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Coleção Resumos

Direito
Internacional
Privado

Janaina Mascarenhas

2023
Sumá rio
INTRODUÇÃO...............................................................................................................................3
CASAMENTO NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO................................................................23
COBRANÇA INTERNACIONAL DE ALIMENTOS.............................................................................25
HAIA, 2007 (dec em 2017)..........................................................................................................26
SEQUESTRO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS..............................................................................32
EXTRADIÇÃO...............................................................................................................................34
INTRODUÇÃO
1. Histórico
Com o início do capitalismo, pós feudalismo, as relações comerciais aumentam,
principalmente na Itália, sendo necessária a regulamentação dessas relações entre
indíviduos em diferentes lugares e submetidos a vários ordenamentos. Surge a Escola
dos Glosadores, que estudavam o direito romano, e que se destaca Bartolo, considerado
o pai do Dipri. Bartolo diferenciou o estatuto pessoal e o estatuto real.
Posteriormente, Escolas Estatutárias da Europa fizeram uma releitura dos glosadores
fixando a ideia de que os estatutos pessoal e real em regra se aplicam no território do
Estado, mas que o pessoal poderia acompanhar a pessoa fora do Estado, desde que os
outros Estados assim aceitassem.
Já na Era Moderna, Savigny, Story e Mancini foram expoentes. Os dois primeiros
colocaram o domícilio como principal elemento de conexão, e o último a nacionalidade.
Além disso, Mancini teve importância no desenvolvimento do conceito de ordem
pública como limitador do Dipri.

Fase precursora Fase iniciadora Fase clássica Fase


contemporânea

Antiguidade até IM IM até meados sec Sec XIX a sec XX Sec XX ate hoje
Jus gentium XIX Método Crítica do sistema
romano GLOSADORES e CONFLITUAL conflitual rígido
Soluções na lex fori escola estatutária RÍGIDO Constitucionalizaçã
Costumes, feudos, Método Previsão de ordem o e valores
descentralização UNILATERAL pública e institutos Modelo mais
Normas sobre o Renascimento odiosos ABERTO
estrangeiro comercial: Escolas Codificação BETTER LAW
italianas e Nacional APPROACH
francesas

2. Fontes e objeto
A doutrina aceita como objetos do Dipri: (I) Disciplinar os conflitos de leis no espaço
determinando a norma a ser aplicada; (II) regulamentar a cooperação jurídica
internacional e (III) tutelar os direitos adquiridos em estado estrangeiro. Uma parte
admite como objeto também o (IV) estatuto jurídico do estrangeiro, mas a maioria
entende esse como objeto do DIP.
Fontes: direito interno e internacional (tratados de uniformização do DIpri, costumes,
soft law etc).
No Brasil: LINDB, CPC.
3. Princípios do Dipri
O Dipri contemporâneo caracteriza-se pela gestão da diversidade normativa e
jurisdicional da vida privada do indivíduo, em um contexto marcado pelo respeito à
diversidade e direitos humanos, também pela pluralidade de métodos, fontes e
objetos, releitura da autonomia da vontade sob a ótica dos DH, caráter processual
e congelamento das normas internas.
Por isso, os princípios gerais (reconhecidos em precedentes internacionais) que
impactam essa gestão da diversidade normjhmativa são, ao mesmo tempo, fontes do
DIPri:
 Dignidade humana
 Igualdade de tratamento e vedação da discriminação
 Autonomia da vontade
 Proteção dos vulneráveis
 Cooperação internacional leal
 Devido processo legal
 Segurança jurídica
4. Normas indiretas
O Direito Internacional Privado estuda as relações jurídicas com conexão internacional.
Normas indiretas/indicativas/conexão: são normas que não resolvem o mérito do
litígio, mas dizem qual lei aplicar para resolvê-lo. Possui duas partes: objeto de
conexão (matéria de que trata) e elemento de conexão (critério para dizer qual o direito
aplicável).
Ex: aplica-se a lei do domicílio para questões de personalidade. Objeto de conexão é a
personalidade. Domicílio é o elemento de conexão.
Método conflitual é o método pelo qual o Dipri soluciona qual a lei aplicável ao caso.
OBS: Direito Uniforme – Não é Dipri porque é norma internacional que busca
uniformizar o tratamento de uma matéria, é norma material direta.
OBS2: Dipri e DH (direitos humanos) - o DIPr contemporâneo tem superado a sua
concepção meramente localizadora (formalista) para atingir uma dimensão de caráter
material, voltada, sobretudo, à realização da justiça. Normas abertas e flexíveis que
visam a realização do indivíduo. Antes, entendia-se que pouco importava o conteúdo da
norma aplicada, o que importava era o elemento de conexão, o critério formal.
ACR tem essa visão da necessidade de uma nova fase do DIPRI com normas materiais,
que não apenas indiquem qual a norma mas que resolvam de modo direto a relação
jurídica.
Principais elementos de conexão:
 Nacionalidade ou lex patriae
 Domicílio ou lex domicili - Hoje, o principal elemento de conexão é o domicílio
 Lex rei sitae - A lei de onde está situado o objeto, o bem
 Lex loci actum/locus legit actum/lex loci contractus - A lei do local onde foi
celebrado o contrato, o ato;
 Lex loci executionis/lex loci solutions - A lei da execução, do cumprimento do
contrato;
 Lex loci delicti comissi - A lei do local onde foi praticado o ato ilícito;
 Lex damni - A lei do local onde foi sentido, onde ocorreu o dano;
 Lex voluntatis - A lei escolhida pela autonomia das partes;
 Lex fori - A lei de onde está sendo processada a demanda
Obs: O Dipri também tem normas diretas (para aqueles que consideram o estatuto do
estrangeiro objeto do dipri) e normas qualificadoras ou conceituais.
4.1 Qualificação
É a delimitação do objeto de conexão. Por exemplo: Para decidir sobre capacidade
aplica-se a norma do local do domicilio. Mas considera-se capacidade segundo qual lei?
1ª teoria: lex fori: lei do foro.
2ª teoria: lex causae: a mesma lei que aplica para resolver a demanda. (problema de
lógica)
3ª teoria: conceitos universais: não se usa um direito específico, mas sim conceitos
universais.
4º teoria Corrente da dupla qualificação: primeiro, efetua-se a qualificação primária,
que exige a subsunção dos fatos às categorias normativas gerais pela lei do foro; depois,
caso fosse indicada a lei estrangeira, deve-se proceder a uma qualificação secundária,
que usa a lei estrangeira para delimitar em definitivo a categoria normativa envolvida.
Exceção:
 Para bens, aplica a lei do local dos bens
 Para obrigações, aplica a lei do local em que se constituírem.
Art. 8º da LINB. Para qualificar os bens e regular as relações a eles
concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.
Art. 9º da LINDB. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do
país em que se constituírem.
4.2 Métodos do Direito Internacional Privado

a) MÉTODO INDIRETO – O DIPRI apenas identifica qual a norma a ser aplicada, se


nacional (lex fori) ou estrangeira.
 Unilateral – O DIPRI foca em uma única norma, indicando os casos em que ela
é aplicada no território ou fora dele (extraterritorialidade). A lei nacional diz:
essa lei se aplica nos casos tais e tais. O legislador determina o domínio da
aplicação da lei nacional. Ele NÃO DIZ UM ELEMENTO DE CONEXÃO que
vai indicar a norma aplicável. Ele já diz que a norma do país é aplicável ou não.
 Era o método mais utilizado num momento nacionalista do Dipri. Ex: direito
penal; aos casamentos no brasil aplica-se a lei do Brasil.
o Fase iniciadora do DIPRI – glosadores estudando quando uma norma se
aplicaria extraterritorialmente.
o ATENÇÃO! A jurisprudência por vezes bilateraliza normas unilaterais.
No caso do art. 7 da LINDB que diz que aos casamentos no brasil se
aplica a lei brasileira, é norma unilateral, não trata de casamentos no
estrangeiro. Mas o STF entendeu que deveria ser lida como “ao
casamento aplica-se a lei do local da celebração”, ou seja, criando um
elemento de conexão e bilateralizando, o que permite a validação de
casamentos no estrangeiro.
 Multilateral/Bilateral – O DIPRI foca em uma ou várias normas, nacionais e
estrangeiras, determinando elementos de conexão que dizem qual será aplicada.
Cria uma norma “neutra” nuclearizando o FATO JURIDICO.
o Multilateral rígido ou MÉTODO CONFLITUAL – É o mais utilizado
hoje, inclusive no Brasil. O Objeto de conexão se une ao elemento de
conexão para a aplicação da norma. É chamado de rígido porque não
importa o resultado material encontrado.
 FASE CLASSICA DE SAVIGNY
o Multilateral flexível – Busca superar as críticas ao rígido, prevendo
vetores de preferência, valorizando certos resultados em detrimento de
outros. ACR PROPOE COMO EVOLUÇÃO. Fase contemporânea-
REVOLUÇÃO AMERICANA NO DIPRI
 Fechado - coloca vários elementos de conexão, vários vetores de
preferencia, que podem ser alternativos, subsidiários ou
cumulativos (ex: sucessão de bens de estrangeiro no Brasil é do
domicílio do de cujus, A NÃO SER que a do brasil seja favorável
a herdeiro brasileiro)
 Ex: Convenção interamericana sobre alimentos art. 6

