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8º ano
HISTÓRIA
MANUAL DO
PROFESSOR
2a. edição - São Paulo - 2012
Vontade de Saber História, 8o ano
Copyright © Adriana Machado Dias, Keila Grinberg e Marco César Pellegrini, 2012
Todos os direitos reservados à
EDITORA FTD S.A.
Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 — Bela Vista — São Paulo — SP
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Diretora editorial
Silmara Sapiense Vespasiano
Editora
Débora Lima
Editora adjunta
Alaíde Santos
Editora assistente
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Assistentes de produção
Ana Paula Iazzetto e Lilia Pires
Assistente editorial
Cláudia C. Sandoval
Revisores
Bárbara Borges
Fernando Cardoso Guimarães
Eliana Medina
Coordenador de produção editorial
Caio Leandro Rios
Arte
Projeto gráfico
Marcela Pialarissi (criação e coordenação)
Bruno Sampaio e Laís Garbelini (desenvolvimento)
Ilustrações
Art Capri
Cartografia
E. Cavalcante
Capa
Marcela Pialarissi
Fotos da capa
IrÞne Alastruey/Glow Images (Guerreiro Terracota)
Sandro Botticelli. 1483. Têmpera sobre tela. Galeria dos
Ofícios, Florença (Detalhe da tela O Nascimento de Vênus)
Wallace Kirkland/Time Life Pictures/Getty Images
(Mohandas K. Gandhi) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Heini Schneebeli/The Bridgeman Art Library/ (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Keystone (Escultura Iorubá) Pellegrini, Marco César
Bloomimage/Corbis/Latinstock (Menina) Vontade de saber história, 8o ano / Marco César
Pellegrini, Adriana Machado Dias, Keila Grinberg.
Iconografia
-- 2. ed. -- São Paulo : FTD, 2012.
Supervisão
Célia Rosa Bibliografia.
Pesquisa ISBN 978-85-322-8106-7 (aluno)
ISBN 978-85-322-8107-4 (professor)
Alaíde França (coord.) e Cristina Mota
Editoração eletrônica
1. História (Ensino fundamental) I. Dias,
Diagramação Adriana Machado. II. Grinberg, Keila. III. Título.
Daniela Cordeiro de Oliveira
Tratamento de imagens
José Vitor Costa 12-03245 CDD-372.89
Gerente executivo do parque gráfico
Índices para catálogo sistemático:
Reginaldo Soares Damasceno
1. História : Ensino fundamental 372.89
Para você, o que é História? Algumas pessoas pensam
que História é o estudo do passado. Outras, porém, afirmam
que ela serve para entender melhor o presente. Nós acredita-
mos que História é tudo isso e muito mais!
O estudo da História nos ajuda a perceber as ligações exis-
tentes entre o passado e o presente. A escrita, a música, o ci-
nema, as construções magníficas, os aviões, os foguetes...
Tudo aquilo de que dispomos hoje, desde os produtos fabrica-
dos com tecnologia avançada até a liberdade de expressão,
devemos às pessoas que trabalharam e lutaram, enfim, que vive-
ram antes de nós. A História nos permite conhecer o cotidiano
dessas pessoas e perceber como a ação delas foi importante
para construir o mundo como ele é hoje.
A História nos auxilia a conhecer os grupos que formam as
sociedades, os conflitos que ocorrem entre eles e os motivos de
tais conflitos. Ela nos ajuda a tomar consciência da importância
de nossa atuação política e a desenvolver um olhar mais crítico
sobre o mundo. Assim, nos tornamos mais capazes de analisar
desde uma afirmação feita por um colega até uma notícia veicu-
lada pela televisão.
Ao estudarmos História, percebemos a importância do res-
peito à diversidade cultural e ao direito de cada um ser o que é,
e entendemos como esse respeito é indispensável para o exer-
cício da cidadania e para construirmos um mundo melhor.
Bem-vindo ao fascinante estudo da História!
Os autores.
Knepper/Opção
Brasil Imagens
Christian
SUMÁRIO
1
Capítulo
2 O Antigo Regime 24
Capítulo
■ ■ O terceiro estado
Explorando o tema.................................... 36
■■ O público e o privado no Antigo Regime
O cotidiano no Antigo Regime.................... 30
■■ Uma feira na época do Antigo Regime Atividades................................................. 38
O Absolutismo ibérico................................ 32
3
O Iluminismo 42
Capítulo
4 A Revolução Americana 58
Capítulo
■ ■ A Revolução Americana
O processo de independência ■■ A Declaração de Independência
das Treze Colônias.................................. 63 ■■ O apoio francês
■ ■ A conquista da independência
■■ A Guerra dos Sete Anos
■ ■ A Constituição dos Estados Unidos da América
■■ As consequências do conflito
■ ■ O Estatuto dos Direitos
■ ■ O Massacre de Boston
5
A Revolução Francesa e o
Capítulo
Império Napoleônico 74
A França antes da revolução...................... 76 ■■ Robespierre e o Terror Revolucionário
■■ O início do fim ■■ A Reação Termidoriana e o Terror Branco
■■ A crise econômica e administrativa O governo do Diretório............................... 85
■ ■ A Revolução Francesa e o período Napoleônico ■■
A burguesia no poder
A convocação dos Estados Gerais.............. 78 ■■ As campanhas de conquista
■■ A tentativa de resolver a crise O calendário revolucionário francês........... 86
■■ A Assembleia Nacional ■■ Um novo calendário
■ ■ As reformas da Assembleia Nacional
O Império Napoleônico............................... 87
■■ A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
Atividades................................................. 92
A radicalização revolucionária................... 84
6 A Revolução Industrial 96
Capítulo
■■ Mudanças na sociedade
■■ Mudanças nas relações de trabalho Explorando o tema.................................. 110
■ ■ Os operários ■■ As mudanças na percepção da
■ ■ A vida social dos operários
passagem do tempo
■ ■ O estilo de vida da burguesia
Atividades............................................... 112
Uma cidade industrial.............................. 104
■■ A cidade de Sheffield
7 As independências
Capítulo
■■ Os Cabildos e as Audiencias
■ ■ A situação nas colônias
■■ Os movimentos sociais
■ ■ A influência europeia
■■ As lutas de independência
■ ■ As elites no poder
■ ■ A invasão napoleônica na Espanha
■■ A criação de instituições
■■ Aumento da população Explorando o tema.................................. 148
■ ■ Mudança nos hábitos ■■ A Biblioteca Nacional
Rio de Janeiro, a capital do Reino............ 142 Atividades............................................... 150
■■ O Largo do Paço Real
9 A consolidação da
Capítulo
11 O fim da Monarquia e a
Capítulo
A Fotografia produzida por volta de 1890 que retrata a região central da cidade do Rio de Janeiro.
Veja nas Orientações para o professor alguns comentários e explicações sobre os recursos apresentados no capítulo.
8
Léo Burgos
B Fotografia produzida em 2009 retratando o mesmo local, na cidade do Rio de Janeiro.
Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
É a partir da análise das fontes históricas que os historiadores conse- o conhecimento
prévio dos alunos e
guem perceber as mudanças e permanências nas sociedades no decorrer estimular seu
do tempo. Objetos antigos, pinturas, documentos escritos e fotografias interesse pelos
assuntos que serão
são exemplos de fontes utilizadas pelos historiadores na construção do desenvolvidos no
conhec imento histórico. capítulo. Faça a
mediação do diálogo
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os entre os alunos de
maneira que todos
colegas sobre as questões a seguir. participem
■ ■ Descreva o local, as construções e outros elementos retratados nas expressando suas
opiniões e
fontes A e B. respeitando as dos
■ ■ Identifique as semelhanças e diferenças entre as fontes A e B.
colegas.
9
Estudando História
Por meio da investigação de fontes sobre o passado, podemos compreender
melhor a sociedade em que vivemos.
O que é História?
História é o campo do conhecimento dedicado ao estudo das ações dos
Sociedade
seres humanos no tempo e no espaço. Esse estudo procura analisar as conjunto de
transformações que acontecem ao longo do tempo nas sociedades e pessoas que
também os aspectos que, mesmo com o passar do tempo, permanecem convivem em um
semelhantes. espaço, comparti
lhando regras,
costumes, língua
A utilidade da História etc. A sociedade
é composta por
Ao estudarmos História, temos condições de entender melhor a realidade grupos sociais,
em que vivemos. O estudo dos acontecimentos passados nos permite ana como a família, a
lisar como as pessoas que viveram em outras épocas se relacionavam escola, o traba
lho. Por meio dos
entre si e como suas ações contribuíram para transformar a realidade de grupos sociais, as
sua cidade, de seu estado ou de seu país. pessoas se
Conhecendo melhor os acontecimentos passados e percebendo que as integram à
sociedade,
ações de todos os cidadãos são importantes para os rumos da história, estabelecendo
temos maior clareza da importância do nosso papel na transformação da relações entre si.
sociedade e na construção de um mundo melhor e mais justo.
Os sujeitos históricos
Juca Martins/Pulsar
10
Tempo e História
capítulo 1
O tempo é um elemento fundamental nos estudos históricos.
11
As fontes históricas
A análise das fontes históricas é essencial para a interpretação dos fatos do passado.
O carimbo do
arquivo público
indica que esse
A assinatura da documento já foi
princesa Isabel, que catalogado e
Lei Áurea. 13/05/1888. Arquivo
12
A Escola dos Annales e as fontes históricas As fontes
capítulo 1
escritas e
A partir do final da década de 1920, um gru oficiais
RogerViollet/TopFoto/Keystone
po de historiadores franceses, da chamada Os historiadores
Escola dos Annales , passou a considerar toda da Escola dos
Aventuras de Chiquinho e Zé Macaco. Em O Ticotico. 05/05/1920. Coleção particular. Foto: Marinez Maravalhas Gomes
Os vestígios arqueológicos podem fornecer
importantes informações históricas. Grande parte
do conhecimento que se tem sobre povos do
passado que não utilizavam a escrita, por exemplo,
foi fornecida por esse tipo de fonte. Acima,
fotografia de utensílios de cozinha tupi-guarani.
Johann Sebastian Bach Paixão segundo São Mateus. 1727. Biblioteca
do Estado, Berlim. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Partitura de uma música do compositor alemão História em quadrinhos publicada na capa da revista
Johann Sebastian Bach (1685-1750). Como infantil O Tico-tico, em 1920.
ainda não haviam sido inventados gravadores no As histórias em quadrinhos também são importantes fontes
século XVIII, muitas músicas daquela época históricas. Mesmo sendo obras de ficção, nessas fontes o
somente são conhecidas nos dias de hoje historiador encontra elementos que o auxiliam a
devido à preservação dessas fontes históricas. compreender o passado.
13
O conhecimento histórico
Por meio da análise de fontes históricas, os historiadores constroem
conhecimentos sobre o passado.
Natalie Fobes/Corbis/Latinstock
dela diversas informações que o auxiliam a compreen-
der acontecimentos passados. Assim, a análise da
fonte gera um determinado conhecimento histórico
sobre o passado.
No entanto, esse conhecimento não se dá de for-
ma automática. Quando o historiador se depara com
uma fonte histórica, é ele quem analisa, questiona e
interpreta essa fonte, produzindo uma versão da
história de acordo com suas concepções e métodos.
Assim, sua conclusão sobre o acontecimento anali-
sado não é uma verdade absoluta e, por isso, pode Nessa fotografia, vemos um grupo de historiadores
ser questionada por outros historiadores. analisando fontes históricas.
Na obra de Moreaux
François-René Moureaux – Proclamação da independência. 1844. Óleo sobre tela. Museu Imperial, Petrópolis
vemos a figura de
D. Pedro ao centro,
sendo saudado pelo
povo. Embora
também apareçam
militares, na tela
predomina a
população civil.
Assim, nessa obra, a
“Proclamação” é
apresentada como
uma festa cívica
nacional liderada por
D. Pedro.
Civil aquele
que não é militar
nem faz parte do
clero.
14
Pedro Américo – Independência ou Morte. 1888. Óleo sobre tela. Museu Paulista da USP, São Paulo
capítulo 1
Estudar História é...
Na tela de Pedro Américo, diferentemente da obra de Moureaux, a população brasileira é representada apenas por um
tropeiro que assiste passivamente à “Proclamação” às margens do riacho do Ipiranga. Assim, na obra de Pedro Américo
praticamente não existe participação popular e os militares são preponderantes na cena: com seus trajes de gala, eles
estão saudando D. Pedro e garantindo a emancipação política do Brasil em relação a Portugal.
Os fatos históricos admitem interpretações diferentes. Isso não significa, no entanto, que
o conhecimento histórico pode ser produzido de forma arbitrária. Ao analisar as evidências
históricas e as fontes, o historiador deve assumir uma postura crítica, para que o conheci
mento histórico seja produzido de maneira responsável.
15
Conceitos importantes para a História
Existem conceitos que são fundamentais para os estudos históricos.
A política
Política é a ação de organizar e de administrar uma
Esam AlFetori/Reuters/Latinstock
sociedade. Para um bom funcionamento da atividade
política, os indivíduos estabelecem um governo regido
por leis.
Na atualidade, a maioria dos países possui uma
Constituição, que é um código de leis escritas que
define os principais direitos e deveres dos cidadãos.
Quando os cidadãos de um país participam das decisões
políticas, dizemos que o sistema político desse país é uma
democracia. Quando as decisões políticas são tomadas
pelos governantes sem a participação dos cidadãos, Manifestação em que a população egípcia
dizemos que esse sistema político é uma ditadura. exige o fim da ditadura e a volta das
eleições para presidente, em 2011.
O trabalho
Trabalho é a ação produtiva dos indivíduos, que, para atender às suas
necessidades, transformam a natureza. Todos os bens de que dispomos
são frutos do trabalho, desde um alimento até um automóvel ou uma obra
de arte.
As formas de trabalho variam de uma sociedade para
A economia
Economia é a maneira como a sociedade se organiza para produzir, arma
zenar, distribuir e comercializar os bens que atendem às necessidades hu
manas. A economia envolve o gerenciamento de vários fatores que influenciam
a produção dos bens, como a utilização dos recursos naturais, as formas de
trabalho, as tecnologias disponíveis, o capital investido e acumulado, a dis
tribuição da riqueza, os preços das mercadorias etc.
Carl Barks. Foto: Associated Press/Glow Images
16
O capitalismo
capítulo 1
O sistema capitalista tem como pressupostos básicos o direito à proprie
Capital todo
dade privada e ao acúmulo de capital. O direito à propriedade privada se bem, criado pelo
refere a qualquer tipo de posse, desde que o indivíduo tenha provas de que trabalho, que
o objeto realmente lhe pertence. pode ser aplicado
Lalo de Almeida/Folhapress
que, por não possuírem meios de produção, ven
dem sua força de trabalho. Nessa relação de
trabalho, os capitalistas têm o direito de vender
a mercadoria produzida e acumular para si os
lucros obtidos.
O liberalismo
O sistema capitalista recebeu grande influência e fundamentação teórica do liberalismo.
O ponto principal do liberalismo é a defesa da liberdade individual, isto é, a ideia de que
cada ser humano é um indivíduo que possui, por natureza, o direito de ser livre. Tendo
como base a garantia da liberdade, o liberalismo estabelece outros dois pontos. Veja.
■■ O livre consentimento na política, ou seja, o ideal de que a população só deve ser
governada por pessoas que ela escolhe. Dessa forma, o governante escolhido por
meio do voto seria o melhor representante de uma sociedade.
■■ A livre concorrência na economia, ou seja, o ideal
Mauricio Simonetti/Pulsar
17
Explorando o tema
A historicidade dos conceitos
Ao utilizar um conceito, é muito importante que o historiador leve em conta a sua historici
dade. Quando dizemos que um conceito tem historicidade, isso quer dizer que ele possui um
significado que depende da época e do lugar onde é utilizado. Para o historiador, é importan
te reconhecer a historicidade dos conceitos, pois, dessa forma, eles se tornam específicos e
são aplicados com coerência para se referir a uma determinada época ou contexto histórico.
18
capítulo 1
Em meados do século XX, ocorreu uma
Corel Stock Photo
19
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 A partir da definição do conceito de Histó 7 Explique por que não podemos afirmar que
ria, cite alguns exemplos de objetos de existem verdades absolutas na Hist ória.
estudo para os historiadores. Justifique
sua resposta. 8 Por que o acúmulo de capitais é fundamen
tal no sistema capitalista?
2 O que é sujeito histórico? Explique por que
a história não é construída apenas por 9 Escreva um pequeno texto utilizando as
“grandes personagens”. seguintes palavras e expressões.
Expandindo o conteúdo
13 O historiador nunca deve cometer o erro do anacronismo, isto é, atribuir aos sujeitos históricos
do passado razões e sentimentos gerados no presente. O historiador deve respeitar a histo
ricidade dos conceitos que ele utiliza para analisar os processos históricos. Leia o texto.
Cada um de nós tem sua história, que começa muito antes do momento do nascimento e antes mesmo do
nascimento de nossos pais. Carregamos as vivências de toda a nossa família e, por extensão, de toda a huma-
nidade. Isso também acontece com a realidade em que vivemos: o mundo de hoje é resultado de uma longa
trajetória, de ideias, avanços, retrocessos, perdas e conquistas que se sucederam ao longo de milênios. [...]
A compreensão do que é cidadania, [por exemplo], esteve (e está) absolutamente condicionada aos costu-
mes e à estrutura política, econômica, social e religiosa vigente. Os grupos que gozavam dos direitos podiam
ser, conforme a época, o dos militares, dos nobres, dos religiosos, dos comerciantes ou dos donos de terras.
Inexistia [na Antiguidade] o princípio de igualdade para todos, tal como o conhecemos hoje. Mesmo entre os
“não cidadãos”, os escravos, havia heterogeneidade. Um escravo da Antiguidade, por exemplo, podia ser das
mais diferentes nacionalidades e tipos físicos — eram sobretudo prisioneiros das terras conquistadas — e so-
frer mais ou menos diretamente com a falta de direitos. Já no século XVII, os escravos eram essencialmente
negros africanos, e o tráfico negreiro era uma atividade comercial como outra qualquer — das mais rentáveis,
aliás — em grande parte do continente americano colonizado por europeus.
Esses exemplos nos convidam a refletir sobre nossa condição de cidadãos hoje. Conhecer os capítulos mais
antigos dessa história, como numa viagem dentro de uma máquina do tempo, nos ajuda a compreender nosso
papel nela agora e, se não garante que não cometeremos erros, nos dá pistas para que possamos nos perguntar
(e responder): como me relaciono no mundo em que vivo? Sou de fato cidadão no meu tempo?
Ana Cristina Pessini (Ed.). Como exercer sua cidadania. São Paulo: Bei Comunicação, 2003. p. 138. (Entenda e aprenda).
20
capítulo 1
a) De acordo com o texto, o mundo atual tem alguma relação com os acontecimentos pas
sados? Explique.
b) O que o texto afirma sobre o conceito de cidadania?
14 Assim como as histórias em quadrinhos, as charges também são fontes históricas. A charge
a seguir foi produzida pelo cartunista brasileiro Arnaldo Angeli Filho, no final da década de
1980, logo após o fim da ditadura militar no Brasil. Nessa época, os brasileiros tinham
elegido uma Assembleia Nacional Constituinte, que estava elaborando uma nova Consti
tuição para garantir os direitos do cidadão e a tão desejada democracia no Brasil.
Em meio a muitas disputas políticas entre grupos que tinham interesses conflitantes, houve
um tema que provocou acalorados debates: a questão indígena, principalmente no que se
referia ao direito de propriedade dos indígenas sobre as terras onde eles tradicionalmente
habitavam. Um grupo afirmava que os indígenas, que eram os primeiros habitantes do
Brasil, tinham direitos sobre as terras onde viviam, e que precisavam de grandes reservas
para conseguirem manter seu modo de vida tradicional. Outro grupo argumentava que as
reservas indígenas atrasariam o desenvolvimento do país, pois elas prejudicariam os gran
des fazendeiros, dificultando a expansão de seus latifúndios, além de ferir os interesses
econômicos dos madeireiros e das empresas mineradoras. Observe a charge.
Angeli
21
a ) Descreva as duas cenas. Qual personagem está sendo representado? Quais são as
semelhanças e as diferenças entre os dois momentos representados na charge?
b ) Em sua opinião, o autor defende qual posição na discussão dos direitos indígenas sobre
as terras onde eles viviam? Justifique sua resposta.
Victor Frond – Aqueduto de Santa Teresa e casario da Lapa. c. 1859. Litogravura. Coleção particular
Aqueduto de Santa Teresa e casario da Lapa, por volta de 1859.
B
Renata Mello/Pulsar
22
capítulo 1
a ) Quando foi produzida a fonte A? E a fonte B?
b ) Quanto tempo se passou entre a produção da fonte A e a da fonte B?
c ) Quais foram as transformações que ocorreram nesse local ao longo do tempo?
16 No dia 3 de outubro de 1931, o jornal Folha da Manhã publicou uma notícia relacionada à
maneira de contar o tempo. Veja.
23
2
capítulo
O Antigo Regime
Autor desconhecido – Baile de Corte de Valois. Séc. XVI. Óleo sobre tela. Museu de
Belas Artes, Rennes, França. Foto: Giraudon/The Bridgeman Art Library/Keystone
A Pintura produzida no
século XVI que
representa um baile
da corte real francesa.
Pieter Bruegel – O casamento camponês. 1568. Óleo sobre painel. Museu de História da Arte, Viena
24
Bartolomé Esteban Murillo - Papa Gregório IX. Séc XVII. Óleo sobre tela. Foto: SuperStock/Glow Images
C Imagem que representa membros do clero reunidos com o papa Gregório IX.
Pintura produzida pelo artista Bartolomé Esteban Murillo (1617-1682).
Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
Durante a Idade Moderna, o Absolutismo se consolidou em diversos o conhecimento
prévio dos alunos e
reinos europeus. Nesses reinos, desenvolveu-se uma série de práticas estimular seu
políticas, econômicas e sociais que ficaram conhecidas como Antigo interesse pelos
assuntos que serão
Regime. Entre as características desse período se destacaram a concen- desenvolvidos no
tração do poder nas mãos do rei e a rígida divisão da sociedade em três capítulo. Faça a
mediação do diálogo
grupos: o clero, a nobreza e o restante da população, dividida em cam- entre os alunos de
poneses e burgueses. maneira que todos
participem
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os expressando suas
colegas sobre as questões a seguir. opiniões e
respeitando as dos
■ ■ Descreva os personagens representados na fonte A. Aponte as carac colegas.
terísticas do cenário, das vestimentas e dos comportamentos das
pessoas representadas nessa fonte. Que tipo de privilégios essa ca-
mada social desfrutava?
■ ■ Analise a fonte B. Quais informações sobre os costumes dos campo-
25
A formação do Antigo Regime
A crise do sistema feudal, iniciada a partir do século XI, contribuiu para a formação
do Antigo Regime.
O sistema feudal
A crise do feudalismo
A partir do século XI, houve um aumento da produção agrícola, além de
um rápido crescimento da população e do número de moradores nas cidades. A alta
e a baixa
A produção artesanal também cresceu com muitos artesãos trabalhando
burguesia
na fabricação de tecidos de lã, ferramentas, joias, sapatos e objetos de
A burguesia não
madeira. O excedente agrícola e os produtos artesanais eram comerciali- era um grupo
zados entre os feudos e também com povos de outros continentes. social homogê-
Nessa época, os comerciantes, também chamados de burgueses, foram neo. Havia a alta
burguesia e a
se tornando mais numerosos e mais influentes na economia medieval. Ini-
baixa burguesia.
cialmente, os burgueses ocupavam uma posição social intermediária. Porém, A alta burguesia
devido ao desenvolvimento das atividades urbanas no final da Idade Média, era composta,
eles tiveram condições de prosperar e enriquecer, passando a ocupar uma principalmente,
posição destacada na socie- por grandes
Escola de Jean Fouquet. Séc. XV. Biblioteca Nacional, Paris
26
A formação dos Estados modernos
capítulo 2
Nesse contexto de crise, os senhores feudais e alguns
Permanências do feudalismo
grandes mercadores buscaram a proteção e o apoio dos
Apesar da centralização do poder do rei,
reis, que garantiram a defesa militar do território, a cons- havia permanências do sistema feudal
O Antigo Regime
trução e a manutenção de estradas, além da padronização que limitavam o poder do monarca. Os
das moedas. Esses acordos permitiram ao rei centralizar senhores feudais mantiveram grupos
armados sob seu comando e continuaram
gradativamente o poder em suas mãos. cobrando impostos dos camponeses que
A centralização do poder nas mãos dos reis foi essen- trabalhavam em suas terras. Além disso, a
propriedade agrária continuou sendo, até
cial para a formação dos Estados modernos. Para auxiliar o século XVIII, a principal fonte de prestí-
o rei na administração do Estado, foram criadas institui- gio político e poder econômico, e perma-
ções administrativas. Os cargos dessas instituições eram neceu nas mãos da nobreza.
ocupados, em sua maioria, por nobres que dispunham
de privilégios feudais, como a isenção de pagamento de
O mercantilismo
A partir do século XVI, vários Estados modernos adotaram um conjunto
de práticas econômicas que recebeu o nome de mercantilismo.
Taxa
A principal característica do mercantilismo era a intervenção do Estado alfandegária
na economia. Seus objetivos comuns, apesar das variações de um país imposto cobrado
para outro, centravam-se na acumulação de metais preciosos, prática co- pelo governo de
nhecida como metalismo. Outra característica importante era a preocupa- um país pela
importação e
ção do governo estatal em manter a balança comercial positiva, ou seja, exportação de
aumentar as exportações e diminuir as importações do país. Isso era alcan- mercadorias.
çado por meio de políticas protecionistas impostas pelo Estado, que co-
brava altas taxas alfandegárias sobre os produtos estrangeiros a fim de
proteger a produção nacional.
Desse modo, o mercantilismo complementou
Acervo da editora
e fortaleceu o poder do rei, ao mesmo tempo Balança comercial positiva Balança comercial negativa
em que beneficiou a burguesia nascente, fre-
quentemente associada aos empreendimentos
do Estado.
Esse conjunto de práticas econômicas,
políticas, sociais e administrat ivas dominan-
tes na Europa entre os séc ulos XVI e XVIII
Exportação Importação
ficou conhecido como Antigo Regime.
27
Uma sociedade dividida
A sociedade europeia do Antigo Regime era dividida em três camadas sociais.
As camadas sociais
Durante o Antigo Regime, a sociedade europeia era dividida em camadas
sociais distintas. As pessoas faziam parte de uma camada social de acordo
com suas condições políticas e financeiras. Na França, por exemplo, as
camadas sociais eram chamadas de estamentos ou estados.
O primeiro estado
O primeiro estado era composto pelo alto e pelo baixo clero. O alto clero
era formado por nobres que se tornavam religiosos e recebiam o título de
bispos, arcebispos e abades. Já o baixo clero era composto por padres
de origem popular.
Os membros do alto clero Os membros do
exerciam funções administrativas baixo clero viviam
e eram responsáveis pela nas vilas e nas
educação das crianças da cidades, próximos à
nobreza. Esses religiosos não população pobre. Eles
pagavam impostos, e, além eram responsáveis
disso, eram líderes da Igreja e por prestar
legitimavam o poder absoluto do assistência material e
rei, que em retribuição doava espiritual às pessoas
grandes propriedades de terra humildes.
para a Igreja.
O segundo estado
Príncipes, duques, condes e barões formavam o segundo estado. Essa ca-
mada social, também chamada de nobreza, era a menos numerosa do Antigo
Regime, porém a que mais gerava custos para o restante da população.
No Antigo Regime, os membros da nobreza tinham muitos privilégios,
pois era comum que as pensões e os cargos administrativos fossem distri-
buídos principalmente entre eles. Além disso, assim como os clérigos, os
membros do segundo estado não pagavam impostos. A nobreza, na época
do Antigo Regime, era dividida em três grupos: cortesã, togada e provincial.
Ilustrações: Art Capri
28
O terceiro estado
capítulo 2
O terceiro estado era a camada mais numerosa e diversificada da socie-
dade do Antigo Regime. Todos aqueles que não eram membros do clero ou
da nobreza faziam parte desse grupo.
O Antigo Regime
Dessa forma, essa camada era composta, por exemplo, por burgueses,
artesãos, camponeses e pessoas livres. Os membros do terceiro estado eram
os que pagavam a maioria dos impostos cobrados pela Coroa e pela Igreja.
29
O cotidiano no Antigo Regime
No século XVIII, as feiras eram os locais onde as pessoas se encontravam e
comercializavam seus produtos.
30
capítulo 2
Os burgueses iam à
feira para tratar de seus
O Antigo Regime
negócios financeiros.
Muitos deles eram
donos das lojas que
ficavam na lateral das
ruas comerciais. Os açougueiros
vendiam carnes e
peles de animais
como carneiros,
bois e porcos.
