secretaria específica para a Comissão, que se utiliza ções não mais aconteçam.
da secretaria da OEA.
SEÇÃO 3 - COMPETÊNCIA
SEÇÃO 2 - FUNÇÕES
Artigo 44. Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou
Artigo 41. A Comissão tem a função principal de promover entidade não-governamental legalmente reconhecida em
a observância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício um ou mais Estados-membros da Organização, pode apre-
de seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições: sentar à Comissão petições que contenham denúncias ou
a) estimular a consciência dos direitos humanos nos po- queixas de violação desta Convenção por um Estado-parte.
vos da América; Atenção: qualquer pessoa ou grupo de pessoas pode
b) formular recomendações aos governos dos Estados- representar! Esta pergunta é frequente em concursos.
-membros, quando considerar conveniente, no sentido de que
adotem medidas progressivas em prol dos direitos humanos Artigo 45. 1. Todo Estado-parte pode, no momento do
no âmbito de suas leis internas e seus preceitos constitucionais, depósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção,
bem como disposições apropriadas para promover o devido ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, de-
respeito a esses direitos; clarar que reconhece a competência da Comissão para rece-
c) preparar estudos ou relatórios que considerar conve- ber e examinar as comunicações em que um Estado-parte
nientes para o desempenho de suas funções; alegue haver outro Estado-parte incorrido em violações dos
d) solicitar aos governos dos Estados-membros que lhe direitos humanos estabelecidos nesta Convenção.
proporcionem informações sobre as medidas que adotarem 2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só po-
em matéria de direitos humanos; dem ser admitidas e examinadas se forem apresentadas por
e) atender às consultas que, por meio da Secretaria Geral
um Estado-parte que haja feito uma declaração pela qual
da Organização dos Estados Americanos, lhe formularem os
reconheça a referida competência da Comissão. A Comissão
Estados-membros sobre questões relacionadas com os direitos
não admitirá nenhuma comunicação contra um Estado-par-
humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o asses-
te que não haja feito tal declaração.
soramento que lhes solicitarem;
3. As declarações sobre reconhecimento de competência
f) atuar com respeito às petições e outras comunicações,
podem ser feitas para que esta vigore por tempo indefinido,
no exercício de sua autoridade, de conformidade com o dispos-
por período determinado ou para casos específicos.
to nos artigos 44 a 51 desta Convenção; e
g) apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da 4. As declarações serão depositadas na Secretaria Geral
Organização dos Estados Americanos. da Organização dos Estados Americanos, a qual encami-
O artigo 41 permite uma compreensão clara a respeito nhará cópia das mesmas aos Estados-membros da referida
das funções da Comissão: fomentar a consciência do dever Organização.
de respeito aos direitos humanos, formular recomendações a Seja no momento de depósito da ratificação, seja pos-
Estados-membros que estejam violando a Convenção, além teriormente, o Estado-parte pode reconhecer a competên-
de atender a consultas que estes façam, podendo redigir es- cia da Comissão para receber e examinar comunicações
tudos e relatórios e solicitar informações para tanto. Também de um Estado-parte a respeito de outro Estado-parte que
deverá apresentar relatório anual sobre sua atuação. tenha cometido violações. Se não reconhecê-la, não pode-
rá apresentar comunicações neste sentido. No entanto, a
Artigo 42. Os Estados-partes devem submeter à Comissão declaração pode ser feita por tempo determinado ou para
cópia dos relatórios e estudos que, em seus respectivos campos, casos específicos, sendo depositada na Secretaria Geral da
submetem anualmente às Comissões Executivas do Conselho OEA. Somente no caso do artigo 45 que o Estado-parte
Interamericano Econômico e Social e do Conselho Interame- pode representar à Comissão.
ricano de Educação, Ciência e Cultura, a fim de que aquela
zele para que se promovam os direitos decorrentes das nor- Artigo 46. Para que uma petição ou comunicação apre-
mas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, sentada de acordo com os artigos 44 ou 45 seja admitida
constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, pela Comissão, será necessário:
reformada pelo Protocolo de Buenos Aires. a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos
Ambas Comissões em referência fazem parte da Orga- da jurisdição interna, de acordo com os princípios de Direito
nização dos Estados Americanos. A elas são submetidos re- Internacional geralmente reconhecidos;
latórios e estudos, os quais devem ser também enviados à b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses,
Comissão em estudo, para que ela desempenhe adequa- a partir da data em que o presumido prejudicado em seus
damente suas funções. direitos tenha sido notificado da decisão definitiva;

48
DIREITOS HUMANOS

c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja A comunicação ou petição passou pelo crivo do arti-
pendente de outro processo de solução internacional; e go 47 e será processada. O primeiro passo é a solicitação
d) que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, de informações do governo ao qual pertença a autoridade
a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura apontada como responsável pela violação, informando o
da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade conteúdo da comunicação ou petição, fixando-se prazo.
que submeter a petição. b) recebidas as informações, ou transcorrido o prazo fi-
2. As disposições das alíneas “a” e “b” do inciso 1 deste xado sem que sejam elas recebidas, verificará se existem ou
artigo não se aplicarão quando: subsistem os motivos da petição ou comunicação. No caso
a) não existir, na legislação interna do Estado de que se de não existirem ou não subsistirem, mandará arquivar o
tratar, o devido processo legal para a proteção do direito expediente;
ou direitos que se alegue tenham sido violados;
c) poderá também declarar a inadmissibilidade ou a im-
b) não se houver permitido ao presumido prejudicado
procedência da petição ou comunicação, com base em infor-
em seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição inter-
na, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e mação ou prova supervenientes;
c) houver demora injustificada na decisão sobre os Recebidas as informações ou transcorrido o prazo de-
mencionados recursos. cidirá se continuará o processamento da petição ou comu-
O artigo 46 é incidente em concursos, trazendo os re- nicação, arquivando-a, decidindo-a pela improcedência ou
quisitos para que a petição ou comunicação seja proces- dando o próximo passo para a continuidade.
sada pela Comissão: esgotamento de recursos no plano d) se o expediente não houver sido arquivado, e com o
interno, a partir do qual se conta um prazo de 6 meses, fim de comprovar os fatos, a Comissão procederá, com co-
que não esteja pendente outra busca de solução interna- nhecimento das partes, a um exame do assunto exposto na
cional e identificação da pessoa ou grupo de pessoas ou petição ou comunicação. Se for necessário e conveniente, a
entidade não-governamental (se for o caso). Dispensa-se Comissão procederá a uma investigação para cuja eficaz
o esgotamento de recursos e a consequente passagem de realização solicitará, e os Estados interessados lhe propor-
6 meses como prazo quando não existir normas de prote- cionarão, todas as facilidades necessárias;
ção ao devido processo legal no Estado, quando tiver sido Decidido continuar o expediente, produz-se provas.
impedido ou dificultado o acesso ao Judiciário no país ou e) poderá pedir aos Estados interessados qualquer infor-
quando houver demora sem motivos para o processamen- mação pertinente e receberá, se isso for solicitado, as exposi-
to interno. ções verbais ou escritas que apresentarem os interessados; e
Pode, ainda, pedir informações.
Artigo 47. A Comissão declarará inadmissível toda peti-
f) pôr-se-á à disposição das partes interessadas, a fim
ção ou comunicação apresentada de acordo com os artigos
44 ou 45 quando: de chegar a uma solução amistosa do assunto, fundada no
a) não preencher algum dos requisitos estabelecidos no respeito aos direitos reconhecidos nesta Convenção.
artigo 46; Deve, ainda, se colocar à disposição para uma solução
b) não expuser fatos que caracterizem violação dos amigável.
direitos garantidos por esta Convenção; 2. Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser rea-
c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, lizada uma investigação, mediante prévio consentimento do
for manifestamente infundada a petição ou comunicação Estado em cujo território se alegue houver sido cometida a
ou for evidente sua total improcedência; ou violação, tão somente com a apresentação de uma petição
d) for substancialmente reprodução de petição ou co- ou comunicação que reúna todos os requisitos formais de
municação anterior, já examinada pela Comissão ou por admissibilidade.
outro organismo internacional. É possível abreviar estas etapas no caso de uma de-
A Comissão fará um exame prévio da petição ou co- núncia grave, procedendo desde logo com a investigação,
municação para decidir se irá processá-la ou arquivá-la, no desde que com autorização do Estado.
qual são avaliados os requisitos acima.
Artigo 49. Se se houver chegado a uma solução amistosa
SEÇÃO 4 - PROCESSO de acordo com as disposições do inciso 1, “f”, do artigo 48,
a Comissão redigirá um relatório que será encaminhado ao
Artigo 48. 1. A Comissão, ao receber uma petição ou
peticionário e aos Estados-partes nesta Convenção e pos-
comunicação na qual se alegue a violação de qualquer dos
direitos consagrados nesta Convenção, procederá da seguin- teriormente transmitido, para sua publicação, ao Secretário
te maneira: Geral da Organização dos Estados Americanos. O referido
a) se reconhecer a admissibilidade da petição ou co- relatório conterá uma breve exposição dos fatos e da solu-
municação, solicitará informações ao Governo do Estado ao ção alcançada. Se qualquer das partes no caso o solicitar,
qual pertença a autoridade apontada como responsável pela ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informação possível.
violação alegada e transcreverá as partes pertinentes da pe- Obtida a conciliação será redigido um relatório, que
tição ou comunicação. As referidas informações devem ser será encaminhado a todos Estados-partes da Convenção
enviadas dentro de um prazo razoável, fixado pela Comissão e transmitido ao Secretário Geral da OEA, contendo uma
ao considerar as circunstâncias de cada caso; breve exposição dos fatos e da solução alcançada.

49
DIREITOS HUMANOS

Artigo 50. 1. Se não se chegar a uma solução, e dentro São 7 os membros, todos de nacionalidade diferente.
do prazo que for fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redi- Cada qual deve ser nacional de algum Estado-membro da
girá um relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. OEA, jurista de alta autoridade moral e reconhecida com-
Se o relatório não representar, no todo ou em parte, o acordo petência na área, reunindo condições para exercício das
unânime dos membros da Comissão, qualquer deles poderá mais elevadas funções judiciais conforme requisitos do país
agregar ao referido relatório seu voto em separado. Também pelo qual é indicado. por exemplo, no Brasil, seria a capaci-
se agregarão ao relatório as exposições verbais ou escritas dade de exercer um cargo de ministro perante os Tribunais
que houverem sido feitas pelos interessados em virtude do Superiores.
inciso 1, “e”, do artigo 48. Artigo 53. 1. Os juízes da Corte serão eleitos, em vota-
2. O relatório será encaminhado aos Estados interessa- ção secreta e pelo voto da maioria absoluta dos Estados-
dos, aos quais não será facultado publicá-lo. -partes na Convenção, na Assembleia Geral da Organização,
3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular a partir de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos
as proposições e recomendações que julgar adequadas. Estados.
Não obtida a conciliação, será expedido um relatório, Haverá uma eleição com voto secreto, exigido quórum
no qual se decidirá se houve de fato violação de direitos de maioria absoluta (mais da metade de todos Estados-
humanos e serão formuladas proposições e recomenda- -partes da Convenção).
ções, se o caso. A ele serão agregados eventuais votos dis-
2. Cada um dos Estados-partes pode propor até três
sidentes e exposições dos interessados.
candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de
qualquer outro Estado-membro da Organização dos Estados
Artigo 51. 1. Se no prazo de três meses, a partir da re-
Americanos. Quando se propuser um lista de três candida-
messa aos Estados interessados do relatório da Comissão,
o assunto não houver sido solucionado ou submetido à de- tos, pelo menos um deles deverá ser nacional do Estado di-
cisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado, ferente do proponente.
aceitando sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo Regra idêntica à da Comissão.
voto da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e
conclusões sobre a questão submetida à sua consideração. Artigo 54. 1. Os juízes da Corte serão eleitos por um pe-
Em três meses o Estado-parte no qual ocorreu a vio- ríodo de seis anos e só poderão ser reeleitos uma vez. O
lação deve apresentar uma solução ou levar o caso à Cor- mandato de três dos juízes designados na primeira eleição
te Interamericana de Direitos Humanos, ou se a Comissão expirará ao cabo de três anos. Imediatamente depois da re-
não levar o caso à Corte reconhecendo sua competência ferida eleição, determinar-se-ão por sorteio, na Assembleia
para o julgamento daquele caso, a Comissão poderá emitir Geral, os nomes desse três juízes.
sua opinião e conclusões sobre a questão, num julgamento Mandato de 6 anos, aceita uma reeleição.
conclusivo. 2. O juiz eleito para substituir outro, cujo mandato não
2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixa- haja expirado, completará o período deste.
rá um prazo dentro do qual o Estado deve tomar as medidas 3. Os juízes permanecerão em suas funções até o térmi-
que lhe competir para remediar a situação examinada. no dos seus mandatos. Entretanto, continuarão funcionando
3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo nos casos de que já houverem tomado conhecimento e que
voto da maioria absoluta dos seus membros, se o Estado to- se encontrem em fase de sentença e, para tais efeitos, não
mou ou não as medidas adequadas e se publica ou não seu serão substituídos pelos novos juízes eleitos.
relatório. Mesmo após o mandato de 6 anos, independente de
Este julgamento conclusivo irá trazer as providências reeleição, os juízes continuarão julgando os casos que esti-
esperadas do Estado-parte em certo prazo, após o qual se verem sendo processados perante eles.
decidirá se ele tomou ou não tais medidas assecuratórias
num relatório conclusivo. Artigo 55. 1. O juiz, que for nacional de algum dos Es-
tados-partes em caso submetido à Corte, conservará o seu
CAPÍTULO VIII - CORTE INTERAMERICANA
direito de conhecer do mesmo.
DE DIREITOS HUMANOS
2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de
nacionalidade de um dos Estados-partes, outro Estado-parte
SEÇÃO 1 - ORGANIZAÇÃO
no caso poderá designar uma pessoa de sua escolha para
Artigo 52 - 1. A Corte compor-se-á de sete juízes, na- integrar a Corte, na qualidade de juiz ad hoc.
cionais dos Estados-membros da Organização, eleitos a 3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso,
título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade mo- nenhum for da nacionalidade dos Estados-partes, cada um
ral, de reconhecida competência em matéria de direitos destes poderá designar um juiz ad hoc.
humanos, que reúnam as condições requeridas para o 4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no
exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo artigo 52.
com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado 5. Se vários Estados-partes na Convenção tiverem o
que os propuser como candidatos. mesmo interesse no caso, serão considerados como uma só
2. Não deve haver dois juízes da mesma nacionali- parte, para os fins das disposições anteriores. Em caso de
dade. dúvida, a Corte decidirá.

50
DIREITOS HUMANOS

Se algum juiz do caso foi nacional de um dos Estados- Artigo 62. 1. Todo Estado-parte pode, no momento do
-parte não precisará se afastar, mas o seu país não poderá depósito do seu instrumento de ratificação desta Conven-
indicar um juiz ad hoc. Quando não for nacional, ambos ção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior,
Estados-partes poderão indicar o juiz ad hoc, mas se forem declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direito e
muitos os Estados-partes com o mesmo interesse eles se- sem convenção especial, a competência da Corte em todos
rão considerados como uma única parte (indicando um só os casos relativos à interpretação ou aplicação desta Con-
juiz ad hoc). venção.
2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou
Artigo 56. O quorum para as deliberações da Corte é sob condição de reciprocidade, por prazo determinado ou
constituído por cinco juízes. para casos específicos. Deverá ser apresentada ao Secretário
Ao menos 5 juízes da Corte devem participar da deci- Geral da Organização, que encaminhará cópias da mesma
são. a outros Estados-membros da Organização e ao Secretário
da Corte.
Artigo 57. A Comissão comparecerá em todos os casos 3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer
perante a Corte. caso, relativo à interpretação e aplicação das disposições
Ainda que a Comissão não leve o caso à Corte, sempre desta Convenção, que lhe seja submetido, desde que os Es-
será ouvida. tados-partes no caso tenham reconhecido ou reconheçam
Artigo 58. 1. A Corte terá sua sede no lugar que for de- a referida competência, seja por declaração especial, como
terminado, na Assembleia Geral da Organização, pelos Esta- prevêem os incisos anteriores, seja por convenção especial.
dos-partes na Convenção, mas poderá realizar reuniões no No momento do depósito do instrumento de ratifi-
território de qualquer Estado-membro da Organização dos cação ou posteriormente o Estado-parte pode reconhe-
Estados Americanos em que considerar conveniente, pela cer como obrigatória a competência da Corte, de maneira
maioria dos seus membros e mediante prévia aquiescência condicionada ou incondicionada - é a chamada declara-
do Estado respectivo. Os Estados-partes na Convenção po- ção especial. Por convenção especial entende-se um tipo
dem, na Assembleia Geral, por dois terços dos seus votos, de tratado internacional com este fim. É preciso ao menos
mudar a sede da Corte. uma das duas para que a Corte possa apreciar o caso rela-
2. A Corte designará seu Secretário. tivo ao Estado-parte.
3. O Secretário residirá na sede da Corte e deverá assistir
às reuniões que ela realizar fora da mesma. Artigo 63. 1. Quando decidir que houve violação de um
A sede da Corte fica em São José, na Costa Rica. po- direito ou liberdade protegidos nesta Convenção, a Corte
dendo realizar reuniões em outras localidades. Somente o
determinará que se assegure ao prejudicado o gozo do seu
secretário obrigatoriamente residirá na sede.
direito ou liberdade violados. Determinará também, se isso
for procedente, que sejam reparadas as consequências da
Artigo 59. A Secretaria da Corte será por esta estabele-
medida ou situação que haja configurado a violação des-
cida e funcionará sob a direção do Secretário Geral da Or-
ses direitos, bem como o pagamento de indenização justa à
ganização em tudo o que não for incompatível com a in-
parte lesada.
dependência da Corte. Seus funcionários serão nomeados
O artigo resume neste inciso as providências que a
pelo Secretário Geral da Organização, em consulta com o
Secretário da Corte. Corte pode determinar, basicamente: que seja assegurado
Diferente da Comissão, a Corte possui uma secretaria o direito ou liberdade violado e, se o caso, que sejam re-
específica, a qual será dirigida pelo Secretário geral da OEA, paradas as consequências da violação, além do pagamento
que nomeará funcionários após consultado o Secretário da de indenização ao lesado.
Corte, respeitada sempre a independência da Corte. 2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quan-
Artigo 60. A Corte elaborará seu Estatuto e submetê-lo-á do se fizer necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a
à aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu Regimento. Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, poderá to-
Foi aprovado pela resolução AG/RES n° 448 (IX-O/79), mar as medidas provisórias que considerar pertinentes. Se
adotada pela Assembleia Geral da OEA, em seu Nono Pe- se tratar de assuntos que ainda não estiverem submetidos
ríodo Ordinário de Sessões, realizado em La Paz, Bolívia, ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da Comissão.
outubro de 1979. Mesmo antes do final do julgamento a Corte pode to-
mar providências provisórias. Também pode intervir quan-
SEÇÃO 2 - COMPETÊNCIA E FUNÇÕES do o caso ainda estiver na Comissão, desde que esta re-
queira.
Artigo 61. 1. Somente os Estados-partes e a Comissão
têm direito de submeter um caso à decisão da Corte. Artigo 64. 1. Os Estados-membros da Organização po-
2. Para que a Corte possa conhecer de qualquer caso, é derão consultar a Corte sobre a interpretação desta Con-
necessário que sejam esgotados os processos previstos nos venção ou de outros tratados concernentes à proteção dos
artigos 48 a 50. direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão
Atenção: diferente do que ocorre nas Comissões, não é consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no
qualquer pessoa que pode submeter um caso à Corte, mas capítulo X da Carta da Organização dos Estados America-
somente Estados-partes e a própria Comissão. nos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.

51
DIREITOS HUMANOS

Trata-se da competência consultiva da Corte. Afinal, a Artigo 69. A sentença da Corte deve ser notificada às
Corte não serve apenas para julgar litígios, mas para acon- partes no caso e transmitida aos Estados-partes na Conven-
selhar e direcionar o cumprimento das normas de direitos ção.
humanos, o que inclui fazer interpretações que esclareçam Assim é conferida publicidade à sentença não só quan-
dúvidas dos Estados-membros. Obs.: A Comissão também to aos envolvidos, mas quanto a todos Estados-partes, que
possui competência consultiva. ficarão cientes do posicionamento da Corte em relação
2. A Corte, a pedido de um Estado-membro da Orga- a certa matéria, podendo eventualmente corrigir alguma
nização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade postura interna.
entre qualquer de suas leis internas e os mencionados ins-
trumentos internacionais. CAPÍTULO IX - DISPOSIÇÕES COMUNS
Esta é uma das situações em que a Corte poderá emitir
parecer no exercício da competência consultiva. Artigo 70. 1. Os juízes da Corte e os membros da Comis-
são gozam, desde o momento da eleição e enquanto durar
Artigo 65. A Corte submeterá à consideração da Assem-
o seu mandato, das imunidades reconhecidas aos agentes
bleia Geral da Organização, em cada período ordinário de
diplomáticos pelo Direito Internacional. Durante o exercício
sessões, um relatório sobre as suas atividades no ano an-
dos seus cargos gozam, além disso, dos privilégios diplomá-
terior. De maneira especial, e com as recomendações perti-
nentes, indicará os casos em que um Estado não tenha dado ticos necessários para o desempenho de suas funções.
cumprimento a suas sentenças. 2. Não se poderá exigir responsabilidade em tempo al-
O artigo especifica quando e como a Corte deverá gum dos juízes da Corte, nem dos membros da Comissão,
apresentar relatório de suas atividades: ele é anual e infor- por votos e opiniões emitidos no exercício de suas funções.
ma as recomendações feitas e as medidas que tenham sido As imunidades diplomáticas no curso do mandato são
ou não cumpridas. conferidas aos juízes da Comissão e da Corte.
Estes juízes não poderão ser responsabilizados por
SEÇÃO 3 - PROCESSO seus votos e opiniões, o que influenciaria na independência
com a qual devem atuar em suas funções.
Artigo 66. 1. A sentença da Corte deve ser fundamen-
tada. Artigo 71. Os cargos de juiz da Corte ou de membro da
A Corte deve justificar sua decisão, referindo-se às pro- Comissão são incompatíveis com outras atividades que pos-
vas dos autos e às normas de direitos humanos vigentes. sam afetar sua independência ou imparcialidade, conforme
2. Se a sentença não expressar no todo ou em parte a o que for determinado nos respectivos Estatutos.
opinião unânime dos juízes, qualquer deles terá direito a que O juiz não pode assumir obrigações incompatíveis com
se agregue à sentença o seu voto dissidente ou individual. o cargo que exerce. Por exemplo, ministro de Estado num
Se o voto não for unânime, ou seja, o mesmo para to- dos Estados-partes da Convenção.
dos, o voto dissidente ou diverso será juntado à sentença
e não ignorado. Artigo 72. Os juízes da Corte e os membros da Comissão
perceberão honorários e despesas de viagem na forma e nas
Artigo 67. A sentença da Corte será definitiva e ina- condições que determinarem os seus Estatutos, levando em
pelável. Em caso de divergência sobre o sentido ou alcance conta a importância e independência de suas funções. Tais
da sentença, a Corte interpretá-la-á, a pedido de qualquer honorários e despesas de viagem serão fixados no orçamen-
das partes, desde que o pedido seja apresentado dentro de to-programa da Organização dos Estados Americanos, no
noventa dias a partir da data da notificação da sentença.
qual devem ser incluídas, além disso, as despesas da Corte e
A sentença é definitiva e inapelável, ou seja, não é pos-
da sua Secretaria. Para tais efeitos, a Corte elaborará o seu
sível interpor recurso para nenhum órgão, nem mesmo a
próprio projeto de orçamento e submetê-lo-á à aprovação
Assembleia Geral da OEA. No máximo, é possível pedir em
da Assembleia Geral, por intermédio da Secretaria Geral.
até 90 dias esclarecimentos sobre o seu conteúdo.
Artigo 68. 1. Os Estados-partes na Convenção compro- Esta última não poderá nele introduzir modificações.
metem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em
que forem partes. O artigo abrange o custeio dos juízes.
2. A parte da sentença que determinar indenização
compensatória poderá ser executada no país respectivo pelo Artigo 73. Somente por solicitação da Comissão ou da
processo interno vigente para a execução de sentenças con- Corte, conforme o caso, cabe à Assembleia Geral da Organi-
tra o Estado. zação resolver sobre as sanções aplicáveis aos membros da
A decisão da Corte deverá ser cumprida pelos Estados- Comissão ou aos juízes da Corte que incorrerem nos casos
-partes, sob pena de sanção internacional. previstos nos respectivos Estatutos. Para expedir uma reso-
Eventual indenização a ser paga pelo Estado-parte lução, será necessária maioria de dois terços dos votos dos
será processada conforme as normas de execução internas, Estados-membros da Organização, no caso dos membros da
logo, a sentença é título executivo. Comissão; e, além disso, de dois terços dos votos dos Esta-
dos-partes na Convenção, se se tratar dos juízes da Corte.

52
DIREITOS HUMANOS

Somente o órgão ao qual o juiz pertence - Comissão Artigo 77. 1. De acordo com a faculdade estabelecida
ou Corte - poderá requerer à Assembleia Geral a aplicação no artigo 31, qualquer Estado-parte e a Comissão podem
de sanção por violação do respectivo estatuto. Tal sanção submeter à consideração dos Estados-partes reunidos por
será aplicada mediante resolução, exigindo-se quorum de ocasião da Assembleia Geral projetos de Protocolos adicio-
2/3 (qualificado) dos Estados-membros para os juízes da nais a esta Convenção, com a finalidade de incluir progres-
Corte e dos Estados-partes da Convenção para os juízes da sivamente, no regime de proteção da mesma, outros direitos
Comissão. e liberdades.
2. Cada Protocolo deve estabelecer as modalidades de
PARTE III - DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS sua entrada em vigor e será aplicado somente entre os Esta-
dos-partes no mesmo.
CAPÍTULO X - ASSINATURA, RATIFICAÇÃO, RE- Os Estados-partes podem propor alterações ou com-
SERVA, EMENDA, PROTOCOLO E DENÚNCIA plementações à Convenção, seja ao seu texto, seja por
protocolos complementares, sendo necessária a adesão
Artigo 74. 1. Esta Convenção está aberta à assinatura e à dos demais Estados-partes.
ratificação de todos os Estados-membros da Organização dos
Estados Americanos.
Artigo 78. 1. Os Estados-partes poderão denunciar esta
2. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela
Convenção depois de expirado o prazo de cinco anos, a par-
efetuar-se-á mediante depósito de um instrumento de rati-
tir da data em vigor da mesma e mediante aviso prévio de
ficação ou adesão na Secretaria Geral da Organização dos
Estados Americanos. Esta Convenção entrará em vigor logo um ano, notificando o Secretário Geral da Organização, o
que onze Estados houverem depositado os seus respectivos qual deve informar as outras partes.
instrumentos de ratificação ou de adesão. Com referência a 2. Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado-
qualquer outro Estado que a ratificar ou que a ela aderir ul- -parte interessado das obrigações contidas nesta Conven-
teriormente, a Convenção entrará em vigor na data do depó- ção, no que diz respeito a qualquer ato que, podendo cons-
sito do seu instrumento de ratificação ou adesão. tituir violação dessas obrigações, houver sido cometido por
3. O Secretário Geral comunicará todos os Estados-mem- ele anteriormente à data na qual a denúncia produzir efeito.
bros da Organização sobre a entrada em vigor da Convenção. A denúncia é o ato unilateral pelo qual uma Parte Con-
A Convenção é um tratado internacional firmado no tratante manifesta a sua vontade de deixar de ser Parte no
âmbito da Organização dos Estados Americanos, somente tratado. Abrange somente os atos posteriores a ela, não
podendo ser assinado e ratificado por Estados que a com- os anteriores.
põem. Assinatura e ratificação são dois atos diferentes: a
assinatura é o ato pelo qual a autoridade competente assu- CAPÍTULO XI - DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
me o compromisso de cumprir o tratado internacional que
se segue à negociação; ratificação é a confirmação deste SEÇÃO 1 - COMISSÃO INTERAMERICANA
compromisso após o crivo do Poder Legislativo do Estado DE DIREITOS HUMANOS
mediante o depósito do instrumento na Secretaria Geral.
A convenção entrou em vigor em 18 de julho de 1978, Artigo 79. Ao entrar em vigor esta Convenção, o Se-
quando onze Estados já haviam depositado o instrumento cretário Geral pedirá por escrito a cada Estado-membro da
de adesão. Organização que apresente, dentro de um prazo de noventa
dias, seus candidatos a membro da Comissão Interamerica-
Artigo 75. Esta Convenção só pode ser objeto de reser- na de Direitos Humanos. O Secretário Geral preparará uma
vas em conformidade com as disposições da Convenção de lista por ordem alfabética dos candidatos apresentados e a
Viena sobre o Direito dos Tratados, assinada em 23 de maio
encaminhará aos Estados-membros da Organização, pelo
de 1969.
menos trinta dias antes da Assembleia Geral seguinte.
Artigo 80. A eleição dos membros da Comissão far-se-á
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados
dentre os candidatos que figurem na lista a que se refere o
(CVDT), adotada em 22 de maio de 1969, codificou o direi-
to internacional consuetudinário referente aos tratados. A artigo 79, por votação secreta da Assembleia Geral, e se-
Convenção entrou em vigor em 27 de janeiro de 1980. rão declarados eleitos os candidatos que obtiverem maior
número de votos e a maioria absoluta dos votos dos re-
Artigo 76. 1. Qualquer Estado-parte, diretamente, e a Co- presentantes dos Estados-membros. Se, para eleger todos
missão e a Corte, por intermédio do Secretário Geral, podem os membros da Comissão, for necessário realizar várias
submeter à Assembleia Geral, para o que julgarem conve- votações, serão eliminados sucessivamente, na forma que
niente, proposta de emendas a esta Convenção. for determinada pela Assembleia Geral, os candidatos que
2. Tais emendas entrarão em vigor para os Estados que receberem maior número de votos.
as ratificarem, na data em que houver sido depositado o
respectivo instrumento de ratificação, por dois terços dos Es-
tados-partes nesta Convenção. Quanto aos outros Estados-
-partes, entrarão em vigor na data em que eles depositarem
os seus respectivos instrumentos de ratificação.

53
DIREITOS HUMANOS

SEÇÃO 2 - CORTE INTERAMERICANA DE DECRETA:


DIREITOS HUMANOS Art. 1º A Convenção Contra a Tortura e Outros Tra-
tamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,
Artigo 81. Ao entrar em vigor esta Convenção, o Se- apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e
cretário Geral pedirá a cada Estado-parte que apresente, cumprida tão inteiramente como nela se contém.
dentro de um prazo de noventa dias, seus candidatos a juiz Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua pu-
da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O Secretário blicação.
Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos candida- Brasília, em 15 de fevereiro de 1991; 170º da Indepen-
tos apresentados e a encaminhará aos Estados-partes pelo dência e 103º da República.
menos trinta dias antes da Assembleia Geral seguinte. FERNANDO COLLOR
Francisco Rezek
Artigo 82. A eleição dos juízes da Corte far-se-á dentre Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de
os candidatos que figurem na lista a que se refere o artigo 18.2.1991
81, por votação secreta dos Estados-partes, na Assembleia CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATA-
Geral, e serão declarados eleitos os candidatos que obtive- MENTOS 
rem o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES
dos representantes dos Estados-partes. Se, para eleger todos Os Estados Partes da presente Convenção,
os juízes da Corte, for necessário realizar várias votações,
Considerando que, de acordo com os princípios pro-
serão eliminados sucessivamente, na forma que for deter-
clamados pela Carta das Nações Unidas, o reconhecimento
minada pelos Estados-partes, os candidatos que receberem
dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da
menor número de votos.
família humana é o fundamento da liberdade, da justiça e
Os artigos 79 a 82 trazem as regras para a formação
dos dois órgãos criados pela Convenção, a Comissão Inte- da paz no mundo,
ramericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana Reconhecendo que estes direitos emanam da dignida-
de Direitos Humanos. de inerente à pessoa humana,
Considerando a obrigação que incumbe os Estados, em
Adotada e aberta à assinatura na Conferência Espe- virtude da Carta, em particular do Artigo 55, de promover o
cializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San respeito universal e a observância dos direitos humanos e
José de Costa Rica, em 22.11.1969 - ratificada pelo Brasil em liberdades fundamentais.
25.09.1992. Levando em conta o Artigo 5º da Declaração Universal
e a observância dos Direitos do Homem e o Artigo 7º do
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, que de-
terminam que ninguém será sujeito à tortura ou a pena ou
2.2.7 CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E
tratamento cruel, desumano ou degradante,
OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS,
Levando também em conta a Declaração sobre a Pro-
DESUMANOS OU DEGRADANTES;
teção de Todas as Pessoas contra a Tortura e outros Tra-
tamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,
aprovada pela Assembléia Geral em 9 de dezembro de
DECRETO No 40, DE 15 DE FEVEREIRO DE 1991. 1975,
Desejosos de tornar mais eficaz a luta contra a tortura e
Promulga a Convenção Contra a Tortura e Outros Tra- outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degra-
tamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. dantes em todo o mundo,
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição Acordam o seguinte:
que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e
Considerando que a Assembleia Geral das Nações Uni-
PARTE I
das, em sua XL Sessão, realizada em Nova York, adotou a
ARTIGO 1º
10 de dezembro de 1984, a Convenção Contra a Tortura e
1. Para os fins da presente Convenção, o termo “tortu-
Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou De-
ra” designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos
gradantes;
Considerando que o Congresso Nacional aprovou a re- agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente
ferida Convenção por meio do Decreto Legislativo nº 4, de a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pes-
23 de maio de 1989; soa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que
Considerando que a Carta de Ratificação da Conven- ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja sus-
ção foi depositada em 28 de setembro de 1989; peita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa
Considerando que a Convenção entrou em vigor para ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em
o Brasil em 28 de outubro de 1989, na forma de seu artigo discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou
27, inciso 2; sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou
outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua

54
DIREITOS HUMANOS

instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. ARTIGO 6º


Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos 1. Todo Estado Parte em cujo território se encontre
que sejam consequência unicamente de sanções legítimas, uma pessoa suspeita de ter cometido qualquer dos crimes
ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram. mencionados no Artigo 4º, se considerar, após o exame das
2. O presente Artigo não será interpretado de maneira informações de que dispõe, que as circunstâncias o justifi-
a restringir qualquer instrumento internacional ou legisla- cam, procederá à detenção de tal pessoa ou tomará outras
ção nacional que contenha ou possa conter dispositivos de medidas legais para assegurar sua presença. A detenção e
alcance mais amplo. outras medidas legais serão tomadas de acordo com a lei
ARTIGO 2º do Estado mas vigorarão apenas pelo tempo necessário ao
1. Cada Estado Parte tomará medidas eficazes de cará- início do processo penal ou de extradição.
ter legislativo, administrativo, judicial ou de outra natureza, 2. O Estado em questão procederá imediatamente a
uma investigação preliminar dos fatos.
a fim de impedir a prática de atos de tortura em qualquer
3. Qualquer pessoa detida de acordo com o parágrafo
território sob sua jurisdição.
1 terá assegurada facilidades para comunicar-se imedia-
2. Em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias
tamente com o representante mais próximo do Estado de
excepcionais tais como ameaça ou estado de guerra, ins- que é nacional ou, se for apátrida, com o representante do
tabilidade política interna ou qualquer outra emergência Estado de residência habitual.
pública como justificação para tortura. 4. Quando o Estado, em virtude deste Artigo, houver
3. A ordem de um funcionário superior ou de uma au- detido uma pessoa, notificará imediatamente os Estados
toridade pública não poderá ser invocada como justifica- mencionados no Artigo 5º, parágrafo 1, sobre tal deten-
ção para a tortura. ção e sobre as circunstâncias que a justificam. O Estado
ARTIGO 3º que proceder à investigação preliminar a que se refere o
1. Nenhum Estado Parte procederá à expulsão, devolu- parágrafo 2 do presente Artigo comunicará sem demora
ção ou extradição de uma pessoa para outro Estado quan- seus resultados aos Estados antes mencionados e indicará
do houver razões substanciais para crer que a mesma corre se pretende exercer sua jurisdição.
perigo de ali ser submetida a tortura. ARTIGO 7º
2. A fim de determinar a existência de tais razões, as 1. O Estado Parte no território sob a jurisdição do qual
autoridades competentes levarão em conta todas as consi- o suposto autor de qualquer dos crimes mencionados no
derações pertinentes, inclusive, quando for o caso, a exis- Artigo 4º for encontrado, se não o extraditar, obrigar-se-á,
tência, no Estado em questão, de um quadro de violações nos casos contemplados no Artigo 5º, a submeter o caso as
suas autoridades competentes para o fim de ser o mesmo
sistemáticas, graves e maciças de direitos humanos.
processado.
ARTIGO 4º
2. As referidas autoridades tomarão sua decisão de
1. Cada Estado Parte assegurará que todos os atos de
acordo com as mesmas normas aplicáveis a qualquer cri-
tortura sejam considerados crimes segundo a sua legisla- me de natureza grave, conforme a legislação do referido
ção penal. O mesmo aplicar-se-á à tentativa de tortura e a Estado. Nos casos previstos no parágrafo 2 do Artigo 5º,
todo ato de qualquer pessoa que constitua cumplicidade as regras sobre prova para fins de processo e condenação
ou participação na tortura. não poderão de modo algum ser menos rigorosas do que
2. Cada Estado Parte punirá estes crimes com penas as que se aplicarem aos casos previstos no parágrafo 1 do
adequadas que levem em conta a sua gravidade. Artigo 5º.
ARTIGO 5º 3. Qualquer pessoa processada por qualquer dos cri-
1. Cada Estado Parte tomará as medidas necessárias mes previstos no Artigo 4º receberá garantias de tratamen-
para estabelecer sua jurisdição sobre os crimes previstos to justo em todas as fases do processo.
no Artigo 4º nos seguintes casos: ARTIGO 8°
a) quando os crimes tenham sido cometidos em qual- 1. Os crimes a que se refere o Artigo 4° serão consi-
quer território sob sua jurisdição ou a bordo de navio ou derados como extraditáveis em qualquer tratado de extra-
aeronave registrada no Estado em questão; dição existente entre os Estados Partes. Os Estados Partes
b) quando o suposto autor for nacional do Estado em obrigar-se-ão a incluir tais crimes como extraditáveis em
questão; todo tratado de extradição que vierem a concluir entre si.
2. Se um Estado Parte que condiciona a extradição à
c) quando a vítima for nacional do Estado em questão
existência de tratado de receber um pedido de extradição
e este o considerar apropriado.
por parte do outro Estado Parte com o qual não mantém
2. Cada Estado Parte tomará também as medidas ne-
tratado de extradição, poderá considerar a presente Con-
cessárias para estabelecer sua jurisdição sobre tais crimes venção com base legal para a extradição com respeito a
nos casos em que o suposto autor se encontre em qual- tais crimes. A extradição sujeitar-se-á ás outras condições
quer território sob sua jurisdição e o Estado não extradite estabelecidas pela lei do Estado que receber a solicitação.
de acordo com o Artigo 8º para qualquer dos Estados men- 3. Os Estado Partes que não condicionam a extradição
cionados no parágrafo 1 do presente Artigo. à existência de um tratado reconhecerão, entre si, tais cri-
3. Esta Convenção não exclui qualquer jurisdição crimi- mes como extraditáveis, dentro das condições estabeleci-
nal exercida de acordo com o direito interno. das pela lei do Estado que receber a solicitação.

55
DIREITOS HUMANOS

4. O crime será considerado, para o fim de extradição ARTIGO 15


entre os Estados Partes, como se tivesse ocorrido não ape- Cada Estado Parte assegurará que nenhuma declara-
nas no lugar em que ocorreu, mas também nos territórios ção que se demonstre ter sido prestada como resultado de
dos Estados chamados a estabelecerem sua jurisdição, de tortura possa ser invocada como prova em qualquer pro-
acordo com o parágrafo 1 do Artigo 5º. cesso, salvo contra uma pessoa acusada de tortura como
ARTIGO 9º prova de que a declaração foi prestada.
1. Os Estados Partes prestarão entre si a maior assistência ARTIGO 16
possível em relação aos procedimentos criminais instaurados 1.Cada Estado Parte se comprometerá a proibir em
relativamente a qualquer dos delitos mencionados no Artigo qualquer território sob sua jurisdição outros atos que cons-
4º, inclusive no que diz respeito ao fornecimento de todos os tituam tratamento ou penas cruéis, desumanos ou degra-
elementos de prova necessários para o processo que estejam dantes que não constituam tortura tal como definida no
em seu poder. Artigo 1, quando tais atos forem cometidos por funcionário
2. Os Estados Partes cumprirão as obrigações decorren- público ou outra pessoa no exercício de funções públicas,
tes do parágrafo 1 do presente Artigo conforme quaisquer ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou
tratados de assistência judiciária recíproca existentes entre si. aquiescência. Aplicar-se-ão, em particular, as obrigações
ARTIGO 10 mencionadas nos Artigos 10, 11, 12 e 13, com a substi-
1. Cada Estado Parte assegurará que o ensino e a infor- tuição das referências a tortura por referências a outras
mação sobre a proibição de tortura sejam plenamente incor- formas de tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou de-
porados no treinamento do pessoal civil ou militar encarre- gradantes.
gado da aplicação da lei, do pessoal médico, dos funcioná- 2. Os dispositivos da presente Convenção não serão
rios públicos e de quaisquer outras pessoas que possam par- interpretados de maneira a restringir os dispositivos de
ticipar da custódia, interrogatório ou tratamento de qualquer qualquer outro instrumento internacional ou lei nacional
pessoa submetida a qualquer forma de prisão, detenção ou que proíba os tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
reclusão. degradantes ou que se refira à extradição ou expulsão.
2. Cada Estado Parte incluirá a referida proibição nas PARTE II
normas ou instruções relativas aos deveres e funções de tais ARTIGO 17
pessoas. 1. Constituir-se-á um Comitê contra a Tortura (dora-
ARTIGO 11 vante denominado o “Comitê) que desempenhará as fun-
Cada Estado Parte manterá sistematicamente sob exame ções descritas adiante. O Comitê será composto por dez
as normas, instruções, métodos e práticas de interrogatório, peritos de elevada reputação moral e reconhecida compe-
bem como as disposições sobre a custódia e o tratamento tência em matéria de direitos humanos, os quais exercerão
das pessoas submetidas, em qualquer território sob sua ju- suas funções a título pessoal. Os peritos serão eleitos pelos
risdição, a qualquer forma de prisão, detenção ou reclusão, Estados Partes, levando em conta uma distribuição geo-
com vistas a evitar qualquer caso de tortura. gráfica equitativa e a utilidade da participação de algumas
ARTIGO 12 pessoas com experiência jurídica.
Cada Estado Parte assegurará suas autoridades compe- 2. Os membros do Comitê serão eleitos em votação se-
tentes procederão imediatamente a uma investigação impar- creta dentre uma lista de pessoas indicadas pelos Estados
cial sempre que houver motivos razoáveis para crer que um Partes. Cada Estado Parte pode indicar uma pessoa dentre
ato de tortura tenha sido cometido em qualquer território os seus nacionais. Os Estados Partes terão presente a uti-
sob sua jurisdição. lidade da indicação de pessoas que sejam também mem-
ARTIGO 13 bros do Comitê de Direitos Humanos estabelecido de acor-
Cada Estado Parte assegurará a qualquer pessoa que do com o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e
alegue ter sido submetida a tortura em qualquer território que estejam dispostas a servir no Comitê contra a Tortura.
sob sua jurisdição o direito de apresentar queixa perante as 3. Os membros do Comitê serão eleitos em reuniões
autoridades competentes do referido Estado, que procede- bienais dos Estados Partes convocadas pelo Secretário-Ge-
rão imediatamente e com imparcialidade ao exame do seu ral das Nações Unidas. Nestas reuniões, nas quais o quó-
caso. Serão tomadas medidas para assegurar a proteção do rum será estabelecido por dois terços dos Estados Partes,
queixoso e das testemunhas contra qualquer mau tratamen- serão eleitos membros do Comitê os candidatos que obti-
to ou intimação em consequência da queixa apresentada ou verem o maior número de votos e a maioria absoluta dos
de depoimento prestado. votos dos representantes dos Estados Partes presentes e
ARTIGO 14 votantes.
1. Cada Estado Parte assegurará, em seu sistema jurídico, 4. A primeira eleição se realizará no máximo seis meses
à vítima de um ato de tortura, o direito à reparação e a uma após a data de entrada em vigor da presente Convenção.
indenização justa e adequada, incluídos os meios necessários Ao menos quatro meses antes da data de cada eleição, o
para a mais completa reabilitação possível. Em caso de morte Secretário-Geral das Nações Unidas enviará uma carta aos
da vítima como resultado de um ato de tortura, seus depen- Estados Partes para convidá-los a apresentar suas candida-
dentes terão direito à indenização. turas no prazo de três meses. O Secretário-Geral organiza-
2. O disposto no presente Artigo não afetará qualquer rá uma lista por ordem alfabética de todos os candidatos
direito a indenização que a vítima ou outra pessoa possam assim designados, com indicações dos Estados Partes que
ter em decorrência das leis nacionais. os tiverem designado, e a comunicará aos Estados Partes.

56
DIREITOS HUMANOS

5. Os membros do Comitê serão eleitos para um man- 3. Cada relatório será examinado pelo Comitê, que po-
dato de quatro anos. Poderão, caso suas candidaturas se- derá fazer os comentários gerais que julgar oportunos e os
jam apresentadas novamente, ser reeleitos. No entanto, o transmitirá ao Estado Parte interessado. Este poderá, em
mandato de cinco dos membros eleitos na primeira elei- resposta ao Comitê, comunicar-lhe todas as observações
ção expirará ao final de dois anos; imediatamente após a que deseje formular.
primeira eleição, o presidente da reunião a que se refere 4. O Comitê poderá, a seu critério, tomar a decisão
o parágrafo 3 do presente Artigo indicará, por sorteio, os de incluir qualquer comentário que houver feito de acor-
nomes desses cinco membros. do com o que estipula o parágrafo 3 do presente Artigo,
6. Se um membro do Comitê vier a falecer, a demitir-se junto com as observações conexas recebidas do Estado
de suas funções ou, por outro motivo qualquer, não puder Parte interessado, em seu relatório anual que apresentará
cumprir com suas obrigações no Comitê, o Estado Parte em conformidade com o Artigo 24. Se assim o solicitar o
que apresentou sua candidatura indicará, entre seus nacio- Estado Parte interessado, o Comitê poderá também incluir
nais, outro perito para cumprir o restante de seu mandato, cópia do relatório apresentado em virtude do parágrafo 1
sendo que a referida indicação estará sujeita à aprovação do presente Artigo.
da maioria dos Estados Partes. Considerar-se-á como con- ARTIGO 20
cedida a referida aprovação, a menos que a metade ou 1. O Comitê, no caso de vir a receber informações fide-
mais dos Estados Partes venham a responder negativa- dignas que lhe pareçam indicar, de forma fundamentada,
mente dentro de um prazo de seis semanas, a contar do que a tortura é praticada sistematicamente no território
momento em que o Secretário-Geral das Nações Unidas de um Estado Parte, convidará o Estado Parte em questão
lhes houver comunicado a candidatura proposta. a cooperar no exame das informações e, nesse sentido, a
7. Correrão por conta dos Estados Partes as despesas transmitir ao Comitê as observações que julgar pertinentes.
em que vierem a incorrer os membros do Comitê no de- 2. Levando em consideração todas as observações que
sempenho de suas funções no referido órgão. houver apresentado o Estado Parte interessado, bem como
ARTIGO 18 quaisquer outras informações pertinentes de que dispuser,
1. O Comitê elegerá sua mesa para um período de dois o Comitê poderá, se lhe parecer justificável, designar um ou
anos. Os membros da mesa poderão ser reeleitos. vários de seus membros para que procedam a uma inves-
2. O próprio Comitê estabelecerá suas regras de pro- tigação confidencial e informem urgentemente o Comitê.
cedimento; estas, contudo, deverão conter, entre outras, as 3. No caso de realizar-se uma investigação nos termos
seguintes disposições:
do parágrafo 2 do presente Artigo, o Comitê procurará
a) o quórum será de seis membros;
obter a colaboração do Estado Parte interessado. Com a
b) as decisões do Comitê serão tomadas por maioria
concordância do Estado Parte em questão, a investigação
de votos dos membros presentes.
poderá incluir uma visita a seu território.
3. O Secretário-Geral das Nações Unidas colocará à
4. Depois de haver examinado as conclusões apresen-
disposição do Comitê o pessoal e os serviços necessários
tadas por um ou vários de seus membros, nos termos do
ao desempenho eficaz das funções que lhe são atribuídas
parágrafo 2 do presente Artigo, o Comitê as transmitirá ao
em virtude da presente Convenção.
Estado Parte interessado, junto com as observações ou su-
4. O Secretário-Geral das Nações Unidas convocará a
primeira reunião do Comitê. Após a primeira reunião, o Co- gestões que considerar pertinentes em vista da situação.
mitê deverá reunir-se em todas as ocasiões previstas em 5. Todos os trabalhos do Comitê a que se faz referência
suas regras de procedimento. nos parágrafos 1 ao 4 do presente Artigo serão confiden-
5. Os Estados Partes serão responsáveis pelos gastos ciais e, em todas as etapas dos referidos trabalhos, pro-
vinculados à realização das reuniões dos Estados Partes e curar-se-á obter a cooperação do Estado Parte. Quando
do Comitê, inclusive o reembolso de quaisquer gastos, tais estiverem concluídos os trabalhos relacionados com uma
como os de pessoal e de serviço, em que incorrerem as investigação realizada de acordo com o parágrafo 2, o Co-
Nações Unidas em conformidade com o parágrafo 3 do mitê poderá, após celebrar consultas com o Estado Parte
presente Artigo. interessado, tomar a decisão de incluir um resumo dos re-
ARTIGO 19 sultados da investigação em seu relatório anual, que apre-
1. Os Estados Partes submeterão ao Comitê, por inter- sentará em conformidade com o Artigo 24.
médio do Secretário-Geral das Nações Unidas, relatórios ARTIGO 21
sobre as medidas por eles adotadas no cumprimento das 1. Com base no presente Artigo, todo Estado Parte da
obrigações assumidas em virtude da presente Convenção, presente Convenção poderá declarar, a qualquer momento,
dentro de prazo de um ano, a contar do início da vigência que reconhece a competência dos Comitês para receber e
da presente Convenção no Estado Parte interessado. A par- examinar as comunicações em que um Estado Parte alegue
tir de então, os Estados Partes deverão apresentar relató- que outro Estado Parte não vem cumprindo as obrigações
rios suplementares a cada quatro anos sobre todas as no- que lhe impõe a Convenção. As referidas comunicações só
vas disposições que houverem adotado, bem como outros serão recebidas e examinadas nos termos do presente Ar-
relatórios que o Comitê vier a solicitar. tigo no caso de serem apresentadas por um Estado Parte
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas transmitirá os que houver feito uma declaração em que reconheça, com
relatórios a todos os Estados Partes. relação a si próprio, a competência do Comitê. O Comitê

57
DIREITOS HUMANOS

não receberá comunicação alguma relativa a um Estado ao relatório o texto das observações escritas e as atas das
Parte que não houver feito uma declaração dessa natureza. observações orais apresentadas pelos Estados Partes inte-
As comunicações recebidas em virtude do presente Artigo ressados.
estarão sujeitas ao procedimento que se segue: Para cada questão, o relatório será encaminhado aos
a) se um Estado Parte considerar que outro Esta- Estados Partes interessados.
do Parte não vem cumprindo as disposições da presente 2. As disposições do presente Artigo entrarão em vigor
Convenção poderá, mediante comunicação escrita, levar a a partir do momento em que cinco Estado Partes da presen-
questão ao conhecimento deste Estado Parte. Dentro de te Convenção houverem feito as declarações mencionadas
um prazo de três meses a contar da data do recebimento no parágrafo 1 deste Artigo. As referidas declarações serão
da comunicação, o Estado destinatário fornecerá ao Estado depositadas pelos Estados Partes junto ao Secretário-Geral
que enviou a comunicação explicações ou quaisquer outras das Nações Unidas, que enviará cópia das mesmas aos de-
declarações por escrito que esclareçam a questão, as quais mais Estados Partes. Toda declaração poderá ser retirada, a
deverão fazer referência, até onde seja possível e pertinen- qualquer momento, mediante notificação endereçada ao
te, aos procedimentos nacionais e aos recursos jurídicos Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem prejuízo do
adotados, em trâmite ou disponíveis sobre a questão; exame de quaisquer questões que constituam objeto de
b) se, dentro de um prazo de seis meses, a contar da uma comunicação já transmitida nos termos deste Artigo;
data do recebimento da comunicação original pelo Esta- em virtude do presente Artigo, não se receberá qualquer
do destinatário, a questão não estiver dirimida satisfato- nova comunicação de um Estado Parte uma vez que o Se-
riamente para ambos os Estado Partes interessados, tanto cretário-Geral haja recebido a notificação sobre a retirada
um como o outro terão o direito de submetê-la ao Comitê, da declaração, a menos que o Estado Parte interessado
mediante notificação endereçada ao Comitê ou ao outro haja feito uma nova declaração.
Estado interessado; ARTIGO 22
c) o Comitê tratará de todas as questões que se lhe 1. Todo Estado Parte da presente Convenção pode-
submetam em virtude do presente Artigo somente após rá, em virtude do presente Artigo, declarar, a qualquer
ter-se assegurado de que todos os recursos jurídicos in-
momento, que reconhece a competência do Comitê para
ternos disponíveis tenham sido utilizados e esgotados, em
receber e examinar as comunicações enviadas por pes-
consonância com os princípios do Direito internacional ge-
soas sob sua jurisdição, ou em nome delas, que aleguem
ralmente reconhecidos. Não se aplicará esta regra quando
ser vítimas de violação, por um Estado Parte, das disposi-
a aplicação dos mencionados recursos se prolongar injus-
tificadamente ou quando não for provável que a aplicação ções da Convenção. O Comitê não receberá comunicação
de tais recursos venha a melhorar realmente a situação da alguma relativa a um Estado Parte que não houver feito
pessoa que seja vítima de violação da presente Convenção; declaração dessa natureza.
d) o Comitê realizará reuniões confidenciais quando 2. O Comitê considerará inadmissível qualquer comu-
estiver examinando as comunicações previstas no presen- nicação recebida em conformidade com o presente Artigo
te Artigo; que seja anônima, ou que, a seu juízo, constitua abuso do
e) sem prejuízo das disposições da alínea c), o Comitê direito de apresentar as referidas comunicações, ou que
colocará seus bons ofícios à disposição dos Estados Partes seja incompatível com as disposições da presente Con-
interessados no intuito de se alcançar uma solução amisto- venção.
sa para a questão, baseada no respeito às obrigações esta- 3. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 2, o Comitê
belecidas na presente Convenção. Com vistas a atingir esse levará todas as comunicações apresentadas em conformi-
objetivo, o Comitê poderá constituir, se julgar conveniente, dade com este Artigo ao conhecimento do Estado Parte
uma comissão de conciliação ad hoc; da presente Convenção que houver feito uma declaração
f) em todas as questões que se lhe submetam em vir- nos termos do parágrafo 1 e sobre o qual se alegue ter
tude do presente Artigo, o Comitê poderá solicitar aos Es- violado qualquer disposição da Convenção. Dentro dos
tados Partes interessados, a que se faz referência na alínea seis meses seguintes, o Estado destinatário submeterá
b), que lhe forneçam quaisquer informações pertinentes; ao Comitê as explicações ou declarações por escrito que
g) os Estados Partes interessados, a que se faz refe- elucidem a questão e, se for o caso, indiquem o recurso
rência na alínea b), terão o direito de fazer-se represen- jurídico adotado pelo Estado em questão.
tar quando as questões forem examinadas no Comitê e de 4. O Comitê examinará as comunicações recebidas em
apresentar suas observações verbalmente e/ou por escrito; conformidade com o presente Artigo á luz de todas as
h) o Comitê, dentro dos doze meses seguintes à data informações a ele submetidas pela pessoa interessada, ou
de recebimento de notificação mencionada na b), apresen- em nome dela, e pelo Estado Parte interessado. 
tará relatório em que: 5. O Comitê não examinará comunicação alguma de
i) se houver sido alcançada uma solução nos termos da uma pessoa, nos termos do presente Artigo, sem que se
alínea e), o Comitê restringir-se-á, em seu relatório, a uma haja assegurado de que;
breve exposição dos fatos e da solução alcançada; a) a mesma questão não foi, nem está sendo, examina-
ii) se não houver sido alcançada solução alguma nos da perante uma outra instância internacional de investiga-
termos da alínea e), o Comitê restringir-se-á, em seu re- ção ou solução;
latório, a uma breve exposição dos fatos; serão anexados

58
DIREITOS HUMANOS

b) a pessoa em questão esgotou todos os recursos 2. Para os Estados que vierem a ratificar a presente
jurídicos internos disponíveis; não se aplicará esta regra Convenção ou a ela aderir após o depósito do vigésimo
quando a aplicação dos mencionados recursos se prolon- instrumento de ratificação ou adesão, a Convenção entrará
gar injustificadamente ou quando não for provável que a em vigor no trigésimo dia a contar da data em que o Es-
aplicação de tais recursos venha a melhorar realmente a tado em questão houver depositado seu instrumento de
situação da pessoa que seja vítima de violação da presente ratificação ou adesão.
Convenção. ARTIGO 28
6. O Comitê realizará reuniões confidenciais quando 1. Cada Estado Parte poderá declarar, por ocasião da
estiver examinado as comunicações previstas no presente assinatura ou da ratificação da presente Convenção ou da
Artigo. adesão a ela, que não reconhece a competência do Comitê
7.O Comitê comunicará seu parecer ao Estado Parte e quando ao disposto no Artigo 20.
à pessoa em questão. 2. Todo Estado Parte da presente Convenção que hou-
8. As disposições do presente Artigo entrarão em vi- ver formulado uma reserva em conformidade com o pará-
gor a partir do momento em que cinco Estado Partes da grafo 1 do presente Artigo poderá, a qualquer momento,
presente Convenção houverem feito as declarações men- tornar sem efeito essa reserva, mediante notificação ende-
cionadas no parágrafo 1 deste Artigo. As referidas decla- reçada ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
rações serão depositadas pelos Estados Partes junto ao ARTIGO 29
Secretário-Geral das Nações Unidas, que enviará cópia das 1. Todo Estado Parte da presente Convenção poderá
mesmas ao demais Estados Partes. Toda declaração pode- propor uma emenda e depositá-la junto ao Secretário-Ge-
rá ser retirada, a qualquer momento, mediante notificação ral das Nações Unidas. O Secretário-Geral comunicará a
endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem proposta de emenda aos Estados Partes, pedindo-lhes que
prejuízo do exame de quaisquer questões que constituam o notifiquem se desejam que se convoque uma conferência
objeto de uma comunicação já transmitida nos termos des- dos Estados Partes destinada a examinar a proposta e sub-
te Artigo; em virtude do presente Artigo, não se recebe- metê-la a votação. Se, dentro dos quatro meses seguintes
rá nova comunicação de uma pessoa, ou em nome dela, à data da referida comunicação, pelos menos um terço dos
uma vez que o Secretário-Geral haja recebido a notificação Estados Partes se manifestar a favor da referida convoca-
ção, o Secretário-Geral convocará uma conferência sob os
sobre retirada da declaração, a menos que o Estado Parte
auspícios das Nações Unidas. Toda emenda adotada pela
interessado haja feito uma nova declaração.
maioria dos Estados Partes presentes e votantes na confe-
ARTIGO 23
rência será submetida pelo Secretário-Geral à aceitação de
Os membros do Comitê e os membros das Comissões
todos os Estados Partes.
de Conciliação ad noc designados nos termos da alínea e)
2. Toda emenda adotada nos termos das disposições
do parágrafo 1 do Artigo 21 terão o direito às facilidades,
do parágrafo 1 do presente Artigo entrará em vigor assim
privilégios e imunidades que se concedem aos peritos no
que dois terços dos Estados Partes da presente Convenção
desempenho de missões para a Organização das Nações
houverem notificado o Secretário-Geral das Nações Unidas
Unidas, em conformidade com as seções pertinentes da de que a aceitaram em consonância com os procedimentos
Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Uni- previstos por suas respectivas constituições.
das. 3. Quando entrarem em vigor, as emendas serão obri-
ARTIGO 24 gatórias para todos os Estados Partes que as tenham acei-
O Comitê apresentará, em virtude da presente Conven- to, ao passo que os demais Estados Partes permanecem
ção, um relatório anula sobre suas atividades aos Estados obrigados pelas disposições da Convenção e pelas emen-
Partes e à Assembleia Geral das Nações Unidas. das anteriores por eles aceitas.
 PARTE III ARTIGO 30
ARTIGO 25 1. As controvérsias entre dois ou mais Estados Partes
1. A presente Convenção está aberta à assinatura de com relação à interpretação ou à aplicação da presente
todos os Estados. Convenção que não puderem ser dirimidas por meio da
2. A presente Convenção está sujeita a ratificação. Os negociação serão, a pedido de um deles, submetidas a ar-
instrumentos de ratificação serão depositados junto ao Se- bitragem. Se durante os seis meses seguintes à data do
cretário-Geral das Nações Unidas. pedido de arbitragem, as Partes não lograrem pôr-se de
ARTIGO 26 acordo quanto aos termos do compromisso de arbitragem,
A presente Convenção está aberta à Adesão de todos qualquer das Partes poderá submeter a controvérsia à Cor-
os Estados. Far-se-á a Adesão mediante depósito do Ins- te Internacional de Justiça, mediante solicitação feita em
trumento de Adesão junto ao Secretário-Geral das Nações conformidade com o Estatuto da Corte.
Unidas. 2. Cada Estado poderá, por ocasião da assinatura ou
ARTIGO 27 da ratificação da presente Convenção, declarar que não se
1. A presente Convenção entrará em vigor no trigési- considera obrigado pelo parágrafo 1 deste Artigo. Os de-
mo dia a contar da data em que o vigésimo instrumento mais Estados Partes não estarão obrigados pelo referido
de ratificação ou adesão houver sido depositado junto ao parágrafo com relação a qualquer Estado Parte que houver
Secretário-Geral das Nações Unidas. formulado reserva dessa natureza.

59
DIREITOS HUMANOS

3. Todo Estado Parte que houver formulado reserva nos Resume Mello98: “a Conferência das Nações Unidas so-
termos do parágrafo 2 do presente Artigo poderá retirá-la, a bre a criação de uma Corte Criminal Internacional, reunida
qualquer momento, mediante notificação endereçada ao Se- em Roma, em 1998, aprovou a referida Corte. Ela é perma-
cretário-Geral das Nações Unidas. nente. Tem sede em Haia. A corte tem personalidade inter-
ARTIGO 31 nacional. Ela julga: a) crime de genocídio; b) crime contra a
1. Todo Estado Parte poderá denunciar a presente Con- humanidade; c) crime de guerra; d) crime de agressão. Para
venção mediante notificação por escrito endereçada ao Se- o crime de genocídio usa a definição da convenção de 1948.
cretário-Geral das Nações Unidas. A denúncia produzirá efei- Como crimes contra a humanidade são citados: assassina-
tos um ano depois da data de recebimento da notificação to, escravidão, prisão violando as normas internacionais,
pelo Secretário-Geral. violação tortura, apartheid, escravidão sexual, prostituição
2. A referida denúncia não eximirá o Estado Parte das forçada, esterilização, etc. São crimes de guerra: homicídio
obrigações que lhe impõe a presente Convenção relativamen- internacional, destruição de bens não justificada pela guer-
te a qualquer ação ou omissão ocorrida antes da data em que ra, deportação, forçar um prisioneiro a servir nas forças ini-
a denúncia venha a produzir efeitos; a denúncia não acarreta- migas, etc.”
rá, tampouco, a suspensão do exame de quaisquer questões O preâmbulo do Estatuto de Roma remonta às mazelas
que o Comitê já começara a examinar antes da data em que a que o desrespeito aos direitos humanos consagrados oca-
denúncia veio a produzir efeitos. sionou, bem como aos princípios gerais que guiam as Na-
3. A partir da data em que vier a produzir efeitos a denún- ções Unidas e à obrigação de todos os Estados contribuírem
cia de um Estado Parte, o Comitê não dará início ao exame de para que os indivíduos que pratiquem atrocidades desta
qualquer nova questão referente ao Estado em apreço. natureza sejam punidos, razão pela qual se faria necessário
ARTIGO 32 um “Tribunal Penal Internacional com caráter permanente
O Secretário-Geral das Nações Unidas comunicará a to- e independente, no âmbito do sistema das Nações Unidas,
dos os Estados membros das Nações Unidas e a todos os Es- e com jurisdição sobre os crimes de maior gravidade que
tados que assinaram a presente Convenção ou a ela aderiram: afetem a comunidade internacional no seu conjunto”.
a) as assinaturas, ratificações e adesões recebidas em Embora o Tribunal tenha sido originalmente concebido
conformidade com os Artigos 25 e 26; no âmbito das Nações Unidas, trata-se de órgão indepen-
b) a data de entrada em vigor da Convenção, nos ter- dente dela, conforme se extrai do artigo 2º do Estatuto: “a
relação entre o Tribunal e as Nações Unidas será estabele-
mos do Artigo 27, e a data de entrada em vigor de quaisquer
cida através de um acordo a ser aprovado pela Assembleia
emendas, nos termos do Artigo 29;
dos Estados Partes no presente Estatuto e, em seguida, con-
c) as denúncias recebidas em conformidades com o Artigo 31.
cluído pelo Presidente do Tribunal em nome deste”. Tam-
ARTIGO 33
bém se trata de órgão permanente, ou seja, em constante
1. A presente Convenção, cujos textos em árabe, chinês,
funcionamento.
espanhol, francês, inglês e russo são igualmente autênticos,
Sedia-se na cidade de Haia, nos Países Baixos, podendo
será depositada junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
funcionar em outro local (artigo 3º, ETPI). Por isso mesmo,
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas encaminhará có- o Tribunal Penal Internacional também é denominado Corte
pias autenticadas da presente Convenção a todos os Estados. de Haia ou Tribunal de Haia.

b) Composição
2.2.8 ESTATUTO DE ROMA; Nos termos do artigo 34 do Estatuto, os órgãos do Tri-
bunal são: Presidência; uma Seção de Recursos, uma Seção
de Julgamento em Primeira Instância e uma Seção de Ins-
trução; Gabinete do Procurador; e Secretaria.
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi O Tribunal será composto por 18 juízes eleitos dentre
promulgado no Brasil pelo Decreto n. 4.388 de 25 de setem- pessoas de elevada idoneidade moral, imparcialidade e in-
bro de 2002. Ele contém 128 artigos e foi elaborado em Roma, tegridade, que reúnam os requisitos para o exercício das
no dia 17 de julho de 1998, regendo a competência e o fun- mais altas funções judiciais nos seus respectivos países,
cionamento deste Tribunal voltado às pessoas responsáveis bem como dotados de reconhecida competência em direi-
por crimes de maior gravidade com repercussão internacional to penal e processual penal ou direito internacional, além
(artigo 1º, ETPI). de fluência em ao menos duas línguas da Corte99 (artigo 36,
“Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja juris- ETPI). Eles se dividirão entre as seções do Tribunal (artigo
dição é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional com- 39, ETPI).
pete o processo e julgamento de violações contra indivíduos;
e, distintamente dos Tribunais de crimes de guerra da Iugos- 98 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso
lávia e de Ruanda, criados para analisarem crimes cometidos de Direito Internacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva,
durante esses conflitos, sua jurisdição não está restrita a 2000.
uma situação específica”97. 99 As línguas árabe, chinesa, espanhola,
97 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito francesa, inglesa e russa serão as línguas oficiais do Tribunal,
Internacional Público & Direito Internacional Privado. 3. ed. ao passo que o francês e o inglês são suas línguas de trabalho
São Paulo: Atlas, 2009. (artigo 50, ETPI).

60
DIREITOS HUMANOS

O Presidente, o Primeiro Vice-Presidente e o Segundo Quaisquer divergências entre dois ou mais Estados
Vice-Presidente serão eleitos por maioria absoluta dos juí- Partes relativos à interpretação ou à aplicação do presente
zes, para mandato de 3 anos, permitida uma recondução Estatuto, que não forem resolvidos pela via negocial num
(artigo 38, ETPI). período de três meses após o seu início, serão submetidos
Os juízes serão independentes, não deverão exercer à Assembleia dos Estados Partes. A Assembleia poderá pro-
funções incompatíveis que prejudiquem sua imparcialidade curar resolver a controvérsia ou fazer recomendações rela-
e respeitarão o dever de exclusividade perante o Tribunal tivas a outros métodos de resolução, incluindo a submissão
(artigo 40, ETPI). à Corte Internacional de Justiça. (artigo 119, ETPI).
Tanto um juiz pode pedir à Presidência que declare seu Qualquer Estado Parte poderá, por notificação escrita
impedimento para julgar quanto o Procurador ou a pessoa e dirigida ao Secretário-Geral da Organização das Nações
interessada podem solicitar a sua desqualificação. Notada- Unidas, retirar-se do Estatuto de Roma, mas a retirada pro-
mente, entende-se como de impedimento a situação em duzirá efeitos um ano após a data de recepção da notifi-
que o juiz participe de caso em que, por qualquer motivo, cação, salvo se esta indicar uma data ulterior, além do que
seja posta em dúvida a sua imparcialidade, a exemplo da obrigações anteriores não serão afetadas (artigo 127, ETPI).
intervenção anterior, a qualquer titulo, em um caso subme- Vale lembrar que os Estados-partes deverão, em con-
tido ao Tribunal ou em um procedimento criminal conexo formidade com o disposto no Estatuto, cooperar plena-
em nível nacional que envolva a pessoa objeto de inquérito mente com o Tribunal no inquérito e no procedimento
ou procedimento criminal. (artigo 41, ETPI). contra crimes de sua competência (artigo 86, ETPI).
O Procurador é um órgão autônomo do Tribunal, dota-
do de independência, ao qual cabe “recolher comunicações d) Competência
e qualquer outro tipo de informação, devidamente funda- Sua competência material está delimitada pelo artigo
mentada, sobre crimes da competência do Tribunal, a fim de 5º do Estatuto: crime de genocídio, crimes contra a huma-
os examinar e investigar e de exercer a ação penal junto ao nidade, crimes de guerra e crime de agressão.
Tribunal”.  O Procurador e os Procuradores-Adjuntos deve- O crime de genocídio100 é especificado no artigo 6º
rão ter elevada idoneidade moral, elevado nível de compe- como “qualquer um dos atos que a seguir se enumeram,
tência e vasta experiência prática em matéria de processo praticado com intenção de destruir, no todo ou em parte,
penal, bem como fluência em, pelo menos, uma das línguas um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal:
de trabalho do Tribunal. (artigo 42, ETPI). a) homicídio de membros do grupo; b) ofensas graves à
“Os juízes, o Procurador, os Procuradores-Adjuntos e integridade física ou mental de membros do grupo; c) su-
o Secretário gozarão, no exercício das suas funções ou em
jeição intencional do grupo a condições de vida com vista a
relação a estas, dos mesmos privilégios e imunidades reco-
provocar a sua destruição física, total ou parcial; d) imposi-
nhecidos aos chefes das missões diplomáticas, continuando
ção de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio
a usufruir de absoluta imunidade judicial relativamente às
do grupo; e) transferência, à força, de crianças do grupo
suas declarações, orais ou escritas, e aos atos que prati-
para outro grupo”.
quem no desempenho de funções oficiais após o termo do
Já os crimes contra a humanidade101 são descritos
respectivo mandato” (artigo 48, ETPI).
no artigo 7º enquanto “qualquer um dos atos seguintes,
c) Estados-partes
A Assembleia é composta pelos Estados-partes, sen- quando cometido no quadro de um ataque, generalizado
do que cada qual nela disporá de um representante, que ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo
poderá ser coadjuvado por substitutos e assessores, com conhecimento desse ataque: a) homicídio; b) extermínio;
direito a um voto, aplicando-se o quórum da maioria sim- c) escravidão; d) deportação ou transferência forçada de
ples (maioria entre os presentes e votantes). Sua mesa, de uma população; e) prisão ou outra forma de privação
caráter representativo, é composta por um presidente, dois 100 Embora sempre tenha existido através
vice-presidentes e 18 membros por ela eleitos por períodos da história, a verdadeira revolta contra o genocídio ocorreu
de três anos. (artigo 112, ETPI). São funções da Assembleia: com a matança e as perseguições praticadas pelo regime
examinar e adotar se adequado, as recomendações da Co- nazista alemão. No Tribunal de Nuremberg entendia-se que
missão Preparatória; promover junto à Presidência, ao Pro-
o crime de genocídio somente poderia ser praticado em tempo
curador e ao Secretário as linhas orientadoras gerais no que
de guerra. Tal concepção mudou com a Convenção para a
toca à administração do Tribunal; examinar os relatórios e
prevenção e repressão do crime de genocídio, aprovada pela
as atividades da Mesa; examinar e aprovar o orçamento do
Tribunal; decidir, se for caso disso, alterar o número de juí- Assembleia Geral da ONU em 1948, a qual enumera no artigo
zes; examinar qualquer questão relativa à não cooperação 2º os crimes de genocídio, destacando-se também os artigos 1º,
dos Estados; desempenhar qualquer outra função compa- 3º e 4º. (MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito
tível com as disposições do Estatuto ou do Regulamento Internacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000).
Processual. (artigo 112, ETPI). 101 “Os crimes contra a humanidade se
A Assembleia se reunirá na sede do Tribunal ou na sede distinguem do genocídio no tocante à intenção. O elemento
da Organização das Nações Unidas uma vez por ano e, intencional, no sentido de querer destruir determinado grupo
sempre que as circunstâncias o exigirem, em sessão extraor- social, não existe nos crimes contra a humanidade”. (MELLO,
dinária, que poderá ser convocada pela Mesa, de ofício ou Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Internacional
a pedido de um terço dos Estados Partes (artigo 112, ETPI). Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000).

61
DIREITOS HUMANOS

da liberdade física grave, em violação das normas das leis e costumes aplicáveis aos conflitos armados que
fundamentais de direito internacional; f) tortura; g) não têm caráter internacional, no quadro do direito inter-
agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, nacional, incluindo conflitos armados que tenham lugar no
gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer território de um Estado, quando exista um conflito armado
outra forma de violência no campo sexual de gravidade prolongado entre as autoridades governamentais e grupos
comparável; h) perseguição de um grupo ou coletividade armados, mas excluídas as já mencionadas situações de
que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, distúrbio e de tensão internas, organizados ou entre estes
nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero (sexo grupos, notadamente, ataques à população civil em geral
masculino ou feminino) ou em função de outros critérios ou civis que não participem diretamente nas hostilidades,
universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito ataques a aparato material ou pessoal com emblemas dis-
internacional, relacionados com qualquer ato referido tintivos das Convenções de Genebra ou vinculados a mis-
neste parágrafo ou com qualquer crime da competência são de manutenção da paz ou de assistência humanitária,
do Tribunal; i) desaparecimento forçado de pessoas; j) ataque a edifícios consagrados ao culto religioso, à educa-
crime de apartheid; k) outros atos desumanos de caráter ção, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos
semelhante, que causem intencionalmente grande históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes
sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a e feridos, sempre que não se trate de objetivos milita-
saúde física ou mental”. res, saque de um aglomerado populacional ou um local,
Nesta linha, são descritos no artigo 8º os crimes de atos de violência sexual que constitua uma violação grave
guerra102, principalmente: a) violações graves às Conven- do artigo 3o comum às quatro Convenções de Genebra,
ções de Genebra de 12 de agosto de 1949 dirigidas contra recrutamento ou alistamento de menores de 15 anos nas
pessoas ou bens por elas protegidos, por exemplo, homi- forças armadas nacionais ou em grupos, deslocamento de
cídio doloso, tortura, destruição e apropriação de bens em população civil salvo por questão de segurança ou razão
larga escala, privação intencional do direito a julgamen- militar imperiosa, traição, submeter pessoa sob domínio de
to justo e imparcial, deportação ou transferência ilegais, uma parte beligerante a experiências médicas e científicas
privação ilegal da liberdade, tomada de reféns; b) outras não motivadas por tratamento médico, destruir ou
violações graves e leis e costumes aplicáveis em conflitos apreender bens do inimigo salvo necessidades da guerra.
armados internacionais abrangidos pelo direito internacio- Já a competência temporal está descrita no artigo 11
nal, notadamente, ataques à população e a bens civis, ata- do Estatuto, qual seja, em relação aos crimes cometidos
ques ao aparato de pessoal e bens de missões da paz ou após a entrada em vigor do documento para os membros
humanitárias, morte ou ferimento a combatente que tenha originários, e depois da entrada em vigor relativamente ao
se rendido, submeter pessoa sob domínio de uma parte Estado que o tenha assinado no caso de ingresso posterior.
beligerante a experiências médicas e científicas não moti-
vadas por tratamento médico, abolir ou suspender juridi- e) Normativa aplicável e princípios penais
camente os direitos e ações dos nacionais da parte inimiga, O artigo 21 do Estatuto aborda a normativa aplicável
utilizar armamentos que causem sofrimento desnecessário em seus julgamentos: “1. O Tribunal aplicará: a) Em primei-
ao ferido, prática de certos crimes contra a humanidade ro lugar, o presente Estatuto, os Elementos Constitutivos do
que sejam também violação à Convenção de Genebra; c) Crime e o Regulamento Processual; b) Em segundo lugar,
em caso de conflito armado que não seja de índole inter- se for o caso, os tratados e os princípios e normas de direi-
nacional, excluídas situações de distúrbio e de tensão in- to internacional aplicáveis, incluindo os princípios estabele-
ternas, tais como motins, atos de violência esporádicos ou cidos no direito internacional dos conflitos armados; c) Na
isolados ou outros de caráter semelhante, as violações do falta destes, os princípios gerais do direito que o Tribunal
artigo 3º comum às Convenções de Genebra, notadamente retire do direito interno dos diferentes sistemas jurídicos
os seguintes atos contra quem não participe diretamente existentes, incluindo, se for o caso, o direito interno dos
das hostilidades - atos de violência contra a vida e contra Estados que exerceriam normalmente a sua jurisdição rela-
a pessoa, ultrajes à dignidade da pessoa, tomada de reféns tivamente ao crime, sempre que esses princípios não sejam
e condenações proferidas e execuções efetuadas sem jul- incompatíveis com o presente Estatuto, com o direito inter-
gamento prévio por um tribunal regularmente constituído nacional, nem com as normas e padrões internacionalmen-
e que ofereça todas as garantias judiciais geralmente reco- te reconhecidos. 2. O Tribunal poderá aplicar princípios e
nhecidas como indispensáveis; d) outras violações graves normas de direito tal como já tenham sido por si interpre-
tados em decisões anteriores. 3. A aplicação e interpreta-
102 O conceito de punir os responsáveis pelos ção do direito, nos termos do presente artigo, deverá ser
crimes de guerra não é novo na história, mas sempre foi um compatível com os direitos humanos internacionalmente
fenômeno esporádico e que somente se consubstanciou no reconhecidos, sem discriminação alguma baseada em mo-
século XX. Em suma, a questão foi trazida à baila com o fim da tivos tais como o gênero, a idade, a raça, a cor, a religião
2ª Guerra Mundial, notadamente ao ser instituído o Tribunal ou o credo, a opinião política ou outra, a origem nacional,
de Nurembergue. (MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso étnica ou social, a situação econômica, o nascimento ou
de Direito Internacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, outra condição”.
2000).

62
DIREITOS HUMANOS

Notadamente, o capítulo III do Estatuto especifica os não tenha capacidade para o fazer; que a pessoa já tenha
princípios penais que deverão ser aplicados nos julgamen- sido julgada pela conduta a que se refere a denúncia, salvo
tos, quais sejam: nullum crimen sine leqe, nulla poena sine se o processo tenha tido por objetivo subtrair o acusado
lege, não retroatividade ratione personae, responsabilidade à sua responsabilidade criminal por crimes da competência
criminal individual, exclusão da jurisdição relativamente a do Tribunal, ou não tenha sido conduzido de forma inde-
menores de 18 anos, irrelevância da qualidade oficial, res- pendente ou imparcial, em conformidade com as garantias
ponsabilidade dos chefes militares e outros superiores hie- de um processo justo e equitativo (ne bis in idem - artigo
rárquicos, imprescritibilidade, elementos psicológicos, cau- 20); e o caso não for suficientemente grave para justificar
sas de exclusão da responsabilidade criminal, erro de fato a ulterior intervenção do Tribunal. Tais critérios impeditivos
ou erro de direito, decisão hierárquica. poderão ser alegados pelo acusado, pelo Estado-membro
que detenha jurisdição sobre o caso e pelo Estado-mem-
f) Processo e julgamento bro cuja aceitação da competência seja exigida (isto é, Esta-
São três as situações em que pode se iniciar a jurisdição do em cujo território tenha tido lugar a conduta em causa,
do Tribunal Penal Internacional: mediante denúncia de um ou, se o crime tiver sido cometido a bordo de um navio
Estado-parte ao Procurador, por denúncia do Conselho de ou de uma aeronave, o Estado de matrícula do navio ou
Segurança ao Procurador e quando o Procurador tiver ini- aeronave, e Estado de que seja nacional a pessoa a quem
ciado um inquérito sobre o crime (artigo 13, ETPI). é imputado um crime), bem como reconhecidos de ofício
Quando o Procurador recebe uma informação, seja do (artigos 12, 18 e 19, ETPI). Tais pessoas também poderão
Estado-parte, seja do Conselho de Segurança, a apreciará e impugnar, salvo em situações excepcionais, por uma única
requererá eventuais complementações, informando ao Juí- vez a jurisdição do Tribunal antes do julgamento ou no seu
zo da Instrução a abertura de inquérito caso entenda ser início, conforme o procedimento descrito no artigo 19 do
este o caso (artigo 15, ETPI). A decisão do Procurador sobre Estatuto.
a abertura do inquérito, com a seguinte informação ao juízo “Logo que uma pessoa seja entregue ao Tribunal ou
da instrução, baseia-se nos fundamentos da informação, no nele compareça voluntariamente em cumprimento de uma
preenchimento dos critérios de admissibilidade, na gravi- notificação para comparecimento, o Juízo de Instrução de-
dade do fato e nos interesses das vítimas. Se ao final do in- verá assegurar-se de que essa pessoa foi informada dos
quérito o Procurador entender que não há elementos para crimes que lhe são imputados e dos direitos que o pre-
proceder criminalmente por ausência de elementos de fato sente Estatuto lhe confere, incluindo o direito de solicitar
e de direito, por inadmissibilidade do caso ou por não aten- autorização para aguardar o julgamento em liberdade” (ar-
der ao interesse da justiça, o Conselho de Segurança ou o
tigo 60, ETPI). O Juízo de Instrução realizará uma audiência
Estado interessado poderão pedir ao juízo de instrução que
para apreciar os fatos constantes da acusação com base
solicite ao Procurador que reconsidere sua decisão. Não
nos quais o Procurador pretende requerer o julgamento,
obstante, se a decisão do Procurador basear-se apenas no
que ocorrerá na presença do Procurador e do acusado (sal-
não atendimento dos interesses da justiça ou na gravidade
vo renúncia dele ou fuga), assim como do defensor deste.
do crime e nos interesses das vítima, o Juízo de Instrução
Na audiência, o Procurador produzirá provas satisfatórias
deverá confirmá-la. (artigo 53, ETPI). Os artigos 54 a 58 do
dos fatos constantes da acusação, nos quais baseou a sua
estatuto delimitam aspectos inerentes à fase do inquérito,
convicção de que o acusado cometeu o crime que lhe é
tanto quanto ao papel do procurador quanto à atuação
do Juízo de Instrução. Entre outros aspectos, destaca-se a imputado; o acusado, por sua vez, poderá contestar as acu-
possibilidade do Procurador solicitar ao Juízo de instrução sações, impugnar as provas apresentadas pelo Procurador
a emissão de mandado de detenção, solicitando ao Estado e apresentar provas. Com base nisso, o Juízo de Instrução
a prisão preventiva ou a detenção e entrega do acusado, remeterá o acusado para o Juízo de Julgamento em Primei-
ou de notificação para comparecimento, quando a privação ra Instância, declarará improcedente a acusação ou adiará
preventiva da liberdade não for necessária (artigo 58, ETPI). a audiência. A declaração de improcedência não impede
Há controvérsia sobre a possibilidade de extradição do novo requerimento futuro em caso de novas provas. (artigo
nacional brasileiro criminoso para julgamento no TPI devido 61, ETPI).
a dispositivos como o art. 5º, LI da CF, que veda a extradição O julgamento se dará na sede do Tribunal com a pre-
de brasileiro, prevalecendo que é preciso distinguir extradi- sença do acusado (artigos 62 e 63, ETPI). A audiência de
ção de entrega, que é o ato de entrega de uma pessoa para julgamento será pública, em regra. Se iniciará com a leitura
a Corte Internacional, também chamado de surrender103. ao acusado dos fatos imputados, certificando-se da com-
Nos termos do artigo 17 do Estatuto, é preciso respeitar preensão dele e conferindo-lhe a oportunidade de con-
critérios de admissibilidade, neste sentido, não se admitirá fessar ou se declarar inocente (artigo 64, ETPI). Durante o
processo: que o caso seja ou tenha sido objeto de inquérito julgamento será possível apresentar provas, especificadas
ou de procedimento criminal por parte de um Estado que no artigo 69 do Estatuto. Todo acusado é presumivelmente
tenha jurisdição sobre ele, a não ser se que falte interesse inocente e possui direitos assegurados pelo Estatuto (ar-
em dar seguimento ao inquérito ou ao procedimento ou tigos 66 e 67, ETPI). “O Juízo de Julgamento em Primeira
103 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Instância fundamentará a sua decisão com base na apre-
Internacional Público & Direito Internacional Privado. 3. ed. ciação das provas e do processo no seu conjunto. A deci-
São Paulo: Atlas, 2009. são não exorbitará dos fatos e circunstâncias descritos na

63
DIREITOS HUMANOS

acusação ou nas alterações que lhe tenham sido feitas. O Decididos a por fim à impunidade dos autores desses
Tribunal fundamentará a sua decisão exclusivamente nas crimes e a contribuir assim para a prevenção de tais crimes,
provas produzidas ou examinadas em audiência de julga- Relembrando que é dever de cada Estado exercer a res-
mento”, utilizando-se o quórum da unanimidade ou, se não pectiva jurisdição penal sobre os responsáveis por crimes in-
for possível, da maioria absoluta (artigo 74, ETPI). ternacionais,
Cabe ao Juízo de Julgamento delimitar a pena aplicável Reafirmando os Objetivos e Princípios consignados na
(artigo 76, ETPI), considerando a gravidade do crime e as Carta das Nações Unidas e, em particular, que todos os Es-
condições penais do acusado (artigo 78, ETPI). A pena po- tados se devem abster de recorrer à ameaça ou ao uso da
derá ser de prisão por um número determinado de anos, força, contra a integridade territorial ou a independência
até ao limite máximo de 30 anos, ou de prisão perpétua, se política de qualquer Estado, ou de atuar por qualquer outra
o elevado grau de ilicitude do fato e as condições pessoais forma incompatível com os Objetivos das Nações Unidas,
do condenado o justificarem, não excluídas as penas de Salientando, a este propósito, que nada no presente Es-
multa e perda de produtos, bens e haveres provenientes, tatuto deverá ser entendido como autorizando qualquer Es-
direta ou indiretamente, do crime (artigo 77, ETPI). tado Parte a intervir em um conflito armado ou nos assuntos
Da decisão caberá recurso ao Juízo de Recursos a ser internos de qualquer Estado,
interposto pelo Procurador ou pelo condenado, com base Determinados em perseguir este objetivo e no interesse
nos argumentos vício processual, erro de fato, erro de di- das gerações presentes e vindouras, a criar um Tribunal Pe-
reito ou, exclusivamente para o condenado ou o Procura- nal Internacional com caráter permanente e independente,
dor em defesa do interesse deste, qualquer outro motivo no âmbito do sistema das Nações Unidas, e com jurisdição
suscetível de afetar a equidade ou a regularidade do pro- sobre os crimes de maior gravidade que afetem a comunida-
cesso ou da sentença (artigo 81, ETPI). Também cabe recur- de internacional no seu conjunto,
so, interposto por qualquer das partes, de decisões sobre Sublinhando que o Tribunal Penal Internacional, criado
a competência ou a admissibilidade do caso, que autorize pelo presente Estatuto, será complementar às jurisdições pe-
ou recuse a libertação da pessoa objeto de inquérito ou de nais nacionais,
procedimento criminal, proferida pelo Juízo de Instrução Decididos a garantir o respeito duradouro pela efetiva-
de agir por iniciativa própria, relativa a uma questão sus- ção da justiça internacional,
cetível de afetar significativamente a tramitação equitativa Convieram no seguinte:
e célere do processo ou o resultado do julgamento (e cuja
resolução imediata pelo Juízo de Recursos poderia, no en- CAPÍTULO I
tender do Juízo de Instrução ou do Juízo de Julgamento em CRIAÇÃO DO TRIBUNAL
Primeira Instância, acelerar a marcha do processo) (artigo
82, ETPI). O acórdão fundamentado do Juízo de Recursos Artigo 1o
será tirado por maioria dos juízes e proferido em audiên-
O Tribunal
cia pública (artigo 83, ETPI). Além do procedimento de re-
É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal
cursos, também está previsto no artigo 84 do Estatuto um
Internacional (“o Tribunal”). O Tribunal será uma instituição
procedimento de revisão da sentença perante o Juízo de
permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis
Recursos, descobertas novas provas ou que houve uso de
pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional,
provas falsas determinantes no julgamento.
de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às
jurisdições penais nacionais. A competência e o funciona-
Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional
mento do Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto.
Preâmbulo
Artigo 2o
Os Estados Partes no presente Estatuto. Relação do Tribunal com as Nações Unidas
Conscientes de que todos os povos estão unidos por laços A relação entre o Tribunal e as Nações Unidas será esta-
comuns e de que suas culturas foram construídas sobre uma belecida através de um acordo a ser aprovado pela Assem-
herança que partilham, e preocupados com o fato deste de- bleia dos Estados Partes no presente Estatuto e, em seguida,
licado mosaico poder vir a quebrar-se a qualquer instante, concluído pelo Presidente do Tribunal em nome deste.
Tendo presente que, no decurso deste século, milhões de
crianças, homens e mulheres têm sido vítimas de atrocida- Artigo 3o
des inimagináveis que chocam profundamente a consciência Sede do Tribunal
da humanidade, 1. A sede do Tribunal será na Haia, Países Baixos (“o
Reconhecendo que crimes de uma tal gravidade cons- Estado anfitrião”).
tituem uma ameaça à paz, à segurança e ao bem-estar da 2. O Tribunal estabelecerá um acordo de sede com o Es-
humanidade, tado anfitrião, a ser aprovado pela Assembleia dos Estados
Afirmando que os crimes de maior gravidade, que afe- Partes e em seguida concluído pelo Presidente do Tribunal
tam a comunidade internacional no seu conjunto, não de- em nome deste.
vem ficar impunes e que a sua repressão deve ser efetiva- 3. Sempre que entender conveniente, o Tribunal poderá
mente assegurada através da adoção de medidas em nível funcionar em outro local, nos termos do presente Estatuto.
nacional e do reforço da cooperação internacional,

64
DIREITOS HUMANOS

Artigo 4o d) Deportação ou transferência forçada de uma popu-


Regime Jurídico e Poderes do Tribunal lação;
1. O Tribunal terá personalidade jurídica internacional. e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física
Possuirá, igualmente, a capacidade jurídica necessária ao grave, em violação das normas fundamentais de direito in-
desempenho das suas funções e à prossecução dos seus ob- ternacional;
jetivos. f) Tortura;
2. O Tribunal poderá exercer os seus poderes e funções g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição for-
nos termos do presente Estatuto, no território de qualquer çada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer
Estado Parte e, por acordo especial, no território de qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade
outro Estado. comparável;
h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa
CAPÍTULO II ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, ét-
COMPETÊNCIA, ADMISSIBILIDADE E DIREITO nicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no
APLICÁVEL parágrafo 3o, ou em função de outros critérios universalmen-
te reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional,
Artigo 5o relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou
com qualquer crime da competência do Tribunal;
Crimes da Competência do Tribunal
i) Desaparecimento forçado de pessoas;
1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes
j) Crime de apartheid;
mais graves, que afetam a comunidade internacional no seu
k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que
conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal terá causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem
competência para julgar os seguintes crimes: gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental.
a) O crime de genocídio; 2. Para efeitos do parágrafo 1o:
b) Crimes contra a humanidade; a) Por “ataque contra uma população civil” entende-se
c) Crimes de guerra; qualquer conduta que envolva a prática múltipla de atos
d) O crime de agressão. referidos no parágrafo 1o contra uma população civil, de
2. O Tribunal poderá exercer a sua competência em rela- acordo com a política de um Estado ou de uma organização
ção ao crime de agressão desde que, nos termos dos artigos de praticar esses atos ou tendo em vista a prossecução dessa
121 e 123, seja aprovada uma disposição em que se defina política;
o crime e se enunciem as condições em que o Tribunal terá b) O “extermínio” compreende a sujeição intencional a
competência relativamente a este crime. Tal disposição deve condições de vida, tais como a privação do acesso a alimen-
ser compatível com as disposições pertinentes da Carta das tos ou medicamentos, com vista a causar a destruição de
Nações Unidas. uma parte da população;
c) Por “escravidão” entende-se o exercício, relativamente
Artigo 6o a uma pessoa, de um poder ou de um conjunto de poderes
Crime de Genocídio que traduzam um direito de propriedade sobre uma pessoa,
Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por “ge- incluindo  o exercício desse poder no âmbito do tráfico de
nocídio”, qualquer um dos atos que a seguir se enumeram, pessoas, em particular mulheres e crianças;
praticado com intenção de destruir, no todo ou em parte, um d) Por “deportação ou transferência à força de uma po-
grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal: pulação” entende-se o deslocamento forçado de pessoas,
a) Homicídio de membros do grupo; através da expulsão ou outro ato coercivo, da zona em que
b) Ofensas graves à integridade física ou mental de se encontram legalmente, sem qualquer motivo reconhecido
membros do grupo; no direito internacional;
c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida e) Por “tortura” entende-se o ato por meio do qual uma
dor ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são intencio-
com vista a provocar a sua destruição física, total ou parcial;
nalmente causados a uma pessoa que esteja sob a custódia
d) Imposição de medidas destinadas a impedir nasci-
ou o controle do acusado; este termo não compreende a dor
mentos no seio do grupo;
ou os sofrimentos resultantes unicamente de sanções legais,
e) Transferência, à força, de crianças do grupo para ou- inerentes a essas sanções ou por elas ocasionadas;
tro grupo. f) Por “gravidez à força” entende-se a privação ilegal de
Artigo 7o liberdade de uma mulher que foi engravidada à força, com o
Crimes contra a Humanidade propósito de alterar a composição étnica de uma população
1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por ou de cometer outras violações graves do direito internacio-
“crime contra a humanidade”, qualquer um dos atos seguin- nal. Esta definição não pode, de modo algum, ser interpreta-
tes, quando cometido no quadro de um ataque, generaliza- da como afetando as disposições de direito interno relativas
do ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo à gravidez;
conhecimento desse ataque: g) Por “perseguição’’ entende-se a privação intencional
a) Homicídio; e grave de direitos fundamentais em violação do direito in-
b) Extermínio; ternacional, por motivos relacionados com a identidade do
c) Escravidão; grupo ou da coletividade em causa;

65
DIREITOS HUMANOS

h) Por “crime de  apartheid”  entende-se qualquer ato estes tenham direito à proteção conferida aos civis ou aos
desumano análogo aos referidos no parágrafo 1°, praticado bens civis pelo direito internacional aplicável aos conflitos
no contexto de um regime institucionalizado de opressão e armados;
domínio sistemático de um grupo racial sobre um ou outros iv) Lançar intencionalmente um ataque, sabendo que o
grupos nacionais e com a intenção de manter esse regime; mesmo causará perdas acidentais de vidas humanas ou feri-
i) Por “desaparecimento forçado de pessoas” entende- mentos na população civil, danos em bens de caráter civil ou
-se a detenção, a prisão ou o sequestro de pessoas por um prejuízos extensos, duradouros e graves no meio ambiente
Estado ou uma organização política ou com a autorização, que se revelem claramente excessivos em relação à vanta-
o apoio ou a concordância destes, seguidos de recusa a re- gem militar global concreta e direta que se previa;
conhecer tal estado de privação de liberdade ou a prestar v) Atacar ou bombardear, por qualquer meio, cidades,
qualquer informação sobre a situação ou localização dessas vilarejos, habitações ou edifícios que não estejam defendidos
pessoas, com o propósito de lhes negar a proteção da lei por e que não sejam objetivos militares;
um prolongado período de tempo. vi) Matar ou ferir um combatente que tenha deposto
3. Para efeitos do presente Estatuto, entende-se que o armas ou que, não tendo mais meios para se defender, se
termo “gênero” abrange os sexos masculino e feminino, den- tenha incondicionalmente rendido;
tro do contexto da sociedade, não lhe devendo ser atribuído vii) Utilizar indevidamente uma bandeira de trégua, a
qualquer outro significado. bandeira nacional, as insígnias militares ou o uniforme do
inimigo ou das Nações Unidas, assim como os emblemas
Artigo 8o distintivos das Convenções de Genebra, causando deste
Crimes de Guerra modo a morte ou ferimentos graves;
1. O Tribunal terá competência para julgar os crimes de viii) A transferência, direta ou indireta, por uma potência
guerra, em particular quando cometidos como parte inte- ocupante de parte da sua população civil para o território
grante de um plano ou de uma política ou como parte de que ocupa ou a deportação ou transferência da totalidade
uma prática em larga escala desse tipo de crimes. ou de parte da população do território ocupado, dentro ou
2. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por para fora desse território;
“crimes de guerra”: ix) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios consa-
a) As violações graves às Convenções de Genebra, de 12 grados ao culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou
de Agosto de 1949, a saber, qualquer um dos seguintes atos, à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares
dirigidos contra pessoas ou bens protegidos nos termos da onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate
Convenção de Genebra que for pertinente: de objetivos militares;
i) Homicídio doloso; x) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio
ii) Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo de uma parte beligerante a mutilações físicas ou a qualquer
as experiências biológicas; tipo de experiências médicas ou científicas que não sejam
iii) O ato de causar intencionalmente grande sofrimento motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospita-
ou ofensas graves à integridade física ou à saúde; lar, nem sejam efetuadas no interesse dessas pessoas, e que
iv) Destruição ou a apropriação de bens em larga escala, causem a morte ou coloquem seriamente em perigo a sua
quando não justificadas por quaisquer necessidades milita- saúde;
res e executadas de forma ilegal e arbitrária; xi) Matar ou ferir à traição pessoas pertencentes à nação
v) O ato de compelir um prisioneiro de guerra ou outra ou ao exército inimigo;
pessoa sob proteção a servir nas forças armadas de uma po- xii) Declarar que não será dado quartel;
tência inimiga; xiii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que
vi) Privação intencional de um prisioneiro de guerra ou tais destruições ou apreensões sejam imperativamente de-
de outra pessoa sob proteção do seu direito a um julgamento terminadas pelas necessidades da guerra;
justo e imparcial; xiv) Declarar abolidos, suspensos ou não admissíveis em
vii) Deportação ou transferência ilegais, ou a privação tribunal os direitos e ações dos nacionais da parte inimiga;
ilegal de liberdade;
viii) Tomada de reféns; xv) Obrigar os nacionais da parte inimiga a participar
b) Outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em operações bélicas dirigidas contra o seu próprio país, ain-
em conflitos armados internacionais no âmbito do direito da que eles tenham estado ao serviço daquela parte belige-
internacional, a saber, qualquer um dos seguintes atos: rante antes do início da guerra;
i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em xvi) Saquear uma cidade ou uma localidade, mesmo
geral ou civis que não participem diretamente nas hostili- quando tomada de assalto;
dades; xvii) Utilizar veneno ou armas envenenadas;
ii) Dirigir intencionalmente ataques a bens civis, ou seja xviii) Utilizar gases asfixiantes, tóxicos ou outros gases
bens que não sejam objetivos militares; ou qualquer líquido, material ou dispositivo análogo;
iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, insta- xix) Utilizar balas que se expandem ou achatam fa-
lações, material, unidades ou veículos que participem numa cilmente no interior do corpo humano, tais como balas de
missão de manutenção da paz ou de assistência humanitá- revestimento duro que não cobre totalmente o interior ou
ria, de acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que possui incisões;

66
DIREITOS HUMANOS

xx) Utilizar armas, projéteis; materiais e métodos de i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em
combate que, pela sua própria natureza, causem ferimen- geral ou civis que não participem diretamente nas hostilidades;
tos supérfluos ou sofrimentos desnecessários ou que surtam ii) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material,
efeitos indiscriminados, em violação do direito internacional unidades e veículos sanitários, bem como ao pessoal que
aplicável aos conflitos armados, na medida em que tais ar- esteja usando os emblemas distintivos das Convenções de
mas, projéteis, materiais e métodos de combate sejam objeto Genebra, em conformidade com o direito internacional;
de uma proibição geral e estejam incluídos em um anexo ao iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, insta-
presente Estatuto, em virtude de uma alteração aprovada lações, material, unidades ou veículos que participem numa
em conformidade com o disposto nos artigos 121 e 123; missão de manutenção da paz ou de assistência humani-
xxi) Ultrajar a dignidade da pessoa, em particular por tária, de acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre
meio de tratamentos humilhantes e degradantes; que estes tenham direito à proteção conferida pelo direito
xxii) Cometer atos de violação, escravidão sexual, pros- internacional dos conflitos armados aos civis e aos bens civis;
tituição forçada, gravidez à força, tal como definida na alí- iv) Atacar intencionalmente edifícios consagrados ao
nea f) do parágrafo 2o do artigo 7o, esterilização à força e culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou à be-
qualquer outra forma de violência sexual que constitua tam- neficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde
bém um desrespeito grave às Convenções de Genebra; se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de
xxiii) Utilizar a presença de civis ou de outras pessoas objetivos militares;
protegidas para evitar que determinados pontos, zonas ou v) Saquear um aglomerado populacional ou um local,
forças militares sejam alvo de operações militares; mesmo quando tomado de assalto;
xxiv) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, ma- vi) Cometer atos de agressão sexual, escravidão sexual,
terial, unidades e veículos sanitários, assim como o pessoal prostituição forçada, gravidez à força, tal como definida na
que esteja usando os emblemas distintivos das Convenções alínea f do parágrafo 2o do artigo 7o; esterilização à força ou
de Genebra, em conformidade com o direito internacional; qualquer outra forma de violência sexual que constitua uma
xxv) Provocar deliberadamente a inanição da população violação grave do artigo 3o comum às quatro Convenções
civil como método de guerra, privando-a dos bens indispen- de Genebra;
sáveis à sua sobrevivência, impedindo, inclusive, o envio de vii) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças
armadas nacionais ou em grupos, ou utilizá-los para partici-
socorros, tal como previsto nas Convenções de Genebra;
par ativamente nas hostilidades;
xxvi) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças
viii) Ordenar a deslocação da população civil por razões
armadas nacionais ou utilizá-los para participar ativamente
relacionadas com o conflito, salvo se assim o exigirem a se-
nas hostilidades;
gurança dos civis em questão ou razões militares imperiosas;
c) Em caso de conflito armado que não seja de índo-
ix) Matar ou ferir à traição um combatente de uma parte
le internacional, as violações graves do artigo 3o comum às
beligerante;
quatro Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949,
x) Declarar que não será dado quartel;
a saber, qualquer um dos atos que a seguir se indicam,
xi) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio
cometidos contra pessoas que não participem diretamente de outra parte beligerante a mutilações físicas ou a qualquer
nas hostilidades, incluindo os membros das forças armadas tipo de experiências médicas ou científicas que não sejam
que tenham deposto armas e os que tenham ficado motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospi-
impedidos de continuar a combater devido a doença, lesões, talar nem sejam efetuadas no interesse dessa pessoa, e que
prisão ou qualquer outro motivo: causem a morte ou ponham seriamente a sua saúde em pe-
i) Atos de violência contra a vida e contra a pessoa, em rigo;
particular o homicídio sob todas as suas formas, as mutila- xii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que
ções, os tratamentos cruéis e a tortura; as necessidades da guerra assim o exijam;
ii) Ultrajes à dignidade da pessoa, em particular por
meio de tratamentos humilhantes e degradantes; f) A alínea e) do parágrafo 2o do presente artigo
iii) A tomada de reféns; aplicar-se-á aos conflitos armados que não tenham caráter
iv) As condenações proferidas e as execuções efetuadas internacional e, por conseguinte, não se aplicará a situações
sem julgamento prévio por um tribunal regularmente cons- de distúrbio e de tensão internas, tais como motins, atos
tituído e que ofereça todas as garantias judiciais geralmente de violência esporádicos ou isolados ou outros de caráter
reconhecidas como indispensáveis. semelhante; aplicar-se-á, ainda, a conflitos armados que
d) A alínea c) do parágrafo 2o do presente artigo aplica-se tenham lugar no território de um Estado, quando exista
aos conflitos armados que não tenham caráter internacional um conflito armado prolongado entre as autoridades
e, por conseguinte, não se aplica a situações de distúrbio governamentais e grupos armados organizados ou entre
e de tensão internas, tais como motins, atos de violência estes grupos.
esporádicos ou isolados ou outros de caráter semelhante; 3. O disposto nas alíneas c) e e) do parágrafo 2o, em
e) As outras violações graves das leis e costumes aplicá- nada afetará a responsabilidade que incumbe a todo o Go-
veis aos conflitos armados que não têm caráter internacio- verno de manter e de restabelecer a ordem pública no Es-
nal, no quadro do direito internacional, a saber qualquer um tado, e de defender a unidade e a integridade territorial do
dos seguintes atos: Estado por qualquer meio legítimo.

67
DIREITOS HUMANOS

Artigo 9o Artigo 13
Elementos Constitutivos dos Crimes Exercício da Jurisdição
1. Os elementos constitutivos dos crimes que auxiliarão O Tribunal poderá exercer a sua jurisdição em relação a
o Tribunal a interpretar e a aplicar os artigos 6o, 7o e 8o do qualquer um dos crimes a que se refere o artigo 5o, de acordo
presente Estatuto, deverão ser adotados por uma maioria de com o disposto no presente Estatuto, se:
dois terços dos membros da Assembleia dos Estados Partes. a) Um Estado Parte denunciar ao Procurador, nos ter-
2. As alterações aos elementos constitutivos dos crimes mos do artigo 14, qualquer situação em que haja indícios de
poderão ser propostas por: ter ocorrido a prática de um ou vários desses crimes;
a) Qualquer Estado Parte; b) O Conselho de Segurança, agindo nos termos do Ca-
b) Os juízes, através de deliberação tomada por maioria pítulo VII da Carta das Nações Unidas, denunciar ao Procu-
absoluta; rador qualquer situação em que haja indícios de ter ocorrido
c) O Procurador. a prática de um ou vários desses crimes; ou
As referidas alterações entram em vigor depois de apro- c) O Procurador tiver dado início a um inquérito sobre
vadas por uma maioria de dois terços dos membros da As- tal crime, nos termos do disposto no artigo 15.
sembleia dos Estados Partes.
3. Os elementos constitutivos dos crimes e respectivas al- Artigo 14
terações deverão ser compatíveis com as disposições contidas Denúncia por um Estado Parte
no presente Estatuto. 1. Qualquer Estado Parte poderá denunciar ao Procu-
rador uma situação em que haja indícios de ter ocorrido a
Artigo 10 prática de um ou vários crimes da competência do Tribunal
Nada no presente capítulo deverá ser interpretado como e solicitar ao Procurador que a investigue, com vista a de-
limitando ou afetando, de alguma maneira, as normas exis- terminar se uma ou mais pessoas identificadas deverão ser
tentes ou em desenvolvimento de direito internacional com acusadas da prática desses crimes.
fins distintos dos do presente Estatuto. 2. O Estado que proceder à denúncia deverá, tanto
quanto possível, especificar as circunstâncias relevantes do
Artigo 11
caso e anexar toda a documentação de que disponha.
Competência Ratione Temporis
1. O Tribunal só terá competência relativamente aos cri-
Artigo 15
mes cometidos após a entrada em vigor do presente Estatuto.
Procurador
2. Se um Estado se tornar Parte no presente Estatuto de-
1. O Procurador poderá, por sua própria iniciativa, abrir
pois da sua entrada em vigor, o Tribunal só poderá exercer a
um inquérito com base em informações sobre a prática de
sua competência em relação a crimes cometidos depois da
entrada em vigor do presente Estatuto relativamente a esse crimes da competência do Tribunal.
Estado, a menos que este tenha feito uma declaração nos 2. O Procurador apreciará a seriedade da informação
termos do parágrafo 3o do artigo 12. recebida. Para tal, poderá recolher informações suplemen-
tares junto aos Estados, aos órgãos da Organização das Na-
Artigo 12 ções Unidas, às Organizações Intergovernamentais ou Não
Condições Prévias ao Exercício da Jurisdição Governamentais ou outras fontes fidedignas que considere
1. O Estado que se torne Parte no presente Estatuto, acei- apropriadas, bem como recolher depoimentos escritos ou
tará a jurisdição do Tribunal relativamente aos crimes a que orais na sede do Tribunal.
se refere o artigo 5o. 3. Se concluir que existe fundamento suficiente para
2. Nos casos referidos nos parágrafos a) ou c) do artigo abrir um inquérito, o Procurador apresentará um pedido
13, o Tribunal poderá exercer a sua jurisdição se um ou mais de autorização nesse sentido ao Juízo de Instrução, acom-
Estados a seguir identificados forem Partes no presente Esta- panhado da documentação de apoio que tiver reunido. As
tuto ou aceitarem a competência do Tribunal de acordo com vítimas poderão apresentar representações no Juízo de Ins-
o disposto no parágrafo 3o: trução, de acordo com o Regulamento Processual.
a) Estado em cujo território tenha tido lugar a conduta 4. Se, após examinar o pedido e a documentação que o
em causa, ou, se o crime tiver sido cometido a bordo de um acompanha, o Juízo de Instrução considerar que há funda-
navio ou de uma aeronave, o Estado de matrícula do navio mento suficiente para abrir um Inquérito e que o caso pa-
ou aeronave; rece caber na jurisdição do Tribunal, autorizará a abertura
b) Estado de que seja nacional a pessoa a quem é impu- do inquérito, sem prejuízo das decisões que o Tribunal vier
tado um crime. a tomar posteriormente em matéria de competência e de
3. Se a aceitação da competência do Tribunal por um admissibilidade.
Estado que não seja Parte no presente Estatuto for necessária 5. A recusa do Juízo de Instrução em autorizar a abertu-
nos termos do parágrafo 2o, pode o referido Estado, mediante ra do inquérito não impedirá o Procurador de formular ulte-
declaração depositada junto do Secretário, consentir em que riormente outro pedido com base em novos fatos ou provas
o Tribunal exerça a sua competência em relação ao crime em respeitantes à mesma situação.
questão. O Estado que tiver aceito a competência do Tribunal 6. Se, depois da análise preliminar a que se referem os
colaborará com este, sem qualquer demora ou exceção, de parágrafos 1o e 2o, o Procurador concluir que a informação
acordo com o disposto no Capítulo IX. apresentada não constitui fundamento suficiente para um

68
DIREITOS HUMANOS

inquérito, o Procurador informará quem a tiver apresenta- 3. A fim de determinar se há incapacidade de agir num
do de tal entendimento. Tal não impede que o Procurador determinado caso, o Tribunal verificará se o Estado, por
examine, à luz de novos fatos ou provas, qualquer outra colapso total ou substancial da respectiva administração
informação que lhe venha a ser comunicada sobre o mes- da justiça ou por indisponibilidade desta, não estará em
mo caso. condições de fazer comparecer o acusado, de reunir os meios
de prova e depoimentos necessários ou não estará, por outros
Artigo 16 motivos, em condições de concluir o processo.
Adiamento do Inquérito e do Procedimento Criminal
Nenhum inquérito ou procedimento crime poderá ter Artigo 18
início ou prosseguir os seus termos, com base no presente Decisões Preliminares sobre Admissibilidade
Estatuto, por um período de doze meses a contar da data 1. Se uma situação for denunciada ao Tribunal nos ter-
em que o Conselho de Segurança assim o tiver solicitado mos do artigo 13, parágrafo a), e o Procurador determinar
em resolução aprovada nos termos do disposto no Capítulo que existem fundamentos para abrir um inquérito ou der
início a um inquérito de acordo com os artigos 13, parágra-
VII da Carta das Nações Unidas; o pedido poderá ser reno-
fo c) e 15, deverá notificar todos os Estados Partes e os Es-
vado pelo Conselho de Segurança nas mesmas condições.
tados que, de acordo com a informação disponível, teriam
jurisdição sobre esses crimes. O Procurador poderá proceder
Artigo 17 à notificação a título confidencial e, sempre que o considere
Questões Relativas à Admissibilidade necessário com vista a proteger pessoas, impedir a destruição
1. Tendo em consideração o décimo parágrafo do de provas ou a fuga de pessoas, poderá limitar o âmbito da
preâmbulo e o artigo 1o, o Tribunal decidirá sobre a não informação a transmitir aos Estados.
admissibilidade de um caso se: 2. No prazo de um mês após a recepção da referida no-
a) O caso for objeto de inquérito ou de procedimento tificação, qualquer Estado poderá informar o Tribunal de que
criminal por parte de um Estado que tenha jurisdição sobre está procedendo, ou já procedeu, a um inquérito sobre nacio-
o mesmo, salvo se este não tiver vontade de levar a cabo nais seus ou outras pessoas sob a sua jurisdição, por atos que
o inquérito ou o procedimento ou, não tenha capacidade possam constituir crimes a que se refere o artigo 5o e digam
para o fazer; respeito à informação constante na respectiva notificação.
b) O caso tiver sido objeto de inquérito por um Estado A pedido desse Estado, o Procurador transferirá para ele
com jurisdição sobre ele e tal Estado tenha decidido não o inquérito sobre essas pessoas, a menos que, a pedido do
dar seguimento ao procedimento criminal contra a pessoa Procurador, o Juízo de Instrução decida autorizar o inquérito.
em causa, a menos que esta decisão resulte do fato de esse 3. A transferência do inquérito poderá ser reexaminada
Estado não ter vontade de proceder criminalmente ou da pelo Procurador seis meses após a data em que tiver sido
decidida ou, a todo o momento, quando tenha ocorrido uma
sua incapacidade real para o fazer;
alteração significativa de circunstâncias, decorrente da falta
c) A pessoa em causa já tiver sido julgada pela conduta
de vontade ou da incapacidade efetiva do Estado de levar a
a que se refere a denúncia, e não puder ser julgada pelo cabo o inquérito.
Tribunal em virtude do disposto no parágrafo 3o do artigo 4. O Estado interessado ou o Procurador poderão inter-
20; por recurso para o Juízo de Recursos da decisão proferida por
d) O caso não for suficientemente grave para justificar um Juízo de Instrução, tal como previsto no artigo 82. Este
a ulterior intervenção do Tribunal. recurso poderá seguir uma forma sumária.
2. A fim de determinar se há ou não vontade de agir 5. Se o Procurador transferir o inquérito, nos termos do
num determinado caso, o Tribunal, tendo em considera- parágrafo 2o, poderá solicitar ao Estado interessado que o in-
ção as garantias de um processo equitativo reconhecidas forme periodicamente do andamento do mesmo e de qual-
pelo direito internacional, verificará a existência de uma quer outro procedimento subsequente. Os Estados Partes res-
ou mais das seguintes circunstâncias: ponderão a estes pedidos sem atrasos injustificados.
a) O processo ter sido instaurado ou estar pendente ou 6. O Procurador poderá, enquanto aguardar uma deci-
a decisão ter sido proferida no Estado com o propósito de são a proferir no Juízo de Instrução, ou a todo o momento se
subtrair a pessoa em causa à sua responsabilidade crimi- tiver transferido o inquérito nos termos do presente artigo,
nal por crimes da competência do Tribunal, nos termos do solicitar ao tribunal de instrução, a título excepcional, que o
disposto no artigo 5o; autorize a efetuar as investigações que considere necessá-
b) Ter havido demora injustificada no processamento, rias para preservar elementos de prova, quando exista uma
oportunidade única de obter provas relevantes ou um risco
a qual, dadas as circunstâncias, se mostra incompatível
significativo de que essas provas possam não estar disponí-
com a intenção de fazer responder a pessoa em causa pe-
veis numa fase ulterior.
rante a justiça; 7. O Estado que tenha recorrido de uma decisão do Juízo
c) O processo não ter sido ou não estar sendo condu- de Instrução nos termos do presente artigo poderá impugnar
zido de maneira independente ou imparcial, e ter estado a admissibilidade de um caso nos termos do artigo 19, invo-
ou estar sendo conduzido de uma maneira que, dadas as cando fatos novos relevantes ou uma alteração significativa
circunstâncias, seja incompatível com a intenção de levar de circunstâncias.
a pessoa em causa perante a justiça;

69
DIREITOS HUMANOS

Artigo 19 9. A impugnação não afetará a validade de nenhum


Impugnação da Jurisdição do Tribunal ou da Admissibi- ato realizado pelo Procurador, nem de nenhuma decisão ou
lidade do Caso mandado anteriormente emitido pelo Tribunal.
1. O Tribunal deverá certificar-se de que detém jurisdi- 10. Se o Tribunal tiver declarado que um caso não é ad-
ção sobre todos os casos que lhe sejam submetidos. O Tribu- missível, de acordo com o artigo 17, o Procurador poderá
nal poderá pronunciar-se de ofício sobre a admissibilidade pedir a revisão dessa decisão, após se ter certificado de que
do caso em conformidade com o artigo 17. surgiram novos fatos que invalidam os motivos pelos quais
2. Poderão impugnar a admissibilidade do caso, por um o caso havia sido considerado inadmissível nos termos do
dos motivos referidos no artigo 17, ou impugnar a jurisdição artigo 17.
do Tribunal: 11. Se o Procurador, tendo em consideração as questões
a) O acusado ou a pessoa contra a qual tenha sido emi- referidas no artigo 17, decidir transferir um inquérito, pode-
tido um mandado ou ordem de detenção ou de compareci- rá pedir ao Estado em questão que o mantenha informado
mento, nos termos do artigo 58; do seguimento do processo. Esta informação deverá, se esse
b) Um Estado que detenha o poder de jurisdição sobre Estado o solicitar, ser mantida confidencial. Se o Procurador
um caso, pelo fato de o estar investigando ou julgando, ou decidir, posteriormente, abrir um inquérito, comunicará a
sua decisão ao Estado para o qual foi transferido o processo.
por já o ter feito antes; ou
c) Um Estado cuja aceitação da competência do Tribunal
Artigo 20
seja exigida, de acordo com o artigo 12.
Ne bis in idem
3. O Procurador poderá solicitar ao Tribunal que se pro- 1. Salvo disposição contrária do presente Estatuto, ne-
nuncie sobre questões de jurisdição ou admissibilidade. Nas nhuma pessoa poderá ser julgada pelo Tribunal por atos
ações relativas a jurisdição ou admissibilidade, aqueles que constitutivos de crimes pelos quais este já a tenha condena-
tiverem denunciado um caso ao abrigo do artigo 13, bem do ou absolvido.
como as vítimas, poderão também apresentar as suas obser- 2. Nenhuma pessoa poderá ser julgada por outro tribu-
vações ao Tribunal. nal por um crime mencionado no artigo 5°, relativamente
4. A admissibilidade de um caso ou a jurisdição do Tribu- ao qual já tenha sido condenada ou absolvida pelo Tribunal.
nal só poderão ser impugnadas uma única vez por qualquer 3. O Tribunal não poderá julgar uma pessoa que já te-
pessoa ou Estado a que se faz referência no parágrafo 2o. A nha sido julgada por outro tribunal, por atos também puni-
impugnação deverá ser feita antes do julgamento ou no seu dos pelos artigos 6o, 7o ou 8o, a menos que o processo nesse
início. Em circunstâncias excepcionais, o Tribunal poderá au- outro tribunal:
torizar que a impugnação se faça mais de uma vez ou depois a) Tenha tido por objetivo subtrair o acusado à sua res-
do início do julgamento. As impugnações à admissibilidade ponsabilidade criminal por crimes da competência do Tri-
de um caso feitas no início do julgamento, ou posteriormen- bunal; ou
te com a autorização do Tribunal, só poderão fundamentar- b) Não tenha sido conduzido de forma independente ou
-se no disposto no parágrafo 1o, alínea c) do artigo 17. imparcial, em conformidade com as garantias de um proces-
5. Os Estados a que se referem as alíneas b) e c) do pa- so equitativo reconhecidas pelo direito internacional, ou te-
rágrafo 2o do presente artigo deverão deduzir impugnação nha sido conduzido de uma maneira que, no caso concreto,
logo que possível. se revele incompatível com a intenção de submeter a pessoa
6. Antes da confirmação da acusação, a impugnação à ação da justiça.
da admissibilidade de um caso ou da jurisdição do Tribunal
será submetida ao Juízo de Instrução e, após confirmação, Artigo 21
ao Juízo de Julgamento em Primeira Instância. Das decisões Direito Aplicável
relativas à jurisdição ou admissibilidade caberá recurso para 1. O Tribunal aplicará:
a) Em primeiro lugar, o presente Estatuto, os Elementos
o Juízo de Recursos, de acordo com o artigo 82.
Constitutivos do Crime e o Regulamento Processual;
7. Se a impugnação for feita pelo Estado referido nas
b) Em segundo lugar, se for o caso, os tratados e os prin-
alíneas b) e c) do parágrafo 2o, o Procurador suspenderá o
cípios e normas de direito internacional aplicáveis, incluindo
inquérito até que o Tribunal decida em conformidade com o os princípios estabelecidos no direito internacional dos con-
artigo 17. flitos armados;
c) Na falta destes, os princípios gerais do direito que o
8. Enquanto aguardar uma decisão, o Procurador pode- Tribunal retire do direito interno dos diferentes sistemas jurí-
rá solicitar ao Tribunal autorização para: dicos existentes, incluindo, se for o caso, o direito interno dos
a) Proceder às investigações necessárias previstas no pa- Estados que exerceriam normalmente a sua jurisdição rela-
rágrafo 6o do artigo 18; tivamente ao crime, sempre que esses princípios não sejam
b) Recolher declarações ou o depoimento de uma teste- incompatíveis com o presente Estatuto, com o direito inter-
munha ou completar o recolhimento e o exame das provas nacional, nem com as normas e padrões internacionalmente
que tenha iniciado antes da impugnação; e reconhecidos.
c) Impedir, em colaboração com os Estados interessados, 2. O Tribunal poderá aplicar princípios e normas de di-
a fuga de pessoas em relação às quais já tenha solicitado um reito tal como já tenham sido por si interpretados em deci-
mandado de detenção, nos termos do artigo 58. sões anteriores.

70
DIREITOS HUMANOS

3. A aplicação e interpretação do direito, nos termos do d) Contribuir de alguma outra forma para a prática ou
presente artigo, deverá ser compatível com os direitos hu- tentativa de prática do crime por um grupo de pessoas que
manos internacionalmente reconhecidos, sem discriminação tenha um objetivo comum. Esta contribuição deverá ser in-
alguma baseada em motivos tais como o gênero, definido tencional e ocorrer, conforme o caso:
no parágrafo 3o do artigo 7o, a idade, a raça, a cor, a religião i) Com o propósito de levar a cabo a atividade ou o ob-
ou o credo, a opinião política ou outra, a origem nacional, jetivo criminal do grupo, quando um ou outro impliquem a
étnica ou social, a situação econômica, o nascimento ou ou- prática de um crime da competência do Tribunal; ou
tra condição. ii) Com o conhecimento da intenção do grupo de come-
ter o crime;
CAPÍTULO III e) No caso de crime de genocídio, incitar, direta e publi-
PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO PENAL camente, à sua prática;
f) Tentar cometer o crime mediante atos que contribuam
Artigo 22 substancialmente para a sua execução, ainda que não se ve-
Nullum crimen sine leqe nha a consumar devido a circunstâncias alheias à sua von-
1. Nenhuma pessoa será considerada criminalmente tade. Porém, quem desistir da prática do crime, ou impedir
responsável, nos termos do presente Estatuto, a menos que a de outra forma que este se consuma, não poderá ser punido
sua conduta constitua, no momento em que tiver lugar, um em conformidade com o presente Estatuto pela tentativa, se
crime da competência do Tribunal. renunciar total e voluntariamente ao propósito delituoso.
2. A previsão de um crime será estabelecida de forma 4. O disposto no presente Estatuto sobre a responsabili-
precisa e não será permitido o recurso à analogia. Em caso dade criminal das pessoas físicas em nada afetará a respon-
de ambiguidade, será interpretada a favor da pessoa objeto sabilidade do Estado, de acordo com o direito internacional.
de inquérito, acusada ou condenada.
3. O disposto no presente artigo em nada afetará a tipi- Artigo 26
ficação de uma conduta como crime nos termos do direito Exclusão da Jurisdição Relativamente a Menores de 18
internacional, independentemente do presente Estatuto. anos
O Tribunal não terá jurisdição sobre pessoas que, à data
Artigo 23 da alegada prática do crime, não tenham ainda completado
Nulla poena sine lege 18 anos de idade.
Qualquer pessoa condenada pelo Tribunal só poderá ser
punida em conformidade com as disposições do presente Es-
Artigo 27
tatuto.
Irrelevância da Qualidade Oficial
Artigo 24
1. O presente Estatuto será aplicável de forma igual a to-
Não retroatividade ratione personae
1. Nenhuma pessoa será considerada criminalmente das as pessoas sem distinção alguma baseada na qualidade
responsável, de acordo com o presente Estatuto, por uma oficial. Em particular, a qualidade oficial de Chefe de Estado
conduta anterior à entrada em vigor do presente Estatuto. ou de Governo, de membro de Governo ou do Parlamento,
2. Se o direito aplicável a um caso for modificado antes de representante eleito ou de funcionário público, em caso
de proferida sentença definitiva, aplicar-se-á o direito mais algum eximirá a pessoa em causa de responsabilidade crimi-
favorável à pessoa objeto de inquérito, acusada ou conde- nal nos termos do presente Estatuto, nem constituirá de per
nada. se motivo de redução da pena.
2. As imunidades ou normas de procedimento especiais
Artigo 25 decorrentes da qualidade oficial de uma pessoa; nos termos
Responsabilidade Criminal Individual do direito interno ou do direito internacional, não deverão
1. De acordo com o presente Estatuto, o Tribunal será obstar a que o Tribunal exerça a sua jurisdição sobre essa
competente para julgar as pessoas físicas. pessoa.
2. Quem cometer um crime da competência do Tribunal
será considerado individualmente responsável e poderá ser Artigo 28
punido de acordo com o presente Estatuto. Responsabilidade dos Chefes Militares e Outros Superio-
3. Nos termos do presente Estatuto, será considerado cri- res Hierárquicos
minalmente responsável e poderá ser punido pela prática de Além de outras fontes de responsabilidade criminal pre-
um crime da competência do Tribunal quem: vistas no presente Estatuto, por crimes da competência do
a) Cometer esse crime individualmente ou em conjunto Tribunal:
ou por intermédio de outrem, quer essa pessoa seja, ou não, a) O chefe militar, ou a pessoa que atue efetivamente
criminalmente responsável; como chefe militar, será criminalmente responsável por cri-
b) Ordenar, solicitar ou instigar à prática desse crime, mes da competência do Tribunal que tenham sido cometi-
sob forma consumada ou sob a forma de tentativa; dos por forças sob o seu comando e controle efetivos ou sob
c) Com o propósito de facilitar a prática desse crime, for a sua autoridade e controle efetivos, conforme o caso, pelo
cúmplice ou encobridor, ou colaborar de algum modo na
fato de não exercer um controle apropriado sobre essas for-
prática ou na tentativa de prática do crime, nomeadamente
ças quando:
pelo fornecimento dos meios para a sua prática;

71
DIREITOS HUMANOS

i) Esse chefe militar ou essa pessoa tinha conhecimento a) Sofrer de enfermidade ou deficiência mental que a
ou, em virtude das circunstâncias do momento, deveria ter prive da capacidade para avaliar a ilicitude ou a natureza da
tido conhecimento de que essas forças estavam a cometer ou sua conduta, ou da capacidade para controlar essa conduta
preparavam-se para cometer esses crimes; e a fim de não violar a lei;
ii) Esse chefe militar ou essa pessoa não tenha adotado b) Estiver em estado de intoxicação que a prive da capa-
todas as medidas necessárias e adequadas ao seu alcance cidade para avaliar a ilicitude ou a natureza da sua conduta,
para prevenir ou reprimir a sua prática, ou para levar o as- ou da capacidade para controlar essa conduta a fim de não
sunto ao conhecimento das autoridades competentes, para transgredir a lei, a menos que se tenha intoxicado volunta-
efeitos de inquérito e procedimento criminal. riamente em circunstâncias que lhe permitiam ter conheci-
b) Nas relações entre superiores hierárquicos e subordi- mento de que, em consequência da intoxicação, poderia in-
nados, não referidos na alínea a), o superior hierárquico será correr numa conduta tipificada como crime da competência
criminalmente responsável pelos crimes da competência do do Tribunal, ou, de que haveria o risco de tal suceder;
Tribunal que tiverem sido cometidos por subordinados sob c) Agir em defesa própria ou de terceiro com razoabili-
a sua autoridade e controle efetivos, pelo fato de não ter dade ou, em caso de crimes de guerra, em defesa de um bem
exercido um controle apropriado sobre esses subordinados, que seja essencial para a sua sobrevivência ou de terceiro ou
quando: de um bem que seja essencial à realização de uma missão
a) O superior hierárquico teve conhecimento ou delibe- militar, contra o uso iminente e ilegal da força, de forma
radamente não levou em consideração a informação que in- proporcional ao grau de perigo para si, para terceiro ou para
dicava claramente que os subordinados estavam a cometer os bens protegidos. O fato de participar em uma força que
ou se preparavam para cometer esses crimes; realize uma operação de defesa não será causa bastante de
b) Esses crimes estavam relacionados com atividades exclusão de responsabilidade criminal, nos termos desta alí-
sob a sua responsabilidade e controle efetivos; e nea;
c) O superior hierárquico não adotou todas as medidas d) Tiver incorrido numa conduta que presumivelmente
necessárias e adequadas ao seu alcance para prevenir ou re- constitui crime da competência do Tribunal, em consequên-
primir a sua prática ou para levar o assunto ao conhecimen- cia de coação decorrente de uma ameaça iminente de morte
to das autoridades competentes, para efeitos de inquérito e ou ofensas corporais graves para si ou para outrem, e em
procedimento criminal. que se veja compelida a atuar de forma necessária e razoá-
vel para evitar essa ameaça, desde que não tenha a intenção
Artigo 29 de causar um dano maior que aquele que se propunha evi-
Imprescritibilidade tar. Essa ameaça tanto poderá:
Os crimes da competência do Tribunal não prescrevem. i) Ter sido feita por outras pessoas; ou
ii) Ser constituída por outras circunstâncias alheias à sua
Artigo 30 vontade.
Elementos Psicológicos 2. O Tribunal determinará se os fundamentos de exclu-
1. Salvo disposição em contrário, nenhuma pessoa po- são da responsabilidade criminal previstos no presente Esta-
derá ser criminalmente responsável e punida por um crime tuto serão aplicáveis no caso em apreço.
da competência do Tribunal, a menos que atue com vontade 3. No julgamento, o Tribunal poderá levar em conside-
de o cometer e conhecimento dos seus elementos materiais. ração outros fundamentos de exclusão da responsabilidade
2. Para os efeitos do presente artigo, entende-se que criminal; distintos dos referidos no parágrafo 1o, sempre que
atua intencionalmente quem: esses fundamentos resultem do direito aplicável em confor-
a) Relativamente a uma conduta, se propuser adotá-la; midade com o artigo 21. O processo de exame de um funda-
b) Relativamente a um efeito do crime, se propuser cau- mento de exclusão deste tipo será definido no Regulamento
sá-lo ou estiver ciente de que ele terá lugar em uma ordem Processual.
normal dos acontecimentos .
Artigo 32
3. Nos termos do presente artigo, entende-se por “co- Erro de Fato ou Erro de Direito
nhecimento” a consciência de que existe uma circunstância 1. O erro de fato só excluirá a responsabilidade criminal
ou de que um efeito irá ter lugar, em uma ordem normal dos se eliminar o dolo requerido pelo crime.
acontecimentos. As expressões “ter conhecimento” e “com 2. O erro de direito sobre se determinado tipo de con-
conhecimento” deverão ser entendidas em conformidade. duta constitui crime da competência do Tribunal não será
considerado fundamento de exclusão de responsabilidade
Artigo 31 criminal. No entanto, o erro de direito poderá ser considera-
Causas de Exclusão da Responsabilidade Criminal do fundamento de exclusão de responsabilidade criminal se
Sem prejuízo de outros fundamentos para a exclusão eliminar o dolo requerido pelo crime ou se decorrer do artigo
de responsabilidade criminal previstos no presente Estatuto, 33 do presente Estatuto.
não será considerada criminalmente responsável a pessoa
que, no momento da prática de determinada conduta:

72
DIREITOS HUMANOS

Artigo 33 b) A proposta será seguidamente apreciada em sessão


Decisão Hierárquica e Disposições Legais da Assembleia dos Estados Partes convocada nos termos do
1. Quem tiver cometido um crime da competência do artigo 112 e deverá ser considerada adotada se for aprovada
Tribunal, em cumprimento de uma decisão emanada de na sessão por maioria de dois terços dos membros da As-
um Governo ou de um superior hierárquico, quer seja mi- sembleia dos Estados Partes; a proposta entrará em vigor na
litar ou civil, não será isento de responsabilidade criminal, data fixada pela Assembleia dos Estados Partes;
a menos que: c) i) Logo que seja aprovada a proposta de aumento do
a) Estivesse obrigado por lei a obedecer a decisões número de juízes, de acordo com o disposto na alínea b), a
emanadas do Governo ou superior hierárquico em questão; eleição dos juízes adicionais terá lugar no período seguinte
b) Não tivesse conhecimento de que a decisão era ile- de sessões da Assembleia dos Estados Partes, nos termos dos
gal; e parágrafos 3o a 8o do presente artigo e do parágrafo 2o do
c) A decisão não fosse manifestamente ilegal. artigo 37;
2. Para os efeitos do presente artigo, qualquer decisão ii) Após a aprovação e a entrada em vigor de uma pro-
de cometer genocídio ou crimes contra a humanidade será posta de aumento do número de juízes, de acordo com o
considerada como manifestamente ilegal. disposto nas alíneas b) e c) i), a Presidência poderá, a qual-
quer momento, se o volume de trabalho do Tribunal assim o
CAPÍTULO IV justificar, propor que o número de juízes seja reduzido, mas
COMPOSIÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DO TRIBU- nunca para um número inferior ao fixado no parágrafo 1o.
NAL A proposta será apreciada de acordo com o procedimento
definido nas alíneas a) e b). Caso a proposta seja aprovada, o
número de juízes será progressivamente reduzido, à medida
Artigo 34
que expirem os mandatos e até que se alcance o número
Órgãos do Tribunal
previsto.
O Tribunal será composto pelos seguintes órgãos:
3. a) Os juízes serão eleitos dentre pessoas de elevada
a) A Presidência;
idoneidade moral, imparcialidade e integridade, que reu-
b) Uma Seção de Recursos, uma Seção de Julgamento
nam os requisitos para o exercício das mais altas funções
em Primeira Instância e uma Seção de Instrução;
judiciais nos seus respectivos países.
c) O Gabinete do Procurador;
b) Os candidatos a juízes deverão possuir:
d) A Secretaria.
i) Reconhecida competência em direito penal e direito
Artigo 35 processual penal e a necessária experiência em processos
Exercício das Funções de Juiz penais na qualidade de juiz, procurador, advogado ou outra
1. Os juízes serão eleitos membros do Tribunal para função semelhante; ou
exercer funções em regime de exclusividade e deverão estar ii) Reconhecida competência em matérias relevantes de
disponíveis para desempenhar o respectivo cargo desde o direito internacional, tais como o direito internacional hu-
início do seu mandato. manitário e os direitos humanos, assim como vasta expe-
2. Os juízes que comporão a Presidência desempenha- riência em profissões jurídicas com relevância para a função
rão as suas funções em regime de exclusividade desde a judicial do Tribunal;
sua eleição. c) Os candidatos a juízes deverão possuir um excelente
3. A Presidência poderá, em função do volume de tra- conhecimento e serem fluentes em, pelo menos, uma das
balho do Tribunal, e após consulta dos seus membros, de- línguas de trabalho do Tribunal.
cidir periodicamente em que medida é que será necessário 4. a) Qualquer Estado Parte no presente Estatuto poderá
que os restantes juízes desempenhem as suas funções em propor candidatos às eleições para juiz do Tribunal median-
regime de exclusividade. Estas decisões não prejudicarão o te:
disposto no artigo 40. i) O procedimento previsto para propor candidatos aos
4. Os ajustes de ordem financeira relativos aos juízes mais altos cargos judiciais do país; ou
que não tenham de exercer os respectivos cargos em regi- ii) O procedimento previsto no Estatuto da Corte Inter-
me de exclusividade serão adotadas em conformidade com nacional de Justiça para propor candidatos a esse Tribunal.
o disposto no artigo 49. As propostas de candidatura deverão ser acompanhadas
de uma exposição detalhada comprovativa de que o candi-
Artigo 36 dato possui os requisitos enunciados no parágrafo 3o;
Qualificações, Candidatura e Eleição dos Juízes b) Qualquer Estado Parte poderá apresentar uma candi-
1. Sob reserva do disposto no parágrafo 2o, o Tribunal datura de uma pessoa que não tenha necessariamente a sua
será composto por 18 juízes. nacionalidade, mas que seja nacional de um Estado Parte;
2. a) A Presidência, agindo em nome do Tribunal, c) A Assembleia dos Estados Partes poderá decidir cons-
poderá propor o aumento do número de juízes referido tituir, se apropriado, uma Comissão consultiva para o exame
no parágrafo 1o fundamentando as razões pelas quais das candidaturas, neste caso, a Assembleia dos Estados Par-
considera necessária e apropriada tal medida. O Secretário tes determinará a composição e o mandato da Comissão.
comunicará imediatamente a proposta a todos os Estados 5. Para efeitos da eleição, serão estabelecidas duas listas
Partes; de candidatos:

73
DIREITOS HUMANOS

 A lista A, com os nomes dos candidatos que reúnam os Vagas


requisitos enunciados na alínea b) i) do parágrafo 3°; e 1. Caso ocorra uma vaga, realizar-se-á uma eleição para
A lista B, com os nomes dos candidatos que reúnam os o seu provimento, de acordo com o artigo 36.
requisitos enunciados na alínea b) ii) do parágrafo 3o. 2. O juiz eleito para prover uma vaga, concluirá o man-
O candidato que reúna os requisitos constantes de am- dato do seu antecessor e, se esse período for igual ou inferior
bas as listas, poderá escolher em qual delas deseja figurar. a três anos, poderá ser reeleito para um mandato completo,
Na primeira eleição de membros do Tribunal, pelo menos nos termos do artigo 36.
nove juízes serão eleitos entre os candidatos da lista A e pelo
menos cinco entre os candidatos da lista B. As eleições sub- Artigo 38
sequentes serão organizadas por forma a que se mantenha A Presidência
no Tribunal uma proporção equivalente de juízes de ambas 1. O Presidente, o Primeiro Vice-Presidente e o Segundo
as listas. Vice-Presidente serão eleitos por maioria absoluta dos juízes.
6. a) Os juízes serão eleitos por escrutínio secreto, em Cada um desempenhará o respectivo cargo por um período
sessão da Assembleia dos Estados Partes convocada para de três anos ou até ao termo do seu mandato como juiz, con-
esse efeito, nos termos do artigo 112. Sob reserva do disposto forme o que expirar em primeiro lugar. Poderão ser reeleitos
no parágrafo 7, serão eleitos os 18 candidatos que obtenham uma única vez.
o maior número de votos e uma maioria de dois terços dos 2. O Primeiro Vice-Presidente substituirá o Presiden-
Estados Partes presentes e votantes; te em caso de impossibilidade ou recusa deste. O Segundo
b) No caso em que da primeira votação não resulte Vice-Presidente substituirá o Presidente em caso de impedi-
eleito um número suficiente de juízes, proceder-se-á a nova mento ou recusa deste ou do Primeiro Vice-Presidente.
votação, de acordo com os procedimentos estabelecidos na 3. O Presidente, o Primeiro Vice-Presidente e o Segundo
alínea a), até provimento dos lugares restantes. Vice-Presidente constituirão a Presidência, que ficará encar-
7. O Tribunal não poderá ter mais de um juiz nacional regada:
do mesmo Estado. Para este efeito, a pessoa que for consi- a) Da adequada administração do Tribunal, com exce-
derada nacional de mais de um Estado será considerada na- ção do Gabinete do Procurador; e
cional do Estado onde exerce habitualmente os seus direitos b) Das restantes funções que lhe forem conferidas de
civis e políticos. acordo com o presente Estatuto.
8. a) Na seleção dos juízes, os Estados Partes pondera- 4. Embora eximindo-se da sua responsabilidade nos ter-
rão sobre a necessidade de assegurar que a composição do mos do parágrafo 3o a), a Presidência atuará em coordenação
Tribunal inclua: com o Gabinete do Procurador e deverá obter a aprovação
i) A representação dos principais sistemas jurídicos do deste em todos os assuntos de interesse comum.
mundo;
ii) Uma representação geográfica equitativa; e Artigo 39
iii) Uma representação justa de juízes do sexo feminino Juízos
e do sexo masculino; 1. Após a eleição dos juízes e logo que possível, o Tribu-
b) Os Estados Partes levarão igualmente em considera- nal deverá organizar-se nas seções referidas no artigo 34 b).
A Seção de Recursos será composta pelo Presidente e qua-
ção a necessidade de assegurar a presença de juízes especia-
tro juízes, a Seção de Julgamento em Primeira Instância por,
lizados em determinadas matérias incluindo, entre outras, a
pelo menos, seis juízes e a Seção de Instrução por, pelo me-
violência contra mulheres ou crianças.
nos, seis juízes. Os juízes serão adstritos às Seções de acordo
9. a) Salvo o disposto na alínea b), os juízes serão eleitos
com a natureza das funções que corresponderem a cada um
por um mandato de nove anos e não poderão ser reeleitos,
e com as respectivas qualificações e experiência, por forma
salvo o disposto na alínea c) e no parágrafo 2o do artigo 37;
a que cada Seção disponha de um conjunto adequado de
b) Na primeira eleição, um terço dos juízes eleitos será
especialistas em direito penal e processual penal e em direito
selecionado por sorteio para exercer um mandato de três
internacional. A Seção de Julgamento em Primeira Instância
anos; outro terço será selecionado, também por sorteio, para
e a Seção de Instrução serão predominantemente compostas
exercer um mandato de seis anos; e os restantes exercerão por juízes com experiência em processo penal.
um mandato de nove anos; 2. a) As funções judiciais do Tribunal serão desempenha-
c) Um juiz selecionado para exercer um mandato de três das em cada Seção pelos juízos.
anos, em conformidade com a alínea b), poderá ser reeleito b) i) O Juízo de Recursos será composto por todos os
para um mandato completo. juízes da Seção de Recursos;
10. Não obstante o disposto no parágrafo 9, um juiz afe- ii) As funções do Juízo de Julgamento em Primeira Ins-
to a um Juízo de Julgamento em Primeira Instância ou de tância serão desempenhadas por três juízes da Seção de Jul-
Recurso, em conformidade com o artigo 39, permanecerá em gamento em Primeira Instância;
funções até à conclusão do julgamento ou do recurso dos iii) As funções do Juízo de Instrução serão desempenha-
casos que tiver a seu cargo. das por três juízes da Seção de Instrução ou por um só juiz
da referida Seção, em conformidade com o presente Estatuto
Artigo 37 e com o Regulamento Processual;

74
DIREITOS HUMANOS

c) Nada no presente número obstará a que se consti- Artigo 42


tuam simultaneamente mais de um Juízo de Julgamento em O Gabinete do Procurador
Primeira Instância ou Juízo de Instrução, sempre que a ges- 1. O Gabinete do Procurador atuará de forma indepen-
tão eficiente do trabalho do Tribunal assim o exigir. dente, enquanto órgão autônomo do Tribunal. Competir-
3. a) Os juízes adstritos às Seções de Julgamento em -lhe-á recolher comunicações e qualquer outro tipo de in-
Primeira Instância e de Instrução desempenharão o cargo formação, devidamente fundamentada, sobre crimes da
nessas Seções por um período de três anos ou, decorrido esse competência do Tribunal, a fim de os examinar e investigar
período, até à conclusão dos casos que lhes tenham sido co- e de exercer a ação penal junto ao Tribunal. Os membros
metidos pela respectiva Seção; do Gabinete do Procurador não solicitarão nem cumprirão
b) Os juízes adstritos à Seção de Recursos desempenha- ordens de fontes externas ao Tribunal.
rão o cargo nessa Seção durante todo o seu mandato. 2. O Gabinete do Procurador será presidido pelo Procu-
4. Os juízes adstritos à Seção de Recursos desempenha- rador, que terá plena autoridade para dirigir e administrar
rão o cargo unicamente nessa Seção. Nada no presente ar- o Gabinete do Procurador, incluindo o pessoal, as instala-
tigo obstará a que sejam adstritos temporariamente juízes ções e outros recursos. O Procurador será coadjuvado por
da Seção de Julgamento em Primeira Instância à Seção de um ou mais Procuradores-Adjuntos, que poderão desempe-
Instrução, ou inversamente, se a Presidência entender que nhar qualquer uma das funções que incumbam àquele, em
a gestão eficiente do trabalho do Tribunal assim o exige; conformidade com o disposto no presente Estatuto. O Pro-
porém, o juiz que tenha participado na fase instrutória não curador e os Procuradores-Adjuntos terão nacionalidades
poderá, em caso algum, fazer parte do Juízo de Julgamento diferentes e desempenharão o respectivo cargo em regime
em Primeira Instância encarregado do caso. de exclusividade.
3. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos deverão ter
Artigo 40 elevada idoneidade moral, elevado nível de competência e
Independência dos Juízes vasta experiência prática em matéria de processo penal. De-
1. Os juízes serão independentes no desempenho das verão possuir um excelente conhecimento e serem fluentes
suas funções. em, pelo menos, uma das línguas de trabalho do Tribunal.
2. Os juízes não desenvolverão qualquer atividade que 4. O Procurador será eleito por escrutínio secreto e por
possa ser incompatível com o exercício das suas funções ju-
maioria absoluta de votos dos membros da Assembleia dos
diciais ou prejudicar a confiança na sua independência.
Estados Partes. Os Procuradores-Adjuntos serão eleitos da
3. Os juízes que devam desempenhar os seus cargos em
mesma forma, de entre uma lista de candidatos apresentada
regime de exclusividade na sede do Tribunal não poderão ter
pelo Procurador. O Procurador proporá três candidatos para
qualquer outra ocupação de natureza profissional.
cada cargo de Procurador-Adjunto a prover. A menos que,
4. As questões relativas à aplicação dos parágrafo 2o e
ao tempo da eleição, seja fixado um período mais curto, o
3o serão decididas por maioria absoluta dos juízes. Nenhum
Procurador e os Procuradores-Adjuntos exercerão os respec-
juiz participará na decisão de uma questão que lhe diga
tivos cargos por um período de nove anos e não poderão ser
respeito.
reeleitos.
Artigo 41 5. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos não deve-
Impedimento e Desqualificação de Juízes rão desenvolver qualquer atividade que possa interferir com
1. A Presidência poderá, a pedido de um juiz, declarar o exercício das suas funções ou afetar a confiança na sua
seu impedimento para o exercício de alguma das funções independência e não poderão desempenhar qualquer outra
que lhe confere o presente Estatuto, em conformidade com o função de caráter profissional.
Regulamento Processual. 6. A Presidência poderá, a pedido do Procurador ou de
2. a) Nenhum juiz pode participar num caso em que, por um Procurador-Adjunto, escusá-lo de intervir num determi-
qualquer motivo, seja posta em dúvida a sua imparcialidade. nado caso.
Será desqualificado, em conformidade com o disposto nes- 7. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos não pode-
te número, entre outras razões, se tiver intervindo anterior- rão participar em qualquer processo em que, por qualquer
mente, a qualquer titulo, em um caso submetido ao Tribunal motivo, a sua imparcialidade possa ser posta em causa. Se-
ou em um procedimento criminal conexo em nível nacional rão recusados, em conformidade com o disposto no presente
que envolva a pessoa objeto de inquérito ou procedimento número, entre outras razões, se tiverem intervindo anterior-
criminal. Pode ser igualmente desqualificado por qualquer mente, a qualquer título, num caso submetido ao Tribunal
outro dos motivos definidos no Regulamento Processual; ou num procedimento crime conexo em nível nacional, que
b) O Procurador ou a pessoa objeto de inquérito ou pro- envolva a pessoa objeto de inquérito ou procedimento cri-
cedimento criminal poderá solicitar a desqualificação de um minal.
juiz em virtude do disposto no presente número; 8. As questões relativas à recusa do Procurador ou de um
c) As questões relativas à desqualificação de juízes se- Procurador-Adjunto serão decididas pelo Juízo de Recursos.
rão decididas por maioria absoluta dos juízes. O juiz cuja a) A pessoa objeto de inquérito ou procedimento crimi-
desqualificação for solicitada, poderá pronunciar-se sobre a nal poderá solicitar, a todo o momento, a recusa do Procu-
questão, mas não poderá tomar parte na decisão. rador ou de um Procurador-Adjunto, pelos motivos previstos
no presente artigo;

75
DIREITOS HUMANOS

b) O Procurador ou o Procurador-Adjunto, segundo o 4. O Tribunal poderá, em circunstâncias excepcionais,


caso, poderão pronunciar-se sobre a questão. recorrer aos serviços de pessoal colocado à sua disposição,
9. O Procurador nomeará assessores jurídicos especiali- a título gratuito, pelos Estados Partes, organizações inter-
zados em determinadas áreas incluindo, entre outras, as da governamentais e organizações não governamentais, com
violência sexual ou violência por motivos relacionados com vista a colaborar com qualquer um dos órgãos do Tribunal.
a pertença a um determinado gênero e da violência contra O Procurador poderá anuir a tal eventualidade em nome
as crianças. do Gabinete do Procurador. A utilização do pessoal dispo-
nibilizado a título gratuito ficará sujeita às diretivas estabe-
Artigo 43 lecidas pela Assembleia dos Estados Partes.
A Secretaria
1. A Secretaria será responsável pelos aspectos não judi- Artigo 45
ciais da administração e do funcionamento do Tribunal, sem Compromisso Solene
prejuízo das funções e atribuições do Procurador definidas Antes de assumir as funções previstas no presente Es-
no artigo 42. tatuto, os juízes, o Procurador, os Procuradores-Adjuntos, o
2. A Secretaria será dirigida pelo Secretário, principal Secretário e o Secretário-Adjunto declararão solenemente,
responsável administrativo do Tribunal. O Secretário exer- em sessão pública, que exercerão as suas funções imparcial
cerá as suas funções na dependência do Presidente do Tri- e conscienciosamente.
bunal.
3. O Secretário e o Secretário-Adjunto deverão ser pes- Artigo 46
soas de elevada idoneidade moral e possuir um elevado nível Cessação de Funções
de competência e um excelente conhecimento e domínio de, 1. Um Juiz, o Procurador, um Procurador-Adjunto, o
pelo menos, uma das línguas de trabalho do Tribunal. Secretário ou o Secretário-Adjunto cessará as respectivas
4. Os juízes elegerão o Secretário em escrutínio secreto, funções, por decisão adotada de acordo com o disposto no
por maioria absoluta, tendo em consideração as recomenda- parágrafo 2o, nos casos em que:
ções da Assembleia dos Estados Partes. Se necessário, elegerão
a) Se conclua que a pessoa em causa incorreu em falta
um Secretário-Adjunto, por recomendação do Secretário e pela
grave ou incumprimento grave das funções conferidas pelo
mesma forma.
presente Estatuto, de acordo com o previsto no Regulamen-
5. O Secretário será eleito por um período de cinco anos
to Processual; ou
para exercer funções em regime de exclusividade e só poderá
b) A pessoa em causa se encontre impossibilitada de
ser reeleito uma vez. O Secretário-Adjunto será eleito por um
desempenhar as funções definidas no presente Estatuto.
período de cinco anos, ou por um período mais curto se assim
2. A decisão relativa à cessação de funções de um juiz,
o decidirem os juízes por deliberação tomada por maioria ab-
do Procurador ou de um Procurador-Adjunto, de acordo
soluta, e exercerá as suas funções de acordo com as exigências
de serviço. com o parágrafo 1o, será adotada pela Assembleia dos Es-
6. O Secretário criará, no âmbito da Secretaria, uma Uni- tados Partes em escrutínio secreto:
dade de Apoio às Vítimas e Testemunhas. Esta Unidade, em a) No caso de um juiz, por maioria de dois terços dos
conjunto com o Gabinete do Procurador, adotará medidas de Estados Partes, com base em recomendação adotada por
proteção e dispositivos de segurança e prestará assessoria e ou- maioria de dois terços dos restantes juízes;
tro tipo de assistência às testemunhas e vítimas que compare- b) No caso do Procurador, por maioria absoluta dos Es-
çam perante o Tribunal e a outras pessoas ameaçadas em vir- tados Partes;
tude do testemunho prestado por aquelas. A Unidade incluirá c) No caso de um Procurador-Adjunto, por maioria ab-
pessoal especializado para atender as vítimas de traumas, no- soluta dos Estados Partes, com base na recomendação do
meadamente os relacionados com crimes de violência sexual. Procurador.
3. A decisão relativa à cessação de funções do Secre-
Artigo 44 tário ou do Secretário-Adjunto, será adotada por maioria
O Pessoal absoluta de votos dos juízes.
1. O Procurador e o Secretário nomearão o pessoal quali- 4. Os juízes, o Procurador, os Procuradores-Adjuntos,
ficado necessário aos respectivos serviços, nomeadamente, no o Secretário ou o Secretário-Adjunto, cuja conduta ou ido-
caso do Procurador, o pessoal encarregado de efetuar diligên- neidade para o exercício das funções inerentes ao cargo em
cias no âmbito do inquérito. conformidade com o presente Estatuto tiver sido contesta-
2. No tocante ao recrutamento de pessoal, o Procurador e o da ao abrigo do presente artigo, terão plena possibilidade
Secretário assegurarão os mais altos padrões de eficiência, com- de apresentar e obter meios de prova e produzir alegações
petência e integridade, tendo em consideração,mutatis mutan- de acordo com o Regulamento Processual; não poderão, no
dis, os critérios estabelecidos no parágrafo 8 do artigo 36. entanto, participar, de qualquer outra forma, na apreciação
3. O Secretário, com o acordo da Presidência e do Procura- do caso.
dor, proporá o Estatuto do Pessoal, que fixará as condições de
nomeação, remuneração e cessação de funções do pessoal do
Tribunal. O Estatuto do Pessoal será aprovado pela Assem-
bleia dos Estados Partes.

76
DIREITOS HUMANOS

Artigo 47 2. As línguas francesa e inglesa serão as línguas de tra-


Medidas Disciplinares balho do Tribunal. O Regulamento Processual definirá os ca-
Os juízes, o Procurador, os Procuradores-Adjuntos, o sos em que outras línguas oficiais poderão ser usadas como
Secretário ou o Secretário-Adjunto que tiverem cometido línguas de trabalho.
uma falta menos grave que a prevista no parágrafo 1o do 3. A pedido de qualquer Parte ou qualquer Estado que
artigo 46 incorrerão em responsabilidade disciplinar nos tenha sido admitido a intervir num processo, o Tribunal au-
termos do Regulamento Processual. torizará o uso de uma língua que não seja a francesa ou a
inglesa, sempre que considere que tal autorização se justi-
Artigo 48 fica.
Privilégios e Imunidades
1. O Tribunal gozará, no território dos Estados Partes, Artigo 51
dos privilégios e imunidades que se mostrem necessários ao
Regulamento Processual
cumprimento das suas funções.
1. O Regulamento Processual entrará em vigor median-
2. Os juízes, o Procurador, os Procuradores-Adjuntos e
te a sua aprovação por uma maioria de dois terços dos votos
o Secretário gozarão, no exercício das suas funções ou em
relação a estas, dos mesmos privilégios e imunidades reco- dos membros da Assembleia dos Estados Partes.
nhecidos aos chefes das missões diplomáticas, continuando 2. Poderão propor alterações ao Regulamento Proces-
a usufruir de absoluta imunidade judicial relativamente às sual:
suas declarações, orais ou escritas, e aos atos que pratiquem a) Qualquer Estado Parte;
no desempenho de funções oficiais após o termo do respec- b) Os juízes, por maioria absoluta; ou
tivo mandato. c) O Procurador.
3. O Secretário-Adjunto, o pessoal do Gabinete do Pro- Estas alterações entrarão em vigor mediante a aprova-
curador e o pessoal da Secretaria gozarão dos mesmos privi- ção por uma maioria de dois terços dos votos dos membros
légios e imunidades e das facilidades necessárias ao cumpri- da Assembleia dos Estados partes.
mento das respectivas funções, nos termos do acordo sobre 3. Após a aprovação do Regulamento Processual, em
os privilégios e imunidades do Tribunal. casos urgentes em que a situação concreta suscitada em Tri-
4. Os advogados, peritos, testemunhas e outras pessoas, bunal não se encontre prevista no Regulamento Processual,
cuja presença seja requerida na sede do Tribunal, beneficia- os juízes poderão, por maioria de dois terços, estabelecer
rão do tratamento que se mostre necessário ao funciona- normas provisórias a serem aplicadas até que a Assembleia
mento adequado deste, nos termos do acordo sobre os privi- dos Estados Partes as aprove, altere ou rejeite na sessão or-
légios e imunidades do Tribunal.
dinária ou extraordinária seguinte.
5. Os privilégios e imunidades poderão ser levantados:
4. O Regulamento Processual, e respectivas alterações,
a) No caso de um juiz ou do Procurador, por decisão
bem como quaisquer normas provisórias, deverão estar em
adotada por maioria absoluta dos juízes;
b) No caso do Secretário, pela Presidência; consonância com o presente Estatuto. As alterações ao Re-
c) No caso dos Procuradores-Adjuntos e do pessoal do gulamento Processual, assim como as normas provisórias
Gabinete do Procurador, pelo Procurador; aprovadas em conformidade com o parágrafo 3o, não serão
d) No caso do Secretário-Adjunto e do pessoal da Secre- aplicadas com caráter retroativo em detrimento de qual-
taria, pelo Secretário. quer pessoa que seja objeto de inquérito ou de procedimen-
to criminal, ou que tenha sido condenada.
Artigo 49 5. Em caso de conflito entre as disposições do Estatuto e
Vencimentos, Subsídios e Despesas as do Regulamento Processual, o Estatuto prevalecerá.
Os juízes, o Procurador, os Procuradores-Adjuntos, o Se-
cretário e o Secretário-Adjunto auferirão os vencimentos e Artigo 52
terão direito aos subsídios e ao reembolso de despesas que Regimento do Tribunal
forem estabelecidos em Assembleia dos Estados Partes. Estes 1. De acordo com o presente Estatuto e com o Regula-
vencimentos e subsídios não serão reduzidos no decurso do mento Processual, os  juízes aprovarão, por maioria abso-
mandato. luta, o Regimento necessário ao normal funcionamento do
Tribunal.
Artigo 50
2. O Procurador e o Secretário serão consultados so-
Línguas Oficiais e Línguas de Trabalho
bre a elaboração do Regimento ou sobre qualquer alteração
1. As línguas árabe, chinesa, espanhola, francesa, ingle-
que lhe seja introduzida.
sa e russa serão as línguas oficiais do Tribunal. As sentenças
proferidas pelo Tribunal, bem como outras decisões sobre 3. O Regimento do Tribunal e qualquer alteração pos-
questões fundamentais submetidas ao Tribunal, serão publi- terior entrarão em vigor mediante a sua aprovação, salvo
cadas nas línguas oficiais. A Presidência, de acordo com os decisão em contrário dos juízes. Imediatamente após a ado-
critérios definidos no Regulamento Processual, determinará ção, serão circulados pelos Estados Partes para observações
quais as decisões que poderão ser consideradas como deci- e continuarão em vigor se, dentro de seis meses, não forem
sões sobre questões fundamentais, para os efeitos do presen- formuladas objeções pela maioria dos Estados Partes.
te parágrafo.

77
DIREITOS HUMANOS

CAPÍTULO V b) Adotar as medidas adequadas para assegurar a efi-


INQUÉRITO E PROCEDIMENTO CRIMINAL cácia do inquérito e do procedimento criminal relativamente
aos crimes da jurisdição do Tribunal e, na sua atuação, o
Artigo 53 Procurador terá em conta os interesses e a situação pessoal
Abertura do Inquérito das vítimas e testemunhas, incluindo a idade, o gênero tal
1. O Procurador, após examinar a informação de que como definido no parágrafo 3o do artigo 7o, e o estado de
dispõe, abrirá um inquérito, a menos que considere que, nos saúde; terá igualmente em conta a natureza do crime, em
termos do presente Estatuto, não existe fundamento razoável particular quando envolva violência sexual, violência por
para proceder ao mesmo. Na sua decisão, o Procurador terá motivos relacionados com a pertença a um determinado gê-
em conta se: nero e violência contra as crianças; e
a) A informação de que dispõe constitui fundamento ra- c) Respeitar plenamente os direitos conferidos às pessoas
zoável para crer que foi, ou está sendo, cometido um crime da pelo presente Estatuto.
competência do Tribunal; 2. O Procurador poderá realizar investigações no âmbito
b) O caso é ou seria admissível nos termos do artigo 17; e de um inquérito no território de um Estado:
c) Tendo em consideração a gravidade do crime e os inte- a) De acordo com o disposto na Parte IX; ou
resses das vítimas, não existirão, contudo, razões substanciais b) Mediante autorização do Juízo de Instrução, dada nos
para crer que o inquérito não serve os interesses da justiça. termos do parágrafo 3o, alínea d), do artigo 57.
Se decidir que não há motivo razoável para abrir um in- 3. O Procurador poderá:
quérito e se esta decisão se basear unicamente no disposto na a) Reunir e examinar provas;
alínea c), o Procurador informará o Juízo de Instrução. b) Convocar e interrogar pessoas objeto de inquérito e
2. Se, concluído o inquérito, o Procurador chegar à con- convocar e tomar o depoimento de vítimas e testemunhas;
clusão de que não há fundamento suficiente para proceder c) Procurar obter a cooperação de qualquer Estado ou
criminalmente, na medida em que: organização intergovernamental ou instrumento intergo-
a) Não existam elementos suficientes, de fato ou de di- vernamental, de acordo com a respectiva competência e/ou
reito, para requerer a emissão de um mandado de detenção mandato;
ou notificação para comparência, de acordo com o artigo 58;
d) Celebrar acordos ou convênios compatíveis com o
b) O caso seja inadmissível, de acordo com o artigo 17; ou
presente Estatuto, que se mostrem necessários para facilitar
c) O procedimento não serviria o interesse da justiça, con-
a cooperação de um Estado, de uma organização intergover-
sideradas todas as circunstâncias, tais como a gravidade do
namental ou de uma pessoa;
crime, os interesses das vítimas e a idade ou o estado de saúde
e) Concordar em não divulgar, em qualquer fase do pro-
do presumível autor e o grau de participação no alegado cri-
cesso, documentos ou informação que tiver obtido, com a
me, comunicará a sua decisão, devidamente fundamentada,
condição de preservar o seu caráter confidencial e com o
ao Juízo de Instrução e ao Estado que lhe submeteu o caso, de
acordo com o artigo 14, ou ao Conselho de Segurança, se se objetivo único de obter novas provas, a menos que quem
tratar de um caso previsto no parágrafo b) do artigo 13. tiver facilitado a informação consinta na sua divulgação; e
3. a) A pedido do Estado que tiver submetido o caso, nos f) Adotar ou requerer que se adotem as medidas neces-
termos do artigo 14, ou do Conselho de Segurança, nos ter- sárias para assegurar o caráter confidencial da informação,
mos do parágrafo b) do artigo 13, o Juízo de Instrução po- a proteção de pessoas ou a preservação da prova.
derá examinar a decisão do Procurador de não proceder cri-
minalmente em conformidade com os parágrafos 1o ou 2o e Artigo 55
solicitar-lhe que reconsidere essa decisão; Direitos das Pessoas no Decurso do Inquérito
b) Além disso, o Juízo de Instrução poderá, oficiosamen- 1. No decurso de um inquérito aberto nos termos do pre-
te, examinar a decisão do Procurador de não proceder crimi- sente Estatuto:
nalmente, se essa decisão se basear unicamente no disposto a) Nenhuma pessoa poderá ser obrigada a depor contra
no parágrafo 1o, alínea c), e no parágrafo 2o, alínea c). Nesse si própria ou a declarar-se culpada;
caso, a decisão do Procurador só produzirá efeitos se confir- b) Nenhuma pessoa poderá ser submetida a qualquer
mada pelo Juízo de Instrução. forma de coação, intimidação ou ameaça, tortura ou outras
4. O Procurador poderá, a todo o momento, reconsiderar formas de penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou de-
a sua decisão de abrir um inquérito ou proceder criminalmen- gradantes; e
te, com base em novos fatos ou novas informações. c) Qualquer pessoa que for interrogada numa língua
que não compreenda ou não fale fluentemente, será assisti-
Artigo 54 da, gratuitamente, por um intérprete competente e disporá
Funções e Poderes do Procurador em Matéria de Inquérito das traduções que são necessárias às exigências de equidade;
1. O Procurador deverá: d) Nenhuma pessoa poderá ser presa ou detida arbitra-
a) A fim de estabelecer a verdade dos fatos, alargar o riamente, nem ser privada da sua liberdade, salvo pelos mo-
inquérito a todos os fatos e provas pertinentes para a de- tivos previstos no presente Estatuto e em conformidade com
terminação da responsabilidade criminal, em conformidade os procedimentos nele estabelecidos.
com o presente Estatuto e, para esse efeito, investigar, de 2. Sempre que existam motivos para crer que uma pes-
igual modo, as circunstâncias que interessam quer à acusa- soa cometeu um crime da competência do Tribunal e que
ção, quer à defesa; deve ser interrogada pelo Procurador ou pelas autoridades

78
DIREITOS HUMANOS

nacionais, em virtude de um pedido feito em conformidade no julgamento, o Juízo consultará o Procurador a fim de sa-
com o disposto na Parte IX do presente Estatuto, essa pessoa ber se existem motivos poderosos para este não requerer as
será .informada, antes do interrogatório, de que goza ainda referidas medidas. Se, após consulta, o Juízo concluir que a
dos seguintes direitos: omissão de requerimento de tais medidas é injustificada, po-
a) A ser informada antes de ser interrogada de que exis- derá adotar essas medidas de ofício.
tem indícios de que cometeu um crime da competência do b) O Procurador poderá recorrer da decisão do Juízo de
Tribunal; Instrução de ofício, nos termos do presente número. O recur-
b) A guardar silêncio, sem que tal seja tido em considera- so seguirá uma forma sumária.
ção para efeitos de determinação da sua culpa ou inocência; 4. A admissibilidade dos meios de prova preservados ou
c) A ser assistida por um advogado da sua escolha ou, recolhidos para efeitos do processo ou o respectivo registro,
se não o tiver, a solicitar que lhe seja designado um defensor em conformidade com o presente artigo, reger-se-ão, em
dativo, em todas as situações em que o interesse da justiça julgamento, pelo disposto no artigo 69, e terão o valor que
assim o exija e sem qualquer encargo se não possuir meios lhes for atribuído pelo Juízo de Julgamento em Primeira Ins-
suficientes para lhe pagar; e tância.
d) A ser interrogada na presença do seu advogado, a
menos que tenha renunciado voluntariamente ao direito de Artigo 57
ser assistida por um advogado. Funções e Poderes do Juízo de Instrução
1. Salvo disposição em contrário contida no presente
Artigo 56 Estatuto, o Juízo de Instrução exercerá as suas funções em
Intervenção do Juízo de Instrução em Caso de Oportuni- conformidade com o presente artigo.
dade Única de Proceder a um Inquérito 2. a) Para os despachos do Juízo de Instrução proferidos
1. a) Sempre que considere que um inquérito oferece ao abrigo dos artigos 15, 18, 19, 54, parágrafo 2o, 61, pará-
uma oportunidade única de recolher depoimentos ou decla- grafo 7, e 72, deve concorrer maioria de votos dos juízes que
rações de uma testemunha ou de examinar, reunir ou veri- o compõem;
ficar provas, o Procurador comunicará esse fato ao Juízo de b) Em todos os outros casos, um único juiz do Juízo de
Instrução; Instrução poderá exercer as funções definidas no presente
b) Nesse caso, o Juízo de Instrução, a pedido do Procu- Estatuto, salvo disposição em contrário contida no Regula-
rador, poderá adotar as medidas que entender necessárias mento Processual ou decisão em contrário do Juízo de Ins-
para assegurar a eficácia e a integridade do processo e, em trução tomada por maioria de votos.
particular, para proteger os direitos de defesa; 3. Independentemente das outras funções conferidas
c) Salvo decisão em contrário do Juízo de Instrução, o pelo presente Estatuto, o Juízo de Instrução poderá:
Procurador transmitirá a informação relevante à pessoa que a) A pedido do Procurador, proferir os despachos e emitir
tenha sido detida, ou que tenha comparecido na sequência os mandados que se revelem necessários para um inquérito;
de notificação emitida no âmbito do inquérito a que se refere b) A pedido de qualquer pessoa que tenha sido detida
a alínea a), para que possa ser ouvida sobre a matéria em ou tenha comparecido na sequência de notificação expedida
causa. nos termos do artigo 58, proferir despachos, incluindo medi-
2. As medidas a que se faz referência na alínea b) do das tais como as indicadas no artigo 56, ou procurar obter,
parágrafo 1o poderão consistir em: nos termos do disposto na Parte IX, a cooperação necessária
a) Fazer recomendações ou proferir despachos sobre o para auxiliar essa pessoa a preparar a sua defesa;
procedimento a seguir; c) Sempre que necessário, assegurar a proteção e o res-
b) Ordenar que seja lavrado o processo; peito pela privacidade de vítimas e testemunhas, a preserva-
c) Nomear um perito; ção da prova, a proteção de pessoas detidas ou que tenham
d) Autorizar o advogado de defesa do detido, ou de quem comparecido na sequência de notificação para compareci-
tiver comparecido no Tribunal na sequência de notificação, mento, assim como a proteção de informação que afete a
a participar no processo ou, no caso dessa detenção ou com- segurança nacional;
parecimento não se ter ainda verificado ou não tiver ainda d) Autorizar o Procurador a adotar medidas específicas
sido designado advogado, a nomear outro defensor que se no âmbito de um inquérito, no território de um Estado Parte
encarregará dos interesses da defesa e os representará; sem ter obtido a cooperação deste nos termos do disposto na
e) Encarregar um dos seus membros ou, se necessário, Parte IX, caso o Juízo de Instrução determine que, tendo em
outro juiz disponível da Seção de Instrução ou da Seção de consideração, na medida do possível, a posição do referido
Julgamento em Primeira Instância, de formular recomenda- Estado, este último não está manifestamente em condições
ções ou proferir despachos sobre o recolhimento e a preser- de satisfazer um pedido de cooperação face à incapacidade
vação de meios de prova e a inquirição de pessoas; de todas as autoridades ou órgãos do seu sistema judiciário
f) Adotar todas as medidas necessárias para reunir ou com competência para dar seguimento a um pedido de coo-
preservar meios de prova. peração formulado nos termos do disposto na Parte IX.
3. a) Se o Procurador não tiver solicitado as medidas e) Quando tiver emitido um mandado de detenção ou
previstas no presente artigo mas o Juízo de Instrução con- uma notificação para comparecimento nos termos do artigo
siderar que tais medidas serão necessárias para preservar 58, e levando em consideração o valor das provas e os direi-
meios de prova que lhe pareçam essenciais para a defesa tos das partes em questão, em conformidade com o disposto

79
DIREITOS HUMANOS

no presente Estatuto e no Regulamento Processual, procurar 7. O Procurador poderá solicitar ao Juízo de Instrução
obter a cooperação dos Estados, nos termos do parágrafo 1o, que, em vez de um mandado de detenção, emita uma no-
alínea k) do artigo 93, para adoção de medidas cautelares tificação para comparecimento. Se o Juízo considerar que
que visem à apreensão, em particular no interesse superior existem motivos suficientes para crer que a pessoa come-
das vítimas. teu o crime que lhe é imputado e que uma notificação para
comparecimento será suficiente para garantir a sua presen-
Artigo 58 ça efetiva em tribunal, emitirá uma notificação para que
Mandado de Detenção e Notificação para Compareci- a pessoa compareça, com ou sem a imposição de medidas
mento do Juízo de Instrução restritivas de liberdade (distintas da detenção) se previstas no
1. A todo o momento após a abertura do inquérito, o direito interno. Da notificação para comparecimento deverão
Juízo de Instrução poderá, a pedido do Procurador, emitir um constar os seguintes elementos:
mandado de detenção contra uma pessoa se, após examinar a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro elemen-
o pedido e as provas ou outras informações submetidas pelo to útil de identificação;
Procurador, considerar que: b) A data de comparecimento;
a) Existem motivos suficientes para crer que essa pessoa c) A referência precisa ao crime da competência do Tribu-
cometeu um crime da competência do Tribunal; e nal que a pessoa alegadamente tenha cometido; e
b) A detenção dessa pessoa se mostra necessária para: d) Uma descrição sucinta dos fatos que alegadamente
i) Garantir o seu comparecimento em tribunal; constituem o crime.
ii) Garantir que não obstruirá, nem porá em perigo, o
inquérito ou a ação do Tribunal; ou Esta notificação será diretamente feita à pessoa em causa.
iii) Se for o caso, impedir que a pessoa continue a come-
ter esse crime ou um crime conexo que seja da competência Artigo 59
do Tribunal e tenha a sua origem nas mesmas circunstân- Procedimento de Detenção no Estado da Detenção
cias. 1. O Estado Parte que receber um pedido de prisão pre-
2. Do requerimento do Procurador deverão constar os ventiva ou de detenção e entrega, adotará imediatamente as
seguintes elementos: medidas necessárias para proceder à detenção, em conformi-
a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro ele- dade com o respectivo direito interno e com o disposto na
mento útil de identificação; Parte IX.
b) A referência precisa do crime da competência do Tri- 2. O detido será imediatamente levado à presença da
bunal que a pessoa tenha presumivelmente cometido; autoridade judiciária competente do Estado da detenção que
c) Uma descrição sucinta dos fatos que alegadamente determinará se, de acordo com a legislação desse Estado:
constituem o crime; a) O mandado de detenção é aplicável à pessoa em causa;
b) A detenção foi executada de acordo com a lei;
d) Um resumo das provas e de qualquer outra informa-
c) Os direitos do detido foram respeitados,
ção que constitua motivo suficiente para crer que a pessoa
3. O detido terá direito a solicitar à autoridade compe-
cometeu o crime; e
tente do Estado da detenção autorização para aguardar a sua
e) Os motivos pelos quais o Procurador considere neces-
entrega em liberdade.
sário proceder à detenção daquela pessoa.
4. Ao decidir sobre o pedido, a autoridade competente do
3. Do mandado de detenção deverão constar os seguin-
Estado da detenção determinará se, em face da gravidade dos
tes elementos:
crimes imputados, se verificam circunstâncias urgentes e ex-
a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro ele-
cepcionais que justifiquem a liberdade provisória e se existem
mento útil de identificação; as garantias necessárias para que o Estado de detenção possa
b) A referência precisa do crime da competência do Tri- cumprir a sua obrigação de entregar a pessoa ao Tribunal.
bunal que justifique o pedido de detenção; e Essa autoridade não terá competência para examinar se o
c) Uma descrição sucinta dos fatos que alegadamente mandado de detenção foi regularmente emitido, nos termos
constituem o crime. das alíneas a) e b) do parágrafo 1o do artigo 58.
4. O mandado de detenção manter-se-á válido até deci- 5. O pedido de liberdade provisória será notificado ao
são em contrário do Tribunal. Juízo de Instrução, o qual fará recomendações à autoridade
5. Com base no mandado de detenção, o Tribunal po- competente do Estado da detenção. Antes de tomar uma deci-
derá solicitar a prisão preventiva ou a detenção e entrega são, a autoridade competente do Estado da detenção terá em
da pessoa em conformidade com o disposto na Parte IX do conta essas recomendações, incluindo as relativas a medidas
presente Estatuto. adequadas para impedir a fuga da pessoa.
6. O Procurador poderá solicitar ao Juízo de Instrução 6. Se a liberdade provisória for concedida, o Juízo de Ins-
que altere o mandado de detenção no sentido de requalifi- trução poderá solicitar informações periódicas sobre a situa-
car os crimes aí indicados ou de adicionar outros. O Juízo de ção de liberdade provisória.
Instrução alterará o mandado de detenção se considerar que 7. Uma vez que o Estado da detenção tenha ordenado a
existem motivos suficientes para crer que a pessoa cometeu entrega, o detido será colocado, o mais rapidamente possível,
quer os crimes na forma que se indica nessa requalificação, à disposição do Tribunal.
quer os novos crimes. Artigo 60

80
DIREITOS HUMANOS

Início da Fase Instrutória 4. Antes da audiência, o Procurador poderá reabrir o


1. Logo que uma pessoa seja entregue ao Tribunal ou inquérito e alterar ou retirar parte dos fatos constantes da
nele compareça voluntariamente em cumprimento de uma acusação. O acusado será notificado de qualquer alteração
notificação para comparecimento, o Juízo de Instrução deve- ou retirada em tempo razoável, antes da realização da au-
rá assegurar-se de que essa pessoa foi informada dos crimes diência. No caso de retirada de parte dos fatos constantes
que lhe são imputados e dos direitos que o presente Estatuto da acusação, o Procurador informará o Juízo de Instrução
lhe confere, incluindo o direito de solicitar autorização para dos motivos da mesma.
aguardar o julgamento em liberdade. 5. Na audiência, o Procurador produzirá provas satis-
2. A pessoa objeto de um mandado de detenção poderá fatórias dos fatos constantes da acusação, nos quais ba-
solicitar autorização para aguardar julgamento em liberda-
seou a sua convicção de que o acusado cometeu o crime
de. Se o Juízo de Instrução considerar verificadas as condições
que lhe é imputado. O Procurador poderá basear-se em
enunciadas no parágrafo 1o do artigo 58, a detenção será
mantida. Caso contrário, a pessoa será posta em liberdade, provas documentais ou um resumo das provas, não sen-
com ou sem condições. do obrigado a chamar as testemunhas que irão depor no
3. O Juízo de Instrução reexaminará periodicamente a julgamento.
sua decisão quanto à liberdade provisória ou à detenção, 6. Na audiência, o acusado poderá:
podendo fazê-lo a todo o momento, a pedido do Procurador a) Contestar as acusações;
ou do interessado. Ao tempo da revisão, o Juízo poderá mo- b) Impugnar as provas apresentadas pelo Procurador;
dificar a sua decisão quanto à detenção, à liberdade provisó- e
ria ou às condições desta, se considerar que a alteração das c) Apresentar provas.
circunstâncias o justifica. 7. Com base nos fatos apreciados durante a audiência,
4. O Juízo de Instrução certificar-se-á de que a detenção o Juízo de Instrução decidirá se existem provas suficientes
não será prolongada por período não razoável devido a de- de que o acusado cometeu os crimes que lhe são imputa-
mora injustificada por parte do Procurador. Caso se produza dos. De acordo com essa decisão, o Juízo de Instrução:
a referida demora, o Tribunal considerará a possibilidade de a) Declarará procedente a acusação na parte relativa-
por o interessado em liberdade, com ou sem condições. mente à qual considerou terem sido reunidas provas sufi-
5. Se necessário, o Juízo de Instrução poderá emitir um cientes e remeterá o acusado para o juízo de Julgamento
mandado de detenção para garantir o comparecimento de em Primeira Instância, a fim de aí ser julgado pelos fatos
uma pessoa que tenha sido posta em liberdade.
confirmados;
Artigo 61
b) Não declarará procedente a acusação na parte re-
Apreciação da Acusação Antes do Julgamento
1. Salvo o disposto no parágrafo 2o, e em um prazo ra- lativamente à qual considerou não terem sido reunidas
zoável após a entrega da pessoa ao Tribunal ou ao seu com- provas suficientes;
parecimento voluntário perante este, o Juízo de Instrução c) Adiará a audiência e solicitará ao Procurador que
realizará uma audiência para apreciar os fatos constantes considere a possibilidade de:
da acusação com base nos quais o Procurador pretende re- i) Apresentar novas provas ou efetuar novo inquérito
querer o julgamento. A audiência ocorrerá lugar na presença relativamente a um determinado fato constante da acu-
do Procurador e do acusado, assim como do defensor deste. sação; ou
2. O Juízo de Instrução, de ofício ou a pedido do Procu- ii) Modificar parte da acusação, se as provas reunidas
rador, poderá realizar a audiência na ausência do acusado, parecerem indicar que um crime distinto, da competência
a fim de apreciar os fatos constantes da acusação com base do Tribunal, foi cometido.
nos quais o Procurador pretende requerer o julgamento, se 8. A declaração de não procedência relativamente a
o acusado: parte de uma acusação, proferida pelo Juízo de Instrução,
a) Tiver renunciado ao seu direito a estar presente; ou não obstará a que o Procurador solicite novamente a sua
b) Tiver fugido ou não for possível encontrá-lo, tendo apreciação, na condição de apresentar provas adicionais.
sido tomadas todas as medidas razoáveis para assegurar o 9. Tendo os fatos constantes da acusação sido declara-
seu comparecimento em Tribunal e para o informar dos fa- dos procedentes, e antes do início do julgamento, o Procu-
tos constantes da acusação e da realização de uma audiên-
rador poderá, mediante autorização do Juízo de Instrução
cia para apreciação dos mesmos.
e notificação prévia do acusado, alterar alguns fatos cons-
Neste caso, o acusado será representado por um defen-
sor, se o Juízo de Instrução decidir que tal servirá os interes- tantes da acusação. Se o Procurador pretender acrescentar
ses da  justiça. novos fatos ou substituí-los por outros de natureza mais
3. Num prazo razoável antes da audiência, o acusado: grave, deverá, nos termos do preserve artigo, requerer uma
a) Receberá uma cópia do documento especificando os audiência para a respectiva apreciação. Após o início do
fatos constantes da acusação com base nos quais o Procura- julgamento, o Procurador poderá retirar a acusação, com
dor pretende requerer o julgamento; e autorização do Juízo de Instrução.
b) Será informado das provas que o Procurador pretende 10. Qualquer mandado emitido deixará de ser válido
apresentar em audiência. relativamente aos fatos constantes da acusação que te-
O Juízo de Instrução poderá proferir despacho sobre a nham sido declarados não procedentes pelo Juízo de Ins-
divulgação de informação para efeitos da audiência. trução ou que tenham sido retirados pelo Procurador.

81
DIREITOS HUMANOS

11. Tendo a acusação sido declarada procedente nos 5. Mediante notificação às partes, o Juízo de Julgamento
termos do presente artigo, a Presidência designará um Juí- em Primeira Instância poderá, conforme se lhe afigure mais
zo de Julgamento em Primeira Instância que, sob reserva adequado, ordenar que as acusações contra mais de um
do disposto no parágrafo 9 do presente artigo e no pará- acusado sejam deduzidas conjunta ou separadamente.
grafo 4o do artigo 64, se encarregará da fase seguinte do 6. No desempenho das suas funções, antes ou no decur-
processo e poderá exercer as funções do Juízo de Instrução so de um julgamento, o Juízo de Julgamento em Primeira
que se mostrem pertinentes e apropriadas nessa fase do Instância poderá, se necessário:
processo. a) Exercer qualquer uma das funções do Juízo de Instru-
ção consignadas no parágrafo 11 do artigo 61;
CAPÍTULO VI b) Ordenar a comparência e a audição de testemunhas
O JULGAMENTO e a apresentação de documentos e outras provas, obtendo
para tal, se necessário, o auxílio de outros Estados, conforme
Artigo 62 previsto no presente Estatuto;
Local do Julgamento c) Adotar medidas para a proteção da informação con-
Salvo decisão em contrário, o julgamento terá lugar na fidencial;
sede do Tribunal. d) Ordenar a apresentação de provas adicionais às reu-
nidas antes do julgamento ou às apresentadas no decurso do
Artigo 63
julgamento pelas partes;
Presença do Acusado em Julgamento
e) Adotar medidas para a proteção do acusado, teste-
1. O acusado estará presente durante o julgamento.
munhas e vítimas; e
2. Se o acusado, presente em tribunal, perturbar persis-
tentemente a audiência, o Juízo de Julgamento em Primeira f) Decidir sobre qualquer outra questão pertinente.
Instância poderá ordenar a sua remoção da sala e provi- 7. A audiência de julgamento será pública. No entanto,
denciar para que acompanhe o processo e dê instruções ao o Juízo de Julgamento em Primeira Instância poderá decidir
seu defensor a partir do exterior da mesma, utilizando, se que determinadas diligências se efetuem à porta fechada,
necessário, meios técnicos de comunicação. Estas medidas em conformidade com os objetivos enunciados no artigo 68
só serão adotadas em circunstâncias excepcionais e pelo pe- ou com vista a proteger informação de caráter confidencial
ríodo estritamente necessário, após se terem esgotado outras ou restrita que venha a ser apresentada como prova.
possibilidades razoáveis. 8. a) No início da audiência de julgamento, o Juízo de
Julgamento em Primeira Instância ordenará a leitura ao
Artigo 64 acusado, dos fatos constantes da acusação previamente
Funções e Poderes do Juízo de Julgamento em Primeira confirmados pelo Juízo de Instrução. O Juízo de Julgamento
Instância em Primeira Instância deverá certificar-se de que o acusado
1. As funções e poderes do Juízo de Julgamento em Pri- compreende a natureza dos fatos que lhe são imputados e
meira Instância, enunciadas no presente artigo, deverão ser dar-lhe a oportunidade de os confessar, de acordo com o dis-
exercidas em conformidade com o presente Estatuto e o Re- posto no artigo 65, ou de se declarar inocente;
gulamento Processual. b) Durante o julgamento, o juiz presidente poderá dar
2. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância zelará instruções sobre a condução da audiência, nomeadamente
para que o julgamento seja conduzido de maneira equitativa para assegurar que esta se desenrole de maneira equitativa
e célere, com total respeito dos direitos do acusado e tendo e imparcial. Salvo qualquer orientação do juiz presidente, as
em devida conta a proteção das vítimas e testemunhas. partes poderão apresentar provas em conformidade com as
3. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância a que disposições do presente Estatuto.
seja submetido um caso nos termos do presente Estatuto: 9. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância poderá,
a) Consultará as partes e adotará as medidas necessá- inclusive, de ofício ou a pedido de uma das partes, a saber:
rias para que o processo se desenrole de maneira equitativa a) Decidir sobre a admissibilidade ou pertinência das
e célere;
provas; e
b) Determinará qual a língua, ou quais as línguas, a uti-
b) Tomar todas as medidas necessárias para manter a
lizar no julgamento; e
ordem na audiência.
c) Sob reserva de qualquer outra disposição pertinente
10. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância provi-
do presente Estatuto, providenciará pela revelação de quais-
denciará para que o Secretário proceda a um registro com-
quer documentos ou da informação que não tenha sido di-
pleto da audiência de julgamento onde sejam fielmente re-
vulgada anteriormente, com suficiente antecedência relati-
latadas todas as diligências efetuadas, registro que deverá
vamente ao início do julgamento, a fim de permitir a sua
manter e preservar.
preparação adequada para o julgamento.
4. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância poderá,
Artigo 65
se mostrar necessário para o seu funcionamento eficaz e im-
Procedimento em Caso de Confissão
parcial, remeter questões preliminares ao Juízo de Instrução
1. Se o acusado confessar nos termos do parágrafo 8,
ou, se necessário, a um outro juiz disponível da Seção de
alínea a), do artigo 64, o Juízo de Julgamento em Primeira
Instrução.
Instância apurará:

82
DIREITOS HUMANOS

a) Se o acusado compreende a natureza e as consequên- a) A ser informado, sem demora e de forma detalhada,
cias da sua confissão; numa língua que compreenda e fale fluentemente, da na-
b) Se essa confissão foi feita livremente, após devida tureza, motivo e conteúdo dos fatos que lhe são imputados;
consulta ao seu advogado de defesa; e b) A dispor de tempo e de meios adequados para a pre-
c) Se a confissão é corroborada pelos fatos que resultam: paração da sua defesa e a comunicar-se livre e confidencial-
i) Da acusação deduzida pelo Procurador e aceita pelo mente com um defensor da sua escolha;
acusado; c) A ser julgado sem atrasos indevidos;
ii) De quaisquer meios de prova que confirmam os fatos d) Salvo o disposto no parágrafo 2o do artigo 63, o
constantes da acusação deduzida pelo Procurador e aceita acusado terá direito a estar presente na audiência de
pelo  acusado; e julgamento e a defender-se a si próprio ou a ser assistido por
iii) De quaisquer outros meios de prova, tais como depoi- um defensor da sua escolha; se não o tiver, a ser informado
mentos de testemunhas, apresentados pelo Procurador ou pelo do direito de o tribunal lhe nomear um defensor sempre que
acusado. o interesse da justiça o exija, sendo tal assistência gratuita
se o acusado carecer de meios suficientes para remunerar o
2. Se o Juízo de Julgamento em Primeira Instância esti-
defensor assim nomeado;
mar que estão reunidas as condições referidas no parágrafo 1o,
e) A inquirir ou a fazer inquirir as testemunhas de acusa-
considerará que a confissão, juntamente com quaisquer provas
ção e a obter o comparecimento das testemunhas de defesa
adicionais produzidas, constitui um reconhecimento de todos
e a inquirição destas nas mesmas condições que as testemu-
os elementos essenciais constitutivos do crime pelo qual o acu- nhas de acusação. O acusado terá também direito a apre-
sado se declarou culpado e poderá condená-lo por esse crime. sentar defesa e a oferecer qualquer outra prova admissível,
3. Se o Juízo de Julgamento em Primeira Instância estimar de acordo com o presente Estatuto;
que não estão reunidas as condições referidas no parágrafo f) A ser assistido gratuitamente por um intérprete com-
1o, considerará a confissão como não tendo tido lugar e, nes- petente e a serem-lhe facultadas as traduções necessárias
se caso, ordenará que o julgamento prossiga de acordo com que a equidade exija, se não compreender perfeitamente ou
o procedimento comum estipulado no presente Estatuto, po- não falar a língua utilizada em qualquer ato processual ou
dendo transmitir o processo a outro Juízo de Julgamento em documento produzido em tribunal;
Primeira Instância. g) A não ser obrigado a depor contra si próprio, nem a
4. Se o Juízo de Julgamento em Primeira Instância consi- declarar-se culpado, e a guardar silêncio, sem que este seja
derar necessária, no interesse da justiça, e em particular no in- levado em conta na determinação da sua culpa ou inocên-
teresse das vítimas, uma explanação mais detalhada dos fatos cia;
integrantes do caso, poderá: h) A prestar declarações não ajuramentadas, oralmente
a) Solicitar ao Procurador que apresente provas adicionais, ou por escrito, em sua defesa; e
incluindo depoimentos de testemunhas; ou i) A que não lhe seja imposta quer a inversão do ônus da
b) Ordenar que o processo prossiga de acordo com o pro- prova, quer a impugnação.
cedimento comum estipulado no presente Estatuto, caso em 2. Além de qualquer outra revelação de informação pre-
que considerará a confissão como não tendo tido lugar e po- vista no presente Estatuto, o Procurador comunicará à de-
derá transmitir o processo a outro Juízo de Julgamento em Pri- fesa, logo que possível, as provas que tenha em seu poder
meira Instância. ou sob o seu controle e que, no seu entender, revelem ou
5. Quaisquer consultas entre o Procurador e a defesa, no tendam a revelar a inocência do acusado, ou a atenuar a
que diz respeito à alteração dos fatos constantes da acusação, sua culpa, ou que possam afetar a credibilidade das provas
à confissão ou à pena a ser imposta, não vincularão o Tribunal. de acusação. Em caso de dúvida relativamente à aplicação
do presente número, cabe ao Tribunal decidir.
Artigo 66
Artigo 68
Presunção de Inocência
Proteção das Vítimas e das Testemunhas e sua Partici-
1. Toda a pessoa se presume inocente até prova da sua
pação no Processo
culpa perante o Tribunal, de acordo com o direito aplicável. 1. O Tribunal adotará as medidas adequadas para ga-
2. Incumbe ao Procurador o ônus da prova da culpa do rantir a segurança, o bem-estar físico e psicológico, a digni-
acusado. dade e a vida privada das vítimas e testemunhas. Para tal,
3. Para proferir sentença condenatória, o Tribunal deve es- o Tribunal levará em conta todos os fatores pertinentes, in-
tar convencido de que o acusado é culpado, além de qualquer cluindo a idade, o gênero tal como definido no parágrafo
dúvida razoável. 3o do artigo 7o, e o estado de saúde, assim como a natureza
do crime, em particular, mas não apenas quando este envol-
Artigo 67 va elementos de agressão sexual, de violência relacionada
Direitos do Acusado com a pertença a um determinado gênero ou de violência
1. Durante a apreciação de quaisquer fatos constantes da contra crianças. O Procurador adotará estas medidas, no-
acusação, o acusado tem direito a ser ouvido em audiência pú- meadamente durante o inquérito e o procedimento criminal.
blica, levando em conta o disposto no presente Estatuto, a uma Tais medidas não poderão prejudicar nem ser incompatíveis
audiência conduzida de forma equitativa e imparcial e às se- com os direitos do acusado ou com a realização de um jul-
guintes garantias mínimas, em situação de plena igualdade: gamento equitativo e imparcial.

83
DIREITOS HUMANOS

2. Enquanto exceção ao princípio do caráter público das 4. O Tribunal poderá decidir sobre a relevância ou ad-
audiências estabelecido no artigo 67, qualquer um dos Juí- missibilidade de qualquer prova, tendo em conta, entre ou-
zos que compõem o Tribunal poderá, a fim de proteger as tras coisas, o seu valor probatório e qualquer prejuízo que
vítimas e as testemunhas ou o acusado, decretar que um possa acarretar para a realização de um julgamento equi-
ato processual se realize, no todo ou em parte, à porta fe- tativo ou para a avaliação equitativa dos depoimentos de
chada ou permitir a produção de prova por meios eletrôni- uma testemunha, em conformidade com o Regulamento
cos ou outros meios especiais. Estas medidas aplicar-se-ão, Processual.
nomeadamente, no caso de uma vítima de violência sexual 5. O Tribunal respeitará e atenderá aos privilégios de
ou de um menor que seja vítima ou testemunha, salvo deci- confidencialidade estabelecidos no Regulamento Proces-
são em contrário adotada pelo Tribunal, ponderadas todas sual.
as circunstâncias, particularmente a opinião da vítima ou da 6. O Tribunal não exigirá prova dos fatos do domínio
testemunha. público, mas poderá fazê-los constar dos autos.
3. Se os interesses pessoais das vítimas forem afetados, 7. Não serão admissíveis as provas obtidas com viola-
o Tribunal permitir-lhes-á que expressem as suas opiniões e ção do presente Estatuto ou das normas de direitos huma-
preocupações em fase processual que entenda apropriada e nos internacionalmente reconhecidas quando:
por forma a não prejudicar os direitos do acusado nem a ser a) Essa violação suscite sérias dúvidas sobre a fiabilida-
incompatível com estes ou com a realização de um julga- de das provas; ou
mento equitativo e imparcial. Os representantes legais das b) A sua admissão atente contra a integridade do pro-
vítimas poderão apresentar as referidas opiniões e preocupa- cesso ou resulte em grave prejuízo deste.
ções quando o Tribunal o considerar oportuno e em confor- 8. O Tribunal, ao decidir sobre a relevância ou admissi-
midade com o Regulamento Processual. bilidade das provas apresentadas por um Estado, não pode-
4. A Unidade de Apoio às Vítimas e Testemunhas poderá rá pronunciar-se sobre a aplicação do direito interno desse
aconselhar o Procurador e o Tribunal relativamente a medi- Estado.
das adequadas de proteção, mecanismos de segurança, as-
sessoria e assistência a que se faz referência no parágrafo 6 Artigo 70
do artigo 43. Infrações contra a Administração da Justiça
5. Quando a divulgação de provas ou de informação, de 1. O Tribunal terá competência para conhecer das se-
acordo com o presente Estatuto, representar um grave perigo guintes infrações contra a sua administração da justiça,
para a segurança de uma testemunha ou da sua família, o quando cometidas intencionalmente:
Procurador poderá, para efeitos de qualquer diligência an-
a) Prestação de falso testemunho, quando há a obri-
terior ao julgamento, não apresentar as referidas provas ou
gação de dizer a verdade, de acordo com o parágrafo 1o do
informação, mas antes um resumo das mesmas. As medidas
artigo 69;
desta natureza deverão ser postas em prática de uma forma
b) Apresentação de provas, tendo a parte conhecimento
que não seja prejudicial aos direitos do acusado ou incompa-
de que são falsas ou que foram falsificadas;
tível com estes e com a realização de um julgamento equita-
c) Suborno de uma testemunha, impedimento ou inter-
tivo e imparcial.
ferência no seu comparecimento ou depoimento, represálias
6. Qualquer Estado poderá solicitar que sejam tomadas
as medidas necessárias para assegurar a proteção dos seus contra uma testemunha por esta ter prestado depoimento,
funcionários ou agentes, bem como a proteção de toda a in- destruição ou alteração de provas ou interferência nas dili-
formação de caráter confidencial ou restrito. gências de obtenção de prova;
d) Entrave, intimidação ou corrupção de um funcionário
Artigo 69 do Tribunal, com a finalidade de o obrigar ou o induzir a
Prova não cumprir as suas funções ou a fazê-lo de maneira in-
1. Em conformidade com o Regulamento Processual e devida;
antes de depor, qualquer testemunha se comprometerá a fa- e) Represálias contra um funcionário do Tribunal, em
zer o seu depoimento com verdade. virtude das funções que ele ou outro funcionário tenham
2. A prova testemunhal deverá ser prestada pela própria desempenhado; e
pessoa no decurso do julgamento, salvo quando se apliquem f) Solicitação ou aceitação de suborno na qualidade de
as medidas estabelecidas no artigo 68 ou no Regulamento funcionário do Tribunal, e em relação com o desempenho
Processual. De igual modo, o Tribunal poderá permitir que das respectivas funções oficiais.
uma testemunha preste declarações oralmente ou por meio 2. O Regulamento Processual estabelecerá os princípios
de gravação em vídeo ou áudio, ou que sejam apresentados e procedimentos que regularão o exercício da competência
documentos ou transcrições escritas, nos termos do presente do Tribunal relativamente às infrações a que se faz refe-
Estatuto e de acordo com o Regulamento Processual. Estas rência no presente artigo. As condições de cooperação in-
medidas não poderão prejudicar os direitos do acusado, nem ternacional com o Tribunal, relativamente ao procedimento
ser incompatíveis com eles. que adote de acordo com o presente artigo, reger-se-ão pelo
3. As partes poderão apresentar provas que interessem direito interno do Estado requerido.
ao caso, nos termos do artigo 64. O Tribunal será competente 3. Em caso de decisão condenatória, o Tribunal poderá
para solicitar de ofício a produção de todas as provas que en- impor uma pena de prisão não superior a cinco anos, ou de
tender necessárias para determinar a veracidade dos fatos. multa, de acordo com o Regulamento Processual, ou ambas.

84
DIREITOS HUMANOS

4. a) Cada Estado Parte tornará extensivas as normas a) A alteração ou o esclarecimento dos motivos do pe-
penais de direito interno que punem as infrações contra a dido;
realização da justiça às infrações contra a administração da b) Uma decisão do Tribunal relativa à relevância das in-
justiça a que se faz referência no presente artigo, e que sejam formações ou dos elementos de prova solicitados, ou uma
cometidas no seu território ou por um dos seus nacionais; decisão sobre se as provas, ainda que relevantes, não pode-
b) A pedido do Tribunal, qualquer Estado Parte subme- riam ser ou ter sido obtidas junto de fonte distinta do Estado
terá, sempre que o entender necessário, o caso à apreciação requerido;
das suas autoridades competentes para fins de procedimen- c) A obtenção da informação ou de provas de fonte dis-
to criminal. Essas autoridades conhecerão do caso com dili- tinta ou em uma forma diferente; ou
gência e acionarão os meios necessários para a sua eficaz d) Um acordo sobre as condições em que a assistência
condução. poderá ser prestada, incluindo, entre outras, a disponibili-
Artigo 71 zação de resumos ou exposições, restrições à divulgação,
Sanções por Desrespeito ao Tribunal recurso ao procedimento à porta fechada ou à revelia de
1. Em caso de atitudes de desrespeito ao Tribunal, tal uma das partes, ou aplicação de outras medidas de proteção
como perturbar a audiência ou recusar-se deliberadamen- permitidas pelo Estatuto ou pelas Regulamento Processual.
te a cumprir as suas instruções, o Tribunal poderá impor 6. Realizadas todas as diligências razoavelmente possí-
sanções administrativas que não impliquem privação de li- veis com vista a resolver a questão por meio de concerta-
berdade, como, por exemplo, a expulsão temporária ou per- ção, e se o Estado considerar não haver meios nem condi-
manente da sala de audiências, a multa ou outra medida ções para que as informações ou os documentos possam ser
similar prevista no Regulamento Processual. fornecidos ou revelados sem prejuízo dos seus interesses de
2. O processo de imposição das medidas a que se refere segurança nacional, notificará o Procurador ou o Tribunal
o número anterior reger-se-á pelo Regulamento Processual. nesse sentido, indicando as razões precisas que fundamenta-
Artigo 72 ram a sua decisão, a menos que a descrição específica dessas
Proteção de Informação Relativa à Segurança Nacional razões prejudique, necessariamente, os interesses de seguran-
1. O presente artigo aplicar-se-á a todos os casos em ça nacional do Estado.
que a divulgação de informação ou de documentos de um 7. Posteriormente, se decidir que a prova é relevante e ne-
Estado possa, no entender deste, afetar os interesses da cessária para a determinação da culpa ou inocência do acusa-
sua segurança nacional. Tais casos incluem os abrangi- do, o Tribunal poderá adotar as seguintes medidas:
dos pelas disposições constantes dos parágrafos 2o e 3o do a) Quando a divulgação da informação ou do documento
artigo 56, parágrafo 3o do artigo 61, parágrafo 3o do artigo for solicitada no âmbito de um pedido de cooperação, nos termos
64, parágrafo 2o do artigo 67, parágrafo 6 do artigo 68, da Parte IX do presente Estatuto ou nas circunstâncias a que se
parágrafo 6 do artigo 87 e do artigo 93, assim como os que refere o parágrafo 2o do presente artigo, e o Estado invocar o
se apresentem em qualquer outra fase do processo em que motivo de recusa estatuído no parágrafo 4° do artigo 93:
uma tal divulgação possa estar em causa. i) O Tribunal poderá, antes de chegar a qualquer uma das
2. O presente artigo aplicar-se-á igualmente aos casos conclusões a que se refere o ponto ii) da alínea a) do parágra-
em que uma pessoa a quem tenha sido solicitada a pres- fo 7o, solicitar consultas suplementares com o fim de ouvir o
tação de informação ou provas, se tenha recusado a apre- Estado, incluindo, se for caso disso, a sua realização à porta
sentá-las ou tenha entregue a questão ao Estado, invocan- fechada ou à revelia de uma das partes;
do que tal divulgação afetaria os interesses da segurança ii) Se o Tribunal concluir que, ao invocar o motivo de
nacional do Estado, e o Estado em causa confirme que, no recusa estatuído no parágrafo 4o do artigo 93, dadas as
seu entender, essa divulgação afetaria os interesses da sua circunstâncias do caso, o Estado requerido não está a atuar de
segurança nacional. harmonia com as obrigações impostas pelo presente Estatuto,
3. Nada no presente artigo afetará os requisitos de con- poderá remeter a questão nos termos do parágrafo 7 do artigo
fidencialidade a que se referem as alíneas e) e f) do parágra- 87, especificando as razões da sua conclusão; e
fo 3o do artigo 54, nem a aplicação do artigo 73. iii) O Tribunal poderá tirar as conclusões, que entender
4. Se um Estado tiver conhecimento de que informações apropriadas, em razão das circunstâncias, ao julgar o acusado,
ou documentos do Estado estão a ser, ou poderão vir a ser, quanto à existência ou inexistência de um fato; ou
divulgados em qualquer fase do processo, e considerar que b) Em todas as restantes circunstâncias:
essa divulgação afetaria os seus interesses de segurança na- i) Ordenar a revelação; ou
cional, tal Estado terá o direito de intervir com vista a ver ii) Se não ordenar a revelação, inferir, no julgamento do
alcançada a resolução desta questão em conformidade com acusado, quanto à existência ou inexistência de um fato, con-
o presente artigo. forme se mostrar apropriado.
5. O Estado que considere que a divulgação de deter-
minada informação poderá afetar os seus interesses de se- Artigo 73
gurança nacional adotará, em conjunto com o Procurador, Informação ou Documentos Disponibilizados por Terceiros
a defesa, o Juízo de Instrução ou o Juízo de Julgamento em Se um Estado Parte receber um pedido do Tribunal para
Primeira Instância, conforme o caso, todas as medidas ra- que lhe forneça uma informação ou um documento que esteja
zoavelmente possíveis para encontrar uma solução através sob sua custódia, posse ou controle, e que lhe tenha sido
da concertação. Estas medidas poderão incluir: comunicado a título confidencial por um Estado, uma orga-

85
DIREITOS HUMANOS

nização intergovernamental ou uma organização interna- reparação poderá, nomeadamente, assumir a forma de res-
cional, tal Estado Parte deverá obter o consentimento do seu tituição, indenização ou reabilitação. Se for caso disso, o Tri-
autor para a divulgação dessa informação ou documento. Se bunal poderá ordenar que a indenização atribuída a título
o autor for um Estado Parte, este poderá consentir em divul- de reparação seja paga por intermédio do Fundo previsto
gar a referida informação ou documento ou comprometer-se no artigo 79.
a resolver a questão com o Tribunal, salvaguardando-se o 3. Antes de lavrar qualquer despacho ao abrigo do pre-
disposto no artigo 72. Se o autor não for um Estado Parte e sente artigo, o Tribunal poderá solicitar e levar em consi-
não consentir em divulgar a informação ou o documento, o deração as pretensões formuladas pela pessoa condenada,
Estado requerido comunicará ao Tribunal que não lhe será pelas vítimas, por outras pessoas interessadas ou por outros
possível fornecer a informação ou o documento em causa, Estados interessados, bem como as observações formuladas
devido à obrigação previamente assumida com o respectivo em nome dessas pessoas ou desses Estados.
autor de preservar o seu caráter confidencial. 4. Ao exercer os poderes conferidos pelo presente artigo,
o Tribunal poderá, após a condenação por crime que seja
Artigo 74 da sua competência, determinar se, para fins de aplicação
Requisitos para a Decisão dos despachos que lavrar ao abrigo do presente artigo, será
1. Todos os juízes do Juízo de Julgamento em Primeira necessário tomar quaisquer medidas em conformidade com
Instância estarão presentes em cada uma das fases do jul- o parágrafo 1o do artigo 93.
gamento e nas deliberações. A Presidência poderá designar, 5. Os Estados Partes observarão as decisões proferidas
conforme o caso, um ou vários juízes substitutos, em função nos termos deste artigo como se as disposições do artigo 109
das disponibilidades, para estarem presentes em todas as fa- se aplicassem ao presente artigo.
ses do julgamento, bem coma para substituírem qualquer 6. Nada no presente artigo será interpretado como pre-
membro do Juízo de Julgamento em Primeira Instância que judicando os direitos reconhecidos às vítimas pelo direito in-
se encontre impossibilitado de continuar a participar no jul- terno ou internacional.
gamento.
2. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância funda- Artigo 76
mentará a sua decisão com base na apreciação das provas Aplicação da Pena
e do processo no seu conjunto. A decisão não exorbitará dos 1. Em caso de condenação, o Juízo de Julgamento em
fatos e circunstâncias descritos na acusação ou nas altera- Primeira Instância determinará a pena a aplicar tendo em
ções que lhe tenham sido feitas. O Tribunal fundamentará a conta os elementos de prova e as exposições relevantes pro-
sua decisão exclusivamente nas provas produzidas ou exa- duzidos no decurso do julgamento,
minadas em audiência de julgamento. 2. Salvo nos casos em que seja aplicado o artigo 65 e
3. Os juízes procurarão tomar uma decisão por unanimi- antes de concluído o julgamento, o Juízo de Julgamento em
dade e, não sendo possível, por maioria. Primeira Instância poderá, oficiosamente, e deverá, a reque-
4. As deliberações do Juízo de Julgamento em Primeira rimento do Procurador ou do acusado, convocar uma au-
Instância serão e permanecerão secretas. diência suplementar, a fim de conhecer de quaisquer novos
5. A decisão será proferida por escrito e conterá uma ex- elementos de prova ou exposições relevantes para a deter-
posição completa e fundamentada da apreciação das provas minação da pena, de harmonia com o Regulamento Proces-
e as conclusões do Juízo de Julgamento em Primeira Instân- sual.
cia. Será proferida uma só decisão pelo Juízo de Julgamento 3. Sempre que o parágrafo 2o for aplicável, as pretensões
em Primeira Instância. Se não houver unanimidade, a deci- previstas no artigo 75 serão ouvidas pelo Juízo de Julgamento
são do Juízo de Julgamento em Primeira Instância conterá em Primeira Instância no decorrer da audiência suplementar
as opiniões tanto da maioria como da minoria dos juízes. A referida no parágrafo 2o e, se necessário, no decorrer de
leitura da decisão ou de uma sua súmula far-se-á em au- qualquer nova audiência.
diência pública. 4. A sentença será proferida em audiência pública e,
sempre que possível, na presença do acusado.
Artigo 75
Reparação em Favor das Vítimas CAPÍTULO VII
1. O Tribunal estabelecerá princípios aplicáveis às for- AS PENAS
mas de reparação, tais como a restituição, a indenização ou
a reabilitação, que hajam de ser atribuídas às vítimas ou Artigo 77
aos titulares desse direito. Nesta base, o Tribunal poderá, de Penas Aplicáveis
ofício ou por requerimento, em circunstâncias excepcionais, 1. Sem prejuízo do disposto no artigo 110, o Tribunal
determinar a extensão e o nível dos danos, da perda ou do pode impor à pessoa condenada por um dos crimes previstos
prejuízo causados às vítimas ou aos titulares do direito à no artigo 5o do presente Estatuto uma das seguintes penas:
reparação, com a indicação dos princípios nos quais funda- a) Pena de prisão por um número determinado de anos,
mentou a sua decisão. até ao limite máximo de 30 anos; ou
2. O Tribunal poderá lavrar despacho contra a pessoa b) Pena de prisão perpétua, se o elevado grau de ilicitude
condenada, no qual determinará a reparação adequada a do fato e as condições pessoais do condenado o justificarem,
ser atribuída às vítimas ou aos titulares de tal direito. Esta 2. Além da pena de prisão, o Tribunal poderá aplicar:

86
DIREITOS HUMANOS

a) Uma multa, de acordo com os critérios previstos no b) O condenado ou o Procurador, no interesse daquele;
Regulamento Processual; poderá interpor recurso com base num dos seguintes funda-
b) A perda de produtos, bens e haveres provenientes, di- mentos:
reta ou indiretamente, do crime, sem prejuízo dos direitos de i) Vício processual;
terceiros que tenham agido de boa fé. ii) Erro de fato;
iii) Erro de direito; ou
Artigo 78 iv) Qualquer outro motivo suscetível de afetar a equidade
Determinação da pena ou a regularidade do processo ou da sentença.
1. Na determinação da pena, o Tribunal atenderá, em 2. a) O Procurador ou o condenado poderá, em confor-
harmonia com o Regulamento Processual, a fatores tais midade com o Regulamento Processual, interpor recurso da
como a gravidade do crime e as condições pessoais do con- pena decretada invocando desproporção entre esta e o crime;
denado. b) Se, ao conhecer de recurso interposto da pena decre-
2. O Tribunal descontará, na pena de prisão que vier a tada, o Tribunal considerar que há fundamentos suscetíveis
aplicar, o período durante o qual o acusado esteve sob de- de justificar a anulação, no todo ou em parte, da sentença
tenção por ordem daquele. O Tribunal poderá ainda des- condenatória, poderá convidar o Procurador e o condenado
contar qualquer outro período de detenção que tenha sido a motivarem a sua posição nos termos da alínea a) ou b) do
cumprido em razão de uma conduta constitutiva do crime. parágrafo 1o do artigo 81, após o que poderá pronunciar-se
3. Se uma pessoa for condenada pela prática de vários sobre a sentença condenatória nos termos do artigo 83;
crimes, o Tribunal aplicará penas de prisão parcelares re- c) O mesmo procedimento será aplicado sempre que
lativamente a cada um dos crimes e uma pena única, na o Tribunal, ao conhecer de recurso interposto unicamente
qual será especificada a duração total da pena de prisão. da sentença condenatória, considerar haver fundamentos
Esta duração não poderá ser inferior à da pena parcelar mais comprovativos de uma redução da pena nos termos da alí-
elevada e não poderá ser superior a 30 anos de prisão ou ir nea a) do parágrafo 2o.
além da pena de prisão perpétua prevista no artigo 77, pa- 3. a) Salvo decisão em contrário do Juízo de Julgamento
rágrafo 1o, alínea b). em Primeira Instância, o condenado permanecerá sob prisão
Artigo 79 preventiva durante a tramitação do recurso;
Fundo em Favor das Vítimas b) Se o período de prisão preventiva ultrapassar a du-
1. Por decisão da Assembleia dos Estados Partes, será ração da pena decretada, o condenado será posto em liber-
criado um Fundo a favor das vítimas de crimes da compe- dade; todavia, se o Procurador também interpuser recurso,
tência do Tribunal, bem como das respectivas famílias. a libertação ficará sujeita às condições enunciadas na alí-
2. O Tribunal poderá ordenar que o produto das multas nea c) infra;
e quaisquer outros bens declarados perdidos revertam para c) Em caso de absolvição, o acusado será imediatamente
o Fundo. posto em liberdade, sem prejuízo das seguintes condições:
3. O Fundo será gerido em harmonia com os critérios a i) Em circunstâncias excepcionais e tendo em conta, no-
serem adotados pela Assembleia dos Estados Partes. meadamente, o risco de fuga, a gravidade da infração e as
probabilidades de o recurso ser julgado procedente, o Juízo
Artigo 80 de Julgamento em Primeira Instância poderá, a requerimen-
Não Interferência no Regime de Aplicação de Penas Na- to do Procurador, ordenar que o acusado seja mantido em
cionais e nos Direitos Internos regime de prisão preventiva durante a tramitação do recurso;
Nada no presente Capítulo prejudicará a aplicação, ii) A decisão proferida pelo juízo de julgamento em pri-
pelos Estados, das penas previstas nos respectivos direitos meira instância nos termos da sub-alínea i), será recorrível
internos, ou a aplicação da legislação de Estados que não em harmonia com as Regulamento Processual.
preveja as penas referidas neste capítulo. 4. Sem prejuízo do disposto nas alíneas a) e b) do pará-
grafo 3o, a execução da sentença condenatória ou da pena
CAPÍTULO VIII ficará suspensa pelo período fixado para a interposição do
RECURSO E REVISÃO recurso, bem como durante a fase de tramitação do recurso.

Artigo 81 Artigo 82
Recurso da Sentença Condenatória ou Absolutória ou da Recurso de Outras Decisões
Pena 1. Em conformidade com o Regulamento Processual,
1. A sentença proferida nos termos do artigo 74 é re- qualquer uma das Partes poderá recorrer das seguintes de-
corrível em conformidade com o disposto no Regulamento cisões:
Processual nos seguintes termos: a) Decisão sobre a competência ou a admissibilidade do
a) O Procurador poderá interpor recurso com base num caso;
dos seguintes fundamentos: b) Decisão que autorize ou recuse a libertação da pessoa
i) Vício processual; objeto de inquérito ou de procedimento criminal;
ii) Erro de fato; ou c) Decisão do Juízo de Instrução de agir por iniciativa
iii) Erro de direito; própria, nos termos do parágrafo 3o do artigo 56;

87
DIREITOS HUMANOS

d) Decisão relativa a uma questão suscetível de afetar escrito, nesse sentido, ou o Procurador no seu interesse, po-
significativamente a tramitação equitativa e célere do pro- derá submeter ao Juízo de Recursos um requerimento solici-
cesso ou o resultado do julgamento, e cuja resolução imedia- tando a revisão da sentença condenatória ou da pena pelos
ta pelo Juízo de Recursos poderia, no entender do Juízo de seguintes motivos:
Instrução ou do Juízo de Julgamento em Primeira Instância, a) A descoberta de novos elementos de prova:
acelerar a marcha do processo. i) De que não dispunha ao tempo do julgamento, sem que
2. Quer o Estado interessado quer o Procurador poderão essa circunstância pudesse ser imputada, no todo ou em parte,
recorrer da decisão proferida pelo Juízo de Instrução, mediante ao requerente; e
autorização deste, nos termos do artigo 57, parágrafo 3o, alí- ii) De tal forma importantes que, se tivessem ficado pro-
nea d). Este recurso adotará uma forma sumária. vados no julgamento, teriam provavelmente conduzido a um
veredicto diferente;
3. O recurso só terá efeito suspensivo se o Juízo de Recur-
sos assim o ordenar, mediante requerimento, em conformida- b) A descoberta de que elementos de prova, apreciados no
de com o Regulamento Processual. julgamento e decisivos para a determinação da culpa, eram fal-
sos ou tinham sido objeto de contrafação ou falsificação;
4. O representante legal das vítimas, o condenado ou o
c) Um ou vários dos juízes que intervieram na sentença
proprietário de boa fé de bens que hajam sido afetados por
condenatória ou confirmaram a acusação hajam praticado
um despacho proferido ao abrigo do artigo 75 poderá recorrer
atos de conduta reprovável ou de incumprimento dos respecti-
de tal despacho, em conformidade com o Regulamento Pro-
vos deveres de tal forma graves que justifiquem a sua cessação
cessual. de funções nos termos do artigo 46.
2. O Juízo de Recursos rejeitará o pedido se o considerar
Artigo 83 manifestamente infundado. Caso contrário, poderá o Juízo, se
Processo Sujeito a Recurso julgar oportuno:
1. Para os fins do procedimentos referido no artigo 81 e a) Convocar de novo o Juízo de Julgamento em Primeira
no presente artigo, o Juízo de Recursos terá todos os poderes Instância que proferiu a sentença inicial;
conferidos ao Juízo de Julgamento em Primeira Instância. b) Constituir um novo Juízo de Julgamento em Primeira
2. Se o Juízo de Recursos concluir que o processo sujeito Instância; ou
a recurso padece de vícios tais que afetem a regularidade da c) Manter a sua competência para conhecer da causa, a
decisão ou da sentença, ou que a decisão ou a sentença re- fim de determinar se, após a audição das partes nos termos do
corridas estão materialmente afetadas por erros de fato ou de Regulamento Processual, haverá lugar à revisão da sentença.
direito, ou vício processual, ela poderá:
a) Anular ou modificar a decisão ou a pena; ou Artigo 85
b) Ordenar um novo julgamento perante um outro Juízo Indenização do Detido ou Condenado
de Julgamento em Primeira Instância. 1. Quem tiver sido objeto de detenção ou prisão ilegal terá
Para os fins mencionados, poderá o Juízo de Recursos direito a reparação.
reenviar uma questão de fato para o Juízo de Julgamento em 2. Sempre que uma decisão final seja posteriormente anu-
Primeira Instância à qual foi submetida originariamente, a fim lada em razão de fatos novos ou recentemente descobertos que
de que esta decida a questão e lhe apresente um relatório, ou apontem inequivocamente para um erro judiciário, a pessoa
pedir, ela própria, elementos de prova para decidir. Tendo o re- que tiver cumprido pena em resultado de tal sentença conde-
curso da decisão ou da pena sido interposto somente pelo con- natória será indenizada, em conformidade com a lei, a menos
denado, ou pelo Procurador no interesse daquele, não poderão que fique provado que a não revelação, em tempo útil, do fato
aquelas ser modificadas em prejuízo do condenado. desconhecido lhe seja imputável, no todo ou em parte.
3. Em circunstâncias excepcionais e em face de fatos que
3. Se, ao conhecer, do recurso de uma pena, o Juízo de Re-
conclusivamente demonstrem a existência de erro judiciário
cursos considerar que a pena é desproporcionada relativamen-
grave e manifesto, o Tribunal poderá, no uso do seu poder dis-
te ao crime, poderá modificá-la nos termos do Capítulo VII.
cricionário, atribuir uma indenização, de acordo com os crité-
4. O acórdão do Juízo de Recursos será tirado por maioria
rios enunciados no Regulamento Processual, à pessoa que, em
dos juízes e proferido em audiência pública. O acórdão será virtude de sentença absolutória ou de extinção da instância por
sempre fundamentado. Não havendo unanimidade, deverá tal motivo, haja sido posta em liberdade.
conter as opiniões da parte maioria e da minoria de juízes;
contudo, qualquer juiz poderá exprimir uma opinião separada CAPÍTULO IX
ou discordante sobre uma questão de direito. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL E AUXÍLIO
5. O Juízo de Recursos poderá emitir o seu acórdão na au- JUDICIÁRIO
sência da pessoa absolvida ou condenada.
Artigo 86
Artigo 84 Obrigação Geral de Cooperar
Revisão da Sentença Condenatória ou da Pena Os Estados Partes deverão, em conformidade com o
1. O condenado ou, se este tiver falecido, o cônjuge so- disposto no presente Estatuto, cooperar plenamente com o
brevivo, os filhos, os pais ou qualquer pessoa que, em vida do Tribunal no inquérito e no procedimento contra crimes da
condenado, dele tenha recebido incumbência expressa, por competência deste.

88
DIREITOS HUMANOS

Artigo 87 Artigo 88
Pedidos de Cooperação: Disposições Gerais Procedimentos Previstos no Direito Interno
1. a) O Tribunal estará habilitado a dirigir pedidos de coo- Os Estados Partes deverão assegurar-se de que o seu di-
peração aos Estados Partes. Estes pedidos serão transmitidos reito interno prevê procedimentos que permitam responder a
pela via diplomática ou por qualquer outra via apropriada todas as formas de cooperação especificadas neste Capítulo.
escolhida pelo Estado Parte no momento de ratificação, acei-
tação, aprovação ou adesão ao presente Estatuto. Artigo 89
Qualquer Estado Parte poderá alterar posteriormente a Entrega de Pessoas ao Tribunal
escolha feita nos termos do Regulamento Processual. 1. O Tribunal poderá dirigir um pedido de detenção e
b) Se for caso disso, e sem prejuízo do disposto na alí- entrega de uma pessoa, instruído com os documentos com-
nea a), os pedidos poderão ser igualmente transmitidos pela provativos referidos no artigo 91, a qualquer Estado em
Organização internacional de Polícia Criminal (INTERPOL) ou cujo território essa pessoa se possa encontrar, e solicitar a
por qualquer outra organização regional competente. cooperação desse Estado na detenção e entrega da pessoa
2. Os pedidos de cooperação e os documentos compro- em causa. Os Estados Partes darão satisfação aos pedidos
vativos que os instruam serão redigidos na língua oficial do de detenção e de entrega em conformidade com o presente
Estado requerido ou acompanhados de uma tradução nes- Capítulo e com os procedimentos previstos nos respectivos
sa língua, ou numa das línguas de trabalho do Tribunal ou direitos internos.
acompanhados de uma tradução numa dessas línguas, de 2. Sempre que a pessoa cuja entrega é solicitada impug-
acordo com a escolha feita pelo Estado requerido no momen- nar a sua entrega perante um tribunal nacional com, base
to da ratificação, aceitação, aprovação ou adesão ao presente no princípio ne bis in idem previsto no artigo 20, o Estado re-
Estatuto. querido consultará, de imediato, o Tribunal para determinar
Qualquer alteração posterior será feita de harmonia com se houve uma decisão relevante sobre a admissibilidade. Se
o Regulamento Processual. o caso for considerado admissível, o Estado requerido dará
3. O Estado requerido manterá a confidencialidade dos seguimento ao pedido. Se estiver pendente decisão sobre a
pedidos de cooperação e dos documentos comprovativos que admissibilidade, o Estado requerido poderá diferir a execu-
os instruam, salvo quando a sua revelação for necessária para
ção do pedido até que o Tribunal se pronuncie.
a execução do pedido.
3. a) Os Estados Partes autorizarão, de acordo com os
4. Relativamente aos pedidos de auxílio formulados ao
procedimentos previstos na respectiva legislação nacional,
abrigo do presente Capítulo, o Tribunal poderá, nomeadamen-
o trânsito, pelo seu território, de uma pessoa entregue ao
te em matéria de proteção da informação, tomar as medidas
Tribunal por um outro Estado, salvo quando o trânsito por
necessárias à garantia da segurança e do bem-estar físico ou
esse Estado impedir ou retardar a entrega.
psicológico das vítimas, das potenciais testemunhas e dos seus
b) Um pedido de trânsito formulado pelo Tribunal será
familiares. O Tribunal poderá solicitar que as informações for-
necidas ao abrigo do presente Capítulo sejam comunicadas e transmitido em conformidade com o artigo 87. Do pedido de
tratadas por forma a que a segurança e o bem-estar físico ou trânsito constarão:
psicológico das vítimas, das potenciais testemunhas e dos seus i) A identificação da pessoa transportada;
familiares sejam devidamente preservados. ii) Um resumo dos fatos e da respectiva qualificação ju-
5. a) O Tribunal poderá convidar qualquer Estado que não rídica;
seja Parte no presente Estatuto a prestar auxílio ao abrigo do iii) O mandado de detenção e entrega.
presente Capítulo com base num convênio ad hoc, num acor- c) A pessoa transportada será mantida sob custódia no
do celebrado com esse Estado ou por qualquer outro modo decurso do trânsito.
apropriado. d) Nenhuma autorização será necessária se a pessoa for
b) Se, após a celebração de um convênio ad hoc ou de transportada por via aérea e não esteja prevista qualquer
um acordo com o Tribunal, um Estado que não seja Parte no aterrissagem no território do Estado de trânsito.
presente Estatuto se recusar a cooperar nos termos de tal con- e) Se ocorrer, uma aterrissagem imprevista no territó-
vênio ou acordo, o Tribunal dará conhecimento desse fato à rio do Estado de trânsito, poderá este exigir ao Tribunal a
Assembleia dos Estados Parles ou ao Conselho de Segurança, apresentação de um pedido de trânsito nos termos previs-
quando tiver sido este a referenciar o fato ao Tribunal. tos na alínea b). O Estado de trânsito manterá a pessoa sob
6. O Tribunal poderá solicitar informações ou documentos detenção até a recepção do pedido de trânsito e a efetiva-
a qualquer organização intergovernamental. Poderá igual- ção do trânsito. Todavia, a detenção ao abrigo da presen-
mente requerer outras formas de cooperação e auxílio a se- te alínea não poderá prolongar-se para além das 96 horas
rem acordadas com tal organização e que estejam em confor- subsequentes à aterrissagem imprevista se o pedido não for
midade com a sua competência ou o seu mandato. recebido dentro desse prazo.
7. Se, contrariamente ao disposto no presente Estatuto, 4. Se a pessoa reclamada for objeto de procedimento
um Estado Parte recusar um pedido de cooperação formulado criminal ou estiver cumprindo uma pena no Estado requeri-
pelo Tribunal, impedindo-o assim de exercer os seus poderes do por crime diverso do que motivou o pedido de entrega ao
e funções nos termos do presente Estatuto, o Tribunal poderá Tribunal, este Estado consultará o Tribunal após ter decidido
elaborar um relatório e remeter a questão à Assembleia dos anuir ao pedido
Estados Partes ou ao Conselho de Segurança, quando tiver
sido este a submeter o fato ao Tribunal.

89
DIREITOS HUMANOS

Artigo 90 a) O Estado requerido dará prioridade ao pedido do Tri-


Pedidos Concorrentes bunal, se não estiver obrigado por uma norma internacional
1. Um Estado Parte que, nos termos do artigo 89, receba a extraditar a pessoa para o Estado requerente;
um pedido de entrega de uma pessoa formulado pelo Tri- b) O Estado requerido terá de decidir se entrega a pes-
bunal, e receba igualmente, de qualquer outro Estado, um soa ao Tribunal ou a extradita para o Estado requerente, se
pedido de extradição relativo à mesma pessoa, pelos mes- estiver obrigado por uma norma internacional a extraditar
mos fatos que motivaram o pedido de entrega por parte do a pessoa para o Estado requerente. Na sua decisão, o Estado
Tribunal, deverá notificar o Tribunal e o Estado requerente requerido considerará todos os fatores relevantes, incluindo,
de tal fato. entre outros, os constantes do parágrafo 6; todavia, deverá
2. Se o Estado requerente for um Estado Parte, o Estado dar especial atenção à natureza e à gravidade dos fatos em
requerido dará prioridade ao pedido do Tribunal: causa.
a) Se o Tribunal tiver decidido, nos termos do artigo 18 8. Se, em conformidade com a notificação prevista no
ou 19, da admissibilidade do caso a que respeita o pedido presente artigo, o Tribunal se tiver pronunciado pela inad-
de entrega, e tal determinação tiver levado em conta o in- missibilidade do caso e, posteriormente, a extradição para o
quérito ou o procedimento criminal conduzido pelo Estado Estado requerente for recusada, o Estado requerido notifica-
requerente relativamente ao pedido de extradição por este rá o Tribunal dessa decisão.
formulado; ou
b) Se o Tribunal tiver tomado a decisão referida na alí- Artigo 91
nea a) em conformidade com a notificação feita pelo Estado Conteúdo do Pedido de Detenção e de Entrega
requerido, em aplicação do parágrafo 1o. 1. O pedido de detenção e de entrega será formulado
3. Se o Tribunal não tiver tomado uma decisão nos ter- por escrito. Em caso de urgência, o pedido poderá ser feito
mos da alínea a) do parágrafo 2o, o Estado requerido poderá, através de qualquer outro meio de que fique registro escrito,
se assim o entender, estando pendente a determinação do devendo, no entanto, ser confirmado através dos canais pre-
Tribunal nos termos da alínea b) do parágrafo 2o, dar se- vistos na alínea a) do parágrafo 1o do artigo 87,
guimento ao pedido de extradição formulado pelo Estado 2. O pedido de detenção e entrega de uma pessoa rela-
tivamente à qual o Juízo de Instrução tiver emitido um man-
requerente sem, contudo, extraditar a pessoa até que o Tri-
dado de detenção ao abrigo do artigo 58, deverá conter ou
bunal decida sobre a admissibilidade do caso. A decisão do
ser acompanhado dos seguintes documentos:
Tribunal seguirá a forma sumária.
a) Uma descrição da pessoa procurada, contendo infor-
4. Se o Estado requerente não for Parte no presente Es-
mação suficiente que permita a sua identificação, bem como
tatuto, o Estado requerido, desde que não esteja obrigado
informação sobre a sua provável localização;
por uma norma internacional a extraditar o acusado para
b) Uma cópia do mandado de detenção; e
o Estado requerente, dará prioridade ao pedido de entrega
c) Os documentos, declarações e informações neces-
formulado pelo Tribunal, no caso de este se ter decidido pela
sários para satisfazer os requisitos do processo de entrega
admissibilidade do caso. pelo Estado requerido; contudo, tais requisitos não deverão
5. Quando um caso previsto no parágrafo 4o não tiver ser mais rigorosos dos que os que devem ser observados em
sido declarado admissível pelo Tribunal, o Estado requerido caso de um pedido de extradição em conformidade com
poderá, se assim o entender, dar seguimento ao pedido de tratados ou convênios celebrados entre o Estado requerido
extradição formulado pelo Estado requerente. e outros Estados, devendo, se possível, ser menos rigorosos
6. Relativamente aos casos em que o disposto no pa- face à natureza específica de que se reveste o Tribunal.
rágrafo 4o seja aplicável, mas o Estado requerido se veja 3. Se o pedido respeitar à detenção e à entrega de uma
obrigado, por força de uma norma internacional, a extraditar pessoa já condenada, deverá conter ou ser acompanhado
a pessoa para o Estado requerente que não seja Parte no dos seguintes documentos:
presente Estatuto, o Estado requerido decidirá se procederá à a) Uma cópia do mandado de detenção dessa pessoa;
entrega da pessoa em causa ao Tribunal ou se a extraditará b) Uma cópia da sentença condenatória;
para o Estado requerente. Na sua decisão, o Estado requeri- c) Elementos que demonstrem que a pessoa procurada é
do terá em conta todos os fatores relevantes, incluindo, entre a mesma a que se refere a sentença condenatória; e
outros d) Se a pessoa já tiver sido condenada, uma cópia da
a) A ordem cronológica dos pedidos; sentença e, em caso de pena de prisão, a indicação do pe-
b) Os interesses do Estado requerente, incluindo, se rele- ríodo que já tiver cumprido, bem como o período que ainda
vante, se o crime foi cometido no seu território bem como a lhe falte cumprir.
nacionalidade das vítimas e da pessoa reclamada; e 4. Mediante requerimento do Tribunal, um Estado Par-
c) A possibilidade de o Estado requerente vir a proceder te manterá, no que respeite a questões genéricas ou a uma
posteriormente à entrega da pessoa ao Tribunal. questão específica, consultas com o Tribunal sobre quaisquer
7. Se um Estado Parte receber um pedido de entrega de requisitos previstos no seu direito interno que possam ser
uma pessoa formulado pelo Tribunal e um pedido de extra- aplicados nos termos da alínea c) do parágrafo 2o. No de-
dição formulado por um outro Estado Parte relativamente curso de tais consultas, o Estado Parte informará o Tribunal
à mesma pessoa, por fatos diferentes dos que constituem o dos requisitos específicos constantes do seu direito interno.
crime objeto do pedido de entrega:

90
DIREITOS HUMANOS

Artigo 92 g) Realizar inspeções, nomeadamente a exumação e o


Prisão Preventiva exame de cadáveres enterrados em fossas comuns;
1. Em caso de urgência, o Tribunal poderá solicitar a pri- h) Realizar buscas e apreensões;
são preventiva da pessoa procurada até a apresentação do i) Transmitir registros e documentos, nomeadamente re-
pedido de entrega e os documentos de apoio referidos no gistros e documentos oficiais;
artigo 91. j) Proteger vítimas e testemunhas, bem como preservar
2. O pedido de prisão preventiva será transmitido por elementos de prova;
qualquer meio de que fique registro escrito e conterá: k) Identificar, localizar e congelar ou apreender o pro-
a) Uma descrição da pessoa procurada, contendo infor- duto de crimes, bens, haveres e instrumentos ligados aos
mação suficiente que permita a sua identificação, bem como crimes, com vista à sua eventual declaração de perda, sem
informação sobre a sua provável localização; prejuízo dos direitos de terceiros de boa fé; e
b) Uma exposição sucinta dos crimes pelos quais a pes- I) Prestar qualquer outra forma de auxílio não proibida
soa é procurada, bem como dos fatos alegadamente consti- pela legislação do Estado requerido, destinada a facilitar o
tutivos de tais crimes incluindo, se possível, a data e o local inquérito e o julgamento por crimes da competência do Tri-
da sua prática; bunal.
c) Uma declaração que certifique a existência de um 2. O Tribunal tem poderes para garantir à testemunha
mandado de detenção ou de uma decisão condenatória con- ou ao perito que perante ele compareça de que não serão
tra a pessoa procurada; e perseguidos, detidos ou sujeitos a qualquer outra restrição
d) Uma declaração de que o pedido de entrega relativo à da sua liberdade pessoal, por fato ou omissão anteriores à
pessoa procurada será enviado posteriormente. sua saída do território do Estado requerido.
3. Qualquer pessoa mantida sob prisão preventiva pode- 3. Se a execução de uma determinada medida de auxílio
rá ser posta em liberdade se o Estado requerido não tiver re- constante de um pedido apresentado ao abrigo do parágrafo
cebido, em conformidade com o artigo 91, o pedido de entre- 1o não for permitida no Estado requerido em virtude de um
ga e os respectivos documentos no prazo fixado pelo Regu- princípio jurídico fundamental de aplicação geral, o Estado
em causa iniciará sem demora consultas com o Tribunal com
lamento Processual. Todavia, essa pessoa poderá consentir
vista à solução dessa questão. No decurso das consultas,
na sua entrega antes do termo do período se a legislação do
serão consideradas outras formas de auxílio, bem como as
Estado requerido o permitir. Nesse caso, o Estado requerido
condições da sua realização. Se, concluídas as consultas, a
procede à entrega da pessoa reclamada ao Tribunal, o mais
questão não estiver resolvida, o Tribunal alterará o conteúdo
rapidamente possível.
do pedido conforme se mostrar necessário.
4. O fato de a pessoa reclamada ter sido posta em li-
4. Nos termos do disposto no artigo 72, um Estado Parte
berdade em conformidade com o parágrafo 3° não obstará
só poderá recusar, no todo ou em parte, um pedido de auxílio
a que seja de novo detida e entregue se o pedido de entrega
formulado pelo Tribunal se tal pedido se reportar unicamen-
e os documentos em apoio, vierem a ser apresentados pos- te à produção de documentos ou à divulgação de elementos
teriormente. de prova que atentem contra a sua segurança nacional.
5. Antes de denegar o pedido de auxílio previsto na alí-
Artigo 93 nea l) do parágrafo 1o, o Estado requerido considerará se o
Outras Formas de Cooperação auxílio poderá ser concedido sob determinadas condições ou
1. Em conformidade com o disposto no presente Capítu- se poderá sê-lo em data ulterior ou sob uma outra forma,
lo e nos termos dos procedimentos previstos nos respectivos com a ressalva de que, se o Tribunal ou o Procurador aceita-
direitos internos, os Estados Partes darão seguimento aos rem tais condições, deverão observá-las.
pedidos formulados pelo Tribunal para concessão de auxílio, 6. O Estado requerido que recusar um pedido de auxí-
no âmbito de inquéritos ou procedimentos criminais, no que lio comunicará, sem demora, os motivos ao Tribunal ou ao
se refere a: Procurador.
a) Identificar uma pessoa e o local onde se encontra, ou 7. a) O Tribunal poderá pedir a transferência temporá-
localizar objetos; ria de uma pessoa detida para fins de identificação ou para
b) Reunir elementos de prova, incluindo os depoimentos obter um depoimento ou outras forma de auxílio. A transfe-
prestados sob juramento, bem como produzir elementos de rência realizar-se-á sempre que:
prova, incluindo perícias e relatórios de que o Tribunal ne- i) A pessoa der o seu consentimento, livremente e com
cessita; conhecimento de causa; e
c) Interrogar qualquer pessoa que seja objeto de inqué- ii) O Estado requerido concordar com a transferência,
rito ou de procedimento criminal; sem prejuízo das condições que esse Estado e o Tribunal pos-
d) Notificar documentos, nomeadamente documentos sam acordar;
judiciários; b) A pessoa transferida permanecerá detida. Esgotado o
e) Facilitar o comparecimento voluntária, perante o Tri- fim que determinou a transferência, o Tribunal reenviá-la-á
bunal, de pessoas que deponham na qualidade de testemu- imediatamente para o Estado requerido.
nhas ou de peritos; 8. a) O Tribunal garantirá a confidencialidade dos docu-
f) Proceder à transferência temporária de pessoas, em mentos e das informações recolhidas, exceto se necessários
conformidade com o parágrafo 7°; para o inquérito e os procedimentos descritos no pedido;

91
DIREITOS HUMANOS

b) O Estado requerido poderá, se necessário, comunicar nal. Contudo, a suspensão não deve prolongar-se além do
os documentos ou as informações ao Procurador a título necessário para que o inquérito ou o procedimento criminal
confidencial. O Procurador só poderá utilizá-los para reco- em causa sejam efetuados no Estado requerido. Este, antes
lher novos elementos de prova; de decidir suspender a execução do pedido, verificará se o
c) O Estado requerido poderá, de ofício ou a pedido do auxílio não poderá ser concedido de imediato sob determi-
Procurador, autorizar a divulgação posterior de tais docu- nadas condições.
mentos ou informações; os quais poderão ser utilizados 2. Se for decidida a suspensão de execução do pedido
como meios de prova, nos termos do disposto nos Capítulos em conformidade com o parágrafo 1°, o Procurador pode-
V e VI e no Regulamento Processual. rá, no entanto, solicitar que sejam adotadas medidas para
9. a) i) Se um Estado Parte receber pedidos concorrentes preservar os elementos de prova, nos termos da alínea j) do
formulados pelo Tribunal e por um outro Estado, no âmbito parágrafo 1o do artigo 93.
de uma obrigação internacional, e cujo objeto não seja nem
a entrega nem a extradição, esforçar-se-á, mediante consul- Artigo 95
tas com o Tribunal e esse outro Estado, por dar satisfação a Suspensão da Execução de um Pedido por Impugnação
ambos os pedidos adiando ou estabelecendo determinadas de Admissibilidade
condições a um ou outro pedido, se necessário. Se o Tribunal estiver apreciando uma impugnação de
ii) Não sendo possível, os pedidos concorrentes observa- admissibilidade, de acordo com os artigos 18 ou 19, o Estado
rão os princípios fixados no artigo 90. requerido poderá suspender a execução de um pedido for-
b) Todavia, sempre que o pedido formulado pelo Tribu- mulado ao abrigo do presente Capítulo enquanto aguarda
nal respeitar a informações, bens ou pessoas que estejam que o Tribunal se pronuncie, a menos que o Tribunal tenha
sob o controle de um Estado terceiro ou de uma organização especificamente ordenado que o Procurador continue a reu-
internacional ao abrigo de um acordo internacional, os Esta- nir elementos de prova, nos termos dos artigos 18 ou 19.
dos requeridos informarão o Tribunal em conformidade, este
dirigirá o seu pedido ao Estado terceiro ou à organização Artigo 96
Conteúdo do Pedido sob Outras Formas de Cooperarão
internacional.
previstas no Artigo 93
10. a) Mediante pedido, o Tribunal cooperará com um
1. Todo o pedido relativo a outras formas de cooperação
Estado Parte e prestar-lhe-á auxílio na condução de um in-
previstas no artigo 93 será formulado por escrito. Em caso de
quérito ou julgamento relacionado com fatos que constituam
urgência, o pedido poderá ser feito por qualquer meio que
um crime da jurisdição do Tribunal ou que constituam um
permita manter um registro escrito, desde que seja confir-
crime grave à luz do direito interno do Estado requerente.
mado através dos canais indicados na alínea a) do parágrafo
b) i) O auxílio previsto na alínea a) deve compreender,
1o do artigo 87.
a saber:
2. O pedido deverá conter, ou ser instruído com, os se-
a. A transmissão de depoimentos, documentos e outros guintes documentos:
elementos de prova recolhidos no decurso do inquérito ou do a) Um resumo do objeto do pedido, bem como da natu-
julgamento conduzidos pelo Tribunal; e reza do auxílio solicitado, incluindo os fundamentos jurídicos
b. O interrogatório de qualquer pessoa detida por ordem e os motivos do pedido;
do Tribunal; b) Informações tão completas quanto possível sobre a
ii) No caso previsto na alínea b), i), a; pessoa ou o lugar a identificar ou a localizar, por forma a
a. A transmissão dos documentos e de outros elementos que o auxílio solicitado possa ser prestado;
de prova obtidos com o auxílio de um Estado necessita do c) Um exposição sucinta dos fatos essenciais que funda-
consentimento desse Estado; mentam o pedido;
b. A transmissão de depoimentos, documentos e outros d) A exposição dos motivos e a explicação pormenoriza-
elementos de prova fornecidos quer por uma testemunha, da dos procedimentos ou das condições a respeitar;
quer por um perito, será feita em conformidade com o dis- e) Toda a informação que o Estado requerido possa exi-
posto no artigo 68. gir de acordo com o seu direito interno para dar seguimento
c) O Tribunal poderá, em conformidade com as condi- ao pedido; e
ções enunciadas neste número, deferir um pedido de auxílio f) Toda a informação útil para que o auxílio possa ser
formulado por um Estado que não seja parte no presente concedido.
Estatuto. 3. A requerimento do Tribunal, um Estado Parte man-
terá, no que respeita a questões genéricas ou a uma ques-
Artigo 94 tão específica, consultas com o Tribunal sobre as disposições
Suspensão da Execução de um Pedido Relativamente a aplicáveis do seu direito interno, susceptíveis de serem apli-
um Inquérito ou a Procedimento Criminal em Curso cadas em conformidade com a alínea e) do parágrafo 2°. No
1. Se a imediata execução de um pedido prejudicar o decurso de tais consultas, o Estado Parte informará o Tri-
desenrolar de um inquérito ou de um procedimento crimi- bunal das disposições específicas constantes do seu direito
nal relativos a um caso diferente daquele a que se reporta interno.
o pedido, o Estado requerido poderá suspender a execução 4. O presente artigo aplicar-se-á, se for caso disso, a
do pedido por tempo determinado, acordado com o Tribu- qualquer pedido de auxílio dirigido ao Tribunal.

92
DIREITOS HUMANOS

Artigo 97 4. Sem prejuízo dos demais artigos do presente Capítu-


Consultas lo, sempre que for necessário para a execução com sucesso
Sempre que, ao abrigo do presente Capítulo, um Estado de um pedido, e não haja que recorrer a medidas coerciti-
Parte receba um pedido e verifique que este suscita dificul- vas, nomeadamente quando se trate de ouvir ou levar uma
dades que possam obviar à sua execução ou impedi-la, o pessoa a depor de sua livre vontade, mesmo sem a presença
Estado em causa iniciará, sem demora, as consultas com o das autoridades do Estado Parte requerido se tal for determi-
Tribunal com vista à solução desta questão. Tais dificulda- nante para a execução do pedido, ou quando se trate de exa-
des podem revestir as seguintes formas: minar, sem proceder a alterações, um lugar público ou um
a) Informações insuficientes para dar seguimento ao outro local público, o Procurador poderá dar cumprimento
pedido; ao pedido diretamente no território de um Estado, de acordo
b) No caso de um pedido de entrega, o paradeiro da com as seguintes modalidades:
pessoa reclamada continuar desconhecido a despeito de to- a) Quando o Estado requerido for o Estado em cujo terri-
dos os esforços ou a investigação realizada permitiu deter- tório haja indícios de ter sido cometido o crime e existir uma
minar que a pessoa que se encontra no Estado Requerido decisão sobre a admissibilidade tal como previsto nos artigos
não é manifestamente a pessoa identificada no mandado; 18 e 19, o Procurador poderá executar diretamente o pedido,
ou depois de ter levado a cabo consultas tão amplas quanto
c) O Estado requerido ver-se-ia compelido, para cum- possível com o Estado requerido;
primento do pedido na sua forma atual, a violar uma obri- b) Em outros casos, o Procurador poderá executar o pe-
gação constante de um tratado anteriormente celebrado dido após consultas com o Estado Parte requerido e tendo
com outro Estado. em conta as condições ou as preocupações razoáveis que
Artigo 98 esse Estado tenha eventualmente argumentado. Sempre que
Cooperação Relativa à Renúncia, à Imunidade e ao o Estado requerido verificar que a execução de um pedido
Consentimento na Entrega nos termos da presente alínea suscita dificuldades, consulta-
1. O Tribunal pode não dar seguimento a um pedido de rá de imediato o Tribunal para resolver a questão.
entrega ou de auxílio por força do qual o Estado requeri- 5. As disposições que autorizam a pessoa ouvida ou in-
do devesse atuar de forma incompatível com as obrigações terrogada pelo Tribunal ao abrigo do artigo 72, a invocar as
que lhe incumbem à luz do direito internacional em matéria restrições previstas para impedir a divulgação de informa-
de imunidade dos Estados ou de imunidade diplomática de ções confidenciais relacionadas com a segurança nacional,
pessoa ou de bens de um Estado terceiro, a menos que ob- aplicar-se-ão de igual modo à execução dos pedidos de au-
tenha, previamente a cooperação desse Estado terceiro com xílio referidos no presente artigo.
vista ao levantamento da imunidade.
2. O Tribunal pode não dar seguimento à execução de Artigo 100
um pedido de entrega por força do qual o Estado requeri- Despesas
do devesse atuar de forma incompatível com as obrigações 1. As despesas ordinárias decorrentes da execução dos
que lhe incumbem em virtude de acordos internacionais à pedidos no território do Estado requerido serão por este su-
luz dos quais o consentimento do Estado de envio é neces- portadas, com exceção das seguintes, que correrão a cargo
sário para que uma pessoa pertencente a esse Estado seja do Tribunal:
entregue ao Tribunal, a menos que o Tribunal consiga, pre- a) As despesas relacionadas com as viagens e a proteção
viamente, obter a cooperação do Estado de envio para con- das testemunhas e dos peritos ou com a transferência de
sentir na entrega. detidos ao abrigo do artigo 93;
b) As despesas de tradução, de interpretação e de trans-
Artigo 99 crição;
Execução dos Pedidos Apresentados ao Abrigo dos Ar- c) As despesas de deslocação e de estada dos juízes, do
tigos 93 e 96 Procurador, dos Procuradores-adjuntos, do Secretário, do
1. Os pedidos de auxílio serão executados de harmonia Secretário-Adjunto e dos membros do pessoal de todos os
com os procedimentos previstos na legislação interna do Es- órgãos do Tribunal;
tado requerido e, a menos que o seu direito interno o proí- d) Os custos das perícias ou dos relatórios periciais soli-
ba, na forma especificada no pedido, aplicando qualquer citados pelo Tribunal;
procedimento nele indicado ou autorizando as pessoas nele e) As despesas decorrentes do transporte das pessoas en-
indicadas a estarem presentes e a participarem na execução tregues ao Tribunal pelo Estado de detenção; e
do pedido. f) Após consulta, quaisquer despesas extraordinárias de-
2. Em caso de pedido urgente, os documentos e os ele- correntes da execução de um pedido.
mentos de prova produzidos na resposta serão, a requeri- 2. O disposto no parágrafo 1o aplicar-se-á, sempre
mento do Tribunal, enviados com urgência. que necessário, aos pedidos dirigidos pelos Estados Partes
3. As respostas do Estado requerido serão transmitidas ao Tribunal. Neste caso, o Tribunal tomará a seu cargo as
na sua língua e forma originais. despesas ordinárias decorrentes da execução.

93
DIREITOS HUMANOS

Artigo 101 b) A aplicação de normas convencionais do direito in-


Regra da Especialidade ternacional amplamente aceitas, que regulam o tratamento
1. Nenhuma pessoa entregue ao Tribunal nos termos dos reclusos;
do presente Estatuto poderá ser perseguida, condenada ou c) A opinião da pessoa condenada; e
detida por condutas anteriores à sua entrega, salvo quando d) A nacionalidade da pessoa condenada;
estas constituam crimes que tenham fundamentado a sua e) Outros fatores relativos às circunstâncias do crime, às
entrega. condições pessoais da pessoa condenada ou à execução efe-
2. O Tribunal poderá solicitar uma derrogação dos tiva da pena, adequadas à indicação do Estado da execução.
requisitos estabelecidos no parágrafo 1o ao Estado que 4. Se nenhum Estado for designado nos termos do pará-
lhe tenha entregue uma pessoa e, se necessário, facultar- grafo 1o, a pena privativa de liberdade será cumprida num
lhe-á, em conformidade com o artigo 91, informações estabelecimento prisional designado pelo Estado anfitrião,
complementares. Os Estados Partes estarão habilitados a em conformidade com as condições estipuladas no acordo
conceder uma derrogação ao Tribunal e deverão envidar que determinou o local da sede previsto no parágrafo 2o do
esforços nesse sentido. artigo 3o. Neste caso, as despesas relacionadas com a execu-
ção da pena ficarão a cargo do Tribunal.
Artigo 102
Termos Usados
Artigo 104
Para os fins do presente Estatuto:
Alteração da Indicação do Estado da Execução
a) Por “entrega”, entende-se a entrega de uma pessoa
por um Estado ao Tribunal nos termos do presente Estatuto. 1. O Tribunal poderá, a qualquer momento, decidir
b) Por “extradição”, entende-se a entrega de uma pessoa transferir um condenado para uma prisão de um outro Es-
por um Estado a outro Estado conforme previsto em um tra- tado.
tado, em uma convenção ou no direito interno. 2. A pessoa condenada pelo Tribunal poderá, a qualquer
CAPÍTULO X momento, solicitar-lhe que a transfira do Estado encarrega-
EXECUÇÃO DA PENA do da execução.

Artigo 103 Artigo 105


Função dos Estados na Execução das Penas Privativas Execução da Pena
de Liberdade 1. Sem prejuízo das condições que um Estado haja esta-
1. a) As penas privativas de liberdade serão cumpridas belecido nos termos do artigo 103, parágrafo 1o, alínea b),
num Estado indicado pelo Tribunal a partir de uma lista de a pena privativa de liberdade é vinculativa para os Estados
Estados que lhe tenham manifestado a sua disponibilidade Partes, não podendo estes modificá-la em caso algum.
para receber pessoas condenadas. 2. Será da exclusiva competência do Tribunal pronun-
b) Ao declarar a sua disponibilidade para receber pes- ciar-se sobre qualquer pedido de revisão ou recurso. O Esta-
soas condenadas, um Estado poderá formular condições do da execução não obstará a que o condenado apresente
acordadas com o Tribunal e em conformidade com o pre- um tal pedido.
sente Capítulo.
c) O Estado indicado no âmbito de um determinado caso Artigo 106
dará prontamente a conhecer se aceita ou não a indicação Controle da Execução da Pena e das Condições de De-
do Tribunal. tenção
2. a) O Estado da execução informará o Tribunal de 1. A execução de uma pena privativa de liberdade será
qualquer circunstância, incluindo o cumprimento de quais- submetida ao controle do Tribunal e observará as regras
quer condições acordadas nos termos do parágrafo 1o, que convencionais internacionais amplamente aceitas em maté-
possam afetar materialmente as condições ou a duração da
ria de tratamento dos reclusos.
detenção. O Tribunal será informado com, pelo menos, 45
2. As condições de detenção serão reguladas pela legis-
dias de antecedência sobre qualquer circunstância dessa na-
lação do Estado da execução e observarão as regras conven-
tureza, conhecida ou previsível. Durante este período, o Esta-
do da execução não tomará qualquer medida que possa ser cionais internacionais amplamente aceitas em matéria de
contrária às suas obrigações ao abrigo do artigo 110. tratamento dos reclusos. Em caso algum devem ser menos
b) Se o Tribunal não puder aceitar as circunstâncias re- ou mais favoráveis do que as aplicáveis aos reclusos conde-
feridas na alínea a), deverá informar o Estado da execução nados no Estado da execução por infrações análogas.
e proceder em harmonia com o parágrafo 1o do artigo 104. 3. As comunicações entre o condenado e o Tribunal se-
3. Sempre que exercer o seu poder de indicação em con- rão livres e terão caráter confidencial.
formidade com o parágrafo 1o, o Tribunal levará em consi-
deração: Artigo 107
a) O princípio segundo o qual os Estados Partes devem Transferência do Condenado depois de Cumprida a Pena
partilhar da responsabilidade na execução das penas priva- 1. Cumprida a pena, a pessoa que não seja nacional
tivas de liberdade, em conformidade com os princípios de do Estado da execução poderá, de acordo com a legislação
distribuição equitativa estabelecidos no Regulamento Pro- desse mesmo Estado, ser transferida para um outro Estado
cessual; obrigado a aceitá-la ou ainda para um outro Estado que

94
DIREITOS HUMANOS

aceite acolhê-la tendo em conta a vontade expressa pela 4. No reexame a que se refere o parágrafo 3o, o Tribunal
pessoa em ser transferida para esse Estado; a menos que poderá reduzir a pena se constatar que se verificam uma ou
o Estado da execução autorize essa pessoa a permanecer no várias das condições seguintes:
seu território. a) A pessoa tiver manifestado, desde o início e de forma
2. As despesas relativas à transferência do condenado para contínua, a sua vontade em cooperar com o Tribunal no in-
um outro Estado nos termos do parágrafo 1° serão suportadas quérito e no procedimento;
pelo Tribunal se nenhum Estado as tomar a seu cargo. b) A pessoa tiver, voluntariamente, facilitado a execu-
3. Sem prejuízo do disposto no artigo 108, o Estado da ção das decisões e despachos do Tribunal em outros casos,
execução poderá igualmente, em harmonia com o seu direi- nomeadamente ajudando-o a localizar bens sobre os quais
to interno, extraditar ou entregar por qualquer outro modo a recaíam decisões de perda, de multa ou de reparação que
pessoa a um Estado que tenha solicitado a sua extradição ou poderão ser usados em benefício das vítimas; ou
a sua entrega para fins de julgamento ou de cumprimento de c) Outros fatores que conduzam a uma clara e signifi-
uma pena. cativa alteração das circunstâncias suficiente para justificar
a redução da pena, conforme previsto no Regulamento Pro-
Artigo 108 cessual;
Restrições ao Procedimento Criminal ou à Condenação por
5. Se, no reexame inicial a que se refere o parágrafo 3o, o
Outras Infrações
Tribunal considerar não haver motivo para redução da pena,
1. A pessoa condenada que esteja detida no Estado da exe-
ele reexaminará subsequentemente a questão da redução da
cução não poderá ser objeto de procedimento criminal, con-
pena com a periodicidade e nos termos previstos no Regula-
denação ou extradição para um Estado terceiro em virtude de
uma conduta anterior à sua transferência para o Estado da mento Processual.
execução, a menos que a Tribunal tenha dado a sua aprovação Artigo 111
a tal procedimento, condenação ou extradição, a pedido do Es- Evasão
tado da execução. Se um condenado se evadir do seu local de detenção e
2. Ouvido o condenado, o Tribunal pronunciar-se-á sobre fugir do território do Estado da execução, este poderá, de-
a questão. pois de ter consultado o Tribunal, pedir ao Estado no qual se
3. O parágrafo 1o deixará de ser aplicável se o condenado encontra localizado o condenado que o entregue em confor-
permanecer voluntariamente no território do Estado da execução midade com os acordos bilaterais ou multilaterais em vigor,
por um período superior a 30 dias após o cumprimento integral ou requerer ao Tribunal que solicite a entrega dessa pessoa
da pena proferida pelo Tribunal, ou se regressar ao território ao abrigo do Capítulo IX. O Tribunal poderá, ao solicitar a
desse Estado após dele ter saído. entrega da pessoa, determinar que esta seja entregue ao Es-
Artigo 109 tado no qual se encontrava a cumprir a sua pena, ou a outro
Execução das Penas de Multa e das Medidas de Perda Estado por ele indicado.
1. Os Estados Partes aplicarão as penas de multa, bem CAPÍTULO XI
como as medidas de perda ordenadas pelo Tribunal ao abrigo ASSEMBLEIA DOS ESTADOS PARTES
do Capítulo VII, sem prejuízo dos direitos de terceiros de boa fé
e em conformidade com os procedimentos previstos no respec- Artigo 112
tivo direito interno. Assembleia dos Estados Partes
2. Sempre que um Estado Parte não possa tornar efetiva 1. É constituída, pelo presente instrumento, uma Assem-
a declaração de perda, deverá tomar medidas para recuperar bleia dos Estados Partes. Cada um dos Estados Partes nela
o valor do produto, dos bens ou dos haveres cuja perda tenha disporá de um representante, que poderá ser coadjuvado por
sido declarada pelo Tribunal, sem prejuízo dos direitos de ter- substitutos e assessores. Outros Estados signatários do Es-
ceiros de boa fé. tatuto ou da Ata Final poderão participar nos trabalhos da
3. Os bens, ou o produto da venda de bens imóveis ou, se
Assembleia na qualidade de observadores.
for caso disso, da venda de outros bens, obtidos por um Estado
2. A Assembleia:
Parte por força da execução de uma decisão do Tribunal, serão
a) Examinará e adotará, se adequado, as recomenda-
transferidos para o Tribunal.
ções da Comissão Preparatória;
Artigo 110 b) Promoverá junto à Presidência, ao Procurador e ao
Reexame pelo Tribunal da Questão de Redução de Pena Secretário as linhas orientadoras gerais no que toca à admi-
1. O Estado da execução não poderá libertar o recluso an- nistração do Tribunal;
tes de cumprida a totalidade da pena proferida pelo Tribunal. c) Examinará os relatórios e as atividades da Mesa es-
2. Somente o Tribunal terá a faculdade de decidir sobre tabelecido nos termos do parágrafo 3° e tomará as medidas    
qualquer redução da pena e, ouvido o condenado, pronunciar- apropriadas;
-se-á a tal respeito, d) Examinará e aprovará o orçamento do Tribunal;
3. Quando a pessoa já tiver cumprido dois terços da pena, e) Decidirá, se for caso disso, alterar o número de juízes
ou 25 anos de prisão em caso de pena de prisão perpétua, o nos termos do artigo 36;
Tribunal reexaminará a pena para determinar se haverá lu- f) Examinará, em harmonia com os parágrafos 5 e 7 do
gar a sua redução. Tal reexame só será efetuado transcorrido artigo 87, qualquer questão relativa à não cooperação dos
o período acima referido. Estados;

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DIREITOS HUMANOS

g) Desempenhará qualquer outra função compatível CAPÍTULO XII


com as disposições do presente Estatuto ou do Regulamento FINANCIAMENTO
Processual;
3. a) A Assembleia será dotada de uma Mesa composta Artigo 113
por um presidente, dois vice-presidentes e 18 membros por Regulamento Financeiro
ela eleitos por períodos de três anos; Salvo disposição expressa em contrário, todas as ques-
b) A Mesa terá um caráter representativo, atendendo tões financeiras atinentes ao Tribunal e às reuniões da As-
nomeadamente ao princípio da distribuição geográfica sembleia dos Estados Partes, incluindo a sua Mesa e os seus
equitativa e à necessidade de assegurar uma representação órgãos subsidiários, serão reguladas pelo presente Estatuto,
adequada dos principais sistemas jurídicos do mundo; pelo Regulamento Financeiro e pelas normas de gestão fi-
c) A Mesa reunir-se-á as vezes que forem necessárias, nanceira adotados pela Assembleia dos Estados Partes.
mas, pelo menos, uma vez por ano. Assistirá a Assembleia
no desempenho das suas funções. Artigo 114
4. A Assembleia poderá criar outros órgãos subsidiários Pagamento de Despesas
que julgue necessários, nomeadamente um mecanismo de As despesas do Tribunal e da Assembleia dos Estados
controle independente que proceda a inspeções, avaliações Partes, incluindo a sua Mesa e os seus órgãos subsidiários,
e inquéritos em ordem a melhorar a eficiência e economia serão pagas pelos fundos do Tribunal.
da administração do Tribunal.
5. O Presidente do Tribunal, o Procurador e o Secretário Artigo 115
ou os respectivos representantes poderão participar, sem- Fundos do Tribunal e da Assembleia dos Estados Partes
pre que julguem oportuno, nas reuniões da Assembleia e As despesas do Tribunal e da Assembleia dos Estados
da Mesa. Partes, incluindo a sua Mesa e os seus órgãos subsidiários,
6. A Assembleia reunir-se-á na sede do Tribunal ou na inscritas no orçamento aprovado pela Assembleia dos Esta-
sede da Organização das Nações Unidas uma vez por ano dos Partes, serão financiadas:
e, sempre que as circunstâncias o exigirem, reunir-se-á em a) Pelas quotas dos Estados Partes;
sessão extraordinária. A menos que o presente Estatuto es- b) Pelos fundos provenientes da Organização das Nações
tabeleça em contrário, as sessões extraordinárias são con- Unidas, sujeitos à aprovação da Assembleia Geral, nomea-
vocadas pela Mesa, de ofício ou a pedido de um terço dos damente no que diz respeito às despesas relativas a questões
Estados Partes. remetidas para o Tribunal pelo Conselho de Segurança.
7. Cada um dos Estados Partes disporá de um voto. To-
dos os esforços deverão ser envidados para que as decisões Artigo 116
da Assembleia e da Mesa sejam adotadas por consenso. Se Contribuições Voluntárias
tal não for possível, e a menos que o Estatuto estabeleça em Sem prejuízo do artigo 115, o Tribunal poderá receber
contrário: e utilizar, a título de fundos adicionais, as contribuições vo-
a) As decisões sobre as questões de fundo serão toma- luntárias dos Governos, das organizações internacionais, dos
das por maioria de dois terços dos membros presentes e particulares, das empresas e demais entidades, de acordo
votantes, sob a condição que a maioria absoluta dos Estados com os critérios estabelecidos pela Assembleia dos Estados
Partes constitua quorum para o escrutínio; Partes nesta matéria.
b) As decisões sobre as questões de procedimento serão
tomadas por maioria simples dos Estados Partes presentes Artigo 117
e votantes. Cálculo das Quotas
8. O Estado Parte em atraso no pagamento da sua As quotas dos Estados Partes serão calculadas em con-
contribuição financeira para as despesas do Tribunal não formidade com uma tabela de quotas que tenha sido acor-
poderá votar nem na Assembleia nem na Mesa se o total dada, com base na tabela adotada pela Organização das
das suas contribuições em atraso igualar ou exceder a soma Nações Unidas para o seu orçamento ordinário, e adaptada
das contribuições correspondentes aos dois anos anteriores de harmonia com os princípios nos quais se baseia tal tabela.
completos por ele devidos. A Assembleia Geral poderá, no Artigo 118
entanto, autorizar o Estado em causa a votar na Assembleia Verificação Anual de Contas
ou na Mesa se ficar provado que a falta de pagamento é Os relatórios, livros e contas do Tribunal, incluindo os
devida a circunstâncias alheias ao controle do Estado Parte. balanços financeiros anuais, serão verificados anualmente
9. A Assembleia adotará o seu próprio Regimento. por um revisor de contas independente.
10. As línguas oficiais e de trabalho da Assembleia dos
Estados Partes serão as línguas oficiais e de trabalho da As- CAPÍTULO XIII
sembleia Geral da Organização das Nações Unidas. CLÁUSULAS FINAIS

Artigo 119
Resolução de Diferendos
1. Qualquer diferendo relativo às funções judiciais do
Tribunal será resolvido por decisão do Tribunal.

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DIREITOS HUMANOS

2. Quaisquer diferendos entre dois ou mais Estados Artigo 122


Partes relativos à interpretação ou à aplicação do presente Alteração de Disposições de Caráter Institucional
Estatuto, que não forem resolvidos pela via negocial num 1. Não obstante o artigo 121, parágrafo 1o, qualquer Es-
período de três meses após o seu início, serão submetidos tado Parte poderá, em qualquer momento, propor alterações
à Assembleia dos Estados Partes. A Assembleia poderá pro- às disposições do Estatuto, de caráter exclusivamente insti-
curar resolver o diferendo ou fazer recomendações relativas tucional, a saber, artigos 35, 36, parágrafos 8 e 9, artigos 37,
a outros métodos de resolução, incluindo a submissão do 38, 39, parágrafos 1o (as primeiras duas frases), 2o e 4o, artigo
diferendo à Corte Internacional de Justiça, em conformidade 42, parágrafos 4 a 9, artigo 43, parágrafos 2o e 3o e artigos
com o Estatuto dessa Corte. 44, 46, 47 e 49. O texto de qualquer proposta será submetido
ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas ou
Artigo 120 a qualquer outra pessoa designada pela Assembleia dos
Reservas Estados Partes, que o comunicará sem demora a todos os
Não são admitidas reservas a este Estatuto. Estados Partes e aos outros participantes na Assembleia.
2. As alterações apresentadas nos termos deste artigo,
Artigo 121 sobre as quais não seja possível chegar a um consenso, serão
Alterações adotadas pela Assembleia dos Estados Partes ou por uma
Conferência de Revisão ,por uma maioria de dois terços dos
1. Expirado o período de sete anos após a entrada em
Estados Partes. Tais alterações entrarão em vigor, para todos
vigor do presente Estatuto, qualquer Estado Parte poderá
os Estados Partes, seis meses após a sua adoção pela Assem-
propor alterações ao Estatuto. O texto das propostas de alte-
bleia ou, conforme o caso, pela Conferência de Revisão.
rações será submetido ao Secretário-Geral da Organização
das Nações Unidas, que o comunicará sem demora a todos Artigo 123
os Estados Partes. Revisão do Estatuto
2. Decorridos pelo menos três meses após a data des- 1. Sete anos após a entrada em vigor do presente Esta-
ta notificação, a Assembleia dos Estados Partes decidirá na tuto, o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas
reunião seguinte, por maioria dos seus membros presentes e convocará uma Conferência de Revisão para examinar qual-
votantes, se deverá examinar a proposta. A Assembleia po- quer alteração ao presente Estatuto. A revisão poderá incidir
derá tratar desta proposta, ou convocar uma Conferência de nomeadamente, mas não exclusivamente, sobre a lista de
Revisão se a questão suscitada o justificar. crimes que figura no artigo 5o. A Conferência estará aber-
3. A adoção de uma alteração numa reunião da Assem- ta aos participantes na Assembleia dos Estados Partes, nas
bleia dos Estados Partes ou numa Conferência de Revisão mesmas condições.
exigirá a maioria de dois terços dos Estados Partes, quando 2. A todo o momento ulterior, a requerimento de um
não for possível chegar a um consenso. Estado Parte e para os fins enunciados no parágrafo 1o, o
4. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 5, qualquer Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, me-
alteração entrará em vigor, para todos os Estados Partes, um diante aprovação da maioria dos Estados Partes, convocará
ano depois que sete oitavos de entre eles tenham depositado uma Conferência de Revisão.
os respectivos instrumentos de ratificação ou de aceita- 3. A adoção e a entrada em vigor de qualquer alteração
ção junto do Secretário-Geral da Organização das Nações ao Estatuto examinada numa Conferência de Revisão serão
Unidas. reguladas pelas disposições do artigo 121, parágrafos 3o a 7.
5. Qualquer alteração ao artigo 5o, 6o, 7o e 8o do presente
Estatuto entrará em vigor, para todos os Estados Partes Artigo 124
que a tenham aceitado, um ano após o depósito dos seus Disposição Transitória
instrumentos de ratificação ou de aceitação. O Tribunal Não obstante o disposto nos parágrafos 1o e 2o do artigo
não exercerá a sua competência relativamente a um crime 12, um Estado que se torne Parte no presente Estatuto, poderá
declarar que, durante um período de sete anos a contar
abrangido pela alteração sempre que este tiver sido cometido
da data da entrada em vigor do Estatuto no seu território,
por nacionais de um Estado Parte que não tenha aceitado a
não aceitará a competência do Tribunal relativamente à
alteração, ou no território desse Estado Parte.
categoria de crimes referidos no artigo 8o, quando haja in-
6. Se uma alteração tiver sido aceita por sete oitavos dos dícios de que um crime tenha sido praticado por nacionais
Estados Partes nos termos do parágrafo 4, qualquer Estado seus ou no seu território. A declaração formulada ao abri-
Parte que não a tenha aceito poderá retirar-se do Estatuto go deste artigo poderá ser retirada a qualquer momento. O
com efeito imediato, não obstante o disposto no parágrafo disposto neste artigo será reexaminado na Conferência de
1o do artigo 127, mas sem prejuízo do disposto no parágrafo Revisão a convocar em conformidade com o parágrafo 1o do
2o do artigo 127, mediante notificação da sua retirada o mais artigo 123.
tardar um ano após a entrada em vigor desta alteração.
7. O Secretário-Geral da Organização dás Nações Uni- Artigo 125
das comunicará a todos os Estados Partes quaisquer altera- Assinatura, Ratificação, Aceitação, Aprovação ou Adesão
ções que tenham sido adotadas em reunião da Assembleia 1. O presente Estatuto estará aberto à assinatura de to-
dos Estados Partes ou numa Conferência de Revisão. dos os Estados na sede da Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura, em Roma, a 17 de Julho

97
DIREITOS HUMANOS

de 1998, continuando aberto à assinatura no Ministério dos


Negócios Estrangeiros de Itália, em Roma, até 17 de Outubro 2.2.9 GRUPOS VULNERÁVEIS E MINORIAS.
de 1998. Após esta data, o Estatuto continuará aberto na DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: HISTÓRIA,
sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO, RACISMO,
até 31 de Dezembro de 2000. IGUALDADE, AÇÕES AFIRMATIVAS.
  2. O presente Estatuto ficará sujeito a ratificação,
aceitação ou aprovação dos Estados signatários. Os
instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação serão
depositados junto do Secretário-Geral da Organização das Como já se viu nesta apostila, os sistemas de prote-
Nações Unidas. ção da ONU se dividem em geral e especial, sendo o pri-
3. O presente Estatuto ficará aberto à adesão de qual- meiro voltado a qualquer categoria de pessoas e o segun-
quer Estado. Os instrumentos de adesão serão depositados do referente à proteção de grupos específicos, os quais não
junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Uni- atingiriam a efetividade dos direitos garantidos a todos sem
das. medidas específicas. Isto é, para existir verdadeira igualdade
material é necessário promover medidas específicas voltadas
Artigo 126 a grupos menos favorecidos da sociedade. Tais grupos são
Entrada em Vigor conhecidos como vulneráveis, sendo formados pelas cha-
1. O presente Estatuto entrará em vigor no primeiro dia madas minorias (o termo minoria diz respeito a determinado
do mês seguinte ao termo de um período de 60 dias após a grupo humano ou social que esteja em inferioridade numé-
data do depósito do sexagésimo instrumento de ratificação, rica ou em situação de subordinação sócio-econômica, polí-
de aceitação, de aprovação ou de adesão junto do Secretá- tica ou cultural, em relação a outro grupo, que é majoritário
rio-Geral da Organização das Nações Unidas. ou dominante em uma dada sociedade. Uma minoria pode
2. Em relação ao Estado que ratifique, aceite ou aprove ser étnica, religiosa, linguística, de gênero, idade, condição
o Estatuto ,ou a ele adira após o depósito do sexagésimo física ou psíquica).
instrumento de ratificação, de aceitação, de aprovação ou de Reforça-se o texto dos principais documentos da ONU
adesão, o Estatuto entrará em vigor no primeiro dia do mês voltados à proteção da igualdade material:
seguinte ao termo de um período de 60 dias após a data do
depósito do respectivo instrumento de ratificação, de aceita-
Artigo II, DUDH
ção, de aprovação ou de adesão.
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de
Artigo 127
qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião,
Retirada
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
1. Qualquer Estado Parte poderá, mediante notificação
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
escrita e dirigida ao Secretário-Geral da Organização das
Nações Unidas, retirar-se do presente Estatuto. A retirada
produzirá efeitos um ano após a data de recepção da notifi- Artigo 26, PIDCP
cação, salvo se esta indicar uma data ulterior. Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito,
2. A retirada não isentará o Estado das obrigações que sem discriminação alguma, a igual proteção da lei. A este
lhe incumbem em virtude do presente Estatuto enquanto respeito, a lei deverá proibir qualquer forma de discriminação
Parte do mesmo, incluindo as obrigações financeiras que e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra
tiver assumido, não afetando também a cooperação com qualquer discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua,
o Tribunal no âmbito de inquéritos e de procedimentos cri- religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacio-
minais relativamente aos quais o Estado tinha o dever de nal ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer
cooperar e que se iniciaram antes da data em que a retirada outra situação.
começou a produzir efeitos; a retirada em nada afetará a
prossecução da apreciação das causas que o Tribunal já ti- Artigo 27, PIDCP
vesse começado a apreciar antes da data em que a retirada No caso em que haja minorias étnicas, religiosas ou
começou a produzir efeitos. linguísticas, as pessoas pertencentes a essas minorias não po-
derão ser privadas do direito de ter, conjuntamente com outras
Artigo 128 membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de professar
Textos Autênticos e praticar sua própria religião e usar sua própria língua.
O original do presente Estatuto, cujos textos em árabe,
chinês, espanhol, francês, inglês e russo fazem igualmente fé, Abaixo, seguem alguns exemplos de grupos vulneráveis
será depositado junto do Secretário-Geral das Nações Uni- e da proteção específica conferida internacionalmente a eles:
das, que enviará cópia autenticada a todos os Estados. a) Mulheres
Em fé do que, os abaixo assinados, devidamente auto- Internacionalmente, esta fragilidade feminina é reconhe-
rizados pelos respectivos Governos, assinaram o presente cida, notadamente, na Declaração da ONU sobre a Elimina-
Estatuto. ção da Discriminação contra as Mulheres, de 7 de novem-
Feito em Roma, aos dezessete dias do mês de julho de bro de 1967; na Convenção da ONU sobre a Eliminação de
mil novecentos e noventa e oito. Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, de 18

98
DIREITOS HUMANOS

de dezembro de 1979; e na Convenção Interamericana para A finalidade da mencionada Declaração é “[...] que a
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, de 9 criança tenha uma infância feliz e possa gozar, em seu pró-
de junho de 1994. prio benefício e no da sociedade, os direitos e as liberdades
Sintetiza o artigo 1º da Declaração da ONU sobre a Eli- aqui enunciados e apela a que os pais, os homens e as mu-
minação da Discriminação contra as Mulheres: “a discrimi- lheres em sua qualidade de indivíduos, e as organizações
nação contra as mulheres, na medida em que nega ou limita voluntárias, as autoridades locais e os Governos nacionais
a sua igualdade de direitos em relação aos homens, é fun- reconheçam estes direitos e se empenhem pela sua obser-
damentalmente injusta e constitui uma ofensa à dignidade vância mediante medidas legislativas e de outra natureza,
humana”. progressivamente instituídas [...]”.
Algumas medidas apropriadas voltadas ao fim da dis- Neste sentido, são enunciados 10 princípios: aplicação
criminação das mulheres se encontram nos artigos 2º a 10: dos direitos ali declarados a todas as crianças sem discrimi-
abolição das leis, costumes, regulamentos e práticas discri- nação; proteção social à criança e facilidades previstas em
minatórias, assegurando a proteção jurídica das mulheres leis e outros meios para tanto; direito ao nome e à nacio-
pelo princípio da igualdade na Constituição e leis infracons- nalidade; direito à previdência social e à saúde; tratamento
titucionais e pelos instrumentos internacionais que deverão especial para crianças incapacitadas física, mental ou so-
ser ratificados tão logo possível; educação da opinião pública cialmente; criação pelos pais num ambiente de afeto e se-
e direcionamento das aspirações nacionais à erradicação da gurança moral e material, com cuidados especiais às famí-
discriminação e à abolição de práticas e conceitos machis- lias que não possam prover sua subsistência; direito à edu-
tas; garantia em condição de igualdade do direito ao voto e cação, gratuita e obrigatória pelo menos no primeiro grau
ao desempenho de funções públicas; garantia dos mesmos primário; direito ao lazer e de que seus melhores interesses
direitos que os homens relativamente à aquisição, mudança sejam tomados como norte; prioridade no recebimento de
ou conservação de nacionalidade, nunca sendo obrigada a proteção e socorro; proteção contra quaisquer formas de
adotar a nacionalidade do marido sob pena de ficar apátrida; negligência, crueldade e exploração, inclusive sob o aspec-
previsão legal, em condições de igualdade com os homens, to laboral; proteção contra atos de discriminação.
do direito de adquirir, herdar e administrar bens (inclusive
durante o casamento), de igualdade na capacidade jurídica e c) Pessoas portadoras de deficiência
no seu exercício, de livre circulação, de liberdade de escolha A Declaração da ONU sobre os Direitos das Pessoas
matrimonial, de preservação do superior interesse da criança
com Deficiência começa com um conceito base: “o termo
na constância e dissolução do casamento (impedindo que
‘pessoas deficientes’ refere-se a qualquer pessoa incapaz
no divórcio a criança fique obrigatoriamente com o pai),
de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as neces-
de igualdade de responsabilidade quanto aos filhos entre
sidades de uma vida individual ou social normal, em decor-
pai e mãe; revogação de todas disposições do direito penal
rência de uma deficiência, congênita ou não, em suas capa-
que sejam discriminatórias contra as mulheres; igualdade na
cidades físicas ou mentais”. A seguir, se prescreve o direito
educação e no exercício do trabalho (inclusive remuneração,
à não discriminação, o necessário respeito à dignidade da
respeitadas as particulares necessidades das mulheres, por
pessoa humana, igualdade de direitos civis e políticos, pro-
exemplo, licença-maternidade).
A Convenção da ONU sobre a Eliminação de Todas as moção da autoconfiança por medidas estatais, direito à
Formas de Discriminação contra a Mulher vem para comple- saúde e tratamento adequado, direito à segurança econô-
mentar a mencionada Declaração, diferenciando-se dela na mica e social, consideração de suas necessidades especiais,
medida em que é um tratado internacional comum, aberto direito ao lazer e à vivência familiar, proteção contra a ex-
à assinatura de Estados-partes, ao passo que a Declaração é ploração, assistência legal qualificada, participação e con-
aprovada pela Assembleia Geral da organização e, por isso, sulta de organizações específicas e direito à informação.
aceita por todos os seus Estados-membros. Não obstante, Ainda no âmbito das Nações Unidas, a Convenção In-
tem caráter mais amplo que a Declaração, merecendo desta- ternacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e
que a instituição de órgão protetivo próprio, qual seja o Co- seu Protocolo Facultativo desponta como o mais relevante
mitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher. tratado internacional na matéria em estudo que foi ratifi-
cado pelo Brasil, isto porque possui o status de emenda
b) Crianças constitucional.
Embora não exista um instrumento que aborde especi-
ficamente os direitos das crianças no Sistema Interamerica- d) Diversidade sexual
no, normas genéricas do sistema - notadamente a do men- A Organização das Nações Unidas, no âmbito de seu
cionado artigo 19 da CADH - permitem a proteção neste Conselho de Direitos Humanos, tem elaborado resoluções
âmbito. Contudo, há instrumentos internacionais específicos voltadas a este grupo vulnerável, a exemplo dos Princí-
voltados à proteção dos direitos da criança no âmbito das pios de Yogyakarta, que são princípios voltados à aplica-
Nações Unidas, quais sejam a Declaração dos Direitos da ção da legislação de direitos humanos em todo o planeta
Criança de 20 de novembro de 1959, e a Convenção sobre em relação à diversidade sexual e à identidade de gênero,
os Direitos da Criança 20 de novembro de 1989, confirmada delimitando a igualitária aplicação dos direitos humanos
no Brasil pelo Decreto Legislativo nº 28, de 14 de setembro consagrados a pessoas que se encaixem em grupos com
de 1990. sexualidade diferenciada. Outro documento a respeito que

99
DIREITOS HUMANOS

assume relevância é a Declaração condenando violações 1. Toda a propaganda e as organizações com base em
dos direitos humanos com base na orientação sexual e na ideias ou teorias de superioridade de uma raça ou grupo de
identidade de gênero, de 18 de dezembro de 2008. O Brasil pessoas de uma só cor ou origem étnica, com vista a justi-
estava presente quando tal Declaração foi aceita pela As- ficar ou promover a discriminação racial sob qualquer for-
sembleia Geral da ONU e votou a favor, tratando-se assim ma, devem ser severamente condenadas.
de documento corroborado pelo país no âmbito interna- 2. Todos os instigação ou atos de violência, quer por
cional. indivíduos ou organizações contra qualquer raça ou grupo
de pessoas de outra cor ou origem étnica é considerada um
e) Preconceito racial e étnico delito contra a sociedade e punível por lei.
O assunto será reforçado no próximo tópico. 3. A fim de pôr em prática os propósitos e princípios da
Muito embora a sociedade brasileira seja pluralista e presente Declaração, todos os Estados devem tomar medi-
altamente miscigenada (alto índice de diversidade étnico- das imediatas e positivas, incluindo medidas legislativas e
-racial), ainda são comuns os casos de preconceito racial e outras, para processar e / ou fora da lei organizações que
étnico, o que coloca pessoas como negros, índios e mem- promovam ou incitem a discriminação racial, ou incitar ou
bros de grupos étnicos minoritários em geral na situação uso violência para fins de discriminação baseada em raça,
de vulnerabilidade que assegura uma especial proteção cor ou origem étnica.
sob o viés da igualdade material.
há diversos documentos internacionais específicos vol- Partindo para o estudo da Convenção, tem-se o arti-
tados à proteção deste grupo vulnerável, destacando-se: go 1º, de caráter conceitual:
Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Racial, de 20 de novembro de 1. Nesta Convenção, a expressão ‘discriminação racial’
1963; Convenção Internacional sobre a Eliminação de To- significará qualquer distinção, exclusão, restrição ou prefe-
das as Formas de Discriminação Racial, de 21 de dezembro rência baseada em raça, cor, descendência ou origem na-
de 1965 (Decreto nº 65.810 de 8 de dezembro de 1969); cional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anula ou
e, recentemente, a Convenção Interamericana contra o Ra- restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo
cismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de In- plano, (em igualdade de condição), de direitos humanos
tolerância, de 5 de junho de 2013 (ainda não incorporada e liberdades fundamentais no domínio político econômico,
ao ordenamento interno brasileiro, mas já assinadas pelo social, cultural ou em qualquer outro domínio de sua vida.
Brasil). 2. Esta Convenção não se aplicará às distinções, exclu-
O artigo 1º da Declaração da ONU sintetiza bem a sões, restrições e preferências feitas por um Estado Parte
preocupação internacional com as constantes práticas de nesta Convenção entre cidadãos.
discriminação racial e étnica: “A discriminação entre seres 3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado como
humanos em razão da raça, cor ou origem étnica é uma afetando as disposições legais dos Estados Partes, relativas
ofensa à dignidade humana e será condenado como uma a nacionalidade, cidadania e naturalização, desde que tais
negação dos princípios da Carta das Nações Unidas, como disposições não discriminem contra qualquer nacionalida-
uma violação dos direitos humanos e liberdades funda- de particular.
mentais proclamados na Declaração Universal dos Direitos 4. Não serão consideradas discriminações racial as me-
Humanos, como um obstáculo às relações amigáveis e pa- didas especiais tomadas como o único objetivo de assegu-
cíficas entre as nações e como um fato capaz de perturbar rar progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos
a paz e a segurança entre os povos”. ou indivíduos que necessitem da proteção que possa ser
Quanto aos direitos em espécie, o artigo 3º trata do necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos
necessário tratamento igualitário sob o aspecto da acessi- igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades
bilidade a locais e a serviços, o que é reforçado no artigo 6º fundamentais, contanto que, tais medidas não conduzam,
e no artigo 7º, que aborda a igualdade perante a lei. em consequência, à manutenção de direitos separados
Em relação às medidas estatais, o artigo 2º frisa a ne- para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem
cessidade de medidas de prevenção e combate a práticas sidos alcançados os seus objetivos.
discriminatórias com base na raça, cor ou origem étnica; o
artigo 4º aborda a necessidade de medidas para rescindir Com efeito, após o estabelecimento de um conceito
leis e regulamentos que têm o efeito de criar e perpetuar de discriminação racial, delimita-se que ela pode consis-
a discriminação racial, ao passo que o artigo 5º veda polí- tir em distinções, exclusões, restrições e preferências, sem
ticas de segregação racial (em especial apartheid); o artigo que isto signifique que exista alguma obrigação estatal
8º prevê que as medidas em questão também devem ser quanto à nacionalidade, cidadania e naturalização, desde
tomadas na área da educação; e os artigos 10 e 11 tratam que não se discrimine uma nacionalidade em particular, e
da necessária cooperação internacional para o respeito dos encerra-se prevendo que as ações discriminatórias positi-
direitos humanos quanto à discriminação por motivo de vas feitas pelo Estado em prol da igualdade material não
raça, cor ou etnia. caracterizam violação.
Merece destaque, ainda, o artigo 9º, que junto com o Os deveres estatais descritos no artigo II perpassam
mencionado artigo 1º sintetiza a finalidade e o objetivo da pelo compromisso de não discriminação consistente em
declaração: não efetuar práticas discriminatórias, não encorajá-las ou

100
DIREITOS HUMANOS

defendê-las, tomar medidas eficazes para eliminar normas mentos internacionais que tenha por objetivo o efeito de
discriminatórias do ordenamento e favorecer organizações anular ou limitar, o reconhecimento, o gozo ou o exercício,
e movimentos multirraciais, e pelo dever de tomar medidas em condições de igualdade, de um ou mais direitos huma-
especiais para proteção de indivíduos pertencentes a gru- nos e liberdade fundamentais consagrados nos instrumentos
pos raciais vulneráveis nas esferas social, econômica, cultu- internacionais aplicáveis aos Estados-partes, em qualquer
ral e outras. Por isso mesmo, o artigo III traz o dever estatal âmbito da vida pública ou privada.
de condenar a segregação racial e o apartheid.
Prosseguindo, o artigo IV repete a proibição quanto à 4. O racismo consiste em qualquer teoria, doutrina,
propaganda discriminatória do artigo 9º da Declaração, e ideologia ou conjunto de ideias que enunciam um vínculo
a seguir prevê a obrigação estatal de tutela estabelecendo causal entre as características fenotípicas ou genotípicas de
tipos penais, declarando ilegais e proibindo organizações indivíduos ou grupos e seus traços intelectuais, culturais e de
discriminatórias, vedando às autoridades públicas o incita- personalidade, incluindo o falso conceito de superioridade
mento ou encorajamento à discriminação. Nos termos do racial. [...] 6. Intolerância é o ato ou conjunto de atos ou
artigo VI, a proteção estatal também deve se dar no âmbito manifestações que expressam o desrespeito, a rechaça ou
judiciário pelo acesso a meios e recursos contra atos dis- a depreciação da dignidade, características, convicções ou
criminatórios. opiniões dos seres humanos por serem diferentes ou contrá-
Não obstante, pelo artigo VII, estende-se aos campos rias. Pode manifestar-se como marginalização e exclusão da
do ensino, educação, da cultura e da informação a atuação participação em qualquer âmbito da vida pública ou privada
estatal em prol da eliminação da discriminação e do pre- de grupos em condições de vulnerabilidade ou como violên-
conceito por conta de raça, cor ou etnia. cia contra eles.
O artigo V traz um rol de direitos que devem ser confe- Nos artigos 2º e 3º efetua-se menção aos direitos pro-
ridos sem distinção de raça, de cor ou de origem nacional tegidos, de uma maneira bastante ampla, garantindo a
ou étnica, sendo este rol exemplificativo. Na verdade, se todos a proteção contra a discriminação ou preconceito,
busca a garantia igualitária de todos os direitos humanos bem como o igualitário exercício de todos os direitos e li-
consagrados. berdades fundamentais. Os deveres estatais são descritos
No artigo VIII estabelece-se a instituição de um Comi- nos artigos 4º a 13 e, no geral, são semelhantes aos da
tê para a eliminação da discriminação racial, ao qual serão Convenção da ONU, cabendo coibir formas de intolerância
apresentados relatórios pelos Estados-partes (artigo IX) e por diversos meios, como educação e controle de informa-
poderão ser apresentadas reclamações (artigo XI). A partir ção, bem como adotar ações afirmativas e aplicar políticas
do artigo XVII são estabelecidas questões formais sobre as- públicas, elaborar legislação protetiva, assegurar a punição
sinatura, ratificação, denúncia e mecanismos afins. de crimes e designar órgão próprio para assegurar o cum-
Por fim, importante estudar os principais aspectos da primento da Convenção, entre outros.
Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discrimi- O artigo 15 trata dos mecanismos de proteção, entre
nação Racial e Formas Correlatas de Intolerância, assina- os quais se destaca a aceitação de reclamação a ser apre-
da recentemente e ainda não ratificada pelo Brasil (isto é, sentada perante a Comissão Interamericana dos Direitos
foi assinada e ainda aguarda a aprovação pelo Congresso Humanos, reconhecendo-se também a competência con-
Nacional e ratificação da assinatura, o que provavelmente sultiva do órgão; o processamento perante a Corte Intera-
deve acontecer). mericana dos Direitos Humanos, quando devidamente re-
No geral, a Convenção Interamericana adota disposi- conhecida a competência para tanto; e a instituição de um
ções semelhantes à Convenção da ONU. O seu artigo 1º Comitê Interamericano para a Prevenção e a Eliminação do
também tem viés conceitual, trazendo concepção seme- Racismo, da Discriminação Racial e de Todas as Formas de
lhante de discriminação racial no parágrafo 1, mas comple- Discriminação e Intolerância, o que se dará quando entrar
mentando com outros conceitos como o de discriminação em vigor a primeira Convenção para algum dos países que
indireta, discriminação múltipla, racismo e intolerância: a assinaram, destacando-se que a finalidade deste não é
punir violações, mas apurar o cumprimento da Convenção
2. Discriminação racial indireta é a que se produz, na como um todo pelos Estados-partes. Por fim, os artigos 16
esfera pública ou privada, quando uma disposição, um crité- a 22 tratam de questões formais sobre interpretação, de-
rio ou uma prática, aparentemente neutra é suscetível de núncia, reservas, depósito, entre outras.
implicar uma desvantagem particular para as pessoas que Percebe-se a extensão da proteção conferida contra
pertencem a um grupo específico baseado nos motivos des- o preconceito racial e étnico no âmbito internacional, que
critos no parágrafo 1, ou lhe põe em desvantagem, a menos tem fulcro nas graves consequências advindas de práti-
que dita disposição, critério ou prática tenha um objetivo ou cas atentatórias, entre as quais podem ser mencionadas a
justificação razoável e legítimo à luz do direito internacional escravidão e o nazismo. A busca de uma sociedade mais
dos direitos humanos. igualitária pressupõe a aceitação de que todos os seres
humanos, independente de raça, etnia, cor, linhagem ou
3. Discriminação múltipla ou agravada é qualquer origem, são dignos e, por isso, possuem os mesmos di-
preferência, distinção, exclusão ou restrição baseada, de reitos humanos para proteção desta dignidade, cabendo
forma concomitante, em dois ou mais dos motivos men- um esforço social para promover uma igualdade real, não
cionados no parágrafo 1 ou outros reconhecidos em instru- meramente formal.

101
DIREITOS HUMANOS

Em se tratando de uma atitude que tipifique racismo, Os crimes envolvem de forma geral atos de segre-
aplicam-se os termos da Constituição Federal, artigo 5º, gação racial que decorrem dos seguintes atos de impe-
XLII: dimento ou obstáculo: a cargo da administração públi-
ca; a emprego em empresas privadas; a estabelecimento
A prática do racismo constitui crime inafiançável e im- comercial, ou no atendimento de quem lá tenha entrado;
prescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. ao ensino público ou privado; a hotel ou outras formas de
hospedagem; a restaurantes e bares; estabelecimento es-
Referido dispositivo constitucional é regulamentado portivos, de diversão ou clubes sociais, desde que abertos
pela Lei nº 7.716/1989, que tutela a igualdade prevista ao público; a entradas sociais de edifícios, incluindo-se o
como bem jurídico, sendo que se deve levar em conta uso de elevadores; a transporte público nas mais diversas
não apenas as características próprias do discriminado, formas; às forças armadas; ao casamento.
mas também os motivos que levam à discriminação, os
quais, se lícitos, afastam a incidência da lei. Frisa-se que Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devida-
inafiançável é o crime para o qual não cabe fiança, isto é, mente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta
não cabe o pagamento de dinheiro para a liberação do ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços pú-
preso provisório (a liberdade provisória pode ser concedi- blicos.
da, mas apenas se preenchidos os outros requisitos legais, Parágrafo único.  Incorre na mesma pena quem, por
nunca pelo exclusivo pagamento de pecúnia); ao passo motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou pro-
que imprescritível é o crime que não prescreve, ou seja, cedência nacional, obstar a promoção funcional. 
não importa quanto tempo passe que o fato continuará Pena: reclusão de dois a cinco anos.
podendo ser objeto de persecução penal. Assim, todas as pessoas, independentemente de raça,
A lei de discriminação e preconceito apresenta diver- cor, etnia, religião ou procedência nacional, concorrem
sas formas de condutas criminosas que constituem atos igualmente a cargos públicos na administração direta ou
de segregação tendo por base, dentre outros aspectos, o indireta, além das prestadoras de serviços públicos, ava-
racial. Todos eles apresentam uma conexão com seu arti- liando-se apenas sua capacidade. Da mesma forma, o mais
go 1º, onde afirma que: competente é o que deve ser promovido. Comete o crime
o servidor público que for responsável pela avaliação dos
candidatos num concurso público e/ou o que controlar o
Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultan-
quadro de funcionários da instituição.
tes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, reli-
gião ou procedência nacional.
Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou in-
gresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou
Isso significa que todas as condutas incriminadas de-
privado de qualquer grau.
vem ocorrer com orientação desse artigo.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Discriminação é sinônimo de distinção. Na lei tem a
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor
conotação de discriminação social, no sentido de propi-
de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço).
ciar a exclusão social de uma pessoa pelo mero fato de Não significa que processos seletivos sejam proibidos,
pertencer a uma raça, cor, etnia, religião ou procedência mas que nestes não se pode impedir o ingresso de uma
nacional. pessoa capacitada apenas por sua raça ou etnia. O crime
Preconceito significa um conceito pré-estabelecido, é mais grave se o preconceito é cometido contra criança
que existe antes mesmo de se conhecer especificadamen- e adolescente, sendo majorado, ante o natural constrangi-
te o objeto do preconceito, no caso, uma pessoa. Assim, mento pelo qual esta pessoa em formação e que ainda não
pelo simples fato de alguém ser de certa raça, cor, etnia, tem plena compreensão da vida em sociedade irá passar.
religião ou precedência nacional a outra pessoa a maltrata
e a exclui, sem nem ao menos conhecê-la. Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação
Vale, ainda, distinguir as espécies de discriminações e ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedên-
preconceitos coibidos pela lei: cia nacional.
- Raça - termo biológico referente a aspectos morfo- Pena: reclusão de um a três anos e multa.
lógicos como cor da pele e composição física, que perde Em seu artigo 20, caput, a Lei nº 7.716/1989 apresenta
cada vez mais força, notadamente pela forte miscigena- uma fórmula genérica e de maior abrangência ao dispor
ção social. como crime ‘praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
- Cor - termo biológico ainda mais estrito que o de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência na-
raça, aplicando-se apenas à cor da pele. cional’, de forma a abranger qualquer ato caracterizador de
- Etnia - termo sociológico, aplicando-se a grupos discriminação ou preconceito, e de certo modo englobar
com afinidades linguísticas e culturais. todos os artigos anteriores que descrevem atos de segre-
- Religião - crença espiritual adotada pela pessoa, por gação. Isto garante a efetividade da lei, pois alguma falha
exemplo, catolicismo, judaísmo, umbanda, etc. no tipo específico permite o enquadramento neste tipo
- Procedência nacional - país de origem. genérico.

