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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 986.386 - SP (2007/0213605-5)

RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA


RECORRENTE : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADOR : SIDNEI FORTUNA E OUTRO(S)
RECORRIDO : IRMANDADE DE MISERICÓRDIA DE TAUBATÉ
ADVOGADO : JOSÉ ALVES E OUTRO(S)
EMENTA

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. UTILIDADE PÚBLICA.


DIREITO DE EXTENSÃO. CONTESTAÇÃO. POSSIBILIDADE.
1. Direito de extensão é o que assiste ao proprietário de exigir que se inclua no
plano de desapropriação a parte remanescente do bem, que se tornou inútil ou de difícil
utilização.
2. "(...) o pedido de extensão é formulado na via administrativa, quando há a
perspectiva de acordo, ou na via judicial, neste caso por ocasião da contestação. O réu,
impugnando o valor ofertado pelo expropriante, apresenta outra avaliação do bem,
considerando a sua integralidade, e não a sua parcialidade, como pretendia o autor. O
juiz, se reconhecer presentes os elementos do direito, fixará a indenização
correspondente à integralidade do bem. Resulta daí que é o bem, da mesma forma em sua
integralidade, que se transferirá ao patrimônio do expropriante" (José dos Santos
Carvalho Filho, Manual de Direito Administrativo, 11ª edição, Editora Lumen Juris, Rio
de Janeiro, 2004, p. 723).
3. O direito de extensão nada mais é do que a impugnação do preço ofertado
pelo expropriante. O réu, quando impugna na contestação o valor ofertado, apresenta
outra avaliação do bem, abrangendo a integralidade do imóvel, e não apenas a parte
incluída no plano de desapropriação. Assim, o pedido de extensão formulado na
contestação em nada ofende o art. 20 do Decreto-Lei 3.365/41, segundo o qual a
contestação somente pode versar sobre "vício do processo judicial ou impugnação do
preço". Precedentes de ambas as Turmas de Direito Público.
4. Recurso especial não provido.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar
provimento ao recurso nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Humberto
Martins, Herman Benjamin, Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ª Região) e Eliana
Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator. Sustentou oralmente Dr. José Alves Júnior, pela parte
RECORRIDA: IRMANDADE DE MISERICÓRDIA DE TAUBATÉ

Brasília, 04 de março de 2008 (data do julgamento).

Ministro Castro Meira


Relator

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 986.386 - SP (2007/0213605-5)

RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA


RECORRENTE : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADOR : SIDNEI FORTUNA E OUTRO(S)
RECORRIDO : IRMANDADE DE MISERICÓRDIA DE TAUBATÉ
ADVOGADO : JOSÉ ALVES E OUTRO(S)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Cuida-se de recurso


especial fundado exclusivamente na alínea "a" e interposto contra acórdão proferido em agravo de
instrumento pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, assim sintetizado:

"DESAPROPRIAÇÃO - Delimitação da prova técnica - Avaliação de sua


necessidade que compete ao julgador, que é o destinatário dos elementos de
convicção - Decreto expropriatório que incluiu bens móveis e equipamentos
hospitalares - Observância do princípio da justa indenização (CF, art. XXIV) -
Direito de extensão, ademais, admitido pela jurisprudência - Precedente do STJ -
Agravo improvido" (fl. 244).

Os embargos de declaração opostos restaram rejeitados, nos seguintes termos:

"Embargos de declaração - Alegação de omissão - Prequestionamento -


Vício inexistente - Embargos rejeitados" (fl. 255).

A Fazenda do Estado de São Paulo alega que o julgado contraria o disposto no artigo 20
do Decreto-Lei nº 3.365/41 "ao permitir a ampliação da matéria discutida em sede de ação de
desapropriação, ampliando os limites da defesa, não obstante a regra taxativa da norma legal
apontada como violada" (fl. 278). Afirma que na contestação somente pode constar impugnação ao
preço ou sobre a existência de vícios no processo judicial.
Recurso extraordinário simultaneamente interposto às fls. 259-273, inadmitido na
origem (fls. 348-349), consoante certidão à fl. 351.
A recorrida apresentou contra-razões, aduzindo, em preliminar, a ausência de
prequestionamento; no mérito, pugna para que seja mantido o aresto recorrido (fls. 320-344).
Inadmitido o recurso especial (fls. 346-347), subiram os autos a esta Corte por força do
provimento dado ao Ag 853.699/SP (fl. 359).
O Ministério Público Federal, na pessoa do ilustre Subprocurador-Geral da República
Dr. Geraldo Brindeiro, opina no sentido de que seja negado provimento ao recurso (fls. 370-380).