Art Capri
Naquela época, os sapateiros
mediam o tamanho do pé dos
seus fregueses e produziam
os sapatos sob medida.
Os vendedores de
Muitos trabalhadores especiarias
rurais iam até as comercializavam
cidades à procura de produtos como
serviço. Como eles não gengibre, cravo,
tinham um local para canela, pimenta e
ficar, perambulavam noz-moscada.
pelas ruas.
31
O Absolutismo ibérico
A centralização do poder na Espanha e em Portugal impulsionou a expansão
marítima desses Estados e a conquista de territórios.
E. Cavalcante
N
O Absolutismo espanhol
No século XVI, a Coroa espanhola deu grande incen- A chegada dos europeus à América
tivo financeiro à expansão marítima e investiu na coloni- Os “reis católicos” espanhóis incentivavam
zação de territórios distantes. A Espanha tornou-se um a expansão marítima e financiaram a
poderoso império, com colônias na América, na Europa, expedição do navegador Cristóvão
na Ásia e na África. Nessa época, o regime absolutista Colombo. Em 1492, Colombo chegou a
espanhol se fortaleceu, apesar das várias guerras trava- um continente, até então desconhecido
das entre espanhóis e outras nações europeias, como pelos europeus, que receberia o nome de
América.
Inglaterra, Países Baixos e Suécia.
No século seguinte, o Absolutismo espanhol continuou fortalecido, prin-
cipalmente devido à intensa exploração de metais preciosos na América, Colônia
que favoreceu o governo espanhol e a política econômica do metalismo. território ocupado
e administrado
A sociedade espanhola do Antigo Regime, assim como nos outros Estados por outra nação;
absolutistas, era dividida em três camadas. A primeira camada era composta possessão
pelo clero, a segunda, pela nobreza, e a terceira camada era formada por territorial.
burgueses, camponeses, artesãos e pessoas pobres. Esse último gru po era
o mais numeroso da Espanha.
Autor desconhecido – Armada espanhola. Séc. XVI.
Ilustração. Museu Nacional Marítimo, Londres. Foto:
Bettmann/Corbis/Latinstock
Na época do Absolutismo
espanhol, a frota marítima
desse Estado era muito
poderosa, por isso era
chamada de “invencível
Diego Velázquez
armada”. Essa pintura do e a obra
século XVI representa As Meninas
embarcações da armada
espanhola.
32
O Absolutismo em Portugal
capítulo 2
O Absolutismo português começou a ganhar força no século XV, quando
D. João II assumiu o trono português e reforçou a centralização do poder
em suas mãos. Esse rei incentivou a expansão marítima de Portugal, con-
tratando navegadores italianos para viajar em nome da Coroa portuguesa
O Antigo Regime
e negociando com investidores para que eles financiassem a construção de
navios. Além disso, os portugueses desenvolveram as técnicas de navegação
aprendidas com os muçulmanos durante o período em que estes dominaram
a península Ibérica. Durante o governo de D. João II, foi assinado o Tratado
de Tordesilhas , que dividia o recém-descoberto continente americano entre
Espanha e Portugal.
No século XVI, os reis portugue-
A União Ibérica
No final do século XVI, o reino português enfrentou uma crise sucessória que provocou a
união das Coroas portuguesa e espanhola. Esse período, em que os dois reinos foram
governados pelo rei da Espanha, foi chamado de União Ibérica e durou até 1640.
Portugal, no entanto, continuou sendo um reino absolutista, pois o rei espanhol também
organizava seu poder nos moldes do Antigo Regime.
33
O Absolutismo inglês
O Absolutismo inglês vigorou do século XV ao XVII.
Um Absolutismo diferente
A Carta Magna
O início do Absolutismo inglês é datado do final do século XV, quando
De acordo com a
Henrique Tudor assumiu o trono inglês e procurou centralizar o poder em Carta Magna,
suas mãos, além de investir na melhoria da frota naval de seu país. assinada em 1215
O Absolutismo inglês apresentou elementos que o diferenciaram dos demais pelo rei João Sem
Terra, o monarca
Estados absolutistas da Europa. Desde o século XIII, o poder dos reis ingle era obrigado a
ses foi limitado pela Carta Magna, documento que instituiu um parlamento governar junta-
que limitava o poder do rei. No mente com o
Anton Hickel – Charles James Fox dirigindo-se à Câmara dos
Comuns durante o Ministério Pitt. Séc. XVIII. Óleo sobre tela. Palácio
de Westminster, Londres. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
34
O Absolutismo francês
capítulo 2
A França foi a Nação onde o Absolutismo alcançou sua expressão máxima.
A França absolutista
O Antigo Regime
Na época do Antigo Regime francês, o poder estava fortemente centrali-
zado nas mãos do rei. Era ele quem controlava a economia e o desenvolvi-
mento comercial do Estado. Ele também era responsável pela defesa do
território e pela elaboração das leis.
Hyacinthe Rigaud – Retrato de Luís XIV. 1701. Óleo sobre tela. Museu do Louvre, Paris
judicados com o controle do rei sobre a economia e o comér-
cio da Nação. Nesse período, começaram a surgir as primeiras
indústrias na França e, assim como os comerciantes, os in-
dustriais também estavam insatisfeitos com as práticas mer-
cantilistas do Estado, pois elas dificultavam o desenvolvimento
industrial. Apesar disso, os comerciantes e industriais franceses
enriqueciam cada vez mais e reivindicavam maior participação
nas decisões políticas.
A nobreza, por sua vez, vivia à custa dos impostos pagos
pelos membros do terceiro estado, recebendo pensões e outros
favores. Esses nobres recusavam-se a colaborar com qualquer
reforma administrativa ou fiscal que limitasse seus privilégios, e
por isso eles impediam a aprovação de leis que estendessem
o pagamento de impostos a todos os habitantes do reino.
Na França, o Antigo Regime atingiu seu auge durante o reinado de Luís XIV, Essa pintura,
entre os anos de 1661 e 1715. Esse monarca, conhecido como “Rei Sol”, produzida no século
foi o que melhor incorporou o ideal do poder absoluto. Foi atribuída a ele a XVIII, representa o
monarca Luís XIV.
famosa frase “o Estado sou Eu”.
Diversos elementos
do poder da
O conflito entre o antigo e o novo monarquia francesa
A enorme quantia de dinheiro gasta para manter o luxo da Corte francesa, além das foram represen
despesas com a defesa das fronteiras do território provocaram uma grave crise econô- tados pelo artista
mica na França e enfraqueceram o sistema político do Antigo Regime. nesse retrato, como
No plano das ideias, o Iluminismo também contribuiu para a falência do Antigo Regime a postura e a
na França. Os pensadores iluministas valorizavam a razão, defendiam a liberdade civil e vestimenta de
o cumprimento das leis, além de criticar o Absolutismo monárquico. Os iluministas Luís XIV. No manto
tinham como objetivo reformar as instituições, tornando-as abertas à representação real estão
política da burguesia, acabando com o poder absoluto do rei e o sistema de favores estampadas
que privilegiava a nobreza e o clero. imagens da flor-
O conflito entre as velhas e as novas forças -de-lis, símbolo da
sociais no interior do Antigo Regime francês, linhagem real da
somado à crise financeira e administrativa, foi família dos
um elemento decisivo para a decadência Bourbon.
desse sistema político, duramente combatido
na Revolução Francesa de 1789.
35
Explorando o tema
O público e o privado no Antigo Regime
Atualmente, é comum a utilização do termo “público” em oposição ao privado. Assim, o
“público” pode designar alguma coisa pertencente ao povo (coletividade) ou ao Estado. Já o
conceito de “privado” refere-se ao ambiente doméstico, familiar ou à atividade particular de
um indivíduo ou grupo. Dessa forma, há diversas características que separam o público do
privado. No entanto, essa distinção foi construída ao longo da história das sociedades, mais
especificamente a partir do fim da Idade Média e início da Idade Moderna.
Isidore Stanislas Helman - Não tenha medo, meu bom amigo. 1776. Gravura.
Museu Carnavalet, Paris, França. Foto: The Bridgeman Art Library/Glow Images
Além do fortalecimento do Estado mo-
derno, os historiadores apontam outros
fatores que contribuír am para o processo
de divisão entre o público e o privado, den-
tre eles as reformas religiosas e a difusão da
alfabetização. Nesse sentido, diversas mu-
danças podem ser observadas, por exem-
plo, nos costumes da vida cotidiana; nas
moradias e nas formas de lazer e diverti-
mento.
36
capítulo 2
Alfabetização no Antigo Regime. Séc. XVII. Gravura. Paris, Museu Carnavalet
O Antigo Regime
Nessa gravura do século XVII vemos
um professor ensinando seu aluno a
ler e escrever. A difusão da
alfabetização contribuiu para a
prática da leitura. Além disso, as
pessoas passaram a escrever mais
sobre si mesmas por meio de cartas
e diários íntimos.
Inicialmente, contudo, o acesso à
alfabetização se restringia às
camadas mais abastadas da
sociedade.
A vida cotidiana
No final da Idade Média, geralmente os indivíduos enquadravam-se em solidariedades
coletivas ou comunitárias. Nesses núcleos, era comum a existência de laços ou vínculos de
dependência entre as pessoas, não existindo muitas barreiras entre o público e o privado.
Dessa forma, a vida social e a vida doméstica muitas vezes se confundiam.
Durante a transição da Idade Média para a Idade Moderna, além das transformações po-
líticas, religiosas e sociais, os costumes também sofreram mudanças, que, por sua vez,
criaram novos hábitos nas civilizações ocidentais. A maior interferência do Estado sobre a
sociedade fez com que se desenvolvesse na Europa uma civilização marcada por novas nor-
mas de conduta e padrões de comportamento. Assim, torna-se cada vez mais nítida a divisão
entre o que se pode fazer em público e o que deve ser mantido distante do olhar dos outros.
O modo como falar e o comportamento à mesa são exemplos de hábitos que sofreram
mudanças ao longo do tempo, como forma de diferenciação entre os grupos sociais e mo-
delo de civilidade.
37
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Explique o que é o sistema feudal. d ) A camada mais numerosa da população
europeia do Antigo Regime era o se
2 Quem eram os burgueses? gundo estado.
3 Quais fatores impulsionaram a ascensão 8 Explique como era div idida a nobreza na
social dos burgueses? época do Antigo Reg ime.
4 Explique os fatores que contribuíram para 9 Produza um pequeno texto sobre as feiras
aumentar a crise do feudalismo? do Antigo Regime.
5 Escreva um texto sobre o Antigo Regime 10 Sobre o Absolutismo espanhol, responda.
usando as seguintes palavras ou expres
sões. a ) Como se deu a formação do Estado
nacional espanhol?
centralização do poder b ) Por que a expansão marítima e a con
quista de colônias favoreceram o seu
burgueses mercantilismo fortalecimento?
exércitos nacionais guerras c ) Como era organizada a sociedade es
panhola durante esse período?
6 Como era organizada a sociedade europeia
11 Descreva as principais características do
na época do Antigo Regime? Exp liq ue
Absol utismo português.
com suas palavras cada camada dess a
sociedade. 12 Por que o Absolutismo inglês apresentou
7 As frases a seguir apresentam erros. En características próprias? Explique.
contre esses erros e reescreva as frases
13 Faça um fichamento sobre os teóricos do
corretamente em seu caderno.
Absolutismo. Considere: o nome e a nacio
a ) O primeiro estado era formado por co nalidade do teórico; a época em que ele
merc iantes e mercadores, também viveu; e as principais ideias de cada autor.
cham ados de burgueses.
14 Qual era a situação econômica da França
b ) A maior parte dos impostos era paga
no século XVIII?
por membros do segundo estado.
c ) O terceiro estado era composto por 15 Por que as ideias iluministas contribuír am
príncipes, duques, condes e barões. para enfraquecer o Antigo Regime francês?
Expandindo o conteúdo
16 Leia o texto a seguir sobre os membros do terceiro estado.
38
capítulo 2
Contígua à casa, uma horta para cultivo de legumes: couve, fa-
vas ou acelga, lentilhas, ervilhas ou nabos. [...]
A refeição dos camponeses restringia-se, quase exclusivamente,
O Antigo Regime
ao pão, uma mistura de centeio e de trigo, em porções diárias de
cerca de 700 gramas, molhado numa sopa de legumes cozida lenta-
mente em uma panela de barro [...]. A refeição era enriquecida por
alguns ovos e, dependendo da região, por uma panqueca de trigo
sarraceno, um caldo de milho ou um purê de castanhas. Quase
nunca havia carne ou derivados de leite, o que provocava carência
de gordura. A caça e a pesca eram [privilégios dos nobres], mas
alguns camponeses [...] se arriscavam a abater um coelho ou conse-
guir um pouco de peixe.
Alain Frerejean. A França em farrapos. História Viva. São Paulo: Duetto, ano 3, n. 25, nov. 2005. p. 50.
17 Leia o texto a seguir sobre os membros do segundo estado na França absolutista. Com base
nele e nas informações do capítulo, responda às questões.
39
18 Observe a imagem ao lado e responda às
20 O texto a seguir foi escrito em 1672 por Antoine de Courtin. Nele, o autor explica algumas
regras de comportamento à mesa que, em sua opinião, deveriam ser seguidas.
Se todos estão se servindo no mesmo prato, evite pôr nele a mão antes que o tenham feito as pessoas
de mais alta categoria, e trate de tirar o alimento apenas da parte do prato que está à sua frente. Ainda
menos deve pegar as melhores porções, mesmo que aconteça de você ser o último a se servir.
Cabe observar ainda que você sempre deve limpar a colher quando, depois de usá-la, quiser tirar
alguma coisa de outro prato, havendo pessoas tão delicadas que não querem tomar a sopa na qual mer-
gulhou a colher depois de a ter levado à boca.
E ainda mais, se estás à mesa de pessoas refinadas, não é suficiente enxugar a colher. Não deves usá-
la mais, e sim pedir outra. Além disso, em muitos lugares, colheres são trazidas com os pratos, e estas
servem apenas para tirar a sopa e os molhos.
40
capítulo 2
Você não deve tomar a sopa na sopeira, mas colocá-la no seu prato fundo. Se ela estiver quente
demais, é indelicado soprar cada colherada. Deve esperar até que esfrie.
Se tiver a infelicidade de queimar a boca, deve suportar isto pacientemente, se puder, sem demons-
trar, mas se a queimadura for insuportável, como às vezes acontece, deve, antes que os outros notem,
O Antigo Regime
pegar seu prato imediatamente com uma mão e levá-lo à boca e, enquanto cobre a boca com a outra
mão, devolver ao prato o que tem na boca e rapidamente passá-lo ao [serviçal] atrás de sua cadeira. [...]
É muito indelicado tocar qualquer coisa gordurosa, molho ou xarope etc., com os dedos, à parte o fato
de que o obriga a cometer mais dois ou três atos indelicados. Um deles seria frequentemente limpar a
mão no guardanapo e sujá-lo como se fosse um trapo de cozinha, de modo que as pessoas que o vissem
enxugar a boca com eles se sentissem nauseadas. Outro seria limpar os dedos no pão, o que mais uma
vez é sumamente grosseiro. O terceiro seria lambê-los, o que constitui o auge da indecência.
... Como há muitos [costumes] que já mudaram, não duvido que vários destes mudarão também
no futuro.
Antigamente a pessoa podia... molhar o pão no molho, contando apenas que não o tivesse mordido
ainda. Hoje isto seria uma mostra de rusticidade.
Antigamente, a pessoa podia tirar da boca o que não podia comer e jogá-lo no chão, contanto que o
fizesse habilmente. Hoje isto seria sumamente repugnante...
Antoine de Courtin. In: Norbert Elias. O processo civilizador. Trad. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. v. 1. p. 102-3.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certi-
ficar-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.
41
3
capítulo
O Iluminismo
Veja nas Orientações
Autor desconhecido. 1888. Gravura colorida. Coleção particular. Foto: Prisma Achivo/Alamy/Other Images
para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos
apresentados no
capítulo.
A Gravura representando
Denis Diderot e outros
escritores e filósofos da
época. Diderot foi um
dos organizadores da
Enciclopédia, publicada
na França no século XVIII.
Jean-Jacques Rousseau – Contrato Social. 1762. Biblioteca Nacional, Paris. Foto: Roger-Viollet/TopFoto/Keystone
42
Francois Poilly. Séc. XVII. Gravura. Biblioteca Nacional, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/ Glow Images
Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre o
assunto para ativar o
conhecimento prévio
O século XVIII ficou conhecido como “Século das Luzes”. Nesse perí- dos alunos e estimular
odo, vários escritores e filósofos procuraram interpretar o mundo sob a seu interesse pelos
assuntos que serão
“luz da razão”, ou seja, por meio do pensamento racional. Esse movimen- desenvolvidos no
to intelectual foi chamado de Iluminismo. Os filósofos iluministas critica- capítulo. Faça a
mediação do diálogo
vam duramente as bases do Antigo Regime, e suas ideias repercutiram entre os alunos de
além da Europa, tendo forte influência nos campos político, econômico maneira que todos
participem
e científico até os dias atuais. expressando suas
opiniões e respeitando
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os as dos colegas.
colegas sobre as questões a seguir.
■ ■ Descreva os personagens e o ambiente representados na fonte A.
43
O Século das Luzes
O pensamento iluminista revolucionou as formas de compreender a sociedade, a
política, a filosofia, as ciências e as artes.
A era da razão
O Iluminismo foi um movimento intelectual que ocorreu na Europa, no
século XVIII. Os intelectuais que participaram desse movimento pretendiam
trazer à luz novos conhecimentos, “iluminando” a sociedade.
Essa ideia de “iluminação”, de trazer à luz, foi inspirada pela filosofia an-
tiga, particularmente a de Platão, que via a “luz” como imagem ou símbolo
do conhecimento verdadeiro.
Os pensadores iluministas pretendiam tornar a sociedade europeia mais
justa e racional. Para isso, questionaram as bases do Antigo Regime, criti-
cando o poder despótico dos reis absolutistas. Para esses pensadores, sua
época precisava ser iluminada pela luz da razão, ou seja, a natureza e a
sociedade deveriam ser compreendidas por meio da racionalidade.
As ideias iluministas tiveram grande repercussão e influenciaram diferen-
tes movimentos sociais pelo mundo, como a Revolução Americana e a
Revolução Francesa. Os ideais iluministas também influenciaram algumas
rebeliões no Brasil, como a Conjuração Mineira e a Conjuração Baiana.
Charles Lemonnier – Uma noite no salão da Madame Geoffrin. 1812. Óleo sobre tela. Musée Nat. du Chateau de Malmaison, França
Pintura do século XIX representando pensadores iluministas reunidos em um salão literário em Paris, na França. Os salões
literários eram locais onde, regularmente, se reuniam homens e mulheres para discutir os mais variados assuntos,
principalmente os ligados à literatura e à filosofia.
44
Os pensadores do Iluminismo
capítulo 3
Os avanços científicos do século XVII forneceram as bases
para o pensamento iluminista.
O Iluminismo
O método científico
Os cientistas do século XVII renovaram a maneira de analisar a natureza e
abriram caminho para os filósofos iluministas do século XVIII.
Essa mudança na forma de compreensão do mundo foi
45
Os filósofos iluministas
Os pensadores iluministas do século XVIII foram profundamente influen-
ciados pelos avanços da ciência e aplicaram os métodos desenvolvidos no
século XVII em suas análises sobre a sociedade, criticando as instituições
políticas e econômicas dominantes no Antigo Regime.
Conheça, a seguir, algumas informações sobre os principais pensadores
iluministas.
Autor desconhecido – Retrato de Charles Montesquieu.
Séc. XVIII. Óleo sobre tela. Palácio de Versalhes, Versalhes
46
A Enciclopédia
capítulo 3
A Enciclopédia do século XVIII é uma obra que reúne textos de diferentes
filósofos, que exerceram profunda influência no pensamento da época.
O Iluminismo
A difusão das ideias iluministas
Quando se fala na Filosofia das Luzes pensa-se logo na grande Enciclopédia. Empirismo
[...] Tendo começado a ser publicada em Paris, em 1751, seu título completo era doutrina filosófica
o seguinte: Enciclopédia ou Dicionário Raciocinado das Ciências, das Artes e dos em que somente
Ofícios, por uma Sociedade de Homens de Letras. Organizada e Publicada por por meio da
experiência o
Diderot... e quanto à Parte Matemática por D’Alembert. conhecimento
Não era uma “enciclopédia” como outra qualquer, como se vê pelo título. pode ser alcan-
çado.
Seus verbetes não são simples justaposição de informações disparatadas. Dedi-
ca-se sobretudo às ciências, às artes e aos ofícios e busca mostrar as ligações que
se estabelecem entre seus diferentes setores. [...]
Difícil é dar uma ideia do conteúdo do variado conjunto de textos que com-
põem a Enciclopédia. O que podemos dizer é que aí encontramos, sem dúvida,
[...] as ideias principais da burguesia do século XVIII. [...] Nela podemos con-
templar as principais ideias e teses políticas e filosóficas pelas quais a maioria dos
livres-pensadores e homens de letras do século se batem.
Luiz Roberto Salinas Fortes. O iluminismo e os reis filósofos. 3. ed.
São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 47; 50. (Tudo é história).
A Enciclopédia e o Index
O Index foi criado pela Igreja Católica na época da Inquisição. Ele consistia em uma lista
de livros ou escritos considerados “perigosos” e contrários aos dogmas da Igreja.
Devido a vários dos temas abordados, em 1759 a Enciclopédia foi considerada heresia,
incluída no Index e proibida de ser comercializada. Mesmo assim, seus colaboradores
continuaram a produzir verbetes às escondidas, que foram reunidos e publicados dez
anos após a proibição.
47
Iluminismo e religião
Em nome da razão, os iluministas fizeram duras críticas à Igreja.
A crítica à Igreja
No século XVIII, a Igreja foi alvo de severas críticas feitas por alguns pen-
Dogma conjunto
sadores iluministas. Esses pensadores criticavam a superstição, o fanatismo de princípios
e a intolerância religiosa, pois acreditavam que esses eram os principais religiosos
obstáculos à construção de um mundo melhor e mais racional. estabelecido
como verdade
Outra crítica feita pelos iluministas dizia respeito à liberdade de pensa-
indiscutível.
mento e de opinião. Por muito tempo, o dogma religioso foi o principal
Fanatismo
conjunto de princípios autorizado pela Igreja, e as ideias que o contestavam
adesão excessiva
eram duramente reprimidas. Os a uma doutrina
48
Iluminismo e política
capítulo 3
Para os iluministas, uma sociedade só alcançaria a liberdade e a justiça por meio
Constituição
do impedimento do poder excessivo de seu governante. conjunto de leis
de uma Nação.
O Iluminismo
A crítica ao Absolutismo Despotismo
regime no qual o
Presente na sociedade europeia do século XVIII, o poder absoluto também governante
foi alvo de duras críticas dos pensadores iluministas. Esses pensadores possui poder
absoluto e
contestavam o despotismo e a ideia de direito divino dos reis, além de
arbitrário.
condenarem os privilégios da nobreza e do clero.
Para os iluministas, a maior preocupação não era com a forma de gover-
no — Monarquia ou República —, mas sim com uma maneira de controlar
o poder excessivo dos governantes. Grande parte desses pensadores
apoiava um governo constitucional, ou seja, um governo que respeitasse a Congresso Nacional,
Constituição, pois acreditavam que ela seria a melhor garantia contra abu- na Praça dos Três
sos do poder. Poderes da
República, em
Brasília. A influência
Montesquieu e os Três Poderes das ideias iluministas
Um dos maiores críticos do Absolutismo monárquico foi Montesquieu. pode ser percebida
Segundo ele, esse tipo de regime político era corrupto e violento, compro- na organização
política do Estado
metia a sociedade e trazia estagnação, temor e pobreza para a população. brasileiro.
Para libertar a sociedade do despotismo e
Ricardo Azoury/Pulsar
criar um bom governo, seria necessária a sepa-
ração do poder em três campos de atuação:
executivo (que executa e administra as leis),
legislativo (que elabora as leis) e judiciário (que
julga aqueles que desrespeitam as leis).
Os Três Poderes não poderiam ser exercidos
por uma única pessoa, pois, dessa maneira,
a liberdade política estaria ameaçada. Para
evitar o abuso do poder, Montesquieu defen-
dia uma forma de governo mais equilibrada,
na qual um poder controlaria o outro.
Muitos dos ideais políticos dos pensadores iluministas foram in- Em Nouveau Larousse Illustré. c. 1900. Paris: Librairie Larousse. Coleção particular
49
O despotismo esclarecido
Influenciados por pensadores do século XVIII, alguns monarcas europeus
procuraram conciliar práticas absolutistas e ideias iluministas. Czarina título
dado à soberana
russa.
As principais reformas
O despotismo esclarecido foi uma forma de governo ado-
Como no século XVIII o Brasil ainda era uma colônia de Portugal, o despotismo esclarecido
do marquês de Pombal também teve reflexos por aqui. Assim como no reino português,
Pombal procurou reduzir o poder da Igreja Católica na Colônia, ordenando a expulsão dos
jesuítas do território brasileiro.
No plano econômico, aumentou o valor dos impostos e incentivou a criação de companhias
de comércio. Como nessa época a extração de ouro e de diamantes estava em declínio, o
aumento dos impostos gerou um enorme descontentamento em várias regiões da Colônia.
50
O pensamento econômico
capítulo 3
O racionalismo iluminista também mudou a maneira de pensar a economia
durante o século XVIII.
O Iluminismo
A crítica ao mercantilismo
Alguns pensadores iluministas criticavam o mercantilismo, a principal
prática econômica dos Estados europeus naquela época.
No mercantilismo, o Estado regulament ava as
Anônimo – Modo como se extrai ouro no Rio das Velhas e nas mais
partes que há rios. Séc. XVIII. Aquarela. IEB/USP, São Paulo. Foto:
Marinez Maravalhas Gomes
transações econômicas, cont rolando os preços,
cobrando impostos de importação e de expor-
tação e adequando as taxas alfandegárias. Além
disso, de acordo com as práticas mercantilistas,
a riqueza de uma Nação era medida principal-
mente pela quantidade de metais preciosos que
possuía, como o ouro e a prata.
A fisiocracia
Influenciados pelos ideais iluministas, um grupo de pensadores passou a
51
Explorando o tema
O impacto das ideias iluministas
Já no século XVIII, as ideias iluministas repercutiram na sociedade europeia e influenciaram
a maneira como as pessoas explicavam a realidade.
Joseph Wright of Derby – Experiência com um pássaro e uma bomba de ar. 1768. Óleo sobre tela.
Galeria Nacional, Londres. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
2
1
4
9
8
5 7
3 6
1 O cientista, que demonstra sua experiência na casa de uma família rica, é representado com olhar interrogador, como se
pedisse a opinião do observador sobre a experiência realizada.
2 A experiência, que aqui representa a razão, é colocada no centro da tela. Nessa experiência, há um pássaro dentro de um
recipiente de vidro. No alto do recipiente, há uma válvula que, ao ser fechada, bloqueia a entrada de ar. Com essa
experiência, o cientista pretendia provar que, retirando o oxigênio do recipiente, o pássaro morreria.
3 É também do centro da tela que irradia a luz que ilumina a todos os participantes da cena. Com isso, o pintor sugeriu que a
razão e a ciência são as fontes esclarecedoras do mundo.
4 Esse casal representa aquelas pessoas que permaneceram alheias às ideias iluministas e que se mantiveram distantes das
discussões propostas pelos cientistas do século XVIII.
5 Esses dois rapazes observam atentamente o cientista. Eles representam as pessoas que ficaram fascinadas e
entusiasmadas com as novas descobertas científicas.
6 As meninas representam a desconfiança e o medo que muitas pessoas sentiam em relação às experiências científicas e,
portanto, ao uso da razão proposto pelos iluministas.
7 Para representar as pessoas que se preocupavam com as consequências das descobertas científicas, o artista retratou um
filósofo, que tem o olhar distante, reflexivo.
8 O menino que aparece pegando a gaiola do pássaro lança um olhar duvidoso para o grupo: será que essa experiência
funcionará? Ele representa as pessoas que duvidavam das ideias iluministas e que tinham receio em usar a razão para
entender a realidade.
9 O chefe da família é representado como alguém que tem confiança na ciência, e procura acalmar e esclarecer suas filhas,
explicando-lhes os procedimentos da experiência.
52
capítulo 3
As ideias iluministas na formação do mundo contemporâneo
O pensamento ocidental foi, em grande parte, formado com base nas ideias dos pensadores
O Iluminismo
iluministas do século XVIII. Muitos desses valores modernos de inspiração iluminista influen-
ciam vários aspectos do mundo contemporâneo. Observe a seguir alguns exemplos:
O culto à ciência
No campo científico, os ideais iluministas de progresso e avanço tecnológico contribuíram
para o desenvolvimento dos diversos campos científicos até os dias atuais. A partir do sécu-
lo XVIII, a ciência passou a ter como um de seus objetivos a promoção de melhorias práticas
para as pessoas, facilitando as condições de vida. Muitos exemplos desse tipo de melhoria
podem ser percebidos em nosso cotidiano, como carros, aviões, televisores, computadores
e telefones celulares. Além disso, muitas descobertas científicas feitas a partir do século XVIII
auxiliam na cura de doenças e na produção de vacinas.