 DIVERGENTE ACR coloca aqui o 'princípio da


proximidade' ou 'princípio do vínculo mais estreito'
('principle of closest connection') é o método multilateral
indireto flexível fechado mais utilizado atualmente fora
dos Estados Unidos. Consiste na determinação da norma
material mais adequada para a regência do fato
transnacional ou ainda da jurisdição para solucionar
litígios, a partir da detecção de vínculos mais próximos ou
estreitos com a situação analisada" (ACR Curso de
Direito Internacional Privado, 2021, p. 175).
 Aberto – coloca como norma aplicável a que dê a solução que
mais se aproxima do interesse implícito ao caso. Fica mais aberto
ao intérprete. Crítica: muito indeterminado.
 Ex: autonomia da vontade
 OBS: tem relação com a jurisdição de necessidade/de
proteção na área de DH e empresas, que ACR propõe
como foro para resolver as questões de DH com vitimas
de empresas. O foro competente seria o necessário para
a proteção das vítimas. Mas isso é processo, não direito
material, porque o direito material seria baseado nas
normas protetivas de DH.
b) MÉTODO DIRETO – o DIPRI já diz qual a solução material para o caso. Rompe com o
papel de sobredireito. Buscava eliminar conflitos conceituais, de qualificação.
a. Ex: norma que já diz a regra de retorno no sequestro de menores.
 Matriz nacional (leis de aplicação imediata) – supremacia da lex fori. Sempre
aplicará a lei do lugar. Ex: relações consumeristas no Mercosul, aplica a lei de
cada lugar.
 Matriz internacional (unificação de leis) – leis internacionais vão reger.
 Método do reconhecimento de situações jurídicas consolidadas
o o método do reconhecimento consiste na aceitação de situações jurídicas
consolidadas de acordo com a lei do Estado estrangeiro, sem que sejam
utilizadas regras de conflito. Condições para o reconhecimento:
 (i) existência da situação jurídica consolidada, de acordo com a
lei estrangeira de sua formação;
 (ii) ausência de ofensa à ordem pública do Estado do foro (Estado
que reconhece a situação), o que pode abranger a exigência de
conexão do fato transnacional regulado com o Estado de origem;
e
 (iii) ser hipótese que permite o uso do método do
reconhecimento"
Críticas método indireto:
- muito estanque, não se adapta a casos
- usa normas criadas para o direito interno para solucionar problemas transnacionais
Vantagens: segurança jurídica.
5. Normas indiretas no direito brasileiro – LINDB
5.1 Estatuto da pessoa natural
Elemento de conexão é o DOMICÍLIO.
Art. 7º da LINB. A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
5.2 Estatuto da pessoa jurídica
Teoria da incorporação: aplica-se o direito do local da constituição. Adotada pela
LINDB.
Teoria da sede social: aplica-se o direito da sede da pessoa jurídica.
Art. 11 da LINDB. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as
sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem.
5.3 Bens
Elemento de conexão é local em que estiverem situados.
Exceção: (i) Se for bem móvel que traz consigo, é lei do domicílio do proprietário.
(ii) Penhor, é lei do domicílio de quem tem a posse da coisa empenhada.
Art. 8º da LINB. Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes,
aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados
§ 1º Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens
moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares
§ 2º O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se
encontre a coisa apenhada.
5.4 Obrigações
O elemento é o local de constituição. Considera-se local de constituição o domicílio do
proponente.
Se depender de peculiaridade especial e for executada no Brasil, deve ser observada a
lei brasileira.
Art. 9º da LINDB. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em
que se constituírem.
§ 1º Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma
essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto
aos requisitos extrínsecos do ato.
§ 2º A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o
proponente.
5.5 Casamento
O elemento é o domicílio, pois é direito de família.
Para impedimentos e formalidades: local da celebração.
Invalidades: domicilio dos nubentes OU o primeiro domicílio conjugal.
Regime de bens: domicilio dos nubentes OU o primeiro domicílio conjugal.
Art. 7º da LINB. A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
§ 1º Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
§ 3º Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio
a lei do primeiro domicílio conjugal
OBS: STJ entendeu que o art. 7º §6º não tem o prazo aplicado, pois previa o decurso de
1 ano para homologação de divórcio no estrangeiro. Basta obedecer aos requisitos do
art. 15: juiz competente, partes citadas, transito em julgado e estar traduzida.
5.6 Sucessões
DOMICILIO do de cujus.
Exceção: bens de estrangeiros situados no país quando a lei brasileira for mais favorável
aos herdeiros, a lei usada é a lei brasileira.
Capacidade para suceder: aplica-as a lei do domicilio do herdeiro.
Art. 10 da LINB. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que
domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos
bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente,
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
Estatuto da pessoa natural Domicílio
Estatuto pessoa jurídica Local da constituição
Bens (d. real) Situação dos bens
Exceções:
 Bem móvel que carrega consigo –
domicilio do proprietário
 Penhor – domicílio do possuidor
Obrigações Local da constituição - proponente
Exceção:
 Cumprimento no Brasil – lei do
Brasil
Casamento Domicílio dos nubentes OU primeiro
domicílio conjugal
Exceção:
 Impedimentos e formalidades –
local da celebração
Sucessões Domicílio do de cujus
Exceção:
 Bens no brasil e a lei brasileira
mais favorável aos herdeiros
brasileiros
 Capacidade para suceder –
domicílio do herdeiro
6. Preceitos básicos
6.1 Ordem pública
Conjunto de valores e normas fundamentais de um ordenamento jurídico.
Previsão: art. 3º do Código Bustamante, art. 5º da Convenção Interamericana, art. 17 da
LINDB, art. 963, VI, do CPC/2015 e arts. 216-P e 216-F do RISTJ.
Art. 17, LINDB: As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer
declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
Art. 216-P, RISTJ: Não será concedido exequatur à carta rogatória que
ofender a soberania nacional, a dignidade da pessoa humana e/ou a ordem
pública.
Art. 216-F, RISTJ: Não será homologada a decisão estrangeira que ofender a
soberania nacional, a dignidade da pessoa humana e/ou a ordem pública.
Características do conceito:
 Corretivo, porque busca corrigir a aplicação de normas estrangeiras que não
sejam condizentes com os valores da ordem do país em que é julgada a ação.
 Relativo, varia com o tempo.
 Aberto, definido no caso concreto.
STJ, RESP 1628974/SP, 2017 – Não ofende a ordem pública a cobrança de dívida e
jogo por Estado estrangeiro, quando o devedor é brasileiro, ainda que no Brasil as
dívidas de jogo sejam obrigações naturais.
STJ, SEC 9.412-EX, 2017 – A imparcialidade do juiz arbitral é valor da ordem pública
brasileira, motivo pelo qual, verificada a parcialidade do juízo arbitral que proferiu
sentença no estrangeiro o STJ não homologa a decisão.
Pode ser classificada conforme o valor violado seja nacional, internacional ou regional
(ordem publica nacional, regional ou internacional).
É importante notar que nem toda lei cogente do país, ou seja, sua ordem pública interna,
diz respeito a essa ordem pública limitadora da aplicação do DIPRI, mas apenas as
normas que falem de valores essenciais, geralmente relacionadas aos DH e proteção
fundamental do indivíduo, do contrário restaria inviabilizada a aplicação do direito
estrangeiro. [caso polemico: poligamia legalizada em outro país].
OBS: Instituto desconhecido: por vezes em matéria de cooperação jurídica
internacional o país requerente pode pedir ou se basear em instituto não existente na
ordem brasileira. O caminho a seguir é: se não violar a ordem pública, aplica-se
buscando instituto semelhante; se não houver de forma alguma possibilidade, não se
aplica. Era o que acontecia quando no Brasil não existia divorcia, aplicava o desquite.
Ex: repúdio islâmico, é uma forma de extinção do casamento porém apenas para o
marido. Fere a ordem pública pois fere a igualdade de gênero. Trust americano: se
assemelha ao contrato de fidúcia e assim pode ser aplicado.
6.2 Fraude à lei
Quando há conduta abusiva com o objetivo de burlar a regra do elemento de conexão.
Nesse caso há ineficácia da conduta de abuso de direito.
Convenção Interamericana sobre normas de DIPRI Art. 6º. Não se aplicará como
direito estrangeiro o direito de um Estado Parte quando artificiosamente se tenham
burlado os princípios fundamentais da lei de outro Estado Parte. Ficará a juízo das
autoridades competentes do Estado receptor determinar a intenção fraudulenta das
partes interessadas.
Não é prevista expressamente na Lindb, é principio implícito.
Se utilizada de forma abusiva, a fraude à lei colide com a autonomia da vontade. Qual
seria, então, o critério para distinguir entre o lícito e o ilícito? Para André de Carvalho
Ramos, seria a existência ou não de simulação.

OBS: limitadores da aplicação da norma estrangeira: ordem pública, soberania nacional,


bons costumes, fraude a lei, instituição desconhecida e lei imperfeita (essa última é a
norma que prevê subsidiariamente a aplicação de direito nacional).

