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AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2186002 - PR (2022/0247968-6)

RELATOR : MINISTRO MARCO BUZZI


AGRAVANTE : JOSE CAMILO - ESPÓLIO
REPR. POR : ROSENEI APARECIDA NUNES - INVENTARIANTE
ADVOGADOS : ALDECI SANDRO PIEROG - PR063302
LUCAS MACHADO - PR097437
AGRAVADO : ISRAEL PADILHA MARTINS
ADVOGADO : FABIO LANDGRAF - PR079923

EMENTA

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL


– EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL - DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO.

INSURGÊNCIA RECURSAL DA PARTE REQUERIDA.

1. A ausência de impugnação específica, nas razões do


recurso especial, de fundamentos do acórdão recorrido atrai o
óbice da Súmula 283 do STF.

2. "Esta Corte, excepcionalmente, tem entendido que os


pressupostos de existência e os de validade do contrato podem
ser revelados por outros meios idôneos, e pelo próprio contexto
dos autos, hipótese em que tal condição de eficácia executiva - a
assinatura das testemunhas - poderá ser suprida" (REsp
1453949/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma,
julgado em 13/06/2017, DJe 15/08/2017).

2.1. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria fático-


probatória (Súmula n. 7/STJ).

3. Agravo interno desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão
virtual de 20/06/2023 a 26/06/2023, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti
e Antonio Carlos Ferreira votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Raul Araújo.
Brasília, 26 de junho de 2023.

Ministro MARCO BUZZI


Relator
AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2186002 - PR (2022/0247968-6)

RELATOR : MINISTRO MARCO BUZZI


AGRAVANTE : JOSE CAMILO - ESPÓLIO
REPR. POR : ROSENEI APARECIDA NUNES - INVENTARIANTE
ADVOGADOS : ALDECI SANDRO PIEROG - PR063302
LUCAS MACHADO - PR097437
AGRAVADO : ISRAEL PADILHA MARTINS
ADVOGADO : FABIO LANDGRAF - PR079923

EMENTA

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL


– EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL - DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO.

INSURGÊNCIA RECURSAL DA PARTE REQUERIDA.

1. A ausência de impugnação específica, nas razões do


recurso especial, de fundamentos do acórdão recorrido atrai o
óbice da Súmula 283 do STF.

2. "Esta Corte, excepcionalmente, tem entendido que os


pressupostos de existência e os de validade do contrato podem
ser revelados por outros meios idôneos, e pelo próprio contexto
dos autos, hipótese em que tal condição de eficácia executiva - a
assinatura das testemunhas - poderá ser suprida" (REsp
1453949/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma,
julgado em 13/06/2017, DJe 15/08/2017).

2.1. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria fático-


probatória (Súmula n. 7/STJ).

3. Agravo interno desprovido.

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO MARCO BUZZI (Relator): Cuida-se de agravo


interno, interposto por JOSE CAMILO, em face de decisão monocrática da lavra deste
signatário (fls. 362-369, e-STJ), que negou provimento ao reclamo do ora insurgente.

Cuida-se de recurso especial fundamentado nas alíneas "a" e "c" do


permissivo constitucional, visa reformar o acórdão prolatado pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, assim ementado (fl. 187, e-STJ):
APELAÇÃO CÍVEL – EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL –
INSTRUMENTO PARTICULAR DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS RURAIS –
SENTENÇA DE EXTINÇÃO, NOS TERMOS DO ART. 485, IV, DO CPC, EM
RAZÃO DA NULIDADE DO TÍTULO, PORQUE NÃO OBSERVADA A FORMA
PRESCRITA EM LEI PARA O NEGÓCIO JURÍDICO – IRRESIGNAÇÃO DO
EXEQUENTE – CONTRATO PARTICULAR ASSINADO PELO DEVEDOR E
DUAS TESTEMUNHAS – TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL, NA FORMA
DO INC. III, DO ART. 784, DO CPC – VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
ENQUANTO CONTRATO PRELIMINAR DE PROMESSA DE COMPRA E
VENDA – ARTS. 170 E 462, DO CC – EXECUÇÃO QUE VISA APENAS O
RECEBIMENTO DO PREÇO AJUSTADO ENTRE OS CONTRATANTES
–OBRIGAÇÃO CERTA, LÍQUIDA E EXIGÍVEL – DESNECESSIDADE DE
QUALIFICAÇÃO DAS TESTEMUNHAS CONTRATUAIS, PORQUE
MERAMENTE INSTRUMENTÁRIAS – LAÇOS DE PARENTESCO ENTRE O
EXEQUENTE E UMA DAS TESTEMUNHAS QUE, TAMPOUCO, MACULA A
HIGIDEZ DO TÍTULO EXTRAJUDICIAL – SENTENÇA REFORMADA, COM
RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM, PARA PROSSEGUIMENTO DA
EXECUÇÃO – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