Luciana Whitaker/Pulsar
A política
A forma de governo representativa baseada na vontade popular, de-
fendida por filósofos como Locke e Montesquieu nos séculos XVII e
XVIII, é adotada hoje na maioria das repúblicas democráticas. Nessas
repúblicas, a representação é feita por governantes que são escolhidos
pelos cidadãos por meio do voto. Além disso, a estruturação política
dos Estados democráticos, em sua maioria, é dividida em três poderes:
Executivo, Legislativo e Judiciário. Pelas leis e pela divisão de poderes
busca-se proteger os cidadãos contra o abuso de poder.
53
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 O que foi o Iluminismo? 9 O que Montesquieu pensava a respeito do
despotismo? O que esse pensador con
2 Elabore uma tabela com o nome, a nacio siderava necessário para se instituir um
nalidade e as principais ideias de três bom governo?
pens adores iluministas.
10 Quais eram as principais ideias sobre o
3 Em que consistia o método científico pro governo de um Estado segundo o filósofo
posto no século XVII? John Locke?
Expandindo o conteúdo
16 Entre os séculos XVI e XVIII, desenvolveu-se, em alguns Estados europeus, um importante
comércio de livros. Esse comércio tinha o objetivo de popularizar a leitura das obras produ
zidas naquela época e foi liderado por editores e impressores de textos. Um dos mais impor
tantes acervos de livros populares foi a Biblioteca Azul. Leia o texto a seguir.
54
capítulo 3
Brochuras normalmente encapadas em papel (nem sempre azul) e com um custo de
produção de menos de um centavo por exemplar (o preço de revenda era maior, mas
ainda acessível), os livros azuis se tornaram progressivamente, entre 1660 e 1780, um
elemento particular da cultura camponesa. Textos de ficção cômica, conhecimentos
O Iluminismo
úteis e exercícios de devoção agradaram de forma imediata às camadas popular e rural.
A Biblioteca Azul constituiu-se de um acervo que buscava o leitor — ia até ele e isso foi
um ponto importante para seu sucesso: as distâncias entre livro e leitor foram encurta-
das pelos mascates. Não era mais preciso ir às cidades para ler. A leitura chegou ao
campo. [...] A difusão desses livros era feita por diferentes revendedores, sedentários ou
itinerantes, que pudessem atingir a todas as clientelas possíveis.[...]
Adriana Maria Loureiro. Textos ao alcance de todos. Extraído do site: <www.dobrasdaleitura.com>.
Acesso em: 10 jan. 2012.
55
a ) O que o homem representado está fazendo? Por quê?
b ) O que a mulher representada está fazendo? Por quê?
c ) Que título você daria para essa gravura?
d ) O que essa gravura revela sobre a sociedade europeia no século XVIII?
e ) Em sua opinião, quais dificuldades uma pessoa que não sabe ler e escrever enfrenta na
sociedade atual?
Despotismo esclarecido: Expressão empregada para designar governos que, no século XVIII,
procuraram conciliar o regime absolutista com ideias e providências governamentais “iluminadas”,
isto é, nascidas da luz e da razão. Influenciados pelos pensadores e filósofos ligados ao movimento
chamado Iluminismo, alguns governantes levaram a efeito em seus países uma série de reformas no
plano social, político, econômico e religioso. [...]
A doutrina do despotismo esclarecido não foi aplicada da mesma maneira nos reinos e principa-
dos que a adotaram. No conjunto, porém, ela caracteriza-se pelas mesmas tendências; a notar,
prioritariamente, que esses governantes foram sempre muito ciosos da sua autoridade. Suas refor-
mas, politicamente, refletiram nítida feição centralizadora, jamais abrindo mão das próprias
iniciativas. No plano social, os déspotas esclarecidos proclamaram-se adversários dos privilégios,
convindo assinalar que vários deles lutaram contra a nobreza ou o clero, ao mesmo tempo que pro-
curavam adotar medidas mais liberais. Entretanto, não raro, o rigor com que puseram em prática
essas medidas acabou por ampliar sua própria autoridade. Ao realizar reformas, esses soberanos ti-
nham como objetivo primordial menos beneficiar os seus súditos do que reforçar o poder do Estado
e, com isso, o seu próprio poder. [...]
O despotismo esclarecido foi também exercido por ministros; o marquês de Pombal, em Portu-
gal, é um exemplo. Não obstante, os protótipos de déspotas esclarecidos foram José I, da Áustria,
Frederico II, da Prússia, e a czarina russa Catarina. O despotismo esclarecido foi obra de soberanos
e dignitários e somente floresceu enquanto eles viveram. Representou uma experiência política im-
portante, no sentido de renovar a Monarquia absoluta. De curta duração, foi desenvolvido em países
reconhecidamente atrasados com relação aos principais Estados europeus.
Antonio Carlos do Amaral Azevedo. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 140.
19 O texto a seguir foi publicado na Enciclopédia, organizada por Diderot e D’Alembert. Leia-o.
Se um comércio dessa natureza pode ser justificado por um princípio moral, então não há crime,
por mais atroz que seja, que não possa ser legitimado [...] Nem os homens nem sua liberdade podem
ser objetos de comércio; não podem ser vendidos nem comprados [...] Não há, portanto, nenhuma
dessas infelizes pessoas consideradas unicamente como escravos que não tenha o direito de ser de-
clarada livre.
Gendzier. In: Marvin Perry. Civilização Ocidental: uma história concisa. 3. ed. Trad. Waltensir Dutra; Silvana Vieira.
São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 307.
56
capítulo 3
a ) A que comércio o texto se refere?
b ) Qual é a opinião dos autores sobre esse comércio?
No Brasil
O Iluminismo
20 Os princípios defendidos pelos filósofos do Iluminismo tiveram grande repercussão no Brasil.
Muitos princípios da atual Constituição brasileira, promulgada em 1988, por exemplo, estão
baseados em pressupostos iluministas. Leia abaixo alguns trechos da nossa Constituição.
Depois, reescreva esses trechos em seu caderno, relacionando-os a um dos pensadores
iluministas indicados no quadro a seguir. Complemente sua resposta acrescentando outras
ideias propostas por esses pensadores.
Editora do Senado
a ) Art. 1o. [...] Parágrafo único. Todo o poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
[...].
b ) Art. 2o. São Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Ju-
diciário.
c ) Art. 5o. — IX: é livre a expressão da atividade intelec-
tual, artística, científica e de comunicação, inde-
pendentemente de censura ou licença.
Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil:
promulgada em 5 de outubro de 1988. 35. ed. São Paulo:
Saraiva, 2005. p. 3; 6. (Saraiva de Legislação).
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.
57
4
capítulo
A Revolução Americana
Veja nas Orientações para o professor alguns comentários e explicações sobre os recursos apresentados no capítulo.
Autor desconhecido - Destruição dos índios Pequot por forças coloniais na Nova Inglaterra.
1637. Xilogravura. Coleção particular. Foto: Akg-Images/Album/Latinstock
A Durante a colonização na América do Norte, vários povos indígenas foram exterminados por colonos.
A imagem acima representa o ataque de colonizadores europeus a uma aldeia indígena.
William Aiken Walker – Plantação de algodão, Mississippi. Séc. XIX. Óleo sobre painel.
Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
B Imagem que representa africanos escravizados trabalhando em uma plantação de algodão nas Treze Colônias.
58
1973. United States Postal Service ®. Coleção particular
E. Cavalcante
N
Os primeiros imigrantes O L
As Treze Colônias
As colônias do Norte foram povoadas, em grande parte, por puritanos Puritanos
perseguidos na Inglaterra, como os tripulantes do navio Mayflower , que calvinistas
fundaram a colônia de Massachusetts em 1620. A sociedade que se formou ingleses que
nessas áreas era dominada por líderes puritanos, e sua economia era ba migraram para a
seada na pequena propriedade familiar, onde se praticava a agricultura e a América para
fugir das perse
pecuária para o sustento dos colonos e o comércio do excedente.
guições religiosas
As atividades que ofereceriam maiores lucros eram a pesca e a caça. Os que aconteciam
peixes eram salgados e exportados, e as peles de animais eram beneficia na Inglaterra.
das e vendidas entre os colonos ou enviadas para a Europa. Nessa região
também foram desenvolvidas a extração de
Escola norteamericana – Máquina de algodão operada por escravos africanos. Séc. XVIII.
Litogravura colorida. Coleção particular. Foto: Peter Newark American Pictures/
The Bridgeman Art Library/Keystone
madeiras, a construção naval, a produção
de utensílios agrícolas e a fabricação de
tecidos.
A exploração das colônias do Sul, por
sua vez, teve início com a fundação de
Jamestown, na Virgínia. Nessas áreas, o
clima mais quente e a quali dade do solo
eram propícios à produção de artigos tropi
cais, como o tabaco, a canadeaçúcar e o
algodão. A econo mia dessas colônias con
sistia na produção monocultora em grande
escala, voltada para o mercado externo.
60
A Revolução Americana
capítulo 4
Observe, na linha do tempo a seguir, os principais fatos ocorridos duran
te a Revolução Americana.
A Revolução Americana
1750 1760 1770 1780 1790
61
O comércio triangular
No século XVIII, ocorreram importantes trocas comerciais nas rotas marítimas que
ligavam a Inglaterra, as colônias da América do Norte e a África.
Trocas comerciais
Conhecido como comércio triangular, as atividades comerciais estabele-
cidas entre a Inglaterra, as colônias da América do Norte e a África forma-
vam uma rede de trocas interdependentes. A África fornecia mão de obra
escrava para o trab alho nas colônias. A matéria-prima produzida nas colô-
nias americanas, principalmente pela mão de obra escrava, era enviada
para a Inglaterra, que, por sua vez, a transformava em produtos manufatu-
rados. Esses produtos eram enviados para serem vendidos nas colônias
americanas, e também para a África, para serem trocados por escravos.
Observe o mapa a seguir.
O comércio triangular
E. Cavalcante
N
O L
S
INGLATERRA
Liverpool
Bristol
s FRANÇA
e joia
ar mas
Nova Iorque idos,
as
od
Richmond e alg PORTUGAL
se
ar
çúc
ido
,a
Charleston Peles, tabaco, corantes
vos
Ferro, tec
Mobile
Escra
Golfo do
México OCEANO
JAMAICA ATLÂNTICO
Gorée
Esc
rav
os Cacheu
Cabo da
LIBÉRIA Costa do Marfim
Equador
0°
62
O processo de independência
capítulo 4
das Treze Colônias
Diversos fatores contribuíram para o aceleramento do processo de independência
A Revolução Americana
das Treze Colônias.
63
O Massacre de Boston
Com a imposição das leis inglesas nas colô-
64
A independência
capítulo 4
As Treze Colônias inglesas foram as primeiras colônias americanas a se
declararem independentes de sua Metrópole.
A Revolução Americana
O Segundo Congresso Continental
Em 1775, os líderes das Treze Colônias se reuniram novamente na Fila-
délfia para decidir a respeito de seu posicionamento político perante a In-
glaterra. Até aquele momento, as opiniões favoráveis à separação política
da Metrópole ainda não eram unânimes.
Nessa reunião, no entanto, foi decidido que os colonos declarariam sua
independência e, se fosse necessário, declarariam guerra aos ingleses.
George Washington, um grande proprietário de terras e de escravos, foi
nomeado comandante das tropas americanas e, por fim, foi escolhida uma
comissão responsável por elaborar a Declaração de Independência das
Treze Colônias, que ficou pronta em quatro de julho de 1776.
A Declaração de Independência
A Declaração de Independência das Treze Colônias determinava que as
colônias passariam a ser estados livres e independentes da Inglaterra, e
que cada uma delas teria autonomia para aprovar suas próprias leis.
Além disso, esse documento determinou que, se o governo não respei-
tasse os direitos do cidadão, poderia ser deposto e substituído. A declara-
ção, no entanto, não considerava cidadãos os escravos, as mulheres e os
estrangeiros.
Andre Basset – Declaração de Liberdade. Séc. XVIII. Gravura. Biblioteca do Congresso, Washington
Essa imagem representa moradores de Nova Iorque derrubando a estátua do rei Jorge III, da Inglaterra, logo após a declaração
de independência.
65
O apoio francês
Interessado em enfraquecer o poder da Inglaterra, o governo
A conquista da independência
Com a Declaração de Independência , os conflitos entre norte-americanos
e ingleses intensificaram-se.
Sob o comando de George Washington, os norte-americanos enfrentaram
o exército inglês e, com apoio militar e econômico da França, conseguiram
importantes vitórias. Esses conflitos duraram cerca de seis anos, até que,
em 1781, o exército inglês foi derrotado e expulso da América.
Para os índios, a independência foi negativa pois, a partir dela, aumentou-se a pressão
expansionista dos brancos sobre os territórios ocupados pelas tribos indígenas.
Para os negros escravos, foi um ato que em si nada representou. Temos notícia de um
grande número de fugas durante o período da Guerra de Independência. Thomas Jefferson
declarou que, em 1778, a Virgínia perdeu 30 mil escravos pela fuga. No entanto, nem à
Inglaterra (que dependia do trabalho escravo em áreas como a Jamaica), nem aos colonos
— os sulinos em particular — interessava que a Guerra de Independência se transformas-
se em uma guerra social entre escravos e latifundiários, o que de fato não ocorreu.
Leandro Karnal. Estados Unidos: a formação da nação. São Paulo: Contexto, 2007. p. 94. (Repensando a história).
66
A Constituição dos Estados Unidos da América
capítulo 4
No ano de 1787, os líderes da independência convocaram uma reunião A importância
entre os representantes dos treze estados americanos. Essa reunião, que da Constituição
ficou conhecida como Convenção da Filadélfia, tinha o objetivo de elaborar A Constituição
o texto constitucional para a nova Nação. Após quatro meses de discussões,
A Revolução Americana
americana foi
foi aprovada a Constituição dos Estados Unidos da América . muito importante,
pois estabeleceu
De acordo com a Constituição, os poderes do país seriam divididos em as bases para a
Executivo, Legislativo e Judiciário. formação de uma
República, a
■■ O Poder Executivo ficaria a cargo do presidente, eleito por um período primeira da história
de quatro anos e responsável por organizar e regular o comércio, manter da América. Por
um exército permanente e administrar as terras públicas. essa razão, a
Constituição dos
■■ O Poder Judiciário seria desempenhado pela Suprema Corte, que ficaria Estados Unidos
responsável pela interpretação e aplicação das leis. da América
influenciou não
■■ O Poder Legislativo, encarregado de elaborar as leis, seria exercido somente alguns
pelos membros da Câmara dos Representantes e do Senado, que repre Estados europeus,
mas também as
sentavam a população de cada um dos estados. Esses parlamentares demais colônias
eram eleitos por meio do voto popular, no entanto, nem todos os norte- americanas, que
-americanos tinham o direito de votar. Para ser eleitor, era necessário se inspiraram nela
ter uma determinada renda anual. Além disso, as mulheres, os estran- para estabelecer
as bases de suas
geiros e os escravos não podiam participar das eleições.
próprias leis.
Federal Archives Building, Washington D.C. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Artigo I. O Congresso não legislará no sentido de es-
tabelecer uma religião, nem proibindo o livre exercício
de uma; nem cerceando a liberdade de palavra, ou de
imprensa, ou o direito do povo a reunir-se pacificamen-
te, e de dirigir ao Governo petições para a reparação dos
seus agravos.
Artigo II. Sendo necessária a existência de uma milí-
cia bem organizada à segurança de um Estado livre, o
direito do povo de possuir e portar armas não poderá
ser impedido.
[...]
Declaração dos Direitos. Extraído do site: <www.icitizenforum.com/
portuguese/bill-of-rights> Acesso em: 05 dez. 2011.
67
Explorando o tema
Indígenas e africanos na América do Norte
Os indígenas
Quando os europeus iniciaram a colonização da América do Norte, es-
sa região já era habitada por muitos povos indígenas, entre eles, os
omahas , os pawnees , os iowas e os sioux .
Os sioux se dedicavam principalmente à caça como meio de subsistên-
cia. A carne do bisão era muito importante em sua alimentação. Desse
animal, os sioux também extraíam a pele, que era usada na confecção de
tendas, roupas e calçados.
Imagem que representa
George Catlin – Aldeia da tribo sioux da América do Norte. Séc. XIX. Litogravura colorida.
Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
uma cena cotidiana em
uma aldeia sioux. Repare
nas mulheres
preparando o couro para
diversas finalidades e
nos pedaços de carne de
bisão pendurados ao Sol
para secar.
O massacre de
indígenas
Quando os ingleses
chegaram à América do
Norte, milhões de
indígenas já habitavam
essa região. Em poucas
décadas de colonização,
o número de indígenas
caiu drasticamente, pois
muitos deles foram
mortos durante as
guerras de conquista ou
devido à disseminação
de doenças trazidas
pelos europeus.
Bisão espécie de
mamífero ruminante
encontrado principal-
mente na Europa e na
América do Norte.
68
capítulo 4
William Aiken Walker – O velho apanhador de algodão. Séc. XIX. Óleo
sobre tela. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Os africanos
A Revolução Americana
Muitos africanos foram levados como escravos para trabalhar
nas Treze Colônias, entre eles homens, mulheres e crianças.
Nessa região, houve uma importante troca de influências cultur ais.
Até os dias de hoje, a influência africana se faz presente na
sociedade norte-americana.
na colheita de algodão
nos Estados Unidos,
durante o período
colonial.
69
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Além dos ingleses, que outros povos eu 10 Explique o que foi a Festa do Chá de
ropeus participaram da colonização da Boston.
América do Norte?
11 O que foram as Leis Intoleráveis? Como os
2 Quais eram as principais características colonos reagiram a essas leis?
das colônias inglesas do Norte e das co
12 O que foi decidido no Segundo Congresso
lônias do Sul?
Continental?
3 Explique com suas palavras como func io
13 Escreva um pequeno texto sobre a De
nava o comércio triangular.
claração de Independência das Treze
4 Produza um pequeno texto sobre a situa Colônias.
ção econômica no Brasil na segunda
14 O que foram as guerras de independência?
metade do século XVIII.
15 Sobre a Constituição dos Estados Unidos
5 Por que a caça do bisão era importante
da América, responda.
para os sioux?
a ) Quando ela foi aprovada?
6 Cite um exemplo da influência africana na
cultura norte-americana. b ) Como ela estabeleceu a divisão dos
poderes do Estado?
7 Por que a Guerra dos Sete Anos acelerou
c ) O que foi o Estatuto dos Direitos?
o processo de independência das Treze
Colônias? d ) Por que essa Constituição é conside
rada importante?
8 Quem eram os Filhos da Liberdade?
16 Qual foi a importância de Thomas Paine no
9 O que foi o Massacre de Boston? Por que processo de independência dos Estados
ele aconteceu? Unidos?
Expandindo o conteúdo
17 Leia o texto a seguir sobre a elaboração da Constituição norte-americana.
[Em 4 de julho de 1776], pela primeira vez uma colônia [americana] ficara independente. Devia-se a
partir de então criar um país livre com novos princípios. A primeira dificuldade era exatamente a exis-
tência não de uma colônia, mas sim de 13. A luta contra os ingleses havia unido as 13 colônias.
Desaparecido o inimigo em comum, restavam os problemas da organização política interna.
Para enfrentá-los, [...] uma comissão passou a elaborar uma Constituição. [...]
Durante vários meses, a Convenção da Filadélfia discutiu o texto da nova Constituição. [...] Desde
que foi submetido ao Congresso, em setembro de 1787, até maio de 1790, quando ratificado pelo mesmo
Congresso, transcorreram quase três anos, demonstrando a dificuldade de consenso em torno de algu-
mas questões.
De muitas formas o texto constitucional é inovador. Começa invocando o povo e falando dos direitos,
inspirados em [John] Locke. A Nação americana procurava assentar sua base jurídica na ideia de repre-
sentatividade popular, ainda que o conceito de povo fosse, nesse momento, extremamente limitado.
Já no início da Constituição encontramos a expressão: “Nós, o povo dos Estados Unidos...”. Quem
eram “nós”? Certamente não todos os habitantes das colônias. A maior parte dos “americanos” estava
excluída da participação política. O processo de independência fora liderado por comerciantes, latifun-
70
capítulo 4
diários e intelectuais urbanos. Com a Constituição, cada estado, por exemplo, tinha a liberdade de
organizar suas próprias eleições. [...]
Por seu caráter bastante amplo, a carta magna dos Estados Unidos assegurou a sua durabilidade. [...]
A Constituição norte-americana estabelece princípios gerais e suficientemente vagos para garantirem
A Revolução Americana
sua estabilidade e permanência. À Suprema Corte dos Estados Unidos iria caber, no futuro, o papel de
interpretar a Constituição e decidir sobre a constitucionalidade ou não das leis estaduais e das decisões
presidenciais.
Leandro Karnal. Estados Unidos: a formação da nação. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2007. p. 91-2.
(Repensando a história).
A C
F
E B
b ) Agora, produza um texto com base na imagem apresentada. Nele, descreva quais pessoas
foram representadas; o que essas pessoas estão fazendo; que roupas estão vestindo;
a paisagem; as construções etc. Procure incluir no texto alguns aspectos do cotidiano
das pessoas representadas. Depois de pronto, troque seu texto com o de um colega e
verifiquem quais são as semelhanças e as diferenças entre eles.
71
Passado e presente
19 Leia o texto a seguir.
Barack Obama foi eleito nesta terça-feira [4/11/2008] o primeiro presidente negro dos Estados
Unidos. O fato está sendo considerado histórico, por conta do passado de racismo do país.
Muito antes de Obama ter sido eleito senador dos EUA, em 2004, e presidente, em 2008, o afro-
-americano Blanche Kelso Bruce conquistou uma vaga no Senado da Nação em 1875, representando o
estado do Mississípi.
No entanto, naquela época, a eleição de [...] [um negro para o] comando do país era provavelmente
algo inimaginável. “Suponho que a maioria não pensaria ser possível ter um negro na presidência,
considerando que os afro-americanos eram linchados e não tinham acesso à terra ou à educação”, dis-
se [...] Diane Batts Morrow, professora de Estudos Afro-Americanos da Universidade da Geórgia.
Isso porque, até menos de 50 anos atrás, os afro-americanos eram segregados por lei nos Estados
Unidos.
A segregação racial nos EUA começou a ser legalizada por iniciativa de alguns estados, pouco após
a abolição da escravidão, que ocorreu em 1865, com o fim da Guerra Civil Americana.
Com as 13a e 14a emendas à Constituição, os negros tiveram a escravidão abolida e ganharam,
na teoria, a representatividade igual à de um cidadão branco. No entanto, “a partir dos anos 1880
e 1890, começaram a surgir leis que separavam brancos e negros em tudo”, explicou Morrow. No
Sul dos EUA, onde a escravidão era defendida, essa separação foi mais forte e os direitos civis dos
negros, cada vez mais suprimidos. Cada raça passou a ter bairros, escolas, cinemas e transporte
próprios. “E, mesmo antes das leis, essa separação já estava incorporada, por hábito, em muitos
lugares”, completou a especialista.
Na mesma época da abolição, nasceu a Ku Klux Klan, organização que defendia a restauração da
supremacia branca no país. Em contrapartida, começam a surgir também os movimentos de direitos
civis, que durante o século XX tiveram um papel importante no combate à discriminação racial.
O ônibus de Montgomery
Mas iniciativas individuais de alguns cidadãos também foram decisivas para a igualdade racial. É o
caso de Rosa Parks, uma costureira de Montgomery, Alabama, que ganhou projeção em 1955.
Naquele ano, ainda valia a separação de brancos e negros nos assentos dos ônibus do Alabama. Aos
brancos estavam reservados os assentos da frente e, aos negros, os de trás. Se os assentos estivessem
preenchidos e um branco entrasse no ônibus, o negro da fileira mais dianteira deveria levantar e
ceder-lhe o lugar.
É o que deveria ter feito Rosa Parks, que voltava do trabalho num ônibus lotado. Mas ela se re-
cusou a ceder o seu lugar a um branco. “Vou ter que mandar prendê-la”, respondeu o motorista do
ônibus. “Então faça isso”, disse a costureira.
Na noite em que Parks foi presa, os movimentos de direito civil começaram a articular um boi-
cote ao sistema de ônibus de Montgomery. O episódio teve tanta repercussão que, no ano seguinte,
a corte do Alabama declarou inconstitucional a segregação racial nos meios de transporte.
72
capítulo 4
sonho que meus quatro filhos viverão, um dia, em um país onde não sejam julgados pela cor de sua pele,
e sim por seu caráter”.
Outros nomes, como Malcolm X e os Panteras Negras, ganharam destaque nos anos [1960] pela de-
fesa dos direitos negros, ainda que nem sempre pelos métodos da não violência pregados por King.
A Revolução Americana
Legislação
Só em 1964, quase 90 anos depois da eleição do negro Blanche Kelso Bruce, o presidente Lyndon B.
Johnson aprovou a lei de direitos civis que vale até hoje nos EUA.
A lei proibia a discriminação em lugares públicos e autorizava o governo dos EUA a processar qual-
quer estado que promovesse a segregação racial. No ano seguinte, o National Voting Rights Act passou a
proibir os estados de impor qualquer restrição racial aos eleitores.
Desde então, aos poucos, os negros foram ascendendo na política e na sociedade norte-
-americana. É o caso de Kwame Kilpatrick, [ex-] prefeito de Detroit [...]. Na ocasião de um aniversário
da morte de Rosa Parks (o ícone de Montgomery), Kilpatrick disse: “ao sentar-se [no ônibus], ela promo-
veu um levante. Só estou onde estou por causa dela”.
Talvez Barack Obama também.
Paula Adamo Idoeta. Saiba por que a eleição de Barack Obama como presidente dos EUA é histórica.
Extraído do site: <http://g1.globo.com>. Globo Comunicação e Participações S.A. Acesso em: 13 mar. 2009.
73
5
A Revolução Francesa
capítulo
e o Império Napoleônico
Veja nas Orientações
Autor desconhecido - O despertar do terceiro estado. Séc. XVIII. Museu Carnavalet, Paris
para o professor
alguns comentários
e explicações sobre
os recursos
apresentados no
capítulo.
A O despertar do terceiro
estado, charge feita no
século XVIII.
Louis Le Nain – Refeição de camponeses. 1648. Óleo sobre tela. Museu do Louvre, Paris
74
C Ilustração que representa a tomada da
Autor desconhecido – A tomada da Bastilha. Séc. XX. Coleção particular.
Foto: Look and Learn/The Bridgeman Art Library/Keystone
Bastilha, em 14 de julho de 1789. A Bastilha
era uma prisão-fortaleza onde ficavam
encarcerados inimigos do Antigo Regime.
(Gravura produzida no século XX.)
Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
o conhecimento
A Revolução Francesa levou à queda da Monarquia absolutista na prévio dos alunos e
França e contribuiu para a ascensão da burguesia ao poder. Neste capí- estimular seu
tulo, vamos conhecer melhor como ocorreu esse processo revolucionário, interesse pelos
assuntos que serão
que promoveu diversas transformações sociais e garantiu direitos civis à desenvolvidos no
população, mas também desencadeou um ciclo de grande violência capítulo. Faça a
mediação do diálogo
entre os grupos políticos envolvidos. entre os alunos de
maneira que todos
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os participem
colegas sobre as questões a seguir. expressando suas
opiniões e
■ ■ Como foram representadas, na fonte A, as três camadas sociais da
respeitando as dos
França durante o Antigo Regime? Quais informações sobre a socie- colegas.
dade francesa da época podem ser obtidas com base na análise
dessa fonte?
■ ■ Descreva os personagens representados na fonte B. O que essa
75
A França antes da revolução
No final do século XVIII, as desigualdades sociais aumentaram muito na França,
e a população passou a lutar por mudanças na sociedade.
O início do fim
Na França do final do século XVIII, assim como em outras
76
A Revolução Francesa e o período Napoleônico
capítulo 5
Observe, na linha do tempo a seguir, os principais fatos ocorridos duran-
te a Revolução Francesa e o período Napoleônico.
1788 a 1789
As revoluções burguesas
A expressão “revoluções burguesas” é utilizada por vários historiadores
para se referir aos movimentos revolucionários, ocorridos principalmente
nos séculos XVII e XVIII, que permitiram à burguesia derrotar a nobreza
e assumir o poder político. Entre esses movimentos revolucionários,
destacam-se a Revolução Inglesa, ocorrida em meados do século XVII,
e a Revolução Francesa, iniciada em 1789.
77
A convocação dos Estados Gerais
Tentando resolver os problemas financeiros da França, Luís XVI autorizou
a convocação dos Estados Gerais.