É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 986.386 - SP (2007/0213605-5)

EMENTA

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. UTILIDADE PÚBLICA.


DIREITO DE EXTENSÃO. CONTESTAÇÃO. POSSIBILIDADE.
1. Direito de extensão é o que assiste ao proprietário de exigir que se inclua no
plano de desapropriação a parte remanescente do bem, que se tornou inútil ou de difícil
utilização.
2. "(...) o pedido de extensão é formulado na via administrativa, quando há a
perspectiva de acordo, ou na via judicial, neste caso por ocasião da contestação. O réu,
impugnando o valor ofertado pelo expropriante, apresenta outra avaliação do bem,
considerando a sua integralidade, e não a sua parcialidade, como pretendia o autor. O
juiz, se reconhecer presentes os elementos do direito, fixará a indenização
correspondente à integralidade do bem. Resulta daí que é o bem, da mesma forma em sua
integralidade, que se transferirá ao patrimônio do expropriante" (José dos Santos
Carvalho Filho, Manual de Direito Administrativo, 11ª edição, Editora Lumen Juris, Rio
de Janeiro, 2004, p. 723).
3. O direito de extensão nada mais é do que a impugnação do preço ofertado
pelo expropriante. O réu, quando impugna na contestação o valor ofertado, apresenta
outra avaliação do bem, abrangendo a integralidade do imóvel, e não apenas a parte
incluída no plano de desapropriação. Assim, o pedido de extensão formulado na
contestação em nada ofende o art. 20 do Decreto-Lei 3.365/41, segundo o qual a
contestação somente pode versar sobre "vício do processo judicial ou impugnação do
preço". Precedentes de ambas as Turmas de Direito Público.
4. Recurso especial não provido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Devidamente analisada a


matéria à luz do disposto apontado por violado, conheço do apelo. Passo a examiná-lo.
A Fazenda do Estado de São Paulo sustenta que o julgado violou o disposto no artigo
20 do Decreto-Lei nº 3.365/41 "ao permitir a ampliação da matéria discutida em sede de ação de
desapropriação, ampliando os limites da defesa, não obstante a regra taxativa da norma legal
apontada como violada" (fl. 278). Argumenta que na contestação somente pode constar impugnação
ao preço ou sobre a existência de vícios no processo judicial.
A Corte de origem, entretanto, consignou que o acolhimento do pedido de extensão
formulado na contestação não implica ofensa à referida norma, bem como que o ato administrativo
de expropriação abrange além do imóvel, todos os bens móveis e equipamentos hospitalares.
Nesse sentido, colaciono o voto condutor do acórdão atacado:

"Bem examinada a questão, vê-se que a decisão agravada merece subsistir,


não obstante os veementes argumentos recursais.
Como se sabe, compete ao julgador avaliar necessidade da produção de
qualquer tipo de prova, pois, sendo ele o seu destinatário, cumpre-lhe aferir a
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necessidade ou não de sua realização.
Oportuna, nesse sentido, a lição de Moacyr Amaral Santos (Primeiras
Linhas de Processo Civil, 2° vol, São Paulo, Saraiva, 10ª edição, 1985, p. 352),
segundo o qual, 'se, em verdade, a indicação das provas é ato por excelência das
partes, porque interessadas na demonstração da verdade das respectivas afirmações
e por se acharem mais em condições de oferecer os meios para demonstrá-las, (...) é
necessário considerar que, no sistema processual brasileiro, consagrada a
concepção publicista do processo, vigora o princípio da autoridade, que estende os
poderes do juiz, ao qual cabe a direção do processo (CPC, art. 125)'.