Os embargos de declaração opostos foram rejeitados na origem (fls. 231-


237, e-STJ).

Nas razões do especial (fls. 243-263, e-STJ), a parte recorrente aponta,


além do dissídio jurisprudencial, violação dos arts. 428, I, 430, 784, III, 1.000 do
CPC/2015 e 228, V, do CC. Sustenta, em síntese: i) a existência "ato incompatível com
a vontade de recorrer, bem como de aceitação tácita da decisão que reconheceu a
nulidade da execução" (fls. 254, e-STJ); ii) a inexigibilidade do título executivo
extrajudicial.

Contrarrazões às fls. 286-305, e-STJ.

Em juízo de admissibilidade (fl. 306-307, e-STJ), negou-se seguimento ao


recurso, dando ensejo na interposição do agravo do artigo 1.042, CPC/15 (fls. 310-323,
e-STJ), no qual a parte agravante pretende a reforma da decisão impugnada.

Contraminuta às fls. 344-352, e-STJ.

Em decisão monocrática (fls. 362-369, e-STJ), negou-se provimento ao


reclamo ante a incidência das Súmulas 83/STJ e 283 do STF.

Daí o presente agravo interno (fls. 373-392, e-STJ), no qual o insurgente


pugna pelo afastamento dos referidos óbices.

Impugnação (fls. 397-416, e-STJ).

É o relatório.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO MARCO BUZZI (Relator): O agravo interno não


merece acolhida, porquanto os argumentos tecidos pelo agravante são incapazes de
infirmar a decisão agravada, motivo pelo qual merece ser mantida na íntegra, por seus
próprios fundamentos.

1. No tocante à existência de aceitação tácita, o acórdão recorrido conta com


fundamento inatacado, apto a sua manutenção, atraindo a incidência da Súmula 283
do STF, por analogia.

Com efeito, a insurgente apontou violação do art. 1.000 do CPC/15,


deduzindo a existência de "ato incompatível com a vontade de recorrer, bem como de
aceitação tácita da decisão que reconheceu a nulidade da execução" (fls. 254, e-STJ).

No particular, assim decidiu o Tribunal a quo:


De início, consigne-se que não é possível reconhecer a aceitação tácita do
Apelante acerca do conteúdo da sentença – da forma em que alegada
peloApelado – para fins de não conhecimento da Apelação Cível, pois o recurso
deEmbargos de Declaração tem restritas hipóteses de cabimento (dentre elas a
existência de contradição, como foi indicada nos aclaratórios de mov. 51.1), não
sendo admitido para se rediscutir a matéria decidida. Isto é, não cabe penalizar
o Exequente com a perda da faculdade de questionar os fundamentos da
sentença, que tem lugar propriamente no recurso de Apelação, pela não
manifestação da insurgência em momento processual inadequado e inoportuno.
(fls. 192-192, e-STJ)

Como se vê, o principal fundamento que embasou o aludido decisum - não


cabe penalizar o Exequente com a perda da faculdade de questionar os fundamentos
da sentença, que tem lugar propriamente no recurso de Apelação, pela não
manifestação da insurgência em momento processual inadequado e inoportuno - não
fora impugnado no recurso especial, o qual se revela suficiente para manter o
acórdão.