6.3 Reenvio/retorno/remoção/renvoi
Ocorre quando a norma indireta do país remete à norma de outro país, e esta norma
estrangeira remete à norma do país originário ou a um terceiro ordenamento.
O direito brasileiro proíbe o reenvio.
LINDB Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão
por ela feita a outra lei.
6.4 Questão prévia
É uma questão que deve ser analisada antes do objeto de conexão em si. Exemplo: na
sucessão antes de resolver a sucessão é preciso analisar a capacidade para suceder.
Havendo regra específica para a questão prévia, a específica é aplicada. Não havendo
previsão específica, aplica-se a mesma regra da questão principal.
Convenção Interamericana sobre normas de DIPRI Art. 8º. As questões prévias,
preliminares ou incidentes que surjam em decorrência de uma questão principal não
devem necessariamente ser resolvidas de acordo com a lei que regula esta ultima.
6.5 Direito adquirido
O Direito adquirido conforme as normas de um Estado deve ser respeitado pelos outros,
desde que não ofenda a ordem pública destes.
Exemplo: casamento de crianças não é aceito no Brasil.
Convenção Interamericana sobre normas de DIPRI Art. 7º. As situações jurídicas
validamente constituídas em um Estado Parte, de acordo com todas as leis com as
quais tenham conexão no momento de sua constituição, serão reconhecidas nos demais
Estados Partes, desde que não sejam contrárias aos princípios da sua ordem pública
7. Processo civil internacional
Normas importantes:
CPC  Art. 21 a 25, 83, 376
LINDB  arts. 13 e 14
Convenção Interamericana sobre normas de DIPRI  art. 2º
7.1 Verificação e prova do Direito Estrangeiro
O direito estrangeiro não é obrigatoriamente conhecido pelo juiz. Pode aplicar de
oficio, se conhecer, mas pode requerer que a parte interessada prova sua existência e
conteúdo.
Não sendo possível a prova:
 Converte julgamento em diligência
 Improcedência para a parte que não provou
 Aplica os princípios gerais de direito
 Aplica a lex fori (vedação do non liquet)
O Brasil é parte em alguns tratados de cooperação que tratam do assunto, como a
Convenção Interamericana sobre Prova e Informação acerca do Direito Estrangeiro,
Convenção de Montevidéu (1979); Protocolo de Las Leñas (1996), no âmbito do
MERCOSUL.
OBS: O direito estrangeiro se equipara a legislação ordinária, quando aplicado no
caso, não tendo hierarquia superior às normas nacionais. Podem inclusive não serem
aplicadas por controle concreto de constitucionalidade.
7.2 Competência para julgar causas transnacionais
A competência internacional tem, em regra, fundamento no direito interno. No entanto,
pode haver conflito, quando dois ordenamentos se dizem competentes, ou qual nenhum
se avoca competente.
A competência internacional segue a perpetuatio fori.
Durante o exercício da competência, o juiz segue a norma processual local para
produção de provas, prazos etc.
Há alguns tratados internacionais que buscam uniformizar certos procedimentos, como
por exemplo a Convenção sobre Adoção Internacional, Haia (1993); Convenção
Interamericana sobre Cartas Rogatórias; Protocolo de Las Leñas, Protocolo de Buenos
Aires sobre Jurisdição Internacional em Matéria contratual.
a) Competência concorrente (art. 21 e 22 CPC)
 Réu estiver domiciliado no Brasil;
 Obrigação a ser cumprida no Brasil
 Fato ou ato praticado no Brasil
 Alimentos quando o credor tiver domicilio/residência no Brasil OU o réu tiver
vínculos no Brasil
 Relações de consumo quando o consumidor tiver domicilio/residência no Brasil
 Em que as partes elegerem foro no Brasil
OBS: Havendo cláusula de eleição de foro estrangeiro nas hipóteses de competência
concorrente o juiz brasileiro não pode julgar se for arguida a cláusula na contestação.
OBS2: A pendência de lide no estrangeiro não obsta a lide no Brasil nem a
homologação de sentença estrangeira. Mas a homologação de sentença estrangeira
gera a extinção da lide nacional, pela coisa julgada. Da mesma forma, havendo coisa
julgada não pode ser homologada a sentença estrangeira.
OBS3: Forum shopping: havendo uma cláusula em que se pode optar por diversos
foros competentes.
b) Competência exclusiva (art. 23)
 Imóveis situados no Brasil
 Confirmação de testamento ou inventário e partilha de bens situados no Brasil
 Em divórcio ou separação fazer a partilha de bens situados no Brasil
STJ, RESP 1.223.913/RJ, 2017 - Ainda que o princípio da soberania impeça qualquer
ingerência do Poder Judiciário Brasileiro na efetivação de direitos relativos a bens
localizados no exterior, nada impede que, em processo de dissolução de casamento
em curso no País, se disponha sobre direitos patrimoniais decorrentes do regime de
bens da sociedade conjugal aqui estabelecida, ainda que a decisão tenha reflexos
sobre bens situados no exterior para efeitos da referida partilha.
STJ, SEC 878/PT – O fato de o imóvel estar no Brasil não impede a homologação de
sentença estrangeira de partilha de bens no divórcio quando houver acordo entre as
partes quanto ao referido imóvel. Mitiga o art. 964 do CPC e o art. 23.
7.3 Aplicação do direito estrangeiro
Quando a norma aplicável for norma estrangeira o juiz é obrigado a aplicar a norma do
outro ordenamento, como se juiz estrangeiro fosse. Pode inclusive fazer controle de
constitucionalidade com a Constituição estrangeira (controle de constitucionalidade
externo). Essa aplicação é de ofício e o ônus de provar o direito estrangeiro é das partes.
A lei estrangeira é equiparada a lei federal para fins de interposição de RE, ou seja,
havendo violação a lei federal em ultima instância, cabe RE contra a decisão que julgou
com base em lei estrangeira.
Art. 2º, CONVENÇÃO INTERAMERICANA: Os juízes e as autoridades dos
Estados Partes ficarão obrigados a aplicar o direito estrangeiro tal como o
fariam os juízes do Estado cujo direito seja aplicável, sem prejuízo de que as
partes possam alegar e provar a existência e o conteúdo da lei estrangeira
invocada.
Art. 14, LINDB: Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem
a invoca prova do texto e da vigência.
Art. 376, CPC: A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou
consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar
Limites ao direito estrangeiro: controle de constitucionalidade (interno, dos elementos
de conexão, do direito estrangeiro; ou externo, com a CF estrangeira), controle de
convencionalidade; ordem publica; fraude a lei.
Aplicação dos DF na cooperação jurídica internacional – non inquiry; non inquiry
mitigado; incidência indireta – ordem publica; incidência direta – de matriz nac,
internacinal.
7.4 Regime de provas
As provas dos fatos devem ser produzias pelas regras do local onde os fatos
ocorreram.
Exemplo: se em um país a interceptação telefônica prescinde de autorização judicial,
essa prova deve ser admitida quando o fato comprovado por ela ocorreu naquele país.
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele
vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais
brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.
OBS: Tradução: em regra tem que traduzir, exceto se for possível compreender.
7.5 Caução (art. 83 CPC)
É exigida quando o autor não é domiciliado nem residente no Brasil, serve para
garantir a execução de possível sucumbência. Não importa se nacional ou estrangeiro.
Exceções:
 Quando tratado ou acordo internacional dispensar caução (ex: Convenção de
Haia sobre Sequestro Internacional e Convenção de Haia sobre Alimentos)
 Execução de título extrajudicial ou cumprimento de sentença
 Reconvenção
8. Cooperação jurídica internacional
Instrumentos de cooperação jurídica internacional:
a) Carta Rogatória
b) Auxílio direto
c) Homologação de sentença estrangeira
d) Extradição (penal)
e) Tratados específicos (ex: sequestro internacional; adoção internacional)
Não se trata de aplicação direta de direito estrangeiro no Brasil, mas sim de cooperação
entre Estados para uma maior efetividade na prestação jurisdicional. São instrumentos
em que um Estado auxilia o outro na realização da atos processuais ou até
extraprocessuais.
Alguns tratados sobre o assunto: Convenção sobre a prestação de alimentos no
estrangeiro, 1959; Convenção de Haia sobre sequestro internacional de crianças;
Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias, 1975; Protocolo de Las Leñas,
1992 e Protocolo de Ouro Preto sobre medidas cautelares, 1994.
Há ainda tratados bilaterais que regulam questões processuais entre o Brasil e outro
país. Em caso de conflito, segundo o artigo 13 do CPC, os tratados prevalecem sobre a
lei interna.
Autoridade central: alguns instrumentos preveem essa figura. Quando não for
especificado, é o MJ.
Procuradoria-Geral da República atua como autoridade central criminal (i) nas
relações do Brasil com Canadá e Portugal, (ii) nas relações subjacentes à CJI penal na
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, para pedidos ativos oriundos do MPU e
dos MP dos Estados e para recebimento dos pedidos oriundos de autoridades
congêneres estrangeiras (CJI passiva) e (iii) nas relações oriundas da Convenção de
NY sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro.
Objeto da cooperação jurídica (artigo 27 CPC):
i. Citação intimação, notificação judicial e extrajudicial
ii. Colheita de provas e informações
iii. Homologação e cumprimento de decisões
iv. Medidas cautelares e de urgência
v. Assistência jurídica internacional
vi. Outras medidas judiciais ou extrajudiciais não proibidas pela lei brasileira.
Tradução: em regra tem que traduzir, exceto se não comprometer a compreensão ou se
há permissão por acordo. No caso de pedidos e documentos encaminhados por
autoridade central ou via diplomática não precisa traduzir.
Convenção da Apostila: documentos entre estados parte não precisam de
legalização consular para serem válidos, no máximo pode exigir uma apostila
aposta no documento. No Brasil a autoridade que faz o apostilamento é o cartório.
8.1 Histórico
Modelo soberanista – a cooperação jurídica internacional era uma questão de cortesia.
Modelo intergovernamental – baseado em tratados e na reciprocidade. Brasil se
encontra nesse modelo.
Modelo da integração – total integração entre nações, eliminando barreiras.
O fundamento da cooperação jurídica internacional, para alguns, é a vontade dos
estados, numa visão voluntarista, mas para corrente mais moderna é a própria ideia de
justiça e efetividade dos provimentos jurisdicionais, bem como que o dever de cooperar
é presente na Carta da ONU.
9. Homologação de sentença estrangeira
CPC  960 a 965
RISTJ  216-A a 216-N
Competência para homologação: STJ (art. 105, l, i da CR/88)
Competência para o cumprimento: Justiça Federal (art. 109, X da CR/88)
Objeto da homologação:
 Decisão definitiva judicial
 Decisão arbitral estrangeira
 Ato não judicial que no Brasil tem natureza de sentença (art. 961 §1º)
STF Sumula 420 – Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do
trânsito em julgado
STJ, SEC 12.697/EX, 2016 – O trânsito em julgado pode ser comprovado por qualquer
meio de prova hábil.
Dispensam homologação:
 Sentenças estrangeiras de divórcio consensual (art. 961 §5º)
 Título executivo extrajudicial oriundo de país estrangeiro (art. 961 §2º)
 Sentenças de tribunais internacionais
A homologação é forma de aplicação indireta do direito estrangeiro. Forma direta é
aquela pela aplicação de normas de Direito Internacional Privado que remetem ao
ordenamento estrangeiro.
9.1 Requisitos da sentença estrangeira para homologação
i. Autoridade competente
ii. Jurisdição concorrente (se for exclusiva não homologa)
a. Exceção: acordo estrangeiro entre as partes em partilha sobre imóvel
situado no Brasil, STJ já homologou.
iii. Citação regular – STJ TEM ACEITO EDITAL NO EXTERIOR SE NÃO
SABIA O PARADEIRO
iv. Ser eficaz no estrangeiro
v. Não ofender a coisa julgada brasileira
a. OBS: Guarda e Alimentos, sempre prevalece a jurisdição nacional, ainda
que esta seja decisão provisória e já exista homologação de estrangeira.
vi. Estar acompanhada de tradução oficial, salvo dispensa por tratado.
vii. Não for contrária a ordem pública.
viii. Transito em julgado
a. STJ, SEC 14.812/EX, 2018 - O art. 963, III, do CPC/15, não mais exige
que a decisão judicial que se pretende homologar tenha transitado em
julgado, mas, ao revés, que somente seja ela eficaz em seu país de
origem TENHA EXEQUIBILIDADE
b. STF Sumula 420 – Não se homologa sentença proferida no estrangeiro
sem prova do trânsito em julgado.
c. Protocolo de Las Leñas e Convenção Interamericana sobre Obrigação
Alimentar preveem apenas a executoriedade da decisão.

