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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 730.934 - DF (2005/0037139-8)


RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE : SANDRA FARIAS DE MORAIS E OUTROS
ADVOGADO : CÉLIO DE MELO ALMADA NETO E OUTRO(S)
RECORRENTE : JAVAN MIRANDA DOS SANTOS
ADVOGADO : HUDSON DE FARIA
RECORRIDO : DISTRITO FEDERAL
PROCURADOR : MARCOS EUCLÉSIO LEAL E OUTRO(S)
EMENTA

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. DISSÍDIO


JURISPRUDENCIAL. DIVERGÊNCIA NOTÓRIA. MITIGAÇÃO DE
EXIGÊNCIAS FORMAIS. CONCURSO PÚBLICO. VALORAÇÃO DO
CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. NÃO INCIDÊNCIA DA SÚMULA
07 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CRITÉRIO DE CORREÇÃO.
REVISÃO. AFERIR ILEGALIDADE E CUMPRIMENTO DAS REGRAS
DO EDITAL. POSSIBILIDADE.
1. Em se tratando de divergência notória, abrandam-se as exigências
de natureza formal, como a demonstração analítica da divergência e a
indicação do repositório oficial em que publicado o aresto paradigma,
especialmente se, tal qual ocorre na espécie, tal decisão é do próprio Superior
Tribunal de Justiça
2. Em sede de recurso especial é possível a valoração jurídica do
conjunto fático-probatório, de forma a melhor aplicar o direito à espécie, o que
afasta a incidência da Súmula 07 do Superior Tribunal de Justiça.
3. Ao Poder Judiciário é defeso rever os critérios de correção da banca
examinadora, salvo quando se tratar de aferir a legalidade do edital e o exato
cumprimento das regras nele previstas.
4. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA
TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, prosseguindo no julgamento ,por maioria, conhecer do recurso e lhe
dar parcial provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Jorge
Mussi e Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do TJ/RJ) votaram com a Sra.
Ministra Relatora.
Votou vencido o Sr. Ministro Gilson Dipp, que não conhecia do recurso.
SUSTENTARAM ORALMENTE NA SESSÃO DE 22/02/2011: DR.
ADEMAR BORGES DE SOUZA FILHO (P/ RECTES) E DR. RENÉ ROCHA FILHO (P/
RECDO)
Brasília (DF), 04 de agosto de 2011 (Data do Julgamento)

MINISTRA LAURITA VAZ


Relatora

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RECURSO ESPECIAL Nº 730.934 - DF (2005/0037139-8) (f)

RECORRENTE : SANDRA FARIAS DE MORAIS E OUTROS


ADVOGADO : CÉLIO DE MELO ALMADA NETO E OUTRO(S)
RECORRENTE : JAVAN MIRANDA DOS SANTOS
ADVOGADO : HUDSON DE FARIA
RECORRIDO : DISTRITO FEDERAL
PROCURADOR : MARCOS EUCLÉSIO LEAL E OUTRO(S)
RELATÓRIO
A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:
Trata-se de recurso especial interposto por SANDRA MARIA DE MORAIS E
OUTROS, fundamentado na alínea c do permissivo constitucional, contra acórdão do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios proferido em sede de apelação em ação
declaratória de nulidade, cuja ementa restou assim redigida, in verbis :
"ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. CRITÉRIO DE
CORREÇÃO DE PROVA. INADMISSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO DO
PODER JUDICIÁRIO.
Refoge ao âmbito de atuação do Poder Judiciário apreciar critério de
correção de questão de concurso, limitando-se a atuação deste ao exame da
legalidade do procedimento administrativo." (fl. 905)
A essa decisão foram opostos embargos de declaração, por meio dos quais o
Tribunal a quo reconheceu o prejuízo na defesa dos ora Recorrentes, materializada no fato de
o feito ter sido julgado dentro do prazo concedido para vistas dos autos aos procuradores dos
Apelantes.
Novo julgamento da apelação foi realizado, todavia, o resultado permaneceu
inalterado, inclusive no que se refere à ementa do novo acórdão, conforme se depreende à fl.
937.
Nas razões do especial, sustentam os Recorrentes a existência de dissídio
jurisprudencial porque "[...], o douto Tribunal de Justiça do Distrito Federal entendeu que
em matéria de concurso publico sua ação jurisdicional limita-se ao exame da legalidade do
procedimento administrativo, enquanto outros Tribunais divergem ao decidir que, havendo
erro material devidamente constatado, nada impede que o Judiciário examine a questão e, se
convencido da ilegalidade do ato, proclame a nulidade da parte viciada." (fl. 953).
Foram apresentadas contrarrazões (fls. 989/1.002), por meio das quais o ora
Recorrido alega que:
a) "[...] os Recorrentes não juntaram cópia autenticada do acórdão
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paradigma, tampouco fizeram menção a qualquer repositório oficial autorizado pelo STJ, em
que o aludido aresto tivesse sido publicado. Com isso, desatendeu-se ao comando insculpido
nos §§ 1º e 3º do supramencionado art. 255." (fl. 993);
b) há incidência da Súmula 83 desta Corte, aduzindo, em síntese, que a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça pacificou-se em sentido diametralmente oposto
ao pretendido pelos ora Recorrentes;
c) "[...], a análise de eventuais deficiências das questões do concurso
acarretaria, inequivocamente, um enveredamento por matéria probatória, o que é inviável
em sede de recurso especial, nos estritos termos da Súmula n. 07 deste Egrégio STJ." (fl.
999);
d) "[...], não se pode admitir a substituição da Banca Examinadora pelo Poder
Judiciário. Demonstrada que está a estrita legalidade das exigências constantes do edital do
concurso, bem como o tratamento isonômico dispensado a todos os candidatos, conclui-se
que não se pode admitir seja conferido aos Recorrentes, por meio judicial, rediscutir os
critérios adotados uniformemente pela Banca Examinadora, por intermédio de anulação
judicial de questões. Inteligência contrária implicaria em invasão, por parte do Poder
Judiciário, no mérito administrativo, o que, como é sabido, descabe em nosso ordenamento
Jurídico." (fl. 999)
Apresentadas contrarrazões (fls. 989/1.002) e admitido o apelo nobre na
origem (fls. 1.004/1.005), ascenderam os autos a esta Corte.
É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 730.934 - DF (2005/0037139-8) (f)

EMENTA
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. DIVERGÊNCIA NOTÓRIA. MITIGAÇÃO DE
EXIGÊNCIAS FORMAIS. CONCURSO PÚBLICO. VALORAÇÃO DO
CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. NÃO INCIDÊNCIA DA SÚMULA
07 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CRITÉRIO DE CORREÇÃO.
REVISÃO. AFERIR ILEGALIDADE E CUMPRIMENTO DAS REGRAS
DO EDITAL. POSSIBILIDADE.
1. Em se tratando de divergência notória, abrandam-se as exigências
de natureza formal, como a demonstração analítica da divergência e a
indicação do repositório oficial em que publicado o aresto paradigma,
especialmente se, tal qual ocorre na espécie, tal decisão é do próprio Superior
Tribunal de Justiça
2. Em sede de recurso especial é possível a valoração jurídica do
conjunto fático-probatório, de forma a melhor aplicar o direito à espécie, o que
afasta a incidência da Súmula 07 do Superior Tribunal de Justiça.
3. Ao Poder Judiciário é defeso rever os critérios de correção da banca
examinadora, salvo quando se tratar de aferir a legalidade do edital e o exato
cumprimento das regras nele previstas.
4. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.