Deste modo, a subsistência de fundamento inatacado apto a manter a


conclusão do acórdão impugnado, impõe o desprovimento do apelo, a teor do
entendimento disposto na Súmula 283 do STF, in verbis: "É inadmissível o recurso
extraordinário quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento
suficiente e o recurso não abrange todos eles.". Nesse sentido, confira-se:
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
DECLARATÓRIA CUMULADA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER E INDENIZAÇÃO
POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. 1. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. 2. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO.
REEXAME. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 3. DANO MATERIAL.
DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 283 E
284/STF. 4. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 5. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. 1. Não
ficou configurada a violação aos arts. 489 e 1.022 do CPC/2015, uma vez que o
Tribunal de origem se manifestou de forma fundamentada sobre todas as
questões necessárias para o deslinde da controvérsia. O mero inconformismo da
parte com o julgamento contrário à sua pretensão não caracteriza falta de
prestação jurisdicional. 2. Modificar o entendimento do Tribunal local, acerca da
configuração do dano moral, incorrerá em reexame de matéria fático-probatória,
o que é inviável, devido ao óbice da Súmula 7/STJ. 3. A manutenção de
argumento que, por si só, sustenta o acórdão recorrido torna inviável o
conhecimento do recurso especial, atraindo a aplicação do enunciado n. 283 da
Súmula do Supremo Tribunal Federal. 4. Os honorários sucumbenciais foram
fixados em patamar que observou os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, de acordo com as peculiaridades do caso. Rever o
entendimento do acórdão a quo demandaria a incursão na seara probatória, o
que é vedado pela Súmula 7/STJ. 5. Agravo interno improvido. (AgInt no AREsp
1791138/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
julgado em 18/05/2021, DJe 24/05/2021) [grifou-se]
AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL
CIVIL. ART. 1.022 DO CPC/2015. VIOLAÇÃO. INEXISTÊNCIA. OMISSÃO NO
JULGADO. NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA.
SÚMULA 283 DO STF. REEXAME DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS, FATOS E
PROVAS. SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. NÃO PROVIMENTO. 1. Se as questões
trazidas à discussão foram dirimidas, pelo Tribunal de origem, de forma
suficientemente ampla, fundamentada e sem omissões, deve ser afastada a
alegada violação do art. 1.022 do Código de Processo Civil de 2015. 2. A
ausência de impugnação específica, nas razões do recurso especial, de
fundamentos do acórdão recorrido atrai o óbice da Súmula 283 do STF. 3. Não
cabe, em recurso especial, reexaminar matéria fático-probatória e a
interpretação de cláusulas contratuais (Súmulas 5 e 7/STJ). 4. Agravo interno a
que se nega provimento. (AgInt no AREsp 1517980/RJ, Rel. Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 10/05/2021, DJe
12/05/2021)[grifou-se]

Portanto, considerando que o decisum recorrido conta com fundamento


inatacado apto a manter a conclusão do acórdão, inafastável a aplicação da Súmula
283 do STF.

2. Quanto ao pretenso afastamento do óbice da Súmula 83/STJ, razão não


assiste ao agravante.

Cinge-se a controvérsia acerca do preenchimento dos requisitos necessários


do título executivo extrajudicial.

No ponto, a Corte local assim decidiu (fls. 193-197, e-STJ):


