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INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Os indivíduos sempre estiveram inseridos em grupos que possuem os mesmos costumes e práticas (família). À
medida que iam se expandindo, passaram a se relacionar com outros grupos e o fluxo de pessoas e bens pelo
mundo, acabou sendo uma prática constante e com isso surgiram situações transfronteiriças (envolve mais de
1 país). Não havia um tratamento para esse tipo de situação, o que gerava uma violação da igualdade e outros
direitos; e insegurança jurídica. Para essas relações multi ou pluriconectadas, foi necessário a criação de um
direito: DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, que busca responder “Onde demandar?”; “Qual o direito
aplicável?”; “Como reconheço sentença estrangeira?”.

 Conceito: conjunto de normas internacionais e nacionais que tem elementos de conexão,


regulam as relações transfronteiriças e situações que envolvem pessoas físicas/empresas
(relação privada), respondendo qual lei deve ser aplicada para uma situação transfronteiriça
que une mais de um ordenamento jurídico.

Exemplo de conjunto de normas (LINDB): para bens, aplica a lei do local em que o bem se
encontra; portanto se um brasileiro e uma argentina se divorciam e brigam sobre um bem
que está no Brasil, aplico a lei brasileira.

 Objeto: leis no espaço.

 Objetivo: dizer qual lei será aplicada em cada caso concreto/qual autoridade judiciária pode
julgar (peruana, brasileira, americana...), buscando assim resolver os problemas
transfronteiriços que surgiram principalmente por causa da globalização.

 Fundamentos: igualdade, buscar não ter um tratamento desigual, por isso quer padronizar a
lei para assim gerar um equilíbrio.

 Direito adquirido: alguém está no oriente médio, é casado com várias mulheres e quer que
isso seja reconhecido no BR. Contudo, não pode ser aplicado, porque viola a lei nacional.
Porém, se a lei local permitir, poderia reconhecer, porque teria um direito adquirido. É um
direito no qual preencho todos os elementos.

HISTÓRIA
 O DIPR surgiu há muito tempo, mas não há um momento certo para se dizer que ele surgiu:
desde antigamente, pessoas de diferentes nacionalidades se relacionavam (relação
transfronteiriça).

1. Da antiguidade até a idade média europeia: em Roma, havia um universalismo romano,


já que Roma conquistou diversos territórios e com isso, a lei de Roma era aplicada a
todos, o que tornava impossível a aplicação da ordem jurídica estrangeira.

Com a invasão dos povos germânicos e a crise do império romano, ocorreu um


enfraquecimento das fronteiras e as relações passam a ser não somente mais entre os
romanos. Agora tem 2 legislações que poderiam ser aplicadas (germânicos/romanos) e
começou a surgir dúvidas de qual lei deveria ser aplicada. A princípio, utilizava a lei do
local onde aquele que tinha que dar uma solução estava.

Após o Renascimento comercial, as cidades consolidaram regras próprias, mas os


comerciantes tinham receio de se subordinar as leis locais, então consolidou a ideia de
que havia um limite máximo de alcance de uma norma, não conseguia vincular todo
mundo.
2. A fase iniciadora - as escolas estatutárias (base do DIPR): Com a divisão do Império
Romano, o do Oriente conservou a cultura jurídica, que codificou o direito romano
(CORPUS JURIS CIVILIS).

Alguns pensadores passaram a explicar esse documento através de GLOSAS (divididas em


estatutos), que são comentários/interpretações dadas a um documento legislativo (vem
dizer o que seria, como se aplica). O estudo desses estatutos fez com que se
desenvolvesse as escolas estatutárias, que reuniam diversos autores da EUR que vão
dizer qual lei se aplica, de acordo com o assunto: territoriais, extraterritoriais ou mistas.

Os Estatutos Pessoais, ou seja, toda vez que o problema envolver PESSOAS, vou aplicar a
lei do local onde essa pessoa se encontra, ou seja, possuíam um alcance extraterritorial.
Já os Estatutos Reais ou Territoriais, são leis que dizem respeito aos bens imóveis e
possuíam um alcance territorial, ou seja, deve ser aplica a lei do local onde o bem se
encontra. Os Estatutos Mistos são leis que se relacionam aos atos (contrato, por ex.), e a
lei que se aplica é a lei do local da celebração do mesmo e não importa qual seja o
julgador (nacional ou estrangeiro).

3. Escola francesa: fruto da questão econômica e política da França no século 16 e 17, que
levou a guerra dos 30 anos. Nesse período surgem 2 pensadores, Dumoulin e D’Argentré,
que trazem teorias sobre qual lei deve ser aplicada em uma situação transfronteiriça.
Dumoulin defendia a autonomia da vontade (escolha das partes) , ou seja, se eu resolvi
casar na ARG, eu escolhi que aquela lei fosse aplicada para mim. Já D’Argentré,
sustentou o territorialismo, para ele aplico a lei do local onde o bem se encontra.