VOTO
A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (Relatora):
SANDRA MARIA DE MORAIS e OUTROS ajuizaram ação declaratória com
o fito de ver anulada questão da 2.ª fase – Redação Técnica – do concurso público para o
provimento do cargo de Auditor Tributário do Distrito Federal, alegando a existência de erros
materiais – falhas no enunciado da "situação-problema" e na resolução desta –, que
conduziriam à possibilidade de mais de uma resposta correta.
O pedido está materializado da seguinte forma na inicial, in verbis :
"[...]
Em face de tudo o quanto fora expendido, é a presente ação para
requerer a Declaração da Nulidade da parte de Conhecimentos Específicos da
Prova de Redação Técnica do referido concurso, com a conseqüente
atribuição dos pontos correspondentes àquela parte da prova às notas dos
Autores, à vista do erro material já comprovado pelos pareceres técnicos
acostados; em qualquer dos casos, pra efeito de classificação no certame,
sendo os mesmos nomeados, empossados, enfim, que lhes sejam garantidas
todas as prerrogativas inerentes à função a que se candidataram." (fl. 09)
Na fase instrutória, os Autores apresentaram pedido de produção de prova

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pericial, a fim de "[...] reforçar as provas já produzidas e finalmente, caracterizar as falhas
técnicas apresentadas pela prova subjetiva, objeto da lide." (fl. 484), bem como "[...]
corroborar a farta prova material já produzida, porém unilateralmente. " (fl. 486).
O magistrado de primeiro grau deferiu a prova pericial requerida e nomeou o
perito do juízo (fl. 487). Entretanto, o perito judicial inicialmente nomeado declarou-se
suspeito para atuar no processo (fl. 489), tendo em vista que funcionara como membro da
banca examinadora do concurso em questão. Foi, então, nomeado outro perito para funcionar
no feito (fl. 490).
Antes que fosse realizada a mencionada prova técnica, os Autores requereram
(fl. 494) a juntada de perícia realizada em outro processo (fls. 505/516), a qual, segundo
alegaram, tratava da mesma quaestio iuris a ser dirimida nos presentes autos. Argumentaram
que, em razão do indispensável respeito à economia processual, seria desnecessário produzir
nova perícia sobre o tema.
Nesse diapasão, o juiz de primeiro grau, julgando antecipadamente a lide,
entendeu ser improcedente o pedido (fls. 526/529), sob o fundamento de que não cabe ao
Poder Judiciário rever os critérios de correção da banca examinadora.
O Tribunal a quo, examinando a apelação interposta pelos Autores, anulou a
sentença acima referida, para determinar a citação dos demais candidatos aprovados no
concurso público.
Vale ressaltar, por importante, que o relatório do acima mencionado aresto (fl.
545 e fls. 550/551) afirma ter o juiz de primeiro grau deferido, conforme fora solicitado pelos
Autores, os pedidos de juntada e aproveitamento nos presentes autos da perícia técnica
produzida em outro processo.
Promovida a citação determinada pela Corte de origem, foi prolatada nova
sentença (fls. 858/860), mais uma vez reconhecendo a improcedência do pedido formulado na
exordial, porquanto, conforme a fundamentação do magistrado, ao Poder Judiciário não cabe,
salvo no tocante ao controle de legalidade, reavaliar os exames que integram certames para o
provimento de cargos públicos.
O Tribunal a quo, em sede de apelação, manteve a decisão prolatada pelo
magistrado de piso em acórdão cuja ementa restou assim redigida, in verbis :
"ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. CRITÉRIO DE
CORREÇÃO DE PROVA. INADMISSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO DO
PODER JUDICIÁRIO.
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Refoge ao âmbito de atuação do Poder Judiciário apreciar critério de
correção de questão de concurso, limitando-se a atuação deste ao exame da
legalidade do procedimento administrativo." (fl. 905)
A essa decisão foram opostos embargos de declaração, por meio dos quais a
Corte de origem reconheceu o prejuízo à defesa dos ora Recorrentes, materializada no fato de
o feito ter sido julgado dentro do prazo concedido para vistas dos autos aos procuradores dos
Apelantes.
Nessas condições, novo julgamento da apelação foi realizado, mas o resultado
permaneceu inalterado, inclusive no que se refere à ementa do acórdão (fl. 937).
Daí, a interposição do presente recurso especial, calcado tão somente na alínea
c do permissivo constitucional.
Na seção de 22/02/2011, proferi voto no sentido de conhecer e dar provimento
ao apelo nobre para, reformando o acórdão recorrido, anular as questões 01 e 10 do concurso
público ora sob análise, de forma que a pontuação a elas atinente fosse atribuída a todos os
candidatos.
O i. Min. Gilson Dipp pediu vista dos autos e, na seção de 12/04/2011,
prolatou conclusão pelo não conhecimento do recurso especial.
Considerando alguns pontos levantados pelo Min. Gilson Dipp em seu voto,
pedi vista regimental.
De fato, ao contrário do que restou consignado em meu pronunciamento
anterior, a vexata quaestio não diz respeito à anulação, ou não, das questões 01 e 10 do
mencionado certame público.
Na verdade, os Autores, ora Recorrentes, ajuizaram ação declaratória com o
fito de ver anulada questão da 2.ª fase – Redação Técnica – do concurso público para o
provimento do cargo de Auditor Tributário do Distrito Federal, alegando a existência de erros
materiais – falhas no enunciado da "situação-problema" e na resolução desta –, que
conduziriam à possibilidade de mais de uma resposta correta.
Portanto, resta evidente o equívoco contido no voto por mim proferido naquela
oportunidade, o que impõe a adequação do meu pronunciamento ao caso em tela, razão pela
qual retifico o meu voto, conforme os fundamentos a seguir apresentados.
Pois bem. De plano, entendo que não merece prosperar a preliminar arguida
nas contrarrazões pelo ora Recorrido no sentido de que não foram preenchidos os requisitos
contidos o art. 255 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça.
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Ora, esta Corte possui entendimento pacificado no sentido de que, em se
tratando de divergência notória, abrandam-se as exigências de natureza formal, a exemplo da
demonstração analítica da divergência e da indicação do repositório oficial em que publicado
o aresto paradigma, especialmente se, como ocorre na espécie, tal acórdão é do próprio
Superior Tribunal de Justiça
Nesse sentido:
"AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL. INSCRIÇÃO DO DEVEDOR
NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. TRANSCRIÇÃO DE EMENTAS. DIVERGÊNCIA
NOTÓRIA. POSSIBILIDADE.
[...]
3. A demonstração do dissídio jurisprudencial pode ser feita pela
transcrição das ementas dos acórdãos paradigmas quando a divergência é
notória e os seus elementos transparecem nos trechos reproduzidos.
4. Agravo regimental desprovido." (AgRg no Ag 1.047.425/RS, 4.ª
Turma, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe 01/06/2009.)
"PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
DIVERGÊNCIA NOTÓRIA CARACTERIZADA. ROUBO. MOMENTO DA
CONSUMAÇÃO DO DELITO. DESNECESSIDADE DE POSSE TRANQÜILA
DA RES FURTIVA. AGRAVO IMPROVIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça orienta-se no sentido de que, em se
tratando de divergência notória, manifestada pelas ementas dos acórdãos
paradigmas colacionados, é dispensável a observância do rigorismo formal,
exigido para admissão do recurso especial pela alínea c do inciso III do art.
105 da Constituição Federal.
2. Na espécie, a tese defendida pelo agravado foi amparada na
jurisprudência pacífica deste Tribunal, segundo a qual se considera
consumado o crime de roubo no momento em que, cessada a clandestinidade
ou violência, o agente se torna possuidor da res furtiva, ainda que por curto
espaço de tempo, sendo desnecessário que o bem saia da esfera de vigilância
da vítima, incluindo-se, portanto, as hipóteses em que é possível a retomada
do bem por meio de perseguição imediata.
3. Agravo regimental improvido." (AgRg no REsp 1.024.504/SP, 5.ª
Turma, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJe de 02/02/2009.)
"PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. COMPROVAÇÃO.
1. Nos termos da nova redação do parágrafo único do artigo 541 do
CPC, admite-se a comprovação da divergência 'mediante certidão, cópia
autenticada ou pela citação do repositório de jurisprudência, oficial ou
credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que tiver sido publicada a
