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Direito
Internacional
Privado
Janaina Mascarenhas
2023
Sumá rio
INTRODUÇÃO...............................................................................................................................3
CASAMENTO NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO................................................................23
COBRANÇA INTERNACIONAL DE ALIMENTOS.............................................................................25
HAIA, 2007 (dec em 2017)..........................................................................................................26
SEQUESTRO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS..............................................................................32
EXTRADIÇÃO...............................................................................................................................34
INTRODUÇÃO
1. Histórico
Com o início do capitalismo, pós feudalismo, as relações comerciais aumentam,
principalmente na Itália, sendo necessária a regulamentação dessas relações entre
indíviduos em diferentes lugares e submetidos a vários ordenamentos. Surge a Escola
dos Glosadores, que estudavam o direito romano, e que se destaca Bartolo, considerado
o pai do Dipri. Bartolo diferenciou o estatuto pessoal e o estatuto real.
Posteriormente, Escolas Estatutárias da Europa fizeram uma releitura dos glosadores
fixando a ideia de que os estatutos pessoal e real em regra se aplicam no território do
Estado, mas que o pessoal poderia acompanhar a pessoa fora do Estado, desde que os
outros Estados assim aceitassem.
Já na Era Moderna, Savigny, Story e Mancini foram expoentes. Os dois primeiros
colocaram o domícilio como principal elemento de conexão, e o último a nacionalidade.
Além disso, Mancini teve importância no desenvolvimento do conceito de ordem
pública como limitador do Dipri.
Antiguidade até IM IM até meados sec Sec XIX a sec XX Sec XX ate hoje
Jus gentium XIX Método Crítica do sistema
romano GLOSADORES e CONFLITUAL conflitual rígido
Soluções na lex fori escola estatutária RÍGIDO Constitucionalizaçã
Costumes, feudos, Método Previsão de ordem o e valores
descentralização UNILATERAL pública e institutos Modelo mais
Normas sobre o Renascimento odiosos ABERTO
estrangeiro comercial: Escolas Codificação BETTER LAW
italianas e Nacional APPROACH
francesas
2. Fontes e objeto
A doutrina aceita como objetos do Dipri: (I) Disciplinar os conflitos de leis no espaço
determinando a norma a ser aplicada; (II) regulamentar a cooperação jurídica
internacional e (III) tutelar os direitos adquiridos em estado estrangeiro. Uma parte
admite como objeto também o (IV) estatuto jurídico do estrangeiro, mas a maioria
entende esse como objeto do DIP.
Fontes: direito interno e internacional (tratados de uniformização do DIpri, costumes,
soft law etc).
No Brasil: LINDB, CPC.
3. Princípios do Dipri
O Dipri contemporâneo caracteriza-se pela gestão da diversidade normativa e
jurisdicional da vida privada do indivíduo, em um contexto marcado pelo respeito à
diversidade e direitos humanos, também pela pluralidade de métodos, fontes e
objetos, releitura da autonomia da vontade sob a ótica dos DH, caráter processual
e congelamento das normas internas.
Por isso, os princípios gerais (reconhecidos em precedentes internacionais) que
impactam essa gestão da diversidade normjhmativa são, ao mesmo tempo, fontes do
DIPri:
Dignidade humana
Igualdade de tratamento e vedação da discriminação
Autonomia da vontade
Proteção dos vulneráveis
Cooperação internacional leal
Devido processo legal
Segurança jurídica
4. Normas indiretas
O Direito Internacional Privado estuda as relações jurídicas com conexão internacional.
Normas indiretas/indicativas/conexão: são normas que não resolvem o mérito do
litígio, mas dizem qual lei aplicar para resolvê-lo. Possui duas partes: objeto de
conexão (matéria de que trata) e elemento de conexão (critério para dizer qual o direito
aplicável).
Ex: aplica-se a lei do domicílio para questões de personalidade. Objeto de conexão é a
personalidade. Domicílio é o elemento de conexão.
Método conflitual é o método pelo qual o Dipri soluciona qual a lei aplicável ao caso.
OBS: Direito Uniforme – Não é Dipri porque é norma internacional que busca
uniformizar o tratamento de uma matéria, é norma material direta.