 Citação
 Pode ser suprida pelo comparecimento à audiência no juízo estrangeiro.
 É suprida pela citação por edital se o local era desconhecido.
 Não é suprido pela citação por correio se a parte residia no Brasil (deve ser carta
rogatória)
 Não é exigida nos procedimentos arbitrais.

9.2 Procedimento
A ação de homologação de sentença estrangeira é uma ação, procedimento contencioso.
Inicia-se com petição inicial ao STJ.
Não analisa o direito material, mas apenas os requisitos formais (juízo de delibação
ou de contenciosidade limitada): citação válida; juiz competente; jurisdição
concorrente. O mérito é analisado apenas para afastar as decisões que vão contra a
ordem pública brasileira (existência de fundamentação mínima e ausência de
discriminação infundada).
STJ, SEC 8542-EX, 2018 – A ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente
à falta de interesse processual na homologação de provimento estrangeiro. É preciso
alguma relação com o Brasil.
 Cabe tutela de urgência (art. 961 §3º)
 Contestação em 15 dias (art. 216-H RISTJ)
o Se não tiver contestação o presidente do STJ homologa de plano.
o Havendo contestação há designação de relator.
 Julgamento pela Corte Especial (art. 216-K)
 Réplica e tréplica em 5 dias (art. 216-J)
 Relator pode decidir monocraticamente no caso de jurisprudência consolidada
da Corte Especial (art. 216-K §unico)
 Notificação ao MP para manifestação em 15 dias (art. 216-L)
 Cabe desistência mas não renúncia (STJ, 2018) – juízo de delibação
 Das decisões do relator e do presidente cabe agravo (art. 216-M)
 Pode haver homologação parcial (art. 216-A e 961 §2º)
 Indeferimento gera coisa julgada FORMAL [depois pode ajuizar de novo]
 Tem força de título executivo judicial.
STJ, SEC 14.914/EX, 2017 – No caso de guarda e alimentos prevalecem as decisões da
justiça brasileira, ainda que precárias, em sede liminar, por conta da cláusula rebus sic
stantibus.
STJ, 2016 – Pode homologar decisão penal que gerou efeitos cíveis, apenas para dar
eficácia a estes no Brasil, com perdimento de bem imóvel produto do crime.
(Convenção de Palermo prevê possibilidade de confisco)
STJ, SEC 8.542/EX, 2017 – Não cabe renúncia em procedimento de homologação de
sentença estrangeira. Além disso, é imprescindível ter algum interesse de jurisdição com
o Brasil pra que possa ser ajuizado aqui.
9.3 Homologação de sentença arbitral estrangeira – peculiaridades
A sentença arbitral nacional é regida pela Lei 9307/96. A sentença arbitral estrangeira é
regida pelos tratados internacionais sobre o tema e subsidiariamente pela Lei
9307/98 e CPC.
STJ é o órgão que homologa, com execução pela JF. Mero juízo de delibação.
A particularidade está na citação de parte domiciliada no brasil, que é admitida que
tenha sido feita por outros meios que não a rogatória, não impede a homologação.
A sentença arbitral não precisa ter sido homologada no juízo de origem para ser
homologada no Brasil.
Não se homologa:
i. Partes incapazes
ii. Convenção de arbitragem (clausula compromissória ou compromisso arbitral)
inválidos
iii. Imparcialidade do árbitro
iv. Ausência ou nulidade da citação (pode ser por correio, não precisa ser rogatoria)
v. Violação ao contraditório ou ampla defesa
vi. A questão estava fora dos limites previstos para a arbitragem
vii. Nulidades procedimentais
viii. Sentença foi anulada ou suspensa pelo judiciário do país em que foi proferida
ix. Objeto do litígio não é direito patrimonial disponível
x. Violação da ordem pública.
Empresa em Recuperação Judicial pode ser parte em sentença arbitral estrangeira, e esta
pode ser homologada pelo STJ.
É possível homologação parcial.
A denegação não impede novo pedido de homologação quando superados os vícios.
Homologada tem a mesma força da sentença arbitral nacional, título executivo
JUDICIAL.
 Convenções sobre o Tema:
Protocolo relativo às cláusulas de arbitragem, 1923 – Protocolo de Genebra.
Convenção sobre o reconhecimento de Execução de Sentença Arbitral Estrangeira,
1958, Convenção de NY.
Convenção Interamericana sobre Arbitragem Comercial internacional, 1975, Convenção
do Panamá.
Convenção Interamericana sobre Eficácia Extraterritorial das Sentenças e Laudos
Arbitrais Estrangeiros, 1979, Convenção de Montevidéu.
Acordo de Buenos Aires, 1998 (MERCOSUL)
Protocolo de Las Leñas, 1992 (MERCOSUL)
9.4 Modelos de reconhecimento de sentenças estrangeiras

a) Modelo da recusa/ exclusivismo – Não aceita sentenças estrangeiras.


b) Modelo da aplicabilidade direta ou automática – a sentença estrangeira tem
efeitos automaticamente estendidos para outros países
c) Modelo da autorização – o Estado precisa autorizar para ter eficácia. Pode ser :
a. Revisão absoluta do mérito – um novo processo de cognição é instaurado
b. Revisão parcial do mérito – um novo processo apenas para aceitar ou não
a decisão
c. Controle limitado/juízo de delibação – Modelo do Brasil, não analisa o
mérito.
10. Cartas rogatórias e auxílio-direto
São instrumentos de cooperação jurídica internacional.
10.1 Cartas rogatórias
Podem ser ativas (expedidas pelo judiciário brasileiro) ou passivas (expedidas pela
autoridade judicial estrangeira). Essas últimas são mais importantes. Podem ser medidas
JUDICIAIS ou EXTRAJUDICIAIS no brasil, inclusive expedidas por autoridade
estrangeiras que no brasil não teriam competências judiciais, mas no estrangeiro tem.
Competência para concessão do exequatur: STJ (art. 105, l, i da CR/88)
Competência para o cumprimento: Justiça Federal (art. 109, X da CR/88)
Objeto das cartas rogatórias (art. 216-O §1º):
 Atos ordinatórios ou de mero trâmite
 Atos instrutórios
 Atos executórios
OBS: decisão interlocutória concessiva de tutela de urgência pode ser executada por
carta rogatória (não tem como ser pelo procedimento de homologação porque não
transitou em julgado). – art. 962 §1º
OBS2: art. 19 do protocolo de Las Leñas prevê que a homologação de sentença
estrangeira pode ser por carta rogatória. O STF interpretou que o que determina é a
possibilidade de homologação de sentença estrangeira por iniciativa do juiz
estrangeiro, não da parte, de ofício, através de uma carta rogatória estrangeira. O
juiz estrangeiro envia carta rogatória ao STJ para que homologue, por meio do
procedimento de homologação específico, a sentença estrangeira. Nesses casos o
contraditório fica diferido.
Não cabe carta rogatória para remessa de menor, procedimento específico da
Convenção de Haia.
O conteúdo da rogatória é definido pelo Estado rogante, mas a forma de
cumprimento é pelo Estado rogado, a não ser que haja acordo entre eles que permita
que o rogante requeira forma especial de cumprimento ao rogado.
Procedimento:
 Prescinde que sejam juntados todos os documentos, só precisa dos suficientes.
 Impugnação em 15 dias (art. 216-H)
o Pode haver concessão liminar.
 Notificação ao MP para manifestação em 15 dias (art. 216-S)
 Cabe tutela de urgência (art. 216-Q §1ª)
 Julgamento pelo presidente, cabe agravo interno à corte especial (art. 216-T)
 Executada pelo Juízo federal
 Das decisões do Juiz federal na execução cabe EMBARGO ao Presidente do
STJ, no prazo de 10 dias.
 Das decisões sobre o embargo cabe agravo interno.
 Limitações: soberania nacional, a dignidade da pessoa humana e/ou a ordem
pública.
O juízo é apenas de delibação, não analisa o mérito nem competência do juízo rogante.
A defesa somente pode alegar questões sobre: (i) autenticidade dos documentos, (ii) a
inteligência da decisão e a (iii) observância dos requisitos previstos no Regimento.
Tradução: regra é traduzir, salvo tratado que dispense. No caso de pedidos e
documentos encaminhados por autoridade central ou via diplomática não precisa
traduzir.
OBS: A rogatória tem caráter intinerante. No entanto, não tem o condão de suspender
o processo, apenas se for um ato processual imprescindível para o julgamento da lide.
STJ, 2017 – Não ofende a ordem pública rogatória para citação em cobrança de dívida
de jogo no exterior.
STJ, 2009 – Não ofende a ordem pública rogatória para identificação de usuário de IP.
STJ, 2011 – Ofende a soberania estatal rogatória para executar a União no estrangeiro.
STJ, 2012 – A citação de pessoas domiciliada no Brasil sempre deve ser por rogatória,
sob pena de nulidade do processo estrangeiro, que não poderá ser homologado no
Brasil. QUANDO SABE O ENDEREÇO!
STJ, 2012 – Para quebra do sigilo bancário ou sequestro de bens é necessária que a
decisão rogante seja de autoridade judicial.
 Tratados sobre o tema:
Convenção Interamericana sobre cartas Rogatórias, 1975, e Protocolo adicional de
1979; protocolo de Las Leñas, 1996.
OBS: DH E ROGATÓRIA: Por conta da limitação de ordem pública é possível a
abertura da análise da rogatória sob ótica dos DH, caso a carta afronte os direitos
fundamentais. ACR aponta para uma possibilidade de aumento de densidade jurídica
nessa análise, superando o juízo meramente delibatório. Essa análise sob a ótica da
dignidade humana pode ser feita conforme: a lei da causa, a lei do foro ou por
parâmetros internacionais, sendo esta última a que o autor defende.
1) Teoria do non-inquiry integral (ou não indagação integral): de origem norte-
americana, nega a incidência de direitos fundamentais nos temas cooperacionais; o
pleito cooperacional fica restrito às relações diplomáticas, não podendo o Judiciário
imiscuir-se em conteúdo político.
2) Teoria do non-inquiry mitigado: flexibilização da teoria anterior, teve origem no
Caso Gallina vs. Fraser (1960), ocasião em que se consignou que um pedido de
cooperação poderia ser negado se gerasse um choque de consciência, violando direitos
fundamentais constitucionalmente previstos (“excludente Gallina”). A título de
exemplo, a Convenção da ONU contra a Tortura reforçou a flexibilização da regra do
non-inquiry ao prever a vedação de extradição para países em que o indivíduo possa vir
a sofrer tortura. No mesmo sentido, a Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH), no
caso Söering v. Reino Unido (1989), decidiu que um pedido de extradição formulado
pelos EUA não deveria ser efetivado em virtude do risco de o extraditando ser
submetido a tratamento desumano e degradante por ser mantido em “corredor da morte”
(“death row”).
3) Teoria da incidência direta e imediata: as normas de direitos fundamentais
vinculam todos os atos do Estado em seu território, inclusive aqueles que são realizados
a pedido de outro Estado. Existem duas correntes no que concerne aos parâmetros
observados para a aplicação dos direitos fundamentais: a) aplicação imediata de matriz
constitucional (ou garantia do conteúdo absoluto de matriz constitucional), equivalente
ao “modelo da lex fori” na classificação anterior; e b) aplicação imediata de matriz
internacional (ou garantia de conteúdo mínimo de matriz internacional), equivalente ao
“modelo universalista” na classificação acima exposta
10.2 Auxílio-direto
Modalidade de cooperação jurídica internacional direta entre as autoridades
centrais, sem a necessidade de juízo de delibação pelo judiciário.
STJ, Rcl 2645/SP – A Constituição não proíbe o auxílio direto como cooperação
jurídica internacional, apenas não o previu.
Art. 28 CPC – Cabe auxílio direto quando a medida não decorrer diretamente de
decisão de autoridade jurisdicional estrangeira a ser submetida a juízo de delibação no
Brasil.
Objeto (art. 30 CPC):
 Obtenção e prestação de informações sobre o ordenamento jurídico e processos
em curso
 Colheita de provas, salvo se a medida for adotada em processo em curso no
estrangeiro cuja competência é exclusiva do juízo brasileiro.
 Qualquer medida judicial ou extrajudicial não proibida pelo ordenamento
 Outros casos previstos em tratados
Também não suspende o processo, salvo de for medida imprescindível.
10.2.1 Autoridades centrais
São entes ou órgãos administrativos responsáveis por viabilizar a cooperação jurídica
internacional. No Brasil a principal é o Ministério da Justiça (art. 26 §4º CPC). Dentro
do MJ o papel é realizado pelo Departamento de Migrantes. Em alguns casos a
Secretaria de DH é autoridade central, bem como o MPF.
Se a providência for administrativa, o MJ atende diretamente (art. 32 CPC)
Se a providência tiver reserva de jurisdição, o MJ vai a juízo para atender. Como não
tem personalidade jurídica, é representado pela AGU ou pelo MPF. Nesse caso o juiz
tem ampla cognição sobre o pedido, não é mero juízo de delibação.
Competência: juízo federal do local onde deve ser cumprido (art. 34)
Auxilio direto Carta rogatória
Estado requerente é administrador Estado requerente é juiz
Comunicação direta entre autoridades Passa por juízo de delibação (STJ)
centrais
Ampla cognição quando passa pela Juízo de delibação
jurisdição