decisão divergente, ou ainda pela reprodução de julgado disponível na
Internet, com indicação da respectiva fonte, mencionando, em qualquer caso,
as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados'.
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2. Malgrado não tenha sido colacionado aos autos as cópias integrais
autenticadas dos arestos paradigmas, ou sequer tenha havido a indicação do
repositório oficial nos quais foram publicados, o dissídio pretoriano restou
demonstrado pois, além de se tratar de divergência notória, a parte
embargante transcreveu ementa de julgado do próprio STJ disponível na
Internet, indicando a respectiva fonte.
3. Agravo regimental provido." (AgRg nos EREsp 845.982/RJ, 1.ª
Seção, Rel. Min. LUIZ FUX, Rel. p/ Acórdão Min. CASTRO MEIRA, DJe de
15/09/2008.)
De outra parte, no tocante à alegada incidência da Súmula 07 desta Corte,
importante registrar que, em sede de recurso especial, é possível a valoração jurídica do
conjunto fático-probatório, de forma a melhor aplicar o direito à espécie, o que afasta a
incidência do mencionado óbice.
A propósito:
"RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. ATO ILÍCITO. RESPONSABILIDADE CIVIL. INOCORRÊNCIA.
LEI 5.250/67 (LEI DE IMPRENSA). ABSOLVIÇÃO CRIMINAL COM
REFLEXOS CIVIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. PUBLICAÇÃO DE
REPORTAGEM EM REVISTA DE GRANDE CIRCULAÇÃO. INEXISTÊNCIA
DE DANO EXTRAPATRIMONIAL NA ESPÉCIE. LIBERDADE DE
INFORMAÇÃO. FATO PÚBLICO E NOTÓRIO. UTILIZAÇÃO DE EPÍTETO
(ANIMAL). POLISSÊMICO. POSSIBILIDADE. VALORAÇÃO DE PROVAS.
SÚMULA 7. NÃO INCIDÊNCIA. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO.
PROVIMENTO.
I. No caso em exame, não se trata de reexame de prova, isto é, de
motivos de conhecimento dos fatos em que se funda o reconhecimento de dano
moral e uso da imagem, visto que os fatos são absolutamente certos, mas sim
de valoração jurídica.
II. A imagem exposta já havia resultado, evidentemente, em positivas
vantagens, inclusive patrimoniais, no decorrer da carreira do atleta, com a
contra-partida, contudo, da abertura de caminho para a negativa exposição,
dado o caráter polissêmico da expressão. Logo, no caso, não se tem acréscimo
negativo à matéria, mas, sim, a simples transposição de qualificação já antes
criada, consentida e usufruída, posta à receptividade e ao debate da opinião
pública. Em verdade, a imagem estampada, subsumiu-se no geral caráter
visivelmente informativo e educativo da matéria a respeito de acidentes de
veículos, ainda que desagradando ao Autor e a quem mais negativamente
lembrado.
III. No caso concreto, declarada pela justiça penal a não
caracterização dos crimes considerados contra a honra, inexistirá o ilícito
civil correspondente, salvo se a absolvição decorrer de insuficiência de
provas.
IV. Nos termos dos dispositivos legais invocados pelo Autor, responde
por danos morais e à imagem quem cause dano. No entanto, não houve, no
caso, dano causado ao autor, mas tecnicamente, simples incômodo ou
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desconforto pela exposição do lado negativo da figura pública. Portanto, não
há o que indenizar ao autor.
V. Recurso Especial provido, julgando-se improcedente a ação, nos
exatos termos, inclusive quanto à sucumbência da sentença." (REsp
1.021.688/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. MASSAMI UYEDA, Rel. p/ Acórdão
Min. SIDNEI BENETI, DJe de 01/07/2009.)
"AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO.
RECONHECIMENTO DE TEMPO DE SERVIÇO. INÍCIO RAZOÁVEL DE
PROVA MATERIAL, CORROBORADA POR PROVA TESTEMUNHAL.
VALORAÇÃO DAS PROVAS. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO DIREITO
À ESPÉCIE – ART. 257 DO REGIMENTO INTERNO DO STJ.
1. É possível, em recurso especial, a valoração jurídica das provas
constantes do acórdão recorrido para a correta aplicação do direito ao caso.
2. Abordada pela parte recorrente a questão de fundo discutida nos
autos, devidamente prequestionada pelo Tribunal de origem, e conhecido o
recurso especial, é possível ao STJ, desde logo, aplicar o direito à espécie, nos
termos do art. 257 do seu Regimento Interno.
3. Agravo interno a que se nega provimento." (AgRg no REsp
1.030.678/SP, 6.ª Turma, Rel.ª Min.ª JANE SILVA (Desembargadora
Convocada do TJ/MG), DJe de 17/11/2008.)
Esta Corte também possui entendimento pacificado no sentido de que,
conquanto não seja da competência do Poder Judiciário rever os critérios de correção de
provas de concurso público, é possível, de forma excepcional, a anulação de questão que
contenha evidente ilegalidade ou cuja formulação tenha deixado de cumprir as regras
previstas no edital do certame.
Nesse sentido:
"RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
CONCURSO PÚBLICO. CARGO DE DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL.
PRETENSÃO DE ANULAÇÃO DE QUESTÕES OBJETIVAS. PRELIMINAR.
LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. ART. 47 DO CPC. NÃO
CARACTERIZAÇÃO. ALEGAÇÃO DE NÃO CORRELAÇÃO COM A
TEMÁTICA EXIGIDA NO EDITAL. PERTINÊNCIA PARCIAL ANULAÇÃO
DA QUESTÃO Nº 17 DO CERTAME. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
PUBLICIDADE. RECURSO ORDINÁRIO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Em regra a anulação de questão de concurso pode afetar a lista de
classificação. Na espécie, todavia, embora o item 14.6 do Edital preveja o
acréscimo nas notas dos candidatos de questão anulada, a citação dos demais
candidatos para integrarem a relação jurídico processual como litisconsortes
passivos necessários, nos termos do art. 47 do CPC, não se mostra
indispensável.
2. Consoante jurisprudência firme do STJ, não é vedado ao Poder
Judiciário o exame de questão de prova de concurso público para aferir se
esta foi formulada em obediência ao conteúdo programático, desde que não
exija qualificação específica para tanto. A Administração, na formulação das
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questões de prova de concurso público, vincula-se às regras estabelecidas no
instrumento convocatório. Observância do princípio da publicidade.
3. Ao administrador é dado o poder-dever de se valer da
discricionariedade na escolha do conteúdo das questões do concurso,
vinculando-se a partir daí ao conteúdo previsto no edital.
4. A formulação de questões de prova de concurso devem contemplar
o conteúdo programático previsto no edital. O que, na espécie, não ocorreu
em relação à questão nº 17.
5. Recurso ordinário parcialmente provido." (RMS 30.246/SC, 6.ª
Turma, Rel. Min. CELSO LIMONGI (Desembargador Convocado do TJ/SP),
DJe de 17/12/2010.)
"RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. MAGISTRATURA. QUESTÃO
DISCURSIVA. CONTEÚDO NÃO PREVISTO NO EDITAL DE ABERTURA
DO CERTAME. ANULAÇÃO PELO PODER JUDICIÁRIO. POSSIBILIDADE.
PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA VINCULAÇÃO AO EDITAL.
1 - A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem entendido
ser possível a intervenção do Poder Judiciário nos atos que regem os
concursos públicos, principalmente em relação à observância dos princípios
da legalidade e da vinculação ao edital.
2 - In casu, não se trata de revisão dos critérios estabelecidos pela
banca examinadora, mas, sim, de dar ao edital do certame interpretação que
assegure o cumprimento das regras nele estabelecidas e em relação às quais
estavam vinculados tanto a Administração quanto os candidatos.
3 - Não se desconhece que o exercício do cargo de Juiz de Direito
exige conhecimento aprofundado sobre os mais variados ramos da ciência
jurídica. Essa premissa, contudo, não tem o condão de afastar os já referidos
princípios da legalidade e da vinculação ao edital, não se mostrando razoável
que candidatos tenham que expor conhecimentos de temas que não foram
prévia e expressamente exigidos no respectivo edital da abertura.
4 - Recurso provido." (RMS 28.854/AC, 6.ª Turma, Rel. Min.
PAULO GALLOTTI, DJe de 01/07/2009.)
"ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. QUESTÃO OBJETIVA.
VINCULAÇÃO AO EDITAL. EXAME PELO PODER JUDICIÁRIO.
POSSIBILIDADE. DILAÇÃO PROBATÓRIA. NÃO-CABIMENTO. RECURSO
IMPROVIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que,
excepcionalmente, é possível ao Poder Judiciário examinar se a questão
objetiva em concurso público foi elaborada de acordo com o conteúdo
programático previsto no edital do certame. Hipótese em que se apreciam
aspectos relacionados à observância do princípio da legalidade, e não ao