102
DIREITOS HUMANOS

Vale lembrar, no entanto, que um crime mais grave pre- Com efeito, a investigação preliminar é o ponto de par-
visto na legislação comum que seja praticado por motivo tida para uma persecução penal bem-sucedida, que atenda
de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência ao interesse da sociedade de elucidar crimes sem abrir mão
nacional não se enquadra no artigo 20, caput, mas sim no do respeito aos direitos mais comezinhos dos investigados.
tipo mais grave. Afinal, crime mais grave absorve o crime Daí a importância da Polícia Judiciária, dirigida por Delega-
menos grave. do de Polícia de carreira (artigo 144 da Constituição Fede-
Por exemplo, pensemos num homicídio de uma pessoa ral), a quem incumbe a condução da investigação criminal
negra praticado por um grupo de neonazistas ou num in- por meio dos diversos procedimentos policiais (artigo 2º,
dígena assassinado por um grupo semelhante. Obviamen- parágrafo 1º da Lei 12.830/2013). Constatação constitucio-
te, eles praticaram uma discriminação de raça/etnia. No nal e legal esta reiterada pelo Supremo Tribunal Federal,
entanto, não faria sentido responderem pelo preconceito, que afasta a possibilidade de qualquer outra autoridade
crime muito mais brando que o de homicídio. Por isso, res- presidir o inquérito policial.
ponderão pelo homicídio qualificado por um motivo torpe Não se discute que o sistema constitucional pátrio re-
(art. 121, §2º, I, CP), sujeitando-se à pena de reclusão de 12 servou à Polícia Judiciária o papel central na investigação
a 30 anos, pois o preconceito é um motivo torpe. penal, justamente por se tratar de órgão desvinculado da
Assim, sempre que o preconceito gerar um crime mais acusação e da defesa. Trata-se de função essencial à justi-
grave previsto na legislação, não será utilizada a fórmula ça, que fortalece o sistema acusatório ao possibilitar que
mais ampla do artigo 20, caput. o Judiciário permaneça inerte, porquanto a investigação é
conduzida pelo delegado de polícia com plena autonomia
Por sua vez, os artigos 16 e 18 tratam dos efeitos da dos atos investigativos.
condenação: Por isso não é de se estranhar a afirmação dos tribu-
Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do car- nais superiores no sentido de que o delegado de polícia
go ou função pública, para o servidor público, e a suspensão age stricto sensu em nome do Estado, integrando carreira
do funcionamento do estabelecimento particular por prazo jurídica.
não superior a três meses. Nesse contexto, é necessário adotar pensamento críti-
Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta co para questionar a afirmação de parcela da doutrina, re-
Lei não são automáticos, devendo ser motivadamente de- ferendada de maneira irrefletida por muitos, no sentido de
clarados na sentença.
que o inquérito policial teria por única função subsidiar o
Além de ser condenado à pena privativa de liberdade,
Ministério Público de elementos informativos e probatórios
o servidor público perderá o cargo ou função pública, as-
para propor a ação penal.
sim como o estabelecimento particular em que o crime foi
Alguns estudiosos clássicos e modernos da seara cri-
praticado não funcionará por um prazo de até 3 meses. É
minal já notaram o equívoco dessa assertiva e sublinharam
preciso que a sentença seja expressa neste sentido.
que a função investigativa formalizada pela Polícia Judiciá-
No entanto, a mera proteção legal é insuficiente, razão
ria está longe de se resumir a um suporte da acusação,
pela qual são necessárias ações afirmativas voltadas às mi-
não possuindo um caráter unidirecional. A finalidade do
norias étnico-raciais, por exemplo, o desenvolvimento de
políticas de diretrizes curriculares voltadas à promoção da procedimento preliminar não deve ser vislumbrada sob a
igualdade e à melhoria da educação dos grupos menos fa- ótica exclusiva da preparação do processo penal, mas prin-
vorecidos neste âmbito. cipalmente à luz de uma barreira contra acusações infun-
dadas e temerárias, além de um mecanismo salvaguarda
da sociedade, assegurando a paz e a tranquilidade sociais.
Outrossim, considerada que a instrução preliminar não
2.2.9 - A POLÍCIA CIVIL E A DEFESA DAS caracteriza via de mão única, medida que se impõe é a am-
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS: A POLÍCIA pliação da participação da defesa no curso do inquérito
JUDICIÁRIA E A PROMOÇÃO DOS DIREITOS policial. O defensor deve ter a oportunidade de se manifes-
FUNDAMENTAIS. tar nos autos do procedimento policial, ainda que após a
conclusão das diligências, tendo em conta que não se pode
admitir interferências nas atividades policiais em curso (se-
A persecução penal deve caminhar lado a lado com a gredo interno), sob pena de total ineficácia do aparelho
franquia de liberdades públicas do cidadão, humanizando- persecutório à disposição do Estado-Investigação. Destar-
-se a função punitiva do Estado. Nada mais óbvio, se con- te, nada impede a incidência dos postulados do contradi-
siderarmos que a dignidade da pessoa humana, enquanto tório e da ampla defesa na fase inquisitiva, mesmo que de
valor jurídico fundamental da comunidade e reduto intan- forma mais tênue do que no processo penal, de maneira
gível do indivíduo, traduz o centro axiológico em torno do a evitar o estabelecimento de utilitarismo exacerbado que
qual gravitam os direitos fundamentais, e a última fronteira acentue o fosso que separa acusação e defesa.
contra quaisquer ingerências externas. Nesse prisma, o Es- Outras questões de extrema importância que merecem
tado-Investigação nada mais é do que um meio cuja finali- destaque são a autonomia da Polícia Judiciária e a inde-
dade consiste na garantia de direitos fundamentais, sendo pendência funcional do delegado de polícia. O Estado ain-
o postulado da dignidade o norte para o Poder Público. da não garantiu todos os meios para que essa autoridade

103
DIREITOS HUMANOS

imparcial não fique vulnerável a toda sorte de pressões


políticas, sociais e econômicas. Nem tampouco assegurou 2.2.6 - CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS
que a Polícia Judiciária pare de ser indevidamente sufocada FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA
pelo contingenciamento de recursos .
APLICAÇÃO DA LEI (ADOTADO PELA
O Brasil precisa urgentemente levar a sério o alerta
feito pelo pai do garantismo penal, no sentido de que a ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS
Polícia Judiciária tem que ser “separada rigidamente dos NA SUA RESOLUÇÃO 34/169, DE 17 DE
outros corpos de polícia e dotada, em relação ao Executivo, DEZEMBRO DE 1979)
das mesmas garantias de independência que são assegu-
radas ao Poder Judiciário do qual deveria, exclusivamente,
depender”. 
A atuação equidistante, ofertando possibilidades CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RES-
idênticas à acusação e à defesa, é da própria nature- PONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI
za da Polícia Judiciária, enquanto longa manus do Poder
Judiciário. A autoridade policial tem a responsabilidade Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas,
de presidir a chamada devida investigação criminal, de no dia 17 de Dezembro de 1979, através da Resolução nº
matiz constitucional, conduzindo-a com a isenção e a 34/169.
imparcialidade próprias de agente estatal sem compromisso
com algo distinto da verdade. Artigo 1º
Não poderia haver outra forma de conduzir a apura- Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei de-
ção criminal num Estado Democrático de Direito. A Polí- vem sempre cumprir o dever que a lei lhes impõe, servindo
cia Judiciária, por não ter pacto com a acusação ou com a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos
a defesa, baliza seus trabalhos tão somente em razão da ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsa-
busca da verdade. O delegado de polícia só consegue con- bilidade que a sua profissão requer.
duzir uma investigação não tendenciosa e livre de direcio-
namentos na medida em que lhe for assegurada a possi- Comentário
bilidade de agir de acordo com seu livre convencimento
O termo “funcionários responsáveis pela aplicação da
motivado. Essa garantia ganha ainda mais relevo se não
lei” inclui todos os agentes da lei, quer nomeados, quer
nos esquecermos da falibilidade humana na tomada de de-
eleitos, que exerçam poderes policiais, especialmente po-
cisões, o que certamente abrange os chamados experts em
deres de detenção ou prisão. Nos países onde os poderes
quaisquer ciências. A amputação dessa prerrogativa apenas
policiais são exercidos por autoridades militares, quer em
incrementaria a incerteza e a precariedade decisórias da
uniforme, quer não, ou por forças de segurança do Estado,
persecução penal.
será entendido que a definição dos funcionários respon-
Nessa esteira, a ninguém comprometido com a de-
vida investigação criminal interessa enfraquecer a Polícia sáveis pela aplicação da lei incluirá os funcionários de tais
Judiciária e o cargo de delegado de polícia, retirando do serviços.
cidadão a certeza de que será investigado por autoridade
imparcial, independente e integrante de órgão estatal au- Artigo 2º
tônomo. No cumprimento do dever, os funcionários responsá-
O combate ao crime, desde os delitos violentos até a veis pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a dig-
criminalidade mais sofisticada, passa necessariamente pelo nidade humana, manter e apoiar os direitos humanos de
fortalecimento da Polícia Judiciária. Sucatear a Polícia In- todas as pessoas.
vestigativa e ao mesmo tempo pretender resolver o caos
da segurança pública fazendo vista grossa à usurpação de Artigo 3º
função por outros órgãos públicos (policiais ou não) repre- Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só
senta inaceitável jeitinho brasileiro que deturpa o sistema podem empregar a força quando estritamente necessária e
jurídico-penal e fornece resposta demagógica à população na medida exigida para o cumprimento do seu dever.
leiga.
O exercício da função investigatória demanda genero- Comentário
sas doses de imparcialidade, serenidade e respeito à dig- O emprego da força por parte dos funcionários res-
nidade da pessoa humana. Nessa vereda, a Polícia Federal ponsáveis pela aplicação da lei deve ser excepcional. Em-
e as polícias civis têm a importante missão de assegurar bora se admita que estes funcionários, de acordo com as
que as investigações criminais se mantenham em sintonia circunstâncias, possam empregar uma força razoável, de
com um país democrático e republicano, projetando-se o nenhuma maneira ela poderá ser utilizada de forma des-
Delegado de Polícia como a primeira autoridade estatal a proporcional ao legítimo objetivo a ser atingido. O empre-
preservar os direitos fundamentais, não só das vítimas, mas go de armas de fogo é considerado uma medida extrema;
também dos próprios investigados. devem-se fazer todos os esforços no sentido de restringir
Fonte: https://www.conjur.com.br/2015-jul-14/acade- seu uso, especialmente contra crianças. Em geral, armas de
mia-policia-missao-policia-judiciaria-buscar-verdade-ga- fogo só deveriam ser utilizadas quando um suspeito ofe-
rantir-direitos-fundamentais rece resistência armada ou, de algum outro modo, põe em

104
DIREITOS HUMANOS

risco vidas alheias e medidas menos drásticas são insufi- um ato de corrupção. Os governos não podem esperar que
cientes para dominá-lo. Toda vez que uma arma de fogo os cidadãos respeitem as leis se estas também não foram
for disparada, deve-se fazer imediatamente um relatório às aplicadas contra os próprios agentes do Estado e dentro
autoridades competentes. dos seus próprios organismos.

Artigo 4º Artigo 8º
Os assuntos de natureza confidencial em poder dos Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei de-
funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem ser vem respeitar a lei e este Código. Devem, também, na me-
mantidos confidenciais, a não ser que o cumprimento do dida das suas possibilidades, evitar e opor-se com rigor a
dever ou necessidade de justiça estritamente exijam outro quaisquer violações da lei e deste Código.
comportamento. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que
tiverem motivos para acreditar que houve ou que está para
Artigo 5º haver uma violação deste Código, devem comunicar o fato
Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades
pode infligir, instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou competentes ou órgãos com poderes de revisão e repara-
qualquer outro tratamento ou pena cruel, desumano ou ção.
degradante, nem nenhum destes funcionários pode invo-
car ordens superiores ou circunstâncias excepcionais, tais Comentário
como o estado de guerra ou uma ameaça de guerra, amea- As disposições contidas neste Código serão obser-
ça à segurança nacional, instabilidade política interna ou vadas sempre que tenham sido incorporadas à legislação
qualquer outra emergência pública, como justificativa para nacional ou à sua prática; caso a legislação ou a prática
torturas ou outros tratamentos ou penas cruéis, desuma- contiverem disposições mais limitativas do que as deste
nos ou degradantes. Código, devem observar-se essas disposições mais limi-
tativas. Subentende-se que os funcionários responsáveis
Comentário pela aplicação da lei não devem sofrer sanções adminis-
A Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos trativas ou de qualquer outra natureza pelo fato de terem
ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes define tor- comunicado que houve, ou que está prestes a haver, uma
tura como: “...qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos
violação deste Código; como em alguns países os meios
agudos, físicos ou mentais são infligidos intencionalmente
de comunicação social desempenham o papel de examinar
a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pes-
denúncias, os funcionários responsáveis pela aplicação da
soa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que
lei podem levar ao conhecimento da opinião pública, atra-
ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja sus-
vés dos referidos meios, como último recurso, as violações
peita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa
a este Código. Os funcionários responsáveis pela aplicação
ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em
da lei que cumpram as disposições deste Código merecem
discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou
o respeito, o total apoio e a colaboração da sociedade, do
sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou
outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua organismo de aplicação da lei no qual servem e da comu-
instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. nidade policial.
Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos
que sejam consequência unicamente de sanções legítimas, Fonte: http://www.mp.ma.gov.br/site/centrosapoio/Di-
ou que sejam inerentes a tais sanções ou dela decorram.” rHumanos/codConduta.htm

Artigo 6º PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE O USO DA FORÇA E


Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei de- ARMAS DE FOGO PELOS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁ-
vem garantir a proteção da saúde de todas as pessoas sob VEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI
sua guarda e, em especial, devem adotar medidas imedia-
tas para assegurar-lhes cuidados médicos, sempre que ne- Adotados por consenso em 7 de setembro de 1990,
cessário. por ocasião do Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre
a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes.
Artigo 7º Considerando o Plano de Ação de Milão, adotado pelo
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não Sétimo Congresso das Nações unidas sobre a Prevenção
devem cometer quaisquer atos de corrupção. Também de- do Crime e o Tratamento dos Delinquentes e aprovado pela
vem opor-se vigorosamente e combater todos estes atos. Assembleia Geral através da Resolução 40/32 de 29 de no-
vembro de 1985;
Comentário Considerando também a Resolução do Sétimo Con-
Qualquer ato de corrupção, tal como qualquer outro gresso pela qual o Comitê de Prevenção e Controle do Cri-
abuso de autoridade, é incompatível com a profissão dos me foi solicitado a considerar medidas visando tornar mais
funcionários responsáveis pela aplicação da lei. A lei deve efetivo o Código de Conduta para os Funcionários Respon-
ser aplicada com rigor a qualquer funcionário que cometa sáveis pela Aplicação da Lei;

105
DIREITOS HUMANOS

Tendo em conta, com o devido reconhecimento, o tra- 9. SOLICITA ao Secretário-Geral:


balho realizado em conformidade com a Resolução 14 do (a) Que tome medidas, conforme
Sétimo Congresso, pelo Comitê, pela reunião inter-regional for adequado, para levar a presente resolução à atenção
preparatória do Oitavo Congresso das Nações Unidas so- dos governos e de todos os órgão pertinentes das Nações
bre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquen- Unidas, e que se encarregue de dar aos Princípios Básicos a
tes, relativamente às normas e diretrizes das Nações Unidas máxima divulgação possível;
sobre prevenção do crime, justiça e execução penal e às (b) Que inclua os Princípios Básicos
prioridades referentes ao posterior estabelecimento de pa- na próxima edição da publicação das Nações Unidas intitu-
drões, e pelas reuniões regionais preparatórias do Oitavo lada Direitos Humanos: Uma Compilação de Normas Inter-
Congresso; nacionais (publicação das Nações Unidas, número de venda
1. ADOTA os Princípios Básicos sobre o Uso E.88.XIV.1);
da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis (c) Que forneça aos governos, me-
pela Aplicação da Lei contidos no anexo à presente reso- diante pedido dos mesmos, serviços de especialistas e
lução; consultores regionais e inter-regionais para prestação de
2. RECOMENDA os Princípios Básicos para assistência na implementação dos Princípios Básicos, e que
adoção e execução nacional, regional e inter-regional, le- apresente relatório ao Nono Congresso sobre a assistência
vando em consideração as circunstâncias e as tradições po- e a formação técnicas prestadas;
líticas, econômicas, sociais e culturais de cada país; (d) Que relate à Comissão, quando
3. CONVIDA os Estados membros a ter em da realização da sua décima-segunda sessão, as providên-
conta e respeitar os Princípios Básicos no contexto da legis- cias tomadas visando implementar os Princípios Básicos.
lação e das práticas nacionais; 10. SOLICITA ao Nono Congresso
4. CONVIDA TAMBÉM os Estados mem- e respectivas reuniões preparatórias que examinem o pro-
bros a levar os Princípios Básicos ao conhecimento dos gresso obtido na implementação dos Princípios Básicos.
funcionários responsáveis pela aplicação da lei e de outros ANEXO
agentes do Executivo, magistrados, advogados, legislado- Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de
res e público em geral; Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei
5. CONVIDA AINDA os Estados membros Considerando que o trabalho dos funcionários encar-
a informar o Secretário-Geral, de cinco em cinco anos, a regados da aplicação da lei (*) é de alta relevância e que,
partir de 1992, sobre o progresso alcançado na implemen- por conseguinte, é preciso manter e, sempre que necessá-
tação dos Princípios Básicos, incluindo sua disseminação, rio, melhorar as condições de trabalho e estatutárias desses
sua incorporação à legislação, à prática, aos procedimentos funcionários;
e às políticas internas; sobre os problemas encontrados na (*) De acordo com as observações relativas ao artigo 10
aplicação dos mesmos à nível nacional, e sobre a possível do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis
necessidade de assistência da comunidade internacional, pela Aplicação da Lei, a expressão encarregados da aplica-
solicitando ao Secretário-Geral que transmita tais informa- ção da lei” refere-se a todos os executores da lei, nomea-
ções ao Nono Congresso das Nações Unidas sobre a Pre- dos ou eleitos, que exerçam poderes de natureza policial,
venção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes; especialmente o poder de efetuar detenções ou prisões.
6. APELA a todos os governos para que Nos países em que os poderes policiais são exercidos por
promovam seminários e cursos de formação, a nível nacio- autoridades militares, uniformizadas ou não, ou por forças
nal e regional, sobre a função da aplicação das leis e sobre de segurança do Estado, a definição de encarregados da
a necessidade de restrições ao uso da força e de armas de aplicação da lei” deverá incluir os agentes desses serviços.
fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei; Considerando que qualquer ameaça à vida e à seguran-
UNITED NATIONS NATIONS UNIES ça dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei deve
7. EXORTA as comissões regionais, as insti- ser encarada como uma ameaça à estabilidade da socieda-
tuições regionais e inter-regionais encarregadas da preven- de em geral;
ção do crime e da justiça penal, as agências especializadas Considerando que as Regras Mínimas para o Tratamen-
e outras entidades no âmbito do sistema das Nações Uni- to de Prisioneiros prevêem as circunstâncias nas quais é
das, outras organizações intergovernamentais interessadas aceitável o uso da força pelos funcionários das prisões, no
e organizações não-governamentais com estatuto consul- cumprimento das suas obrigações;
tivo junto ao Conselho Econômico e Social, para que par- Considerando que o artigo 30 do Código de Conduta
ticipem ativamente da implementação dos Princípios Bási- para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei
cos e informem o Secretário-Geral sobre os esforços feitos prevê que os funcionários encarregados da aplicação da
para disseminar e implementar tais lei somente podem fazer uso da força quando estritamente
Princípios e sobre o grau em que se concretizou tal necessário e no grau em que for essencial ao desempenho
implementação, solicitando ao Secretário- Geral que inclua das suas funções;
essas informações no seu relatório ao Nono Congresso; Considerando que a reunião preparatória para o Séti-
8. APELA à Comissão de Prevenção mo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do
e Controle do Crime para que considere, como questão Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizada em Vare-
prioritária, meios e formas de assegurar a implementação na, Itália, chegou a um acordo sobre os elementos a serem
efetiva da presente resolução; considerados nos trabalhos posteriores sobre as

106
DIREITOS HUMANOS

limitações ao uso da força e de armas de fogo pelos CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRA-
funcionários responsáveis pela aplicação da lei; TAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DE-
Considerando que o Sétimo Congresso, através da 14ª GRADANTES
Resolução, salientou, entre outras coisas, que o uso da for-
ça e de armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela DECRETO Nº 40, DE 15 DE FEVEREIRO DE 1991
aplicação da lei deve ser aferido pelo devido respeito aos
direitos humanos; Presidente da República, usando da atribuição que
Considerando que o Conselho Econômico e Social, na lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e.
sua Resolução 1986/10, seção IX, de 21 de maio de 1986, Considerando que a Assembléia Geral das Nações
recomendou aos Estados membros darem uma especial Unidas, em sua XL Sessão, realizada em Nova York, ado-
atenção, por ocasião da implementação do Código, ao uso tou a 10 de dezembro de 1984, a Convenção Contra a
da força e de armas de fogo pelos funcionários responsá- tortura e outros Tratamentos ou penas Cruéis, Desuma-
veis pela aplicação da lei, e que a Assembleia Geral, na sua nas ou Degradantes;
Resolução 41/149, de 4 de dezembro de 1986, dentre ou- Considerando que o Congresso Nacional aprovou a
tras coisas corroborou aquela recomendação do Conselho; referida Convenção por meio do Decreto Legislativo nº
Considerando ser justo que, com a devida considera- 04, de 23 de maio de 1989;
ção pela segurança pessoal desses funcionários, seja leva- Considerando que a carta de Ratificação da Conven-
do em conta o papel dos responsáveis pela aplicação da lei ção foi depositada em 28 de setembro de 1989;
em relação à administração da justiça, à proteção do direito Considerando que a Convenção entrou em vigor
à vida, à liberdade e à segurança da pessoa humana, à res- para o Brasil em 28 de outubro de 1989, na forma de
ponsabilidade desses funcionários por velar pela segurança seu artigo 27, inciso 2;
pública e pela paz social e à importância das habilitações,
da formação e da conduta dos mesmos, DECRETA:
Os Princípios Básicos enunciados a seguir, que foram
formulados com o propósito de assistir os Estados mem- Art. 1° A Convenção Contra a Tortura e Outros Tra-
bros na tarefa de assegurar e promover a adequada mis- tamentos ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,
são dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, apenas por cópia ao presente Decreto, será executada e
devem ser tomados em consideração e respeitados pelos cumprida tão inteiramente como nela se contém.
governos no âmbito da legislação e da prática nacionais, Art. 2° Este decreto entra em vigor na data de sua
e levados ao conhecimento dos funcionários responsáveis publicação.
pela aplicação da lei e de outras pessoas, tais como juízes, Brasília, em 15 de fevereiro de 1991; 170º da Inde-
agentes do Ministério Público, advogados, membros do pendência e 103° da República. FERNANDO COLLOR
Executivo e do Legislativo, bem como do público em geral. Francisco Rezek
Disposições gerais ANEXO AO DECRETO QUE PROMULGA A CONVEN-
1. Os governos e entidades responsáveis ÇÃO A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS
pela aplicação da lei deverão adotar e implementar normas CRUÉIS, DESUMENOS OU DEGRADANTES. Ministério
e regulamentos sobre o uso da força e de armas de fogo das
pelos responsáveis pela aplicação da lei. Na elaboração de Relações Exteriores
tais normas e regulamentos, os governos e entidades res- CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRA-
ponsáveis pela aplicação da lei devem examinar constante TAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DE-
e minuciosamente as questões de natureza ética associa- GRADANTES
das ao uso da força e de armas de fogo. Os estados partes da presente Convenção,
2. Os governos e entidades responsáveis Considerando que, de acordo com os princípios
pela aplicação da lei deverão preparar uma série tão ampla proclamados pela Carta das Nações unidas, e reconhe-
quanto possível de meios e equipar os responsáveis pela cimento dos direitos iguais e inalienáveis de todos os
aplicação da lei com uma variedade de tipos de armas e membros da família humana é o fundamento da liber-
munições que permitam o uso diferenciado da força e de dade, da justiça e da paz no mundo,
armas de fogo. Tais providências deverão incluir o aperfei- Reconhecendo que estes direitos emanam da digni-
çoamento de armas incapacitantes não-letais, para uso nas dade inerente à pessoa humana,
situações adequadas, com o propósito de limitar cada vez considerando a obrigação que incumbe aos Estados,
mais a aplicação de meios capazes de causar morte ou feri- em virtude da carta, em particular do artigo 55, de pro-
mentos às pessoas. Com idêntica finalidade, deverão equi- mover o respeito universal e a observância dos direitos
par os encarregados da aplicação da lei com equipamen- humanos e liberdade fundamentais,
to de legítima defesa, como escudos, capacetes, coletes à Levando em conta o Artigo 5º, da declaração uni-
prova de bala e veículos à prova de bala, a fim de se reduzir versal dos Direitos do homem e o Artigo 7° do Pacto
a necessidade do emprego de armas de qualquer espécie. Internacional sobre a tortura ou a pena ou tratamento
cruel, desumano ou degradante,

107
DIREITOS HUMANOS

Levando também em conta a Declaração sobre a EXERCÍCIOS


Proteção de Todas as Pessoas contra a Tortura e outros
Tratamentos ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, 1. (VUNESP - 2011 - TJ-SP - Juiz) Sobre os tratados in-
aprovada pela Assembleia Geral m 9 de dezembro de 1975, ternacionais, assinale a alternativa correta.
Desejosos de tornar mais eficaz a luta contra a tortura e a) Podem ser celebrados pelo Presidente da República
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degra- ou pelo Presidente do Senado.
dantes em todo o mundo, b) Celebrados pela autoridade competente, precisam
Acordam o seguinte: ser referendados pelo Congresso Nacional.
PARTE ARTIGO 1º c) Nas hipóteses de grave violação de direitos huma-
1. Para os fins da presente Convenção, o nos, o Procurador Geral da República, com a finalidade de
termo “tortura” designa qualquer ato pelo qual dores ou assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos in- tratados internacionais de direitos humanos dos quais o
tencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Supremo Tribu-
uma terceira pessoa, informações ou confissões; de casti- nal Federal, em qualquer fase do inquérito ou pro- cesso,
gá-la por ato cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa incidente de deslocamento de competência para a Justiça
ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em Federal.
discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou d) Os tratados e convenções internacionais sobre di-
sofrimento são infligidos por um funcionário público ou reitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua Con- gresso Nacional, em dois turnos, por maioria simples
instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos emendas constitucionais.
consequência unicamente de sanções legítimas, ou que e) Compete exclusivamente ao Senado Federal resolver
sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram. definitivamente sobre tratados, acordos ou atos inter- na-
2. O presente Artigo não será interpre- cionais que acarretem encargos ou compromissos gravo-
tado de maneira a restringir qualquer instrumento interna- sos ao patrimônio nacional.
cional ou legislação nacional que contenha ou possa conter
dispositivos de alcance mais amplo. R: B. A primeira fase do chamado processo de elabo-
ARTIGO 2° ração dos tratados é a negociação. No Brasil, compete à
1. Cada Estado Parte tomará medidas efi- União “manter relações com Estados estrangeiros e partici-
cazes de caráter legislativo, administrativo, judicial ou de par de organizações internacionais”, nos termos do artigo
outra natureza, a fim de impedir a prática de atos de tortu- 21, I da Constituição Federal. O único agente nas relações
ra em qualquer território sob sua jurisdição. internacionais com competência exclusiva é o Presidente
2. Em nenhum caso poderão invocar-se da República, que manterá as relações com o respectivo
circunstâncias excepcionais tais como ameaça ou estado Estado estrangeiro e celebrará tratados, convenções e atos
de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra internacionais, que precisam apenas do referendo do Con-
emergência como justificação para tortura. gresso Nacional, conforme dispõe o artigo 84, VII e VIII da
3. A ordem de um funcionário superior ou Constituição Federal. O momento seguinte é o da assina-
de uma autoridade pública não poderá ser invocada como tura do tratado por esta autoridade competente. Contudo,
justificação para a tortura. a exigibilidade dos tratados depende de atos posteriores.
A colaboração entre os Poderes Executivo e Legislativo é
indispensável para a conclusão de um tratado no ordena-
mento jurídico brasileiro, já que muito embora a compe-
tência seja exclusiva do Presidente da República, cabe ao
Congresso Nacional, por meio de um decreto legislativo,
autorizar a ratificação do ato internacional. Nos termos do
artigo 49, I da Constituição Federal “é da competência ex-
clusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitivamente
sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acar-
retem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio
nacional”.

2. (CESPE - 2011 - TRF 5ª Região - Juiz) A Declaração


Universal dos Direitos Humanos 
a) não trata de direitos econômicos.
b) trata dos direitos de liberdade e igualdade.
c) trata o meio ambiente ecologicamente equilibrado
como direito de todos.
d) não faz referência a direitos políticos.
e) não faz referência a direitos culturais e à bioética.

108
DIREITOS HUMANOS

R: B. Os direitos de liberdade e igualdade são o foco 5. (FCC - 2009 - DPE-MA - Defensor Público) Ao intro-
da Declaração de 1948, como se percebe pelos seus dois duzir a concepção contemporânea de direitos humanos, a
primeiros artigos: “Artigo I. Todas as pessoas nascem livres Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 afirma
e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão  e que
consciência e devem agir em relação umas às outras com a) o relativismo cultural, a indivisibilidade e a inter-
espírito de fraternidade. Artigo II. Toda pessoa tem capa- dependência dos direitos humanos, conferindo primazia
cidade para gozar os direitos e as liberdades estabeleci- ao valor da solidariedade, como condição ao exercício dos
dos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais.
seja de raça, cor, sexo, língua,  religião, opinião política b) a universalidade, a indivisibilidade e a interdepen-
ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, dência dos direitos humanos, conferindo paridade hierár-
nascimento, ou qualquer outra condição”.  quica entre direitos civis e políticos e direitos econômicos,
sociais e culturais.
3. (CESPE - 2012 - DPE-AC - Defensor Público) A De- c) a universalidade, a indivisibilidade e a interdepen-
claração Universal de Direitos Humanos dência dos direitos humanos, conferindo primazia aos di-
a) foi proclamada pelos revolucionários franceses do reitos civis e políticos, como condição ao exercício dos di-
final do século XVIII e confirmada, após a Segunda Guerra reitos econômicos, sociais e culturais.
Mundial, pela Assembleia Geral das Nações Unidas. d) o relativismo cultural, a indivisibilidade e a interde-
b) foi o primeiro documento internacional a estabele- pendência dos direitos humanos, conferindo primazia aos
cer expressamente o princípio da vedação ao retrocesso direitos econômicos, sociais e culturais, como condição ao
social. exercício dos direitos civis e políticos.
c) nada declara sobre o direito à propriedade, em ra- e) a universalidade, a indivisibilidade e a interdepen-
zão da necessidade de acomodação das diferentes ideo- dência dos direitos humanos, conferindo primazia aos di-
logias das potências vencedoras da Segunda Guerra Mun- reitos econômicos, sociais e culturais, como condição ao
dial. exercício dos direitos civis e políticos.
d) não faz referência à possibilidade de qualquer pes-
soa deixar o território de qualquer país ou nele ingressar, R: B. A declaração Universal dos Direitos Humanos de
embora assegure expressamente a liberdade de locomo- 1948 reconhece todos os direitos humanos, sejam eles da
ção dentro das fronteiras dos Estados. primeira, da segunda ou da terceira dimensão, como es-
e) assegura a toda pessoa o direito de participar do senciais à dignidade humana. Logo, não há primazia entre
governo de seu próprio país, diretamente ou por meio de eles. No mais, de fato, direitos humanos são dotados de
representantes. universalidade (valem para todos seres humanos, garantin-
do-se um sistema global), indivisibilidade (compõem um
R: E. Nos termos do artigo XXI, item 1, “toda pessoa único conjunto de direitos porque não podem ser analisa-
tem o direito de tomar parte no governo de seu país, dire- dos de maneira isolada, separada) e interdependência (as
tamente ou por intermédio de representantes livremente dimensões de direitos humanos apresentam uma relação
escolhidos”. orgânica entre si, logo, a dignidade da pessoa humana
deve ser buscada por meio da implementação mais eficaz
4. (FCC - 2010 - SJCDH-BA - Agente Penitenciário) São e uniforme das liberdades clássicas, dos direitos sociais,
princípios fundamentais proclamados no artigo I da De- econômicos e de solidariedade como um todo único e in-
claração Universal dos Direitos Humanos, de 1948: dissolúvel).
a) a igualdade entre homens e mulheres e a liberdade
de pensamento e religião. 6. (FGV - 2011 - OAB) A respeito da internacionalização
b) a presunção de inocência e a inviolabilidade da dos direitos humanos, assinale a alternativa correta. 
vida privada. a) Já antes do fim da II Guerra Mundial ocorreu a inter-
c) o amplo acesso à educação e ao trabalho. nacionalização dos direitos humanos, com a limitação dos
d) a liberdade de ir e vir e o direito de buscar asilo em poderes do Estado a fim de garantir o respeito integral aos
outros países. direitos fundamentais da pessoa humana.
e) a liberdade, a igualdade e a fraternidade. b) A limitação do poder, quando previsto na Consti-
tuição, garante por si só o respeito aos direitos humanos.
R: E. Preconiza o citado dispositivo: “todas as pessoas c) A criação de normas de proteção internacional no
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dota- âmbito dos direitos humanos possibilita a responsabiliza-
das de razão e consciência e devem agir em relação umas ção do Estado quando as normas nacionais forem omissas.
às outras com espírito de fraternidade”. d) A internacionalização dos direitos humanos impõe
que o Estado, e não o indivíduo, seja sujeito de direito in-
ternacional.

109
DIREITOS HUMANOS

R: C. As normas de proteção de direitos humanos são 8. (VUNESP - 2012 - TJ-SP - Escrevente Técnico Judi-
dotadas de universalidade, de forma que valem para todos ciário) Segundo o que estabelece a Carta Magna Brasileira,
os indivíduos do mundo, independentemente do território para que um tratado internacional seja considerado equi-
em que se encontrem. Assim, funcionam como limitadoras valente à emenda constitucional, é necessário que
da soberania estatal, posto que o Estado não pode fazer o a) seja assinado pelo Chefe do Poder Executivo, ratifi-
que bem entender contra os direitos humanos e ficar im- cado por ambas as Casas do Congresso Nacional e, inde-
pune. Para tanto, inúmeros mecanismos se encontram pre- pendentemente da sua matéria, que seja aprovado em dois
vistos internacionalmente. turnos, por três quintos dos votos dos respectivos mem-
7. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) Quan- bros.
do se fala em direitos humanos, considerando sua historici- b) seja sobre direitos humanos e que tenha sido apro-
dade, é correto dizer que: vado, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois tur-
a) somente passam a existir com as Declarações de Di- nos, por três quintos dos votos dos respectivos membros.
reitos elaboradas a partir da Revolução Gloriosa Inglesa de c) tenha sido aprovado, em cada Casa do Congresso
1688. Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
b) foram estabelecidos, pela primeira vez, por meio da respectivos membros, independentemente da matéria que
Carta Magna de 1215, que é a expressão maior da proteção ele trate.
dos Direitos do Homem em âmbito universal. d) seja devidamente aprovado pelo Congresso Nacio-
c) a concepção contemporânea de Direitos Humanos nal, ratificado pelo Poder Executivo e incorporado à Cons-
foi introduzida, em 1789, pela Declaração dos Direitos do tituição Federal, independentemente da matéria que ele
Homem e do Cidadão, fruto da Revolução Francesa. trate.
d) a internacionalização dos Direitos Humanos surge a e) o Supremo Tribunal Federal reconheça a sua com-
partir do Pós-Guerra, como resposta às atrocidades come- patibilidade com o texto constitucional por meio do julga-
tidas durante o nazismo. mento de Ação Declaratória da Constitucionalidade.

R: D. Com a Declaração Universal dos Direitos Huma- R: B. Nesta linha, o artigo 5°, §3°, CF: “Os tratados e
nos de 1948 se iniciou um processo de internacionalização convenções internacionais sobre direitos humanos que
dos direitos humanos porque ela foi o primeiro documento forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional,
internacional a abordar os direitos humanos, discriminan- em dois turnos, por três quintos dos votos dos respecti-
do-os expressamente. Ocorre que com a crescente posi- vos membros, serão equivalentes às emendas constitucio-
tivação do Direito pelo Estado que se fez presente antes nais”.
e durante as grandes guerras, ele se tornou um simples
instrumento de gestão e comando da sociedade, ou seja, 9. (VUNESP - 2011 - TJ-SP - Juiz) Sobre os tratados in-
deixou de ser algo dado pela razão comum, gerando uma ternacionais, assinale a alternativa correta.
mutabilidade no tempo e um particularismo no espaço: o a) Podem ser celebrados pelo Presidente da República
lícito e o ilícito passou a ser basicamente o que cada Esta- ou pelo Presidente do Senado.
do impõe como tal, não o consolidado pelo direito natu- b) Celebrados pela autoridade competente, precisam
ral. O mundo somente tomou conhecimento da extensão ser referendados pelo Congresso Nacional.
da tirania alemã quando os exércitos Aliados abriram os c) Nas hipóteses de grave violação de direitos huma-
campos de concentração na Alemanha e nos países por ela nos, o Procurador Geral da República, com a finalidade de
ocupados, encontrando prisioneiros famintos, doentes e assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
brutalizados, além de milhões de corpos dos judeus, polo- tratados internacionais de direitos humanos dos quais o
neses, russos, ciganos, homossexuais e traidores do Reich Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Supremo Tribu-
em geral, que foram perseguidos, torturados e mortos. No nal Federal, em qualquer fase do inquérito ou pro- cesso,
Tribunal de Nuremberg, ao qual foram submetidos a julga- incidente de deslocamento de competência para a Justiça
mento os principais líderes nazistas, o principal argumen- Federal.
to levantado foi o de que todas as ações praticadas foram d) Os tratados e convenções internacionais sobre di-
baseadas em ordens superiores, todas dotadas de validade reitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
jurídica perante a Constituição. Percebeu-se a necessidade Con- gresso Nacional, em dois turnos, por maioria simples
de impedir que isto ocorresse novamente e, para tanto, os dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
direitos naturais ora consagrados desde o início da história emendas constitucionais.
foram positivados, num movimento de laicização e siste- e) Compete exclusivamente ao Senado Federal resolver
matização do Direito característico do mundo moderno, definitivamente sobre tratados, acordos ou atos inter- na-
formando uma ponte involuntária entre o jusnaturalismo e cionais que acarretem encargos ou compromissos gravo-
o positivismo jurídico. sos ao patrimônio nacional.

110
DIREITOS HUMANOS

R: B. A primeira fase do chamado processo de elabo- 11. (FGV - 2011 - OAB) Com relação aos chamados “di-
ração dos tratados é a negociação. No Brasil, compete à reitos econômicos, sociais e culturais”, é correto afirmar que 
União “manter relações com Estados estrangeiros e partici- a) são direitos humanos de segunda geração, o que
par de organizações internacionais”, nos termos do artigo significa que não são juridicamente exigíveis, diferentemente
21, I da Constituição Federal. O único agente nas relações do que ocorre com os direitos civis e políticos.
internacionais com competência exclusiva é o Presidente b) são previstos, no âmbito do sistema interamericano, no
da República, que manterá as relações com o respectivo texto original da Convenção Americana sobre Direitos Huma-
Estado estrangeiro e celebrará tratados, convenções e atos nos (Pacto de San José da Costa Rica).
internacionais, que precisam apenas do referendo do Con- c) formam, juntamente com os direitos civis e políticos,
gresso Nacional, conforme dispõe o artigo 84, VII e VIII da um conjunto indivisível de direitos fundamentais, entre os
Constituição Federal. O momento seguinte é o da assina- quais não há qualquer relação hierárquica.
tura do tratado por esta autoridade competente. Contudo, d) incluem o direito à participação no processo eleitoral, à
a exigibilidade dos tratados depende de atos posteriores. educação, à alimentação e à previdência social.
A colaboração entre os Poderes Executivo e Legislativo é
indispensável para a conclusão de um tratado no ordena- R: C. A única coisa que distingue os direitos civis e po-
mento jurídico brasileiro, já que muito embora a compe- líticos dos direitos econômicos, sociais e culturais é que os
tência seja exclusiva do Presidente da República, cabe ao primeiros, pertencentes à 1ª dimensão de direitos humanos,
Congresso Nacional, por meio de um decreto legislativo, exigem do Estado apenas uma postura passiva, de não inter-
autorizar a ratificação do ato internacional. Nos termos do venção, enquanto que o seu exercício se dá diretamente pe-
artigo 49, I da Constituição Federal “é da competência ex- los indivíduos com maior facilidade; já os segundos, compo-
clusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitivamente nentes da 2ª dimensão, exigem do Estado uma postura ativa,
sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acar- ou seja, a elaboração de políticas públicas para a efetivação
retem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio destes direitos. Por isso, são disciplinados internacionalmente
nacional”. em dois Pactos. No entanto, como a Declaração Universal dos
10. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) Con- Direitos Humanos confere a ambos a mesma essencialidade
siderando a evolução histórica, os marcos jurídicos fun- para a dignidade humana é possível afirmar que não existe
damentais e a estrutura normativa dos Direitos Humanos, entre eles nenhuma relação hierárquica.
12. (FGV - 2011 - OAB) Em 2010, o Congresso Nacional
pode-se afirmar que
aprovou por Decreto Legislativo a Convenção Internacional
a) a globalização dos direitos humanos forçou os Es-
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Essa conven-
tados a escolherem entre um sistema global e um regional
ção já foi aprovada na forma do artigo 5º, § 3º, da Constitui-
de proteção a esses direitos, uma vez que ambos sistemas
ção, sendo sua hierarquia normativa de 
não podiam coexistir.
a) lei federal ordinária.
b) os indivíduos passaram a ser sujeitos de direito in-
b) emenda constitucional.
ternacional, mas, por razões de soberania, ainda dependem
c) lei complementar.
dos Estados para acionar os mecanismos de proteção dos d) status supralegal.
direitos humanos.
c) a Declaração Universal dos Direitos Humanos in- R: B. O caráter é de emenda constitucional por causa do
troduziu internacionalmente a concepção contemporânea artigo 5°, §3°, CF: “os tratados e convenções internacionais so-
desses direitos. bre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
d) a vítima de uma lesão dos direitos humanos deverá Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos vo-
acionar em sua proteção, nessa ordem, o sistema jurídico tos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
nacional, depois o regional e, por último, o global, em ra- constitucionais”.
zão da hierarquia da estrutura normativa de proteção.
13. (FGV - 2012 - OAB) A respeito da Convenção sobre
R: C. A alternativa a está incorreta porque os sistemas Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mu-
regionais (interamericano, europeu, africano...) coexistem lher, ratificada pelo Brasil, assinale a alternativa correta.
com o global (Organização das Nações Unidas, notada- a) Uma vez que a Convenção tem como objetivo prote-
mente); b está incorreta porque existem meios de acesso ger um grupo específico, não pode ser considerada como um
direto a mecanismos internacionais de proteção de direitos documento de proteção internacional dos direitos humanos.
humanos, por exemplo, representação à Comissão Inte- b) A Convenção possui um protocolo facultativo, que per-
ramericana de Direitos Humanos; d está incorreta porque mite a apresentação de denúncias sobre violação dos direitos
não existe uma relação hierárquica entre os sistemas em por ela consagrados.
questão, além do que há exceções sobre o esgotamento c) A Convenção permite que o Estado-parte adote, de
de recursos no âmbito interno. Somente resta a alternativa forma definitiva, ações afirmativas para garantir a igualdade
c, que está correta, uma vez que a Declaração Universal entre gêneros.
dos Direitos Humanos de 1948 foi o primeiro documento d) A Convenção traz em seu texto um mecanismo de
internacional relevante a abordar os direitos humanos que proteção dos direitos que consagra, por meio de petições
deveriam ser garantidos a todas as pessoas do planeta. sobre violações, que podem ser protocoladas por qualquer
Estado-parte.

111
DIREITOS HUMANOS

R: B. No Brasil, o Decreto nº 4.316, de 30 de julho de R: D. Embora o Habeas Corpus já existisse na Inglaterra,


2002 promulga o referido Protocolo Facultativo à Conven- notadamente tendo como marco a Magna Carta de 1215,
ção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discrimina- somente em 1679 foi promulgada a Lei do Habeas Corpus,
ção contra a Mulher. Tal protocolo possui mecanismo que delineando os direitos inerentes a esta garantia e tornan-
aceita a apresentação de denúncias, nos termos de seu do-a mais eficaz. O diploma inglês serviu de parâmetro para
artigo 2°: “As comunicações podem ser apresentadas por legislações em todo mundo, inclusive servindo de parâme-
indivíduos ou grupos de indivíduos, que se encontrem sob tro para criação de outras garantias semelhantes. No Méxi-
a jurisdição do Estado Parte e aleguem ser vítimas de viola- co, a juicio de amparo visa proteger garantias constitucionais
ção de quaisquer dos direitos estabelecidos na Convenção em geral, não somente inerentes à liberdade. No Brasil, o
por aquele Estado Parte, ou em nome desses indivíduos mandado de segurança é uma garantia inspirada no Habeas
ou grupos de indivíduos. Sempre que for apresentada em Corpus.
nome de indivíduos ou grupos de indivíduos, a comunica- 16. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) A pro-
ção deverá contar com seu consentimento, a menos que o teção internacional dos direitos humanos é um conjunto de
autor possa justificar estar agindo em nome deles sem o normas jurídicas que garante o respeito à dignidade de to-
das as pessoas. Com relação ao sistema e à natureza de pro-
seu consentimento”.
teção internacional contra as violações de direitos humanos,
assinale a opção correta
14. (CESPE - 2011 - TRF 3ª Região - Juiz Federal) Con-
a) Os tratados institutivos de garantias de direitos hu-
forme a jurisprudência do STF, tratados de direitos huma-
manos fundamentam-se na noção contratualista, que supe-
nos anteriores à Emenda Constitucional nº 45/03 possuem, ra o princípio da reciprocidade e é comum aos direitos dos
no direito brasileiro, status hierárquico tratados.
a) supraconstitucional. b) A natureza diplomática da proteção internacional dos
b) constitucional originário. direitos humanos atribui aos Estados o dever de proteger
c) constitucional derivado. tanto os nacionais quanto os estrangeiros que se encontrem
d) supralegal. em território pátrio, do que se depreende que a nacionalida-
e) legal. de tem especial importância nesse contexto.
R: D. O Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 05 de c) A natureza do sistema de proteção internacional dos
dezembro de 2008 que é ilegal a prisão civil do depositário direitos humanos é de domínio reservado do Estado nos li-
infiel, utilizando-se da tese de que os tratados de direitos mites de sua soberania, possibilitando a responsabilização
humanos têm status supralegal, ou seja, encontram-se aci- internacional do Estado quando as instituições nacionais fo-
ma das leis ordinárias, porém abaixo da Constituição Fe- rem omissas na tarefa de proteger os direitos humanos.
deral. Neste sentido, a súmula vinculante n° 25 e Habeas d) A natureza sinalagmática dos tratados internacionais
Corpus n° 87.585-8/TO. impõe obrigações estatais efetivas para a proteção dos indi-
víduos e de seus direitos diante de outro Estado contratante.
15. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) Acer- e) O regime objetivo das normas internacionais de direi-
ca da afirmação histórica dos direitos humanos, assinale a tos humanos refere-se às várias obrigações dos Estados com
opção correta. os indivíduos que estão sob sua jurisdição, independente-
a) A Magna Carta, de 1215, instituiu a separação dos mente da nacionalidade da pessoa.
poderes ao declarar que o funcionamento do parlamento,
um órgão que visa defender os súditos perante o rei, não R: E. Uma característica do sistema internacional de
pode estar sujeito ao arbítrio deste. proteção de direitos humanos é a universalidade, pela qual
b) Os sistemas das minorias e de mandatos, criados no todos os seres humanos possuem exatamente os mesmos
direitos inerentes à dignidade em todo lugar do planeta, in-
âmbito das Nações Unidas, garantiam que os habitantes
dependente de sua nacionalidade, consoante a um Sistema
pertencentes às minorias de determinados países europeus
Global de Proteção dos Direitos Humanos. Neste sentido, o
enviassem petições ao Comitê de Minorias.
preâmbulo traz uma fórmula genérica e o artigo XVIII frisa:
c) A Declaração de Filadélfia é considerada a primeira
“toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional
carta política a atribuir aos direitos trabalhistas o estatuto em que os direitos e  liberdades estabelecidos na presente
de direito fundamental, juntamente com as liberdades in- Declaração possam ser plenamente realizados”.
dividuais e os direitos políticos.
d) A importância histórica do habeas corpus, de 1679, 17. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) Com
consiste no fato de que essa garantia judicial, instituída na relação à proteção dos direitos humanos e à sua constitucio-
Inglaterra para proteger a liberdade de locomoção, serviu nalização, assinale a opção correta.
de modelo para a criação de outras formas de proteção a) A CF distingue cidadania de nacionalidade, referin-
das liberdades fundamentais, como o juicio de amparo, na do-se esta à possibilidade de a pessoa ser titular de direitos
América Latina. políticos e aquela, ao vínculo entre pessoa e Estado.
e) A Constituição de Weimar foi o primeiro documen- b) Na CF, assim como na Constituição de 1946, o princí-
to a afirmar os princípios democráticos na história política pio da prevalência de direitos humanos é estabelecido como
moderna. princípio fundamental a reger o Estado nas suas relações
internacionais.

112
DIREITOS HUMANOS

c) Os direitos fundamentais, restritos, na CF, exclusi- 19. (FCC - 2006 - DPE-SP - Defensor Público) A Lei nº
vamente aos direitos individuais, são cláusulas pétreas, ou 10.792/03 introduziu o Regime Disciplinar Diferenciado de
seja, não podem ser alterados por emenda constitucional. cumprimento de penas (RDD), mediante o qual o preso
d) Os direitos fundamentais podem ser restringidos pode ficar até 360 dias em cela individual, com direito a
tanto por expressa disposição constitucional quanto por duas horas diárias de banho de sol. Tal sistemática pode
norma infraconstitucional com fundamento na CF. ser entendida como violadora das Regras Mínimas para o
e) A titularidade de direitos fundamentais é atribuída Tratamento de Presos das Nações Unidas, pois
aos estrangeiros residentes no país, mas não aos estran- a) conflita com o respeito devido à pessoa privada de
geiros não residentes. liberdade, conforme previsto pela Declaração Universal dos
R: D. Nenhum direito fundamental é ilimitado, corres- Direitos Humanos, ratificada pelo Brasil.
pondendo a cada direito conferido um dever. Por isso, na b) é vedado o uso de isolamento celular (solitária)
aplicação da lei é continuamente feito um raciocínio de como forma de punir presos ou de segregá-los em caso
ponderação e equilíbrio, estabelecendo limitações tanto na de rebelião.
própria Constituição quanto na legislação infraconstitucio- c) as Regras Mínimas para o Tratamento de Presos são
nal (pois a Constituição não daria conta de sozinha trazer consideradas tratado internacional de direitos humanos,
todas limitações), que deve ser compatível com o texto tendo hierarquia legal superior à da Lei nº 10.792/03.
constitucional. d) ultrapassa os limites definidos pelas Regras Mínimas
para a segregação prolongada de presos.
18. (Defensoria/ MT - 2009 - FCC) - A violação à digni- e) a custódia de presos em celas coletivas, visando à
dade dos presos é um grave problema nacional. A exem- sua ressocialização, é obrigatória.
plo disso, a superpopulação carcerária no Estado do Mato
Grosso era de 91,4% em 2007 (DEPEN, 2008). Em face do R: D. Referidas regras mínimas criticam práticas de iso-
que dispõe os tratados internacionais de direitos humanos lamento que possam fazer o preso se sentir excluído da
referidos no Edital do presente concurso, considere as afir- sociedade, como se tivesse sido transportado para um uni-
mações abaixo: verso paralelo, o que dificulta sua reabilitação. Contudo,
I. É um direito do condenado criminalmente dispor de tais regras mínimas funcionam mais como um objetivo a
cela individual, com área mínima de seis metros quadrados; ser atingido pelos Estados no sistema penitenciário do que
II. O condenado criminalmente não pode ser obrigado como direitos dos presos. Neste sentido, o Judiciário brasi-
à realização de trabalhos na prisão; leiro e a doutrina majoritárias são pela constitucionalidade
III. As pessoas privadas de liberdade devem ter por fi- do RDD. Obs.: destaca-se que a questão, por ser de con-
nalidade essencial a reabilitação social e moral dos conde- curso da Defensoria, tem tendência à mínima intervenção
nados; do direito penal e à máxima garantia dos direitos humanos
IV. O isolamento celular máximo, como medidas puni- dos reclusos.
tiva, não pode ultrapassar trinta dias; 20. (CESPE - 2013 - DPE-TO - Defensor Público) Assi-
Diante dessas afirmações é correto afirmar que: nale a opção correta acerca da Convenção contra a Tortura
a) apenas a II e III são verdadeiras; e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou De-
b) apenas I e III são verdadeiras; gradantes.
c) apenas II e III são falsas; a) A referida convenção não pode funcionar como base
d) I, II e IV são falsas;
legal para a extradição, quando permitida, de pessoa acu-
e) I, II e III são verdadeiras.
sada de tortura.
b) O Comitê contra a Tortura deve ser composto por
R: D. O item I está incorreto porque embora o artigo
pessoas de reputação ilibada indicadas pelos Estados-par-
10 das regras mínimas para o tratamento dos presos trate
tes e aprovadas pelo secretário-geral da ONU.
das acomodações destinadas aos reclusos, especialmente
c) Essa convenção não estabelece garantias para o acu-
dormitórios, as quais devem satisfazer todas as exigências
sado da prática de tortura.
de higiene e saúde, tornando-se devidamente em consi-
d) O referido acordo internacional define a tortura
deração as condições climatéricas e especialmente a cubi-
como qualquer ato por meio do qual dores ou sofrimentos
cagem de ar disponível, o espaço mínimo, a iluminação, o
agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente
aquecimento e a ventilação, bem como façam previsão no
artigo 9º de celas individuais para descanso, sabe-se que a uma pessoa a fim de castigá-la por ato que ela tenha co-
são recomendações aos Estados que devem progressiva- metido, mesmo que tais dores ou sofrimentos sejam con-
mente ser atingidas, não um direito do preso. O item II está sequência unicamente de sanções legítimas.
incorreto porque as regras mínimas reconhecem a obriga- e) Quando o Estado-parte reconhecer a competência
toriedade do trabalho no artigo 71. O item IV está incorreto do Comitê contra a Tortura para receber e processar peti-
porque embora no artigo 32 as regras mínimas critiquem ções individuais, devem ser sempre consideradas inadmis-
tal prática, não estabelece limites temporais. síveis as petições apócrifas.

113
DIREITOS HUMANOS

R: E. Todas as petições recebidas pelo Comitê devem um dos crimes previstos no artigo 5o do presente Esta-
ser fidedignas e indicar de forma fundamentada porque tuto uma das seguintes penas: a) Pena de prisão por um
o Estado teria cometido tortura. Neste sentido, petições número determinado de anos, até ao limite máximo de 30
apócrifas são aquelas que não possuem legitimidade, não anos; ou b) Pena de prisão perpétua, se o elevado grau de
podendo ser aceitas. ilicitude do fato e as condições pessoais do condenado o
justificarem, 2. Além da pena de prisão, o Tribunal poderá
21. (FUNIVERSA - 2010 - SEJUS-DF - Especialista em aplicar: a) Uma multa, de acordo com os critérios previstos
Assistência Social - Ciências Contábeis) Acerca da Declara- no Regulamento Processual; b) A perda de produtos, bens
ção Universal dos Direitos Humanos, assinale a alternativa e haveres provenientes, direta ou indiretamente, do crime,
correta. sem prejuízo dos direitos de terceiros que tenham agido
a) A Declaração é documento fortemente inspirado de boa fé”.
pela doutrina religiosa da Igreja Católica e baseia-se na
crença em um deus único e no amor ao próximo. 23. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) No
b) A Declaração pressupõe as diferenças culturais en- que se refere à proteção internacional dos direitos huma-
tre os povos, mas adota determinados princípios e regras nos, que é constituída por mecanismos unilaterais e cole-
com caráter absoluto e pretensão de universalidade, como tivos da responsabilidade internacional do Estado, assinale
a proscrição da escravidão e da tortura e a igualdade de a opção correta.
todos perante a lei. a) No sistema extraconvencional, a responsabilização
c) A fim de garantir o direito à imagem e a privacida- do Estado por violação de direitos humanos inicia-se por
de dos cidadãos, a Declaração estabelece que, no caso de petições de Estados e por petições de particulares.
alguém ser processado criminalmente, deverá ser julgado b) O princípio informador do sistema de relatórios,
pelo órgão competente em processo sigiloso; o sigilo so- principal mecanismo não contencioso, é o da reciprocida-
mente deverá ser levantado na hipótese de condenação de, pelo qual se atribui obrigação internacional de respeito
transitada em julgado. aos direitos humanos.
d) Pelo fato de reconhecer o direito à liberdade de lo- c) A actio popularis ou actio publica refere-se à pos-
comoção e a relevância do intercâmbio cultural entre os sibilidade de qualquer Estado acionar, para a proteção de
povos, a Declaração propugna a possibilidade de livre en- interesses considerados essenciais pela comunidade inter-
trada e saída dos indivíduos em qualquer país, em tempo nacional, Estado infrator.
de paz. d) No mecanismo unilateral, o Estado obedece, na aná-
e) Devido à inspiração de natureza socialista vigente lise da responsabilidade internacional de outro Estado por
na época de sua aprovação, a Declaração não menciona de violações de direitos humanos, a formas determinadas nos
forma expressa o direito à propriedade privada. tratados internacionais.
e) Compete à Assembleia Geral da Organização dos
R: B. A Declaração, por partir das Nações Unidas, mais Estados Americanos apresentar relatórios periódicos para
importante órgão internacional, tem a pretensão de valer a apuração da responsabilidade dos Estados-membros em
para todas as pessoas do mundo. Obviamente, particulari- relação aos direitos sociais.
dades culturais existem e devem ser respeitadas. Contudo,
R: C. Trata-se do mecanismo acionável pelos Estados-
reconhece-se a existência de uma dignidade inerente a to-
-partes com relação a outros Estados-partes dentro de um
dos os homens que impede a aceitação de determinadas
determinado órgão internacional. Em todos os sistemas de
práticas, como a escravidão, a tortura e a arbitrariedade.
proteção há órgãos que podem ser acionados pelos Es-
22. (PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) As
tados-partes, garantindo a responsabilização internacional
penas que poderão ser fixadas pelo Tribunal Penal Interna-
de Estados violadores de direitos humanos.
cional (Estatuto de Roma, 1998)são
a) expatriação, prisão até 30 anos ou perpétua e perda 24. (PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) A Con-
dos produtos, bens e haveres provenientes do crime. venção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discrimi-
b) prisão, no mínimo de 3 anos e, no máximo, perpé- nação contra a Mulher estabelece que os Estados Partes se
tua, multa, ou perda de produtos e bens provenientes do comprometem a
crime, ainda que de forma indireta. a) fomentar qualquer concepção estereotipada dos pa-
c) advertência, prisão, de 3 anos a 30 anos e a perda péis masculino e feminino em todos os níveis.
dos produtos, bens e haveres provenientes do crime b) derrogar todas as disposições penais nacionais que
d) prisão até 30 anos ou perpétua, multa e perda dos constituam discriminação contra as mulheres.
produtos, bens e haveres provenientes do crime c) conceder bolsas e acesso aos programas de educa-
e) expatriação, prisão de 3 a 30 anos ou perpétua e ção supletiva em maior número para compensar as desi-
perda dos produtos, bens e haveres decorrentes do crime gualdades passadas
d) desencorajar a educação mista, privilegiando os
R: D. O artigo 77 do Estatuto de Roma traz as penas programas de alfabetização funcional para as mulheres.
aplicáveis aos seus condenados, com o seguinte teor: “Ar- e) proibir a demissão por motivo de gravidez, perma-
tigo 77. Penas Aplicáveis. 1. Sem prejuízo do disposto no necendo aquelas motivadas pelo estado civil.
artigo 110, o Tribunal pode impor à pessoa condenada por

114
DIREITOS HUMANOS

R: B. Neste sentido, é exatamente o que prevê o artigo 27. (MPE-SP - 2011 - MPE-SP - Promotor de Justiça) O
2º, g: “Artigo 2º - Os Estados-partes condenam a discri- princípio da dignidade da pessoa humana
minação contra a mulher em todas as suas formas, con- a) está previsto constitucionalmente como um dos fun-
cordam em seguir, por todos os meios apropriados e sem damentos da República e constitui um núcleo essencial de
dilações, uma política destinada a eliminar a discriminação irradiação dos direitos humanos, devendo ser levado em
contra a mulher, e com tal objetivo se comprometem a: conta em todas as áreas na atuação do Ministério Público.
[...] g) derrogar todas as disposições penais nacionais que b) não está previsto constitucionalmente, mas consta
constituam discriminação contra a mulher”. do chamado Pacto de São José da Costa Rica, possuindo
grande centralidade no reconhecimento dos direitos hu-
25. (CESPE - 2012 - DPE-SE - Defensor Público) De acor- manos e tendo reflexo na atuação criminal do Ministério
do com as disposições da Convenção Internacional sobre Público.
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, c) está previsto constitucionalmente como um dos ob-
a) as disposições da referida convenção não implicam jetivos da República e possui grande centralidade no re-
em restrição alguma às disposições legais dos Estados-par- conhecimento dos direitos humanos, mas não tem reflexo
tes sobre nacionalidade, cidadania e naturalização. direto na atuação criminal do Ministério Público.
b) os elementos relevantes para a caracterização da d) está previsto como um dos direitos fundamentais
discriminação racial se restringem à raça, à cor e à origem previstos na Constituição Federal, serve de base aos direi-
étnica. tos de personalidade e deve ser considerado na atuação do
c) a origem nacional, por si só, não é elemento relevan- Ministério Público, em especial perante o juízo de família.
te para a caracterização da discriminação racial. e) não está previsto constitucionalmente, mas consta
d) considera-se discriminatória a medida especial que, da Declaração Universal dos Direitos do Homem, constitui
destinada a assegurar a proteção de grupos raciais, institua um núcleo essencial de irradiação dos direitos humanos,
qualquer espécie de segregação jurídica permanente. devendo ser levado em conta em todas as áreas na atuação
e) a restrição ou a anulação de liberdades fundamentais do Ministério Público.
é irrelevante para a caracterização da discriminação racial.
R: A. O princípio da dignidade da pessoa humana, mais
R: D. A respeito, estabelece o artigo 2º, 2 da Conven- do que princípio, é fundamento, o que é reconhecido pela
ção: “2. Os Estados-partes tomarão, se as circunstâncias o Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º ao trazê-lo
exigirem, nos campos social, econômico, cultural e outros,
enquanto fundamento da República no inciso III. No mais,
medidas especiais e concretas para assegurar, como con-
é de fato núcleo essencial de proteção da pessoa humana,
vier, o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos
isto é, dos direitos humanos reconhecidos internacional-
raciais ou de indivíduos pertencentes a esses grupos, com
mente, merecendo respeito e consideração por parte de
o objetivo de garantir-lhes, em condições de igualdade, o
todas instituições públicas, mas principalmente pelo Minis-
pleno exercício dos direitos humanos e das liberdades fun-
damentais. Essas medidas não deverão, em caso algum, ter tério Público, um dos principais responsáveis pela defesa
a finalidade de manter direitos desiguais ou distintos para dos direitos humanos fundamentais (notadamente de 3ª
os diversos grupos raciais, depois de alcançados os objeti- dimensão).
vos, em razão dos quais foram tomadas”.
26. (CESPE - 2012 - DPE-SE - Defensor Público) Con- 28. (FEPESE - 2013 - DPE-SC - Técnico Administrativo)
siderando o que dispõe a Convenção sobre os Direitos da Assinale a alternativa correta em relação à Declaração Uni-
Criança, assinale a opção correta. versal dos Direitos Humanos.
a) A liberdade de associação não é prevista no texto do a) A Declaração afirma que toda pessoa tem direito a
acordo em apreço. repouso e lazer.
b) Toda criança deve ser sempre pessoalmente ouvida b) O texto da Declaração garante o sigilo de correspon-
em processo judicial que lhe diga respeito. dência, porém assegura a sua violação para casos em que
c) Considera-se criança, em regra, o ser humano com a segurança exigir.
menos de dezoito anos. c) A Declaração contempla que instrução será gratuita
d) A toda criança é garantido o direito a um nome, em- apenas para o nível fundamental.
bora não haja menção a registro de nascimento. d) A unicidade de base sindical é tratada na Declaração.
e) A guarda compartilhada de criança filha de pais se- e) Assegura o direito ao apátrida de escolher a nacio-
parados não encontra respaldo na referida convenção. nalidade cujos laços forem maiores.

R: C. Prevê o artigo 1º: “Para efeitos da presente Con- R: A. Trata-se do conteúdo do artigo XXIV: “Toda pes-
venção considera-se como criança todo ser humano com soa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação
menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em con- razoável das horas de trabalho e férias periódicas remu-
formidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja neradas”.
alcançada antes”.

115
DIREITOS HUMANOS

29. (CEPERJ - 2012 - SEAP-RJ - Inspetor de Segurança e Questões DH do concurso para delegado PC/SP de
Administração Penitenciária) No que concerne à liberdade 2011
das pessoas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
de 1948, repudia a(o): 1. (PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) A Con-
a) escravidão venção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discrimi-
b) serviçal nação contra a Mulher estabelece que os Estados Partes se
c) empregado comprometem a
d) autônomo a) fomentar qualquer concepção estereotipada dos pa-
e) trabalhador péis masculino e feminino em todos os níveis.
b) derrogar todas as disposições penais nacionais que
R: A. É o que disciplina o artigo IV: “Ninguém será man- constituam discriminação contra as mulheres.
tido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de c) conceder bolsas e acesso aos programas de educa-
escravos serão proibidos em todas as suas formas”. As for- ção supletiva em maior número para compensar as desi-
mas de trabalho em geral são permitidas pela Declaração, gualdades passadas
desde que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados, d) desencorajar a educação mista, privilegiando os
como se extrai do artigo XXIII. programas de alfabetização funcional para as mulheres.
e) proibir a demissão por motivo de gravidez, perma-
30. (CEPERJ - 2012 - SEAP-RJ - Inspetor de Segurança e necendo aquelas motivadas pelo estado civil.
Administração Penitenciária) De acordo com a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, de 1948, todas as pessoas 2. (PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) De
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas acordo com a Convenção Interamericana para Prevenir e
de razão e consciência e devem agir em relação umas às Punir a Tortura (1985), podem ser sujeitos ativos do crime
outras com espírito de: de tortura
a) amor a) apenas funcionários ou empregados públicos, ou
b) compaixão particulares desde que instigados pelos dois primeiros
c) fraternidade b) apenas funcionários ou empregados públicos, ainda
d) felicidade que em período de estágio probatório ou equivalente.
e) discriminação c) qualquer pessoa, desde que tenha a intenção de im-
por grave sofrimento físico ou mental.
R: D. Conforme o artigo I da Declaração, “Todas as pes- d) exclusivamente empregados ou funcionários públi-
soas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São cos, agindo em razão do ofício ou função
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação e) qualquer pessoa, desde que seja penalmente res-
umas às outras com espírito de fraternidade”. ponsável nos termos da lei do Estado Parte

3. (PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) As pe-


nas que poderão ser fixadas pelo Tribunal Penal Internacio-
nal (Estatuto de Roma, 1998)são
a) expatriação, prisão até 30 anos ou perpétua e perda
dos produtos, bens e haveres provenientes do crime.
b) prisão, no mínimo de 3 anos e, no máximo, perpé-
tua, multa, ou perda de produtos e bens provenientes do
crime, ainda que de forma indireta.
c) advertência, prisão, de 3 anos a 30 anos e a perda
dos produtos, bens e haveres provenientes do crime
d) prisão até 30 anos ou perpétua, multa e perda dos
produtos, bens e haveres provenientes do crime
e) expatriação, prisão de 3 a 30 anos ou perpétua e
perda dos produtos, bens e haveres decorrentes do crime

4. (PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) Quan-


do, no final do século XVIII, foram declarados os direitos
fundamentais, eram encarados essencialmente como
a) interesses coletivos não individualizáveis
b) proliferação dos direitos naturais e objetivos
c) expressões da liberdade humana em face do Poder
d) objetivos políticos efetivamente protegidos
e) vulgarização e trivialização dos direitos naturais

116
DIREITOS HUMANOS

5. (PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) As re-


gras mínimas das Nações Unidas para o tratamento dos
ANOTAÇÕES
presos não incluem
a) o respeito as crenças religiosas e aos preceitos mo-
rais do grupo a que pertença o preso. ___________________________________________________
b) que todos são dotados de razão e consciência e de-
vem agir com espírito de fraternidade ___________________________________________________
c) as razões da prisão de qualquer pessoa e a autorida-
___________________________________________________
de competente que a ordenou.
d) a separação entre pessoas presas preventivamente e ___________________________________________________
presos condenados
e) que os presos jovens deverão ser mantidos´separa- ___________________________________________________
dos dos presos adultos
___________________________________________________
GABARITO ___________________________________________________

1 B ___________________________________________________

2 A ___________________________________________________

3 D ___________________________________________________
4 C ___________________________________________________
5 B ___________________________________________________

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117
DIREITOS HUMANOS

ANOTAÇÕES

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118
CÓDIGO PENAL

2.3.1 - Tempo do Crime: artigo 4º;..................................................................................................................................................................... 01


2.3.2 - Lugar do Crime: artigo 6º;....................................................................................................................................................................... 01
2.3.3 - Do crime: artigos 13 a 25;....................................................................................................................................................................... 01
2.3.4 - Da Imputabilidade: artigos 26 e 27;.................................................................................................................................................... 01
2.3.5 - Concurso de Pessoas: artigos 29 a 31;............................................................................................................................................... 08
2.3.6 - Concurso de Crimes: artigos 69 a 71;................................................................................................................................................. 10
2.3.6 - Dos Crimes Contra a Pessoa: artigos 121 a 154;............................................................................................................................ 12
2.3.7 - Dos Crimes Contra o Patrimônio: artigos 155 a 183;.................................................................................................................... 19
2.3.8 - Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual: artigos 213 a 234;....................................................................................................... 29
2.3.9 - Dos Crimes Contra a Incolumidade Pública: artigos 250 a 285;.............................................................................................. 47
2.3.10 - Dos Crimes Contra a Paz Pública: artigos 286 a 288;................................................................................................................. 50
2.3.11 - Dos Crimes Contra a Fé Pública: artigos 289 a 311;................................................................................................................... 32
2.3.14 Dos Crimes Praticados por Funcionário Público contra a Administração em Geral: artigos 312 a 327;................... 37
2.3.15 Dos Crimes Praticados por Particular contra a Administração em Geral: artigos 328 a 334-A;................................... 37
2.3.12 - Dos Crimes Contra a Administração Pública: artigos 312 a 361............................................................................................ 37
CÓDIGO PENAL

Espécies de Infração Penal


2.3.1 TEMPO DO CRIME: ARTIGO 4º;
2.3.2 LUGAR DO CRIME: ARTIGO 6º; A legislação brasileira, apresenta um sistema bipartido
2.3.3 DO CRIME: ARTIGOS 13 A 25; sobre as espécies de infração penal, uma vez que existem
apenas duas espécies (crime = delito ≠ contravenção). Si-
2.3.4 - DA IMPUTABILIDADE: ARTIGOS 26 E 27;
tuação diferente ocorre com alguns países tais como a Fran-
ça e a Espanha que adotaram o sistema tripartido (crime ≠
delito ≠ contravenção).
O ato ilícito penal é tipificado pelo Direito Penal, ou seja, As duas espécies de infração penal são: o crime, con-
só pratica o ato ilícito penal gerador da responsabilidade pe- siderado o mesmo que delito, e a contravenção. Ilustre-se,
nal o indivíduo que contraria o tipo penal específico. Não po- porém que, apesar de existirem duas espécies, os conceitos
demos esquecer que tipo penal é a descrição legal de uma são bem parecidos, diferenciando-se apenas na gravidade
conduta definida como crime. Quem diz que um fato é crime da conduta e no tipo (natureza) da sanção ou pena.
No que diz respeito à gravidade da conduta, os crimes
e estabelece uma pena para a prática deste é o legislador.
e delitos se distinguem por serem infrações mais graves,
No Brasil é adotada formalmente, a teoria bipartida do
enquanto que a contravenção refere-se às infrações menos
crime.
graves.
Destarte, conforme dispõe a Lei de Introdução ao Có- Em relação ao tipo da sanção, a diferença tem origem
digo Penal, crime é a infração penal a que a Lei comine no Art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-
pena de reclusão ou detenção e multa, alternativa, cumu- -Lei 3.914/41).
lativa ou isoladamente. Já contravenção é a infração a que Art. 1º - Considera-se crime a infração penal que a lei
a Lei comine pena de prisão simples e multa, alternativa, comina pena de reclusão ou de detenção, quer isolada-
cumulativa ou isoladamente. mente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de
Entretanto, tal conceito é extremamente precário, ca- multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina,
bendo à doutrina seu desenvolvimento. isoladamente, penas de prisão simples ou de multa, ou am-
O crime possui três conceitos principais, material, for- bas. Alternativa ou cumulativamente.
mal e analítico. Em razão dos crimes serem condutas mais graves, en-
a) Conceito material: crime seria toda a ação ou omis- tão eles são repelidos através da imposição de penas mais
são humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens ju- graves (reclusão ou detenção e/ou multa).
rídicos protegidos pelo Direito Penal, ou penalmente tute- As contravenções, todavia, por serem condutas menos
lados. graves, são sancionadas com penas menos graves (prisão
b) Conceito formal ou jurídico: é aquilo que a Lei cha- simples e/ou multa).
A escolha se determinada infração penal será crime/de-
ma de crime. Está definido no art. 1º da Lei de Introdução
lito ou contravenção é puramente política, da mesma forma
do Código Penal. Crime é toda infração a que a Lei comina
que o critério de escolha dos bens que devem ser protegidos
pena de reclusão ou detenção e multa, isolada, cumula-
pelo Direito Penal. Além disso, o que hoje é considerado cri-
tiva ou alternativamente. De acordo com este conceito, a me pode vir, no futuro, a ser considerada infração e vice-ver-
diferença seria apenas quantitativa, relativa à quantidade sa. O exemplo disso aconteceu com a conduta de portar uma
da pena; arma ilegalmente. Até 1997, tal conduta caracterizava uma
c) Conceito analítico: aqui se analisa todos os elemen- mera contravenção, porém, com o advento da Lei 9.437/97,
tos que integram o crime. Crime é todo fato típico, antiju- esta infração passou a ser considerada crime/delito.
rídico (é melhor utilizar o termo ilícito, apesar de não fazer
tanta diferença, já que fica mais fácil manejar o CP e as Diferenças práticas entre crimes e contravenções
leis especiais quando há excludentes de ilicitude) e culpável a) Tentativa: no crime/delito a tentativa é punível, en-
(alguns autores não consideram a culpabilidade como ele- quanto que na contravenção, por força do Art. 4º do Decre-
mento do crime, e sim como pressuposto da pena). Apesar to-Lei 3.688/41, a tentativa não é punível.
de ser indivisível, o crime é estudado de acordo com essas b) Extraterritorialidade: no crime/delito, nas situações do
três características para facilitar sua compreensão. Elas se- Art. 7º do Código Penal, a extraterritorialidade é aplicada, en-
rão analisadas mais adiante, após vermos as classificações quanto que nas contravenções a extraterritorialidade não é
de crime existentes. aplicada.
c) Tempo máximo de pena: no crime/delito, o tempo má-
ximo de cumprimento de pena é de 30 anos, enquanto que
Elementos da Infração Penal
nas contravenções, por serem menos graves, o tempo máxi-
A infração penal ocorre quando uma pessoa pratica
mo de cumprimento de pena é de 5 anos.
qualquer conduta descrita na lei e, através dessa conduta,
d) Reincidência: de acordo com o Art. 7º do Decreto-Lei
ofende um bem jurídico de uma terceira pessoa.
3.688/41, é possível a reincidência nas contravenções. A rein-
Ou seja, as infrações penais constituem determinados cidência ocorrerá após a prática de crime ou contravenção
comportamentos humanos proibidos por lei, sob a ameaça no Brasil e após a prática de crime no estrangeiro. Não há
de uma pena. reincidência após a prática de contravenção no estrangeiro.

1
CÓDIGO PENAL

“Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente prati- 4. Extorsão qualificada pela morte
ca uma contravenção depois de passar em julgado a senten- (art. 158, § 2o);
ça que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por 5. Extorsão mediante sequestro simples e na forma qua-
qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.” lificada
(art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e 3o);
Semelhança no estudo dos crimes e contravenções. 6. Estupro
Vimos que em termos práticos existem algumas diferen- (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput e pa-
ças entre crime e contravenção, porém, não podemos falar rágrafo único);
o mesmo sobre a essência dessas infrações. Tanto a contra- 7. Atentado violento ao pudor
venção como o crime, substancialmente, são fatos típicos, (art. 214 e sua combinação com o art. 223, caput e pa-
ilícitos e, para alguns, culpáveis. rágrafo único);
Ou seja, possuem a mesma estrutura. 8. Epidemia com resultado morte
(art. 267, § 1o);
Crimes Hediondos 9. Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de
Diferente do que costuma se pensar no senso comum, produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais
juridicamente, crime hediondo não é o crime praticado com (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o B, redação dada pela
extrema violência e com requintes de crueldade e sem ne- Lei no 9.677/98);
nhum senso de compaixão ou misericórdia por parte de 10. Genocídio
seus autores, mas sim um dos crimes expressamente pre- (art.(s). 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889/56, tentado ou con-
vistos na Lei nº 8.072/90. Portanto, são crimes que o legis- sumado).
lador entendeu merecerem maior reprovação por parte do
Estado. Existem crimes que não são hediondos, todavia equipa-
Os crimes hediondos, do ponto de vista criminológico, rados a esses e submetidos, portanto, ao mesmo tratamento
são os crimes que estão no topo da pirâmide de desvalora- penal mais severo reservado a esta espécie de delito:
ção criminal, devendo, portanto, ser entendidos como cri-
mes mais graves ou revoltantes, que causam maior aversão 1. Terrorismo;
à coletividade. 2. Tortura e;
Do ponto de vista semântico, o termo hediondo sig- 3. Tráfico ilícito de entorpecentes
nifica ato profundamente repugnante, imundo, horrendo,
sórdido, ou seja, um ato indiscutivelmente nojento, segun- Crimes de Menor Potencial Ofensivo – segundo Damá-
do os padrões da moral vigente. sio (1)
O crime hediondo é o crime que causa profunda e con-
sensual repugnância por ofender, de forma acentuadamen- Vejamos a posição de Damásio de Jesus acerca dos cri-
te grave, valores morais de indiscutível legitimidade, como mes de menor potencial ofensivo:
o sentimento comum de piedade, de fraternidade, de so-
lidariedade e de respeito à dignidade da pessoa humana. De acordo com a Lei dos Juizados Especiais Criminais
O conceito de crime hediondo repousa na ideia de que (Lei n. 9.099/95), consideram-se infrações de menor poten-
existem condutas que se revelam como a antítese extrema cial ofensivo, sujeitando-os à sua competência, os crimes
dos padrões éticos de comportamento social, de que seus aos quais a lei comine pena máxima não superior a um ano
autores são portadores de extremo grau de perversidade, (art. 61).
periculosidade e em razão disso, merecem sempre o grau A Lei dita que :” Consideram-se infrações de menor po-
máximo de reprovação ética por parte da sociedade e do tencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, os crimes a que a
próprio sistema de controle. lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa”.
Destarte, foi aprovada por unanimidade na Câmara dos Assim, sejam da competência da Justiça Comum ou Fe-
Deputados um projeto de lei que restringe o benefício da deral, devem ser considerados delitos de menor potencial
progressão de regime para os presos condenados por cri- ofensivo aqueles aos quais a lei comine, no máximo, pena
mes hediondos. A lei 11.464/07 mudou a progressão de detentiva não superior a dois anos, ou multa; de maneira
regime, no caso dos condenados aos crimes hediondos e que os Juizados Especiais Criminais da Justiça Comum pas-
equiparados, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois sam a ter competência sobre todos os delitos a que a norma
quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três de sanção imponha, no máximo, pena detentiva não supe-
quintos), se reincidente. rior a dois anos (até dois anos) ou multa.
São considerados crimes hediondos: Ao não se adotar essa orientação, absurdos poderão
ocorrer na prática, em prejuízo de princípios constitucio-
1. Homicídio simples, quando em atividade típica de nais, como da igualdade e da proporcionalidade.
grupo de extermínio De modo que o delito mais grave, por atingir um bem
(art. 121); jurídico coletivo, seria absurdamente considerado de me-
2. Homicídio qualificado nor potencial ofensivo; enquanto o outro, de menor lesi-
(art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V); vidade objetiva, por afetar bem jurídico individual, teria a
3. Latrocínio qualificação de crime de maior potencial ofensivo.
(art. 157, § 3o);

2
CÓDIGO PENAL

Tipicidade Nexo Causal, Relação de Causalidade ou Nexo de Cau-


A Tipicidade é a relação de enquadramento entre o salidade
fato delituoso (concreto) e o modelo (abstrato) contido na Entende-se por relação de causalidade o vínculo que
lei penal. É preciso que todos os elementos presentes no une a causa, enquanto fator propulsor, a seu efeito, como
tipo se reproduzam na situação de fato consequência derivada. Trata-se do liame que une a cau-
Assim, o Fato Típico é denominado como o comporta- sa ao resultado que produziu. O nexo de causalidade in-
mento humano que se molda perfeitamente aos elementos teressa particularmente ao estudo do Direito Penal, pois,
constantes do modelo previsto na lei penal. em face de nosso Código Penal (art. 13), constitui requisito
A primeira característica do crime é ser um fato típico, expresso do fato típico. Esse vínculo, porém, não se fará
descrito, como tal, numa lei penal. Um acontecimento da necessário em todos os crimes, mas somente naqueles em
vida que corresponde exatamente a um modelo de fato que à conduta exigir-se a produção de um resultado, isto é,
contido numa norma penal incriminadora, a um tipo. de uma modificação no mundo exterior, ou seja, cuida-se
Para que o operador do Direito possa chegar à con- de um exame que se fará necessário no âmbito dos crimes
clusão de que determinado acontecimento da vida é um materiais ou de resultado.
fato típico, deve debruçar-se sobre ele e, analisando-o, de- Tipicidade, ao lado da conduta, do nexo causal e do
compô-lo em suas faces mais simples, para verificar, com resultado constitui elemento necessário ao fato típico de
certeza absoluta, se entre o fato e o tipo existe relação de qualquer infração penal.
adequação exata, fiel, perfeita, completa, total e absoluta. Deve ser analisada em dois planos: formal e material.
Essa relação é a tipicidade. Entende-se por tipicidade a relação de subsunção entre
Para que determinado fato da vida seja considerado um fato concreto e um tipo penal (tipicidade formal) e a
típico, é preciso que todos os seus componentes, todos os lesão ou perigo de lesão ao bem penalmente tutelado (tipi-
seus elementos estruturais sejam, igualmente, típicos. cidade material).
Os elementos de um fato típico são a conduta humana, Trata-se de uma relação de encaixe, de enquadramento.
a consequência dessa conduta se ela a produzir (o resulta- É o adjetivo que pode ou não ser dado a um fato, conforme
do), a relação de causa e efeito entre aquela e esta (nexo ele se enquadre ou não na lei penal.
causal) e, por fim, a tipicidade.
Ilicitude
Conduta Ilícito penal, é o crime ou delito. Ou seja, é o descumpri-
Considera-se conduta a ação ou omissão humana mento de um dever jurídico imposto por normas de direito
consciente e voluntária dirigida a uma finalidade. A condu- público, sujeitando o agente a uma pena.
ta compreende duas formas: o agir e o omitir-se. Na ilicitude penal, a antijuridicidade é a contradição en-
tre uma conduta e o ordenamento jurídico. O fato típico, até
prova em contrário, é um fato que, ajustando-se a um tipo
Resultado
penal, é antijurídico.
A expressão resultado tem natureza equívoca, já que
Exclusão de ilicitude é uma causa excepcional que retira
possui dois significados distintos em matéria penal. Pode
o caráter antijurídico de uma conduta tipificada como cri-
se falar, assim, em resultado material ou naturalístico e em
minosa (fato típico).
resultado jurídico ou normativo.
Art. 23 - Exclusão da ilicitude
O resultado naturalístico ou material consiste na modi-
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
ficação no mundo exterior provocada pela conduta. Trata-
I - em estado de necessidade;
-se de um evento que só se faz necessário em crimes ma-
II - em legítima defesa;
teriais, ou seja, naqueles cujo tipo penal descreva a conduta III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exer-
e a modificação no mundo externo, exigindo ambas para cício regular de direito.
efeito de consumação.
O resultado jurídico ou normativo reside na lesão ou Excesso punível
ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma pe- Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses
nal. Todas as infrações devem conter, expressa ou implicita- deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
mente, algum resultado, pois não há delito sem que ocorra A ação do homem será típica sob o aspecto criminal
lesão ou perigo (concreto ou abstrato) a algum bem penal- quando a lei penal a descreve como sendo um delito. Numa
mente protegido. primeira compreensão, isso também basta para se afirmar
A doutrina moderna dá preferência ao exame do re- que ela está em desacordo com a norma, que se trata de
sultado jurídico . Este constitui elemento implícito de todo uma conduta ilícita ou, noutros termos, antijurídica.
fato penalmente típico , pois se encontra ínsito na noção de Essa ilicitude ou antijuridicidade, contudo, consistente
tipicidade material. na relação de contrariedade entre a conduta típica do au-
O resultado naturalístico, porém, não pode ser menos- tor e o ordenamento jurídico, pode ser suprimida, desde
prezado, uma vez que se cuida de elementar presente em de que, no caso concreto, estejam presentes uma das hipó-
determinados tipos penais, de tal modo que desprezar sua teses previstas no artigo 23 do Código Penal: o estado de
análise seria malferir o princípio da legalidade. necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do
dever legal ou o exercício regular de direito.

3
CÓDIGO PENAL

O estado de necessidade e a legítima defesa são con- b) inexistência da possibilidade de conhecimento da


ceituados nos artigos 24 e 25 do Código Penal, merecendo ilicitude:
destaque, neste tópico, apenas o estrito cumprimento do - erro de proibição (art. 21).
dever legal e o exercício regular de um direito, como exclu-
dentes da ilicitude ou da antijuridicidade. c) inexigibilidade de conduta diversa:
A expressão estrito cumprimento do dever legal, por - coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte);
si só, basta para justificar que tal conduta não é ilícita, ainda - obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte).
que se constitua típica. Isso porque, se a ação do homem de-
corre do cumprimento de um dever legal, ela está de acordo O excesso Punível
com a lei, não podendo, por isso, ser contrária a ela. Noutros Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou em
termos, se há um dever legal na ação do autor, esta não pode vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agente pode
ser considerada ilícita, contrária ao ordenamento jurídico. encontrar-se em três situações diferentes:
Um exemplo possível de estrito cumprimento do de- - usa de um meio moderado e dentro do necessário
ver legal pode restar configurado no crime de homicídio, em para repelir à agressão;
que, durante tiroteio, o revide dos policiais, que estavam no Haverá necessariamente o reconhecimento da legítima
cumprimento de um dever legal, resulta na morte do margi- defesa.
nal. Neste sentido - RT 580/447. - de maneira consciente emprega um meio desneces-
O exercício regular de um direito, como excludente da sário ou usa imoderadamente o meio necessário;
ilicitude, também quer evitar a antinomia nas relações jurídi- A legítima defesa fica afastada por excluído um dos
cas, posto que, se a conduta do autor decorre do exercício re- seus requisitos essenciais.
gular de um direito, ainda que ela seja típica, não poderá ser - após a reação justa (meio e moderação) por imprevidên-
considerada antijurídica, já que está de acordo com o direito. cia ou conscientemente continua desnecessariamente na ação.
Um exemplo de exercício regular de um direito, como No terceiro agirá com excesso, o agente que intensifi-
excludente da ilicitude, é o desforço imediato, empregado ca demasiada e desnecessariamente a reação inicialmen-
pela vítima da turbação ou do esbulho possessório, enquan- te justificada. O excesso poderá ser doloso ou culposo. O
to possuidor que pretende reaver a posse da coisa para si agente responderá pela conduta constitutiva do excesso.
(RT - 461/341).
A incidência da excludente da ilicitude, conduto, não Bem Jurídico
pode servir de salvo conduto para eventuais excessos do au- O bem jurídico é um dos fundamentos do Direito Penal
tor, que venham a extrapolar os limites do necessário para a democrático
defesa do bem jurídico, do cumprimento de um dever legal
A concepção de bem jurídico remonta, primeiramen-
ou do exercício regular de um direito. Havendo excesso, o
te, à ideia de bem existencial, indispensável ao desenvolvi-
autor do fato será responsável por ele, caso restem verifica-
mento social, o qual, consoante lição de Bianchini, Molina e
dos seu dolo ou sua culpa. Nesse sentido é a regra do pará-
Gomes (2009, p. 232),
grafo único do artigo 23 do Código Penal.
[...] é o bem relevante para o indivíduo ou para a comu-
nidade (quando comunitário não se pode perder de vista,
Culpabilidade
mesmo assim, sua individualidade, ou seja, o bem comuni-
A Culpabilidade é um elemento integrante do conceito
definidor de uma infração penal. A motivação e objetivos tário deve ser também importante para o desenvolvimen-
subjetivos do agente praticante da conduta ilegal. A culpabi- to da individualidade da pessoa) que, quando apresenta
lidade aufere, a princípio, se o agente da conduta ilícita é pe- grande significação social, pode e deve ser protegido ju-
nalmente culpável, isto é, se ele agiu com dolo (intenção), ou ridicamente. A vida, a honra, o patrimônio, a liberdade se-
pelo menos com imprudência, negligência ou imperícia, nos xual, o meio-ambiente etc. são bens existenciais de grande
casos em que a lei prever como puníveis tais modalidades relevância para o indivíduo.
Bem jurídico, por conseguinte, é o reconhecimento
Causas de exclusão da culpabilidade pelo Direito desse interesse do ser humano por um bem
existencial. É o Direito que transforma o bem existencial e o
O Código Penal prevê causas que excluem a culpabilida-
interesse humano em relação a ele como bem jurídico. Em
de pela ausência de um de seus elementos, ficando o sujeito
outras palavras, bem jurídico é a soma de uma coisa (bem
isento de pena, ainda que tenha praticado um fato típico e
existencial) útil, válida ou necessária para o ser humano
antijurídico.
como um valor agregado (com uma valoração positiva em
a) inimputabilidade: a incapacidade de entender o cará- razão da função que a coisa desempenha para o desenvol-
ter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse vimento da personalidade do sujeito) (bem jurídico = um
entendimento. bem existencial útil, válido ou necessário ao ser humano
- doença mental, desenvolvimento mental incompleto + uma valoração positiva desse bem feita pelo legislador)
ou retardado (art. 26); (BIANCHINI, MOLINA e GOMES, 2009, p. 233).
- desenvolvimento mental incompleto por presunção le- Assim, o bem jurídico é de interesse vital para a existên-
gal, do menor de 18 anos (art. 27); cia de uma convivência social pacífica e plena, a qual, por
- embriaguez completa, proveniente de caso fortuito sua imprescindibilidade, goza de proteção jurídica. Quando
ou força maior (art. 28, § 1º). essa proteção é conferida pelo Direito Penal, por meio da

4
CÓDIGO PENAL

previsão de crimes e cominação de sanções penais, sem- Causas que excluem a imputabilidade
pre em consonância com os ideais da fragmentariedade e
subsidiariedade deste modelo de controle social, está-se Doença Mental,
diante de um bem jurídico-penal, noção que constitui todo Desenvolvimento mental incompleto,
o alicerce do Direito Penal democrático e da ofensividade. Desenvolvimento mental retardado e
Embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou
Teoria da Imputação Objetiva força maior.
A Imputação Objetiva representa uma nova dogmática,
revolucionária em vários aspectos, que procura solucionar 1. Doença mental
de maneira concisa questões ainda sem resposta dentro do É a perturbação mental ou psíquica de qualquer ordem,
ordenamento jurídico-penal. capaz de eliminar ou afetar a capacidade de entender o
A teoria da imputação objetiva surge no mundo jurí- caráter criminoso do fato ou a de comandar a vontade de
dico sob a doutrina de Roxin, que passa a fundamentar os acordo com esse entendimento. Importante esclarecer que
estudos da estrutura criminal analisando os aspectos polí- a dependência patológica, como drogas configura doença
ticos do crime. mental quando retirar a capacidade de entender ou querer.
Parte da doutrina entende que a teoria da imputação
objetiva consiste na fusão entre a teoria causal, finalista e a 2. Desenvolvimento mental incompleto
teoria da adequação social, em contrapartida, sendo con- É o desenvolvimento que não se concluiu, devido
siderada também, conforme ilustrado, uma teoria nova e à recente idade cronológica do agente ou a sua falta
revolucionária que conceitua que no âmbito do fato típico, de convivência na sociedade, ocasionando imaturidade
deve-se atribuir ao agente apenas responsabilidade penal, mental e emocional.
não levando em consideração o dolo do agente, pois este, Os menores de 18 anos, em razão de não sofrerem san-
é requisito subjetivo e deve ser analisado somente no que ção penal pela pratica de ilícito penal, em decorrência da
tange a imputação subjetiva. ausência de culpabilidade, estão sujeitos ao procedimento
Esta teoria determina que não há imputação objetiva medidas sócio educativos prevista no ECA.
quando o risco criado é permitido, devendo o agente res-
3. Desenvolvimento mental retardado
ponder penalmente apenas se ele criou ou desenvolveu um
É o incompatível com o estágio de vida em que
risco proibido relevante.
se encontra a pessoa, estando, portanto, abaixo do
Assim, um resultado causado por um agente pode ser
desenvolvimento normal para aquela idade cronológica.
imputado ao tipo objetivo se a conduta do autor cria um
Sua capacidade não corresponde às experiências para
perigo para um bem jurídico não coberto pelo risco per-
aquele momento de vida, o que significa que a plena
mitido e esse perigo também foi realizado no resultado
potencialidade jamais será atingida. Os inimputáveis aqui
concreto.
tratados não possuem condições de entender o crime que
cometeram.
Punibilidade
A punibilidade é uma das condições para o exercício Critérios de aferição da inimputabilidade – pessoas
da ação penal (CPP, art. 43, II) e pode ser definida como a inimputáveis
possibilidade jurídica de o Estado aplicar a sanção penal a. Sistema Biológico: (Usado pela doutrina: Código
(pena ou medida de segurança) ao autor do ilícito. Penal sobre menoridade penal) neste interessa saber se o
A Punibilidade, portanto, é consequência do crime. As- agente é portador de alguma doença mental ou desen-
sim, é punível a conduta que pode receber pena. volvimento mental incompleto ou retardo, caso positivo é
A imputabilidade é a possibilidade de atribuir a um considerado inimputável.
indivíduo a responsabilidade por uma infração. Segundo b. Sistema psicológico: neste o que interessa é o somente
prescreve o artigo 26, do Código Penal, podemos, também, o momento da ação ou omissão delituosa, se ele tinha ou não
definir a imputabilidade como a capacidade do agente en- condições de avaliar o caráter criminoso do fato e de orientar-
tender o caráter ilícito do fato por ele perpetrado ou, de -se de acordo com esse entendimento, ou seja, o momento
determinar-se de acordo com esse entendimento. da pratica do crime. A emoção não excluir a imputabilidade.
É, portanto a possibilidade de se estabelecer o nexo E pessoa que comete crime, com integral alternação de seu
entre a ação e seu agente, imputando a alguém a realização
estado físico-psíquico responde pelos seus atos.
de um determinado ato.
c. Sistema biopsicológico: exige-se que a causa gera-
Quando existe algum agravo à saúde mental, os indi-
dora esteja prevista em lei e que, além disso, atue efetiva-
víduos podem ser considerados inimputáveis – se não ti-
mente no momento da ação delituosa, retirando do agente
verem discernimento sobre os seus atos ou não possuírem
a capacidade de entendimento e vontade. Desta forma, será
autocontrole, são isentos de pena.
Os semi-imputáveis são aqueles que, sem ter o inimputável aquele que, em razão de uma causa prevista
discernimento ou autocontrole abolidos, têm-nos reduzidos em lei (doença mental, incompleto ou retardado), atue no
ou prejudicados por doença ou transtorno mental. momento da pratica da infração penal sem capacidade de
entender o caráter criminoso do fato.

5
CÓDIGO PENAL

Requisitos da inimputabilidade segundo o sistema Embriaguez


biopsicológico II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou
(a) Causal: existencial de doença mental ou de desen- substância de efeitos análogos.
volvimento incompleto ou retardado, causas prevista em lei. § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez
(b) Cronológico: atuação ao tempo da ação ou omissão completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era,
delituosa. ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
(c) Consequencial: perda total da capacidade de enten- entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
der ou da capacidade de querer. acordo com esse entendimento.
Somente há inimputabilidade se os três requisitos es- § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se
tiverem presentes, sendo exceção aos menos de 18 anos, o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou
regidos pelo sistema biológico. força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão,
a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou
Questões processuais sobre inimputabilidade de determinar-se de acordo com esse entendimento.
A inimputabilidade do acusado é fornecida pelo exame Tempo do crime
pericial, através do médico legal, exame denominado inci- Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento
dente de insanidade mental, onde suspende-se o processo da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
ate o resulto final. Há prazo de 10 dias para provar a exis- resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
tência da causa excludente da culpabilidade (Lei nº 11.719, Lugar do crime (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
de junho de 2008). 1984)
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em
Embriaguez que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem
A embriaguez seria a causa capaz de levar à exclusão como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
da capacidade de entendimento e vontade do agente, em (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
virtude de uma intoxicação aguda e transitória causada por
álcool ou qual substancia de efeitos psicotrópicos como TÍTULO II
morfina, ópio, cocaína entre outros. DO CRIME

Dispõe o Código Penal: Relação de causalidade  (Redação dada pela Lei nº


7.209, de 11.7.1984)
(...) Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do
crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Conside-
TÍTULO III ra-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não
DA IMPUTABILIDADE PENAL teria ocorrido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Superveniência de causa independente (Incluído pela
Inimputáveis Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º  - A superveniência de causa relativamente inde-
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença pendente exclui a imputação quando, por si só, produziu
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retar- o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a
dado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente quem os praticou. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determi- Relevância da omissão (Incluído pela Lei nº 7.209, de
nar-se de acordo com esse entendimento. 11.7.1984)
Redução de pena § 2º  - A omissão é penalmente relevante quando o
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O de-
dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saú- ver de agir incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de
de mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou 11.7.1984)
retardado não era inteiramente capaz de entender o cará- a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigi-
ter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse lância; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
entendimento. b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de im-
pedir o resultado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Menores de dezoito anos c) com seu comportamento anterior, criou o risco da
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penal- ocorrência do resultado. (Incluído pela Lei nº 7.209, de
mente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabeleci- 11.7.1984)
das na legislação especial. Art. 14 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)
Emoção e paixão Crime consumado (Incluído pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:
I - consumado, quando nele se reúnem todos os ele-
I - a emoção ou a paixão;
mentos de sua definição legal; (Incluído pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)

6
CÓDIGO PENAL

Tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Erro determinado por terceiro (Incluído pela Lei nº
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se con- 7.209, de 11.7.1984)
suma por circunstâncias alheias à vontade do agente. (In- § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o
cluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) erro. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Pena de tentativa  (Incluído pela Lei nº 7.209, de Erro sobre a pessoa  (Incluído pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984) 11.7.1984)
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é
pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso,
consumado, diminuída de um a dois terços.(Incluído pela as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) contra quem o agente queria praticar o crime. (Incluído pela
Desistência voluntária e arrependimento efi- Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
caz (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Erro sobre a ilicitude do fato (Redação dada pela Lei nº
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de 7.209, de 11.7.1984)
prosseguir na execução ou impede que o resultado se pro- Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro
duza, só responde pelos atos já praticados.(Redação dada sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitá-
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) vel, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. (Redação dada
Arrependimento posterior (Redação dada pela Lei nº pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agen-
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave te atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato,
ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa
até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato vo- consciência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
luntário do agente, a pena será reduzida de um a dois ter- Coação irresistível e obediência hierárquica (Redação
ços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Crime impossível (Redação dada pela Lei nº 7.209, de Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou
11.7.1984) em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficá- superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da
cia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do ordem.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
objeto, é impossível consumar-se o crime.(Redação dada Exclusão de ilicitude (Redação dada pela Lei nº 7.209,
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) de 11.7.1984)
Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o
7.209, de 11.7.1984) fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - em estado de necessidade; (Incluído pela Lei nº 7.209,
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu de 11.7.1984)
o risco de produzi-lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - em legítima defesa;(Incluído pela Lei nº 7.209, de
Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 11.7.1984)
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercí-
por imprudência, negligência ou imperícia.  (Incluído pela cio regular de direito.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Excesso punível (Incluído pela Lei nº 7.209, de
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, nin- 11.7.1984)
guém pode ser punido por fato previsto como crime, senão Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóte-
quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de ses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culpo-
11.7.1984) so.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Agravação pelo resultado  (Redação dada pela Lei nº Estado de necessidade
7.209, de 11.7.1984) Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade
Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
só responde o agente que o houver causado ao menos culpo- provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evi-
samente.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) tar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstân-
Erro sobre elementos do tipo (Redação dada pela Lei cias, não era razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº
nº 7.209, de 11.7.1984) 7.209, de 11.7.1984)
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo le- § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem
gal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime tinha o dever legal de enfrentar o perigo. (Redação dada
culposo, se previsto em lei. (Redação dada pela Lei nº 7.209, pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
de 11.7.1984) § 2º  - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do
Descriminantes putativas (Incluído pela Lei nº 7.209, de direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois
11.7.1984) terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente jus- Legítima defesa
tificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usan-
existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena do moderadamente dos meios necessários, repele injusta
quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
culposo.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

7
CÓDIGO PENAL

Sobre o assunto, preceitua o art. 29 do CP que, “quem,


2.3.4 CONCURSO DE PESSOAS: de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas
ARTIGOS 29 A 31; a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”, dessa
forma deve-se analisar cada caso concreto de modo a veri-
ficar a proporção da colaboração. Além disso, se a partici-
pação for de menor importância, a pena pode ser diminuí-
Concurso de Agentes da de um sexto a um terço, segundo disposição do § 1º do
O concurso de agentes ou de pessoas é o cometimen- artigo supramencionado, e se algum dos concorrentes quis
to da infração penal por mais de um pessoa. Tal coopera- participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena
ção da prática da conduta delitiva pode se dar por meio deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese
da coautoria, participação, concurso de delinquentes ou de de ter sido previsível o resultado mais grave (art. 29, § 2º,
agentes, entre outras formas. Existem ainda três teorias so- do CP).
bre o concurso de pessoas, vejamos: Ademais, quando o autor praticar fato atípico ou se
a) teoria unitária: quando mais de um agente concorre não houver antijuridicidade, não há o que se falar em puni-
para a prática da infração penal, mas cada um praticando ção ao partícipe - teoria da acessoriedade limitada.
conduta diversa do outro, obtendo, porém, um só resulta-
do. Neste caso, haverá somente um delito. Assim, todos os Relação de Causalidade e Imputação
agentes incorrem no mesmo tipo penal. Tal teoria é adota- Teoria da imputação objetiva, tema que tem ganhado
da pelo Código Penal. espaço no mundo jurídico, oriundo de uma relevante evo-
b) teoria pluralista: quando houver mais de um agen- lução na área penal. Então tenho como objetivo ao abordar
te, praticando cada um conduta diversa dos demais, ainda tal teoria, a demonstração de sua finalidade na analise da
que obtendo apenas um resultado, cada qual responderá teoria do crime, especificamente na relação de causalida-
por um delito. Esta teoria foi adotada pelo Código Penal de, cuja teoria se faz presente. E abordar o pensamento de
ao tratar do aborto, pois quando praticado pela gestante, doutrinadores que discorrem sobre esta teoria e apontan-
esta incorrerá na pena do art. 124, se praticado por outrem, do os meios para que seja aplicada a teoria da imputação
aplicar-se-á a pena do art. 126. O mesmo procedimento objetiva no caso concreto.
ocorre na corrupção ativa e passiva. A abordagem ao referido tema será de forma simples
c) teoria dualista: segundo tal teoria, quando houver e superficial, mas que tem por propósito esclarecer e fazer
mais de um agente, com diversidades de conduta, pro- com que a teoria da imputação objetiva seja entendida em
vocando-se um resultado, deve-se separar os coautores sua essência para a aplicação no mundo jurídico.
e partícipes, sendo que cada “grupo” responderá por um
delito.
Teoria da Imputação Objetiva
No relevante e complexo meio da teoria do crime são
Autoria e Participação
várias as análises que se faz necessário para que seja im-
Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora am-
putada a alguém a prática de uma conduta causadora de
bos dentro da teoria objetiva:
um resultado no mundo externo, no ponto de vista penal.
a) teoria formal: de acordo com a teoria formal, autor
Em face ao conceito analítico de crime, temos várias
é o agente que pratica a figura típica descrita no tipo pe-
teorias para que se torne eficaz a aplicação do ordenamen-
nal, e partícipe é aquele que comete ações não contidas
no tipo, respondendo apenas pelo auxílio que prestou (en- to jurídico. Diante disso, na análise do fato típico temos
tendimento majoritário). Exemplo: o agente que furta os como elementos a conduta, o resultado, a tipicidade e a
bens de uma pessoa, incorre nas penas do art. 155 do CP, relação de causalidade. Este último o qual farei uma abor-
enquanto aquele que o aguarda com o carro para ajudá-lo dagem acerca de suas teorias. No campo do nexo de cau-
a fugir, responderá apenas pela colaboração. salidade o nosso ordenamento jurídico é adepto a teoria
b) teoria normativa: aqui o autor é o agente que, além conditio sine qua non, ou seja, a teoria das equivalências
de praticar a figura típica, comanda a ação dos demais (“au- dos antecedentes, a qual pelo processo hipotético de Thí-
tor executor” e “autor intelectual”). Já o partícipe é aquele ren faz-se necessário uma eliminação mental das causas,
colabora para a prática da conduta delitiva, mas sem reali- que sendo todas causas que auxiliam ou influenciam no
zar a figura típica descrita, e sem ter controle das ações dos resultado serão consideradas como causa do resultado, tal
demais. Assim, aquele que planeja o delito e aquele que o teoria está prevista em nosso ordenamento jurídico no ca-
executa são coautores. put do artigo 13 do Código Penal Brasileiro.
Sendo assim, de acordo com a opinião majoritária - Haja vista que nosso Código Penal teve sua origem
teoria formal, o executor de reserva é apenas partícipe, ou em 1940, e apesar de ter sido atualizado em 1984, houve
seja, se João atira em Pedro e o mata, e logo após Mario uma evolução nas teorias de estudo das ciências penais,
também desfere tiros em Pedro, Mario (executor de reser- que o Código Penal Brasileiro não as recepcionou. Neste
va) responderá apenas pela participação, pois não praticou contexto, vale salientar que uma nova temática a teoria da
a conduta matar, já que atirou em um cadáver. Ressalta-se, imputação objetiva, a qual teve sua origem na Alemanha,
porém, que o juiz poderá aplicar penas iguais para autor tendo como base pensamentos de Hegel, em que só seria
e partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a este último, possível a atribuição de um resultado através de um evento
quando, por exemplo, for o mentor do crime. realizado pelo próprio autor do fato, ou seja, o autor só

8
CÓDIGO PENAL

será responsabilizado pelos seus atos. Esta teoria foi revi- Já no posicionamento de Gunther Jakobs existe a ne-
sada em 1930 por Richard Honig e em 1970 foi retomada, cessidade de fazer uma verificação quanto à violação social
desenvolvida e aperfeiçoada por Claus Roxin, ditando sua da conduta, ou seja, dever ser feita uma análise abordando o
finalidade, a qual visa estabelecer mais rigor ao nexo de princípio da adequação social. Mas caso o agente ultrapasse
causalidade e a imputação objetiva do resultado à conduta o limite do que a sociedade entende como papel social do
praticada pelo agente. Ao saber que a referida teoria não ser humano, o agente será responsabilizado objetivamente
está assegurada no ordenamento jurídico brasileiro, cabe pela conduta praticada. Jakobs vai além e descreve quatro
à doutrina fazer a exploração sobre o assunto, assim como instituições delimitadoras da teoria da imputação objetiva,
cabe aos doutrinadores criticar ou aderir à teoria da imputa- são elas:
ção objetiva. Neste diapasão, trago alguns posicionamentos 1) Risco permitido;
doutrinários que dão noção acerca da teoria em pauta. 2) Princípio da confiança;
Segundo Fernando Capez, a teoria da imputação obje- 3) Proibição de regresso;
tiva consiste na “verificação da possibilidade de que o re- 4) Competência ou capacidade da vitima.
sultado de um fato seja atribuído, do ponto de vista causal,
objetivamente a alguém”. Com isso, tal teoria visa propor Se o agente se comportar dentro do seu papel social, se
o estudo do nexo de causalidade e de quando o resultado
enquadrado nos limites aceitos pela sociedade, mesmo que
poderá ser imputado objetivamente a alguém.
sua conduta implique em lesão ou perigo de lesão, vedar-
O estabelecimento do nexo de causalidade, sobre o
-se-á a imputação objetiva, pela inexistência de violação do
prisma objetivo, exige a necessidade de analisar os requisi-
tos/elementos indispensáveis para a aplicação da teoria da papel social, atribuindo o resultado ao acaso. (STIVANELLO,
imputação objetiva, que são eles: p. 74).
a) Relação física de causa e efeito; Ao abordar um tema que vem se desenvolvendo de for-
b) Conduta produtora de risco proibido; ma grandiosa na área do direito, a teoria da imputação obje-
c) Resultado esteja dentro do âmbito normal de risco tiva, na visão deste aluno, é uma teoria que visa facilitar, dar
provocado pela conduta, ou seja, que o resultado esteja na maior segurança na atribuição de um resultado ao agente, o
mesma linha de desdobramento da conduta; qual praticou a conduta, pois fará uma análise voltada para
d) Que a conduta seja praticada no sentido da proteção uma ligação direta do resultado e a conduta, ao considerar
do bem jurídico. como causa do resultado aquilo que, realmente, seja rele-
No primeiro requisito/elemento há uma semelhança vante para a realização do resultado atingido.
com a teoria conditio sine qua non, que para esta tal re- Para a teoria da imputação objetiva, o resultado de uma
quisito se faz único e essencial para a sua aplicação, mas conduta humana somente pode ser objetivamente imputa-
para a teoria da imputação objetiva será apenas o primeiro do a seu autor quando tenha criado a um bem jurídico uma
requisito para que a conduta praticada seja analisada e que situação de risco juridicamente proibido (não permitido) e
assim seja atribuído objetivamente o resultado ao agente. tal risco tenha concretizado em um resultado típico. (BIT-
Na linha de pensamento de Claus Roxin a atribuição do TENCOURT, 2013, p. 328).
resultado ao autor deve-se compreender tanto a causali- “Somente é admissível a imputação objetiva do fato se o
dade material quanto a causalidade normativa, para isso, resultado tiver sido causado pelo risco não permitido criado
consideram-se necessárias três condições: pelo autor” (ROXIN apud BITTENCOURT, p. 328).
1) A criação ou aumento de um risco não permitido; É a luz dessas citações e com o conhecimento e
2) A realização deste risco não permitido no resultado; entendimento adquirido durante a elaboração deste
3) Que o resultado se encontre dentro do alcance do trabalho que chego a uma conclusão.
tipo, ou seja, dentro da esfera de proteção da norma. A teoria da imputação objetiva traz para o meio das
ciências penais a segurança de estar atribuindo o resultado
Para Stivanello apud Claus Roxin
à verdadeira conduta causadora da lesão ou de uma expo-
“[...] um resultado causado pelo agente só deve ser im-
sição ao perigo de um bem jurídico praticada pelo agente,
putado como sua obra e preenche o tipo objetivo unica-
assim não perdendo tempo em analisar causas que na ver-
mente quando o autor cria um risco não permitido para o
objeto da ação, quando o risco se realiza no resultado con- dade não são importantes para o estudo do caso concreto.
creto, e que o resultado se encontra dentro do alcance do Apesar de criar alguns requisitos para a sua aplicação,
tipo” (1994 apud 2003 p. 71). acaba aplicando de forma direta o resultado a conduta do
Uma conduta pode causar um resultado que crie um agente, assim, não faz menção às causas/concausas que não
risco proibido, mas que não seja relevante para a esfera pe- sejam irrelevantes para o estudo do caso concreto.
nal, pois represente uma diminuição do risco da lesão ao
bem jurídico. Como exemplo um suicida que esteja com a TÍTULO IV
arma na cabeça e prestes a disparar contra si mesmo, antes DO CONCURSO DE PESSOAS
disto acontecer, um terceiro vendo a situação dispara em
direção ao suicida e atinge-lhe a mão a qual empunhava Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o
a arma. Não há que se imputar a lesão corporal praticada crime incide nas penas a este cominadas, na medida de
pelo terceiro, pois o bem jurídico protegido é mais relevan- sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
te que a lesão sofrida. 11.7.1984)

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CÓDIGO PENAL

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a Em caso as espécies de penas não sejam iguais, cum-
pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. (Reda- pre-se primeiro a mais grave, assim, a reclusão deve ser
ção dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) cumprida primeiro que a detenção.
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de Apesar dos prazos prescricionais serem considerados
crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa individualmente para cada crime, o mesmo não acontece
pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido com a aplicação das penas restritivas de direitos, que só
previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº são permitidas, caso em um dos crimes seja permitida a
7.209, de 11.7.1984) concessão do sursis (suspensão condicional da pena). Mas
Circunstâncias incomunicáveis caso sejam aplicadas, as penas restritivas serão cumpridas
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as con- simultaneamente quando compatíveis, ou sucessivamente,
dições de caráter pessoal, salvo quando elementares do cri- quando houver incompatibilidade entre as mesmas.
me. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Com relação à suspensão condicional do processo, a
Casos de impunibilidade regra é que seja feito o somatório das penas, se a mínima
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o for igual ou inferior a um ano, esta será possível. Portanto,
auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são pu- a aplicação não é individual.
níveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. (Re-
dação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Concurso Formal
O concurso formal é aquele em que o agente mediante
uma única ação ou omissão, comete dois ou mais crimes.
2.3.5CONCURSO DE CRIMES: Este pode se dividir em formal próprio ou impróprio.
ARTIGOS 69 A 71; No próprio, era querido apenas um resultado, mas por
erro na execução ou por acidente, dois ou mais são atin-
gidos. É o exemplo do assassino que atira em seu inimigo,
mas por ocasião o disparo além de atingi-lo, também atin-
Concurso de Crimes ge outra pessoa. Neste caso é utilizado o sistema da exas-
O concurso de crimes acontece quando o agente come- peração, que é quando apenas a pena de um dos crimes
te mais de um crime mediante uma ou mais ação ou omis- é aplicada se forem iguais, ou a maior deles se diversos,
são. No direito brasileiro, por questões de política criminal, sendo em qualquer dos casos elevada de um sexto até me-
cada forma de concurso tem uma maneira distinta no siste- tade.
ma de aplicação e cálculo das penas. No impróprio, o agente mediante uma única ação ou
Os tipos de concurso admitidos no direito brasileiro são
omissão produz mais de um resultado, tendo vontade de
o material, que pode se dividir em homogênio e heterogê-
produzi-los ou sendo indiferente quanto a estes, neste
neo; o formal, que pode ser dividido em próprio e impróprio;
caso, acontece o que a doutrina chama de desígnios autô-
além do crime continuado.
nomos, que é quando se quer todos os resultados produ-
As formas adotadas para aplicação das penas a cada
zidos, mesmo a título de dolo eventual. Para que não tor-
tipo de concurso são os sistemas do cúmulo material e o da
ne benéfica a prática de mais de um crime por uma única
exasperação, em alguns casos, também encontramos o cú-
ação, no concurso formal impróprio, é utilizado o sistema
mulo material benéfico, sendo este um desdobramento para
de cúmulo material das penas, o mesmo que é utilizado
evitar um prejuízo maior ao agente, sempre que o sistema
de exasperação for menos benéfico que o cúmulo material. no concurso material. Havendo apenas a soma das penas
aplicadas aos diversos crimes.
Concurso Material Ainda no caso do concurso formal, quando as penas
O concurso material de crimes acontece quando o aplicadas por o sistema de exasperação superarem as que
agente comete dois ou mais crimes mediante mais de uma por ventura fossem aplicadas por o sistema do cúmulo ma-
ação ou omissão. Ele pode ser tanto homogêneo, quando terial, para que o apenado não saia prejudicado, sua pena
os crimes cometidos são idênticos (dois homicídios simples, será computada como se desta forma fosse, este é o cha-
por exemplo), ou heterogêneo, quando os crimes são de mado cúmulo material benéfico. Exemplificando, caso o
natureza diversa (Um homicídio qualificado e lesões corpo- agente cometa um homicídio simples e uma lesão corporal
rais). Esta distinção em homogêneo e heterogêneo é apenas em concurso formal próprio, sua pena seria a do homicídio
doutrinária, não importando na forma de aplicação da pena. (por ser maior) acrescida de um terço até metade, o que
Havendo concurso material, a forma de aplicação das poderia, dependendo do aumento aplicado, ser maior que
penas será o cúmulo material, que é aquele onde as penas a do homicídio e das lesões corporais somadas. Assim caso
dos diversos crimes são somadas umas as outras, não ha- a pena aplicada pelo sistema da exasperação seja maior
vendo benefício ao agente. Desta forma, o agente que me- que a que fosse aplicada pelo cúmulo material, este será
diante duas condutas, cometeu o crime de furto simples e o aplicado.
recebeu pena de quatro anos de reclusão, e um homicídio O aumento de pena no concurso formal deve ser fun-
qualificado, tendo recebido pena de doze anos de reclusão, damentado pelo juiz, devendo, segundo a maioria dos
terá as penas destes crimes somadas para questões de doutrinadores, ser aplicado levando em consideração o
cumprimento. número de vítimas ou a quantidade de crimes praticados.

10
CÓDIGO PENAL

Para a aplicação da suspensão condicional do proces- Concurso de Pessoas


so, é necessário que se faça primeiro o cálculo da pena com O concurso de pessoas é o cometimento da infração
o acréscimo de um terço até metade, para só assim fixar os penal por mais de um pessoa. Tal cooperação da prática da
novos limites mínimos. conduta delitiva pode se dar por meio da coautoria, par-
ticipação, concurso de delinquentes ou de agentes, entre
O excesso Punível outras formas. Existem ainda três teorias sobre o concurso
Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou em de pessoas, vejamos:
vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agente pode a) teoria unitária: quando mais de um agente concorre
encontrar-se em três situações diferentes: para a prática da infração penal, mas cada um praticando
- usa de um meio moderado e dentro do necessário conduta diversa do outro, obtendo, porém, um só resulta-
para repelir à agressão; do. Neste caso, haverá somente um delito. Assim, todos os
Haverá necessariamente o reconhecimento da legítima agentes incorrem no mesmo tipo penal. Tal teoria é adota-
defesa. da pelo Código Penal.
- de maneira consciente emprega um meio desneces- b) teoria pluralista: quando houver mais de um agen-
sário ou usa imoderadamente o meio necessário; te, praticando cada um conduta diversa dos demais, ainda
A legítima defesa fica afastada por excluído um dos que obtendo apenas um resultado, cada qual responderá
seus requisitos essenciais. por um delito. Esta teoria foi adotada pelo Código Penal
- após a reação justa (meio e moderação) por imprevi- ao tratar do aborto, pois quando praticado pela gestante,
dência ou conscientemente continua desnecessariamente esta incorrerá na pena do art. 124, se praticado por outrem,
na ação. aplicar-se-á a pena do art. 126. O mesmo procedimento
No terceiro agirá com excesso, o agente que intensifi- ocorre na corrupção ativa e passiva.
ca demasiada e desnecessariamente a reação inicialmen- c) teoria dualista: segundo tal teoria, quando houver
te justificada. O excesso poderá ser doloso ou culposo. O mais de um agente, com diversidades de conduta, pro-
agente responderá pela conduta constitutiva do excesso. vocando-se um resultado, deve-se separar os coautores
e partícipes, sendo que cada “grupo” responderá por um
Culpabilidade delito.
Culpabilidade é um elemento integrante do conceito
definidor de uma infração penal. A motivação e objetivos Autoria e participação
subjetivos do agente praticante da conduta ilegal. A Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora am-
culpabilidade aufere, a princípio, se o agente da conduta bos dentro da teoria objetiva:
ilícita é penalmente culpável, isto é, se ele agiu com dolo a) teoria formal: de acordo com a teoria formal, autor
(intenção), ou pelo menos com imprudência, negligência é o agente que pratica a figura típica descrita no tipo pe-
ou imperícia, nos casos em que a lei prever como puníveis nal, e partícipe é aquele que comete ações não contidas
tais modalidades no tipo, respondendo apenas pelo auxílio que prestou (en-
tendimento majoritário). Exemplo: o agente que furta os
Causas de exclusão da culpabilidade bens de uma pessoa, incorre nas penas do art. 155 do CP,
O Código Penal prevê causas que excluem a culpabi- enquanto aquele que o aguarda com o carro para ajudá-lo
lidade pela ausência de um de seus elementos, ficando o a fugir, responderá apenas pela colaboração.
sujeito isento de pena, ainda que tenha praticado um fato b) teoria normativa: aqui o autor é o agente que, além
típico e antijurídico. de praticar a figura típica, comanda a ação dos demais (“au-
tor executor” e “autor intelectual”). Já o partícipe é aquele
a) inimputabilidade: a incapacidade de entender o ca- colabora para a prática da conduta delitiva, mas sem reali-
ráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com zar a figura típica descrita, e sem ter controle das ações dos
esse entendimento. demais. Assim, aquele que planeja o delito e aquele que o
- doença mental, desenvolvimento mental incompleto executa são coautores.
ou retardado (art. 26); Sendo assim, de acordo com a opinião majoritária -
- desenvolvimento mental incompleto por presunção teoria formal, o executor de reserva é apenas partícipe, ou
legal, do menor de 18 anos (art. 27); seja, se João atira em Pedro e o mata, e logo após Mario
- embriaguez completa, proveniente de caso fortuito também desfere tiros em Pedro, Mario (executor de reser-
ou força maior (art. 28, § 1º). va) responderá apenas pela participação, pois não praticou
a conduta matar, já que atirou em um cadáver. Ressalta-se,
b) inexistência da possibilidade de conhecimento da porém, que o juiz poderá aplicar penas iguais para autor
ilicitude: e partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a este último,
- erro de proibição (art. 21). quando, por exemplo, for o mentor do crime.
Sobre o assunto, preceitua o art. 29 do CP que, “quem,
c) inexigibilidade de conduta diversa: de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas
- coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte); a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”, dessa
- obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte). forma deve-se analisar cada caso concreto de modo a veri-
ficar a proporção da colaboração. Além disso, se a partici-

11
CÓDIGO PENAL

pação for de menor importância, a pena pode ser diminuí- Multas no concurso de crimes
da de um sexto a um terço, segundo disposição do § 1º do Art. 72 - No concurso de crimes, as penas de multa são
artigo supramencionado, e se algum dos concorrentes quis aplicadas distinta e integralmente. (Redação dada pela Lei
participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena nº 7.209, de 11.7.1984)
deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese Erro na execução
de ter sido previsível o resultado mais grave (art. 29, § 2º, Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos
do CP). meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa
Ademais, quando o autor praticar fato atípico ou se que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde
não houver antijuridicidade, não há o que se falar em puni- como se tivesse praticado o crime contra aquela, atenden-
ção ao partícipe - teoria da acessoriedade limitada. do-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso
de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia
Concurso material ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.(Redação
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos Resultado diverso do pretendido
ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por
de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resulta-
cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa- do diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se
-se primeiro aquela. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também
11.7.1984) o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por Limite das penas
um dos crimes, para os demais será incabível a substituição Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas
de que trata o art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. (Re-
nº 7.209, de 11.7.1984) dação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º  - Quando forem aplicadas penas restritivas § 1º - Quando o agente for condenado a penas priva-
tivas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos,
de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente
devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo
as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as
deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
demais. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao
Concurso formal
início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação,
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação
desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cum-
ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não,
prido.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
aplicasse-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
Concurso de infrações
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, Art. 76 - No concurso de infrações, executar-se-á pri-
de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, meiramente a pena mais grave. (Redação dada pela Lei nº
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os cri- 7.209, de 11.7.1984)
mes concorrentes resultam de desígnios autônomos, con-
soante o disposto no artigo anterior.(Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que 2.3.6DOS CRIMES CONTRA A VIDA:
seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. (Redação ARTIGOS 121 A 128; 2.3.7DAS LESÕES
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) CORPORAIS: ARTIGO 129; 2.3.8DOS CRIMES
Crime continuado CONTRA A HONRA: ARTIGOS 138 A 145;
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma 2.3.9 DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma INDIVIDUAL: ARTIGOS 146 A 149; 2.3.10 DOS
espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes DOMICÍLIO: ARTIGO 150;
ser havidos como continuação do primeiro, aplicasse-lhe
2.3.6 - DOS CRIMES CONTRA A PESSOA:
a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave,
se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a
ARTIGOS 121 A 154;
dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas
diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à DOS CRIMES CONTRA A PESSOA - CRIMES CON-
pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os an- TRA A VIDA
tecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,
bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena HOMICÍDIO
de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diver- De forma geral, o homicídio é o ato de destruição da
sas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único vida de um homem por outro homem. De forma objetiva,
do art. 70 e do art. 75 deste Código.(Redação dada pela Lei é o ato cometido ou omitido que resulta na eliminação da
nº 7.209, de 11.7.1984) vida do ser humano.

12
CÓDIGO PENAL

Homicídio simples – Artigo 121 do CPB – É a conduta Aborto provocado por terceiro – É o aborto provocado
típica limitada a “matar alguém”. Esta espécie de homicídio sem o consentimento da gestante. Pena: reclusão, de três a
não possui características de qualificação, privilégio ou ate- dez anos.
nuação. É o simples ato da prática descrita na interpretação Aborto provocado com o consentimento da gestante –
da lei, ou seja, o ato de trazer a morte a uma pessoa. Reclusão, de um a quatro anos. A pena pode ser aumentada
Homicídio privilegiado - Artigo 121 - parágrafo primei- para reclusão de três a dez anos, se a gestante for menor de
ro – É a conduta típica do homicídio que recebe o benefício quatorze anos, se for alienada ou débil mental, ou ainda se
do privilégio, sempre que o agente comete o crime impeli- o consentimento for obtido mediante fraude, grave ameaça
do por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o ou violência.
domínio de violenta emoção, logo após a injusta provoca- Forma qualificada - As penas são aumentadas de um
ção da vítima, podendo o juiz reduzir a pena de um sexto terço se, em consequência do aborto ou dos meios empre-
a um terço. gados para provocá-lo, a gestante sofrer lesão corporal de
Homicídio qualificado - Artigo 121 - parágrafo segun- natureza grave. São duplicadas se, por qualquer dessas cau-
do – É a conduta típica do homicídio onde se aumenta a sas, lhe sobrevém a morte.
pena pela prática do crime, pela sua ocorrência nas seguin- Aborto necessário - Não se pune o aborto praticado por
tes condições: mediante paga ou promessa de recompen- médico: se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
sa, ou por outro motivo torpe; por motivo fútil, com em- e se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido
prego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu
meio insidioso ou cruel, ou do qual possa resultar perigo representante legal.
comum; por traição, emboscada, ou mediante dissimula-
ção ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a Lesões corporais
defesa do ofendido; e para assegurar a execução, a oculta- Lesão corporal - Ofensa à integridade corporal ou a saú-
ção, a impunidade ou a vantagem de outro crime. de de outra pessoa.
Homicídio Culposo - Artigo 121- parágrafo terceiro – É Lesão corporal de natureza grave - Artigo 129 - pará-
a conduta típica do homicídio que se dá pela imprudência, grafo primeiro - Se resulta: incapacidade para as ocupações
habituais, por mais de trinta dias; perigo de vida; debilidade
negligência ou imperícia do agente, o qual produz um re-
permanente de membro, sentido ou função; ou aceleração
sultado não pretendido, mas previsível, estando claro que
de parto.
o resultado poderia ter sido evitado.
Lesão corporal de natureza gravíssima - Artigo 129 - pa-
No homicídio culposo a pena é aumentada de um ter-
rágrafo primeiro - Se resulta: incapacidade permanente para
ço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
o trabalho; enfermidade incurável; perda ou inutilização do
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
membro, sentido ou função; deformidade permanente; ou
imediato socorro à vítima. O mesmo ocorre se não procura
aborto.
diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar Lesão corporal seguida de morte - Se resulta morte e
prisão em flagrante. Sendo o homicídio doloso, a pena é as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o re-
aumentada de um terço se o crime é praticado contra pes- sultado, nem assumiu o risco de produzi-lo (é o homicídio
soa menor de quatorze ou maior de sessenta anos. preterintencional).
Perdão Judicial - Na hipótese de homicídio culposo, o Diminuição de pena - Se o agente comete o crime impe-
juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências lido por motivo de relevante valor social ou moral, ou ainda
da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave sob o domínio de violenta emoção, seguida de injusta pro-
que torne desnecessária a sanção penal. vocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio - Artigo a um terço.
122 do CPB – Ato pelo qual o agente induz ou instiga al- Lesão corporal culposa – Se o agente não queria o re-
guém a se suicidar ou presta-lhe auxílio para que o faça. sultado do ato praticado, mesmo sabendo que tal resultado
Reclusão de dois a seis anos, se o suicídio se consumar, era previsível.
ou reclusão de um a três anos, se da tentativa de suicídio Violência doméstica - Se a lesão for praticada contra as-
resultar lesão corporal de natureza grave. cendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou
A pena é duplicada se o crime é praticado por motivo com quem conviva ou tenha convivido; ou ainda prevalecen-
egoístico, se a vítima é menor ou se tem diminuída, por do-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou
qualquer causa, a capacidade de resistência. Neste crime de hospitalidade. Pena: detenção, de três meses a três anos.
não se pune a tentativa.
Infanticídio - Artigo 123 – Homicídio praticado pela PARTE ESPECIAL
mãe contra o filho, sob condições especiais (em estado TÍTULO I
puerperal, isto é, logo pós o parto). DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
Aborto - Artigo 124 – Ato pelo qual a mulher interrom- CAPÍTULO I
pe a gravidez de forma a trazer destruição do produto da DOS CRIMES CONTRA A VIDA
concepção. No auto aborto ou no aborto com consenti-
mento da gestante, esta sempre será o sujeito ativo do ato, Homicídio simples
e o feto, o sujeito passivo. No aborto sem o consentimento Art. 121. Matar alguém:
da gestante, os sujeitos passivos serão o feto e a gestante. Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

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CÓDIGO PENAL

Caso de diminuição de pena § 7o  A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um


§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído pela
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de Lei nº 13.104, de 2015)
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posterio-
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. res ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Homicídio qualificado II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior
§ 2° Se o homicídio é cometido: de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído pela Lei
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por nº 13.104, de 2015)
outro motivo torpe; III - na presença de descendente ou de ascendente da
II - por motivo fútil;
vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
resultar perigo comum; Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimu- prestar-lhe auxílio para que o faça:
lação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se
defesa do ofendido; consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impuni- de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
dade ou vantagem de outro crime: Parágrafo único - A pena é duplicada:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Aumento de pena
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qual-
feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) quer causa, a capacidade de resistência.
VII – contra autoridade ou agente descrito  nos  arts. Infanticídio
142 e 144 da Constituição Federal,  integrantes do siste- Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal,
ma prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no o próprio filho, durante o parto ou logo após:
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu Pena - detenção, de dois a seis anos.
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até ter- Aborto provocado pela gestante ou com seu con-
ceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº sentimento
13.142, de 2015)
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
que outrem lhe provoque: (Vide ADPF 54)
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de
sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei Pena - detenção, de um a três anos.
nº 13.104, de 2015) Aborto provocado por terceiro
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da
13.104, de 2015) gestante:
II - menosprezo ou discriminação à condição de mu- Pena - reclusão, de três a dez anos.
lher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da
Homicídio culposo gestante: (Vide ADPF 54)
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de Pena - reclusão, de um a quatro anos.
1965) Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior,
Pena - detenção, de um a três anos. se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada
Aumento de pena ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante
§ 4o  No homicídio culposo, a pena é aumentada de fraude, grave ameaça ou violência
1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de Forma qualificada
regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos an-
deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura teriores são aumentadas de um terço, se, em consequên-
diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar cia do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo,
prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém
pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta)
anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) a morte.
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz pode- Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médi-
rá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infra- co: (Vide ADPF 54)
ção atingirem o próprio agente de forma tão grave que a Aborto necessário
sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
6.416, de 24.5.1977) Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a me- II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é pre-
tade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pre- cedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz,
texto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de seu representante legal.
de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)

14
CÓDIGO PENAL

CAPÍTULO II § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo,


DAS LESÕES CORPORAIS se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo,
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº
Lesão corporal 10.886, de 2004)
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde § 11. Na hipótese do § 9o  deste artigo, a pena será
de outrem: aumentada de um terço se o crime for cometido contra
Pena - detenção, de três meses a um ano. pessoa portadora de deficiência.  (Incluído pela Lei nº
Lesão corporal de natureza grave 11.340, de 2006)
§ 1º Se resulta: § 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Fede-
de trinta dias; ral, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de
II - perigo de vida; Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrên-
III - debilidade permanente de membro, sentido ou cia dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
função; consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição,
IV - aceleração de parto: a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei
Pena - reclusão, de um a cinco anos. nº 13.142, de 2015)
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho; CAPÍTULO III
II - enfermidade incurável; DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
III perda ou inutilização do membro, sentido ou fun-
ção; Perigo de contágio venéreo
IV - deformidade permanente; Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais
V - aborto: ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea,
Pena - reclusão, de dois a oito anos. de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Lesão corporal seguida de morte Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
produzi-lo: § 2º - Somente se procede mediante representação.
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Perigo de contágio de moléstia grave
Diminuição de pena Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de pro-
de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de duzir o contágio:
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Perigo para a vida ou saúde de outrem
Substituição da pena Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda direto e iminente:
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não
mil réis a dois contos de réis: constitui crime mais grave.
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo an- Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a
terior; um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a
II - se as lesões são recíprocas. perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação
Lesão corporal culposa de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza,
§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) em desacordo com as normas legais. (Incluído pela Lei nº
Pena - detenção, de dois meses a um ano. 9.777, de 1998)
Aumento de pena Abandono de incapaz 
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cui-
qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste dado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer
Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012) motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do abandono:
art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990) Pena - detenção, de seis meses a três anos.
Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natu-
2004) reza grave:
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, des- Pena - reclusão, de um a cinco anos.
cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem § 2º - Se resulta a morte:
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
agente das relações domésticas, de coabitação ou de hos- Aumento de pena
pitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Re- de um terço:
dação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) I - se o abandono ocorre em lugar ermo;

15
CÓDIGO PENAL

II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, CAPÍTULO V


irmão, tutor ou curador da vítima. DOS CRIMES CONTRA A HONRA
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído
pela Lei nº 10.741, de 2003) Calúnia
Exposição ou abandono de recém-nascido Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para fato definido como crime:
ocultar desonra própria: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: imputação, a propala ou divulga.
Pena - detenção, de um a três anos. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
§ 2º - Se resulta a morte: Exceção da verdade
Pena - detenção, de dois a seis anos. § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
Omissão de socorro I - se, constituindo o fato imputado crime de ação priva-
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível da, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indica-
ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e das no nº I do art. 141;
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da au- III - se do crime imputado, embora de ação pública, o
toridade pública: ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Difamação
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo
omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, à sua reputação:
se resulta a morte. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Condicionamento de atendimento médico-hospita- Exceção da verdade
lar emergencial (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012). Parágrafo único - A exceção da verdade somente se ad-
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qual- mite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa
ao exercício de suas funções.
quer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulá-
Injúria
rios administrativos, como condição para o atendimento médi-
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo lhe a dignidade
co-hospitalar emergencial: (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
ou o decoro:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e mul-
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
ta. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza
diretamente a injúria;
grave, e até o triplo se resulta a morte. (Incluído pela Lei nº II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra
12.653, de 2012). injúria.
Maus-tratos § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, considerem aviltantes:
tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cui- Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além
dados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou da pena correspondente à violência.
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: § 3o  Se a injúria consiste na utilização de elementos
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada
Pena - reclusão, de um a quatro anos. pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Lei nº 9.459, de 1997)
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é pra- Disposições comuns
ticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. (Incluído Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumen-
pela Lei nº 8.069, de 1990) tam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de
CAPÍTULO IV governo estrangeiro;
DA RIXA II - contra funcionário público, em razão de suas fun-
ções;
Rixa III - na presença de várias pessoas, ou por meio que
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os con- facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
tendores: IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou por-
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. tadora de deficiência, exceto no caso de injúria. (Incluído
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal pela Lei nº 10.741, de 2003)
de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga
rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.

16
CÓDIGO PENAL

Exclusão do crime Ameaça


Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível: Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal
pela parte ou por seu procurador; injusto e grave:
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar Parágrafo único - Somente se procede mediante re-
ou difamar; presentação.
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário Sequestro e cárcere privado
público, em apreciação ou informação que preste no cum- Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante
primento de dever do ofício. sequestro ou cárcere privado: (Vide Lei nº 10.446, de 2002)
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde Pena - reclusão, de um a três anos.
pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade. § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
Retratação I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se re- companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
trata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
pena. II - se o crime é praticado mediante internação da víti-
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha ma em casa de saúde ou hospital;
praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios III - se a privação da liberdade dura mais de quinze
de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o dias.
ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofen- IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoi-
sa. (Incluído pela Lei nº 13.188, de 2015) to) anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005)
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere V – se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluí-
calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode do pela Lei nº 11.106, de 2005)
pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou
ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
ofensa. Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente Redução a condição análoga à de escravo
se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de
140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degra-
Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 dantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio,
deste Código, e mediante representação do ofendido, no sua locomoção em razão de dívida contraída com o em-
caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do pregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803,
§ 3o do art. 140 deste Código. (Redação dada pela Lei nº de 11.12.2003)
12.033. de 2009) Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da
pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei nº
CAPÍTULO VI 10.803, de 11.12.2003)
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL § 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela
SEÇÃO I Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por
parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de tra-
Constrangimento ilegal balho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho
grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qual- ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do tra-
quer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o balhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluí-
que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: do pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é co-
Aumento de pena metido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em I – contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº
dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais 10.803, de 11.12.2003)
de três pessoas, ou há emprego de armas. II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, reli-
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as gião ou origem. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
correspondentes à violência. Tráfico de Pessoas (Incluído pela Lei nº 13.344, de
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: 2016) (Vigência)
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consenti- Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, trans-
mento do paciente ou de seu representante legal, se justifi- ferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave
cada por iminente perigo de vida; ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finali-
II - a coação exercida para impedir suicídio. dade de: (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)

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CÓDIGO PENAL

I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; (In- § 5º - Não se compreendem na expressão «casa»:
cluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do pa-
escravo; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) rágrafo anterior;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; (Incluído II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
IV - adoção ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 13.344, de SEÇÃO III
2016) (Vigência) DOS CRIMES CONTRA A
V - exploração sexual. (Incluído pela Lei nº 13.344, de INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA
2016) (Vigência)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Violação de correspondência
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de cor-
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se: respondência fechada, dirigida a outrem:
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
I - o crime for cometido por funcionário público no exer-
Sonegação ou destruição de correspondência
cício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; (Incluído
§ 1º - Na mesma pena incorre:
pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
I - quem se apossa indevidamente de correspondên-
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou
pessoa idosa ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.344, cia alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a
de 2016) (Vigência) sonega ou destrói;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica
domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependên- ou telefônica
cia econômica, de autoridade ou de superioridade hierárqui- II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem
ca inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou ra-
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) dioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território entre outras pessoas;
nacional. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) III - quem impede a comunicação ou a conversação
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente referidas no número anterior;
for primário e não integrar organização criminosa. (Incluído IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho ra-
pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) dioelétrico, sem observância de disposição legal.
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano
SEÇÃO II para outrem.
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DO- § 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de fun-
MICÍLIO ção em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefô-
nico:
Violação de domicílio Pena - detenção, de um a três anos.
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astucio- § 4º - Somente se procede mediante representação,
samente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.
direito, em casa alheia ou em suas dependências: Correspondência comercial
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo
lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir corres-
por duas ou mais pessoas:
pondência, ou revelar a estranho seu conteúdo:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
pena correspondente à violência.
Parágrafo único - Somente se procede mediante re-
§ 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é co-
metido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com presentação.
inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com
abuso do poder. SEÇÃO IV
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS
casa alheia ou em suas dependências: SEGREDOS
I - durante o dia, com observância das formalidades le-
gais, para efetuar prisão ou outra diligência; Divulgação de segredo
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo
crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser. de documento particular ou de correspondência confiden-
§ 4º - A expressão “casa” compreende: cial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação
I - qualquer compartimento habitado; possa produzir dano a outrem:
II - aposento ocupado de habitação coletiva; Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
III - compartimento não aberto ao público, onde al- § 1º Somente se procede mediante representação. (Pa-
guém exerce profissão ou atividade. rágrafo único renumerado pela Lei nº 9.983, de 2000)

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CÓDIGO PENAL

§ 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas Ação penal (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vi-
ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos gência
sistemas de informações ou banco de dados da Adminis- Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente
tração Pública: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) se procede mediante representação, salvo se o crime é co-
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e mul- metido contra a administração pública direta ou indireta de
ta. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou
§ 2o  Quando resultar prejuízo para a Administração Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços
Pública, a ação penal será incondicionada. (Incluído pela Lei públicos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
nº 9.983, de 2000)
Violação do segredo profissional
Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de
que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou 2.3.11 DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO:
profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: ARTIGOS 155 A 183;
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante repre-
sentação. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.
Invasão de dispositivo informático (Incluído pela Lei nº
12.737, de 2012) Vigência TÍTULO II
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conec- DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
tado ou não à rede de computadores, mediante violação in- CAPÍTULO I
devida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, DO FURTO
adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulne- Furto
rabilidades para obter vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia
12.737, de 2012) Vigência móvel:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece, dis-
praticado durante o repouso noturno.
tribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de compu-
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
tador com o intuito de permitir a prática da conduta definida
a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão
no caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar
§ 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da
somente a pena de multa.
invasão resulta prejuízo econômico. (Incluído pela Lei nº
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou
12.737, de 2012) Vigência
qualquer outra que tenha valor econômico.
§ 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de
comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou
industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou Furto qualificado
o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa,
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência se o crime é cometido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, I - com destruição ou rompimento de obstáculo à sub-
se a conduta não constitui crime mais grave. (Incluído pela tração da coisa;
Lei nº 12.737, de 2012) Vigência II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, es-
§ 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois calada ou destreza;
terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão III - com emprego de chave falsa;
a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obti- IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
dos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a
§ 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime subtração for de veículo automotor que venha a ser trans-
for praticado contra: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) portado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela
Vigência Lei nº 9.426, de 1996)
I - Presidente da República, governadores e prefeitos; (In-
cluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Furto de coisa comum
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Incluído
pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Art. 156 - Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio,
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a
Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Le- coisa comum:
gislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou (In- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
cluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência § 1º - Somente se procede mediante representação.
IV - dirigente máximo da administração direta e indireta § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum
federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. (Incluído fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito
pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência o agente.

19
CÓDIGO PENAL

CAPÍTULO II Pena - reclusão, de doze a vinte anos.


DO ROUBO E DA EXTORSÃO § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza gra-
ve: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
Roubo Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para § 3º - Se resulta a morte: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. (Redação
depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossi- dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
bilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do se-
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou gra- questrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. (Reda-
ve ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a ção dada pela Lei nº 9.269, de 1996)
detenção da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: Extorsão indireta
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abu-
de arma; sando da situação de alguém, documento que pode dar causa a
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
III - se a vítima está em serviço de transporte de valo- Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
res e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha CAPÍTULO III
a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; DA USURPAÇÃO
(Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restrin- Alteração de limites
gindo sua liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qual-
é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se re- quer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se,
sulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuí- no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
zo da multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Vide Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
Lei nº 8.072, de 25.7.90 § 1º - Na mesma pena incorre quem:

Extorsão Usurpação de águas


Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem,
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para ou- águas alheias;
trem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se
faça ou deixar de fazer alguma coisa: Esbulho possessório
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifí-
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço cio alheio, para o fim de esbulho possessório.
até metade. § 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violên- pena a esta cominada.
cia o disposto no § 3º do artigo anterior. Vide Lei nº 8.072, § 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de
de 25.7.90 violência, somente se procede mediante queixa.
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liber- Supressão ou alteração de marca em animais
dade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção
da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado
12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade:
ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009)
CAPÍTULO IV
Extorsão mediante sequestro DO DANO
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para
si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou Dano
preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Vide Lei nº Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
10.446, de 2002) Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.. (Redação dada
pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) Dano qualificado
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) Parágrafo único - Se o crime é cometido:
horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou II - com emprego de substância inflamável ou explosiva,
quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 se o fato não constitui crime mais grave

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CÓDIGO PENAL

III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra im-
empresa concessionária de serviços públicos ou socieda- portância destinada à previdência social que tenha sido
de de economia mista; (Redação dada pela Lei nº 5.346, de descontada de pagamento efetuado a segurados, a tercei-
3.11.1967) ros ou arrecadada do público; (Incluído pela Lei nº 9.983,
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável de 2000)
para a vítima: II – recolher contribuições devidas à previdência so-
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além cial que tenham integrado despesas contábeis ou custos
da pena correspondente à violência. relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Introdução ou abandono de animais em propriedade III - pagar benefício devido a segurado, quando as respec-
alheia tivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa
Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade pela previdência social. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o § 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontanea-
fato resulte prejuízo: mente, declara, confessa e efetua o pagamento das contri-
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa. buições, importâncias ou valores e presta as informações
devidas à previdência social, na forma definida em lei ou
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou his- regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído pela
tórico Lei nº 9.983, de 2000)
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada aplicar somente a de multa se o agente for primário e de
pela autoridade competente em virtude de valor artístico, ar- bons antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983,
queológico ou histórico: de 2000)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e an-
tes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição
Alteração de local especialmente protegido social previdenciária, inclusive acessórios; ou (Incluído pela
Lei nº 9.983, de 2000)
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente,
II – o valor das contribuições devidas, inclusive aces-
o aspecto de local especialmente protegido por lei:
sórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previ-
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
dência social, administrativamente, como sendo o mínimo
para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela
Ação penal
Lei nº 9.983, de 2000)
Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu pa-
rágrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa.
Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou
força da natureza
CAPÍTULO V Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda
DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Apropriação indébita Parágrafo único - Na mesma pena incorre:
Apropriação de tesouro
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria,
tem a posse ou a detenção: no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprie-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. tário do prédio;
Aumento de pena
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o Apropriação de coisa achada
agente recebeu a coisa: II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria,
I - em depósito necessário; total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou
II -na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade compe-
inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; tente, dentro no prazo de quinze dias.
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-
Apropriação indébita previdenciária (Incluído pela Lei -se o disposto no art. 155, § 2º.
nº 9.983, de 2000)
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as CAPÍTULO VI
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Estelionato
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (Incluí- em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
do pela Lei nº 9.983, de 2000) fraudulento:

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CÓDIGO PENAL

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de qui-


nhentos mil réis a dez contos de réis. Induzimento à especulação
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da
o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental
no art. 155, § 2º. de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou
devendo saber que a operação é ruinosa:
Disposição de coisa alheia como própria Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou
em garantia coisa alheia como própria; Fraude no comércio
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comer-
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garan- cial, o adquirente ou consumidor:
tia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercado-
ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pa- ria falsificada ou deteriorada;
gamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas II - entregando uma mercadoria por outra:
circunstâncias; Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a
Defraudação de penhor qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor
credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como
tem a posse do objeto empenhado; precioso, metal de ou outra qualidade:
Fraude na entrega de coisa Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de § 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
coisa que deve entregar a alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de Outras fraudes
seguro
Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa pró-
em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor
pria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as con-
de recursos para efetuar o pagamento:
sequências da lesão ou doença, com o intuito de haver in-
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou
denização ou valor de seguro;
multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante re-
Fraude no pagamento por meio de cheque
presentação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias,
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos
em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. deixar de aplicar a pena.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
cometido em detrimento de entidade de direito público ou Fraudes e abusos na fundação ou administração de
de instituto de economia popular, assistência social ou be- sociedade por ações
neficência. Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por
Estelionato contra idoso ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao pú-
§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido blico ou à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição
contra idoso. (Incluído pela Lei nº 13.228, de 2015) da sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela
relativo:
Duplicata simulada Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda fato não constitui crime contra a economia popular.
que não corresponda à mercadoria vendida, em quantida- § 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não cons-
de ou qualidade, ou ao serviço prestado. (Redação dada titui crime contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521,
pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) de 1951)
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e mul- I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por
ta. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele comunicação ao público ou à assembleia, faz afirmação
que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Re- falsa sobre as condições econômicas da sociedade, ou
gistro de Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968) oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas
relativo;
Abuso de incapazes II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros
de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou títulos da sociedade;
da alienação ou debilidade mental de outrem, induzin- III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à
do qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos
efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro: bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assem-
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. bleia geral;

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CÓDIGO PENAL

IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou
conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
a lei o permite; § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de cré- o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de apli-
dito social, aceita em penhor ou em caução ações da pró- car a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º
pria sociedade; do art. 155.
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, § 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da
em desacordo com este, ou mediante balanço falso, distri- União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços
bui lucros ou dividendos fictícios; públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta caput deste artigo aplica-se em dobro.
pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a aprova-
ção de conta ou parecer; CAPÍTULO VIII
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII; DISPOSIÇÕES GERAIS
IX - o representante da sociedade anônima estran-
geira, autorizada a funcionar no País, que pratica os atos Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes
mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Go- previstos neste título, em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003)
verno. I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legí-
dois anos, e multa, o acionista que, a fim de obter vanta- timo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
gem para si ou para outrem, negocia o voto nas delibera-
ções de assembleia geral. Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se
o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: (Vide Lei
Emissão irregular de conhecimento de depósito ou nº 10.741, de 2003)
“warrant” I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou war- II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
rant, em desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos ante-
riores:
Fraude à execução
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral,
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando,
quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas:
II - ao estranho que participa do crime.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual
Parágrafo único - Somente se procede mediante quei- ou superior a 60 (sessenta) anos.
xa.
CAPÍTULO VII CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
DA RECEPTAÇÃO
O Título II da parte especial do Código Penal Brasileiro,
Receptação faz referências aos Crimes Contra o Patrimônio.
Considera-se patrimônio de uma pessoa , os bens, o po-
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em derio econômico, a universalidade de direitos que tenham
proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, expressão econômica para a pessoa. Considera-se em ge-
ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: ral, o patrimônio como universalidade de direitos. Vale dizer
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. como uma unidade abstrata, distinta, diferente dos elemen-
tos que a compõem isoladamente considerados.
Receptação qualificada Além desse conceito jurídico, que é próprio do direito
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter privado, há uma noção econômica de patrimônio e, segun-
em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à do a qual, ele consiste num complexo de bens, através dos
venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou quais o homem satisfaz suas necessidades.
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa Cabe lembrar, que o direito penal em relação ao direito
que deve saber ser produto de crime: civil, ao direito econômico, ele é autônomo e constitutivo,
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. e por isso mesmo quando tutela bens e interesses jurídicos
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do já tutelados por outros ramos do direito, ele o faz com au-
parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou tonomia e de um modo peculiar.
clandestino, inclusive o exercício em residência. A tutela jurídica do patrimônio no âmbito do Códi-
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou go Penal Brasileiro, é sem duvida extensamente realizada,
pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de mas não se pode perder jamais em conta, a necessidade
quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: de que no conceito de patrimônio esteja envolvida uma
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou am- noção econômica, um noção de valor material econômico
bas as penas. do bem.

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CÓDIGO PENAL

FURTO Furto é crime material, não existindo sem que haja desfal-
O primeiro é o crime de furto descrito no artigo 155 do que do patrimônio alheio. Coisa alheia é a que não pertence
Código Penal Brasileiro, em sua forma básica: “subtrair, para ao agente, nem mesmo parcialmente. Por essa razão não co-
si ou para outrem, coisa alheia móvel: pena – reclusão, de 1 mete furto e sim o crime contido no artigo 346 (Subtração ou
(um) a 4 (quatro) anos, e multa”. Dano de Coisa Própria em Poder de Terceiro) do Código Penal
O conceito de furto pode ser expresso nas seguintes pa- Brasileiro, o proprietário que subtrai coisa sua que está em
lavras: furto é a subtração de coisa alheia móvel para si ou poder legitimo de outro3.
para outrem sem a pratica de violência ou de grave ameaça O crime de furto é cometido através do dolo que é a von-
ou de qualquer espécie de constrangimento físico ou moral tade livre e consciente de subtrair, acrescido do elemento sub-
à pessoa. Significa pois o assenhoramento da coisa com fim jetivo do injusto também chamado de “dolo específico”, que
de apoderar-se dela com ânimo definitivo. no crime de furto está representado pela ideia de finalidade
Quanto a objetividade jurídica do furto é preciso ressaltar do agente, contida da expressão “para si ou para outrem”. In-
uma divergência na doutrina: entende-se que é protegida dire- depende todavia de intuito, objetivo de lucro por parte do
tamente a posse e indiretamente a propriedade ou, em sentido agente, que pode atuar por vingança, capricho, liberalidade.
contrário, que a incriminação no caso de furto, visa essencial O consentimento da vítima na subtração elide o crime, já
ou principalmente a tutela da propriedade e não da posse. É que o patrimônio é um bem disponível, mas se ele ocorre de-
inegável que o dispositivo protege não só a propriedade como pois da consumação, é evidente que sobrevivi o ilícito penal.
a posse, seja ela direta ou indireta além da própria detenção1. O delito de furto também pode ser praticado entre: cônju-
Devemos si ter primeiro o bem jurídico daquele que é ges, ascendentes e descendentes, tios e sobrinhos, entre irmãos.
afetado imediatamente pela conduta criminosa. Vale dizer O direito romano não admitia, nesses casos, a ação penal. Já o
que a vítima de furto não é necessariamente o proprietário direito moderno não proíbe o procedimento penal, mas isenta
da coisa subtraída, podendo recair a sujeição passiva sobre de pena, como elemento de preservação da vida familiar.
o mero detentor ou possuidor da coisa. Para se definir o momento da consumação, existem duas
Qualquer pessoa pode praticar o crime de furto, não posições:
exige além do sujeito ativo qualquer circunstância pessoal 1) atinge a consumação no momento em que o objeto
específica. Vale a mesma coisa para o sujeito passivo do cri- material é retirado de posse e disponibilidade do sujeito pas-
me, sendo ela física ou jurídica, titular da posse, detenção ou sivo, ingressando na livre disponibilidade do autor, ainda que
da propriedade. não obtenha a posse tranqüila4;
O núcleo do tipo é subtrair, que significa tirar, retirar, 2) quando exige-se a posse tranquila, ainda que por bre-
abrangendo mesmo o apossamento à vista do possuidor ou ve tempo.
proprietário. Temos a seguinte classificação para o crime de furto: co-
O crime de furto pode ser praticado também através de mum quanto ao sujeito, doloso, de forma livre, comissivo de
animais amestrados, instrumentos etc. Esse crime será de dano, material e instantâneo.
apossamento indireto, devido ao emprego de animais, caso A ação penal é pública incondicionada, exceto nas hipó-
contrário é de apossamento direto. teses do artigo 182 do Código Penal Brasileiro, que é condi-
Reina uma única controvérsia, tendo em vista o desen- cionada à representação.
volvimento da tecnologia, quanto a subtração praticada com O crime de furto pode ser de quatro espécies: furto sim-
o auxílio da informática, se ela resultaria de furto ou crime de ples, furto noturno, furto privilegiado e furto qualificado
estelionato. Tenho para mim, que não podemos “aprioristica-
mente” ter o uso da informática como meio de cometimento FURTO DE USO
de furto ou mesmo estelionato, pois é preciso analisar, a cada Furto de uso é a subtração de coisa apenas para usufruí-
conduta, não apenas a intenção do agente, mas o modo de -la momentaneamente, está prevista no art. 155 do Código
operação do agente através da informática. Penal Brasileiro, para que seja reconhecível o furto de uso e
O objeto material do furto é a coisa alheia móvel. Coisa não o furto comum, é necessário que a coisa seja restituída,
em direito penal representa qualquer substância corpórea, devolvida, ao possuidor, proprietário ou detentor de que foi
seja ela material ou materializável, ainda que não tangível, subtraída, isto é, que seja reposta no lugar, para que o pro-
suscetível de apreciação e transporte, incluindo aqui os cor- prietário exerça o poder de disposição sobre a coisa subtraída.
pos gasosos, os instrumentos , os títulos, etc.2. Fora daí a exclusão do “animus furandi” dependerá de prova
O homem não pode ser objeto material de furto, confor- plena a ser oferecida pelo agente.
me o fato, o agente pode responder por sequestro ou cárcere Os tribunais tem subordinado o reconhecimento do furto
privado, conforme artigo 148 do Código Penal Brasileiro, ou de uso a efetiva devolução ou restituição, afirmando que há
subtração de incapazes artigo 249. furto comum se a coisa é abandonada em local distante ou
Afirma-se na doutrina que somente pode ser objeto de diverso ou se não é recolocada na esfera de vigilância de seu
furto a coisa que tiver relevância econômica, ou seja, valor de dono. Há ainda entendimentos que exigem que a devolução
troca, incluindo no conceito, a ideia de valor afetivo (o que eu da coisa, além de ser feita no mesmo lugar da subtração seja
acho que não tem validade jurídica penal). Já a jurisprudência feita em condições de restituição da coisa em sua integridade
invoca o princípio da insignificância, considerando que se a e aparência interna e externa, assim como era no momento
coisa furtada tem valor monetário irrisório, ficará eliminada da subtração.
a antijuridicidade do delito e, portanto, não ficará caracte- Vale dizer a coisa devolvida assemelha-se em tudo e por
rizado o crime. tudo em sua aparência interna e externa à coisa subtraída6.

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CÓDIGO PENAL

FURTO NOTURNO O § 3º do artigo 155 faz menção à igualdade entre ener-


O Furto Noturno, está previsto no § 1º do artigo 155: gia elétrica, ou qualquer outra que tenha valor econômico à
“apena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado coisa móvel, também a caracterizando como crime10.
durante o repouso noturno”7. A jurisprudência considera essa modalidade de furto
É furto agravado ou qualificado o praticado durante como crime permanente, pois o agente pratica uma só ação,
o repouso noturno, aumenta-se de 1/3 artigo 155 §1º , a que se prolonga no tempo.
razão da majorante está ligada ao maior perigo que está
submetido o bem jurídico diante da precariedade de vigi- FURTO QUALIFICADO
lância por parte de seu titular. Em determinadas circunstâncias são destacadas o §4º
Basta que ocorra a cessação da vigilância da vítima, do art. 155, para configurar furto qualificado, ao qual é co-
que, dormindo, não poderá efetivá-la com a segurança e minada pena autônoma sensivelmente mais grave: “reclusão
a amplitude com que a faria, caso estivesse acordada, para de 2 à 8 anos seguida de multa”.
que se configure a agravante do repouso noturno. São as seguintes as hipóteses de furto qualificado:
Repouso noturno é o tempo em que a cidade repousa, Se o crime é cometido com destruição ou rompimento
é variável, dependendo do local e dos costumes. de obstáculos à subtração da coisa; está hipótese trata da
É discutida pela doutrina e pela jurisprudência a cerca destruição, isto é, fazer desaparecer em sua individualida-
da necessidade do lugar, ser habitado ou não, para se dar de ou romper, quebrar, rasgar, qualquer obstáculo móvel ou
a agravante. A jurisprudência dominante nos tribunais é no imóvel a apreensão e subtração da coisa.
sentido de excluir a agravante, se o furto é praticado em A destruição ou rompimento deve dar-se em qualquer
lugar desabitado, pois evidente se praticado desta forma momento da execução do crime e não apenas para apreen-
não haveria, mesmo durante a época o momento do não são da coisa. Porém é imprescindível que seja comprovada pe-
repouso, a possibilidade de vigilância que continuaria a ser ricialmente, nem mesmo a confissão do acusado supre a falta
tão precária quanto este momento de repouso. da perícia11 .
Porém, como diz o mestre Magalhães Noronha “para Trata-se de circunstância objetiva e comunicável no caso
nós, existe a agravante quando o furto se dá durante o de concurso de pessoas, desde que o seu conteúdo haja in-
tempo em que a cidade ou local repousa, o que não impor- gressado na esfera do conhecimento dos participantes.
ta necessariamente seja a casa habitada ou estejam seus A segunda hipótese é quando o crime é cometido com
moradores dormido. Podem até estar ausente, ou desabi- abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza.
tado o lugar do furto”. Há abuso de confiança quando o agente se prevalece de
A exposição de motivos como a do mestre Noronha, é qualidade ou condição pessoal que lhe facilite à pratica do fur-
a que se iguala ao meu parecer, pois é prevista como agra- to. Qualifica o crime de furto quando o agente se serve de
vante especial do furto a circunstância de ser o crime prati- algum artifício para fazer a subtração12.
cado durante o período do sossego noturno8, seja ou não Mediante fraude é o meio enganoso capaz de iludir a vi-
habitada a casa, estejam ou não seus moradores dormindo, gilância do ofendido e permitir maior facilidade na subtração
cabe a majoração se o delito ocorreu naquele período. do objeto material. O furto mediante fraude distingue-se do
Furto em garagem de residência, também há duas posi- estelionato, naquele a fraude é empregada para iludir a aten-
ções, uma em que incide a qualificadora, da qual o Professor ção e vigilância do ofendido, que nem percebe que a coisa lhe
Damásio é partidário, e outra na qual não incide a qualificadora. está sendo subtraída; no estelionato, ao contrário, a fraude an-
tecede o apossamento da coisa e é a causa de sua entrega ao
FURTO PRIVILEGIADO ou mínimo agente pela vítima; esta entrega a coisa iludida, pois a fraude
O furto privilegiado está expresso no § 2º do artigo motivou seu consentimento. É ainda qualificadora a penetra-
155: “Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a ção no local do furto por via que normalmente não se usa para
coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela o acesso, sendo necessário o emprego de meio artificial, é no
de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar so- caso de escalada, que não se relaciona necessariamente com
mente a pena de multa”. a ação de galgar ou subir. Também deve ser comprovada por
Vale dizer que é uma forma de causa especial de di- meio de perícia, assim como o rompimento de obstáculo.
minuição de pena. Existem requisitos para que se dê essa Tentativa, é admissível. Via de regra, a prisão em flagran-
causa especial: te indica delito tentado nos casos de furto, por não chegar
- O primeiro requisito para que ocorra o privilégio é ser o agente a ter a posse tranquila da coisa subtraída, que não
o agente primário, ou seja, que não tenha sofrido em razão ultrapassa a esfera de vigilância da vítima.
de outro crime condenação anterior transitada em julgado. Há ainda a tentativa frustrada, citarei um exemplo: um
- O segundo requisito é ser de pequeno valor a coisa batedor de carteira segue uma pessoa durante vários dias.
subtraída. Decide, então, subtrair, do bolso interno do paletó da víti-
A doutrina e a jurisprudência têm exigido além desses ma, envelope que julga conter dinheiro. Furtado o envelope,
dois requisitos já citados, que o agente não revele perso- o batedor de carteira é apanhado. Chegando à Delegacia,
nalidade ou antecedentes comprometedores, indicativos da verifica-se que o envelope estava vazio, pois, naquele dia, a
existência de probabilidade, de voltar a delinquir. vítima esquecera o dinheiro em casa. O agente será respon-
A pena pode-se substituir a de reclusão pela de deten- sabilizado pelo crime nesse exemplo? Não, pois a ausência
ção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a do objeto material do delito faz do evento um crime im-
multa. possível.

25
CÓDIGO PENAL

O último é a qualificadora da destreza, que se dá quan- Trata-se de crime contra o patrimônio, em que é atingi-
do a subtração se dá dissimuladamente com especial habi- do também a integridade física ou psíquica da vítima.
lidade por parte do agente, onde a ação, sem emprego de É um crime complexo, onde o objeto jurídico imediato
violência, em situação em que a vítima, embora consciente do crime é o patrimônio, e tutela-se também a integridade
e alerta, não percebe que está tendo os bens furtados. O corporal, a saúde, a liberdade e na hipótese de latrocínio a
arrebatamento violento ou inopinado não a configura. vida do sujeito passivo.
O Roubo também é um delito comum, podendo ser co-
A terceira hipótese é o emprego de chave falsa. metido por qualquer pessoa, dando-se o mesmo com o sujei-
Constitui chave falsa qualquer instrumento ou engenho to passivo. Pode ocorrer a hipótese de dois sujeitos passivos:
de que se sirva o agente para abrir fechadura e que tenha um que sofre a violência e o titular do direito de propriedade.
ou não o formato de uma chave, podendo ser grampo, Como no Furto, a conduta é subtrair, tirar a coisa móvel alheia,
pedaço de arame, pinça, gancho, etc. O exame pericial da mas faça-se necessário que o agente se utilize de violência,
chave ou desse instrumento é indispensável para a caracte- lesões corporais, ou vias de fato, como grave ameaça ou de
rização da qualificadora qualquer outro meio que produza a possibilidade de resistên-
A Quarta e última hipótese é quando ocorre mediante cia do sujeito passivo.14
concurso de duas ou mais pessoas, quando praticado nes- A vontade de subtrair com emprego de violência, grave
tas circunstâncias, pois isto revela uma maior periculosidade ameaça ou outro recurso análogo é o dolo do delito de rou-
dos agentes, que unem seus esforços para o crime. bo. Exige-se porém, o elemento subjetivo do tipo, o chamado
No caso de furto cometido por quadrilha, responde por dolo específico, idêntico ao do furto, para si ou para outrem,
quadrilha pelo artigo 288 do Código Penal Brasileiro segui- é que se dá a subtração.
do de furto simples, ficando excluída a qualificadora13, Há uma figura denominada roubo impróprio que vem
Concurso de qualificadoras, o agente incidindo em definido no art.157 §1º do Código Penal Brasileiro: “na mesma
duas qualificadoras, apenas uma qualifica, podendo servir pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, empre-
a outra como agravante comum. ga violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegu-
rar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou
FURTO DE COISA COMUM para terceiro”. Nesse caso a violência ou a grave ameaça ocor-
Este crime está definido no art. 156 do Código Penal re após a consumação da subtração, visando o agente asse-
Brasileiro, que diz: “Subtrair o condômino, coerdeiro, ou só- gurar a posse da coisa subtraída ou a impunidade do crime.
cio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, A violência posterior ou roubo para assegurar a sua im-
a coisa comum: pena – detenção, de 6 (seis) meses à 2 (dois) punidade, deve ser imediato para caracterização do roubo
anos, ou multa”. impróprio.
A razão da incriminação é de que o agente subtraia coi- A consumação do roubo impróprio ocorre com a violên-
sa que pertença também a outrem. Este crime constitui caso cia ou grave ameaça desde que já ocorrido a subtração, não
especial de furto, distinguindo-se dele apenas as relações se consumando esta, tem se entendido que o agente deverá
existentes entre o agente e o lesado ou os lesados. ser responsabilizado por tentativa de furto em concurso com
Sujeito ativo, somente pode ser o condômino, copro- o crime de lesões corporais. Consuma-se no momento em
prietário, coerdeiro ou o sócio. Esta condição é indispen- que o agente retira o objeto material da esfera de disponibili-
sável e chega a ser uma elementar do crime e por tanto é dade da vítima, mesmo que não haja a posse tranquila.
transmitido ao partícipe estranho nos termos do artigo 29 Tentativas, quanto ao roubo próprio ela é admitida, visto
do Código Penal Brasileiro. podendo ocorrer quando o sujeito, após empregar a violência
Sujeito passivo será sempre o condomínio, coproprietá- ou grave ameaça contra a pessoa, por motivos alheios a sua
rio, coerdeiro ou o sócio, não podendo excluir-se o terceiro vontade, não consegue efetuar a subtração.
possuidor legítimo da coisa. Já a tentativa para o crime de roubo impróprio temos
A vontade de subtrair configura o momento subjetivo, duas correntes:
fala-se em dolo específico na doutrina, na expressão “para Sua classificação doutrinária é de crime comum quanto
si ou para outrem”. ao sujeito, doloso, de forma livre, de dano, material e instan-
A pena culminada para furto de coisa comum é alterna- tâneo. Tendo ação penal pública incondicionada.
tiva de detenção de 6 (seis) meses à 2 (dois) anos ou multa.
Dá-se ao juiz a margem para individualização da pena ten- ROUBO E LESÃO CORPORAL GRAVE
do em vista as circunstâncias do caso concreto. Nos termos do artigo 157 § 3º do Código Penal Brasileira
primeira parte, é qualificado roubo quando: “da violência re-
ROUBO sulta lesão corporal de natureza grave, fixando-se a pena num
A ação penal é pública, porém depende de representa- patamar superior ao fixado anteriormente, aqui reclusão de 5
ção da parte (cinco) à 15 (quinze) anos, além da multa”.
Como expresso no artigo 157 do Código Penal Brasi- É indispensável que a lesão seja causada pela violência, não
leiro: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, estando o agente, sujeito às penas previstas pelo dispositivo
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de em estudo, se o evento decorra de grave ameaça, como
havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de enfarte, choque ou do emprego de narcóticos. Haverá no
resistência: pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, caso roubo simples seguido de lesões corporais de natureza
e multa”. grave em concurso formal.

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CÓDIGO PENAL

A lesão poderá ser sofrida pelo titular do direito ou em A conduta consiste em constranger (obrigar, forcar,
um terceiro. coagir), mediante violência (física: vias de fato ou lesão cor-
Se o agente fere gravemente a vítima mas não conse- poral) ou grave ameaça (moral: intimidação idônea explicita
gue subtrair a coisa, há só a tentativa do artigo 157 § 3º 1ª ou explicita que incute medo no ofendido) com o objeti-
parte (TACrim SP, julgados 72:214). vo de obter para si ou para outrem indevida (injusta, ilíci-
ta) vantagem econômica (qualquer vantagem seja de coisa
ROUBO SEGUIDO DE MORTE - LATROCÍNIO móvel ou imóvel).
Comina-se pena de reclusão de 20 à 30 anos se resulta Haverá constrangimento ilegal se a vantagem não for
a morte, as mesmas considerações referentes aos crimes econômica e exercício arbitrário das próprias razoes se a
qualificados pelo resultado, podem ser aqui aplicadas. vantagem for devida.
O artigo da Lei 8072/90 (Lei dos Crimes Hediondos),
em conformidade com o artigo 5º XLIII, da Constituição Tipo subjetivo
Federal Brasileira, considera crime de latrocínio Hediondo. O tipo é composto de dolo duplo: o primeiro constituí-
Nos termos legais o Latrocínio não exige que o evento do pela vontade livre e consciente de constranger alguém
morte seja desejado pelo agente, basta que ele empregue mediante violência ou grave ameaça, dolo genérico; o se-
gundo exige o elemento subjetivo do tipo específico na ex-
violência para roubar e que dela resulte a morte para que
pressão “com intuito de”.
se tenha caracterizado o delito.
É indiferente porém, que a violência tenha sido exercida
Consumação
para o fim da subtração ou para garantir, depois desta, a Discute-se na doutrina se o crime de extorsão é formal
impunidade do crime ou a detenção da coisa subtraída18 . ou material. Para os que o consideram formal, a consuma-
Ocorre latrocínio ainda que a violência atinja pessoa ção ocorre independentemente do resultado. Basta ser idô-
diversa daquela que sofre o desapossamento da coisa. Ha- neo ao constrangimento imposto à vítima, sendo irrelevan-
verá no entanto um só crime com dois sujeitos passivos. te a enfeitava obtenção da vantagem econômica indevida.
A consumação do latrocínio ocorre com a efetiva sub- O comportamento da vítima nesse caso é fundamen-
tração e a morte da vítima, embora no latrocínio haja mor- tal para a consumação do delito. É a indispensabilidade da
te da vítima, ele é um crime contra o patrimônio, sendo Juiz conduta do sujeito passivo para a consumação do crime, se
singular e não do Tribunal do Júri, essa é a posição válida, o constrangimento for sério, idôneo o suficiente para en-
Pena: reclusão de vinte a trinta anos, sem prejuízo da sejar a ação ou omissão da vítima em detrimento do seu
multa, conforme alteração do artigo 6º da Lei n.º. 8072/90. patrimônio, perfaz-se o tipo penal do art. 168 do CP.
Conforme o artigo 9º dessa lei, a pena é agravada de me- Da outra parte, se entendido como crime material, a
tade quando a vítima se encontra nas condições do artigo consumação se dará com obtenção de indevida vantagem
224 do Código Penal Brasileiro: “presunção de violência”. econômica. Seguimos esse entendimento, para nós o crime
de extorsão é material consumando-se com a efetiva ob-
EXTORSÃO tenção indevida vantagem econômica.
O crime de extorsão é formal e consuma-se no mo-
mento e no local em que ocorre o constrangimento para Tentativa
que se faça ou se deixe de fazer alguma coisa. Súmula nº Admite-se quer considerando o crime formal ou mate-
96 do Superior Tribunal de Justiça. rial. Surge quando a vítima mesmo constrangida, mediante
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou violência ou grave ameaça, não realiza a condita por cir-
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para cunstâncias alheias à vontade do agente. A vítima, então
outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que não se intimida, vence o medo e denuncia o fato a polícia.
se faça ou deixar fazer alguma coisa:
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (art. 159)
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
Na extorsão mediante sequestro, diferentemente da
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas,
extorsão do art. 158, a vantagem pode ser qualquer uma
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço
(inclusive econômica). Trata-se de crime hediondo em to-
até metade. das as suas modalidades, havendo privação da liberdade da
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência vítima para se obter a vantagem. É crime complexo, resul-
o disposto no § 3º do artigo anterior. tante da extorsão + sequestro ou cárcere privado (é o que
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da diz a doutrina, mas eu não concordo, visto que a extorsão
liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a exige finalidade de obter vantagem econômica indevida).
obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, Se o sequestro for para obtenção de qualquer van-
de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão tagem devida, haverá o crime de exercício arbitrário das
corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no próprias razões em concurso material com o sequestro ou
art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº cárcere privado. Apesar de o tipo se referir a “qualquer
11.923, de 2009) vantagem”, não haverá o crime se a vantagem não tiver al-
È um crime comum, formal ou material, de forma livre, gum valor econômico. Isso se depreende da interpretação
instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente, comissivo, sistêmica do tipo, que está inserido no Título II, relativo aos
doloso, de dano, complexo e admite tentativa. crimes contra o patrimônio.

27
CÓDIGO PENAL

Não influi na caracterização do crime o fato de a ví- diante sequestro a lei menciona: “se dos ato resultar lesão
tima ser transportada para algum lugar ou ser retida em grave ou morte”, pouco importando para qualificar o delito
sua própria casa. Ademais, o sequestro deve se dar como que a lesão grave seja culposa ou dolosa.. Evidentemente,
condição ou preço do resgate. se a lesão grave ou morte resultar de caso fortuito ou força
maior, o resultado agravados não poderá ser imputado ao
Sujeito passivo agente.
Pode ser qualquer pessoa, inclusive pessoa jurídica,
que pode ter, v.g., um de seus sócios sequestrados para EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO E TORTURA
que seja efetuado o pagamento. Determina-se o sujeito Entendemos que os institutos possuem objetividades
passivo de acordo com a pessoa que terá o patrimônio jurídicas distintas e autônomas. Na extorsão são mediante
lesado. sequestro ofende-se o patrimônio, a liberdade de ir e vir e
Se a pessoa que sofre a privação da liberdade for dife- a vida. Na tortura atinge-se a dignidade humana, consubs-
rente daquela que terá seu patrimônio diminuído, haverá tanciada na integridade física e mental. Cm efeito, a nosso,
apenas um crime, não obstante existirem duas vítimas. juízo, nada impede o reconhecimento do concurso material
de infrações.
Consumação e tentativa
Ocorre a consumação quando o agente pratica a con- DELAÇÃO PREMIADA
duta prevista no núcleo do tipo, quando realiza o seques- O benefício somente se aplica quando o crime for co-
tro privando a vítima da liberdade por tempo juridicamen- metido em concurso de pessoas, devendo o acusado for-
te relevante, ainda que não aufira a vantagem qualquer e necer às autoridades elementos capazes de facilitar a reso-
ainda que nem tenha sido pedido o resgate. Logo, o crime lução do crime. Causa obrigatória de diminuição de pena
é formal. se preenchidos os requisitos estabelecidos pelo parágrafo
“A extorsão mediante sequestro, como crime formal 4º do art. 159, qual seja, denúncia à autoridade ( juiz, dele-
ou de consumação antecipada, opera-se com a simples gado ou promotor) feita por um dos concorrentes, e esta
privação da liberdade de locomoção da vítima, por tem- facilitar a libertação da vítima. Faz-se mister salientar que,
po juridicamente relevante. Ainda que o sequestrado não se não houver a libertação do sequestrado, mesmo haven-
tenha sido conduzido ao local de destino, o crime está do delação do coautor, não haverá diminuição de pena.
consumado” (MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal In- Não se confunde com a confissão espontânea, pois
terpretado. 6ª edição. São Paulo: Atlas. 2007, pág. 1.476). nesta o agente garante confessa sua participação no crime,
Perfeitamente possível a tentativa, já que a execução sem incriminar outrem.
do crime requer um iter criminis desdobrado em vários
atos. Porém, difícil de se configurar. Hipótese seria aquela EXTORSÃO INDIRETA
em que os agentes são flagrados logo após colocarem a
Art. 160. Exigir ou receber, como garantia de dívida,
vítima no carro, pois aí não teriam privado sua liberdade
abusando da situação de alguém, documento que pode
por tempo juridicamente relevante.
dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou con-
tra terceiro:
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO QUALIFICADA
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Se o sequestro dura mais de 24h, se o sequestrado é
menor de 18 e maior que 60 anos, ou se o crime é cometi-
Classificação doutrinária
do por bando ou quadrilha a pena será de reclusão de 12
Crime comum, doloso, de dano, formal (exigir) e ma-
a 20 anos. Quanto maior o tempo em que a vítima estiver
em poder do criminoso, maior será o dano à saúde e inte- terial (receber), instantâneo, comissivo, de forma vinculada,
gridade física. unissubjetivo, unissubsistente (exigir) ou plurissubsistente
Quanto ao crime cometido por bando ou quadrilha, (receber) e admite tentativa.
entende-se como a reunião permanente de mais de três A conduta recai sobre o documento que pode dar cau-
pessoas para cometer e não uma reunião ocasional para sa a um procedimento criminal contra o devedor, como a
cometer o sequestro confissão de um crime, a falsificação de um título de crédi-
to, uma duplicata fria etc.
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO COM LESÃO COR- A conduta consiste ainda em exigir (obrigar, ordenar)
PORAL GRAVE. ou receber (aceitar) um documento que pode dar causa a
Se o fato resulta lesão corporal de natureza grave a procedimento criminal contra a vítima ou terceiro. É abusar
pena será de reclusão de 16 a 24 anos; se resulta a morte a da situação daquele que necessita urgentemente de auxílio
pena será de reclusão de 24 a 30 anos. Observa-se de ime- financeiro. Necessário para a configuração do delito que o
diato a diferença deste delito com o de roubo qualificado documento exigido ou recebido pelo agente, que pode ser
pelo resultado. No art. 157 do CP a lei diz: “se da violência público ou particular, se preste a instauração de inquérito
resultar lesão grave ou morte”; logo, num roubo em que policial contra o ofendido. Não se exige a instauração do
vítima cardíaca diante de uma ameaça vem a falecer, haverá procedimento criminal, basta que o documento em poder
roubo em concurso material com homicídio e não latrocí- do credor seja potencialmente apto a iniciar o processo.
nio. O tipo exige o emprego da violência. Na extorsão me-

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CÓDIGO PENAL

Consumação Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.


Na ação de exigir, crime formal, a consumação ocorre Parágrafo único. (VETADO)
com a simples exigência do documento pelo extorsionário. § 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima
A iniciativa aqui é do agente, na conduta de receber, crime é menor de 18 (dezoito) anos.
material, a consumação ocorre com o efetivo recebimento do
documento. Nesse caso a iniciativas provém da vítima. CRIMES CONTRA A FAMÍLIA
O Bem Jurídico Tutelado é a instituição do matrimô-
Tentativa nio monogâmico. Isto porque, por tradição secular, o Brasil
Na modalidade exigir, entendemos não ser possível sua adotou a sistemática do matrimônio monogâmico.
configuração, embora uma parcela da doutrina a admita com Desta forma, a preservação dessa instituição é forma
o sovado exemplo, também oferecido nos crimes contra a basilar de proteção à família.
honra, de a exigência ser reduzida por escrito, mas não che- O SUJEITO ATIVO, no caso da figura descrita no caput,
gar ao conhecimento do ofendido. Na de receber, no en- é a pessoa casada que contrai novo matrimônio, ainda na
tanto, é perfeitamente possível, podendo o iter criminis ser vigência do primeiro enlace. No caso da figura descrita no §
interrompido por circunstâncias alheias à vontade do agente. 1 o , o Sujeito Ativo é aquela pessoa que, não sendo casada
(solteira, viúva, divorciada), contrai matrimônio com pessoa
casada, sabendo dessa condição.
Já o SUJEITO PASSIVO, em primeiro plano é o Estado e
2.3.12 DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE em segundo plano, a pessoa que contrai matrimônio com
SEXUAL: ARTIGOS 213 A 234-B; pessoa casada, desde que de boa fé.
O ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO PENAL é o DOLO
é dolo de contrair matrimônio, já sendo legalmente ca-
TÍTULO VI sado. Na hipótese do § 1º , o dolo está direcionado em,
DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL não sendo casado, contrair matrimônio com pessoa sabi-
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) damente casada legalmente. Não há previsão de moda-
CAPÍTULO I lidade CULPOSA.
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) TÍTULO VI
DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 
Estupro (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
CAPÍTULO I
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL 
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permi- (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
tir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. Estupro 
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou
grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou per-
(catorze) anos: mitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Reda-
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. ção dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2o Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
Art. 214 - (Revogado) grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de
14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Violação sexual mediante fraude Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato li- pela Lei nº 12.015, de 2009)
bidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que § 2o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº
impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de pela Lei nº 12.015, de 2009)
obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Art. 214 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
Violação sexual mediante fraude (Redação dada pela
Art. 216. (Revogado) Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato li-
Assédio sexual bidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da víti-
vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agen- ma: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
te da sua condição de superior hierárquico ou ascendência Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.” dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

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CÓDIGO PENAL

Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de Favorecimento da prostituição ou de outra forma
obter vantagem econômica, aplica-se também multa. (Re- de exploração sexual de criança ou adolescente ou de
dação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) vulnerável. (Redação dada pela Lei nº 12.978, de 2014)
Art. 216. (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou
Assédio sexual (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (de-
2001) zoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental,
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agen- facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: (Incluído
te da sua condição de superior hierárquico ou ascendência pela Lei nº 12.015, de 2009)
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. (Incluí- Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. (Incluído
do pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001) pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Incluído pela § 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vanta-
Lei nº 10.224, de 15 de 2001) gem econômica, aplica-se também multa. (Incluído pela Lei
Parágrafo único. (VETADO)  (Incluído pela Lei nº 10.224, nº 12.015, de 2009)
de 15 de 2001) § 2o Incorre nas mesmas penas: (Incluído pela Lei nº
§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é 12.015, de 2009)
menor de 18 (dezoito) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidi-
noso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14
CAPÍTULO II (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo;
DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL  (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local
em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste
Sedução artigo. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 217 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) § 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito
Estupro de vulnerável (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) obrigatório da condenação a cassação da licença de loca-
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato li- lização e de funcionamento do estabelecimento. (Incluído
bidinoso com menor de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei pela Lei nº 12.015, de 2009)
nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído CAPÍTULO III
pela Lei nº 12.015, de 2009) DO RAPTO
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações
descritas no caput  com alguém que, por enfermidade ou Rapto violento ou mediante fraude
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para Art. 219 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode Rapto consensual
oferecer resistência. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 220 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
§ 2o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) Diminuição de pena
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza Art. 221 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
grave: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) Concurso de rapto e outro crime
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. (Incluído Art. 222 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 4o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº CAPÍTULO IV
12.015, de 2009) DISPOSIÇÕES GERAIS
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 223 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
Corrupção de menores  Art. 224 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a Ação penal
satisfazer a lascívia de outrem: (Redação dada pela Lei nº Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste
12.015, de 2009) Título, procede-se mediante ação penal pública condicio-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. (Redação nada à representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015,
dada pela Lei nº 12.015, de 2009) de 2009)
Parágrafo único. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.015, Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante
de 2009) ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de
Satisfação de lascívia mediante presença de criança 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. (Incluído pela Lei
ou adolescente (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) nº 12.015, de 2009)
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 Aumento de pena
(catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou Art. 226. A pena é aumentada: (Redação dada pela Lei
outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de nº 11.106, de 2005)
outrem: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) I – de quarta parte, se o crime é cometido com o con-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. (Incluído curso de 2 (duas) ou mais pessoas; (Redação dada pela Lei
pela Lei nº 12.015, de 2009) nº 11.106, de 2005)

30
CÓDIGO PENAL

II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou Rufianismo


madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, parti-
preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro cipando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar,
título tem autoridade sobre ela; (Redação dada pela Lei nº no todo ou em parte, por quem a exerça:
11.106, de 2005) Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) § 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (ca-
torze) anos ou se o crime é cometido por ascendente, padras-
CAPÍTULO V to, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou
DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem
FIM DE  assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, prote-
PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE  ção ou vigilância: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
EXPLORAÇÃO SEXUAL  Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Reda-
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) ção dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave
Mediação para servir a lascívia de outrem ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre
Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de ou- manifestação da vontade da vítima: (Redação dada pela Lei nº
trem: 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de um a três anos. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo
§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor da pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei
de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, nº 12.015, de 2009)
descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou Tráfico internacional de pessoa para fim de explora-
curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de ção sexual (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
educação, de tratamento ou de guarda: (Redação dada Art. 231. (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
pela Lei nº 11.106, de 2005) Art. 231-A. (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vi-
Pena - reclusão, de dois a cinco anos. gência)
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violên- Art. 232 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
Promoção de migração ilegal
cia, grave ameaça ou fraude:
Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de
Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena
obter vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro
correspondente à violência.
em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro:
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, apli-
Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
ca-se também multa.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. In-
Favorecimento da prostituição ou outra forma de
cluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
exploração sexual (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
§ 1º Na mesma pena incorre quem promover, por
2009) qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica,
Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou ou- a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar
tra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou difi- ilegalmente em país estrangeiro. Incluído pela Lei nº 13.445,
cultar que alguém a abandone: (Redação dada pela Lei nº de 2017 Vigência
12.015, de 2009) § 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. terço) se: Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) I - o crime é cometido com violência; ou Incluído pela Lei
§ 1o Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, nº 13.445, de 2017 Vigência
irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, II - a vítima é submetida a condição desumana ou
preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei degradante. Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilân- § 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem
cia: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) prejuízo das correspondentes às infrações conexas. Incluído
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. (Redação pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violên- CAPÍTULO VI
cia, grave ameaça ou fraude: DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena
correspondente à violência. Ato obsceno
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, apli- Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou
ca-se também multa. aberto ou exposto ao público:
Casa de prostituição Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, es- Escrito ou objeto obsceno
tabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob
não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de
gerente: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. qualquer objeto obsceno:

31
CÓDIGO PENAL

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. O crime se consuma com a simples contrafação ou al-
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem: teração, sendo indiferente se houve ou não a efetiva intro-
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público dução das moedas falsificadas em circulação; tampouco se
qualquer dos objetos referidos neste artigo; exige dano a terceiro.
II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, A ação penal é pública incondicionada, de compe-
representação teatral, ou exibição cinematográfica de ca- tência da Justiça Federal. Como o crime deixa vestígios,
ráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o exige-se prova pericial.
mesmo caráter; Não se admite, predominantemente, a aplicação do
III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, princípio da insignificância, sendo irrelevante o número de
ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno. cédulas, seu valor ou o número de pessoas eventualmente
lesadas.
Não se aplica o princípio da insignificância ao crime de
moeda falsa, pois se trata de delito contra a fé pública, logo
2.3.13 DOS CRIMES CONTRA A FÉ não há que falar em desinteresse estatal à sua repressão
PÚBLICA: ARTIGOS 289 A 311;
Circulação de Moeda Falsa (art. 289, § 1º)
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta
Crimes Contra a Fé Pública própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende,
Os crimes contra a fé pública são crimes de perigo abs- troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação
trato, porque neles o tipo não faz referência ao perigo. As- moeda falsa.
sim, há de se questionar, por exemplo, o seguinte: alguém Nesse caso, não se exige que a moeda falsa seja a de
falsificou uma cédula, mas é uma cédula de três reais, exis- curso legal no país, podendo ser moeda estrangeira.
tiu o crime de falso de moeda? O autor pode ser qualquer pessoa, menos o autor
Poderia se levar a pensar que sim, o legislador não fala da falsificação. É um tipo subsidiário, podendo o agente
que a moeda tenha que ser essencialmente corresponden- responder por uma destas condutas caso não seja determi-
te a uma que exista. Mas a resposta seria não, inclusive a nada a autoria da falsificação.
súmula 73 do STJ nos auxiliaria a dizer isto. A súmula 73 diz O tipo se caracteriza por ser misto alternativo. Eviden-
temente que se o agente falsifica a moeda e a faz circular,
assim: o papel moeda grosseiramente falsificado não con-
responderá por um só crime, já que a circulação é mero
figura crime de moeda falsa, mas sim estelionato em tese,
exaurimento.
de competência da JE. Qual o raciocínio que se emprega?
O agente precisa ter conhecimento da falsidade. Se ele
Malgrado seja um crime de perigo abstrato, a con-
recebe a moeda e a faz circular sem saber, não responde
duta praticada não dispensa a idoneidade para a de-
pelo crime.
monstração da possibilidade de o perigo acontecer. As
O Dolo é muito difícil de se comprovar nesses crimes,
condutas têm que ter idoneidade suficiente a produzir pe-
pois o agente sempre nega a autoria, alegando que des-
rigo, o que não significa dizer que o perigo seja exigido, conhecia a falsidade. O juiz, por sua vez, deve se atentar
são coisas diversas. Há como descaracterizar a idoneidade para as máximas da experiência, para o modus operandi do
em termos abstratos, e não concretos, como seria o caso. agente, a fim de captar a prática do crime. É o que ocorre,
Uma cédula de três reais pode expor a risco a fé pública? por exemplo, quando o agente utiliza a moeda na calada
Não, nem em abstrato. da noite, com pessoas humildes, quando já tenha tentado
trocar a moeda anteriormente etc. Baltazar sugere que se
Moeda Falsa (art. 289) atente para os seguintes dados:
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moe- Quantidade de cédulas encontradas com o agente;
da metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no Modo de introdução em circulação;
estrangeiro: Existência de outras cédulas de menor valor em poder
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa. do agente;
A fabricação é ação conhecida como contrafação; Verossimilhança da versão do réu para a origem das
nela, se insere materialmente o objeto em circulação. Já cédulas;
a alteração pressupõe a existência de um suporte, o qual Grau de instrução do agente;
o agente modifica de alguma forma, geralmente para que Local onde guarda as cédulas.
valha mais. Trata-se de crime formal e de perigo abstrato, sendo
O bem jurídico protegido é a fé pública, ou seja, a se- irrelevantes, para a consumação, a obtenção da vantagem
gurança da sociedade em relação à moeda, ao meio circu- indevida para o agente ou de prejuízo para terceiros.
lante e à circulação monetária.
Moeda de curso legal é aquela de recebimento obri- Concurso de Crimes
gatório, por força de lei, que não pode ser recusada no co- Se o agente introduz em circulação várias cédulas ou
mércio. Ela pode se referir tanto a moeda metálica quanto moedas, no mesmo contexto, há crime único.
ao papel-moeda. Se o aceite de outra moeda for meramen- Se ele introduz moedas em locais próximos, num mes-
te convencional, não restará caracterizado o crime (pode mo contexto, há entendimento de ser crime único e crime
haver, em tese, o estelionato). continuado.

32
CÓDIGO PENAL

Se o agente obtém vantagem econômica indevida, O Deve obedecer às formalidades legais exigidas para a
ESTELIONATO É ABSORVIDO PELO DELITO DE MOEDA FAL- validade do documento.
SA, por aplicação do princípio da consunção ou da espe- Pode um documento estrangeiro ser considerado públi-
cialidade. co? Sim, desde que seja considerado público no país de ori-
gem e que satisfaça os requisitos de validade previstos no or-
Competência denamento brasileiro.
É da Justiça Federal, já que afeta a fé pública da União,
ainda que tenha por objeto moeda estrangeira. Documentos Públicos por Equiparação (art. 297, § 2º)
A competência para processar e julgar esses crimes de Trata-se de documentos particulares que, pela sua im-
moeda falsa é da JF, desde que haja idoneidade, desde que portância, foram equiparados pela lei a documento público.
se trate de crime de moeda falsa. São eles:
Se não houver idoneidade haverá o falso inócuo. A fi- Documentos emitidos por entidade paraestatal;
gura do falso inócuo, então, é aquela em que a falsificação Título ao portador ou transmissível por endosso;
existiu, mas com as características dela não se apresenta Livros mercantis;
capaz a iludir um número indeterminado de agentes. Testamento particular.

Forma Privilegiada (art. 289, § 2º) Consumação e Tentativa


§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, A consumação ocorre quando realizada a falsificação ou
moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de alteração. É um crime formal, bastando o resultado jurídico,
conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses sendo perfeitamente possível a tentativa.
a dois anos, e multa.
Adquirir a moeda falsa sem ter conhecimento do vício Concurso de Crimes
não é crime. Entretanto, o é o fato de colocar novamente Falsificação de documento público e estelionato: para o
em circulação após conhecer da falsidade. STF, ambos os crimes coexistiriam, mas em concurso formal.
Esse crime somente se consuma com a reintrodução da Para o STJ:
Falsificação e uso de documento falso (art. 304): o uso
moeda à circulação. Logo, é material, admitindo a tentativa.
será absorvido, já que é mero pós fato impunível. Isso, entre-
tanto, se o falsário for a mesma pessoa que usa o documento
Forma Qualificada (art. 289, § 3º)
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e
Causas de Aumento de Pena (art. 297, 13º)
multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o
de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a
crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta
fabricação ou emissão:
parte.
I - de moeda com título ou peso inferior ao determi-
nado em lei; Falsidade de Documento e Sonegação Fiscal
II - de papel-moeda em quantidade superior à autori- Nos crimes de sonegação fiscal há causas extintivas de
zada. punibilidade, assim como também há o entendimento do
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz STF no sentido de que eles são sujeitos a uma condição ob-
circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. jetiva de punibilidade, que significa o esgotamento da via
administrativa.
Falsificação de Documento Público (art. 297)
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento Falsificação de Documento Particular (art. 298)
público, ou alterar documento público verdadeiro: Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. particular ou alterar documento particular verdadeiro:
São requisitos da falsificação: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Que ela seja idônea: é a falsificação apta a iludir, capaz O conceito de documento particular é dado por exclu-
de enganar qualquer pessoa normal; para a jurisprudên- são. Particular é todo documento que não é público. São
cia, a falsificação grosseira não constitui crime, pois não exemplos:
é capaz de enganar as pessoas em geral. Poderia ser, no Cheque devolvido pelo banco: é documento particular,
máximo, estelionato; pois após devolvido o cheque, não mais poderá ser trans-
Que tenha capacidade de causar prejuízo a alguém: mitido por endosso.
Disquete, cd, xerox etc. não são documentos. Docu- Documento endereçado à autoridade pública: não é do-
mento é toda peça escrita que condensa o pensamento de cumento público, já que não foi feito por autoridade pública.
alguém, capaz de provar um fato ou a realização de um ato
de relevância jurídica. Falsidade Ideológica (art. 299)
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular,
Requisitos do Documento Público declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer
Deve ser elaborado por agente público; inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,
O agente público deve estar no exercício da função, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alte-
tendo atribuição para tanto; rar a verdade sobre fato juridicamente relevante:

33
CÓDIGO PENAL

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o do- Trata-se de crime com preceito penal secundário re-
cumento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, metido.
se o documento é particular. Fazer uso é utilizar documento falso como se verdadei-
Trata-se de um crime formal, bastando a possibilidade ro fosse. O uso deve ser efetivo, não bastando mencionar
de dano para ser punível. que possui o documento. Se o agente falsifica e usa docu-
A falsidade ideológica é voltada para a declaração que mento, há simplesmente progressão criminosa, e o uso se
compõe o documento, para o conteúdo do que se quer torna um post factum impunível.
falsificar. Nela, o documento é formalmente perfeito e Não haverá o crime se o documento for encontrado
falso seu conteúdo intelectual. O agente declara e faz pela autoridade em revista pessoal do agente; se o docu-
constar no documento algo que sabe não ser verdadeiro. mento é apresentado mediante solicitação ou exigência da
Na falsidade material o vício incide sobre a parte exte- autoridade policial, há controvérsia.
rior do documento, recaindo sobre o elemento físico do pa-
pel escrito e verdadeiro. O sujeito modifica as características Competência
originais do objeto material por meio de rasuras, borrões, Se o documento utilizado for passaporte, a competên-
emendas, substituição de palavras ou letras, números, etc. Na cia será da Justiça Federal do lugar onde apresentado:
falsidade ideológica (ou pessoa) o vício incide sobre as decla-
rações que o objeto material deveria possuir, sobre o conteú- Falsa Identidade (art. 307)
do das ideias. Inexistem rasuras, emendas, omissões ou acrés- Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identi-
cimos. O documento, sob o aspecto material é verdadeiro; dade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio,
falsa é a ideia que ele contém. Daí também chamar-se ideal ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o
Requisitos para a Configuração, Conforme Jurispru- fato não constitui elemento de crime mais grave.
dência Trata-se de um delito formal e expressamente sub-
Que a declaração tenha valor por si mesma: se a decla- sidiário.
ração tiver de ser investigada pela autoridade pública, não Identidade se refere às características que uma pessoa
há crime (v.g., declaração de pobreza falsa). Nesse sentido: possui capazes de a individualizarem na sociedade. Está li-
Que a declaração faça parte do objeto do documento: gada intimamente à noção de estado civil.
as declarações irrelevantes, como o endereço da testemu- A falsidade tem de ser idônea e deve haver relevância
nha num contrato, não caracterizam o crime jurídica na imputação falsa, capacidade de causar dano.
O silêncio não pode configurar falsa identidade, já que
Casuísticas o crime é comissivo.
Se alguém pega a assinatura de um amigo em uma
folha em branco e preenche como confissão de dívida, pra- Falsa Identidade e Autodefesa
tica o crime de falsidade ideológica; Para concursos de Defensoria Pública, o preso em fla-
Pegar uma folha e falsificar a assinatura de outrem é grante ou interrogado em juízo que se dá outro nome para
falsidade material; se eximir da condenação simplesmente exerce a autode-
Se, em um B.O., o escrivão inserir fatos que não foram fesa, em seu sentido mais amplo, aplicando-se o brocardo
narrados, haverá falsidade ideológica; nemo tenetur se detegere.
A cópia sem autenticação não pode ser considerada Para o MP, evidentemente que não se trata de auto-
documento para fins penais. defesa, já que a conduta do agente é comissiva, tentando
enganar a autoridade pública, se afastando em muito do
Elemento Subjetivo, Consumação e Tentativa simples direito à não autoincriminação
O crime exige o especial fim de prejudicar direito ou
criar obrigação, ou ainda, alterar a verdade sobre fato juri- TÍTULO X
dicamente relevante. DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
Na MODALIDADE OMISSIVA, consuma-se com a omis- CAPÍTULO I
são e não cabe tentativa. DA MOEDA FALSA
Na comissiva, ocorre quando o agente insere ou faz
terceiro inserir, sendo a tentativa perfeitamente possível. Moeda Falsa
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moe-
Causa de Aumento de Pena da metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e estrangeiro:
comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsifica- Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
ção ou alteração é de assentamento de registro civil, aumen- § 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria
ta-se a pena de sexta parte. ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, em-
presta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
Uso de Documento Falso (art. 304) § 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verda-
Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados deira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois
ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. meses a dois anos, e multa.

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CÓDIGO PENAL

§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro docu-
multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal mento relativo a arrecadação de rendas públicas ou a de-
de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabri- pósito ou caução por que o poder público seja responsável;
cação ou emissão: VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de
I - de moeda com título ou peso inferior ao determi- transporte administrada pela União, por Estado ou por Mu-
nado em lei; nicípio:
II - de papel-moeda em quantidade superior à auto- Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
rizada. § 1o Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz cir- Lei nº 11.035, de 2004)
cular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis
falsificados a que se refere este artigo; (Incluído pela Lei nº
Crimes assimilados ao de moeda falsa 11.035, de 2004)
Art. 290 - Formar cédula, nota ou bilhete represen- II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, em-
tativo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou presta, guarda, fornece ou restitui à circulação selo falsifi-
bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou bilhete cado destinado a controle tributário; (Incluído pela Lei nº
recolhidos, para o fim de restituí-los à circulação, sinal indi- 11.035, de 2004)
cativo de sua inutilização; restituir à circulação cédula, nota III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda,
ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos para o fim mantém em depósito, guarda, troca, cede, empresta, forne-
de inutilização: ce, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. ou alheio, no exercício de atividade comercial ou indus-
Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado a trial, produto ou mercadoria: (Incluído pela Lei nº 11.035,
doze anos e multa, se o crime é cometido por funcionário de 2004)
que trabalha na repartição onde o dinheiro se achava reco- a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a
lhido, ou nela tem fácil ingresso, em razão do cargo.(Vide controle tributário, falsificado; (Incluído pela Lei nº 11.035,
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) de 2004)
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tri-
Petrechos para falsificação de moeda butária determina a obrigatoriedade de sua aplicação. (In-
Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso cluído pela Lei nº 11.035, de 2004)
ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, ins- § 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando
trumento ou qualquer objeto especialmente destinado à legítimos, com o fim de torná-los novamente utilizáveis,
falsificação de moeda: carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois de
Emissão de título ao portador sem permissão legal alterado, qualquer dos papéis a que se refere o parágrafo
Art. 292 - Emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, anterior.
ficha, vale ou título que contenha promessa de pagamento § 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora recibo
em dinheiro ao portador ou a que falte indicação do nome de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a
da pessoa a quem deva ser pago: que se referem este artigo e o seu § 2º, depois de conhecer
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. a falsidade ou alteração, incorre na pena de detenção, de
Parágrafo único - Quem recebe ou utiliza como di- seis meses a dois anos, ou multa.
nheiro qualquer dos documentos referidos neste artigo § 5o Equipara-se a atividade comercial, para os fins do
incorre na pena de detenção, de quinze dias a três meses, inciso III do § 1o, qualquer forma de comércio irregular ou
ou multa. clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros
logradouros públicos e em residências. (Incluído pela Lei nº
CAPÍTULO II 11.035, de 2004)
DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS PÚ- Petrechos de falsificação
BLICOS Art. 294 - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guar-
dar objeto especialmente destinado à falsificação de qual-
Falsificação de papéis públicos quer dos papéis referidos no artigo anterior:
Art. 293 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
I – selo destinado a controle tributário, papel selado Art. 295 - Se o agente é funcionário público, e comete
ou qualquer papel de emissão legal destinado à arrecada- o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de
ção de tributo; (Redação dada pela Lei nº 11.035, de 2004) sexta parte.
II - papel de crédito público que não seja moeda de
curso legal; CAPÍTULO III
III - vale postal; DA FALSIDADE DOCUMENTAL
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa
econômica ou de outro estabelecimento mantido por enti- Falsificação do selo ou sinal público
dade de direito público; Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:

35
CÓDIGO PENAL

I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da Falsidade ideológica


União, de Estado ou de Município; Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular,
II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer
público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião: inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a
§ 1º - Incorre nas mesmas penas: verdade sobre fato juridicamente relevante:
I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado; Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o do-
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verda- cumento é público, e reclusão de um a três anos, e multa,
deiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou se o documento é particular.
alheio. Parágrafo único - Se o agente é funcionário público,
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de mar- e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a fal-
cas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos utiliza- sificação ou alteração é de assentamento de registro civil,
dos ou identificadores de órgãos ou entidades da Adminis- aumenta-se a pena de sexta parte.
tração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Falso reconhecimento de firma ou letra
§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete Art. 300 - Reconhecer, como verdadeira, no exercício
o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de de função pública, firma ou letra que o não seja:
sexta parte. Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o
Falsificação de documento público documento é público; e de um a três anos, e multa, se o
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento documento é particular.
público, ou alterar documento público verdadeiro: Certidão ou atestado ideologicamente falso
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. Art. 301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão de
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete função pública, fato ou circunstância que habilite alguém
o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de
sexta parte. caráter público, ou qualquer outra vantagem:
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a docu- Pena - detenção, de dois meses a um ano.
mento público o emanado de entidade paraestatal, o tí- Falsidade material de atestado ou certidão
tulo ao portador ou transmissível por endosso, as ações § 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certi-
de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento dão, ou alterar o teor de certidão ou de atestado verdadei-
particular. ro, para prova de fato ou circunstância que habilite alguém
§ 3o  Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de
inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) caráter público, ou qualquer outra vantagem:
I – na folha de pagamento ou em documento de infor- Pena - detenção, de três meses a dois anos.
mações que seja destinado a fazer prova perante a previ- § 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro, apli-
dência social, pessoa que não possua a qualidade de segu- ca-se, além da pena privativa de liberdade, a de multa.
rado obrigatório;(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Falsidade de atestado médico
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão,
empregado ou em documento que deva produzir efeito atestado falso:
perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da Pena - detenção, de um mês a um ano.
que deveria ter sido escrita; (Incluído pela Lei nº 9.983, de Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de
2000) lucro, aplica-se também multa.
III – em documento contábil ou em qualquer outro Reprodução ou adulteração de selo ou peça fila-
documento relacionado com as obrigações da empresa télica
perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da Art. 303 - Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica
que deveria ter constado. (Incluído pela Lei nº 9.983, de que tenha valor para coleção, salvo quando a reprodução
2000) ou a alteração está visivelmente anotada na face ou no ver-
§ 4o  Nas mesmas penas incorre quem omite, nos so do selo ou peça:
documentos mencionados no § 3o, nome do segurado e Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contra- Parágrafo único - Na mesma pena incorre quem, para
to de trabalho ou de prestação de serviços.(Incluído pela fins de comércio, faz uso do selo ou peça filatélica.
Lei nº 9.983, de 2000) Uso de documento falso
Falsificação de documento particular (Redação dada Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados
pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302:
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
particular ou alterar documento particular verdadeiro: Supressão de documento
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício
Falsificação de cartão (Incluído pela Lei nº 12.737, de próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento
2012) Vigência público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor:
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equi- Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o do-
para-se a documento particular o cartão de crédito ou dé- cumento é público, e reclusão, de um a cinco anos, e multa,
bito. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência se o documento é particular.

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CÓDIGO PENAL

CAPÍTULO IV
DE OUTRAS FALSIDADES 2.3.14 DOS CRIMES PRATICADOS POR
FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A
Falsificação do sinal empregado no contraste de ADMINISTRAÇÃO EM GERAL: ARTIGOS 312
metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou para
A 327;
outros fins
Art. 306 - Falsificar, fabricando-o ou alterando-o, marca 2.3.15 DOS CRIMES PRATICADOS POR
ou sinal empregado pelo poder público no contraste de me- PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO
tal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou usar marca EM GERAL: ARTIGOS 328 A 334-A;
ou sinal dessa natureza, falsificado por outrem: 2.3.16 DOS CRIMES CONTRA A
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA: ARTIGOS 338
Parágrafo único - Se a marca ou sinal falsificado é o que A 361.
usa a autoridade pública para o fim de fiscalização sanitá-
ria, ou para autenticar ou encerrar determinados objetos, ou
comprovar o cumprimento de formalidade legal:
Pena - reclusão ou detenção, de um a três anos, e multa. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
Falsa identidade O Capítulo I do Título XI do Código Penal trata dos crimes
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identida- funcionais, praticados por determinado grupo de pessoas no
de para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou exercício de sua função, associado ou não com pessoa alheia
para causar dano a outrem: aos quadros administrativos, prejudicando o correto funcio-
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o namento dos órgãos do Estado.
fato não constitui elemento de crime mais grave. A Administração Pública deste modo, em geral direta, in-
Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de direta e empresas privadas prestadoras de serviços públicos,
eleitor, caderneta de reservista ou qualquer documento de contratadas ou conveniadas será vítima primária e constante,
identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize, podendo, secundariamente, figurar no polo passivo eventual
documento dessa natureza, próprio ou de terceiro: administrado prejudicado.
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, O agente, representante de um poder estatal, tem por
se o fato não constitui elemento de crime mais grave. função principal cumprir regularmente seus deveres, confia-
dos pelo povo. A traição funcional faz com que todos tenha-
Fraude de lei sobre estrangeiro mos interesse na sua punição, até porque, de certa forma, so-
Art. 309 - Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer mos afetados por elas. Dentro desse espírito, mesmo quando
no território nacional, nome que não é o seu: praticado no estrangeiro, logo, fora do alcance da soberania
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. nacional, o delito funcional será alcançado, obrigatoriamente,
Parágrafo único - Atribuir a estrangeiro falsa qualidade pela lei penal.
para promover-lhe a entrada em território nacional: (Incluído Não bastasse, a Lei 10.763, de 12 de novembro de 2003,
pela Lei nº 9.426, de 1996) condicionou a progressão de regime prisional nos crimes
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Incluído contra a Administração Pública à prévia reparação do dano
pela Lei nº 9.426, de 1996) causado, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com
Art. 310 - Prestar-se a figurar como proprietário ou pos- os acréscimos legais.
suidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro, nos A lei em comento não impede a progressão aos crimes
casos em que a este é vedada por lei a propriedade ou a funcionais, mas apenas acrescenta uma nova condição ob-
posse de tais bens: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) jetiva, de cumprimento obrigatório para que o reeducando
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. conquiste o referido benefício.
(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Adulteração de sinal identificador de veículo auto- Crimes Funcionais
motor (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou Espécies
qualquer sinal identificador de veículo automotor, de seu Os delitos funcionais são divididos em duas espécies:
componente ou equipamento:(Redação dada pela Lei nº próprios e impróprios.
9.426, de 1996)) Nos crimes funcionais próprios, na qualidade de funcio-
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. (Redação nário público ao autor, o fato passa a ser tratado como um
dada pela Lei nº 9.426, de 1996) tipo penal descrito.
§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da fun- Já nos impróprios desaparecendo a qualidade de
ção pública ou em razão dela, a pena é aumentada de um servidor publico, desaparece também o crime funcional, des-
terço. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) classificando a conduta para outro delito, de natureza diversa.
§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público
que contribui para o licenciamento ou registro do veículo Conceito de Funcionário Público para Efeitos Penais
remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente ma- Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efei-
terial ou informação oficial. (Incluído pela Lei nº 9.426, de tos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remu-
1996) neração, exerce cargo, emprego ou função pública.

37
CÓDIGO PENAL

§ 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce Peculato mediante Erro de Outrem


cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem Art. 313 C.P., o seu objeto jurídico é a probidade adminis-
trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou trativa. Sujeito ativo: funcionário público; sujeito passivo: Esta-
conveniada para a execução de atividade típica da Adminis- do e o particular lesado. A modalidade de peculato mediante
tração Pública. erro de outrem, é um peculato estelionato, onde a pessoa é
§ 2º A pena será aumentada da terça parte quando os induzida a erro. Ex: Um fiscal vai aplicar uma multa a um deter-
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupan- minado contribuinte e esse contribuinte paga o valor direto a
tes de cargos em comissão ou de função de direção ou as- esse fiscal, que embolsa o dinheiro. Só que na verdade nunca
sessoramento de órgão da administração direta, sociedade existiu multa alguma e esse dinheiro não tinha como destino
de economia mista, empresa pública ou fundação instituída os cofres públicos e sim o favorecimento pessoal do agente. É
pelo poder público. um crime doloso e sua consumação se dá quando ele passa a
Contudo, ao considerar o que seja funcionário público ser o titular da coisa. Admite-se a tentativa.
para fins penais, nosso Código Penal nos dá um conceito
unitário, sem atender aos ensinamentos do Direito Admi-
Concussão
nistrativo, tomando a expressão no sentido amplo.
Art. 316 C.P., é uma espécie de extorsão praticada pelo
Dessa forma, para os efeitos penais, considera-se fun-
servidor público com abuso de autoridade. O objeto jurídico
cionário público não apenas o servidor legalmente investi-
do em cargo público, mas também o que servidor publico é a probidade da administração pública. Sujeito ativo: Crime
efetivo ou temporário. próprio praticado pelo servidor e o seu jeito passivo é o Es-
tado e a pessoa lesada. A conduta é exigir. Trata-se de crime
Tipos penais Contra Administração Pública formal pois consuma-se com a exigência, se houver entrega
O crime de Peculato, Peculato apropriação, Peculato de valor há exaurimento do crime e a vítima não responde
desvio, Peculato furto, Peculato culposo, Peculato mediante por corrupção ativa porque foi obrigada a agir dessa maneira.
erro de outrem, Concussão, Excesso de exação, Corrupção
passiva e Prevaricação, são os crimes tipificado com pratica- Excesso de Exação
dos por agentes públicos. A exigência vai para os cofres públicos, isto é, recolhe aos
cofres valor não devido, ou era para recolher aos cofres públi-
Peculato cos, porém o funcionário se apropria do valor.
Previsto no artigo 312 do C.P., a objetividade jurídica
do peculato é a probidade da administração pública. É um Corrupção Passiva
crime próprio onde o sujeito ativo será sempre o funcioná- Art. 317 C.P., o Objeto jurídico é a probidade adminis-
rio público e o sujeito passivo o Estado e em alguns casos o trativa. Sujeito ativo: funcionário público. A vítima é o Esta-
particular. Admite-se a participação. do e apenas na conduta solicitar é que a vítima será, além
do Estado a pessoa ao qual foi solicitada.
Peculato Apropriação Condutas: Solicitar, receber e aceitar promessa, au-
É uma apropriação indébita e o objeto pode ser dinheiro, menta-se a pena se o funcionário retarda ou deixa de pra-
valor ou bem móvel. É de extrema importância que o funcio- ticar atos de ofício. Não admite-se a tentativa, é no caso de
nário tenha a posse da coisa em razão do seu cargo. Consu- privilegiado, onde cede ao pedido ou influência de 3a pes-
mação: Se dá no momento da apropriação, em que ele passa a soa. Só se consuma pela prática do ato do servidor público.
agir como o titular da coisa apropriada. Admite-se a tentativa.
Prevaricação
Peculato Desvio
Art. 319 C.P., aqui também tutela-se a probidade ad-
O servidor desvia a coisa em vez de apropriar-se. Aqui o
ministrativa. É um crime próprio, cometido por funcioná-
sujeito ativo além do servidor pode tem participação de uma
rio público e a vítima é o Estado. A conduta é: retardar ou
3a pessoa. Consumação: No momento do desvio e admite-se
a tentativa. deixar de praticar ato de ofício. O Crime consuma-se com
o retardamento ou a omissão, é doloso e o objetivo do
Peculato Furto agente é buscar satisfação ou vantagem pessoal.
Previsto no Art. 312 CP., aqui o funcionário público não Os crimes contra a Administração Pública é demasia-
detêm a posse, mas consegue deter a coisa em razão da fa- damente prejudicial, pois refletem e afetam a todos os
cilidade de ser servidor público. Ex: Diretor de escola pública cidadãos dependentes do serviço publico, colocando em
que tem a chave de todas as salas da escola, aproveita-se da crédito e a prova a credibilidade das instituições públicas,
sua função e facilidade e subtrai algo que não estava sob sua para apenas satisfazer o egoismo e egocentrismo desses
posse, tem-se o peculato furto. agentes corruptos.
Tais mecanismos de combate devem ser aplicas com
Peculato Culposo rigor e aperfeiçoados para que estes desviantes do servi-
Aproveitando o exemplo da escola, neste caso o diretor ço publico, tenham suas praticas de errôneas coibidas e
esquece a porta aberta e alguém entra no colégio e subtrai um extintas, podem assim fortalecer as instituições publica e
bem. A consumação se dá no momento em que o 3o subtrai valorizar os servidores.
a coisa. Não admite-se a tentativa.

38
CÓDIGO PENAL

CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS Inscrição de despesas não empenhadas em restos a


Nos Crimes contra as finanças públicas, o bem jurídico pagar
protegido é a probidade administrativa, relativamente às Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em restos
operações realizadas no âmbito das finanças públicas da a pagar, de despesa que não tenha sido previamente em-
União, Estado, Distrito Federal e Municípios. Protege-se o penhada ou que exceda limite estabelecido em lei:
princípio da legalidade administrativa, punindo-se crimi- Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
nalmente condutas praticadas sem a observância legal.
Sujeito ativo somente poderá ser um agente público Assunção de obrigação no último ano do mandato
(funcionário público lato sensu). No entanto, somente po- ou legislatura
derá cometer esse tipo penal quem possui atribuição le- Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obri-
gal para ordenar, autorizar ou realizar operação de crédito, gação, nos dois últimos quadrimestres do último ano do
interno ou externo. Se o funcionário que emitir o ato ad- mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga
ministrativo (ordem autorização ou ele próprio realizar a no mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser
paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartida
operação) não tiver atribuição legal para tanto, referido ato
suficiente de disponibilidade de caixa:
será passível de anulação pelo próprio poder público. Essa
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
falta de atribuição legal torna a conduta praticada atípica.
Deve-se destacar que pode ser sujeito ativo tanto o
Ordenação de despesa não autorizada
agente público que emite o ato administrativo, isto é, que Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei:
ordena ou autoriza a operação de crédito, como aquele Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
funcionário (subordinado) que a realiza.
Sujeito passivo será a União, Estado, Distrito Federal Prestação de garantia graciosa
ou Municípios, relativamente ao erário público, isto é, a Re- Art. 359-E. Prestar garantia em operação de crédito sem
ceita pública, nas respectivas searas. que tenha sido constituída contragarantia em valor igual ou
As condutas tipificadas são ordenar, autorizar e reali- superior ao valor da garantia prestada, na forma da lei:
zar operação de crédito, constituindo crime de conteúdo Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
variado.
A sentença penal condenatória por crimes contra as Não cancelamento de restos a pagar
finanças públicas, embora constitua título executivo no cí- Art. 359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou de promo-
vel, não faz coisa julgada extrapenal para abranger o res- ver o cancelamento do montante de restos a pagar inscrito
sarcimento de dano e multa civil prevista na lei n. 8.429/92, em valor superior ao permitido em lei:
nem a multa aplicável pelo tribunal de contas. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Os crimes contra as finanças públicas constituem tam-
bém atos de improbidade administrativa. Aumento de despesa total com pessoal no último ano
A perda de cargo, função pública ou mandato eletivo do mandato ou legislatura
é efeito da condenação inaplicável em crimes contra as Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que acar-
finanças públicas. rete aumento de despesa total com pessoal, nos cento e oi-
Os crimes contra as finanças públicas são crimes fun- tenta dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura: )
cionais próprios. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Na oferta pública ou colocação no mercado financei-
ro de títulos da dívida pública (art. 359-H) o sujeito ativo Oferta pública ou colocação de títulos no mercado
Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta pública
pode ser servidor público outro que não a autoridade pú-
ou a colocação no mercado financeiro de títulos da dívida pú-
blica com poderes decisórios em nome do ente federativo.
blica sem que tenham sido criados por lei ou sem que estejam
registrados em sistema centralizado de liquidação e de custódia:
CAPÍTULO IV
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS
TÍTULO XI
Contratação de operação de crédito DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operação de CAPÍTULO I
crédito, interno ou externo, sem prévia autorização legis- DOS CRIMES PRATICADOS
lativa: POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos. CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena,
autoriza ou realiza operação de crédito, interno ou exter- Peculato
no: Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de di-
I – com inobservância de limite, condição ou montante nheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou par-
estabelecido em lei ou em resolução do Senado Federal; ticular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-
II – quando o montante da dívida consolidada ultra- -lo, em proveito próprio ou alheio:
passa o limite máximo autorizado por lei. Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

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CÓDIGO PENAL

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi- Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Re-
co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, dação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe propor- de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos
ciona a qualidade de funcionário. cofres públicos:
Peculato culposo Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o Corrupção passiva
crime de outrem: Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem,
Pena - detenção, de três meses a um ano. direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibi- aceitar promessa de tal vantagem:
lidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e mul-
Peculato mediante erro de outrem ta. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilida- § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conse-
de que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: qüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica
Inserção de dados falsos em sistema de informa- infringindo dever funcional.
ções (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, ce-
a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamen- dendo a pedido ou influência de outrem:
te dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
de dados da Administração Pública com o fim de obter Facilitação de contrabando ou descaminho
vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a
dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)) prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e mul- Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e mul-
ta. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) ta. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Modificação ou alteração não autorizada de siste- Prevaricação
ma de informações (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamen-
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema te, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa
de informações ou programa de informática sem autoriza- de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
ção ou solicitação de autoridade competente: (Incluído pela Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Lei nº 9.983, de 2000) Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o
multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que per-
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço mita a comunicação com outros presos ou com o ambiente
até a metade se da modificação ou alteração resulta dano externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007).
para a Administração Pública ou para o administrado.(In- Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
cluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Condescendência criminosa
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou do- Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de res-
cumento ponsabilizar subordinado que cometeu infração no exercí-
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documen- cio do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o
to, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou fato ao conhecimento da autoridade competente:
inutilizá-lo, total ou parcialmente: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não Advocacia administrativa
constitui crime mais grave. Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interes-
Emprego irregular de verbas ou rendas públicas se privado perante a administração pública, valendo-se da
Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação qualidade de funcionário:
diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
Concussão Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indi- multa.
retamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, Violência arbitrária
mas em razão dela, vantagem indevida: Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. a pretexto de exercê-la:
Excesso de exação Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição pena correspondente à violência.
social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando Abandono de função
devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos
que a lei não autoriza: (Redação dada pela Lei nº 8.137, de permitidos em lei:
27.12.1990) Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

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CÓDIGO PENAL

§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público: Resistência


Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa violência ou ameaça a funcionário competente para execu-
de fronteira: tá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou pro- § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
longado Pena - reclusão, de um a três anos.
Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo
satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem das correspondentes à violência.
autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, Desobediência
removido, substituído ou suspenso: Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. público:
Violação de sigilo funcional Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo Desacato
e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se
da função ou em razão dela:
o fato não constitui crime mais grave.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1o  Nas mesmas penas deste artigo incorre
quem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Tráfico de Influência (Redação dada pela Lei nº 9.127,
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento de 1995)
e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pre-
banco de dados da Administração Pública; (Incluído pela Lei texto de influir em ato praticado por funcionário público
nº 9.983, de 2000) no exercício da função:  (Redação dada pela Lei nº 9.127,
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Incluído de 1995)
pela Lei nº 9.983, de 2000) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e mul-
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração ta. (Redação dada pela Lei nº 9.127, de 1995)
Pública ou a outrem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (In- o agente alega ou insinua que a vantagem é também des-
cluído pela Lei nº 9.983, de 2000) tinada ao funcionário. (Redação dada pela Lei nº 9.127, de
Violação do sigilo de proposta de concorrência 1995)
Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência Corrupção ativa
pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou
Funcionário público retardar ato de ofício:
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efei- Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e mul-
tos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remune- ta. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
ração, exerce cargo, emprego ou função pública. Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço,
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário re-
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem tarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever
trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou funcional.
conveniada para a execução de atividade típica da Adminis- Descaminho
tração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os
direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes
consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei nº 13.008,
de cargos em comissão ou de função de direção ou
assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de 26.6.2014)
de economia mista, empresa pública ou fundação instituída Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Redação
pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, de 1980) dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela
CAPÍTULO II Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
DOS CRIMES PRATICADOS POR I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos
PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GE- permitidos em lei; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
RAL 26.6.2014)
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descami-
Usurpação de função pública nho; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou,
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio,
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: no exercício de atividade comercial ou industrial, merca-
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. doria de procedência estrangeira que introduziu clandes-

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CÓDIGO PENAL

tinamente no País ou importou fraudulentamente ou que Denunciação caluniosa


sabe ser produto de introdução clandestina no território Art. 339. Dar causa à instauração de investigação poli-
nacional ou de importação fraudulenta por parte de ou- cial, de processo judicial, instauração de investigação admi-
trem; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) nistrativa, inquérito civil ou ação de improbidade adminis-
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio trativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, inocente: (Redação dada pela Lei nº 10.028, de 2000)
mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
de documentação legal ou acompanhada de documentos § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente
que sabe serem falsos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de se serve de anonimato ou de nome suposto.
26.6.2014) § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação
§ 2o  Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos é de prática de contravenção.
deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou Comunicação falsa de crime ou de contravenção
clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunican-
em residências. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) do-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho não se ter verificado:
é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
(Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) Auto-acusação falsa
Contrabando Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: inexistente ou praticado por outrem:
(Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. (Incluído Falso testemunho ou falsa perícia
pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Incluído pela Lei nº verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou
13.008, de 26.6.2014) intérprete em processo judicial, ou administrativo, inqué-
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; rito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei nº
(Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) 10.268, de 28.8.2001)
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
dependa de registro, análise ou autorização de órgão público (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência)
competente; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço,
III - reinsere no território nacional mercadoria brasilei- se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido
ra destinada à exportação; (Incluído pela Lei nº 13.008, de com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em
26.6.2014) processo penal, ou em processo civil em que for parte
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de entidade da administração pública direta ou indireta.
qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença
proibida pela lei brasileira; (Incluído pela Lei nº 13.008, de no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata
26.6.2014) ou declara a verdade.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou 28.8.2001)
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mer- Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qual-
cadoria proibida pela lei brasileira. (Incluído pela Lei nº 13.008, quer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tra-
de 26.6.2014)§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para dutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou
os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução
ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o ou interpretação: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de
exercido em residências. (Incluído pela Lei nº 4.729, de 28.8.2001)
14.7.1965) Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.(Reda-
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando ção dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. (Incluído Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a
pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) um terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova
Impedimento, perturbação ou fraude de concorrên- destinada a produzir efeito em processo penal ou em pro-
cia cesso civil em que for parte entidade da administração pú-
blica direta ou indireta. (Redação dada pela Lei nº 10.268,
CAPÍTULO III de 28.8.2001)
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUS- Coação no curso do processo
TIÇA Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o
fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra auto-
Reingresso de estrangeiro expulso ridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é
Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangei- chamada a intervir em processo judicial, policial ou admi-
ro que dele foi expulso: nistrativo, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da
nova expulsão após o cumprimento da pena. pena correspondente à violência.

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CÓDIGO PENAL

Exercício arbitrário das próprias razões § 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfa- mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a pena é
zer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: de reclusão, de dois a seis anos.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, § 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, apli-
além da pena correspondente à violência. ca-se também a pena correspondente à violência.
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, so- § 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o
mente se procede mediante queixa. crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda
Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa pró- está o preso ou o internado.
pria, que se acha em poder de terceiro por determinação § 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da
judicial ou convenção: custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de três
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. meses a um ano, ou multa.
Fraude processual Evasão mediante violência contra a pessoa
Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de pro- Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o
cesso civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou indivíduo submetido a medida de segurança detentiva,
de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: usando de violência contra a pessoa:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir pena correspondente à violência.
efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas Arrebatamento de preso
aplicam-se em dobro. Art. 353 - Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do
Favorecimento pessoal poder de quem o tenha sob custódia ou guarda:
Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena
pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: correspondente à violência.
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. Motim de presos
§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Art. 354 - Amotinarem-se presos, perturbando a or-
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
dem ou disciplina da prisão:
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descen-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
dente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.
pena correspondente à violência.
Favorecimento real
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coau-
 Patrocínio infiel
toria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o
Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou pro-
proveito do crime:
curador, o dever profissional, prejudicando interesse, cujo
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em esta- Patrocínio simultâneo ou tergiversação
belecimento prisional. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009). Parágrafo único - Incorre na pena deste artigo o advo-
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluí- gado ou procurador judicial que defende na mesma causa,
do pela Lei nº 12.012, de 2009). simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.
Exercício arbitrário ou abuso de poder Sonegação de papel ou objeto de valor probatório
Art. 350 - Ordenar ou executar medida privativa de li- Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de
berdade individual, sem as formalidades legais ou com abu- restituir autos, documento ou objeto de valor probatório,
so de poder: que recebeu na qualidade de advogado ou procurador:
Pena - detenção, de um mês a um ano. Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcioná- Exploração de prestígio
rio que: Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer
I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão
estabelecimento destinado a execução de pena privativa de do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradu-
liberdade ou de medida de segurança; tor, intérprete ou testemunha:
II - prolonga a execução de pena ou de medida de Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de Parágrafo único - As penas aumentam-se de um terço,
executar imediatamente a ordem de liberdade; se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade
III - submete pessoa que está sob sua guarda ou custó- também se destina a qualquer das pessoas referidas neste
dia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; artigo.
IV - efetua, com abuso de poder, qualquer diligência. Violência ou fraude em arrematação judicial
Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de Art. 358 - Impedir, perturbar ou fraudar arrematação
segurança judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante,
Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa le- por meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofereci-
galmente presa ou submetida a medida de segurança de- mento de vantagem:
tentiva: Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa,
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. além da pena correspondente à violência.

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CÓDIGO PENAL

Desobediência a decisão judicial sobre perda ou Não cancelamento de restos a pagar (Incluído pela
suspensão de direito Lei nº 10.028, de 2000)
Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autorida- Art. 359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou de pro-
de ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão mover o cancelamento do montante de restos a pagar ins-
judicial: crito em valor superior ao permitido em lei: (Incluído pela
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. Lei nº 10.028, de 2000)
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (In-
CAPÍTULO IV cluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS Aumento de despesa total com pessoal no últi-
(Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) mo ano do mandato ou legislatura (Incluído pela Lei nº
10.028, de 2000)
Contratação de operação de crédito Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que
Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operação de acarrete aumento de despesa total com pessoal, nos cento
crédito, interno ou externo, sem prévia autorização legisla- e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da legisla-
tiva: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) tura: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000))
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.  (Incluído Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído
pela Lei nº 10.028, de 2000) pela Lei nº 10.028, de 2000)
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena, Oferta pública ou colocação de títulos no merca-
autoriza ou realiza operação de crédito, interno ou exter- do (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
no: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta
I – com inobservância de limite, condição ou montan- pública ou a colocação no mercado financeiro de títulos da
te estabelecido em lei ou em resolução do Senado Fede- dívida pública sem que tenham sido criados por lei ou sem
ral; (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) que estejam registrados em sistema centralizado de liqui-
II – quando o montante da dívida consolidada ultra- dação e de custódia: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
passa o limite máximo autorizado por lei. (Incluído pela Lei Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído
nº 10.028, de 2000) pela Lei nº 10.028, de 2000)
Inscrição de despesas não empenhadas em restos a DISPOSIÇÕES FINAIS
pagar (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) Art. 360 - Ressalvada a legislação especial sobre os
Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em restos crimes contra a existência, a segurança e a integridade do
a pagar, de despesa que não tenha sido previamente em- Estado e contra a guarda e o emprego da economia popu-
penhada ou que exceda limite estabelecido em lei: (Incluí- lar, os crimes de imprensa e os de falência, os de respon-
do pela Lei nº 10.028, de 2000) sabilidade do Presidente da República e dos Governadores
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (In- ou Interventores, e os crimes militares, revogam-se as dis-
cluído pela Lei nº 10.028, de 2000) posições em contrário.
Assunção de obrigação no último ano do mandato Art. 361 - Este Código entrará em vigor no dia 1º de
ou legislatura (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) janeiro de 1942.
Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obri-
gação, nos dois últimos quadrimestres do último ano do Questões
mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga
no mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser 01. (PC/PI - Escrivão de Polícia Civil – 2014 - UESPI)
paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartida Constitui abuso de autoridade, exceto:
suficiente de disponibilidade de caixa: (Incluído pela Lei nº (A) Atentado à inviolabilidade do domicílio e à liberda-
10.028, de 2000) de de locomoção.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.(Incluído (B) Atentado ao sigilo da correspondência e à liberdade
pela Lei nº 10.028, de 2000) de consciência e de crença.
Ordenação de despesa não autorizada (Incluído pela (C) Atentado ao livre culto religioso e ao direito de reu-
Lei nº 10.028, de 2000) nião.
Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por (D) Atentado a fuga de preso e transgressão irregular
lei: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) de natureza grave.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído (E) Atentado aos direito e garantias legais assegurados
pela Lei nº 10.028, de 2000) ao exercício do voto e ao direito de reunião.
Prestação de garantia graciosa (Incluído pela Lei nº
10.028, de 2000) 02. (DETRAN/DF - Agente de Trânsito – 2012 - FU-
Art. 359-E. Prestar garantia em operação de crédito NIVERSA) Constitui abuso de autoridade,
sem que tenha sido constituída contragarantia em valor (A) Ordenar ou executar medida privativa da liberdade
igual ou superior ao valor da garantia prestada, na forma individual.
da lei: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) (B) Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a ve-
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (In- xame ou a constrangimento, mesmo que autorizado em lei,
cluído pela Lei nº 10.028, de 2000) pois essa atitude é incompatível com o Estado de Direito.

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CÓDIGO PENAL

(C) Levar à prisão e nela deter quem quer que se pro- 06. (PC-SP - Investigador de Polícia – 2014 - VU-
ponha a prestar fiança, ainda que não prevista em lei. NESP) Nos termos do Código Penal, assinale a alternativa
(D) Lesar a honra ou o patrimônio de pessoa natural ou que contenha apenas crimes contra o patrimônio.
jurídica, mesmo quando esse ato for praticado sem abuso (A) Homicídio; estelionato; extorsão
ou desvio de poder. (B) Estelionato; furto; roubo.
(E) Recusar o carcereiro ou o agente de autoridade po- (C) Dano; estupro; homicídio
licial recibo de importância adquirida a título de carcera- (D) Furto; roubo; lesão corporal.
gem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa. (E) Extorsão; lesão corporal; dano.

03. (TRT - 18ª Região (GO) - Juiz do Trabalho – 2014 07. (PC-TO - Delegado de Polícia – 2014- Aroeira) É
- FCC) No que concerne aos crimes de abuso de autorida- crime contra o patrimônio, em que somente se procede me-
de, é correto afirmar que: diante representação,
(A) Compete à Justiça Militar processar e julgar militar (A) o furto de coisa comum.
por crime de abuso de autoridade praticado em serviço, (B) a alteração de limites.
segundo entendimento sumulado do Superior Tribunal de (C) o dano simples.
Justiça. (D) a fraude à execução.
(B) É cominada pena privativa de liberdade na modali-
dade de reclusão. 08. (Polícia Civil/SP - Escrivão de Polícia – 2013 - VU-
(C) Se considera autoridade apenas quem exerce car- NESP) A conduta de constranger alguém, mediante violência
go, emprego ou função pública, de natureza civil ou militar, ou grave ameaça e com o intuito de obter para si ou para ou-
não transitório e remunerado. trem trem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que
(D) Não é cominada pena de multa. se faça ou deixar fazer alguma coisa caracteriza o crime de
(A) extorsão.
(E) Constitui abuso de autoridade qualquer atentado
(B) abuso de poder.
aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício
(C) exercício arbitrário.
profissional.
(D) coação no curso do processo.
(E) roubo.
04. (Prefeitura de Taubaté/SP – Escriturário – 2015
-PUBLICONSULT) Se um servidor, ao final do expedien- 09. (TJ/ RJ – Juiz Substituto – 2012 - VUNESP) A regra
te, leva para casa clips, canetas, borrachas, folhas de papel, tempus regit actum explica o fenômeno da
por exemplo, ainda que em pequena quantidade, fere o (A) retroatividade da lei penal mais benéfica.
patrimônio público, cometendo um ato ilícito, que é um (B) ultratividade da lei penal excepcional.
crime previsto no Código Penal brasileiro, caracterizado (C) territorialidade temperada.
pela apropriação, por parte do servidor público, de valores (D) extraterritorialidade.
ou qualquer outro bem móvel ou de consumo em proveito
próprio ou de outrem. Trata-se do(a): 10. (PC/CE - Inspetor de Polícia Civil de 1a Classe –
(A) Concussão 2015 - VUNESP) Nos termos do Código Penal, a imputabili-
(B) Improbidade administrativa dade penal é excluída pela
(C) Peculato (A) embriaguez completa e culposa que torna o autor, ao
(D) Prevaricação tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de en-
tender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
05. (TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciário – 2014 - com esse entendimento.
FCC) No que concerne aos crimes contra o patrimônio, (B) doença mental ou desenvolvimento mental incom-
(A) se o agente obteve vantagem ilícita, em prejuízo pleto ou retardado, que torna o autor, ao tempo da ação ou
da vítima, mediante fraude, responderá pelo delito de ex- da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
torsão. do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendi-
(B) se, no crime de roubo, em razão da violência em- mento.
pregada pelo agente, a vítima sofreu lesões corporais leves, (C) emoção
a pena aumenta-se de um terço. (D) paixão.
(C) se configura o crime de receptação mesmo se a coi- (E) embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força
maior, que privou o autor, ao tempo da ação ou da omissão,
sa tiver sido adquirida pelo agente sabendo ser produto de
da plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou
crime não classificado como de natureza patrimonial.
de determinar-se de acordo com esse entendimento.
(D) não comete infração penal quem se apropria de
coisa alheia vinda a seu poder por erro, caso fortuito ou Respostas
força da natureza. 01. D.
(E) o corte e a subtração de eucaliptos de propriedade O preso não tem o direito de fugir, muito pelo contrário,
alheia não configura, em tese, o crime de furto por não se conforme estabelecido no Art. 50 da lei em análise:
tratar de bem móvel. Art. 50. = Comete falta grave o condenado à pena privati-
va de liberdade que: II – fugir.

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CÓDIGO PENAL

02. E. Embora o direito de punir continue sendo estatal, a ini-


A questão pediu apenas a letra da lei, ou seja, a letra ciativa se transfere ao ofendido quando os delitos atingem
“G” do art. 4º da lei 4898/65, que é uma letra morta, uma sua intimidade, de forma que pode optar por não levar a
vez que há a inaplicabilidade desse tipo penal por não existir questão a juízo, assim a legitimidade ativa é do próprio
no sistema carcerário brasileiro quaisquer custas ou emo- particular ofendido.
lumentos ou outras despesas semelhantes, tornando esse
tipo penal inaplicável. Dessa forma, se o agente praticar 08. A.
essa conduta ela será ATÍPICA em relação ao delito de abu- Código Penal:
so de autoridade. Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou
03. E. grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para ou-
O Artigo 3º da Lei do Abuso de Autoridade assim pre- trem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se
ceitua: faça ou deixar fazer alguma coisa:
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer aten- Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
tado: § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas,
(A) à liberdade de locomoção; ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço
(B) à inviolabilidade do domicílio; até metade.
(C) ao sigilo da correspondência; § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência
(D) à liberdade de consciência e de crença; o disposto no § 3º do artigo anterior.
(E) ao livre exercício do culto religioso; § 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da
f) à liberdade de associação; liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exer- obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão,
cício do voto; de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão
corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
h) ao direito de reunião;
art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exer-
09. B.
cício profissional.
Código Penal:
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora de-
04. C. corrido o período de sua duração ou cessadas as circuns-
(Peculato) Art. 312 do CP - Apropriar-se o funcionário tâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado
público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, durante sua vigência.
público ou particular, de que tem a posse em razão do car-
go, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio 10. E.
Código Penal:
05. C. Art. 28(...)
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era,
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
adquira, receba ou oculte: entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. acordo com esse entendimento.
2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se
06. B. o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou
Código Penal: força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão,
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou
outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
depois de havê-la, por qualquer meio,

07. A.
Furto de coisa comum
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio,
para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a
coisa comum:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou
multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum
fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito
o agente.

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CÓDIGO PENAL

Aumento de pena
2.3.9 - DOS CRIMES CONTRA A § 2º - As penas aumentam-se de um terço, se ocorre
INCOLUMIDADE PÚBLICA: qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, do artigo anterior,
ARTIGOS 250 A 285; ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no
nº II do mesmo parágrafo.
Modalidade culposa
§ 3º - No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou
É a condição de estar livre de perigo ou dano, ileso, substância de efeitos análogos, a pena é de detenção, de
incólume. É o estado de preservação ou segurança de seis meses a dois anos; nos demais casos, é de detenção, de
pessoas ou de coisas em relação a possíveis eventos lesivos. três meses a um ano.
O legislador ao empregar a expressão “incolumidade Uso de gás tóxico ou asfixiante
pública”, incriminou condutas atentatórias à vida, ao Art. 252 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou
patrimônio e à segurança de pessoas indeterminadas. o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante:
Alguns resultados previstos no art. 258 do Código Pe- Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Modalidade Culposa
nal podem majorar as penas. Isso ocorrerá quando tais re-
Parágrafo único - Se o crime é culposo:
sultados não forem a finalidade da ação do agente, mas
Pena - detenção, de três meses a um ano.
ocorrerem a título de culpa.
Fabrico, fornecimento, aquisição posse ou transpor-
Esse agravo de pena pode acontecer tanto nas moda- te de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante
lidades dolosas dos crimes, quanto em suas versões cul- Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou trans-
posas. portar, sem licença da autoridade, substância ou engenho
explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à
TÍTULO VIII sua fabricação:
DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
CAPÍTULO I Inundação
DOS CRIMES DE PERIGO COMUM Art. 254 - Causar inundação, expondo a perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem:
Incêndio Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso de
Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a dolo, ou detenção, de seis meses a dois anos, no caso de
integridade física ou o patrimônio de outrem: culpa.
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. Perigo de inundação
Aumento de pena Art. 255 - Remover, destruir ou inutilizar, em prédio pró-
§ 1º - As penas aumentam-se de um terço: prio ou alheio, expondo a perigo a vida, a integridade física
I - se o crime é cometido com intuito de obter vanta- ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra des-
gem pecuniária em proveito próprio ou alheio; tinada a impedir inundação:
II - se o incêndio é: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
a) em casa habitada ou destinada a habitação; Desabamento ou desmoronamento
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a Art. 256 - Causar desabamento ou desmoronamento,
obra de assistência social ou de cultura; expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de de outrem:
transporte coletivo; Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
d) em estação ferroviária ou aeródromo; Modalidade culposa
Parágrafo único - Se o crime é culposo:
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
Pena - detenção, de seis meses a um ano.
f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamá-
Subtração, ocultação ou inutilização de material de
vel;
salvamento
g) em poço petrolífico ou galeria de mineração; Art. 257 - Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou cala-
Incêndio culposo midade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a
§ 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento; ou
seis meses a dois anos. impedir ou dificultar serviço de tal natureza:
Explosão Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou Formas qualificadas de crime de perigo comum
o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta
simples colocação de engenho de dinamite ou de substân- lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liber-
cia de efeitos análogos: dade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corpo-
§ 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou ral, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-
explosivo de efeitos análogos: -se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. um terço.

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CÓDIGO PENAL

Difusão de doença ou praga § 1º - Se do fato resulta desastre, a pena é de reclusão,


Art. 259 - Difundir doença ou praga que possa causar de dois a cinco anos.
dano a floresta, plantação ou animais de utilidade econô- § 2º - No caso de culpa, se ocorre desastre:
mica: Pena - detenção, de três meses a um ano.
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Forma qualificada
Modalidade culposa Art. 263 - Se de qualquer dos crimes previstos nos arts.
Parágrafo único - No caso de culpa, a pena é de deten- 260 a 262, no caso de desastre ou sinistro, resulta lesão
ção, de um a seis meses, ou multa. corporal ou morte, aplica-se o disposto no art. 258.
Arremesso de projétil
CAPÍTULO II Art. 264 - Arremessar projétil contra veículo, em movi-
DOS CRIMES CONTRA A mento, destinado ao transporte público por terra, por água
SEGURANÇA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ou pelo ar:
E TRANSPORTE E OUTROS SERVIÇOS PÚBLICOS Pena - detenção, de um a seis meses.
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal, a
Perigo de desastre ferroviário pena é de detenção, de seis meses a dois anos; se resulta
Art. 260 - Impedir ou perturbar serviço de estrada de morte, a pena é a do art. 121, § 3º, aumentada de um terço.
ferro: Atentado contra a segurança de serviço de utilida-
I - destruindo, danificando ou desarranjando, total ou de pública
parcialmente, linha férrea, material rodante ou de tração, Art. 265 - Atentar contra a segurança ou o funciona-
obra-de-arte ou instalação; mento de serviço de água, luz, força ou calor, ou qualquer
II - colocando obstáculo na linha; outro de utilidade pública:
III - transmitindo falso aviso acerca do movimento dos Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
veículos ou interrompendo ou embaraçando o funciona- Parágrafo único - Aumentar-se-á a pena de 1/3 (um
mento de telégrafo, telefone ou radiotelegrafia; terço) até a metade, se o dano ocorrer em virtude de sub-
IV - praticando outro ato de que possa resultar de- tração de material essencial ao funcionamento dos servi-
sastre: ços. (Incluído pela Lei nº 5.346, de 3.11.1967)
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico,
Desastre ferroviário telefônico, informático, telemático ou de informação
§ 1º - Se do fato resulta desastre: de utilidade pública (Redação dada pela Lei nº 12.737, de
Pena - reclusão, de quatro a doze anos e multa. 2012) Vigência
§ 2º - No caso de culpa, ocorrendo desastre:
Art. 266 - Interromper ou perturbar serviço telegráfico,
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
radiotelegráfico ou telefônico, impedir ou dificultar-lhe o
§ 3º - Para os efeitos deste artigo, entende-se por
restabelecimento:
estrada de ferro qualquer via de comunicação em que
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por
§ 1o Incorre na mesma pena quem interrompe serviço
meio de cabo aéreo.
telemático ou de informação de utilidade pública, ou impe-
Atentado contra a segurança de transporte maríti-
de ou dificulta-lhe o restabelecimento. (Incluído pela Lei nº
mo, fluvial ou aéreo
12.737, de 2012) Vigência
Art. 261 - Expor a perigo embarcação ou aeronave,
própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a im- § 2o Aplicam-se as penas em dobro se o crime é come-
pedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea: tido por ocasião de calamidade pública. (Incluído pela Lei
Pena - reclusão, de dois a cinco anos. nº 12.737, de 2012) Vigência
Sinistro em transporte marítimo, fluvial ou aéreo CAPÍTULO III
§ 1º - Se do fato resulta naufrágio, submersão ou DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
encalhe de embarcação ou a queda ou destruição de
aeronave: Epidemia
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de
Prática do crime com o fim de lucro germes patogênicos:
§ 2º - Aplica-se, também, a pena de multa, se o agente Pena - reclusão, de dez a quinze anos. (Redação dada
pratica o crime com intuito de obter vantagem econômica, pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
para si ou para outrem. § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em
Modalidade culposa dobro.
§ 3º - No caso de culpa, se ocorre o sinistro: § 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos.
Atentado contra a segurança de outro meio de Infração de medida sanitária preventiva
transporte Art. 268 - Infringir determinação do poder público,
Art. 262 - Expor a perigo outro meio de transporte destinada a impedir introdução ou propagação de doença
público, impedir-lhe ou dificultar-lhe o funcionamento: contagiosa:
Pena - detenção, de um a dois anos. Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.

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CÓDIGO PENAL

Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, § 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa,
se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de
profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro. qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto
Omissão de notificação de doença falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. (Redação
Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
pública doença cuja notificação é compulsória: § 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas,
Envenenamento de água potável ou de substância os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e
alimentícia ou medicinal os de uso em diagnóstico. (Incluído pela Lei nº 9.677, de
Art. 270 - Envenenar água potável, de uso comum ou 2.7.1998)
particular, ou substância alimentícia ou medicinal destina- § 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem
da a consumo: pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos
Pena - reclusão, de dez a quinze anos. (Redação dada em qualquer das seguintes condições: (Incluído pela Lei nº
pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) 9.677, de 2.7.1998)
§ 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigi-
consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, lância sanitária competente; (Incluído pela Lei nº 9.677, de
a água ou a substância envenenada. 2.7.1998)
Modalidade culposa II - em desacordo com a fórmula constante do registro
§ 2º - Se o crime é culposo: previsto no inciso anterior; (Incluído pela Lei nº 9.677, de
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 2.7.1998)
Corrupção ou poluição de água potável III - sem as características de identidade e qualidade
Art. 271 - Corromper ou poluir água potável, de uso admitidas para a sua comercialização; (Incluído pela Lei nº
comum ou particular, tornando-a imprópria para consumo 9.677, de 2.7.1998)
ou nociva à saúde: IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua
Pena - reclusão, de dois a cinco anos. atividade; ((Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
Modalidade culposa V - de procedência ignorada; (Incluído pela Lei nº
Parágrafo único - Se o crime é culposo: 9.677, de 2.7.1998)
Pena - detenção, de dois meses a um ano. VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da au-
Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração
toridade sanitária competente. (Incluído pela Lei nº 9.677,
de substância ou produtos alimentícios (Redação dada
de 2.7.1998)
pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
Modalidade culposa
Art. 272 - Corromper, adulterar, falsificar ou alterar
§ 2º - Se o crime é culposo: 
substância ou produto alimentício destinado a consumo,
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Re-
tornando-o nociva à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutri-
dação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
tivo: (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
Emprego de processo proibido ou de substância
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e mul-
ta. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) não permitida
§ 1º-A - Incorre nas penas deste artigo quem fabrica, Art. 274 - Empregar, no fabrico de produto destinado a
vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para consumo, revestimento, gaseificação artificial, matéria co-
vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a rante, substância aromática, anti-séptica, conservadora ou
consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, qualquer outra não expressamente permitida pela legisla-
corrompido ou adulterado. (Incluído pela Lei nº 9.677, de ção sanitária:
2.7.1998) Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e mul-
§ 1º - Está sujeito às mesmas penas quem pratica as ta. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
ações previstas neste artigo em relação a bebidas, com ou Invólucro ou recipiente com falsa indicação
sem teor alcoólico. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de Art. 275 - Inculcar, em invólucro ou recipiente de pro-
2.7.1998) dutos alimentícios, terapêuticos ou medicinais, a existência
Modalidade culposa de substância que não se encontra em seu conteúdo ou
§ 2º - Se o crime é culposo: (Redação dada pela Lei nº que nele existe em quantidade menor que a mencionada:
9.677, de 2.7.1998) (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e mul- Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e mul-
ta. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) ta. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração Produto ou substância nas condições dos dois ar-
de produto destinado a fins terapêuticos ou medici- tigos anteriores
nais (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Art. 276 - Vender, expor à venda, ter em depósito para
Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo produ-
produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: (Re- to nas condições dos arts. 274 e 275.
dação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e mul- (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
ta. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Substância destinada à falsificação

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CÓDIGO PENAL

Art. 277 - Vender, expor à venda, ter em depósito ou


ceder substância destinada à falsificação de produtos ali-
mentícios, terapêuticos ou medicinais:(Redação dada pela 2.3.10 - DOS CRIMES CONTRA A PAZ
Lei nº 9.677, de 2.7.1998) PÚBLICA: ARTIGOS 286 A 288;
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e mul-
ta. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
Outras substâncias nocivas à saúde pública DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA
Art. 278 - Fabricar, vender, expor à venda, ter em de- (...)
pósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a con- TÍTULO IX
sumo coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA
destinada à alimentação ou a fim medicinal:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Incitação ao crime
Modalidade culposa Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:
Parágrafo único - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Substância avariada Apologia de crime ou criminoso
Art. 279 - (Revogado pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato crimi-
Medicamento em desacordo com receita médica noso ou de autor de crime:
Art. 280 - Fornecer substância medicinal em desacor- Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
do com receita médica:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa. Associação Criminosa
Modalidade culposa Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para
Parágrafo único - Se o crime é culposo: o fim específico de cometer crimes: (Redação dada pela Lei
Pena - detenção, de dois meses a um ano. nº 12.850, de 2013) (Vigência)
Comércio clandestino ou facilitação de uso de en- Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação
torpecentes dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência)
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a
COMÉRCIO, POSSE OU USO DE ENTORPECENTE OU associação é armada ou se houver a participação de criança
SUBSTÂNCIA QUE DETERMINE DEPENDÊNCIA FÍSICA ou adolescente. (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013)
OU PSÍQUICA. (Redação dada pela Lei nº 5.726, de 1971) (Vigência)
(Revogado pela Lei nº 6.368, 1976)
Constituição de milícia privada (Incluído dada pela Lei
Art. 281. (Revogado pela Lei nº 6.368, 1976) nº 12.720, de 2012)
Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou far- Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou
macêutica custear organização paramilitar, milícia particular, grupo
Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profis- ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos
são de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização crimes previstos neste Código: (Incluído dada pela Lei nº
legal ou excedendo-lhe os limites: 12.720, de 2012)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. (Incluído
Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
lucro, aplica-se também multa.
Charlatanismo
Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto
ou infalível:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Curandeirismo
Art. 284 - Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitual-
mente, qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante re-
muneração, o agente fica também sujeito à multa.
Forma qualificada
Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes
previstos neste Capítulo, salvo quanto ao definido no art.
267.

50
CÓDIGO PENAL

Exercícios Complementares PC – SP - Atendente de necrotério – VUNESP – 2013


- QUESTÃO 03.
PC – SP - Atendente de necrotério – VUNESP – 2013 Servidor Público que exige dinheiro de cidadão para
- QUESTÃO 01. fornecer documento que teria, por disposição expressa
Diante do exposto, “A” poderá responder pelo crime de de lei, que entregar gratuitamente por ato de ofício co-
(A) homicídio culposo tentado, pois “B” somente não mete o crime de
morreu por circunstâncias alheias à vontade de “A”. (A) prevaricação.
(B) lesão corporal dolosa, uma vez que “B”, apesar de (B) peculato.
ser atingido, não morreu. (C) corrupção passiva.
(C) lesão corporal dolosa e homicídio doloso tentado, (D) concussão.
pois “B” somente não morreu por circunstâncias alheias à (E) excesso de exação.
vontade de “A”.
(D) homicídio doloso consumado, pois “B” somente 03. D.
não morreu por circunstâncias alheias à vontade de “A”. CP
(E) homicídio doloso tentado, pois “B” somente não Art. 316.
morreu por circunstâncias alheias à vontade de “A”. Concussão
Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamen-
01. E. te, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
CP em razão dela, vantagem indevida.
Tentativa
Art. 14, inc. II CP - tentado, quando, iniciada a execu- PC – SP - Atendente de necrotério – VUNESP –
ção, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade 2013 - QUESTÃO 04.
do agente. Dentre os seguintes crimes contra o respeito aos
mortos, aquele que possui pena de reclusão é:
PC – SP - Atendente de necrotério – VUNESP – 2013 (A) perturbar cerimônia funerária.
- QUESTÃO 02. (B) violar sepultura.
Das alternativas a seguir, assinale a correta, acrescen- (C) vilipendiar cadáver.
tando ao texto dado a seguinte informação: ao perceber (D) perturbar enterro.
que “A” estava atirando em sua direção, “B”, mesmo lesio- (E) impedir cerimônia funerária.
nado pelos disparos, sacou de sua arma e repeliu a agres-
são, atingindomortalmente o agressor. 04. B.
(A) “B” não praticou crime, pois agiu em legítima de- CP
fesa. Violação de sepultura
(B) “B” praticou homicídio culposo, em razão de estar Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou urna fune-
no estrito cumprimento do dever legal. rária:
(C) “B” praticou homicídio culposo, em razão de estar Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
em legítima defesa.
(D) “B” não praticou crime, pois agiu no exercício regu- PC – SP - Auxiliar de necropsia – VUNESP – 2014 -
lar de direito. QUESTÃO 05.
(E) “B” não praticou crime, pois agiu no estrito cumpri- Medusa, sob a influência do estado puerperal, veio
mento do dever legal. a matar o seu próprio filho recém-nascido, logo após o
parto. Segundo o que estabelece o Código Penal em rela-
02. A. ção a essa conduta, é correto afirmar que Medusa (A) co-
CP meteu o crime de infanticídio, mas ficará livre da pena em
Exclusão de ilicitude (Redação dada pela Lei nº 7.209, razão de ter agido sob a influência do estado puerperal.
de 11.7.1984) (B) cometeu o crime de homicídio, mas ficará livre da
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: pena por ter agido sob a influência do estado puerperal.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (C) cometeu o crime de homicídio.
I - em estado de necessidade; (Incluído pela Lei nº (D) cometeu o crime de homicídio, mas terá sua pena
7.209, de 11.7.1984) reduzida por ter agido sob a influência do estado puer-
II - em legítima defesa;(Incluído pela Lei nº 7.209, de peral.
11.7.1984) (E) cometeu o crime de infanticídio.
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no
exercício regular de direito.(Incluído pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
Legítima defesa
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usan-
do moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem

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CÓDIGO PENAL

05. E. PC – SP - Auxiliar de necropsia – VUNESP – 2014-


CP QUESTÃO 08.
Infanticídio Perivaldo é perito criminal e está atuando em processo
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, administrativo de interesse do Estado, porém, ao entregar
o próprio filho, durante o parto ou logo após: laudo pericial, omitiu-se em dizer a verdade sobre determi-
Pena - detenção, de dois a seis anos. nado fato relevante. Nesse caso, segundo dispõe o Código
Penal, é correto afirmar que Perivaldo
PC – SP - Auxiliar de necropsia – VUNESP – 2014 - (A) não cometeu crime algum, uma vez que para carac-
QUESTÃO 06. terizar o crime teria que estar atuando em processo judicial.
Herculano é inimigo de Tércio. Este faleceu, e seu corpo (B) cometeu o crime de falsa perícia.
foi cremado. Ainda com muito ódio de seu finado desafeto, (C) cometeu o crime de omissão dolosa contra o Es-
Herculano, logo após a cerimônia funerária, veio a despejar tado.
líquido sujo sobre as cinzas do cadáver de Tércio. Nessa (D) não cometeu crime algum, uma vez que para carac-
situação, o Código Penal dispõe que Herculano terizar o crime teria que ter feito afirmação falsa.
(A) deverá responder pelo crime de vilipêndio a cadá- (E) cometeu o crime de advocacia administrativa.
ver.
(B) deverá responder pelo crime de destruição de ca- 08. B.
dáver. Falso testemunho ou falsa perícia
(C) deverá responder pelo crime de perturbação de ce- Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a ver-
rimônia funerária. dade como testemunha, perito, contador, tradutor ou in-
(D) deverá responder pelo crime de perturbação do térprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito
sossego alheio. policial, ou em juízo arbitral.
(E) não deverá responder por crime algum, visto que
sua conduta não configura crime. PC – SP - Auxiliar de necropsia – VUNESP – 2013-
QUESTÃO 09. Diz-se o crime
06. A. (A) doloso quando o agente não quis o resultado ou
CP assumiu o risco de produzi-lo.
Vilipêndio a cadáver (B) culposo quando o agente quis o resultado, mas não
Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas: assumiu o risco de produzi-lo.
(C) tentado quando, iniciada a execução, não se consu-
PC – SP - Auxiliar de necropsia – VUNESP – 2014 - ma por circunstâncias da vontade do agente.
QUESTÃO 07. (D) culposo quando o agente deu causa ao resultado
A conduta criminosa de peculato corresponde à se- por imprudência, negligência ou imperícia.
guinte definição legal: (E) tentado quando o agente, voluntariamente, desiste
(A) patrocinar, direta ou indiretamente, interesse priva- de prosseguir na execução ou impede que o resultado se
do perante a administração pública, valendo-se da qualida- produza.
de de funcionário.
(B) extraviar livro oficial ou qualquer documento de 09. D.
que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutili- CP
zá-lo, total ou parcialmente. Art. 18.
(C) exigir, para si ou para outrem, direta ou indireta- Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
mente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado
mas em razão dela, vantagem indevida. por imprudência, negligência ou imperícia. (Incluído pela
(D) apropriar-se o funcionário público de dinheiro, va- Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
lor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de
que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em pro-
veito próprio ou alheio.
(E) retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato
de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei,
para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

07. D.
Peculato
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinhei-
ro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particu-
lar, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo,
em proveito próprio ou alheio:

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CÓDIGO PENAL

PC – SP - Auxiliar de necropsia – VUNESP – 2013-


QUESTÃO 10. ANOTAÇÕES
Assinale a alternativa correta.
(A) Considera-se roubo constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ___________________________________________________
ou para outrem indevida vantagem econômica.
(B) No homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um ter- ___________________________________________________
ço) até a metade se o crime for praticado por milícia priva-
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da, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança,
ou por grupo de extermínio. ___________________________________________________
(C) Na lesão corporal, o agente ficará isento de pena se
cometer o crime impelido por motivo de relevante valor so- ___________________________________________________
cial ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo
em seguida a injusta provocação da vítima. ___________________________________________________
(D) Matar, sob a influência do estado puerperal, o pró- ___________________________________________________
prio filho, durante o parto ou logo após, trata-se de homi-
cídio qualificado por motivo torpe. ___________________________________________________
(E) Aquele que obtém, para si ou para outrem, vanta-
gem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo al- ___________________________________________________
guém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro
meio fraudulento, comete o crime de receptação. ___________________________________________________

___________________________________________________
10. B.
Art. 121. Matar alguém: ___________________________________________________
[...]
Aumento de pena ___________________________________________________
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a meta-
___________________________________________________
de se o crime for praticado por milícia privada, sob o pre-
texto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo ___________________________________________________
de extermínio.
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CÓDIGO PENAL

ANOTAÇÕES

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

2.4.1 - Do Inquérito Policial: artigos 4.º a 23;................................................................................................................................................ 01


2.4.2 Da Ação Penal: artigos 24 a 62;................................................................................................................................................................ 06
2.4.3 Das Incompatibilidades e Impedimentos: artigo 112;..................................................................................................................... 09
2.4.2 - Da Restituição de Coisas Apreendidas - artigos 118 a 124;...................................................................................................... 09
2.4.4 - Das Provas: artigos 155 a 250;............................................................................................................................................................... 10
2.4.5 - Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberdade Provisória: artigos 282 a 350............................................................ 22
2.4.3 - Das Medidas Assecuratórias - artigos 125 a 144-A;..................................................................................................................... 39
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Os destinatários do IP são os autores da Ação Penal,


2.4 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL 2.4.1 DO ou seja, o Ministério Público ( no caso de ação Penal de
INQUÉRITO POLICIAL: ARTIGOS 4º A 23; Iniciativa Pública) ou o querelante (no caso de Ação Penal
de Iniciativa Privada). Excepcionalmente o juiz poderá ser
destinatário do Inquérito, quando este estiver diante de
cláusula de reserva de jurisdição.
Inquérito Policial O inquérito policial não é indispensável para a proposi-
tura da ação penal. Este será dispensável quando já se tiver
O Inquérito Policial é o procedimento administrativo a materialidade e indícios de autoria do crime. Entretanto,
persecutório, informativo, prévio e preparatório da Ação se não se tiver tais elementos, o IP será indispensável, con-
Penal. É um conjunto de atos concatenados, com unidade forme disposição do artigo 39, § 5º do Código de Processo
e fim de perseguir a materialidade e indícios de autoria de Penal.
um crime. O inquérito Policial averígua determinado crime A sentença condenatória será nula, quando funda-
e precede a ação penal, sendo considerado, portanto como mentada exclusivamente nas provas produzidas no inqué-
pré-processual. rito policial. Conforme o artigo 155 do CPP, o Inquérito
Composto de provas de autoria e materialidade de cri- serve apenas como reforço de prova.
me, que, comumente são produzidas por Investigadores de O inquérito deve ser escrito, sigiloso, unilateral e inqui-
Polícia e Peritos Criminais, o inquérito policial é organizado sitivo. A competência de instauração poderá ser de ofício
e numerado pelo Escrivão de Polícia, e presidido pelo De- (Quando se tratar de ação penal pública incondicionada),
legado de Polícia. por requisição da autoridade judiciária ou do Ministério
Importante esclarecer que não há litígio no Inquérito
Público, a pedido da vítima ou de seu representante legal
Policial, uma vez que inexistem autor e réu. Apenas figura a
ou mediante requisição do Ministro da Justiça.
presença do investigado ou acusado.
O Inquérito Policial se inicia com a notitia criminis, ou
Do mesmo modo, há a ausência do contraditório e da
seja, com a notícia do crime. O Boletim de Ocorrência (BO)
ampla defesa, em função de sua natureza inquisitória e em
razão d a polícia exercer mera função administrativa e não não é uma forma técnica de iniciar o Inquérito, mas este
jurisdicional. se destina às mãos do delegado e é utilizado para realizar
Sob a égide da constituição federal, Aury Lopes Jr. de- a Representação, se o crime for de Ação de Iniciativa Penal
fine: Pública condicionada à Representação, ou para o requeri-
“Inquérito é o ato ou efeito de inquirir, isto é, procurar mento, se o crime for de Ação Penal da Iniciativa Privada.
informações sobre algo, colher informações acerca de um No que concerne à delacio criminis inautêntica, ou
fato, perquirir”. (2008, p. 241). seja, a delação ou denúncia anônima, apesar de a Consti-
Em outras palavras, o inquérito policial é um procedi- tuição Federal vedar o anonimato, o Supremo Tribunal de
mento administrativo preliminar, de caráter inquisitivo, pre- Justiça se manifestou a favor de sua validade, desde que
sidido pela autoridade policial, que visa reunir elementos utilizada com cautela.
informativos com objetivo de contribuir para a formação As peças inaugurais do inquérito policial são a Portaria
da “opinio delicti” do titular da ação penal. (Ato de ofício do delegado, onde ele irá instaurar o inqué-
A Polícia ostensiva ou de segurança (Polícia Militar) rito), o Auto de prisão em flagrante (Ato pelo qual o dele-
tem por função evitar a ocorrência de crimes. Já a Polícia gado formaliza a prisão em flagrante), o Requerimento do
Judiciária (Civil e Federal) se incumbe se investigar a ocor- ofendido ou de seu representante legal (Quando a vítima
rência de infrações penais. Desta forma, a Polícia Judiciária, ou outra pessoa do povo requer, no caso de Ação Penal
na forma de seus delegados é responsável por presidir o de Iniciativa Privada), a Requisição do Ministério Público
Inquérito Policial. ou do Juiz.
Entretanto, conforme o artigo 4º do Código de Pro- No IP a decretação de incomunicabilidade (máximo
cesso Penal Brasileiro, em seu parágrafo único, outras au- de três dias) é exclusiva do juiz, a autoridade policial não
toridades também poderão presidir o inquérito, como nos poderá determiná-la de ofício. Entretanto, o advogado po-
casos de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI’s), derá comunicar-se com o preso, conforme dispõe o artigo
Inquéritos Policiais Militares (IPM’s) e investigadores par- 21 do Código de Processo Penal, em seu parágrafo único.
ticulares. Este último exemplo é aceito pelajurisprudência, Concluídas as investigações, a autoridade policial en-
desde que respeite as garantias constitucionais e não utili-
caminha o ofício ao juiz, desta forma, depois de saneado
ze provas ilícitas.
o juiz o envia ao promotor, que por sua vez oferece a de-
A atribuição para presidir o inquérito se dá em função
núncia ou pede arquivamento.
da competência ratione loci, ou seja, em razão do lugar
O prazo para a conclusão do inquérito, conforme o
onde se consumou o crime. Desta forma, ocorrerá a inves-
tigação onde ocorreu o crime. A atribuição do delegado artigo 10 caput e § 3º do Código de Processo Penal, será
será definida pela sua circunscrição policial, com exceção de dez dias se o réu estiver preso, e de trinta dias se estiver
das delegacias especializadas, como a delegacia da mulher solto. Entretanto, se o réu estiver solto, o prazo poderá ser
e de tóxicos, dentre outras. prorrogado se o delegado encaminhar seu pedido ao juiz,
e este para o Ministério Público.

1
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Na Polícia Federal, o prazo é de quinze dias se o in- vez que alguns profissionais possuem acesso ao mesmo,
diciado estiver preso (prorrogável por mais quinze). Nos como é o exemplo do juiz, do promotor de justiça e do
crimes de tráfico ilícito de entorpecentes o prazo é de trinta advogado do ofendido, vide Estatuto da OAB, lei 8.906/94,
dias se o réu estiver preso e noventa dias se estiver solto, art. 7º, XIX. O advogado tem o direito de consultar os autos
esse prazo é prorrogável por igual período, conforme dis- dos IP, ainda que sem procuração para tal.
posição da Lei 11.343 de 2006. Nesse sentido, a súmula vinculante nº 14, do STF: “É
O arquivamento do inquérito consiste da paralisação direito do defensor, no interesse do representado, ter aces-
das investigações pela ausência de justa causa (materia- so amplo aos elementos de prova, que já documentados
lidade e indícios de autoria), por atipicidade ou pela ex- em procedimento investigatório realizado por órgão com
tinção da punibilidade. Este deverá ser realizado pelo Mi- competência de polícia judiciária, digam respeito ao exer-
nistério Público. O juiz não poderá determinar de ofício, o cício do direito de defesa.” Em observação mais detalhada,
arquivamento do inquérito, sem a manifestação do Minis- conclui-se que o que está em andamento não é de direito
tério Público do advogado, mas somente o que já fora devidamente do-
O desarquivamento consiste na retomada das investi- cumentado. Diante disso, faz-se necessária a seguinte refle-
gações paralisadas, pelo surgimento de uma nova prova. xão: Qual o real motivo da súmula? O Conselho federal da
OAB, - indignado pelo não cumprimento do que disposto
Procedimento inquisitivo: no Estatuto da OAB - decidiu provocar o STF para edição da
Todas as funções estão concentradas na mão de única súmula vinculante visando garantir ao advogado acesso aos
pessoa, o delegado de polícia. autos. Como precedentes da súmula: HC 87827 e 88190 –
Recordando sobre sistemas processuais, suas modali- STF; HC 120.132 – STJ.
dades são: inquisitivo, acusatório e misto. O inquisitivo pos-
Importante ressaltar que quanto ao sigilo, a súmula nº
sui funções concentradas nas mãos de uma pessoa. O juiz
14 não garante ao advogado o direito de participar nas di-
exerce todas as funções dentro do processo. No acusatório
ligências. O sigilo é dividido em interno e externo. Sigilo
puro, as funções são muito bem definidas. O juiz não busca
interno: possui duas vertentes, sendo uma positiva e ou-
provas. O Brasil adota o sistema acusatório não-ortodoxo.
tra negativa. A positiva versa sobre a possibilidade do juiz/
No sistema misto: existe uma fase investigatória, presidida
MP acessarem o IP. A negativa, sobre a não possibilidade de
por autoridade policial e uma fase judicial, presidida pelo
acesso aos autos pelo advogado e investigado (em algumas
juiz inquisidor.
diligências). E na eventualidade do delegado negar vista ao
advogado? Habeas corpus preventivo (profilático); manda-
Discricionariedade: do de segurança (analisado pelo juiz criminal).
Existe uma margem de atuação do delegado que atua-
rá de acordo com sua conveniência e oportunidade. A ma- Procedimento escrito:
terialização dessa discricionariedade se dá, por exemplo, Os elementos informativos produzidos oralmente de-
no indeferimento de requerimentos. O art. 6º do Código vem ser reduzidos a termo. O termo “eventualmente dati-
de Processo Penal, apesar de trazer diligências, não retira lografado” deve ser considerado, através de uma interpre-
a discricionariedade do delegado. Diante da situação apre- tação analógica, como “digitado”. A partir de 2009, a lei
sentada, poderia o delegado indeferir quaisquer diligên- 11.900/09 passou a autorizar a documentação e captação
cias? A resposta é não, pois há exceção. Não cabe ao de- de elementos informativos produzidos através de som e
legado de polícia indeferir a realização do exame de corpo imagem (através de dispositivos de armazenamento).
de delito, uma vez que o ordenamento jurídico veda tal
prática. Caso o delegado opte por indeferir o exame, duas Indisponível:
serão as possíveis saídas: a primeira, requisitar ao Ministé- A autoridade policial não pode arquivar o inquérito poli-
rio Público. A segunda, segundo Tourinho Filho, recorrer cial. O delegado pode sugerir o arquivamento, enquanto o MP
ao Chefe de Polícia (analogia ao art. 5º, §2º, CPP). Outra pede o arquivamento. O sistema presidencialista é o que vigo-
importante observação: O fato de o MP e juiz realizarem ra para o trâmite do IP, ou seja, deve passar pelo magistrado.
requisição de diligências mitigaria a discricionariedade do Importante ilustrar que poderá o delegado deixar de
delegado? Não, pois a requisição no processo penal é tra- instaurar o inquérito nas seguintes hipóteses:
tada como ordem, ou seja, uma imposição legal. O dele- 1) se o fato for atípico (atipicidade material);
gado responderia pelo crime de prevaricação (art. 319 do 2) não ocorrência do fato;
Código Penal), segundo a doutrina majoritária. 3) se estiverem presentes causas de extinção de punibi-
lidade, como no caso da prescrição.
Procedimento sigiloso: Contudo o delegado não poderá invocar o princípio da
O inquérito policial tem o sigilo natural como caracte- insignificância com o objetivo de deixar de lavrar o auto de
rística em razão de duas finalidades: 1) Eficiência das inves- prisão em flagrante ou de instaurar inquérito policial. No
tigações; 2) Resguardar imagem do investigado. O sigilo é que tange à excludente de ilicitude, a doutrina majoritária
intrínseco ao IP, diferente da ação penal, uma vez que não entende que o delegado deve instaurar o inquérito e ratifi-
é necessária a declaração de sigilo no inquérito. Apesar de car o auto de prisão em flagrante, uma vez que a função da
sigiloso, deve-se considerar a relativização do mesmo, uma autoridade policial é subsunção do fato à norma.

2
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Dispensável: realizadas no curso do inquérito. O mesmo só passa pelo


Dita o art. 12 do CPP: juiz devido ao fato de o Código de Processo Penal adotar o
sistema presidencialista, já citado anteriormente. Entretan-
Art. 12 - O inquérito policial acompanhará a denúncia ou to, apesar dessa adoção, este caminho adotado pela auto-
queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. ridade policial poderia ser capaz de ferir o sistema acusa-
O termo “sempre que servir” corresponde ao fato de que, tório, que é adotado pelo CPP (pois ainda não há relação
possuindo o titular da ação penal, elementos para propositu- jurídica processual penal).
ra, lastro probatório idôneo de fontes diversas, por exemplo, Os estados do Rio de Janeiro e Bahia adotaram a Cen-
o inquérito poderá ser dispensado. tral de inquéritos policiais, utilizada para que a autoridade
policial remetesse os autos à central gerida pelo Ministério
Segundo o art. 46, §1º do mesmo dispositivo legal: Público. Os respectivos tribunais reagiram diante da situação.

“Art. 46 - O prazo para oferecimento da denúncia, estan- INDICIAMENTO


do o réu preso, será de 5 (cinco) dias, contado da data em que
o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito O indiciamento é a individualização do investigado/
policial, e de 15 (quinze) dias, se o réu estiver solto ou afian- suspeito. Há a transição do plano da possibilidade para o
çado. No último caso, se houver devolução do inquérito à au- campo da probabilidade, ou seja, da potencialização do
toridade policial (Art. 16), contar-se-á o prazo da data em que suspeito. Na presente hipótese, deve o delegado comuni-
o órgão do Ministério Público receber novamente os autos. car os órgãos de identificação e estatística. Sobre o mo-
§ 1º - Quando o Ministério Público dispensar o inquérito mento do indiciamento, o CPP não prevê de forma exata,
policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á podendo ser realizado em todas as fases do inquérito poli-
da data em que tiver recebido as peças de informações ou a cial (instauração, curso e conclusão).
representação.” Não é possível desindiciar o indivíduo uma vez que
representa uma espécie de arquivamento subjetivo em re-
Outras formas de investigação criminal lação ao indiciado. Em contrapartida, há posicionamento
a) CPIs: Inquérito parlamentar. Infrações ou faltas funcio- diverso, com assentamento na idéia de que o desindicia-
nais e aqueles crimes de matéria de alta relevância; mento é possível pelo fato de o IP ser um procedimento
b) IPM: Inquérito policial militar. Instrumento para investi- administrativo. Assim sendo, a autoridade policial goza de
gação de infrações militares próprias; autotutela, ou seja, da capacidade de rever os próprios atos.
c) Crimes cometidos pelo magistrado: investigação presi- Com relação às espécies de desindiciamento, o mesmo
dida pelo juiz presidente do tribunal; pode ser de ofício, ou seja, realizado pela própria autorida-
d) MP: PGR/PGJ; de policial e coato/coercitivo, que decorre do deferimento
e) Crimes cometidos por outras autoridades com foro pri- de ordem de habeas corpus.
vilegiado: ministro ou desembargador do respectivo tribunal.
PRAZOS PARA ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO PO-
Os elementos informativos colhidos durante a fase do LICIAL
inquérito policial não poderão ser utilizados para fundamen-
tar sentença penal condenatória. O valor de tais elementos é No caso da justiça estadual, 10 dias se acusado preso;
relativo, uma vez que os mesmos servem para fundamentar 30 dias se acusado solto. Os 10 dias são improrrogáveis, os
o recebimento de uma inicial, mas não são suficientes para 30 dias são prorrogáveis por “n” vezes. No caso da justiça
fundamentar eventual condenação. federal, 15 dias se o acusado estiver preso; 30 dias se o
acusado estiver solto. Os 15 dias são prorrogáveis por uma
PROCEDIMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL vez, enquanto os 30 dias são prorrogáveis por “n” vezes.
No caso da lei de drogas (11.343/2006), o prazo é di-
1ª fase: Instauração; verso: 30 dias se o acusado estiver preso, 90 dias se estiver
2º fase: Desenvolvimento/evolução; solto. Nessa modalidade, os prazos podem ser duplicados.
3ª fase: Conclusão Com relação aos crimes contra a economia popular (lei
1ª fase: Instaurado por peças procedimentais: 1.521/51, art. 10, §1º), o prazo para conclusão do IP é de
1ª peça: Portaria; 10 dias, independente se o acusado estiver preso ou solto.
2ª peça: APFD (auto de prisão em flagrante delito);
3ª peça: Requisição do juiz/MP/ministro da justiça; MEIOS DE AÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
4ª peça: Requerimento da vítima
1) Primeiramente, oferecer denúncia, caso haja justa
CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL causa. Em regra, o procedimento é o ordinário. (Sumário:
cabe Recurso em sentido estrito, vide art. 581, I, CPP). Do
A peça de encerramento chama-se relatório, definido recebimento da denúncia, cabe habeas corpus. Da rejeição
como uma prestação de contas daquilo que foi realizado da denúncia no procedimento sumaríssimo, cabe apelação.
durante todo o inquérito policial ao titular da ação penal. (JESPCRIM, prazo de 10 dias);
Em outras palavras, é a síntese das principais diligências

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

2) O MP pode requisitar novas diligências, mas deve Parágrafo único. A competência definida neste artigo
especificá-las. No caso do indeferimento pelo magistrado, não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por
cabe a correição parcial; lei seja cometida a mesma função.
Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial
3) MP pode defender o argumento de que não tem atri- será iniciado:
buição para atuar naquele caso e que o juiz não tem com- I - de ofício;
petência. Nesse caso, o juiz pode concordar ou não com o II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do
MP. No caso de não concordar, o juiz fará remessa do in- Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de
quérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este quem tiver qualidade para representá-lo.
oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério § 1o O requerimento a que se refere o no II conterá
Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquiva- sempre que possível:
mento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender, a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
como menciona o art. 28 do CPP; b) a individualização do indiciado ou seus sinais carac-
terísticos e as razões de convicção ou de presunção de ser
4) MP pode pedir arquivamento. Se o juiz homologa, ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade
encerra-se o mesmo. Trata-se de ato complexo, ou seja, que de o fazer;
depende de duas vontades. c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua
profissão e residência.
A natureza jurídica do arquivamento é de ato adminis- § 2o Do despacho que indeferir o requerimento de
trativo judicial, procedimento que deriva de jurisdição vo- abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Po-
luntária. É ato judicial, mas não jurisdicional. Com relação lícia.
ao art. 28 do CPP e a obrigação do outro membro do Mi- § 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento
nistério Público ser ou não obrigado a oferecer a denúncia, da existência de infração penal em que caiba ação pública
existem duas correntes sobre o tema. A primeira corrente, poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autori-
representada por Cláudio Fontelis, defende o argumento de dade policial, e esta, verificada a procedência das informa-
que o promotor não é obrigado a oferecer denúncia porque ções, mandará instaurar inquérito.
o termo deve ser interpretado como designação, com base § 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública de-
na independência funcional. A segunda corrente, majoritá- pender de representação, não poderá sem ela ser iniciado.
ria, defende o ponto de que o termo deve ser interpretado § 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial
como delegação, atuando o promotor como “longa manus” somente poderá proceder a inquérito a requerimento de
do Procurador Geral de Justiça. Diante da questão trazida, quem tenha qualidade para intentá-la.
estaria a independência funcional comprometida? Não, Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da in-
pois o novo promotor pode pedir a absolvição/condenação, fração penal, a autoridade policial deverá:
uma vez que o mesmo possui tal liberdade. I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se
A importância do inquérito policial se materializa do alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada
ponto de vista de uma garantia contra apressados juízos, dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de
formados quando ainda não há exata visão do conjunto de 28.3.1994)
todas as circunstâncias de determinado fato. Daí a deno- II - apreender os objetos que tiverem relação com o
minação de instituto pré-processual, que de certa forma, fato, após liberados pelos peritos criminais; (Redação dada
protege o acusado de ser jogado aos braços de uma Justiça pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
apressada e talvez, equivocada. O erro faz parte da essência III - colher todas as provas que servirem para o escla-
humana e nem mesmo a autoridade policial, por mais com- recimento do fato e suas circunstâncias;
petente que seja, está isenta de equívocos e falsos juízos. IV - ouvir o ofendido;
Delegados e advogados devem trabalhar em prol de um V - ouvir o indiciado, com observância, no que for
bom comum, qual seja, a efetivação da justiça. Imprescin- aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste
dível a participação do advogado, dentro dos limites esta- Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas
belecidos pela lei, na participação da defesa de seu cliente. testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
Diante disso, é de imensa importância que o inquérito poli- VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e
cial seja desenvolvido sob a égide constitucional, respeitan- a acareações;
do os direitos, garantias fundamentais do acusado e, prin- VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame
cipalmente, o princípio da dignidade da pessoa humana, de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
norteador do ordenamento jurídico brasileiro. VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo proces-
so datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua
TÍTULO II folha de antecedentes;
DO INQUÉRITO POLICIAL IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o
ponto de vista individual, familiar e social, sua condição
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autorida- econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois
des policiais no território de suas respectivas circunscrições do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que
e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua contribuírem para a apreciação do seu temperamento e
autoria. (Redação dada pela Lei nº 9.043, de 9.5.1995) caráter.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

X - colher informações sobre a existência de filhos, Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos
respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do
nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados Ministério Público ou o delegado de polícia poderão re-
dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº quisitar, mediante autorização judicial, às empresas presta-
13.257, de 2016) doras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que
Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequa-
sido praticada de determinado modo, a autoridade policial dos – como sinais, informações e outros – que permitam a
poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.
que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
Art. 8o Havendo prisão em flagrante, será observado o § 1o Para os efeitos deste artigo, sinal significa posi-
disposto no Capítulo II do Título IX deste Livro. cionamento da estação de cobertura, setorização e inten-
Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num sidade de radiofrequência. (Incluído pela Lei nº 13.344, de
só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, nes- 2016) (Vigência)
te caso, rubricadas pela autoridade. § 2o Na hipótese de que trata o caput, o sinal: (Incluído
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10
pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação
preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a
de qualquer natureza, que dependerá de autorização judi-
partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no
cial, conforme disposto em lei; (Incluído pela Lei nº 13.344,
prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou
sem ela. de 2016) (Vigência)
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia
sido apurado e enviará autos ao juiz competente. móvel celular por período não superior a 30 (trinta) dias,
§ 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemu- renovável por uma única vez, por igual período; (Incluído
nhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
onde possam ser encontradas. III - para períodos superiores àquele de que trata o in-
§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indi- ciso II, será necessária a apresentação de ordem judicial.
ciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão § 3o Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito poli-
realizadas no prazo marcado pelo juiz. cial deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta
Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência
que interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito. policial. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia § 4o Não havendo manifestação judicial no prazo de
ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. 12 (doze) horas, a autoridade competente requisitará às
Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/
I - fornecer às autoridades judiciárias as informações ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios
necessárias à instrução e julgamento dos processos; técnicos adequados – como sinais, informações e outros
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos
Ministério Público; do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz.
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
autoridades judiciárias; Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o
IV - representar acerca da prisão preventiva. indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será
Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149- realizada, ou não, a juízo da autoridade.
A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848,
Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da
curador pela autoridade policial.
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a
do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o de-
devolução do inquérito à autoridade policial, senão para
legado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do
poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da de-
informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. (Incluído núncia.
pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar ar-
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no quivar autos de inquérito.
prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá: (Incluído pela Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do in-
Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) quérito pela autoridade judiciária, por falta de base para
I - o nome da autoridade requisitante; (Incluído pela Lei a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas
nº 13.344, de 2016) (Vigência) pesquisas, se de outras provas tiver notícia.
II - o número do inquérito policial; e (Incluído pela Lei nº Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública,
13.344, de 2016) (Vigência) os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competen-
III - a identificação da unidade de polícia judiciária res- te, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu re-
ponsável pela investigação. (Incluído pela Lei nº 13.344, de presentante legal, ou serão entregues ao requerente, se o
2016) (Vigência) pedir, mediante traslado.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo Características


necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse Autônoma: ela não se confunde com o direito material.
da sociedade. Preexiste à pretensão punitiva.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que Abstração: independe do resultado do processo. Mes-
lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mo que a demanda seja julgada improcedente, o direito de
mencionar quaisquer anotações referentes a instauração ação terá sido exercido.
de inquérito contra os requerentes. (Redação dada pela Lei Subjetiva: o titular do direito é especificado na própria
nº 12.681, de 2012) legislação. Em geral, é o MP, excepcionalmente sendo um
Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá particular.
sempre de despacho nos autos e somente será permitida Pública: a atividade provocada é de natureza pública,
quando o interesse da sociedade ou a conveniência da in- sendo a ação exercida pelo próprio Estado.
vestigação o exigir. Instrumental: é um meio para se alcançar a efetividade
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não ex- do direito material.
cederá de três dias, será decretada por despacho funda-
mentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou Condições da Ação ou Condições de Procedibilida-
do órgão do Ministério Público, respeitado, em qualquer de
hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Conceito
Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril Trata-se dos requisitos necessários e condicionantes
de 1963) (Redação dada pela Lei nº 5.010, de 30.5.1966) ao regular exercício do direito de ação.
Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver Condição da ação (ou de procedibilidade) é uma con-
mais de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício dição que deve estar presente para que o processo penal
em uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, possa ter início.
ordenar diligências em circunscrição de outra, independente-
mente de precatórias ou requisições, e bem assim providencia- Possibilidade Jurídica do Pedido
O pedido deve ser legalmente amparável na seara do
rá, até que compareça a autoridade competente, sobre qual-
Direito Penal ou não deve ser vedado. Por exemplo, ao se
quer fato que ocorra em sua presença, noutra circunscrição.
denunciar um membro de um corpo diplomático, o juiz
Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao
deve intimar a representação do país de origem para ver
juiz competente, a autoridade policial oficiará ao Institu-
ser eles abrem mão da imunidade diplomática. Caso nega-
to de Identificação e Estatística, ou repartição congênere,
tivo, deve o juiz extinguir o processo por impossibilidade
mencionando o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os
jurídica do pedido.
dados relativos à infração penal e à pessoa do indiciado.
Interesse de Agir
Subdivide-se e materializa-se no trinômio necessida-
de/adequação/utilidade.
2.4.2 DA AÇÃO PENAL: ARTIGOS 24 A 62; O interesse-necessidade objetiva identificar se a lide
pode ou não ser resolvida na seara judicial. Ela é presu-
mida, em função da proibição da autotutela, tendo como
exceção a transação penal.
Ação Penal O interesse-adequação se manifesta com a utilização
do instrumento adequado para a manifestação da preten-
Trata-se do direito público subjetivo de pedir ao Es- são. V.g., não pode a parte pleitear trancar com HC ação
tado-juízo a aplicação do direito penal objetivo ao caso penal cuja sanção máxima cominada à conduta seja de
concreto. multa, já que seu direito à livre locomoção não se encontra
Ação não é pretensão. Ação é simplesmente o direito ameaçado.
de provocar a tutela jurisdicional do Estado. Absolutamen- Já o interesse-utilidade se manifesta quando o exer-
te errado falar, por exemplo, que ação penal é o exercício cício do direito de ação possa resultar na realização do jus
da pretensão punitiva estatal, visto que se estaria ligando puniendi estatal. Daqui decorre justificativa para se acatar a
ao conceito de ação o objeto que se pede, vinculando di- prescrição da pena em perspectiva.
reito abstrato com direito material, como faz a doutrina
imanentista. Legitimidade
Ação penal, repito, é o direito de provocar a jurisdição A ação só pode ser proposta por quem é titular do in-
penal. Por isso que o direito de ação é exercido contra o teresse que se quer realizar e contra aquele cujo interesse
Estado, pois o Estado é quem possui, única e exclusiva- deve ficar subordinado ao do autor.
mente, o poder-dever de dizer o direito. A pessoa jurídica tem legitimidade para figurar no polo
Assim, erram promotores e Procuradores da República passivo da demanda penal nos casos previstos em lei, de-
que, na denúncia, escrevem: “ofereço ação penal pública vendo a ação também ser movida contra a pessoa física
incondicionada contra fulano de tal...” A ação não é contra responsável por sua administração (teoria da dupla im-
fulano. A ação é contra o Estado (provocando o Estado), putação). Também poderá figurar no polo ativo, devendo
para dizer o direito substantivo penal aplicável EM FACE ser representada por aqueles designados nos contratos ou
de fulano. estatutos sociais.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Réu Menor no Processo Penal: Ilegitimidade ou Incom- § 1o No caso de morte do ofendido ou quando decla-
petência? rado ausente por decisão judicial, o direito de represen-
Se o réu for menor, não deverá o processo ser extinto por tação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou
impossibilidade jurídica do pedido ou por ilegitimidade da irmão. (Parágrafo único renumerado pela Lei nº 8.699, de
parte, mas sim por ausência de competência do juiz penal 27.8.1993)
para apreciar o feito. § 2o Seja qual for o crime, quando praticado em de-
trimento do patrimônio ou interesse da União, Estado e
Justa Causa ou Aptidão Material da Denúncia Município, a ação penal será pública. (Incluído pela Lei nº
Trata-se do lastro probatório mínimo de autoria e ma- 8.699, de 27.8.1993)
terialidade delitivas necessário à propositura da ação penal. Art. 25. A representação será irretratável, depois de
A justa causa é compreendida como conjunto de provas oferecida a denúncia.
sobre o fato criminoso, suas circunstâncias e respectiva auto- Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada
ria capaz de alicerçar, embasar a acusação contida na denún- com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria
cia. Esse conjunto de provas, de elementos informativos ser- expedida pela autoridade judiciária ou policial.
ve para dar verossimilhança à acusação. Evidentemente, não Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a
se exige para a instauração da ação penal prova completa, iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a
plena ou cabal (induvidosa); este tipo de prova é exigido para ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações so-
fundamentar a sentença condenatória. Para a instauração da bre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os
ação penal basta que haja alguma prova idônea, lícita, que elementos de convicção.
demonstre a verossimilhança da acusação. Deve haver prova Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de
da materialidade e indícios de autoria. apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inqué-
Ilustre-se que não há recurso contra a decisão de rece- rito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz,
bimento da denúncia. Possível, no entanto, a impetração de no caso de considerar improcedentes as razões invocadas,
habeas corpus para trancar a ação penal. O habeas corpus fará remessa do inquérito ou peças de informação ao pro-
para extinguir o processo penal sem resolução de mérito, curador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro
com fundamento no artigo 648, I do CPP1.
órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá
Lembrar que a falta de justa causa é motivo de rejeição
no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz
da denúncia ou queixa, havendo um dispositivo específico
obrigado a atender.
que separa este tema da rejeição por inépcia formal (diz-se
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação
que a falta de justa causa é causa de inépcia material):
pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e ofere-
[...]
cer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Não há justa causa para a ação penal quando a demons- processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e,
tração da autoria ou da materialidade do crime decorrer a todo tempo, no caso de negligência do querelante, reto-
apenas de prova ilícita (assim como ocorre com a denúncia mar a ação como parte principal.
fundada apenas em IP viciado) Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para
representá-lo caberá intentar a ação privada.
Síntese sobre a justa causa: Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando de-
Trata-se do lastro probatório mínimo de materialidade e clarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer
autoria necessário para o recebimento da inicial; queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascen-
Inexistindo justa causa, a denúncia deve ser rejeitada com dente, descendente ou irmão.
fulcro no art. 395, III, do CPP (diz-se que há inépcia material); Art. 32. Nos crimes de ação privada, o juiz, a reque-
Somente cabe HC para trancar o processo penal (extin- rimento da parte que comprovar a sua pobreza, nomeará
guir sem julgamento do mérito) se houver evidente atipici- advogado para promover a ação penal.
dade da conduta, causa extintiva de punibilidade ou ausência § 1o Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder
total de indícios de autoria; prover às despesas do processo, sem privar-se dos recursos
Não há justa causa se a ação penal decorrer apenas de indispensáveis ao próprio sustento ou da família.
prova ilícita ou de IP viciado. § 2o Será prova suficiente de pobreza o atestado da
autoridade policial em cuja circunscrição residir o ofendido.
TÍTULO III Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 (dezoito) anos,
DA AÇÃO PENAL ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver
representante legal, ou colidirem os interesses deste com
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por
por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quan- curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do
do a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou Ministério Público, pelo juiz competente para o processo
de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade penal.
para representá-lo. Art. 34. Se o ofendido for menor de 21 (vinte e um) e
1 Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: maior de 18 (dezoito) anos, o direito de queixa poderá ser
I - quando não houver justa causa; exercido por ele ou por seu representante legal.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Art. 35. (Revogado pela Lei nº 9.520, de 27.11.1997) Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for priva-
Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direi- tiva do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Públi-
to de queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o co, a quem caberá intervir em todos os termos subseqüen-
parente mais próximo na ordem de enumeração constante tes do processo.
do art. 31, podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, es-
na ação, caso o querelante desista da instância ou a aban- tando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que
done. o órgão do Ministério Público receber os autos do inqué-
Art. 37. As fundações, associações ou sociedades le- rito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afian-
galmente constituídas poderão exercer a ação penal, de- çado. No último caso, se houver devolução do inquérito à
vendo ser representadas por quem os respectivos contra- autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data
tos ou estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos em que o órgão do Ministério Público receber novamente
seus diretores ou sócios-gerentes. os autos.
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou § 1o Quando o Ministério Público dispensar o inqué-
seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de rito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia
representação, se não o exercer dentro do prazo de seis contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de in-
meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor formações ou a representação
do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar § 2o O prazo para o aditamento da queixa será de 3
o prazo para o oferecimento da denúncia. dias, contado da data em que o órgão do Ministério Pú-
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito blico receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro
de queixa ou representação, dentro do mesmo prazo, nos do tríduo, entender-se-á que não tem o que aditar, pros-
casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31. seguindo-se nos demais termos do processo.
Art. 39. O direito de representação poderá ser exerci- Art. 47. Se o Ministério Público julgar necessários
do, pessoalmente ou por procurador com poderes espe- maiores esclarecimentos e documentos complementares
ciais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao ou novos elementos de convicção, deverá requisitá-los, di-
órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. retamente, de quaisquer autoridades ou funcionários que
§ 1o A representação feita oralmente ou por escrito, devam ou possam fornecê-los.
sem assinatura devidamente autenticada do ofendido, de
Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do cri-
seu representante legal ou procurador, será reduzida a ter-
me obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público
mo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o órgão
velará pela sua indivisibilidade.
do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida.
Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa,
§ 2o A representação conterá todas as informações que
em relação a um dos autores do crime, a todos se esten-
possam servir à apuração do fato e da autoria.
derá.
§ 3o Oferecida ou reduzida a termo a representação,
Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração
a autoridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo
competente, remetê-lo-á à autoridade que o for. assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou
§ 4o A representação, quando feita ao juiz ou perante procurador com poderes especiais.
este reduzida a termo, será remetida à autoridade policial Parágrafo único. A renúncia do representante legal do
para que esta proceda a inquérito. menor que houver completado 18 (dezoito) anos não pri-
§ 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inqué- vará este do direito de queixa, nem a renúncia do último
rito, se com a representação forem oferecidos elementos excluirá o direito do primeiro.
que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados
oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em
Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhece- relação ao que o recusar.
rem, os juízes ou tribunais verificarem a existência de crime Art. 52. Se o querelante for menor de 21 e maior de
de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias 18 anos, o direito de perdão poderá ser exercido por ele
e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia. ou por seu representante legal, mas o perdão concedido
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do por um, havendo oposição do outro, não produzirá efeito.
fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualifi- Art. 53. Se o querelado for mentalmente enfermo ou
cação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa retardado mental e não tiver representante legal, ou coli-
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, direm os interesses deste com os do querelado, a aceita-
o rol das testemunhas. ção do perdão caberá ao curador que o juiz Ihe nomear.
Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da Art. 54. Se o querelado for menor de 21 anos, ob-
ação penal. servar-se-á, quanto à aceitação do perdão, o disposto
Art. 43. (Revogado pela Lei nº 11.719, de 2008). no art. 52.
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com Art. 55. O perdão poderá ser aceito por procurador
poderes especiais, devendo constar do instrumento do com poderes especiais.
mandato o nome do querelante e a menção do fato crimi- Art. 56. Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual ex-
noso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de presso o disposto no art. 50.
diligências que devem ser previamente requeridas no juízo Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão
criminal. todos os meios de prova.