10.3 Redes de cooperação entre órgãos


Não são instituídos por tratados, nem são organismos internacionais, mas apenas formas
de integração que garantem a troca de informações mais rápida. Não substituem as
formas de cooperação internacional (auxílio direto e carta rogatória), apenas agilizam o
procedimento.
Marcada pela atuação de pontos de contato, que são funcionários dos órgãos do MJ,
MP, Judiciário, que atuam com o intuito de promover a cooperação na perspectiva de
rede, com contatos menos formais.
Exemplos: IberREDe – Rede Iberoamericana de Cooperação Judiciária
Rede Judiciária da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
CASAMENTO NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
1. Introdução
Modelos de regulação dos conflitos envolvendo casamento: modelo sintético (unitário)
x modelo analítico (pluralista). Esse último é o utilizado pelo Brasil, no qual cada
aspecto do casamento corresponde a elemento próprio de conexão. No unitário há
apenas um único elemento de conexão.
Impedimentos e formalidades: lei do local da celebração.
Invalidades: lei do domicílio conjugal/1º domicílio
Questões gerais de direito de família: lei do domicílio conjugal
Regime de bens: lei do domicílio conjugal/1º domicílio
Capacidade para casar domicilio do nubente.

2. Casamento no exterior
O brasileiro pode se casar no exterior perante autoridade local, seguindo as leis
locais quanto à celebração, registrando perante o consulado brasileiro. Pode também
fazer diretamente casamento consular, perante o consulado brasileiro, se ambos
forem brasileiros, seguindo as regras brasileiras de celebração. Quando um deles
voltar ao Brasil deve registrar em cartório o casamento no prazo de 180 dias, para fins
de eficácia erga omnes no país. Portela critica, diz que deveria automaticamente o
casamento consular valer no Brasil. (LINDB, ART 7 e CC/02 art. 1544)
O estrangeiro que casa no estrangeiro é automaticamente considerado casado no
Brasil, bastando a certidão estrangeira com tradução e legalização consular. Exceção é
ofensa a ordem pública.
Discussão doutrinária: no casamento consular, as regras do país acreditante são
absolutas? Podem ser limitadas pela lei local? Ex: lei do país X permitir casamento de
menores de 16 anos, o consulado do estado X no brasil pode fazer o casamento de
nacionais desse país que tenham 14 anos?
1ª corrente: Sim, porque o consulado goza de imunidade de jurisdição, devendo seguir
todas as regras do país x.
2ª corrente: Não, porque apesar da imunidade, o Estado deve respeitar o ordenamento
jurídico do país acreditado.
3. Divórcio de casamento no estrangeiro
O divórcio de brasileiros no estrangeiro é possível por meio consular desde que: seja
consensual, não envolva menores/incapazes, as partes sejam assistidas por advogado.
(LINDB, ART. 18)
Pode haver inclusive a partilha de bens e definição de pensão.
Já quanto ao divórcio no Brasil de casamento feito no estrangeiro, há discussão
doutrinária:
1ª corrente: Divórcio no brasil de casamento no estrangeiro aplica a lei do foro (Brasil)
2ª corrente: Divórcio no brasil de casamento no estrangeiro aplica a lei do domicílio
conjugal/1º domicílio.
3ª corrente: Não é possível divórcio no brasil de casamento no estrangeiro.
Ex: casaram no Uruguai, moravam lá. Vieram pro Brasil, se separaram. Entrou com
ação de divórcio. Para primeira corrente, lei brasileira se aplica sobre as regras do
divórcio, para a segunda, lei uruguaia. Imagine por exemplo, que no Uruguai a lei só
permite divórcio por traição, e no Brasil é amplo, haveria grande diferença na resolução
conforme a corrente adotada.
3.1 O histórico do divórcio
Até 1977 o Brasil não aceitava o divórcio, alguns casais viajavam para outros países
para conseguirem o divórcio, mas esse não era aceito ao ser homologado, apenas o
desquite (fazia adaptação).
Com a lei do divórcio, em 1977 foi permitido desde que antecedido de separação por 3
anos. Se divorciado no estrangeiro, a sentença de homologação só tinha eficácia 3 anos
depois, exceto se separado judicialmente no estrangeiro por 3 anos.
Com a CR/88 o divórcio passou a ser possível após 1 ano de separação judicial ou 2
anos de separação de fato. No estrangeiro o divórcio poderia ter eficácia depois de 1 ano
da homologação, exceto se separado judicial no estrangeiro por 1 ano. Ou seja,
diminui-se o prazo.
Essa redação com o prazo foi mudada pela EC 66/2010 que não prevê qualquer prazo
para divórcio. No Entanto, a LINDB continua com a redação exigindo prazo de 1 ano.
A doutrina pugna que seja entendido como não recepcionado, já que a EC 66/2010
revogou qualquer critério de prazo.
Assim, hoje entende-se que o divórcio estrangeiro pode ser homologado
normalmente, sem prazo. Sendo consensual, o CPC, artigo 961 diz que dispensa
inclusive homologação, produz efeito diretamente.
COBRANÇA INTERNACIONAL DE ALIMENTOS
Regido pela Convenção da Haia sobre a cobrança internacional de alimentos para
crianças e membros da família (Decreto n° 9176/2017). Antes era regido pela
Convenção de Nova Iorque, que não foi revogada, mas apenas substituída, ou seja, a
convenção de Nova Iorque continua valendo para aqueles que não assinaram a de Haia.
4. Convenção de NY, 1956.
Complementariedade (complementa a cooperação jurídica internacional) e
reciprocidade. Não prevê idade.
Na Convenção de NY a autoridade central é a PGR (autoridade remetente e instituição
intermediária)
Há também Estados que opuseram ressalvas à aplicação da Convenção da Haia para a
cobrança de alimentos entre ex-cônjuges. Os pedidos endereçados por ex-cônjuges a
devedores residentes nesses países (Bósnia e Herzegovina, Cazaquistão, Montenegro e
Ucrânia) continuarão seguindo a CNY.
A Convenção da Haia de 2007 deverá ser aplicada aos casos formalizados a partir de
19 de outubro de 2017 em que figure Estado signatário, observados os casos de
pedidos entre ex-cônjuges. Os casos que já estavam tramitando nessa data, ou que se
refiram a países não signatários, permanecem regidos pela Convenção de Nova
York.
Na Convenção de NY a lei que rege o direito aos alimentos é a do Estado
DEMANDADO.
Formas cooperação ativa:
 processo de conhecimento com carta rogatória ao demandado no exterior
(processo nacional). Competência da J. Estadual. MPF não atua.
 PGR envia pedido a instituição intermediária para que essa ajuíze ação no
exterior. (auxílio direto)
 PGR envia pedido a instituição intermediária para homologar e executar decisão
nacional (homologação de sent. Nacional no estrangeiro)
Formas de cooperação passiva:
 PGR recebe e requere homologação de sentença estrangeira de alimentos
 PGR recebe pedido e manda para MPF do domicilio do demandado ajuizar ação
de conhecimento (substituto processual). É uma forma de auxílio direto.
OBS: Convenção Interamericana sobre Obrigação Alimentar (Convenção de
Montevidéu, 1989): apenas para quando já tem sentença obrigando no estrangeiro. O
direito aplicável é o mais favorável ao credor, pode ser do domicílio ou residência do
credor ou devedor. A competência a critério do credor pode ser também do domicilio ou
residência do credor ou devedor ou ainda onde este mantém vínculos pessoais. Até 18
anos e cônjuge e ex cônjuge.
HAIA, 2007 (dec em 2017)
5. Objeto, âmbito de aplicação e definições
Objeto da convenção é assegurar a eficácia da cobrança internacional de alimentos a
crianças e outros membros da família através da:
i. Criação de um sistema de cooperação entre Estados
ii. Possibilidade de apresentação de pedidos
iii. Garantia de reconhecimento e execução de decisões
iv. Possibilitar medidas eficazes para rápida execução das decisões
Artigo 1º - Objeto
A presente Convenção tem por objeto assegurar a eficácia da cobrança internacional
de alimentos para crianças e outros membros da família, principalmente ao:
a) estabelecer um sistema abrangente de cooperação entre as autoridades dos Estados
Contratantes;
b) possibilitar a apresentação de pedidos para a obtenção de decisões em matéria de
alimentos;
c) garantir o reconhecimento e a execução de decisões em matéria de alimentos; e
d) requerer medidas eficazes para a rápida execução de decisões em matéria de
alimentos.
O âmbito de aplicação é (art. 1º §1º):
i. Nas relações de filiação de menor de 21 anos
a. Os Estados podem reservar para a idade de 18 anos.
ii. Reconhecimento e execução relativa a relação conjugal juntamente a relação de
filiação
iii. Relação conjugal, com exceção dos capítulos II e III
OBS: Os Estados podem estender a aplicação para outras relações.
6. Cooperação administrativa
Artigo 4º - Designação de Autoridades Centrais
§ 1º Cada Estado Contratante designará uma Autoridade Central encarregada de
cumprir as obrigações que a Convenção impõe a tal Autoridade.
No Brasil a autoridade central é o Ministério da Justiça na pessoa do Diretor do
Departamento de Recuperação de Ativos. Não é mais o MPF!
As autoridades centrais tem como funções (art. 5º e 6º): cooperar entre si e promover
cooperação, procurar soluções para as dificuldades que surjam na aplicação da
Convenção, transmitir e receber os pedidos de alimentos, iniciar ou facilitar os início
dos procedimentos
7. Processamento dos pedidos
Os pedidos dos credores e devedores dos Estados podem ser processados através das
autoridades centrais.
Aplica-se a lei do foro do Estado requerido (art. 10 §3º)
Artigo 9º - Pedido por meio de Autoridades Centrais
Pedidos previstos neste Capítulo serão remetidos à Autoridade Central do Estado
Requerido por meio da Autoridade Central do Estado Contratante em que resida o
demandante. Para os fins deste artigo, mera estada não constitui residência.
7.1 Pedidos possíveis ao credor (art. 10 §1º):