OBS2: Dipri e DH (direitos humanos) - o DIPr contemporâneo tem superado a sua
concepção meramente localizadora (formalista) para atingir uma dimensão de caráter
material, voltada, sobretudo, à realização da justiça. Normas abertas e flexíveis que
visam a realização do indivíduo. Antes, entendia-se que pouco importava o conteúdo da
norma aplicada, o que importava era o elemento de conexão, o critério formal.
ACR tem essa visão da necessidade de uma nova fase do DIPRI com normas materiais,
que não apenas indiquem qual a norma mas que resolvam de modo direto a relação
jurídica.
Principais elementos de conexão:
Nacionalidade ou lex patriae
Domicílio ou lex domicili - Hoje, o principal elemento de conexão é o domicílio
Lex rei sitae - A lei de onde está situado o objeto, o bem
Lex loci actum/locus legit actum/lex loci contractus - A lei do local onde foi
celebrado o contrato, o ato;
Lex loci executionis/lex loci solutions - A lei da execução, do cumprimento do
contrato;
Lex loci delicti comissi - A lei do local onde foi praticado o ato ilícito;
Lex damni - A lei do local onde foi sentido, onde ocorreu o dano;
Lex voluntatis - A lei escolhida pela autonomia das partes;
Lex fori - A lei de onde está sendo processada a demanda
Obs: O Dipri também tem normas diretas (para aqueles que consideram o estatuto do
estrangeiro objeto do dipri) e normas qualificadoras ou conceituais.
4.1 Qualificação
É a delimitação do objeto de conexão. Por exemplo: Para decidir sobre capacidade
aplica-se a norma do local do domicilio. Mas considera-se capacidade segundo qual lei?
1ª teoria: lex fori: lei do foro.
2ª teoria: lex causae: a mesma lei que aplica para resolver a demanda. (problema de
lógica)
3ª teoria: conceitos universais: não se usa um direito específico, mas sim conceitos
universais.
4º teoria Corrente da dupla qualificação: primeiro, efetua-se a qualificação primária,
que exige a subsunção dos fatos às categorias normativas gerais pela lei do foro; depois,
caso fosse indicada a lei estrangeira, deve-se proceder a uma qualificação secundária,
que usa a lei estrangeira para delimitar em definitivo a categoria normativa envolvida.
Exceção:
Para bens, aplica a lei do local dos bens
Para obrigações, aplica a lei do local em que se constituírem.
Art. 8º da LINB. Para qualificar os bens e regular as relações a eles
concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.
Art. 9º da LINDB. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do
país em que se constituírem.
4.2 Métodos do Direito Internacional Privado
6.3 Reenvio/retorno/remoção/renvoi
Ocorre quando a norma indireta do país remete à norma de outro país, e esta norma
estrangeira remete à norma do país originário ou a um terceiro ordenamento.
O direito brasileiro proíbe o reenvio.
LINDB Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão
por ela feita a outra lei.
6.4 Questão prévia
É uma questão que deve ser analisada antes do objeto de conexão em si. Exemplo: na
sucessão antes de resolver a sucessão é preciso analisar a capacidade para suceder.
Havendo regra específica para a questão prévia, a específica é aplicada. Não havendo
previsão específica, aplica-se a mesma regra da questão principal.
Convenção Interamericana sobre normas de DIPRI Art. 8º. As questões prévias,
preliminares ou incidentes que surjam em decorrência de uma questão principal não
devem necessariamente ser resolvidas de acordo com a lei que regula esta ultima.
6.5 Direito adquirido
O Direito adquirido conforme as normas de um Estado deve ser respeitado pelos outros,
desde que não ofenda a ordem pública destes.
Exemplo: casamento de crianças não é aceito no Brasil.
Convenção Interamericana sobre normas de DIPRI Art. 7º. As situações jurídicas
validamente constituídas em um Estado Parte, de acordo com todas as leis com as
quais tenham conexão no momento de sua constituição, serão reconhecidas nos demais
Estados Partes, desde que não sejam contrárias aos princípios da sua ordem pública
7. Processo civil internacional
Normas importantes:
CPC Art. 21 a 25, 83, 376
LINDB arts. 13 e 14
Convenção Interamericana sobre normas de DIPRI art. 2º
7.1 Verificação e prova do Direito Estrangeiro
O direito estrangeiro não é obrigatoriamente conhecido pelo juiz. Pode aplicar de
oficio, se conhecer, mas pode requerer que a parte interessada prova sua existência e
conteúdo.