Isidore Stanislas Helman – Abertura dos Estados Gerais em Versalhes. Séc. XVIII. Gravura. Biblioteca Nacional, Paris
A imagem acima representa a primeira reunião dos Estados Gerais. No início, os ministros do rei queriam aprovar o
aumento de impostos para tentar resolver os problemas financeiros da Corte francesa.
78
A Assembleia Nacional
capítulo 5
A Coroa, o alto clero e os setores resistentes da nobreza tramavam para
dissolver a Assembleia à força, concentrando tropas ao redor de Paris.
Porém, as ações populares de 14 de julho de 1789 mostraram que a Assem
bleia contava com o apoio de grande parte da população parisiense. Nesse
A tomada da Bastilha
O dia 14 de julho de 1789 ficou
marcado na história da Revolução
Francesa. Nesse dia, grande
parte da população de Paris
invadiu a prisão-fortaleza da
79
A Constituição francesa de 1791
A Constituição foi aprovada em 1791 e contemplou as principais reivin-
dicações do terceiro estado, como a igualdade civil, jurídica e fiscal. Porém,
a igualdade política não se estendeu a toda a sociedade.
A nova lei estabelecia uma diferenciação entre os cida dãos ativos, aque-
les que podiam votar e candidatar-se a cargos eletivos, e os passivos,
aqueles que não podiam participar das eleições.
Essa diferenciação foi estabelecida de acordo com a renda de cada um
e impossibilitou a participação política de milhões de franceses. Além deles,
as mulheres france sas também ficaram excluídas das decisões políticas do
Estado.
Coleção particular. Foto: Hulton Archive/Getty Images
Paráfrase livre
interpretação de
Reprodução da Constituição francesa de 1791. um texto, dando
Essa Constituição, assinada por Luís XVI, limitou a ele um novo
os poderes do rei e decretou o fim do poder enfoque.
absoluto francês.
80
A Convenção Nacional
capítulo 5
O fim da Monarquia e a instalação da República deram início a uma nova fase
da Revolução Francesa.
Momento da execução, na
guilhotina, de Luís Capeto,
em 21 de janeiro de 1793.
81
As facções políticas na Convenção Nacional
Desde o início, a Revolução Francesa contou com a partici
Autor desconhecido – Sans-culotte parisiano. Séc. XVIII. Gravura. Museu Carnavalet, Paris
pação de diversos grupos políticos, desde monarquistas cons
titucionais até republicanos radicais. Na Convenção, porém,
destacaram-se três grupos políticos. Veja.
■■ Girondinos: partidários da descentralização política e da
autonomia das províncias, de onde tinham grande apoio.
Defendiam os interesses da alta burguesia e desejavam li
mitar as conquistas sociais dos revolucionários. Ficavam
localizados à direita na sala de reuniões da assembleia. Seus
principais líderes foram Brissot, Condorcet e Vergniaud.
■■ Jacobinos: desejavam ampliar as conquistas sociais que
haviam sido propostas no início da revolução, por isso con
tavam com o apoio dos sans-culottes . Eram considerados
radicais e sentavam-se à esquerda na sala da assembleia.
Seus principais líderes foram Robespierre, Danton, Marat e
Saint-Just.
■■ Planície ou Pântano: ocupavam o lugar central da assem
bleia e não tinham uma posição política definida. O abade
Syeiès foi o principal líder da Planície.
82
A Convenção girondina
capítulo 5
Inicialmente, a Convenção foi dominada
O governo radical
A partir de julho de 1793, os jacobinos estruturaram seu governo em
torno do Comitê de Salvação Pública. Esse órgão seria responsável pela
implantação das reformas necessárias. As medidas mais importantes do
Comitê foram as seguintes:
■ ■ substituição das autoridades provinciais monarquistas por agentes na
A Reação Termidoriana
e o Terror Branco
J. Beys – A morte de Robespierre. 1799. Museu da Revolução Francesa, Vizille. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Os partidários de Robespierre, por meio das
ações do Comitê de Salvação Pública, criaram
um clima de desconfiança que atingiu toda a
França e enfraqueceu politicamente os jacobinos.
Aproveitando-se da situação, os girondinos reto-
maram o controle da Convenção. No dia 27 de
julho de 1794 (dia 9 Termidor do ano II, no Ca
lendário Revolucionário), a Convenção decretou
a prisão de Robespierre, executando-o na guilho-
tina com outros líderes jacobinos.
A Convenção, controlada novamente pelos
girondinos, desarmou a população, abrindo ca-
minho para uma vingança generalizada contra os
jacobinos e seus partidários. Dessa reação, que
ficou conhecida como Terror Branco, participaram
monarquistas, simpatizantes da Igreja e girondinos.
84
O governo do Diretório
capítulo 5
Com a queda de Robespierre, a revolução tomou o rumo que os burgueses
desejavam, e o exército partiu para as guerras de conquista.
Imagem
Louis Lejeune – Batalha das Pirâmides. Séc. XIX. Óleo sobre tela. Palácio de Versalhes, Versalhes
representando a
Batalha das
Pirâmides, ocorrida
em julho de 1798, no
Egito. As tropas
francesas,
comandadas por
Napoleão, venceram a
batalha, mas ficaram
bloqueadas no Egito
por intervenção da
frota naval britânica.
85
O calendário revolucionário francês
Durante a Revolução Francesa, foi adotado um novo calendário visando
racionalizar a contagem do tempo e abolir os feriados religiosos.
Um novo calendário
Após a proclamação da República na França, em 1792, a maneira de
contar o tempo sofreu mudanças. Os revolucionários implantaram um novo
calendário, chamado de Calendário Revolucionário, que vigorou de setem-
bro de 1792 a janeiro de 1806, quando Napoleão restabeleceu o calendário
gregoriano.
Observe.
Calendário Perpétuo Republicano. Séc. XIX. Museu Carnavalet, Paris
1 1
3
O dia de
10 horas
Quando o
calendá rio
revolucionário
francês começou
a vigorar, o modo
de contar as
horas também foi
2 5 mudado: os dias
passaram a ter
10 horas, cada
hora durava
100 minutos e
cada minuto
passou a ter
1 A expressão Calendário Perpétuo indica a intenção dos revolucionários de 100 segundos.
tornar esse sistema permanente.
2 O ano revolucionário era dividido em 12 meses, com 30 dias cada. Os nomes
dos meses se relacionavam às condições climáticas ou agrícolas do período.
Selva/Leemage/Other Images
Exemplos: Brumário: mês das brumas; Ventoso: mês do vento; Floreal: mês
das flores.
3 Havia cinco dias complementares por ano. Esses dias eram dedicados aos
sans-culottes e se chamavam Virtude, Gênio, Trabalho, Opinião e Recompensa.
4 O mês era composto por três semanas de 10 dias. O décimo dia de cada sema-
na era o dia reservado ao descanso.
Relógio usado
5 Para facilitar o uso do novo calendário, foi estabelecida uma correspondência na época da
entre o calendário gregoriano e o calendário revolucionário, que ainda infor- Revolução
mava os nomes “antigos” dos meses. Francesa.
86
O Império Napoleônico
capítulo 5
O Império Napoleônico marcou o fim da Revolução Francesa.
A ascensão de Napoleão
O Código Napoleônico
Biblioteca Nacional, Paris. Foto: Lauros/Giraudon/
The Bridgeman Art Library/Keystone
87
A política externa
A política externa de Napoleão foi marcada pelo enfrentamento com vários
exércitos europeus. O exército francês venceu os austríacos e os prussianos
em várias batalhas, mas não conseguiu derrotar a frota inglesa, perdendo
a Batalha de Trafalgar, em 1805. Napoleão investiu na política de criação
de repúblicas irmãs ao redor da França, com o objetivo de espalhar as ins-
tituições revolucionárias francesas pela Europa. No entanto, seu principal
objetivo era derrotar a Inglaterra, mas, como não podia fazê-lo pelas armas,
tentou vencê-la no plano econômico por meio do Bloqueio Continental.
88
O Império Napoleônico
capítulo 5
E. Cavalcante
N SUÉCIA
O L
DINAMARCA
S
PRÚSSIA
Londres HOLANDA Berlim
OCEANO Canal da Varsóvia
Rio
ATLÂNTICO Mancha GRÃO-DUCADO
CONFEDERAÇÃO
Ren
BÉLGICA DE VARSÓVIA
DO RENO
o
Paris
Viena
FRANÇA REPÚBLICA
IMPÉRIO
HELVÉTICA
AUSTRÍACO
REINO DA
ITÁLIA Veneza Rio
Gênova PROVÍNCIAS Dan
úbi
ILÍRIAS o
PORTUGAL ESPANHA TOSCANA
Madri CATALUNHA 40° N
Lisboa CÓRSEGA ESTADOS
PONTIFICADOS
Nápoles
SARDENHA
Cádiz Mar REINO DE
Mediterrâneo NÁPOLES
0 235 km
0°
Bloqueio Continental
Fonte: FLEMING, Fergus (Ed.). A Força da Iniciativa: 1800-1850. Trad. Pedro Maia
Soares. Rio de Janeiro: Abril Livros, 1995. (História em Revista).
Extensão do Império Napoleônico
Napoleão
na Rússia
A queda do Império Napoleônico
Para exercer maior controle sobre os países domi-
Ernest Crofts - Napoleão. 1888. Óleo sobre tela. Coleção particular. Foto: Christie’s Images/Corbis/Latinstock
nados, Napoleão impôs vários de seus parentes como
governantes, entre eles seu irmão José Bonaparte,
na Espanha. Essas imposições, no entanto, aumen-
taram a insatisfação dos governantes desses países,
que se aliaram para combater os avanços franceses.
Mesmo vencendo algumas batalhas, Napoleão so-
freu graves derrotas, como na Campanha da Rússia
em 1813. Sem recursos para lutar em tantas frentes
de combate, e a França acabou sendo invadida em
1814. Napoleão renunciou e foi exilado na ilha Elba,
no Mediterrâneo. Luís XVIII, irmão do rei guilhotinado
pelos revolucionários, assumiu então o trono fran cês.
Em 1815, Napoleão conseguiu reassumir o poder,
iniciando o Governo dos Cem Dias. Porém, as forças
aliadas se uniram novamente e o derrotaram na ba-
talha de Waterloo, na Bélgica. Napoleão foi exilado
na ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde morreu
em 1821.
A batalha de Waterloo, na Bélgica, foi decisiva para dar fim ao
governo de Napoleão Bonaparte. Essa obra, do pintor inglês Ernest
Crofts, representa Napoleão no campo de batalha.
89
Explorando o tema
O impacto da Revolução Francesa
A Revolução Francesa causou uma série de mudanças na Europa dos séculos XVIII e XIX.
Essas mudanças ocasionaram várias transformações políticas, sociais e culturais que se per-
petuaram até a atualidade.
Igualdade jurídica
Com a Revolução Francesa houve uma série de mudanças políticas visando instituir a igual-
dade jurídica entre os cidadãos franceses.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, estabeleceu que todos os
homens eram iguais perante a lei. Além disso, o direito à propriedade privada, à palavra, à
segurança e à liberdade individual foram alguns dos direitos proclamados nesse documento.
A Declaração influenciou, também, movimentos nacionalistas na Eu-
Cidadania
Outra mudança proposta pelos revolucionários franceses foi a obri-
gatoriedade do ensino público e gratuito. Eles acreditavam que a
garantia do acesso à educação à maior parte da população contri- Essa gravura representa
buiria para a formação de bons cidadãos. a Igualdade segurando a
Desse modo, os revolucionários elaboraram leis que passaram a Declaração dos Direitos
ser aplicadas após a Revolução. Leia o texto. do Homem e do Cidadão.
Após a criação do ensino público e gratuito na França muitos países também adotaram
essa medida.
Atualmente, por exemplo, o ensino público gratuito é um direito garantido na Constituição
Federal do Brasil.
90
capítulo 5
Robert Fleury Tony – Dr. Philippe Pinel liberando os loucos do
Hospital da Salpêtrière. Séc. XIX. Óleo sobre tela. Hospital da
Salpêtrière, Paris. Foto: White Images/Scala Florence/Glow Images
Assistência social
Caspar David Friedrich - O Andarilho sobre o mar de neblina. Séc. XIX. Óleo sobre tela.
Galeria de Arte de Hamburgo, Alemanha. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Até o final do século XVIII, o sistema de me-
dição da França era bastante impreciso. A
medida padrão, chamada toesa , equivalia a
cerca de 2 metros.
Porém, com as transformações decorrentes
do processo revolucionário e o desenvolvimento
da agricultura e do comércio, um novo modelo
universal de padronização de medidas se tor-
nou necessário. Desse modo, foram criadas
comissões que definiram o metro como refe-
rência e a divisão do sistema de medidas em
escala decimal. Em 1795, o sistema métrico
decimal tornou-se padrão na França.
As medidas de tamanho, como metro, cen-
tímetro e quilômetro, e também de peso, como
O sentimento romântico foi representado nessa
grama, quilo e tonelada, são adotadas atual- tela por Caspar David Friedrich (1774-1840),
mente na maioria dos países. pintor alemão.
91
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Produza um pequeno texto explicando a 10 Quais foram as principais medidas tomadas
situação da França no final do século pelos jacobinos durante sua lider anç a na
XVIII. Convenção?
Expandindo o conteúdo
14 O texto A é a introdução da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão , publicada em
1791 pelos membros da Assembleia Nacional. O texto B foi publicado nesse mesmo ano e
apresenta a opinião de um grupo social francês que não havia sido contemplado nos termos
da declaração. Leia-os.
92
capítulo 5
sente a todos os membros do corpo social, possa lembrar-lhes
sem cessar seus direitos e seus deveres; a fim de que as reclama-
ções dos cidadãos, fundadas doravante em princípios simples e
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. In: Ana Cristina Pessini. (Ed.).
Como exercer sua cidadania. São Paulo: Bei Comunicação, 2003. p. 165.
(Entenda e aprenda).
a ) De acordo com o texto A, quais são as causas das desgraças públicas e da corrupção
dos governos? E de acordo com o texto B?
c ) Com base no que você aprendeu neste capítulo, quem é a autora do texto B? Por que
ela escreveu esse texto?
93
15 Nos séculos XVIII e XIX, os cafés eram pontos de encontro de revolucionários que se reuniam
para discutir assuntos políticos. Leia o texto e, com base nele e em seus conhecimentos,
responda às questões.
Nos cafés ia-se [...] para conversar, trocar ideias e participar das criações
que surgiam nesse ambiente. Não podia ser diferente na França. Em Paris, um
marco para a cidade foi a inauguração do Café Procope, em 1675, pelo siciliano
Procópio Dei Coltelli. O luxuoso estabelecimento era ornamentado com enor-
mes espelhos, ricas tapeçarias e lustres de cristal. Além de artistas de teatro, era
comum encontrar em suas mesas de mármore escritores famosos como La
Fontaine, Diderot, D’Alembert e Voltaire.
94
capítulo 5
censura e repressão, os cafés também serviram para disseminar as novas ideias
no meio de estudantes e paroquianos.
O processo que culminou com a independência dos Estados Unidos tam-
a ) Em que ano foi inaugurado o primeiro café de Paris? Como ele se chamava? Como o
autor do texto descreve esse café?
c ) Os três líderes da Revolução Francesa que são citados no texto eram de qual grupo
político?
d ) De acordo com o texto, que outra revolução do século XVIII foi discutida nas mesas dos
cafés?
e ) Qual é o nome dado ao episódio, ocorrido em 1773, que visava boicotar a importação
de chá da Inglaterra? Explique com suas palavras como foi esse episódio.
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o
capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja
informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.
95
6
capítulo
A Revolução Industrial
Veja nas Orientações
Ronald Lampitt – A Revolução Industrial. Séc. XX. Guache sobre papel. Coleção particular. Foto: Look and Learn/The Bridgeman Art Library/Keystone
para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos
apresentados no
capítulo.
B Nessa gravura, de
1884, vemos
costureiras
trabalhando em
uma linha de
produção.
96
Autor desconhecido. Séc. XIX. Gravura. Coleção particular. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock
Ralph Hedley – Voltando para casa. 1889. Óleo sobre tela. Museu Nacional do Setor Mineiro
da Inglaterra, Wakefield. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
C Ilustração que representa um conflito entre policiais e D Essa imagem representa trabalhadores de uma mina de
multidão de trabalhadores desempregados ocorrido na carvão voltando para a casa após um dia de trabalho.
Inglaterra na década de 1880.
As manufaturas
Desde a Idade Média, a maior parte dos produtos manufaturados era fei-
ta por artesãos das corporações de ofício. Nos séculos XVI e XVII, em um
contexto de expansão das atividades comerciais na Europa, a produção
manufatureira entrou na fase do sistema doméstico. Nesse sistema, o arte-
são trabalhava em casa, auxiliado pela família, produzindo a encomenda de
empresários que lhe forneciam matéria-prima e combinavam a realização
de determinada tarefa em troca de um pagamento.
Cada artesão ficava encarregado de uma tarefa específica no processo
de produção, deixando de ter o domínio integral da produção dos artigos
manufaturados. A crescente dependência dos artesãos com relação ao
capital dos empresários e a necessidade de produzir em larga escala leva-
ram, gradualmente, ao agrupamento desses trabalhadores em oficinas de
propriedade do empresário.
Essa ilustração,
Em Vestuário em Yorkshire. 1814. Biblioteca Britânica, Londres
produzida no início
do século XIX,
representa o
sistema tradicional
de produção de
tecidos, em que a
fiação é feita com
a roda de fiar.
Esse trabalho
geralmente era
realizado em
família, em meio a
outras atividades
domésticas.
98
Os impactos da industrialização
capítulo 6
Desde seu início, a Revolução Industrial passou a transformar rapidamen-
te a vida das pessoas.
Leia o texto a seguir.
A Revolução Industrial
No final do século XVIII, enquanto a revolução pela liberdade e igualdade acontecia na
França e se propagava por toda a Europa, um tipo diferente de revolução, a revolução
na indústria, transformava a vida dos [ingleses]. No século XIX, a Revolução Industrial difun-
diu-se pelos Estados Unidos e pelo continente europeu. [...]
Novas formas de energia, particularmente o vapor, substituíram a força animal e os múscu-
los humanos. Descobriram-se maneiras melhores de obtenção e utilização de matérias-primas,
e implantou-se uma nova forma de organizar a produção e os trabalhadores — a fábrica. No
século XIX, a tecnologia avançou [...] com um ímpeto sem precedentes na história humana. A
explosão resultante na produção e produtividade econômicas transformou a sociedade com
uma velocidade surpreendente.
Marvin Perry. Civilização ocidental: uma história concisa. 3. ed. Trad. Waltensir Dutra; Silvana Vieira.
São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 352.
C. L. Doughty – Quando o algodão era rei. Séc. XX. Guache sobre papel.
Coleção particular. Foto: Look and Learn/The Bridgeman Art Library/Keystone
A mecanização da produção
têxtil, como mostra essa
imagem, substituiu
progressivamente a forma
tradicional de produção. O
trabalho passou a ser feito
ininterruptamente, com a ajuda
de máquinas movidas a vapor.
1760 1770 1780 1790 1800 1810 1820 1830 1840 1850
99
A Inglaterra sai na frente
Vários fatores contribuíram para o pioneirismo inglês na Revolução Industrial.
A acumulação de capitais
O acúmulo de capitais foi um dos principais motivos do pioneirismo inglês
no processo de industrialização. Durante os séculos XVI e XVII, burgueses
ingleses conseguiram acumular capitais, principalmente, por meio da ex-
ploração comercial nas colônias da América e da África e, também, das
relações comerciais com outros Estados europeus.
No século XVIII, a Inglaterra se consolidou como uma grande potência
militar, dispondo de uma poderosa frota naval. Nessa época, o governo
inglês aprovou leis que beneficiavam a burguesia, como a diminuição das
taxas de juros sobre empréstimos bancários, o que estimulou os mais varia
dos investimentos.
Assim, os burgueses ingleses puderam dispor de enorme capital, que foi
direcionado para empreendimentos como a criação de fábricas, promovendo
a industrialização em várias cidades inglesas.
capítulo 6
Com a Revolução Industrial, ocorreram mudanças profundas nos modos de vida
da sociedade inglesa.
A Revolução Industrial
Mudanças na sociedade
de vida das
pessoas que
viviam nesses paí-
ses, especialmen-
te daquelas que
Gravura do século XIX trabalhavam em
que mostra operárias atividades ligadas
trabalhando em uma à indústria.
fábrica de sapatos, na
Inglaterra. Em fábricas
como essa, era exigida
total disciplina dos
trabalhadores.
101
Os operários
As condições de vida dos operários ingleses eram
O futebol
Um dos esportes mais populares do mundo, o futebol — football, em inglês — surgiu na
Inglaterra, na época da Revolução Industrial.
Praticado principalmente pelos membros das classes operárias, esse esporte teve
suas regras estabelecidas em 1863, com a criação da Football Association, um órgão
formado por representantes dos times daquela época. Esse órgão estabeleceu as regras
básicas do esporte, como o tamanho do campo, o número de jogadores e as penalida-
des.
Séc. XIX. Xilogravura colorida. Museu Nacional do Futebol, Preston.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
102
O estilo de vida da burguesia
capítulo 6
O contraste social presente nas cidades industrializadas era muito gran-
de. Enquanto os trabalhadores da classe operária enfrentavam péssimas
condições de vida, os donos das fábricas viviam em residências luxuos as
e confortáveis, situadas em bairros distantes das fábricas.
A Revolução Industrial
Grande parte dos burgueses procuravam evitar a prática de esportes
como o futebol, em que havia intenso contato físico, preferindo realizar
atividades de lazer como a caça esportiva.
Ópio substância
extraída da planta
papoula e que
produz um efeito
analgésico e
hipnótico em
quem a consome.
103
Uma cidade industrial
Durante o século XIX, a industrialização favoreceu o crescimento urbano e o
surgimento de cidades industriais na Inglaterra.
A cidade de Sheffield
Observe a imagem a seguir, que mostra aspectos de Sheffield, uma
cidade industrial inglesa.
Os lampiões a gás
eram utilizados
para iluminar as
ruas das cidades.
Na paisagem da cidade
industrial permaneciam
vários elementos do
passado. A carroça, por
exemplo, ainda era um
meio de transporte
muito utilizado.
104
capítulo 6
A Revolução Industrial
A fumaça expelida pelas
As locomotivas, também
conhecidas como “grandes
cavalos a vapor”, eram um
dos símbolos da indústria
britânica. Em 1850 havia
mais de 10 mil quilômetros
de linhas férreas interligando
as cidades inglesas.
Pelo canal fluvial chegavam
embarcações trazendo
matérias-primas de várias
partes do mundo. Pelo mesmo
canal saíam navios carregados
de produtos industrializados.
Muitas vezes as moradias dos operários eram construídas pelos próprios industriais, próximas
às fábricas. Essa proximidade, além de dispensar o gasto com o transporte, possibilitava aos
patrões maior controle sobre a vida dos operários, mesmo fora dos horários de trabalho.
105
As ideias e o trabalho
Intelectuais do século XIX propuseram alternativas para a
organização da sociedade.
O socialismo científico
Diversos intelectuais que viviam na Europa no século XIX A luta de classes
e conheciam o cotidiano dos operários criticavam as De acordo com Karl Marx, “classes
condições de trabalho nas fábricas. Entre esses inte- sociais” são grupos de pessoas que
lectuais estava o filósofo alemão Karl Marx. apresentam semelhanças principalmente
em sua condição social e econômica.
Marx, que elaborou a teoria do socialismo científico, Esse pensador afirmava que, ao longo da
não achava justo que os industriais, ou seja, os donos história, as classes sociais se dividiram
dos meios de produção, lucrassem e enriquecessem basicamente em duas: a classe dos
explorando o trabalho dos operários. Ele acreditava que, dominantes e a classe dos dominados.
Segundo Marx, essas duas classes, por
para transformar essa realidade, era necessário mudar
possuírem interesses opostos, viviam em
a maneira como a sociedade capitalista estava organi- uma luta constante. Uma vez que as
zada. Marx pensava que a propriedade privada deveria transformações sociais ocorrem em
ser extinta e que as fábricas deveriam pertencer àque- função dessa luta, a história da
les que nelas trabalhassem, ou seja, aos operários. Além humanidade só pode ser compreendida a
partir da história da luta de classes. Marx
disso, o lucro das vendas deveria ser dividido entre considerava que, em
Coleção particular. Foto: Corel Stock Photo
todos os trabalhadores. sua época, a
sociedade estava
No entanto, para que essa mudança acontecesse,
dividida entre a
Marx acreditava que os trabalhadores tinham que tomar burguesia (a classe
consciênc ia de sua condição. De acordo com a teoria dos capitalistas) e o
marxista, a mudança da sociedade capitalista para a proletariado (a
socialista teria de ser feita pelos próprios operários, que classe dos operários).
tomariam o poder e direcionariam as políticas do Estado
para os interesses dos trabalhadores, o que possibili- Karl Marx
(1818-1883).
taria a construção de uma sociedade mais justa.
O anarquismo
Assim como Marx, outros intelectuais da época propuseram alternativas
para a construção de uma sociedade mais justa. Os anarquistas, por exem-
plo, defendiam profundas mudanças políticas, econômicas e sociais. Leia
o texto.
[...] A origem da palavra anarquismo envolve uma dupla raiz grega: archon, que
Em Nouveau Larousse Illustré. c. 1900. Paris:
Librairie Larousse. Coleção particular
significa governante, e o prefixo an, que indica sem. Portanto, anarquia significa
estar ou viver sem governo. Por consequência, anarquismo é a doutrina que prega
que o Estado é a fonte da maior parte de nossos problemas sociais, e que existem
formas alternativas viáveis de organização voluntária. [...]
O conceito de sociedade sem Estado é essencial para a compreensão da atitude
anarquista. Rejeitando o Estado, o anarquista [...] não está rejeitando a ideia da
existência da sociedade; ao contrário, sua visão da sociedade como uma entidade
viva se intensifica quando ele considera a abolição do Estado. Na sua opinião, a es-
trutura piramidal imposta pelo Estado, com um poder que vem de cima para baixo, Imagem que representa o
só poderá ser substituída se a sociedade tornar-se uma rede de relações voluntárias. escritor francês Pierre-
[...] -Joseph Proudhon (1809-
-1865), considerado o
George Woodcock. Os grandes escritos anarquistas. Trad. Júlia Tettamanzi; Betina Becker. Porto Alegre: L&PM, 1981. p. 13-4. precursor do anarquismo.
106
O trabalho nas fábricas
capítulo 6
Durante a Revolução Industrial, trabalhavam nas fábricas inglesas homens,
mulheres e crianças.
A Revolução Industrial
O dia a dia do trabalhador
Os operários ingleses geralmente acordavam bem cedo, por volta das
cinco horas da manhã, e iam trabalhar. Nas fábricas, eles operavam as
máquinas e produziam grandes quantidades de produtos manufaturados. Uma fábrica
inglesa no
O cotidiano dos operários era muito cansativo. Eles chegavam a trabalhar século XVIII
até 16 horas por dia e não tinham direito a férias. O ambiente de trabalho
era ruim, pois as fábricas eram escuras, úmidas e com pouca ventilação.
Além disso, os operários eram sempre vigiados por um feitor. Era comum
A Lei dos
acontecerem acidentes de trabalho e, nesses casos, os operários não re- Vadios
cebiam ajuda financeira ou médica.
Desde o século XVI,
na Inglaterra,
William James Muller – Forjando uma âncora. Séc. XIX. Óleo sobre tela.
Museu e Galeria de Artes, Bristol. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
foram aprovadas
leis que proibiam
a vadiagem pelas
ruas das cidades.
Os operários As pessoas
ingleses produziam consideradas
tecidos, objetos de vadias eram aque-
vidro, sapatos, las que perambu-
ferramentas, entre lavam sem
outros produtos. destino, os
Essa pintura, esmoleiros, os
produzida no desempregados,
século XIX, os doentes.
representa operários Aqueles que eram
trabalhando em uma encontrados
fundição de ferro. nessas condições
eram presos,
podendo ser
Mulheres e crianças trabalhadoras exilados e, em
As mulheres formavam uma importante parcela da mão de obra industrial. alguns casos, até
No início do século XIX, cerca de metade dos trabalhadores das fábricas condenados à
morte.
inglesas eram mulheres. As operárias não tinham direito à licença-materni-
dade e recebiam salários mais baixos que o dos homens.
Por conta da longa jornada de trabalho das mu- Autor desconhecido – Crianças recebendo pagamento. c. 1871. Gravura.
Coleção particular. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock
107
A luta dos trabalhadores
Os operários ingleses do século XIX não aceitaram passivamente as condições
de trabalho às quais eram submetidos.
A organização sindical
Como forma de resistir à exploração capitalista,
os operários fabris se organizaram e formaram
associações de trabalhadores. Essas associações,
conhecidas como Trade Unions , eram formadas por
diferentes profissionais, como sapateiros, pedrei-
ros, mineiros, mecânicos, tecelões, livreiros e car-
pinteiros.