a) Reconhecimento e/ou execução de decisão


b) Obtenção de decisão no Estado Requerido (não há outra dec ou não é possível
reconhecer)
c) Modificação de decisão
OBS: reconhecimento é sempre de decisão em outro Estado, pelo Estado requerido.
Execução ocorre após o reconhecimento OU após decisão no Estado Requerido.
OBS2: Modificação pode ser de decisão proferida em qualquer Estado.
Artigo 10 - Pedidos disponíveis
§ 1º As seguintes categorias de pedidos estarão disponíveis, no Estado Requerente,
para o credor que pretenda cobrar alimentos, nos termos desta Convenção:
a) reconhecimento ou reconhecimento e execução de decisão;
b) execução de decisão proferida ou reconhecida no Estado Requerido;
c) obtenção de decisão no Estado Requerido quando não exista decisão, incluída a
determinação de filiação, quando necessária;
d) obtenção de decisão no Estado Requerido quando reconhecimento e execução de
decisão não forem possíveis ou tiverem sido denegados por falta de requisito para
reconhecimento e execução, nos termos do artigo 20, ou por algum dos
fundamentos especificados no artigo 22, alíneas b ou e;
e) modificação de decisão proferida no Estado Requerido;
f) modificação de decisão proferida em outro Estado que não o Requerido.
7.2 Pedidos disponíveis ao devedor (art. 10 §2º)
a) Reconhecimento de decisão ou procedimento que implique suspensão ou
limitação da execução da decisão proferida em Estado Requerido
b) Modificação da decisão
Art. 10 (...)§ 2º As seguintes categorias de pedidos estarão disponíveis, no
Estado Requerente, para o devedor contra quem exista decisão em matéria de
alimentos:
a) reconhecimento de decisão ou procedimento equivalente que implique
suspensão ou limitação da execução de decisão anterior proferida no Estado
Requerido;
b) modificação de decisão proferida no Estado Requerido;
c) modificação de decisão proferida em outro Estado, que não o Requerido.
 Limites aos pedidos do devedor (art. 18 §1º):
Quando o credor reside em um Estado no qual há decisão de pagar alimentos, não
pode o devedor propor ação em outro Estado visando modificar a decisão ou obter
nova. Esse dispositivo buscar garantir o direito do credor que já tem o direito. [Para
mudar, o devedor deve atuar na ação que já existe no estado do credor, o que beneficia
este]
No entanto, essa limitação não se aplica quando:
a) As partes tiverem acordado se submeterem a competência do outro Estado, salvo
para crianças
b) Quando o credor se submeter ao outro Estado expressamente ou opondo-se
quanto ao mérito do caso, sem impugnar essa competência na primeira
oportunidade disponível. [preclui]
c) Quando a autoridade competente do Estado de origem não puder ou se negar a
modificar a decisão ou proferir uma nova
d) Quando a decisão do Estado de origem não puder ser reconhecida ou executada
no outro Estado
Artigo 18 - Limites aos procedimentos
§ 1º Quando uma decisão for proferida no Estado Contratante no qual o credor
tenha sua residência habitual, o devedor não poderá iniciar em qualquer outro
Estado Contratante procedimentos para modificar a decisão ou obter nova
decisão, enquanto o credor continuar residindo habitualmente no Estado no
qual se proferiu a decisão.
§ 2º O disposto no parágrafo 1º não será aplicado:
a) quando as partes tiverem acordado por escrito a respeito da competência
desse outro Estado Contratante, salvo em litígios sobre obrigações de prestar
alimentos para crianças;
b) quando o credor se submeter à competência do outro Estado Contratante,
expressamente ou opondo-se quanto ao mérito do caso, sem impugnar essa
competência na primeira oportunidade disponível;
c) quando a autoridade competente do Estado de origem não puder ou se negar
a exercer sua competência para modificar a decisão ou proferir uma nova; ou
d) quando a decisão adotada no Estado de origem não puder ser reconhecida
ou declarada executável no Estado Contratante no qual se esteja buscando
procedimentos para modificar a decisão ou se proferir uma nova.
8. Reconhecimento e execução de decisões
É o procedimento relativo a decisões de autoridade administrativa ou judicial em
matéria de prestar alimentos. Inclui ajustes e acordos homologados por estas.
Artigo 19 – Âmbito de aplicação do Capítulo
§ 1º O presente Capítulo aplicar-se-á às decisões proferidas por autoridade
judicial ou administrativa em matéria de obrigação de prestar alimentos. O
termo “decisão” inclui também ajustes ou acordos celebrados perante ditas
autoridades ou homologados por essas. Uma decisão poderá estabelecer
método de ajuste automático por indexação e exigência de pagar atrasados,
alimentos retroativos ou juros, bem como fixação de custos ou despesas.
ATENÇÃO! O Brasil fez reserva ao §4º, que determina que a Convenção se aplica aos
acordos em matéria de alimentos, que são os acordos escritos e registrados, mas sem
homologação pelas autoridades administrativas ou judiciais. Assim, não se aplica a
Convenção a acordos não homologados pelas autoridades judiciais ou
administrativas.
O credor pode apresentar o pedido de reconhecimento e/ou execução diretamente à
autoridade central do Estado requerido, ou apresentar à autoridade central do outro
Estado. No Brasil, portanto, o credor pode diretamente (sem autoridade central do
seu país) requerer a homologação de decisão pelo STJ, e esse procedimento vai
seguir a Convenção.
Ex: pai e filho fazem acordo de alimentos homologado pelo MP. O pai vai embora pra
Portugal e fica sem pagar o filho. O filho pode diretamente requerer em Portugal a
execução do acordo.
8.1 Requisitos para reconhecimento e execução (art. 20)
i. Demandado com residência habitual no Estado de origem ao tempo em que se
iniciaram os procedimentos [eles moravam no mesmo estado]
ii. O demandado tiver se submetido à competência expressamente ou opondo-se
quanto ao mérito não impugnar essa competência na primeira oportunidade. [o
demandado se submeteu a competência do estado de origem]
iii. Credor tinha residência habitual no Estado de origem ao tempo em que se
iniciaram os procedimentos
iv. A criança tinha sua residência habitual no Estado de origem ao tempo em que se
iniciaram os procedimentos desde que o demandado tenha vivido com ela ou
prestado alimentos nesse Estado
v. Decisão proferida por autoridade no exercício de sua competência sobre estado
civil ou responsabilidade parental, salvo se dita competência tiver se baseada
unicamente na nacionalidade de uma das partes.
ATENÇÃO! O Brasil reservou o art. 20 §1º,e, que dizia que um dos requisitos para o
reconhecimento e execução pelo Estado poderia ser a escolha das partes.
Art. 20 § 1º Uma decisão proferida em um Estado Contratante (“o Estado de
origem”) será reconhecida e executada em outros Estados Contratantes se:
a) o demandado tinha sua residência habitual no Estado de origem ao tempo em
que se iniciaram os procedimentos;
b) o demandado tiver se submetido à competência expressamente ou opondo-se
quanto ao mérito sem impugnar essa competência na primeira oportunidade
disponível;
c) o credor tinha sua residência habitual no Estado de origem ao tempo em que se
iniciaram os procedimentos;
d) a criança para a qual se concedeu alimentos tinha sua residência habitual no
Estado de origem ao tempo em que se iniciaram os procedimentos, desde que o
demandado tenha vivido com a criança nesse Estado ou tenha residido nesse
Estado e nele prestado alimentos para a criança;
e) as partes tiverem acordado por escrito a competência, salvo em litígios sobre
obrigações de prestar alimentos para crianças; ou [RESERVA]
f) a decisão tiver sido proferida por autoridade no exercício de sua competência
sobre estado civil ou responsabilidade parental, salvo se dita competência tiver se
baseada unicamente na nacionalidade de uma das partes.
É possível reconhecimento ou execução parcial de decisão (art. 21)
8.2 Denegação do reconhecimento ou execução (mérito) – art. 22
i. Incompatibilidade com a ordem pública
ii. Fraude processual na obtenção da decisão
iii. Estiver em curso no Estado requerido procedimento entre as mesmas partes, com
o mesmo objeto, iniciado anteriormente.
iv. For incompatível com outra decisão proferida entre as mesmas partes com
mesmo objeto, proferida pelo Estado requerido ou por outro desde que preencha
os requisitos para reconhecimento. [ou seja, se tem duas em estados diferentes
do requerido, reconhece a primeira?]
v. Ausência de contraditório do demandado na decisão.
ATENÇÃO! Em regra, na homologação de sentença estrangeira, a existência de
ação nacional não impede a homologação, mas a Convenção prevê nesse caso que
PODE SER denegado o reconhecimento ou execução de decisão estrangeira se já há
processo nacional. Essa previsão vai ao encontro da decisão do STJ segundo a qual em
matéria de alimentos prevalece a decisão brasileira, ainda que em sede liminar.
Art. 22 Reconhecimento e execução de decisão poderão ser denegados se:
a) o reconhecimento e a execução da decisão for manifestamente incompatível
com a ordem pública do Estado Requerido;
b) a decisão tiver sido obtida mediante fraude processual;
c) estiver em curso perante autoridade do Estado Requerido procedimento entre
as mesmas partes e com o mesmo objeto que tiver sido iniciado anteriormente;