Não sendo possível a prova:
Converte julgamento em diligência
Improcedência para a parte que não provou
Aplica os princípios gerais de direito
Aplica a lex fori (vedação do non liquet)
O Brasil é parte em alguns tratados de cooperação que tratam do assunto, como a
Convenção Interamericana sobre Prova e Informação acerca do Direito Estrangeiro,
Convenção de Montevidéu (1979); Protocolo de Las Leñas (1996), no âmbito do
MERCOSUL.
OBS: O direito estrangeiro se equipara a legislação ordinária, quando aplicado no
caso, não tendo hierarquia superior às normas nacionais. Podem inclusive não serem
aplicadas por controle concreto de constitucionalidade.
7.2 Competência para julgar causas transnacionais
A competência internacional tem, em regra, fundamento no direito interno. No entanto,
pode haver conflito, quando dois ordenamentos se dizem competentes, ou qual nenhum
se avoca competente.
A competência internacional segue a perpetuatio fori.
Durante o exercício da competência, o juiz segue a norma processual local para
produção de provas, prazos etc.
Há alguns tratados internacionais que buscam uniformizar certos procedimentos, como
por exemplo a Convenção sobre Adoção Internacional, Haia (1993); Convenção
Interamericana sobre Cartas Rogatórias; Protocolo de Las Leñas, Protocolo de Buenos
Aires sobre Jurisdição Internacional em Matéria contratual.
a) Competência concorrente (art. 21 e 22 CPC)
Réu estiver domiciliado no Brasil;
Obrigação a ser cumprida no Brasil
Fato ou ato praticado no Brasil
Alimentos quando o credor tiver domicilio/residência no Brasil OU o réu tiver
vínculos no Brasil
Relações de consumo quando o consumidor tiver domicilio/residência no Brasil
Em que as partes elegerem foro no Brasil
OBS: Havendo cláusula de eleição de foro estrangeiro nas hipóteses de competência
concorrente o juiz brasileiro não pode julgar se for arguida a cláusula na contestação.
OBS2: A pendência de lide no estrangeiro não obsta a lide no Brasil nem a
homologação de sentença estrangeira. Mas a homologação de sentença estrangeira
gera a extinção da lide nacional, pela coisa julgada. Da mesma forma, havendo coisa
julgada não pode ser homologada a sentença estrangeira.
OBS3: Forum shopping: havendo uma cláusula em que se pode optar por diversos
foros competentes.
b) Competência exclusiva (art. 23)
Imóveis situados no Brasil
Confirmação de testamento ou inventário e partilha de bens situados no Brasil
Em divórcio ou separação fazer a partilha de bens situados no Brasil
STJ, RESP 1.223.913/RJ, 2017 - Ainda que o princípio da soberania impeça qualquer
ingerência do Poder Judiciário Brasileiro na efetivação de direitos relativos a bens
localizados no exterior, nada impede que, em processo de dissolução de casamento
em curso no País, se disponha sobre direitos patrimoniais decorrentes do regime de
bens da sociedade conjugal aqui estabelecida, ainda que a decisão tenha reflexos
sobre bens situados no exterior para efeitos da referida partilha.
STJ, SEC 878/PT – O fato de o imóvel estar no Brasil não impede a homologação de
sentença estrangeira de partilha de bens no divórcio quando houver acordo entre as
partes quanto ao referido imóvel. Mitiga o art. 964 do CPC e o art. 23.
7.3 Aplicação do direito estrangeiro
Quando a norma aplicável for norma estrangeira o juiz é obrigado a aplicar a norma do
outro ordenamento, como se juiz estrangeiro fosse. Pode inclusive fazer controle de
constitucionalidade com a Constituição estrangeira (controle de constitucionalidade
externo). Essa aplicação é de ofício e o ônus de provar o direito estrangeiro é das partes.