Na espécie, cuida-se de ação expropriatória, constituindo o imóvel objeto do


pedido 'um prédio e respectivo terreno situado à Avenida Tiradentes, n° 280,
esquina com a Rua Portugal, no bairro Jardins das Nações, Comarca de Taubaté,
bem como, todos os móveis e equipamentos hospitalares identificados' (Dec. 48.601,
de 18.4.2004 - fls. 7).

Ora, é evidente que, abrangendo o ato administrativo de expropriação os


referidos bens móveis e equipamentos hospitalares, afigura-se correta a determinação
judicial de delimitação da prova técnica, quando mais não seja porque o direito de
extensão é admitido pela jurisprudência (STJ - REsp 617.503/RS - Rel. Min. Luiz
Fux - DJU 145.6.2004, p. 183).
Nessa conformidade, mostra-se correta a decisão agravada, que não implica
interferência na atividade discricionária da Administração, visto que se limitou a
prestigiar a aplicação do princípio constitucional da justa indenização.
Isso posto, nega-se provimento ao recurso" (fls. 245-246).

O voto assim explicitou por ocasião do julgamentos dos embargos de declaração:

"Cuida-se de embargos de declaração opostos contra acórdão que, por


votação unânime, negou provimento a agravo de instrumento tirado de decisão que
determinou a produção de prova pericial nos autos de ação de desapropriação (fls.
243/246).
Em síntese, sustenta omissão do julgado, que não teria se pronunciado
expressamente quanto à violação do art. 20, do Decreto Federal n° 3.365/41, bem
como do art. 2°, da Constituição Federal. Requer, pois, a análise de tais dispositivos,
alegados nas razões recursais, para fins de prequestionamento.
É o relatório.
2. Ausente o vício alegado.
O conteúdo dos artigos supra mencionados, de forma ou outra, foram objeto
de análise do julgado, embora não acolhidos na sua fundamentação. Bem se vê que a
prova pericial, discutida no recurso, visa a aclarar o quantum indenizatório, além de
ser considerada necessária como elemento de convicção para o magistrado, não
havendo qualquer violação ao art. 20, do Decreto 3.365/41, tampouco 'implica
interferência na atividade discricionária da Administração, visto que se limitou a
prestigiar a aplicação do princípio constitucional da justa indenização ' (fl.
246).
Portanto, omissão alguma existe, valendo lembrar que 'Mesmo nos
embargos de declaração com fim de prequestionamento, devem-se observar os
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lindes traçados no artigo 535 do CPC (obscuridade, dúvida, contradição, omissão e,
por construção pretoriana integrativa, a hipótese de erro material). Esse recurso
não é meio hábil ao reexame da causa' (STJ - REsp. 11.465-0/SP - Rel. Min.
Demócrito Reinaldo - DJU15.2.1993, p.1665).
3. Ante o exposto, rejeitam-se os embargos" (fls. 255-256).

Não merece reparos o aresto atacado.


Os recorridos postularam na contestação que a área remanescente do imóvel, não
incluída no decreto expropriatório, fosse também desapropriada (fls. 200-228). Exercitaram, assim,
na peça de defesa, o que a doutrina convencionou chamar de "direito de extensão".
Alega a recorrente que essa matéria não poderia ser postulada na contestação, nos
termos do artigo 20 do Decreto-Lei nº 3.365/41.
Hely Lopes Meirelles assevera que o direito de extensão sobrevive no direito atual,
embora sem previsão expressa no Decreto-Lei 3.365/41. Para o saudoso mestre, deve ser postulado
no acordo administrativo ou na ação judicial que se instaurar para a fixação do justo preço, sob
pena de renúncia ao direito.
Nesse sentido, transcreve-se o seu ensinamento:

"O direito de extensão é o que assiste ao proprietário de exigir que na


desapropriação se inclua a parte restante do bem expropriado, que se tornou inútil ou
de difícil utilização. Tal direito está expressamente reconhecido no art. 12 do Dec.
Federal 4.956/03. A legislação posterior não se referiu a ele, mas, como tal
disposição não contraria em nada o Dec.-lei 3.365/41 e leis subseqüentes,
entendemos, como Eurico Sodré, que o preceito está em vigência.
É de observar-se que, para fins de Reforma Agrária, a Lei 4.504/64
consignou expressamente o direito de extensão aos que tiverem terras parcialmente
expropriadas em condições que prejudiquem substancialmente a exploração
econômica do remanescente (art. 19, § 1º).
Em qualquer das hipóteses, o expropriado que desejar exercitar o direito de
extensão deverá manifestar seu desejo no acordo administrativo ou na ação judicial
que se instaurara para a fixação da indenização. Não o fazendo nessas oportunidades,
entende-se que renunciou seu direito, não sendo admissível que o pleiteie após o
término da desapropriação" (Direito Administrativo Brasileiro, 28ª edição, Malheiros
Editores, pp. 588/589).

A doutrina, embora não muito farta, indica a contestação como o momento oportuno
para se postular o direito de extensão. Nesse sentido, Diógenes Gasparini assim pontifica:

"Ainda em defesa, o expropriado pode exigir que a desapropriação alcance


o restante do bem objeto da declaração expropriatória, dado ter restado inútil ou
difícil a utilização autônoma desse remanescente (RDA, 119:310). É o direito de
extensão, que vigora desde 1903, por força do decreto federal n. 4.956, e que deve
ser alcançado e decidido ao se firmar o acordo administrativo ou deduzido e exigido
na contestação; fora dessas oportunidades, não é admitido e entende-se, quando não
alegado oportunamente, que o expropriado tenha a ele renunciado. Esse direito está
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previsto no art. 12 do decreto federal n.º 4.956/1903, ainda em vigor nesse particular,
conforme atestam Eurico Sodré e Hely Lopes Meirelles, entre outros" (Direito
Administrativo, 8ª edição, 2003, Editora Saraiva, pp. 673/674).

Na mesma linha, José dos Santos Carvalho Filho leciona:

"No que se refere à desapropriação normal, o pedido de extensão é


formulado na via administrativa, quando há a perspectiva de acordo, ou na via
judicial, neste caso por ocasião da contestação. O réu, impugnando o valor ofertado
pelo expropriante, apresenta outra avaliação do bem, considerando a sua
integralidade, e não a sua parcialidade, como pretendia o autor. O juiz, se reconhecer
presentes os elementos do direito, fixará a indenização correspondente à
integralidade do bem. Resulta daí que é o bem, da mesma forma em sua
integralidade, que se transferirá ao patrimônio do expropriante" (Manual de Direito
Administrativo, 11ª edição, Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2004, p. 723).

A Lei nº 4.504/64, que dispõe sobre o Estatuto da Terra e dá outras providências, em


seu art. 19, § 1º, fixa que o proprietário, quando intentada desapropriação parcial, poderá requerer,
na contestação, que todo imóvel seja expropriado, incluída a área remanescente inutilizada. O
dispositivo em destaque apresenta a redação que se segue:

"§ 1° Se for intentada desapropriação parcial, o proprietário poderá optar


pela desapropriação de todo o imóvel que lhe pertence, quando a área agricultável
remanescente, inferior a cinqüenta por cento da área original, ficar:"