mérito administrativo.
2. No entanto, em se tratando de mandado de segurança, exige-se
prova pré-constituída suficiente ao exame do alegado direito líquido e certo,
sendo incompatível a impetração quando a solução da quaestio demandar
dilação probatória.
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3. Hipótese em que não há como formar um juízo convincente a
respeito da suscitada ilegalidade mediante mero cotejo entre as questões
impugnadas e o edital do certame. Impõe-se incursão no campo das Ciências
Contábeis, com a necessidade de abertura de fase probatória, para concluir
se o conhecimento exigido se afastou do conteúdo programático.
4. Recurso ordinário improvido." (RMS 24.939/MS, 5.ª Turma, Rel.
Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJe de 17/11/2008; sem grifos no
original.)
"Concurso público (juízes). Banca examinadora (questões/critério).
Erro invencível (caso). Ilegalidade (existência). Judiciário (intervenção).
1. Efetivamente – é da jurisprudência –, não cabe ao Judiciário,
quanto a critério de banca examinadora (formulação de questões), meter mãos
à obra, isto é, a banca é insubstituível.
2. Isso, entretanto, não é absoluto. Se se cuida de questão mal
formulada – caso de erro invencível –, é lícita, então, a intervenção judicial.
É que, em casos tais, há ilegalidade; corrigível, portanto, por meio de
mandado de segurança (Constituição, art. 5º, LXIX).
3. Havendo erro na formulação, daí a ilegalidade, a Turma, para
anular a questão, deu provimento ao recurso ordinário a fim de conceder a
segurança. Maioria de votos. " (RMS 19.062/RS, 6.ª Turma, Rel. Min.
NILSON NAVES, DJ de 03/12/2007; sem grifos no original.)
"RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO
PÚBLICO. PROVAS. CONTROLE JURISDICIONAL. LIMITES.
Não é vedado ao Judiciário o exame de questão de prova de concurso
público para aferir se esta foi formulada em obediência ao conteúdo
programático, porquanto a Administração, na formulação das questões,
vincula-se às regras estabelecidas no instrumento convocatório. Precedentes
do STJ e STF.
Recurso ordinário provido para determinar o retorno dos autos ao e.
Tribunal a quo, para que julgue o writ nos estritos limites do pedido." (RMS
21.197/MA, 5.ª Turma, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJ de 10/09/2007.)
Pois bem. Calcada nessas orientações firmadas por este Superior Tribunal de
Justiça, passo ao exame da questão submetida à apreciação desta Corte no presente apelo
nobre.
Constata-se dos autos (fl. 487) que foi deferido o pedido dos Autores, ora
Recorrentes, de produção de prova pericial. Entretanto, antes que fosse realizada a
mencionada prova técnica, os Autores requereram (fl. 494) a juntada de perícia realizada em
outro processo (fls. 505/516), que teve como objeto a mesma questão da prova de redação
impugnada nos presentes autos.
Argumentaram na ocasião que, em observância ao princípio da economia
processual, seria desnecessário produzir nova perícia sobre o tema. E, pelo que se tem dos
autos, foi deferido o aproveitamento da prova, conforme se vê do relatório do acórdão
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recorrido.
Ato contínuo, o juiz de primeiro grau, julgando antecipadamente a lide,
entendeu ser improcedente o pedido (fls. 526/529), sob o fundamento de que não cabe ao
Poder Judiciário rever os critérios de correção da banca examinadora.
O Tribunal a quo, examinando a apelação interposta pelos Autores, anulou a
sentença acima referida, por entender que o caso ensejava a hipótese de litisconsórcio
necessário, determinando a citação dos demais candidatos aprovados no concurso público.
Promovida, então, a mencionada citação, foi prolatada nova sentença (fls.
858/860), mais uma vez reconhecendo a improcedência do pedido formulado na exordial, ao
fundamento de que não cabe, ao Poder Judiciário, salvo no tocante ao controle de legalidade,
reavaliar os exames que integram certames para o provimento de cargos públicos.
A Corte de origem, em sede de apelação, manteve a decisão prolatada pelo
magistrado de piso, em acórdão que, na parte que interessa, possui a seguinte fundamentação,
litteris :
"[...]
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
Trata-se de apelação interposta contra a r. sentença proferida pelo
MM Juiz da 3ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal que inacolheu o
pleito autoral de declaração de nulidade da parte de 'conhecimentos
específicos' da prova de redação técnica referente ao concurso público para
ingresso no cargo de Auditor Tributário, Padrão I, 4ª Classe, da Carreira
Auditoria Tributária do Distrito Federal.
Já tive oportunidade de analisar caso de todo idêntico ao versado nos
autos, inclusive relativo ao mesmo concurso público onde foi aplicada a prova
que ora pretende seja parte dela declarada nula, ao relatar a Apelação Cível
n.º 44.578, improvida à unanimidade pela 5ª Turma Cível desta Egrégia Corte
de Justiça, motivo pelo qual adoto como razões de decidir as nela expendidas,
verbis:
'A questão do controle judicial sobre os atos administrativos
tem sido reiteradamente trazida à apreciação dos tribunais pátrios e a
jurisprudência dominante é firme no sentido de não admitir a
apreciação pelo Poder Judiciário de questões relativas ao mérito
dos exames aplicados em concursos públicos ou mesmo dos
critérios adotados pela respectiva banca examinadora para aferir
os resultados dos candidatos submetidos ao certame.
[...]
Em se tratando de provas de concurso público, poderá o juiz
averiguar a conformação dos atos praticados pela Administração
em face da lei ou do edital, mas não emitir juízo de valor sobre a
apreciação da resposta correta ou das razões que a sustentam,
adotadas pela banca examinadora.
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[...]
A hipótese dos autos é idêntica aos julgados referidos, razão
pela qual se mostra de todo improcedente a pretensão do apelante.'
Assim sendo, tenho que a r. sentença fez percuciente análise da
questão, merecendo subsistir por seus próprios e jurídicos fundamentos.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso." (fls. 908/911; sem
grifos no original.)
Como se pode perceber, o Tribunal a quo desproveu a apelação dos Autores
apenas com base na premissa de que não é dado, ao Poder Judiciário, rever os critérios de
correção das provas adotados por parte da banca examinadora, não levando em consideração
quaisquer outros elementos de convicção eventualmente constante dos autos.
Nessa esteira, esclareço que o acórdão apontado como paradigma – REsp
174.291/DF, da relatoria do i. Min. Jorge Scartezzini –, examinou matéria semelhante à dos
presentes autos e, ao fazê-lo, chegou a conclusão diametralmente oposta, no sentido de que,
ao contrário do que restou consignado no aresto recorrido, é possível, sim, excepcionalmente,
superar o óbice segundo o qual ao Poder Judiciário é defeso imiscuir-se no tocante a
irresignações atinentes a ter sido, ou não, mal formulada questão de concurso público.
A propósito, transcrevo abaixo a ementa do acima mencionado julgado, in
verbis:
"ADMINISTRATIVO – RECURSO ESPECIAL – CONCURSO
PÚBLICO – DISSÍDIO PRETORIANO COMPROVADO E EXISTENTE –
AUDITOR TRIBUTÁRIO DO DF – PROVA OBJETIVA – FORMULAÇÃO
DOS QUESITOS – DUPLICIDADE DE RESPOSTAS – ERRO MATERIAL –
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DOS ATOS – NULIDADE.
1 - A teor do art. 255 e parágrafos do RISTJ, para comprovação e
apreciação da divergência jurisprudencial (art. 105, III, alínea 'c', da
Constituição Federal), devem ser mencionadas e expostas as circunstâncias
que identificam ou assemelham os casos confrontados, bem como juntadas
cópias integrais de tais julgados. O confronto ocorreu e os paradigmas foram
devidamente anexados aos autos, o que leva ao conhecimento do recurso e à
apreciação deste.
2 - Por se tratar de valoração da prova, ou seja, a análise da
contrariedade a um princípio ou a uma regra jurídica no campo probatório,
porquanto não se pretende que esta seja mesurada, avaliada ou produzida de
forma diversa, e estando comprovada e reconhecida a duplicidade de
respostas, tanto pela r. sentença monocrática, quanto pelo v. acórdão de
origem, afasta-se a incidência da Súmula 07/STJ (cf. AG nº 32.496/SP).
3 - Consoante reiterada orientação deste Tribunal, não compete ao
Poder Judiciário apreciar os critérios utilizados pela Administração na
formulação do julgamento de provas (cf. RMS nºs 5.988/PA e 8.067/MG, entre