A lei estrangeira é equiparada a lei federal para fins de interposição de RE, ou seja,
havendo violação a lei federal em ultima instância, cabe RE contra a decisão que julgou
com base em lei estrangeira.
Art. 2º, CONVENÇÃO INTERAMERICANA: Os juízes e as autoridades dos
Estados Partes ficarão obrigados a aplicar o direito estrangeiro tal como o
fariam os juízes do Estado cujo direito seja aplicável, sem prejuízo de que as
partes possam alegar e provar a existência e o conteúdo da lei estrangeira
invocada.
Art. 14, LINDB: Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem
a invoca prova do texto e da vigência.
Art. 376, CPC: A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou
consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar
Limites ao direito estrangeiro: controle de constitucionalidade (interno, dos elementos
de conexão, do direito estrangeiro; ou externo, com a CF estrangeira), controle de
convencionalidade; ordem publica; fraude a lei.
Aplicação dos DF na cooperação jurídica internacional – non inquiry; non inquiry
mitigado; incidência indireta – ordem publica; incidência direta – de matriz nac,
internacinal.
7.4 Regime de provas
As provas dos fatos devem ser produzias pelas regras do local onde os fatos
ocorreram.
Exemplo: se em um país a interceptação telefônica prescinde de autorização judicial,
essa prova deve ser admitida quando o fato comprovado por ela ocorreu naquele país.
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele
vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais
brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.
OBS: Tradução: em regra tem que traduzir, exceto se for possível compreender.
7.5 Caução (art. 83 CPC)
É exigida quando o autor não é domiciliado nem residente no Brasil, serve para
garantir a execução de possível sucumbência. Não importa se nacional ou estrangeiro.
Exceções:
Quando tratado ou acordo internacional dispensar caução (ex: Convenção de
Haia sobre Sequestro Internacional e Convenção de Haia sobre Alimentos)
Execução de título extrajudicial ou cumprimento de sentença
Reconvenção
8. Cooperação jurídica internacional
Instrumentos de cooperação jurídica internacional:
a) Carta Rogatória
b) Auxílio direto
c) Homologação de sentença estrangeira
d) Extradição (penal)
e) Tratados específicos (ex: sequestro internacional; adoção internacional)
Não se trata de aplicação direta de direito estrangeiro no Brasil, mas sim de cooperação
entre Estados para uma maior efetividade na prestação jurisdicional. São instrumentos
em que um Estado auxilia o outro na realização da atos processuais ou até
extraprocessuais.
Alguns tratados sobre o assunto: Convenção sobre a prestação de alimentos no
estrangeiro, 1959; Convenção de Haia sobre sequestro internacional de crianças;
Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias, 1975; Protocolo de Las Leñas,
1992 e Protocolo de Ouro Preto sobre medidas cautelares, 1994.
Há ainda tratados bilaterais que regulam questões processuais entre o Brasil e outro
país. Em caso de conflito, segundo o artigo 13 do CPC, os tratados prevalecem sobre a
lei interna.
Autoridade central: alguns instrumentos preveem essa figura. Quando não for
especificado, é o MJ.
Procuradoria-Geral da República atua como autoridade central criminal (i) nas
relações do Brasil com Canadá e Portugal, (ii) nas relações subjacentes à CJI penal na
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, para pedidos ativos oriundos do MPU e
dos MP dos Estados e para recebimento dos pedidos oriundos de autoridades
congêneres estrangeiras (CJI passiva) e (iii) nas relações oriundas da Convenção de
NY sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro.
Objeto da cooperação jurídica (artigo 27 CPC):
i. Citação intimação, notificação judicial e extrajudicial
ii. Colheita de provas e informações
iii. Homologação e cumprimento de decisões
iv. Medidas cautelares e de urgência
v. Assistência jurídica internacional
vi. Outras medidas judiciais ou extrajudiciais não proibidas pela lei brasileira.
Tradução: em regra tem que traduzir, exceto se não comprometer a compreensão ou se
há permissão por acordo. No caso de pedidos e documentos encaminhados por
autoridade central ou via diplomática não precisa traduzir.
Convenção da Apostila: documentos entre estados parte não precisam de
legalização consular para serem válidos, no máximo pode exigir uma apostila
aposta no documento. No Brasil a autoridade que faz o apostilamento é o cartório.