8
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração ex- b) Processos incidentes: são questões que dizem res-
pressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro peito ao processo, podendo ser resolvidas pelo próprio
de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser juízo criminal. Porém, são processos que correm em para-
cientificado de que o seu silêncio importará aceitação. lelo ao principal, se constituindo em outra relação jurídica.
Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta Exemplo clássico de processo incidente é o HC impetrado
a punibilidade. para trancar ação penal.
Art. 59. A aceitação do perdão fora do processo consta-
rá de declaração assinada pelo querelado, por seu represen- Existe uma subdivisão:
tante legal ou procurador com poderes especiais. a) Questão prejudicial: ela é autônoma, existindo de
Art. 60. Nos casos em que somente se procede median- forma independente da questão principal, com a possibi-
te queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: lidade de ser objeto de processo distinto, seja no próprio
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover juízo criminal (como se dá com o julgamento do furto de
o andamento do processo durante 30 dias seguidos; forma autônoma em relação à receptação), seja no juízo cí-
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua vel (como questões ligadas ao estado da pessoa ou outras
incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no que interferem na tipicidade da infração penal).
processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer b) Questão preliminar: é o fato, processual ou de mérito,
das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto que impede que o juiz aprecie o fato ou questão principal,
no art. 36; não sendo autônoma, devendo sempre ser julgada no mes-
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem mo procedimento e antes da decisão de mérito. Questão
motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva preliminar é aquela ligada a um pressuposto processual ou
estar presente, ou deixar de formular o pedido de condena- a uma condição de ação. É o fato, processual ou de mérito,
ção nas alegações finais; que impede o juiz de apreciar o fato principal ou a questão
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se principal, ou seja, a materialidade e a autoria da infração
extinguir sem deixar sucessor. penal, que compõem o mérito da causa propriamente dito,
Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reco- não sendo questão autônoma, mas dependente da existên-
nhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício. cia da questão principal e devendo sempre ser decidida no
Parágrafo único. No caso de requerimento do Ministé- mesmo processo ou procedimento onde é julgada a ques-
rio Público, do querelante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo tão principal.
em apartado, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conve- As questões incidentes serão apreciadas em autos apar-
niente, concederá o prazo de cinco dias para a prova, profe- tados, normalmente apensos ao principal, com o intuito de
rindo a decisão dentro de cinco dias ou reservando-se para
não criar tumulto à lide e para fins de maior praticidade.
apreciar a matéria na sentença final.
Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente
CAPÍTULO III
à vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério
DAS INCOMPATIBILIDADES E IMPEDIMENTOS
Público, declarará extinta a punibilidade.
Art. 112. O juiz, o órgão do Ministério Público, os ser-
ventuários ou funcionários de justiça e os peritos ou intér-
2.4.3 DAS INCOMPATIBILIDADES E pretes abster-se-ão de servir no processo, quando houver
IMPEDIMENTOS: ARTIGO 112; incompatibilidade ou impedimento legal, que declararão
nos autos. Se não se der a abstenção, a incompatibilidade
ou impedimento poderá ser arguido pelas partes, seguin-
Questão incidente é conceituada como o fato que pode do-se o processo estabelecido para a exceção de suspeição.
acontecer no curso do processo e que deve ser decidido
pelo juiz antes de adentrar no mérito da causa principal. Ela
é prejudicial, já que o exame da lide dependerá de seu pré- 2.4.4 DA RESTITUIÇÃO DE COISAS
vio desfecho. APREENDIDAS: ARTIGOS 118 A 124;
Os incidentes se dividem em:
a) Questões prejudiciais: são as questões de fato ou de
direito que devem ser resolvidas previamente porque se li-
gam ao mérito da questão principal, ou seja, entre eles há CAPÍTULO V
uma dependência lógica. A questão prejudicada, apesar de DA RESTITUIÇÃO DAS COISAS APREENDIDAS
principal, está subordinada à prejudicial. São características
da questão prejudicial: Art. 118. Antes de transitar em julgado a sentença final,
-Anterioridade lógica: a questão prejudicial é sempre as coisas apreendidas não poderão ser restituídas enquanto
anterior à prejudicada. interessarem ao processo.
-Necessariedade: o mérito não poderá ser resolvido sem Art. 119. As coisas a que se referem os arts. 74 e 100 do
a solução da questão prejudicial. Código Penal não poderão ser restituídas, mesmo depois
-Autonomia: em tese, a questão prejudicial sempre de transitar em julgado a sentença final, salvo se pertence-
pode estar em processo autônomo. rem ao lesado ou a terceiro de boa-fé.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Art. 120. A restituição, quando cabível, poderá ser or- produzida na fase judicial com a participação dialética das
denada pela autoridade policial ou juiz, mediante termo partes (contraditório real e ampla defesa que são elabora-
nos autos, desde que não exista dúvida quanto ao direito dos perante o juiz).
do reclamante. Destarte a prova é o elemento fundamental para a de-
§ 1o Se duvidoso esse direito, o pedido de restituição cisão de uma lide. Tem como objeto fato jurídico relevante,
autuar-se-á em apartado, assinando-se ao requerente o isto é, aquele que possa influenciar no julgamento do feito.
prazo de 5 (cinco) dias para a prova. Em tal caso, só o juiz Assim, não é qualquer fato que carece ser provado, mas
criminal poderá decidir o incidente. sim, aquele que, no processo penal, possa influenciar na ti-
§ 2o O incidente autuar-se-á também em apartado pificação do fato delituoso ou na exclusão de culpabilidade
e só a autoridade judicial o resolverá, se as coisas forem ou de antijuridicidade.
apreendidas em poder de terceiro de boa-fé, que será in- Convém lembrar, ainda, que o objeto da prova é fato
timado para alegar e provar o seu direito, em prazo igual e não opinião, muito embora, em alguns casos (especial-
e sucessivo ao do reclamante, tendo um e outro dois dias mente quando se trata de dosar a pena) a opinião da tes-
para arrazoar. temunha pode ter relevo para a fixação da pena quando
§ 3o Sobre o pedido de restituição será sempre ouvido ela afirma, por exemplo, que o réu é honesto, trabalhador
o Ministério Público. e bom pai de família.
§ 4o Em caso de dúvida sobre quem seja o verdadeiro
dono, o juiz remeterá as partes para o juízo cível, ordenan- Objeto de prova
do o depósito das coisas em mãos de depositário ou do Tem a prova um objeto, que são os fatos da causa. O
próprio terceiro que as detinha, se for pessoa idônea. objeto da prova consiste nos fatos cuja evidenciação se tor-
§ 5o Tratando-se de coisas facilmente deterioráveis, se- ne imprescindível, no processo, para o juiz convencer-se de
rão avaliadas e levadas a leilão público, depositando-se o sua veracidade. Em outras palavras, objeto da prova é o
dinheiro apurado, ou entregues ao terceiro que as detinha, fato ilícito alegado na peça acusatória.
se este for pessoa idônea e assinar termo de responsabi- Em toda ação penal, deve-se provar dois pontos cru-
lidade. ciais, a saber: a materialidade e a autoria do fato criminoso.
Art. 121. No caso de apreensão de coisa adquirida com Além disso, é preciso dar conhecimento ao juiz de todas
os proventos da infração, aplica-se o disposto no art. 133 as circunstâncias objetivas (aspectos externos do crime) e
e seu parágrafo. subjetivas (motivos do crime e aspectos pessoais do agen-
Art. 122. Sem prejuízo do disposto nos arts. 120 e 133, te) que possam determinar a certeza de sua convicção so-
decorrido o prazo de 90 dias, após transitar em julgado bre a responsabilidade criminal. As circunstâncias que cer-
a sentença condenatória, o juiz decretará, se for caso, a cam o caso concreto devem ser provadas, ainda, em razão
perda, em favor da União, das coisas apreendidas (art. 74, de serem relevantes no momento de fixação da pena.
II, a e b do Código Penal) e ordenará que sejam vendidas Contudo, a atividade probatória deve restringir-se aos
em leilão público. fatos relevantes, aqueles que são pertinentes e úteis ao
Parágrafo único. Do dinheiro apurado será recolhido julgamento da ação penal. Observe-se portanto que, que
ao Tesouro Nacional o que não couber ao lesado ou a ter- existe um critério para a produção de provas numa ação
ceiro de boa-fé. penal.
Art. 123. Fora dos casos previstos nos artigos ante-
riores, se dentro no prazo de 90 dias, a contar da data em Desnecessidade da prova
que transitar em julgado a sentença final, condenatória ou De acordo com a redação do art. 400, § 1o, CPP diz que
absolutória, os objetos apreendidos não forem reclama- o juiz poderá “indeferir (as provas) consideradas irrelevan-
dos ou não pertencerem ao réu, serão vendidos em leilão, tes, impertinentes ou protelatórias”.
depositando-se o saldo à disposição do juízo de ausentes. Temos, então, que será o juiz quem estabelecerá o que
Art. 124. Os instrumentos do crime, cuja perda em deve ser provado, de acordo com o que julgar relevante
favor da União for decretada, e as coisas confiscadas, de para a formação do seu convencimento.
acordo com o disposto no art. 100 do Código Penal, serão Entretanto, existe a desnecessidade de se provar al-
inutilizados ou recolhidos a museu criminal, se houver inte- guns fatos, quais sejam: os evidentes, os notórios e as pre-
resse na sua conservação. sunções legais.
Evidentes são os fatos que prescindem de prova para
serem tidos como verdadeiros. São fatos incontroversos,
evidentes por si mesmos, intuitivos, axiomáticos.
2.4.5 DAS PROVAS: ARTIGOS 155 A 250; Notórios são fatos que também prescindem de prova.
São os acontecimentos ou situações de conhecimento ge-
ral, como as datas histórias, os fatos políticos ou sociais de
Prova, é o ato ou o complexo de atos que visam a es- conhecimento público – ou seja, fatos que pertencem ao
tabelecer a veracidade de um fato ou da prática de um ato patrimônio cultural do cidadão médio.
tendo como finalidade a formação da convicção da enti- Já as presunções legais são os fatos presumidos verda-
dade decidente - juiz ou tribunal - acerca da existência ou deiros pela própria lei, que podem ser duas ordens: abso-
inexistência de determinada situação factual. Em regra, é luta e relativa. A presunção absoluta (“juris et de jure”) não

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

admite fato em contrário. Exemplo disso é o art. 27, CP que O art. 399, §2o, CPP dita que “o juiz que presidiu a ins-
diz que menor de 18 anos é inimputável. Já a presunção trução deverá proferir a sentença”, evidenciando a aplica-
relativa (“juris tantum”) admite prova em contrário, como ção princípio da identidade física do juiz.
no caso do art. 217-A, CP que diz que a vulnerabilidade do A Lei 8.038/90 estabelece os procedimentos nos casos
menor de 14 anos é relativa. Essa flexibilidade justifica-se em que uma pessoa é processada nos casos de competên-
diante da possibilidade de se prejudicar o réu. cia originária do STF ou STJ. Em seu art. 3o, III temos a exce-
ção ao princípio da identidade física do juiz a medida que
Ônus da prova juízes e desembargadores serão convocados para auxiliar
De acordo com a primeira parte do art. 156, CPP o ônus na coleta de provas. Portanto, a lei autoriza essa exceção
da prova é a prova da alegação por quem a fizer. Cabe ao ao princípio da identidade física do juiz.
autor da ação penal (MP ou querelante) o exercício da
atividade probatória principal. Incumbe-lhe demonstrar a Momentos probatórios
existência dos fatos constitutivos afirmados na pretensão, Para podermos adentrar a discussão acerca dos mo-
devendo provar a existência do ilícito penal e sua autoria. mentos probatórios, é necessário que façamos as seguintes
Por outro lado, sobre o acusado só recai o ônus de considerações iniciais: as provas só podem ser produzidas
provas o álibi que apresentar. Contudo, se apresentar fatos no processo, que é quando haverá o contraditório. São su-
impeditivos, modificativos ou extintivos, relacionados com jeitos processuais principais no processo penal a acusação
a pretensão acusatória, ele será obrigado a prová-los. Nes- (MP ou querelante), defesa (réu e defensor) e o juiz.
se caso, inverte-se o ônus da prova. Exemplo: alegação de
legítima defesa. Compreendido isso, são 4 os momentos para produção
de provas:
Segundo o princípio da comunhão da prova, quando a Propositura da prova, que se dá na fase postulatória.
prova ingressa no processo deixa de ser exclusiva da parte Para a acusação, isso dar-se-á na peça acusatória (denúncia
que a produziu. O juiz examina todo o contexto da prova ou queixa-crime), enquanto que para o acusado, será na
podendo inclusive valorá-la de modo prejudicial a quem a sua resposta, na sua defesa.
apresentou. Ou seja, a utilização das provas por qualquer Admissibilidade das provas, que é o deferimento ju-
das partes é de ser plenamente aceita, independentemente dicial dos requerimentos formulados pelas partes, ou seja,
de quem a tenha produzido, porque interessa ao juiz des- quando o juiz estabelece quais provas serão apresentadas
cobrir a verdade. ou não (no processo civil é o despacho saneador).
Já na segunda parte e incisos do art. 156, CPP é fa- Produção da prova, que, em regra, se dá na audiência
cultado ao juiz, de ofício, ordenar a produção de provas de instrução e julgamento, na qual todos os sujeitos parti-
e determinar a realização de diligências. Vê-se aqui que o cipam. Nesse momento, serão tomadas as declarações do
juiz tem poderes para influir na produção de provas unila- ofendido, haverá o interrogatório do acusado, inquirição
das testemunhas arroladas, esclarecimentos dos peritos
teralmente.
etc.
No inciso I identificamos os poderes inquisitórios, que
Valoração da prova, que significa dizer que o julgador,
permitem ao juiz influir livremente nas provas. O legisla-
ao fundamentar a sentença, deve manifestar-se sobre to-
dor permitiu ao juiz ordenar a produção de provas antes
das as provas produzidas.
do oferecimento da denúncia e, ao fazer isso, o magistra-
Vale dizer que, havendo recurso, a prova será sempre
do substitui a autoridade policial ou o promotor (MP) – e
substancial, i.e., será reavaliada.
isso fere o princípio da imparcialidade do juiz. Esse é um
dispositivo amplamente criticado. (Crítica: o ato unilateral OS MEIOS DE PROVA
(sem provocação) do juiz pode ser considerado parcial, na
prática?) Desde o princípio desse debate vale a ressalva: meio de
No inciso II identificamos os poderes instrutórios, prova é diferente de objeto de prova. Meio de prova pode
onde o juiz pode interferir na prova para resolver ponto ser todo fato, documento ou alegação que sirva, direta
relevantes, independente de requerimento das partes. Esse ou indiretamente, ao descobrimento da verdade. Ou seja,
dispositivo está relacionado à instrução do processo e é meio de prova é todo instrumento que se destina a levar
plenamente aceito. O inciso II está intimamente ligado com ao processo um elemento, uma informação a ser utilizada
o descobrimento da verdade, uma vez que o juizpode soli- pelo juiz para formar a sua convicção acerca das alegações.
citar a produção de provas para formação do seu conven-
cimento. Prova pericial

Princípio do juiz natural No Código de Processo Penal a prova pericial é tratada


No art. 5º, LIII, CF tem-se que “ninguém será processa- nos arts. 158 usque 184.
do nem sentenciado senão pela autoridade competente”. A perícia é a diligência realizada ou executada por peri-
Em seu inciso XXXVII, tem-se que “não haverá juízo ou tri- to, a fim de esclarecer ou evidenciar certos fatos, de forma
bunal de exceção”. científica e técnica. Perito é aquele que tem conhecimento
Esse princípios constitucionais relacionam-se com a técnico sobre determinada área e sua função é a da verifi-
produção de provas, conforme veremos a seguir. cação da verdade ou da realidade de certos fatos.

11
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

No processo penal, a perícia é, via de regra, realizada Exame de lesões corporais


por perito oficial, ligado ao Estado, sendo que cada estado
da federação possui seu próprio instituto de criminalística. Esse é um meio de prova relacionado a um tipo penal
O perito é um auxiliar da justiça, não está subordinado a (lesão corporal, art. 129, CP), que visa estabelecer a natureza
autoridade policia, estando sua autonomia garantida. da gravidade da lesão provocada na vitima. O procedimen-
Conforme o art. 184, CPP a prova pericial cabe somen- to (art. 394, CPP) depende da gravidade da lesão, e, por-
te quando for útil para o descobrimento da verdade. tanto, da pena. Contudo, temos duas exceções a aplicação
No art. 159, CPP temos que o laudo pode ser subscrito desse exame.
por apenas um perito. A conclusão do perito pode ou não A primeira refere-se ao caso de lesão corporal de natu-
ser subjetiva. (Ex: perícia psicológica x perícia toxicológica) reza leve, quando o juízo competente será o JECRIM. Nessa
A defesa pode formular quesitos ao perito. No proces- hipótese, o procedimento será sumaríssimo, que é célere e
so penal, isso não é comum porque geralmente a perícia informal. Assim, não será exigido o exame de lesões cor-
é realizada logo depois do acontecimento do crime. Por- porais. A lei 9.099, art. 77, §1o diz que essa prova pode ser
tanto, essa perícia pode ser questionada em juízo porque substituída pelo boletim medico ou prova equivalente.
à época de sua realização não havia defensor constituído. A segunda exceção trata dos crimes domésticos, sobre-
Isso é o que se chama de contraditório diferido (posterga- tudo os praticados contra a mulher, que estão disciplina-
dos na Lei 11.340/06. No art. 12, §3o, temos que as provas
do, transferido).
podem ser laudos ou prontuários médicos. Isso porque, na
De acordo com o art. 5o, LVIII, CF o criminoso “civil-
prática, o Ministério Público pode atuar ex officio em casos
mente identificado não será submetido a identificação
graves.
criminal”. A Lei 12.037/09, em seus arts. 2o, 3o e 5o apre-
senta esclarecimentos e requisitos quando a identificação Exame necroscópico
do criminoso.
A realização do exame de DNA (ácido desoxirribo- O cadáver aqui é o objeto da prova. Sua finalidade é es-
nucléico) também é um meio eficaz de identificação do tabelecer a causa mortis (art. 162). Esse exame será realiza-
criminoso. O DNA constitui parte dos cromossomos, sen- do sempre que a morte estiver relacionada a um fato crimi-
do encontrado no núcleo das células dos seres vivos. São noso. Do texto do Parágrafo Único do dispositivo extrai-se
transmitidos de geração em geração, sendo 50% do pai e que esse exame é desnecessário nos casos de morte violen-
50% da mãe. ta e não haja infração penal a ser apurada (como é o caso,
Na realização do exame de DNA temos a prova invasi- por exemplo, dos acidentes automobilísticos) ou quando as
va e a prova não invasiva. A primeira é aquela que neces- lesões externas permitirem precisar a causa mortis.
sita de intervenção no organismo humano. A segunda é
aquela onde não há necessidade de se penetrar no orga- Exumação
nismo humano.
Para a produção da prova invasiva é absolutamente Com previsão no art. 163, CPP, a exumação tem como
necessária a obtenção do consentimento. Na produção da objeto da prova o cadáver já sepultado. A exumação só
prova não invasiva não depende do contato físico. É o juiz pode ser feita mediante autorização judicial e em dois ca-
que decide a validade da prova não invasiva. (ex.: fio de sos: a) caso deva ter sido realizado o exame necroscópico e
cabelo, saliva no copo) não foi, gerando, depois do sepultamento, dúvidas a respei-
to da causa da morte; e b) casos que coloquem em duvida
Exame de corpo de delito o laudo necroscópico.

Em relação aos crimes que deixarem vestígios, será in- Prova documental
dispensável a realização do exame de corpo de delito (art.
158, CPP) Documento é todo objeto material que condense em
si a manifestação de um pensamento ou fato a ser repro-
Corpo de delito é o conjunto dos vestígios que ca-
duzido em juízo. Considera-se objeto material todo mate-
racterizam a existência do crime. Não se confunde corpo
rial visual, auditivo, audiovisual, bem como o registrado em
de delito com o exame das lesões da vitima. O primeiro é
meios mecânicos óticos ou magnéticos de armazenamento.
gênero do qual o segundo é espécie.
A prova documental está disciplinada no CPP nos arts.
O exame de corpo de delito envolve inclusive o pro- 231 e 238.
cessamento da cena do crime e pode ser tanto direto (art.
161) quanto indireto (art. 167, CPP). Documento eletrônico
A materialidade dos fatos muitas vezes deve ser com-
provada por meio de exame pericial. Nesse sentido, po- Consiste em uma sequência de bytes, e em determina-
demos ter 3 situações: exame de lesões corporais, exame do programa de computador se torna a representação de
necroscópico e exumação. Analisaremos cada uma dessas um fato. Os crimes que são praticados por meio da internet
situações a seguir. ou por outros meios cibernéticos têm consequências no
que dizem respeitos à provas.

12
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Um dos meios para combater esse tipo de ilícito penal Com a Lei 9.099/95, o Estado passa a olhar para a vítima
é recrutar os crackers para trabalharem a favor da polícia. de modo distinto. Essa lei trata do procedimento sumarís-
Importante ressaltar a distinção entre os hackers e os simo, que tem como característica principal o surgimento
crackers: os primeiros ultrapassam barreiras de segurança da transação penal entre o autor do fato e o ofendido para
para se gabar, enquanto que os segundos invadem sistemas que seja tentado ao menos a auto composição das partes.
para causarem prejuízo, visando lucro. Em 2008 o legislador altera o art. 201, CPP. A partir dai, o
ofendido é o sujeito passivo da infração penal.
Sigilo telemático A oitiva da vítima na ação penal não é obrigatória. Se
a vítima for intimada a comparecer em juízo e não o fizer,
É um mecanismo de proteção do usuário do aparelho, o poderá ser conduzida à presença da autoridade. A vítima
que gera certa dificuldade para obter informações e muitas não presta o compromisso de dizer a verdade. Parte-se do
vezes será necessária autorização judicial para o acesso de princípio que a vítima está dizendo a verdade porque tem
dados. Quando se tratar de crime em que a polícia tem o interesse na sentença condenatória e numa eventual repa-
dever e a obrigação de apurar, tem-se as delegacias que
ração do dano.
estão incumbidas de investigar crimes cibernéticos
Quanto se tratar do querelante, ele estará obrigado
com a verdade. Caso contrário, poderá responder pelo cri-
Ata notarial
me de denunciação caluniosa.
Constatação de um fato ou de um ato que é atestada
pelo tabelião, com fé publica. Feito isso, e apresentado ao Prova testemunhal
delegado, teremos uma prova pré-constituída e com fé-
-pública. Isso é bom para as provas nos meio eletrônico que Testemunha é a pessoa que atesta a veracidade de um
podem ser apagadas instantaneamente. Estamos diante de fato. Portanto, a testemunha presta o compromisso de di-
uma presunção de verdade relativa, podendo, portanto, ser zer a verdade (art. 203, CPP).
impugnada. Pode servir como prova tanto na esfera penal Uma das mais inseguras do processo, a prova testemu-
quanto na esfera civil. nhal está prevista no CPP nos arts. 202 e 255. Do ponto de
vista quantitativo, é uma prova interessante. Do ponto de
Prova emprestada vista qualitativo, não.
Diz-se isso porque a testemunha pode não se lembrar
Prova emprestada é aquela que é transladada em forma com exatidão dos fatos. Ou então, aliada ao critério subje-
de documento para um processo penal no qual se discutirá tivo das convicções pessoais da vítima, pode influenciar no
a sua validade e o seu valor probante. depoimento da testemunha. Ainda, há também o temor da
Geralmente a prova emprestada no processo penal se testemunha sofrer repressões em virtude de suas declara-
relaciona com depoimento de vítima ou uma declaração ções.
que foi dada em um caso e a testemunha após um tempo
morreu, desapareceu, etc.
 O número de testemunhas
Do ponto de vista da acusação é interessante que a
prova seja emprestada de tempo que foi dada, e que seja O nosso sistema processual penal é regido por proce-
encarada como uma prova testemunhal, de inteiro teor, e dimento. Dependendo do crime, ele deve obedecer deter-
não apenas como um documento. Do ponto de vista da de- minado procedimento, podendo arrolar ou não testemu-
fesa, o que se alega é que o princípio da ampla defesa não nhas, tendo que obedecer ao número permitido.
foi respeitado pois se caso o réu morreu, não teve tempo O número de testemunhas depende do procedimento,
de contestar, ou caso de testemunha desaparecida, que não
conforme passaremos a demonstrar.
houve possibilidade de perguntas da defesa para tal.
No procedimento ordinário (art. 394, CPP), é possível
arrolar até 8 testemunhas (art. 401, caput, CPP). No proce-
São requisitos para a utilização da prova emprestada: a)
dimento comum sumário, podem ser arroladas até 5 teste-
que no processo anterior tenha sido respeitado o princípio
do contraditório;
b) que a prova no processo anterior tenha munhas (art. 532, CPP). Já no procedimento comum suma-
sido produzida pelo juiz natural; e c) que o réu tenha com- ríssimo, não há referência expressa. O art. 81 da Lei 9.099
parecido no outro processo. diz que pode-se arrolar de 3 a 5 testemunhas.
Para entendermos a questão das testemunhas no Tri-
Prova oral bunal do Júri, é preciso entender seu procedimento bifási-
co. Na primeira fase se encerra por meio de uma decisão,
A prova oral, prevista no art. 201, CPP, refere-se princi- que pode ser: decisão de absolvição sumaria, decisão de
palmente às declarações do ofendido. desclassificação, decisão de impronúncia (efeito semelhan-
Os sujeitos processuais podem ser principais ou secun- te ao arquivamento) ou decisão de pronúncia. Caso haja
dários. Os principais são o Ministério Público, o querelante, pronúncia, prossegue-se para a próxima fase. Essa segunda
o réu e o juiz. Os secundários são a testemunha, o perito e fase cuida da preparação do julgamento e do julgamento
o escrivão. O ofendido é tradicionalmente esquecido. em plenário.

13
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Superada a explicação, temos o seguinte: na primeira Confissão


fase os atos seguem a sequência do procedimento comum
ordinário, ou seja, até 8 testemunhas podem ser arroladas Confissão é o ato de reconhecimento, pelo acusado, da
(art. 406, §2o e 3o, CPP). Na segunda fase podem ser arro- imputação que lhe é feita. Alguns doutrinadores entendem
ladas até 5 testemunhas (art. 422, CPP). que a confissão é um meio atípico de prova, uma vez que
A Lei 11.3434, em seu art. 34, trata do tráfico de drogas. seria declaração de vontade do réu em sua defesa.
Esse crime admite procedimento especial, podendo arrolar Na Idade Média, a confissão era considerada a rainha
até 5 testemunhas, com previsão no art. 54, III, e 55, §1o. das provas (“Regina probatorium”), válida ainda que obtida
Por fim, nos casos complexos o juiz pode intervir para por meio de tortura.
que sejam arroladas mais do que 8 testemunhas. As teste- De acordo com as disposições do Código de Processo
munhas excedentes são inquiridas como testemunhas do Penal a confissão deve ser corroborada por outras provas.
juízo. No processo penal não predomina a idéia do fato incontro-
verso, como no processo civil.
A desobrigação de testemunhar A confissão não supre o exame pericial a medida que é
necessário confirmar a materialidade do delito. O valor da
confissão é o mesmo que das outras provas.
Em princípio, toda pessoa pode ser testemunha, até
mesmo um menor. Porém, uma vez que a testemunha é
Delação premiada
intimada a depor, esta não pode deixar de depor, sob pena
de ser conduzida coercitivamente, ou até mesmo de res- Esse é um instituto que está ligado ao réu. A delação
ponder criminalmente por desobediência. premiada ocorre quando o acusado admite a prática do cri-
me e delata a participação de outrem ou de outras pessoas,
Existem alguma pessoas que se tornam desobrigadas, fazendo-o em troca da redução da pena ou até mesmo da
pela lei, a prestar o testemunho, segundo disposição dos obtenção do perdão judicial.

arts. 206 e 208, CPP. Se o juiz, mesmo assim, quiser ouvir as A delação premiada somente pode ser apresentada por
declarações desta pessoa, tal testemunha não estará obri- um corréu, posto que irá delatar para se beneficiar. Caso
gada em prestar compromisso com a verdade. Neste caso, não tenha benefício será apenas uma testemunha. Não há
será ouvida na condição de informante.
De acordo com o garantia de que corréu seja beneficiado, pois não existe ne-
art. 207, serão proibidas de depor aquelas que em razão de nhum diploma disciplinando tal instituto.

função, ofício ou profissão devam guardar segredo, salvo Essa delação não tem o mesmo valor que o depoimen-
se desobrigadas pela parte interessada, quiserem prestar to de testemunha. Isso se explica à medida que as testemu-
testemunho. nhas prestam o compromisso de dizer a verdade, e o corréu
está numa posição de mero informante, devendo suas ale-
Interrogatório gações serem confirmadas.
De acordo com o princípio da obrigatoriedade da ação
Quando tratamos de interrogatório como meio de pro- penal, o membro do Ministério Público não pode simples-
va, é importante observar que três correntes se formaram. mente alocar o delator como testemunha. Em verdade, deve
A primeira corrente, no princípio, entendia como o in- admitir o delator como corréu e, posteriormente, considerar
terrogatório sendo um meio de prova. A segunda, por sua sua redução de pena ou perdão judicial por ter colaborado
vez, dizia que o interrogatório era um meio de defesa. Já a com suas importantes declarações.
terceira e mais aceita corrente afirma que o interrogatório
é predominantemente um meio de defesa, mas não deixa Instrumentos do crime
de ser um meio de prova, pois o juiz pode levar em conta o
Todos os objetos usados para a consumação do crime
que o réu está falando para formular a sua convicção.
deverão ser analisados e periciados, com o fim de lhes ve-
Ressalte-se que o interrogatório é um ato pessoal do
rificar a natureza e a eficiência.
 Além da necessidade de se
juiz, não podendo delegar para qualquer outra pessoa.
examinar o instrumento utilizado na atividade criminosa,
Além disso, deve ser realizado na presença de um defensor, deve-se também elaborar o auto de avaliação (art. 172, CPP)
inclusive no JECRIM, sob pena de nulidade, e cada réu tem
que ser ouvido separadamente. Indícios
No tocante ao procedimento, o art. 400, CPP dita que o
réu será o último a ser interrogado, para que possa ter co- Disciplinados no art. 239, CPP, os indícios não são consi-
nhecimento de toda as provas produzidas contra ele. Já no derados como provas diretas, mas sim fazem parte do con-
Tribunal do Júri o réu será interrogado duas vezes, a saber: texto de prova indireta (ou prova circunstancial).
pela polícia e na plenária. Os indícios podem ser utilizados para efeitos de forma-
A realização do interrogatório é obrigatória. Contudo, ção do convencimento do juiz, mas não pode haver conde-
é previsto o direito de o sujeito interrogado manter-se cala- nação apenas com base neles. Essa regra aplica-se apenas
do, vez que ninguém pode ser obrigado a produzir provas ao julgador togado, vez que os jurados do Tribunal do Júri
contra si mesmo. podem convencer-se através de indícios, considerando-os
suficientes para condenação.

14
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Para a utilização de indícios no convencimento do juiz, Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pes-
impõe-se que eles sejam graves, precisos e concordantes soas serão observadas as restrições estabelecidas na lei ci-
com o fato que se quer provar. vil. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer,
Busca e apreensão sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: (Redação dada
pela Lei nº 11.690, de 2008)
Com previsão legal nos arts. 240 e 250, CPP, a busca I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a
e apreensão depende de autorização judicial. Trata-se, em produção antecipada de provas consideradas urgentes e
verdade, de uma medida cautelar, sendo considerada um relevantes, observando a necessidade, adequação e pro-
meio atípico de prova – diz-se, então, que é instrumento
porcionalidade da medida; (Incluído pela Lei nº 11.690, de
de obtenção da prova.
2008)
Considerando a previsão constitucional de inviolabili-
dade da privacidade, da intimidade, do domicilio, a decre- II – determinar, no curso da instrução, ou antes de
tação da busca e apreensão é medida só pode ser auto- proferir sentença, a realização de diligências para dirimir
rizada pelo juiz competente e em decisão fundamentada. dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº 11.690,
Por se tratar de medida assecuratória (ou cautelar),o de 2008)
juiz só pode deferi-la se ficar convencido de que naquele Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranha-
caso específico que lhe é apresentado existem elementos das do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as ob-
de que o que está sendo alegado possui verossimilhança e tidas em violação a normas constitucionais ou legais. (Re-
que há necessidade da urgência (fumus boni juris e pericu- dação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
lum in mora). § 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das
Na prática, a busca e apreensão pode ser pleiteada ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalida-
pelo delegado ao juiz por meio de uma representação. Em de entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem
sua manifestação, o promotor de justiça pode reforçar a ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. (In-
necessidade ou se opor a isso. A busca e apreensão pode cluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
ser requerida antes do inquérito, durante a investigação ou § 2o Considera-se fonte independente aquela que por
no curso da ação penal. Pode ainda ser requerida pela de- si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da
fesa, se lhe for interessante. investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir
A busca e apreensão também pode ser determinada
ao fato objeto da prova. (Incluído pela Lei nº 11.690, de
de ofício pelo juiz, segundo o art. 242, CPP. Contudo, não é
2008)
conveniente que o juiz o faça, vez que isso pode compro-
meter sua imparcialidade. § 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova
Pode-se buscar e apreender aquilo que estiver previsto declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão ju-
no art. 240, mas o rol não é taxativo. Tudo que estiver rela- dicial, facultado às partes acompanhar o incidente. (Incluí-
cionado com a elucidação de um crime pode ser objeto de do pela Lei nº 11.690, de 2008)
busca e apreensão. § 4o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Com base no art. 5o, XI, CF, temos que, mesmo sendo
expedido o mandado de busca e apreensão, a autoridade CAPÍTULO II
policial não poderá ingressar o domicílio alheio durante DO EXAME DO CORPO DE DELITO, E DAS PERÍCIAS
o período de repouso noturno. Assim, o cumprimento do EM GERAL
mandado judicial deverá aguardar até a manhã.
Se no flagrante delito forem apreendidos objetos rela- Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será in-
tivos a outros crimes, a jurisprudência diz que a apreensão dispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto,
será convalidada mesmo sem mandado de busca e apreen- não podendo supri-lo a confissão do acusado.
são específico para isso. Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias
Ainda, é possível que haja a busca pessoal como medi- serão realizados por perito oficial, portador de diploma de
da preventiva, como por exemplo a revista da pessoa, sem curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
a exigência de mandado para tanto.
§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado
por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de
TÍTULO VII
DA PROVA curso superior preferencialmente na área específica, dentre
CAPÍTULO I as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natu-
DISPOSIÇÕES GERAIS reza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromis-
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apre- so de bem e fielmente desempenhar o encargo. (Redação
ciação da prova produzida em contraditório judicial, não dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos § 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assis-
elementos informativos colhidos na investigação, ressal- tente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acu-
vadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. sado a formulação de quesitos e indicação de assistente
(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

15
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na
pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do posição em que forem encontrados, bem como, na medi-
laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas da do possível, todas as lesões externas e vestígios deixa-
desta decisão. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) dos no local do crime. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de
§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido 28.3.1994)
às partes, quanto à perícia: (Incluído pela Lei nº 11.690, de Art. 165. Para representar as lesões encontradas no
2008) cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devi-
prova ou para responderem a quesitos, desde que o man- damente rubricados.
dado de intimação e os quesitos ou questões a serem es- Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do ca-
clarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima dáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo
de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em lau- Instituto de Identificação e Estatística ou repartição con-
do complementar; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) gênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresen- de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o
tar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inqui- cadáver, com todos os sinais e indicações.
ridos em audiência. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e
§ 6o Havendo requerimento das partes, o material pro- autenticados todos os objetos encontrados, que possam ser
batório que serviu de base à perícia será disponibilizado no úteis para a identificação do cadáver.
ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guar- Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito,
por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal
da, e na presença de perito oficial, para exame pelos assis-
poderá suprir-lhe a falta.
tentes, salvo se for impossível a sua conservação. (Incluído
Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro
pela Lei nº 11.690, de 2008)
exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame
§ 7o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais
complementar por determinação da autoridade policial ou ju-
de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á diciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do
designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.
indicar mais de um assistente técnico. (Incluído pela Lei nº § 1o No exame complementar, os peritos terão presente
11.690, de 2008) o auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou
Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde retificá-lo.
descreverão minuciosamente o que examinarem, e respon- § 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do
derão aos quesitos formulados. (Redação dada pela Lei nº delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo
8.862, de 28.3.1994) que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no § 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida
prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorro- pela prova testemunhal.
gado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos. Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver
(Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) sido praticada a infração, a autoridade providenciará ime-
Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito diatamente para que não se altere o estado das coisas até a
em qualquer dia e a qualquer hora. chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com
Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos. (Vide Lei nº
depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos si- 5.970, de 1973)
nais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alte-
prazo, o que declararão no auto. rações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as con-
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará seqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos. (Incluído
o simples exame externo do cadáver, quando não houver pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
infração penal que apurar, ou quando as lesões externas Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão
permitirem precisar a causa da morte e não houver neces- material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sem-
sidade de exame interno para a verificação de alguma cir- pre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas
cunstância relevante. fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.
Art. 171. Nos crimes cometidos com destruição ou rom-
Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavé-
pimento de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de
rico, a autoridade providenciará para que, em dia e hora
escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão
previamente marcados, se realize a diligência, da qual se
com que instrumentos, por que meios e em que época presu-
lavrará auto circunstanciado.
mem ter sido o fato praticado.
Parágrafo único. O administrador de cemitério públi- Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação
co ou particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de coisas destruídas, deterioradas ou que constituam pro-
de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem duto do crime.
indique a sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lu- Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os
gar não destinado a inumações, a autoridade procederá às peritos procederão à avaliação por meio dos elementos
pesquisas necessárias, o que tudo constará do auto. existentes nos autos e dos que resultarem de diligências.

16
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Art.  173. No caso de incêndio, os peritos verificarão Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo
a causa e o lugar em que houver começado, o perigo que aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.
dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, Art. 183. Nos crimes em que não couber ação pública,
a extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias observar-se-á o disposto no art. 19.
que interessarem à elucidação do fato. Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito,
Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia requerida
por comparação de letra, observar-se-á o seguinte: pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento
I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o da verdade.
escrito será intimada para o ato, se for encontrada;
II - para a comparação, poderão servir quaisquer do- CAPÍTULO III
cumentos que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO
judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre Art. 185. O acusado que comparecer perante a auto-
ridade judiciária, no curso do processo penal, será qualifi-
cuja autenticidade não houver dúvida;
cado e interrogado na presença de seu defensor, consti-
III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para
tuído ou nomeado. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de
o exame, os documentos que existirem em arquivos ou es-
1º.12.2003)
tabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se
§ 1o O interrogatório do réu preso será realizado, em
daí não puderem ser retirados; sala própria, no estabelecimento em que estiver recolhi-
IV - quando não houver escritos para a comparação ou do, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do
forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que membro do Ministério Público e dos auxiliares bem como
a pessoa escreva o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a a presença do defensor e a publicidade do ato. (Redação
pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá dada pela Lei nº 11.900, de 2009)
ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras § 2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamen-
que a pessoa será intimada a escrever. tada, de ofício ou a requerimento das partes, poderá reali-
Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos em- zar o interrogatório do réu preso por sistema de videocon-
pregados para a prática da infração, a fim de se Ihes verifi- ferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de
car a natureza e a eficiência. sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja
Art. 176. A autoridade e as partes poderão formular necessária para atender a uma das seguintes finalidades:
quesitos até o ato da diligência. (Redação dada pela Lei nº 11.900, de 2009)
Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos I - prevenir risco à segurança pública, quando exista
peritos far-se-á no juízo deprecado. Havendo, porém, no fundada suspeita de que o preso integre organização cri-
caso de ação privada, acordo das partes, essa nomeação minosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o
poderá ser feita pelo juiz deprecante. deslocamento; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
Parágrafo único. Os quesitos do juiz e das partes serão II - viabilizar a participação do réu no referido ato pro-
transcritos na precatória. cessual, quando haja relevante dificuldade para seu com-
Art. 178. No caso do art. 159, o exame será requisitado parecimento em juízo, por enfermidade ou outra circuns-
pela autoridade ao diretor da repartição, juntando-se ao tância pessoal; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
processo o laudo assinado pelos peritos. III - impedir a influência do réu no ânimo de teste-
Art. 179. No caso do § 1o do art. 159, o escrivão lavrará munha ou da vítima, desde que não seja possível colher o
o auto respectivo, que será assinado pelos peritos e, se depoimento destas por videoconferência, nos termos do
presente ao exame, também pela autoridade. art. 217 deste Código; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública
Parágrafo único. No caso do art. 160, parágrafo único,
. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
o laudo, que poderá ser datilografado, será subscrito e ru-
§ 3o Da decisão que determinar a realização de inter-
bricado em suas folhas por todos os peritos.
rogatório por videoconferência, as partes serão intimadas
Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão
com 10 (dez) dias de antecedência. (Incluído pela Lei nº
consignadas no auto do exame as declarações e respostas 11.900, de 2009)
de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o § 4o Antes do interrogatório por videoconferência, o
seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este di- preso poderá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnoló-
vergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a gico, a realização de todos os atos da audiência única de
novo exame por outros peritos. instrução e julgamento de que tratam os arts. 400, 411 e
Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, 531 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
ou no caso de omissões, obscuridades ou contradições, a § 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz
autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, com- garantirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada
plementar ou esclarecer o laudo. (Redação dada pela Lei nº com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica
8.862, de 28.3.1994) também garantido o acesso a canais telefônicos reservados
Parágrafo único. A autoridade poderá também orde- para comunicação entre o defensor que esteja no presídio
nar que se proceda a novo exame, por outros peritos, se e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e
julgar conveniente. entre este e o preso. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)

17
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

§ 6o A sala reservada no estabelecimento prisional IV - as provas já apuradas; (Incluído pela Lei nº 10.792,
para a realização de atos processuais por sistema de vi- de 1º.12.2003)
deoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas
juiz de cada causa, como também pelo Ministério Público e ou por inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar con-
pela Ordem dos Advogados do Brasil. (Incluído pela Lei nº tra elas; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
11.900, de 2009) VI - se conhece o instrumento com que foi praticada
§ 7o Será requisitada a apresentação do réu preso em a infração, ou qualquer objeto que com esta se relacione
juízo nas hipóteses em que o interrogatório não se realizar e tenha sido apreendido; (Incluído pela Lei nº 10.792, de
na forma prevista nos §§ 1o e 2o deste artigo. (Incluído pela 1º.12.2003)
Lei nº 11.900, de 2009) VII - todos os demais fatos e pormenores que con-
§ 8o Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo, duzam à elucidação dos antecedentes e circunstâncias da
no que couber, à realização de outros atos processuais que infração; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
dependam da participação de pessoa que esteja presa, VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa. (Incluí-
como acareação, reconhecimento de pessoas e coisas, e do pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
inquirição de testemunha ou tomada de declarações do Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz inda-
ofendido. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) gará das partes se restou algum fato para ser esclarecido,
§ 9o Na hipótese do § 8o deste artigo, fica garantido o formulando as perguntas correspondentes se o entender
acompanhamento do ato processual pelo acusado e seu pertinente e relevante. (Redação dada pela Lei nº 10.792,
defensor. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009) de 1º.12.2003)
§ 10. Do interrogatório deverá constar a informação Art. 189. Se o interrogando negar a acusação, no todo
sobre a existência de filhos, respectivas idades e se pos- ou em parte, poderá prestar esclarecimentos e indicar pro-
suem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual vas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pes- Art. 190. Se confessar a autoria, será perguntado so-
soa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) bre os motivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas
Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientifi- concorreram para a infração, e quais sejam. (Redação dada
cado do inteiro teor da acusação, o acusado será informa- pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
do pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interro-
de permanecer calado e de não responder perguntas que gados separadamente. (Redação dada pela Lei nº 10.792,
lhe forem formuladas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de de 1º.12.2003)
1º.12.2003) Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em surdo-mudo será feito pela forma seguinte: (Redação dada
confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da de- pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
fesa. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003) I - ao surdo serão apresentadas por escrito as pergun-
Art. 187. O interrogatório será constituído de duas tas, que ele responderá oralmente; (Redação dada pela Lei
partes: sobre a pessoa do acusado e sobre os fatos. (Reda- nº 10.792, de 1º.12.2003)
ção dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003) II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, res-
§ 1o Na primeira parte o interrogando será pondendo-as por escrito; (Redação dada pela Lei nº 10.792,
perguntado sobre a residência, meios de vida ou profissão, de 1º.12.2003)
oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade, III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas
vida pregressa, notadamente se foi preso ou processado por escrito e do mesmo modo dará as respostas. (Redação
alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo do processo, dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
se houve suspensão condicional ou condenação, qual a Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou
pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares e escrever, intervirá no ato, como intérprete e sob compro-
sociais. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003) misso, pessoa habilitada a entendê-lo. (Redação dada pela
§ 2o Na segunda parte será perguntado sobre: (Incluí- Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
do pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003) Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua
I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita; (Incluído nacional, o interrogatório será feito por meio de intérprete.
pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003) (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum Art. 194. (Revogado pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
motivo particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa Art. 195. Se o interrogado não souber escrever, não
ou pessoas a quem deva ser imputada a prática do crime, puder ou não quiser assinar, tal fato será consignado no
e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da termo. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
infração ou depois dela; (Incluído pela Lei nº 10.792, de Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo
1º.12.2003) interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de
III - onde estava ao tempo em que foi cometida a in- qualquer das partes. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de
fração e se teve notícia desta; (Incluído pela Lei nº 10.792, 1º.12.2003)
de 1º.12.2003)

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

CAPÍTULO IV CAPÍTULO VI
DA CONFISSÃO DAS TESTEMUNHAS

Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos crité- Art. 202. Toda pessoa poderá ser testemunha.
rios adotados para os outros elementos de prova, e para a Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a
sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais promessa de dizer a verdade do que souber e Ihe for per-
provas do processo, verificando se entre ela e estas existe guntado, devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado
compatibilidade ou concordância. e sua residência, sua profissão, lugar onde exerce sua ativi-
Art. 198. O silêncio do acusado não importará confis- dade, se é parente, e em que grau, de alguma das partes,
são, mas poderá constituir elemento para a formação do ou quais suas relações com qualquer delas, e relatar o que
convencimento do juiz. souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou as cir-
Art.  199. A confissão, quando feita fora do interro- cunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade.
gatório, será tomada por termo nos autos, observado o Art. 204. O depoimento será prestado oralmente, não
disposto no art. 195. sendo permitido à testemunha trazê-lo por escrito.
Parágrafo único. Não será vedada à testemunha, entre-
Art.  200. A confissão será divisível e retratável, sem
tanto, breve consulta a apontamentos.
prejuízo do livre convencimento do juiz, fundado no exa-
Art. 205. Se ocorrer dúvida sobre a identidade da tes-
me das provas em conjunto.
temunha, o juiz procederá à verificação pelos meios ao seu
alcance, podendo, entretanto, tomar-lhe o depoimento des-
CAPÍTULO V de logo.
DO OFENDIDO Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obri-
(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) gação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o
ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge,
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qua- ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho
lificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por ou-
quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que pos- tro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas
sa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. circunstâncias.
(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em
§ 1o Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guar-
sem motivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à pre- dar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada,
sença da autoridade. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) quiserem dar o seu testemunho.
§ 2o O ofendido será comunicado dos atos proces- Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude
suais relativos ao ingresso e à saída do acusado da pri- o art. 203 aos doentes e deficientes mentais e aos menores
são, à designação de data para audiência e à sentença e de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art.
respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem. 206.
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir
§ 3o As comunicações ao ofendido deverão ser feitas outras testemunhas, além das indicadas pelas partes.
no endereço por ele indicado, admitindo-se, por opção § 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as
do ofendido, o uso de meio eletrônico. (Incluído pela Lei pessoas a que as testemunhas se referirem.
nº 11.690, de 2008) § 2o Não será computada como testemunha a pessoa
§ 4o Antes do início da audiência e durante a sua rea- que nada souber que interesse à decisão da causa.
lização, será reservado espaço separado para o ofendido. Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de
per si, de modo que umas não saibam nem ouçam os de-
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
poimentos das outras, devendo o juiz adverti-las das penas
§ 5o Se o juiz entender necessário, poderá encami-
cominadas ao falso testemunho. (Redação dada pela Lei nº
nhar o ofendido para atendimento multidisciplinar, espe-
11.690, de 2008)
cialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e
Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante
de saúde, a expensas do ofensor ou do Estado. (Incluído a sua realização, serão reservados espaços separados para a
pela Lei nº 11.690, de 2008) garantia da incomunicabilidade das testemunhas. (Incluído
§ 6o O juiz tomará as providências necessárias à pre- pela Lei nº 11.690, de 2008)
servação da intimidade, vida privada, honra e imagem do Art. 211. Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reco-
ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de nhecer que alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou
justiça em relação aos dados, depoimentos e outras in- negou a verdade, remeterá cópia do depoimento à autorida-
formações constantes dos autos a seu respeito para evitar de policial para a instauração de inquérito.
sua exposição aos meios de comunicação. (Incluído pela Parágrafo único. Tendo o depoimento sido prestado em
Lei nº 11.690, de 2008) plenário de julgamento, o juiz, no caso de proferir decisão
na audiência (art. 538, § 2o), o tribunal (art. 561), ou o con-
selho de sentença, após a votação dos quesitos, poderão
fazer apresentar imediatamente a testemunha à autoridade
policial.

19
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes § 1o O Presidente e o Vice-Presidente da República, os
diretamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados
que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a e do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela presta-
causa ou importarem na repetição de outra já respondida. ção de depoimento por escrito, caso em que as perguntas,
(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o transmitidas por ofício. (Redação dada pela Lei nº 6.416,
juiz poderá complementar a inquirição. (Incluído pela Lei nº de 24.5.1977)
11.690, de 2008) § 2o Os militares deverão ser requisitados à autoridade
Art. 213. O juiz não permitirá que a testemunha mani- superior. (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
feste suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis § 3o Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto
da narrativa do fato. no art. 218, devendo, porém, a expedição do mandado ser
Art. 214. Antes de iniciado o depoimento, as partes po- imediatamente comunicada ao chefe da repartição em que
derão contraditar a testemunha ou argüir circunstâncias ou servirem, com indicação do dia e da hora marcados. (Incluí-
defeitos, que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de do pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
fé. O juiz fará consignar a contradita ou argüição e a respos- Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição
ta da testemunha, mas só excluirá a testemunha ou não Ihe do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência,
deferirá compromisso nos casos previstos nos arts. 207 e 208. expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo
Art. 215. Na redação do depoimento, o juiz deverá razoável, intimadas as partes.
cingir-se, tanto quanto possível, às expressões usadas pelas § 1o A expedição da precatória não suspenderá a ins-
testemunhas, reproduzindo fielmente as suas frases. trução criminal.
Art. 216. O depoimento da testemunha será reduzido § 2o Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julga-
a termo, assinado por ela, pelo juiz e pelas partes. Se a tes- mento, mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida,
temunha não souber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá será junta aos autos.
a alguém que o faça por ela, depois de lido na presença de § 3o Na hipótese prevista no caput deste artigo,
ambos. a oitiva de testemunha poderá ser realizada por meio
Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu po- de videoconferência ou outro recurso tecnológico de
derá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à transmissão de sons e imagens em tempo real, permitida
testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a ver- a presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive,
dade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência durante a realização da audiência de instrução e julgamento.
e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se
do seu defensor. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, ar-
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas cando a parte requerente com os custos de envio. (Incluído
previstas no caput deste artigo deverá constar do termo, pela Lei nº 11.900, de 2009)
assim como os motivos que a determinaram. (Incluído pela Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o dis-
Lei nº 11.690, de 2008) posto nos §§ 1o e 2o do art. 222 deste Código. (Incluído pela
Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha dei- Lei nº 11.900, de 2009)
xar de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá Art. 223. Quando a testemunha não conhecer a língua
requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou de- nacional, será nomeado intérprete para traduzir as pergun-
terminar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá tas e respostas.
solicitar o auxílio da força pública. Parágrafo único. Tratando-se de mudo, surdo ou sur-
Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a do-mudo, proceder-se-á na conformidade do art. 192.
multa prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal Art. 224. As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro
por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento de um ano, qualquer mudança de residência, sujeitando-se,
das custas da diligência. (Redação dada pela Lei nº 6.416, pela simples omissão, às penas do não-comparecimento.
de 24.5.1977) Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-
Art. 220. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade -se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de
ou por velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz po-
onde estiverem. derá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes,
Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.
os senadores e deputados federais, os ministros de Estado,
os governadores de Estados e Territórios, os secretários de CAPÍTULO VII
Estado, os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os DO RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS
deputados às Assembléias Legislativas Estaduais, os mem-
bros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o
de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte
como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia forma:
e hora previamente ajustados entre eles e o juiz. (Redação I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será
dada pela Lei nº 3.653, de 4.11.1959) convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será Art. 233. As cartas particulares, interceptadas ou ob-
colocada, se possível, ao lado de outras que com ela ti- tidas por meios criminosos, não serão admitidas em juízo.
verem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas em
fazer o reconhecimento a apontá-la; juízo pelo respectivo destinatário, para a defesa de seu di-
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada reito, ainda que não haja consentimento do signatário.
para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra Art. 234. Se o juiz tiver notícia da existência de docu-
influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve mento relativo a ponto relevante da acusação ou da defe-
ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta sa, providenciará, independentemente de requerimento de
não veja aquela; qualquer das partes, para sua juntada aos autos, se possí-
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto porme- vel.
norizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada Art. 235. A letra e firma dos documentos particulares
para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas serão submetidas a exame pericial, quando contestada a
presenciais. sua autenticidade.
Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não
Art. 236. Os documentos em língua estrangeira, sem
terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário
prejuízo de sua juntada imediata, serão, se necessário, tra-
de julgamento.
duzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idô-
Art. 227. No reconhecimento de objeto, proceder-se-á
com as cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que nea nomeada pela autoridade.
for aplicável. Art. 237. As públicas-formas só terão valor quando
Art. 228. Se várias forem as pessoas chamadas a efe- conferidas com o original, em presença da autoridade.
tuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma Art. 238. Os documentos originais, juntos a processo
fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunica- findo, quando não exista motivo relevante que justifique
ção entre elas. a sua conservação nos autos, poderão, mediante requeri-
mento, e ouvido o Ministério Público, ser entregues à parte
CAPÍTULO VIII que os produziu, ficando traslado nos autos.
DA ACAREAÇÃO
CAPÍTULO X
Art. 229. A acareação será admitida entre acusados, DOS INDÍCIOS
entre acusado e testemunha, entre testemunhas, entre
acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as Art.  239. Considera-se indício a circunstância conhe-
pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em suas decla- cida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize,
rações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes. por indução, concluir-se a existência de outra ou outras
Parágrafo único. Os acareados serão reperguntados, circunstâncias.
para que expliquem os pontos de divergências, reduzindo-
-se a termo o ato de acareação. CAPÍTULO XI
Art. 230. Se ausente alguma testemunha, cujas decla- DA BUSCA E DA APREENSÃO
rações divirjam das de outra, que esteja presente, a esta se
darão a conhecer os pontos da divergência, consignando- Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.
-se no auto o que explicar ou observar. Se subsistir a dis- § 1o Proceder-se-á à busca domiciliar, quando funda-
cordância, expedir-se-á precatória à autoridade do lugar das razões a autorizarem, para:
onde resida a testemunha ausente, transcrevendo-se as a) prender criminosos;
declarações desta e as da testemunha presente, nos pontos
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios cri-
em que divergirem, bem como o texto do referido auto, a
minosos;
fim de que se complete a diligência, ouvindo-se a testemu-
c) apreender instrumentos de falsificação ou de con-
nha ausente, pela mesma forma estabelecida para a teste-
munha presente. Esta diligência só se realizará quando não trafação e objetos falsificados ou contrafeitos;
importe demora prejudicial ao processo e o juiz a entenda d) apreender armas e munições, instrumentos utiliza-
conveniente. dos na prática de crime ou destinados a fim delituoso;
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou
CAPÍTULO IX à defesa do réu;
DOS DOCUMENTOS f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao
acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o
Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação
poderão apresentar documentos em qualquer fase do pro- do fato;
cesso. g) apreender pessoas vítimas de crimes;
Art. 232. Consideram-se documentos quaisquer escri- h) colher qualquer elemento de convicção.
tos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares. § 2o Proceder-se-á à busca pessoal quando houver
Parágrafo único. À fotografia do documento, fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma proi-
devidamente autenticada, se dará o mesmo valor do bida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do
original. parágrafo anterior.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Art. 241. Quando a própria autoridade policial ou judi- Art. 249. A busca em mulher será feita por outra
ciária não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deve- mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da di-
rá ser precedida da expedição de mandado. ligência.
Art. 242. A busca poderá ser determinada de ofício ou Art. 250. A autoridade ou seus agentes poderão pe-
a requerimento de qualquer das partes. netrar no território de jurisdição alheia, ainda que de ou-
Art. 243. O mandado de busca deverá: tro Estado, quando, para o fim de apreensão, forem no
I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que seguimento de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à
será realizada a diligência e o nome do respectivo proprie- competente autoridade local, antes da diligência ou após,
tário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da conforme a urgência desta.
pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem; § 1o Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes
II - mencionar o motivo e os fins da diligência; vão em seguimento da pessoa ou coisa, quando:
III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autori- a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou
dade que o fizer expedir. transporte, a seguirem sem interrupção, embora depois a
§ 1o Se houver ordem de prisão, constará do próprio percam de vista;
texto do mandado de busca. b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo,
§ 2o Não será permitida a apreensão de documento por informações fidedignas ou circunstâncias indiciárias,
em poder do defensor do acusado, salvo quando constituir que está sendo removida ou transportada em determinada
elemento do corpo de delito. direção, forem ao seu encalço.
Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, § 2o Se as autoridades locais tiverem fundadas razões
no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de para duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas
que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de obje- diligências, entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade
tos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a dos mandados que apresentarem, poderão exigir as pro-
medida for determinada no curso de busca domiciliar. vas dessa legitimidade, mas de modo que não se frustre a
Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de diligência.
dia, salvo se o morador consentir que se realizem à noite,
e, antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão
e lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente, 2.4.6 DA PRISÃO, DAS MEDIDAS
intimando-o, em seguida, a abrir a porta. CAUTELARES E DA LIBERDADE PROVISÓRIA:
§ 1o Se a própria autoridade der a busca, declarará pre- ARTIGOS 282 A 350.
viamente sua qualidade e o objeto da diligência.
§ 2o Em caso de desobediência, será arrombada a por-
ta e forçada a entrada.
§ 3o Recalcitrando o morador, será permitido o em- A Prisão pode ser significa o cerceamento da liberdade
prego de força contra coisas existentes no interior da casa, de locomoção. É o restrição do direito de ir, vir ou ficar.
para o descobrimento do que se procura. È uma medida restritiva de liberdade, de natureza
§ 4o Observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o, quando cautelar e caráter eminentemente administrativo, que
ausentes os moradores, devendo, neste caso, ser intimado não exige ordem escrita do juiz, porque o fato ocorre de
a assistir à diligência qualquer vizinho, se houver e estiver inopino (art. 5º, LXI, CR/88). A invasão do lar é permitida
presente. pela Constituição Federal em caso de flagrante.
§ 5o Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai Pode se originar da decisão condenatória transitada
procurar, o morador será intimado a mostrá-la. em julgado, chamada de prisão-pena, a qual possui cará-
§ 6o Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será ter satisfatório; pode ocorrer durante a persecução penal,
imediatamente apreendida e posta sob custódia da autori- antes do marco final do processo, ao se demonstrar a exis-
dade ou de seus agentes. tência de risco face a permanência em liberdade do agente.
§ 7o Finda a diligência, os executores lavrarão auto cir- É conhecida como prisão sem pena, prisão cautelar, prisão
cunstanciado, assinando-o com duas testemunhas presen- provisória ou prisão processual.
ciais, sem prejuízo do disposto no § 4o. Prisões:
Art. 246. Aplicar-se-á também o disposto no artigo Prisão decorrente de flagrante delito;
anterior, quando se tiver de proceder a busca em compar- Prisão temporária;
timento habitado ou em aposento ocupado de habitação Prisão preventiva;
coletiva ou em compartimento não aberto ao público, Prisão decorrente de sentença (ou acórdão) condena-
onde alguém exercer profissão ou atividade. tória transitada em julgado.
Art. 247. Não sendo encontrada a pessoa ou coisa
procurada, os motivos da diligência serão comunicados a Prisão em Flagrante (arts. 301 a 310)
quem tiver sofrido a busca, se o requerer.
Art. 248. Em casa habitada, a busca será feita de modo É uma medida restritiva de liberdade, de natureza
que não moleste os moradores mais do que o indispensá- cautelar e caráter eminentemente administrativo, que não
vel para o êxito da diligência. exige ordem escrita do juiz, porque o fato ocorre de inopino

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

(art. 5º, LXI, CR/88). É uma forma de autopreservação e Flagrante Preparado ou Provocado
autodefesa da sociedade, facultando-se a qualquer do Flagrante em que o agente é induzido ou instigado a
povo a sua realização, sendo que os posteriores atos de cometer o delito, sendo preso no ato. É artifício onde ver-
documentação ocorrerão normalmente na delegacia de dadeira armadilha é maquinada no intuito de prender em
polícia. flagrante aquele que cede à tentação e acaba praticando a
Relativamente à proteção ao lar, a pessoa pode ser pre- infração.
sa em flagrante delito a qualquer tempo, de acordo com o
art. 5º, XI, da CR/88. Súmula 145, STF: “Não há crime quando a preparação
do flagrante pela polícia torna impossível a sua consuma-
Espécies de Flagrante ção”.

Flagrante Próprio, Propriamente Dito, Real ou Verda- A súmula para o STF, com a preparação do flagrante e
deiro (art. 302, I e II, CPP) consequente realização da prisão, existiria crime só na apa-
Nele, o agente é surpreendido com a mão na massa, rência, já que o resultado da prática supostamente delituo-
cometendo a infração penal ou quando acaba de cometê- sa já era conhecido pela polícia de antemão e ela já estaria
-la. A prisão deve ocorrer de imediato, sem o decurso de com toda a estrutura montada para prender o agente logo
qualquer intervalo de tempo. após a conduta. Assim, haveria verdadeiro crime impossí-
vel, por absoluta ineficácia do meio ou absoluta improprie-
Flagrante Impróprio, Irreal ou Quase-Flagrante (art. dade do objeto criminoso.
302, III) Entretanto, se, preparando o flagrante, o agente conse-
Flagrante em que o agente é perseguido logo após a gue consumar o delito e fugir, o crime restará plenamente
infração, em situação que faça presumir ser o autor do fato. caracterizado.
Não existe prazo certo para a expressão logo após, sendo Não é flagrante preparado o caso de se prender al-
equivocada a doutrina que aponta o prazo de 24 horas. guém, que adentra no território nacional portando drogas,
Não havendo solução de continuidade, isto é, se a per- após o recebimento de notícias sobre esse fato. A polícia
seguição não for interrompida, mesmo que dure dias ou esperará a pessoa chegar e efetuará a prisão. Note-se que
até mesmo semanas, em havendo êxito na captura do per- o indivíduo já estava com o crime em andamento.
seguido, estar-se-á diante de flagrante delito.
Flagrante Prorrogado, Retardado, Diferido, Postergado
Flagrante Presumido, Ficto ou Assimilado (art. 302, IV)
ou Ação Controlada
Flagrante em que o agente é preso após cometer a in-
Ocorre quando a polícia deixa de efetuar a prisão, mes-
fração, quando encontrado com instrumentos ou produtos
mo presenciando o crime, pois do ponto de vista estratégi-
do crime, armas, objetos ou papéis que permitam presumir
co seria a melhor opção.
ser ele o autor da infração.
Previsto no art. 2º, II, da Lei nº 9.034/95 (Lei de Comba-
Nessa espécie de flagrante não se exige persegui-
te às Organizações Criminosas). Não é necessária autoriza-
ção. Exige-se, entretanto, que a autoridade ponha-se a
ção judicial nem prévia oitiva do MP, cabendo à autoridade
procurar o agente logo após ter notícia do acontecimento
do crime. policial administrar a conveniência ou não da postergação.
Ela não pode ser utilizada para abarcar atividades de qua-
Flagrante Compulsório ou Obrigatório drilhas ou bandos, apenas de organizações criminosas.
Alcança a atuação das forças de segurança englobando
as polícias civis, militares, federal, rodoviárias, ferroviárias e Já no flagrante diferido previsto na Lei nº 11.343/06, é
o corpo de bombeiros. Elas têm o dever de, enquanto em necessária autorização judicial e prévia oitiva do MP, além
serviço, efetuar a prisão em flagrante. do conhecimento do provável itinerário da droga e dos
eventuais agentes do delito ou colaboradores.
Flagrante Facultativo
É a permissão constitucional de que qualquer do Flagrante Forjado
povo efetue a prisão em flagrante. Ela abrange também as É o flagrante armado, fabricado para incriminar pessoa
autoridades policiais fora de serviço. inocente. Evidentemente é ilícito, sendo o único infrator
aqui o agente executor da prisão.
Flagrante Esperado
Não está disciplinado na legislação, sendo uma idea- Flagrante por Apresentação
lização doutrinária. Ocorre quando a polícia, sabendo que Não é flagrante propriamente dito, pois quem se en-
um crime irá se consumar, fica de tocaia, realizando a pri- trega à polícia não se enquadra em nenhuma das hipóteses
são quando os atos executórios são deflagrados. Apesar legais autorizadoras do flagrante. Assim, não será lavrado
de não indicado, o particular também poderá efetuar o fla- APFD, apesar de poder o agente ter sua prisão preventiva
grante esperado. decretada pela autoridade policial.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Flagrante Vedado Nos crimes particados com violência doméstica contra


São hipóteses em que a autoridade não pode, de for- a mulher, não se aplica a Lei nº 9.099/95; assim, mediante
ma alguma, decretar o flagrante delito, sob pena de ilega- uma infraçao de menor potencial ofensivo, ao invés de TCO
lidade manifesta. será lavrado APFD (art. 41, lei nº 11.340/06).
Assim, não se decreta a prisão em flagrante, ou seja, se
decretada, deverá ser relaxada: Sujeitos do Flagrante
Com o advento da lei dos juizados especiais criminais,
aquele que for capturado em flagrante pela prática de Sujeito Ativo
crimes de menor potencial ofensivo, e assumir o compro- É aquele que efetua a prisão. Pode ser qualquer pessoa,
misso de comparecer ao Juizado, a ele não será imposta a policial ou não. Não se confunde o sujeito ativo com o
prisão em flagrante (será elaborado o Termo Circunstan- condutor, que é a pessoa que apresenta o preso à polícia
ciado). Assim, praticamente, todas as hipóteses em que o
(evidentemente, poderão ser a mesma pessoa).
réu se livra solto estão abrangidas pelo conceito de crime
de menor potencial ofensivo (por isso que caiu em desu-
so). A jurisprudência majoritariamente (STJ e STF) entende Sujeito Passivo
que os crimes de menor potencial ofensivo são os crimes É aquele detido na situação de flagrância. Em regra,
com pena máxima de até 02 anos. Assim, a hipótese de pode ser qualquer pessoa, respeitadas as exceções de
incidência do artigo 323 será aplicada na hipótese excep- determinados indivíduos, quais sejam:
cional de o indivíduo não assumir o compromisso (aliás, Presidente da República: nunca poderá ser preso em
o descumprimento do compromisso de comparecimento flagrante ou por outra prisão cautelar (art. 86, § 3º, CR/88).
não traz qualquer consequência para o indivíduo, mesmo Diplomatas estrangeiros: podem não ser presos em
se ele não comparecer). flagrante, a depender de tratados e convenções interna-
A Lei nº 9.503/97 (CTB) (artigo 301) prevê que ao con- cionais.
dutor por delito de trânsito NÃO se imporá a prisão em Membros do Congresso Nacional e Assembleias Legis-
flagrante se ele prestar pronto e integral socorro à vítima. lativas: só podem ser presos em flagrante delito por prática
No caso do art. 28 da Lei de Drogas. de crime inafiançável, devendo os autos, no caso, ser reme-
tidos à respectiva Casa para que, mediante provocação de
Flagrante nas Várias Espécies de Crime partido e pelo voto da maioria de seus membros, resolva
Crimes permantentes: enquanto não cessada a perma- sobre a prisão (art. 53, § 2º, CR/88).
nência poderá haver flagrante a qualquer tempo. Magistrados: só poderão ser presos em flagrante por
Crime habitual: de acordo com Tourinho, não é possível
crime inafiançável, devendo os autos serem encaminhados
o flagrante no crime habitual, já que este ocorre somente
ao Presidente do respectivo Tribunal (art. 33, II, LOMAN).
quando a conduta típica se integra com a prática de diver-
sas açoes. Se houver o flagrante antes da consumação, os Membros do MP: idem, devendo os autos serem en-
atos realizados serão indiferentes penais, não passíveis de caminhados ao respectivo Procurador-Geral (art. 40, III,
configurar qualquer crime. LONMP).
Crime de ação penal privada e ação pública condicio- Advogados: somente poderá ser preso em flagrante,
nada: nada impede a realizaçao do flagrante nestes crimes. por motivo de exercício da profissão, em caso de crime ina-
Porém, para a lavratura do APFD, deverá haver mani- fiançável, sendo necessária a presença de representante da
festação de vontade da pessoa legitimada a propor a OAB para se lavrar o auto, sob pena de nulidade (art. 7º, §
ação ou a representar. Caso a vítima não possa ir ime- 3º, EOAB).
diatamente à delegacia, por ter sido conduzida ao hospital Menores de 18 anos: penalmente inimputáveis, somen-
ou por qualquer outro motivo relevante, poderá fazê-lo no te poderão ser privados da liberdade, mediante determina-
prazo de entrega da nota de culpa. Caso preso o agente em ção escrita e fundamentada do juiz ou mediante flagrante
flagrante e a vítima não autorize, não poderá ser lavrado o de prática de ato infracional (art. 106, ECA).
auto, devendo o agente ser liberado. Motoristas: no caso de crime de trânsito, se prestarem
Crime continuado: o flagrante se dará de forma fra- pronto e integral socorro à vítima de acidente de trânsito
cionada, já que as várias ações são independentes entre si, no qual se envolveu, não poderá ser preso em flagrante
somente havendo a continuidade para fins de diminuição nem poderá ser-lhe exigida fiança (art. 301, CTB).
da pena quando da dosimetria penal. O flagrante é possível
para cada crime isoladamente. Autoridade Competente
Infração de menor potencial ofensivo: não haverá la-
Via de regra, é competente para presidir a lavratura do
vratura de APFD, e sim de TCO (Termo Circunstanciado
de Ocorrência), desde que o infrator seja imediatamente auto a autoridade policial da circunscrição onde foi efetua-
enaminhado ao JECrim ou assuma o compromisso de lá da a prisão (art. 290, CPP).
comparecer na data designada pela autoridade policial. En-
tretanto, se ele se negar a tanto, lavra-se o APFD, reco- Procedimentos e Formalidades Legais
lhendo-se o infrator ao cárcere, salvo se for admitida e De acordo com Luís Flávio Gomes, a prisão em flagran-
paga a fiança. Lembrar que, no crime do art. 28 da Lei nº te conta com quatro momentos distintos:
11.343/06, é absolutamente impossível a prisão.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Captura do agente; Remessa à Autoridade e Manifestação sobre o Fla-


Condução coercitiva até a presença da autoridade po- grante
licial ou judicial; Em 24 horas da realização da prisão, será encaminha-
Lavratura do auto de prisão em flagrante; do à autoridade judicial competente o APFD acompanha-
Recolhimento ao cárcere. do de todas as oitivas colhidas e demais documentos e,
Deve ser dada especial atenção ao aspecto formal caso o autuado não indique advogado, será remetida có-
do ato, com a documentação da prisão efetuada em razão pia integral à defensoria pública (art. 306, § 1º).
da captura. Deve-se, pois, seguir os seguintes passos: Recebidos os autos, o juiz poderá relaxar a prisão, se
Comunicação à família do preso ou pessoa por ele in- tiver sido ilegal, concederá a liberdade provisória com ou
dicada sobre a prisão, antes de lavrar o auto (art. 5º, LXIII, sem medida cautelar, ou decretará a prisão preventiva, se
CR/88). presentes alguma das situações do art. 312 e se não se re-
Oitiva do condutor: quem apresentou o “meliante” na velarem adequadas ou suficientes as medidas cautelares
delegacia deverá ser ouvido, sendo suas declarações re- previstas no art. 319.
duzidas a termo, colhida sua assinatura e entregue cópia Tudo isso terá que ser feito de forma fundamen-
do termo e recibo de entrega do preso (esse recibo tem tada.
função acautelatória para o próprio condutor).
Oitiva das testemunhas: suas declarações serão re- Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o
duzidas a termo e assinadas. Devem ser, no mínimo, duas juiz deverá fundamentadamente:
testemunhas para o flagrante ser regular, ainda que uma I - relaxar a prisão ilegal; ou
ou ambas sejam meramente instrumentárias, aquelas sim- II - converter a prisão em flagrante em preventiva,
plesmente presentes na delegacia e que são convidadas a quando presentes os requisitos constantes do art. 312
assinar como testemunha o ato de ver a entrega do agente. deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficien-
Oitiva da vítima: não é requisito imposto pela lei, mas tes as medidas cautelares diversas da prisão; ou
é prática corrente no procedimento, até mesmo para forta- III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
lecer o valor probatório. Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de pri-
Oitiva do conduzido: o preso será ouvido, podendo, são em flagrante, que o agente praticou o fato nas condi-
entretanto, calar-se. Admite-se a presença do advogado, ções constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do
o qual, entretanto não é imprescindível. Lembrar que o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
procedimento pré-processual não é contraditório. Se o in- Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acu-
terrogatório não for realizado por força maior, o ato não sado liberdade provisória, mediante termo de compa-
restará viciado. recimento a todos os atos processuais, sob pena de
Decisão da autoridade: se a autoridade estiver con- revogação. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011)
vencida de que o flagrante é legítimo, determinará ao es- O art. 310 impede que ocorra as situações do sujeito
crivão que lavre e encerre o auto de flagrante. Porém, tam- ficar preso indefinidamente em flagrante. Ou ele é solto,
bém poderá liberar o detido caso verifique ilegalidade. ou é decretada sua prisão preventiva ou alguma medida
Logo, o policial também pode efetuar o relaxamento cautelar. A não adoção de alguma dessas determinações
de prisão. Decorre do princípio administrativo da autotu- constituirá flagrante ilegalidade por desrespeito à lei pro-
tela, pelo qual a administração deve anular seus próprios cessual.
atos quando ilegais.
Prisão em Flagrante: Réu Preso e Excesso de Prazo
Nota de Culpa É muito comum de ocorrer a manutenção do
A nota de culpa se presta a informar ao preso os res- flagrante sem decretação da prisão preventiva, o que não
ponsáveis por sua prisão e os motivos de fato da mesma, deveria se dar. Logo que recebe os autos, o juiz teria que,
contendo o nome do condutor e das tetemunhas, sendo necessariamente, se manifestar sobre o cabimento ou
assinada pela autoridade (art. 306, § 2º, CPP). não.
Será entregue em 24 horas da realização da prisão, Logo, a prisao em flagrante deve ocorrer pelo tempo
mediante recibo. Se o preso se negar a assinar, 02 testemu- suficiente para análise dos autos pelo juiz, e não como
nhas suprirão o ato. justificativa para o condenado ficar encarcerado até seu
A ENTREGA DA NOTA DE CULPA É DE VITAL IMPOR- julgamento, o que é ilegal.
TÂNCIA PARA A VALIDADE DA PRISÃO. Com a nota de Às vezes a ilegalidade ocorre até mesmo em função da
culpa, a garantia da informação é assegurada, tendo o pre- demora da remessa dos autos do flagrante da repartição
so a cientificação formal dos motivos pelo qual foi encarce- policial para o juízo.
rado, com a indicação de seus responsáveis.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Passemos a analisar a seguinte tabela:

Prisão em Flagrante
Flagrante Próprio,
Cometendo a infração penal ou quando acaba de cometê-la. A prisão deve
Propriamente Dito,
ocorrer de imediato, sem o decurso de qualquer intervalo de tempo.
Real ou Verdadeiro
Flagrante em que o agente é perseguido logo após a infração, em situação
Flagrante Impróprio,
que faça presumir ser o autor do fato. Ele não é visto praticando a infração,
Irreal ou Quase-
mas é perseguido. Não existe prazo certo para a expressão logo após, sendo
Flagrante
equivocada a doutrina que aponta o prazo de 24 horas.
Caso em que o agente é preso após cometer a infração, quando encontrado
Flagrante Presumido, com instrumentos ou produtos do crime, armas, objetos ou papéis que
Ficto ou Assimilado permitam presumir ser ele o autor da infração.
Nessa espécie de flagrante não se exige perseguição.
Flagrante Alcança a atuação das forças de segurança englobando as polícias civis,
Compulsório ou militares, federal, rodoviárias, ferroviárias e o corpo de bombeiros. Elas têm o
Obrigatório dever de, enquanto em serviço, efetuar a prisão em flagrante.
É a permissão constitucional de que qualquer pessoa efetue a prisão em
Flagrante Facultativo
flagrante, incluindo as autoridades policiais fora de serviço.
Quando a polícia, sabendo que um crime irá se consumar, fica de tocaia,
Flagrante Esperado
realizando a prisão quando os atos executórios são deflagrados.
Flagrante em que o agente é induzido ou instigado a cometer o delito, sendo
Flagrante Preparado preso no ato. É artifício onde verdadeira armadilha é maquinada no intuito
ou Provocado de prender em flagrante aquele que cede à tentação e acaba praticando a
infração.
Flagrante
Ocorre quando a polícia deixa de efetuar a prisão, mesmo presenciando o
Prorrogado,
crime, pois do ponto de vista estratégico seria a melhor opção. Organizações
Retardado, Diferido,
criminosas: não precisa de autorização judicial e oitiva do MP. Drogas: precisa.
Postergado
É o flagrante armado, fabricado para incriminar pessoa inocente. Evidentemente
Flagrante Forjado
é ilícito, sendo o único infrator aqui o agente executor da prisão.
Não é flagrante propriamente dito, pois quem se entrega à polícia não se
Flagrante por enquadra em nenhuma das hipóteses legais autorizadoras do flagrante. Assim,
Apresentação não será lavrado APFD, apesar de poder o agente ter sua prisão preventiva
decretada pela autoridade policial.
São hipóteses em que a autoridade não pode, de forma alguma, decretar o
Flagrante Vedado
flagrante delito, sob pena de ilegalidade manifesta.
Procedimento: deverá ser o agente conduzido à delegacia, identificados e ouvidos os condutores,
as testemunhas, a vítima e, por fim, o agente. Se não relaxada a prisão ou se não arbitrada fiança,
deve ser entregue ao condutor a nota de culpa. Assim, no prazo máximo de 24 horas, devem os autos
serem remetidos ao juiz, que deverá relaxar a prisão, conceder liberdade provisória com ou sem
medida cautelar, ou decretar a prisão preventiva presentes os pressupostos.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Prisão Preventiva 2-Enfoque constitucional


É cediço pelo artigo 5º, LVII, da CF/88 que ninguém
A prisão preventiva é uma espécie de prisão cautelar será considerado culpado até o trânsito em julgado de
de natureza processual, consistente na medida restritiva de sentença penal condenatória.
liberdade, em qualquer fase da investigação policial ou do Aos adeptos da corrente garantista extremada, a inter-
processo penal, a ser decretada pelo juiz, de ofício, se no pretação gramatical desta regra supra, poderia mergulhar
curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Pú- em conclusões no sentido de que qualquer prisão cautelar
blico, do querelante ou do assistente, ou por representação seria inconstitucional.
da autoridade policial. Para quase a maioria esmagadora da doutrina, contu-
A prisão preventiva somente poderá ser decretada do, não se trata de um instituto que atenta a Carta Política
quando houver prova da existência do crime e indícios su- de 1988, mas sim, uma medida indispensável para a ma-
ficientes de autoria. nutenção da ordem social e para administração da justiça.
Note-se que a prisão preventiva, nos termos do artigo Segundo CLAUS ROXIN, “ entre as medidas que asse-
313, do Código Processual Penal, somente poderá ser de- guram o procedimento penal, a prisão preventiva é a inge-
cretada nos crimes dolosos punidos com pena privativa de rência mais grave na liberdade individual; por outra parte,
liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; se tiver sido ela é indispensável em alguns casos para a administração
condenado por outro crime doloso, em sentença transitada da justiça penal eficiente.” [02]
em julgado. Contrário a isso, o disposto no inciso I do caput
do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 3-Bases legais
1940 - Código Penal; se o crime envolver violência domés- Tendo por base o artigo 312 do CPP, para que se decre-
tica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, te a preventiva é necessária à demonstração de prova da
enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a exe- existência do crime, trazendo à tela a materialidade e indí-
cução das medidas protetivas de urgência; quando houver cios suficientes da autoria ou de participação no fato típico.
dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta Interessante notar que o delito deve ter ocorrido in-
não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, de- contestavelmente, e sua comprovação pode ser feita pelos
vendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade diversos meios de prova admitidos em direito, entretanto,
após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a no que toca a autoria, apenas se tem a necessidade de indí-
manutenção da medida. cios de vinculação do individuo à prática do crime.
Ainda nesse pensamento, há de se ressaltar os pressu-
Fundamentação: postos da preventiva e esses formam exatamente ofumus
Arts. 311 a 316 do CPP commissi delicti, que oferece o básico de segurança para a
decretação da medida.
A prisão preventiva não é uma pena aplicada Pelo entendimento do artigo 313 do CPP, a preventiva
antecipadamente ao trânsito em julgado, é uma medida somente possui envergadura em crimes dolosos, cuja pena,
cautelar. Por esse motivo, não viola a garantia constitucio- via de regra, ultrapasse quatro anos. Logo, crimes culposos
nal depresunção de inocência se a decisão for devidamente e contravenções parecem ser rechaçados pelo instituto.
motivada e a prisão estritamente necessária. É de se observar que caso o réu seja reincidente e com
É uma prisão cautelar que tem o objetivo de evitar que respeito ao que reza o artigo 64, I do Código Penal, pode-
o réu cometa novos crimes ou ainda que em liberdade se aplicar a prisão preventiva ainda que o novo crime não
prejudique a colheita de provas ou fuja. De acordo com o tenha pena maior que quatro anos.
processualista Paulo Rangel, “ se o indiciado ou acusado Com ressalva de parte da doutrina, pode ser decretada
em liberdade continuar a praticar ilícitos penais, haverá a medida cautelar de segregação da liberdade em tela tam-
perturbação da ordem pública, e a medida extrema é bém quando da dúvida sobre a identidade civil do agente
necessária se estiverem presentes os demais requisitos e ele não forneça elementos de comprovação de esclare-
legais” (RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 12. ed. cimentos. A doutrina que vê como medida extrema excep-
rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 613). cional revela cabimento na hipótese do acusado se recusar
Pode ser decretada inclusive na fase investigatória da a se submeter a identificação criminal.
persecução criminal, ou seja, durante o inquérito policial.
No artigo 311 do CPP reside determinação no sentido
É prisão provisória na medida em que ainda não pesa de se permanecer viva a possibilidade de decretação da
condenação contra o possível criminoso; medida cautelar, preventiva em qualquer fase da investigação policial ou do
pois tenta resguardar a harmonia social da ordem públi- processo penal. Assim, é medida que tem alicerce em qual-
ca ou da ordem econômica; excepcional, decorrente do quer fase da persecução criminal.
poder geral de cautela dado ao magistrado; subsidiária, Necessário notar que apesar de reclamar maior cuida-
muito mais após a promulgação da lei 12.403/2011, sendo do, a decretação da preventiva ainda no inquérito policial
somente permitida quando a lei não assegurar outra medi- é fato costumeiro na prática penal cotidiana, onde quase
da cautelar substitutiva. sempre há a segregação cautelar da liberdade sem a devi-
da preocupação.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Observação importante é que não mais se faz presente È possível a DECRETAÇÃO DA PREVENTIVA, NÃO SÓ NA
no ordenamento jurídico após a lei 12.403/2011 qualquer PRESENÇA DAS CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS DO ART. 312,
opção de prisão preventiva obrigatória. Frise-se que ape- CPP, MAS SEMPRE QUE FOR NECESSÁRIO PARA GARANTIR
nas autoridade judiciária competente, em consonância com A EXECUÇÃO DE OUTRA MEDIDA CAUTELAR, DIVERSA DA
artigo 5º, LXI, da CF/88 pode decretar a prisão preventiva. PRISÃO (ART. 282, § 4º, CPP).

Pressupostos A prisão preventiva, apresenta duas características bem


definidas, a saber:
A prisão preventiva não é uma punição aplicada ante- autônoma, podendo ser decretada independentemente
cipadamente, inclusive porque a legislação brasileira proí- de qualquer outra providência cautelar anterior;
be a ocorrência de qualquer sanção antes da condenação subsidiária, a ser decretada em razão do descumprimen-
judicial. to de medida cautelar anteriormente imposta.
Essa modalidade de prisão é determinada pela Justiça
para impedir que o acusado (réu) atrapalhe a investigação, Existem ainda quatro situações claras em que poderá ser
a ordem pública ou econômica e aplicação da lei. imposta a prisão preventiva:
O réu pode ser mantido preso preventivamente até o A qualquer momento da fase de investigação ou do pro-
seu julgamento ou pelo período necessário para não atra- cesso, de modo autônomo e independente (art. 311, CPP);
palhar as investigações. Como conversão da prisão em flagrante, quando insuficien-
Caso exista a necessidade, a prisão preventiva pode ser tes ou inadequadas outras medidas cautelares (art. 310, II, CPP);
decretada inclusive na fase inicial do inquérito policial, e Em substituição à medida cautelar eventualmente des-
não dá ao acusado o direito de defesa prévia. cumprida (art. 282, § 4º, CPP);
A prisão preventiva é a prisão de natureza cautelar mais Quando houver fundadas dúvidas sobre a identidade do
ampla existente, sendo uma eficiente ferramenta de encar- acusado, devendo ele ser imediatamente liberado assim que
ceramento durante toda a persecução penal, já que pode confirmada for.
ser decretada tanto durante o IP quanto na fase processual.
De outro modo, não será cabível a preventiva:
A prisão preventiva, por ser medida de natureza caute-
Para os crimes culposos, contravenção penal ou se no
lar, só se sustenta se presentes o lastro probatório mínimo
caso concreto está presente qualquer causa excludente de
a indicar a ocorrência da infração e os eventuais envolvi-
ilicitude, isso decorre do postulado da proporcionalidade,
dos, além de algum motivo legal que fundamente a neces-
na perspectiva da proibição do excesso, a impedir que uma
sidade de encarceramento.
medida cautelar seja mais grave e onerosa que o resultado
Admite-se a decretação da preventiva até mesmo sem
final do processo condenatório;
a instauração do IP, desde que o atendimento aos requisitos Quando não for prevista pena privativa da liberdade
legais seja demonstrado por outros elementos indiciários. para o delito (art. 283,§ 1º, CPP).
Ela é medida de exceção e deve ser aplicada restritiva-
mente, a fim de compatibilizá-la com o princípio constitu- LEI Nº 12.403, DE 4 DE MAIO DE 2011.
cional da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CR/88).
Se a prisão em flagrante busca sua justificativa e funda- Altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de
mentação, primeiro, na proteção do ofendido, e, depois, na outubro de 1941 - Código de Processo Penal, relativos à
garantia da qualidade probatória, a prisão preventiva revela prisão processual, fiança, liberdade provisória, demais me-
a sua cautelaridade na tutela da persecução penal, obje- didas cautelares, e dá outras providências.
tivando impedir que eventuais condutas praticadas pelo
alegado autor e/ou por terceiros possam colocar em risco A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
a efetividade do processo. gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Referida modalidade de prisão, por trazer como conse-
quência a privação da liberdade antes do trânsito em jul- Art. 1o Os arts. 282, 283, 289, 299, 300, 306, 310, 311,
gado, somente se justifica enquanto e na medida em que 312, 313, 314, 315, 317, 318, 319, 320, 321, 322, 323, 324,
puder realizar a proteção da persecução penal, em todo o 325, 334, 335, 336, 337, 341, 343, 344, 345, 346, 350 e 439 do
seu iter procedimental, e, mais, quando se mostrar a única Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de
maneira de satisfazer tal necessidade. Processo Penal, passam a vigorar com a seguinte redação:
A prisão preventiva, somente deve ser aplicando,
como regra, quando as outras medidas cautelares não “TÍTULO IX
forem suficientes. DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBER-
Em razão da sua gravidade, e como decorrência do sis- DADE PROVISÓRIA”
tema de garantias individuais constitucionais, somente se
decretará a prisão preventiva “por ordem escrita e funda- “Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título
mentada da autoridade judiciária competente”, conforme deverão ser aplicadas observando-se a:
se observa com todas as letras no art. 5º, LXI, da Carta de I - necessidade para aplicação da lei penal, para a in-
1988. vestigação ou a instrução criminal e, nos casos expressa-
mente previstos, para evitar a prática de infrações penais;

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

II - adequação da medida à gravidade do crime, cir- “Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão se-
cunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou paradas das que já estiverem definitivamente condenadas,
acusado. nos termos da lei de execução penal.
§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isola- Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito,
da ou cumulativamente. após a lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a
§ 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, quartel da instituição a que pertencer, onde ficará preso à
de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso disposição das autoridades competentes.” (NR)
da investigação criminal, por representação da autoridade “Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se
policial ou mediante requerimento do Ministério Público. encontre serão comunicados imediatamente ao juiz com-
§ 3o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de petente, ao Ministério Público e à família do preso ou à
ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida pessoa por ele indicada.
cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acom- § 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização
panhada de cópia do requerimento e das peças necessá- da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de
rias, permanecendo os autos em juízo. prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome
de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.
§ 4o No caso de descumprimento de qualquer das obri-
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante
gações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimen-
recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o moti-
to do Ministério Público, de seu assistente ou do querelan-
vo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.” (NR)
te, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação,
“Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o
ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, juiz deverá fundamentadamente:
parágrafo único). I - relaxar a prisão ilegal; ou
§ 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substi- II - converter a prisão em flagrante em preventiva,
tuí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 des-
bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que te Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as
a justifiquem. medidas cautelares diversas da prisão; ou
§ 6o A prisão preventiva será determinada quando não III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
for cabível a sua substituição por outra medida cautelar Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de pri-
(art. 319).” (NR) são em flagrante, que o agente praticou o fato nas con-
“Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagran- dições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do
te delito ou por ordem escrita e fundamentada da autori- Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
dade judiciária competente, em decorrência de sentença Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado
condenatória transitada em julgado ou, no curso da inves- liberdade provisória, mediante termo de comparecimento
tigação ou do processo, em virtude de prisão temporária a todos os atos processuais, sob pena de revogação.” (NR)
ou prisão preventiva. “Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou
§ 1o As medidas cautelares previstas neste Título não do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada
se aplicam à infração a que não for isolada, cumulativa ou pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a reque-
alternativamente cominada pena privativa de liberdade. rimento do Ministério Público, do querelante ou do assis-
§ 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a tente, ou por representação da autoridade policial.” (NR)
qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviola- “Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada
bilidade do domicílio.” (NR) como garantia da ordem pública, da ordem econômica,
“Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacio- por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
nal, fora da jurisdição do juiz processante, será deprecada aplicação da lei penal, quando houver prova da existência
do crime e indício suficiente de autoria.
a sua prisão, devendo constar da precatória o inteiro teor
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá
do mandado.
ser decretada em caso de descumprimento de qualquer
§ 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a pri-
das obrigações impostas por força de outras medidas cau-
são por qualquer meio de comunicação, do qual deverá
telares (art. 282, § 4o).” (NR)
constar o motivo da prisão, bem como o valor da fiança se “Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será
arbitrada. admitida a decretação da prisão preventiva:
§ 2o A autoridade a quem se fizer a requisição tomará I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de
as precauções necessárias para averiguar a autenticidade liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;
da comunicação. II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em
§ 3o O juiz processante deverá providenciar a remoção sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no
do preso no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
efetivação da medida.” (NR) dezembro de 1940 - Código Penal;
“Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de III - se o crime envolver violência doméstica e familiar
mandado judicial, por qualquer meio de comunicação, to- contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
madas pela autoridade, a quem se fizer a requisição, as pre- pessoa com deficiência, para garantir a execução das me-
cauções necessárias para averiguar a autenticidade desta.” didas protetivas de urgência;
(NR) IV - (revogado).

29
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Parágrafo único. Também será admitida a prisão pre- VII - internação provisória do acusado nas hipóteses
ventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da de crimes praticados com violência ou grave ameaça,
pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-
para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imedia- -imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de rei-
tamente em liberdade após a identificação, salvo se outra teração;
hipótese recomendar a manutenção da medida.” (NR) VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegu-
“Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será rar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstru-
decretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos ção do seu andamento ou em caso de resistência injustifi-
autos ter o agente praticado o fato nas condições previs- cada à ordem judicial;
tas nos incisos I, II e III do caputdo art. 23 do Decreto-Lei IX - monitoração eletrônica.
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.” (NR) § 1o (Revogado).
“Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou dene- § 2o (Revogado).
gar a prisão preventiva será sempre motivada.” (NR) § 3o (Revogado).
§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposi-
“CAPÍTULO IV ções do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada
DA PRISÃO DOMICILIAR” com outras medidas cautelares.” (NR)
“Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será co-
“Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimen- municada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscali-
to do indiciado ou acusado em sua residência, só poden- zar as saídas do território nacional, intimando-se o indicia-
do dela ausentar-se com autorização judicial.” (NR) do ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24
“Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva (vinte e quatro) horas.” (NR)
pela domiciliar quando o agente for: “Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a de-
I - maior de 80 (oitenta) anos; cretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liber-
II - extremamente debilitado por motivo de doença dade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cau-
grave; telares previstas no art. 319 deste Código e observados os
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa critérios constantes do art. 282 deste Código.
I - (revogado)
menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência;
II - (revogado).” (NR)
IV - gestante a partir do 7o (sétimo) mês de gravidez
“Art. 322. A autoridade policial somente poderá con-
ou sendo esta de alto risco.
ceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá
liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.
prova idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo.”
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será reque-
(NR)
rida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.”
(NR)
“CAPÍTULO V
“Art. 323. Não será concedida fiança:
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES”
I - nos crimes de racismo;
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecen-
“Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: tes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e hediondos;
nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis
atividades; ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado De-
II - proibição de acesso ou frequência a determinados mocrático;
lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, IV - (revogado);
deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses V - (revogado).” (NR)
locais para evitar o risco de novas infrações; “Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança:
III - proibição de manter contato com pessoa deter- I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado
minada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo
deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts.
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a 327 e 328 deste Código;
permanência seja conveniente ou necessária para a in- II - em caso de prisão civil ou militar;
vestigação ou instrução; III - (revogado);
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos IV - quando presentes os motivos que autorizam a de-
dias de folga quando o investigado ou acusado tenha re- cretação da prisão preventiva (art. 312).” (NR)
sidência e trabalho fixos; “Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade
VI - suspensão do exercício de função pública ou de que a conceder nos seguintes limites:
atividade de natureza econômica ou financeira quando a) (revogada);
houver justo receio de sua utilização para a prática de b) (revogada);
infrações penais; c) (revogada).

30
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se “Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, veri-
tratar de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau ficando a situação econômica do preso, poderá conceder-
máximo, não for superior a 4 (quatro) anos; -lhe liberdade provisória, sujeitando-o às obrigações cons-
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, tantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras medidas
quando o máximo da pena privativa de liberdade comina- cautelares, se for o caso.
da for superior a 4 (quatro) anos. Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem mo-
§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do tivo justo, qualquer das obrigações ou medidas impostas,
preso, a fiança poderá ser: aplicar-se-á o disposto no § 4o do art. 282 deste Código.”
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; (NR)
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou “Art. 439. O exercício efetivo da função de jurado cons-
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. tituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção
§ 2o (Revogado): de idoneidade moral.” (NR)
I - (revogado);
II - (revogado); Art. 2o O Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941
III - (revogado).” (NR) - Código de Processo Penal, passa a vigorar acrescido do
“Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não seguinte art. 289-A:
transitar em julgado a sentença condenatória.” (NR) “Art. 289-A. O juiz competente providenciará o ime-
“Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade po- diato registro do mandado de prisão em banco de dados
licial a concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, mantido pelo Conselho Nacional de Justiça para essa fina-
poderá prestá-la, mediante simples petição, perante o juiz lidade.
competente, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.” § 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão
(NR) determinada no mandado de prisão registrado no Conse-
“Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança ser- lho Nacional de Justiça, ainda que fora da competência ter-
virão ao pagamento das custas, da indenização do dano, da ritorial do juiz que o expediu.
prestação pecuniária e da multa, se o réu for condenado. § 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão
Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda decretada, ainda que sem registro no Conselho Nacional
no caso da prescrição depois da sentença condenatória de Justiça, adotando as precauções necessárias para averi-
(art. 110 do Código Penal).” (NR) guar a autenticidade do mandado e comunicando ao juiz
“Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou pas- que a decretou, devendo este providenciar, em seguida, o
sar em julgado sentença que houver absolvido o acusado registro do mandado na forma do caput deste artigo.
ou declarada extinta a ação penal, o valor que a constituir, § 3o A prisão será imediatamente comunicada ao juiz
atualizado, será restituído sem desconto, salvo o disposto do local de cumprimento da medida o qual providenciará
no parágrafo único do art. 336 deste Código.” (NR) a certidão extraída do registro do Conselho Nacional de
“Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acu- Justiça e informará ao juízo que a decretou.
sado: § 4o O preso será informado de seus direitos, nos ter-
I - regularmente intimado para ato do processo, deixar mos do inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e,
de comparecer, sem motivo justo; caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será
II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao an- comunicado à Defensoria Pública.
damento do processo; § 5o Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a
III - descumprir medida cautelar imposta cumulativa- legitimidade da pessoa do executor ou sobre a identidade
mente com a fiança; do preso, aplica-se o disposto no § 2o do art. 290 deste
IV - resistir injustificadamente a ordem judicial; Código.
V - praticar nova infração penal dolosa.” (NR) § 6o O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o
“Art. 343. O quebramento injustificado da fiança im- registro do mandado de prisão a que se refere o caput des-
portará na perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz te artigo.”
decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares ou,
se for o caso, a decretação da prisão preventiva.” (NR) Art. 3o Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a
“Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor data de sua publicação oficial.
da fiança, se, condenado, o acusado não se apresentar para
o início do cumprimento da pena definitivamente imposta.” Art. 4o São revogados o art. 298, o inciso IV do art. 313,
(NR) os §§ 1o a 3o do art. 319, os incisos I e II do art. 321, os inci-
“Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, de- sos IV e V do art. 323, o inciso III do art. 324, o § 2o e seus
duzidas as custas e mais encargos a que o acusado estiver incisos I, II e III do art. 325 e os arts. 393 e595, todos do
obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário, na forma Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de
da lei.” (NR) Processo Penal.
“Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as
deduções previstas no art. 345 deste Código, o valor res- Brasília, 4 de maio de 2011; 190o da Independência e
tante será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da 123o da República.
lei.” (NR) DILMA ROUSSEFF

31
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Princípio da necessidade § 4o O preso especial não será transportado juntamente


Princípio da menor ingerência possível. Princípio se- com o preso comum. (Incluído pela Lei nº 10.258, de
gundo o qual, nas suas relações, a administração pública 11.7.2001)
deve adotar os meios menos onerosos para os particulares. § 5o Os demais direitos e deveres do preso especial
serão os mesmos do preso comum.
Prisão Especial
Não havendo estabelecimento adequado para se efe-
É o direito conferido a determinadas pessoas em razão tivar a prisão especial, O PRESO PODERÁ SER COLOCADO
da função desempenhada, enquanto estiverem na condição EM PRISÃO PROVISÓRIA DOMICILIAR, por deliberação do
de presos provisórios. magistrado, ouvido o MP (Lei nº 5.256/67).
O status de preso especial confere ao detento o direito
de ser recolhido em local distinto da prisão comum, e não Liberdade Provisória
havendo estabelecimento específico para o preso especial,
o mesmo ficará em cela separada dentro do estabelecimen- A liberdade provisória é instituto que se presta a com-
to penal comum. bater a prisão em flagrante legal.
A liberdade provisória é uma “moeda de troca”, conce-
Destarte dispõe o Código Processual Penal as pessoas dida mediante determinados requisitos, com ônus ao acu-
que possuem esse privilégio: sado para que se livre da prisão cautelar.

Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão espe- A Liberdade Provisória se funda no inciso LXVI do ar-
cial, à disposição da autoridade competente, quando sujei- tigo 5° da Constituição Federal da República, e se caracte-
tos a prisão antes de condenação definitiva: riza pela liberdade concedida pelo magistrado em caráter
I - os ministros de Estado; temporário. Desta forma, poderá o indiciado aguardar o
II - os governadores ou interventores de Estados ou Ter- julgamento em liberdade com ou sem o pagamento de
ritórios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos se- fiança. Assim, o indivíduo acusado de ter cometido a infra-
cretários, os prefeitos municipais, os vereadores e os chefes ção penal não será recolhido à prisão, e se for, será posto
de Polícia; (Redação dada pela Lei nº 3.181, de 11.6.1957) em liberdade em seguida.
III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho Este instituto visa evitar a prisão antes do trânsito em
de Economia Nacional e das Assembleias Legislativas dos julgado da sentença penal condenatória e resguardar as
Estados; garantias constitucionais de liberdade individual.
IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”; A Liberdade Provisória poderá ocorrer com ou sem o
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos pagamento da fiança.
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; (Redação dada
pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001) Fiança
VI - os magistrados;
VII - os diplomados por qualquer das faculdades supe- A fiança é uma garantia do cumprimento das obriga-
riores da República; ções do réu durante todo o processo penal, sendo tam-
VIII - os ministros de confissão religiosa; bém um direito inerente ao mesmo previsto constitucio-
IX - os ministros do Tribunal de Contas; nalmente.
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a A Liberdade provisória será concedida sem a fiança no
função de jurado, salvo quando excluídos da lista por moti- caso em que a infração praticada for um crime de menor
vo de incapacidade para o exercício daquela função; potencial ofensivo, consoante disposição do artigo 69, Pa-
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Es- rágrafo Único da Lei 9099 de 1995; se a pena aplicada à
tados e Territórios, ativos e inativos. (Redação dada pela Lei infração praticada não for de prisão ou se for, que esta não
nº 5.126, de 20.9.1966) seja superior a seis meses, de acordo com o artigo 321 do
§ 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em Código de Processo Penal; se o agente praticou o crime
outras leis, consiste exclusivamente no recolhimento em acobertado por uma das excludentes da ilicitude previstas
local distinto da prisão comum. (Incluído pela Lei nº 10.258, no artigo 23 do Código Penal Brasileiro, mesmo sendo o
de 11.7.2001) crime inafiançável, como prevê o artigo 310 do Código de
§ 2o Não havendo estabelecimento específico para Processo Penal; e por finalmente se o juiz verificar a ausên-
o preso especial, este será recolhido em cela distinta do cia dos requisitos da Prisão Preventiva, em qualquer crime.
mesmo estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 10.258, de
11.7.2001) A Liberdade concedida com o pagamento de fiança,
§ 3o A cela especial poderá consistir em alojamento como dito anteriormente, é a liberdade concedida ao réu
coletivo, atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, mediante o pagamento de uma caução em dinheiro como
pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e uma garantia de que este irá cumprir com suas obrigações
condicionamento térmico adequados à existência humana. processuais.
(Incluído pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001)

32
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

A Constituição Federal, dispõe em seu texto os crimes § 1o As medidas cautelares previstas neste Título não
inafiançáveis existentes no nosso ordenamento jurídico, se aplicam à infração a que não for isolada, cumulativa ou
são eles: os crimes de Racismo, Ação de Grupos Terroris- alternativamente cominada pena privativa de liberdade.
tas Armados e os Crimes Hediondos. Contudo, o Código (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
Processual Penal, diz serem inafiançáveis os crimes punidos § 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a
com reclusão e com pena mínima superior a dois anos. qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviola-
Frise-se que não será concedida fiança se o réu for rein- bilidade do domicílio. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
cidente em crime doloso; se em qualquer caso, for ocioso; Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo
nos crimes punidos com reclusão, que provoquem clamor a indispensável no caso de resistência ou de tentativa de
público ou que tenham sido cometidos com violência ou fuga do preso.
grave ameaça contra a pessoa. Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expe-
dir o respectivo mandado.
TÍTULO IX Parágrafo único. O mandado de prisão:
DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LI- a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autori-
BERDADE PROVISÓRIA
dade;
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título nome, alcunha ou sinais característicos;
deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação dada pela c) mencionará a infração penal que motivar a prisão;
Lei nº 12.403, de 2011). d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afian-
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a inves- çável a infração;
tigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe
previstos, para evitar a prática de infrações penais; (Incluído execução.
pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o
II - adequação da medida à gravidade do crime, cir- executor entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos
cunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou exemplares com declaração do dia, hora e lugar da dili-
acusado. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). gência. Da entrega deverá o preso passar recibo no outro
§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas iso- exemplar; se recusar, não souber ou não puder escrever, o
lada ou cumulativamente. (Incluído pela Lei nº 12.403, de fato será mencionado em declaração, assinada por duas
2011). testemunhas.
§ 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exi-
de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso bição do mandado não obstará à prisão, e o preso, em tal
da investigação criminal, por representação da autoridade caso, será imediatamente apresentado ao juiz que tiver ex-
policial ou mediante requerimento do Ministério Público.
pedido o mandado.
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que
§ 3o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de
ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida seja exibido o mandado ao respectivo diretor ou carcerei-
cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acom- ro, a quem será entregue cópia assinada pelo executor ou
panhada de cópia do requerimento e das peças necessá- apresentada a guia expedida pela autoridade competente,
rias, permanecendo os autos em juízo. (Incluído pela Lei nº devendo ser passado recibo da entrega do preso, com de-
12.403, de 2011). claração de dia e hora.
§ 4o No caso de descumprimento de qualquer das obri- Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no pró-
gações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimen- prio exemplar do mandado, se este for o documento exi-
to do Ministério Público, de seu assistente ou do querelan- bido.
te, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacio-
ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, nal, fora da jurisdição do juiz processante, será deprecada
parágrafo único). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). a sua prisão, devendo constar da precatória o inteiro teor
§ 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substi- do mandado. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
tuí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, § 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a pri-
bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a são por qualquer meio de comunicação, do qual deverá
justifiquem. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). constar o motivo da prisão, bem como o valor da fiança se
§ 6o A prisão preventiva será determinada quando não arbitrada. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art.
§ 2o A autoridade a quem se fizer a requisição tomará
319). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
as precauções necessárias para averiguar a autenticidade
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante
delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade da comunicação. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
judiciária competente, em decorrência de sentença conde- § 3o O juiz processante deverá providenciar a remoção
natória transitada em julgado ou, no curso da investigação do preso no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados
ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão da efetivação da medida. (Incluído pela Lei nº 12.403, de
preventiva. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). 2011).

33
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Art. 289-A. O juiz competente providenciará o ime- Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em
diato registro do mandado de prisão em banco de dados mulheres grávidas durante os atos médico-hospitalares
mantido pelo Conselho Nacional de Justiça para essa fina- preparatórios para a realização do parto e durante o
lidade. c (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). trabalho de parto, bem como em mulheres durante o
§ 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão período de puerpério imediato. (Redação dada pela Lei nº
determinada no mandado de prisão registrado no Conse- 13.434, de 2017)
lho Nacional de Justiça, ainda que fora da competência ter- Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com se-
ritorial do juiz que o expediu. (Incluído pela Lei nº 12.403, gurança, que o réu entrou ou se encontra em alguma casa,
de 2011). o morador será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de
§ 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão prisão. Se não for obedecido imediatamente, o executor
decretada, ainda que sem registro no Conselho Nacional convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força
de Justiça, adotando as precauções necessárias para averi- na casa, arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o
guar a autenticidade do mandado e comunicando ao juiz executor, depois da intimação ao morador, se não for aten-
que a decretou, devendo este providenciar, em seguida, o dido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa inco-
registro do mandado na forma do caput deste artigo. (In- municável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e
cluído pela Lei nº 12.403, de 2011). efetuará a prisão.
§ 3o A prisão será imediatamente comunicada ao juiz Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar
do local de cumprimento da medida o qual providenciará o réu oculto em sua casa será levado à presença da autori-
a certidão extraída do registro do Conselho Nacional de dade, para que se proceda contra ele como for de direito.
Justiça e informará ao juízo que a decretou. (Incluído pela Art. 294. No caso de prisão em flagrante, observar-se-
Lei nº 12.403, de 2011). -á o disposto no artigo anterior, no que for aplicável.
§ 4o O preso será informado de seus direitos, nos ter- Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão espe-
mos do inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e, cial, à disposição da autoridade competente, quando sujei-
caso o autuado não informe o nome de seu advogado, tos a prisão antes de condenação definitiva:
será comunicado à Defensoria Pública. (Incluído pela Lei nº I - os ministros de Estado;
12.403, de 2011). II - os governadores ou interventores de Estados ou
§ 5o Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus respecti-
legitimidade da pessoa do executor ou sobre a identidade vos secretários, os prefeitos municipais, os vereadores e
do preso, aplica-se o disposto no § 2o do art. 290 deste os chefes de Polícia; (Redação dada pela Lei nº 3.181, de
Código. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 11.6.1957)
§ 6o O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho
registro do mandado de prisão a que se refere o caput des- de Economia Nacional e das Assembléias Legislativas dos
te artigo. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). Estados;
Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao territó- IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”;
rio de outro município ou comarca, o executor poderá efe- V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos
tuar-lhe a prisão no lugar onde o alcançar, apresentando-o Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; (Redação
imediatamente à autoridade local, que, depois de lavrado, dada pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001)
se for o caso, o auto de flagrante, providenciará para a re- VI - os magistrados;
moção do preso. VII - os diplomados por qualquer das faculdades supe-
§ 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição riores da República;
do réu, quando: VIII - os ministros de confissão religiosa;
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrup- IX - os ministros do Tribunal de Contas;
ção, embora depois o tenha perdido de vista; X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, função de jurado, salvo quando excluídos da lista por moti-
que o réu tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual vo de incapacidade para o exercício daquela função;
direção, pelo lugar em que o procure, for no seu encalço. XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos
§ 2o Quando as autoridades locais tiverem fundadas Estados e Territórios, ativos e inativos. (Redação dada pela
razões para duvidar da legitimidade da pessoa do executor Lei nº 5.126, de 20.9.1966)
ou da legalidade do mandado que apresentar, poderão pôr § 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em
em custódia o réu, até que fique esclarecida a dúvida. outras leis, consiste exclusivamente no recolhimento em
Art. 291. A prisão em virtude de mandado entender- local distinto da prisão comum. (Incluído pela Lei nº 10.258,
-se-á feita desde que o executor, fazendo-se conhecer do de 11.7.2001)
réu, Ihe apresente o mandado e o intime a acompanhá-lo. § 2o  Não havendo estabelecimento específico para
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, o preso especial, este será recolhido em cela distinta do
resistência à prisão em flagrante ou à determinada por au- mesmo estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 10.258, de
toridade competente, o executor e as pessoas que o auxi- 11.7.2001)
liarem poderão usar dos meios necessários para defender- § 3o A cela especial poderá consistir em alojamento
-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará coletivo, atendidos os requisitos de salubridade do
auto subscrito também por duas testemunhas. ambiente, pela concorrência dos fatores de aeração,

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

insolação e condicionamento térmico adequados à § 1o Resultando das respostas fundada a suspeita con-
existência humana. (Incluído pela Lei nº 10.258, de tra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à pri-
11.7.2001) são, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e
§ 4o O preso especial não será transportado juntamente prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso
com o preso comum. (Incluído pela Lei nº 10.258, de for competente; se não o for, enviará os autos à autoridade
11.7.2001) que o seja.
§ 5o Os demais direitos e deveres do preso especial § 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá
serão os mesmos do preso comum. (Incluído pela Lei nº o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o con-
10.258, de 11.7.2001) dutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que ha-
Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possí- jam testemunhado a apresentação do preso à autoridade.
vel, serão recolhidos à prisão, em estabelecimentos milita- § 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não
res, de acordo com os respectivos regulamentos. souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante
Art. 297. Para o cumprimento de mandado expedido será assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido
pela autoridade judiciária, a autoridade policial poderá ex- sua leitura na presença deste. (Redação dada pela Lei nº
pedir tantos outros quantos necessários às diligências, de- 11.113, de 2005)
vendo neles ser fielmente reproduzido o teor do mandado § 4o Da lavratura do auto de prisão em flagrante de-
original. verá constar a informação sobre a existência de filhos,
Art. 298. (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o
Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados
mandado judicial, por qualquer meio de comunicação, to- dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei
madas pela autoridade, a quem se fizer a requisição, as pre- nº 13.257, de 2016)
cauções necessárias para averiguar a autenticidade desta. Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão,
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). qualquer pessoa designada pela autoridade lavrará o
Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão se- auto, depois de prestado o compromisso legal.
paradas das que já estiverem definitivamente condenadas, Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde
nos termos da lei de execução penal. (Redação dada pela
se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
Lei nº 12.403, de 2011).
competente, ao Ministério Público e à família do preso
Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito,
ou à pessoa por ele indicada. (Redação dada pela Lei nº
após a lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a
12.403, de 2011).
quartel da instituição a que pertencer, onde ficará preso à
disposição das autoridades competentes. (Incluído pela Lei § 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização
nº 12.403, de 2011). da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto
de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o
CAPÍTULO II nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria
DA PRISÃO EM FLAGRANTE Pública. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, me-
Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades diante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade,
policiais e seus agentes deverão prender quem quer que com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das
seja encontrado em flagrante delito. testemunhas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da
I - está cometendo a infração penal; autoridade, ou contra esta, no exercício de suas funções,
II - acaba de cometê-la; constarão do auto a narração deste fato, a voz de prisão,
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo as declarações que fizer o preso e os depoimentos das
ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça testemunhas, sendo tudo assinado pela autoridade, pelo
presumir ser autor da infração; preso e pelas testemunhas e remetido imediatamente ao
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, ar- juiz a quem couber tomar conhecimento do fato delituo-
mas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor so, se não o for a autoridade que houver presidido o auto.
da infração. Art. 308. Não havendo autoridade no lugar em que
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o se tiver efetuado a prisão, o preso será logo apresentado
agente em flagrante delito enquanto não cessar a perma- à do lugar mais próximo.
nência. Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competen- em liberdade, depois de lavrado o auto de prisão em
te, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assina- flagrante.
tura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o
do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas
juiz deverá fundamentadamente: (Redação dada pela Lei
que o acompanharem e ao interrogatório do acusado so-
nº 12.403, de 2011).
bre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva
I - relaxar a prisão ilegal; ou (Incluído pela Lei nº
suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal,
12.403, de 2011).
o auto. (Redação dada pela Lei nº 11.113, de 2005)

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

II - converter a prisão em flagrante em preventiva, Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será de-
quando presentes os requisitos constantes do art. 312 cretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos
deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficien- ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos
tes as medidas cautelares diversas da prisão; ou (Incluído incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848,
pela Lei nº 12.403, de 2011). de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal. (Redação dada
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. pela Lei nº 12.403, de 2011).
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar
Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de pri- a prisão preventiva será sempre motivada. (Redação dada
são em flagrante, que o agente praticou o fato nas con- pela Lei nº 12.403, de 2011).
dições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se,
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código no correr do processo, verificar a falta de motivo para que
Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem ra-
liberdade provisória, mediante termo de comparecimento zões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 5.349, de
a todos os atos processuais, sob pena de revogação. (Reda- 3.11.1967)
ção dada pela Lei nº 12.403, de 2011). CAPÍTULO IV
DA PRISÃO DOMICILIAR
CAPÍTULO III (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
DA PRISÃO PREVENTIVA Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento
(Redação dada pela Lei nº 5.349, de 3.11.1967) do indiciado ou acusado em sua residência, só podendo
dela ausentar-se com autorização judicial. (Redação dada
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou pela Lei nº 12.403, de 2011).
do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva
pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requeri- pela domiciliar quando o agente for: (Redação dada pela
mento do Ministério Público, do querelante ou do assisten- Lei nº 12.403, de 2011).
te, ou por representação da autoridade policial. (Redação I - maior de 80 (oitenta) anos; (Incluído pela Lei nº
dada pela Lei nº 12.403, de 2011). 12.403, de 2011).
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada II - extremamente debilitado por motivo de doença
como garantia da ordem pública, da ordem econômica, grave; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; (Incluí-
do crime e indício suficiente de autoria. (Redação dada pela do pela Lei nº 12.403, de 2011).
Lei nº 12.403, de 2011). IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá 2016)
ser decretada em caso de descumprimento de qualquer V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
das obrigações impostas por força de outras medidas cau- incompletos; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
telares (art. 282, § 4o). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). VI - homem, caso seja o único responsável pelos cui-
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será dados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos.
admitida a decretação da prisão preventiva: (Redação dada (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
pela Lei nº 12.403, de 2011). Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo. (Incluído
liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; (Redação pela Lei nº 12.403, de 2011).
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em CAPÍTULO V
sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES
inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
dezembro de 1940 - Código Penal; (Redação dada pela Lei
nº 12.403, de 2011). Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
III - se o crime envolver violência doméstica e fami- (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
liar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas
ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar ativi-
medidas protetivas de urgência; (Redação dada pela Lei nº dades; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
12.403, de 2011). II - proibição de acesso ou frequência a determinados
IV - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato,
Parágrafo único. Também será admitida a prisão pre- deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses
ventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da locais para evitar o risco de novas infrações; (Redação dada
pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes pela Lei nº 12.403, de 2011).
para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imedia- III - proibição de manter contato com pessoa determi-
tamente em liberdade após a identificação, salvo se outra nada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva
hipótese recomendar a manutenção da medida. (Incluído o indiciado ou acusado dela permanecer distante; (Reda-
pela Lei nº 12.403, de 2011). ção dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a Art. 323. Não será concedida fiança: (Redação dada
permanência seja conveniente ou necessária para a investi- pela Lei nº 12.403, de 2011).
gação ou instrução; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). I - nos crimes de racismo; (Redação dada pela Lei nº
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos 12.403, de 2011).
dias de folga quando o investigado ou acusado tenha re- II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpe-
sidência e trabalho fixos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de centes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como
2011). crimes hediondos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
VI - suspensão do exercício de função pública ou de 2011).
atividade de natureza econômica ou financeira quando III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis
houver justo receio de sua utilização para a prática de ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). Democrático; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses IV - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
de crimes praticados com violência ou grave ameaça, V - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi- Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: (Re-
-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de dação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para as- fiança anteriormente concedida ou infringido, sem mo-
segurar o comparecimento a atos do processo, evitar a tivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os
obstrução do seu andamento ou em caso de resistência arts. 327 e 328 deste Código; (Redação dada pela Lei nº
injustificada à ordem judicial; (Incluído pela Lei nº 12.403, 12.403, de 2011).
de 2011). II - em caso de prisão civil ou militar; (Redação dada
IX - monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº pela Lei nº 12.403, de 2011).
12.403, de 2011). III - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1o (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). IV - quando presentes os motivos que autorizam a
§ 2o (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). decretação da prisão preventiva (art. 312). (Redação dada
§ 3o (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as dispo- Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade
sições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumula- que a conceder nos seguintes limites: (Redação dada pela
da com outras medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº Lei nº 12.403, de 2011).
12.403, de 2011). a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será co- 2011).
municada pelo juiz às autoridades encarregadas de fisca- b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
lizar as saídas do território nacional, intimando-se o indi- 2011).
ciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo c) (revogada). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
de 24 (vinte e quatro) horas. (Redação dada pela Lei nº 2011).
12.403, de 2011). I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando
se tratar de infração cuja pena privativa de liberdade, no
CAPÍTULO VI grau máximo, não for superior a 4 (quatro) anos; (Incluído
DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIAN- pela Lei nº 12.403, de 2011).
ÇA II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos,
quando o máximo da pena privativa de liberdade comi-
Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a de- nada for superior a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº
cretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder li- 12.403, de 2011).
berdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas § 1o Se assim recomendar a situação econômica do
cautelares previstas no art. 319 deste Código e obser- preso, a fiança poderá ser: (Redação dada pela Lei nº
vados os critérios constantes do art. 282 deste Código. 12.403, de 2011).
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código;
I - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou
Art. 322. A autoridade policial somente poderá con- (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
ceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. (Incluído
liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. pela Lei nº 12.403, de 2011).
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). § 2o (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será re- I - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
querida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) ho- II - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
ras. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). III - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autori- Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade po-
dade terá em consideração a natureza da infração, as con- licial a concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele,
dições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as poderá prestá-la, mediante simples petição, perante o juiz
circunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como competente, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.
a importância provável das custas do processo, até final (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
julgamento. Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança ser-
Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afian- virão ao pagamento das custas, da indenização do dano,
çado a comparecer perante a autoridade, todas as vezes da prestação pecuniária e da multa, se o réu for condena-
que for intimado para atos do inquérito e da instrução cri- do. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
minal e para o julgamento. Quando o réu não comparecer, Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ain-
a fiança será havida como quebrada. da no caso da prescrição depois da sentença condenató-
Art.  328. O réu afiançado não poderá, sob pena de ria (art. 110 do Código Penal). (Redação dada pela Lei nº
quebramento da fiança, mudar de residência, sem prévia 12.403, de 2011).
permissão da autoridade processante, ou ausentar-se por Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou pas-
mais de 8 (oito) dias de sua residência, sem comunicar sar em julgado sentença que houver absolvido o acusado
àquela autoridade o lugar onde será encontrado. ou declarada extinta a ação penal, o valor que a constituir,
Art. 329. Nos juízos criminais e delegacias de polícia, atualizado, será restituído sem desconto, salvo o dispos-
haverá um livro especial, com termos de abertura e de en- to no parágrafo único do art. 336 deste Código. (Redação
cerramento, numerado e rubricado em todas as suas folhas dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
pela autoridade, destinado especialmente aos termos de Art. 338. A fiança que se reconheça não ser cabível na
fiança. O termo será lavrado pelo escrivão e assinado pela espécie será cassada em qualquer fase do processo.
autoridade e por quem prestar a fiança, e dele extrair-se-á Art.  339. Será também cassada a fiança quando re-
conhecida a existência de delito inafiançável, no caso de
certidão para juntar-se aos autos.
inovação na classificação do delito.
Parágrafo único. O réu e quem prestar a fiança serão
Art. 340. Será exigido o reforço da fiança:
pelo escrivão notificados das obrigações e da sanção pre-
I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança in-
vistas nos arts. 327 e 328, o que constará dos autos.
suficiente;
Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá
II - quando houver depreciação material ou pereci-
em depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais precio-
mento dos bens hipotecados ou caucionados, ou deprecia-
sos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou munici-
ção dos metais ou pedras preciosas;
pal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar.
III - quando for inovada a classificação do delito.
§ 1o A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será
metais preciosos será feita imediatamente por perito no- recolhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo,
meado pela autoridade. não for reforçada.
§ 2o Quando a fiança consistir em caução de títulos da Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acu-
dívida pública, o valor será determinado pela sua cotação sado: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
em Bolsa, e, sendo nominativos, exigir-se-á prova de que se I - regularmente intimado para ato do processo, dei-
acham livres de ônus. xar de comparecer, sem motivo justo; (Incluído pela Lei nº
Art. 331. O valor em que consistir a fiança será reco- 12.403, de 2011).
lhido à repartição arrecadadora federal ou estadual, ou II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao anda-
entregue ao depositário público, juntando-se aos autos os mento do processo; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
respectivos conhecimentos. III - descumprir medida cautelar imposta cumulativa-
Parágrafo único. Nos lugares em que o depósito não mente com a fiança; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
se puder fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão IV - resistir injustificadamente a ordem judicial; (Incluí-
ou pessoa abonada, a critério da autoridade, e dentro de do pela Lei nº 12.403, de 2011).
três dias dar-se-á ao valor o destino que Ihe assina este V - praticar nova infração penal dolosa. (Incluído pela
artigo, o que tudo constará do termo de fiança. Lei nº 12.403, de 2011).
Art.  332. Em caso de prisão em flagrante, será com- Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que
petente para conceder a fiança a autoridade que presidir se declarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os
ao respectivo auto, e, em caso de prisão por mandado, o seus efeitos
juiz que o houver expedido, ou a autoridade judiciária ou Art. 343. O quebramento injustificado da fiança im-
policial a quem tiver sido requisitada a prisão. portará na perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz
Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será conce- decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares ou,
dida independentemente de audiência do Ministério Pú- se for o caso, a decretação da prisão preventiva. (Redação
blico, este terá vista do processo a fim de requerer o que dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
julgar conveniente. Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor
Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não da fiança, se, condenado, o acusado não se apresentar para
transitar em julgado a sentença condenatória. (Redação o início do cumprimento da pena definitivamente imposta.
dada pela Lei nº 12.403, de 2011). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, de- Art. 131. O sequestro será levantado:
duzidas as custas e mais encargos a que o acusado estiver I - se a ação penal não for intentada no prazo de ses-
obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário, na forma senta dias, contado da data em que ficar concluída a dili-
da lei. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). gência;
Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as II - se o terceiro, a quem tiverem sido transferidos os
deduções previstas no art. 345 deste Código, o valor res- bens, prestar caução que assegure a aplicação do disposto
tante será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da no art. 74, II, b, segunda parte, do Código Penal;
lei. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). III - se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o
Art. 347. Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o sal- réu, por sentença transitada em julgado.
do será entregue a quem houver prestado a fiança, depois Art. 132. Proceder-se-á ao sequestro dos bens móveis
de deduzidos os encargos a que o réu estiver obrigado. se, verificadas as condições previstas no art.  126, não for
Art. 348. Nos casos em que a fiança tiver sido presta- cabível a medida regulada no Capítulo Xl do Título Vll deste
da por meio de hipoteca, a execução será promovida no Livro.
juízo cível pelo órgão do Ministério Público. Art. 133. Transitada em julgado a sentença condenató-
ria, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado, de-
Art. 349. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou
terminará a avaliação e a venda dos bens em leilão público.
metais preciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro
Parágrafo único. Do dinheiro apurado, será recolhido
ou corretor.
ao Tesouro Nacional o que não couber ao lesado ou a ter-
Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, ve- ceiro de boa-fé.
rificando a situação econômica do preso, poderá conce- Art. 134. A hipoteca legal sobre os imóveis do indicia-
der-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às obrigações do poderá ser requerida pelo ofendido em qualquer fase
constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras do processo, desde que haja certeza da infração e indícios
medidas cautelares, se for o caso. (Redação dada pela Lei suficientes da autoria.
nº 12.403, de 2011). Art. 135. Pedida a especialização mediante requeri-
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem mento, em que a parte estimará o valor da responsabilidade
motivo justo, qualquer das obrigações ou medidas im- civil, e designará e estimará o imóvel ou imóveis que terão
postas, aplicar-se-á o disposto no § 4o do art. 282 deste de ficar especialmente hipotecados, o juiz mandará logo
Código. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). proceder ao arbitramento do valor da responsabilidade e à
avaliação do imóvel ou imóveis.
§ 1o A petição será instruída com as provas ou indicação
2.4.3 - DAS MEDIDAS ASSECURATÓRIAS - das provas em que se fundar a estimação da responsabili-
dade, com a relação dos imóveis que o responsável possuir,
ARTIGOS 125 A 144-A
se outros tiver, além dos indicados no requerimento, e com
os documentos comprobatórios do domínio.
§ 2o O arbitramento do valor da responsabilidade e a
CAPÍTULO VI avaliação dos imóveis designados far-se-ão por perito no-
DAS MEDIDAS ASSECURATÓRIAS meado pelo juiz, onde não houver avaliador judicial, sendo-
-lhe facultada a consulta dos autos do processo respectivo.
Art. 125. Caberá o sequestro dos bens imóveis, adqui- § 3o O juiz, ouvidas as partes no prazo de dois dias, que
ridos pelo indiciado com os proventos da infração, ainda correrá em cartório, poderá corrigir o arbitramento do valor
que já tenham sido transferidos a terceiro. da responsabilidade, se Ihe parecer excessivo ou deficiente.
Art. 126. Para a decretação do sequestro, bastará a exis- § 4o O juiz autorizará somente a inscrição da hipoteca
tência de indícios veementes da proveniência ilícita dos bens. do imóvel ou imóveis necessários à garantia da responsa-
Art. 127. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério bilidade.
Público ou do ofendido, ou mediante representação da au- § 5o O valor da responsabilidade será liquidado defini-
toridade policial, poderá ordenar o sequestro, em qualquer tivamente após a condenação, podendo ser requerido novo
fase do processo ou ainda antes de oferecida a denúncia arbitramento se qualquer das partes não se conformar com
ou queixa. o arbitramento anterior à sentença condenatória.
Art. 128. Realizado o sequestro, o juiz ordenará a sua § 6o Se o réu oferecer caução suficiente, em dinheiro ou
inscrição no Registro de Imóveis. em títulos de dívida pública, pelo valor de sua cotação em
Art. 129. O sequestro autuar-se-á em apartado e admi- Bolsa, o juiz poderá deixar de mandar proceder à inscrição
tirá embargos de terceiro. da hipoteca legal.
Art. 130. O sequestro poderá ainda ser embargado: Art. 136. O arresto do imóvel poderá ser decretado de
I - pelo acusado, sob o fundamento de não terem os início, revogando-se, porém, se no prazo de 15 (quinze) dias
bens sido adquiridos com os proventos da infração; não for promovido o processo de inscrição da hipoteca le-
II - pelo terceiro, a quem houverem os bens sido trans- gal. (Redação dada pela Lei nº 11.435, de 2006).
feridos a título oneroso, sob o fundamento de tê-los adqui- Art. 137. Se o responsável não possuir bens imóveis
rido de boa-fé. ou os possuir de valor insuficiente, poderão ser arrestados
Parágrafo único. Não poderá ser pronunciada decisão bens móveis suscetíveis de penhora, nos termos em que é
nesses embargos antes de passar em julgado a sentença facultada a hipoteca legal dos imóveis. (Redação dada pela
condenatória. Lei nº 11.435, de 2006).

39
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

§ 1o Se esses bens forem coisas fungíveis e facilmente e tributos anteriores, sem prejuízo de execução fiscal em
deterioráveis, proceder-se-á na forma do § 5o do art. 120. relação ao antigo proprietário. (Incluído pela Lei nº 12.694,
§ 2o Das rendas dos bens móveis poderão ser forne- de 2012)
cidos recursos arbitrados pelo juiz, para a manutenção do § 6o O valor dos títulos da dívida pública, das ações das
indiciado e de sua família. sociedades e dos títulos de crédito negociáveis em bolsa
Art. 138. O processo de especialização da hipoteca e do será o da cotação oficial do dia, provada por certidão ou
arresto correrão em auto apartado. (Redação dada pela Lei publicação no órgão oficial. (Incluído pela Lei nº 12.694,
nº 11.435, de 2006). de 2012)
Art. 139. O depósito e a administração dos bens arres- § 7o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
tados ficarão sujeitos ao regime do processo civil. (Redação
dada pela Lei nº 11.435, de 2006). QUESTÕES
Art. 140. As garantias do ressarcimento do dano alcan-
çarão também as despesas processuais e as penas pecuniá- 01. (DPE-ES - Defensor Público – 2016 - FCC) Sobre
rias, tendo preferência sobre estas a reparação do dano ao as provas no processo penal,
ofendido. (A) após realização do reconhecimento pessoal, deve
Art. 141. O arresto será levantado ou cancelada a hi- ser lavrado auto pormenorizado, subscrito pela autori-
poteca, se, por sentença irrecorrível, o réu for absolvido ou
dade, pela pessoa chamada para proceder ao reconheci-
julgada extinta a punibilidade. (Redação dada pela Lei nº
mento e por duas testemunhas presenciais.
11.435, de 2006).
Art. 142. Caberá ao Ministério Público promover as me- (B) em virtude do princípio do livre convencimento
didas estabelecidas nos arts. 134 e 137, se houver interesse motivado, o juiz pode suprir a ausência de exame de cor-
da Fazenda Pública, ou se o ofendido for pobre e o requerer. po de delito, direto ou indireto, pela confissão do acusado
Art. 143. Passando em julgado a sentença condena- nos crimes que deixam vestígios.
tória, serão os autos de hipoteca ou arresto remetidos ao (C) de acordo com o sistema acusatório, o interroga-
juiz do cível (art. 63). (Redação dada pela Lei nº 11.435, de tório é o ato final da instrução, não podendo ocorrer mais
2006). de uma vez no mesmo processo.
Art. 144. Os interessados ou, nos casos do art. 142, o (D) segundo a Convenção Americana de Direitos Hu-
Ministério Público poderão requerer no juízo cível, contra manos, a confissão do acusado só é válida se feita sem
o responsável civil, as medidas previstas nos arts. 134, 136 coação de nenhuma natureza, de modo que não há má-
e 137. cula na confissão informal feita no momento da prisão
Art. 144-A. O juiz determinará a alienação antecipada quando apenas induzida por policiais.
para preservação do valor dos bens sempre que estiverem (E) diante da notícia concreta de tráfico de drogas e
sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou da presença de armas em determinada favela, é possível a
quando houver dificuldade para sua manutenção. (Incluído expedição de mandado de busca domiciliar para todas as
pela Lei nº 12.694, de 2012) casas da comunidade.
§ 1o O leilão far-se-á preferencialmente por meio eletrô-
nico. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 2o Os bens deverão ser vendidos pelo valor fixado na 02. (DPE-MA - Defensor Público - Ano: 2015 - FCC)
avaliação judicial ou por valor maior. Não alcançado o valor O inquérito policial
estipulado pela administração judicial, será realizado novo (A) após seu arquivamento, poderá ser desarquivado
leilão, em até 10 (dez) dias contados da realização do pri- a qualquer momento para possibilitar novas investigações,
meiro, podendo os bens ser alienados por valor não inferior desde que haja concordância do Ministério Público.
a 80% (oitenta por cento) do estipulado na avaliação judi- (B) em curso poderá ser avocado por superior por mo-
cial. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) tivo de interesse público.
§ 3o O produto da alienação ficará depositado em conta (C) poderá ser instaurado por requisição judicial, a de-
vinculada ao juízo até a decisão final do processo, proce- pender da análise de conveniência e oportunidade do de-
dendo-se à sua conversão em renda para a União, Estado legado de polícia.
ou Distrito Federal, no caso de condenação, ou, no caso de (D) nos casos de ação penal privada e ação penal pú-
absolvição, à sua devolução ao acusado. (Incluído pela Lei blica condicionada poderá ser instaurado mesmo sem a
nº 12.694, de 2012) representação da vítima ou seu representante legal, desde
§ 4o Quando a indisponibilidade recair sobre dinheiro, que se trate de crime hediondo.
inclusive moeda estrangeira, títulos, valores mobiliários ou (E) independentemente do crime investigado deverá
cheques emitidos como ordem de pagamento, o juízo de-
ser impreterivelmente concluído no prazo de 30 dias se o
terminará a conversão do numerário apreendido em moeda
nacional corrente e o depósito das correspondentes quan- investigado estiver solto.
tias em conta judicial. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 5o No caso da alienação de veículos, embarcações ou 03. (PC-CE - Escrivão de Polícia Civil de 1ª Classe –
aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao 2015 - VUNESP) A Lei nº 7.960/89 estabelece, em seu art.
equivalente órgão de registro e controle a expedição de 1º, inciso III, o rol de crimes para os quais é cabível a de-
certificado de registro e licenciamento em favor do arrema- cretação da prisão temporária quando imprescindível para
tante, ficando este livre do pagamento de multas, encargos as investigações do inquérito policial. Esse rol inclui

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

(A) o crime de assédio sexual. (C) a requerimento de qualquer pessoa, poderá deferir
(B) o crime de receptação qualificada. a interceptação das comunicações telefônicas de indiciado.
(C) o crime de estelionato. (D) quando verificada a inexistência de indícios de au-
(D) o crime de furto qualificado. toria, deverá arquivar os autos do inquérito policial.
(E) os crimes contra o sistema financeiro. (E) ao ter conhecimento da infração penal, deverá pro-
ceder ao reconhecimento de pessoas e coisas e providen-
04. (MPE-SE - Analista – Direito - 2013 - FCC) Em ciar a realização de acareações.
relação ao inquérito policial,
(A) o ofendido, ou seu representante legal, e o indicia- 08. (SEDS-TO - Analista Socioeducador – Direito -
do poderão requerer qualquer diligência, que será realiza- 2014 - FUNCAB) Considerando os temas inquérito policial
da, ou não, a juízo da autoridade. e ação penal, assinale a alternativa correta.
(B) nos crimes de ação penal de iniciativa pública, so- (A) A autoridade policial não poderá mandar arquivar
mente pode ser iniciado de ofício. autos de inquérito.
(C) a autoridade policial poderá mandar arquivar os au- (B) O inquérito deverá terminar no prazo de 30 dias, se
tos de inquérito policial em caso de evidente atipicidade da o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso
conduta investigada. preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir
(D) se o indiciado estiver preso em flagrante, o inquéri- do dia em que se executar a ordem de prisão.
to policial deverá terminar no prazo máximo de cinco dias, (C) O Ministério Público poderá desistir da ação penal.
salvo disposição em contrário. (D) O prazo para oferecimento da denúncia, estando o
(E) é indispensável à propositura da ação penal de ini- réu preso, será de 30 dias, contado da data em que o órgão
ciativa pública. do Ministério Público receber os autos do inquérito policial.

05. (MPE-SP - Analista de Promotoria - 2015 – VU- 09. (PC-SP - Investigador de Polícia – 2014 - VU-
NESP) A prisão em flagrante, cautelar, realiza-se NESP) A prisão preventiva
(A) sem necessidade de avaliação posterior por autori- (A) é decretada pelo juiz.
dade judiciária, porque pode ser relaxada, a qualquer tem- (B) somente poderá ser decretada como garantia da
po, pela autoridade policial. ordem pública.
(B) diante de aparente tipicidade (fumus boni juris), (C) não poderá ser revogada pelo juiz.
mas confirmados ilicitude e culpabilidade. (D) poderá ser decretada pelo delegado de polícia.
(C) no momento em que está ocorrendo ou termina de (E) é admitida para qualquer crime ou contravenção.
ocorrer o crime.
(D) mediante expedição de mandado de prisão pela 10. (PC-GO - Delegado de Polícia – 2013 - UEG) So-
autoridade judiciária. bre a prisão em flagrante, tem-se o seguinte:
(E) única e tão somente pela polícia judiciária. (A) o auto de prisão em flagrante deverá ser lavrado
pela autoridade do local do crime onde foi efetivada a
06. (PC-SP -Investigador de Polícia – 2014 - VU- captura, sob pena de nulidade absoluta.
NESP) O inquérito policial (B) em até 24 (vinte e quatro) horas da realização da
(A) somente será instaurado por determinação do juiz prisão, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota
competente. de culpa, assinada pelo juiz, sendo que a errônea capitu-
(B) pode ser arquivado por determinação da Autorida-
lação dos fatos no mencionado documento gera nulida-
de Policial.
de do flagrante.
(C) estando o indiciado solto, deverá ser concluído no
máximo em 10 dias. (C) o reconhecimento da nulidade do auto de prisão
(D) nos crimes de ação pública poderá ser iniciado de em flagrante atinge unicamente o seu valor como ins-
ofício. trumento de coação cautelar, não tendo repercussão no
(E) não poderá ser iniciado por requisição do Ministério processo-crime.
Público. (D) a falta de comunicação, no prazo legal, da prisão
em flagrante à autoridade judiciária nulifica-a, devendo o
07. (TJ-SE - Titular de Serviços de Notas e de Regis- magistrado, após oitiva do Ministério Público, determinar
tros – Provimento - 2014 - CESPE) No curso da tramita- seu imediato relaxamento.
ção do inquérito policial, o delegado de polícia,
(A) nos crimes em que a pena máxima cominada não 11. (TRE-RS - Analista Judiciário – Administrativa
extrapole oito anos de reclusão, poderá conceder liberdade – 2015 - CESPE) Foi recebida pelo juiz denúncia ofereci-
provisória, independentemente de fiança. da pelo MP contra Pedro e João, imputando-lhes a prá-
(B) independentemente de pronunciamento do juiz
tica de crime de extorsão realizada dentro de uma uni-
competente, deverá proceder à instauração de incidente de
versidade. Uma das vítimas resolveu intervir no processo,
insanidade mental do indiciado, desde que este apresente
indícios dessa insanidade. como assistente de acusação.

41
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Tendo como referência a situação hipotética apresen- póteses de inobservância dos procedimentos previstos em
tada, assinale a opção correta. regulamento da corporação que prejudique a eficácia da
(A) Deferida a habilitação, o assistente de acusação re- investigação.
ceberá a causa desde a petição inicial e, conforme o caso,
deverão ser repetidos os atos anteriores a sua habilitação. 03. E.
(B) Da decisão que admitir ou denegar a intervenção De acordo com a Legislação:
da vítima caberá recurso em sentido estrito ao juízo de se- Art. 1° Caberá prisão temporária:
gundo grau. (...)
(C) Ao assistente de acusação será permitido propor III - quando houver fundadas razões, de acordo com
meios de provas, tais como perícias e acareações, participar qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou
de debates orais e aditar articulados, e também arrazoar os participação do indiciado nos seguintes crimes:
recursos interpostos pelo MP. (...)
(D) A vítima poderá habilitar-se como assistente de o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de
acusação na fase preliminar das investigações, após a ins- 16 de junho de 1986).
tauração do inquérito policial.
(E) O assistente de acusação poderá arrolar testemu- 04. A.
nhas e aditar a denúncia oferecida pelo MP. Código Processual Penal:
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o
12. (TRE-RS - Analista Judiciário – Administrativa – indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será
2015 - CESPE) No que se refere a intimações e citações no realizada, ou não, a juízo da autoridade.
processo penal, assinale a opção correta.
(A) A citação ou a intimação do militar da ativa será 05. C.
feita mediante a expedição pelo juízo processante de um Código Processual Penal:
ofício, que será remetido ao chefe do serviço, cabendo ao Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
oficial de justiça a citação do acusado. I - está cometendo a infração penal;
(B) Na hipótese de expedição de carta precatória para II - acaba de cometê-la;
a citação, se o acusado não se encontrar na comarca do III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo
juiz deprecado e estiver em local conhecido, a precatória ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça
deverá ser devolvida ao juiz deprecante para uma nova ex- presumir ser autor da infração;
pedição. IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, ar-
(C) A citação ficta ou presumida será realizada por edi- mas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor
tal, pelo correio ou por email. da infração.
(D) Na hipótese de o réu estar no estrangeiro, em local
sabido, será sempre citado por carta rogatória, mesmo que Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o
a infração penal seja afiançável. agente em flagrante delito enquanto não cessar a perma-
(E) De acordo com o CPP, será pessoal a intimação do nência.
MP, do defensor constituído, do advogado do querelante e
do advogado do assistente de acusação. 06. D.
A) ERRADA: O IP pode ser instaurado por diversas for-
Respostas: mas (de ofício, por requisição do MP, etc.).
B) ERRADA: A autoridade policial NUNCA poderá man-
01. A. dar arquivar autos de IP, nos termos do art. 17 do CPP.
CPP - Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se C) ERRADA: Estando o indiciado solto o prazo para a
o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte conclusão do IP é de 30 dias, prorrogáveis.
forma: D) CORRETA: Item correto, pois nos crimes de ação pe-
(...) nal pública o IP pode ser instaurado de ofício, ainda que
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto porme- seja necessário, no caso de crimede ação penal pública
norizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada condicionada à representação, que a autoridade já dispo-
para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas nha de manifestação inequívoca da vítima (representação)
presenciais. no sentido de que deseja a persecução penal.
e) ERRADA: Item errado, pois o IP pode ser instaurado
02. B. por requisição do MP.
De acordo com a Lei n. 12.830/13
Art. 2. 07. E.
(...) CPP - Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática
§ 4º O inquérito policial ou outro procedimento pre- da infração penal, a autoridade policial deverá:
visto em lei em curso somente poderá ser avocado ou re- VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e
distribuído por superior hierárquico, mediante despacho a acareações;
fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hi-

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

08. A. Exercícios Complementares


Dispõe o artigo 17 do CPP: A autoridade policial não
poderá mandar arquivar autos de inquérito. PC – SP - Auxiliar de necropsia – VUNESP – 2014-
QUESTÃO 01.
09. A. De acordo com o Código de Processo Penal, salvo
Conforme o Art. 238 do CPP: se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julga-
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagran- rem que possa ser feita antes, quantas horas é necessário
te delito ou por ordem escrita e fundamentada da autori- aguardar como regra geral após o óbito para a realização
dade judiciária competente, em decorrência de sentença da autópsia?
condenatória transitada em julgado ou, no curso da inves- (A) Quatro.
tigação ou do processo, em virtude de prisão temporária (B) Três.
ou prisão preventiva. (C) Cinco.
(D) Duas.
10. C. (E) Seis.
Código Processual Penal:
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se 01. E.
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz com- Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas
petente, ao Ministério Público e à família do preso ou à depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos si-
pessoa por ele indicada nais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele
§ 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização prazo, o que declararão no auto.
da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de
prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome PC – SP - Delegado - VUNESP – 2014 - QUESTÃO 02.
de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública. No processo penal, a prova produzida durante o inquérito
policial
11. C. (A) pode ser utilizada por qualquer das partes, bem
A presente questão está embasada no artigo 271 do como pelo juiz.
Código Processual Penal que dita: (B) tem o mesmo valor que a prova produzida judicial-
Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de mente.
prova, requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e (C) pode ser utilizada somente pelo juiz.
os articulados, participar do debate oral e arrazoar os re- (D) não tem valor legal.
cursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele pró- (E) deverá ser sempre ratificada judicialmente para ter
prio, nos casos dos arts. 584, § 1o, e 598. valor legal.

12. D. 02. A.
Acerca da citação, na hipótese de o réu estar no estran- Trata-se do Principio da Comunhão da Prova. A prova
geiro, em local sabido, será sempre citado por carta roga- produzida pertence ao processo e não a quem a produz.
tória, mesmo que a infração penal seja afiançável. Sobre a Cada parte possui a auto responsabilidade na produção da
citação, dispõe o CPP: prova que pertence - como dito - ao processo.
Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar
sabido, será citado mediante carta rogatória, suspenden- PC – SP - Delegado - VUNESP – 2014 - QUESTÃO 03.
do-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumpri- A respeito do direito ao silêncio do acusado no inquérito
mento. policial, é correto afirmar que
(A) não importará em confissão, mas em presunção de
culpabilidade.
(B) importará em confissão.
(C) importará em confissão, exceto se o acusado ma-
nifestar o direito constitucional de somente falar em juízo.
(D) não importará em confissão, entretanto, poderá
constituir elemento para formação do convencimento do
juiz em eventual processo penal.
(E) não importará em confissão.

03. E
CPP
Art. 186
Parágrafo único: O silêncio, que não importará em con-
fissão, não poderá ser interpretado em prejuízo de defesa.

43
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

PC – SP - Delegado - VUNESP – 2014 - QUESTÃO 04. 05. E.


Em relação ao tema prisão, é correto afirmar que CPP
(A) o emprego de força para a realização da prisão será I: Art. 305.: Na falta ou no impedimento do escrivão,
permitido sempre que a autoridade policial julgar necessá- qualquer pessoa designada pela autoridade lavrará o auto,
rio, não existindo restrição legal. depois de prestado o compromisso legal.
(B) a prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a II: Art. 329. Nos juízos criminais e delegacias de polícia,
qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviola- haverá um livro especial, com termos de abertura e de en-
bilidade de domicílio. cerramento, numerado e rubricado em todas as suas folhas
(C) a prisão cautelar somente ocorre durante o inqué- pela autoridade, destinado especialmente aos termos de
rito policial. fiança. O termo será lavrado pelo escrivão e assinado pela
(D) em todas as suas hipóteses, é imprescindível a exis- autoridade e por quem prestar a fiança, e dele extrair-se-á
tência de mandado judicial prévio. certidão para juntar-se aos autos.
(E) a prisão preventiva somente ocorre durante o pro- III: Art. 331. O valor em que consistir a fiança será re-
cesso judicial. colhido à repartição arrecadadora federal ou estadual, ou
entregue ao depositário público, juntando-se aos autos os
04. B. respectivos conhecimentos.
CPP
Art. 283, § 2º A prisão poderá ser efetuada em qualquer PC – SP - Escrivão de Polícia - VUNESP – 2014 –
dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à QUESTÃO 06. No que concerne à prisão preventiva e às
inviolabilidade do domicílio. autoridades encarregadas de funcionar em procedimentos
criminais, o Juiz, o Promotor de Justiça (órgão do Ministé-
PC – SP - Escrivão de Polícia - VUNESP – 2014 – rio Público) e o Delegado de Polícia (autoridade policial)
QUESTÃO 05. podem, respectivamente, de acordo com os poderes distri-
Analise as três afirmativas propostas a seguir e coloque buídos pelo art. 311 do CPP,
(V) para verdadeira ou (F) para falsa. (A) decretar de ofício ou mediante representação; ape-
I. O auto de prisão em flagrante, de acordo com o art. nas requerer a decretação; apenas representar pela decre-
305 do CPP, só não será lavrado pelo escrivão de polícia tação.
mediante falta ou impedimento, e desde que prestado (B) decretar de ofício ou mediante representação; de-
compromisso legal pela pessoa designada pela autoridade cretar mediante representação da vítima ou autoridade po-
para tanto. licial; decretar mediante representação da vítima.
II. O termo de fiança, diante do quanto determina o art. (C) decretar apenas mediante representação; decretar
329 do CPP, será lavrado pela autoridade e assinado pelo mediante representação da vítima; apenas representar pela
escrivão e por quem for admitido a prestá-la. decretação.
III. O valor em que consistir a fiança, nos termos do (D) decretar apenas mediante representação do Pro-
quanto prescreve o art. 331 do CPP, será recolhido à re- motor de Justiça; decretar mediante representação da víti-
partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao ma; apenas representar pela decretação com concordância
depositário público, juntando-se aos autos os respectivos da vítima.
conhecimentos. Nos lugares em que o depósito não se pu- (E) decretar apenas mediante representação; apenas
der fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou requerer a decretação; apenas representar pela decretação.
pessoa abonada, a critério da autoridade, e dentro de três
dias dar-se-á ao valor o destino já citado, sendo que tudo 06. A.
constará do termo de fiança. CPP
Assinale a alternativa que apresenta a sequência corre- Art. 311. “Em qualquer fase da investigação policial ou
ta de cima para baixo. do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada
(A) F; F; V pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requeri-
(B) V; F; F mento do Ministério Público, do querelante ou do assisten-
(C) F; F; F te, ou por representação da autoridade policial.”
(D) V; V; V
(E) V; F; V

44
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

PC – SP - Escrivão de Polícia - VUNESP – 2014 – PC – SP - Investigador de Polícia – VUNESP – 2014


QUESTÃO 07. A prisão domiciliar, nos termos do quanto – QUESTÃO 09.
prescreve o art. 317 do CPP, consiste no recolhimento do Um estabelecimento comercial foi roubado, sendo
indiciado ou acusado em subtraídos vários objetos de valor. A viatura de um Inves-
(A) casa do albergado, devendo ficar recluso no perío- tigador de Polícia, que passava pelo local, foi acionada por
do noturno e finais de semana. populares que presenciaram o roubo e relataram o ocor-
(B) colônia penal agrícola, em quarto separado dos de- rido. Após algumas horas, durante o trabalho de investi-
mais detidos. gação policial, em diligência nas proximidades do local do
(C) unidade prisional de segurança média, com possi- fato, o investigador surpreende um cidadão com a arma
bilidade de saídas diárias. do crime e com vários objetos roubados, sendo este ainda
(D) sua residência, só podendo dela ausentar-se com reconhecido pelas vítimas. Diante dessa situação, assinale
autorização judicial. a alternativa correta.
(E) sala de estado maior. (A) Não é possível a prisão em flagrante, pois o cri-
minoso não foi surpreendido no momento e no local da
07. D. prática do crime.
CPP (B) É possível a prisão em flagrante, porém apenas por
Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento determinação do juiz competente.
do indiciado ou acusado em sua residência, só podendo (C) O cidadão somente poderá ser preso preventiva-
dela ausentar-se com autorização judicial. mente pela autoridade policial ou judiciária, não se admi-
tindo a prisão em flagrante.
(D) Há possibilidade de prisão em flagrante em razão
PC – SP - Investigador de Polícia – VUNESP – 2014 de o cidadão ter sido encontrado, logo depois, com a arma
– QUESTÃO 08. e objetos que faziam presumir ser ele autor da infração.
O Código de Processo Penal considera, entre outros, (E) O investigador deverá acionar a Polícia Militar, pois
como meios de prova: somente esta poderá efetuar a prisão em flagrante.
(A) reconhecimento de coisas; investigação policial; in-
quirição de testemunha; retrato falado. 09. D
(B) busca e apreensão; retrato falado; interrogatório do CPP
acusado; confissão. Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
(C) reconhecimento de pessoas; reconhecimento de IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, ar-
coisas; confissão; acareação. mas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor
(D) interrogatório do acusado; retrato falado; reconhe- da infração.
cimento de pessoas; acareação.
(E) investigação policial; interrogatório do acusado; PC – SP - Investigador de Polícia – VUNESP – 2014
confissão; acareação. – QUESTÃO 10.
A prisão preventiva
08. C. (A) é decretada pelo juiz.
TÍTULO VII - DA PROVA - CAPÍTULO I (B) somente poderá ser decretada como garantia da
CAPÍTULO IV -> DA CONFISSÃO; ordem pública.
CAPÍTULO VII -> DO RECONHECIMENTO DE PESSOAS (C) não poderá ser revogada pelo juiz.
E COISAS; (D) poderá ser decretada pelo delegado de polícia.
CAPÍTULO VIII -> DA ACAREAÇÃO. (E) é admitida para qualquer crime ou contravenção.

10. A.
CPP
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou
do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada
pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requeri-
mento do Ministério Público, do querelante ou do assisten-
te, ou por representação da autoridade policial.
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada
como garantia da ordem pública, da ordem econômica,
por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência
do crime e indício suficiente de autoria.

45
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

PC – SP - Perito Criminal – VUNESP – 2014 – QUES-


TÃO 11. As questões de números 19 a 21 referem-se às ANOTAÇÕES
normas do Código de Processo Penal.
19. No tocante ao tema “Inquérito policial”, é correto
afirmar que ___________________________________________________
(A) os instrumentos do crime, bem como os objetos
que interessarem à prova, não acompanharão os autos do ___________________________________________________
inquérito.
___________________________________________________
(B) o inquérito acompanhará a denúncia ou queixa,
sempre que servir de base a uma ou outra. ___________________________________________________
(C) a autoridade policial tem o dever de determinar a
realização das diligências requeridas pelo indiciado, bem ___________________________________________________
como pelo ofendido, em observância ao princípio do con-
traditório e da ampla defesa. ___________________________________________________
(D) o Ministério Público pode requisitar a devolução ___________________________________________________
do inquérito à autoridade policial para novas diligências,
mesmo havendo elementos suficientes ao oferecimento da ___________________________________________________
denúncia, pelos critérios de conveniência e oportunidade.
(E) a autoridade policial pode mandar arquivar autos ___________________________________________________
de inquérito, em casos de inexistência de prova da autoria
ou da materialidade. ___________________________________________________

___________________________________________________
11. B.
CPP ___________________________________________________
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia
ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. ___________________________________________________

___________________________________________________
PC – SP - Perito Criminal – VUNESP – 2014 – QUES-
TÃO 12. Consoante o tema “Exame do corpo de delito e ___________________________________________________
perícias em geral”, assinale a alternativa correta.
(A) Na falta de peritos oficiais, o exame será realizado ___________________________________________________
por duas pessoas idôneas, portadoras ou não de diploma
de curso superior, obrigatoriamente com habilitação técni- ___________________________________________________
ca relacionada com a natureza do exame. ___________________________________________________
(B) A decisão do juiz ficará adstrita ao laudo, não po-
dendo rejeitá-lo, no todo ou em parte. ___________________________________________________
(C) Não sendo possível o exame de corpo de delito,
por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemu- ___________________________________________________
nhal poderá suprir-lhe a falta.
(D) Tanto os peritos oficiais quanto os peritos não ofi- ___________________________________________________
ciais devem prestar o compromisso de bem e fielmente de- ___________________________________________________
sempenhar o encargo.
(E) O exame de corpo de delito deverá ser feito das seis ___________________________________________________
horas às vinte horas de qualquer dia da semana.
___________________________________________________
12. C.
___________________________________________________
CPP
Art. 167 - Não sendo possível o exame de corpo de ___________________________________________________
delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova tes-
temunhal poderá suprir-lhe a falta ___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

46
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

2.5.1 Decreto-Lei nº 3.688/1941 (Lei das Contravenções Penais);......................................................................................................... 01


2.5.2 Lei nº 4.898/1965 (Lei de Abuso de Autoridade);............................................................................................................................. 05
2.5.3 Lei nº 7.716/1989 (Crimes de Preconceito Racial);........................................................................................................................... 07
2.5.4 Lei nº 7.960/1989 (Prisão Temporária);.................................................................................................................................................. 08
2.5.5 Lei Federal nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente): artigos 2º,171 a 178, 225 a 244-B;..................... 09
2.5.6 Lei nº 8.072/1990 (Crimes Hediondos);................................................................................................................................................. 14
2.5.7 Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor): artigos 61 a 80;................................................................................ 18
2.5.8 Lei nº 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa): artigos 1º ao 13;............................................................................. 20
2.5.9 Lei nº 9.099/95, com as alterações feitas pela Lei n.º 11.313/06 (Lei dos Juizados Especiais Criminais): artigos 2º, 60
a 76, 88 a 92 .............................................................................................................................................................................................................. 28
2.5.10 Lei nº 9.296/1996 (Lei de Interceptação Telefônica);..................................................................................................................... 30
2.5.11 Lei Federal nº 9.455/1997 (Tortura);..................................................................................................................................................... 30
2.5.12 Dos crimes previstos na Lei nº 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro):artigos 291 a 312-A;............................... 33
2.5.13 Lei nº 9.605/1998 (Lei do Meio Ambiente): artigos 32, 42 e 65;............................................................................................... 41
2.5.14 Lei Federal nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso): artigos 93 a 109;.......................................................................................... 49
2.5.15 Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento): artigos 12 a 21;......................................................................................... 50
2.5.16 Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha): artigos 1.º a 22, 24 e 41;........................................................................................ 51
2.5.17 Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas);..................................................................................................................................................... 56
2.5.18 Lei Federal nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).......................................................................................................... 64
Decreto Estadual nº 58.052 de 16.05.2012;.................................................................................................................................................... 71
2.5.19 Lei Federal nº 12.830/2013 (Investigação criminal conduzida pelo Delegado de Polícia);............................................ 84
2.5.20 Lei nº 12.850/2013 (Organização Criminosa);.................................................................................................................................. 84
2.5.21 Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência): artigos 88 a 91;......................................................................... 88
2.5.22 Lei nº 13.344/2016 (Prevenção e Repressão ao Tráfico de Pessoas);....................................................................................107
2.5.3 - Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal): artigos 1º ao 4º, 9º-A, 10, 11, 38 a 41, 120 a 125, 146-B, 146-D, 198,
199 e 202;..................................................................................................................................................................................................................109
2.5.23 - Lei nº 13.188/2015 (Direito de resposta ou retificação do ofendido);..............................................................................111
2.5.24 - Lei nº 13.260/2016 (Lei Antiterrorismo);........................................................................................................................................112
2.5.23 Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo (Lei Complementar nº 207/1979) ......................................................114
Lei Complementar nº 922/02 ...........................................................................................................................................................................114
Lei Complementar nº 1.151/11.........................................................................................................................................................................114
2.5.24 Lei Estadual nº 10.261/1968 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de São Paulo)............................114
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 12. As penas acessórias são a publicação da sen-


tença e as seguintes interdições de direitos:
2.5.1 DECRETO-LEI Nº 3.688/1941 (LEI DAS I – a incapacidade temporária para profissão ou ativi-
CONTRAVENÇÕES PENAIS); dade, cujo exercício dependa de habilitação especial, licen-
ça ou autorização do poder público;
lI – a suspensão dos direitos políticos.
DECRETO-LEI Nº 3.688, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941. Parágrafo único. Incorrem:
a) na interdição sob nº I, por um mês a dois anos, o
Lei das Contravenções Penais condenado por motivo de contravenção cometida com
abuso de profissão ou atividade ou com infração de dever
O Presidente da República, usando das atribuições que a ela inerente;
lhe confere o artigo 180 da Constituição, b) na interdição sob nº II, o condenado a pena priva-
tiva de liberdade, enquanto dure a execução do pena ou a
DECRETA: aplicação da medida de segurança detentiva.
Art. 13. Aplicam-se, por motivo de contravenção, os
LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS medidas de segurança estabelecidas no Código Penal, à
exceção do exílio local.
PARTE GERAL Art. 14. Presumem-se perigosos, além dos indivíduos
Art. 1º Aplicam-se as contravenções às regras gerais do a que se referem os ns. I e II do art. 78 do Código Penal:
Código Penal, sempre que a presente lei não disponha de I – o condenado por motivo de contravenção cometi-
modo diverso. do, em estado de embriaguez pelo álcool ou substância de
Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção prati- efeitos análogos, quando habitual a embriaguez;
cada no território nacional. II – o condenado por vadiagem ou mendicância;
Art. 3º Para a existência da contravenção, basta a ação Art. 15. São internados em colônia agrícola ou em ins-
ou omissão voluntária. Deve-se, todavia, ter em conta o dolo tituto de trabalho, de reeducação ou de ensino profissional,
ou a culpa, se a lei faz depender, de um ou de outra, qualquer pelo prazo mínimo de um ano: (Regulamento)
efeito jurídico. I – o condenado por vadiagem (art. 59);
Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção. II – o condenado por mendicância (art. 60 e seu pará-
Art. 5º As penas principais são: grafo);
I – prisão simples.
Art. 16. O prazo mínimo de duração da internação em
II – multa.
manicômio judiciário ou em casa de custódia e tratamento
Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem
é de seis meses.
rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção es-
Parágrafo único. O juiz, entretanto, pode, ao invés de
pecial de prisão comum, em regime semiaberto ou aberto.
decretar a internação, submeter o indivíduo a liberdade vi-
(Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
giada.
§ 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre
Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade
separado dos condenados a pena de reclusão ou de deten-
ção. proceder de ofício.
§ 2º O trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não ex-
cede a quinze dias. PARTE ESPECIAL
Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica CAPÍTULO I
uma contravenção depois de passar em julgado a sentença DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À PESSOA
que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qual-
quer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção. Art. 18. Fabricar, importar, exportar, ter em depósito ou
Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão vender, sem permissão da autoridade, arma ou munição:
da lei, quando escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada. Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou
Art. 9º A multa converte-se em prisão simples, de acordo multa, de um a cinco contos de réis, ou ambas cumulativa-
com o que dispõe o Código Penal sobre a conversão de multa mente, se o fato não constitui crime contra a ordem política
em detenção. ou social.
Parágrafo único. Se a multa é a única pena cominada, a Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de depen-
conversão em prisão simples se faz entre os limites de quinze dência desta, sem licença da autoridade:
dias e três meses. Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou
Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, multa, de duzentos mil réis a três contos de réis, ou ambas
em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a importância cumulativamente.
das multas ultrapassar cinquenta contos. § 1º A pena é aumentada de um terço até metade, se
Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz o agente já foi condenado, em sentença irrecorrível, por
pode suspender por tempo não inferior a um ano nem supe- violência contra pessoa.
rior a três, a execução da pena de prisão simples, bem como § 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias
conceder livramento condicional. Redação dada pela Lei nº a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a um conto de
6.416, de 24.5.1977) réis, quem, possuindo arma ou munição:

1
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

a) deixa de fazer comunicação ou entrega à autorida- CAPÍTULO III


de, quando a lei o determina; DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À INCOLUMI-
b) permite que alienado menor de 18 anos ou pessoa DADE PÚBLICA
inexperiente no manejo de arma a tenha consigo;
c) omite as cautelas necessárias para impedir que dela Art. 28. Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em
se apodere facilmente alienado, menor de 18 anos ou pessoa suas adjacências, em via pública ou em direção a ela:
inexperiente em manejá-la. Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de
Art. 20. Anunciar processo, substância ou objeto destinado trezentos mil réis a três contos de réis.
a provocar aborto: (Redação dada pela Lei nº 6.734, de 1979) Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de
Pena - multa de hum mil cruzeiros a dez mil cruzeiros. (Re- quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a
dação dada pela Lei nº 6.734, de 1979) dois contos de réis, quem, em lugar habitado ou em suas
Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém: adjacências, em via pública ou em direção a ela, sem licença
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou da autoridade, causa deflagração perigosa, queima fogo de
multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não cons- artifício ou solta balão aceso.
titui crime. Art. 29. Provocar o desabamento de construção ou, por
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até erro no projeto ou na execução, dar-lhe causa:
a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. (Incluído Pena – multa, de um a dez contos de réis, se o fato não
pela Lei nº 10.741, de 2003) constitui crime contra a incolumidade pública.
Art. 22. Receber em estabelecimento psiquiátrico, e nele Art. 30. Omitir alguém a providência reclamada pelo Es-
internar, sem as formalidades legais, pessoa apresentada como tado ruinoso de construção que lhe pertence ou cuja conser-
doente mental: vação lhe incumbe:
Pena – multa, de trezentos mil réis a três contos de réis. Pena – multa, de um a cinco contos de réis.
§ 1º Aplica-se a mesma pena a quem deixa de comuni- Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa
car a autoridade competente, no prazo legal, internação que inexperiente, ou não guardar com a devida cautela animal
tenha admitido, por motivo de urgência, sem as formalidades perigoso:
legais. Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou mul-
§ 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias ta, de cem mil réis a um conto de réis.
a três meses, ou multa de quinhentos mil réis a cinco contos Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
de réis, aquele que, sem observar as prescrições legais, deixa a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou cor-
retirar-se ou despede de estabelecimento psiquiátrico pessoa rida, ou o confia à pessoa inexperiente;
nele, internada. b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança
Art. 23. Receber e ter sob custódia doente mental, fora alheia;
do caso previsto no artigo anterior, sem autorização de quem c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a
de direito: segurança alheia.
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via
multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis. pública, ou embarcação a motor em aguas públicas:
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
CAPÍTULO II Art. 33. Dirigir aeronave sem estar devidamente licen-
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES AO PATRIMÔ- ciado:
NIO Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, e
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Art. 24. Fabricar, ceder ou vender gazua ou instrumento Art. 34. Dirigir veículos na via pública, ou embarcações
empregado usualmente na prática de crime de furto: em águas públicas, pondo em perigo a segurança alheia:
Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa, Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou
de trezentos mil réis a três contos de réis. multa, de trezentos mil réis a dois contos de réis.
Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, Art. 35. Entregar-se na prática da aviação, a acrobacias
por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade ou a voos baixos, fora da zona em que a lei o permite, ou fa-
vigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo, ga- zer descer a aeronave fora dos lugares destinados a esse fim:
zuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou
usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.
destinação legítima: Art. 36. Deixar do colocar na via pública, sinal ou obstá-
Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, e multa de culo, determinado em lei ou pela autoridade e destinado a
duzentos mil réis a dois contos de réis. evitar perigo a transeuntes:
Art. 26. Abrir alguém, no exercício de profissão de serra- Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou mul-
lheiro ou oficio análogo, a pedido ou por incumbência de pes- ta, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
soa de cuja legitimidade não se tenha certificado previamente, Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
fechadura ou qualquer outro aparelho destinado à defesa de a) apaga sinal luminoso, destrói ou remove sinal de ou-
lugar nu objeto: tra natureza ou obstáculo destinado a evitar perigo a tran-
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou seuntes;
multa, de duzentos mil réis a um conto de réis. b) remove qualquer outro sinal de serviço público.

2
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 37. Arremessar ou derramar em via pública, ou em Art. 45. Fingir-se funcionário público:
lugar de uso comum, ou do uso alheio, coisa que possa ofen- Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa, de
der, sujar ou molestar alguém: quinhentos mil réis a três contos de réis.
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. Art 46. Usar, publicamente, de uniforme, ou distintivo de
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, função pública que não exerce; usar, indevidamente, de sinal,
sem as devidas cautelas, coloca ou deixa suspensa coisa que, distintivo ou denominação cujo emprego seja regulado por lei.
caindo em via pública ou em lugar de uso comum ou de uso (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 6.916, de 2.10.1944)
alheio, possa ofender, sujar ou molestar alguém. Pena – multa, de duzentos a dois mil cruzeiros, se o fato
Art. 38. Provocar, abusivamente, emissão de fumaça, va- não constitui infração penal mais grave. (Redação dada pelo
por ou gás, que possa ofender ou molestar alguém: Decreto-Lei nº 6.916, de 2.10.1944)
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO IV DAS CONTRAVENÇÕES RELATIVAS À ORGANIZAÇÃO
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À PAZ PÚBLICA DO TRABALHO

Art. 39. Participar de associação de mais de cinco pes- Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou
soas, que se reúnam periodicamente, sob compromisso de anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por
ocultar à autoridade a existência, objetivo, organização ou lei está subordinado o seu exercício:
administração da associação: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou
Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.
trezentos mil réis a três contos de réis. Art. 48. Exercer, sem observância das prescrições legais,
§ 1º Na mesma pena incorre o proprietário ou ocupante comércio de antiguidades, de obras de arte, ou de manuscritos
de prédio que o cede, no todo ou em parte, para reunião de e livros antigos ou raros:
associação que saiba ser de caráter secreto. Pena – prisão simples de um a seis meses, ou multa, de
§ 2º O juiz pode, tendo em vista as circunstâncias, deixar
um a dez contos de réis.
de aplicar a pena, quando lícito o objeto da associação.
Art. 49. Infringir determinação legal relativa à matrícula ou
Art. 40. Provocar tumulto ou portar-se de modo incon-
à escrituração de indústria, de comércio, ou de outra atividade:
veniente ou desrespeitoso, em solenidade ou ato oficial, em
Pena – multa, de duzentos mil réis a cinco contos de réis.
assembleia ou espetáculo público, se o fato não constitui in-
fração penal mais grave;
CAPÍTULO VII
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou
DAS CONTRAVENÇÕES RELATIVAS À POLÍCIA DE
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Art. 41. Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo COSTUMES
inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pâni-
co ou tumulto: Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou público ou acessível ao público, mediante o pagamento de
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. entrada ou sem ele: (Vide Decreto-Lei nº 4.866, de 23.10.1942)
Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego (Vide Decreto-Lei 9.215, de 30.4.1946)
alheios: Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de
I – com gritaria ou algazarra; dois a quinze contos de réis, estendendo-se os efeitos da con-
II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desa- denação à perda dos moveis e objetos de decoração do local.
cordo com as prescrições legais; § 1º A pena é aumentada de um terço, se existe entre os
III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acús- empregados ou participa do jogo pessoa menor de dezoito
ticos; anos.
IV – provocando ou não procurando impedir barulho § 2o Incorre na pena de multa, de R$ 2.000,00 (dois mil
produzido por animal de que tem a guarda: reais) a R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), quem é encontra-
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou do a participar do jogo, ainda que pela internet ou por qual-
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. quer outro meio de comunicação, como ponteiro ou aposta-
dor. (Redação dada pela Lei nº 13.155, de 2015)
CAPÍTULO V § 3º Consideram-se, jogos de azar:
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À FÉ PÚBLICA a) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva
ou principalmente da sorte;
Art. 43. Recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda de b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo
curso legal no país: ou de local onde sejam autorizadas;
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. c) as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.
Art. 44. Usar, como propaganda, de impresso ou obje- § 4º Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar acessível
to que pessoa inexperiente ou rústica possa confundir com ao público:
moeda: a) a casa particular em que se realizam jogos de azar,
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. quando deles habitualmente participam pessoas que não se-
jam da família de quem a ocupa;

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos hóspedes Art. 58. Explorar ou realizar a loteria denominada jogo
e moradores se proporciona jogo de azar; do bicho, ou praticar qualquer ato relativo à sua realização ou
c) a sede ou dependência de sociedade ou associação, exploração:
em que se realiza jogo de azar; Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e mul-
d) o estabelecimento destinado à exploração de jogo de ta, de dois a vinte contos de réis.
azar, ainda que se dissimule esse destino. Parágrafo único. Incorre na pena de multa, de duzentos
Art. 51. Promover ou fazer extrair loteria, sem autorização mil réis a dois contos de réis, aquele que participa da loteria,
legal: visando a obtenção de prêmio, para si ou para terceiro.
Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e mul- Art. 59. Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade,
ta, de cinco a dez contos de réis, estendendo-se os efeitos da sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure
condenação à perda dos moveis existentes no local. meios bastantes de subsistência, ou prover à própria subsis-
§ 1º Incorre na mesma pena quem guarda, vende ou ex- tência mediante ocupação ilícita:
põe à venda, tem sob sua guarda para o fim de venda, introduz Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses.
ou tenta introduzir na circulação bilhete de loteria não autori- Parágrafo único. A aquisição superveniente de renda,
zada. que assegure ao condenado meios bastantes de subsistência,
§ 2º Considera-se loteria toda operação que, mediante extingue a pena.
a distribuição de bilhete, listas, cupões, vales, sinais, símbolos Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível
ou meios análogos, faz depender de sorteio a obtenção de ao público, de modo ofensivo ao pudor:
prêmio em dinheiro ou bens de outra natureza. Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
§ 3º Não se compreendem na definição do parágrafo an- Art. 62. Apresentar-se publicamente em estado de em-
terior os sorteios autorizados na legislação especial. briaguez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo
Art. 52. Introduzir, no país, para o fim de comércio, bilhete a segurança própria ou alheia:
de loteria, rifa ou tômbola estrangeiras: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou
Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa, multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
de um a cinco contos de réis. Parágrafo único. Se habitual a embriaguez, o contraven-
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende, tor é internado em casa de custódia e tratamento.
expõe à venda, tem sob sua guarda. para o fim de venda, in- Art. 63. Servir bebidas alcoólicas:
troduz ou tenta introduzir na circulação, bilhete de loteria es- II – a quem se acha em estado de embriaguez;
trangeira. III – a pessoa que o agente sabe sofrer das faculdades
Art. 53. Introduzir, para o fim de comércio, bilhete de lote- mentais;
ria estadual em território onde não possa legalmente circular: IV – a pessoa que o agente sabe estar judicialmente proi-
Pena – prisão simples, de dois a seis meses, e multa, de bida de frequentar lugares onde se consome bebida de tal
um a três contos de réis. natureza:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende, Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, ou multa,
expõe à venda, tem sob sua guarda, para o fim de venda, in- de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.
troduz ou tonta introduzir na circulação, bilhete de loteria esta- Art. 64. Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a
dual, em território onde não possa legalmente circular. trabalho excessivo:
Art. 54. Exibir ou ter sob sua guarda lista de sorteio de Pena – prisão simples, de dez dias a um mês, ou multa, de
loteria estrangeira: cem a quinhentos mil réis.
Pena – prisão simples, de um a três meses, e multa, de § 1º Na mesma pena incorre aquele que, embora para
duzentos mil réis a um conto de réis. fins didáticos ou científicos, realiza em lugar público ou ex-
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem exibe ou posto ao publico, experiência dolorosa ou cruel em animal
tem sob sua guarda lista de sorteio de loteria estadual, em vivo.
território onde esta não possa legalmente circular. § 2º Aplica-se a pena com aumento de metade, se o ani-
Art. 55. Imprimir ou executar qualquer serviço de feitura mal é submetido a trabalho excessivo ou tratado com cruel-
de bilhetes, lista de sorteio, avisos ou cartazes relativos a lote- dade, em exibição ou espetáculo público.
ria, em lugar onde ela não possa legalmente circular: Art. 65. Molestar alguém ou perturbar lhe a tranquilida-
Pena – prisão simples, de um a seis meses, e multa, de de, por acinte ou por motivo reprovável:
duzentos mil réis a dois contos de réis. Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou
Art. 56. Distribuir ou transportar cartazes, listas de sorteio multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
ou avisos de loteria, onde ela não possa legalmente circular:
Pena – prisão simples, de um a três meses, e multa, de CAPÍTULO VIII
cem a quinhentos mil réis. DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À ADMINIS-
Art. 57. Divulgar, por meio de jornal ou outro impresso, TRAÇÃO PÚBLICA
de rádio, cinema, ou qualquer outra forma, ainda que dis-
farçadamente, anúncio, aviso ou resultado de extração de Art. 66. Deixar de comunicar à autoridade competente:
loteria, onde a circulação dos seus bilhetes não seria legal: I – crime de ação pública, de que teve conhecimento no
Pena – multa, de um a dez contos de réis. exercício de função pública, desde que a ação penal não de-
penda de representação;

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

II – crime de ação pública, de que teve conhecimento no Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer aten-
exercício da medicina ou de outra profissão sanitária, desde que tado:
a ação penal não dependa de representação e a comunicação a) à liberdade de locomoção;
não exponha o cliente a procedimento criminal: b) à inviolabilidade do domicílio;
Pena – multa, de trezentos mil réis a três contos de réis. c) ao sigilo da correspondência;
Art. 67. Inumar ou exumar cadáver, com infração das dis- d) à liberdade de consciência e de crença;
posições legais: e) ao livre exercício do culto religioso;
Pena – prisão simples, de um mês a um ano, ou multa, de f) à liberdade de associação;
duzentos mil réis a dois contos de réis. g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exer-
Art. 68. Recusar à autoridade, quando por esta, justifica- cício do voto;
damente solicitados ou exigidos, dados ou indicações concer- h) ao direito de reunião;
nentes à própria identidade, estado, profissão, domicílio e re- i) à incolumidade física do indivíduo;
sidência: j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exer-
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. cício profissional. (Incluído pela Lei nº 6.657,de 05/06/79)
Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de um Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:
a seis meses, e multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade
se o fato não constitue infração penal mais grave, quem, nas individual, sem as formalidades legais ou com abuso de
mesmas circunstâncias, f’az declarações inverídicas a respeito de poder;
sua identidade pessoal, estado, profissão, domicílio e residência. b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexa-
Art. 70. Praticar qualquer ato que importe violação do mo- me ou a constrangimento não autorizado em lei;
nopólio postal da União: c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz compe-
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, de tente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;
três a dez contos de réis, ou ambas cumulativamente. d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou
DISPOSIÇÕES FINAIS detenção ilegal que lhe seja comunicada;
Art. 71. Ressalvada a legislação especial sobre florestas, e) levar à prisão e nela deter quem quer que se propo-
caça e pesca, revogam-se as disposições em contrário.
nha a prestar fiança, permitida em lei;
Art. 72. Esta lei entrará em vigor no dia 1º de janeiro de
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial
1942.
carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra des-
Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1941; 120º da Independên-
pesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer
cia e 58º da República.
quanto à espécie quer quanto ao seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial
recibo de importância recebida a título de carceragem, cus-
2.5.2 LEI Nº 4.898/1965 (LEI DE ABUSO DE tas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
AUTORIDADE); h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa
natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio
de poder ou sem competência legal;
LEI Nº 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965. i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena
ou de medida de segurança, deixando de expedir em tem-
Regula o Direito de Representação e o processo de Res- po oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liber-
ponsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso dade. (Incluído pela Lei nº 7.960, de 21/12/89)
de autoridade. Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos des-
ta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: remuneração.
Art. 1º O direito de representação e o processo de respon- Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à
sabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que, sanção administrativa civil e penal.
no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados § 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo
pela presente lei. com a gravidade do abuso cometido e consistirá em:
Art. 2º O direito de representação será exercido por meio a) advertência;
de petição: b) repreensão;
a) dirigida à autoridade superior que tiver competência le- c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de
gal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e
sanção; vantagens;
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver compe- d) destituição de função;
tência para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada. e) demissão;
Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e f) demissão, a bem do serviço público.
conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de autorida- § 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor
de, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado do dano, consistirá no pagamento de uma indenização de
e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver. quinhentos a dez mil cruzeiros.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de
dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: apresentar a denúncia requerer o arquivamento da repre-
a) multa de cem a cinco mil cruzeiros; sentação, o Juiz, no caso de considerar improcedentes as
b) detenção por dez dias a seis meses; razões invocadas, fará remessa da representação ao Procu-
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qual- rador-Geral e este oferecerá a denúncia, ou designará outro
quer outra função pública por prazo até três anos. órgão do Ministério Público para oferecê-la ou insistirá no
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser arquivamento, ao qual só então deverá o Juiz atender.
aplicadas autônoma ou cumulativamente. Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a
§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de auto- denúncia no prazo fixado nesta lei, será admitida ação pri-
ridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá vada. O órgão do Ministério Público poderá, porém, aditar a
ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e inter-
o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no vir em todos os termos do processo, interpor recursos e, a
município da culpa, por prazo de um a cinco anos. todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar
Art. 7º recebida a representação em que for solicitada a a ação como parte principal.
aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil ou mi- Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de
litar competente determinará a instauração de inquérito para quarenta e oito horas, proferirá despacho, recebendo ou re-
apurar o fato. jeitando a denúncia.
§ 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas es- § 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz de-
tabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis ou signará, desde logo, dia e hora para a audiência de instrução
militares, que estabeleçam o respectivo processo. e julgamento, que deverá ser realizada, improrrogavelmente.
§ 2º não existindo no município no Estado ou na legis- dentro de cinco dias.
lação militar normas reguladoras do inquérito administrativo § 2º A citação do réu para se ver processar, até julga-
serão aplicadas supletivamente, as disposições dos arts. 219 a mento final e para comparecer à audiência de instrução e
225 da Lei nº 1.711, de 28 de outubro de 1952 (Estatuto dos julgamento, será feita por mandado sucinto que, será acom-
Funcionários Públicos Civis da União). panhado da segunda via da representação e da denúncia.
§ 3º O processo administrativo não poderá ser sobrestado Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão
para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil. ser apresentada em juízo, independentemente de intimação.
Art. 8º A sanção aplicada será anotada na ficha funcional Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de pre-
da autoridade civil ou militar. catória para a audiência ou a intimação de testemunhas ou,
Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigida à salvo o caso previsto no artigo 14, letra “b”, requerimentos
autoridade administrativa ou independentemente dela, pode- para a realização de diligências, perícias ou exames, a não
rá ser promovida pela vítima do abuso, a responsabilidade civil ser que o Juiz, em despacho motivado, considere indispen-
ou penal ou ambas, da autoridade culpada. sáveis tais providências.
Art. 10. Vetado Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandará que o porteiro
Art. 11. À ação civil serão aplicáveis as normas do Código dos auditórios ou o oficial de justiça declare aberta a audiên-
de Processo Civil. cia, apregoando em seguida o réu, as testemunhas, o perito,
Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de o representante do Ministério Público ou o advogado que
inquérito policial ou justificação por denúncia do Ministério tenha subscrito a queixa e o advogado ou defensor do réu.
Público, instruída com a representação da vítima do abuso. Parágrafo único. A audiência somente deixará de reali-
Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a representa- zar-se se ausente o Juiz.
ção da vítima, aquele, no prazo de quarenta e oito horas, de- Art. 20. Se até meia hora depois da hora marcada o Juiz
nunciará o réu, desde que o fato narrado constitua abuso de não houver comparecido, os presentes poderão retirar-se,
autoridade, e requererá ao Juiz a sua citação, e, bem assim, a devendo o ocorrido constar do livro de termos de audiência.
designação de audiência de instrução e julgamento. Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será pú-
§ 1º A denúncia do Ministério Público será apresentada blica, se contrariamente não dispuser o Juiz, e realizar-se-á
em duas vias. em dia útil, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede do
Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autorida- Juízo ou, excepcionalmente, no local que o Juiz designar.
de houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado poderá: Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o
a) promover a comprovação da existência de tais vestígios, interrogatório do réu, se estiver presente.
por meio de duas testemunhas qualificadas; Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu ad-
b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da au- vogado, o Juiz nomeará imediatamente defensor para fun-
diência de instrução e julgamento, a designação de um perito cionar na audiência e nos ulteriores termos do processo.
para fazer as verificações necessárias. Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o
§ 1º O perito ou as testemunhas farão o seu relatório e Juiz dará a palavra sucessivamente, ao Ministério Público ou
prestarão seus depoimentos verbalmente, ou o apresentarão ao advogado que houver subscrito a queixa e ao advogado
por escrito, querendo, na audiência de instrução e julgamento. ou defensor do réu, pelo prazo de quinze minutos para cada
§ 2º No caso previsto na letra a deste artigo a represen- um, prorrogável por mais dez (10), a critério do Juiz.
tação poderá conter a indicação de mais duas testemunhas. Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediata-
mente a sentença.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 25. Do ocorrido na audiência o escrivão lavrará no li- III - proporcionar ao empregado tratamento diferencia-
vro próprio, ditado pelo Juiz, termo que conterá, em resumo, do no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salá-
os depoimentos e as alegações da acusação e da defesa, os rio. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
requerimentos e, por extenso, os despachos e a sentença. § 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de
Art. 26. Subscreverão o termo o Juiz, o representante do serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção
Ministério Público ou o advogado que houver subscrito a da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra
queixa, o advogado ou defensor do réu e o escrivão. forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de
Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte fo- aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas ati-
rem difíceis e não permitirem a observância dos prazos fixados vidades não justifiquem essas exigências.
nesta lei, o juiz poderá aumentá-las, sempre motivadamente, Pena: reclusão de dois a cinco anos.
até o dobro. Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento co-
Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas mercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou
do Código de Processo Penal, sempre que compatíveis com o comprador.
sistema de instrução e julgamento regulado por esta lei. Pena: reclusão de um a três anos.
Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças, Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso
caberão os recursos e apelações previstas no Código de Pro- de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado
cesso Penal. de qualquer grau.
Art. 29. Revogam-se as disposições em contrário. Pena: reclusão de três a cinco anos.
Brasília, 9 de dezembro de 1965; 144º da Independência e Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor
77º da República. de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço).
Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em ho-
tel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
2.5.3 LEI Nº 7.716/1989 (CRIMES DE Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em res-
PRECONCEITO RACIAL); taurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos
ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989. Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em
estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes
Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou sociais abertos ao público.
de cor. Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Con- salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de mas-
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: sagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes re- Pena: reclusão de um a três anos.
sultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios
religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso
9.459, de 15/05/97) aos mesmos:
Art. 2º (Vetado). Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devida- Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos,
mente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou
ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços pú- qualquer outro meio de transporte concedido.
blicos. Pena: reclusão de um a três anos.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por mo- Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço
tivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou proce- em qualquer ramo das Forças Armadas.
dência nacional, obstar a promoção funcional. (Incluído pela Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Lei nº 12.288, de 2010) Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma,
Pena: reclusão de dois a cinco anos. o casamento ou convivência familiar e social.
Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.  Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Pena: reclusão de dois a cinco anos. Art. 15. (Vetado).
§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de dis- Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo
criminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do pre- ou função pública, para o servidor público, e a suspensão do
conceito de descendência ou origem nacional ou étnica: (In- funcionamento do estabelecimento particular por prazo não
cluído pela Lei nº 12.288, de 2010) superior a três meses.
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao Art. 17. (Vetado).
empregado em igualdade de condições com os demais tra- Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta
balhadores; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) Lei não são automáticos, devendo ser motivadamente decla-
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obs- rados na sentença.
tar outra forma de benefício profissional; (Incluído pela Lei Art. 19. (Vetado).
nº 12.288, de 2010)

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou pre- III - quando houver fundadas razões, de acordo com
conceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou
(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) participação do indiciado nos seguintes crimes:
Pena: reclusão de um a três anos e multa. (Redação dada a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, 1° e 2°);
emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que uti- c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
lizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela 1°, 2° e 3°);
Lei nº 9.459, de 15/05/97) f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art.
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometi- 223, caput, e parágrafo único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de
do por intermédio dos meios de comunicação social ou publi- 1940)
cação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua com-
de 15/05/97) binação com o art. 223, caput, e parágrafo único); (Vide De-
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela creto-Lei nº 2.848, de 1940)
Lei nº 9.459, de 15/05/97) h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art.
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá deter- 223 caput, e parágrafo único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de
minar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda 1940)
antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Re- i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
dação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) j) envenenamento de água potável ou substância ali-
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos mentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput,
exemplares do material respectivo;(Incluído pela Lei nº 9.459, combinado com art. 285);
de 15/05/97) l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas,
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de
televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio;
outubro de 1956), em qualquer de sua formas típicas;
(Redação dada pela Lei nº 12.735, de 2012)
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de ou-
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de
tubro de 1976);
informação na rede mundial de computadores. (Incluído pela
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16
Lei nº 12.288, de 2010)
de junho de 1986).
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação,
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo. (Incluído pela Lei
após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do mate-
rial apreendido. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) nº 13.260, de 2016)
Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica- Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em
ção. (Renumerado pela Lei nº 8.081, de 21.9.1990) face da representação da autoridade policial ou de requeri-
Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário. (Renu- mento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias,
merado pela Lei nº 8.081, de 21.9.1990) prorrogável por igual período em caso de extrema e compro-
Brasília, 5 de janeiro de 1989; 168º da Independência e vada necessidade.
101º da República. § 1° Na hipótese de representação da autoridade policial,
  o Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público.
§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá
ser fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e
2.5.4 LEI Nº 7.960/1989 (PRISÃO quatro) horas, contadas a partir do recebimento da represen-
TEMPORÁRIA); tação ou do requerimento.
§ 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Mi-
nistério Público e do Advogado, determinar que o preso lhe
LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989. seja apresentado, solicitar informações e esclarecimentos da
autoridade policial e submetê-lo a exame de corpo de delito.
Conversão da Medida Dispõe sobre prisão § 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á manda-
Provisória nº 111, de 1989 temporária. do de prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao
indiciado e servirá como nota de culpa.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o § 5° A prisão somente poderá ser executada depois da
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: expedição de mandado judicial.
Art. 1° Caberá prisão temporária: § 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o
I - quando imprescindível para as investigações do in- preso dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal.
quérito policial; § 7° Decorrido o prazo de cinco dias de detenção, o preso
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não deverá ser posto imediatamente em liberdade, salvo se já tiver
fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua sido decretada sua prisão preventiva.
identidade; Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obri-
gatoriamente, separados dos demais detentos.

8
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 4° O art. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965, fica Princípios


acrescido da alínea i, com a seguinte redação:
“Art. 4° ............................................................... Não se pode olvidar que os princípios sempre desem-
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de penharam um importante papel social, mas foi somente na
medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno atual dogmática jurídica que eles adquiriram normativida-
ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade;” de. Hoje em dia, os princípios servem para condensar va-
Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um lores, dar unidade ao sistema e condicionar a atividade do
plantão permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não meros
e do Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autônoma2.
temporária. Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente
Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário. consolidados: a passagem dos princípios da especulação
Brasília, 21 de dezembro de 1989; 168° da Independência e metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo do
101° da República. Direito, com baixíssimo teor de densidade normativa; a
transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga inser-
ção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu ingresso
nas Constituições); a suspensão da distinção clássica entre
2.5.5 LEI FEDERAL Nº 8.069/1990 (ESTATUTO princípios e normas; o deslocamento dos princípios da es-
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE): ARTIGOS fera da jusfilosofia para o domínio da Ciência Jurídica; a
2º, 171 A 178, 225 A 244-B; proclamação de sua normatividade; a perda de seu cará-
ter de normas programáticas; o reconhecimento definitivo
de sua positividade e concretude por obra sobretudo das
Constituições; a distinção entre regras e princípios, como
Relações jurídicas no direito da criança e do adolescente espécies diversificadas do gênero norma, e, finalmente, por
expressão máxima de todo esse desdobramento doutriná-
“As relações jurídicas são formas qualificadas de relações in-
rio, o mais significativo de seus efeitos: a total hegemonia e
terpessoais, indicando, assim, a ligação entre pessoas, em razão
preeminência dos princípios3.
de algum objeto, devidamente regulada pelo direito. Desta for-
No campo do direito da criança e do adolescente, al-
ma, o Direito da Criança e do Adolescente, sob o aspecto objetivo
guns princípios assumem destaque, entre eles:
e formal, representa a disciplina das relações jurídicas entre Crian-
a) Princípio da prioridade absoluta: previsto nos ar-
ças e Adolescentes, de um lado, e de outro, a família, a comunida-
tigos 227, CF e 4º, ECA preconiza que é dever de todos –
de, a sociedade e o próprio Estado. [...] Percebemos que a inten-
ção dos doutrinadores e do próprio legislador foi, sempre, criar Estado, sociedade, comunidade e família – assegurar com
uma doutrina da proteção integral não somente para a Criança, absoluta prioridade direitos fundamentais às crianças e
como, ainda, para o Adolescente, ambos ainda em desenvolvi- adolescentes. Por isso, estabelece-se com primazia a ado-
mento, posto que, somente com o término da adolescência é que ção de políticas públicas, a destinação de recursos e a pres-
o menor completará o processo de aquisição de mecanismos tação de serviços essenciais àqueles que se encontram na
mentais relacionados ao pensamento, percepção, reconhecimen- faixa etária inferior a 18 anos.
to, classificação etc. [...] Com isso, o Estatuto da Criança e do Ado- b) Princípio da proteção integral: previsto no artigo
lescente, sabiamente, se preocupou em envolver não somente a 1º, ECA estabelece que a proteção da criança e do adoles-
família, mas, ainda, a comunidade, a sociedade e o próprio Esta- cente não pode se restringir às situações de irregularidade,
do, para que todos, em conjunto, exerçam seus direitos e deveres o que teria um caráter estigmatizante, mas deve abranger
sem oprimir aqueles que, em condição inferior, viviam a mercê todas as situações de vida pelas quais passa a criança e o
da sociedade. Mas, qual a razão dessa inclusão tão abrangente? adolescente, mesmo as regulares. Neste sentido, ao se as-
Pois bem, a intenção do Estatuto da Criança e do Adolescente foi segurar direitos na regularidade, evita-se que a criança e o
conferir ao menor, de forma integral, todas as condições para que adolescente caiam em irregularidade.
o mesmo possa desenvolver-se plenamente, evitando-se, com c) Princípio da dignidade da pessoa humana: A dig-
isso, que haja alguma deficiência em sua formação. Desta forma, nidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação
a melhor solução apresentada pelo legislador foi incluir todos os de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, que
segmentos da sociedade, para que ninguém ficasse isento de possa se considerar compatível com os valores éticos, no-
qualquer responsabilidade, uma vez que a doutrina da proteção tadamente da moral, da justiça e da democracia. Pensar em
integral apresentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescen- dignidade da pessoa humana significa, acima de tudo, co-
te exige a participação de todos, sem qualquer exceção”1. Com locar a pessoa humana como centro e norte para qualquer
efeito, o objeto formal do direito da criança e do adolescente é a processo de interpretação jurídico, seja na elaboração da
proteção jurídica especial da criança e do adolescente. Já o objeto norma, seja na sua aplicação.
material é a própria criança ou adolescente.

1 MENDES, Moacyr Pereira. As relações jurídicas 2 Ibid., p.327.


decorrentes do Estatuto da Criança e do Adolescente. 3 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito consti-
Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 70, nov. 2009. tucional. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 294.

9
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou Quando a Constituição Federal assegura a dignidade da
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana pessoa humana como um dos fundamentos da República, faz
como o principal valor do ordenamento ético e, por con- emergir uma nova concepção de proteção de cada membro
sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro humanista guia a
como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or- afirmação de todos os direitos fundamentais e confere a eles
dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a posição hierárquica superior às normas organizacionais do
própria exclusão de sua personalidade. Estado, de modo que é o Estado que está para o povo, de-
Aponta Barroso4: “o princípio da dignidade da pessoa vendo garantir a dignidade de seus membros, e não o inverso.
humana identifica um espaço de integridade moral a ser d) Princípio da participação popular: previsto no artigo
assegurado a todas as pessoas por sua só existência no 227, §§ 3º e 7º e no artigo 204, II, CF, assegura a participação
mundo. É um respeito à criação, independente da crença popular, através de organizações representativas, na elabora-
que se professe quanto à sua origem. A dignidade rela- ção de políticas públicas direcionadas à infância e à juventude.
ciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito como e) Princípio da excepcionalidade: previsto no artigo
com as condições materiais de subsistência”. 227, §3º, V, CF assegura que quando da imposição de medida
O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do privativa de liberdade esta não será imposta a não ser que se
Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito trate de um caso excepcional, em que nenhuma outra medida
numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na sócio-educativa possa ser utilizada.
percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos f) Princípio da brevidade: previsto no artigo 227, §3º,
direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de V, CF assegura que quando da aplicação de medida privativa
condições existenciais mínimas, a participação saudável e de liberdade esta não se estenderá no tempo, devendo ser a
ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe des- mais breve possível, perdurando apenas pelo prazo necessá-
tilação dos valores soberanos da democracia e das liber- rio para a ressocialização do adolescente. No caso, o ECA li-
dades individuais. O processo de valorização do indivíduo mita a aplicação de medidas desta natureza ao prazo máximo
articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem de 3 anos.
olvidar que o espectro de abrangência das liberdades in- g) Princípio da condição peculiar da pessoa em desen-
dividuais encontra limitação em outros direitos fundamen- volvimento: a criança e o adolescente estão em processo de
tais, tais como a honra, a vida privada, a intimidade, a ima- formação e de transformação física e psíquica, logo, possuem
gem. Sobreleva registrar que essas garantias, associadas ao uma condição peculiar que deve ser respeitada quando da
princípio da dignidade da pessoa humana, subsistem como aplicação da lei.
conquista da humanidade, razão pela qual auferiram pro-
teção especial consistente em indenização por dano moral Autonomia da criança e do adolescente
decorrente de sua violação”5.
Para Reale6, a evolução histórica demonstra o domínio Coloca-se o trecho do trabalho de Cláudio Leone8 em
de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma que reflete sobre a construção da autonomia do infante:
ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores “Conceitualmente, a análise do respeito à autonomia
fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte de uma criança ou de um adolescente só tem sentido se for
é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de conduzida a partir do conhecimento da evolução de suas
Reale7: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a competências nas diferentes idades. É de conhecimento de
pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O ho- todos que a criança nasce totalmente dependente de cuida-
mem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo dos alheios e que passa por um processo de desenvolvimento
entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais progressivo que a leva a alcançar a completa independência
da mesma espécie. O homem, considerado na sua obje- na maturidade, o que, nas sociedades modernas, se situa por
tividade espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido volta dos vinte anos de idade.
de seu dever ser, é o que chamamos de pessoa. Só o ho- Entretanto, para que este processo de análise de sua au-
mem possui a dignidade originária de ser enquanto deve tonomia transcorra de maneira isenta, fundamentalmente
ser, pondo-se essencialmente como razão determinante do centrado nas peculiaridades do desenvolvimento do ser hu-
processo histórico”. mano, o primeiro ponto a ser considerado é a necessidade de
abdicar de alguns conceitos preestabelecidos, como é o caso
4 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e
da atitude paternalista. [...]
aplicação da Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, O segundo ponto a considerar neste percurso, em geral
2009, p. 382. decorrente do primeiro, é a própria legislação que, mesmo
5 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso tendo o melhor dos intuitos, praticamente nivela todos os
de Revista n. 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto menores a uma mesma condição: a de incapacidade, criando
Luiz Bresciani de Fontan Pereira. Brasília, 05 de setembro a necessidade de se ter figuras aptas a decidir e responder por
de 2012j1. Disponível em: www.tst.gov.br. Acesso em: 17 eles, como se estas figuras fossem sempre e inevitavelmente
nov. 2012. imbuídas das melhores intenções em relação à criança e ao
6 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. adolescente.
São Paulo: Saraiva, 2002, p. 228. 8 LEONE, Cláudio. A criança, o adolescente e a au-
7 Ibid., p. 220. tonomia. Revista Bioética, v. 6, n. 1.

10
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

No entender de Kopelman, para que toda esta legislação Novamente, cabe enfatizar que o risco que se corre ao se
fosse realmente válida seria necessário definir melhor, de manei- utilizar definições bastante precisas como estas é o de acabar
ra bem precisa, o que se entende por um padrão mínimo de be- classificando um indivíduo de maneira dicotômica, no caso
nefício ou o que é ‘o melhor’ para os interesses da criança ou do específico da autonomia, como sendo capaz ou incapaz, de-
adolescente, de modo que a definição não fique em aberto para sistindo assim de uma possível análise de sua real capacidade.
a interpretação de quem detém o poder de decidir em nome Consequentemente, a ausência de uma ou de mais das
deles. Além disso, estas definições deveriam estar em constan- características anteriormente citadas não deve ser utiliza-
te revisão, para que não acabem sendo ultrapassadas, frente à da para qualificar a criança ou o adolescente como incapaz.
evolução histórico-social dos fatos que geraram a necessidade Deve, isto sim, servir de embasamento para que se possa ten-
de sua criação. tar entender como suas decisões se originaram.
Superados estes dois pontos, que apesar de potencialmente Em face de situações específicas, individualizadas, como
limitantes do processo de discussão da autonomia da criança e ocorre no dia-a-dia da prática pediátrica, esta é a única forma
do adolescente não podem ser simplesmente ignorados, como que o profissional tem de realmente respeitar a autonomia da
se não existissem, chega-se ao terceiro e mais importante: a in- criança ou do adolescente.
terpretação do conceito de autonomia à luz do momento de de- A interpretação adequada da legislação e o dimensiona-
senvolvimento em que uma determinada criança ou adolescente mento correto da decisão dos pais ou responsáveis depende-
se encontra. rão fundamentalmente deste tipo de análise da autonomia
Nesse sentido, diversas características do desenvolvimento da criança ou adolescente. Deste modo, mesmo que resulte
devem ser levadas em consideração: em situações de conflito entre as posições, servirá de emba-
1. Trata-se de um processo que evolui continuamente à samento para um trabalho, muitas vezes exaustivo, de apre-
medida que habilidades se aperfeiçoam, novas capacidades são sentação, de reflexão e de discussão de argumentos e fatos,
adquiridas, novas vivências são acumuladas e integradas e, por- capaz de conduzir a uma decisão amadurecida e o mais isenta
tanto, passível de rápidas e extremas mudanças no tempo; possível, que, respeitando a posição da criança ou do adoles-
2. A aquisição das competências é progressiva, não se dá cente, poderá efetivamente redundar em seu benefício.
saltos, como se se tratasse de compartimentos estanques, e se- No leque das diferentes situações da prática pediátrica,
gue sempre uma ordem preestabelecida, sendo, portanto, ra- que se estende desde o recém-nascido no limite de viabilidade
zoavelmente previsível; ao qual se quer prestar cuidados intensivos de validade ques-
3. Os tempos e o ritmo em que o desenvolvimento se pro- tionável naquelas circunstâncias, passando pelas pesquisas
cessa são muito individualizados, fazendo com que dois indiví- científicas que envolvem crianças e adolescentes, até a criança
duos de uma mesma idade possam estar em momentos diferen- cujo pátrio poder pertence a pais adolescentes, portanto autô-
tes de desenvolvimento; nomos nas decisões que lhes dizem respeito, todas estas situa-
4. No caso específico da inteligência, o desenvolvimento é ções, onde nem sempre o real interesse que está em jogo é o
extremamente influenciável por fatores extrínsecos ao indivíduo: da criança, mas sim o dos responsáveis por ela, clarificam que
as experiências, os estímulos, o ambiente, a educação, a cultura, não há uma única resposta ou solução mágica, perfeita, para a
etc., o que também acaba por reforçar sua evolução extrema- questão da autonomia da criança e do adolescente.
mente individualizada. Na realidade, o que deve existir é a construção conjun-
Segundo Piaget, a capacidade de operar o pensamento ta de uma verdade para aquele momento, amadurecida no
concreto estendendo-o à compreensão do outro e às possíveis crescimento e evolução de todos: juízes e legisladores, pais
consequências de boa parte dos seus atos se aperfeiçoa na idade ou responsáveis, médicos e profissionais de saúde e, princi-
escolar, entre os 6 e os 11 anos de vida. Este amadurecimento se palmente, a criança ou o adolescente, como parte de um pro-
completa na adolescência, com a capacidade crescente de abs- cesso de interação franco, sincero, isento e realmente partici-
tração que a criança desenvolve nesta fase da existência. Como pativo que de fato respeite a autonomia, qualquer que seja o
consequência, é possível admitir que é na segunda fase da ado- nível de competência que a criança ou o adolescente estejam
lescência, em geral a partir dos 15 anos, que o indivíduo atingiria apresentando para tal”.
as competências necessárias para o exercício de sua autonomia,
competências estas que necessitariam apenas serem lapidadas Seção V
ao longo das vivências e de uma maior experiência de vida. Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Adoles-
Entretanto, isto não significa que a autonomia da criança e cente
do adolescente só possa (ou deva) ser respeitada a partir desta
fase. Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem ju-
Compete ao pediatra e aos demais profissionais de saúde, dicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária.
utilizando suas competências profissionais, definir já desde os
primeiros anos de vida em que etapa a criança se encontra ao Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato
longo do seu processo evolutivo, tentando diferenciar se se está infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade policial
diante de uma tomada de decisão ditada apenas pelo receio do competente.
desconhecido, por um capricho ou vontade decorrente apenas Parágrafo único. Havendo repartição policial especializa-
de sua visão egocêntrica, natural em determinadas idades, ou da para atendimento de adolescente e em se tratando de ato
se a mesma já é o resultado de uma reflexão mais amadurecida. infracional praticado em co-autoria com maior, prevalecerá a
São estes extremos que dão a entender a ampla gama de está- atribuição da repartição especializada, que, após as providên-
gios de desenvolvimento, portanto de autonomia, que entre eles cias necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à
podem se apresentar. [...] repartição policial própria.

11
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional come- Título VII


tido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a auto- Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
ridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, pará-
grafo único, e 107, deverá: Capítulo I
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e Dos Crimes
o adolescente;
II - apreender o produto e os instrumentos da infração; Seção I
III - requisitar os exames ou perícias necessários à com-
provação da materialidade e autoria da infração. Disposições Gerais
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante,
a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra
ocorrência circunstanciada. a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do
disposto na legislação penal.
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsá-
vel, o adolescente será prontamente liberado pela autorida- Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas
de policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, as perti-
sua apresentação ao representante do Ministério Público, no nentes ao Código de Processo Penal.
mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil ime-
diato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública
sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob incondicionada.
internação para garantia de sua segurança pessoal ou ma-
nutenção da ordem pública. Seção II
Dos Crimes em Espécie
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade poli-
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de
cial encaminhará, desde logo, o adolescente ao representan-
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter regis-
te do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de
tro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no
apreensão ou boletim de ocorrência.
art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu res-
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a au-
ponsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento,
toridade policial encaminhará o adolescente à entidade de
onde constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento
atendimento, que fará a apresentação ao representante do
do neonato:
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de Parágrafo único. Se o crime é culposo:
atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade po- Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
licial. À falta de repartição policial especializada, o adoles-
cente aguardará a apresentação em dependência separada Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de esta-
da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipóte- belecimento de atenção à saúde de gestante de identificar cor-
se, exceder o prazo referido no parágrafo anterior. retamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem
como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei:
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade po- Pena - detenção de seis meses a dois anos.
licial encaminhará imediatamente ao representante do Mi- Parágrafo único. Se o crime é culposo:
nistério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
ocorrência.
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberda-
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver in- de, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato
dícios de participação de adolescente na prática de ato infra- infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária
cional, a autoridade policial encaminhará ao representante competente:
do Ministério Público relatório das investigações e demais Pena - detenção de seis meses a dois anos.
documentos. Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede
à apreensão sem observância das formalidades legais.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de
ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
em compartimento fechado de veículo policial, em condições apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comuni-
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua cação à autoridade judiciária competente e à família do apreen-
integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. dido ou à pessoa por ele indicada:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autorida-


de, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

12
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distri-
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou ado- buir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio
lescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou
apreensão: outro registro que contenha cena de sexo explícito ou porno-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. gráfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade: I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento
Pena - detenção de seis meses a dois anos. das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste
artigo;
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata
Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei: o caput deste artigo.
Pena - detenção de seis meses a dois anos.  § 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste
artigo são puníveis quando o responsável legal pela presta-
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de ção do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o
quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judi- acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. 
cial, com o fim de colocação em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.  Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pu- cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou
pilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: adolescente:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.  Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece  § 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de
pequena quantidade o material a que se refere o caput deste
ou efetiva a paga ou recompensa.
artigo.
 § 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des-
a finalidade de comunicar às autoridades competentes a ocor-
tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior
rência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C
com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
desta Lei, quando a comunicação for feita por:
obter lucro:
 I – agente público no exercício de suas funções;
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.  II – membro de entidade, legalmente constituída, que
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o
ameaça ou fraude:  processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena referidos neste parágrafo;
correspondente à violência.  III – representante legal e funcionários responsáveis de
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar computadores, até o recebimento do material relativo à no-
ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou tícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao
pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: Poder Judiciário.
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.  § 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão
§ 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, manter sob sigilo o material ilícito referido.
recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a par-
ticipação de criança ou adolescente nas cenas referidas Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adoles-
no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena. cente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de
§ 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou
comete o crime: qualquer outra forma de representação visual:
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto  Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
de exercê-la; Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende,
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabita- expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por
ção ou de hospitalidade; ou qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produ-
III – prevalecendo-se de relações de parentesco consan- zido na forma do caput deste artigo. 
guíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tu-
tor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem,  Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por
a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela
seu consentimento. praticar ato libidinoso:
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou  Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
outro registro que contenha cena de sexo explícito ou porno-  I – facilita ou induz o acesso à criança de material conten-
gráfica envolvendo criança ou adolescente: do cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.  ela praticar ato libidinoso;

13
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

 II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo


com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica
ou sexualmente explícita. 
2.5.6 LEI Nº 8.072/1990 (CRIMES HEDIONDOS);

 Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a


expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende LEI Nº 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990
qualquer situação que envolva criança ou adolescente em ati-
vidades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inci-
órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins pri- so XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências.
mordialmente sexuais. 
Hediondo é o crime bárbaro, asqueroso, repugnante. Não
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou en-
é subjetivo o critério de definir quais são os crimes hediondos,
tregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, mu-
pois a lei cumpre este papel. O artigo 1o desta lei traz o rol de
nição ou explosivo:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.  crimes hediondos. Estes crimes são inafiançáveis e insuscetíveis
de graça, anistia ou indulto (artigo 5o, XLIII, CF). O mesmo artigo
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, 5o, XLIII, CF estabelece que se equiparam aos hediondos o trá-
ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a fico (apenas no que tange aos crimes descritos nos artigos 33
adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros pro- a 36 da Lei de Drogas – Lei no 11.343/2006), o terrorismo (Lei no
dutos cujos componentes possam causar dependência física ou 13.260/2016) e a tortura (Lei no 9.455/1997).
psíquica:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes,
fato não constitui crime mais grave. todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de
1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou en- I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade tí-
tregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de pica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só
estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV,
potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em V, VI e VII);
caso de utilização indevida: Art. 121. Matar alguém:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa. Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Não é qualquer homicídio simples, mas apenas aquele pra-
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais ticado em atividade de grupo de extermínio (por um agente ou
definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à ex- mais).
ploração sexual: Art. 121, § 2°, Se o homicídio é cometido:
Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da per- I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro
da de bens e valores utilizados na prática criminosa em favor motivo torpe;
do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade II - por motivo fútil;
da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura
o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente
comum;
ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão
de criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou
artigo. outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofen-
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassa- dido;
ção da licença de localização e de funcionamento do estabe- V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
lecimento.  vantagem de outro crime;
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou indu- da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da For-
zindo-o a praticá-la: ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
§ 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet. No caso dos homicídios qualificados, todos eles são abran-
§ 2o As penas previstas no caput deste artigo são aumen- gidos.
tadas de um terço no caso de a infração cometida ou induzida Obs.: No caso de homicídio privilegiado (art. 121, §1o, CP),
estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho mesmo que cometido com instrumentos materiais típicos de
de 1990.  homicídio qualificado, tem-se o que a doutrina chama de homi-
cídio qualificado-privilegiado. Quanto a este, a doutrina diz não
se caracterizar crime hediondo.

14
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
(art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. § 2o Se da conduta resulta morte:
129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, inte-
grantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o,
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou 2o, 3o e 4o);
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguí- Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
neo até terceiro grau, em razão dessa condição; libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Art. 129, § 2° Se resulta: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
I - Incapacidade permanente para o trabalho; § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações des-
II - enfermidade incurável; critas no caput com alguém que, por enfermidade ou defi-
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função; ciência mental, não tem o necessário discernimento para a
IV - deformidade permanente;
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
V - aborto:
oferecer resistência.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
§ 2o (VETADO).
Art. 129, § 3° Se resulta morte e as circunstâncias eviden-
ciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco § 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
de produzi-lo: grave:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
Não é qualquer lesão gravíssima ou seguida de morte, § 4o Se da conduta resulta morte:
mas apenas praticado contra autoridade ou agente do siste- Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
ma de segurança pública, no exercício ou em razão da função,
ou então seu parente até 3o grau/cônjuge/companheiro, em VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o);
razão da função. Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de
germes patogênicos:
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
Art. 157, § 3º [...] se resulta morte, a reclusão é de vinte a § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em
trinta anos, sem prejuízo da multa. dobro.
Trata-se do roubo seguido de morte.
VII-A - (VETADO);
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alte-
Art. 157, § 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante vio- ração de produto destinado a fins terapêuticos ou medi-
lência o disposto no § 3º do artigo anterior. cinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação
Trata-se de extorsão da qual resultou morte, aplicando-se dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998);
pena de reclusão de 20 a 30 anos, tal como a do latrocínio. Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar pro-
duto destinado a fins terapêuticos ou medicinais:
IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualifi- Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.
cada (art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e 3o); § 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, ven-
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou de, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de
para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto
resgate:
falsificado, corrompido, adulterado ou alterado.
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas,
este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insu-
se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (ses-
senta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. mos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. uso em diagnóstico.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: § 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qual-
§ 3º - Se resulta a morte: quer das seguintes condições:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância
Abrangem-se todas as modalidades de extorsão median- sanitária competente;
te sequestro. II - em desacordo com a fórmula constante do registro
previsto no inciso anterior;
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); III - sem as características de identidade e qualidade ad-
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave mitidas para a sua comercialização;
ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua
com ele se pratique outro ato libidinoso: atividade;
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. V - de procedência ignorada;
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da auto-
grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 ridade sanitária competente.
(catorze) anos:

15
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer
exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerá- sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;
vel (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). II – modificar as características de arma de fogo, de for-
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra ma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido
forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificul- III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explo-
tar que a abandone: sivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. determinação legal ou regulamentar;
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem eco- IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer
nômica, aplica-se também multa. arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro si-
§ 2o Incorre nas mesmas penas: nal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuita-
alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na mente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a
situação descrita no caput deste artigo; criança ou adolescente; e
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização le-
que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. gal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos o crime Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o
de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terro-
de outubro de 1956, e o de posse ou porte ilegal de arma de rismo são insuscetíveis de:
fogo de uso restrito, previsto no art. 16 da Lei no 10.826, de 22 I - anistia, graça e indulto;
de dezembro de 2003, todos tentados ou consumados. II - fiança.
Lei no 2.889/1956 Repete-se a disciplina constitucional do artigo 5o, XLIII,
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em par-
CF. O dispositivo constitucional não menciona o indulto,
te, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:
mas o STF já firmou entendimento de que a vedação é ex-
a) matar membros do grupo;
tensível.
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de mem-
O STF julgou no Habeas Corpus 104339 que embora
bros do grupo;
não seja cabível fiança, é cabível liberdade provisória, sem-
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de exis-
pre que ausentes os requisitos do art. 312, CPP.
tência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no
seio do grupo; § 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumpri-
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para da inicialmente em regime fechado.
outro grupo; O STF julgou no Habeas Corpus 111.840 que o dispo-
Será punido: sitivo é inconstitucional e cabe, conforme o caso, o início
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da do cumprimento da pena em regime diverso do fechado.
letra a;
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b; § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados
Com as penas do art. 270, no caso da letra c; aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumpri-
Com as penas do art. 125, no caso da letra d; mento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for
Com as penas do art. 148, no caso da letra e; primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos 2/5 – apenado primário
crimes mencionados no artigo anterior: 3/5 – apenado reincidente
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.
Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qual- § 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz deci-
quer dos crimes de que trata o art. 1º: dirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em
Pena: Metade das penas ali cominadas. liberdade.
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime Havendo condenação de primeira instância, o juiz de-
incitado, se este se consumar. verá decidir se o réu poderá ou não apelar em liberdade.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a
incitação for cometida pela imprensa. § 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no
Lei no 10.826/2003 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos nes-
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em te artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, igual período em caso de extrema e comprovada neces-
remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de sidade.
fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem auto- A Lei no 7.960/1989 prevê prazo máximo de 5 dias
rização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: (prorrogável por mais 5), que é ampliado para os crimes
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. hediondos, chegando a 30 dias (prorrogável por mais 30).
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:

16
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena
segurança máxima, destinados ao cumprimento de pe- prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de
nas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de
permanência em presídios estaduais ponha em risco a or- entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
dem ou incolumidade pública. Parágrafo único. O participante e o associado que de-
nunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando
Art. 4º (Vetado). seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois
terços.
Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte Art. 288, CP. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas,
inciso: para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
“Art. 83. [...] V - cumprido mais de dois terços da pena, Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a
nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tor- associação é armada ou se houver a participação de criança
tura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terro- ou adolescente.
rismo, se o apenado não for reincidente específico em Redução da pena – delação premiada – 1/3 a 2/3.
crimes dessa natureza.”
Trata-se de requisito para o livramento condicional Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capi-
para os casos de crimes hediondos. Cabe o livramento após tulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º,
2/3 da pena cumpridos, exceto se o apenado for reinciden- 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput
te em crime hediondo ou equiparado. e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223,
caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acresci-
Art. 6º Os arts. 157, § 3º; 159, caput e seus §§ 1º, 2º e das de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de
3º; 213; 214; 223, caput e seu parágrafo único; 267, caput e reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referi-
270; caput, todos do Código Penal, passam a vigorar com a das no art. 224 também do Código Penal.
seguinte redação: O art. 224, CP foi revogado, logo, o dispositivo em co-
mento perde efeito.
“Art. 157. [...]
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena Art. 10. O art. 35 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro de
é de reclusão, de cinco a quinze anos, além da multa; se 1976, passa a vigorar acrescido de parágrafo único, com a
resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem pre- seguinte redação:
juízo da multa. “Art. 35. [...]
Art. 159. [...] Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste capí-
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. tulo serão contados em dobro quando se tratar dos crimes
§ 1º [...] previstos nos arts. 12, 13 e 14”.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º [...] Art. 11. (Vetado).
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º [...] Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publica-
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. ção.
Art. 213. [...]
Pena - reclusão, de seis a dez anos. Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 214. [...]
Pena - reclusão, de seis a dez anos. Brasília, 25 de julho de 1990; 169º da Independência e
Art. 223. [...] 102º da República.
Pena - reclusão, de oito a doze anos.
Parágrafo único. [...]
Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos.
Art. 267. [...]
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
Art. 270. [...]
Pena - reclusão, de dez a quinze anos”.

Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o se-


guinte parágrafo:
“Art. 159. [...]
§ 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o
coautor que denunciá-lo à autoridade, facilitando a liber-
tação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois
terços”.

17
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

EXERCÍCIOS
2.5.7 LEI Nº 8.078/1990 (CÓDIGO DE DEFESA
1. (VUNESP/2015 - MPE-SP - Analista de Promoto-
DO CONSUMIDOR): ARTIGOS 61 A 80;
ria) A Lei n° 8.072/90 (crimes hediondos)
a) define no seu artigo 1° os crimes considerados he-
diondos, todos previstos no Código Penal, sem prejuízo,
contudo, de outros delitos considerados hediondos pela O Direito do Consumidor pode ser considerado um ramo
Legislação Penal Especial. recente do Direito. No Brasil, a legislação que o regulamentou
b) não permite a interposição de apelação antes do re- foi promulgada nos anos 90, qual seja a Lei n. 8.078, de 11 de
colhimento do condenado à prisão, em razão do disposto setembro de 1990, conforme determinado pela Constituição Fe-
deral de 1988, que estabeleceu no artigo 48 do Ato das Disposi-
no seu artigo 2°, § 1° (a pena será cumprida em regime
ções Constitucionais Transitórias: “o Congresso Nacional, dentro
inicial fechado).
de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará
c) prevê progressão de regime para os condenados código de defesa do consumidor”. Referida disposição foi uma
pela prática de crime hediondo após o cumprimento de vitória muito importante no campo do direito consumerista.
1/6 da pena se o apenado for primário e 2/5 se for reinci- A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi um gran-
dente. de passo para a proteção da pessoa nas relações de consumo que es-
d) traz no rol do seu art. 1° o crime de roubo impróprio tabeleça, respeitando-se a condição de hipossuficiente técnico daque-
(art. 157, § 1°, CP), o roubo circunstanciado (art. 157, § 2°, le que adquire um bem ou faz uso de determinado serviço, enquanto
I, II, III, IV e V, CP) e o roubo qualificado pelo resultado (art. consumidor. Na conjuntura atual, percebe-se que a consciência coleti-
157, § 3o, CP). va já não admite teses contrárias à proteção dos consumidores.
e) estabelece o prazo de 30 (trinta) dias (podendo ser “Mais do que nunca justifica-se a edição, fiscalização e ma-
prorrogado por mais 30 dias) da prisão temporária decre- nutenção de uma legislação que possa proteger a parte desi-
tada nas investigações pela prática de crime hediondo. gualmente considerada, assim porque hipossuficiente diante da
‘elite’ representada pelo megamercado produtor e comercial que
se impõe. É público e notório que existem ainda em nosso mun-
R: E. O prazo de 30 dias de prisão temporária é fixado
do contemporâneo focos deléveis de escravidão, sendo que,
no artigo 2o, §4o. O rol da lei é taxativo. Para o STF, o regime poder-se-á afirmar que das existentes atualmente, a escravidão
inicial de cumprimento de pena não necessariamente deve econômica seja a mais cruel”9.
ser fechado. O regime de progressão é de 2/5 para apena- Com foco protecionista, o Código de Defesa do Consumidor
do primário e de 3/5 para apenado reincidente. Roubo não foi o responsável por regulamentar as garantias do consumidor em
é hediondo, salvo se resultar em morte (latrocínio). suas relações, considerando-o uma parte vulnerável, sempre mais
fraca do que a sociedade de consumo, naturalmente massacrante.
2. (INSTITUTO AOCP/2017 - SEJUS - Agente Pe-
nitenciário) Constitui crime hediondo, previsto na Lei TÍTULO II
8.072/1990, Das Infrações Penais
a) o favorecimento da prostituição ou de outra forma
de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vul- Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo
nerável. previstas neste código, sem prejuízo do disposto no Código Penal e
leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos seguintes.
b) constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça e com o intuito de obter para si ou para outrem Art. 62. (Vetado).
indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça
ou deixar de fazer alguma coisa. Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade
c) lesão corporal leve quando cometida contra agente ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros,
do sistema prisional. recipientes ou publicidade:
d) homicídio simples praticado por qualquer cidadão. Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.
§ 1° Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar,
R: A. Trata-se de tipo descrito no art. 1o, VIII da lei de mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculo-
crimes hediondos. sidade do serviço a ser prestado.
§ 2° Se o crime é culposo:
Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos


consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos cujo co-
nhecimento seja posterior à sua colocação no mercado:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.
9 RADLOFF, Stephan Klaus. A inversão do
ônus da prova no Código de Defesa do Consumi-
dor. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

18
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes
de retirar do mercado, imediatamente quando determinado pela referidos neste código, incide as penas a esses cominadas na me-
autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na for- dida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou
ma deste artigo. gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer
modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou ma-
Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade, con- nutenção em depósito de produtos ou a oferta e prestação de ser-
trariando determinação de autoridade competente: viços nas condições por ele proibidas.
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.
§ 1º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados
correspondentes à lesão corporal e à morte. neste código:
§ 2º A prática do disposto no inciso XIV do art. 39 desta Lei I - serem cometidos em época de grave crise econômica ou
também caracteriza o crime previsto no caput deste artigo. por ocasião de calamidade;
II - ocasionarem grave dano individual ou coletivo;
Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir infor- III - dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;
mação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quan- IV - quando cometidos:
tidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômi-
de produtos ou serviços: co-social seja manifestamente superior à da vítima;
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de dezoi-
§ 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta. to ou maior de sessenta anos ou de pessoas portadoras de defi-
§ 2º Se o crime é culposo; ciência mental interditadas ou não;
Pena Detenção de um a seis meses ou multa. V - serem praticados em operações que envolvam alimentos,
medicamentos ou quaisquer outros produtos ou serviços essen-
Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria ciais .
saber ser enganosa ou abusiva:
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
Art. 77. A pena pecuniária prevista nesta Seção será fixada
Parágrafo único. (Vetado).
em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias
de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime. Na
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria
individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60,
saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma
§1° do Código Penal.
prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa:
Parágrafo único. (Vetado). Art. 78. Além das penas privativas de liberdade e de multa,
podem ser impostas, cumulativa ou alternadamente, observado
Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos odisposto nos arts. 44 a 47, do Código Penal:
que dão base à publicidade: I - a interdição temporária de direitos;
Pena - Detenção de um a seis meses ou multa. II - a publicação em órgãos de comunicação de grande circu-
lação ou audiência, às expensas do condenado, de notícia sobre os
Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou com- fatos e a condenação;
ponentes de reposição usados, sem autorização do consumidor: III - a prestação de serviços à comunidade.
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
Art. 79. O valor da fiança, nas infrações de que trata este có-
Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, digo, será fixado pelo juiz, ou pela autoridade que presidir o inqué-
constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou rito, entre cem e duzentas mil vezes o valor do Bônus do Tesouro
enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o Nacional (BTN), ou índice equivalente que venha a substituí-lo.
consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu tra- Parágrafo único. Se assim recomendar a situação econômica
balho, descanso ou lazer: do indiciado ou réu, a fiança poderá ser:
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. a) reduzida até a metade do seu valor mínimo;
b) aumentada pelo juiz até vinte vezes.
Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às in-
formações que sobre ele constem em cadastros, banco de dados, Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste
fichas e registros: código, bem como a outros crimes e contravenções que envolvam
Pena - Detenção de seis meses a um ano ou multa. relações de consumo, poderão intervir, como assistentes do Minis-
Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre tério Público, os legitimados indicados no art. 82, inciso III e IV, aos
consumidor constante de cadastro, banco de dados, fichas ou re- quais também é facultado propor ação penal subsidiária, se a de-
gistros que sabe ou deveria saber ser inexata: núncia não for oferecida no prazo legal.
Pena - Detenção de um a seis meses ou multa.

Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de garan-


tia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu
conteúdo;
Pena - Detenção de um a seis meses ou multa.

19
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

LEI N° 8.429 DE 2 DE JUNHO DE 1992


2.5.8 LEI Nº 8.429/1992 (LEI DE IMPROBIDADE
Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos
ADMINISTRATIVA): ARTIGOS 1º AO 13; casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo,
emprego ou função na administração pública direta, indireta
ou fundacional e dá outras providências.
A Lei n° 8.429/92 trata da improbidade administrativa, O preâmbulo da lei em estudo já traz alguns elementos im-
que é uma espécie qualificada de imoralidade, sinônimo de portantes para a sua boa compreensão:
desonestidade administrativa. A improbidade é uma lesão a) o agente público pode estar exercendo mandato, quando
ao princípio da moralidade, que deve ser respeitado estri- for eleito para tanto; cargo, no caso de um conjunto de atribuições
tamente pelo servidor público. O agente ímprobo sempre e responsabilidades conferido a um servidor submetido a regime
será um violador do princípio da moralidade, pelo qual “a estatutário (é o caso do ingresso por concurso); emprego público,
Administração Pública deve agir com boa-fé, sinceridade, se o servidor se submeter a regime celetista (CLT); funçãopública,
probidade, lhaneza, lealdade e ética”10. que corresponde à categoria residual, valendo para o servidor que
A atual Lei de Improbidade Administrativa foi criada tenha tais atribuições e responsabilidades mas não exerça cargo
devido ao amplo apelo popular contra certas vicissitudes ou emprego público. Percebe-se que o conceito de agente público
do serviço público que se intensificavam com a ineficácia que se sujeita à lei é o mais amplo possível.
do diploma então vigente, o Decreto-Lei nº 3240/41. De- b) o exercício pode se dar na administração direta, indireta ou
correu, assim, da necessidade de acabar com os atos aten- fundacional. A administração pública apresenta uma estrutura di-
tatórios à moralidade administrativa e causadores de pre- reta e outra indireta, com seus respectivos órgãos. Por exemplo, são
juízo ao erário público ou ensejadores de enriquecimento órgãos da administração direta os ministérios e secretarias, isto é, os
ilícito, infelizmente tão comuns no Brasil. órgãos que compõem a estrutura do Executivo, Legislativo ou Judi-
Com o advento da Lei nº 8.429/92, os agentes públi- ciário; são integrantes da administração indireta as autarquias, funda-
cos passaram a ser responsabilizados na esfera civil pelos ções públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista.
atos de improbidade administrativa descritos nos artigos
CAPÍTULO I
9º, 10 e 11, ficando sujeitos às penas do art. 12. A exis-
Das Disposições Gerais
tência de esferas distintas de responsabilidade (civil, penal
e administrativa) impede falar-se em bis in idem, já que,
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente
ontologicamente, não se trata de punições idênticas, em-
público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta
bora baseadas no mesmo fato, mas de responsabilização
ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
em esferas distintas do Direito.
Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorpo-
A legislação em estudo, por sua vez, divide os atos de rada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou
improbidade administrativa em três categorias: custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cin-
a) Ato de improbidade administrativa que importe en- quenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos
riquecimento ilícito; na forma desta lei.
b) Ato de improbidade administrativa que importe le- Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta
são ao erário; lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de en-
c) Ato de improbidade administrativa que atente con- tidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou
tra os princípios da administração pública. creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação
ATENÇÃO: os atos de improbidade administrativa não ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cin-
são crimes de responsabilidade. Trata-se de punição na quenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se,
esfera cível, não criminal. Por isso, caso o ato configure nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a
simultaneamente um ato de improbidade administrativa contribuição dos cofres públicos.
desta lei e um crime previsto na legislação penal, o que “Sujeito passivo é a pessoa que a lei indica como vítima do ato
é comum no caso do artigo 9°, responderá o agente por de improbidade administrativa”. A lei adota uma noção ampla, pela
ambos, nas duas esferas. qual são abrangidas entidades que, sem integrarem a Administra-
Em suma, a lei encontra-se estruturada da seguinte ção, possuem alguma espécie de conexão com ela.11
forma: inicialmente, trata das vítimas possíveis (sujeito pas- O agente público pode ser ou não um servidor público. O con-
sivo) e daqueles que podem praticar os atos de improbida- ceito de agente público é melhor delimitado no artigo seguinte.
de administrativa (sujeito ativo); ainda, aborda a reparação Ele poderá estar vinculado a qualquer instituição ou órgão que
do dano ao lesionado e o ressarcimento ao patrimônio pú- desempenhe diretamente o interesse do Estado. Assim, estão in-
blico; após, traz a tipologia dos atos de improbidade ad- cluídos todos os integrantes da administração direta, indireta e fun-
ministrativa, isto é, enumera condutas de tal natureza; se- dacional, conforme o preâmbulo da legislação. Pode até mesmo
guindo-se à definição das sanções aplicáveis; e, finalmente, ser uma entidade privada que desempenhe tais fins, desde que
descreve os procedimentos administrativo e judicial. a verba de criação ou custeio tenha sido ou seja pública em
mais de50% do patrimônio ou receita anual.
11 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
10 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. ris, 2010.

20
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Caso a verba pública que tenha auxiliado uma entidade d) Local do exercício: em qualquer entidade que pos-
privada a qual o Estado não tenha concorrido para criação sa ser sujeito passivo. Por exemplo, o funcionário de uma
ou custeio, também haverá sujeição às penalidades da lei. Em ONG criada pelo Estado é considerado agente público para
caso de custeio/criação pelo Estado que seja inferior a 50% os efeitos desta lei.
do patrimônio ou receita anual, a legislação ainda se aplica. En- O terceiro, por sua vez, é aquele que pratica as condu-
tretanto, nestes dois casos, a sanção patrimonial se limitará tas de induzir ou concorrer em relação ao agente público,
ao que o ilícito repercutiu sobre a contribuição dos cofres públi- ou seja, incentivando-o ou mesmo participando direta-
cos. Significa que se o prejuízo causado for maior que a efetiva mente do ilícito. Este terceiro jamais será pessoa jurídica,
contribuição por parte do poder público, o ressarcimento terá deve necessariamente ser pessoa física.
que ser buscado por outra via que não a ação de improbidade
administrativa. Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hie-
Basicamente, o dispositivo enumera os principais sujeitos rarquia são obrigados a velar pela estrita observância dos
passivos do ato de improbidade administrativa, dividindo-os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e
em três grupos: a) pessoas da administração direta, diretamen- publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.
te vinculados a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios; Trata-se de referência expressa aos princípios do art.
b) pessoas da administração indireta, isto é, autarquias, funda- 37, caput, CF. Não se menciona apenas o princípio da efi-
ções públicas, empresas públicas e sociedades de economia ciência, o que não significa que possa ser desrespeitado,
mista; c) pessoa cuja criação ou custeio o erário tenha contri- afinal, ele é abrangido indiretamente.
buído com mais de 50% do patrimônio ou receita naquele ano.
No parágrafo único, a lei enumera os sujeitos passivos se- Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação
cundários, que são: a) entidades que recebam subvenção, be- ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-
nefício ou incentivo creditício pelo Estado; b) pessoa cuja cria- -se-á o integral ressarcimento do dano.
ção ou custeio o erário tenha contribuído com menos de 50% Integral ressarcimento do dano é a devolução corrigida
do patrimônio ou receita naquele ano. monetariamente de todos os valores que foram retirados
do patrimônio público. No entanto, destaca-se que a lei
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei,
garante não só o integral ressarcimento, mas também a
todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
devolução do enriquecimento ilícito: mesmo que a pessoa
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação
não cause prejuízo direto ao erário, mas lucre com um ato
ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, manda-
de improbidade administrativa, os valores devem ir para os
to, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no
cofres públicos.
artigo anterior.

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou con- agente público ou terceiro beneficiário os bens ou valores
corra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie acrescidos ao seu patrimônio.
sob qualquer forma direta ou indireta. Estabelece o artigo 186 do Código Civil: “aquele que,
Os sujeitos ativos do ato de improbidade administrativa se por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudên-
dividem em duas categorias: os agentes públicos, definidos no cia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclu-
art. 2°, e os terceiros, enumerados no art. 3°. sivamente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo central
“Denomina-se sujeito ativo aquele que pratica o ato de im- do instituto denominado responsabilidade civil, que tem
probidade, concorre para sua prática ou dele extrai vantagens como elementos: ação ou omissão voluntária (agir como
indevidas. É o autor ímprobo da conduta. Em alguns casos, não não se deve ou deixar de agir como se deve), culpa ou dolo
pratica o ato em si, mas oferece sua colaboração, ciente da de- do agente (dolo é a vontade de cometer uma violação de
sonestidade do comportamento, Em outros, obtém benefícios direito e culpa é a falta de diligência), nexo causal (relação
do ato de improbidade, muito embora sabedor de sua origem de causa e efeito entre a ação/omissão e o dano causado) e
escusa”12. dano (dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser
A ampla denominação de agentes públicos conferida pela individual ou coletivo, moral ou material, econômico e não
lei de improbidade administrativa apenas tem efeito para os econômico). É a este instituto que se relacionam as sanções
fins desta lei, ou seja, visando a imputação dos atos de impro- da perda de bens e valores e de ressarcimento integral do
bidade administrativa. Percebe-se a amplitude pelos elementos dano.
do conceito: O tipo de dano que é causado pelo agente ao Estado
a) Tempo: exercício transitório ou definitivo; é o material. No caso, há um correspondente financeiro di-
b) Remuneração: existente ou não; reto, de modo que a condenação será no sentido de pagar
c) Espécie de vínculo: por eleição, nomeação, designa- ao Estado o equivalente ao prejuízo causado.
ção, contratação ou qualquer outra forma de investidura O agente público e o terceiro que com ele concorra
ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função; responderão pelos danos causados ao erário público com
seu patrimônio. Inclusive, perderão os valores patrimoniais
12 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de acrescidos devido à prática do ato ilícito. O dano causado
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- deverá ser ressarcido em sua totalidade.
ris, 2010.

21
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao pa- O grupo mais grave de atos de improbidade administra-
trimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a au- tiva se caracteriza pelos elementos: enriquecimento + ilícito
toridade administrativa responsável pelo inquérito representar + resultante de uma vantagem patrimonial indevida + em
ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do razão do exercício de cargo, mandato, emprego, função ou
indiciado. outra atividade nas entidades do artigo 1°:
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput a) O enriquecimento deve ser ilícito, afinal, o Estado não
deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressar- se opõe que o indivíduo enriqueça, desde que obedeça aos
cimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do ditames morais, notadamente no desempenho de função de
enriquecimento ilícito. interesse estatal.
Será oferecida representação ao Ministério Público para b) Exige-se que o sujeito obtenha vantagem patrimonial
que ele postule a indisponibilidade dos bens do indiciado, de ilícita. Contudo, é dispensável que efetivamente tenha ocorri-
modo a garantir que ele não aliene seu patrimônio para não do dano aos cofres públicos (por exemplo, quando um poli-
reparar o ilícito. Por indisponibilidade entende-se bloquear os cial recebe propina pratica ato de improbidade administrativa,
bens para que não sejam vendidos ou deteriorados, garantindo mas não atinge diretamente os cofres públicos).
que o dano possa ser reparado quando da condenação judicial. c) É preciso que a conduta se consume, ou seja, que real-
A indisponibilidade será suficiente para dar integral ressar- mente exista o enriquecimento ilícito decorrente de uma van-
cimento ao dano ou retirar todo o acréscimo patrimonial resul- tagem patrimonial indevida.
tante do ilícito. d) Como fica difícil imaginar que alguém possa se enri-
quecer ilicitamente por negligência, imprudência ou imperícia,
Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio todas as condutas configuram atos dolosos (com intenção).
público ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações e) Não cabe prática por omissão.14
desta lei até o limite do valor da herança. Entende Carvalho Filho15 que no caso do art. 9° o requi-
Caso o sujeito ativo faleça no curso da ação de improbi- sito é o enriquecimento ilícito, ao passo que “o pressuposto
dade administrativa, os herdeiros arcarão com o dever de res- exigível do tipo é a percepção de vantagem patrimonial ilíci-
sarcir o dano, claro, nos limites dos bens que ele deixar como ta obtida pelo exercício da função pública em geral. Pressu-
herança. posto dispensável é o dano ao erário”. O elemento subjetivo
é o dolo, pois fica difícil imaginar que um servidor obtenha
CAPÍTULO II vantagem indevida por negligência, imprudência ou imperí-
Dos Atos de Improbidade Administrativa cia (culpa). Da mesma forma, é incompatível com a conduta
omissiva, aceitando apenas a comissiva (ação).
Como não é possível ser desonesto sem saber que se está ATENÇÃO: todas as condutas descritas abaixo são meros
agindo desta forma, o elemento comum a todas as hipóteses exemplos de condutas compostas pelos elementos genéricos
de improbidade administrativa é o dolo, que consiste na inten- da cabeça do artigo. Com efeito, estando eles presentes, não
ção do agente em praticar o ato desonesto (alguns entendem importa a ausência de dispositivo expresso no rol abaixo.
como inconstitucionais todas as referências a condutas culpo-
sas - inclusive parte do STJ). I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel
Os atos de improbidade administrativa foram divididos em ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou
três grupos, nos artigos 9°, 10 e 11, conforme a gravidade do indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou
ato, indo do grupo mais grave ao menos grave. A cada grupo é presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa
aplicada uma espécie diferente de sanção no caso de confirma- ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das
ção da prática do ato apurada na esfera administrativa. atribuições do agente público;
Nos três artigos do capítulo II, enquanto o caput traz as Significa receber qualquer vantagem econômica, inclusive
condutas genéricas, os incisos delimitam condutas específicas, presentes, de pessoas que tenham interesse direto ou indireto
que nada mais são do que exemplos de situações do caput, em que o agente público faça ou deixe de fazer alguma coisa.
logo, os incisos são uma relação meramente exemplificativa13,
sendo suficiente bem compreender como encontrar os requisi- II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para
tos genéricos para fins de provas. facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou
imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas
Seção I no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Impor- III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para
tam Enriquecimento Ilícito facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o
fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa impor- valor de mercado;
tando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem
patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato,
função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no 14 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo.
art. 1° desta lei, e notadamente: 13. ed. São Paulo: Método, 2011.
13 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de 15 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
ris, 2010. ris, 2010.

22
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Tratam-se de espécies da conduta do inciso anterior, na VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de
qual o fim visado é permitir a aquisição, alienação, troca ou consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica
locação de bem móvel ou imóvel por preço diverso ao de que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado
mercado. Percebe-se um ato de improbidade que causa pre- por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente
juízo direto ao erário. público, durante a atividade;
No inciso II, o Estado que compra, troca ou aluga bem O agente público não pode trabalhar em funções in-
móvel ou imóvel para sua utilização acima do preço de mer- compatíveis com as que desempenha para o Estado, no-
cado; no inciso III, um bem móvel ou imóvel pertencente ao tadamente quando isso influenciar nas atitudes por ele to-
Estado é vendido, trocado ou alugado em preço inferior ao madas no exercício das funções públicas. Afinal, aceitando
de mercado. uma posição que comprometa sua imparcialidade, o agen-
te prejudicará o interesse público.
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, má-
quinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de IX - perceber vantagem econômica para intermediar a
propriedade ou à disposição de qualquer das entidades men- liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natu-
cionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servi- reza;
dores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas Para que as verbas públicas sejam liberadas ou apli-
entidades; cadas há todo um procedimento estabelecido em lei, não
Todo aparato dos órgãos públicos serve para atender ao cabendo ao servidor violá-lo e muito menos receber van-
Estado e, consequentemente, à preservação do bem comum tagem por tal violação. Há improbidade, por exemplo, na
na sociedade. Logo, quando um servidor público utiliza esta fraude em licitação.
estrutura material ou pessoal para atender aos seus próprios
interesses, causa prejuízo direto aos cofres públicos e obtém X - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
uma vantagem indevida (a natural vantagem decorrente do direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providên-
uso de algo que não lhe pertence). cia ou declaração a que esteja obrigado;
A percepção de vantagem econômica para omitir qual-
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
quer ato que seja obrigado a praticar caracteriza ato de
direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de
improbidade administrativa.
jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando,
de usura ou de qualquer outra atividade ilícita,
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio
Nenhum ato administrativo pode ser praticado ou omi-
bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patri-
tido para facilitar condutas como lenocínio (explorar, estimu-
monial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei;
lar ou facilitar a prostituição), narcotráfico (envolver-se em
atividades no mundo das drogas, como venda e distribui- XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou
ção), contrabando (importar ou exportar mercadoria proi- valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
bida), usura (agiotagem, fornecer dinheiro a juros absurdos) mencionadas no art. 1° desta lei.
ou qualquer outra atividade ilícita. Se, ainda por cima, se ob- Como visto, todo o aparato material e financeiro pro-
ter vantagem indevida pela tolerância da prática do ilícito, piciado para o desempenho das funções públicas perten-
resta caracterizado um ato de improbidade administrativa cem à máquina estatal e devem servir ao bem comum, não
da espécie mais grave, ora descrita neste art. 9° em estudo. cabendo a utilização em proveito próprio, o que gera uma
natural vantagem econômica, sob pena de incidir em im-
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, probidade administrativa.
direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição
ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou Seção II
sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica Dos Atos de Improbidade Administrativa que Cau-
de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades sam Prejuízo ao Erário
mencionadas no art. 1º desta lei;
Da mesma forma, é vedado o recebimento de vantagens Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que
para fazer declarações falsas na avaliação de obras e serviços causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou
em geral. culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qual- O grupo intermediário de atos de improbidade admi-
quer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do nistrativa se caracteriza pelos elementos: causar dano ao
patrimônio ou à renda do agente público; erário ou aos cofres públicos + gerando perda patrimo-
A desproporção entre o rendimento percebido no exer- nial ou dilapidação do patrimônio público. Assim como
cício das funções e o patrimônio acumulado é um forte indí- o artigo anterior, o caput descreve a fórmula genérica e
cio da percepção indevida de vantagens. Claro, se compro- os incisos algumas atitudes específicas que exemplificam
vada que a desproporção se deu por outros motivos lícitos, o seu conteúdo.16
não há ato de improbidade administrativa (por exemplo, 16 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo.
ganhar na loteria ou receber uma boa herança). 13. ed. São Paulo: Método, 2011.

23
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

a) Perda patrimonial é o gênero, do qual são espécies: Todos os bens, rendas, verbas e valores que integram
desvio, que é o direcionamento indevido; apropriação, que a estrutura da administração pública somente devem ser
é a transferência indevida para a própria propriedade; mal- utilizados por ela. Por isso, não cabe a incorporação de seu
baratamento, que significa desperdício; e dilapidação, que se patrimônio ao acervo de qualquer pessoa física ou jurídica e
refere a destruição.17 mesmo a simples utilização deve obedecer aos ditames legais.
b) É preciso que seja causado dano a uma das pessoas Quem agir, aproveitando da função pública, de modo a permi-
do art. 1° da lei. No entanto, o enriquecimento ilícito é dis- tir tais situações, incide em ato de improbidade administrativa,
pensável. ainda que não receba nenhuma vantagem por seu ato (ha-
c) O crime pode ser praticado por ação ou omissão. vendo enriquecimento ilícito, está presente um ato do art. 9°,
O objeto da tutela é a preservação do patrimônio públi- categoria mais grave).
co, em todos seus bens e valores. O pressuposto exigível é a Aliás, nem ao menos importa se o ato é benéfico, por
ocorrência de dano ao patrimônio dos sujeitos passivos. exemplo, uma doação. O patrimônio público deve ser preser-
Este artigo admite expressamente a variante culposa, o vado e sua transmissão/utilização deve obedecer a legislação
que muitos entendem ser inconstitucional. O STJ, no REsp n° vigente.
939.142/RJ, apontou alguns aspectos da inconstitucionalida-
de do artigo. Contudo, “a jurisprudência do STJ consolidou IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de
a tese de que é indispensável a existência de dolo nas con- bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referi-
dutas descritas nos artigos 9º e 11 e ao menos de culpa nas das no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte
hipóteses do artigo 10, nas quais o dano ao erário precisa ser delas, por preço inferior ao de mercado;
comprovado. De acordo com o ministro Castro Meira, a con- V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de
duta culposa ocorre quando o agente não pretende atingir bem ou serviço por preço superior ao de mercado;
o resultado danoso, mas atua com negligência, imprudência Incisos diretamente correlatos aos incisos II e III do artigo
ou imperícia (REsp n° 1.127.143)”18. Para Carvalho Filho19, não anterior, exceto pelo fato do sujeito ativo não perceber vanta-
há inconstitucionalidade na modalidade culposa, lembrando gem indevida pela sua conduta. Aliás, é exatamente pela falta
que é possível dosar a pena conforme o agente aja com dolo deste elemento que o ato se enquadra na categoria interme-
ou culpa. diária, e não mais grave, dentro da classificação das improbi-
O ponto central é lembrar que neste artigo não se exi- dades.
ge que o sujeito ativo tenha percebido vantagens indevidas,
basta o dano ao erário. Se tiver recebido vantagem indevi- VI - realizar operação financeira sem observância das nor-
da, incide no artigo anterior. Exceto pela não percepção da mas legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou
vantagem indevida, os tipos exemplificados se aproximam inidônea;
muito dos previstos nos incisos do art. 9°. VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a ob-
servância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incor- à espécie;
poração ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, A realização de operações financeiras, como a liberação
de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patri- de verbas e o investimento destas, e a concessão de benefícios
monial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei; são papéis muito importantes desempenhados pelo agente
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídi- público, que deverá cumprir estritamente a lei.
ca privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes
do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo
desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regu- seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins
lamentares aplicáveis à espécie; lucrativos, ou dispensá-los indevidamente; (Alterado pela Lei nº
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente 13.019 de 31 de julho de 2014)
despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, Processo licitatório é aquele em que se realiza a licitação,
bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das procedimento detalhado prescrito em lei pelo qual o Estado
entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância contrata serviços, adquire produtos, aliena bens, etc. A finalida-
das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie; de de cumprir o procedimento legal de forma estrita é garan-
tir a preservação do interesse da sociedade, não cabendo ao
17 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de agente público passar por cima destas regras (Lei n° 8.666/93).
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
ris, 2010. IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não auto-
18 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Impro- rizadas em lei ou regulamento;
bidade administrativa: desonestidade na gestão dos Todas as despesas que podem ser assumidas pelo Poder
recursos públicos. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/ Público encontram respectiva previsão em alguma lei ou dire-
portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.tex- triz orçamentária.
to=103422>. Acesso em: 26 mar. 2013.
19 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou ren-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- da, bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio
ris, 2010. público;

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

A arrecadação de tributos é essencial para a manuten- XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica
ção da máquina estatal, não podendo o agente público ser privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos
negligente (se omitir, deixar de ser zeloso) no que tange ao pela administração pública a entidade privada mediante celebra-
levantamento desta renda. ção de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das de 31 de julho de 2014)
normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua
aplicação irregular; XVIII - celebrar parcerias da administração pública com en-
Para que as verbas públicas sejam aplicadas é preciso tidades privadas sem a observância das formalidades legais ou
obedecer o procedimento previsto em lei, preservando o regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019
interesse estatal. de 31 de julho de 2014)
Dos incisos VI a XI resta clara a marca desta categoria
intermediária de atos de improbidade administrativa: que XIX - frustrar a licitude de processo seletivo para celebração
seja causado prejuízo ao erário, sem que o agente respon- de parcerias da administração pública com entidades privadas ou
sável pelo dano receba vantagem indevida. A questão é dispensá-lo indevidamente; (Incluído pela Lei nº 13.019 de 31 de
preservar o interesse estatal, garantindo que os bens e ver- julho de 2014)
bas públicas sejam corretamente utilizados, arrecadados e
investidos. XX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e aná-
lise das prestações de contas de parcerias firmadas pela adminis-
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se tração pública com entidades privadas; (Incluído pela Lei nº 13.019
enriqueça ilicitamente; de 31 de julho de 2014)
Como visto, quanto o agente público obtém vantagem
própria, direta ou indireta, incide nas hipóteses mais graves XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administra-
do artigo anterior. Caso concorde com o enriquecimento ção pública com entidades privadas sem a estrita observância das
normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua apli-
ilícito de terceiro, por exemplo, seu superior hierárquico,
cação irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014)
ou colabore para que ele ocorra, também cometerá ato de
improbidade administrativa, embora de menor gravidade.
Seção II-A
Dos Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particu-
de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Financeiro
lar, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qual-
ou Tributário
quer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer
(Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)
das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o
trabalho de servidor público, empregados ou terceiros con- Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa qual-
tratados por essas entidades. quer ação ou omissão para conceder, aplicar ou manter be-
Não se deve permitir que terceiros utilizem do aparato nefício financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o
da máquina estatal, tanto material quanto pessoal, mesmo caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de
que não se obtenha vantagem alguma com tal concessão. 31 de julho de 2003.
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha Art. 8º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Serviços
por objeto a prestação de serviços públicos por meio da ges- de Qualquer Natureza é de 2% (dois por cento).
tão associada sem observar as formalidades previstas na lei; § 1º O imposto não será objeto de concessão de isenções,
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público incentivos ou benefícios tributários ou financeiros, inclusive de
sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem ob- redução de base de cálculo ou de crédito presumido ou outor-
servar as formalidades previstas na lei. gado, ou sob qualquer outra forma que resulte, direta ou indi-
A celebração de contratos de qualquer natureza com- retamente, em carga tributária menor que a decorrente da apli-
promete diretamente o orçamento público, causando pre- cação da alíquota mínima estabelecida no caput, exceto para os
juízo ao erário. Por isso, deve-se obedecer as prescrições serviços a que se referem os subitens 7.02, 7.05 e 16.01 da lista
legais que disciplinam a celebração de contratos adminis- anexa a esta Lei Complementar.
trativos, deliberando com responsabilidade a respeito das
contratações necessárias e úteis ao bem comum. Uma das alterações recentes à disciplina do ISS visou evitar
a continuidade da guerra fiscal entre os municípios, fixando-se a
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a alíquota mínima em 2%.
incorporação, ao patrimônio particular de pessoa física ou Com efeito, os municípios não poderão fixar dentro de sua
jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos transfe- competência constitucional alíquotas inferiores a 2% para atrair
ridos pela administração pública a entidades privadas me- e fomentar investimentos novos (incentivo fiscal), prejudicando
diante celebração de parcerias, sem a observância das for- os municípios vizinhos.
malidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;(In- Em razão disso, tipifica-se como ato de improbidade admi-
cluído pela Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014) nistrativa a eventual concessão do benefício abaixo da alí-
quota mínima.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Seção III CAPÍTULO III


Dos Atos de Improbidade Administrativa que Aten- Das Penas
tam Contra os Princípios da Administração Pública
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e ad-
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que ministrativas previstas na legislação específica, está o respon-
atenta contra os princípios da administração pública qual- sável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações,
quer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acor-
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e no- do com a gravidade do fato:
tadamente: I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores
O grupo mais ameno de atos de improbidade adminis- acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento in-
trativa se caracteriza pela simples violação a princípios da tegral do dano, quando houver, perda da função pública,
administração pública, ou seja, aplica-se a qualquer ati- suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento
tude do sujeito ativo que viole os ditames éticos do servi- de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial
ço público. Isto é, o legislador pretende a preservação dos e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefí-
princípios gerais da administração pública.20 cios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,
a) O objeto de tutela são os princípios constitucionais; ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
b) Basta a vulneração em si dos princípios, sendo dis- majoritário, pelo prazo de dez anos;
pensáveis o enriquecimento ilícito e o dano ao erário; II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do
c) Somente é possível a prática de algum destes atos dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente
com dolo (intenção); ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da
d) Cabe a prática por ação ou omissão. função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito
Será preciso utilizar razoabilidade e proporcionalidade anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do
para não permitir a caracterização de abuso de poder, dian- dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
te do conteúdo aberto do dispositivo. benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indireta-
Na verdade, trata-se de tipo subsidiário, ou seja, que mente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
se aplica quando o ato de improbidade administrativa não sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
tiver gerado obtenção de vantagem indevida ou dano ao III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do
erário. dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regula- direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa ci-
mento ou diverso daquele previsto, na regra de competência; vil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
de ofício; benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indireta-
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em mente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
razão das atribuições e que deva permanecer em segredo; sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
IV - negar publicidade aos atos oficiais; IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função
V - frustrar a licitude de concurso público; pública, suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito)
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor do benefício fi-
fazê-lo; nanceiro ou tributário concedido. (Incluído pela Lei Comple-
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento mentar nº 157, de 2016)
de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o
medida política ou econômica capaz de afetar o preço de juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como
mercadoria, bem ou serviço. o proveito patrimonial obtido pelo agente.
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fis- As sanções da Lei de Improbidade Administrativa são de
calização e aprovação de contas de parcerias firmadas pela natureza extrapenal e, portanto, têm caráter civil.
administração pública com entidades privadas. Como visto, no caso do art. 9°, categoria mais grave, o
IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de aces- agente obtém um enriquecimento ilícito (vantagem econô-
sibilidade previstos na legislação. mica indevida) e pode ainda causar dano ao erário, por isso,
É possível perceber, no rol exemplificativo de condutas deverá não só reparar eventual dano causado mas também
do artigo 11, que o agente público que pratique qualquer colocar nos cofres públicos tudo o que adquiriu indevidamen-
ato contrário aos ditames da ética, notadamente os origi- te. Ou seja, poderá pagar somente o que enriqueceu indevi-
nários nos princípios administrativos constitucionais, prati- damente ou este valor acrescido do valor do prejuízo causado
ca ato de improbidade administrativa. aos cofres públicos (quanto o Estado perdeu ou deixou de
Com efeito, são deveres funcionais: praticar atos visan- ganhar). No caso do artigo 10, não haverá enriquecimento ilí-
do o bem comum, agir com efetividade e rapidez, manter cito, mas sempre existirá dano ao erário, o qual será reparado
sigilo a respeito dos fatos que tenha conhecimento devido (eventualmente, ocorrerá o enriquecimento ilícito, devendo o
a sua função, tornar públicos os atos oficiais, zelar pela boa valor adquirido ser tomado pelo Estado). Já no artigo 11, o
realização de atos administrativos em geral (como a reali- máximo que pode ocorrer é o dano ao erário, com o devi-
zação de concurso público), prestar contas, entre outros. do ressarcimento. Na hipótese do artigo 10-A, não se denota
20 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. nem enriquecimento ilícito e nem dano ao erário, pois no má-
13. ed. São Paulo: Método, 2011. ximo a prática de guerra fiscal pode gerar

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Em todos os casos há perda da função pública.


Nas três categorias iniciais, são estabelecidas sanções de suspensão dos direitos políticos, multa e vedação de contratação
ou percepção de vantagem, graduadas conforme a gravidade do ato, enquanto que na quarta categoria apenas se prevê a
suspensão de direitos políticos e a multa:

Artigo 9° Artigo 10 Artigo 10-A Artigo 11


Suspensão de direitos
8 a 9 anos 5 a 8 anos 5 a 8 anos 3 a 5 anos
políticos
Até 3X o valor do
Até 3X o Até 100X o valor
Até 2X o dano benefício financeiro
Multa enriquecimento da remuneração do
causado. ou tributário
experimentado agente
concedido
Vedação de
contratação ou 10 anos 5 anos – 3 anos
vantagem

Vale lembrar a disciplina constitucional das sanções por atos de improbidade administrativa, que se encontra no art. 37, § 4º, CF:
Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponi-
bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

ATENÇÃO: a única sanção que se encontra prevista na LIA mas não na CF é a de multa. (art. 37, §4°, CF). Não há nenhuma
inconstitucionalidade disto, pois nada impediria de o legislador infraconstitucional ampliasse a relação mínima de penalidades
da Constituição, pois esta não limitou tal possibilidade e porque a lei é o instrumento adequado para tanto21.
Carvalho Filho22 tece considerações a respeito de algumas das sanções:
a) Perda de bens e valores: “tal punição só incide sobre os bens acrescidos após a prática do ato de improbidade. Se alcançasse
anteriores, ocorreria confisco, o que restaria sem escora constitucional. Além disso, o acréscimo deve derivar de origem ilícita”.
b) Ressarcimento integral do dano: há quem entenda que engloba dano moral. Cabe acréscimo de correção monetária e
juros de mora.
c) Perda de função pública: “se o agente é titular de mandato, a perda se processa pelo instrumento de cassação. Sendo
servidor estatutário, sujeitar-se-á à demissão do serviço público. Havendo contrato de trabalho (servidores trabalhistas e tem-
porários), a perda da função pública se consubstancia pela rescisão do contrato com culpa do empregado. No caso de exercer
apenas uma função pública, fora de tais situações, a perda se dará pela revogação da designação”. Lembra-se que determinadas
autoridades se sujeitam a procedimento especial para perda da função pública, ponto em que não se aplica a Lei de Improbi-
dade Administrativa.
d) Multa: a lei indica inflexibilidade no limite máximo, mas flexibilidade dentro deste limite, podendo os julgados nesta
margem optar pela mais adequada. Há ainda variabilidade na base de cálculo, conforme o tipo de ato de improbidade (a base
será o valor do enriquecimento ou o valor do dano ou o valor da remuneração do agente). A natureza da multa é de sanção
civil, não possuindo caráter indenizatório, mas punitivo.
e) Proibição de receber benefícios: não se incluem as imunidades genéricas e o agente punido deve ser ao menos sócio
majoritário da instituição vitimada.
f) Proibição de contratar: o agente punido não pode participar de processos licitatórios.

CAPÍTULO IV
Da Declaração de Bens

Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicionados à apresentação de declaração dos bens e valores que
compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser arquivada no serviço de pessoal competente.
§ 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, semoventes, dinheiro, títulos, ações, e qualquer outra espécie de bens e
valores patrimoniais, localizado no País ou no exterior, e, quando for o caso, abrangerá os bens e valores patrimoniais do côn-
juge ou companheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam sob a dependência econômica do declarante, excluídos apenas
os objetos e utensílios de uso doméstico.
§ 2º A declaração de bens será anualmente atualizada e na data em que o agente público deixar o exercício do mandato,
cargo, emprego ou função.
§ 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente
público que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a prestar falsa.
21 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010.
22 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia da Seção I


declaração anual de bens apresentada à Delegacia da Receita Da Competência e dos Atos Processuais
Federal na conformidade da legislação do Imposto sobre a
Renda e proventos de qualquer natureza, com as necessárias Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo
atualizações, para suprir a exigência contida no caput e no § lugar em que foi praticada a infração penal.
2° deste artigo. Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão
Para que uma pessoa tome posse e exerça o cargo de realizar-se em horário noturno e em qualquer dia da semana,
agente público deve apresentar declaração de bens que de- conforme dispuserem as normas de organização judiciária.
verá ser renovada anualmente (§2°) sob pena de demissão Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que
(§3°). Assim, trata-se de condição para o exercício das atribui- preencherem as finalidades para as quais foram realizados,
ções de agente público. atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei.
A finalidade é a de assegurar que o agente público não § 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que te-
receba vantagens indevidas, possuindo instrumento para fis- nha havido prejuízo.
calizá-lo caso o faça. § 2º A prática de atos processuais em outras comarcas
Os bens abrangidos pela declaração não são apenas os poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de comunica-
do agente público, mas também os de seus dependentes. ção.
Por isso, não adiantará nada o agente colocar os bens de- § 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os
correntes do enriquecimento ilícito em nome de pessoas que atos havidos por essenciais. Os atos realizados em audiência
dele dependam, e não em seu nome. de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita mag-
nética ou equivalente.
Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juiza-
2.5.9 LEI Nº 9.099/95, COM AS ALTERAÇÕES do, sempre que possível, ou por mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser ci-
FEITAS PELA LEI N.º 11.313/06 (LEI DOS
tado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS): ARTIGOS para adoção do procedimento previsto em lei.
2º, 60 A 76, 88 A 92; Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com
aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurí-
dica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da
Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da ora- recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo
lidade, simplicidade, informalidade, economia processual e necessário, por oficial de justiça, independentemente de man-
celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou dado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo
a transação. de comunicação.
Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência con-
Capítulo III siderar-se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e
Dos Juizados Especiais Criminais defensores.
Disposições Gerais Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do man-
dado de citação do acusado, constará a necessidade de seu
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes comparecimento acompanhado de advogado, com a adver-
togados ou togados e leigos, tem competência para a con- tência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor pú-
ciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de blico.
menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e
continência. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006) Seção II
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juí- Da Fase Preliminar
zo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das
regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento
da transação penal e da composição dos danos civis. (Incluí- da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará
do pela Lei nº 11.313, de 2006) imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor po- providenciando-se as requisições dos exames periciais neces-
tencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções sários.
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não su- Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do
perior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (Redação termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assu-
dada pela Lei nº 11.313, de 2006) mir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão
em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência do-
Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar- méstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela,
-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalida- seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com
de, economia processual e celeridade, objetivando, sempre a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002))
que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não
aplicação de pena não privativa de liberdade. (Redação dada sendo possível a realização imediata da audiência preliminar,
pela Lei nº 13.603, de 2018) será designada data próxima, da qual ambos sairão cientes.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste
envolvidos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se artigo não constará de certidão de antecedentes criminais,
for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67 e 68 salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não
desta Lei. terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação ca-
Art. 72. Na audiência preliminar, presente o represen- bível no juízo cível.
tante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se
possível, o responsável civil, acompanhados por seus advo- Seção VI
gados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da compo- Disposições Finais
sição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação
imediata de pena não privativa de liberdade. Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legis-
Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por lação especial, dependerá de representação a ação penal re-
conciliador sob sua orientação. lativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Jus- Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for
tiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente en- igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei,
tre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor
a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que
na administração da Justiça Criminal.
o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos
a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irre-
que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do
corrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil
Código Penal).
competente. § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de inicia- presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá sus-
tiva privada ou de ação penal pública condicionada à re- pender o processo, submetendo o acusado a período de pro-
presentação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao va, sob as seguintes condições:
direito de queixa ou representação. I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será II - proibição de frequentar determinados lugares;
dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exer- III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside,
cer o direito de representação verbal, que será reduzida a sem autorização do Juiz;
termo. IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, men-
Parágrafo único. O não oferecimento da representação salmente, para informar e justificar suas atividades.
na audiência preliminar não implica decadência do direito, § 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que
que poderá ser exercido no prazo previsto em lei. fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de cri- e à situação pessoal do acusado.
me de ação penal pública incondicionada, não sendo caso § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo,
de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a apli- o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não
cação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
especificada na proposta. § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única apli- a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou
cável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática extinta a punibilidade.
de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença defi- § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de sus-
nitiva; pensão do processo.
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no § 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste
artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.
prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou
Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos pro-
multa, nos termos deste artigo;
cessos penais cuja instrução já estiver iniciada. (Vide ADIN nº
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e
1.719-9)
a personalidade do agente, bem como os motivos e as cir-
Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no
cunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida. âmbito da Justiça Militar. (Artigo incluído pela Lei nº 9.839,
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu de- de 27.9.1999)
fensor, será submetida à apreciação do Juiz. Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir repre-
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público acei- sentação para a propositura da ação penal pública, o ofendi-
ta pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva do ou seu representante legal será intimado para oferecê-la
de direitos ou multa, que não importará em reincidência, no prazo de trinta dias, sob pena de decadência.
sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos
benefício no prazo de cinco anos. Códigos Penal e de Processo Penal, no que não forem incom-
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá patíveis com esta Lei.
a apelação referida no art. 82 desta Lei.

29
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 3° Recebidos esses elementos, o juiz determinará a provi-


2.5.10 LEI Nº 9.296/1996 (LEI DE dência do art. 8° , ciente o Ministério Público.
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA); Art. 7° Para os procedimentos de interceptação de que trata
esta Lei, a autoridade policial poderá requisitar serviços e técni-
cos especializados às concessionárias de serviço público.
LEI Nº 9.296, DE 24 DE JULHO DE 1996. Art. 8° A interceptação de comunicação telefônica, de qual-
quer natureza, ocorrerá em autos apartados, apensados aos au-
Regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5° da tos do inquérito policial ou do processo criminal, preservando-
Constituição Federal. -se o sigilo das diligências, gravações e transcrições respectivas.
Parágrafo único. A apensação somente poderá ser realiza-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- da imediatamente antes do relatório da autoridade, quando se
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: tratar de inquérito policial (Código de Processo Penal, art.10, §
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de 1°) ou na conclusão do processo ao juiz para o despacho de-
qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em corrente do disposto nos arts. 407, 502 ou 538 do Código de
instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e de- Processo Penal.
penderá de ordem do juiz competente da ação principal, sob Art. 9° A gravação que não interessar à prova será inutili-
segredo de justiça. zada por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução pro-
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à intercep- cessual ou após esta, em virtude de requerimento do Ministério
tação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e Público ou da parte interessada.
telemática. Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações pelo Ministério Público, sendo facultada a presença do acusado
telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: ou de seu representante legal.
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunica-
em infração penal; ções telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar se-
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; gredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no autorizados em lei.
máximo, com pena de detenção. Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a Art. 12. Revogam-se as disposições em contrário.
indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilida-
de manifesta, devidamente justificada.
Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas po-
derá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento: 2.5.11 LEI FEDERAL Nº 9.455/1997 (TORTURA);
I - da autoridade policial, na investigação criminal;
II - do representante do Ministério Público, na investigação
criminal e na instrução processual penal. No Brasil, o uso da tortura - seja como meio de obtenção
Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefô- de provas através da confissão, seja como forma de castigo a
nica conterá a demonstração de que a sua realização é neces- prisioneiros - data dos tempos da Colônia. Legado da Inquisi-
sária à apuração de infração penal, com indicação dos meios a ção, a tortura nunca deixou de ser aplicada durante os 322 anos
serem empregados. de período colonial e nem posteriormente - nos 67 anos do Im-
§ 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido pério e no período republicano.
seja formulado verbalmente, desde que estejam presentes os Durante os chamados anos de chumbo, assim como na di-
pressupostos que autorizem a interceptação, caso em que a tadura Vargas (período denominado Estado Novo ou República
concessão será condicionada à sua redução a termo. Nova, em alusão à República Velha, que se findava), houve a
§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, deci- prática sistemática da tortura contra presos políticos - aqueles
dirá sobre o pedido. considerados subversivos, que alegadamente ameaçavam a
Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulida- segurança nacional. Durante o regime militar de 1964, os tor-
de, indicando também a forma de execução da diligência, que turadores brasileiros eram em sua grande maioria militares das
não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual forças armadas, em especial do exército. Os principais centros
tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de de tortura no Brasil, nesta época, eram os DOI/CODI, órgãos
prova. militares de defesa interna. No final dos anos 1960 e início dos
Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá anos 1970, as ditaduras militares do Brasil e de outros países da
os procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministé- América do Sul criaram a chamada Operação Condor, para per-
rio Público, que poderá acompanhar a sua realização. seguir, torturar e eliminar opositores. Receberam o suporte de
§ 1° No caso de a diligência possibilitar a gravação da co- especialistas militares norte-americanos, ligados à CIA, que ensi-
municação interceptada, será determinada a sua transcrição. naram novas técnicas de tortura para obtenção de informações.
§ 2° Cumprida a diligência, a autoridade policial encami- Com a redemocratização, em 1985, cessou a prática da tor-
nhará o resultado da interceptação ao juiz, acompanhado de tura com fins políticos. Mas as técnicas foram incorporadas
auto circunstanciado, que deverá conter o resumo das ope- por muitos policiais, que passaram a aplicá-las contra os pre-
rações realizadas. sos comuns, “suspeitos” ou detentos.

30
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

O artigo V da Declaração de 1948 prevê que “ninguém No Brasil, a Constituição de 1988 prevê no artigo 5o, III que “nin-
será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo guém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
cruel, desumano ou degradante”, previsão repetida no ar- degradante” e considera a prática de tortura como crime inafian-
tigo 7º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos çável e insuscetível de graça ou anistia (para o STF, a proibição se
e no artigo 5º da Convenção Americana sobre os Direitos estende ao indulto). Pela lei infraconstitucional, a tortura é discipli-
Humanos. Vale lembrar que a tortura é o clássico tipo de nada pela Lei no 9.455, de 07 de abril de 1997, que tipifica o crime de
tratamento cruel. tortura em seu artigo 1o, com pena de reclusão de 2 a 8 anos.
Há uma preocupação especial da comunidade interna- Diferentemente da disciplina internacional, a tortura não
cional de vedar tais práticas. Neste sentido, na esfera das é ato exclusivamente praticado por funcionário público ou
Nações Unidas, tem-se a Declaração sobre a Proteção de terceiro particular às suas ordens (seria crime próprio) e sim
Todas as Pessoas contra a Tortura e Outras Penas ou Trata- ato que pode ser praticado, em regra, por qualquer pessoa.
mentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela Desta feita, o que distinguirá a tortura de outros tipos penais
Assembleia Geral em 9 de dezembro de 1975, e a Conven- não será a condição do agente, mas sim a finalidade do ato
ção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, ou mesmo a intensidade do sofrimento causado (esse é o cri-
Desumanos ou Degradantes, adotada pela Assembleia Ge- tério para distinguir da prática de maus-tratos, art. 136, CP).
ral em 10 de dezembro de 1984 e ratificada pelo Brasil em
28 de setembro de 1989. LEI NO 9.455, DE 07 DE ABRIL DE 1997
Na referida Declaração, o artigo 1º traz um conceito
de tortura: “1. Sob os efeitos da presente declaração, será
Define os crimes de tortura e dá outras providências.
entendido por tortura todo ato pelo qual um funcionário
público, ou outra pessoa a seu poder, inflija intencional-
Art. 1º Constitui crime de tortura:
mente a uma pessoa penas ou sofrimentos graves, sendo
eles físicos ou mentais, com o fim de obter dela ou de I - constranger alguém com emprego de violência ou
um terceiro informação ou uma confissão, de castigá-la grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
por um ato que tenha cometido ou seja suspeita de que a) com o fim de obter informação, declaração ou con-
tenha cometido, ou de intimidar a essa pessoa ou a outras. fissão da vítima ou de terceira pessoa;
[...]”. No documento o conceito de tortura pode ser assim Tortura-prova ou tortura-persecutória
subdividido: a) ação, não omissão; b) praticada por funcio- b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
nário público ou alguém sob sua autoridade; c) com dolo Tortura para a prática de crime ou tortura-crime
(intenção); d) contra uma pessoa; e) consistente em penas c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
ou sofrimentos graves, físicos ou mentais; f) visando - ob- Tortura discriminatória ou tortura-racismo
tenção de informação ou confissão, castigo ou intimidação.
Pelo mesmo dispositivo, a pena privativa de liberdade Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa.
que seja aplicada em obediência à lei, ou seja, sem arbi- Sujeito passivo: qualquer pessoa.
trariedade, em respeito aos direitos humanos consagrados Elemento subjetivo: dolo, específico, variando para cada
nas Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos, não é um dos três tipos.
tortura. O que constitui tortura é “[...] uma forma agravada Tipo objetivo: constranger alguém mediante violência ou
e deliberada de tratamento ou de pena cruel, desumana ou grave ameaça, gerando sofrimento físico ou mental, é condu-
degradante”. ta plurissubsistente, logo, admite tentativa.
Merece evidência, ainda, o artigo 3º da Declaração:
“Nenhum Estado poderá tolerar a tortura ou tratos ou II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou au-
penas cruéis, desumanos ou degradantes. Não poderão toridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a
ser invocadas circunstâncias excepcionais tais como es- intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar
tado de guerra ou ameaça de guerra, instabilidade política castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
interna ou qualquer outra emergência pública como justi-
ficativa da tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis,
Tortura-castigo
desumanos ou degradantes”. A tortura é uma ofensa ta-
Sujeito ativo: crime próprio, pois a pessoa deve ter atri-
manha à dignidade da pessoa humana que em nenhuma
buto especial consistente em guarda, poder ou autoridade
hipótese pode ser praticada, suspendendo ou excetuando
as garantias que a envolvem. sobre a outra.
Os outros artigos da Declaração tratam dos deveres estatais de Sujeito passivo: qualquer pessoa que esteja sob guarda,
criminalização e punição da tortura, bem como de conscientização poder ou autoridade de outrem.
em treinamento de seus agentes a respeito de sua vedação e de re- Elemento subjetivo: dolo, específico pois deve ser forma
paração dos danos causados, encerrando com a invalidação de qual- de castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
quer declaração ou confissão proferida nestas condições. Tipo objetivo: a conduta de submeter alguém a violência
Em geral, a Convenção mencionada apenas amplia as questões ou grave ameaça, intenso sofrimento físico ou mental, é plu-
protetivas tratadas na Declaração, merecendo destaque o seu artigo rissubsistente e, como tal, admite tentativa.
1º, que diferente do primeiro artigo da Declaração traz uma fórmula Pena - reclusão, de dois a oito anos.
genérica para a finalidade da tortura consistente em qualquer mo- § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa pre-
tivo baseado em discriminação de qualquer natureza. Não obs- sa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico
tante, exclui as sanções legítimas e lembra que se a lei nacional ou ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em
internacional trouxer conceito mais amplo este prevalecerá. lei ou não resultante de medida legal.

31
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Tortura de preso ou de pessoa sujeita a medida de § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese
segurança do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa, mas na prá- Salvo no caso de omissão para a prática de tortura, o regime ini-
tica será comumente cometido por quem tenha poderes no cial de cumprimento da pena seria fechado. Entretanto, o STF afas-
âmbito da detenção, como carcereiro ou agente prisional, ou tou a obrigatoriedade de início de pena em regime fechado para
da medida de segurança, como enfermeiro. crimes hediondos e equiparados (HC 111.840/ES). Caberá ao juiz
Sujeito passivo: apenas pode ser pessoa presa ou sujeita a individualizar a pena, inclusive quanto ao regime de cumprimento.
medida de segurança.
Elemento subjetivo: dolo. Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o cri-
Tipo objetivo: submeter a sofrimento físico ou mental di- me não tenha sido cometido em território nacional, sendo a
verso de ato típico previsto em lei ou resultante de medida le- vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob
gal, que é plurissubsistente, admitindo tentativa. Evidente que a jurisdição brasileira.
pena e a medida de segurança tipicamente geram um tipo de Trata-se de hipótese de extraterritorialidade incondiciona-
sofrimento, não é este abrangido pela conduta típica. da da lei penal. O legislador quis garantir a punição da prática
repulsiva da tortura independentemente da localização da víti-
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quan- ma (sendo ela brasileira) ou da nacionalidade do agente (estan-
do tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de do ele sob jurisdição brasileira).
detenção de um a quatro anos.
Omissão perante a tortura Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Sujeito ativo: pessoa que tivesse autoridade para evitar ou
apurar as condutas. Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho
Sujeito passivo: qualquer pessoa. de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.
Elemento subjetivo: dolo.
Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e 109º
Tipo objetivo: tratando-se de conduta omissiva, não admi-
da República.
te tentativa.
EXERCÍCIOS
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssi-
ma, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte,
1. (UECE-CEV/2017 - SEAS - CE - Assistente Social / Pe-
a reclusão é de oito a dezesseis anos.
dagogo / Psicólogo) O disposto na Lei Federal nº 9.455 de
Tortura qualificada 1997 (Lei da Tortura)
Tortura + lesão grave ou gravíssima = reclusão, 4 a 10 anos. a) aplica-se quando o crime não tenha sido cometido em
Tortura + morte = reclusão, 8 a 16 anos. território nacional, sendo a vítima estrangeira, ainda que o
Em ambos casos, vai se verificar se o autor da conduta real- agente não se encontre em local sob jurisdição brasileira.
mente não quis nem assumiu o risco de produzir o resultado b) não se aplica quando o crime não tenha sido cometido
da lesão grave/gravíssima ou da morte, ou seja, a lesão grave/ em território nacional.
gravíssima ou a morte não podem ter sido almejadas pelo au- c) aplica-se quando o crime não tenha sido cometido em
tor, se forem, há concurso formal entre a tortura e a lesão (art. território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se
129, §§ 1o e 2o, CP) ou então homicídio qualificado pela tortura o agente em local sob jurisdição brasileira.
(art. 121, §2o, III, CP). d) não se aplica quando o crime tenha sido cometido em
território nacional, mas a vítima seja estrangeira.
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I - se o crime é cometido por agente público; R: C. Prevê a Lei de Tortura (Lei no 9.455/97): “art. 2º. O
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha
de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira
III - se o crime é cometido mediante sequestro. ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira”.
Causas de aumento de pena
Se aplicam a todos os tipos anteriores. 2. (CONSULPLAN/2017 - TRF - 2ª REGIÃO - Técnico Judi-
Se houver mais de uma causa presente, o juiz apenas au- ciário - Segurança e Transporte) Os crimes previstos na Lei de
menta a pena uma vez, no montante máximo de 1/3. Tortura (Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997) NÃO terão a sua pena
aumentada de um sexto até um terço se o crime for cometido
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função a) por agente público.
ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo b) mediante sequestro.
dobro do prazo da pena aplicada. c) contra vítima de 55 anos.
Se o sujeito ativo for funcionário público, perderá o cargo, d) contra portador de deficiência.
função ou emprego; se não for, ficará impedido de obtê-lo ou de
tentar retornar a cargo diverso, pelo dobro do prazo da pena em- R: C. Preconiza o art. 1o em seu §4o: “Aumenta-se a pena
pregada. de um sexto até um terço: I - se o crime é cometido por agen-
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de te público; II - se o crime é cometido contra criança, gestante,
graça ou anistia. portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta)
Também é insuscetível de indulto. anos; III - se o crime é cometido mediante sequestro”.

32
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a


2.5.12 DOS CRIMES PREVISTOS NA LEI Nº proibição de se obter a permissão ou a habilitação será sem-
9.503/1997 (CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO): pre comunicada pela autoridade judiciária ao Conselho Nacio-
ARTIGOS 291 A 312-A; nal de Trânsito - CONTRAN, e ao órgão de trânsito do Estado
em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente.
Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime pre-
CAPÍTULO XIX visto neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão
DOS CRIMES DE TRÂNSITO da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor,
Seção I sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. (Redação
Disposições Gerais dada pela Lei nº 11.705, de 2008)
Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no
Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima, ou
automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto
gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuí-
Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº zo material resultante do crime.
9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. § 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor
§ 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal cul- do prejuízo demonstrado no processo.
posa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de § 2º Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50
setembro de 1995, exceto se o agente estiver: (Renumerado a 52 do Código Penal.
do parágrafo único pela Lei nº 11.705, de 2008) § 3º Na indenização civil do dano, o valor da multa repa-
I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância ratória será descontado.
psicoativa que determine dependência;  (Incluído pela Lei nº Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as pe-
11.705, de 2008) nalidades dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo co-
II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou metido a infração:
competição automobilística, de exibição ou demonstração de I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com
perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela grande risco de grave dano patrimonial a terceiros;
autoridade competente; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou
III - transitando em velocidade superior à máxima per- adulteradas;
mitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Ha-
hora). (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) bilitação;
§ 2o Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação
ser instaurado inquérito policial para a investigação da infra- de categoria diferente da do veículo;
ção penal. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados
Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permis- especiais com o transporte de passageiros ou de carga;
são ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados
imposta isolada ou cumulativamente com outras penalidades. equipamentos ou características que afetem a sua segurança
(Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) ou o seu funcionamento de acordo com os limites de veloci-
Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de dade prescritos nas especificações do fabricante;
se obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo auto- VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanente-
motor, tem a duração de dois meses a cinco anos. mente destinada a pedestres.
§ 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu Art. 299. (VETADO)
será intimado a entregar à autoridade judiciária, em quarenta Art. 300. (VETADO)
e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habili- Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes
tação. de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em
§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se ob- flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral
ter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor socorro àquela.
não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condena- Seção II
ção penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional. Dos Crimes em Espécie
Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação
penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo
poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requeri- automotor:
mento do Ministério Público ou ainda mediante representa- Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou
ção da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo veículo automotor.
automotor, ou a proibição de sua obtenção. § 1o  No homicídio culposo cometido na direção de veícu-
Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou lo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade,
a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do Mi- se o agente: (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
nistério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habili-
suspensivo. tação; (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)

33
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; (Incluí- Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condena-
do pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) do que deixa de entregar, no prazo estabelecido no § 1º do
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.
sem risco pessoal, à vítima do acidente; (Incluído pela Lei nº Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em
12.971, de 2014) (Vigência) via pública, de corrida, disputa ou competição automobilísti-
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver ca não autorizada pela autoridade competente, gerando si-
conduzindo veículo de transporte de passageiros. (Incluído tuação de risco à incolumidade pública ou privada: (Redação
pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veí- Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa
culo automotor: e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habi-
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão litação para dirigir veículo automotor. (Redação dada pela Lei
ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para nº 12.971, de 2014) (Vigência)
dirigir veículo automotor. § 1o Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à corporal de natureza grave, e as circunstâncias demonstrarem
metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do § 1o do art. 302. que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de
(Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão, de 3
Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do aci- (três) a 6 (seis) anos, sem prejuízo das outras penas previstas
dente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) 
fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio § 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar mor-
da autoridade pública: te, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa
fato não constituir elemento de crime mais grave. de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo prejuízo das outras penas previstas neste artigo. (Incluído pela
o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) 
por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem
ou com ferimentos leves. a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se
Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:
acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
possa ser atribuída: Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por
psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não
outra substância psicoativa que determine dependência: (Re- esteja em condições de conduzi-lo com segurança:
dação dada pela Lei nº 12.760, de 2012) Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e sus- Art. 310-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.619, de
pensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação 2012) (Vigência)
para dirigir veículo automotor. Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a se-
§ 1o As condutas previstas no caput  serão constatadas gurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de
por: (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) embarque e desembarque de passageiros, logradouros es-
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de ál- treitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração
cool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligra- de pessoas, gerando perigo de dano:
ma de álcool por litro de ar alveolar; ou (Incluído pela Lei nº Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
12.760, de 2012) Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Con- automobilístico com vítima, na pendência do respectivo pro-
tran, alteração da capacidade psicomotora. (Incluído pela Lei cedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo
nº 12.760, de 2012) penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de indu-
§ 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser zir a erro o agente policial, o perito, ou juiz:
obtida mediante teste de alcoolemia ou toxicológico, exame Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda
prova em direito admitidos, observado o direito à contrapro- que não iniciados, quando da inovação, o procedimento pre-
va. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) paratório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.
§ 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os dis- Art. 312-A. Para os crimes relacionados nos arts. 302 a
tintos testes de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de ca- 312 deste Código, nas situações em que o juiz aplicar a subs-
racterização do crime tipificado neste artigo. (Redação dada tituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva de
pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) direitos, esta deverá ser de prestação de serviço à comunida-
Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter de ou a entidades públicas, em uma das seguintes atividades:
a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
imposta com fundamento neste Código: I - trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com dos corpos de bombeiros e em outras unidades móveis espe-
nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou cializadas no atendimento a vítimas de trânsito; (Incluído pela
de proibição. Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)

34
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

II - trabalho em unidades de pronto-socorro de hospitais § 2º O órgão responsável deverá publicar, anualmente,


da rede pública que recebem vítimas de acidente de trânsi- na rede mundial de computadores (internet), dados sobre a
to e politraumatizados; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) receita arrecadada com a cobrança de multas de trânsito e sua
(Vigência) destinação. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
III - trabalho em clínicas ou instituições especializadas na Art. 320-A. Os órgãos e as entidades do Sistema Nacional
recuperação de acidentados de trânsito; (Incluído pela Lei nº de Trânsito poderão integrar-se para a ampliação e o apri-
13.281, de 2016) (Vigência) moramento da fiscalização de trânsito, inclusive por meio do
IV - outras atividades relacionadas ao resgate, atendi- compartilhamento da receita arrecadada com a cobrança das
mento e recuperação de vítimas de acidentes de trânsito. (In- multas de trânsito. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
cluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) Art. 321. (VETADO)
Art. 322. (VETADO)
CAPÍTULO XX Art. 323. O CONTRAN, em cento e oitenta dias, fixará a
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS metodologia de aferição de peso de veículos, estabelecendo
percentuais de tolerância, sendo durante este período sus-
Art. 313. O Poder Executivo promoverá a nomeação dos pensa a vigência das penalidades previstas no inciso V do art.
membros do CONTRAN no prazo de sessenta dias da publica- 231, aplicando-se a penalidade de vinte UFIR por duzentos
ção deste Código. quilogramas ou fração de excesso.
Art. 314. O CONTRAN tem o prazo de duzentos e quarenta Parágrafo único. Os limites de tolerância a que se refe-
dias a partir da publicação deste Código para expedir as reso- re este artigo, até a sua fixação pelo CONTRAN, são aqueles
luções necessárias à sua melhor execução, bem como revisar estabelecidos pela Lei nº 7.408, de 25 de novembro de 1985.
todas as resoluções anteriores à sua publicação, dando priori- Art. 324. (VETADO)
dade àquelas que visam a diminuir o número de acidentes e a Art. 325. As repartições de trânsito conservarão por, no
assegurar a proteção de pedestres. mínimo, 5 (cinco) anos os documentos relativos à habilitação
Parágrafo único. As resoluções do CONTRAN, existentes de condutores, ao registro e ao licenciamento de veículos e
até a data de publicação deste Código, continuam em vigor na- aos autos de infração de trânsito. (Redação dada pela Lei nº
quilo em que não conflitem com ele. 13.281, de 2016) (Vigência)
Art. 315. O Ministério da Educação e do Desporto, median- § 1º Os documentos previstos no caput poderão ser ge-
te proposta do CONTRAN, deverá, no prazo de duzentos e qua- rados e tramitados eletronicamente, bem como arquivados e
renta dias contado da publicação, estabelecer o currículo com armazenados em meio digital, desde que assegurada a au-
conteúdo programático relativo à segurança e à educação de tenticidade, a fidedignidade, a confiabilidade e a segurança
trânsito, a fim de atender o disposto neste Código. das informações, e serão válidos para todos os efeitos legais,
Art. 316. O prazo de notificação previsto no inciso II do sendo dispensada, nesse caso, a sua guarda física. (Incluído
parágrafo único do art. 281 só entrará em vigor após duzentos pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
e quarenta dias contados da publicação desta Lei. § 2º O Contran regulamentará a geração, a tramitação,
Art. 317. Os órgãos e entidades de trânsito concederão o arquivamento, o armazenamento e a eliminação de do-
prazo de até um ano para a adaptação dos veículos de condu- cumentos eletrônicos e físicos gerados em decorrência da
ção de escolares e de aprendizagem às normas do inciso III do aplicação das disposições deste Código. (Incluído pela Lei nº
art. 136 e art. 154, respectivamente. 13.281, de 2016) (Vigência)
Art. 318. (VETADO) § 3º Na hipótese prevista nos §§ 1º e 2º, o sistema deverá
Art. 319. Enquanto não forem baixadas novas normas pelo ser certificado digitalmente, atendidos os requisitos de auten-
CONTRAN, continua em vigor o disposto no art. 92 do Regula- ticidade, integridade, validade jurídica e interoperabilidade da
mento do Código Nacional de Trânsito - Decreto nº 62.127, de Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil). (In-
16 de janeiro de 1968. cluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
Art. 319-A. Os valores de multas constantes deste Código Art. 326. A Semana Nacional de Trânsito será comemorada
poderão ser corrigidos monetariamente pelo Contran, respeita- anualmente no período compreendido entre 18 e 25 de setembro.
do o limite da variação do Índice Nacional de Preços ao Consu- Art. 326-A. A atuação dos integrantes do Sistema Nacional
midor Amplo (IPCA) no exercício anterior. (Incluído pela Lei nº de Trânsito, no que se refere à política de segurança no trân-
13.281, de 2016) (Vigência) sito, deverá voltar-se prioritariamente para o cumprimento de
Parágrafo único. Os novos valores decorrentes do disposto metas anuais de redução de índice de mortos por grupo de
no caput serão divulgados pelo Contran com, no mínimo, 90 veículos e de índice de mortos por grupo de habitantes, am-
(noventa) dias de antecedência de sua aplicação. (Incluído pela bos apurados por Estado e por ano, detalhando-se os dados
Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) levantados e as ações realizadas por vias federais, estaduais e
Art. 320. A receita arrecadada com a cobrança das multas municipais. (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência)
de trânsito será aplicada, exclusivamente, em sinalização, enge- § 1o O objetivo geral do estabelecimento de metas é, ao
nharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e edu- final do prazo de dez anos, reduzir à metade, no mínimo, o ín-
cação de trânsito. dice nacional de mortos por grupo de veículos e o índice na-
§ 1º O percentual de cinco por cento do valor das multas de cional de mortos por grupo de habitantes, relativamente aos
trânsito arrecadadas será depositado, mensalmente, na conta de índices apurados no ano da entrada em vigor da lei que cria
fundo de âmbito nacional destinado à segurança e educação de o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito
trânsito. (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) (Pnatrans). (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência)

35
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 2o As metas expressam a diferença a menor, em base III - pelos órgãos ou entidades executivos rodoviários e
percentual, entre os índices mais recentes, oficialmente apu- pelos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Municípios.
rados, e os índices que se pretende alcançar. (Incluído pela Lei (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência)
nº 13.614, de 2018) (Vigência) § 11. O cálculo dos índices, para cada Estado e para o Distrito
§ 3o A decisão que fixar as metas anuais estabelecerá as Federal, será feito pelo órgão máximo executivo de trânsito da
respectivas margens de tolerância. (Incluído pela Lei nº 13.614, União, ouvidos o Departamento de Polícia Rodoviária Federal e
de 2018) (Vigência) demais órgãos do Sistema Nacional de Trânsito. (Incluído pela Lei
§ 4o As metas serão fixadas pelo Contran para cada um nº 13.614, de 2018) (Vigência)
dos Estados da Federação e para o Distrito Federal, mediante § 12. Os índices serão divulgados oficialmente até o dia 31
propostas fundamentadas dos Cetran, do Contrandife e do de março de cada ano. (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vi-
Departamento de Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das gência)
respectivas circunscrições. (Incluído pela Lei nº 13.614, de § 13. Com base em índices parciais, apurados no decorrer do
2018) (Vigência) ano, o Contran, os Cetran e o Contrandife poderão recomendar
§ 5o Antes de submeterem as propostas ao Contran, os aos integrantes do Sistema Nacional de Trânsito alterações nas
Cetran, o Contrandife e o Departamento de Polícia Rodoviária ações, projetos e programas em desenvolvimento ou previstos,
Federal realizarão consulta ou audiência pública para mani- com o fim de atingir as metas fixadas para cada um dos Estados
festação da sociedade sobre as metas a serem propostas. (In- e para o Distrito Federal. (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018)
cluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência) (Vigência)
§ 6o As propostas dos Cetran, do Contrandife e do Depar- § 14. A partir da análise de desempenho a que se refere o §
tamento de Polícia Rodoviária Federal serão encaminhadas ao 7o deste artigo, o Contran elaborará e divulgará, também durante
Contran até o dia 1o de agosto de cada ano, acompanhadas a Semana Nacional de Trânsito: (Incluído pela Lei nº 13.614, de
de relatório analítico a respeito do cumprimento das metas 2018) (Vigência)
fixadas para o ano anterior e de exposição de ações, projetos I - duas classificações ordenadas dos Estados e do Distrito
ou programas, com os respectivos orçamentos, por meio dos Federal, uma referente ao ano analisado e outra que considere
quais se pretende cumprir as metas propostas para o ano se- a evolução do desempenho dos Estados e do Distrito Federal
guinte. (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência) desde o início das análises; (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018)
§ 7o As metas fixadas serão divulgadas em setembro, (Vigência)
durante a Semana Nacional de Trânsito, assim como o de- II - relatório a respeito do cumprimento do objetivo geral do
sempenho, absoluto e relativo, de cada Estado e do Distrito estabelecimento de metas previsto no § 1o deste artigo. (Incluído
Federal no cumprimento das metas vigentes no ano anterior, pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência)
detalhados os dados levantados e as ações realizadas por Art. 327. A partir da publicação deste Código, somente po-
vias federais, estaduais e municipais, devendo tais informa- derão ser fabricados e licenciados veículos que obedeçam aos
ções permanecer à disposição do público na rede mundial de limites de peso e dimensões fixados na forma desta Lei, ressalva-
computadores, em sítio eletrônico do órgão máximo executi- dos os que vierem a ser regulamentados pelo CONTRAN.
vo de trânsito da União. (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) Parágrafo único. (VETADO)
(Vigência) Art. 328. O veículo apreendido ou removido a qualquer título
§ 8o O Contran, ouvidos o Departamento de Polícia Rodo- e não reclamado por seu proprietário dentro do prazo de sessen-
viária Federal e demais órgãos do Sistema Nacional de Trân- ta dias, contado da data de recolhimento, será avaliado e levado a
sito, definirá as fórmulas para apuração dos índices de que leilão, a ser realizado preferencialmente por meio eletrônico. (Re-
trata este artigo, assim como a metodologia para a coleta e o dação dada pela Lei nº 13.160, de 2015)
tratamento dos dados estatísticos necessários para a compo- § 1o Publicado o edital do leilão, a preparação poderá ser
sição dos termos das fórmulas. (Incluído pela Lei nº 13.614, de iniciada após trinta dias, contados da data de recolhimento do
2018) (Vigência) veículo, o qual será classificado em duas categorias: (Incluído pela
§ 9o Os dados estatísticos coletados em cada Estado e no Lei nº 13.160, de 2015)
Distrito Federal serão tratados e consolidados pelo respectivo I – conservado, quando apresenta condições de segurança
órgão ou entidade executivos de trânsito, que os repassará ao para trafegar; e (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
órgão máximo executivo de trânsito da União até o dia 1o de II – sucata, quando não está apto a trafegar. (Incluído pela Lei
março, por meio do sistema de registro nacional de acidentes nº 13.160, de 2015)
e estatísticas de trânsito. (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) § 2o Se não houver oferta igual ou superior ao valor da avalia-
(Vigência) ção, o lote será incluído no leilão seguinte, quando será arremata-
§ 10. Os dados estatísticos sujeitos à consolidação pelo do pelo maior lance, desde que por valor não inferior a cinquenta
órgão ou entidade executivos de trânsito do Estado ou do por cento do avaliado. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
Distrito Federal compreendem os coletados naquela circuns- § 3o Mesmo classificado como conservado, o veículo que for
crição: (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência) levado a leilão por duas vezes e não for arrematado será leiloado
I - pela Polícia Rodoviária Federal e pelo órgão executi- como sucata. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
vo rodoviário da União; (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) § 4o É vedado o retorno do veículo leiloado como sucata à
(Vigência) circulação. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
II - pela Polícia Militar e pelo órgão ou entidade execu- § 5o A cobrança das despesas com estada no depósito será
tivos rodoviários do Estado ou do Distrito Federal; (Incluído limitada ao prazo de seis meses. (Incluído pela Lei nº 13.160, de
pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência) 2015)

36
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 6o Os valores arrecadados em leilão deverão ser utilizados § 16. Os veículos, sucatas e materiais inservíveis de bens au-
para custeio da realização do leilão, dividindo-se os custos entre os tomotores que se encontrarem nos depósitos há mais de 1 (um)
veículos arrematados, proporcionalmente ao valor da arrematação, ano poderão ser destinados à reciclagem, independentemente
e destinando-se os valores remanescentes, na seguinte ordem, para: da existência de restrições sobre o veículo. (Incluído pela Lei nº
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) 13.281, de 2016) (Vigência)
I – as despesas com remoção e estada; (Incluído pela Lei nº § 17. O procedimento de hasta pública na hipótese do §
13.160, de 2015) 16 será realizado por lote de tonelagem de material ferroso, ob-
II – os tributos vinculados ao veículo, na forma do § 10; (Incluído servando-se, no que couber, o disposto neste artigo, condicio-
pela Lei nº 13.160, de 2015) nando-se a entrega do material arrematado aos procedimentos
III – os credores trabalhistas, tributários e titulares de crédito necessários à descaracterização total do bem e à destinação ex-
com garantia real, segundo a ordem de preferência estabelecida clusiva, ambientalmente adequada, à reciclagem siderúrgica, ve-
no art. 186 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tribu- dado qualquer aproveitamento de peças e partes. (Incluído pela
tário Nacional); (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
IV – as multas devidas ao órgão ou à entidade responsável pelo § 18. Os veículos sinistrados irrecuperáveis queimados, adul-
leilão; (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) terados ou estrangeiros, bem como aqueles sem possibilidade
V – as demais multas devidas aos órgãos integrantes do Siste- de regularização perante o órgão de trânsito, serão destinados à
ma Nacional de Trânsito, segundo a ordem cronológica; e (Incluído reciclagem, independentemente do período em que estejam em
pela Lei nº 13.160, de 2015) depósito, respeitado o prazo previsto no caput deste artigo, sem-
VI – os demais créditos, segundo a ordem de preferência legal. pre que a autoridade responsável pelo leilão julgar ser essa a me-
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) dida apropriada. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
§ 7o Sendo insuficiente o valor arrecadado para quitar os débi- Art. 329. Os condutores dos veículos de que tratam os arts.
tos incidentes sobre o veículo, a situação será comunicada aos cre- 135 e 136, para exercerem suas atividades, deverão apresentar,
dores. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) previamente, certidão negativa do registro de distribuição crimi-
§ 8o Os órgãos públicos responsáveis serão comunicados do nal relativamente aos crimes de homicídio, roubo, estupro e cor-
leilão previamente para que formalizem a desvinculação dos ônus rupção de menores, renovável a cada cinco anos, junto ao órgão
incidentes sobre o veículo no prazo máximo de dez dias. (Incluído responsável pela respectiva concessão ou autorização.
pela Lei nº 13.160, de 2015) Art. 330. Os estabelecimentos onde se executem reformas
§ 9o Os débitos incidentes sobre o veículo antes da alienação ou recuperação de veículos e os que comprem, vendam ou des-
administrativa ficam dele automaticamente desvinculados, sem montem veículos, usados ou não, são obrigados a possuir livros
prejuízo da cobrança contra o proprietário anterior. (Incluído pela Lei de registro de seu movimento de entrada e saída e de uso de
nº 13.160, de 2015) placas de experiência, conforme modelos aprovados e rubrica-
§ 10. Aplica-se o disposto no § 9o inclusive ao débito relativo a dos pelos órgãos de trânsito.
tributo cujo fato gerador seja a propriedade, o domínio útil, a pos- § 1º Os livros indicarão:
se, a circulação ou o licenciamento de veículo. (Incluído pela Lei nº I - data de entrada do veículo no estabelecimento;
13.160, de 2015) II - nome, endereço e identidade do proprietário ou vendedor;
§ 11. Na hipótese de o antigo proprietário reaver o veículo, por III - data da saída ou baixa, nos casos de desmontagem;
qualquer meio, os débitos serão novamente vinculados ao bem, IV - nome, endereço e identidade do comprador;
aplicando-se, nesse caso, o disposto nos §§ 1o, 2o e 3o do art. 271. V - características do veículo constantes do seu certificado
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) de registro;
§ 12. Quitados os débitos, o saldo remanescente será depositado VI - número da placa de experiência.
em conta específica do órgão responsável pela realização do leilão e § 2º Os livros terão suas páginas numeradas tipografica-
ficará à disposição do antigo proprietário, devendo ser expedida no- mente e serão encadernados ou em folhas soltas, sendo que, no
tificação a ele, no máximo em trinta dias após a realização do leilão, primeiro caso, conterão termo de abertura e encerramento la-
para o levantamento do valor no prazo de cinco anos, após os quais vrados pelo proprietário e rubricados pela repartição de trânsito,
o valor será transferido, definitivamente, para o fundo a que se refere enquanto, no segundo, todas as folhas serão autenticadas pela
o parágrafo único do art. 320. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) repartição de trânsito.
§ 13. Aplica-se o disposto neste artigo, no que couber, ao animal § 3º A entrada e a saída de veículos nos estabelecimentos
recolhido, a qualquer título, e não reclamado por seu proprietário no referidos neste artigo registrar-se-ão no mesmo dia em que se
prazo de sessenta dias, a contar da data de recolhimento, conforme verificarem assinaladas, inclusive, as horas a elas corresponden-
regulamentação do CONTRAN. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) tes, podendo os veículos irregulares lá encontrados ou suas suca-
§ 14. Se identificada a existência de restrição policial ou judicial tas ser apreendidos ou retidos para sua completa regularização.
sobre o prontuário do veículo, a autoridade responsável pela restri- § 4º As autoridades de trânsito e as autoridades policiais
ção será notificada para a retirada do bem do depósito, mediante terão acesso aos livros sempre que o solicitarem, não podendo,
a quitação das despesas com remoção e estada, ou para a autori- entretanto, retirá-los do estabelecimento.
zação do leilão nos termos deste artigo. (Redação dada pela Lei nº § 5º A falta de escrituração dos livros, o atraso, a fraude ao
13.281, de 2016) (Vigência) realizá-lo e a recusa de sua exibição serão punidas com a multa
§ 15. Se no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da notificação prevista para as infrações gravíssimas, independente das demais
de que trata o § 14, não houver manifestação da autoridade res- cominações legais cabíveis.
ponsável pela restrição judicial ou policial, estará o órgão de trânsito § 6o Os livros previstos neste artigo poderão ser subs-
autorizado a promover o leilão do veículo nos termos deste artigo. tituídos por sistema eletrônico, na forma regulamentada
(Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) pelo Contran. (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015)

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 331. Até a nomeação e posse dos membros que Art. 341. Ficam revogadas as Leis nºs 5.108, de 21 de se-
passarão a integrar os colegiados destinados ao julgamen- tembro de 1966, 5.693, de 16 de agosto de 1971, 5.820, de 10
to dos recursos administrativos previstos na Seção II do Ca- de novembro de 1972, 6.124, de 25 de outubro de 1974, 6.308,
pítulo XVIII deste Código, o julgamento dos recursos ficará de 15 de dezembro de 1975,6.369, de 27 de outubro de
a cargo dos órgãos ora existentes. 1976, 6.731, de 4 de dezembro de 1979, 7.031, de 20 de setem-
Art. 332. Os órgãos e entidades integrantes do Siste- bro de 1982, 7.052, de 02 de dezembro de 1982, 8.102, de 10 de
ma Nacional de Trânsito proporcionarão aos membros do dezembro de 1990, os arts. 1º a 6º e 11 do Decreto-lei nº 237,
CONTRAN, CETRAN e CONTRANDIFE, em serviço, todas as de 28 de fevereiro de 1967, e os Decretos-leis nºs 584, de 16 de
facilidades para o cumprimento de sua missão, fornecen- maio de 1969, 912, de 2 de outubro de 1969, e 2.448, de 21 de
do-lhes as informações que solicitarem, permitindo-lhes julho de 1988.
inspecionar a execução de quaisquer serviços e deverão Brasília, 23 de setembro de 1997; 176º da Independência e
atender prontamente suas requisições. 109º da República.
Art. 333. O CONTRAN estabelecerá, em até cento e FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
vinte dias após a nomeação de seus membros, as disposi- Iris Rezende 
ções previstas nos arts. 91 e 92, que terão de ser atendidas Eliseu Padilha
pelos órgãos e entidades executivos de trânsito e executi- Este texto não substitui o publicado no DOU de 24.9.1997
vos rodoviários para exercerem suas competências. e retificado em 25.9.1997
§ 1º Os órgãos e entidades de trânsito já existentes
terão prazo de um ano, após a edição das normas, para se ANEXO I
adequarem às novas disposições estabelecidas pelo CON- DOS CONCEITOS E DEFINIÇÕES
TRAN, conforme disposto neste artigo. Para efeito deste Código adotam-se as seguintes defini-
§ 2º Os órgãos e entidades de trânsito a serem cria- ções:
dos exercerão as competências previstas neste Código em ACOSTAMENTO - parte da via diferenciada da pista de
cumprimento às exigências estabelecidas pelo CONTRAN, rolamento destinada à parada ou estacionamento de veículos,
em caso de emergência, e à circulação de pedestres e bicicletas,
conforme disposto neste artigo, acompanhados pelo res-
quando não houver local apropriado para esse fim.
pectivo CETRAN, se órgão ou entidade municipal, ou CON-
AGENTE DA AUTORIDADE DE TRÂNSITO - pessoa, civil ou
TRAN, se órgão ou entidade estadual, do Distrito Federal
policial militar, credenciada pela autoridade de trânsito para o
ou da União, passando a integrar o Sistema Nacional de
exercício das atividades de fiscalização, operação, policiamento
Trânsito.
ostensivo de trânsito ou patrulhamento.
Art. 334. As ondulações transversais existentes deve-
AR ALVEOLAR - ar expirado pela boca de um indivíduo, origi-
rão ser homologadas pelo órgão ou entidade competente
nário dos alvéolos pulmonares. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
no prazo de um ano, a partir da publicação deste Código, AUTOMÓVEL - veículo automotor destinado ao transporte
devendo ser retiradas em caso contrário. de passageiros, com capacidade para até oito pessoas, exclusive
Art. 335. (VETADO) o condutor.
Art. 336. Aplicam-se os sinais de trânsito previstos no AUTORIDADE DE TRÂNSITO - dirigente máximo de órgão
Anexo II até a aprovação pelo CONTRAN, no prazo de tre- ou entidade executivo integrante do Sistema Nacional de Trân-
zentos e sessenta dias da publicação desta Lei, após a ma- sito ou pessoa por ele expressamente credenciada.
nifestação da Câmara Temática de Engenharia, de Vias e BALANÇO TRASEIRO - distância entre o plano vertical pas-
Veículos e obedecidos os padrões internacionais. sando pelos centros das rodas traseiras extremas e o ponto mais
Art. 337. Os CETRAN terão suporte técnico e financeiro recuado do veículo, considerando-se todos os elementos rigi-
dos Estados e Municípios que os compõem e, o CONTRAN- damente fixados ao mesmo.
DIFE, do Distrito Federal. BICICLETA - veículo de propulsão humana, dotado de duas
Art. 338. As montadoras, encarroçadoras, os importa- rodas, não sendo, para efeito deste Código, similar à motocicle-
dores e fabricantes, ao comerciarem veículos automotores ta, motoneta e ciclomotor.
de qualquer categoria e ciclos, são obrigados a fornecer, BICICLETÁRIO - local, na via ou fora dela, destinado ao es-
no ato da comercialização do respectivo veículo, manual tacionamento de bicicletas.
contendo normas de circulação, infrações, penalidades, di- BONDE - veículo de propulsão elétrica que se move sobre
reção defensiva, primeiros socorros e Anexos do Código de trilhos.
Trânsito Brasileiro. BORDO DA PISTA - margem da pista, podendo ser demar-
Art. 339. Fica o Poder Executivo autorizado a abrir cré- cada por linhas longitudinais de bordo que delineiam a parte da
dito especial no valor de R$ 264.954,00 (duzentos e sessen- via destinada à circulação de veículos.
ta e quatro mil, novecentos e cinquenta e quatro reais), em CALÇADA - parte da via, normalmente segregada e em ní-
favor do ministério ou órgão a que couber a coordenação vel diferente, não destinada à circulação de veículos, reservada
máxima do Sistema Nacional de Trânsito, para atender as ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de
despesas decorrentes da implantação deste Código. mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins.
Art. 340. Este Código entra em vigor cento e vinte dias CAMINHÃO-TRATOR - veículo automotor destinado a tra-
após a data de sua publicação. cionar ou arrastar outro.
CAMINHONETE - veículo destinado ao transporte de carga
com peso bruto total de até três mil e quinhentos quilogramas.