outros). Porém, isso não se confunde com, estabelecido um critério legal –
prova objetiva, com uma única resposta (Decreto Distrital nº 12.192/90, arts.
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33 e 37), estando as questões mal formuladas, ensejando a duplicidade de
respostas, constatada por perícia oficial, não possa o Judiciário, frente ao
vício do ato da Banca Examinadora em mantê-las e à afronta ao princípio da
legalidade, declarar nula tais questões, com atribuição dos pontos a todos os
candidatos (art. 47 do CPC c/c art. 37, parág. único do referido Decreto) e
não somente ao recorrente, como formulado na inicial.
4 - Precedentes do TFR (RO nº 120.606/PE e AC nº 138.542/GO).
5 - Recurso conhecido pela divergência e parcialmente provido para,
reformando o v. acórdão de origem, julgar procedente, em parte, o pedido a
fim de declarar, por erro material, nulas as questões 01 e 10 do concurso ora
sub judice, atribuindo-se a pontuação conforme supra explicitado,
invertendo-se eventuais ônus de sucumbência." (REsp 174.291/DF, 5.ª Turma,
Rel. Min. JORGE SCARTEZZINI, DJ de 29/05/2000.)
Naquela oportunidade, ainda, esta Quinta Turma estabeleceu que, no tocante à
prova contida nos autos, não se estaria reapreciando o conjunto fático-probatório, mas, sim,
procedendo-se a valoração jurídica da prova, conclusão esta que obstou à aplicação àquela
hipótese da Súmula 07 do Superior Tribunal de Justiça.
Essa questão, inclusive, foi objeto de divergência, restando vencido o i.
Ministro Gilson Dipp, que assim se manifestou, in verbis :
"[...]
Inicialmente, afasto a aplicação da Súmula 07/STJ invocada pelo
recorrido, posto que não se trata de reexame de provas, mas sim, de
valoração da prova . Na esteira do posicionamento adotado por sólida
jurisprudência desta Corte (cf. AGA 32.497/SP, Rel. Ministro SALVIO DE
FIGUEIREDO, DJU de 30.08.1993), esta pressupõe contrariedade a um
princípio ou a uma regra jurídica no campo probatório. É o caso dos autos.
Não se pretende, nesta oportunidade, que a prova seja mesurada , avaliada
ou produzida de forma diversa, o que acarretaria seu reexame, vedado pelo
enunciado sumular supra referido. Conforme se depreende da sentença
monocrática e do v. jugado a quo, a mesma é incontroversa, assim se
posicionando estes, respectivamente, verbis:
'A perícia do juízo considerou corretas as demais questões
impugnadas, indicando que as de número 01 e 10 comportam duas
respostas.' (fls. 145 – sentença)
'À vista do laudo pericial de fls. 74/85, conclui-se que, das
questões impugnadas pelo apelante, somente duas possuem
duplicidade de alternativas corretas, dentre as quais aquelas eleitas
pela Banca Examinadora.' (fls. 74 – voto do revisor)
Neste diapasão, como pleiteia o recorrente o reconhecimento de erro
material na formulação das questões, não se avaliará o seu mérito , ou seja,
se certa a alternativa 'a', b', 'c' ou 'd', mas sim, se o erro material, em uma
prova objetiva, acarreta nulidade das mesmas por afronta as normas
pré-fixadas no edital e na lei, e, ainda, se a manutenção da validade das
perguntas, pela Banca Examinadora, feriu o princípio da legalidade dos atos
administrativos. Trata-se de valoração da prova produzida , já taxativamente
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considerada inquestionável, para a correta aferição do direito das partes."
(sem grifos no original.)
Vale destacar, ainda sobre esse tema, os seguintes fundamentos voto-vista
proferido pelo i. Min. Felix Fischer, acompanhando o judicioso voto do relator, o i. Min.
Jorge Scartezzini, litteris :
"[...]
Conquanto em um primeiro momento tenha acompanhado o em.
Ministro Relator, pedi vista dos autos em virtude de possível incidência da
Súmula 07-STJ.
Porém, entendo pela manutenção do meu voto, pois, é bem de ver
que, aqui, neste caso, a pretensão recursal não exige o vedado reexame do
material cognitivo . Ela busca a denominada valoração da prova , prova esta,
especificamente admitida e considerada suficiente no próprio v. acórdão
increpado. Leia-se o voto condutor:
'Assim, como a perita verificou a correção de outra
alternativa aposta pelo candidato, também considera corretas aquelas
dadas como certas pela banca' (Fls. 172/173)
E mais, agora no voto revisor:
'À vista do laudo pericial de fls. 74/85, conclui-se que das
questões impugnadas pelo apelante, somente duas possuem
duplicidade de alternativas corretas, dentre as quais aquelas eleitas
pela Banca Examinadora.'
Na realidade, tem-se no caso a assertiva do recorrente de que
ocorrera error sobre critério de apreciação da prova (v., v.g. 'RECURSOS NO
PROCESSO PENAL', de ADA P. GRINOVER & outros, p. 269/270, 1996, Ed.
RT; 'RECURSO EXTRAORDINÁRIO E RECURSO ESPECIAL', de
RODOLFO DE CAMARGO MANCUSO, p. 101, 5ª ed. Ed. RT). Assim é que
chegou o e. Tribunal a quo a uma conclusão que, de cordo com a prova
especificamente reconhecida e tida – repetindo – como suficiente, e, ainda,
pela experiência normal, tem-se como juridicamente inaceitável.
Nesta linha, RODOLFO DE CAMARGO MANCUSO (ob. cit. pg.
102/104), sempre amparado em jurisprudência originária da instância
incomum, mostra que a revaloração dos elementos aceitos pelo acórdão é
quaestio iuris. ULDERICO PIRES DOS SANTOS, analisando o tema (in
'RECURSO ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO' UPS Editorial, p. 34), diz: [...]
O acórdão reprochado, portanto, indica , conforme salientado pelo
eminente Ministro Relator, a existência de mais de uma resposta correta em
duas das questões, o que, certamente, indica error sobre critério de
apreciação ao se manter como válido gabarito admitido como dúbio e,
portanto, errôneo." (sem grifos no original.)
Em conclusão, a Quinta Turma decidiu, quando do julgamento do recurso
especial ora tido como paradigma, que ao Poder Judiciário é facultado, excepcionalmente,
examinar matéria relativa a questões de concurso público, o que se dá quando verificado a
desrespeito ao princípio da legalidade ou às regras do edital do certame.
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In casu, foi autorizada a juntada de perícia relativa à questão contra a qual os
Autores se insurgiram – Redação Técnica na 2.ª fase do concurso –, sendo certo que o
Tribunal a quo, apesar de instado a tanto, não se desincumbiu corretamente de seu dever do
ofício, na medida em que, quando formulou suas razões de decidir acima transcritas, não
valorou ou, ao menos, levou em consideração a citada prova técnica limitando-se a afirmar
que é defeso, ao Poder Judiciário, rever os critérios adotados pela banca examinadora para a
correção das provas.
A manutenção do entendimento esposado pela Corte de origem implicaria
excluir, de forma apriorística e indevida, a possibilidade de o Judiciário verificar a existência
de inexatidões na formulação de questões de concursos públicos – que possam comportar
ofensa ao princípio da legalidade ou desobediência às regras do edital –, proceder esse que
não se confunde com revisar os critérios de correção adotados pela banca examinadora.
Na esteira da argumentação acima expendida, esclareço que é preciso
determinar à Corte a quo que leve a efeito, sob pena de supressão de instância, a devida
valoração da prova contida nos autos, de forma a verificar se, na espécie, restou, ou não,
comprovado, primo ictu oculi, que as questões de concurso público possuem manifesta
afronta às regras editalícias ou ao princípio da legalidade, como seria o caso, verbi gratia , se
constatada a existência de mais de uma resposta correta para cada pergunta, quando tal
hipótese não está prevista no edital ou na lei.
Nessas condições, tendo sido devidamente demonstrada, no meu entender, a
ocorrência de divergência pretoriana entre o acórdão objurgado e aresto desta Corte Superior
de Justiça, forçoso reconhecer a parcial procedência do pleito e, por via de consequência,
determinar que o Tribunal a quo aprecie com o rigor devido a questão devolvida a seu
conhecimento, afastada a fundamentação de que, em qualquer caso, é impossível ao Poder
Judiciário examiná-la.
Ante o exposto, CONHEÇO e DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso
especial, a fim de, afastando a fundamentação segundo a qual ao Judiciário, a priori , é
impossível apreciar a quaestio iuris ora posta a seu crivo, cassar o acórdão recorrido e
determinar o retorno dos autos à Corte de origem para que, valorando devidamente a prova
contida no caderno processual, examine a apelação como entender de direito.
É como voto.