As Trade Unions procuravam organizar as reivin-
dicações de grupos de profissionais especializados
e, para isso, esses profissionais contribuíam com Os operários ingleses organizavam greves e
uma pequena quantia mensal. Essas associações passeatas para exigir, por exemplo, o pagamento
foram se fortalecendo ao longo do tempo e deram de melhores salários e a diminuição da jornada de
origem aos sindicatos de trabalhadores. trabalho. Essa pintura, de 1892, representa uma
greve de operários.
108
As conquistas dos trabalhadores
capítulo 6
Organizados em associações, os operários passaram a reivindicar melho
res condições de trabalho. A partir da década de 1830, eles conquistaram
seus primeiros direitos trabalhistas.
A Revolução Industrial
Nessa década, os operários conseguiram a aprovação de leis que regu-
lamentavam o trabalho de crianças e jovens. Essas leis estipulavam, por
exemplo, que crianças de 9 a 13 anos de idade trabalhariam no máximo
6 horas diárias. Na década seguinte, outra lei estabelecia a redução da
jornada de trabalho das mulheres e, por volta de 1850, os homens também
conseguiram reduzir sua jornada.
Além da diminuição da carga horária, as novas leis instituíram horários
de pausa para que os operários pudessem fazer suas refeições e descansar
entre os períodos de trabalho.
Susannah Wright foi uma operária inglesa que trabalhava costurando rendas em uma fá-
brica de tecidos da cidade de Nottingham, na Inglaterra. Em 1822, ela foi flagrada vendendo
jornais subversivos que criticavam a sociedade industrializada e, em decorrência disso, foi
a julgamento. Por não ter condições de pagar um advogado, ela mesma apresentou sua
defesa ao juiz. Durante sua defesa,
Autor desconhecido - Um dia na Fábrica de Sedas de
Nottingham. Séc. XIX. Coleção particular. Foto: The
Bridgeman Art Library/Keystone
Apesar do apoio popular, Susannah foi condenada Essa gravura do século XIX representa
pelo júri. Acompanhada de seu bebê de apenas seis mulheres costurando rendas em uma
meses de vida, ela foi presa na cadeia da cidade. fábrica em Nottingham.
109
Explorando o tema
As mudanças na percepção da passagem do tempo
Na atualidade, nossas vidas e atividades cotidianas estão profundamente relacionadas ao
ritmo do relógio. No entanto, o modo como os seres humanos percebem e interpretam o
tempo se transformou ao longo da história. Uma das mudanças mais significativas em relação
à percepção do tempo ocorreu durante a Revolução Industrial.
O “tempo da natureza”
Para atender à
demanda, foram
instaladas na
Inglaterra várias
fábricas de relógio.
Nessa imagem, vemos
operários fabricando
relógios por volta de
1850. Note que o
ritmo de trabalho
desses operários
também é ditado pelo
relógio, afixado na
parede ao fundo.
110
capítulo 6
Na época da Revolução Industrial, o cotidiano dos moradores das grandes cidades inglesas
aos poucos também passou a ser regulado pelo relógio.
A Revolução Industrial
Escola Inglesa – Interior de uma fábrica de relógios. c. 1851. Litogravura. Coleção particular. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock
Gravura que mostra a utilização de um relógio mecânico em uma movimentada rua de Londres no início do século XIX.
Essa medição incorpora uma relação simples. Aqueles que Daily Herald Archive/SSPL/Hulton Archive/Getty Images
111
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Quando e onde teve início a Revolução 10 Com que idade as crianças geralmente co
Industrial? meçavam a trabalhar nas fábricas ingle
sas? Quant as horas por dia trab al havam?
2 Explique o que eram as manufaturas.
11 Escreva um pequeno texto comentando as
3 Por que a Inglaterra foi pioneira no processo
principais ideias de Karl Marx.
de industrialização?
4 Explique com suas palavras por que o tra 12 De acordo com o texto da página 106, o
balho mecanizado nas fábricas alterou a que é anarquismo?
relação dos trabalhadores com o tempo. 13 Através de quais meios de comunicação os
5 Como eram as moradias dos operários in operários ingleses tomavam conhecimento
gleses que viviam nas cidades industriais? das ideias socialistas e anarq uist as?
Quais eram suas atividades de lazer?
14 O que foi o movimento ludista?
6 Como eram as moradias dos membros das
15 O que eram as Trade Unions?
classes privilegiadas da Inglaterra? E
suas atividades de lazer, quais eram? 16 Cite as principais conquistas dos traba
7 Com base nas páginas 104 e 105, descreva lhadores ingleses a partir da década de
a paisagem da cidade de Sheffield no 1830.
século XIX. 17 Quem foram os cartistas? O que eles rei
8 Como era o dia a dia dos operários nas vind icavam?
fábricas?
18 Quem foi Susannah Wright?
9 Como eram as condições de trabalho das
operárias inglesas no início do século XIX?
Expandindo o conteúdo
19 Leia o texto e observe as imagens a seguir.
A arte é uma forma de expressão que permite investigar a cultura e a visão de mundo das pessoas de uma
determinada sociedade e época.
Nas últimas décadas do século XVIII e na primeira metade do século XIX, o estilo artístico predominan-
te na Europa foi o Romantismo que, em oposição ao pensamento iluminista, valorizava as emoções e a
imaginação. Os românticos combatiam o racionalismo, pois eles acreditavam que a criatividade e a liberdade
de pensamento das pessoas eram limitadas pelo excessivo uso da razão. Nas pinturas da época, eram co-
muns a dramaticidade e a idealização da imagem pintada, pois os artistas geralmente valorizavam a beleza
do cenário e das pessoas retratadas. Heróis e deuses frequentemente eram representados nessas pinturas.
Já na segunda metade do século XIX, em meio às agitações causadas pela Revolução Industrial, surgiu
na Europa uma outra tendência artística: o Realismo. Os artistas do Realismo buscavam representar a rea-
lidade das pessoas, dedicando-se à objetividade da cena pintada. Esses pintores não se preocupavam em
valorizar a beleza das imagens representadas, mas buscavam aproximar ao máximo a pintura da realidade.
O pintor realista Gustave Courbet, por exemplo, afirmava: “Eu não posso pintar um anjo, porque nunca vi
nenhum”. Os realistas pretendiam fazer uma arte militante, capaz de despertar a consciência do observador
para a difícil situação das camadas desfavorecidas da sociedade.
Texto dos autores.
112
capítulo 6
A
Benjamin West – Alexandre III da Escócia resgatado da fúria de uma punhalada pela intrepidez de Clin Fitzgerald.
1786. Óleo sobre tela. Galeria Nacional da Escócia, Edinburgh. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A Revolução Industrial
B
Gustave Courbet – Os britadores de pedra. 1849. Óleo sobre tela. Galeria Neue
Meister, Dresden. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
113
20 O texto a seguir apresenta informações sobre o trabalho infantil nos séculos XVIII e XIX. Leia-o.
[...] Embora o trabalho infantil seja constante na história da humanidade, ganhou evidência a
partir da Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX.
Segundo o historiador [inglês Edward Thompson], na Inglaterra, por exemplo, houve uma intensi
ficação drástica da exploração do trabalho de crianças entre 1780 e 1840, período em que as
transformações na produção estavam em curso, com a introdução do sistema de fábrica. Crianças
trabalhavam nas minas de carvão e nas fábricas, “(...) quase todas doentias, franzinas, frágeis, além de
andarem descalças e mal vestidas. Muitas não aparentavam ter mais de 7 anos”, escreveu um médico,
sobre as que trabalhavam em uma fábrica em Manchester.
As jornadas eram longas, tanto quanto as dos adultos, variando de 12 a 15 horas diárias. Os salários
eram muito baixos, apenas um complemento para a pequena renda familiar; e as fábricas, sujas, escuras,
mal ventiladas.
Embora o trabalho infantil não fosse novidade já nessa época, segundo Thompson [...] a diferença
entre o que era antes realizado, no âmbito familiar, e o sistema fabril, é que este último herdou as piores
feições do sistema doméstico, numa situação em que não existiam as compensações do lar, utilizando
o trabalho de crianças pobres, explorando-as com brutalidade tenaz. [...]
[Porém], os anos de 1830 a 1840 foram de intensa agitação operária pela melhoria das condições
de trabalho e redução da jornada, tanto dos adultos quanto das crianças. Comitês pela Redução da
Jornada foram criados, [e o] movimento de apoio às crianças operárias cresceu e ganhou adeptos em
outros setores da sociedade. [...]
Organização Internacional do Trabalho. Combatendo o trabalho infantil: guia para educadores. Brasília: IPEC, 2001. p. 29.
21 Leia o texto a seguir, que trata da divisão do trabalho em uma fábrica de alfinetes. Depois,
com base no texto e em seus conhecimentos, responda às questões.
Um fato evidente chocou Adam Smith quando ele observou o panorama inglês. Era o tremendo ganho
em produtividade que provinha da divisão e da especialização do trabalho. No começo de The wealth of
nations [A riqueza das nações], Smith comenta sobre uma fábrica de alfinetes: “Um homem estica o arame,
outro o endireita, um terceiro corta-o, um quarto o aponta, um quinto o achata na extremidade em que
ficará a cabeça; para fazer a cabeça são necessárias duas ou três operações diferentes; fabricá-lo é uma tare-
fa peculiar; branqueá-lo é outra; é uma verdadeira arte, também, espetá-los no papel... Vi pequenas fábricas
dessas onde trabalhavam apenas dez homens, alguns deles realizando duas ou três operações diferentes.
[Esses homens] podiam, quando se esforçavam, fabricar cerca de cinco quilos de alfinetes em um dia. Em
um quilo de alfinetes há uns oito mil alfinetes de tamanho médio. Essas dez pessoas, portanto, poderiam ao
todo produzir cerca de oitenta mil alfinetes em um dia... Mas se trabalhassem separadas e independente-
mente, com certeza cada qual não produziria vinte, talvez nenhum alfinete por dia...”
Robert Heilbroner. A história do pensamento econômico. 6. ed. Trad. Therezinha M. Deutsch; Sylvio Deutsch. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 60-1. (Os economistas).
114
capítulo 6
c ) De acordo com o texto, quantos alfinetes poderia produzir por dia uma pequena fábrica
com dez trabalhadores?
d ) E quantos alfinetes poderiam ser produzidos, por dia, por uma pessoa sozinha?
A Revolução Industrial
Passado e presente
22 Leia o texto a seguir.
A arrancada industrial teve início na Inglaterra por volta de [1780]. Deu origem às fábricas, primeiras uni-
dades produtivas, inicialmente voltadas para a produção de tecidos de algodão e de lã. Cem anos depois,
navios a vapor levavam essas manufaturas inglesas a todo o planeta, enquanto as fábricas da Alemanha, da
França e dos Estados Unidos entravam na corrida pelos mercados mundiais. A partir da década de 1850, com
a chegada do petróleo e da eletricidade, o mundo moderno começa a se configurar.
A outra face do crescimento industrial foi a degradação do meio ambiente, também em grande escala. Os
resíduos do carvão, que movia as máquinas a vapor, dos metais e de outras substâncias eram simplesmente des-
cartados na água, no ar e no solo, sem considerar os possíveis resultados de tais práticas. Hoje sentimos na pele
os efeitos dessa inconsequência, com os altos níveis de poluição associados ao carvão, ao petróleo e à eletricidade.
Quase 90% de toda a energia gerada no mundo provém de três combustíveis fósseis: carvão, petróleo e gás
natural. O carvão, de uso mais antigo, é mais empregado atualmente em países asiáticos, como a China, onde
70% da energia gerada resulta da queima desse combustível. Além de estimular, juntamente com o petróleo, o
aquecimento planetário, o carvão contribui diretamente para as [chuvas] com alta concentração de ácidos em
sua composição. [...] Outros danos ambientais resultam da poluição das águas e do solo, nas proximidades das
minas de carvão. Além disso, o homem destruiu florestas inteiras para obter carvão vegetal e lenha. O desma-
tamento tornou os rios mais vulneráveis à erosão. [...]
As fábricas e a poluição ambiental. Nova Escola. São Paulo: Abril, ed. 163, fascículo 3, jun./jul. 2003. Encarte Especial Meio Ambiente – Conhecer para preservar.
Extraído do site: <http://revistaescola.abril.com.br>. Acesso em: 14 fev. 2012.
a ) De acordo com o texto, quais são os elementos que caracterizam o mundo moderno?
b ) Quais foram os prejuízos ambientais causados pela industrialização?
c ) Como é gerada a maior parte da energia atualmente?
d ) Quais são as consequências para a natureza da queima de combustíveis fósseis?
e ) Em sua opinião, quais são as vantagens da industrialização? E as desvantagens? Jus
tifique sua resposta. Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a
proposta da seção Refletindo sobre o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham
compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja informado para que possa retomar o
conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.
115
7 As independências na
capítulo
América espanhola
Veja nas Orientações
Autor desconhecido – A luta pela independência. Séc. XX. Em Mural na Avenida de los Proceres, Caracas.
Foto: Ken Welsh/The Bridgeman Art Library/Keystone
para o professor
alguns comentários
e explicações sobre
os recursos
apresentados no
capítulo.
A Mural localizado em
Caracas, na Venezuela.
Nele, Simón Bolívar foi
representado
comandando o povo na
luta pela independência
da Venezuela.
Johann Moritz Rugendas – A rainha do mercado: vendedora de frutas na sua
barraca (México). 1833-35. Museu Nacional de Belas-Artes, Santiago do Chile
B A rainha do mercado:
vendedora de frutas na
sua barraca (México),
gravura de Rugendas,
feita por volta de 1833.
116
Martín Tovar y Tovar – Batalha de Boyacá. Séc. XIX. Óleo sobre tela. Acervo Histórico da República, Venezuela
C Pintura do artista venezuelano Martín Tovar y Tovar (1828-1902), que representa a batalha de Boyacá,
ocorrida em 1819.
apresentado como fonte A. Você sabe qual foi o papel de Simón Bolívar no processo de
independência da América espanhola? Identifique esse personagem no mural. Quais
elementos representados no mural indicam a luta pela independência da Venezuela?
■ ■ A gravura apresentada como fonte B representa uma cena do cotidiano da população
Granada, atual Colômbia. Descreva essa pintura. É possível identificar os grupos envol-
vidos nessa batalha? Quais são eles?
Talvez você não tenha as respostas para essas questões, mas pense nelas enquanto lê
este capítulo.
Aproveite a seção Conversando sobre o assunto para ativar o conhecimento prévio dos alunos e estimular seu
interesse pelos assuntos que serão desenvolvidos no capítulo. Faça a mediação do diálogo entre os alunos de
maneira que todos participem expressando suas opiniões e respeitando as dos colegas.
117
A crise do sistema colonial
A crise do sistema colonial foi determinante para que as colônias espanholas
conquistassem sua independência.
Os Cabildos e as Audiencias
Para administrar suas colônias, o governo espanhol criou os Cabildos e
as Audiencias . O Cabildo era uma espécie de prefeitura administrada por
um conselho municipal. Os cargos desse conselho eram ocupados pelos
criollos , ou seja, os descendentes de espanhóis nascidos na América. Na
realidade, esse era o único cargo político que os criollos podiam ter.
As Audiencias eram tribunais de justiça encarregados de aplicar as leis e
julgar aqueles que as desobedecessem. Os cargos nas Audiencias eram
ocupados pelos chapetones ou peninsulares, homens nascidos na Espanha
e que residiam nas colônias.
Paolo Fumagalli – Praça do Mercado em Buenos Aires. Séc. XIX. Litogravura colorida.
Coleção particular. Foto: Historical Picture Archive/Corbis/Latinstock
Pintura que
representa a praça
do mercado em
Buenos Aires, no
Vice-reino do Rio da
Prata, no início do
século XIX. Nessa
praça ficava a
administração
municipal, o Cabildo,
um órgão dominado
pelas elites criollas,
que lideraram os
movimentos de
independência.
118
A situação nas colônias
capítulo 7
As reformas dos Bourbons tiveram ampla repercussão nas colônias es-
panholas, e o comércio entre elas foi sendo liberado gradualmente. Desse
modo, aumentaram os contatos comerciais e a circulação de produtos en-
tre as colônias, e também entre elas e as Nações estrangeiras, que propor- O conteúdo da
119
A invasão napoleônica na Espanha
Entre os anos de 1807 e 1808, o exército do imperador francês Napoleão
Bonaparte invadiu a península Ibérica com o objetivo de fazer valer o Blo-
queio Continental, impedindo o comércio de Portugal e Espanha com a
Inglaterra. Nessa ocasião, o rei espanhol, Fernando VII, foi deposto, preso
e levado para o exílio na França.
Francisco Goya – Os fuzilamentos do Três de Maio. 1814. Óleo sobre tela. Museu do Prado, Madri
O quadro Os
fuzilamentos do Três
de Maio, do artista
espanhol Francisco
Goya (1746-1828),
representa a
repressão francesa
contra a população
espanhola, que
tentava resistir à
invasão da Espanha
pelas tropas do
exército de Napoleão
Bonaparte.
Francisco Goya – Retrato de Fernando VII. c.1815. Óleo sobre tela. Museu do Prado, Madri
foi imediata e aumentou o desejo dos colonos de lutar
por sua independência. As elites coloniais, então, organi
zaram-se em junt as governativas que, em um primeiro
momento, apenas resistiram à dominação francesa, ten-
tando ampliar sua relativa autonomia política. Mas, com
o retorno de Fernando VII ao trono espanhol, em 1814,
retornou também a política absolutista, fazendo com que
o sentimento separatista adquirisse ainda mais força na
América espanhola.
As juntas governativas
Com a deposição do rei espanhol Fernando VII, as elites criollas
da América espanhola formaram, com base nos Cabildos, juntas
governativas locais para se autogovernarem.
No interior das juntas, estabeleceram-se tendências políticas
diversas. Alguns de seus membros juraram total fidelidade ao rei
deposto; outros desejavam governar de forma independente,
embora em nome do rei; por outro lado, havia a tendência mais
radical, que desejava a completa independência das colônias.
Com o retorno do rei espanhol ao trono e o ressurgimento das Fernando VII, rei espanhol que foi deposto por
tensões entre as elites coloniais e a administração espanhola, o Napoleão Bonaparte. Ele, porém, retornou ao
grupo que defendia a independência acabou prevalecendo. trono em 1814, após a queda de Napoleão.
120
Aspectos da sociedade colonial
capítulo 7
A sociedade colonial espanhola era composta por grupos muito distintos.
Os grupos sociais
Johann Moritz Rugendas – A Catedral e a Praça Maior de Lima. 1843. Óleo sobre tela. Coleção particular
foi utilizada nas colônias espanholas
na América. Os escravos africa-
nos trabalhavam como construto-
res, carregadores de mercadorias
e prestadores de serviços domés-
ticos. Nas Antilhas, os africanos
trabalhavam, principalmente, nas
lavouras de cana-de-açúcar.
121
A América espanhola independente
Durante o século XIX, a Espanha perdeu o poder sobre suas colônias.
Independências declaradas
Observe, no primeiro mapa, a divisão das colônias espanholas no século XVIII.
No segundo mapa, veja como ficaram divididos os novos países que se formaram.
E. Cavalcante
E. Cavalcante
N
N
O L
O L
S
S
Trópico de Câ Trópico de Câ
ncer ncer
VICE-REINO DA CAPITANIA-GERAL MÉXICO CUBA
NOVA ESPANHA DE CUBA 1821 1898
GUATEMALA HONDURAS
OCEANO 1838 1838
CAPITANIA-GERAL EL SALVADOR NICARÁGUA OCEANO
DA GUATEMALA
ATLÂNTICO 1838 1838
ATLÂNTICO
CAPITANIA-GERAL COSTA RICA VENEZUELA
DA VENEZUELA 1838 1819
PANAMÁ
VICE-REINO DA 1830 COLÔMBIA
Equador NOVA GRANADA Equador 1819
0° 0°
EQUADOR
1822
CAPITANIA-GERAL URUGUAI
DO CHILE 1828
ARGENTINA
1816
CHILE
1818
0 1 240 km 0 1 240 km
50° O 50° O
Fonte: BLACK, Jeremy Black (Ed.). World History Atlas. Fonte: IstoÉ Brasil, 500 anos.
Londres: Dorling Kindersley, 2005. São Paulo: Três, 1998.
122
O processo de independência
capítulo 7
Os interesses das elites coloniais foram determinantes nos processos de
independência na América espanhola.
Séc. XX. Guache sobre papel. Coleção particular. Foto: Look and Learn/
nhol. Essas manifestações de caráter popular,
compostas essencialmente por indígenas e mes-
tizos , foram duramente reprimidas.
Em 1780, um movimento popular liderado
pelo indígena José Gabriel Tupac Amaru foi
respons ável por um levante que repercutiu em
O “haitianismo”
As condições para a independência
O Haiti foi a
Somente quando as elites coloniais passaram a se interessar pela separação primeira colônia
política da Espanha foi que os processos de independência na América da América Latina
espanhola ganharam força. a se tornar
independente.
A partir do início do século XIX, com a invasão napoleônica na Espanha, A independência
as elites criollas se fortaleceram e passaram a controlar as juntas governa- foi conquistada
tivas. Havia, no entanto, divergências mesmo entre os membros da elite. por meio de um
movimento
Leia o texto.
revoltoso em que
escravos e
[Havia] os que defendiam a fidelidade ao rei Fernando VII ex-escravos
[e havia] aqueles que desejavam a autonomia das juntas para massacraram a
elite branca e
governar, embora em nome do rei; [havia também os] partidá tomaram o poder.
rios da completa independência ante a Metrópole. No decorrer O medo de
rebeliões como
das lutas, a tendência que aspirava à completa autonomia foi essa se espalhou
se impondo às demais até se tornar a dominante. [...] entre as elites
coloniais e ficou
Rubim Santos Leão de Aquino e outros. História das sociedades americanas. 7. ed. conhecido como
Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 209.
“haitianismo”.
123
A emancipação da América do Sul espanhola
À medida que o Estado espanhol se mostrava mais fraco e decadente,
as elites coloniais passaram a apoiar a independência de suas colônias
como forma de proteger seus interesses políticos e econômicos contra o
avanço do Império Napoleônico.
A partir de 1810, começaram as primeiras insurreições pela independência
nas capitanias da Venezuela e do Chile, e no Vice-reino do Rio da Prata,
que hoje corresponde aos atuais territórios do Paraguai, Uruguai, Argentina
e parte da Bolívia.
O criollo San Martín, nascido na atual
Martin Boneo – General San Martín após cruzar os Andes em 1817. 1865. Óleo sobre tela. Museu Histórico Nacional, Buenos Aires.
Foto: AISA/The Bridgeman Art Library/Keystone
Argentina em 1778, liderou os movimentos
pela independência desse país e colaborou
para a libertação do Chile e do Peru. San
Martín planejava criar Estados indepen-
dentes na América, cada qual governado
conforme os interesses da população.
Ao norte do continente, Simón Bolívar
liderou a independência da Grã-Colômbia.
Bolívar era um militar centralista, que acre-
ditava em um poder forte e único com
posto por Estados independentes, porém
solidários entre si, e que formassem uma
confederação.
Embora os processos de independência
na América tenham ocorrido de maneiras
diferentes em cada região, de modo geral
eles foram liderados pelas elites criollas .
Apesar de lutar pela liberdade política e
econômica das colônias, os membros
dessas elites procuraram manter a mesma
estrutura social do período colonial, e não
promoveram melhorias importantes nas
condições de vida das populações mestiça, San Martín, montado no cavalo, é representado comandando seu
indígena e escrava. exército durante a guerra de independência da Argentina.
O bolivarismo
Séc. XIX. Óleo sobre tela. Coleção particular. Foto: Photo
Researchers/Agefotostock/Bankphoto
124
A fragmentação política
capítulo 7
Após a criação da República da Grã-Colômbia, Simón Bolívar organizou
o Congresso do Panamá. Com esse Congresso, Bolívar desejava unificar
todas as regiões recém-emancipadas na América espanhola. No entanto,
o antigo Império espanhol se fragmentou em vários países.
Levy – Reunião entre os generais San Martin e Bolívar. Séc. XIX. Gravura.
Coleção particular. Foto: The Print Collector/Heritage-Images/Other Images
se opor às imposições econômicas e polí-
ticas dessas nações, que assim tirariam
proveito dessa conjuntura.
Havia, também, dos pontos de vista geo-
gráfico e econômico, grande diferença e
isolamento entre as ex-colônias espanholas
na América, o que dificultava sua união em um
projeto comum de Estado latino-americano.
Os caudilhos
Os chefes políticos e militares que surgiram nas ex-colônias espanholas da América do
Sul ficaram conhecidos como caudilhos. Leia, no texto abaixo, algumas definições
acerca das origens e características dos caudilhos.
Autor desconhecido - Juan Manuel de Rosas. Séc. XIX.
Ilustração. Foto: The Granger Collection/Other Images
125
A independência do México
Os movimentos de emancipação do México tiveram importante participação
popular, porém, após a independência, a elite assumiu o controle do país.
Os movimentos sociais
As lutas contra o domínio espanhol no México começaram com levantes
populares liderados pelo padre Miguel Hidalgo, a partir de 1810. Os princi-
pais objetivos do movimento eram a independência do Vice-reino da Nova
Espanha e a transferência das propriedades rurais dos chapetones e dos
criollos para a população nativa.
Hidalgo chegou a reunir um exército de aproximadamente 30 mil pessoas,
formado por indígenas e mestizos , e invadiu a Cidade do México. Em 1811,
porém, as tropas reais espanholas conseguiram conter o movimento, exe-
cutando grande parte dos revoltosos. Após ser capturado, o padre Hidalgo
foi julgado pelo tribunal da Inquisição e condenado à morte.
As lutas de independência
J. Díaz del Castillo - José María Morelos y Pavón Teclo. 1910. Coleção particular.
Foto: World History Archive/TopFoto/Other Images
José Maria Morelos, outro padre mexicano, conti-
nuou a luta pela independência iniciada por Hidalgo.
À frente do movimento, Morelos obteve alguns avanços,
chegando a proclamar a independência do México em
1813 e, no ano seguinte, a promulgar a primeira Cons-
tituição do país. No entanto, nem a proclamação de
independência e tampouco a Constituição foram re-
conhecidas pelo governo espanhol.
As elites no poder
O movimento pelo reconhecimento da independência As independências na
mexicana continuou durante anos. Mestizos e indígenas América Central
organizaram-se em grupos armados que, espalhados Uma semana após a independência do
por todo o México, combatiam as tropas reais. México, em 1821, as capitanias gerais da
A elite criolla, no entanto, interessada em permanecer no Guatemala, que incluíam os atuais
territórios de Chiapas, Guatemala,
poder e com receio da participação direta da população El Salvador, Nicarágua, Costa Rica e
no governo, decidiu entrar em acordo com os rebeldes. Honduras, também se declararam
independentes e se incorporaram ao
O militar criollo Agustín de Iturbide fez um acordo com
Império Mexicano. Em 1823, elas se
os rebeldes e proclamou a independência do México em separaram do México e formaram a
1821, estabelecendo uma Monarquia Constitucional e Federação Independente das Províncias
tornando-se imperador mexicano. Porém, em 4 de outu Unidas da América Central.
bro de 1824, um grupo de militares contrários à política A partir de 1838, essa federação se
vigente proclamou a República mexicana e oficializou o desfez e cada país se tornou autônomo,
catolicismo como religião do país, que passou a se chamar com exceção de Chiapas, que ainda hoje
é um território mexicano.
Estados Unidos Mexicanos.
126
A independência de Cuba
capítulo 7
Cuba conquistou sua independência somente em 1898.
As guerras de independência
Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Latinstock
A primeira guerra de independência aconteceu durante
os anos de 1868 e 1878, sob o comando de Carlos Manuel
Céspedes. Dono de um engenho, Céspedes libertou seus
escravos para lutarem pela independência. No entanto, a
maioria dos grandes fazendeiros não aderiu à luta, e a re-
volta foi esmagada pelo exército espanhol.
A segunda guerra de independência aconteceu entre os
anos de 1895 e 1898. Nessa ocasião, a revolta foi liderada
pelo político e escritor criollo José Martí. Os revoltosos es-
tavam insatisfeitos com o aumento dos impostos cobrados
pela Espanha e com os altos custos que a manutenção do
exército espanhol em Cuba causava para os criollos . O
movimento de separação, iniciado pelos partidários de Martí, Soldados que lutaram na primeira guerra
acabou ganhando força e derrotou o outro grupo da elite de independência de Cuba. Fotografia de
cubana que pretendia incorporar Cuba aos Estados Unidos. 1896.