8.1 Histórico
Modelo soberanista – a cooperação jurídica internacional era uma questão de cortesia.
Modelo intergovernamental – baseado em tratados e na reciprocidade. Brasil se
encontra nesse modelo.
Modelo da integração – total integração entre nações, eliminando barreiras.
O fundamento da cooperação jurídica internacional, para alguns, é a vontade dos
estados, numa visão voluntarista, mas para corrente mais moderna é a própria ideia de
justiça e efetividade dos provimentos jurisdicionais, bem como que o dever de cooperar
é presente na Carta da ONU.
9. Homologação de sentença estrangeira
CPC 960 a 965
RISTJ 216-A a 216-N
Competência para homologação: STJ (art. 105, l, i da CR/88)
Competência para o cumprimento: Justiça Federal (art. 109, X da CR/88)
Objeto da homologação:
Decisão definitiva judicial
Decisão arbitral estrangeira
Ato não judicial que no Brasil tem natureza de sentença (art. 961 §1º)
STF Sumula 420 – Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do
trânsito em julgado
STJ, SEC 12.697/EX, 2016 – O trânsito em julgado pode ser comprovado por qualquer
meio de prova hábil.
Dispensam homologação:
Sentenças estrangeiras de divórcio consensual (art. 961 §5º)
Título executivo extrajudicial oriundo de país estrangeiro (art. 961 §2º)
Sentenças de tribunais internacionais
A homologação é forma de aplicação indireta do direito estrangeiro. Forma direta é
aquela pela aplicação de normas de Direito Internacional Privado que remetem ao
ordenamento estrangeiro.
9.1 Requisitos da sentença estrangeira para homologação
i. Autoridade competente
ii. Jurisdição concorrente (se for exclusiva não homologa)
a. Exceção: acordo estrangeiro entre as partes em partilha sobre imóvel
situado no Brasil, STJ já homologou.
iii. Citação regular – STJ TEM ACEITO EDITAL NO EXTERIOR SE NÃO
SABIA O PARADEIRO
iv. Ser eficaz no estrangeiro
v. Não ofender a coisa julgada brasileira
a. OBS: Guarda e Alimentos, sempre prevalece a jurisdição nacional, ainda
que esta seja decisão provisória e já exista homologação de estrangeira.
vi. Estar acompanhada de tradução oficial, salvo dispensa por tratado.
vii. Não for contrária a ordem pública.
viii. Transito em julgado
a. STJ, SEC 14.812/EX, 2018 - O art. 963, III, do CPC/15, não mais exige
que a decisão judicial que se pretende homologar tenha transitado em
julgado, mas, ao revés, que somente seja ela eficaz em seu país de
origem TENHA EXEQUIBILIDADE
b. STF Sumula 420 – Não se homologa sentença proferida no estrangeiro
sem prova do trânsito em julgado.
c. Protocolo de Las Leñas e Convenção Interamericana sobre Obrigação
Alimentar preveem apenas a executoriedade da decisão.
Citação
Pode ser suprida pelo comparecimento à audiência no juízo estrangeiro.
É suprida pela citação por edital se o local era desconhecido.
Não é suprido pela citação por correio se a parte residia no Brasil (deve ser carta
rogatória)
Não é exigida nos procedimentos arbitrais.
9.2 Procedimento
A ação de homologação de sentença estrangeira é uma ação, procedimento contencioso.
Inicia-se com petição inicial ao STJ.
Não analisa o direito material, mas apenas os requisitos formais (juízo de delibação
ou de contenciosidade limitada): citação válida; juiz competente; jurisdição
concorrente. O mérito é analisado apenas para afastar as decisões que vão contra a
ordem pública brasileira (existência de fundamentação mínima e ausência de
discriminação infundada).
STJ, SEC 8542-EX, 2018 – A ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente
à falta de interesse processual na homologação de provimento estrangeiro. É preciso
alguma relação com o Brasil.
Cabe tutela de urgência (art. 961 §3º)
Contestação em 15 dias (art. 216-H RISTJ)
o Se não tiver contestação o presidente do STJ homologa de plano.
o Havendo contestação há designação de relator.