Esse diploma legal, segundo previsão de seu art. 1º, "regula os direitos e obrigações
concernentes aos bens imóveis rurais, para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da
Política Agrícola".
Embora alcance apenas as desapropriações de imóveis rurais para fins de reforma
agrária, o regramento previsto no art. 19, § 1º, deve também ser aplicado às desapropriações por
utilidade ou necessidade pública, pois não há, entre o dispositivo e o rito processual previsto no
Decreto-Lei 3.365/41, qualquer incompatibilidade formal ou material.
Se na desapropriação para fins de reforma agrária, para o qual a lei fixa rito especial
sumário, nos termos do art. 1º da LC 76/93, pode o réu postular o direito de extensão na peça de
defesa, com muito mais razão deve ser admitido nas ações de desapropriação por necessidade ou
utilidade pública, que não obedecem ao rito sumário.
Ademais, o direito de extensão requerido pelo réu na contestação do feito
expropriatório em nada prejudica o rito processual previsto no Decreto-Lei 3.365/41, para as
desapropriações de imóveis por necessidade ou utilidade pública, já que a concessão depende de
requisitos, quase sempre, aferíveis de plano.
Caso dependa de dilação probatória, os requisitos poderão ser aferidos na mesma
perícia em que fixado o justo preço da indenização.
O direito de extensão nada mais é do que a impugnação do preço ofertado pelo
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expropriante. O réu, quando impugna na contestação o valor ofertado pelo expropriante, apresenta
outra avaliação do bem, abrangendo a integralidade do imóvel, e não apenas a parte incluída no
plano de desapropriação.
Assim, a inclusão do pedido de extensão em nada ofende o art. 20 do Decreto-Lei
3.365/41, segundo o qual a contestação somente pode versar sobre "vício do processo judicial ou
impugnação do preço". Como afirmado, o direito de extensão nada mais é do que a impugnação do
réu ao preço ofertado pelo expropriante.
Nessa linha, confiram-se precedentes deste Tribunal acerca do tema:

"PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. ART. 535 DO CPC.


DESAPROPRIAÇÃO. RODOANEL. JUROS MORATÓRIOS. ACÓRDÃO
RECORRIDO. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL. DIREITO DE EXTENSÃO.
CONTESTAÇÃO. POSSIBILIDADE. ARTS. 128 E 460 DO CPC. JULGAMENTO
ULTRA PETITA .
1. Não se conhece de recurso especial por violação ao art. 535 do CPC se a
parte não especifica o vício que inquina o aresto recorrido, limitando-se a alegações
genéricas de omissão no julgado. Incidência, por analogia, da Súmula nº 284/STF,
segundo a qual 'é inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia'.
2. É inadmissível o recurso especial quando a questão impugnada foi
decidida pela corte de origem com base em fundamento exclusivamente
constitucional.
3. Direito de extensão é o que assiste ao proprietário de exigir que se inclua
no plano de desapropriação a parte remanescente do bem, que se tornou inútil ou de
difícil utilização.
4. '(...) o pedido de extensão é formulado na via administrativa, quando há a
perspectiva de acordo, ou na via judicial, neste caso por ocasião da contestação. O
réu, impugnando o valor ofertado pelo expropriante, apresenta outra avaliação do
bem, considerando a sua integralidade, e não a sua parcialidade, como pretendia o
autor. O juiz, se reconhecer presentes os elementos do direito, fixará a indenização
correspondente à integralidade do bem. Resulta daí que é o bem, da mesma forma
em sua integralidade, que se transferirá ao patrimônio do expropriante' (José dos
Santos Carvalho Filho, Manual de Direito Administrativo, 11ª edição, Editora
Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2004, p. 723).
5. A Lei n.º 4.504/64, que dispõe sobre o Estatuto da Terra e dá outras
providências, em seu art. 19, § 1º, fixa que o proprietário, quando intentada
desapropriação parcial, poderá requerer, na contestação, que todo imóvel seja
expropriado, incluído a área remanescente inutilizada. Embora alcance apenas as
desapropriações de imóveis rurais para fins de reforma agrária, esse regramento deve
também ser aplicado às desapropriações por utilidade ou necessidade pública, pois
não há, entre o dispositivo e o rito processual previsto no Decreto-lei 3.365/41,
qualquer incompatibilidade formal ou material.
6. O direito de extensão nada mais é do que a impugnação do preço ofertado
pelo expropriante. O réu, quando impugna na contestação o valor ofertado, apresenta
outra avaliação do bem, abrangendo a integralidade do imóvel, e não apenas a parte
incluída no plano de desapropriação. Assim, o pedido de extensão formulado na
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contestação em nada ofende o art. 20 do Decreto-lei 3.365/41, segundo o qual a
contestação somente pode versar sobre 'vício do processo judicial ou impugnação do
preço'.
7. O pedido de extensão deve ser formulado pelo réu na contestação da ação
expropriatória, sendo inviável a sua formulação por meio de reconvenção ou ação
direta. Ausência de julgamento extra ou ultra petita .
8. Recurso especial conhecido em parte e improvido" (REsp 816.535/SP,
Rel. Min. Castro Meira, DJU de 16.02.07);

"PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO


DIRETA. UTILIDADE PÚBLICA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
NÃO-OCORRÊNCIA. ÁREA REMANESCENTE. ESVAZIAMENTO DO
CONTEÚDO ECONÔMICO. DIREITO DE EXTENSÃO. POSSIBILIDADE DE
EXERCÍCIO NOS PRÓPRIOS AUTOS DA EXPROPRIATÓRIA. ALEGADA
IMPOSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE LUCROS
CESSANTES CUMULADOS COM JUROS COMPENSATÓRIOS. MATÉRIA DE
PROVA. SÚMULA 7/STJ.
1. Não viola o art. 535 do CPC, tampouco nega prestação jurisdicional, o
acórdão que, mesmo sem ter examinado individualmente cada um dos argumentos
trazidos pelo vencido, adotou, entretanto, fundamentação suficiente para decidir de
modo integral a controvérsia.
2. Ainda que por fundamentos diversos, o aresto atacado abordou todas as
questões necessárias à integral solução da lide, concluindo, no entanto, ser devida
indenização pela perda dos pés de erva-mate existentes no imóvel expropriado,
conforme o valor apurado na segunda perícia judicial, de R$ 1,73 (um real e setenta
e três centavos) para cada planta.
3. O expropriado, na hipótese de desapropriação parcial do bem, seguida do
esvaziamento do conteúdo econômico da área remanescente, poderá exigir, na
própria demanda expropriatória, que a indenização alcance a totalidade do bem.
4. 'O direito de extensão nada mais é do que a impugnação do preço
ofertado pelo expropriante. O réu, quando impugna na contestação o valor ofertado,
apresenta outra avaliação do bem, abrangendo a integralidade do imóvel, e não
apenas a parte incluída no plano de desapropriação. Assim, o pedido de extensão
formulado na contestação em nada ofende o art. 20 do Decreto-lei 3.365/41,
segundo o qual a contestação somente pode versar sobre 'vício do processo judicial
ou impugnação do preço' (REsp 816.535/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJ
de 16.2.2007).
5. O pedido da parte expropriada em relação ao pagamento de lucros
cessantes restou indeferido pela sentença de primeiro grau de jurisdição, à
consideração de que os juros compensatórios já constituíam o pagamento pelo uso
antecipado do bem.
6. Os recorrentes, no entanto, pretendem comprovar que o modo como se
procedeu ao cálculo do valor dos pés de erva-mate, adotando-se uma variável
equivalente à renda líquida de cada planta, encerra verdadeira condenação ao
pagamento de lucros cessantes, cumulados, indevidamente, com os juros
compensatórios.
7. A pretensão, todavia, por ensejar o reexame do contexto fático-probatório
na hipótese dos autos, em especial a prova pericial produzida, esbarra no óbice
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previsto na Súmula 7/STJ, cuja redação é a seguinte: 'A pretensão de simples
reexame de prova não enseja recurso especial.'
8. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido"
(REsp 882.135/SC, Rel. Min. Denise Arruda, DJU de 17.05.07).

Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.

É como voto.

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ERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA

Número Registro: 2007/0213605-5 REsp 986386 / SP

Números Origem: 200602817620 4299025 4299025004 4299025702


PAUTA: 04/03/2008 JULGADO: 04/03/2008

Relator
Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MARIA CAETANA CINTRA SANTOS
Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADOR : SIDNEI FORTUNA E OUTRO(S)
RECORRIDO : IRMANDADE DE MISERICÓRDIA DE TAUBATÉ
ADVOGADO : JOSÉ ALVES E OUTRO(S)
ASSUNTO: Administrativo - Intervenção do Estado na Propriedade - Desapropriação

SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). JOSÉ ALVES JÚNIOR, pela parte RECORRIDA: IRMANDADE DE MISERICÓRDIA DE
TAUBATÉ
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do(a)
Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."
Os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin, Carlos Fernando Mathias (Juiz
convocado do TRF 1ª Região) e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 04 de março de 2008

VALÉRIA ALVIM DUSI


Secretária

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