A intervenção norte-americana
Em 1898, quando a independência de Cuba estava prestes a ser conquistada, os
Estados Unidos invadiram a colônia e declararam guerra à Espanha. Os norte-americanos
utilizaram como pretexto para a invasão o bombardeio, supostamente realizado por
forças espanholas, de uma embarcação americana enviada à Cuba para proteger os Base militar
cidadãos norte-americanos que viviam na ilha. No entanto, o objetivo do governo americana em
norte-americano era ocupar as últimas colônias espanholas nas Antilhas e dar início a Guantánamo,
uma política intervencionista na América Latina. Cuba, em 2002.
Assim, Cuba e Porto Rico foram ocupados pelas tropas norte-
Joe Skipper/Reuters/Latinstock
127
Explorando o tema
A cultura mexicana no pós-independência
Após a conquista da independência, intelectuais e artistas de vários países da América
Latina buscaram construir a identidade nacional desses novos países. No caso do México, a
identidade nacional foi buscada no passado indígena, nas culturas asteca e maia, que flores-
ceram antes da chegada dos europeus à América. Podemos perceber isso em várias produções
culturais que surgiram após a independência. Observe.
Editora Stockcero
se destacou em poesias, contos e
romances que valorizavam a cultura
e o passado indígenas.
O escritor mexicano Mariano
Azuela (1873-1952), por exemplo,
contribuiu para a construção de
Guillermo Montesinos/
uma identidade mexicana
Glow Images
principalmente por meio da obra
Los de abajo, que narra a história
da Revolução Mexicana, iniciada
em 1911. Ao lado, está a capa
dessa obra.
José Agustín Arrieta – O menino e a menina. Óleo sobre tela. Séc. XIX. Coleção particular.
Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
128
capítulo 7
O muralismo
Uma das tendências artísticas que floresceram em diversos países da América Latina no
Cuahtémoc, o último
imperador asteca,
aparece segurando o
A águia com uma coração de um
serpente no bico inimigo sacrificado,
Diego Rivera. Palácio Nacional, Cidade do México.
Foto: Hotofrenetic/Alamy/Other Images (detalhe)
129
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Elabore um pequeno texto explicando a 7 Sobre a independência do México, res
crise do Império espanhol e a situação ponda.
nas colônias na época.
a ) Quem foram Miguel Hidalgo e José
2 Quais foram as consequências da invasão Maria Morelos?
de Napoleão na Espanha para as colônias
b ) Por quais motivos os mestizos e in
espanholas?
dígenas do México lutavam contra a
3 Como a independência dos Estados Unidos dominação espanhola?
influenciou os colonos espanhóis? c ) Mesmo que a independência of ic ial do
4 O que eram os Cabildos? E as Audiencias? México tenha ocorrido no ano de
1821, a população do país a come
5 Escreva com suas palavras como era for mora como se ela tivesse ocorr ido em
mada a sociedade da América esp an hola. 1810. Por quê?
Expandindo o conteúdo
10 Leia o texto a seguir sobre a participação da elite criolla nos processos de independência
das colônias espanholas.
A independência das colônias espanholas não seria possível sem a participação das classes
dominantes coloniais. [...] Embora fossem frequentes as revoltas populares contra o domínio es
panhol, elas esbarraram sempre na repressão violenta, por parte tanto da Metrópole quanto dos
elementos da aristocracia criolla. Apenas no momento em que se aprofundou o [conflito] entre a
Metrópole e suas colônias, traduzido pelas reivindicações coloniais de liberdade econômica e au
togoverno, foi que [os grupos] dominantes coloniais se articularam em torno do movimento de
independência, conduzindo-o à vitória final, embora com a participação das camadas populares
que integraram os exércitos coloniais.
130
capítulo 7
Não se deve pensar que o bloco dominante nas colônias fosse homogêneo. Ao contrário, [a
elite criolla] em algumas zonas era mercantil (como em Havana, Lima e Buenos Aires), com inte
resses ligados ao mercado externo; em outras, era rural, composta de grupos de grandes produtores
de gêneros tropicais de exportação (açúcar, cacau) ou de produtores autossuficientes [...].
a ) Por que, de acordo com o texto, as revoltas populares pela independência fracassaram?
b ) Quais grupos sociais coloniais participaram das lutas de independência?
c ) Quais eram as divergências entre os membros da elite criolla?
12 Leia o texto a seguir, que trata da invasão napoleônica na Espanha e os reflexos desse acon
tecimento nos processos de independência na América espanhola.
a ) Qual foi a reação da população colonial à nomeação de José Bonaparte como rei da
Espanha?
b ) De acordo com o texto, qual foi o principal motivo da instauração de governos autônomos
na América durante a ocupação napoleônica na península Ibérica?
131
13 Leia o texto a seguir, que trata do processo de independência do Haiti, que foi colônia fran
cesa até o início do século XIX.
a ) Como era a situação socio econômica da colônia de São Domingos no final do século
XVIII?
b ) Quem era Boukman Dutty? O que ele fez?
c ) Qual é a relação entre os ideais iluministas e os objetivos do movimento liderado por
Toussaint L’Ouverture?
d ) Quem era Jean-Jacques Dessalines?
e ) O que simbolizou a luta de independência no Haiti?
f ) O que foi o “haitianismo”?
132
capítulo 7
Passado e Presente
14 Leia o texto a seguir, que trata da base naval que os norte-americanos mantêm em
Guant ánamo.
133
8
capítulo
A independência do Brasil
Veja nas Orientações
para o professor
alguns comentários e
explicações sobre os
recursos
apresentados no
capítulo.
A Brasão do Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves.
Acervo da editora
134
Jean-Baptiste Debret - Aclamação de D. Pedro I no Campo de Santana. 1822. Aquarela. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro
C Pintura de Jean-Baptiste Debret, representando a aclamação popular do príncipe D. Pedro como “imperador e defensor
perpétuo” do Brasil, em outubro de 1822.
Aproveite a seção
Conversando sobre o assunto Conversando sobre
o assunto para ativar
No início do século XIX, as transformações que vinham ocorrendo na o conhecimento
prévio dos alunos e
Europa e na América deram origem a uma profunda crise no sistema estimular seu
colonial. Neste capítulo, vamos estudar como essa crise está ligada ao interesse pelos
assuntos que serão
processo que culminou na independência do Brasil. desenvolvidos no
capítulo. Faça a
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os mediação do diálogo
colegas sobre as questões a seguir. entre os alunos de
maneira que todos
■ ■ O brasão, apresentado como fonte A, simboliza a elevação do Brasil
participem
a Reino Unido. Você sabe o que significam os elementos que com- expressando suas
opiniões e
põem esse símbolo? O que essa mudança política representou para respeitando as dos
o Brasil? colegas.
■ ■ Quais atividades estão sendo realizadas pelas pessoas representadas
135
As relações entre Brasil e Europa
no século XIX
O Bloqueio Continental e as relações entre Portugal e Inglaterra foram
fundamentais para o processo de independência do Brasil.
136
Tratados assinados entre Portugal e Inglaterra
capítulo 8
Em 1810, sob pressão militar e diplomática da Inglaterra, D. João assinou
dois importantes tratados que regulamentavam as relações comerciais es-
tabelecidas entre Brasil, Portugal, Inglaterra e os demais Estados europeus.
A independência do Brasil
De acordo com o Tratado de Navegação e Comércio, os comerciantes
ingleses que quisessem vender seus produtos no Brasil deveriam pagar um
imposto de 15% sobre o valor da mercadoria. Já a tributação dos produtos
vendidos por portugueses seria de 16%, e a dos demais Estados europeus
seria de 24%.
Com o Tratado de Aliança e Amizade, D. João se comprometia a reduzir
e posteriormente abolir o tráfico de escravos africanos para o Brasil. Além
disso, o tratado permitia aos ingleses a liberdade religiosa e proibia a ins-
talação dos tribunais da Inquisição no Brasil. Também foi concedido aos
ingleses o direito de extrair madeira das matas brasileiras para a construção
de seus navios.
1810 1818
Assinatura do Tratado de Navegação Após a morte de sua mãe, o príncipe 1822
e Comércio e do Tratado de Aliança e regente D. João é coroado rei, passando D. Pedro proclama a
Amizade entre Portugal e Inglaterra. a ser chamado de D. João VI. independência do Brasil.
137
O Brasil deixa de ser Colônia
Em 1808, com a transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, teve
início o processo de independência do Brasil.
A “interiorização da metrópole”
As transformações desencadeadas com a instalação do governo portu-
guês no Rio de Janeiro deram início a um processo que acabou levando à
independência do Brasil. Leia o texto a seguir.
Armando Vianna – Chegada de D. João à Igreja do Rosário. 1937. Óleo sobre tela. Museu Histórico da Cidade, Rio de Janeiro.
Foto: Gilson Ribeiro
138
Brasil: Reino Unido a Portugal e Algarves
capítulo 8
Após o término das guerras napoleônicas, em 1815, os ingleses pressio-
naram para que D. João retornasse para Portugal. Vários fatores, no entanto,
dificultaram o retorno do rei. A família real e os principais órgãos adminis-
trativos portugueses estavam estabelecidos no Brasil. Além disso, muitos
A independência do Brasil
portugueses que vieram para o Brasil em 1808 tinham aberto negócios aqui
e não queriam retornar para Portugal.
Nesse contexto, em 16 de dezembro de 1815, D. João elevou o Brasil à
condição de Reino Unido a Portugal e Algarves.
Essa medida desagradou profundamente as pessoas que viviam em Por-
tugal, pois elas acreditavam que, com a elevação do Brasil a Reino Unido,
Portugal corria o risco de ser reduzido à condição de colônia. Por outro
lado, a medida de D. João favoreceu as elites brasileiras, que não desejavam
perder os benefícios adquiridos desde 1808.
Vista da cidade
do Recife, palco
da Revolução
Pernambucana.
139
Transformações no Rio de Janeiro
Com a instalação da Corte portuguesa no Brasil, o Rio de Janeiro passou
por muitas transformações.
A criação de instituições
Na época da chegada da Corte portuguesa,
Stefan Kolumban/Pulsar
D. João procurou adequar o Rio de Janeiro à con-
dição de sede da Coroa, criando várias instituições:
■■ Fundou o Banco do Brasil, o primeiro banco do
país, a fim de administrar os gastos do Estado;
■ ■ Instituiu a Imprensa Régia, com a finalidade de
140
Aumento da população
capítulo 8
Com a elevação do Rio de Janeiro à condição de capital do Reino, sur-
giram muitas oportunidades de trabalho, atraindo pessoas de várias regiões
do Brasil e também de Portugal. Além disso, muitos africanos escravizados
foram levados para o Rio de Janeiro.
A independência do Brasil
Essa migração promoveu um repentino crescimento da população da
cidade e, consequentemente, o aumento do número de estabelecimentos
comerciais para atender às necessidades dos moradores da cidade.
1816. Ele fazia parte de um grupo de artistas franceses que foi convi-
dado por D. João para vir ao Brasil participar da fundação da Escola
Real de Ciências, Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro, e fazer parte do
corpo docente da escola.
No Brasil, além de telas representando a família real, Debret pintou
cenas da vida cotidiana dos brasileiros, como o trabalho dos escravos
e os hábitos da elite. Ele também retratou diversos grupos étnicos
africanos e indígenas, as festas e os costumes populares, a arquitetu-
ra das construções, entre tantos outros temas. Debret.
Debret voltou à França em 1831 e, alguns anos depois, publicou o livro Viagem pitoresca
e histórica ao Brasil . Nesse livro, reuniu 139 pinturas, acompanhadas por seus comentários
e impressões sobre o Brasil. Até hoje, a obra de Debret é considerada uma importante fonte
para o estudo da história de nosso país.
141
Rio de Janeiro, a capital do Reino
No início do século XIX, o Rio de Janeiro era a maior cidade brasileira. Nas suas
ruas e praças circulavam as mais variadas pessoas.
As redes e liteiras,
carregadas por escravos,
eram muito usadas por
pessoas ricas.
O mercador de escravos
lucrava muito dinheiro
negociando escravos com
senhores ricos e fazendeiros.
Os militares eram
encarregados da
segurança e da
ordem na cidade.
A independência do Brasil
embarcações que ancoravam no cais.
143
A Revolução do Porto
Com propostas liberais, a Revolução do Porto exigiu o retorno de D. João VI e
contribuiu para acelerar o processo de independência do Brasil.
As Cortes de Lisboa
Na tela Sessão das
Os revolucionários organizaram uma Junta Provisór ia que convocou as
Cortes de Lisboa,
Cortes de Lisboa, uma assembleia formada por representantes políticos do Oscar Pereira da
Reino. Silva (1867-1939)
Em 1820, tiveram início os trabalhos das Cortes. Nessa ocasião, a assem representou
bleia era formada por deputados portugueses e brasileiros e foi reunida deputados
portugueses e
para elaborar uma Constituição liberal, que deveria ser seguida por todos os
brasileiros que
habitantes do Reino, inclusive pelo rei. participaram das
Cortes.
As propostas das Cortes
Oscar Pereira da Silva – Sessão das Cortes de Lisboa. Óleo sobre tela.
Museu Paulista da USP, São Paulo
144
O regresso de D. João VI As relações entre o Bloqueio Continental
capítulo 8
Desde o fim das guerras napoleônicas, e o regresso de D. João VI a Portugal
em 1815, as autoridades portuguesas ten-
O Bloqueio Continental é
tavam reconduzir D. João VI a Portugal. imposto pelo imperador
A independência do Brasil
Os deputados portugueses estavam pres- francês Napoleão Bonaparte.
sio nando D. João VI para que ele voltasse
e assinasse a nova Constituição. Eles que-
Por não acatar o Bloqueio
riam restituir o monopólio português sobre Continental, Portugal é invadido
o comércio brasileiro e ameaçavam depor pelas tropas napoleônicas.
D. João VI caso ele não voltasse a Portugal.
Assim, em abril de 1821, D. João VI e a
sua comitiva retornaram a Lisboa. D. Pedro, Os Sob comando inglês,
que era o filho mais velho do rei, assumiu o A família
portugueses as tropas francesas
governo do Brasil como príncipe regente. veem seu são expulsas de
real
país ser Portugal. Com isso, a
portuguesa
destruído principal autoridade
parte para
A permanência de D. Pedro o Brasil.
com a invasão do Reino passou a ser
das tropas exercida por um
Após o regresso de D. João VI, os de- francesas. marechal inglês.
putados portugueses que participaram das
Cortes de Lisboa começaram a pressionar
D. Pedro para que ele também voltasse
Descontentamento entre as classes
para Portugal. Esses deputados afirmavam populares e as elites portuguesas.
que, caso ele não voltasse, seria acusado
de insubmissão, isto é, desobediência.
Eclode a
No dia 9 de janeiro de 1822, após rece-
Revolução
ber um abaixo-assinado com cerca de 8 mil do Porto.
assinaturas que pediam a sua permanência
no Brasil, D. Pedro assumiu publicamente
o compromisso de ficar no país e desobede- Regresso de
cer as ordens portuguesas. Esse dia ficou D. João VI.
conhecido como o Dia do Fico.
145
O conflito de interesses
Com a decisão de D. Pedro em permanecer no país, grupos políticos de Portugal e
do Brasil adotaram posições políticas opostas. Representante do
partido português.
Quais eram os grupos políticos?
O partido português
O partido português era formado por militares portugueses de alta
patente, grandes comerciantes e funcionários públicos.
Os interesses do partido português estavam ligados aos da elite
da Metrópole. Seus membros defendiam o restabelecimento do
pacto colonial, ou seja, que o Brasil voltasse a ser uma colônia de
Portugal, como era antes de 1808. Apesar do nome, também faziam
parte do partido português muitos brasileiros que defendiam essas
mesmas ideias.
O partido brasileiro
O partido brasileiro tinha uma formação diversificada, que incluía grandes
proprietários rurais, políticos conservadores, liberais radicais, republicanos, Patente título
membros das camadas médias urbanas, ex-escravos e, também, vários militar.
portugueses estabelecidos no Brasil. Muitas dessas pessoas eram adeptas
da Maçonaria.
Os grupos que formavam o partido brasileiro uniram-se
para combater a proposta de recolonização feita pelos A Maçonaria
deputados port ugueses. Durante o processo de inde- A origem da Maçonaria ainda é muito
pendência, no entanto, o partido brasileiro acabou se discutida, porém, acredita-se que ela
tenha surgido durante a Idade Média,
dividindo em duas correntes. Veja. como fruto de corporações de ofício que
■■ Corrente radical ou democrática: liderada por Joa- agrupavam construtores ( maçon, em
quim Gonçalves Ledo, essa corrente era também francês, significa construtor). A Maçonaria
chamada de “elite brasiliense” e defendia um governo reunia muitos construtores de igrejas que
mantinham suas técnicas de construção
liberal, em que a população pudesse participar das em segredo. No século XVIII, os maçons
decisões políticas por meio de representantes eleitos. passaram a atuar politicamente,
Esse grupo era formado principalmente pelas cama- defendendo as ideias liberais e criticando
das médias urbanas, como os pequenos comercian- o Absolutismo. No Brasil, o primeiro
tes, boticários, jornalistas, padres, além de artesãos, registro de uma loja maçônica é de 1801,
escravos alforriados e homens livres pobres. no Rio de Janeiro. No século XIX, os
maçons tiveram um importante papel na
■■ Corrente conservadora ou aristocrata: liderada por independência do Brasil, combatendo o
José Bonifácio, era formada por grandes proprietá- Absolutismo e o colonialismo.
rios rurais e por membros da elite brasileira que Eram nas lojas maçônicas que aconteciam
estudaram na Universidade de Coimbra, em Portugal, os principais
Tatiana Markow/Sygma/Corbis/Latinstock
146
A caminho da separação
capítulo 8
Após o episódio do Dia do Fico, D. Pedro começou a tomar decisões que
indicavam uma tendência separatista. Expulsou do Rio de Janeiro soldados
portugueses que se recusaram a jurar fidelidade a ele e aproximou-se da
elite conservadora brasileira, nomeando José Bonifácio como ministro.
A independência do Brasil
Desse modo, D. Pedro conseguiu o apoio de conservadores, de proprietá-
rios rurais, de altos funcionários, de juízes e de grandes comerciantes.
Esse apoio era fundamental para que ele pudesse proclamar a independên-
cia sem alterar a ordem social e econômica do Brasil e, além disso, garan-
tir sua permanência como monarca.
A declaração de independência
Os meses de agosto e setembro de 1822 foram decisivos para a sepa-
ração formal entre a Colônia e a Metrópole. Em agosto, D. Pedro declarou
que todos os soldados portugueses que desembarcassem no Brasil seriam
considerados inimigos. No início de setembro, chegaram de Lisboa várias
cartas das Cortes de Lisboa que desautorizavam as medidas do príncipe e
exigiam novamente seu retorno.
D. Pedro não acatou as ordens das
Museu do Ipiranga.
147
Explorando o tema
A Biblioteca Nacional
As origens
A origem de nossa atual BN remonta aos
esforços do rei português D. José I e de
seu ministro, Marquês de Pombal, em re- O acervo da biblioteca transportada para o Brasil contava
com cerca de 60 mil peças, entre livros, manuscritos,
construir a antiga Real Biblioteca, que foi
gravuras, mapas, moedas e medalhas. Esse acervo tinha
quase toda destruída após o grande terre- sido organizado para substituir a antiga Real Biblioteca de
moto que devastou a cidade de Lisboa, Lisboa, destruída no terremoto de 1755, representado na
em 1755. imagem acima.
Dessa data até 1807, ano em que a Cor-
te portuguesa foi transferida para o Brasil,
Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. 21 (1899) p.261
148
capítulo 8
O acervo
Rafael Andrade/Folhapress
Atualmente, a importância histórica e
A independência do Brasil
cultural do acervo da BN é reconhecida
internacionalmente. Além das peças que
vieram de Portugal, em que constam obras
raras, como bíblias antigas, gramáticas,
partituras, livros medievais e renascentistas,
a BN não parou de crescer. Leia o texto.
Atualmente a Biblioteca Nacional é considera-
da oficialmente, pela Unesco, a oitava maior do
mundo, pelo seu valor histórico e pela quantidade
de peças do seu acervo. Possui a mais rica coleção
de livros da América Latina, com mais de nove mi-
lhões de peças. Está sob sua responsabilidade
coletar, guardar, preservar e difundir a produção
bibliográfica brasileira. Hoje, ela é referência in-
substituível para profissionais das humanidades,
das ciências, das artes, pelos que pesquisam sobre a Fotografia atual das instalações internas da BN.
construção do Brasil e as projeções europeias no De sua criação até os dias atuais, a BN mantém a guarda
Novo Mundo. e a preservação de um exemplar de todas as obras
Célia Maria Portella. Releitura da Biblioteca Nacional. Extraído do site:
publicadas no país.
<www.bn.br/portal/arquivos/pdf/celiaMaria.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2012.
A Gazeta do
Rio de Janeiro
foi o primeiro
jornal a ser
legalmente
impresso no
Essa litogravura,
Wilhelm Loeillot - O Paço da Cidade tomado da rampa.
1818. Litogravura. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Brasil.
produzida pelo
artista alemão
Wilhelm Loeillot
em 1818,
10/09/1808. Biblioteca Nacional,
representa o
A Gazeta do Rio de Janeiro.
os imperadores
do Brasil.
149
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 De acordo com o texto citado na página 10 Cite algumas instituições que foram criadas
138, o que foi a “interiorização da Me após a chegada da Corte portuguesa ao
trópole”? Rio de Janeiro.
3 Por que a Corte portuguesa se transferiu 12 Cite algumas mudanças nos hábitos da
para o Brasil no ano de 1808? população do Rio de Janeiro com a che
gada da Corte.
4 Por que a abertura dos portos brasileiros
ao comércio com outras nações foi impor 13 Quem foi Jean-Baptiste Debret? Qual sua
tante para a economia do Brasil? importância para a história do Brasil?
Expandindo o conteúdo
20 Produza um texto descrevendo como seria o seu dia a dia se você vivesse no Rio de Janei
ro na época em que essa cidade era a capital do Reino. Procure descrever como seria seu
trabalho, seus trajes, seus hábitos, suas condições de vida: moradia, educação, acesso ao
saneamento básico, em quais lugares transitaria, as pessoas com quem você conviveria...
Para produzir seu texto, retome assuntos estudados neste capítulo e, também, as informa
ções do infográfico apresentado nas páginas 142 e 143. Depois de pronto, apresente seu
texto aos colegas.
150
capítulo 8
21 Observe e analise o gráfico ao lado. Depois,
Acervo da editora
com base nesse gráfico e nas informações A população do Rio de Janeiro entre
do capítulo, responda às questões. 1799 e 1870
População
a ) Qual é o período representado no gráfico? 250 000
A independência do Brasil
235 000
206 000
b ) Qual era a população do Rio de Janeiro 200 000
em 1799?
150 000
c ) Na época do regresso de D. João VI a
Portugal, qual era o número de habitantes 100 000 86 000
do Rio de Janeiro?
50 000 43 000
d ) Qual foi o crescimento populacional do
Rio de Janeiro entre 1799 e 1821? 0
1799 1821 1849 1870
Anos
e ) Cite os principais motivos que favo
receram o crescimento populacional da Fonte: KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808-1850).
capital do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Autor desconhecido (litografado por Godefroy Engelmann) - Vista de uma parte da rua
Direita, por volta de 1820. Séc. XIX. Biblioteca Municipal de São Paulo, São Paulo
B A
E
F G
C D
de madeira
b ) Agora, produza um texto descrevendo a imagem. Nesse texto, inclua a data e o título da
obra. Além disso, descreva quais pessoas foram representadas; o que elas estão fazen
do; que roupas estão usando; como o artista representou a paisagem, as construções
etc. Por fim, apresente no texto sua opinião sobre as impressões que essa imagem lhe
causou e quais aspectos mais chamaram sua atenção.
151
23 Leia a história em quadrinhos a seguir. Depois, com base nela e nas informações do ca pítulo,
responda às questões.
Os alunos do 8o ano, junto com o professor Beto, Já na parte interna do museu, eles
chegam ao Museu Paulista. se impressionam com os objetos e
a arquitetura local.
Tudo isso
conta um pouco da
Sabiam Puxa! história do Brasil.
que esse museu
foi construído em
homenagem à
Proclamação da
Independência?
levantando um chapéu ou
Ilustrações:
152
capítulo 8
a ) Quem pintou o quadro Independência ou morte? Quando ele foi produzido?
b ) Na história em quadrinhos, o professor mostrou aos alunos quatro aspectos do quadro
Independência ou morte que provavelmente não correspondem ao acontecimento his
tórico que ele representa. Quais são esses aspectos?
A independência do Brasil
c ) Escreva um pequeno texto explicando por que devemos ter cuidado ao analisar uma
fonte histórica. Depois, apresente seu texto aos colegas.
Discutindo a história
24 Um tema muito controverso da história do Brasil diz respeito ao número de pessoas que
teriam desembarcado no Brasil, em 1808, com a família real portuguesa. Leia o texto a
seguir.
[...] Trabalhos publicados no fim do século XIX mencionavam até 30 000 pessoas. Em revisões posteriores,
chegou-se aos 15 000, que figuram hoje nos livros didáticos. Nos últimos anos, esse dado se tornou ainda mais
movediço. Já se falou em 8 000, reduziu-se a 4 000 e chegou-se a afirmar que eram apenas 500 pessoas a compor
a Corte que desembarcou no Rio. No fim [de 2007], o historiador Kenneth Light [lançou] em Portugal o livro
A transferência da Corte para o Brasil. E mais uma vez surge uma informação diferente de todas as outras:
4 500 pessoas.
O primeiro registro do contingente que cruzou o Atlântico é do tenente irlandês Thomas O’Neill, que, a
bordo de uma das caravelas da comitiva, garantiu que eram 16 000 pessoas. O dado virou referência para os
historiadores que gravitaram em torno dele nos últimos dois séculos. A dificuldade de estabelecer o tamanho da
Corte que se refugiou no Brasil [...] é explicável. Sabe-se que os barcos partiram lotados, mas não existe um dado
seguro nem mesmo sobre o tamanho da frota. Fala-se de 30 a 56 embarcações. A divergência ocorre porque as
fontes de consulta são precárias. São, na maior parte, relatos de diplomatas, militares e integrantes do governo
português. Existem poucos documentos. Para chegar a 4 500 passageiros, Kenneth Light se baseou nos registros
de navios militares ingleses que escoltaram a frota de Portugal. Os diários de bordo de cada embarcação estão
preservados em arquivos na Inglaterra — ao passo que os equivalentes portugueses foram perdidos. [...]
Marcelo Bortoloti. Controvérsias na Corte. Veja. São Paulo: Abril, n. 2013, 20 jun. 2007. p. 114-6.
a ) Quais as hipóteses sugeridas pelos historiadores sobre a quantidade de pessoas que veio
para o Brasil com a Corte portuguesa?
b ) Por que é difícil estabelecer a quantidade de pessoas que acompanhou a Corte portu
guesa em sua viagem para o Brasil?
c ) Segundo o texto, que fonte histórica Kenneth Light utilizou para basear suas hipóteses?
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre
o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor
seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.
cia brasileira.
■ ■ Apesar de o Brasil ter se tornado independente, a escravidão foi mantida no país.
Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certi-
ficar-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.
153
9
A consolidação da
capítulo
independência brasileira
Jean-Baptiste Debret – Sagração de D. Pedro I. Séc. XIX. Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro. Foto: Gilson Ribeiro
A Nessa gravura, Debret representou a coroação de D. Pedro I como imperador do Brasil, em dezembro de 1822.
Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro
B Bandeira do
Império do Brasil.
154
Gaúcho Volpetiz – Transporte do Seival. Fundação
Parque Histórico Marechal Osório, Osório
C Pintura que representa a tomada de
põem seu símbolo central. Quais são as semelhanças e diferenças entre a bandeira do
Império e a atual bandeira do Brasil?
■ ■ Durante o Período Regencial (1831-1840) ocorreram diversas revoltas no Brasil, entre
E. Cavalcante
N
Equador 0°
de órgãos do governo imperial, foram Belém
São Luís
criadas oportunidades de trabalho Manaus
Fortaleza
no serviço público, civil e militar. A AMAZONAS GRÃO-PARÁ MARANHÃO Teresina RIO GRANDE
CEARÁ DO NORTE
SANTA CATARINA
A maior parte da população brasi- Desterro
156
Jean-Baptiste Debret - Loja de Barbeiros. c. 1821. Aquarela. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro
capítulo 9
Nesta gravura,
também feita por
157
A formação do Estado nacional brasileiro
A partir da proclamação da independência, o Estado nacional
começou a ser constituído no Brasil.
As guerras de independência
A independência do Brasil não foi aceita passivamente pelos portugueses.