Julgamento pela Corte Especial (art. 216-K)
Réplica e tréplica em 5 dias (art. 216-J)
Relator pode decidir monocraticamente no caso de jurisprudência consolidada
da Corte Especial (art. 216-K §unico)
Notificação ao MP para manifestação em 15 dias (art. 216-L)
Cabe desistência mas não renúncia (STJ, 2018) – juízo de delibação
Das decisões do relator e do presidente cabe agravo (art. 216-M)
Pode haver homologação parcial (art. 216-A e 961 §2º)
Indeferimento gera coisa julgada FORMAL [depois pode ajuizar de novo]
Tem força de título executivo judicial.
STJ, SEC 14.914/EX, 2017 – No caso de guarda e alimentos prevalecem as decisões da
justiça brasileira, ainda que precárias, em sede liminar, por conta da cláusula rebus sic
stantibus.
STJ, 2016 – Pode homologar decisão penal que gerou efeitos cíveis, apenas para dar
eficácia a estes no Brasil, com perdimento de bem imóvel produto do crime.
(Convenção de Palermo prevê possibilidade de confisco)
STJ, SEC 8.542/EX, 2017 – Não cabe renúncia em procedimento de homologação de
sentença estrangeira. Além disso, é imprescindível ter algum interesse de jurisdição com
o Brasil pra que possa ser ajuizado aqui.
9.3 Homologação de sentença arbitral estrangeira – peculiaridades
A sentença arbitral nacional é regida pela Lei 9307/96. A sentença arbitral estrangeira é
regida pelos tratados internacionais sobre o tema e subsidiariamente pela Lei
9307/98 e CPC.
STJ é o órgão que homologa, com execução pela JF. Mero juízo de delibação.
A particularidade está na citação de parte domiciliada no brasil, que é admitida que
tenha sido feita por outros meios que não a rogatória, não impede a homologação.
A sentença arbitral não precisa ter sido homologada no juízo de origem para ser
homologada no Brasil.
Não se homologa:
i. Partes incapazes
ii. Convenção de arbitragem (clausula compromissória ou compromisso arbitral)
inválidos
iii. Imparcialidade do árbitro
iv. Ausência ou nulidade da citação (pode ser por correio, não precisa ser rogatoria)
v. Violação ao contraditório ou ampla defesa
vi. A questão estava fora dos limites previstos para a arbitragem
vii. Nulidades procedimentais
viii. Sentença foi anulada ou suspensa pelo judiciário do país em que foi proferida
ix. Objeto do litígio não é direito patrimonial disponível
x. Violação da ordem pública.
Empresa em Recuperação Judicial pode ser parte em sentença arbitral estrangeira, e esta
pode ser homologada pelo STJ.
É possível homologação parcial.
A denegação não impede novo pedido de homologação quando superados os vícios.
Homologada tem a mesma força da sentença arbitral nacional, título executivo
JUDICIAL.
Convenções sobre o Tema:
Protocolo relativo às cláusulas de arbitragem, 1923 – Protocolo de Genebra.
Convenção sobre o reconhecimento de Execução de Sentença Arbitral Estrangeira,
1958, Convenção de NY.
Convenção Interamericana sobre Arbitragem Comercial internacional, 1975, Convenção
do Panamá.
Convenção Interamericana sobre Eficácia Extraterritorial das Sentenças e Laudos
Arbitrais Estrangeiros, 1979, Convenção de Montevidéu.
Acordo de Buenos Aires, 1998 (MERCOSUL)
Protocolo de Las Leñas, 1992 (MERCOSUL)
9.4 Modelos de reconhecimento de sentenças estrangeiras
2. Casamento no exterior
O brasileiro pode se casar no exterior perante autoridade local, seguindo as leis
locais quanto à celebração, registrando perante o consulado brasileiro. Pode também
fazer diretamente casamento consular, perante o consulado brasileiro, se ambos
forem brasileiros, seguindo as regras brasileiras de celebração. Quando um deles
voltar ao Brasil deve registrar em cartório o casamento no prazo de 180 dias, para fins
de eficácia erga omnes no país. Portela critica, diz que deveria automaticamente o
casamento consular valer no Brasil. (LINDB, ART 7 e CC/02 art. 1544)
O estrangeiro que casa no estrangeiro é automaticamente considerado casado no
Brasil, bastando a certidão estrangeira com tradução e legalização consular. Exceção é
ofensa a ordem pública.