38
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

CAMIONETA - veículo misto destinado ao transporte de FREIO DE ESTACIONAMENTO - dispositivo destinado a


passageiros e carga no mesmo compartimento. manter o veículo imóvel na ausência do condutor ou, no caso de
CANTEIRO CENTRAL - obstáculo físico construído como um reboque, se este se encontra desengatado.
separador de duas pistas de rolamento, eventualmente substi- FREIO DE SEGURANÇA OU MOTOR - dispositivo destinado a
tuído por marcas viárias (canteiro fictício). diminuir a marcha do veículo no caso de falha do freio de serviço.
CAPACIDADE MÁXIMA DE TRAÇÃO - máximo peso que a FREIO DE SERVIÇO - dispositivo destinado a provocar a di-
unidade de tração é capaz de tracionar, indicado pelo fabricante, minuição da marcha do veículo ou pará-lo.
baseado em condições sobre suas limitações de geração e mul- GESTOS DE AGENTES - movimentos convencionais de bra-
tiplicação de momento de força e resistência dos elementos que ço, adotados exclusivamente pelos agentes de autoridades de
compõem a transmissão. trânsito nas vias, para orientar, indicar o direito de passagem dos
CARREATA - deslocamento em fila na via de veículos au- veículos ou pedestres ou emitir ordens, sobrepondo-se ou com-
tomotores em sinal de regozijo, de reivindicação, de protesto pletando outra sinalização ou norma constante deste Código.
cívico ou de uma classe. GESTOS DE CONDUTORES - movimentos convencionais de
CARRO DE MÃO - veículo de propulsão humana utilizado braço, adotados exclusivamente pelos condutores, para orientar
no transporte de pequenas cargas. ou indicar que vão efetuar uma manobra de mudança de direção,
CARROÇA - veículo de tração animal destinado ao trans- redução brusca de velocidade ou parada.
porte de carga. ILHA - obstáculo físico, colocado na pista de rolamento, des-
CATADIÓPTRICO - dispositivo de reflexão e refração da luz tinado à ordenação dos fluxos de trânsito em uma interseção.
utilizado na sinalização de vias e veículos (olho-de-gato). INFRAÇÃO - inobservância a qualquer preceito da legislação
CHARRETE - veículo de tração animal destinado ao trans- de trânsito, às normas emanadas do Código de Trânsito, do Con-
porte de pessoas. selho Nacional de Trânsito e a regulamentação estabelecida pelo
CICLO - veículo de pelo menos duas rodas a propulsão hu- órgão ou entidade executiva do trânsito.
mana. INTERSEÇÃO - todo cruzamento em nível, entroncamento
CICLOFAIXA - parte da pista de rolamento destinada à cir- ou bifurcação, incluindo as áreas formadas por tais cruzamentos,
culação exclusiva de ciclos, delimitada por sinalização específica. entroncamentos ou bifurcações.
CICLOMOTOR - veículo de duas ou três rodas, provido de INTERRUPÇÃO DE MARCHA - imobilização do veículo para
um motor de combustão interna, cuja cilindrada não exceda a atender circunstância momentânea do trânsito.
cinquenta centímetros cúbicos (3,05 polegadas cúbicas) e cuja LICENCIAMENTO - procedimento anual, relativo a obriga-
velocidade máxima de fabricação não exceda a cinquenta qui- ções do proprietário de veículo, comprovado por meio de docu-
lômetros por hora. mento específico (Certificado de Licenciamento Anual).
CICLOVIA - pista própria destinada à circulação de ciclos, LOGRADOURO PÚBLICO - espaço livre destinado pela mu-
separada fisicamente do tráfego comum. nicipalidade à circulação, parada ou estacionamento de veículos,
CONVERSÃO - movimento em ângulo, à esquerda ou à ou à circulação de pedestres, tais como calçada, parques, áreas de
direita, de mudança da direção original do veículo. lazer, calçadões.
CRUZAMENTO - interseção de duas vias em nível. LOTAÇÃO - carga útil máxima, incluindo condutor e passa-
DISPOSITIVO DE SEGURANÇA - qualquer elemento que geiros, que o veículo transporta, expressa em quilogramas para
tenha a função específica de proporcionar maior segurança ao os veículos de carga, ou número de pessoas, para os veículos de
usuário da via, alertando-o sobre situações de perigo que pos- passageiros.
sam colocar em risco sua integridade física e dos demais usuá- LOTE LINDEIRO - aquele situado ao longo das vias urbanas
rios da via, ou danificar seriamente o veículo. ou rurais e que com elas se limita.
ESTACIONAMENTO - imobilização de veículos por tempo LUZ ALTA - facho de luz do veículo destinado a iluminar a via
superior ao necessário para embarque ou desembarque de pas- até uma grande distância do veículo.
sageiros. LUZ BAIXA - facho de luz do veículo destinada a iluminar a
ESTRADA - via rural não pavimentada. via diante do veículo, sem ocasionar ofuscamento ou incômodo
ETILÔMETRO - aparelho destinado à medição do teor al- injustificáveis aos condutores e outros usuários da via que ve-
coólico no ar alveolar. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) nham em sentido contrário.
FAIXAS DE DOMÍNIO - superfície lindeira às vias rurais, de- LUZ DE FREIO - luz do veículo destinada a indicar aos demais
limitada por lei específica e sob responsabilidade do órgão ou usuários da via, que se encontram atrás do veículo, que o condu-
entidade de trânsito competente com circunscrição sobre a via. tor está aplicando o freio de serviço.
FAIXAS DE TRÂNSITO - qualquer uma das áreas longitudi- LUZ INDICADORA DE DIREÇÃO (pisca-pisca) - luz do veículo
nais em que a pista pode ser subdividida, sinalizada ou não por destinada a indicar aos demais usuários da via que o condutor
marcas viárias longitudinais, que tenham uma largura suficiente tem o propósito de mudar de direção para a direita ou para a
para permitir a circulação de veículos automotores. esquerda.
FISCALIZAÇÃO - ato de controlar o cumprimento das nor- LUZ DE MARCHA À RÉ - luz do veículo destinada a ilumi-
mas estabelecidas na legislação de trânsito, por meio do poder nar atrás do veículo e advertir aos demais usuários da via que o
de polícia administrativa de trânsito, no âmbito de circunscrição veículo está efetuando ou a ponto de efetuar uma manobra de
dos órgãos e entidades executivos de trânsito e de acordo com marcha à ré.
as competências definidas neste Código. LUZ DE NEBLINA - luz do veículo destinada a aumentar a
FOCO DE PEDESTRES - indicação luminosa de permissão iluminação da via em caso de neblina, chuva forte ou nuvens
ou impedimento de locomoção na faixa apropriada. de pó.

39
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

LUZ DE POSIÇÃO (lanterna) - luz do veículo destinada a indi- PISCA-ALERTA - luz intermitente do veículo, utilizada em
car a presença e a largura do veículo. caráter de advertência, destinada a indicar aos demais usuários
MANOBRA - movimento executado pelo condutor para alte- da via que o veículo está imobilizado ou em situação de emer-
rar a posição em que o veículo está no momento em relação à via. gência.
MARCAS VIÁRIAS - conjunto de sinais constituídos de linhas, PISTA - parte da via normalmente utilizada para a circula-
marcações, símbolos ou legendas, em tipos e cores diversas, apos- ção de veículos, identificada por elementos separadores ou por
tos ao pavimento da via. diferença de nível em relação às calçadas, ilhas ou aos canteiros
MICROÔNIBUS - veículo automotor de transporte coletivo centrais.
com capacidade para até vinte passageiros. PLACAS - elementos colocados na posição vertical, fixados
MOTOCICLETA - veículo automotor de duas rodas, com ou ao lado ou suspensos sobre a pista, transmitindo mensagens
sem side-car, dirigido por condutor em posição montada. de caráter permanente e, eventualmente, variáveis, mediante
MOTONETA - veículo automotor de duas rodas, dirigido por símbolo ou legendas pré-reconhecidas e legalmente instituídas
condutor em posição sentada. como sinais de trânsito.
MOTOR-CASA (MOTOR-HOME) - veículo automotor cuja POLICIAMENTO OSTENSIVO DE TRÂNSITO - função exerci-
carroçaria seja fechada e destinada a alojamento, escritório, co- da pelas Polícias Militares com o objetivo de prevenir e reprimir
mércio ou finalidades análogas. atos relacionados com a segurança pública e de garantir obe-
NOITE - período do dia compreendido entre o pôr-do-sol e diência às normas relativas à segurança de trânsito, assegurando
o nascer do sol. a livre circulação e evitando acidentes.
ÔNIBUS - veículo automotor de transporte coletivo com ca- PONTE - obra de construção civil destinada a ligar margens
pacidade para mais de vinte passageiros, ainda que, em virtude opostas de uma superfície líquida qualquer.
de adaptações com vista à maior comodidade destes, transporte REBOQUE - veículo destinado a ser engatado atrás de um
número menor. veículo automotor.
OPERAÇÃO DE CARGA E DESCARGA - imobilização do veí- REGULAMENTAÇÃO DA VIA - implantação de sinalização
culo, pelo tempo estritamente necessário ao carregamento ou de regulamentação pelo órgão ou entidade competente com
descarregamento de animais ou carga, na forma disciplinada pelo circunscrição sobre a via, definindo, entre outros, sentido de di-
órgão ou entidade executivo de trânsito competente com circuns- reção, tipo de estacionamento, horários e dias.
crição sobre a via. REFÚGIO - parte da via, devidamente sinalizada e protegida,
OPERAÇÃO DE TRÂNSITO - monitoramento técnico baseado destinada ao uso de pedestres durante a travessia da mesma.
nos conceitos de Engenharia de Tráfego, das condições de fluidez, RENACH - Registro Nacional de Condutores Habilitados.
de estacionamento e parada na via, de forma a reduzir as interfe- RENAVAM - Registro Nacional de Veículos Automotores.
rências tais como veículos quebrados, acidentados, estacionados RETORNO - movimento de inversão total de sentido da di-
irregularmente atrapalhando o trânsito, prestando socorros ime- reção original de veículos.
diatos e informações aos pedestres e condutores. RODOVIA - via rural pavimentada.
PARADA - imobilização do veículo com a finalidade e pelo SEMI-REBOQUE - veículo de um ou mais eixos que se apóia
tempo estritamente necessário para efetuar embarque ou desem- na sua unidade tratora ou é a ela ligado por meio de articulação.
barque de passageiros. SINAIS DE TRÂNSITO - elementos de sinalização viária que
PASSAGEM DE NÍVEL - todo cruzamento de nível entre uma se utilizam de placas, marcas viárias, equipamentos de contro-
via e uma linha férrea ou trilho de bonde com pista própria. le luminosos, dispositivos auxiliares, apitos e gestos, destinados
PASSAGEM POR OUTRO VEÍCULO - movimento de passa- exclusivamente a ordenar ou dirigir o trânsito dos veículos e pe-
gem à frente de outro veículo que se desloca no mesmo sentido, destres.
em menor velocidade, mas em faixas distintas da via. SINALIZAÇÃO - conjunto de sinais de trânsito e dispositi-
PASSAGEM SUBTERRÂNEA - obra de arte destinada à trans- vos de segurança colocados na via pública com o objetivo de
posição de vias, em desnível subterrâneo, e ao uso de pedestres garantir sua utilização adequada, possibilitando melhor fluidez
ou veículos. no trânsito e maior segurança dos veículos e pedestres que nela
PASSARELA - obra de arte destinada à transposição de vias, circulam.
em desnível aéreo, e ao uso de pedestres. SONS POR APITO - sinais sonoros, emitidos exclusivamente
PASSEIO - parte da calçada ou da pista de rolamento, neste pelos agentes da autoridade de trânsito nas vias, para orientar
último caso, separada por pintura ou elemento físico separador, li- ou indicar o direito de passagem dos veículos ou pedestres, so-
vre de interferências, destinada à circulação exclusiva de pedestres brepondo-se ou completando sinalização existente no local ou
e, excepcionalmente, de ciclistas. norma estabelecida neste Código.
PATRULHAMENTO - função exercida pela Polícia Rodoviária TARA - peso próprio do veículo, acrescido dos pesos da car-
Federal com o objetivo de garantir obediência às normas de trân- roçaria e equipamento, do combustível, das ferramentas e aces-
sito, assegurando a livre circulação e evitando acidentes. sórios, da roda sobressalente, do extintor de incêndio e do fluido
PERÍMETRO URBANO - limite entre área urbana e área rural. de arrefecimento, expresso em quilogramas.
PESO BRUTO TOTAL - peso máximo que o veículo transmite TRAILER - reboque ou semi-reboque tipo casa, com duas,
ao pavimento, constituído da soma da tara mais a lotação. quatro, ou seis rodas, acoplado ou adaptado à traseira de auto-
PESO BRUTO TOTAL COMBINADO - peso máximo transmi- móvel ou camionete, utilizado em geral em atividades turísticas
tido ao pavimento pela combinação de um caminhão-trator mais como alojamento, ou para atividades comerciais.
seu semi-reboque ou do caminhão mais o seu reboque ou rebo- TRÂNSITO - movimentação e imobilização de veículos, pes-
ques. soas e animais nas vias terrestres.

40
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

TRANSPOSIÇÃO DE FAIXAS - passagem de um veículo de


uma faixa demarcada para outra.
2.5.13 LEI Nº 9.605/1998 (LEI DO MEIO AM-
TRATOR - veículo automotor construído para realizar trabalho
BIENTE): ARTIGOS 32, 42 E 65;
agrícola, de construção e pavimentação e tracionar outros veículos
e equipamentos.
ULTRAPASSAGEM - movimento de passar à frente de outro
LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998.
veículo que se desloca no mesmo sentido, em menor velocidade
e na mesma faixa de tráfego, necessitando sair e retornar à faixa de
origem. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas deri-
UTILITÁRIO - veículo misto caracterizado pela versatilidade do vadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e
seu uso, inclusive fora de estrada. dá outras providências.
VEÍCULO ARTICULADO - combinação de veículos acoplados,
sendo um deles automotor. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
VEÍCULO AUTOMOTOR - todo veículo a motor de propulsão gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para
o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de
CAPÍTULO I
veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo
compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não DISPOSIÇÕES GERAIS
circulam sobre trilhos (ônibus elétrico).
VEÍCULO DE CARGA - veículo destinado ao transporte de car- Art. 1º (VETADO)
ga, podendo transportar dois passageiros, exclusive o condutor. Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prá-
VEÍCULO DE COLEÇÃO - aquele que, mesmo tendo sido fabri- tica dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes
cado há mais de trinta anos, conserva suas características originais cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o
de fabricação e possui valor histórico próprio. diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão
VEÍCULO CONJUGADO - combinação de veículos, sendo o
técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de
primeiro um veículo automotor e os demais reboques ou equipa-
pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de ou-
mentos de trabalho agrícola, construção, terraplenagem ou pavi-
mentação. trem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir
VEÍCULO DE GRANDE PORTE - veículo automotor destinado para evitá-la.
ao transporte de carga com peso bruto total máximo superior a dez Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas ad-
mil quilogramas e de passageiros, superior a vinte passageiros. ministrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta
VEÍCULO DE PASSAGEIROS - veículo destinado ao transporte Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão
de pessoas e suas bagagens. de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão
VEÍCULO MISTO - veículo automotor destinado ao transporte colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
simultâneo de carga e passageiro.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídi-
VIA - superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais,
cas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou
compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro
central. partícipes do mesmo fato.
VIA DE TRÂNSITO RÁPIDO - aquela caracterizada por acessos Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sem-
especiais com trânsito livre, sem interseções em nível, sem acessibili- pre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento
dade direta aos lotes lindeiros e sem travessia de pedestres em nível. de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.
VIA ARTERIAL - aquela caracterizada por interseções em nível, Art. 5º (VETADO)
geralmente controlada por semáforo, com acessibilidade aos lotes
lindeiros e às vias secundárias e locais, possibilitando o trânsito entre CAPÍTULO II
as regiões da cidade.
DA APLICAÇÃO DA PENA
VIA COLETORA - aquela destinada a coletar e distribuir o trân-
sito que tenha necessidade de entrar ou sair das vias de trânsito
rápido ou arteriais, possibilitando o trânsito dentro das regiões da Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a au-
cidade. toridade competente observará:
VIA LOCAL - aquela caracterizada por interseções em nível não I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da
semaforizadas, destinada apenas ao acesso local ou a áreas restritas. infração e suas consequências para a saúde pública e para
VIA RURAL - estradas e rodovias. o meio ambiente;
VIA URBANA - ruas, avenidas, vielas, ou caminhos e similares II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento
abertos à circulação pública, situados na área urbana, caracterizados da legislação de interesse ambiental;
principalmente por possuírem imóveis edificados ao longo de sua
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.
extensão.
Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e
VIAS E ÁREAS DE PEDESTRES - vias ou conjunto de vias desti-
nadas à circulação prioritária de pedestres. substituem as privativas de liberdade quando:
VIADUTO - obra de construção civil destinada a transpor uma I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena
depressão de terreno ou servir de passagem superior. privativa de liberdade inferior a quatro anos;

41
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e e) atingindo áreas de unidades de conservação ou


a personalidade do condenado, bem como os motivos e as áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial
circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja de uso;
suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime. f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamen-
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se tos humanos;
g) em período de defeso à fauna;
refere este artigo terão a mesma duração da pena privativa
h) em domingos ou feriados;
de liberdade substituída.
i) à noite;
Art. 8º As penas restritivas de direito são:
j) em épocas de seca ou inundações;
I - prestação de serviços à comunidade;
l) no interior do espaço territorial especialmente pro-
II - interdição temporária de direitos;
tegido;
III - suspensão parcial ou total de atividades;
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou
IV - prestação pecuniária;
captura de animais;
V - recolhimento domiciliar.
n) mediante fraude ou abuso de confiança;
Art. 9º A prestação de serviços à comunidade consis-
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou
te na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a
autorização ambiental;
parques e jardins públicos e unidades de conservação, e,
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou
no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada,
parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por in-
na restauração desta, se possível.
centivos fiscais;
Art. 10. As penas de interdição temporária de direito
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relató-
são a proibição de o condenado contratar com o Poder
rios oficiais das autoridades competentes;
Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros
r) facilitada por funcionário público no exercício de
benefícios, bem como de participar de licitações, pelo pra-
suas funções.
zo de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos,
Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão
no de crimes culposos.
condicional da pena pode ser aplicada nos casos de con-
Art. 11. A suspensão de atividades será aplicada quan-
denação a pena privativa de liberdade não superior a três
do estas não estiverem obedecendo às prescrições legais.
anos.
Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento
Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o §
em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com
2º do art. 78 do Código Penal será feita mediante laudo
fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a
de reparação do dano ambiental, e as condições a serem
um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta sa-
impostas pelo juiz deverão relacionar-se com a proteção ao
lários mínimos. O valor pago será deduzido do montante
meio ambiente.
de eventual reparação civil a que for condenado o infrator.
Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do
Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na au-
Código Penal; se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no
todisciplina e senso de responsabilidade do condenado,
valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo
que deverá, sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou
em vista o valor da vantagem econômica auferida.
exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos
Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental,
dias e horários de folga em residência ou em qualquer local
sempre que possível, fixará o montante do prejuízo causa-
destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido
do para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.
na sentença condenatória.
Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil
Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:
ou no juízo cível poderá ser aproveitada no processo penal,
I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
instaurando-se o contraditório.
II - arrependimento do infrator, manifestado pela es-
Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que
pontânea reparação do dano, ou limitação significativa da
possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos
degradação ambiental causada;
causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminen-
pelo ofendido ou pelo meio ambiente.
te de degradação ambiental;
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença con-
IV - colaboração com os agentes encarregados da vigi-
denatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor fixado
lância e do controle ambiental.
nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para apu-
Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quan-
ração do dano efetivamente sofrido.
do não constituem ou qualificam o crime:
Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou al-
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;
ternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o dis-
II - ter o agente cometido a infração:
posto no art. 3º, são:
a) para obter vantagem pecuniária;
I - multa;
b) coagindo outrem para a execução material da in-
II - restritivas de direitos;
fração;
III - prestação de serviços à comunidade.
c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a
Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurí-
saúde pública ou o meio ambiente;
dica são:
d) concorrendo para danos à propriedade alheia;
I - suspensão parcial ou total de atividades;

42
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou CAPÍTULO IV


atividade; DA AÇÃO E DO PROCESSO PENAL
III - proibição de contratar com o Poder Público, bem
como dele obter subsídios, subvenções ou doações. Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação
§ 1º A suspensão de atividades será aplicada quando penal é pública incondicionada.
estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou Parágrafo único. (VETADO)
regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente. Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofen-
§ 2º A interdição será aplicada quando o estabeleci- sivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de
mento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26
autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde
violação de disposição legal ou regulamentar. que tenha havido a prévia composição do dano ambiental,
§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de com-
dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá provada impossibilidade.
exceder o prazo de dez anos. Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de
Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial
pessoa jurídica consistirá em: ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:
I - custeio de programas e de projetos ambientais; I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata
II - execução de obras de recuperação de áreas degra- o § 5° do artigo referido no caput, dependerá de laudo de
dadas; constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a
III - manutenção de espaços públicos; impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo;
IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar
públicas. não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão do
Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, pre- processo será prorrogado, até o período máximo previsto no
ponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocul- artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com sus-
tar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua pensão do prazo da prescrição;
liquidação forçada, seu patrimônio será considerado ins- III - no período de prorrogação, não se aplicarão as con-
trumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo dições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencionado
Penitenciário Nacional. no caput;
IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à la-
CAPÍTULO III vratura de novo laudo de constatação de reparação do dano
DA APREENSÃO DO PRODUTO E DO INSTRUMEN- ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente
TO DE INFRAÇÃO prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto
ADMINISTRATIVA OU DE CRIME no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III;
V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a decla-
Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus ração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de
produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos. constatação que comprove ter o acusado tomado as provi-
§ 1o Os animais serão prioritariamente libertados em dências necessárias à reparação integral do dano.
seu habitat ou, sendo tal medida inviável ou não recomen-
dável por questões sanitárias, entregues a jardins zoológi- CAPÍTULO V
cos, fundações ou entidades assemelhadas, para guarda e DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE
cuidados sob a responsabilidade de técnicos habilitados. Seção I
(Redação dada pela Lei nº 13.052, de 2014) Dos Crimes contra a Fauna
§ 2o Até que os animais sejam entregues às instituições
mencionadas no § 1o deste artigo, o órgão autuante zelará Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espéci-
para que eles sejam mantidos em condições adequadas de mes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a
acondicionamento e transporte que garantam o seu bem- devida permissão, licença ou autorização da autoridade com-
-estar físico. (Redação dada pela Lei nº 13.052, de 2014) petente, ou em desacordo com a obtida:
§ 3º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
serão estes avaliados e doados a instituições científicas, § 1º Incorre nas mesmas penas:
hospitalares, penais e outras com fins beneficentes. (Renu- I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, au-
merando do §2º para §3º pela Lei nº 13.052, de 2014) torização ou em desacordo com a obtida;
§ 4° Os produtos e subprodutos da fauna não perecí- II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou
veis serão destruídos ou doados a instituições científicas, criadouro natural;
culturais ou educacionais. (Renumerando do §3º para §4º III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire,
pela Lei nº 13.052, de 2014) guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta
§ 5º Os instrumentos utilizados na prática da infra- ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em
ção serão vendidos, garantida a sua descaracterização por rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos,
meio da reciclagem. (Renumerando do §4º para §5º pela Lei provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida
nº 13.052, de 2014) permissão, licença ou autorização da autoridade competente.

43
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espéci-
não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, consi- mes com tamanhos inferiores aos permitidos;
derando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou me-
§ 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles diante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e méto-
pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer dos não permitidos;
outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa
de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do terri- espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas.
tório brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. Art. 35. Pescar mediante a utilização de:
§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é pra- I - explosivos ou substâncias que, em contato com a
ticado: água, produzam efeito semelhante;
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela au-
extinção, ainda que somente no local da infração; toridade competente:
II - em período proibido à caça; Pena - reclusão de um ano a cinco anos.
III - durante a noite; Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo
IV - com abuso de licença; ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou
V - em unidade de conservação; capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, mo-
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capa- luscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aprovei-
zes de provocar destruição em massa. tamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de
§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decor- extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora.
re do exercício de caça profissional. Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realiza-
§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos do:
atos de pesca. I - em estado de necessidade, para saciar a fome do
Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de an- agente ou de sua família;
fíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação
ambiental competente:
predatória ou destruidora de animais, desde que legal e ex-
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
pressamente autorizado pela autoridade competente;
Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem pare-
III – (VETADO)
cer técnico oficial favorável e licença expedida por autori-
IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracteri-
dade competente:
zado pelo órgão competente.
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mu-
Seção II
tilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nati-
vos ou exóticos: Dos Crimes contra a Flora
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiên- Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de
cia dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins preservação permanente, mesmo que em formação, ou uti-
didáticos ou científicos, quando existirem recursos alterna- lizá-la com infringência das normas de proteção:
tivos. Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se as penas cumulativamente.
ocorre morte do animal. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será re-
Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carrea- duzida à metade.
mento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária ou
aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou secundária, em estágio avançado ou médio de regeneração,
águas jurisdicionais brasileiras: do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou am- normas de proteção: (Incluído pela Lei nº 11.428, de 2006).
bas cumulativamente. Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa,
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas: ou ambas as penas cumulativamente. (Incluído pela Lei nº
I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou es- 11.428, de 2006).
tações de aquicultura de domínio público; Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será re-
II - quem explora campos naturais de invertebrados duzida à metade. (Incluído pela Lei nº 11.428, de 2006).
aquáticos e algas, sem licença, permissão ou autorização Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de pre-
da autoridade competente; servação permanente, sem permissão da autoridade com-
III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de petente:
qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, de- Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas
vidamente demarcados em carta náutica. as penas cumulativamente.
Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibi- Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de
da ou em lugares interditados por órgão competente: Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº
Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua
ambas as penas cumulativamente. localização:
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: Pena - reclusão, de um a cinco anos.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Pro- Art. 47. (VETADO)


teção Integral as Estações Ecológicas, as Reservas Biológi- Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de
cas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e os florestas e demais formas de vegetação:
Refúgios de Vida Silvestre. (Redação dada pela Lei nº 9.985, Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
de 2000) Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qual-
§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaça- quer modo ou meio, plantas de ornamentação de logra-
das de extinção no interior das Unidades de Conservação douros públicos ou em propriedade privada alheia:
de Proteção Integral será considerada circunstância agra- Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou
vante para a fixação da pena. (Redação dada pela Lei nº ambas as penas cumulativamente.
9.985, de 2000) Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a
§ 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à seis meses, ou multa.
metade. Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plan-
Art. 40-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.985, de tadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora de man-
2000) gues, objeto de especial preservação:
§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Sustentável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou de-
Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as gradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio
Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de público ou devolutas, sem autorização do órgão compe-
Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do tente: (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
Patrimônio Natural. (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000) Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.
§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaça- (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
das de extinção no interior das Unidades de Conservação § 1o Não é crime a conduta praticada quando neces-
de Uso Sustentável será considerada circunstância agra- sária à subsistência imediata pessoal do agente ou de sua
vante para a fixação da pena. (Incluído pela Lei nº 9.985, família. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
de 2000) § 2o Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil
§ 3o Se o crime for culposo, a pena será reduzida à me- hectares), a pena será aumentada de 1 (um) ano por milhar
tade. (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000) de hectare. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em flo-
Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
restas e nas demais formas de vegetação, sem licença ou
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de de-
registro da autoridade competente:
tenção de seis meses a um ano, e multa.
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões
Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação condu-
que possam provocar incêndios nas florestas e demais for-
zindo substâncias ou instrumentos próprios para caça ou
mas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de
para exploração de produtos ou subprodutos florestais,
assentamento humano:
Pena - detenção de um a três anos ou multa, ou ambas sem licença da autoridade competente:
as penas cumulativamente. Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Art. 43. (VETADO) Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é au-
Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou con- mentada de um sexto a um terço se:
sideradas de preservação permanente, sem prévia autori- I - do fato resulta a diminuição de águas naturais, a
zação, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais: erosão do solo ou a modificação do regime climático;
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. II - o crime é cometido:
Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de a) no período de queda das sementes;
lei, assim classificada por ato do Poder Público, para fins b) no período de formação de vegetações;
industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração, c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ain-
econômica ou não, em desacordo com as determinações da que a ameaça ocorra somente no local da infração;
legais: d) em época de seca ou inundação;
Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa. e) durante a noite, em domingo ou feriado.
Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou in-
dustriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de ori- Seção III
gem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, Da Poluição e outros Crimes Ambientais
outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da
via que deverá acompanhar o produto até final beneficia- Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em ní-
mento: veis tais que resultem ou possam resultar em danos à saú-
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. de humana, ou que provoquem a mortandade de animais
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem ven- ou a destruição significativa da flora:
de, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vege- § 1º Se o crime é culposo:
tal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
armazenamento, outorgada pela autoridade competente. § 2º Se o crime:

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer
ocupação humana; funcionar, em qualquer parte do território nacional, esta-
II - causar poluição atmosférica que provoque a retira- belecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores,
da, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afe- sem licença ou autorização dos órgãos ambientais compe-
tadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; tentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares
III - causar poluição hídrica que torne necessária a in- pertinentes:
terrupção do abastecimento público de água de uma co- Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, ou am-
munidade; bas as penas cumulativamente.
IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líqui- possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flo-
dos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, ra ou aos ecossistemas:
em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
regulamentos:
Pena - reclusão, de um a cinco anos. Seção IV
§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Pa-
anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a trimônio Cultural
autoridade competente, medidas de precaução em caso de
risco de dano ambiental grave ou irreversível. Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:
Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recur- I - bem especialmente protegido por lei, ato administra-
sos minerais sem a competente autorização, permissão, tivo ou decisão judicial;
concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, ins-
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. talação científica ou similar protegido por lei, ato adminis-
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem dei- trativo ou decisão judicial:
xa de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos ter- Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis
mos da autorização, permissão, licença, concessão ou de-
meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa.
terminação do órgão competente.
Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar,
local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou
comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter
decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecoló-
em depósito ou usar produto ou substância tóxica, peri-
gico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueo-
gosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em
lógico, etnográfico ou monumental, sem autorização da
desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos
autoridade competente ou em desacordo com a concedida:
seus regulamentos: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor
pela Lei nº 12.305, de 2010) paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural,
I - abandona os produtos ou substâncias referidos religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem
no caput ou os utiliza em desacordo com as normas am- autorização da autoridade competente ou em desacordo
bientais ou de segurança; (Incluído pela Lei nº 12.305, de com a concedida:
2010) Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
II - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transpor- Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação
ta, reutiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos peri- ou monumento urbano: (Redação dada pela Lei nº 12.408,
gosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regula- de 2011)
mento. (Incluído pela Lei nº 12.305, de 2010) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e mul-
§ 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou ra- ta. (Redação dada pela Lei nº 12.408, de 2011)
dioativa, a pena é aumentada de um sexto a um terço. § 1o Se o ato for realizado em monumento ou coisa
§ 3º Se o crime é culposo: tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de deten-
Art. 57. (VETADO) ção e multa. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº
Art. 58. Nos crimes dolosos previstos nesta Seção, as 12.408, de 2011)
penas serão aumentadas: § 2o Não constitui crime a prática de grafite realizada
I - de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou priva-
à flora ou ao meio ambiente em geral; do mediante manifestação artística, desde que consentida
II - de um terço até a metade, se resulta lesão corporal pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arren-
de natureza grave em outrem; datário do bem privado e, no caso de bem público, com a
III - até o dobro, se resultar a morte de outrem. autorização do órgão competente e a observância das pos-
Parágrafo único. As penalidades previstas neste artigo turas municipais e das normas editadas pelos órgãos gover-
somente serão aplicadas se do fato não resultar crime mais namentais responsáveis pela preservação e conservação do
grave. patrimônio histórico e artístico nacional. (Incluído pela Lei
Art. 59. (VETADO) nº 12.408, de 2011)

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Seção V § 4º As infrações ambientais são apuradas em processo


Dos Crimes contra a Administração Ambiental administrativo próprio, assegurado o direito de ampla de-
fesa e o contraditório, observadas as disposições desta Lei.
Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou Art. 71. O processo administrativo para apuração de
enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados infração ambiental deve observar os seguintes prazos má-
técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de ximos:
licenciamento ambiental: I - vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impug-
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. nação contra o auto de infração, contados da data da ciên-
Art. 67. Conceder o funcionário público licença, autori- cia da autuação;
zação ou permissão em desacordo com as normas ambien- II - trinta dias para a autoridade competente julgar o
tais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização de- auto de infração, contados da data da sua lavratura, apre-
pende de ato autorizativo do Poder Público: sentada ou não a defesa ou impugnação;
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. III - vinte dias para o infrator recorrer da decisão con-
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três denatória à instância superior do Sistema Nacional do Meio
meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa. Ambiente - SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas, do
Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contra- Ministério da Marinha, de acordo com o tipo de autuação;
tual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse IV – cinco dias para o pagamento de multa, contados
ambiental: da data do recebimento da notificação.
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Art. 72. As infrações administrativas são punidas com
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º:
meses a um ano, sem prejuízo da multa. I - advertência;
Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder II - multa simples;
Público no trato de questões ambientais: III - multa diária;
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da
Art. 69-A. Elaborar ou apresentar, no licenciamento, con- fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou
cessão florestal ou qualquer outro procedimento adminis- veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
trativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou par- V - destruição ou inutilização do produto;
cialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão:(Incluído VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
pela Lei nº 11.284, de 2006) VII - embargo de obra ou atividade;
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (In- VIII - demolição de obra;
cluído pela Lei nº 11.284, de 2006) IX - suspensão parcial ou total de atividades;
§ 1o Se o crime é culposo: (Incluído pela Lei nº 11.284, X – (VETADO)
de 2006) XI - restritiva de direitos.
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela § 1º Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou
Lei nº 11.284, de 2006) mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas, cumulativamente, as
§ 2o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois sanções a elas cominadas.
terços), se há dano significativo ao meio ambiente, em de- § 2º A advertência será aplicada pela inobservância das
corrência do uso da informação falsa, incompleta ou enga- disposições desta Lei e da legislação em vigor, ou de pre-
nosa. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006) ceitos regulamentares, sem prejuízo das demais sanções
previstas neste artigo.
CAPÍTULO VI § 3º A multa simples será aplicada sempre que o agen-
DA INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA te, por negligência ou dolo:
I - advertido por irregularidades que tenham sido pra-
Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental ticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão
toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do
gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. Ministério da Marinha;
§ 1º São autoridades competentes para lavrar auto de II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SIS-
infração ambiental e instaurar processo administrativo os NAMA ou da Capitania dos Portos, do Ministério da Mari-
funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema nha.
Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as § 4° A multa simples pode ser convertida em serviços
atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capita- de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do
nias dos Portos, do Ministério da Marinha. meio ambiente.
§ 2º Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, § 5º A multa diária será aplicada sempre que o cometi-
poderá dirigir representação às autoridades relacionadas no mento da infração se prolongar no tempo.
parágrafo anterior, para efeito do exercício do seu poder de § 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos IV
polícia. e V do caput obedecerão ao disposto no art. 25 desta Lei.
§ 3º A autoridade ambiental que tiver conhecimento de § 7º As sanções indicadas nos incisos VI a IX do caput se-
infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração rão aplicadas quando o produto, a obra, a atividade ou o
imediata, mediante processo administrativo próprio, sob estabelecimento não estiverem obedecendo às prescrições
pena de co-responsabilidade. legais ou regulamentares.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 8º As sanções restritivas de direito são: CAPÍTULO VIII


I - suspensão de registro, licença ou autorização; DISPOSIÇÕES FINAIS
II - cancelamento de registro, licença ou autorização;
III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; Art. 79. Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as dis-
IV - perda ou suspensão da participação em linhas de posições do Código Penal e do Código de Processo Penal.
financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; Art. 79-A. Para o cumprimento do disposto nesta Lei,
V - proibição de contratar com a Administração Públi- os órgãos ambientais integrantes do SISNAMA, responsá-
ca, pelo período de até três anos. veis pela execução de programas e projetos e pelo controle
Art. 73. Os valores arrecadados em pagamento de mul- e fiscalização dos estabelecimentos e das atividades susce-
tas por infração ambiental serão revertidos ao Fundo Na- tíveis de degradarem a qualidade ambiental, ficam autori-
cional do Meio Ambiente, criado pela Lei nº 7.797, de 10 de zados a celebrar, com força de título executivo extrajudicial,
julho de 1989, Fundo Naval, criado peloDecreto nº 20.923, termo de compromisso com pessoas físicas ou jurídicas
de 8 de janeiro de 1932, fundos estaduais ou municipais de responsáveis pela construção, instalação, ampliação e fun-
meio ambiente, ou correlatos, conforme dispuser o órgão cionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores
arrecadador. de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencial-
Art. 74. A multa terá por base a unidade, hectare, metro mente poluidores. (Redação dada pela Medida Provisória
cúbico, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo nº 2.163-41, de 2001)
com o objeto jurídico lesado. § 1o O termo de compromisso a que se refere este arti-
Art. 75. O valor da multa de que trata este Capítulo será go destinar-se-á, exclusivamente, a permitir que as pessoas
fixado no regulamento desta Lei e corrigido periodicamen- físicas e jurídicas mencionadas no caput possam promover
te, com base nos índices estabelecidos na legislação per- as necessárias correções de suas atividades, para o aten-
tinente, sendo o mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais) e o dimento das exigências impostas pelas autoridades am-
máximo de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais). bientais competentes, sendo obrigatório que o respectivo
Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados, instrumento disponha sobre: (Redação dada pela Medida
Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa Provisória nº 2.163-41, de 2001)
federal na mesma hipótese de incidência. I - o nome, a qualificação e o endereço das partes com-
promissadas e dos respectivos representantes legais; (Re-
CAPÍTULO VII dação dada pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001)
DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA A PRE- II - o prazo de vigência do compromisso, que, em fun-
SERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ção da complexidade das obrigações nele fixadas, poderá
variar entre o mínimo de noventa dias e o máximo de três
Art. 77. Resguardados a soberania nacional, a ordem anos, com possibilidade de prorrogação por igual perío-
pública e os bons costumes, o Governo brasileiro prestará, do; (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.163-41, de
no que concerne ao meio ambiente, a necessária coope- 2001)
ração a outro país, sem qualquer ônus, quando solicitado III - a descrição detalhada de seu objeto, o valor do
para: investimento previsto e o cronograma físico de execução e
I - produção de prova; de implantação das obras e serviços exigidos, com metas
II - exame de objetos e lugares; trimestrais a serem atingidas; (Redação dada pela Medida
III - informações sobre pessoas e coisas; Provisória nº 2.163-41, de 2001)
IV - presença temporária da pessoa presa, cujas decla- IV - as multas que podem ser aplicadas à pessoa física
rações tenham relevância para a decisão de uma causa; ou jurídica compromissada e os casos de rescisão, em de-
V - outras formas de assistência permitidas pela legis- corrência do não-cumprimento das obrigações nele pac-
lação em vigor ou pelos tratados de que o Brasil seja parte. tuadas; (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.163-41,
§ 1° A solicitação de que trata este artigo será dirigida de 2001)
ao Ministério da Justiça, que a remeterá, quando necessá- V - o valor da multa de que trata o inciso IV não poderá
rio, ao órgão judiciário competente para decidir a seu res- ser superior ao valor do investimento previsto; (Redação
peito, ou a encaminhará à autoridade capaz de atendê-la. dada pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001)
§ 2º A solicitação deverá conter: VI - o foro competente para dirimir litígios entre as par-
I - o nome e a qualificação da autoridade solicitante; tes. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001)
II - o objeto e o motivo de sua formulação; § 2o No tocante aos empreendimentos em curso até
III - a descrição sumária do procedimento em curso no o dia 30 de março de 1998, envolvendo construção, insta-
país solicitante; lação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e
IV - a especificação da assistência solicitada; atividades utilizadores de recursos ambientais, considera-
V - a documentação indispensável ao seu esclareci- dos efetiva ou potencialmente poluidores, a assinatura do
mento, quando for o caso. termo de compromisso deverá ser requerida pelas pessoas
Art. 78. Para a consecução dos fins visados nesta Lei e físicas e jurídicas interessadas, até o dia 31 de dezembro de
especialmente para a reciprocidade da cooperação interna- 1998, mediante requerimento escrito protocolizado junto
cional, deve ser mantido sistema de comunicações apto a aos órgãos competentes do SISNAMA, devendo ser firma-
facilitar o intercâmbio rápido e seguro de informações com do pelo dirigente máximo do estabelecimento. (Redação
órgãos de outros países. dada pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001)

48
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 3o Da data da protocolização do requerimento previsto no Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 2o e enquanto perdurar a vigência do correspondente termo de § 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humi-
compromisso, ficarão suspensas, em relação aos fatos que deram lhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qual-
causa à celebração do instrumento, a aplicação de sanções admi- quer motivo.
nistrativas contra a pessoa física ou jurídica que o houver firmado. § 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a
(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001) vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade
§ 4o A celebração do termo de compromisso de que trata do agente.
este artigo não impede a execução de eventuais multas aplica- Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando
das antes da protocolização do requerimento. (Redação dada possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente
pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001) perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à
§ 5o Considera-se rescindido de pleno direito o termo de saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socor-
compromisso, quando descumprida qualquer de suas cláusulas, ro de autoridade pública:
ressalvado o caso fortuito ou de força maior. (Incluído pela Me- Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e mul-
dida Provisória nº 2.163-41, de 2001)
ta.
§ 6o O termo de compromisso deverá ser firmado em até
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se
noventa dias, contados da protocolização do requerimento. (In-
da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e tri-
cluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001)
§ 7o O requerimento de celebração do termo de compro- plicada, se resulta a morte.
misso deverá conter as informações necessárias à verificação da Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saú-
sua viabilidade técnica e jurídica, sob pena de indeferimento do de, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou
plano. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001) não prover suas necessidades básicas, quando obrigado
§ 8o Sob pena de ineficácia, os termos de compromisso por lei ou mandado:
deverão ser publicados no órgão oficial competente, mediante Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e
extrato. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001) multa.
Art. 80. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física
de noventa dias a contar de sua publicação. ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desuma-
Art. 81. (VETADO) nas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados
Art. 82. Revogam-se as disposições em contrário. indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o
Brasília, 12 de fevereiro de 1998; 177º da Independência e a trabalho excessivo ou inadequado:
110º da República. Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e
multa.
§ 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza gra-
ve:
2.5.14 LEI FEDERAL Nº 10.741/2003 (ESTATU- Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
TO DO IDOSO): ARTIGOS 93 A 109; § 2o Se resulta a morte:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Art. 100.  Constitui crime punível com reclusão de 6
TÍTULO VI (seis) meses a 1 (um) ano e multa:
Dos Crimes I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo públi-
CAPÍTULO I co por motivo de idade;
Disposições Gerais II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou
trabalho;
Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as dis- III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou dei-
posições da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985. xar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima idosa;
privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo
o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação civil
1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Códi- a que alude esta Lei;
go Penal e do Código de Processo Penal. (Vide ADI 3.096-5 - STF) V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispen-
sáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando
CAPÍTULO II requisitados pelo Ministério Público.
Dos Crimes em Espécie Art. 101.  Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem
justo motivo, a execução de ordem judicial expedida nas
Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal ações em que for parte ou interveniente o idoso:
pública incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 e 182 Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e mul-
do Código Penal. ta.
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos,
seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-
direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento -lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.

49
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo
idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar pro- ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório
curação à entidade de atendimento: ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.
Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido
relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em
como qualquer outro documento com objetivo de assegu- depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, em-
rar recebimento ou ressarcimento de dívida: prestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido,
multa. sem autorização e em desacordo com determinação legal
Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de co- ou regulamentar:
municação, informações ou imagens depreciativas ou inju- Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
riosas à pessoa do idoso: Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registra-
Art. 106.  Induzir pessoa idosa sem discernimento de da em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)
seus atos a outorgar procuração para fins de administração Disparo de arma de fogo
de bens ou deles dispor livremente: Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou
Art. 107.  Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como
contratar, testar ou outorgar procuração: finalidade a prática de outro crime:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é
sem discernimento de seus atos, sem a devida representa- inafiançável. (Vide Adin 3.112-1)
ção legal: Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso res-
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. trito
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, rece-
TÍTULO VII
ber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuita-
Disposições Finais e Transitórias
mente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guar-
da ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso
Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante
proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com
do Ministério Público ou de qualquer outro agente fiscali-
determinação legal ou regulamentar:
zador:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer
sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;
2.5.15 LEI Nº 10.826/2003 (ESTATUTO DO DE- II – modificar as características de arma de fogo, de
SARMAMENTO): ARTIGOS 12 A 21; forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proi-
bido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer
modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
CAPÍTULO IV III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato ex-
DOS CRIMES E DAS PENAS plosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar;
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro
fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desa- sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
cordo com determinação legal ou regulamentar, no interior V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuita-
de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu mente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a
local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável criança ou adolescente; e
legal do estabelecimento ou empresa: VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explo-
Omissão de cautela sivo.
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para Comércio ilegal de arma de fogo
impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa por- Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, condu-
tadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo zir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma uti-
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. lizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de ativi-
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o pro- dade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou
prietário ou diretor responsável de empresa de segurança e munição, sem autorização ou em desacordo com determi-
transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência nação legal ou regulamentar:

50
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Art. 2o  Toda mulher, independentemente de classe, raça,
Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional,
ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à
prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e
clandestino, inclusive o exercido em residência. facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física
Tráfico internacional de arma de fogo e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.
Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou Art. 3o  Serão asseguradas às mulheres as condições para
saída do território nacional, a qualquer título, de arma de o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde,
fogo, acessório ou munição, sem autorização da autorida- à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso
de competente: à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à li-
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. berdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena comunitária.
é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou § 1o  O poder público desenvolverá políticas que visem
munição forem de uso proibido ou restrito. garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das re-
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 lações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las
e 18, a pena é aumentada da metade se forem praticados de toda forma de negligência, discriminação, exploração, vio-
por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6o, lência, crueldade e opressão.
7o e 8o desta Lei. § 2o  Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar
Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são as condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos
insuscetíveis de liberdade provisória. (Vide Adin 3.112-1) enunciados no caput.
Art. 4o  Na interpretação desta Lei, serão considerados
os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as con-
dições peculiares das mulheres em situação de violência do-
2.5.16 LEI Nº 11.340/2006 (LEI MARIA DA méstica e familiar.
PENHA): ARTIGOS 1.º A 22, 24 E 41;
TÍTULO II
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER
CAPÍTULO I
LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.
DISPOSIÇÕES GERAIS
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e
Art. 5o  Para os efeitos desta Lei, configura violência do-
familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da méstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimen-
Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da to físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimo-
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar nial:                        (Vide Lei complementar nº 150, de 2015)
a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Jui- I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida
zados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou
altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
de Execução Penal; e dá outras providências. II - no âmbito da família, compreendida como a comu-
nidade formada por indivíduos que são ou se consideram
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agres-
TÍTULO I sor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independen-
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES temente de coabitação.
Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas neste
Art. 1o  Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a artigo independem de orientação sexual.
violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos Art. 6o  A violência doméstica e familiar contra a mulher
do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção constitui uma das formas de violação dos direitos humanos.
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra
a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Pu- CAPÍTULO II
nir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tra- DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMI-
tados internacionais ratificados pela República Federativa LIAR CONTRA A MULHER
do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medi- Art. 7o  São formas de violência doméstica e familiar con-
das de assistência e proteção às mulheres em situação de tra a mulher, entre outras:
violência doméstica e familiar. I - a violência física, entendida como qualquer conduta
que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

51
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

II - a violência psicológica, entendida como qualquer con- VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, ter-
duta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-esti- mos ou outros instrumentos de promoção de parceria entre
ma ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-go-
ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, vernamentais, tendo por objetivo a implementação de pro-
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humi- gramas de erradicação da violência doméstica e familiar con-
lhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, persegui- tra a mulher;
ção contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar,
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profis-
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; sionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;
que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação VIII - a promoção de programas educacionais que dis-
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou seminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da
uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qual- pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou
quer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer etnia;
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravi- IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os ní-
dez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, veis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos hu-
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de manos, à equidade de gênero e de raça ou etnia e ao proble-
seus direitos sexuais e reprodutivos; ma da violência doméstica e familiar contra a mulher.
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer con-
duta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou to- CAPÍTULO II
tal de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pes- DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIO-
soais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo LÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta Art. 9o  A assistência à mulher em situação de violência
que configure calúnia, difamação ou injúria. doméstica e familiar será prestada de forma articulada e con-
forme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica
TÍTULO III da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIO- Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas
LÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso.
CAPÍTULO I § 1o  O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da
DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO mulher em situação de violência doméstica e familiar no ca-
dastro de programas assistenciais do governo federal, esta-
Art. 8o  A política pública que visa coibir a violência domés- dual e municipal.
tica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto § 2o  O juiz assegurará à mulher em situação de violência
articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e
dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por di- psicológica:
retrizes: I - acesso prioritário à remoção quando servidora públi-
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministé- ca, integrante da administração direta ou indireta;
rio Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessá-
pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação; rio o afastamento do local de trabalho, por até seis meses.
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e ou- § 3o  A assistência à mulher em situação de violência
tras informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios
raça ou etnia, concernentes às causas, às consequências e à fre- decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, in-
quência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a cluindo os serviços de contracepção de emergência, a pro-
sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a filaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da
avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas; Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valo- procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de
res éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os violência sexual.
papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência
doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III CAPÍTULO III
do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL
Constituição Federal;
IV - a implementação de atendimento policial especializado Art. 10.  Na hipótese da iminência ou da prática de vio-
para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento lência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade
à Mulher; policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de
V - a promoção e a realização de campanhas educativas imediato, as providências legais cabíveis.
de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, Parágrafo único.  Aplica-se o disposto no caput deste
voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgên-
desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos cia deferida.
das mulheres;

52
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 10-A.  É direito da mulher em situação de violência do- I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e
méstica e familiar o atendimento policial e pericial especializa- tomar a representação a termo, se apresentada;
do, ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente II - colher todas as provas que servirem para o esclare-
do sexo feminino - previamente capacitados.                   (In- cimento do fato e de suas circunstâncias;
cluíd pela Lei nº 13.505, de 2017) III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ex-
§ 1o  A inquirição de mulher em situação de violência do- pediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para
méstica e familiar ou de testemunha de violência doméstica, a concessão de medidas protetivas de urgência;
quando se tratar de crime contra a mulher, obedecerá às se- IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de
guintes diretrizes:                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais ne-
2017) cessários;
I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional V - ouvir o agressor e as testemunhas;
da depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar
em situação de violência doméstica e familiar;                   (In- aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando
cluído pela Lei nº 13.505, de 2017) a existência de mandado de prisão ou registro de outras
II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em ocorrências policiais contra ele;
situação de violência doméstica e familiar, familiares e teste- VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito po-
munhas terão contato direto com investigados ou suspeitos licial ao juiz e ao Ministério Público.
e pessoas a eles relacionadas;                  (Incluído pela Lei nº § 1o  O pedido da ofendida será tomado a termo pela
13.505, de 2017) autoridade policial e deverá conter:
III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas I - qualificação da ofendida e do agressor;
inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e II - nome e idade dos dependentes;
administrativo, bem como questionamentos sobre a vida pri- III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas
vada.                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) solicitadas pela ofendida.
§ 2o  Na inquirição de mulher em situação de violência § 2o  A autoridade policial deverá anexar ao documento
doméstica e familiar ou de testemunha de delitos de que trata referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia de todos
esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte procedi- os documentos disponíveis em posse da ofendida.
mento:                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) § 3o  Serão admitidos como meios de prova os laudos
I - a inquirição será feita em recinto especialmente proje- ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos
tado para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios de saúde.
e adequados à idade da mulher em situação de violência do- Art. 12-A.  Os Estados e o Distrito Federal, na formula-
méstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da ção de suas políticas e planos de atendimento à mulher em
violência sofrida;                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de situação de violência doméstica e familiar, darão priorida-
2017) de, no âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Espe-
II - quando for o caso, a inquirição será intermedia- cializadas de Atendimento à Mulher (Deams), de Núcleos
da por profissional especializado em violência doméstica Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas
e familiar designado pela autoridade judiciária ou poli- para o atendimento e a investigação das violências graves
cial;                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) contra a mulher.
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou Art. 12-B.  (VETADO).                   (Incluído pela Lei nº
magnético, devendo a degravação e a mídia integrar o inqué- 13.505, de 2017)
rito.                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) § 1o  (VETADO).                   (Incluído pela Lei nº 13.505,
Art. 11.  No atendimento à mulher em situação de vio- de 2017)
lência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre § 2o  (VETADO.                   (Incluído pela Lei nº 13.505,
outras providências: de 2017)
I - garantir proteção policial, quando necessário, comuni- § 3o A autoridade policial poderá requisitar os servi-
cando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário; ços públicos necessários à defesa da mulher em situação
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde de violência doméstica e familiar e de seus dependen-
e ao Instituto Médico Legal; tes.                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependen-
tes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida; TÍTULO IV
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegu- DOS PROCEDIMENTOS
rar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do CAPÍTULO I
domicílio familiar; DISPOSIÇÕES GERAIS
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta
Lei e os serviços disponíveis. Art. 13.  Ao processo, ao julgamento e à execução das
Art. 12.  Em todos os casos de violência doméstica e fa- causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência
miliar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as nor-
a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes pro- mas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da
cedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao
Processo Penal: idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.

53
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 14.  Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar Parágrafo único.  O juiz poderá revogar a prisão pre-
contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com compe- ventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo
tência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobre-
Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o vierem razões que a justifiquem.
processo, o julgamento e a execução das causas decorren- Art. 21.  A ofendida deverá ser notificada dos atos pro-
tes da prática de violência doméstica e familiar contra a cessuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinen-
mulher. tes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intima-
Parágrafo único.  Os atos processuais poderão realizar- ção do advogado constituído ou do defensor público.
-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas Parágrafo único.  A ofendida não poderá entregar inti-
de organização judiciária. mação ou notificação ao agressor.
Art. 15.  É competente, por opção da ofendida, para os
processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado: Seção II
I - do seu domicílio ou de sua residência; Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda; o Agressor
III - do domicílio do agressor.
Art. 16.  Nas ações penais públicas condicionadas à Art. 22.  Constatada a prática de violência doméstica e
representação da ofendida de que trata esta Lei, só será familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá
admitida a renúncia à representação perante o juiz, em au- aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separada-
diência especialmente designada com tal finalidade, antes mente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre
do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. outras:
Art. 17.  É vedada a aplicação, nos casos de violência I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas,
doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei
básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
substituição de pena que implique o pagamento isolado II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivên-
de multa. cia com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as
CAPÍTULO II quais:
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
Seção I testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre
Disposições Gerais estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemu-
Art. 18.  Recebido o expediente com o pedido da ofen- nhas por qualquer meio de comunicação;
dida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas: c) frequentação de determinados lugares a fim de pre-
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre servar a integridade física e psicológica da ofendida;
as medidas protetivas de urgência; IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao ór- menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar
gão de assistência judiciária, quando for o caso; ou serviço similar;
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
providências cabíveis. § 1o  As medidas referidas neste artigo não impedem a
Art. 19.  As medidas protetivas de urgência poderão ser aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sem-
concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público pre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o
ou a pedido da ofendida. exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Minis-
§ 1o  As medidas protetivas de urgência poderão ser tério Público.
concedidas de imediato, independentemente de audiência § 2o  Na hipótese de aplicação do inciso I, encontran-
das partes e de manifestação do Ministério Público, deven- do-se o agressor nas condições mencionadas no caput e
do este ser prontamente comunicado. incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de
§ 2o  As medidas protetivas de urgência serão aplicadas 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação
isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a ou instituição as medidas protetivas de urgência concedi-
qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que das e determinará a restrição do porte de armas, ficando
os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou o superior imediato do agressor responsável pelo cumpri-
violados. mento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos
§ 3o  Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Pú- crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o
blico ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas caso.
protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se § 3o  Para garantir a efetividade das medidas protetivas
entender necessário à proteção da ofendida, de seus fa- de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento,
miliares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. auxílio da força policial.
Art. 20.  Em qualquer fase do inquérito policial ou da § 4o  Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no
instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art.
decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de
Público ou mediante representação da autoridade policial. Processo Civil).

54
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Seção IV TÍTULO V
(Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
Do Crime de Descumprimento de Medidas Proteti-
vas de Urgência Art. 29.  Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar
Descumprimento de Medidas Protetivas de Urgên- contra a Mulher que vierem a ser criados poderão contar
cia com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser
integrada por profissionais especializados nas áreas psi-
Art. 24-A.  Descumprir decisão judicial que defere me- cossocial, jurídica e de saúde.
didas protetivas de urgência previstas nesta Lei:             (In- Art. 30.  Compete à equipe de atendimento multidis-
cluído pela Lei nº 13.641, de 2018) ciplinar, entre outras atribuições que lhe forem reserva-
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) das pela legislação local, fornecer subsídios por escrito
anos.             (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, me-
§ 1o   A configuração do crime independe da com-
diante laudos ou verbalmente em audiência, e desenvol-
petência civil ou criminal do juiz que deferiu as medi-
ver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção
das.             (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor
§ 2o  Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a au-
e os familiares, com especial atenção às crianças e aos
toridade judicial poderá conceder fiança.             (Incluído
pela Lei nº 13.641, de 2018) adolescentes.
§ 3o  O disposto neste artigo não exclui a aplicação de Art. 31.  Quando a complexidade do caso exigir ava-
outras sanções cabíveis.             (Incluído pela Lei nº 13.641, liação mais aprofundada, o juiz poderá determinar a ma-
de 2018) nifestação de profissional especializado, mediante a indi-
cação da equipe de atendimento multidisciplinar.
CAPÍTULO III Art. 32.  O Poder Judiciário, na elaboração de sua pro-
DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO posta orçamentária, poderá prever recursos para a criação
e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar,
Art. 25.  O Ministério Público intervirá, quando não for nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da violência
doméstica e familiar contra a mulher. TÍTULO VI
Art. 26.  Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
outras atribuições, nos casos de violência doméstica e fa-
miliar contra a mulher, quando necessário: Art. 33.  Enquanto não estruturados os Juizados de
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
de educação, de assistência social e de segurança, entre criminais acumularão as competências cível e criminal
outros; para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particu- de violência doméstica e familiar contra a mulher, obser-
lares de atendimento à mulher em situação de violência vadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas ad- legislação processual pertinente.
ministrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer Parágrafo único.  Será garantido o direito de preferên-
irregularidades constatadas; cia, nas varas criminais, para o processo e o julgamento
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar das causas referidas no caput.
contra a mulher.
TÍTULO VII
CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
Art. 34.  A instituição dos Juizados de Violência Do-
Art. 27.  Em todos os atos processuais, cíveis e crimi-
nais, a mulher em situação de violência doméstica e fami- méstica e Familiar contra a Mulher poderá ser acompa-
liar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o nhada pela implantação das curadorias necessárias e do
previsto no art. 19 desta Lei. serviço de assistência judiciária.
Art. 28.  É garantido a toda mulher em situação de vio- Art. 35.  A União, o Distrito Federal, os Estados e os
lência doméstica e familiar o acesso aos serviços de De- Municípios poderão criar e promover, no limite das res-
fensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos pectivas competências:
termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendi- I - centros de atendimento integral e multidisciplinar
mento específico e humanizado. para mulheres e respectivos dependentes em situação de
violência doméstica e familiar;
II - casas-abrigos para mulheres e respectivos depen-
dentes menores em situação de violência doméstica e fa-
miliar;

55
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

III - delegacias, núcleos de defensoria pública, servi- TÍTULO I


ços de saúde e centros de perícia médico-legal especiali- DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
zados no atendimento à mulher em situação de violência
doméstica e familiar; Art. 1o  Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas
IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para
doméstica e familiar; prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de
V - centros de educação e de reabilitação para os agressores. usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para
Art. 36.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí- repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
pios promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus progra- drogas e define crimes.
mas às diretrizes e aos princípios desta Lei. Parágrafo único.  Para fins desta Lei, consideram-se
Art. 37.  A defesa dos interesses e direitos transindividuais como drogas as substâncias ou os produtos capazes de
previstos nesta Lei poderá ser exercida, concorrentemente, pelo causar dependência, assim especificados em lei ou rela-
Ministério Público e por associação de atuação na área, regular- cionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder
mente constituída há pelo menos um ano, nos termos da legis- Executivo da União.
lação civil. Art. 2o  Ficam proibidas, em todo o território nacional,
Parágrafo único.  O requisito da pré-constituição poderá ser as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a
dispensado pelo juiz quando entender que não há outra enti- exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser
dade com representatividade adequada para o ajuizamento da extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de
autorização legal ou regulamentar, bem como o que es-
demanda coletiva.
tabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre
Art. 38.  As estatísticas sobre a violência doméstica e familiar
Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas
contra a mulher serão incluídas nas bases de dados dos órgãos
de uso estritamente ritualístico-religioso.
oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim de subsidiar o
Parágrafo único.  Pode a União autorizar o plantio, a
sistema nacional de dados e informações relativo às mulheres.
cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste
Parágrafo único.  As Secretarias de Segurança Pública dos
artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos,
Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas informações
em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização,
criminais para a base de dados do Ministério da Justiça. respeitadas as ressalvas supramencionadas.
Art. 39.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
pios, no limite de suas competências e nos termos das respec- TÍTULO II
tivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão estabelecer do- DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS
tações orçamentárias específicas, em cada exercício financeiro, SOBRE DROGAS
para a implementação das medidas estabelecidas nesta Lei.
Art. 40.  As obrigações previstas nesta Lei não excluem ou- Art. 3o  O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar,
tras decorrentes dos princípios por ela adotados. organizar e coordenar as atividades relacionadas com:
Art. 41.  Aos crimes praticados com violência doméstica e I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinser-
familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, ção social de usuários e dependentes de drogas;
não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. II - a repressão da produção não autorizada e do tráfico
Art. 42.  O art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro ilícito de drogas.
de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar acrescido do
seguinte inciso IV: CAPÍTULO I
“Art. 313.  ................................................. DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS
................................................................ DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS
SOBRE DROGAS

2.5.17 LEI Nº 11.343/2006 (LEI DE DROGAS); Art. 4o  São princípios do Sisnad:
I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa hu-
mana, especialmente quanto à sua autonomia e à sua li-
berdade;
LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006. II - o respeito à diversidade e às especificidades popu-
lacionais existentes;
III - a promoção dos valores éticos, culturais e de cida-
Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Dro- dania do povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores
gas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevi- de proteção para o uso indevido de drogas e outros com-
do, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de portamentos correlacionados;
drogas; estabelece normas para repressão à produção não au- IV - a promoção de consensos nacionais, de ampla par-
torizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras ticipação social, para o estabelecimento dos fundamentos
providências. e estratégias do Sisnad;
V - a promoção da responsabilidade compartilhada
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- entre Estado e Sociedade, reconhecendo a importância da
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: participação social nas atividades do Sisnad;

56
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

VI - o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores CAPÍTULO IV


correlacionados com o uso indevido de drogas, com a sua DA COLETA, ANÁLISE E DISSEMINAÇÃO DE INFOR-
produção não autorizada e o seu tráfico ilícito; MAÇÕES
VII - a integração das estratégias nacionais e interna- SOBRE DROGAS
cionais de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção
social de usuários e dependentes de drogas e de repressão Art. 15.  (VETADO)
à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito; Art. 16.  As instituições com atuação nas áreas da aten-
VIII - a articulação com os órgãos do Ministério Público ção à saúde e da assistência social que atendam usuários
e dos Poderes Legislativo e Judiciário visando à cooperação ou dependentes de drogas devem comunicar ao órgão
mútua nas atividades do Sisnad; competente do respectivo sistema municipal de saúde os
IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que re- casos atendidos e os óbitos ocorridos, preservando a iden-
conheça a interdependência e a natureza complementar tidade das pessoas, conforme orientações emanadas da
das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e União.
reinserção social de usuários e dependentes de drogas, re- Art. 17.  Os dados estatísticos nacionais de repressão
pressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de ao tráfico ilícito de drogas integrarão sistema de informa-
drogas; ções do Poder Executivo.
X - a observância do equilíbrio entre as atividades de
prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de TÍTULO III
usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua DAS ATIVIDADES DE PREVENÇÃO DO USO INDEVI-
produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a DO, ATENÇÃO E
garantir a estabilidade e o bem-estar social; REINSERÇÃO SOCIAL DE USUÁRIOS E DEPENDEN-
XI - a observância às orientações e normas emanadas TES DE DROGAS
do Conselho Nacional Antidrogas - Conad. CAPÍTULO I
Art. 5o  O Sisnad tem os seguintes objetivos: DA PREVENÇÃO
I - contribuir para a inclusão social do cidadão, visando
a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos de Art. 18.  Constituem atividades de prevenção do uso
risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e indevido de drogas, para efeito desta Lei, aquelas direcio-
outros comportamentos correlacionados; nadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e risco
II - promover a construção e a socialização do conheci- e para a promoção e o fortalecimento dos fatores de pro-
mento sobre drogas no país; teção.
III - promover a integração entre as políticas de pre- Art. 19.  As atividades de prevenção do uso indevido de
venção do uso indevido, atenção e reinserção social de drogas devem observar os seguintes princípios e diretrizes:
usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua I - o reconhecimento do uso indevido de drogas como
produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas fator de interferência na qualidade de vida do indivíduo e
públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, na sua relação com a comunidade à qual pertence;
Distrito Federal, Estados e Municípios; II - a adoção de conceitos objetivos e de fundamenta-
IV - assegurar as condições para a coordenação, a in- ção científica como forma de orientar as ações dos serviços
tegração e a articulação das atividades de que trata o art. públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos e
3o desta Lei. estigmatização das pessoas e dos serviços que as atendam;
III - o fortalecimento da autonomia e da responsabili-
CAPÍTULO II dade individual em relação ao uso indevido de drogas;
DA COMPOSIÇÃO E DA ORGANIZAÇÃO IV - o compartilhamento de responsabilidades e a cola-
DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS boração mútua com as instituições do setor privado e com
SOBRE DROGAS os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e depen-
dentes de drogas e respectivos familiares, por meio do es-
Art. 6o  (VETADO) tabelecimento de parcerias;
Art. 7o  A organização do Sisnad assegura a orientação V - a adoção de estratégias preventivas diferenciadas
central e a execução descentralizada das atividades realiza- e adequadas às especificidades socioculturais das diversas
das em seu âmbito, nas esferas federal, distrital, estadual e populações, bem como das diferentes drogas utilizadas;
municipal e se constitui matéria definida no regulamento VI - o reconhecimento do “não-uso”, do “retardamento
desta Lei. do uso” e da redução de riscos como resultados desejáveis
Art. 8o  (VETADO) das atividades de natureza preventiva, quando da definição
CAPÍTULO III dos objetivos a serem alcançados;
(VETADO) VII - o tratamento especial dirigido às parcelas mais
Art. 9o  (VETADO) vulneráveis da população, levando em consideração as
Art. 10.  (VETADO) suas necessidades específicas;
Art. 11.  (VETADO) VIII - a articulação entre os serviços e organizações
Art. 12.  (VETADO) que atuam em atividades de prevenção do uso indevido de
Art. 13.  (VETADO) drogas e a rede de atenção a usuários e dependentes de
Art. 14.  (VETADO) drogas e respectivos familiares;

57
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

IX - o investimento em alternativas esportivas, cultu- Art. 23.  As redes dos serviços de saúde da União, dos
rais, artísticas, profissionais, entre outras, como forma de Estados, do Distrito Federal, dos Municípios desenvolverão
inclusão social e de melhoria da qualidade de vida; programas de atenção ao usuário e ao dependente de dro-
X - o estabelecimento de políticas de formação con- gas, respeitadas as diretrizes do Ministério da Saúde e os
tinuada na área da prevenção do uso indevido de drogas princípios explicitados no art. 22 desta Lei, obrigatória a
para profissionais de educação nos 3 (três) níveis de ensino; previsão orçamentária adequada.
XI - a implantação de projetos pedagógicos de preven- Art. 24.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os
ção do uso indevido de drogas, nas instituições de ensino Municípios poderão conceder benefícios às instituições
público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares Na- privadas que desenvolverem programas de reinserção no
cionais e aos conhecimentos relacionados a drogas; mercado de trabalho, do usuário e do dependente de dro-
XII - a observância das orientações e normas emanadas gas encaminhados por órgão oficial.
do Conad; Art. 25.  As instituições da sociedade civil, sem fins lu-
crativos, com atuação nas áreas da atenção à saúde e da
XIII - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de contro-
assistência social, que atendam usuários ou dependentes
le social de políticas setoriais específicas.
de drogas poderão receber recursos do Funad, condiciona-
Parágrafo único.  As atividades de prevenção do uso
dos à sua disponibilidade orçamentária e financeira.
indevido de drogas dirigidas à criança e ao adolescente
Art. 26.  O usuário e o dependente de drogas que, em
deverão estar em consonância com as diretrizes emanadas razão da prática de infração penal, estiverem cumprindo
pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Ado- pena privativa de liberdade ou submetidos a medida de
lescente - Conanda. segurança, têm garantidos os serviços de atenção à sua
saúde, definidos pelo respectivo sistema penitenciário.
CAPÍTULO II
DAS ATIVIDADES DE ATENÇÃO E DE REINSERÇÃO CAPÍTULO III
SOCIAL DOS CRIMES E DAS PENAS
DE USUÁRIOS OU DEPENDENTES DE DROGAS

Art. 20.  Constituem atividades de atenção ao usuário e Art. 27.  As penas previstas neste Capítulo poderão ser
dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substi-
desta Lei, aquelas que visem à melhoria da qualidade de tuídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o
vida e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso defensor.
de drogas. Art. 28.  Quem adquirir, guardar, tiver em depósito,
Art. 21.  Constituem atividades de reinserção social do transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, dro-
usuário ou do dependente de drogas e respectivos fami- gas sem autorização ou em desacordo com determinação
liares, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para sua legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
integração ou reintegração em redes sociais. I - advertência sobre os efeitos das drogas;
Art. 22.  As atividades de atenção e as de reinserção II - prestação de serviços à comunidade;
social do usuário e do dependente de drogas e respectivos III - medida educativa de comparecimento a programa
familiares devem observar os seguintes princípios e dire- ou curso educativo.
trizes: § 1o  Às mesmas medidas submete-se quem, para seu
I - respeito ao usuário e ao dependente de drogas, in- consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destina-
dependentemente de quaisquer condições, observados os das à preparação de pequena quantidade de substância ou
produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e
§ 2o  Para determinar se a droga destinava-se a con-
diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional
sumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade
de Assistência Social;
da substância apreendida, ao local e às condições em que
II - a adoção de estratégias diferenciadas de atenção e
se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais,
reinserção social do usuário e do dependente de drogas e bem como à conduta e aos antecedentes do agente.
respectivos familiares que considerem as suas peculiarida- § 3o  As penas previstas nos incisos II e III do caput des-
des socioculturais; te artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco)
III - definição de projeto terapêutico individualizado, meses.
orientado para a inclusão social e para a redução de riscos § 4o  Em caso de reincidência, as penas previstas nos
e de danos sociais e à saúde; incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo
IV - atenção ao usuário ou dependente de drogas e prazo máximo de 10 (dez) meses.
aos respectivos familiares, sempre que possível, de forma § 5o  A prestação de serviços à comunidade será cum-
multidisciplinar e por equipes multiprofissionais; prida em programas comunitários, entidades educacionais
V - observância das orientações e normas emanadas ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres,
do Conad; públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem,
VI - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recu-
social de políticas setoriais específicas. peração de usuários e dependentes de drogas.

58
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 6o  Para garantia do cumprimento das medidas edu- CAPÍTULO II


cativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que DOS CRIMES
injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz sub-
metê-lo, sucessivamente a: Art. 33.  Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fa-
I - admoestação verbal; bricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depó-
II - multa. sito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar,
§ 7o  O juiz determinará ao Poder Público que coloque entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuita-
à disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento mente, sem autorização ou em desacordo com determinação
de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento legal ou regulamentar:
especializado. Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamen-
Art. 29.  Na imposição da medida educativa a que se to de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
refere o inciso II do § 6o do art. 28, o juiz, atendendo à re- § 1o  Nas mesmas penas incorre quem:
provabilidade da conduta, fixará o número de dias-multa, I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, ven-
em quantidade nunca inferior a 40 (quarenta) nem superior de, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, trans-
a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segundo a capa- porta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem
cidade econômica do agente, o valor de um trinta avos até autorização ou em desacordo com determinação legal ou re-
3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo. gulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico desti-
Parágrafo único.  Os valores decorrentes da imposição nado à preparação de drogas;
da multa a que se refere o § 6o do art. 28 serão creditados II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou
à conta do Fundo Nacional Antidrogas. em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de
Art. 30.  Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a plantas que se constituam em matéria-prima para a prepara-
execução das penas, observado, no tocante à interrupção ção de drogas;
do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem
Penal. a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou
consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente,
TÍTULO IV sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
E AO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS § 2o  Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de
CAPÍTULO I droga:     (Vide ADI nº 4.274)
DISPOSIÇÕES GERAIS Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100
(cem) a 300 (trezentos) dias-multa.
Art. 31.  É indispensável a licença prévia da autorida- § 3o  Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de
de competente para produzir, extrair, fabricar, transformar, lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consu-
preparar, possuir, manter em depósito, importar, exportar, mirem:
reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pa-
comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, dro- gamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-
gas ou matéria-prima destinada à sua preparação, obser- -multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
vadas as demais exigências legais. § 4o  Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo,
Art. 32.  As plantações ilícitas serão imediatamente as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, ve-
destruídas pelo delegado de polícia na forma do art. 50- dada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que
A, que recolherá quantidade suficiente para exame peri- o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique
cial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições às atividades criminosas nem integre organização crimino-
encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as sa.     (Vide Resolução nº 5, de 2012)
medidas necessárias para a preservação da prova. (Reda- Art. 34.  Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, ven-
ção dada pela Lei nº 12.961, de 2014) der, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou
§ 1o  (Revogado).  (Redação dada pela Lei nº 12.961, fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, ins-
de 2014) trumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, prepara-
§ 2o  (Revogado).  (Redação dada pela Lei nº 12.961, ção, produção ou transformação de drogas, sem autorização
de 2014) ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
§ 3o  Em caso de ser utilizada a queimada para des- Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento
truir a plantação, observar-se-á, além das cautelas neces- de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.
sárias à proteção ao meio ambiente, o disposto no Decreto Art. 35.  Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim
no 2.661, de 8 de julho de 1998, no que couber, dispensada de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes pre-
a autorização prévia do órgão próprio do Sistema Nacional vistos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
do Meio Ambiente - Sisnama. Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento
§ 4o  As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
expropriadas, conforme o disposto no art. 243 da Consti- Parágrafo único.  Nas mesmas penas do caput deste arti-
tuição Federal, de acordo com a legislação em vigor. go incorre quem se associa para a prática reiterada do crime
definido no art. 36 desta Lei.

59
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 36.  Financiar ou custear a prática de qualquer dos Art. 41.  O indiciado ou acusado que colaborar volunta-
crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: riamente com a investigação policial e o processo criminal na
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e paga- identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na
mento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de
dias-multa. condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.
Art. 37.  Colaborar, como informante, com grupo, or- Art. 42.  O juiz, na fixação das penas, considerará, com pre-
ganização ou associação destinados à prática de qualquer ponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natu-
dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta reza e a quantidade da substância ou do produto, a personalida-
Lei: de e a conduta social do agente.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamen- Art. 43.  Na fixação da multa a que se referem os arts. 33
to de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa. a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 des-
Art. 38.  Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, ta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo a cada
sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses um, segundo as condições econômicas dos acusados, valor não
excessivas ou em desacordo com determinação legal ou inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes o maior
regulamentar: salário-mínimo.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e Parágrafo único.  As multas, que em caso de concurso de cri-
pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa. mes serão impostas sempre cumulativamente, podem ser aumen-
Parágrafo único.  O juiz comunicará a condenação ao tadas até o décuplo se, em virtude da situação econômica do acusa-
Conselho Federal da categoria profissional a que pertença do, considerá-las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo.
o agente. Art. 44.  Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a
Art. 39.  Conduzir embarcação ou aeronave após o 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, in-
consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolu- dulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas
midade de outrem: penas em restritivas de direitos.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além Parágrafo único.  Nos crimes previstos no caput deste artigo,
da apreensão do veículo, cassação da habilitação respec- dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois
tiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico.
privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (du- Art. 45.  É isento de pena o agente que, em razão da depen-
zentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa. dência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força
Parágrafo único.  As penas de prisão e multa, aplicadas maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer
cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz
(seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias- de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acor-
-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de do com esse entendimento.
transporte coletivo de passageiros. Parágrafo único.  Quando absolver o agente, reconhecendo,
Art. 40.  As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto
são aumentadas de um sexto a dois terços, se: neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, pode-
I - a natureza, a procedência da substância ou do pro- rá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para
duto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem tratamento médico adequado.
a transnacionalidade do delito; Art. 46.  As penas podem ser reduzidas de um terço a dois
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de fun- terços se, por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta
ção pública ou no desempenho de missão de educação, Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a
poder familiar, guarda ou vigilância; plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de de-
III - a infração tiver sido cometida nas dependências terminar-se de acordo com esse entendimento.
ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino Art. 47.  Na sentença condenatória, o juiz, com base em ava-
ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, liação que ateste a necessidade de encaminhamento do agente
culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais para tratamento, realizada por profissional de saúde com com-
de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetá- petência específica na forma da lei, determinará que a tal se pro-
culos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de ceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.
tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção
social, de unidades militares ou policiais ou em transportes CAPÍTULO III
públicos; DO PROCEDIMENTO PENAL
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave
ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo Art. 48.  O procedimento relativo aos processos por crimes
de intimidação difusa ou coletiva; definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, apli-
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação cando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Pro-
ou entre estes e o Distrito Federal; cesso Penal e da Lei de Execução Penal.
VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou § 1o  O agente de qualquer das condutas previstas no art.
adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, dimi- 28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes previstos
nuída ou suprimida a capacidade de entendimento e de- nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma
terminação; dos arts. 60 e seguintes da Lei no9.099, de 26 de setembro de
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime. 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais.

60
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 2o  Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, Parágrafo único.  Os prazos a que se refere este artigo
não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Públi-
imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta co, mediante pedido justificado da autoridade de polícia
deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se judiciária.
termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos Art. 52.  Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta
exames e perícias necessários. Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos
§ 3o  Se ausente a autoridade judicial, as providências previs- do inquérito ao juízo:
tas no § 2o deste artigo serão tomadas de imediato pela autori- I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato,
dade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção justificando as razões que a levaram à classificação do de-
do agente. lito, indicando a quantidade e natureza da substância ou
§ 4o  Concluídos os procedimentos de que trata o § 2o deste do produto apreendido, o local e as condições em que se
artigo, o agente será submetido a exame de corpo de delito, se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão,
o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender con- a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou
veniente, e em seguida liberado. II - requererá sua devolução para a realização de dili-
§ 5o  Para os fins do disposto no art. 76 da Lei no 9.099, de gências necessárias.
1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais, o Minis- Parágrafo único.  A remessa dos autos far-se-á sem
tério Público poderá propor a aplicação imediata de pena previs- prejuízo de diligências complementares:
ta no art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta. I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo
Art. 49.  Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. 33, resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até
caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, sempre que as circunstân- 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento;
cias o recomendem, empregará os instrumentos protetivos de II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos
colaboradores e testemunhas previstos na Lei no 9.807, de 13 de e valores de que seja titular o agente, ou que figurem em
julho de 1999. seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo
Seção I competente até 3 (três) dias antes da audiência de instru-
Da Investigação
ção e julgamento.
Art. 53.  Em qualquer fase da persecução criminal re-
Art. 50.  Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de po-
lativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além
lícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz compe-
dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido
tente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada
o Ministério Público, os seguintes procedimentos investi-
vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.
gatórios:
§ 1o  Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de
e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o lau-
do de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado investigação, constituída pelos órgãos especializados per-
por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea. tinentes;
§ 2o  O perito que subscrever o laudo a que se refere o § II - a não-atuação policial sobre os portadores de dro-
1  deste artigo não ficará impedido de participar da elaboração
o gas, seus precursores químicos ou outros produtos utili-
do laudo definitivo. zados em sua produção, que se encontrem no território
§ 3o  Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar
no prazo de 10 (dez) dias, certificará a regularidade formal do maior número de integrantes de operações de tráfico e dis-
laudo de constatação e determinará a destruição das drogas tribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.
apreendidas, guardando-se amostra necessária à realização do Parágrafo único.  Na hipótese do inciso II deste artigo,
laudo definitivo. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014) a autorização será concedida desde que sejam conhecidos
§ 4o  A destruição das drogas será executada pelo delegado o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito
de polícia competente no prazo de 15 (quinze) dias na presença ou de colaboradores.
do Ministério Público e da autoridade sanitária. (Incluído pela Lei
nº 12.961, de 2014) Seção II
§ 5o  O local será vistoriado antes e depois de efetivada a Da Instrução Criminal
destruição das drogas referida no § 3o, sendo lavrado auto cir-
cunstanciado pelo delegado de polícia, certificando-se neste a Art. 54.  Recebidos em juízo os autos do inquérito poli-
destruição total delas.  (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014) cial, de Comissão Parlamentar de Inquérito ou peças de in-
Art. 50-A.  A destruição de drogas apreendidas sem a formação, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no pra-
ocorrência de prisão em flagrante será feita por incinera- zo de 10 (dez) dias, adotar uma das seguintes providências:
ção, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contado da data I - requerer o arquivamento;
da apreensão, guardando-se amostra necessária à reali- II - requisitar as diligências que entender necessárias;
zação do laudo definitivo, aplicando-se, no que couber, o III - oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas
procedimento dos §§ 3o a 5o do art. 50.   (Incluído pela Lei e requerer as demais provas que entender pertinentes.
nº 12.961, de 2014) Art. 55.  Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notifi-
Art. 51.  O inquérito policial será concluído no prazo de cação do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito,
30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noven- no prazo de 10 (dez) dias.
ta) dias, quando solto.

61
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 1o  Na resposta, consistente em defesa preliminar e exce- § 1o  Decretadas quaisquer das medidas previstas nes-
ções, o acusado poderá argüir preliminares e invocar todas as te artigo, o juiz facultará ao acusado que, no prazo de 5
razões de defesa, oferecer documentos e justificações, especifi- (cinco) dias, apresente ou requeira a produção de provas
car as provas que pretende produzir e, até o número de 5 (cinco), acerca da origem lícita do produto, bem ou valor objeto
arrolar testemunhas. da decisão.
§ 2o  As exceções serão processadas em apartado, nos ter- § 2o  Provada a origem lícita do produto, bem ou valor,
mos dos arts. 95 a 113 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro o juiz decidirá pela sua liberação.
de 1941 - Código de Processo Penal. § 3o  Nenhum pedido de restituição será conhecido
§ 3o  Se a resposta não for apresentada no prazo, o juiz no- sem o comparecimento pessoal do acusado, podendo o
meará defensor para oferecê-la em 10 (dez) dias, concedendo- juiz determinar a prática de atos necessários à conservação
-lhe vista dos autos no ato de nomeação. de bens, direitos ou valores.
§ 4o  Apresentada a defesa, o juiz decidirá em 5 (cinco) dias. § 4o  A ordem de apreensão ou sequestro de bens, di-
§ 5o  Se entender imprescindível, o juiz, no prazo máximo de
reitos ou valores poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o
10 (dez) dias, determinará a apresentação do preso, realização de
Ministério Público, quando a sua execução imediata possa
diligências, exames e perícias.
comprometer as investigações.
Art. 56.  Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora
Art. 61.  Não havendo prejuízo para a produção da pro-
para a audiência de instrução e julgamento, ordenará a citação
pessoal do acusado, a intimação do Ministério Público, do assis- va dos fatos e comprovado o interesse público ou social,
tente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais. ressalvado o disposto no art. 62 desta Lei, mediante auto-
§ 1o  Tratando-se de condutas tipificadas como infração do rização do juízo competente, ouvido o Ministério Público
disposto nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, ao e cientificada a Senad, os bens apreendidos poderão ser
receber a denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar do utilizados pelos órgãos ou pelas entidades que atuam na
denunciado de suas atividades, se for funcionário público, comu- prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção so-
nicando ao órgão respectivo. cial de usuários e dependentes de drogas e na repressão
§ 2o  A audiência a que se refere o caput deste artigo será à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas,
realizada dentro dos 30 (trinta) dias seguintes ao recebimento exclusivamente no interesse dessas atividades.
da denúncia, salvo se determinada a realização de avaliação para Parágrafo único.  Recaindo a autorização sobre veí-
atestar dependência de drogas, quando se realizará em 90 (no- culos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à auto-
venta) dias. ridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e
Art. 57.  Na audiência de instrução e julgamento, após o controle a expedição de certificado provisório de registro
interrogatório do acusado e a inquirição das testemunhas, será e licenciamento, em favor da instituição à qual tenha de-
dada a palavra, sucessivamente, ao representante do Ministério ferido o uso, ficando esta livre do pagamento de multas,
Público e ao defensor do acusado, para sustentação oral, pelo encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da
prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais decisão que decretar o seu perdimento em favor da União.
10 (dez), a critério do juiz. Art. 62.  Os veículos, embarcações, aeronaves e quais-
Parágrafo único.  Após proceder ao interrogatório, o juiz quer outros meios de transporte, os maquinários, utensí-
indagará das partes se restou algum fato para ser esclarecido, lios, instrumentos e objetos de qualquer natureza, utiliza-
formulando as perguntas correspondentes se o entender perti- dos para a prática dos crimes definidos nesta Lei, após a
nente e relevante. sua regular apreensão, ficarão sob custódia da autoridade
Art. 58.  Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença de de polícia judiciária, excetuadas as armas, que serão reco-
imediato, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que os autos
lhidas na forma de legislação específica.
para isso lhe sejam conclusos.
§ 1o  Comprovado o interesse público na utilização de
Art. 59.  Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34
qualquer dos bens mencionados neste artigo, a autoridade
a 37 desta Lei, o réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão,
de polícia judiciária poderá deles fazer uso, sob sua respon-
salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido
na sentença condenatória. sabilidade e com o objetivo de sua conservação, mediante
autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
CAPÍTULO IV § 2o  Feita a apreensão a que se refere o caput deste
DA APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO DE artigo, e tendo recaído sobre dinheiro ou cheques emitidos
BENS DO ACUSADO como ordem de pagamento, a autoridade de polícia judi-
ciária que presidir o inquérito deverá, de imediato, requerer
Art. 60.  O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Públi- ao juízo competente a intimação do Ministério Público.
co ou mediante representação da autoridade de polícia judiciária, § 3o  Intimado, o Ministério Público deverá requerer
ouvido o Ministério Público, havendo indícios suficientes, poderá ao juízo, em caráter cautelar, a conversão do numerário
decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e apreendido em moeda nacional, se for o caso, a compen-
outras medidas assecuratórias relacionadas aos bens móveis e sação dos cheques emitidos após a instrução do inquérito,
imóveis ou valores consistentes em produtos dos crimes previs- com cópias autênticas dos respectivos títulos, e o depósito
tos nesta Lei, ou que constituam proveito auferido com sua prá- das correspondentes quantias em conta judicial, juntando-
tica, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei -se aos autos o recibo.
no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.

62
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 4o  Após a instauração da competente ação penal, o § 3o  A Senad poderá firmar convênios de cooperação,
Ministério Público, mediante petição autônoma, requererá a fim de dar imediato cumprimento ao estabelecido no §
ao juízo competente que, em caráter cautelar, proceda à 2o deste artigo.
alienação dos bens apreendidos, excetuados aqueles que a § 4o  Transitada em julgado a sentença condenatória, o
União, por intermédio da Senad, indicar para serem coloca- juiz do processo, de ofício ou a requerimento do Ministério
dos sob uso e custódia da autoridade de polícia judiciária, Público, remeterá à Senad relação dos bens, direitos e valores
de órgãos de inteligência ou militares, envolvidos nas ações declarados perdidos em favor da União, indicando, quanto
de prevenção ao uso indevido de drogas e operações de aos bens, o local em que se encontram e a entidade ou o
repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de órgão em cujo poder estejam, para os fins de sua destinação
drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades. nos termos da legislação vigente.
§ 5o  Excluídos os bens que se houver indicado para Art. 64.  A União, por intermédio da Senad, poderá fir-
os fins previstos no § 4o deste artigo, o requerimento de mar convênio com os Estados, com o Distrito Federal e com
organismos orientados para a prevenção do uso indevido de
alienação deverá conter a relação de todos os demais bens
drogas, a atenção e a reinserção social de usuários ou de-
apreendidos, com a descrição e a especificação de cada um
pendentes e a atuação na repressão à produção não auto-
deles, e informações sobre quem os tem sob custódia e o
rizada e ao tráfico ilícito de drogas, com vistas na liberação
local onde se encontram.
de equipamentos e de recursos por ela arrecadados, para a
§ 6o  Requerida a alienação dos bens, a respectiva pe- implantação e execução de programas relacionados à ques-
tição será autuada em apartado, cujos autos terão tramita- tão das drogas.
ção autônoma em relação aos da ação penal principal.
§ 7o  Autuado o requerimento de alienação, os autos TÍTULO V
serão conclusos ao juiz, que, verificada a presença de nexo DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
de instrumentalidade entre o delito e os objetos utilizados
para a sua prática e risco de perda de valor econômico pelo Art. 65.  De conformidade com os princípios da não-in-
decurso do tempo, determinará a avaliação dos bens rela- tervenção em assuntos internos, da igualdade jurídica e do
cionados, cientificará a Senad e intimará a União, o Minis- respeito à integridade territorial dos Estados e às leis e aos
tério Público e o interessado, este, se for o caso, por edital regulamentos nacionais em vigor, e observado o espírito das
com prazo de 5 (cinco) dias. Convenções das Nações Unidas e  outros  instrumentos ju-
§ 8o  Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergên- rídicos internacionais relacionados à questão das drogas, de
cias sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, homo- que o Brasil é parte, o governo brasileiro prestará, quando
logará o valor atribuído aos bens e determinará sejam alie- solicitado, cooperação a outros países e organismos interna-
nados em leilão. cionais e, quando necessário, deles solicitará a colaboração,
§ 9o  Realizado o leilão, permanecerá depositada em nas áreas de:
conta judicial a quantia apurada, até o final da ação penal I - intercâmbio de informações sobre legislações, expe-
respectiva, quando será transferida ao Funad, juntamente riências, projetos e programas voltados para atividades de
com os valores de que trata o § 3o deste artigo. prevenção do uso indevido, de atenção e de reinserção social
§ 10.  Terão apenas efeito devolutivo os recursos inter- de usuários e dependentes de drogas;
postos contra as decisões proferidas no curso do procedi- II - intercâmbio de inteligência policial sobre produção
mento previsto neste artigo. e tráfico de drogas e delitos conexos, em especial o tráfico
§ 11.  Quanto aos bens indicados na forma do § 4o des- de armas, a lavagem de dinheiro e o desvio de precursores
químicos;
te artigo, recaindo a autorização sobre veículos, embarca-
III - intercâmbio de informações policiais e judiciais sobre
ções ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito
produtores e traficantes de drogas e seus precursores quí-
ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição
micos.
de certificado provisório de registro e licenciamento, em
favor da autoridade de polícia judiciária ou órgão aos quais TÍTULO VI
tenha deferido o uso, ficando estes livres do pagamento DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em
julgado da decisão que decretar o seu perdimento em fa- Art. 66.  Para fins do disposto no parágrafo único do art.
vor da União. 1o desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista
Art. 63.  Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias
sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendido, entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob con-
sequestrado ou declarado indisponível. trole especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de
§ 1o  Os valores apreendidos em decorrência dos crimes 1998.
tipificados nesta Lei e que não forem objeto de tutela cau- Art. 67.  A liberação dos recursos previstos na Lei no 7.560,
telar, após decretado o seu perdimento em favor da União, de 19 de dezembro de 1986, em favor de Estados e do Distri-
serão revertidos diretamente ao Funad. to Federal, dependerá de sua adesão e respeito às diretrizes
§ 2o  Compete à Senad a alienação dos bens apreendi- básicas contidas nos convênios firmados e do fornecimento
dos e não leiloados em caráter cautelar, cujo perdimento já de dados necessários à atualização do sistema previsto no
tenha sido decretado em favor da União. art. 17 desta Lei, pelas respectivas polícias judiciárias.

63
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 68.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-


nicípios poderão criar estímulos fiscais e outros, destinados 2.5.18 LEI FEDERAL Nº 12.527/2011 (LEI DE
às pessoas físicas e jurídicas que colaborem na prevenção do ACESSO À INFORMAÇÃO)
uso indevido de drogas, atenção e reinserção social de usuá-
rios e dependentes e na repressão da produção não autori-
zada e do tráfico ilícito de drogas.
Art. 69.  No caso de falência ou liquidação extrajudicial LEI Nº 12.527, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011.
de empresas ou estabelecimentos hospitalares, de pesquisa,
de ensino, ou congêneres, assim como nos serviços de saúde Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII
que produzirem, venderem, adquirirem, consumirem, pres- do art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e no § 2o do art.
creverem ou fornecerem drogas ou de qualquer outro em 216 da Constituição Federal; altera a Lei no 8.112, de 11 de
que existam essas substâncias ou produtos, incumbe ao juízo dezembro de 1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de
perante o qual tramite o feito: 2005, e dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991;
I - determinar, imediatamente à ciência da falência ou e dá outras providências.
liquidação, sejam lacradas suas instalações;
II - ordenar à autoridade sanitária competente a urgente A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
adoção das medidas necessárias ao recebimento e guarda, gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 
em depósito, das drogas arrecadadas;
III - dar ciência ao órgão do Ministério Público, para CAPÍTULO I
acompanhar o feito. DISPOSIÇÕES GERAIS
§ 1o  Da licitação para alienação de substâncias ou pro-
dutos não proscritos referidos no inciso II do caput deste Art. 1o  Esta Lei dispõe sobre os procedimentos a serem
artigo, só podem participar pessoas jurídicas regularmente observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municí-
habilitadas na área de saúde ou de pesquisa científica que pios, com o fim de garantir o acesso a informações previsto
comprovem a destinação lícita a ser dada ao produto a ser no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3º do art. 37 e
arrematado. no § 2º do art. 216 da Constituição Federal. 
§ 2o  Ressalvada a hipótese de que trata o § 3o deste ar- Parágrafo único.  Subordinam-se ao regime desta Lei: 
tigo, o produto não arrematado será, ato contínuo à hasta I - os órgãos públicos integrantes da administração di-
pública, destruído pela autoridade sanitária, na presença dos reta dos Poderes Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes
Conselhos Estaduais sobre Drogas e do Ministério Público. de Contas, e Judiciário e do Ministério Público; 
§ 3o  Figurando entre o praceado e não arrematadas es- II - as autarquias, as fundações públicas, as empresas
pecialidades farmacêuticas em condições de emprego tera- públicas, as sociedades de economia mista e demais enti-
pêutico, ficarão elas depositadas sob a guarda do Ministério dades controladas direta ou indiretamente pela União, Esta-
da Saúde, que as destinará à rede pública de saúde. dos, Distrito Federal e Municípios. 
Art. 70.  O processo e o julgamento dos crimes previstos Art. 2o  Aplicam-se as disposições desta Lei, no que cou-
nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transnacio- ber, às entidades privadas sem fins lucrativos que recebam,
nal, são da competência da Justiça Federal. para realização de ações de interesse público, recursos pú-
Parágrafo único.  Os crimes praticados nos Municípios blicos diretamente do orçamento ou mediante subvenções
que não sejam sede de vara federal serão processados e jul- sociais, contrato de gestão, termo de parceria, convênios,
gados na vara federal da circunscrição respectiva. acordo, ajustes ou outros instrumentos congêneres. 
Art. 71.  (VETADO) Parágrafo único.  A publicidade a que estão submetidas
Art. 72.  Encerrado o processo penal ou arquivado o in- as entidades citadas no caput refere-se à parcela dos recur-
quérito policial, o juiz, de ofício, mediante representação do sos públicos recebidos e à sua destinação, sem prejuízo das
delegado de polícia ou a requerimento do Ministério Público, prestações de contas a que estejam legalmente obrigadas. 
determinará a destruição das amostras guardadas para con- Art. 3o  Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-
traprova, certificando isso nos autos.  (Redação dada pela Lei -se a assegurar o direito fundamental de acesso à informa-
nº 12.961, de 2014) ção e devem ser executados em conformidade com os prin-
Art. 73.  A União poderá estabelecer convênios com os cípios básicos da administração pública e com as seguintes
Estados e o com o Distrito Federal, visando à prevenção e diretrizes: 
repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de drogas, e I - observância da publicidade como preceito geral e do
com os Municípios, com o objetivo de prevenir o uso inde- sigilo como exceção; 
vido delas e de possibilitar a atenção e reinserção social de II - divulgação de informações de interesse público, in-
usuários e dependentes de drogas. (Redação dada pela Lei dependentemente de solicitações; 
nº 12.219, de 2010) III - utilização de meios de comunicação viabilizados
Art. 74.  Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias pela tecnologia da informação; 
após a sua publicação. IV - fomento ao desenvolvimento da cultura de trans-
Art. 75.  Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de parência na administração pública; 
1976, e a Lei no 10.409, de 11 de janeiro de 2002. V - desenvolvimento do controle social da administra-
Brasília,  23  de  agosto  de  2006; 185o da Independência ção pública. 
e 118o da República.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 4o  Para os efeitos desta Lei, considera-se:  V - informação sobre atividades exercidas pelos órgãos e
I - informação: dados, processados ou não, que podem entidades, inclusive as relativas à sua política, organização e ser-
ser utilizados para produção e transmissão de conhecimen- viços; 
to, contidos em qualquer meio, suporte ou formato;  VI - informação pertinente à administração do patrimônio
II - documento: unidade de registro de informações, público, utilização de recursos públicos, licitação, contratos ad-
qualquer que seja o suporte ou formato;  ministrativos; e 
III - informação sigilosa: aquela submetida temporaria- VII - informação relativa: 
mente à restrição de acesso público em razão de sua impres- a) à implementação, acompanhamento e resultados dos
cindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado;  programas, projetos e ações dos órgãos e entidades públicas,
IV - informação pessoal: aquela relacionada à pessoa na- bem como metas e indicadores propostos; 
tural identificada ou identificável;  b) ao resultado de inspeções, auditorias, prestações e to-
V - tratamento da informação: conjunto de ações refe- madas de contas realizadas pelos órgãos de controle interno
rentes à produção, recepção, classificação, utilização, acesso, e externo, incluindo prestações de contas relativas a exercícios
reprodução, transporte, transmissão, distribuição, arquiva- anteriores. 
mento, armazenamento, eliminação, avaliação, destinação § 1o  O acesso à informação previsto no caput não com-
ou controle da informação;  preende as informações referentes a projetos de pesquisa e
VI - disponibilidade: qualidade da informação que pode desenvolvimento científicos ou tecnológicos cujo sigilo seja im-
ser conhecida e utilizada por indivíduos, equipamentos ou prescindível à segurança da sociedade e do Estado. 
sistemas autorizados;  § 2o  Quando não for autorizado acesso integral à informa-
VII - autenticidade: qualidade da informação que tenha ção por ser ela parcialmente sigilosa, é assegurado o acesso à
sido produzida, expedida, recebida ou modificada por deter- parte não sigilosa por meio de certidão, extrato ou cópia com
minado indivíduo, equipamento ou sistema;  ocultação da parte sob sigilo. 
VIII - integridade: qualidade da informação não modifi- § 3o  O direito de acesso aos documentos ou às informações
cada, inclusive quanto à origem, trânsito e destino;  neles contidas utilizados como fundamento da tomada de deci-
são e do ato administrativo será assegurado com a edição do ato
IX - primariedade: qualidade da informação coletada na
decisório respectivo. 
fonte, com o máximo de detalhamento possível, sem modi-
§ 4o  A negativa de acesso às informações objeto de pedido
ficações. 
formulado aos órgãos e entidades referidas no art. 1o, quando
Art. 5o  É dever do Estado garantir o direito de acesso à
não fundamentada, sujeitará o responsável a medidas disciplina-
informação, que será franqueada, mediante procedimentos
res, nos termos do art. 32 desta Lei. 
objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em lingua-
§ 5o  Informado do extravio da informação solicitada, pode-
gem de fácil compreensão. 
rá o interessado requerer à autoridade competente a imediata
abertura de sindicância para apurar o desaparecimento da res-
CAPÍTULO II pectiva documentação. 
DO ACESSO A INFORMAÇÕES E DA SUA DIVULGAÇÃO § 6o  Verificada a hipótese prevista no § 5o deste artigo, o
responsável pela guarda da informação extraviada deverá, no
Art. 6o  Cabe aos órgãos e entidades do poder público, prazo de 10 (dez) dias, justificar o fato e indicar testemunhas que
observadas as normas e procedimentos específicos aplicá- comprovem sua alegação. 
veis, assegurar a:  Art. 8o  É dever dos órgãos e entidades públicas promover,
I - gestão transparente da informação, propiciando independentemente de requerimentos, a divulgação em local de
amplo acesso a ela e sua divulgação;  fácil acesso, no âmbito de suas competências, de informações de
II - proteção da informação, garantindo-se sua disponi- interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas. 
bilidade, autenticidade e integridade; e  § 1o  Na divulgação das informações a que se refere o caput,
III - proteção da informação sigilosa e da informação deverão constar, no mínimo: 
pessoal, observada a sua disponibilidade, autenticidade, I - registro das competências e estrutura organizacional, en-
integridade e eventual restrição de acesso.  dereços e telefones das respectivas unidades e horários de aten-
Art. 7o  O acesso à informação de que trata esta Lei dimento ao público; 
compreende, entre outros, os direitos de obter:  II - registros de quaisquer repasses ou transferências de re-
I - orientação sobre os procedimentos para a conse- cursos financeiros; 
cução de acesso, bem como sobre o local onde poderá ser III - registros das despesas; 
encontrada ou obtida a informação almejada;  IV - informações concernentes a procedimentos licitatórios,
II - informação contida em registros ou documentos, inclusive os respectivos editais e resultados, bem como a todos
produzidos ou acumulados por seus órgãos ou entidades, os contratos celebrados; 
recolhidos ou não a arquivos públicos;  V - dados gerais para o acompanhamento de programas,
III - informação produzida ou custodiada por pessoa ações, projetos e obras de órgãos e entidades; e 
física ou entidade privada decorrente de qualquer vínculo VI - respostas a perguntas mais frequentes da sociedade. 
com seus órgãos ou entidades, mesmo que esse vínculo já § 2o  Para cumprimento do disposto no caput, os órgãos e
tenha cessado;  entidades públicas deverão utilizar todos os meios e instrumen-
IV - informação primária, íntegra, autêntica e atualiza- tos legítimos de que dispuserem, sendo obrigatória a divulgação
da;  em sítios oficiais da rede mundial de computadores (internet). 

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 3o  Os sítios de que trata o § 2o deverão, na forma de § 1o  Para o acesso a informações de interesse público,
regulamento, atender, entre outros, aos seguintes requisi- a identificação do requerente não pode conter exigências
tos:  que inviabilizem a solicitação. 
I - conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que § 2o  Os órgãos e entidades do poder público devem
permita o acesso à informação de forma objetiva, transpa- viabilizar alternativa de encaminhamento de pedidos de
rente, clara e em linguagem de fácil compreensão;  acesso por meio de seus sítios oficiais na internet. 
II - possibilitar a gravação de relatórios em diversos § 3o  São vedadas quaisquer exigências relativas aos
formatos eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, motivos determinantes da solicitação de informações de
tais como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise das interesse público. 
informações;  Art. 11.  O órgão ou entidade pública deverá autorizar
III - possibilitar o acesso automatizado por sistemas ou conceder o acesso imediato à informação disponível. 
externos em formatos abertos, estruturados e legíveis por § 1o  Não sendo possível conceder o acesso imediato,
máquina;  na forma disposta no caput, o órgão ou entidade que re-
IV - divulgar em detalhes os formatos utilizados para ceber o pedido deverá, em prazo não superior a 20 (vinte)
estruturação da informação;  dias: 
V - garantir a autenticidade e a integridade das infor- I - comunicar a data, local e modo para se realizar a
mações disponíveis para acesso;  consulta, efetuar a reprodução ou obter a certidão; 
VI - manter atualizadas as informações disponíveis II - indicar as razões de fato ou de direito da recusa,
para acesso;  total ou parcial, do acesso pretendido; ou 
VII - indicar local e instruções que permitam ao interes- III - comunicar que não possui a informação, indicar,
sado comunicar-se, por via eletrônica ou telefônica, com o se for do seu conhecimento, o órgão ou a entidade que
órgão ou entidade detentora do sítio; e  a detém, ou, ainda, remeter o requerimento a esse órgão
VIII - adotar as medidas necessárias para garantir a ou entidade, cientificando o interessado da remessa de seu
acessibilidade de conteúdo para pessoas com deficiência, pedido de informação. 
nos termos do art. 17 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro § 2o  O prazo referido no § 1o poderá ser prorrogado
de 2000, e do art. 9o da Convenção sobre os Direitos das por mais 10 (dez) dias, mediante justificativa expressa, da
Pessoas com Deficiência, aprovada pelo Decreto Legislativo qual será cientificado o requerente. 
no 186, de 9 de julho de 2008.  § 3o  Sem prejuízo da segurança e da proteção das in-
§ 4o  Os Municípios com população de até 10.000 (dez formações e do cumprimento da legislação aplicável, o ór-
mil) habitantes ficam dispensados da divulgação obrigató- gão ou entidade poderá oferecer meios para que o próprio
ria na internet a que se refere o § 2o, mantida a obrigato- requerente possa pesquisar a informação de que necessitar. 
riedade de divulgação, em tempo real, de informações re- § 4o  Quando não for autorizado o acesso por se tratar
lativas à execução orçamentária e financeira, nos critérios e de informação total ou parcialmente sigilosa, o requeren-
prazos previstos no art. 73-B da Lei Complementar no 101, te deverá ser informado sobre a possibilidade de recurso,
de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal).  prazos e condições para sua interposição, devendo, ainda,
Art. 9o  O acesso a informações públicas será assegu- ser-lhe indicada a autoridade competente para sua apre-
rado mediante:  ciação. 
I - criação de serviço de informações ao cidadão, nos § 5o  A informação armazenada em formato digital será
órgãos e entidades do poder público, em local com condi- fornecida nesse formato, caso haja anuência do requerente. 
ções apropriadas para:  § 6o  Caso a informação solicitada esteja disponível ao
a) atender e orientar o público quanto ao acesso a in- público em formato impresso, eletrônico ou em qualquer
formações;  outro meio de acesso universal, serão informados ao re-
b) informar sobre a tramitação de documentos nas querente, por escrito, o lugar e a forma pela qual se po-
suas respectivas unidades;  derá consultar, obter ou reproduzir a referida informação,
c) protocolizar documentos e requerimentos de acesso procedimento esse que desonerará o órgão ou entidade
a informações; e  pública da obrigação de seu fornecimento direto, salvo se
II - realização de audiências ou consultas públicas, in- o requerente declarar não dispor de meios para realizar por
centivo à participação popular ou a outras formas de di- si mesmo tais procedimentos. 
vulgação.  Art. 12.  O serviço de busca e fornecimento da infor-
mação é gratuito, salvo nas hipóteses de reprodução de
CAPÍTULO III documentos pelo órgão ou entidade pública consultada,
DO PROCEDIMENTO DE ACESSO À INFORMAÇÃO situação em que poderá ser cobrado exclusivamente o va-
Seção I lor necessário ao ressarcimento do custo dos serviços e dos
Do Pedido de Acesso materiais utilizados. 
Parágrafo único.  Estará isento de ressarcir os custos
Art. 10.  Qualquer interessado poderá apresentar pe- previstos no caput todo aquele cuja situação econômica
dido de acesso a informações aos órgãos e entidades re- não lhe permita fazê-lo sem prejuízo do sustento próprio
feridos no art. 1o desta Lei, por qualquer meio legítimo, ou da família, declarada nos termos da Lei no7.115, de 29
devendo o pedido conter a identificação do requerente e a de agosto de 1983. 
especificação da informação requerida. 

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 13.  Quando se tratar de acesso à informação con- § 2o  Indeferido o recurso previsto no caput que tenha
tida em documento cuja manipulação possa prejudicar sua como objeto a desclassificação de informação secreta ou
integridade, deverá ser oferecida a consulta de cópia, com ultrassecreta, caberá recurso à Comissão Mista de Reava-
certificação de que esta confere com o original.  liação de Informações prevista no art. 35. 
Parágrafo único.  Na impossibilidade de obtenção de có- Art. 18.  Os procedimentos de revisão de decisões de-
pias, o interessado poderá solicitar que, a suas expensas e negatórias proferidas no recurso previsto no art. 15 e de
sob supervisão de servidor público, a reprodução seja feita revisão de classificação de documentos sigilosos serão
por outro meio que não ponha em risco a conservação do objeto de regulamentação própria dos Poderes Legislativo
documento original.  e Judiciário e do Ministério Público, em seus respectivos
Art. 14.  É direito do requerente obter o inteiro teor de âmbitos, assegurado ao solicitante, em qualquer caso, o di-
decisão de negativa de acesso, por certidão ou cópia.  reito de ser informado sobre o andamento de seu pedido. 
Art. 19.  (VETADO). 
Seção II § 1o  (VETADO). 
Dos Recursos § 2o  Os órgãos do Poder Judiciário e do Ministério
Público informarão ao Conselho Nacional de Justiça e ao
Art. 15.  No caso de indeferimento de acesso a informa- Conselho Nacional do Ministério Público, respectivamente,
ções ou às razões da negativa do acesso, poderá o interes- as decisões que, em grau de recurso, negarem acesso a
sado interpor recurso contra a decisão no prazo de 10 (dez) informações de interesse público. 
dias a contar da sua ciência.  Art. 20.  Aplica-se subsidiariamente, no que couber,
Parágrafo único.  O recurso será dirigido à autoridade a Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999, ao procedimento
hierarquicamente superior à que exarou a decisão impugna- de que trata este Capítulo. 
da, que deverá se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias. 
Art. 16.  Negado o acesso a informação pelos órgãos ou
CAPÍTULO IV
entidades do Poder Executivo Federal, o requerente poderá
DAS RESTRIÇÕES DE ACESSO À INFORMAÇÃO
recorrer à Controladoria-Geral da União, que deliberará no
Seção I
prazo de 5 (cinco) dias se: 
Disposições Gerais
I - o acesso à informação não classificada como sigilosa
Art. 21.  Não poderá ser negado acesso à informação
for negado; 
necessária à tutela judicial ou administrativa de direitos
II - a decisão de negativa de acesso à informação total ou
parcialmente classificada como sigilosa não indicar a autori- fundamentais. 
dade classificadora ou a hierarquicamente superior a quem Parágrafo único.  As informações ou documentos que
possa ser dirigido pedido de acesso ou desclassificação;  versem sobre condutas que impliquem violação dos direi-
III - os procedimentos de classificação de informação si- tos humanos praticada por agentes públicos ou a mando
gilosa estabelecidos nesta Lei não tiverem sido observados; e  de autoridades públicas não poderão ser objeto de restri-
IV - estiverem sendo descumpridos prazos ou outros ção de acesso. 
procedimentos previstos nesta Lei.  Art. 22.  O disposto nesta Lei não exclui as demais hi-
§ 1o  O recurso previsto neste artigo somente poderá ser póteses legais de sigilo e de segredo de justiça nem as hi-
dirigido à Controladoria-Geral da União depois de submeti- póteses de segredo industrial decorrentes da exploração
do à apreciação de pelo menos uma autoridade hierarquica- direta de atividade econômica pelo Estado ou por pessoa
mente superior àquela que exarou a decisão impugnada, que física ou entidade privada que tenha qualquer vínculo com
deliberará no prazo de 5 (cinco) dias.  o poder público. 
§ 2o  Verificada a procedência das razões do recurso, a
Controladoria-Geral da União determinará ao órgão ou enti- Seção II
dade que adote as providências necessárias para dar cumpri- Da Classificação da Informação quanto ao Grau e
mento ao disposto nesta Lei.  Prazos de Sigilo
§ 3o  Negado o acesso à informação pela Controladoria-
-Geral da União, poderá ser interposto recurso à Comissão Art. 23.  São consideradas imprescindíveis à segurança
Mista de Reavaliação de Informações, a que se refere o art. da sociedade ou do Estado e, portanto, passíveis de classi-
35.  ficação as informações cuja divulgação ou acesso irrestrito
Art. 17.  No caso de indeferimento de pedido de des- possam: 
classificação de informação protocolado em órgão da admi- I - pôr em risco a defesa e a soberania nacionais ou a
nistração pública federal, poderá o requerente recorrer ao integridade do território nacional; 
Ministro de Estado da área, sem prejuízo das competências II - prejudicar ou pôr em risco a condução de nego-
da Comissão Mista de Reavaliação de Informações, previstas ciações ou as relações internacionais do País, ou as que
no art. 35, e do disposto no art. 16.  tenham sido fornecidas em caráter sigiloso por outros Es-
§ 1o  O recurso previsto neste artigo somente poderá ser tados e organismos internacionais; 
dirigido às autoridades mencionadas depois de submetido à III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da
apreciação de pelo menos uma autoridade hierarquicamente população; 
superior à autoridade que exarou a decisão impugnada e, no IV - oferecer elevado risco à estabilidade financeira,
caso das Forças Armadas, ao respectivo Comando.  econômica ou monetária do País; 

67
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

V - prejudicar ou causar risco a planos ou operações es- Art. 26.  As autoridades públicas adotarão as providên-
tratégicos das Forças Armadas;  cias necessárias para que o pessoal a elas subordinado hie-
VI - prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa rarquicamente conheça as normas e observe as medidas e
e desenvolvimento científico ou tecnológico, assim como a procedimentos de segurança para tratamento de informa-
sistemas, bens, instalações ou áreas de interesse estratégico ções sigilosas. 
nacional;  Parágrafo único.  A pessoa física ou entidade privada
VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de altas que, em razão de qualquer vínculo com o poder público,
autoridades nacionais ou estrangeiras e seus familiares; ou  executar atividades de tratamento de informações sigilosas
VIII - comprometer atividades de inteligência, bem como adotará as providências necessárias para que seus empre-
de investigação ou fiscalização em andamento, relacionadas gados, prepostos ou representantes observem as medidas
com a prevenção ou repressão de infrações.  e procedimentos de segurança das informações resultantes
Art. 24.  A informação em poder dos órgãos e entidades da aplicação desta Lei. 
públicas, observado o seu teor e em razão de sua imprescin-
dibilidade à segurança da sociedade ou do Estado, poderá Seção IV
ser classificada como ultrassecreta, secreta ou reservada.  Dos Procedimentos de Classificação, Reclassifica-
§ 1o  Os prazos máximos de restrição de acesso à infor- ção e Desclassificação
mação, conforme a classificação prevista no caput, vigoram
a partir da data de sua produção e são os seguintes:  Art. 27.  A classificação do sigilo de informações no
I - ultrassecreta: 25 (vinte e cinco) anos;  âmbito da administração pública federal é de competên-
II - secreta: 15 (quinze) anos; e  cia:  (Regulamento)
III - reservada: 5 (cinco) anos.  I - no grau de ultrassecreto, das seguintes autoridades: 
§ 2o  As informações que puderem colocar em risco a a) Presidente da República; 
segurança do Presidente e Vice-Presidente da República e b) Vice-Presidente da República; 
respectivos cônjuges e filhos(as) serão classificadas como c) Ministros de Estado e autoridades com as mesmas
reservadas e ficarão sob sigilo até o término do mandato em prerrogativas; 
exercício ou do último mandato, em caso de reeleição.  d) Comandantes da Marinha, do Exército e da Aero-
§ 3o  Alternativamente aos prazos previstos no § 1o, pode- náutica; e 
rá ser estabelecida como termo final de restrição de acesso e) Chefes de Missões Diplomáticas e Consulares per-
a ocorrência de determinado evento, desde que este ocorra manentes no exterior; 
antes do transcurso do prazo máximo de classificação.  II - no grau de secreto, das autoridades referidas no
§ 4o  Transcorrido o prazo de classificação ou consuma- inciso I, dos titulares de autarquias, fundações ou empresas
do o evento que defina o seu termo final, a informação tor- públicas e sociedades de economia mista; e 
nar-se-á, automaticamente, de acesso público.  III - no grau de reservado, das autoridades referidas
§ 5o  Para a classificação da informação em determinado nos incisos I e II e das que exerçam funções de direção,
grau de sigilo, deverá ser observado o interesse público da comando ou chefia, nível DAS 101.5, ou superior, do Gru-
informação e utilizado o critério menos restritivo possível, po-Direção e Assessoramento Superiores, ou de hierarquia
considerados:  equivalente, de acordo com regulamentação específica de
I - a gravidade do risco ou dano à segurança da socie- cada órgão ou entidade, observado o disposto nesta Lei. 
dade e do Estado; e  § 1o  A competência prevista nos incisos I e II, no que se
II - o prazo máximo de restrição de acesso ou o evento refere à classificação como ultrassecreta e secreta, poderá
que defina seu termo final.  ser delegada pela autoridade responsável a agente público,
inclusive em missão no exterior, vedada a subdelegação. 
Seção III § 2o  A classificação de informação no grau de sigilo ul-
Da Proteção e do Controle de Informações Sigilosas trassecreto pelas autoridades previstas nas alíneas “d” e “e”
do inciso I deverá ser ratificada pelos respectivos Ministros
Art. 25.  É dever do Estado controlar o acesso e a divul- de Estado, no prazo previsto em regulamento. 
gação de informações sigilosas produzidas por seus órgãos § 3o  A autoridade ou outro agente público que classi-
e entidades, assegurando a sua proteção. (Regulamento) ficar informação como ultrassecreta deverá encaminhar a
§ 1o  O acesso, a divulgação e o tratamento de informa- decisão de que trata o art. 28 à Comissão Mista de Reava-
ção classificada como sigilosa ficarão restritos a pessoas que liação de Informações, a que se refere o art. 35, no prazo
tenham necessidade de conhecê-la e que sejam devidamen- previsto em regulamento. 
te credenciadas na forma do regulamento, sem prejuízo das Art. 28.  A classificação de informação em qualquer
atribuições dos agentes públicos autorizados por lei.  grau de sigilo deverá ser formalizada em decisão que con-
§ 2o  O acesso à informação classificada como sigilosa terá, no mínimo, os seguintes elementos: 
cria a obrigação para aquele que a obteve de resguardar o I - assunto sobre o qual versa a informação; 
sigilo.  II - fundamento da classificação, observados os crité-
§ 3o  Regulamento disporá sobre procedimentos e me- rios estabelecidos no art. 24; 
didas a serem adotados para o tratamento de informação III - indicação do prazo de sigilo, contado em anos,
sigilosa, de modo a protegê-la contra perda, alteração in- meses ou dias, ou do evento que defina o seu termo final,
devida, acesso, transmissão e divulgação não autorizados.  conforme limites previstos no art. 24; e 

68
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

IV - identificação da autoridade que a classificou.  I - à prevenção e diagnóstico médico, quando a pessoa


Parágrafo único.  A decisão referida no caput será man- estiver física ou legalmente incapaz, e para utilização única
tida no mesmo grau de sigilo da informação classificada.  e exclusivamente para o tratamento médico; 
Art. 29.  A classificação das informações será reavaliada II - à realização de estatísticas e pesquisas científicas de
pela autoridade classificadora ou por autoridade hierarqui- evidente interesse público ou geral, previstos em lei, sendo
camente superior, mediante provocação ou de ofício, nos vedada a identificação da pessoa a que as informações se
termos e prazos previstos em regulamento, com vistas à referirem; 
sua desclassificação ou à redução do prazo de sigilo, ob- III - ao cumprimento de ordem judicial; 
servado o disposto no art. 24.  (Regulamento) IV - à defesa de direitos humanos; ou 
§ 1o  O regulamento a que se refere o caput deverá V - à proteção do interesse público e geral preponde-
considerar as peculiaridades das informações produzidas rante. 
no exterior por autoridades ou agentes públicos.  § 4o  A restrição de acesso à informação relativa à vida
§ 2o  Na reavaliação a que se refere o caput, deverão privada, honra e imagem de pessoa não poderá ser invo-
ser examinadas a permanência dos motivos do sigilo e a cada com o intuito de prejudicar processo de apuração de
possibilidade de danos decorrentes do acesso ou da divul- irregularidades em que o titular das informações estiver
gação da informação.  envolvido, bem como em ações voltadas para a recupera-
§ 3o  Na hipótese de redução do prazo de sigilo da in- ção de fatos históricos de maior relevância. 
formação, o novo prazo de restrição manterá como termo § 5o  Regulamento disporá sobre os procedimentos
inicial a data da sua produção.  para tratamento de informação pessoal. 
Art. 30.  A autoridade máxima de cada órgão ou enti-
dade publicará, anualmente, em sítio à disposição na in- CAPÍTULO V
ternet e destinado à veiculação de dados e informações DAS RESPONSABILIDADES
administrativas, nos termos de regulamento: 
I - rol das informações que tenham sido desclassifica- Art. 32.  Constituem condutas ilícitas que ensejam res-
das nos últimos 12 (doze) meses;  ponsabilidade do agente público ou militar: 
II - rol de documentos classificados em cada grau de I - recusar-se a fornecer informação requerida nos
sigilo, com identificação para referência futura;  termos desta Lei, retardar deliberadamente o seu forneci-
III - relatório estatístico contendo a quantidade de pe- mento ou fornecê-la intencionalmente de forma incorreta,
didos de informação recebidos, atendidos e indeferidos, incompleta ou imprecisa; 
bem como informações genéricas sobre os solicitantes.  II - utilizar indevidamente, bem como subtrair, destruir,
§ 1o  Os órgãos e entidades deverão manter exemplar inutilizar, desfigurar, alterar ou ocultar, total ou parcialmen-
da publicação prevista no caput para consulta pública em te, informação que se encontre sob sua guarda ou a que
suas sedes.  tenha acesso ou conhecimento em razão do exercício das
§ 2o  Os órgãos e entidades manterão extrato com a atribuições de cargo, emprego ou função pública; 
lista de informações classificadas, acompanhadas da data, III - agir com dolo ou má-fé na análise das solicitações
do grau de sigilo e dos fundamentos da classificação.  de acesso à informação; 
IV - divulgar ou permitir a divulgação ou acessar ou
Seção V permitir acesso indevido à informação sigilosa ou informa-
Das Informações Pessoais ção pessoal; 
V - impor sigilo à informação para obter proveito pes-
Art. 31.  O tratamento das informações pessoais deve soal ou de terceiro, ou para fins de ocultação de ato ilegal
ser feito de forma transparente e com respeito à intimida- cometido por si ou por outrem; 
de, vida privada, honra e imagem das pessoas, bem como VI - ocultar da revisão de autoridade superior compe-
às liberdades e garantias individuais.  tente informação sigilosa para beneficiar a si ou a outrem,
§ 1o  As informações pessoais, a que se refere este ar- ou em prejuízo de terceiros; e 
tigo, relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem:  VII - destruir ou subtrair, por qualquer meio, documen-
I - terão seu acesso restrito, independentemente de tos concernentes a possíveis violações de direitos humanos
classificação de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem) por parte de agentes do Estado. 
anos a contar da sua data de produção, a agentes públicos § 1o  Atendido o princípio do contraditório, da ampla
legalmente autorizados e à pessoa a que elas se referirem; defesa e do devido processo legal, as condutas descritas
e  no caput serão consideradas: 
II - poderão ter autorizada sua divulgação ou acesso I - para fins dos regulamentos disciplinares das Forças
por terceiros diante de previsão legal ou consentimento Armadas, transgressões militares médias ou graves, segun-
expresso da pessoa a que elas se referirem.  do os critérios neles estabelecidos, desde que não tipifica-
§ 2o  Aquele que obtiver acesso às informações de que das em lei como crime ou contravenção penal; ou 
trata este artigo será responsabilizado por seu uso indevi- II - para fins do disposto na Lei no 8.112, de 11 de de-
do.  zembro de 1990, e suas alterações, infrações administrati-
§ 3o  O consentimento referido no inciso II do § 1o não vas, que deverão ser apenadas, no mínimo, com suspensão,
será exigido quando as informações forem necessárias:  segundo os critérios nela estabelecidos. 

69
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 2o  Pelas condutas descritas no caput, poderá o mili- III - prorrogar o prazo de sigilo de informação classifi-
tar ou agente público responder, também, por improbida- cada como ultrassecreta, sempre por prazo determinado, en-
de administrativa, conforme o disposto nas Leis nos 1.079, quanto o seu acesso ou divulgação puder ocasionar ameaça
de 10 de abril de 1950, e 8.429, de 2 de junho de 1992.  externa à soberania nacional ou à integridade do território
Art. 33.  A pessoa física ou entidade privada que detiver nacional ou grave risco às relações internacionais do País, ob-
informações em virtude de vínculo de qualquer natureza servado o prazo previsto no § 1o do art. 24. 
com o poder público e deixar de observar o disposto nesta § 2o  O prazo referido no inciso III é limitado a uma única
Lei estará sujeita às seguintes sanções:  renovação. 
I - advertência;  § 3o  A revisão de ofício a que se refere o inciso II do §
II - multa;  1o deverá ocorrer, no máximo, a cada 4 (quatro) anos, após a
III - rescisão do vínculo com o poder público;  reavaliação prevista no art. 39, quando se tratar de documen-
IV - suspensão temporária de participar em licitação tos ultrassecretos ou secretos. 
e impedimento de contratar com a administração pública § 4o  A não deliberação sobre a revisão pela Comissão
por prazo não superior a 2 (dois) anos; e  Mista de Reavaliação de Informações nos prazos previstos no
V - declaração de inidoneidade para licitar ou contra- § 3o implicará a desclassificação automática das informações. 
tar com a administração pública, até que seja promovida § 5o  Regulamento disporá sobre a composição, organi-
a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a zação e funcionamento da Comissão Mista de Reavaliação
penalidade.  de Informações, observado o mandato de 2 (dois) anos para
§ 1o  As sanções previstas nos incisos I, III e IV poderão seus integrantes e demais disposições desta Lei.  (Regula-
ser aplicadas juntamente com a do inciso II, assegurado o mento)
direito de defesa do interessado, no respectivo processo, Art. 36.  O tratamento de informação sigilosa resultante
no prazo de 10 (dez) dias.  de tratados, acordos ou atos internacionais atenderá às nor-
§ 2o  A reabilitação referida no inciso V será autorizada mas e recomendações constantes desses instrumentos. 
somente quando o interessado efetivar o ressarcimento ao Art. 37.  É instituído, no âmbito do Gabinete de Segu-
órgão ou entidade dos prejuízos resultantes e após decor- rança Institucional da Presidência da República, o Núcleo
rido o prazo da sanção aplicada com base no inciso IV.  de Segurança e Credenciamento (NSC), que tem por objeti-
§ 3o  A aplicação da sanção prevista no inciso V é de vos:  (Regulamento)
competência exclusiva da autoridade máxima do órgão ou I - promover e propor a regulamentação do credencia-
entidade pública, facultada a defesa do interessado, no res- mento de segurança de pessoas físicas, empresas, órgãos e
pectivo processo, no prazo de 10 (dez) dias da abertura de entidades para tratamento de informações sigilosas; e 
vista.  II - garantir a segurança de informações sigilosas, inclu-
Art. 34.  Os órgãos e entidades públicas respondem sive aquelas provenientes de países ou organizações interna-
diretamente pelos danos causados em decorrência da di- cionais com os quais a República Federativa do Brasil tenha
vulgação não autorizada ou utilização indevida de infor- firmado tratado, acordo, contrato ou qualquer outro ato in-
mações sigilosas ou informações pessoais, cabendo a apu- ternacional, sem prejuízo das atribuições do Ministério das
ração de responsabilidade funcional nos casos de dolo ou Relações Exteriores e dos demais órgãos competentes. 
culpa, assegurado o respectivo direito de regresso.  Parágrafo único.  Regulamento disporá sobre a composi-
Parágrafo único.  O disposto neste artigo aplica-se à ção, organização e funcionamento do NSC. 
pessoa física ou entidade privada que, em virtude de vín- Art. 38.  Aplica-se, no que couber, a Lei no 9.507, de 12
culo de qualquer natureza com órgãos ou entidades, tenha de novembro de 1997, em relação à informação de pessoa,
acesso a informação sigilosa ou pessoal e a submeta a tra- física ou jurídica, constante de registro ou banco de dados de
tamento indevido.  entidades governamentais ou de caráter público. 
Art. 39.  Os órgãos e entidades públicas deverão proce-
CAPÍTULO VI der à reavaliação das informações classificadas como ultras-
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS secretas e secretas no prazo máximo de 2 (dois) anos, conta-
do do termo inicial de vigência desta Lei. 
Art. 35.  (VETADO).  § 1o  A restrição de acesso a informações, em razão da
§ 1o  É instituída a Comissão Mista de Reavaliação de reavaliação prevista no caput, deverá observar os prazos e
Informações, que decidirá, no âmbito da administração pú- condições previstos nesta Lei. 
blica federal, sobre o tratamento e a classificação de infor- § 2o  No âmbito da administração pública federal, a rea-
mações sigilosas e terá competência para:  valiação prevista no caput poderá ser revista, a qualquer
I - requisitar da autoridade que classificar informação tempo, pela Comissão Mista de Reavaliação de Informações,
como ultrassecreta e secreta esclarecimento ou conteúdo, observados os termos desta Lei.
parcial ou integral da informação;  § 3o  Enquanto não transcorrido o prazo de reavaliação
II - rever a classificação de informações ultrassecretas previsto no caput, será mantida a classificação da informação
ou secretas, de ofício ou mediante provocação de pessoa nos termos da legislação precedente. 
interessada, observado o disposto no art. 7o e demais dis- § 4o  As informações classificadas como secretas e ultras-
positivos desta Lei; e  secretas não reavaliadas no prazo previsto no caput serão
consideradas, automaticamente, de acesso público. 

70
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 40.  No prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da vigên-


cia desta Lei, o dirigente máximo de cada órgão ou entidade da
DECRETO ESTADUAL Nº 58.052 DE
administração pública federal direta e indireta designará autori-
16.05.2012;
dade que lhe seja diretamente subordinada para, no âmbito do
respectivo órgão ou entidade, exercer as seguintes atribuições: 
I - assegurar o cumprimento das normas relativas ao aces-
so a informação, de forma eficiente e adequada aos objetivos DECRETO Nº 58.052, DE 16 DE MAIO DE 2012
desta Lei; 
II - monitorar a implementação do disposto nesta Lei e
Regulamenta a Lei federal n° 12.527, de 18 de novembro
apresentar relatórios periódicos sobre o seu cumprimento; 
de 2011, que regula o acesso a informações, e dá providên-
III - recomendar as medidas indispensáveis à implementa-
cias correlatas
ção e ao aperfeiçoamento das normas e procedimentos neces-
sários ao correto cumprimento do disposto nesta Lei; e 
GERALDO ALCKMIN, Governador do Estado de São
IV - orientar as respectivas unidades no que se refere ao
Paulo, no uso de suas atribuições legais,
cumprimento do disposto nesta Lei e seus regulamentos. 
Art. 41.  O Poder Executivo Federal designará órgão da ad- Considerando que é dever do Poder Público promover
ministração pública federal responsável:  a gestão dos documentos públicos para assegurar o acesso
I - pela promoção de campanha de abrangência nacional às informações neles contidas, de acordo com o § 2º do
de fomento à cultura da transparência na administração públi- artigo 216 da Constituição Federal e com o artigo 1º da Lei
ca e conscientização do direito fundamental de acesso à infor- federal nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991;
mação;  Considerando que cabe ao Estado definir, em legis-
II - pelo treinamento de agentes públicos no que se refere lação própria, regras específicas para o cumprimento das
ao desenvolvimento de práticas relacionadas à transparência determinações previstas na Lei federal nº 12.527, de 18 de
na administração pública;  novembro de 2011, que regula o acesso a informações;
III - pelo monitoramento da aplicação da lei no âmbito da Considerando as disposições das Leis estaduais nº
administração pública federal, concentrando e consolidando a 10.177, de 30 de dezembro de 1998, que regula o processo
publicação de informações estatísticas relacionadas no art. 30;  administrativo e nº 10.294, de 20 de abril de 1999, que dis-
IV - pelo encaminhamento ao Congresso Nacional de rela- põe sobre proteção e defesa do usuário de serviços públi-
tório anual com informações atinentes à implementação desta cos, e dos Decretos estaduais nº 22.789, de 19 de outubro
Lei.  de 1984, que institui o Sistema de Arquivos do Estado de
Art. 42.  O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta São Paulo - SAESP, nº 44.074, de 1º de julho de 1999, que
Lei no prazo de 180 (cento e oitenta) dias a contar da data de regulamenta a composição e estabelece a competência das
sua publicação.  Ouvidorias, nº 54.276, de 27 de abril de 2009, que reorga-
Art. 43.  O inciso VI do art. 116 da Lei no 8.112, de 11 de niza a Unidade do Arquivo Público do Estado, da Casa Civil,
dezembro de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação:  nº 55.479, de 25 de fevereiro de 2010, que institui na Casa
“Art. 116.  ................................................................... Civil o Comitê Gestor do Sistema Informatizado Unificado
............................................................................................  de Gestão Arquivística de Documentos e Informações - SP-
VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em razão doc, alterado pelo de nº 56.260, de 6 de outubro de 2010,
do cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando nº 55.559, de 12 de março de 2010, que institui o Portal do
houver suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de Governo Aberto SP e nº 57.500, de 8 de novembro de 2011,
outra autoridade competente para apuração; que reorganiza a Corregedoria Geral da Administração e
.................................................................................” (NR)  institui o Sistema Estadual de Controladoria; e
Art. 44.  O Capítulo IV do Título IV da Lei no 8.112, de 1990, Considerando, finalmente, a proposta apresentada
passa a vigorar acrescido do seguinte art. 126-A:  pelo Grupo Técnico instituído pela Resolução CC-3, de 9 de
“Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabilizado janeiro de 2012, junto ao Comitê de Qualidade da Gestão
civil, penal ou administrativamente por dar ciência à autoridade Pública,
superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, Decreta:
a outra autoridade competente para apuração de informação
concernente à prática de crimes ou improbidade de que tenha CAPÍTULO I
conhecimento, ainda que em decorrência do exercício de car- Disposições Gerais
go, emprego ou função pública.” 
Art. 45.  Cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni- Artigo 1º -  Este decreto define procedimentos a se-
cípios, em legislação própria, obedecidas as normas gerais es- rem observados pelos órgãos e entidades da Administra-
tabelecidas nesta Lei, definir regras específicas, especialmente ção Pública Estadual, e pelas entidades privadas sem fins
quanto ao disposto no art. 9o e na Seção II do Capítulo III.  lucrativos que recebam recursos públicos estaduais para a
Art. 46.  Revogam-se:  realização de atividades de interesse público, à vista das
I - a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005; e  normas gerais estabelecidas na Lei federal nº 12.527, de 18
II - os arts. 22 a 24 da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991.  de novembro de 2011.
Art. 47.  Esta Lei entra em vigor 180 (cento e oitenta) dias
após a data de sua publicação.  

71
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Artigo 2º - O direito fundamental de acesso a docu- XII - gestão de documentos: conjunto de procedimentos 
mentos, dados e informações será assegurado mediante: operações técnicas referentes à sua produção, classificação,
I - observância da publicidade como preceito geral e avaliação, tramitação, uso, arquivamento e reprodução, que as-
do sigilo como exceção; segura a racionalização e a eficiência dos arquivos;
II - implementação da política estadual de arquivos e XIII - informação: dados, processados ou não, que podem
gestão de documentos; ser utilizados para produção e transmissão de conhecimento,
III - divulgação de informações de interesse público, contidos em qualquer meio, suporte ou formato;
independentemente de solicitações; XIV - informação pessoal: aquela relacionada à pessoa na-
IV - utilização de meios de comunicação viabilizados tural identificada ou identificável;
pela tecnologia da informação; XV - informação sigilosa: aquela submetida temporaria-
V - fomento ao desenvolvimento da cultura de trans- mente à restrição de acesso público em razão de sua impres-
parência na administração pública; cindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado;
VI - desenvolvimento do controle social da administra- XVI - integridade: qualidade da informação não modifica-
ção pública. da, inclusive quanto à origem, trânsito e destino;
Artigo 3º - Para os efeitos deste decreto, consideram- XVII - marcação: aposição de marca assinalando o grau de
-se as seguintes definições: sigilo de documentos, dados ou informações, ou sua condição
I - arquivos públicos: conjuntos de documentos pro- de acesso irrestrito, após sua desclassificação;
duzidos, recebidos e acumulados por órgãos públicos, XVIII - metadados: são informações estruturadas e codi-
autarquias, fundações instituídas ou mantidas pelo Poder ficadas que descrevem e permitem gerenciar, compreender,
Público, empresas públicas, sociedades de economia mista, preservar e acessar os documentos digitais ao longo do tempo
entidades privadas encarregadas da gestão de serviços pú- e referem-se a:
blicos e organizações sociais, no exercício de suas funções a) identificação e contexto documental (identificador úni-
e atividades; co, instituição produtora, nomes, assunto, datas, local, código
II - autenticidade: qualidade da informação que tenha de classificação, tipologia documental, temporalidade, desti-
sido produzida, expedida, recebida ou modificada por de- nação, versão, documentos relacionados, idioma e indexação);
terminado indivíduo, equipamento ou sistema; b) segurança (grau de sigilo, informações sobre criptogra-
III - classificação de sigilo: atribuição, pela autoridade fia, assinatura digital e outras marcas digitais);
competente, de grau de sigilo a documentos, dados e in- c) contexto tecnológico (formato de arquivo, tamanho de
formações; arquivo, dependências de hardware e software, tipos de mídias,
IV - credencial de segurança: autorização por escri- algoritmos de compressão) e localização física do documento;
to concedida por autoridade competente, que habilita o XIX - primariedade: qualidade da informação coletada na
agente público estadual no efetivo exercício de cargo, fun- fonte, com o máximo de detalhamento possível, sem modifi-
ção, emprego ou atividade pública a ter acesso a docu- cações;
mentos, dados e informações sigilosas; XX - reclassificação: alteração, pela autoridade competen-
V - criptografia: processo de escrita à base de métodos te, da classificação de sigilo de documentos, dados e informa-
lógicos e controlados por chaves, cifras ou códigos, de for- ções;
ma que somente os usuários autorizados possam reestabe- XXI - rol de documentos, dados e informações sigilosas e
lecer sua forma original; pessoais: relação anual, a ser publicada pelas autoridades máxi-
VI - custódia: responsabilidade pela guarda de docu- mas de órgãos e entidades, de documentos, dados e informa-
mentos, dados e informações; ções classificadas, no período, como sigilosas ou pessoais, com
VII - dado público: sequência de símbolos ou valores, identificação para referência futura;
representado em algum meio, produzido ou sob a guarda XXII - serviço ou atendimento presencial: aquele prestado
governamental, em decorrência de um processo natural ou a presença física do cidadão, principal beneficiário ou interes-
artificial, que não tenha seu acesso restrito por legislação sado no serviço;
específica; XXIII - serviço ou atendimento eletrônico: aquele prestado
VIII -  desclassificação: supressão da classificação de remotamente ou à distância, utilizando meios eletrônicos de
sigilo por ato da autoridade competente ou decurso de comunicação;
prazo, tornando irrestrito o acesso a documentos, dados e XXIV - tabela de documentos, dados e informações sigi-
informações sigilosas; losas e pessoais: relação exaustiva de documentos, dados e in-
IX - documentos de arquivo: todos os registros de in- formações com quaisquer restrição de acesso, com a indicação
formação, em qualquer suporte, inclusive o magnético ou do grau de sigilo, decorrente de estudos e pesquisas promo-
óptico, produzidos, recebidos ou acumulados por órgãos e vidos pelas Comissões de Avaliação de Documentos e Acesso
entidades da Administração Pública Estadual, no exercício - CADA, e publicada pelas autoridades máximas dos órgãos e
de suas funções e atividades; entidades;
X - disponibilidade: qualidade da informação que pode XXV - tratamento da informação: conjunto de ações re-
ser conhecida e utilizada por indivíduos, equipamentos ou ferentes à produção, recepção, classificação, utilização, acesso,
sistemas autorizados; reprodução, transporte, transmissão, distribuição, arquivamen-
XI - documento: unidade de registro de informações, to, armazenamento, eliminação, avaliação, destinação ou con-
qualquer que seja o suporte ou formato; trole da informação.

72
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

CAPÍTULO II I - realizar atendimento presencial e/ou eletrônico na


Do Acesso a Documentos, Dados e Informações sede e nas unidades subordinadas, prestando orientação
SEÇÃO I ao público sobre os direitos do requerente, o funcionamen-
Disposições Gerais to do Serviço de Informações ao Cidadão - SIC, a tramita-
ção de documentos, bem como sobre os serviços presta-
Artigo 4º - É dever dos órgãos e entidades da Admi- dos pelas respectivas unidades do órgão ou entidade;
nistração Pública Estadual: II - protocolar documentos e requerimentos de acesso
I - promover a gestão transparente de documentos, a informações, bem como encaminhar os pedidos de infor-
dados e informações, assegurando sua disponibilidade, mação aos setores produtores ou detentores de documen-
autenticidade e integridade, para garantir o pleno direito tos, dados e informações;
de acesso; III - controlar o cumprimento de prazos por parte dos
II - divulgar documentos, dados e informações de in- setores produtores ou detentores de documentos, dados e
teresse coletivo ou geral, sob sua custódia, independente- informações, previstos no artigo 15 deste decreto;
mente de solicitações;
IV - realizar o serviço de busca e fornecimento de do-
III - proteger os documentos, dados e informações si-
cumentos, dados e informações sob custódia do respectivo
gilosas e pessoais, por meio de critérios técnicos e objeti-
órgão ou entidade, ou fornecer ao requerente orientação
vos, o menos restritivo possível.
sobre o local onde encontrá-los.
SEÇÃO II § 1º - As autoridades máximas dos órgãos e entidades
Da Gestão de Documentos, Dados e Informações da Administração Pública Estadual deverão designar, no
prazo de 30 (trinta) dias, os responsáveis pelos Serviços de
Artigo 5º - A Unidade do Arquivo Público do Estado, Informações ao Cidadão - SIC.
na condição de órgão central do Sistema de Arquivos do § 2º - Para o pleno desempenho de suas atribuições, os
Estado de São Paulo - SAESP, é a responsável pela formu- Serviços de Informações ao Cidadão - SIC deverão:
lação e implementação da política estadual de arquivos e 1. manter intercâmbio permanente com os serviços de
gestão de documentos, a que se refere o artigo 2º, inciso protocolo e arquivo;
II deste decreto, e deverá propor normas, procedimentos e 2. buscar informações junto aos gestores de sistemas
requisitos técnicos complementares, visando o tratamento informatizados e bases de dados, inclusive de portais e sí-
da informação. tios institucionais;
Parágrafo único - Integram a política estadual de ar- 3. atuar de forma integrada com as Ouvidorias, insti-
quivos e gestão de documentos: tuídas pela Lei estadual nº 10.294, de 20 de abril de 1999,
1. os serviços de protocolo e arquivo dos órgãos e en- e organizadas pelo Decreto nº 44.074, de 1º de julho de
tidades; 1999.
2. as Comissões de Avaliação de Documentos e Acesso § 3º - Os Serviços de Informações ao Cidadão - SIC,
- CADA, a que se refere o artigo 11 deste decreto; independentemente do meio utilizado, deverão ser identi-
3. o Sistema Informatizado Unificado de Gestão Arqui- ficados com ampla visibilidade.
vística de Documentos e Informações - SPdoc; Artigo 8º - A Casa Civil deverá providenciar a con-
4. os Serviços de Informações ao Cidadão - SIC. tratação de serviços para o desenvolvimento de «Sistema
Artigo 6º - Para garantir efetividade à política de ar- Integrado de Informações ao Cidadão», capaz de intero-
quivos e gestão de documentos, os órgãos e entidades da perar com o SPdoc, a ser utilizado por todos os órgãos e
Administração Pública Estadual deverão: entidades nos seus respectivos Serviços de Informações ao
I - providenciar a elaboração de planos de classificação
Cidadão - SIC.
e tabelas de temporalidade de documentos de suas ativi-
Artigo 9º - A Unidade do Arquivo Público do Estado,
dadesfim, a que se referem, respectivamente, os artigos 10
da Casa Civil, deverá adotar as providências necessárias
a 18 e 19 a 23, do Decreto nº 48.897, de 27 de agosto de
para a organização dos serviços da Central de Atendimento
2004;
II - cadastrar todos os seus documentos no Sistema ao Cidadão - CAC, instituída pelo Decreto nº 54.276, de 27
Informatizado Unificado de Gestão Arquivística de Docu- de abril de 2009, com a finalidade de:
mentos e Informações - SPdoc. I -  coordenar a integração sistêmica dos Serviços de
Parágrafo único - As propostas de planos de classifi- Informações ao Cidadão - SIC, instituídos nos órgãos e en-
cação e de tabelas de temporalidade de documentos de- tidades;
verão ser apreciadas pelos órgãos jurídicos dos órgãos e II - realizar a consolidação e sistematização de dados
entidades e encaminhadas à Unidade do Arquivo Público a que se refere o artigo 26 deste decreto, bem como a ela-
do Estado para aprovação, antes de sua oficialização. boração de estatísticas sobre as demandas de consulta e os
Artigo 7º - Ficam criados, em todos os órgãos e en- perfis de usuários, visando o aprimoramento dos serviços.
tidades da Administração Pública Estadual, os Serviços Parágrafo único - Os Serviços de Informações ao Ci-
de Informações ao Cidadão - SIC, a que se refere o artigo dadão - SIC deverão fornecer, periodicamente, à Central
5º, inciso IV, deste decreto, diretamente subordinados aos de Atendimento ao Cidadão - CAC, dados atualizados dos
seus titulares, em local com condições apropriadas, infraes- atendimentos prestados.
trutura tecnológica e equipe capacitada para:

73
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Artigo 10 - O acesso aos documentos, dados e infor- SEÇÃO III


mações compreende, entre outros, os direitos de obter: Das Comissões de Avaliação de Documentos e
I - orientação sobre os procedimentos para a conse- Acesso
cução de acesso, bem como sobre o local onde poderá ser
encontrado ou obtido o documento, dado ou informação Artigo 11 - As Comissões de Avaliação de Documen-
almejada; tos de Arquivo, a que se referem os Decretos nº 29.838, de
II - dado ou informação contida em registros ou do- 18 de abril de 1989, e nº 48.897, de 27 de agosto de 2004,
cumentos, produzidos ou acumulados por seus órgãos ou instituídas nos órgãos e entidades da Administração Pú-
entidades, recolhidos ou não a arquivos públicos; blica Estadual, passarão a ser denominadas Comissões de
III - documento, dado ou informação produzida ou Avaliação de Documentos e Acesso - CADA.
custodiada por pessoa física ou entidade privada decor- § 1º - As Comissões de Avaliação de Documentos e
rente de qualquer vínculo com seus órgãos ou entidades, Acesso - CADA deverão ser vinculadas ao Gabinete da au-
mesmo que esse vínculo já tenha cessado; toridade máxima do órgão ou entidade.
IV - dado ou informação primária, íntegra, autêntica e § 2º - As Comissões de Avaliação de Documentos e
atualizada; Acesso - CADA serão integradas por servidores de nível su-
V - documento, dado ou informação sobre atividades perior das áreas jurídica, de administração geral, de admi-
exercidas pelos órgãos e entidades, inclusive as relativas à nistração financeira, de arquivo e protocolo, de tecnologia
sua política, organização e serviços; da informação e por representantes das áreas específicas
VI - documento, dado ou informação pertinente à ad- da documentação a ser analisada.
ministração o patrimônio público, utilização de recursos § 3º - As Comissões de Avaliação de Documentos e
públicos, licitação, contratos administrativos; Acesso - CADA serão compostas por 5 (cinco), 7 (sete) ou
VII - documento, dado ou informação relativa: 9 (nove) membros, designados pela autoridade máxima do
a) à implementação, acompanhamento e resultados órgão ou entidade.
dos programas, projetos e ações dos órgãos e entidades Artigo 12 - São atribuições das Comissões de Avalia-
públicas, bem como metas e indicadores propostos; ção de Documentos e Acesso - CADA, além daquelas pre-
b) ao resultado de inspeções, auditorias, prestações e vistas para as Comissões de Avaliação de Documentos de
tomadas de contas realizadas pelos órgãos de controle in- Arquivo nos Decretos nº 29.838, de 18 de abril de 1989, e
terno e externo, incluindo prestações de contas relativas a nº 48.897, de 27 de agosto de 2004:
exercícios anteriores. I - orientar a gestão transparente dos documentos, da-
§ 1º - O acesso aos documentos, dados e informações dos e informações do órgão ou entidade, visando assegu-
previsto no «caput» deste artigo não compreende as in- rar o amplo acesso e divulgação;
formações referentes a projetos de pesquisa e desenvolvi- II - realizar estudos, sob a orientação técnica da Uni-
mento científicos ou tecnológicos cujo sigilo seja impres- dade do Arquivo Público do Estado, órgão central do Sis-
cindível à segurança da sociedade e do Estado. tema de Arquivos do Estado de São Paulo - SAESP, visan-
§ 2º - Quando não for autorizado acesso integral ao do à identificação e elaboração de tabela de documentos,
documento, dado ou informação por ser ela parcialmen- dados e informações sigilosas e pessoais, de seu órgão ou
te sigilosa, é assegurado o acesso à parte não sigilosa por entidade;
meio de certidão, extrato ou cópia com ocultação da parte III - encaminhar à autoridade máxima do órgão ou en-
sob sigilo. tidade a tabela mencionada no inciso II deste artigo, bem
§ 3º - O direito de acesso aos documentos, aos dados como as normas e procedimentos visando à proteção de
ou às informações neles contidas utilizados como funda- documentos, dados e informações sigilosas e pessoais,
mento da tomada de decisão e do ato administrativo será para oitiva do órgão jurídico e posterior publicação;
assegurado com a edição do ato decisório respectivo. IV - orientar o órgão ou entidade sobre a correta apli-
§ 4º - A negativa de acesso aos documentos, dados cação dos critérios de restrição de acesso constantes das
e informações objeto de pedido formulado aos órgãos e tabelas de documentos, dados e informações sigilosas e
entidades referidas no artigo 1º deste decreto, quando não pessoais;
fundamentada, sujeitará o responsável a medidas discipli- V - comunicar à Unidade do Arquivo Público do Estado
nares, nos termos do artigo 32 da Lei federal nº 12.527, de a publicação de tabela de documentos, dados e informa-
18 de novembro de 2011. ções sigilosas e pessoais, e suas eventuais alterações, para
§ 5º - Informado do extravio da informação solicitada, consolidação de dados, padronização de critérios e realiza-
poderá o interessado requerer à autoridade competente a ção de estudos técnicos na área;
imediata instauração de apuração preliminar para investi- VI - propor à autoridade máxima do órgão ou enti-
gar o desaparecimento da respectiva documentação. dade a renovação, alteração de prazos, reclassificação ou
§ 6º - Verificada a hipótese prevista no § 5º deste ar- desclassificação de documentos, dados e informações si-
tigo, o responsável pela guarda da informação extraviada gilosas;
deverá, no prazo de 10 (dez) dias, justificar o fato e indicar VII - manifestar-se sobre os prazos mínimos de res-
testemunhas que comprovem sua alegação. trição de acesso aos documentos, dados ou informações
pessoais;

74
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

VIII - atuar como instância consultiva da autoridade § 4º - Quando não for autorizado o acesso por se tratar
máxima do órgão ou entidade, sempre que provocada, de informação total ou parcialmente sigilosa, o interessa-
sobre os recursos interpostos relativos às solicitações de do deverá ser informado sobre a possibilidade de recurso,
acesso a documentos, dados e informações não atendidas prazos e condições para sua interposição, devendo, ainda,
ou indeferidas, nos termos do parágrafo único do artigo 19 ser-lhe indicada a autoridade competente para sua apre-
deste decreto; ciação.
IX - informar à autoridade máxima do órgão ou enti- § 5º - A informação armazenada em formato digital
dade a previsão de necessidades orçamentárias, bem como será fornecida nesse formato, caso haja anuência do inte-
encaminhar relatórios periódicos sobre o andamento dos ressado.
trabalhos. § 6º - Caso a informação solicitada esteja disponível
Parágrafo único - Para o perfeito cumprimento de ao público em formato impresso, eletrônico ou em qual-
suas atribuições as Comissões de Avaliação de Documen- quer outro meio de acesso universal, serão informados ao
tos e Acesso - CADA poderão convocar servidores que interessado, por escrito, o lugar e a forma pela qual se po-
possam contribuir com seus conhecimentos e experiências, derá consultar, obter ou reproduzir a referida informação,
bem como constituir subcomissões e grupos de trabalho. procedimento esse que desonerará o órgão ou entidade
Artigo 13 - À Unidade do Arquivo Público do Estado, pública da obrigação de seu fornecimento direto, salvo se o
órgão central do Sistema de Arquivos do Estado de São interessado declarar não dispor de meios para realizar por
Paulo - SAESP, responsável por propor a política de acesso si mesmo tais procedimentos.
aos documentos públicos, nos termos do artigo 6º, inciso Artigo 16 - O serviço de busca e fornecimento da in-
XII, do Decreto nº 22.789, de 19 de outubro de 1984, caberá formação é gratuito, salvo nas hipóteses de reprodução
o reexame, a qualquer tempo, das tabelas de documentos, de documentos pelo órgão ou entidade pública consulta-
dados e informações sigilosas e pessoais dos órgãos e en- da, situação em que poderá ser cobrado exclusivamente
tidades da Administração Pública Estadual. o valor necessário ao ressarcimento do custo dos serviços
e dos materiais utilizados, a ser fixado em ato normativo
SEÇÃO IV pelo Chefe do Executivo.
Do Pedido Parágrafo único - Estará isento de ressarcir os custos
previstos no «caput» deste artigo todo aquele cuja situa-
Artigo 14 - O pedido de informações deverá ser apre- ção econômica não lhe permita fazê-lo sem prejuízo do
sentado ao Serviço de Informações ao Cidadão - SIC do sustento próprio ou da família, declarada nos termos da Lei
órgão ou entidade, por qualquer meio legítimo que con- federal nº 7.115, de 29 de agosto de 1983.
tenha a identificação do interessado (nome, número de Artigo 17 - Quando se tratar de acesso à informação
documento e endereço) e a especificação da informação contida em documento cuja manipulação possa prejudicar
requerida. sua integridade, deverá ser oferecida a consulta de cópia,
Artigo 15 - O Serviço de Informações ao Cidadão - com certificação de que esta confere com o original.
SIC do órgão ou entidade responsável pelas informações Parágrafo único - Na impossibilidade de obtenção de
solicitadas deverá conceder o acesso imediato àquelas dis- cópias, o interessado poderá solicitar que, a suas expensas
poníveis. e sob Grupo Técnico supervisão de servidor público, a re-
§ 1º - Na impossibilidade de conceder o acesso ime- produção seja feita por outro meio que não ponha em risco
diato, o Serviço de Informações ao Cidadão - SIC do órgão a conservação do documento original.
ou entidade, em prazo não superior a 20 (vinte) dias, de- Artigo 18 - É direito do interessado obter o inteiro teor
verá: de decisão de negativa de acesso, por certidão ou cópia.
1. comunicar a data, local e modo para se realizar a
consulta, efetuar a reprodução ou obter a certidão; SEÇÃO V
2. indicar as razões de fato ou de direito da recusa, Dos Recursos
total ou parcial, do acesso pretendido;
3. comunicar que não possui a informação, indicar, se Artigo 19 - No caso de indeferimento de acesso aos
for do seu conhecimento, o órgão ou a entidade que a de- documentos, dados e informações ou às razões da nega-
tém, ou, ainda, remeter o requerimento a esse órgão ou tiva do acesso, bem como o não atendimento do pedido,
entidade, cientificando o interessado da remessa de seu poderá o interessado interpor recurso contra a decisão no
pedido de informação. prazo de 10 (dez) dias a contar de sua ciência.
§ 2º - O prazo referido no § 1º deste artigo poderá ser Parágrafo único - O recurso será dirigido à apreciação
prorrogado por mais 10 (dez) dias, mediante justificativa de pelo menos uma autoridade hierarquicamente superior
expressa, da qual será cientificado o interessado. à que exarou a decisão impugnada, que deverá se mani-
§ 3º - Sem prejuízo da segurança e da proteção das festar, após eventual consulta à Comissão de Avaliação de
informações e do cumprimento da legislação aplicável, o Documentos e Acesso - CADA, a que se referem os artigos
Serviço de Informações ao Cidadão - SIC do órgão ou enti- 11 e 12 deste decreto, e ao órgão jurídico, no prazo de 5
dade poderá oferecer meios para que o próprio interessa- (cinco) dias.
do possa pesquisar a informação de que necessitar.

75
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Artigo 20 - Negado o acesso ao documento, dado e 5. relatórios, estudos e pesquisas;


informação pelos órgãos ou entidades da Administração 6. dados gerais para o acompanhamento da execução
Pública Estadual, o interessado poderá recorrer à Correge- orçamentária, de programas, ações, projetos e obras de ór-
doria Geral da Administração, que deliberará no prazo de gãos e entidades;
5 (cinco) dias se: 7. respostas a perguntas mais frequentes da sociedade.
I - o acesso ao documento, dado ou informação não § 2º - Para o cumprimento do disposto no «caput» des-
classificada como sigilosa for negado; te artigo, os órgãos e entidades estaduais deverão utilizar
II - a decisão de negativa de acesso ao documento, todos os meios e instrumentos legítimos de que dispuse-
dado ou informação, total ou parcialmente classificada rem, sendo obrigatória a divulgação em sítios oficiais da
como sigilosa, não indicar a autoridade classificadora ou rede mundial de computadores (internet).
a hierarquicamente superior a quem possa ser dirigido o § 3º - Os sítios de que trata o § 2º deste artigo deverão
pedido de acesso ou desclassificação; atender, entre outros, aos seguintes requisitos:
III - os procedimentos de classificação de sigilo esta- 1. conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que per-
belecidos na Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro de mita o acesso à informação de forma objetiva, transparente,
2011, não tiverem sido observados; clara e em linguagem de fácil compreensão;
IV - estiverem sendo descumpridos prazos ou outros 2. possibilitar a gravação de relatórios em diversos for-
procedimentos revistos na Lei federal nº 12.527, de 18 de matos eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, tais
novembro de 2011. como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise das
§ 1º - O recurso previsto neste artigo somente poderá informações;
ser dirigido à Corregedoria Geral da Administração depois 3. possibilitar o acesso automatizado por sistemas ex-
de submetido à apreciação de pelo menos uma autorida- ternos em formatos abertos, estruturados e legíveis por má-
de hierarquicamente superior àquela que exarou a decisão quina;
impugnada, nos termos do parágrafo único do artigo 19 4. divulgar em detalhes os formatos utilizados para es-
deste decreto. truturação da informação;
5. garantir a autenticidade e a integridade das informa-
§ 2º -  Verificada a procedência das razões do recur-
ções disponíveis para acesso;
so, a Corregedoria Geral da Administração determinará ao
6. manter atualizadas as informações disponíveis para
órgão ou entidade que adote as providências necessárias
acesso;
para dar cumprimento ao disposto na Lei federal nº 12.527,
7. indicar local e instruções que permitam ao interes-
de 18 de novembro de 2011, e neste decreto.
sado comunicar-se, por via eletrônica ou telefônica, com o
Artigo 21 - Negado o acesso ao documento, dado ou
órgão ou entidade detentora do sítio;
informação pela Corregedoria Geral da Administração, o
8. adotar as medidas necessárias para garantir a acessi-
requerente poderá, no prazo de 10 (dez) dias a contar da bilidade de conteúdo para pessoas com deficiência, nos ter-
sua ciência, interpor recurso à Comissão Estadual de Aces- mos do artigo 17 da Lei federal nº 10.098, de 19 de dezem-
so à Informação, de que trata o artigo 76 deste decreto. bro de 2000, artigo 9° da Convenção sobre os Direitos das
Artigo 22 - Aplica-se, no que couber, a Lei estadual nº Pessoas com Deficiência, aprovada pelo Decreto Legislativo
10.177, de 30 de dezembro de 1998, ao procedimento de nº 186, de 9 de julho de 2008, e da Lei estadual n° 12.907,
que trata este Capítulo. de 15 de abril de 2008.
Artigo 24 - Os documentos que contenham informa-
CAPÍTULO III ções que se enquadrem nos casos referidos no artigo an-
Da Divulgação de Documentos, Dados e Informa- terior deverão estar cadastrados no Sistema Informatizado
ções Unificado de Gestão Arquivística de Documentos e Infor-
mações - SPdoc.
Artigo 23 - É dever dos órgãos e entidades da Admi- Artigo 25 - A autoridade máxima de cada órgão ou
nistração Pública Estadual promover, independentemente entidade estadual publicará, anualmente, em sítio próprio,
de requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, bem como no Portal da Transparência e do Governo Aberto:
no âmbito de suas competências, de documentos, dados e I - rol de documentos, dados e informações que te-
informações de interesse coletivo ou geral por eles produ- nham sido desclassificadas nos últimos 12 (doze) meses;
zidas ou custodiadas. II -  rol de documentos classificados em cada grau de
§ 1º - Na divulgação das informações a que se refere o sigilo, com identificação para referência futura;
«caput» deste artigo, deverão constar, no mínimo: III - relatório estatístico contendo a quantidade de pe-
1.  registro das competências e estrutura organizacio- didos de informação recebidos, atendidos e indeferidos,
nal, endereços e telefones das respectivas unidades e horá- bem como informações genéricas sobre os solicitantes.
rios de atendimento ao público; Parágrafo único - Os órgãos e entidades da Admi-
2. registros de quaisquer repasses ou transferências de nistração Pública Estadual deverão manter exemplar da
recursos financeiros; publicação prevista no «caput» deste artigo para consulta
3. registros de receitas e despesas; pública em suas sedes, bem como o extrato com o rol de
4. informações concernentes a procedimentos licita- documentos, dados e informações classificadas, acompa-
tórios, inclusive os respectivos editais e resultados, bem nhadas da data, do grau de sigilo e dos fundamentos da
como a todos os contratos celebrados; classificação.

76
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Artigo 26 - Os órgãos e entidades da Administração Artigo 28 - Não poderá ser negado acesso à informa-
Pública Estadual deverão prestar no prazo de 60 (sessen- ção necessária à tutela judicial ou administrativa de direitos
ta) dias, para compor o «Catálogo de Sistemas e Bases de fundamentais.
Dados da Administração Pública do Estado de São Paulo - Parágrafo único - Os documentos, dados e informa-
CSBD», as seguintes informações: ções que versem sobre condutas que impliquem violação
I - tamanho e descrição do conteúdo das bases de da- dos direitos humanos praticada por agentes públicos ou a
dos; mando de autoridades públicas não poderão ser objeto de
II - metadados; restrição de acesso.
III - dicionário de dados com detalhamento de con- Artigo 29 - O disposto neste decreto não exclui as de-
teúdo; mais hipóteses legais de sigilo e de segredo de justiça nem
IV - arquitetura da base de dados; as hipóteses de segredo industrial decorrentes da explora-
V - periodicidade de atualização; ção direta de atividade econômica pelo Estado ou por pes-
VI - software da base de dados; soa física ou entidade privada que tenha qualquer vínculo
VII - existência ou não de sistema de consulta à base com o poder público.
de dados e sua linguagem de programação;
VIII - formas de consulta, acesso e obtenção à base de SEÇÃO II
dados. Da Classificação, Reclassificação e Desclassificação
§ 1º - Os órgãos e entidades da Administração Pública de Documentos, Dados e Informações Sigilosas
Estadual deverão indicar o setor responsável pelo forneci-
mento e atualização permanente de dados e informações Artigo 30 - São considerados imprescindíveis à segu-
que compõem o «Catálogo de Sistemas e Bases de Dados rança da sociedade ou do Estado e, portanto, passíveis de
da Administração Pública do Estado de São Paulo - CSBD». classificação de sigilo, os documentos, dados e informa-
§ 2º - O desenvolvimento do «Catálogo de Sistemas ções cuja divulgação ou acesso irrestrito possam:
e Bases de Dados da Administração Pública do Estado de I - pôr em risco a defesa e a soberania nacionais ou a
São Paulo - CSBD», coleta de informações, manutenção e
integridade do território nacional;
atualização permanente ficará a cargo da Fundação Siste-
II - prejudicar ou pôr em risco a condução de nego-
ma Estadual de Análise de Dados - SEADE.
ciações ou as relações internacionais do País, ou as que
§ 3º - O «Catálogo de Sistemas e Bases de Dados da
tenham sido fornecidas em caráter sigiloso por outros Es-
Administração Pública do Estado de São Paulo - CSBD»,
tados e organismos internacionais;
bem como as bases de dados da Administração Pública
III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da
Estadual deverão estar disponíveis no Portal do Governo
população;
Aberto e no Portal da Transparência, nos termos dos Decre-
tos nº 57.500, de 8 de novembro de 2011, e nº 55.559, de IV -  oferecer elevado risco à estabilidade financeira,
12 de março de 2010, com todos os elementos necessários econômica ou monetária do País;
para permitir sua utilização por terceiros, como a arquite- V - prejudicar ou causar risco a planos ou operações
tura da base e o dicionário de dados. estratégicos das Forças Armadas;
VI - prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa
CAPÍTULO IV e desenvolvimento científico ou tecnológico, assim como a
Das Restrições de Acesso a Documentos, Dados e sistemas, bens, instalações ou áreas de interesse estratégi-
Informações co nacional;
SEÇÃO I VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de al-
Disposições Gerais tas autoridades nacionais ou estrangeiras e seus familiares;
VIII -  comprometer atividades de inteligência, bem
Artigo 27 - São consideradas passíveis de restrição de como de investigação ou fiscalização em andamento, rela-
acesso, no âmbito da Administração Pública Estadual, duas cionadas com a prevenção ou repressão de infrações.
categorias de documentos, dados e informações: Artigo 31 - Os documentos, dados e informações si-
I - Sigilosos: aqueles submetidos temporariamente à gilosas em poder de órgãos e entidades da Administração
restrição de acesso público em razão de sua imprescindibi- Pública Estadual, observado o seu teor e em razão de sua
lidade para a segurança da sociedade e do Estado; imprescindibilidade à segurança da sociedade ou do Esta-
II - Pessoais: aqueles relacionados à pessoa natural do, poderão ser classificados nos seguintes graus:
identificada ou identificável, relativas à intimidade, vida pri- I - ultrassecreto;
vada, honra e imagem das pessoas, bem como às liberda- II - secreto;
des e garantias individuais. III - reservado.
Parágrafo único - Cabe aos órgãos e entidades da Ad- § 1º - Os prazos máximos de restrição de acesso aos
ministração Pública Estadual, por meio de suas respectivas documentos, dados e informações, conforme a classifica-
Comissões de Avaliação de Documentos e Acesso - CADA, ção prevista no «caput» e incisos deste artigo, vigoram a
a que se referem os artigos 11 e 12 deste decreto, promo- partir da data de sua produção e são os seguintes:
ver os estudos necessários à elaboração de tabela com a 1. ultrassecreto: até 25 (vinte e cinco) anos;
identificação de documentos, dados e informações sigilo- 2. secreto: até 15 (quinze) anos;
sas e pessoais, visando assegurar a sua proteção. 3. reservado: até 5 (cinco) anos.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 2º - Os documentos, dados e informações que puderem II - no grau de secreto, das autoridades referidas no in-
colocar em risco a segurança do Governador e Vice-Governa- ciso I deste artigo, das autoridades máximas de autarquias,
dor do Estado e respectivos cônjuges e filhos (as) serão clas- fundações ou empresas públicas e sociedades de econo-
sificados como reservados e ficarão sob sigilo até o término mia mista;
do mandato em exercício ou do último mandato, em caso de III - no grau de reservado, das autoridades referidas
reeleição. nos incisos I e II deste artigo e das que exerçam funções de
§ 3º - Alternativamente aos prazos previstos no § 1º deste direção, comando ou chefia, ou de hierarquia equivalente,
artigo, poderá ser estabelecida como termo final de restrição de acordo com regulamentação específica de cada órgão
de acesso a ocorrência de determinado evento, desde que este ou entidade, observado o disposto neste decreto.
ocorra antes do transcurso do prazo máximo de classificação. § 1º -  A competência prevista nos incisos I e II deste
§ 4º - Transcorrido o prazo de classificação ou consumado artigo, no que se refere à classificação como ultrassecreta e
o evento que defina o seu termo final, o documento, dado ou secreta, poderá ser delegada pela autoridade responsável
informação tornar-se-á, automaticamente, de acesso público. a agente público, vedada a subdelegação.
§ 5º - Para a classificação do documento, dado ou infor- § 2º -  A classificação de documentos, dados e infor-
mação em determinado grau de sigilo, deverá ser observado mações no grau de sigilo ultrassecreto pelas autoridades
o interesse público da informação, e utilizado o critério menos previstas na alínea «d» do inciso I deste artigo deverá ser
restritivo possível, considerados: ratificada pelo Secretário da Segurança Pública, no prazo
1. a gravidade do risco ou dano à segurança da sociedade de 10 (dez) dias.
e do Estado; § 3º - A autoridade ou outro agente público que clas-
2. o prazo máximo de restrição de acesso ou o evento que sificar documento, dado e informação como ultrassecreto
defina seu termo final. deverá encaminhar a decisão de que trata o inciso II do
Artigo 32 - A classificação de sigilo de documentos, dados artigo 32 deste decreto, à Comissão Estadual de Acesso à
e informações no âmbito da Administração Pública Estadual Informação, a que se refere o artigo 76 deste diploma legal,
deverá ser realizada mediante: no prazo previsto em regulamento.
I - publicação oficial, pela autoridade máxima do órgão ou
Artigo 34 -  A classificação de documentos, dados e
entidade, de tabela de documentos, dados e informações sigi-
informações será reavaliada pela autoridade classificado-
losas e pessoais, que em razão de seu teor e de sua imprescin-
ra ou por autoridade hierarquicamente superior, mediante
dibilidade à segurança da sociedade e do Estado ou à proteção
provocação ou de ofício, nos termos e prazos previstos em
da intimidade, da vida privada, da honra e imagem das pessoas,
regulamento, com vistas à sua desclassificação ou à redu-
sejam passíveis de restrição de acesso, a partir do momento de
ção do prazo de sigilo, observado o disposto no artigo 31
sua produção,
deste decreto.
II - análise do caso concreto pela autoridade responsável
ou agente público competente, e formalização da decisão de § 1º - O regulamento a que se refere o «caput» deste
classificação, reclassificação ou desclassificação de sigilo, bem artigo deverá considerar as peculiaridades das informações
como de restrição de acesso à informação pessoal, que conte- produzidas no exterior por autoridades ou agentes públi-
rá, no mínimo, os seguintes elementos: cos.
a) assunto sobre o qual versa a informação; § 2º - Na reavaliação a que se refere o «caput» deste
b)  fundamento da classificação, reclassificação ou des- artigo deverão ser examinadas a permanência dos motivos
classificação de sigilo, observados os critérios estabelecidos no do sigilo e a possibilidade de danos decorrentes do acesso
artigo 31 deste decreto, bem como da restrição de acesso à ou da divulgação da informação.
informação pessoal; § 3º - Na hipótese de redução do prazo de sigilo da in-
c) indicação do prazo de sigilo, contado em anos, meses formação, o novo prazo de restrição manterá como termo
ou dias, ou do evento que defina o seu termo final, conforme inicial a data da sua produção.
limites previstos no artigo 31 deste decreto, bem como a indi-
cação do prazo mínimo de restrição de acesso à informação SEÇÃO III
pessoal; Da Proteção de Documentos, Dados e Informações
d) identificação da autoridade que a classificou, reclassifi- Pessoais
cou ou desclassificou.
Parágrafo único - O prazo de restrição de acesso contar- Artigo 35 - O tratamento de documentos, dados e in-
se-á da data da produção do documento, dado ou informação. formações pessoais deve ser feito de forma transparente e
Artigo 33 - A classificação de sigilo de documentos, dados com respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem
e informações no âmbito da Administração Pública Estadual, a das pessoas, bem como às liberdades e garantias indivi-
que se refere o inciso II do artigo 32 deste decreto, é de com- duais.
petência: § 1º - Os documentos, dados e informações pessoais, a
I - no grau de ultrassecreto, das seguintes autoridades: que se refere este artigo, relativas à intimidade, vida priva-
a) Governador do Estado; da, honra e imagem:
b) Vice-Governador do Estado; 1. terão seu acesso restrito, independentemente de
c) Secretários de Estado e Procurador Geral do Estado; classificação de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem)
d) Delegado Geral de Polícia e Comandante Geral da olícia anos a contar da sua data de produção, a agentes públicos
Militar; legalmente autorizados e à pessoa a que elas se referirem;

78
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

2. poderão ter autorizada sua divulgação ou acesso por Artigo 38 - O acesso a documentos, dados e infor-
terceiros diante de previsão legal ou consentimento expresso mações sigilosos, originários de outros órgãos ou institui-
da pessoa a que elas se referirem. ções privadas, custodiados para fins de instrução de pro-
§ 2º - Aquele que obtiver acesso às informações de que cedimento, processo administrativo ou judicial, somente
trata este artigo será responsabilizado por seu uso indevido. poderá ser realizado para outra finalidade se autorizado
§ 3º - O consentimento referido no item 2 do § 1º deste pelo agente credenciado do respectivo órgão, entidade ou
artigo não será exigido quando as informações forem neces- instituição de origem.
sárias:
1. à prevenção e diagnóstico médico, quando a pessoa SUBSEÇÃO I
estiver física ou legalmente incapaz, e para utilização única e Da Produção, do Registro, Expedição, Tramitação e
exclusivamente para o tratamento médico; Guarda
2. à realização de estatísticas e pesquisas científicas de
evidente interesse público ou geral, previstos em lei, sendo Artigo 39 - A produção, manuseio, consulta, transmis-
vedada a identificação da pessoa a que as informações se são, manutenção e guarda de documentos, dados e infor-
referirem; mações sigilosos observarão medidas especiais de segu-
3. ao cumprimento de ordem judicial; rança.
4. à defesa de direitos humanos; Artigo 40 - Os documentos sigilosos em sua expedi-
5. à proteção do interesse público e geral preponderante. ção e tramitação obedecerão às seguintes prescrições:
§ 4º - A restrição de acesso aos documentos, dados e I - deverão ser registrados no momento de sua produ-
informações relativos à vida privada, honra e imagem de ção, prioritariamente em sistema informatizado de gestão
pessoa não poderá ser invocada com o intuito de prejudicar arquivística de documentos;
processo de apuração de irregularidades em que o titular das II - serão acondicionados em envelopes duplos;
informações estiver envolvido, bem como em ações voltadas III - no envelope externo não constará qualquer indica-
para a recuperação de fatos históricos de maior relevância. ção do grau de sigilo ou do teor do documento;
IV - o envelope interno será fechado, lacrado e expe-
§ 5º - Os documentos, dados e informações identifica-
dido mediante relação de remessa, que indicará, necessa-
dos como pessoais somente poderão ser fornecidos pessoal-
riamente, remetente, destinatário, número de registro e o
mente, com a identificação do interessado.
grau de sigilo do documento;
V - para os documentos sigilosos digitais deverão ser
SEÇÃO IV
observadas as prescrições referentes à criptografia.
Da Proteção e do Controle de Documentos, Dados e
Artigo 41 - A expedição, tramitação e entrega de do-
Informações Sigilosos
cumento ultrassecreto e secreto, deverá ser efetuadas pes-
soalmente, por agente público credenciado, sendo vedada
Artigo 36 - É dever da Administração Pública Estadual a sua postagem.
controlar o acesso e a divulgação de documentos, dados e Parágrafo único - A comunicação de informação de
informações sigilosos sob a custódia de seus órgãos e enti- natureza ultrassecreta e secreta, de outra forma que não a
dades, assegurando a sua proteção contra perda, alteração prescrita no «caput» deste artigo, só será permitida excep-
indevida, acesso, transmissão e divulgação não autorizados. cionalmente e em casos extremos, que requeiram tramita-
§ 1º - O acesso, a divulgação e o tratamento de docu- ção e solução imediatas, em atendimento ao princípio da
mentos, dados e informações classificados como sigilosos fi- oportunidade e considerados os interesses da segurança
carão restritos a pessoas que tenham necessidade de conhe- da sociedade e do Estado, utilizando-se o adequado meio
cê-la e que sejam devidamente credenciadas na forma dos de criptografia.
artigos 62 a 65 deste decreto, sem prejuízo das atribuições Artigo 42 - A expedição de documento reservado po-
dos agentes públicos autorizados por lei. derá ser feita mediante serviço postal, com opção de regis-
§ 2º - O acesso aos documentos, dados e informações tro, mensageiro oficialmente designado, sistema de enco-
classificados como sigilosos ou identificados como pessoais, mendas ou, quando for o caso, mala diplomática.
cria a obrigação para aquele que as obteve de resguardar Parágrafo único - A comunicação dos documentos
restrição de acesso. de que trata este artigo poderá ser feita por outros meios,
Artigo 37 - As autoridades públicas adotarão as provi- desde que sejam usados recursos de criptografia compatí-
dências necessárias para que o pessoal a elas subordinado veis com o grau de sigilo do documento, conforme previsto
hierarquicamente conheça as normas e observe as medidas e nos artigos 51 a 56 deste decreto.
procedimentos de segurança para tratamento de documen- Artigo 43 - Cabe aos agentes públicos credenciados
tos, dados e informações sigilosos e pessoais. responsáveis pelo recebimento de documentos sigilosos:
Parágrafo único - A pessoa física ou entidade privada I - verificar a integridade na correspondência recebida
que, em razão de qualquer vínculo com o poder público e registrar indícios de violação ou de qualquer irregulari-
executar atividades de tratamento de documentos, dados e dade, dando ciência do fato ao seu superior hierárquico e
informações sigilosos e pessoais adotará as providências ne- ao destinatário, o qual informará imediatamente ao reme-
cessárias para que seus empregados, prepostos ou represen- tente;
tantes observem as medidas e procedimentos de segurança II - proceder ao registro do documento e ao controle
das informações resultantes da aplicação deste decreto. de sua tramitação.

79
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Artigo 44 - O envelope interno só será aberto pelo Artigo 50 - A marcação da reclassificação e da desclas-
destinatário, seu representante autorizado ou autoridade sificação de documentos, dados ou informações sigilosos
competente hierarquicamente superior, observados os re- obedecerá às mesmas regras da marcação da classificação.
quisitos do artigo 62 deste decreto. Parágrafo único - Havendo mais de uma marcação,
Artigo 45 - O destinatário de documento sigiloso co- prevalecerá a mais recente.
municará imediatamente ao remetente qualquer indício de
violação ou adulteração do documento. SUBSEÇÃO III
Artigo 46 - Os documentos, dados e informações si- Da Criptografia
gilosos serão mantidos em condições especiais de segu-
rança, na forma do regulamento interno de cada órgão ou Artigo 51 - Fica autorizado o uso de código, cifra ou
entidade. sistema de criptografia no âmbito da Administração Públi-
Parágrafo único - Para a guarda de documentos se- ca Estadual e das instituições de caráter público para asse-
cretos e ultrassecretos deverá ser utilizado cofre forte ou gurar o sigilo de documentos, dados e informações.
estrutura que ofereça segurança equivalente ou superior. Artigo 52 - Para circularem fora de área ou instalação
Artigo 47 - Os agentes públicos responsáveis pela sigilosa, os documentos, dados e informações sigilosos,
guarda ou custódia de documentos sigilosos os transmiti- produzidos em suporte magnético ou óptico, deverão ne-
rão a seus substitutos, devidamente conferidos, quando da cessariamente estar criptografados.
passagem ou transferência de responsabilidade. Artigo 53 - A aquisição e uso de aplicativos de cripto-
grafia no âmbito da Administração Pública Estadual sujei-
SUBSEÇÃO II tar-se-ão às normas gerais baixadas pelo Comitê de Quali-
Da Marcação dade da Gestão Pública - CQGP.
Parágrafo único - Os programas, aplicativos, sistemas
e equipamentos de criptografia são considerados sigilosos
Artigo 48 - O grau de sigilo será indicado em todas as e deverão, antecipadamente, ser submetidos à certificação
páginas do documento, nas capas e nas cópias, se houver, de conformidade.
pelo produtor do documento, dado ou informação, após Artigo 54 - Aplicam-se aos programas, aplicativos, sis-
classificação, ou pelo agente classificador que juntar a ele temas e equipamentos de criptografia todas as medidas
documento ou informação com alguma restrição de aces- de segurança previstas neste decreto para os documentos,
so. dados e informações sigilosos e também os seguintes pro-
§ 1º - Os documentos, dados ou informações cujas cedimentos:
partes contenham diferentes níveis de restrição de aces- I - realização de vistorias periódicas, com a finalidade
so devem receber diferentes marcações, mas no seu todo, de assegurar uma perfeita execução das operações cripto-
será tratado nos termos de seu grau de sigilo mais elevado. gráficas;
§ 2º - A marcação será feita em local que não compro- II - elaboração de inventários completos e atualizados
meta a leitura e compreensão do conteúdo do documen- do material de criptografia existente;
to e em local que possibilite sua reprodução em eventuais III -  escolha de sistemas criptográficos adequados a
cópias. cada destinatário, quando necessário;
§ 3º - As páginas serão numeradas seguidamente, de- IV - comunicação, ao superior hierárquico ou à auto-
vendo a juntada ser precedida de termo próprio consig- ridade competente, de qualquer anormalidade relativa ao
nando o número total de folhas acrescidas ao documento. sigilo, à inviolabilidade, à integridade, à autenticidade, à
§ 4º - A marcação deverá ser necessariamente datada. legitimidade e à disponibilidade de documentos, dados e
Artigo 49 - A marcação em extratos de documentos, informações sigilosos criptografados;
esboços, desenhos, fotografias, imagens digitais, multimí- V - identificação e registro de indícios de violação ou
dia, negativos, diapositivos, mapas, cartas e fotocartas obe- interceptação ou de irregularidades na transmissão ou re-
decerá ao prescrito no artigo 48 deste decreto. cebimento
§ 1º - Em fotografias e reproduções de negativos sem de documentos, dados e informações criptografados.
legenda, a indicação do grau de sigilo será no verso e nas § 1º - A autoridade máxima do órgão ou entidade da
respectivas embalagens. Administração Pública Estadual responsável pela custódia
§ 2º - Em filmes cinematográficos, negativos em rolos de documentos, dados e informações sigilosos e detentor
contínuos e microfilmes, a categoria e o grau de sigilo se- de material criptográfico designará um agente público res-
rão indicados nas imagens de abertura e de encerramento ponsável pela segurança criptográfica, devidamente cre-
de cada rolo, cuja embalagem será tecnicamente segura e denciado, que deverá observar os procedimentos previstos
exibirá a classificação do conteúdo. no «caput» deste artigo.
§ 3º - Os esboços, desenhos, fotografias, imagens digi- § 2º - O agente público referido no § 1º deste artigo
tais, multimídia, negativos, diapositivos, mapas, cartas e fo- deverá providenciar as condições de segurança necessárias
tocartas de que trata esta seção, que não apresentem con- ao resguardo do sigilo de documentos, dados e informa-
dições para a indicação do grau de sigilo, serão guardados ções durante sua produção, tramitação e guarda, em su-
em embalagens que exibam a classificação correspondente porte magnético ou óptico, bem como a segurança dos
à classificação do conteúdo. equipamentos e sistemas utilizados.

80
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 3º - As cópias de segurança de documentos, dados e § 1º - Os extratos referidos no «caput» deste artigo
informações sigilosos deverão ser criptografados, observa- limitar-se-ão ao seu respectivo número, ao ano de edição
das as disposições dos §§ 1º e 2º deste artigo. e à sua ementa, redigidos por agente público credenciado,
Artigo 55 - Os equipamentos e sistemas utilizados de modo a não comprometer o sigilo.
para a produção e guarda de documentos, dados e infor- § 2º - A publicação de atos administrativos que trate
mações sigilosos poderão estar ligados a redes de comuni- de documentos, dados e informações sigilosos para sua
cação de dados desde que possuam sistemas de proteção divulgação ou execução dependerá de autorização da au-
e segurança adequados, nos termos das normas gerais bai- toridade classificadora ou autoridade competente hierar-
xadas pelo Comitê de Qualidade da Gestão Pública - CQGP. quicamente superior.
Artigo 56 - Cabe ao órgão responsável pela criptogra-
fia de documentos, dados e informações sigilosos provi-
denciar a sua descriptação após a sua desclassificação. SUBSEÇÃO VI
Da Credencial de Segurança

SUBSEÇÃO IV Artigo 62 - O credenciamento e a necessidade de


Da Preservação e Eliminação conhecer são condições indispensáveis para que o agen-
te público estadual no efetivo exercício de cargo, função,
Artigo 57 - Aplicam-se aos documentos, dados e in- emprego ou atividade tenha acesso a documentos, dados e
formações sigilosos os prazos de guarda estabelecidos na informações sigilosos equivalentes ou inferiores ao de sua
Tabela de Temporalidade de Documentos das Atividades- credencial de segurança.
-Meio, oficializada pelo Decreto nº 48.898, de 27 de agosto Artigo 63 - As credenciais de segurança referentes aos
de 2004, e nas Tabelas de Temporalidade de Documentos graus de sigilo previstos no artigo 31 deste decreto, serão
das Atividades-Fim, oficializadas pelos órgãos e entidades classificadas nos graus de sigilo ultrassecreta, secreta ou
da Administração Pública Estadual, ressalvado o disposto reservada.
no artigo 59 deste decreto. Artigo 64 - A credencial de segurança referente à in-
Artigo 58 - Os documentos, dados e informações sigi- formação pessoal, prevista no artigo 35 deste decreto, será
losos considerados de guarda permanente, nos termos dos identificada como personalíssima.
Decretos nº 48.897 e nº 48.898, ambos de 27 de agosto de Artigo 65 - A emissão da credencial de segurança
2004, somente poderão ser recolhidos à Unidade do Arqui- compete às autoridades máximas de órgãos e entidades
vo Público do Estado após a sua desclassificação. da Administração Pública Estadual, podendo ser objeto de
Parágrafo único - Excetuam-se do disposto no delegação.
«caput» deste artigo, os documentos de guarda perma- § 1º - A credencial de segurança será concedida me-
nente de órgãos ou entidades extintos ou que cessaram diante termo de compromisso de preservação de sigilo,
suas atividades, em conformidade com o artigo 7, § 2º, da pelo qual os agentes públicos responsabilizam-se por não
Lei federal nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, e com o artigo revelarem ou divulgarem documentos, dados ou informa-
1º, § 2º, do Decreto nº 48.897, de 27 de agosto de 2004. ções sigilosos dos quais tiverem conhecimento direta ou
Artigo 59 - Decorridos os prazos previstos nas tabelas indiretamente no exercício de cargo, função ou emprego
de temporalidade de documentos, os documentos, dados público.
e informações sigilosos de guarda temporária somente po- § 2º - Para a concessão de credencial de segurança se-
derão ser eliminados após 1 (um) ano, a contar da data de rão avaliados, por meio de investigação, os requisitos pro-
sua desclassificação, a fim de garantir o pleno acesso às fissionais, funcionais e pessoais dos propostos.
informações neles contidas. § 3º - A validade da credencial de segurança poderá ser
Artigo 60 - A eliminação de documentos dados ou in- limitada no tempo e no espaço.
formações sigilosos em suporte magnético ou ótico que § 4º - O compromisso referido no «caput» deste artigo
não possuam valor permanente deve ser feita, por méto- persistirá enquanto durar o sigilo dos documentos a que
do que sobrescreva as informações armazenadas, após sua tiveram acesso.
desclassificação.
Parágrafo único - Se não estiver ao alcance do órgão SUBSEÇÃO VII
a eliminação que se refere o «caput» deste artigo, deverá Da Reprodução e Autenticação
ser providenciada a destruição física dos dispositivos de ar-
mazenamento. Artigo 66 - Os Serviços de Informações ao Cidadão -
SIC dos órgãos e entidades da Administração Pública Esta-
SUBSEÇÃO V dual fornecerão, desde que haja autorização expressa das
Da Publicidade de Atos Administrativos autoridades classificadoras ou das autoridades hierarqui-
camente superiores, reprodução total ou parcial de docu-
Artigo 61 - A publicação de atos administrativos re- mentos, dados e informações sigilosos.
ferentes a documentos, dados e informações sigilosos po- § 1º - A reprodução do todo ou de parte de documen-
derá ser efetuada mediante extratos, com autorização da tos, dados e informações sigilosos terá o mesmo grau de
autoridade classificadora ou hierarquicamente superior. sigilo dos documentos, dados e informações originais.

81
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 2º - A reprodução e autenticação de cópias de docu- III - agir com dolo ou má-fé na análise das solicitações
mentos, dados e informações sigilosos serão realizadas por de acesso a documento, dado e informação;
agentes públicos credenciados. IV - divulgar ou permitir a divulgação ou acessar ou per-
§ 3º - Serão fornecidas certidões de documentos sigilosos mitir acesso indevido ao documento, dado e informação si-
que não puderem ser reproduzidos integralmente, em razão gilosos ou pessoal;
das restrições legais ou do seu estado de conservação. V - impor sigilo a documento, dado e informação para
§ 4º - A reprodução de documentos, dados e informações obter proveito pessoal ou de terceiro, ou para fins de oculta-
pessoais que possam comprometer a intimidade, a vida priva- ção de ato ilegal cometido por si ou por outrem;
da, a honra ou a imagem de terceiros poderá ocorrer desde VI - ocultar da revisão de autoridade superior competen-
que haja autorização nos termos item 2 do § 1º do artigo 35 te documento, dado ou informação sigilosos para beneficiar
deste decreto. a si ou a outrem, ou em prejuízo de terceiros;
Artigo 67 - O responsável pela preparação ou reprodução VII - destruir ou subtrair, por qualquer meio, documen-
de documentos sigilosos deverá providenciar a eliminação de tos concernentes a possíveis violações de direitos humanos
provas ou qualquer outro recurso, que possam dar origem à por parte de agentes do Estado.
cópia não autorizada do todo ou parte. § 1º - Atendido o princípio do contraditório, da ampla
Artigo 68 - Sempre que a preparação, impressão ou, se defesa e do devido processo legal, as condutas descritas no
for o caso, reprodução de documentos, dados e informações «caput» deste artigo serão apuradas e punidas na forma da
sigilosos forem efetuadas em tipografias, impressoras, oficinas legislação em vigor.
gráficas, ou similares, essa operação deverá ser acompanhada § 2º - Pelas condutas descritas no «caput» deste artigo,
por agente público credenciado, que será responsável pela ga- poderá o agente público responder, também, por improbi-
rantia do sigilo durante a confecção do documento. dade administrativa, conforme o disposto na Lei federal nº
8.429, de 2 de junho de 1992.
SUBSEÇÃO VIII Artigo 72 - O agente público que tiver acesso a docu-
Da Gestão de Contratos mentos, dados ou informações sigilosos, nos termos deste
decreto, é responsável pela preservação de seu sigilo, ficando
Artigo 69 - O contrato cuja execução implique o acesso
sujeito às sanções administrativas, civis e penais previstas na
por parte da contratada a documentos, dados ou informações
legislação, em caso de eventual divulgação não autorizada.
sigilosos, obedecerá aos seguintes requisitos:
Artigo 73 - Os agentes responsáveis pela custódia de
I - assinatura de termo de compromisso de manutenção
documentos e informações sigilosos sujeitam-se às normas
de sigilo;
referentes ao sigilo profissional, em razão do ofício, e ao seu
II - o contrato conterá cláusulas prevendo:
código de ética específico, sem prejuízo das sanções legais.
a) obrigação de o contratado manter o sigilo relativo ao
objeto contratado, bem como à sua execução; Artigo 74 - A pessoa física ou entidade privada que deti-
b) obrigação de o contratado adotar as medidas de se- ver documentos, dados e informações em virtude de vínculo
gurança adequadas, no âmbito de suas atividades, para a ma- de qualquer natureza com o poder público e deixar de obser-
nutenção do sigilo de documentos, dados e informações aos var o disposto na Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro
quais teve acesso; de 2011, e neste decreto estará sujeita às seguintes sanções:
c) identificação, para fins de concessão de credencial de I - advertência;
segurança, das pessoas que, em nome da contratada, terão II - multa;
acesso a documentos, dados e informações sigilosos. III - rescisão do vínculo com o poder público;
Artigo 70 - Os órgãos contratantes da Administração Pú- IV - suspensão temporária de participar em licitação e
blica Estadual fiscalizarão o cumprimento das medidas neces- impedimento de contratar com a Administração Pública Es-
sárias à proteção dos documentos, dados e informações de tadual por prazo não superior a 2 (dois) anos;
natureza sigilosa transferidos aos contratados ou decorrentes V - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar
da execução do contrato. com a Administração Pública Estadual, até que seja promo-
vida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou
CAPÍTULO V a penalidade.
Das Responsabilidades § 1º - As sanções previstas nos incisos I, III e IV deste
artigo poderão ser aplicadas juntamente com a do inciso II,
Artigo 71 - Constituem condutas ilícitas que ensejam res- assegurado o direito de defesa do interessado, no respectivo
ponsabilidade do agente público: processo, no prazo de 10 (dez) dias.
I - recusar-se a fornecer documentos, dados e informa- § 2º - A reabilitação referida no inciso V deste artigo será
ções requeridas nos termos deste decreto, retardar delibera- autorizada somente quando o interessado efetivar o ressar-
damente o seu fornecimento ou fornecê-la intencionalmente cimento ao órgão ou entidade dos prejuízos resultantes e
de forma incorreta, incompleta ou imprecisa; decorrido o prazo da sanção aplicada com base no inciso IV.
II - utilizar indevidamente, bem como subtrair, destruir, § 3º - A aplicação da sanção prevista no inciso V deste
inutilizar, desfigurar, alterar ou ocultar, total ou parcialmente, artigo é de competência exclusiva da autoridade máxima do
documento, dado ou informação que se encontre sob sua órgão ou entidade pública, facultada a defesa do interessado,
guarda ou a que tenha acesso ou conhecimento em razão do no respectivo processo, no prazo de 10 (dez) dias da aber-
exercício das atribuições de cargo, emprego ou função pública; tura de vista.

82
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Artigo 75 - Os órgãos e entidades estaduais respon- Artigo 2º - Os órgãos e entidades da Administração
dem diretamente pelos danos causados em decorrência da Pública Estadual deverão proceder à reavaliação dos docu-
divulgação não autorizada ou utilização indevida de docu- mentos, dados e informações classificados como ultrasse-
mentos, dados e informações sigilosos ou pessoais, caben- cretos e secretos no prazo máximo de 2 (dois) anos, conta-
do a apuração de responsabilidade funcional nos casos de do do termo inicial de vigência da Lei federal nº 12.527, de
dolo ou culpa, assegurado o respectivo direito de regresso. 18 de novembro de 2011.
Parágrafo único - O disposto neste artigo aplica-se à § 1º - A restrição de acesso a documentos, dados e
pessoa física ou entidade privada que, em virtude de vín- informações, em razão da reavaliação prevista no «caput»
culo de qualquer natureza com órgãos ou entidades es- deste artigo, deverá observar os prazos e condições previs-
taduais, tenha acesso a documento, dado ou informação tos na Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011.
sigilosos ou pessoal e a submeta a tratamento indevido. § 2º - No âmbito da administração pública estadual,
a reavaliação prevista no «caput» deste artigo poderá ser
CAPÍTULO VI revista, a qualquer tempo, pela Comissão Estadual de Aces-
Disposições Finais so à Informação, observados os termos da Lei federal nº
12.527, de 18 de novembro de 2011, e deste decreto.
Artigo 76 - O tratamento de documento, dado ou in- § 3º - Enquanto não transcorrido o prazo de reavalia-
formação sigilosos resultante de tratados, acordos ou atos ção previsto no «caput» deste artigo, será mantida a classi-
internacionais atenderá às normas e recomendações cons- ficação dos documentos, dados e informações nos termos
tantes desses instrumentos. da legislação precedente.
Artigo 77 - Aplica-se, no que couber, a Lei federal nº § 4º -  Os documentos, dados e informações classifi-
9.507, de 12 de novembro de 1997, em relação à informa- cados como secretos e ultrassecretos não reavaliados no
ção de pessoa, física ou jurídica, constante de registro ou prazo previsto no «caput» deste artigo serão considerados,
banco de dados de entidades governamentais ou de cará- automaticamente, de acesso público.
ter público. Artigo 3º - No prazo de 30 (trinta) dias, a contar da vi-
Artigo 78 - Cabe à Secretaria de Gestão Pública: gência deste decreto, a autoridade máxima de cada órgão
I - realizar campanha de abrangência estadual de fo- ou entidade da Administração Pública Estadual designará
mento à cultura da transparência na Administração Pública subordinado para, no âmbito do respectivo órgão ou enti-
Estadual e conscientização do direito fundamental de aces- dade, exercer as seguintes atribuições:
so à informação; I - planejar e propor, no prazo de 90 (noventa) dias, os
II - promover treinamento de agentes públicos no que recursos organizacionais, materiais e humanos, bem como
se refere ao desenvolvimento de práticas relacionadas à as demais providências necessárias à instalação e funciona-
transparência na Administração Pública Estadual; mento dos Serviços de Informações ao Cidadão - SIC, a que
III - formular e implementar política de segurança da se refere o artigo 7º deste decreto;
informação, em consonância com as diretrizes da política II - assegurar o cumprimento das normas relativas ao
estadual de arquivos e gestão de documentos; acesso a documentos, dados ou informações, de forma efi-
IV - propor e promover a regulamentação do creden- ciente e adequada aos objetivos da Lei federal nº 12.527,
ciamento de segurança de pessoas físicas, empresas, ór- de 18 de novembro de 2011, e deste decreto;
gãos e entidades da Administração Pública Estadual para III - orientar e monitorar a implementação do disposto
tratamento de informações sigilosas e pessoais. na Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, e
Artigo 79 - A Corregedoria Geral da Administração neste decreto, e apresentar relatórios periódicos sobre o
será responsável pela fiscalização da aplicação da Lei fede- seu cumprimento;
ral nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, e deste decreto IV - recomendar as medidas indispensáveis à imple-
no âmbito da Administração Pública Estadual, sem prejuízo mentação e ao aperfeiçoamento das normas e procedi-
da atuação dos órgãos de controle interno. mentos necessários ao correto cumprimento do disposto
Artigo 80 - Este decreto e suas disposições transitórias neste decreto;
entram em vigor na data de sua publicação. V - promover a capacitação, o aperfeiçoamento e a
atualização de pessoal que desempenhe atividades ine-
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS rentes à salvaguarda de documentos, dados e informações
sigilosos e pessoais.
Artigo 1º - Fica instituído Grupo Técnico, junto ao Co- Artigo 4º - As Comissões de Avaliação de Documentos
mitê de Qualidade da Gestão Pública - CQGP, visando a e Acesso - CADA deverão apresentar à autoridade máxima
promover os estudos necessários à criação, composição, do órgão ou entidade, plano e cronograma de trabalho, no
organização e funcionamento da Comissão Estadual de prazo de 30 (trinta) dias, para o cumprimento das atribui-
Acesso à Informação. ções previstas no artigo 6º, incisos I e II, e artigo 32, inciso
Parágrafo único - O Presidente do Comitê de Quali- I, deste decreto. Palácio dos Bandeirantes, 16 de maio de
dade da Gestão Pública designará, no prazo de 30 (trinta) 2012
dias, os membros integrantes do Grupo Técnico.

83
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

2.5.19 LEI FEDERAL Nº 12.830/2013 (INVESTI- 2.5.20 LEI Nº 12.850/2013 (ORGANIZAÇÃO


GAÇÃO CRIMINAL CONDUZIDA PELO DELEGADO CRIMINOSA);
DE POLÍCIA);

LEI Nº 12.850, DE 2 DE AGOSTO DE 2013.


LEI Nº 12.830, DE 20 DE JUNHO DE 2013.
Define organização criminosa e dispõe sobre a inves-
Dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo tigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações
delegado de polícia. penais correlatas e o procedimento criminal; altera o De-
creto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Pe-
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- nal); revoga a Lei no 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:  outras providências.
Art. 1o  Esta Lei dispõe sobre a investigação criminal
conduzida pelo delegado de polícia.  A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
Art. 2o  As funções de polícia judiciária e a apuração de gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de
natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.  CAPÍTULO I
§ 1o  Ao delegado de polícia, na qualidade de autorida- DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
de policial, cabe a condução da investigação criminal por
meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto Art. 1o  Esta Lei define organização criminosa e dispõe
em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstân- sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da
cias, da materialidade e da autoria das infrações penais. prova, infrações penais correlatas e o procedimento crimi-
 § 2o  Durante a investigação criminal, cabe ao delega- nal a ser aplicado.
do de polícia a requisição de perícia, informações, docu- § 1o  Considera-se organização criminosa a associação
mentos e dados que interessem à apuração dos fatos. de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada
 § 3o  (VETADO).
e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que infor-
 § 4o  O inquérito policial ou outro procedimento pre-
malmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,
visto em lei em curso somente poderá ser avocado ou re-
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de in-
distribuído por superior hierárquico, mediante despacho
frações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4
fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hi-
póteses de inobservância dos procedimentos previstos em (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
regulamento da corporação que prejudique a eficácia da § 2o  Esta Lei se aplica também:
investigação. I - às infrações penais previstas em tratado ou conven-
 § 5o  A remoção do delegado de polícia dar-se-á so- ção internacional quando, iniciada a execução no País, o
mente por ato fundamentado. resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
 § 6o  O indiciamento, privativo do delegado de polícia, reciprocamente;
dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico- II - às organizações terroristas, entendidas como aque-
-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialida- las voltadas para a prática dos atos de terrorismo legal-
de e suas circunstâncias. mente definidos.    (Redação dada pela lei nº 13.260, de
 Art. 3o  O cargo de delegado de polícia é privativo de 2016)
bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado o mes- Art. 2o  Promover, constituir, financiar ou integrar, pes-
mo tratamento protocolar que recebem os magistrados, os soalmente ou por interposta pessoa, organização crimino-
membros da Defensoria Pública e do Ministério Público e sa:
os advogados. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem
 Art. 4o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- prejuízo das penas correspondentes às demais infrações
cação. penais praticadas.
§ 1o  Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de
qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal
que envolva organização criminosa.
§ 2o  As penas aumentam-se até a metade se na atua-
ção da organização criminosa houver emprego de arma de
fogo.
§ 3o  A pena é agravada para quem exerce o comando,
individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que
não pratique pessoalmente atos de execução.
§ 4o  A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois
terços):

84
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

I - se há participação de criança ou adolescente; § 2o  No caso do § 1o, fica dispensada a publicação de


II - se há concurso de funcionário público, valendo-se que trata o parágrafo único do art. 61 da Lei nº 8.666, de 21
a organização criminosa dessa condição para a prática de de junho de 1993, devendo ser comunicado o órgão de con-
infração penal; trole interno da realização da contratação.(Incluído pela Lei nº
III - se o produto ou proveito da infração penal desti- 13.097, de 2015)
nar-se, no todo ou em parte, ao exterior;
IV - se a organização criminosa mantém conexão com Seção I
outras organizações criminosas independentes; Da Colaboração Premiada
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transna-
cionalidade da organização. Art. 4o  O juiz poderá, a requerimento das partes, conce-
§ 5o  Se houver indícios suficientes de que o funcionário der o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena
público integra organização criminosa, poderá o juiz de- privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos
terminar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com
função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida a investigação e com o processo criminal, desde que dessa
se fizer necessária à investigação ou instrução processual. colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
§ 6o  A condenação com trânsito em julgado acarretará I - a identificação dos demais coautores e partícipes da
ao funcionário público a perda do cargo, função, empre- organização criminosa e das infrações penais por eles prati-
go ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de cadas;
função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subse- II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de
quentes ao cumprimento da pena. tarefas da organização criminosa;
§ 7o  Se houver indícios de participação de policial nos III - a prevenção de infrações penais decorrentes das ati-
crimes de que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia ins- vidades da organização criminosa;
taurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Públi- IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do pro-
co, que designará membro para acompanhar o feito até a veito das infrações penais praticadas pela organização crimi-
sua conclusão. nosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade
CAPÍTULO II física preservada.
DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO § 1o  Em qualquer caso, a concessão do benefício levará
DA PROVA em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as cir-
cunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato crimi-
Art. 3o  Em qualquer fase da persecução penal, serão noso e a eficácia da colaboração.
permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os § 2o  Considerando a relevância da colaboração presta-
seguintes meios de obtenção da prova: da, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de
I - colaboração premiada; polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, óp- do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao
ticos ou acústicos; juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda
III - ação controlada; que esse benefício não tenha sido previsto na proposta ini-
IV - acesso a registros de ligações telefônicas e tele- cial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº
máticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).
públicos ou privados e a informações eleitorais ou comer- § 3o  O prazo para oferecimento de denúncia ou o pro-
ciais; cesso, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até
V - interceptação de comunicações telefônicas e tele- 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam
máticas, nos termos da legislação específica; cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o
VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fis- respectivo prazo prescricional.
cal, nos termos da legislação específica; § 4o  Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Públi-
VII - infiltração, por policiais, em atividade de investiga- co poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador:
ção, na forma do art. 11; I - não for o líder da organização criminosa;
VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos ter-
distritais, estaduais e municipais na busca de provas e in- mos deste artigo.
formações de interesse da investigação ou da instrução § 5o  Se a colaboração for posterior à sentença, a pena po-
criminal. derá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão
§ 1o  Havendo necessidade justificada de manter sigilo de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.
sobre a capacidade investigatória, poderá ser dispensada § 6o  O juiz não participará das negociações realizadas
licitação para contratação de serviços técnicos especializa- entre as partes para a formalização do acordo de colabora-
dos, aquisição ou locação de equipamentos destinados à ção, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado
polícia judiciária para o rastreamento e obtenção de provas e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou,
previstas nos incisos II e V. (Incluído pela Lei nº 13.097, de conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado
2015) ou acusado e seu defensor.

85
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 7o  Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo IV - as assinaturas do representante do Ministério Pú-


termo, acompanhado das declarações do colaborador e de blico ou do delegado de polícia, do colaborador e de seu
cópia da investigação, será remetido ao juiz para homolo- defensor;
gação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade V - a especificação das medidas de proteção ao colabo-
e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, rador e à sua família, quando necessário.
ouvir o colaborador, na presença de seu defensor. Art. 7o  O pedido de homologação do acordo será sigilo-
§ 8o  O juiz poderá recusar homologação à proposta samente distribuído, contendo apenas informações que não
que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao possam identificar o colaborador e o seu objeto.
caso concreto. § 1o  As informações pormenorizadas da colaboração se-
§ 9o  Depois de homologado o acordo, o colaborador rão dirigidas diretamente ao juiz a que recair a distribuição,
poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvi- que decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
do pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado § 2o  O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministé-
de polícia responsável pelas investigações. rio Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir
§ 10.  As partes podem retratar-se da proposta, caso o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no
em que as provas autoincriminatórias produzidas pelo co- interesse do representado, amplo acesso aos elementos de
laborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa,
seu desfavor. devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados
§ 11.  A sentença apreciará os termos do acordo homo- os referentes às diligências em andamento.
logado e sua eficácia. § 3o  O acordo de colaboração premiada deixa de ser si-
§ 12.  Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não giloso assim que recebida a denúncia, observado o disposto
denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a no art. 5o.
requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade Seção II
judicial. Da Ação Controlada
§ 13.  Sempre que possível, o registro dos atos de co- Art. 8o  Consiste a ação controlada em retardar a inter-
laboração será feito pelos meios ou recursos de gravação venção policial ou administrativa relativa à ação praticada
magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que
audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das infor- mantida sob observação e acompanhamento para que a
mações. medida legal se concretize no momento mais eficaz à for-
§ 14.  Nos depoimentos que prestar, o colaborador re- mação de provas e obtenção de informações.
nunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio § 1o  O retardamento da intervenção policial ou admi-
e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade. nistrativa será previamente comunicado ao juiz competente
§ 15.  Em todos os atos de negociação, confirmação e que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará
execução da colaboração, o colaborador deverá estar assis- ao Ministério Público.
tido por defensor. § 2o  A comunicação será sigilosamente distribuída de
§ 16.  Nenhuma sentença condenatória será proferida forma a não conter informações que possam indicar a ope-
com fundamento apenas nas declarações de agente cola- ração a ser efetuada.
borador. § 3o  Até o encerramento da diligência, o acesso aos au-
Art. 5o  São direitos do colaborador: tos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado
I - usufruir das medidas de proteção previstas na legis- de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações.
lação específica; § 4o   Ao término da diligência, elaborar-se-á auto cir-
II - ter nome, qualificação, imagem e demais informa- cunstanciado acerca da ação controlada.
ções pessoais preservados; Art. 9o  Se a ação controlada envolver transposição de
III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos de- fronteiras, o retardamento da intervenção policial ou admi-
mais coautores e partícipes; nistrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das
IV - participar das audiências sem contato visual com autoridades dos países que figurem como provável itinerário
os outros acusados; ou destino do investigado, de modo a reduzir os riscos de
V - não ter sua identidade revelada pelos meios de co- fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito
municação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua pré- do crime.
via autorização por escrito;
VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso Seção III
dos demais corréus ou condenados. Da Infiltração de Agentes
Art. 6o  O termo de acordo da colaboração premiada
deverá ser feito por escrito e conter: Art. 10.  A infiltração de agentes de polícia em tarefas
I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados; de investigação, representada pelo delegado de polícia ou
II - as condições da proposta do Ministério Público ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica
do delegado de polícia; do delegado de polícia quando solicitada no curso de inqué-
III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu rito policial, será precedida de circunstanciada, motivada e
defensor; sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites.

86
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 1o  Na hipótese de representação do delegado de polí- Seção IV


cia, o juiz competente, antes de decidir, ouvirá o Ministério Do Acesso a Registros, Dados Cadastrais, Docu-
Público. mentos e Informações
§ 2o  Será admitida a infiltração se houver indícios de in-
fração penal de que trata o art. 1o e se a prova não puder ser Art. 15.  O delegado de polícia e o Ministério Público
produzida por outros meios disponíveis. terão acesso, independentemente de autorização judicial,
§ 3o  A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) apenas aos dados cadastrais do investigado que informem
meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o ende-
comprovada sua necessidade. reço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas,
§ 4o  Findo o prazo previsto no § 3o, o relatório circuns- instituições financeiras, provedores de internet e adminis-
tanciado será apresentado ao juiz competente, que imediata- tradoras de cartão de crédito.
mente cientificará o Ministério Público. Art. 16.  As empresas de transporte possibilitarão, pelo
§ 5o  No curso do inquérito policial, o delegado de polícia prazo de 5 (cinco) anos, acesso direto e permanente do
poderá determinar aos seus agentes, e o Ministério Público juiz, do Ministério Público ou do delegado de polícia aos
poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade de bancos de dados de reservas e registro de viagens.
infiltração. Art. 17.  As concessionárias de telefonia fixa ou móvel
Art. 11.  O requerimento do Ministério Público ou a repre- manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das
sentação do delegado de polícia para a infiltração de agentes autoridades mencionadas no art. 15, registros de identifica-
conterão a demonstração da necessidade da medida, o al- ção dos números dos terminais de origem e de destino das
cance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais.
ou apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração. Seção V
Art. 12.  O pedido de infiltração será sigilosamente distri- Dos Crimes Ocorridos na Investigação e na Obtenção
buído, de forma a não conter informações que possam indicar da Prova
a operação a ser efetivada ou identificar o agente que será Art. 18.  Revelar a identidade, fotografar ou filmar o co-
infiltrado. laborador, sem sua prévia autorização por escrito:
§ 1o  As informações quanto à necessidade da operação Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
de infiltração serão dirigidas diretamente ao juiz competen- Art. 19.  Imputar falsamente, sob pretexto de colabora-
te, que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após
ção com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que
manifestação do Ministério Público na hipótese de represen-
sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura
tação do delegado de polícia, devendo-se adotar as medidas
de organização criminosa que sabe inverídicas:
necessárias para o êxito das investigações e a segurança do
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
agente infiltrado.
Art. 20.  Descumprir determinação de sigilo das inves-
§ 2o  Os autos contendo as informações da operação de
tigações que envolvam a ação controlada e a infiltração de
infiltração acompanharão a denúncia do Ministério Público,
agentes:
quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a
preservação da identidade do agente. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 3o  Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado Art. 21.  Recusar ou omitir dados cadastrais, registros,
sofre risco iminente, a operação será sustada mediante requi- documentos e informações requisitadas pelo juiz, Ministé-
sição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia, dan- rio Público ou delegado de polícia, no curso de investiga-
do-se imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade ção ou do processo:
judicial. Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
Art. 13.  O agente que não guardar, em sua atuação, a multa.
devida proporcionalidade com a finalidade da investigação, Parágrafo único.  Na mesma pena incorre quem, de
responderá pelos excessos praticados. forma indevida, se apossa, propala, divulga ou faz uso dos
Parágrafo único.  Não é punível, no âmbito da infiltração, dados cadastrais de que trata esta Lei.
a prática de crime pelo agente infiltrado no curso da investi-
gação, quando inexigível conduta diversa. CAPÍTULO III
Art. 14.  São direitos do agente: DISPOSIÇÕES FINAIS
I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada;
II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que cou- Art. 22.  Os crimes previstos nesta Lei e as infrações
ber, o disposto no art. 9o da Lei no 9.807, de 13 de julho de penais conexas serão apurados mediante procedimento
1999, bem como usufruir das medidas de proteção a teste- ordinário previsto no Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro
munhas; de 1941 (Código de Processo Penal), observado o disposto
III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz no parágrafo único deste artigo.
e demais informações pessoais preservadas durante a inves- Parágrafo único.  A instrução criminal deverá ser en-
tigação e o processo criminal, salvo se houver decisão judicial cerrada em prazo razoável, o qual não poderá exceder a
em contrário; 120 (cento e vinte) dias quando o réu estiver preso, pror-
IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado rogáveis em até igual período, por decisão fundamentada,
ou filmado pelos meios de comunicação, sem sua prévia au- devidamente motivada pela complexidade da causa ou por
torização por escrito. fato procrastinatório atribuível ao réu.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 23.  O sigilo da investigação poderá ser decretado Parágrafo único.  Esta Lei tem como base a Convenção
pela autoridade judicial competente, para garantia da celerida- sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Proto-
de e da eficácia das diligências investigatórias, assegurando-se colo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por
ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008,
elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito em conformidade com o procedimento previsto no § 3o do
de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, res- art. 5o da Constituição da República Federativa do Brasil,
salvados os referentes às diligências em andamento. em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31
Parágrafo único.  Determinado o depoimento do investi- de agosto de 2008, e promulgados peloDecreto no 6.949,
gado, seu defensor terá assegurada a prévia vista dos autos, de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência no
ainda que classificados como sigilosos, no prazo mínimo de plano interno.
3 (três) dias que antecedem ao ato, podendo ser ampliado, a Art. 2o   Considera-se pessoa com deficiência aquela
critério da autoridade responsável pela investigação. que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
Art. 24.  O art. 288 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com
dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação ple-
seguinte redação: na e efetiva na sociedade em igualdade de condições com
“Associação Criminosa as demais pessoas.  
Art. 288.  Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para § 1o  A avaliação da deficiência, quando necessária, será
o fim específico de cometer crimes: biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e in-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. terdisciplinar e considerará:      (Vigência)
Parágrafo único.  A pena aumenta-se até a metade se a I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do
associação é armada ou se houver a participação de criança corpo;
ou adolescente.” (NR) II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
Art. 25.  O art. 342 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de III - a limitação no desempenho de atividades; e
dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a IV - a restrição de participação.
seguinte redação: § 2o  O Poder Executivo criará instrumentos para avalia-
“Art. 342.  ................................................................................... ção da deficiência.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 3o  Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se:
..................................................................................................” (NR) I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance
Art. 26.  Revoga-se a Lei no 9.034, de 3 de maio de 1995. para utilização, com segurança e autonomia, de espaços,
Art. 27.  Esta Lei entra em vigor após decorridos 45 mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transpor-
(quarenta e cinco) dias de sua publicação oficial. tes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e
Brasília, 2 de agosto de 2013; 192o da Independência e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações
125o da República. abertos ao público, de uso público ou privados de uso co-
letivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com
deficiência ou com mobilidade reduzida;
2.5.21 LEI Nº 13.146/2015 (ESTATUTO DA II - desenho universal: concepção de produtos, am-
PESSOA COM DEFICIÊNCIA): ARTIGOS 88 A 91; bientes, programas e serviços a serem usados por todas
as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto
específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva;
LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos,
equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, es-
Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Defi- tratégias, práticas e serviços que objetivem promover a
ciência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, vi-
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- sando à sua autonomia, independência, qualidade de vida
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: e inclusão social;
IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou
LIVRO I comportamento que limite ou impeça a participação social
PARTE GERAL da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de
TÍTULO I seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação,
CAPÍTULO I à compreensão, à circulação com segurança, entre outros,
DISPOSIÇÕES GERAIS classificadas em:
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos
Art. 1o  É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), des- coletivo;
tinada a assegurar e a promover, em condições de igualda- b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios
de, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais públicos e privados;
por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas
cidadania. e meios de transportes;

88
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

d) barreiras nas comunicações e na informação: qual- XI - moradia para a vida independente da pessoa com
quer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que deficiência: moradia com estruturas adequadas capazes de
dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de proporcionar serviços de apoio coletivos e individualizados
mensagens e de informações por intermédio de sistemas que respeitem e ampliem o grau de autonomia de jovens e
de comunicação e de tecnologia da informação; adultos com deficiência;  
e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da
que impeçam ou prejudiquem a participação social da pes- família, que, com ou sem remuneração, assiste ou presta
soa com deficiência em igualdade de condições e oportu- cuidados básicos e essenciais à pessoa com deficiência no
nidades com as demais pessoas; exercício de suas atividades diárias, excluídas as técnicas ou
f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impe- os procedimentos identificados com profissões legalmente
dem o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias; estabelecidas;
V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce
abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua atividades de alimentação, higiene e locomoção do estu-
Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Brail- dante com deficiência e atua em todas as atividades es-
le, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os ca- colares nas quais se fizer necessária, em todos os níveis e
racteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como modalidades de ensino, em instituições públicas e privadas,
a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados
os meios de voz digitalizados e os modos, meios e forma- com profissões legalmente estabelecidas;
tos aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo XIV - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa
as tecnologias da informação e das comunicações; com deficiência, podendo ou não desempenhar as funções
VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e de atendente pessoal.
ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus
desproporcional e indevido, quando requeridos em cada CAPÍTULO II
caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência pos- DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO
sa gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportu-
nidades com as demais pessoas, todos os direitos e liber- Art. 4o  Toda pessoa com deficiência tem direito à igual-
dades fundamentais; dade de oportunidades com as demais pessoas e não so-
VII - elemento de urbanização: quaisquer componen- frerá nenhuma espécie de discriminação.
tes de obras de urbanização, tais como os referentes a pa- § 1o  Considera-se discriminação em razão da deficiên-
vimentação, saneamento, encanamento para esgotos, dis- cia toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação
tribuição de energia elétrica e de gás, iluminação pública, ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de preju-
serviços de comunicação, abastecimento e distribuição de dicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício
água, paisagismo e os que materializam as indicações do dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com
planejamento urbanístico;   deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e
VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes de fornecimento de tecnologias assistivas.
nas vias e nos espaços públicos, superpostos ou adiciona- § 2o  A pessoa com deficiência não está obrigada à frui-
dos aos elementos de urbanização ou de edificação, de ção de benefícios decorrentes de ação afirmativa.
forma que sua modificação ou seu traslado não provoque Art. 5o   A pessoa com deficiência será protegida de
alterações substanciais nesses elementos, tais como semá- toda forma de negligência, discriminação, exploração, vio-
foros, postes de sinalização e similares, terminais e pontos lência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desuma-
de acesso coletivo às telecomunicações, fontes de água, no ou degradante.
lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer Parágrafo único.  Para os fins da proteção menciona-
outros de natureza análoga; da no caput deste artigo, são considerados especialmente
IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que te- vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso,
nha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, com deficiência.
permanente ou temporária, gerando redução efetiva da Art. 6o  A deficiência não afeta a plena capacidade civil
mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da da pessoa, inclusive para:
percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com I - casar-se e constituir união estável;
criança de colo e obeso; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
X - residências inclusivas: unidades de oferta do Servi- III - exercer o direito de decidir sobre o número de fi-
ço de Acolhimento do Sistema Único de Assistência Social lhos e de ter acesso a informações adequadas sobre repro-
(Suas) localizadas em áreas residenciais da comunidade, dução e planejamento familiar;
com estruturas adequadas, que possam contar com apoio IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterili-
psicossocial para o atendimento das necessidades da pes- zação compulsória;
soa acolhida, destinadas a jovens e adultos com deficiência, V - exercer o direito à família e à convivência familiar e
em situação de dependência, que não dispõem de con- comunitária; e
dições de autossustentabilidade e com vínculos familiares VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e
fragilizados ou rompidos; à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 7o  É dever de todos comunicar à autoridade compe- Art. 11.  A pessoa com deficiência não poderá ser obri-
tente qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos gada a se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tra-
da pessoa com deficiência. tamento ou a institucionalização forçada.
Parágrafo único.  Se, no exercício de suas funções, os juí- Parágrafo único.  O consentimento da pessoa com de-
zes e os tribunais tiverem conhecimento de fatos que carac- ficiência em situação de curatela poderá ser suprido, na
terizem as violações previstas nesta Lei, devem remeter peças forma da lei.
ao Ministério Público para as providências cabíveis. Art. 12.  O consentimento prévio, livre e esclarecido da
Art. 8o  É dever do Estado, da sociedade e da família asse- pessoa com deficiência é indispensável para a realização
gurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação de tratamento, procedimento, hospitalização e pesquisa
dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à pater- científica.
nidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à edu- § 1o  Em caso de pessoa com deficiência em situação
cação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, de curatela, deve ser assegurada sua participação, no maior
à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade,
grau possível, para a obtenção de consentimento.
à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à
§ 2o   A pesquisa científica envolvendo pessoa com
comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à digni-
deficiência em situação de tutela ou de curatela deve ser
dade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comu-
realizada, em caráter excepcional, apenas quando houver
nitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e indícios de benefício direto para sua saúde ou para a saúde
seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que de outras pessoas com deficiência e desde que não haja
garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico. outra opção de pesquisa de eficácia comparável com parti-
cipantes não tutelados ou curatelados.
Seção Única Art. 13.  A pessoa com deficiência somente será aten-
Do Atendimento Prioritário dida sem seu consentimento prévio, livre e esclarecido em
casos de risco de morte e de emergência em saúde, res-
Art. 9o  A pessoa com deficiência tem direito a receber guardado seu superior interesse e adotadas as salvaguar-
atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de: das legais cabíveis.  
I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
II - atendimento em todas as instituições e serviços de CAPÍTULO II
atendimento ao público; DO DIREITO À HABILITAÇÃO E À REABILITAÇÃO
III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto
tecnológicos, que garantam atendimento em igualdade de Art. 14.  O processo de habilitação e de reabilitação é
condições com as demais pessoas; um direito da pessoa com deficiência.
IV - disponibilização de pontos de parada, estações e Parágrafo único.  O processo de habilitação e de rea-
terminais acessíveis de transporte coletivo de passageiros e bilitação tem por objetivo o desenvolvimento de poten-
garantia de segurança no embarque e no desembarque; cialidades, talentos, habilidades e aptidões físicas, cogni-
V - acesso a informações e disponibilização de recursos tivas, sensoriais, psicossociais, atitudinais, profissionais e
de comunicação acessíveis; artísticas que contribuam para a conquista da autonomia
VI - recebimento de restituição de imposto de renda; da pessoa com deficiência e de sua participação social em
VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e igualdade de condições e oportunidades com as demais
administrativos em que for parte ou interessada, em todos os pessoas.
atos e diligências.
Art. 15.  O processo mencionado no art. 14 desta Lei
§ 1o  Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao
baseia-se em avaliação multidisciplinar das necessidades,
acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu aten-
habilidades e potencialidades de cada pessoa, observadas
dente pessoal, exceto quanto ao disposto nos incisos VI e VII
as seguintes diretrizes:
deste artigo.
§ 2o  Nos serviços de emergência públicos e privados, a I - diagnóstico e intervenção precoces;
prioridade conferida por esta Lei é condicionada aos proto- II - adoção de medidas para compensar perda ou limi-
colos de atendimento médico. tação funcional, buscando o desenvolvimento de aptidões;
III - atuação permanente, integrada e articulada de po-
TÍTULO II líticas públicas que possibilitem a plena participação social
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS da pessoa com deficiência;
CAPÍTULO I IV - oferta de rede de serviços articulados, com atua-
DO DIREITO À VIDA ção intersetorial, nos diferentes níveis de complexidade,
para atender às necessidades específicas da pessoa com
Art. 10.  Compete ao poder público garantir a dignidade deficiência;  
da pessoa com deficiência ao longo de toda a vida.  V - prestação de serviços próximo ao domicílio da pes-
Parágrafo único.  Em situações de risco, emergência ou soa com deficiência, inclusive na zona rural, respeitadas a
estado de calamidade pública, a pessoa com deficiência será organização das Redes de Atenção à Saúde (RAS) nos terri-
considerada vulnerável, devendo o poder público adotar me- tórios locais e as normas do Sistema Único de Saúde (SUS).
didas para sua proteção e segurança.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 16.  Nos programas e serviços de habilitação e de VI - respeito à especificidade, à identidade de gênero e
reabilitação para a pessoa com deficiência, são garantidos: à orientação sexual da pessoa com deficiência;
I - organização, serviços, métodos, técnicas e recursos VII - atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à
para atender às características de cada pessoa com defi- fertilização assistida;
ciência; VIII - informação adequada e acessível à pessoa com
II - acessibilidade em todos os ambientes e serviços; deficiência e a seus familiares sobre sua condição de saúde;
III - tecnologia assistiva, tecnologia de reabilitação, ma- IX - serviços projetados para prevenir a ocorrência e o
teriais e equipamentos adequados e apoio técnico profis- desenvolvimento de deficiências e agravos adicionais;
sional, de acordo com as especificidades de cada pessoa X - promoção de estratégias de capacitação perma-
com deficiência; nente das equipes que atuam no SUS, em todos os níveis
IV - capacitação continuada de todos os profissionais de atenção, no atendimento à pessoa com deficiência, bem
que participem dos programas e serviços. como orientação a seus atendentes pessoais;
Art. 17.  Os serviços do SUS e do Suas deverão promo- XI - oferta de órteses, próteses, meios auxiliares de lo-
ver ações articuladas para garantir à pessoa com deficiên- comoção, medicamentos, insumos e fórmulas nutricionais,
cia e sua família a aquisição de informações, orientações e conforme as normas vigentes do Ministério da Saúde.
formas de acesso às políticas públicas disponíveis, com a § 5o  As diretrizes deste artigo aplicam-se também às
finalidade de propiciar sua plena participação social. instituições privadas que participem de forma complemen-
Parágrafo único.  Os serviços de que trata tar do SUS ou que recebam recursos públicos para sua ma-
o caput deste artigo podem fornecer informações e nutenção.
orientações nas áreas de saúde, de educação, de cultura, Art. 19.  Compete ao SUS desenvolver ações destina-
de esporte, de lazer, de transporte, de previdência social, das à prevenção de deficiências por causas evitáveis, inclu-
de assistência social, de habitação, de trabalho, de em- sive por meio de:
preendedorismo, de acesso ao crédito, de promoção, pro- I - acompanhamento da gravidez, do parto e do puer-
teção e defesa de direitos e nas demais áreas que possibi- pério, com garantia de parto humanizado e seguro;
litem à pessoa com deficiência exercer sua cidadania. II - promoção de práticas alimentares adequadas e
saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, prevenção e
CAPÍTULO III cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e
DO DIREITO À SAÚDE nutrição da mulher e da criança;
III - aprimoramento e expansão dos programas de imu-
Art. 18.  É assegurada atenção integral à saúde da pes- nização e de triagem neonatal;
soa com deficiência em todos os níveis de complexidade, IV - identificação e controle da gestante de alto risco.
por intermédio do SUS, garantido acesso universal e igua- Art. 20.  As operadoras de planos e seguros privados
litário. de saúde são obrigadas a garantir à pessoa com deficiên-
§ 1o  É assegurada a participação da pessoa com de- cia, no mínimo, todos os serviços e produtos ofertados aos
ficiência na elaboração das políticas de saúde a ela desti- demais clientes.
nadas. Art. 21. Quando esgotados os meios de atenção à
§ 2o  É assegurado atendimento segundo normas éticas saúde da pessoa com deficiência no local de residência,
e técnicas, que regulamentarão a atuação dos profissionais será prestado atendimento fora de domicílio, para fins de
de saúde e contemplarão aspectos relacionados aos direi- diagnóstico e de tratamento, garantidos o transporte e a
tos e às especificidades da pessoa com deficiência, incluin- acomodação da pessoa com deficiência e de seu acompa-
do temas como sua dignidade e autonomia. nhante.  
§ 3o  Aos profissionais que prestam assistência à pessoa Art. 22.   À pessoa com deficiência internada ou em
com deficiência, especialmente em serviços de habilitação observação é assegurado o direito a acompanhante ou a
e de reabilitação, deve ser garantida capacitação inicial e atendente pessoal, devendo o órgão ou a instituição de
continuada. saúde proporcionar condições adequadas para sua perma-
§ 4o  As ações e os serviços de saúde pública destina- nência em tempo integral.
dos à pessoa com deficiência devem assegurar: § 1o  Na impossibilidade de permanência do acompa-
I - diagnóstico e intervenção precoces, realizados por nhante ou do atendente pessoal junto à pessoa com de-
equipe multidisciplinar;   ficiência, cabe ao profissional de saúde responsável pelo
II - serviços de habilitação e de reabilitação sempre tratamento justificá-la por escrito.
que necessários, para qualquer tipo de deficiência, inclu- § 2o   Na ocorrência da impossibilidade prevista no §
sive para a manutenção da melhor condição de saúde e 1o deste artigo, o órgão ou a instituição de saúde deve
qualidade de vida; adotar as providências cabíveis para suprir a ausência do
III - atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento acompanhante ou do atendente pessoal.
ambulatorial e internação; Art. 23.  São vedadas todas as formas de discriminação
IV - campanhas de vacinação; contra a pessoa com deficiência, inclusive por meio de co-
V - atendimento psicológico, inclusive para seus fami- brança de valores diferenciados por planos e seguros pri-
liares e atendentes pessoais; vados de saúde, em razão de sua condição.

91
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 24.  É assegurado à pessoa com deficiência o aces- V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em
so aos serviços de saúde, tanto públicos como privados, e ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmi-
às informações prestadas e recebidas, por meio de recursos co e social dos estudantes com deficiência, favorecendo o
de tecnologia assistiva e de todas as formas de comunica- acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem
ção previstas no inciso V do art. 3o desta Lei. em instituições de ensino;
Art. 25.  Os espaços dos serviços de saúde, tanto públi- VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de no-
cos quanto privados, devem assegurar o acesso da pessoa vos métodos e técnicas pedagógicas, de materiais didáti-
com deficiência, em conformidade com a legislação em vi- cos, de equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva; 
gor, mediante a remoção de barreiras, por meio de projetos VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração
arquitetônico, de ambientação de interior e de comunica- de plano de atendimento educacional especializado, de
ção que atendam às especificidades das pessoas com defi- organização de recursos e serviços de acessibilidade e de
ciência física, sensorial, intelectual e mental. disponibilização e usabilidade pedagógica de recursos de
Art. 26.   Os casos de suspeita ou de confirmação de tecnologia assistiva;
violência praticada contra a pessoa com deficiência serão VIII - participação dos estudantes com deficiência e de
objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde suas famílias nas diversas instâncias de atuação da comu-
públicos e privados à autoridade policial e ao Ministério nidade escolar;
Público, além dos Conselhos dos Direitos da Pessoa com IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o
Deficiência. desenvolvimento dos aspectos linguísticos, culturais, vo-
Parágrafo único.  Para os efeitos desta Lei, considera-se cacionais e profissionais, levando-se em conta o talento,
violência contra a pessoa com deficiência qualquer ação a criatividade, as habilidades e os interesses do estudante
ou omissão, praticada em local público ou privado, que lhe com deficiência;
cause morte ou dano ou sofrimento físico ou psicológico. X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos
programas de formação inicial e continuada de professores
CAPÍTULO IV e oferta de formação continuada para o atendimento edu-
DO DIREITO À EDUCAÇÃO cacional especializado;
XI - formação e disponibilização de professores para
o atendimento educacional especializado, de tradutores e
Art. 27.  A educação constitui direito da pessoa com
intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais
deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em
de apoio;
todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de
XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de
forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de
uso de recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar
seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e
habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua
sociais, segundo suas características, interesses e necessi-
autonomia e participação;
dades de aprendizagem.
XIII - acesso à educação superior e à educação pro-
Parágrafo único.  É dever do Estado, da família, da co-
fissional e tecnológica em igualdade de oportunidades e
munidade escolar e da sociedade assegurar educação de
condições com as demais pessoas;  
qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de
toda forma de violência, negligência e discriminação. nível superior e de educação profissional técnica e tecnoló-
Art. 28.  Incumbe ao poder público assegurar, criar, de- gica, de temas relacionados à pessoa com deficiência nos
senvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: respectivos campos de conhecimento;
I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade
modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda de condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas
a vida; e de lazer, no sistema escolar;
II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando XVI - acessibilidade para todos os estudantes, traba-
a garantir condições de acesso, permanência, participação lhadores da educação e demais integrantes da comunida-
e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recur- de escolar às edificações, aos ambientes e às atividades
sos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promo- concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de
vam a inclusão plena; ensino;
III - projeto pedagógico que institucionalize o atendi- XVII - oferta de profissionais de apoio escolar;
mento educacional especializado, assim como os demais XVIII - articulação intersetorial na implementação de
serviços e adaptações razoáveis, para atender às caracterís- políticas públicas.
ticas dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno § 1o  Às instituições privadas, de qualquer nível e mo-
acesso ao currículo em condições de igualdade, promoven- dalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o dispos-
do a conquista e o exercício de sua autonomia; to nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV,
IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como pri- XVI, XVII e XVIII do caput  deste artigo, sendo vedada a
meira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em
como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimen-
escolas inclusivas; to dessas determinações.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 2o  Na disponibilização de tradutores e intérpretes Art. 32.  Nos programas habitacionais, públicos ou sub-
da Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, sidiados com recursos públicos, a pessoa com deficiência ou
deve-se observar o seguinte: o seu responsável goza de prioridade na aquisição de imóvel
I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na para moradia própria, observado o seguinte:
educação básica devem, no mínimo, possuir ensino médio I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) das unidades
completo e certificado de proficiência na Libras;         (Vi- habitacionais para pessoa com deficiência;
gência) II - (VETADO);
II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando dire- III - em caso de edificação multifamiliar, garantia de acessi-
cionados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos cur- bilidade nas áreas de uso comum e nas unidades habitacionais
sos de graduação e pós-graduação, devem possuir nível no piso térreo e de acessibilidade ou de adaptação razoável
superior, com habilitação, prioritariamente, em Tradução e nos demais pisos;
Interpretação em Libras.        (Vigência) IV - disponibilização de equipamentos urbanos comuni-
Art. 29.  (VETADO). tários acessíveis;
V - elaboração de especificações técnicas no projeto que
Art. 30.  Nos processos seletivos para ingresso e perma-
permitam a instalação de elevadores.
nência nos cursos oferecidos pelas instituições de ensino
§ 1o  O direito à prioridade, previsto no caput deste artigo,
superior e de educação profissional e tecnológica, públicas
será reconhecido à pessoa com deficiência beneficiária apenas
e privadas, devem ser adotadas as seguintes medidas:
uma vez.
I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência § 2o  Nos programas habitacionais públicos, os critérios de
nas dependências das Instituições de Ensino Superior (IES) financiamento devem ser compatíveis com os rendimentos da
e nos serviços; pessoa com deficiência ou de sua família.
II - disponibilização de formulário de inscrição de exa- § 3o  Caso não haja pessoa com deficiência interessada nas
mes com campos específicos para que o candidato com unidades habitacionais reservadas por força do disposto no
deficiência informe os recursos de acessibilidade e de tec- inciso I do caput deste artigo, as unidades não utilizadas serão
nologia assistiva necessários para sua participação; disponibilizadas às demais pessoas.
III - disponibilização de provas em formatos acessíveis Art. 33.  Ao poder público compete:
para atendimento às necessidades específicas do candida- I - adotar as providências necessárias para o cumprimento
to com deficiência; do disposto nos arts. 31 e 32 desta Lei; e
IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de II - divulgar, para os agentes interessados e beneficiários, a
tecnologia assistiva adequados, previamente solicitados e política habitacional prevista nas legislações federal, estaduais,
escolhidos pelo candidato com deficiência; distrital e municipais, com ênfase nos dispositivos sobre aces-
V - dilação de tempo, conforme demanda apresenta- sibilidade.
da pelo candidato com deficiência, tanto na realização de
exame para seleção quanto nas atividades acadêmicas, me- CAPÍTULO VI
diante prévia solicitação e comprovação da necessidade; DO DIREITO AO TRABALHO
VI - adoção de critérios de avaliação das provas escri- Seção I
tas, discursivas ou de redação que considerem a singulari- Disposições Gerais
dade linguística da pessoa com deficiência, no domínio da
modalidade escrita da língua portuguesa; Art. 34.  A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho
VII - tradução completa do edital e de suas retificações de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclu-
em Libras. sivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
§ 1o  As pessoas jurídicas de direito público, privado ou
de qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes de
CAPÍTULO V
trabalho acessíveis e inclusivos.
DO DIREITO À MORADIA
§ 2o  A pessoa com deficiência tem direito, em igualdade
de oportunidades com as demais pessoas, a condições justas
Art. 31.  A pessoa com deficiência tem direito à mora-
e favoráveis de trabalho, incluindo igual remuneração por tra-
dia digna, no seio da família natural ou substituta, com seu balho de igual valor.
cônjuge ou companheiro ou desacompanhada, ou em mo- § 3o  É vedada restrição ao trabalho da pessoa com defi-
radia para a vida independente da pessoa com deficiência, ciência e qualquer discriminação em razão de sua condição,
ou, ainda, em residência inclusiva. inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação,
§ 1o  O poder público adotará programas e ações estra- admissão, exames admissional e periódico, permanência no
tégicas para apoiar a criação e a manutenção de moradia emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional,
para a vida independente da pessoa com deficiência. bem como exigência de aptidão plena.
§ 2o  A proteção integral na modalidade de residência § 4o  A pessoa com deficiência tem direito à participação
inclusiva será prestada no âmbito do Suas à pessoa com e ao acesso a cursos, treinamentos, educação continuada, pla-
deficiência em situação de dependência que não disponha nos de carreira, promoções, bonificações e incentivos profis-
de condições de autossustentabilidade, com vínculos fami- sionais oferecidos pelo empregador, em igualdade de opor-
liares fragilizados ou rompidos. tunidades com os demais empregados.

93
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 5o   É garantida aos trabalhadores com deficiência Seção III


acessibilidade em cursos de formação e de capacitação. Da Inclusão da Pessoa com Deficiência no Trabalho
Art. 35.   É finalidade primordial das políticas públicas
de trabalho e emprego promover e garantir condições de Art. 37.  Constitui modo de inclusão da pessoa com de-
acesso e de permanência da pessoa com deficiência no ficiência no trabalho a colocação competitiva, em igualda-
campo de trabalho. de de oportunidades com as demais pessoas, nos termos
Parágrafo único.  Os programas de estímulo ao em- da legislação trabalhista e previdenciária, na qual devem
preendedorismo e ao trabalho autônomo, incluídos o ser atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento
cooperativismo e o associativismo, devem prever a parti- de recursos de tecnologia assistiva e a adaptação razoável
cipação da pessoa com deficiência e a disponibilização de no ambiente de trabalho.
linhas de crédito, quando necessárias. Parágrafo único.  A colocação competitiva da pessoa
com deficiência pode ocorrer por meio de trabalho com
Seção II apoio, observadas as seguintes diretrizes:
Da Habilitação Profissional e Reabilitação Profis- I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência
sional com maior dificuldade de inserção no campo de trabalho;
II - provisão de suportes individualizados que aten-
Art. 36.  O poder público deve implementar serviços dam a necessidades específicas da pessoa com deficiên-
e programas completos de habilitação profissional e de cia, inclusive a disponibilização de recursos de tecnologia
reabilitação profissional para que a pessoa com deficiência assistiva, de agente facilitador e de apoio no ambiente de
possa ingressar, continuar ou retornar ao campo do traba- trabalho;
lho, respeitados sua livre escolha, sua vocação e seu inte- III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pes-
resse. soa com deficiência apoiada;
§ 1o  Equipe multidisciplinar indicará, com base em cri- IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos empre-
térios previstos no § 1o do art. 2o desta Lei, programa de gadores, com vistas à definição de estratégias de inclusão e
de superação de barreiras, inclusive atitudinais;
habilitação ou de reabilitação que possibilite à pessoa com
V - realização de avaliações periódicas;
deficiência restaurar sua capacidade e habilidade profissio-
VI - articulação intersetorial das políticas públicas;
nal ou adquirir novas capacidades e habilidades de traba-
VII - possibilidade de participação de organizações da
lho.
sociedade civil.
§ 2o  A habilitação profissional corresponde ao proces-
Art. 38.  A entidade contratada para a realização de
so destinado a propiciar à pessoa com deficiência aquisição
processo seletivo público ou privado para cargo, função ou
de conhecimentos, habilidades e aptidões para exercício de
emprego está obrigada à observância do disposto nesta
profissão ou de ocupação, permitindo nível suficiente de Lei e em outras normas de acessibilidade vigentes.
desenvolvimento profissional para ingresso no campo de
trabalho. CAPÍTULO VII
§ 3o   Os serviços de habilitação profissional, de rea- DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL
bilitação profissional e de educação profissional devem
ser dotados de recursos necessários para atender a toda Art. 39.  Os serviços, os programas, os projetos e os be-
pessoa com deficiência, independentemente de sua carac- nefícios no âmbito da política pública de assistência social
terística específica, a fim de que ela possa ser capacitada à pessoa com deficiência e sua família têm como objetivo
para trabalho que lhe seja adequado e ter perspectivas de a garantia da segurança de renda, da acolhida, da habilita-
obtê-lo, de conservá-lo e de nele progredir. ção e da reabilitação, do desenvolvimento da autonomia e
§ 4o  Os serviços de habilitação profissional, de reabi- da convivência familiar e comunitária, para a promoção do
litação profissional e de educação profissional deverão ser acesso a direitos e da plena participação social.
oferecidos em ambientes acessíveis e inclusivos. § 1o  A assistência social à pessoa com deficiência, nos
§ 5o  A habilitação profissional e a reabilitação profissio- termos do caput deste artigo, deve envolver conjunto ar-
nal devem ocorrer articuladas com as redes públicas e pri- ticulado de serviços do âmbito da Proteção Social Básica
vadas, especialmente de saúde, de ensino e de assistência e da Proteção Social Especial, ofertados pelo Suas, para a
social, em todos os níveis e modalidades, em entidades de garantia de seguranças fundamentais no enfrentamento de
formação profissional ou diretamente com o empregador. situações de vulnerabilidade e de risco, por fragilização de
§ 6o   A habilitação profissional pode ocorrer em em- vínculos e ameaça ou violação de direitos.
presas por meio de prévia formalização do contrato de § 2o  Os serviços socioassistenciais destinados à pes-
emprego da pessoa com deficiência, que será considerada soa com deficiência em situação de dependência deverão
para o cumprimento da reserva de vagas prevista em lei, contar com cuidadores sociais para prestar-lhe cuidados
desde que por tempo determinado e concomitante com a básicos e instrumentais.
inclusão profissional na empresa, observado o disposto em Art. 40.   É assegurado à pessoa com deficiência que
regulamento. não possua meios para prover sua subsistência nem de tê-
§ 7o  A habilitação profissional e a reabilitação profis- -la provida por sua família o benefício mensal de 1 (um)
sional atenderão à pessoa com deficiência. salário-mínimo, nos termos da Lei no 8.742, de 7 de dezem-
bro de 1993.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

CAPÍTULO VIII § 3o  Os espaços e assentos a que se refere este artigo


DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL devem situar-se em locais que garantam a acomodação de,
no mínimo, 1 (um) acompanhante da pessoa com deficiên-
Art. 41.  A pessoa com deficiência segurada do Regime cia ou com mobilidade reduzida, resguardado o direito de
Geral de Previdência Social (RGPS) tem direito à aposenta- se acomodar proximamente a grupo familiar e comunitário.
doria nos termos da Lei Complementar no 142, de 8 de maio § 4o  Nos locais referidos no caput deste artigo, deve
de 2013. haver, obrigatoriamente, rotas de fuga e saídas de emer-
gência acessíveis, conforme padrões das normas de aces-
CAPÍTULO IX sibilidade, a fim de permitir a saída segura da pessoa com
DO DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE, AO TURIS- deficiência ou com mobilidade reduzida, em caso de emer-
MO E AO LAZER gência.
§ 5o   Todos os espaços das edificações previstas
Art. 42.  A pessoa com deficiência tem direito à cultura, no caput deste artigo devem atender às normas de acessi-
ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportuni- bilidade em vigor.
dades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso: § 6o  As salas de cinema devem oferecer, em todas as
I - a bens culturais em formato acessível; sessões, recursos de acessibilidade para a pessoa com de-
II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras ati- ficiência.       (Vigência)
vidades culturais e desportivas em formato acessível; e § 7o  O valor do ingresso da pessoa com deficiência não
III - a monumentos e locais de importância cultural e a poderá ser superior ao valor cobrado das demais pessoas.
espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e espor- Art. 45.  Os hotéis, pousadas e similares devem ser
tivos. construídos observando-se os princípios do desenho uni-
§ 1o  É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em versal, além de adotar todos os meios de acessibilidade,
formato acessível à pessoa com deficiência, sob qualquer ar- conforme legislação em vigor.      (Vigência)          (Regla-
gumento, inclusive sob a alegação de proteção dos direitos mento)
§ 1o  Os estabelecimentos já existentes deverão dispo-
de propriedade intelectual.
nibilizar, pelo menos, 10% (dez por cento) de seus dormi-
§ 2o  O poder público deve adotar soluções destinadas
tórios acessíveis, garantida, no mínimo, 1 (uma) unidade
à eliminação, à redução ou à superação de barreiras para a
acessível.
promoção do acesso a todo patrimônio cultural, observadas
§ 2o  Os dormitórios mencionados no § 1o deste artigo
as normas de acessibilidade, ambientais e de proteção do pa-
deverão ser localizados em rotas acessíveis.
trimônio histórico e artístico nacional.
Art. 43.  O poder público deve promover a participação
CAPÍTULO X
da pessoa com deficiência em atividades artísticas, intelec- DO DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE
tuais, culturais, esportivas e recreativas, com vistas ao seu
protagonismo, devendo: Art. 46.  O direito ao transporte e à mobilidade da pes-
I - incentivar a provisão de instrução, de treinamento soa com deficiência ou com mobilidade reduzida será as-
e de recursos adequados, em igualdade de oportunidades segurado em igualdade de oportunidades com as demais
com as demais pessoas; pessoas, por meio de identificação e de eliminação de to-
II - assegurar acessibilidade nos locais de eventos e nos dos os obstáculos e barreiras ao seu acesso.
serviços prestados por pessoa ou entidade envolvida na or- § 1o  Para fins de acessibilidade aos serviços de trans-
ganização das atividades de que trata este artigo; e porte coletivo terrestre, aquaviário e aéreo, em todas as ju-
III - assegurar a participação da pessoa com deficiência risdições, consideram-se como integrantes desses serviços
em jogos e atividades recreativas, esportivas, de lazer, cultu- os veículos, os terminais, as estações, os pontos de parada,
rais e artísticas, inclusive no sistema escolar, em igualdade de o sistema viário e a prestação do serviço.
condições com as demais pessoas. § 2o  São sujeitas ao cumprimento das disposições des-
Art. 44.  Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, gi- ta Lei, sempre que houver interação com a matéria nela
násios de esporte, locais de espetáculos e de conferências e regulada, a outorga, a concessão, a permissão, a autoriza-
similares, serão reservados espaços livres e assentos para a ção, a renovação ou a habilitação de linhas e de serviços de
pessoa com deficiência, de acordo com a capacidade de lo- transporte coletivo.
tação da edificação, observado o disposto em regulamento. § 3o  Para colocação do símbolo internacional de acesso
§ 1o  Os espaços e assentos a que se refere este artigo nos veículos, as empresas de transporte coletivo de passa-
devem ser distribuídos pelo recinto em locais diversos, de geiros dependem da certificação de acessibilidade emitida
boa visibilidade, em todos os setores, próximos aos corredo- pelo gestor público responsável pela prestação do serviço.
res, devidamente sinalizados, evitando-se áreas segregadas Art. 47.  Em todas as áreas de estacionamento aberto
de público e obstrução das saídas, em conformidade com as ao público, de uso público ou privado de uso coletivo e
normas de acessibilidade. em vias públicas, devem ser reservadas vagas próximas aos
§ 2o  No caso de não haver comprovada procura pelos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinaliza-
assentos reservados, esses podem, excepcionalmente, ser das, para veículos que transportem pessoa com deficiência
ocupados por pessoas sem deficiência ou que não tenham com comprometimento de mobilidade, desde que devida-
mobilidade reduzida, observado o disposto em regulamento. mente identificados.

95
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 1o  As vagas a que se refere o caput  deste artigo TÍTULO III


devem equivaler a 2% (dois por cento) do total, garantida, DA ACESSIBILIDADE
no mínimo, 1 (uma) vaga devidamente sinalizada e com CAPÍTULO I
as especificações de desenho e traçado de acordo com as DISPOSIÇÕES GERAIS
normas técnicas vigentes de acessibilidade.
§ 2o  Os veículos estacionados nas vagas reservadas de- Art. 53.  A acessibilidade é direito que garante à pessoa
vem exibir, em local de ampla visibilidade, a credencial de com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma
beneficiário, a ser confeccionada e fornecida pelos órgãos independente e exercer seus direitos de cidadania e de par-
de trânsito, que disciplinarão suas características e condi- ticipação social.
ções de uso. Art. 54.  São sujeitas ao cumprimento das disposições
§ 3º  A utilização indevida das vagas de que trata este desta Lei e de outras normas relativas à acessibilidade, sem-
artigo sujeita os infratores às sanções previstas no inciso pre que houver interação com a matéria nela regulada:
XX do art. 181 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico
(Código de Trânsito Brasileiro).             (Redação dada pela ou de comunicação e informação, a fabricação de veículos
Lei nº 13.281, de 2016)      (Vigência) de transporte coletivo, a prestação do respectivo serviço e a
§ 4o  A credencial a que se refere o §  2o deste artigo execução de qualquer tipo de obra, quando tenham destina-
é vinculada à pessoa com deficiência que possui compro- ção pública ou coletiva;
metimento de mobilidade e é válida em todo o território II - a outorga ou a renovação de concessão, permissão,
nacional. autorização ou habilitação de qualquer natureza;
Art. 48.  Os veículos de transporte coletivo terrestre, III - a aprovação de financiamento de projeto com uti-
aquaviário e aéreo, as instalações, as estações, os portos e lização de recursos públicos, por meio de renúncia ou de
os terminais em operação no País devem ser acessíveis, de incentivo fiscal, contrato, convênio ou instrumento congê-
forma a garantir o seu uso por todas as pessoas. nere; e
§ 1o  Os veículos e as estruturas de que trata IV - a concessão de aval da União para obtenção de em-
o caput deste artigo devem dispor de sistema de comuni- préstimo e de financiamento internacionais por entes públi-
cação acessível que disponibilize informações sobre todos cos ou privados.
os pontos do itinerário. Art. 55.  A concepção e a implantação de projetos que
§ 2o  São asseguradas à pessoa com deficiência prio- tratem do meio físico, de transporte, de informação e comu-
ridade e segurança nos procedimentos de embarque e de nicação, inclusive de sistemas e tecnologias da informação
desembarque nos veículos de transporte coletivo, de acor- e comunicação, e de outros serviços, equipamentos e ins-
do com as normas técnicas. talações abertos ao público, de uso público ou privado de
§ 3o  Para colocação do símbolo internacional de acesso uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, devem
nos veículos, as empresas de transporte coletivo de passa- atender aos princípios do desenho universal, tendo como
geiros dependem da certificação de acessibilidade emitida referência as normas de acessibilidade.
pelo gestor público responsável pela prestação do serviço. § 1o  O desenho universal será sempre tomado como
Art. 49.  As empresas de transporte de fretamento regra de caráter geral.
e de turismo, na renovação de suas frotas, são obriga- § 2o  Nas hipóteses em que comprovadamente o dese-
das ao cumprimento do disposto nos arts. 46 e 48 desta nho universal não possa ser empreendido, deve ser adotada
Lei.       (Vigência) adaptação razoável.
Art. 50.  O poder público incentivará a fabricação de § 3o  Caberá ao poder público promover a inclusão de
veículos acessíveis e a sua utilização como táxis e vans, de conteúdos temáticos referentes ao desenho universal nas di-
forma a garantir o seu uso por todas as pessoas. retrizes curriculares da educação profissional e tecnológica
Art. 51.  As frotas de empresas de táxi devem reservar e do ensino superior e na formação das carreiras de Estado.
10% (dez por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa § 4o  Os programas, os projetos e as linhas de pesquisa
com deficiência. a serem desenvolvidos com o apoio de organismos públicos
§ 1o  É proibida a cobrança diferenciada de tarifas ou de auxílio à pesquisa e de agências de fomento deverão in-
de valores adicionais pelo serviço de táxi prestado à pessoa cluir temas voltados para o desenho universal.
com deficiência. § 5o  Desde a etapa de concepção, as políticas públicas
§ 2o  O poder público é autorizado a instituir incentivos deverão considerar a adoção do desenho universal.
fiscais com vistas a possibilitar a acessibilidade dos veículos Art. 56.  A construção, a reforma, a ampliação ou a mu-
a que se refere o caput deste artigo. dança de uso de edificações abertas ao público, de uso pú-
Art. 52.  As locadoras de veículos são obrigadas a ofe- blico ou privadas de uso coletivo deverão ser executadas
recer 1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com de- de modo a serem acessíveis.
ficiência, a cada conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota. § 1o  As entidades de fiscalização profissional das ativi-
Parágrafo único.  O veículo adaptado deverá ter, no mí- dades de Engenharia, de Arquitetura e correlatas, ao ano-
nimo, câmbio automático, direção hidráulica, vidros elétri- tarem a responsabilidade técnica de projetos, devem exigir
cos e comandos manuais de freio e de embreagem. a responsabilidade profissional declarada de atendimento
às regras de acessibilidade previstas em legislação e em
normas técnicas pertinentes.

96
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 2o  Para a aprovação, o licenciamento ou a emissão de Art. 61.  A formulação, a implementação e a manuten-


certificado de projeto executivo arquitetônico, urbanístico ção das ações de acessibilidade atenderão às seguintes
e de instalações e equipamentos temporários ou perma- premissas básicas:
nentes e para o licenciamento ou a emissão de certificado I - eleição de prioridades, elaboração de cronograma e
de conclusão de obra ou de serviço, deve ser atestado o reserva de recursos para implementação das ações; e
atendimento às regras de acessibilidade. II - planejamento contínuo e articulado entre os seto-
§ 3o  O poder público, após certificar a acessibilidade res envolvidos.
de edificação ou de serviço, determinará a colocação, em Art. 62.   É assegurado à pessoa com deficiência, me-
espaços ou em locais de ampla visibilidade, do símbolo in- diante solicitação, o recebimento de contas, boletos, reci-
ternacional de acesso, na forma prevista em legislação e bos, extratos e cobranças de tributos em formato acessível.
em normas técnicas correlatas.
Art. 57.  As edificações públicas e privadas de uso co- CAPÍTULO II
letivo já existentes devem garantir acessibilidade à pessoa DO ACESSO À INFORMAÇÃO E À COMUNICAÇÃO
com deficiência em todas as suas dependências e serviços,
tendo como referência as normas de acessibilidade vigen- Art. 63.  É obrigatória a acessibilidade nos sítios da in-
tes. ternet mantidos por empresas com sede ou representação
Art. 58.  O projeto e a construção de edificação de uso comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da
privado multifamiliar devem atender aos preceitos de aces- pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informa-
sibilidade, na forma regulamentar. ções disponíveis, conforme as melhores práticas e diretri-
§ 1o  As construtoras e incorporadoras responsáveis zes de acessibilidade adotadas internacionalmente.
pelo projeto e pela construção das edificações a que se re- § 1o  Os sítios devem conter símbolo de acessibilidade
fere o caput deste artigo devem assegurar percentual mí- em destaque.
nimo de suas unidades internamente acessíveis, na forma § 2o  Telecentros comunitários que receberem recursos
regulamentar. públicos federais para seu custeio ou sua instalação e lan
§ 2o  É vedada a cobrança de valores adicionais para houses  devem possuir equipamentos e instalações aces-
a aquisição de unidades internamente acessíveis a que se síveis.
refere o § 1o deste artigo. § 3o  Os telecentros e as lan houses de que trata o §
Art. 59.  Em qualquer intervenção nas vias e nos espa- 2o deste artigo devem garantir, no mínimo, 10% (dez por
ços públicos, o poder público e as empresas concessioná- cento) de seus computadores com recursos de acessibili-
rias responsáveis pela execução das obras e dos serviços dade para pessoa com deficiência visual, sendo assegurado
devem garantir, de forma segura, a fluidez do trânsito e pelo menos 1 (um) equipamento, quando o resultado per-
a livre circulação e acessibilidade das pessoas, durante e centual for inferior a 1 (um).
após sua execução. Art. 64.  A acessibilidade nos sítios da internet de que
Art. 60.  Orientam-se, no que couber, pelas regras de trata o art. 63 desta Lei deve ser observada para obtenção
acessibilidade previstas em legislação e em normas técni- do financiamento de que trata o inciso III do art. 54 desta
cas, observado o disposto na Lei no 10.098, de 19 de dezem- Lei.
bro de 2000, no 10.257, de 10 de julho de 2001, e no12.587, Art. 65.  As empresas prestadoras de serviços de tele-
de 3 de janeiro de 2012: comunicações deverão garantir pleno acesso à pessoa com
I - os planos diretores municipais, os planos diretores deficiência, conforme regulamentação específica.
de transporte e trânsito, os planos de mobilidade urbana e Art. 66.  Cabe ao poder público incentivar a oferta de
os planos de preservação de sítios históricos elaborados ou aparelhos de telefonia fixa e móvel celular com acessibi-
atualizados a partir da publicação desta Lei; lidade que, entre outras tecnologias assistivas, possuam
II - os códigos de obras, os códigos de postura, as leis possibilidade de indicação e de ampliação sonoras de to-
de uso e ocupação do solo e as leis do sistema viário; das as operações e funções disponíveis.
III - os estudos prévios de impacto de vizinhança; Art. 67.  Os serviços de radiodifusão de sons e imagens
IV - as atividades de fiscalização e a imposição de san- devem permitir o uso dos seguintes recursos, entre outros:
ções; e I - subtitulação por meio de legenda oculta;
V - a legislação referente à prevenção contra incêndio II - janela com intérprete da Libras;
e pânico. III - audiodescrição.
§ 1o  A concessão e a renovação de alvará de funciona- Art. 68.  O poder público deve adotar mecanismos de
mento para qualquer atividade são condicionadas à obser- incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e à
vação e à certificação das regras de acessibilidade. comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusive
§ 2o  A emissão de carta de habite-se ou de habilita- em publicações da administração pública ou financiadas
ção equivalente e sua renovação, quando esta tiver sido com recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com
emitida anteriormente às exigências de acessibilidade, é deficiência o direito de acesso à leitura, à informação e à
condicionada à observação e à certificação das regras de comunicação.
acessibilidade.

97
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 1o  Nos editais de compras de livros, inclusive para o CAPÍTULO III


abastecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas DA TECNOLOGIA ASSISTIVA
em todos os níveis e modalidades de educação e de biblio-
tecas públicas, o poder público deverá adotar cláusulas de Art. 74.  É garantido à pessoa com deficiência acesso a
impedimento à participação de editoras que não ofertem produtos, recursos, estratégias, práticas, processos, méto-
sua produção também em formatos acessíveis.   dos e serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua
§ 2o  Consideram-se formatos acessíveis os arquivos di- autonomia, mobilidade pessoal e qualidade de vida.
gitais que possam ser reconhecidos e acessados por soft- Art. 75. O poder público desenvolverá plano específico
wares leitores de telas ou outras tecnologias assistivas que de medidas, a ser renovado em cada período de 4 (quatro)
vierem a substituí-los, permitindo leitura com voz sinteti- anos, com a finalidade de:
zada, ampliação de caracteres, diferentes contrastes e im- I - facilitar o acesso a crédito especializado, inclusive
pressão em Braille. com oferta de linhas de crédito subsidiadas, específicas
§ 3o  O poder público deve estimular e apoiar a adapta- para aquisição de tecnologia assistiva;
ção e a produção de artigos científicos em formato acessí- II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos de im-
vel, inclusive em Libras. portação de tecnologia assistiva, especialmente as ques-
Art. 69.  O poder público deve assegurar a disponibi- tões atinentes a procedimentos alfandegários e sanitários;
lidade de informações corretas e claras sobre os diferen- III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à pro-
tes produtos e serviços ofertados, por quaisquer meios de dução nacional de tecnologia assistiva, inclusive por meio
comunicação empregados, inclusive em ambiente virtual, de concessão de linhas de crédito subsidiado e de parcerias
contendo a especificação correta de quantidade, qualida- com institutos de pesquisa oficiais;
de, características, composição e preço, bem como sobre IV - eliminar ou reduzir a tributação da cadeia produti-
os eventuais riscos à saúde e à segurança do consumidor va e de importação de tecnologia assistiva;
com deficiência, em caso de sua utilização, aplicando-se, V - facilitar e agilizar o processo de inclusão de novos
no que couber, os arts. 30 a 41 da Lei no 8.078, de 11 de recursos de tecnologia assistiva no rol de produtos distri-
setembro de 1990. buídos no âmbito do SUS e por outros órgãos governa-
§ 1o  Os canais de comercialização virtual e os anúncios mentais.
publicitários veiculados na imprensa escrita, na internet, no Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto neste
rádio, na televisão e nos demais veículos de comunicação artigo, os procedimentos constantes do plano específico
abertos ou por assinatura devem disponibilizar, conforme de medidas deverão ser avaliados, pelo menos, a cada 2
a compatibilidade do meio, os recursos de acessibilidade (dois) anos.
de que trata o art. 67 desta Lei, a expensas do fornecedor
do produto ou do serviço, sem prejuízo da observância do CAPÍTULO IV
disposto nos arts. 36 a 38 da Lei no 8.078, de 11 de setem- DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E
bro de 1990. POLÍTICA
§ 2o  Os fornecedores devem disponibilizar, median-
te solicitação, exemplares de bulas, prospectos, textos ou Art. 76.  O poder público deve garantir à pessoa com
qualquer outro tipo de material de divulgação em formato deficiência todos os direitos políticos e a oportunidade de
acessível. exercê-los em igualdade de condições com as demais pes-
Art. 70.  As instituições promotoras de congressos, se- soas.
minários, oficinas e demais eventos de natureza científico- § 1o  À pessoa com deficiência será assegurado o direi-
-cultural devem oferecer à pessoa com deficiência, no mí- to de votar e de ser votada, inclusive por meio das seguin-
nimo, os recursos de tecnologia assistiva previstos no art. tes ações:
67 desta Lei. I - garantia de que os procedimentos, as instalações, os
Art. 71.  Os congressos, os seminários, as oficinas e os materiais e os equipamentos para votação sejam apropria-
demais eventos de natureza científico-cultural promovidos dos, acessíveis a todas as pessoas e de fácil compreensão e
ou financiados pelo poder público devem garantir as con- uso, sendo vedada a instalação de seções eleitorais exclusi-
dições de acessibilidade e os recursos de tecnologia assis- vas para a pessoa com deficiência;
tiva. II - incentivo à pessoa com deficiência a candidatar-se
Art. 72.  Os programas, as linhas de pesquisa e os pro- e a desempenhar quaisquer funções públicas em todos os
jetos a serem desenvolvidos com o apoio de agências de fi- níveis de governo, inclusive por meio do uso de novas tec-
nanciamento e de órgãos e entidades integrantes da admi- nologias assistivas, quando apropriado;
nistração pública que atuem no auxílio à pesquisa devem III - garantia de que os pronunciamentos oficiais, a
contemplar temas voltados à tecnologia assistiva. propaganda eleitoral obrigatória e os debates transmitidos
Art. 73.  Caberá ao poder público, diretamente ou em pelas emissoras de televisão possuam, pelo menos, os re-
parceria com organizações da sociedade civil, promover a cursos elencados no art. 67 desta Lei;
capacitação de tradutores e intérpretes da Libras, de guias IV - garantia do livre exercício do direito ao voto e, para
intérpretes e de profissionais habilitados em Braille, audio- tanto, sempre que necessário e a seu pedido, permissão
descrição, estenotipia e legendagem. para que a pessoa com deficiência seja auxiliada na vota-
ção por pessoa de sua escolha.

98
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 2o  O poder público promoverá a participação da pes- § 1o  A fim de garantir a atuação da pessoa com defi-
soa com deficiência, inclusive quando institucionalizada, na ciência em todo o processo judicial, o poder público deve
condução das questões públicas, sem discriminação e em capacitar os membros e os servidores que atuam no Poder
igualdade de oportunidades, observado o seguinte: Judiciário, no Ministério Público, na Defensoria Pública, nos
I - participação em organizações não governamentais órgãos de segurança pública e no sistema penitenciário
relacionadas à vida pública e à política do País e em ativida- quanto aos direitos da pessoa com deficiência.
des e administração de partidos políticos; § 2o  Devem ser assegurados à pessoa com deficiência
II - formação de organizações para representar a pessoa submetida a medida restritiva de liberdade todos os direi-
com deficiência em todos os níveis; tos e garantias a que fazem jus os apenados sem deficiên-
III - participação da pessoa com deficiência em organi- cia, garantida a acessibilidade.
zações que a representem. § 3o  A Defensoria Pública e o Ministério Público toma-
rão as medidas necessárias à garantia dos direitos previstos
TÍTULO IV nesta Lei.
DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA Art. 80.  Devem ser oferecidos todos os recursos de
tecnologia assistiva disponíveis para que a pessoa com
Art. 77.  O poder público deve fomentar o desenvolvi- deficiência tenha garantido o acesso à justiça, sempre que
mento científico, a pesquisa e a inovação e a capacitação figure em um dos polos da ação ou atue como testemunha,
tecnológicas, voltados à melhoria da qualidade de vida e ao partícipe da lide posta em juízo, advogado, defensor públi-
trabalho da pessoa com deficiência e sua inclusão social. co, magistrado ou membro do Ministério Público.
§ 1o  O fomento pelo poder público deve priorizar a ge- Parágrafo único.  A pessoa com deficiência tem garan-
ração de conhecimentos e técnicas que visem à prevenção tido o acesso ao conteúdo de todos os atos processuais de
e ao tratamento de deficiências e ao desenvolvimento de seu interesse, inclusive no exercício da advocacia.
tecnologias assistiva e social. Art. 81.   Os direitos da pessoa com deficiência serão
§ 2o  A acessibilidade e as tecnologias assistiva e social garantidos por ocasião da aplicação de sanções penais.
devem ser fomentadas mediante a criação de cursos de pós-
Art. 82.  (VETADO).
-graduação, a formação de recursos humanos e a inclusão
Art. 83.  Os serviços notariais e de registro não podem
do tema nas diretrizes de áreas do conhecimento.
negar ou criar óbices ou condições diferenciadas à presta-
§ 3o  Deve ser fomentada a capacitação tecnológica de
ção de seus serviços em razão de deficiência do solicitante,
instituições públicas e privadas para o desenvolvimento de
devendo reconhecer sua capacidade legal plena, garantida
tecnologias assistiva e social que sejam voltadas para me-
a acessibilidade.
lhoria da funcionalidade e da participação social da pessoa
Parágrafo único.  O descumprimento do disposto
com deficiência.
§ 4o  As medidas previstas neste artigo devem ser reava- no caput deste artigo constitui discriminação em razão de
liadas periodicamente pelo poder público, com vistas ao seu deficiência.
aperfeiçoamento.
Art. 78.  Devem ser estimulados a pesquisa, o desenvol- CAPÍTULO II
vimento, a inovação e a difusão de tecnologias voltadas para DO RECONHECIMENTO IGUAL PERANTE A LEI
ampliar o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias
da informação e comunicação e às tecnologias sociais. Art. 84.   A pessoa com deficiência tem assegurado o
Parágrafo único.  Serão estimulados, em especial: direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade
I - o emprego de tecnologias da informação e comuni- de condições com as demais pessoas.
cação como instrumento de superação de limitações funcio- § 1o  Quando necessário, a pessoa com deficiência será
nais e de barreiras à comunicação, à informação, à educação submetida à curatela, conforme a lei.
e ao entretenimento da pessoa com deficiência; § 2o  É facultado à pessoa com deficiência a adoção de
II - a adoção de soluções e a difusão de normas que processo de tomada de decisão apoiada.
visem a ampliar a acessibilidade da pessoa com deficiência § 3o  A definição de curatela de pessoa com deficiência
à computação e aos sítios da internet, em especial aos servi- constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às
ços de governo eletrônico. necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o
menor tempo possível.
LIVRO II § 4o  Os curadores são obrigados a prestar, anualmente,
PARTE ESPECIAL contas de sua administração ao juiz, apresentando o balan-
TÍTULO I ço do respectivo ano.
DO ACESSO À JUSTIÇA Art. 85.  A curatela afetará tão somente os atos relacio-
CAPÍTULO I nados aos direitos de natureza patrimonial e negocial.
DISPOSIÇÕES GERAIS § 1o  A definição da curatela não alcança o direito ao
próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade,
Art. 79.  O poder público deve assegurar o acesso da à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.
pessoa com deficiência à justiça, em igualdade de oportu- § 2o  A curatela constitui medida extraordinária, deven-
nidades com as demais pessoas, garantindo, sempre que do constar da sentença as razões e motivações de sua defi-
requeridos, adaptações e recursos de tecnologia assistiva. nição, preservados os interesses do curatelado.

99
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 3o  No caso de pessoa em situação de institucionaliza- TÍTULO III


ção, ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária
com o curatelado. Art. 92.  É criado o Cadastro Nacional de Inclusão da
Art. 86.  Para emissão de documentos oficiais, não será Pessoa com Deficiência (Cadastro-Inclusão), registro público
exigida a situação de curatela da pessoa com deficiência. eletrônico com a finalidade de coletar, processar, sistema-
Art. 87.   Em casos de relevância e urgência e a fim de tizar e disseminar informações georreferenciadas que per-
proteger os interesses da pessoa com deficiência em situação mitam a identificação e a caracterização socioeconômica da
de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o Ministério Público, de pessoa com deficiência, bem como das barreiras que impe-
oficio ou a requerimento do interessado, nomear, desde logo, dem a realização de seus direitos.
curador provisório, o qual estará sujeito, no que couber, às § 1o  O Cadastro-Inclusão será administrado pelo Poder
disposições do Código de Processo Civil. Executivo federal e constituído por base de dados, instru-
mentos, procedimentos e sistemas eletrônicos.
TÍTULO II § 2o  Os dados constituintes do Cadastro-Inclusão serão
DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS obtidos pela integração dos sistemas de informação e da
base de dados de todas as políticas públicas relacionadas
Art. 88.  Praticar, induzir ou incitar discriminação de pes- aos direitos da pessoa com deficiência, bem como por in-
soa em razão de sua deficiência: formações coletadas, inclusive em censos nacionais e nas
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. demais pesquisas realizadas no País, de acordo com os parâ-
§ 1o  Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se a vítima metros estabelecidos pela Convenção sobre os Direitos das
encontrar-se sob cuidado e responsabilidade do agente. Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo.
§ 2o  Se qualquer dos crimes previstos no caput deste ar- § 3o  Para coleta, transmissão e sistematização de dados,
tigo é cometido por intermédio de meios de comunicação é facultada a celebração de convênios, acordos, termos de
social ou de publicação de qualquer natureza: parceria ou contratos com instituições públicas e privadas,
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
observados os requisitos e procedimentos previstos em le-
§ 3o  Na hipótese do § 2o deste artigo, o juiz poderá de-
gislação específica.
terminar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda
§ 4o  Para assegurar a confidencialidade, a privacidade
antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:
e as liberdades fundamentais da pessoa com deficiência e
I - recolhimento ou busca e apreensão dos exemplares do
os princípios éticos que regem a utilização de informações,
material discriminatório;
devem ser observadas as salvaguardas estabelecidas em lei.
II - interdição das respectivas mensagens ou páginas de
§ 5o  Os dados do Cadastro-Inclusão somente poderão
informação na internet.
§ 4o  Na hipótese do § 2o deste artigo, constitui efeito da ser utilizados para as seguintes finalidades:
condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destrui- I - formulação, gestão, monitoramento e avaliação das
ção do material apreendido. políticas públicas para a pessoa com deficiência e para iden-
Art. 89.  Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pen- tificar as barreiras que impedem a realização de seus direitos;
são, benefícios, remuneração ou qualquer outro rendimento II - realização de estudos e pesquisas.
de pessoa com deficiência: § 6o  As informações a que se refere este artigo devem
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. ser disseminadas em formatos acessíveis.
Parágrafo único.  Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) Art. 93.  Na realização de inspeções e de auditorias pelos
se o crime é cometido: órgãos de controle interno e externo, deve ser observado o
I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, cumprimento da legislação relativa à pessoa com deficiência
testamenteiro ou depositário judicial; ou e das normas de acessibilidade vigentes.
II - por aquele que se apropriou em razão de ofício ou de Art. 94.  Terá direito a auxílio-inclusão, nos termos da lei,
profissão. a pessoa com deficiência moderada ou grave que:
Art. 90.  Abandonar pessoa com deficiência em hospitais, I - receba o benefício de prestação continuada previsto
casas de saúde, entidades de abrigamento ou congêneres: no art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e que
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. passe a exercer atividade remunerada que a enquadre como
Parágrafo único.  Na mesma pena incorre quem não pro- segurado obrigatório do RGPS;
ver as necessidades básicas de pessoa com deficiência quan- II - tenha recebido, nos últimos 5 (cinco) anos, o be-
do obrigado por lei ou mandado. nefício de prestação continuada previsto no art. 20 da Lei
Art. 91.  Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e que exerça atividade
eletrônico ou documento de pessoa com deficiência destina- remunerada que a enquadre como segurado obrigatório do
dos ao recebimento de benefícios, proventos, pensões ou re- RGPS.
muneração ou à realização de operações financeiras, com o Art. 95.  É vedado exigir o comparecimento de pessoa
fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem: com deficiência perante os órgãos públicos quando seu des-
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. locamento, em razão de sua limitação funcional e de condi-
Parágrafo único.  Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) ções de acessibilidade, imponha-lhe ônus desproporcional
se o crime é cometido por tutor ou curador. e indevido, hipótese na qual serão observados os seguintes
procedimentos:

100
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

I - quando for de interesse do poder público, o agente “Art. 8o  Constitui crime punível com reclusão de 2
promoverá o contato necessário com a pessoa com defi- (dois) a 5 (cinco) anos e multa:
ciência em sua residência; I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, pro-
II - quando for de interesse da pessoa com deficiência, ela crastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em
apresentará solicitação de atendimento domiciliar ou fará re- estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, pú-
presentar-se por procurador constituído para essa finalidade. blico ou privado, em razão de sua deficiência;
Parágrafo único.  É assegurado à pessoa com deficiência II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de
atendimento domiciliar pela perícia médica e social do Institu- alguém a qualquer cargo ou emprego público, em razão de
to Nacional do Seguro Social (INSS), pelo serviço público de sua deficiência;
saúde ou pelo serviço privado de saúde, contratado ou con- III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à
veniado, que integre o SUS e pelas entidades da rede socioas- pessoa em razão de sua deficiência;
sistencial integrantes do Suas, quando seu deslocamento, em IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar
razão de sua limitação funcional e de condições de acessibili- de prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial à
dade, imponha-lhe ônus desproporcional e indevido. pessoa com deficiência;
Art. 96.  O § 6o-A do art. 135 da Lei no 4.737, de 15 de julho de V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de
1965 (Código Eleitoral), passa a vigorar com a seguinte redação: ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;
“Art. 135.  ................................................................. VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indis-
........................................................................................ pensáveis à propositura da ação civil pública objeto desta
§ 6o-A.  Os Tribunais Regionais Eleitorais deverão, a cada Lei, quando requisitados.
eleição, expedir instruções aos Juízes Eleitorais para orientá-los § 1o  Se o crime for praticado contra pessoa com defi-
na escolha dos locais de votação, de maneira a garantir acessi- ciência menor de 18 (dezoito) anos, a pena é agravada em
bilidade para o eleitor com deficiência ou com mobilidade re- 1/3 (um terço).
duzida, inclusive em seu entorno e nos sistemas de transporte § 2o  A pena pela adoção deliberada de critérios sub-
que lhe dão acesso. jetivos para indeferimento de inscrição, de aprovação e de
....................................................................................” (NR) cumprimento de estágio probatório em concursos públicos
Art. 97.  A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), apro- não exclui a responsabilidade patrimonial pessoal do admi-
vada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passa a nistrador público pelos danos causados.
vigorar com as seguintes alterações:
§ 3o  Incorre nas mesmas penas quem impede ou difi-
“Art. 428.  ..................................................................
culta o ingresso de pessoa com deficiência em planos pri-
...........................................................................................
vados de assistência à saúde, inclusive com cobrança de
§ 6o  Para os fins do contrato de aprendizagem, a compro-
valores diferenciados.
vação da escolaridade de aprendiz com deficiência deve con-
§ 4o  Se o crime for praticado em atendimento de ur-
siderar, sobretudo, as habilidades e competências relacionadas
gência e emergência, a pena é agravada em 1/3 (um ter-
com a profissionalização.
ço).” (NR)
...........................................................................................
§ 8o   Para o aprendiz com deficiência com 18 (dezoito) Art. 99.  O art. 20 da Lei no 8.036, de 11 de maio de
anos ou mais, a validade do contrato de aprendizagem pressu- 1990, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso XVIII:
põe anotação na CTPS e matrícula e frequência em programa “Art. 20.  ......................................................................
de aprendizagem desenvolvido sob orientação de entidade ..............................................................................................
qualificada em formação técnico-profissional metódica.” (NR) XVIII - quando o trabalhador com deficiência, por pres-
“Art. 433.  .................................................................. crição, necessite adquirir órtese ou prótese para promoção
........................................................................................... de acessibilidade e de inclusão social.
I - desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz, ..................................................................................” (NR)
salvo para o aprendiz com deficiência quando desprovido de Art. 100.  A Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990
recursos de acessibilidade, de tecnologias assistivas e de apoio (Código de Defesa do Consumidor), passa a vigorar com as
necessário ao desempenho de suas atividades; seguintes alterações:
..................................................................................” (NR) “Art. 6o  .......................................................................
Art. 98.  A Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, passa a ............................................................................................
vigorar com as seguintes alterações: Parágrafo único.  A informação de que trata o inciso
“Art. 3o  As medidas judiciais destinadas à proteção de III do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com
interesses coletivos, difusos, individuais homogêneos e indi- deficiência, observado o disposto em regulamento.” (NR)
viduais indisponíveis da pessoa com deficiência poderão ser “Art. 43.  ......................................................................
propostas pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, ............................................................................................
pela União, pelos Estados, pelos Municípios, pelo Distrito Fe- § 6o  Todas as informações de que trata o caput deste
deral, por associação constituída há mais de 1 (um) ano, nos artigo devem ser disponibilizadas em formatos acessíveis,
termos da lei civil, por autarquia, por empresa pública e por inclusive para a pessoa com deficiência, mediante solicita-
fundação ou sociedade de economia mista que inclua, entre ção do consumidor.” (NR)
suas finalidades institucionais, a proteção dos interesses e a Art. 101.  A Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, passa
promoção de direitos da pessoa com deficiência. a vigorar com as seguintes alterações:
.................................................................................” (NR) “Art. 16.  ......................................................................

101
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho Art. 103.  O art. 11 da Lei no 8.429, de 2 de junho de
não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vin- 1992, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso IX:
te e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelec- “Art. 11.  .....................................................................
tual ou mental ou deficiência grave; ............................................................................................
............................................................................................ IX -  deixar de cumprir a exigência de requisitos de
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, acessibilidade previstos na legislação.” (NR)
menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha Art. 104.  A Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, passa
deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; a vigorar com as seguintes alterações:
.................................................................................” (NR) “Art. 3o  .....................................................................
“Art. 77.  ..................................................................... ..........................................................................................
............................................................................................ § 2o  ...........................................................................
§ 2o  .............................................................................. ..........................................................................................
............................................................................................ V - produzidos ou prestados por empresas que com-
II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, provem cumprimento de reserva de cargos prevista em lei
de ambos os sexos, pela emancipação ou ao completar 21 para pessoa com deficiência ou para reabilitado da Previ-
(vinte e um) anos de idade, salvo se for inválido ou tiver dência Social e que atendam às regras de acessibilidade
deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; previstas na legislação.
................................................................................... ...........................................................................................
§ 4o  (VETADO). § 5o  Nos processos de licitação, poderá ser estabeleci-
...................................................................................” (NR) da margem de preferência para:
“Art. 93.  (VETADO): I - produtos manufaturados e para serviços nacionais
I - (VETADO); que atendam a normas técnicas brasileiras; e
II - (VETADO); II - bens e serviços produzidos ou prestados por em-
III - (VETADO); presas que comprovem cumprimento de reserva de cargos
IV - (VETADO);
prevista em lei para pessoa com deficiência ou para rea-
V - (VETADO).
bilitado da Previdência Social e que atendam às regras de
§ 1o  A dispensa de pessoa com deficiência ou de bene-
acessibilidade previstas na legislação.
ficiário reabilitado da Previdência Social ao final de contra-
...................................................................................” (NR)
to por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias e
“Art. 66-A.  As empresas enquadradas no inciso V do §
a dispensa imotivada em contrato por prazo indetermina-
2o e no inciso II do § 5o do art. 3o desta Lei deverão cumprir,
do somente poderão ocorrer após a contratação de outro
durante todo o período de execução do contrato, a reserva
trabalhador com deficiência ou beneficiário reabilitado da
Previdência Social. de cargos prevista em lei para pessoa com deficiência ou
§ 2o  Ao Ministério do Trabalho e Emprego incumbe para reabilitado da Previdência Social, bem como as regras
estabelecer a sistemática de fiscalização, bem como gerar de acessibilidade previstas na legislação.
dados e estatísticas sobre o total de empregados e as va- Parágrafo único.   Cabe à administração fiscalizar o
gas preenchidas por pessoas com deficiência e por bene- cumprimento dos requisitos de acessibilidade nos serviços
ficiários reabilitados da Previdência Social, fornecendo-os, e nos ambientes de trabalho.”
quando solicitados, aos sindicatos, às entidades represen- Art. 105.  O art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de
tativas dos empregados ou aos cidadãos interessados. 1993, passa a vigorar com as seguintes alterações:
§ 3o  Para a reserva de cargos será considerada somen- “Art. 20.  ......................................................................
te a contratação direta de pessoa com deficiência, excluído .............................................................................................
o aprendiz com deficiência de que trata a Consolidação das § 2o  Para efeito de concessão do benefício de pres-
Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, tação continuada, considera-se pessoa com deficiência
de 1o de maio de 1943. aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza
§ 4o  (VETADO).” (NR) física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação
“Art. 110-A.  No ato de requerimento de benefícios com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
operacionalizados pelo INSS, não será exigida apresenta- plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
ção de termo de curatela de titular ou de beneficiário com com as demais pessoas.
deficiência, observados os procedimentos a serem estabe- ............................................................................................
lecidos em regulamento.” § 9o  Os rendimentos decorrentes de estágio supervi-
Art. 102.  O art. 2o da Lei no 8.313, de 23 de dezembro sionado e de aprendizagem não serão computados para os
de 1991, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3o: fins de cálculo da renda familiar per capita a que se refere
“Art. 2o  ......................................................................... o § 3o deste artigo.
............................................................................................. .............................................................................................
§ 3o  Os incentivos criados por esta Lei somente serão § 11.  Para concessão do benefício de que trata
concedidos a projetos culturais que forem disponibilizados, o  caput  deste artigo, poderão ser utilizados outros ele-
sempre que tecnicamente possível, também em formato mentos probatórios da condição de miserabilidade do
acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto grupo familiar e da situação de vulnerabilidade, conforme
em regulamento.” (NR) regulamento.” (NR)

102
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 106.  (VETADO). “Art. 181.  ...................................................................