d) a decisão for incompatível com outra decisão proferida entre as mesmas
partes e com o mesmo objeto, seja no Estado Requerido ou em outro Estado,
desde que essa última decisão cumpra os requisitos necessários para seu
reconhecimento e execução no Estado Requerido;
e) no caso em que o demandado não tiver comparecido nem tiver sido
representado no procedimento no Estado de origem:
i) quando a lei do Estado de origem previr a comunicação desse ato
processual, e o demandado não tiver sido devidamente comunicado nem
tiver tido a oportunidade de ser ouvido; ou
ii) quando a lei do Estado de origem não previr a comunicação desse ato
processual, e o demandado não tiver sido devidamente comunicado da
decisão nem tiver tido a oportunidade de recorrer quanto a questões de
fato e de direito; ou
e) a decisão tiver sido proferida em desacordo com o artigo 18.
9. Execução pelo Estado Requerido (art. 32)
Ocorre segundo a lei do foro.
Quando a decisão for decorrente de atuação das Autoridades Centrais o deferimento
da execução será feito sem a necessidade de atuação do demandante.
As normas relativas a duração da prestação aplicáveis são as do Estado de origem.
O prazo de prescrição para pagamento de atrasados é o da lei que estabelecer o maior
prazo.
OBS: PROTOCOLO da Convenção de Haia: define as disposições processuais comuns.
A lei que deve reger é da residência do DEMANDANTE/CREDOR (diferente d CNY),
e em caso subsidiário aplica da residência do demandado ou da nacionalidade comum.
O protocolo não admite reservas.
ADOÇÃO INTERNACIONAL
10. Convenções e características
Convenção de Haia de 1993.
Convenção da ONU sobre direito das crianças, 1989.
 A adoção deve atender o melhor interesse da criança
 É subsidiária em relação a adoção nacional
 Deve ser autorizada por autoridades competentes
 Competência do Juizo da Infancia, J. Estadual.
 Autoridade central é a SEDH
 Convenção de Haia não admite reservas.
Apenas para menores de 18 anos
SEQUESTRO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS
Convenção da Haia sobre Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças, 1980.
Atuação obrigatória do MPF, mas não é autoridade central!
11. Objetivo
i. Assegurar o retorno imediato de crianças ilicitamente transferidas ou retidas.
ii. Fazer respeitar os direitos de guarda e de visita existentes num Estado
Contratante
iii. Princípio do melhor interesse da criança.
A convenção entende que o local da residência habitual é o juízo competente para
decidir sobre guarda, por isso busca fazer retornar a criança para esse local para que lá
seja decidido o conflito.
Devem ser consideradas as peculiaridades da criança como pessoa em desenvolvimento.
12. Transferência ou retenção ilícita (art. 3º):
É a violação a direito de guarda efetivamente exercido no momento da transferência ou
retenção. Não importa a nacionalidade da criança.
13. Aplicabilidade da convenção
Critério espacial: residência habitual em um Estado contratante antes da violação.
Critério etário: somente para crianças até 16 anos (art. 4º).
Critério temporal: somente para atos posteriores à entrada em vigor da Convenção.
Brasil: 1/1/2000
14. Autoridade central
No Brasil é a Secretaria Nacional dos DH da Presidência da República (SEDH).
Devem cooperar buscando o retorno das crianças.
Pode rejeitar de plano o pedido se for manifestamente incabível (ex: maior de 16 anos).
15. Pedido de retorno (art. 8 º)
O genitor que foi privado do direito de guarda ou visita (parent left behind) pelo outro
(taking parent) pode procurar a Autoridade Central do seu país ou de qualquer outro
contratante.
A autoridade tenta buscar solução administrativa antes de ir à juízo.
Legitimidade: qualquer pessoa, instituição ou organismo. É ampla porque o que se
tutela é o melhor interessa da criança.
O genitor também pode buscar diretamente a justiça do país demandado ou a autoridade
central dele.
15.1 Procedimento
 O pedido tem natureza intinerante (art. 9º) – se a criança é transportada de novo
para 3º país é enviado para Autoridade Central desse outro pais.
 Competência absoluta da Justiça federal
 Prioridade para entrega voluntária (art. 10)
 Cabem medidas de urgência (art. 11)
 O Estado requerido pode solicitar prova da transferência ou retenção ilícita
 Se demorar mais de 6 semanas para uma decisão pelo juiz ou autoridade podem
ser pedidas explicações pelas autoridades centrais ou pelo requerente. (art. 11)
 O juiz do estado requerido NÃO PODE decidir sobre a guarda (art. 16)
 Não é exigida qualquer caução ao estrangeiro que ajuíza ação no Estado
requerente (art. 22)
 Não cabe carta rogatória para remessa de menor
 Não cabe HC para evitar a remessa de menor.
Ainda que a ação seja postulada diretamente pelo genitor aplica-se a Convenção e a
competência é da JF, porque causa fundada em tratado internacional.
O genitor privado da convivência pode também pedir apenas a regulamentação do
direito de visita? Tendo em vista que sempre há de se preferir a resolução amigável da
controvérsia, caso os genitores entrem em acordo é possível.
15.2 Exceções à regra do retorno
a) Integração da criança com seu novo meio (decorrido mais de 1 ano entre a data
da transferência e o início do processo), art. 12.
b) Direito de guarda não efetivo ou consentimento com a transferência (art. 13,a)
c) Risco grave de a criança, no seu retorno, ficar sujeita a perigos de ordem física
ou psíquica, ou, de qualquer outro modo, ficar numa situação intolerável (art. 13,
b)
d) Oposição da criança que já tem maturidade (art. 13 §unico) – não há idade certa
nem tempo mínimo.
e) Incompatibilidade com os princípios fundamentais (ordem pública), art. 20.
Exemplo: casamento infantil.
OBS: Não impede o retorno da criança a existência de decisão relativa à guarda no
Estado requerido, o juiz do local de transferência é incompetente (art. 17) (juiz
complacente). Parte da doutrina, porém, defende que seria possível o juiz do estado para
onde foi transferida decidir sobre a guarda se já se passou muito tempo e não foi
apresentado nenhum pedido de retorno.
Enquanto se decide a questão na JF, a JE deve suspender o processo de guarda. Sendo
entendido pelo retorno, o processo de guarda é extinto.
OBS2: O ônus da prova da exceção de retorno é de quem alega (takng parent). Cabe
prova pericial psicológica.
EXTRADIÇÃO
16. Conceito
L. 13445/2017 Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o
Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa
sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de
processo penal em curso
Natureza jurídica: medida de cooperação internacional em matéria penal.
Extradição pode ser instrutória (durante processo) ou executória (quando já há
condenação).
Pode ser ainda passiva ou ativa, sendo a primeira mais importante, porque é a que
ocorre no Brasil.
A extradição tem como fundamento um tratado ou em promessa de reciprocidade.
17. Vedações à extradição (art. 82)
a) Brasileiro nato
a. OBS: A análise é na época do fato pelo qual se pede a extradição. Se
perder a nacionalidade depois ainda assim não pode extraditar.
b) Brasileiro naturalizado quando não for crime anterior nem relacionado a tráfico
de drogas.
a. No caso de tráfico de entorpecentes o STF deve analisar as provas,
motivo pelo qual o juízo de cognição é mais abrangente do que nos
demais processo de extradição. [mitiga o sistema Belga da delibação]
b. OBS: Opção pela nacionalidade após os 18 anos e extradição: durante o
processo de reconhecimento da nacionalidade originária o processo de
extradição é suspenso, e se reconhecida a extradição é extinta.
c) Dupla tipicidade – Não precisa ser o mesmo nome.
d) Competência da justiça brasileira
a. Tem sido mitigada essa regra pelo STF quando a justiça brasileira se
mantém inerte.
e) Pena de prisão inferior a 2 anos no Brasil [máxima ou mínima?]
f) Bis in idem
g) Prescrição em algum dos Estados
a. EXT 1270/DF, 2017 – Crime permanente a prescrição só começa a
contar depois de cessada a conduta.
b. EXT 1362 – Não há imprescritibilidade de crimes contra a humanidade
porque o Brasil não assina o Tratado de imprescritibilidade de crimes
contra a humanidade.
h) Crime político
a. Se houver conexão entre crime político e comum e este for o fato
principal há extradição.
b. O STF é quem analisa se é crime político ou não.
c. CRITÉRIO DA PREPONDERANCIA
i) Sujeição a juiz ou tribunal de exceção
j) Refúgio
a. Se o requerimento da condição de refugiado for no curso do processo de
extradição este é suspenso até a decisão.
k) Asilo político
STF, Sumula 421 - Não veda extradição o extraditando ter cônjuge ou filho brasileiro.
[Diferente da expulsão, que não pode]
Não impede o domicílio no Brasil nem contribuir com o Estado.
18. Requisitos para extradição
 Ter sido cometido crime no território do Estado requerente ou serem aplicáveis
ao extraditando as leis desse Estado.
 Estar o extraditando respondendo a processo ou investigação ou ter sido
condenado a PPL.
19. Prisão cautelar (art. 84)
Em caso de urgência o Estado requerente pedir prisão cautelar antes ou junto do pedido
de extradição, com o objetivo de assegurar a executoriedade da medida de extradição,
ouvindo previamente o MPF.