Discussão doutrinária: no casamento consular, as regras do país acreditante são
absolutas? Podem ser limitadas pela lei local? Ex: lei do país X permitir casamento de
menores de 16 anos, o consulado do estado X no brasil pode fazer o casamento de
nacionais desse país que tenham 14 anos?
1ª corrente: Sim, porque o consulado goza de imunidade de jurisdição, devendo seguir
todas as regras do país x.
2ª corrente: Não, porque apesar da imunidade, o Estado deve respeitar o ordenamento
jurídico do país acreditado.
3. Divórcio de casamento no estrangeiro
O divórcio de brasileiros no estrangeiro é possível por meio consular desde que: seja
consensual, não envolva menores/incapazes, as partes sejam assistidas por advogado.
(LINDB, ART. 18)
Pode haver inclusive a partilha de bens e definição de pensão.
Já quanto ao divórcio no Brasil de casamento feito no estrangeiro, há discussão
doutrinária:
1ª corrente: Divórcio no brasil de casamento no estrangeiro aplica a lei do foro (Brasil)
2ª corrente: Divórcio no brasil de casamento no estrangeiro aplica a lei do domicílio
conjugal/1º domicílio.
3ª corrente: Não é possível divórcio no brasil de casamento no estrangeiro.
Ex: casaram no Uruguai, moravam lá. Vieram pro Brasil, se separaram. Entrou com
ação de divórcio. Para primeira corrente, lei brasileira se aplica sobre as regras do
divórcio, para a segunda, lei uruguaia. Imagine por exemplo, que no Uruguai a lei só
permite divórcio por traição, e no Brasil é amplo, haveria grande diferença na resolução
conforme a corrente adotada.
3.1 O histórico do divórcio
Até 1977 o Brasil não aceitava o divórcio, alguns casais viajavam para outros países
para conseguirem o divórcio, mas esse não era aceito ao ser homologado, apenas o
desquite (fazia adaptação).
Com a lei do divórcio, em 1977 foi permitido desde que antecedido de separação por 3
anos. Se divorciado no estrangeiro, a sentença de homologação só tinha eficácia 3 anos
depois, exceto se separado judicialmente no estrangeiro por 3 anos.
Com a CR/88 o divórcio passou a ser possível após 1 ano de separação judicial ou 2
anos de separação de fato. No estrangeiro o divórcio poderia ter eficácia depois de 1 ano
da homologação, exceto se separado judicial no estrangeiro por 1 ano. Ou seja,
diminui-se o prazo.
Essa redação com o prazo foi mudada pela EC 66/2010 que não prevê qualquer prazo
para divórcio. No Entanto, a LINDB continua com a redação exigindo prazo de 1 ano.
A doutrina pugna que seja entendido como não recepcionado, já que a EC 66/2010
revogou qualquer critério de prazo.
Assim, hoje entende-se que o divórcio estrangeiro pode ser homologado
normalmente, sem prazo. Sendo consensual, o CPC, artigo 961 diz que dispensa
inclusive homologação, produz efeito diretamente.
COBRANÇA INTERNACIONAL DE ALIMENTOS
Regido pela Convenção da Haia sobre a cobrança internacional de alimentos para
crianças e membros da família (Decreto n° 9176/2017). Antes era regido pela
Convenção de Nova Iorque, que não foi revogada, mas apenas substituída, ou seja, a
convenção de Nova Iorque continua valendo para aqueles que não assinaram a de Haia.
4. Convenção de NY, 1956.
Complementariedade (complementa a cooperação jurídica internacional) e
reciprocidade. Não prevê idade.
Na Convenção de NY a autoridade central é a PGR (autoridade remetente e instituição
intermediária)
Há também Estados que opuseram ressalvas à aplicação da Convenção da Haia para a
cobrança de alimentos entre ex-cônjuges. Os pedidos endereçados por ex-cônjuges a
devedores residentes nesses países (Bósnia e Herzegovina, Cazaquistão, Montenegro e
Ucrânia) continuarão seguindo a CNY.