4. Escola holandesa: A lei de um Estado é aplicada somente no limite do seu território


(territorialismo = se o problema aconteceu dentro do meu país, a lei será aplicada; se
aconteceu dentro do território de outro país, não vai ser aplicada aquela lei); os súditos
de cada estado são todos os que se encontram no seu território (se a pessoa está no meu
país, a minha lei será aplicada a ela); depois de serem aplicadas, as leis de um país
conservam sua força além das fronteiras, por cortesia (lei holandesa vai ser aplicada
dentro do território holandês, para todas as pessoas que ali estão, mas posso aplicar a lei
holandesa fora da Holanda, se o outro país permitir).

5. Escola alemã: pensadores são o Cocceji e o Hert. Cocceji coloca que as pessoas deveriam
ser regidas pelas suas leis nacionais (nacionalismo) e as coisas pela lei do local da sua
situação (ideia de territorialismo). Hert coloca que as pessoas são regidas pelas leis de
sua origem (nacionalidade); as coisas são regidas pelo local de sua situação (sou
brasileira, dona de um imóvel no peru, aplica lei do peru) e a forma dos atos jurídicos
(por exemplo, um contrato) é regida pela lei do local da sua celebração.

CONSOLIDAÇÃO DO DIPr:

 Inicialmente, o DIPr não era positivado (não havia uma lei escrita). A positivação do DIPr tem
3 grandes influências: Story, Saviny e Mancini; mas cada Estado tem seu documento (BR –
temos o LINDB que diz o que tem que ser aplicado nas relações transfronteiriças).

 Contribuição de Story: passa a regular os tipos de relação dizendo o que vai ser aplicado em cada
tipo de conflito.

 Capacidade civil – devem ser regidos pela lei do domicilio (onde a pessoa mora);
 Capacidade para contratar (celebrar contrato) – lei do local do contratado;

 Dos bens imóveis – da lei da sua situação

 Do casamento – da lei do lugar de celebração

 Do divórcio e das relações cônjuges – da lei do domicilio atual

 Contribuição de Saviny: Toda vez que estiver falando de pessoas, aplica a lei do domicílio dela. Se
for coisas/bem, lei da localização dele.

 Contribuição de Mancini: se o problema diz respeito a uma pessoa, tem que olhar qual é a sua
nacionalidade.

EVENTOS IMPORTANTES

1) Conferência de Haia de Direito Internacional Privado (século 19): buscou uniformizar as


regras de DIPR no plano internacional para solucionar os conflitos. As conferências foram
separadas por temas, no qual as seis primeiras foram voltados para o tema de família e
sucessão (casamento, individuo faleceu com quem os bens ficam). A sexta deu inicio a uma
nova fase, porque não fica só atrelada a questão familiar.

2) Codificação Panamericana e a Conferência Interamericana de Direito Internacional Privado:


em 1987 por iniciativa do Peru, teve a conferência de juristas sul americanos com a
participação do Peru, Chile, ARG, Venezuela, Costa Rica, Bolívia e Equador. Buscou-se criar
regra de direito penal, processo internacional, além do DIPR para ter essa uniformização. A
norma foi criada, mas o texto não foi ratificado, então não se aplica.

Foram realizadas outras conferencias panamericanas e fez com que se firmasse mais à frente
a união panamericana. A primeira conferencia pan americana, buscava que tratados que já
existiam como de Montevideu fossem ratificados. Na segunda conferencia, o BR propôs a
criação de uma comissão para organizar a codificação do DIP e do DIPR.

Essa proposta foi concretizada pela III Conferencia Pan americana essa comissão passa a
preparar projetos de codificação. Uma nova comissão é criada posteriormente, buscando
conciliar a lei da nacionalidade e do domicilio. Projeto foi analisado e aprovado na VI
conferencia pan americana; foi editada uma convenção pan americana de direito
internacional privado, também denominada código Bustamante.

3) Conferencia das nações unidas para o comercio e desenvolvimento (CNUDCI e ou


UNCITRAL: há um abismo/desigualdade muito grande entre países desenvolvidos (possuem
conhecimento técnico) e subdesenvolvidos (tem matéria prima que vai ser utilizado para
produzir algo pelo demais). A nova ordem econômica internacional tem como objetivo
auxiliar os países subdesenvolvidos para que consigam uma certa igualdade, busca um
equilíbrio. Por isso, regras de comércio internacional começam a surgir. O objetivo da
conferencia tem como objetivo unificar o direito do comércio internacional, isto é, regular
relações que se dão entre países diversos e que dizem respeito a comercialização.

4) Unidroit: busca a unificação do direito privado, com igualdade; busca eliminar as diferenças
e obtenção da unidade.

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