Documento: 1038831 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 22/08/2011 Página 1 6 de 28
Superior Tribunal de Justiça
MINISTRA LAURITA VAZ
Relatora

Documento: 1038831 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 22/08/2011 Página 1 7 de 28
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2005/0037139-8 REsp 730.934 / DF

Números Origem: 20030150100042 3675794 4215694


PAUTA: 22/02/2011 JULGADO: 22/02/2011

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. CARLOS ALBERTO CARVALHO VILHENA
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : SANDRA FARIAS DE MORAIS E OUTROS
ADVOGADO : CÉLIO DE MELO ALMADA NETO E OUTRO(S)
RECORRENTE : JAVAN MIRANDA DOS SANTOS
ADVOGADO : HUDSON DE FARIA
RECORRIDO : DISTRITO FEDERAL
PROCURADOR : MARCOS EUCLÉSIO LEAL E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Concurso
Público / Edital - Anulação e Correção de Provas / Questões

SUSTENTAÇÃO ORAL
SUSTENTOU ORALMENTE: DR. ADEMAR BORGES DE SOUZA FILHO (P/ RECTES) E
DR. RENÉ ROCHA FILHO (P/ RECDO)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Após o voto da Sra. Ministra Relatora conhecendo do recurso e lhe dando provimento,
pediu vista, antecipadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp."
Aguardam os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Adilson Vieira
Macabu (Desembargador convocado do TJ/RJ).

Documento: 1038831 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 22/08/2011 Página 1 8 de 28
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2005/0037139-8 REsp 730.934 / DF

Números Origem: 20030150100042 3675794 4215694


PAUTA: 22/02/2011 JULGADO: 12/04/2011

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : SANDRA FARIAS DE MORAIS E OUTROS
ADVOGADO : CÉLIO DE MELO ALMADA NETO E OUTRO(S)
RECORRENTE : JAVAN MIRANDA DOS SANTOS
ADVOGADO : HUDSON DE FARIA
RECORRIDO : DISTRITO FEDERAL
PROCURADOR : MARCOS EUCLÉSIO LEAL E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Concurso
Público / Edital - Anulação e Correção de Provas / Questões

SUSTENTAÇÃO ORAL
SUSTENTARAM ORALMENTE NA SESSÃO DE 22/02/2011: DR. ADEMAR BORGES DE
SOUZA FILHO (P/ RECTES) E DR. RENÉ ROCHA FILHO (P/ RECDO)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo no julgamento, após o voto da Sra. Ministra Relatora conhecendo do
recurso e lhe dando provimento e o voto-vista do Sr. Ministro Gilson Dipp não conhecendo do
recurso, pediu vista, regimentalmente, a Sra. Ministra Relatora."
Aguardam os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Adilson Vieira
Macabu (Desembargador convocado do TJ/RJ).

Documento: 1038831 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 22/08/2011 Página 1 9 de 28
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2005/0037139-8 REsp 730.934 / DF

Números Origem: 20030150100042 3675794 4215694


PAUTA: 22/02/2011 JULGADO: 14/06/2011

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. HELENITA AMELIA CAIADO DE ACIOLI
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : SANDRA FARIAS DE MORAIS E OUTROS
ADVOGADO : CÉLIO DE MELO ALMADA NETO E OUTRO(S)
RECORRENTE : JAVAN MIRANDA DOS SANTOS
ADVOGADO : HUDSON DE FARIA
RECORRIDO : DISTRITO FEDERAL
PROCURADOR : MARCOS EUCLÉSIO LEAL E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Concurso
Público / Edital - Anulação e Correção de Provas / Questões

SUSTENTAÇÃO ORAL
SUSTENTARAM ORALMENTE NA SESSÃO DE 22/02/2011: DR. ADEMAR BORGES DE
SOUZA FILHO (P/ RECTES) E DR. RENÉ ROCHA FILHO (P/ RECDO)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista, regimental, da Sra. Ministra Relatora
conhecendo do recurso e lhe dando parcial provimento, pediu vista, antecipadamente, o Sr. Ministro
Gilson Dipp."
Aguardam os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Adilson Vieira
Macabu (Desembargador convocado do TJ/RJ).

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 730.934 - DF (2005/0037139-8)

VOTO-VISTA

O EXMO. SR. MINISTRO GILSON DIPP:

O presente Recurso Especial é fundado apenas na letra 'c' do art. 105, III do
permissivo constitucional, e foi apresentado contra acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e Territórios, pelo qual confirmando a sentença ficou afastada a possibilidade de
intervenção do Poder Judiciário na apreciação de correção de questões de concurso público
para provimento de cargos de Auditor Tributário do GDF, de modo a limitar-se a atuação do
Poder judiciário ao estrito exame da legalidade do procedimento administrativo.
Dizem os recorrentes porém que “não se afigura legal ou desnuda de vício a
decisão que submete a concursados uma questão que comporta mais de uma resposta, isto é,
uma questão que, por erro material de formulação, não comporta resposta única ”
E afirmam divergência do aresto recorrido com precedentes de outros tribunais
que “divergem ao decidir que, havendo erro material devidamente constatado, nada impede
que o Judiciário examine a questão e, se convencido da ilegalidade do ato, proclame a
nulidade da parte viciada ”.
Eis a ementa do julgado recorrido:

“Administrativo. Concurso Público. Critério de correção de


prova. Inadmissibilidade de intervenção do Poder Judiciário. Refoge ao
âmbito de atuação do Poder Judiciário apreciar critério de correção de
questão de concurso, limitando-se a atuação deste ao exame da legalidade do
procedimento administrativo.”