Art. 107.  A Lei no 9.029, de 13 de abril de 1995, passa a ..........................................................................................
vigorar com as seguintes alterações: XVII - .........................................................................
“Art. 1o  É proibida a adoção de qualquer prática discri- Infração - grave;
minatória e limitativa para efeito de acesso à relação de tra- .................................................................................” (NR)
balho, ou de sua manutenção, por motivo de sexo, origem, Art. 110.  O inciso VI e o § 1o do art. 56 da Lei no 9.615,
raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência, reabilita- de 24 de março de 1998, passam a vigorar com a seguinte
ção profissional, idade, entre outros, ressalvadas, nesse caso, redação:
as hipóteses de proteção à criança e ao adolescente previs- “Art. 56.  ....................................................................
tas no inciso XXXIII do art. 7o da Constituição Federal.” (NR) ...........................................................................................
“Art. 3o  Sem prejuízo do prescrito no art. 2o desta Lei e VI - 2,7% (dois inteiros e sete décimos por cento) da ar-
nos dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes de recadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias fe-
preconceito de etnia, raça, cor ou deficiência, as infrações ao derais e similares cuja realização estiver sujeita a autorização
disposto nesta Lei são passíveis das seguintes cominações: federal, deduzindo-se esse valor do montante destinado aos
..................................................................................” (NR) prêmios;
“Art. 4o  ........................................................................ .............................................................................................
I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o § 1o  Do total de recursos financeiros resultantes do per-
período de afastamento, mediante pagamento das remune- centual de que trata o inciso VI do caput, 62,96% (sessenta
rações devidas, corrigidas monetariamente e acrescidas de e dois inteiros e noventa e seis centésimos por cento) serão
juros legais; destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e 37,04%
....................................................................................” (NR) (trinta e sete inteiros e quatro centésimos por cento) ao Co-
Art. 108. O art. 35 da Lei no 9.250, de 26 de dezembro de mitê Paralímpico Brasileiro (CPB), devendo ser observado, em
1995, passa a vigorar acrescido do seguinte § 5o: ambos os casos, o conjunto de normas aplicáveis à celebração
“Art. 35.  ...................................................................... de convênios pela União.
............................................................................................. ..................................................................................” (NR)
§ 5o  Sem prejuízo do disposto no inciso IX do parágra- Art. 111.  O art. 1o da Lei no 10.048, de 8 de novembro de
fo único do art. 3o da Lei no 10.741, de 1o de outubro de 2000, passa a vigorar com a seguinte redação:
2003, a pessoa com deficiência, ou o contribuinte que tenha “Art. 1o  As pessoas com deficiência, os idosos com idade
dependente nessa condição, tem preferência na restituição igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lac-
referida no inciso III do art. 4o e na alínea “c” do inciso II do tantes, as pessoas com crianças de colo e os obesos terão
art. 8o.” (NR) atendimento prioritário, nos termos desta Lei.” (NR)
Art. 109.  A Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Có- Art. 112.  A Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000,
digo de Trânsito Brasileiro), passa a vigorar com as seguintes passa a vigorar com as seguintes alterações:
alterações: “Art. 2o  .......................................................................
“Art. 2o  ........................................................... I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcan-
Parágrafo único.  Para os efeitos deste Código, são con- ce para utilização, com segurança e autonomia, de espaços,
sideradas vias terrestres as praias abertas à circulação públi- mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes,
ca, as vias internas pertencentes aos condomínios constituí- informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecno-
dos por unidades autônomas e as vias e áreas de estaciona- logias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao
mento de estabelecimentos privados de uso coletivo.” (NR) público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na
“Art. 86-A.  As vagas de estacionamento regulamentado zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou
de que trata o inciso XVII do art. 181 desta Lei deverão ser com mobilidade reduzida;
sinalizadas com as respectivas placas indicativas de destina- II - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou
ção e com placas informando os dados sobre a infração por comportamento que limite ou impeça a participação social da
estacionamento indevido.” pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus di-
“Art. 147-A.  Ao candidato com deficiência auditiva é as- reitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expres-
segurada acessibilidade de comunicação, mediante empre- são, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão,
go de tecnologias assistivas ou de ajudas técnicas em todas à circulação com segurança, entre outros, classificadas em:
as etapas do processo de habilitação. a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espa-
§ 1o  O material didático audiovisual utilizado em aulas ços públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo;
teóricas dos cursos que precedem os exames previstos no b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios pú-
art. 147 desta Lei deve ser acessível, por meio de subtitu- blicos e privados;
lação com legenda oculta associada à tradução simultânea c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e
em Libras. meios de transportes;
§ 2o  É assegurado também ao candidato com deficiên- d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer
cia auditiva requerer, no ato de sua inscrição, os serviços de entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte
intérprete da Libras, para acompanhamento em aulas práti- ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens
cas e teóricas.” e de informações por intermédio de sistemas de comunicação
“Art. 154.  (VETADO).” e de tecnologia da informação;

103
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

III - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimen- “Art. 9o  ........................................................................
to de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou Parágrafo único. Os semáforos para pedestres instalados
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, em vias públicas de grande circulação, ou que deem aces-
pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade so aos serviços de reabilitação, devem obrigatoriamente estar
em igualdade de condições com as demais pessoas; equipados com mecanismo que emita sinal sonoro suave para
IV - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que te- orientação do pedestre.” (NR)
nha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, “Art. 10-A.  A instalação de qualquer mobiliário urbano
permanente ou temporária, gerando redução efetiva da em área de circulação comum para pedestre que ofereça ris-
mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da co de acidente à pessoa com deficiência deverá ser indicada
percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com mediante sinalização tátil de alerta no piso, de acordo com as
criança de colo e obeso; normas técnicas pertinentes.”
V - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa “Art. 12-A.  Os centros comerciais e os estabelecimentos
com deficiência, podendo ou não desempenhar as funções congêneres devem fornecer carros e cadeiras de rodas, moto-
de atendente pessoal; rizados ou não, para o atendimento da pessoa com deficiência
VI - elemento de urbanização: quaisquer componentes ou com mobilidade reduzida.”
de obras de urbanização, tais como os referentes a pavi- Art. 113.  A Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto
mentação, saneamento, encanamento para esgotos, dis- da Cidade), passa a vigorar com as seguintes alterações:
tribuição de energia elétrica e de gás, iluminação pública, “Art. 3o  ......................................................................
serviços de comunicação, abastecimento e distribuição de ............................................................................................
água, paisagismo e os que materializam as indicações do III - promover, por iniciativa própria e em conjunto com
planejamento urbanístico; os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, programas
VII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes de construção de moradias e melhoria das condições habi-
nas vias e nos espaços públicos, superpostos ou adiciona- tacionais, de saneamento básico, das calçadas, dos passeios
dos aos elementos de urbanização ou de edificação, de públicos, do mobiliário urbano e dos demais espaços de uso
forma que sua modificação ou seu traslado não provoque público;
alterações substanciais nesses elementos, tais como semá- IV - instituir diretrizes para desenvolvimento urbano, in-
foros, postes de sinalização e similares, terminais e pontos clusive habitação, saneamento básico, transporte e mobilidade
de acesso coletivo às telecomunicações, fontes de água, urbana, que incluam regras de acessibilidade aos locais de uso
lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer público;
outros de natureza análoga; .................................................................................” (NR)
VIII - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, “Art. 41.  ....................................................................
equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, es- ...........................................................................................
tratégias, práticas e serviços que objetivem promover a § 3o  As cidades de que trata o caput deste artigo devem
funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da elaborar plano de rotas acessíveis, compatível com o plano di-
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, vi- retor no qual está inserido, que disponha sobre os passeios pú-
sando à sua autonomia, independência, qualidade de vida blicos a serem implantados ou reformados pelo poder público,
e inclusão social; com vistas a garantir acessibilidade da pessoa com deficiência
IX - comunicação: forma de interação dos cidadãos ou com mobilidade reduzida a todas as rotas e vias existentes,
que abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a inclusive as que concentrem os focos geradores de maior cir-
Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, culação de pedestres, como os órgãos públicos e os locais de
o Braille, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, prestação de serviços públicos e privados de saúde, educação,
os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim assistência social, esporte, cultura, correios e telégrafos, ban-
como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas audi- cos, entre outros, sempre que possível de maneira integrada
tivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios e com os sistemas de transporte coletivo de passageiros.” (NR)
formatos aumentativos e alternativos de comunicação, in- Art. 114.  A Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
cluindo as tecnologias da informação e das comunicações; Civil), passa a vigorar com as seguintes alterações:
X - desenho universal: concepção de produtos, am- “Art. 3o  São absolutamente incapazes de exercer pessoal-
bientes, programas e serviços a serem usados por todas as mente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto es- I - (Revogado);
pecífico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva.” (NR) II - (Revogado);
“Art. 3o  O planejamento e a urbanização das vias pú- III - (Revogado).” (NR)
blicas, dos parques e dos demais espaços de uso público “Art. 4o  São incapazes, relativamente a certos atos ou à
deverão ser concebidos e executados de forma a torná- maneira de os exercer:
-los acessíveis para todas as pessoas, inclusive para aquelas .....................................................................................
com deficiência ou com mobilidade reduzida. II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
Parágrafo único.  O passeio público, elemento obriga- III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
tório de urbanização e parte da via pública, normalmente puderem exprimir sua vontade;
segregado e em nível diferente, destina-se somente à cir- .............................................................................................
culação de pedestres e, quando possível, à implantação de Parágrafo único.  A capacidade dos indígenas será regu-
mobiliário urbano e de vegetação.” (NR) lada por legislação especial.” (NR)

104
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

“Art. 228.  ..................................................................... “Art. 1.775-A.  Na nomeação de curador para a pessoa
............................................................................................. com deficiência, o juiz poderá estabelecer curatela com-
II - (Revogado); partilhada a mais de uma pessoa.”
III - (Revogado); “Art. 1.777.  As pessoas referidas no inciso I do art.
............................................................................................. 1.767 receberão todo o apoio necessário para ter preserva-
§ 1o  .............................................................................. do o direito à convivência familiar e comunitária, sendo evi-
§ 2o  A pessoa com deficiência poderá testemunhar em tado o seu recolhimento em estabelecimento que os afaste
igualdade de condições com as demais pessoas, sendo-lhe desse convívio.” (NR)
assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva.” Art. 115.  O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei
(NR) no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a
“Art. 1.518.  Até a celebração do casamento podem os vigorar com a seguinte redação:
pais ou tutores revogar a autorização.” (NR) “TÍTULO IV
“Art. 1.548.  ................................................................... Da Tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão
I - (Revogado); Apoiada”
....................................................................................” (NR) Art. 116.  O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei
“Art. 1.550.  .................................................................. no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a
............................................................................................. vigorar acrescido do seguinte Capítulo III:
§ 1o  .............................................................................. “CAPÍTULO III
§ 2o   A pessoa com deficiência mental ou intelectual Da Tomada de Decisão Apoiada
em idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando Art. 1.783-A.  A tomada de decisão apoiada é o proces-
sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável so pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2
ou curador.” (NR) (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e
“Art. 1.557.  ................................................................ que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na to-
............................................................................................ mada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físi-
os elementos e informações necessários para que possa
co irremediável que não caracterize deficiência ou de mo-
exercer sua capacidade.
léstia grave e transmissível, por contágio ou por herança,
§ 1o  Para formular pedido de tomada de decisão
capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua
apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem
descendência;
apresentar termo em que constem os limites do apoio a
IV - (Revogado).” (NR)
ser oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive
“Art. 1.767.  ..................................................................
o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos
I - aqueles que, por causa transitória ou permanente,
direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar.
não puderem exprimir sua vontade;
II - (Revogado); § 2o  O pedido de tomada de decisão apoiada será
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; requerido pela pessoa a ser apoiada, com indicação ex-
IV - (Revogado); pressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto
....................................................................................” (NR) no caput deste artigo.
“Art. 1.768.  O processo que define os termos da cura- § 3o  Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada
tela deve ser promovido: de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe multidis-
............................................................................................. ciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoal-
IV - pela própria pessoa.” (NR) mente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.
“Art. 1.769.  O Ministério Público somente promoverá o § 4o  A decisão tomada por pessoa apoiada terá vali-
processo que define os termos da curatela: dade e efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que
I - nos casos de deficiência mental ou intelectual; esteja inserida nos limites do apoio acordado.
............................................................................................ § 5o  Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha
III - se, existindo, forem menores ou incapazes as pes- relação negocial pode solicitar que os apoiadores contra-
soas mencionadas no inciso II.” (NR) -assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito,
“Art. 1.771.  Antes de se pronunciar acerca dos termos sua função em relação ao apoiado.
da curatela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe § 6o  Em caso de negócio jurídico que possa trazer ris-
multidisciplinar, entrevistará pessoalmente o interditando.” co ou prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões
(NR) entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz,
“Art. 1.772.  O juiz determinará, segundo as potencia- ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão.
lidades da pessoa, os limites da curatela, circunscritos às § 7o  Se o apoiador agir com negligência, exercer pres-
restrições constantes do art. 1.782, e indicará curador. são indevida ou não adimplir as obrigações assumidas,
Parágrafo único.  Para a escolha do curador, o juiz le- poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar
vará em conta a vontade e as preferências do interditando, denúncia ao Ministério Público ou ao juiz.
a ausência de conflito de interesses e de influência indevi- § 8o  Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o
da, a proporcionalidade e a adequação às circunstâncias da apoiador e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de
pessoa.” (NR) seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio.

105
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 9o  A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solici- Art. 121.  Os direitos, os prazos e as obrigações pre-
tar o término de acordo firmado em processo de tomada vistos nesta Lei não excluem os já estabelecidos em outras
de decisão apoiada. legislações, inclusive em pactos, tratados, convenções e
§ 10.  O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de declarações internacionais aprovados e promulgados pelo
sua participação do processo de tomada de decisão apoia- Congresso Nacional, e devem ser aplicados em conformi-
da, sendo seu desligamento condicionado à manifestação dade com as demais normas internas e acordos internacio-
do juiz sobre a matéria. nais vinculantes sobre a matéria.
§ 11.  Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que Parágrafo único.  Prevalecerá a norma mais benéfica à
couber, as disposições referentes à prestação de contas na pessoa com deficiência.
curatela.” Art. 122.  Regulamento disporá sobre a adequação do
Art. 117.  O art. 1o da Lei no 11.126, de 27 de junho de disposto nesta Lei ao tratamento diferenciado, simplificado
2005, passa a vigorar com a seguinte redação: e favorecido a ser dispensado às microempresas e às em-
“Art. 1o  É assegurado à pessoa com deficiência visual presas de pequeno porte, previsto no § 3o do art. 1oda Lei
acompanhada de cão-guia o direito de ingressar e de per- Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006.
manecer com o animal em todos os meios de transporte e Art. 123.  Revogam-se os seguintes dispositivos:      (Vi-
em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e gência)
privados de uso coletivo, desde que observadas as condi- I - o inciso II do § 2o do art. 1o da Lei no 9.008, de 21 de
ções impostas por esta Lei. março de 1995;
............................................................................................. II - os incisos I, II e III do art. 3o da Lei no 10.406, de 10
§ 2o  O disposto no caput deste artigo aplica-se a todas de janeiro de 2002 (Código Civil);
as modalidades e jurisdições do serviço de transporte cole- III - os incisos II e III do art. 228 da Lei no 10.406, de 10
tivo de passageiros, inclusive em esfera internacional com de janeiro de 2002 (Código Civil);
origem no território brasileiro.” (NR) IV - o inciso I do art. 1.548 da Lei no 10.406, de 10 de
Art. 118.  O inciso IV do art. 46 da Lei no 11.904, de 14 janeiro de 2002 (Código Civil);
de janeiro de 2009, passa a vigorar acrescido da seguinte V - o inciso IV do art. 1.557 da Lei no 10.406, de 10 de
alínea “k”: janeiro de 2002 (Código Civil);
“Art. 46.  ...................................................................... VI - os incisos II e IV do art. 1.767 da Lei no 10.406, de
........................................................................................... 10 de janeiro de 2002 (Código Civil);
IV - .............................................................................. VII - os arts. 1.776 e 1.780 da Lei no 10.406, de 10 de
........................................................................................... janeiro de 2002 (Código Civil).
k) de acessibilidade a todas as pessoas. Art. 124.  O § 1o do art. 2o desta Lei deverá entrar em
.................................................................................” (NR) vigor em até 2 (dois) anos, contados da entrada em vigor
Art. 119.  A Lei no 12.587, de 3 de janeiro de 2012, passa desta Lei.
a vigorar acrescida do seguinte art. 12-B: Art. 125.  Devem ser observados os prazos a seguir dis-
“Art. 12-B.  Na outorga de exploração de serviço de criminados, a partir da entrada em vigor desta Lei, para o
táxi, reservar-se-ão 10% (dez por cento) das vagas para cumprimento dos seguintes dispositivos:
condutores com deficiência. I - incisos I e II do § 2o do art. 28, 48 (quarenta e oito)
§ 1o  Para concorrer às vagas reservadas na forma meses;
do caput deste artigo, o condutor com deficiência deverá II - § 6o do art. 44, 48 (quarenta e oito) meses;
observar os seguintes requisitos quanto ao veículo utiliza- III - art. 45, 24 (vinte e quatro) meses;
do: IV - art. 49, 48 (quarenta e oito) meses.
I - ser de sua propriedade e por ele conduzido; e Art. 126.  Prorroga-se até 31 de dezembro de 2021 a
II - estar adaptado às suas necessidades, nos termos da vigência da Lei no 8.989, de 24 de fevereiro de 1995.
legislação vigente. Art. 127.  Esta Lei entra em vigor após decorridos 180
§ 2o  No caso de não preenchimento das vagas na for- (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial.
ma estabelecida no caput deste artigo, as remanescentes
devem ser disponibilizadas para os demais concorrentes.”
Art. 120.  Cabe aos órgãos competentes, em cada esfe-
ra de governo, a elaboração de relatórios circunstanciados
sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos por força
das Leis no 10.048, de 8 de novembro de 2000, e no10.098,
de 19 de dezembro de 2000, bem como o seu encaminha-
mento ao Ministério Público e aos órgãos de regulação
para adoção das providências cabíveis.
Parágrafo único.  Os relatórios a que se refere
o  caput  deste artigo deverão ser apresentados no prazo
de 1 (um) ano a contar da entrada em vigor desta Lei.

106
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

IV - estruturação da rede de enfrentamento ao tráfico


2.5.22 LEI Nº 13.344/2016 (PREVENÇÃO E de pessoas, envolvendo todas as esferas de governo e or-
REPRESSÃO AO TRÁFICO DE PESSOAS); ganizações da sociedade civil; 
V - fortalecimento da atuação em áreas ou regiões de
maior incidência do delito, como as de fronteira, portos,
aeroportos, rodovias e estações rodoviárias e ferroviárias; 
LEI Nº 13.344, DE 6 DE OUTUBRO DE 2016. VI - estímulo à cooperação internacional; 
VII - incentivo à realização de estudos e pesquisas e ao
Dispõe sobre prevenção e repressão ao tráfico interno seu compartilhamento; 
e internacional de pessoas e sobre medidas de atenção às VIII - preservação do sigilo dos procedimentos admi-
vítimas; altera a Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980, o nistrativos e judiciais, nos termos da lei; 
Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código IX - gestão integrada para coordenação da política e
de Processo Penal), e o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de de- dos planos nacionais de enfrentamento ao tráfico de pes-
soas. 
zembro de 1940 (Código Penal); e revoga dispositivos do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
CAPÍTULO II
Penal).
DA PREVENÇÃO AO TRÁFICO DE PESSOAS 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Art. 4o  A prevenção ao tráfico de pessoas dar-se-á por
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte  Lei:  meio: 
I - da implementação de medidas intersetoriais e inte-
Art. 1o  Esta Lei dispõe sobre o tráfico de pessoas co- gradas nas áreas de saúde, educação, trabalho, segurança
metido no território nacional contra vítima brasileira ou pública, justiça, turismo, assistência social, desenvolvimen-
estrangeira e no exterior contra vítima brasileira.  to rural, esportes, comunicação, cultura e direitos humanos; 
Parágrafo único. O enfrentamento ao tráfico de pes- II - de campanhas socioeducativas e de conscientiza-
soas compreende a prevenção e a repressão desse delito, ção, considerando as diferentes realidades e linguagens; 
bem como a atenção às suas vítimas.  III - de incentivo à mobilização e à participação da so-
ciedade civil; e 
CAPÍTULO I IV - de incentivo a projetos de prevenção ao tráfico de
DOS PRINCÍPIOS E DAS DIRETRIZES pessoas. 

Art. 2o  O enfrentamento ao tráfico de pessoas aten- CAPÍTULO III


derá aos seguintes princípios:  DA REPRESSÃO AO TRÁFICO DE PESSOAS
I - respeito à dignidade da pessoa humana; 
II - promoção e garantia da cidadania e dos direitos Art. 5o  A repressão ao tráfico de pessoas dar-se-á por
humanos;  meio: 
III - universalidade, indivisibilidade e interdependên- I - da cooperação entre órgãos do sistema de justiça e
cia;  segurança, nacionais e estrangeiros; 
IV - não discriminação por motivo de gênero, orien- II - da integração de políticas e ações de repressão aos
tação sexual, origem étnica ou social, procedência, nacio- crimes correlatos e da responsabilização dos seus autores; 
nalidade, atuação profissional, raça, religião, faixa etária, III - da formação de equipes conjuntas de investigação. 
situação migratória ou outro status; 
V - transversalidade das dimensões de gênero, orien- CAPÍTULO IV
tação sexual, origem étnica ou social, procedência, raça e DA PROTEÇÃO E DA ASSISTÊNCIA ÀS VÍTIMAS
faixa etária nas políticas públicas; 
VI - atenção integral às vítimas diretas e indiretas, in- Art. 6o  A proteção e o atendimento à vítima direta ou
dependentemente de nacionalidade e de colaboração em indireta do tráfico de pessoas compreendem: 
investigações ou processos judiciais;  I - assistência jurídica, social, de trabalho e emprego e
VII - proteção integral da criança e do adolescente.  de saúde; 
Art. 3o  O enfrentamento ao tráfico de pessoas aten- II - acolhimento e abrigo provisório; 
derá às seguintes diretrizes:  III - atenção às suas necessidades específicas, especial-
I - fortalecimento do pacto federativo, por meio da mente em relação a questões de gênero, orientação sexual,
atuação conjunta e articulada das esferas de governo no origem étnica ou social, procedência, nacionalidade, raça,
âmbito das respectivas competências;  religião, faixa etária, situação migratória, atuação profissio-
II - articulação com organizações governamentais e nal, diversidade cultural, linguagem, laços sociais e familia-
não governamentais nacionais e estrangeiras;  res ou outro status; 
III - incentivo à participação da sociedade em instân- IV - preservação da intimidade e da identidade; 
cias de controle social e das entidades de classe ou profis- V - prevenção à revitimização no atendimento e nos
sionais na discussão das políticas sobre tráfico de pessoas;  procedimentos investigatórios e judiciais; 

107
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

VI - atendimento humanizado;  § 3o  Nenhum pedido de liberação será conhecido sem


VII - informação sobre procedimentos administrativos o comparecimento pessoal do acusado ou investigado, ou de
e judiciais.  interposta pessoa a que se refere o caput, podendo o juiz de-
§ 1o  A atenção às vítimas dar-se-á com a interrupção da terminar a prática de atos necessários à conservação de bens,
situação de exploração ou violência, a sua reinserção social, direitos ou valores, sem prejuízo do disposto no § 1o. 
a garantia de facilitação do acesso à educação, à cultura, à § 4o  Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá sobre
formação profissional e ao trabalho e, no caso de crianças e o perdimento do produto, bem ou valor apreendido, seques-
adolescentes, a busca de sua reinserção familiar e comunitária.  trado ou declarado indisponível. 
§ 2o  No exterior, a assistência imediata a vítimas brasilei- Art. 9o  Aplica-se subsidiariamente, no que couber, o dis-
ras estará a cargo da rede consular brasileira e será prestada posto na Lei no 12.850, de 2 de agosto de 2013. 
independentemente de sua situação migratória, ocupação ou Art. 10.  O Poder Público é autorizado a criar sistema de
outro status.  informações visando à coleta e à gestão de dados que orien-
§ 3o  A assistência à saúde prevista no inciso I deste artigo tem o enfrentamento ao tráfico de pessoas. 
deve compreender os aspectos de recuperação física e psico- Art. 11.  O Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de
lógica da vítima.  1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar acrescido
Art. 7o  A Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980, passa a dos seguintes arts. 13-A e 13-B: 
vigorar acrescida dos seguintes artigos:  “Art. 13-A.  Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-
“Art. 18-A.  Conceder-se-á residência permanente às víti- A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848,
mas de tráfico de pessoas no território nacional, independen-
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da
temente de sua situação migratória e de colaboração em pro-
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
cedimento administrativo, policial ou judicial. 
Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado
§ 1o  O visto ou a residência permanentes poderão ser con-
cedidos, a título de reunião familiar:  de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder
I - a cônjuges, companheiros, ascendentes e descendentes; e público ou de empresas da iniciativa privada, dados e infor-
II - a outros membros do grupo familiar que comprovem mações cadastrais da vítima ou de suspeitos. 
dependência econômica ou convivência habitual com a vítima.  Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo
§ 2o  Os beneficiários do visto ou da residência permanen- de 24 (vinte e quatro) horas, conterá: 
tes são isentos do pagamento da multa prevista no inciso II do I - o nome da autoridade requisitante; 
art. 125.  II - o número do inquérito policial; e 
§ 3o  Os beneficiários do visto ou da residência permanen- III - a identificação da unidade de polícia judiciária res-
tes de que trata este artigo são isentos do pagamento das taxas ponsável pela investigação.” 
e emolumentos previstos nos arts. 20, 33 e 131.”  “Art. 13-B.  Se necessário à prevenção e à repressão dos
“Art. 18-B.  Ato do Ministro de Estado da Justiça e Cidada- crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Mi-
nia estabelecerá os procedimentos para concessão da residên- nistério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar,
cia permanente de que trata o art. 18-A.”  mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de
“Art. 42-A.  O estrangeiro estará em situação regular no País serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibi-
enquanto tramitar pedido de regularização migratória.”  lizem imediatamente os meios técnicos adequados – como
sinais, informações e outros – que permitam a localização da
CAPÍTULO V vítima ou dos suspeitos do delito em curso. 
DISPOSIÇÕES PROCESSUAIS § 1o  Para os efeitos deste artigo, sinal significa posiciona-
mento da estação de cobertura, setorização e intensidade de
Art. 8o  O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Públi- radiofrequência. 
co ou mediante representação do delegado de polícia, ouvido § 2o  Na hipótese de que trata o caput, o sinal: 
o Ministério Público, havendo indícios suficientes de infração I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação
penal, poderá decretar medidas assecuratórias relacionadas a de qualquer natureza, que dependerá de autorização judicial,
bens, direitos ou valores pertencentes ao investigado ou acusa- conforme disposto em lei; 
do, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia mó-
instrumento, produto ou proveito do crime de tráfico de pes- vel celular por período não superior a 30 (trinta) dias, renová-
soas, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144-A do Decre- vel por uma única vez, por igual período; 
to-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso
Penal).  II, será necessária a apresentação de ordem judicial. 
§ 1o  Proceder-se-á à alienação antecipada para preserva- § 3o  Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial
ção do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qual- deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas)
quer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial. 
dificuldade para sua manutenção.  § 4o  Não havendo manifestação judicial no prazo de 12
§ 2o  O juiz determinará a liberação total ou parcial dos (doze) horas, a autoridade competente requisitará às empre-
bens, direitos e valores quando comprovada a licitude de sua sas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou tele-
origem, mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores mática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos
necessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamen- adequados – como sinais, informações e outros – que per-
to de prestações pecuniárias, multas e custas decorrentes da mitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em
infração penal.  curso, com imediata comunicação ao juiz.” 

108
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 12.  O inciso V do art. 83 do Decreto-Lei no 2.848,


de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar LEI Nº 7.210/1984 (LEI DE EXECUÇÃO PENAL):
com a seguinte redação:  ARTIGOS 1º AO 4º, 9º-A, 10, 11, 38 A 41, 120
“Art. 83. ......................................................................... A 125, 146-B, 146-D, 198, 199 E 202;
............................................................................................. 
V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos
de condenação por crime hediondo, prática de tortura, trá-
fico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pes- Art. 4º O Estado deverá recorrer à cooperação da co-
soas e terrorismo, se o apenado não for reincidente especí- munidade nas atividades de execução da pena e da medi-
fico em crimes dessa natureza. da de segurança.
....................................................................................” (NR)  Art. 9o-A.  Os condenados por crime praticado, dolo-
Art. 13.  O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de samente, com violência de natureza grave contra pessoa,
1940 (Código Penal), passa a vigorar acrescido do seguinte ou por qualquer dos crimes previstos no art. 1o da Lei
art. 149-A:  no 8.072, de 25 de julho de 1990, serão submetidos, obri-
“Tráfico de Pessoas  gatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante
Art. 149-A.  Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, trans- extração de DNA - ácido desoxirribonucleico, por técnica
ferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave
adequada e indolor. (Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012)
ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finali-
§ 1o  A identificação do perfil genético será armaze-
dade de: 
nada em banco de dados sigiloso, conforme regulamento
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; 
a ser expedido pelo Poder Executivo. (Incluído pela Lei nº
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de
escravo;  12.654, de 2012)
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;  § 2o  A autoridade policial, federal ou estadual, poderá
IV - adoção ilegal; ou  requerer ao juiz competente, no caso de inquérito instau-
V - exploração sexual.  rado, o acesso ao banco de dados de identificação de per-
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.  fil genético.(Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012)
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se: 
I - o crime for cometido por funcionário público no CAPÍTULO II
exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las;  Da Assistência
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou SEÇÃO I
pessoa idosa ou com deficiência;  Disposições Gerais
III - o agente se prevalecer de relações de parentes-
co, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de de- Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever
pendência econômica, de autoridade ou de superioridade do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retor-
hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou no à convivência em sociedade.
função; ou  Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do ter- Art. 11. A assistência será:
ritório nacional.  I - material;
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente II - à saúde;
for primário e não integrar organização criminosa.”  III -jurídica;
IV - educacional;
CAPÍTULO VI V - social;
DAS CAMPANHAS RELACIONADAS AO ENFRENTA- VI - religiosa.
MENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS
CAPÍTULO IV
Art. 14.  É instituído o Dia Nacional de Enfrentamento
Dos Deveres, dos Direitos e da Disciplina
ao Tráfico de Pessoas, a ser comemorado, anualmente, em
SEÇÃO I
30 de julho. 
Dos Deveres
Art. 15. Serão adotadas campanhas nacionais de en-
frentamento ao tráfico de pessoas, a serem divulgadas em
veículos de comunicação, visando à conscientização da so- Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações
ciedade sobre todas as modalidades de tráfico de pessoas.  legais inerentes ao seu estado, submeter-se às normas de
execução da pena.
CAPÍTULO VII Art. 39. Constituem deveres do condenado:
DISPOSIÇÕES FINAIS I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da
sentença;
Art. 16.  Revogam-se os arts. 231 e 231-A do Decreto- II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pes-
-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal).  soa com quem deva relacionar-se;
Art. 17.  Esta Lei entra em vigor após decorridos 45 III - urbanidade e respeito no trato com os demais
(quarenta e cinco) dias de sua publicação oficial.  condenados;

109
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou Art. 124. A autorização será concedida por prazo não
coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina; superior a 7 (sete) dias, podendo ser renovada por mais 4
V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens re- (quatro) vezes durante o ano.
cebidas; § 1o  Ao conceder a saída temporária, o juiz impo-
VI - submissão à sanção disciplinar imposta; rá ao beneficiário as seguintes condições, entre outras
VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores; que entender compatíveis com as circunstâncias do caso
VIII - indenização ao Estado, quando possível, das des- e a situação pessoal do condenado: (Incluído pela Lei nº
pesas realizadas com a sua manutenção, mediante descon- 12.258, de 2010)
to proporcional da remuneração do trabalho; I - fornecimento do endereço onde reside a família
IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; a ser visitada ou onde poderá ser encontrado durante o
X - conservação dos objetos de uso pessoal. gozo do benefício; (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que II - recolhimento à residência visitada, no período no-
couber, o disposto neste artigo. turno; (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
III - proibição de frequentar bares, casas noturnas
SEÇÃO III e estabelecimentos congêneres.  (Incluído pela Lei nº
Das Autorizações de Saída 12.258, de 2010)
SUBSEÇÃO I § 2o  Quando se tratar de frequência a curso profis-
Da Permissão de Saída sionalizante, de instrução de ensino médio ou superior,
o tempo de saída será o necessário para o cumprimento
Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regi- das atividades discentes. (Renumerado do parágrafo úni-
me fechado ou semi-aberto e os presos provisórios pode- co pela Lei nº 12.258, de 2010)
rão obter permissão para sair do estabelecimento, median- § 3o  Nos demais casos, as autorizações de saída so-
te escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos: mente poderão ser concedidas com prazo mínimo de 45
I - falecimento ou doença grave do cônjuge, compa- (quarenta e cinco) dias de intervalo entre uma e outra. (In-
nheira, ascendente, descendente ou irmão; cluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
II - necessidade de tratamento médico (parágrafo úni- Art. 125. O benefício será automaticamente revogado
co do artigo 14). quando o condenado praticar fato definido como crime
Parágrafo único. A permissão de saída será concedida doloso, for punido por falta grave, desatender as condi-
pelo diretor do estabelecimento onde se encontra o preso. ções impostas na autorização ou revelar baixo grau de
Art. 121. A permanência do preso fora do estabeleci- aproveitamento do curso.
mento terá a duração necessária à finalidade da saída. Parágrafo único. A recuperação do direito à saída
temporária dependerá da absolvição no processo penal,
SUBSEÇÃO II do cancelamento da punição disciplinar ou da demons-
Da Saída Temporária tração do merecimento do condenado.
Art. 146-B.  O juiz poderá definir a fiscalização por
Art. 122. Os condenados que cumprem pena em re- meio da monitoração eletrônica quando: (Incluído pela
gime semi-aberto poderão obter autorização para saída Lei nº 12.258, de 2010)
temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
seguintes casos: II - autorizar a saída temporária no regime semiaber-
I - visita à família; to;  (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
II - frequência a curso supletivo profissionalizante, bem III - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
como de instrução do 2º grau ou superior, na Comarca do IV - determinar a prisão domiciliar; (Incluído pela Lei
Juízo da Execução; nº 12.258, de 2010)
III - participação em atividades que concorram para o V - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
retorno ao convívio social. Parágrafo único.  (VETADO).  (Incluído pela Lei nº
Parágrafo único.  A ausência de vigilância direta não 12.258, de 2010)
impede a utilização de equipamento de monitoração ele- Art. 146-D.  A monitoração eletrônica poderá ser re-
trônica pelo condenado, quando assim determinar o juiz vogada: (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
da execução. (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010) I - quando se tornar desnecessária ou inadequa-
Art. 123. A autorização será concedida por ato moti- da; (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
vado do Juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a II - se o acusado ou condenado violar os deveres a
administração penitenciária e dependerá da satisfação dos que estiver sujeito durante a sua vigência ou cometer falta
seguintes requisitos: grave. (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
I - comportamento adequado;
II - cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena,
se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se reinci-
dente;
III - compatibilidade do benefício com os objetivos da
pena.

110
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

TÍTULO IX de recebimento encaminhada diretamente ao veículo de


Das Disposições Finais e Transitórias comunicação social ou, inexistindo pessoa jurídica cons-
tituída, a quem por ele responda, independentemente de
Art. 198. É defesa ao integrante dos órgãos da execu- quem seja o responsável intelectual pelo agravo.
ção penal, e ao servidor, a divulgação de ocorrência que § 1o   O direito de resposta ou retificação poderá ser
perturbe a segurança e a disciplina dos estabelecimentos, exercido, de forma individualizada, em face de todos os
bem como exponha o preso à inconveniente notoriedade, veículos de comunicação social que tenham divulgado, pu-
durante o cumprimento da pena. blicado, republicado, transmitido ou retransmitido o agra-
Art. 199. O emprego de algemas será disciplinado por vo original.
decreto federal.      (Regulamento) § 2o    O direito de resposta ou retificação poderá ser
Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da exercido, também, conforme o caso:
folha corrida, atestados ou certidões fornecidas por auto- I  - pelo representante legal do ofendido incapaz ou da
ridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia pessoa jurídica;
ou referência à condenação, salvo para instruir processo II - pelo cônjuge, descendente, ascendente ou irmão
pela prática de nova infração penal ou outros casos expres- do ofendido que esteja ausente do País ou tenha falecido
sos em lei. depois do agravo, mas antes de decorrido o prazo de de-
cadência do direito de resposta ou retificação.
§ 3o  No caso de divulgação, publicação ou transmis-
são continuada e ininterrupta da mesma matéria ofensiva,
2.5.23 - LEI Nº 13.188/2015 (DIREITO DE o prazo será contado da data em que se iniciou o agravo.
RESPOSTA OU RETIFICAÇÃO DO OFENDIDO) Art. 4o   A resposta ou retificação atenderá, quanto à
forma e à duração, ao seguinte:
I - praticado o agravo em mídia escrita ou na internet,
LEI Nº 13.188, DE 11 DE NOVEMBRO DE 2015. terá a resposta ou retificação o destaque, a publicidade, a
periodicidade e a dimensão da matéria que a ensejou;
Dispõe sobre o direito de resposta ou retificação do II - praticado o agravo em mídia televisiva, terá a res-
ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida posta ou retificação o destaque, a publicidade, a periodici-
por veículo de comunicação social. dade e a duração da matéria que a ensejou;
III - praticado o agravo em mídia radiofônica, terá a
resposta ou retificação o destaque, a publicidade, a perio-
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
dicidade e a duração da matéria que a ensejou.
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
§ 1o  Se o agravo tiver sido divulgado, publicado, repu-
Art. 1o  Esta Lei disciplina o exercício do direito de res-
blicado, transmitido ou retransmitido em mídia escrita ou
posta ou retificação do ofendido em matéria divulgada, pu-
em cadeia de rádio ou televisão para mais de um Município
blicada ou transmitida por veículo de comunicação social.
ou Estado, será conferido proporcional alcance à divulga-
Art. 2o  Ao ofendido em matéria divulgada, publicada
ção da resposta ou retificação.
ou transmitida por veículo de comunicação social é asse- § 2o  O ofendido poderá requerer que a resposta ou
gurado o direito de resposta ou retificação, gratuito e pro- retificação seja divulgada, publicada ou transmitida nos
porcional ao agravo. mesmos espaço, dia da semana e horário do agravo.
§ 1o  Para os efeitos desta Lei, considera-se matéria § 3o  A resposta ou retificação cuja divulgação, publi-
qualquer reportagem, nota ou notícia divulgada por veícu- cação ou transmissão não obedeça ao disposto nesta Lei é
lo de comunicação social, independentemente do meio ou considerada inexistente.
da plataforma de distribuição, publicação ou transmissão § 4o  Na delimitação do agravo, deverá ser considerado
que utilize, cujo conteúdo atente, ainda que por equívoco o contexto da informação ou matéria que gerou a ofensa.
de informação, contra a honra, a intimidade, a reputação, o Art. 5o  Se o veículo de comunicação social ou quem
conceito, o nome, a marca ou a imagem de pessoa física ou por ele responda não divulgar, publicar ou transmitir a res-
jurídica identificada ou passível de identificação. posta ou retificação no prazo de 7 (sete) dias, contado do
§ 2o  São excluídos da definição de matéria estabele- recebimento do respectivo pedido, na forma do art. 3o, res-
cida no § 1o deste artigo os comentários realizados por tará caracterizado o interesse jurídico para a propositura
usuários da internet nas páginas eletrônicas dos veículos de ação judicial.
de comunicação social. § 1o  É competente para conhecer do feito o juízo do
§ 3o  A retratação ou retificação espontânea, ainda que domicílio do ofendido ou, se este assim o preferir, aquele
a elas sejam conferidos os mesmos destaque, publicidade, do lugar onde o agravo tenha apresentado maior reper-
periodicidade e dimensão do agravo, não impedem o exer- cussão.
cício do direito de resposta pelo ofendido nem prejudicam § 2o  A ação de rito especial de que trata esta Lei será
a ação de reparação por dano moral. instruída com as provas do agravo e do pedido de resposta
Art. 3o   O direito de resposta ou retificação deve ser ou retificação não atendido, bem como com o texto da res-
exercido no prazo decadencial de 60 (sessenta) dias, conta- posta ou retificação a ser divulgado, publicado ou transmi-
do da data de cada divulgação, publicação ou transmissão tido, sob pena de inépcia da inicial, e processada no prazo
da matéria ofensiva, mediante correspondência com aviso máximo de 30 (trinta) dias, vedados:

111
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

I - a cumulação de pedidos; Parágrafo único.  Incluem-se entre os ônus da sucum-


II - a reconvenção; bência os custos com a divulgação, publicação ou trans-
III - o litisconsórcio, a assistência e a intervenção de missão da resposta ou retificação, caso a decisão judicial
terceiros. favorável ao autor seja reformada em definitivo.
§ 3o  (VETADO). Art. 12.  Os pedidos de reparação ou indenização por
Art. 6o  Recebido o pedido de resposta ou retificação, danos morais, materiais ou à imagem serão deduzidos em
o juiz, dentro de 24 (vinte e quatro) horas, mandará citar o ação própria, salvo se o autor, desistindo expressamente da
responsável pelo veículo de comunicação social para que: tutela específica de que trata esta Lei, os requerer, caso em
I - em igual prazo, apresente as razões pelas quais não que o processo seguirá pelo rito ordinário.
o divulgou, publicou ou transmitiu; § 1o  O ajuizamento de ação cível ou penal contra o veí-
II - no prazo de 3 (três) dias, ofereça contestação. culo de comunicação ou seu responsável com fundamen-
Parágrafo único.  O agravo consistente em injúria não to na divulgação, publicação ou transmissão ofensiva não
admitirá a prova da verdade. prejudica o exercício administrativo ou judicial do direito
Art. 7o  O juiz, nas 24 (vinte e quatro) horas seguintes de resposta ou retificação previsto nesta Lei.
à citação, tenha ou não se manifestado o responsável pelo
§ 2o  A reparação ou indenização dar-se-á sem prejuízo
veículo de comunicação, conhecerá do pedido e, haven-
da multa a que se refere o § 3o do art. 7o.
do prova capaz de convencer sobre a verossimilhança da
Art. 13.  O art. 143 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de de-
alegação ou justificado receio de ineficácia do provimento
final, fixará desde logo as condições e a data para a veicu- zembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar acrescido
lação, em prazo não superior a 10 (dez) dias, da resposta do seguinte parágrafo único:
ou retificação. “Art. 143.  .....................................................................
§ 1o  Se o agravo tiver sido divulgado ou publicado por Parágrafo único.  Nos casos em que o querelado tenha
veículo de mídia impressa cuja circulação seja periódica, a praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios
resposta ou retificação será divulgada na edição seguinte à de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o
da ofensa ou, ainda, excepcionalmente, em edição extraor- ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofen-
dinária, apenas nos casos em que o prazo entre a ofensa sa.” (NR)
e a próxima edição indique desproporcionalidade entre a Art. 14.  Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
ofensa e a resposta ou retificação. cação.
§ 2o  A medida antecipatória a que se refere o caput des- Brasília, 11 de novembro de 2015; 194o da Independên-
te artigo poderá ser reconsiderada ou modificada a qual- cia e 127o da República.
quer momento, em decisão fundamentada.
§ 3o  O juiz poderá, a qualquer tempo, impor multa diá-
ria ao réu, independentemente de pedido do autor, bem
como modificar-lhe o valor ou a periodicidade, caso verifi- 2.5.24 - LEI Nº 13.260/2016 (LEI
que que se tornou insuficiente ou excessiva. ANTITERRORISMO);
§ 4o  Para a efetivação da tutela específica de que trata
esta Lei, poderá o juiz, de ofício ou mediante requerimento,
adotar as medidas cabíveis para o cumprimento da decisão.
Art. 8o  Não será admitida a divulgação, publicação ou LEI Nº 13.260, DE 16 DE MARÇO DE 2016.
transmissão de resposta ou retificação que não tenha rela-
ção com as informações contidas na matéria a que preten- Regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5o da
de responder nem se enquadre no § 1o do art. 2odesta Lei. Constituição Federal, disciplinando o terrorismo, tratando
Art. 9o  O juiz prolatará a sentença no prazo máximo de
de disposições investigatórias e processuais e reformu-
30 (trinta) dias, contado do ajuizamento da ação, salvo na
lando o conceito de organização terrorista; e altera as Leis
hipótese de conversão do pedido em reparação por perdas
nos7.960, de 21 de dezembro de 1989, e 12.850, de 2 de
e danos.
Parágrafo único.  As ações judiciais destinadas a garan- agosto de 2013.
tir a efetividade do direito de resposta ou retificação previs-
to nesta Lei processam-se durante as férias forenses e não A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
se suspendem pela superveniência delas. gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 10.  Das decisões proferidas nos processos sub- Art. 1o  Esta Lei regulamenta o disposto no inciso XLIII
metidos ao rito especial estabelecido nesta Lei, poderá do art. 5o da Constituição Federal, disciplinando o terroris-
ser concedido efeito suspensivo pelo tribunal competente, mo, tratando de disposições investigatórias e processuais e
desde que constatadas, em juízo colegiado prévio, a plau- reformulando o conceito de organização terrorista.
sibilidade do direito invocado e a urgência na concessão Art. 2o  O terrorismo consiste na prática por um ou mais
da medida. indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de
Art. 11.  A gratuidade da resposta ou retificação divul- xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia
gada pelo veículo de comunicação, em caso de ação teme- e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar
rária, não abrange as custas processuais nem exime o autor terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, pa-
do ônus da sucumbência. trimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.

112
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

§ 1o  São atos de terrorismo: Parágrafo único.  Incorre na mesma pena quem ofe-
I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar recer ou receber, obtiver, guardar, mantiver em depósito,
ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, con- solicitar, investir ou de qualquer modo contribuir para a
teúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios ca- obtenção de ativo, bem ou recurso financeiro, com a finali-
pazes de causar danos ou promover destruição em massa; dade de financiar, total ou parcialmente, pessoa, grupo de
II – (VETADO); pessoas, associação, entidade, organização criminosa que
III - (VETADO); tenha como atividade principal ou secundária, mesmo em
IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com caráter eventual, a prática dos crimes previstos nesta Lei.
violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de me- Art. 7o  Salvo quando for elementar da prática de qual-
canismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda quer crime previsto nesta Lei, se de algum deles resultar
que de modo temporário, de meio de comunicação ou lesão corporal grave, aumenta-se a pena de um terço, se
de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias resultar morte, aumenta-se a pena da metade.
ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios Art. 8o  (VETADO).
esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem Art. 9o  (VETADO).
serviços públicos essenciais, instalações de geração ou Art. 10.  Mesmo antes de iniciada a execução do crime
transmissão de energia, instalações militares, instalações de terrorismo, na hipótese do art. 5o desta Lei, aplicam-se
de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e as disposições do art. 15 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
instituições bancárias e sua rede de atendimento; dezembro de 1940 - Código Penal.
V - atentar contra a vida ou a integridade física de pes- Art. 11.  Para todos os efeitos legais, considera-se que
soa: os crimes previstos nesta Lei são praticados contra o inte-
Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das san- resse da União, cabendo à Polícia Federal a investigação
ções correspondentes à ameaça ou à violência. criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça Federal o
§ 2o  O disposto neste artigo não se aplica à conduta in- seu processamento e julgamento, nos termos do inciso IV
dividual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, do art. 109 da Constituição Federal.
movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de Parágrafo único.  (VETADO).
categoria profissional, direcionados por propósitos sociais Art. 12.  O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar Público ou mediante representação do delegado de polí-
ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e cia, ouvido o Ministério Público em vinte e quatro horas,
liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação pe- havendo indícios suficientes de crime previsto nesta Lei,
nal contida em lei. poderá decretar, no curso da investigação ou da ação pe-
Art. 3o  Promover, constituir, integrar ou prestar auxí- nal, medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do
lio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a organização investigado ou acusado, ou existentes em nome de inter-
terrorista: postas pessoas, que sejam instrumento, produto ou provei-
Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa. to dos crimes previstos nesta Lei.
§ 1o  (VETADO). § 1o  Proceder-se-á à alienação antecipada para preser-
§ 2o  (VETADO). vação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a
Art. 4o  (VETADO). qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando
Art. 5o  Realizar atos preparatórios de terrorismo com o houver dificuldade para sua manutenção.
propósito inequívoco de consumar tal delito: § 2o  O juiz determinará a liberação, total ou parcial,
Pena - a correspondente ao delito consumado, dimi- dos bens, direitos e valores quando comprovada a licitude
nuída de um quarto até a metade. de sua origem e destinação, mantendo-se a constrição dos
§ lo  Incorre nas mesmas penas o agente que, com o bens, direitos e valores necessários e suficientes à repara-
propósito de praticar atos de terrorismo: ção dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias,
I - recrutar, organizar, transportar ou municiar indiví- multas e custas decorrentes da infração penal.
duos que viajem para país distinto daquele de sua residên- § 3o  Nenhum pedido de liberação será conhecido sem
cia ou nacionalidade; ou o comparecimento pessoal do acusado ou de interposta
II - fornecer ou receber treinamento em país distinto pessoa a que se refere o caput deste artigo, podendo o juiz
daquele de sua residência ou nacionalidade. determinar a prática de atos necessários à conservação de
§ 2o  Nas hipóteses do § 1o, quando a conduta não en- bens, direitos ou valores, sem prejuízo do disposto no § 1o.
volver treinamento ou viagem para país distinto daquele de § 4o  Poderão ser decretadas medidas assecuratórias
sua residência ou nacionalidade, a pena será a correspon- sobre bens, direitos ou valores para reparação do dano de-
dente ao delito consumado, diminuída de metade a dois corrente da infração penal antecedente ou da prevista nes-
terços. ta Lei ou para pagamento de prestação pecuniária, multa
Art. 6o  Receber, prover, oferecer, obter, guardar, man- e custas.
ter em depósito, solicitar, investir, de qualquer modo, direta Art. 13.  Quando as circunstâncias o aconselharem, o
ou indiretamente, recursos, ativos, bens, direitos, valores juiz, ouvido o Ministério Público, nomeará pessoa física ou
ou serviços de qualquer natureza, para o planejamento, a jurídica qualificada para a administração dos bens, direitos
preparação ou a execução dos crimes previstos nesta Lei: ou valores sujeitos a medidas assecuratórias, mediante ter-
Pena - reclusão, de quinze a trinta anos. mo de compromisso.

113
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Art. 14.  A pessoa responsável pela administração dos


bens: 2.5.23 LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA
I - fará jus a uma remuneração, fixada pelo juiz, que DO ESTADO DE SÃO PAULO (LEI
será satisfeita preferencialmente com o produto dos bens COMPLEMENTAR Nº 207/1979
objeto da administração;
II - prestará, por determinação judicial, informações
periódicas da situação dos bens sob sua administração,
bem como explicações e detalhamentos sobre investimen- Prezado Candidato, o tema acima supracitado já
tos e reinvestimentos realizados. foi abordado na Matéria “Direito Administrativo”
Parágrafo único.  Os atos relativos à administração dos
bens serão levados ao conhecimento do Ministério Público,
que requererá o que entender cabível.
Art. 15.  O juiz determinará, na hipótese de existência LEI COMPLEMENTAR Nº 922/02
de tratado ou convenção internacional e por solicitação
de autoridade estrangeira competente, medidas assecura-
tórias sobre bens, direitos ou valores oriundos de crimes
descritos nesta Lei praticados no estrangeiro. Prezado Candidato, o tema acima supracitado já
§ 1o  Aplica-se o disposto neste artigo, independen- foi abordado na Matéria “Direito Administrativo”
temente de tratado ou convenção internacional, quando
houver reciprocidade do governo do país da autoridade
solicitante.
§ 2o  Na falta de tratado ou convenção, os bens, direitos LEI COMPLEMENTAR Nº 1.151/11
ou valores sujeitos a medidas assecuratórias por solicitação
de autoridade estrangeira competente ou os recursos pro-
venientes da sua alienação serão repartidos entre o Estado
Prezado Candidato, o tema acima supracitado já
requerente e o Brasil, na proporção de metade, ressalvado
foi abordado na Matéria “Direito Administrativo”
o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé.
Art. 16.  Aplicam-se as disposições da Lei nº 12.850, de
2 agosto de 2013, para a investigação, processo e julga-
mento dos crimes previstos nesta Lei. 2.5.24 LEI ESTADUAL Nº 10.261/1968
Art. 17.  Aplicam-se as disposições da Lei no 8.072, de (ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
25 de julho de 1990, aos crimes previstos nesta Lei.
CIVIS DO ESTADO DE SÃO PAULO).
Art. 18.  O inciso III do art. 1o da Lei no 7.960, de 21 de
dezembro de 1989, passa a vigorar acrescido da seguinte
alínea p:
“Art. lo  ...................................................................... Prezado Candidato, o tema acima supracitado já
........................................................................................... foi abordado na Matéria “Direito Administrativo”
III - .............................................................................
............................................................................................
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.” (NR)
Art. 19.  O art. 1o da Lei no 12.850, de 2 de agosto de
2013, passa a vigorar com a seguinte alteração:
“Art. 1o  .......................................................................
............................................................................................
§ 2o  .............................................................................
............................................................................................
II - às organizações terroristas, entendidas como aque-
las voltadas para a prática dos atos de terrorismo legal-
mente definidos.” (NR)
Art. 20.  Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
cação.
Brasília, 16 de março de 2016; 195o da Independência
e 128o da República.

114
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

EXERCÍCIOS Exercícios Complementares

1. (FMP/2017 - MPE-RO - Promotor de Justiça Substitu- TÉCNICO DE LABORATÓRIO-SP – 2014 – QUESTÃO


to) Em relação à Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), assinale 01. A elevação do funcionário, dentro do respectivo qua-
a alternativa CORRETA. dro a cargo da mesma natureza de trabalho, de maior grau
a) Os crimes de ameaça e de lesões corporais leves pratica- de responsabilidade e maior complexidade de atribuições,
dos no contexto de violência doméstica e familiar são de ação obedecido o interstício na classe e as exigências a serem
penal pública incondicionada. instituídas em regulamento, é ato previsto pelo Estatuto
b) A mulher pode ser sujeito ativo de crime praticado no dos Funcionários Públicos Civis do Estado de São Paulo sob
contexto de violência doméstica e familiar. a denominação de
c) A ação penal no crime de lesões corporais leves é públi- (A) reintegração.
ca condicionada, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal (B) acesso.
Federal. (C) aproveitamento.
d) Admite-se a aplicação da suspensão condicional do pro- (D) reversão.
cesso aos autores de crimes praticados no contexto de violência (E) nomeação.
doméstica e familiar.
e) As medidas protetivas de urgência vigem durante o prazo
O art. 33 do Estatuto dos Funcionários Públicos Civis
decadencial da representação da vítima, ou seja, 6 (seis) meses.
do Estado de São Paulo preceitua que o acesso é a eleva-
R: B. A violência deve ser dirigida contra mulher, mas não ção do funcionário, dentro do respectivo quadro a cargo da
necessariamente deve partir de homem, pois o determinante é o mesma natureza de trabalho, de maior grau de responsabi-
contexto da prática de violência – âmbito doméstico, familiar ou lidade e maior complexidade de atribuições, obedecido o
afetivo – e não quem a perpetrou. A alternativa “a” está errada interstício na classe e as exigências a serem instituídas em
porque apenas o crime de lesões é de ação incondicionada (es- regulamento.
tando “c” errada). Não cabe suspensão condicional do processo ALTERNATIVA CERTA: B.
e nem transação penal (súmula 536, STJ). Não se fixa na lei prazo
mínimo e máximo de duração das medidas punitivas. TÉCNICO DE LABORATÓRIO-SP – 2014 – QUESTÃO
02. É dever do funcionário, previsto no Estatuto dos Fun-
2. (VUNESP/2017 - TJ-SP - Psicólogo Judiciário) A Lei n° cionários Públicos Civis do Estado de São Paulo,
11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, em casos de (A) cumprir as ordens superiores, representando quan-
prática de violência doméstica contra a mulher, do forem manifestamente ilegais.
a) determina que seja delegada à mulher a responsabilidade (B) não comerciar nem ser acionista, quotista ou co-
pela entrega de intimações e notificações judiciais ao agressor. manditário de empresas.
b) prevê a aplicação de penas ao agressor como multas e (C) fundar sindicato de funcionários ou dele fazer parte.
distribuição de determinado número de cestas básicas.
(D) apresentar-se convenientemente trajado em servi-
c) limita-se à violência na relação homem-mulher, ignorando
ço, sendo o terno obrigatório para homens.
os novos arranjos conjugais e familiares da contemporaneidade.
d) prevê a restrição de visitas do agressor aos dependentes (E) desempenhar os trabalhos de que for incumbido
menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou no prazo de 5 (cinco) dias, caso outro não seja assinalado.
serviço similar.
e) ignora a violência patrimonial, por não implicar risco imi- O art. 241 do Estatuto dos Funcionários Públicos Ci-
nente à integridade física, moral ou psicológica da mulher. vis do Estado de São Paulo prevê todas as condutas que
são deveres do funcionário e dentre elas está no inciso II:
R: D. Trata-se de previsão do art. 22, IV da Lei Maria da Penha. cumprir ordens superiores, representando quando forem
manifestamente ilegais.
3. (FUNDATEC/2017 - FHGV - Assistente Administrativo) ALTERNATIVA CERTA: A.
Na interpretação da Lei nº 11.340/2006, serão considerados os
fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições TÉCNICO DE LABORATÓRIO-SP – 2014 – QUESTÃO
peculiares das mulheres em situação de: 03. Cidadão solicita, com fundamento na Lei n.º 12.527/11,
a) Vulnerabilidade. informação sobre número de peritos da Superintendência
b) Incapacidade. da Polícia Técnico-Científica atuando na cidade de Ribeirão
c) Violência doméstica e familiar. Preto. O funcionário responsável pelo Serviço de Informa-
d) Abandono. ções ao Cidadão – SIC, no âmbito da Polícia Técnico-Cien-
e) Risco e perigo.
tífica, considera que a informação solicitada possui caráter
pessoal e responde negativamente. O cidadão, consideran-
R: C. Preconiza o art. 4o da Lei Maria da Penha: “Na interpre-
tação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se do que a informação é pública, recorre ao Superintendente
destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres da Polícia Técnico-Científica, que mantém a negativa. O ci-
em situação de violência doméstica e familiar”. dadão, agora, com fundamento na lei referida e no Decreto
Estadual n.º 58.052/12, deverá

115
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

(A) conformar-se com a negativa, pois não cabe outro - o uso de dispositivos de alarme sonoro e de ilumina-
recurso. ção vermelha intermitente só poderá ocorrer quando da
(B) recorrer à Procuradoria-Geral do Estado. efetiva prestação de serviço de urgência;
(C) recorrer à Corregedoria-Geral da Administração. - a prioridade de passagem na via e no cruzamento
(D) recorrer ao Poder Judiciário, porque se esgotou a deverá se dar com velocidade reduzida e com os devidos
via administrativa. cuidados de segurança, obedecidas as demais normas des-
(E) recorrer à Comissão Estadual de Acesso à Informa- te Código;
ção. ALTERNATIVA CERTA: C.

A questão está prejudicada. Isto porque com o advento DESENHISTA TÉCNICO-PERICIAL-SP – 2014 – QUES-
do Decreto n° 61.175/15, nova redação foi dada ao art. 32 TÃO 05. Dispõe o Código de Trânsito Brasileiro, em seu
determinando que se houver negativa de acesso ao do- artigo 306: “Conduzir veículo automotor com capacidade
cumento, dado e informação pelos órgãos ou entidades psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou
da Administração Pública Estadual, o interessado poderá de outra substância psicoativa que determine dependên-
recorrer, no prazo de 10 (dez) dias, à Ouvidoria Geral do cia”. Caracteriza o crime mencionado a constatação de con-
Estado, da Secretaria de Governo. centração igual ou superior a
(A) 7 centigramas de álcool por litro de sangue ou igual
AGENTE POLICIAL -SP – 2013- QUESTÃO 04. Con- ou superior a 0,04 miligramas de álcool por litro de ar al-
forme dispõe o Código de Trânsito Brasileiro, os veículos veolar.
de polícia, além de prioridade de trânsito, gozam de livre (B) 4 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual
circulação, estacionamento e parada, quando em serviço ou superior a 0,1 miligrama de álcool por litro de ar alveo-
de urgência e devidamente identificados por dispositivos lar.
regulamentares de alarme sonoro e iluminação vermelha (C) 5 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual
intermitente, observada, entre outras, a seguinte disposi- ou superior a 0,2 miligramas de álcool por litro de ar al-
ção: veolar.
(A) quando em situação de emergência, desde que (D) 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual
acionados os dispositivos sonoro e de iluminação, os veí-
ou superior a 0,3 miligramas de álcool por litro de ar al-
culos de polícia têm prioridade absoluta sobre todos os ou-
veolar.
tros veículos e em relação aos pedestres, não sendo neces-
(E) 8 centigramas de álcool por litro de sangue ou igual
sário obedecer às regras do Código de Trânsito Brasileiro.
ou superior a 0,05 miligramas de álcool por litro de ar al-
(B) quando os dispositivos estiverem acionados, indi-
veolar.
cando a proximidade dos veículos, todos os condutores
deverão deixar livre a passagem pela faixa da direita.
O art. 306 do CTB preceitua que o motorista que con-
(C) a prioridade de passagem na via e no cruzamento
duzir veículo automotor, com capacidade psicomotora al-
deverá se dar com velocidade reduzida e com os devidos
cuidados de segurança, obedecidas as demais normas do terada em razão da influência de álcool ou outra substância
Código de Trânsito Brasileiro. cometerá crime, cuja pena será de detenção, de seis meses
(D) o uso de dispositivos de alarme sonoro e de ilu- a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a
minação vermelha intermitente deverá ocorrer a todo mo- permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
mento, mesmo que não esteja em situação de emergência, No 1°, inciso I consta que para constatação da influên-
a fim de alertar os pedestres e motoristas da presença des- cia de álcool ou outra substância será considerada a con-
ses veículos no local. centração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por
(E) os pedestres, ao ouvirem o alarme sonoro do veí- litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de ál-
culo em situação de emergência, deverão atravessar a via cool por litro de ar alveolar.
rapidamente antes que o veículo da Polícia se aproxime. ALTERNATIVA CERTA: D.

Nos termos do art. 29, inciso VII do CTB, os veículos DESENHISTA TÉCNICO-PERICIAL-SP – 2014 – QUES-
de polícia terão prioridade de trânsito; livre circulação, es- TÃO 06. Lei n.º 9.099/1995, artigo 69: “....que tomar co-
tacionamento e parada. Quando em serviço de urgência, nhecimento da ocorrência lavrará .... e o encaminhará
devem manter acionados dispositivos de alarme sonoro e imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
iluminação vermelha intermitente, observadas as seguintes providenciando-se as requisições dos exames periciais ne-
disposições: cessários”. Assinale a alternativa que preenche, correta e
- quando os dispositivos estiverem acionados, indican- respectivamente, as lacunas do texto.
do a proximidade dos veículos, todos os condutores de- (A) O juiz leigo ... termo de registro criminal
verão deixar livre a passagem pela faixa da esquerda, indo (B) A autoridade policial ... termo circunstanciado
para a direita da via e parando, se necessário; (C) A autoridade administrativa ... sindicância
- os pedestres, ao ouvir o alarme sonoro, deverão (D) O promotor de justiça ... inquérito civil
aguardar no passeio, só atravessando a via quando o veí- (E) Qualquer policial ... auto de infração penal.
culo já tiver passado pelo local;

116
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

O art. 69 da Lei n° 9.099/95 preceitua que: a autorida- DESENHISTA TÉCNICO-PERICIAL-SP – 2014 – QUES-
de policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará TÃO 09. A Lei Complementar n.º 1.151/2011-SP dispõe
termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao que o ingresso nas carreiras policiais civis, precedido de
Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se aprovação em concurso público de provas e títulos, dar-se-
as requisições dos exames periciais necessários. -á em, mediante nomeação em caráter de estágio probató-
Assim, as lacunas devem ser preenchidas com as ex- rio, pelo período de de efetivo exercício, obrigatoriamente
pressões: autoridade policial e termo circunstanciado. em unidades territoriais de Polícia Judiciária da Polícia Civil
ALTERNATIVA CERTA: B. e da Polícia Técnico-Científica. Assinale a alternativa que
preenche, correta e respectivamente, as lacunas do texto.
DESENHISTA TÉCNICO-PERICIAL-SP – 2014 – QUES- (A) 1.ª Classe ... 5 (cinco) anos
TÃO 07. À luz da Lei n.º 11.340/2006 – Lei Maria da Penha, (B) 2.ª Classe ... 4 (quatro) anos
é correto afirmar que (C) 4.ª Classe ... 2 (dois) anos
(A) a violência doméstica e familiar contra a mulher (D) 5.ª Classe ... 1 (um) ano
constitui uma das formas de violação dos direitos huma- (E) 3.ª Classe ... 3 (três) anos.
nos.
(B) tal norma não é aplicável aos crimes praticados com O art. 3 da Lei n° 1.151/2011 preceitua que: O ingres-
violência doméstica e familiar contra crianças e adolescen- so nas carreiras policiais civis, precedido de aprovação em
tes de sexo feminino. concurso público de provas e títulos, dar-se- á na 3ª Clas-
(C) não caracteriza violência moral a conduta que con- se, mediante nomeação em caráter de estágio probatório,
figure calúnia, difamação ou injúria contra a mulher. pelo exercício de 3 (três) anos de efetivo exercício, obriga-
(D) é permitida a aplicação, nos casos de violência do- toriamente em unidade territorial de polícia judiciária e da
méstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica polícia técnico-científica, salvo autorização do Secretário da
ou outras de prestação pecuniária, bem como a substitui- Segurança Pública, mediante representação do Delegado
ção de pena que implique o pagamento isolado de multa. Geral de Polícia.
(E) aplica-se a Lei n.º 9.099/1995 – Juizados Especiais Assim, as lacunas da lei devem ser preenchidas com as
Cíveis e Criminais – aos crimes praticados com violência seguintes expressões: 3ª classe e 3 (três) anos.
doméstica e familiar contra a mulher. ALTERNATIVA CERTA: E.

O art. 6° da Lei n° 11.340/06 preceitua que a violência DESENHISTA TÉCNICO-PERICIAL-SP – 2014 – QUES-
doméstica e familiar contra a mulher é uma das formas de TÃO 10. Decreto n.º 58.052/2012-SP, artigo 31: “Os docu-
violação dos direitos humanos. mentos, dados e informações sigilosas em poder de órgãos
ALTERNATIVA CERTA: A. e entidades da Administração Pública Estadual, observado
o seu teor e em razão de sua imprescindibilidade à segu-
DESENHISTA TÉCNICO-PERICIAL-SP – 2014 – QUES- rança da sociedade ou do Estado, poderão ser classificados
TÃO 08. Nos termos do artigo 28 da Lei n.º 11.343/2006 nos seguintes graus:
– Lei de Drogas – aquele que adquirir, guardar, tiver em (A) exclusivo, ultrassecreto e reservado.”
depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo (B) exclusivo, confidencial e secreto.”
pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com (C) ultrassecreto, secreto e reservado.”
determinação legal ou regulamentar, poderá (D) ultrassecreto, exclusivo e confidencial.”
(A) receber advertência sobre os efeitos das drogas. (E) confidencial, reservado e secreto.”
(B) ser punido com a pena de reclusão.
(C) ser punido com a pena de detenção. O art. 31 do Decreto n° 58.052/12 determina que os
(D) ser punido com a pena de prisão simples. documentos poderão ser classificados como: ultrassecreto,
(E) ter a conduta considerada atípica. secreto e reservado, em razão da imprescindibilidade à se-
gurança do Estado ou da sociedade.
Nos termos do art. 28 da Lei n° 11.343/06 preceitua ALTERNATIVA CERTA: C.
que aquele que adquirir, guardar, tiver em depósito, trans-
portar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas AGENTE POLICIAL -SP – 2013- QUESTÃO 11. A velo-
sem autorização ou em desacordo com determinação legal cidade máxima permitida para a via será indicada por meio
ou regulamentar estará sujeito às seguintes penas: adver- de sinalização, obedecidas suas características técnicas e as
tência sobre os efeitos das drogas; prestação de serviços à condições de trânsito. Onde não existir sinalização regula-
comunidade; medida educativa de comparecimento a pro- mentadora, nas vias urbanas de trânsito rápido, a velocida-
grama ou curso educativo. de máxima será de
ALTERNATIVA CERTA: A. (A) oitenta quilômetros por hora.
(B) noventa quilômetros por hora.
(C) setenta quilômetros por hora.
(D) cem quilômetros por hora.
(E) sessenta quilômetros por hora.

117
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

O art. 61, § 1°, inciso I determina que nas vias urbanas O art. 143 do CTB determina que a pessoa que for se
de trânsito rápido onde não existir sinalização regulamen- candidatar para obter a habilitação para conduzir veículo
tadora, a velocidade máxima será de oitenta quilômetros automotor ou elétrico, poderá fazê-lo nas categorias A à
por hora. E, sendo que:
ALTERNATIVA CERTA: A. I - Categoria A - condutor de veículo motorizado de
duas ou três rodas, com ou sem carro lateral;
AGENTE POLICIAL -SP – 2013 – QUESTÃO 12. Ventu- II - Categoria B - condutor de veículo motorizado, não
no vendeu seu automóvel a Licurgo, tendo ambos assina- abrangido pela categoria A, cujo peso bruto total não exce-
do em Cartório, no mesmo dia da venda, o documento de da a três mil e quinhentos quilogramas e cuja lotação não
transferência de propriedade do veículo. Segundo o que exceda a oito lugares, excluído o do motorista;
dispõe o Código de Trânsito Brasileiro sobre o assunto, é III - Categoria C - condutor de veículo motorizado utili-
correto afirmar que zado em transporte de carga, cujo peso bruto total exceda
(A) Ventuno, tendo assinado o documento de transfe- a três mil e quinhentos quilogramas;
rência em Cartório, já cumpriu com a sua obrigação e nada IV - Categoria D - condutor de veículo motorizado uti-
mais deverá fazer, havendo cessado qualquer responsabili- lizado no transporte de passageiros, cuja lotação exceda a
dade sua perante o órgão de trânsito. oito lugares, excluído o do motorista;
(B) Ventuno deve encaminhar ao órgão executivo de V - Categoria E - condutor de combinação de veículos
trânsito do Estado, em até 30 dias, cópia autenticada do em que a unidade tratora se enquadre nas categorias B,
comprovante de transferência de propriedade, sob pena C ou D e cuja unidade acoplada, reboque, semirreboque,
de ter que se responsabilizar solidariamente pelas penali- trailer ou articulada tenha 6.000 kg (seis mil quilogramas)
dades impostas e suas reincidências até a data da comu- ou mais de peso bruto total, ou cuja lotação exceda a 8
nicação. (oito) lugares.
(C) Licurgo terá até 60 dias, contados da data da venda, Portanto, nas situações descritas na questão, o condu-
para as providências necessárias à efetivação da expedição tor deveria ter habilitação nas categorias A e D.
do novo Certificado de Registro de Veículo em seu nome. ALTERNATIVA CERTA: D.
(D) Licurgo poderá aguardar a data de vencimento
AGENTE POLICIAL -SP – 2013- 14. “Utilizar-se de veí-
do licenciamento do veículo que adquiriu para efetivar a
culo para, em via pública, demonstrar ou exibir manobra
transferência do automóvel para o seu nome, independen-
perigosa, arrancada brusca, derrapagem ou frenagem com
temente da data em que o licenciamento deverá ocorrer.
deslizamento ou arrastamento de pneus.” Assinale a alter-
(E) ambos já cumpriram com sua obrigação legal
nativa que contempla corretamente todas as penalidades
quando assinaram o documento de transferência em Car-
e medidas administrativas previstas no Código de Trânsito
tório, podendo a situação do veículo permanecer como
Brasileiro aplicáveis a quem cometer essa infração.
está até que Licurgo venda-o para outra pessoa.
(A) Multa e supensão do direito de dirigir.
(B) Advertência por escrito, multa e suspensão do di-
O art. 134 determina que caberá ao proprietário anti- reito de dirigir.
go a obrigação de encaminhar ao órgão executivo de trân- (C) Prisão em flagrante e multa.
sito do Estado, dentro de um prazo de trinta dias, cópia (D) Multa, suspensão do direito de dirigir e apreensão
autenticada do comprovante de transferência de proprie- do veículo.
dade, devidamente assinado e datado. Caso não cumpra (E) Multa, suspensão do direito de dirigir, apreensão
referida providência, terá que se responsabilizar solidaria- do veículo, recolhimento do documento de habilitação e
mente pelas penalidades impostas e suas reincidências até remoção do veículo.
a data da comunicação.
ALTERNATIVA CERTA: B. O art. 175 descreve como infração administrativa a
conduta daquele que se utiliza de veículo, em via pública,
AGENTE POLICIAL -SP – 2013- QUESTÃO 13. O con- para demonstrar ou exibir manobra perigosa, arrancada
dutor de veículo motorizado de duas ou três rodas, com brusca, derrapagem ou frenagem com deslizamento ou ar-
ou sem carro lateral, e o condutor de veículo motorizado rastamento de pneus.
utilizado no transporte de passageiros, cuja lotação exce- A penalidade a que a pessoa estará sujeita é de: multa
da a oito lugares, excluído o do motorista, deverão possuir (dez vezes), suspensão do direito de dirigir e apreensão do
habilitação para conduzir veículo automotor, respectiva- veículo.
mente, nas seguintes categorias: Ainda, estará sujeito à medida administrativa de reco-
(A) A e C. lhimento do documento de habilitação e remoção do veí-
(B) B e D. culo.
(C) B e C. ALTERNATIVA CERTA: E.
(D) A e D.
(E) A e B.

118
DIREITO ADMINISTRATIVO

2.6.1 - Regime jurídico-administrativo;............................................................................................................................................................ 47


2.6.2 - Princípios básicos da Administração Pública;.................................................................................................................................. 01
2.6.3 - Poderes administrativos;.......................................................................................................................................................................... 12
2.6.4 - Atos administrativos;................................................................................................................................................................................. 17
2.6.5 - Serviços públicos: conceito, princípios e classificação;................................................................................................................ 22
2.6.6 - Responsabilidade civil do Estado;........................................................................................................................................................ 31
2.6.7 - Controle da Administração;.................................................................................................................................................................... 33
2.6.8 - Improbidade administrativa;.................................................................................................................................................................. 74
2.6.9 - Lei Complementar nº 207/1979 (Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo);........................................................ 86
2.6.10 - Lei nº 10.261/1968 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de São Paulo);..........................................105
2.6.11 - Lei Complementar nº 1.151/2011....................................................................................................................................................134
2.6.2 Da Administração Pública Direta e Indireta;........................................................................................................................................ 03
DIREITO ADMINISTRATIVO

jurídico adota tratamento rigoroso do comportamento


imoral por parte dos representantes do Estado. O princípio
2.6.1 DOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO da moralidade deve se fazer presente não só para com os
PÚBLICA; administrados, mas também no âmbito interno. Está indis-
sociavelmente ligado à noção de bom administrador, que
não somente deve ser conhecedor da lei, mas também dos
princípios éticos regentes da função administrativa. TODO
Princípios constitucionais expressos ATO IMORAL SERÁ DIRETAMENTE ILEGAL OU AO MENOS
São princípios da administração pública, nesta ordem: IMPESSOAL, daí a intrínseca ligação com os dois princípios
Legalidade anteriores.
Impessoalidade d) Princípio da publicidade: A administração pública
Moralidade é obrigada a manter transparência em relação a todos seus
Publicidade atos e a todas informações armazenadas nos seus ban-
Eficiência cos de dados. Daí a publicação em órgãos da imprensa e
Para memorizar: veja que as iniciais das palavras for- a afixação de portarias. Por exemplo, a própria expressão
mam o vocábulo LIMPE, que remete à limpeza esperada da concurso público (art. 37, II, CF) remonta ao ideário de que
Administração Pública. É de fundamental importância um todos devem tomar conhecimento do processo seletivo de
olhar atento ao significado de cada um destes princípios, servidores do Estado. Diante disso, como será visto, se ne-
posto que eles estruturam todas as regras éticas prescritas gar indevidamente a fornecer informações ao administrado
no Código de Ética e na Lei de Improbidade Administrativa, caracteriza ato de improbidade administrativa.
tomando como base os ensinamentos de Carvalho Filho1 e No mais, prevê o §1º do artigo 37, CF, evitando que
Spitzcovsky2: o princípio da publicidade seja deturpado em propaganda
a) Princípio da legalidade: Para o particular, legali- político-eleitoral:
dade significa a permissão de fazer tudo o que a lei não
proíbe. Contudo, como a administração pública representa Artigo 37, §1º, CF. A publicidade dos atos, programas,
os interesses da coletividade, ela se sujeita a uma relação obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
de subordinação, pela qual só poderá fazer o que a lei ex- caráter educativo, informativo ou de orientação social,
pressamente determina (assim, na esfera estatal, é preciso dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
lei anterior editando a matéria para que seja preservado o caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servido-
princípio da legalidade). A origem deste princípio está na res públicos.
criação do Estado de Direito, no sentido de que o próprio
Estado deve respeitar as leis que dita. Somente pela publicidade os indivíduos controlarão
b) Princípio da impessoalidade: Por força dos interes- a legalidade e a eficiência dos atos administrativos. Os
ses que representa, a administração pública está proibida instrumentos para proteção são o direito de petição e as
de promover discriminações gratuitas. Discriminar é tratar certidões (art. 5°, XXXIV, CF), além do habeas data e - resi-
alguém de forma diferente dos demais, privilegiando ou dualmente - do mandado de segurança. Neste viés, ainda,
prejudicando. Segundo este princípio, a administração pú- prevê o artigo 37, CF em seu §3º: 
blica deve tratar igualmente todos aqueles que se encon-
trem na mesma situação jurídica (princípio da isonomia ou Artigo 37, §3º, CF. A lei disciplinará as formas de par-
igualdade). Por exemplo, a licitação reflete a impessoalida- ticipação do usuário na administração pública direta e
de no que tange à contratação de serviços. O princípio da indireta, regulando especialmente:
impessoalidade correlaciona-se ao princípio da finalidade, I -  as reclamações relativas à prestação dos serviços
pelo qual o alvo a ser alcançado pela administração públi- públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de
ca é somente o interesse público. Com efeito, o interesse atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e
particular não pode influenciar no tratamento das pessoas, interna, da qualidade dos serviços;
já que deve-se buscar somente a preservação do interesse II -  o acesso dos usuários a registros administrativos e
coletivo. a informações sobre atos de governo, observado o disposto
c) Princípio da moralidade: A posição deste princí- no art. 5º, X e XXXIII;
pio no artigo 37 da CF representa o reconhecimento de III -  a disciplina da representação contra o exercício ne-
uma espécie de moralidade administrativa, intimamente gligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na admi-
relacionada ao poder público. A administração pública não nistração pública.
atua como um particular, de modo que enquanto o des-
cumprimento dos preceitos morais por parte deste parti- e) Princípio da eficiência: A administração pública
cular não é punido pelo Direito (a priori), o ordenamento deve manter o ampliar a qualidade de seus serviços com
1 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de controle de gastos. Isso envolve eficiência ao contratar pes-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, soas (o concurso público seleciona os mais qualificados ao
2010. exercício do cargo), ao manter tais pessoas em seus cargos
2 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. (pois é possível exonerar um servidor público por ineficiên-
ed. São Paulo: Método, 2011. cia) e ao controlar gastos (limitando o teto de remunera-

1
DIREITO ADMINISTRATIVO

ção), por exemplo. O núcleo deste princípio é a procura da doutrina, porém, é de que, mesmo no ato discricionário,
por produtividade e economicidade. Alcança os serviços é necessária a motivação para que se saiba qual o caminho
públicos e os serviços administrativos internos, se referindo adotado pelo administrador. Gasparini5, com respaldo no
diretamente à conduta dos agentes. art. 50 da Lei n. 9.784/98, aponta inclusive a superação de
tais discussões doutrinárias, pois o referido artigo exige a
Outros princípios administrativos motivação para todos os atos nele elencados, compreen-
Além destes cinco princípios administrativo-constitu- dendo entre estes, tanto os atos discricionários quanto os
cionais diretamente selecionados pelo constituinte, podem vinculados.
ser apontados como princípios de natureza ética relaciona- c) Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos:
dos à função pública a probidade e a motivação: O Estado assumiu a prestação de determinados serviços,
a) Princípio da probidade:  um princípio constitu- por considerar que estes são fundamentais à coletividade.
cional incluído dentro dos princípios específicos da licita- Apesar de os prestar de forma descentralizada ou mesmo
ção, é o dever de todo o administrador público, o dever delegada, deve a Administração, até por uma questão de
de honestidade e fidelidade com o Estado, com a popu- coerência, oferecê-los de forma contínua e ininterrupta.
lação, no desempenho de suas funções. Possui contornos Pelo princípio da continuidade dos serviços públicos, o Es-
mais definidos do que a moralidade. Diógenes Gasparini3 tado é obrigado a não interromper a prestação dos ser-
alerta que alguns autores tratam veem como distintos os viços que disponibiliza. A respeito, tem-se o artigo 22 do
princípios da moralidade e da probidade administrativa, Código de Defesa do Consumidor:
mas não há características que permitam tratar os mesmos
como procedimentos distintos, sendo no máximo possível Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,
afirmar que a probidade administrativa é um aspecto parti- concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra for-
cular da moralidade administrativa. ma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços
b) Princípio da motivação: É a obrigação conferida adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, con-
ao administrador de motivar todos os atos que edita, ge- tínuos.
rais ou de efeitos concretos. É considerado, entre os demais Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou
princípios, um dos mais importantes, uma vez que sem a parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pes-
motivação não há o devido processo legal, uma vez que a soas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
fundamentação surge como meio interpretativo da decisão causados, na forma prevista neste código.
que levou à prática do ato impugnado, sendo verdadeiro
meio de viabilização do controle da legalidade dos atos da d) Princípios da Tutela e da Autotutela da Adminis-
Administração. tração Pública: a Administração possui a faculdade de re-
Motivar significa mencionar o dispositivo legal aplicá- ver os seus atos, de forma a possibilitar a adequação destes
vel ao caso concreto e relacionar os fatos que concreta- à realidade fática em que atua, e declarar nulos os efeitos
mente levaram à aplicação daquele dispositivo legal. Todos dos atos eivados de vícios quanto à legalidade. O sistema
os atos administrativos devem ser motivados para que o de controle dos atos da Administração adotado no Brasil é
Judiciário possa controlar o mérito do ato administrativo o jurisdicional. Esse sistema possibilita, de forma inexorável,
quanto à sua legalidade. Para efetuar esse controle, devem ao Judiciário, a revisão das decisões tomadas no âmbito
ser observados os motivos dos atos administrativos. da Administração, no tocante à sua legalidade. É, portanto,
Em relação à necessidade de motivação dos atos ad- denominado controle finalístico, ou de legalidade.
ministrativos vinculados (aqueles em que a lei aponta um À Administração, por conseguinte, cabe tanto a anu-
único comportamento possível) e dos atos discricionários lação dos atos ilegais como a revogação de atos válidos
(aqueles que a lei, dentro dos limites nela previstos, aponta e eficazes, quando considerados inconvenientes ou ino-
um ou mais comportamentos possíveis, de acordo com um portunos aos fins buscados pela Administração. Essa for-
juízo de conveniência e oportunidade), a doutrina é unís- ma de controle endógeno da Administração denomina-se
sona na determinação da obrigatoriedade de motivação princípio da autotutela. Ao Poder Judiciário cabe somente a
com relação aos atos administrativos vinculados; todavia, anulação de atos reputados ilegais. O embasamento de tais
diverge quanto à referida necessidade quanto aos atos dis- condutas é pautado nas Súmulas 346 e 473 do Supremo
cricionários. Tribunal Federal.
Meirelles4 entende que o ato discricionário, editado sob
os limites da Lei, confere ao administrador uma margem Súmula 346. A administração pública pode declarar a
de liberdade para fazer um juízo de conveniência e opor- nulidade dos seus próprios atos.
tunidade, não sendo necessária a motivação. No entanto,
se houver tal fundamentação, o ato deverá condicionar-se Súmula 473. A administração pode anular seus próprios
a esta, em razão da necessidade de observância da Teoria atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque
dos Motivos Determinantes. O entendimento majoritário deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
3 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adqui-
ed. São Paulo: Saraiva, 2004. ridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
4 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo 5 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª
brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Os atos administrativos podem ser extintos por revo- Sempre que houver conflito entre um interesse indi-
gação ou anulação. A Administração tem o poder de rever vidual e um interesse público coletivo, deve prevalecer o
seus próprios atos, não apenas pela via da anulação, mas interesse público. São as prerrogativas conferidas à Admi-
também pela da revogação. Aliás, não é possível revogar nistração Pública, porque esta atua por conta de tal interes-
atos vinculados, mas apenas discricionários. A revogação se. Com efeito, o exame do princípio é predominantemente
se aplica nas situações de conveniência e oportunidade, feito no caso concreto, analisando a situação de conflito
quanto que a anulação serve para as situações de vício de entre o particular e o interesse público e mensurando qual
legalidade. deve prevalecer.

e) Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade:


Razoabilidade e proporcionalidade são fundamentos de
caráter instrumental na solução de conflitos que se esta- 2.6.2 DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E
beleçam entre direitos, notadamente quando não há legis- INDIRETA;
lação infraconstitucional específica abordando a temática
objeto de conflito. Neste sentido, quando o poder público
toma determinada decisão administrativa deve se utilizar
Centralização, descentralização, concentração e
destes vetores para determinar se o ato é correto ou não,
desconcentração
se está atingindo indevidamente uma esfera de direitos ou
se é regular. Tanto a razoabilidade quanto a proporciona- Em linhas gerais, descentralização significa transferir
lidade servem para evitar interpretações esdrúxulas mani- a execução de um serviço público para terceiros que não
festamente contrárias às finalidades do texto declaratório. se confundem com a Administração direta; centralização
Razoabilidade e proporcionalidade guardam, assim, a significa situar na Administração direta atividades que, em
mesma finalidade, mas se distinguem em alguns pontos. tese, poderiam ser exercidas por entidades de fora dela;
Historicamente, a razoabilidade se desenvolveu no direito desconcentração significa transferir a execução de um ser-
anglo-saxônico, ao passo que a proporcionalidade se origi- viço público de um órgão para o outro dentro da própria
na do direito germânico (muito mais metódico, objetivo e Administração; concentração significa manter a execução
organizado), muito embora uma tenha buscado inspiração central ao chefe do Executivo em vez de atribui-la a outra
na outra certas vezes. Por conta de sua origem, a propor- autoridade da Administração direta.
cionalidade tem parâmetros mais claros nos quais pode ser Passemos a esmiuçar estes conceitos:
trabalhada, enquanto a razoabilidade permite um processo Desconcentração implica no exercício, pelo chefe do
interpretativo mais livre. Evidencia-se o maior sentido jurí- Executivo, do poder de delegar certas atribuições que são
dico e o evidente caráter delimitado da proporcionalidade de sua competência privativa. Neste sentido, o previsto na
pela adoção em doutrina de sua divisão clássica em 3 sen- CF:
tidos:
- adequação, pertinência ou idoneidade: significa que Artigo 84, parágrafo único, CF. O Presidente da Repúbli-
o meio escolhido é de fato capaz de atingir o objetivo pre- ca poderá delegar as atribuições mencionadas nos inci-
tendido; sos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado,
- necessidade ou exigibilidade: a adoção da medida ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da
restritiva de um direito humano ou fundamental somente é União, que observarão os limites traçados nas respectivas
legítima se indispensável na situação em concreto e se não delegações.
for possível outra solução menos gravosa;
Neste sentido:
- proporcionalidade em sentido estrito: tem o sentido
de máxima efetividade e mínima restrição a ser guardado
Artigo 84, VI, CF. dispor, mediante decreto, sobre: 
com relação a cada ato jurídico que recaia sobre um direito
a) organização e funcionamento da administração
humano ou fundamental, notadamente verificando se há
federal, quando não implicar aumento de despesa nem
uma proporção adequada entre os meios utilizados e os criação ou extinção de órgãos públicos; 
fins desejados. b) extinção de funções ou cargos públicos, quando
vagos; 
f) Supremacia do interesse público sobre o priva- Artigo 84, XII, CF. conceder indulto e comutar penas,
do: Na maioria das vezes, a Administração, para buscar de com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei;
maneira eficaz tais interesses, necessita ainda de se colocar Artigo 84, XXV, CF. prover e extinguir os cargos pú-
em um patamar de superioridade em relação aos particu- blicos federais, na forma da lei; (apenas o provimento é
lares, numa relação de verticalidade, e para isto se utiliza delegável, não a extinção)
do princípio da supremacia, conjugado ao princípio da in-
disponibilidade, pois, tecnicamente, tal prerrogativa é irre- Com efeito, o chefe do Poder Executivo federal tem op-
nunciável, por não haver faculdade de atuação ou não do ções de delegar parte de suas atribuições privativas para
Poder Público, mas sim “dever” de atuação. os Ministros de Estado, o Procurador-Geral da República

3
DIREITO ADMINISTRATIVO

ou o Advogado-Geral da União. O Presidente irá delegar XVII - nomear membros do Conselho da República,
com relação de hierarquia cada uma destas essencialida- nos termos do art. 89, VII;
des dentro da estrutura organizada do Estado. Reforça-se, XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e
desconcentrar significa delegar com hierarquia, pois o Conselho de Defesa Nacional;
há uma relação de subordinação dentro de uma estrutura XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira,
centralizada, isto é, os Ministros de Estado, o Procurador- autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele,
-Geral da República e o Advogado-Geral da União respon- quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas
dem diretamente ao Presidente da República e, por isso, mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobi-
não possuem plena discricionariedade na prática dos atos lização nacional;
administrativos que lhe foram delegados. XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do
Congresso Nacional;
Concentrar, ao inverso, significa exercer atribuições XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;
privativas da Administração pública direta no âmbito mais XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar,
central possível, isto é, diretamente pelo chefe do Poder que forças estrangeiras transitem pelo território nacional
Executivo, seja porque não são atribuições delegáveis, seja ou nele permaneçam temporariamente;
porque se optou por não delegar. XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano pluria-
nual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as pro-
Artigo 84, CF. Compete privativamente ao Presidente postas de orçamento previstos nesta Constituição;
da República: XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional,
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa,
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a di- as contas referentes ao exercício anterior;
reção superior da administração federal; XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais,
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos na forma da lei;
previstos nesta Constituição; XXVI - editar medidas provisórias com força de lei,
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, nos termos do art. 62;
bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta
execução; Constituição.
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI - dispor, mediante decreto, sobre:  Descentralizar envolve a delegação de interesses es-
a) organização e funcionamento da administração tatais para fora da estrutura da Administração direta, o que
federal, quando não implicar aumento de despesa nem é possível porque não se refere a essencialidades, ou seja,
criação ou extinção de órgãos públicos;  a atos administrativos que somente possam ser praticados
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando pela Administração direta porque se referem a interesses
vagos;  estatais diversos previstos ou não na CF. Descentralizar é
VII - manter relações com Estados estrangeiros e uma delegação sem relação de hierarquia, pois é uma
acreditar seus representantes diplomáticos; delegação de um ente para outro (não há subordinação
VIII - celebrar tratados, convenções e atos interna- nem mesmo quanto ao chefe do Executivo, há apenas uma
cionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; espécie de tutela ou supervisão por parte dos Ministérios –
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; se trata de vínculo e não de subordinação).
X - decretar e executar a intervenção federal; Basicamente, se está diante de um conjunto de pessoas
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Con- jurídicas estatais criadas ou autorizadas por lei para presta-
gresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislati- rem serviços de interesse do Estado. Possuem patrimônio
va, expondo a situação do País e solicitando as providências próprio e são unidades orçamentárias autônomas. Ainda,
que julgar necessárias; exercem em nome próprio direitos e obrigações, respon-
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiên- dendo pessoalmente por seus atos e danos.
cia, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; Existem duas formas pelas quais o Estado pode efetuar
XIII - exercer o comando supremo das Forças Arma- a descentralização administrativa: outorga e delegação.
das, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e A outorga se dá quando o Estado cria uma entidade
da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá- e a ela transfere, através de previsão em lei, determinado
-los para os cargos que lhes são privativos;  serviço público e é conferida, em regra, por prazo indeter-
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os minado. Isso é o que acontece quanto às entidades da Ad-
Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais ministração Indireta prestadoras de serviços públicos. Nes-
Superiores, os Governadores de Territórios, o Procura- te sentido, o Estado descentraliza a prestação dos serviços,
dor-Geral da República, o presidente e os diretores do ban- outorgando-os a outras entidades criadas para prestá-los,
co central e outros servidores, quando determinado em lei; as quais podem tomar a forma de autarquias, empresas pú-
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Minis- blicas, sociedades de economia mista e fundações públicas.
tros do Tribunal de Contas da União; A delegação ocorre quando o Estado transfere, por
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta contrato ou ato unilateral, apenas a execução do serviço,
Constituição, e o Advogado-Geral da União; para que o ente delegado o preste ao público em seu pró-

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DIREITO ADMINISTRATIVO

prio nome e por sua conta e risco, sob fiscalização do Esta- a) Órgãos independentes – encabeçam o poder ou es-
do. A delegação é geralmente efetivada por prazo determi- trutura do Estado, gozando de independência para agir e
nado. Ela se dá, por exemplo, nos contratos de concessão não se submetendo a outros órgãos. Cabe a eles definir as
ou nos atos de permissão, pelos quais o Estado transfere políticas que serão implementadas. É o caso da Presidên-
aos concessionários e aos permissionários apenas a execu- cia da República, órgão complexo composto pelo gabinete,
ção temporária de determinado serviço. pela Advocacia-Geral da União, pelo Conselho da Repúbli-
Centralizar envolve manter na estrutura da Adminis- ca, pelo Conselho de Defesa, e unitário (pois o Presidente
tração direta o desempenho de funções administrativas de da República é o único que toma as decisões).
interesses não essenciais do Estado, que poderiam ser atri- b) Órgãos autônomos – estão no primeiro escalão do
buídos a entes de fora da Administração por outorga ou poder, com autonomia funcional, porém subordinados po-
delegação. liticamente aos independentes. É o caso de todos os minis-
térios de Estado.
Administração Pública Direta c) Órgãos superiores – são desprovidos de autonomia
Administração Pública direta é aquela formada pelos ou independência, sendo plenamente vinculados aos ór-
entes integrantes da federação e seus respectivos órgãos. gãos autônomos. Ex.: Delegacia Regional do Trabalho, vin-
Os entes políticos são a União, os Estados, o Distrito Fe- culada ao Ministério do Trabalho e Emprego; Departamen-
deral e os Municípios. À exceção da União, que é dotada to da Polícia Federal, vinculado ao Ministério da Justiça.
de soberania, todos os demais são dotados de autonomia. d) Órgãos subalternos – são vinculados a todos acima
Dispõe o Decreto nº 200/1967: deles com plena subordinação administrativa. Ex.: órgãos
que executam trabalho de campo, policiais federais, fiscais
Art. 4° A Administração Federal compreende: do MTE.
I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços ATENÇÃO: O Ministério Público, os Tribunais de Contas
integrados na estrutura administrativa da Presidência da Re- e as Defensorias Públicas não se encaixam nesta estrutura,
pública e dos Ministérios. sendo órgãos independentes constitucionais. Em verdade,
para Canotilho e outros constitucionalistas, estes órgãos
A administração direta é formada por um conjunto de não pertencem nem mesmo aos três poderes.
núcleos de competências administrativas, os quais já foram Conforme Carvalho Filho6, “a noção de Estado, como
tidos como representantes do poder central (teoria da re- visto, não pode abstrair-se da de pessoa jurídica. O Es-
presentação) e como mandatários do poder central (teoria tado, na verdade, é considerado um ente personalizado,
do mandato). Hoje, adota-se a teoria do órgão, de Otto seja no âmbito internacional, seja internamente. Quando
Giërke, segundo a qual os órgãos são apenas núcleos ad- se trata de Federação, vigora o pluripersonalismo, porque
ministrativos criados e extintos exclusivamente por lei, mas além da pessoa jurídica central existem outras internas que
que podem ser organizados por decretos autônomos do compõem o sistema político. Sendo uma pessoa jurídica,
Executivo (art. 84, VI, CF), sendo desprovidos de personali- o Estado manifesta sua vontade através de seus agentes,
dade jurídica própria. ou seja, as pessoas físicas que pertencem a seus quadros.
Assim, os órgãos da Administração direta não possuem Entre a pessoa jurídica em si e os agentes, compõe o Esta-
patrimônio próprio; e não assumem obrigações em nome do um grande número de repartições internas, necessárias
próprio e nem direitos em nome próprio (não podem ser à sua organização, tão grande é a extensão que alcança e
autor nem réu em ações judiciais, exceto para fins de man- tamanha as atividades a seu cargo. Tais repartições é que
dado de segurança – tanto como impetrante como quan- constituem os órgãos públicos”.
to impetrado). Já que não possuem personalidade, atuam “Várias teorias surgiram para explicar as relações do
apenas no cumprimento da lei, não atuando por vontade Estado, pessoa jurídica, com suas agentes: Pela teoria do
própria. Logo, órgãos e agentes públicos são impessoais mandato, o agente público é mandatário da pessoa jurí-
quando agem no estrito cumprimento de seus deveres, dica; a teoria foi criticada por não explicar como o Estado,
não respondendo diretamente por seus atos e danos. que não tem vontade própria, pode outorgar o mandato”7.
Esta impossibilidade de se imputar diretamente a res- A origem desta teoria está no direito privado, não tendo
ponsabilidade a agentes públicos ou órgãos públicos que como prosperar porque o Estado não pode outorgar man-
estejam exercendo atribuições da Administração direta é dato a alguém, afinal, não tem vontade própria.
denominada teoria da imputação objetiva, de Otto Giërke, Num momento seguinte, adotou-se a teoria da repre-
que institui o princípio da impessoalidade. sentação: “Posteriormente houve a substituição dessa con-
Quanto se faz desconcentração da autoridade central cepção pela teoria da representação, pela qual a vontade
– chefe do Executivo – para os seus órgãos, se depara com dos agentes, em virtude de lei, exprimiria a vontade do Es-
diversos níveis de órgãos, que podem ser classificados em tado, como ocorre na tutela ou na curatela, figuras jurídicas
simples ou complexos (simples se possuem apenas uma
estrutura administrativa, complexos se possuem uma rede 6 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
de estruturas administrativas) e em unitários ou colegia- direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
dos (unitário se o poder de decisão se concentra em uma ris, 2010.
pessoa, colegiado se as decisões são tomadas em conjunto 7 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Admi-
e prevalece a vontade da maioria): nistrativo. 23. ed. São Paulo: Atlas editora, 2010.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

que apontam para representantes dos incapazes. Ocorre em nossa doutrina, integram a Administração indireta do
que essa teoria, além de equiparar o Estado, pessoa jurí- Estado quatro espécies de pessoa jurídica, a saber: as Au-
dica, ao incapaz (sendo que o Estado é pessoa jurídica do- tarquias, as Fundações, as Sociedades de Economia Mista e
tada de capacidade plena), não foi suficiente para alicerçar as Empresas Públicas.
um regime de responsabilização da pessoa jurídica perante Dispõe o Decreto nº 200/1967:
terceiros prejudicados nas circunstâncias em que o agente
ultrapassasse os poderes da representação”8. Criticou-se a Art. 4° A Administração Federal compreende:
teoria porque o Estado estaria sendo visto como um su- II - A Administração Indireta, que compreende as se-
jeito incapaz, ou seja, uma pessoa que não tem condições guintes categorias de entidades, dotadas de personalidade
plenas de manifestar, de falar, de resolver pendências; bem jurídica própria:
como porque se o representante estatal exorbitasse seus a) Autarquias;
poderes, o Estado não poderia ser responsabilizado. b) Empresas Públicas;
Finalmente, adota-se a teoria do órgão, de Otto Giër- c) Sociedades de Economia Mista.
ke, segundo a qual os órgãos são apenas núcleos adminis- d) fundações públicas.
trativos criados e extintos exclusivamente por lei, mas que
podem ser organizados por decretos autônomos do Exe- Ao lado destas, podemos encontrar ainda entes que
cutivo (art. 84, VI, CF), sendo desprovidos de personalidade prestam serviços públicos por delegação, embora não inte-
jurídica própria. Com efeito, o Estado brasileiro responde grem os quadros da Administração, quais sejam, os permis-
pelos atos que seus agentes praticam, mesmo se estes atos sionários, os concessionários e os autorizados.
extrapolam das atribuições estatais conferidas, sendo-lhe Essas quatro pessoas integrantes da Administração
assegurado o intocável e assustador direito de regresso. indireta serão criadas para a prestação de serviços públi-
Apresenta-se a classificação dos órgãos: cos ou, ainda, para a exploração de atividades econômicas,
a) Quanto à pessoa federativa: federais, estaduais, dis- como no caso das empresas públicas e sociedades de eco-
tritais e municipais. nomia mista, e atuam com o objetivo de aumentar o grau
b) Quanto à situação estrutural: os diretivos, que são de especialidade e eficiência da prestação do serviço públi-
aqueles que detêm condição de comando e de direção, co ou, quando exploradoras de atividades econômicas, vi-
e os subordinados, incumbidos das funções rotineiras de sando atender a relevante interesse coletivo e imperativos
execução. da segurança nacional.
c) Quanto à composição: singulares, quando integra- Com efeito, de acordo com as regras constantes do
dos em um só agente, e os coletivos, quando compostos artigo 173 da Constituição Federal, o Poder Público só po-
por vários agentes. derá explorar atividade econômica a título de exceção, em
d) Quanto à esfera de ação: centrais, que exercem atri- duas situações, conforme se colhe do caput do referido ar-
buições em todo o território nacional, estadual, distrital e tigo, a seguir reproduzido:
municipal, e os locais, que atuam em parte do território. Artigo 173. Ressalvados os casos previstos nesta Cons-
e) Quanto à posição estatal: são os que representam tituição, a exploração direta de atividade econômica pelo
os poderes do Estado – o Executivo, o Legislativo e o Ju- Estado só será permitida quando necessária aos imperativos
diciário. de segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, con-
f) Quanto à estrutura: simples ou unitários e compos- forme definidos em lei.
tos. Os órgãos compostos são constituídos por vários ou- Cumpre esclarecer que, de acordo com as regras cons-
tros órgãos. titucionais e em razão dos fins desejados pelo Estado, ao
Poder Público não cumpre produzir lucro, tarefa esta de-
Administração indireta ferida ao setor privado. Assim, apenas explora atividades
A Administração Pública indireta pode ser definida econômicas nas situações indicadas no artigo 173 do Texto
como um grupo de pessoas jurídicas de direito público ou Constitucional. Quando atuar na economia, concorre em
privado, criadas ou instituídas a partir de lei específica, que grau de igualdade com os particulares, e sob o regime do
atuam paralelamente à Administração direta na prestação artigo 170 da Constituição, inclusive quanto à livre concor-
de serviços públicos ou na exploração de atividades eco- rência, submetendo-se ainda a todas as obrigações cons-
nômicas. tantes do regime jurídico de direito privado, inclusive no
“Enquanto a Administração Direta é composta de ór- tocante às obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tri-
gãos internos do Estado, a Administração Indireta se com- butárias.
põe de pessoas jurídicas, também denominadas de entida-
des”9. Em que pese haver entendimento diverso registrado Autarquias
Conceitua-se no artigo 5º do Decreto nº 200/1967:
8 NOHARA, Irene Patrícia. Direito Administrativo
– esquematizado, completo, atualizado, temas polêmicos, I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com
conteúdo dos principais concursos públicos. 3. ed. São personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para
Paulo: Atlas editora, 2013. executar atividades típicas da Administração Pública, que
9 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão admi-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- nistrativa e financeira descentralizada.
ris, 2010.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

As autarquias são pessoas jurídicas de direito público, Podem pagar aos seus credores por meio de precató-
de natureza administrativa, criadas para a execução de ser- rios e requisição de pequeno valor, tal como a Administra-
viços tipicamente públicos, antes prestados pelas entida- ção direta. Podem emitir sozinhas certidão de dívida ativa
des estatais que as criam. Por serviços tipicamente públicos de seus devedores.
entenda-se aqueles sem fins lucrativos criados por lei e co- Gozam de imunidade tributária recíproca em relação a
mum monopólio do Estado. todas unidades da federação.
“O termo autarquia significa autogoverno ou gover- A elas se conferem as mesmas prerrogativas proces-
no próprio, mas no direito positivo perdeu essa noção se- suais que à Fazenda Pública, inclusive prazo em dobro para
mântica para ter o sentido de pessoa jurídica administrativa contestar e recorrer, além de reexame necessário da causa
com relativa capacidade de gestão dos interesses a seu car- em situações de condenação acima de certos valores.
go, embora sob controle do Estado, de onde se originou. Todas autarquias devem ser criadas, organizadas e ex-
Na verdade, até mesmo em relação a esse sentido, o termo tintas por lei, que podem ser complementadas por atos do
está ultrapassado e não mais reflete uma noção exata do Executivo, notadamente Decretos.
instituto. [...] Pode-se conceituar autarquia como a pessoa As autarquias podem ser federais, estaduais, distritais
jurídica de direito público, integrante da Administração In- e municipais, contudo não podem ser interestaduais ou in-
direta, criada por lei para desempenhar funções que, des- termunicipais (não é permitida a associação de unidades
pidas de caráter econômico, sejam próprias e típicas do federativas para a criação de autarquias).
Estado”10. Devem executar atividades típicas do direito público e,
Logo, as autarquias são regidas integralmente pelo notadamente, serviços públicos de natureza social e ativi-
regime jurídico de direito público, podendo, tão-somente, dades administrativas, com a exclusão dos serviços e ativi-
ser prestadoras de serviços públicos, contando com capital dades de cunho econômico e mercantil.
oriundo da Administração direta. O Código Civil, em seu O patrimônio da autarquia é formado por bens públi-
artigo 41, IV, as coloca como pessoas jurídicas de direito cos, razão pela qual seu patrimônio se sujeita às mesmas
público, embora exista controvérsia na doutrina. regras aplicáveis aos bens públicos em geral, inclusive no
Carvalho Filho11 classifica quanto ao regime jurídico: “a)
que se refere à impenhorabilidade e à impossibilidade de
autarquias comuns (ou de regime comum); b) autarquias
oneração e de usucapião.
especiais (ou de regime especial). Segundo a própria termi-
Os agentes públicos das autarquias são concursados
nologia, é fácil distingui-las: as primeiras estariam sujeitas
e estatutários, logo, se sujeitam a estatuto próprio e não
a uma disciplina jurídica sem qualquer especificidade, ao
à CLT. Já os dirigentes não precisam ser concursados e são
passo que as últimas seriam regidas por disciplina especí-
nomeados e destituídos livremente pelo chefe do Execu-
fica, cuja característica seria a de atribuir prerrogativas es-
peciais e diferenciadas a certas autarquias”. São exemplos tivo.
de autarquias especiais aquelas criadas para serviços espe-
ciais, como autarquias de ensino (ex.: USP) e autarquias de Agências reguladoras
fiscalização (ex.: CRM e CREA). São figuras muito recentes em nosso ordenamento ju-
A título de exemplo, citamos as seguintes autarquias: rídico. Possuem natureza jurídica de autarquias de regime
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (In- especial, são pessoas jurídicas de Direito Público com ca-
cra), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Departa- pacidade administrativa, aplicando-se a elas todas as re-
mento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), Conse- gras das autarquias.
lho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), Departa- O dirigente é nomeado pelo chefe do Executivo, mas
mento nacional de Registro do Comércio (DNRC), Instituto a nomeação se sujeita à aprovação do legislativo, que se
Nacional da Propriedade Industrial (INPI), Instituto Brasilei- baseia nos critérios de conhecimento. Uma vez nomeado,
ro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis o dirigente passa a gozar de mandato com prazo determi-
(Ibama), Banco Central do Brasil (Bacen). nado e só pode ser destituído por processo com decisão
Ainda sobra as autarquias: motivada.
Contam com patrimônio próprio, constituído a partir Possuem como objetivo regular e fiscalizar a execução
de transferência pela entidade estatal a que se vinculam, de serviços públicos. Elas não executam o serviço propria-
portanto, capital exclusivamente público. mente, elas o fiscalizam. Logo, são entidades com típica
São dotadas, ainda, de autonomia financeira, planejan- função de controle da prestação dos serviços públicos e do
do seus gastos e compromissos a cada exercício. A propos- exercício de atividades econômicas, evitando a prática de
ta orçamentária é encaminhada anualmente ao chefe do abusos por parte de entidades do setor privado.
Executivo, que a inclui no orçamento fiscal da lei orçamen- São titulares da matéria técnica que regulam, de modo
tária anual. A própria autarquia presta contas diretamente que somente elas podem disciplinar as regras e padrões
ao Tribunal de Contas. técnicos desta determinada seara.
No exercício de seus poderes, compete a elas: fiscalizar
10 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de o cumprimento de contratos de concessões e o atingimen-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- to de metas neles fixadas, fiscalizar e controlar o atendi-
ris, 2010. mento a consumidores e usuários (inclusive recebendo e
11 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de processando denúncias e reclamações, aplicando penas
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- administrativas e multas, bem como rescindindo contra-
ris, 2010. tos), definir política tarifária e reajustá-la.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Entre as agências reguladoras inseridas no ordena- Empresas públicas


mento brasileiro, destacam-se: ANEEL – Agência Nacional Conceitua-se no artigo 5º do Decreto nº 200/1967:
de Energia Elétrica, criada pela Lei nº 9.427/1996; a ANA-
TEL – Agência Nacional de Telecomunicações, pela Lei nº II - Empresa Pública - a entidade dotada de personali-
9.472/1997; e a ANP – Agência Nacional do Petróleo, pela dade jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e
Lei nº 9.478/1997. capital exclusivo da União, criado por lei para a exploração
de atividade econômica que o Governo seja levado a exercer
Agências executivas por força de contingência ou de conveniência administrativa
Agência executiva é a qualificação conferida a autar- podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em
quia, fundação pública ou órgão da administração direta direito.
que celebra contrato de gestão com o próprio ente polí-
tico com o qual está vinculado. As agências executivas se
Empresas públicas são pessoas jurídicas de Direito Pri-
distinguem das agências reguladoras por não terem como
objetivo principal o de exercer controle sobre particulares vado, criadas para a prestação de serviços públicos ou para
que prestam serviços públicos, que é o objetivo fundamen- a exploração de atividades econômicas, que contam com
tal das agências reguladoras. Assim, a expressão “agências capital exclusivamente público, e são constituídas por qual-
executivas” corresponde a um título ou qualificação atribuí- quer modalidade empresarial, após autorização legislativa
da à autarquia ou a fundações públicas cujo objetivo seja do ente federativo criador.
exercer atividade estatal. Sendo a empresa pública uma prestadora de serviços
públicos, estará submetida a regime jurídico público, ainda
Fundações públicas que constituída segundo o modelo imposto pelo Direito
Conceitua-se no artigo 5º do Decreto nº 200/1967: Privado. Se a empresa pública é exploradora de atividade
econômica, estará submetida a regime jurídico denomina-
IV - Fundação Pública - a entidade dotada de persona- do pela doutrina como semipúblico, ante a necessidade de
lidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada observância, ao menos em suas relações com os adminis-
em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvi- trados, das regras atinentes ao regime da Administração, a
mento de atividades que não exijam execução por órgãos ou exemplo dos princípios expressos no “caput” do artigo 37
entidades de direito público, com autonomia administrativa, da Constituição Federal.
patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de dire- Podemos citar, a título de exemplo, algumas empre-
ção, e funcionamento custeado por recursos da União e de
sas públicas, nas mais variadas esferas de governo, como
outras fontes.
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
As Fundações são pessoas jurídicas compostas por um (BNDES); a Empresa Municipal de Urbanização de São Pau-
patrimônio personalizado, destacado pelo seu instituidor lo (EMURB); a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
para atingir uma finalidade específica, denominadas, em (ECT); a Caixa Econômica Federal (CEF).
latim, universitas bonorum. Entre estas finalidades, desta- Estas empresas públicas se caracterizam e se diferen-
cam-se as de escopo religioso, moral, cultural ou de assis- ciam das sociedades de economia mista por: não possuí-
tência. rem fins lucrativos (o capital excedente não se transforma
Essa definição serve para qualquer fundação, inclusive em lucro, é reinvestido na própria empresa), podem adotar
para aquelas que não integram a Administração indireta perfis empresariais diversos (LTDA, comandita, nome cole-
(não-governamentais). No caso das fundações que inte- tivo, S/A), o capital social é formado por recursos públicos
gram a Administração indireta (governamentais), quando e só admite sócios públicos (pode ter apenas um sócio –
forem dotadas de personalidade de direito público, serão unipessoalidade originária ou inicial).
regidas integralmente por regras de direito público. Quan-
do forem dotadas de personalidade de direito privado, se- Sociedades de economia mista
rão regidas por regras de direito público e direito privado. Conceitua-se no artigo 5º do Decreto nº 200/1967:
Quando as fundações são criadas pelo Estado são co-
nhecidas como fundações públicas, ou autarquias funda- III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dotada
cionais ou fundações autárquicas. O estatuto da fundação,
de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei
no caso, terá a forma de lei, cujo escopo será criar e orga-
para a exploração de atividade econômica, sob a forma de
nizar a fundação. As fundações públicas são regulamenta-
das por lei complementar. Sendo fundações públicas que sociedade anônima, cujas ações com direito a voto perten-
adotam regime jurídico de direito público, se equiparam às çam em sua maioria à União ou a entidade da Administra-
autarquias e se sujeitam às mesmas regras que elas. ção Indireta.
Obs.: é possível que a lei autorize (não crie) uma fun-
dação pública que adote regime jurídico de direito privado, As sociedades de economia mista são pessoas jurídi-
ou então um regime misto, caso em que seus servidores cas de Direito Privado criadas para a prestação de servi-
poderão se sujeitar à CLT, seu patrimônio não será exclu- ços públicos ou para a exploração de atividade econômica,
sivamente oriundo de verbas estatais. A lei autorizadora contando com capital misto e constituídas somente sob a
deve ser expressa neste sentido. forma empresarial de S/A.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Por capital misto, entenda-se que não é apenas o Esta- CLT, são celetistas e não estatutários, mas são contratados
do que participa dela, existem acionistas a ela vinculados. mediante concurso público de provas ou provas e títulos),
Entretanto, o Estado deve ser o acionista controlador do prestar contas ao Tribunal de Contas e obedecer ao teto de
direito a voto, mesmo que não seja o acionista majoritário remuneração (exceto no caso de sociedade de economia
(se o Estado for sócio, mas não for controlador, trata-se de mista que subsista sem qualquer auxílio do governo, ape-
empresa comum, não sociedade de economia mista). nas com seus lucros).
Alguns exemplos de sociedade mista:
- Exploradoras de atividade econômica: Banco do Brasil LEI Nº 11.107, DE 6 DE ABRIL DE 2005.
e Banespa.
- Prestadora de serviços públicos: Petrobrás, Sabesp, Dispõe sobre normas gerais de contratação de consór-
Metrô e CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habita- cios públicos e dá outras providências.
cional Urbano). O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
Estas sociedades de economia mista se caracterizam e gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
se diferenciam das empresas públicas por: possuírem fins
lucrativos (os lucros são distribuídos entre os acionistas), Art. 1º Esta Lei dispõe sobre normas gerais para a União,
adotam o perfil de sociedade anônima S/A, o capital social os Estados, o Distrito Federal e os Municípios contratarem
é formado por recursos públicos e privados, os sócios são consórcios públicos para a realização de objetivos de interes-
privados e públicos (Estado). se comum e dá outras providências.
§ 1º O consórcio público constituirá associação pública
Empresas públicas e sociedades de economia mista: ou pessoa jurídica de direito privado.
semelhanças § 2º A União somente participará de consórcios pú-
Embora a Constituição Federal reserve a atividade eco- blicos em que também façam parte todos os Estados em
nômica à iniciativa privada, resguardando ao Estado os pa- cujos territórios estejam situados os Municípios consorcia-
péis de integração (integrar o Brasil na economia global), dos.
regulação (definindo regras e limites na exploração da ati- § 3º Os consórcios públicos, na área de saúde, deverão
vidade econômica por particulares) e intervenção (fixação obedecer aos princípios, diretrizes e normas que regulam o
de regras e normas para combater o abuso do poder eco- Sistema Único de Saúde – SUS.
nômico) (conforme artigos 173 e seguintes, CF), autoriza-se
excepcionalmente que o Estado explore diretamente Art. 2º Os objetivos dos consórcios públicos serão de-
atividades econômicas se houver um relevante interesse terminados pelos entes da Federação que se consorciarem,
em matérias (serviços públicos em geral) ou atividades de observados os limites constitucionais.
soberania. § 1º Para o cumprimento de seus objetivos, o consórcio
Quando está autorizado a fazê-lo, somente atua por público poderá:
meio de sociedades de economia mista e empresas pú- I – firmar convênios, contratos, acordos de qualquer na-
blicas. Tais empresas são regidas por regime jurídico de tureza, receber auxílios, contribuições e subvenções sociais
direito privado, o que evita que o próprio Estado possa ou econômicas de outras entidades e órgãos do governo;
abusar do poder econômico. Logo, o Estado não pode dar II – nos termos do contrato de consórcio de direito pú-
às suas próprias empresas benefícios previdenciários, tri- blico, promover desapropriações e instituir servidões nos ter-
butários e trabalhistas. Além disso, em termos processuais, mos de declaração de utilidade ou necessidade pública, ou
não gozam das prerrogativas que as autarquias gozam. interesse social, realizada pelo Poder Público; e
ATENÇÃO: o impedimento de prerrogativas somente III – ser contratado pela administração direta ou indireta
se aplica quando o Estado está explorando atividade eco- dos entes da Federação consorciados, dispensada a licitação.
nômica propriamente dita, não quando está ofertando ser- § 2º Os consórcios públicos poderão emitir documen-
viços públicos. Afinal, se o serviço é público, então o Estado tos de cobrança e exercer atividades de arrecadação de ta-
pode sobre ele exercer monopólio, o que afasta a necessi- rifas e outros preços públicos pela prestação de serviços ou
dade de regras que impeçam o abuso do poder econômi- pelo uso ou outorga de uso de bens públicos por eles admi-
co. Por exemplo, os Correios são uma empresa pública e nistrados ou, mediante autorização específica, pelo ente da
possuem isenção fiscal e impenhorabilidade de bens. Federação consorciado.
Tanto as empresas públicas quanto as sociedades de § 3º Os consórcios públicos poderão outorgar conces-
economia mista são criadas por lei e a existência delas deve são, permissão ou autorização de obras ou serviços públi-
ser fundada em contrato ou estatuto. Ambas se sujeitam, cos mediante autorização prevista no contrato de consór-
ainda, ao regime jurídico de direito privado. Inclusive, seus cio público, que deverá indicar de forma específica o objeto
bens são, a princípio, penhoráveis (exceto se for prestadora da concessão, permissão ou autorização e as condições a
de serviço público e não exploradora de atividade econô- que deverá atender, observada a legislação de normas ge-
mica). No entanto, não se sujeitam à falência ou à recupe- rais em vigor.
ração judicial (art. 2º, Lei nº 11.101/2005).
Contudo, devem obedecer ao núcleo obrigatório mí- Art. 3º O consórcio público será constituído por contrato
nimo: licitar (exceto no que tange à prestação da ativida- cuja celebração dependerá da prévia subscrição de protocolo
de-fim), concursar (os agentes se sujeitam ao regime da de intenções.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 4º São cláusulas necessárias do protocolo de inten- Art. 8º Os entes consorciados somente entregarão recur-
ções as que estabeleça,rito Federal, quando o consórcio for sos ao consórcio público mediante contrato de rateio.
constituído pelo Distrito Federal e os Municípios; e § 1º O contrato de rateio será formalizado em cada
V – (VETADO) exercício financeiro e seu prazo de vigência não será su-
§ 2º O protocolo de intenções deve definir o número perior ao das dotações que o suportam, com exceção dos
de votos que cada ente da Federação consorciado possui contratos que tenham por objeto exclusivamente projetos
na assembleia geral, sendo assegurado 1 (um) voto a cada consistentes em programas e ações contemplados em pla-
ente consorciado. no plurianual ou a gestão associada de serviços públicos
§ 3º É nula a cláusula do contrato de consórcio que custeados por tarifas ou outros preços públicos.
preveja determinadas contribuições financeiras ou econô- § 2º É vedada a aplicação dos recursos entregues por
micas de ente da Federação ao consórcio público, salvo a meio de contrato de rateio para o atendimento de des-
doação, destinação ou cessão do uso de bens móveis ou pesas genéricas, inclusive transferências ou operações de
imóveis e as transferências ou cessões de direitos operadas crédito.
por força de gestão associada de serviços públicos. § 3º Os entes consorciados, isolados ou em conjunto,
§ 4º Os entes da Federação consorciados, ou os com bem como o consórcio público, são partes legítimas para
eles conveniados, poderão ceder-lhe servidores, na forma exigir o cumprimento das obrigações previstas no contrato
e condições da legislação de cada um. de rateio.
§ 5º O protocolo de intenções deverá ser publicado na § 4º Com o objetivo de permitir o atendimento dos
imprensa oficial. dispositivos da Lei Complementar no 101, de 4 de maio
de 2000, o consórcio público deve fornecer as informações
Art. 5º O contrato de consórcio público será celebrado necessárias para que sejam consolidadas, nas contas dos
com a ratificação, mediante lei, do protocolo de intenções. entes consorciados, todas as despesas realizadas com os
§ 1º O contrato de consórcio público, caso assim preve- recursos entregues em virtude de contrato de rateio, de
ja cláusula, pode ser celebrado por apenas 1 (uma) parcela forma que possam ser contabilizadas nas contas de cada
dos entes da Federação que subscreveram o protocolo de ente da Federação na conformidade dos elementos econô-
intenções. micos e das atividades ou projetos atendidos.
§ 2º A ratificação pode ser realizada com reserva que, § 5º Poderá ser excluído do consórcio público, após
aceita pelos demais entes subscritores, implicará consor- prévia suspensão, o ente consorciado que não consignar,
ciamento parcial ou condicional. em sua lei orçamentária ou em créditos adicionais, as do-
§ 3º A ratificação realizada após 2 (dois) anos da subs- tações suficientes para suportar as despesas assumidas por
crição do protocolo de intenções dependerá de homologa- meio de contrato de rateio.
ção da assembleia geral do consórcio público.
§ 4º É dispensado da ratificação prevista no caput deste Art. 9º A execução das receitas e despesas do consór-
artigo o ente da Federação que, antes de subscrever o pro- cio público deverá obedecer às normas de direito financeiro
tocolo de intenções, disciplinar por lei a sua participação aplicáveis às entidades públicas.
no consórcio público. Parágrafo único. O consórcio público está sujeito à fis-
calização contábil, operacional e patrimonial pelo Tribunal
Art. 6º O consórcio público adquirirá personalidade ju- de Contas competente para apreciar as contas do Chefe do
rídica: Poder Executivo representante legal do consórcio, inclusive
I – de direito público, no caso de constituir associação quanto à legalidade, legitimidade e economicidade das des-
pública, mediante a vigência das leis de ratificação do pro- pesas, atos, contratos e renúncia de receitas, sem prejuízo
tocolo de intenções; do controle externo a ser exercido em razão de cada um dos
II – de direito privado, mediante o atendimento dos re- contratos de rateio.
quisitos da legislação civil.
§ 1º O consórcio público com personalidade jurídica de Art. 10. (VETADO)
direito público integra a administração indireta de todos os Parágrafo único. Os agentes públicos incumbidos da
entes da Federação consorciados. gestão de consórcio não responderão pessoalmente pelas
§ 2º No caso de se revestir de personalidade jurídica obrigações contraídas pelo consórcio público, mas responde-
de direito privado, o consórcio público observará as nor- rão pelos atos praticados em desconformidade com a lei ou
mas de direito público no que concerne à realização de com as disposições dos respectivos estatutos.
licitação, celebração de contratos, prestação de contas e
admissão de pessoal, que será regido pela Consolidação Art. 11. A retirada do ente da Federação do consórcio
das Leis do Trabalho - CLT. público dependerá de ato formal de seu representante na
assembleia geral, na forma previamente disciplinada por lei.
Art. 7º Os estatutos disporão sobre a organização e o § 1º Os bens destinados ao consórcio público pelo
funcionamento de cada um dos órgãos constitutivos do con- consorciado que se retira somente serão revertidos ou re-
sórcio público. trocedidos no caso de expressa previsão no contrato de
consórcio público ou no instrumento de transferência ou
de alienação.

10
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º A retirada ou a extinção do consórcio público não § 4º O contrato de programa continuará vigente mes-
prejudicará as obrigações já constituídas, inclusive os con- mo quando extinto o consórcio público ou o convênio de
tratos de programa, cuja extinção dependerá do prévio pa- cooperação que autorizou a gestão associada de serviços
gamento das indenizações eventualmente devidas. públicos.
§ 5º Mediante previsão do contrato de consórcio públi-
Art. 12. A alteração ou a extinção de contrato de con- co, ou de convênio de cooperação, o contrato de programa
sórcio público dependerá de instrumento aprovado pela as- poderá ser celebrado por entidades de direito público ou
sembleia geral, ratificado mediante lei por todos os entes privado que integrem a administração indireta de qualquer
consorciados. dos entes da Federação consorciados ou conveniados.
§ 1º Os bens, direitos, encargos e obrigações decorren- § 6º O contrato celebrado na forma prevista no § 5o
tes da gestão associada de serviços públicos custeados por deste artigo será automaticamente extinto no caso de o
tarifas ou outra espécie de preço público serão atribuídos contratado não mais integrar a administração indireta do
aos titulares dos respectivos serviços. ente da Federação que autorizou a gestão associada de
§ 2º Até que haja decisão que indique os responsáveis serviços públicos por meio de consórcio público ou de
por cada obrigação, os entes consorciados responderão convênio de cooperação.
solidariamente pelas obrigações remanescentes, garantin- § 7º Excluem-se do previsto no caput deste artigo as
do o direito de regresso em face dos entes beneficiados ou obrigações cujo descumprimento não acarrete qualquer
dos que deram causa à obrigação. ônus, inclusive financeiro, a ente da Federação ou a con-
sórcio público.
Art. 13. Deverão ser constituídas e reguladas por con-
trato de programa, como condição de sua validade, as obri- Art. 14. A União poderá celebrar convênios com os con-
gações que um ente da Federação constituir para com outro sórcios públicos, com o objetivo de viabilizar a descentrali-
ente da Federação ou para com consórcio público no âmbito zação e a prestação de políticas públicas em escalas ade-
de gestão associada em que haja a prestação de serviços quadas.
públicos ou a transferência total ou parcial de encargos,
serviços, pessoal ou de bens necessários à continuidade dos Art. 15. No que não contrariar esta Lei, a organização e
serviços transferidos. funcionamento dos consórcios públicos serão disciplinados
§ 1º O contrato de programa deverá: pela legislação que rege as associações civis.
I – atender à legislação de concessões e permissões de
serviços públicos e, especialmente no que se refere ao cálculo Art. 16. O inciso IV do art. 41 da Lei nº 10.406, de 10
de tarifas e de outros preços públicos, à de regulação dos de janeiro de 2002 - Código Civil, passa a vigorar com a
serviços a serem prestados; e seguinte redação:
II – prever procedimentos que garantam a transparência
da gestão econômica e financeira de cada serviço em rela- “Art. 41. [...] IV – as autarquias, inclusive as associações
ção a cada um de seus titulares. públicas; [...]” (NR)
§ 2º No caso de a gestão associada originar a transfe-
rência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens Art. 17. Os arts. 23, 24, 26 e 112 da Lei nº 8.666, de 21
essenciais à continuidade dos serviços transferidos, o con- de junho de 1993, passam a vigorar com a seguinte redação:
trato de programa, sob pena de nulidade, deverá conter
cláusulas que estabeleçam: “Art. 23. [...]
I – os encargos transferidos e a responsabilidade subsi- § 8º No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o do-
diária da entidade que os transferiu; bro dos valores mencionados no caput deste artigo quan-
II – as penalidades no caso de inadimplência em relação do formado por até 3 (três) entes da Federação, e o triplo,
aos encargos transferidos; quando formado por maior número.»
III – o momento de transferência dos serviços e os deve-
res relativos a sua continuidade; “Art. 24. [...]
IV – a indicação de quem arcará com o ônus e os passi- XXVI – na celebração de contrato de programa com ente
vos do pessoal transferido; da Federação ou com entidade de sua administração indire-
V – a identificação dos bens que terão apenas a sua ges- ta, para a prestação de serviços públicos de forma associada
tão e administração transferidas e o preço dos que sejam nos termos do autorizado em contrato de consórcio público
efetivamente alienados ao contratado; ou em convênio de cooperação.
VI – o procedimento para o levantamento, cadastro e Parágrafo único. Os percentuais referidos nos incisos I
avaliação dos bens reversíveis que vierem a ser amortizados e II do caput deste artigo serão 20% (vinte por cento) para
mediante receitas de tarifas ou outras emergentes da pres- compras, obras e serviços contratados por consórcios públi-
tação dos serviços. cos, sociedade de economia mista, empresa pública e por
§ 3º É nula a cláusula de contrato de programa que autarquia ou fundação qualificadas, na forma da lei, como
atribuir ao contratado o exercício dos poderes de plane- Agências Executivas.” (NR)
jamento, regulação e fiscalização dos serviços por ele pró-
prio prestados.

11
DIREITO ADMINISTRATIVO

“Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2o e 4o do art. 17 Os poderes conferidos à administração surgem como
e no inciso III e seguintes do art. 24, as situações de inexi- instrumentos para a preservação dos interesses da coletivi-
gibilidade referidas no art. 25, necessariamente justificadas, dade. Caso a administração se utilize destes poderes para
e o retardamento previsto no final do parágrafo único do fins diversos de preservação dos interesses da sociedade,
art. 8o desta Lei deverão ser comunicados, dentro de 3 (três) estará cometendo abuso de poder, ou seja, incidindo em
dias, à autoridade superior, para ratificação e publicação na ilegalidade. Neste caso, o Poder Judiciário poderá efetuar
imprensa oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, como condição controle dos atos administrativos que impliquem em ex-
para a eficácia dos atos” (NR). cesso ou abuso de poder.
Quanto aos poderes administrativos, eles podem ser
“Art. 112. [...] colocados como prerrogativas de direito público conferi-
§ 1º Os consórcios públicos poderão realizar licitação das aos agentes públicos, com vistas a permitir que o Esta-
da qual, nos termos do edital, decorram contratos adminis- do alcance os seus fins. Evidentemente, em contrapartida a
trativos celebrados por órgãos ou entidades dos entes da estes poderes, surgem deveres ao administrador.
Federação consorciados. “O poder administrativo representa uma prerrogativa
§ 2º É facultado à entidade interessada o acompanha- especial de direito público outorgada aos agentes do Esta-
mento da licitação e da execução do contrato.» (NR) do. Cada um desses terá a seu cargo a execução de certas
funções. Ora, se tais funções foram por lei cometidas aos
Art. 18. O art. 10 da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, agentes, devem eles exercê-las, pois que seu exercício é
passa a vigorar acrescido dos seguintes incisos: voltado para beneficiar a coletividade. Ao fazê-lo, dentro
“Art. 10. [...] dos limites que a lei traçou, pode dizer-se que usaram nor-
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha malmente os seus poderes. Uso do poder, portanto, é a
por objeto a prestação de serviços públicos por meio da ges- utilização normal, pelos agentes públicos, das prerro-
tão associada sem observar as formalidades previstas na lei; gativas que a lei lhes confere”12.
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público Neste sentido, “os poderes administrativos são ou-
sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem ob- torgados aos agentes do Poder Público para lhes permitir
servar as formalidades previstas na lei.” (NR) atuação voltada aos interesses da coletividade. Sendo as-
sim, deles emanam duas ordens de consequência: 1ª) são
eles irrenunciáveis; e 2ª) devem ser obrigatoriamente
Art. 19. O disposto nesta Lei não se aplica aos convênios
exercidos pelos titulares. Desse modo, as prerrogativas
de cooperação, contratos de programa para gestão associa-
públicas, ao mesmo tempo em que constituem poderes
da de serviços públicos ou instrumentos congêneres, que te-
para o administrador público, impõem-lhe o seu exercício
nham sido celebrados anteriormente a sua vigência.
e lhe vedam a inércia, porque o reflexo desta atinge, em
última instância, a coletividade, esta a real destinatária de
Art. 20. O Poder Executivo da União regulamentará o
tais poderes. Esse aspecto dúplice do poder administra-
disposto nesta Lei, inclusive as normas gerais de contabili-
tivo é que se denomina de poder-dever de agir”13. Per-
dade pública que serão observadas pelos consórcios públicos cebe-se que, diferentemente dos particulares aos quais,
para que sua gestão financeira e orçamentária se realize na quando conferido um poder, podem optar por exercê-lo
conformidade dos pressupostos da responsabilidade fiscal. ou não, a Administração não tem faculdade de agir, afinal,
sua atuação se dá dentro de objetos de interesse público.
Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica- Logo, a abstenção não pode ser aceita, o que transforma o
ção. poder de agir também num dever de fazê-lo: daí se afirmar
um poder-dever. Com efeito, o agente omisso poderá ser
Brasília, 6 de abril de 2005; 184º da Independência e responsabilizado.
117º da República. Os poderes da Administração se dividem em: vincula-
do, discricionário, hierárquico, disciplinar, regulamen-
tar e de polícia.

Poder vinculado
2.6.3 DOS PODERES ADMINISTRATIVOS; No poder vinculado não há qualquer liberdade quanto
à atividade que deva ser praticada, cabendo ao administra-
dor se sujeitar por completo ao mandamento da lei. Nos
atos vinculados, o agente apenas reproduz os elementos
O Estado possui papel central de disciplinar a socie- da lei. Afinal, o administrador se encontra diante de situa-
dade. Como não pode fazê-lo sozinho, constitui agentes 12 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
que exercerão tal papel. No exercício de suas atribuições, direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
são conferidas prerrogativas aos agentes, indispensáveis à 2010.
consecução dos fins públicos, que são os poderes admi- 13 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
nistrativos. Em contrapartida, surgirão deveres específicos, direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
que são deveres administrativos. 2010.

12
DIREITO ADMINISTRATIVO

ções que comportam solução única anteriormente prevista da razoabilidade é atentatório à lei. Afinal, não obstante a
por lei. Portanto, não há espaço para que o administrador discricionariedade seja uma prerrogativa da administração,
faça um juízo discricionário, de conveniência e oportunida- o seu maior objetivo é o atendimento aos interesses da
de. Ele é obrigado a praticar o ato daquela forma, porque a coletividade.
lei assim prevê. Ex.: pedido de aposentadoria compulsória
por servidor que já completou 70 anos; pedido de licença Poder regulamentar
para prestar serviço militar obrigatório. Em linhas gerais, poder regulamentar é o poder confe-
rido à administração de elaborar decretos e regulamen-
Poder discricionário tos. Percebe-se que o Poder Executivo, nestas situações,
Existem situações em que o próprio agente tem a pos- exerce força normativa, expedindo normas que se reves-
sibilidade de valorar a sua conduta. Logo, no poder discri- tem, como qualquer outra, de abstração e generalidade.
cionário o administrador não está diante de situações que Quando o Poder Legislativo edita suas leis nem sempre
comportam solução única. Possui, assim, um espaço para possibilita que elas sejam executadas. A aplicação prática
exercer um juízo de valores de conveniência e oportuni- fica a cargo do Poder Executivo, que irá editar decretos
dade. e regulamentos com capacidade de dar execução às leis
editadas pelo Poder Legislativo. Trata-se de prerrogativa
Conveniência = condições em que irá agir complementar à lei, não podendo em hipótese alguma
Oportunidade = momento em que irá agir o Executivo alterar o seu conteúdo. Entretanto, poderá o
Discricionariedade = oportunidade + conveniência Executivo criar obrigações subsidiárias, que se impõem
ao administrado ao lado das obrigações primárias fixadas
A discricionariedade pode ser exercida tanto quando o na própria lei.
ato é praticado quanto, num momento futuro, na circuns- Caso ocorra abuso ao poder regulamentar, caberá ao
tância de sua revogação. Congresso Nacional sustar o ato: “Art. 49, CF. É da compe-
Uma das principais limitações ao poder discricionário tência exclusiva do Congresso Nacional: [...] V - sustar os
é a adequação, correspondente à adequação da conduta atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do po-
escolhida pelo agente à finalidade expressa em lei. O se- der regulamentar ou dos limites de delegação legislativa”.
gundo limite é o da verificação dos motivos14. Neste senti- Segundo entendimento majoritário, tanto os decretos
do, discricionariedade não pode se confundir com arbitra- quanto os regulamentos podem ser autônomos (atos de
riedade – a última é uma conduta ilegítima e quanto a ela natureza originária ou primária) ou de execução (atos de
caberá controle de legalidade perante o Poder Judiciário. natureza derivada ou secundária), embora a essência do
“O controle judicial, entretanto, não pode ir ao extremo poder regulamentar seja composta pelos decretos e regu-
de admitir que o juiz se substituta ao administrador. Vale lamentos de execução. O regulamento autônomo pode ser
dizer: não pode o juiz entrar no terreno que a lei reservou editado independentemente da existência de lei anterior,
aos agentes da Administração, perquirindo os critérios de se encontrando no mesmo patamar hierárquico que a lei –
conveniência e oportunidade que lhe inspiraram a conduta. por isso, é passível de controle de constitucionalidade. Os
A razão é simples: se o juiz se atém ao exame da legalida- regulamentos de execução dependem da existência de lei
de dos atos, não poderá questionar critérios que a própria anterior para que possam ser editados e devem obedecer
lei defere ao administrador. [...] Modernamente, os doutri- aos seus limites, sob pena de ilegalidade – deste modo, se
nadores têm considerado os princípios da razoabilidade e sujeitam a controle de legalidade.
da proporcionalidade como valores que podem ensejar o Nos termos do artigo 84, IV, CF, compete privativamen-
controle da discricionariedade, enfrentando situações que, te ao Presidente da República expedir decretos e regula-
embora com aparência de legalidade, retratam verdadeiro mentos para a fiel execução da lei, atividade que não pode
abuso de poder. [...] A exacerbação ilegítima desse tipo de ser delegada, nos termos do parágrafo único. Em que pese
controle reflete ofensa ao princípio republicano da separa- o teor do dispositivo que poderia dar a entender que a
ção dos poderes”15. existência de decretos autônomos é impedida, o próprio
Há quem diga que, por haver tal liberdade, não exis- STF já reconheceu decretos autônomos como válidos em
te o dever de motivação, mas isso não está correto: aqui, situações excepcionais. Carvalho Filho16, a respeito, afirma
mais que nunca, o dever de motivar se faz presente, de- que somente são decretos e regulamentos que tipicamen-
monstrando que não houve arbítrio na decisão tomada te caracterizam o poder regulamentar aqueles que são de
pelo administrador. Basicamente, não é porque o admi- natureza derivada – o autor admite que existem decretos
nistrador tem liberdade para decidir de outra forma que e regulamentos autônomos, mas diz que não são atos do
o fará sem cometer arbitrariedades e, caso o faça, incidirá poder regulamentar.
em ilicitude. O ato discricionário que ofenda os parâmetros A classificação dos decretos e regulamentos em au-
14 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de tônomos e de execução é bastante relevante para fins de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, controle judicial. Em se tratando de decreto de execução, o
2010. parâmetro de controle será a lei a qual o decreto está vin-
15 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de 16 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010. 2010.

13
DIREITO ADMINISTRATIVO

culado, ocorrendo mero controle de legalidade como re- aos seus servidores que pratiquem infrações disciplinares.
gra – não caberá controle de constitucionalidade por ações Estas sanções aplicadas são apenas as que possuem
diretas de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade, natureza administrativa, não envolvendo sanções civis ou
mas caberá por arguição de descumprimento de preceito penais. Entre as penas que podem ser aplicadas, destacam-
fundamental – ADPF, cujo caráter é mais amplo e permite -se a de advertência, suspensão, demissão e cassação de
o controle sobre atos regulamentares derivados de lei, tal aposentadoria.
como será cabível mandado de injunção. Em se tratan- Evidentemente que tais punições não podem ser apli-
do de decreto autônomo, o parâmetro de controle sempre cadas sem alguns requisitos, como a abertura de sindicân-
será a Constituição Federal, possuindo o decreto a mesma cia ou processo disciplinar em que se garanta o contradi-
posição hierárquica das demais leis infraconstitucionais, tório e a ampla defesa (obs.: existem cargos que somente
ocorrendo genuíno controle de constitucionalidade no são passíveis de demissão por sentença judicial, que são os
caso concreto, por qualquer das vias. vitalícios, como os de magistrado e promotor de justiça).
Outra observação que merece ser feita se refere ao
conceito de deslegalização. O fenômeno tem origem na Poder de polícia
França e corresponde à transferência de certas matérias de É o poder conferido à administração para limitar, dis-
caráter estritamente técnico da lei ou ato congênere para ciplinar, restringir e condicionar direitos e atividades
outras fontes normativas, com autorização do próprio le- particulares para a preservação dos interesses da coleti-
gislador. Na verdade, o legislador efetuará uma espécie de vidade. É ainda, fato gerador de tributo, notadamente, a
delegação, que não será completa e integral, pois ainda ca- taxa (artigo 145, II, CF), não podendo ser gerador de tarifa
berá ao Legislativo elaborar o regramento básico, ocorren- que se caracteriza como preço público e não podendo ser
do a transferência estritamente do aspecto técnico (deno- cobrada sem o exercício efetivo do poder de polícia.
mina-se delegação com parâmetros). Há quem diga que “A expressão poder de polícia comporta dois sentidos,
nestes casos não há poder regulamentar, mas sim poder um amplo e um estrito. Em sentido amplo, poder de polícia
regulador. É exemplo do que ocorre com as agências regu- significa toda e qualquer ação restritiva do Estado em
ladoras, como ANATEL, ANEEL, entre outras. relação aos direitos individuais. [...] Em sentido estrito, o
poder de polícia se configura como atividade administra-
Poder hierárquico tiva, que consubstancia, como vimos, verdadeira prerroga-
“Hierarquia é o escalonamento em plano vertical dos tiva conferida aos agentes da Administração, consistente
órgãos e agentes da Administração que tem como objetivo no poder de restringir e condicionar a liberdade e a pro-
a organização da função administrativa. E não poderia ser priedade”18.
de outro modo. Tantas são as atividades a cargo da Admi- No sentido amplo, é possível incluir até mesmo a ati-
nistração Pública que não se poderia conceber sua normal vidade do Poder Legislativo, considerando que ninguém é
realização sem a organização, em escalas, dos agentes e obrigado a fazer ou deixar de fazer algo se a lei não impu-
dos órgãos públicos. Em razão desse escalonamento firma- ser (artigo 5º, II, CF). No sentido estrito, tem-se a atividade
-se uma relação jurídica entre os agentes, que se denomina da polícia administrativa, envolvendo apenas as prerro-
relação hierárquica”17. Nesta relação hierárquica, surge para gativas dos agentes da Administração.
a autoridade superior o poder de comando e para o seu Em destaque, coloca-se o conceito que o próprio legis-
subalterno o dever de obediência. lador estabelece no Código Tributário Nacional: “Conside-
Com efeito, poder hierárquico é o poder conferido à ra-se poder de polícia a atividade da administração pública
administração de fixar campos de competência quanto às que, limitando o disciplinando direito, interesse ou liber-
figuras que compõem sua estrutura. É um poder de auto- dade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em ra-
-organização. É exercido tanto na distribuição de compe- zão de interesse público [...]” (art. 78, primeira parte, CTN).
tências entre os órgãos quanto na divisão de deveres entre A atividade de polícia é tipicamente administrativa, razão
os servidores que o compõem. Se o ato for praticado por pela qual é estudada no ramo do direito administrativo.
órgão incompetente, é inválido. Da mesma forma, se o for Vale ressaltar, por fim, um dos principais atributos do
praticado por servidor que não tinha tal atribuição. poder de polícia: a autoexecutoriedade. Neste sentido, a
Por fim, ressalta-se que do poder hierárquico deriva administração não precisa de manifestação do Poder Ju-
o poder de revisão, consistente no poder das autoridades diciário para colocar seus atos em prática, efetivando-os.
superiores de revisar os atos praticados por seus subordi-
nados. Polícia-função e polícia-corporação
“Apenas com o intuito de evitar possíveis dúvidas em
Poder disciplinar decorrência da identidade de vocábulos, vale a pena real-
Trata-se de decorrência do poder hierárquico, pois é a çar que não há como confundir polícia-função com po-
hierarquia que permite aos agentes de nível superior fisca- lícia-corporação: aquela é a função estatal propriamente
lizar as ações dos subordinados. Assim, poder disciplinar dita e deve ser interpretada sob o aspecto material, indi-
é o poder conferido à administração para aplicar sanções cando atividade administrativa; esta, contudo, correspon-
17 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de 18 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
2010. ris, 2015.

14
DIREITO ADMINISTRATIVO

de à ideia de órgão administrativo, integrado nos sistemas Polícia Administrativa tem caráter preventivo (busca evi-
de segurança pública e incumbido de prevenir os delitos tar o dano social), enquanto que a Polícia Judiciária tem
e as condutas ofensivas à ordem pública, razão por que caráter repressivo (busca a punição daquele que causou
deve ser vista sob o aspecto subjetivo (ou formal). A polí- o dano social).
cia-corporação executa frequentemente funções de polícia Sobre os campos de exercício da polícia administrativa,
administrativa, mas a polícia-função, ou seja, a atividade considerando que todos os direitos individuais são limita-
oriunda do poder de polícia, é exercida por outros órgãos dos pelo interesse da coletividade, já se pode deduzir que
administrativos além da corporação policial”19. o âmbito de atuação do poder de polícia é o mais amplo
possível. Entre eles, cabe mencionar, polícia sanitária, polí-
Competência cia ambiental, polícia de trânsito e tráfego, polícia de pro-
A competência para exercer o poder de polícia é, a fissões (OAB, CRM, etc.), polícia de construções, etc. Neste
princípio, da pessoa administrativa que foi dotada de com- sentido, será possível atuar tanto por atos normativos (atos
petência no âmbito do poder regulamentar. Se a compe- genéricos, abstratos e impessoais, como decretos, regula-
tência for concorrente, também o poder de polícia será mentos, portarias, instruções, resoluções, entre outros) e
exercido de forma concorrente. por atos concretos (voltados a um indivíduo específico e
isolado, que podem ser determinações, como a multa, ou
Delegação e transferência atos de consentimento, como a concessão ou revogação
O poder de polícia pode ser exercido de forma origi- de licença ou autorização por alvará).
nária, pelo próprio órgão ao qual se confere a competên-
cia de atuação, ou de forma delegada, mediante lei que Liberdades públicas e poder de polícia
transfira a mera prática de atos de natureza fiscalizatória Evidentemente, abusos no exercício do poder de po-
(poder de polícia seria de caráter executório, não inovador) lícia não podem ser tolerados. Por mais que todo direito
a pessoas jurídicas que tenham vinculação oficial com en- individual seja relativo perante o interesse público, existem
tes públicos. núcleos mínimos de direitos que devem ser preservados,
Obs.: A transferência de tarefas de operacionalização, mesmo no exercício do poder de polícia. Neste sentido, a
no âmbito de simples constatação, não é considerada de- faculdade repressiva deve respeitar os direitos do cida-
legação do poder de polícia. Delegação ocorre quando a dão, as prerrogativas individuais e as liberdades públi-
atividade fiscalizatória em si é transferida. Por exemplo, cas que são consagrados no texto constitucional.
Para compreender a questão, interessante suscitar qual
uma empresa contratada para operar radares não recebeu
o caráter do poder de polícia, se discricionário ou vincula-
delegação do poder de polícia, mas uma guarda municipal
do. A doutrina de Meirelles21 e Carvalho Filho22 recomenda
instituída na forma de empresa pública com poder de apli-
que quando o poder de polícia vai ter os seus limites fixa-
car multas recebeu tal delegação.
dos há discricionariedade (por exemplo, quando o poder
público vai decidir se pode ou não ocorrer pesca num de-
Polícia judiciária e polícia administrativa
terminado rio), mas quando já existem os limites o ato se
Uma das mais importantes classificações doutrinárias torna vinculado (no mesmo exemplo, não se pode decidir
corresponde à distinção entre polícia administrativa e po- por multar um pescador e não multar o outro por pesca-
lícia judiciária, assim explanada por Carvalho Filho: “ambos rem no rio em que a pesca é proibida, devendo ambos se-
se enquadram no âmbito da função administrativa, vale di- rem multados). Tal raciocínio é relevante para verificar, num
zer, representam atividades de gestão de interesses públi- caso concreto, se houve ou não abuso do poder de polícia.
cos. A Polícia Administrativa é atividade da Administra- Vamos supor que a lei fixe os limites para o ato, mas que
ção que se exaure em si mesma, ou seja, inicia e se com- na prática tais limites tenham sido ignorados: não haverá
pleta no âmbito da função administrativa. O mesmo não discricionariedade, então.
ocorre com a Polícia Judiciária, que, embora seja atividade Com efeito, os principais limites do Poder de Polícia
administrativa, prepara a atuação da função jurisdicional são:
penal, o que a faz regulada pelo Código de Processo Pe- “- Necessidade – a medida de polícia só deve ser ado-
nal (arts. 4º ss) e executada por órgãos de segurança (po- tada para evitar ameaças reais ou prováveis de perturba-
lícia civil ou militar), ao passo que a Polícia Administrativa ções ao interesse público;
o é por órgãos administrativos de caráter mais fiscalizador. - Proporcionalidade/razoabilidade – é a relação entre
Outra diferença reside na circunstância de que a Polícia a limitação ao direito individual e o prejuízo a ser evitado;
Administrativa incide basicamente sobre atividades dos - Eficácia – a medida deve ser adequada para impedir
indivíduos, enquanto a Polícia Judiciária preordena-se ao o dano a interesse público. Para ser eficaz a Administração
indivíduo em si, ou seja, aquele a quem se atribui o co- não precisa recorrer ao Poder Judiciário para executar as
metimento de ilícito penal”20. Além disso, essencialmente, a suas decisões, é o que se chama de autoexecutoriedade”23.
19 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de 21 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo
direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.
ris, 2015. 22 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito
20 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015.
direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- 23 http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/
ris, 2015. direito-administrativo/conceito-de-direito-administrativo

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Importante colocar, como limite, ainda, a necessidade Dever de prestação de contas


de garantia de contraditório e ampla defesa ao adminis- Como o que é gerido pelo administrador não lhe perten-
trado. Neste sentido, a súmula nº 312, STJ: “no processo ce, é seu dever prestar contas do que realizou à coletividade,
administrativo para imposição de multa de trânsito, são ne- isto é, informar em detalhes qual o destino dado às verbas e
cessárias as notificações da atuação e da aplicação da pena aos bens sob sua gestão. Este dever abrange não só aqueles
decorrentes da infração”. que são agentes públicos, mas a todos que tenham sob sua
responsabilidade dinheiros, bens ou interesses públicos, inde-
Deveres da Administração pendentemente de serem ou não administradores públicos.
“A prestação de contas de administradores pode ser reali-
Dever de agir zada internamente através dos órgãos escalonados em graus
O administrador possui um poder-dever de agir. Não hierárquicos, ou externamente. Neste caso, o controle de con-
se trata de mero poder, porque priorizam atender ao inte- tas é feito pelo Poder Legislativo por ser ele o órgão de re-
resse da coletividade e, em razão disso, o poder de agir é presentação popular. No Legislativo se situa, organicamente,
o Tribunal de Contas, que, por sua especialização, auxilia o
também um dever, que é irrenunciável e obrigatório. Ao
Congresso Nacional na verificação de contas dos administra-
administrador é vedada a inércia. Logo, poderá ser respon-
dores”24.
sabilizado por omissão ou silêncio, abrindo possibilidade
de obter o ato não realizado: pela via extrajudicial, notada- Uso do poder
mente ao exercer o direito de petição; ou por via judicial, Conforme Carvalho Filho, uso do poder “é a utilização
por intermédio de mandado de segurança, quando ferir di- normal, pelos agentes públicos, das prerrogativas que a lei
reito líquido e certo do interessado comprovado de plano, lhes confere”25. Significa que se um agente toma suas atitudes
ou por ação de obrigação de fazer. dentro dos limites dos poderes administrativos, está agindo
ATENÇÃO: nem toda omissão do poder público é ilegal. conforme a lei. Um dos principais guias para determinar se a
As denominadas omissões genéricas, que envolvem prer- ação está ou não em conformidade é o dos deveres adminis-
rogativas de ação do administrador de caráter geral e sem trativos.
prazo determinado para atendimento, inseridas em seu po- Assim, além de poderes, os agentes administrativos, ob-
der discricionário, não autorizam a alegação de ilegalidade viamente, detêm deveres, em razão das atribuições que exer-
por violação do poder-dever de agir. Insere-se aqui a de- cem.
nominada reserva do possível – por óbvio sempre existirão
algumas omissões tendo em vista a escassez de recursos Abuso de poder
financeiros. Ex.: deixar de reformar a entrada de um edifício, Havendo poderes, naturalmente será possível o abuso
não construir um estabelecimento de ensino. São ilegais, deles. Abuso de poder é a utilização inadequada por parte
com efeito, as omissões específicas, que são omissões do dos administradores das prerrogativas a eles conferidas no
poder público mesmo diante de imposição expressa legal âmbito dos poderes da administração, por violação expressa
e prazo fixado em lei para atendimento. Nestas situações, ou tácita da lei.
caberá até mesmo responsabilização civil, penal ou admi- “A conduta abusiva dos administradores pode decorrer
nistrativa do agente omisso. de duas causas: 1ª) o agente atua fora dos limites de sua
competência; e 2ª) o agente, embora dentro de sua compe-
Dever de eficiência tência, afasta-se do interesse público que deve nortear todo
A atividade administrativa deve ser célere e técnica, o desempenho administrativo. No primeiro caso, diz-se que
mesclando qualidade e quantidade. Para tanto, é necessá- o agente atuou com ‘excesso de poder’ e no segundo, com
‘desvio de poder’”26. Basicamente, havendo abuso de poder é
rio atribuir competências aos cargos conforme a qualifica-
possível que se caracterize excesso de poder ou desvio de po-
ção exigida para ocupá-los; bem como desempenhar ati-
der. No excesso de poder, o agente nem teria competência
vidades com perfeição, coordenação, celeridade e técnica.
para agir naquela questão e o faz. No abuso de poder,
Não significa que perfeccionismo em excesso seja valoriza- o agente possui competência para agir naquela questão,
do, pois ele afeta o elemento quantitativo do serviço, que mas não o faz em respeito ao interesse público, ou seja,
também é essencial para que ele seja eficiente. desvirtua-se do fim que deveria atingir o seu ato, por isso o
desvio de poder também é denominado desvio de finali-
Dever de probidade dade. A conduta abusiva é passível de controle, inclusive
Trata-se de um dos deveres mais relevantes, corres- judicial.
pondendo à obrigação do agente público de agir de forma
honesta e reta, respeitando a moralidade administrativa e o 24 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
interesse público. A violação deste dever caracteriza ato de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
improbidade, punível, conforme artigo 37, §4º, CF e Lei nº 2010.
8.429/92, que se sujeita a diversas penas, como suspensão 25 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
de direitos políticos, perda da função pública, proibição de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
contratar com o poder público, multa, além de restituição 2010.
ao erário por enriquecimento ilícito e/ou reparação de da- 26 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
nos causados ao erário. direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

EXCESSO DE PODER = INCOMPETÊNCIA resses públicos, difusos e coletivos) é que surgem os atos
ABUSO DE PODER = COMPETÊNCIA = DESVIO DE administrativos, que são atos públicos da Administração,
FINALIDADE sujeitos a regime jurídico de direito público.

“Pela própria natureza do fato em si, todo abuso de po- Atos da Administração ≠ Atos administrativos.
der se configura como ilegalidade. Não se pode conceber Atos privados da Administração = atos da Adminis-
que a conduta de um agente, fora dos limites de sua com- tração → regime jurídico de direito privado.
petência ou despida da finalidade da lei, possa compatibi- Atos públicos da Administração = atos administra-
lizar-se com a legalidade. É certo que nem toda ilegalidade tivos → regime jurídico de direito público.
decorre de conduta abusiva; mas todo abuso se reveste de
ilegalidade e, como tal, sujeita-se à revisão administrativa Os atos administrativos se situam num plano superior
ou judicial”27. de direitos e obrigações, eis que visam atender aos interes-
Se é possível o excesso ou o abuso de poder, é claro ses públicos primários, denominados difusos e coletivos.
que a legislação não apenas confere poderes ao adminis- Logo, são atos de regime público, sujeitos a pressupostos
trador, mas também estabelece deveres. de existência e validade diversos dos estabelecidos para
os atos jurídicos no Código Civil, e sim previstos na Lei de
Ação Popular e na Lei de Processo Administrativo Federal.
Ao invés de autonomia da vontade, haverá a obrigatorie-
dade do cumprimento da lei e, portanto, a administração
2.6.4 ATOS ADMINISTRATIVOS; só poderá agir nestas hipóteses desde que esteja expressa
e previamente autorizada por lei29.
Fato administrativo é a “atividade material no exercí-
cio da função administrativa, que visa a efeitos de ordem
Fatos da administração, atos da administração e prática para a Administração. [...] Os fatos administrativos
atos administrativos podem ser voluntários e naturais. Os fatos administrativos
O ato administrativo é uma espécie de fato administra- voluntários se materializam de duas maneiras: 1ª) por atos
administrativos, que formalizam a providência dese-
tivo e é em torno dele que se estrutura a base teórica do
jada pelo administrador através da manifestação da
direito administrativo.
vontade; 2ª) por condutas administrativas, que refletem
Por seu turno, “a expressão atos da Administração
os comportamentos e as ações administrativas, sejam ou
traduz sentido amplo e indica todo e qualquer ato que
não precedidas de ato administrativo formal. Já os fatos
se origine dos inúmeros órgãos que compõem o sistema
administrativos naturais são aqueles que se originam de
administrativo em qualquer dos Poderes. [...] Na verdade,
fenômenos da natureza, cujos efeitos se refletem na órbita
entre os atos da Administração se enquadram atos que
administrativa. Assim, quando se fizer referência a fato ad-
não se caracterizam propriamente como atos adminis- ministrativo, deverá estar presente unicamente a noção de
trativos, como é o caso dos atos privados da Administra- que ocorreu um evento dinâmico da Administração”30.
ção. Exemplo: os contratos regidos pelo direito privado,
como a compra e venda, a locação etc. No mesmo plano Atos administrativos em espécie
estão os atos materiais, que correspondem aos fatos ad- a) Atos normativos: são atos gerais e abstratos visando
ministrativos, noção vista acima: são eles atos da Adminis- a correta aplicação da lei. É o caso dos decretos, regula-
tração, mas não configuram atos administrativos típicos. mentos, regimentos, resoluções, deliberações.
Alguns autores aludem também aos atos políticos ou de b) Atos ordinatórios: disciplinam o funcionamento da
governo”28. Administração e a conduta de seus agentes. É o caso de
Com efeito, a expressão atos da Administração é mais instruções, circulares, avisos, portarias, ofícios, despachos
ampla. Envolve, também, os atos privados da Administra- administrativos, decisões administrativas.
ção, referentes às ações da Administração no atendimento c) Atos negociais: são aqueles estabelecidos entre Ad-
de seus interesses e necessidades operacionais e instru- ministração e administrado em consenso. É o caso de licen-
mentais agindo no mesmo plano de direitos e obrigações ças, autorizações, permissões, aprovações, vistos, dispensa,
que os particulares. O regime jurídico será o de direito pri- homologação, renúncia.
vado. Ex.: contrato de aluguel de imóveis, compra de bens d) Atos enunciativos: são aqueles em que a Administra-
de consumo, contratação de água/luz/internet. Basicamen- ção certifica ou atesta um fato sem vincular ao seu conteú-
te, envolve os interesses particulares da Administração, que do. É o caso de atestados, certidões, pareceres.
são secundários, para que ela possa atender aos interesses e) Atos punitivos: são aqueles que emanam punições
primários – no âmbito destes interesses primários (inte- aos particulares e servidores.
27 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 29 BALDACCI, Roberto Geists. Direito administra-
2010. tivo. São Paulo: Prima Cursos Preparatórios, 2004.
28 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de 30 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
ris, 2015. ris, 2015.

17
DIREITO ADMINISTRATIVO

Classificação dos atos administrativos 2) Atos discricionários: são os atos que possuem par-
Classificação quanto ao seu alcance: te de seus pressupostos e elementos previamente fixados
1) Atos internos: praticados no âmbito interno da Ad- pela lei autorizadora. No mínimo, a competência, a finali-
ministração, incidindo sobre órgãos e agentes administra- dade e a forma estão previamente fixados na lei – são os
tivos. pressupostos vinculados. Aquilo que está em branco ou
2) Atos externos: praticados no âmbito externo da indefinido na lei será preenchido pelo administrador. Tal
Administração, atingindo administrados e contratados. São preenchimento deve ser feito motivadamente com base
obrigatórios a partir da publicação. em fatos e circunstâncias que somente o administrador
pode escolher. Contudo, tal escolha não é livre, os fatos e
Classificação quanto ao seu objeto: circunstâncias devem ser adequados (razoáveis e propor-
1) Atos de império: praticados com supremacia em cionais) aos limites e intenções da lei.
relação ao particular e servidor, impondo o seu obrigatório Quanto ao grau de subordinação à norma, os atos ad-
cumprimento. ministrativos se classificam em vinculados ou discricioná-
2) Atos de gestão: praticados em igualdade de condi- rios. “Os atos vinculados são aqueles que tem o procedi-
ção com o particular, ou seja, sem usar de suas prerrogati-
mento quase que plenamente delineados em lei, enquanto
vas sobre o destinatário.
os discricionários são aqueles em que o dispositivo norma-
3) Atos de expediente: praticados para dar andamen-
tivo permite certa margem de liberdade para a atividade
to a processos e papéis que tramitam internamente na ad-
pessoal do agente público, especialmente no que tange
ministração pública. São atos de rotina administrativa.
à conveniência e oportunidade, elementos do chamado
Classificação dos atos quanto à formação (processo mérito administrativo. A discricionariedade como poder
de elaboração): da Administração deve ser exercida consoante determina-
1) Ato simples: nasce por meio da manifestação de dos limites, não se constituindo em opção arbitrária para
vontade de um órgão (unipessoal ou colegiado) ou agente o gestor público, razão porque, desde há muito, doutrina
da Administração. e jurisprudência repetem que os atos de tal espécie são
2) Ato complexo: nasce da manifestação de vontade vinculados em vários de seus aspectos, tais como a compe-
de mais de um órgão ou agente administrativo. tência, forma e fim”31.
3) Ato composto: nasce da manifestação de vontade
de um órgão ou agente, mas depende de outra vontade Requisitos ou elementos
que o ratifique para produzir efeitos e tornar-se exequível. 1) Competência: é o poder-dever atribuído a determi-
nado agente público para praticar certo ato administrativo.
Classificação quanto à manifestação da vontade: A pessoa jurídica, o órgão e o agente público devem estar
Atos unilaterais: São aqueles formados pela manifesta- revestidos de competência. A competência é sempre fixada
ção de vontade de uma única pessoa. Ex.: Demissão - Para por lei.
Hely Lopes Meirelles, só existem os atos administrativos A Constituição Federal fixa atribuições para as diver-
unilaterais. sas esferas do Poder Executivo. Entretanto, seria impossível
Atos bilaterais: São aqueles formados pela manifesta- impor que um único órgão as exercesse por completo. Por
ção de vontade de duas pessoas. isso, tais atribuições são distribuídas entre os diversos ór-
Atos multilaterais: São aqueles formados pela vontade gãos que compõem a Administração Pública. Esta divisão
de mais de duas pessoas. das atribuições entre os órgãos da Administração Pú-
Ex.: Contrato administrativo. blica é conhecida como competência.
Conceitua Carvalho Filho32 que “competência é o círcu-
Classificação quanto ao destinatário: lo definido por lei dentro do qual podem os agentes exer-
1) Atos gerais: dirigidos à coletividade em geral, com
cer legitimamente sua atividade”, afirmando ainda que a
finalidade normativa, atingindo uma gama de pessoas que
competência administrativa pode ser colocada em plano
estejam na mesma situação jurídica nele estabelecida. O
diverso da competência legislativa e jurisdicional.
particular não pode impugnar, pois os efeitos são para to-
A competência é pressuposto essencial do ato ad-
dos.
2) Atos individuais: dirigidos a pessoa certa e deter- ministrativo, devendo sempre ser fixada por lei ou pela
minada, criando situações jurídicas individuais. O particular Constituição Federal. Vale ressaltar, no entanto, que a lei
atingido pode impugnar. e a CF fixam as competências primárias, que abrangem o
órgão como um todo; podendo existir atos internos de or-
Classificação quanto ao seu regramento: ganização que fixam as divisões de competências dentro
1) Atos vinculados: são os que possuem todos os dos órgãos, em seus diversos segmentos.
pressupostos e elementos necessários para sua prática e 31 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.
perfeição previamente estabelecidos em lei que autoriza a php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3741
prática daquele ato. O administrador é um “mero cumpri- 32 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
dor de leis”. Também se denomina ato de exercício obri- direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
gatório. ris, 2010.

18
DIREITO ADMINISTRATIVO

A competência se reveste de dois atributos essenciais: suem motivo legal. Nos casos em que o motivo legal não
inderrogabilidade, pois não se transfere de um órgão a está descrito na norma, a lei deu competência discricioná-
outro por mera vontade entre as partes ou por consen- ria para que o sujeito escolha o motivo legal (o motivo deve
timento do agente público; e improrrogabilidade, pois ser oportuno e conveniente).
um órgão competente não se transmuta em incompetente Com efeito, a teoria dos Motivos Determinantes afirma
mesmo diante de alteração da lei superveniente ao fato. que os motivos alegados para a prática de um ato admi-
O ato praticado por sujeito incompetente prescinde de nistrativo ficam a ele vinculados de tal modo que a prática
pressuposto essencial para o ato administrativo, sendo ele de um ato administrativo mediante a alegação de motivos
considerado inexistente e incapaz de produzir efeitos. falsos ou inexistentes determina a sua invalidade.
É possível fixar os critérios de competência nos seguin- “A teoria dos motivos determinantes está relacionada
tes moldes: a prática de atos administrativos e impõe que, uma vez
a) Quanto à matéria: abrange a especificidade da fun- declarado o motivo do ato, este deve ser respeitado. Esta
ção, por exemplo, entre Ministérios e Secretarias de diver- teoria vincula o administrador ao motivo declarado. Para
sas especialidades. que haja obediência ao que prescreve a teoria, no entanto,
b) Quanto à hierarquia: abrange a atribuição de ativi- o motivo há de ser legal, verdadeiro e compatível com o
dades mais complexas a agentes/órgãos de graus superio- resultado. Vale dizer, a teoria dos motivos determinantes
res dentro dos órgãos. não condiciona a existência do ato, mas sim sua validade”33.
c) Quanto ao lugar: abrange a descentralização terri- 5) Objeto (conteúdo): é o que o ato afirma ou declara,
torial de atividades. manifestando a vontade do Estado. A lei não fixa qual deve
d) Quanto ao tempo: abrange a atribuição de com- ser o conteúdo ou objeto de um ato administrativo, restan-
petência por tempo determinado, notadamente diante de do ao administrador preencher o vazio nestas situações. O
algum evento específico, como de calamidade pública. ato é branco/indefinido. No entanto, deve se demonstrar
Nos termos do artigo 11 da Lei nº 9.784/1999, “a com- que a prática do ato é oportuna e conveniente.
petência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos admi- Obs.: Quando se diz que a escolha do motivo e do ob-
nistrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos jeto do ato é discricionária não significa que seja arbitrária,
de delegação e avocação legalmente admitidos”. pois deve se demonstrar a oportunidade e a conveniência.
Delegar é atribuir uma competência que seria sua a Mérito = oportunidade + conveniência
outro órgão/agente (pode ser vertical, quando houver su-
bordinação; ou horizontal, quando não houver subordi- Atributos
nação) – A delegação é parcial e temporária e pode ser 1) Imperatividade: em regra, a Administração decreta
revogada a qualquer tempo. Não podem ser delegados os e executa unilateralmente seus atos, não dependendo da
seguintes atos: Competência Exclusiva, Edição de Ato de participação e nem da concordância do particular. Do po-
Caráter Normativo, Decisão de Recursos Administrativos. der de império ou extroverso, que regula a forma unilateral
Avocar é solicitar o que seria de competência de outro e coercitiva de agir da Administração, se extrai a imperati-
para sua esfera de competência. Basicamente, é o oposto vidade dos atos administrativos.
de delegar. Na avocação, o chefe/órgão superior pega para 2) Autoexecutoriedade: em regra, a Administração
si as atribuições do subordinado/órgão inferior. Como exi- pode concretamente executar seus atos independente da
ge subordinação, toda avocação é vertical. manifestação do Poder Judiciário, mesmo quando estes
2) Finalidade: é a razão jurídica pela qual um ato ad- afetam diretamente a esfera jurídica de particulares.
ministrativo foi abstratamente criado pela ordem jurídica. 3) Presunção de veracidade: todo ato editado ou pu-
A lei estabelece que os atos administrativos devem ser blicado pela Administração é presumivelmente verdadeiro,
praticados visando a um fim, notadamente, a satisfação do seja na forma, seja no conteúdo, o que se denomina “fé pú-
interesse público. Contudo, embora os atos administrativos blica”. Evidente que tal presunção é relativa (juris tantum),
sempre tenham por objeto a satisfação do interesse públi- mas é muito difícil de ser ilidida. Só pode ser quebrada
co, esse interesse é variável de acordo com a situação. Se mediante ação declaratória de falsidade, que irá argumen-
a autoridade administrativa praticar um ato fora da finali- tar que houve uma falsidade material (violação física do
dade genérica ou fora da finalidade específica, estará prati- documento que traz o ato) ou uma falsidade ideológica
cando um ato viciado que é chamado “desvio de poder ou (documento que expressa uma inverdade).
desvio de finalidade”. 4) Presunção de legitimidade: Sempre que a Ad-
3) Forma: é a maneira pela qual o ato se revela no ministração agir se presume que o fez conforme a lei. Tal
mundo jurídico. Usualmente, adota-se a forma escrita. presunção é relativa (juris tantum), podendo contudo ser
Eventualmente, pode ser praticado por sinais ou gestos (ex: ilidida por qualquer meio de prova.
trânsito). A forma é sempre fixada por lei. Obs.: Todo ato administrativo tem presunção de vera-
4) Motivo (vontade): vontade é o querer do ato admi- cidade e de legitimidade, mas nem todo ato administrativo
nistrativo e dela se extrai o motivo, que é o acontecimento é imperativo (pode precisar da concordância do particular,
real que autoriza/determina a prática do ato administrati- a exemplo dos atos negociais).
vo. É o ato baseado em fatos e circunstâncias, que o ad- 33 https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2605114/em-
ministrador por escolher, mas deve respeitar os limites e -que-consiste-a-teoria-dos-motivos-determinantes-aurea-
intenções da lei. Nem sempre os atos administrativos pos- -maria-ferraz-de-sousa

19
DIREITO ADMINISTRATIVO

O silêncio no direito administrativo Vícios do ato administrativo


“Uma questão interessante que merece ser analisada Os vícios dos atos administrativos podem se referir a
no tocante ao ato administrativo é a omissão da Adminis- sujeitos, notadamente: a) Vícios de incompetência do su-
tração Pública ou, o chamado silêncio administrativo. Essa jeito – pode restar caracterizado o crime de usurpação de
omissão é verificada quando a administração deveria ex- função (artigo 328, CP), gerando ato inexistente; pode ca-
pressar uma pronuncia quando provocada por adminis- racterizar excesso de poder, quando excede os limites da
trado, ou para fins de controle de outro órgão e, não o competência que tem, o sujeito pode incidir no crime de
faz. Para Celso Antônio Bandeira de Mello, o silêncio da abuso de autoridade; pode se detectar função de fato,
administração não é um ato jurídico, mas quando produz quando quem pratica o ato está irregularmente investido
efeitos jurídicos, pode ser um fato jurídico administrativo. no cargo, emprego ou função – situação com aparência de
[...] Denota-se que o silêncio pode consistir em omissão, legalidade – ato considerado válido; b) Vícios de incapaci-
ausência de manifestação de vontade, ou não. Em deter- dade do sujeito – pode haver impedimento ou suspeição,
minadas situações poderá a lei determinar a Administra- ambos casos de anulabilidade.
ção Pública manifestar-se obrigatoriamente, qualificando Os vícios dos atos administrativos também podem se
o silêncio como manifestação de vontade. Nesses casos, referir ao objeto, quando ele for proibido por lei – ato ilegal
é possível afirmar que estaremos diante de um ato admi- = nulo; diverso do previsto legalmente para o caso concre-
nistrativo. [...] Desta forma, quando o silêncio é uma forma to; impossível (exemplo: a nomeação para cargo que não
de manifestação de vontade, produz efeitos de ato admi- existe); imoral; indeterminado (desapropriação de bem não
nistrativo. Isto porque a lei pode atribuir ao silêncio deter- definido com precisão).
minado efeito jurídico, após o decurso de certo prazo. En- Os vícios podem atingir a forma, quando a lei expressa-
tretanto, na ausência de lei que atribua determinado efeito mente exige e não é respeitada, e ainda o motivo, quando
jurídico ao silêncio, estaremos diante de um fato jurídico pressupostos de fato e/ou de direito não existem e/ou são
administrativo”34. falsos.
Por fim, tem-se os vícios relativos à finalidade, que são
Validade e eficácia do ato administrativo desvio de poder ou desvio de finalidade, quando o agente
Destaca-se esquemática trazida por Baldacci35:
pratica ato administrativo sem observar o interesse público
- Quando todos os pressupostos especiais exigidos por
e/ou o objetivo (finalidade) previsto em lei.
lei estiverem presentes, falamos que o ato é perfeito (P).
- Quanto estes pressupostos preenchidos respeitarem
Ato inexistente
o que a lei exige, falamos que é válido (V).
A doutrina, de forma amplamente majoritária, nega re-
- Quanto está apto a surtir seus efeitos próprios fala-
levância jurídica aos chamados atos administrativos inexis-
mos que é eficaz (E).
tentes sob o fundamento de que seriam equivalentes aos
1) P + V = E. Os atos perfeitos e válidos são eficazes
em regra. atos nulos.
2) P + V = ineficaz. Os atos perfeitos e válidos podem Feita a ressalva, coloca-se a lição de Celso Antonio
não ser eficazes se estiver pendente o implemento de con- Bandeira de Melo ao discorrer sobre os atos administra-
dição. tivos inexistentes no sentido de que “consistem em com-
3) P + inválido = ineficaz. O ato perfeito e inválido é, portamentos que correspondem a condutas criminosas,
em regra, ineficaz. portanto, fora do possível jurídico e radicalmente vedadas
4) P + inválido = eficaz. O ato perfeito e inválido pode pelo Direito”.
ser eficaz se já tiver gerado efeitos próprios e for relevante O ato inexistente é aquele que não reúne os elementos
para a segurança jurídica manter tais efeitos. necessários à sua formação e, assim, não produz qualquer
5) Imperfeito = inválido + ineficaz. O ato imperfeito consequência jurídica. Já o ato nulo é o ato que embora
não é válido e nem eficaz. reúna os elementos necessários a sua existência, foi prati-
6) Imperfeito = inválido + eficaz. O ato imperfeito cado com violação da lei, da ordem pública, dos bons cos-
pode gerar efeitos impróprios, que não dependem da exe- tumes ou com inobservância da forma legal36.
cução do ato, como o efeito impróprio reflexo (repercussão
em outros atos ou situações jurídicas) e o efeito impróprio Ato nulo
prodrômico (efeito de natureza procedimental que impli- “Ato nulo é aquele que nasce com vício insanável, nor-
ca numa providência ou etapa necessária para aperfeiçoa- malmente resultante da ausência de um de seus elemen-
mento do ato, como a manifestação de um segundo agen- tos constitutivos, ou de defeito substancial em algum deles
te ou órgão). (por exemplo, o ato com motivo inexistente, o ato com ob-
7) Imperfeito = válido + ineficaz. O ato imperfeito jeto não previsto em lei e o ato praticado com desvio de
pode preencher os requisitos de validade, mas se lhe faltar finalidade). O ato nulo está em desconformidade com a lei
um pressuposto especial será imperfeito e, logo, ineficaz. o com os princípios jurídicos (é um ato ilegal e ilegítimo)
e seu defeito não pode ser convalidado (corrigido). O ato
34 SCHUTA, Andréia. Breves considerações acerca nulo não pode produzir efeitos válidos entre as partes. [...]
do silêncio administrativo. Migalhas, 24 jul. 2008. 36 http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/audi-
35 BALDACCI, Roberto Geists. Direito administra- tor-fiscal-do-trabalho-2009/direito-administrativo-ato-admi-
tivo. São Paulo: Prima Cursos Preparatórios, 2004. nistrativo-inexistente.html

20
DIREITO ADMINISTRATIVO

Ato inexistente é aquele que possui apenas aparência de Em detalhes:


manifestação de vontade da administração pública, mas, A cassação é a retirada do ato administrativo em de-
em verdade, não se origina de um agente público, mas de corrência do beneficiário ter descumprido condição tida
alguém que se passa por tal condição, como o usurpador como indispensável para a manutenção do ato. Embora
de função. [...] Ato anulável é o que apresenta defeito sa- legítimo na sua origem e na sua formação, o ato se tor-
nável, ou seja, passível de convalidação pela própria ad- na ilegal na sua execução a partir do momento em que
ministração que o praticou, desde que ele não seja lesivo o destinatário descumpre condições pré-estabelecidas.
ao interesse público, nem cause prejuízo a terceiros. São Por exemplo, uma pessoa obteve permissão para explorar
o serviço público, porém descumpriu uma das condições
sanáveis o vício de competência quanto à pessoa, exceto
para a prestação desse serviço. Vem o Poder Público e, a
se se tratar de competência exclusiva, e o vício de forma, a título de penalidade, procede a cassação da permissão.
menos que se trate de forma exigida pela lei como condi- A anulação é a retirada do ato administrativo em de-
ção essencial à validade do ato”37. corrência de sua invalidade, reconhecida judicial ou admi-
nistrativamente, preservando-se os direitos dos terceiros de
Extinção dos atos administrativos: revogação, anu- boa-fé. Trata-se da supressão do ato administrativo, com
lação e cassação efeito retroativo, por razões de ilegalidade e ilegitimidade.
A extinção do ato administrativo pode se dar nas se- Cabe o exame pelo Poder Judiciário (razões de legalidade e
guintes situações: legitimidade) e pela Administração Pública (aspectos legais
1) Cumprimento dos seus Efeitos: Cumprindo todos e no mérito). Gera efeitos retroativos (ex tunc), invalida as
os seus efeitos, não terá mais razão de existir sob o ponto consequências passadas, presentes e futuras.
A revogação é a retirada do ato administrativo em
de vista jurídico.
decorrência da sua inconveniência ou inoportunidade em
2) Desaparecimento do Sujeito ou do Objeto do face dos interesses públicos, sendo o ato válido e praticado
Ato: Se o sujeito ou o objeto perecer, o ato será conside- dentro da Lei, efetuando-se a revogação na via administra-
rado extinto. tiva. Trata-se da extinção de um ato administrativo legal e
3) Retirada: Ocorre a edição de outro ato jurídico que perfeito, por razões de conveniência e oportunidade, pela
elimina o ato. Pode se dar por anulação, que é a retirada Administração, no exercício do poder discricionário. O ato
do ato administrativo em decorrência de sua invalidade, revogado conserva os efeitos produzidos durante o tempo
reconhecida judicial ou administrativamente, preservando- em que operou. A partir da data da revogação é que cessa
-se os direitos dos terceiros de boa-fé; por revogação, que a produção de efeitos do ato até então perfeito e legal. Só
é a retirada do ato administrativo em decorrência da sua pode ser praticado pela Administração Pública por razões
de oportunidade e conveniência, não cabendo a interven-
inconveniência ou inoportunidade em face dos interesses
ção do Poder Judiciário. A revogação não pode atingir os
públicos, sendo o ato válido e praticado dentro da Lei, efe- direitos adquiridos, logo, produz efeitos ex nunc, não re-
tuando-se a revogação na via administrativa; cassação, que troage.
é a retirada do ato administrativo em decorrência do bene-
ficiário ter descumprido condição tida como indispensável Convalidação
para a manutenção do ato; contraposição ou derrubada, A convalidação é o ato administrativo que, com efei-
que é a retirada do ato administrativo em decorrência de tos retroativos, sana vício de ato antecedente, de modo a
ser expedido outro ato fundado em competência diversa torná-lo válido desde o seu nascimento, ou seja, é um ato
da do primeiro, mas que projeta efeitos antagônicos ao posterior que sana um vício de um ato anterior, transfor-
daquele, de modo a inibir a continuidade da sua eficácia; mando-o em válido desde o momento em que foi prati-
caducidade, que é a retirada do ato administrativo em cado.
Há alguns autores que não aceitam a convalidação dos
decorrência de ter sobrevindo norma superior que torna
atos, sustentando que os atos administrativos somente po-
incompatível a manutenção do ato com a nova realidade dem ser nulos. Os únicos atos que se ajustariam à convali-
jurídica instaurada. dação seriam os atos anuláveis.
4) Renúncia: É a extinção do ato administrativo efi- Existem três formas de convalidação:
caz em virtude de seu beneficiário não mais desejar a sua - Ratificação: é a convalidação feita pela própria autori-
continuidade. A renúncia só tem cabimento em atos que dade que praticou o ato;
concedem privilégios e prerrogativas. - Confirmação: é a convalidação feita por autoridade
5) Recusa: É a extinção do ato administrativo ineficaz superior àquela que praticou o ato;
em decorrência do seu futuro beneficiário não manifestar - Saneamento: é a convalidação feita por ato de tercei-
concordância, tida como indispensável para que o ato pu- ro, ou seja, não é feita nem por quem praticou o ato nem
por autoridade superior.
desse projetar regularmente seus efeitos. Se o futuro bene-
Não se deve confundir a convalidação com a conversão
ficiário recusa a possibilidade da eficácia do ato, esse será
do ato administrativo. Há um ato viciado e, para regulari-
extinto. zar a situação, ele é transformado em outro, de diferente
37 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Di- tipologia. O ato nulo, embora não possa ser convalidado,
reito administrativo descomplicado. 16. ed. São Paulo: poderá ser convertido, transformando-se em ato válido.
Método, 2008.

21
DIREITO ADMINISTRATIVO

Decadência administrativa regras que incidem sobre aqueles serviços, bem como o
Um dos poderes que a Administração possui é o da regime jurídico ao qual a atividade se submete. Sendo re-
autotutela administrativa, consistente no poder de rever os gras de direito público, será serviço público; sendo regras
seus próprios atos administrativos independentemente de de direito privado, será serviço privado.
precisar recorrer ao Judiciário, seja em razão de vícios de Com efeito, quem presta o serviço público pode ser a
ilegalidade, seja em razão de conveniência e oportunidade. Administração ou um particular, fazendo-o sob regras de
É o que prevê a súmula 473 do Supremo Tribunal Fe- direito público e com vistas a preservar o interesse público.
deral: “a administração pode anular seus próprios atos,
quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, di-
deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo retamente ou sob regime de concessão ou permissão, sem-
de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos pre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação Parágrafo único. A lei disporá sobre:
judicial”. I - o regime das empresas concessionárias e permissio-
Supondo que um ato administrativo contenha vício de nárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato
e de sua prorrogação, bem como as condições de caducida-
ilegalidade, é um poder-dever da Administração invalidá-
de, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;
-lo, embora não possa fazê-lo por um período irrestrito de
II - os direitos dos usuários;
tempo caso um terceiro de boa-fé possa ser prejudicado,
III - política tarifária;
pois senão violaria o princípio da segurança jurídica. Ul- IV - a obrigação de manter serviço adequado.
trapassado o prazo, para se rever o vício seria necessário
recorrer ao Judiciário. Quanto à revisão por conveniência e O referido artigo dispõe que a prestação dos serviços
oportunidade, ultrapassado o prazo não mais caberá a re- públicos é de titularidade da Administração Pública,
visão, também em vista do princípio da segurança jurídica. podendo ser centralizada ou descentralizada. Sempre
A prescrição administrativa é, neste sentido, a perda do que a prestação do serviço público for descentralizada,
direito pela Administração de revisão dos seus atos pelo por meio de concessão ou permissão, deverá ser prece-
decurso do tempo (perda do direito de autotutela). Como dida de licitação. As duas figuras, concessão ou permissão,
se fala na perda de um direito, a terminologia mais ade- surgem como instrumentos que viabilizam a descentraliza-
quada para o caso é decadência e não prescrição (afinal, ção dos serviços públicos, atribuindo-os para terceiros, são
prescrição é perda da pretensão e não perda do direito). reguladas pela Lei nº 8.987/95.
Isto é, decadência administrativa. Assim, a titularidade de um serviço público é sempre
São as regras do processo administrativo que irão de- da Administração Pública, que possui competência para
terminar qual o prazo para revisão do ato até que a deca- fixar as regras de execução do serviço e para fiscalizar o
dência administrativa ocorra. No âmbito federal, a questão cumprimento das mesmas, aplicando sanções em caso de
é tratada pela Lei nº 9.784/99, que fixa o prazo de 5 anos descumprimento.
para anulação do ato administrativo de que decorram efei- A Administração Pública pode decidir executar ela
tos favoráveis para os destinatários pela própria Adminis- mesma um serviço público através de órgãos que inte-
tração. gram a sua Administração direta; ou então fazê-lo através
de uma pessoa que integre a sua Administração indireta
(autarquias, empresas públicas, sociedades de economia
mista e fundações públicas); além de poder resolver que a
execução do serviço público será transferida a particulares,
2.6.5 SERVIÇOS PÚBLICOS: CONCEITO, cabendo escolher quem deles reúne a melhor condição por
PRINCÍPIOS E CLASSIFICAÇÃO; meio de licitação, isto é, permissão, concessão e autoriza-
ção de serviço.
Os particulares, no máximo, assumem a execução do
serviço, mediante delegação do poder público. Logo, a
Serviço público é todo aquele prestado pela admi- prestação pode ser centralizada quando a própria Admi-
nistração ou por particulares debaixo de regras de direito nistração Pública executa os serviços, ou descentralizada
público para a preservação dos interesses da coletividade. quando a Administração Pública passa a execução para
A titularidade da prestação de um serviço público sem- terceiros. Esses terceiros podem estar dentro ou fora da
pre será da Administração Pública, somente podendo ser Administração Direta.
transferido a um particular a execução do serviço público.
As regras serão sempre fixadas unilateralmente pela Admi- Serviços indelegáveis
nistração, independentemente de quem esteja executando Existem serviços próprios do Estado, que são aqueles
o serviço público. Qualquer contrato administrativo aos que se relacionam intimamente com as atribuições do Po-
olhos do particular é contrato de adesão. der Público (Ex.: segurança, polícia, higiene e saúde públi-
Somente por regras de direito público é possível prestar cas etc.) e para a execução dos quais a Administração usa
serviços públicos. Para distinguir quais serviços são públi- da sua supremacia sobre os administrados, os quais não
cos e quais não, deve-se utilizar as regras de competência podem ser delegados a particulares. Tais serviços, por
dispostas na Constituição Federal. Sempre que não houver sua essencialidade, geralmente são gratuitos ou de baixa
definição constitucional a respeito, devem-se observar as remuneração.

22
DIREITO ADMINISTRATIVO

Todos os serviços públicos que não são próprios do Extinção


Estado são delegáveis. As causas de extinção estão descritas no artigo 35: ter-
mo, que é o término do prazo descrito; encampação, que é
Responsabilidade civil a extinção por razões de interesse público; caducidade, que
Nos termos do artigo 25, quem responde é o conces- é a extinção por descumprimento de obrigações pelo con-
sionário/permissionário. Responde por danos causados ao cessionário; rescisão, que é a extinção durante a vigência
poder concedente, aos usuários e a terceiros. Deve-se pri- pelo descumprimento das obrigações pelo poder público;
vilegiar a atividade que causou o dano (serviço público), anulação, que é a extinção por força da configuração de
independente da vítima ser ou não usuária do serviço. Em ilegalidade; falência, que é a extinção por conta de falta de
regra, a responsabilidade é objetiva, não cabendo provar a condições financeiras para continuar arcando com as obri-
culpa ou dolo, bastando a prova do nexo de causalidade, gações do contrato; e morte, que é o falecimento da parte
do dano e da ação (artigo 37, §6º, CF), à exceção dos casos contratada em contrato personalíssimo.
de omissão, em que a responsabilidade é subjetiva.
Reassunção e reversão
Descentralização: concessão e permissão (art. 2º, Reassunção, que é a retomada da execução de um ser-
Lei nº 8.987/95) viço público pelo poder público uma vez extinta a conces-
Concessão de Serviço Público: é a delegação da pres- são.
tação do serviço público feita pelo poder concedente, me- Reversão, que é a transferência de bens utilizados du-
diante licitação na modalidade concorrência, à pessoa jurí- rante a concessão para o patrimônio público a partir da
dica ou consórcio de empresas que demonstrem capacida- extinção da concessão.
de de desempenho por sua conta e risco, com prazo deter-
minado. Essa capacidade de desempenho é averiguada na Classificação dos serviços públicos
fase de habilitação da licitação. Qualquer prejuízo causado Meirelles38 apresenta a seguinte classificação dos ser-
a terceiros, no caso de concessão, será de responsabilidade viços públicos:
do concessionário – que responde de forma objetiva (art. a) Quanto à essencialidade:
37, § 6.º, da CF) tendo em vista a atividade estatal desen- - serviços públicos propriamente ditos – são aqueles
volvida, respondendo a Administração Direta subsidiaria- prestados diretamente pela Administração para a comuni-
mente. Trata-se de uma espécie de contrato administrativo. dade, por reconhecer a sua essencialidade e necessidade
Permissão de Serviço Público: é a delegação a título de grupo social. São privativos do Poder Público.
precário, mediante licitação feita pelo poder concedente - serviços de utilidade pública – são os que a Adminis-
à pessoa física ou jurídica que demonstrem capacidade tração, reconhecendo a sua conveniência para a coletivida-
de desempenho por sua conta e risco. Trata-se de um ato de, presta-os diretamente ou aquiesce que sejam presta-
administrativo precário, que pode ser desfeito a qualquer dos por terceiros.
momento. b) Quanto aos destinatários:
- serviços gerais ou uti universi – são aqueles que a
Subconcessão Administração presta sem ter usuários determinados para
Conforme artigo 26, é a transferência do objeto da atender à coletividade no seu todo. Ex.: iluminação pública.
concessão para terceiros, sujeitando-se aos seguintes li- São indivisíveis, isto é, não mensuráveis. Daí por que devem
mites: autorização ou concordância do poder constituinte, ser mantidos por tributo, e não por taxa ou tarifa.
previsão contratual e licitação. Ocorre a sub-rogação de - serviços individuais ou uti singuli – são os que pos-
direitos e obrigações perante a Administração Pública. A suem usuários determinados e utilização particular e men-
subconcessão pode ser parcial. surável para cada destinatário. São remunerados por taxa
ou tarifa.
Permissão e autorização
Serviços concedidos são aqueles que o particular exe- Princípios
cuta em seu nome, por sua conta e risco, remunerados por a) Princípio da adaptabilidade: impõe a atualização e
tarifa. A concessão dá-se por meio de contrato. modernização na prestação do serviço público;
Os serviços permitidos são aqueles aos quais a Admi- b) Princípio da universalidade: significa que os serviços
nistração estabelece os requisitos para a sua prestação ao devem ser estendidos a todos administrados;
público e, por ato unilateral (termo de permissão), comete c) Princípio da impessoalidade: determina a vedação
a execução aos particulares que demonstrarem capacidade de discriminações entre os usuários;
para seu desempenho. A permissão é unilateral, precária e d) Princípio da continuidade: impossibilidade de inter-
discricionária. Serve para serviços de utilidade pública. rupção;
Por fim temos os serviços autorizados que são aque- e) Princípio da modicidade das tarifas: impõe tarifas
les que o Poder Público, por ato unilateral, precário e dis- módicas aos usuários;
cricionário, consente na sua execução pelo particular para f) Princípio da cortesia: prevê que os usuários devem
atender a interesses coletivos instáveis ou a emergência ser tratados com urbanidade;
transitória. 38 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo
brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

g) Princípio da eficiência: estabelece que o serviço pú- LEI Nº 8.987, DE 13 DE FEVEREIRO DE 1995
blico deve ser prestado de maneira satisfatória ao usuário;
h) Princípio da segurança: o serviço não pode ser pres- Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da
tado de forma que coloque em risco a vida dos usuários. prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Cons-
tituição Federal, e dá outras providências.
Continuidade da Prestação do Serviço Público
Entre as regras do regime jurídico público, destaca-se o O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
princípio da continuidade de sua prestação. gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Num contrato administrativo, quando o particular des-
cumpre suas obrigações, há rescisão contratual. Se é a Ad- Capítulo I
ministração, entretanto, que descumpre suas obrigações, o DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
particular não pode rescindir o contrato, tendo em vista o
princípio da continuidade da prestação. Art. 1º As concessões de serviços públicos e de obras pú-
Essa é a chamada “cláusula exorbitante”, que visa dar blicas e as permissões de serviços públicos reger-se-ão pelos
à Administração Pública uma prerrogativa que não existe termos do art. 175 da Constituição Federal, por esta Lei, pe-
para o particular, colocando-a em uma posição superior em las normas legais pertinentes e pelas cláusulas dos indispen-
razão da supremacia do interesse público. sáveis contratos.
Quanto à continuidade da prestação do serviço públi- Parágrafo único. A União, os Estados, o Distrito Federal
co e o direito de greve, destaca-se que apesar da previsão e os Municípios promoverão a revisão e as adaptações ne-
constitucional de que somente lei específica poderia de- cessárias de sua legislação às prescrições desta Lei, buscando
finir os termos e limites deste direito no setor público e atender as peculiaridades das diversas modalidades dos seus
afins, diante da ausência de previsão, deve-se aplicar a lei serviços.
geral que regula o direito de greve. Contudo, a greve total
é inconstitucional, devendo-se manter serviços mínimos à Art. 2º Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:
população. I - poder concedente: a União, o Estado, o Distrito Fede-
ral ou o Município, em cuja competência se encontre o ser-
Prestação de serviço adequado viço público, precedido ou não da execução de obra pública,
objeto de concessão ou permissão;
O serviço deve ser regular, contínuo, eficaz, seguro,
II - concessão de serviço público: a delegação de sua
módico, atual e cortês. O princípio básico é o da continui-
prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação,
dade dos serviços públicos; entretanto, a prestação poderá
na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consór-
ser interrompida em duas hipóteses (art. 6.º, § 3.º):
cio de empresas que demonstre capacidade para seu desem-
- em situação de emergência, como no caso de atos de
penho, por sua conta e risco e por prazo determinado;
vandalismo de terceiros;
III - concessão de serviço público precedida da execução
- com aviso prévio, por razões de ordem técnica ou de
de obra pública: a construção, total ou parcial, conservação,
segurança das instalações e em caso de inadimplemento
reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de
do usuário (no caso de inadimplemento, o usuário deve ser
interesse público, delegada pelo poder concedente, mediante
notificado, conferindo-se a oportunidade de pagamento licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica
antes da interrupção, bem como de defesa, alegando que ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para
não deve, que deve menos ou que precisa parcelar). a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o in-
Tarifa módica é aquela acessível ao usuário comum do vestimento da concessionária seja remunerado e amortiza-
serviço. do mediante a exploração do serviço ou da obra por prazo
O art. 22 do Código de Defesa do Consumidor dispõe determinado;
que “os órgãos públicos, por si ou suas empresas, conces- IV - permissão de serviço público: a delegação, a título
sionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de precário, mediante licitação, da prestação de serviços públi-
empreendimento, são obrigados a fornecer serviços ade- cos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica
quados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contí- que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua
nuos”. Tem-se, então, um conflito entre a Lei n. 8.987/95 e o conta e risco.
Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90). Se fos-
sem seguidas as regras de interpretação, a Lei n. 8.987/95 Art. 3º As concessões e permissões sujeitar-se-ão à fisca-
prevaleceria sobre o Código de Defesa do Consumidor por lização pelo poder concedente responsável pela delegação,
ser posterior e especial. Os Tribunais, entretanto, entendem com a cooperação dos usuários.
que se o serviço é essencial, a prestação deve ser contínua,
prevalecendo, então, o disposto no art. 22 do Código de Art. 4º A concessão de serviço público, precedida ou não
Defesa do Consumidor. Assim, os serviços essenciais não da execução de obra pública, será formalizada mediante
podem ser interrompidos por inadimplemento. contrato, que deverá observar os termos desta Lei, das nor-
mas pertinentes e do edital de licitação.

24
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 5º O poder concedente publicará, previamente ao Art. 9º A tarifa do serviço público concedido será fixada
edital de licitação, ato justificando a conveniência da outor- pelo preço da proposta vencedora da licitação e preservada
ga de concessão ou permissão, caracterizando seu objeto, pelas regras de revisão previstas nesta Lei, no edital e no
área e prazo. contrato.
§ 1º A tarifa não será subordinada à legislação especí-
Capítulo II fica anterior e somente nos casos expressamente previstos
DO SERVIÇO ADEQUADO em lei, sua cobrança poderá ser condicionada à existência
de serviço público alternativo e gratuito para o usuário.
Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a presta- § 2º Os contratos poderão prever mecanismos de re-
ção de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, visão das tarifas, a fim de manter-se o equilíbrio econômi-
conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e co-financeiro.
no respectivo contrato. § 3º Ressalvados os impostos sobre a renda, a criação,
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de alteração ou extinção de quaisquer tributos ou encargos
regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualida- legais, após a apresentação da proposta, quando compro-
de, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade vado seu impacto, implicará a revisão da tarifa, para mais
das tarifas. ou para menos, conforme o caso.
§ 2º A atualidade compreende a modernidade das téc- § 4º Em havendo alteração unilateral do contrato que
nicas, do equipamento e das instalações e a sua conserva- afete o seu inicial equilíbrio econômico-financeiro, o poder
ção, bem como a melhoria e expansão do serviço. concedente deverá restabelecê-lo, concomitantemente à
§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do ser- alteração.
viço a sua interrupção em situação de emergência ou após
prévio aviso, quando: Art. 10. Sempre que forem atendidas as condições do
I - motivada por razões de ordem técnica ou de seguran- contrato, considera-se mantido seu equilíbrio econômico-fi-
ça das instalações; e, nanceiro.
II - por inadimplemento do usuário, considerado o inte-
Art. 11. No atendimento às peculiaridades de cada ser-
resse da coletividade.
viço público, poderá o poder concedente prever, em favor
da concessionária, no edital de licitação, a possibilidade de
Capítulo III
outras fontes provenientes de receitas alternativas, comple-
DOS DIREITOS E OBRIGAÇÕES DOS USUÁRIOS
mentares, acessórias ou de projetos associados, com ou sem
exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade das tari-
Art. 7º Sem prejuízo do disposto na Lei nº 8.078, de 11
fas, observado o disposto no art. 17 desta Lei.
de setembro de 1990, são direitos e obrigações dos usuários:
Parágrafo único. As fontes de receita previstas neste ar-
I - receber serviço adequado; tigo serão obrigatoriamente consideradas para a aferição do
II - receber do poder concedente e da concessionária inicial equilíbrio econômico-financeiro do contrato.
informações para a defesa de interesses individuais ou co-
letivos; Art. 12. (VETADO)
III - obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha
entre vários prestadores de serviços, quando for o caso, ob- Art. 13. As tarifas poderão ser diferenciadas em função
servadas as normas do poder concedente. das características técnicas e dos custos específicos prove-
IV - levar ao conhecimento do poder público e da con- nientes do atendimento aos distintos segmentos de usuários.
cessionária as irregularidades de que tenham conhecimento,
referentes ao serviço prestado; Capítulo V
V - comunicar às autoridades competentes os atos ilíci- DA LICITAÇÃO
tos praticados pela concessionária na prestação do serviço;
VI - contribuir para a permanência das boas condições Art. 14. Toda concessão de serviço público, precedida ou
dos bens públicos através dos quais lhes são prestados os não da execução de obra pública, será objeto de prévia lici-
serviços. tação, nos termos da legislação própria e com observância
dos princípios da legalidade, moralidade, publicidade, igual-
Art. 7º-A. As concessionárias de serviços públicos, de di- dade, do julgamento por critérios objetivos e da vinculação
reito público e privado, nos Estados e no Distrito Federal, são ao instrumento convocatório.
obrigadas a oferecer ao consumidor e ao usuário, dentro do
mês de vencimento, o mínimo de seis datas opcionais para Art. 15. No julgamento da licitação será considerado um
escolherem os dias de vencimento de seus débitos. dos seguintes critérios:
I - o menor valor da tarifa do serviço público a ser pres-
Capítulo IV tado;
DA POLÍTICA TARIFÁRIA II - a maior oferta, nos casos de pagamento ao poder
concedente pela outorga da concessão;
Art. 8º (VETADO) III - a combinação, dois a dois, dos critérios referidos nos
incisos I, II e VII;

25
DIREITO ADMINISTRATIVO

IV - melhor proposta técnica, com preço fixado no edital; VII - os direitos e obrigações do poder concedente e da
V - melhor proposta em razão da combinação dos crité- concessionária em relação a alterações e expansões a serem
rios de menor valor da tarifa do serviço público a ser presta- realizadas no futuro, para garantir a continuidade da pres-
do com o de melhor técnica; tação do serviço;
VI - melhor proposta em razão da combinação dos cri- VIII - os critérios de reajuste e revisão da tarifa;
térios de maior oferta pela outorga da concessão com o de IX - os critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros a
melhor técnica; ou serem utilizados no julgamento técnico e econômico-finan-
VII - melhor oferta de pagamento pela outorga após ceiro da proposta;
qualificação de propostas técnicas. X - a indicação dos bens reversíveis;
§ 1º A aplicação do critério previsto no inciso III só será XI - as características dos bens reversíveis e as condições
admitida quando previamente estabelecida no edital de li- em que estes serão postos à disposição, nos casos em que
citação, inclusive com regras e fórmulas precisas para ava- houver sido extinta a concessão anterior;
liação econômico-financeira. XII - a expressa indicação do responsável pelo ônus das
§ 2º Para fins de aplicação do disposto nos incisos IV, V, desapropriações necessárias à execução do serviço ou da
VI e VII, o edital de licitação conterá parâmetros e exigên- obra pública, ou para a instituição de servidão administra-
cias para formulação de propostas técnicas. tiva;
§ 3º O poder concedente recusará propostas manifes- XIII - as condições de liderança da empresa responsável,
tamente inexequíveis ou financeiramente incompatíveis na hipótese em que for permitida a participação de empre-
com os objetivos da licitação. sas em consórcio;
§ 4º Em igualdade de condições, será dada preferência XIV - nos casos de concessão, a minuta do respectivo
à proposta apresentada por empresa brasileira. contrato, que conterá as cláusulas essenciais referidas no art.
23 desta Lei, quando aplicáveis;
Art. 16. A outorga de concessão ou permissão não terá XV - nos casos de concessão de serviços públicos pre-
caráter de exclusividade, salvo no caso de inviabilidade téc- cedida da execução de obra pública, os dados relativos à
nica ou econômica justificada no ato a que se refere o art. obra, dentre os quais os elementos do projeto básico que
5º desta Lei. permitam sua plena caracterização, bem assim as garantias
exigidas para essa parte específica do contrato, adequadas a
Art. 17. Considerar-se-á desclassificada a proposta que, cada caso e limitadas ao valor da obra;
para sua viabilização, necessite de vantagens ou subsídios XVI - nos casos de permissão, os termos do contrato de
que não estejam previamente autorizados em lei e à dispo- adesão a ser firmado.
sição de todos os concorrentes.
§ 1º Considerar-se-á, também, desclassificada a pro- Art. 18-A. O edital poderá prever a inversão da ordem
posta de entidade estatal alheia à esfera político-admi- das fases de habilitação e julgamento, hipótese em que:
nistrativa do poder concedente que, para sua viabilização, I - encerrada a fase de classificação das propostas ou o
necessite de vantagens ou subsídios do poder público con- oferecimento de lances, será aberto o invólucro com os do-
trolador da referida entidade. cumentos de habilitação do licitante mais bem classificado,
§ 2º Inclui-se nas vantagens ou subsídios de que trata para verificação do atendimento das condições fixadas no
este artigo, qualquer tipo de tratamento tributário diferen- edital;
ciado, ainda que em consequência da natureza jurídica do II - verificado o atendimento das exigências do edital, o
licitante, que comprometa a isonomia fiscal que deve pre- licitante será declarado vencedor;
valecer entre todos os concorrentes. III - inabilitado o licitante melhor classificado, serão
analisados os documentos habilitatórios do licitante com a
Art. 18. O edital de licitação será elaborado pelo poder proposta classificada em segundo lugar, e assim sucessiva-
concedente, observados, no que couber, os critérios e as nor- mente, até que um licitante classificado atenda às condições
mas gerais da legislação própria sobre licitações e contratos fixadas no edital;
e conterá, especialmente: IV - proclamado o resultado final do certame, o objeto
I - o objeto, metas e prazo da concessão; será adjudicado ao vencedor nas condições técnicas e econô-
II - a descrição das condições necessárias à prestação micas por ele ofertadas.
adequada do serviço;
III - os prazos para recebimento das propostas, julga- Art. 19. Quando permitida, na licitação, a participação
mento da licitação e assinatura do contrato; de empresas em consórcio, observar-se-ão as seguintes nor-
IV - prazo, local e horário em que serão fornecidos, aos mas:
interessados, os dados, estudos e projetos necessários à ela- I - comprovação de compromisso, público ou particular,
boração dos orçamentos e apresentação das propostas; de constituição de consórcio, subscrito pelas consorciadas;
V - os critérios e a relação dos documentos exigidos para II - indicação da empresa responsável pelo consórcio;
a aferição da capacidade técnica, da idoneidade financeira e III - apresentação dos documentos exigidos nos incisos V
da regularidade jurídica e fiscal; e XIII do artigo anterior, por parte de cada consorciada;
VI - as possíveis fontes de receitas alternativas, comple- IV - impedimento de participação de empresas consor-
mentares ou acessórias, bem como as provenientes de pro- ciadas na mesma licitação, por intermédio de mais de um
jetos associados; consórcio ou isoladamente.

26
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º O licitante vencedor fica obrigado a promover, an- XV - ao foro e ao modo amigável de solução das diver-
tes da celebração do contrato, a constituição e registro do gências contratuais.
consórcio, nos termos do compromisso referido no inciso Parágrafo único. Os contratos relativos à concessão de
I deste artigo. serviço público precedido da execução de obra pública deve-
§ 2º A empresa líder do consórcio é a responsável pe- rão, adicionalmente:
rante o poder concedente pelo cumprimento do contrato I - estipular os cronogramas físico-financeiros de execu-
de concessão, sem prejuízo da responsabilidade solidária ção das obras vinculadas à concessão; e
das demais consorciadas. II - exigir garantia do fiel cumprimento, pela concessio-
nária, das obrigações relativas às obras vinculadas à con-
Art. 20. É facultado ao poder concedente, desde que pre- cessão.
visto no edital, no interesse do serviço a ser concedido, de-
terminar que o licitante vencedor, no caso de consórcio, se Art. 23-A. O contrato de concessão poderá prever o em-
constitua em empresa antes da celebração do contrato. prego de mecanismos privados para resolução de disputas
decorrentes ou relacionadas ao contrato, inclusive a arbitra-
Art. 21. Os estudos, investigações, levantamentos, proje- gem, a ser realizada no Brasil e em língua portuguesa, nos
tos, obras e despesas ou investimentos já efetuados, vincu- termos da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996.
lados à concessão, de utilidade para a licitação, realizados
pelo poder concedente ou com a sua autorização, estarão Art. 24. (VETADO)
à disposição dos interessados, devendo o vencedor da lici-
tação ressarcir os dispêndios correspondentes, especificados Art. 25. Incumbe à concessionária a execução do servi-
no edital. ço concedido, cabendo-lhe responder por todos os prejuízos
causados ao poder concedente, aos usuários ou a terceiros,
Art. 22. É assegurada a qualquer pessoa a obtenção de sem que a fiscalização exercida pelo órgão competente ex-
certidão sobre atos, contratos, decisões ou pareceres relati- clua ou atenue essa responsabilidade.
vos à licitação ou às próprias concessões. § 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere
este artigo, a concessionária poderá contratar com tercei-
Capítulo VI ros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias
DO CONTRATO DE CONCESSÃO ou complementares ao serviço concedido, bem como a im-
plementação de projetos associados.
Art. 23. São cláusulas essenciais do contrato de conces- § 2º Os contratos celebrados entre a concessionária e
são as relativas: os terceiros a que se refere o parágrafo anterior reger-se-
I - ao objeto, à área e ao prazo da concessão; -ão pelo direito privado, não se estabelecendo qualquer
II - ao modo, forma e condições de prestação do serviço; relação jurídica entre os terceiros e o poder concedente.
III - aos critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros de- § 3º A execução das atividades contratadas com tercei-
finidores da qualidade do serviço; ros pressupõe o cumprimento das normas regulamentares
IV - ao preço do serviço e aos critérios e procedimentos da modalidade do serviço concedido.
para o reajuste e a revisão das tarifas;
V - aos direitos, garantias e obrigações do poder conce- Art. 26. É admitida a subconcessão, nos termos previstos
dente e da concessionária, inclusive os relacionados às previ- no contrato de concessão, desde que expressamente autori-
síveis necessidades de futura alteração e expansão do serviço zada pelo poder concedente.
e consequente modernização, aperfeiçoamento e ampliação § 1º A outorga de subconcessão será sempre precedida
dos equipamentos e das instalações; de concorrência.
VI - aos direitos e deveres dos usuários para obtenção e § 2º O subconcessionário se sub-rogará todos os direi-
utilização do serviço; tos e obrigações da subconcedente dentro dos limites da
VII - à forma de fiscalização das instalações, dos equipa- subconcessão.
mentos, dos métodos e práticas de execução do serviço, bem
como a indicação dos órgãos competentes para exercê-la; Art. 27. A transferência de concessão ou do controle
VIII - às penalidades contratuais e administrativas a que societário da concessionária sem prévia anuência do poder
se sujeita a concessionária e sua forma de aplicação; concedente implicará a caducidade da concessão.
IX - aos casos de extinção da concessão; § 1º Para fins de obtenção da anuência de que trata o
X - aos bens reversíveis; caput deste artigo, o pretendente deverá:
XI - aos critérios para o cálculo e a forma de pagamen- I - atender às exigências de capacidade técnica, idonei-
to das indenizações devidas à concessionária, quando for o dade financeira e regularidade jurídica e fiscal necessárias à
caso; assunção do serviço; e
XII - às condições para prorrogação do contrato; II - comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do
XIII - à obrigatoriedade, forma e periodicidade da pres- contrato em vigor.
tação de contas da concessionária ao poder concedente; § 2º (Revogado).
XIV - à exigência da publicação de demonstrações fi- § 3º (Revogado).
nanceiras periódicas da concessionária; e § 4º (Revogado).

27
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 27-A. Nas condições estabelecidas no contrato de I - o contrato de cessão dos créditos deverá ser registra-
concessão, o poder concedente autorizará a assunção do do em Cartório de Títulos e Documentos para ter eficácia
controle ou da administração temporária da concessionária perante terceiros;
por seus financiadores e garantidores com quem não man- II - sem prejuízo do disposto no inciso I do caput des-
tenha vínculo societário direto, para promover sua reestru- te artigo, a cessão do crédito não terá eficácia em relação
turação financeira e assegurar a continuidade da prestação ao Poder Público concedente senão quando for este formal-
dos serviços. mente notificado;
§ 1º Na hipótese prevista no caput, o poder concedente III - os créditos futuros cedidos nos termos deste artigo
exigirá dos financiadores e dos garantidores que atendam serão constituídos sob a titularidade do mutuante, indepen-
às exigências de regularidade jurídica e fiscal, podendo al- dentemente de qualquer formalidade adicional;
terar ou dispensar os demais requisitos previstos no inciso IV - o mutuante poderá indicar instituição financeira
I do parágrafo único do art. 27. para efetuar a cobrança e receber os pagamentos dos cré-
§ 2º A assunção do controle ou da administração tem- ditos cedidos ou permitir que a concessionária o faça, na
qualidade de representante e depositária;
porária autorizadas na forma do caput deste artigo não
V - na hipótese de ter sido indicada instituição financei-
alterará as obrigações da concessionária e de seus contro-
ra, conforme previsto no inciso IV do caput deste artigo, fica
ladores para com terceiros, poder concedente e usuários
a concessionária obrigada a apresentar a essa os créditos
dos serviços públicos. para cobrança;
§ 3º Configura-se o controle da concessionária, para os VI - os pagamentos dos créditos cedidos deverão ser de-
fins dispostos no caput deste artigo, a propriedade resolú- positados pela concessionária ou pela instituição encarre-
vel de ações ou quotas por seus financiadores e garantido- gada da cobrança em conta corrente bancária vinculada ao
res que atendam os requisitos do art. 116 da Lei nº 6.404, contrato de mútuo;
de 15 de dezembro de 1976. VII - a instituição financeira depositária deverá transferir
§ 4º Configura-se a administração temporária da con- os valores recebidos ao mutuante à medida que as obriga-
cessionária por seus financiadores e garantidores quando, ções do contrato de mútuo tornarem-se exigíveis; e
sem a transferência da propriedade de ações ou quotas, VIII - o contrato de cessão disporá sobre a devolução à
forem outorgados os seguintes poderes: concessionária dos recursos excedentes, sendo vedada a re-
I - indicar os membros do Conselho de Administração, tenção do saldo após o adimplemento integral do contrato.
a serem eleitos em Assembleia Geral pelos acionistas, nas Parágrafo único. Para os fins deste artigo, serão conside-
sociedades regidas pela Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de rados contratos de longo prazo aqueles cujas obrigações te-
1976; ou administradores, a serem eleitos pelos quotistas, nham prazo médio de vencimento superior a 5 (cinco) anos.
nas demais sociedades;
II - indicar os membros do Conselho Fiscal, a serem elei- Capítulo VII
tos pelos acionistas ou quotistas controladores em Assem- DOS ENCARGOS DO PODER CONCEDENTE
bleia Geral;
III - exercer poder de veto sobre qualquer proposta sub- Art. 29. Incumbe ao poder concedente:
metida à votação dos acionistas ou quotistas da concessio- I - regulamentar o serviço concedido e fiscalizar perma-
nária, que representem, ou possam representar, prejuízos nentemente a sua prestação;
aos fins previstos no caput deste artigo; II - aplicar as penalidades regulamentares e contratuais;
IV - outros poderes necessários ao alcance dos fins pre- III - intervir na prestação do serviço, nos casos e condi-
vistos no caput deste artigo. ções previstos em lei;
IV - extinguir a concessão, nos casos previstos nesta Lei
§ 5º A administração temporária autorizada na forma
e na forma prevista no contrato;
deste artigo não acarretará responsabilidade aos financia-
V - homologar reajustes e proceder à revisão das tarifas
dores e garantidores em relação à tributação, encargos,
na forma desta Lei, das normas pertinentes e do contrato;
ônus, sanções, obrigações ou compromissos com terceiros, VI - cumprir e fazer cumprir as disposições regulamen-
inclusive com o poder concedente ou empregados. tares do serviço e as cláusulas contratuais da concessão;
§ 6º O Poder Concedente disciplinará sobre o prazo da VII - zelar pela boa qualidade do serviço, receber, apurar
administração temporária. e solucionar queixas e reclamações dos usuários, que serão
cientificados, em até trinta dias, das providências tomadas;
Art. 28. Nos contratos de financiamento, as concessioná- VIII - declarar de utilidade pública os bens necessários à
rias poderão oferecer em garantia os direitos emergentes da execução do serviço ou obra pública, promovendo as desa-
concessão, até o limite que não comprometa a operacionali- propriações, diretamente ou mediante outorga de poderes à
zação e a continuidade da prestação do serviço. concessionária, caso em que será desta a responsabilidade
pelas indenizações cabíveis;
Art. 28-A. Para garantir contratos de mútuo de longo IX - declarar de necessidade ou utilidade pública, para
prazo, destinados a investimentos relacionados a contratos fins de instituição de servidão administrativa, os bens neces-
de concessão, em qualquer de suas modalidades, as conces- sários à execução de serviço ou obra pública, promovendo-a
sionárias poderão ceder ao mutuante, em caráter fiduciário, diretamente ou mediante outorga de poderes à concessioná-
parcela de seus créditos operacionais futuros, observadas as ria, caso em que será desta a responsabilidade pelas indeni-
seguintes condições: zações cabíveis;

28
DIREITO ADMINISTRATIVO

X - estimular o aumento da qualidade, produtividade, Art. 33. Declarada a intervenção, o poder conceden-
preservação do meio-ambiente e conservação; te deverá, no prazo de trinta dias, instaurar procedimento
XI - incentivar a competitividade; e administrativo para comprovar as causas determinantes da
XII - estimular a formação de associações de usuários medida e apurar responsabilidades, assegurado o direito de
para defesa de interesses relativos ao serviço. ampla defesa.
§ 1º Se ficar comprovado que a intervenção não ob-
Art. 30. No exercício da fiscalização, o poder concedente servou os pressupostos legais e regulamentares será de-
terá acesso aos dados relativos à administração, contabili- clarada sua nulidade, devendo o serviço ser imediatamente
dade, recursos técnicos, econômicos e financeiros da conces- devolvido à concessionária, sem prejuízo de seu direito à
indenização.
sionária.
§ 2º O procedimento administrativo a que se refere o
Parágrafo único. A fiscalização do serviço será feita por
caput deste artigo deverá ser concluído no prazo de até
intermédio de órgão técnico do poder concedente ou por
cento e oitenta dias, sob pena de considerar-se inválida a
entidade com ele conveniada, e, periodicamente, conforme intervenção.
previsto em norma regulamentar, por comissão composta de
representantes do poder concedente, da concessionária e dos Art. 34. Cessada a intervenção, se não for extinta a con-
usuários. cessão, a administração do serviço será devolvida à conces-
sionária, precedida de prestação de contas pelo interventor,
Capítulo VIII que responderá pelos atos praticados durante a sua gestão.
DOS ENCARGOS DA CONCESSIONÁRIA
Capítulo X
Art. 31. Incumbe à concessionária: DA EXTINÇÃO DA CONCESSÃO
I - prestar serviço adequado, na forma prevista nesta Lei,
nas normas técnicas aplicáveis e no contrato; Art. 35. Extingue-se a concessão por:
II - manter em dia o inventário e o registro dos bens I - advento do termo contratual;
vinculados à concessão; II - encampação;
III - prestar contas da gestão do serviço ao poder conce- III - caducidade;
dente e aos usuários, nos termos definidos no contrato; IV - rescisão;
V - anulação; e
IV - cumprir e fazer cumprir as normas do serviço e as
VI - falência ou extinção da empresa concessionária e
cláusulas contratuais da concessão;
falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa
V - permitir aos encarregados da fiscalização livre aces-
individual.
so, em qualquer época, às obras, aos equipamentos e às ins- § 1º Extinta a concessão, retornam ao poder conceden-
talações integrantes do serviço, bem como a seus registros te todos os bens reversíveis, direitos e privilégios transferi-
contábeis; dos ao concessionário conforme previsto no edital e esta-
VI - promover as desapropriações e constituir servidões belecido no contrato.
autorizadas pelo poder concedente, conforme previsto no § 2º Extinta a concessão, haverá a imediata assunção
edital e no contrato; do serviço pelo poder concedente, procedendo-se aos le-
VII - zelar pela integridade dos bens vinculados à pres- vantamentos, avaliações e liquidações necessários.
tação do serviço, bem como segurá-los adequadamente; e § 3º A assunção do serviço autoriza a ocupação das
VIII - captar, aplicar e gerir os recursos financeiros neces- instalações e a utilização, pelo poder concedente, de todos
sários à prestação do serviço. os bens reversíveis.
Parágrafo único. As contratações, inclusive de mão-de- § 4º Nos casos previstos nos incisos I e II deste artigo,
-obra, feitas pela concessionária serão regidas pelas disposi- o poder concedente, antecipando-se à extinção da conces-
ções de direito privado e pela legislação trabalhista, não se são, procederá aos levantamentos e avaliações necessários
estabelecendo qualquer relação entre os terceiros contrata- à determinação dos montantes da indenização que será
dos pela concessionária e o poder concedente. devida à concessionária, na forma dos arts. 36 e 37 desta
Lei.
Capítulo IX
Art. 36. A reversão no advento do termo contratual far-
DA INTERVENÇÃO
-se-á com a indenização das parcelas dos investimentos
vinculados a bens reversíveis, ainda não amortizados ou
Art. 32. O poder concedente poderá intervir na conces- depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo de
são, com o fim de assegurar a adequação na prestação do garantir a continuidade e atualidade do serviço concedido.
serviço, bem como o fiel cumprimento das normas contra-
tuais, regulamentares e legais pertinentes. Art. 37. Considera-se encampação a retomada do servi-
Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decreto do ço pelo poder concedente durante o prazo da concessão, por
poder concedente, que conterá a designação do interventor, motivo de interesse público, mediante lei autorizativa espe-
o prazo da intervenção e os objetivos e limites da medida. cífica e após prévio pagamento da indenização, na forma do
artigo anterior.

29
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 38. A inexecução total ou parcial do contrato acar- Capítulo XI


retará, a critério do poder concedente, a declaração de cadu- DAS PERMISSÕES
cidade da concessão ou a aplicação das sanções contratuais,
respeitadas as disposições deste artigo, do art. 27, e as nor- Art. 40. A permissão de serviço público será formalizada
mas convencionadas entre as partes. mediante contrato de adesão, que observará os termos desta
§ 1º A caducidade da concessão poderá ser declarada Lei, das demais normas pertinentes e do edital de licitação,
pelo poder concedente quando: inclusive quanto à precariedade e à revogabilidade unilate-
I - o serviço estiver sendo prestado de forma inadequada ral do contrato pelo poder concedente.
ou deficiente, tendo por base as normas, critérios, indicado- Parágrafo único. Aplica-se às permissões o disposto nes-
res e parâmetros definidores da qualidade do serviço;
ta Lei.
II - a concessionária descumprir cláusulas contratuais ou
disposições legais ou regulamentares concernentes à con-
cessão; Capítulo XII
III - a concessionária paralisar o serviço ou concorrer DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
para tanto, ressalvadas as hipóteses decorrentes de caso for-
tuito ou força maior; Art. 41. O disposto nesta Lei não se aplica à concessão,
IV - a concessionária perder as condições econômicas, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão so-
técnicas ou operacionais para manter a adequada prestação nora e de sons e imagens.
do serviço concedido;
V - a concessionária não cumprir as penalidades impos- Art. 42. As concessões de serviço público outorgadas
tas por infrações, nos devidos prazos; anteriormente à entrada em vigor desta Lei consideram-se
VI - a concessionária não atender a intimação do poder válidas pelo prazo fixado no contrato ou no ato de outorga,
concedente no sentido de regularizar a prestação do serviço; observado o disposto no art. 43 desta Lei.
e § 1º Vencido o prazo mencionado no contrato ou ato
VII - a concessionária não atender a intimação do poder de outorga, o serviço poderá ser prestado por órgão ou
concedente para, em 180 (cento e oitenta) dias, apresentar entidade do poder concedente, ou delegado a terceiros,
a documentação relativa a regularidade fiscal, no curso da mediante novo contrato.
concessão, na forma do art. 29 da Lei nº 8.666, de 21 de § 2º As concessões em caráter precário, as que estive-
junho de 1993.
rem com prazo vencido e as que estiverem em vigor por
§ 2º A declaração da caducidade da concessão deverá
prazo indeterminado, inclusive por força de legislação an-
ser precedida da verificação da inadimplência da conces-
sionária em processo administrativo, assegurado o direito terior, permanecerão válidas pelo prazo necessário à rea-
de ampla defesa. lização dos levantamentos e avaliações indispensáveis à
§ 3º Não será instaurado processo administrativo de organização das licitações que precederão a outorga das
inadimplência antes de comunicados à concessionária, de- concessões que as substituirão, prazo esse que não será
talhadamente, os descumprimentos contratuais referidos inferior a 24 (vinte e quatro) meses.
no § 1º deste artigo, dando-lhe um prazo para corrigir as § 3º As concessões a que se refere o § 2º deste artigo,
falhas e transgressões apontadas e para o enquadramento, inclusive as que não possuam instrumento que as formalize
nos termos contratuais. ou que possuam cláusula que preveja prorrogação, terão
§ 4º Instaurado o processo administrativo e comprova- validade máxima até o dia 31 de dezembro de 2010, desde
da a inadimplência, a caducidade será declarada por decre- que, até o dia 30 de junho de 2009, tenham sido cumpridas,
to do poder concedente, independentemente de indeniza- cumulativamente, as seguintes condições:
ção prévia, calculada no decurso do processo. I - levantamento mais amplo e retroativo possível dos
§ 5º A indenização de que trata o parágrafo anterior, elementos físicos constituintes da infra-estrutura de bens
será devida na forma do art. 36 desta Lei e do contrato, reversíveis e dos dados financeiros, contábeis e comerciais
descontado o valor das multas contratuais e dos danos relativos à prestação dos serviços, em dimensão necessária e
causados pela concessionária. suficiente para a realização do cálculo de eventual indeniza-
§ 6º Declarada a caducidade, não resultará para o po-
ção relativa aos investimentos ainda não amortizados pelas
der concedente qualquer espécie de responsabilidade em
receitas emergentes da concessão, observadas as disposições
relação aos encargos, ônus, obrigações ou compromissos
com terceiros ou com empregados da concessionária. legais e contratuais que regulavam a prestação do serviço
ou a ela aplicáveis nos 20 (vinte) anos anteriores ao da pu-
Art. 39. O contrato de concessão poderá ser rescindido blicação desta Lei;
por iniciativa da concessionária, no caso de descumprimen- II - celebração de acordo entre o poder concedente e o
to das normas contratuais pelo poder concedente, mediante concessionário sobre os critérios e a forma de indenização
ação judicial especialmente intentada para esse fim. de eventuais créditos remanescentes de investimentos ain-
Parágrafo único. Na hipótese prevista no caput deste ar- da não amortizados ou depreciados, apurados a partir dos
tigo, os serviços prestados pela concessionária não poderão levantamentos referidos no inciso I deste parágrafo e au-
ser interrompidos ou paralisados, até a decisão judicial tran- ditados por instituição especializada escolhida de comum
sitada em julgado. acordo pelas partes; e

30
DIREITO ADMINISTRATIVO

III - publicação na imprensa oficial de ato formal de Art. 47. Revogam-se as disposições em contrário.
autoridade do poder concedente, autorizando a prestação
precária dos serviços por prazo de até 6 (seis) meses, renová- Brasília, 13 de fevereiro de 1995; 174º da Independência
vel até 31 de dezembro de 2008, mediante comprovação do e 107º da República.
cumprimento do disposto nos incisos I e II deste parágrafo.
§ 4º Não ocorrendo o acordo previsto no inciso II do §
3º deste artigo, o cálculo da indenização de investimentos
será feito com base nos critérios previstos no instrumento 2.6.6 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO;
de concessão antes celebrado ou, na omissão deste, por
avaliação de seu valor econômico ou reavaliação patrimo-
nial, depreciação e amortização de ativos imobilizados de- O instituto da responsabilidade civil é parte integran-
finidos pelas legislações fiscal e das sociedades por ações, te do direito obrigacional, uma vez que a principal conse-
efetuada por empresa de auditoria independente escolhida quência da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera
de comum acordo pelas partes. para o seu auto de reparar o dano, mediante o pagamen-
§ 5º No caso do § 4º deste artigo, o pagamento de to de indenização que se refere às perdas e danos. Afinal,
eventual indenização será realizado, mediante garantia quem pratica um ato ou incorre em omissão que gere dano
real, por meio de 4 (quatro) parcelas anuais, iguais e suces- deve suportar as consequências jurídicas decorrentes, res-
sivas, da parte ainda não amortizada de investimentos e de taurando-se o equilíbrio social.
outras indenizações relacionadas à prestação dos serviços, A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po-
realizados com capital próprio do concessionário ou de seu dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os
controlador, ou originários de operações de financiamen- limites da herança, embora existam reflexos na ação que
to, ou obtidos mediante emissão de ações, debêntures e apure a responsabilidade civil conforme o resultado na es-
outros títulos mobiliários, com a primeira parcela paga até fera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de
o último dia útil do exercício financeiro em que ocorrer a autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que
reversão. uma absolvição por falta de provas não o faz).
§ 6º Ocorrendo acordo, poderá a indenização de que A responsabilidade civil do Estado acompanha o racio-
trata o § 5º deste artigo ser paga mediante receitas de novo cínio de que a principal consequência da prática de um ato
contrato que venha a disciplinar a prestação do serviço. ilícito é a obrigação que gera para o seu auto de reparar o
dano, mediante o pagamento de indenização que se re-
Art. 43. Ficam extintas todas as concessões de serviços fere às perdas e danos. Todos os cidadãos se sujeitam às
públicos outorgadas sem licitação na vigência da Constitui- regras da responsabilidade civil, tanto podendo buscar o
ção de 1988. ressarcimento do dano que sofreu quanto respondendo
Parágrafo único. Ficam também extintas todas as con- por aqueles danos que causar. Da mesma forma, o Estado
cessões outorgadas sem licitação anteriormente à Constitui- tem o dever de indenizar os membros da sociedade pelos
ção de 1988, cujas obras ou serviços não tenham sido inicia- danos que seus agentes causem durante a prestação do
dos ou que se encontrem paralisados quando da entrada em serviço, inclusive se tais danos caracterizarem uma violação
vigor desta Lei. aos direitos humanos reconhecidos.
Trata-se de responsabilidade extracontratual porque
Art. 44. As concessionárias que tiverem obras que se en- não depende de ajuste prévio, basta a caracterização de
contrem atrasadas, na data da publicação desta Lei, apre- elementos genéricos pré-determinados, que perpassam
sentarão ao poder concedente, dentro de cento e oitenta pela leitura concomitante do Código Civil (artigos 186, 187
dias, plano efetivo de conclusão das obras. e 927) com a Constituição Federal (artigo 37, §6°).
Parágrafo único. Caso a concessionária não apresen- Genericamente, os elementos da responsabilidade civil
te o plano a que se refere este artigo ou se este plano não se encontram no art. 186 do Código Civil:
oferecer condições efetivas para o término da obra, o poder
concedente poderá declarar extinta a concessão, relativa a Artigo 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão vo-
essa obra. luntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
Art. 45. Nas hipóteses de que tratam os arts. 43 e 44 des- ato ilícito.
ta Lei, o poder concedente indenizará as obras e serviços rea-
lizados somente no caso e com os recursos da nova licitação. Este é o artigo central do instituto da responsabilidade
Parágrafo único. A licitação de que trata o caput deste civil, que tem como elementos: ação ou omissão voluntária
artigo deverá, obrigatoriamente, levar em conta, para fins (agir como não se deve ou deixar de agir como se deve),
de avaliação, o estágio das obras paralisadas ou atrasadas, culpa ou dolo do agente (dolo é a vontade de cometer uma
de modo a permitir a utilização do critério de julgamento violação de direito e culpa é a falta de diligência), nexo
estabelecido no inciso III do art. 15 desta Lei. causal (relação de causa e efeito entre a ação/omissão e
o dano causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo
Art. 46. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica- agente, que pode ser individual ou coletivo, moral ou ma-
ção. terial, econômico e não econômico).

31
DIREITO ADMINISTRATIVO

É preciso lembrar que não é o Estado em si que viola Tomadas as exigências de características dos danos aci-
os direitos, porque o Estado é uma ficção formada por um ma colacionadas, notadamente a anormalidade, considera-
grupo de pessoas que desempenham as atividades estatais -se que para o Estado ser responsabilizado por um dano,
diversas. Assim, viola direitos o agente que o representa, ele deve exceder expectativas cotidianas, isto é, não cabe
fazendo com que o próprio Estado seja responsabilizado exigir do Estado uma excepcional vigilância da sociedade
por isso civilmente, pagando pela indenização (reparação e a plena cobertura de todas as fatalidades que possam
dos danos materiais e morais). Sem prejuízo, com relação a acontecer em território nacional.
eles, caberá ação de regresso se agiram com dolo ou culpa. Diante de tal premissa, entende-se que a responsabili-
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal: dade civil do Estado será objetiva apenas no caso de ações,
mas subjetiva no caso de omissões. Em outras palavras, ve-
Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito públi- rifica-se se o Estado se omitiu tendo plenas condições de
co e as de direito privado prestadoras de serviços públicos não ter se omitido, isto é, ter deixado de agir quando tinha
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualida- plenas condições de fazê-lo, acarretando em prejuízo den-
de, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso tro de sua previsibilidade.
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. São casos nos quais se reconheceu a responsabilidade
omissiva do Estado: morte de filho menor em creche mu-
Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurí- nicipal, buracos não sinalizados na via pública, tentativa de
dica autônoma entre o Estado e o agente público que cau- assalto a um usuário do metrô resultando em morte, danos
sou o dano no desempenho de suas funções. Nesta rela- provocados por enchentes e escoamento de águas pluviais
ção, a responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá quando o Estado sabia da problemática e não tomou pro-
ao Estado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao vidência para evitá-las, morte de detento em prisão, incên-
qual foi anteriormente condenado a reparar. Direito de re- dio em casa de shows fiscalizada com negligência, etc.
gresso é justamente o direito de acionar o causador direto
do dano para obter de volta aquilo que pagou à vítima, Requisitos para a demonstração da responsabilidade
considerada a existência de uma relação obrigacional que do Estado
se forma entre a vítima e a instituição que o agente com-
põe. 1) Dano - somente é indenizável o dano certo, espe-
Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen- cial e anormal. Certo é o dano real, existente. Especial é
te causar aos membros da sociedade, mas se este agen- o dano específico, individualizado, que atinge determina-
te agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do da ou determinadas pessoas. Anormal é o dano que ul-
que foi pago à vítima. O agente causará danos ao praticar trapassa os problemas comuns da vida em sociedade (por
condutas incompatíveis com o comportamento ético dele exemplo, infelizmente os assaltos são comuns e o Estado
esperado. não responde por todo assalto que ocorra, a não ser que
A responsabilidade civil do servidor exige prévio pro- na circunstância específica possuía o dever de impedir o
cesso administrativo disciplinar no qual seja assegurado assalto, como no caso de uma viatura presente no local -
contraditório e ampla defesa. Trata-se de responsabilida- muito embora o direito à segurança pessoal seja um direito
de civil subjetiva ou com culpa. Havendo ação ou omis- humano reconhecido).
são com culpa do servidor que gere dano ao erário (Ad- 2) Agentes públicos - é toda pessoa que trabalhe den-
ministração) ou a terceiro (administrado), o servidor terá tro da administração pública, tenha ingressado ou não por
o dever de indenizar. Não obstante, agentes públicos que concurso, possua cargo, emprego ou função. Envolve os
pratiquem atos violadores de direitos humanos se sujeitam agentes políticos, os servidores públicos em geral (funcio-
à responsabilidade penal e à responsabilidade administra- nários, empregados ou temporários) e os particulares em
tiva, todas autônomas uma com relação à outra e à já men- colaboração (por exemplo, jurado ou mesário).
cionada responsabilidade civil. Neste sentido, o artigo 125 3) Dano causado quando o agente estava agindo nesta
da Lei nº 8.112/90: qualidade - é preciso que o agente esteja lançando mão
das prerrogativas do cargo, não agindo como um particu-
Artigo 125, Lei nº 8.112/1990. As sanções civis, penais e lar.
administrativas poderão cumular-se, sendo independentes Sem estes três requisitos, não será possível acionar o
entre si. Estado para responsabilizá-lo civilmente pelo dano, por
mais relevante que tenha sido a esfera de direitos atingida.
Com efeito, no caso da responsabilidade civil, o Estado Assim, não é qualquer dano que permite a responsabili-
é diretamente acionado e responde pelos atos de seus ser- zação civil do Estado, mas somente aquele que é causado
vidores que violem direitos, cabendo eventualmente ação por um agente público no exercício de suas funções e que
de regresso contra ele. Contudo, nos casos da responsa- exceda as expectativas do lesado quanto à atuação do Es-
bilidade penal e da responsabilidade administrativa acio- tado.
na-se o agente público que praticou o ato. Destaca-se a
independência entre as esferas civil, penal e administrativa Causas excludentes e atenuantes da responsabilidade
no que tange à responsabilização do agente público que do Estado
cometa ato ilícito.

32
DIREITO ADMINISTRATIVO

Não é sempre que o Estado será responsabilizado. Há


excludentes da responsabilidade estatal, aprofundadas
abaixo, notadamente: a) caso fortuito (fato de terceiro) ou 2.6.7 CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO;
força maior (fato da natureza) fora dos alcances da previsi-
bilidade do dano; b) culpa exclusiva da vítima.
Todas estas excludentes geram a exclusão do elemento
nexo causal, que é o liame subjetivo entre a ação/omissão Controle da Administração Pública é o exercício de vi-
e o dano, não do elemento culpa, que envolve o aspecto gilância, orientação e revisão sobre a conduta funcional,
volitivo da ação/omissão. Afinal, em regra, a responsabili- exercido por um poder, órgão ou autoridade pública com
dade civil do Estado é objetiva, de modo que a ausência de relação a outro.
culpa ainda caracteriza a responsabilidade. Logo, caso se “O controle do Estado pode ser exercido através de
esteja diante de uma hipótese de responsabilidade civil do duas formas distintas, que merecem ser desde logo dife-
Estado subjetiva por omissão, também a ausência de culpa renciadas. De um lado, temos o controle político, aquele
excluirá o dever de indenizar. que tem por base a necessidade de equilíbrio entre os
Poderes estruturais da República – o Executivo, o Legisla-
a) Fortuito tivo e o Judiciário. Nesse controle, cujo delineamento se
Hoje, fortuito e força maior são sinônimos. Trata-se de encontra na Constituição, pontifica o sistema de freios e
fato externo à conduta do agente de natureza inevitável contrapesos, nele se estabelecendo normas que inibem o
(externabilidade + inevitabilidade), conforme artigo 393, crescimento de qualquer um deles em detrimento de outro
parágrafo único, CC. Imprevisibilidade não é atributo de e que permitem a compensação de eventuais pontos de
caso fortuito (ex.: terremoto no Japão é previsível, mas é debilidade de um para não deixá-lo sucumbir à força de
externo e inevitável, logo, o caso é fortuito). outro. São realmente freios e contrapesos dos Poderes po-
Fortuito interno é diferente de fortuito externo. Fortui- líticos. [...] O que ressalta de todos esses casos é a demons-
to interno se relaciona com a atividade ordinária do cau- tração do caráter que tem o controle político: seu objetivo
sador do dano – há responsabilidade, por exemplo, falha é a preservação e o equilíbrio das instituições democráticas
dos freios gerando acidente de ônibus. O fortuito externo do país. O controle administrativo tem linhas diversas.
não é introduzido pelo agente, por exemplo, assalto, infar- Nele não se procede a nenhuma medida para estabilizar
to, chuva forte. No fortuito interno o risco é de dentro pra poderes políticos, mas, ao contrário, se pretende alvejar os
fora, no fortuito externo é de fora pra dentro. Apenas no órgãos incumbidos de exercer uma das funções do Esta-
primeiro há dever de indenizar, isto é, mostra-se necessário do – a função administrativa. Enquanto o controle político
o vínculo com a atividade. se relaciona com as instituições políticas, o controle admi-
Ex.: Para o STF, o banco tem o dever de dar segurança, nistrativo é direcionado às instituições administrativas. [...]
tudo o que ocorre nele é fortuito interno. Inclusive, o STJ Podemos denominar de controle da Administração Pública
diz que fazem parte do risco da instituição financeira os o conjunto de mecanismos jurídicos e administrativos
golpes que possa sofrer, por exemplo, subtração fraudu- por meio dos quais se exerce o poder de fiscalização e
lenta dos cofres em sua guarda (Informativo nº 468, STJ). de revisão da atividade administrativa em qualquer das
esferas de Poder”39.
b) Fato exclusivo da vítima O princípio da legalidade e o princípio das políticas
Quem provocou o dano foi a própria vítima. administrativas, juntos, fundamentam o Controle da Ad-
Fato concorrente – Fenômeno da causalidade múltipla ministração Pública. Neste sentido, “mais precisamente, a
ou autoria plural – 2 condutas concorrentes para produzir ideia central, quando se fala em controle da Administração
um único dano. Somente reduz o montante de danos. Pública, reside no fato de que o titular do patrimônio pú-
blico (material e imaterial) é o povo, e não a Administração,
c) Fato de terceiro razão pela qual ela se sujeita, em toda a sua atuação, sem
São casos em que a causa necessária para o dano não qualquer exceção, ao princípio da indisponibilidade do in-
foi nem o comportamento do agente e nem o da vítima. O teresse público”40.
agente, na contestação, fará nomeação à autoria – gerando
exclusão, não o futuro regresso da denunciação da lide. Elementos e natureza jurídica do controle
Terceiro não identificado – o agente não se responsa- Segundo Carvalho Filho41, dois são os elementos bási-
biliza, pois não teve um comportamento – act of God (do cos do controle: a fiscalização e a revisão. “A fiscalização e a
inglês, ato de Deus) – fortuito externo. revisão são os elementos básicos do controle. A fiscalização
consiste no poder de verificação que se faz sobre a ativi-
dade dos órgãos e dos agentes administrativos, bem como
39 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Ad-
ministrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
40 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Adminis-
trativo Descomplicado. 16. ed. São Paulo: Método, 2008.
41 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Ad-
ministrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

33
DIREITO ADMINISTRATIVO

em relação à finalidade pública que deve servir de objetivo b) Controle externo: é aquele realizado por um Poder
para a Administração. A revisão é o poder de corrigir as que é diferente do Poder fiscalizado, exteriorizando um sis-
condutas administrativas, seja porque tenham vulnerado tema de freios e contrapesos. É o caso do controle de atos
normas legais, seja porque haja necessidade de alterar al- do Executivo por decisões do Poder Judiciário, ou mesmo
guma linha das políticas administrativas para que melhor da sustação de ato normativo do Executivo pelo Legislati-
seja atendido o interesse coletivo”. vo, além do julgamento de contas do Presidente da Repú-
Para o autor, a natureza jurídica do controle é de prin- blica pelo Congresso Nacional, e de auditorias do Tribunal
cípio fundamental da administração pública, conforme de Contas da União quanto ao Executivo federal.
teor do próprio Decreto-lei nº 200/1967, que assegura c) Controle externo popular: realizado pelo contri-
também que o controle deve ser exercido em todos níveis buinte pelo acesso das contas públicas (artigo 31, §3º, CF;
e em todos órgãos. artigo 74, §2º, CF).

Classificação das formas de controle Conforme o momento a ser exercido


a) Controle prévio ou preventivo: exercido antes do
“O poder-dever de controle é exercitável por todos os início da prática ou antes da conclusão do ato administra-
Poderes da República, estendendo-se a toda a atividade tivo.
administrativa (vale lembrar, há atividade administrativa em b) Controle concomitante: exercido durante a reali-
todos os Poderes) e abrangendo todos os seus agentes. Por zação do ato, verificando a sua validade enquanto ele é
esse motivo, diversas são as formas pelas quais o contro- praticado.
le se exercita, sendo, destarte, inúmeras as denominações c) Controle posterior ou corretivo: busca rever os
adotadas” 42. atos já praticados, corrigindo, desfazendo ou confirmando.
Envolve atos como os de aprovação, homologação, anula-
Conforme o âmbito da administração ção, revogação ou convalidação.
a) Por subordinação: exercido por meio dos patama-
Conforme a amplitude ou a natureza do controle
res de hierarquia dentro da mesma Administração. Trata-se
a) Controle de legalidade: verifica se o ato foi pratica-
de controle tipicamente interno.
do em conformidade com a lei. O controle pode ser interno
b) Por vinculação: exercido por uma pessoa a qual são
ou externo. O resultado final é a confirmação ou a rejeição
atribuídos poderes de fiscalização e revisão em relação a
do ato, anulando-o.
pessoa diversa. Trata-se de controle tipicamente externo.
b) Controle de mérito: visa verificar a oportunidade e
a conveniência administrativas do ato controlado. Trata-se
Conforme a iniciativa
do controle sobre a atuação discricionária da Administra-
a) De ofício: executado pela própria Administração
ção Pública, mantendo-o ou revogando-o. Diz-se que o
quando está regularmente exercendo as suas funções. Afi- Judiciário não pode fazer este controle, o que é verdade,
nal, a Administração tem a prerrogativa da autotutela, que em termos: o Judiciário não pode controlar a atividade dis-
a permite invalidar ou revogar suas condutas de ofício (sú- cricionária que é legítima, mas se ela exceder parâmetros
mulas 346 e 473, STF). de razoabilidade e proporcionalidade pode fazê-lo. Nesta
b) Provocado: ocorre mediante provocação de tercei- questão se insere a polêmica sobre o controle judicial de
ro, postulando a revisão do ato administrativo dito ilegal políticas públicas.
ou inconveniente.
É o controle exercido pela Administração quanto aos
Conforme a origem ou a extensão do controle seus próprios atos. Ou seja, é o exercido pelo Poder Execu-
a) Controle interno: é aquele realizado pelas autori- tivo, pelo Poder Legislativo e pelo Poder Judiciário quanto
dades no âmbito do próprio órgão ou entidade em que aos seus próprios atos, tanto no que tange à legalidade
atuam no âmbito da administração. Exemplo: chefe que quanto em relação à conveniência. É sempre um controle
na repartição controla os seus subordinados; corregedoria interno, que deriva do poder-dever de autotutela.
que faz inspeção em um fórum. Entre os meios de controle, destacam-se:
Basicamente, sempre se está diante de controle interno - Fiscalização Hierárquica: esse meio de controle é ine-
quando um Poder exerce controle sobre ele mesmo, isto rente ao poder hierárquico, ocorrendo o exercício dos ór-
é, Judiciário fiscalizando Judiciário, Legislativo fiscalizando gãos superiores em relação aos inferiores;
Legislativo e Executivo fiscalizando Executivo. - Controle ou Supervisão Ministerial: aplicável nas en-
Quando, no exercício do controle interno, uma auto- tidades de administração indireta vinculadas a um Ministé-
ridade ocultar uma irregularidade ou ilegalidade da enti- rio, não havendo subordinação;
dade responsável pelo controle externo, notadamente um - Recursos Administrativos: serve para provocar o ree-
Tribunal de Contas, haverá responsabilidade solidária entre xame do ato administrativo pela própria Administração Pú-
a autoridade que praticou a ocultação e a autoridade que blica.
praticou o ilícito. - Direito de petição: é um direito fundamental con-
42 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Adminis- ferido a toda pessoa de defender seus direitos e noticiar
trativo Descomplicado. 16. ed. São Paulo: Método, 2008. ilegalidades e abusos (artigo 5º, XXXIV, CF). Pode ser exer-

34
DIREITO ADMINISTRATIVO

cido por diversas vias, como representação (denúncia de Outra classificação relevante é a que separa os recursos
irregularidade perante a Administração, Tribunal de Con- mencionados em duas categorias: recursos incidentais,
tas ou outro órgão de controle), reclamação administrativa que são interpostos quando o processo administrativo está
(oposição expressa a ato administrativo que ofenda direito em curso e o inconformismo é contra um ato nele praticado
ou interesse legítimo, podendo ser interposta perante o (enquadram-se aqui o pedido de reconsideração, o recur-
Supremo Tribunal Federal se o ato administrativo contra- so hierárquico próprio e o recurso hierárquico impróprio);
riar súmula vinculante), pedido de reconsideração (solici- recursos deflagradores ou autônomos, que são aqueles
tação de mudança da decisão pela própria autoridade que que formalizam a própria abertura de processo (enqua-
praticou um ato), recurso hierárquico próprio (solicitação dram-se aqui a reclamação, a representação e a revisão).
de mudança da decisão por autoridade hierarquicamente
superior àquela que praticou o ato), recurso hierárquico Vale apontar sobre os efeitos dos recursos administra-
impróprio (solicitação de mudança da decisão por autori- tivos: em regra, terão apenas efeito devolutivo, pois os
dade diversa, com competência especificada em lei, porém atos administrativos têm em seu favor a presunção de le-
não hierarquicamente superior àquela que praticou o ato), gitimidade; excepcionalmente, caso concedido pela autori-
revisão (solicitação de alteração em punição aplicada pela dade competente, terá efeito suspensivo. Vale destacar que
Administração no exercício do poder disciplinar diante do caso o recurso tenha efeito suspensivo, também o prazo
surgimento de fatos novos). prescricional ficará suspenso, enquanto que se o efeito for
- Controle social: é aquele exercido pela própria socie- apenas devolutivo irá continuar correndo.
dade, em demanda emanada de grupos sociais, no exer-
cício da atividade democrática que tem amparo constitu- Súmula 429, STF. A existência de recurso administrativo
cional notadamente na garantia pelo artigo 37, §3º, CF de com efeito suspensivo não impede o uso do mandado de
edição de lei que regule formas de participação do usuário segurança contra omissão da autoridade.
na administração direta e indireta. Entre as formas que já
são trazidas por algumas leis, como a Lei nº 9.784/1999 Ressalta-se, complementando o teor da súmula, que
sobre o processo administrativo federal, estão as audiên- nada impede o uso simultâneo das esferas administrati-
cias e consultas públicas. Neste âmbito do controle social, é va e judicial, considerando que são independentes entre
possível fixar uma divisão entre controle natural, feito pela si. Aliás, apenas existem duas hipóteses em que o esgo-
população em si, e controle institucional, feito por órgãos
tamento dos recursos administrativos é imposto: trata-
em atuação por legitimidade extraordinária, como o Minis-
-se de demanda perante a justiça desportiva, conforme
tério Público e a Defensoria Pública.
o artigo 217, §1º, CF; se ocorre contrariedade de súmula
vinculante na via administrativa e o administrado pretende
Recurso de administração
invoca-la mediante reclamação, conforme artigo 7º, §1º,
Recursos administrativos são meios hábeis que podem
Lei nº 11.417/2006. Em todos os demais casos, tal exigên-
ser utilizados para provocar o reexame do ato administra-
cia é proibida.
tivo, pela PRÓPRIA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Conforme
conceitua Carvalho Filho43, “são os meios formais de con- Outra questão que merece ser abordada no campo dos
trole administrativo, através dos quais o interessado pos- recursos administrativos é a da reformatio in pejus, ou
tula, junto a órgãos da Administração, a revisão de deter- seja, da reforma da decisão tomada pela administração de
minado ato administrativo”. É necessário, para recorrer, que modo a agravar a situação do administrado. Devido a pre-
o interessado tenha tido a sua pretensão contrariada pela visão expressa na Lei nº 9.784/1999, a reformatio in pejus
administração, logo, é da essência do recurso a manifesta- em recurso administrativo modificando a decisão recorri-
ção de inconformismo, retratando ilegalidade ou abuso da é permitida, mas o recorrente deverá ter oportunidade
do poder público. de manifestar-se antes dele ocorrer; já em se tratando de
Os principais recursos de administração são os seguin- reformatio in pejus em processo de revisão, há vedação.
tes: representação, em que se faz denúncia de irregulari- Quanto à possibilidade de gravame na primeira hipótese, a
dades feita perante o poder público; reclamação, em que doutrina afirma que apenas é permitida a reformatio in pe-
há oposição expressa a atos da administração que afetam jus caso o ato inferior tenha sido praticado em desconfor-
direitos ou interesses legítimos do interessado; pedido de midade com a lei, considerados critérios objetivos, sendo
reconsideração, em que se solicita reexame à mesma au- assim proibida a reformatio in pejus caso seja feita apenas
toridade que praticou o ato; recurso hierárquico próprio, nova avaliação subjetiva.
que se dirige à autoridade ou instância superior do mesmo Último ponto que se coloca tange à coisa julgada
órgão administrativo em que foi praticado o ato; recurso administrativa, que basicamente é uma “situação jurídica
hierárquico impróprio, que se dirige à autoridade ou ór- pela qual determinada decisão firmada pela Administra-
gão estranho à repartição que expediu o ato recorrido, mas ção não mais pode ser modificada na via administrativa”44,
com competência julgadora expressa; e revisão, em que se embora o possa na via judicial; diferenciando-se da coisa
busca a alteração de punição aplicada pela Administração julgada jurisdicional, cujo caráter definitivo impede a redis-
no exercício do poder disciplinar diante do surgimento de cussão da matéria em qualquer via.
fatos novos, abrindo-se novo processo.
43 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Ad- 44 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Ad-
ministrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. ministrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

35
DIREITO ADMINISTRATIVO

Reclamação II – proposta para garantir a observância de acórdão de


Segundo Di Pietro45, “a reclamação administrativa é o recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida
ato pelo qual o administrado, seja particular ou servidor ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraor-
público, deduz uma pretensão perante a Administração dinário ou especial repetitivos, quando não esgotadas as ins-
Pública, visando obter o reconhecimento de um direito ou tâncias ordinárias.
a correção de um erro que lhe cause lesão ou ameaça de § 6o A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso in-
lesão”. terposto contra a decisão proferida pelo órgão reclamado
A primeira referência à reclamação no ordenamento não prejudica a reclamação.
está no Decreto nº 20.910/1932, que fixa o prazo de 1 ano
para que ocorra a prescrição: Art. 989.  Ao despachar a reclamação, o relator:
I - requisitará informações da autoridade a quem for
Art. 5º Não tem efeito de suspender a prescrição a de- imputada a prática do ato impugnado, que as prestará no
mora do titular do direito ou do crédito ou do seu represen- prazo de 10 (dez) dias;
II - se necessário, ordenará a suspensão do processo ou
tante em prestar os esclarecimentos que lhe forem reclama-
do ato impugnado para evitar dano irreparável;
dos ou o fato de não promover o andamento do feito judicial
III - determinará a citação do beneficiário da decisão im-
ou do processo administrativo durante os prazos respectiva-
pugnada, que terá prazo de 15 (quinze) dias para apresentar
mente estabelecidos para extinção do seu direito à ação ou
a sua contestação.
reclamação.
Art. 990.  Qualquer interessado poderá impugnar o pe-
Art. 6º O direito à reclamação administrativa, que dido do reclamante.
não tiver prazo fixado em disposição de lei para ser formu-
lada, prescreve em um ano a contar da data do ato ou fato Art. 991.  Na reclamação que não houver formulado, o
do qual a mesma se originar. Ministério Público terá vista do processo por 5 (cinco) dias,
após o decurso do prazo para informações e para o ofereci-
Entretanto, a reclamação se torna um instrumento mais mento da contestação pelo beneficiário do ato impugnado.
usual com a fixação em lei da possibilidade de sua apresen-
tação ao Supremo Tribunal Federal se o ato administrativo Art. 992.  Julgando procedente a reclamação, o tribunal
contrariar súmula vinculante. As hipóteses de reclamação cassará a decisão exorbitante de seu julgado ou determinará
são ampliadas pelo Código de Processo Civil de 2015: medida adequada à solução da controvérsia.

Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Art. 993.  O presidente do tribunal determinará o ime-
Ministério Público para: diato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão pos-
I - preservar a competência do tribunal; teriormente.
II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;
III – garantir a observância de enunciado de súmula vin- Logo, a reclamação é uma forma bastante diferenciada
culante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em con- de controle da administração porque é exercido tipicamen-
trole concentrado de constitucionalidade; te por órgão externo sem superioridade hierárquica, nota-
IV – garantir a observância de acórdão proferido em jul- damente, tribunal que componha o Poder Judiciário. Por
gamento de incidente de resolução de demandas repetitivas isso, autores como Carvalho Filho46 afirmam que se trata
ou de incidente de assunção de competência; mais de controle jurisdicional do que de controle adminis-
§ 1o A reclamação pode ser proposta perante qualquer trativo.
tribunal, e seu julgamento compete ao órgão jurisdicional
Pedido de reconsideração e recurso hierárquico
cuja competência se busca preservar ou cuja autoridade se
próprio e impróprio
pretenda garantir.
Todos são espécies do gênero direito de petição, que
§ 2o A reclamação deverá ser instruída com prova docu-
confere o direito fundamental de toda pessoa buscar pe-
mental e dirigida ao presidente do tribunal. rante a administração a alteração de um ato administrativo
§ 3o Assim que recebida, a reclamação será autuada e ou representar a prática de ato ilegal ou abusivo.
distribuída ao relator do processo principal, sempre que pos-
sível. Art. 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, independen-
§ 4o As hipóteses dos incisos III e IV compreendem a apli- temente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos
cação indevida da tese jurídica e sua não aplicação aos casos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade
que a ela correspondam. ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em reparti-
§ 5º É inadmissível a reclamação: ções públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de
I – proposta após o trânsito em julgado da decisão re- situações de interesse pessoal.
clamada;
45 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 46 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito ad-
23. ed. São Paulo: Atlas editora, 2010. ministrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

36
DIREITO ADMINISTRATIVO

O direito de petição deve resultar em uma manifesta- - Poder punitivo de polícia – 5 anos (Lei nº 9.873/1999);
ção do Estado, normalmente dirimindo (resolvendo) uma - Poder disciplinar funcional – no âmbito federal, 5
questão proposta, em um verdadeiro exercício contínuo anos (infração grave), 2 anos (infração média) ou 180 dias
de delimitação dos direitos e obrigações que regulam a (infração leve), a contar do conhecimento de sua prática
vida social e, desta maneira, quando “dificulta a aprecia- (Lei nº 8.112/1990);
ção de um pedido que um cidadão quer apresentar” (mui- - Adoção de providência administrativa – 5 anos (Lei
tas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça); “demora nº 9.784/1999).
para responder aos pedidos formulados” (administrativa e,
principalmente, judicialmente) ou “impõe restrições e/ou Representação e reclamação administrativas
condições para a formulação de petição”, traz a chamada As representações e as reclamações administrativas
insegurança jurídica, que traz desesperança e faz proliferar são ambas formas de se exercer o direito de petição (art.
as desigualdades e as injustiças. 5º, XXXIV, CF). Em sentido genérico são, ao lado dos recur-
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por sos hierárquicos e do pedido de representação, espécies de
exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar recursos administrativos, mas que se diferenciam daqueles
cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de-
por serem autônomos e não incidentais.
núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez
Assim, trata-se de exercício deste direito de forma ori-
na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públi-
ginária (recurso deflagrador), isto é, o ato administrativo
cos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que
gera confusões conceituais no sentido do direito de obter ilegal ou abusivo foi praticado e será denunciado pelo ad-
certidões ser dissociado do direito de petição. ministrado. Será a primeira vez que a estão será levada à
Nas hipóteses de pedido de reconsideração, recurso administração para a devida apreciação.
hierárquico próprio e recurso hierárquico impróprio deno- Na representação é feita uma denúncia de irregula-
ta-se que o processo administrativo ainda está em curso, ridade, ilegalidade ou abuso de poder perante a Admi-
pois uma autoridade tomou uma decisão administrativa nistração, Tribunal de Contas ou outro órgão de controle,
da qual se pretende recorrer (logo, trata-se de recurso in- como o Ministério Público.
cidental). A diferença entre as três modalidades está na Na reclamação administrativa se dá uma oposição ex-
autoridade que apreciará o pedido de alteração da decisão pressa a ato administrativo que ofenda direito ou interesse
administrativa. legítimo.
No pedido de reconsideração, será a própria autori-
dade que praticou um ato, reconsiderando nestes moldes Responsabilidades do parecerista e do administra-
a decisão que foi tomada. dor público pelas manifestações exaradas
No recurso hierárquico próprio, será a autoridade Para entender a controvérsia, basta pensar que se, por
hierarquicamente superior àquela que praticou o ato, tra- um lado, se os atos administrativos são apenas aqueles que
tando-se de clássico exercício do poder hierárquico ineren- exteriorizam uma declaração de vontade do Estado, esta-
te à estrutura escalonada da administração. Esta é a forma riam em regra excluídos os atos de juízo, conhecimento e
típica de se recorrer da decisão administrativa. opinião; por outro lado, se os atos administrativos abran-
No recurso hierárquico impróprio, será autoridade gem toda declaração do Estado, teoricamente poderiam
diversa, com competência especificada em lei, porém ser englobados os atos de juízo, conhecimento e opinião.
não hierarquicamente superior àquela que praticou o ato. Os pareceres nada mais são do que atos que exteriorizam
Na verdade, a reclamação administrativa perante o STF juízos, conhecimentos ou opiniões.
pode ser enquadrada nesta categoria. É possível classificar os pareceres em: parecer facultati-
vo, quando faculta algo a alguém (geralmente autoridade
Prescrição administrativa
superior a inferior), não sendo obrigatória nem a sua soli-
Significa perda de prazo para apresentar uma preten-
citação e nem que se siga a opinião emanada; parecer téc-
são perante a Administração. No caso, o administrado não
nico, que se diferencia do facultativo apenas no aspecto de
perde o direito, o que ocorre na decadência, mas sim a pre-
tensão de postulá-lo. Pode ocorrer nos casos de perda de emanar de um agente especializado, com habilidade técni-
prazo para recorrer de decisão tomada ou revisá-la (pres- ca específica, sem relação de hierarquia; parecer obrigató-
crição correndo contra o administrado e a favor da admi- rio, cuja lei obriga a sua solicitação, mas não há obrigação
nistração, convalidando seus atos), caso em que se segue a em se seguir a opinião emanada; parecer normativo, cujo
regra da prescrição quinquenal (5 anos) prevista no artigo caráter se torna genérico e abstrato como uma lei; parecer
1º do Decreto nº 20.910; ou na hipótese de perda do prazo vinculante, que nada mais é do que um parecer de solici-
para o exercício do poder punitivo (prescrição correndo a tação obrigatória e cuja opinião necessariamente deve ser
favor do administrado e contra a administração, que não seguida.
mais poderá aplicar a punição), que é a típica prescrição Quanto à responsabilização daquele que emitiu o pa-
administrativa, e de perda de prazo para que seja adotada recer, deverá ser considerada a natureza do parecer para
determinada providência administrativa (prescrição cor- determinar se há ou não responsabilidade solidária. No
rendo a favor do administrado e contra a administração, caso em que o parecer não vincula o administrador, poden-
que não mais poderá anular seus próprios atos dos quais do este praticar o ato seguindo ou não o posicionamento
decorram efeitos benéficos aos administrados, salvo prova defendido e sugerido por quem emitiu o parecer, este não
de má-fé). pode ser considerado responsável solidariamente com o

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DIREITO ADMINISTRATIVO

agente que possui a competência e atribuição para o ato c) Atos interna corporis: são os atos praticados dentro
administrativo decisório. Contudo, no caso de parecer vin- da competência interna e exclusiva dos diversos órgãos do
culante, há responsabilidade solidária47. Legislativo e do Judiciário; por exemplo, as competências
O controle judicial é exercido pelo Judiciário sobre os de elaboração de regimentos internos. Como os atos são
atos administrativos praticados pelo Poder Executivo, pelo internos e exclusivos, não é possível fazer o controle sobre
Poder Legislativo ou pelo próprio Poder Judiciário, quan- as razões que levaram à elaboração. Contudo, o controle
do realiza atividades administrativas. Por ele, é possível de vícios de ilegalidade e de inconstitucionalidade é ple-
se decretar a anulação de um ato. Não cabe a revogação, namente válido.
porque significaria análise de mérito, que o Judiciário não Conforme prevê o próprio artigo 5º, XXXV, CF, “a lei
pode fazer. não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
“O controle judicial sobre atos da Administração é ex- ameaça a direito”. Logo, toda ofensa ou ameaça de ofensa
clusivamente de legalidade. Significa dizer que o Judiciá- a direitos dos administrados é passível de controle judicial.
rio tem o poder de confrontar qualquer ato administrativo Ciente disso, o legislador cria inúmeros mecanismos espe-
com a lei ou com a Constituição e verificar se há ou não cíficos para que tal controle seja realizado, como mandado
compatibilidade normativa. Se o ato for contrário à lei ou de segurança, ação popular, ação civil pública, mandado de
à Constituição, o Judiciário declarará a sua invalidação de injunção, habeas data, habeas corpus e as próprias ações
modo a não permitir que continue produzindo efeitos ilíci- do controle de constitucionalidade. Entretanto, não se tra-
tos. [...] O que é vedado ao Judiciário, como correntemente ta de rol taxativo de formas pelas quais é possível exercer
têm decidido os Tribunais, é apreciar o que se denomina tais pretensões contra a Administração, porque em tese é
normalmente de mérito administrativo, vale dizer, a ele é possível utilizar qualquer tipo de ação judicial que venha a
interditado o poder de reavaliar os critérios de conve- socorrer adequadamente à inibição de violação ou ameaça
niência e oportunidade dos atos, que são privativos do a direito pela Administração. Sobre os meios específicos,
administrador público”, sob pena de se violar a cláusula aponta-se:
fundamental da separação dos Poderes48. a) Ação popular (artigo 5º, LXXIII, CF): é instrumento
de exercício direto da democracia, permitindo ao cidadão
Quanto ao momento em que o controle judicial deve-
que busque a proteção da coisa pública, ou seja, que vise
rá ocorrer, a regra impõe que seja feito de forma posterior,
assegurar a preservação dos interesses transindividuais.
quando os atos administrativos já estão produzindo efeitos
Trata-se de ação constitucional, que visa anular ato lesivo
no mundo jurídico. Em situações excepcionais o controle
ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado par-
pode ser prévio, por exemplo, quando a lei autoriza a con-
ticipe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
cessão de liminar diante de fumus boni iuris e periculum in
patrimônio histórico e cultural. O legitimado ativo deve ser
mora.
cidadão, ou seja, aquele nacional que esteja no pleno gozo
Existem atos que se sujeitam a controle especial, são
dos direitos políticos. O legitimado passivo é o ente da Ad-
eles: ministração Pública, direta ou indireta, ou então a pessoa
a) Atos políticos: não são atos tipicamente adminis- jurídica que de algum modo lide com a coisa pública. A
trativos, mas verdadeiros atos de governo, emanados da regulação está na Lei nº 4.717/65.
cúpula política do país, no exercício de competências or- b) Ação civil pública (artigo 129, III, CF): Busca pro-
ganizacionais-administrativas constitucionais. A peculia- teger o patrimônio público e social, o meio ambiente e
ridade é que o Judiciário não pode controlar os critérios outros direitos difusos e coletivos. A legitimidade ativa é
governamentais que direcionam a edição de atos políticos. do Ministério Público, da Defensoria Pública, das pessoas
Contudo, o controle de legalidade e o controle de consti- jurídicas da administração direta e indireta e de associação
tucionalidade são possíveis. constituída há pelo menos 1 ano em área de pertinência te-
b) Atos legislativos típicos: todos os atos que ema- mática. A legitimidade passiva é de qualquer pessoa, física
nam do Poder Legislativo com caráter genérico, abstrato e ou jurídica, que tenha cometido dano ou tenha colocado
geral são passíveis de controle. Entretanto, se trata de con- sob ameaça o patrimônio público e social, o meio ambiente
trole de constitucionalidade, que se sujeita a regras especí- e outros direitos difusos e coletivos. A regulação está na Lei
ficas. O sistema brasileiro adota duas vias de realização de nº 7.437/85.
tal controle, a via da exceção, com caráter difuso, exercida c) Habeas corpus (artigo 5º, LXXVII, CF): ação que ser-
incidentalmente sem ação específica; e a via da ação, com ve para proteger a liberdade de locomoção. Apenas serve à
caráter concentrado, exercida por meio de ações específi- lesão ou ameaça de lesão ao direito de ir e vir. Trata-se de
cas – ação direta de inconstitucionalidade, ação direta de ação constitucional de cunho predominantemente penal,
constitucionalidade, arguição de descumprimento de pre- pois protege o direito de ir e vir e vai contra a restrição ar-
ceito fundamental. bitrária da liberdade. Pode ser preventivo, para os casos de
ameaça de violação ao direito de ir e vir, conferindo-se um
47 CRISTóVAM, José Sérgio da Silva; MICHELS, Charliane. O pa-
“salvo conduto”, ou repressivo, para quando ameaça já tiver
recer jurídico e a atividade administrativa: Aspectos destacados acer-
ca da natureza jurídica, espécies e responsabilidade do parecerista. se materializado. Legitimado ativo é qualquer pessoa pode
Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 101, jun. 2012. manejá-lo, em próprio nome ou de terceiro, bem como o
48 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito ad- Ministério Público (artigo 654, CPP). Impetrante é o que
ministrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. ingressa com a ação e paciente é aquele que está sendo

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DIREITO ADMINISTRATIVO

vítima da restrição à liberdade de locomoção. As duas fi- legitimidade ativa é de partido político com representação
guras podem se concentrar numa mesma pessoa. Legiti- no Congresso Nacional, bem como de organização sindical,
mado passivo é pessoa física, agente público ou privado. entidade de classe ou associação legalmente constituída e
Está regulamentado nos artigos 647 a 667 do Código de em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa
Processo Penal. de direitos líquidos e certos que atinjam diretamente seus
d) Habeas data (artigo 5º, LXXII, CF): serve para pro- interesses ou de seus membros. Encontra-se regulamenta-
teção do acesso a informações pessoais constantes de re- do pelo artigo 22 da Lei nº 12.016/09, que regulamenta o
gistros ou bancos de dados de entidades governamentais mandado de segurança individual.
ou de caráter público, para o conhecimento ou retificação g) Mandado de injunção (artigo 5º, LXXI, CF): os dois
(correção). Trata-se de ação constitucional que tutela o requisitos constitucionais para que seja proposto o manda-
acesso a informações pessoais. Legitimado ativo é pessoa do de injunção são a existência de norma constitucional de
física, brasileira ou estrangeira, ou por pessoa jurídica, de eficácia limitada que prescreva direitos, liberdades consti-
direito público ou privado, tratando-se de ação personalís- tucionais e prerrogativas inerentes à nacionalidade, à sobe-
sima – os dados devem ser a respeito da pessoa que a pro- rania e à cidadania; além da falta de norma regulamenta-
põe. Legitimados passivos são entidades governamentais dores, impossibilitando o exercício dos direitos, liberdades
da Administração Pública Direta e Indireta nas três esferas, e prerrogativas em questão. Assim, visa curar o hábito que
bem como instituições, órgãos, entidades e pessoas jurídi- se incutiu no legislador brasileiro de não regulamentar as
cas privadas prestadores de serviços de interesse público normas de eficácia limitada para que elas não sejam apli-
que possuam dados relativos à pessoa do impetrante. Está cáveis. Trata-se de ação constitucional que objetiva a regu-
regulado pela Lei nº 9.507, de 12 de novembro de 1997. lamentação de normas constitucionais de eficácia limitada.
e) Mandado de segurança individual (artigo 5º, LXIX, Legitimado ativo é qualquer pessoa, nacional ou estrangei-
CF): Trata-se de remédio constitucional com natureza sub- ra, física ou jurídica, capaz ou incapaz, que titularize direito
sidiária pelo qual se busca a invalidação de atos de autori- fundamental não materializável por omissão legislativa do
dade ou a suspensão dos efeitos da omissão administrativa, Poder público, bem como o Ministério Público na defesa de
geradores de lesão a direito líquido e certo, por ilegalidade seus interesses institucionais. Não se aceita a legitimidade
ou abuso de poder. São protegidos todos os direitos líqui- ativa de pessoas jurídicas de direito público. Regulamenta-
do pela Lei nº 13.300/2016.
dos e certos à exceção da proteção de direitos humanos
à liberdade de locomoção e ao acesso ou retificação de
Controle parlamentar ou legislativo é a prerrogativa
informações relativas à pessoa do impetrante, constantes
atribuída ao Poder Legislativo de fiscalizar a Administração
de registros ou bancos de dados de entidades governa-
Pública sob os critérios político e financeiro. Deve se ater
mentais ou de caráter público, ambos sujeitos a instrumen-
às hipóteses previstas na Constituição. Pode ser exercido
tos específicos. A natureza é de ação constitucional de na-
quanto ao Executivo e ao Judiciário.
tureza civil, independente da natureza do ato impugnado
Entre os meios de controle, destacam-se:
(administrativo, jurisdicional, eleitoral, criminal, trabalhista). - Controle Político: tem por base a possibilidade de
Pode ser preventivo, quando se estiver na iminência de vio- fiscalização sobre atos ligados à função administrativa e
lação a direito líquido e certo, ou reparatório, quando já organizacional. Conforme artigo 49, X, CF, compete exclu-
consumado o abuso/ilegalidade. Fundamenta-se na exis- sivamente ao Congresso Nacional “fiscalizar e controlar,
tência de direito líquido e certo, que é aquele que pode diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do
ser demonstrado de plano mediante prova pré-constituída, Poder Executivo, incluídos os da administração indireta”.
sem a necessidade de dilação probatória, isto devido à na- Do poder genérico de controle podem ser depreendidos
tureza célere e sumária do procedimento. A legitimidade outros poderes, como o poder convocatório, que permite
ativa é a mais ampla possível, abrangendo não só a pessoa à Câmara ou Senado convocar Ministro de Estado ou au-
física como a jurídica, nacional ou estrangeira, residente ou toridade relacionada ao Presidente (artigo 50, CF); o poder
não no Brasil, bem como órgãos públicos despersonaliza- de sustação, que permite ao Congresso Nacional “sustar
dos e universalidades/pessoas formais reconhecidas por os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do
lei. Legitimado passivo é a autoridade coatora deve ser au- poder regulamentar ou dos limites de delegação legislati-
toridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício va” (artigo 49, V, CF); e o controle das Comissões Parlamen-
de atribuições do Poder Público. Neste viés, o art. 6º, §3º, tares de Inquérito – CPI (artigo 58, §3º, CF).
Lei nº 12.016/09, preceitua que “considera-se autoridade - Controle Financeiro: a fiscalização contábil, finan-
coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou ceira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e
da qual emane a ordem para a sua prática”. Encontra-se re- das entidades da administração direta e indireta, quanto
gulamentada pela Lei nº 12.016, de 07 de agosto de 2009. à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das
f) Mandado de segurança coletivo (artigo 5º, LXX, subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Con-
CF): Visa a preservação ou reparação de direito líquido e gresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema
certo relacionado a interesses transindividuais (individuais de controle interno de cada Poder.
homogêneos ou coletivos), e devido à questão da legitimi- Quanto às áreas fiscalizadas, enquadram-se: contábil,
dade ativa, pertencente a partidos políticos e determinadas financeira, orçamentária, operacional e patrimonial no que
associações. Trata-se de ação constitucional de natureza ci- se refere a legalidade, legitimidade, economicidade, sub-
vil, independente da natureza do ato, de caráter coletivo. A venções e renúncia de receitas.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Tribunal de Contas da União X - sustar, se não atendido, a execução do ato im-


O Tribunal de Contas da União é órgão integrante do pugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Depu-
Congresso Nacional que tem a função de auxiliá-lo no tados e ao Senado Federal;
controle financeiro externo da Administração Pública. No XI - representar ao Poder competente sobre irregulari-
âmbito estadual e municipal, aplicam-se, no que couber, dades ou abusos apurados.
aos respectivos Tribunais e Conselhos de Contas, as normas § 1º No caso de contrato, o ato de sustação será ado-
sobre fiscalização contábil, financeira e orçamentária. tado diretamente pelo Congresso Nacional, que solicita-
As atribuições de controle do Tribunal de Contas da rá, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
União encontram-se descritas no artigo 71 da Constituição, § 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no
envolvendo notadamente o auxílio ao Congresso Nacional prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas
no controle externo (tanto é assim que o Tribunal não susta no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.
diretamente os atos ilegais, mas solicita ao Congresso Na- § 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação
cional que o faça): de débito ou multa terão eficácia de título executivo.
§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional,
Artigo 71, CF. O controle externo, a cargo do Congresso trimestral e anualmente, relatório de suas atividades.
Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas
da União, ao qual compete:
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Pre- RESPOSTAS
sidente da República, mediante parecer prévio que deverá
ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento; 01. Resposta: “D”. Para Dirley da Cunha Júnior, “o va-
II - julgar as contas dos administradores e demais res- lor segurança jurídica é consagrado por vários outros prin-
ponsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da adminis- cípios: direito adquirido, ato jurídico perfeito, coisa julgada,
tração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades irretroatividade da lei entre outros. Este princípio enaltece
instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas a ideia de proteger o passado (relações jurídicas já consoli-
daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregu- dadas) e tornar o futuro previsível, de modo a não infringir 
laridade de que resulte prejuízo ao erário público; surpresas desagradáveis ao administrado. Visa à proteção
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos da confiança e a garantia de certeza e estabilidade das re-
atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na admi- lações e situações jurídicas”.
nistração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas
e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações 02. Resposta: “C”. Para Hely Lopes Meirelles, o princí-
para cargo de provimento em comissão, bem como a das pio da impessoal idade “nada mais é do que o clássico
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalva- princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador
das as melhorias posteriores que não alterem o fundamento público que só pratique o ato para seu fim legal. E o fim
legal do ato concessório; legal é unicamente aquele que a norma de Direito
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos De- indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato,
putados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de in- de forma impessoal”.
quérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, fi-
nanceira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas 03. Resposta: “B”. Os princípios da Supremacia do
unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Execu- Interesse Público e da Indisponibilidade do Interesse Pú-
tivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II; blico, apesar de implícitos no ordenamento jurídico, são
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas su- tidos como pilares do regime jurídico-administrativo. Isto
pranacionais de cujo capital social a União participe, de se deve ao fato de que todos os demais princípios da ad-
forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo; ministração pública são desdobramentos desses dois prin-
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos re- cípios em questão, cuja relevância é tanta que são conheci-
passados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou dos como supraprincípios da administração pública.
outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Fede- Letra “A”: incorreta. Não há hierarquia entre os princí-
ral ou a Município; pios, eles se resolvem por ponderação.
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congres- Letra “C”: incorreta. O princípio da supremacia do inte-
so Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer resse público e indisponibilidade do interesse público não
das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, fi- são expressos.
nanceira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre Letra “D”: incorreta. O princípio da indisponibilidade
resultados de auditorias e inspeções realizadas; do interesse público não é um princípio expresso. Não há
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade hierarquia entre os princípios expressos em relação aos im-
de despesa ou irregularidade de contas, as sanções pre- plícitos.
vistas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, Letra “E”: incorreta. Os princípios da impessoalidade e
multa proporcional ao dano causado ao erário; eficiência são princípios expressos.
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote OBS: Cuidado porque algumas bancas consideram
as providências necessárias ao exato cumprimento da princípios expressos apenas o que estão previstos na Cons-
lei, se verificada ilegalidade; tituição Federal e outras consideram que os princípios ad-

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DIREITO ADMINISTRATIVO

ministrativos que estiverem escritos em lei são explícitos. 09. Resposta: “C”. O art. 5º, LV da Constituição Federal
Proporcionalidade, razoabilidade, finalidade, motivação, garante o contraditório e ampla defesa aos litigantes em
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica e interes- processo judicial ou administrativo (“aos litigantes, em pro-
se público constam expressamente no artigo 2º da Lei nº cesso judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
9784/99. são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes”). Cuidado com a palavra
04. Resposta: “C”. Segundo Alexandre Mazza: “Eco- “prescinde” muito comum em questões de prova que sig-
nomicidade, redução de desperdícios, qualidade, rapidez, nifica “dispensável”.
produtividade e rendimento funcional são valores encare-
cidos pelo princípio da eficiência”. 10. Resposta: “E”. O amparo da reposta está no art.
239 da Lei nº 6404/76: “As companhias de economia mista
05. Resposta: “E”. Tudo indica que a questão foi reti- terão obrigatoriamente Conselho de Administração, asse-
rada da Lei nº 9784/99. Repare o que diz a Lei nº 9784/99, gurado à minoria o direito de eleger um dos conselheiros,
se maior número não lhes couber pelo processo de voto
no seu art. 2º: “A Administração Pública obedecerá, dentre
múltiplo”.
outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla de-
11. Resposta: “D”. O conceito legislativo tem previsão
fesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e no art. 5º, II, do Decreto-Lei nº 200/67: “empresas pú-
eficiência”. Observe que as letras “A”, “B”, “C” e “D” estão blicas são entidades dotadas de personalidade jurídica
expressas nesta lei e os que não estão expressos são auto- de direito privado, com patrimônio próprio e capital
tutela e continuidade dos serviços públicos. exclusivo da União, criadas por lei para exploração
de atividade econômica que o Governo seja levado a
06. Resposta: “C”. Alexandre Mazza ensina que “O exercer por força de contingência, ou de conveniência
supraprincípio da indisponibilidade do interesse público administrativa, podendo revestir-se de quaisquer das
enuncia que os agentes públicos não são donos do interes- formas admitidas em direito”.
se por eles defendido. Assim, no exercício da função admi-
nistrativa os agentes públicos estão obrigados a atuar, não 12. Resposta: “B”. O art. 41 do Código Civil estabelece
segundo sua própria vontade, mas do modo determinado que: “São pessoas jurídicas de direito público interno: I - a
pela legislação. Como decorrência dessa indisponibilidade, União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III
não se admite tampouco que os agentes renunciem aos - os Municípios; IV - as autarquias, inclusive as associações
poderes legalmente conferidos ou que transacionem em públicas; V - as demais entidades de caráter público criadas
juízo”. por lei”.

07. Resposta: “E”. Maria Sylva Zanela di Pietro leciona: 13. Resposta: “D”. O fundamento da resposta está no
“Dos princípios da legalidade e da indisponibilidade do in- art. 173, § 1º da Constituição Federal: “A lei estabelecerá o
teresse público, decorrem, dentre outros, o da especialida- estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de eco-
de, concernente à ideia de descentralização administrativa. nomia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade
Quando o Estado cria pessoas jurídicas públicas adminis- econômica de produção ou comercialização de bens ou de
trativas - as autarquias - como forma de descentralizar a prestação de serviços”.
prestação de serviços públicos, com vistas à especialização
de função, a lei que cria a entidade estabelece com preci- 14. Resposta: “D”. O conceito legal de sociedade de
economia mista está previsto no art. 5º, III, do Decreto-
são as finalidades que lhe incumbe atender, de tal modo
-Lei nº 200/67: “a entidade dotada de personalidade ju-
que não cabe aos seus administradores afastar-se dos ob-
rídica de di rei to privado, criada por lei para a explora-
jetivos definidos na lei; isto precisamente pelo fato de não
ção de atividade econômica, sob a forma de sociedade
terem a livre disponibilidade dos interesses públicos”. anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua
maioria à União ou à entidade da Administração Indireta”.
08. Resposta: “C”. O administrador está adstrito tanto
ao princípio da legalidade quanto ao da moralidade, não 15. Resposta: “C”. O fundamento da resposta está no
bastando respeitar a lei estrita, sua atitude deve ser guiada art. 37, XIX, da Constituição Federal: “somente por lei espe-
pelos demais princípios administrativos. cífica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição
Letra “A”: incorreta. Trata-se da legalidade para o par- de empresa pública, de sociedade de economia mista e de
ticular. fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso,
Letra “B”: incorreta. A Administração Pública está, sim, definir as áreas de sua atuação”.
vinculada aos princípios administrativos também.
Letra “D” e “E”: incorretas. A Administração não pode 16. Resposta: “C”. De acordo com art. 37, XIX, da
afastar-se da lei, o que existe é uma certa margem de dis- Constituição Federal: “somente por lei específica poderá
cricionariedade que o legislador, às vezes, deixa à Adminis- ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa
tração para decidir sobre alguns atos, o que não se con- pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
funde com arbitrariedade, que é agir com conveniência e cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as
oportunidade fora dos limites da lei. áreas de sua atuação”.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

17. Resposta: “B”. Letra “C”: incorreta. As autarquias e fundações com-


Item I: incorreto. Entidades paraestatais são pessoas ju- põem a Administração pública indireta.
rídicas de direito privado que, sem fins lucrativos, realizam Letra “D”: incorreta. As autarquias tem personalidade
projetos de interesse do Estado, prestando serviços não ex- jurídica de direito público.
clusivos e viabilizando o seu desenvolvimento. Por isso, re-
cebe uma ajuda por parte dele, desde que preenchidos de- 21. Resposta: “A”. De acordo com o art. 1º da Lei nº
terminados requisitos estabelecidos por lei específica para 9873/99: “Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Ad-
cada modalidade. Não integram a Administração Pública. ministração Pública Federal, direta e indireta, no exercício
Item II: incorreto. Os serviços sociais autônomos, em- do poder de polícia, objetivando apurar infração à legisla-
bora compreendidos na expressão entidade paraestatal, ção em vigor, contados da data da prática do ato ou, no
são pessoas jurídicas de direito privado, categorizadas caso de infração permanente ou continuada, do dia em
como entes de colaboração que não integram a Adminis- que tiver cessado. §2º Quando o fato objeto da ação puniti-
tração Pública, mesmo empregando recursos públicos pro- va da Administração também constituir crime, a prescrição
venientes de contribuições parafiscais. Aplica-se, por ana- reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal”.
logia, a Súmula 516 do STF: “o Serviço Social da Indústria
- SESI - está sujeito à jurisdição da Justiça Estadual”. 22. Resposta: “A”. Celso Antônio Bandeira de Mello
Item III: correto. Termo de Parceria é uma metodologia aduz que: “a atividade da Administração Pública, expres-
nova de relacionamento entre o poder público e a socieda- sa em atos normativos ou concretos, de condicionar, com
de civil, criada pela lei das OSCIPs. fundamento em sua supremacia geral e na forma da lei,
a liberdade e propriedade dos indivíduos, mediante ação
18. Resposta: “C”. Órgãos locais são os que atuam so- ora fiscalizadora, ora preventiva, ora repressiva, impondo
bre uma parte do território, como as Delegacias Regionais coercitivamente aos particulares um dever de abstenção a
da Receita, Delegacias de Polícia e outros. Observe todos fim de conformar-lhes os comportamentos aos interesses
os órgãos apontados nas assertivas. Sem dúvidas, a Dele- sociais consagrados no sistema normativo”.
gacia de Polícia é o menos abrangente, pois nos municípios Alternativa “B”: incorreta. O poder de polícia não impõe
maiores são várias e com circunscrições diversas na própria apenas obrigações de não fazer mas também obrigações
localidade.
de fazer, como se verifica no art. 78 do Código Tributário
Nacional.
19. Resposta: “A”. As autarquias são clássico exemplo
Alternativa “C” e “E”: incorretos. Como já mencionado o
de descentralização administrativa, notadamente porque
poder de polícia instrumentaliza-se ora por ação fiscaliza-
possuem uma relevante autonomia no exercício de suas
dora, ora preventiva, ora repressiva.
atribuições.
Alternativa “D”: Segundo Alexandre Mazza: “normal-
Alternativa “B”: incorreta. As autarquias são criadas por
mente o poder de polícia estabelece deveres negativos
lei específica e poderão adotar o regime jurídico público,
enquanto que as fundações terão sua criação autorizada aos particulares, estabelecendo obrigações de não fazer.
por lei e poderão adotar o regime jurídico público ou pri- Em casos raros, pode gerar deveres positivos, por exemplo,
vado. na obrigação de atendimento da função social da proprie-
Alternativa “C”: incorreta, pois empresas públicas e so- dade”.
ciedades de economia mista submetem-se ao regime jurí-
dico de direito privado. 23. Resposta: “B”. José dos Santos Carvalho Filho ex-
Alternativa “D”: incorreta. As empresas públi- plica: “Decorre também da hierarquia o poder de revisão
cas e sociedades de economia mista não são criadas dos atos praticados por agentes de nível hierárquico
por lei. A sua instituição que é autorizada por lei. mais baixo. Se o ato contiver vício de legalidade, ou
Alternativa “E”: incorreta. As fundações não são criadas não se coadunar com a orientação administrativa, pode o
por lei. A sua instituição que é autorizada por lei. Além dis- agente superior revê-lo para ajustamento a essa orientação
so, quando são de direito privado adotam o regime jurídico ou para restaurar a legalidade”.
de direito privado e não de direito público. 
24. Resposta: “D”. Para Hely Lopes Meirelles, “poder
20. Resposta: “E”. A descentralização por serviços, de polícia é a faculdade de que dispõe a Administração
funcional ou técnica é a que se verifica quando o poder Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens,
público (União, Estados, Distrito Federal ou Município) por atividades e direitos individuais, em benefício da coletivi-
meio de uma lei cria uma pessoa jurídica de direito públi- dade ou do próprio Estado”.
co – autarquia e a ela atribui a titularidade (não a plena,
mas a decorrente de lei) e a execução de serviço público 25. Resposta: “C”. Segundo os entendimentos de Ma-
descentralizado. ria Sylvia Zanela di Pietro e Hely Lopes Meirelles, os atribu-
Letra “A”: incorreta. As autarquias compõe a Adminis- tos do poder de polícia são: discricionariedade, autoexecu-
tração Pública indireta. toriedade e coercibilidade.
Letra “B”: incorreta. As sociedades de economia mis-
ta integram a Administração Pública indireta. As empresas
públicas estão sujeitas a regime jurídico de direito privado.

42
DIREITO ADMINISTRATIVO

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 02 - (TER/PE – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2011Parte


SOBRE: DIREITO ADMINISTRATIVO superior do formulário) “Um dos princípios da Admi-
nistração Pública exige que a atividade administrativa
01 - (TJ/DF - TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE seja exercida com presteza, perfeição e rendimento
REGISTROS – CESPE/2014) Em relação ao regime jurídi- funcional. A função administrativa já não se contenta
co-administrativo e aos princípios aplicáveis à adminis- em ser desempenhada apenas com legalidade, exigin-
tração pública, assinale a opção correta do resultados positivos para o serviço público e satisfa-
A) É obrigatória a observância do princípio da tório atendimento das necessidades da comunidade e
publicidade nos processos administrativos, mediante a de seus membros” (Hely Lopes Meirelles. Direito Admi-
divulgação oficial dos atos administrativos, inclusive os nistrativo Brasileiro).
relacionados ao direito à intimidade. O conceito refere-se ao princípio da
B) A presunção de legitimidade dos atos adminis- A) impessoalidade.
trativos, que impõe aos particulares o ônus de provar B) eficiência.
eventuais vícios existentes em tais atos, decorre do re- C) legalidade.
gime jurídico- administrativo aplicável à administração D) moralidade.
pública E) publicidade.
C) É obrigatória a observância do princípio da
publicidade nos processos administrativos, mediante a Diante do enunciado podemos destacar algumas ex-
divulgação oficial dos atos administrativos, inclusive os pressões que nos ajudarão a resolver o problema proposto,
relacionados ao direito à intimidade. quais sejam: “atividade administrativa exercida com pres-
D) A violação do princípio da moralidade adminis- teza, perfeição e rendimento funcional” e ainda “exigindo
trativa não pode ser fundamento exclusivo para o con- resultados positivos para o serviço público e satisfatório...”
trole judicial realizado por meio de ação popular. Pois bem, estamos diante das características do Princí-
E) Para que determinada conduta seja caracterizada pio da Eficiência, que em seu conceito temos a imposição
como ato de improbidade administrativa violadora do exigível à Administração Pública de manter ou ampliar a
princípio da impessoalidade, é necessária a comprova- qualidade dos serviços que presta ou põe a disposição dos
administrados, evitando desperdícios e buscando a exce-
ção do respectivo dano ao erário.
lência na prestação dos serviços.
Pelo Princípio da Eficiência, a Administração Pública
O regime jurídico-administrativo aplicável à Adminis-
tem o objetivo principal de atingir as metas, buscando boa
tração Pública é um regramento de direito público, sendo
prestação de serviço, da maneira mais simples, mais célere
aplicável aos órgãos e entidades vinculadas e que compõe
e mais econômica, melhorando o custo-benefício da ativi-
a administração pública e ainda à atuação dos agentes ad- dade da administração pública, devendo ser prestada com
ministrativos em geral. perfeição e satisfação dos usuários.
Tem seu embasamento na concepção de existência de
poderes especiais passíveis de ser exercidos pela admi- RESPOSTA “B”.
nistração pública, por meio de seus órgãos e entidades, e
exteriorizados pode meio de seus agentes, que por sua vez 03 - (TRT – 19ª REGIÃO/AL – ANALISTA JUDICIÁ-
é controlado ou limitado por imposições também especiais RIO – FCC/2014) Determinada empresa do ramo far-
à atuação da administração pública, não existentes nas re- macêutico, responsável pela importação de importante
lações de direito privado. fármaco necessário ao tratamento de grave doença,
Justamente pela aplicabilidade do regime jurídico-ad- formulou pedido de retificação de sua declaração de
ministrativo com cláusulas e prerrogativas especiais confe- importação, não obtendo resposta da Administração
ridas à Administração Pública decorre a presunção de legi- pública. Em razão disso, ingressou com ação na Jus-
timidade dos atos administrativos, assim entendido como tiça, obtendo ganho de causa. Em síntese, considerou
ou atributo ou característica do ato em si. o Judiciário que a Administração pública não pode se
Assim, uma vez praticado o ato administrativo, ele se esquivar de dar um pronto retorno ao particular, sob
presume legítimo e, em princípio, apto para produzir os pena inclusive de danos irreversíveis à própria popula-
efeitos que lhe são inerentes, cabendo então ao adminis- ção. O caso narrado evidencia violação ao princípio da:
trado a prova de eventual vício do ato, caso pretenda ver A) publicidade.
afastada a sua aplicação, dessa maneira verificamos que o B) eficiência. 
Estado, diante da presunção de legitimidade, não precisa C) impessoalidade. 
comprovar a regularidade dos seus atos. D) motivação. 
Dessa maneira, mesmo quando revestido de vícios, o E) proporcionalidade.
ato administrativo, até sua futura revogação ou anulação,
tem eficácia plena desde o momento de sua edição, pro- Pelas disposições prevista na Constituição Federal acer-
duzindo regularmente seus efeitos, podendo inclusive ser ca do principio da eficiência, temos a imposição exigível à
executado compulsoriamente, em virtude das consequên- Administração Pública de manter ou ampliar a qualidade
cias do regime jurídico-administrativo. dos serviços que presta ou põe a disposição dos adminis-
trados, evitando desperdícios e buscando a excelência na
RESPOSTA: “B”. prestação dos serviços.

43
DIREITO ADMINISTRATIVO

O administrador deve procurar a solução que melhor C) embora não influa na elaboração das leis, a
atenda aos interesses da coletividade, aproveitando ao doutrina exerce papel fundamental apenas nas deci-
máximo os recursos públicos, evitando dessa forma des- sões contenciosas, ordenando, assim, o próprio Direito
perdícios. Administrativo.
Tem o objetivo principal de atingir as metas, buscando D) tanto a Constituição Federal como a lei em sen-
boa prestação de serviço, da maneira mais simples, mais tido estrito constituem fontes primárias do Direito Ad-
célere e mais econômica, melhorando o custo-benefício da ministrativo.
atividade da administração pública. E) tendo em vista a relevância jurídica da jurispru-
Dessa forma, caso ocorra omissão do Poder Público em dência, ela sempre obriga a Administração Pública.
atender de forma eficiente os anseios da coletividade, po-
derá, desde que provocado, ocorrer a intervenção do Poder Para a resolução de tal questão, é importante ter o co-
Judiciário, com fundamento de descumprimento de norma nhecimento das fontes do Direito Administrativo, ou seja,
constitucional, com a conseqüente imposição de responsa- o embasamento de sua origem, e assim, encontramos no
bilidade do Estado por sua omissão. ordenamento jurídico brasileiro as seguintes fontes:
- Lei
RESPOSTA: “B”. - Doutrina
- Jurisprudência
04 - (UNICAMP – PROCURADOR – VUNESP/2014) - Costumes
Princípio constitucional de direito administrativo, rela- - Regulamentos Administrativos.
cionado à finalidade pública que deve nortear toda a
atividade administrativa, fazendo com que a Adminis- A lei é norma imposta pelo Estado, é a fonte primordial
tração Pública não possa atuar com vistas a prejudicar e primária do direito administrativo brasileiro, tem em vista
ou beneficiar pessoas determinadas, é o princípio da a rigidez de nosso ordenamento jurídico, e a necessidade
A) legalidade. da codificação de maneira expressa. Importante esclare-
B) impessoalidade. cer que o direito administrativo brasileiro não se encontra
codificado em somente um corpo de lei, como ocorre em
C) moralidade.
outras facetas do direito brasileiro, como o Código Civil,
D) publicidade.
Código Tributário, entre outros, o que temos sobre regras
E) eficiência.
administrativas estão articuladas, em regra gerais, na
Constituição Federal de 1988, e ainda em uma infinida-
A Administração Pública tem que manter uma posição
de de leis esparsas, constituindo-se como fontes primá-
de neutralidade em relação aos seus administrados, não
rias do Direito Administrativo, o que, por consequência,
podendo prejudicar nem mesmo privilegiar quem quer
resulta em certa dificuldade de uma sistematização deste
que seja. Dessa forma a Administração pública deve servir
importante ramo do direito brasileiro.
a todos, sem distinção ou aversões pessoais ou partidárias, A doutrina é a lição dos mestres e estudiosos do di-
buscando sempre atender ao interesse público. reito, podendo ser entendida como um conjunto de teses,
Impede o princípio da impessoalidade que o ato admi- construções teóricas, opiniões dos doutores e dos estudio-
nistrativo seja emanado com o objetivo de atender a inte- sos do Direito Administrativo, resultante de atividade inte-
resses pessoais do agente público ou de terceiros, deven- lectual, formulando princípios norteadores para a continui-
do ter a finalidade exclusivamente ao que dispõe a lei, de dade e aprofundamento dos estudos e teorias do Direito
maneira eficiente e impessoal, com tratamento igualitário Administrativo, constituindo-se como fonte secundária,
a todos os administrados, nos termos que define a Lei e o com a atribuição de influenciar a elaboração de novas leis e
interesse público. também o julgamento das lides de natureza administrativa.
Ressalta-se ainda que o princípio da impessoalidade A Jurisprudência é a interpretação da legislação vigen-
possui estreita relação com o também principio constitu- te dada pelos Tribunais, verificadas a partir de reiteradas
cional da isonomia, ou igualdade, sendo dessa forma veda- decisões judiciais em um mesmo sentido, solidificando o
das perseguições ou benesses pessoais. entendimento majoritário dos tribunais superiores.
Os costumes são o conjunto de regras e comportamentos
RESPOSTA: “B”. sociais não escritas, observadas e obedecidas de modo
semelhante e uniforme pela sociedade, são as praticas
05 - (TER/PE - ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2011) habituais consideradas obrigatórias, que o juiz pode aplicar
No que concerne às fontes do Direito Administrati- na falta de lei regulamentando determinado assunto, e os
vo, é correto afirmar que: Princípios Gerais do Direito são critérios maiores, às vezes
A) o costume não é considerado fonte do Direito até não escritos percebidos pela lógica ou pela indução.
Administrativo. Regulamentos são atos normativos do Poder
B) uma das características da jurisprudência é o Executivo, dotados de generalidade, impessoalidade,
seu universalismo, ou seja, enquanto a doutrina tende a imperatividade e inovação. Produzidos mediante exercício
nacionalizar-se, a jurisprudência tende a universalizar- do poder regulamentar (ou função estatal regulamentar),
-se. as formas mais comuns de regulamentos são os decretos

44
DIREITO ADMINISTRATIVO

regulamentares, mas também podem tomar forma de A) presunção de legitimidade.


resolução e outras modalidades, podendo desdobrar B) publicidade.
preceitos constitucionais de eficácia plena e de eficácia C) motivação.
contida e atos legislativos primários (leis complementares, D) supremacia do interesse privado sobre o públi-
leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos co.
legislativos e resoluções). E) impessoalidade.