A Convenção da Haia de 2007 deverá ser aplicada aos casos formalizados a partir de
19 de outubro de 2017 em que figure Estado signatário, observados os casos de
pedidos entre ex-cônjuges. Os casos que já estavam tramitando nessa data, ou que se
refiram a países não signatários, permanecem regidos pela Convenção de Nova
York.
Na Convenção de NY a lei que rege o direito aos alimentos é a do Estado
DEMANDADO.
Formas cooperação ativa:
processo de conhecimento com carta rogatória ao demandado no exterior
(processo nacional). Competência da J. Estadual. MPF não atua.
PGR envia pedido a instituição intermediária para que essa ajuíze ação no
exterior. (auxílio direto)
PGR envia pedido a instituição intermediária para homologar e executar decisão
nacional (homologação de sent. Nacional no estrangeiro)
Formas de cooperação passiva:
PGR recebe e requere homologação de sentença estrangeira de alimentos
PGR recebe pedido e manda para MPF do domicilio do demandado ajuizar ação
de conhecimento (substituto processual). É uma forma de auxílio direto.
OBS: Convenção Interamericana sobre Obrigação Alimentar (Convenção de
Montevidéu, 1989): apenas para quando já tem sentença obrigando no estrangeiro. O
direito aplicável é o mais favorável ao credor, pode ser do domicílio ou residência do
credor ou devedor. A competência a critério do credor pode ser também do domicilio ou
residência do credor ou devedor ou ainda onde este mantém vínculos pessoais. Até 18
anos e cônjuge e ex cônjuge.
HAIA, 2007 (dec em 2017)
5. Objeto, âmbito de aplicação e definições
Objeto da convenção é assegurar a eficácia da cobrança internacional de alimentos a
crianças e outros membros da família através da:
i. Criação de um sistema de cooperação entre Estados
ii. Possibilidade de apresentação de pedidos
iii. Garantia de reconhecimento e execução de decisões
iv. Possibilitar medidas eficazes para rápida execução das decisões
Artigo 1º - Objeto
A presente Convenção tem por objeto assegurar a eficácia da cobrança internacional
de alimentos para crianças e outros membros da família, principalmente ao:
a) estabelecer um sistema abrangente de cooperação entre as autoridades dos Estados
Contratantes;
b) possibilitar a apresentação de pedidos para a obtenção de decisões em matéria de
alimentos;
c) garantir o reconhecimento e a execução de decisões em matéria de alimentos; e
d) requerer medidas eficazes para a rápida execução de decisões em matéria de
alimentos.
O âmbito de aplicação é (art. 1º §1º):
i. Nas relações de filiação de menor de 21 anos
a. Os Estados podem reservar para a idade de 18 anos.
ii. Reconhecimento e execução relativa a relação conjugal juntamente a relação de
filiação
iii. Relação conjugal, com exceção dos capítulos II e III
OBS: Os Estados podem estender a aplicação para outras relações.
6. Cooperação administrativa
Artigo 4º - Designação de Autoridades Centrais
§ 1º Cada Estado Contratante designará uma Autoridade Central encarregada de
cumprir as obrigações que a Convenção impõe a tal Autoridade.
No Brasil a autoridade central é o Ministério da Justiça na pessoa do Diretor do
Departamento de Recuperação de Ativos. Não é mais o MPF!
As autoridades centrais tem como funções (art. 5º e 6º): cooperar entre si e promover
cooperação, procurar soluções para as dificuldades que surjam na aplicação da
Convenção, transmitir e receber os pedidos de alimentos, iniciar ou facilitar os início
dos procedimentos
7. Processamento dos pedidos
Os pedidos dos credores e devedores dos Estados podem ser processados através das
autoridades centrais.
Aplica-se a lei do foro do Estado requerido (art. 10 §3º)
Artigo 9º - Pedido por meio de Autoridades Centrais
Pedidos previstos neste Capítulo serão remetidos à Autoridade Central do Estado
Requerido por meio da Autoridade Central do Estado Contratante em que resida o
demandante. Para os fins deste artigo, mera estada não constitui residência.
7.1 Pedidos possíveis ao credor (art. 10 §1º):