Além de referir vários julgados de Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais


Federais, indicam os recorrentes como paradigma o REsp nº 174.291-DF, Relator Ministro
Scartezzini, DJ 29.05.2000 (em caso idêntico, por maioria em que fiquei vencido) julgado
pelo STJ, cuja ementa tem a seguinte redação, na parte que interessa:

“Administrativo. Recurso Especial. Concurso Público,.


Dissídio pretoriano comprovado e existente. Auditor Tributário do DF. Prova
objetiva. Formulação de quesitos. Duplicidade de respostas. Erro material.
Princípio da legalidade dos atos. Nulidade.
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...............................................................................
2. Por se tratar de valoração da prova, ou seja, a análise da
contrariedade a um princípio ou uma regra jurídica no campo probatório,
porquanto não se pretende que esta seja mensurada, avaliada, ou produzida
de forma diversa, e estando comprovada e reconhecida a duplicidade de
respostas, tanto pela r. sentença monocrática quanto pelo v acórdão de
origem, afasta-se a incidência da súmula 7 STJ (cfr. Ag. nº 32.496/SP).
3. Consoante reiterada orientação deste Tribunal, não compete
ao Poder Judiciário apreciar os critérios utilizados pela Administração na
formulação do julgamento de provas (cfr. RMS 5.988/PA e 8.067/MG entre
outros). Porém, isso não se confunde com, estabelecido um critério legal –
prova objetiva, com uma única resposta (Decreto distrital nº 12.192/90, arts.
33 e 37), estando as questões mal formuladas, ensejando a duplicidade de
respostas, constatada a por perícia oficial, não possa o Judiciário, frente ao
vício do ato da Banca Examinadora em mantê-las e à afronta ao princípio da
legalidade, declarar nula tais questões com atribuição dos pontos a todos os
candidatos (art. 47 do CPC c/c art. 37, § único do referido Decreto) e não
somente ao recorrente como formulado na inicial.”( RESP 174.291)

Nas contrarrazões a este Recurso Especial agora sob julgamento, o Distrito


Federal quanto às pretensões dos recorrentes, objetou: a) ausência de comprovação da
divergência na forma regimental (art. 255 caput e §§, do RI); b) suscitou a aplicação da
Súmula 83, eis que jurisprudência já se pacificou no sentido da decisão recorrida (inclusive
do próprio Relator do paradigma que alterou seu entendimento em julgamento posterior, o
RMS 16.692/RS); e c) a indevida invasão do mérito administrativo.
O voto da Ministra Relatora conheceu do recurso afastando as objeções do
recorrido, admitiu o pedido e lhe deu provimento,
“a fim de reformando o acórdão recorrido, anular as questões
01 e 10 do concurso público ora sob análise, de forma que a pontuação a elas
atinente seja atribuída a todos os candidatos.”

Pedi vista para melhor exame.

Antes de me deter na apreciação do pedido principal dos recorrentes, cabe


alguma consideração a respeito dos fatos da causa e dúvidas relativas ao conhecimento do
recurso, oportunamente suscitadas pelo Distrito Federal.
Os recorrentes submeteram-se às provas questionadas e não logrando
aprovação apresentaram recurso administrativo à banca examinadora e ação cautelar para
Documento: 1038831 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 22/08/2011 Página 2 2 de 28
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discutir as questões que impugnavam.
Obtendo provimento judicial cautelar, ainda assim não lograram alcançar os
40% de acertos exigidos (fls. 551), e pois não foram aprovados, circunstância que não foi
considerada no pedido.
De outra parte, o processo judicial foi regularmente integrado por grande
número de litisconsortes e todos os aprovados foram citados e estão cientes da demanda dos
recorrentes não aprovados. Além disso, consta já terem sido os aprovados oportunamente
nomeados (fls. 766/769).
Assinalo, de passagem, para a perfeita compreensão da amplitude da Ação de
Declaração de Nulidade, o fundamento invocado e o teor do pedido.
O processo seletivo de que se cuida, era composto de 2 (duas) etapas: a) Etapa
1(um) - com provas objetivas e subjetivas, por sua vez abrangendo a Fase 1(um) –
Conhecimentos Gerais e a Fase 2(dois) – Conhecimentos Específicos; e a b) Etapa 2(dois) –
Programa de Formação para os aprovados.
O pedido dos autores afirma que na Fase 2 da Etapa 1 (Conhecimentos
Específicos) várias questões apresentavam mais de uma resposta ou solução impossível, bem
como na prova de Redação Técnica a situação problema a ser resolvida pelos candidatos
continha irregularidades na elaboração e na solução.
Em face disso, pretenderam a “declaração de nulidade da parte de
Conhecimentos Específicos da Prova de Redação Técnica do referido concurso ” (fls.9).
Posto isso, examino o recurso.
Quanto à preliminar de falta de comprovação da divergência, penso que, com
efeito, não foi ela realizada conforme o disposto no art. 255 e §§ do nosso Regimento, mas a
Ministra Relatora afasta essa objeção pela invocação da jurisprudência, que dispensa esse
rigor quando a divergência é notória.
A notoriedade da divergência, entretanto, nem sempre é evidente, em especial
porque para avaliá-la é necessário comparar as hipóteses de fato, versadas em cada qual, para
aferir a convergência ou divergência. A exigência regimental existe exatamente para permitir
esquadrinhá-la de modo a demonstrar a precisa compreensão da diferença dos julgados no
caso concreto. Com a devida vênia, pois, não basta a menção à ementa do acórdão.
Além disso, a divergência deve ser medida pela referência da lei federal cuja
aplicação está a suscitá-la, pois ao Superior Tribunal de Justiça cabe dirimir causas em
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recurso especial quando a decisão recorrida, “der à lei federal interpretação divergente da
que lhe haja atribuído outro tribunal ” (art. 105, III, 'c' da CF).
No caso dos autos, a petição do recurso especial, além de não confrontar os
paradigmas minuciosamente como ordena o Regimento, ainda deixou de explicitar o
dispositivo de lei federal violado que sustentaria a interpretação divergente.
Então, embora não se tenha ao certo qual a lei ou artigo vulnerado, o que se
discute aqui é se a correção de questão de prova de concurso se sujeita ao controle judicial e
em quais limites. Dizem os recorrentes que havendo erro material, e dele derivando uma
nulidade por infração à lei, pode o Juiz intervir apesar de violado o Decreto Distrital nº
12.192/90 o qual exige apenas uma resposta certa.
No entanto, só se alcança certeza quanto à ilegalidade se se tem por definido e
certo, por força da lei, qual a conduta ou ato obrigatório da administração. Na hipótese,
sustenta-se que algumas questões de prova admitiriam dupla resposta vulnerando uma
disposição lançada em um Decreto Distrital, e que tal situação justificaria a intervenção do
Poder Judiciário.
Decreto local não se qualifica como lei federal para admitir o exercício do
controle via do recurso especial, o que de resto estava fixado na Súmula 280 do STF que aqui
se aplica.
A possível vulneração de Decreto local não comporta o cabimento do Recurso
especial tanto quanto não é disso que se cogita nos autos, visto que aqui se pede para discernir
sobre o conteúdo das respostas.
O Distrito Federal, de outro lado, afirma que a jurisprudência fixou-se no
mesmo sentido do acórdão recorrido (Súmula 83) que se mantém estável. A simples leitura do
acórdão no RMS nº 16.692-RS, citado como referência, no entanto não revela a semelhança,
não constituindo assim, formalmente, modelo da pacificação como pretendido pelo recorrido.
Outra observação que desde logo se sugere, também ligada a admissibilidade
do pedido, é que este tema já foi decidido pelo STJ no caso referido pelos autores como
paradigma: o REsp nº 174.291-DF, Relator Ministro Scartezzini, DJ 29.05.2000, cujo
dispositivo determinou a nulidade das questões 01 e 10 do mesmo certame, mandando
atribuir os pontos correspondentes a todos os candidatos.
Nesse precedente, fiquei vencido sustentando o entendimento de que o
deslinde do caso exigia a apreciação do conjunto probatório ultrapassando a mera valoração
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jurídica dele.
A sentença e o acórdão, tal qual o pedido inicial como assinalei acima, no
presente caso não referem explicitamente as questões 01 e 10 da Prova de conhecimentos
parte objetiva, embora o voto da Ministra Relatora, provendo o recurso, tenha indicado como
nulas exatamente essas mesmas respostas, talvez inspirada no precedente citado.
Em outras palavras, se o pedido pode ser assim identificado, o que os
recorrentes pretendem neste recurso já teria sido concedido no Mandado de Segurança
coletivo 174.291 (Min. Scartezzini) por acórdão transitado em julgado em 28.08.2001. E,
nesses termos, parece manifesta a falta de interesse jurídico dos ora recorrentes.
Mais, fosse verdadeiro o que os recorrentes (fls. 1028/1030) a certa altura
sugerem, isto é, que o Distrito Federal recorrido teria deliberado não cumprir aquele acórdão
(que, repita-se, abrangia todos os concursados e as questões 01 e 10) anulando os editais pelos
quais estaria ele próprio DF a conformar sua conduta administrativa às deliberações
administrativas e judiciais, ainda assim o remédio natural para a correção não seria uma nova
ação declaratória, mas a reclamação.
De qualquer sorte, em homenagem ao esforço da Ministra Relatora -- em
benefício da dúvida que parece favorecer os recorrentes, pois que para verificação da
pacificação da jurisprudência também seria necessário conferir as circunstâncias de fato de
cada caso, sem o que não é possível afirmar ou recusar a pacificação – vou ressalvar as
objeções referidas para adentrar ao mérito.
No mérito.
Se a administração afirma que a resposta certa é uma e não outra, não cabe ao
juiz contestá-la. A possível dubiedade das respostas que constitua erro material capaz de
redundar em violação da “lei” pressupõe, logicamente, a demonstração da dúvida para então
abrir espaço ao controle judicial.
A tese central, no paradigma em que fiquei vencido, e que a Ministra Relatora
prestigia, foi assim exposta:

“... em se tratando de erro material, não há que se falar em


falta de competência do Poder Judiciário para análise das questões,
porquanto esta se prenderá ao exame da legalidade da manutenção de
perguntas dúbias, com duplicidade de respostas, frente às normas
pré-estabelecidas a todos os candidatos. Ora, por se tratar de prova na
modalidade 'objetiva', sem critérios pessoais, a pergunta feita ao concursado
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somente poderá dar ensejo a uma resposta também direta e objetiva, pois, ao
se admitir mais de uma opção, ocorrerá nulidade desta, por ferir, a comissão
responsável, as normas do edital. A eficácia deste tipo de certame, com
modalidade de questões em forma de testes de múltiplas escolhas com apenas
uma resposta certa, exige boa técnica na elaboração das perguntas, dentro do
grau de especificidade do conhecimento a ser medido, as quais devem
conduzir a respostas adequadas, sem ambiguidades ou obscuridades.”.

Os recorrentes sustentam que há violação da legalidade quando existe resposta


dupla ou dúbia e o acórdão recorrido afirma que a resposta à questão de prova não se submete
ao controle judicial. Ante tal quadro, a controvérsia em rigor não se situa no campo do direito
mas no âmbito dos fatos.
E, nessa linha, além de pouco clara a divergência que autorizaria o recurso
especial, definir se a resposta é dupla ou dúbia (o que configura exercício de juízo a respeito
dos fatos da questão) constitui pressuposto fático essencial para a consideração jurídica que se
pretende discutir.
É certo que os autos contêm exemplares de laudos periciais concluindo pelo
erro na formulação das questões mencionadas, mas isso é juízo de fato para o qual o Juiz não
está aparelhado tecnicamente e se o Tribunal recorrido, frente a isso, assentou a inviabilidade
do exame judicial afirmando a impossibilidade do reexame da matéria de fato, esgotou-se a
jurisdição ordinária nos limites que lhe cabe.
Para o Superior Tribunal de Justiça concluir de modo diverso terá de superar
essa afirmação de fato, para cujo efeito, entretanto, não detém jurisdição pois não lhe toca
discutir os fatos como pressuposto da formulação de juízo de direito.
Resumindo, se o Juiz e o Tribunal de Justiça no exercício da jurisdição
ordinária de cognição plena concluíram que não poderiam rever as questões de prova e suas
respectivas respostas, ao STJ, no campo do Recurso Especial, está vedado reabrir essa
discussão, mesmo que possa existir perplexidade quanto às respostas consideradas certas pela
administração.
De qualquer maneira, no caso em discussão, se pudesse ultrapassar essa marca
o STJ poderia apenas anular o acórdão recorrido para que outro seja editado enfrentando o
mérito dos questionamentos sob pena de supressão de instância.
E mesmo assim, para alcançar esse resultado, o STJ teria não apenas de
“valorizar ” juridicamente as provas correspondentes, mas também discutir o conteúdo fático

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das questões e a adequação do teor das respostas indicadas pela administração como corretas,
assim como as considerações da banca examinadora, os laudos dos peritos e a atividade dos
demais agentes da administração.
Recorde-se que a chamada valorização jurídica da prova é atuação
exclusivamente racional e abstrata de apuração da legalidade dela e da sua produção, e nunca
do teor ou conteúdo dela ou de fatos e condutas do impetrado.
Por isso, o que os recorrentes em realidade pretendem do Superior Tribunal de
Justiça, com relação ao conteúdo da questão e adequação da resposta, não constitui
valorização jurídica da prova mas revolvimento fático dela, e então não há como acolher esse
entendimento e menos ainda reformar as decisões recorridas editando nova decisão.
Ante o exposto, penso que o Recurso Especial não pode ser conhecido tanto à
vista das objeções acima indicadas como por implicar em revolvimento de matéria de fato e
supressão de instância.
Assim, não conheço do Recurso Especial.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2005/0037139-8 REsp 730.934 / DF

Números Origem: 20030150100042 3675794 4215694


PAUTA: 22/02/2011 JULGADO: 04/08/2011

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : SANDRA FARIAS DE MORAIS E OUTROS
ADVOGADO : CÉLIO DE MELO ALMADA NETO E OUTRO(S)
RECORRENTE : JAVAN MIRANDA DOS SANTOS
ADVOGADO : HUDSON DE FARIA
RECORRIDO : DISTRITO FEDERAL
PROCURADOR : MARCOS EUCLÉSIO LEAL E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Concurso
Público / Edital - Anulação e Correção de Provas / Questões

SUSTENTAÇÃO ORAL
SUSTENTARAM ORALMENTE NA SESSÃO DE 22/02/2011: DR. ADEMAR BORGES DE
SOUZA FILHO (P/ RECTES) E DR. RENÉ ROCHA FILHO (P/ RECDO)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo no julgamento , a Turma, por maioria, conheceu do recurso e lhe deu
parcial provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora."
Os Srs. Ministros Jorge Mussi e Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do
TJ/RJ) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Votou vencido o Sr. Ministro Gilson Dipp, que não conhecia do recurso.

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