Mercenário
Muitos portugueses que viviam no Brasil, principalmente comerciantes e militar que, em
oficiais militares, apresentaram forte resistência contra a independência troca de paga-
política anunciada por D. Pedro I. mento, serve a
um país estran-
Tropas portuguesas e brasileiras se enfrentaram em diferentes batalhas geiro.
nas chamadas guerras de independência, que aconteceram entre 1822 e
1823. Para enfrentar as forças portuguesas estabelecidas nas capitanias
da Bahia, do Maranhão, do Piauí, e do Grão-Pará, o governo brasileiro
precisou comprar armas e navios de guerra, além de contratar oficiais eu-
ropeus mercenários para treinar e comandar as tropas brasileiras e a frota
da recém-criada Marinha do Brasil.
Na província da Bahia, por exemplo, as tropas portuguesas
158
A integração da Nação
capítulo 9
Depois que D. Pedro proclamou a indepen-
dência do Brasil, ele foi coroado imperador e
recebeu o título de D. Pedro I. Nesse momento,
159
A Assembleia Constituinte
Para elaborar a primeira Constituição do Brasil, D. Pedro I convocou uma
Assembleia Constituinte, formada por senadores e deputados que deveriam
escrever o texto constitucional. Os trabalhos da Assembleia Constituinte
tiveram início em maio de 1823.
Desde as primeiras reuniões, no entanto, o clima na Assembleia era tenso.
Mesmo havendo deputados com tendências conservadoras, que apoiavam
as propostas feitas pelo imperador, havia também deputados liberais. Por
conta das opiniões contrárias dos dois grupos, a Constituinte foi palco de
violentos debates sobre a futura organização do Estado nacional brasileiro.
Insatisfeito com os rumos que a Constituinte estava tomando, D. Pedro I
dissolveu-a em novembro de 1823 e criou um conselho encarregado de
ela borar, sob a sua supervisão, um novo projeto de Cons tituição.
A Constituição de 1824
A primeira Constituição brasileira foi outorgada em 25 de março de
160
A Confederação do Equador
capítulo 9
Na província de Pernambuco, diferentes grupos sociais estavam descontentes com
o governo de D. Pedro I.
Enquanto isso... na Austrália John Rapkin. Séc. XIX. Coleção particular. Foto:
The Bridgeman Art Library/Keystone
161
Um governo em crise
Crises políticas, econômicas e territoriais provocaram a insatisfação da população
brasileira com relação ao governo de D. Pedro I.
162
O Brasil governado por regentes
capítulo 9
O Período Regencial foi marcado por crises políticas e revoltas populares. O Ato Adicional
Lei aprovada em
Um período conturbado agosto de 1834, o
163
O Levante dos Malês
No início do século XIX, revoltas de escravos aconteceram em diferentes regiões
da Bahia.
164
A diversidade étnica dos africanos
capítulo 9
No Período Regencial, existia no Brasil uma grande diversidade
de africanos e seus descendentes.
moçambiques. música e na
dança, bem como
nas palavras e
expressões
africanas
incorporadas ao
português falado
no Brasil.
Mina: eram os escravos embarcados na Costa
da Mina, região noroeste da África. Sua
presença no Brasil cresceu com a descoberta
de ouro em Minas Gerais, pois esses povos
eram conhecedores do trabalho de mineração.
Entre eles, havia muitos muçulmanos.
165
A Cabanagem
A Cabanagem foi outra revolta que aconteceu no Período Regencial e que contou
com a participação efetiva de grupos populares.
Os antecedentes da revolta
No século XIX, os conflitos entre populares e governo eram frequentes na
província do Pará. A cobrança de altos impostos e os preços elevados das
mercadorias manufaturadas causavam muita insatisfação desde que o Bra-
sil havia se tornado independente.
Nesse contexto, o governo central nomeou, em 1833, Bernardo Lobo de
Souza como governador do Pará. Bastante autoritário, defendia os interes-
ses dos comerciantes portugueses e, por isso, sua nomeação aumentou o
descontentamento entre os paraenses.
A participação popular
A maioria da população da província do Pará era pobre e
Alfredo Norfini – Assalto dos cabanos ao trem. 1940. Aquarela. Museu de Arte de Belém, Belém
ram vários de seus líderes para ocupar cargos
administrativos. Para governar a província, eles
nomearam Eduardo Angelim, que permaneceu
cerca de nove meses no poder.
Em maio de 1836, Belém foi retomada pelas
tropas regenciais, mas os cabanos resistiram até
1840, lutando em meio às florestas e rios. Quan-
do o governo lhes concedeu a anistia, grande
parte dos rebeldes já havia morrido em combate
contra as tropas do governo.
166
A Revolução Farroupilha
capítulo 9
A alta tributação imposta aos estancieiros do Sul pelo governo central foi um dos
principais motivos da Revolução Farroupilha.
carne-seca,
produzida por Debret,
representa uma
estância gaúcha na
época da Revolução
Farroupilha.
O conflito
Por ser uma região de fronteira, o Rio Grande do Sul teve grande desen-
volvimento militar no Período Regencial. Nas estâncias sulinas, o proprie- A República
tário geralmente era um chefe militar que comandava um exército formado Juliana
por seus escravos e dependentes. Em 1839, com a
Bento Gonçalves era um desses chefes militares. Assim como os outros, ajuda do
revolucionário
ele estava descontente com as determinações do governo central e acre- italiano Giuseppe
ditava ser necessário mudar os rumos políticos e econômicos do Rio Grande Garibaldi, os
do Sul. Então, em setembro de 1835, ele liderou um exército rebelde que rebeldes tomaram
ocupou a capital Porto Alegre, depôs o governador e assumiu o controle a cidade de
da província, proclamando a República Rio-Grandense, independente em Laguna, em Santa
relação ao restante do império. Catarina, e
proclamaram a
No entanto, o governo imperial reagiu e, em 1842, enviou Luís Alves de República Juliana.
Lima e Silva, o barão de Caxias, com o objetivo de negociar a pacificação O governo central,
da região com os líderes revolucionários e reincorporar a província rebelde então, enviou
ao Império do Brasil. Os rebeldes encontraram dificuldades em manter o tropas para
movimento revolucionário. Bento Gonçalves se afastou da liderança e pas- combater os
sou para David Canabarro o comando das negociações. rebeldes e
reconquistou a
província de Santa
O acordo de paz Catarina nesse
Em 1845, dez anos após o início da revolução e depois de várias batalhas, mesmo ano.
foi assinado o Acordo do Ponche Verde, que encerrava o conflito e atendia
às reivindicações dos rebeldes: o governo se comprometia a pagar as dívidas
de guerra dos farroupilhas; os oficiais do exército farroupilha foram admitidos
no Exército Imperial; foi concedida a liberdade aos escravos africanos que
lutaram ao lado dos rebeldes; os gaúchos passaram a escolher o governador
de sua província; e o charque uruguaio passou a ser taxado com impostos
mais altos. O Rio Grande do Sul foi reincorporado ao império e os gaúchos
se comprometeram a defender as fronteiras do Sul do Brasil.
167
Explorando o tema
As mulheres no Brasil do século XIX
Durante o século XIX, a sociedade brasileira, assim como muitas sociedades da época, era
essencialmente patriarcal. Em geral, as mulheres eram submissas aos homens e deviam
obediência aos seus pais e aos seus maridos. Normalmente, não tinham participação política
e eram impedidas do acesso à educação superior. Dessa forma, não poderiam assegurar sua
própria sobrevivência. As mulheres deveriam exercer atividades dentro de casa, pois eram
educadas para se ocupar apenas com os serviços domésticos. Elas sabiam costurar, bordar,
cozinhar e, além disso, tinham a responsabilidade de educar e cuidar dos filhos.
Muitas mulheres pobres, por sua vez, tinham que trabalhar desde cedo
fora de casa para contribuir com o sustento do lar. Já as escravas desde Patriarcal
pequenas trabalhavam para seus senhores e senhoras realizando os mais sociedade em
diversos tipos de serviços. que a autoridade
é exercida pelos
Houve várias mulheres, no entanto, que confrontaram as regras impos- homens.
tas pela sociedade patriarcal e escravista daquela época. Conheça a
seguir algumas dessas mulheres.
168
capítulo 9
Flávio Freitas – Nísia Floresta. 2004. Escola Doméstica de Natal, Natal. Foto: Flávio Freitas
Johann Moritz Rugendas – Alegoria da Revolução – Anita Garibaldi. Coleção de Arte da Cidade, Augsburgo
169
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Cite duas mudanças que aconteceram no 6 Quais motivos levaram D. Pedro I a abdicar
Brasil após a Proclamação da Indepen- o trono?
dência. Cite também duas perm an ênc ias.
7 O que foi o Período Regencial?
2 Quais foram as primeiras medidas tomadas
8 Quais eram os principais grupos políticos
por D. Pedro I após a Proclamação da
brasileiros na época da Regência? O que
Indep endência?
cada um deles propunha?
3 Explique os fatores que dificultavam a in
9 Qual era a importância da imprensa no Pe
tegração da Nação brasileira após a
ríodo Regencial?
independ ência.
10 Responda às seguintes questões sobre o
4 Escreva um pequeno texto usando as se
Levante dos Malês.
guintes palavras ou expressões.
a ) Descreva as condições de vida da
população baiana em meados do sé
Poder Moderador liberais culo XIX.
b ) Quais foram as penas impostas aos
conservadores Constituição
malês depois que o governo reprimiu
o levante?
D. Pedro I eleição
11 Explique o que é nação africana. Cite dois
Assembleia Constituinte exemplos de nações africanas no Brasil,
descrevendo algumas de suas caracte
rísticas.
5 Sobre a Confederação do Equador, res
ponda. 12 Sobre a Cabanagem, responda.
Expandindo o conteúdo
15 A gravura a seguir foi produzida por Jean-Baptiste Debret por volta de 1835. Nessa ocasião,
o próprio artista escreveu um texto comentando a obra. Observe a pintura e, depois, rees
creva no caderno os trechos do texto de Debret, relacionando cada um deles a um dos ele
mentos destacados, com letras, na imagem. Veja o exemplo: A - Desenhei em seu lar uma
senhora, mãe de família de pouca fortuna; vemo-la sentada, como de costume, com as
pernas cruzadas, à maneira asiática.
170
capítulo 9
Jean-Baptiste Debret – Uma senhora brasileira em seu lar. Séc. XIX. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo
A
C D
171
16 Analise a tabela a seguir e responda às questões.
Pauta de exportação
a ) Qual era o produto mais exportado pelo Brasil entre 1821 e 1830?
b ) Quais produtos sofreram queda nas exportações durante o Período Regencial?
c ) No Período Regencial, qual produto tornou-se o mais exportado?
d ) Com qual percentual o café participava no total de exportações brasileiras entre os anos
de 1821 e 1830? Qual era esse percentual entre os anos de 1831 a 1840? Por que ocor
reu essa mudança de percentual?
17 Leia o texto a seguir e, com base nele e nas informações do capítulo, responda às questões.
À frente de alguns poucos homens que me haviam acompanhado em várias lutas em que bem
justamente mereciam o título de valentes, cavalguei léguas e léguas, tendo ao lado a mulher de minha
alma, merecedora da admiração do Universo. E que me importava não ter roupas senão as que leva-
va no corpo, e estar a serviço de um país tão pobre que não me podia pagar um real? Tinha uma
espada e uma espingarda que carregava na lua da sela. Minha Anita era o meu tesouro. Tão apaixo-
nada quanto eu na sagrada causa do povo, ela encarava as batalhas como espetáculos, e as
dificuldades da vida errante como passatempos. E por isso o futuro nos sorria, e quão mais selvagens
se mostravam as regiões desérticas da América, mais deliciosas e lindas elas nos pareciam. Estava
selado o pacto de um amor santo e heroico.
Giuseppe Garibaldi. In: Bernardo Pellegrini; Maria Angélica Abramo. Almanaque
do amor. São Paulo: Busca Vida, 1988. p. 159.
Passado e presente
18 O texto a seguir trata das mudanças na noção de cidadania no Brasil, percebidas na compa
ração feita entre a Constituição de 1824 e a Constituição de 1988. Leia-o.
Os vários momentos históricos e políticos [pelos quais] o país passou desde a independência até
os dias de hoje refletem-se em suas leis. Entre 1824 e 1988, o país viveu sob sete Constituições, que
sintetizaram de maneiras diferentes a noção de cidadania.
172
capítulo 9
A primeira Constituição brasileira, outorgada em 1824 por D. Pedro I, dividia os cidadãos [bra-
sileiros] entre ativos e passivos. Isto quer dizer que não reconhecia a igualdade de direitos e deveres
para todos os brasileiros. Os homens livres, maiores de 25 anos e com renda anual líquida de, no
mínimo, 100 mil réis eram considerados os cidadãos brasileiros ativos, os únicos com poder de voto
173
10
O apogeu do
capítulo
Império do Brasil
Pedro Américo – Batalha do Avaí. 1877. Óleo sobre tela. Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro
A A tela Batalha do Avaí, do pintor Pedro Américo, representa uma batalha ocorrida entre as tropas brasileiras e paraguaias,
durante a Guerra do Paraguai (1864-1870).
Pedro Américo – D. Pedro II na abertura da Assembleia Geral. 1872. Óleo sobre tela. Museu Imperial, Rio de Janeiro
174
Candido Portinari – Café. 1935. Óleo sobre tela. Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro. Reprodução autorizada por João Candido Portinari
C Café, tela produzida pelo artista brasileiro Candido Portinari em 1935.
Aproveite a seção
Conversando sobre
Conversando sobre o assunto o assunto para ativar
o conhecimento
O imperador D. Pedro II foi governante do Brasil durante 49 anos. Nesse prévio dos alunos e
estimular seu
período, que ficou conhecido como Segundo Reinado, o Brasil passou interesse pelos
por grandes transformações. assuntos que serão
desenvolvidos no
Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os capítulo. Faça a
mediação do diálogo
colegas sobre as questões a seguir. entre os alunos de
maneira que todos
■■ A Guerra do Paraguai envolveu o Brasil, o Uruguai, a Argentina e o participem
expressando suas
Paraguai. Você sabe quais foram as origens desse conflito? E as opiniões e
consequências para os países envolvidos? Quais informações sobre respeitando as dos
colegas.
esse conflito podem ser obtidas por meio da análise da fonte A?
■■ Explique como D. Pedro II foi representado na fonte B. Aponte os
elementos dessa pintura que indicam o poder e a autoridade do im-
perador.
■■ Descreva o cenário e os personagens representados na fonte C.
Você sabe qual era a importância do café para a economia brasileira
durante o século XIX?
Pense nessas questões enquanto você lê este capítulo.
175
O Brasil na época de D. Pedro II
O governo de D. Pedro II foi marcado pelos esforços para modernizar e
desenvolver o país.
modernização do Brasil,
mas, até o final do
século XIX, grande parte
do trabalho nas fazendas
ainda era realizado por
escravos, como mostra a
fotografia acima, de
1882.
176
Política e modernidade
capítulo 10
Na economia, o crescimento da produção cafeeira permitiu o desenvol-
vimento do país em diversos aspectos. Durante o Segundo Reinado, o
Brasil se tornou o maior exportador de café do mundo. A mão de obra es-
crava continuou sendo usada nas lavouras até o final do século XIX e foi a
Marc Ferrez. Séc. XIX. Coleção Gilberto Ferrez. Acervo Instituto Moreira
Salles, São Paulo
Ao longo do século XIX, foram construídas várias
ferrovias que propiciaram maior integração do
território brasileiro, melhorando o escoamento de
produtos, agilizando a entrega de correspondências
e também o fluxo de passageiros que utilizavam os
trens como meio de transporte.
A fotografia ao lado retrata a inauguração da ponte
sobre o rio Paraíba do Sul, no município de Barra
do Piraí, no Rio de Janeiro, em 1888.
Fleiuss & Linde - Moenda de ferro para cana, movida a vapor.
Litogravura. 1861. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
177
O início do Segundo Reinado
No início de seu governo, D. Pedro II criou uma série de medidas para evitar as
crises decorridas das revoltas regenciais.
O contexto político
Os primeiros anos do Segundo Reinado foram um período em que
D. Pedro II procurou organizar seu governo, estabelecendo medidas para
conter a instabilidade política e combater movimentos separatistas e revoltas
populares no Império. Para centralizar o poder e manter a sua estabilidade,
D. Pedro II procurou equilibrar as disputas entre os grupos políticos da época.
Nesse período, o cenário político era relativamente estável, sendo formado
por dois partidos: os liberais e os conservadores, que se revezavam paci-
ficamente no poder. Entre os liberais havia grupos emergentes formados
por comerciantes, novos senhores de engenho, advogados, jornalistas,
entre outros, que se opunham à predominância dos portugueses na provín-
cia. O grupo dos conservadores era composto por grandes proprietários
rurais, comerciantes de origem portuguesa e altos funcionários públicos.
Os liberais possuíam a maioria dos deputados na Câmara, o que passou
a incomodar os conservadores, que viam nisso uma ameaça. Como as di-
vergências entre os dois partidos eram em função da centralização do
poder, D. Pedro II usou a Constituição de 1824 a seu favor e reforçou o
Poder Moderador, atribuindo maiores poderes para si.
O reinado de D. Pedro II
Observe, na linha do tempo a seguir, os principais fatos ocorridos durante
o Segundo Reinado.
1840 a 1889
Segundo Reinado
Durante o governo de D. Pedro II, o Estado nacional brasileiro é consolidado e o Brasil enfrenta o
maior conflito externo de sua história: a Guerra do Paraguai. Após esse conflito, o Império passa
por graves crises econômicas e políticas.
No final do Segundo Reinado, os ideais abolicionistas e republicanos ganham força, resultando na
abolição da escravidão e na Proclamação da República.
178
A Revolução Praieira
capítulo 10
Durante o Segundo Reinado, a província de Pernambuco novamente foi palco de
uma grande revolta.
179
A expansão cafeeira
No decorrer do século XIX, a produção de café se tornou a mais importante
atividade econômica do Brasil.
A marcha do café
O café foi introduzido no Brasil em 1727 pelo sargento-mor Francisco de
Melo Palhe ta, que trouxe da Guiana Francesa algumas sementes e as plan-
tou em sua propriedade, no Pará. De lá, o café foi levado por viajantes
para outras regiões, chegando ao Rio de Janeiro por volta de 1770, quan-
do teve início seu cultivo comercial.
Algumas décadas depois, entre os
anos de 1830 e 1850, os cafezais A expansão do café no século XIX
avan çaram pela província de São
E. Cavalcante
N
Ri
o
café passou a ser o produto mais
Pa
SP MG
rd
o
exportado pelo Brasil. Ri
o Ribeirão
Ti Preto
etê
Araraquara
Início do século XIX ba do Sul
Rio Paraí
A partir de 1830 Rio Resende Vassouras RJ
Par Lorena
ana
A partir de 1850 pan
ema
Campinas Guaratinguetá Bananal
Rio de
A partir de 1880 Taubaté Parati Angra Janeiro
PR Jacareí dos Reis
Sorocaba Ubatuba
Trópico de Capricórnio São Paulo São Luís do Paraitinga
Caraguatatuba
Santos
Fonte: CAMPOS, Flávio de; DOLHNIKOFF, São Sebastião OCEANO
0 85 km
Miriam. Atlas da história do Brasil. ATLÂNTICO
45° O
São Paulo: Scipione, 1993.
180
O trabalho escravo nos cafezais
capítulo 10
No século XIX, o trabalho escravo era considerado essencial para a cafeicultura.
181
A organização do trabalho
Nos cafezais, os fazendeiros procuravam aproveitar ao máximo a força
de trabalho dos escravos, submetendo-os a longas jornadas. Além disso,
os feitores vigiavam o trabalho nos cafezais, controlando e punindo os es-
cravos insubmissos.
A resistência escrava
Em resposta a essa situação, muitos
Fuga e negociação
Muitas vezes, as fugas eram utilizadas
A formação de quilombos
Quando os escravos fugiam, eles geralmente se reuniam em lugares
escondidos no interior do território e formavam quilombos.
Os quilombos eram comunidades de escravos estabelecidas no interior
das matas, em locais de difícil acesso. Nessas comunidades, os escravos
fugitivos produziam seus próprios alimentos e alguns artigos necessários
em seu dia a dia. Os demais produtos eram conseguidos por meio do co-
mércio com outros quilombos, com aldeias indígenas ou mesmo com vilas
e fazendas próximas.
182
As diferentes atividades econômicas
capítulo 10
Além do café, outros produtos eram importantes para a economia
do Brasil no século XIX.
E. Cavalcante
N
O L
S
Equador
0°
Belém
Manaus São Luís
Fortaleza
AMAZONAS GRÃO-PARÁ Teresina RIO GRANDE
MARANHÃO DO NORTE
CEARÁ
Natal
João
PARAÍBA
PIAUÍ Pessoa
PERNAMBUCO
ALAGOAS
Recife
Maceió Drogas do sertão
SERGIPE
Aracaju e borracha
MATO GROSSO BAHIA Pecuária
GOIÁS Salvador
Cana-de-açúcar
Cuiabá OCEANO Café
Goiás Algodão
ATLÂNTICO
MINAS GERAIS Mineração
ESPÍRITO SANTO
Ouro Preto Vitória
Cacau
OCEANO Erva-mate
SÃO PAULO RIO DE JANEIRO
PACÍFICO
Rio de Janeiro Tabaco
PARANÁ São Paulo Trópico d
Curitiba e Capricó
r nio
SANTA CATARINA
Desterro
RIO GRANDE
DO SUL
Porto Alegre
Fonte: ARRUDA,
José Jobson de A.
0 410 km Atlas histórico básico.
50° O São Paulo: Ática, 1995.
Erva-mate: as folhas e os brotos da erva-mate eram coletados Drogas do sertão e borracha: desde a época colonial, na
nos ervais silvestres das províncias do Sul do Brasil. Depois de região amazônica era realizada a coleta das drogas do sertão,
tostados e triturados, eram exportados para os países da entre elas anil, castanha-do-pará, urucum, cravo e canela.
região platina. A extração do látex, uma resina retirada da seringueira e usada
para a fabricação de borracha, tornou-se a principal atividade
Pecuária: embora espalhada pelo território nacional, a econômica da região, na segunda metade do século XIX.
pecuária era uma atividade forte no Nordeste e no Sul do país.
De seus rebanhos, os vaqueiros extraíam o couro, que era Algodão e tabaco: esses produtos eram cultivados por
exportado, e a carne, utilizada para produzir o charque que era pequenos e médios agricultores, principalmente nas
comercializado no interior do país. províncias de Pernambuco, Maranhão, Alagoas e Paraíba.
Mineração: o auge da mineração ocorreu no século XVIII, Cacau: a produção econômica do cacau teve início na
em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, entretanto, essa segunda metade do século XIX. As sementes do cacau,
atividade, ainda que reduzida, permaneceu importante durante depois que secavam, eram enviadas para a Europa, para
o século XIX. serem utilizadas na fabricação de chocolate.
183
A Guerra do Paraguai
Considerada o maior conflito externo brasileiro, a Guerra do Paraguai
contou com a participação de homens e mulheres.
E. Cavalcante
N Mato Grosso
do Prata tinha uma importância estratégica no século O L Rio Apa Bela Vista
Ponta Porã
XIX. Seus rios eram utilizados por vários paí ses da região S
Rio
Par
para a navegação, e isso provocava conflitos entre esses Trópico de Capricórnio
ag
uai
Paraná
países pelo controle da área. Rio
Pilc
om
ayo
PARAGUAI BRASIL
O Paraguai estava consolidando sua independência, Assunção Rio Iguaçu
em 1811, e tinha interesse na navegação dos rios da
região platina, pois eles eram a única ligação do país ra
ná Santa
Pa
com o mar e possibilitavam a circulação das mercadorias Ri
o Catarina
i
ua
ARGENTINA Itaqui do Sul
ug
Ur
Uruguaiana
o
Para o Brasil, os rios eram importantes vias de comu- 30° S
Ri
nicação entre a província do Mato Grosso e a região Sul
aná
Par
do país. Além disso, D. Pedro II, o imperador brasileiro,
Rio
preocupava-se em manter a hegemonia no continente,
assegurando sua influência sobre os países vizinhos URUGUAI
independentes.
OCEANO
ATLÂNTICO
Buenos Aires Rio do Montevidéu
Prata
Fonte: IstoÉ Brasil, 500 anos. 0 145 km
55° O
São Paulo: Três, 1998.
O conflito
Blancos
Naquela época, o Uruguai era governado pelos blancos, grupo político membros do
aliado ao Paraguai. O Brasil e a Argentina, por sua vez, eram favoráveis aos par tido conserva-
colorados e se esforçavam para colocá-los no poder. Com isso, em setem- dor, de tradição
bro de 1864, as tropas brasileiras invadiram o Uruguai para dar apoio aos autoritária,
colorados. composto
principalmente
Percebendo que as interferências do Brasil no Uruguai acabariam atin- por proprietários
gindo seu país, o presidente paraguaio, Solano López, ordenou, em novembro rurais.
de 1864, a apreensão do navio brasileiro Marquês de Olinda , que circulava Colorados
pelo rio Paraguai sem permissão. Poucos dias depois, tropas paraguaias pessoas que
invadiram a província do Mato Grosso, dando início à guerra. Meses depois, simpatizavam
Solano López tentou invadir o Rio Grande do Sul e o Uruguai, mas foi im- com os ideais
liberais.
pedido pelos argentinos, que entraram na guerra ao lado do Brasil.
Em 1865, os colorados conseguiram tomar
Fortuny. Biblioteca Nacional, Buenos Aires
Guerra do
Paraguai
184
As tropas brasileiras
capítulo 10
Nas tropas brasileiras, a maioria dos soldados era de
origem negra ou mestiça. Muitos escravos foram alforria
dos para lutar na guerra e, em troca, seus proprietários
receberiam uma indenização do governo brasileiro.
A situação do Exército
Na época da Guerra do Paraguai, o Exército Imperial Brasileiro não era muito organiza
do. Era formado, principalmente, por ex-escravos, desocupados, migrantes, órfãos e
desempregados. Além disso, a remuneração era baixa e os soldados não tinham prestí
gio na sociedade.
A partir de 1868, quando o marquês Luís Alves de Lima e Silva, o futuro duque de
Caxias, assumiu o comando dos aliados, ele promoveu algumas reformas que melhoraram
a organização do Exército. Os militares brasileiros, que saíram do conflito fortalecidos,
tiveram, nas décadas seguintes, importante papel no processo de transição política do
regime monárquico para o regime republicano.
As mulheres na guerra
As mulheres participaram ativamente da Guerra do Paraguai. Entre
185
A iconografia da Guerra
Aos 25 anos de idade, o pintor argentino Cándido López (18401902) se Iconografia
alistou como voluntário no exército argentino para lutar na Guerra do Para conjunto de
guai, dizendo que também se propunha a ser uma espécie de “historiador ilustrações
próprias de um
com o pincel”.
artista ou período
Na Batalha do Curupaiti, López teve sua mão amputada após ser atingi artístico.
da pelos estilhaços de uma granada. Depois disso, ele aprendeu a pintar
com a mão esquerda e chegou a produzir mais de 50 telas retratando epi
sódios da guerra.
Sua obra constitui o maior acervo de documentação iconográfica sobre
o conflito e a importância documental de seus trabalhos decorre, sobretu
do, do grande realismo que López imprimia em seus quadros, sempre rico
em detalhes.
A alimentação dos soldados, Muitos negros escravizados O mosquete foi a arma mais
que no início da Guerra era foram enviados à guerra usada pelos brasileiros em
enviada por fornecedores para servirem como combate. Além disso, havia
brasileiros, passou a ser “voluntários”. Havia um muitos canhões, alguns
fornecida por comerciantes batalhão formado só por deles fabricados a partir de
argentinos, mais próximos negros baianos chamado objetos de metal encontrados
das zonas de conflito. de zuavos. da região.
186
Enquanto isso... nos Estados Unidos da América
capítulo 10
Na época da Guerra do Paraguai, estava acontecendo nos Estados Unidos uma guerra
civil entre os estados do Norte e do Sul. Essa guerra, conhecida como Guerra de Secessão,
ocorreu entre 1861 e 1865, e resultou na morte de cerca de 600 mil pessoas.
Proclamação da Emancipação. Séc. XIX. Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
tempo profundamente transformados pela Guerra Ci-
vil. Do ponto de vista político, a Federação fortaleceu-se,
o que significou maior peso do governo central nos pro-
cessos de tomada de decisão, em detrimento do poder
dos estados. Em termos jurídicos, foram aprovadas três
novas emendas à Constituição, que representaram o se-
pultamento definitivo da herança colonial: pela 13a
Emenda, os negros tornaram-se homens livres. Pela 14a,
todos os cidadãos do país foram equiparados em direitos
e deveres, mesmo que isso pudesse eventualmente con-
trariar as constituições estaduais. Pela 15a, foi garantido
o direito de voto a todos os cidadãos, sem distinção de
raça, cor ou condição social.
