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Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.489.551 - SP (2019/0110532-7)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO


AGRAVANTE : PAULO SERGIO BOSCHIM
ADVOGADOS : CRISTIANO ARAUJO CATEB - MG104687
GETULIO DE SOUSA BATISTA - MG154862
AGRAVADO : HP FINANCIAL SERVICES ARRENDAMENTO MERCANTIL S A
ADVOGADOS : JOSÉ AUGUSTO DE ARAUJO LEAL - SP137397A
CAMILLA QUEIROZ WERNECK - RJ200054
BIANCA SANTOS CORREA - RJ211768
LUIZA KLEIN TROMPOWSKY HECK - SP384903
EMENTA
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO E RECURSO
ESPECIAL INTERPOSTOS SOB A ÉGIDE DO NCPC. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7 DO STJ. O ÓBICE DA
SÚMULA 7 DO STJ IMPOSSIBILITA A ANÁLISE DA DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL. AGRAVO CONHECIDO. RECURSO ESPECIAL
NÃO CONHECIDO.

DECISÃO
PAULO SÉRGIO BOSCHIM (PAULO SÉRGIO) interpôs agravo de
instrumento contra decisão que, nos autos da ação de reintegração de posse c/c cobrança
fundada em inadimplemento de contrato de arrendamento mercantil julgada procedente
em fase de cumprimento de sentença, ajuizada por HP FINANCIAL SERVICES
ARRENDAMENTO MERCANTIL S/A em face de FABRACOR INDÚSTRIA GRÁFICA
LTDA. (FABRACOR), rejeitou a impugnação apresentada pelo sócio e deferiu a
desconsideração da personalidade jurídica da devedora.
O Tribunal de origem não deu provimento ao agravo, nos termos da
seguinte ementa:
Ação de reintegração de posse. Cumprimento de sentença.
Incidente de desconsideração da personalidade jurídica.
Conquanto o mero encerramento irregular das atividades não
autorize, por si só, o deferimento do pedido, as circunstâncias
trazidas aos autos permitem o acolhimento do pleito da credora.
Recurso improvido. (e-STJ fls. 73)

Os embargos de declaração interpostos foram rejeitados. (e-STJ fls. 87)


Inconformado, PAULO SÉRGIO interpôs recurso especial, com
fundamento no art. 105, III, a e c, da CF, alegando violação dos arts. 50, 1.024 e 1.052 do
CC, ao sustentar que (1) não foi identificado nenhum ato característico de má-fé/fraude,
tendo o Tribunal de origem descrito um cenário típico de crise financeira, não sendo a
hipótese de desconsideração da personalidade jurídica; e (2) há divergência

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jurisprudencial.
O apelo nobre não foi admitido em virtude (i) da incidência da Súmula 7 do
STJ; e (ii) da ausência de similitude fática entre acórdão recorrido e paradigmas.
Nas razões do presente agravo em recurso especial, PAULO SÉRGIO
sustentou que (a) não é caso de incidência da referida súmula; e (b) demonstrou a
divergência jurisprudencial.
Foi apresentada impugnação (e-STJ, fls. 180/196).
É o relatório.
Decido.
De plano, vale pontuar que os recursos ora em análise foram interpostos
na vigência do NCPC, razão pela qual devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade
recursal na forma nele prevista, nos termos do Enunciado Administrativo nº 3 aprovado
pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento
no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão
exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC.
A irresignação não merece prosperar.

(1) Da desconsideração da personalidade jurídica


A Corte estadual, após análise do conjunto fático probatório dos autos,
concluiu que há elementos suficientes para se deferir o pedido de desconsideração da
personalidade jurídica da ora recorrente, assim consignando:
De fato, conquanto o mero encerramento irregular das atividades
da empresa devedora não autorize, por si só, a desconsideração
de sua personalidade jurídica, no caso dos autos há elementos
suficientes para se deferir o pedido da credora.
Com efeito, constatou-se a desocupação do imóvel indicado como
sede da empresa perante a Jucesp (fl. 86 dos autos na origem), e
os ofícios expedidos para obtenção de endereço atual foram
infrutíferos (fls. 109/117, idem), bem como as pesquisas de ativos
financeiros (fl. 274, ibidem).
Além disso, o único automóvel localizado em nome da devedora
possui diversas restrições (fls. 278/281), e a empresa absteve-se
de prestar as indispensáveis informações sobre suas atividades
econômicas no ano de 2015, em que iniciada a execução (fls.
276/277).
Nesse contexto, impõe-se o reconhecimento de que a pessoa
jurídica, além de ter encerrado irregularmente suas atividades,
apresenta desvio de finalidade, eis que tem se prestado a evitar a
satisfação de seus débitos, autorizando, portanto, a procedência
do incidente de desconsideração. (e-STJ fls. 75)
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Assim, ultrapassar a conclusão a que chegou o eg. Tribunal a quo,


demandaria nova incursão no arcabouço fático-probatório carreado aos autos,
procedimento sabidamente inviável na instância especial, pois vedado pela Súmula 7 desta
Corte: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.

(2) Da divergência jurisprudencial


É impossível o conhecimento do recurso lastreado pela alínea c do
permissivo constitucional, uma vez que para verificar a identidade entre o paradigma
apresentado e os fundamentos do acórdão recorrido, necessário seria o reexame da
situação fática de cada caso. A propósito:
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IDEC. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. CADERNETA DE
POUPANÇA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS
282 E 356 DO STF. ILEGITIMIDADE DA PARTE
RECONHECIDA. INEXISTÊNCIA DE MENÇÃO EXPRESSA NO
TÍTULO JUDICIAL ACERCA DO SEU ALCANCE. REEXAME DE
FATOS E PROVAS. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO
DADA A INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. AGRAVO INTERNO
IMPROVIDO.
1. [...]
2. [...]
3. Consoante iterativa jurisprudência desta Corte, a incidência
da Súmula n. 7 do STJ impede o conhecimento do recurso
lastreado, também, pela alínea c do permissivo
constitucional, uma vez que falta identidade entre os
paradigmas apresentados e os fundamentos do acórdão, tendo
em vista a situação fática de cada caso.
4. Agravo interno improvido.
(AgInt no AREsp 965.951/PR, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, Terceira Turma, julgado em 13/12/2016, DJe 1/2/2017 -
sem destaque no original)

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Nessas condições, com fundamento no art. 1.042, § 5º do NCPC c/c art.
253 do RISTJ (com a nova redação que lhe foi dada pela emenda nº 22 de 16/03/2016, DJe
18/03/2016), CONHEÇO do agravo para NÃO CONHECER do recurso especial.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília, 1º de agosto de 2019.

MINISTRO MOURA RIBEIRO


Relator

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