RESPOSTA “D”. Impede o princípio da impessoalidade que o ato admi-


nistrativo seja emanado com o objetivo de atender a inte-
06 - (TER/SC – ANALISTA JUDICIÁRIO – PON- resses pessoais do agente público ou de terceiros, devendo
TUA/2011) ter a finalidade exclusivamente ao que dispõe a lei, de ma-
Os Princípios básicos da Administração Pública e do neira eficiente e impessoal.
Direito Administrativo constituem regras de observân- Por tal princípio temos que a Administração Pública
cia permanente e obrigatória ao Administrador. Pode- tem que manter uma posição de neutralidade em relação
mos afirmar: aos seus administrados, não podendo prejudicar nem mes-
I. É dever do Administrador Público atuar segundo mo privilegiar quem quer que seja. Dessa forma a Adminis-
a lei, proibida sua atuação contra-legem e extralegem – tração pública deve servir a todos, sem distinção ou aver-
princípio da legalidade ou legalidade estrita. sões pessoais ou partidárias, buscando sempre atender ao
II. A Administração Pública está obrigada a policiar, interesse público.
em relação ao mérito e à legalidade, os atos adminis- Ressalta-se ainda que o princípio da impessoalidade
trativos que pratica, em atendimento ao princípio da possui estreita relação com o também principio constitu-
autotutela. cional da isonomia, ou igualdade, sendo dessa forma veda-
III. A Administração Pública direta e indireta dos das perseguições ou benesses pessoais.
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e Parte inferior do formulári
dos Municípios obedecerá apenas aos princípios de ob-
servância obrigatória: legalidade, impessoalidade, mo- RESPOSTA: “E”.
ral idade, publicidade e eficiência.
IV. Segundo o princípio da finalidade, o administra-
08 - (PM/RO – SARGENTO – PM/2014) Segundo o
dor público não pode praticar nenhum ato que se des-
Direito Administrativo Brasileiro, julgue os itens sub-
vie da finalidade de satisfazer o interesse público em
sequentes. 
detrimento de interesses privados.
A administração pública direta e indireta de qual-
quer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Está(ão) CORRETO(S):
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
A) Apenas o item I.
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
B) Apenas o item III.
C) Apenas os itens I, II e III. eficiência.
D) Apenas os itens I, II e IV. ( ) CERTO
( ) ERRADO
Conforme podemos verificar, somente a afirmativa III
está incorreta, pois, não existe o Princípio Administrativo A Administração Pública é a atividade do Estado exer-
da “moral idade” como sugestiona o elaborador da ques- cida pelos seus órgãos encarregados do desempenho das
tão, e, em uma tentativa de ludibriar o candidato menos atribuições públicas. Em outras palavras é o conjunto de
atento, inseriu juntamente com os demais princípios admi- órgãos e funções instituídos e necessários para a obtenção
nistrativos básicos e obrigatórios na atividade administra- dos objetivos do governo, ou seja, o atendimento dos an-
tiva, tal invenção, tentando confundir com o principio da seios sociais.
moralidade. A atividade administrativa, em qualquer dos poderes
O correto é que são os princípios básicos da Adminis- ou esferas, obedece aos princípios da legalidade, impessoa-
tração Pública: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, lidade, moralidade, publicidade e eficiência, como impõe a
Publicidade e Eficiência. norma fundamental do artigo 37 da Constituição da Re-
pública Federativa do Brasil de 1988, que assim dispõe em
RESPOSTA “D”. seu caput:

07 - (TRT - 16ª REGIÃO/MA – ANALISTA JUDICIÁ- “Art. 37. A administração pública direta e indireta de
RIO – FCC/2014) O Diretor Jurídico de uma autarquia qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Fe-
estadual nomeou sua companheira, Cláudia, para o deral e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalida-
exercício de cargo em comissão na mesma entidade. O de, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
Presidente da autarquia, ao descobrir o episódio, de- também, ao seguinte”.
terminou a imediata demissão de Cláudia, sob pena de
caracterizar grave violação a um dos princípios básicos RESPOSTA: “CERTO”.
da Administração pública. Trata-se do princípio da

45
DIREITO ADMINISTRATIVO

09 - (PG/DF - ANALISTA JURÍDICO – IADES/2011) - Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público:


Prescreve o caput do artigo 37 da Constituição Fe- Em decorrência do princípio da indisponibilidade do inte-
deral que a Administração Pública Direta e Indireta de resse público são vedados ao administrador da coisa pública
qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distri- qualquer ato que implique em renúncia a direitos da admi-
to Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios nistração, ou que de maneira injustificada e excessiva onerem
da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade a sociedade.
e eficiência. A respeito dos princípios da Administração - Princípio da Autotutela: A Administração Pública pode
Pública, assinale a alternativa incorreta. corrigir de oficio seus próprios atos, revogando os irregulares
A) O princípio da legalidade significa estar a Admi- e inoportunos e anulando os manifestamente ilegais, respei-
nistração Pública, em toda a sua atividade, adstrita aos tado o direito adquirido e indenizando os prejudicados, cuja
mandamentos da lei, deles não podendo se afastar, sob atuação tem a característica de autocontrole de seus atos,
pena de invalidade do ato. Assim, se a lei nada dispuser, verificando o mérito do ato administrativo e ainda sua lega-
não poderá a Administração agir, salvo em situações ex- lidade; entre outros mais existentes na prática da atividade
cepcionais. Ainda que se trate de ato discricionário, há de administrativa.
se observar o referido princípio.
B) Segundo a doutrina majoritária e decisão ho- RESPOSTA: “B”.
dierna do STF, o rol de princípios previstos no artigo 37,
caput, do texto constitucional é taxativo, ou seja, a Admi- 10 - (DPE/RJ - TÉCNICO MÉDIO DE DEFENSORIA PÚ-
nistração Pública, em razão da legalidade e taxatividade BLICA – FGV/2014) Os princípios administrativos são os
não poderá nortear-se por outros princípios que não os postulados fundamentais que inspiram o modo de agir
previamente estabelecidos no referido dispositivo. da Administração Pública. Entre os princípios da Admi-
C) A Constituição Federal de 1988 no artigo 37, § 1º, nistração Pública, destaca-se:
dispõe sobre a forma de como deve ser feita a publicida- A) impessoalidade, que diz que a pena não passará
de dos atos estatais estabelecendo que a publicidade dos da pessoa do condenado e que os sucessores responde-
atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos rão pelos débitos do falecido apenas nos limites da he-
públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de rança.
orientação social, dela não podendo constar nomes, sím- B) moralidade, segundo o qual, no caso de aparen-
bolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de te colisão, se deve analisar no caso concreto qual direito
autoridades ou servidores públicos. fundamental deve prevalecer, através da técnica da pon-
D) O princípio da eficiência foi inserido positiva- deração de interesses.
mente na Constituição Federal via emenda constitucio- C) autotutela, segundo o qual qualquer lesão ou
nal. ameaça de lesão a direito não será excluída da aprecia-
E) O STF reiteradamente tem proclamado o dever ção do Poder Judiciário, razão pela qual os atos da Ad-
de submissão da Administração Pública ao princípio da ministração Pública também estão sujeitos ao controle
moralidade. Como exemplo, cita-se o julgado em que o judicial.
Pretório Excelso entendeu pela vedação ao nepotismo D) publicidade, que prevê que a ampla publicidade
na Administração, não se exigindo edição de lei formal dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos ór-
a esse respeito, por decorrer diretamente de princípios gãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo
constitucionais estabelecidos, sobretudo o da moralida- ou eleitoral.
de da Administração. E) continuidade dos serviços públicos, excetuado
quando se permite a paralisação temporária da ativida-
Sempre com atenção ao que exige o enunciado da ques- de, como no caso de necessidade de reparos técnicos.
tão, diante das alternativas apresentadas, o elaborador da
questão exige que seja marcada a alternativa incorreta. O serviço público deve ser prestado de maneira continua
A alternativa “b” está errada, pois o artigo 37 “caput” da o que significa dizer que não é passível de interrupção. Isto
Constituição Federal nos apresenta os Princípios Básicos da ocorre justamente pela própria importância de que o serviço
Administração Pública, sendo considerados princípios explí- público se reveste diante dos anseios da coletividade.
citos na Constituição Federal, e isso não significa que serão É o principio que orienta sobre a impossibilidade de
os únicos exigidos durante a atividade administrativa. paralisação, ou interrupção dos serviços públicos, e o
A atividade administrativa deve ser sempre pautada pe- pleno direito dos administrados a que não seja suspenso
los princípios básicos constantes expressamente no “caput” ou interrompido, pois se entende que a continuidade dos
do artigo 37 da Constituição Federal, e ainda deve obediên- serviços públicos é essencial a comunidade, não podendo
cia aos demais princípios decorrentes deste, como exemplo: assim sofrer interrupções.
- Princípio da Supremacia do Interesse Público: Tal Prin- Entretanto, objetivando o atendimento ao Princípio
cípio, muito embora não se encontre expresso no enunciado Constitucional da Eficiência, é lícito à Administração Pública
do texto constitucional é de suma importância para a ati- efetuar a paralisação temporária de suas atividades públicas,
vidade administrativa, tendo em vista que, em decorrência mediante prévio aviso aos usuários dos serviços públicos,
do regime democrático adotado pelo Brasil, bem como o para que sejam efetuadas melhorias no atendimento me-
seu sistema representativo, temos que toda a atuação do diante reparos técnicos.
Poder Público seja consubstanciada pelo interesse público
e coletivo. RESPOSTA: “E”.

46
DIREITO ADMINISTRATIVO

tribuição é o deslocamento de um cargo para outro ór-


gão; substituição é a mudança de uma pessoa que está
2.6.1 - REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO ocupando cargo de chefia ou direção por outra.

Capítulo I
Do Provimento
REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS
CIVIS DA UNIÃO (LEI Nº 8.112/1990 E SUAS ALTERA- Segundo Hely Lopes Meirelles, provimento “é o ato
ÇÕES) pelo qual se efetua o preenchimento do cargo público,
com a designação de seu titular”, podendo ser originá-
Das Disposições Preliminares rio ou inicial se o agente não possui vinculação anterior
com a Administração Pública; ou derivado, que pressu-
Título I põe a existência de um vínculo com a Administração, o
Capítulo Único qual pode ser horizontal, sem ascensão na carreira, ou
Das Disposições Preliminares vertical, com ascensão na carreira.

Art. 1o  Esta Lei institui o Regime Jurídico dos Servido- Seção I


res Públicos Civis da União, das autarquias, inclusive as em Disposições Gerais
regime especial, e das fundações públicas federais.
Art. 5o  São requisitos básicos para investidura em car-
Art. 2o  Para os efeitos desta Lei, servidor é a pessoa go público:
legalmente investida em cargo público. I - a nacionalidade brasileira;
Nacional é o que possui vínculo político-jurídico com
Art. 3o  Cargo público é o conjunto de atribuições e um Estado, fazendo parte de seu povo na qualidade de ci-
responsabilidades previstas na estrutura organizacional dadão.
que devem ser cometidas a um servidor.
Parágrafo único.  Os cargos públicos, acessíveis a todos II - o gozo dos direitos políticos;
os brasileiros, são criados por lei, com denominação pró- Direitos políticos são os direitos garantidos ao cidadão
pria e vencimento pago pelos cofres públicos, para provi- que envolvem sua participação direta ou indireta nas deci-
mento em caráter efetivo ou em comissão. sões políticas do Estado. No Brasil, se encontram nos arti-
gos 14 e 15 da Constituição Federal.
Art. 4o  É proibida a prestação de serviços gratuitos,
salvo os casos previstos em lei. III - a quitação com as obrigações militares e eleito-
Por regime jurídico dos servidores deve-se entender o rais;
conjunto de regras referentes a todos os aspectos da re- IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do
lação entre o servidor público e a Administração. Envolve cargo;
tanto questões inerentes à ocupação do cargo quanto di- Ensino fundamental, ensino médio ou ensino superior,
reitos e deveres, entre outras. conforme a complexidade das funções do cargo.
Aplica-se na esfera federal, tanto para a Administração
direta quanto para a indireta. V - a idade mínima de dezoito anos;
A lei criará o cargo público, que poderá ser efetivo, VI - aptidão física e mental.
caso em que o ingresso se dará mediante concurso, ou em § 1o  As atribuições do cargo podem justificar a exigên-
comissão, quando por uma relação de confiança o superior cia de outros requisitos estabelecidos em lei.
puder nomear seus funcionários enquanto estiver ocupan- P. ex., 3 anos de atividade jurídica para cargos de mem-
do aquela posição de chefia. bros do Ministério Público ou da Magistratura.
Todo serviço público será remunerado pelos cofres pú-
blicos. § 2o  Às pessoas portadoras de deficiência é assegu-
rado o direito de se inscrever em concurso público para pro-
Do Provimento, Vacância, Remoção, Redistribuição vimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com
e Substituição a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão
reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas
Título II no concurso.
Do Provimento, Vacância, Remoção, Redistribuição Cotas para deficientes.
e Substituição

Basicamente, provimento é a ocupação do cargo § 3o  As universidades e instituições de pesquisa cientí-


por uma pessoa, transformando-a em servidora públi- fica e tecnológica federais poderão prover seus cargos com
ca; enquanto vacância é o que se dá quando um cargo professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo
fica livre; remoção é o deslocamento do servidor; redis- com as normas e os procedimentos desta Lei.

47
DIREITO ADMINISTRATIVO

Exceção ao inciso I do art. 5°. condicionada a inscrição do candidato ao pagamento do


valor fixado no edital, quando indispensável ao seu custeio,
Art. 6o  O provimento dos cargos públicos far-se-á me- e ressalvadas as hipóteses de isenção nele expressamente
diante ato da autoridade competente de cada Poder. previstas.

Art. 7o  A investidura em cargo público ocorrerá com Art. 12.  O concurso público terá validade de até 2
a posse. (dois) anos, podendo ser prorrogado uma única vez, por
Por investidura entende-se a instalação formal em um igual período.
cargo público, o que se dará quando a pessoa for empos- § 1o  O prazo de validade do concurso e as condições
sada. de sua realização serão fixados em edital, que será publica-
do no Diário Oficial da União e em jornal diário de grande
Art. 8o  São formas de provimento de cargo público: circulação.
I - nomeação; §  2o  Não se abrirá novo concurso enquanto houver
candidato aprovado em concurso anterior com prazo de va-
II - promoção;
lidade não expirado.
III e IV - (Revogados)
No concurso de provas o candidato é avaliado apenas
V - readaptação;
pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos con-
VI - reversão; cursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua ativi-
VII - aproveitamento; dade profissional também é considerado.
VIII - reintegração; O edital delimita questões como valor da taxa de ins-
IX - recondução. crição, casos de isenção, número de vagas e prazo de va-
Detalhes adiante. lidade.

Seção II Seção IV
Da Nomeação Da Posse e do Exercício

Art. 9o  A nomeação far-se-á: Art. 13.  A posse dar-se-á pela assinatura do respecti-


I - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isola- vo termo, no qual deverão constar as atribuições, os deve-
do de provimento efetivo ou de carreira; res, as responsabilidades e os direitos inerentes ao cargo
II - em comissão, inclusive na condição de interino, ocupado, que não poderão ser alterados unilateralmente,
para cargos de confiança vagos.  por qualquer das partes, ressalvados os atos de ofício pre-
Parágrafo único.  O servidor ocupante de cargo em co- vistos em lei.
missão ou de natureza especial poderá ser nomeado para ter § 1o  A posse ocorrerá no prazo de trinta dias contados
exercício, interinamente, em outro cargo de confiança, sem da publicação do ato de provimento.
prejuízo das atribuições do que atualmente ocupa, hipótese § 2o  Em se tratando de servidor, que esteja na data de
em que deverá optar pela remuneração de um deles du- publicação do ato de provimento, em licença prevista nos
rante o período da interinidade. incisos I, III e V do art. 81, ou afastado nas hipóteses dos
O cargo em comissão é temporário e não depende de incisos I, IV, VI, VIII, alíneas «a», «b», «d», «e» e «f», IX e X do
concurso público. Se o servidor for nomeado para outro art. 102, o prazo será contado do término do impedimento.
cargo em comissão poderá exercer ambos de maneira in- § 3o  A posse poderá dar-se mediante procuração es-
terina (temporária), mas somente poderá receber remune- pecífica.
§ 4o  Só haverá posse nos casos de provimento de car-
ração por um deles, o que optar.
go por nomeação.
§  5o  No ato da posse, o servidor apresentará decla-
Art. 10.  A nomeação para cargo de carreira ou cargo
ração de bens e valores que constituem seu patrimônio e
isolado de provimento efetivo depende de prévia habilita- declaração quanto ao exercício ou não de outro cargo, em-
ção em concurso público de provas ou de provas e títulos, prego ou função pública.
obedecidos a ordem de classificação e o prazo de sua vali- § 6o  Será tornado sem efeito o ato de provimento se
dade. a posse não ocorrer no prazo previsto no § 1o deste artigo.
Parágrafo único.  Os demais requisitos para o ingresso O termo de posse é dotado de conteúdo específico. É
e o desenvolvimento do servidor na carreira, mediante pro- possível tomar posse mediante procuração específica. Não
moção, serão estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do há posse nos cargos em comissão. A declaração de bens e
sistema de carreira na Administração Pública Federal e seus valores visa permitir a verificação da situação financeira do
regulamentos. servidor, de forma a perceber se ele enriqueceu despropor-
cionalmente durante o exercício do cargo.
Seção III
Do Concurso Público Art. 14.  A posse em cargo público dependerá de prévia
inspeção médica oficial.
Art. 11.  O concurso será de provas ou de provas e títu- Parágrafo único.  Só poderá ser empossado aquele que
los, podendo ser realizado em duas etapas, conforme dispu- for julgado apto física e mentalmente para o exercício do
serem a lei e o regulamento do respectivo plano de carreira, cargo.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 15.  Exercício é o efetivo desempenho das atribui- § 1o  O ocupante de cargo em comissão ou função de
ções do cargo público ou da função de confiança. confiança submete-se a regime de integral dedicação ao
§ 1o  É de quinze dias o prazo para o servidor empossa- serviço, observado o disposto no art. 120, podendo ser con-
do em cargo público entrar em exercício, contados da data vocado sempre que houver interesse da Administração.
da posse.  § 2o  O disposto neste artigo não se aplica a duração de
§ 2o  O servidor será exonerado do cargo ou será tor- trabalho estabelecida em leis especiais.
nado sem efeito o ato de sua designação para função de
confiança, se não entrar em exercício nos prazos previstos Art. 20.  Ao entrar em exercício, o servidor nomeado
neste artigo, observado o disposto no art. 18.  para cargo de provimento efetivo ficará sujeito a estágio
§ 3o  À autoridade competente do órgão ou entidade probatório por período de 24 (vinte e quatro) meses, duran-
para onde for nomeado ou designado o servidor compete te o qual a sua aptidão e capacidade serão objeto de ava-
dar-lhe exercício.  liação para o desempenho do cargo, observados os seguinte
§ 4o  O início do exercício de função de confiança coin- fatores: 
cidirá com a data de publicação do ato de designação, I - assiduidade;
salvo quando o servidor estiver em licença ou afastado por II - disciplina;
qualquer outro motivo legal, hipótese em que recairá no pri- III - capacidade de iniciativa;
meiro dia útil após o término do impedimento, que não po- IV - produtividade;
derá exceder a trinta dias da publicação.  V - responsabilidade.
Nota-se que para as funções em confiança não há pra- § 1o  4 (quatro) meses antes de findo o período do es-
zo de 15 dias da posse, até mesmo porque ela não existe tágio probatório, será submetida à homologação da autori-
nestas funções. Então, o prazo para exercício será o do dia dade competente a avaliação do desempenho do servidor,
da publicação do ato de designação. realizada por comissão constituída para essa finalidade, de
acordo com o que dispuser a lei ou o regulamento da res-
Art. 16.  O início, a suspensão, a interrupção e o rei- pectiva carreira ou cargo, sem prejuízo da continuidade de
nício do exercício serão registrados no assentamento indi- apuração dos fatores enumerados nos incisos I a V do caput
vidual do servidor. deste artigo.
Parágrafo único.  Ao entrar em exercício, o servidor §  2o  O servidor não aprovado no estágio probatório
apresentará ao órgão competente os elementos necessários será exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo an-
ao seu assentamento individual. teriormente ocupado, observado o disposto no parágra-
fo único do art. 29.
Art. 17.  A promoção não interrompe o tempo de exer- § 3o  O servidor em estágio probatório poderá exercer
cício, que é contado no novo posicionamento na carreira a quaisquer cargos de provimento em comissão ou fun-
partir da data de publicação do ato que promover o ser- ções de direção, chefia ou assessoramento no órgão ou
vidor. entidade de lotação, e somente poderá ser cedido a outro
Na promoção não há nova posse. Então, o servidor não órgão ou entidade para ocupar cargos de Natureza Espe-
tem 15 dias para entrar em exercício, o fazendo no dia da cial, cargos de provimento em comissão do Grupo-Direção
publicação do ato. e Assessoramento Superiores - DAS, de níveis 6, 5 e 4, ou
equivalentes. 
Art. 18.  O servidor que deva ter exercício em outro § 4o  Ao servidor em estágio probatório somente pode-
município em razão de ter sido removido, redistribuído, rão ser concedidas as licenças e os afastamentos previstos
requisitado, cedido ou posto em exercício provisório nos arts. 81, incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem assim afasta-
terá, no mínimo, dez e, no máximo, trinta dias de prazo, mento para participar de curso de formação decorrente de
contados da publicação do ato, para a retomada do efetivo aprovação em concurso para outro cargo na Administração
desempenho das atribuições do cargo, incluído nesse prazo Pública Federal.
o tempo necessário para o deslocamento para a nova sede. § 5o  O estágio probatório ficará suspenso durante as
§ 1o  Na hipótese de o servidor encontrar-se em licença licenças e os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, § 1o, 86
ou afastado legalmente, o prazo a que se refere este artigo e 96, bem assim na hipótese de participação em curso de
será contado a partir do término do impedimento. formação, e será retomado a partir do término do impedi-
§ 2o  É facultado ao servidor declinar dos prazos esta- mento. 
belecidos no caput.
Se o servidor estava em exercício em outro município Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a disci-
e é convocado por publicação para retomar a posição su- plina do estágio probatório mudou, notadamente aumen-
perior tem um prazo entre 10 e 30 dias, dos quais pode tando o prazo de 2 anos para 3 anos. Tendo em vista que a
desistir, se quiser. norma constitucional prevalece sobre a lei federal, mesmo
que ela não tenha sido atualizada, deve-se seguir o dispos-
Art. 19.  Os servidores cumprirão jornada de trabalho to no artigo 41 da Constituição Federal:
fixada em razão das atribuições pertinentes aos respectivos
cargos, respeitada a duração máxima do trabalho semanal Art. 41, CF. São estáveis após três anos de efetivo exer-
de quarenta horas e observados os limites mínimo e má- cício os servidores nomeados para cargo de provimento
ximo de seis horas e oito horas diárias, respectivamente.  efetivo em virtude de concurso público.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: movimentando o tempo todo e sofre um acidente, ficando
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; paraplégico. Sua capacidade mental não ficou prejudicada,
II - mediante processo administrativo em que lhe seja embora seja inconveniente ele ter que fazer tantos mo-
assegurada ampla defesa; vimentos no exercício das funções. Por isso, pode ser re-
III - mediante procedimento de avaliação periódica de conduzido para outro cargo técnico na repartição que seja
desempenho, na forma de lei complementar, assegurada mais burocrático e exija menos movimentação física, como
ampla defesa. o de assistente de um superior.
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do ser-
vidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante Seção VIII
da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem Da Reversão
direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto
em disponibilidade com remuneração proporcional ao tem- Art. 25.  Reversão é o retorno à atividade de servidor
po de serviço. aposentado: 
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, I - por invalidez, quando junta médica oficial declarar
o servidor estável ficará em disponibilidade, com remune- insubsistentes os motivos da aposentadoria; ou 
ração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado II - no interesse da administração, desde que: 
aproveitamento em outro cargo. a) tenha solicitado a reversão; 
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, b) a aposentadoria tenha sido voluntária; 
é obrigatória a avaliação especial de desempenho por co- c) estável quando na atividade;
missão instituída para essa finalidade. d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos ante-
riores à solicitação; 
Seção V e) haja cargo vago.
Da Estabilidade § 1o  A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no cargo
resultante de sua transformação.
Art. 21.  O servidor habilitado em concurso público e § 2o  O tempo em que o servidor estiver em exercício
empossado em cargo de provimento efetivo adquirirá esta- será considerado para concessão da aposentadoria.
bilidade no serviço público ao completar 2 (dois) anos de § 3o  No caso do inciso I, encontrando-se provido o car-
efetivo exercício.  go, o servidor exercerá suas atribuições como excedente,
ATENÇÃO: Vale o prazo de 3 anos, conforme Constitui- até a ocorrência de vaga. 
ção Federal (artigo 41 retrocitado). § 4o  O servidor que retornar à atividade por interesse
da administração perceberá, em substituição aos proven-
Art. 22.  O servidor estável só perderá o cargo em tos da aposentadoria, a remuneração do cargo que voltar
virtude de sentença judicial transitada em julgado ou a exercer, inclusive com as vantagens de natureza pessoal
de processo administrativo disciplinar no qual lhe seja que percebia anteriormente à aposentadoria. 
assegurada ampla defesa. § 5o  O servidor de que trata o inciso II somente terá os
proventos calculados com base nas regras atuais se perma-
Seção VI necer pelo menos cinco anos no cargo. 
Da Transferência § 6o  O Poder Executivo regulamentará o disposto neste
artigo. 
Art. 23. (Execução suspensa)
Art. 26. (Revogado)
Seção VII
Da Readaptação Art. 27.  Não poderá reverter o aposentado que já tiver
completado 70 (setenta) anos de idade.
Art. 24.  Readaptação é a investidura do servidor em Merece destaque a impossibilidade de cumulação da
cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis aposentadoria com a remuneração caso o servidor retorne
com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade às funções.
física ou mental verificada em inspeção médica.
§ 1o  Se julgado incapaz para o serviço público, o rea- Seção IX
daptando será aposentado. Da Reintegração
§ 2o  A readaptação será efetivada em cargo de atribui-
ções afins, respeitada a habilitação exigida, nível de escola- Art. 28.  A reintegração é a reinvestidura do servidor
ridade e equivalência de vencimentos e, na hipótese de ine- estável no cargo anteriormente ocupado, ou no cargo re-
xistência de cargo vago, o servidor exercerá suas atribuições sultante de sua transformação, quando invalidada a sua
como excedente, até a ocorrência de vaga. demissão por decisão administrativa ou judicial, com
Se o funcionário deixa de ter condições físicas ou psi- ressarcimento de todas as vantagens.
cológicas para ocupar seu cargo, deverá ser readaptado § 1o  Na hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor
para cargo semelhante que não exija tais aptidões. Ex: fun- ficará em disponibilidade, observado o disposto nos arts.
cionário trabalhava como atendente numa repartição, se 30 e 31.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§  2o  Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual Capítulo II


ocupante será reconduzido ao cargo de origem, sem direito à Da Vacância
indenização ou aproveitado em outro cargo, ou, ainda, posto
em disponibilidade. Art. 33.  A vacância do cargo público decorrerá de:
Se um servidor for injustamente demitido e a sua de- I - exoneração;
missão for invalidada, será reinvestido no cargo, sendo to- II - demissão;
talmente ressarcido (por exemplo, recebendo os salários III - promoção;
do período em que foi afastado). Caso o cargo esteja ex- IV e V - (Revogados)
tinto, será posto em disponibilidade; caso o cargo exista VI - readaptação;
e alguém o estiver ocupando, este será retirado do cargo, VII - aposentadoria;
devolvendo-o ao seu legítimo titular. VIII - posse em outro cargo inacumulável;
IX - falecimento.
Seção X
Da Recondução Art. 34.  A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedi-
do do servidor, ou de ofício.
Art. 29.  Recondução é o retorno do servidor estável Parágrafo único.  A exoneração de ofício dar-se-á:
ao cargo anteriormente ocupado e decorrerá de: I - quando não satisfeitas as condições do estágio pro-
I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro batório;
cargo; II - quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar
II - reintegração do anterior ocupante. em exercício no prazo estabelecido.
Parágrafo único.  Encontrando-se provido o cargo de Sendo o cargo efetivo, somente será exonerado de ofí-
origem, o servidor será aproveitado em outro, observado o cio se não for habilitado no estágio probatório e se não
disposto no art. 30. entrar em exercício no prazo legal.
Como visto, quando um servidor é promovido ele se
sujeita a novo estágio probatório e, caso seja inabilitado, Art. 35.  A exoneração de cargo em comissão e a dispen-
voltará ao cargo que antes ocupava. Ainda, se alguém esti- sa de função de confiança dar-se-á: 
ver ocupando o cargo de um servidor que tenha sido injus- I - a juízo da autoridade competente;
tamente demitido, quando este voltar deverá desocupar o II - a pedido do próprio servidor.
cargo. Se a posição antes ocupada não estiver livre, deverá Como o cargo em comissão refere-se a uma relação de
ser reaproveitado em outro cargo semelhante. confiança para com a autoridade competente, esta poderá
exonerar o servidor.
Seção XI
Da Disponibilidade e do Aproveitamento Capítulo III
Da Remoção e da Redistribuição
Art. 30.  O retorno à atividade de servidor em disponibi-
lidade far-se-á mediante aproveitamento obrigatório em Seção I
cargo de atribuições e vencimentos compatíveis com o Da Remoção
anteriormente ocupado.
Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a
Art. 31.  O órgão Central do Sistema de Pessoal Civil pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com
determinará o imediato aproveitamento de servidor em dis- ou sem mudança de sede.
ponibilidade em vaga que vier a ocorrer nos órgãos ou enti- Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, en-
dades da Administração Pública Federal. tende-se por modalidades de remoção:
Parágrafo único.  Na hipótese prevista no § 3o do art. I - de ofício, no interesse da Administração;
37, o servidor posto em disponibilidade poderá ser man- II - a pedido, a critério da Administração;
tido sob responsabilidade do órgão central do Sistema de III - a pedido, para outra localidade, independentemen-
Pessoal Civil da Administração Federal - SIPEC, até o seu te do interesse da Administração:
adequado aproveitamento em outro órgão ou entidade. a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também
servidor público civil ou militar, de qualquer dos Poderes da
Art. 32.  Será tornado sem efeito o aproveitamento e União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que
cassada a disponibilidade se o servidor não entrar em foi deslocado no interesse da Administração;
exercício no prazo legal, salvo doença comprovada por b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companhei-
junta médica oficial. ro ou dependente que viva às suas expensas e conste do seu
Servidor posto em disponibilidade não é servidor apo- assentamento funcional, condicionada à comprovação por
sentado. É apenas um servidor aguardando que surja um junta médica oficial;
posto adequado para que ocupe. Quando ele surgir, deverá c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipóte-
entrar em exercício, sob pena de ter revogada a disponibili- se em que o número de interessados for superior ao número
dade, deixando de ser servidor público. de vagas, de acordo com normas preestabelecidas pelo ór-
gão ou entidade em que aqueles estejam lotados.

51
DIREITO ADMINISTRATIVO

Seção II Dos Direitos e Vantagens


Da Redistribuição
Título III
Art. 37. Redistribuição é o deslocamento de cargo Dos Direitos e Vantagens
de provimento efetivo, ocupado ou vago no âmbito do
quadro geral de pessoal, para outro órgão ou entidade Em sete capítulos, o terceiro título da legislação em
do mesmo Poder, com prévia apreciação do órgão cen- estudo estabelece os direitos e vantagens do servidor
tral do SIPEC, observados os seguintes preceitos: público, para em seguida trazer seus deveres e proibi-
I - interesse da administração; ções.
II - equivalência de vencimentos; Resume Carvalho Filho: “os direitos sociais consti-
III - manutenção da essência das atribuições do cargo; tucionais são objeto da referência do art. 39, §3°, CF, o
IV - vinculação entre os graus de responsabilidade e qual determina que dezesseis dos direitos sociais ou-
complexidade das atividades;
torgados aos empregados sejam estendidos aos servi-
V - mesmo nível de escolaridade, especialidade ou habi-
dores públicos. Dentre esses direitos estão o do salário
litação profissional;
mínimo (art. 7°, IV); o décimo terceiro salário (art. 7°,
VI - compatibilidade entre as atribuições do cargo e as
finalidades institucionais do órgão ou entidade. VIII); o repouso semanal remunerado (art. 7°, XV); o
§ 1º A redistribuição ocorrerá ex officio para ajusta- salário-família (art. 7°, XII; o de férias anuais (art. 7°,
mento de lotação e da força de trabalho às necessidades XVII); o de licença à gestante (art. 7°, XVIII) e outros
dos serviços, inclusive nos casos de reorganização, extin- mencionados no dispositivo constitucional. [...] Além
ção ou criação de órgão ou entidade. disso, há vários direitos de natureza social relacionados
§ 2º A redistribuição de cargos efetivos vagos se dará nos diversos estatutos funcionais das pessoas federati-
mediante ato conjunto entre o órgão central do SIPEC e os vas. É nas leis estatutárias que se encontram tais direi-
órgãos e entidades da Administração Pública Federal en- tos, como o direito às licenças, à pensão, aos auxílios
volvidos. pecuniários, como o auxílio-funeral e o auxílio-reclu-
§ 3º Nos casos de reorganização ou extinção de órgão são, à assistência, à saúde etc.”
ou entidade, extinto o cargo ou declarada sua desneces-
sidade no órgão ou entidade, o servidor estável que não Capítulo I
for redistribuído será colocado em disponibilidade, até seu Do Vencimento e da Remuneração
aproveitamento na forma dos arts. 30 e 31.
§ 4º O servidor que não for redistribuído ou colocado Art. 40.  Vencimento é a retribuição pecuniária pelo
em disponibilidade poderá ser mantido sob responsabili- exercício de cargo público, com valor fixado em lei.
dade do órgão central do SIPEC, e ter exercício provisório,
em outro órgão ou entidade, até seu adequado aproveita- Art. 41.  Remuneração é o vencimento do cargo efe-
mento. tivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes es-
tabelecidas em lei.
Capítulo IV § 1o  A remuneração do servidor investido em função
Da Substituição ou cargo em comissão será paga na forma prevista no art.
62.
Art. 38. Os servidores investidos em cargo ou função de Cargo em comissão é o cargo de confiança, que não
direção ou chefia e os ocupantes de cargo de Natureza Es-
exige concurso público. Ver art. 62 adiante.
pecial terão substitutos indicados no regimento interno
ou, no caso de omissão, previamente designados pelo
§  2o  O servidor investido em cargo em comissão de
dirigente máximo do órgão ou entidade.
§ 1º O substituto assumirá automática e cumulativa- órgão ou entidade diversa da de sua lotação receberá a
mente, sem prejuízo do cargo que ocupa, o exercício do remuneração de acordo com o estabelecido no § 1o do art.
cargo ou função de direção ou chefia e os de Natureza Es- 93.
pecial, nos afastamentos, impedimentos legais ou regula- O funcionário é servidor público, mas foi concursado
mentares do titular e na vacância do cargo, hipóteses em para cargo diverso, em outro órgão ou entidade, sendo no-
que deverá optar pela remuneração de um deles durante o meado para outro cargo, que é de comissão.
respectivo período.
§ 2º O substituto fará jus à retribuição pelo exercício § 3o  O vencimento do cargo efetivo, acrescido das van-
do cargo ou função de direção ou chefia ou de cargo de tagens de caráter permanente, é irredutível.
Natureza Especial, nos casos dos afastamentos ou impedi- Irredutibilidade de vencimentos: não podem ser dimi-
mentos legais do titular, superiores a trinta dias consecu- nuídos.
tivos, paga na proporção dos dias de efetiva substituição,
que excederem o referido período. §  4o  É assegurada a isonomia de vencimentos para
cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo
Art. 39. O disposto no artigo anterior aplica-se aos ti- Poder, ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas as
tulares de unidades administrativas organizadas em nível de vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou
assessoria. ao local de trabalho.

52
DIREITO ADMINISTRATIVO

Mesmo cargo ou semelhante = mesmo vencimento. § 2º O total de consignações facultativas de que trata
o § 1o não excederá a 35% (trinta e cinco por cento) da
§ 5o  Nenhum servidor receberá remuneração inferior remuneração mensal, sendo 5% (cinco por cento) reserva-
ao salário mínimo.  dos exclusivamente para: I - a amortização de despesas
Direito ao salário mínimo. contraídas por meio de cartão de crédito; ou
II - a utilização com a finalidade de saque por meio do
Art. 42.  Nenhum servidor poderá perceber, mensalmen- cartão de crédito.
te, a título de remuneração, importância superior à soma Para descontos em folha, é preciso ordem judicial ou
dos valores percebidos como remuneração, em espécie, a autorização do servidor.
qualquer título, no âmbito dos respectivos Poderes, pelos
Ministros de Estado, por membros do Congresso Nacional e Art. 46.  As reposições e indenizações ao erário, atuali-
Ministros do Supremo Tribunal Federal. zadas até 30 de junho de 1994, serão previamente comuni-
Parágrafo único.  Excluem-se do teto de remuneração as cadas ao servidor ativo, aposentado ou ao pensionista, para
vantagens previstas nos incisos II a VII do art. 61. pagamento, no prazo máximo de trinta dias, podendo ser
Estabelece o teto de remuneração, ou seja, o máximo parceladas, a pedido do interessado. 
que um funcionário pode receber. Neste sentido, o art. 37, § 1o  O valor de cada parcela não poderá ser inferior ao
XI, CF: “XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de correspondente a dez por cento da remuneração, provento
cargos, funções e empregos públicos da administração di- ou pensão. 
reta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer § 2o  Quando o pagamento indevido houver ocorrido
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e no mês anterior ao do processamento da folha, a reposição
dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos será feita imediatamente, em uma única parcela.
demais agentes políticos e os proventos, pensões ou ou- § 3o  Na hipótese de valores recebidos em decorrência
tra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou de cumprimento a decisão liminar, a tutela antecipada ou
não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra a sentença que venha a ser revogada ou rescindida, serão
eles atualizados até a data da reposição. 
natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em es-
pécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplican-
Art. 47.  O servidor em débito com o erário, que for de-
do-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito,
mitido, exonerado ou que tiver sua aposentadoria ou dispo-
e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do
nibilidade cassada, terá o prazo de sessenta dias para quitar
Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos
o débito. 
Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Le-
Parágrafo único.  A não quitação do débito no prazo
gislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de
previsto implicará sua inscrição em dívida ativa. 
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centé-
Débito com o erário = dívida com o Estado.
simos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Mi-
nistros do Supremo Tri-bunal Federal, no âmbito do Poder Art. 48.  O vencimento, a remuneração e o provento não
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério serão objeto de arresto, sequestro ou penhora, exceto nos ca-
Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos”. sos de prestação de alimentos resultante de decisão judicial.
Art. 44.  O servidor perderá: Capítulo II
I - a remuneração do dia em que faltar ao serviço, sem Das Vantagens
motivo justificado; 
II - a parcela de remuneração diária, proporcional aos Art. 49.  Além do vencimento, poderão ser pagas ao ser-
atrasos, ausências justificadas, ressalvadas as concessões de vidor as seguintes vantagens:
que trata o art. 97, e saídas antecipadas, salvo na hipótese I - indenizações;
de compensação de horário, até o mês subsequente ao da II - gratificações;
ocorrência, a ser estabelecida pela chefia imediata.  III - adicionais.
Parágrafo  único.   As faltas justificadas decorrentes de § 1o  As indenizações não se incorporam ao vencimento
caso fortuito ou de força maior poderão ser compensadas a ou provento para qualquer efeito.
critério da chefia imediata, sendo assim consideradas como § 2o  As gratificações e os adicionais incorporam-se ao
efetivo exercício.  vencimento ou provento, nos casos e condições indicados
Somente não geram perda de remuneração as faltas em lei.
justificadas e devidamente compensadas.
Art. 50.  As vantagens pecuniárias não serão computa-
Art. 45. Salvo por imposição legal, ou mandado judicial, das, nem acumuladas, para efeito de concessão de quaisquer
nenhum desconto incidirá sobre a remuneração ou provento. outros acréscimos pecuniários ulteriores, sob o mesmo título
§ 1º Mediante autorização do servidor, poderá haver ou idêntico fundamento.
consignação em folha de pagamento em favor de terceiros, De acordo com Hely Lopes Meirelles, “o que ca-
a critério da administração e com reposição de custos, na racteriza o adicional e o distingue da gratificação é ser
forma definida em regulamento. aquele que recompensa ao tempo de serviço do servi-

53
DIREITO ADMINISTRATIVO

dor, ou uma retribuição pelo desempenho de funções Art. 57.  O servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de
especiais que fogem da rotina burocrática, e esta, uma custo quando, injustificadamente, não se apresentar na nova
compensação por serviços comuns executados em con- sede no prazo de 30 (trinta) dias.
dições anormais para o servidor, ou uma ajuda pessoal
em face de certas situações que agravam o orçamento Subseção II
do servidor”. Das Diárias

Seção I Art. 58.  O servidor que, a serviço, afastar-se da sede


Das Indenizações em caráter eventual ou transitório para outro ponto do
território nacional ou para o exterior, fará jus a passagens
Art. 51.  Constituem indenizações ao servidor: e diárias destinadas a indenizar as parcelas de despesas ex-
I - ajuda de custo; traordinária com pousada, alimentação e locomoção urba-
II - diárias; na, conforme dispuser em regulamento. 
III - transporte. § 1o  A diária será concedida por dia de afastamento,
IV - auxílio-moradia. sendo devida pela metade quando o deslocamento não
A leitura da legislação seca permite conceituar e dife- exigir pernoite fora da sede, ou quando a União custear,
renciar cada modalidade de indenização. por meio diverso, as despesas extraordinárias cobertas por
diárias.
Art. 52.  Os valores das indenizações estabelecidas nos § 2o  Nos casos em que o deslocamento da sede cons-
incisos I a III do art. 51, assim como as condições para a sua tituir exigência permanente do cargo, o servidor não fará
concessão, serão estabelecidos em regulamento. jus a diárias.
§ 3o  Também não fará jus a diárias o servidor que se
Subseção I deslocar dentro da mesma região metropolitana, aglome-
Da Ajuda de Custo ração urbana ou microrregião, constituídas por municípios
limítrofes e regularmente instituídas, ou em áreas de con-
Art. 53.  A ajuda de custo destina-se a compensar as
trole integrado mantidas com países limítrofes, cuja juris-
despesas de instalação do servidor que, no interesse do
dição e competência dos órgãos, entidades e servidores
serviço, passar a ter exercício em nova sede, com mudança
brasileiros considera-se estendida, salvo se houver pernoi-
de domicílio em caráter permanente, vedado o duplo pa-
te fora da sede, hipóteses em que as diárias pagas serão
gamento de indenização, a qualquer tempo, no caso de o
sempre as fixadas para os afastamentos dentro do territó-
cônjuge ou companheiro que detenha também a condição
rio nacional. 
de servidor, vier a ter exercício na mesma sede. 
§ 1o  Correm por conta da administração as despesas
de transporte do servidor e de sua família, compreendendo Art. 59.  O servidor que receber diárias e não se afastar
passagem, bagagem e bens pessoais. da sede, por qualquer motivo, fica obrigado a restituí-las in-
§ 2o  À família do servidor que falecer na nova sede são tegralmente, no prazo de 5 (cinco) dias.
assegurados ajuda de custo e transporte para a localidade Parágrafo único.  Na hipótese de o servidor retornar à
de origem, dentro do prazo de 1 (um) ano, contado do sede em prazo menor do que o previsto para o seu afasta-
óbito. mento, restituirá as diárias recebidas em excesso, no prazo
§ 3º Não será concedida ajuda de custo nas hipóteses previsto no caput.
de remoção previstas nos incisos II e III do parágrafo único
do art. 36. Subseção III
Da Indenização de Transporte
Art. 54.  A ajuda de custo é calculada sobre a remu-
neração do servidor, conforme se dispuser em regulamen- Art. 60.  Conceder-se-á indenização de transporte ao
to, não podendo exceder a importância correspondente a 3 servidor que realizar despesas com a utilização de meio
(três) meses. próprio de locomoção para a execução de serviços exter-
nos, por força das atribuições próprias do cargo, conforme se
Art. 55.  Não será concedida ajuda de custo ao servidor dispuser em regulamento.
que se afastar do cargo, ou reassumi-lo, em virtude de man-
dato eletivo. Subseção IV
Do Auxílio-Moradia
Art. 56.  Será concedida ajuda de custo àquele que, não
sendo servidor da União, for nomeado para cargo em comis- Art. 60-A.  O auxílio-moradia consiste no ressarcimen-
são, com mudança de domicílio. to das despesas comprovadamente realizadas pelo ser-
Parágrafo único.  No afastamento previsto no inciso I do vidor com aluguel de moradia ou com meio de hospe-
art. 93, a ajuda de custo será paga pelo órgão cessionário, dagem administrado por empresa hoteleira, no prazo de um
quando cabível. mês após a comprovação da despesa pelo servidor. 

54
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 60-B.  Conceder-se-á auxílio-moradia ao servidor se auxílio é pago 1 mês depois que o servidor comprovar a
atendidos os seguintes requisitos:  despesa que teve. No entanto, não é qualquer servidor
I - não exista imóvel funcional disponível para uso pelo e não é em qualquer situação que se tem o auxílio-mo-
servidor;  radia.
II - o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe Nos termos do artigo 60-B, são colacionadas res-
imóvel funcional;  trições: não haver disponibilidade de imóvel funcional
III - o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja (algum imóvel do poder público com tal finalidade de
ou tenha sido proprietário, promitente comprador, cessioná- moradia, dispensando gastos particulares), não se ter
rio ou promitente cessionário de imóvel no Município aonde tentado vender ou vendido um imóvel na cidade (evi-
for exercer o cargo, incluída a hipótese de lote edificado sem tando que tente utilizar o auxílio-moradia como um
averbação de construção, nos doze meses que antecederem modo de se obter vantagem patrimonial), um cônju-
a sua nomeação; ge ou pessoa com quem more não receber auxílio da
mesma natureza (cumulando indevidamente), além do
IV - nenhuma outra pessoa que resida com o servidor
exercício de cargos de determinada natureza (perceba-
receba auxílio-moradia; 
-se, cargos de relevante direção).
V - o servidor tenha se mudado do local de residência
O auxílio-moradia é pago proporcionalmente aos
para ocupar cargo em comissão ou função de confiança do vencimentos, não excedendo 25%. Destaca-se que o ar-
Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, níveis 4, tigo 60-C está revogado desde 2013.
5 e 6, de Natureza Especial, de Ministro de Estado ou equi-
valentes;  Seção II
VI - o Município no qual assuma o cargo em comissão Das Gratificações e Adicionais
ou função de confiança não se enquadre nas hipóteses do
art. 58, § 3o, em relação ao local de residência ou domicílio Art. 61.  Além do vencimento e das vantagens previstas
do servidor;  nesta Lei, serão deferidos aos servidores as seguintes retri-
VII - o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha buições, gratificações e adicionais: 
residido no Município, nos últimos doze meses, aonde for I - retribuição pelo exercício de função de direção,
exercer o cargo em comissão ou função de confiança, des- chefia e assessoramento; 
considerando-se prazo inferior a sessenta dias dentro desse II - gratificação natalina;
período; e  IV - adicional pelo exercício de atividades insalu-
VIII - o deslocamento não tenha sido por força de altera- bres, perigosas ou penosas;
ção de lotação ou nomeação para cargo efetivo.  V - adicional pela prestação de serviço extraordi-
IX - o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho nário;
de 2006.  VI - adicional noturno;
Parágrafo único.  Para fins do inciso VII, não será con- VII - adicional de férias;
siderado o prazo no qual o servidor estava ocupando outro VIII - outros, relativos ao local ou à natureza do tra-
cargo em comissão relacionado no inciso V.  balho.
IX - gratificação por encargo de curso ou concurso. 
Art. 60-C.  (Revogado). Gratificações e adicionais descritos em detalhes na
própria legislação, conforme se denota abaixo.
Art. 60-D.  O valor mensal do auxílio-moradia é limitado
Subseção I
a 25% (vinte e cinco por cento) do valor do cargo em comis-
Da Retribuição pelo Exercício de Função de Dire-
são, função comissionada ou cargo de Ministro de Estado
ção, Chefia e Assessoramento
ocupado. 
§ 1o  O valor do auxílio-moradia não poderá superar Art. 62.  Ao servidor ocupante de cargo efetivo investido
25% (vinte e cinco por cento) da remuneração de Ministro em função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de
de Estado.  provimento em comissão ou de Natureza Especial é devida
§ 2o  Independentemente do valor do cargo em comis- retribuição pelo seu exercício.
são ou função comissionada, fica garantido a todos os que Parágrafo único. Lei específica estabelecerá a remunera-
preencherem os requisitos o ressarcimento até o valor de ção dos cargos em comissão de que trata o inciso II do art. 9o. 
R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais). 
Art. 62-A. Fica transformada em Vantagem Pessoal No-
Art. 60-E.  No caso de falecimento, exoneração, coloca- minalmente Identificada - VPNI a incorporação da retribui-
ção de imóvel funcional à disposição do servidor ou aquisi- ção pelo exercício de função de direção, chefia ou assesso-
ção de imóvel, o auxílio-moradia continuará sendo pago por ramento, cargo de provimento em comissão ou de Natureza
um mês.  Especial a que se referem os arts. 3º e 10 da Lei no 8.911, de
11 de julho de 1994, e o art. 3o da Lei no9.624, de 2 de abril
A subseção IV trabalha com o auxílio-moradia, be- de 1998. 
nefício que é concedido a alguns servidores. Ele serve Parágrafo único.  A VPNI de que trata o caput deste arti-
para ajudar o servidor a arcar com despesas de mora- go somente estará sujeita às revisões gerais de remuneração
dia, seja locando um imóvel, seja ficando em hotéis. O dos servidores públicos federais. 

55
DIREITO ADMINISTRATIVO

Subseção II Subseção V
Da Gratificação Natalina Do Adicional por Serviço Extraordinário

Art. 63.  A gratificação natalina corresponde a 1/12 (um Art. 73.  O serviço extraordinário será remunerado com
doze avos) da remuneração a que o servidor fizer jus no mês acréscimo de 50% (cinquenta por cento) em relação à hora
de dezembro, por mês de exercício no respectivo ano. normal de trabalho.
Parágrafo único. A fração igual ou superior a 15 (quin-
ze) dias será considerada como mês integral. Art. 74.  Somente será permitido serviço extraordinário
para atender a situações excepcionais e temporárias, respei-
Art. 64.  A gratificação será paga até o dia 20 (vinte) do tado o limite máximo de 2 (duas) horas por jornada.
mês de dezembro de cada ano.
Art. 65.  O servidor exonerado perceberá sua gratifica- Subseção VI
ção natalina, proporcionalmente aos meses de exercício, cal-
Do Adicional Noturno
culada sobre a remuneração do mês da exoneração.
Art. 75.  O serviço noturno, prestado em horário com-
Art.  66.   A gratificação natalina não será considerada
para cálculo de qualquer vantagem pecuniária. preendido entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5 (cinco)
horas do dia seguinte, terá o valor-hora acrescido de 25%
Subseção III (vinte e cinco por cento), computando-se cada hora como
Do Adicional por Tempo de Serviço cinquenta e dois minutos e trinta segundos.
Parágrafo único.  Em se tratando de serviço extraordi-
Regulamentação na Medida Provisória nº 2.225-45/01. nário, o acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre a
remuneração prevista no art. 73.
Subseção IV
Dos Adicionais de Insalubridade, Periculosidade ou Subseção VII
Atividades Penosas Do Adicional de Férias

Art. 68.  Os servidores que trabalhem com habitualidade Art. 76.  Independentemente de solicitação, será pago ao
em locais insalubres ou em contato permanente com subs- servidor, por ocasião das férias, um adicional correspondente
tâncias tóxicas, radioativas ou com risco de vida, fazem jus a a 1/3 (um terço) da remuneração do período das férias.
um adicional sobre o vencimento do cargo efetivo. Parágrafo único.  No caso de o servidor exercer função
§ 1o  O servidor que fizer jus aos adicionais de insalubri- de direção, chefia ou assessoramento, ou ocupar cargo em
dade e de periculosidade deverá optar por um deles. comissão, a respectiva vantagem será considerada no cálcu-
§  2o  O direito ao adicional de insalubridade ou peri- lo do adicional de que trata este artigo.
culosidade cessa com a eliminação das condições ou dos
riscos que deram causa a sua concessão. Subseção VIII
Da Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso
Art. 69.  Haverá permanente controle da atividade de
servidores em operações ou locais considerados penosos, in- Art. 76-A.  A Gratificação por Encargo de Curso ou Con-
salubres ou perigosos. curso é devida ao servidor que, em caráter eventual: 
Parágrafo único.  A servidora gestante ou lactante será
I - atuar como instrutor em curso de formação, de de-
afastada, enquanto durar a gestação e a lactação, das ope-
senvolvimento ou de treinamento regularmente instituído
rações e locais previstos neste artigo, exercendo suas ativida-
no âmbito da administração pública federal; 
des em local salubre e em serviço não penoso e não perigoso.
II - participar de banca examinadora ou de comissão
Art. 70.  Na concessão dos adicionais de atividades pe- para exames orais, para análise curricular, para correção de
nosas, de insalubridade e de periculosidade, serão observa- provas discursivas, para elaboração de questões de provas
das as situações estabelecidas em legislação específica. ou para julgamento de recursos intentados por candidatos; 
III - participar da logística de preparação e de realização
Art. 71.  O adicional de atividade penosa será devido de concurso público envolvendo atividades de planejamento,
aos servidores em exercício em zonas de fronteira ou em lo- coordenação, supervisão, execução e avaliação de resultado,
calidades cujas condições de vida o justifiquem, nos termos, quando tais atividades não estiverem incluídas entre as suas
condições e limites fixados em regulamento. atribuições permanentes; 
IV - participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas
Art. 72.  Os locais de trabalho e os servidores que ope- de exame vestibular ou de concurso público ou supervisionar
ram com Raios X ou substâncias radioativas serão mantidos essas atividades.
sob controle permanente, de modo que as doses de radiação § 1o  Os critérios de concessão e os limites da gratifica-
ionizante não ultrapassem o nível máximo previsto na legis- ção de que trata este artigo serão fixados em regulamento,
lação própria. observados os seguintes parâmetros: 
Parágrafo único.  Os servidores a que se refere este arti- I - o valor da gratificação será calculado em horas, ob-
go serão submetidos a exames médicos a cada 6 (seis) meses. servadas a natureza e a complexidade da atividade exercida; 

56
DIREITO ADMINISTRATIVO

II - a retribuição não poderá ser superior ao equivalente Art. 79.  O servidor que opera direta e permanentemen-
a 120 (cento e vinte) horas de trabalho anuais, ressalvada te com Raios X ou substâncias radioativas gozará 20 (vinte)
situação de excepcionalidade, devidamente justificada e pre- dias consecutivos de férias, por semestre de atividade profis-
viamente aprovada pela autoridade máxima do órgão ou sional, proibida em qualquer hipótese a acumulação.
entidade, que poderá autorizar o acréscimo de até 120 (cen- Manutenção da saúde do servidor.
to e vinte) horas de trabalho anuais; 
III - o valor máximo da hora trabalhada corresponderá Art. 80.  As férias somente poderão ser interrompidas por
aos seguintes percentuais, incidentes sobre o maior venci- motivo de calamidade pública, comoção interna, convoca-
mento básico da administração pública federal:  ção para júri, serviço militar ou eleitoral, ou por necessidade
a) 2,2% (dois inteiros e dois décimos por cento), em se do serviço declarada pela autoridade máxima do órgão ou
tratando de atividades previstas nos incisos I e II do caput entidade.
deste artigo;  Parágrafo único.  O restante do período interrompido
b) 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento), em se será gozado de uma só vez, observado o disposto no art. 77. 
tratando de atividade prevista nos incisos III e IV do caput O direito individual às férias pode ser mitigado pelo
deste artigo.  direito da coletividade de manutenção da paz e da ordem
§ 2o  A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso social.
somente será paga se as atividades referidas nos incisos
do caput deste artigo forem exercidas sem prejuízo das Capítulo IV
atribuições do cargo de que o servidor for titular, devendo Das Licenças
ser objeto de compensação de carga horária quando de-
sempenhadas durante a jornada de trabalho, na forma do Seção I
§ 4odo art. 98 desta Lei.  Disposições Gerais
§ 3o  A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso
não se incorpora ao vencimento ou salário do servidor para Art. 81.  Conceder-se-á ao servidor licença:
qualquer efeito e não poderá ser utilizada como base de I - por motivo de doença em pessoa da família;
cálculo para quaisquer outras vantagens, inclusive para fins II - por motivo de afastamento do cônjuge ou com-
de cálculo dos proventos da aposentadoria e das pensões.  panheiro;
III - para o serviço militar;
Capítulo III IV - para atividade política;
Das Férias V - para capacitação; 
VI - para tratar de interesses particulares;
Art. 77.  O servidor fará jus a trinta dias de férias, que VII - para desempenho de mandato classista.
podem ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, no Atenção aos motivos que autorizam licença, detalha-
caso de necessidade do serviço, ressalvadas as hipóteses em dos a seguir na legislação.
que haja legislação específica.  § 1o  A licença prevista no inciso I do caput deste artigo
§ 1o  Para o primeiro período aquisitivo de férias serão bem como cada uma de suas prorrogações serão precedi-
exigidos 12 (doze) meses de exercício. das de exame por perícia médica oficial, observado o dis-
§ 2o  É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao posto no art. 204 desta Lei.
serviço. § 3o  É vedado o exercício de atividade remunerada du-
§ 3o  As férias poderão ser parceladas em até três eta- rante o período da licença prevista no inciso I deste artigo.
pas, desde que assim requeridas pelo servidor, e no interes-
se da administração pública.  Art. 82.  A licença concedida dentro de 60 (sessenta) dias
É possível impedir que o servidor tire férias por até 2 do término de outra da mesma espécie será considerada
períodos se o seu serviço for altamente necessário. como prorrogação.

Art. 78.  O pagamento da remuneração das férias será Seção II


efetuado até 2 (dois) dias antes do início do respectivo perío- Da Licença por Motivo de Doença em Pessoa da
do, observando-se o disposto no § 1o deste artigo. Família
§1° e §2°. Revogados.
§  3o  O servidor exonerado do cargo efetivo, ou em Art. 83.  Poderá ser concedida licença ao servidor por
comissão, perceberá indenização relativa ao período das motivo de doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos
férias a que tiver direito e ao incompleto, na proporção de filhos, do padrasto ou madrasta e enteado, ou dependen-
um doze avos por mês de efetivo exercício, ou fração supe- te que viva a suas expensas e conste do seu assentamento
rior a quatorze dias.  funcional, mediante comprovação por perícia médica oficial. 
§ 4o  A indenização será calculada com base na remu- § 1o  A licença somente será deferida se a assistência
neração do mês em que for publicado o ato exoneratório.  direta do servidor for indispensável e não puder ser presta-
§ 5o  Em caso de parcelamento, o servidor receberá o da simultaneamente com o exercício do cargo ou mediante
valor adicional previsto no inciso XVII do art. 7o da Cons- compensação de horário, na forma do disposto no inciso
tituição Federal quando da utilização do primeiro período. II do art. 44. 

57
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2o  A licença de que trata o caput, incluídas as pror- § 2o  A partir do registro da candidatura e até o décimo
rogações, poderá ser concedida a cada período de doze dia seguinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, as-
meses nas seguintes condições:  segurados os vencimentos do cargo efetivo, somente pelo
I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, man- período de três meses. 
tida a remuneração do servidor; e 
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem Seção VI
remuneração.   Da Licença para Capacitação
§ 3o  O início do interstício de 12 (doze) meses será
contado a partir da data do deferimento da primeira licen- Art. 87.  Após cada quinquênio de efetivo exercício, o
ça concedida.  servidor poderá, no interesse da Administração, afastar-se
§ 4o  A soma das licenças remuneradas e das licenças do exercício do cargo efetivo, com a respectiva remuneração,
não remuneradas, incluídas as respectivas prorrogações, por até três meses, para participar de curso de capacitação
concedidas em um mesmo período de 12 (doze) meses, profissional. 
observado o disposto no § 3o, não poderá ultrapassar os Parágrafo único.  Os períodos de licença de que trata
limites estabelecidos nos incisos I e II do § 2o.  o caput não são acumuláveis.

Seção III Art. 90. (Vetado)


Da Licença por Motivo de Afastamento do Cônjuge
Seção VII
Art. 84.  Poderá ser concedida licença ao servidor para Da Licença para Tratar de Interesses Particulares
acompanhar cônjuge ou companheiro que foi deslocado
para outro ponto do território nacional, para o exterior ou Art. 91.  A critério da Administração, poderão ser conce-
para o exercício de mandato eletivo dos Poderes Executivo didas ao servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não
e Legislativo. esteja em estágio probatório, licenças para o trato de as-
§ 1o  A licença será por prazo indeterminado e sem re-
suntos particulares pelo prazo de até três anos consecutivos,
muneração.
sem remuneração. 
§  2o  No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou
Parágrafo único.  A licença poderá ser interrompida, a
companheiro também seja servidor público, civil ou militar,
qualquer tempo, a pedido do servidor ou no interesse do ser-
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
viço. 
Federal e dos Municípios, poderá haver exercício provisó-
rio em órgão ou entidade da Administração Federal direta,
Seção VIII
autárquica ou fundacional, desde que para o exercício de
Da Licença para o Desempenho de Mandato Clas-
atividade compatível com o seu cargo. 
sista
Seção IV
Da Licença para o Serviço Militar Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem
remuneração para o desempenho de mandato em confede-
Art. 85.  Ao servidor convocado para o serviço militar ração, federação, associação de classe de âmbito nacional,
será concedida licença, na forma e condições previstas na sindicato representativo da categoria ou entidade fiscali-
legislação específica. zadora da profissão ou, ainda, para participar de gerência
Parágrafo único.  Concluído o serviço militar, o servidor ou administração em sociedade cooperativa constituída por
terá até 30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o servidores públicos para prestar serviços a seus membros,
exercício do cargo. observado o disposto na alínea c do inciso VIII do art. 102
desta Lei, conforme disposto em regulamento e observados
Seção V os seguintes limites:
Da Licença para Atividade Política I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados,
2 (dois) servidores;
Art. 86.  O servidor terá direito a licença, sem remune- II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000
ração, durante o período que mediar entre a sua escolha (trinta mil) associados, 4 (quatro) servidores;
em convenção partidária, como candidato a cargo eletivo, III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) asso-
e a véspera do registro de sua candidatura perante a Justiça ciados, 8 (oito) servidores.
Eleitoral. § 1º Somente poderão ser licenciados os servidores
§ 1o  O servidor candidato a cargo eletivo na localidade eleitos para cargos de direção ou de representação nas re-
onde desempenha suas funções e que exerça cargo de di- feridas entidades, desde que cadastradas no órgão com-
reção, chefia, assessoramento, arrecadação ou fiscalização, petente.
dele será afastado, a partir do dia imediato ao do registro § 2º A licença terá duração igual à do mandato, poden-
de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral, até o décimo do ser renovada, no caso de reeleição.
dia seguinte ao do pleito. 

58
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo V Seção II
Dos Afastamentos Do Afastamento para Exercício de Mandato Eletivo

Seção I Art. 94.  Ao servidor investido em mandato eletivo apli-


Do Afastamento para Servir a Outro Órgão ou En- cam-se as seguintes disposições:
tidade I - tratando-se de mandato federal, estadual ou distrital,
ficará afastado do cargo;
Art. 93. O servidor poderá ser cedido para ter exercí- II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do
cio em outro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração;
III - investido no mandato de vereador:
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios ou em serviço
a) havendo compatibilidade de horário, perceberá as
social autônomo instituído pela União que exerça atividades
vantagens de seu cargo, sem prejuízo da remuneração do
de cooperação com a administração pública federal, nas se- cargo eletivo;
guintes hipóteses: b) não havendo compatibilidade de horário, será afas-
I - para exercício de cargo em comissão, função de con- tado do cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remune-
fiança ou, no caso de serviço social autônomo, para o exercí- ração.
cio de cargo de direção ou de gerência; § 1o  No caso de afastamento do cargo, o servidor con-
II - em casos previstos em leis específicas. tribuirá para a seguridade social como se em exercício es-
§ 1º Na hipótese de que trata o inciso I do caput, sendo tivesse.
a cessão para órgãos ou entidades dos Estados, do Distrito § 2o  O servidor investido em mandato eletivo ou clas-
Federal, dos Municípios ou para serviço social autônomo, sista não poderá ser removido ou redistribuído de ofício
o ônus da remuneração será do órgão ou da entidade ces- para localidade diversa daquela onde exerce o mandato.
sionária, mantido o ônus para o cedente nos demais casos.
§ 2º Na hipótese de o servidor cedido a empresa pú- Seção III
blica, sociedade de economia mista ou serviço social au- Do Afastamento para Estudo ou Missão no Exterior
tônomo, nos termos de suas respectivas normas, optar
pela remuneração do cargo efetivo ou pela remuneração Art. 95.  O servidor não poderá ausentar-se do País para
do cargo efetivo acrescida de percentual da retribuição do estudo ou missão oficial, sem autorização do Presidente da
República, Presidente dos Órgãos do Poder Legislativo e Pre-
cargo em comissão, de direção ou de gerência, a entidade
sidente do Supremo Tribunal Federal.
cessionária ou o serviço social autônomo efetuará o reem-
§ 1o  A ausência não excederá a 4 (quatro) anos, e finda
bolso das despesas realizadas pelo órgão ou pela entidade a missão ou estudo, somente decorrido igual período, será
de origem. permitida nova ausência.
§ 3o  A cessão far-se-á mediante Portaria publicada no § 2o  Ao servidor beneficiado pelo disposto neste arti-
Diário Oficial da União.  go não será concedida exoneração ou licença para tratar
§ 4o  Mediante autorização expressa do Presidente da de interesse particular antes de decorrido período igual ao
República, o servidor do Poder Executivo poderá ter exer- do afastamento, ressalvada a hipótese de ressarcimento da
cício em outro órgão da Administração Federal direta que despesa havida com seu afastamento.
não tenha quadro próprio de pessoal, para fim determina- § 3o  O disposto neste artigo não se aplica aos servido-
do e a prazo certo.  res da carreira diplomática.
§ 5° Aplica-se à União, em se tratando de empregado §  4o  As hipóteses, condições e formas para a autori-
ou servidor por ela requisitado, as disposições dos §§ 1º e zação de que trata este artigo, inclusive no que se refere
2º deste artigo.  à remuneração do servidor, serão disciplinadas em regu-
§ 6° As cessões de empregados de empresa pública ou lamento. 
de sociedade de economia mista, que receba recursos de
Tesouro Nacional para o custeio total ou parcial da sua fo- Art. 96.  O afastamento de servidor para servir em orga-
lha de pagamento de pessoal, independem das disposições nismo internacional de que o Brasil participe ou com o qual
coopere dar-se-á com perda total da remuneração.
contidas nos incisos I e II e §§ 1º e 2º deste artigo, ficando
o exercício do empregado cedido condicionado a autoriza-
Seção IV
ção específica do Ministério do Planejamento, Orçamento Do Afastamento para Participação em Programa
e Gestão, exceto nos casos de ocupação de cargo em co- de Pós-Graduação Stricto Sensu no País
missão ou função gratificada. 
§ 7° O Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges- Art. 96-A.  O servidor poderá, no interesse da Adminis-
tão, com a finalidade de promover a composição da força tração, e desde que a participação não possa ocorrer simul-
de trabalho dos órgãos e entidades da Administração Pú- taneamente com o exercício do cargo ou mediante compen-
blica Federal, poderá determinar a lotação ou o exercício sação de horário, afastar-se do exercício do cargo efetivo,
de empregado ou servidor, independentemente da obser- com a respectiva remuneração, para participar em pro-
vância do constante no inciso I e nos §§ 1° e 2° deste artigo.  grama de pós-graduação stricto sensu em instituição de
ensino superior no País. 

59
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1o Ato do dirigente máximo do órgão ou entidade de- Art. 98.  Será concedido horário especial ao servidor
finirá, em conformidade com a legislação vigente, os pro- estudante, quando comprovada a incompatibilidade entre
gramas de capacitação e os critérios para participação em o horário escolar e o da repartição, sem prejuízo do exercício
programas de pós-graduação no País, com ou sem afas- do cargo.
tamento do servidor, que serão avaliados por um comitê § 1o  Para efeito do disposto neste artigo, será exigida
constituído para este fim.  a compensação de horário no órgão ou entidade que tiver
§ 2o Os afastamentos para realização de programas de exercício, respeitada a duração semanal do trabalho.
mestrado e doutorado somente serão concedidos aos ser- § 2o  Também será concedido horário especial ao ser-
vidores titulares de cargos efetivos no respectivo órgão ou vidor portador de deficiência, quando comprovada a ne-
entidade há pelo menos 3 (três) anos para mestrado e 4 cessidade por junta médica oficial, independentemente de
(quatro) anos para doutorado, incluído o período de es- compensação de horário. 
tágio probatório, que não tenham se afastado por licença § 3º As disposições constantes do § 2o são extensivas
para tratar de assuntos particulares para gozo de licença ao servidor que tenha cônjuge, filho ou dependente com
capacitação ou com fundamento neste artigo nos 2 (dois) deficiência.
anos anteriores à data da solicitação de afastamento. § 4o  Será igualmente concedido horário especial, vin-
§ 3o Os afastamentos para realização de programas de culado à compensação de horário a ser efetivada no prazo
pós-doutorado somente serão concedidos aos servidores de até 1 (um) ano, ao servidor que desempenhe atividade
titulares de cargos efetivo no respectivo órgão ou entidade prevista nos incisos I e II do caput do art. 76-A desta Lei. 
há pelo menos quatro anos, incluído o período de estágio
probatório, e que não tenham se afastado por licença para Art. 99.  Ao servidor estudante que mudar de sede no
tratar de assuntos particulares ou com fundamento neste interesse da administração é assegurada, na localidade da
artigo, nos quatro anos anteriores à data da solicitação de nova residência ou na mais próxima, matrícula em institui-
afastamento.  ção de ensino congênere, em qualquer época, independen-
§  4o  Os servidores beneficiados pelos afastamentos temente de vaga.
Parágrafo único.  O disposto neste artigo estende-se ao
previstos nos §§ 1o, 2o e 3o deste artigo terão que permane-
cônjuge ou companheiro, aos filhos, ou enteados do servidor
cer no exercício de suas funções após o seu retorno por um
que vivam na sua companhia, bem como aos menores sob
período igual ao do afastamento concedido. 
sua guarda, com autorização judicial.
§  5o Caso o servidor venha a solicitar exoneração do
cargo ou aposentadoria, antes de cumprido o período de
Capítulo VII
permanência previsto no § 4o deste artigo, deverá ressarcir
Do Tempo de Serviço
o órgão ou entidade, na forma do art. 47 da Lei no 8.112, de
11 de dezembro de 1990, dos gastos com seu aperfeiçoa-
Art. 100.  É contado para todos os efeitos o tempo de ser-
mento.  viço público federal, inclusive o prestado às Forças Armadas.
§ 6o Caso o servidor não obtenha o título ou grau que
justificou seu afastamento no período previsto, aplica-se o Art. 101.  A apuração do tempo de serviço será feita
disposto no § 5o deste artigo, salvo na hipótese comprova- em dias, que serão convertidos em anos, considerado o
da de força maior ou de caso fortuito, a critério do dirigen- ano como de trezentos e sessenta e cinco dias.
te máximo do órgão ou entidade. 
§ 7o Aplica-se à participação em programa de pós-gra- Art. 102.  Além das ausências ao serviço previstas no art.
duação no Exterior, autorizado nos termos do art. 95 desta 97, são considerados como de efetivo exercício os afasta-
Lei, o disposto nos §§ 1o a 6o deste artigo.  mentos em virtude de:
I - férias;
Capítulo VI II - exercício de cargo em comissão ou equivalente, em
Das Concessões órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, Muni-
cípios e Distrito Federal;
Art. 97.  Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor au- III - exercício de cargo ou função de governo ou adminis-
sentar-se do serviço: tração, em qualquer parte do território nacional, por nomea-
I - por 1 (um) dia, para doação de sangue; ção do Presidente da República;
II - pelo período comprovadamente necessário para IV - participação em programa de treinamento regular-
alistamento ou recadastramento eleitoral, limitado, em mente instituído ou em programa de pós-graduação stricto
qualquer caso, a dois dias; e (Redação dada pela Medida sensu no País, conforme dispuser o regulamento;
Provisória nº 632, de 2013) V - desempenho de mandato eletivo federal, estadual,
III - por 8 (oito) dias consecutivos em razão de : municipal ou do Distrito Federal, exceto para promoção por
a) casamento; merecimento;
b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais, madras- VI - júri e outros serviços obrigatórios por lei;
ta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou tutela VII - missão ou estudo no exterior, quando autorizado o
e irmãos. afastamento, conforme dispuser o regulamento; 
VIII - licença:

60
DIREITO ADMINISTRATIVO

a) à gestante, à adotante e à paternidade; Art. 106.  Cabe pedido de reconsideração à autoridade


b) para tratamento da própria saúde, até o limite de vin- que houver expedido o ato ou proferido a primeira decisão,
te e quatro meses, cumulativo ao longo do tempo de serviço não podendo ser renovado. 
público prestado à União, em cargo de provimento efetivo;  Parágrafo único.  O requerimento e o pedido de reconsi-
c) para o desempenho de mandato classista ou partici- deração de que tratam os artigos anteriores deverão ser des-
pação de gerência ou administração em sociedade coopera- pachados no prazo de 5 (cinco) dias e decididos dentro
tiva constituída por servidores para prestar serviços a seus de 30 (trinta) dias.
membros, exceto para efeito de promoção por merecimento; 
d) por motivo de acidente em serviço ou doença profis- Art. 107.  Caberá recurso: 
sional; I - do indeferimento do pedido de reconsideração;
e) para capacitação, conforme dispuser o regulamento; 
II - das decisões sobre os recursos sucessivamente in-
f) por convocação para o serviço militar;
terpostos.
IX - deslocamento para a nova sede de que trata o art.
§ 1o  O recurso será dirigido à autoridade imediatamen-
18;
X - participação em competição desportiva nacional ou te superior à que tiver expedido o ato ou proferido a de-
convocação para integrar representação desportiva nacio- cisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às demais
nal, no País ou no exterior, conforme disposto em lei espe- autoridades.
cífica; §  2o  O recurso será encaminhado por intermédio da
XI - afastamento para servir em organismo internacio- autoridade a que estiver imediatamente subordinado o re-
nal de que o Brasil participe ou com o qual coopere.  querente.

Art. 103.  Contar-se-á apenas para efeito de aposenta- Art. 108.  O prazo para interposição de pedido de re-
doria e disponibilidade: consideração ou de recurso é de 30 (trinta) dias, a contar
I - o tempo de serviço público prestado aos Estados, Mu- da publicação ou da ciência, pelo interessado, da decisão
nicípios e Distrito Federal; recorrida. 
II - a licença para tratamento de saúde de pessoal da fa-
mília do servidor, com remuneração, que exceder a 30 (trin- Art. 109.  O recurso poderá ser recebido com efeito sus-
ta) dias em período de 12 (doze) meses.  pensivo, a juízo da autoridade competente.
III - a licença para atividade política, no caso do art. 86, Parágrafo único.  Em caso de provimento do pedido de
§ 2o;
reconsideração ou do recurso, os efeitos da decisão retroagi-
IV - o tempo correspondente ao desempenho de man-
rão à data do ato impugnado.
dato eletivo federal, estadual, municipal ou distrital, anterior
ao ingresso no serviço público federal;
V - o tempo de serviço em atividade privada, vinculada Art. 110.  O direito de requerer prescreve:
à Previdência Social; I - em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão e de
VI - o tempo de serviço relativo a tiro de guerra; cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou que afe-
VII - o tempo de licença para tratamento da própria saú- tem interesse patrimonial e créditos resultantes das relações
de que exceder o prazo a que se refere a alínea “b” do inciso de trabalho;
VIII do art. 102.  II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo
§  1o  O tempo em que o servidor esteve aposentado quando outro prazo for fixado em lei.
será contado apenas para nova aposentadoria. Parágrafo único.  O prazo de prescrição será contado da
§ 2o  Será contado em dobro o tempo de serviço pres- data da publicação do ato impugnado ou da data da
tado às Forças Armadas em operações de guerra. ciência pelo interessado, quando o ato não for publicado.
§  3o  É vedada a contagem cumulativa de tempo de
serviço prestado concomitantemente em mais de um cargo Art. 111.  O pedido de reconsideração e o recurso,
ou função de órgão ou entidades dos Poderes da União, quando cabíveis, interrompem a prescrição.
Estado, Distrito Federal e Município, autarquia, fundação
pública, sociedade de economia mista e empresa pública. Art. 112.  A prescrição é de ordem pública, não poden-
do ser relevada pela administração.
Capítulo VIII
Do Direito de Petição
Art. 113.  Para o exercício do direito de petição, é asse-
Art. 104.  É assegurado ao servidor o direito de reque- gurada vista do processo ou documento, na repartição,
rer aos Poderes Públicos, em defesa de direito ou inte- ao servidor ou a procurador por ele constituído.
resse legítimo.
Art. 114.  A administração deverá rever seus atos, a
Art. 105.  O requerimento será dirigido à autoridade qualquer tempo, quando eivados de ilegalidade.
competente para decidi-lo e encaminhado por intermé-
dio daquela a que estiver imediatamente subordinado o re- Art. 115.  São fatais e improrrogáveis os prazos esta-
querente. belecidos neste Capítulo, salvo motivo de força maior.

61
DIREITO ADMINISTRATIVO

Estabelece a CF, no art. 5°, XXIV, a) o direito de petição, das condutas esperadas do servidor público quando do
assegurado a todos: “são a todos assegurados, indepen- desempenho de suas funções. Em resumo, o servidor pú-
dentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição blico deve desempenhar suas funções com cuidado, rapi-
aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilega- dez e pontualidade, sendo leal à instituição que compõe,
lidade ou abuso de poder;”. Os artigos acima descrevem o respeitando as ordens de seus superiores que sejam ade-
direito de petição específico dos servidores públicos. quadas às funções que desempenhe e buscando conservar
o patrimônio do Estado. No tratamento do público, deve
Do Regime Disciplinar ser prestativo e não negar o acesso a informações que não
sejam sigilosas. Caso presencie alguma ilegalidade ou abu-
Título IV so de poder, deve denunciar. Tomam-se como base os en-
Do Regime Disciplinar sinamentos de Lima a respeito destes deveres:

O regime disciplinar do servidor público civil federal I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do car-
está estabelecido basicamente de duas maneiras: deveres go;
e proibições. Ontologicamente, são a mesma coisa: ambos “O primeiro dos deveres insculpidos no regime estatu-
deveres e proibições são normas protetivas da boa Admi- tário é o dever de zelo. O zelo diz respeito às atribuições
nistração. Nas duas hipóteses, violado o preceito, cabível é funcionais e também ao cuidado com a economia do ma-
uma punição. Deve-se notar, porém, que os deveres cons- terial, os bens da repartição e o patrimônio público. Sob o
tam da lei como ações, como conduta positiva; as proibi- prisma da disciplina e da conservação dos bens e materiais
ções, ao contrário, são descritas como condutas vedadas da repartição, o servidor deve sempre agir com dedicação
ao servidor, de modo que ele deve abster-se de praticá- no desempenho das funções do cargo que ocupa, e que
-las. Os deveres estão inscritos no artigo 116, não de modo lhe foram atribuídas desde o termo de posse. O servidor
exaustivo, porque o servidor deve obediência a todas as não é o dono do cargo. Dono do cargo é o Estado que o
normas legais ou infralegais, e o próprio inciso III do refe- remunera. Se o referido cargo não lhe pertence, o servi-
rido dispositivo é, de certa maneira, uma norma disciplinar dor deve exercer suas funções com o máximo de zelo que
em branco. estiver ao seu alcance. Sua eventual menor capacidade de
“Estes dispositivos preveem, basicamente, um conjunto desempenho, para não configurar desídia ou insuficiência
de normas de conduta e de proibições impostas pela lei de desempenho, deverá ser compensada com um maior
aos servidores por ela abrangidos, tendo em vista a pre- esforço e dedicação de sua parte. Se um servidor altamen-
venção, a apuração e a possível punição de atos e omissões te preparado e capaz, vem a praticar atos que configurem
que possam por em risco o funcionamento adequado da desídia ou mesmo falta mais grave, poderá vir a ser punido.
administração pública, do posto de vista ético, do ponto
Porque o que se julgará não é a pessoa do servidor, mas a
de vista da eficiência e do ponto de vista da legalidade.
conduta a ele imputável. O zelo não deve se limitar apenas
Decorrem, estes dispositivos, do denominado Poder Disci-
às atribuições específicas de sua atividade. O servidor deve
plinar que é aquele conferido à Administração com o obje-
ter zelo não somente com os bens e interesses imateriais
tivo de manter sua disciplina interna, na medida em que lhe
(a imagem, os símbolos, a moralidade, a pontualidade, o
atribui instrumentos para punir seus servidores (e também
sigilo, a hierarquia) como também para com os bens e in-
àqueles que estejam a ela vinculados por um instrumento
jurídico determinado - particulares contratados pela Ad- teresses patrimoniais do Estado”.
ministração). [...]“O disposto no Título IV da lei nº 8.112/90
prevê basicamente um conjunto de obrigações impostas II - ser leal às instituições a que servir;
aos servidores por ela regidos. Tais obrigações, ora positi- “O servidor que cumprir todos os deveres e normas
vas (os denominados Deveres – art. 116), ora negativas (as administrativas já positivadas, consequentemente, é leal à
denominadas Proibições – art. 117) uma vez inadimplidas instituição que lhe remunera. Sob o prisma constitucional é
ensejam sua imediata apuração (art. 143) e uma vez com- que devemos entender a norma hoje. Sendo assim, o dever
provadas importam na responsabilização administrativa, a de lealdade está inserido no Estatuto como norma progra-
desafiar, então, a aplicação de uma das sanções administra- mática, orientadora da conduta dos servidores”.
tivas (art. 127). Não é por outra razão que o art. 124 declara
que a responsabilidade administrativa resulta da prática de III - observar as normas legais e regulamentares;
ato omissivo (quando o servidor deixa de cumprir os deve- “A função desta norma é de não deixar sem resposta
res a ele impostos) ou comissivo (quando viola proibição) qualquer que seja a irregularidade cometida. Daí a neces-
praticado no desempenho do cargo ou função”. sária correlação nesses casos que temos de fazer do art.
116, inciso III, com a norma violada, e já prevista em outra
Capítulo I lei, decreto, instrução, ordem de serviço ou portaria”.
Dos Deveres
IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando ma-
Art. 116.  São deveres do servidor: nifestamente ilegais;
Os deveres do servidor previstos na Lei n° 8.112/90 “O servidor integra a estrutura organizacional do ór-
são em muito compatíveis com os previstos no Código de gão em que presta suas atribuições funcionais. O Estado
Ética profissional do Servidor Público Civil do Poder Exe- se movimenta através dos seus diversos órgãos. Dentro
cutivo Federal (Decreto n° 1.171/94). Descrevem algumas dos órgãos públicos, há um escalonamento de cargos e

62
DIREITO ADMINISTRATIVO

funções que servem ao cumprimento da vontade do ente poderá ser causa inclusive de demissão, se não cumprir o
estatal. Este escalonamento, posto em movimento, é o presente dever, quando por descumprimento dele a gra-
que vimos até agora chamando de hierarquia. A hierarquia vidade do fato implicar a infração a normas mais graves”.
existe para que do alto escalão até a prática dos adminis-
trados as coisas funcionem. Disso decorre que quando é VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição;
emitida uma ordem para o servidor subordinado, este deve “O agente público deve guardar sigilo sobre o que se
dar cumprimento ao comando. Porém quando a ordem é passa na repartição, principalmente quanto aos assuntos
visivelmente ilegal, arbitrária, inconstitucional ou absurda, oficiais. Pela Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011,
o servidor não é obrigado a dar seguimento ao que lhe é hoje está regulamentado o acesso às informações. Porém,
ordenado. Quando a ordem é manifestamente ilegal? Há o servidor deve ter cuidado, pois até mesmo o fornecimen-
uma margem de interpretação, principalmente se o servi- to ou divulgação das informações exigem um procedimen-
dor subordinado não tiver nenhuma formação de ordem to. Maior cuidado há que se ter, quando a informação pos-
jurídica. Logo, é o bom senso que irá margear o que é fla- sa expor a intimidade da pessoa humana. As informações
grantemente inconstitucional”. pessoais dos administrados em geral devem ser tratadas
forma transparente e com respeito à intimidade, à vida
V - atender com presteza: privada, à honra e à imagem das pessoas, bem como às
a) ao público em geral, prestando as informações reque- liberdades e garantias individuais, segundo o artigo 31, da
ridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; Lei nº 21.527, 2011. A exceção para o sigilo existe, pois, não
b) à expedição de certidões requeridas para defesa de devemos tratar a questão em termos de cláusula jurídica
direito ou esclarecimento de situações de interesse pessoal; de caráter absoluto, podendo ter autorizada a divulgação
c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública. ou o acesso por terceiros quando haja previsão legal. Outra
“Este dever foi insculpido na lei para que o servidor exceção é quando há o consentimento expresso da pessoa
público trabalhe diuturnamente no sentido de desfazer a a que elas se referirem. No caso de cumprimento de or-
imagem desagradável que o mesmo possui perante a so- dem judicial, para a defesa de direitos humanos, e quando
ciedade. Exige-se que atue com presteza no atendimento a a proteção do interesse público e geral preponderante o
exigir, também devem ser fornecidas as informações. Por-
informações solicitadas pela Fazenda Pública. Esta engloba
tanto, o servidor há que ter reserva no seu comportamento
o fisco federal, estadual, municipal e distrital. O servidor
e fala, esquivando-se de revelar o conteúdo do que se pas-
público tem que ser expedito, diligente, laborioso. Não há
sa no seu trabalho. Se o assunto pululante é uma irregula-
mais lugar para o burocrata que se afasta do administra-
ridade absurda, deve então reduzir a escrito e representar
do, dificultando a vida de quem necessita de atendimen-
para que se apure o caso. Deveriam diminuir as conversas
to rápido e escorreito. Entretanto, há um longo caminho a
de corredor e se efetivar a apuração dos fatos através do
ser percorrido até que se atinja um mínimo ideal de aten-
processo administrativo disciplinar. Os assuntos objeto do
dimento e de funcionamento dos órgãos públicos, o que serviço merecem reserva. Devem ficar circunscritos aos ser-
deve necessariamente passar por critérios de valorização vidores designados para o respectivo trabalho interno, não
dos servidores bons e de treinamento e qualificação per- devendo sair da seção ou setor de trabalho, sem o trâmite
manente dos quadros de pessoal”. hierárquico do chefe imediato. Se o assunto ou o trabalho,
enfim, merecer divulgação mais ampla, deve ser contatado
VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em o órgão de assessoria de comunicação social, que saberá
razão do cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, proceder de forma oficial, obedecendo ao bom senso e às
quando houver suspeita de envolvimento desta, ao conheci- leis vigentes”.
mento de outra autoridade competente para apuração; 
“Todo servidor público é obrigado a dar conhecimento IX - manter conduta compatível com a moralidade ad-
ao chefe da repartição acerca das irregularidades de que ministrativa;
toma conhecimento no exercício de suas atribuições. Deve “O ato administrativo não se satisfaz somente com o
levar ao conhecimento da chefia imediata pelo sistema hie- ser legal. Para ser válido o ato administrativo tem que ser
rárquico. Supõe-se que os titulares das chefias ou divisões compatível com a moralidade administrativa. O agente
detêm um conhecimento maior de como corrigir o erro ou deve se comportar em seus atos de maneira proba, escor-
comunicar aos órgãos de controle para a devida apuração. reita, séria, não atuando com intenções escusas e desvir-
De nada adiantaria o servidor, ciente de um ato irregular, tuadas. Seu poder-dever não pode ser utilizado, por exem-
ir comunicar ao público ou a terceiros. Além do dever de plo, para satisfação de interesses menores, como realizar a
sigilo, há assuntos que exigem certas reservas, visando ao prática de determinado ato para beneficiar uma amante ou
bem do serviço público, da segurança nacional e mesmo um parente. Se o agente viola o dever de agir com com-
da sociedade”. portamento incompatível com a moralidade administrativa,
poderá estar sujeito a sanção disciplinar. Seu ato ímpro-
VII - zelar pela economia do material e a conservação bo ou imoral configura o chamado desvio de poder, que é
do patrimônio público; totalmente abominável no Direito Administrativo e poderá
“Esse deve é basilar. Se o agente não zelar pela econo- ser anulado interna corporis ou judicialmente através da
mia e pela conservação dos bens públicos presta um des- ação popular, ação de ressarcimento ao erário e ação civil
serviço à nação que lhe remunera. E como se verá adiante pública se o ato violar direito coletivo ou transindividual”.

63
DIREITO ADMINISTRATIVO

X - ser assíduo e pontual ao serviço; Capítulo II


“Dois conceitos diferentes, porém parecidos. Ser assí- Das Proibições
duo significa ser presente dentro do horário do expedien-
te. O oposto do assíduo é o ausente, o faltoso. Pontual é Art. 117.  Ao servidor é proibido: 
aquele servidor que não atrasa seus compromissos. É o que Em contraposição aos deveres do servidor público,
comparece no horário para as reuniões de trabalho e de- existem diversas proibições, que também estão em boa
mais atividades relacionadas com o exercício do cargo que parte abrangidas pelo Decreto n° 1.171/94. A violação dos
ocupa. Embora sejam conceitos diferentes, aqui o dever deveres ou a prática de alguma das violações abaixo des-
violado, seja por impontualidade, seja por inassiduidade critas caracterizam infração administrativa disciplinar.
(que ainda não aquela inassiduidade habitual de 60 dias “Nas Proibições – art. 117, constata-se, desde logo, sua
ensejadora de demissão), merece reprimenda de advertên- objetividade e taxatividade, o que veda sua ampliação e o
cia, com fins educativos e de correção do servidor”. uso de interpretações analógicas ou sistemáticas visto se-
rem condutas restritivas de direitos, sujeitas, portanto, ao
XI - tratar com urbanidade as pessoas;
princípio da reserva legal. O descumprimento dessas proi-
“No mundo moderno, e máxime em nossa civilização
bições podem inclusive, ensejar o enquadramento penal
ocidental, o trato tem que ser o mais urbano possível. Ur-
do servidor, pois muitas das condutas ali descritas, confi-
bano, nessa acepção, não quer dizer citadino ou oriundo
da urbe (cidade), mas, sim, educado, civilizado, cordato e guram prática de delito penal”.
que não possa criar embaraços aos usuários dos serviços
públicos”. I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem
prévia autorização do chefe imediato;
XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso Violação do dever de assiduidade.
de poder.
Parágrafo único.  A representação de que trata o inciso II - retirar, sem prévia anuência da autoridade compe-
XII será encaminhada pela via hierárquica e apreciada pela tente, qualquer documento ou objeto da repartição;
autoridade superior àquela contra a qual é formulada, Violação do dever de zelo com o patrimônio público.
assegurando-se ao representando ampla defesa.
Caso o funcionário público denuncie outro servidor, III - recusar fé a documentos públicos;
esta representação será encaminhada a alguém que seja É dever do servidor público conferir fé aos documentos
superior hierarquicamente ao denunciado, que terá direito públicos, revestindo-lhes da autoridade e confiança que
à ampla defesa. seu cargo possui. Violação do dever de transparência.
“O servidor tem obrigação legal de dar conhecimen-
to às autoridades de qualquer irregularidade de que tiver IV - opor resistência injustificada ao andamento de
ciência em razão do cargo, principalmente no processo documento e processo ou execução de serviço;
em que está atuando ou quando o fato aconteceu sob as Não cabe impedir que o trâmite da administração seja
suas vistas. Não é concebível que o servidor se defronte alterado por um capricho pessoal. Violação ao dever de ce-
com uma irregularidade administrativa e fique inerte. Deve leridade e eficiência, bem como de impessoalidade.
provocar quem de direito para que a irregularidade seja
sanada de imediato. Caso haja indiferença no seu círculo V - promover manifestação de apreço ou desapreço no
de atuação, i.e., no seu setor ou seção, deverá representar recinto da repartição;
aos órgãos superiores. Assim é que o dever de informar
Violação do dever de discrição.
acerca de irregularidades anda de braço dado com o dever
de representar. Não surtindo efeito a notícia da irregulari-
VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos
dade, não corrigida esta, sobrevém o dever de representar.
casos previstos em lei, o desempenho de atribuição que seja
O dever de representação não deixa de ser uma prerro-
gativa legal, investindo o servidor de um múnus público de sua responsabilidade ou de seu subordinado;
importante, constituindo o servidor em um curador legal Quem é designado para o desempenho de uma função
do ente público. O mais humilde servidor passa a ser um pública deve desempenhá-la, não podendo designar outra
agente promotor de legalidade. É claro o inciso XII do art. pessoa para prestar seus serviços ou de seu subordinado.
116 quando diz que é dever do servidor “representar con-
tra ilegalidade, omissão ou abuso de poder”. De modo que VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de fi-
também a omissão pode ensejar a representação. A omis- liarem-se a associação profissional ou sindical, ou a partido
são do agente que ilegalmente não pratica ato a que se político;
acha vinculado pode até configurar o ilícito penal de pre- O direito de associação é livre, não podendo um fun-
varicação. O dever de representação deve ser privilegiado, cionário forçar o seu subordinado a associar-se sindical ou
mas deve ser usado com o devido equilíbrio, não podendo politicamente.
servir a finalidades egoísticas, político-partidárias, induzido
por inimizades de cunho pessoal, o que de pronto trespas- VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou fun-
sará o representante de autor a réu por prática de abuso de ção de confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o
poder ou denunciação caluniosa”. segundo grau civil;

64
DIREITO ADMINISTRATIVO

É a chamada prática de nepotismo. Do latim nepos, A percepção de vantagem indevida gerando enrique-
neto ou descendente, é o termo utilizado para designar o cimento ilícito também caracteriza ato de improbidade ad-
favorecimento de parentes (ou amigos próximos) em detri- ministrativa de maior gravidade, bem como crime de cor-
mento de pessoas mais qualificadas, especialmente no que rupção passiva.
diz respeito à nomeação ou elevação de cargos. O Decreto
nº 7.203, de 4 de junho de 2010 dispõe sobre a vedação XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de estado
do nepotismo no âmbito da administração pública federal. estrangeiro;
Súmula Vinculante nº 13: “A nomeação de cônjuge, Trata-se de indício da intenção de praticar atos contrá-
companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por rios ao interesse do Estado ao qual esteja vinculado.
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade no-
meante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investi- XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas;
do em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o Usura significa agiotagem, que é o empréstimo de di-
exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, nheiro a particulares obtendo juros abusivos em troca. As
de função gratificada na Administração Pública direta e in- atividades de empréstimo somente podem ser desempe-
direta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
nhadas com fim lucrativo por instituições credenciadas.
Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste
mediante designações recíprocas, viola a Constituição Fe-
XV - proceder de forma desidiosa;
deral.” Obs.: se o concurso pedir pelo entendimento juris-
Desídia é desleixo, descuido, preguiça, indolência.
prudencial, vá pela súmula, mas se não mencionar nada
se atenha ao texto da lei, visto que há pequenas variações
entre o texto da súmula e o da lei. XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição
em serviços ou atividades particulares;
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou O aparato da administração pública pertence ao Esta-
de outrem, em detrimento da dignidade da função pública; do, não cabendo ao servidor utilizá-lo em atividades par-
O cargo público serve apenas aos interesses da admi- ticulares.
nistração pública, ou seja, da coletividade, não aos interes-
ses pessoais do servidor. XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas
ao cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e
X - participar de gerência ou administração de socie- transitórias;
dade privada, personificada ou não personificada, exercer o Cada servidor público tem sua atribuição legal, não
comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou co- cabendo designá-lo para desempenhar funções diversas
manditário; salvo em caso de extrema necessidade.
Não cabe ao servidor público administrar sociedade
privada, o que pode comprometer sua eficiência e impar- XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incom-
cialidade no exercício da função pública. No princípio, ou patíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário
seja, na redação original do Estatuto era proibida apenas a de trabalho;
participação do servidor como sócio gerente ou adminis- O exercício de atividades incompatíveis propicia uma
trador de empresa privada, exceto na qualidade de mero violação ao princípio da imparcialidade.
cotista, acionário ou comanditário. Atualmente, a empresa
pode até não estar personificada, por exemplo, não estar XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais
devidamente constituída e registrada nos órgãos compe- quando solicitado.
tentes (Junta Comercial, fisco estadual, municipal, distrital A atualização de dados cadastrais é necessária para
e federal, e órgãos de controle: ambiental, trabalhista etc.). manter a administração ciente da situação de seu servidor.
Comprovada detidamente a gerência ou administração da
sociedade particular em concomitância com a pretensa
Parágrafo único.  A vedação de que trata o inciso X do
carga horária da repartição pública, deve ser aplicada a pe-
caput deste artigo não se aplica nos seguintes casos: 
nalidade de demissão.
I - participação nos conselhos de administração e fiscal
XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto de empresas ou entidades em que a União detenha, direta
a repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios ou indiretamente, participação no capital social ou em so-
previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo ciedade cooperativa constituída para prestar serviços a seus
grau, e de cônjuge ou companheiro; membros; e 
Não cabe atuar como procurador perante repartições II - gozo de licença para o trato de interesses particu-
públicas de forma profissional. Daí a limitação à atuação lares, na forma do art. 91 desta Lei, observada a legislação
como representante de parente até segundo grau (irmãos, sobre conflito de interesses. 
ascendentes e descendentes, cônjuges e companheiros). Nestes casos, é possível participar diretamente da ad-
ministração de sociedade privada, pois o interesse estatal
XII - receber propina, comissão, presente ou vanta- não será comprometido.
gem de qualquer espécie, em razão de suas atribuições;

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo III Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica


Da Acumulação à remuneração devida pela participação em conselhos de
administração e fiscal das empresas públicas e sociedades de
Art. 118.  Ressalvados os casos previstos na Constituição, economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como
é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos. quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta ou
Estabelece o artigo 37, XVI da Constituição Federal: indiretamente, detenha participação no capital social, obser-
vado o que, a respeito, dispuser legislação específica. 
É vedada a acumulação remunerada de cargos públi- O exercício de função em determinados conselhos de
cos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, administração e fiscais aceita remuneração. Trata-se de ex-
observado em qualquer caso o disposto no inciso XI.  ceção ao caput.
a) a de dois cargos de professor; 
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou Art. 120.  O servidor vinculado ao regime desta Lei, que
científico; acumular licitamente dois cargos efetivos, quando investido
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profis-
em cargo de provimento em comissão, ficará afastado de
sionais de saúde, com profissões regulamentadas;
ambos os cargos efetivos, salvo na hipótese em que houver
compatibilidade de horário e local com o exercício de um
Segundo Carvalho Filho, “o fundamento da proibição é
deles, declarada pelas autoridades máximas dos órgãos ou
impedir que o cúmulo de funções públicas faça com que o
servidor não execute qualquer delas com a necessária efi- entidades envolvidos.
ciência. Além disso, porém, pode-se observar que o Cons- Se o servidor já cumular dois cargos efetivos e for in-
tituinte quis também impedir a cumulação de ganhos em vestido de um cargo em comissão, ficará afastado dos car-
detrimento da boa execução de tarefas públicas. [...] Nota- gos efetivos a não ser que exista compatibilidade de ho-
-se que a vedação se refere à acumulação remunerada. Em rários e local com um deles, caso em que se afastará de
consequência, se a acumulação só encerra a percepção de somente um cargo efetivo.
vencimentos por uma das fontes, não incide a regra cons- “Os artigos 118 a 120 da lei nº 8.112/90 ao tratarem da
titucional proibitiva”. acumulação de cargos e funções públicas, regulamentam,
no âmbito do serviço público federal a vedação genérica
§ 1o  A proibição de acumular estende-se a cargos, em- constante do art. 37, incisos VXI e XVII, da Constituição da
pregos e funções em autarquias, fundações públicas, em- República. De fato, a acumulação ilícita de cargos públicos
presas públicas, sociedades de economia mista da União, constitui uma das infrações mais comuns praticadas por
do Distrito Federal, dos Estados, dos Territórios e dos Mu- servidores públicos, o que se constata observando o eleva-
nicípios. do número de processos administrativos instaurados com
A proibição vale tanto para a administração direta esse objeto. O sistema adotado pela lei nº 8.112/90 é rela-
quanto para a indireta. tivamente brando, quando cotejado com outros estatutos
de alguns Estados, visto que propicia ao servidor incurso
§ 2o  A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica con- nessa ilicitude diversas oportunidades para regularizar sua
dicionada à comprovação da compatibilidade de horários. situação e escapar da pena de demissão. Também prevê a
Se o Estado pretende que o desempenho de atividade lei em comentário, um processo administrativo simplifica-
cumulada não gere prejuízo à função pública, correto que do (processo disciplinar de rito sumário) para a apuração
exija a comprovação de compatibilidade de horários; dessa infração – art. 133” .
§  3o  Considera-se acumulação proibida a percepção
Capítulo IV
de vencimento de cargo ou emprego público efetivo com
Das Responsabilidades
proventos da inatividade, salvo quando os cargos de que
decorram essas remunerações forem acumuláveis na ati-
Art. 121.  O servidor responde civil, penal e adminis-
vidade.
Exterioriza-se, por exemplo, a proibição de que o agen- trativamente pelo exercício irregular de suas atribuições.
te se aposente do serviço público e continue o exercendo, Segundo Carvalho Filho, “a responsabilidade se origina
recebendo aposentadoria e salário. de uma conduta ilícita ou da ocorrência de determinada
situação fática prevista em lei e se caracteriza pela natureza
Art. 119.  O servidor não poderá exercer mais de um do campo jurídico em que se consuma. Desse modo, a res-
cargo em comissão, exceto no caso previsto no parágrafo ponsabilidade pode ser civil, penal e administrativa. Cada
único do art. 9o, nem ser remunerado pela participação em responsabilidade é, em princípio, independente da outra”.
órgão de deliberação coletiva.  É possível que o mesmo fato gere responsabilidade ci-
Cargo em comissão é aquele que não exige aprovação vil, penal e administrativa, mas também é possível que este
em concurso público, sendo designado para o exercício gere apenas uma ou outra espécie de responsabilidade.
por possuir um vínculo de confiança com o superior. So- Daí o fato das responsabilidades serem independentes: o
mente é possível exercer 1, salvo interinamente. Da mesma mesmo fato pode gerar a aplicação de qualquer uma delas,
forma, não cabe remuneração por participar de órgão de cumulada ou isoladamente.
deliberação coletiva.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 122.  A responsabilidade civil decorre de ato omis- Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen-
sivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em te causar aos membros da sociedade, mas se este agen-
prejuízo ao erário ou a terceiros. te agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do
§ 1o  A indenização de prejuízo dolosamente causado que foi pago à vítima. O agente causará danos ao praticar
ao erário somente será liquidada na forma prevista no art. condutas incompatíveis com o comportamento ético dele
46, na falta de outros bens que assegurem a execução do esperado.
débito pela via judicial. A responsabilidade civil do servidor exige prévio pro-
§ 2o  Tratando-se de dano causado a terceiros, respon- cesso administrativo disciplinar no qual seja assegurado
derá o servidor perante a Fazenda Pública, em ação regres- contraditório e ampla defesa.
siva. Trata-se de responsabilidade civil subjetiva ou com
§ 3o  A obrigação de reparar o dano estende-se aos su- culpa. Havendo ação ou omissão com culpa do servidor
cessores e contra eles será executada, até o limite do valor que gere dano ao erário (Administração) ou a terceiro (ad-
da herança recebida. ministrado), o servidor terá o dever de indenizar.
O instituto da responsabilidade civil é parte integran-
te do direito obrigacional, uma vez que a principal conse-
Art. 123.  A responsabilidade penal abrange os crimes
quência da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera
e contravenções imputadas ao servidor, nessa qualidade.
para o seu auto de reparar o dano, mediante o pagamen-
A responsabilidade penal do servidor decorre de uma
to de indenização que se refere às perdas e danos. Afinal,
quem pratica um ato ou incorre em omissão que gere dano conduta que a lei penal tipifique como infração penal, ou
deve suportar as consequências jurídicas decorrentes, res- seja, como crime ou contravenção penal.
taurando-se o equilíbrio social. O servidor poderá ser responsabilizado apenas penal-
A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po- mente, uma vez que somente caberá responsabilização civil
dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os se o ato tiver causado prejuízo ao erário (elemento dano).
limites da herança, embora existam reflexos na ação que Os crimes contra a Administração Pública se encon-
apure a responsabilidade civil conforme o resultado na es- tram nos artigos 312 a 326 do Código Penal, mas existem
fera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de outros crimes espalhados pela legislação específica.
autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que
uma absolvição por falta de provas não o faz). Art. 124.  A responsabilidade civil-administrativa re-
Genericamente, os elementos da responsabilidade civil sulta de ato omissivo ou comissivo praticado no desem-
se encontram no art. 186 do Código Civil: “aquele que, por penho do cargo ou função.
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, Quando o servidor pratica um ilícito administrativo,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusiva- a ele é atribuída responsabilidade administrativa. O ilícito
mente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo central do pode verificar-se por conduta comissiva ou omissiva e os
instituto da responsabilidade civil, que tem como elemen- fatos que o configuram são os previstos na legislação es-
tos: ação ou omissão voluntária (agir como não se deve tatutária. Por exemplo, as sanções aplicadas pela Comissão
ou deixar de agir como se deve), culpa ou dolo do agente de Ética por violação ao Decreto n° 1.171/94 são adminis-
(dolo é a vontade de cometer uma violação de direito e trativas.
culpa é a falta de diligência), nexo causal (relação de causa
e efeito entre a ação/omissão e o dano causado) e dano Art. 125.  As sanções civis, penais e administrativas po-
(dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser in- derão cumular-se, sendo independentes entre si.
dividual ou coletivo, moral ou material, econômico e não Se as responsabilidades se cumularem, também as
econômico). sanções serão cumuladas. Daí afirmar-se que tais responsa-
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal:
bilidades são independentes, ou seja, não dependem uma
da outra.
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri-
vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos da-
nos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, Art. 126.  A responsabilidade administrativa do servidor
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos será afastada no caso de absolvição criminal que negue
casos de dolo ou culpa. a existência do fato ou sua autoria.
Determinadas decisões na esfera penal geram exclusão
Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurí- da responsabilidade nas esferas civil e administrativa, quais
dica autônoma entre o Estado e o agente público que cau- sejam: absolvição por inexistência do fato ou negativa de
sou o dano no desempenho de suas funções. Nesta rela- autoria. A absolvição criminal por falta de provas não gera
ção, a responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá exclusão da responsabilidade civil e administrativa.
ao Estado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao A absolvição proferida na ação penal, em regra, nada
qual foi anteriormente condenado a reparar. Direito de re- prejudica a pretensão de reparação civil do dano ex delicto,
gresso é justamente o direito de acionar o causador direto conforme artigos 65, 66 e 386, IV do CPP: “art. 65. Faz coisa
do dano para obter de volta aquilo que pagou à vítima, julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o
considerada a existência de uma relação obrigacional que ato praticado em estado de necessidade, em legítima defe-
se forma entre a vítima e a instituição que o agente com- sa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
põe. regular de direito” (excludentes de antijuridicidade); “art.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

66. não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, De forma fundamentada, justificada, se escolherá por
a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, ca- uma ou outra sanção, conforme a gravidade do ato pra-
tegoricamente, reconhecida a inexistência material do ticado.
fato”; “art. 386, IV –  estar provado que o réu não concor-
reu para a infração penal”. Art. 129.  A advertência será aplicada por escrito, nos
Entendem Fuller, Junqueira e Machado: “a absolvição casos de violação de proibição constante do art. 117, inci-
dubitativa (motivada por juízo de dúvida), ou seja, por falta sos I a VIII e XIX, e de inobservância de dever funcional
de provas, (art. 386, II, V e VII, na nova redação conferida ao previsto em lei, regulamentação ou norma interna, que não
CPP), não empresta qualquer certeza ao âmbito da jurisdi- justifique imposição de penalidade mais grave.
ção civil, restando intocada a possibilidade de, na ação civil Vide comentários aos incisos I a VII e XIX do art. 117.
de conhecimento, ser provada e reconhecida a existência A norma é genérica, envolvendo ainda qualquer outra vio-
do direito ao ressarcimento, de acordo com o grau de cog- lação de dever funcional que não exija sanção mais grave.
nição e convicção próprios da seara civil (na esfera penal,
a decisão de condenação somente pode ser lastreada em Art. 130.  A suspensão será aplicada em caso de reinci-
juízo de certeza, tendo em vista o princípio constitucional dência das faltas punidas com advertência e de violação
do estado de inocência)”. das demais proibições que não tipifiquem infração sujeita
a penalidade de demissão, não podendo exceder de 90
Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabili- (noventa) dias.
zado civil, penal ou administrativamente por dar ciência à A suspensão é uma sanção administrativa intermediá-
autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvi- ria, aplicável se as práticas sujeitas a advertência se repe-
mento desta, a outra autoridade competente para apuração tirem ou em caso de infração grave que ainda assim não
de informação concernente à prática de crimes ou improbi- gere pena de demissão.
dade de que tenha conhecimento, ainda que em decorrência §  1o  Será punido com suspensão de até 15 (quin-
do exercício de cargo, emprego ou função pública. ze) dias o servidor que, injustificadamente, recusar-se a ser
Este dispositivo visa garantir que os servidores públi- submetido a inspeção médica determinada pela autorida-
cos denunciem os servidores hierarquicamente superiores. de competente, cessando os efeitos da penalidade uma vez
Afinal, todos teriam receio de denunciar se pudessem ser cumprida a determinação.
responsabilizados civil, penal ou administrativamente por Trata-se de hipótese específica em que será aplicada
tal denúncia caso no curso da apuração se verificasse que suspensão.
ela não procedia. § 2o  Quando houver conveniência para o serviço, a pe-
nalidade de suspensão poderá ser convertida em multa, na
Capítulo V base de 50% (cinquenta por cento) por dia de vencimento
Das Penalidades ou remuneração, ficando o servidor obrigado a permane-
cer em serviço.
Art. 127.  São penalidades disciplinares: Se for inconveniente para a administração pública abrir
I - advertência; mão do servidor, poderá multá-lo em 50% de seu venci-
II - suspensão; mento/remuneração diário pelo número de dias de sus-
III - demissão; pensão. O servidor não poderá se recusar a permanecer
IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade; em serviço.
V - destituição de cargo em comissão;
VI - destituição de função comissionada. Art. 131.  As penalidades de advertência e de suspen-
A advertência é a pena mais leve, um aviso de que o são terão seus registros cancelados, após o decurso de 3
funcionário se portou de forma inadequada e de que isso (três) e 5 (cinco) anos de efetivo exercício, respectivamente,
não deve se repetir. A suspensão é uma sanção intermediá- se o servidor não houver, nesse período, praticado nova in-
ria, fazendo com que o funcionário deixe de desempenhar fração disciplinar.
o cargo por certo período. Na demissão, o funcionário não Parágrafo único.  O cancelamento da penalidade não
mais exercerá o cargo, sendo assim sanção mais grave. Ou- surtirá efeitos retroativos.
tras sanções são cassação da aposentadoria ou disponibi- O bom comportamento posterior do servidor faz com
lidade, destituição do cargo em comissão, destituição da que o registro de advertência (após 3 anos) ou suspensão
função comissionada. (após 5 anos) seja apagado de seu registro, o que não sig-
nifica que o servidor poderá requerer, por exemplo, o pa-
Art. 128.  Na aplicação das penalidades serão conside- gamento referente aos dias que ficou suspenso.
radas a natureza e a gravidade da infração cometida,
os danos que dela provierem para o serviço público, as cir- Art. 132.  A demissão será aplicada nos seguintes casos:
cunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes I - crime contra a administração pública;
funcionais. Artigos 312 a 326 do Código Penal.
Parágrafo único.  O ato de imposição da penalidade
mencionará sempre o fundamento legal e a causa da san- II - abandono de cargo;
ção disciplinar.  III - inassiduidade habitual;

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Deixar totalmente de exercer o cargo ou faltar em ex- do, ou por intermédio de sua chefia imediata, para, no prazo
cesso. de cinco dias, apresentar defesa escrita, assegurando-se-lhe
vista do processo na repartição, observado o disposto nos
IV - improbidade administrativa; arts. 163 e 164.
Atos descritos na Lei n° 8.429/92. § 3o  Apresentada a defesa, a comissão elaborará rela-
tório conclusivo quanto à inocência ou à responsabilidade
V - incontinência pública e conduta escandalosa, na do servidor, em que resumirá as peças principais dos autos,
repartição; opinará sobre a licitude da acumulação em exame, indicará
Ausência de discrição no exercício das funções. o respectivo dispositivo legal e remeterá o processo à au-
toridade instauradora, para julgamento.
VI - insubordinação grave em serviço; § 4o  No prazo de cinco dias, contados do recebimento
Violação grave do dever de obediência hierárquica. do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão,
aplicando-se, quando for o caso, o disposto no § 3o do art.
VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, 167.
salvo em legítima defesa própria ou de outrem; §  5o  A opção pelo servidor até o último dia de prazo
Ofensa física a servidor ou administrado que não para para defesa configurará sua boa-fé, hipótese em que se con-
se defender. verterá automaticamente em pedido de exoneração do outro
cargo.
VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; § 6o  Caracterizada a acumulação ilegal e provada a má-
IX - revelação de segredo do qual se apropriou em ra- -fé, aplicar-se-á a pena de demissão, destituição ou cassa-
zão do cargo; ção de aposentadoria ou disponibilidade em relação aos
X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patri- cargos, empregos ou funções públicas em regime de acu-
mônio nacional; mulação ilegal, hipótese em que os órgãos ou entidades de
XI - corrupção; vinculação serão comunicados. 
XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou fun- § 7o  O prazo para a conclusão do processo adminis-
ções públicas; trativo disciplinar submetido ao rito sumário não excede-
Na verdade, são atos de improbidade administrativa, rá trinta dias, contados da data de publicação do ato que
então nem precisariam ser mencionados. constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por até
quinze dias, quando as circunstâncias o exigirem.
XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117. §  8o  O procedimento sumário rege-se pelas disposi-
Vide comentários aos incisos IX a XVI do art. 117. ções deste artigo, observando-se, no que lhe for aplicável,
subsidiariamente, as disposições dos Títulos IV e V desta Lei.
Art. 133.  Detectada a qualquer tempo a acumulação O artigo descreve o procedimento em caso de violação
ilegal de cargos, empregos ou funções públicas, a auto- do dever de não acumular cargos ilicitamente. No início,
ridade a que se refere o art. 143 notificará o servidor, por o servidor será notificado para se manifestar optando por
intermédio de sua chefia imediata, para apresentar opção um cargo. Se ficar omisso ou se recusar fazer a opção, será
no prazo improrrogável de dez dias, contados da data da instaurado processo administrativo disciplinar. Nele, o ser-
ciência e, na hipótese de omissão, adotará procedimento su- vidor poderá apresentar defesa no sentido de ser lícita a
mário para a sua apuração e regularização imediata, cujo cumulação. Mas até o último dia do prazo para defesa o
processo administrativo disciplinar se desenvolverá nas servidor poderá optar por um caso, caso em que o proce-
seguintes fases: dimento se converterá em pedido de exoneração do cargo
I - instauração, com a publicação do ato que consti- não escolhido, presumindo-se a boa-fé do servidor.
tuir a comissão, a ser composta por dois servidores estáveis,
e simultaneamente indicar a autoria e a materialidade da Art. 134.  Será cassada a aposentadoria ou a dispo-
transgressão objeto da apuração; nibilidade do inativo que houver praticado, na atividade,
II - instrução sumária, que compreende indiciação, de- falta punível com a demissão.
fesa e relatório;  Supondo que o servidor tenha praticado ato punível
III - julgamento. com demissão e, sabendo disso, se demita. Isso não evitará
§ 1o  A indicação da autoria de que trata o inciso I dar- que sua aposentadoria seja cassada, assim como ele seria
-se-á pelo nome e matrícula do servidor, e a materia- demitido se no exercício das funções.
lidade pela descrição dos cargos, empregos ou funções
públicas em situação de acumulação ilegal, dos órgãos Art. 135.  A destituição de cargo em comissão exer-
ou entidades de vinculação, das datas de ingresso, do cido por não ocupante de cargo efetivo será aplicada nos
horário de trabalho e do correspondente regime jurídi- casos de infração sujeita às penalidades de suspensão e
co. de demissão.
§ 2o  A comissão lavrará, até três dias após a publicação Parágrafo único.  Constatada a hipótese de que trata
do ato que a constituiu, termo de indiciação em que serão este artigo, a exoneração efetuada nos termos do art. 35 será
transcritas as informações de que trata o parágrafo anterior, convertida em destituição de cargo em comissão.
bem como promoverá a citação pessoal do servidor indicia-

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Logo, a destituição do cargo em comissão por quem II - após a apresentação da defesa a comissão elaborará
não ocupe um cargo efetivo é aplicável quando o comis- relatório conclusivo quanto à inocência ou à responsabili-
sionado aplicar não só os atos sujeitos à pena de demissão, dade do servidor, em que resumirá as peças principais dos
mas também os sujeitos à pena de suspensão. autos, indicará o respectivo dispositivo legal, opinará, na hi-
pótese de abandono de cargo, sobre a intencionalidade da
Art. 136.  A demissão ou a destituição de cargo em co- ausência ao serviço superior a trinta dias e remeterá o pro-
missão, nos casos dos incisos IV, VIII, X e XI do art. 132, im- cesso à autoridade instauradora para julgamento.
plica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao Por indicação de materialidade, entenda-se demons-
erário, sem prejuízo da ação penal cabível. tração do fato. É preciso indicar especificamente os dias
Nos casos de demissão e destituição do cargo em co- faltados.
missão, os bens ficarão indisponíveis para o ressarcimento Adota-se o procedimento do art. 133.
do prejuízo sofrido pelo Estado, cabendo ainda ação penal
própria. Art. 141.  As penalidades disciplinares serão aplicadas:
I - pelo Presidente da República, pelos Presidentes das
Art. 137.  A demissão ou a destituição de cargo em Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais Federais e pelo
comissão, por infringência do art. 117, incisos IX e XI, incom- Procurador-Geral da República, quando se tratar de demis-
patibiliza o ex-servidor para nova investidura em cargo são e cassação de aposentadoria ou disponibilidade de servi-
público federal, pelo prazo de 5 (cinco) anos. dor vinculado ao respectivo Poder, órgão, ou entidade;
O ex-servidor que tenha se valido do cargo para lograr II - pelas autoridades administrativas de hierarquia
proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignida- imediatamente inferior àquelas mencionadas no inciso an-
de da função pública ou que tenha  atuado como procura- terior  quando se tratar de suspensão superior a 30 (trin-
dor ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo em ta) dias;
hipóteses específicas, não poderá ser investido em cargo III - pelo chefe da repartição e outras autoridades na for-
público federal pelo prazo de 5 anos. ma dos respectivos regimentos ou regulamentos, nos casos
de advertência ou de suspensão de até 30 (trinta) dias;
Parágrafo único.  Não poderá retornar ao serviço públi- IV - pela autoridade que houver feito a nomeação,
co federal o servidor que for demitido ou destituído do cargo quando se tratar de destituição de cargo em comissão.
em comissão por infringência do art. 132, incisos I, IV, VIII, Presidente da República/Presidentes da Câmara dos
X e XI. Deputados ou do Senado Federal/Presidentes dos Tribu-
Vide incisos I, IV, VIII, X e XI do artigo 132. Nestes casos, nais Federais - TRF, TRE, TRT, TSE, TST, STJ e STF/Procura-
não caberá jamais retorno ao serviço público federal, dian- dor-Geral da República - demissão ou cassação de apo-
te da gravidade dos atos praticados. sentadoria/disponibilidade do servidor vinculado ao órgão
(sanções mais graves).
Art.  138.   Configura abandono de cargo a ausência Autoridade administrativa de hierarquia imediatamen-
intencional do servidor ao serviço por mais de trinta te inferior às do inciso I - suspensão por mais de 30 dias
dias consecutivos. (sanção de suspensão, de gravidade intermediária, por
Conceito de abandono de cargo: ausência intencional maior período).
por mais de 30 dias seguidos. Gera pena de demissão. Chefe da repartição e outras autoridades previstas no
regulamento - advertência e suspensão inferior a 30 dias
Art. 139.  Entende-se por inassiduidade habitual a fal- (sanção de suspensão, de gravidade intermediária, por me-
ta ao serviço, sem causa justificada, por sessenta dias, nor período).
interpoladamente, durante o período de doze meses. Autoridade que houver feito a nomeação, em qualquer
Conceito de inassiduidade habitual, que também gera cargo de comissão, independente da pena.
demissão: ausência por 60 dias num período de 12 meses
de forma injustificada. Art. 142.  A ação disciplinar prescreverá:
I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com
Art. 140.  Na apuração de abandono de cargo ou inas- demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e
siduidade habitual, também será adotado o procedimento destituição de cargo em comissão;
sumário a que se refere o art. 133, observando-se especial- II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
mente que:  III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto á advertência.
I - a indicação da materialidade dar-se-á:  § 1o  O prazo de prescrição começa a correr da data em
a) na hipótese de abandono de cargo, pela indicação que o fato se tornou conhecido.
precisa do período de ausência intencional do servidor ao §  2o  Os prazos de prescrição previstos na lei penal
serviço superior a trinta dias;  aplicam-se às infrações disciplinares capituladas também
b) no caso de inassiduidade habitual, pela indicação dos como crime.
dias de falta ao serviço sem causa justificada, por período § 3o  A abertura de sindicância ou a instauração de pro-
igual ou superior a sessenta dias interpoladamente, durante cesso disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão fi-
o período de doze meses; nal proferida por autoridade competente.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 4o  Interrompido o curso da prescrição, o prazo co- Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor
meçará a correr a partir do dia em que cessar a interrupção. ensejar a imposição de penalidade de suspensão por
Prescrição é um instituto que visa regular a perda do mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de apo-
direito de acionar judicialmente. sentadoria ou disponibilidade, ou destituição de cargo
No caso, o prazo é de 5 anos para as infrações mais em comissão, será obrigatória a instauração de proces-
graves, 2 para as de gravidade intermediária (pena de sus- so disciplinar.
pensão) e 180 dias para as menos graves (pena de adver- A sindicância é uma modalidade mais branda de apu-
tência) - Contados da data em que o fato se tornou conhe- ração da infração administrativa porque ou gerará a apli-
cido pela administração pública. cação de uma sanção mais branda, ou apenas antecederá
Se a infração disciplinar for crime, valerão os prazos o processo administrativo disciplinar que aplique a sanção
prescricionais do direito penal, mais longos, logo, menos mais grave, entendendo-se por sanções mais graves qual-
favoráveis ao servidor. quer uma pior do que suspensão por menos de 30 dias
Interrupção da prescrição significa parar a contagem (suspensão por mais de 30 dias, além de todas as outras
do prazo para que, retornando, comece do zero. Da aber- que geram perda do cargo ou da aposentadoria).
tura da sindicância ou processo administrativo disciplinar
até a decisão final proferida por autoridade competente Capítulo II
não corre a prescrição. Proferida a decisão, o prazo começa Do Afastamento Preventivo
a contar do zero. Passado o prazo, não caberá mais propor
ação disciplinar. Art. 147. Como medida cautelar e a fim de que o servi-
dor não venha a influir na apuração da irregularidade,
Processo administrativo disciplinar a autoridade instauradora do processo disciplinar poderá de-
terminar o seu afastamento do exercício do cargo, pelo prazo
Título V de até 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da remuneração.
Do Processo Administrativo Disciplinar Parágrafo único. O afastamento poderá ser prorrogado
por igual prazo, findo o qual cessarão os seus efeitos, ainda
Capítulo I que não concluído o processo.
Disposições Gerais O afastamento preventivo é uma medida cautelar que
impede que o servidor tente influenciar na decisão da apu-
Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularida- ração de sua infração, podendo ocorrer por no máximo 60
de no serviço público é obrigada a promover a sua apuração dias, prorrogáveis até 120 dias, sem perda de remuneração
imediata, mediante sindicância ou processo administrativo (afinal, ainda não foi condenado).
disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.
§§ 1º e 2º (Revogados) Capítulo III
§ 3º A apuração de que trata o caput, por solicitação da Do Processo Disciplinar
autoridade a que se refere, poderá ser promovida por au-
toridade de órgão ou entidade diverso daquele em que Art. 148. O processo disciplinar é o instrumento des-
tenha ocorrido a irregularidade, mediante competência tinado a apurar responsabilidade de servidor por infra-
específica para tal finalidade, delegada em caráter perma- ção praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha
nente ou temporário pelo Presidente da República, pelos relação com as atribuições do cargo em que se encontre in-
presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais vestido.
Federais e pelo Procurador-Geral da República, no âmbito do
respectivo Poder, órgão ou entidade, preservadas as compe- Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por co-
tências para o julgamento que se seguir à apuração. missão composta de três servidores estáveis designados
pela autoridade competente, observado o disposto no § 3o
Art. 144. As denúncias sobre irregularidades serão ob- do art. 143, que indicará, dentre eles, o seu presidente, que
jeto de apuração, desde que contenham a identificação e o deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo
endereço do denunciante e sejam formuladas por escrito, nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do
confirmada a autenticidade. indiciado.
Parágrafo único. Quando o fato narrado não configurar § 1º A Comissão terá como secretário servidor desig-
evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será nado pelo seu presidente, podendo a indicação recair em
arquivada, por falta de objeto. um de seus membros.
§ 2º Não poderá participar de comissão de sindicân-
Art. 145. Da sindicância poderá resultar: cia ou de inquérito, cônjuge, companheiro ou parente do
I - arquivamento do processo; acusado, consanguíneo ou afim, em linha reta ou cola-
II - aplicação de penalidade de advertência ou suspen- teral, até o terceiro grau.
são de até 30 (trinta) dias;
III - instauração de processo disciplinar. Art. 150. A Comissão exercerá suas atividades com in-
Parágrafo único. O prazo para conclusão da sindicân- dependência e imparcialidade, assegurado o sigilo ne-
cia não excederá 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado cessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
por igual período, a critério da autoridade superior. administração.

71
DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único. As reuniões e as audiências das comis- § 2º Será indeferido o pedido de prova pericial, quan-
sões terão caráter reservado. do a comprovação do fato independer de conhecimento
especial de perito.
Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve nas se-
guintes fases: Art. 157. As testemunhas serão intimadas a depor
I - instauração, com a publicação do ato que constituir mediante mandado expedido pelo presidente da comissão,
a comissão; devendo a segunda via, com o ciente do interessado, ser ane-
II - inquérito administrativo, que compreende instru- xado aos autos.
ção, defesa e relatório; Parágrafo único. Se a testemunha for servidor público,
III - julgamento. a expedição do mandado será imediatamente comunicada
ao chefe da repartição onde serve, com a indicação do dia e
Art. 152. O prazo para a conclusão do processo discipli- hora marcados para inquirição.
nar não excederá 60 (sessenta) dias, contados da data de
publicação do ato que constituir a comissão, admitida a sua Art. 158. O depoimento será prestado oralmente e re-
prorrogação por igual prazo, quando as circunstâncias o duzido a termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo por
exigirem. escrito.
§ 1º Sempre que necessário, a comissão dedicará tem- § 1º As testemunhas serão inquiridas separadamente.
po integral aos seus trabalhos, ficando seus membros dis- § 2º Na hipótese de depoimentos contraditórios ou
pensados do ponto, até a entrega do relatório final. que se infirmem, proceder-se-á à acareação entre os de-
§ 2º As reuniões da comissão serão registradas em poentes.
atas que deverão detalhar as deliberações adotadas.
Este capítulo introduz aspectos sobre o processo admi- Art. 159. Concluída a inquirição das testemunhas, a co-
nistrativo que serão aprofundados adiante e na própria lei missão promoverá o interrogatório do acusado, observa-
nº 9.784/99. Em suma, tem-se que o processo administra- dos os procedimentos previstos nos arts. 157 e 158.
tivo deve garantir a ampla defesa, será conduzido por uma § 1º No caso de mais de um acusado, cada um deles
comissão de 3 membros funcionários estáveis que decidi- será ouvido separadamente, e sempre que divergirem em
rão com independência e imparcialidade, divide-se em 3 suas declarações sobre fatos ou circunstâncias, será pro-
fases e possui prazo limite de duração (60, eventualmente
movida a acareação entre eles.
+60).
§ 2º O procurador do acusado poderá assistir ao in-
terrogatório, bem como à inquirição das testemunhas,
Seção I
sendo-lhe vedado interferir nas perguntas e respostas,
Do Inquérito
facultando-se-lhe, porém, reinquiri-las, por intermédio do
presidente da comissão.
Art. 153. O inquérito administrativo obedecerá ao prin-
cípio do contraditório, assegurada ao acusado ampla de-
fesa, com a utilização dos meios e recursos admitidos em Art. 160. Quando houver dúvida sobre a sanidade
direito. mental do acusado, a comissão proporá à autoridade com-
petente que ele seja submetido a exame por junta médica
Art. 154. Os autos da sindicância integrarão o pro- oficial, da qual participe pelo menos um médico psiquiatra.
cesso disciplinar, como peça informativa da instrução. Parágrafo único. O incidente de sanidade mental será
Parágrafo único. Na hipótese de o relatório da sindi- processado em auto apartado e apenso ao processo princi-
cância concluir que a infração está capitulada como ilícito pal, após a expedição do laudo pericial.
penal, a autoridade competente encaminhará cópia dos
autos ao Ministério Público, independentemente da ime- Art. 161. Tipificada a infração disciplinar, será for-
diata instauração do processo disciplinar. mulada a indiciação do servidor, com a especificação dos
fatos a ele imputados e das respectivas provas.
Art. 155. Na fase do inquérito, a comissão promoverá § 1º O indiciado será citado por mandado expedido
a tomada de depoimentos, acareações, investigações e pelo presidente da comissão para apresentar defesa escri-
diligências cabíveis, objetivando a coleta de prova, recor- ta, no prazo de 10 (dez) dias, assegurando-se-lhe vista do
rendo, quando necessário, a técnicos e peritos, de modo a processo na repartição.
permitir a completa elucidação dos fatos. § 2º Havendo dois ou mais indiciados, o prazo será co-
mum e de 20 (vinte) dias.
Art. 156. É assegurado ao servidor o direito de acompa- § 3º O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo do-
nhar o processo pessoalmente ou por intermédio de pro- bro, para diligências reputadas indispensáveis.
curador, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir provas e § 4º No caso de recusa do indiciado em apor o ciente
contraprovas e formular quesitos, quando se tratar de prova na cópia da citação, o prazo para defesa contar-se-á da
pericial. data declarada, em termo próprio, pelo membro da comis-
§ 1º O presidente da comissão poderá denegar pedi- são que fez a citação, com a assinatura de (2) duas teste-
dos considerados impertinentes, meramente protelatórios, munhas.
ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos.

72
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 162. O indiciado que mudar de residência fica obri- Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comis-
gado a comunicar à comissão o lugar onde poderá ser são, salvo quando contrário às provas dos autos.
encontrado. Parágrafo único. Quando o relatório da comissão con-
trariar as provas dos autos, a autoridade julgadora poderá,
Art. 163. Achando-se o indiciado em lugar incerto e motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la
não sabido, será citado por edital, publicado no Diário Ofi- ou isentar o servidor de responsabilidade.
cial da União e em jornal de grande circulação na localidade
do último domicílio conhecido, para apresentar defesa. Art. 169. Verificada a ocorrência de vício insanável, a
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, o prazo para autoridade que determinou a instauração do processo ou
defesa será de 15 (quinze) dias a partir da última publicação outra de hierarquia superior declarará a sua nulidade, total
do edital. ou parcial, e ordenará, no mesmo ato, a constituição de ou-
tra comissão para instauração de novo processo.
Art. 164. Considerar-se-á revel o indiciado que, regular- § 1º O julgamento fora do prazo legal não implica nu-
mente citado, não apresentar defesa no prazo legal. lidade do processo.
§ 1º A revelia será declarada, por termo, nos autos do § 2º A autoridade julgadora que der causa à prescrição
processo e devolverá o prazo para a defesa. de que trata o art. 142, § 2o, será responsabilizada na forma
§ 2º Para defender o indiciado revel, a autoridade ins- do Capítulo IV do Título IV.
tauradora do processo designará um servidor como defen-
sor dativo, que deverá ser ocupante de cargo efetivo supe- Art. 170. Extinta a punibilidade pela prescrição, a
rior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual autoridade julgadora determinará o registro do fato nos as-
ou superior ao do indiciado. sentamentos individuais do servidor.

Art. 165. Apreciada a defesa, a comissão elaborará Art. 171. Quando a infração estiver capitulada como
relatório minucioso, onde resumirá as peças principais dos crime, o processo disciplinar será remetido ao Ministério Pú-
autos e mencionará as provas em que se baseou para formar blico para instauração da ação penal, ficando trasladado na
a sua convicção. repartição.
§ 1º O relatório será sempre conclusivo quanto à ino-
Art. 172. O servidor que responder a processo disciplinar
cência ou à responsabilidade do servidor.
só poderá ser exonerado a pedido, ou aposentado volun-
§ 2º Reconhecida a responsabilidade do servidor, a co-
tariamente, após a conclusão do processo e o cumpri-
missão indicará o dispositivo legal ou regulamentar trans-
mento da penalidade, acaso aplicada.
gredido, bem como as circunstâncias agravantes ou ate-
Parágrafo único. Ocorrida a exoneração de que trata o
nuantes.
parágrafo único, inciso I do art. 34, o ato será convertido em
demissão, se for o caso.
Art. 166. O processo disciplinar, com o relatório da co-
missão, será remetido à autoridade que determinou a Art. 173. Serão assegurados transporte e diárias:
sua instauração, para julgamento. I - ao servidor convocado para prestar depoimento fora
O inquérito é uma das fases do processo administrati- da sede de sua repartição, na condição de testemunha, de-
vo disciplinar, obedecendo às regras descritas nesta seção, nunciado ou indiciado;
destacando-se as que tratam da produção de provas. II - aos membros da comissão e ao secretário, quando
obrigados a se deslocarem da sede dos trabalhos para a rea-
Seção II lização de missão essencial ao esclarecimento dos fatos.
Do Julgamento Nesta seção, trata-se do julgamento do processo ad-
ministrativo disciplinar, que não será feito pela comissão,
Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do mas pela autoridade competente para aplicar a sanção.
recebimento do processo, a autoridade julgadora profe- Afinal, a comissão apenas indica qual o ato praticado pelo
rirá a sua decisão. indiciamento. Se houver mais de um indiciado e as sanções
§ 1º Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada forem diversas, julga a autoridade de maior nível hierárqui-
da autoridade instauradora do processo, este será encami- co. Ex: autoridade que pode aplicar suspensão não pode
nhado à autoridade competente, que decidirá em igual aplicar demissão, de forma que se a um dos indiciados
prazo. couber demissão será a autoridade que pode aplicar esta
§ 2º Havendo mais de um indiciado e diversidade de pena que aplicará também a suspensão ao outro indiciado.
sanções, o julgamento caberá à autoridade competente
para a imposição da pena mais grave. Seção III
§ 3º Se a penalidade prevista for a demissão ou cas- Da Revisão do Processo
sação de aposentadoria ou disponibilidade, o julgamento
caberá às autoridades de que trata o inciso I do art. 141. Art. 174. O processo disciplinar poderá ser revisto, a
§ 4º Reconhecida pela comissão a inocência do ser- qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando se aduzi-
vidor, a autoridade instauradora do processo determinará rem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justifi-
o seu arquivamento, salvo se flagrantemente contrária à car a inocência do punido ou a inadequação da penali-
prova dos autos. dade aplicada.

73
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º Em caso de falecimento, ausência ou desapareci-


mento do servidor, qualquer pessoa da família poderá re-
querer a revisão do processo. 2.6.8 - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA;
§ 2º No caso de incapacidade mental do servidor, a re-
visão será requerida pelo respectivo curador.

Art. 175. No processo revisional, o ônus da prova cabe A Lei n° 8.429/92 trata da improbidade administrativa,
ao requerente. que é uma espécie qualificada de imoralidade, sinônimo de
desonestidade administrativa. A improbidade é uma lesão
Art. 176. A simples alegação de injustiça da penalida- ao princípio da moralidade, que deve ser respeitado estri-
de não constitui fundamento para a revisão, que requer tamente pelo servidor público. O agente ímprobo sempre
elementos novos, ainda não apreciados no processo origi- será um violador do princípio da moralidade, pelo qual “a
nário. Administração Pública deve agir com boa-fé, sinceridade,
probidade, lhaneza, lealdade e ética”49.
Art. 177. O requerimento de revisão do processo será A atual Lei de Improbidade Administrativa foi criada
dirigido ao Ministro de Estado ou autoridade equiva- devido ao amplo apelo popular contra certas vicissitudes
lente, que, se autorizar a revisão, encaminhará o pedido ao do serviço público que se intensificavam com a ineficácia
dirigente do órgão ou entidade onde se originou o processo do diploma então vigente, o Decreto-Lei nº 3240/41. De-
disciplinar. correu, assim, da necessidade de acabar com os atos aten-
Parágrafo único. Deferida a petição, a autoridade com- tatórios à moralidade administrativa e causadores de pre-
petente providenciará a constituição de comissão, na forma juízo ao erário público ou ensejadores de enriquecimento
do art. 149. ilícito, infelizmente tão comuns no Brasil.
Com o advento da Lei nº 8.429/92, os agentes públi-
Art. 178. A revisão correrá em apenso ao processo ori- cos passaram a ser responsabilizados na esfera civil pelos
ginário. atos de improbidade administrativa descritos nos artigos
Parágrafo único. Na petição inicial, o requerente pedirá 9º, 10 e 11, ficando sujeitos às penas do art. 12. A exis-
dia e hora para a produção de provas e inquirição das teste- tência de esferas distintas de responsabilidade (civil, penal
munhas que arrolar. e administrativa) impede falar-se em bis in idem, já que,
ontologicamente, não se trata de punições idênticas, em-
Art. 179. A comissão revisora terá 60 (sessenta) dias bora baseadas no mesmo fato, mas de responsabilização
para a conclusão dos trabalhos. em esferas distintas do Direito.
A legislação em estudo, por sua vez, divide os atos de
Art. 180. Aplicam-se aos trabalhos da comissão revisora,
improbidade administrativa em três categorias:
no que couber, as normas e procedimentos próprios da
a) Ato de improbidade administrativa que importe en-
comissão do processo disciplinar.
riquecimento ilícito;
b) Ato de improbidade administrativa que importe le-
Art. 181. O julgamento caberá à autoridade que
são ao erário;
aplicou a penalidade, nos termos do art. 141.
c) Ato de improbidade administrativa que atente con-
Parágrafo único. O prazo para julgamento será de 20
(vinte) dias, contados do recebimento do processo, no curso tra os princípios da administração pública.
do qual a autoridade julgadora poderá determinar diligên- ATENÇÃO: os atos de improbidade administrativa não
cias. são crimes de responsabilidade. Trata-se de punição na
esfera cível, não criminal. Por isso, caso o ato configure
Art. 182. Julgada procedente a revisão, será declarada simultaneamente um ato de improbidade administrativa
sem efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se to- desta lei e um crime previsto na legislação penal, o que
dos os direitos do servidor, exceto em relação à destituição é comum no caso do artigo 9°, responderá o agente por
do cargo em comissão, que será convertida em exoneração. ambos, nas duas esferas.
Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá Em suma, a lei encontra-se estruturada da seguinte
resultar agravamento de penalidade. forma: inicialmente, trata das vítimas possíveis (sujeito pas-
A revisão do processo consiste na possibilidade do ser- sivo) e daqueles que podem praticar os atos de improbida-
vidor condenado requerer que sua condenação seja revista de administrativa (sujeito ativo); ainda, aborda a reparação
se surgirem novos fatos ou circunstâncias que justifiquem do dano ao lesionado e o ressarcimento ao patrimônio pú-
sua absolvição ou a aplicação de uma pena mais leve. Po- blico; após, traz a tipologia dos atos de improbidade ad-
derá ser requerida ao ministro de Estado ou autoridade de ministrativa, isto é, enumera condutas de tal natureza; se-
mesma hierarquia e será apensada ao processo adminis- guindo-se à definição das sanções aplicáveis; e, finalmente,
trativo originário. O julgamento será feito pela mesma au- descreve os procedimentos administrativo e judicial.
toridade que aplicou a pena. Se apurado que na verdade
a pena deveria ser maior, não cabe agravar a situação do 49 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
servidor. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

74
DIREITO ADMINISTRATIVO

LEI N° 8.429 DE 2 DE JUNHO DE 1992 O agente público pode ser ou não um servidor públi-
co. O conceito de agente público é melhor delimitado no
Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públi- artigo seguinte.
cos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de Ele poderá estar vinculado a qualquer instituição ou
mandato, cargo, emprego ou função na administração órgão que desempenhe diretamente o interesse do Estado.
pública direta, indireta ou fundacional e dá outras pro- Assim, estão incluídos todos os integrantes da administra-
vidências. ção direta, indireta e fundacional, conforme o preâmbulo
O preâmbulo da lei em estudo já traz alguns elementos da legislação. Pode até mesmo ser uma entidade privada
importantes para a sua boa compreensão: que desempenhe tais fins, desde que a verba de criação
a) o agente público pode estar exercendo mandato, ou custeio tenha sido ou seja pública em mais de50% do
quando for eleito para tanto; cargo, no caso de um conjun- patrimônio ou receita anual.
to de atribuições e responsabilidades conferido a um servi- Caso a verba pública que tenha auxiliado uma entidade
dor submetido a regime estatutário (é o caso do ingresso privada a qual o Estado não tenha concorrido para cria-
por concurso); emprego público, se o servidor se submeter ção ou custeio, também haverá sujeição às penalidades
a regime celetista (CLT); funçãopública, que correspon- da lei. Em caso de custeio/criação pelo Estado que seja
de à categoria residual, valendo para o servidor que tenha inferior a 50% do patrimônio ou receita anual, a legisla-
tais atribuições e responsabilidades mas não exerça cargo ção ainda se aplica. Entretanto, nestes dois casos, a sanção
ou emprego público. Percebe-se que o conceito de agente patrimonial se limitará ao que o ilícito repercutiu sobre a
público que se sujeita à lei é o mais amplo possível. contribuição dos cofres públicos. Significa que se o prejuízo
b) o exercício pode se dar na administração direta, in- causado for maior que a efetiva contribuição por parte do
direta ou fundacional. A administração pública apresenta poder público, o ressarcimento terá que ser buscado por
uma estrutura direta e outra indireta, com seus respectivos outra via que não a ação de improbidade administrativa.
órgãos. Por exemplo, são órgãos da administração direta Basicamente, o dispositivo enumera os principais sujei-
os ministérios e secretarias, isto é, os órgãos que compõem tos passivos do ato de improbidade administrativa, dividin-
a estrutura do Executivo, Legislativo ou Judiciário; são inte- do-os em três grupos: a) pessoas da administração direta,
diretamente vinculados a União, Estados, Distrito Federal
grantes da administração indireta as autarquias, fundações
ou Municípios; b) pessoas da administração indireta, isto é,
públicas, empresas públicas e sociedades de economia
autarquias, fundações públicas, empresas públicas e socie-
mista.
dades de economia mista; c) pessoa cuja criação ou custeio
o erário tenha contribuído com mais de 50% do patrimônio
CAPÍTULO I
ou receita naquele ano.
Das Disposições Gerais
No parágrafo único, a lei enumera os sujeitos passivos
secundários, que são: a) entidades que recebam subven-
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer
ção, benefício ou incentivo creditício pelo Estado; b) pessoa
agente público, servidor ou não, contra a administração cuja criação ou custeio o erário tenha contribuído com me-
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes nos de 50% do patrimônio ou receita naquele ano.
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios,
de Território, de empresa incorporada ao patrimônio pú- Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos des-
blico ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário ta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
forma desta lei. vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entida-
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalida- des mencionadas no artigo anterior.
des desta lei os atos de improbidade praticados contra o
patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que
ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, in-
como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja duza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou
concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cen- dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
to do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes Os sujeitos ativos do ato de improbidade administra-
casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a tiva se dividem em duas categorias: os agentes públicos,
contribuição dos cofres públicos. definidos no art. 2°, e os terceiros, enumerados no art. 3°.
“Sujeito passivo é a pessoa que a lei indica como víti- “Denomina-se sujeito ativo aquele que pratica o ato
ma do ato de improbidade administrativa”. A lei adota uma de improbidade, concorre para sua prática ou dele extrai
noção ampla, pela qual são abrangidas entidades que, sem vantagens indevidas. É o autor ímprobo da conduta. Em
integrarem a Administração, possuem alguma espécie de alguns casos, não pratica o ato em si, mas oferece sua co-
conexão com ela.50 laboração, ciente da desonestidade do comportamento,
50 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Em outros, obtém benefícios do ato de improbidade, muito
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- embora sabedor de sua origem escusa”51.
ris, 2010. 51 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de

75
DIREITO ADMINISTRATIVO

A ampla denominação de agentes públicos conferida O tipo de dano que é causado pelo agente ao Estado é
pela lei de improbidade administrativa apenas tem efeito o material. No caso, há um correspondente financeiro dire-
para os fins desta lei, ou seja, visando a imputação dos atos to, de modo que a condenação será no sentido de pagar ao
de improbidade administrativa. Percebe-se a amplitude pe- Estado o equivalente ao prejuízo causado.
los elementos do conceito: O agente público e o terceiro que com ele concorra res-
a) Tempo: exercício transitório ou definitivo; ponderão pelos danos causados ao erário público com seu
b) Remuneração: existente ou não; patrimônio. Inclusive, perderão os valores patrimoniais acres-
c) Espécie de vínculo: por eleição, nomeação, designa- cidos devido à prática do ato ilícito. O dano causado deverá
ção, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou ser ressarcido em sua totalidade.
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função;
d) Local do exercício: em qualquer entidade que possa Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao
ser sujeito passivo. Por exemplo, o funcionário de uma ONG patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá
criada pelo Estado é considerado agente público para os a autoridade administrativa responsável pelo inquérito repre-
efeitos desta lei. sentar ao Ministério Público, para a indisponibilidade
O terceiro, por sua vez, é aquele que pratica as condutas dos bens do indiciado.
de induzir ou concorrer em relação ao agente público, ou Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o
seja, incentivando-o ou mesmo participando diretamente do caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral
ilícito. Este terceiro jamais será pessoa jurídica, deve necessa- ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial re-
riamente ser pessoa física. sultante do enriquecimento ilícito.
Será oferecida representação ao Ministério Público para
Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia que ele postule a indisponibilidade dos bens do indiciado, de
modo a garantir que ele não aliene seu patrimônio para não
são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de
reparar o ilícito. Por indisponibilidade entende-se bloquear
legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no
os bens para que não sejam vendidos ou deteriorados, ga-
trato dos assuntos que lhe são afetos.
rantindo que o dano possa ser reparado quando da conde-
Trata-se de referência expressa aos princípios do art. 37,
nação judicial.
caput, CF. Não se menciona apenas o princípio da eficiência,
A indisponibilidade será suficiente para dar integral res-
o que não significa que possa ser desrespeitado, afinal, ele é
sarcimento ao dano ou retirar todo o acréscimo patrimonial
abrangido indiretamente. resultante do ilícito.
Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimô-
omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á nio público ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às comi-
o integral ressarcimento do dano. nações desta lei até o limite do valor da herança.
Integral ressarcimento do dano é a devolução corrigida Caso o sujeito ativo faleça no curso da ação de impro-
monetariamente de todos os valores que foram retirados do bidade administrativa, os herdeiros arcarão com o dever de
patrimônio público. No entanto, destaca-se que a lei garante ressarcir o dano, claro, nos limites dos bens que ele deixar
não só o integral ressarcimento, mas também a devolução do como herança.
enriquecimento ilícito: mesmo que a pessoa não cause pre-
juízo direto ao erário, mas lucre com um ato de improbidade CAPÍTULO II
administrativa, os valores devem ir para os cofres públicos. Dos Atos de Improbidade Administrativa

Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o agen- Como não é possível ser desonesto sem saber que se
te público ou terceiro beneficiário os bens ou valores acresci- está agindo desta forma, o elemento comum a todas as hi-
dos ao seu patrimônio. póteses de improbidade administrativa é o dolo, que consiste
Estabelece o artigo 186 do Código Civil: “aquele que, por na intenção do agente em praticar o ato desonesto (alguns
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, vio- entendem como inconstitucionais todas as referências a con-
lar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente dutas culposas - inclusive parte do STJ).
moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo central do instituto Os atos de improbidade administrativa foram divididos em
denominado responsabilidade civil, que tem como elemen- três grupos, nos artigos 9°, 10 e 11, conforme a gravidade do
tos: ação ou omissão voluntária (agir como não se deve ou ato, indo do grupo mais grave ao menos grave. A cada grupo é
deixar de agir como se deve), culpa ou dolo do agente (dolo aplicada uma espécie diferente de sanção no caso de confirma-
é a vontade de cometer uma violação de direito e culpa é ção da prática do ato apurada na esfera administrativa.
a falta de diligência), nexo causal (relação de causa e efeito Nos três artigos do capítulo II, enquanto o caput traz as
entre a ação/omissão e o dano causado) e dano (dano é o condutas genéricas, os incisos delimitam condutas específi-
prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser individual ou co- cas, que nada mais são do que exemplos de situações do
letivo, moral ou material, econômico e não econômico). É a caput, logo, os incisos são uma relação meramente exempli-
este instituto que se relacionam as sanções da perda de bens ficativa52, sendo suficiente bem compreender como encon-
e valores e de ressarcimento integral do dano. trar os requisitos genéricos para fins de provas.
52 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
ris, 2010. ris, 2010.

76
DIREITO ADMINISTRATIVO

Seção I Significa receber qualquer vantagem econômica, inclu-


Dos Atos de Improbidade Administrativa que Im- sive presentes, de pessoas que tenham interesse direto ou
portam Enriquecimento Ilícito indireto em que o agente público faça ou deixe de fazer
alguma coisa.
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa
importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem mó-
cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entida- vel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades
des mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente: referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;
O grupo mais grave de atos de improbidade adminis- III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
trativa se caracteriza pelos elementos: enriquecimento + para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem pú-
ilícito + resultante de uma vantagem patrimonial indevi- blico ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço
da + em razão do exercício de cargo, mandato, emprego, inferior ao valor de mercado;
função ou outra atividade nas entidades do artigo 1°: Tratam-se de espécies da conduta do inciso anterior,
a) O enriquecimento deve ser ilícito, afinal, o Estado na qual o fim visado é permitir a aquisição, alienação, troca
não se opõe que o indivíduo enriqueça, desde que obede- ou locação de bem móvel ou imóvel por preço diverso ao
ça aos ditames morais, notadamente no desempenho de de mercado. Percebe-se um ato de improbidade que causa
função de interesse estatal. prejuízo direto ao erário.
b) Exige-se que o sujeito obtenha vantagem patrimo- No inciso II, o Estado que compra, troca ou aluga bem
nial ilícita. Contudo, é dispensável que efetivamente tenha móvel ou imóvel para sua utilização acima do preço de
ocorrido dano aos cofres públicos (por exemplo, quando mercado; no inciso III, um bem móvel ou imóvel perten-
um policial recebe propina pratica ato de improbidade ad- cente ao Estado é vendido, trocado ou alugado em preço
ministrativa, mas não atinge diretamente os cofres públi- inferior ao de mercado.
cos).
c) É preciso que a conduta se consume, ou seja, que IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, má-
quinas, equipamentos ou material de qualquer natureza,
realmente exista o enriquecimento ilícito decorrente de
de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades
uma vantagem patrimonial indevida.
mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de
d) Como fica difícil imaginar que alguém possa se en-
servidores públicos, empregados ou terceiros contratados
riquecer ilicitamente por negligência, imprudência ou im-
por essas entidades;
perícia, todas as condutas configuram atos dolosos (com
Todo aparato dos órgãos públicos serve para atender
intenção).
ao Estado e, consequentemente, à preservação do bem
e) Não cabe prática por omissão.53
comum na sociedade. Logo, quando um servidor público
Entende Carvalho Filho54 que no caso do art. 9° o requi- utiliza esta estrutura material ou pessoal para atender aos
sito é o enriquecimento ilícito, ao passo que “o pressuposto seus próprios interesses, causa prejuízo direto aos cofres
exigível do tipo é a percepção de vantagem patrimonial públicos e obtém uma vantagem indevida (a natural van-
ilícita obtida pelo exercício da função pública em geral. tagem decorrente do uso de algo que não lhe pertence).
Pressuposto dispensável é o dano ao erário”. O elemento
subjetivo é o dolo, pois fica difícil imaginar que um servidor V - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
obtenha vantagem indevida por negligência, imprudência direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de
ou imperícia (culpa). Da mesma forma, é incompatível com jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando,
a conduta omissiva, aceitando apenas a comissiva (ação). de usura ou de qualquer outra atividade ilícita,
ATENÇÃO: todas as condutas descritas abaixo são me- Nenhum ato administrativo pode ser praticado ou
ros exemplos de condutas compostas pelos elementos omitido para facilitar condutas como lenocínio (explorar,
genéricos da cabeça do artigo. Com efeito, estando eles estimular ou facilitar a prostituição), narcotráfico (envolver-
presentes, não importa a ausência de dispositivo expresso -se em atividades no mundo das drogas, como venda e
no rol abaixo. distribuição), contrabando (importar ou exportar mercado-
ria proibida), usura (agiotagem, fornecer dinheiro a juros
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel absurdos) ou qualquer outra atividade ilícita. Se, ainda por
ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta cima, se obter vantagem indevida pela tolerância da prá-
ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação tica do ilícito, resta caracterizado um ato de improbidade
ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que administrativa da espécie mais grave, ora descrita neste art.
possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decor- 9° em estudo.
rente das atribuições do agente público;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
53 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição
13. ed. São Paulo: Método, 2011. ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço,
54 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou caracterís-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- tica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das enti-
ris, 2010. dades mencionadas no art. 1º desta lei;

77
DIREITO ADMINISTRATIVO

Da mesma forma, é vedado o recebimento de vanta- Seção II


gens para fazer declarações falsas na avaliação de obras e Dos Atos de Improbidade Administrativa que Cau-
serviços em geral. sam Prejuízo ao Erário

VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que
mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qual- causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou
quer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
patrimônio ou à renda do agente público; malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
A desproporção entre o rendimento percebido no entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
exercício das funções e o patrimônio acumulado é um for- O grupo intermediário de atos de improbidade admi-
te indício da percepção indevida de vantagens. Claro, se nistrativa se caracteriza pelos elementos: causar dano ao
erário ou aos cofres públicos + gerando perda patrimo-
comprovada que a desproporção se deu por outros moti-
nial ou dilapidação do patrimônio público. Assim como
vos lícitos, não há ato de improbidade administrativa (por
o artigo anterior, o caput descreve a fórmula genérica e
exemplo, ganhar na loteria ou receber uma boa herança).
os incisos algumas atitudes específicas que exemplificam
o seu conteúdo.55
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de a) Perda patrimonial é o gênero, do qual são espécies:
consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica desvio, que é o direcionamento indevido; apropriação, que
que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado é a transferência indevida para a própria propriedade; mal-
por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente baratamento, que significa desperdício; e dilapidação, que
público, durante a atividade; se refere a destruição.56
O agente público não pode trabalhar em funções in- b) É preciso que seja causado dano a uma das pessoas
compatíveis com as que desempenha para o Estado, no- do art. 1° da lei. No entanto, o enriquecimento ilícito é dis-
tadamente quando isso influenciar nas atitudes por ele to- pensável.
madas no exercício das funções públicas. Afinal, aceitando c) O crime pode ser praticado por ação ou omissão.
uma posição que comprometa sua imparcialidade, o agen- O objeto da tutela é a preservação do patrimônio pú-
te prejudicará o interesse público. blico, em todos seus bens e valores. O pressuposto exigível
é a ocorrência de dano ao patrimônio dos sujeitos passivos.
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a Este artigo admite expressamente a variante culpo-
liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natu- sa, o que muitos entendem ser inconstitucional. O STJ, no
reza; REsp n° 939.142/RJ, apontou alguns aspectos da inconsti-
tucionalidade do artigo. Contudo, “a jurisprudência do STJ
Para que as verbas públicas sejam liberadas ou apli-
consolidou a tese de que é indispensável a existência de
cadas há todo um procedimento estabelecido em lei, não
dolo nas condutas descritas nos artigos 9º e 11 e ao menos
cabendo ao servidor violá-lo e muito menos receber van- de culpa nas hipóteses do artigo 10, nas quais o dano ao
tagem por tal violação. Há improbidade, por exemplo, na erário precisa ser comprovado. De acordo com o ministro
fraude em licitação. Castro Meira, a conduta culposa ocorre quando o agente
não pretende atingir o resultado danoso, mas atua com ne-
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, gligência, imprudência ou imperícia (REsp n° 1.127.143)”57.
direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providên- Para Carvalho Filho58, não há inconstitucionalidade na mo-
cia ou declaração a que esteja obrigado; dalidade culposa, lembrando que é possível dosar a pena
A percepção de vantagem econômica para omitir qual- conforme o agente aja com dolo ou culpa.
quer ato que seja obrigado a praticar caracteriza ato de O ponto central é lembrar que neste artigo não se exi-
improbidade administrativa. ge que o sujeito ativo tenha percebido vantagens indevi-
das, basta o dano ao erário. Se tiver recebido vantagem
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio 55 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo.
bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patri- 13. ed. São Paulo: Método, 2011.
monial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei; 56 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
valores integrantes do acervo patrimonial das entidades ris, 2010.
mencionadas no art. 1° desta lei. 57 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Impro-
Como visto, todo o aparato material e financeiro pro- bidade administrativa: desonestidade na gestão dos
piciado para o desempenho das funções públicas perten- recursos públicos. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/
cem à máquina estatal e devem servir ao bem comum, não portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.tex-
cabendo a utilização em proveito próprio, o que gera uma to=103422>. Acesso em: 26 mar. 2013.
natural vantagem econômica, sob pena de incidir em im- 58 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
probidade administrativa. direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
ris, 2010.

78
DIREITO ADMINISTRATIVO

indevida, incide no artigo anterior. Exceto pela não per- VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de pro-
cepção da vantagem indevida, os tipos exemplificados se cesso seletivo para celebração de parcerias com entidades
aproximam muito dos previstos nos incisos do art. 9°. sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente; (Altera-
do pela Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014)
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a in- Processo licitatório é aquele em que se realiza a lici-
corporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou tação, procedimento detalhado prescrito em lei pelo qual
jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do o Estado contrata serviços, adquire produtos, aliena bens,
acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º etc. A finalidade de cumprir o procedimento legal de forma
desta lei; estrita é garantir a preservação do interesse da sociedade,
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurí- não cabendo ao agente público passar por cima destas re-
dica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integran- gras (Lei n° 8.666/93).
tes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no
art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não
ou regulamentares aplicáveis à espécie; autorizadas em lei ou regulamento;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente Todas as despesas que podem ser assumidas pelo Po-
despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistên- der Público encontram respectiva previsão em alguma lei
cias, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qual- ou diretriz orçamentária.
quer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem
observância das formalidades legais e regulamentares apli- X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou
cáveis à espécie; renda, bem como no que diz respeito à conservação do pa-
Todos os bens, rendas, verbas e valores que integram trimônio público;
a estrutura da administração pública somente devem ser A arrecadação de tributos é essencial para a manuten-
utilizados por ela. Por isso, não cabe a incorporação de seu ção da máquina estatal, não podendo o agente público ser
patrimônio ao acervo de qualquer pessoa física ou jurídi- negligente (se omitir, deixar de ser zeloso) no que tange ao
ca e mesmo a simples utilização deve obedecer aos dita- levantamento desta renda.
mes legais. Quem agir, aproveitando da função pública,
de modo a permitir tais situações, incide em ato de im- XI - liberar verba pública sem a estrita observância das
probidade administrativa, ainda que não receba nenhuma normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua
vantagem por seu ato (havendo enriquecimento ilícito, está aplicação irregular;
presente um ato do art. 9°, categoria mais grave). Para que as verbas públicas sejam aplicadas é preciso
Aliás, nem ao menos importa se o ato é benéfico, por obedecer o procedimento previsto em lei, preservando o
exemplo, uma doação. O patrimônio público deve ser pre- interesse estatal.
servado e sua transmissão/utilização deve obedecer a le- Dos incisos VI a XI resta clara a marca desta categoria
gislação vigente. intermediária de atos de improbidade administrativa: que
seja causado prejuízo ao erário, sem que o agente respon-
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação sável pelo dano receba vantagem indevida. A questão é
de bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades preservar o interesse estatal, garantindo que os bens e ver-
referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço bas públicas sejam corretamente utilizados, arrecadados e
por parte delas, por preço inferior ao de mercado; investidos.
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação
de bem ou serviço por preço superior ao de mercado; XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se
Incisos diretamente correlatos aos incisos II e III do ar- enriqueça ilicitamente;
tigo anterior, exceto pelo fato do sujeito ativo não perceber Como visto, quanto o agente público obtém vantagem
vantagem indevida pela sua conduta. Aliás, é exatamente própria, direta ou indireta, incide nas hipóteses mais graves
pela falta deste elemento que o ato se enquadra na cate- do artigo anterior. Caso concorde com o enriquecimento
goria intermediária, e não mais grave, dentro da classifica- ilícito de terceiro, por exemplo, seu superior hierárquico,
ção das improbidades. ou colabore para que ele ocorra, também cometerá ato de
improbidade administrativa, embora de menor gravidade.
VI - realizar operação financeira sem observância das
normas legais e regulamentares ou aceitar garantia insufi- XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particu-
ciente ou inidônea; lar, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qual-
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem quer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer
a observância das formalidades legais ou regulamentares das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o
aplicáveis à espécie; trabalho de servidor público, empregados ou terceiros con-
A realização de operações financeiras, como a libera- tratados por essas entidades.
ção de verbas e o investimento destas, e a concessão de Não se deve permitir que terceiros utilizem do aparato
benefícios são papéis muito importantes desempenhados da máquina estatal, tanto material quanto pessoal, mesmo
pelo agente público, que deverá cumprir estritamente a lei. que não se obtenha vantagem alguma com tal concessão.

79
DIREITO ADMINISTRATIVO

XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha Uma das alterações recentes à disciplina do ISS visou
por objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão evitar a continuidade da guerra fiscal entre os municípios,
associada sem observar as formalidades previstas na lei; fixando-se a alíquota mínima em 2%.
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem Com efeito, os municípios não poderão fixar dentro de
suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as sua competência constitucional alíquotas inferiores a 2%
formalidades previstas na lei. para atrair e fomentar investimentos novos (incentivo fis-
A celebração de contratos de qualquer natureza compro- cal), prejudicando os municípios vizinhos.
mete diretamente o orçamento público, causando prejuízo ao Em razão disso, tipifica-se como ato de improbidade
erário. Por isso, deve-se obedecer as prescrições legais que administrativa a eventual concessão do benefício abaixo da
disciplinam a celebração de contratos administrativos, deli- alíquota mínima.
berando com responsabilidade a respeito das contratações
necessárias e úteis ao bem comum. Seção III
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorpo- Dos Atos de Improbidade Administrativa que Aten-
ração, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens, tam Contra os Princípios da Administração Pública
rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração
pública a entidades privadas mediante celebração de parcerias, sem Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que
a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis atenta contra os princípios da administração pública qual-
à espécie;(Incluído pela Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014) quer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou ju- imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e no-
rídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos tadamente:
transferidos pela administração pública a entidade privada me- O grupo mais ameno de atos de improbidade adminis-
diante celebração de parcerias, sem a observância das forma- trativa se caracteriza pela simples violação a princípios da
lidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído administração pública, ou seja, aplica-se a qualquer ati-
pela Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014) tude do sujeito ativo que viole os ditames éticos do servi-
XVIII - celebrar parcerias da administração pública com
ço público. Isto é, o legislador pretende a preservação dos
entidades privadas sem a observância das formalidades legais
princípios gerais da administração pública.59
ou regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº
a) O objeto de tutela são os princípios constitucionais;
13.019 de 31 de julho de 2014)
b) Basta a vulneração em si dos princípios, sendo dis-
XIX - frustrar a licitude de processo seletivo para celebração de par-
pensáveis o enriquecimento ilícito e o dano ao erário;
cerias da administração pública com entidades privadas ou dispensá-lo
c) Somente é possível a prática de algum destes atos
indevidamente; (Incluído pela Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014)
XX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e com dolo (intenção);
análise das prestações de contas de parcerias firmadas pela ad- d) Cabe a prática por ação ou omissão.
ministração pública com entidades privadas; (Incluído pela Lei Será preciso utilizar razoabilidade e proporcionalidade
nº 13.019 de 31 de julho de 2014) para não permitir a caracterização de abuso de poder, dian-
XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administra- te do conteúdo aberto do dispositivo.
ção pública com entidades privadas sem a estrita observância das Na verdade, trata-se de tipo subsidiário, ou seja, que
normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua apli- se aplica quando o ato de improbidade administrativa não
cação irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014) tiver gerado obtenção de vantagem indevida ou dano ao
erário.
Seção II-A I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regula-
Dos Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes mento ou diverso daquele previsto, na regra de competência;
de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Finan- II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato
ceiro ou Tributário de ofício;
(Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016) III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em
razão das atribuições e que deva permanecer em segredo;
Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa IV - negar publicidade aos atos oficiais;
qualquer ação ou omissão para conceder, aplicar ou man- V - frustrar a licitude de concurso público;
ter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dis- VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a
põem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº fazê-lo;
116, de 31 de julho de 2003. VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento
Art. 8º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Ser- de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de
viços de Qualquer Natureza é de 2% (dois por cento). medida política ou econômica capaz de afetar o preço de
§ 1º O imposto não será objeto de concessão de isen- mercadoria, bem ou serviço.
ções, incentivos ou benefícios tributários ou financeiros, in- VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fis-
clusive de redução de base de cálculo ou de crédito presu- calização e aprovação de contas de parcerias firmadas pela
mido ou outorgado, ou sob qualquer outra forma que resul- administração pública com entidades privadas.
te, direta ou indiretamente, em carga tributária menor que a IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de aces-
decorrente da aplicação da alíquota mínima estabelecida no sibilidade previstos na legislação.
caput, exceto para os serviços a que se referem os subitens 59 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo.
7.02, 7.05 e 16.01 da lista anexa a esta Lei Complementar. 13. ed. São Paulo: Método, 2011.

80
DIREITO ADMINISTRATIVO

É possível perceber, no rol exemplificativo de condutas do artigo 11, que o agente público que pratique qualquer ato
contrário aos ditames da ética, notadamente os originários nos princípios administrativos constitucionais, pratica ato de
improbidade administrativa.
Com efeito, são deveres funcionais: praticar atos visando o bem comum, agir com efetividade e rapidez, manter sigilo
a respeito dos fatos que tenha conhecimento devido a sua função, tornar públicos os atos oficiais, zelar pela boa realização
de atos administrativos em geral (como a realização de concurso público), prestar contas, entre outros.

CAPÍTULO III
Das Penas

Art. 12.  Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsá-
vel pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo
com a gravidade do fato:
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral
do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de mul-
ta civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios
ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de dez anos;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao
patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito
anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direi-
tos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,
ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito)
anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor do benefício financeiro ou tributário concedido. (Incluído pela Lei Complementar
nº 157, de 2016)
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como
o proveito patrimonial obtido pelo agente.
As sanções da Lei de Improbidade Administrativa são de natureza extrapenal e, portanto, têm caráter civil.
Como visto, no caso do art. 9°, categoria mais grave, o agente obtém um enriquecimento ilícito (vantagem econômica
indevida) e pode ainda causar dano ao erário, por isso, deverá não só reparar eventual dano causado mas também colocar
nos cofres públicos tudo o que adquiriu indevidamente. Ou seja, poderá pagar somente o que enriqueceu indevidamente
ou este valor acrescido do valor do prejuízo causado aos cofres públicos (quanto o Estado perdeu ou deixou de ganhar).
No caso do artigo 10, não haverá enriquecimento ilícito, mas sempre existirá dano ao erário, o qual será reparado (even-
tualmente, ocorrerá o enriquecimento ilícito, devendo o valor adquirido ser tomado pelo Estado). Já no artigo 11, o máximo
que pode ocorrer é o dano ao erário, com o devido ressarcimento. Na hipótese do artigo 10-A, não se denota nem enri-
quecimento ilícito e nem dano ao erário, pois no máximo a prática de guerra fiscal pode gerar

Em todos os casos há perda da função pública.


Nas três categorias iniciais, são estabelecidas sanções de suspensão dos direitos políticos, multa e vedação de contra-
tação ou percepção de vantagem, graduadas conforme a gravidade do ato, enquanto que na quarta categoria apenas se
prevê a suspensão de direitos políticos e a multa:

Artigo 9° Artigo 10 Artigo 10-A Artigo 11


Suspensão de direitos
8 a 9 anos 5 a 8 anos 5 a 8 anos 3 a 5 anos
políticos
Até 3X o Até 3X o valor do benefício Até 100X o valor
Até 2X o dano
Multa enriquecimento financeiro ou tributário da remuneração do
causado.
experimentado concedido agente
Vedação de
contratação ou 10 anos 5 anos – 3 anos
vantagem

81
DIREITO ADMINISTRATIVO

Vale lembrar a disciplina constitucional das sanções CAPÍTULO IV


por atos de improbidade administrativa, que se encontra Da Declaração de Bens
no art. 37, § 4º, CF:
Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam
Os atos de improbidade administrativa importarão a condicionados à apresentação de declaração dos bens e
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, valores que compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser
a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na arquivada no serviço de pessoal competente.
forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação pe- § 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, se-
nal cabível. moventes, dinheiro, títulos, ações, e qualquer outra espécie
de bens e valores patrimoniais, localizado no País ou no
ATENÇÃO: a única sanção que se encontra prevista na exterior, e, quando for o caso, abrangerá os bens e valores
LIA mas não na CF é a de multa. (art. 37, §4°, CF). Não há patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de
nenhuma inconstitucionalidade disto, pois nada impediria outras pessoas que vivam sob a dependência econômica
de o legislador infraconstitucional ampliasse a relação mí- do declarante, excluídos apenas os objetos e utensílios de
nima de penalidades da Constituição, pois esta não limitou uso doméstico.
tal possibilidade e porque a lei é o instrumento adequado § 2º A declaração de bens será anualmente atualizada
para tanto60. e na data em que o agente público deixar o exercício do
Carvalho Filho61 tece considerações a respeito de algu- mandato, cargo, emprego ou função.
mas das sanções: § 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do
a) Perda de bens e valores: “tal punição só incide sobre serviço público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis,
os bens acrescidos após a prática do ato de improbidade. o agente público que se recusar a prestar declaração dos
Se alcançasse anteriores, ocorreria confisco, o que restaria bens, dentro do prazo determinado, ou que a prestar falsa.
sem escora constitucional. Além disso, o acréscimo deve § 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia
derivar de origem ilícita”. da declaração anual de bens apresentada à Delegacia da
Receita Federal na conformidade da legislação do Imposto
b) Ressarcimento integral do dano: há quem entenda
sobre a Renda e proventos de qualquer natureza, com as
que engloba dano moral. Cabe acréscimo de correção mo-
necessárias atualizações, para suprir a exigência contida no
netária e juros de mora.
caput e no § 2° deste artigo.
c) Perda de função pública: “se o agente é titular de
Para que uma pessoa tome posse e exerça o cargo de
mandato, a perda se processa pelo instrumento de cassa-
agente público deve apresentar declaração de bens que
ção. Sendo servidor estatutário, sujeitar-se-á à demissão
deverá ser renovada anualmente (§2°) sob pena de demis-
do serviço público. Havendo contrato de trabalho (servido-
são (§3°). Assim, trata-se de condição para o exercício das
res trabalhistas e temporários), a perda da função pública atribuições de agente público.
se consubstancia pela rescisão do contrato com culpa do A finalidade é a de assegurar que o agente público não
empregado. No caso de exercer apenas uma função públi- receba vantagens indevidas, possuindo instrumento para
ca, fora de tais situações, a perda se dará pela revogação fiscalizá-lo caso o faça.
da designação”. Lembra-se que determinadas autoridades Os bens abrangidos pela declaração não são apenas os
se sujeitam a procedimento especial para perda da função do agente público, mas também os de seus dependentes.
pública, ponto em que não se aplica a Lei de Improbidade Por isso, não adiantará nada o agente colocar os bens de-
Administrativa. correntes do enriquecimento ilícito em nome de pessoas
d) Multa: a lei indica inflexibilidade no limite máximo, que dele dependam, e não em seu nome.
mas flexibilidade dentro deste limite, podendo os julgados
nesta margem optar pela mais adequada. Há ainda va- CAPÍTULO V
riabilidade na base de cálculo, conforme o tipo de ato de Do Procedimento Administrativo e do Processo
improbidade (a base será o valor do enriquecimento ou o Judicial
valor do dano ou o valor da remuneração do agente). A
natureza da multa é de sanção civil, não possuindo caráter Desde logo, destaca-se que o procedimento na via ad-
indenizatório, mas punitivo. ministrativa não tem idoneidade para ensejar a aplicação
e) Proibição de receber benefícios: não se incluem as de sanções de improbidade. Após o encerramento do pro-
imunidades genéricas e o agente punido deve ser ao me- cesso administrativo, deverá ser ajuizada ação de impro-
nos sócio majoritário da instituição vitimada. bidade administrativa. Na sentença judicial será possível
f) Proibição de contratar: o agente punido não pode aplicar as sanções da lei de improbidade administrativa.62
participar de processos licitatórios.
Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autori-
60 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de dade administrativa competente para que seja instaurada
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- investigação destinada a apurar a prática de ato de impro-
ris, 2010. bidade.
61 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de 62 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
ris, 2010. ris, 2010.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

O artigo 14 repete um direito assegurado na Constitui- Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade,
ção Federal, qual seja o direito de representação, previsto a comissão representará ao Ministério Público ou à procu-
no art. 5°, XXXIV, a: “são a todos assegurados, independen- radoria do órgão para que requeira ao juízo competente a
temente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos decretação do seqüestro dos bens do agente ou terceiro que
Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalida- tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patri-
de ou abuso de poder; [...]”. Logo, se o art. 14 não existisse, mônio público.
ainda seria possível que o particular representasse o agente § 1º O pedido de sequestro será processado de acordo
público. com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo
Civil.
§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a ter- § 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investiga-
mo e assinada, conterá a qualificação do representante, as ção, o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e apli-
informações sobre o fato e sua autoria e a indicação das cações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos
provas de que tenha conhecimento. termos da lei e dos tratados internacionais.
§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representa- Se existirem indício veementes da prática do ato de im-
ção, em despacho fundamentado, se esta não contiver as
probidade administrativa, a comissão processante poderá
formalidades estabelecidas no § 1º deste artigo. A rejeição
representar ao Ministério Público ou ao órgão jurídico da
não impede a representação ao Ministério Público, nos ter-
pessoa lesada para que estes postulem o sequestro/arres-
mos do art. 22 desta lei.
O §1° delimita o conteúdo da representação que, se não to de bens do terceiro ou agente que tenham enriquecido
respeitado, será rejeitado pela autoridade administrativa ilicitamente.
(§2°). Ainda assim, em caso de rejeição, será possível repre- O arresto parece ser uma medida mais adequada (arts.
sentar ao Ministério Público. Supondo, por exemplo, que a 813 a 821, CPC), por ser uma garantia geral dos credores,
pessoa não queira se identificar - a representação será rejei- ou seja, por ser mais abrangente.
tada, mas o Ministério Público poderá apurar o fato. Vale lembrar a possibilidade prevista no art. 7° desta lei
As exigências do §1° servem para evitar denúncias irres- no sentido de representar ao Ministério Público para pos-
ponsáveis e coibir acusações levianas. Somente o Ministério tular a indisponibilidade de bens.
Público poderá instaurar procedimento para apurar uma Este artigo e o artigo 7° abrem possibilidade para que
denúncia anônima. seja tomada qualquer medida cautelar que vise impedir a
deterioração e a dilapidação do patrimônio do causador do
§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a autori- dano, assegurando sua reparação futura.
dade determinará a imediata apuração dos fatos que, em se O procedimento administrativo se encontra disciplina-
tratando de servidores federais, será processada na forma do dos artigos 14 a 16, encerrando-se neste ponto. A partir
prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de dezem- daqui, trata-se da ação de improbidade administrativa que
bro de 1990 e, em se tratando de servidor militar, de acordo deve tramitar na via judicial (artigos 17 e 18).
com os respectivos regulamentos disciplinares.
O §3° remete à existência de regras próprias do proces- Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será
so administrativo disciplinar para as diferentes categorias proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica
de servidores. Por exemplo, aos servidores públicos federais interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida
será aplicada a Lei n° 8.112/90. cautelar.
“Ação de improbidade administrativa é aquela que pre-
Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao tende o reconhecimento judicial de condutas de improbi-
Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da dade da Administração, perpetradas por administradores
existência de procedimento administrativo para apurar a
públicos e terceiros, e a consequente aplicação das sanções
prática de ato de improbidade.
legais, com o escopo de preservar o princípio da mora-
Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou
lidade administrativa. Sem dúvida, cuida-se de poderoso
Conselho de Contas poderá, a requerimento, designar repre-
sentante para acompanhar o procedimento administrativo. instrumentos de controle judicial sobre atos que a lei ca-
A lei fala em comissão processante, mas o órgão en- racteriza como de improbidade”64.
carregado do processo de investigação pode receber outra Caso tenha sido postulada alguma medida cautelar, o
nomenclatura conforme o sistema funcional de cada enti- prazo para que seja ajuizada a ação de improbidade ad-
dade63. ministrativa é de 30 dias, sob pena de perda da eficácia da
O importante é saber que este órgão terá que informar medida (bens e verbas são desbloqueados).
ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas a existência A legitimidade ativa é concorrente, porque a ação
do procedimento administrativo apurando o ato de impro- pode ser proposta tanto pelo Ministério Público quanto
bidade, que poderão designar representante para acompa- pela pessoa jurídica interessada.
nhá-lo. O objetivo da lei foi contribuiu para a formação da A legitimidade passiva é daquele que cometeu o ato
convicção dos representantes destes órgãos desde logo. de improbidade.

63 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de 64 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
ris, 2010. ris, 2010.

83
DIREITO ADMINISTRATIVO

No pedido, se postulará, primeiro, o reconhecimento §  6o  A ação será instruída com documentos ou jus-
do ato de improbidade administrativa, depois, a aplicação tificação que contenham indícios suficientes da existência
das sanções cabíveis. do ato de improbidade ou com razões fundamentadas da
impossibilidade de apresentação de qualquer dessas pro-
§ 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas vas, observada a legislação vigente, inclusive as disposições
ações de que trata o caput. inscritas nos arts. 16 a 18 do Código de Processo Civil.
Não é permitido fazer acordos porque a apuração do A ação de improbidade administrativa será instruída
ato de improbidade administrativa é de interesse público, com provas do ato de improbidade administrativa prati-
sobre o qual não se pode transacionar. Seria absurdo al- cado, geralmente o processo administrativo que tramitou
guém prejudicar o erário e se livrar da condenação judicial anteriormente. Todas estas provas serão explicadas, funda-
apenas por ter aceitado um acordo quando descoberto seu mentando porque restou caracterizado o ato de improbi-
ato. dade.

§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá §  7o  Estando a inicial em devida forma, o juiz man-
as ações necessárias à complementação do ressarcimento dará autuá-la e ordenará a notificação do requerido, para
do patrimônio público. oferecer manifestação por escrito, que poderá ser instruída
Caso não tenha sido totalmente recomposto o patri- com documentos e justificações, dentro do prazo de quin-
mônio com a ação de improbidade, a Fazenda Pública ajui- ze dias.
zará ação própria. Se a petição inicial preencher os requisitos do pará-
grafo anterior e os demais requisitos processuais civis, o
§ 3°  No caso de a ação principal ter sido proposta pelo requerido será notificado para se manifestar por escrito e,
Ministério Público, aplica-se, no que couber, o disposto no se quiser, apresentar documentos.
§ 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965.
Dispõe o art. 6°, §3° da Lei n° 4.717/65: § 8o  Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta
dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação, se con-
vencido da inexistência do ato de improbidade, da impro-
A pessoa jurídica de direito público ou de direito priva-
cedência da ação ou da inadequação da via eleita.
do, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de
§ 9o  Recebida a petição inicial, será o réu citado para
contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde
apresentar contestação.
que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respec-
Se o juiz se convencer com as informações da mani-
tivo representante legal ou dirigente.
festação do requerido, rejeitará a ação; se não, receberá
definitivamente a petição inicial e determinará a citação do
Significa que é possível inverter a legitimidade, sendo réu para contestar a ação.
que a pessoa jurídica inicia o processo como legitimado
passivo, mas, como é invertido o interesse processual, pas- § 10  Da decisão que receber a petição inicial, caberá
sa para o polo ativo. No entanto, como pessoa jurídica não agravo de instrumento.
figura como ré de ação de improbidade administrativa, so- Agravo de instrumento é o recurso interposto contra
mente cabe a aplicação do dispositivo no sentido de auto- decisões que não colocam fim no processo.
rizar que a pessoa jurídica reforce o pedido de reconheci-
mento de improbidade e de aplicação de sanções ao lado § 11 Em qualquer fase do processo, reconhecida a ina-
do Ministério Público. dequação da ação de improbidade, o juiz extinguirá o pro-
cesso sem julgamento do mérito.
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo Durante o processo o juiz pode perceber que a ação
como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, de improbidade administrativa não deveria ter sido aceita,
sob pena de nulidade. caso em que a extinguirá.
A atuação do Ministério Público nos processos judiciais
pode ser como parte, quando ajuizar a ação, e como fiscal § 12.  Aplica-se aos depoimentos ou inquirições reali-
da lei, quando outro legitimado o fizer. No caso, como tam- zadas nos processos regidos por esta Lei o disposto no art.
bém a pessoa jurídica de direito público prejudicada pode 221, caput e § 1o, do Código de Processo Penal.
ajuizar a ação, se o fizer, o Ministério Público atuará como Dispõem o artigo 221, caput e §1° do CPP:
fiscal da lei, sob pena de nulidade.
O Presidente e o Vice-Presidente da República, os sena-
§  5o  A propositura da ação prevenirá a jurisdição do dores e deputados federais, os ministros de Estado, os gover-
juízo para todas as ações posteriormente intentadas que nadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os
possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados
Tornar o juízo prevento é assegurar que todas as ações às Assembléias Legislativas Estaduais, os membros do Po-
que sejam propostas com mesma causa de pedir (fatos e der Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas
fundamentos jurídicos) ou mesmo objeto sejam julgadas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do
pelo mesmo juízo. Será prevento o juízo em que primeiro Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora pre-
for proposta a ação. viamente ajustados entre eles e o juiz.

84
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1° O Presidente e o Vice-Presidente da República, os Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos
presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da
e do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela presta- sentença condenatória.
ção de depoimento por escrito, caso em que as perguntas, Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrati-
formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão va competente poderá determinar o afastamento do agente
transmitidas por ofício. público do exercício do cargo, emprego ou função, sem pre-
juízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária
Percebe-se que os dispositivos tratam da tomada de à instrução processual.
depoimentos de determinados agentes públicos. Não cabe, em regra, tomar medida cautelar para sus-
pender direitos políticos e determinar a perda da função
§ 13. Para os efeitos deste artigo, também se considera pública. O máximo que é possível, visando garantir a ins-
pessoa jurídica interessada o ente tributante que figurar no trução processual, é afastar o agente público do exercício
polo ativo da obrigação tributária de que tratam o § do cargo sem prejuízo da remuneração enquanto tramita a
4º do art. 3º e o art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, ação de improbidade administrativa.
de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei Complementar nº
157, de 2016) Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei in-
O §4º do artigo 3º mencionado foi vetado. Interpretan- depende:
do o artigo 8º-A, entende-se ser legitimada para proposi- I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público,
tura da ação a pessoa jurídica de direito público que seria salvo quanto à pena de ressarcimento;
beneficiada pela alíquota que deveria ter sido recolhida na II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de
esfera de seu município pois nele que o prestador se en- controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.
contrava. Não importa se o ato praticado pelo agente não cau-
sou dano ao erário, tanto que existem os atos da categoria
Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de mais leve (artigo 11).
reparação de dano ou decretar a perda dos bens havidos ili- Também é irrelevante se o Tribunal de Contas aprovou
citamente determinará o pagamento ou a reversão dos bens, ou rejeitou as contas prestadas pelo agente, embora isto
conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada sirva de elemento de prova.
pelo ilícito.
Na verdade, este dispositivo apenas lembra algumas Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei,
das sanções que poderão ser aplicadas na sentença da o Ministério Público, de ofício, a requerimento de autorida-
ação de improbidade administrativa. Não significa que as de administrativa ou mediante representação formulada de
demais sanções previstas nesta lei não sejam aplicáveis. acordo com o disposto no art. 14, poderá requisitar a instau-
ração de inquérito policial ou procedimento administrativo.
CAPÍTULO VI O Ministério Público poderá requisitar a instauração de
Das Disposições Penais inquérito policial ou procedimento administrativo de ofício,
a pedido da autoridade administrativa ou mediante repre-
Art. 19. Constitui crime a representação por ato de im- sentação.
probidade contra agente público ou terceiro beneficiário,
quando o autor da denúncia o sabe inocente. CAPÍTULO VII
Pena: detenção de seis a dez meses e multa. Da Prescrição
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante
está sujeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções
morais ou à imagem que houver provocado. previstas nesta lei podem ser propostas:
A legislação pretende que as denúncias de atos de im- I - até cinco anos após o término do exercício de manda-
probidade administrativas sejam sérias e fundamentadas, to, de cargo em comissão ou de função de confiança;
não levianas. O art. 19 introduz um tipo penal, ele não faz II - dentro do prazo prescricional previsto em lei especí-
parte exatamente das outras penalidades da lei, por isso fica para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem
exatamente que está apartado das demais. do serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou
Este crime será denunciado e apurado perante um juí- emprego.
zo criminal, fora da ação de improbidade administrativa. Prescrição é um instituto que visa regular a perda do
O artigo 19 é um crime a ser denunciado em ação penal direito de acionar judicialmente.
pública proposta pelo Ministério Público, único legitimado. A ação de improbidade administrativa não poderá ser
Na verdade, ele não passa de uma forma específica da proposta se: a) prescrição no caso de cargo provisório -
denunciação caluniosa do Código Penal. passados 5 anos após o término do exercício de mandato,
cargo em comissão ou função de confiança pelo réu; b)
Art. 339, CP. Dar causa à instauração de investigação prescrição no caso de cargo definitivo - dentro do prazo
policial, de processo judicial, instauração de investigação prescricional previsto em lei específica para faltas discipli-
administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade ad- nares puníveis com demissão a bem do serviço público
ministrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o (por exemplo, na esfera federal, o prazo é de 5 anos a con-
sabe inocente. Pena - reclusão de 2 a 8 anos e multa. tar da data em que o fato se tornou conhecido).

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DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO VIII Artigo 5º - Os direitos, deveres, vantagens e regime


Das Disposições Finais de trabalho dos policiais civis e militares, bem como as con-
dições de ingresso as classes, séries de classes, carreiras
Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. ou quadros são estabelecidos em estatutos.

Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de ju- Artigo 6º - É vedada, salvo com autorização expressa do
nho de 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais Governador em cada caso, a utilização de integrantes dos
disposições em contrário. órgãos policiais em funções estranhas ao serviço poli-
cial, sob pena de responsabilidade da autoridade que o
Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independên- permitir.
cia e 104° da República. Parágrafo único - É considerado serviço policial, para
todos os efeitos inclusive arregimentação, o exercido em
cargo, ou funções de natureza policial, inclusive os de
ensino a esta legados.
2.6.9 - LEI COMPLEMENTAR Nº 207/1979 (LEI
ORGÂNICA DA POLÍCIA DO ESTADO DE SÃO Artigo 7º - As funções administrativas e outras de
PAULO); natureza não policial serão exercidas por funcionário ou
por servidor, admitido nos termos da legislação vigente não
pertencente às classes, séries de classes, carreiras e quadros
Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo policiais.
Parágrafo único - Vetado.
TÍTULO I
Artigo 8º - As guardas municipais, guardas noturnas
Da Polícia do Estado de São Paulo
e os serviços de segurança e vigilância, autorizados por
lei, ficam sujeitos à orientação, condução e fiscalização
Artigo 1º - A Secretaria de Estado dos Negócios da Seguran- da Secretaria da Segurança Pública, na forma de regula-
ça Pública responsável pela manutenção, em todo o Estado, da mentada específica.
ordem e da segurança pública internas, executará o serviço
policial por intermédio dos órgãos policiais que a integram. Secretaria de Segurança Pública: ordem e segurança
Parágrafo único - Abrange o serviço policial a preven- pública internas – execução de serviços policiais por seus
ção e investigação criminais, o policiamento ostensivo, órgãos.
o trânsito e a proteção em casos de calamidade pública, Serviços policiais: Prevenção e investigação criminais;
incêndio e salvamento. policiamento ostensivo; trânsito e proteção em casos de
calamidade pública, incêndio e salvamento.
Artigo 2º - São órgãos policiais, subordinados hierár- Órgãos policiais: polícia civil e polícia militar.
quica, administrativa e funcionalmente ao Secretário da Polícia civil: polícia judiciária, administrativa e preven-
Segurança Pública: tiva.
I - Polícia Civil; Polícia militar: policiamento ostensivo e fardado, além
II - Polícia Militar. de prevenção e extinção de incêndios.
§ 1º - Integrarão também a Secretaria da Segurança
Pública os órgãos de assessoramento do Secretário da Se- TÍTULO II
gurança, que constituem a administração superior da Pasta. Da Polícia Civil
§ 2º - A organização, estrutura, atribuições e compe-
tência pormenorizada dos órgãos de que trata este artigo CAPÍTULO I
serão estabelecidos por decreto, nos termos desta lei e da Das Disposições Preliminares
legislação federal pertinente.
Artigo 9º - Esta lei complementar estabelece as nor-
Artigo 3º - São atribuições básicas: mas, os direitos, os deveres e as vantagens dos titulares
I - Da Polícia Civil - o exercício da Polícia Judiciária, de cargos policiais civis do Estado.
administrativa e preventiva especializada;
Artigo 10 - Consideram-se para os fins desta lei com-
II - Da Polícia Militar - o planejamento, a coordenação
plementar:
e a execução do policiamento ostensivo, fardado e a pre-
I - classe: conjunto de cargos públicos de natureza po-
venção e extinção de incêndios. licial da mesma denominação e amplitude de vencimentos;
II - série de classes: conjunto de classes da mesma na-
Artigo 4º - Para efeito de entrosamento dos órgãos poli- tureza de trabalho policial, hierarquicamente escalonadas
ciais contará a administração superior com mecanismos de de acordo com o grau de complexidade das atribuições e
planejamento, coordenação e controle, pelos quais se as- nível de responsabilidade;
segurem, tanto a eficiência, quanto a complementaridade das III - carreira policial: conjunto de cargos de natureza
ações, quando necessárias a consecução dos objetivos policiais. policial civil, de provimento efetivo.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Artigo 11 - São classes policiais civis aquelas constantes Classe: conjunto de cargos com mesma denominação
do anexo que faz parte integrante desta lei complementar. e vencimentos (vide anexo).
Série de classes: conjunto de classes hierarquicamente
Artigo 12 - As classes e as séries de classes policiais civis escalonado.
integram o Quadro da Secretaria da Segurança Pública Carreira: conjunto de cargos de polícia civil de provi-
na seguinte conformidade: mento efetivo.
I - na Tabela I (SQC-I):
a) Delegado Geral de Polícia; CAPÍTULO II
b) Diretor Geral de Polícia (Departamento Policial); (Vetado)
c) Assistente Técnico de Polícia;
d) Delegado Regional de Polícia; Artigo 13 - (Vetado).
e) Diretor de Divisão Policial;
f) Vetado; Artigo 14 - (Vetado):
g) Vetado;
h) Assistente de Planejamento e Controle Policial;
CAPÍTULO III
i) Vetado;
Do Provimento de Cargos
j) Delegado de Polícia Substituto;
l) Escrivão de Polícia Chefe II;
SEÇÃO I
m) Investigador de Polícia Chefe II;
n) Escrivão de Polícia Chefe I; Das Exigências para Provimento
o) Investigador de Polícia Chefe I;
II - na Tabela II (SQC-II): Artigo 15 - No provimento dos cargos policiais civis, se-
a) Chefe de Seção (Telecomunicação Policial); rão exigidos os seguintes requisitos:
b) Encarregado de Setor (Telecomunicação Policial); I - (vetado);
c) Chefe de Seção (Pesquisador Dactiloscópico Policial); II - Para os de Diretor Geral de Polícia, Assistente
d) Encarregado de Setor (Pesquisador Dactiloscópico Po- Técnico de Polícia e Delegado Regional de Polícia, ser
licial) ocupante do cargo de Delegado de Polícia de Classe Es-
e) Encarregado de Setor (Carceragem); pecial;
f) Chefe de Seção (Dactiloscopista Policial); III - (vetado);
g) Encarregado de Setor (Dactiloscopista Policial); IV - (vetado);
h) Perito Criminal Chefe; V - para os de Diretor de Divisão Policial: ser ocu-
i) Perito Criminal Encarregado. pante, no mínimo do cargo de Delegado de Polícia de 1ª
III - na Tabela III (SQC-III) Classe;
a) os das séries de classe de: VI - para os de Assistente de Planejamento e Contro-
1. Delegado de Polícia; le Policial: ser ocupante, no mínimo, de cargo de Delegado
2. Escrivão de Polícia; de Polícia de 2ª Classe;
3. Investigador de Polícia; VII - para os de Escrivão de Polícia Chefe II: ser ocu-
b) os das seguintes classes: pante do cargo de Escrivão de Polícia III;
1. Perito Criminal; VIII - para os de Investigador de Polícia Chefe II: ser
2. Técnico em Telecomunicações Policial; ocupante do cargo de Investigador de Polícia III;
3. Operador de Telecomunicações Policial; IX - para os de Escrivão de Polícia Chefe I: ser ocupan-
4. Fotógrafo (Técnica Policial); te do cargo de Escrivão de Polícia III ou II;
5. Inspetor de Diversões Públicas; X - para os de Investigador de Polícia Chefe I: ser ocu-
6. Auxiliar de Necrópsia;
pante do cargo de Investigador de Polícia III ou II;
7. Pesquisador Dactiloscópico Policial;
XI - para os de Delegado de Polícia de 5ª Classe; ser
8. Carcereiro;
portador de Diploma de Bacharel em Direito;
9. Dactiloscopista Policial;
XII - para os de Delegado de Polícia de Classe Espe-
10. Agente Policial;
11. Atendente de Necrotério Policial. cial e de 2ª Classe: ser portador de certificado de curso
§ 1º - (Vetado). específico ministrado pela Academia de Polícia de São
§ 2º - O provimento dos cargos de que trata o inciso Paulo;
II deste artigo far-se-á por transposição, na forma prevista XII - (Revogado).
no artigo 27 da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio XIII - para os de Escrivão de Polícia e Investigador
de 1978. de Policia: ser portador de certificado de conclusão de
§ 3º - (Vetado). curso de segundo grau.
XIV - para os de Agente Policial: ser portador de certi-
A legislação em comento regula as normas, os direitos, ficado de conclusão de curso de segundo grau.
os deveres e as vantagens dos titulares de cargos policiais Parágrafo único - (Revogado).
civis.

87
DIREITO ADMINISTRATIVO

Para cargos de direcionamento de nível de delegado, Artigo 20 - Os candidatos a que se refere o artigo ante-
exige-se que o ocupante seja pelo menos delegado; para rior serão admitidos, pelo Secretário da Segurança Pública,
cargos diretivos de nível de escrivania, exige-se que o ocu- em caráter experimental e transitório para a formação
pante seja pelo menos escrivão; para cargos diretivos de ní- técnico-profissional.
vel de investigação, exige-se que o ocupante seja pelo me- § 1º - A admissão de que trata este artigo far-se-á com
nos investigados. Somente pode ser delegado de polícia o retribuição equivalente a do vencimento e demais van-
bacharel em direito. Nos cargos de escrivão e investigador, tagens do cargo vago a que se candidatar o concursando.
bem como de agente, basta o segundo grau completo. § 2º - Sendo funcionário ou servidor, o candidato
matriculado ficara afastado do seu cargo ou função-a-
SEÇÃO II tividade, até o término do concurso junto à Academia de
Dos Concursos Públicos Polícia de São Paulo, sem prejuízo do vencimento ou salá-
rio e demais vantagens, contando-se-lhe o tempo de serviço
Artigo 16 - O provimento mediante nomeação para para todos os efeitos legais.
cargos policiais civis, de caráter efetivo, será precedido de § 3º - É facultado ao funcionário ou servidor, afastado
concurso público, realizado em 3 (três) fases eliminató- nos termos do parágrafo anterior, optar pela retribuição
rias e sucessivas: prevista no § 1º.
I - a de prova escrita ou, quando se tratar de provimen-
to de cargos em relação aos quais a lei exija formação de Artigo 21 - O candidato terá sua matricula cancela-
nível universitário, de prova escrita e títulos; da e será dispensado do curso de formação, nas hipóte-
II - a de prova oral; ses em que:
III - a de frequência e aproveitamento em curso de I - não atinja o mínimo de frequência estabelecida
formação técnico-profissional na Academia de Polícia. para o curso;
II - não revele aproveitamento no curso;
III - não tenha conduta irrepreensível na vida públi-
Artigo 17 - Os concursos públicos terão validade má-
ca ou privada.
xima de 2 (dois) anos e reger-se-ão por instruções espe-
Parágrafo único - Os critérios para a apuração das con-
ciais que estabelecerão, em função da natureza do cargo:
dições constantes dos incisos II e III serão fixados em regu-
I - tipo e conteúdo das provas e as categorias dos
lamento.
títulos;
II - a forma de julgamento das provas e dos títulos;
Artigo 22 - Homologado o concurso pelo Secretário da
III - cursos de formação a que ficam sujeitos os candi- Segurança Pública, serão nomeados os candidatos apro-
datos classificados; vados, expedindo-se lhes certificados dos quais constará
IV - os critérios de habilitação e classificação final a média final.
para fins de nomeação;
V - as condições para provimento do cargo, referentes Artigo 23 - A nomeação obedecerá a ordem de clas-
a: sificação no concurso.
a) capacidade, física e mental;
b) conduta na vida pública e privada e a forma de Requisitos para provimento: brasileiro, mínimo de 18 e
sua apuração; máximo de 45 anos (idade máxima não aplicável aos car-
c) diplomas e certificados. gos de policial civil), não possuir antecedentes criminais,
estar em gozo de direitos políticos, estar quite com o ser-
Artigo 18 - São requisitos para a inscrição nos concur- viço militar.
sos: O concurso se realiza em três fases: escrita, oral e curso
I - ser brasileiro; de formação. A validade máxima é de dois anos. Os can-
II - ter no mínimo 18 (dezoito) anos, e no máximo 45 didatos aprovados nas duas primeiras fases são admitidos
(quarenta e cinco) anos incompletos, à data do encerra- em caráter experimental e transitório para a realização da
mento das inscrições; terceira fase, consistente no curso de formação (o desaten-
III - não registrar antecedentes criminais; dimento dos critérios de frequência e aproveitamento gera
IV - estar em gozo dos direitos políticos; reprovação na fase final do concurso, tal como a situação
V - estar quite com o serviço militar; do candidato que não tenha conduta irrepreensível na es-
VI - (Revogado). fera pública e privada), recebendo remuneração do cargo
Parágrafo único - Para efeito de inscrição, ficam dispen- durante o período. Findo o curso de formação, expede-se a
sados do limite de idade, a que se refere o inciso II, os ocu- classificação final, homologa-se o concurso e nomeiam-se
pantes de cargos policiais civis. os candidatos aprovados.

Artigo 19 - Observada a ordem de classificação pela SEÇÃO III


média aritmética das notas obtidas nas provas escrita Da Posse
e oral (incisos I e II do artigo 16), os candidatos, em núme-
ro equivalente ao de cargos vagos, serão matriculados no Artigo 24 - Posse é o ato que investe o cidadão em
curso de formação técnico-profissional específico. cargo público polícia civil.

88
DIREITO ADMINISTRATIVO

Artigo 25 - São competentes para dar posse: Artigo 31 - O exercício terá inicio dentro de 15 (quin-
I - O Secretário da Segurança Pública, ao Delegado ze) dias, constados: unidade diversa daquela para o
Geral de Polícia; qual foi designado, salvo autorização do Delegado Ge-
II - O Delegado Geral de Polícia, aos Delegados de ral de Polícia.
Polícia;
III - O Diretor do Departamento de Administração Artigo 32 - O Delegado de Polícia só poderá chefiar uni-
da Polícia Civil, nos demais casos. dade ou serviço de categoria correspondente à sua classe,
ou, em caso excepcional, à classe imediatamente supe-
Artigo 26 - A autoridade que der posse deverá verificar, rior.
sob pena de responsabilidade, se foram satisfeitas as
condições estabelecidas em lei ou regulamento para a Artigo 33 - Quando em exercício em unidade ou serviço
investidura no cargo policial civil. de categoria superior, nos termos deste artigo, terá o De-
legado de Polícia direito à percepção da diferença en-
Artigo 27 - A posse verificar-se-á mediante assinatura tre os vencimentos do seu cargo e os do cargo de classe
de termo em livro próprio, assinado pelo empossado e imediatamente superior.
pela autoridade competente, após o policial civil prestar Parágrafo único - Na hipótese deste artigo aplicam-se
solenemente o respectivo compromisso, cujo teor será defi- as disposições do artigo 195 da Lei Complementar n. 180, de
nido pelo Secretário da Segurança Pública. 12 de maio de 1978.

Artigo 28 - A posse deverá verificar-se no prazo de 15 O exercício corresponde ao início das atividades no
(quinze) dias, contados da publicação do ato de provimen- cargo ocupado. O prazo de 15 dias para entrada em exer-
to, no órgão oficial. cício pela primeira vez conta da posse; o prazo para a re-
§ 1º - O prazo fixado neste artigo poderá ser prorro- moção conta da publicação do ato, sendo de 5 dias para
gado por mais 15 (quinze) dias, a requerimento do inte- mesmo município e de 15 dias para município diverso.
ressado.
SEÇÃO V
§ 2º - Se a posse não se der dentro do prazo será tor-
Da reversão “Ex Offício”
nado sem efeito o ato de provimento.
Artigo 34 - Reversão “ex offício” é o ato pelo qual o
Artigo 29 - A contagem do prazo a que se refere o
aposentado reingressa no serviço policial quando in-
artigo anterior poderá ser suspensa até o máximo de
subsistentes as razões que determinaram a aposenta-
120 (cento e vinte) dias, a critério do órgão médico encar-
doria por invalidez.
regado da inspeção respectiva, sempre que este estabelecer
§ 1º - A reversão só poderá efetivar-se quando, em ins-
exigência para a expedição de certificado de sanidade. peção médica, ficar comprovada à capacidade para o
Parágrafo único - O prazo a que se refere este artigo exercício do cargo.
recomeçara a fluir sempre que o candidato, sem motivo jus- § 2º - Será tornada sem efeito a reversão “ex offício”
tificado, deixar de cumprir as exigências do órgão médico. e cassada a aposentadoria do policial civil que reverter
e não tomar posse ou não entrar em exercício injustifi-
Posse, que se dá em 15 dias desde o provimento, é o cadamente, dentro do prazo legal.
ato de investidura no cargo da polícia civil, sendo conferido
pelo Secretário de Segurança Pública ao Delegado Geral de Artigo 35 - A reversão far-se-á no mesmo cargo.
Polícia, pelo Delegado Geral de Polícia aos Delegados de
Polícia, pelo Diretor da Polícia Civil nos demais casos. Será Reversão é o retorno do servidor aposentado por in-
assinado termo e prestado compromisso. validez ao cargo, por comprovação de capacidade para o
seu exercício.
SEÇÃO IV
Do Exercício CAPÍTULO IV
Da Remoção
Artigo 30 - O exercício terá início dentro de 15 (quin-
ze) dias, contados Artigo 36 - O Delegado de Polícia só poderá ser re-
I - da data da posse, movido, de um para o outro município:
II - da data da publicação do ato no caso de remoção. I - a pedido;
§ 1º - Quando o acesso, remoção ou transposição II - por permuta;
não importar mudança de município, deverá o policial III - com seu assentimento, após consulta.
civil entrar em exercício no prazo de 5 (cinco) dias. IV - (Vetado).
§ 2º - No interesse do serviço policial o Delegado Geral
de Polícia poderá determinar que os policiais civis assu- Artigo 37 - A remoção dos integrantes das demais
mam imediatamente o exercício do cargo. séries de classe e cargos policiais civis, de uma para outra
unidade policial, será processada:

89
DIREITO ADMINISTRATIVO

I - a pedido; SUBSEÇÃO II
II - por permuta; Da Gratificação pelo Regime Especial de Trabalho
III - no interesse do serviço policial. Policial

Artigo 38 - A remoção só poderá ser feita, respeitada a Artigo 44 - O exercício dos cargos policiais civis dar-se-á,
lotação cada unidade policial. necessariamente, em Regime Especial de Trabalho Poli-
cial - RETP, o qual é caracterizado:
Artigo 39 - O policial civil não poderá, ser removido I - pela prestação de serviços em condições precárias
no interesse serviço, para município diverso do de sua de segurança, cumprimento de horário irregular, sujeito
sede de exercício, no período de 6 (seis) meses antes e a plantões noturnos e a chamadas a qualquer hora;
até 3 (três) meses após a data das eleições. II - pela proibição do exercício de atividade remune-
Parágrafo único - Esta proibição vigorará no caso de rada, exceto aquelas:
eleições federal estaduais ou municipais, isolada ou simul- a) relativas ao ensino e à difusão cultural;
taneamente realizadas. b) decorrentes de convênio firmado entre Estado e
municípios ou com associações e entidades privadas
Artigo 40 - É preferencial, na união de cônjuges, a para gestão associada de serviços públicos, cuja execução
sede de exercício do policial civil, quando este for ca- possa ser atribuída à Polícia Civil;
beça do casal. III - pelo risco de o policial tornar-se vítima de crime
no exercício ou em razão de suas atribuições.
O Delegado de Polícia somente será removido para ou- § 1º - O exercício, pelo policial civil, de atividades de-
tro município se assim solicitar, ou mediante permuta, ou correntes do convênio a que se refere a alínea “b” do inciso
manifestando sua concordância. Os demais integrantes po- II deste artigo dependerá:
dem ser removidos a pedido, por permuta ou no interesse 1 - de inscrição voluntária do interessado, revestindo-
do serviço policial. -se de obrigatoriedade depois de publicadas as respectivas
escalas;
CAPÍTULO V 2 - de estrita observância, nas escalas, do direito ao
Do Vencimento e Outras Vantagens de Ordem Pe- descanso mínimo previsto na legislação em vigor.
cuniária § 2º - À sujeição ao regime de que trata este artigo
corresponde gratificação que se incorpora aos vencimen-
SEÇÃO I tos para todos os efeitos legais.
Do Vencimento
Artigo 45 - Pela sujeição ao regime de que trata o ar-
Artigo 41 - Aos cargos policiais civis aplicam-se os va- tigo anterior, os titulares de cargos policiais civis fazem jus
lores dos graus das referências numéricas fixados na a gratificação calculada sobre o respectivo padrão de
Tabela I da escala de vencimentos do funcionalismo pú- vencimento, na seguinte conformidade:
blico civil do Estado. I - de 140% (cento e quarenta por cento), os titulares
de cargos da série de classes de Delegado de Polícia,
Artigo 42 - O enquadramento das classes na escala bem como titular do cargo de Delegado Geral de Polícia;
de vencimentos bem como a amplitude de vencimentos, II - de 200% (duzentos por cento), os titulares de car-
e a velocidade evolutiva correspondente, cada classe po- gos das demais classes policiais civis.
licial, são estabelecidos na conformidade do Anexo que
faz parte Integrante desta lei complementar. Adicional RETP – 140% para delegados, 200% para de-
mais classes.
SEÇÃO II
Das Vantagens de Ordem Pecuniária SUBSEÇÃO III
Da Ajuda de Custo em Caso de Remoção
SUBSEÇÃO I
Das Disposições Gerais Artigo 46 - Ao policial civil removido no interesse do
serviço policial de um para outro município, será conce-
Artigo 43 - Além do valor do padrão do cargo e sem pre- dida ajuda de custo correspondente a um mês de venci-
juízo das vantagens previstas na Lei nº 10.261, de 28 de mento.
outubro de 1978, e demais legislação pertinente, o policial § 1º - A ajuda de custo será paga à vista da publicação
civil fará jus as seguintes vantagens pecuniárias. do ato de remoção no Diário Oficial.
I - gratificação por regime especial de trabalho po- § 2º - A ajuda de custo de que trata este decreto não
licial; será devida. quando a remoção se processar a pedido ou
II - ajuda de custo, em caso de remoção. por permuta.

Aplicam-se os direitos e vantagens regulados no Esta- Ajuda de custo: concedida a policial removido de mu-
tuto dos Servidores paulista, além da gratificação por regi- nicípio em favor do interesse público – valor de 1 mês de
me especial de trabalho policial e de ajuda de custo. vencimento.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

SEÇÃO III Artigo 52 - O policial civil que sofrer lesões no exercício


Das Outras Concessões de suas funções deverá ser encaminhado a qualquer hospi-
tal, público ou particular às expensas do Estado.
Artigo 47 - Ao policial civil licenciado para tratamento
de saúde, em razão de moléstia profissional ou lesão re- Artigo 53 - Ao policial civil processado por ato praticado
cebida em serviço, será concedido transporte por conta no desempenho de função policial, será prestada assistên-
do Estado para instituição onde deva ser atendido. cia judiciária na forma que dispuser o regulamento.
Artigo 48 - A família do policial civil que falecer fora Artigo 54 - (Vetado).
da sede de exercício e dentro do território nacional no
desempenho de serviço, será concedido transporte para, Outras concessões: transporte em razão de moléstia
no máximo, 3 (três) pessoas do local de domicílio ao do ou lesão, transporte para família em caso de óbito em mu-
óbito (ida e volta).
nicípio diverso do país, honrarias e prêmios, promoção a
classe imediatamente superior a policial que fique inválido
Artigo 49 - O Secretário da Segurança Pública, por
(aposentadoria por invalidez) ou faleça (pensão por morte),
proposta do Delegado Geral de Polícia, ouvido o Conselho
da Polícia Civil, poderá conceder honrarias ou prêmios aos auxílio-funeral, atendimento hospitalar e assistência judi-
policiais autores de trabalhos de relevante interesse po- ciária.
licial ou por atos de bravura, na forma em que for regu-
lamentado. CAPÍTULO VI
Do Direito de Petição
Artigo 50 - O policial civil que ficar inválido ou que
vier a falecer em consequência de lesões recebidas ou de Artigo 55 - É assegurado a qualquer pessoa, física ou
doenças contraídas em razão do serviço será promovido à jurídica, independentemente de pagamento, o direito de
classe imediatamente superior. petição contra ilegalidade ou abuso de poder e para de-
§ 1º - Se o policial civil estiver enquadrado na última fesa de direitos.
classe da carreira, ser-lhe-á atribuída a diferença entre Parágrafo único - Em nenhuma hipótese, a Administra-
o valor do padrão de vencimento do seu cargo e o da ção poderá recusar-se a protocolar, encaminhar ou apre-
classe imediatamente inferior. ciar a petição, sob pena de responsabilidade do agente.
§ 2º - A concessão do benefício será precedida da
competente apuração, retroagindo seus efeitos à data Artigo 56 - Qualquer pessoa poderá reclamar sobre
da invalidez ou da morte. abuso, erro, omissão ou conduta incompatível no servi-
§ 3º - O policial inválido nos termos deste artigo será ço policial.
aposentado com proventos decorrentes da promoção,
observado o disposto no parágrafo anterior. Artigo 57 - Ao policial civil é assegurado o direito
§ 4º - Aos beneficiários do policial civil falecido nos de requerer ou representar, bem como, nos termos desta
termos deste artigo será deferida pensão mensal corres- lei complementar, pedir reconsideração e recorrer de de-
pondente aos vencimentos integrais, observado o dispos- cisões.
to nos parágrafos anteriores.
O direito de petição é constitucionalmente assegurado
Artigo 51 - Ao cônjuge, companheiro ou companheira
pelo art. 5.º, XXXIV, “a”, da CF/88, nos seguintes termos: “o
ou, na falta destes, à pessoa que provar ter feito despesas em
direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direi-
virtude do falecimento do policial civil, ativo ou inativo, será
tos ou contra ilegalidade ou abuso de poder”.
concedido auxílio-funeral, a título de benefício assisten-
cial, de valor correspondente a 1 (um) mês da respectiva
remuneração. CAPÍTULO VII
§ 1º - O pagamento será efetuado pelo órgão compe- Do Elogio
tente, mediante apresentação de atestado de óbito pelas
pessoas indicadas no “caput” deste artigo, ou procurador le- Artigo 58 - Entende-se por elogio, para os fins desta lei,
galmente habilitado, feita a prova de identidade. a menção nominal ou coletiva que deva constar dos as-
§ 2º - No caso de ficar comprovado, por meio de com- sentamentos funcionais do policial civil por atos meri-
petente apuração que o óbito do policial civil decorreu de tórios que haja praticado.
lesões recebidas no exercício de suas funções ou doen-
ças delas decorrentes, o benefício será acrescido do Artigo 59 - O elogio destina-se a ressaltar:
valor correspondente a mais 1 (um) mês da respectiva I - morte, invalidez ou lesão corporal de natureza
remuneração, cujo pagamento será efetivado mediante grave, no cumprimento do dever;
apresentação de alvará judicial. II - ato que traduza dedicação excepcional no cum-
§ 3º - O pagamento do benefício previsto neste artigo, primento do dever, transcendendo ao que e normalmente
caso as despesas tenham sido custeadas por terceiros, exigível do policial civil por disposição legal ou regulamentar
em virtude da contratação de planos funerários, somente e que importe ou possa importar risco da própria segurança
será efetivado mediante apresentação de alvará judicial. pessoal;

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DIREITO ADMINISTRATIVO

III - execução de serviços que, pela sua relevância e pelo XV - estar em dia com as normas de interesse poli-
que representam para a instituição ou para a coletividade, cial;
mereçam ser enaltecidos como reconhecimento pela ati- XVI - divulgar para conhecimento dos subordinados as
vidade desempenhada. normas referidas no inciso anterior;
XVII - manter discrição sobre os assuntos da repar-
Artigo 60 - Não constitui motivo para elogio o cum- tição e, especialmente, sobre despachos, decisões e provi-
primento dos deveres impostos ao policial civil. dências.

Artigo 61 - São competentes para determinar a inscri- Estes deveres se somam aos já esculpidos no Estatuto
ção de elogios nos assentamentos do policial o Secretário dos Servidores paulista.
da Segurança e o Delegado Geral de Polícia, ouvido, no
caso deste, o Conselho da Polícia Civil. SEÇÃO II
Parágrafo único - Os elogios nos casos dos incisos II e Das Transgressões Disciplinares
III do artigo 59 serão obrigatoriamente considerados para
Artigo 63 - São transgressões disciplinares:
efeito de avaliação de desempenho.
I - manter relações de amizade ou exibir-se em pú-
blico com pessoas de notórios e desabonadores antece-
O elogio é uma espécie de homenagem ao policial ci- dentes criminais, salvo por motivo de serviço;
vil, enaltecendo aspecto de sua conduta no exercício das II - constituir-se procurador de partes ou servir de in-
funções. termediário, perante qualquer repartição pública, salvo
quando se tratar de interesse de cônjuge ou parente até
CAPÍTULO VIII segundo grau;
Dos Deveres, das Transgressões Disciplinares e das III - descumprir ordem superior salvo quando mani-
Responsabilidades festamente ilegal, representando neste caso;
IV - não tomar as providências necessárias ou dei-
SEÇÃO I xar de comunicar, imediatamente, à autoridade competen-
Dos Deveres te, faltas ou irregularidades de que tenha conhecimento;
V - deixar de oficiar tempestivamente nos expedien-
Artigo 62 - São deveres do policial civil: tes que lhe forem encaminhados;
I - ser assíduo e pontual; VI - negligenciar na execução de ordem legítima;
II - ser leal as instituições; VII - interceder maliciosamente em favor de parte;
III - cumprir as normas legais e regulamentares; VIII - simular doença para esquivar-se ao cumprimento
IV - zelar pela economia e conservação dos bens do de obrigação;
Estado, especialmente daqueles cuja guarda ou utilização IX - faltar, chegar atrasado ou abandonar escala de
lhe for confiada; serviço ou plantões, ou deixar de comunicar, com antece-
V - desempenhar com zelo e presteza as missões que dência, à autoridade a que estiver subordinado, a impossi-
lhe forem contidas, usando moderadamente de força ou bilidade de comparecer à repartição, salvo por motivo
outro meio adequado de que dispõe, para esse fim; justo;
VI - informar incontinente toda e qualquer altera- X - permutar horário de serviço ou execução de ta-
ção de endereço da residência e número de telefone, se refa sem expressa permissão da autoridade competente;
houver; XI - usar vestuário incompatível com o decoro da
função;
VII - prestar informações corretas ou encaminhar o
XII - descurar de sua aparência física ou do asseio;
solicitante a quem possa prestá-las;
XIII - apresentar-se ao trabalho alcoolizado ou sob
VIII - comunicar o endereço onde possa ser encontra-
efeito de substância que determine dependência física
do, quando dos afastamentos regulamentares; ou psíquica;
IX - proceder na vida pública e particular de modo a XIV - lançar intencionalmente, em registros oficiais,
dignificar a função policial; papeis ou quaisquer expedientes, dados errôneos, incom-
X - residir na sede do município onde exerça o cargo pletos ou que possam induzir a erro, bem como inserir
ou função, ou onde autorizado; neles anotações indevidas;
XI - frequentar, com assiduidade, para fins de aper- XV - faltar, salvo motivo relevante a ser comunicado
feiçoamento e atualização de conhecimentos profissio- por escrito no primeiro dia em que comparecer à sua sede de
nais, cursos instituídos periodicamente pela Academia exercício, a ato processual, judiciário ou administrativo,
de Polícia; do qual tenha sido previamente cientificado;
XII - portar a carteira funcional; XVI - utilizar, para fins particulares, qualquer que seja o
XIII - promover as comemorações do “Dia da Poli- pretexto, material pertencente ao Estado;
cia” a 21 de abril, ou delas participar, exaltando o vulto XVII - interferir indevidamente em assunto de natu-
de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Patrono reza policial, que não seja de sua competência;
da Polícia; XVIII - fazer uso indevido de bens ou valores que lhe
XIV - ser leal para com os companheiros de trabalho cheguem as mãos, em decorrência da função, ou não en-
e com eles cooperar e manter espirito de solidariedade; tregá-los, com a brevidade possível, a quem de direito;

92
DIREITO ADMINISTRATIVO

XIX - exibir, desnecessariamente, arma, distintivo XLIII - deixar de encaminhar ao órgão competente,
ou algema; para tratamento ou inspeção médica, subordinado que
XX - deixar de ostentar distintivo quando exigido apresentar sintomas de intoxicação habitual por álcool,
para o serviço; entorpecente ou outra substância que determine dependên-
XXI - deixar de identificar-se, quando solicitado ou cia física ou psíquica, ou de comunicar tal fato, se incom-
quando as circunstâncias o exigirem; petente, à autoridade que o for;
XXII - divulgar ou propiciar a divulgação, sem autori- XLIV - dirigir viatura policial com imprudência, im-
zação da autoridade competente, através da imprensa escri- perícia, negligência ou sem habilitação;
ta, falada ou televisada, de fato ocorrido na repartição. XLV - manter transação ou relacionamento indevido
XXIII - promover manifestações contra atos da admi- com preso, pessoa em custódia ou respectivos familia-
nistração ou movimentos de apreço ou desapreço a qual- res;
quer autoridade; XLVI - criar animosidade, velada ou ostensivamente,
XXIV - referir-se de modo depreciativo às autoridades entre subalternos e superiores ou entre colegas, ou in-
e a atos da administração pública, qualquer que seja o dispô-los de qualquer forma;
meio empregado para esse fim; XLVII - atribuir ou permitir que se atribua a pessoa
XXV - retirar, sem prévia autorização da autoridade com- estranha à repartição, fora dos casos previstos em lei, o
petente, qualquer objeto ou documentos da repartição; desempenho de encargos policiais;
XXVI - tecer comentários que possam gerar descrédito XLVIII - praticar a usura em qualquer de suas formas;
da instituição policial; XLIX - praticar ato definido em lei como abuso de po-
XXVII - valer-se do cargo com o fim, ostensivo ou velado, der;
de obter proveito de qualquer natureza para si ou para L - aceitar representação de Estado estrangeiro, sem
terceiros; autorização do Presidente da República;
XXVIII - deixar de reassumir exercício sem motivo jus- LI - tratar de interesses particulares na repartição;
to, ao final dos afastamentos regulares ou, ainda depois de LII - exercer comércio entre colegas, promover ou
subscrever listas de donativos dentro da repartição;
saber que qualquer deste foi interrompido por ordem superior;
LIII - exercer comércio ou participar de sociedade co-
XXIX - atribuir-se qualidade funcional diversa do car-
mercial salvo como acionista, cotista ou comanditário;
go ou função que exerce;
LIV - exercer, mesmo nas horas de folga, qualquer
XXX - fazer uso indevido de documento funcional,
outro emprego ou função, exceto atividade relativa ao
arma, algema ou bens da repartição ou cedê-los a ter-
ensino e à difusão cultural, quando compatível com a ati-
ceiro;
vidade policial;
XXXI - maltratar ou permitir maltrato físico ou moral
LV - exercer pressão ou influir junto a subordinado
a preso sob sua guarda;
para forçar determinada solução ou resultado.
XXXII - negligenciar na revista a preso;
XXXIII - desrespeitar ou procrastinar o cumprimento Artigo 64 - É vedado ao policial civil trabalhar sob
de decisão ou ordem judicial; as ordens imediatas de parentes, até segundo grau, salvo
XXXIV - tratar o superior hierárquico, subordinado ou quando se tratar de função de confiança e livre escolha,
colega sem o devido respeito ou deferência; não podendo exceder de 2 (dois) o número de auxiliares nes-
XXXV - faltar à verdade no exercício de suas funções; tas condições.
XXXVI - deixar de comunicar incontinente à autoridade
competente informação que tiver sobre perturbação da SEÇÃO III
ordem pública ou qualquer fato que exija intervenção Das responsabilidades
policial;
XXXVII - dificultar ou deixar de encaminhar expe- Artigo 65 - O policial responde civil, penal e admi-
diente à autoridade competente, se não estiver na sua al- nistrativamente pelo exercício irregular de suas atri-
çada resolvê-lo; buições, ficando sujeito, cumulativamente, às respectivas
XXXVIII - concorrer para o não cumprimento ou retar- cominações.
damento de ordem de autoridade competente; § 1º - A responsabilidade administrativa é indepen-
XXXIX - deixar, sem justa causa, de submeter-se a ins- dente da civil e da criminal.
peção médica determinada por lei ou pela autoridade § 2º - Será reintegrado ao serviço público, no cargo
competente; que ocupava e com todos os direitos e vantagens devidas, o
XL - deixar de concluir nos prazos legais, sem motivo servidor absolvido pela Justiça, mediante simples com-
justo, procedimento de polícia judiciária, administrativos provação do trânsito em julgado de decisão que negue
ou disciplinares; a existência de sua autoria ou do fato que deu origem à
XLI - cobrar taxas ou emolumentos não previstos em sua demissão.
lei; § 3º - O processo administrativo só poderá ser sobres-
XLII - expedir identidade funcional ou qualquer tipo tado para aguardar decisão judicial por despacho moti-
de credencial a quem não exerça cargo ou função policial vado da autoridade competente para aplicar a pena.
civil;

93
DIREITO ADMINISTRATIVO

Artigo 66 - A responsabilidade civil decorre de procedi- Artigo 68 - Constitui pena disciplinar a remoção com-
mento doloso ou culposo, que importe prejuízo à Fazen- pulsória, que poderá ser aplicada cumulativamente com
da Pública ou a terceiros. as penas previstas nos incisos II, III e IV do artigo anterior
Parágrafo único - A importância da indenização será quando em razão da falta cometida houver conveniência
descontada dos vencimentos e vantagens e o desconto nesse afastamento para o serviço policial.
não excederá à décima parte do valor destes. Parágrafo único - Quando se tratar de Delegado de Po-
lícia, para a aplicação da pena prevista neste artigo deverá
ser observado o disposto no artigo 36, inciso IV.
Embora as esferas sejam independentes, determinadas
decisões na esfera penal geram exclusão da responsabi-
Artigo 69 - Na aplicação das penas disciplinares serão
lidade nas esferas civil e administrativa, quais sejam: ab- considerados a natureza, a gravidade, os motivos deter-
solvição por inexistência do fato ou negativa de autoria. A minantes e a repercussão da infração, os danos causa-
absolvição criminal por falta de provas não gera exclusão dos, a personalidade e os antecedentes do agente, a in-
da responsabilidade civil e administrativa. tensidade do dolo ou o grau de culpa.
A absolvição proferida na ação penal, em regra, nada
prejudica a pretensão de reparação civil do dano ex delicto, Artigo 70 - Para a aplicação das penas previstas no arti-
conforme artigos 65, 66 e 386, IV do CPP: “art. 65. Faz coisa go 67 são competentes:
julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o I - o Governador;
ato praticado em estado de necessidade, em legítima defe- II - o Secretário da Segurança Pública;
sa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício III - o Delegado Geral de Polícia, até a de suspensão;
regular de direito” (excludentes de antijuridicidade); “art. IV - o Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria,
66. não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, até a de suspensão limitada a 60 (sessenta) dias;
V - os Delegados de Polícia Corregedores Auxiliares,
a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, ca-
até a de repreensão.
tegoricamente, reconhecida a inexistência material do
§ 1º - Compete exclusivamente ao Governador do
fato”; “art. 386, IV –  estar provado que o réu não concor- Estado, a aplicação das penas de demissão, demissão a
reu para a infração penal”. bem do serviço público e cassação de aposentadoria ou
Entendem Fuller, Junqueira e Machado65: “a absolvição disponibilidade a Delegado de Polícia.
dubitativa (motivada por juízo de dúvida), ou seja, por falta § 2º - Compete às autoridades enumeradas neste ar-
de provas, (art. 386, II, V e VII, na nova redação conferida ao tigo, até o inciso III, inclusive, a aplicação de pena a
CPP), não empresta qualquer certeza ao âmbito da jurisdi- Delegado de Polícia.
ção civil, restando intocada a possibilidade de, na ação civil § 3º - Para o exercício da competência prevista nos in-
de conhecimento, ser provada e reconhecida a existência cisos I e II será ouvido o órgão de consultoria jurídica.
do direito ao ressarcimento, de acordo com o grau de cog- § 4º - Para a aplicação da pena prevista no artigo 68
nição e convicção próprios da seara civil (na esfera penal, é competente o Delegado Geral de Polícia.
a decisão de condenação somente pode ser lastreada em
Artigo 71 - A pena de advertência será aplicada ver-
juízo de certeza, tendo em vista o princípio constitucional
balmente, no caso de falta de cumprimento dos deveres,
do estado de inocência)”.
ao infrator primário.
Parágrafo único - A pena de advertência não acarreta
CAPÍTULO IX perda de vencimentos ou de qualquer vantagem de or-
Das Penalidades, da Extinção da Punibilidade das dem funcional, mas contará pontos negativos na avalia-
Providências Preliminares ção de desempenho.

SEÇÃO I Artigo 72 - A pena de repreensão será aplicada por


escrito, no caso de transgressão disciplinar, sendo o in-
Artigo 67 - São penas disciplinares principais: frator primário e na reincidência de falta de cumprimen-
I - advertência; to dos deveres.
II - repreensão; Parágrafo único - A pena de repreensão poderá ser
III - multa; transformada em advertência, aplicada por escrito e
IV - suspensão; sem publicidade.
V - demissão;
Artigo 73 - A pena de suspensão, que não excederá
VI - demissão a bem do serviço público;
de 90 (noventa) dias, será aplicada nos casos de:
VII - cassação de aposentadoria ou disponibilidade. I - descumprimento dos deveres e transgressão dis-
ciplinar, ocorrendo dolo ou má fé;
65 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA, II - reincidência em falta já punida com repreensão.
Gustavo Octaviano Diniz; MACHADO, Angela C. Cangia- § 1º - O policial suspenso perderá, durante o período
no. Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribu- da suspensão, todos os direitos e vantagens decorrentes
nais, 2010. (Coleção Elementos do Direito) do exercício do cargo.

94
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º - A autoridade que aplicar a pena de suspensão Artigo 77 - Será aplicada a pena de cassação de apo-
poderá convertê-la em multa, na base de 50% (cinquen- sentadoria ou disponibilidade, se ficar provado que o
ta por cento), por dia, do vencimento e demais vantagens, inativo:
sendo o policial, neste caso, obrigado a permanecer em ser- I - praticou, quando em atividade, falta para a qual é
viço. cominada nesta lei a pena de demissão ou de demissão
a bem do serviço público;
Artigo 74 - Será aplicada a pena de demissão nos casos II - aceitou ilegalmente cargo ou função pública;
de: III - aceitou representação de Estado estrangeiro
I - abandono de cargo; sem prévia autorização do Presidente da República.
II - procedimento irregular, de natureza grave;
III - ineficiência intencional e reiterada no serviço; Artigo 78 - Constitui motivo de exclusão de falta dis-
IV - aplicação indevida de dinheiros públicos; ciplinar a não exigibilidade de outra conduta do poli-
V - insubordinação grave. cial civil.
VI - ausência ao serviço, sem causa justificável, por
mais de 45 (quarenta e cinco) dias, interpoladamente, Artigo 79 - Independe do resultado de eventual ação
durante um ano. penal a aplicação das penas disciplinares previstas nes-
te Estatuto.
Artigo 75 - Será aplicada a pena de demissão a bem do
serviço público, nos casos de: As infrações disciplinares são punidas proporcional-
I - conduzir-se com incontinência pública e escanda- mente. Para as mais leves, a pena será de advertência, re-
losa e praticar Jogos proibidos; preensão ou multa; para as intermediárias, a pena é de sus-
II - praticar ato definido como crime contra a Admi- pensão; para as mais graves, demissão e demissão a bem
nistração Pública, a Fé Pública e a Fazenda Pública ou do serviço público (a qual se equipara a cassação de apo-
previsto na Lei de Segurança Nacional; sentadoria/disponibilidade). A aplicação de pena na esfera
III - revelar dolosamente segredos de que tenha co- disciplinar não exclui a punibilidade civil ou penal.
nhecimento em razão do cargo ou função, com prejuízo para
o Estado ou particulares; SEÇÃO II
IV - praticar ofensas físicas contra funcionários, ser- Da Extinção da Punibilidade
vidores ou particulares, salvo em legítima defesa;
V - causar lesão dolosa ao patrimônio ou aos cofres Artigo 80 - Extingue-se a punibilidade pela prescri-
públicos; ção:
VI - exigir, receber ou solicitar vantagem indevida, I - da falta sujeita à pena de advertência, repreen-
diretamente ou por intermédio de outrem, ainda que fora são, multa ou suspensão, em 2 (dois) anos;
de suas funções, mas em razão destas; II - da falta sujeita à pena de demissão, demissão a
VII - provocar movimento de paralisação total ou bem do serviço público e de cassação da aposentadoria
parcial do serviço policial ou outro qualquer serviço, ou ou disponibilidade, em 5 (cinco) anos;
dele participar; III - da falta prevista em lei como infração penal, no
VIII - pedir ou aceitar empréstimo de dinheiro ou va- prazo de prescrição em abstrato da pena criminal, se for
lor de pessoas que tratem de interesses ou os tenham na superior a 5 (cinco) anos.
repartição, ou estejam sujeitos à sua fiscalização; § 1º - A prescrição começa a correr:
IX - exercer advocacia administrativa. 1 - do dia em que a falta for cometida;
X - praticar ato definido como crime hediondo, tor- 2 - do dia em que tenha cessado a continuação ou a
tura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e permanência, nas faltas continuadas ou permanentes.
terrorismo; § 2º - Interrompe a prescrição a portaria que instaura
XI - praticar ato definido como crime contra o Sis- sindicância e a que instaura processo administrativo.
tema Financeiro, ou de lavagem ou ocultação de bens, § 3º - O lapso prescricional corresponde:
direitos ou valores; 1 - na hipótese de desclassificação da infração, ao da
XII - praticar ato definido em lei como de improbi- pena efetivamente aplicada;
dade. 2 - na hipótese de mitigação ou atenuação, ao da pena
em tese cabível.
Artigo 76 - O ato que cominar pena ao policial civil § 4º - A prescrição não corre:
mencionará, sempre, a disposição legal em que se fun- 1 - enquanto sobrestado o processo administrativo para
damenta. aguardar decisão judicial, na forma do § 3º do artigo 65;
§ 1.º - Desse ato será dado conhecimento ao órgão 2 - enquanto insubsistente o vínculo funcional que ve-
do pessoal, para registro e publicidade, no prazo de 8 nha a ser restabelecido.
(oito) dias, desde que não se tenha revestido de reserva. § 5º - A decisão que reconhecer a existência de pres-
§ 2.º - As penas previstas nos incisos I a IV do artigo 67, crição deverá determinar, desde logo, as providências
quando aplicadas aos integrantes da carreira de Delegado necessárias à apuração da responsabilidade pela sua
de Polícia, revestir-se-ão sempre de reserva. ocorrência.

95
DIREITO ADMINISTRATIVO

Artigo 81 - Extingue-se, ainda, a punibilidade: II - designação do policial acusado para o exercício


I - Pela morte do agente; de atividades exclusivamente burocráticas até decisão
II - Pela anistia administrativa; final do procedimento;
III - Pela retroatividade da lei que não considere o III - recolhimento de carteira funcional, distintivo,
fato como falta. armas e algemas;
IV - proibição do porte de armas;
Artigo 82 - O policial civil que, sem justa causa, deixar V - comparecimento obrigatório, em periodicidade
de atender a qualquer exigência para cujo cumprimen- a ser estabelecida, para tomar ciência dos atos do procedi-
to seja marcado prazo certo, terá suspenso o pagamen- mento.
to de seu vencimento ou remuneração até que satisfaça essa § 1º - O Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria,
exigência. ou qualquer autoridade que determinar a instauração ou
Parágrafo único - Aplica-se aos aposentados ou em dis- presidir sindicância ou processo administrativo, poderá re-
ponibilidade o disposto neste artigo.
presentar ao Delegado Geral de Polícia para propor a apli-
cação das medidas previstas neste artigo, bem como sua
Artigo 83 - Deverão constar do assentamento indivi-
cessação ou alteração.
dual do policial civil as penas que lhe forem impostas.
§ 2º - O Delegado Geral de Polícia poderá, a qualquer
A prescrição consiste no decurso de prazo gerando a momento, por despacho fundamentado, fazer cessar ou al-
impossibilidade de punição da infração, sendo causa de terar as medidas previstas neste artigo.
extinção de punibilidade ao lado da morte do agente, da § 3º - O período de afastamento preventivo computa-
anistia administrativa e da retroatividade da lei que deixe -se como de efetivo exercício, não sendo descontado da
de considerar o ato praticado como infração. pena de suspensão eventualmente aplicada.

SEÇÃO III O procedimento de investigação pode ter início por


Das Providências Preliminares comunicação da autoridade policial à Corregedoria. A au-
toridade corregedora instaurará apuração preliminar, de
Artigo 84 - A autoridade policial que, por qualquer meio, natureza puramente administrativa, cujo objetivo será a
tiver conhecimento de irregularidade praticada por po- apuração de materialidade e autoria. A partir da instaura-
licial civil, comunicará imediatamente o fato ao órgão ção do processo administrativo ou sindicância, é possível
corregedor, sem prejuízo das medidas urgentes que o caso a tomada de medidas preventivas: afastamento preventivo
exigir. do policial, transferência do policial acusado a atividades
Parágrafo único - Ao instaurar procedimento adminis- administrativas e burocráticas, recolhimento de carteira
trativo ou de polícia judiciária contra policial civil, a autori- funcional/distintivo/armas/algemas, proibição do porte de
dade que o presidir comunicará o fato ao Delegado de armas e comparecimento periódico obrigatório.
Polícia Diretor da Corregedoria.
CAPÍTULO X
Artigo 85 - A autoridade corregedora realizará apura- Do Procedimento Disciplinar
ção preliminar, de natureza simplesmente investigati-
va, quando a infração não estiver suficientemente ca- SEÇÃO I
racterizada ou definida autoria. Das Disposições Gerais
§ 1º - O início da apuração será comunicado ao Dele-
gado de Polícia Diretor da Corregedoria, devendo ser con-
Artigo 87 - A apuração das infrações será feita me-
cluída e a este encaminhada no prazo de 30 (trinta) dias.
diante sindicância ou processo administrativo, assegu-
§ 2º - Não concluída no prazo a apuração, a autoridade
deverá imediatamente encaminhar ao Delegado de Polícia rados o contraditório e a ampla defesa.
Diretor da Corregedoria relatório das diligências realizadas
e definir o tempo necessário para o término dos trabalhos. Artigo 88 - Será instaurada sindicância quando a fal-
§ 3º - Ao concluir a apuração preliminar, a autoridade ta disciplinar, por sua natureza, possa determinar as
deverá opinar fundamentadamente pelo arquivamento ou penas de advertência, repreensão, multa e suspensão.
pela instauração de sindicância ou processo administrativo.
Artigo 89 - Será obrigatório o processo administra-
Artigo 86 - Determinada a instauração de sindicância tivo quando a falta disciplinar, por sua natureza, pos-
ou processo administrativo, ou no seu curso, havendo con- sa determinar a pena de demissão, demissão a bem do
veniência para a instrução ou para o serviço policial, serviço público, cassação de aposentadoria ou disponi-
poderá o Delegado Geral de Polícia, por despacho fun- bilidade.
damentado, ordenar as seguintes providências: § 1º - Não será instaurado processo para apurar aban-
I - afastamento preventivo do policial civil, quando o dono de cargo, se o servidor tiver pedido exoneração.
recomendar a moralidade administrativa ou a repercussão § 2º - Extingue-se o processo instaurado exclusivamen-
do fato, sem prejuízo de vencimentos ou vantagens, até 180 te para apurar abandono de cargo, se o indiciado pedir
(cento e oitenta) dias, prorrogáveis uma única vez por igual exoneração até a data designada para o interrogatório, ou
período; por ocasião deste.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

A sindicância é um procedimento administrativo sim- Parágrafo único - Quando a determinação incluir Dele-
plificado, que se presta à punição de infrações administra- gado de Polícia, a competência é das autoridades enumera-
tivas mais leves: advertência, repreensão, multa e suspen- das no artigo 70, até o inciso III, inclusive.
são. Quando a falta for grave, notadamente, punível com
demissão, demissão a bem do serviço público ou cassa- Artigo 95 - O processo administrativo será presidido
ção de aposentadoria/disponibilidade, deve ser instaurado por Delegado de Polícia, que designará como secretário
processo administrativo. um Escrivão de Polícia.
Parágrafo único - Havendo imputação contra Delega-
SEÇÃO II do de Polícia, a autoridade que presidir a apuração será de
Da Sindicância classe igual ou superior à do acusado.

Artigo 90 - São competentes para determinar a ins- Artigo 96 - Não poderá ser encarregado da apura-
tauração de sindicância as autoridades enumeradas no ção, nem atuar como secretário, amigo íntimo ou ini-
artigo 70. migo, parente consanguíneo ou afim, em linha reta ou
Parágrafo único - Quando a determinação incluir Dele- colateral, até o terceiro grau inclusive, cônjuge, companhei-
gado de Polícia, a competência é das autoridades enumera- ro ou qualquer integrante do núcleo familiar do denunciante
das no artigo 70, até o inciso IV, inclusive. ou do acusado, bem assim o subordinado deste.
Parágrafo único - A autoridade ou o funcionário desig-
Artigo 91 - Instaurada a sindicância, a autoridade que nado deverão comunicar, desde logo, à autoridade compe-
a presidir comunicará o fato à Corregedoria Geral da tente, o impedimento que houver.
Polícia Civil e ao órgão setorial de pessoal.
Artigo 97 - O processo administrativo deverá ser instau-
Artigo 92 - Aplicam-se à sindicância as regras previstas rado por portaria, no prazo improrrogável de 8 (oito)
nesta lei complementar para o processo administrativo, com dias do recebimento da determinação, e concluído no
as seguintes modificações:
de 90 (noventa) dias da citação do acusado.
I - a autoridade sindicante e cada acusado poderão ar-
§ 1º - Da portaria deverá constar o nome e a identi-
rolar até 3 (três) testemunhas;
ficação do acusado, a infração que lhe é atribuída, com
II - a sindicância deverá estar concluída no prazo de
descrição sucinta dos fatos e indicação das normas in-
60 (sessenta) dias;
fringidas.
III - com o relatório, a sindicância será enviada à auto-
§ 2º - Vencido o prazo, caso não concluído o processo,
ridade competente para a decisão.
a autoridade deverá imediatamente encaminhar ao Dele-
gado de Polícia Diretor da Corregedoria relatório indican-
Artigo 93 - O Delegado Geral de Polícia poderá, quando
entender conveniente, solicitar manifestação do Conselho do as providências faltantes e o tempo necessário para
da Polícia Civil, antes de opinar ou proferir decisão em sin- término dos trabalhos.
dicância. § 3º - Caso o processo não esteja concluído no prazo
de 180 (cento e oitenta) dias, o Delegado de Polícia Dire-
São competentes para determinar a instauração da sin- tor da Corregedoria deverá justificar o fato circunstancia-
dicância: o Governador, o Secretário da Segurança Pública, damente ao Delegado Geral de Polícia e ao Secretário
o Delegado Geral de Polícia, o Delegado de Polícia Diretor da Segurança Pública.
da Corregedoria.
Apenas para funcionários que não sejam delegados Artigo 98 - Autuada a portaria e demais peças preexis-
de polícia, possuem competência os Delegados de Polícia tentes, designará o presidente dia e hora para audiência
Corregedores Auxiliares (se o investigado for delegado de de interrogatório, determinando a citação do acusado e
polícia, a competência de instauração será pelo menos do a notificação do denunciante, se houver.
Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria). § 1º - O mandado de citação deverá conter:
A autoridade presidente deverá comunicar o fato à 1 - cópia da portaria;
Corregedoria Geral da Polícia Civil e ao órgão setorial de 2 - data, hora e local do interrogatório, que poderá ser
pessoal. acompanhado pelo advogado do acusado;
Regras da sindicância: autoridade e acusado poderão 3 - data, hora e local da oitiva do denunciante, se houver,
arrolar cada qual 3 testemunhas, conclusão da sindicância que deverá ser acompanhada pelo advogado do acusado;
no prazo de 60 dias, relatório. 4 - esclarecimento de que o acusado será defendido por
advogado dativo, caso não constitua advogado próprio;
SEÇÃO III 5 - informação de que o acusado poderá arrolar teste-
Do Processo Administrativo munhas e requerer provas, no prazo de 3 (três) dias após a
data designada para seu interrogatório;
Artigo 94 - São competentes para determinar a ins- 6 - advertência de que o processo será extinto se o acu-
tauração de processo administrativo as autoridades enu- sado pedir exoneração até o interrogatório, quando se tratar
meradas no artigo 70, até o inciso IV, inclusive. exclusivamente de abandono de cargo.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º - A citação do acusado será feita pessoalmente, Artigo 105 - A testemunha não poderá eximir-se de
no mínimo 2 (dois) dias antes do interrogatório, por in- depor, salvo se for ascendente, descendente, cônjuge,
termédio do respectivo superior hierárquico, ou diretamente, ainda que legalmente separado, companheiro, irmão,
onde possa ser encontrado. sogro e cunhado, pai, mãe ou filho adotivo do acusado,
§ 3º - Não sendo encontrado, furtando-se o acusado exceto quando não for possível, por outro modo, obter-se ou
à citação ou ignorando-se seu paradeiro, a citação far-se-á integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.
por edital, publicado uma vez no Diário Oficial do Estado, § 1º - Se o parentesco das pessoas referidas for com
no mínimo 10 (dez) dias antes do interrogatório. o denunciante, ficam elas proibidas de depor, observada
a exceção deste artigo.
Artigo 99 - Havendo denunciante, este deverá prestar § 2º - Ao policial civil que se recusar a depor, sem justa
declarações, no interregno entre a data da citação e a fixa- causa, será pela autoridade competente aplicada a sanção
da para o interrogatório do acusado, sendo notificado para a que se refere o artigo 82, mediante comunicação do pre-
tal fim.
sidente.
§ 1º - A oitiva do denunciante deverá ser acompanhada
§ 3º - O policial civil que tiver de depor como testemu-
pelo advogado do acusado, próprio ou dativo.
nha fora da sede de seu exercício, terá direito a transporte
§ 2º - O acusado não assistirá à inquirição do denun-
e diárias na forma da legislação em vigor, podendo ainda
ciante; antes porém de ser interrogado, poderá ter ciência
das declarações que aquele houver prestado. expedir-se precatória para esse efeito à autoridade do domi-
cílio do depoente.
Artigo 100 - Não comparecendo o acusado, será, por § 4º - São proibidas de depor as pessoas que, em razão
despacho, decretada sua revelia, prosseguindo-se nos de- de função, ministério, ofício ou profissão, devam guar-
mais atos e termos do processo. dar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada,
quiserem dar o seu testemunho.
Artigo 101 - Ao acusado revel será nomeado advo-
gado dativo. Artigo 106 - A testemunha que morar em comarca
diversa poderá ser inquirida pela autoridade do lugar
Artigo 102 - O acusado poderá constituir advogado de sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta pre-
que o representará em todos os atos e termos do pro- catória, com prazo razoável, intimada a defesa.
cesso. § 1º - Deverá constar da precatória a síntese da impu-
§ 1º - É faculdade do acusado tomar ciência ou assistir tação e os esclarecimentos pretendidos.
aos atos e termos do processo, não sendo obrigatória qual- § 2º - A expedição da precatória não suspenderá a
quer notificação. instrução do procedimento.
§ 2º - O advogado será intimado por publicação no § 3º - Findo o prazo marcado, o procedimento poderá
Diário Oficial do Estado, de que conste seu nome e número prosseguir até final decisão; a todo tempo, a precatória,
de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, bem como uma vez devolvida, será juntada aos autos.
os dados necessários à identificação do procedimento.
§ 3º - Não tendo o acusado recursos financeiros ou Artigo 107 - As testemunhas arroladas pelo acusado
negando-se a constituir advogado, o presidente nomeará comparecerão à audiência designada independente de
advogado dativo. notificação.
§ 4º - O acusado poderá, a qualquer tempo, constituir § 1º - Deverá ser notificada a testemunha cujo de-
advogado para prosseguir na sua defesa. poimento for relevante e que não comparecer esponta-
neamente.
Artigo 103 - Comparecendo ou não o acusado ao in-
§ 2º - Se a testemunha não for localizada, a defesa po-
terrogatório, inicia-se o prazo de 3 (três) dias para re-
derá substitui-la, se quiser, levando na mesma data desig-
querer a produção de provas, ou apresentá-las.
nada para a audiência outra testemunha, independente de
§ 1º - Ao acusado é facultado arrolar até 5 (cinco)
testemunhas. notificação.
§ 2º - A prova de antecedentes do acusado será feita
exclusivamente por documentos, até as alegações finais. Artigo 108 - Em qualquer fase do processo, poderá o
§ 3º - Até a data do interrogatório, será designada a presidente, de ofício ou a requerimento da defesa, ordenar
audiência de instrução. diligências que entenda convenientes.
§ 1º - As informações necessárias à instrução do pro-
Artigo 104 - Na audiência de instrução, serão ouvidas, cesso serão solicitadas diretamente, sem observância de
pela ordem, as testemunhas arroladas pelo presidente, vinculação hierárquica, mediante ofício, do qual cópia será
em número não superior a 5 (cinco), e pelo acusado. juntada aos autos.
Parágrafo único - Tratando-se de servidor público, seu § 2º - Sendo necessário o concurso de técnicos ou
comparecimento poderá ser solicitado ao respectivo superior peritos oficiais, o presidente os requisitará, observados os
imediato com as indicações necessárias. impedimentos do artigo 105.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Artigo 109 - Durante a instrução, os autos do pro- § 3º - Cumpridas as diligências, o Conselho da Polícia
cedimento administrativo permanecerão na repartição Civil emitirá parecer conclusivo, no prazo de 20 (vinte)
competente. dias, encaminhando os autos ao Delegado Geral de Po-
§ 1º - Será concedida vista dos autos ao acusado, me- lícia.
diante simples solicitação, sempre que não prejudicar o § 4º - O Delegado Geral de Polícia, no prazo de 10
curso do procedimento. (dez) dias, emitirá manifestação conclusiva e encami-
§ 2º - A concessão de vista será obrigatória, no pra- nhará o processo administrativo à autoridade compe-
zo para manifestação do acusado ou para apresentação de
tente para decisão.
recursos, mediante publicação no Diário Oficial do Estado.
§ 5º - A autoridade que proferir decisão determinará
§ 3º - Ao advogado é assegurado o direito de retirar
os autos da repartição, mediante recibo, durante o prazo os atos dela decorrentes e as providências necessárias a
para manifestação de seu representado, salvo na hipóte- sua execução.
se de prazo comum, de processo sob regime de segredo de
justiça ou quando existirem nos autos documentos originais Artigo 115 - Terão forma processual resumida, quan-
de difícil restauração ou ocorrer circunstância relevante que do possível, todos os termos lavrados pelo secretário, quais
justifique a permanência dos autos na repartição, reconheci- sejam: autuação, juntada, conclusão, intimação, data de
da pela autoridade em despacho motivado. recebimento, bem como certidões e compromissos.
Parágrafo único - Toda e qualquer juntada aos autos se
Artigo 110 - Somente poderão ser indeferidos pelo fará na ordem cronológica da apresentação, rubricando
presidente, mediante decisão fundamentada, os reque- o presidente as folhas acrescidas.
rimentos de nenhum interesse para o esclarecimento do
fato, bem como as provas ilícitas, impertinentes, desneces- Artigo 116 - Não será declarada a nulidade de ne-
sárias ou protelatórias.
nhum ato processual que não houver influído na apura-
Artigo 111 - Quando, no curso do procedimento, surgi- ção da verdade substancial ou diretamente na decisão
rem fatos novos imputáveis ao acusado, poderá ser pro- do processo ou sindicância.
movida a instauração de novo procedimento para sua
apuração, ou, caso conveniente, aditada a portaria, rea- Artigo 117 - É defeso fornecer à imprensa ou a outros
brindo-se oportunidade de defesa. meios de divulgação notas sobre os atos processuais,
salvo no interesse da Administração, a juízo do Delegado
Artigo 112 - Encerrada a fase probatória, dar-se-á vista Geral de Polícia.
dos autos à defesa, que poderá apresentar alegações finais,
no prazo de 7 (sete) dias. Artigo 118 - Decorridos 5 (cinco) anos de efetivo
Parágrafo único - Não apresentadas no prazo as alega- exercício, contados do cumprimento da sanção discipli-
ções finais, o presidente designará advogado dativo, assi- nar, sem cometimento de nova infração, não mais poderá
nando-lhe novo prazo. aquela ser considerada em prejuízo do infrator, inclusive
para efeito de reincidência.
Artigo 113 - O relatório deverá ser apresentado no
prazo de 10 (dez) dias, contados da apresentação das
alegações finais. São competentes para determinar a instauração da sin-
§ 1º - O relatório deverá descrever, em relação a cada dicância: o Governador, o Secretário da Segurança Pública
acusado, separadamente, as irregularidades imputadas, e o Delegado Geral de Polícia. Apenas para funcionários
as provas colhidas e as razões de defesa, propondo a que não sejam delegados de polícia, possuem competên-
absolvição ou punição e indicando, nesse caso, a pena cia o Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria.
que entender cabível. Presidirá o processo administrativo delegado de polícia
§ 2º - O relatório deverá conter, também, a sugestão (se a apuração for contra outro delegado, deve possuir ao
de quaisquer outras providências de interesse do servi- menos a mesma classe que este), auxiliado por escrivão na
ço público. posição de secretário, que não podem possuir vínculo de
parentesco ou amizade com o acusado.
Artigo 114 - Relatado, o processo será encaminhado O processo administrativo será instaurado por portaria
ao Delegado Geral de Polícia, que o submeterá ao Con-
(na qual constará nome e identificação do acusado, além
selho da Polícia Civil, no prazo de 48 (quarenta e oito)
da identificação da infração e dos fatos imputados e nor-
horas.
§ 1º - O Presidente do Conselho da Polícia Civil, no pra- mas infringidas), no prazo de 8 dias da determinação, de-
zo de 20 (vinte) dias, poderá determinar a realização vendo ser concluído em 90 dias da citação do acusado (se
de diligência, sempre que necessário ao esclarecimento dos não concluir, encaminhar relatório que indique providên-
fatos. cias faltantes e tempo necessário para conclusão ao Dele-
§ 2º - Determinada a diligência, a autoridade encarre- gado de Polícia Diretor; se for ultrapassar o prazo de 180
gada do processo administrativo terá prazo de 15 (quinze) dias, o Delegado Diretor deverá justificar o fato circunstan-
dias para seu cumprimento, abrindo vista à defesa para ciadamente ao Delegado Geral de Polícia e ao Secretário da
manifestar-se em 5 (cinco) dias. Segurança Pública).

99
DIREITO ADMINISTRATIVO

Desde logo, se designará dia e hora para interroga- ou não desta. Caso decida pela manutenção, encaminha-
tório, citando-se pessoalmente o acusado (se não encon- rá o recurso para reexame pelo superior hierárquico. Se a
trado, cabe citação por edital) e notificando-se o denun- autoridade que aplicou a pena já for a de maior hierarquia,
ciante (que prestará informações). Ao acusado revel, que notadamente, governador, não cabe recurso e sim pedido
não compareça, será nomeado defensor dativo. Evidente, de reconsideração, também em 30 dias.
o acusado terá direito a defesa, podendo constituir advo-
gado ou mesmo substituir o atuante oi dativo a qualquer CAPÍTULO XI
tempo. Da Revisão
Quanto às testemunhas, poderão ser arroladas até 5
pela autoridade/denunciante e até 5 pela defesa. Cabe a Artigo 122 - Admitir-se-á, a qualquer tempo, a revisão
oitiva por carta precatória, se necessário. Não há prejuízo de punição disciplinar, se surgirem fatos ou circunstân-
na produção de outras provas, mas se forem impertinentes cias ainda não apreciados, ou vícios insanáveis de pro-
a autoridade deve indeferir. Encerrada a fase probatória, se- cedimento, que possam justificar redução ou anulação da
rão apresentadas alegações finais em 7 dias. pena aplicada.
Após, em 10 dias deve ser apresentado o relatório, o
§ 1º - A simples alegação da injustiça da decisão
qual será encaminhado para o Delegado Geral de Polícia,
não constitui fundamento do pedido.
que em 48hs submeterá ao Conselho de Polícia Civil, que
§ 2º - Não será admitida reiteração de pedido pelo
poderá pedir diligências complementares e emitir sua opi-
nião, devolvendo ao Delegado Geral de Polícia para que mesmo fundamento.
emita parecer final em 10 dias e encaminhe os autos para a § 3º - Os pedidos formulados em desacordo com este
autoridade competente para a aplicação da pena. artigo serão indeferidos.
§ 4º - O ônus da prova cabe ao requerente.
SEÇÃO IV
Dos Recursos Artigo 123 - A pena imposta não poderá ser agrava-
da pela revisão.
Artigo 119 - Caberá recurso, por uma única vez, da
decisão que aplicar penalidade. Artigo 124 - A instauração de processo revisional poderá
§ 1º - O prazo para recorrer é de 30 (trinta) dias, con- ser requerida fundamentadamente pelo interessado ou,
tados da publicação da decisão impugnada no Diário Oficial se falecido ou incapaz, por seu curador, cônjuge, com-
do Estado. panheiro, ascendente, descendente ou irmão, sempre por
§ 2º - Tratando-se de pena de advertência, sem publi- intermédio de advogado.
cidade, o prazo será contado da data em que o policial civil Parágrafo único - O pedido será instruído com as pro-
for pessoalmente intimado da decisão. vas que o requerente possuir ou com indicação daquelas que
§ 3º - Do recurso deverá constar, além do nome e qua- pretenda produzir.
lificação do recorrente, a exposição das razões de incon-
formismo. Artigo 125 - O exame da admissibilidade do pedido
§ 4º - O recurso será apresentado à autoridade que de revisão será feito pela autoridade que aplicou a pena-
aplicou a pena, que terá o prazo de 10 (dez) dias para, lidade, ou que a tiver confirmado em grau de recurso.
motivadamente, manter sua decisão ou reformá-la.
§ 5º - Mantida a decisão, ou reformada parcialmente, Artigo 126 - Deferido o processamento da revisão, será
será imediatamente encaminhada a reexame pelo supe- este realizado por Delegado de Polícia de classe igual
rior hierárquico. ou superior à do acusado, que não tenha funcionado no
§ 6º - O recurso será apreciado pela autoridade com-
procedimento disciplinar de que resultou a punição do re-
petente ainda que incorretamente denominado ou en-
querente.
dereçado.

Artigo 120 - Caberá pedido de reconsideração, que Artigo 127 - Recebido o pedido, o presidente providen-
não poderá ser renovado, de decisão tomada pelo Go- ciará o apensamento dos autos originais e notificará o
vernador do Estado em única instância, no prazo de 30 requerente para, no prazo de 8 (oito) dias, oferecer rol
(trinta) dias. de testemunhas, ou requerer outras provas que pretenda
produzir.
Artigo 121 - Os recursos de que trata esta lei comple- Parágrafo único - No processamento da revisão serão
mentar não têm efeito suspensivo; os que forem providos observadas as normas previstas nesta lei complementar
darão lugar às retificações necessárias, retroagindo seus para o processo administrativo.
efeitos à data do ato punitivo.
Artigo 128 - A decisão que julgar procedente a revisão
Da decisão em sindicância ou processo disciplinar cabe poderá alterar a classificação da infração, absolver o
recurso, no prazo de 30 dias, manifestando as razões de punido, modificar a pena ou anular o processo, restabe-
inconformismo com a aplicação da pena. A autoridade que lecendo os direitos atingidos pela decisão reformada.
aplicou a pena, terá 10 dias por decidir pela manutenção

100
DIREITO ADMINISTRATIVO

A revisão não é um recurso, mas sim uma nova mani- Artigo 134 - O disposto nos artigos 41, 42, 44 e 45 desta
festação de condenado em sindicância ou processo admi- lei complementar aplica-se aos integrantes da série de
nistrativo, buscando a diminuição ou retirada da pena, de- classes de Agente de Segurança Penitenciária da Secre-
vido ao surgimento de fatos ou circunstâncias não aprecia- taria da Justiça.
das ou vícios insanáveis no procedimento. Não serve para
reanalisar a justiça da decisão. Caberá ao condenado fazer Artigo 135 - Aplicam-se aos funcionários policiais civis,
a prova de tais fatos e circunstâncias ou vícios. Na revisão, no que não conflitar com esta lei complementar as disposi-
a pena não pode ser agravada. ções da Lei nº 199, de 1º de dezembro de 1948, do Decre-
Não apenas o condenado tem legitimidade, mas tam- to-lei nº 141, de 24 de julho de 1969, da Lei nº Lei Comple-
bém seu curador, cônjuge/companheiro, ascendente, des- mentar nº 180, de 12 de maio de 1978, bem como o regime
cendente e irmão no caso de incapacidade ou morte. de mensal, instituído pela Lei nº 4.832, de 4 de setembro de
A autoridade que aplicou a penalidade ou a confirmou 1958, com alterações posteriores.
em grau de recurso que será responsável por admitir a re-
visão (requisitos de admissibilidade – se a revisão preenche Artigo 136 - Esta lei complementar aplica-se, nas mes-
os requisitos formais para que venha a ser apreciada). mas bases, termos e condições, aos inativos.
Delegado de Polícia de classe superior à do condenado
será responsável pelo processamento da revisão. Os autos Artigo 137 - As despesas decorrentes da aplicação desta
da revisão serão apensados aos originais. O requerente lei complementar, correrão à conta de créditos suplemen-
será notificado para em 8 dias apresentar rol de testemu- tares que o Poder Executivo fica autorizado a abrir, até o
nhas e requerer outras provas. limite de Cr$ 270.000.000,00 (duzentos e setenta milhões de
Ao final, a decisão proferida anteriormente poderá ser cruzeiros).
modificada, alterando-se a classificação da infração, absol- Parágrafo único - O valor do crédito autorizado neste
vendo-se o punido, modificando-se a pena ou anulando-se artigo será coberto com recursos de que trata o artigo 43 da
o processo. Lei Federal nº 4.320, de 17 de março de 1964.

CAPÍTULO XII Artigo 138 - Esta lei complementar e suas disposições


Das Disposições Gerais e Finais transitórias entrarão em vigor em 1º de março de 1979 re-
vogadas as disposições em contrário, especialmente a Lei nº
Artigo 129 - (Vetado). 7.626, de 6 de dezembro de 1962, o Decreto-lei nº 156, de
8 de outubro de 1969, bem como a alínea “a” do inciso III
Artigo 130 - Contar-se-ão por dias corridos os prazos do artigo 64 e o artigo 182, ambos da Lei Complementar nº
previstos nesta lei complementar. 180, de 12 de maio de 1978.
Parágrafo único - Computam-se os prazos excluindo o
dia do começo e incluindo o do vencimento, prorrogando-se Das Disposições Transitórias
este, quando incidir em sábado, domingo, feriado ou facul-
tativo, para o primeiro dia útil seguinte. Artigo 1º - Somente se aplicará esta lei complemen-
tar às infrações disciplinares praticadas na vigência da
Artigo 131 - Compete ao órgão Setorial de Recursos lei anterior, quando:
Humanos da Polícia Civil, o planejamento, a coordenação, a I - o fato não for mais considerado infração disciplinar;
orientação técnica e o controle, sempre em integração com II - de qualquer forma, for mais branda a pena comi-
o órgão central, das atividades de administração do pessoal nada.
policial civil.
Artigo 2º - Os processos em curso, quando da entrada
Artigo 132 - O Estado fornecerá aos policiais civis car- em vigor desta lei complementar, obedecerão ao rito pro-
teira de identidade funcional, distintivo, algema, arma- cessual estabelecido pela legislação anterior.
mento e munição, para o efetivo exercício de suas funções.
§ 1º - A carteira de identidade funcional dos policiais Artigo 3º - Os atuais cargos de Delegado de Polícia
civis será elaborada com observância das diretrizes básicas Substituto serão extintos na vacância.
previstas na legislação federal para emissão da carteira de Parágrafo único - Os ocupantes dos cargos a que alude
identidade pelo órgão estadual de identificação, dará direi- este artigo, serão inscritos nos concursos de ingresso na
to ao porte de arma e ao uso de distintivo, e terá fé pública carreira de Delegado de Polícia.
e validade como documento de identificação civil.
§ 2º - Aplica-se, no que couber, à carteira de identida- Artigo 4º - (Vetado).
de funcional instituída para os policiais civis aposentados o
disposto no §1º deste artigo. Artigo 5º - (Vetado).

Artigo 133 - É proibida a acumulação de férias, salvo Artigo 6º - (Vetado).


por absoluta necessidade de serviço e pelo prazo máximo
de 3 (três) anos consecutivos. Palácio dos Bandeirantes, 5 de janeiro de 1979.

101
DIREITO ADMINISTRATIVO

ANEXO A QUE SE REFERE O ARTIGO 42 DA LEI COMPLEMENTAR N. 207, DE 5 DE JANEIRO DE 1979

SITUAÇÃO ATUAL SITUAÇÃO NOVA


Referência Referência
DENOMINAÇÃO Tabela A V DENOMINAÇÃO Tabela A V
Inicial Final Inicial Final
Delegado Geral de
Delegado Geral SQC-I 60 75 I VE-1 SQC-I 60 75 I VE-1
Polícia
Diretor Geral Diretor Geral
de Polícia de Polícia
SQC-I 59 74 I VE-1 SQC-I 59 74 I VE-1
(Departamento (Departamento
Nível II) Policial)
Assistente Técnico Assistente Técnico
SQC-I 58 73 I VE-1 SQC-I 58 73 I VE-1
de Polícia de Polícia
Diretor Técnico
SQC-I 58 73 I VE-1 Vetado          
(Divisão - Nível III)
Diretor Técnico
SQC-I 58 73 I VE-1 Vetado          
(Divisão - Nível III)
Diretor Técnico
SQC-I 57 72 I VE-1 Vetado          
(Divisão - Nível II)
Diretor Técnico
SQC-I 55 70 I VE-1 Vetado          
(Serviço - Nível I)
Delegado Regional Delegado Regional
SQC-I 58 73 I VE-1 SQC-I 58 73 I VE-1
de Polícia de Polícia
Assistente de Assistente de
Planejamento e SQC-I 55 70 I VE-1 Planejamento e SQC-I 55 70 I VE-1
Controle II Controle Policial
Delegado de Polícia Delegado de Polícia
SQC-I 43 58 I VE-3 SQC-I 43 58 I VE-3
Substituto Substituto
Escrivão de Polícia Escrivão de Polícia
SQC-I 34 53 III VE-2 SQC-I 34 53 III VE-2
Chefe II Chefe II
Investigador de Investigador de
SQC-I 34 53 III VE-2 SQC-I 34 53 III VE-2
Polícia Chefe II Polícia Chefe II
Escrivão de Polícia Escrivão de Polícia
SQC-I 33 52 III VE-2 SQC-I 33 52 III VE-2
Chefe I Chefe I
Investigador de Investigador de
SQC-I 33 52 III VE-2 SQC-I 33 52 III VE-2
Polícia Chefe I Polícia Chefe I
Chefe de Seção Chefe de Seção
Telecomunicações SQC-II 34 53 III VE-3 (Telecomunicações SQC-II 34 53 III VE-3
Policial Policial)
Encarregado Encarregado
de Setor de de Setor
SQC-II 31 48 II VE-2 SQC-II 31 48 II VE-2
Telecomunicações (Telecomunicações
Policial Policial)
Chefe de Seção
(Pesquisador
            SQC-II 30 47 II VE-2
Dactiloscópico
Policial)
Encarregado de
Setor (Pesquisador
            SQC-II 28 45 II VE-2
Dactiloscópico
Policial)

102
DIREITO ADMINISTRATIVO

Encarregado de
            SQC-II 27 44 III VE-2
Setor (Carceragem)
Chefe de Seção
            ( D a c t i l o sco p i s t a SQC-II 24 41 II VE-2
Policial)
Encarregado Encarregado
de Setor de Setor
SQC-II 17 34 II VE-2 SQC-II 17 34 II VE-2
( D a c t i l o sco p i s t a ( D a c t i l o sco p i s t a
Policial) Policial)
Perito Criminal
Chefe
- Classe
Perito Criminal
incluída pela Lei SQC-II 44 65 IV VE-4 SQC-II 44 65 IV VE-4
Chefe
Complementar
nº 247, de
06/04/1981.
Perito Criminal
Encarregado
- Classe
Perito Criminal
incluída pela Lei SQC-II 42 63 IV VE-4 SQC-II 42 63 IV VE-4
Encarregado
Complementar
nº 247, de
06/04/1981.
Perito Criminal SQC-III 40 61 IV VE-4 Perito Criminal SQC-III 40 61 IV VE-4
Técnico de Técnico de
Telecomunicações SQC-III 27 44 II VE-2 Telecomunicações SQC-III 27 44 II VE-2
Policial Policial
Operador de Operador de
Telecomunicações SQC-III 27 44 II VE-2 Telecomunicações SQC-III 27 44 II VE-2
Policial Policial
Fotógrafo (Técnica Fotógrafo (Técnica
SQC-III 27 44 II VE-2 SQC-III 27 44 II VE-2
Policial) Policial)
Inspetor de Inspetor de
SQC-III 27 44 II VE-2 SQC-III 27 44 II VE-2
Diversões Públicas Diversões Públicas
Auxiliar de Auxiliar de
SQC-III 27 44 II VE-2 SQC-III 27 44 II VE-2
Necrópsia Necrópsia
Pesquisador Pesquisador
D a c t i l o s c ó p i c o SQC-III 24 41 II VE-2 D a c t i l o s c ó p i c o SQC-III 24 41 II VE-2
Policial Policial
Carcereiro SQC-III 23 40 II VE-2 Carcereiro SQC-III 23 40 II VE-2
Dactiloscopista Dactiloscopista
SQC-III 16 31 I VE-1 SQC-III 16 31 I VE-1
Policial Policial
Motorista Policial
- Vide Lei
C o m p l e m e n t a r SQC-III 16 33 II VE-2 Motorista Policial SQC-III 16 33 II VE-2
n° 456, de
12/05/1986.
Atendente de Atendente de
SQC-III 15 32 II VE-2 SQC-III 15 32 II VE-2
Necrotério Policial Necrotério Policial

- Vide Lei Complementar nº 219, de 10/07/1979.


- Vide Lei Complementar nº 247, de 06/04/1981.

103
DIREITO ADMINISTRATIVO

SITUAÇÃO ATUAL SITUAÇÃO NOVA


Referência Referência
DENOMINAÇÃO Tabela A V DENOMINAÇÃO Tabela A V
Inicial Final Inicial Final
SÉRIE DE CLASSES           SÉRIE DE CLASSES          
                       
Delegado de Polícia:           Delegado de Polícia:          
Delegado de Polícia S Q C - Delegado de Polícia S Q C -
52 71 III VE-2 52 71 III VE-2
Classe Especial III Classe Especial III
Delegado de Polícia 1ª S Q C - Delegado de Polícia S Q C -
50 69 III VE-2 50 69 III VE-2
Classe III 1ª Classe III
Delegado de Polícia 2ª S Q C - Delegado de Polícia S Q C -
48 65 II VE-2 48 65 II VE-2
Classe III 2ª Classe III
Delegado de Polícia 3ª S Q C - Delegado de Polícia S Q C -
46 61 I VE-2 46 61 I VE-2
Classe III 3ª Classe III
Delegado de Polícia 4ª S Q C - Delegado de Polícia S Q C -
44 59 I VE-3 44 59 I VE-3
Classe III 4ª Classe III
Delegado de Polícia 5ª S Q C - Delegado de Polícia S Q C -
43 58 I VE-3 43 58 I VE-3
Classe III 5ª Classe III
                       
Escrivão de Polícia:           Escrivão de Polícia:          
SQC- SQC-
Escrivão de Polícia III 33 52 III VE-2 Escrivão de Polícia III 33 52 III VE-2
III III
SQC- SQC-
Escrivão de Polícia II 31 48 II VE-2 Escrivão de Polícia II 31 48 II VE-2
III III
SQC- SQC-
Escrivão de Polícia I 30 45 I VE-2 Escrivão de Polícia I 30 45 I VE-2
III III
                       
Investigador de
Investigador de Polícia:                    
Polícia:
Investigador de Polícia S Q C - Investigador de S Q C -
33 52 III VE-2 33 52 III VE-2
III III Polícia III III
Investigador de Polícia S Q C - Investigador de S Q C -
31 48 II VE-2 31 48 II VE-2
II III Polícia II III
Investigador de Polícia S Q C - Investigador de S Q C -
30 45 I VE-2 30 45 I VE-2
I III Polícia I III

- Vide Lei Complementar nº 219, de 10/07/1979.

- Vide Lei Complementar nº 247, de 06/04/1981.

104
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 9º Quadro é o conjunto de carreiras e de cargos


2.6.10 - LEI Nº 10.261/1968 (ESTATUTO DOS isolados.
FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CIVIS DO ESTADO
DE SÃO PAULO); Art. 10. É vedado atribuir ao funcionário serviços di-
versos dos inerentes ao seu cargo, exceto as funções de
chefia e direção e as comissões legais.

LEI Nº 10.261, DE 28 DE OUTUBRO DE 1968 Aplica-se na esfera estadual paulista, tanto para a Ad-
ministração direta quanto para a indireta, nos três poderes,
Dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis ressalvado o afastamento para autarquias, entidades pa-
do Estado raestatais e serviços públicos de natureza industrial.
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO: Considera-se funcionário público a pessoa investida
Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu em cargo público, que corresponde a um conjunto de atri-
promulgo a seguinte lei: buições e responsabilidades, podendo ser isolado ou de
carreira (é possível que exista um plano de carreira esca-
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CIVIS lonado, permitindo a ascensão entre classes, ou não; a so-
DO ESTADO matória de cargos isolados e de carreira é denominada de
quadro).
TÍTULO I Todo serviço público será remunerado pelos cofres pú-
Disposições Preliminares blicos.

Art. 1º Esta lei institui o regime jurídico dos funcioná- TÍTULO II


rios públicos civis do Estado. DO PROVIMENTO, DO EXERCÍCIO E DA VACÂNCIA
Parágrafo único. As suas disposições, exceto no que DOS CARGOS PÚBLICOS
colidirem com a legislação especial, aplicam-se aos fun-
cionários dos 3 Poderes do Estado e aos do Tribunal de CAPÍTULO I
Contas do Estado. Do Provimento

Art. 2º As disposições desta lei não se aplicam aos em- Art. 11. Os cargos públicos serão providos por:
pregados das autarquias, entidades paraestatais e servi- I - nomeação;
ços públicos de natureza industrial, ressalvada a situação II - transferência;
daqueles que, por lei anterior, já tenham a qualidade de fun- III - reintegração;
cionário público. IV - acesso;
Parágrafo único. Os direitos, vantagens e regalias dos V - reversão;
funcionários públicos só poderão ser estendidos aos empre- VI - aproveitamento; e
gados das entidades a que se refere este Art. na forma e VII - readmissão.
condições que a lei estabelecer.
Art. 12. Não havendo candidato habilitado em con-
Art. 3º Funcionário público, para os fins deste Estatuto, curso, os cargos vagos, isolados ou de carreira, só poderão
é a pessoa legalmente investida em cargo público. ser ocupados no regime da legislação trabalhista, até o
prazo máximo de 2 (dois) anos, considerando-se findo o
Art. 4º  Cargo público é o conjunto de atribuições e contrato após esse período, vedada a recondução.
responsabilidades cometidas a um funcionário.
Segundo Hely Lopes Meirelles66, provimento “é o ato
Art. 5º Os cargos públicos são isolados ou de carreira. pelo qual se efetua o preenchimento do cargo público,
com a designação de seu titular”, podendo ser originário
Art. 6º Aos cargos públicos serão atribuídos valores de- ou inicial se o agente não possui vinculação anterior com a
terminados por referências numéricas, seguidas de letras Administração Pública; ou derivado, que pressupõe a exis-
em ordem alfabética, indicadoras de graus. tência de um vínculo com a Administração, o qual pode
Parágrafo único. O conjunto de referência e grau cons- ser horizontal, sem ascensão na carreira, ou vertical, com
titui o padrão do cargo. ascensão na carreira.

Art. 7º Classe é o conjunto de cargos da mesma de-


nominação.

Art. 8º Carreira é o conjunto de classes da mesma na-


tureza de trabalho, escalonadas segundo o nível de comple-
xidade e o grau de responsabilidade. 66 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo
brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.

105
DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO II Art. 19. As instruções especiais poderão determinar que


Das Nomeações a execução do concurso, bem como a classificação dos habi-
litados, seja feita por regiões.
SEÇÃO I
Das Formas de Nomeação Art. 20. A nomeação obedecerá à ordem de classifica-
ção no concurso.
Art. 13. As nomeações serão feitas:
I - em caráter vitalício, nos casos expressamente pre- No concurso de provas o candidato é avaliado apenas
vistos na Constituição do Brasil; (Ministério Público e Ma- pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos con-
gistratura) cursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua ativi-
II - em comissão, quando se tratar de cargo que em dade profissional também é considerado.
virtude de lei assim deva ser provido; e O edital delimita questões como valor da taxa de ins-
III - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo de crição, casos de isenção, número de vagas e prazo de va-
provimento dessa natureza.
lidade, sem prejuízo de instruções especiais compatíveis
com o cargo.
A lei criará o cargo público, que poderá ser efetivo, caso
em que o ingresso se dará mediante concurso; em comis-
são, quando por uma relação de confiança o superior pu- SUBSEÇÃO II
der nomear seus funcionários enquanto estiver ocupando Das Provas de Habilitação
aquela posição de chefia; vitalício, quando a Constituição
Federal prever, no caso, Ministério Público e Magistratura. Art. 21. As provas de habilitação serão realizadas pelo
órgão encarregado dos concursos, para fins de transferên-
SEÇÃO II cia e de outras formas de provimento que não impliquem em
Da Seleção de Pessoal critério competitivo.

SUBSEÇÃO I Art. 22. As normas gerais para realização das provas


Do Concurso de habilitação serão estabelecidas em regulamento, obe-
decendo, no que couber, ao estabelecido para os concursos.
Art. 14. A nomeação para cargo público de provimento
efetivo será precedida de concurso público de provas ou CAPÍTULO III
de provas e títulos. Das Substituições
Parágrafo único. As provas serão avaliadas na escala de
0 (zero) a 100 (cem) pontos e aos títulos serão atribuídos, Art. 23. Haverá substituição no impedimento legal e
no máximo, 50 (cinquenta) pontos. temporário do ocupante de cargo de chefia ou de dire-
ção.
Art. 15. A realização dos concursos será centralizada Parágrafo único. Ocorrendo a vacância, o substituto
num só órgão. passará a responder pelo expediente da unidade ou órgão
correspondente até o provimento do cargo.
Art. 16. As normas gerais para a realização dos concur-
sos e para a convocação e indicação dos candidatos para o Art. 24. A substituição, que recairá sempre em funcio-
provimento dos cargos serão estabelecidas em regulamen- nário público, quando não for automática, dependerá da
to.
expedição de ato de autoridade competente.
§ 1º O substituto exercerá o cargo enquanto durar o
Art. 17. Os concursos serão regidos por instruções es-
impedimento do respectivo ocupante.
peciais, expedidas pelo órgão competente.
§ 2º O substituto, durante todo o tempo em que exer-
Art. 18. As instruções especiais determinarão, em fun- cer a substituição terá direito a perceber o valor do padrão
ção da natureza do cargo: e as vantagens pecuniárias inerentes ao cargo do substi-
I - se o concurso será: tuído e mais as vantagens pessoais a que fizer jus.
1 - de provas ou de provas e títulos; e § 3º O substituto perderá, durante o tempo da subs-
2 - por especializações ou por modalidades profis- tituição, o vencimento ou a remuneração e demais vanta-
sionais, quando couber; gens pecuniárias inerentes ao seu cargo, se pelo mesmo
II - as condições para provimento do cargo referentes a: não optar.
1 - diplomas ou experiência de trabalho;
2 - capacidade física; e Art. 25. Exclusivamente para atender à necessidade de
3 - conduta; serviço, os tesoureiros, caixas e outros funcionários que
III - o tipo e conteúdo das provas e as categorias de tenham valores sob sua guarda, em caso de impedimento,
títulos; serão substituídos por funcionários de sua confiança, que
IV - a forma de julgamento das provas e dos títulos; indicarem, respondendo a sua fiança pela gestão do substi-
V - os critérios de habilitação e de classificação; e tuto.
VI - o prazo de validade do concurso.

106
DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único. Feita a indicação, por escrito, ao chefe do período em que foi afastado). Caso o cargo esteja ex-
da repartição ou do serviço, este proporá a expedição do tinto, será posto em disponibilidade; caso o cargo exista
ato de designação, aplicando-se ao substituto a partir da e alguém o estiver ocupando, este será retirado do cargo,
data em que assumir as funções do cargo, o disposto nos devolvendo-o ao seu legítimo titular.
§§ 1º e 2º do art. 24.
CAPÍTULO VI
A substituição não é uma forma de provimento de car- Do Acesso
go público, devido ao seu caráter temporário. Basicamente,
estando temporariamente impedido legalmente o ocupan- Art. 33. Acesso é a elevação do funcionário, dentro do
te regular (ex.: férias), outro funcionário irá substitui-lo. respectivo quadro a cargo da mesma natureza de traba-
lho, de maior grau de responsabilidade e maior comple-
CAPÍTULO IV xidade de atribuições, obedecido o interstício na classe e as
Da Transferência exigências a serem instituídas em regulamento.
§ 1º Serão reservados para acesso os cargos cujas atri-
Art. 26. O funcionário poderá ser transferido de um buições exijam experiência prévia do exercício de outro
para outro cargo de provimento efetivo. cargo.
§ 2º O acesso será feito mediante aferição do mérito
Art. 27. As transferências serão feitas a pedido do fun- dentre titulares de cargos cujo exercício proporcione a expe-
cionário ou “ex-officio”, atendidos sempre a conveniência riência necessária ao desempenho das atribuições dos car-
do serviço e os requisitos necessários ao provimento do car- gos referidos no parágrafo anterior.
go.
Art. 34.  Será de 3 (três) anos de efetivo exercício o
Art. 28. A transferência será feita para cargo do mesmo interstício para concorrer ao acesso.
padrão de vencimento ou de igual remuneração, ressal-
vados os casos de transferência a pedido, em que o venci- O acesso é basicamente uma promoção, pois o servi-
mento ou a remuneração poderá ser inferior. dor é elevado de um cargo para o outro. Para concorrer a
uma promoção, o servidor tem que estar em exercício há
pelo menos 3 anos.
Art. 29.  A transferência por permuta se processará a
requerimento de ambos os interessados e de acordo com
CAPÍTULO VII
o prescrito neste capítulo.
Da Reversão
A transferência consiste na mudança do lugar de exer-
Art. 35. Reversão é o ato pelo qual o aposentado rein-
cício do cargo.
gressa no serviço público a pedido ou ex-officio.
§ 1º A reversão ex-officio será feita quando insubsis-
CAPÍTULO V tentes as razões que determinaram a aposentadoria por
Da Reintegração invalidez.
§ 2º Não poderá reverter à atividade o aposentado que
Art. 30. A reintegração é o reingresso no serviço públi- contar mais de 58 (cinquenta e oito) anos de idade.
co, decorrente da decisão judicial passada em julgado, § 3º No caso de reversão ex-officio, será permitido o
com ressarcimento de prejuízos resultantes do afastamento. reingresso além do limite previsto no parágrafo anterior.
§ 4º A reversão só poderá efetivar-se quando, em inspe-
Art. 31. A reintegração será feita no cargo anterior- ção médica, ficar comprovada a capacidade para o exer-
mente ocupado e, se este houver sido transformado, no cício do cargo.
cargo resultante. § 5º Se o laudo médico não for favorável, poderá ser
§ 1º Se o cargo estiver preenchido, o seu ocupante será procedida nova inspeção de saúde, para o mesmo fim, de-
exonerado, ou, se ocupava outro cargo, a este será recondu- corridos pelo menos 90 (noventa) dias.
zido, sem direito a indenização. § 6º Será tornada sem efeito a reversão ex-officio e
§ 2º Se o cargo houver sido extinto, a reintegração se cassada a aposentadoria do funcionário que reverter e não
fará em cargo equivalente, respeitada a habilitação profis- tomar posse ou não entrar em exercício dentro do prazo le-
sional, ou, não sendo possível, ficará o reintegrado em dispo- gal.
nibilidade no cargo que exercia.
Art. 36. A reversão far-se-á no mesmo cargo.
Art. 32. Transitada em julgado a sentença, será expe- § 1º Em casos especiais, a juízo do Governo, poderá o
dido o decreto de reintegração no prazo máximo de 30 aposentado reverter em outro cargo, de igual padrão de
(trinta) dias. vencimentos, respeitada a habilitação profissional.
§ 2º A reversão a pedido, que será feita a critério da
Se um servidor for injustamente demitido e a sua de- Administração, dependerá também da existência de cargo
missão for invalidada, será reinvestido no cargo, sendo to- vago, que deva ser provido mediante promoção por mere-
talmente ressarcido (por exemplo, recebendo os salários cimento.

107
DIREITO ADMINISTRATIVO

Reversão é o retorno do servidor aposentado ao exer- § 2º  Observado o disposto no parágrafo anterior, se a


cício, seja por motivo de requerimento pessoal, seja por demissão tiver sido a bem do serviço público, a readmis-
reconhecimento de vício em sua aposentadoria por inva- são não poderá ser decretada antes de decorridos 5 (cinco)
lidez. Não cabe reversão se o aposentado possuir mais de anos do ato demissório.
58 anos de idade.
Art. 40. A readmissão será feita no cargo anteriormen-
CAPÍTULO VIII te exercido pelo ex-funcionário ou, se transformado, no car-
Do Aproveitamento go resultante da transformação.

Art. 37. Aproveitamento é o reingresso no serviço pú- Readmissão é uma espécie de reintegração na qual o
blico do funcionário em disponibilidade. funcionário não retorna devido a decisão judicial, mas pelo
mero reexame do processo administrativo, não possuindo
Art. 38. O obrigatório aproveitamento do funcionário aqui o direito a ressarcimento de prejuízos.
em disponibilidade ocorrerá em vagas existentes ou que se
verificarem nos quadros do funcionalismo. CAPÍTULO X
§ 1º O aproveitamento dar-se-á, tanto quanto possível, Da Readaptação
em cargo de natureza e padrão de vencimentos corres-
pondentes ao que ocupava, não podendo ser feito em cargo Art. 41. Readaptação é a investidura em cargo mais
de padrão superior. compatível com a capacidade do funcionário e depende-
§ 2º Se o aproveitamento se der em cargo de padrão rá sempre de inspeção médica.
inferior ao provento da disponibilidade, terá o funcionário
direito à diferença. Art. 42. A readaptação não acarretará diminuição,
§ 3º Em nenhum caso poderá efetuar-se o aproveita- nem aumento de vencimento ou remuneração e será fei-
mento sem que, mediante inspeção médica, fique provada ta mediante transferência.
a capacidade para o exercício do cargo.
§ 4º Se o laudo médico não for favorável, poderá ser Se o funcionário deixa de ter condições físicas ou psi-
procedida nova inspeção de saúde, para o mesmo fim, de- cológicas para ocupar seu cargo, deverá ser readaptado
corridos no mínimo 90 (noventa) dias. para cargo semelhante que não exija tais aptidões. Ex.: fun-
§ 5º Será tornado sem efeito o aproveitamento e cas- cionário trabalhava como atendente numa repartição, se
sada a disponibilidade do funcionário que, aproveitado, não movimentando o tempo todo e sofre um acidente, ficando
tomar posse e não entrar em exercício dentro do prazo paraplégico. Sua capacidade mental não ficou prejudicada,
legal. embora seja inconveniente ele ter que fazer tantos mo-
§ 6º Será aposentado no cargo anteriormente ocupado, vimentos no exercício das funções. Por isso, pode ser re-
o funcionário em disponibilidade que for julgado incapaz conduzido para outro cargo técnico na repartição que seja
para o serviço público, em inspeção médica. mais burocrático e exija menos movimentação física, como
§ 7º Se o aproveitamento se der em cargo de provi- o de assistente de um superior.
mento em comissão, terá o aproveitado assegurado, no
novo cargo, a condição de efetividade que tinha no cargo CAPÍTULO XI
anteriormente ocupado. Da Remoção

Servidor posto em disponibilidade não é servidor apo- Art. 43. A remoção, que se processará a pedido do fun-
sentado. É apenas um servidor aguardando que surja um cionário ou “ex-officio”, só poderá ser feita:
posto adequado para que ocupe. Quando ele surgir, deve- I - de uma para outra repartição, da mesma Secre-
rá entrar em exercício, mediante aproveitamento, sob pena taria; e
de ter revogada a disponibilidade, deixando de ser servidor II - de um para outro órgão da mesma repartição.
público. Parágrafo único. A remoção só poderá ser feita respei-
tada a lotação de cada repartição.
CAPÍTULO IX
Da Readmissão Art. 44. A remoção por permuta será processada a re-
querimento de ambos os interessados, com anuência dos
Art. 39. Readmissão é o ato pelo qual o ex-funcioná- respectivos chefes e de acordo com o prescrito neste Capí-
rio, demitido ou exonerado, reingressa no serviço públi- tulo.
co, sem direito a ressarcimento de prejuízos, assegurada,
apenas, a contagem de tempo de serviço em cargos anterio- Art. 45. O funcionário não poderá ser removido ou
res, para efeito de aposentadoria e disponibilidade. transferido ex-officio para cargo que deva exercer fora da
§ 1º  A readmissão do ex-funcionário demitido será localidade de sua residência, no período de 6 (seis) meses
obrigatoriamente precedida de reexame do respectivo antes e até 3 (três) meses após a data das eleições.
processo administrativo, em que fique demonstrado não Parágrafo único. Essa proibição vigorará no caso de
haver inconveniente, para o serviço público, na decretação eleições federais, estaduais ou municipais, isolada ou si-
da medida. multaneamente realizadas.