Art. 208. Não terá andamento o pedido de extradição sem que o extraditando
seja preso e colocado à disposição do Tribunal.
O Extraditando deve ser sujeito a prisão, não é necessária a presença dos requisitos da
prisão preventiva. Mas a Lei de Imigração passou a prever no art. 86 a possibilidade
de ser feita prisão domiciliar, ou albergue ou até mesmo determinar outras medidas
cautelar diversas da prisão.
O extraditanto pode entregar-se voluntariamente ao Estado requerente desde que:
 Declare expressamente
 Seja assistido por advogado
 Seja advertido do processo judicial de extradição que tem direito
Art. 86. O Supremo Tribunal Federal, ouvido o Ministério Público, poderá
autorizar prisão albergue ou domiciliar ou determinar que o extraditando
responda ao processo de extradição em liberdade, com retenção do documento de
viagem ou outras medidas cautelares necessárias, até o julgamento da extradição
ou a entrega do extraditando, se pertinente, considerando a situação administrativa
migratória, os antecedentes do extraditando e as circunstâncias do caso.
Art. 87. O extraditando poderá entregar-se voluntariamente ao Estado requerente,
desde que o declare expressamente, esteja assistido por advogado e seja advertido
de que tem direito ao processo judicial de extradição e à proteção que tal direito
encerra, caso em que o pedido será decidido pelo Supremo Tribunal Federal
20. Procedimento de extradição
20.1 Fase administrativa:
Pedido do Estado requerente, pode ser por via diplomática (MRE) ou diretamente pelo
MJ quando há tratado.
Se for verificada ausência de pressupostos há arquivamento pelo MJ (art. 89)
Preenchidos os requisitos o MJ encaminha para o STF.
20.2 Fase judicial
Relator designa data para relatório
Defesa em 10 dias: só pode discutir algumas questões, há contenciosidade mitigada, o
juízo é de delibação (identidade da pessoa, defeito de forma de documento ou
ilegalidade da extradição) – SISTEMA BELGA. Diferente do sistema anglo-saxão.
Negada a extradição não se admitirá novo pedido baseado no mesmo fato.
20.3 Fase da execução
 O Poder judiciário julga procedente a extradição, por atender os requisitos, mas
quem AUTORIZA a extradição é o executivo. A decisão deferitória não vincula
o executivo.
 O Estado estrangeiro tem 60 dias para tomar as providências para a extradição.
 Quando o extraditando estiver sendo processado ou tiver sido condenado por
OUTRO CRIME, com PPL, no país requerido, a extradição será executada
apenas após sua liberação com a conclusão do processo ou pelo cumprimento
da pena.
o Pode haver transferência da pessoa condenada (cunho humanitário)
o Se for processo ou condenação de crime de menor potencial ofensivo
a entrega pode ser imediatamente efetivada (não gera PPL)
21. Compromissos do requerente (art. 96)
i. Não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de
extradição [precisa pedir a extensão da extradição]
ii. Computar o tempo de prisão no Brasil
iii. Comutar pena corporal, perpétua ou de morte em PPL respeitando o limite de 40
anos. – ate 2020 era 30 anos
iv. Não entregar sem consentimento do Brasil a outro Estado
v. Não considerar motivos políticos
vi. Não submeter a tortura, penas cruéis, desumanas ou degradantes
COOPERAÇÃO JURIDICA INTERNACIONAL EM MATERIA PENAL – OUTROS
22. Tratados penais internacionais:
 Na ONU
• Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas de
1988 (promulgada no Brasil sob o Decreto nº 154/91);
• Convenção contra o Crime Organizado Transnacional de 2000 (promulgado no Brasil
sob o Decreto nº 5.015/04);
• Convenção contra a Corrupção de 2003 (promulgado no Brasil sob o Decreto nº
5.687/06);
• Protocolo Adicional à Convenção contra o Crime Organizado Transnacional relativo à
Prevenção; Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e
Crianças (promulgado no Brasil sob o Decreto nº 5.017/04);
• Protocolo Adicional à Convenção contra o Crime Organizado Transnacional, relativo
ao com bate ao Tráfico de Migrantes por via terrestre, marítim a e aérea (promulgado
sob o Decreto nº 5.016/04);
 Na OEA
• Convenção Interamericana sobre Assistência Mútua em Matéria Penal (vide Decreto
nº 6.340/08);
• Convenção Interamericana sobre o Cumprimento de Sentenças Penais no Exterior
(vide Decreto nº 5.919/06);
• Convenção Interamericana contra a Corrupção (vide Decreto nº 4.410/02);
• Convenção Interamericana contra o Terrorismo (vide Decreto nº 5.639/05);
• Convenção Interamericana contra a Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo,
Munições, Explosivos e outros Materiais Correlatos (vide Decreto nº 3.229/99);
• Convenção para Prevenir e Punir os Atos de Terrorismo Configurados em Delitos
contra as Pessoas e a Extorsão Conexa, quando tiverem eles transcendência
internacional (vide Decreto nº 3.018/99);
 No MERCOSUL
"Protocolo de Assistência Jurídica Mútua em Assuntos Penais", promulgado no Brasil
sob o Decreto nº 3.468/2000
 Normas internas
• Lei do Migrante (Lei nº 13.445/2017), a qual prevê a extradição, a transferência de
execução da pena e a transferência de pessoa condenada;
• Código Penal (art. 9º - homologação de sentença penal estrangeira);
• Código de Processo Penal (arts. 780 a 790 - Das relações jurisdicionais com
autoridades estrangeiras - homologação de sentença e cartas rogatórias);
• Lei dos Crimes de lavagem de dinheiro (Lei nº 9.613/98 - art. 8º);
• Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006 - art. 65);
• Lei das Organizações Criminosas (Lei nº 12.850/2013 - art. 9º);
• Lei Antiterrorismo (Lei nº 13.260/2016 - art. 15);
23. Modalidades de cooperação jurídica internacional em matéria penal
a) Extradição
b) Carta rogatória
c) Auxílio-direto
d) Homologação de sentença estrangeira
e) Partilha de ativos (asset sharing) – divisão do produto do crime entre os Estados
que participaram da investigação.
f) Transferência de execução de pena [ex: brasileiro nato foge pro brasil]
É o pedido pelo qual o Brasil requer que o estrangeiro cumpra sentença brasileira no
estrangeiro por nacionalidade ou vínculo com o Brasil (ativa).
São os típicos casos de fuga para o país de origem, que impossibilitam extradição. A
execução vai até o condenado.
L. Imigração Art. 100. Nas hipóteses em que couber solicitação de extradição
executória, a autoridade competente poderá solicitar ou autorizar a
transferência de execução da pena, desde que observado o princípio do non bis
in idem.
Requisitos:
i. Condenado for nacional brasileiro ou tiver residência ou vínculo habitual com
Brasil.
ii. For hipótese passível de extradição (é extradição executória)
iii. Sentença transitada em julgado
iv. Duração da pena a cumprir for de mais de 1 ano
v. Dupla tipicidade
vi. Tratado ou reciprocidade
O pedido será apreciado pelo Executivo do outro país. No Brasil é MJ.
O STJ homologa a decisão condenatória estrangeira para que ela seja executada no
Brasil. Assim, aumentaram as hipóteses de homologação de sentença penal estrangeira:
(i) para efeitos civis (ii) para aplicação de medida de segurança (iii) para execução
através de transferência.
Art. 101. O pedido de transferência de execução da pena de Estado estrangeiro
será requerido por via diplomática ou por via de autoridades centrais.
§ 1o O pedido será recebido pelo órgão competente do Poder Executivo e, após
exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade exigidos nesta
Lei ou em tratado, encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça para decisão
quanto à homologação.
§ 2o Não preenchidos os pressupostos referidos no § 1o, o pedido será
arquivado mediante decisão fundamentada, sem prejuízo da possibilidade de
renovação do pedido, devidamente instruído, uma vez superado o óbice
apontado. (diferente da extradição que não pode repetir o pedido)
Art. 102. A forma do pedido de transferência de execução da pena e seu
processamento serão definidos em regulamento.* (dec. 9199/2017)
Parágrafo único. Nos casos previstos nesta Seção, a execução penal será de
competência da Justiça Federal
g) Transferência de pessoa condenada
Pode ser de pessoa condenada no Brasil para o exterior (passiva), ou de pessoa
condenada no exterior para o Brasil (ativa). Diferente da transferência de execução que
é APENAS do exterior para o Brasil [o condenado é nacional no país]
Requisitos:
i. Demonstrar vontade
ii. Ser hipótese que permite extradição
iii. Para o país de nacionalidade ou residência ou vínculo habitual
iv. Sentença transitada em julgado
v. Condenação a cumprir maior que 1 ano.
vi. Dupla tipicidade
vii. Concordância de ambos os Estados.
Pode a decisão de transferência cumular medida de impedimento de reingresso.
Art. 103 (...)
§ 1o O condenado no território nacional poderá ser transferido para seu país
de nacionalidade ou país em que tiver residência habitual ou vínculo pessoal,
desde que expresse interesse nesse sentido, a fim de cumprir pena a ele imposta
pelo Estado brasileiro por sentença transitada em julgado.
§ 2o A transferência de pessoa condenada no Brasil pode ser concedida
juntamente com a aplicação de medida de impedimento de reingresso em
território nacional, na forma de regulamento.
OBS: A execução de ambas as transferências é da competência da JF.

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