O art. 784, III, do CPC, não deixa margem para dúvidas de que constitui título
executivo extrajudicial qualquer documento particular assinado pelo devedor e
por duas testemunhas, devendo apenas atentar-se que a obrigação retratada
seja certa, líquida e exigível, em atenção ao disposto no art. 783, do
mesmoCódigo.
No caso dos autos, o exequente Israel Padilha Martins busca o integral
cumprimento do contrato firmado com ode cujus José Camilo, por meio do qual
este se comprometeu ao pagamento de R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos
mil reais) pela aquisição de 3 (três) imóveis rurais, sendo o preço ajustado em
5(cinco) parcelas, da seguinte forma (mov. 1.5):
[...]
O Exequente sinalizou, na petição inicial, que as 2 (duas) primeiras parcelas
foram regularmente pagas e, ainda, houve a amortização da quantia de
R$89.752,00 na data de 12/09/2016, restando inadimplida parte da 3ª parcela
(R$160.248,00), além da integralidade das 4ª e 5ª parcelas. Apontou como valor
atualizado da dívida, considerando a correção monetária e os juros de mora na
taxa de 1% ao mês, incidentes desde a data dos respectivos vencimentos, o total
de R$1.016.338,32, com posição para 18/01/2021 (data do ajuizamento da
Execução), conforme cálculo de mov. 1.6.
Dessa maneira, já de pronto se observa que a obrigação de pagamento é líquida
(porque passível de quantificação) e exigível (porque vencida e, segundo o que
consta nestes autos, não paga), devendo também ser reconhecida como certa
porque não deixa margem de dubiedade sobre a sua existência e seu conteúdo.
Aliás, note-se que, afora a alegação de nulidade pela forma, o Executado não
refuta a ocorrência do acordo de vontades, que é o que caracteriza efetivamente
um contrato enquanto instrumento jurídico que vincula as partes contratantes
aos compromissos por eles assumidos.
E, assim, em que pese a exigência por escritura pública no art. 108, do CC, é
necessário observar que o ordenamento jurídico pátrio como um todo se articula
para evitar ao máximo que os contratos sejam desfeitos por motivos de menor
importância e/ou que possam ser remediados pelo sistema, visando que a
relação obrigacional possa se dirigir ao seu objetivo último, que é o
adimplemento.
Vale dizer, considerando que o art. 170, do CC, seguindo o princípio da
conservação dos negócios jurídicos, torna possível a conversão substancial do
contrato nulo, e que o art. 462, do CC, determina que no contrato preliminar
devem estar presentes todos os requisitos de validade do negócio jurídico
definitivo, exceto a forma, é evidente que o título executado, qual seja,
o“Instrumento Particular de Compra e Venda dos Imóveis Rurais da Cidade de
Palmital Paraná, Forma de Pagamentos, de Forma Irretratável e Irrevogável e”,
deve ser lido como Outras Avenças um pré-contrato ou, melhor dizendo, como
um contrato de promessa de compra e venda, em que, de um lado, o Executado
se obrigou a pagar certa quantia em dinheiro e, de outro, o Exequente se obrigou
a transferir, após cumpridas as condições de preço, o direito de propriedade
sobre os imóveis, mediante o instrumento adequado.
[...]
Portanto, o instrumento particular apresentado nos autos é, sim, título executivo
extrajudicial, apto a aparelhar o processo de execução, eis que assinado pelo
devedor José Camilo e por duas testemunhas, como se vê (mov. 1.5):
[...]
A propósito, malgrado o questionamento do Executado acerca da autenticidade
e validade das assinaturas das testemunhas, porque não
identificadas/qualificadas no contrato ou porque mantenham laços de parentesco
com o Exequente, certo é que, por serem meramente instrumentárias, ou seja,
atestarem a mera regularidade formal do instrumento, nada estando associadas
ao conteúdo do negócio jurídico, eventual vício relativo às testemunhas não
retira a executoriedade do documento. [grifou-se]

Consoante asseverado na decisão agravada, a Corte local, soberana na


análise das circunstâncias fáticas da causa, concluiu estarem presentes os requisitos
necessários ao título executivo, ante o cumprimento da exigência legal da assinatura do
documento por duas testemunhas.

Ademais, pontuou a inexistência de mácula apta a afetar a execução em


comento, não podendo o simples vínculo familiar das partes com as testemunhas
afastar a higidez das cártulas.

Nesse sentido, confiram-se os seguintes precedentes:


AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-
EXECUTIVIDADE. ATRIBUTOS DO TÍTULO. TESTEMUNHA
INSTRUMENTÁRIA. FILHO E NORA DO EXEQUENTE. INTERESSE NO
FEITO. FATO QUE NÃO CONFIGURA ELEMENTO CAPAZ DE MACULAR A
HIGIDEZ DO TÍTULO EXECUTIVO. NULIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. 1. No
tocante especificamente ao título executivo decorrente de documento particular,
salvo as hipóteses previstas em lei, exige o normativo processual que o
instrumento contenha a assinatura do devedor e de duas testemunhas (NCPC,
art. 784, III, e CPC/73, art. 595, II), já tendo o STJ reconhecido que, na sua
ausência, não há falar em executividade do título. 2. A assinatura das
testemunhas é requisito extrínseco à substância do ato, cujo escopo é o de aferir
a existência e a validade do negócio jurídico. O intuito foi o de permitir, quando
aventada alguma nulidade do negócio, que as testemunhas pudessem ser
ouvidas para certificar a existência ou não de vício na formação do instrumento,
a ocorrência e a veracidade do ato, com isenção e sem preconceitos. 3. "A
assinatura das testemunhas instrumentárias somente expressa a regularidade
formal do instrumento particular, mas não evidencia sua ciência acerca do
conteúdo do negócio jurídico" (REsp 1185982/PE, Rel. Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 14/12/2010, DJe 02/02/2011). Em razão disso, a
ausência de alguma testemunha ou a sua incapacidade, por si só, não ensejam
a invalidade do contrato ou do documento, mas apenas a inviabilidade do título
para fins de execução, pela ausência de formalidade exigida em lei. (...) 5. "Esta
Corte, excepcionalmente, tem entendido que os pressupostos de existência e os
de validade do contrato podem ser revelados por outros meios idôneos, e pelo
próprio contexto dos autos, hipótese em que tal condição de eficácia executiva -
a assinatura das testemunhas - poderá ser suprida" (REsp 1453949/SP, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 13/06/2017, DJe
15/08/2017). 6. Na hipótese, não se aventou nenhum vício de consentimento ou
falsidade documental apta a abalar o título, tendo-se, tão somente, arguido a
circunstância do parentesco das testemunhas instrumentárias do credor. Aliás, o
acórdão recorrido afirma que "no mais, vejo que o título não apresenta qualquer
vício capaz de macular sua validade", argumento que não fora impugnado pelo
recorrente. 7. Agravo interno não provido. (AgInt nos EDcl no REsp n.
1.523.436/MT, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
4/5/2020, DJe de 12/5/2020.) [grifou-se]
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL - PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA - ACÓRDÃO ATACADO QUE ADOTOU O MESMO
POSICIONAMENTO DESTA CORTE A RESPEITO DO TEMA - SÚMULA N.
168/STJ - AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. INSURGÊNCIA DA
EMBARGANTE. 1. A orientação do v. acórdão embargado encontra-se em
sintonia com a jurisprudência desta Corte no sentido de que, somente em casos
excepcionais, mitiga-se a exigência da assinatura das duas testemunhas no
contrato celebrado, de modo a lhe ser conferida executividade, quando os
termos do pactuado possam ser aferidos por outro meio idôneo. Precedentes:
AgRg nos EDcl no REsp 1.183.496/DF, Rel. Ministro SIDNEI BENETI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 13/08/2013, DJe 05/09/2013; AgRg no AREsp
800.028/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado
em 02/02/2016, DJe 05/02/2016; REsp 1438399/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 10/03/2015, DJe 05/05/2015. (...) 3.
Agravo interno desprovido. (AgInt nos EAREsp 1269754/SC, Rel. Ministro
MARCO BUZZI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 15/06/2021, DJe
17/06/2021) [grifou-se]

Desta forma, considerando que o acórdão recorrido está em consonância


com a jurisprudência desta Corte, inafastável a aplicação da Súmula 83/STJ à hipótese.

Ressalta-se, ainda, que revela-se inviável a discussão da insurgência na via


estreita do recurso especial, ante a incidência da Súmula 7 do STJ.

De rigor, portanto, a manutenção da decisão agravada.

3. Do exposto, nega-se provimento agravo interno.

É como voto.
TERMO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
AgInt no AREsp 2.186.002 / PR
Número Registro: 2022/0247968-6 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
00000525620218160125 00000981220218160136 000009812202181601363 525620218160125 981220218160136
9812202181601363

Sessão Virtual de 20/06/2023 a 26/06/2023

Relator do AgInt
Exmo. Sr. Ministro MARCO BUZZI

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO

Secretário
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO

AGRAVANTE : JOSE CAMILO - ESPÓLIO


REPR. POR : ROSENEI APARECIDA NUNES - INVENTARIANTE
ADVOGADOS : ALDECI SANDRO PIEROG - PR063302
LUCAS MACHADO - PR097437
AGRAVADO : ISRAEL PADILHA MARTINS
ADVOGADO : FABIO LANDGRAF - PR079923

ASSUNTO : DIREITO CIVIL - OBRIGAÇÕES - ESPÉCIES DE CONTRATOS - COMPRA E VENDA

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : JOSE CAMILO - ESPÓLIO


REPR. POR : ROSENEI APARECIDA NUNES - INVENTARIANTE
ADVOGADOS : ALDECI SANDRO PIEROG - PR063302
LUCAS MACHADO - PR097437
AGRAVADO : ISRAEL PADILHA MARTINS
ADVOGADO : FABIO LANDGRAF - PR079923

TERMO

A QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 20/06/2023 a 26/06


/2023, por unanimidade, decidiu negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti e Antonio Carlos
Ferreira votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Raul Araújo.

Brasília, 27 de junho de 2023

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