108
DIREITO ADMINISTRATIVO

Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou § 2º O prazo inicial para a posse do funcionário em fé-
de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mu- rias ou licença, será contado da data em que voltar ao
dança de sede. serviço.
§ 3º Se a posse não se der dentro do prazo, será tornado
CAPÍTULO XII sem efeito o ato de provimento.
Da Posse
Art. 53. A contagem do prazo a que se refere o artigo
Art. 46. Posse é o ato que investe o cidadão em cargo anterior poderá ser suspensa nas seguintes hipóteses:
público. I - por até 120 (cento e vinte) dias, a critério do órgão
médico oficial, a partir da data de apresentação do candi-
Art. 47. São requisitos para a posse em cargo público: dato junto ao referido órgão para perícia de sanidade e
I - ser brasileiro; capacidade física, para fins de ingresso, sempre que a ins-
II - ter completado 18 (dezoito) anos de idade; peção médica exigir essa providência;
II - por 30 (trinta) dias, mediante a interposição de re-
III - estar em dia com as obrigações militares;
curso pelo candidato contra a decisão do órgão médico
IV - estar no gozo dos direitos políticos;
oficial.
V - ter boa conduta;
§ 1º O prazo a que se refere o inciso I deste artigo
VI - gozar de boa saúde, comprovada em inspeção rea- recomeçará a correr sempre que o candidato, sem motivo
lizada por órgão médico registrado no Conselho Regional justificado, deixe de submeter-se aos exames médicos jul-
correspondente, para provimento de cargo em comissão; gados necessários.
VII - possuir aptidão para o exercício do cargo; e § 2º A interposição de recurso a que se refere o inciso II
VIII - ter atendido às condições especiais prescritas deste artigo dar-se-á no prazo máximo de 5 (cinco) dias, a
para o cargo. contar da data de decisão do órgão médico oficial.
Parágrafo único. A deficiência da capacidade física,
comprovadamente estacionária, não será considerada im- Art. 54. O prazo a que se refere o artigo 52 para aquele
pedimento para a caracterização da capacidade psíqui- que, antes de tomar posse, for incorporado às Forças Ar-
ca e somática a que se refere o item VI deste artigo, desde madas, será contado a partir da data da desincorporação.
que tal deficiência não impeça o desempenho normal das
funções inerentes ao cargo de cujo provimento se trata. Art. 55. O funcionário efetivo, nomeado para cargo em
comissão, fica dispensado, no ato da posse, da apresenta-
Art. 48. São competentes para dar posse: ção do atestado de que trata o inciso VI do artigo 47 desta
I - Os Secretários de Estado, aos diretores gerais, aos lei.
diretores ou chefes das repartições e aos funcionários que
lhes são diretamente subordinados; e O termo de posse é dotado de conteúdo específico. É
II - Os diretores gerais e os diretores ou chefes de possível tomar posse mediante procuração específica. Não
repartição ou serviço, nos demais casos, de acordo com o há posse nos cargos em comissão. A declaração de bens e
que dispuser o regulamento. valores visa permitir a verificação da situação financeira do
servidor, de forma a perceber se ele enriqueceu despropor-
Art. 49.  A posse verificar-se-á mediante a assinatura cionalmente durante o exercício do cargo.
de termo em que o funcionário prometa cumprir fielmen-
te os deveres do cargo. CAPÍTULO XIII
Da Fiança
Parágrafo único. O termo será lavrado em livro próprio
e assinado pela autoridade que der posse.
Art. 56. (Revogado).
Art. 50. A posse poderá ser tomada por procuração CAPÍTULO XIV
quando se tratar de funcionário ausente do Estado, em co- Do Exercício
missão do Governo ou, em casos especiais, a critério da
autoridade competente. Art. 57. O exercício é o ato pelo qual o funcionário as-
sume as atribuições e responsabilidades do cargo.
Art. 51. A autoridade que der posse deverá verificar, sob § 1º O início, a interrupção e o reinicio do exercício
pena de responsabilidade, se foram satisfeitas as condi- serão registrados no assentamento individual do funcioná-
ções estabelecidas, em lei ou regulamento, para a investi- rio.
dura no cargo. § 2º O início do exercício e as alterações que ocorre-
rem serão comunicados ao órgão competente, pelo chefe
Art. 52.  A posse deverá verificar-se no prazo de 30 da repartição ou serviço em que estiver lotado o funcionário.
(trinta) dias, contados da data da publicação do ato de
provimento do cargo, no órgão oficial. Art. 58. Entende-se por lotação, o número de funcio-
§ 1º O prazo fixado neste artigo poderá ser prorrogado nários de carreira e de cargos isolados que devam ter exer-
por mais 30 (trinta) dias, a requerimento do interessado. cício em cada repartição ou serviço.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 59. O chefe da repartição ou de serviço em que Art. 68. O funcionário poderá ausentar-se do Esta-
for lotado o funcionário é a autoridade competente para do ou deslocar-se da respectiva sede de exercício, para
dar-lhe exercício. missão ou estudo de interesse do serviço público, mediante
Parágrafo único. É competente para dar exercício ao autorização expressa do Governador.
funcionário, com sede no Interior do Estado, a autoridade a
que o mesmo estiver diretamente subordinado. Artigo 68-A. O funcionário poderá afastar-se do Esta-
do para atuar em organismo internacional de que o Bra-
Art. 60. O exercício do cargo terá início dentro do prazo sil participe ou com o qual coopere, mediante autorização
de 30 (trinta) dias, contados: expressa do Governador, com prejuízo dos vencimentos
I - da data da posse; e e demais vantagens do cargo.
II - da data da publicação oficial do ato, no caso de
remoção. Art. 69. Os afastamentos de funcionários para partici-
§ 1º Os prazos previstos neste artigo poderão ser pror- pação em congressos e outros certames culturais, técni-
rogados por 30 (trinta) dias, a requerimento do interessa- cos ou científicos, poderão ser autorizados pelo Governa-
do e a juízo da autoridade competente. dor, na forma estabelecida em regulamento.
§ 2º No caso de remoção, o prazo para exercício de
funcionário em férias ou em licença, será contado da data Art. 70.  O servidor preso em flagrante, preventiva ou
em que voltar ao serviço. temporariamente ou pronunciado será considerado afas-
§ 3º No interesse do serviço público, os prazos previs- tado do exercício do cargo, com prejuízo da remuneração,
tos neste artigo poderão ser reduzidos para determinados até a condenação ou absolvição transitada em julgado.
cargos. § 1º Estando o servidor licenciado, sem prejuízo de sua
§ 4º O funcionário que não entrar em exercício dentro remuneração, será considerada cessada a licença na data
do prazo será exonerado. em que o servidor for recolhido à prisão. 
§ 2º Se o servidor for, ao final do processo judicial, con-
denado, o afastamento sem remuneração perdurará até
Art. 61. Em caso de mudança de sede, será concedido
o cumprimento total da pena, em regime fechado ou se-
um período de trânsito, até 8 (oito) dias, a contar do des-
miaberto, salvo na hipótese em que a decisão condenatória
ligamento do funcionário.
determinar a perda do cargo público.
Art. 62. O funcionário deverá apresentar ao órgão com-
Art. 71. As autoridades competentes determinarão o
petente, logo após ter tomado posse e assumido o exercício,
afastamento imediato do trabalho, do funcionário que
os elementos necessários à abertura do assentamento
apresente indícios de lesões orgânicas ou funcionais cau-
individual.
sadas por raios X ou substâncias radioativas, podendo
atribuir-lhe conforme o  caso, tarefas sem risco de radiação
Art. 63. Salvo os casos previstos nesta lei, o funcionário ou conceder-lhe licença “ex-officio” na forma do art. 194 e
que interromper o exercício por mais de 30 (trinta) dias seguintes.
consecutivos, ficará sujeito à pena de demissão por aban-
dono de cargo. Art. 72. O funcionário, quando no desempenho do
mandato eletivo federal ou estadual, ficará afastado de
Art. 64. O funcionário deverá ter exercício na reparti- seu cargo, com prejuízo do vencimento ou remuneração.
ção em cuja lotação houver claro.
Art. 73. O exercício do mandato de Prefeito, ou de Ve-
Art. 65. Nenhum funcionário poderá ter exercício em reador, quando remunerado, determinará o afastamento
serviço ou repartição diferente daquela em que estiver do funcionário, com a faculdade de opção entre os sub-
lotado, salvo nos casos previstos nesta lei, ou mediante au- sídios do mandato e os vencimentos ou a remuneração
torização do Governador. do cargo, inclusive vantagens pecuniárias, ainda que não
incorporadas.
Art. 66. Na hipótese de autorização do Governador, o Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se
afastamento só será permitido, com ou sem prejuízo de igualmente à hipótese de nomeação de Prefeito.
vencimentos, para fim determinado e prazo certo.
Parágrafo único. O afastamento sem prejuízo de venci- Art. 74. Quando não remunerada a vereança, o afas-
mentos poderá ser condicionado ao reembolso das des- tamento somente ocorrerá nos dias de sessão e desde
pesas efetuadas pelo órgão de origem, na forma a ser esta- que o horário das sessões da Câmara coincida com o ho-
belecida em regulamento. rário normal de trabalho a que estiver sujeito o funcionário.
§ 1º Na hipótese prevista neste artigo, o afastamento
Art. 67. O afastamento do funcionário para ter exercí- se dará sem prejuízo de vencimentos e vantagens, ainda
cio em entidades com as quais o Estado mantenha con- que não incorporadas, do respectivo cargo.
vênios, reger-se-á pelas normas nestes estabelecidas. § 2º É vedada a remoção ou transferência do funcio-
nário durante o exercício do mandato.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 75. O funcionário, devidamente autorizado pelo XII - nos casos previstos no art. 122;
Governador, poderá afastar-se do cargo para participar XIII - afastamento por processo administrativo, se o
de provas de competições desportivas, dentro ou fora do funcionário for declarado inocente ou se a pena imposta for
Estado. de repreensão ou multa; e, ainda, os dias que excederem
§ 1º O afastamento de que trata este artigo, será pre- o total da pena de suspensão efetivamente aplicada;
cedido de requisição justificada do órgão competente. XIV - trânsito, em decorrência de mudança de sede de
§ 2º O funcionário será afastado por prazo certo, nas exercício, desde que não exceda o prazo de 8 (oito) dias; e
seguintes condições: XV - provas de competições desportivas, nos termos
I - sem prejuízo do vencimento ou remuneração, quan- do item I, do § 2º, do art. 75.
do representar o Brasil, ou o Estado, em competições des- XVI - licença-paternidade, por 5 (cinco) dias.
portivas oficiais; e
II - com prejuízo do vencimento ou remuneração, em Art. 79. Os dias em que o funcionário deixar de com-
quaisquer outros casos. parecer ao serviço em virtude de mandato legislativo mu-
nicipal serão considerados de efetivo exercício para todos
CAPÍTULO XV os efeitos legais.
Da Contagem de Tempo de Serviço Parágrafo único. No caso de vereança remunerada, os
dias de afastamento não serão computados para fins de
Art. 76. O tempo de serviço público, assim considerado vencimento ou remuneração, salvo se por eles tiver optado
o exclusivamente prestado ao Estado e suas Autarquias, o funcionário.
será contado singelamente para todos os fins.
Parágrafo único. O tempo de serviço público prestado Art. 80. Será contado para todos os efeitos, salvo para
à União, outros Estados e Municípios, e suas autarquias, a percepção de vencimento ou remuneração:
anteriormente ao ingresso do funcionário no serviço públi- I - o afastamento para provas de competições des-
co estadual, será contado integralmente para os efeitos portivas nos termos do item II do § 2º do art. 75; e
de aposentadoria e disponibilidade. II - as licenças previstas nos arts. 200 e 201.
Art. 77. A apuração do tempo de serviço será feita em Art. 81. Os tempos adiante enunciados serão contados:
dias.
I - para efeito de concessão de adicional por tempo
§ 1º Serão computados os dias de efetivo exercício,
de serviço, sexta-parte, aposentadoria e disponibilidade:
do registro de frequência ou da folha de pagamento.
a) o de afastamento nos termos dos arts. 65 e 66, junto
§ 2º O número de dias será convertido em anos, consi-
a outros poderes do Estado, a fundações instituídas pelo
derados sempre estes como de 365 (trezentos e sessenta e
Estado ou empresas em que o Estado tenha participação
cinco) dias.
majoritária pela sua Administração Centralizada ou Descen-
§ 3º Feita a conversão de que trata o parágrafo anterior,
tralizada, bem como junto a órgãos da Administração Direta
os dias restantes, até 182 (cento e oitenta e dois), não serão
computados, arredondando-se para 1 (um) ano, na apo- da União, de outros Estados e Municípios, e de suas autar-
sentadoria compulsória ou por invalidez, quando excederem quias;
esse número. b) o de afastamento nos termos do art. 67;
II - para efeito de disponibilidade e aposentadoria, o
Art. 78. Serão considerados de efetivo exercício, para de licença para tratamento de saúde.
todos os efeitos legais, os dias em que o funcionário estiver
afastado do serviço em virtude de: Art. 82. O tempo de mandato federal e estadual, bem
I - férias; como o municipal, quando remunerados, será contado para
II - casamento, até 8 (oito) dias; fins de aposentadoria e de promoção por antiguidade.
III -  falecimento do cônjuge, filhos, pais e irmãos, Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se à hi-
até 8 (oito) dias; pótese de nomeação de Prefeito.
IV - falecimento dos avós, netos, sogros, do padrasto
ou madrasta, até 2 (dois) dias; Art. 83. Para efeito de aposentadoria será contado o
V - serviços obrigatórios por lei; tempo em que o funcionário esteve em disponibilidade.
VI - licença quando acidentado no exercício de suas
atribuições ou atacado de doença profissional; Art. 84. É vedada a acumulação de tempo de serviço
VII - licença à funcionária gestante; concorrente ou simultaneamente prestado, em dois ou
VIII -  licenciamento compulsório, nos termos do art. mais cargos ou funções, à União, Estados, Municípios ou Au-
206; tarquias em geral.
IX - licença-prêmio; Parágrafo único. Em regime de acumulação é vedado
X - faltas abonadas nos termos do parágrafo 1º do art. contar tempo de um dos cargos para reconhecimento de di-
110, observados os limites ali fixados; reito ou vantagens no outro.
XI - missão ou estudo dentro do Estado, em outros pon-
tos do território nacional ou no estrangeiro, nos termos do Art. 85. Não será computado, para nenhum efeito, o
art. 68; tempo de serviço gratuito.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO XVI Art. 93. Será declarada sem efeito a promoção inde-


Da Vacância vida, não ficando o funcionário, nesse caso, obrigado a res-
tituições, salvo na hipótese de declaração falsa ou omissão
Art. 86. A vacância do cargo decorrerá de: intencional.
I - exoneração;
II - demissão; Art. 94. Só poderão ser promovidos os servidores que
III - transferência; tiverem o interstício de efetivo exercício no grau.
IV - acesso; Parágrafo único. O interstício a que se refere este artigo
V - aposentadoria; e será estabelecido em regulamento.
VI - falecimento.
§ 1º Dar-se-á a exoneração: Art. 95. Dentro de cada quadro, haverá para cada clas-
1 - a pedido do funcionário; se, nos respectivos graus, uma lista de classificação, para
2 - a critério do Governo, quando se tratar de ocupante os critérios de merecimento e antiguidade.
de cargo em comissão; e Parágrafo único. Ocorrendo empate terão preferência,
3 - quando o funcionário não entrar em exercício sucessivamente:
dentro do prazo legal. 1 - na classificação por merecimento:
§ 2º A demissão será aplicada como penalidade nos a) os títulos e os comprovantes de conclusão de cur-
casos previstos nesta lei. sos, relacionados com a função exercida;
b) a assiduidade;
TÍTULO III c) a antiguidade no cargo;
DA PROMOÇÃO d) os encargos de família; e
e) a idade;
CAPÍTULO ÚNICO 2 - na classificação por antiguidade:
Da Promoção a) o tempo no cargo;
b) o tempo de serviço prestado ao Estado;
c) o tempo de serviço público;
Art. 87. Promoção é a passagem do funcionário de
d) os encargos de família; e
um grau a outro da mesma classe e se processará obede-
e) a idade.
cidos, alternadamente, os critérios de merecimento e de
antiguidade na forma que dispuser o regulamento.
Art. 96. O funcionário em exercício de mandato eleti-
vo federal ou estadual ou de mandato de prefeito, somente
Art. 88. O merecimento do funcionário será apurado
poderá ser promovido por antiguidade.
em pontos positivos e negativos.
§ 1º Os pontos positivos se referem a condições de efi- Art. 97. Não serão promovidos por merecimento, ain-
ciência no cargo e ao aperfeiçoamento funcional resul- da que classificados dentro dos limites estabelecidos no re-
tante do aprimoramento dos seus conhecimentos. gulamento, os funcionários que tiverem sofrido qualquer
§ 2º Os pontos negativos resultam da falta de assi- penalidade nos dois anos anteriores à data de vigência
duidade e da indisciplina. da promoção.
Art. 89. Da apuração do merecimento será dada ciên- Art. 98. O funcionário submetido a processo adminis-
cia ao funcionário. trativo poderá ser promovido, ficando, porém, sem efeito a
promoção por merecimento no caso de o processo resultar
Art. 90. A antiguidade será determinada pelo tempo em penalidade.
de efetivo exercício no cargo e no serviço público, apurado
em dias. Art. 99. Para promoção por merecimento é indispen-
sável que o funcionário obtenha número de pontos não
Art. 91. As promoções serão feitas em junho e dezem- inferior à metade do máximo atribuível.
bro de cada ano, dentro de limites percentuais a serem
estabelecidos em regulamento e corresponderão às condi- Art. 100. O merecimento do funcionário é adquirido na
ções existentes até o último dia do semestre imediatamente classe.
anterior.
Art. 101. (Revogado)
Art. 92. Os direitos e vantagens que decorrerem da
promoção serão contados a partir da publicação do ato, sal- Art. 102. O tempo no cargo será o efetivo exercício,
vo quando publicado fora do prazo legal, caso em que vigo- contado na seguinte conformidade:
rará a contar do último dia do semestre a que corresponder. I - a partir da data em que o funcionário assumir o
Parágrafo único. Ao funcionário que não estiver em exercício do cargo, nos casos de nomeação, transferência
efetivo exercício, só se abonarão as vantagens a partir da a pedido, reversão e aproveitamento;
data da reassunção. II - como se o funcionário estivesse em exercício, no
caso de reintegração;

112
DIREITO ADMINISTRATIVO

III - a partir da data em que o funcionário assumir II - orientar as autoridades competentes quanto à ava-
o exercício do cargo do qual foi transferido, no caso de liação das condições de promoção;
transferência ex-officio; e III - realizar estudos e pesquisas no sentido de averiguar
IV - a partir da data em que o funcionário assumir o a eficiência do sistema em vigor, propondo medidas tenden-
exercício do cargo reclassificado ou transformado. tes ao seu aperfeiçoamento; e
IV - opinar em processos sobre assuntos de promoção,
Art. 103. Será contado como tempo no cargo o efeti- sempre que solicitado.
vo exercício que o funcionário houver prestado no mesmo
cargo, sem solução de continuidade, desde que por prazo TÍTULO IV
superior a 6 (seis) meses: DOS DIREITOS E DAS VANTAGENS DE ORDEM PE-
I - como substituto; e CUNIÁRIA
II - no desempenho de função gratificada, em perío-
do anterior à criação do respectivo cargo. Resume Carvalho Filho67: “os direitos sociais constitu-
cionais são objeto da referência do art. 39, §3°, CF, o qual
Art. 104. As promoções obedecerão à ordem de clas- determina que dezesseis dos direitos sociais outorgados aos
sificação. empregados sejam estendidos aos servidores públicos. Den-
tre esses direitos estão o do salário mínimo (art. 7°, IV); o dé-
Art. 105. Haverá em cada Secretaria de Estado uma Co- cimo terceiro salário (art. 7°, VIII); o repouso semanal remu-
missão de Promoção que terá as seguintes atribuições: nerado (art. 7°, XV); o salário-família (art. 7°, XII; o de férias
I - eleger o respectivo presidente; anuais (art. 7°, XVII); o de licença à gestante (art. 7°, XVIII) e
II - decidir as reclamações contra a avaliação do mé- outros mencionados no dispositivo constitucional. [...] Além
rito, podendo alterar, fundamentalmente, os pontos atribuí- disso, há vários direitos de natureza social relacionados nos
dos ao reclamante ou a outros funcionários; diversos estatutos funcionais das pessoas federativas. É nas
III - avaliar o mérito do funcionário quando houver di- leis estatutárias que se encontram tais direitos, como o direi-
vergência igual ou superior a 20 (vinte) pontos entre os to às licenças, à pensão, aos auxílios pecuniários, como o au-
totais atribuídos pelas autoridades avaliadoras; xílio-funeral e o auxílio-reclusão, à assistência, à saúde etc.”
IV - propor à autoridade competente a penalidade que
CAPÍTULO I
couber ao responsável pelo atraso na expedição e remessa
Do Vencimento e da Remuneração
do Boletim de Promoção, pela falta de qualquer informa-
ção ou de elementos solicitados, pelos fatos de que decor-
SEÇÃO I
ram irregularidade ou parcialidade no processamento das
Disposições Gerais
promoções;
V - avaliar os títulos e os certificados de cursos apre-
Art. 108. Vencimento é a retribuição paga ao funcio-
sentados pelos funcionários; e nário pelo efetivo exercício do cargo, correspondente ao
VI - dar conhecimento aos interessados mediante afi- valor do respectivo padrão fixado em lei, mais as vantagens a
xação na repartição: ele incorporadas para todos os efeitos legais.
1 - das alterações de pontos feitos nos Boletins de Pro-
moção; e Art. 109. Remuneração é a retribuição paga ao funcio-
2 -  dos pontos atribuídos pelos títulos e certificados nário pelo efetivo exercício do cargo, correspondente a 2/3
de cursos. (dois terços) do respectivo padrão, mais as quotas ou por-
centagens que, por lei, lhe tenham sido atribuídas e as
Art. 106. No processamento das promoções cabem as vantagens pecuniárias a ela incorporadas.
seguintes reclamações:
I - da avaliação do mérito; e Art. 110. O funcionário perderá:
II - da classificação final. I - o vencimento ou remuneração do dia quando não
§ 1º Da avaliação do mérito podem ser interpostos pe- comparecer ao serviço, salvo no caso previsto no § 1º deste
didos de reconsideração e recurso, e, da classificação final, artigo; e
apenas recurso. II - 1/3 (um terço) do vencimento ou remuneração diá-
§ 2º Terão efeito suspensivo as reclamações relativas à ria, quando comparecer ao serviço dentro da hora seguinte à
avaliação do mérito. marcada para o início do expediente ou quando dele retirar-
§ 3º Serão estabelecidos em regulamento as normas e -se dentro da última hora.
os prazos para o processamento das reclamações de que tra- § 1º As faltas ao serviço, até o máximo de 6 (seis) por
ta este artigo. ano, não excedendo a uma por mês, em razão de moléstia
ou outro motivo relevante, poderão ser abonadas pelo su-
Art. 107. A orientação das promoções do funcionalis- perior imediato, a requerimento do funcionário no primeiro
mo público civil será centralizada, cabendo ao órgão a que dia útil subsequente ao da falta.
for deferida tal competência:
I - expedir normas relativas ao processamento das pro- 67 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
moções e elaborar as respectivas escalas de avaliação, com direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
a aprovação do Governador; ris, 2010.

113
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º No caso de faltas sucessivas, justificadas ou in- Art. 120. Ponto é o registro pelo qual se verificará, dia-
justificadas, os dias intercalados – domingos, feriados e riamente, a entrada e saída do funcionário em serviço.
aqueles em que não haja expediente – serão computados § 1º Para registro do ponto serão usados, de preferência,
exclusivamente para efeito de desconto do vencimento ou meios mecânicos.
remuneração. (não como falta) § 2º É vedado dispensar o funcionário do registro do
Somente não geram perda de remuneração as faltas ponto, salvo os casos expressamente previstos em lei.
justificadas e devidamente compensadas. § 3º A infração do disposto no parágrafo anterior de-
terminará a responsabilidade da autoridade que tiver ex-
Art. 111. As reposições devidas pelo funcionário e as pedido a ordem, sem prejuízo da ação disciplinar cabível.
indenizações por prejuízos que causar à Fazenda Pública
Estadual, serão descontadas em parcelas mensais não ex- Art. 121. Para o funcionário estudante, conforme dispu-
cedentes da décima parte do vencimento ou remuneração ser o regulamento, poderão ser estabelecidas normas espe-
ressalvados os casos especiais previstos neste Estatuto. ciais quanto à frequência ao serviço.

Art. 112. Só será admitida procuração para efeito de re- Art. 122. O funcionário que comprovar sua contribui-
cebimento de quaisquer importâncias dos cofres estaduais, ção para banco de sangue mantido por órgão estatal ou
decorrentes do exercício do cargo, quando o funcionário se paraestatal, ou entidade com a qual o Estado mantenha
encontrar fora da sede ou comprovadamente impossibi- convênio, fica dispensado de comparecer ao serviço no dia
litado de locomover-se. da doação.

Art. 113. O vencimento, remuneração ou qualquer van- Art. 123. Apurar-se-á a frequência do seguinte modo:
tagem pecuniária atribuídos ao funcionário, não poderão I - pelo ponto; e
ser objeto de arresto, sequestro ou penhora, salvo: II - pela forma determinada, quanto aos funcionários
I - quando se tratar de prestação de alimentos, na for- não sujeitos a ponto.
ma da lei civil; e
II - nos casos previstos no Capítulo II do Título VI des- CAPÍTULO II
te Estatuto. Das Vantagens de Ordem Pecuniária

Art. 114. É proibido, fora dos casos expressamente con- SEÇÃO I


signados neste Estatuto, ceder ou gravar vencimento, re- Disposições Gerais
muneração ou qualquer vantagem decorrente do exercí-
cio de cargo público. Art. 124. Além do valor do padrão do cargo, o funcio-
nário só poderá receber as seguintes vantagens pecuniá-
Art. 115. O vencimento ou remuneração do funcionário rias:
não poderá sofrer outros descontos, exceto os obrigató- I - adicionais por tempo de serviço;
rios e os autorizados por lei. II - gratificações;
III - diárias;
Art. 116. As consignações em folha, para efeito de des- IV - ajudas de custo;
conto de vencimentos ou remuneração, serão disciplina- V - salário-família e salário-esposa;
das em regulamento. VI - (Revogado);
VII - quota-parte de multas e porcentagens fixadas
SEÇÃO II em lei;
Do Horário e do Ponto VIII - honorários, quando fora do período normal ou ex-
traordinário de trabalho a que estiver sujeito, for designado
Art. 117. O horário de trabalho nas repartições será fi- para realizar investigações ou pesquisas científicas, bem
xado pelo Governo de acordo com a natureza e as neces- como para exercer as funções de auxiliar ou membro de
sidades do serviço. bancas e comissões de concurso ou prova, ou de profes-
sor de cursos de seleção e aperfeiçoamento ou especia-
Art. 118. O período de trabalho, nos casos de compro- lização de servidores, legalmente instituídos, observadas as
vada necessidade, poderá ser antecipado ou prorrogado proibições atinentes a regimes especiais de trabalho fixados
pelo chefe da repartição ou serviço. em lei;
Parágrafo único. No caso de antecipação ou prorroga- IX -  honorários pela prestação de serviço peculiar à
ção, será remunerado o trabalho extraordinário, na for- profissão que exercer e, em função dela, à Justiça, desde que
ma estabelecida no art. 136. não a execute dentro do período normal ou extraordi-
nário de trabalho a que estiver sujeito e sejam respeitadas
Art. 119. Nos dias úteis, só por determinação do Go- as restrições estabelecidas em lei pela subordinação a regi-
vernador poderão deixar de funcionar as repartições públi- mes especiais de trabalho; e
cas ou ser suspenso o expediente. X - outras vantagens ou concessões pecuniárias previs-
tas em leis especiais ou neste Estatuto.

114
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º Excetuados os casos expressamente previstos neste Art. 131. O funcionário que exercer cumulativamente
artigo, o funcionário não poderá receber, a qualquer título, cargos ou funções, terá direito aos adicionais de que tra-
seja qual for o motivo ou forma de pagamento, nenhuma ta esta Seção, isoladamente, referentes a cada cargo ou a
outra vantagem pecuniária dos órgãos do serviço público, função.
das entidades autárquicas ou paraestatais ou outras orga-
nizações públicas, em razão de seu cargo ou função nos Art. 132. O ocupante de cargo em comissão fará jus
quais tenha sido mandado servir. aos adicionais previstos nesta Seção, calculados sobre o
§ 2º O não cumprimento do que preceitua este artigo vencimento que perceber no exercício desse cargo, enquan-
importará na demissão do funcionário, por procedimento to nele permanecer.
irregular, e na imediata reposição, pela autoridade ordena-
dora do pagamento, da importância indevidamente paga. Art. 133. Ao funcionário no exercício de cargo em
§ 3º Nenhuma importância relativa às vantagens cons- substituição aplica-se o disposto no artigo anterior.
tantes deste artigo será paga ou devida ao funcionário, seja
qual for o seu fundamento, se não houver crédito próprio, Art. 134. Para efeito dos adicionais a que se refere esta
orçamentário ou adicional. Seção, será computado o tempo de serviço, na forma es-
tabelecida nos arts. 76 e 78.
Art. 125. As porcentagens ou quotas-partes, atribuídas
em virtude de multas ou serviços de fiscalização e ins- SEÇÃO III
peção, só serão creditadas ao funcionário após a entra- Das Gratificações
da da importância respectiva, a título definitivo, para os
cofres públicos. Art. 135. Poderá ser concedida gratificação ao funcio-
nário: (Vide Lei Complementar nº 1.199/2013)
Art. 126. O funcionário não fará jus à percepção de I - pela prestação de serviço extraordinário;
quaisquer vantagens pecuniárias, nos casos em que deixar II - pela elaboração ou execução de trabalho técnico
de perceber o vencimento ou remuneração, ressalvado o dis-
ou científico ou de utilidade para o serviço público;
posto no parágrafo único do art. 160.
III - a título de representação, quando em função de
gabinete, missão ou estudo fora do Estado ou designação
De acordo com Hely Lopes Meirelles68, “o que caracte-
para função de confiança do Governador;
riza o adicional e o distingue da gratificação é ser aquele
IV - quando designado para fazer parte de órgão le-
que recompensa ao tempo de serviço do servidor, ou uma
gal de deliberação coletiva; e
retribuição pelo desempenho de funções especiais que fo-
V - outras que forem previstas em lei.
gem da rotina burocrática, e esta, uma compensação por
serviços comuns executados em condições anormais para
o servidor, ou uma ajuda pessoal em face de certas situa- Art. 136. A gratificação pela prestação de serviço ex-
ções que agravam o orçamento do servidor”. traordinário será paga por hora de trabalho prorroga-
do ou antecipado, na mesma razão percebida pelo funcio-
SEÇÃO Il nário em cada hora de período normal de trabalho a que
Dos Adicionais por Tempo de Serviço estiver sujeito.
Parágrafo único. A prestação de serviço extraordinário
Art. 127. O funcionário terá direito, após cada período não poderá exceder a duas horas diárias de trabalho.
de 5 (cinco) anos, contínuos, ou não, à percepção de adi-
cional por tempo de serviço, calculado à razão de 5% (cinco Art. 137. É vedado conceder gratificação por serviço
por cento) sobre o vencimento ou remuneração, a que se extraordinário, com o objetivo de remunerar outros servi-
incorpora para todos os efeitos. ços ou encargos.
Parágrafo único. Declarado Inconstitucional pelo Su- § 1º O funcionário que receber importância relativa a
premo Tribunal Federal (ADIn nº 3.167) serviço extraordinário que não prestou, será obrigado a
restituí-la de uma só vez, ficando ainda sujeito à punição
Art. 128. A apuração do quinquênio será feita em dias disciplinar.
e o total convertido em anos, considerados estes sempre § 2º Será responsabilizada a autoridade que infrin-
como de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias. gir o disposto no caput deste artigo.

Art. 129. (Vetado). Art. 138. Será punido com pena de suspensão e, na


reincidência, com a de demissão, a bem do serviço público,
Art. 130. O funcionário que completar 25 (vinte e cin- o funcionário:
co) anos de efetivo exercício perceberá mais a sexta- I - que atestar falsamente a prestação de serviço ex-
-parte do vencimento ou remuneração, a estes incorpora- traordinário; e
da para todos os efeitos. II - que se recusar, sem justo motivo, à prestação de
68 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo serviço extraordinário.
brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.

115
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 139. O funcionário que exercer cargo de direção Art. 147. O funcionário que indevidamente receber
não poderá perceber gratificação por serviço extraordiná- diária, será obrigado a restituí-la de uma só vez, ficando
rio. ainda sujeito à punição disciplinar.
§ 1º O disposto neste artigo não se aplica durante o
período em que subordinado de titular de cargo nele men- Art. 148. É vedado conceder diárias com o objetivo de
cionado venha a perceber, em consequência do acrésci- remunerar outros encargos ou serviços.
mo da gratificação por serviço extraordinário, quantia que Parágrafo único. Será responsabilizada a autoridade
iguale ou ultrapasse o valor do padrão do cargo de direção. que infringir o disposto neste artigo.
§ 2º Aos titulares de cargos de direção, para efeito do
parágrafo anterior, apenas será paga gratificação por ser- SEÇÃO V
viço extraordinário correspondente à quantia a esse título Das Ajudas de Custo
percebida pelo subordinado de padrão mais elevado.
Art. 149. A juízo da Administração, poderá ser conce-
Art. 140. A gratificação pela elaboração ou execução dida ajuda de custo ao funcionário que no interesse do
de trabalho técnico ou científico, ou de utilidade para o serviço passar a ter exercício em nova sede.
serviço, será arbitrada pelo Governador, após sua con- § 1º A ajuda de custo destina-se a indenizar o funcio-
clusão. nário das despesas de viagem e de nova instalação.
§ 2º O transporte do funcionário e de sua família com-
Art. 141.  A gratificação a título de representação, preende passagem e bagagem e correrá por conta do Go-
quando o funcionário for designado para serviço ou estudo verno.
fora do Estado, será arbitrada pelo Governador, ou por
autoridade que a lei determinar, podendo ser percebida Art. 150. A ajuda de custo, desde que em território do
cumulativamente com a diária. País, será arbitrada pelos Secretários de Estado, não po-
dendo exceder importância correspondente a 3 (três) vezes o
Art. 142. A gratificação relativa ao exercício em órgão valor do padrão do cargo.
legal de deliberação coletiva, será fixada pelo Gover-
Parágrafo único. O regulamento fixará o critério para
nador.
o arbitramento, tendo em vista o número de pessoas que
acompanham o funcionário, as condições de vida na nova
Art. 143. A gratificação de representação de gabine-
sede, a distância a ser percorrida, o tempo de viagem e os
te, fixada em regulamento, não poderá ser percebida cumu-
recursos orçamentários disponíveis.
lativamente com a referida no inciso I do art. 135.
Art. 151. Não será concedida ajuda de custo:
SEÇÃO IV
I - ao funcionário que se afastar da sede ou a ela voltar,
Das Diárias
em virtude de mandato eletivo; e
Art. 144. Ao funcionário que se deslocar temporaria- II - ao que for afastado junto a outras Administra-
mente da respectiva sede, no desempenho de suas atribui- ções.
ções, ou em missão ou estudo, desde que relacionados Parágrafo único. O funcionário que recebeu ajuda de
com o cargo que exerce, poderá ser concedida, além do custo, se for obrigado a mudar de sede dentro do período de
transporte, uma diária a título de indenização das des- 2 (dois) anos poderá receber, apenas, 2/3 (dois terços) do
pesas de alimentação e pousada. benefício que lhe caberia.
§ 1º Não será concedida diária ao funcionário removi-
do ou transferido, durante o período de trânsito. Art. 152. Quando o funcionário for incumbido de ser-
§ 2º Não caberá a concessão de diária quando o deslo- viço que o obrigue a permanecer fora da sede por mais
camento de funcionário constituir exigência permanen- de 30 (trinta) dias, poderá receber ajuda de custo sem
te do cargo ou função. prejuízos das diárias que lhe couberem.
§ 3º Entende-se por sede o município onde o funcio- Parágrafo único. A importância dessa ajuda de custo
nário tem exercício. será fixada na forma do art. 150, não podendo exceder a
§ 4º O disposto no “caput” deste artigo não se aplica quantia relativa a 1 (uma) vez o valor do padrão do car-
aos casos de missão ou estudo fora do País. go.
§ 5º As diárias relativas aos deslocamentos de funcio-
nários para outros Estados e Distrito Federal, serão fixadas Art. 153. Restituirá a ajuda de custo que tiver recebido:
por decreto. I - o funcionário que não seguir para a nova sede den-
tro dos prazos fixados, salvo motivo independente de sua
Art. 145. O valor das diárias será fixado em decreto. vontade, devidamente comprovado sem prejuízo da pena
disciplinar cabível;
Art. 146. A tabela de diárias, bem como as autoridades II - o funcionário que, antes de concluir o serviço que lhe
que as concederem, deverão constar de decreto. foi cometido, regressar da nova sede, pedir exoneração
ou abandonar o cargo.

116
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º A restituição poderá ser feita parceladamente, a Art. 161. É vedada a percepção de salário-família por
juízo da autoridade que houver concedido a ajuda de custo, dependente em relação ao qual já esteja sendo pago este
salvo no caso de recebimento indevido, em que a impor- benefício por outra entidade pública federal, estadual ou
tância por devolver será descontada integralmente do ven- municipal, ficando o infrator sujeito às penalidades da
cimento ou remuneração, sem prejuízo da pena disciplinar lei.
cabível.
§ 2º A responsabilidade pela restituição de que trata este Art. 162. O salário-esposa será concedido ao funcioná-
artigo, atinge exclusivamente a pessoa do funcionário. rio que não perceba vencimento ou remuneração de impor-
§ 3º Se o regresso do funcionário for determinado pela tância superior a 2 (duas) vezes o valor do menor venci-
autoridade competente ou por motivo de força maior devi- mento pago pelo Estado, desde que a mulher não exerça
damente comprovado, não ficará ele obrigado a restituir a atividade remunerada.
ajuda de custo. Parágrafo único. A concessão do benefício a que se refe-
re este artigo será objeto de regulamento.
Art. 154. Caberá também ajuda de custo ao funcionário
SEÇÃO VII
designado para serviço ou estudo no estrangeiro.
Outras Concessões Pecuniárias
Parágrafo único. A ajuda de custo de que trata este arti-
go será arbitrada pelo Governador. Art. 163. O Estado assegurará ao funcionário o direito
de pleno ressarcimento de danos ou prejuízos, decorren-
SEÇÃO VI tes de acidentes no trabalho, do exercício em determina-
Do Salário-Família e do Salário-Esposa das zonas ou locais e da execução de trabalho especial, com
risco de vida ou saúde.
Art. 155. O salário-família será concedido ao funcio-
nário ou ao inativo por: Art. 164. Ao funcionário licenciado, para tratamento de
I - filho menor de 18 (dezoito) anos; e saúde poderá ser concedido transporte, se decorrente do
II - filho inválido de qualquer idade. tratamento, inclusive para pessoa de sua família.
Parágrafo único. Consideram-se dependentes, desde
que vivam total ou parcialmente às expensas do funcionário, Art. 165. Poderá ser concedido transporte à família do
os filhos de qualquer condição, os enteados e os adoti- funcionário, quando este falecer fora da sede de exercício,
vos, equiparando-se a estes os tutelados sem meios pró- no desempenho de serviço.
prios de subsistência. § 1º A mesma concessão poderá ser feita à família do
funcionário falecido fora do Estado.
Art. 156. A invalidez que caracteriza a dependência é a § 2º Só serão atendidos os pedidos de transporte formu-
incapacidade total e permanente para o trabalho. lados dentro do prazo de 1 (um) ano, a partir da data em
que houver falecido o funcionário.
Art. 157. Quando o pai e a mãe tiverem ambos a con-
dição de funcionário público ou de inativo e viverem em Art. 166. (Revogado).
comum, o salário-família será concedido a um deles.
Parágrafo único. Se não viverem em comum, será con- Art. 167. A concessão de que trata o artigo anterior
cedido ao que tiver os dependentes sob sua guarda, ou a só poderá ser deferida ao funcionário que se encontre no
exercício do cargo e mantenha contato com o público,
ambos, de acordo com a distribuição de dependentes.
pagando ou recebendo em moeda corrente.
Art. 158. Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto e
Art. 168. Ao cônjuge, ao companheiro ou companheira
a madrasta e, na falta destes, os representantes legais dos ou, na falta destes, à pessoa que provar ter feito despesas em
incapazes. virtude do falecimento de funcionário ativo ou inativo será
concedido auxílio-funeral, a título de benefício assisten-
Art. 158-A. Fica assegurada nas mesmas bases e condi- cial, de valor correspondente a 1 (um) mês da respectiva
ções, ao cônjuge supérstite ou ao responsável legal pelos remuneração.
filhos do casal, a percepção do salário-família a que tinha § 1º O pagamento será efetuado pelo órgão competente,
direito o funcionário ou inativo falecido. mediante apresentação de atestado de óbito pelas pessoas
indicadas no caput deste artigo, ou procurador legalmente
Art. 159. A concessão e a supressão do salário-família habilitado, feita a prova de identidade.
serão processadas na forma estabelecida em lei. § 2º No caso de integrante da carreira de Agente de Se-
gurança Penitenciária ou da classe de Agente de Escolta e
Art. 160. Não será pago o salário-família nos casos em Vigilância Penitenciária, se ficar comprovado, por meio de
que o funcionário deixar de perceber o respectivo venci- competente apuração, que o óbito decorreu de lesões recebi-
mento ou remuneração. das no exercício de suas funções, o benefício será acrescido
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica do valor correspondente a mais 1 (um) mês da respecti-
aos casos disciplinares e penais, nem aos de licença por mo- va remuneração, cujo pagamento será efetivado mediante
tivo de doença em pessoa da família. apresentação de alvará judicial.

117
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º O pagamento do benefício previsto neste artigo, conhecimento de que qualquer dos seus subordinados ou
caso as despesas tenham sido custeadas por terceiros, em qualquer empregado da empresa sujeita à fiscalização está
virtude da contratação de planos funerários, somente será no exercício de acumulação proibida, farão a devida comu-
efetivado mediante apresentação de alvará judicial. nicação ao órgão competente, para os fins indicados no
artigo anterior.
Art. 169. O Governo do Estado poderá conceder prêmios Parágrafo único. Qualquer cidadão poderá denunciar a
em dinheiro, dentro das dotações orçamentárias próprias, existência de acumulação ilegal.
aos funcionários autores dos melhores trabalhos, classifica-
dos em concursos de monografias de interesse para o TÍTULO V
serviço público. DOS DIREITOS E VANTAGENS EM GERAL

Art. 170. (Revogado). CAPÍTULO I


Das Férias
CAPÍTULO III
Das Acumulações Remuneradas Art. 176. O funcionário terá direito ao gozo de 30 (trin-
ta) dias de férias anuais, observada a escala que for apro-
Art. 171. É vedada a acumulação remunerada, exceto: vada.
I - a de um juiz e um cargo de professor; § 1º É proibido levar à conta de férias qualquer falta
II - a de dois cargos de professor; ao trabalho.
III - a de um cargo de professor e outro técnico ou § 2º É proibida a acumulação de férias, salvo por ab-
científico; e soluta necessidade de serviço e pelo máximo de 2 (dois)
IV - a de dois cargos privativos de médico. anos consecutivos.
§ 1º Em qualquer dos casos, a acumulação somente é § 3º O período de férias será reduzido para 20 (vinte)
permitida quando haja correlação de matérias e compa- dias, se o servidor, no exercício anterior, tiver, considerados
tibilidade de horários. em conjunto, mais de 10 (dez) não comparecimentos cor-
respondentes a faltas abonadas, justificadas e injustifica-
§ 2º A proibição de acumular se estende a cargos, fun-
das ou às licenças previstas nos itens IV, VI e VII do art. 181.
ções ou empregos em autarquias, empresas públicas e socie-
§ 4º Durante as férias, o funcionário terá direito a to-
dades de economia mista.
das as vantagens, como se estivesse em exercício.
§ 3º A proibição de acumular proventos não se aplica
aos aposentados, quanto ao exercício de mandato eletivo,
Art. 177. Atendido o interesse do serviço, o funcionário
cargo em comissão ou ao contrato para prestação de servi-
poderá gozar férias de uma só vez ou em dois períodos
ços técnicos ou especializados. iguais.
Art. 172. O funcionário ocupante de cargo efetivo, ou em Art. 178. Somente depois do primeiro ano de exercício
disponibilidade, poderá ser nomeado para cargo em co- no serviço público, adquirirá o funcionário direito a férias.
missão, perdendo, durante o exercício desse cargo, o venci- Parágrafo único. Será contado para efeito deste artigo o
mento ou remuneração do cargo efetivo ou o provento, salvo tempo de serviço prestado em outro cargo público, des-
se optar pelo mesmo. de que entre a cessação do anterior e o início do subsequente
exercício não haja interrupção superior a 10 (dez) dias.
Art. 173. Não se compreende na proibição de acumular,
desde que tenha correspondência com a função principal, a Art. 179. Caberá ao chefe da repartição ou do serviço,
percepção das vantagens enumeradas no art. 124. organizar, no mês de dezembro, a escala de férias para o
ano seguinte, que poderá alterar de acordo com a conve-
Art. 174. Verificado, mediante processo administrativo, niência do serviço.
que o funcionário está acumulando, fora das condições
previstas neste Capítulo, será ele demitido de todos os car- Art. 180. O funcionário transferido ou removido, quando
gos e funções e obrigado a restituir o que indevidamen- em gozo de férias, não será obrigado a apresentar-se an-
te houver recebido. tes de terminá-las.
§ 1º Provada a boa-fé, o funcionário será mantido no
cargo ou função que exercer há mais tempo. CAPÍTULO II
§ 2º Em caso contrário, o funcionário demitido ficará Das Licenças
ainda inabilitado pelo prazo de 5 (cinco) anos, para o
exercício de função ou cargo público, inclusive em entidades SEÇÃO I
que exerçam função delegada do poder público ou são por Disposições Gerais
este mantidas ou administradas.
Art. 181. O funcionário efetivo poderá ser licenciado:
Art. 175. As autoridades civis e os chefes de serviço, bem I - para tratamento de saúde;
como os diretores ou responsáveis pelas entidades referidas II - quando acidentado no exercício de suas atribui-
no parágrafo 2º do artigo anterior e os fiscais ou represen- ções ou acometido por doença profissional;
tantes dos poderes públicos junto às mesmas, que tiverem III - no caso previsto no art. 198;

118
DIREITO ADMINISTRATIVO

IV - por motivo de doença em pessoa de sua família; SEÇÃO II


V - para cumprir obrigações concernentes ao serviço Da Licença para Tratamento de Saúde
militar;
VI - para tratar de interesses particulares; Art. 191. Ao funcionário que, por motivo de saúde, esti-
VII - no caso previsto no art. 205; ver impossibilitado para o exercício do cargo, será conce-
VIII - compulsoriamente, como medida profilática; dida licença até o máximo de 4 (quatro) anos, com ven-
IX - como prêmio de assiduidade. cimento ou remuneração.
§ 1º Ao funcionário ocupante exclusivamente de car- § 1º Findo o prazo, previsto neste artigo, o funcionário
go em comissão serão concedidas as licenças previstas nes- será submetido à inspeção médica e aposentado, desde
te artigo, salvo as referidas nos incisos IV, VI e VII. que verificada a sua invalidez, permitindo-se o licenciamen-
§ 2º As licenças previstas nos incisos I a III serão concedi- to além desse prazo, quando não se justificar a aposenta-
das ao funcionário de que trata o § 1º deste artigo mediante doria.
regras estabelecidas pelo regime geral de previdência § 2º Será obrigatória a reversão do aposentado, desde
social. que cessados os motivos determinantes da aposentadoria.

Art. 182. As licenças dependentes de inspeção médica Art. 192. O funcionário ocupante de cargo em comissão
serão concedidas pelo prazo indicado pelos órgãos ofi- poderá ser aposentado, nas condições do artigo anterior,
ciais competentes. desde que preencha os requisitos do art. 227.

Art. 183. Finda a licença, o funcionário deverá reassu- Art. 193. A licença para tratamento de saúde depende-
mir, imediatamente, o exercício do cargo. rá de inspeção médica oficial e poderá ser concedida:
§ 1º O disposto no caput deste artigo não se aplica às li- I - a pedido do funcionário;
cenças previstas nos incisos V e VII do artigo 181, quan- II - “ex officio”.
do em prorrogação. § 1º A inspeção médica de que trata o “caput” deste arti-
§ 2º A infração do disposto no caput deste artigo im- go poderá ser dispensada, a critério do órgão oficial, quan-
portará em perda total do vencimento ou remuneração do a análise documental for suficiente para comprovar a
correspondente ao período de ausência e, se esta exceder incapacidade laboral, observado o estabelecido em decreto.
a 30 (trinta) dias, ficará o funcionário sujeito à pena de § 2º A licença “ex officio” de que trata o inciso II deste
demissão por abandono de cargo. artigo será concedida por decisão do órgão oficial:
1 - quando as condições de saúde do funcionário assim
Art. 184. O funcionário licenciado nos termos dos itens o determinarem;
I a IV do art. 181, é obrigado a reassumir o exercício, se for 2 - a pedido do órgão de origem do funcionário.
considerado apto em inspeção médica realizada ex-offi- § 3º O funcionário poderá ser dispensado da inspeção
cio ou se não subsistir a doença na pessoa de sua família. médica de que trata o “caput” deste artigo em caso de licen-
Parágrafo único. O funcionário poderá desistir da li- ça para tratamento de saúde de curta duração, conforme
cença, desde que em inspeção médica fique comprovada estabelecido em decreto.
a cessação dos motivos determinantes da licença.
SEÇÃO III
Art. 185. As licenças previstas nos incisos I, II e IV do Da Licença ao Funcionário Acidentado no Exercício
artigo 181 não serão concedidas em prorrogação, ca- de suas Atribuições ou Atacado de Doença Profissional
bendo ao funcionário ou à autoridade competente ingressar,
quando for o caso, com um novo pedido. Art. 194. O funcionário acidentado no exercício de suas
atribuições ou que tenha adquirido doença profissional
Art. 186. (Revogado). terá direito à licença com vencimento ou remuneração.
Parágrafo único. Considera-se também acidente:
Art. 187. O funcionário licenciado nos termos dos itens 1 - a agressão sofrida e não provocada pelo funcio-
I e II do artigo 181 não poderá dedicar-se a qualquer nário, no exercício de suas funções;
atividade remunerada, sob pena de ser cassada a licença e 2 - a lesão sofrida pelo funcionário, quando em
de ser demitido por abandono do cargo, caso não reassuma trânsito, no percurso usual para o trabalho.
o seu exercício dentro do prazo de 30 (trinta) dias.
Art. 195. A licença prevista no artigo anterior não pode-
Art. 188. (Revogado) rá exceder de 4 (quatro) anos.
Parágrafo único. No caso de acidente, verificada a in-
Art. 189. (Revogado) capacidade total para qualquer função pública, será desde
logo concedida aposentadoria ao funcionário.
Art. 190. O funcionário que se recusar a submeter-se
à inspeção médica, quando julgada necessária, será punido Art. 196. A comprovação do acidente, indispensável
com pena de suspensão. para a concessão da licença, será feita em procedimento
Parágrafo único. A suspensão cessará no dia em que se próprio, que deverá iniciar-se no prazo de 10 (dez) dias,
realizar a inspeção. contados da data do acidente.

119
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º O funcionário deverá requerer a concessão da licença § 1º A licença será concedida mediante comunicação
de que trata o caput deste artigo junto ao órgão de origem. do funcionário ao chefe da repartição ou do serviço, acom-
§ 2º Concluído o procedimento de que trata o caput deste panhada de documentação oficial que prove a incorporação.
artigo caberá ao órgão médico oficial a decisão. § 2º O funcionário desincorporado reassumirá ime-
§ 3º O procedimento para a comprovação do acidente de diatamente o exercício, sob pena de demissão por abandono
que trata este artigo deverá ser cumprido pelo órgão de ori- do cargo, se a ausência exceder a 30 (trinta) dias.
gem do funcionário, ainda que não venha a ser objeto de § 3º Quando a desincorporação se verificar em lugar
licença. diverso do da sede, os prazos para apresentação serão os
previstos no art. 60.
Art. 197. Para a conceituação do acidente da doença
profissional, serão adotados os critérios da legislação fede- Art. 201. Ao funcionário que houver feito curso para ser
ral de acidentes do trabalho. admitido como oficial da reserva das Forças Armadas,
será também concedida licença sem vencimento ou remune-
SEÇÃO IV ração, durante os estágios prescritos pelos regulamentos
Da Licença à Funcionária Gestante militares.

Art. 198. À funcionária gestante será concedida licença SEÇÃO VII


de 180 (cento e oitenta) dias com vencimento ou remunera- Da Licença para Tratar de Interesses Particulares
ção, observado o seguinte:
I - a licença poderá ser concedida a partir da 32ª (trigési- Art. 202. Depois de 5 (cinco) anos de exercício, o fun-
ma segunda) semana de gestação, mediante documentação cionário poderá obter licença, sem vencimento ou remu-
médica que comprove a gravidez e a respectiva idade ges- neração, para tratar de interesses particulares, pelo prazo
tacional; máximo de 2 (dois) anos.
II - ocorrido o parto, sem que tenha sido requerida a li- § 1º Poderá ser negada a licença quando o afastamento
cença, será esta concedida mediante a apresentação da cer- do funcionário for inconveniente ao interesse do serviço.
tidão de nascimento e vigorará a partir da data do evento, § 2º O funcionário deverá aguardar em exercício a
podendo retroagir até 15 (quinze) dias; concessão da licença.
III - durante a licença, cometerá falta grave a servidora § 3º A licença poderá ser gozada parceladamente a
que exercer qualquer atividade remunerada ou mantiver juízo da Administração, desde que dentro do período de 3
a criança em creche ou organização similar. (três) anos.
Parágrafo único. No caso de natimorto, será concedida § 4º O funcionário poderá desistir da licença, a qual-
a licença para tratamento de saúde, a critério médico, na quer tempo, reassumindo o exercício em seguida.
forma prevista no artigo 193.
Art. 203. Não será concedida licença para tratar de inte-
SEÇÃO V resses particulares ao funcionário nomeado, removido ou
Da Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Fa- transferido, antes de assumir o exercício do cargo.
mília
Art. 204. Só poderá ser concedida nova licença depois de
Art. 199. O funcionário poderá obter licença, por motivo decorridos 5 (cinco) anos do término da anterior.
de doença do cônjuge e de parentes até segundo grau.
§ 1º Provar-se-á a doença em inspeção médica na forma SEÇÃO VIII
prevista no artigo 193. Da Licença à Funcionária Casada com Funcionário
§ 2º A licença de que trata este artigo será concedida com ou Militar
vencimentos ou remuneração até 1 (um) mês e com os se-
guintes descontos: Art. 205. A funcionária casada com funcionário esta-
1 - de 1/3 (um terço), quando exceder a 1 (um) mês até dual ou com militar terá direito à licença, sem vencimento
3 (três); ou remuneração, quando o marido for mandado servir,
2 - 2/3 (dois terços), quando exceder a 3 (três) até 6 (seis); independentemente de solicitação, em outro ponto do Esta-
3 - sem vencimento ou remuneração do sétimo ao vigé- do ou do território nacional ou no estrangeiro.
simo mês. Parágrafo único. A licença será concedida mediante pe-
§ 3º Para os efeitos do § 2º deste artigo, serão somadas dido devidamente instruído e vigorará pelo tempo que
as licenças concedidas durante o período de 20 (vinte) meses, durar a comissão ou a nova função do marido.
contado da primeira concessão.
SEÇÃO IX
SEÇÃO VI Da Licença Compulsória
Da Licença para Atender a Obrigações Concernentes  
ao Serviço Militar Art. 206. O funcionário, ao qual se possa atribuir a con-
dição de fonte de infecção de doença transmissível, po-
Art. 200. Ao funcionário que for convocado para o ser- derá ser licenciado, enquanto durar essa condição, a juízo
viço militar e outros encargos da segurança nacional, de autoridade sanitária competente, e na forma prevista
será concedida licença sem vencimento ou remuneração. no regulamento.

120
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 207. Verificada a procedência da suspeita, o funcio- CAPÍTULO III


nário será licenciado para tratamento de saúde na forma Da Estabilidade
prevista no art. 191, considerando-se incluídos no período da
licença os dias de licenciamento compulsório. Art. 217. É assegurada a estabilidade somente ao fun-
cionário que, nomeado por concurso, contar mais de 2
Art. 208. Quando não positivada a moléstia, deverá o funcio- (dois) anos de efetivo exercício.
nário retornar ao serviço, considerando-se como de efetivo exer-
cício para todos os efeitos legais, o período de licença compulsória. Art. 218. O funcionário estável só poderá ser demitido
em virtude de sentença judicial ou mediante processo
SEÇÃO X administrativo, assegurada ampla defesa.
Da licença-prêmio
Parágrafo único. A estabilidade diz respeito ao serviço
público e não ao cargo, ressalvando-se à Administração o
Art. 209. O funcionário terá direito, como prêmio de as-
siduidade, à licença de 90 (noventa) dias em cada período direito de aproveitar o funcionário em outro cargo de igual
de 5 (cinco) anos de exercício ininterrupto, em que não haja padrão, de acordo com as suas aptidões.
sofrido qualquer penalidade administrativa.
Parágrafo único. O período da licença será considerado de CAPÍTULO IV
efetivo exercício para todos os efeitos legais, e não acarretará Da Disponibilidade
desconto algum no vencimento ou remuneração.
Art. 219. O funcionário poderá ser posto em disponibi-
Art. 210. Para fins da licença prevista nesta Seção, não se lidade remunerada:
consideram interrupção de exercício: I - no caso previsto no § 2º do art. 31; e
I - os afastamentos enumerados no art. 78, excetuado o II - quando, tendo adquirido estabilidade, o cargo for
previsto no item X; e extinto por lei.
II - as faltas abonadas, as justificadas e os dias de licença Parágrafo único. O funcionário ficará em disponibilida-
a que se referem os itens I e IV do art. 181 desde que o total de até o seu obrigatório aproveitamento em cargo equi-
de todas essas ausências não exceda o limite máximo de 30 valente.
(trinta) dias, no período de 5 (cinco) anos.
Art. 220. O provento da disponibilidade não poderá ser
Art. 211. (Revogado).
superior ao vencimento ou remuneração e vantagens per-
cebidos pelo funcionário.
Art. 212. A licença-prêmio será concedida mediante certi-
dão de tempo de serviço, independente de requerimento do
funcionário, e será publicada no Diário Oficial do Estado, nos Art. 221. Qualquer alteração do vencimento ou remu-
termos da legislação em vigor. neração e vantagens percebidas pelo funcionário em virtude
de medida geral, será extensiva ao provento do disponível,
Art. 213. O funcionário poderá requerer o gozo da licen- na mesma proporção.
ça-prêmio:
I - por inteiro ou em parcelas não inferiores a 15 CAPÍTULO V
(quinze) dias; Da Aposentadoria
II - até o implemento das condições para a aposenta-
doria voluntária. Art. 222. O funcionário será aposentado:
§ 1º Caberá à autoridade competente: I - por invalidez;
1 - adotar, após manifestação do chefe imediato, sem pre- II - compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos; e
juízo para o serviço, as medidas necessárias para que o fun- III - voluntariamente, após 35 (trinta e cinco) anos de
cionário possa gozar a licença-prêmio a que tenha direito; serviço.
2 - decidir, após manifestação do chefe imediato, obser- § 1º No caso do item III, o prazo é reduzido a 30 (trin-
vada a opção do funcionário e respeitado o interesse do ser- ta) anos para as mulheres.
viço, pelo gozo da licença-prêmio por inteiro ou parcela-
§ 2º Os limites de idade e de tempo de serviço para a
damente.
aposentadoria poderão ser reduzidos, nos termos do pa-
§ 2º A apresentação de pedido de passagem à inativi-
dade, sem a prévia e oportuna apresentação do requerimento rágrafo único do art. 94 da Constituição do Estado de São
de gozo, implicará perda do direito à licença-prêmio. Paulo.

Art. 214. O funcionário deverá aguardar em exercício a Art. 223. A aposentadoria prevista no item I do artigo
apreciação do requerimento de gozo da licença-prêmio. anterior, só será concedida, após a comprovação da invali-
Parágrafo único. O gozo da licença-prêmio dependerá de dez do funcionário, mediante inspeção de saúde realizada
novo requerimento, caso não se inicie em até 30 (trinta) em órgão médico oficial.
dias contados da publicação do ato que o houver autorizado.
Art. 215. (Revogado). Art. 224. A aposentadoria compulsória prevista no item
Art. 216. (Revogado). II do art. 222 é automática.

121
DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único. O funcionário se afastará no dia ime- Art. 235. Havendo vaga na sede do exercício de am-
diato àquele em que atingir a idade limite, independente- bos os cônjuges, a remoção poderá ser feita para o local
mente da publicação do ato declaratório da aposentadoria. indicado por qualquer deles, desde que não prejudique o
serviço.
Art. 225. O funcionário em disponibilidade poderá ser
aposentado nos termos do art. 222. Art. 236. Somente será concedida nova remoção por
união de cônjuges ao funcionário que for removido a pedi-
Art. 226. O provento da aposentadoria será: do para outro local, após transcorridos 5 (cinco) anos.
I - igual ao vencimento ou remuneração e demais van-
tagens pecuniárias incorporadas para esse efeito: Art. 237. Considera-se local, para os fins dos arts. 234 a
1 - quando o funcionário, do sexo masculino, contar 236, o município onde o cônjuge tem sua residência.
35 (trinta e cinco) anos de serviço e do sexo feminino, 30
(trinta) anos; e Art. 238. O ato que remover ou transferir o funcionário
estudante de uma para outra cidade ficará suspenso se, na
2 - quando ocorrer a invalidez.
nova sede, não existir estabelecimento congênere, oficial,
II - proporcional ao tempo de serviço, nos demais ca-
reconhecido ou equiparado àquele em que o interessado es-
sos.
teja matriculado.
§ 1º Efetivar-se-á a transferência, se o funcionário con-
Art. 227. As disposições dos itens I e II do art. 222 apli- cluir o curso, deixar de cursá-lo ou for reprovado durante
cam-se ao funcionário ocupante de cargo em comissão, que 2 (dois) anos.
contar mais de 15 (quinze) anos de exercício ininterrupto § 2º Anualmente, o interessado deverá fazer prova,
nesse cargo, seja ou não ocupante de cargo de provimento perante a repartição a que esteja subordinado, de que está
efetivo. frequentando regularmente o curso em que estiver matri-
culado.
Art. 228. A aposentadoria prevista no item III do art. 222
produzirá efeito a partir da publicação do ato no “Diário CAPÍTULO VII
Oficial”. Do Direito de Petição

Art. 229. O pagamento dos proventos a que tiver direito Art. 239. É assegurado a qualquer pessoa, física ou jurí-
o aposentado deverá iniciar-se no mês seguinte ao em que dica, independentemente de pagamento, o direito de peti-
cessar a percepção do vencimento ou remuneração. ção contra ilegalidade ou abuso de poder e para defesa
de direitos.
Art. 230. O provento do aposentado só poderá sofrer § 1º Qualquer pessoa poderá reclamar sobre abuso,
descontos autorizados em lei. erro, omissão ou conduta incompatível no serviço públi-
co.
Art. 231. O provento da aposentadoria não poderá ser § 2º Em nenhuma hipótese, a Administração poderá
superior ao vencimento ou remuneração e demais vanta- recusar-se a protocolar, encaminhar ou apreciar a peti-
gens percebidas pelo funcionário. ção, sob pena de responsabilidade do agente.

Art. 232. Qualquer alteração do vencimento ou remune- Art. 240. Ao servidor é assegurado o direito de requerer
ração e vantagens percebidas pelo funcionário em virtude de ou representar, bem como, nos termos desta lei comple-
medida geral, será extensiva ao provento do aposentado, mentar, pedir reconsideração e recorrer de decisões, no prazo
de 30 (trinta) dias, salvo previsão legal específica.
na mesma proporção.
Estabelece a CF, no art. 5°, XXIV, a) o direito de petição,
CAPÍTULO VI
assegurado a todos: “são a todos assegurados, indepen-
Da Assistência ao Funcionário
dentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição
aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilega-
Art. 233. Nos trabalhos insalubres executados pelos lidade ou abuso de poder;”. Os artigos acima descrevem o
funcionários, o Estado é obrigado a fornecer-lhes gratuita- direito de petição específico dos servidores públicos.
mente equipamentos de proteção à saúde. Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cum-
Parágrafo único. Os equipamentos aprovados por órgão pre observar que o direito de petição deve resultar em uma
competente, serão de uso obrigatório dos funcionários, manifestação do Estado, normalmente dirimindo (resol-
sob pena de suspensão. vendo) uma questão proposta, em um verdadeiro exercí-
cio contínuo de delimitação dos direitos e obrigações que
Art. 234. Ao funcionário é assegurado o direito de re- regulam a vida social e, desta maneira, quando “dificulta a
moção para igual cargo no local de residência do cônjuge, apreciação de um pedido que um cidadão quer apresen-
se este também for funcionário e houver vaga. tar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça);
“demora para responder aos pedidos formulados” (admi-

122
DIREITO ADMINISTRATIVO

nistrativa e, principalmente, judicialmente) ou “impõe res- fixa o regime jurídico dos servidores públicos civis federais.
trições e/ou condições para a formulação de petição”, traz Descrevem algumas das condutas esperadas do servidor
a chamada insegurança jurídica, que traz desesperança e faz público quando do desempenho de suas funções. Em re-
proliferar as desigualdades e as injustiças. sumo, o servidor público deve desempenhar suas funções
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por com cuidado, rapidez e pontualidade, sendo leal à institui-
exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar ção que compõe, respeitando as ordens de seus superiores
cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de- que sejam adequadas às funções que desempenhe e bus-
núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez cando conservar o patrimônio do Estado. No tratamento
na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públicos do público, deve ser prestativo e não negar o acesso a in-
em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que gera formações que não sejam sigilosas. Caso presencie alguma
confusões conceituais no sentido do direito de obter certi- ilegalidade ou abuso de poder, deve denunciar. Tomam-se
dões ser dissociado do direito de petição. como base os ensinamentos de Lima71 a respeito destes
deveres:
TÍTULO VI
DOS DEVERES, DAS PROIBIÇÕES E DAS RESPONSABILI-
Art. 241. São deveres do funcionário:
DADES
I - ser assíduo e pontual;
O regime disciplinar do servidor público civil está esta- “Dois conceitos diferentes, porém parecidos. Ser assí-
belecido basicamente de duas maneiras: deveres e proibi- duo significa ser presente dentro do horário do expedien-
ções. Ontologicamente, são a mesma coisa: ambos deveres te. O oposto do assíduo é o ausente, o faltoso. Pontual é
e proibições são normas protetivas da boa Administração. aquele servidor que não atrasa seus compromissos. É o que
Nas duas hipóteses, violado o preceito, cabível é uma pu- comparece no horário para as reuniões de trabalho e de-
nição. Deve-se notar, porém, que os deveres constam da lei mais atividades relacionadas com o exercício do cargo que
como ações, como conduta positiva; as proibições, ao con- ocupa. Embora sejam conceitos diferentes, aqui o dever
trário, são descritas como condutas vedadas ao servidor, de violado, seja por impontualidade, seja por inassiduidade
modo que ele deve abster-se de praticá-las. Os deveres es- (que ainda não aquela inassiduidade habitual de 60 dias
tão inscritos não de modo exaustivo, porque o servidor deve ensejadora de demissão), merece reprimenda de advertên-
obediência a todas as normas legais ou infralegais69. “Estes cia, com fins educativos e de correção do servidor”.
dispositivos preveem, basicamente, um conjunto de normas
de conduta e de proibições impostas pela lei aos servidores II - cumprir as ordens superiores, representando quando
por ela abrangidos, tendo em vista a prevenção, a apuração forem manifestamente ilegais;
e a possível punição de atos e omissões que possam por em “O servidor integra a estrutura organizacional do ór-
risco o funcionamento adequado da administração pública, gão em que presta suas atribuições funcionais. O Estado
do posto de vista ético, do ponto de vista da eficiência e do se movimenta através dos seus diversos órgãos. Dentro
ponto de vista da legalidade. Decorrem, estes dispositivos, dos órgãos públicos, há um escalonamento de cargos e
do denominado Poder Disciplinar que é aquele conferido à funções que servem ao cumprimento da vontade do ente
Administração com o objetivo de manter sua disciplina in- estatal. Este escalonamento, posto em movimento, é o
terna, na medida em que lhe atribui instrumentos para punir que vimos até agora chamando de hierarquia. A hierarquia
seus servidores (e também àqueles que estejam a ela vincu- existe para que do alto escalão até a prática dos adminis-
lados por um instrumento jurídico determinado - particula- trados as coisas funcionem. Disso decorre que quando é
res contratados pela Administração). [...]”70. emitida uma ordem para o servidor subordinado, este deve
dar cumprimento ao comando. Porém quando a ordem é
CAPÍTULO I
visivelmente ilegal, arbitrária, inconstitucional ou absurda,
Dos Deveres e das Proibições
o servidor não é obrigado a dar seguimento ao que lhe é
SEÇÃO I ordenado. Quando a ordem é manifestamente ilegal? Há
Dos Deveres uma margem de interpretação, principalmente se o servi-
dor subordinado não tiver nenhuma formação de ordem
Os deveres do servidor aqui previstos são em muito jurídica. Logo, é o bom senso que irá margear o que é fla-
compatíveis com os previstos no Código de Ética profis- grantemente inconstitucional”.
sional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal
(Decreto n° 1.171/94) e na própria Lei nº 8.112/1990, que III - desempenhar com zelo e presteza os trabalhos de
que for incumbido;
69 LIMA, Fábio Lucas de Albuquerque. O regime “O zelo diz respeito às atribuições funcionais e tam-
disciplinar dos servidores federais. Disponível em: bém ao cuidado com a economia do material, os bens da
<http://www.sato.adm.br/artigos/o_regime_disciplinar_ repartição e o patrimônio público. Sob o prisma da discipli-
dos_servidores_federais.htm>. Acesso em: 11 ago. 2013.
70 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos 71 LIMA, Fábio Lucas de Albuquerque. O regime
Servidores Públicos da União. Disponível em: <http:// disciplinar dos servidores federais. Disponível em:
www.canaldosconcursos.com.br/artigos/almirmorgado_ar- <http://www.sato.adm.br/artigos/o_regime_disciplinar_
tigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013. dos_servidores_federais.htm>. Acesso em: 11 ago. 2013.

123
DIREITO ADMINISTRATIVO

na e da conservação dos bens e materiais da repartição, o V - representar aos superiores sobre todas as irregu-
servidor deve sempre agir com dedicação no desempenho laridades de que tiver conhecimento no exercício de suas
das funções do cargo que ocupa, e que lhe foram atribuí- funções;
das desde o termo de posse. O servidor não é o dono do “Todo servidor público é obrigado a dar conhecimento
cargo. Dono do cargo é o Estado que o remunera. Se o re- ao chefe da repartição acerca das irregularidades de que
ferido cargo não lhe pertence, o servidor deve exercer suas toma conhecimento no exercício de suas atribuições. Deve
funções com o máximo de zelo que estiver ao seu alcance. levar ao conhecimento da chefia imediata pelo sistema hie-
Sua eventual menor capacidade de desempenho, para não rárquico. Supõe-se que os titulares das chefias ou divisões
configurar desídia ou insuficiência de desempenho, deverá detêm um conhecimento maior de como corrigir o erro ou
ser compensada com um maior esforço e dedicação de sua comunicar aos órgãos de controle para a devida apuração.
parte. Se um servidor altamente preparado e capaz, vem a De nada adiantaria o servidor, ciente de um ato irregular,
praticar atos que configurem desídia ou mesmo falta mais ir comunicar ao público ou a terceiros. Além do dever de
grave, poderá vir a ser punido. Porque o que se julgará não sigilo, há assuntos que exigem certas reservas, visando ao
é a pessoa do servidor, mas a conduta a ele imputável. O bem do serviço público, da segurança nacional e mesmo
zelo não deve se limitar apenas às atribuições específicas da sociedade”.
de sua atividade. O servidor deve ter zelo não somente
com os bens e interesses imateriais (a imagem, os símbo- VI - tratar com urbanidade as pessoas;
los, a moralidade, a pontualidade, o sigilo, a hierarquia) “No mundo moderno, e máxime em nossa civilização
como também para com os bens e interesses patrimoniais ocidental, o trato tem que ser o mais urbano possível. Ur-
do Estado”. bano, nessa acepção, não quer dizer citadino ou oriundo
da urbe (cidade), mas, sim, educado, civilizado, cordato e
IV - guardar sigilo sobre os assuntos da repartição e, que não possa criar embaraços aos usuários dos serviços
especialmente, sobre despachos, decisões ou providências; públicos”.
“O agente público deve guardar sigilo sobre o que se
VII - residir no local onde exerce o cargo ou, onde au-
passa na repartição, principalmente quanto aos assuntos
torizado;
oficiais. Pela Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011,
O objetivo da disciplina é impor que o servidor sempre
hoje está regulamentado o acesso às informações. Porém,
seja acessível, não precise se locomover grandes distâncias
o servidor deve ter cuidado, pois até mesmo o fornecimen-
quando solicitado, o que permite ainda que conheça a rea-
to ou divulgação das informações exigem um procedimen-
lidade local.
to. Maior cuidado há que se ter, quando a informação pos-
sa expor a intimidade da pessoa humana. As informações
VIII - providenciar para que esteja sempre em ordem,
pessoais dos administrados em geral devem ser tratadas no assentamento individual, a sua declaração de família;
forma transparente e com respeito à intimidade, à vida Trata-se do dever de manter seus registros atualizados,
privada, à honra e à imagem das pessoas, bem como às inclusive no que se refere aos membros de sua família.
liberdades e garantias individuais, segundo o artigo 31, da
Lei nº 21.527, 2011. A exceção para o sigilo existe, pois, não IX - zelar pela economia do material do Estado e pela
devemos tratar a questão em termos de cláusula jurídica conservação do que for confiado à sua guarda ou utiliza-
de caráter absoluto, podendo ter autorizada a divulgação ção;
ou o acesso por terceiros quando haja previsão legal. Outra “Esse deve é basilar. Se o agente não zelar pela econo-
exceção é quando há o consentimento expresso da pessoa mia e pela conservação dos bens públicos presta um des-
a que elas se referirem. No caso de cumprimento de or- serviço à nação que lhe remunera. E como se verá adiante
dem judicial, para a defesa de direitos humanos, e quando poderá ser causa inclusive de demissão, se não cumprir o
a proteção do interesse público e geral preponderante o presente dever, quando por descumprimento dele a gra-
exigir, também devem ser fornecidas as informações. Por- vidade do fato implicar a infração a normas mais graves”.
tanto, o servidor há que ter reserva no seu comportamento
e fala, esquivando-se de revelar o conteúdo do que se pas- X - apresentar-se convenientemente trajado em servi-
sa no seu trabalho. Se o assunto pululante é uma irregula- ço ou com uniforme determinado, quando for o caso;
ridade absurda, deve então reduzir a escrito e representar As roupas devem refletir o respeito à instituição e se-
para que se apure o caso. Deveriam diminuir as conversas rem compatíveis com a função desempenhada.
de corredor e se efetivar a apuração dos fatos através do
processo administrativo disciplinar. Os assuntos objeto do XI - atender prontamente, com preferência sobre qual-
serviço merecem reserva. Devem ficar circunscritos aos ser- quer outro serviço, às requisições de papéis, documentos,
vidores designados para o respectivo trabalho interno, não informações ou providências que lhe forem feitas pelas au-
devendo sair da seção ou setor de trabalho, sem o trâmite toridades judiciárias ou administrativas, para defesa do
hierárquico do chefe imediato. Se o assunto ou o trabalho, Estado, em Juízo;
enfim, merecer divulgação mais ampla, deve ser contatado “Este dever foi insculpido na lei para que o servidor
o órgão de assessoria de comunicação social, que saberá público trabalhe diuturnamente no sentido de desfazer a
proceder de forma oficial, obedecendo ao bom senso e às imagem desagradável que o mesmo possui perante a so-
leis vigentes”. ciedade. Exige-se que atue com presteza no atendimento a

124
DIREITO ADMINISTRATIVO

informações solicitadas pela Fazenda Pública. Esta engloba I - (Revogado).


o fisco federal, estadual, municipal e distrital. O servidor II - retirar, sem prévia permissão da autoridade compe-
público tem que ser expedito, diligente, laborioso. Não há tente, qualquer documento ou objeto existente na repar-
mais lugar para o burocrata que se afasta do administra- tição;
do, dificultando a vida de quem necessita de atendimen- III - entreter-se, durante as horas de trabalho, em pa-
to rápido e escorreito. Entretanto, há um longo caminho a lestras, leituras ou outras atividades estranhas ao serviço;
ser percorrido até que se atinja um mínimo ideal de aten- IV - deixar de comparecer ao serviço sem causa justi-
dimento e de funcionamento dos órgãos públicos, o que ficada;
deve necessariamente passar por critérios de valorização V - tratar de interesses particulares na repartição;
dos servidores bons e de treinamento e qualificação per- VI - promover manifestações de apreço ou desapreço
manente dos quadros de pessoal”. dentro da repartição, ou tornar-se solidário com elas;
VII - exercer comércio entre os companheiros de servi-
XII - cooperar e manter espírito de solidariedade com ço, promover ou subscrever listas de donativos dentro da
os companheiros de trabalho, repartição; e
O ambiente de trabalho não deve ser um ambiente de VIII - empregar material do serviço público em serviço
litígio, mas sim de cooperação. particular.

XIII - estar em dia com as leis, regulamentos, regimen- Art. 243. É proibido ainda, ao funcionário:
tos, instruções e ordens de serviço que digam respeito às I - fazer contratos de natureza comercial e industrial
suas funções; e com o Governo, por si, ou como representante de outrem;
“A função desta norma é de não deixar sem resposta II - participar da gerência ou administração de em-
qualquer que seja a irregularidade cometida. Daí a neces- presas bancárias ou industriais, ou de sociedades comerciais,
sária correlação nesses casos que temos de fazer do art. que mantenham relações comerciais ou administrativas com
116, inciso III, com a norma violada, e já prevista em outra o Governo do Estado, sejam por este subvencionadas ou es-
lei, decreto, instrução, ordem de serviço ou portaria”. tejam diretamente relacionadas com a finalidade da reparti-
ção ou serviço em que esteja lotado;
XIV - proceder na vida pública e privada na forma que III - requerer ou promover a concessão de privilégios,
dignifique a função pública. garantias de juros ou outros favores semelhantes, fede-
O bom comportamento não deve se fazer presen- rais, estaduais ou municipais, exceto privilégio de invenção
te somente no exercício das funções. Cabe ao funcioná- própria;
rio se portar bem quando estiver em sua vida privada, na IV - exercer, mesmo fora das horas de trabalho, empre-
convivência com seus amigos e familiares, bem como nos go ou função em empresas, estabelecimentos ou insti-
momentos de lazer. Por melhor que seja como funcioná- tuições que tenham relações com o Governo, em matéria
rio, não será aceito aquele que, por exemplo, for visto fre- que se relacione com a finalidade da repartição ou serviço
quentemente embriagado ou for sempre denunciado por em que esteja lotado;
violência doméstica. V - aceitar representação de Estado estrangeiro, sem
autorização do Presidente da República;
SEÇÃO II VI - comerciar ou ter parte em sociedades comerciais nas
Das Proibições condições mencionadas no item II deste artigo, podendo, em
qualquer caso, ser acionista, quotista ou comanditário;
Art. 242. Ao funcionário é proibido: VII - incitar greves ou a elas aderir, ou praticar atos
Em contraposição aos deveres do servidor público, de sabotagem contra o serviço público; (INCONSTITUCIO-
existem diversas proibições, que também estão em boa NAL)
parte abrangidas pelo Decreto n° 1.171/94 e pela Lei nº O Supremo Tribunal Federal decidiu que os servidores
8.112/1990. A violação dos deveres ou a prática de alguma públicos possuem o direito de greve, devendo se atentar
das violações abaixo descritas caracterizam infração admi- pela preservação da sociedade quando exercê-lo. Enquan-
nistrativa disciplinar. to não for elaborada uma legislação específica para os fun-
“Nas Proibições constata-se, desde logo, sua objetivi- cionários públicos, deverá ser obedecida a lei geral de gre-
dade e taxatividade, o que veda sua ampliação e o uso de ve para os funcionários privados, qual seja a Lei n° 7.783/89
interpretações analógicas ou sistemáticas visto serem con- (Mandado de Injunção nº 20).
dutas restritivas de direitos, sujeitas, portanto, ao princípio
da reserva legal. O descumprimento dessas proibições po- VIII - praticar a usura;
dem inclusive, ensejar o enquadramento penal do servidor, IX - constituir-se procurador de partes ou servir de
pois muitas das condutas ali descritas, configuram prática intermediário perante qualquer repartição pública, exceto
de delito penal”72. quando se tratar de interesse de cônjuge ou parente até se-
gundo grau;
72 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos X - receber estipêndios de firmas fornecedoras ou de
Servidores Públicos da União. Disponível em: <http:// entidades fiscalizadas, no País, ou no estrangeiro, mesmo
www.canaldosconcursos.com.br/artigos/almirmorgado_ar- quando estiver em missão referente à compra de material
tigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013. ou fiscalização de qualquer natureza;

125
DIREITO ADMINISTRATIVO

XI - valer-se de sua qualidade de funcionário para de- Art. 246. O funcionário que adquirir materiais em de-
sempenhar atividade estranha às funções ou para lograr, sacordo com disposições legais e regulamentares, será
direta ou indiretamente, qualquer proveito; e responsabilizado pelo respectivo custo, sem prejuízo das
XII - fundar sindicato de funcionários ou deles fazer penalidades disciplinares cabíveis, podendo-se proceder ao
parte. (INCONSTITUCIONAL) desconto no seu vencimento ou remuneração.
Os servidores públicos têm direito de fundar sindicatos,
o que é inerente ao direito fundamental à liberdade de as- Art. 247. Nos casos de indenização à Fazenda Esta-
sociação. dual, o funcionário será obrigado a repor, de uma só vez,
a importância do prejuízo causado em virtude de alcance,
Parágrafo único. Não está compreendida na proibição desfalque, remissão ou omissão em efetuar recolhimento ou
dos itens II e VI deste artigo, a participação do funcionário entrada nos prazos legais.
em sociedades em que o Estado seja acionista, bem assim
na direção ou gerência de cooperativas e associações de Art. 248. Fora dos casos incluídos no artigo anterior, a
classe, ou como seu sócio. importância da indenização poderá ser descontada do ven-
cimento ou remuneração não excedendo o desconto à 10ª
Art. 244. É vedado ao funcionário trabalhar sob as or- (décima) parte do valor destes.
dens imediatas de parentes, até segundo grau, salvo Parágrafo único. No caso do item IV do parágrafo único
quando se tratar de função de confiança e livre escolha, do art. 245, não tendo havido má-fé, será aplicada a pena
não podendo exceder a 2 (dois) o número de auxiliares nes- de repreensão e, na reincidência, a de suspensão.
sas condições.
É a chamada prática de nepotismo. Do latim nepos, Art. 249. Será igualmente responsabilizado o funcioná-
neto ou descendente, é o termo utilizado para designar o rio que, fora dos casos expressamente previstos nas leis, re-
favorecimento de parentes (ou amigos próximos) em detri- gulamentos ou regimentos, cometer a pessoas estranhas
mento de pessoas mais qualificadas, especialmente no que às repartições, o desempenho de encargos que lhe compe-
diz respeito à nomeação ou elevação de cargos. Destaca-se tirem ou aos seus subordinados.
o teor da súmula vinculante nº 13 do STF:
Súmula Vinculante nº 13: “A nomeação de cônjuge,
Art. 250. A responsabilidade administrativa não exi-
companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
me o funcionário da responsabilidade civil ou criminal
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade no-
que no caso couber, nem o pagamento da indenização a que
meante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investi-
ficar obrigado, na forma dos arts. 247 e 248, o exame da
do em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o
pena disciplinar em que incorrer.
exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda,
de função gratificada na Administração Pública direta e in- § 1º A responsabilidade administrativa é independente
direta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do da civil e da criminal.
Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste § 2º Será reintegrado ao serviço público, no cargo que
mediante designações recíprocas, viola a Constituição Fe- ocupava e com todos os direitos e vantagens devidas, o ser-
deral.” Obs.: se o concurso pedir pelo entendimento juris- vidor absolvido pela Justiça, mediante simples comprova-
prudencial, vá pela súmula, mas se não mencionar nada se ção do trânsito em julgado de decisão que negue a existência
atenha ao texto da lei, visto que há pequenas variações en- de sua autoria ou do fato que deu origem à sua demissão.
tre o texto da súmula e o da lei. § 3º O processo administrativo só poderá ser sobresta-
do para aguardar decisão judicial por despacho motivado
CAPÍTULO II da autoridade competente para aplicar a pena.
Das Responsabilidades Segundo Carvalho Filho73, “a responsabilidade se origi-
na de uma conduta ilícita ou da ocorrência de determinada
Art. 245. O funcionário é responsável por todos os situação fática prevista em lei e se caracteriza pela natureza
prejuízos que, nessa qualidade, causar à Fazenda Estadual, do campo jurídico em que se consuma. Desse modo, a res-
por dolo ou culpa, devidamente apurados. ponsabilidade pode ser civil, penal e administrativa. Cada
Parágrafo único. Caracteriza-se especialmente a respon- responsabilidade é, em princípio, independente da outra”.
sabilidade: É possível que o mesmo fato gere responsabilidade ci-
I - pela sonegação de valores e objetos confiados à sua vil, penal e administrativa, mas também é possível que este
guarda ou responsabilidade, ou por não prestar contas, ou gere apenas uma ou outra espécie de responsabilidade.
por não as tomar, na forma e no prazo estabelecidos nas leis, Daí o fato das responsabilidades serem independentes: o
regulamentos, regimentos, instruções e ordens de serviço; mesmo fato pode gerar a aplicação de qualquer uma delas,
II - pelas faltas, danos, avarias e quaisquer outros cumulada ou isoladamente.
prejuízos que sofrerem os bens e os materiais sob sua guar- O instituto da responsabilidade civil é parte integran-
da, ou sujeitos a seu exame ou fiscalização; te do direito obrigacional, uma vez que a principal conse-
III - pela falta ou inexatidão das necessárias averba- quência da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera
ções nas notas de despacho, guias e outros documentos
da receita, ou que tenham com eles relação; e 73 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
IV - por qualquer erro de cálculo ou redução contra a direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
Fazenda Estadual. ris, 2010.

126
DIREITO ADMINISTRATIVO

para o seu auto de reparar o dano, mediante o pagamen- Trata-se de responsabilidade civil subjetiva ou com
to de indenização que se refere às perdas e danos. Afinal, culpa. Havendo ação ou omissão com culpa do servidor
quem pratica um ato ou incorre em omissão que gere dano que gere dano ao erário (Administração) ou a terceiro (ad-
deve suportar as consequências jurídicas decorrentes, res- ministrado), o servidor terá o dever de indenizar.
taurando-se o equilíbrio social.74 Já a responsabilidade penal do servidor decorre de
A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po- uma conduta que a lei penal tipifique como infração penal,
dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os ou seja, como crime ou contravenção penal.
limites da herança, embora existam reflexos na ação que O servidor poderá ser responsabilizado apenas penal-
apure a responsabilidade civil conforme o resultado na es- mente, uma vez que somente caberá responsabilização civil
fera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de se o ato tiver causado prejuízo ao erário (elemento dano).
autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que Os crimes contra a Administração Pública se encon-
uma absolvição por falta de provas não o faz). tram nos artigos 312 a 326 do Código Penal, mas existem
Genericamente, os elementos da responsabilidade civil
outros crimes espalhados pela legislação específica.
se encontram no art. 186 do Código Civil: “aquele que, por
Por seu turno, quando o servidor pratica um ilícito ad-
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
ministrativo, a ele é atribuída responsabilidade administra-
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusiva-
tiva. O ilícito pode verificar-se por conduta comissiva ou
mente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo central do
instituto da responsabilidade civil, que tem como elemen- omissiva e os fatos que o configuram são os previstos na
tos: ação ou omissão voluntária (agir como não se deve legislação estatutária. Por exemplo, as sanções aplicadas
ou deixar de agir como se deve), culpa ou dolo do agente pela Comissão de Ética por violação ao Decreto n° 1.171/94
(dolo é a vontade de cometer uma violação de direito e são administrativas.
culpa é a falta de diligência), nexo causal (relação de causa Se as responsabilidades se cumularem, também as
e efeito entre a ação/omissão e o dano causado) e dano sanções serão cumuladas. Daí afirmar-se que tais responsa-
(dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser in- bilidades são independentes, ou seja, não dependem uma
dividual ou coletivo, moral ou material, econômico e não da outra.
econômico). Determinadas decisões na esfera penal geram exclusão
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal: da responsabilidade nas esferas civil e administrativa, quais
sejam: absolvição por inexistência do fato ou negativa de
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri- autoria. A absolvição criminal por falta de provas não gera
vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos da- exclusão da responsabilidade civil e administrativa.
nos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, A absolvição proferida na ação penal, em regra, nada
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos prejudica a pretensão de reparação civil do dano ex delicto,
casos de dolo ou culpa. conforme artigos 65, 66 e 386, IV do CPP: “art. 65. Faz coisa
julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o
Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurí- ato praticado em estado de necessidade, em legítima defe-
dica autônoma entre o Estado e o agente público que cau- sa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
sou o dano no desempenho de suas funções. Nesta rela- regular de direito” (excludentes de antijuridicidade); “art.
ção, a responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá 66. não obstante a sentença absolutória no juízo criminal,
ao Estado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, ca-
qual foi anteriormente condenado a reparar. Direito de re- tegoricamente, reconhecida a inexistência material do
gresso é justamente o direito de acionar o causador direto fato”; “art. 386, IV –  estar provado que o réu não concor-
do dano para obter de volta aquilo que pagou à vítima,
reu para a infração penal”.
considerada a existência de uma relação obrigacional que
Entendem Fuller, Junqueira e Machado76: “a absolvição
se forma entre a vítima e a instituição que o agente com-
dubitativa (motivada por juízo de dúvida), ou seja, por falta
põe.
de provas, (art. 386, II, V e VII, na nova redação conferida ao
Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen-
te causar aos membros da sociedade, mas se este agen- CPP), não empresta qualquer certeza ao âmbito da jurisdi-
te agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do ção civil, restando intocada a possibilidade de, na ação civil
que foi pago à vítima. O agente causará danos ao praticar de conhecimento, ser provada e reconhecida a existência
condutas incompatíveis com o comportamento ético dele do direito ao ressarcimento, de acordo com o grau de cog-
esperado.75 nição e convicção próprios da seara civil (na esfera penal,
A responsabilidade civil do servidor exige prévio pro- a decisão de condenação somente pode ser lastreada em
cesso administrativo disciplinar no qual seja assegurado juízo de certeza, tendo em vista o princípio constitucional
contraditório e ampla defesa. do estado de inocência)”.

74 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabili- 76 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA,


dade Civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. Gustavo Octaviano Diniz; MACHADO, Angela C. Cangia-
75 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. no. Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribu-
13. ed. São Paulo: Método, 2011. nais, 2010. (Coleção Elementos do Direito)

127
DIREITO ADMINISTRATIVO

TÍTULO VII § 1º Considerar-se-á abandono de cargo, o não compa-


DAS PENALIDADES, DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE recimento do funcionário por mais de (30) dias consecuti-
E DAS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES vos ex-vi do art. 63.
§ 2º A pena de demissão por ineficiência no serviço,
CAPÍTULO I só será aplicada quando verificada a impossibilidade de
Das Penalidades e de sua Aplicação readaptação.

Art. 251. São penas disciplinares: Art. 257. Será aplicada a pena de demissão a bem do
I - repreensão; serviço público ao funcionário que:
II - suspensão; I - for convencido de incontinência pública e escan-
III - multa; dalosa e de vício de jogos proibidos;
IV - demissão; II - praticar ato definido como crime contra a admi-
V - demissão a bem do serviço público; e nistração pública, a fé pública e a Fazenda Estadual, ou
VI - cassação de aposentadoria ou disponibilidade. previsto nas leis relativas à segurança e à defesa na-
A repreensão e a multa são as penas mais leves, a pri- cional;
meira é um aviso de que o funcionário se portou de forma III - revelar segredos de que tenha conhecimento em
inadequada e de que isso não deve se repetir, a segunda razão do cargo, desde que o faça dolosamente e com pre-
interfere apenas no aspecto pecuniário. A multa pode ser juízo para o Estado ou particulares;
cumulada com outras penas. A suspensão é uma sanção IV - praticar insubordinação grave;
intermediária, fazendo com que o funcionário deixe de V - praticar, em serviço, ofensas físicas contra funcio-
desempenhar o cargo por certo período. Na demissão, o nários ou particulares, salvo se em legítima defesa;
funcionário não mais exercerá o cargo, sendo assim sanção VI - lesar o patrimônio ou os cofres públicos;
mais grave. Outras sanções são cassação da aposentadoria VII - receber ou solicitar propinas, comissões, pre-
ou disponibilidade e a demissão a bem do serviço público, sentes ou vantagens de qualquer espécie, diretamente ou
que também se encaixam na modalidade mais severa. por intermédio de outrem, ainda que fora de suas funções
mas em razão delas;
Art. 252. Na aplicação das penas disciplinares serão VIII - pedir, por empréstimo, dinheiro ou quaisquer va-
consideradas a natureza e a gravidade da infração e os lores a pessoas que tratem de interesses ou o tenham na
danos que dela provierem para o serviço público. repartição, ou estejam sujeitos à sua fiscalização;
De forma fundamentada, justificada, se escolherá por IX - exercer advocacia administrativa;
uma ou outra sanção, conforme a gravidade do ato pra- X - apresentar com dolo declaração falsa em matéria
ticado. de salário-família, sem prejuízo da responsabilidade civil e
de procedimento criminal, que no caso couber;
Art. 253. A pena de repreensão será aplicada por escri- XI - praticar ato definido como crime hediondo, tortu-
to, nos casos de indisciplina ou falta de cumprimento dos ra, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e ter-
deveres. rorismo;
XII - praticar ato definido como crime contra o Sistema
Art. 254. A pena de suspensão, que não excederá de 90 Financeiro, ou de lavagem ou ocultação de bens, direi-
(noventa) dias, será aplicada em caso de falta grave ou tos ou valores; e
de reincidência. XIII - praticar ato definido em lei como de improbida-
§ 1º O funcionário suspenso perderá todas as vanta- de.
gens e direitos decorrentes do exercício do cargo.
§ 2º A autoridade que aplicar a pena de suspensão po- Art. 258. O ato que demitir o funcionário mencionará
derá converter essa penalidade em multa, na base de sempre a disposição legal em que se fundamenta.
50% (cinquenta por cento) por dia de vencimento ou remu-
neração, sendo o funcionário, nesse caso, obrigado a perma- Art. 259. Será aplicada a pena de cassação de aposen-
necer em serviço. tadoria ou disponibilidade, se ficar provado que o inativo:
I - praticou, quando em atividade, falta grave para a
Art. 255. A pena de multa será aplicada na forma e nos qual é cominada nesta lei a pena de demissão ou de demis-
casos expressamente previstos em lei ou regulamento. são a bem do serviço público;
II - aceitou ilegalmente cargo ou função pública;
Art. 256. Será aplicada a pena de demissão nos casos III - aceitou representação de Estado estrangeiro
de: sem prévia autorização do Presidente da República; e
I - abandono de cargo; IV - praticou a usura em qualquer de suas formas.
II - procedimento irregular, de natureza grave;
III - ineficiência no serviço; Art. 260. Para aplicação das penalidades previstas no
IV - aplicação indevida de dinheiros públicos, e art. 251, são competentes:
V - ausência ao serviço, sem causa justificável, por I - o Governador;
mais de 45 (quarenta e cinco) dias, interpoladamente, II - os Secretários de Estado, o Procurador Geral do
durante 1 (um) ano. Estado e os Superintendentes de Autarquia;

128
DIREITO ADMINISTRATIVO

III - os Chefes de Gabinete, até a de suspensão; Parágrafo único. Aplica-se aos aposentados ou em dis-
IV - os Coordenadores, até a de suspensão limitada a ponibilidade o disposto neste artigo.
60 (sessenta) dias; e
V - os Diretores de Departamento e Divisão, até a de Art. 263. Deverão constar do assentamento individual
suspensão limitada a 30 (trinta) dias. do funcionário todas as penas que lhe forem impostas.
Parágrafo único. Havendo mais de um infrator e diversi-
dade de sanções, a competência será da autoridade respon- CAPÍTULO II
sável pela imposição da penalidade mais grave. Das Providências Preliminares
Art. 261. Extingue-se a punibilidade pela prescrição:
Art. 264. A autoridade que, por qualquer meio, tiver
I - da falta sujeita à pena de repreensão, suspensão ou
conhecimento de irregularidade praticada por servidor é
multa, em 2 (dois) anos;
II - da falta sujeita à pena de demissão, de demissão a obrigada a adotar providências visando à sua imediata
bem do serviço público e de cassação da aposentadoria ou apuração, sem prejuízo das medidas urgentes que o caso
disponibilidade, em 5 (cinco) anos; exigir.
II - da falta prevista em lei como infração penal, no pra-
zo de prescrição em abstrato da pena criminal, se for supe- Art. 265. A autoridade realizará apuração preliminar,
rior a 5 (cinco) anos. de natureza simplesmente investigativa, quando a infração
§ 1º A prescrição começa a correr: não estiver suficientemente caracterizada ou definida auto-
1 - do dia em que a falta for cometida; ria.
2 - do dia em que tenha cessado a continuação ou a § 1º A apuração preliminar deverá ser concluída no pra-
permanência, nas faltas continuadas ou permanentes. zo de 30 (trinta) dias.
§ 2º Interrompem a prescrição a portaria que instaura § 2º Não concluída no prazo a apuração, a autoridade
sindicância e a que instaura processo administrativo. deverá imediatamente encaminhar ao Chefe de Gabinete
§ 3º O lapso prescricional corresponde: relatório das diligências realizadas e definir o tempo neces-
1 - na hipótese de desclassificação da infração, ao da sário para o término dos trabalhos.
pena efetivamente aplicada; § 3º Ao concluir a apuração preliminar, a autoridade de-
2 - na hipótese de mitigação ou atenuação, ao da verá opinar fundamentadamente pelo arquivamento ou pela
pena em tese cabível.
instauração de sindicância ou de processo administrativo.
§ 4º A prescrição não corre:
1 - enquanto sobrestado o processo administrativo para
aguardar decisão judicial, na forma do § 3º do artigo 250; Art. 266. Determinada a instauração de sindicância
2 - enquanto insubsistente o vínculo funcional que ou processo administrativo, ou no seu curso, havendo
venha a ser restabelecido. conveniência para a instrução ou para o serviço, poderá o
§ 5º Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade Chefe de Gabinete, por despacho fundamentado, ordenar as
julgadora determinará o registro do fato nos assentamen- seguintes providências:
tos individuais do servidor. I - afastamento preventivo do servidor, quando o reco-
§ 6º A decisão que reconhecer a existência de prescrição mendar a moralidade administrativa ou a apuração do fato,
deverá desde logo determinar, quando for o caso, as pro- sem prejuízo de vencimentos ou vantagens, até 180 (cento e
vidências necessárias à apuração da responsabilidade pela oitenta) dias, prorrogáveis uma única vez por igual período;
sua ocorrência. II - designação do servidor acusado para o exercício de
Prescrição é um instituto que visa regular a perda do atividades exclusivamente burocráticas até decisão final do
direito de acionar judicialmente. procedimento;
No caso, o prazo é de 5 anos para as infrações mais III - recolhimento de carteira funcional, distintivo, armas
graves, 2 para as de gravidade intermediária e leve (pena e algemas;
de suspensão e pena de advertência) - Contados da data IV - proibição do porte de armas;
em que o fato se tornou conhecido pela administração pú-
V - comparecimento obrigatório, em periodicidade a ser
blica.
estabelecida, para tomar ciência dos atos do procedimento.
Interrupção da prescrição significa parar a contagem
do prazo para que, retornando, comece do zero. Da aber- § 1º A autoridade que determinar a instauração ou pre-
tura da sindicância ou processo administrativo disciplinar sidir sindicância ou processo administrativo poderá repre-
até a decisão final proferida por autoridade competente sentar ao Chefe de Gabinete para propor a aplicação das
não corre a prescrição. Proferida a decisão, o prazo começa medidas previstas neste artigo, bem como sua cessação ou
a contar do zero. Passado o prazo, não caberá mais propor alteração.
ação disciplinar. § 2º O Chefe de Gabinete poderá, a qualquer momento,
por despacho fundamentado, fazer cessar ou alterar as me-
Art. 262. O funcionário que, sem justa causa, deixar de didas previstas neste artigo.
atender a qualquer exigência para cujo cumprimento seja
marcado prazo certo, terá suspenso o pagamento de seu Art. 267. O período de afastamento preventivo compu-
vencimento ou remuneração até que satisfaça essa exi- ta-se como de efetivo exercício, não sendo descontado da
gência. pena de suspensão eventualmente aplicada.

129
DIREITO ADMINISTRATIVO

A sindicância é uma modalidade mais branda de apu- CAPÍTULO III


ração da infração administrativa porque ou gerará a apli- Do Processo Administrativo
cação de uma sanção mais branda, ou apenas antecederá
o processo administrativo disciplinar que aplique a sanção Art. 274. São competentes para determinar a instau-
mais grave. ração de processo administrativo as autoridades enume-
radas no Art. 260, até o inciso IV, inclusive.
TÍTULO VIII
DO PROCEDIMENTO DISCIPLINAR Art. 275. Não poderá ser encarregado da apuração, nem
atuar como secretário, amigo íntimo ou inimigo, parente
CAPÍTULO I consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o
Das Disposições Gerais terceiro grau inclusive, cônjuge, companheiro ou qual-
quer integrante do núcleo familiar do denunciante ou
Art. 268. A apuração das infrações será feita mediante do acusado, bem assim o subordinado deste.
sindicância ou processo administrativo, assegurados o
contraditório e a ampla defesa. Art. 276. A autoridade ou o funcionário designado de-
verão comunicar, desde logo, à autoridade competente, o
Art. 269. Será instaurada sindicância quando a falta impedimento que houver.
disciplinar, por sua natureza, possa determinar as penas de
repreensão, suspensão ou multa. Art. 277. O processo administrativo deverá ser instaura-
do por portaria, no prazo improrrogável de 8 (oito) dias do
Art. 270. Será obrigatório o processo administrati- recebimento da determinação, e concluído no de 90 (noven-
vo quando a falta disciplinar, por sua natureza, possa ta) dias da citação do acusado.
determinar as penas de demissão, de demissão a bem § 1º Da portaria deverão constar o nome e a identifi-
do serviço público e de cassação de aposentadoria ou cação do acusado, a infração que lhe é atribuída, com des-
disponibilidade. crição sucinta dos fatos, a indicação das normas infringidas
e a penalidade mais elevada em tese cabível.
§ 2º Vencido o prazo, caso não concluído o processo, o
Art. 271. Os procedimentos disciplinares punitivos serão
Procurador do Estado que o presidir deverá imediatamente
realizados pela Procuradoria Geral do Estado e presididos
encaminhar ao seu superior hierárquico relatório indicando
por Procurador do Estado confirmado na carreira.
as providências faltantes e o tempo necessário para término
dos trabalhos.
CAPÍTULO II
§ 3º O superior hierárquico dará ciência dos fatos a
Da Sindicância
que se refere o parágrafo anterior e das providências que
houver adotado à autoridade que determinou a instauração
Art. 272. São competentes para determinar a instau-
do processo.
ração de sindicância as autoridades enumeradas no artigo
260. Art. 278. Autuada a portaria e demais peças preexisten-
Parágrafo único. Instaurada a sindicância, o Procurador tes, designará o presidente dia e hora para audiência de
do Estado que a presidir comunicará o fato ao órgão seto- interrogatório, determinando a citação do acusado e a
rial de pessoal. notificação do denunciante, se houver.
§ 1º O mandado de citação deverá conter:
Art. 273. Aplicam-se à sindicância as regras previstas 1 - cópia da portaria;
nesta lei complementar para o processo administrativo, 2 - data, hora e local do interrogatório, que poderá ser
com as seguintes modificações: acompanhado pelo advogado do acusado;
I - a autoridade sindicante e cada acusado poderão ar- 3 - data, hora e local da oitiva do denunciante, se houver,
rolar até 3 (três) testemunhas; que deverá ser acompanhada pelo advogado do acusado;
II - a sindicância deverá estar concluída no prazo de 60 4 - esclarecimento de que o acusado será defendido por
(sessenta) dias; advogado dativo, caso não constitua advogado próprio;
III - com o relatório, a sindicância será enviada à auto- 5 - informação de que o acusado poderá arrolar teste-
ridade competente para a decisão. munhas e requerer provas, no prazo de 3 (três) dias após a
data designada para seu interrogatório;
A sindicância é uma modalidade mais branda de apu- 6 - advertência de que o processo será extinto se o acu-
ração da infração administrativa porque ou gerará a apli- sado pedir exoneração até o interrogatório, quando se tratar
cação de uma sanção mais branda, ou apenas antecederá exclusivamente de abandono de cargo ou função, bem como
o processo administrativo disciplinar que aplique a sanção inassiduidade.
mais grave, entendendo-se por sanções mais graves qual- § 2º A citação do acusado será feita pessoalmente, no
quer uma pior do que suspensão (basicamente, as que ge- mínimo 2 (dois) dias antes do interrogatório, por inter-
ram perda do cargo ou da aposentadoria). médio do respectivo superior hierárquico, ou diretamente,
onde possa ser encontrado.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º Não sendo encontrado em seu local de trabalho ou § 1º Se o parentesco das pessoas referidas for com o
no endereço constante de seu assentamento individual, fur- denunciante, ficam elas proibidas de depor, observada a
tando-se o acusado à citação ou ignorando-se seu paradeiro, a exceção deste artigo.
citação far-se-á por edital, publicado uma vez no Diário Ofi- § 2º Ao servidor que se recusar a depor, sem justa causa,
cial do Estado, no mínimo 10 (dez) dias antes do interrogatório. será pela autoridade competente adotada a providência a
que se refere o artigo 262, mediante comunicação do presi-
Art. 279. Havendo denunciante, este deverá prestar decla- dente.
rações, no interregno entre a data da citação e a fixada para o § 3º O servidor que tiver de depor como testemunha
interrogatório do acusado, sendo notificado para tal fim. fora da sede de seu exercício, terá direito a transporte e
§ 1º A oitiva do denunciante deverá ser acompanhada pelo diárias na forma da legislação em vigor, podendo ainda ex-
advogado do acusado, próprio ou dativo. pedir-se precatória para esse efeito à autoridade do domicí-
§ 2º O acusado não assistirá à inquirição do denun- lio do depoente.
ciante; antes porém de ser interrogado, poderá ter ciência das § 4º São proibidas de depor as pessoas que, em razão
declarações que aquele houver prestado. de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar
segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada,
Art. 280. Não comparecendo o acusado, será, por despa- quiserem dar o seu testemunho.
cho, decretada sua revelia, prosseguindo-se nos demais atos
e termos do processo. Art. 286. A testemunha que morar em comarca diversa
poderá ser inquirida pela autoridade do lugar de sua resi-
Art. 281. Ao acusado revel será nomeado advogado da- dência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com
tivo. prazo razoável, intimada a defesa.
§ 1º Deverá constar da precatória a síntese da imputa-
Art. 282. O acusado poderá constituir advogado que o ção e os esclarecimentos pretendidos, bem como a adver-
representará em todos os atos e termos do processo. tência sobre a necessidade da presença de advogado.
§ 1º É faculdade do acusado tomar ciência ou assistir aos § 2º A expedição da precatória não suspenderá a ins-
atos e termos do processo, não sendo obrigatória qualquer trução do procedimento.
notificação. § 3º Findo o prazo marcado, o procedimento poderá
§ 2º O advogado será intimado por publicação no Diário prosseguir até final decisão; a todo tempo, a precatória, uma
Oficial do Estado, de que conste seu nome e número de inscri- vez devolvida, será juntada aos autos.
ção na Ordem dos Advogados do Brasil, bem como os dados
necessários à identificação do procedimento. Art. 287. As testemunhas arroladas pelo acusado
§ 3º Não tendo o acusado recursos financeiros ou negan- comparecerão à audiência designada independente de no-
do-se a constituir advogado, o presidente nomeará advogado tificação.
dativo. § 1º Deverá ser notificada a testemunha cujo depoi-
§ 4º O acusado poderá, a qualquer tempo, constituir ad- mento for relevante e que não comparecer espontanea-
vogado para prosseguir na sua defesa. mente.
§ 2º Se a testemunha não for localizada, a defesa po-
Art. 283. Comparecendo ou não o acusado ao interrogató- derá substituí-la, se quiser, levando na mesma data desig-
rio, inicia-se o prazo de 3 (três) dias para requerer a produ- nada para a audiência outra testemunha, independente de
ção de provas, ou apresentá-las. notificação.
§ 1º O presidente e cada acusado poderão arrolar até 5
(cinco) testemunhas. Art. 288. Em qualquer fase do processo, poderá o presi-
§ 2º A prova de antecedentes do acusado será feita exclu- dente, de ofício ou a requerimento da defesa, ordenar dili-
sivamente por documentos, até as alegações finais. gências que entenda convenientes.
§ 3º Até a data do interrogatório, será designada a au- § 1º As informações necessárias à instrução do processo
diência de instrução. serão solicitadas diretamente, sem observância de vincula-
ção hierárquica, mediante ofício, do qual cópia será juntada
Art. 284. Na audiência de instrução, serão ouvidas, pela aos autos.
ordem, as testemunhas arroladas pelo presidente e pelo acu- § 2º Sendo necessário o concurso de técnicos ou peritos
sado. oficiais, o presidente os requisitará, observados os impedi-
Parágrafo único. Tratando-se de servidor público, seu com- mentos do artigo 275.
parecimento poderá ser solicitado ao respectivo superior ime-
diato com as indicações necessárias. Art. 289. Durante a instrução, os autos do procedimento
administrativo permanecerão na repartição competente.
Art. 285. A testemunha não poderá eximir-se de de- § 1º Será concedida vista dos autos ao acusado, median-
por, salvo se for ascendente, descendente, cônjuge, ainda que te simples solicitação, sempre que não prejudicar o curso do
legalmente separado, companheiro, irmão, sogro e cunhado, procedimento.
pai, mãe ou filho adotivo do acusado, exceto quando não for § 2º A concessão de vista será obrigatória, no prazo para
possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do manifestação do acusado ou para apresentação de recursos,
fato e de suas circunstâncias. mediante publicação no Diário Oficial do Estado.

131
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º Não corre o prazo senão depois da publicação a que Art. 297. Quando escaparem à sua alçada as penalida-
se refere o parágrafo anterior e desde que os autos estejam des e providências que lhe parecerem cabíveis, a autorida-
efetivamente disponíveis para vista. de que determinou a instauração do processo administrativo
§ 4º Ao advogado é assegurado o direito de retirar os deverá propô-las, justificadamente, dentro do prazo para
autos da repartição, mediante recibo, durante o prazo para julgamento, à autoridade competente.
manifestação de seu representado, salvo na hipótese de pra-
zo comum, de processo sob regime de segredo de justiça ou Art. 298. A autoridade que proferir decisão determinará
quando existirem nos autos documentos originais de difícil os atos dela decorrentes e as providências necessárias a
restauração ou ocorrer circunstância relevante que justifique sua execução.
a permanência dos autos na repartição, reconhecida pela
autoridade em despacho motivado. Art. 299. As decisões serão sempre publicadas no Diário
Oficial do Estado, dentro do prazo de 8 (oito) dias, bem
Art. 290. Somente poderão ser indeferidos pelo presi- como averbadas no registro funcional do servidor.
dente, mediante decisão fundamentada, os requerimentos
Art. 300. Terão forma processual resumida, quando
de nenhum interesse para o esclarecimento do fato, bem
possível, todos os termos lavrados pelo secretário, quais
como as provas ilícitas, impertinentes, desnecessárias
sejam: autuação, juntada, conclusão, intimação, data de re-
ou protelatórias.
cebimento, bem como certidões e compromissos.
§ 1º Toda e qualquer juntada aos autos se fará na ordem
Art. 291. Quando, no curso do procedimento, surgirem cronológica da apresentação, rubricando o presidente as fo-
fatos novos imputáveis ao acusado, poderá ser promovi- lhas acrescidas.
da a instauração de novo procedimento para sua apura- § 2º Todos os atos ou decisões, cujo original não conste
ção, ou, caso conveniente, aditada a portaria, reabrindo-se do processo, nele deverão figurar por cópia.
oportunidade de defesa.
Art. 301. Constará sempre dos autos da sindicância ou
Art. 292. Encerrada a fase probatória, dar-se-á vista dos do processo a folha de serviço do indiciado.
autos à defesa, que poderá apresentar alegações finais, no
prazo de 7 (sete) dias. Art. 302. Quando ao funcionário se imputar crime, pra-
Parágrafo único. Não apresentadas no prazo as alega- ticado na esfera administrativa, a autoridade que determi-
ções finais, o presidente designará advogado dativo, assi- nou a instauração do processo administrativo providenciará
nando-lhe novo prazo. para que se instaure, simultaneamente, o inquérito policial.
Parágrafo único. Quando se tratar de crime praticado
Art. 293. O relatório deverá ser apresentado no prazo fora da esfera administrativa, a autoridade policial dará
de 10 (dez) dias, contados da apresentação das alegações ciência dele à autoridade administrativa.
finais.
§ 1º O relatório deverá descrever, em relação a cada Art. 303. As autoridades responsáveis pela condução do
acusado, separadamente, as irregularidades imputadas, as processo administrativo e do inquérito policial se auxiliarão
provas colhidas e as razões de defesa, propondo a absolvição para que os mesmos se concluam dentro dos prazos respec-
ou punição e indicando, nesse caso, a pena que entender tivos.
cabível.
§ 2º O relatório deverá conter, também, a sugestão de Art. 304. Quando o ato atribuído ao funcionário for con-
quaisquer outras providências de interesse do serviço públi- siderado criminoso, serão remetidas à autoridade compe-
tente cópias autenticadas das peças essenciais do processo.
co.
Art. 305. Não será declarada a nulidade de nenhum ato
Art. 294. Relatado, o processo será encaminhado à au-
processual que não houver influído na apuração da verdade
toridade que determinou sua instauração.
substancial ou diretamente na decisão do processo ou sin-
dicância.
Art. 295. Recebendo o processo relatado, a autoridade
que houver determinado sua instauração deverá, no prazo Art. 306. É defeso fornecer à imprensa ou a outros
de 20 (vinte) dias, proferir o julgamento ou determinar meios de divulgação notas sobre os atos processuais, salvo
a realização de diligência, sempre que necessária ao es- no interesse da Administração, a juízo do Secretário de Esta-
clarecimento de fatos. do ou do Procurador Geral do Estado.

Art. 296. Determinada a diligência, a autoridade encar- Art. 307. Decorridos 5 (cinco) anos de efetivo exercí-
regada do processo administrativo terá prazo de 15 (quinze) cio, contados do cumprimento da sanção disciplinar, sem
dias para seu cumprimento, abrindo vista à defesa para ma- cometimento de nova infração, não mais poderá aquela
nifestar-se em 5 (cinco) dias. ser considerada em prejuízo do infrator, inclusive para
efeito de reincidência.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único. A demissão e a demissão a bem do ser- CAPÍTULO VI


viço público acarretam a incompatibilidade para nova inves- Da Revisão
tidura em cargo, função ou emprego público, pelo prazo de 5
(cinco) e 10 (dez) anos, respectivamente. Art. 315. Admitir-se-á, a qualquer tempo, a revisão de
punição disciplinar de que não caiba mais recurso, se
CAPÍTULO IV surgirem fatos ou circunstâncias ainda não apreciados,
Do Processo por Abandono do Cargo ou Função e por ou vícios insanáveis de procedimento, que possam justifi-
Inassiduidade car redução ou anulação da pena aplicada.
§ 1º A simples alegação da injustiça da decisão não
Art. 308. Verificada a ocorrência de faltas ao serviço constitui fundamento do pedido.
que caracterizem abandono de cargo ou função, bem § 2º Não será admitida reiteração de pedido pelo mes-
como inassiduidade, o superior imediato comunicará mo fundamento.
§ 3º Os pedidos formulados em desacordo com este ar-
o fato à autoridade competente para determinar a ins-
tigo serão indeferidos.
tauração de processo disciplinar, instruindo a representação
§ 4º O ônus da prova cabe ao requerente.
com cópia da ficha funcional do servidor e atestados de fre-
quência. Art. 316. A pena imposta não poderá ser agravada
pela revisão.
Art. 309. Não será instaurado processo para apurar
abandono de cargo ou função, bem como inassiduidade, se Art. 317. A instauração de processo revisional poderá ser
o servidor tiver pedido exoneração. requerida fundamentadamente pelo interessado ou, se
falecido ou incapaz, por seu curador, cônjuge, compa-
Art. 310. Extingue-se o processo instaurado exclusi- nheiro, ascendente, descendente ou irmão, sempre por
vamente para apurar abandono de cargo ou função, bem intermédio de advogado.
como inassiduidade, se o indiciado pedir exoneração até a Parágrafo único. O pedido será instruído com as provas
data designada para o interrogatório, ou por ocasião que o requerente possuir ou com indicação daquelas que
deste. pretenda produzir.

Art. 311. A defesa só poderá versar sobre força maior, Art. 318. A autoridade que aplicou a penalidade, ou que
coação ilegal ou motivo legalmente justificável. a tiver confirmado em grau de recurso, será competente
para o exame da admissibilidade do pedido de revisão,
CAPÍTULO V bem como, caso deferido o processamento, para a sua deci-
Dos Recursos são final.

Art. 312. Caberá recurso, por uma única vez, da deci- Art. 319. Deferido o processamento da revisão, será
são que aplicar penalidade. este realizado por Procurador de Estado que não tenha
§ 1º O prazo para recorrer é de 30 (trinta) dias, conta- funcionado no procedimento disciplinar de que resultou a
dos da publicação da decisão impugnada no Diário Oficial punição do requerente.
do Estado ou da intimação pessoal do servidor, quando for
o caso. Art. 320. Recebido o pedido, o presidente providenciará
o apensamento dos autos originais e notificará o requerente
§ 2º Do recurso deverá constar, além do nome e quali-
para, no prazo de 8 (oito) dias, oferecer rol de testemunhas,
ficação do recorrente, a exposição das razões de incon-
ou requerer outras provas que pretenda produzir.
formismo.
Parágrafo único. No processamento da revisão serão ob-
§ 3º O recurso será apresentado à autoridade que apli- servadas as normas previstas nesta lei complementar para o
cou a pena, que terá o prazo de 10 (dez) dias para, moti- processo administrativo.
vadamente, manter sua decisão ou reformá-la.
§ 4º Mantida a decisão, ou reformada parcialmente, Art. 321. A decisão que julgar procedente a revisão po-
será imediatamente encaminhada a reexame pelo su- derá alterar a classificação da infração, absolver o punido,
perior hierárquico. modificar a pena ou anular o processo, restabelecendo os
§ 5º O recurso será apreciado pela autoridade compe- direitos atingidos pela decisão reformada.
tente ainda que incorretamente denominado ou endereçado. A revisão do processo consiste na possibilidade do ser-
vidor condenado requerer que sua condenação seja revista
Art. 313. Caberá pedido de reconsideração, que não se surgirem novos fatos ou circunstâncias que justifiquem
poderá ser renovado, de decisão tomada pelo Governador sua absolvição ou a aplicação de uma pena mais leve. Po-
do Estado em única instância, no prazo de 30 (trinta) dias. derá ser requerida ao ministro de Estado ou autoridade de
mesma hierarquia e será apensada ao processo adminis-
Art. 314. Os recursos de que trata esta lei complemen- trativo originário. O julgamento será feito pela mesma au-
tar não têm efeito suspensivo; os que forem providos darão toridade que aplicou a pena. Se apurado que na verdade
lugar às retificações necessárias, retroagindo seus efeitos à a pena deveria ser maior, não cabe agravar a situação do
data do ato punitivo. servidor.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Disposições Finais

Art. 322. O dia 28 de outubro será consagrado ao “Fun- 2.6.11 - LEI COMPLEMENTAR Nº 1.151/2011.
cionário Público Estadual”.

Art. 323. Os prazos previstos neste Estatuto serão todos


contados por dias corridos. Dispõe sobre a reestruturação das carreiras de policiais
Parágrafo único. Não se computará no prazo o dia civis, do Quadro da Secretaria da Segurança Pública, e dá
inicial, prorrogando-se o vencimento, que incidir em sá- providências correlatas
bado, domingo, feriado ou facultativo, para o primeiro dia
útil seguinte. Artigo 1º - As carreiras policiais civis, do Quadro da
Secretaria da Segurança Pública, de que trata a Lei Com-
Art. 324. As disposições deste Estatuto se aplicam aos plementar nº 494, de 24 de dezembro de 1986, alterada pela
extranumerários, exceto no que colidirem com a precarie- Lei Complementar nº 1.064, de 13 de novembro de 2008,
dade de sua situação no Serviço Público. ficam estruturadas, para efeito de escalonamento e pro-
moção, em quatro classes, dispostas hierarquicamente
Disposições Transitórias de acordo com o grau de complexidade das atribuições e
nível de responsabilidade.
Art. 325. Aplicam-se aos atuais funcionários interinos as
disposições deste Estatuto, salvo as que colidirem com a na- Artigo 2º - As carreiras policiais civis passam a ser com-
tureza precária de sua investidura e, em especial, as relativas postas pelo quantitativo de cargos fixados no Anexo I desta
a acesso, promoção, afastamentos, aposentadoria voluntária lei complementar, cujos ocupantes são distribuídos hierar-
e às licenças previstas nos itens VI, VII e IX do Art. 181. quicamente em ordem crescente na seguinte conformidade:
I - 3ª Classe;
Art. 326. Serão obrigatoriamente exonerados os ocu- II - 2ª Classe;
pantes interinos de cargos para cujo provimento for realiza- III - 1ª Classe;
do concurso. IV - Classe Especial.
Parágrafo único. As exonerações serão efetivadas dentro
de 30 (trinta) dias, após a homologação do concurso. Artigo 3º - O ingresso nas carreiras policiais civis, pre-
cedido de aprovação em concurso público de provas e títulos,
Art. 327. (Revogado).  dar-se-á na 3ª Classe, mediante nomeação em caráter
de estágio probatório, pelo exercício de 3 (três) anos de
Art. 328. Dentro de 120 (cento e vinte) dias proceder- efetivo exercício, obrigatoriamente em unidade territorial
-se-á ao levantamento geral das atuais funções gratifi- de polícia judiciária e da polícia técnico-científica, salvo au-
cadas, para efeito de implantação de novo sistema retribui- torização do Secretário da Segurança Pública, mediante re-
tório dos encargos por elas atendidos. presentação do Delegado Geral de Polícia.
Parágrafo único. Até a implantação do sistema de que
trata este artigo, continuarão em vigor as disposições legais Artigo 4º - Constituem exigências prévias para inscri-
referentes à função gratificada. ção no concurso público de ingresso nas carreiras policiais
civis ser portador de nível de escolaridade estabelecido
Art. 329. Ficam expressamente revogadas: para cada carreira no artigo 5º da Lei Complementar nº 494,
I - as disposições de leis gerais ou especiais que estabe- de 24 de dezembro de 1986, e no artigo 1º da Lei Comple-
leçam contagem de tempo em divergência com o disposto mentar nº 1.067, de 1º de dezembro de 2008.
no Capítulo XV do Título II, ressalvada, todavia, a contagem,
nos termos da legislação ora revogada, do tempo de serviço Artigo 5º - O concurso público a que se refere o artigo 3º
prestado anteriormente ao presente Estatuto; desta lei complementar será realizado em 5 (cinco) fases,
II - a Lei nº 1.309, de 29 de novembro de 1951 e as de- a saber:
mais disposições atinentes aos extranumerários; e I - prova preambular com questões de múltipla esco-
III - a Lei nº 2.576, de 14 de janeiro de 1954. lha;
II - prova escrita com questões dissertativas, quando
Art. 330. (Vetado). for o caso, a ser regulada em edital de concurso público;
III - comprovação de idoneidade e conduta escorreita,
Art. 331. Revogam-se as disposições em contrário. mediante investigação social;
IV - prova oral, obrigatória para todas as carreiras nas
Palácio dos Bandeirantes, aos 28 de outubro de 1968. quais seja exigido nível de ensino superior, e facultativa para
as demais, conforme deliberação do Conselho da Polícia Ci-
vil;
V - prova de títulos, quando for o caso, a ser regulada
em edital de concurso público.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º - As fases a que se referem os incisos I a IV deste § 6º - Cumpridos os requisitos para fins de estágio pro-
artigo serão sucessivas e de caráter eliminatório, e a do in- batório, o policial civil obterá estabilidade, mantido o
ciso V, de caráter classificatório. nível de ingresso na respectiva carreira.
§ 2º - A aplicação de fases de que trata o “caput” po-
derá ser descentralizada para os núcleos de ensino da Aca- Artigo 8º - Os vencimentos dos integrantes das carreiras
demia de Polícia, exceto aquela prevista no inciso IV deste policiais civis, de que trata o artigo 2º da Lei Complementar
artigo. nº 731, de 26 de outubro de 1993, alterado pelo artigo 2º
§ 3º - O edital de concurso estabelecerá o momento da Lei Complementar nº 1.064, de 13 de novembro de 2008,
em que o candidato deverá realizar exame de caráter psi- em decorrência de reclassificação, passam a ser fixados na
cotécnico. seguinte conformidade:
I - Anexos II e III desta lei complementar, a partir de 1º
Artigo 5º-A - Constitui requisito para fins de ingres- de julho de 2011;
so nas carreiras policiais civis, além das previstas na Lei II - Anexos IV e V desta lei complementar, a partir de 1º
Complementar nº 494, de 24 de dezembro de 1986, e na de agosto de 2012.
Lei Complementar nº 1.067, de 1º de dezembro de 2008, a
comprovação da capacidade física e mental. Artigo 9º - A evolução funcional dos integrantes das car-
reiras policiais civis dar-se-á por meio de promoção, que
Artigo 6º - O cargo de Superintendente da Polícia Téc- consiste na elevação à classe imediatamente superior da
nico-Científica, de provimento em comissão, será ocupado, respectiva carreira.
alternadamente, por integrante das carreiras de Médico
Legista e Perito Criminal, nos termos da lei. Artigo 10 - A promoção será processada pelo Conse-
lho da Polícia Civil, adotados os critérios de antiguida-
Artigo 7º - Os primeiros 3 (três) anos de efetivo exercí- de e merecimento, realizando-se, no mínimo, uma promo-
cio nos cargos das carreiras policiais civis de 3ª Classe, a que ção por semestre.
se refere o artigo 3º desta lei complementar, caracteriza-se § 1º - A evolução funcional até a 1ª Classe das carreiras
como estágio probatório. de policiais civis dar-se-á por quaisquer dos critérios esta-
§ 1º - Durante o período a que se refere o “caput” deste
belecidos neste artigo, e para a Classe Especial, somente
artigo, os integrantes das carreiras policiais civis serão ob-
por merecimento.
servados e avaliados, semestralmente, no mínimo, quanto
§ 2º - O processo de promoção a que se refere o “caput”
aos seguintes requisitos:
deste artigo instaura-se mediante Portaria do Presidente
1 - aprovação no curso de formação técnico-profis-
do Conselho da Polícia Civil.
sional;
Artigo 11 - A promoção de que trata o artigo 10 desta lei
2 - conduta ilibada, na vida pública e na vida priva-
complementar será processada na seguinte conformidade:
da, inclusive em período anterior ao início do exercício;
3 - aptidão, inclusive física e mental; I - alternadamente, em proporções iguais, por an-
4 - disciplina; tiguidade e por merecimento, da 3ª até a 1ª Classe, li-
5 - assiduidade; mitado o quantitativo de promoções ao número correspon-
6 - dedicação ao serviço; dente de vacâncias ocorridas em cada uma das classes das
7 - eficiência; respectivas carreiras, no período que antecede a abertura do
8 - responsabilidade. respectivo processo;
§ 2º - O curso de formação técnico-profissional, fase II - somente por merecimento, para a Classe Espe-
inicial do estágio probatório, a que se refere o item 1 do § 1º cial, limitado o quantitativo de promoções a um número
deste artigo, terá a duração mínima 3 (três) meses. que não ultrapasse o contingente estabelecido no Anexo VI
§ 3º - O policial civil será considerado aprovado no desta lei complementar, em atividade, na referida classe das
curso de formação técnico-profissional desde que obtenha respectivas carreiras.
nota mínima correspondente a 50% (cinquenta por cen- § 1º - O quantitativo de promoções a que se refere o
to) da pontuação máxima, em cada disciplina. inciso I deste artigo poderá ser acrescido em número cor-
§ 4º - Durante o período de estágio probatório, será respondente ao de promoções ocorridas dentro do próprio
exonerado, mediante procedimento administrativo, a qual- processo, inclusive aquelas ocorridas nos termos do artigo
quer tempo, o policial civil que não atender aos requisi- 22 desta lei complementar.
tos estabelecidos neste artigo, assegurados o contraditó- § 2º - Poderá concorrer à promoção o policial civil que,
rio e a ampla defesa. no período que anteceder a abertura do processo de pro-
§ 5º - Os demais critérios e procedimentos para fins moção:
do cumprimento do estágio probatório serão estabelecidos 1 - esteja em efetivo exercício na Secretaria da Seguran-
em decreto, mediante proposta do Secretário da Segu- ça Pública ou regularmente afastado para exercer cargo ou
rança Pública, ouvida a Secretaria de Gestão Pública, função de interesse estritamente policial;
no prazo máximo de 90 (noventa) dias a contar da data da 2 - tenha cumprido o interstício a que se refere o artigo
publicação desta lei complementar. 12 desta lei complementar.

135
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º - A promoção de que trata o “caput” deste artigo pro- 1 - conduta do candidato;


duzirá efeitos a partir da data da publicação do ato a que se 2 - assiduidade;
refere o artigo 23 desta lei complementar. 3 - eficiência;
4 - elaboração de trabalho técnico-científico de interesse
Artigo 12 - Poderá participar do processo de promoção policial.
de que trata o artigo 10 desta lei complementar o policial civil 5 - coordenação ou efetiva participação em seminários,
que tenha cumprido o interstício mínimo de: cursos, congressos, simpósios, oficinas e outros eventos reco-
I - 3 (três) anos de efetivo exercício na 3ª Classe; nhecidos, voltados ao aperfeiçoamento profissional.
II - 2 (dois) anos de efetivo exercício na 2ª e na 1ª Classe.
Artigo 16 - A promoção do policial civil da 1ª Classe
Artigo 13 - Interromper-se-á o interstício a que se refe- para a Classe Especial, até o limite previsto no inciso II do
re o artigo 12 desta lei complementar quando o policial civil artigo 11 desta lei complementar, deverá observar os seguin-
estiver afastado para ter exercício em cargo ou função de tes requisitos, além daqueles previstos no artigo 15 desta lei
natureza diversa da do cargo ou função que exerce, exceto complementar:
quando: I - o interstício de 20 (vinte) anos na respectiva carreira;
I - afastado nos termos dos artigos 78, 79 e 80 da Lei nº II - encontrar-se, no mínimo, dentre os dois terços mais
10.261, de 28 de outubro de 1968; antigos dos classificados na 1ª Classe.
II - afastado, sem prejuízo dos vencimentos, para participa-
ção em cursos, congressos ou demais certames afetos à sua área Artigo 17 - Para promoção por merecimento serão indi-
de atuação, pelo prazo máximo de 90 (noventa) dias; cados policiais civis em número equivalente ao quantita-
III - afastado nos termos do § 1º do artigo 125 da Consti- tivo de promoções fixado para cada classe da respectiva
tuição do Estado; carreira, mais dois.
IV - designado para função de direção, chefia ou encarre- § 1º - A votação será descoberta e única para cada indi-
gatura retribuída mediante gratificação “pro labore” a que se cação.
refere o artigo 7º da Lei Complementar nº 731, de 26 de outubro § 2º - O policial civil com maior número de votos será
de 1993, com alterações posteriores, e o artigo 5º da Lei Com- considerado indicado para promoção.
plementar nº 1.064, de 13 de novembro de 2008. § 3º - Ao Presidente do Conselho da Polícia Civil caberá
emitir o voto de qualidade, em caso de empate.
Artigo 14 - Na promoção por antiguidade, apurada pelo § 4º - Quando o quantitativo fixado para promoção for
tempo de efetivo exercício na classe, computado até a data que superior ao número de indicações possíveis, observar-se-á lis-
antecede a abertura do respectivo processo, o empate na clas- ta de antiguidade para a respectiva promoção.
sificação final resolver-se-á observada a seguinte ordem:
I - maior tempo de serviço na respectiva carreira; Artigo 18 - Ao policial civil indicado para promoção
II - maior tempo de serviço público estadual; pelo Conselho da Polícia Civil e não promovido, fica asse-
III - maior idade. gurado o direito de novas indicações, desde que não sobre-
venha punição administrativa.
Artigo 15 - A promoção por merecimento depende do Parágrafo único - O policial civil que figurar em três listas
preenchimento dos requisitos e de avaliação do merecimento. consecutivas de merecimento terá sua promoção assegurada,
§ 1º - Para fins de promoção a que se refere o “caput” deste por esse critério, no processo de promoção subsequente.
artigo, além do interstício de que trata o artigo 12 desta lei comple-
mentar, o policial civil deverá preencher os seguintes requisitos: Artigo 19 - As listas dos policiais civis indicados à pro-
1 - estar na primeira metade da lista de classificação em moção por antiguidade e merecimento, esta última disposta
sua respectiva classe, salvo o disposto no inciso II do artigo 16 em ordem alfabética, serão publicadas no Diário Oficial do
desta lei complementar; Estado, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, a partir da data
2 - estar em efetivo exercício na Secretaria da Segurança da portaria de instauração do respectivo processo.
Pública, ou regularmente afastado para exercer cargo ou função § 1º - Cabe reclamação, dentro do prazo de 5 (cinco) dias
de interesse estritamente policial; úteis a partir da publicação, dirigida ao Presidente do Con-
3 - não ter sofrido punição disciplinar na qual tenha sido selho, contra a classificação na lista de antiguidade ou não
imposta pena de: indicação na lista de merecimento.
a) advertência ou de repreensão, nos 12 (doze) meses an- § 2º - Findo o prazo, as reclamações serão distribuídas
teriores; mediante rotatividade entre os membros do Conselho da Po-
b) multa ou de suspensão, nos 24 (vinte e quatro) meses lícia Civil, que deverão emitir parecer no prazo improrrogável
anteriores. de 3 (três) dias úteis.
4 - haver concluído, com aproveitamento, curso específico mi- § 3º - Esgotado o prazo a que se refere o § 2º deste artigo,
nistrado pela Academia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra. as reclamações serão submetidas à deliberação do Conse-
§ 2º - O preenchimento dos requisitos deverá ser lho da Polícia Civil, que as decidirá no prazo improrrogável
apurado pelo Conselho da Polícia Civil até a data que de 3 (três) dias úteis.
antecede a abertura do processo de promoção. § 4º - A decisão e a alteração das listas, se houver, serão
§ 3º - A avaliação por merecimento será efetuada publicadas no Diário Oficial do Estado.
pelo Conselho da Polícia Civil e deverá observar, entre ou- § 5º - Não caberá qualquer recurso contra a nova clas-
tros, os seguintes critérios: sificação.

136
DIREITO ADMINISTRATIVO

Artigo 20 - O Presidente do Conselho da Polícia Civil enca- II - R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), para as carreiras
minhará as listas de promoção ao Secretário da Segurança de Investigador de Polícia, Escrivão de Polícia, Agente Poli-
Pública, que as transmitirá ao Governador, para efetivação cial, Carcereiro, Auxiliar de Papiloscopista Policial, Atenden-
da promoção dos classificados por antiguidade e por mereci- te de Necrotério Policial, Papiloscopista Policial, Desenhista
mento. Técnico-Pericial, Auxiliar de Necropsia, Agente de Telecomu-
nicações Policial e Fotógrafo Técnico-Pericial, quando o poli-
Artigo 21 - Os casos omissos serão objeto de delibera- cial civil prestar serviços em município com população igual
ção do Conselho da Polícia Civil. ou superior 500.000 (quinhentos mil) habitantes.”
Artigo 22 - Além da promoção prevista no artigo 10 desta Artigo 26 - Fica constituído grupo de trabalho integra-
lei complementar, o policial civil será promovido à classe do por representantes do Poder Executivo e Legislativo, com
superior, independente de limite, observados os seguintes a finalidade de avaliar as possibilidades de valorização
critérios:
das carreiras de Investigador de Polícia e Escrivão de
I - para a 2ª Classe da respectiva carreira, contar com
Polícia, considerando a Lei Complementar nº 1.067, de 1º
15 (quinze) anos de efetivo exercício na carreira, conside-
de dezembro de 2008, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
rado o tempo de estágio probatório;
II - para a 1ª Classe, se contar com 25 (vinte e cinco)
anos de efetivo exercício na carreira. Artigo 27 - Esta lei complementar e suas disposições
§ 1º - A promoção de que trata este artigo será realizada transitórias aplicam-se, no que couber, aos ocupantes
semestralmente, nos meses de março e setembro de cada ano, de funções-atividades, bem como aos inativos e pen-
e produzirá efeitos a partir da data subsequente ao implemen- sionistas.
to dos critérios estabelecidos nos incisos I e II deste artigo.
§ 2º - Caberá ao órgão setorial de recursos humanos Artigo 28 - As despesas decorrentes desta lei com-
apresentar a lista dos policiais civis com direito à promoção plementar correrão à conta das dotações próprias con-
de que trata este artigo, para homologação pelo Conselho da signadas no orçamento da Secretaria da Segurança Pú-
Polícia Civil. blica, suplementadas, se necessário, mediante utilização de
recursos nos termos do § 1º do artigo 43 da Lei federal nº
Artigo 23 - Atendidas as exigências previstas nesta lei com- 4.320, de 17 de março de 1964.
plementar, as promoções serão efetivadas por ato do Go-
vernador. Artigo 29 - Esta lei complementar e suas disposições
transitórias entram em vigor na data de sua publicação, re-
Artigo 24 - Na vacância, os cargos das carreiras poli- troagindo seus efeitos a 1º de julho de 2011, exceto o artigo
ciais civis de 2ª Classe a Classe Especial retornarão à 3ª 25, que retroage seus efeitos a 1º de março de 2010, ficando
Classe da respectiva carreira. revogados os artigos 5º a 14 da Lei Complementar nº 675,
de 5 de junho de 1992.
Artigo 25 - Os dispositivos adiante mencionados pas-
sam a vigorar com a seguinte redação: Disposições Transitórias
I - a alínea “a” do inciso II do artigo 3º da Lei Comple-
mentar nº 696, de 18 de novembro de 1992, alterado pela Lei Artigo 1º - Os atuais policiais civis de 4ª Classe terão
Complementar nº 1.114, de 26 de maio de 2010: seus cargos enquadrados na 3ª Classe da respectiva carreira,
“Artigo 3º - Os valores do Adicional de Local de Exercício
mantida a ordem de classificação.
ficam fixados na seguinte conformidade: [...]
§ 1º - O tempo de efetivo exercício no cargo de 4ª Clas-
II - para o Local II:
se será computado para efeito de estágio probatório a que
a) R$ 1.575,00 (mil, quinhentos e setenta e cinco reais),
para o Delegado Geral de Polícia, Superintendente da Polícia se refere o artigo 3º desta lei complementar.
Técnico-Científica e para as carreiras de Delegado de Polícia, § 2º - Os títulos dos servidores abrangidos por este
Médico Legista e Perito Criminal;” artigo serão apostilados pelas autoridades competentes.
II - os incisos I e II do artigo 4º da Lei Complementar nº
1.114, de 26 de maio de 2010: Artigo 2º - O provimento em cargos das carreiras de
“Artigo 4º - Quando a retribuição total mensal do policial policiais civis de candidatos aprovados em concursos públi-
civil for inferior aos valores fixados neste artigo, será concedi- cos de ingresso, em andamento ou encerrado, cujo prazo de
do abono complementar para que sua retribuição total mensal validade não tenha se expirado, dar-se-á em conformidade
corresponda a esses valores, na seguinte conformidade: com o disposto no artigo 3º desta lei complementar.
I - R$ 1.350,00 (mil, trezentos e cinquenta reais), para Parágrafo único - Os policiais civis que tenham concluí-
as carreiras de Investigador de Polícia, Escrivão de Polícia, do ou estejam frequentando o Curso Específico de Aperfei-
Agente Policial, Carcereiro, Auxiliar de Papiloscopista Poli- çoamento necessário à promoção de 3ª Classe para 2ª Clas-
cial, Atendente de Necrotério Policial, Papiloscopista Policial, se, e de 1ª Classe para a Classe Especial, terão preferência
Desenhista Técnico-Pericial, Auxiliar de Necropsia, Agente para concorrer ao primeiro processo de promoção que hou-
de Telecomunicações Policial e Fotógrafo Técnico-Pericial, ver após a aprovação desta lei complementar.
quando o policial civil prestar serviços em município com
população inferior a 500.000 (quinhentos mil) habitantes;

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Artigo 3º - O primeiro processo de promoção a que se refere o artigo 22 desta lei complementar observará os critérios
estabelecidos de tempo de efetivo exercício na classe e na respectiva carreira até a data que antecede a publicação desta lei
complementar.
Parágrafo único - As promoções a que se refere o “caput” deste artigo produzirão efeitos a partir da vigência desta lei
complementar.

Palácio dos Bandeirantes, 25 de outubro de 2011

- Anexo I com redação dada pela Lei Complementar nº 1.206, de 03/07/2013.


 

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DIREITO ADMINISTRATIVO

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DIREITO ADMINISTRATIVO

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DIREITO ADMINISTRATIVO

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DIREITO ADMINISTRATIVO

ANEXO VI
a que se refere o inciso II do artigo 11 da Lei Complementar nº 1.151, de 25/10/2011

142
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

3.1 Conceito, método, objeto e finalidade da Criminologia;................................................................................................................... 01


3.2 Teorias sociológicas da criminalidade;...................................................................................................................................................... 04
3.3 Vitimologia;.......................................................................................................................................................................................................... 05
3.4 O Estado Democrático de Direito e a prevenção da infração penal;............................................................................................ 09
3.5 Criminologia e o papel da Polícia Judiciária........................................................................................................................................... 10
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

3.3. A vítima:
3.1 CONCEITO, MÉTODO, OBJETO E A vítima é entendida como um sujeito capaz de influir
FINALIDADE DA CRIMINOLOGIA; significativamente no fato delituoso, em sua estrutura, di-
nâmica e prevenção;
Atitudes e propensão dos indivíduos para se converte-
rem em vítimas dos delitos;
Variáveis que intervêm nos processos de vitimização –
1. AS DIFERENTES ABORDAGENS DO CRIME cor, raça, sexo, condição social;
Direito Penal – Abordagem legal e normativa: crime é Situação da vítima em face do autor do delito, bem
toda conduta prevista na lei penal e somente aquela a que como do sistema legal e de seus agentes.
a lei penal impõe sanção.
Sociologia - Abordagem social: delito é a conduta des- 3.4. O Controle Social:
viada, sendo os critérios de referencia para aferir o desvio Controle Social: Conjunto de instituições, estratégias e
as expectativas sociais. Desviado será um comportamen- sanções sociais que pretendem promover à submissão dos
to concreto, na medida em que se afaste das expectativas indivíduos aos modelos e normas comunitárias.
sociais em um dado momento, enquanto contrarie os pa- Controle social formal: polícia, Judiciário, administra-
drões e modelos da maioria. ção penitenciária, etc.
Segurança Pública - Abordagem fática: o crime é a per- Controle social informal: família, escola, igreja, etc;
turbação da ordem pública e da paz social, demandando a
aplicação de coerção em algum grau. 4. MÉTODO:
Criminologia – Abordagem global: o crime é um pro- Empírico – observação da realidade.
blema social e comunitário. Não é mera responsabilidade
do sistema de justiça: ele surge na comunidade e é um pro- 5. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA:
blema da comunidade. Básica: informar a sociedade e os poderes públicos so-
bre o delito, o delinquente, a vítima e o controle social, re-
2. CONCEITO DE CRIMINOLOGIA unindo um núcleo de conhecimentos seguros que permita
Ciência que estuda o fenômeno e as causas da crimi- compreender cientificamente o problema criminal, preve-
nalidade, a personalidade do delinquente e sua conduta ni-lo e intervir com eficácia e de modo positivo no homem
delituosa, e a maneira de ressocializá-lo.” (Sutherland). delinquente.
Não é causalista com leis universais exatas;
Ciência empírica e interdisciplinar que se ocupa do es- Não é mera fonte de dados ou estatística;
tudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima, do controle Os dados são em si mesmos neutros e devem ser inter-
social e do comportamento delitivo, buscando informações pretados por teorias científicas;
sobre a gênese, a dinâmica e as variáveis do crime, a fim de É uma ciência prática preocupada com problemas e
embasar programas de prevenção criminal e técnicas de conflitos concretos, históricos;
intervenção positiva no homem delinquente (Gomes). Papel da criminologia: luta contra a criminalidade, con-
trole e prevenção do delito.
3. OBJETOS DA CRIMINOLOGIA: Não é de extirpação;
O crime, o criminoso, a vítima e o controle social. Considera os imperativos éticos;
Não é 100 % penal.
3.1. O Crime: Tríplice alcance da criminologia:
Incidência massiva na população; 1. explicação científica do fenômeno criminal;
Capacidade de causar dor e aflição; 2. prevenção do delito;
Persistência espaço–temporal; 3. intervenção no homem delinquente
Falta de consenso social sobre as causas e sobre técni- Prevenção do delito:
cas eficazes de intervenção; Ineficácia da prevenção penal – estigmatiza o infrator,
Consciência social generalizada a respeito de sua ne- acelera a sua carreira criminal e consolida o seu status de
gatividade desviado;
Maior complexidade dos mecanismos dissuasórios –
3.2. O criminoso: certeza e rapidez da aplicação da pena mais importante
Não é o pecador dos clássicos, não é o animal selva- que a gravidade desta.
gem dos positivistas, não é o “pobre coitado” dos correcio- Necessidade de intervenção de maior alcance: inter-
nalistas, nem a vítima da filosofia marxista; venções ambientais, melhoria das condições de vida, rein-
É o homem real do nosso tempo, que se submete às serção dos ex-reclusos.
leis ou pode não cumpri-las por razões que nem sempre
são compreendidas por outras pessoas. Fonte: https://criminologiafla.files.wordpress.
com/2007/08/criminologia-aula-1.doc

1
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

Cientificidade da Criminologia. A autonomia da Criminologia como ciência reside no


A Criminologia não é um ramo do conhecimento cien- fato de que apesar de outras ciências, como a sociologia, a
tífico simpático ao Poder, haja vista que o estudo sobre as antropologia, a medicina legal, a psicologia, terem também
raízes e motivação do delito poderá (e via de regra o fará) o ato humano delituoso por objeto, mas o têm acidental-
descortinar fatores criminógenos gerados pelo mau exercí- mente, enquanto a criminologia o tem como escopo prin-
cio do poder. Orlando Soares adverte para que: cipal de suas atividades investigatórias científicas.
“Os mestres burgueses conservadores são avessos, E Roque de Brito Alves é de extrema felicidade ao mos-
em geral, à discussão acerca das causas da criminalida- trar essa abordagem ao crime, ao criminoso, à criminalida-
de, pois, é claro, o debate em torno do assunto põe a nu de e à vítima, de peculiaridade extrema que torna a Crimi-
a natureza rapace e velhaca do sistema capitalista, que nologia verdadeiramente autônoma quanto a seu objetivo
se baseia fundamentalmente na exploração que as clas- de estudo:
ses economicamente fortes e politicamente dominan- “Não ficando restrita a Criminologia unicamente ao
tes exercem sobre as classes assalariadas. Alguns des- estudo das condutas típicas, puníveis por lei, legalmen-
ses mestres e teóricos a serviço dos capitalistas, quando te definidas como criminosas desde que tem como seu
não combatem abertamente as discussões criminológi- objeto também as condutas desviadas culturalmente,
cas, sobre as causas da criminalidade, procuram solapar anti-sociais, algumas destas podem ser consideradas
e ridicularizar os esforços científicos a respeito da ma- como verdadeiros ‘estados criminógenos’ que embora
não tipificados como crime são comportamentos ou
téria” (SOARES, Orlando. Curso de Criminologia. Rio de
modos de ser em um estilo de vida que podem con-
Janeiro: Forense, 2003. Pp. 63/64.)
duzir o indivíduo a delinquir como, p. ex, na vagabun-
Diz-se que uma ciência, para assim ser considerada,
dagem, na prostituição, vício da droga, etc. O que faz
necessita possuir objeto, método e uma finalidade. Pode-
com que, obviamente, o estudo criminológico possa
mos observar que a Criminologia os possui.
adquirir maior horizonte ou extensão ao não limitar-se
ou partir exclusivamente da noção jurídica do delito,
A) Objeto.
compreendendo outras condutas de grande importân-
Os contestadores da cientificidade da Criminologia
cia tanto para uma sua apreciação individual, pessoal,
afirmavam que ela padeceria de suposta carência de obje-
como social”.(ALVES, Roque de Brito. Op. Cit. P. 59).
to, pois o crime seria objeto do Direito penal, como ciên-
cia. Entretanto é de se atentar para que apesar da evidente B) Método.
inter-relação entre a ciência em estudo e o Direito Penal – Elemento caracterizador de todas as ciências, a utiliza-
pois este é quem define o que vem a ser o crime (conceito ção de métodos científicos, em realidade, não é exclusivo
relativo, pois é variável no tempo e no espaço, enquanto da ciência. Podemos concluir ser a metodologia, elemento
conduta particularizada)- ambos os ramos do conhecimen- essencial à cientificidade de determinado ramo da pesqui-
to científico dedicam a este mesmo objeto seus estudos sa, mesmo que não lhe seja exclusivo.
sob enfoques diferentes. Enquanto o Direito Penal, ciência A metodologia é um conjunto de meios já experimen-
normativa que o é, volta-se ao estudo deste objeto, en- tados na área de conhecimento humano, que facilita, orga-
quanto ente jurídico, como conduta indesejada, vedando- niza e universaliza o andamento das pesquisas e obtenção
-lhe a prática sob a ameaça da imposição de uma pena, a dos resultados.
Criminologia busca dissecar o delito, enquanto fenômeno Lakatos e Marconi conceituam o método, “in verbis”:
humano e social, investigando-lhe as causas e influências, “O método é o conjunto das atividades sistemáti-
sejam, endógenas (internas ao agente ativo), ou exógenas cas e racionais que, com maior segurança e economia,
(externas – sociais ou mesológicas). Observa-se assim, pos- permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e
suir, objeto próprio. Reforça ainda este ponto de vista, a verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, de-
observação e análise conjunturais e particularizadas que a tectando erros e auxiliando as decisões do cientista”.
Criminologia procede sobre a denominada tríade crimino- ( LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fun-
lógica: criminoso-crime-vítima. damentos de Metodologia Científica. 4a ed. rev. e amp. São
A Criminologia tem, assim, objeto comum com o Direi- Paulo: Atlas, 2001. P.83).
to Penal, e é com este, intimamente relacionada. O crime é Vitorino Prata Castelo Branco assim conceitua método,
o objeto de estudo de ambas as ciências, porém sob enfo- e posteriormente, expõe atualização do método em Crimi-
ques diversos. Enquanto o Direito Penal, por ser normativo, nologia:
cuida do delito, enquanto fenômeno jurídico, a Crimino- “Em geral, o método é o meio empregado, pelo
logia o estuda, sob o prisma fenomenológico humano e qual o pensamento humano procura encontrar a expli-
social. O relacionamento íntimo, no sentido de necessitar, cação de um fato, seja referente à natureza, ou ao ho-
a Criminologia, dos conceitos penais, está em que os con- mem, ou à sociedade.
ceitos de crime são relativos de país a país, de grupamento Só o método científico, isto é, sistematizado, por
social a grupamento social, e é variável no tempo, cabendo observações e experiências, comparadas e repetidas,
ao Direito definir os tipos delituosos concretos. pode alcançar a realidade procurada pelos pesquisa-
dores.

2
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

O campo das pesquisas será, na Criminologia, o fe- C) Finalidade.


nômeno do crime como ação humana, abrangendo as Como todo ramo do conhecimento científico, a Crimi-
forças biológicas, sociológicas e mesológicas que o in- nologia possui finalidade própria, qual seja, a debelação ou
duziram ao comportamento reprovável etc”. (CASTELO redução da criminalidade e a ressocialização do delinquen-
BRANCO, Vitorino Prata. Apud FERNANDES, Newton; FER- te. E busca atingir seus objetivos mediante o conhecimento
NANDES, Valter. Criminologia Integrada. 2a  ed. r ev., at. E das causas do delito, suas consequências, bem como das
amp. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais,2002.P.28). condições e eficácia da pena, fornecendo elementos hábeis
A Criminologia utiliza o método experimental, natura- ao Direito Penal, através da política Criminal. Observa-se
lístico e indutivo no concernente ao estudo do delinquente, que é de se acrescer a essa finalidade, a habilitação, me-
recorrendo a métodos estatísticos, históricos e sociológi- diante cabedal de conhecimento científico sobre o crime,
cos no que tange à busca de conhecimento das causas da seu autor e sua vítima, aos operadores do Direito Criminal.
criminalidade. Existem críticas contundentes à cientificidade da Cri-
O método indutivo passa pela fase da observação dos minologia, por se asseverar que, haja vista a relatividade
fenômenos, e sua respectiva análise com o intuito de cons- conceitual de crime.
tatar os fatores que ensejaram sua manifestação; posterior-
mente, busca-se identificar a relação entre eles, para que se Características da Criminologia.
possa, em conclusão, generalizar tal relação entre fenôme- A) É uma ciência interdisciplinar.
nos e fatos semelhantes, alguns até ainda inobservados ou Tendo objeto de estudo extremamente complexo, qual
mesmo inobserváveis. seja, o crime como um fato biopsicosocial, a Criminologia
Lakatos e Marconi, asseveram, com extrema clarividên- não se limita a um só domínio (área, terreno) científico. O
cia que: delito é estudado pela ciência criminológica, em sua rea-
“Indução é um processo mental por intermédio do lidade fenomenológica, ou seja como um fenômeno real,
qual, partindo de dados particulares, suficientemente em sua realidade fática. Como fato humano que o é, a con-
constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, duta tida como antisocial, é determinada por uma plêia-
não contida nas partes examinadas. Portanto, o objeti- de imensa de fatores, sejam eles internos (endógenos) ou
vo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo
externos ao ser humano (exógenos), sejam eles, emoções,
conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas
fatores atávicos geneticamente determinados, desvios de
nas quais se basearam”. (LAKATOS, Eva Maria; MARCONI,
conduta, neuroses, desvios edocrinológicos, psicológicos,
Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científi-
psiquiátricos, sócio-econômicos, climáticos, etc., que inte-
ca. 4a ed. rev. e amp. São Paulo: Atlas, 2001. P.86).
ragem, culminando com a eclosão do ato objeto de estudo.
Assim, no método indutivo, inicia-se do conhecimento
Cada um desses fatores motivadores do ato estudado, ob-
de partes contidas para concluir por uma concepção do
servado em sua pureza e independência fenomenológica
todo, enquanto no método dedutivo, conhece-se a regra
geral, e do todo, busca-se concluir sobre as partes contidas. é afeito ao domínio de determinada ciência, daí porque se
O criminologista alemão Seelig apresenta uma plêia- asseverar ser uma das características da Criminologia, seu
de de meios de pesquisa criminológica: a) a percepção aspecto interdisciplinar, ou interdisciplinar, haja vista neces-
direta do fato criminoso; b) observações sobre o local do sitar recorrer aos conceitos e conclusões de estudo (assim
delito; c) exames e perícias sobre instrumentos de crime como recorrera ao instrumental metodológico) de outras
e seus produtos; d) exame biocriminológico do crimino- ciências, como a biologia, medicina, direito, sociologia, psi-
so (exame direto do delinquente); e) exame paralelo dos cologia, antropologia, etc.
não-delinquentes, na medida do possível realizado sobre Mas aliás, essa interdisciplinaridade é uma das carac-
grupos humanos semelhantes aos grupos de criminosos terísticas marcantes do panorama científico da atualidade.
para o estabelecimento de comparações; f) pesquisas ge- Manzanera é de clarividência extrema ao delinear este qua-
nealógicas sobre as famílias dos delinquentes, buscando- dro de inter-relacionamento das ciências, na atualidade:
-se a criminalidade de ascendentes, de colaterais e de des- “Actualmente la investigación científica, para con-
cendentes, suas anomalias psíquicas ou particularidades siderarse como tal, necesita ser interdisciplinaria, o al
sociais ou caracterológicas; g) exame dos casos criminais menos multidisciplinaria. La Medicina es poco eficaz si
com base nos “dossiês” criminais existentes nas instituições no se auxilia de la Psicología y de la Sociología; la So-
policiais e judiciais; h) análise dos noticiários da imprensa; ciología no funciona adecuadamente si no se apoya en
i) comentários de especialistas em direito penal ou pessoas la Psicología y en el Derecho; el Derecho es obsoleto si
com experiência criminológica (as auto-biografias dos de- no respeta la relidad social y psicológica; es decir, ac-
linquentes, seus diários, memórias, cartas, etc); k) estuda da tualmente para haver cualquier trabajo serio, principal-
prova indireta-circunstancial, e especialmente a análise dos mente en Ciencias Sociales, se tiene que trabajar inter-
erros judiciários; l) os testes psicológicos – de inteligência, disciplinariamente.(…) El Criminólogo es un científico
de afetividade, de projeção da personalidade, etc.- como que, como la mayoria de los hombres de ciencia mo-
método experimental muito utilizado na psicologia apli- dernos, debe trabajar en forma interdisciplinar. Pero no
cada, o que poderia ser aplicado até nas testemunhas do debe confundirse la interdisciplina con la simple multi-
fato delituoso; além de pesquisas estatísticas, na área da disciplia, ya que, mientras la primera significa la intima
penologia.. (SEELIG, E. Apud ALVES, Roque de Brito. Crimi- relación, las entrechas coexiones, la interdependencia,
nologia. Rio de Janeiro: Forense, 1.986.  P.73. la segunda es tan sólo la adición, el acopio de diversas

3
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

disciplinas. Multidisciplinar designa solamente la parti- Ainda na mesma obra, Platão descreveu a pena como
cipación de muchas disciplinas, mientras que la sílaba um remédio, capaz de curar o delinquente. No entanto,
inter expressa, entre otras cosas, una cierta coordena- apontou a chamada “pena de morte” como à sanção ideal
ción o incluso integración. Una investigación interdis- para os resistentes ou irrecuperáveis ao tratamento penal.
ciplinar significaría un grado de integración superior al Guiado pela mesma linha de raciocínio, Aristóteles (384
de un multidisciplinar”.  (MANZANERA, Luiz Rodriguez. a.C – 322 a.C), na obra “Ética a Nicómaco”, descreveu o cri-
Apud ALVES, Roque de Brito. Criminologia. Rio de Janeiro: minoso como um inimigo da sociedade, que deveria ser
Forense, 1.986. Pp. 62/63). castigado. Aristóteles via na política o principal fator deter-
No caso da Criminologia, nota-se essa integração in- minante do crime, pois ela atribuía grandes desigualdades
vestigatória com outras áreas científicas acerca do mesmo e miséria o que gerava a revolta.
objeto, o crime, recorrendo-se a conceitos, instrumen-  
tal metodológico, princípios de outras ciências, do mes- 2 O Iluminismo, Humanitarismo, Liberalismo Bur-
mo modo que elas necessitam e recorrem a princípios e guês ou “Filosofia das Luzes”
conceitos criminológicos. É por esse inter-relacionamento Após a Idade Média a Europa vivenciou um período
científico que se diz ser, a Criminologia, uma ciência inter- de terror, onde o tiranismo, autocratismo e o arbitrarismo
disciplinar. dos reis dominavam o Estado. Assim muitos inocentes fo-
B) É uma ciência causal-explicativa. ram cruelmente condenados e castigados, enquanto mui-
Ao contrário do Direito, que é uma ciência do ideal, tos culpados ficaram impunes. As execuções dos culpados
a Criminologia, em se tratando de uma ciência do “ser”, aconteciam da seguinte forma, segundo ensinamentos de
analisa o delito como fato humano e social normal, bus- Farias Júnior (1993, p. 25):
cando-lhe as causas e estudando-as, bem como procuran- As execuções tinham que seguir um ritual de teatralis-
do obter o conhecimento e respectiva explicação acerca da mo e de ostentação do condenado à execração e a irrisão
personalidade do criminoso. Tem feições etiológicas, visto pública, as carnes eram cortadas e queimadas com líquidos
que ao estudar a conduta seu objeto, busca seu porquê. ferventes, os membros eram quebrados ou arrebentados
C) Considera-se uma ciência auxiliar do Direito Penal na roda, ou separados do corpo através de tração de ca-
Ao estudar as motivações do crime e da criminalidade, valos, o ventre era aberto para que as vísceras ficassem à
bem como a personalidade do delinquente, e ainda bus- mostra. Todos deveriam assistir as cenas horripilantes. O
cando o domínio sobre as condições de cumprimento de
gritar, o gemer, as carnes cortadas e queimadas, a expres-
pena e ressocialização do egresso, propicia ao Direito Penal
são de dor, enfim, todas as cenas horríveis deveriam ficar
o conhecimento naturalístico sobre seu objeto de estudo,
vivas na memória de todos.
viabilizando a sólida normatização do ideal buscado pelas
Por volta dos séculos XVII e XVIII na Europa, houve
normas criminais.
grande crescimento da burguesia, classe que detinha o
D) É ciência de característica natural e humana, bem
comando do desenvolvimento do capitalismo da época. A
como social.
brutalidade do rei e a crueldade com que os condenados
Ao contrário do Direito que pode ser considerado
como uma ciência ideal (objetiva ideais), estuda o delito eram castigados não agradavam os burgueses o que cau-
em sua realidade fenomênica, empiricamente, conforme sou conflitos entre os burgueses e a nobreza. Tais conflitos
efetivamente o é. originaram o iluminismo.
E) Possui conteúdo múltiplo (tríplice conteúdo). Os principais pensadores iluministas originalmente fo-
- Fenomenologia criminal (descrição do crime). ram:
- Etiologia criminal (estudo das causas). O filósofo inglês John Locke (1632 – 1704) considera-
- Dinâmica criminal (“processus”, manifestação ou ex- do o pai do iluminismo, que escreveu o livro “Ensaio So-
teriorização do delito). bre o Entendimento Humano”. O jurista francês Charles de
Fonte: http://www.idecrim.com.br/index.php/artigos/ Montesquieu (1689 – 1755), que escreveu “O Espírito das
128-estudo-da-criminologia-aula-02 Leis”, onde defendeu a separação dos três poderes do Es-
tado. François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire
(1694 – 1778), filósofo francês que críticava o extremismo
3.2 TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA religioso, o clero católico e os detentores do poder da épo-
CRIMINALIDADE; ca, escritor do livro “Ensaio Sobre os Costumes”. Jean-Jac-
ques Rousseau (1712 – 1778), também filósofo francês, foi
um defensor assíduo da burguesia e um grande inspira-
dor das ideias da revolução francesa, escreveu vários livros
1 Introdução dentre eles “O Contrato Social” e “Discurso Sobre a Origem
As causas do crime sempre foram objeto de estudo da Desigualdade Entre os Homens”. E os filósofos france-
para diversos pensadores. ses Denis Diderot (1713 – 1784), e Jean Le Rond D.Alem-
Platão (428-7 a.C. – 348-7 a.C) sem dúvida foi um deles bert(1717 – 1783) elaboraram juntos a “Enciclopédia ou
e, no livro “As Leis”, descreveu o crime como uma doen- Dicionário Racional das ciências, das Artes e dos Ofícios”,
ça, com causas de natureza tríplice, quais sejam: as paixões composta de 33 volumes publicados, pretendia reunir todo
(inveja, ciúme, ambição, cólera, etc.), a procura do prazer e o conhecimento humano disponível, que se tornou o prin-
por último a ignorância. cipal vínculo de divulgação de suas ideias naquela época.

4
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

Por sua vez, Della Porta (1535 – 1616) autor da obra “A A fisionomia e a frenologia da Escola Clássica foram
Fisionomia Humana”, após observar através do estudo de abordadas pelo suíço Johann Kaspar Lavater (1741 – 1801),
cadáveres de vários criminosos concluiu, que através dos guiou seus estudos nas obras do italiano Della Porta, preo-
dados fisionômicos de uma pessoa pode-se deduzir seus cupou-se com a aparência externa do individuo, ou seja, en-
caracteres psíquicos. tre o corpo e o psíquico. Tanto Lavater quanto Della Porta
  adotaram a seguinte teoria, “quando se tem duvida entre
3 Cesare Bonesana, Marquês De Beccaria dois presumidos culpados, condena-se o mais feio”.
Não obstante a todos esses pensadores que defendiam Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 179), Lavater sustentava
a ideia de que o homem deveria conhecer a justiça. É evi- que:
dente que o iluminismo ganhou força no ano de 1764 com [...] existe uma correlação entre determinadas qualidades
a publicação da obra “Dei Delitti e Delle Pene” do italiano do individuo e os órgãos ou partes do corpo nas quais se
supõe que têm sua sede e concentração física e as corres-
Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria (1738 – 1794). Se-
pondentes potências humanas. A vida intelectual podia ser
gundo Dias e Andrade (1997, p. 08), Beccaria fundamentou:
observada na fronte (testa); a moral e sensitiva nos olhos e
[...] legitimidade do direito de punir, bem como definir no nariz; a animal e vegetativa no mento (maxilar inferior).
os critérios da sua utilidade, a partir do postulado contra- De acordo com Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 179),
tual. Serão ilegítimas todas as penas que não revelem da Lavater defendia que o delinquente “de maldade natural” se
salvaguarda do contrato social (sc., da tutela de interesses diferenciava das demais pessoas por características físicas tais
de terceiros) e inúteis todas as que não sejam adequadas como:
a obviar às suas violações futuras, em particular as que se [...] nariz oblíquo em relação com o rosto, que é disfor-
revelem ineficazes do ponto de vista da prevenção geral. me, pequeno e amarelo; não tem a barba pontiaguda; olhos
Seguindo os mesmos autores, Dias e Andrade (1997, p. grandes e ferozes, brilhantes sempre iracundos (coléricos),
09), Beccaria defendeu ainda que: as pálpebras abertas, ao redor dos olhos pequenas man-
O homem atua movido pela procura do prazer, assim chas amarelas e, dentro, pequenos grãos de sangue brilhan-
sendo, as penas devem ser previstas de modo a anularem te como o fogo, envolvidos por outros brancos, círculos de
as gratificações ligadas a pratica do crime. Em conexão com um vermelho sombrio rodeiam a pupila, olhos brilhantes e
isto, sustentou Beccaria a necessidade, como pressuposto pérfidos e uma lagrima colocada nos ângulos inferiores; as
da sua eficácia preventiva, de que as sanções criminais fos- sobrancelhas rudes, as pálpebras direitas, a mirada feroz e às
sem certas e de aplicação imediata. vezes atravessada.
  Apesar da grande contribuição da Escola Clássica para
a criminologia, essa apresentava falhas por não indagar as
4 Escola Clássica ou Iusnaturalismo
“causas” do comportamento criminoso. Eis que para ela a
A denominação “Escola Clássica” foi dada pelos criado-
principal origem do delito era a livre decisão de seu autor
res da Escola Positivista. em cometê-lo.
A Escola Clássica se difundiu por toda a Europa atra-  
vés de escritores, pensadores e filósofos que adotaram as 5 Escola Positiva ou Escola Italiana
teses e ideias de Beccaria. Os principais escritores dessa No século XIX notou-se a falência das ideias Iluministas
corrente doutrinaria foram: Gian Domenico Romagnosi tanto pelo crescente aumento da criminalidade e diversidade
(1761 – 1835) na Itália, Jeremias Bentham (1748 – 1832) na de crimes que se criaram quanto pelas altas taxas de reinci-
Inglaterra e na Alemanha Paul Johann Anselm Ritter Von dência.
Feuerbach (1775 – 1833) na Alemanha. A partir destes au- Assim ano de 1876, foi publicada a primeira edição do
tores vários outros escreveram sobre o crime no âmbito da livro “L’Uomo delinquente” escrita pelo médico italiano Cesare
Escola Clássica. Lombroso (1835 – 1909), dando inicio assim, a Escola Positiva
Italiana. Lombroso teve como discípulos Enrico Ferri (1856 –
Segundo Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 176), os auto- 1929) e Rafael Garófalo (1851 – 1934) que foram de funda-
res do iusnaturalismoidealizavam o crime: mental importância para os estudos da criminologia.
[...] fato individual, isolado, como mera infração à lei: É evidente que os três escreveram sobre a criminologia.
é a contradição com a norma jurídica que dá sentido ao No entanto, é interessante ressaltar que cada um deles estu-
delito, sem que seja necessariamente uma referencia à per- dou a criminologia de uma óptica diferente. Sendo que Lom-
broso atribuiu à criminologia o fator antropológico, Ferri por
sonalidade do autor (mero sujeito ativo do fato) ou à sua
sua vez, atribuiu a criminologia as condições sociológicas do
realidade social, para compreendê-lo. O decisivo é o fato
criminoso, ao passo que Garófalo atribuiu a criminologia o
não o autor. A determinação sempre justa da lei, igual para fator psicológico.
todos e acertada, é infringida pelo delinquente em uma  
decisão livre e soberana. 5.1 A Antropologia de Cesare Lombroso
No que diz respeito à pena a Escola Clássica apresenta- Além do livro “L’Uomo delinquente” Lombroso escreveu
va três teorias. Absoluta: que via a pena como exigência de outros tantos sobre esse tema, entre eles “La Donna delin-
justiça. Relativa: que lhe apontava um fim pratico de pre- quente, la prostituta e la donna normale” (1859), “Genio e
venção geral e especial. E por fim, a mista, que resultava da degenerazione” (1908) e “Crime: It’s Causes and Remedies”
fusão das duas primeiras. (1913).

5
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

A principal tese da teoria de Lombroso foi sem sombra 5.2 A Sociologia Criminal de Erico Ferri
de duvidas a do criminoso atávico, que havia sido criada Ferri se sobressaiu nos estudos sobre criminologia
anteriormente por Charles Robert Darwin (1809 – 1882) e através dos fatores sociológicos.
foi por ele desenvolvida e ampliada. O criminoso atávico Ao contrário do que defendia Lombroso, não acredita-
(nato), para Lombroso seria um homem menos civiliza- va que o delito era produto exclusivo de patologias indivi-
do que os demais membros da sociedade em que vive, duais. Entendia que a criminalidade originava-se de fenô-
sendo representado por um enorme anacronismo, ou menos sociais. Assim defendeu as causas do crime como
seja, esses indivíduos reproduzem física e mentalmente sendo individuais ou antropológicas (constituição orgânica
características primitivas do homem. Essas deduções ba- e psíquica do individuo, características pessoais como raça,
searam-se em pressupostos de que os comportamentos idade, sexo, estado civil, etc.) físicas ou naturais (clima, es-
humanos são biologicamente determinados. tação, temperatura, etc.) e sociais (opinião pública, família,
Assim, sendo o atavismo tanto físico quanto mental, moral, religião, educação, alcoolismo, etc.).
poder-se ia identificar, valendo-se de sinais anatômicos, Segundo Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 196):
aqueles indivíduos que estariam hereditariamente desti- [...] o cientista poderia antecipar o numero exato de
nados ao crime. Ainda, reduziu o crime a um fenômeno delitos, e a classe deles, em uma determinada sociedade e
natural, pois considerava o criminoso como um indivíduo em um número concreto, se contasse com todos os fatores
primitivo e doente. Dessa forma ele rejeitava uma defini- individuais, físicos e sociais antes citados e fosse capaz de
ção estritamente legal a respeito do criminoso. quantificar a incidência de cada um deles. Porque, sob tais
Para suas deduções sobre o criminoso examinava o premissas, não se comete um delito mais nem menos (lei
crânio de criminosos conhecidos, onde costumava en- da “saturação criminal”).
contrar, conforme ensinado por Garcia; Molina; Gomes Ferri defendia também, a teoria dos “substitutivos pe-
(2002, p.193): nais”, pois para ele a pena, por si só, seria ineficaz, se não
[…] uma grande série de anomalias atávicas, sobre- viesse precedida ou acompanhada das oportunas refor-
tudo uma enorme fosseta occipital média e uma hiper- mas econômicas, sociais, etc., orientadas por uma analise
trofia do lóbulo cerebeloso mediano (vermis), análoga cientifica e etimológica do delito. Para ele os pilares dessa
à que se encontra nos vertebrados inferiores”. E baseou reforma seriam a Psicologia Positiva (defendida por Garó-
o “atavismo” ou caráter regressivo do tipo criminoso no falo), a Antropologia Criminal (apontada por Lombroso) e
exame do comportamento de certos animais e plantas, a Estatística Social.
no de tribos primitivas e selvagens de civilizações indíge- Quanto à tipologia, Ferri acreditava na existência de
nas e, inclusive, em certas atitudes da psicologia infantil seis categorias de delinquentes: nato, louco, habitual, oca-
profunda. De acordo com o seu ponto de vista, o de- sional, passional e involuntário ou imprudente. Mas apesar
linquente padece uma serie de estigmas degenerativos das tipologias, acreditava na combinação da vida cotidiana
comportamentais, psicológicos e sociais (fronte esquiva e nas características de diferentes tipos em uma mesma
e baixa, grande desenvolvimento dos arcos supraciliais, pessoa.
assimetrias cranianas, fusão dos ossos atlas e occipital, Sustentou ainda, a tese da pena indeterminada e da
grande desenvolvimento das maças do rosto, orelhas em indenização da vítima como medida de caráter penal.
forma de asas, tubérculos de Darwin, uso frequente de O marco em sua carreira foi à publicação do livro “So-
tatuagens, notável insensibilidade à dor, instabilidade ciologia Criminale” (1892).
afetiva, uso frequente de um determinado jargão, altos
índices de reincidência, etc.).  5.3 A Psicologia Positiva de Rafael Garófalo
Do ponto de vista tipológico defendeu a classificação Por sua vez, Garófalo foi o primeiro autor da Escola
do criminoso em seis categorias: criminoso nato (atávi- Positiva, a utilizar a denominação “Criminologia”, tal nome
co), louco moral (doente), epilético, ocasional, passional, foi dado ao livro “Criminologia” publicado no ano de 1885.
e louco. Além deste, Garófalo escreveu outros de importância se-
Lombroso ainda fazia uma inter-relação entre a crimi- melhante, tais como: “Ripparazione e vittime Del delitto”
nalidade atávica, loucura moral e epilepsia, que segundo (1887) e “La supertition socialiste” (1895).
Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 193): Em suas obras preocupava-se com a definição psicoló-
[...] o criminoso nato é um ser inferior, atávico, que gica do crime, eis que defendia a teoria do “crime natural”,
não evolucionou, igual a uma criança ou a um louco mo- para definir os comportamentos que afrontam os senti-
ral, que ainda necessita de uma abertura ao mundo dos mentos básicos e universais de piedade e probidade em
valores; é um individuo que, ademais, sofre alguma forma uma sociedade. Para ele a ausência desses sentimentos no
de epilepsia, com suas correspondentes lesões cerebrais. delinquente o conduziriam ao crime.
Lombroso buscava, entre outras coisas, estabelecer Segundo Dias e Andrade (1997, p. 17):
uma divisão entre o “bom” e o “mau” cidadão, buscando A sua obra ficou assinalada pela tentativa de definição
nos maus patologias, para justificar a pena como meio de dum conceito <<sociológico>> de crime, capaz de satisfa-
defesa da sociedade. zer as exigências de universalidade que a criminologia de-
  veria respeitar para justificar o qualificativo de crime.

6
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

Garófalo acreditava ainda, que o criminoso tinha um O objetivo etnometodológico é entrar no cotidiano
déficit na esfera moral da personalidade, de base endóge- dos participantes de determinada sociedade e descobrir as
na, e uma mutação psíquica, transmissível hereditariamen- regras e os rituais que eles assumem como garantidos para
te e com conotações atávicas e degenerativas. se assegurar.
Com relação à tipologia, definiu quatro categorias de A criminologia radical, por sua vez, apresentou um de-
delinquentes: o assassino, o criminoso violento, o ladrão e senvolvimento das premissas do interacionalismo em um
o lascivo. Entendia que as penas deveriam servir como cas- sentido oposto ao da etnometodologia, eis que critica sis-
tigos e ter como referência as características particulares de tematicamente tanto o interacionalismo como a própria et-
cada criminoso. nometodologia. Nesse sentido Dias e Andrade (1997, p. 27)
  observam que:
5.4 A Sociologia Criminal ou Escola Franco-Belga As normas penais passaram a serem vistas dentro de
No século XIX em Bruxelas (1892) no 3º Congresso In- perspectivas de pluralismo axiológico/conflito, como expres-
ternacional de Antropologia Criminal, que ocorreu o dese- são do domino de um grupo ou classe. Em resumo, o direito
quilíbrio da Escola Positiva e começou a se consolidar a So- criminal passa agora a ser encarado como um instrumento
ciologia Criminal. Os principais estudiosos dessa nova linha nas mãos de moral entrepreneurs ou serviço dos interesses
de estudos a respeito da criminologia foram: Alexandre La- dos detentores do poder.
A criminologia nova ou crítica, de modo sistemático e
cassagne  (1843 a  1924), Émile  Durkheim  (1858 a  1917) e
original, confronta as aquisições das teorias sociológicas so-
Lambert Adolphe Jacques Quetelet (1796 a 1874).
bre crime e controle social com os princípios da ideologia e
A sociologia criminal baseia-se nos estudos do am-
da defesa social.
biente (miséria, ambiente moral e material, a educação, a
Como se observa a criminologia crítica apresentou uma
família, etc.), para a caracterização do criminoso e assim do mudança de foco do autor de crime para o contexto social no
crime. A partir da concepção de que o ambiente é um fa- qual ele se insere propenso às relações de poder de ordem
tor determinante da criminalidade, começou a aplicar-se e macro e microssocial, à estigmatização e ao etiquetamento, à
desenvolverem os métodos e os instrumentos próprios da reação social e à criminalização anterior e posterior ao delito.
sociologia criminal, nomeados métodos clássicos a recolha  
e interpretação de dados estatísticos. 2.7 A Criminologia no Brasil
No fim do século XIX iniciou-se a Criminologia Socia- Foi nas ultimas décadas do século XIX que a criminologia
lista, que entendia como explicação do crime como egoís- começa a ganhar força no Brasil. Sendo João Vieira de Araújo
mo, que nasce a partir da natureza da sociedade capitalista. (1844 – 1922) o maior recepcionador no país das ideias sobre
Para esses autores, o desaparecimento ou redução siste- criminologia expostas pelo médico italiano Cesare Lombroso.
mática do crime aconteceria a partir do momento em que No entanto, Tobias Barreto (1839 – 1889), foi o primeiro
fosse instaurado o socialismo. Dias e Andrade (1997, p. 27) crítico brasileiro de Cesare Lombroso, pois segundo ele pe-
salientam que: los princípios dados por Lombroso, seria preciso recolher ao
A representação do capitalismo como um sistema vi- hospital a humanidade inteira. Segundo Lyra e Araújo Júnior
rado para a obtenção do lucro e a competição, propício (1990, p. 80), Barreto escreveu sobre o criminoso:
ao exacerbamento do egoísmo e hostil ao florescimento O criminoso é fato natural sujeito a outras leis que não
dos sentimentos de altruísmo e solidariedade. O capitalis- as leis de liberdade e o homem é todo feito à imagem, não
mo tornaria, por isso, os homens mais individualistas e << de Deus, porém da natureza. Pregou a reforma do homem
mais propensos à prática do crime>>. pelo homem mesmo, acrescentando que “não se corrige o
  homem, matando-o ou aviltando”.
6 Criminologia Nova ou Criminologia Crítica Silvio Romero (1851 – 1914), por sua vez estudou os ti-
No ano de 1960 ocorreu a mais arrebatadora virada pos étnicos, os caracteres das coletividades, a alma dos gru-
no estudo da criminologia. Esses estudos surgiram de um pos, as índoles individuais, moldadas nos vícios ambientais,
conjunto de perspectivas, tais como: o  labeling  approa- e os vincos deixados nos espíritos pela atmosfera social. Se-
gundo Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 84), Romero definia o
ch(perspectiva interacionalista), a etnometodologia e a cri-
bem como:
minologia racial.
O bem é uma flor do cérebro do próprio homem; a fisio-
O  labeling  approach  reporta-se ao delinquente ou
logia é a alma da psicologia; o homem tem afeição do meio
até mesmo ao crime propriamente dito e ao sistema de
que habita pela irania dos fatos exteriores; há uma espécie de
controle. Essa linha de raciocínio se pergunta: por que de- paralisia moral ou intelectual determinada pela ignorância, os
terminadas pessoas são tratadas como criminosos, quais criminosos saem das prisões três vezes piores; assim como há
as consequências desse tratamento e qual a fonte de sua ideias com a cor da bílis, existem atos com a cor do sangue; o
legitimidade. Essa perspectiva sofre a influencia do intera- homem é o que ele come.
cionalismo simbólico, ou seja, de que o delinquente apenas Já Clóvis Beviláqua (1859 – 1944), publicou no ano
se difere do homem normal pela estigmatização que sofre. de  1896 a  primeira obra sobre criminologia, denominada
O labeling approach ainda, rejeita o pensamento determi- “Criminologia e Direito”, onde ele retratou a criminologia no
nista e os modelos estruturais e estatísticos do comporta- Estado do Ceará em relação ao tempo e à população, a
mento do delinquente. distribuição geográfica dos crimes, etc..

7
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

Euclides da Cunha (1866 – 1909) foi o primeiro estu- O presidente da Sociedade Brasileira de Criminologia
dioso sobre criminologia a aplicar a Sociologia Criminal no foi Evaristo de Moraes (1871 – 1939). Sobre criminologia
Brasil. Cunha ainda comparou a teoria de Lombroso a uma escreveu os livros “Crianças Abandonadas e Crianças Crimi-
topografia psíquica. Escrito do livro “Os Sertões” (1902), nosas” (1900); “Teoria Lombrosiana do Delinquente” (1902);
examinou as causas da denominada por ele “delinquência “Ensaios de Patologia Social” (1921); “Criminalidade da In-
sertaneja”, que segundo Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 94) fância e da Adolescência (1927); “Criminalidade Passional”
eram: (1933) e “Embriaguez e Alcoolismo”.
Vastas galerias de indivíduos que são índices ou sumá- Joaquim Pimenta (1886 – 1963), estudava o alcoolismo
rios de um meio [...] como feixes de fatos, cada um com seu como fonte direta da criminalidade e as lutas das famílias e
rótulo, sua rubrica inapagável e eterna [...]. Cada indivíduo é sua persecução na sociedade sertaneja.
um resumo, um compêndio. E todos são reais e apanhados
em flagrante. São cristalizações humanas obtidas por qua- Fonte: https://www.univem.edu.br/jornal/materia.
trocentos anos de labutar em meia-cultura. php?id=342
Euclides da Cunha ainda, revelou que fatores naturais
ou sociais retardam ou interrompem o desenvolvimento
mental, criam à loucura do deserto, excitam a fraqueza ir- 3.3 VITIMOLOGIA;
ritável das gentes supersticiosas e incultas predispostas ao
desafogo máximo das paixões.
Nina Rodrigues (1862 – 1906), uma das receptoras da
teoria lombrosiana no Brasil foi considerada pelo próprio Conceito de vítima: Vítima é a pessoa que sofre da-
Lombroso apostolo da Antropologia Criminal na América nos econômicos, físicos ou mentais, podendo ser pessoa
do Sul, a criadora da teoria da criminalidade étnica, a qual física ou jurídica, ou seja, é a pessoa a quem é cometido
defendia que em uma mesma sociedade, poderiam ser en- um crime ou contravenção penal. No Direito Penal, a víti-
contradas raças em diferentes fases de evolução (moral e ma é observada pela área da Vitimologia, que é a ciência
jurídica). Acreditava ainda, que a civilização era boa para os que analisa a vítima e a sua relação com o crime e com o
brancos e má para os negros. criminoso.
Acreditava que para o Brasil deveria ser criado quatro A vitimologia tem por objetivo estudar o comporta-
tipos de códigos penais, para que assim, pudesse atender mento da vítima, buscando compreender se determinado
às diversidades principalmente as de clima e raça. comportamento da vítima gerou ou influenciou uma práti-
Nina como Lombroso também costumava estudar crâ- ca delitiva, além de analisar os efeitos do crime na pessoa
nios, sendo que começou seus estudos por meio de expe- da vítima. Frederico Abrahão de Oliveira conceitua como:
riências com o “exame do crânio de Lucas”. “Estudo do comportamento da vítima frente à lei, atra-
Afrânio Peixoto (1876 – 1947) foi um crítico assíduo vés de seus componentes biossociológicos e psicológicos,
da concepção de Durkhein e Lacassagne, costumava dizer visando apurar as condições em que o indivíduo pode
que, conforme ensinamentos de Lyra e Araújo Júnior (1990, apresentar tendência a ser vítima de uma terceira pessoa
p. 94): ou de processos decorrentes dos seus próprios atos”.
A sociedade tem os criminosos que merece; o meio Outro ponto a qual a vitimologia se interessa é em
social é o caldo de cultura da criminalidade; o micróbio é
analisar os efeitos do crime na pessoa da vítima, que muitas
o criminoso que só tem importância quando encontra o
vezes não é amparada pelo sistema penal, sofrendo inclusi-
caldo que o faz fermentar.
ve revitimização (vitimização secundária). Tem por objetivo
Peixoto defendia ainda, que o código penal deveria ser
reduzir o número de vítimas na sociedade e compreender
reescrito de tempos em tempos.
os efeitos da relação entre vítima e criminoso:
Júlio Pires Porto-Carrero (1887 – 1937), costumava di-
Dentro do processo de vitimização (“iter victimae”),
zer que a Pedagogia destruirá a Penologia. Segundo Lyra e
existem 3 graus:
Araújo Júnior (1990, p. 101), costumava dizer que:
Determinar o destino a dar ao criminoso, de um ponto Vitimização Primária: São os efeitos decorrentes da
de vista humano, do verdadeiro ponto de vista do interes- prática de um crime (danos patrimoniais, psicológicos, so-
se social. O homem que delinquiu continua a ser homem, fridos pela vítima;
como qualquer de nós, que não estamos livres de um dia Vitimização Secundária: Decorre do tratamento sofrido
também cair nas malhas da lei. pelo controle social formal – o processo penal causa um
Luis Carpenter (1876 – 1957) foi o primeiro estudioso sofrimento a mais na vítima (quando a vítima tem que revi-
da criminologia a aplicar suas visões criminológicas ao Di- ver o crime para prestar depoimento);
reito Militar. Escreveu os livros “O Velho Direito Penal Mi- Vitimização Terciária: É a falta de amparo da família,
litar Clássico e as Ideias Modernas da Sociologia Criminal” sociedade e órgãos públicos que vitimizam mais uma vez
(1914). a vítima. Esta forma de vitimização faz surgir a chamada
Descreveu-os, segundo ele, denominados crimes pro- CIGRA NEGRA (trata-se dos crimes não investigados/apu-
priamente militares, as contravenções disciplinares e os rados que não entram nas estatísticas por falta de denúncia
chamados crimes impropriamente militares (entidades das vítimas);
bifrontes, híbridas, da cintura para cima crime comum, da Vítima Indireta: Não é a vítima, mas sim aquela que
cintura para baixo crime militar). sofre por ser ligada a ela.

8
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

Diante disso, a prevenção alcança as ações dissuasórias


Fases da VitimologiaProtagonismo: No início, era a do delinquente, principalmente como forma intimidatória
própria vítima quem exercia o poder de punir o acusado da punibilidade que caberá àqueles que praticarem tal
(fase da vingança privada); delito. Mudanças em espaços físicos, iluminações de am-
Neutralização: Quando o Estado assume o poder de bientes públicos, desenhos arquitetônicos são formas de
punir, a vítima perde sua importância. As finalidades da prevenções  que visam impedir a ocorrência e reincidência
pena (retribuição, prevenção ou ressocialização) não aten- da criminalidade.
dem ao anseio da vítima de reparação dos danos e resolu-
ção do conflito social; 2 CONCEITO 
Redescobrimento: A partir da 2ª Guerra Mundial, surge Entende-se por prevenção delitiva o conjunto de ações
a preocupação com uma resposta ética e social do fenôme- que visam evitar a ocorrência do crime.
no da criminalidade. Em outras palavras, prevenção da infração penal na
criminologia nada mais é do que a intervenção do Estado-
Classificação das Vítimas -Administração por meio de recursos, financeiro, humano e
Vítima Nata: Pessoas que nascem com predisposição estratégico, disponibilizados a favor da sociedade.
para ser vítima; Na visão de alguns, prevenção do crime é o ato de con-
Vítima Potencial: Atrai e facilita a prática do crime. Es- vencer o delinquente a não cometer o delito, para outros,
telionato, por exemplo, passear em rua deserta falando ao importa inclusive na modificação de espaços físicos, novas
celular; arquiteturas, aumento de iluminação pública, obstáculos e
Vítima Voluntária: Consente o crime. Ex.: Aborto; meios tecnológicos, todos com fim de dificultar e inibir a
Vítima Acidental: Dá causa acidental ao crime. prática do crime, até mesmo sua reincidência.
Outra forma de classificação, segundo Hans Von Hen- Segundo Nestor Sampaio Penteado Filho “trata-se de
tig confunde as relações entre criminoso e vítima. excelente ação profilática, que demanda um campo de
Criminoso à Vítima à Criminoso (sucessivo): É o que atuação intenso e extenso, buscando todas as causas pos-
ocorre na Teoria do Etiquetamento Social. Ex.: Presidiá- síveis da criminalidade, próximas ou remotas, genéricas ou
rio primário (que entra pela primeira vez no presídio e ali específicas”.
aprende. Quando sai, não tem oportunidades e volta a pra-  Nota-se que para o Estado de Direito atingir o obje-
ticar o crime); tivo, prevenção de atos nocivos, é fundamental a neces-
Criminoso à Vítima à Criminoso (simultâneo): Ocorre sidade de dois tipos de medidas: atingir indiretamente e
quando a prática do crime se justifica pela condição de ví- diretamente o delito.
tima. Ex.: Usuário de drogas que trafica para sustentar o A primeira é considerada indireta justamente pelo fato
vício; de não atingir o crime, pelo menos em regra, porém sua
Criminoso à Vítima (imprevisível): Ocorre quando o cri- ação só vem resultar positivamente porque atingindo as
minoso é linchado após a prática do crime (retalhamento causas da criminallidade consequentemente cessa os efei-
do crime). tos desta (sublata causa tolitur efectus).
A ações indiretas focam o indivíduo como também o
Fonte: http://www.apersonalidadejuridica.com. meio em que este vive;
br/2015/10/conceito-de-vitima-vitima-e-pessoa-que_14.html No indivíduo devem ser observados a personalidade,
ladeando seu carater e temperamento com fim de motivar
e lapidar a conduta do mesmo;
3.4 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E No meio social, como diz Nestor:
A PREVENÇÃO DA INFRAÇÃO PENAL; “O meio social deve ser analisado sob seu múltiplo es-
tilo de ser, adquirindo tal atividade um raio de ação muito
extenso, visando uma redução de criminalidade e preven-
ção; até porque seria utopia zerar a criminalidade. Todavia,
Entende-se que o crime não é uma doença mas sim a conjugação de medidas sociais, políticas, e econômicas
um grave problema da sociedade, devendo ser resolvido etc. pode proporcionar uma sensível melhoria de vida ao
por ela mesma. ser humano”. 
Enquanto a Criminologia Clássica vê o crime como a Já as medidas diretas de prevenção criminal atuam por
luta do bem contra o mal, a Criminologia Moderna obser- meio da Legislação vigente, ou seja, medidas de ordem ju-
va o crime de maneira dinâmica, ampla e principalmente rídica com a finalidade clara de punição de crimes graves
interativa. por meio de repressão às infrações penais, trocando miú-
No Estado Democrático de Direito em que vivemos, a dos, existe a pena não com apenas o fim de penalisar o
prevenção criminal atua de forma integralizada com todos indivíduo que praticou uma ação que foi tipificada como
seus entes federativos, passando por todos os setores do delito mas também de inibir o indivíduo de modo que, este
Poder Público e não apenas pela Segurança Pública e Po- não venha a praticar tal crime por receio de vir a sofrer a
der Judiciário, tido por muitos como únicos responsáveis. punibilidade.
Deste modo, todos devem agir em conjunto, principalmen-
te os municípios, para a redução da criminalidade.

9
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

No tocante à prática interdisciplinar, deve ser lida e


3.5 CRIMINOLOGIA E O PAPEL DA POLÍCIA estimulada a partir das indispensáveis lições do professor
JUDICIÁRIA. Álvaro Pires. O autor destaca a relevância de uma postura
interdisciplinar criativa pelo pesquisador. Sublinha a ne-
cessidade de contato com outras disciplinas, para além
do campo de especialização, como forma de aumento da
Preliminarmente, algumas considerações possíveis a criatividade e aprimoramento da qualidade do “produto fa-
respeito do atual cenário do saber jurídico. O campo do di- bricado”. O que, sem dúvida, aplica-se também ao campo
reito parece ainda imerso na busca por um pretenso “saber do direito, o qual carece (e muito) de uma metodologia de
puro” e, ao mesmo tempo, que fosse capaz de regular por pesquisa capaz de auxiliar a imperiosa transformação das
completo a vida em sociedade. práticas jurídicas.
Vive-se um permanente endeusamento dogmáti- A investigação criminal é um bom exemplo nesse senti-
co,  talvez legatário do ideal positivista oitocentista que do; indispensável o diálogo entre o campo jurídico e outras
(ainda) domina o campo jurídico e cujos efeitos (reais) são esferas de saber como a psicanálise. De fato, na tentativa
flagrantes na sua práxis, especialmente no sistema de jus- de superação de um formalismo penal dogmático, imerso
tiça criminal. Dentre as várias instâncias do jurídico, sem
numa lógica objetiva autorreferente, que funciona como
dúvida alguma é na esfera penal que o (ab)uso do poder
método burocrático para a dominação dos corpos sociais,
fundado na (ir)racionalidade conservadora produz os efei-
surge a dimensão psicanalítica como (mais) uma importan-
tos mais trágicos à subjetividade.
te ferramenta de acesso ao fenômeno das permanências
Desse modo, a empreitada crítica pela superação da
“fantasia dogmática” não constitui tarefa fácil, principal- autoritárias no sistema penal.  Não é mais possível imagi-
mente porque coloca muita gente em posição desconfor- nar uma instância jurídica ainda formatada naquela pura
tável, na medida em que problematiza discursos, lugares e lógica cartesiana, marcada pelo silogismo prático de meras
sujeitos nas diversas relações de poder. E, claro, ninguém subsunções entre fatos e normas, em um processo regrado
quer correr o risco de perder assento nas instâncias de con- para a obtenção de “a verdade”. Impossível separar a lei, o
trole; quanto mais os fascistas do cotidiano. direito e a justiça das explicações trazidas pela psicanálise a
No entanto, esse tipo de desvelamento das aparências respeito da constituição dos sujeitos; necessário, portanto,
é indispensável a todo e qualquer jurista que, na contramão unir os dois discursos de maneira responsável, a fim de se
do autoritarismo do sistema penal, pretenda estabelecer estabelecer um diálogo transformador do status quo. 
diálogos democráticos na construção de utopias possíveis. A interseção direito-psicanálise, cada vez mais popu-
Em suma, há urgência em se (re)discutir as questões cri- lar na academia brasileira, inclusive com grupos de estudo
minais por meio de uma perspectiva diversa da instância sobre essa temática específica como o importante Núcleo
de conhecimento servil, buscando superar o atual contexto de Direito e Psicanálise da Universidade Federal do Paraná
epistemológico marcado pelo “reforço do dogmatismo, o sob a coordenação do competente Professor Jacinto Nel-
isolamento científico e o natural distanciamento dos reais son de Miranda Coutinho, revela uma conexão antiga, que
problemas da vida”. atravessa o discurso psicanalítico desde seus primórdios,
Com efeito, a partir de novas lentes para análise e dis- ainda que em grande parte de modo implícito, assumindo
cussão do fenômeno jurídico, imperioso levar em conside- atualmente a feição de verdadeira exigência democrática.
ração (i) a limitação do conhecimento, (ii) a salutar prática Por evidente, contudo, que se trata de aproximação a de-
metodológica interdisciplinar e (iii) a razão empírica segun- mandar extrema cautela, afinal de contas são campos au-
do os dados da realidade. tônomos e que exigem respeito às pertinentes construções
Quanto à fragilidade ou à precariedade do conhecimen- epistemológicas, evitando com isso importações indevidas
to, parece-nos que a “atitude epistemocrática”, referida por de categorias ou outras formas abusivas de distorções teó-
Cadermatori e Amorim, pode funcionar como mecanismo
ricas. Conforme adverte Morais da Rosa, esses discursos
de grande valia. Assim deve ser entendida aquela postura
apresentam especificidades e devem ser colmatados a par-
capaz de reconhecer a imperfeição do acesso ao conheci-
tir da perspectiva da diversidade construtiva, de modo que
mento. Segundo os autores, nenhum pensamento, como é
não podem ser tomados como idênticos nem antagônicos.
o caso do direito, pode ser eficaz e ter validade universal, já
que deve considerar a falibilidade humana, na perspectiva Por fim, quanto à necessidade de verificação das for-
do homem como um ser demasiadamente humano, como mas jurídicas a partir dos dados da realidade, essa sem-
diria Nietzsche. O que nos conduz a uma compreensão no pre foi uma exigência das teorias críticas, em especial da
sentido da parcialidade ou incompletude, contingencia- criminologia. Aliás, segundo Bustos Ramírez e Hormazá-
mento e constante transformação dos saberes. bal Malarée, a crítica criminológica deve necessariamente
A desconfiança quanto ao conhecimento produzido e a pautar-se por dados empíricos da realidade.  Isso porque
consciência a respeito de sua limitação é fundamental para são justamente as pesquisas que escancaram a “distância
todo agente do sistema jurídico, especialmente na esfera cognitiva entre a programação normativa – e o discurso
criminal. Toda vez que autoridades se arvoraram a conferir institucional – por um lado, e a concretude das instituições
selo de certeza ou chancela de infalibilidade nas suas apu- e de seu funcionamento, por outro”. As constatações em-
rações fizeram história, marcaram lugar na seção de tragé- píricas são sempre motivo de estranhamento pela casta
dias e abusos do poder punitivo.    dogmática do direito, uma vez que relativizam o alcance

10
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

e a precisão dos comandos normativos e permitem com- 04) Sobre a política criminal e penitenciária brasileira
preender o jogo negociado entre a realidade e as normas, nas últimas duas décadas,
numa constante adaptação em duas vias. Neste particular, A. medidas de combate à corrupção têm mudado sig-
a descautelaridade da prisão preventiva pode servir de re- nificativamente o perfil da população prisional brasileira,
ferencial ilustrativo. reduzindo a seletividade do sistema penal.
Diante de todo o exposto, resta evidente que a insis- B. a política de construção de presídios tem se mostra-
tência em um saber jurídico marcado pelo dogmatismo, do ineficiente na redução da superlotação prisional.
incapaz de dialogar com outros saberes e com os dados C. a implementação de medidas descarcerizadoras re-
empíricos, apenas reforça a dimensão autoritária desse sultou em sensível redução da criminalidade e na melhora
dispositivo de poder. Ademais, em se tratando do sistema dos presídios.
jurídico-penal, a tragédia é ainda maior, uma vez que a ex- D. a utilização da justiça restaurativa na solução de
tensão dos danos (ou melhor: das dores) é potencializada conflitos penitenciários aumentou o poder das facções pri-
num contexto de absoluta desconsideração do primado sionais.
fundamental da alteridade humana. E. o encarceramento feminino cresceu em virtude da
Fonte: https://www.conjur.com.br/2016-out-25/acade- falta de investimentos em presídios que considerem a
mia-policia-sistema-justica-criminal-superar-fantasia-dog- questão de gênero.
matica
Resposta: B
Exercícicos
05) Sobre o sistema p enal e a questão racial, é correto
01) A respeito do conceito e dos objetos da crimino- afirmar:
logia, julgue os itens a seguir. Para a escola clássica, o mo- A. A criminalização secundária do racismo no Brasil
delo ideal de prevenção do delito ou do desvio é o que se conseguiu reverter o quadro histórico do preconceito na
preocupa com a pena e seu rigor, compreendendo-a como sociedade brasileira.
um mecanismo intimidatório; já para a escola neoclássica, B. A injúria racial impede a substituição da pena priva-
mais eficaz que o rigor das penas é o foco no correto fun- tiva de liberdade por pena restritiva de direitos.
cionamento do sistema legal e em como esse sistema é C. O racismo é característica estrutural do processo de
percebido pelo desviante ou delinquente. criminalização secundária no Brasil.
C. Certo D. A despeito do grande número de pessoas negras
E. Errado presas no Brasil, não se pode afirmar que o sistema penal
brasileiro atue de forma discriminatória em virtude dos-
Resposta: Certo princípios constitucionais.
E. Apesar da previsão constitucional de imprescritibili-
02) A respeito do conceito e dos objetos da criminolo- dade do crime de racismo, sua aplicação prática é inócua
gia, julgue os itens a seguir. O desvio ou o delito, objetos diante da falta criminalização primária dos crimes de ra-
da criminologia, devem ser abordados, primordialmente, cismo.
como um comportamento individual do desviante ou de-
linquente; em segundo plano, analisam-se as influências Resposta: C
ambientais e sociais.
C. Certo
E. Errado

Resposta: Errado

03) Sobre a criminologia positivista:


A. Ficou consagrada nos Estados Unidos com a obra
Delinquent Boys, de Albert Cohen.
B. Foi a primeira manifestação de ruptura com a crimi-
nologia do consenso do Iluminismo.
C. A despeito da metodologia correta, os resultados de
Lombroso não foram corretos.
D. Sua recepção no Brasil teve ressonância principal-
mente nos estudos das tribos indígenas e suas relações
criminosas.
E. No Brasil seu desenvolvimento reforçou cientifica-
mente o racismo.

Resposta: E

11
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

Exercícios Complementares Comentário: A alternativa correta é a letra C. Pode-se


dizer que há três modelos de vitima, do ponto de vista
Atendente de Necrotério Policial PC/SP – 2014 – vitimológico. A vítima inocente, autêntica, verdadeira ou
Questão 01: São fins básicos da Criminologia, dentre ou- ideal é aquela que não concorre para o delito, não cola-
tros, bora para o mesmo. A vítima provocadora é aquela de
A. os valores do ressarcimento e da indenização da ví- colabora com o crime, subdividindo-se em menos culpa-
tima pelos danos sofridos. das que o delinquente, tão culpadas quanto o crimino-
B. a prevenção e o controle do fenômeno criminal. so e mais culpadas que o agente criminoso. Por fim, víti-
C. o processo e o julgamento judicial do criminoso. ma falsa simuladora é aquela que tem conhecimento de
D. o diagnóstico e a profilaxia das enfermidade men- que não foi vítima de alguma conduta criminosa, porém,
tais, mediante tratamento ambulatorial e internação hos-
agindo por interesse, imputa crime a alguém contra si.
pitalar.
Há quem também classifique como vítima falsa a vítima
E. a vingança e o castigo público do criminoso.
imaginária, a qual, de modo errôneo, por razões psicopa-
Comentário: A alternativa correta é a letra B. Pode-se tológicas ou imaturidade psíquica, acredita ter sido vítima
dizer que o objetivo da Criminologia moderna é analisar de um crime.
os aspectos envolvidos entre o delito, delinquente, vítima
e controle social, sendo uma de suas funções reunir in- Desenhista Técnico-Pericial PC/SP – 2014 – Ques-
formações do crime, contribuir para sua análise e para a tão 04: A revolução industrial; os estudos sociológicos do
prevenção da delinquência. final do século XIX; a influência da religião; a seculariza-
ção, coroada pela aproximação da elite instruída com as
Atendente de Necrotério Policial PC/SP – 2014 – pessoas comuns, deram origem à _________, que também
Questão 02: Entende-se por ____________um grupo poli- convencionou-se chamar de “teoria da ecologia criminal”
morfo de indivíduos que existe à margem da sociedade, ou “teoria da desorganização social.” 
em situação de ______________, sem aptidão para o trabalho, Assinale a alternativa que preenche corretamente a
por razões de ordem biológicas ou pela exclusão social. lacuna do texto.
Assinale a alternativa que preenche, correta e respecti- A. Escola de Chicago.
vamente, as lacunas do trecho. B. Escola de Paris.
A. parasitismo ... espírito de rebeldia. C. Escola de Roma.
B. mimetismo ... pleno emprego.
D. Terza Scuola.
C. mimetismo ... espírito de rebeldia.
E. Escola de Santiago.
D. mal-vivência ... parasitismo.
E. mal-vivência ... pleno emprego.
Comentário: A alternativa correta é a letra A. A re-
Comentário: A alternativa correta é a letra D. Mal-vi- volução industrial trouxe grande expansão ao mercado
vência, nos dizer de Hilário Veiga de Carvalho (CARVALHO, norte americano. Os estudos sociológicos, por sua vez,
Hilário Veiga de. Compêndio de criminologia. São Paulo: sofriam influência da religião. A secularização trouxe uma
Bushtsky, 1973, p. 310 e seguintes), demonstra-se por um aproximação entre a burguesia, elite e a classe baixa, pen-
grupo polimorfo de indivíduos que vivem à margem da samento da Universidade de Chicago, que deu o nome de
sociedade, em situação de parasitismo, sem aptidão para “teoria da ecologia criminal” ou “desorganização social”,
o trabalho, em razão de causas endógenas e exógenas que de Clifford Shaw e Henry Mckay.
representam um perigo social. O crescimento sem controle da cidade de Chicago
Deste modo, pode-se dizer que são seres excluídos, levou à expansão do centro para a periferia (movimento
doentes biológica e socialmente. Apesar da Lei penal in- circular centrífugo), onde haviam inúmeros problemas de
criminá-los, como exemplo a vadiagem (art. 59 da Lei de cunho social, econômico e ambiental. Deste modo, criou-
Contravenções Penais), a criminologia entende que esses -se um ambiente propício para criminalidade.
indivíduos são seres infelizes, consequência de uma socie-
dade discriminatória e violenta. Desenhista Técnico-Pericial PC/SP – 2014 – Ques-
tão 05: A disciplina que tem por objetivo estudar as cau-
Atendente de Necrotério Policial PC/SP – 2014 –
sas e as origens da criminalidade para encontrar medidas
Questão 03: Do ponto de vista vitimológico, vítima falsa
cabíveis que possam prevenir e combater a práticas de
é aquela que:
A. consente com a prática do delito. crimes é a
B. tolera a lesão sofrida pelo temor de perseguição por A. vitimodogmática.
seu algoz. B. profilaxia criminal.
C. se autovitimiza com o fim de obter benefícios para si. C. infortunística.
D. detém predisposição permanente e inconsciente D. psiquiatria forense.
para se tornar vítima. E. psicologia forense.
E. deixa de comunicar o crime sofrido às autoridades
competentes.

12
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

Comentário: A alternativa correta é a letra B. Profi- Comentário: A alternativa correta é a letra A. De acor-
laxia é um termo utilizado na medicina, que consiste em do com os ensinamentos de Nestor Sampaio Penteado
medidas para prevenir ou diminuir doenças. Por sua vez, a Filho, a prevenção primária ataca a raiz do conflito (edu-
Profilaxia criminal consiste no estudo das causas e origens cação, emprego, moradia, segurança etc.); aqui desponta
da criminalidade, a fim de combater este problema social a inelutável necessidade de o Estado, de forma célere, im-
com medidas de prevenção indireta e direta. plantar os direitos sociais progressiva e universalmente,
A prevenção indireta visa as causas do crime, sem atribuindo a fatores exógenos a etiologia delitiva; a pre-
atingi-los de modo imediato, enquanto a prevenção direta venção primária liga-se à garantia de educação, saúde,
direciona-se à infração penal (in itinere) ou em formação trabalho, segurança e qualidade de vida do povo, instru-
(iter criminis). mentos preventivos de médio e longo prazo.
A prevenção secundária, por sua vez, Destina-se a se-
Delegado de Polícia Civil/SP – VUNESP/2014 – tores da sociedade que podem vir a padecer do problema
Questão 06: Tendo o Direito Penal a missão subsidiária criminal e não ao indivíduo, manifestando-se a curto e
de proteger os bens jurídicos e, com isso, o livre desen- médio prazo de maneira seletiva, ligando-se à ação poli-
volvimento do indivíduo, e, ainda, sendo a pena vinculada cial, programas de apoio, controle das comunicações etc.
ao Direito Penal e à Execução Penal, após a reforma do Por fim, a prevenção terciária é voltada ao recluso, vi-
Código Penal Brasileiro, em 1984, é correto afirmar que a sando sua recuperação e evitando a reincidência (sistema
finalidade da pena é prisional); realiza-se por meio de medidas socioeducati-
A. repreensiva e abusiva. vas, como a laborterapia, a liberdade assistida, a presta-
B. punitiva e reparativa. ção de serviços comunitários etc. (PENTEADO FILHO, Nes-
C. retributiva e preventiva (geral e especial). tor Sampaio. Manual esquemático de criminologia. 2ª ed.
D. ressocializadora e reparativa. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 138).
E. punitiva e distributiva.
Investigador de Polícia Civil/SP – VUNESP/2014 –
Comentário: A alternativa correta é a letra C. Con- Questão 08: A escola criminológica que surgiu no século
forme os ensinamentos da reforma do Código Penal em XIX, tendo, entre seus principais autores, Rafaelle Garofa-
1984, retira-se a ideia de que a pena tem natureza mista, lo, e que pode ser dividida em três fases (antropológica,
ou seja, é retributiva e preventiva, conforme exposto no sociológica e jurídica) é a:
artigo 59, caput, do CP. A. Escola Positiva.
Vejamos: “Art. 59- O juiz, atendendo à culpabilidade,
B. Terza Scuola Italiana.
aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
C. Escola de Política Criminal ou Moderna Alemã.
agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do
D. Escola Clássica.
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabe-
E. Escola de Lyon.
lecerá, conforme seja necessário e suficiente para repro-
vação e prevenção do crime:  (Redação dada pela Lei nº
Comentário: A alternativa correta é a letra D. A Escola
7.209, de 11.7.1984)”.
positiva dividiu-se, como entendimento majoritário, em
A pena ameaça o infrator, como método de retribui-
ção em caso de pratica delituosa, enquanto tem como fi- três fases, sendo a fase antropológica, com Cesare Lom-
nalidade também a prevenção de crimes, sendo geral ou broso, autor do livro O homem Deliquente em 1976; a fase
especial. sociológica, com Enrico Ferri, autor do estudo Sociologia
A prevenção geral é um meio de intimidação de todos; Criminal em 1884; e por fim a fase jurídica, desenvolvida
e prevenção particular (especial), serve para impedir o réu por Raffaele Garófalo, com o estudo sobre a Criminologia
de praticar novos crimes, ou seja, método de intimidá-lo em 1885.
e corrigi-lo.
Por prevenção geral, deseja-se intimidar os propen- Escrivão de Polícia Civil/SP – VUNESP/2014 – Ques-
sos a delinquir, sendo esta dirigida à sociedade como um tão 09: A teoria do neorretribucionismo, com origem nos
todo. Já a prevenção especial é voltada para um indivíduo, Estados Unidos, também conhecida por “lei e ordem” ou
como método de alcançar sua reeducação e recuperação. “tolerância zero”, é decorrente da teoria.
A. “positiva”.
Delegado de Polícia Civil/SP – VUNESP/2014 – B. “janelas quebradas”.
Questão 07: A prevenção criminal que está voltada à se- C. “clássica”.
gurança e qualidade de vida, atuando na área da educa- D. “cidade limpa”.
ção, emprego, saúde e moradia, conhecida universalmente E. “diferencial”.
como direitos sociais e que se manifesta a médio e longo
prazos, é chamada pela Criminologia de prevenção Comentário: A alternativa correta é a letra B. O Mo-
A. primária. vimento Lei e Ordem nasce, em meados de 1980, com
B. individual. objetivo de implantar na justiça criminal e na criminologia
C. secundária. preceitos maximalistas, com o intuito de induzir a socie-
D. estrutural. dade a considerar o Direito Penal como o remédio para as
E. terciária. angustias e receios do povo.

13
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

No núcleo de seus ideais, o alusivo movimento pro- evidente. O Passo seguinte seria o abandono daque-
curava preconizar a necessidade de reducrescimento de la localidade pelas pessoas e bem deixando o birro a
penas, a criação de novos tipos penais incriminadores e o mercê dos desordeiros. Pequenas desordens levariam a
afastamento de determinadas garantias processuais, com grandes desordens, mais tarde ao crime.” (RUBIN, Daniel
o objetivo de livrar a sociedade da fração de indivíduos Sperb. Janelas quebradas, tolerância zero e criminalida-
não apropriados para convívio em sociedade. (RAZABO- de, 2003. Disponível em: http://egov.ufsc.br/portal/sites/
NI JUNIOR, Ricardo Bispo; LAZARI, Rafael José Nadim de.
default/files/anexos/10751-10751-1-PB.htm, acesso em:
O diálogo entre o direito penal mínimo e o princípio da
24 de março de 2018).
dignidade da pessoa humana. In: Revista Aporia Jurídica
(on-line). Revista Jurídica do Curso de Direito da Faculda-
Perito Criminal da Polícia Civil/SP – VUNESP/2014
de CESCAGE. 7ª Edição. Vol. I ( jan/jun2017). p. 199-214.)
– Questão 10: A Teoria do labelling approach, a qual ex-
Neste sentido, Cosate esclarece de modo impar que
plica que a criminalidade não é uma qualidade da conduta
o Movimento Lei e Ordem tem como principal caracte-
humana, mas a consequência de um processo em que se
rística o “expansionismo e o endurecimento das leis pe- atribui tal estigmatização, também é denominada teoria
nais, como forma ilusória de diluir a prática de infrações A. da desorganização social.
penais”. (COSATE, Tatiana Moraes. Direito Penal Mínimo: B. da rotulação ou do etiquetamento.
A idoneidade da Proteção Penal dos Bens Jurídicos Tran- C. da neutralização.
sindividuais. Curitiba: Editora Juruá, 2015. p. 55) D. da identificação diferencial.
Em consonância com Movimento Lei e Ordem, fora E. da anomia.
criado, em meados de 1991, o movimento Tolerância
Zero, aludido por muitos como uma das vertentes do Comentário: A alternativa correta é a letra B. A teo-
Movimento maior. ria do Etiquetamento Social, Rotulação Social ou labelling
Este fora implantada em Nova York, no governo do approach, observa a ideia de que as noções de crime e cri-
prefeito Rudolph Giuliani, que assim como o modelo minosos são construídas socialmente através da definição
Law and Order, mostrou-se fundado no prisma político- legal e das ações de instâncias oficias de controle social,
-criminal. O referido movimento governamental de in- ou seja, da lei e os poderes de controle social. O compor-
tolerância surgiu do estudo conhecido como Broken tamento desviante é rotulado como tal, por meio de lei e
Windows (Janelas Quebradas), o qual Daniel Sperb Rubin das instâncias oficiais de controle social, não nascem com
(2003) ensina que: “Em 1982, o cientista político James Q. o indivíduo.
Wilson e o psicólogo criminologista George Kelling, am-
bos americanos, publicaram na revista Atlantic Monthly
um estudo em que, pela primeira vez, se estabelecia uma
relação de causalidade entre desordem e criminalidade.
Naquele estudo, cujo título era The Police and Neibor-
ghood Safety (a polícia e a segurança da comunidade),
os autores usaram a imagem de janelas quebradas para
explicar como a desordem e a criminalidade poderiam
aos poucos, infiltrar-se numa comunidade, causando a
sua decadência e a consequente queda da qualidade de
vida.
Kelling e Wilson sustentavam que se uma janela de
uma fábrica ou de um escritório fosse quebrada e não
fosse imediatamente consertada, as pessoas que por ali
passassem concluiriam que ninguém se importava com
isso e que, naquela localidade, não havia autoridade res-
ponsável pela manutenção da ordem. Em pouco tem-
po, algumas pessoas começariam a atirar pedras para
quebrar as demais ainda intactas. Logo, todas as janelas
estariam quebradas. Agora, as pessoas que por ali pas-
sassem concluiriam que ninguém seria responsável por
aquele prédio. E tampouco pela rua que se localizava o
prédio. Iniciava-se, assim a decadência da própria rua e
daquela comunidade. A esta altura, apenas os desocu-
pados, imprudentes, ou pessoas com tendências crimi-
nosas, sentir-se-iam à vontade para ter algum negócio
ou até ou mesmo morar na rua cuja decadência já era

14
NOÇÕES DE LÓGICA

4.1 Conceitos iniciais do raciocínio lógico: proposições, valores lógicos, conectivos,.................................................................. 01


tabelas-verdade, tautologia, contradição, equivalência entre proposições, negação de uma proposição, validade de
argumentos;................................................................................................................................................................................................................ 01
4.2 Estruturas lógicas e lógica de argumentação;....................................................................................................................................... 01
4.3 Questões de associação;................................................................................................................................................................................. 01
4.4 Verdades e mentiras;........................................................................................................................................................................................ 01
4.5 Diagramas lógicos (silogismos);.................................................................................................................................................................. 01
4.6 Sequências lógicas............................................................................................................................................................................................ 01
NOÇÕES DE LÓGICA

Vamos ver alguns princípios da lógica:


4.1 CONCEITOS INICIAIS DO RACIOCÍNIO
LÓGICO: PROPOSIÇÕES, VALORES LÓGICOS, I. Princípio da não Contradição: uma proposição não
CONECTIVOS, pode ser verdadeira “e” falsa ao mesmo tempo.
TABELAS-VERDADE, TAUTOLOGIA, II. Princípio do Terceiro Excluído: toda proposição
CONTRADIÇÃO, EQUIVALÊNCIA ENTRE “ou” é verdadeira “ou” é falsa, isto é, verifica-se
PROPOSIÇÕES, NEGAÇÃO DE UMA sempre um desses casos e nunca um terceiro caso.
PROPOSIÇÃO, VALIDADE DE ARGUMENTOS;
4.2 ESTRUTURAS LÓGICAS E LÓGICA DE Valor Lógico das Proposições
ARGUMENTAÇÃO; Definição: Chama-se valor lógico de uma proposição a
4.3 QUESTÕES DE ASSOCIAÇÃO; verdade, se a proposição é verdadeira (V), e a falsidade, se
4.4 VERDADES E MENTIRAS; a proposição é falsa (F).
4.5 DIAGRAMAS LÓGICOS (SILOGISMOS);
Exemplo
4.6 SEQUÊNCIAS LÓGICAS.
p: Thiago é nutricionista.
V(p)= V essa é a simbologia para indicar que o valor
lógico de p é verdadeira, ou
Proposição V(p)= F
Definição: Todo o conjunto de palavras ou símbolos
que exprimem um pensamento de sentido completo. Basicamente, ao invés de falarmos, é verdadeiro ou fal-
so, devemos falar tem o valor lógico verdadeiro, tem valor
Nossa professora, bela definição! lógico falso.
Não entendi nada!
Classificação
Vamos pensar que para ser proposição a frase tem que
fazer sentido, mas não só sentido no nosso dia a dia, mas Proposição simples: não contém nenhuma outra pro-
também no sentido lógico. posição como parte integrante de si mesma. São geral-
Para uma melhor definição dentro da lógica, para ser mente designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r,s...
proposição, temos que conseguir julgar se a frase é verda- E depois da letra colocamos “:”
deira ou falsa.
Exemplo:
Exemplos: p: Marcelo é engenheiro
(A) A Terra é azul. q: Ricardo é estudante
Conseguimos falar se é verdadeiro ou falso? Então é
uma proposição. Proposição composta: combinação de duas ou mais
(B) >2 proposições. Geralmente designadas pelas letras maiúscu-
las P, Q, R, S,...
Como ≈1,41, então a proposição tem valor lógico
falso. Exemplo:
P: Marcelo é engenheiro e Ricardo é estudante.
Todas elas exprimem um fato. Q: Marcelo é engenheiro ou Ricardo é estudante.

Agora, vamos pensar em uma outra frase: Se quisermos indicar quais proposições simples fazem
O dobro de 1 é 2? parte da proposição composta:
Sim, correto?
Correto. Mas é uma proposição? P(p,q)
Não! Porque sentenças interrogativas, não podemos
declarar se é falso ou verdadeiro. Se pensarmos em gramática, teremos uma proposição
composta quando tiver mais de um verbo e proposição
Bruno, vá estudar. simples, quando tiver apenas 1. Mas, lembrando que para
É uma declaração imperativa, e da mesma forma, não ser proposição, temos que conseguir definir o valor lógico.
conseguimos definir se é verdadeiro ou falso, portanto, não
é proposição. Conectivos
Agora vamos entrar no assunto mais interessante: o
Passei! que liga as proposições.
Ahh isso é muito bom, mas infelizmente, não podemos Antes, estávamos vendo mais a teoria, a partir dos co-
de qualquer forma definir se é verdadeiro ou falso, porque nectivos vem a parte prática.
é uma sentença exclamativa.

1
NOÇÕES DE LÓGICA

Definição - Disjunção Exclusiva


Palavras que se usam para formar novas proposições,
a partir de outras. Extensa: Ou...ou...
Símbolo: ∨
Vamos pensar assim: conectivos? Conectam alguma
coisa? p: Vitor gosta de estudar.
Sim, vão conectar as proposições, mas cada conetivo q: Vitor gosta de trabalhar
terá um nome, vamos ver?
p∨q Ou Vitor gosta de estudar ou Vitor gosta de tra-
-Negação balhar.

-Condicional
Extenso: Se...,então..., É necessário que, Condição ne-
cessária
Exemplo Símbolo: →
p: Lívia é estudante.
~p: Lívia não é estudante. Exemplos
p→q: Se chove, então faz frio.
q: Pedro é loiro. p→q: É suficiente que chova para que faça frio.
¬q: É falso que Pedro é loiro. p→q: Chover é condição suficiente para fazer frio.
p→q: É necessário que faça frio para que chova.
r: Érica lê muitos livros. p→q: Fazer frio é condição necessária para chover.
~r: Não é verdade que Érica lê muitos livros.
-Bicondicional
s: Cecilia é dentista. Extenso: se, e somente se, ...
¬s: É mentira que Cecilia é dentista. Símbolo:↔

-Conjunção p: Lucas vai ao cinema


q: Danilo vai ao cinema.

p↔q: Lucas vai ao cinema se, e somente se, Danilo vai


ao cinema.

Referências
Nossa, são muitas formas de se escrever com a con- ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemá-
junção. tica – São Paulo: Nobel – 2002.
Não precisa decorar todos, alguns são mais usuais: “e”,
“mas”, “porém” Questões

Exemplos 01. (IFBAIANO – Assistente em Administração –


p: Vinícius é professor. FCM/2017) Considere que os valores lógicos de p e q são
q: Camila é médica. V e F, respectivamente, e avalie as proposições abaixo.
p∧q: Vinícius é professor e Camila é médica. I- p → ~(p ∨ ~q) é verdadeiro
p∧q: Vinícius é professor, mas Camila é médica. II- ~p → ~p ∧ q é verdadeiro
p∧q: Vinícius é professor, porém Camila é médica. III- p → q é falso
IV- ~(~p ∨ q) → p ∧ ~q é falso
- Disjunção
Está correto apenas o que se afirma em:
(A) I e III.
(B) I, II e III.
(C) I e IV.
p: Vitor gosta de estudar. (D) II e III.
q: Vitor gosta de trabalhar (E) III e IV.

p∨q: Vitor gosta de estudar ou Vitor gosta de traba-


lhar.

2
NOÇÕES DE LÓGICA

02. (TERRACAP – Técnico Administrativo – QUA- (A) falso


DRIX/2017) Sabendo-se que uma proposição da forma (B) inconclusivo
“P→Q” — que se lê “Se P, então Q”, em que P e Q são pro- (C) verdade e falso
posições lógicas — é Falsa quando P é Verdadeira e Q é Fal- (D) depende do valor lógico de p
sa, e é Verdadeira nos demais casos, assinale a alternativa (E) verdade
que apresenta a única proposição Falsa.
(A) Se 4 é um número par, então 42 + 1 é um número 06. (PREF. DE TANGUÁ/RJ – Fiscal de Tributos – MS-
primo. CONCURSOS/2017) Qual das seguintes sentenças é clas-
(B) Se 2 é ímpar, então 22 é par. sificada como uma proposição simples?
(C) Se 7 × 7 é primo, então 7 é primo. (A) Será que vou ser aprovado no concurso?
(D) Se 3 é um divisor de 8, então 8 é um divisor de 15. (B) Ele é goleiro do Bangu.
(E) Se 25 é um quadrado perfeito, então 5 > 7. (C) João fez 18 anos e não tirou carta de motorista.
(D) Bashar al-Assad é presidente dos Estados Unidos.
03. (IFBAIANO – Assistente Social – FCM/2017)
Segundo reportagem divulgada pela Globo, no dia 07.(EBSERH – Assistente Administrativo –
17/05/2017, menos de 40% dos brasileiros dizem praticar IBFC/2017) Assinale a alternativa incorreta com relação
esporte ou atividade física, segundo dados da Pesquisa Na- aos conectivos lógicos:
cional por Amostra de Domicílios (Pnad)/2015. Além disso, (A) Se os valores lógicos de duas proposições forem
concluiu-se que o número de praticantes de esporte ou de falsos, então a conjunção entre elas têm valor lógico falso.
atividade física cresce quanto maior é a escolaridade. (B) Se os valores lógicos de duas proposições forem
(Fonte: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/me- falsos, então a disjunção entre elas têm valor lógico falso.
nos-de-40-dos-brasileiros-dizem-praticar-esporte-ou-ati- (C) Se os valores lógicos de duas proposições forem
vidade-fisica-futebol-e-caminhada-lideram-praticas.ghtml. falsos, então o condicional entre elas têm valor lógico ver-
Acesso em: 23 abr. 2017). dadeiro.
Com base nessa informação, considere as proposições (D) Se os valores lógicos de duas proposições forem
p e q abaixo: falsos, então o bicondicional entre elas têm valor lógico
p: Menos de 40% dos brasileiros dizem praticar esporte falso.
ou atividade física (E) Se os valores lógicos de duas proposições forem
q: O número de praticantes de esporte ou de atividade falsos, então o bicondicional entre elas têm valor lógico
física cresce quanto maior é a escolaridade verdadeiro.

Considerando as proposições p e q como verdadeiras, 08. (DPU – Analista – CESPE/2016) Um estudante de


avalie as afirmações feitas a partir delas. direito, com o objetivo de sistematizar o seu estudo, criou
I- p ∧ q é verdadeiro sua própria legenda, na qual identificava, por letras, algu-
II- ~p ∨ ~q é falso mas afirmações relevantes quanto à disciplina estudada e
III- p ∨ q é falso as vinculava por meio de sentenças (proposições). No seu
IV- ~p ∧ q é verdadeiro vocabulário particular constava, por exemplo:
P: Cometeu o crime A.
Está correto apenas o que se afirma em: Q: Cometeu o crime B.
(A) I e II. R: Será punido, obrigatoriamente, com a pena de reclu-
(B) II e III. são no regime fechado.
(C) III e IV. S: Poderá optar pelo pagamento de fiança.
(D) I, II e III.
(E) II, III e IV. Ao revisar seus escritos, o estudante, apesar de não re-
cordar qual era o crime B, lembrou que ele era inafiançável.
04. (UFSBA - Administrador – UFMT /2017) Assinale Tendo como referência essa situação hipotética, julgue
a alternativa que NÃO apresenta uma proposição. o item que se segue.
(A) Jorge Amado nasceu em Itabuna-BA. A proposição “Caso tenha cometido os crimes A e B,
(B) Antônio é produtor de cacau. não será necessariamente encarcerado nem poderá pagar
(C) Jorge Amado não foi um grande escritor baiano. fiança” pode ser corretamente simbolizada na forma (P∧-
(D) Queimem os seus livros. Q)→((~R)∨(~S)).
( )Certo ( )Errado
05. (EBSERH – Médico – IBFC/2017) Sabe-se que p,
q e r são proposições compostas e o valor lógico das pro- 09. (PREF. DE RIO DE JANEIRO/RJ – Administrador -
posições p e q são falsos. Nessas condições, o valor lógico PREF. DE RIO DE JANEIRO/2016) Considere-se a seguinte
da proposição r na proposição composta {[q v (q ^ ~p)] v r} proposição: “Se chove, então Mariana não vai ao deserto”.
cujo valor lógico é verdade, é: Com base nela é logicamente correto afirmar que:

3
NOÇÕES DE LÓGICA

(A) Chover é condição necessária e suficiente para Ma- 03. Resposta: A.


riana ir ao deserto. p∧q é verdadeiro
(B) Mariana não ir ao deserto é condição suficiente ~p∨~q
para chover. F∨F
(C) Mariana ir ao deserto é condição suficiente para chover. F
(D) Não chover é condição necessária para Mariana ir p∨q
ao deserto. V∨V
V
10. (PREF. DO RIO DE JANEIRO – Agente de Admi-
nistração – PREF. DE RIO DE JANEIRO/2016) Considere- ~p∧q
-se a seguinte proposição: F∧V
P: João é alto ou José está doente. F

O conectivo utilizado na proposição composta P cha- 04. Resposta: D.


ma-se: As frases que você não consegue colocar valor lógico
(A) disjunção (V ou F) não são proposições.
(B) conjunção Sentenças abertas, frases interrogativas, exclamativas,
(C) condicional imperativas
(D) bicondicional
05. Resposta: E.
Sabemos que p e q são falsas.
RESPOSTAS q∧~p =F
q∨( q∧~p)
01. Resposta: D. F∨F
I- p → ~(p ∨ ~q) F
(V) →~(V∨V) Como a proposição é verdadeira, R deve ser verdadeira
V→F para a disjunção ser verdadeira.
F
06. Resposta: D.
II- ~p → ~p ∧ q A única que conseguimos colocar um valor lógico.
F→F∧V A C é uma proposição composta.
F→F
V 07. Resposta: D.
Observe que as alternativas D e E são contraditórias,
III- p → q portanto uma delas é falsa.
V→F Se as duas proposições têm o mesmo valor lógico, a
F bicondicional é verdadeira.

IV- ~(~p ∨ q) → p ∧ ~q 08. Resposta: Errado.


~(F∨F) →V∧V “...encarcerado nem poderá pagar fiança”.
V→V “Nem” é uma conjunção(∧)
→V
09. Resposta: D.
Não pode chover para Mariana ir ao deserto.
02. Resposta:.E.
Vamos fazer por alternativa: 10. Resposta: A.
(A) V→V O conectivo ou chama-se disjunção e também é repre-
V sentado simbolicamente por ∨

(B) F→V Tabela-verdade


V Com a tabela-verdade, conseguimos definir o valor
lógico de proposições compostas facilmente, analisando
(C)V→V cada coluna.
V Se tivermos uma proposição p, ela pode ter V(p)=V ou
V(p)=F
(D) F→F
V p
V
(E) V→F
F F

4
NOÇÕES DE LÓGICA

Quando temos duas proposições, não basta colocar só -Disjunção


VF, será mais que duas linhas. Vamos pensar na mesma frase anterior, mas com o co-
nectivo “ou”.
p q Eu comprei bala ou chocolate.
V V Eu comprei bala e também comprei o chocolate, está
V F certo pois poderia ser um dos dois ou os dois.
F V Se eu comprei só bala, ainda estou certa, da mesma
F F forma se eu comprei apenas chocolate.
Agora se eu não comprar nenhum dos dois, não dará
Observe, a primeira proposição ficou VVFF certo.
E a segunda intercalou VFVF.
Vamos raciocinar, com uma proposição temos 2 possi- p q p ∨q
bilidades, com 2 proposições temos 4, tem que haver um
V V V
padrão para se tornar mais fácil!
As possibilidades serão 2n, V F V
Onde: F V V
n=número de proposições
F F F

p q r -Disjunção Exclusiva
V V V Na disjunção exclusiva é diferente, pois OU comprei
chocolate OU comprei bala.
V F V
Ou seja, um ou outro, não posso ter os dois ao mesmo
V V F tempo.
V F F
F V V p q p∨q
F F V V V F
V F V
F V F
F V V
F F F F F F

A primeira proposição, será metade verdadeira e me- -Condicional


tade falsa.
A segunda, vamos sempre intercalar VFVFVF. Se chove, então faz frio.
E a terceira VVFFVVFF.
Agora, vamos ver a tabela verdade de cada um dos Se choveu, e fez frio
operadores lógicos? Estamos dentro da possibilidade.(V)

-Negação Choveu e não fez frio


Não está dentro do que disse. (F)
p ~p
V F Não choveu e fez frio..
F V Ahh tudo bem, porque pode fazer frio se não chover,
certo?(V)
Se estamos negando uma coisa, ela terá valor lógico
oposto, faz sentido, não? Não choveu, e não fez frio
Ora, se não choveu, não precisa fazer frio. (V)
- Conjunção
Eu comprei bala e chocolate, só vou me contentar se eu p q p →q
tiver as duas coisas, certo?
V V V
Se eu tiver só bala não ficarei feliz, e nem se tiver só
V F F
chocolate.
E muito menos se eu não tiver nenhum dos dois. F V V
F F V
p q p ∧q
V V V
V F F
F V F
F F F

5
NOÇÕES DE LÓGICA

-Bicondicional Esses são os exemplos mais simples, mas normalmente


conseguiremos resolver as questões com base na tabela
Ficarei em casa, se e somente se, chover. verdade, por isso insisto que a tabela verdade dos opera-
Estou em casa e está chovendo. dores, têm que estar na “ponta da língua”, quase como a
A ideia era exatamente essa. (V) tabuada da matemática.

Estou em casa, mas não está chovendo. Veremos outros exemplos


Você não fez certo, era só pra ficar em casa se choves-
se. (F) Exemplo 1

Eu sai e está chovendo. Vamos pensar nas proposições


Aiaiai não era pra sair se está chovendo. (F) P: João é estudante
Não estou em casa e não está chovendo. Q: Mateus é professor
Sem chuva, você pode sair, ta? (V) Se João é estudante, então João é estudante ou Mateus
é professor.
p q p ↔q Em simbologia: p→p∨q
V V V
V F F P Q p∨q p→p∨q
F V F V V V V
F F V V F V V
F V V V
Tentei deixar de uma forma mais simples, para enten- F F F V
der a tabela verdade de cada conectivo, pois sei que será
difícil para decorar, mas se você lembrar das frases, talvez A coluna inteira da proposição composta deu verda-
fique mais fácil. Bons estudos! Vamos às questões! deiro, então é uma tautologia.

Tautologia Exemplo 2
Com as mesmas proposições anteriores:
Definição: Chama-se tautologia, toda proposição com- João é estudante ou não é verdade que João é estu-
posta que terá a coluna inteira de valor lógico V. dante e Mateus é professor.
Podemos ter proposições SIMPLES que são falsas e se p∨~(p∧q)
a coluna da proposição composta for verdadeira é tauto-
logia. P Q p∧q ~(p∧q) p∨~(p∧q)
Vamos ver alguns exemplos. V V V F V
V F F V V
A proposição ~(p∧p) é tautologia, pelo Princípio da F V F V V
não contradição. Está lembrado? F F F V V
Princípio da não Contradição: uma proposição não Novamente, coluna deu inteira com valor lógico verda-
pode ser verdadeira “e” falsa ao mesmo tempo. deiro, é tautologia.

P ~p p∧~p ~(p∧~p) Exemplo 3


V F F V Se João é estudante ou não é estudante, então Mateus
F V F V é professor.

A proposição p∨ ~p é tautológica, pelo princípio do P Q ~p p∨~p p∨~p→q


Terceiro excluído. V V F V V
V F F V F
Princípio do Terceiro Excluído: toda proposição “ou” é F V V V V
verdadeira “ou” é falsa, isto é, verifica-se sempre um desses F F V V F
casos e nunca um terceiro caso.
Deu pelo menos uma falsa e agora?
P ~p p∨~p Não é tautologia.
V F V
F V V Referências

ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemá-


tica – São Paulo: Nobel – 2002.

6
NOÇÕES DE LÓGICA

Questões Regra de Clavius


~p→p⇔p
01. (UTFPR – Pedagogo – UTFPR/2017) Considere as
seguintes proposições: p ~p ~p→p
I) p ∧ ~p V F V
II) p → ~p F V F
III) p ∨ ~p
IV) p →~q Regra de Absorção
p→p∧q⇔p→q
Assinale a alternativa correta.
(A) Somente I e II são tautologias. p q p∧q p→p∧q p→q
(B) Somente II é tautologia.
V V V V V
(C) Somente III é tautologia.
V F F F F
(D) Somente III e a IV são tautologias.
F V F V V
(E) Somente a IV é tautologia.
F F F V V
02 (FUNDAÇÃO HEMOCENTRO DE BRASILIA/DF – Ad-
Condicional
ministração – IADES/2017) Assinale a alternativa que apre-
senta uma tautologia. Gostaria da sua atenção aqui, pois as condicionais são
(A) p∨(q∨~p) as mais pedidas nos concursos
(B) (q→p) →(p→q) A condicional p→q e a disjunção ~p∨q, têm tabelas-
(C) p→(p→q∧~q) -verdades idênticas
(D) p∨~q→(p→~q)
(E) p∨q→p∧q
p ~p q p∧q p→q ~p∨q
V F V V V V
Respostas
V F F F F F
F V V F V V
01. Resposta: C.
F V F F V V
P ou a própria negação é tautologia.
Exemplo
02. Resposta: A. p: Coelho gosta de cenoura
Antes de entrar em desespero que tenha que fazer to- q: Coelho é herbívoro.
das as tabela verdade, vamos analisar:
Provavelmente terá uma alternativa que tenha uma p→q: Se coelho gosta de cenoura, então coelho é her-
proposição com conectivo de disjunção e a negação: p∨~p bívoro.
Logo na alternativa A, percebemos que temos algo parecido. ~p∨q: Coelha não gosta de cenoura ou coelho é her-
Para confirmar, podemos fazer a tabela verdade bívoro

Equivalências Lógicas A condicional ~p→~q é equivalente a disjunção p∨~q

Diz-se que uma proposição P(p,q,r..) é logicamente p q ~p ~q ~p→~q p∨~q


equivalente ou equivalente a uma proposição Q(p,r,s..) se as V V F F V V
tabelas-verdade dessas duas proposições são IDÊNTICAS. V F F V V V
Para indicar que são equivalentes, usaremos a seguinte F V V F F F
notação: F F V V V V
P(p,q,r..) ⇔ Q(p,r,s..)
Equivalência fundamentais (Propriedades Funda-
Essa parte de equivalência é um pouco mais chatinha, mentais): a equivalência lógica entre as proposições goza
mas conforme estudamos, vou falando algumas dicas. das propriedades simétrica, reflexiva e transitiva.

Regra da Dupla negação 1 – Simetria (equivalência por simetria)


~~p⇔p a) p ∧ q ⇔ q ∧ p

p ~p ~~p p q p∧q q∧p


V F V V V V V
F V F V F F F
F V F F
São iguais, então ~~p⇔p F F F F

7
NOÇÕES DE LÓGICA

b) p ∨ q ⇔ q ∨ p

p q p∨q q∨ p
V V V V
V F V V
F V V V
F F F F

c) p ∨ q ⇔ q p

p q p∨q q∨p
V V F F
V F V V
F V V V
F F F F

d) p ↔ q ⇔ q ↔ p

p q p↔q q↔p
V V V V
V F F F
F V F F
F F V V

Equivalências notáveis:

1 - Distribuição (equivalência pela distributiva)

a) p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)

p q r q∨r p ∧ (q ∨ r) p∧q p∧r (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)

V V V V V V V V
V V F V V V F V
V F V V V F V V
V F F F F F F F
F V V V F F F F
F V F V F F F F
F F V V F F F F
F F F F F F F F

b) p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)

p q r q∧r p ∨ (q ∧ r) p∨q p∨r (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)


V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V F V V V V
V F F F V V V V
F V V V V V V V
F V F F F V F F
F F V F F F V F
F F F F F F F F

8
NOÇÕES DE LÓGICA

2 - Associação (equivalência pela associativa)

a) p ∧ (q ∧ r) ⇔ (p ∧ q) ∧ (p ∧ r)

p q r q∧r p ∧ (q ∧ r) p∧q p∧r (p ∧ q) ∧ (p ∧ r)


V V V V V V V V
V V F F F V F F
V F V F F F V F
V F F F F F F F
F V V V F F F F
F V F F F F F F
F F V F F F F F
F F F F F F F F

b) p ∨ (q ∨ r) ⇔ (p ∨ q) ∨ (p ∨ r)

p q r q∨r p ∨ (q ∨ r) p∨q p∨r (p ∨ q) ∨ (p ∨ r)


V V V V V V V V
V V F V V V V V
V F V V V V V V
V F F F V V V V
F V V V V V V V
F V F V V V F V
F F V V V F V V
F F F F F F F F

3 – Idempotência

a) p ⇔ (p ∧ p)
Para ficar mais fácil o entendimento, vamos fazer duas colunas com p:

p p p∧p
V V V
F F F

b) p ⇔ (p ∨ p)

p p p∨p
V V V
F F F

4 - Pela contraposição: de uma condicional gera-se outra condicional equivalente à primeira, apenas invertendo-se e
negando-se as proposições simples que as compõem.

Da mesma forma que vimos na condicional mais acima, temos outros modos de definir a equivalência da condicional
que são de igual importância

1º caso – (p → q) ⇔ (~q → ~p)

p q ~p ~q p→q ~q → ~p
V V F F V V
V F F V F F
F V V F V V
F F V V V V

9
NOÇÕES DE LÓGICA

2º caso: (~p → q) ⇔ (~q → p)


p q ~p ~p → q ~q ~q → p
V V F V F V
V F F V V V
F V V V F V
F F V F V F

3º caso: (p → ~q) ⇔ (q → ~p)


p q ~q p → ~q ~p q → ~p
V V F F F F
V F V V F V
F V F V V V
F F V V V V

5 - Pela bicondicional

a) (p ↔ q) ⇔ (p → q) ∧ (q → p), por definição

p q p↔q p→q q→p (p → q) ∧ (q → p)


V V V V V V
V F F F V F
F V F V F F
F F V V V V

b) (p ↔ q) ⇔ (~q → ~p) ∧ (~p → ~q)

p q p↔q ~q ~p ~q → ~p ~p → ~q (~q → ~p) ∧ (~p → ~q)


V V V F F V V V
V F F V F F V F
F V F F V V F F
F F V V V V V V

c) (p ↔ q) ⇔ (p ∧ q) ∨ (~p ∧ ~q)

p q p↔q p∧q ~p ~q ~p ∧ ~q (p ∧ q) ∨ (~p ∧ ~q)


V V V V F F F V
V F F F F V F F
F V F F V F F F
F F V F V V V V

6 - Pela exportação-importação

[(p ∧ q) → r] ⇔ [p → (q → r)]

p q r p∧q (p ∧ q) → r q→r p → (q → r)
V V V V V V V
V V F V F F F
V F V F V V V
V F F F V V V
F V V F V V V
F V F F V F V
F F V F V V V
F F F F V V V

10
NOÇÕES DE LÓGICA

Proposições Associadas a uma Condicional (se, então)

Chama-se proposições associadas a p → q as três proposições condicionadas que contêm p e q:


– Proposições recíprocas: p → q: q → p
– Proposição contrária: p → q: ~p → ~q
– Proposição contrapositiva: p → q: ~q → ~p

Observe a tabela verdade dessas quatro proposições:

p q ~p ~q p→q q→p ~p → ~q ~q → ~p
V V F F V V V V
V F F V F V V F
F V V F V F F V
F F V V V V V V

Observamos ainda que a condicional p → q e a sua recíproca q → p ou a sua contrária ~p → ~q NÃO SÃO EQUIVA-
LENTES.

Questões

01. (TJ/SP - Escrevente Técnico Judiciário - VUNESP/2017) Uma afirmação equivalente para “Se estou feliz, então
passei no concurso” é:
(A) Se passei no concurso, então estou feliz.
(B) Se não passei no concurso, então não estou feliz.
(C) Não passei no concurso e não estou feliz.
(D) Estou feliz e passei no concurso.
(E) Passei no concurso e não estou feliz.

02. (UTFPR – Pedagogo – UTFPR/2017) Considere a frase:


Se Marco treina, então ele vence a competição.
A frase equivalente a ela é:
(A) Se Marco não treina, então vence a competição.
(B) Se Marco não treina, então não vence a competição.
(C) Marco treina ou não vence a competição.
(D) Marco treina se e somente se vence a competição.
(E) Marco não treina ou vence a competição.

03. (TRF 1ª REGIÃO – Cargos de nível médio – CESPE/2017) A partir da proposição P: “Quem pode mais, chora
menos.”, que corresponde a um ditado popular, julgue o próximo item.
Do ponto de vista da lógica sentencial, a proposição P é equivalente a “Se pode mais, o indivíduo chora menos”.
( ) Certo
( ) Errado

04. (TRT 12ª REGIÃO – Analista Judiciário – FGV/2017) Considere a sentença: “Se Pedro é torcedor do Avaí e Mar-
cela não é torcedora do Figueirense, então Joana é torcedora da Chapecoense”.
Uma sentença logicamente equivalente à sentença dada é:
(A) Se Pedro não é torcedor do Avaí ou Marcela é torcedora do Figueirense, então Joana não é torcedora da Chape-
coense.
(B) Se Pedro não é torcedor do Avaí e Marcela é torcedora do Figueirense, então Joana não é torcedora da Chape-
coense.
(C) Pedro não é torcedor do Avaí ou Marcela é torcedora do Figueirense ou Joana é torcedora da Chapecoense.
(D) Se Joana não é torcedora da Chapecoense, então Pedro não é torcedor do Avaí e Marcela é torcedora do Figuei-
rense.
(E) Pedro não é torcedor do Avaí ou Marcela é torcedora do Figueirense e Joana é torcedora da Chapecoense.

11
NOÇÕES DE LÓGICA

05. (IBGE – Analista Censitário – FGV/2017) Consi- (A) Se não gosto de capivara, então não gosto de javali.
dere como verdadeira a seguinte sentença: “Se todas as (B) Gosto de capivara e gosto de javali.
flores são vermelhas, então o jardim é bonito”. (C) Não gosto de capivara ou gosto de javali.
É correto concluir que: (D) Gosto de capivara ou não gosto de javali.
(A) se todas as flores não são vermelhas, então o jar- (E) Gosto de capivara e não gosto de javali.
dim não é bonito;
(B) se uma flor é amarela, então o jardim não é bonito; Respostas
(C) se o jardim é bonito, então todas as flores são ver-
melhas; 01. Resposta: B.
(D) se o jardim não é bonito, então todas as flores não p→q⇔~q→~p
são vermelhas; p: Estou feliz
(E) se o jardim não é bonito, então pelo menos uma flor q: passei no concurso
não é vermelha. A equivalência ficaria:
Se não passei no concurso, então não estou feliz.
06. (POLITEC/MT – Papiloscopista – UFMT/2017)
Uma proposição equivalente a Se há fumaça, há fogo, é: 02. Resposta: E.
(A) Se não há fumaça, não há fogo. Temos p→q e a equivalência pode ser: “~q→~p” ou
(B) Se há fumaça, não há fogo. “~p∨q”
(C) Se não há fogo, não há fumaça. P: Marcos treina
(D) Se há fogo, há fumaça. Q: ele vence a competição
Marcos não treina ou ele vence a competição
07. (DPE/RR – Técnico em Informática – INAZ DO
03. Resposta: Certo.
PARÁ/2017) Diz-se que duas preposições são equivalen-
Uma dica é que normalmente quando tem vírgula é
tes entre si quando elas possuem o mesmo valor lógico. A
condicional, não é regra, mas acontece quando você não
sentença logicamente equivalente a: “ Se Maria é médica,
acha o conectivo.
então Victor é professor” é:
04. Resposta: C.
(A) Se Victor não é professor então Maria não é médica
Temos p→q e a equivalência pode ser: “~q→~p” ou
(B) Se Maria não é médica então Victor não é professor “~p∨q”
(C) Se Victor é professor, Maria é médica ~p: Pedro não é torcedor do Avaí ou Marcela é torce-
(D) Se Maria é médica ou Victor é professor dora do Figueirense
(E) Se Maria é médica ou Victor não é professor ~q→~p: Se Joana não é torcedora da Chapecoense,
então Pedro não é torcedor do Avaí ou Marcela é torcedora
08. (PREF. DE RIO DE JANEIRO – Administrador – do Figueirense
PREF. DO RIO DE JANEIRO/2016) Uma proposição lo- ~p∨q: Pedro não é torcedor do Avaí ou Marcela é
gicamente equivalente a “se eu não posso pagar um táxi, torcedora do Figueirense ou Joana é torcedora da Chape-
então vou de ônibus” é a seguinte: coense.
(A) se eu não vou de ônibus, então posso pagar um táxi
(B) se eu posso pagar um táxi, então não vou de ônibus 05. Resposta: E.
(C) se eu vou de ônibus, então não posso pagar um táxi Equivalência: p→q⇔~q→~p
(D) se eu não vou de ônibus, então não posso pagar Para negar Todos:
um táxi Pelo menos faz o contrário, ou seja, no nosso caso,
pelo menos uma flor não é vermelha
09. (PREF. DO RIO DE JANEIRO – Agente de Admi- ~p: Pelo menos uma flor não é vermelha
nistração – PREF. DO RIO DE JANEIRO/2016) Uma pro- Se o jardim não é bonito, então pelo menos uma flor
posição logicamente equivalente a “todo ato desonesto é não é vermelha.
passível de punição” é a seguinte:
(A) todo ato passível de punição é desonesto. 06. Resposta: C.
(B) todo ato não passível de punição é desonesto. Nega as duas e troca de lado.
(C) se um ato não é passível de punição, então não é Se não há fogo, então não há fumaça.
desonesto.
(D) se um ato não é desonesto, então não é passível 07. Resposta: A.
de punição. Nega as duas e troca de lado.
Se Victor não é professor, então Maria não é medica.
10. (TJ/PI – Analista Judiciário – FGV/2015) Conside-
re a sentença: “Se gosto de capivara, então gosto de javali”.
Uma sentença logicamente equivalente à sentença
dada é:

12
NOÇÕES DE LÓGICA

08. Resposta: A.
Temos p→q e a equivalência pode ser ~q→~p
~p∨q
Nesse caso, como temos apenas condicional nas alternativas.
Nega as duas e troca
p: não posso pagar um táxi
q: vou de ônibus
~p: Posso pagar um táxi
~q: Não vou de ônibus
Se não vou de ônibus, então posso pagar um táxi

09. Resposta: C.
Vamos pensar da seguinte maneira:
Se todo ato é desonesto, então é passível de punição
Temos p→q e a equivalência pode ser: “~q→~p” ou “~p∨q”
Nesse caso, as alternativas nos mostram condicional.
Se um ato não é passível de punição, então não é desonesto.

10. Resposta: C.
Lembra da tabela da teoria??
p q p→q ~p ~p∨q
V V V F V
V F F F F
F V V V V
F F V V V

Então
p: Gosto de capivara
q: Gosto de javali

Temos p→q e a equivalência pode ser ~q→~p, mas não temos essa opção.
Portanto, deve ser ~p∨q
Não gosto de capivara ou gosto de javali.

Referências
ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática – São Paulo: Nobel – 2002.
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu - Raciocínio lógico passo a passo – Rio de Janeiro: Elsevier,
2013.

Leis de Demorgan

Negação de uma proposição composta


Definição: Quando se nega uma proposição composta primitiva, gera-se outra proposição também composta e equi-
valente à negação de sua primitiva.
Ou seja, muitas vezes para os exercícios teremos que saber qual a equivalência da negação para compor uma frase, por
exemplo.

Negação de uma conjunção (Lei de Morgan)


Para negar uma conjunção, basta negar as partes e trocar o conectivo conjunção pelo conectivo disjunção.
~(p ∧ q) ⇔ (~p ∨ ~q)
p q ~p ~q p∧q ~(p ∧ q) ~p ∨ ~q
V V F F V F F
V F F V F V V
F V V F F V V
F F V V F V V

Negação de uma disjunção (Lei de Morgan)


Para negar uma disjunção, basta negar as partes e trocar o conectivo-disjunção pelo conectivo-conjunção.

13
NOÇÕES DE LÓGICA

~(p ∨ q) ⇔ (~p ∧ ~q)

p q ~p ~q p∨q ~(p ∨ q) ~p ∧ ~q
V V F F V F F
V F F V V F F
F V V F V F F
F F V V F V V

Resumindo as negações, quando é conjunção nega as duas e troca por “ou”


Quando for disjunção, nega tudo e troca por “e”.
Negação de uma disjunção exclusiva
~(p ∨ q) ⇔ (p ↔ q)

p q p∨q ~( p∨q) p↔q


V V F V V
V F V F F
F V V F F
F F F V V

Negação de uma condicional


Famoso MANE

Mantém a primeira e nega a segunda.

~(p → q) ⇔ (p ∧ ~q)

p q p→q ~q ~(p → q) p ∧ ~q
V V V F F F
V F F V V V
F V V F F V
F F V V F F

Negação de uma bicondicional

~(p ↔ q) = ~[(p → q) ∧ (q → p)] ⇔ [(p ∧ ~q) ∨ (q ∧ ~p)]

~[(p → q) ∧ [(p ∧ ~q) ∨


P Q p↔q p→q q→p p → q) ∧ (q → p)] p ∧ ~q q ∧ ~p
(q → p)] (q ∧ ~p)]
V V V V V V F F F F
V F F F V F V V F V
F V F V F F V F V V
F F V V V V F F F F

Dupla negação (Teoria da Involução)


De uma proposição simples: p ⇔ ~ (~p)

P ~P ~ (~p)
V F V
F V F

b) De uma condicional: Definição: A dupla negação de uma condicional dá-se da seguinte forma: nega-se a 1ª parte da
condicional, troca-se o conectivo-condicional pela disjunção e mantém-se a 2a parte.
Demonstração: Seja a proposição primitiva: p → q nega-se pela 1a vez: ~(p → q) ⇔ p ∧ ~q nega-se pela 2a vez: ~(p
∧ ~q) ⇔ ~p ∨ q
Conclusão: Ao negarmos uma proposição primitiva duas vezes consecutivas, a proposição resultante será equivalente
à sua proposição primitiva. Logo, p → q ⇔ ~p ∨ q

14
NOÇÕES DE LÓGICA

Questões 05. (TRF 1ª REGIÃO – cargos de nível superior –


CESPE/2017) Em uma reunião de colegiado, após a apro-
01. (CORREIOS – Engenheiro de Segurança do Tra- vação de uma matéria polêmica pelo placar de 6 votos a
balho Júnior – IADES/2017) Qual é a negação da pro- favor e 5 contra, um dos 11 presentes fez a seguinte afir-
posição “Engenheiros gostam de biológicas e médicos mação: “Basta um de nós mudar de ideia e a decisão será
gostam de exatas.”? totalmente modificada.”
(A) Engenheiros não gostam de biológicas ou médi- Considerando a situação apresentada e a proposição
cos não gostam de exatas. correspondente à afirmação feita, julgue o próximo item.
(B) Engenheiros não gostam de biológicas e médicos A negação da proposição pode ser corretamente ex-
gostam de exatas. pressa por “Basta um de nós não mudar de ideia ou a deci-
(C) Engenheiros não gostam de biológicas ou médi- são não será totalmente modificada”.
cos gostam de exatas. Certo Errado
(D) Engenheiros gostam de biológicas ou médicos
não gostam de exatas. 06. (TRF 1ª REGIÃO – Cargos de nível médio – CES-
(E) Engenheiros não gostam de biológicas e médicos PE/2017) A partir da proposição P: “Quem pode mais, cho-
não gostam de exatas. ra menos.”, que corresponde a um ditado popular, julgue o
próximo item.
02. (ARTES - Agente de Fiscalização à Regulação A negação da proposição P pode ser expressa por
de Transporte - Tecnologia de Informação - FCC/2017) “Quem não pode mais, não chora menos”
A afirmação que corresponde à negação lógica da frase Certo Errado
‘Vendedores falam muito e nenhum estudioso fala alto’ é:
(A) ‘Nenhum vendedor fala muito e todos os estudio- 07. (CFF – Analista de Sistema – INAZ DO PARÁ/2017)
sos falam alto’. Dizer que não é verdade que “Todas as farmácias estão
(B) ‘Vendedores não falam muito e todos os estudio- abertas” é logicamente equivalente a dizer que:
sos falam alto’.
(C) ‘Se os vendedores não falam muito, então os es- (A) “Toda farmácia está aberta”.
tudiosos não falam alto’. (B) “Nenhuma farmácia está aberta”.
(D) ‘Pelo menos um vendedor não fala muito ou todo (C) “Todas as farmácias não estão abertas”.
estudioso fala alto’. (D) “Alguma farmácia não está aberta”.
(E) ‘Vendedores não falam muito ou pelo menos um (E) “Alguma farmácia está aberta”.
estudioso fala alto’
08. (TRT 7ª REGIÃO – Conhecimentos básicos cargos
03. (IGP/RS – Perito Criminal 0 FUNDATEC/2017) 1, 2, 7 e 8 – CESPE/2017) Texto CB1A5AAA – Proposição P
A negação da proposição “Todos os homens são afetuo- A empresa alegou ter pago suas obrigações previden-
sos” é: ciárias, mas não apresentou os comprovantes de paga-
(A) Toda criança é afetuosa. mento; o juiz julgou, pois, procedente a ação movida pelo
(B) Nenhum homem é afetuoso. ex-empregado.
(C) Todos os homens carecem de afeto. Proposição Q: A empresa alegou ter pago suas obriga-
(D) Pelo menos um homem não é afetuoso. ções previdenciárias, mas não apresentou os comprovantes
(E) Todas as mulheres não são afetuosas. de pagamento.
A proposição Q, anteriormente apresentada, está pre-
04. (TRT – Analista Judiciário – FCC/2017) Uma sente na proposição P do texto CB1A5AAA.
afirmação que corresponda à negação lógica da afirma- A negação da proposição Q pode ser expressa por:
ção: todos os programas foram limpos e nenhum vírus
permaneceu, é: (A) A empresa não alegou ter pago suas obrigações
previdenciárias ou apresentou os comprovantes de paga-
(A) Se pelo menos um programa não foi limpo, então mento.
algum vírus não permaneceu. (B) A empresa alegou ter pago suas obrigações previ-
(B) Existe um programa que não foi limpo ou pelo denciárias ou não apresentou os comprovantes de paga-
menos um vírus permaneceu. mento.
(C) Nenhum programa foi limpo e todos os vírus per- (C)A empresa alegou ter pago suas obrigações previ-
maneceram. denciárias e apresentou os comprovantes de pagamento.
(D) Alguns programas foram limpos ou algum vírus (D) A empresa não alegou ter pago suas obrigações
não permaneceu. previdenciárias nem apresentou os comprovantes de pa-
(E) Se algum vírus permaneceu, então nenhum pro- gamento.
grama foi limpos.

15
NOÇÕES DE LÓGICA

09. (DPE/RS – Analista – FCC/2017) Considere a afir- 05. Resposta: Errado.


mação: CUIDADO!
Ontem trovejou e não choveu. O basta traz sentido de condicional.
Uma afirmação que corresponde à negação lógica des- Se um de nós mudar de ideia, então a decisão será
ta afirmação é totalmente modificada.
(A) se ontem não trovejou, então não choveu. Portanto, mantém a primeira e nega a segunda (MANÈ)
(B) ontem trovejou e choveu. Basta um de nós mudar de ideia e a decisão não será
(C) ontem não trovejou ou não choveu. totalmente modificada.
(D) ontem não trovejou ou choveu.
(E) se ontem choveu, então trovejou. 06. Resposta: Errado.
Negação de uma condicional: mantém a primeira e
10. (DPE/RS – Analista – FCC/2017) Considere a afir- nega a segunda.
mação:
Se sou descendente de italiano, então gosto de macar- 07. Resposta: D.
rão e gosto de parmesão. Para negar todos: pelo menos uma, alguma, existe uma
Uma afirmação que corresponde à negação lógica des- Alguma farmácia não está aberta.
ta afirmação é
(A) Sou descendente de italiano e, não gosto de macar- 08. Resposta: A.
rão ou não gosto de parmesão. Nega as duas e troca por “e” por “ou”
(B) Se não sou descendente de italiano, então não gos- A empresa não alegou ter pago suas obrigações previ-
to de macarrão e não gosto de parmesão. denciárias ou apresentou os comprovantes de pagamento.
(C) Se gosto de macarrão e gosto de parmesão, então
não sou descendente de italiano. 09. Resposta: D.
(D) Não sou descendente de italiano e, gosto de ma- Negação de ontem trovejou: ontem não trovejou
carrão e não gosto de parmesão. Negação de não choveu: choveu
(E) Se não gosto de macarrão e não gosto de parme- Ontem não trovejou ou choveu.
são, então não sou descendente de italiano.
10. Resposta: A.
Respostas Negação de condicional: mantém a primeira e nega a
segunda.
01. Resposta: A. Negação de conjunção: nega as duas e troca “e” por
Nega as duas e muda o conectivo para ou “ou”
|Engenheiros não gostam de biológicas OU médicos Vamos fazer primeiro a negação da conjunção: gosto
não gostam de exatas. de macarrão e gosto de parmesão.
Não gosto de macarrão ou não gosto de parmesão.
02. Resposta: E.
Nega as duas e coloca ou. Sou descendente de italiano e não gosto de macarrão
Vendedores não falam muito ou não gosto de parmesão.
Para negar nenhum, devemos colocar pelo menos e a
afirmativa Argumentos
Pelo menos um estudioso fala muito.
Um argumento é um conjunto finito de premissas (pro-
OBS: Se fosse Todos a negação seria pelo menos 1 es- posições ), sendo uma delas a consequência das demais.
tudioso não fala muito. Tal premissa (proposição), que é o resultado dedutivo ou
consequência lógica das demais, é chamada conclusão. Um
03. Resposta: D. argumento é uma fórmula: P1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn → Q
Para negar todos, colocamos pelo menos um...
E negamos a frase. OBSERVAÇÃO: A fórmula argumentativa P1 ∧ P2 ∧ ...
Pelo menos um homem não é afetuoso. ∧ Pn → Q, também poderá ser representada pela seguinte
forma:
04. Resposta:B.
Negação de Todos: Pelo menos um (existe um, alguns)
e a negação:
Pelo menos um programa não foi limpo.
Negação de nenhum : pelo menos um e a afirmação.
Pelo menos um vírus permaneceu.
Ou
Alguns vírus permaneceram.

16
NOÇÕES DE LÓGICA

Argumentos válidos Carlos é inocente, pois sendo a primeira verdadeira, a


condicional só será verdadeira se a segunda proposição
Um argumento é válido quando a conclusão é verda- também for.
deira (V), sempre que as premissas forem todas verdadeiras Então, temos:
(V). Dizemos, também, que um argumento é válido quando Pedro é inocente, João é culpado, Antônio é inocente e
a conclusão é uma consequência obrigatória das verdades Carlos é inocente.
de suas premissas.
Questões
Argumentos inválidos
01. (PREF. DE SALVADOR – Técnico de Nível Supe-
Um argumento é dito inválido (ou falácia, ou ilegítimo rior – FGV/2017) Carlos fez quatro afirmações verdadeiras
ou mal construído), quando as verdades das premissas são sobre algumas de suas atividades diárias:
insuficientes para sustentar a verdade da conclusão. Caso a ▪ De manhã, ou visto calça, ou visto bermuda.
conclusão seja falsa, decorrente das insuficiências geradas ▪ Almoço, ou vou à academia.
pelas verdades de suas premissas, tem-se como conclusão ▪ Vou ao restaurante, ou não almoço.
uma contradição (F). ▪ Visto bermuda, ou não vou à academia.
Métodos para testar a validade dos argumentos
(IFBA – Administrador – FUNRIO/2016) Ou João é cul- Certo dia, Carlos vestiu uma calça pela manhã.
pado ou Antônio é culpado. Se Antônio é inocente então
Carlos é inocente. João é culpado se e somente se Pedro é É correto concluir que Carlos:
inocente. Ora, Pedro é inocente. Logo: (A) almoçou e foi à academia.
(B) foi ao restaurante e não foi à academia.
(A) Pedro e Antônio são inocentes e Carlos e João são (C) não foi à academia e não almoçou.
culpados. (D) almoçou e não foi ao restaurante.
(B) Pedro e Carlos são inocentes e Antônio e João são (E) não foi à academia e não almoçou.
culpados.
(C) Pedro e João são inocentes e Antônio e Carlos são 02. (TRT 12ª REGIÃO – Analista Judiciário-
culpados. FGV/2017) Sabe-se que:
(D) Antônio e Carlos são inocentes e Pedro e João são • Se X é vermelho, então Y não é verde.
culpados. • Se X não é vermelho, então Z não é azul.
(E) Antônio, Carlos e Pedro são inocentes e João é cul- • Se Y é verde, então Z é azul.
pado.
Logo, deduz-se que:
Resposta: E. (A) X é vermelho;
Vamos começar de baixo pra cima. (B) X não é vermelho;
(C) Y é verde;
Ou João é culpado ou Antônio é culpado. (D) Y não é verde;
Se Antônio é inocente então Carlos é inocente (E) Z não é azul.
João é culpado se e somente se Pedro é inocente
Ora, Pedro é inocente 03. (PC/AC – Agente de Polícia Civil – IBADE/2017)
(V) Sabe-se que se Zeca comprou um apontador de lápis azul,
então João gosta de suco de laranja. Se João gosta de suco
Sabendo que Pedro é inocente, de laranja, então Emílio vai ao cinema. Considerando que
João é culpado se e somente se Pedro é inocente Emílio não foi ao cinema, pode-se afirmar que:
João é culpado, pois a bicondicional só é verdadeira se (A) Zeca não comprou um apontador de lápis azul.
ambas forem verdadeiras ou ambas falsas. (B) Emílio não comprou um apontador de lápis azul.
(C) Zeca não gosta de suco de laranja.
João é culpado se e somente se Pedro é inocente (D) João não comprou um apontador de lápis azul.
(V) (V) (E) Zeca não foi ao cinema.
Ora, Pedro é inocente
(V) 04. (UFSBA – Administrador – UFMT/2017) São da-
dos os seguintes argumentos:
Sabendo que João é culpado, vamos analisar a primeira
premissa ARGUMENTO 1
Ou João é culpado ou Antônio é culpado. P1: Iracema não gosta de acarajé ou Iracema não é so-
Então, Antônio é inocente, pois a disjunção exclusiva só teropolitana.
é verdadeira se apenas uma das proposições for. P2: Iracema é soteropolitana.
C:
Se Antônio é inocente então Carlos é inocente

17
NOÇÕES DE LÓGICA

ARGUMENTO 2 • Se Ana não trabalha na área de informática, então


P1: Se Aurélia não é ilheense, então Aurélia não é pro- Paulo é técnico de contabilidade.
dutora de cacau. • Carlos é especialista em recursos humanos, ou Ana
P2: Aurélia não é ilheense. não trabalha na área de informática, ou Bianca é professora.
C: Assinale a opção correspondente à conclusão que torna
esse argumento um argumento válido.
ARGUMENTO 3 (A) Carlos não é especialista em recursos humanos e
P1: Lucíola é bailarina ou Lucíola é turista. Paulo não é técnico de contabilidade.
P2: Lucíola não é bailarina. (B) Ana não trabalha na área de informática e Paulo é
C: técnico de contabilidade.
(C) Carlos é especialista em recursos humanos e Ana
ARGUMENTO 4 trabalha na área de informática.
P1: Se Cecília é baiana, então Cecília gosta de vatapá. (D) Bianca não é professora e Paulo é técnico de con-
P2: Cecília não gosta de vatapá. tabilidade.
C: (E) Paulo não é técnico de contabilidade e Ana não tra-
balha na área de informática.
Pode-se inferir que
(A) Lucíola é turista. 08. (PREF. DE SÃO GONÇALO – Analista de Contabi-
(B) Cecília é baiana. lidade – BIORIO/2016) Se Ana gosta de Beto, então Beto
(C) Aurélia é produtora de cacau. ama Carla. Se Beto ama Carla, então Débora não ama Luiz.
(D) Iracema gosta de acarajé. Se Débora não ama Luiz, então Luiz briga com Débora. Mas
Luiz não briga com Débora. Assim:
05. (COPERGAS/PE – Auxiliar Administrativo – (A) Ana gosta de Beto e Beto ama Carla.
FCC/2016) Considere verdadeiras as afirmações a seguir: (B) Débora não ama Luiz e Ana não gosta de Beto.
I. Laura é economista ou João é contador. (C) Débora ama Luiz e Ana gosta de Beto.
II. Se Dinorá é programadora, então João não é con- (D) Ana não gosta de Beto e Beto não ama Carla.
(E) Débora não ama Luiz e Ana gosta de Beto.
tador.
III. Beatriz é digitadora ou Roberto é engenheiro.
09. (PREF. DE RIO DE JANEIRO – Administrador –
IV. Roberto é engenheiro e Laura não é economista.
PREF. DO RIO DE JANEIRO/2016) Considerem-se verda-
deiras as seguintes proposições:
A partir dessas informações é possível concluir, corre-
P1: André não gosta de chuchu ou Bruno gosta de be-
tamente, que :
terraba.
(A) Beatriz é digitadora.
P2: Se Bruno gosta de beterraba, então Carlos não gos-
(B) João é contador. ta de jiló.
(C) Dinorá é programadora. P3: Carlos gosta de jiló e Daniel não gosta de cenoura.
(D) Beatriz não é digitadora.
(E) João não é contador. Assim, uma conclusão necessariamente verdadeira é a
seguinte:
06. (MPE/RJ – Analista do Ministério Público – (A) André não gosta de chuchu se, e somente se, Daniel
FGV/2016) Sobre as atividades fora de casa no domingo, gosta de cenoura.
Carlos segue fielmente as seguintes regras: (B) Se André não gosta de chuchu, então Daniel gosta
- Ando ou corro. de cenoura.
- Tenho companhia ou não ando. (C) Ou André gosta de chuchu ou Daniel não gosta de
- Calço tênis ou não corro. cenoura.
Domingo passado Carlos saiu de casa de sandálias. (D) André gosta de chuchu ou Daniel gosta de cenoura.
É correto concluir que, nesse dia, Carlos:
10. (DPU – Agente Administrativo – CESPE/2016)
(A) correu e andou; Considere que as seguintes proposições sejam verdadeiras.
(B) não correu e não andou; • Quando chove, Maria não vai ao cinema.
(C) andou e não teve companhia; • Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema.
(D) teve companhia e andou; • Quando Cláudio sai de casa, não faz frio.
(E) não correu e não teve companhia. • Quando Fernando está estudando, não chove.
• Durante a noite, faz frio.
07. (PREF. DE SÃO PAULO – Assistente de Gestão de
Políticas Públicas – CESPE/2016) As proposições seguin- Tendo como referência as proposições apresentadas,
tes constituem as premissas de um argumento. julgue o item subsecutivo.
• Bianca não é professora. Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estu-
• Se Paulo é técnico de contabilidade, então Bianca é dando.
professora. certo errado

18
NOÇÕES DE LÓGICA

Respostas Mas se Cecília não gosta de vatapá a P2 seria incorre-


ta, por isso não é essa alternativa.
01. Resposta: B.
▪ De manhã, ou visto calça, ou visto bermuda. (C) Aurélia é produtora de cacau
▪ Almoço, ou vou à academia. P1: Se Aurélia não é ilheense, então Aurélia não é pro-
V f dutora de cacau.
▪ Vou ao restaurante, ou não almoço. F F
V F P2: Aurélia não é ilheense.
▪ Visto bermuda, ou não vou à academia. Aurélia seria ilheense.
F V
(D) Iracema gosta de acarajé.
02. Resposta: D. P1: Iracema não gosta de acarajé ou Iracema não é
Vamos tentar fazendo que X é vermelho para ver se soteropolitana.
todos vão ter valor lógico correto. F V
P2: Iracema é soteropolitana.(F)
• Se X é vermelho, então Y não é verde. Também entrou em contradição.
V V
• Se Y é verde, então Z é azul. 05. Resposta: B.
F F/V Começamos sempre pela conjunção.
• Se X não é vermelho, então Z não é azul. IV. Roberto é engenheiro e Laura não é economista.
F F/V V V
Se x não é vermelho: I. Laura é economista ou João é contador.
• Se X é vermelho, então Y não é verde. F V
F V
• Se Y é verde, então Z é azul.
II. Se Dinorá é programadora, então João não é con-
F F
tador.
F F
• Se X não é vermelho, então Z não é azul.
V V
III. Beatriz é digitadora ou Roberto é engenheiro.
V/F V
03. Resposta: A.
06. Resposta: D.
Considerando que Emílio não foi ao cinema:
- Calço tênis ou não corro.
Se João gosta de suco de laranja, então Emílio vai ao F V
cinema.
F F - Ando ou corro.
Zeca comprou um apontador de lápis azul, então João V F
gosta de suco de laranja. - Tenho companhia ou não ando.
F F V F
Resumindo: ele calçou sandálias, andou e teve com-
04. Resposta: A. panhia.
Vamos analisar por alternativa, pois fica mais fácil que
analisar cada argumento. 07. Resposta: C.
OBS: Como a alternativa certa é a A, analisarei todas as • Bianca não é professora.(V)
alternativas, para mostrar o porquê de ser essa a correta. • Se Paulo é técnico de contabilidade, então Bianca é
professora.
(A) Lucíola é turista. F F
Eu acho mais fácil fazer sempre com as premissas ver- • Se Ana não trabalha na área de informática, então
dadeiras. Paulo é técnico de contabilidade.
ARGUMENTO 3 F F
P1: Lucíola é bailarina ou Lucíola é turista. • Carlos é especialista em recursos humanos,
F V V
P2: Lucíola não é bailarina.(V) ou Ana não trabalha na área de informática, ou Bian-
ca é professora.
(B) Cecília é baiana F F
P1: Se Cecília é baiana, então Cecília gosta de vatapá.
V F
P2: Cecília não gosta de vatapá.

19
NOÇÕES DE LÓGICA

08. Resposta: D. DIAGRAMAS LÓGICOS


Sabendo que Luiz não briga com Débora
Se Débora não ama Luiz, então Luiz briga com Débora. As questões de Diagramas lógicos envolvem as pro-
F F posições categóricas (todo, algum, nenhum), cuja solução
. Se Beto ama Carla, então Débora não ama Luiz requer que desenhemos figuras, os chamados diagramas.
F F
Se Ana gosta de Beto, então Beto ama Carla. Definição das proposições
F V
Todo A é B.
09 Resposta: C.
Vamos começar pela P3, pois é uma conjunção, assim O conjunto A está contido no conjunto B, assim todo
é mais fácil definirmos o valor lógico de cada proposição. elemento de A também é elemento de B.
Para a conjunção ser verdadeira, as duas proposições
devem ser verdadeiras. Podemos representar de duas maneiras:
Portanto:
Carlos gosta de jiló.
Daniel não gosta de cenoura.
P2: Se Bruno gosta de beterraba, então Carlos não gos-
ta de jiló.
Carlos não gosta de jiló. (F)
e par a condicional ser verdadeira a primeira também deve
ser falsa.
Bruno gosta de beterraba. (F)

P1: André não gosta de chuchu ou Bruno gosta de be-


terraba.
A segunda é falsa, e para a disjunção ser verdadeira, a Quando “todo A é B” é verdadeira, vamos ver como
primeira é verdadeira. ficam os valores lógicos das outras?
André não gosta de chuchu. (V). Pensemos nessa frase: Toda criança é linda.
Vamos enumerar as verdadeiras:
1- Carlos gosta de jiló. Nenhum A é B é necessariamente falsa.
2-Daniel não gosta de cenoura.
Nenhuma criança é linda, mas eu não acabei de falar
3-Bruno não gosta de beterraba
que TODA criança é linda? Por isso é falsa.
4-André não gosta de chuchu
(A) na bicondicional, as duas deveriam ser verdadeiras,
Algum A é B é necessariamente verdadeira
ou as duas falsas
Alguma Criança é linda, sim, se todas são 1, 2, 3...são
(B) como a primeira proposição é verdadeira, a segun-
lindas.
da também deveria ser.
(D) Como a primeira é falsa, a segunda deveria ser ver-
dadeira. Algum A não é B necessariamente falsa, pois A está
contido em B.
10.Resposta: Errado Alguma criança não é linda, bem como já vimos impos-
sível, pois todas são.
• Durante a noite, faz frio.
V Nenhum A é B.

• Quando Cláudio sai de casa, não faz frio. A e B não terão elementos em comum.
F F

• Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema.


V V

• Quando chove, Maria não vai ao cinema.


F F

• Quando Fernando está estudando, não chove.


V/F V
Portanto, Se Maria foi ao cinema, então Fernando es-
tava estudando.
Não tem como ser julgado.

20
NOÇÕES DE LÓGICA

Quando “nenhum A é B” é verdadeira, vamos ver como c) Todos os elementos de B estão em A.


ficam os valores lógicos das outras?

Frase: Nenhum cachorro é gato. (sim, eu sei. Frase ex-


trema, mas assim é bom para entendermos..hehe)

Todo A é B é necessariamente falsa.


Todo cachorro é gato, faz sentido? Nenhum, não é?

Algum A é B é necessariamente falsa.


Algum cachorro é gato, ainda não faz sentido.

Algum A não é B necessariamente verdadeira.


Algum cachorro não é gato, ah sim espero que todos
não sejam mas, se já está dizendo algum vou concordar.

Algum A é B.
d) O conjunto A é igual ao conjunto B.
Quer dizer que há pelo menos 1 elemento de A em
comum com o conjunto B.

Temos 4 representações possíveis:

a) os dois conjuntos possuem uma parte dos elemen-


tos em comum.

Quando “algum A é B” é verdadeira, vamos ver como


ficam os valores lógicos das outras?
Frase: Algum copo é de vidro.

Nenhum A é B é necessariamente falsa


Nenhum copo é de vidro, com frase fica mais fácil né?
Porque assim, conseguimos ver que é falsa, pois acabei de
b) Todos os elementos de A estão em B. falar que algum copo é de vidro, ou seja, tenho pelo menos
1 copo de vidro.

Todo A é B , não conseguimos determinar, podendo ser


verdadeira ou falsa (podemos analisar também os diagra-
mas mostrados nas figuras a e c)
Todo copo é de vidro.
Pode ser que sim, ou não.

Algum A não é B não conseguimos determinar, poden-


do ser verdadeira ou falsa(contradiz com as figuras b e d)
Algum copo não é de vidro, como não sabemos se to-
dos os copos são de vidros, pode ser verdadeira.

Algum A não é B.
O conjunto A tem pelo menos um elemento que não
pertence ao conjunto B.

21
NOÇÕES DE LÓGICA

Aqui teremos 3 modos de representar: Todo A é B , é necessariamente falsa


Todo copo é de vidro, mas eu disse que algum copo
a) Os dois conjuntos possuem uma parte dos elemen- não era.
tos em comum
Algum A é B é indeterminada
Algum copo é de vidro, não consigo determinar se tem
algum de vidro ou não.

Quantificadores são elementos que, quando associa-


dos às sentenças abertas, permitem que as mesmas sejam
avaliadas como verdadeiras ou falsas, ou seja, passam a ser
qualificadas como sentenças fechadas.

O quantificador universal

O quantificador universal, usado para transformar sen-


tenças (proposições) abertas em proposições fechadas, é
indicado pelo símbolo “∀”, que se lê: “qualquer que seja”,
“para todo”, “para cada”.
b) Todos os elementos de B estão em A.
Exemplo:
(∀x)(x + 2 = 6)
Lê-se: “Qualquer que seja x, temos que x + 2 = 6” (fal-
sa).
É falso, pois não podemos colocar qualquer x para a
afirmação ser verdadeira.

O quantificador existencial

O quantificador existencial é indicado pelo símbolo


“∃” que se lê: “existe”, “existe pelo menos um” e “existe
um”.

Exemplos:
c) Não há elementos em comum entre os dois conjun- (∃x)(x + 5 = 9)
tos Lê-se: “Existe um número x, tal que x + 5 = 9” (verda-
deira).
Nesse caso, existe um número, ahh tudo bem...claro
que existe algum número que essa afirmação será verda-
deira.

Ok?? Sem maiores problemas, certo?

Representação de uma proposição quantificada

(∀x)(x ∈ N)(x + 3 > 15)


Quantificador: ∀
Condição de existência da variável: x ∈ N .
Predicado: x + 3 > 15.
Quando “algum A não é B” é verdadeira, vamos ver
como ficam os valores lógicos das outras? (∃x)[(x + 1 = 4) ∧ (7 + x = 10)]
Vamos fazer a frase contrária do exemplo anterior Quantificador: ∃
Frase: Algum copo não é de vidro. Condição de existência da variável: não há.
Predicado: “(x + 1 = 4) ∧ (7 + x = 10)”.
Nenhum A é B é indeterminada (contradição com as
figuras a e b) Negações de proposições quantificadas ou funcionais
Nenhum copo é de vidro, algum não é, mas não sei se Seja uma sentença (∀x)(A(x)).
todos não são de vidro. Negação: (∃x)(~A(x))

22
NOÇÕES DE LÓGICA

Exemplo (D) para ser programador é necessário gostar de com-


(∀x)(2x-1=3) putador.
Negação: (∃x)(2x-1≠3) (E) qualquer pessoa que gosta de computador será um
bom programador.
Seja uma sentença (∃x)(Q(x)).
Negação: (∀x)(~Q(x)). 04. (COPERGAS/PE - Analista Tecnologia da Informa-
(∃x)(2x-1=3) ção - FCC/2016) É verdade que todo engenheiro sabe ma-
Negação: (∀x)(2x-1≠3) temática. É verdade que há pessoas que sabem matemática e
não são engenheiros. É verdade que existem administradores
Questões que sabem matemática. A partir dessas afirmações é possível
concluir corretamente que:
01. (UFES - Assistente em Administração – (A) qualquer engenheiro é administrador.
UFES/2017) Em um determinado grupo de pessoas: (B) todos os administradores sabem matemática.
(C) alguns engenheiros não sabem matemática.
• todas as pessoas que praticam futebol também pra- (D) o administrador que sabe matemática é engenheiro.
ticam natação, (E) o administrador que é engenheiro sabe matemática.
• algumas pessoas que praticam tênis também prati-
cam futebol, 05. (CRECI 1ª REGIÃO/RJ – Advogado – MSCONCUR-
• algumas pessoas que praticam tênis não praticam SOS/2016) Considere como verdadeiras as duas premissas
natação. seguintes:
I – Nenhum professor é veterinário;
É CORRETO afirmar que no grupo II – Alguns agrônomos são veterinários.
(A) todas as pessoas que praticam natação também
praticam tênis. A partir dessas premissas, é correto afirmar que, neces-
(B) todas as pessoas que praticam futebol também pra- sariamente:
ticam tênis. (A) Nenhum professor é agrônomo.
(C) algumas pessoas que praticam natação não prati- (B) Alguns agrônomos não são professores.
cam futebol. (C) Alguns professores são agrônomos.
(D) algumas pessoas que praticam natação não prati- (D) Alguns agrônomos são professores.
cam tênis.
(E) algumas pessoas que praticam tênis não praticam 06. (EMSERH - Auxiliar Administrativo – FUN-
futebol. CAB/2016) Considere que as seguintes afirmações são ver-
dadeiras:
“Algum maranhense é pescador.”
02. (TRT - 20ª REGIÃO /SE - Técnico Judiciário –
“Todo maranhense é trabalhador.”
FCC/2016) que todo técnico sabe digitar. Alguns desses
Assim pode-se afirmar, do ponto de vista lógico, que:
técnicos sabem atender ao público externo e outros desses
(A) Algum maranhense pescador não é trabalhador
técnicos não sabem atender ao público externo. A partir
(B) Algum maranhense não pescar não é trabalhador
dessas afirmações é correto concluir que:
(C) Todo maranhense trabalhadoré pescador
(A) os técnicos que sabem atender ao público externo
(D) Algum maranhense trabalhador é pescador
não sabem digitar. (E) Todo maranhense pescador não é trabalhador.
(B) os técnicos que não sabem atender ao público ex-
terno não sabem digitar. 07. (PREF. DE RIO DE JANEIRO/RJ – Assistente Ad-
(C) qualquer pessoa que sabe digitar também sabe ministrativo – PREF. DO RIO DE JANEIRO/2015) Em certa
atender ao público externo. comunidade, é verdade que:
(D) os técnicos que não sabem atender ao público ex- - todo professor de matemática possui grau de mestre;
terno sabem digitar. - algumas pessoas que possuem grau de mestre gostam
(E) os técnicos que sabem digitar não atendem ao pú- de empadão de camarão;
blico externo. - algumas pessoas que gostam de empadão de camarão
não possuem grau de mestre.
03. (COPERGAS – Auxiliar Administrativo –
FCC/2016) É verdade que existem programadores que não Uma conclusão necessariamente verdadeira é:
gostam de computadores. A partir dessa afirmação é cor- (A) algum professor de matemática gosta de empadão
reto concluir que: de camarão.
(A) qualquer pessoa que não gosta de computadores é (B) nenhum professor de matemática gosta de empadão
um programador. de camarão.
(B) todas as pessoas que gostam de computadores não (C) alguma pessoa que gosta de empadão de camarão
são programadores. gosta de matemática.
(C) dentre aqueles que não gostam de computadores, (D) alguma pessoa que gosta de empadão de camarão
alguns são programadores. não é professor de matemática.

23
NOÇÕES DE LÓGICA

08. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário – VU- 02. Resposta: D.


NESP/2015) Se todo estudante de uma disciplina A é também Podemos excluir as alternativas que falam que não sa-
estudante de uma disciplina B e todo estudante de uma disci- bem digitar, pois todos os técnicos sabem digitar.
plina C não é estudante da disciplina B, e ntão é verdade que:
(A) algum estudante da disciplina A é estudante da dis-
ciplina C.
(B) algum estudante da disciplina B é estudante da dis-
ciplina C.
(C) nenhum estudante da disciplina A é estudante da dis-
ciplina C.
(D) nenhum estudante da disciplina B é estudante da dis-
ciplina A.
(E) nenhum estudante da disciplina A é estudante da dis-
ciplina B.

09. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário – VU-


NESP/2015) Considere verdadeira a seguinte afirmação:
“Todos os primos de Mirian são escreventes”.
Dessa afirmação, conclui­se corretamente que
(A) se Pâmela não é escrevente, então Pâmela não é pri- 03. Resposta: C.
ma de Mirian.
(B) se Jair é primo de Mirian, então Jair não é escrevente.
(C) Mirian é escrevente
(D) Mirian não é escrevente.
(E) se Arnaldo é escrevente, então Arnaldo é primo de
Mirian

10. (DPE/MT – Assistente Administrativo – FGV/2015)


Considere verdadeiras as afirmações a seguir.
• Existem advogados que são poetas.
• Todos os poetas escrevem bem.

Com base nas afirmações, é correto concluir que


(A) se um advogado não escreve bem então não é poeta.
(B) todos os advogados escrevem bem.
(C) quem não é advogado não é poeta.
(D) quem escreve bem é poeta.
(E) quem não é poeta não escreve bem. 04. Resposta: E.

Respostas

01. Resposta: E.

24
NOÇÕES DE LÓGICA

05. Resposta: B. 09. Resposta: A.


Alguns agrônomos são veterinários e podem ser só
agrônomos.

Como Pâmela não é escrevente, ela está em um dia-


grama a parte, então não é prima de Mirian.
06. Resposta: D. Analisando as alternativas erradas:
(B) Todos os primos de primo são escrevente.
(C) e (D) Não sabemos se Mirian é escrevente ou não.
(E) Não necessariamente, pois há pessoas que são es-
creventes, mas não primos de Mirian.

10. Resposta: A.
Se o advogado não escreve bem, ele faz parte da área
hachurada, portanto ele não é poeta.

07. Resposta: D.

Podemos ter esses dois modelos de diagramas:

(A) não está claro se os mestres que gostam de empa- Referências


dão são professores ou não. Carvalho, S. Raciocínio Lógico Simplificado. Série
(B) podemos ter o primeiro diagrama Provas e Concursos, 2010.
(C) pode ser o segundo diagrama.

08. Resposta: C.
O diagrama C deve ficar para fora, pois todo estudante
de C não é da disciplina B, ou seja, não tem ligação nenhuma.

Assim, os estudantes da disciplina A, também não fa-


zem disciplina C e vice-versa.

25
NOÇÕES DE LÓGICA

SEQUËNCIA LÓGICA Exemplo 1

As sequências lógicas aparecem com frequências nas (UFPB – Administrador – IDECAN/2016) Considere a
provas de concurso. São vários tipos: números, letras, sequência numérica a seguir:
figuras, baralhos, dominós e como é um assunto muito 3, 6, 3, 3, 2, 5/3, 11/9. . .
abrangente, e pode ser pedido de qualquer forma, o que
ajudará nos estudos serão as práticas de exercícios e al- Sabendo-se que essa sequência obedece uma regra de
gumas dicas que darei. Em cada exemplo, darei algumas formação a partir do terceiro termo, então o denominador
dicas para toda vez que você visualizar esse tipo de ques- do próximo termo da sequência é:
tão já ajude a analisar que tipo será. Vamos lá? (A) 9.
(B) 11.
Sequência de Números (C) 26.
Pode ser feita por soma, subtração, divisão, multipli- (D) 27.
cação.
Mas lembre-se, se estamos falando de SEQUÊNCIA, Resolução
ela vai seguir um padrão, basta você achar esse padrão, Quando há uma sequência que não parece progressão
alguns serão mais difíceis, outro beeem fácil e não se as- aritmética ou geométrica, devemos “apelar” para soma os
suste se achar rápido, não terá uma “PEGADINHA”, será isso dois anteriores, soma 1, e assim por diante.
e ponto. No caso se somarmos os dois primeiros para dar o ter-
Vamos ver alguns tipos de sequências: ceiro: 3+6=9
Para dar 3, devemos dividir por 3: 9/3=3
-Progressão Aritmética Vamos ver se ficará certo com o restante
2 5 8 11 6+3=9
9/3=3
Progressão aritmética sempre terá a mesma razão. 3+2=5
No nosso exemplo, a razão é 3, pois para cada número 5/3
seguinte, temos que somar 3. Opa...parece que deu certo

-Progressão Geométrica Então:


9 18 36 72

E agora para essa nova sequência?


Se somarmos 9, não teremos uma sequência, então
não é soma.
O próximo que tentamos é a multiplicação,9x2=18
18x2=36
36x2=72
Opa, deu certo?
Progressão geométrica de razão 2. Resposta: D.

-Incremento em Progressão Sequência de Letras


1 2 4 7 Sobre a sequência de Letras, fica um pouco mais difícil
de falar, pois podem ser de vários tipos.
Observe que estamos somando 1 a mais para cada número. Às vezes temos que substituir por números, outras
1=1=2 analisar o padrão de como aparecem. Vamos ver uns exem-
2+2=4 plos?
4+3=7
Exemplo 1
-Série de Fibonacci (AGERIO – Analista de Desenvolvimento – FDC/2015)
1 1 2 3 5 8 13 Considerando a sequência de vocábulos:
Cada termo é igual à soma dos dois anteriores. galo - pato - carneiro - X - cobra – jacaré
A alternativa lógica que substitui X é:
-Números Primos (A) boi
2 3 5 7 11 13 17 (B) siri
Naturais que possuem apenas dois divisores naturais. (C) sapo
(D) besouro
-Quadrados Perfeitos (E) gaivota
1 4 9 16 25 36 49
Números naturais cujas raízes são naturais.

26
NOÇÕES DE LÓGICA

Resolução Sequência de Figuras


Primeiro tentamos número de sílabas ou letras. Do mesmo modo que a sequência de letras, é um tema
Letras já não deu certo. abrangente, pois a banca pode pedir a figura que convém.

Galo=4 (FACEPE – Assistente em Gestão de Ciência e Tecno-


Pato=4 logia – UPENET/2015) Assinale a alternativa que contém a
Carneiro=8 próxima figura da sequência.
Cobra=4
Jacaré=6
Não tem um padrão

Número de sílabas
Está dividido em 2 e 3 e sem padrões (A)
Começadas com as letras dos meses?não...
Difícil...
São animais, então: (B)
Galo e pato são aves
Cobra e jacaré são répteis
O carneiro é mamífero, se estão aos pares, devemos
procurar outro mamífero que no caso é o boi (C)
Resposta: A.

Exemplo 2
(IBGE - Técnico em Informações Geográficas e Esta- (D)
tísticas – FGV/2016) Considere a sequência infinita

IBGEGBIBGEGBIBGEG...

A 2016ª e a 2017ª letras dessa sequência são, respec- (E)


tivamente:
(A) BG;
(B) GE;
(C) EG;
(D) GB; Resposta: B.
(E) BI. Primeiro risco vai na parte de baixo, depois do lado
E depois 2 riscos e assim por diante.
Resposta: E. Então nossa figura terá que ter 3 riscos, mas a B ou D?
É a B, pois o risco de cima, tem que ser o maior de
É uma sequência com 6 todos.
Cada letra equivale a sequência
I=1 Questões
B=2
G=3 01. ( TRE/RJ - Técnico Judiciário - Operação de
E=4 Computadores – CONSULPLAN/2017) Os termos de uma
G=5 determinada sequência foram sucessivamente obtidos se-
B=0 guindo um determinado padrão:
2016/6=336 resta 0 (5, 9, 17, 33, 65, 129...)
2017/6=336 resta 1
Portanto, 2016 será a letra B, pois resta 0, será equiva- O décimo segundo termo da sequência anterior é um
lente a última letra número
E 2017 será a letra I, pois resta 1 e é igual a primeira (A) menor que 8.000.
letra. (B) maior que 10.000.
(C) compreendido entre 8.100 e 9.000.
(D) compreendido entre 9.000 e 10.000.

27
NOÇÕES DE LÓGICA

02. (DESENBAHIA – Técnico Escriturário - INSTITU- (A) EI.


TO AOCP/2017) Uma máquina foi programada para dis- (B) UA.
tribuir senhas para atendimento em uma agência bancária (C) OA.
alternando algarismos e letras do alfabeto latino, no qual (D) IO.
estão inclusas as letras K, W e Y, sendo a primeira senha (E) AE.
o número 2, a segunda a letra A, e sucessivamente na se-
guinte forma: (2; A; 5; B; 8; C; ...). Com base nas informações 06. (EBSERH – Assistente Administrativo –
mencionadas, é correto afirmar que a 51ª e a 52ª senhas, IBFC/2017) Considerando a sequência de figuras @, % , &,
respectivamente, são: # , @, %, &, #,..., podemos dizer que a figura que estará na
(A) 69 e Z. 117ª posição será:
(B) 90 e Y. (A) @
(C) T e 88. (B) %
(D) 77 e Z. (C) &
(E) Y e 100. (D) #
(E) $
03. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017)  Na
figura abaixo, encontram-se representadas três etapas da 07. (IF/PE – Técnico em Eletrotécnica – IFPE/0217)
construção de uma sequência elaborada a partir de um Considere a seguinte sequência de figuras formadas por
triângulo equilátero. círculos:

Continuando a sequência de maneira a manter o


mesmo padrão geométrico, o número de círculos da Fi-
gura 18 é:
(A) 334.
(B) 314.
Na etapa 1, marcam-se os pontos médios dos lados
(C) 342.
do triângulo equilátero e retira-se o triângulo com vértices
(D) 324.
nesses pontos médios, obtendo-se os triângulos pretos. Na (E) 316.
etapa 2, marcam-se os pontos médios dos lados dos triân-
gulos pretos obtidos na etapa 1 e retiram-se os triângulos 08. (CODEBA – Guarda Portuário – FGV/2016) Para
com vértices nesses pontos médios, obtendo-se um novo passar o tempo, um candidato do concurso escreveu a sigla
conjunto de triângulos pretos. A etapa 3 e as seguintes CODEBA por sucessivas vezes, uma após a outra, formando
mantêm esse padrão de construção. a sequência:
Mantido o padrão de construção acima descrito, o nú- C O D E B A C O D E B A C O D E B A C O D ...
mero de triângulos pretos existentes na etapa 7 é
(A) 729. A 500ª letra que esse candidato escreveu foi:
(B) 1.024.
(C) 2.187. (A) O
(D) 4.096. (B) D
(E) 6.561. (C) E
(D) B
04. (SESAU/RO – Enfermeiro – FUNRIO/2017) Ob- (E) A
serve a sequência: 43, 46, 50, 55, 61, ...
09. (MPE/SP – Oficial de Promotoria I – VU-
O próximo termo é o: NESP/2016) A sequência ((3, 5); (3, 3, 3); (5; 5); (3, 3, 5);
(A) 65. ...) tem como termos sequências contendo apenas os nú-
(B) 66. meros 3 ou 5. Dentro da lógica de formação da sequência,
(C) 67. cada termo, que também é uma sequência, deve ter o me-
(D) 68. nor número de elementos possível. Dessa forma, o número
(E) 69. de elementos contidos no décimo oitavo termo é igual a:
(A) 5.
05. (TRT 24ª REGIÃO – Analista Judiciário – (B) 4.
FCC/2017) Na sequência 1A3E; 5I7O; 9U11A; 13E15I; (C) 6.
17O19U; 21A23E; . . ., o 12° termo é formado por algaris- (D) 7.
mos e pelas letras (E) 8.

28
NOÇÕES DE LÓGICA

10. (CODAR – Recepcionista – EXATUS/2016) A se- 08. Resposta: A.


quência numérica (99; 103; 96; 100; 93; 97; ...) possui deter- É uma sequência com 6 letras:
minada lógica em sua formação. O número corresponden- 500/6=83 e resta 2
te ao décimo elemento dessa sequência é: C=1
(A) 91 O=2
(B) 88. D=3
(C) 87 E=4
(D) 84 B=5
A=0
Respostas
Como restaram 2, então será igual a O.
01. Resposta: C.
Os termos tem uma sequência começando por 2²+1 09. Resposta: A.
Portanto, para sabermos o 12º termo, fazemos Vamos somar os números:
213+1=8193 3+5=8
3+3+3=9
02. Resposta: D. 5+5=10
A 51ª senha segue a sequência ímpar que são: (2, 5, 3+3+5=11
8,...) Observe que
51/2=25 e somamos 1, para saber qual posição ocupa- os termos formam uma PA de razão 1.
rá na sequência. Portanto será a 26 a18=?
A26=a1+25r a18=a1+17r
A26=2+25⋅3 a18=8+17
A26=2+75=77 a18=25

A 52ª senha ocupará a posição 26 também, mas na se- Para dar 25, com o menor número de elementos possí-
quência par, ou seja, a 26ª letra do alfabeto que é a letra Z. veis, devemos ter (5,5,5,5,5)

03 Resposta:C 10. Resposta: A.


É uma PG de razão 3 e o a1 também é 3. A princípio, queremos ver a sequência com os termos
seguidos mesmo, o que seria:
99+4=103
103-7=96
96+4=100
04. Resposta: D. 100-7=93
Observe que de 43 para 46 são 3 Alternando essa sequência, mas se conseguirmos vi-
50-46=4 sualizar uma outra maneira, ficará mais fácil.
55-50=5
61-55=6 Observe que os termos ímpares (a1,a3,a5...)formam
Portanto, o próximo será somando 7 uma PA de razão r=-3
61+7=68 Os termos pares (a2,a4,a6..) formam uma PA de razão
também r=-3
05. Resposta: D.
A partir do 5º termo começa a repetir as letras, por- Como a10 é par, devemos tomar como base a sequên-
tanto: cia par, mas para isso, vamos lembrar que se estamos tra-
12/5=2 e resta 2 tando apenas dela, a10=a5
Assim, será igual ao segundo termo, IO. Pois, devemos transformar o a2 em a1 e assim por
diante.
06. Resposta: A. A5=a1+4r
117/4=29 e resta 1 A5=103-12
Portanto, é igual a figura 1 @ A5=31
07. Resposta: D.
Figura 1:1
Figura 2:4
Figura 3:9
Figura 4:16
O número de círculos é o quadrado da posição
Figura 18: 18²=324

29
NOÇÕES DE LÓGICA

ANOTAÇÕES

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30
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

5.1 - Sistema operacional: conceito de pastas, diretórios, arquivos e atalhos, área de trabalho, área de transferência,
manipulação de arquivos e pastas, uso dos menus, programas e aplicativos, digitalização, interação com o conjunto de
aplicativos para escritório;..................................................................................................................................................................................... 01
5.2 - Editor de texto: estrutura básica dos documentos, edição e formatação de textos, cabeçalhos, parágrafos, fontes,
colunas, marcadores simbólicos e numéricos, tabelas, impressão, controle de quebras e numeração de páginas, legendas,
índices, inserção de objetos, campos predefinidos, caixas de texto;................................................................................................... 07
5.3 - Editor de planilha eletrônica: estrutura básica das planilhas, conceitos de células, linhas, colunas, pastas e
gráficos, elaboração de tabelas e gráficos, uso de fórmulas, funções e macros, impressão, inserção de objetos, campos
predefinidos, controle de quebras e numeração de páginas, obtenção de dados externos, classificação de dados;..... 14
5.4 - Correio Eletrônico: uso de correio eletrônico, preparo e envio de mensagens, anexação de arquivos;...................... 27
5.5 - Mensageria eletrônica: conceito e utilização;..................................................................................................................................... 27
5.6 - Voz sobre IP: conceito e utilização;......................................................................................................................................................... 29
5.7 - Ambiente em rede: conceitos, navegadores, navegação internet e intranet, conceitos de URL, links, sites, busca e
impressão de páginas, redes sociais, sistemas de busca e pesquisa, proteção e segurança, configurações, armazenamento
de dados na nuvem (cloud storage);................................................................................................................................................................ 29
5.8 - Hardware: Microcomputadores e periféricos: configuração básica e componentes; Impressoras: classificação e
noções gerais; dispositivos de armazenamento externo: conceito, classificação e noções gerais.......................................... 41
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para saber se o Windows é de 32 ou 64 bits, basta:


5.1 - SISTEMA OPERACIONAL: CONCEITO 1. Clicar no botão Iniciar , clicar com o botão direito
DE PASTAS, DIRETÓRIOS, ARQUIVOS E em computador e clique em Propriedades.
ATALHOS, ÁREA DE TRABALHO, ÁREA 2. Em sistema, é possível exibir o tipo de sistema.
DE TRANSFERÊNCIA, MANIPULAÇÃO “Para instalar uma versão de 64 bits do Windows 7,
DE ARQUIVOS E PASTAS, USO DOS você precisará de um processador capaz de executar uma
MENUS, PROGRAMAS E APLICATIVOS, versão de 64 bits do Windows. Os benefícios de um sistema
DIGITALIZAÇÃO, INTERAÇÃO COM O operacional de 64 bits ficam mais claros quando você tem
CONJUNTO DE APLICATIVOS PARA uma grande quantidade de RAM (memória de acesso alea-
tório) no computador, normalmente 4 GB ou mais. Nesses
ESCRITÓRIO;
casos, como um sistema operacional de 64 bits pode pro-
cessar grandes quantidades de memória com mais eficácia
do que um de 32 bits, o sistema de 64 bits poderá respon-
der melhor ao executar vários programas ao mesmo tempo
O Windows assim como tudo que envolve a informáti-
e alternar entre eles com frequência”.
ca passa por uma atualização constante, os concursos pú-
Uma maneira prática de usar o Windows 7 (Win 7) é
blicos em seus editais acabam variando em suas versões,
reinstalá-lo sobre um SO já utilizado na máquina. Nesse
por isso vamos abordar de uma maneira geral tanto as ver-
caso, é possível instalar:
sões do Windows quanto do Linux.
- Sobre o Windows XP;
O Windows é um Sistema Operacional, ou seja, é um
- Uma versão Win 7 32 bits, sobre Windows Vista (Win
software, um programa de computador desenvolvido por
Vista), também 32 bits;
programadores através de códigos de programação. Os
- Win 7 de 64 bits, sobre Win Vista, 32 bits;
Sistemas Operacionais, assim como os demais softwares,
- Win 7 de 32 bits, sobre Win Vista, 64 bits;
são considerados como a parte lógica do computador, uma
- Win 7 de 64 bits, sobre Win Vista, 64 bits;
parte não palpável, desenvolvida para ser utilizada apenas
- Win 7 em um computador e formatar o HD durante
quando o computador está em funcionamento. O Sistema
a insta- lação;
Operacional (SO) é um programa especial, pois é o primei-
- Win 7 em um computador sem SO;
ro a ser instalado na máquina.
Quando montamos um computador e o ligamos pela
Antes de iniciar a instalação, devemos verificar qual
primeira vez, em sua tela serão mostradas apenas algumas
tipo de instalação será feita, encontrar e ter em mãos a
rotinas presentes nos chipsets da máquina. Para utilizarmos
chave do produto, que é um código que será solicitado
todos os recursos do computador, com toda a qualidade
durante a instalação.
das placas de som, vídeo, rede, acessarmos a Internet e
Vamos adotar a opção de instalação com formatação
usufruirmos de toda a potencialidade do hardware, temos
de disco rígido, segundo o site oficial da Microsoft Corpo-
que instalar o SO.
ration:
Após sua instalação é possível configurar as placas para
- Ligue o seu computador, de forma que o Windows
que alcancem seu melhor desempenho e instalar os de-
seja inicia- lizado normalmente, insira do disco de instala-
mais programas, como os softwares aplicativos e utilitários.
ção do Windows 7 ou a unidade flash USB e desligue o seu
O SO gerencia o uso do hardware pelo software e ge-
computador.
rencia os demais programas.
- Reinicie o computador.
A diferença entre os Sistemas Operacionais de 32 bits e
- Pressione qualquer tecla, quando solicitado a fazer
64 bits está na forma em que o processador do computa-
isso, e siga as instruções exibidas.
dor trabalha as informações. O Sistema Operacional de 32
- Na página de Instalação Windows, insira seu idioma
bits tem que ser instalado em um computador que tenha
ou outras preferências e clique em avançar.
o processador de 32 bits, assim como o de 64 bits tem que
- Se a página de Instalação Windows não aparecer e o
ser instalado em um computador de 64 bits.
programa não solicitar que você pressione alguma tecla,
Os Sistemas Operacionais de 64 bits do Windows, se-
talvez seja necessário alterar algumas configurações do sis-
gundo o site oficial da Microsoft, podem utilizar mais me-
tema. Para obter mais informações sobre como fazer isso,
mória que as versões de 32 bits do Windows. “Isso ajuda
consulte Inicie o seu computador usando um disco de ins-
a reduzir o tempo despendi- do na permuta de processos
talação do Windows 7 ou um pen drive USB.
para dentro e para fora da memória, pelo armazenamen-
- Na página Leia os termos de licença, se você aceitar
to de um número maior desses processos na memória de
os termos de licença, clique em aceito os termos de licença
acesso aleatório (RAM) em vez de fazê-lo no disco rígido.
e em avançar.
Por outro lado, isso pode aumentar o desempenho geral
- Na página que tipo de instalação você deseja? clique
do programa”.
em Personalizada.
- Na página onde deseja instalar Windows? clique em
op- ções da unidade (avançada).

1
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

- Clique na partição que você quiser alterar, clique na


opção de formatação desejada e siga as instruções.
- Quando a formatação terminar, clique em avançar.
- Siga as instruções para concluir a instalação do Win-
dows 7, inclusive a nomenclatura do computador e a confi-
guração de uma conta do usuário inicial.

Conceitos de pastas, arquivos e atalhos, manipula-


ção de arquivos e pastas, uso dos menus

Pastas – são estruturas digitais criadas para organizar


arquivos, ícones ou outras pastas.
Arquivos– são registros digitais criados e salvos atra-
vés de programas aplicativos. Por exemplo, quando abri-
mos o Microsoft Word, digitamos uma carta e a salvamos
no computador, estamos criando um arquivo.
Ícones– são imagens representativas associadas a pro- Figura 10: Tela da pasta criada
gramas, arquivos, pastas ou atalhos.
Atalhos–são ícones que indicam um caminho mais Clicamos duas vezes na pasta “Trabalho” para abrí-la e
curto para abrir um programa ou até mesmo um arquivo. agora criaremos mais duas pastas dentro dela:
Para criarmos as outras duas pastas, basta repetir o
Criação de pastas (diretórios) procedimento botão direito, Novo, Pasta.

Área de trabalho:

Figura 11: Área de Trabalho

A figura acima mostra a primeira tela que vemos quan-


do o Windows 7 é iniciado. A ela damos o nome de área
de trabalho, pois a ideia original é que ela sirva como uma
Figura 8: Criação de pastas
prancheta, onde abriremos nossos livros e documentos
para dar início ou continuidade ao trabalho.
Clicando com o botão direito do mouse em um espaço
Em especial, na área de trabalho, encontramos a barra
vazio da área de trabalho ou outro apropriado, podemos
de tarefas, que traz uma série de particularidades, como:
encontrar a opção pasta.
Clicando nesta opção com o botão esquerdo do mou-
se, temos então uma forma prática de criar uma pasta.
Figura 12: Barra de tarefas

1) Botão Iniciar: é por ele que entramos em contato


com todos os outros programas instalados, programas que
fazem parte do sistema operacional e ambientes de confi-
guração e trabalho. Com um clique nesse botão, abrimos
uma lista, chamada Menu Iniciar, que contém opções que
Figura 9: Criamos aqui uma pasta chamada “Trabalho”. nos permitem ver os programas mais acessados, todos os
outros programas instalados e os recursos do próprio Win-
dows. Ele funciona como uma via de acesso para todas as
opções disponíveis no computador.

2
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Através do botão Iniciar, também podemos: 5) Propriedades de data e hora: Além de mostra o
-desligar o computador, procedimento que encerra o relógio constantemente na sua tela, clicando duas vezes,
Sistema Operacional corretamente, e desliga efetivamente com o botão esquerdo do mouse nesse ícone, acessamos
a máquina; as Propriedades de data e hora.
-colocar o computador em modo de espera, que reduz
o consumo de energia enquanto a máquina estiver ociosa,
ou seja, sem uso. Muito usado nos casos em que vamos
nos ausentar por um breve período de tempo da frente do
computador;
-reiniciar o computador, que desliga e liga automa-
ticamente o sistema. Usado após a instalação de alguns
programas que precisam da reinicialização do sistema para
efetivarem sua insta- lação, durante congelamento de telas
ou travamentos da máquina.
-realizar o logoff, acessando o mesmo sistema com
nome e senha de outro usuário, tendo assim um ambiente
com características diferentes para cada usuário do mesmo
computador.

Figura 14: Propriedades de data e hora

Nessa janela, é possível configurarmos a data e a hora,


deter- minarmos qual é o fuso horário da nossa região e
especificar se o relógio do computador está sincronizado
automaticamente com um servidor de horário na Internet.
Este relógio é atualizado pela bateria da placa mãe, que vi-
mos na figura 26. Quando ele começa a mostrar um horário
diferente do que realmente deveria mostrar, na maioria das
vezes, indica que a bateria da placa mãe deve precisar ser
trocada. Esse horário também é sincronizado com o mes-
mo horário do SETUP.
Lixeira: Contém os arquivos e pastas excluídos pelo
usuário. Para excluirmos arquivos, atalhos e pastas, pode-
mos clicar com o botão direito do mouse sobre eles e de-
pois usar a opção “Excluir”. Outra forma é clicar uma vez
sobre o objeto desejado e depois pressionar o botão dele-
te, no teclado. Esses dois procedimentos enviarão para li-
xeira o que foi excluído, sendo possível a restauração, caso
haja necessidade. Para restaurar, por exemplo, um arquivo
enviado para a lixeira, podemos, após abri-la, restaurar o
que desejarmos.
Figura 13: Menu Iniciar – Windows 7

Na figura a cima temos o menu Iniciar, acessado com


um clique no botão Iniciar.
2) Ícones de inicialização rápida: São ícones coloca-
dos como atalhos na barra de tarefas para serem acessados
com facilidade.
3) Barra de idiomas: Mostra qual a configuração de
idioma que está sendo usada pelo teclado.
4) Ícones de inicialização/execução: Esses ícones são
configurados para entrar em ação quando o computador é
iniciado. Muitos deles ficam em execução o tempo todo no
sistema, como é o caso de ícones de programas antivírus
que monitoram constante- mente o sistema para verificar Figura 15: Restauração de arquivos
se não há invasões ou vírus tentando ser executados. enviados para a lixeira

3
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A restauração de objetos enviados para a lixeira pode


ser feita com um clique com o botão direito do mouse so-
bre o item desejado e depois, outro clique com o esquerdo
em “Restaurar”. Isso devolverá, automaticamente o arquivo
para seu local de origem.
Outra forma de restaurar é usar a opção “Restaurar
este item”, após selecionar o objeto.
Alguns arquivos e pastas, por terem um tamanho mui-
to grande, são excluídos sem irem antes para a Lixeira.
Sempre que algo for ser excluído, aparecerá uma mensa-
gem, ou perguntando se realmente deseja enviar aquele
item para a Lixeira, ou avisando que o que foi selecionado
será permanentemente excluído. Outra forma de excluir
documentos ou pastas sem que eles fiquem armazenados
na Lixeira é usar as teclas de atalho Shift+Delete.
A barra de tarefas pode ser posicionada nos quatro
cantos da tela para proporcionar melhor visualização de
outras janelas abertas. Para isso, basta pressionar o botão Figura 17: Propriedades da barra de
esquerdo do mouse em um espaço vazio dessa barra e com tarefas e do menu iniciar
ele pressionado, arrastar a barra até o local desejado (canto
direito, superior, esquerdo ou inferior da tela). Na guia “Barra de Tarefas”, temos, entre outros:
Para alterar o local da Barra de Tarefas na tela, temos
que verificar se a opção “Bloquear a barra de tarefas” não -Bloquear a barra de tarefas – que impede que ela seja
está marcada. posicionada em outros cantos da tela que não seja o infe-
rior, ou seja, impede que seja arrastada com o botão es-
querdo do mouse pressionado.
-Ocultar automaticamente a barra de tarefas – oculta
(esconde) a barra de tarefas para proporcionar maior aprovei-
tamento da área da tela pelos programas abertos, e a exibe
quando o mouse é posicionado no canto inferior do monitor.

Figura 18: Guia Menu Iniciar e Personalizar Menu Iniciar


Figura 16: Bloqueio da Barra de Tarefas
Pela figura acima podemos notar que é possível a apa-
Propriedades da barra de tarefas e do menu iniciar: rência e comportamento de links e menus do menu Iniciar.
Através do clique com o botão direito do mouse na bar-
ra de tarefas e do esquerdo em “Propriedades”, podemos
acessar a janela “Propriedades da barra de tarefas e do
menu iniciar”.

Figura 19: Barra de Ferramentas

4
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Painel de controle Observe que é possível visualizarmos as unidades de


disco, sua capacidade de armazenamento livre e usada. Ve-
O Painel de Controle é o local onde podemos alterar confi- mos também informações como o nome do computador, a
gurações do Windows, como aparência, idioma, configurações quantidade de memória e o processador instalado na má-
de mouse e teclado, entre outras. Com ele é possível personali- quina.
zar o computador às necessidades do usuário.
Para acessar o Painel de Controle, basta clicar no Botão Windows 8
Iniciar e depois em Painel de Controle. Nele encontramos as É o sistema operacional da Microsoft que substituiu o
seguintes opções: Windows 7 em tablets, computadores, notebooks, celulares,
- Sistema e Segurança: “Exibe e altera o status do sistema e etc. Ele trouxe diversas mudanças, principalmente no layout,
da segurança”, permite a realização de backups e restauração das que acabou surpreendendo milhares de usuários acostuma-
configurações do sistema e de arquivos. Possui ferramentas que dos com o antigo visual desse sistema.
permitem a atualização do Sistema Operacional, que exibem a A tela inicial completamente alterada foi a mudança
quantidade de memória RAM instalada no computador e a ve- que mais impactou os usuários. Nela encontra-se todas as
locidade do processador. Oferece ainda, possibilidades de con- aplicações do computador que ficavam no Menu Iniciar e
figuração de Firewall para tornar o computador mais protegido. também é possível visualizar previsão do tempo, cotação da
- Rede e Internet: mostra o status da rede e possibilita con- bolsa, etc. O usuário tem que organizar as pequenas minia-
figurações de rede e Internet. É possível também definir prefe- turas que aparecem em sua tela inicial para ter acesso aos
rências para compartilhamento de arquivos e computadores. programas que mais utiliza.
- Hardware e Sons: é possível adicionar ou remover hard- Caso você fique perdido no novo sistema ou dentro de
wares como impressoras, por exemplo. Também permite alterar uma pasta, clique com o botão direito e irá aparecer um pai-
sons do sistema, reproduzir CDs automaticamente, configurar nel no rodapé da tela. Caso você esteja utilizando uma das
modo de economia de energia e atualizar drives de dispositivos pastas e não encontre algum comando, clique com o botão
instalados. direito do mouse para que esse painel apareça.
- Programas: através desta opção, podemos realizar a de-
A organização de tela do Windows 8 funciona como o
sinstalação de programas ou recursos do Windows.
antigo Menu Iniciar e consiste em um mosaico com imagens
- Contas de Usuários e Segurança Familiar: aqui alteramos
animadas. Cada mosaico representa um aplicativo que está
senhas, criamos contas de usuários, determinamos configura-
instalado no computador. Os atalhos dessa área de traba-
ções de acesso.
lho, que representam aplicativos de versões anteriores, ficam
- Aparência: permite a configuração da aparência da área
com o nome na parte de cima e um pequeno ícone na parte
de trabalho, plano de fundo, proteção de tela, menu iniciar e
inferior. Novos mosaicos possuem tamanhos diferentes, co-
barra de tarefas.
- Relógio, Idioma e Região: usamos esta opção para alterar res diferentes e são atualizados automaticamente.
data, hora, fuso horário, idioma, formatação de números e moedas. A tela pode ser customizada conforme a conveniência
- Facilidade de Acesso: permite adaptarmos o computador do usuário. Alguns utilitários não aparecem nessa tela, mas
às necessidades visuais, auditivas e motoras do usuário. podem ser encontrados clicando com o botão direito do
mouse em um espaço vazio da tela. Se deseja que um des-
Computador ses aplicativos apareça na sua tela inicial, clique com o botão
direito sobre o ícone e vá para a opção Fixar na Tela Inicial.
Através do “Computador” podemos consultar e acessar
unidades de disco e outros dispositivos conectados ao nosso Charms Bar
computador. Para acessá-lo, basta clicar no Botão Iniciar e em O objetivo do Windows 8 é ter uma tela mais limpa e
Computador. A janela a seguir será aberta: esse recurso possibilita “esconder” algumas configurações
e aplicações. É uma barra localizada na lateral que pode ser
acessada colocando o mouse no canto direito e inferior da
tela ou clicando no atalho Tecla do Windows + C. Essa fun-
ção substitui a barra de ferramentas presente no sistema e
configurada de acordo com a página em que você está.
Com a Charm Bar ativada, digite Personalizar na bus-
ca em configurações. Depois escolha a opção tela inicial e
em seguida escolha a cor da tela. O usuário também pode
selecionar desenhos durante a personalização do papel de
parede.

Redimensionar as tiles
Na tela esses mosaicos ficam uns maiores que os outros,
mas isso pode ser alterado clicando com o botão direito na
divisão entre eles e optando pela opção menor. Você pode
deixar maior os aplicativos que você quiser destacar no
Figura 20: Computador computador.

5
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Grupos de Aplicativos Windows 10


Pode-se criar divisões e grupos para unir programas O Windows 10 é uma atualização do Windows 8 que
parecidos. Isso pode ser feito várias vezes e os grupos po- veio para tentar manter o monopólio da Microsoft no mun-
dem ser renomeados. do dos Sistemas Operacionais, uma das suas missões é fi-
car com um visual mais de smart e touch.
Visualizar as pastas
A interface do programas no computador podem ser
vistos de maneira horizontal com painéis dispostos lado a
lado. Para passar de um painel para outro é necessário usar
a barra de rolagem que fica no rodapé.

Compartilhar e Receber
Comando utilizado para compartilhar conteúdo, enviar
uma foto, etc. Tecle Windows + C, clique na opção Com-
partilhar e depois escolha qual meio vai usar. Há também a
opção Dispositivo que é usada para receber e enviar con-
teúdos de aparelhos conectados ao computador.

Alternar Tarefas
Com o atalho Alt + Tab, é possível mudar entre os pro- Figura 21:Tela do Windows 10
gramas abertos no desktop e os aplicativos novos do SO.
Com o atalho Windows + Tab é possível abrir uma lista na O Windows 10 é disponibilizado nas seguintes versões
lateral esquerda que mostra os aplicativos modernos. (com destaque para as duas primeiras):
Windows 10 – É a versão de “entrada” do Windows 10,
Telas Lado a Lado que possui a maioria dos recursos do sistema. É voltada
Esse sistema operacional não trabalha com o concei- para Desktops e Laptops, incluindo o tablete Microsoft Sur-
to de janelas, mas o usuário pode usar dois programas ao face 3.
mesmo tempo. É indicado para quem precisa acompanhar Windows 10 Pro – Além dos recursos da versão de en-
o Facebook e o Twitter, pois ocupa ¼ da tela do computa- trada, fornece proteção de dados avançada e criptografa-
dor. da com o BitLocker, permite a hospedagem de uma Co-
nexão de Área de Trabalho Remota  em um computador,
Visualizar Imagens trabalhar com máquinas virtuais, e permite o ingresso em
O sistema operacional agora faz com que cada vez que um domínio para realizar conexões a uma rede corporativa.
você clica em uma figura, um programa específico abre e Windows 10 Enterprise – Baseada na versão 10 Pro, é
isso pode deixar seu sistema lento. Para alterar isso é preci- disponibilizada por meio do Licenciamento por Volume,
so ir em Programas – Programas Default – Selecionar Win- voltado a empresas.
dows Photo Viewer e marcar a caixa Set this Program as Windows 10 Education – Baseada na versão Enterpri-
Default. se, é destinada a atender as necessidades do meio educa-
cional. Também tem seu método de distribuição baseado
Imagem e Senha através da versão acadêmica de licenciamento de volume.
O usuário pode utilizar uma imagem como senha ao Windows 10 Mobile – Embora o Windows 10 tente
invés de escolher uma senha digitada. Para fazer isso, aces- vender seu nome fantasia como um sistema operacional
se a Charm Bar, selecione a opção Settings e logo em se- único, os smartphones com o Windows 10 possuem uma
guida clique em More PC settings. Acesse a opção Usuários versão específica do sistema operacional compatível com
e depois clique na opção “Criar uma senha com imagem”. tais dispositivos.
Em seguida, o computador pedirá para você colocar sua Windows 10 Mobile Enterprise – Projetado para smart-
senha e redirecionará para uma tela com um pequeno tex- phones e tablets do setor corporativo. Também estará dis-
to e dando a opção para escolher uma foto. Escolha uma ponível através do Licenciamento por Volume, oferecendo
imagem no seu computador e verifique se a imagem está as mesmas vantagens do Windows 10 Mobile com funcio-
correta clicando em “Use this Picture”. Você terá que dese-
nalidades direcionadas para o mercado corporativo.
nhar três formas em touch ou com o mouse: uma linha reta,
Windows 10 IoT Core – IoT vem da expressão “Internet
um círculo e um ponto. Depois, finalize o processo e sua
das Coisas” (Internet ofThings). A Microsoft anunciou que
senha estará pronta. Na próxima vez, repita os movimentos
haverá edições do Windows 10 baseadas no Enterprise e
para acessar seu computador.
Mobile Enterprise destinados a dispositivos como caixas
Internet Explorer no Windows 8
eletrônicos, terminais de autoatendimento, máquinas de
Se você clicar no quadrinho Internet Explorer da página
atendimento para o varejo e robôs industriais. Essa versão
inicial, você terá acesso ao software sem a barra de ferra-
IoT Core será destinada para dispositivos pequenos e de
mentas e menus.
baixo custo.

6
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para as versões mais populares (10 e 10 Pro), a Microsoft indica como requisitos básicos dos computadores:
• Processador de 1 Ghz ou superior;
• 1 GB de RAM (para 32bits); 2GB de RAM (para 64bits);
• Até 20GB de espaço disponível em disco rígido;
• Placa de vídeo com resolução de tela de 800×600 ou maior.

5.2 - EDITOR DE TEXTO: ESTRUTURA


BÁSICA DOS DOCUMENTOS, EDIÇÃO E
FORMATAÇÃO DE TEXTOS, CABEÇALHOS,
PARÁGRAFOS, FONTES, COLUNAS,
MARCADORES SIMBÓLICOS E NUMÉRICOS,
TABELAS, IMPRESSÃO, CONTROLE DE
QUEBRAS E NUMERAÇÃO DE PÁGINAS,
LEGENDAS, ÍNDICES, INSERÇÃO DE OBJETOS,
CAMPOS PREDEFINIDOS, CAIXAS DE TEXTO;

O Microsoft Word é um processador de texto que cria textos de diversos tipos e estilos, como por exemplo, ofícios,
relatórios, cartas, enfim, todo conteúdo de texto que atende às necessidades de um usuário doméstico ou de uma empresa.
O Microsoft Word é o processador de texto integrante dos programas Microsoft Office: um conjunto de softwares apli-
cativos destinados a uso de escritório e usuários domésticos, desenvolvidos pela empresa Microsoft.
Os softwares da Microsoft Office são proprietários e compatíveis com o sistema operacional Windows.

Word 2010

Figura 26: Tela do Microsoft Word 2010

7
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

As guias foram criadas para serem orientadas por tarefas, já os grupos dentro de cada guia criam subtarefas para as
tarefas, e os botões de comando em cada grupo possui um comando.
As extensões são fundamentais, desde a versão 2007 passou a ser DOCX, mas vamos analisar outras extensões que
podem ser abordadas em questões de concursos na Figura 27.

Figura 27: Extensões de Arquivos ligados ao Word

As guias envolvem grupos e botões de comando, e são organizadas por tarefa. Os Grupos dentro de cada guia que-
bram uma tarefa em subtarefas. Os Botões de comando em cada grupo possuem um comando ou exibem um menu de
comandos.
Existem guias que vão aparecer apenas quando um determinado objeto aparecer para ser formatado. No exemplo da
imagem, foi selecionada uma figura que pode ser editada com as opções que estiverem nessa guia.

Figura 28: Indicadores de caixa de diálogo

Indicadores de caixa de diálogo – aparecem em alguns grupos para oferecer a abertura rápida da caixa de diálogo do
grupo, contendo mais opções de formatação.
As réguas orientam na criação de tabulações e no ajuste de parágrafos, por exemplo.
Determinam o recuo da primeira linha, o recuo de deslocamento, recuo à esquerda e permitem tabulações esquerda,
direita, centralizada, decimal e barra.
Para ajustar o recuo da primeira linha, após posicionar o cursor do mouse no parágrafo desejado, basta pressionar o
botão esquerdo do mouse sobre o “Recuo da primeira linha” e arrastá-lo pela régua .
Para ajustar o recuo à direita do documento, basta selecionar o parágrafo ou posicionar o cursor após a linha desejada,
pressionar o botão esquerdo do mouse no “Recuo à direita” e arrastá-lo na régua .
Para ajustar o recuo, deslocando o parágrafo da esquerda para a direita, basta selecioná-lo e mover, na régua, como
explicado anteriormente, o “Recuo deslocado” .
Podemos também usar o recurso “Recuo à esquerda”, que move para a esquerda, tanto a primeira linha quanto o res-
tante do parágrafo selecionado .
Com a régua, podemos criar tabulações, ou seja, determinar onde o cursor do mouse vai parar quando pressionarmos
a tecla Tab.

Figura 29: Réguas

8
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Grupo edição:

Permite localizar palavras em um documento, substituir palavras localizadas por outras ou aplicar formatações e sele-
cionar textos e objetos no documento.
Para localizar uma palavra no texto, basta clicar no ícone Localizar , digitar a palavra na linha do localizar e clicar no
botão Localizar Próxima.
A cada clique será localizada a próxima palavra digitada no texto. Temos também como realçar a palavra que desejamos
localizar para facilitar a visualizar da palavra localizada.
Na janela também temos o botão “Mais”. Neste botão, temos, entre outras, as opções:
- Diferenciar maiúscula e minúscula: procura a palavra digitada na forma que foi digitada, ou seja, se foi digitada em
minúscula, será localizada apenas a palavra minúscula e, se foi digitada em maiúscula, será localizada apenas e palavra
maiúscula.
- Localizar palavras inteiras: localiza apenas a palavra exatamente como foi digitada. Por exemplo, se tentarmos localizar
a palavra casa e no texto tiver a palavra casaco, a parte “casa” da palavra casaco será localizada, se essa opção não estiver
marcada. Marcando essa opção, apenas a palavra casa, completa, será localizada.
- Usar caracteres curinga: com esta opção marcada, usamos caracteres especiais. Por exemplo, é possível usar o carac-
tere curinga asterisco (*) para procurar uma sequência de caracteres (por exemplo, “t*o” localiza “tristonho” e “término”).

Veja a lista de caracteres que são considerados curinga, retirada do site do Microsoft Office:

Para localizar digite exemplo

Qualquer caractere único ? s?o localiza salvo e sonho.

Qualquer sequência de
* t*o localiza tristonho e término.
caracteres
<(org) localiza
organizar e organização,
mas não localiza
O início de uma palavra <
desorganizado.
(do)> localiza medo e cedo,
O final de uma palavra > mas não localiza domínio.

Um dos caracteres
[] v[ie]r localiza vir e ver
especificados
[r-t]ã localiza rã e sã.
Qualquer caractere único Os intervalos devem estar em
[-]
neste intervalo ordem crescente.
Qualquer caractere único,
F[!a-m]rro localiza forro, mas
exceto os caracteres no
[!x-z] não localiza ferro.
intervalo entre colchetes
Exatamente n ocorrências do ca{2}tinga localiza caatinga,
caractere ou expressão anterior {n} mas não catinga.

Pelo menos n ocorrências do


ca{1,}tinga localiza catinga e
caractere ou expressão anterior {n,}
caatinga.
De n a m ocorrências do
10{1,3} localiza 10,
caractere ou expressão
{n,m} 100 e 1000.
anterior

Uma ou mais ocorrências do


ca@tinga localiza
caractere ou expressão anterior @
catinga e caatinga.

9
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O grupo tabela é muito utilizado em editores de texto, como por exemplo a definição de estilos da tabela.

Figura 30: Estilos de Tabela

Fornece estilos predefinidos de tabela, com formatações de cores de células, linhas, colunas, bordas, fontes e demais
itens presentes na mesma. Além de escolher um estilo predefinido, podemos alterar a formatação do sombreamento e das
bordas da tabela.
Com essa opção, podemos alterar o estilo da borda, a sua espessura, desenhar uma tabela ou apagar partes de uma ta-
bela criada e alterar a cor da caneta e ainda, clicando no “Escolher entre várias opções de borda”, para exibir a seguinte tela:

Figura 31: Bordas e sombreamento

Na janela Bordas e sombreamento, no campo “Definição”, escolhemos como será a borda da nossa tabela:
- Nenhuma: retira a borda;
- Caixa: contorna a tabela com uma borda tipo caixa;
- Todas: aplica bordas externas e internas na tabela iguais, conforme a seleção que fizermos nos demais campos de
opção;
- Grade: aplica a borda escolhida nas demais opções da janela (como estilo, por exemplo) ao redor da tabela e as bor-
das internas permanecem iguais.
- Estilo: permite escolher um estilo para as bordas da tabela, uma cor e uma largura.
- Visualização: através desse recurso, podemos definir bordas diferentes para uma mesma tabela. Por exemplo, pode-
mos escolher um estilo e, em visualização, clicar na borda superior; escolher outro estilo e clicar na borda inferior; e assim
colocar em cada borda um tipo diferente de estilo, com cores e espessuras diferentes, se assim desejarmos.
A guia “Borda da Página”, desta janela, nos traz recursos semelhantes aos que vimos na Guia Bordas. A diferença é que
se trata de criar bordas na página de um documento e não em uma tabela.
Outra opção diferente nesta guia, é o item Arte. Com ele, podemos decorar nossa página com uma borda que envolve
vários tipos de desenhos.
Alguns desses desenhos podem ser formatados com cores de linhas diferentes, outros, porém não permitem
outras formatações a não ser o ajuste da largura.
Podemos aplicar as formatações de bordas da página no documento todo ou apenas nas sessões que desejarmos,
tendo assim um mesmo documento com bordas em uma página, sem bordas em outras ou até mesmo bordas de página
diferentes em um mesmo documento.

10
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Grupo Ilustrações: 3 – Linha de assinatura: insere uma linha que serve


como base para a assinatura de um documento.
4 – Data e hora: insere a data e a hora atuais no docu-
mento.
5 – Insere objeto: insere um objeto incorporado.
6 – Capitular: insere uma letra maiúscula grande no iní-
cio de cada parágrafo. É uma opção de formatação decora-
tiva, muito usada principalmente, em livros e revistas. Para
inserir a letra capitular, basta clicar no parágrafo desejado e
depois na opção “Letra Capitular”. Veja o exemplo:

Figura 32: Grupo Ilustrações Neste parágrafo foi inserida a letra capitular

1 – Inserir imagem do arquivo: permite inserir no teto Guia revisão:


uma imagem que esteja salva no computador ou em outra
mídia, como pendrive ou CD. Grupo revisão de texto:
2 – Clip-art: insere no arquivo imagens e figuras
que se encontram na galeria de imagens do Word.
3 – Formas: insere formas básicas como setas, cubos,
elipses e outras.
4 – SmartArt: insere elementos gráficos para comu-
nicar informações visualmente.
5 – Gráfico: insere gráficos para ilustrar e comparar da-
dos.

Grupo Links:

Inserir hyperlink: cria um link para uma página da Web, Figura 34: Grupo revisão de texto
uma imagem, um e – mail. Indicador: cria um indicador
para atribuir um nome a um ponto do texto. Esse indicador 1 – Pesquisar: abre o painel de tarefas viabilizando pes-
pode se tornar um link dentro do próprio documento. quisas em materiais de referência como jornais, enciclopé-
Referência cruzada: referência tabelas. dias e serviços de tradução.
2 – Dica de tela de tradução: pausando o cursor sobre
Grupo cabeçalho e rodapé: algumas palavras é possível realizar sua tradução para ou-
tro idioma.
Insere cabeçalhos, rodapés e números de páginas. 3 – Definir idioma: define o idioma usado para realizar
a correção de ortografia e gramática.
Grupo texto: 4 – Contar palavras: possibilita contar as palavras, os
caracteres, parágrafos e linhas de um documento.
5 – Dicionário de sinônimos: oferece a opção de alte-
rar a palavra selecionada por outra de significado igual ou
semelhante.
6 – Traduzir: faz a tradução do texto selecionado para
outro idioma.
7 – Ortografia e gramática: faz a correção ortográfica
e gramatical do documento. Assim que clicamos na opção
“Ortografia e gramática”, a seguinte tela será aberta:
Figura 33: Grupo Texto

1 – Caixa de texto: insere caixas de texto pré-formata-


das. As caixas de texto são espaços próprios para inserção
de textos que podem ser direcionados exatamente onde
precisamos. Por exemplo, na figura “Grupo Texto”, os nú-
meros ao redor da figura, do 1 até o 7, foram adicionados
através de caixas de texto.
2 – Partes rápidas: insere trechos de conteúdos reu-
tilizáveis, incluindo campos, propriedades de documentos
como autor ou quaisquer fragmentos de texto pré-forma-
do.

11
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Grupo controle:

Figura 36: Grupo controle

1 – Controlar alterações: controla todas as alterações


feitas no documento como formatações, inclusões, exclu-
sões e alterações.
2 – Balões: permite escolher a forma de visualizar as
alterações feitas no documento com balões no próprio do-
cumento ou na margem.
Figura 35: Verificar ortografia e gramática 3 – Exibir para revisão: permite escolher a forma de exi-
bir as alterações aplicadas no documento.
A verificação ortográfica e gramatical do Word, já bus- 4 – Mostrar marcações: permite escolher o tipo de mar-
ca trechos do texto ou palavras que não se enquadrem cação a ser exibido ou ocultado no documento.
no perfil de seus dicionários ou regras gramaticais e or- 5 – Painel de revisão: mostra as revisões em uma tela
tográficas. Na parte de cima da janela “Verificar ortografia separada.
e gramática”, aparecerá o trecho do texto ou palavra con-
siderada inadequada. Em baixo, aparecerão as sugestões. Grupo alterações:
Caso esteja correto e a sugestão do Word não se aplique,
podemos clicar em “Ignorar uma vez”; caso a regra apre-
sentada esteja incorreta ou não se aplique ao trecho do
texto selecionado, podemos clicar em “Ignorar regra”; caso
a sugestão do Word seja adequada, clicamos em “Alterar” e
podemos continuar a verificação de ortografia e gramática
clicando no botão “Próxima sentença”.
Se tivermos uma palavra sublinhada em vermelho, indi-
cando que o Word a considera incorreta, podemos apenas
clicar com o botão direito do mouse sobre ela e verificar se
uma das sugestões propostas se enquadra.
Por exemplo, a palavra informática. Se clicarmos com
Figura 37: Grupo alterações
o botão direito do mouse sobre ela, um menu suspenso
nos será mostrado, nos dando a opção de escolher a pala-
1 – Rejeitar: rejeita a alteração atual e passa para a pró-
vra informática. Clicando sobre ela, a palavra do texto será
xima alteração proposta.
substituída e o texto ficará correto.
2 – Anterior: navega até a revisão anterior para que seja
Grupo comentário: aceita ou rejeitada.
3 – Próximo: navega até a próxima revisão para que
Novo comentário: adiciona um pequeno texto que ser- possa ser rejeitada ou aceita.
ve como comentário do texto selecionado, onde é possível 4 – Aceitar: aceita a alteração atual e continua a nave-
realizar exclusão e navegação entre os comentários. gação para aceitação ou rejeição.

Para imprimir nosso documento, basta clicar no botão


do Office e posicionar o mouse sobre o ícone “Imprimir”.
Este procedimento nos dará as seguintes opções:
- Imprimir – onde podemos selecionar uma impresso-
ra, o número de cópias e outras opções de configuração
antes de imprimir.

12
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

- Impressão Rápida – envia o documento diretamente Word 2013


para a impressora configurada como padrão e não abre Vejamos abaixo alguns novos itens implementados na
opções de configuração. plataforma Word 2013:
- Visualização da Impressão – promove a exibição do Modo de leitura: o usuário que utiliza o software para a
documento na forma como ficará impresso, para que pos- leitura de documentos perceberá rapidamente a diferença,
samos realizar alterações, caso necessário. pois seu novo Modo de Leitura conta com um método que
abre o arquivo automaticamente no formato de tela cheia,
ocultando as barras de ferramentas, edição e formatação.
Além de utilizar a setas do teclado (ou o toque do dedo
nas telas sensíveis ao toque) para a troca e rolagem da pá-
gina durante a leitura, basta o usuário dar um duplo clique
sobre uma imagem, tabela ou gráfico e o mesmo será am-
pliado, facilitando sua visualização. Como se não bastasse,
clicando com o botão direito do mouse sobre uma palavra
desconhecida, é possível ver sua definição através do dicio-
nário integrado do Word.
Documentos em PDF: agora é possível editar um do-
cumento PDF no Word, sem necessitar recorrer ao Adobe
Acrobat. Em seu novo formato, o Word é capaz de conver-
ter o arquivo em uma extensão padrão e, depois de edita-
do, salvá-lo novamente no formato original. Esta façanha,
contudo, passou a ser de extensa utilização, pois o uso de
arquivos PDF está sendo cada vez mais corriqueiro no am-
biente virtual.
Interação de maneira simplificada:  o Word trata nor-
malmente a colaboração de outras pessoas na criação de
um documento, ou seja, os comentários realizados neste,
como se cada um fosse um novo tópico. Com o Word 2013
é possível responder diretamente o comentário de outra
pessoa clicando no ícone de uma folha, presente no campo
de leitura do mesmo. Esta interação de usuários, realizada
através dos comentários, aparece em forma de pequenos
balões à margem documento.
Compartilhamento Online: compartilhar seus docu-
mentos com diversos usuários e até mesmo enviá-lo por
e-mail tornou-se um grande diferencial da nova plataforma
Office 2013. O responsável por esta apresentação online é
o Office Presentation Service, porém, para isso, você preci-
Figura 38: Imprimir sa estar logado em uma Conta Microsoft para acessá-lo. Ao
terminar o arquivo, basta clicar em Arquivo / Compartilhar
As opções que temos antes de imprimir um arquivo / Apresentar Online / Apresentar Online e o mesmo será
estão exibidas na imagem acima. Podemos escolher a im- enviado para a nuvem e, com isso, você irá receber um link
pressora, caso haja mais de uma instalada no computador onde poderá compartilhá-lo também por e-mail, permitin-
ou na rede, configurar as propriedades da impressora, po- do aos demais usuários baixá-lo em formato PDF.
dendo estipular se a impressão será em alta qualidade, Ocultar títulos em um documento: apontado como
econômica, tom de cinza, preto e branca, entre outras uma dificuldade por grande parte dos usuários, a rolagem
opções. e edição de determinadas partes de um arquivo muito ex-
tenso, com vários títulos, acabou de se tornar uma tarefa
Escolhemos também o intervalo de páginas, ou seja, mais fácil e menos desconfortável. O Word 2013 permite
se desejamos imprimir todo o documento, apenas a pá- ocultar as seções e/ou títulos do documento, bastando os
gina atual (página em que está o ponto de inserção), ou mesmos estarem formatados no estilo Títulos (pré-defini-
um intervalo de páginas. Podemos determinar o número dos pelo Office). Ao posicionar o mouse sobre o título, é
de cópias e a forma como as páginas sairão na impressão. exibida uma espécie de triângulo a sua esquerda, onde, ao
Por exemplo, se forem duas cópias, determinamos se sai- ser clicado, o conteúdo referente a ele será ocultado, bas-
rão primeiro todas as páginas de número 1, depois as de tando repetir a ação para o mesmo reaparecer.
número 2, assim por diante, ou se desejamos que a segun- Enfim, além destas novidades apresentadas existem
da cópia só saia depois que todas as páginas da primeira outras tantas, como um layout totalmente modificado, fo-
forem impressas. cado para a utilização do software em tablets e aparelhos
com telas sensíveis ao toque.

13
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Esta nova plataforma, também, abre um amplo leque para a adição de vídeos online e imagens ao documento. Contu-
do, como forma de assegurar toda esta relação online de compartilhamento e boas novidades, a Microsoft adotou novos
mecanismos de segurança para seus aplicativos, retornando mais tranquilidade para seus usuários.
O grande trunfo do Office 2013 é sua integração com a nuvem. Do armazenamento de arquivos a redes sociais, os
softwares dessa versão são todos conectados. O ponto de encontro deles é o SkyDrive, o HD na internet da Microsoft. 
A tela de apresentação dos principais programas é ligada ao serviço, oferecendo opções de login, upload e download
de arquivos. Isso permite que um arquivo do Word, por exemplo, seja acessado em vários dispositivos com seu conteúdo
sincronizado. Até a página em que o documento foi fechado pode ser registrada. 
Da mesma maneira, é possível realizar trabalhos em conjunto entre vários usuários. Quem não tem o Office instalado
pode fazer edições na versão online do sistema. Esses e outros contatos podem ser reunidos no Outlook.
As redes sociais também estão disponíveis nos outros programas. É possível fazer buscas de imagens no Bing ou baixar
fotografias do Flickr, por exemplo. Outro serviço de conectividade é o SharePoint, que indica arquivos a serem acessados e
contatos a seguir baseado na atividade do usuário no Office.
O Office 365 é um novo jeito de usar os tão conhecidos softwares do pacote Office da Microsoft. Em vez de comprar
programas como Word, Excel ou PowerPoint, você agora pode fazer uma assinatura e desfrutar desses aplicativos e de
muitos outros no seu computador ou smartphone.
A assinatura ainda traz diversas outras vantagens, como 1 TB de armazenamento na nuvem com o OneDrive, minutos
Skype para fazer ligações para telefones fixos e acesso ao suporte técnico especialista da Microsoft. Tudo isso pagando uma
taxa mensal, o que você já faz para serviços essenciais para o seu dia a dia, como Netflix e Spotify. Porém, aqui estamos
falando da suíte de escritório indispensável para qualquer computador.
Veja abaixo as versões do Office 365

Figura 39: Versões Office 365

5.3 - EDITOR DE PLANILHA ELETRÔNICA:


ESTRUTURA BÁSICA DAS PLANILHAS,
CONCEITOS DE CÉLULAS, LINHAS, COLUNAS,
PASTAS E GRÁFICOS, ELABORAÇÃO DE
TABELAS E GRÁFICOS, USO DE FÓRMULAS,
FUNÇÕES E MACROS, IMPRESSÃO,
INSERÇÃO DE OBJETOS, CAMPOS
PREDEFINIDOS, CONTROLE DE QUEBRAS
E NUMERAÇÃO DE PÁGINAS, OBTENÇÃO
DE DADOS EXTERNOS, CLASSIFICAÇÃO DE
DADOS;

Excel
O Excel é uma poderosa planilha eletrônica para gerir e avaliar dados, realizar cálculos simples ou complexos e rastrear
informações. Ao abri-lo, é possível escolher entre iniciar a partir de documento em branco ou permitir que um modelo faça
a maior parte do trabalho por você.
Na tela inicial do Excel, são listados os últimos documentos editados (à esquerda), opção para criar novo documento
em branco e ainda, são sugeridos modelos para criação de novos documentos (ao centro).
Ao selecionar a opção de Pasta de Trabalho em Branco você será direcionado para a tela principal, composta pelos
elementos básicos apontados na figura 106, e descritos nos tópicos a seguir.

14
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

 Figura 42: Tela Principal do Excel 2013

Barra de Títulos:

A linha superior da tela é a barra de títulos, que mostra o nome da pasta de trabalho na janela. Ao iniciar o programa
aparece Pasta 1 porque você ainda não atribuiu um nome ao seu arquivo.

Faixa de Opções:

Desde a versão 2007 do Office, os menus e barras de ferramentas foram substituídos pela Faixa de Opções. Os coman-
dos são organizados em uma única caixa, reunidos em guias. Cada guia está relacionada a um tipo de atividade e, para
melhorar a organização, algumas são exibidas somente quando necessário.

 Figura 43: Faixa de Opções

15
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Barra de Ferramentas de Acesso Rápido:

A Barra de Ferramentas de Acesso Rápido fica posicionada no topo da tela e pode ser configurada com os botões de
sua preferência, tornando o trabalho mais ágil.

 Figura 44: Barra de Ferramentas de Acesso Rápido

Adicionando e Removendo Componentes:

Para ocultar ou exibir um botão de comando na barra de ferramentas de acesso rápido podemos clicar com o botão
direito no componente que desejamos adicionar, em qualquer guia. Será exibida uma janela com a opção de Adicionar à
Barra de Ferramentas de Acesso Rápido.
Temos ainda outra opção de adicionar ou remover componentes nesta barra, clicando na seta lateral. Na janela apre-
sentada temos várias opções para personalizar a barra, além da opção Mais Comandos..., onde temos acesso a todos os
comandos do Excel.

 Figura 45: Adicionando componentes à Barra de Ferramentas de Acesso Rápido

Para remoção do componente, selecione-o, clique com o botão direito do mouse e escolha Remover da Barra de Fer-
ramentas de Acesso Rápido.

Barra de Status:

Localizada na parte inferior da tela, a barra de status exibe mensagens, fornece estatísticas e o status de algumas teclas.
Nela encontramos o recurso de Zoom e os botões de “Modos de Exibição”.

 Figura 46: Barra de Status

16
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Clicando com o botão direito sobre a barra de status, será exibida a caixa Personalizar barra de status. Nela podemos
ativar ou desativar vários componentes de visualização.

 Figura 47: Personalizar Barra de Status

Barras de Rolagem: Nos lados direito e inferior da região de texto estão as barras de rolagem. Clique nas setas para
cima ou para baixo para mover a tela verticalmente, ou para a direita e para a esquerda para mover a tela horizontalmente,
e assim poder visualizar toda a sua planilha.

Planilha de Cálculo: A área quadriculada representa uma planilha de cálculos, onde você fará a inserção de dados e
fórmulas para colher os resultados desejados.
Uma planilha é formada por linhas, colunas e células. As linhas são numeradas (1, 2, 3, etc.) e as colunas nomeadas com
letras (A, B, C, etc.).

 Figura 48: Planilha de Cálculo

17
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Cabeçalho de Coluna: Cada coluna tem um cabeçalho, que contém a letra que a identifica. Ao clicar na letra, toda a
coluna é selecionada.

 Figura 49: Seleção de Coluna

Ao dar um clique com o botão direito do mouse sobre o cabeçalho de uma coluna, aparecerá o menu pop-up, onde as
opções deste menu são as seguintes:
-Formatação rápida: a caixa de formatação rápida permite escolher a formatação de fonte e formato de dados, bem
como mesclagem das células (será abordado mais detalhadamente adiante).
-Recortar: copia toda a coluna para a área de transferência, para que possa ser colada em outro local determinado e,
após colada, essa coluna é excluída do local de origem.
-Copiar: copia toda a coluna para a área de transferência, para que possa ser colada em outro local determinado.
-Opções de Colagem: mostra as diversas opções de itens que estão na área de transferência e que tenham sido recor-
tadas ou copiadas.
-Colar especial: permite definir formatos específicos na colagem de dados, sobretudo copiados de outros aplicativos.
-Inserir: insere uma coluna em branco, exatamente antes da coluna selecionada.
-Excluir: exclui toda a coluna selecionada, inclusive os dados nela contidos e sua formatação.
-Limpar conteúdo: apenas limpa os dados de toda a coluna, mantendo a formatação das células.
-Formatar células: permite escolher entre diversas opções para fazer a formatar as células (será visto detalhadamente
adiante).
-Largura da coluna: permite definir o tamanho da coluna selecionada.
-Ocultar: oculta a coluna selecionada. Muitas vezes uma coluna é utilizada para fazer determinados cálculos, necessá-
rios para a totalização geral, mas desnecessários na visualização. Neste caso, utiliza-se esse recurso.
-Re-exibir: reexibe colunas ocultas.

Cabeçalho de Linha: Cada linha tem também um cabeçalho, que contém o número que a identifica. Clicando no ca-
beçalho de uma linha, esta ficará selecionada.

 Figura 50: Cabeçalho de linha

18
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Célula: As células, são as combinações entre linha e As funções deste menu são as seguintes:
colunas. Por exemplo, na coluna A, linha 1, temos a célula -Inserir: insere uma nova planilha exatamente antes da
A1. Na Caixa de Nome, aparecerá a célula onde se encontra planilha selecionada.
o cursor. -Excluir: exclui a planilha selecionada e os dados que
Sendo assim, as células são representadas como mos- ela contém.
tra a tabela: -Renomear: renomeia a planilha selecionada.
-Mover ou copiar: você pode mover a planilha para
outra posição, ou mesmo criar uma cópia da planilha com
todos os dados nela contidos.
-Proteger Planilha: para impedir que, por acidente ou
deliberadamente, um usuário altere, mova ou exclua dados
importantes de planilhas ou pastas de trabalho, você pode
proteger determinados elementos da planilha (planilha: o
principal documento usado no Excel para armazenar e tra-
balhar com dados, também chamado planilha eletrônica.
Uma planilha consiste em células organizadas em colunas
e linhas; ela é sempre armazenada em uma pasta de tra-
 Figura 51: Representação das Células balho.)ou da pasta de trabalho, com ou sem senha (senha:
uma forma de restringir o acesso a uma pasta de traba-
Caixa de Nome: Você pode visualizar a célula na qual lho, planilha ou parte de uma planilha. As senhas do Excel
o cursor está posicionado através da Caixa de Nome, ou, podem ter até 255 letras, números, espaços e símbolos. É
ao contrário, pode clicar com o mouse nesta caixa e digitar necessário digitar as letras maiúsculas e minúsculas corre-
o endereço da célula em que deseja posicionar o cursor. tamente ao definir e digitar senhas.). É possível remover a
Após dar um “Enter”, o cursor será automaticamente posi- proteção da planilha, quando necessário.
cionado na célula desejada. -Exibir código: pode-se criar códigos de programação
em VBA (Visual Basic for Aplications) e vincular às guias
Guias de Planilhas: Em versões anteriores do Excel, ao de planilhas (trata-se de tópico de programação avançada,
abrir uma nova pasta de trabalho no Excel, três planilhas já que não é o objetivo desta lição, portanto, não será abor-
eram criadas: Plan1, Plan2 e Plan3. Nesta versão, somente dado).
uma planilha é criada, e você poderá criar outras, se ne- -Cor da guia: muda a cor das guias de planilhas.
cessitar. Para criar nova planilha dentro da pasta de traba- -Ocultar/Re-exibir: oculta/reexibe uma planilha.
lho, clique no sinal + ( ). Para alternar entre as -Selecionar todas as planilhas: cria uma seleção em to-
planilhas, basta clicar sobre a guia, na planilha que deseja das as planilhas para que possam ser configuradas e im-
trabalhar. pressas juntamente.
Você verá, no decorrer desta lição, como podemos cru-
zar dados entre planilhas e até mesmo entre pastas de tra- Selecionar Tudo: Clicando-se na caixa Selecionar tudo,
balho diferentes, utilizando as guias de planilhas. todas as células da planilha ativa serão selecionadas.
Ao posicionar o mouse sobre qualquer uma das plani-
lhas existentes e clicar com o botão direito aparecerá um
menu pop up.

 Figura 53: Caixa Selecionar Tudo

Barra de Fórmulas: Na barra de fórmulas são digita-


das as fórmulas que efetuarão os cálculos.
A principal função do Excel é facilitar os cálculos com o
uso de suas fórmulas. A partir de agora, estudaremos várias
de suas fórmulas. Para iniciar, vamos ter em mente que,
para qualquer fórmula que será inserida em uma célula, te-
mos que ter sinal de “=” no seu início. Esse sinal, oferece
uma entrada no Excel que o faz diferenciar textos ou núme-
ros comuns de uma fórmula.

 Figura 52: Menu Planilhas

19
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Somar: Se tivermos uma sequência de dados numé- Máximo: Mostra o maior valor em um intervalo de
ricos e quisermos realizar a sua soma, temos as seguintes células selecionadas. Na figura a seguir, iremos calcular a
formas de fazê-lo: maior idade digitada no intervalo de células de A2 até A5. A
função digitada será = máximo(A2:A5).
Onde: “= máximo” – é o início da função; (A2:A5) – refe-
re-se ao endereço dos valores onde você deseja ver qual é
o maior valor. No caso a resposta seria 10.

Mínimo: Mostra o menor valor existente em um inter-


valo de células selecionadas.
Na figura a seguir, calcularemos o menor salário digi-
tado no intervalo de A2 até A5. A função digitada será =
 Figura 54: Soma simples mínimo (A2:A5).
Onde: “= mínimo” – é o início da função; (A2:A5) – refe-
Usamos, nesse exemplo, a fórmula =B2+B3+B4. re-se ao endereço dos valores onde você deseja ver qual é
Após o sinal de “=” (igual), clicar em uma das células, o maior valor. No caso a resposta seria R$ 622,00.
digitar o sinal de “+” (mais) e continuar essa sequência até
o último valor. Média: A função da média soma os valores de uma
Após a sequência de células a serem somadas, clicar no sequência selecionada e divide pela quantidade de valores
ícone soma, ou usar as teclas de atalho Alt+=. dessa sequência.
A última forma que veremos é a função soma digitada. Na figura a seguir, foi calculada a média das alturas de
Vale ressaltar que, para toda função, um início é fundamental: quatro pessoas, usando a função = média (A2:A4)
= nome da função ( Foi digitado “= média (”, depois, foram selecionados os
valores das células de A2 até A5. Quando a tecla Enter for
pressionada, o resultado será automaticamente colocado
na célula A6.
Todas as funções, quando um de seus itens for alte-
1 - Sinal de igual.
rado, recalculam o valor final.
2 – Nome da função.
3 – Abrir parênteses.
Data: Esta fórmula insere a data automática em uma
planilha.
Após essa sequência, o Excel mostrará um pequeno
lembrete sobre a função que iremos usar, onde é possível
clicar e obter ajuda, também. Usaremos, no exemplo a se-
guir, a função = soma(B2:B4).
Lembre-se, basta colocar o a célula que contém o pri-
meiro valor, em seguida o dois pontos (:) e por último a
célula que contém o último valor.

Subtrair: A subtração será feita sempre entre dois va-


lores, por isso não precisamos de uma função específica. Figura 55: Exemplo função hoje
Tendo dois valores em células diferentes, podemos
apenas clicar na primeira, digitar o sinal de “-” (menos) e Na célula C1 está sendo mostrado o resultado da fun-
depois clicar na segunda célula. Usamos na figura a seguir ção =hoje(), que aparece na barra de fórmulas.
a fórmula = B2-B3.
Multiplicar: Para realizarmos a multiplicação, proce- Inteiro: Com essa função podemos obter o valor inteiro
demos de forma semelhante à subtração. Clicamos no pri- de uma fração. A função a ser digitada é =int(A2). Lembra-
meiro número, digitamos o sinal de multiplicação que, para mos que A2 é a célula escolhida e varia de acordo com a
o Excel é o “*” asterisco, e depois, clicamos no último valor. célula a ser selecionada na planilha trabalhada.
No próximo exemplo, usaremos a fórmula =B2*B3.
Outra forma de realizar a multiplicação é através da se- Arredondar para cima: Com essa função, é possível
guinte função: arredondar um número com casas decimais para o número
=mult(B2;c2) multiplica o valor da célula B2 pelo valor mais distante de zero.
da célula C2. Sua sintaxe é: = ARREDONDAR.PARA.CIMA(núm;núm_
dígitos)
Dividir: Para realizarmos a divisão, procedemos de for- Onde:
ma semelhante à subtração e multiplicação. Clicamos no Núm: é qualquer número real que se deseja arredondar.
primeiro número, digitamos o sinal de divisão que, para o Núm_dígitos: é o número de dígitos para o qual se
Excel é a “/” barra, e depois, clicamos no último valor. No deseja arredondar núm.
próximo exemplo, usaremos a fórmula =B3/B2.

20
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 56: Início da função arredondar para cima

Veja na figura, que quando digitamos a parte inicial da função, o Excel nos mostra que temos que selecionar o num,
ou seja, a célula que desejamos arredondar e, depois do “;” (ponto e vírgula), digitar a quantidade de dígitos para a qual
queremos arredondar.
Na próxima figura, para efeito de entendimento, deixaremos as funções aparentes, e os resultados dispostos na
coluna C:
A função Arredondar.para.Baixo segue exatamente o mesmo conceito.

Resto: Com essa função podemos obter o resto de uma divisão. Sua sintaxe é a seguinte:
= mod (núm;divisor)
Onde:
Núm: é o número para o qual desejamos encontrar o resto.
divisor: é o número pelo qual desejamos dividir o número.

Figura 57: Exemplo de digitação da função MOD

Os valores do exemplo a cima serão, respectivamente: 1,5 e 1.

Valor Absoluto: Com essa função podemos obter o valor absoluto de um número. O valor absoluto, é o número
sem o sinal. A sintaxe da função é a seguinte:
=abs(núm)
Onde: aBs(núm)
Núm: é o número real cujo valor absoluto você deseja obter.

Figura 58: Exemplo função abs

Dias 360: Retorna o número de dias entre duas datas com base em um ano de 360 dias (doze meses de 30 dias).
Sua sintaxe é:
= DIAS360(data_inicial;data_final)
Onde:
data_inicial = a data de início de contagem.
Data_final = a data a qual quer se chegar.
No exemplo a seguir, vamos ver quantos dias faltam para chegar até a data de 14/06/2018, tendo como data inicial
o dia 05/03/2018. A função utilizada será =dias360(A2;B2)

21
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 59: Exemplo função dias360

Vamos usar a Figura abaixo para explicar as próximas funções (Se, SomaSe, Cont.Se)

Figura 58: Exemplo (Se, SomaSe, Cont.se)

Função SE: O SE é uma função condicional, ou seja, verifica SE uma condição é verdadeira ou falsa.

A sintaxe desra função é a seguinte:


=SE(teste_lógico;“valor_se_verdadeiro”;“valor_se_falso”)
=: Significa a chamada para uma fórmula/função
SE: função SE
teste_lógico: a pergunta a qual se deseja ter resposta
“valor_se_verdadeiro”: se a resposta da pergunta for verdadeira, define o resultado “valor_se_falso” se a resposta da
pergunta for falsa, define o resultado
Usando a planilha acima como exemplo, na coluna ‘E’ queremos colocar uma mensagem se o funcionário recebe um
salário igual ou acima do valor mínimo R$ 724,00 ou abaixo do valor mínimo determinado em R$724,00.
Assim, temos a condição:
SE VALOR DE C3 FOR MAIOR OU IGUAL a 724, então ESCREVA “ACIMA”, senão ESCREVA “ABAIXO” MOSTRA O RESUL-
TADO NA CÉLULA E3
Traduzindo a condição em variáveis teremos:
Resultado: será mostrado na célula C3, portanto é onde devemos digitar a fórmula
Teste lógico: C3>=724
Valor_se_verdadeiro: “Acima”
Valor_se_falso: “Abaixo”

22
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Assim, com o cursor na célula E3, digitamos: Traduzindo a condição em variáveis teremos:
=SE(C3>=724;”Acima”;”Abaixo”)
Para cada uma das linhas, podemos copiar e colar as Resultado: será mostrado na célula D17, portanto é onde
fórmulas, e o Excel, inteligentemente, acertará as linhas e devemos digitar a fórmula
colunas nas células. Nossas fórmulas ficarão assim: Intervalo para análise: C3:C10
E4 ↑ =SE(C4>=724;”Acima”;”Abaixo”) Critério: “FEMININO”
E5 ↑ =SE(C5>=724;”Acima”;”Abaixo”) Intervalo para soma: D3:D10
E6 ↑ =SE(C6>=724;”Acima”;”Abaixo”)
E7 ↑ =SE(C7>=724;”Acima”;”Abaixo”) Assim, com o cursor na célula D17, digitamos:
E8 ↑ =SE(C8>=724;”Acima”;”Abaixo”) =SomaSE(D3:D10;”feminino”;C3:C10)
E9 ↑ =SE(C9>=724;”Acima”;”Abaixo”)
E10 ↑ =SE(C10>=724;”Acima”;”Abaixo”) Função CONT.SE: O CONT.SE é uma função de conta-
gem condicionada, ou seja, CONTA a quantidade de regis-
Função SomaSE: A SomaSE é uma função de soma tros, SE determinada condição for verdadeira. A sintaxe desta
condicionada, ou seja, SOMA os valores, SE determinada função é a seguinte:
condição for verdadeira. A sintaxe desta função é a seguinte:
=CONT.SE(intervalo;“critérios”)
=SomaSe(intervalo;“critérios”;intervalo_soma) = : significa a chamada para uma fórmula/função

CONT.SE: chamada para a função CONT.SE


=Significa a chamada para uma fórmula/função
intervalo: intervalo de células onde será feita a análise
SomaSe: função SOMASE dos dados
intervalo: Intervalo de células onde será feita a análise “critérios”: critérios a serem avaliados nas células do “intervalo”
dos dados
“critérios”: critérios (sempre entre aspas) a serem ava- Usando a planilha acima como exemplo, queremos sa-
liados a fim de chegar à condição verdadeira ber quantas pessoas ganham R$ 1200,00 ou mais, e mos-
intervalo_soma: Intervalo de células onde será verifica- trar o resultado na célula D14, e quantas ganham abaixo de
da a condição para soma dos valores R$1.200,00 e mostrar o resultado na célula D15. Para isso pre-
cisamos criar a seguinte condição:
Exemplo: usando a planilha acima, queremos somar R$ 1200,00 ou MAIS:
os salários de todos os funcionários HOMENS e mostrar SE SALÁRIO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR MAIOR
o resultado na célula D16. E também queremos somar os OU IGUAL A 1200, ENTÃO
salários das funcionárias mulheres e mostrar o resultado na CONTA REGISTROS NO INTERVALO C3 ATÉ C10
célula D17. Para isso precisamos criar a seguinte condição: MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D14

HOMENS: Traduzindo a condição em variáveis teremos:


SE SEXO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR MASCULI-
Resultado: será mostrado na célula D14, portanto é onde
NO, ENTÃO
devemos digitar a fórmula
SOMA O VALOR DO SALÁRIO MOSTRADO NO IN-
Intervalo para análise: C3:C10
TERVALO D3 ATÉ D10 Critério: >=1200
MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D16
Assim, com o cursor na célula D14, digitamos:
Traduzindo a condição em variáveis teremos: =CONT.SE(C3:C10;”>=1200”)

Resultado: será mostrado na célula D16, portanto é MENOS DE R$ 1200,00:


onde devemos digitar a fórmula SE SALÁRIO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR MENOR
Intervalo para análise: C3:C10 QUE 1200, ENTÃO
Critério: “MASCULINO” CONTA REGISTROS NO INTERVALO C3 ATÉ C10
Intervalo para soma: D3:D10 MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D15
Assim, com o cursor na célula D16, digitamos:
=SOMASE(D3:D10;”masculino”;C3:C10) Traduzindo a condição em variáveis teremos:
MULHERES:
SE SEXO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR FEMININO, Resultado: será mostrado na célula D15, portanto é onde
ENTÃO devemos digitar a fórmula
SOMA O VALOR DO SALÁRIO MOSTRADO NO IN- Intervalo para análise: C3:C10
Critério: <1200
TERVALO D3 ATÉ D10
MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D17
Assim, com o cursor na célula D15, digitamos:
=CONT.SE(C3:C10;”<1200”)

23
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Observações: fique atento com o > (maior) e < (menor), >= (maior ou igual) e <=(menor ou igual). Se tivéssemos
determinado a contagem de valores >1200 (maior que 1200) e <1200 (menor que 1200), o valor =1200 (igual a 1200) não
entraria na contagem.

Formatação de Células: Ao observar a planilha abaixo, fica claro que não é uma planilha bem formatada, vamos deixar
ela de uma maneira mais agradável.

Figura 61: Planilha sem Formatação

Vamos utilizar os 3(três) passos apontados na Figura abaixo:

Figura 62: Formatando a planilha

O primeiro passo é mesclar e centralizar o título, para isso utilizamos o botão Mesclar e Centralizar , entre outras opções
de alinhamento, como centralizar, direção do texto, entre outras.

Figura 63: Formatando a planilha (Passo 1)

24
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Em seguida, vamos colocar uma borda no texto digitado, vamos escolher a opção “Todas as bordas”, podemos mudar
o título para negrito, mudar a cor do fundo e/ou de uma fonte, basta selecionar a(s) célula(s) e escolher as formatações.

Figura 64: Formatando a planilha (Passo 2)

Para finalizar essa etapa vamos formatar a coluna C para moeda, que é o caso desse exemplo, porém pode ser realizado
vários outros tipos de formatação, como, porcentagem, data, hora, científico, basta clicar no dropbox onde está escrito geral
e escolher.

Figura 65: Formatando a planilha (Passo 3)

O resultado final nos traz uma planilha muito mais agradável e de fácil entendimento:

Figura 66: Planilha Formatada

Ordenando os dados: Você pode digitar os dados em qualquer ordem, pois o Excel possui uma ferramenta muito útil
para ordenar os dados.
Ao clicar neste botão, você tem as opções para classificar de A a Z (ordem crescente), de Z a A (ordem decrescente) ou
classificação personalizada.
Para ordenar seus dados, basta clicar em uma célula da coluna que deseja ordenar, e selecionar a classificação crescente
ou decrescente. Mas cuidado! Se você selecionar uma coluna inteira, nas versões mais antigas do Excel, você irá classificar
os dados dessa coluna, mas vai manter os dados das outras colunas onde estão. Ou seja, seus dados ficarão alterados. Nas
versões mais novas, ele fará a pergunta, se deseja expandir a seleção e dessa forma, fazer a classificação dos dados junto
com a coluna de origem, ou se deseja manter a seleção e classificar somente a coluna selecionada.

Filtrando os dados: Ainda no botão temos a opção FILTRO. Ao selecionar esse botão, cada uma das colunas da nossa
planilha irá abrir uma seta para fazer a seleção dos dados que desejamos visualizar. Assim, podemos filtrar e visualizar so-
mente os dados do mês de Janeiro ou então somente os gastos com contas de consumo, por exemplo.

25
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Grupo ferramentas de dados:


- Texto para colunas: separa o conteúdo de uma célula do Excel em colunas separadas.
- Remover duplicatas: exclui linhas duplicadas de uma planilha - Validação de dados: permite especificar valores invá-
lidos para uma planilha. Por exemplo, podemos especificar que a planilha não aceitará receber valores menores que 10.
- Consolidar: combina valores de vários intervalos em um novo intervalo.
- Teste de hipóteses: testa diversos valores para a fórmula na planilha.

Gráficos: Outra forma interessante de analisar os dados é utilizando gráficos. O Excel monta os gráficos rapidamente e
é muito fácil. Na Guia Inserir da Faixa de Opções, temos diversas opções de gráficos que podem ser utilizados.

Figura 67: Gráficos

Utilizando a planilha da Concessionária Grupo Nova, teremos o seguinte gráfico escolhido:

Figura 68: Gráfico de Colunas – 3D

Redimensione o gráfico clicando com o mouse nas bordas para aumentar de tamanho. Reposicione o gráfico na página,
clicando nas linhas e arrastando até o local desejado.
Importante mencionar que o conceito do Excel 365 é o mesmo apontado no Word, ou seja, fazem parte do Office 365,
que podem ser comprados conforme figura 39.

26
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Uma das funcionalidades mais úteis do Outlook para


5.4 - CORREIO ELETRÔNICO: USO DE profissionais que compartilham uma mesma área é o com-
CORREIO ELETRÔNICO, PREPARO E ENVIO DE partilhamento de calendário entre membros de uma mes-
MENSAGENS, ANEXAÇÃO DE ARQUIVOS; ma equipe.
Por isso mesmo é importante que você tenha o conhe-
5.5 - MENSAGERIA ELETRÔNICA: CONCEITO
cimento da técnica na hora de fazer uma prova de con-
E UTILIZAÇÃO;
curso que exige os conhecimentos básicos de informática,
pois por ser uma função bastante utilizada tem maiores
chances de aparecer em uma ou mais questões.
Conhecimento e utilização dos principais softwares O calendário é uma ferramenta bastante interessante
utilitários (compactadores de arquivos, chat, clientes de do Outlook que permite que o usuário organize de forma
e-mails, reprodutores de vídeo, visualizadores de imagem) completa a sua rotina, conseguindo encaixar tarefas, com-
Os compactadores de arquivos servem para transfor- promissos e reuniões de maneira organizada por dia, de
mar um grupo de arquivos em um único arquivo e ocu- forma a ter um maior controle das atividades que devem
pando menos memória, ficou muito famoso como o termo ser realizadas durante o seu dia a dia.
zipar um arquivo. Dessa forma, uma funcionalidade do Outlook permi-
Hoje o principal programa é o WINRAR para Windows, te que você compartilhe em detalhes o seu calendário ou
inclusive com suporte para outros formatos. Compacta em parte dele com quem você desejar, de forma a permitir
média de 8% a 15% a mais que o seu principal concorrente, que outra pessoa também tenha acesso a sua rotina, o que
o WinZIP. WinRAR é um dos únicos softwares que trabalha pode ser uma ótima pedida para profissionais dentro de
com arquivos dos mais diferentes formatos de compressão, uma mesma equipe, principalmente quando um determi-
tais como: ACE, ARJ, BZ2, CAB, GZ, ISO, JAR, LZH, RAR, TAR, nado membro entra de férias.
UUEncode, ZIP, 7Z e Z. Também suporta arquivos de até Para conseguir utilizar essa função basta que você
8.589 bilhões de Gigabytes! entre em Calendário na aba indicada como Página Inicial.
Chat é um termo da língua inglesa que se pode tra- Feito isso, basta que você clique em Enviar Calendário por
duzir como “bate-papo” (conversa). Apesar de o conceito E-mail, que vai fazer com que uma janela seja aberta no
ser estrangeiro, é bastante utilizado no nosso idioma para seu Outlook.
fazer referência a uma ferramenta (ou fórum) que permite Nessa janela é que você vai poder escolher todas as
comunicar (por escrito) em tempo real através da Internet. informações que vão ser compartilhadas com quem você
Principais canais para chats são os portais, como Uol, deseja, de forma que o Outlook vai formular um calendá-
Terra, G1, e até mesmo softwares de serviços mensageiros rio de forma simples e detalhada de fácil visualização para
como o Skype, por exemplo. quem você deseja enviar uma mensagem.
Um e-mail hoje é um dos principais meios de comuni- Nos dias de hoje, praticamente todo mundo que tra-
cação, por exemplo: balha dentro de uma empresa tem uma assinatura própria
para deixar os comunicados enviados por e-mail com uma
canaldoovidio@gmail.com aparência mais profissional.
Dessa forma, é considerado um conhecimento básico
Onde, canaldoovidio é o usuário o arroba quer dizer saber como criar assinaturas no Outlook, de forma que este
na, o gmail é o servidor e o .com é a tipagem. conteúdo pode ser cobrado em alguma questão dentro de
Para editarmos e lermos nossas mensagens eletrônicas um concurso público.
em um único computador, sem necessariamente estarmos Por isso mesmo vale a pena inserir o tema dentro de
conectados à Internet no momento da criação ou leitura seus estudos do conteúdo básico de informática para a sua
do e-mail, podemos usar um programa de correio eletrôni- preparação para concurso. Ao contrário do que muita gen-
co. Existem vários deles. Alguns gratuitos, como o Mozilla te pensa, a verdade é que todo o processo de criar uma
Thunderbird, outros proprietários como o Outlook Express. assinatura é bastante simples, de forma que perder pontos
Os dois programas, assim como vários outros que servem à por conta dessa questão em específico é perder pontos à
mesma finalidade, têm recursos similares. Apresentaremos toa.
os recursos dos programas de correio eletrônico através do Para conseguir criar uma assinatura no Outlook bas-
Outlook Express que também estão presentes no Mozilla ta que você entre no menu Arquivo e busque pelo botão
Thunderbird. de Opções. Lá você vai encontrar o botão para E-mail e
Um conhecimento básico que pode tornar o dia a dia logo em seguida o botão de Assinaturas, que é onde você
com o Outlook muito mais simples é sobre os atalhos de deve clicar. Feito isso, você vai conseguir adicionar as suas
teclado para a realização de diversas funções dentro do assinaturas de maneira rápida e prática sem maiores pro-
Outlook. Para você começar os seus estudos, anote alguns blemas.
atalhos simples. Para criar um novo e-mail, basta apertar No Outlook Express podemos preparar uma mensa-
Ctrl + Shift + M e para excluir uma determinada mensagem gem através do ícone Criar e-mail, demonstrado na figura
aposte no atalho Ctrl + D. Levando tudo isso em considera- acima, ao clicar nessa imagem aparecerá a tela a seguir:
ção inclua os atalhos de teclado na sua rotina de estudos e
vá preparado para o concurso com os principais na cabeça.

27
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 2: Tela de Envio de E-mail

Para: deve ser digitado o endereço eletrônico ou o contato registrado no Outlook do destinatário da mensagem. Campo
obrigatório.
Cc: deve ser digitado o endereço eletrônico ou o contato registrado no Outlook do destinatário que servirá para ter
ciência desse e-mail.
Cco: Igual ao Cc, porém os destinatários ficam ocultos.
Assunto: campo onde será inserida uma breve descrição, podendo reservar-se a uma palavra ou uma frase sobre o con-
teúdo da mensagem. É um campo opcional, mas aconselhável, visto que a falta de seu preenchimento pode levar o destina-
tário a não dar a devida importância à mensagem ou até mesmo desconsiderá-la.
Corpo da mensagem: logo abaixo da linha assunto, é equivalente à folha onde será digitada a mensagem.
A mensagem, após digitada, pode passar pelas formatações existentes na barra de formatação do Outlook:
Mozilla Thunderbird é um cliente de email e notícias open-source e gratuito criado pela Mozilla Foundation (mesma
criadora do Mozilla Firefox).
Webmail é o nome dado a um cliente de e-mail que não necessita de instalação no computador do usuário, já que fun-
ciona como uma página de internet, bastando o usuário acessar a página do seu provedor de e-mail com seu login e senha.
Desta forma, o usuário ganha mobilidade já que não necessita estar na máquina em que um cliente de e-mail está instalado
para acessar seu e-mail.
A popularização da banda larga e dos serviços de e-mail com grande capacidade de armazenamento está aumentando a
circulação de vídeos na Internet. O problema é que a profusão de formatos de arquivos pode tornar a experiência decepcionante.
A maioria deles depende de um único programa para rodar. Por exemplo, se a extensão é MOV, você vai necessitar do
QuickTime, da Apple. Outros, além de um player de vídeo, necessitam do “codec” apropriado. Acrônimo de “COder/DECo-
der”, codec é uma espécie de complemento que descomprime - e comprime - o arquivo. É o caso do MPEG, que roda no
Windows Media Player, desde que o codec esteja atualizado - em geral, a instalação é automática.
Com os três players de multimídia mais populares - Windows Media Player, Real Player e Quicktime -, você dificilmente
encontrará problemas para rodar vídeos, tanto offline como por streaming (neste caso, o download e a exibição do vídeo
são simultâneos, como na TV Terra).
Atualmente, devido à evolução da internet com os mais variados tipos de páginas pessoais e redes sociais, há uma
grande demanda por programas para trabalhar com imagens. E, como sempre é esperado, em resposta a isso, também há
no mercado uma ampla gama de ferramentas existentes que fazem algum tipo de tratamento ou conversão de imagens.
Porém, muitos destes programas não são o que se pode chamar de simples e intuitivos, causando confusão em seu
uso ou na manipulação dos recursos existentes. Caso o que você precise seja apenas um programa para visualizar imagens
e aplicar tratamentos e efeitos simples ou montar apresentações de slides, é sempre bom dar uma conferida em alguns
aplicativos mais leves e com recursos mais enxutos como os visualizadores de imagens.

28
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Abaixo, segue uma seleção de visualizadores, muitos


deles trazendo os recursos mais simples, comuns e fáceis 5.6 - VOZ SOBRE IP: CONCEITO E
de se utilizar dos editores, para você que não precisa de UTILIZAÇÃO;
tantos recursos, mas ainda assim gosta de dar um trata- 5.7 - AMBIENTE EM REDE: CONCEITOS,
mento especial para as suas mais variadas imagens. NAVEGADORES, NAVEGAÇÃO INTERNET
O Picasa está com uma versão cheia de inovações que
E INTRANET, CONCEITOS DE URL, LINKS,
faz dele um aplicativo completo para visualização de fo-
tos e imagens. Além disso, ele possui diversas ferramentas SITES, BUSCA E IMPRESSÃO DE PÁGINAS,
úteis para editar, organizar e gerenciar arquivos de imagem REDES SOCIAIS, SISTEMAS DE BUSCA E
do computador. PESQUISA, PROTEÇÃO E SEGURANÇA,
As ferramentas de edição possuem os métodos mais CONFIGURAÇÕES, ARMAZENAMENTO DE
avançados para automatizar o processo de correção de DADOS NA NUVEM (CLOUD STORAGE);
imagens. No caso de olhos vermelhos, por exemplo, o pro-
grama consegue identificar e corrigir todos os olhos ver-
melhos da foto automaticamente sem precisar selecionar
um por um. Além disso, é possível cortar, endireitar, adicio- O objetivo inicial da Internet era atender necessidades
nar textos, inserir efeitos, e muito mais. militares, facilitando a comunicação. A agência norte-a-
Um dos grandes destaques do Picasa é sua poderosa mericana ARPA – ADVANCED RESEARCH AND PROJECTS
biblioteca de imagens. Ele possui um sistema inteligente de AGENCY e o Departamento de Defesa americano, na dé-
armazenamento capaz de filtrar imagens que contenham cada de 60, criaram um projeto que pudesse conectar os
apenas rostos. Assim você consegue visualizar apenas as computadores de departamentos de pesquisas e bases mi-
fotos que contém pessoas. litares, para que, caso um desses pontos sofresse algum
Depois de tudo organizado em seu computador, você tipo de ataque, as informações e comunicação não seriam
pode escolher diversas opções para salvar e/ou compar- totalmente perdidas, pois estariam salvas em outros pon-
tilhar suas fotos e imagens com amigos e parentes. Isso tos estratégicos.
pode ser feito gravando um CD/DVD ou enviando via Web. O projeto inicial, chamado ARPANET, usava uma co-
O programa possui integração com o PicasaWeb, o qual nexão a longa distância e possibilitava que as mensagens
possibilita enviar um álbum inteiro pela internet em poucos fossem fragmentadas e endereçadas ao seu computador
segundos. de destino. O percurso entre o emissor e o receptor da
O IrfanView é um visualizador de imagem muito leve e informação poderia ser realizado por várias rotas, assim,
com uma interface gráfica simples porém otimizada e fácil caso algum ponto no trajeto fosse destruído, os dados po-
de utilizar, mesmo para quem não tem familiaridade com deriam seguir por outro caminho garantindo a entrega da
este tipo de programa. Ele também dispõe de alguns recur- informação, é importante mencionar que a maior distância
sos simples de editor. Com ele é possível fazer operações entre um ponto e outro, era de 450 quilômetros.
como copiar e deletar imagens até o efeito de remoção de No começo dos anos 80, essa tecnologia rompeu as
olhos vermelhos em fotos. O programa oferece alternativas barreiras de distância, passando a interligar e favorecer a
para aplicar efeitos como texturas e alteração de cores em troca de informações de computadores de universidades
sua imagem por meio de apenas um clique. dos EUA e de outros países, criando assim uma rede (NET)
Além disso sempre é possível a visualização de ima- internacional (INTER), consequentemente seu nome passa
gens pelo próprio gerenciador do Windows. a ser, INTERNET.
A evolução não parava, além de atingir fronteiras con-
tinentais, os computadores pessoais evoluíam em forte
escala alcançando forte potencial comercial, a Internet dei-
xou de conectar apenas computadores de universidades,
passou a conectar empresas e, enfim, usuários domésticos.
Na década de 90, o Ministério das Comunicações e o
Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil trouxeram a In-
ternet para os centros acadêmicos e comerciais. Essa tecno-
logia rapidamente foi tomando conta de todos os setores
sociais até atingir a amplitude de sua difusão nos tempos
atuais.
Um marco que é importante frisar é o surgimento do
WWW que foi a possibilidade da criação da interface gráfi-
ca deixando a internet ainda mais interessante e vantajosa,
pois até então, só era possível a existência de textos.
Para garantir a comunicação entre o remetente e o des-
tinatário o americano Vinton Gray Cerf, conhecido como o
pai da internet criou os protocolos TCP/IP, que são proto-
colos de comunicação. O TCP – TRANSMISSION CONTROL

29
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

PROTOCOL (Protocolo de Controle de Transmissão) e o IP E também, do país de origem:


– INTERNET PROTOCOL (Protocolo de Internet) são conjun- .it – Itália
tos de regras que tornam possível tanto a conexão entre .pt – Portugal
os computadores, quanto ao entendimento da informação .ar – Argentina
trocada entre eles. .cl – Chile
A internet funciona o tempo todo enviando e receben- .gr – Grécia
do informações por isso o periférico que permite a cone-
xão com a internet chama MODEM, porque que ele MO- Quando vemos apenas a terminação .com, sabemos
dula e DEModula sinais, e essas informações só podem ser que se trata de um site hospedado em um servidor dos
trocadas graças aos protocolos TCP/IP. Estados Unidos.

Protocolos Web -HTTPS (Hypertext transfer protocol secure): Seme-


lhante ao HTTP, porém permite que os dados sejam trans-
Já que estamos falando em protocolos, citaremos ou- mitidos através de uma conexão criptografada e que se
tros que são largamente usados na Internet: verifique a autenticidade do servidor e do cliente através
-HTTP (Hypertext Transfer Protocol): Protocolo de de certificados digitais.
transferência de Hipertexto, desde 1999 é utilizado para
trocar informações na Internet. Quando digitamos um site, -FTP (File Transfer Protocol): Protocolo de transfe-
automaticamente é colocado à frente dele o http:// rência de arquivo, é o protocolo utilizado para poder subir
Exemplo: http://www.novaconcursos.com.br os arquivos para um servidor de internet, seus programas
Onde: mais conhecidos são, o Cute FTP, FileZilla e LeechFTP, ao
http:// → Faz a solicitação de um arquivo de hipermídia criar um site, o profissional utiliza um desses programas
para a Internet, ou seja, um arquivo que pode conter texto, FTP ou similares e executa a transferência dos arquivos
som, imagem, filmes e links. criados, o manuseio é semelhante à utilização de gerencia-
-URL (Uniform Resource Locator): Localizador Padrão dores de arquivo, como o Windows Explorer, por exemplo.
de recursos, serve para endereçar um recurso na web, é
como se fosse um apelido, uma maneira mais fácil de aces- -POP (Post Office Protocol): Protocolo de Posto dos
sar um determinado site Correios permite, como o seu nome o indica, recuperar o
seu correio num servidor distante (o servidor POP). É ne-
Exemplo: http://www.novaconcursos.com.br, onde:
cessário para as pessoas não ligadas permanentemente à
Internet, para poderem consultar os mails recebidos of-
Faz a solicitação de um arquivo de fline.  Existem duas versões principais deste protocolo, o
http:// hipermídiaparaaInternet. POP2 e o POP3, aos quais são atribuídas respectivamente
Estipulaqueesse recursoestánare- as portas 109 e 110, funcionando com o auxílio de coman-
de mundialdecomputadores(vere dos textuais radicalmente diferentes, na troca de e-mails
www mosmais sobre www emumpróxi- ele é o protocolo de entrada.
motópico).
IMAP (Internet Message Access Protocol): É um
Éo endereçodedomínio. protocolo alternativo ao protocolo POP3, que oferece
Um endereçode muitas mais possibilidades, como, gerir vários acessos
novaconcursos domíniorepresentarásua simultâneos e várias caixas de correio, além de poder
empresaou seu espaçonaInternet. criar mais critérios de triagem.
Indicaqueo servidorondeesse si-
teestá -SMTP (Simple Mail Transfer Protocol): É o proto-
.com hospedado é de finalidadesco- colo padrão para envio de e-mails através da Internet.
merciais. Faz a validação de destinatários de mensagens. Ele que
verifica se o endereço de e-mail do destinatário está
.br Indicaqueo servidorestáno Brasil. corretamente digitado, se é um endereço existente, se
a caixa de mensagens do destinatário está cheia ou se
Encontramos, ainda, variações na URL de um site, que recebeu sua mensagem, na troca de e-mails ele é o pro-
demonstram a finalidade a organização que o criou, como: tocolo de saída.
.gov - Organização governamental
.edu - Organização educacional -UDP (User Datagram Protocol): Protocolo que atua
.org - Organização na camada de transporte dos protocolos (TCP/IP). Permi-
.ind - Organização Industrial te que a apli- cação escreva um datagrama encapsulado
.net - Organização telecomunicações num pacote IP e trans- portado ao destino. É muito comum
.mil - Organização militar lermos que se trata de um protocolo não confiável, isso
.pro - Organização de profissões porque ele não é implementado com regras que garantam
.eng – Organização de engenheiros tratamento de erros ou entrega.

30
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Provedor INTRANET: A Intranet ou Internet Corporativa é a im-


plantação de uma Internet restrita apenas a utilização in-
O provedor é uma empresa prestadora de serviços que terna de uma empresa. As intranets ou Webs corporativas,
oferece acesso à Internet. Para acessar a Internet, é neces- são redes de comunicação internas baseadas na tecnologia
sário conectar-se com um computador que já esteja na In- usada na Internet. Como um jornal editado internamente,
ternet (no caso, o provedor) e esse computador deve per- e que pode ser acessado apenas pelos funcionários da em-
mitir que seus usuários também tenham acesso a Internet. presa.
No Brasil, a maioria dos provedores está conectada A intranet cumpre o papel de conectar entre si filiais e
à Embratel, que por sua vez, está conectada com outros departamentos, mesclando (com segurança) as suas infor-
computadores fora do Brasil. Esta conexão chama-se link, mações particulares dentro da estrutura de comunicações
que é a conexão física que interliga o provedor de acesso da empresa.
com a Embratel. Neste caso, a Embratel é conhecida como O grande sucesso da Internet, é particularmente da
backbone, ou seja, é a “espinha dorsal” da Internet no Bra- World Wide Web (WWW) que influenciou muita coisa na
sil. Pode-se imaginar o backbone como se fosse uma ave- evolução da informática nos últimos anos.
nida de três pistas e os links como se fossem as ruas que Em primeiro lugar, o uso do hipertexto (documentos
estão interligadas nesta avenida. interliga- dos através de vínculos, ou links) e a enorme fa-
Tanto o link como o backbone possui uma velocidade cilidade de se criar, interligar e disponibilizar documentos
de transmissão, ou seja, com qual velocidade ele transmite multimídia (texto, gráficos, animações, etc.), democratiza-
os dados. ram o acesso à informação através de redes de computa-
Esta velocidade é dada em bps (bits por segundo). dores. Em segundo lugar, criou-se uma gigantesca base de
Deve ser feito um contrato com o provedor de acesso, que usuários, já familiarizados com conhecimentos básicos de
fornecerá um nome de usuário, uma senha de acesso e um informática e de navegação na Internet. Finalmente, surgi-
endereço eletrônico na Internet. ram muitas ferramentas de software de custo zero ou pe-
queno, que permitem a qualquer organização ou empresa,
Home Page sem muito esforço, “entrar na rede” e começar a acessar e
colocar informação. O resultado inevitável foi a impressio-
Pela definição técnica temos que uma Home Page é nante explosão na informação disponível na Internet, que
um arquivo ASCII (no formato HTML) acessado de compu- segundo consta, está dobrando de tamanho a cada mês.
tadores rodando um Navegador (Browser), que permite o Assim, não demorou muito a surgir um novo conceito,
acesso às informações em um ambiente gráfico e multimí- que tem interessado um número cada vez maior de em-
dia. Todo em hipertexto, facilitando a busca de informações presas, hospitais, faculdades e outras organizações interes-
dentro das Home Pages. sadas em integrar informações e usuários: a intranet. Seu
O endereço de Home Pages tem o seguinte formato: advento e disseminação promete operar uma revolução
http://www.endereço.com/página.html tão profunda para a vida organizacional quanto o apareci-
Por exemplo, a página principal do meu projeto de mento das primeiras redes locais de computadores, no final
mestrado: da década de 80.
http://www.ovidio.eng.br/mestrado
O que é Intranet?
PLUG-INS
O termo “intranet” começou a ser usado em meados de
Os plug-ins são programas que expandem a capacida- 1995 por fornecedores de produtos de rede para se refe-
de do Browser em recursos específicos - permitindo, por rirem ao uso dentro das empresas privadas de tecnologias
exemplo, que você toque arquivos de som ou veja filmes projetadas para a comunicação por computador entre em-
em vídeo dentro de uma Home Page. As empresas de soft- presas. Em outras palavras, uma intranet consiste em uma
ware vêm desenvolvendo plug-ins a uma velocidade im- rede privativa de computadores que se baseia nos padrões
pressionante. Maiores informações e endereços sobre plu- de comunicação de dados da Internet pública, baseadas na
g-ins são encontradas na página: tecnologia usada na Internet (páginas HTML, e-mail, FTP,
http://www.yahoo.com/Computers_and_Internet/Soft- etc.) que vêm, atualmente fazendo muito sucesso. Entre as
ware/ Internet/World_Wide_Web/Browsers/Plug_Ins/Indi- razões para este sucesso, estão o custo de implantação re-
ces/ lativamente baixo e a facilidade de uso propiciada pelos
Atualmente existem vários tipos de plug-ins. Abaixo te- programas de navegação na Web, os browsers.
mos uma relação de alguns deles:
- 3D e Animação (Arquivos VRML, MPEG, QuickTime, Objetivo de construir uma Intranet
etc.).
- Áudio/Vídeo (Arquivos WAV, MID, AVI, etc.). Organizações constroem uma intranet porque ela é
- Visualizadores de Imagens (Arquivos JPG, GIF, BMP, uma ferramenta ágil e competitiva. Poderosa o suficiente
PCX, etc.). para economizar tempo, diminuir as desvantagens da dis-
- Negócios e Utilitários tância e alavancar sobre o seu maior patrimônio de capital
- Apresentações com conhecimentos das operações e produtos da empresa.

31
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Aplicações da Intranet forma “adivinhar” o que se passa em sua cabeça, lançar


mão de alguns artifícios para que sua busca seja otimizada
Já é ponto pacífico que apoiarmos a estrutura de comu- poupará seu tempo e fará com que você tenha acesso a
nicações corporativas em uma intranet dá para simplificar o resultados mais relevantes.
trabalho, pois estamos virtualmente todos na mesma sala. Os mecanismos de buscas contam com operadores
De qualquer modo, é cedo para se afirmar onde a intranet para filtro de conteúdo. A maior parte desse filtros, no en-
vai ser mais efetiva para unir (no sentido operacional) os tanto, pode não interessar e você, caso não seja um prati-
diversos profissionais de uma empresa. Mas em algumas cante de SEO. Contudo alguns são realmente úteis e estão
áreas já se vislumbram benefícios, por exemplo: listados abaixo. Realize uma busca simples e depois apli-
- Marketing e Vendas - Informações sobre produtos, que os filtros para poder ver o quanto os resultados podem
listas de preços, promoções, planejamento de eventos; sem mais especializados em relação ao que você procura.
- Desenvolvimento de Produtos - OT (Orientação de
Trabalho), planejamentos, listas de responsabilidades de -palavra_chave
membros das equipes, situações de projetos; Retorna um busca excluindo aquelas em que a pa-
- Apoio ao Funcionário - Perguntas e respostas, siste- lavra chave aparece. Por exemplo, se eu fizer uma busca
mas de melhoria contínua (Sistema de Sugestões), manuais por computação, provavelmente encontrarei na relação
de qualidade; dos resultados informaçõe sobre “Ciência da computação“.
- Recursos Humanos - Treinamentos, cursos, apostilas, Contudo, se eu fizer uma busca por computação -ciência ,
políticas da companhia, organograma, oportunidades de os resultados que tem a palavra chave ciência serão omi-
trabalho, programas de desenvolvimento pessoal, benefí- tidos.
cios.
Para acessar as informações disponíveis na Web corpo- +palavra_chave
rativa, o funcionário praticamente não precisa ser treinado. Retorna uma busca fazendo uma inclusão forçada de
Afinal, o esforço de operação desses programas se resume uma palavra chave nos resultados. De maneira análoga
quase somente em clicar nos links que remetem às novas ao exemplo anterior, se eu fizer uma busca do tipo com-
páginas. No entanto, a simplicidade de uma intranet termi- putação, terei como retorna uma gama mista de resulta-
na aí. Projetar e implantar uma rede desse tipo é uma tarefa dos. Caso eu queira filtrar somente os casos em que ciên-
complexa e exige a presença de profissionais especializa- cias aparece, e também no estado de SP, realizo uma busca
dos. Essa dificuldade aumenta com o tamanho da intranet, do tipo computação + ciência SP.
sua diversidade de funções e a quantidade de informações
nela armazenadas. “frase_chave”
A intranet é baseada em quatro conceitos: Retorna uma busca em que existam as ocorrências dos
- Conectividade - A base de conexão dos computa- termos que estão entre aspas, na ordem e grafia exatas
dores ligados através de uma rede, e que podem transferir ao que foi inserido. Assim, se você realizar uma busca do
qualquer tipo de informação digital entre si; tipo “como faser” – sim, com a escrita incorreta da palavra
- Heterogeneidade - Diferentes tipos de computado- FAZER, verá resultados em que a frase idêntica foi empre-
res e sistemas operacionais podem ser conectados de for- gada.
ma transparente;
- Navegação - É possível passar de um documento a palavras_chave_01 OR palavra_chave_02
outro através de referências ou vínculos de hipertexto, que Mostra resultado para pelo menos uma das palavras
facilitam o acesso não linear aos documentos; chave citadas. Faça uma busca por facebook OR msn, por
- Execução Distribuída - Determinadas tarefas de aces- exemplo, e terá como resultado de sua busca, páginas re-
so ou manipulação na intranet só podem ocorrer graças à levantes sobre pelo menos um dos dois temas- nesse caso,
execução de programas aplicativos, que podem estar no como as duas palavras chaves são populares, os dois resul-
servidor, ou nos microcomputadores que acessam a rede tados são apresentados em posição de destaque.
(também chamados de clientes, daí surgiu à expressão que
caracteriza a arquitetura da intranet: cliente-servidor). filetype:tipo
- A vantagem da intranet é que esses programas são Retorna as buscas em que o resultado tem o tipo de
ativa- dos através da WWW, permitindo grande flexibilida- extensão especificada. Por exemplo, em uma busca  fi-
de. Determinadas linguagens, como Java, assumiram gran- letype:pdf jquery serão exibidos os conteúdos da palavra
de importância no desenvolvimento de softwares aplicati- chave jquery que tiverem como extensão .pdf. Os tipos de
vos que obedeçam aos três conceitos anteriores. extensão podem ser: PDF, HTML ou HTM, XLS, PPT, DOC

Mecanismos de Buscas palavra_chave_01 * palavra_chave_02


Retorna uma “busca combinada”, ou seja, sendo o * um
Pesquisar por algo no Google e não ter como retorno indicador de “qualquer conteúdo”, retorna resultados em
exatamente o que você queria pode trazer algumas horas que os termos inicial e final aparecem, independente do
de trabalho a mais, não é mesmo? Por mais que os algorit- que “esteja entre eles”. Realize uma busca do tipo facebook
mos de busca sejam sempre revisados e busquem de certa * msn e veja o resultado na prática.

32
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Navegadores de internet: Internet Explorer, Mozilla Safari: O Safari é o navegador da Apple, é um ótimo
Firefox, Google Chrome. navegador considerado pelos especialistas e possui uma
interface bem bonita, apesar de ser um navegador da
Navegadores: Navegadores de internet ou browsers Apple existem versões para Windows.
são programas de computador especializados em visuali-
zar e dar acesso às informações disponibilizadas na web,
até pouco tempo atrás tínhamos apenas o Internet Explorer
e o Netscape, hoje temos uma série de navegadores no
mercado, iremos fazer uma breve descrição de cada um
deles, e depois faremos toda a exemplificação utilizando o
Internet Explorer por ser o mais utilizado em todo o mun-
do, porém o conceito e usabilidade dos outros navegado-
res seguem os mesmos princípios lógicos.
Figura 85: Símbolo do Safari
Chrome: O Chrome é o navegador do Google e con-
sequentemente um dos melhores navegadores existentes. Internet Explorer: O Internet Explorer ou IE é o na-
Outra vantagem devido ser o navegador da Google é o vegador padrão do Windows. Como o próprio nome diz,
mais utilizado no meio, tem uma interface simples muito é um programa preparado para explorar a Internet dando
fácil de utilizar. acesso a suas informações. Representado pelo símbolo do
“e” azul, é possível acessá-lo apenas com um duplo clique
em seu símbolo.

Figura 82: Símbolo do Google Chrome

Mozila Firefox: O Mozila Firefox é outro excelente na- Figura 86: Símbolo do Internet Explorer
vegador ele é gratuito e fácil de utilizar apesar de não ter
uma interface tão amigável, porém é um dos navegadores Transferência de arquivos pela internet
mais rápidas e com maior segurança contra hackers.
FTP (File Transfer Protocol – Protocolo de Transferência
de Arquivos) é uma das mais antigas formas de interação
na Internet. Com ele, você pode enviar e receber arquivos
para, ou de computadores que se caracterizam como ser-
vidores remotos. Voltaremos aqui ao conceito de arquivo
texto (ASCII – código 7 bits) e arquivos não texto (Binários
– código 8 bits). Há uma diferença interessante entre en-
viar uma mensagem de correio eletrônico e realizar trans-
Figura 83: Símbolo do Mozilla Firefox ferência de um arquivo. A mensagem é sempre transferida
como uma informação textual, enquanto a transferência de
Opera: Usabilidade muito agradável, possui grande um arquivo pode ser caracterizada como textual (ASCII) ou
desempenho, porém especialistas em segurança o consi- não-textual (binário).
dera o navegador com menos segurança. Um servidor FTP é um computador que roda um pro-
grama que chamamos de servidor de FTP e, portanto, é ca-
paz de se comunicar com outro computador na Rede que
o esteja acessando através de um cliente FTP.
  FTP anônimo versus FTP com autenticação existem
dois tipos de conexão FTP, a primeira, e mais utilizada, é a
conexão anônima, na qual não é preciso possuir um user-
name ou password (senha) no servidor de FTP, bastando
apenas identificar-se como anonymous (anônimo). Neste
Figura 84: Símbolo do Opera caso, o que acontece é que, em geral, a árvore de diretório
que se enxerga é uma sub-árvore da árvore do sistema. Isto
é muito importante, porque garante um nível de segurança
adequado, evitando que estranhos tenham acesso a todas
as informações da empresa. Quando se estabelece uma co-

33
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

nexão de “FTP anônimo”, o que acontece em geral é que a dicam as relações entre os indivíduos, como pirataria, es-
conexão é posicionada no diretório raiz da árvore de dire- pionagem, phishing - roubos de identidade, assuntos polê-
tórios. Dentre os mais comuns estão: pub, etc, outgoing e micos como racismo, sexo, pornografia, sendo destacados
incoming. O segundo tipo de conexão envolve uma auten- com mais exaltação, entre outros problemas.
ticação, e portanto, é indispensável que o usuário possua Há muito tempo, o ser homem sentiu a necessidade
um username e uma password que sejam reconhecidas de compartilhar conhecimento e estabelecer relações com
pelo sistema, quer dizer, ter uma conta nesse servidor. Nes- pessoas a distância. Na década de 1960, durante a Guerra
te caso, ao estabelecer uma conexão, o posicionamento Fria, as redes de computadores surgiram com objetivos mi-
é no diretório criado para a conta do usuário – diretório litares: interconectar os centros de comando dos EUA para
home, e dali ele poderá percorrer toda a árvore do sistema, com objetivo de proteger e enviar de dados.
mas só escrever e ler arquivos nos quais ele possua.
Assim como muitas aplicações largamente utilizadas Alguns tipos de Redes de Computadores
hoje em dia, o FTP também teve a sua origem no sistema Antigamente, os computadores eram conectados em
operacional UNIX, que foi o grande percursor e responsá- distâncias curtas, sendo conhecidas como redes locais. Mas,
vel pelo sucesso e desenvolvimento da Internet.  com a evolução das redes de computadores, foi necessá-
rio aumentar a distância da troca de informações entre as
Algumas dicas pessoas. As redes podem ser classificadas de acordo com
1. Muitos sites que aceitam FTP anônimo limitam o nú- sua arquitetura (Arcnet, Ethernet, DSL, Token ring, etc.),
mero de conexões simultâneas para evitar uma sobrecarga a  extensão geográfica (LAN, PAN, MAN, WLAN, etc.),
na máquina. Uma outra limitação possível é a faixa de ho- a  topologia (anel, barramento, estrela, ponto-a-ponto,
rário de acesso, que muitas vezes é considerada nobre em etc.) e o meio de transmissão  (redes por cabo de fibra
horário comercial, e portanto, o FTP anônimo é tempora- óptica, trançado, via rádio, etc.).
riamente desativado. Veja alguns tipos de redes:
2. Uma saída para a situação acima é procurar “sites Redes Pessoais (Personal Area Networks – PAN) – se
espelhos” que tenham o mesmo conteúdo do site sendo comunicam a 1 metro de distância. Ex.: Redes Bluetooth;
acessado. Redes Locais (Local Area Networks – LAN) – redes em
3. Antes de realizar a transferência de qualquer arquivo que a distância varia de 10m a 1km. Pode ser uma sala,
verifique se você está usando o modo correto, isto é, no um prédio ou um campus de universidade;
Redes Metropolitanas (Metropolitan Area Network –
caso de arquivos-texto, o modo é ASCII, e no caso de arqui-
MAN) – quando a distância dos equipamentos conec-
vos binários (.exe, .com, .zip, .wav, etc.), o modo é binário.
tados à uma rede atinge áreas metropolitanas, cerca de
Esta prevenção pode evitar perda de tempo.
10km. Ex.: TV à cabo;
4. Uma coisa interessante pode ser o uso de um servi-
Redes a Longas Distâncias (Wide Area Network – WAN)
dor de FTP em seu computador. Isto pode permitir que um
– rede que faz a cobertura de uma grande área geográ-
amigo seu consiga acessar o seu computador como um
fica, geralmente, um país, cerca de 100 km;
servidor remoto de FTP, bastando que ele tenha acesso ao
Redes Interligadas (Interconexão de WANs) – são re-
número IP, que lhe é atribuído dinamicamente. des espalhadas pelo mundo podendo ser interconecta-
das a outras redes, capazes de atingirem distâncias bem
Redes de Computadores: Conceitos básicos, ferra- maiores, como um continente ou o planeta. Ex.: Inter-
mentas, aplicativos e procedimentos de internet e in- net;
tranet. Rede sem Fio ou Internet sem Fio (Wireless Local Area
Network – WLAN) – rede capaz de conectar dispositivos
Redes de Computadores refere-se à interligação por eletrônicos próximos, sem a utilização de cabeamento.
meio de um sistema de comunicação baseado em trans- Além dessa, existe também a WMAN, uma rede sem fio
missões e protocolos de vários computadores com o ob- para área metropolitana e WWAN, rede sem fio para
jetivo de trocar informações, entre outros recursos. Essa grandes distâncias.
ligação é chamada de estações de trabalho (nós, pontos
ou dispositivos de rede). Topologia de Redes
Atualmente, existe uma interligação entre computado- Astopologias das redes de computadores são as estru-
res espalhados pelo mundo que permite a comunicação turas físicas dos cabos, computadores e componentes.
entre os indivíduos, quer seja quando eles navegam pela Existem as topologias físicas, que são mapas que mos-
internet ou assiste televisão. Diariamente, é necessário utili- tram a localização de cada componente da rede que se-
zar recursos como impressoras para imprimir documentos, rão tratadas a seguir. e as lógicas, representada pelo modo
reuniões através de videoconferência, trocar e-mails, aces- que os dados trafegam na rede:
sar às redes sociais ou se entreter por meio de jogos, etc. Topologia Ponto-a-ponto – quando as máquinas es-
Hoje, não é preciso estar em casa para enviar e-mails, tão interconectadas por pares através de um roteamen-
basta ter um tablet ou smartphone com acesso à internet to de dados;
nos dispositivos móveis. Apesar de tantas vantagens, o Topologia de Estrela – modelo em que existe um pon-
crescimento das redes de computadores também tem seu to central (concentrador) para a conexão, geralmente
lado negativo. A cada dia surgem problemas que preju- um hub ou switch;

34
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Topologia de Anel – modelo atualmente utilizado em Repetidores: Dispositivo capaz de expandir o cabea-
automação industrial e na década de 1980 pelas redes mento de rede. Ele poderá transformar os sinais recebidos
Token Ring da IBM. Nesse caso, todos os computadores e enviá-los para outros pontos da rede. Apesar de serem
são entreligados formando um anel e os dados são pro- transmissores de informações para outros pontos, eles
pagados de computador a computador até a máquina de também diminuem o desempenho da rede, podendo ha-
origem; ver colisões entre os dados à medida que são anexas outras
Topologia de Barramento – modelo utilizado nas pri- máquinas. Esse equipamento, normalmente, encontra-se
meiras conexões feitas pelas redes Ethernet.Refere- se a dentro do hub.
computadores conectados em formato linear, cujo cabea- Hubs: Dispositivos capazes de receber e concentrar
mento é feito em sequencialmente; todos os dados da rede e compartilhá-los entre as outras
Redes de Difusão (Broadcast) – quando as máquinas estações (máquinas). Nesse momento nenhuma outra má-
estão interligadas por um mesmo canal através de pacotes quina consegue enviar um determinado sinal até que os
endereçados (unicast, broadcast e multicast). dados sejam distribuídos completamente. Eles são utiliza-
dos em redes domésticas e podem ter 8, 16, 24 e 32 por-
Cabos tas, variando de acordo com o fabricante. Existem os Hubs
Os cabos ou cabeamentos fazem parte da estrutura fí- Passivos, Ativos, Inteligentes e Empilháveis.
sica utilizada para conectar computadores em rede, estan- Bridges: É um repetidor inteligente que funciona
do relacionados a largura de banda, a taxa de transmissão, como uma ponte. Ele lê e analisa os dados da rede, além
padrões internacionais, etc. Há vantagens e desvantagens de relacionar diferentes arquiteturas.
para a conexão feita por meio de cabeamento. Os mais uti- Switches: Tipo de aparelho semelhante a um hub, mas
lizados são: que funciona como uma ponte: ele envia os dados apenas
Cabos de Par Trançado – cabos caracterizados por para a máquina que o solicitou. Ele possui muitas portas de
sua velocidade, pode ser feito sob medida, comprados entrada e melhor performance, podendo ser utilizado para
em lojas de informática ou produzidos pelo usuário; redes maiores.
Cabos Coaxiais – cabos que permitem uma distância Roteadores: Dispositivo utilizado para conectar redes
maior na transmissão de dados, apesar de serem flexí- e arquiteturas diferentes e de grande porte. Ele funciona
veis, são caros e frágeis. Eles necessitam de barramento como um tipo de ponte na camada de rede do modelo
ISA, suporte não encontrado em computadores mais OSI (Open Systens Interconnection - protocolo de inter-
novos; conexão de sistemas abertos para conectar máquinas de
Cabos de Fibra Óptica – cabos complexos, caros e de diferentes fabricantes), identificando e determinando um IP
difícil instalação. São velozes e imunes a interferências para cada computador que se conecta com a rede.
eletromagnéticas. Sua principal atribuição é ordenar o tráfego de dados
Após montar o cabeamento de rede é necessário reali- na rede e selecionar o melhor caminho. Existem os ro-
zar um teste através dos testadores de cabos, adquirido em teadores estáticos, capaz de encontrar o menor caminho
lojas especializadas. Apesar de testar o funcionamento, ele para tráfego de dados, mesmo se a rede estiver conges-
não detecta se existem ligações incorretas. É preciso que tionada; e os roteadores dinâmicos que encontram ca-
um técnico veja se os fios dos cabos estão na posição certa. minhos mais rápidos e menos congestionados para o
tráfego.
Sistema de Cabeamento Estruturado Modem: Dispositivo responsável por transformar a
Para que essa conexão não prejudique o ambiente de onda analógica que será transmitida por meio da linha te-
trabalho, em uma grande empresa, são necessárias várias lefônica, transformando-a em sinal digital original.
conexões e muitos cabos, sendo necessário o cabeamento Servidor: Sistema que oferece serviço para as redes de
estruturado. computadores, como por exemplo, envio de arquivos ou
Através dele, um técnico irá poupar trabalho e tempo, e-mail. Os computadores que acessam determinado servi-
tanto para fazer a instalação, quanto para a remoção da dor são conhecidos como clientes.
rede. Ele é feito através das tomadas RJ-45 que possibili- Placa de Rede: Dispositivo que garante a comunicação
tam que vários conectores possam ser inseridos em um entre os computadores da rede. Cada arquitetura de rede
único local, sem a necessidade de serem conectados dire- depende de um tipo de placa específica. As mais utilizadas
tamente no hub. são as do tipo Ethernet e Token Ring (rede em anel).
Além disso, o sistema de cabeamento estruturado pos-
sui um painel de conexões, o Patch Panel, onde os cabos Segurança da informação: procedimentos de segu-
das tomadas RJ-45 são conectados, sendo um concentra- rança
dor de tomadas, favorecendo a manutenção das redes.
Eles são adaptados e construídos para serem inseridos em A Segurança da Informação refere-se às proteções
um rack. existentes em relação às informações de uma determina-
Todo esse planejamento deve fazer parte do projeto do da empresa, instituição governamental ou pessoa. Ou seja,
cabeamento de rede, em que a conexão da rede é pensada aplica-se tanto às informações corporativas quanto as pes-
de forma a realizar a sua expansão. soais.

35
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Entende-se por informação todo e qualquer conteúdo Mecanismos de segurança


ou dado que tenha valor para alguma corporação ou pes-
soa. Ela pode estar guardada para uso restrito ou exposta O suporte para as orientações de segurança pode ser
ao público para consulta ou aquisição. encontrado em:
Antes de proteger, devemos saber: Controles físicos: são barreiras que limitam o contato
- O que proteger; ou acesso direto a informação ou a infraestrutura (que as-
- De quem proteger; segura a existência da informação) que a suporta.
- Pontos frágeis; Controles lógicos: são bloqueios que impedem ou limi-
- Normas a serem seguidas. tam o acesso à informação, que está em ambiente contro-
lado, geralmente eletrônico, e que, de outro modo, ficaria
A Segurança da Informação se refere à proteção exis- exibida a alteração não autorizada por elemento mal-in-
tente sobre as informações de uma determinada empresa tencionado.
ou pessoa, isto é, aplica-se tanto às informações corporati- Existem mecanismos de segurança que sustentam os
vas quanto aos pessoais. Entende-se por informação todo controles lógicos:
conteúdo ou dado que tenha valor para alguma organiza-
ção ou pessoa. Ela pode estar guardada para uso restrito - Mecanismos de cifração ou encriptação: Permitem a
ou exibida ao público para consulta ou aquisição. modificação da informação de forma a torná-la ininteligível
Podem ser estabelecidas métricas (com o uso ou não a terceiros. Utiliza-se para isso, algoritmos determinados e
de ferramentas) para definir o nível de segurança que há e, uma chave secreta para, a partir de um conjunto de dados
com isto, estabelecer as bases para análise de melhorias ou não criptografados, produzir uma sequência de dados crip-
pioras de situações reais de segurança. A segurança de cer- tografados. A operação contrária é a decifração.
ta informação pode ser influenciada por fatores comporta- - Assinatura digital: Um conjunto de dados criptogra-
mentais e de uso de quem se utiliza dela, pelo ambiente ou fados, agregados a um documento do qual são função,
infraestrutura que a cerca ou por pessoas mal-intenciona- garantindo a integridade e autenticidade do documento
das que têm o objetivo de furtar, destruir ou modificar tal associado, mas não ao resguardo das informações.
informação. - Mecanismos de garantia da integridade da informa-
A tríade CIA (Confidentiality, Integrity and Availabi- ção: Usando funções de “Hashing” ou de checagem, é ga-
lity) — Confidencialidade, Integridade e Disponibilidade rantida a integridade através de comparação do resultado
— representa as principais características que, atualmen- do teste local com o divulgado pelo autor.
te, orientam a análise, o planejamento e a implementação - Mecanismos de controle de acesso: Palavras-chave,
da segurança para um certo grupo de informações que se sistemas biométricos, firewalls, cartões inteligentes.
almeja proteger. Outros fatores importantes são a irrevo- - Mecanismos de certificação: Atesta a validade de um
gabilidade e a autenticidade. Com a evolução do comércio documento.
eletrônico e da sociedade da informação, a privacidade é - Integridade: Medida em que um serviço/informação
também uma grande preocupação. é autêntico, ou seja, está protegido contra a entrada por
Portanto as características básicas, de acordo com os intrusos.
padrões internacionais (ISO/IEC 17799:2005) são as seguin- - Honeypot: É uma ferramenta que tem a função de
tes: proposital de simular falhas de segurança de um sistema e
- Confidencialidade – especificidade que limita o aces- obter informações sobre o invasor enganando-o, e fazen-
so a informação somente às entidades autênticas, ou seja, do-o pensar que esteja de fato explorando uma fraqueza
àquelas autorizadas pelo proprietário da informação. daquele sistema. É uma espécie de armadilha para invaso-
- Integridade – especificidade que assegura que a in- res. O HoneyPot não oferece forma alguma de proteção.
formação manipulada mantenha todas as características - Protocolos seguros: Uso de protocolos que garantem
autênticas estabelecidas pelo proprietário da informação, um grau de segurança e usam alguns dos mecanismos ci-
incluindo controle de mudanças e garantia do seu ciclo de tados.
vida (nascimento, manutenção e destruição).
- Disponibilidade – especificidade que assegura que a Mecanismos de encriptação
informação esteja sempre disponível para o uso legítimo,
ou seja, por aqueles usuários que têm autorização pelo A criptografia vem, originalmente, da fusão entre duas
proprietário da informação. palavras gregas:
- Autenticidade – especificidade que assegura que a • CRIPTO = ocultar, esconder.
informação é proveniente da fonte anunciada e que não foi • GRAFIA= escrever
alvo de mutações ao longo de um processo. Criptografia é a ciência de escrever em cifra ou em có-
- Irretratabilidade ou não repúdio – especificidade que digos. Ou seja, é um conjunto de técnicas que tornam uma
assegura a incapacidade de negar a autoria em relação a mensagem ininteligível, e permite apenas que o destinatá-
uma transação feita anteriormente. rio que saiba a chave de encriptação possa decriptar e ler a
mensagem com clareza.

36
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Permitema transformação reversível dainformação de Chave Assimétrica utiliza duas chaves: a privada e a pú-
forma a torná-la ininteligível a terceiros. Utiliza-se para isso, blica. Elas se sintetizam da seguinte forma: a chave pública
algoritmos determinados e uma chave secreta para,a par- para codificar e a chave privada para decodificar, conside-
tir de um conjunto de dados não encriptados,produzir uma rando-se que a chave privada é secreta. Entre os algoritmos
continuação de dados encriptados. A operação inversa é a utilizados, estão:
desencriptação. - RSA (Rivest, ShmirandAdleman): É um dos algoritmos
de chave assimétrica mais usados, em que dois números
Existem dois tipos de chave: a chave pública e a chave primos (aqueles que só podem ser divididos por 1 e por
privada. eles mesmos) são multiplicados para a obter um terceiro
  valor. Assim, é preciso fazer fatoração, que significa desco-
A chave pública é usada para codificar as informações, brir os dois primeiros números a partir do terceiro, sendo
e a chave privada é usada para decodificar.   um cálculo difícil. Assim, se números grandes forem utili-
Dessa forma, na pública, todos têm acesso, mas para zados, será praticamente impossível descobrir o código. A
‘abrir’ os dados da informação, que aparentemente não tem chave privada do RSA são os números que são multiplica-
sentido, é preciso da chave privada, que apenas o emissor e dos e a chave pública é o valor que será obtido.
receptor original possui. - ElGamal: Utiliza-se do ‘logaritmo discreto’, que é um
  Hoje, a criptografia pode ser considerada um méto- problema matemático que o torna mais seguro. É muito
do 100% seguro, pois, quem a utiliza para enviar e-mails e usado em assinaturas digitais.
proteger seus arquivos, estará protegido contra fraudes e
tentativas de invasão. Segurança na internet; vírus de computadores; Spywa-
Os termos ‘chave de 64 bits’ e ‘chave de 128 bits’ re; Malware; Phishing; Worms e pragas virtuais e Aplicativos
são usados para expressar o tamanho da chave, ou seja, para segurança (antivírus, firewall e antispyware)
quanto mais bits forem utilizados, mais segura será essa
criptografia. Firewall é uma solução de segurança fundamentada
Um exemplo disso é se um algoritmo usa um chave de em hardware ou software (mais comum) que, a partir de
8 bits, apenas 256 chaves poderão ser usadas para decodifi- um conjunto de regras ou instruções, analisa o tráfego de
car essa informação, pois 2 elevado a 8 é igual a 256. Assim, rede para determinar quais operações de transmissão ou
um terceiro pode tentar gerar 256 tentativas de combina- recepção de dados podem ser realizadas. “Parede de fogo”,
ções e decodificar a mensagem, que mesmo sendo uma a tradução literal do nome, já deixa claro que o firewall se
tarefa difícil, não é impossível. Portanto, quanto maior o nú-
enquadra em uma espécie de barreira de defesa. A sua mis-
mero de bits, maior segurança terá a criptografia.
são, consiste basicamente em bloquear tráfego de dados
indesejados e liberar acessos desejados.
Existem dois tipos de chaves criptográficas, as chaves
Para melhor compreensão, imagine um firewall como
simétricas e as chaves assimétricas
sendo a portaria de um condomínio: para entrar, é necessá-
Chave Simétrica é um tipo de chave simples, que é usa-
rio obedecer a determinadas regras, como se identificar, ser
da para a codificação e decodificação. Entre os algoritmos
esperado por um morador e não portar qualquer objeto
que usam essa chave, estão:
que possa trazer riscos à segurança; para sair, não se pode
- DES (Data Encryption Standard): Faz uso de chaves
de 56 bits, que corresponde à aproximadamente 72 quatri- levar nada que pertença aos condôminos sem a devida au-
lhões de combinações. Mesmo sendo um número extrema- torização.
mente elevado, em 1997, quebraram esse algoritmo através Neste sentido, um firewall pode impedir uma série de
do método de ‘tentativa e erro’, em um desafio na internet. ações maliciosas: um malware que utiliza determinada por-
- RC (Ron’sCode ou RivestCipher): É um algoritmo muito ta para se instalar em um computador sem o usuário saber,
utilizado em e-mails e usa chaves de 8 a 1024 bits. Além dis- um programa que envia dados sigilosos para a internet,
so, ele tem várias versões que diferenciam uma das outras uma tentativa de acesso à rede a partir de computadores
pelo tamanho das chaves. externos não autorizados, entre outros.
- EAS (AdvancedEncryption Standard): Atualmente é um Você já sabe que um firewall atua como uma espécie
dos melhores e mais populares algoritmos de criptogra- de barreira que verifica quais dados podem passar ou não.
fia. É possível definir o tamanho da chave como sendo de Esta tarefa só pode ser feita mediante o estabelecimento
128bits, 192bits ou 256bits. de políticas, isto é, de regras estabelecidas pelo usuário.
- IDEA (International Data EncryptionAlgorithm): É um Em um modo mais restritivo, um firewall pode ser con-
algoritmo que usa chaves de 128 bits, parecido com o DES. figurado para bloquear todo e qualquer tráfego no com-
Seu ponto forte é a fácil execução de software. putador ou na rede. O problema é que esta condição isola
 As chaves simétricas não são absolutamente seguras este computador ou esta rede, então pode-se criar uma
quando referem-se às informações extremamente valiosas, regra para que, por exemplo, todo aplicativo aguarde au-
principalmente pelo emissor e o receptor precisarem ter o torização do usuário ou administrador para ter seu acesso
conhecimento da mesma chave. Dessa forma, a transmissão liberado. Esta autorização poderá inclusive ser permanente:
pode não ser segura e o conteúdo pode chegar a terceiros. uma vez dada, os acessos seguintes serão automaticamen-
te permitidos.

37
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Em um modo mais versátil, um firewall pode ser con- Perceba que todo o fluxo de dados necessita passar
figurado para permitir automaticamente o tráfego de deter- pelo proxy. Desta forma, é possível, por exemplo, estabele-
minados tipos de dados, como requisições HTTP (veja mais cer regras que impeçam o acesso de determinados ende-
sobre esse protocolo no ítem 7), e bloquear outras, como reços externos, assim como que proíbam a comunicação
conexões a serviços de e-mail. entre computadores internos e determinados serviços re-
Perceba, como estes exemplos, que as políticas de um motos.
firewall são baseadas, inicialmente, em dois princípios: todo Este controle amplo também possibilita o uso do proxy
tráfego é bloqueado, exceto o que está explicitamente auto- para tarefas complementares: o equipamento pode regis-
rizado; todo tráfego é permitido, exceto o que está explicita- trar o tráfego de dados em um arquivo de log; conteú-
mente bloqueado. do muito utilizado pode ser guardado em uma espécie
Firewalls mais avançados podem ir além, direcionando de cache (uma página Web muito acessada fica guardada
determinado tipo de tráfego para sistemas de segurança in- temporariamente no proxy, fazendo com que não seja ne-
ternos mais específicos ou oferecendo um reforço extraem cessário requisitá-la no endereço original a todo instante,
procedimentos de autenticação de usuários, por exemplo. por exemplo); determinados recursos podem ser liberados
O trabalho de um firewall pode ser realizado de várias apenas mediante autenticação do usuário; entre outros.
formas. O que define uma metodologia ou outra são fatores A implementação de um proxy não é tarefa fácil, haja
como critérios do desenvolvedor, necessidades específicas visto a enorme quantidade de serviços e protocolos exis-
do que será protegido, características do sistema operacional tentes na internet, fazendo com que, dependendo das cir-
que o mantém, estrutura da rede e assim por diante. É por cunstâncias, este tipo de firewall não consiga ou exija muito
isso que podemos encontrar mais de um tipo de firewall. A trabalho de configuração para bloquear ou autorizar deter-
seguir, os mais conhecidos. minados acessos.
Proxy transparente: No que diz respeito a limitações,
Filtragem de pacotes (packetfiltering): As primeiras so- é conveniente mencionar uma solução chamada de proxy
luções de firewall surgiram na década de 1980 baseando-se transparente. O proxy “tradicional”, não raramente, exige
em filtragem de pacotes de dados (packetfiltering), uma que determinadas configurações sejam feitas nas ferra-
metodologia mais simples e, por isso, mais limitada, embora mentas que utilizam a rede (por exemplo, um navegador
ofereça um nível de segurança significativo. de internet) para que a comunicação aconteça sem erros.
Para compreender, é importante saber que cada pacote O problema é, dependendo da aplicação, este trabalho de
possui um cabeçalho com diversas informações a seu respeito, ajuste pode ser inviável ou custoso.
como endereço IP de origem, endereço IP do destino, tipo de O proxy transparente surge como uma alternativa para
serviço, tamanho, entre outros. O Firewall então analisa estas estes casos porque as máquinas que fazem parte da rede
informações de acordo com as regras estabelecidas para liberar não precisam saber de sua existência, dispensando qual-
ou não o pacote (seja para sair ou para entrar na máquina/rede), quer configuração específica. Todo acesso é feito normal-
podendo também executar alguma tarefa relacionada, como mente do cliente para a rede externa e vice-versa, mas o
registrar o acesso (ou tentativa de) em um arquivo de log. proxy transparente consegue interceptá-lo e responder
O firewall de aplicação, também conhecido como pro-
adequadamente, como se a comunicação, de fato, fosse
xy de serviços (proxy services) ou apenas proxy é uma so-
direta.
lução de segurança que atua como intermediário entre um
É válido ressaltar que o proxy transparente também
computador ou uma rede interna e outra rede, externa nor-
tem lá suas desvantagens, por exemplo: um proxy «nor-
malmente, a internet. Geralmente instalados em servidores
mal» é capaz de barrar uma atividade maliciosa, como um
potentes por precisarem lidar com um grande número de
solicitações, firewalls deste tipo são opções interessantes de malware enviando dados de uma máquina para a internet;
segurança porque não permitem a comunicação direta entre o proxy transparente, por sua vez, pode não bloquear este
origem e destino. A imagem a seguir ajuda na compreensão tráfego. Não é difícil entender: para conseguir se comu-
do conceito. Perceba que em vez de a rede interna se comu- nicar externamente, o malware teria que ser configurado
nicar diretamente com a internet, há um equipamento entre para usar o proxy «normal» e isso geralmente não aconte-
ambos que cria duas conexões: entre a rede e o proxy; e entre ce; no proxy transparente não há esta limitação, portanto,
o proxy e a internet. Observe: o acesso aconteceria normalmente.
Limitações dos firewalls
Firewalls têm lá suas limitações, sendo que estas va-
riam conforme o tipo de solução e a arquitetura utiliza-
da. De fato, firewalls são recursos de segurança bastante
importantes, mas não são perfeitos em todos os sentidos,
seguem abaixo algumas dessas limitações:

- Um firewall pode oferecer a segurança desejada, mas


comprometer o desempenho da rede (ou mesmo de um
computador). Esta situação pode gerar mais gastos para
uma ampliação de infraestrutura capaz de superar o pro-
Figura 87: Proxy blema;

38
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

- A verificação de políticas tem que ser revista perio- execução durante todo tempo que o sistema informático
dicamente para não prejudicar o funcionamento de novos permaneça ligado, ou registrar um arquivo ou série de ar-
serviços; quivos cada vez que o usuário exija. Normalmente, o an-
- Novos serviços ou protocolos podem não ser devida- tivírus também pode verificar e-mails e sites de entrada e
mente tratados por proxies já implementados; saída visitados.
- Um firewall pode não ser capaz de impedir uma ati- Um antivírus pode ser complementado por outros apli-
vidade maliciosa que se origina e se destina à rede interna; cativos de segurança, como firewalls ou anti-spywares que
- Um firewall pode não ser capaz de identificar uma cumprem funções auxiliares para evitar a entrada de vírus.
atividade maliciosa que acontece por descuido do usuário - Então, antivírus são os programas criados para manter
quando este acessa um site falso de um banco ao clicar em seu computador seguro, protegendo-o de programas ma-
um link de uma mensagem de e-mail, por exemplo; liciosos, com o intuito de estragar, deletar ou roubar dados
- Firewalls precisam ser “vigiados”. Malwares ou ata- de seu computador.
cantes experientes podem tentar descobrir ou explorar Ao pesquisar sobre antivírus para baixar, sempre es-
brechas de segurança em soluções do tipo; colha os mais famosos, ou conhecidos, pois hackers estão
- Um firewall não pode interceptar uma conexão que usando este mercado para enganar pessoas com falsos
não passa por ele. Se, por exemplo, um usuário acessar a softwares, assim, você instala um “antivírus” e deixa seu
internet em seu computador a partir de uma conexão 3G computador vulnerável aos ataques.
( justamente para burlar as restrições da rede, talvez), o fi- E esses falsos softwares estão por toda parte, cuidado
rewall não conseguirá interferir. ao baixar programas de segurança em sites desconhecidos,
e divulgue, para que ninguém seja vítima por falta de in-
SISTEMA ANTIVÍRUS. formação.
Os vírus que se anexam a arquivos infectam também
Qualquer usuário já foi, ou ainda é vítima dos vírus, todos os arquivos que estão sendo ou e serão executados.
spywares, trojans, entre muitos outros. Quem que nunca Alguns às vezes recontaminam o mesmo arquivo tantas ve-
precisou formatar seu computador? zes e ele fica tão grande que passa a ocupar um espaço
Os vírus representam um dos maiores problemas para considerável (que é sempre muito precioso) em seu disco.
usuários de computador. Para poder resolver esses proble- Outros, mais inteligentes, se escondem entre os espaços
mas, as principais desenvolvedoras de softwares criaram o do programa original, para não dar a menor pista de sua
principal utilitário para o computador, os antivírus, que são existência.
programas com o propósito de detectar e eliminar vírus e Cada vírus possui um critério para começar o ataque
outros programas prejudiciais antes ou depois de ingressar propriamente dito, onde os arquivos começam a ser apa-
no sistema. gados, o micro começa a travar, documentos que não são
Os vírus, worms, Trojans, spyware são tipos de progra- salvos e várias outras tragédias. Alguns apenas mostram
mas de software que são implementados sem o consenti- mensagens chatas, outros mais elaborados fazem estragos
mento (e inclusive conhecimento) do usuário ou proprie- muitos grandes.
tário de um computador e que cumprem diversas funções
nocivas para o sistema. Entre elas, o roubo e perda de da- Existe uma variedade enorme de softwares antivírus
dos, alteração de funcionamento, interrupção do sistema e no mercado. Independente de qual você usa, mantenha-o
propagação para outros computadores. sempre atualizado. Isso porque surgem vírus novos todos
Os antivírus são aplicações de software projetadas os dias e seu antivírus precisa saber da existência deles
como medida de proteção e segurança para resguardar para proteger seu sistema operacional.
os dados e o funcionamento de sistemas informáticos ca- A maioria dos softwares antivírus possuem serviços de
seiros e empresariais de outras aplicações conhecidas co- atualização automática. Abaixo há uma lista com os antiví-
munmente como vírus ou malware que tem a função de rus mais conhecidos:
alterar, perturbar ou destruir o correto desempenho dos Norton AntiVirus - Symantec - www.symantec.com.br -
computadores. Possui versão de teste.
Um programa de proteção de vírus tem um funciona- McAfee - McAfee - http://www.mcafee.com.br - Possui
mento comum que com frequência compara o código de versão de teste.
cada arquivo que revisa com uma base de dados de códi- AVG - Grisoft - www.grisoft.com - Possui versão paga
gos de vírus já conhecidos e, desta maneira, pode deter- e outra gratuita para uso não comercial (com menos fun-
minar se trata de um elemento prejudicial para o sistema. cionalidades).
Também pode reconhecer um comportamento ou padrão Panda Antivírus - Panda Software - www.pandasoftwa-
de conduta típica de um vírus. Os antivírus podem regis- re.com.br - Possui versão de teste.
trar tanto os arquivos encontrados dentro do sistema como É importante frisar que a maioria destes desenvolve-
aqueles que procuram ingressar ou interagir com o mesmo. dores possuem ferramentas gratuitas destinadas a remo-
Como novos vírus são criados de maneira quase cons- ver vírus específicos. Geralmente, tais softwares são criados
tante, sempre é preciso manter atualizado o programa an- para combater vírus perigosos ou com alto grau de propa-
tivírus de maneira de que possa reconhecer as novas ver- gação.
sões maliciosas. Assim, o antivírus pode permanecer em

39
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Spywares, keyloggers e hijackers: Apesar de não se-


rem necessariamente vírus, estes três nomes também repre-
sentam perigo. Spywares são programas que ficam«espio-
nando» as atividades dos internautas ou capturam informa-
ções sobre eles. Para contaminar um computador, os spy-
wares podem vir embutidos em softwares desconhecidos
ou serem baixa- dos automaticamente quando o internauta
visita sites de conteúdo duvidoso.
Os keyloggers são pequenos aplicativos que podem vir
embutidos em vírus, spywares ou softwares suspeitos, desti-
nados a capturar tudo o que é digitado no teclado. O obje-
Figura 88: Principais antivírus do mercado atual tivo principal, nestes casos, é capturar senhas.
Hijackers são programas ou scripts que «sequestram»
Tipos de Vírus navegadores de Internet, principalmente o Internet Explo-
rer. Quando isso ocorre, o hijacker altera a página inicial do
Cavalo-de-Tróia: A denominação “Cavalo de Tróia” browser e impede o usuário de mudá-la, exibe propagandas
(Trojan Horse) foi atribuída aos programas que permitem em pop-ups ou janelas novas, instala barras de ferramentas
a invasão de um computador alheio com espantosa faci- no navegador e podem impedir acesso a determinados sites
lidade. Nesse caso, o termo é análogo ao famoso artefato (como sites de software antivírus, por exemplo).
militar fabricado pelos gregos espartanos. Um “amigo” vir- Os spywares e os keyloggers podem ser identificados por
tual presenteia o outro com um “presente de grego”, que programas anti-spywares. Porém, algumas destas pragas são
seria um aplicativo qualquer. Quando o leigo o executa, o tão peri- gosas que alguns antivírus podem ser preparados
pro- grama atua de forma diferente do que era esperado. para identificá-las, como se fossem vírus. No caso de hijackers,
Ao contrário do que é erroneamente informado na mí- muitas vezes é necessário usar uma ferramenta desenvolvida
dia, que classifica o Cavalo de Tróia como um vírus, ele não especialmente para combater aquela praga. Isso porque os hi-
se reproduz e não tem nenhuma comparação com vírus de jackers podem se infiltrar no sistema operacional de uma forma
computador, sendo que seu objetivo é totalmente diverso. que nem antivírus nem anti-spywares conseguem “pegar”.
Deve-se levar em consideração, também, que a maioria dos Hoaxes, São boatos espalhados por mensagens de cor-
antivírus faz a sua detecção e os classificam como tal. A reio eletrônico, que servem para assustar o usuário de com-
expressão “Trojan” deve ser usada, exclusivamente, como putador. Uma mensagem no e-mail alerta para um novo ví-
definição para programas que capturam dados sem o co- rus totalmente destrutivo que está circulando na rede e que
infectará o micro do destinatário enquanto a mensagem
nhecimento do usuário.
estiver sendo lida ou quando o usuário clicar em determina-
O Cavalo de Tróia é um programa que se aloca como
da tecla ou link. Quem cria a mensagem hoax normalmen-
um ar- quivo no computador da vítima. Ele tem o intuito
te costuma dizer que a informação partiu de uma empresa
de roubar informações como passwords, logins e quais-
confiável, como IBM e Microsoft, e que tal vírus poderá dani-
quer dados, sigilosos ou não, mantidos no micro da vítima.
ficar a máquina do usuário. Desconsidere a mensagem.
Quando a máquina contaminada por um Trojan conectar-
-se à Internet, poderá ter todas as informações contidas no
Cloud Storage (Armazenamento na Nuvem)
HD visualizadas e capturadas por um intruso qualquer. Es-
tas visitas são feitas imperceptivelmente. Só quem já esteve Modelo de armazenamento de dados, baseado no mo-
dentro de um computador alheio sabe as possibilidades delo de computação em nuvem, no qual os dados (arquivos,
oferecidas. textos, imagens, vídeos, etc.) de uma pessoa ou de uma em-
presa são armazenados em ambientes de terceiros (geral-
Worms (vermes) podem ser interpretados como um mente empresas que possuem armazéns de dados adequa-
tipo de vírus mais inteligente que os demais. A principal dos para armazenar e gerenciar grandes volumes de dados).
diferença entre eles está na forma de propagação: os wor- O usuário que utiliza este serviço não depende de possuir
ms podem se propagar rapidamente para outros computa- uma infraestrutura de hardware e software, delegando a um
dores, seja pela Internet, seja por meio de uma rede local. terceiro esta responsabilidade mediante o pagamento do
Geralmente, a contaminação ocorre de maneira discreta e serviço. O acesso aos dados armazenados na nuvem (tanto
o usuário só nota o problema quando o computador apre- para guardar como para obter os dados posteriormente) é
senta alguma anormalidade. O que faz destes vírus inteli- realizado através de aplicativos que utilizam uma rede de
gentes é a gama de possibilidades de propagação. O worm computadores (comumente a Internet) para acessar os ar-
pode capturar endereços de e-mail em arquivos do usuá- mazéns de dados do provedor de serviço.
rio, usar serviços de SMTP (sistema de envio de e-mails) A diferença básica entre o armazenamento em nuvem
próprios ou qualquer outro meio que permita a contamina- para usuários comuns e usuários corporativos envolve não
ção de computadores (normalmente milhares) em pouco apenas o espaço oferecido (em geral, usuários comuns uti-
tempo. lizarão menor capacidade de armazenamento do que usuá-
rios corporativos), mas também envolve os tipos de ferra-
mentas integradas, políticas de segurança e outros recursos.

40
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Vantagens do armazenamento em nuvem


As principais vantagens do armazenamento em nuvem são: 5.8 - HARDWARE: MICROCOMPUTADORES
A empresa ou pessoa não necessita possuir hardware ou E PERIFÉRICOS: CONFIGURAÇÃO BÁSICA
software complexo para armazenar os dados dentro da empresa:
E COMPONENTES; IMPRESSORAS:
a criação e manutenção de recursos computacionais de uma em-
presa podem ser elevados e passar, boa parte do tempo, abaixo CLASSIFICAÇÃO E NOÇÕES GERAIS;
de sua capacidade de utilização. Ao contratar o armazenamento DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMENTO
em nuvem, a empresa pode contratar um produto aderente às EXTERNO: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO E
suas necessidades de utilização e, dependendo da evolução da NOÇÕES GERAIS.
massa de dados da empresa, contratar um serviço com menor
ou maior capacidade conforme sua demanda. O usuário comum,
por exemplo, pode não possuir capacidade de armazenamen-
to adequada em seu computador e utilizar armazenamento de Conceitos e fundamentos básicos de informática
dados na nuvem de acordo com a sua conveniência, baixando A Informática é um meio para diversos fins, com isso aca-
os dados quando necessário. Acessibilidade: o acesso aos dados ba atuando em todas as áreas do conhecimento. A sua utili-
pode ser realizado em qualquer ambiente interno ou externo, em zação passou a ser um diferencial para pessoas e empresas,
diversos tipos de equipamento, desde que atendidos os requisi- visto que, o controle da informação passou a ser algo funda-
tos de segurança. Em geral, no ambiente de empresa comum, os mental para se obter maior flexibilidade no mercado de tra-
dados podem ser acessados unicamente dentro da empresa. Para balho. Logo, o profissional, que melhor integrar sua área de
usuários comuns, normalmente os dados eram armazenados em atuação com a informática, atingirá, com mais rapidez, os seus
um único computador, sendo necessário utilizar pendrives e CDs objetivos e, consequentemente, o seu sucesso, por isso em
para copiar dados. Atualmente, com os serviços em nuvem, o quase todos editais de concursos públicos temos Informática.
usuário pode utilizar dados no seu computador e posteriormente
usar/modificar os mesmos dados em um tablet ou smartphone. O que é informática?
Segurança e recuperação de dados: os dados armaze- Informática pode ser considerada como significando
nados na nuvem, por estar em um ambiente em geral mais “informação automática”, ou seja, a utilização de métodos
seguro, são mais difíceis de serem acessados ou apagados e técnicas no tratamento automático da informação. Para
por terceiros. Também possuem mais garantias contra apa- tal, é preciso uma ferramenta adequada: O computador.
gamento acidental. Desta forma, em caso de perda de dados A palavra informática originou-se da junção de duas
de um computador de uma empresa ou de uma pessoa, é outras palavras: informação e automática. Esse princí-
mais fácil recuperar os dados armazenados na nuvem. pio básico descreve o propósito essencial da informática:
Compartilhamento: em geral, os serviços de armazena- trabalhar informações para atender as necessidades dos
mento na nuvem possuem políticas de segurança e acesso usuários de maneira rápida e eficiente, ou seja, de forma
que permitem que o dono de um conjunto de dados possa automática e muitas vezes instantânea.
compartilhar quais dados podem ser vistos e quais dados Nesse contexto, a tecnologia de hardwares e softwares
podem ser alterados. Este compartilhamento pode ser reali- é constantemente atualizada e renovada, dando origem
zado de diferentes formas para diferentes tipos de usuários. a equipamentos eletrônicos que atendem desde usuários
domésticos até grandes centros de tecnologia.
Desvantagens do armazenamento em nuvem
Disponibilidade da rede de computadores: nos casos O que é um computador?
em que a rede em questão não estiver em operação ou não O computador é uma máquina que processa dados,
puder ser acessada, os dados podem não ser facilmente orientado por um conjunto de instruções e destinado a
acessíveis. Privacidade dos dados: comumente, empresas produzir resultados completos, com um mínimo de inter-
que fornecem serviços de armazenamento na nuvem pos- venção humana. Entre vários benefícios, podemos citar:
suem políticas rígidas de manipulação e acesso aos dados.
: grande velocidade no processamento e disponibiliza-
Porém, nunca há garantia que eles não acessem e leiam os
ção de informações;
seus dados. Desta forma, em geral, recomenda-se que da-
: precisão no fornecimento das informações;
dos sensíveis não sejam armazenados na nuvem.
: propicia a redução de custos em várias atividades
Alguns serviços de armazenamento em nuvem
: próprio para execução de tarefas repetitivas;
Usuários comuns
Como ele funciona?
Amazon S3
Google Drive Em informática, e mais especialmente em computado-
OneDrive res, a organização básica de um sistema será na forma de:
Usuários corporativos
Amazon Web Services
Google Cloud Storage
Windows Azure

Fonte: http://www.revistabw.com.br/revistabw/informa-
tica-cloud-storage/ Figura 1: Etapas de um processamento de dados.

41
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Vamos observar agora, alguns pontos fundamentais Se você perguntar a alguém que não é familiarizado com
para o entendimento de informática em concursos públicos. backups, a maioria pensará que um backup é somente uma
Hardware, são os componentes físicos do computador, cópia idêntica de todos os dados do computador. Em outras
ou seja, tudo que for tangível, ele é composto pelos periféri- palavras, se um backup foi criado na noite de terça-feira, e nada
cos, que podem ser de entrada, saída, entrada-saída ou ape- mudou no computador durante o dia todo na quarta-feira, o
nas saída, além da CPU (Unidade Central de Processamento) backup criado na noite de quarta seria idêntico àquele criado
Software, são os programas que permitem o funciona- na terça. Apesar de ser possível configurar backups desta ma-
mento e utilização da máquina (hardware), é a parte lógica neira, é mais provável que você não o faça. Para entender mais
do computador, e pode ser dividido em Sistemas Operacio- sobre este assunto, devemos primeiro entender os tipos dife-
nais, Aplicativos, Utilitários ou Linguagens de Programação. rentes de backup que podem ser criados. Estes são:
O primeiro software necessário para o funcionamento • Backups completos;
de um computador é o Sistema Operacional (Sistema Ope- • Backups incrementais;
racional). Os diferentes programas que você utiliza em um • Backups diferenciais;
computador (como o Word, Excel, PowerPoint etc) são os • Backups delta;
aplicativos. Já os utilitários são os programas que auxiliam na O backup completo é simplesmente fazer a cópia de
manutenção do computador, o antivírus é o principal exem- todos os arquivos para o diretório de destino (ou para os
plo, e para finalizar temos as Linguagens de Programação dispositivos de backup correspondentes), independente de
que são programas que fazem outros programas, como o versões anteriores ou de alterações nos arquivos desde o úl-
JAVA por exemplo. timo backup. Este tipo de backup é o tradicional e a primei-
Importante mencionar que os softwares podem ser li- ra ideia que vêm à mente das pessoas quando pensam em
vres ou pagos, no caso do livre, ele possui as seguintes ca- backup: guardar TODAS as informações. Outra característica
racterísticas: do backup completo é que ele é o ponto de início dos outros
• O usuário pode executar o software, para qualquer uso. métodos citados abaixo. Todos usam este backup para assi-
• Existe a liberdade de estudar o funcionamento do nalar as alterações que deverão ser salvas em cada um dos
programa e de adaptá-lo às suas necessidades. métodos.
• É permitido redistribuir cópias. Este tipo consiste no backup de todos os arquivos para a
• O usuário tem a liberdade de melhorar o programa mídia de backup. Conforme mencionado anteriormente, se os
e de tornar as modificações públicas de modo que a comu- dados sendo copiados nunca mudam, cada backup completo
nidade inteira beneficie da melhoria. será igual aos outros. Esta similaridade ocorre devido ao fato
Entre os principais sistemas operacionais pode-se des- que um backup completo não verifica se o arquivo foi altera-
tacar o Windows (Microsoft), em suas diferentes versões, o do desde o último backup; copia tudo indiscriminadamente
Macintosh (Apple) e o Linux (software livre criado pelo fin- para a mídia de backup, tendo modificações ou não. Esta é a
landês Linus Torvalds), que apresenta entre suas versões o razão pela qual os backups completos não são feitos o tempo
Ubuntu, o Linux Educacional, entre outras. todo Todos os arquivos seriam gravados na mídia de backup.
É o principal software do computador, pois possibilita Isto significa que uma grande parte da mídia de backup é usa-
que todos os demais programas operem. da mesmo que nada tenha sido alterado. Fazer backup de 100
Android é um Sistema Operacional desenvolvido pelo gigabytes de dados todas as noites quando talvez 10 gigaby-
Google para funcionar em dispositivos móveis, como Smar- tes de dados foram alterados não é uma boa prática; por este
tphones e Tablets. Sua distribuição é livre, e qualquer pessoa motivo os backups incrementais foram criados.
pode ter acesso ao seu código-fonte e desenvolver aplicati- Já os backups incrementais primeiro verificam se o ho-
vos (apps) para funcionar neste Sistema Operacional. rário de alteração de um arquivo é mais recente que o ho-
iOS, é o sistema operacional utilizado pelos aparelhos rário de seu último backup, por exemplo, já atuei em uma
fabricados pela Apple, como o iPhone e o iPad. Instituição, onde todos os backups eram programados para
a quarta-feira.
Backup de arquivos A vantagem principal em usar backups incrementais é
que rodam mais rápido que os backups completos. A prin-
O Backup ajuda a proteger os dados de exclusão aci- cipal desvantagem dos backups incrementais é que para res-
dentais, ou até mesmo de falhas, por exemplo se os dados taurar um determinado arquivo, pode ser necessário procurar
originais do disco rígido forem apagados ou substituídos em um ou mais backups incrementais até encontrar o arquivo.
acidentalmente ou se ficarem inacessíveis devido a um de- Para restaurar um sistema de arquivo completo, é necessário
feito do disco rígido, você poderá restaurar facilmente os restaurar o último backup completo e todos os backups in-
dados usando a cópia arquivada. crementais subsequentes. Numa tentativa de diminuir a ne-
cessidade de procurar em todos os backups incrementais, foi
4.1. Tipos de Backup implementada uma tática ligeiramente diferente. Esta é co-
Fazer um backup é simples. Basta copiar os arquivos que nhecida como backup diferencial.
você usa para outro lugar e pronto, está feito o backup. Mas Os backups diferenciais, também só copia arquivos alte-
e se eu alterar um arquivo? E se eu excluir acidentalmente rados desde o último backup, mas existe uma diferença, ele
um arquivo? E se o arquivo atual corrompeu? Bem, é aí que mapeia as alterações em relação ao último backup comple-
a coisa começa a ficar mais legal. É nessa hora que entram as to, importante mencionar que essa técnica ocasiona o au-
estratégias de backup. mento progressivo do tamanho do arquivo.

42
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Os backups delta sempre armazena a diferença entre as Conceitos básicos de Hardware (Placa mãe, memó-
versões correntes e anteriores dos arquivos, começando a rias, processadores (CPU) e disco de armazenamento
partir de um backup completo e, a partir daí, a cada novo HDs, CDs e DVDs)
backup são copiados somente os arquivos que foram alte- Os gabinetes são dotados de fontes de alimentação de
rados enquanto são criados hardlinks para os arquivos que energia elétrica, botão de ligar e desligar, botão de reset,
não foram alterados desde o último backup. Esta é a técni- baias para encaixe de drives de DVD, CD, HD, saídas de ven-
ca utilizada pela Time Machine da Apple e por ferramentas tilação e painel traseiro com recortes para encaixe de placas
como o rsync. como placa mãe, placa de som, vídeo, rede, cada vez mais
com saídas USBs e outras.
Mídias No fundo do gabinete existe uma placa de metal onde
A fita foi o primeiro meio de armazenamento de da- será fixada a placa mãe. Pelos furos nessa placa é possível
dos removível amplamente utilizado. Tem os benefícios de verificar se será possível ou não fixar determinada placa mãe
custo baixo e uma capacidade razoavelmente boa de arma- em um gabinete, pois eles têm que ser proporcionais aos fu-
zenamento. Entretanto, a fita tem algumas desvantagens. ros encontrados na placa mãe para parafusá-la ou encaixá-la
Ela está sujeita ao desgaste e o acesso aos dados na fita é no gabinete.
sequencial por natureza. Estes fatores significam que é ne- Placa-mãe, é a placa principal, formada por um conjunto
cessário manter o registro do uso das fitas (aposentá-las de circuitos integrados (“chip set“) que reconhece e gerencia
ao atingirem o fim de suas vidas úteis) e também que a o funcionamento dos demais componentes do computador.
procura por um arquivo específico nas fitas pode ser uma Se o processador pode ser considerado o “cérebro” do
tarefa longa. computador, a placa-mãe (do inglês motherboard) repre-
Ultimamente, os drives de disco nunca seriam usados senta a espinha dorsal, interligando os demais periféricos ao
como um meio de backup. No entanto, os preços de arma- processador.
zenamento caíram a um ponto que, em alguns casos, usar O disco rígido, do inglês hard disk, também conhecido
drives de disco para armazenamento de backup faz sentido. como HD, serve como unidade de armazenamento perma-
A razão principal para usar drives de disco como um meio nente, guardando dados e programas.
de backup é a velocidade. Não há um meio de armazena- Ele armazena os dados em discos magnéticos que man-
mento em massa mais rápido. A velocidade pode ser um
têm a gravação por vários anos, se necessário.
fator crítico quando a janela de backup do seu centro de
Esses discos giram a uma alta velocidade e tem seus da-
dados é curta e a quantidade de dados a serem copiados
dos gravados ou acessados por um braço móvel composto
é grande.
por um conjunto de cabeças de leitura capazes de gravar ou
O armazenamento deve ser sempre levado em conside-
acessar os dados em qualquer posição nos discos.
ração, onde o administrador desses backups deve se preo-
Dessa forma, os computadores digitais (que trabalham
cupar em encontrar um equilíbrio que atenda adequada-
com valores discretos) são totalmente binários. Toda infor-
mente às necessidades de todos, e também assegurar que
os backups estejam disponíveis para a pior das situações. mação introduzida em um computador é convertida para a
Após todas as técnicas de backups estarem efetivadas forma binária, através do emprego de um código qualquer
deve-se garantir os testes para que com o passar do tempo de armazenamento, como veremos mais adiante.
não fiquem ilegíveis. A menor unidade de informação armazenável em um
computador é o algarismo binário ou dígito binário, conhe-
Recomendações para proteger seus backups cido como bit (contração das palavras inglesas binarydigit).
O bit pode ter, então, somente dois valores: 0 e 1.
Fazer backups é uma excelente prática de segurança Evidentemente, com possibilidades tão limitadas, o bit
básica. Agora lhe damos conselhos simples para que você pouco pode representar isoladamente; por essa razão, as
esteja a salvo no dia em que precisar deles: informações manipuladas por um computador são codifi-
1. Tenha seus backups fora do PC, em outro escritório, cadas em grupos ordena- dos de bits, de modo a terem um
e, se for possível, em algum recipiente à prova de incêndios, significado útil.
como os cofres onde você guarda seus documentos e valo- O menor grupo ordenado de bits representando uma
res importantes. informação útil e inteligível para o ser humano é o byte (leia-
2. Faça mais de uma cópia da sua informação e as man- -se “baite”).
tenha em lugares separados. Como os principais códigos de representação de carac-
3. Estabeleça uma idade máxima para seus backups, é teres utilizam grupos de oito bits por caracter, os concei-
melhor comprimir os arquivos que já sejam muito antigos tos de byte e caracter tornam-se semelhantes e as palavras,
(quase todos os programas de backup contam com essa quase sinônimas.
opção), assim você não desperdiça espaço útil. É costume, no mercado, construírem memórias cujo
4. Proteja seus backups com uma senha, de maneira acesso, armazenamento e recuperação de informações são
que sua informação fique criptografada o suficiente para efetuados byte a byte. Por essa razão, em anúncios de com-
que ninguém mais possa acessá-la. Se sua informação é putadores, menciona-se que ele possui “512 mega bytes de
importante para seus entes queridos, implemente alguma memória”; por exemplo, na realidade, em face desse costu-
forma para que eles possam saber a senha se você não es- me, quase sempre o termo byte é omitido por já subenten-
tiver presente. der esse valor.

43
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para entender melhor essas unidades de memórias, veja Cartões de memória, são baseados na tecnologia flash,
a imagem abaixo: semelhante ao que ocorre com a memória RAM do com-
putador, existe uma grande variedade de formato desses
cartões.
São muito utilizados principalmente em câmeras foto-
gráficas e telefones celulares. Podem ser utilizados também
em microcomputadores.
BIOS é o Basic Input/Output System, ou Sistema Básico
de Entrada e Saída, trata-se de um mecanismo responsável
por algumas atividades consideradas corriqueiras em um
computador, mas que são de suma importância para o corre-
to funcionamento de uma máquina.
Se a BIOS para de funcionar, o PC também para! Ao ini-
Figura 6: Unidade de medida de memórias ciar o PC, a BIOS faz uma varredura para detectar e identificar
todos os componentes de hardware conectados à máquina.
Em resumo, a cada degrau que você desce na Figura 3 Só depois de todo esse processo de identificação é que
é só você dividir por 1024 e a cada degrau que você sobe a BIOS passa o controle para o sistema operacional e o boot
basta multiplicar por 1024. Vejamos dois exemplos abaixo: acontece de verdade.
Diferentemente da memória RAM, as memórias ROM
Transformar 4 giga- Transformar 16422282522 (Read Only Memory – Memória Somente de Leitura) não são
bytes em kilobytes: kilobytes em terabytes: voláteis, mantendo os dados gravados após o desligamento
do computador.
4 * 1024 = 4096 mega- 16422282522 / 1024 =
As primeiras ROM não permitiam a regravação de seu
bytes 16037385,28 megabytes
conteúdo. Atualmente, existem variações que possibilitam
4096 * 1024 = 4194304 16037385,28 / 1024 =
a regravação dos dados por meio de equipamentos espe-
kilobytes. 15661,51 gigabytes
ciais. Essas memórias são utilizadas para o armazenamento
15661,51 / 1024 = 15,29 te-
do BIOS.
rabytes.
O processador que é uma peça de computador que contém
instruções para realizar tarefas lógicas e matemáticas. O pro-
USB é abreviação de “Universal Serial Bus”. É a porta de cessador é encaixado na placa mãe através do socket, ele que
entrada mais usada atualmente. processa todas as informações do computador, sua velocidade é
Além de ser usado para a conexão de todo o tipo de dis- medida em Hertz e os fabricantes mais famosos são Intel e AMD.
positivos, ele fornece uma pequena quantidade de energia. O processador do computador (ou CPU – Unidade Cen-
Por isso permite que os conectores USB sejam usados por tral de Processamento) é uma das partes principais do hard-
carregadores, luzes, ventiladores e outros equipamentos. ware do computador e é responsável pelos cálculos, execu-
ção de tarefas e processamento de dados.
A fonte de energia do computador ou, em inglês é res- Contém um conjunto de restritos de células de memó-
ponsável por converter a voltagem da energia elétrica, que ria chamados registradores que podem ser lidos e escritos
chega pelas tomadas, em voltagens menores, capazes de ser muito mais rapidamente que em outros dispositivos de me-
suportadas pelos componentes do computador. mória. Os registra- dores são unidades de memória que re-
presentam o meio mais caro e rápido de armazenamento de
Monitor de vídeo dados. Por isso são usados em pequenas quantidades nos
Normalmente um dispositivo que apresenta informa- processadores.
ções na tela de LCD, como um televisor atual. Em relação a sua arquitetura, se destacam os modelos
Outros monitores são sensíveis ao toque (chamados de RISC (Reduced Instruction Set Computer) e CISC (Complex
touchscreen), onde podemos escolher opções tocando em Instruction Set Computer). Segundo Carter [s.d.]:
botões virtuais, apresentados na tela. ... RISC são arquiteturas de carga-armazenamento, en-
quanto que a maior parte das arquiteturas CISC permite que
Impressora outras operações também façam referência à memória.
Muito popular e conhecida por produzir informações Possuem um clock interno de sincronização que define a
impressas em papel. velo- cidade com que o processamento ocorre. Essa veloci-
Atualmente existem equipamentos chamados impres- dade é medida em Hertz. Segundo Amigo (2008):
soras multifuncionais, que comportam impressora, scanner Em um computador, a velocidade do clock se refere ao
e fotocopiadoras num só equipamento. número de pulsos por segundo gerados por um oscilador
Pen drive é a mídia portátil mais utilizada pelos usuários (dispositivo eletrônico que gera sinais), que determina o
de computadores atualmente. tempo necessário para o processador executar uma instru-
Ele não precisar recarregar energia para manter os da- ção. Assim para avaliar a performance de um processador,
dos armazenados. Isso o torna seguro e estável, ao contrário medimos a quantidade de pulsos gerados em 1 segundo e,
dos antigos disquetes. É utilizado através de uma porta USB para tanto, utilizamos uma unidade de medida de frequên-
(Universal Serial Bus). cia, o Hertz.

44
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Placas de rede são hardwares específicos para integrar


um computador a uma rede, de forma que ele possa enviar
e receber informações. Essas placas podem ser onboard, ou
seja, com chipset embutido na placa mãe, ou offboard, conec-
tadas em slots presentes na placa mãe.
Alguns dados importantes a serem observados em uma
placa de rede são: a arquitetura de rede que atende os tipos
de cabos de rede suportados e a taxa de transmissão.

Periféricos de computadores
Para entender o suficiente sobre periféricos para concur-
so público é importante entender que os periféricos são os
componentes (hardwares) que estão sempre ligados ao cen-
tro dos computadores.
Os periféricos são classificados como:
Figura 7: Esquema Processador Dispositivo de Entrada: É responsável em transmitir a in-
formação ao computador. Exemplos: mouse, scanner, micro-
Na placa mãe são conectados outros tipos de placas, fone, teclado, Web Cam, Trackball, Identificador Biométrico,
com seus circuitos que recebem e transmite dados para de- Touchpad e outros.
sempenhar tarefas como emissão de áudio, conexão à In- Dispositivos de Saída: É responsável em receber a infor-
ternet e a outros computadores e, como não poderia faltar, mação do computador. Exemplos: Monitor, Impressoras, Caixa
possibilitar a saída de imagens no monitor. de Som, Ploter, Projector de Vídeo e outros.
Essas placas, muitas vezes, podem ter todo seu hardwa- Dispositivo de Entrada e Saída: É responsável em trans-
re reduzido a chips, conectados diretamente na placa mãe, mitir e receber informação ao computador. Exemplos: Drive
utilizando todos os outros recursos necessários, que não es- de Disquete, HD, CD-R/RW, DVD, Blu-ray, modem, Pen-Drive,
tão implementa- dos nesses chips, da própria motherboard.
Placa de Rede, Monitor Táctil, Dispositivo de Som e outros.
Geralmente esse fato implica na redução da velocidade, mas
hoje essa redução é pouco considerada, uma vez que é acei-
Exercícios
tável para a maioria dos usuários.
No entanto, quando se pretende ter maior potência de
1) (LIQUIGÁS 2012 - CESGRANRIO - ASSISTENTE AD-
som, melhor qualidade e até aceleração gráfica de imagens
MINISTRATIVO) Um computador é um equipamento capaz
e uma rede mais veloz, a opção escolhida são as placas off
de processar com rapidez e segurança grande quantidade de
board. Vamos conhecer mais sobre esse termo e sobre as
placas de vídeo, som e rede: informações.
Placas de vídeo são hardwares específicos para traba- Assim, além dos componentes de hardware, os computa-
lhar e projetar a imagem exibida no monitor. Essas placas dores necessitam de um conjunto de softwares denominado:
podem ser onboard, ou seja, com chipset embutido na placa a. arquivo de dados.
mãe, ou off board, conectadas em slots presentes na placa b. blocos de disco.
mãe. São considerados dispositivos de saída de dados, pois c. navegador de internet.
mostram ao usuário, na forma de imagens, o resultado do d. processador de dados.
processamento de vários outros dados. e. sistemaoperacional.
Você já deve ter visto placas de vídeo com especificações
1x, 2x, 8x e assim por diante. Quanto maior o número, maior 2) (TRT 10ª 2013 - CESPE - ANALISTA JUDICIÁRIO – AD-
será a quantidade de dados que passarão por segundo por MINISTRATIVA) As características básicas da segurança da in-
essa placa, o que oferece imagens de vídeo, por exemplo, formação — confidencialidade, integridade e disponibilidade
com velocidade cada vez mais próxima da realidade. Além — não são atributos exclusivos dos sistemas computacionais.
dessa velocidade, existem outros itens importantes de serem a. Certo
observados em uma placa de vídeo: aceleração gráfica 3D, b. Errado
resolução, quantidade de cores e, como não poderíamos es-
quecer, qual o padrão de encaixe na placa mãe que ela deve- 3) (TRE/CE 2012 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO – JURÍDI-
rá usar (atualmente seguem opções de PCI ou AGP). Vamos CA) São ações para manter o computador protegido, EXCETO:
ver esses itens um a um: a. Evitar o uso de versões de sistemas operacionais ul-
Placas de som são hardwares específicos para trabalhar trapassadas, como Windows 95 ou 98.
e projetar a sons, seja em caixas de som, fones de ouvido ou b. Excluir spams recebidos e não comprar nada anun-
microfone. Essas placas podem ser onboard, ou seja, com ciado através desses spams.
chipset embutido na placa mãe, ou offboard, conectadas em c. Não utilizar firewall.
slots presentes na placa mãe. São dispositivos de entrada e d. Evitar utilizar perfil de administrador, preferindo
saída de dados, pois tanto permitem a inclusão de dados sempre utilizar um perfil mais restrito.
(com a entrada da voz pelo microfone, por exemplo) como a e. Não clicar em links não solicitados, pois links estra-
saída de som (através das caixas de som, por exemplo). nhos muitas vezes são vírus.

45
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

4) (Copergás 2016 - FCC – Técnico Operacional Seguran- em uma aplicação móvel para, de tempos em tempos, ar-
ça do Trabalho) A ferramenta Outlook : mazenar dados automaticamente. A classe da API de Backup
a) é um serviço de e-mail gratuito para gerenciar todos (versão 6.0 ou superior) a ser utilizada é a:
os e-mails, calendários e contatos de um usuário. a) BkpAgent;
b) 2016 é a versão mais recente, sendo compatível com o b) BkpHelper;
Windows 10, o Windows 8.1 e o Windows 7. c) BackupManager;
c) permite que todas as pessoas possam ver o calendário d) BackupOutputData;
de um usuário, mas somente aquelas com e-mail Outlook. e) BackupDataStream.
com podem agendar reuniões e responder a convites.
d) funciona apenas em dispositivos com Windows, não 9) (Prefeitura de Cristiano Otoni 2016 - INAZ do Pará - Psi-
funcionando no iPad, no iPhone, em tablets e em telefones cólogo) Realizar cópia de segurança é uma forma de prevenir
com Android. perda de informações. Qual é o Backup que só efetua a cópia
e) versão 2015 oferece acesso gratuito às ferramentas do dos últimos arquivos que foram criados pelo usuário ou sistema?
pacote de webmail Office 356 da Microsoft. a) Backup incremental
b) Backup diferencial
5) (CRM-PI 2016 - Quadrix – Médico Fiscal) Em um com- c) Backup completo
putador com o sistema operacional Windows instalado, um d) Backup Normal
funcionário deseja enviar 50 arquivos, que juntos totalizam 2 e) Backup diário
MB de tamanho, anexos em um e-mail. Para facilitar o envio,
resolveu compactar esse conjunto de arquivos em um único 10) (CRO-PR 2016 - Quadrix - Auxiliar de Departamento)
arquivo utilizando um software compactador. Só não poderá Como é chamado o backup em que o sistema não é interrom-
ser utilizado nessa tarefa o software:  pido para sua realização?
a) 7-Zip. a) Backup Incremental.
b) WinZip. b) Cold backup.
c) CuteFTP. c) Hot backup.
d) jZip. d) Backup diferencial.
e) WinRAR. e) Backup normal

6) (MPE-CE 2013 - FCC - Analista Ministerial - Direito) So- 11) (DEMAE/GO 2016 - UFG - Agente Administrativo) Um
bre manipulação de arquivos no Windows 7 em português, é funcionário precisa conectar um projetor multimídia a um
correto afirmar que, computador. Qual é o padrão de conexão que ele deve usar?
a) para mostrar tipos diferentes de informações sobre a) RJ11
cada arquivo de uma janela, basta clicar no botão Classificar b) RGB
na barra de ferramentas da janela e escolher o modo de exi- c) HDMI
bição desejado. d) PS2
b) quando você exclui um arquivo do disco rígido, ele é e) RJ45
apagado permanentemente e não pode ser posteriormente
recuperado caso tenha sido excluído por engano. 12) (SABESP 2014 - FCC - Analista de Gestão - Administra-
c) para excluir um arquivo de um pen drive, basta clicar ção) Correspondem, respectivamente, aos elementos placa de
com o botão direito do mouse sobre ele e selecionar a opção som, editor de texto, modem, editor de planilha e navegador
Enviar para a lixeira. de internet:
d) se um arquivo for arrastado entre duas pastas que a) software, software, hardware, software e hardware.
estão no mesmo disco rígido, ele será compartilhado entre b) hardware, software, software, software e hardware.
todos os usuários que possuem acesso a essas pastas. c) hardware, software, hardware, hardware e software.
e) se um arquivo for arrastado de uma pasta do disco rí- d) software, hardware, hardware, software e software.
gido para uma mídia removível, como um pen drive, ele será e) hardware, software, hardware, software e software.
copiado.
13) (DEMAE/GO 2016 - UFG - Agente Administrativo) Um
7) (SUDECO 2013 - FUNCAB - Contador) No sistema computador à venda em um sítio de comércio eletrônico possui
operacional Linux,o comando que NÃO está relacionado a 3.2 GHz, 8 GB, 2 TB e 6 portas USB. Essa configuração indica que:
manipulação de arquivos é: a) a velocidade do processador é 3.2 GHz.
a) kill b) a capacidade do disco rígido é 8 GB.
b) cat c) a capacidade da memória RAM é 2 TB.
c) rm d) a resolução do monitor de vídeo é composta de 6 por-
d) cp tas USB.
e) ftp GABARITO

8) (IBGE 2016 - FGV - Analista - Análise de Sistemas - 1-E/ 2-A/ 3- C/ 4- B/ 5-C/ 6-E / 7-A / 8-C / 9-A /
Desenvolvimento de Aplicações - Web Mobile) Um desen- 10-C/11-C / 12-E / 13-A /
volvedor Android deseja inserir a funcionalidade de backup

46
ATUALIDADES

Tópicos atuais no Brasil e no mundo, relativos a economia, política, saúde, sociedade, meio ambiente, desenvolvimento
sustentável, educação, energia, saúde, relações internacionais, segurança e tecnologia, ocorridos a partir de janeiro de
2017, divulgados na mídia nacional e/ou internacional............................................................................................................................ 01
ATUALIDADES

O MPF reforça ainda que, apesar dos indícios de corrup-


TÓPICOS ATUAIS NO BRASIL E NO MUNDO, ção, não houve movimentação no sentido de afastar Nuzman
RELATIVOS A ECONOMIA, POLÍTICA, e Gryner de suas funções junto ao COB. “Assim, ambos conti-
nuam gerindo os contratos firmados pelo COB, mediante uso
SAÚDE, SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE,
de dinheiro público além do pleno acesso a documentos e
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, informações necessárias à produção probatória”.
EDUCAÇÃO, ENERGIA, SAÚDE, RELAÇÕES Fonte: G1.com/ Acessado em 10/2017
INTERNACIONAIS, SEGURANÇA E
TECNOLOGIA, OCORRIDOS A PARTIR DE TUCANOS QUEREM TIRAR AÉCIO DA PRESIDÊNCIA
JANEIRO DE 2017, DIVULGADOS NA MÍDIA DO PARTIDO
NACIONAL E/OU INTERNACIONAL. Cresceu dentro do PSDB o movimento para forçar a re-
núncia do senador Aécio Neves (MG) da presidência do par-
tido. Ele está licenciado do cargo desde maio, quando entrou
POLÍTICA na mira da delação da JBS. Na ocasião, caciques tucanos es-
peravam a renúncia do político mineiro. Mas ele resistiu.
TENTATIVA DE OCULTAR DINHEIRO E 16 BARRAS DE Agora, com o novo afastamento de Aécio do mandato
OURO LEVOU NUZMAN À PRISÃO, DIZ MPF. DE ACORDO de senador pelo Supremo Tribunal Federal, o partido voltou a
COM INVESTIGAÇÃO, NOS ÚLTIMOS 10 DOS 22 ANOS DE articular a saída definitiva dele do comando tucano. A percep-
PRESIDÊNCIA DO COB, NUZMAN AMPLIOU SEU PATRI- ção é que a permanência dele no cargo tem trazido grande
MÔNIO EM 457%, NÃO HAVENDO INDICAÇÃO CLARA desgaste à imagem da legenda. A pressão é para que ele dei-
DE SEUS RENDIMENTOS. xe a presidência do PSDB ainda em outubro.
A prisão temporária cumprida nesta quinta-feira (5) contra Fonte: G1.com/ Acessado em 10/2017
Carlos Arthur Nuzman teve como um dos motivos a tentativa
de o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) ocultar DELATOR DIZ QUE CONHECEU SUPOSTO OPERADOR
bens, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Entre eles, DE PROPINA DE EX-PRESIDENTE DA PETROBRAS.
valores em espécie e 16 quilos de ouro que estariam em um CHEFE DO SETOR DE PROPINAS DA ODEBRECHT DIS-
cofre na Suíça. De acordo com os investigadores da força-ta- SE QUE SE ENCONTROU COM HOMEM QUE PEDIU DI-
refa da Lava Jato no Rio, as apreensões na primeira etapa da NHEIRO A ALDEMIR BENDINE.
Operação “Unfair Play”, em 5 de setembro, levaram Nuzman O ex-funcionário da Odebrecht, Fernando Migliaccio,
a fazer uma retificação na declaração de imposto de renda. afirmou ao juiz Sérgio Moro que se encontrou mais de uma
Segundo o MPF, foi uma tentativa de regularizar os bens não vez com um suposto intermediário de propinas, que seriam
declarados. Um dos objetos apreendidos foi uma chave, que esta- pagas ao ex-presidente da Petrobras, Aldemir Bendine.
va guardada junto a cartões de agentes de serviços de locação na Migliaccio atuava no Setor de Operações Estruturadas,
Suíça. Segundo o MPF, são indícios de que Nuzman guardou lá o que era usado pela empreiteira para fazer pagamentos ilíci-
ouro. De acordo com o texto do documento de pedido de prisão, tos a funcionários públicos e agentes políticos. Ele prestou
“ao fazer a retificação da declaração de imposto de renda para depoimento em um processo em que Bendine é acusado de
incluir esses bens, em 20/09/2017, [Nuzman] claramente atuou receber R$ 3 milhões em propina da Odebrecht, para ajudar a
para obstruir investigação da ocultação de patrimônio” e “sequer empresa a fechar contratos com a Petrobras.
apontou a origem desse patrimônio, o que indica a ilicitude de Em depoimentos anteriores, ex-executivos da Odebrecht
sua origem”. Com as inclusões destes bens, os investigadores confirmaram a história e apresentaram uma planilha com o
acreditam que os rendimentos declarados são insuficientes para suposto pagamento. No arquivo, consta que o dinheiro foi
justificar a variação patrimonial em 2014. A omissão, segundo o entregue a alguém com o codinome “Cobra”. Para o Ministé-
MPF, seria de no mínimo R$ 1,87 milhões. Ainda de acordo com rio Público Federal (MPF), trata-se de Bendine.
o MPF, nos últimos 10 dos 22 anos de presidência do COB, Nuz- No depoimento desta quarta-feira, Moro perguntou a Mi-
man ampliou seu patrimônio em 457%, não havendo indicação gliaccio se ele conhecia Bendine ou André Gustavo Vieira, o
clara de seus rendimentos. Um relatório incluído no pedido de homem que é apontado como o operador da suposta propina.
prisão diz ainda que, em 2014, o patrimônio dobrou, com um Moro: O senhor conhece o senhor Aldemir Bendine ou o
acréscimo de R$ 4.276.057,33. senhor André Gustavo Vieira?
“Chama a atenção o fato de que desse valor, R$ 3.851.490,00 Migliaccio: O senhor Aldemir Bendine eu não conheço e o se-
são decorrentes de ações de companhia sediada nas Ilhas Vir- nhor André, eu não sei se é esse o nome, mas eu imagino que sim
gens Britânicas, conhecido paraíso fiscal”, diz o texto. Moro: O senhor pode esclarecer?
O advogado Nélio Machado, que representa Nuzman, Migliaccio: Ele foi à minha sala algumas vezes no escri-
questionou a prisão desta terça: “É uma medida dura e não tório pra saber dos pagamentos
é usual dentro do devido processo legal”.
Moro: Desses pagamentos?
Além de Nuzman, foi preso na operação “Unfair Play”
Migliaccio: É.
seu braço-direito Leonardo Gryner, diretor de marketing do
COB e de comunicação e marketing do Comitê Rio-2016. Moro: O senhor mencionou que esse setor foi desman-
Segundo o MPF, as prisões foram necessárias como “garan- telado, mas esses pagamentos que foram lhe mostrados
tia de ordem pública”, para permitir bloquear o patrimônio, [pagamentos ao codinome Cobra] pelo Ministério Público,
além de “impedir que ambos continuem atuando, seja cri- pela procuradora, esses pagamentos foram feitos pelo se-
minosamente, seja na interferência” das provas. tor de operações estruturadas?

1
ATUALIDADES

Migliaccio: Sim. Quer dizer, eu não tenho certeza se todos entre as formas de trabalho para presos, a preferência
eles, mas se está no sistema, que eu não tenho mais domínio, para o trabalho de produção de alimentos dentro do presídio,
nunca mais vi, se está lá é porque foi feito. como forma de melhorar a comida;
Outro lado deverão ser incluídos produtos de higiene entre os itens
Em nota, a defesa de Aldemir Bendine afirmou que ele de assistência material ao preso;
não recebeu qualquer valor. Os advogados de André Gustavo deverá ser informatizado o acompanhamento da execu-
Vieira não foram encontrados para comentar o teor do de- ção penal.
poimento.
Fonte: G1.com/ Acessado em 10/2017 O texto também promove alterações na lei que institui o
sistema nacional de políticas públicas sobre drogas.
SENADO APROVA REFORMA DA LEI DE EXECUÇÃO No ponto sobre consumo pessoal, a proposta estabelece
PENAL; PROJETO VAI À CÂMARA que compete ao Conselho Nacional de Política sobre Drogas,
PROPOSTA FOI ELABORADA POR COMISSÃO DE JU- em conjunto com o Conselho Nacional de Política Criminal e
RISTAS CRIADA PARA DEBATER O TEMA. ENTRE AS MU- Penitenciária, estabelecer os indicadores referenciais de na-
DANÇAS, ESTÁ O ESTABELECIMENTO DE LIMITE MÁXIMO tureza e quantidade da substância apreendida, compatíveis
DE OITO PRESOS POR CELA. com o consumo pessoal.
Cumprimento de pena
Senado aprovou nesta quarta-feira (4) um projeto que A proposta também prevê a possibilidade do cumpri-
promove uma reforma da Lei de Execução Penal. mento de pena privativa de liberdade em estabelecimento
Entre as mudanças previstas na proposta, está a definição administrado por organização da sociedade civil, observadas
de limite máximo de oito presos por cela. A redação em vigor as vedações estabelecidas na legislação, e cumpridos os se-
da lei, que é de 1984, prevê que o condenado “será alojado guintes requisitos:
em cela individual”, situação rara nos presídios brasileiros. Aprovar projeto de execução penal junto ao Tribunal de
Pela proposta, “em casos excepcionais”, serão admitidas Justiça da Unidade da Federação em que exercerá suas ativi-
celas individuais. dades;
A medida também possibilita, como direito do preso, a cadastrar-se junto ao Departamento Penitenciário Nacio-
progressão antecipada de regime no caso de presídio super- nal (Depen);
lotado (veja mais detalhes da proposta abaixo). habilitar-se junto ao órgão do Poder Executivo competen-
O projeto é derivado de uma comissão de juristas criada te da Unidade da Federação em que exercerá suas atividades;
pelo Senado para debater o tema. A proposta segue agora encaminhar, anualmente, ao Depen, relatório de reinci-
para análise da Câmara dos Deputados. dência e demais informações solicitadas;
A comissão trabalhou pautada em seis eixos: submeter-se à prestação de contas junto ao Tribunal de
Humanização da sanção penal; Contas da Unidade da Federação em que desenvolva suas ati-
efetividade do cumprimento da sanção penal; vidades.
ressocialização do sentenciado; Fonte: G1.com/ Acessado em 10/2017
desburocratização de procedimentos;
informatização; CONGRESSO PROMULGA EMENDA QUE EXTINGUE
previsibilidade da execução penal. COLIGAÇÕES EM 2020 E CRIA CLÁUSULA DE BARREIRA
Entre os objetivos do projeto, está a tentativa de desin- COM A PROMULGAÇÃO, CLÁUSULA DE DESEMPE-
char o sistema penitenciário no país. Para o relator da pro- NHO ELEITORAL PARA ACESSO DE PARTIDOS A RECUR-
posta, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG),o atual sistema SOS DO FUNDO PARTIDÁRIO E AO TEMPO GRATUITO DE
carcerário não está “estruturado para cumprir a sua missão RÁDIO E TV VALERÁ A PARTIR DAS ELEIÇÕES DE 2018.
legal: ressocializar”. O Congresso Nacional promulgou, em sessão solene
“Trata-se de um sistema [o atual] voltado para o encar- nesta quarta-feira (4), a Emenda Constitucional que cria uma
ceramento e para a contenção antecipada de pessoas, sem cláusula de desempenho, a partir de 2018, para as legendas
julgamento definitivo. Como resultado, cria-se um ambiente terem acesso ao Fundo Partidário e ao tempo gratuito de rá-
propício para as revoltas e as rebeliões”, justificou Anastasia. dio e TV.
Mudanças O texto também prevê o fim das coligações proporcio-
Entre outros pontos, a proposta prevê que: nais, a partir das eleições de 2020.
O trabalho do condenado passa a ser visto como par- A alteração à Constituição foi aprovada nesta terça-feira
te integrante do programa de recuperação do preso, e não (3) pelo Senado. As votações dos dois turnos da proposta na
como benesse, e passa a ser remunerado com base no salário Casa aconteceram em menos de 30 minutos. Na semana pas-
mínimo cheio, não mais com base em 75% do salário mínimo; sada, o texto havia sido aprovado pela Câmara.
estabelecimentos penais serão compostos de espaços re- A classe política tem pressa na aprovação de novas regras
servados para atividades laborais; eleitorais. Isso porque, para valerem em 2018, as modificações
gestores prisionais deverão implementar programas de precisam passar pelo Congresso até a próxima sexta-feira (6),
incentivo ao trabalho do preso, procurando parcerias junto um ano antes das próximas eleições.
às empresas e à Administração Pública Com a promulgação, a cláusula de desempenho eleitoral
deverão ser ampliadas as possibilidades de conversão para acesso de partidos a recursos do Fundo Partidário e ao
da prisão em pena alternativa; tempo gratuito de rádio e TV valerá a partir das eleições
de 2018.

2
ATUALIDADES

A emenda tem origem no Senado, onde foi aprovada em A emenda acaba com as coligações partidárias a partir de
2016. No entanto, durante análise na Câmara, os deputados 2020. Para 2018, continuam valendo as regras atuais, em que
promoveram mudanças e flexibilizaram o texto, o que levou o os partidos podem se juntar em alianças para disputar a eleição
projeto para uma nova análise dos senadores. e somar os tempos de rádio e televisão e podem ser desfeitas
Cláusula de desempenho passado o pleito. As coligações também são levadas em conta na
O texto estabelece a chamada cláusula de desempenho hora da divisão das cadeiras. Hoje, deputados federais e estaduais
nas urnas para a legenda ter acesso ao Fundo Partidário e ao e vereadores são eleitos no modelo proporcional com lista aberta.
tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV. Como tran- É feito um cálculo para a distribuição das vagas com base
sição, até 2030, a cláusula de barreira crescerá gradualmente. nos votos no candidato e no partido ou coligação. São eleitos
Nas eleições posteriores a 2030, o desempenho mínimo exigi- os mais votados nas legendas ou nas coligações.
do seria o mesmo do pleito de 2030. Saiba abaixo os critérios: Federações partidárias
Eleições de 2018 - Os partidos terão de obter, nas elei- Além de abrandar a cláusula de barreira, os deputados
ções para deputado federal, pelo menos 1,5% dos votos vá- excluíram do projeto a possibilidade de partidos com afini-
lidos, distribuídos em, no mínimo, um terço das unidades da dade ideológica se unirem em federações. A medida era uma
federação, com ao menos 1% dos votos válidos em cada uma saída para substituir, em parte, as coligações.
delas; ou ter eleito pelo menos 9 deputados, distribuídos em, Na prática, o fim das federações deverá prejudicar parti-
no mínimo, um terço das unidades da federação. dos pequenos que contam com as alianças com outras legen-
Eleições de 2022 - Os partidos terão de obter, nas eleições das para somar o tempo de rádio e TV e para garantir cadeiras
para a Câmara, pelo menos 2% dos votos válidos, distribuídos na Câmara e nas Assembleias.
em, no mínimo, um terço das unidades da federação, com ao A proposta era que os partidos com programas afins pu-
menos 1% dos votos válidos em cada uma delas; ou ter eleito dessem se juntar em federações. As legendas teriam de atuar
pelo menos 11 deputados, distribuídos em, no mínimo, um juntas não apenas durante as eleições, mas como um bloco
terço das unidades da federação. parlamentar durante toda a legislatura.
Eleições de 2026 - Os partidos terão de obter, nas eleições A ideia era garantir maior coesão entre os partidos, já que
para a Câmara, pelo menos 2,5% dos votos válidos, distribuí- atualmente siglas com pouca afinidade formam coligações e
dos em, no mínimo, um terço das unidades da federação, com as desfazem após as eleições. Desse modo, se juntos atingis-
ao menos 1,5% dos votos válidos em cada uma delas; ou ter sem as exigências da cláusula de desempenho, não perderiam
eleito pelo menos 13 deputados, distribuídos em, no mínimo, o acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de rádio e TV.
um terço das unidades da federação. Janela partidária
Eleições de 2030 - Os partidos terão de obter, nas eleições Durante análise na Câmara, os deputados também retiraram
para a Câmara, pelo menos 3% dos votos válidos, distribuídos do texto um trecho que acabava com a janela partidária seis meses
em, no mínimo, um terço das unidades da federação, com ao antes da eleição. Com isso, ficam mantidas as regras atuais em que os
menos 2% dos votos válidos em cada uma delas; ou ter eleito detentores de mandato eletivo podem mudar de partido no mês de
pelo menos 15 deputados, distribuídos em pelo menos um março do ano eleitoral sem serem punidos com perda do mandato.
terço das unidades da federação. Fonte: G1.com/ Acessado em 10/2017
Levantamento feito pelo G1 mostrou que, se as regras
previstas para 2018 estivessem em vigor nas eleições de 2014, GEDDEL, SAUD E FUNARO PROMOVEM BARRACO
14 partidos que hoje possuem acesso ao Fundo Partidário e COM AMEAÇAS DE MORTE NA PAPUDA
ao tempo gratuito de rádio e TV perderiam esses direitos. A prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, do operador
Entre os partidos que teriam sido afetados caso a regra Lúcio Funaro e de Ricardo Saud, executivo da JBS, tem provo-
estivesse valendo na eleição de 2014, seis têm atualmente re- cado uma sessão de gritaria no presídio da Papuda, em Brasília,
presentantes na Câmara: PEN, PHS, PRP, PSL, PT do B e Pode- onde estão recolhidos. Segundo relatos, Funaro aguarda o fim
mos (antigo PTN). do banho de sol e antes de voltar para a cela manda aos gritos
Outros oito, que não elegeram deputados em 2014, tam- recado para Saud, preso do outro lado: “Saud, vou te matar”,
bém seriam atingidos: PCB, PCO, PMN, PPL, PRTB, PSDC, PSTU aterroriza o delator que o entregou. Do seu lado “do muro”,
e PTC. Geddel faz coro: “Saud, também vou te matar”. Saud devolve
O levantamento não levou em consideração as legendas as provocações, mas só para Geddel. “Cala boca, seu gordo!”
criadas após 2014 e que têm bancadas na Câmara: Rede e No seu quadrado. Os três estão separados e não se en-
PMB. contram no banho de sol, justamente para evitar que cum-
A proposta atual foi flexibilizada com relação à que foi pram a promessa. Há, inclusive, revezamento entre os advo-
aprovada pelo Senado em 2016. Se prevalecesse a versão gados para que eles não se esbarrem nem no parlatório.
original do texto, 19 partidos seriam barrados. Siglas tradi- Fonte: O estadão. Acessado em 10/2017
cionais, como o PPS e o PC do B, seriam afetadas. Outras, de
criação mais recente, também seriam prejudicadas. É o caso CÂMARA GARANTE FUNDO BILIONÁRIO PARA
de PSOL, PROS e PV. ABASTECER CAMPANHAS EM 2018
A flexibilização da cláusula de barreira foi necessária Em uma sessão tumultuada, a Câmara aprovou na noi-
para que a proposta pudesse ser aprovada na Câmara. te desta quarta-feira, 4, o projeto que cria um fundo pú-
Diante do prazo exíguo, os senadores aceitaram o texto blico bilionário para financiar as campanhas do ano que
modificado pelos deputados para garantir que a cláusula vem. Assim que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia
valha em 2018. (DEM-RJ), proclamou o resultado, deputados protestaram
Fim das coligações contra a votação e quase partiram para a agressão física.

3
ATUALIDADES

O texto segue agora para a sanção presidencial. Para que Desde 2016, com as mudanças ocorridas no Poder Execu-
os partidos possam ter acesso ao dinheiro para realizar o pro- tivo, os advogados afirmam que há notícias de que o gover-
cesso eleitoral em 2018, as novas regras têm de ser sanciona- no italiano pretende intensificar as pressões sobre o governo
das pelo presidente Michel Temer até 7 de outubro. brasileiro para obter a extradição.
Apesar de os parlamentares afirmarem que o fundo será O alegado risco levou à impetração do HC 136898, que
de R$ 1,7 bilhão, o texto não estabelece um teto para o valor, teve seguimento negado. Naquele habeas corpus, o ministro
e sim um piso, ao dizer que o fundo será “ao menos equiva- Luiz Fux entendeu que não havia ato concreto de ameaça ou
lente” às duas fontes estabelecidas pelo projeto. restrição ilegal do direito de locomoção que justificasse a con-
A proposta estabelece que pelo menos 30% do valor das cessão da ordem.
emendas de bancadas sejam direcionadas para as campanhas No novo HC, a defesa argumenta que, segundo notícias
eleitorais. A segunda fonte de recursos virá da transferência veiculadas recentemente, há um procedimento sigiloso em
dos valores de compensação fiscal cedidos às emissoras de curso visando à revisão do ato presidencial que negou a ex-
rádio e televisão que transmitem propagandas eleitorais, que tradição em 2010.
serão extintas. O horário eleitoral durante o período de cam- Os advogados também informam que Battisti tem soli-
panha, no entanto, foi mantido. citado certidões e informações ao Ministério Público Fede-
O fundo público para abastecer as campanhas é uma me- ral, Ministério da Justiça, Ministério das Relações Exteriores e
dida alternativa ao financiamento empresarial de campanha, Casa Civil a fim de obter cópias de procedimentos sobre ele,
proibido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2015. mas até o momento nenhuma informação foi prestada. Ou-
No começo da discussão, o Congresso chegou a cogi- tro argumento é a existência de ação civil pública pela qual o
tar um fundo que chegaria a R$ 3,6 bilhões. A articulação foi Ministério Público pretende a declaração da nulidade do ato
encabeçada pelo líder do governo no Senador, Romero Jucá que concedeu visto de permanência a Battisti, e, consequen-
(PMDB-RR), com apoio de partidos da oposição, como o PT, temente, sua deportação.
PDT e PCdoB. O juízo da 20ª Vara Federal do Distrito Federal julgou pro-
A sessão que aprovou a proposta foi tumultuada. O prin- cedente a ação e determinou a imediata prisão administrativa
cipal protesto dos deputados foi pelo fato de a votação do do italiano, mas a ordem foi suspensa liminarmente pelo Tri-
texto-base do projeto ter sido simbólica. Um dos que prota- bunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Finalmente, ale-
gonizaram a confusão foi o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). gam que Battisti casou-se com uma brasileira e tem um filho
Ele foi à tribuna e classificou como “vergonha” a votação ter que depende econômica e afetivamente dele, o que impede
sido nominal. Para ele, os deputados que apoiam o fundo não a sua expulsão.
quiseram deixar a “digital” na aprovação da medida. Apontando risco iminente e irreversível, a defesa pede a
Fonte: O estadão. Acessado em 10/2017 concessão de liminar para obstar eventual extradição, depor-
tação ou expulsão a ser levada a efeito pelo presidente da
PF AUTUA BATTISTI EM FLAGRANTE POR EVASÃO DE República. No mérito, pede-se a confirmação da liminar ou a
DIVISAS E LAVAGEM DE DINHEIRO conversão do HC em reclamação a fim de preservar a auto-
A Polícia Federal indiciou o ativista italiano Cesare Battisti ridade de decisão do STF que reconheceu que a negativa de
por evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Battisti foi preso extradição é insindicável pelo Poder Judiciário (RCL 11423),
em flagrante nesta quarta-feira, 4, quando estava tentando determinando-se assim o trancamento da ação civil pública.
atravessar a fronteira para a Bolívia com US$ 6 mil – quantia Fonte: O estadão. Acessado em 10/2017
superior a R$ 10 mil em dinheiro.
Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália sob acusa- FICHA LIMPA ATINGE CONDENADOS ANTES DE 2010,
ção de quatro assassinatos. No último dia de seu segundo man- DECIDE STF
dato, em 2012, o então presidente Lula assinou decreto no qual POR 6 A 5, MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL FE-
negou ao governo italiano o pedido de extradição do ativista. DERAL NEGARAM RECURSO DO VEREADOR DE NOVA
O italiano não teria declarado o dinheiro. Os federais que- SOURE, NA BAHIA, QUE FOI BARRADO DAS ELEIÇÕES
rem saber o que o ativista pretendia fazer com a quantia no DE 2012 POR UMA CONDENAÇÃO EM 2004, ANTES DA
país vizinho. APROVAÇÃO DA LEI
Após ser detido, segundo a PF, ‘agentes da Delegacia de Por 6 a 5, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta
Corumbá averiguaram a situação em que Battisti se encontra- quarta-feira (4) que o prazo de oito anos de inelegibilidade fixa-
va na região de fronteira’. do pela Lei da Ficha Limpa pode ser aplicado inclusive para can-
Em 27 de setembro, os advogados de Battisti entraram didatos que tenham sido condenados antes da publicação da lei,
com um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) em 2010. Com o plenário dividido, coube à presidente da Corte,
para barrar a possibilidade de extradição, deportação ou ex- ministra Cármen Lúcia, desempatar o placar e definir o resultado.
pulsão pelo presidente da República. O relator é o ministro Os ministros ainda definirão nesta quinta-feira (5) se vão
Luiz Fux. Battisti teve sua extradição pedida pela Itália. modular a decisão da Corte, o que poderia limitar o alcance
Em 2011, o Supremo arquivou uma Reclamação ajuiza- do entendimento firmado no julgamento. O relator do caso,
da pelo governo da Itália contra o ato de Lula, e determi- ministro Ricardo Lewandowski, alertou ao final da sessão
nou a soltura do italiano. para o risco de prefeitos, vereadores e deputados atual-
A defesa de Battisti sustenta que, desde então, têm ha- mente no exercício do mandato serem cassados.
vido ‘várias tentativas ilegais’ de remetê-lo para o exterior “Essa matéria foi exaustivamente analisada pelo Tribu-
por meio de outros mecanismos, como a expulsão e a de- nal Superior Eleitoral, prevalecendo esse entendimento (de
portação. retroatividade) de maneira correta”, disse Cármen Lúcia.

4
ATUALIDADES

A Lei da Ficha Limpa prevê que são inelegíveis os candidatos O relator não verificou um dos requisitos para a conces-
condenados por abuso de poder econômico ou político para a elei- são da medida cautelar – a plausibilidade jurídico do pedido
ção na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como (fumus boni iuris).
para as que se realizarem nos oito anos seguintes. A legislação an- As informações foram divulgadas no site do Supremo.
terior previa um prazo de apenas três anos. Em 2011, o STF decidiu Para a defesa de Jatene, o suposto crime apontado pelo
que a Lei da Ficha Limpa valeria apenas a partir das eleições de 2012. Ministério Público Federal ocorreu em setembro de 2002,
“Jamais vi uma situação idêntica em que se coloca em se- portanto, aplicando o prazo prescricional do artigo 109, in-
gundo plano, de forma clara, ostensiva, a segurança jurídica. ciso III, do Código Penal (CP), a extinção da punibilidade teria
A sociedade não pode viver em sobressaltos, muito menos ocorrido em setembro de 2014.
sobressaltos provocados pelo Supremo. Retroação da lei, pra O relator do caso no STJ reconheceu monocraticamente a
mim, é o fim em termos de Estado Democrático de Direito”, prescrição da pretensão punitiva.
disse o ministro Marco Aurélio Mello, que votou nesta quarta- Em exame de agravo regimental, no entanto, a Corte enten-
feira contra a retroatividade da lei. deu que o suposto crime teve continuação em 2003, quando Jate-
“A questão é muito séria, porque inaugura mediante a voz ne, ao assumir o governo, teria repactuado a proposta original para
do Supremo o vale tudo, que não se coaduna com o Estado que o pagamento das vantagens indevidas fosse feito em parcelas.
Democrático de Direito”, concluiu Marco Aurélio. Com isso, o STJ, levando em conta outros aspectos para
A aplicação do prazo de oito anos de inelegibilidade para a definição da prescrição – como a incidência de causa de
políticos condenados antes da publicação da Lei da Ficha Lim- aumento da pena referente a ocupação de função pública -,
pa também foi criticada pelo ministro Gilmar Mendes. afastou a prescrição e manteve a tramitação do processo para
“Quando o legislador concebe mudanças – e são neces- posterior análise do recebimento da denúncia.
sárias mudanças – é óbvio que faz pra frente. ‘Ah, mas nós O ministro Luiz Fux apontou que ‘a matéria de fundo do
queremos atingir fatos passados’. Então rasgue a Constitui- habeas exige uma análise mais detida, pois a pretensão da
ção, porque isso não passa no teste inclusive do ato jurídico defesa impõe a avaliação aprofundada entre os fatos citados
perfeito, da coisa julgada. ‘Ah, mas queremos aplicar o princí- na denúncia e o que foi decidido pelo STJ’.
pio da moralidade’. Isso é direito nazifascista, não tem nada a O ministro lembrou ainda que ‘a concessão de medida
ver conosco, com o nosso sistema”, disse Gilmar. cautelar pressupõe o atendimento concomitante dos requisi-
O plenário do STF se dividiu na questão. Além de Cár- tos do fumus boni iuris e do perigo da demora, não tendo sido
men, votaram pela retroatividade do prazo de inelegibilidade demostrado, de plano, o preenchimento do primeiro requisito’.
os ministros Luiz Fux, Rosa Weber, Edson Fachin, Dias Toffoli Fonte: O estadão. Acessado em 10/2017
e Luís Roberto Barroso. Em sentido contrário se posicionaram
Gilmar, Marco Aurélio, Lewandowski, Alexandre de Moraes e ECONOMIA
o decano da Corte, Celso de Mello. LATAM VENDE SUBSIDIÁRIA DE SERVIÇOS NO CHILE
A discussão girou em torno do caso do ex-vereador Diler- POR US$ 38,4 MILHÕES
mando Fereira Soares contra decisão do Tribunal Superior Elei- OPERAÇÃO VAI RENDER À EMPRESA UM LUCRO DE
toral (TSE) que rejeitou o registro de sua candidatura à reeleição US$ 20 MILHÕES NO BALANÇO DO QUARTO TRIMESTRE
no município de Nova Soure, na Bahia, nas eleições de 2012. DESTE ANO, INFORMOU A COMPANHIA.
Como o caso tem repercussão geral, a tese a ser firmada nesta O grupo aéreo Latam anunciou nesta quinta-feira (5) que
quinta-feira valerá para diversas instâncias em todo o País. assinou acordo de venda de 100% do capital da empresa de
Dilermando foi alvo de condenação judicial que transitou serviços aeroportuários Andes Aiport Services SA, que era
em julgado em 2004. Depois de cumprir o prazo de três anos controlado pela holding, para a Acciona Airport Services SA
de inelegibilidade baseado na legislação anterior, conseguiu por 24,3 bilhões de pesos chilenos (US$ 38,4 milhões).
se eleger vereador em 2008. Em 2012, tentou a reeleição, mas A operação vai render à Latam um lucro de US$ 20 mi-
teve o registro de candidatura impugnado com base no novo lhões no balanço do quarto trimestre deste ano, informou a
prazo de oito anos de impedimento fixado pela Lei da Ficha companhia em comunicado.
Limpa, que já estava em vigor. De acordo com o texto, a Andes Aiport Services SA realiza
Fonte: O estadão. Acessado em 10/2017 serviços aeroportuários, como manuseio de bagagens, abas-
tecimento de combustível, limpeza e suprimento de alimen-
FUX NEGA LIMINAR E MANTÉM PROCESSO CONTRA tos e bebidas nas aeronaves.
SIMÃO JATENE POR CORRUPÇÃO Juntamente com a venda, foi assinado acordo por meio
GOVERNADOR DO PARÁ, DENUNCIADO PELO MI- do qual a Andes Aiport Services vai continuar atendendo a
NISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, TENTAVA POR MEIO DE Latam em Santiago por pelo menos cinco anos.
HABEAS CORPUS SUSPENDER AÇÃO EM QUE É ACUSA- Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
DO DE RECEBIMENTO DE ‘VANTAGENS INDEVIDAS’ DA
CERVEJARIA CERPA SOB ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO ALTA NAS VENDAS DE CARROS NOVOS NÃO IMPEDE
O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, negou AUMENTO DE NEGOCIAÇÃO DE USADOS
liminar no Habeas Corpus (HC) 148138 por meio da qual a PUXADAS PELOS SEMINOVOS, VENDAS DE VEÍ-
defesa do governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), pedia CULOS DE ‘SEGUNDA MÃO’ SOBEM 8,4% DE JANEIRO
para suspender processo no Superior Tribunal de Justiça A SETEMBRO, NA COMPARAÇÃO COM 2016. AS DOS
(STJ) em que foi denunciado pela suposta prática de cor- ZERO QUILÔMETRO ACUMULAM AUMENTO DE 8%.
rupção passiva, pelo suposto recebimento de vantagens O reaquecimento das vendas de carros zero no Brasil não
indevidas da cervejaria Cerpa. impede que a procura pelos usados continue aumentando.

5
ATUALIDADES

As negociações desses veículos cresceram 4,7% em se- Para o final de novembro de 2017, quando tipicamente se
tembro, na comparação com 1 ano atrás, de acordo com da- inicia o replecionamento dos reservatórios devido ao aumen-
dos da federação dos distribuidores, a Fenabrave. to das afluências, a expectativa é que os armazenamentos
A entidade considera os registros de transferência de do- equivalentes dos subsistemas Sul, Nordeste e Norte atinjam
cumentos do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). valores inferiores aos verificados em 2014, ano mais crítico do
De janeiro a setembro, foram negociados 7,9 milhões de histórico recente.
automóveis e comerciais leves (picapes e furgões) usados, um O subsistema Sudeste/Centro-Oeste deve alcançar arma-
volume 8,5% mais alto que o registrado no mesmo período zenamento próximo ao verificado em 2014, segundo o CMSE.
do ano passado. Dessa forma, “o CMSE reiterou a importância de viabiliza-
Já as vendas de carros novos cresceram 7,9% sobre os 9 ção de recursos adicionais de usinas termelétricas que se en-
primeiros meses de 2016, com 1,5 milhão de unidades. contram no momento operacionalmente disponíveis, porém
Base fraca sem combustível”.
O aumento na venda dos zero quilômetro, no entanto, “Assim, o Comitê encaminhará correspondência à Petro-
é em relação a uma base mais fraca que a dos carros usa- bras solicitando gestão da empresa no sentido de viabilizar
dos, que, no ano passado, terminaram com estabilidade sobre o fornecimento de combustível a essas usinas”, disse a nota,
2015, enquanto as vendas de carros novos caíram ainda mais. sem identificar motivos para a falta de combustível.
Segundo a Fenabrave, a cada 4 automóveis zero quilôme- No caso de uma operação térmica da Eletrobras no Norte
tro emplacados em setembro último, 6 usados foram nego- do país, a Petrobras tem sido forçada por decisão judicial a
ciados. A entidade diz que uma média normal é de 1 para 3. fornecer o combustível, uma vez que a estatal do setor elé-
Seminovos lideram trico tem uma dívida bilionária com a petroleira, que tem se
Quando analisada a venda por “idade” dos veículos usa- negado a vender o produto.
dos, os seminovos, como são chamados os que têm até 3 Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
anos rodados, foram os únicos a registrar alta no mês pas-
sado, segundo a Fenauto, federação que também contabiliza BNDES ESPERA DESEMBOLSOS DE R$ 110 BILHÕES A
dados do segmento. R$ 120 BILHÕES EM 2018
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 VALOR REPRESENTA UM CRESCIMENTO DE ATÉ 50% EM
RELAÇÃO AOS R$ 80 BILHÕES PREVISTOS PARA ESTE ANO.
GOVERNO DIZ QUE ABASTECIMENTO DE ELETRICI- Os empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento
DADE ESTÁ ASSEGURADO APESAR DE SECA Econômico e Social (BNDES) devem oscilar entre R$ 110 bi-
NO FIM DO PERÍODO SECO, HIDRELÉTRICA DE SO- lhões e R$ 120 bilhões em 2018, um crescimento de até 50%
BRADINHO, NO RIO SÃO FRANCISCO, TERÁ ARMAZENA- em relação aos R$ 80 bilhões previstos para este ano, disse
MENTO ZERO, APONTAM ESTIMATIVAS DO COMITÊ DE nesta quarta-feira (4) o diretor da área financeira da institui-
MONITORAMENTO DO SETOR ELÉTRICO (CMSE) ção, Carlos Thadeu de Freitas.
Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) afir- “Hoje, o que puxa a economia ainda é o consumo, apesar
mou nesta quarta-feira (4) que as condições de abastecimen- de restrições, mas no ano que vem será o investimento que
to de energia elétrica no país estão asseguradas, apesar das está num patamar pífio”, disse Freitas em entrevista à Reuters.
previsões de chuvas abaixo da média em grande parte das Neste ano até agosto, os desembolsos do BNDES somam
regiões de hidrelétricas do Brasil e dos níveis críticos dos re- cerca de R$ 45 bilhões, com isso, a expectativa do banco é de
servatórios do Nordeste. uma aceleração nos últimos meses do ano.
Segundo nota do órgão formado por autoridades da O superintendente da área financeira do BNDES, Selmo
área de energia do governo após reunião nesta quarta-feira, Aronovich, afirmou que espera que no último trimestre de 2017
o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou os desembolsos operem em no mínimo R$ 10 bilhões ao mês.
simulações atualizadas de expectativa de armazenamento nas “A média do último trimestre será de pelo menos 10 bilhões
hidrelétricas Três Marias e Sobradinho ao longo do período de reais... Concessões, retomada da economia e juros baixos
seco, utilizando os piores cenários de afluências verificados justificam esse otimismo”, disse o superintendente à Reuters.
no histórico, “que têm se aproximado da realidade vivenciada Segundo Freitas, as consultas de interessados em em-
atualmente”. préstimos do BNDES “estão melhorando razoavelmente bem,
E os resultados apontam para o atingimento dos níveis por isso a expectativa de desembolso para o ano que vem é
de armazenamento, ao final do período seco, em novembro de entre 110 bilhões e 120 bilhões de reais”, afirmou ele citan-
de 2017, de 4,2% na hidrelétrica de Três Marias e de zero para do as Finame e para capital de giro. A expectativa é baseada
Sobradinho, no rio São Francisco. em um crescimento do PIB de 3% a 4% em 2018.
Ainda assim, com a região Nordeste sendo suprida por O diretor da área financeira comentou que o banco deve
outras fontes de energia, como eólica e térmica, o CMSE ava- captar entre 2 bilhões e 3 bilhões de dólares nos mercados
lia que é zero o risco de qualquer déficit de energia em 2017 externos em 2018, como forma de fazer frente a obrigações
para os subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste. de desembolsos e atender em parte à chamada do governo
Com base nos resultados apresentados pelo ONS para federal para devolver recursos ao Tesouro.
diferentes cenários de período úmido, o CMSE reiterou a “Hoje é possível captar 2 bilhões a 3 bilhões (de dóla-
importância de que sejam adotadas medidas necessárias res) no exterior... Obviamente, o banco vai se voltar a cap-
para preservação dos estoques dos reservatórios das usi- tações externas, que é mais barato, porém não tão barato
nas hidrelétricas do Rio São Francisco, a fim de proporcio- quando o dinheiro que veio do Tesouro Nacional”, disse
nar segurança hídrica para a bacia no próximo ano. Freitas.

6
ATUALIDADES

Ele estimou que em nome da prudência bancária o BN- O rombo cresce há 7 anos e atinge, sobretudo, fundos de
DES precisa ter em caixa, livre e disponível em 2018, 8 por cen- pensão de estatais. Do déficit total, 88% do valor está concen-
to do total das operações ativas, o equivalente a um “caixa pru- trado em apenas 10 planos, segundo a associação.
dencial entre 60 e 70 bilhões” de reais. O banco tinha em caixa O total de participantes ativos nos fundos supera 2,5 mi-
até final de agosto cerca de R$ 170 bilhões, sendo que boa lhões e os assistidos chegam a mais de 735 mil, segundo a
parte dos recursos já estava comprometida em financiamentos. associação.
Mais cedo, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Cas- A Abrapp informou também que os ativos totais do siste-
tro, afirmou durante evento em São Paulo que a devolução ma somavam R$ 808 bilhões em junho. A rentabilidade média
em 2018 de 130 bilhões de reais cobrada do banco pelo go- do setor no primeiro semestre foi de 4,24%, pouco abaixo da
verno “é materialmente improvável”. meta atuarial de 4,44%.
Questionado a respeito das demandas do governo, Frei- A Superintendência Nacional de Previdência Comple-
tas lembrou que como o Brasil mergulhou em crise em 2015 mentar (Previc), vinculada ao Ministério da Fazenda, decretou
e 2016, a demanda por recursos do banco foi fraca e por isso nesta quarta-feira intervenção no fundo de pensão dos fun-
os valores que o BNDES tem a receber nos próximos meses cionários dos Correios, o Postalis, por um prazo de 180 dias.
também será fraca. “Vai haver uma defasagem de uma volta A Abrapp considera que a intervenção no Postalis é uma
fraca e demanda forte. Temos que atentar a isso e o banco exceção dentro do sistema.
tem que ter caixa mínimo”, disse o diretor. “O sistema está conseguindo pagar seus benefícios nor-
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 malmente”, disse o presidente da Abrapp, Luis Ricardo Mar-
tins, a jornalistas na abertura do congresso anual da Abrapp.
FUNDO DE PENSÃO DA CAIXA DECIDE VENDER FATIA “Temos um sistema sólido, que paga sem atrasos os direitos
NA ELDORADO dos participantes”.
J&F FECHOU EM SETEMBRO ACORDO DE VENDA DO Para o presidente da Abrapp, o mais importante nesse
CONTROLE DA ELDORADO PARA O GRUPO HOLANDÊS momento é garantir aos participantes do Postalis todos os be-
PAPER EXCELLENCE POR CERCA DE R$ 15 BILHÕES. nefícios a que eles têm direito.
A Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Eco- Outro fundo de pensão com alto déficit é o dos funcio-
nômica Federal, anunciou nesta quarta-feira (4) que decidiu nários da Petrobras, o Petros. Em setembro, foi anunciado que
exercer o direito de vender a participação de 8,53% na Eldo- os funcionários da Petrobras terão de pagar parcelas extras
rado Brasil Celulose. Segundo a agência Reuters, o valor da de R$ 236 a R$ 3,6 mil mensais como parte do plano para
operação é avaliado em cerca de R$ 650 milhões. equacionar um rombo de mais de R$ 27 bilhões.
O fundo de pensão investe na Eldorado por meio de co- O acordo prevê que a Petrobras deverá gastar R$ 12,8
tas do fundo de investimento FIP Florestal. bilhões ao longo de 18 anos para equacionar o déficit do Pe-
“A Fundação agora iniciará as negociações do contrato tros. Apenas no primeiro ano, o desembolso previsto para a
de compra e venda de cotas com a Paper Excellence, empresa empresa será de R$ 1,4 bilhão. Já a BR Distribuidora entrará
com sede na Holanda que fez uma oferta para adquirir a fa- com R$ 900 milhões.
bricante de celulose”, informou a Funcef. Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
No dia 2 de setembro, o grupo J&F, holding que controla
a JBS, anunciou que fechou acordo de venda do controle da UBER LIMITA PODER DO EX-PRESIDENTE E ABRE ES-
Eldorado para o grupo holandês Paper Excellence por cerca PAÇO PARA INVESTIMENTO DE GRUPO JAPONÊS
de R$ 15 bilhões. AS ALTERAÇÕES NA POLÍTICA DE GESTÃO APROVA-
A Funcef, assim como a Petros, fundo de pensão dos em- DAS PELA DIRETORIA, QUE DEPENDEM DO INVESTIMEN-
pregados da Petrobras, tinham o direito de exercer sua opção TO DO SOFTBANK, INCLUEM A ELIMINAÇÃO DO ‘SUPER-
de venda na companhia em até 30 dias. VOTO’ DE ALGUMAS AÇÕES, COMO AS CONTROLADAS
Atualmente, a J&F detém 80,98% do capital da Eldorado. POR KALANICK.
A fatia restante pertence a Petros (8,53%), Funcef (8,53%) e FIP O conselho de administração do Uber aprovou em reu-
Olimpia (1,96%). nião nesta terça-feira (3) um plano que reduz a influência do
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 ex-presidente executivo da empresa Travis Kalanick e abre a
porta para um investimento colossal do grupo de telecomu-
DÉFICIT ACUMULADO DE FUNDOS DE PREVIDÊNCIA nicações japonês SoftBank.
COMPLEMENTAR SOBE PARA R$ 77,6 BI, DIZ ABRAPP A proposta adotada pela diretoria do Uber também pro-
PARA O PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA mete acabar com os confrontos entre partidários de Kalanick
DAS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA COMPLE- e investidores que suspeitam que o fundador da empresa
MENTAR, SITUAÇÃO DO POSTALIS É EXCEÇÃO E O SISTE- pretende voltar à direção.
MA ESTÁ BEM CAPITALIZADO. “Hoje, após dar as boas-vindas aos novos diretores Ursu-
O déficit acumulado dos fundos fechados de previdência com- la Burns e John Thain, a diretoria aprovou, por unanimidade,
plementar subiu para R$ 77,6 bilhões em junho, ante R$ 71,7 bilhões avançar com o investimento do SoftBank e modificar a po-
no fim de 2016, informou nesta quarta-feira (4) a Associação Brasilei- lítica de administração empresarial para fortalecer sua inde-
ra das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). pendência e garantir a igualdade entre todos os acionistas”,
O déficit é a diferença entre o patrimônio de um plano e informou o Uber em e-mail.
seus compromissos com pagamentos atuais e futuros. Segun- “O interesse do SoftBank é um incrível voto de confiança
do o balanço da Abrapp, dos 681 fundos de pensão no país, no negócio do Uber e em seu potencial a longo prazo, e es-
220 apresentam déficit, ao passo que 461 registram superávit. peramos concluir este investimento nas próximas semanas”.

7
ATUALIDADES

A previsão é de que o Softbank injete entre US$ 1 bi- PREÇO DA CESTA BÁSICA DE MANAUS REDUZ 0,70%
lhão e US$ 1,25 bilhão na empresa com sede em San Fran- E FICA EM R$ 355,47 EM SETEMBRO
cisco, cujo valor atual é de US$ 69 bilhões, segundo uma COM QUEDA DO VALOR DA CESTA, MANAUS PAS-
fonte ligada ao assunto. SOU A OCUPAR A 14° COLOCAÇÃO NO RANKING DAS
Como medida de investimento secundário, o grupo ja- CESTAS BÁSICAS MAIS CARAS DO PAÍS.
ponês lançaria uma oferta pública para comprar entre 14% O custo da cesta básica de Manaus diminuiu em relação
e 17% das ações em circulação de grandes investidores, ao mês anterior ficando em R$ 355,47, de acordo com pes-
segundo a fonte. quisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística
As alterações na política de gestão aprovadas pela e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Com a queda do valor
diretoria, que dependem do investimento do SoftBank, da cesta, Manaus passou a ocupar a 14° colocação no ran-
incluem a eliminação do “super-voto” de algumas ações, king das cestas básicas, dentre as 21 capitais onde, atualmen-
como as controladas por Kalanick, visando limitar a in- te é realizada. Açúcar (-9,60%) foi o produto que apresentou
fluência dos fundadores do Uber. maior queda no mês seguido da farinha (-6,74%).
Também há a exigência de mais de dois terços dos vo- O preço da cesta básica de Manaus, composta por 12 pro-
tos da diretoria para a aprovação de um novo diretor-exe- dutos, teve variação de -0,70% em relação ao mês de agosto. No
cutivo. mês anterior o conjunto de itens alimentícios essenciais custava R$
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 357,97. Em setembro de 2016 a cesta básica custou R$ 401,44 e a
variação acumulada nos últimos doze meses ficou em -11,45%.
LUCRO DA MONSANTO CRESCE 70% NO ANO FIS- Na capital amazonense, sete produtos apresentaram
CAL DE 2017, PARA US$ 2,26 BILHÕES queda e cinco tiveram alta no mês analisado.
COMPANHIA ATRIBUIU MAIORES VENDAS A À Em setembro de 2017, houve predominância de queda
ADOÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS PARA A SOJA NA nos preços do açúcar, da farinha, óleo de soja e tomate. Por
AMÉRICA E AOS PREÇOS GLOBAIS DO MILHO. outro lado, houve aumento da banana, pão e manteiga o que
A norte-americana Monsanto reportou lucro líquido de influenciou na diminuição do custo da Cesta em Manaus.
US$ 2,26 bilhões no ano fiscal de 2017, encerrado em 31 de O açúcar (-9,60%) foi o produto que apresentou maior
agosto, resultado cerca de 70% maior em comparação com queda no mês seguido da farinha (-6,74%), do óleo de soja
US$ 1,33 bilhão registrados em 2016. (-5,28%), do tomate (-4,00%), do feijão (-3,84%), do leite
No resultado trimestral, a companhia reverteu o pre- (-2,33%) e do arroz (-0,61%). A banana (3,40%) foi o produto
juízo líquido de US$ 191 milhões do quarto trimestre fiscal que apresentou maior alta no mês seguido do pão (1,67%), da
do ano passado, em lucro de US$ 20 milhões no mesmo manteiga (1,09%), da carne (1,08%) e do café (0,48%).
período de 2017. Os dados foram divulgados na manhã Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
desta quarta-feira (4) em balanço financeiro da empresa.
O lucro por ação ficou em US$ 5,09 no ano fiscal de QUANTIDADE DE PEDIDOS DE RECUPERAÇÃO JUDI-
2017, superior aos US$ 2,99 obtidos um ano antes. CIAL CAI 58,6% EM SETEMBRO, DIZ SERASA.
De acordo com a Monsanto, este desempenho “deverá COMPARAÇÃO É COM O MESMO MÊS DE 2016; NÚ-
crescer no primeiro trimestre do ano fiscal de 2018”. Para MERO DE FALÊNCIAS TAMBÉM CAIU.
o quarto trimestre, a empresa registrou lucro por ação de O número de empresas que pediram recuperação judicial
US$ 0,05, em comparação com uma perda por ação de US$ caiu 58,6% em setembro ante o mesmo mês do ano passa-
0,44 em 2016. do. Foram 101 requerimentos. Na comparação com agosto, a
A receita do quarto trimestre subiu 4,8%, para US$ 2,69 queda foi de 41,3%.
bilhões, ante US$ 2,56 bilhões em igual intervalo de um Os dados são da Serasa Experian e foram divulgados nes-
antes, enquanto o consenso dos analistas consultados pela ta quarta-feira (4).
FactSet apontava para uma queda a US$ 2,50 bilhões. De acordo com os economistas da instituição, a retomada
A companhia atribuiu os resultados de vendas à ado- do crescimento econômico e a redução da taxa de juros estão
ção de novas tecnologias para a soja na América e os pre- contribuindo para a diminuição dos pedidos de recuperação ju-
ços globais do milho. dicial em 2017, após os níveis recordes atingidos no ano passado.
O Ebit (lucro antes de juros e impostos) ficou em US$ As micro e pequenas empresas foram as que mais preci-
3,26 bilhões no acumulado de 2017, em comparação com saram de intervenção da Justiça nos negócios, com 59 pedi-
US$ 2,41 bilhões registrados no ano fiscal anterior. Na aná- dos em setembro. As médias vieram na sequência, com 26. As
lise trimestral, houve retração de US$ 62 milhões, porém, grandes companhias fizeram 16 pedidos.
inferior à redução de US$ 103 milhões do quarto trimestre No acumulado de janeiro a setembro, foram 1.087 solicita-
de 2016. ções de recuperação judicial, 26,5% menos que no mesmo perío-
Considerando a pendente fusão com a Bayer, que de- do de 2016, quando haviam sido registradas 1.479 ocorrências.
verá ser concluída apenas no início de 2018, a Monsanto Nos primeiros nove meses do ano, as micro e peque-
disse que não forneceria guidance para 2018. No entanto, nas empresas fizeram 632 pedidos, enquanto as médias
um dos segmentos que continuará sendo chave é a tec- requisitaram 292 e as grandes, 163.
nologia Intacta RR2 PROTM para a soja da América do Sul. Falências
O acordo com a Bayer envolve o volume financeiro de Ainda de acordo com o levantamento da Serasa, os pe-
US$ 57 bilhões e deverá criar o maior fornecedor mundial didos de falência caíram 4,3% em setembro na comparação
de agrotóxicos e sementes geneticamente modificadas. anual (178 ante 186). Frente a agosto deste ano, porém, foi
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 registrado aumento de 7,9%.

8
ATUALIDADES

Novamente as micro e pequenas empresas lideraram a A cidade é uma das últimas grandes localidades do Iraque sob
lista, com 99 requerimentos de falência, seguidas pelas gran- controle do EI, depois que os extremistas foram expulsos nos últimos
des empresas, com 40, e pelas médias, com 39. meses de grande parte dos territórios que dominavam desde 2014.
No acumulado do ano até setembro foram contabiliza- Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
dos 1.329 pedidos de falência, queda de 5,4% ante o mesmo
período de 2016, quando foram registrados 1.405. CINCO RAZÕES PELAS QUAIS AS LEIS SOBRE ARMAS
Nos primeiros nove meses deste ano, as micro e peque- NÃO MUDAM NOS ESTADOS UNIDOS
nas empresas fizeram 705 pedidos, enquanto as grandes soli- APESAR DE ONDA DE CLAMORES POR MAIOR CON-
citaram 337 e as médias, 287. TROLE DE ARMAS TODA VEZ QUE HÁ UM MASSACRE
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 COMETIDO POR UM ATIRADOR, EM ÂMBITO FEDERAL,
PELO MENOS, QUASE NÃO HOUVE AVANÇO NESSA DI-
INTERNACIONAL REÇÃO EM DÉCADAS.
Se a história soa familiar é porque uma dinâmica parecida
WASHINGTON QUER MIL SOLDADOS ADICIONAIS tem se repetido nos últimos anos toda vez que um novo inciden-
DA OTAN NO AFEGANISTÃO te envolvendo violência armada ganha as manchetes nos EUA.
MINISTROS DA DEFESA DOS 29 PAÍSES DO GRUPO SE Após o massacre em Las Vegas, em que 58 pessoas foram
REUNIRÃO EM NOVEMBRO EM BRUXELAS PARA DEBA- mortas e mais de 500 feridas por um único atirador, ativistas
TER DE FORMA MAIS PRECISA AS SUAS CONTRIBUIÇÕES. novos e antigos foram a público pedir leis que restrinjam a
O governo dos Estados Unidos vai pedir a seus aliados da aquisição e o porte de armas.
Otan que contribuam com mil soldados adicionais para ajudar na Em âmbito federal, pelo menos, os clamores por uma nova
luta contra os talibãs no Afeganistão, afirmou a nova embaixado- legislação não levaram a quase nenhuma ação em décadas,
ra da Washington na Organização do Tratado do Atlântico Norte. apesar de inúmeras pesquisas mostrando apoio público gene-
Kay Bailey Hutchison indicou que os mil soldados das ralizado a medidas como reforço na checagem de antecedentes
forças aliadas se uniriam aos 3.000 militares adicionais ame- e proibição de armas de alto poder letal, como fuzis de assalto.
ricano que seguem para o Afeganistão, como parte da nova Com um índice tão alto de vítimas fatais desta vez, no ata-
estratégia do presidente Donald Trump para o país. que em Las Vegas, talvez a pressão por mudança seja maior. Mas
A embaixadora disse que o pedido americano à Otan - aqui estão cinco grandes obstáculos que existem nesse caminho.
cuja missão contribui para a formação do exército afegão - 1. A Associação Nacional do Rifle
ainda não é definitivo. A Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês) é um
“Nosso objetivo é dizer muito rapidamente, em duas se- dos grupos de interesse mais influentes da política americana -
manas, o que precisamos exatamente”, afirmou. não apenas por causa do dinheiro gasto com lobby, mas também
Os ministros da Defesa dos 29 países da Aliança Atlântica por causa do engajamento de seus cinco milhões de membros.
se reunirão em novembro em Bruxelas para debater de forma A entidade se opõe à maioria das propostas para forta-
mais precisa as suas contribuições. lecer a regulamentação de armas de fogo e está por trás de
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 esforços em âmbitos federal e estadual para reverter várias
restrições a propriedade de armas.
FORÇAS IRAQUIANAS RETOMAM DO ESTADO ISLÂ- Em 2016, a NRA gastou US$ 4 milhões em lobby e con-
MICO O CONTROLE DO CENTRO DE HAWIJA tribuições diretas a políticos, assim como mais de US$ 50
CIDADE ERA ÚLTIMO REDUTO DO GRUPO EXTREMIS- milhões em campanhas políticas, incluindo cerca de US$ 30
TA NO NORTE DO IRAQUE. milhões para eleger o presidente Donald Trump.
As forças iraquianas anunciaram nesta quinta-feira (5) que O orçamento anual global da associação gira em torno de
retomaram o controle do centro Hawija, o último reduto do US$ 250 milhões, distribuídos entre programas educacionais,
grupo extremista Estado Islâmico (EI) no norte do Iraque, e afir- centros ligados ao uso de armas, eventos para associados, pa-
maram que prosseguem em seu “avanço” para libertar a região. trocínios, assessoria legal e esforços afins.
As unidades do exército e da polícia, assim como as for- Mas para além dos números, a NRA tem construído repu-
ças paramilitares de Hashd Al-Shaabi, “libertaram o centro de tação em Washington como uma força política capaz de fazer
Hawija em sua totalidade e continuam seu avanço”, afirma ou derrubar até mesmo os políticos mais fortes.
em um comunicado o general Amir Yarallah, que coordena A associação classifica os políticos de acordo com seus
as operações. votos e aloca seus recursos e os de seus membros - tanto
A vitória na batalha por Hawija, iniciada em 21 de setem- financeiros quanto organizacionais - para apoiar seus defen-
bro, acontece ao mesmo tempo em que as forças iraquianas sores mais ferozes e derrotar adversários.
continuam seus combates em outra frente, no deserto próxi- Como um ex-congressista republicano disse ao jornal “The
mo da fronteira com a Síria. New York Times” em 2013: “Esse foi o único grupo em que eu
Na área ao longo da fronteira síria, os extremistas contro- disse: ‘Enquanto estiver no cargo, não vou me opor à NRA’”.
lam duas localidades: Rawa e Al-Qaim, do outro lado da pro- Será que isso pode mudar?
víncia de Deir Ezzor, na Síria. Em 19 de setembro, as forças ira- Os grupos pró-controle de armas, apoiados por ri-
quianas iniciaram uma ofensiva para reconquistar ambas. cos benfeitores como o ex-prefeito de Nova York Michael
Hawija, a 230 km de Bagdá, é uma cidade sunita de Bloomberg, se tornaram mais organizados nos últimos
mais de 70.000 habitantes que recebeu o apelido de “Kan- anos, tentando igualar o poder político da NRA. Mas en-
dahar do Iraque” pela presença de combatentes extremis- quanto os defensores das armas continuarem a acumular
tas e em referência ao reduto dos talibãs no Afeganistão. vitórias legislativas e eleitorais, eles serão dominantes.

9
ATUALIDADES

2. Demografia do Congresso 4. Os tribunais


As tentativas mais recentes de aprovar novas leis federais Com o Congresso mais interessado em reverter as re-
que regulassem as armas de fogo fracassaram antes mesmo gulamentações existentes sobre armas de fogo do que em
de começar, bloqueadas na Câmara dos Deputados dos EUA implantar novas regras, os Estados com tendência mais à es-
- que está nas mãos dos republicanos desde 2011. querda nos Estados Unidos assumiram um papel maior na
Em junho de 2016, um grupo de políticos democratas or- implementação de medidas de controle de armas.
ganizou um ato na Casa para protestar contra a decisão da li- Após o tiroteio na escola em Newtown, 21 Estados apro-
derança republicana de não colocar em votação dois projetos varam novas leis de armas, incluindo a imposição de proibições
de lei sobre o tema. de armas de combate em Connecticut, Maryland e Nova York.
A Câmara tende aos direitos pró-armas pela mesma razão No entanto, algumas dessas leis enfrentaram outra barrei-
que levou o Partido Republicano a dominá-la recentemente - ra - o sistema judicial dos EUA. Nos últimos anos, a Suprema
por causa da forma como os distritos são distribuídos por cada Corte do país decidiu duas vezes que o direito de possuir armas
Estado (através de legislações estaduais), o partido tem conse- pessoais, como pistolas ou revólveres, está na Constituição.
guido mais “assentos seguros” e uma proporção de cadeiras A Segunda Emenda diz que “sendo necessária à segurança
bem maior do que a indicada pelos votos absolutos recebidos. de um estado livre a existência de uma milícia bem organizada, o
Os representantes desses distritos costumam responder direito das pessoas a manter e portar armas não deve ser violado”.
diretamente à vontade de seus eleitores fiéis - aqueles que Os ativistas por controle de armas argumentam que o
votam em eleições primárias do partido - e que não querem enfoque da cláusula estaria no princípio de criar uma milícia
ser contrariados, principalmente em questões controversas “bem regulamentada”. Em 2008, no entanto, a corte - alta-
como o direito de portar armas. mente dividida - considerou que a Segunda Emenda estabe-
A demografia também desempenha um papel no senti- lece um amplo direito à titularidade de armas de fogo que
mento pró-armas na Casa, já que existem mais distritos rurais proíbe exigências rigorosas de registro de armas pessoais.
com níveis mais altos de posse de armamentos que urbanos. Desde então, instâncias inferiores tem desafiado proibi-
Ou seja: alcançar uma maioria pró-controle nas áreas urbanas ções de armas de combate impostas por Estados, requisitos
é pouco para mudar essa realidade política na Câmara. de registro e proibições de porte de arma em público. Até
A não ser que ocorra uma migração em massa de liberais agora, no entanto, a Suprema Corte declinou de ouvir novos
urbanos sonhando com uma vida no campo, os dados demo- casos ligados ao assunto.
gráficos continuarão como estão. Será que isso pode mudar?
No entanto, têm havido esforços para dar uma represen- O juiz Neil Gorsuch, nomeado por Trump, deixou claro
tação mais justa na distribuição e apontamento de distritos. que vê os direitos da Segunda Emenda de forma ampla. O
Barack Obama fez disso um de seus objetivos pós-presidên- presidente está preenchendo tribunais inferiores com juízes
cia, e a Suprema Corte atualmente está analisando um ques- pró-direitos a armas. Pelo menos nessa questão, o Judiciário
tionamento legal aos distritos legislativos de Wisconsin, que parece estar se movendo para a direita.
dão uma nítida vantagem aos republicanos. Mas não será fácil 5. A diferença de entusiasmo
conseguir alguma mudança expressiva. Talvez o segundo maior obstáculo para novas leis de con-
3. Tática de obstrução trole de armas em âmbito nacional seja que os oponentes
Se um projeto de lei de controle de armas conseguisse sair tendem a manter e defender fortemente suas crenças, en-
da Câmara dos Deputados, ainda enfrentaria um desafio no quanto o apoio à nova regulamentação tende a retroceder e
Senado, onde também pesa a divisão rural-urbana. Os Estados fluir em torno de cada novo caso de violência.
dominados pelos eleitores das grandes cidades, como Nova A estratégia da NRA e dos políticos pró-armas é aguardar
York, Massachusetts ou Califórnia, são superados em número a tempestade passar - e reter esforços legislativos até que a
por Estados rurais e do sul com sentimentos pró-armas. atenção se mova para outra direção e protestos desapareçam.
As regras do Senado também permitem que sejam frus- Os políticos pró-armas oferecem seus pensamentos
trados esforços no sentido de promulgar uma regulamentação e orações, observam momentos de silêncio e pedem que
de armas de fogo mais rigorosa graças a uma tática de obstru- bandeiras sejam hasteadas a meio mastro. Então, durante a
ção conhecida como filibuster - que, em linhas gerais, acaba calmaria, os esforços legislativos são protelados e, em última
fazendo com que um projeto que precisava de maioria simples instância, retirados do caminho.
de 51 votos para ser aprovado acabe precisando de 60 votos. Na segunda-feira, a secretária de imprensa da Casa Branca,
Em 2013, após o tiroteio em uma escola de Newtown, Con- Sarah Huckabee Sanders, disse a jornalistas que “há tempo e lugar
necticut, parecia que medidas para fortalecer as verificações de para um debate político, mas agora é hora de se unir como país”.
antecedentes de compra de armas contavam com um significa- Trump, em comentários ao sair da Casa Branca para via-
tivo apoio bipartidário no Senado. Após um esforço combinado gem a Porto Rico, disse que “falaremos sobre leis de armas
de lobby da NRA, no entanto, o projeto recebeu apenas 56 votos com o passar do tempo”.
a favor, quatro menos que o necessário para quebrar a obstrução. Será que isso pode mudar?
Nenhuma medida de controle de armas chegou perto De acordo com uma pesquisa realizada durante a cam-
de avançar desde então. panha presidencial de 2016, armas foram uma questão im-
Será que isso pode mudar? portante tanto para democratas quanto para republicanos.
Donald Trump tem defendido o fim dessa obstrução, Isso pode ter sido um reflexo do tiroteio em massa recorde
que vê como obstáculo para a promulgação de sua agenda daquele ano em uma discoteca de Orlando - mas também
legislativa. A maioria dos senadores está, no entanto, publi- uma primeira indicação de uma nova tendência.
camente contra a mudança das regras. Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017

10
ATUALIDADES

HOMEM QUE VENDEU ARMAS PARA ATIRADOR Ele prossegue: “Seria como se culpassem o hotel Manda-
DOS EUA SOFRE AMEAÇAS E DIZ QUE NÃO QUERIA ‘MA- lay Bay por alugar um quarto (para ele), ou as autoridades por
CHUCAR NINGUÉM’ nos darem permissão para fornecer a arma - isso obviamente
STEPHEN PADDOCK, AUTOR DO MAIOR MASSACRE DA não foi feito com intenções maldosas.”
HISTÓRIA AMERICANA, FEZ APENAS UMA VISITA À LOJA NO Famiglietti também diz, na nota enviada à reportagem,
INÍCIO DO ANO E COMPROU ‘VÁRIAS ARMAS’; PROPRIETÁ- que ele e seus funcionários vêm sendo alvos de ameaças e
RIO REITERA QUE TODAS AS VENDAS FORAM LEGAIS. difamação desde o massacre.
A loja de armas dirigida por David Famiglietti, que tem “Desde que saiu a notícia de que nós somos uma das vá-
30 e poucos anos e gosta de caçar animais de grande porte, rias lojas onde Paddock comprou armas de fogo nesta área,
fica em uma pequena ilha comercial entre as montanhas e a eu e meus empregados estamos recebendo mensagens de
areia cinzenta do deserto de Nevada, a meia hora de carro do ódio com ameaças, telefonemas e SMSs ameaçadores”, diz.
centro de Las Vegas. “Mesmo sabendo que isso não é o importante neste mo-
Desde o último domingo, quando um de seus clientes mento, pedimos que as pessoas deixem sua raiva onde ela
abriu fogo contra uma multidão de 20 mil pessoas e deixou está em vez de ameaçar e machucar outras pessoas.”
59 mortos e mais de 500 feridos, o movimento da loja, até en- A loja vem recebendo ataques em comentários e avalia-
tão formado por donos de pequenos sítios, militares da reser- ções no Google e em portais especializados. “Ótimo lugar para
va e famílias inteiras de entusiastas de armas pesadas, ganhou se abastecer para um assassinato em massa”, diz um recente.
companhia indigesta: jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas de Por dentro da loja
todo o mundo em busca de informações. A tensão, entretanto, não parece ter abatido as vendas.
Na última terça-feira, a BBC Brasil estava entre os novos Nas duas horas em que a reportagem esteve presente, duas
visitantes da New Frontier Armory. pistolas foram vendidas, além de vários acessórios e materiais
Quando a reportagem se aproximou do balcão, um jo- de proteção.
vem atendente de barba interrompeu uma explicação sobre Atrás do balcão, pai e filho perguntavam sobre um fuzil
as pistolas da vitrine e se adiantou, apontando para uma equi- belga, vendido por US$ 2.549 (R$ 7,9 mil).
pe de chineses que carregavam câmaras com lentes enormes. “Que caro, pai!”, disse o menino. Ambos se interessaram
“Você é um deles?” mais por uma Colt semiautomática (US$ 1059, equivalente a
Antes da resposta, o homem estendeu um papel gasto R$ 3,3 mil).
com o email de Famiglietti, também vice-presidente da Coa- Pelo menos 200 armas ficam em exposição no estabeleci-
lizão de Armas de Fogo de Nevada, ligada a Associação Na- mento, que abre de domingo a domingo.
cional do Rifle - principal grupo lobista pró-armamento dos As prateleiras não têm só armas, silenciadores e munição.
Estados Unidos e doador de US$ 30 milhões para a campanha Também são vendidas camisetas como a que diz “Apo-
de Donald Trump à Presidência. calipse Zumbi - ajudando os vivos a continuarem vivos e os
Do lado de fora, um homem magro na casa dos 60 anos, mortos a continuarem mortos”.
notando a frustração deste repórter, pede um isqueiro e diz Uma série de DVDs da marca “Táticas Vikings, feita de
que “o dono (da loja) está aí, sim, vem todos os dias. Mas não guerreiros para guerreiros” ocupa uma prateleira inteira e en-
quer falar pessoalmente com jornalistas”. sina desde fundamentos básicos para tiros de carabina e rifle,
‘Não era a intenção’ até dicas para acompanhar animais de caça sem ser percebi-
Famiglietti proibiu pessoalmente todos os funcionários e do.
funcionárias de responder a qualquer pergunta da imprensa. No caixa, um recipiente plástico com uma espécie de crâ-
Deu ordem para que informassem a todos que apenas nio guardava chocolates. A reportagem quis provar um e não
ele, o presidente da New Frontier Armory, seria a fonte para conteve o susto ao tirar o bombom: “Bang! Você está morto”,
perguntas sobre o ocorrido. “disse” a caveira.
A reportagem esperou duas horas até que um alerta no ce- Nas paredes, alvos de tiro em formato humano se enfilei-
lular mostrasse uma resposta em formato de nota oficial, na qual ram por 99 centavos de dólar. Um deles, chamado “homem
Famiglietti confirmava que o atirador Stephen Paddock, que se mau”, retrata um homem com cara de poucos amigos apon-
suicidou quando a polícia estava prestes a arrombar seu quarto, tando uma pistola.
havia comprado “várias armas de fogo” ali no início do ano. ‘Armas alteradas’
Ele fez apenas uma visita à New Frontier Armory. Após receber a nota oficial, a reportagem retornou o
O texto também ressaltava que todos os requisitos locais, email de Famiglietti de dentro da loja, perguntando se pode-
estaduais e federais haviam sido preenchidos pelo atirador, e ria tirar mais algumas dúvidas.
apontava que, desde o evento, a loja vinha colaborando “de “Responderei com prazer”, respondeu o proprietário em
todas as maneiras possíveis” com as investigações do FBI. poucos minutos.
As respostas técnicas satisfizeram boa parte da impren- As novas perguntas se referiam a um eventual “estigma”,
sa americana, que vem repetindo as aspas de Famiglietti à destacado por veículos de imprensa americanos, que defen-
exaustão. sores do armamento estariam enfrentando após o maior as-
Mas os jornais acabaram deixando de lado trechos sassinato em massa da história do país.
mais pessoais do texto. Após o episódio, políticos do partido Democrata vêm
“Não vendemos estas armas com a intenção de que pressionando o governo por leis federais mais exigentes
ele pudesse machucar alguém de qualquer maneira, caso no controle de vendas de armas e acessórios - algo que o
se prove que ele usou essas armas específicas neste crime presidente Trump voltou a se recusar a comentar em visita
terrível”, diz o proprietário. rápida a Las Vegas na terça-feira.

11
ATUALIDADES

A BBC Brasil também perguntou qual era o perfil dos Trump se reuniu ainda com policiais, membros de equi-
clientes da loja e se há planos de mudanças ou reforços nas pes de emergência e cidadãos civis que ajudaram a socorrer
verificações feitas sobre quem pretende comprar armamento. vítimas no domingo, a quem também elogiou. “Vocês mos-
As respostas, até a publicação desta reportagem, não ha- traram ao mundo e o mundo está assistindo, e vocês mostra-
viam chegado. ram o que é profissionalismo”.
Na única nota enviada, o dono da loja também afirmou Na sede da Polícia Metropolitana de Las Vegas, ele fez
que as armas vendidas ao atirador “não saíram do estabele- uma declaração à imprensa, na qual disse que “os EUA são
cimento com a capacidade de fazer o que vimos e ouvimos, verdadeiramente um país em luto”.
sem modificações”. “Não podemos ser definidos pelo mal que nos ameaça
“Não eram armas completamente automáticas e não ha- ou pela violência que incita esse terror. Somos definidos por
viam (sido) modificadas de nenhuma forma (legal ou ilegal) nosso amor, nosso cuidado e nossa coragem”, afirmou.
quando compradas de nós.” O chefe de Estado americano classificou o massacre
Desde que o Congresso americano aprovou a Lei de Pro- como “ato de pura maldade” no primeiro pronunciamento
teção dos Proprietários de Armas de Fogo, em 1986, o acesso que fez após um atirador atingir a multidão. Nesse primeiro
de civis a armas novas e totalmente automáticas se tornou discurso, Trump não fez nenhuma referência a um aumento
extremamente restrito. no controle na venda de armas. Desde a campanha eleitoral
Milhares de armas consideradas “de direito adquirido” de 2016, ele está alinhado com a postura da Associação Na-
- fabricadas e registradas antes de 1986 - ainda podem ser cional de Rifles (NRA).
compradas, mas por preços bastante altos e com necessida- Nesta quarta, questionado por jornalistas, Trump voltou a
de de aprovação pelo Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de evitar a discussão sobre controle de armas e disse mais uma
Fogo e Explosivos do governo americano, em Washington. vez que este não é o momento apropriado para discutir a
A polícia americana diz que o atirador usou um acessório questão.
legal em 12 de seus rifles semiautomáticos para que eles pu- Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
dessem disparar centenas de rodadas por minuto.
Os dispositivos foram encontrados no quarto de Paddock GÁS SARIN É ENCONTRADO NAS ROUPAS DAS ACU-
no hotel Mandalay Bay - junto a um total de 23 armas de fogo. SADAS PELA MORTE DO IRMÃO DE KIM JONG-UN
Os “bump-stocks”, ou adaptadores deslizantes de fogo”, KIM JONG-NAM MORREU 20 MINUTOS DEPOIS DE
permitem que os rifles semiautomáticos disparem a uma ve- SER ATINGIDO NO ROSTO PELO AGENTE NEUROTÓXICO
locidade semelhante à de uma metralhadora - e podem ser VX, UM TIPO ALTAMENTE LETAL DO GÁS SARIN.
comprados sem as checagens exigidas para a compra de ar-
mas automáticas. Vestígios de um tipo altamente letal do gás sarin, o agen-
De acordo com o site de vendas online da loja, o produto te neurotóxico VX, foram encontrados nas roupas das duas
não é comercializado pela New Frontier Armory. acusadas pelo assassinato na Malásia do meio-irmão do líder
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 norte-coreano, afirmou um químico durante o julgamento.
Esta é a 1ª prova que vincula diretamente as duas mu-
TRUMP VISITA SOBREVIVENTES DE MASSACRE DE lheres ao agente neurotóxico VX, considerado uma arma de
LAS VEGAS destruição em massa.
ATIRADOR MATOU 58 PESSOAS E DEIXOU MAIS DE No dia 13 de fevereiro, Kim Jong-Nam, meio-irmão do
500 FERIDAS DURANTE FESTIVAL DE MÚSICA COUNTRY líder norte-coreano Kim Jong-Un, morreu 20 minutos depois
NO DOMINGO (2).’EUA SÃO VERDADEIRAMENTE UM de ser atingido no rosto por este produto quando estava no
PAÍS EM LUTO’, DISSE PRESIDENTE, QUE ELOGIOU MÉ- aeroporto internacional de Kuala Lumpur.
DICOS E POLICIAIS E TEVE ENCONTRO PRIVADO DE 90 A indonésia Siti Aisyah e a vietnamita Thi Huong, acusa-
MINUTOS COM VÍTIMAS. das pelo crime, estão sendo julgadas desde segunda-feira na
Alta Corte de Shah Alam, subúrbio de Kuala Lumpur, onde fica
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, esteve o aeroporto.
nesta quarta-feira (4) em Las Vegas para se encontrar com “Encontramos VX na camisa sem mangas de Siti Aisyah”,
sobreviventes do maior ataque a tiros da história dos Estados declarou o químico Raja Subramaniam durante seu depoi-
Unidos. Um atirador matou 58 pessoas e deixou mais de 500 mento nesta quinta-feira como testemunha.
feridas durante um festival de música country no domingo (2). A camisa usada por Huong tinha VX em estado puro e
Acompanhado da primeira-dama, Melania, o presidente uma substância usada para fabricar veneno. Também havia
visitou um hospital para conversar com vítimas e médicos que vestígios de veneno em suas unhas, completou.
trabalharam no atendimento às vítimas. O casal passou 90 mi- As imagens das câmeras de segurança do aeroporto
nutos em um encontro privado com as vítimas e suas famílias, mostram o momento em que as duas mulheres se aproxima-
sem cobertura da imprensa. ram de Kim antes de jogar o líquido em seu rosto.
Ainda no hospital o presidente cumprimentou médicos e As duas foram detidas pouco depois do assassinato e po-
responsáveis pelo primeiro atendimento no dia do ataque dem ser condenadas à pena de morte.
e agradeceu ao trabalho deles. Trump disse que conheceu Na abertura do julgamento, na segunda-feira, as duas se
“algumas das pessoas mais incríveis” e convidou alguns declararam inocentes. Ao longo da investigação, elas nega-
dos profissionais a visitá-lo em Washington. “É de deixar ram que desejavam cometer um assassinato e afirmaram
qualquer um muito orgulhoso por ser americano quando que foram enganadas, que acreditavam estar participando
vemos o trabalho que eles fizeram”, comentou. de um programa de televisão do tipo “pegadinha”.

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ATUALIDADES

Os advogados de defesa afirmam que os culpados são Os dirigentes catalães garantem que venceram o referen-
norte-coreanos que fugiram da Malásia. do com 90% dos votos – 2,02 milhões de apoios sobre um
A Coreia do Sul acusa o Norte de ter organizado o as- censo de 5,3 milhões de eleitores – e agora querem decla-
sassinato, o que Pyongyang nega. Kim Jong-Nam criticava o rar a independência de maneira unilateral. O governo catalão
regime norte-coreano e vivia no exílio. liderado por Carles Puigdemont parece disposto a declarar
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 unilateralmente a independência, o que poderia acontecer já
na próxima segunda-feira (9), durante uma sessão do Parla-
APÓS PRISÃO NO BRASIL, ITÁLIA NEGOCIA EXTRA- mento regional, de acordo com uma fonte do governo.
DIÇÃO DE BATTISTI “No último domingo conseguimos fazer um referendo
CESARE BATTISTI FOI PRESO NESTA QUARTA EM CO- diante de um oceano de dificuldades e de uma repressão sem
RUMBÁ. ELE FOI CONDENADO À PRISÃO PERPÉTUA NA precedentes. Ontem demos um exemplo no respeito à greve-
ITÁLIA. geral. E nos próximos dias voltaremos a mostrar a melhor cara
do nosso país quando as instituições da Catalunha terão que
O governo italiano confirmou, sua vontade de obter do aplicar o resultado do referendo”, disse o presidente catalão.
Brasil a extradição do ex-militante de extrema-esquerda Ce- Centenas de policiais intervieram em centros de votação,
sare Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália e detido utilizando cassetetes para dispersar os militantes concentra-
ontem na fronteira brasileira com a Bolívia. dos na frente desses espaços para protegê-los e conseguir
Battisti foi preso nesta quarta em Corumbá, cidade fron- realizar a votação. Mais de 800 pessoas ficaram feridas. O go-
teiriça com a Bolívia, levando mais de R$ 10 mil em dinheiro verno espanhol considera o referendo ilegal, alegando que a
sem declarar à Polícia Federal. É suspeito de cometer crime Constituição declara que o país é indivisível.
de evasão de divisas. Durante seu pronunciamento, Puigdemont criticou o rei
“Hoje trabalhamos com o embaixador (italiano no Brasil, Filipe VI, que em seu discuso “ignorou as pessoas que foram
Antonio) Bernardini para trazer Battisti para a Itália e entregá- vítimas de violência policial”.
-lo à Justiça. Continuamos trabalhando com as autoridades “O rei faz dele o discurso e as políticas do governo de Ma-
brasileiras”, declarou o ministro italiano das Relações Exterio- riano Rajoy, que têm sido catastróficos em relação à Catalu-
res, Angelino Alfano. nha, e ignora deliberadamente a milhões de catalães que não
Ex-integrante do grupo Proletários Armados pelo Co- pensamos como eles”, afirmou o presidente catalão, dizendo
munismo, Battisti, hoje com 62 anos, foi condenado à prisão que “não podemos compartilhar nem aceitar” a mensagem
perpétua na Itália por quatro homicídios ocorridos na década do rei.
de 1970 e fugiu para o Brasil em 2004, onde viveu na clandes- Nesta terça, o rei criticou a conduta dos líderes catalães,
tinidade. Foi detido no Rio de Janeiro em 2007. dizendo que eles violaram as leis do Estado espanhol e de-
Dois anos depois, a pedido do país europeu, o Suprema monstraram uma “deslealdade inadmissível”.
Tribunal Federal autorizou sua extradição, que foi negada em A Espanha vive uma de suas piores crises políticas dos
2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. últimos 40 anos, desde que o executivo separatista catalão
Desde 2007, Battisti ficou detido por quatro anos antes decidiu organizar este referendo de autodeterminação apesar
de ser posto em liberdade em junho de 2011. de sua proibição.
O último pedido de extradição por parte da Itália foi em Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
25 de setembro e, segundo a imprensa italiana, o presiden-
te Michel Temer teria-se mostrado favorável, o que pode ter UNIÃO EUROPEIA PEDE DIÁLOGO NA CATALUNHA,
motivado a “tentativa de fuga” de Battisti para a Bolívia. MAS DEFENDE MADRI
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 ‘CHEGOU O MOMENTO DE ENCONTRAR UMA SAÍDA
PARA O BECO SEM SAÍDA’, DIZ AUTORIDADE EUROPEIA.
PRESIDENTE DA CATALUNHA PEDE MEDIAÇÃO PARA DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DA CATALUNHA
RESOLVER CRISE COM GOVERNO ESPANHOL PODE SER FEITA NA PRÓXIMA SEGUNDA, SEGUNDO
CARLES PUIGDEMONT CONTINUA DEFENDENDO FONTE.
APLICAÇÃO DE REFERENDO INDEPENDENTISTA. GO-
VERNO CATALÃO DEVE DECLARAR INDEPENDÊNCIA NA A Eurocâmara pediu “diálogo”, nesta quarta-feira (4),
PRÓXIMA SEGUNDA, DIZ FONTE. diante da crise aberta na Espanha com o referendo de inde-
pendência na Catalunha, ao mesmo tempo em que a Comis-
O presidente do governo da Catalunha, Carles Puigde- são Europeia justificou o uso da força em alguns momentos
mont, afirmou nesta quarta-feira (4) que a crise envolvendo para garantir “a supremacia do Direito”.
esta região autônoma e o governo espanhol precisa de uma Os eurodeputados dos principais grupos também pedi-
mediação, sem voltar atrás na sua defesa pela aplicação do ram às autoridades da Catalunha que evitem uma declaração
resultado do referendo independentista do último domingo. unilateral de independência, cuja adoção, segundo o porta-
“Este momento precisa de mediação. Recebemos inúme- voz dos social-democratas Gianni Pittella “colocaria mais le-
ras propostas nas últimas horas e vamos receber mais. Todas nha na fogueira”.
elas sabem que estou pronto para iniciar um processo de No entanto, o governo catalão liderado por Carles
mediação”, afirmou. “Vou repetir quantas vezes for neces- Puigdemont parece disposto a declarar unilateralmente a
sário: diálogo e acordo são parte da cultura política do nos- independência, o que poderia acontecer já na próxima se-
so povo. No entanto, o Estado não deu nenhuma resposta gunda-feira (9), durante uma sessão do Parlamento regio-
positiva a essas ofertas”, acrescentou. nal, de acordo com uma fonte do governo.

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ATUALIDADES

“Chegou o momento de dialogar, de encontrar uma O G1 não conseguiu localizar o advogado Eduardo Sia-
saída para o beco sem saída, de trabalhar dentro da ordem no, que defende Talita, para comentar a decisão liminar do
constitucional da Espanha”, declarou em nome da Comissão desembargador Newton Neves, da 16ª Câmara de Direito
seu vice-presidente, Frans Timmermans, durante um debate Criminal do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, que na últi-
convocado pela Eurocâmara sobre a situação na Catalunha, ma terça-feira (3) negou o habeas corpus em caráter liminar
após a resposta policial de Madri para impedir a celebração feito pela defesa da motorista.
do referendo do último domingo (1º). Siano havia pedido para o TJ reverter a tipificação cri-
As imagens da atuação policial no domingo na Catalu- minal de homicídio doloso para homicídio culposo, no qual
nha, com apreensão de urnas e agressões contra pessoas que não há intenção de matar, e, desse modo, soltasse sua cliente
desejavam votar no referendo de independência considerado para que ela respondesse ao processo em liberdade.
ilegal, obrigaram a UE a fazer um pronunciamento além de Assumiu risco
sua habitual resposta de considerar a situação um “assunto O desembargador não atendeu à solicitação da defesa,
interno” da Espanha. lembrando que, segundo a polícia, Talita “após ter ingerido
Timmermans, autoridade europeia sobre o Estado de Di- bebida alcoólica e mesmo assim ter dirigido veículo automo-
reito e a Carta de Direitos Fundamentais, afirmou que “a vio- tor por uma via tão perigosa, ter assumido o risco de causar
lência não resolve nada na política”, mas destacou que “todos um acidente com vítima fatal”. O mérito do pedido ainda será
os governos têm que respeitar a supremacia do Direito e isto julgado futuramente por outros desembargadores do TJ.
exige, às vezes, um uso proporcional da força”. Foi a terceira derrota da defesa de Talita na Justiça. A
‘Consenso’ primeira havia sido na audiência de custódia do último do-
“Há um consenso geral de que o governo regional da Cata- mingo (1º), quando a juíza Carolina Nabarro Munhoz Rossi,
lunha optou por ignorar a lei ao organizar o referendo celebrado do Fórum da Barra Funda, Zona Oeste, converteu a prisão
no domingo passado”, o qual havia sido proibido pela Justiça es- em flagrante da motorista em prisão preventiva para que ela
panhola, completou o vice-presidente da Comissão, para quem fique detida até seu eventual julgamento.
a União Europeia é uma “comunidade baseada no Direito”. Dias depois disso, o juiz Luis Gustavo Esteves Ferreira, da
Timmermans evitou responder, durante o discurso, os 5ª Vara do Júri, também no Fórum da Barra Funda, negou o
pedidos das autoridades catalãs por uma “mediação interna- pedido do advogado de Talita para anular a prisão preventiva
cional”, reiterando a demanda da UE “a todos os atores perti- determinada pela juíza da audiência de custódia.
nentes a avançar para passar do confronto ao diálogo”. “Os delitos, em tese, imputados à indiciada, além de
“Isto é um assunto interno da Espanha, que deve ser re- ostentarem gravidade acentuada, geram inequívoca intran-
solvido com base no âmbito constitucional espanhol”, reite- quilidade social, já que, a despeito das inúmeras campanhas
rou o vice-presidente da Comissão, que reproduz, assim, os públicas educativas, infelizmente, tem-se tornado fato corri-
principais argumentos do governo espanhol do primeiro-mi- queiro mortes no trânsito por conta da nefasta combinação
nistro conservador Mariano Rajoy. entre álcool, condução de veículo automotor, excesso de ve-
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 locidade e impunidade, motivos que, por si sós, já reclamam
diferenciado rigor na imposição das medidas cautelares, de
VIOLÊNCIA modo a assegurar o primado da lei e a garantia da ordem
pública”, havia escrito.
JUSTIÇA NEGA LIBERDADE E MANTÉM PRISÃO DE O teste de bafômetro feito logo depois do acidente
MOTORISTA QUE MATOU 3 NA MARGINAL TIETÊ apontou que a motorista tinha 0,48 miligrama de álcool por
TJ NEGOU NESTA SEMANA HABEAS CORPUS FEITO litro de ar em seu organismo. Segundo o artigo 306 do Códi-
PELA DEFESA DE TALITA TAMASHIRO, QUE EM 30 DE SE- go Brasileiro de Trânsito, dirigir sob influência de álcool acima
TEMBRO ATROPELOU E MATOU VÍTIMAS QUANDO DIRI- de 0,34 miligrama dá de seis meses a 3 anos de prisão, além
GIA EMBRIAGADA, AO CELULAR E COM CNH SUSPENSA. da suspensão da habilitação.
Talita já estava com a carteira suspensa desde junho des-
A Justiça de São Paulo negou nesta semana o pedido de te ano por ter atingido 36 pontos (o limite é 20). Ela está
liberdade feito pela defesa da motorista que atropelou e ma- presa atualmente na Penitenciária Feminina de Tremembé,
tou três pessoas na Marginal Tietê. Talita Sayuri Tamashiro, de interior do estado.
28 anos, foi presa em flagrante no último dia 30 de setembro Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
por homicídio doloso - quando há intenção ou se assume o
risco de matar - e embriaguez ao volante. SUSPEITO DE ABUSAR SEXUALMENTE DE ENTEADA
Na madrugada daquele sábado, Talita saiu embriagada É PRESO EM ITUIUTABA
da balada Villa Mix, na Vila Olímpia, Zona Sul da capital, pe- SEGUNDO A POLÍCIA CIVIL, INVESTIGAÇÕES APU-
gou seu Honda Fit verde, mesmo com a carteira de habilita- RAM SE ATOS DE VIOLÊNCIA SERIAM COMETIDOS CON-
ção suspensa, e dirigiu o veículo enquanto usava o celular. TRA MENINA DESDE QUE ELA TINHA 6 ANOS DE IDADE.
Na sequência, ela bateu o veículo em uma BMW preta,
estacionada no acostamento da via expressa, altura da Ponte Um homem de 44 anos foi preso nesta quarta-feira (4)
dos Remédios da marginal, sentido Rodovia Ayrton Sen- sob suspeita de abusar sexualmente da enteada de 11 anos
na. Na colisão, atropelou o fisioterapeuta Raul Fernando em Ituiutaba. De acordo com a Polícia Civil, um inquérito
Nantes Antonio, de 48, a auxiliar administrativa Aline Jesus sobre o caso foi aberto no dia 29 de setembro, depois que
Souza, 28, e a gerente de estacionamento Vanessa Lopes a criança relatou para um funcionário da escola onde es-
Relva, também de 28. O trio morreu no local. tuda que sofria violência sexual desde os 6 anos de idade.

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ATUALIDADES

Ainda segundo a polícia, o relato da criança foi passa- SEGURANÇA DE CRECHE EM JANAÚBA ATEIA FOGO
do para o Conselho Tutelar, que encaminhou a denúncia para EM CRIANÇAS DEIXANDO MORTOS E FERIDOS
a Delegacia de Atendimento à Mulher, à Criança e ao Idoso. ELE TAMBÉM ATEOU FOGO NELE
No Posto Médico Legal, o exame de corpo de delito confir- Pelo menos três crianças morreram queimadas em uma
mou que a menina teve relações sexuais. creche em Janaúba, no Norte de Minas, na manhã desta quin-
A delegada Daniela Diniz Medeiros, que está à frente do ta-feira (5). Segundo as primeiras informações da Polícia Mi-
caso, disse que testemunhas já começaram a ser ouvidas e as litar, o guarda da creche ateou fogo em algumas crianças e
investigações apontam que a criança era abusada pelo pa- em seu próprio corpo. Ainda não há informações sobre o seu
drasto há cerca de cinco anos. Conforme relato da enteada, o estado de saúde.
homem aproveitava os momentos em que a mãe da criança O Samu foi acionado e está no local. O número de feridos
saía para trabalhar para cometer o abuso. ainda não foi divulgado, mas segundo o Samu, várias crianças
O suspeito do crime foi encaminhado para o presídio. sofreram queimaduras.
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017

JUSTIÇA DECRETA PRISÃO DE PROFESSOR SUSPEITO MORADORES FIXAM PLACA EM RUA PARA AVISAR
DE ABUSAR DE ALUNAS NO MARANHÃO SOBRE ALTO ÍNDICE DE ASSALTOS EM CARUARU
O PROFESSOR COSTUMAVA ACARICIAR AS ALUNAS, RUA ESTÁ LOCALIZADA NO BAIRRO PETRÓPOLIS, EM
ALÉM DE PEDIR QUE ELAS LHE FIZESSEM MASSAGENS, CARUARU. PADRE JÁ FOI ASSALTADO NO LOCAL.
SOB PENA DE SEREM SUSPENSAS DA SALA DE AULA Moradores da rua Visconde de Cairú fixaram placas para
CASO RECUSASSEM. avisar sobre o alto índice de assaltos no local. A rua está locali-
zada no Bairro Petrópolis, em Caruaru, Agreste de Pernambu-
Justiça decretou, na última segunda-feira (2), a prisão co, e fica próxima a uma faculdade, colégio particular, e uma
temporária de um professor de Bom Jardim (MA) após de- escola pública do município.
núncias de que ele estaria abusando sexualmente de alunas Perto da rua ainda há um hotel e um posto de combustí-
de uma escola municipal. veis. A dona de casa Sônia Cavalcante foi uma das moradoras
A Denúncia, assinada pelo promotor de justiça Fábio San- que teve a iniciativa de colocar as placas no local.
tos de Oliveira, enquadra as condutas praticadas por Jânio de “A insegurança está grande. Teve um dia que perto das
Abreu como estupro de vulnerável, assédio sexual, ato obsce- 12h levaram o carro de um vizinho. Eu já fui abordada por
no. Além disso, o professor transmitiu vídeos e fotos contendo assaltantes na frente da minha casa. Eles estavam armados e
cenas de sexo com crianças e adolescentes, e armazenou em eu saí correndo. Na minha casa tem câmeras de segurança e
seu celular pornografia envolvendo criança ou adolescente. eu sempre denuncio esse tipo de crime”, detalhou.
No pedido de prisão preventiva, o promotor afirma que Segundo Sônia, até o padre da paróquia do bairro foi víti-
o denunciado representa perigo para a sociedade, podendo ma de assalto. “Nós queremos alertar para essa falta de segu-
continuar com as práticas. “Trata-se verdadeiramente de um rança. Depois das denúncias, vejo que o carro da polícia tem
pedófilo, que certamente continuará a estuprar, praticar ato passado mais vezes na rua”, contou a dona de casa.
libidinoso, assediar, constranger outras crianças e adolescen- Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
tes, ainda que não sejam elas suas alunas em sala de aula”,
ressalta. MEIO AMBIENTE
O professor costumava acariciar as alunas, além de pedir
que elas lhe fizessem massagens, sob pena de serem suspen- ONG DIZ QUE ANIMAIS DA AMAZÔNIA SOFREM
sas da sala de aula caso recusassem. Além disso, ele fazia ges- COM SELFIES DE TURISTAS
tos obscenos e mostrava vídeos pornográficos aos alunos no BOTO-COR-DE-ROSA É PRINCIPAL ANIMAL OFERECIDO
espaço de aprendizagem. POR AGÊNCIAS PARA INTERAÇÃO COM OS VISITANTES.
Além da prisão preventiva, o juiz Raphael Leite Guedes Os animais da Amazônia sofrem com a atividade turística
também atendeu ao pedido do Ministério Público para que na região, que em muitos casos submete espécies como o
o telefone celular de Jânio Silva de Abreu seja periciado em boto-cor-de-rosa e o bicho-preguiça a longas sessões de fo-
busca de fotografias, vídeos e conversas que comprovem os tos, alertam ativistas da ONG World Animal Protection.
crimes praticados pelo professor. O magistrado determinou A organização, com sede na Inglaterra, publicou esta sema-
que o aparelho seja encaminhado à Polícia Civil, que deverá na um relatório em que afirma que desde 2014 as fotos de pes-
apresentar um laudo pericial no prazo de 20 dias. soas com animais no Instagram aumentaram 292% no mundo
Penas todo. E em 40% delas, os humanos aparecem “abraçando ou
O crime de estupro de vulnerável tem pena prevista de interagindo de forma inadequada com um animal selvagem”.
reclusão de oito a 15 anos. Para o assédio sexual, o Código Com frequência, os animais são capturados e maltratados
Penal prevê pena de detenção de um a dois anos. Por ato antes de serem exibidos aos turistas, aponta a World Animal
obsceno, o professor estaria sujeito a detenção de três meses Protection, que se infiltrou em excursões na selva amazôni-
a um ano ou multa. ca do Brasil e do Peru para registrar estas interações.
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê, em seu “Atrás das câmeras, estes animais costumam ser espancados,
artigo 241-A, pena de reclusão pelo período de três a seis separados de suas mães quando bebês e guardados secretamen-
anos, além de multa. Já no art. 241-B, a pena prevista é de te em lugares sujos e apertados; ou são cevados reiteradamente
reclusão de um a quatro anos, mais multa. com alimentos que podem ter um impacto negativo a longo pra-
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 zo em seu organismo e comportamento”, afirma o grupo.

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ATUALIDADES

“Com muita frequência os turistas desconhecem com- A pesquisa, publicada na revista Science, descobriu 289
pletamente esta crueldade que torna os animais submissos e espécies diferentes até o momento. Os mexilhões são os
disponíveis”, acrescenta. mais comuns, mas há também caranguejos, mariscos, anê-
Em Manaus, capital do estado do Amazonas, 94% dos 18 monas e estrelas do mar.
passeios turísticos visitados pela World Animal Protection ofe- Os cientistas ainda estavam identificando novas espécies
reciam a oportunidade de “segurar e tocar animais selvagens” quando o estudo chegou ao fim, em 2017, seis anos após o
para tirar fotografias. tsunami.
Em tais pacotes, o boto-cor-de-rosa era o animal mais De acordo com os pesquisadores, muitas outras espé-
oferecido pelos agentes para este tipo de contato, seguido cies provavelmente fizeram a jornada e até agora não foram
da preguiça-de-três-dedos, crocodilos, anacondas verdes e descobertas. Atualmente, nenhuma colônia de invasores foi
macacos. estabelecida, mas a equipe acredita que isso pode acontecer.
Roberto Cabral, coordenador das operações de fiscaliza- “Quando vimos espécies do Japão chegarem ao Oregon,
ção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), disse ficamos chocados. Nunca pensamos que pudessem viver
em uma entrevista à AFP que manter animais em cativeiro tanto tempo, em condições tão difíceis”, disse John Cha-
para estes fins é ilegal no Brasil, mas que infelizmente isto pman, da Universidade de Oregon, coautor do estudo.
“acontece”. “Não me surpreenderia se houvesse espécies do Japão
Porém, “no contexto geral de tráfico de animais e de caça que estão por aí vivendo ao longo da costa do Oregon. Na
que existe no Brasil, embora (a exploração turística de ani- verdade, me surpreenderia se não houvesse”.
mais) seja impactante, é algo mínimo”, apontou. O elemento chave que tornou isso possível, de acordo
“A ironia é que o turista que normalmente tira fotos com com os pesquisadores, é a presença na água de plástico, fibra
o animal é aquele turista que adora os animais e, na realidade, de vidro e outros produtos que não se decompõem.
está contribuindo para o seu mal-estar, captura e matança”, “A madeira levada pelo tsunami durou pouco tempo em
acrescentou Cabral. comparação com a natureza duradoura do plástico”, disse
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 Carlton.
“Por muito tempo, se uma planta ou um animal fosse
COMO ANIMAIS DA COSTA DO JAPÃO FORAM PA- transportado por uma jangada pelos oceanos, seu barco lite-
RAR NOS EUA - GRAÇAS A UM TSUNAMI ralmente se dissolveria por baixo deles. O que fizemos agora
ONDAS GIGANTES ARRASTARAM CENTENAS DE é fornecer a essas espécies jangadas bastante duradouras,
OBJETOS PARA O MAR -- DE PEQUENOS PEDAÇOS DE mudamos a natureza de seus barcos”.
PLÁSTICO A BARCOS DE PESCA --, QUE SERVIRAM DE Movendo-se muito mais devagar do que as embarca-
TRANSPORTE PARA CENTENAS DE ESPÉCIES DE CRIATU- ções, as balsas de plástico ou de fibra de vidro deram tempo
RAS MARINHAS. às espécies para se adaptar gradualmente ao seu novo am-
Cientistas identificaram centenas de espécies marinhas biente, tornando mais fácil a reprodução e para suas larvas se
japonesas na costa dos Estados Unidos. Elas cruzaram o Ocea- prenderem aos detritos.
no Pacífico após o tsunami causado pelo terremoto de 2011. Os pesquisadores estão preocupados com o fato de que,
Mexilhões, estrelas do mar e centenas de outras famílias com tanto plástico nos oceanos, e com a mudança climáti-
de criaturas marinhas foram transportadas pelas águas, mui- ca tornando os ciclones e as tempestades mais intensas, a
tas vezes pegando carona em resíduos plásticos. ameaça de invasão de espécies marinhas nunca foi tão gran-
Os pesquisadores ficaram surpresos com o fato de que de. A pesquisa sobre o tsunami apenas mostra o impacto que
muitos sobreviveram à longa jornada, com novas espécies de- esse transporte pode ter.
sembocando nas praias ainda em 2017. “Não há nada comparável em escala do que já vimos an-
Em março de 2011, um forte terremoto abalou o nordes- tes na história da ciência do mar”, afirmou Carlton.
te do Japão, desencadeando um enorme tsunami que atingiu Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
quase 39 metros de altura, varrendo a costa do país. Mais de
15 mil pessoas morreram. NOVA ESPÉCIE DE RATAZANA GIGANTE É DESCO-
As ondas gigantes arrastaram centenas de objetos para BERTA POR CIENTISTA AUSTRALIANO
o mar - de pequenos pedaços de plástico a barcos de pesca. QUATRO VEZES MAIOR QUE ROEDORES COMUNS, A
Um ano depois, os cientistas começaram a encontrar RATAZANA SOBE EM ÁRVORES E CHEGA A MEIO METRO
destroços do tsunami, com criaturas vivas agarradas a eles, DE COMPRIMENTO.
desembocando no Havaí e na costa oeste dos EUA, do Alasca Uma nova espécie da roedor, quatro vezes maior que o
à Califórnia. comum, foi descoberta nas Ilhas Salomão, no Oceano Pací-
“Centenas de milhares de criaturas foram transportadas fico.
e chegaram à América do Norte e às ilhas do Havaí - a maio- O animal, que chega a atingir quase meio metro de com-
ria dessas espécies nunca esteve no nosso radar como seres primento, vive entre as árvores e se alimenta de castanhas
transportados pelo oceano em detritos marinhos”, afirmou que abre com seus dentes.
à BBC James Carlton, do Williams College e Mystic Seaport, As Ilhas Salomão, a 1.800 km da Austrália, já têm outras
principal autor do estudo. oito espécies de ratazanas, mas essa é a primeira nova des-
“Muitos dos destroços ainda estão por aí e pode ser coberta em 80 anos.
que algumas dessas espécies japonesas ainda cheguem. Da mesma família de ratos e camundongos (Muridae),
Não ficaria surpreso se um pequeno barco de pesca japo- a nova espécie, chamada Uromys vika, já fazia parte do fol-
nês perdido em 2011 aparecesse 10 anos após o evento”. clore da ilha.

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ATUALIDADES

Escondidos nas árvores De acordo com a agência, essa ruptura produziu o ice-
A cadeia de ilhas onde a nova espécie se encontra é bio- berg B-44, visível em outras imagens capturadas em 23 de
logicamente isolada. setembro pelo satélite Sentinel-1, da Agência Espacial Euro-
A maioria dos mamíferos que vivem lá não é encontrada peia (ESA), com descoberta do analista Matthew Welshans, do
em nenhum outro lugar do planeta. Centro Nacional do Gelo nos Estados Unidos (USNIC).
“Quando conheci o povo da ilha Vangunu, eles me con- O novo pedaço de gelo flutua na baía de Pine Island, no
taram sobre uma ratazana nativa que eles chamavam de vika, mar de Amundsen, e tem 185 km² -- cerca de duas vezes a
que vivia nas árvores”, diz Tyrone Lavery, biólogo australiano área da capital do Espírito Santo, Vitória. Ele é maior do que
que fez a descoberta. o iceberg descoberto em janeiro deste ano na mesma região,
Pesquisador do Field Museum, em Chicago, e pesquisa- mas menor do que o descoberto em julho de 2015 (225 km²).
dor associado da Universidade de Queensland, na Austrália, Larsen C
ele procurava pelo bicho desde 2010. Mas nunca havia con- Um iceberg de um trilhão de toneladas, um dos maiores
seguido encontrá-lo. já registrados, se desprendeu em outra região da Antártica, a
“Comecei a me questionar se era realmente uma espeé- Larsen C. O anúncio foi feito em julho deste ano por cientistas
cie diferente, ou se as pessoas estavam apenas chamando os da Universidade de Swansea, no Reino Unido.
ratos normais de ‘vika’”, conta ele. Os cientistas estudavam o bloco de gelo há muitos anos.
Em novembro de 2015, no entanto, um guarda ambiental Os olhares voltaram à região após notar as rupturas da plata-
viu um rato enorme rolando de uma árvore de 10 metros der- forma de gelo Larsen A, em 1995, e Larsen B, em 2002. Larsen
rubada por lenhadores. C é a maior plataforma de gelo da Antártica e o pedaço que
A queda matou o animal, mas o guarda enviou o corpo se desprendeu tem 5.800 km².
para o Museu de Queensland, na Australia, onde Lavery era Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
um pesquisador associado.
“Assim que examinei o espécime, sabia que havia algo de JOVENS PERCORREM CIDADES EM NAVIO PARA
diferente”, diz ele. ALERTAR SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS
“Só existem oito espécies de ratos nativos das Ilhas Salo- Ashwa Faheem é uma repórter fotográfica de 26 anos
mão, e olhando as características do crânio, consegui excluir que nasceu nas Ilhas Maldivas, uma das nações-ilha do Pací-
boa parte das espécies imediatamente.” fico, lugar paradisíaco, ideal para quem pensa numa viagem
Depois de um teste de DNA, Lavery confirmou que era turística para descansar e observar a natureza. Para Ashwa,
uma nova espécie, que ele nomeou de Uromys vika. porém, este lado quase celestial de sua terra é apenas uma
O rato recém descoberto tem um longo e escamoso faceta, distante de sua rotina. Ela já convive também, desde
rabo, que os pesquisadores acreditam que o ajuda a se agar- pequena, com outro lado menos divino, digamos assim, das
rar quando passa de uma árvore para outra. ilhas em que nasceu e que, de uns tempos para cá, vêm so-
Os ancestrais do bicho provavelmente viajaram até as frendo com o aumento dos oceanos, fenômeno causado pelo
ilhas em pedaços de vegetação flutuante. Uma vez ali, eles aquecimento global:
evoluiram para ter dentes grandes e afiados que usam, de “Nem tudo nas Maldivas é bonito. Quando o nível das
acordo com a população local, para mordiscar castanhas e águas sobe, perdemos muita terra. E quando a terra desapa-
cocoquinhos. rece, perdemos recursos, a agricultura e a pesca. Muita gente
A espécie provavelmente será classificada de imediato usa a pesca e o turismo para sobreviver. Afeta tudo. É um efei-
como em perigo crítico de extinção devido à ameaça que so- to de dominó”.
frem da indústria madeireira. Cerca de 90% das árvores das Para levar essa mensagem mundo afora, aproveitando o
ilhas já foram derrubadas. momento pré-Conferência do Clima (COP-23), que acontece-
“A região onde a espécie foi encontrada é um dos únicos rá em novembro na cidade alemã de Bonn, Ashwa se juntou
lugares que ainda têm florestas”, diz Lavery. a um grupo de seis jovens, todos residentes em Pequenos
“É necessário documentar essa ratazana urgentemente e Estados Insulares em Desenvolvimento, como Maldivas. Eles
encontrar mais apoio para a área de conservação de Zaira, na estão a bordo de um navio da ONG internacional Peace Boat
ilha de Vangunu, onde a espécie vive.” e estão sendo chamados de “Embaixadores” do clima e da
O estudo sobre a nova espécie foi publicado na publica- paz. Vão visitar sete capitais e acabaram de deixar Lisboa, de
ção científica Journal of Mammalogy. onde me chegaram as notícias do grupo via jornal “O Público”.
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 Os jovens embaixadores visitarão Barcelona, Nova York,
Edimburgo, Londres, Bordeaux e outras capitais, mas não vi-
NOVO ICEBERG SE DESPRENDE DE GELEIRA NA AN- rão ao Brasil. Em cada um desses locais vão contar sobre seus
TÁRTICA, DIZ NASA esforços para se manter num território que vai ser engolido
PEDAÇO DE GELO ESTÁ LOCALIZADO EM REGIÃO DI- pelo mar até o fim deste século.
FERENTE DE LARSEN C, ONDE ICEBERG GIGANTESCO SE Nessa mesma linha de pensamento, o premiê de outra
SOLTOU COM ANÚNCIO EM JULHO DESTE ANO. ilha ameaçada, Fiji, Frank Bainimarama, que também é presi-
Um novo iceberg se desprendeu da região da geleira de dente da COP, saudou os participantes da última Assembleia
Pine Island, oeste da Antártica. A fotografia acima foi divulgada Geral da ONU. Para ele, não há como escapar do fato de
pela agência espacial americana (Nasa) nesta quarta-feira (27). que as mudanças climáticas constituem uma ameaça tão
A imagem de cor original foi capturada no último dia grande para a segurança global como qualquer outra fonte
21 de setembro pelo satélite Landsat 8 da Nasa. Ela mostra de conflito que a humanidade vive hoje. E não há “escolha
o início da fenda no centro da plataforma de gelo. a ser feita entre prosperidade e um clima saudável.

17
ATUALIDADES

“Milhões de pessoas já estão em movimento por causa da JAPÃO MATA 177 BALEIAS NA COSTA DO PACÍFICO
seca e as mudanças na agricultura ameaçando sua segurança PARA ‘FINS CIENTÍFICOS’
alimentar. Ao longo da história, sabemos que os seres humanos ORGANIZAÇÕES DE DEFESA DOS ANIMAIS DENUN-
irão lutar pelo acesso à água. E, a menos que abordemos as cau- CIAM A ALEGAÇÃO JAPONESA.
sas subjacentes das mudanças climáticas, já sabemos que alguns Os japoneses mataram 177 baleias na costa nordeste do
lugares se tornarão inviáveis e outros desaparecerão completa- arquipélago no Pacífico, em uma missão que teria “fins cien-
mente. Na minha região, três de nossos vizinhos estão em risco, tíficos”, segundo anunciou nesta terça-feira (26) a agência de
e é por isso que Fiji ofereceu refúgio às pessoas de Kiribati e Tu- pesca japonesa.
valu se suas casas vierem a se afundar por completo”, disse ele. Três navios especializados em caça às baleias iniciaram a
Fiji já perdeu parte de sua terra agricultável por causa da missão em junho e capturaram 43 baleias Minke e 143 ba-
salinidade excessiva trazida pelo mar. Bainimarama disse que leias-sei, de acordo com a agência. Segundo os japoneses, a
escolheu ser presidente da COP para poder levar adiante esse caça às baleias seria “necessária” para calcular a quantidade
recado. Pelas regras das Conferências, já que ele é o presiden- de potenciais capturas a longo prazo, justificou a agência, que
te, a reunião deveria acontecer em Fiji, mas o país não tem tem como objetivo “retomar algum dia a pesca comercial”,
condições para sediar um encontro tão grande, não ofereceria segundo explicou o funcionário da agência Kohei Ito.
segurança aos líderes. Foi feito, então, um acordo com a Ale- O Japão é signatário da moratória da caça às baleias da
manha, que aceitou receber os conferencistas em Bonn. Comissão Baleeira Internacional (CBI), mas afirma que recorre
“Esse é um exemplo para o mundo de como países em à medida com fins de pesquisa, no Pacífico e na Antártica. As
extremos opostos da Terra e de meios e tamanho muito dife- organizações de defesa das baleias denunciam a alegação ja-
rentes podem trabalhar efetivamente em direção a um objeti- ponesa, assim como vários países, que consideram que Tóquio
vo comum. Fiji está profundamente consciente de que os go- utiliza de maneira desonesta uma exceção da proibição da
vernos sozinhos não podem enfrentar esse desafio. É por isso caça aos cetáceos, de 1986. Em 2014, o Tribunal Internacional
que estamos colocando essa ênfase na noção de uma Grande de Justiça exigiu de Tóquio o fim da caça às baleias no Atlânti-
Coalizão de governos em todos os níveis, a sociedade civil, o co, por considerar que os japoneses não cumpriam os critérios
setor privado e os cidadãos comuns movendo esta agenda científicos exigidos. O Japão cancelou a temporada de caça de
para a frente. Estou dialogando com governadores, prefeitos, inverno de 2014-2015, mas retomou a pesca no ano seguinte.
líderes de todos os tipos em nossas sociedades. Pessoas de Confrontos entre baleeiros japoneses e defensores dos
fé. Pessoas na linha de frente da luta climática. Mulheres. E os animais
jovens, que representam o nosso futuro”, continuou o premiê. O Oceano Antártico já foi cenário de confrontos en-
Todo o discurso de Frank Bainimarama é um forte apelo tre baleeiros japoneses e defensores dos cetáceos. No mês
porque ele tem certeza de que é preciso aumentar a resiliência passado, a organização ecologista Sea Shepherd anunciou a
de seu país contra as tormentas que virão pela frente, cada vez desistência de tentar impedir a ação dos baleeiros japoneses
mais fortes. Para isso, quer juntar sociedade civil, empresários no Sul, reconhecendo seus próprios limites ante a potência
e governos. Para isso, conta também com a performance dos marítima nipônica.
jovens que estão navegando no Peace Boat. De fato, não há A Noruega, que se opôs à moratória de 1986 e considera
como ficar imune a depoimentos como o de Selina Leem, que que esta não a afeta, e a Islândia, são os únicos dois países no
na COP-21, em Paris, foi a mais jovem delegada. No encerra- mundo que praticam abertamente a caça comercial. O Japão
mento do encontro, ela emocionou a todos com suas palavras: tenta provar que a população de cetáceos é suficientemente
“Tenho 18 anos e desde que nasci fico muito nervosa grande para suportar a retomada da caça comercial.
quanto à minha casa. Hoje estou ainda mais. O meu país é O consumo da baleia tem uma longa tradição no Japão,
muito afetado pela subida do nível das águas. Quando a água onde a caça é praticada há muitos séculos. A indústria baleeira
sobe, arrasta-se por todo o lado. Toda a ilha é inundada.” teve seu auge depois da Segunda Guerra Mundial. Mas a de-
Hoje com a equipe do Peace Boat, a jovem deu entrevista manda dos consumidores japoneses caiu consideravelmente
à reportagem do jornal “O Público” e listou o que, para ela, nos últimos anos, o que provoca muitos questionamentos so-
pode ser feito para acabar com seu problema: bre o sentido das missões científicas.
“Educar as pessoas. Falar com os líderes políticos. Tirar fo- Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
tografias. Fazer discursos públicos. Há muitas pequenas coisas
que todos podemos fazer”, disse ela. CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Selina vai precisar mesmo desse discurso quando o navio Pea- A SURPREENDENTE RAZÃO PELA QUAL OS INVEN-
ce Boat chegar a Nova York, o que está previsto para o mês que TORES DA PÍLULA ANTICONCEPCIONAL DECIDIRAM QUE
vem. Lá ela vai se encontrar com representantes das Nações Uni- AS MULHERES DEVERIAM CONTINUAR MENSTRUANDO
das, e o pedido não é qualquer coisa: os países-ilha querem uma VOCÊ JÁ SE PERGUNTOU POR QUE A PÍLULA DEVE SER
mudança radical no consumo de combustíveis fósseis do mundo TOMADA POR TRÊS SEMANAS E SEU USO, INTERROMPI-
todo para que o aquecimento se mantenha a 1.5 grau acima do DO NA QUARTA? ALGUNS PODEM IMAGINAR QUE SEUS
que era na Revolução Industrial. É este o único jeito, afirmam CRIADORES TENHAM FEITO ISSO POR RAZÕES MÉDICAS,
os cientistas, de os impactos não aumentarem de intensidade. MAS O MOTIVO NÃO FOI CIENTÍFICO, MAS CULTURAL.
Além disso, querem também um financiamento. Vão precisar A pílula anticoncepcional é considerada por muitos
de dinheiro para enfrentar os problemas causados por furacões, como um símbolo da emancipação feminina ao permitir a
como o Irma, que recentemente atingiu parte da costa dos Esta- elas ter relações sexuais sem medo de engravidar. No en-
dos Unidos, México e ilhas do Caribe. Não vai ser fácil convencer. tanto, a história por trás do seu desenvolvimento não teve
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 muito a ver com essa ideia.

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ATUALIDADES

Por exemplo: você já se perguntou por que o ciclo de uso Por sua vez, Ettachfini afirmou em seu artigo que na ver-
de pílula envolve tomá-la por três semanas e interromper o dade existem dois anticoncepcionais orais que podem ser
uso (ou adotar um placebo) na quarta semana? Alguns po- tomados de forma contínua, sem sangramentos mensais. O
dem imaginar que seus criadores, John Rock e Gregory Pin- Seasonale foi lançado em 2003 e propõe só quatro menstrua-
cus, tenham feito isso por razões médicas, mas o motivo não ções por ano: uma a cada estação. E, em 2007, foi aprovada a
foi científico, mas cultural. primeira pílula sem pausas para menstruar, a Lybrel.
Rock era um católico devoto, e para ele era importante Críticos
obter a aprovação do Vaticano. Por isso, ele queria que o siste- Ainda que chame atenção o fato de que poucas mulheres
ma anticoncepcional fosse o mais parecido possível com outro saibam que podem optar por não menstruar, também não há
já aprovado pela Igreja Católica, o método rítmico, conhecido um consenso de que isso seja uma boa ideia.
popularmente como tabelinha, que consiste em não fazer sexo Há cientistas que inicialmente advertiram não haver es-
no período de ovulação, quando a mulher está fértil. tudos consistentes sobre o efeito para uma mulher de não
Por isso, Rock pensou que, se a pílula emulasse o ciclo menstruar por longos períodos de tempo. Mas especialistas
natural, poderia ser vista com bons olhos pelo papa. Mas seu concordam que isso não gera problemas de saúde.
plano fracassou. Há ainda quem alerte sobre os perigos de se tomar a pí-
A pílula foi aprovada em 1960 e tornou-se muito popu- lula, em especial por períodos prolongados.
lar, mas a Igreja levou quase uma década para se manifestar O site Broadly publicou um ano atrás que há cada vez
publicamente e, quando o fez, condenou o método por con- mais estudos que falam da existência de um vínculo entre o
siderá-lo “artificial”. uso de anticoncepcionais hormonais e a depressão, citando
Esquecimento um uma pesquisa dinamarquesa que mostrou que adolescen-
A essa altura, a principal preocupação já não era a Igreja, tes que tomavam a pílula tinham “um risco 80% maior” de
mas as mulheres. Como se tratava da reprodução (de evitá-la, terem de tomar antidepressivos.
para ser mais preciso), alguns homens se preocupavam em Por outro lado, para algumas mulheres, menstruar é uma
deixar essa responsabilidade na mão delas. parte fundamental de sua identidade, ainda que outras se
O sistema criado por Rock e Pincus exige que as mulheres recusem a associar o ciclo reprodutivo com a identidade de
sigam com muita atenção seu ciclo de uso, tomando a pilula gênero.
por 21 dias e interrompendo por sete. Caso se esqueçam de A certeza é que, no fim das contas, o importante é que as
alguma dose, perde-se o efeito anticoncepcional. mulheres saibam que têm mais de uma opção.
Preocupado com a possibilidade de sua mulher se es- Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017
quecer da pílula diária, um homem chamado David Wagner,
que era pai de quatro filhos, criou em 1961 uma embalagem INJEÇÃO DE ANTICORPOS É PROPOSTA DE TRATA-
redonda que permite ver se a mulher está tomando a pílula MENTO PREVENTIVO CONTRA ZIKA EM GESTANTES
corretamente. Várias empresas farmacêuticas copiaram o mo- CIENTISTAS TESTARAM ANTICORPOS SELECIONA-
delo, que segue popular ainda hoje em alguns países. DOS EM LABORATÓRIO EM PRIMATAS COM PROTEÇÃO
A forma de promover essa nova apresentação da pílula DE 100%.
revela muito sobre aquela época, como ressaltou a jornalista
Leila Ettachfini em um artigo no site Broadly. “Fácil para que Um grupo de pesquisadores da Universidade de Miami,
você explique... e para que ela use”, dizia um anúncio de 1964 do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade
da empresa Ortho-Novum. Outra publicidade, de 1969, da de São Paulo (USP) obteve respostas positivas em macacos
marca Lyndiol dizia aos médicos para “proteger sua paciente rhesus para um futuro tratamento preventivo contra zika em
do próprio esquecimento”. gestantes. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira
‘Nenhuma razão médica’ (4), na revista científica “Science Translational Medicine”.
Muitos especialistas acreditam que os inventores da pí- O macaco rhesus tem reação parecida ao ser humano ao
lula podiam ter evitado tudo isso -- e não apenas porque a entrar em contato com o zika: o vírus consegue infectar, se
sociedade finalmente aceitou, com o tempo, que as mulheres replicar e causar danos aos fetos. Por isso, os cientistas esco-
não precisavam de um homem para lhes explicar nada. lheram a espécie para os testes em animais.
O médico baiano Elsimar Coutinho, coautor do livro Antes de chegar à fase com os primatas, os cientistas
Menstruação, a Sangria Inútil (Gente, 1996), argumenta que “a passaram por algumas etapas. Anticorpos são moléculas li-
ovulação incessante não cumpre nenhum propósito” e que as beradas pelas células para “proteger” o corpo. As primeiras
mulheres, se assim quiserem, podem tomar a pílula por perío- referências à existência deles na ciência são datadas do final
dos mais longos para evitar não apenas a gravidez, mas a pró- do século XIX.
pria menstruação, que é muitas vezes incômoda e dolorosa. Se eles são conhecidos há tanto tempo, por que só agora
O jornalista e sociólogo Malcom Gladwell apoiou essa resolveram usá-los em um tratamento contra o zika?
ideia em 2000 em um ensaio publicado na revista “The New O trabalho dos cientistas foi identificar quais são as cé-
Yorker” sobre o ciclo de 28 dias idealizado por Rock e Pincus lulas de imunização mais eficientes contra o zika, trabalho de
dizendo: “Não havia e não há nenhuma razão médica para engenharia genética eficiente, mas recente e não populariza-
isso”. do. Primeiro, eles extraíram, isolaram e purificaram 91 an-
Coutinho, diz Gladwell, destaca que a menstruação ticorpos monoclonais do sangue humano, a partir de um
gera uma série de problemas de saúde que poderiam ser paciente que estava infectado pelo vírus -- ou seja: nesta
evitados ao suprimi-la: dores abdominais, alterações no es- época, a pessoa estava produzindo uma grande quantida-
tado de ânimo, enxaquecas, endometriose e anemia. de para combater a doença.

19
ATUALIDADES

Depois, os cientistas precisaram identificar entre esse vasto Faça você mesmo
número de moléculas produzidas pelo paciente quais eram os A palavra hacking não é novidade. No Brasil, costuma
mais eficientes contra o zika. Foram feitos testes em laboratório ser associada à ideia de hackers que invadem computado-
para ver as opções que melhor neutralizavam o vírus. Os anti- res e roubam dados, os «piratas de computadores».
corpos monoclonais chamados SMZAb1, SMZAb2 e SMZAb5 Mas o conceito de hacking na verdade é muito mais
foram os mais eficazes. Chegou-se a um coquetel com esse trio. amplo – e não está necessariamente ligado à ações mali-
Testes em macacos ciosas. Em seu sentido original, significa fazer modificações
Nos Estados Unidos, um grupo de oito macacos rhesus em sistemas ou programas para obter um recurso que an-
passou por testes para verificar a eficiência de proteção com tes não estava disponível, encontrar uma melhoria ou cor-
esse coquetel. Quatro receberam o trio de anticorpos e os ou- rigir um problema.
tros quatro receberam um placebo. Um dia depois, foram in- Existe inclusive a chamada “cultura hacker”, uma ideo-
fectados pelo vírus da zika isolado pela equipe do IOC/Fiocruz logia que prega amplo acesso à tecnologia, livre circulação
em 2016, extraído de um paciente do Rio de Janeiro.
de informação, descentralização de conhecimento e ino-
De acordo com o artigo publicado nesta quarta, a taxa de
vação.
proteção nos animais chegou a 100%. Testes adicionais de-
O hacking também não precisa estar restrito ao mundo
monstraram que os anticorpos continuaram ativos e em altas
quantidades seis meses após a injeção. da informática: o biohacking une o universo da biologia
Uma dose desta junção de anticorpos pode ser uma saí- com a cultura hacker, formando a Biologia DIY, que quer
da mais segura para gestantes durante a gestação. De acor- dizer “do it yourself”, ou “faça você mesmo”.
do com a pesquisadora e uma das autoras do artigo, Myrna “A ideia é democratizar a tecnologia, mostrar que a
Bonaldo, do IOC/Fiocruz, as vacinas são boas soluções, mas ciência não precisa se restringir à área da universidade. É
podem apresentar ainda algum risco para as grávidas porque ampliar o número de experiências possíveis com menos re-
são feitas com o vírus atenuado (“enfraquecido”). cursos”, diz o colombiano Andres Ochoa, consultor de tec-
“Para as pessoas em geral, a infecção pelo vírus da zika nologia e criador da rede SynTechBio, que reúne biohackers
não causa grandes problemas. Uma vacina resolve. Agora, du- da América Latina. A rede tem como membros pelo menos
rante a gravidez que ocorre o problema é maior. Não podemos 14 grupos espalhados pelo continente, três deles no Brasil.
correr o risco de tentar prevenir a mãe e atingir o bebê», disse. O biohacking é essencialmente interdisciplinar, ou seja,
O próximo passo será a administração do coquetel em atrai pessoas de áreas como Física, Design, Artes, Compu-
primatas gestantes e, na fase seguinte, em seres humanos. tação e Matemática. “Elas juntam seus conhecimentos à
Já prevendo uma possível ocorrência de reação adversa do sis- Biologia para desenvolver projetos”, diz Ochoa.
tema imunológico em caso de infecção por dengue, que é da família Claro que, assim como hackers de computadores, os
dos flavivírus, assim como o zika, os especialistas realizaram peque- interessados neta área, também, precisam ter um bom co-
nas modificações na estrutura genética dos anticorpos monoclonais nhecimento no assunto para poder se aventurar em ações
para tornar sua administração ainda mais segura. Desta forma, o co- mais inovadoras. Mas isso não significa ter doutorado em
quetel também poderia ser utilizado por pessoas com histórico de Biotecnologia, diz a professora Liza Felicori, da Universida-
infecção por dengue, incluindo gestantes. A descoberta também de Federal de Minas Gerais (UFMG).
contou com a colaboração de especialistas do Instituto de Pes- “A Biologia é bastante acessível, é possível fazer o co-
quisa Scripps, da Universidade de Emory, dos Institutos Nacio- nhecimento se popularizar. Tanto que às vezes a gente faz
nais de Saúde dos Estados Unidos e do Instituto Ragon. experimentos com alunos de ensino médio e eles enten-
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017 dem, fazem bem. Conseguem tranquilamente extrair o
DNA de um morango, por exemplo”, afirma ela, que está
DE TESTE DE DNA CASEIRO A ORGANISMOS GENE-
montando um laboratório aberto para pessoas de fora da
TICAMENTE MODIFICADOS: OS PROJETOS DOS BIOHAC-
universidade.
KERS BRASILEIROS
ENTUSIASTAS DA BIOLOGIA “FAÇA VOCÊ MESMO” “Muitas vezes, a universidade fica fechada demais em
CRIAM SEUS PRÓPRIOS EQUIPAMENTOS, FAZEM EXPE- si mesma. Os jovens não têm os bloqueios de quem lida
RIMENTOS FORA DA UNIVERSIDADE E PROCURAM SO- com as dificuldades da ciência há anos e acabam trazendo
LUÇÕES PARA PROBLEMAS DO COTIDIANO. novas soluções.”
Parece um papo comum: um grupo de jovens que ainda Chips e DNA
não se formou na faculdade se reúne ao redor de um porção de Há três principais subdivisões na Biologia DIY. Grupos
esfirras baratas e discute se aquela carne tem origem duvidosa. focados em fazer experimentos para encontrar soluções;
A paranoia sobre a origem da proteína animal é fre- pessoas interessadas em desenvolver e baratear equipa-
quente, mas, nessa turma, a conversa não fica só na teoria mentos e em montar laboratórios coletivos que possibili-
conspiratória: reunidas em um laboratório de garagem, as tem esses experimentos; e uma terceira vertente, interessa-
amigas estão testando protocolos para fazer um teste de da em modificações corporais tecnológicas.
procedência da carne. Isso mesmo: checar se o DNA da- Nessa última área estão, por exemplo, pessoas que in-
quela amostra é realmente bovino. jetam chips e ímãs sob a pele e fazem experimentações co-
Bem-vindo ao mundo do biohacking: um universo locando substâncias e até mesmo circuitos eletrônicos no
onde entusiastas fazem uso da biologia de maneira ama- próprio corpo. Essa é a vertente do biohacking que acaba
dora em resposta a uma curiosidade científica, uma dúvida chamando mais atenção, mas também atrai críticas dentro
pessoal ou um problema coletivo. do movimento.

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ATUALIDADES

“É um grupo muito pequeno que faz isso. Chamam instrução que serve de base para a produção da substância,
atenção, mas são minoria. Estamos falando de tecnologias usada no tratamento de diabetes, de maneira mais barata
que estão evoluindo cada vez mais rápido. Não faz senti- e acessível. O projeto conseguiu arrecadar U$ 16 mil ( R$
do você colocar em seu corpo um negócio que em pouco 50 mil) no Experiment, uma plataforma de financiamento
tempo vai ficar obsoleto”, diz Andres Ochoa. coletivo para pesquisas científicas.
Ele argumenta que a grande tendência são as tecno- No Brasil, não há legislação específica para “laborató-
logias “usáveis”, como relógios inteligentes e circuitos que rios de garagem”, no entanto, tudo o que é produzido fica
podem ser colados sobre a pele e removidos com facilida- sujeitos à legislação específica para aquele produto. Remé-
de. dios, por exemplo, terão de passar por aprovação da Anvisa
“Em geral, quem faz isso na verdade está fazendo uma antes de serem distribuídos.
declaração, é mais um ato simbólico do que uma coisa que Por isso, os biohackers acabam criando empresas e
tenha uma grande função prática”, diz o biohacker Otto muitas vezes profissionalizando o que era um hobby. A en-
Heringer, de São Paulo, que começou a fazer experimentos genheira química Clarissa Lopes, o estudante de Engenha-
como distração e acabou criando uma pequena empresa ria Aeroespacial Lucas Milagres e o estudante de Bioinfor-
para criar um novo defensivo agrícola através do desliga- mática Carlos Gonçalves criaram uma empresa para tocar
mento de um gene de pragas. seu projeto de usar bactérias na produção de calcitriol, um
Um de seus sócios, Erico Perrella, implantou um chip medicamento usado no tratamento de insuficiência crônica
RFID na mão em 2014 - sua intenção era usar o mecanismo renal.
para dar partida em sua kombi, mas o carro acabou vendi- “A indústria farmacêutica usa hoje outro processo, de
do, e o chip, que ainda está em sua mão, hoje não tem mais bem mais difícil acesso. Não há nenhum produtor local”,
utilidade para ele. afirma Gonçalves, que evita divulgar mais detalhes do pro-
Já dentro do campo das experimentações, as possibi- jeto por ainda não ter registrado uma patente. Sua expec-
lidades trazidas pela Biologia DIY são inúmeras. A ideia de tativa é chegar a um forma de produção mais barata do
analisar a origem de alimentos, por exemplo, se baseia em remédio.
uma técnica chamada DNA Barcoding (Codigo de Barras de Laboratórios
DNA, em tradução livre). O Brasil já tem diversos laboratórios “de garagem”
Todo segundo sábado do mês o centro Genspace, em abertos, com impressoras 3D e outros materiais para quem
Nova York, abre seu laboratório para que as pessoas levem é adepto do faça-você-mesmo — como o Olabi, no Rio de
suas próprias amostras de alimentos e façam testes do tipo. Janeiro, e o Garoa Hackerspace e os FabLabs da Prefeitura
Há quem invista na divulgação científica e nas possibilida- de São Paulo.
des educacionais da Biologia DIY. Para trabalhar com “Biologia de Garagem”, no entanto,
É o caso do carioca Filipe Oliviera, um dos criadores é preciso um pouco mais: áreas separadas, estéreis, com
do Conector Ciência, iniciativa que visa colocar em conta- equipamentos específicos e protocolos de biossegurança.
to escolas com métodos de ensino de baixo custo e fazer São os chamados wetlabs, laboratórios “molhados”, porque
os próprios alunos construírem os equipamentos. Dá para lidam com componentes vivos.
descobrir a biodiversidade com um microscópio de papel, O espaço aberto pela professora Liza Felicori, da Uni-
fazer a automação de luzes com sensores de luminosidade, versidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é um deles. Ele
entre outros usos. já recebeu os equipamentos e deve abrir até o fim do ano.
Outro caminho comum é o desenvolvimento de novos Há microscópios, estufa, pipetas, uma centrífuga (para se-
materiais, como fez o estudante de Biotecnologia baiano parar componentes de soluções), uma impressora 3D, uma
Geisel Alves, que ajudou uma ONG a criar um mecanismo máquina de PCR (para reproduzir DNA em grandes quanti-
que converte fibra do coco verde em papel reciclável usan- dades) e um nanodrop (que mede a concentração de mo-
do métodos caseiros e materiais acessíveis. léculas).
“É um material fibroso genérico que você mistura com A estudante Carol Gonzaga também montou um des-
outros materiais para fazer várias coisas. Além do papel, dá ses espaços, o Hub, com outros cinco biohackers no Rio de
pra fazer telha, piso, tijolo”, explica Alves. “Aqui, o alto con- Janeiro. O laboratório fica atualmente em um local improvi-
sumo de coco é um problema grande, porque eles acabam sado, mas será levado para um galpão de 320 m².
empilhados nas praias. Atrai ratos, mosquito da dengue.” “Terá um espaço de fabricação digital, uma cozinha ex-
“Novos materiais são um nicho”, diz Andres Ochoa. “No perimental, laboratório de biohacking e um laboratório de
Brasil já se trabalha com produção de um tecido ecológico mídia para lidar com eletrônica e comunicação”, explica ela,
que parece com couro a partir dos micro-oganismos que que conseguiu apoio do parque tecnológico da Universida-
fazem kombucha (uma bebida fermentada).” de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Manipular micro-organismos também é muito útil para Interessado em baratear equipamentos para esses la-
tornar alguns tipos de fármacos mais acessíveis. Andrés boratórios, o brasileiro André Maia Chagas desenvolveu
Ochoa participou da fase inicial do projeto Open Insulin, projetos nesse sentido e acabou lançando a start-up [em-
em que um grupo de 16 biohackers se uniu para criar um presa iniciante de tecnologia] Prometheus Science, na Ale-
protocolo open source (aberto) de insulina - espécie de manha.

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ATUALIDADES

Sua empresa é parte da enorme comunidade criando QUESTÃO


equipamentos baratos e mais acessíveis. “Possibilitando
que um experimento que custa 100 euros possa ser feito 01) “‘Monopólio’ brasileiro do nióbio gera cobiça mun-
por 3, você quebra um das principais barreiras da ciência, dial, controvérsia e mitos. Com 98% das reservas, Brasil não
que é a dificuldade de acesso por causa de dinheiro”, diz tem política específica para o mineral. Exportações cres-
ele. ceram 110% em 10 anos e somaram US$ 1,8 bi em 2012.”
Nós e eles Em relação ao nióbio brasileiro, assinale a alternativa
Nos Estados Unidos e na Europa, o movimento Biologia correta.
DIY foi surgindo conforme tecnologias biológicas, como A O depósito localizado no carbonatito do barreiro em
sequenciamento de DNA, foram ficando mais acessíveis. Já Araxá (MG) é responsável pela maior produção brasileira. O
no Brasil e em países como Índia e África do Sul, contam os nióbio é considerado fundamental para a indústria de alta
biohackers, o movimento surgiu da necessidade. tecnologia, como os tomógrafos de ressonância magnéti-
“Nos Estados Unidos, o acesso é tão fácil, tudo é tão ca, para a indústria aeroespacial, entre outras.
barato que a galera consegue montar laboratórios na pró- B As maiores reservas de nióbio estão localizadas na
pria garagem. Aqui em São Paulo, não tem como fazer isso. Amazônia (75%), onde a empresa Vale detém o monopólio
Para começar, a gente nem tem garagem”, diz Otto Herin- de exploração e comercialização.
ger, que faz especialização na Universidade de São Paulo C O nióbio é um mineral nobre e raro encontrado em
(USP). poucos países e seu preço está muito próximo do valor do
Há mais de 80 espaços de Biologia DIY pelo mundo, ouro, o que levou Walter Moreira Salles, banqueiro brasilei-
de acordo com o site DIYBio. A maioria é em cidades do ro, a investir na extração desse minério.
hemisfério norte como Amsterdã (Holanda), Berlim (Ale- D O fato de o Brasil possuir cerca de 98% das reser-
manha), Paris (França), Nova York e São Francisco (Estados vas conhecidas garante ao país muitos anos de monopólio
Unidos). da oferta. Devido ao crescimento da intensidade de uso e
“Não posso reclamar da USP, mas muitas universidades das inúmeras possibilidades de aplicações, a relevância e
federais não têm os laboratórios que os caras na Europa a valorização desse mineral são comparadas ao ouro e ao
têm em casa”, afirma o Heringer. Nos Estados Unidos, por petróleo.
exemplo, é possível comprar kits prontos de engenharia E A oferta de nióbio está praticamente toda nas mãos
genética pela internet. das duas gigantes mineradoras que operam no país, a es-
No Brasil, por conta dos preços e das dificuldades, a tatal Companhia Siderúrgica Nacional e a Anglo American.
maioria dos laboratórios abertos na área de biologia ainda
são, de algum modo, ligados às universidades - ocupando Resposta: A
espaços ou reaproveitando equipamentos.
“Mesmo a ciência ‘oficial’ que fazemos muitas vezes é
em uma salinha minúscula, com material improvisado, com
muita dificuldade. A gente está acostumado com a gam-
biarra. Sair dos muros da universidade ou dos laboratórios
das grandes indústrias é quase uma questão de sobrevi-
vência pra gente. O biohacking faz muito mais sentido para
nós do que para eles”, afirma.
Ele também aponta a diferença nos tipos de iniciativas:
enquanto no Brasil os projetos tendem a ser voltados para
resolver problemas reais, nos Estados Unidos e na Europa,
muitos deles são mais recreativos ou tem um quê de hobby
excêntrico.
Nos locais onde o movimento é mais desenvolvido, já
começaram as surgir as preocupações com possíveis ris-
cos – laboratórios amadores não poderiam criar organis-
mos nocivos? O FBI, a polícia federal americana, monitora o
movimento, mas não há regulamentação específica.
Os entusiastas dizem que todos os locais seguem pro-
tocolos de biossegurança e cartilhas de bom funcionamen-
to. O cientista francês Thomas Landrain, que estuda o mo-
vimento, diz em sua pesquisa que os espaços ainda não
têm sofisticação suficiente para gerar problemas.
Mas, apesar da relativa limitação técnica, os biohackers
seguem entusiasmados. “Tornar a ciência mais acessível
tem um enorme potencial transformador”, diz André Maia
Chagas, do Prometheus Science.
Fonte G1.com/ Acessado em 10/2017

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