A equiparação jurídica entre brancos e negros não
foi, porém, assimilada pelos derrotados. O preconceito
continuou, e ainda hoje, embora sem a mesma visibili-
dade de outrora, subsiste a organização racista Ku Klux
Klan, surgida em 1866, que se notabilizou por executar
linchamentos de negros insubmissos e brancos conside-
rados “traidores” de sua raça. Gravura representando o documento que aboliu a
escravidão nos estados do Sul dos Estados Unidos,
André Martin. Guerra de Secessão. In: Demétrio Magnoli (Org.). História das guerras. em 1862. A abolição da escravidão em todos os
São Paulo: Contexto, 2006. p. 248. estados, tanto nos do Sul como nos do Norte,
somente foi decretada em 1865.
187
Explorando o tema
A identidade nacional
O conceito de Estado costuma estar associado ao conceito de Nação, porém eles não são
idênticos. O Estado é uma organização política com governo próprio, dotada de aparelho
administrativo (burocracia), que exerce a soberania sobre determinado território.
Já o conceito de Nação envolve mais especificamente as pessoas que habitam o território,
partilhando características em comum que lhes conferem uma identidade: passado (experi-
ência histórica), língua, costumes, religião, geografia.
No Brasil, não é possível dizer que todas essas características de Nação existiam na épo-
ca da independência. A identidade brasileira foi construída aos poucos, ligada ao projeto de
Estado e de Nação de suas elites. Nesse processo, a Nação e a identidade nacional surgiram
depois da criação do próprio Estado brasileiro.
Esse pano de boca foi realizado por Debret em 1822, com o objetivo de exaltar o recém-criado Império,
celebrando assim a Constituição, a natureza e a mistura de etnias que formam o povo brasileiro.
Essa obra apresenta vários elementos presentes no projeto de criar uma identidade para o
país: a população composta por negros, indígenas, brancos e mestiços, todos unidos como
“brasileiros” juram obediência ao Império.
O próprio Império é representado como uma mulher coroada, que detém Pano de boca
nas mãos o poder da lei (Constituição) e da força (escudo e armas do cortina que
Império). A natureza exuberante, tropical, está presente nos frutos da separava o palco
da plateia nas
terra e nas palmeiras ao fundo.
peças de teatro.
188
capítulo 10
O apogeu da Monarquia
No Segundo Reinado se deu a consolidação do Estado imperial, e a Monarquia investiu na
Um inimigo externo
Fatores externos também são propícios para a criação de identidades nacionais. Na época
em que o regime imperial atingia o seu apogeu, surgiu um inimigo externo, representado pe-
lo Paraguai. De certa forma, ao dizer que somos brasileiros, automaticamente dizemos que
não somos argentinos ou paraguaios. Essa contraposição com o “outro” serve para evidenciar
as nossas semelhanças. Leia o texto abaixo.
A identidade nacional brasileira, como ocorre com a maioria das nações, está em constan-
te reelaboração. Um país como o Brasil, de imenso território e de população miscigenada,
abarca um grande número de manifestações culturais regionais que dificilmente se encaixam
em um discurso unificado sobre a identidade da Nação. O que hoje consideramos caracte-
rísticas fundamentais de nossa nacionalidade expressa o resultado parcial das lutas sociais
travadas em torno da definição do que é “ser brasileiro”.
189
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 O que foi o Golpe da Maioridade? 9 Cite algumas formas de resistência dos
escravos ao trabalho nos cafezais.
2 Cite algumas transformações que ocorre
ram no Brasil durante o gover no de 10 Quais eram os objetivos das fugas dos es
D. Pedro II. cravos?
3 Qual era a situação da província de Per 11 O que eram os quilombos?
nambuco no início do Segundo Reinado?
12 Quais eram os principais produtos cultiva
4 Como foram chamados os revoltosos per dos no Brasil no século XIX? Escolha três
nambucanos em 1848? Por que eles re desses produtos, citando em que região
ceberam essa denominação? do país eles eram cultivados.
5 Escolha uma das propostas feitas pelos
13 Explique os principais motivos que provo
praieiros no Manifesto ao mundo e expli
caram a Guerra do Paraguai.
que com suas palavras o significado dela.
14 Como eram formadas as tropas brasileiras
6 Elabore um texto explicando por que o cul
tivo do café foi importante para a econo que lutaram na Guerra do Paraguai?
mia do Brasil. 15 Como era organizado o Exército Brasileiro
7 Quais eram as atividades exercidas pelos antes da Guerra do Paraguai? E depois?
escravos nas fazendas cafeeiras?
16 Como foi a participação das mulheres na
8 Quem eram os feitores? Guerra do Paraguai?
Expandindo o conteúdo
17 Para aumentar os efetivos que lutariam na Guerra do Paraguai, o Exército Brasileiro passou
a aceitar o alistamento e o recrutamento de civis, ou seja, daquelas pessoas que não tinham
formação nem treinamento militar, mas que gostariam de lutar em defesa do Brasil. Por
essa razão, esses combatentes ficaram conhecidos como Voluntários da Pátria. Observe
as imagens a seguir, feitas por Angelo Agostini (1833-1910), durante a Guerra do Paraguai.
A
Angelo Agostini – Scenas Liberaes. Em Diabo Coxo. 1864-1865.
Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo
SCENAS LIBERAES.
Entrada de recrutas na capital. Que escandalo!...
Luís Gama. Diabo Coxo: São Paulo, 1864-1865. Ed. fac-similar. São Paulo: Edusp, 2005.
190
capítulo 10
B
[...] Com todo o seu liberalismo, a Constituição [de 1824] ignorou a es-
cravidão, como se ela não existisse. [...] Assim, apesar de constituir um
avanço no que se refere aos direitos políticos, a independência, feita com a
manutenção da escravidão, trazia em si grandes limitações aos direitos civis.
[...]
A Constituição outorgada de 1824, que regeu o país até o fim da Monar-
quia, combinando ideias de Constituições europeias, como a francesa de
1791 e a espanhola de 1812, [...] regulou os direitos políticos, definiu quem
teria direito de votar e ser votado. Para os padrões da época, a legislação
brasileira era muito liberal. Podiam votar todos os homens de 25 anos ou
mais que tivessem renda mínima de 100 mil réis. Todos os cidadãos qualifi-
cados eram obrigados a votar. As mulheres não votavam, e os escravos,
naturalmente, não eram considerados cidadãos. Os libertos podiam votar na
eleição primária. A limitação de idade comportava exceções. O limite caía
para 21 anos nos casos dos chefes de família, dos oficiais militares, bacharéis,
clérigos, empregados públicos, em geral de todos os que tivessem indepen-
dência econômica. A limitação de renda era de pouca importância. A maioria
191
da população trabalhadora ganhava mais de 100 mil réis por ano. [...] O cri-
tério de renda não excluía a população pobre do direito do voto. [...] A lei
brasileira permitia ainda que os analfabetos votassem. Talvez nenhum país
europeu da época tivesse legislação tão liberal.
A eleição era indireta, feita em dois turnos. No primeiro, os votantes
escolhiam os eleitores, na proporção de um eleitor para cada 100 domicí-
lios. Os eleitores, que deviam ter renda de 200 mil réis, elegiam os deputados
e senadores. [...]
Esta legislação permaneceu quase sem alteração até 1881. Em tese, ela
permitia que quase toda a população adulta masculina participasse da
formação do governo. Na prática, o número de pessoas que votavam tam-
bém era grande, se levados em conta os padrões dos países europeus. De
acordo com o censo de 1872, 13% da população total, excluídos os escra-
vos, votavam. [...] Para efeito de comparação, observe-se que em torno de
1870 a participação eleitoral na Inglaterra era de 7% da população total;
na Itália, de 2%; em Portugal, de 9%; na Holanda, de 2,5%. O sufrágio
universal masculino existia apenas na França e na Suíça, onde só foi in-
troduzido em 1848. [...]
José Murilo de Carvalho. Cidadania no Brasil: o longo caminho.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 28-31.
a ) Por que a Constituição brasileira de 1824, apesar de ser considerada avançada em rela
ção aos direitos políticos, trazia limitações aos direitos civis?
b ) Como era a eleição naquela época? Quem podia votar? Quem não podia?
c ) De acordo com o texto, qual era a porcentagem da população brasileira livre que podia
votar? E em outros países, qual porcentagem da população votava?
d ) De acordo com os padrões da época, como o autor do texto define a legislação eleitoral
brasileira?
Discutindo a história
19 O texto a seguir mostra que existem diferentes interpretações sobre a Guerra do Paraguai.
Leia-o.
192
capítulo 10
Brasil e Argentina definiam-se como Nações dependentes, baseadas no comér-
cio externo e no ingresso de recursos e tecnologia estrangeiros. Esses dois países
teriam sido manipulados pela Inglaterra para destruir uma pequena Nação cujo
caminho não lhe convinha. Além disso, os ingleses estariam interessados em
193
11
O fim da Monarquia e a
capítulo
proclamação da República
Antônio Rocco – Os emigrantes. c.1910. Óleo sobre tela. Pinacoteca do Estado, São Paulo. Foto: Neoimagem
A Pintura do início do
século XX que representa
um grupo de italianos de
partida para o Brasil.
Angelo Agostini – Souza Dantas empurra D. Pedro II para fora do trono. Em Revista Illustrada.
21/01/1882. IEB/USP, São Paulo. Foto: Neoimagem
194
Museu da República, Rio de Janeiro
A diversificação da sociedade
Na segunda metade do século XIX, o Brasil era uma Monarquia centrali
zada e escravista. Nessa mesma época, o cresciment o das cidades brasi
leiras e da industrialização modificou e diversificou a sociedade e a economia
do país.
Em Jornal do Commércio. 01/1852.
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
A questão militar
José Wasth Rodrigues. Séc. XX. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro
O grande número de mortes e, também, as dívi
das contraídas com a Ing lat erra durante a Guerra
do Paraguai causaram um enorme desgaste no
governo imperial.
Após a guerra, um grupo de oficiais se organizou
e passou a criticar o descaso do imperador com
relação ao Exército Brasileiro. Além disso, esse
grupo passou a reivindicar maior participação po
lítica, contrariando os interesses das elites civis.
Por contrariarem as elites, esses militares foram
proibidos de se pronunciar sobre assuntos políticos
nos jornais do país. Tal situação resultou em um
profundo ressentimento dos militares, que interpre
taram essa atitude como antipatriótica. Mesmo
proibidos, ataques abertos ao governo foram feitos
por meio da imprensa, transformando o problema Gravura que representa oficiais brasileiros que lutaram
militar em uma questão política de âmbito nacional. na Guerra do Paraguai.
196
O republicanismo
capítulo 11
As ideias republicanas já circulavam no Brasil
197
A imigração de europeus
A partir da segunda metade do século XIX, milhares de imigrantes europeus, entre
eles italianos, alemães e espanhóis, passaram a viver no Brasil.
O contexto europeu
Alguns países europeus como a Itália, a Alemanha e a
Alinari/TopFoto/Keystone
Espanha começaram a se industrializar durante o século XIX,
o que provocou uma grande mudança em suas estrutu
ras econômicas e sociais. Enquanto nas cidades a in
dustrialização avançava, no campo a produção agrícola
também se transformava. Os grandes proprietários rurais
introduziram técnicas modernas na produção agrícola e
dispensaram um grande número de trabalhadores rurais.
Muitos desses camponeses, então, foram para as cida
des em busca de oportunidades de trabalho.
A nascente indústria desses países, no entanto, não
era capaz de absorver o grande número de pequenos
produtores e trabalhadores rurais expulsos de suas ter
ras. Dessa forma, muitas pessoas permaneceram nas
cidades, porém desempregadas. Além disso, nesse
Acima, participantes de uma manifestação
períod o, a população europeia praticamente dobrou.
organizada por operários e camponeses
Diante dessa situação, muitos europeus estavam dispos italianos desempregados, em Milão, na Itália,
tos a deixar a Europa e tentar a vida em terras distantes. no final do século XIX.
O contexto brasileiro
Nessa época, grupos da elite brasileira compartilhavam a ideia
198
A vinda para o Brasil
capítulo 11
O embarque dos europeus para a América era tumultuado. Havia muitos
imigrantes aguardando para embarcar nos navios e, por isso, a espera pela
partida podia durar vários dias. Na viagem, que durava cerca de um mês, os
imigrantes ocupavam a terceira classe dos navios e, por causa da superlotação,
199
A fazenda de café
A fazenda cafeeira era uma grande propriedade rural que produzia o café para
exportação.
As matas
forneciam madeira
A casa do proprietário era uma herança
para as
direta da antiga casa-grande dos
construções feitas
senhores de engenho. Era o edifício mais
na propriedade,
imponente da fazenda, habitado pelo
além da lenha
fazendeiro e por sua família, parentes,
usada na fazenda.
agregados e alguns escravos domésticos.
O avanço do
cultivo do café
acabou destruindo
imensas áreas de
florestas nativas.
Na capela
eram realizadas
as cerimônias
religiosas.
200
capítulo 11
A moradia dos Depois de secar ao Sol, o café era As plantações de café ocupavam as terras
escravos, chamada de transportado para os barracões de mais férteis da fazenda. Quando chegava a
senzala, era maior que beneficiamento e armazenamento, época da colheita, os grãos colhidos eram
as casas dos colonos, onde era descascado e ensacado. abanados em peneiras para eliminar as folhas e
201
O início da modernização do Brasil
Na segunda metade do século XIX, a economia brasileira começou a se diversificar,
iniciando o processo de modernização do país.
A situação econômica
As ferrovias
Para facilitar o transporte do café até os portos, foram feitos muitos in-
vestimentos na construção de ferrovias. Parte desses investimentos foi
feita por antigos traficantes de escravos: com a proibição do tráfico, em
1850, eles deslocaram seus capitais para novos investimentos, como a
cafeicultura e, posteriormente, a construção de ferrovias. Outra parte im-
portante dos investimentos foi feita por estrangeiros, principalmente ingle-
ses. Além disso, o governo brasileiro concedeu vários financiamentos para
ampliar a malha ferroviária.
Marc Ferrez. Séc. XIX. Coleção Gilberto Ferrez. Acervo Instituto Moreira Salles, São Paulo
202
Os melhoramentos urbanos e as fábricas
capítulo 11
A expansão da malha ferroviária e a prosperidade resultante dos capitais
acumulados pelos cafeicultores tiveram papel essencial na urbanização e
no desenvolvimento das indústrias no Brasil. Leia o texto.
Marc Ferrez. c. 1890. Coleção Gilberto Ferrez. Acervo Instituto Moreira Salles, São Paulo
tornou-se um negócio rentável e de baixo risco, em razão das
garantias governamentais. Investimentos estrangeiros de gru
pos ingleses, norte-americ anos e franceses entraram no país,
sobretudo na década de 1870, quando se acelerou o proces
so de industrialização e urbanização.
Muitas cidades foram fundadas e outras mais antigas ga
nharam novo vigor com a chegada das linhas férreas. Foram
construídos hotéis e instalados postes de iluminação, as ruas
foram calçadas e outras melhorias urbanas foram implantadas.
Essas melhorias frequentemente eram financiadas pelos “ba
rões do café”, que passaram a habitar mans ões construídas
nas cidades, de onde podiam administrar seus negócios.
Nessa fotografia, tirada na década de 1890, vemos algumas melhorias urbanas realizadas
na cidade do Rio de Janeiro, como o calçamento das ruas e a instalação de bondes.
203
Explorando o tema
A vida cultural no final do século XIX
No final do século XIX, a vida cultural foi bastante influenciada pelas transformações políticas,
sociais e econômicas ocorridas no Brasil. Nesse contexto, a literatura, a pintura e a música
foram expressões artísticas que se destacaram.
A pintura
J. F. de Almeida Júnior – O Violeiro. 1899. Óleo sobre tela. Pinacoteca do Estado, São Paulo
Nas artes plásticas, destacaram-se as
pinturas com temas religiosos e históricos,
além dos temas relacionados ao cotidiano
do povo brasileiro. O imperador D. Pedro II
era um grande apreciador da pintura eu-
ropeia e, por essa razão, patrocinava os
estudos de vários artistas brasileiros na
Europa, principalmente na França e na
Itália. Entre os pintores brasileiros mais
importantes dessa época, destacam-se o
catarinense Vitor Meireles (1832-1903), o
paraibano Pedro Américo (1843-1905) e o
paulista Alm eida Júnior (1850-1899).
204
capítulo 11
A música
A música popular
A música erudita não foi a única expressão musical durante o Segundo
Folha de rosto da partitura
Reinado. Diferentes ritmos e danças, como o frevo e o maxixe, ganharam
espaço nas ruas e nos bailes populares.
da ópera O Guarani, de
Carlos Gomes.
O frevo nasceu em Pernambuco, no final do século XIX, sob grande influência de
ritmos afro-brasileiros. Nessa época, ele era tocado pelas bandas militares e
fanfarras populares para animar os desfiles de rua das cidades de Recife e Olinda.
O maxixe se desenvolveu principalmente no Rio de Janeiro, no final do século Produzida por Debret no
XIX. Tocado em bailes populares, o maxixe era uma versão acelerada de século XIX, essa imagem
ritmos europeus como a polca e a marcha. representa uma cena de
entrudo no Brasil.
O entrudo
205
A abolição da escravidão
Após cerca de 350 anos de escravidão, em 1888 foi assinada a Lei Áurea, que
extinguiu a escravização de pessoas no Brasil.
O Movimento Abolicionista
A partir da década de 1870, pessoas de diferentes grupos sociais brasi
A abolição no
leiros passaram a questionar a prática da escravidão, propondo alternativas Ceará
para substituir o trabalho escravo pela mão de obra livre no Brasil. Essas
Em 1881, um
pessoas deram início ao chamado Movimento Abolicionista.
grupo de janga
Desse movimento participavam tanto republicanos como monarquistas. deiros liderados
Seus membros eram profissionais liberais, como advogados, jornalistas e por Francisco do
intelectuais, além de estudantes, comerciantes, imigrantes europeus, ex Nascimento — o
-escravos e escravos. Dragão do Mar
— se recusou a
Os abolicionistas, de forma geral, combatiam a escravidão porque acre embarcar em
ditavam que ela contrariava o direito de liberdade e igualdade perante a lei. suas jangadas
Eles acreditavam também que a sociedade brasileira não poderia se desen escravos que
volver plenamente enquanto houvesse escravos. Também havia aqueles que seriam vendidos
defendiam que a produtividade do trabalho aumentaria com a mão de obra nas fazendas de
livre e que a eliminação dos gastos com a compra de escravos possibilita café do Sul do
ria aos fazendeiros investir seu capital na construção das casas dos colonos, país. A partir
bem como na modernização do maquinário das fazendas. dessa ocasião, a
pressão popular
cearense contra a
Angelo Agostini – Fuga de escravos. Em Revista
Illustrada. 30/09/1887. IEB/USP, São Paulo
escravidão
aumentou e, em
1884, quatro anos
antes da abolição
no resto do país,
o governador do
Ceará decretou o
fim da escravidão
na província.
Revista Illustrada. 04/1884. IEB/USP, São Paulo. Foto: Neoimagem
As leis abolicionistas
Antes do fim da escravidão, duas leis foram aprovadas no Brasil com o
objetivo de diminuir gradativamente a utilização da mão de obra escrava.
A Lei do Ventre Livre, aprovada em 1871, declarava livres os filhos de
escravas que nascessem a partir daquela data. No entanto, o proprietário
da mãe poderia usufruir do trabalho do filho até que ele completasse
Capa da Revista
21 anos, ou receber uma indenização do governo e abandoná-lo à sua Illustrada, que
própria sorte quando ele fizesse oito anos de idade. presta uma
Já a Lei dos Sexagenários, aprovada em 1885, dava liberdade aos escra homenagem a
vos com mais de 60 anos. Francisco do
Nascimento.
206
A Lei Áurea
capítulo 11
Em maio de 1888, o imperador D. Pedro II se encon A participação popular
trava em viagem na Europa e sua filha, a princesa Isabel,
A participação da população e das
respondia como regente do Império. organizações abolicionistas foram
Multidão em frente
ao Paço Imperial, no
dia 13 de maio de
1888.
207
O fim da Monarquia
No Brasil, as insatisfações com a Monarquia favoreceram a mudança para o
regime republicano.
O Movimento Republicano
A mobilização de diferentes grupos sociais foi fundamental para a mu
Latifundiário
dança do regime político no Brasil. Em 1870, no Rio de Janeiro, por exem proprietário de
plo, um grupo de intelectuais liberais fundou o Partido Republicano. Por grandes lotes de
meio do jornal A República , os membros do partido divulgavam ideias de terra.
mudança no regime político brasileiro. Em 1887, também no Rio de Janeiro,
oficiais do Exército fundaram o Clube dos Militares. Esse clube tinha a função
de unir militares que se opunham ao governo imperial. Nessa obra,
O partido Republicano Paulista, fundado em 1873, também exerceu in A Convenção de Itu,
fluência no processo de proclamação da República. Esse partido era for vemos representada
a fundação do
mado principalmente por latifundiários paulistas que procuravam implantar
Partido Republicano
um regime político que estivesse de acordo com seus interesses econômicos. Paulista, em 1873.
Em um país repleto de divergên
J. Barros – A Convenção de Itu.
Museu Republicano, Itu
208
A República é proclamada
capítulo 11
Entre os grupos sociais que desejavam implantar a República no Brasil,
a parcela do Exército chamada de “mocidade militar” era uma das mais
atuantes. Esses militares possuíam uma forte tendência ao republicanismo
por causa do contato que tiveram com militares que lutaram na Guerra do
Marcello Sokal/Keystone
Praça da República, no Rio de Janeiro. Nesse local, também conhecido como Campo de Santana,
foi proclamada a República no Brasil.
Em Nouveau Larousse Illustré. c. 1900. Paris:
Librairie Larousse. Coleção particular
O positivismo
Desenvolvido no início do século XIX pelo filósofo francês Auguste
Comte (1798-1857), o positivismo apresentava os princípios do que
seria uma nova era, científica e positiva. Nessa nova era, nos vários
países, seriam estabelecidos governos republicanos preocupados
em manter uma ordem social que garantisse o progresso da
humanidade, por meio da indústria e da ciência.
No Brasil, essas ideias influenciaram os jovens militares, que se
identificavam com o progresso científico proposto pelo positivismo.
Quanto aos civis, foram atraídos pelo ideal positivista de um Estado
republicano forte e preocupado com políticas sociais.
209
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 Cite alguns motivos da crise do Império 8 Quais eram as características da literatura
brasileiro a partir da segunda metade do brasileira no final do século XIX?
século XIX.
9 Cite o nome de dois ritmos musicais po
2 Sobre a imigração europeia, responda. pulares no Brasil do final do século XIX e
descreva algumas características dess es
a ) Qual era o contexto econômico e social
ritmos.
dos países europeus de onde saíram
muitos dos imigrantes que vieram pa 10 Sobre a abolição da escravidão no Brasil,
ra o Brasil? responda.
b ) Qual era o cenário político e econômico a ) O que foi o Movimento Abolicionista?
brasileiro na época em que os imigrantes
europeus começaram a chegar ao país? b ) Explique o que foram as leis abolicio
nistas.
c ) O que fazia a Sociedade Promotora da
Imigração? c ) Qual o nome da lei que pôs fim à es
cravidão no Brasil? Quem a aprov ou?
d ) Como era o sistema de colonato? E quem a assinou?
e ) Explique com suas palavras o que acon d ) Como foi a participação popular no pro
tecia com os imigrantes assim que eles cesso abolicionista? Por que ela foi
chegavam ao Brasil. importante?
f ) Quem foi Antonio Pellegrini? e ) Descreva a condição dos ex-escravos
após a abolição?
3 O que foi a Lei de Terras?
f ) O que eram as redes de solidariedade?
4 Produza um pequeno texto explicando co Qual foi sua importância após a abolição?
mo era a organização de uma fazenda de
café, no Brasil, no final do século XIX. 11 Explique com suas palavras o que foi o
Movimento Republicano.
5 O que as primeiras indústrias instaladas no
Brasil produziam? 12 Escreva um texto utilizando as palavras ou
expressões a seguir.
6 Explique de que maneira o café contribuiu
para a modernização do país.
Proclamação da República províncias
7 Qual foi a importância do barão de Mauá positivismo Deodoro da Fonseca
para a modernização do Brasil?
republicanismo crise do Império
Expandindo o conteúdo
13 No Brasil, a expansão ferroviária iniciada no século XIX afetou o cotidiano de boa parte da
população. Leia o texto.
A prosperidade proveniente do café foi, a um só tempo, causa e consequência do crescimento
urbano. As cidades ofereciam oportunidades para profissionais liberais, negociantes, artesãos, fun-
cionários públicos, além de atrair fazendeiros e suas famílias que, graças à facilidade dos transportes,
puderam residir longe de suas propriedades, em belos e confortáveis palacetes. Impulsionado pelas
novas necessidades de uma população crescente e graças aos capitais disponíveis, o comércio forta-
leceu-se, e as atividades industriais deram seus primeiros passos.
210
As florescentes cidades do café foram embelezadas: ruas eram calçadas, arborizadas e iluminadas;
capítulo 11
praças e parques inaugurados; monumentos e chafarizes erguidos; as mais prósperas tinham seu tea
tro. As escolas e os jornais multiplicaram-se. Os centros dessas cidades passaram a concentrar as
funções administrativas, comerciais e culturais, inaugurando novos modos de vida e de sociabilidade.
Fotografia da antiga
estação ferroviária de
Campinas, SP. Observe
a importância dada ao
relógio nessa construção.
211
14 Observe o mapa a seguir.
E. Cavalcante
N
O L
S
20 ° S
Franca
MS
Bebedouro
Ribeirão Preto
MG
Araraquara
SP Descalvado Mogi
Guaçu
Jaú
Agudos
Piracicaba Amparo
Cruzeiro RJ
Botucatu Campinas Guaratinguetá Areias Bananal
Avaré Porto Pindamonhangaba
Feliz Jundiaí Taubaté
Itu
Trópico de Capricórnio Jacareí
Itapetininga Sorocaba
São Paulo
Até 1868
Santos
Até 1888
PR
Até 1900
OCEANO
ATLÂNTICO
0 60 km
45° O
Fonte: IstoÉ Brasil, 500 anos. São Paulo: Três, 1998.
a ) Quais cidades foram interligadas pela primeira ferrovia construída até 1868?
b ) Cite o nome de três cidades paulistas que foram interligadas pela estrada de ferro, entre
os anos de 1888 e 1900.
c ) Com base nas informações do capítulo, escreva um texto sobre a importância da fer rovia
para a cafeicultura.
15 O texto a seguir foi escrito em 1904 por Machado de Assis. Esse trecho, retirado do livro
Esaú e Jacó, narra as opiniões de dois irmãos, Pedro e Paulo, sobre um acontecimento
importante da história do Brasil. Leiao.
212
capítulo 11
“Como diabo é que eles fizeram isto, sem que ninguém desse
pela coisa?” — refletia Paulo. “Podia ter sido mais turbulento.
Conspiração houve, decerto, mas uma barricada não faria mal.
Seja como for, venceu-se a campanha. O que é preciso é não dei-
213
12
capítulo
para o professor
alguns comentários
e explicações sobre
os recursos
apresentados no
capítulo.
A Guerreiros zulus em fotografia datada de 1888. Os zulus lutaram bravamente para defender seus
territórios durante a invasão europeia na África, no século XIX.
Johann Martin Bernatz – Mercado em Sokoto em 1853. Séc. XIX. Biblioteca Nacional, Paris.
Foto: Archives Charmet/The Bridgeman Art Library/Keystone
214
Ken Welsh/Alamy/Other Images
C Fotografia recente de um kraal zulu, localizado próximo a Kwazulu Natal, na África do Sul. Os zulus
mantêm, até os dias de hoje, a forma de organização tradicional de suas moradias.
Séc. XIX. Coleção particular. Foto: Stefano Bianchetti/Corbis/Latinstock
A África (1800-1850)
E. Cavalcante
N
Mar Mediterrâneo O L
S
IMPÉRIO
OTOMANO
Trópico de EGITO
Câncer
Ma
rV
er
me
lho
FUTA
TORO
HAMDULLAHI
SEGU SO
KO
YATENGA TO VADAI
FUTA BORNU
Rio
Rio
KAFA
Nilo
CAZEMBE
LOZI
ROZWI
Trópico de Capricórnio
GRIQUAS
ZULU
0 800 km
20° L
Fonte: BLACK, Jeremy (Ed.). World History Atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2005.
216
Uma nova ideia de Estado
capítulo 12
O século XIX na África foi marcado pela tentativa de unificação
de diferentes povos africanos.
A presença muçulmana
Um exemplo dessa tentativa de aculturação dos povos conquistados acon-
teceu na região do Sudão central. Em 1804, o líder dos fulanis, Osmã den
Fodio, iniciou uma jihad contra os povos hauçás que habitavam a região. Em
poucos anos, a maioria das cidades hauçás caiu sob o domínio dos fulanis,
que formaram um califado com sede em Sokoto, cidade fundada em 1809.
Osmã den Fodio acusava os líderes hauçás de misturarem práticas do isla
mismo com práticas da religião tradicional e, por isso, proibiu os antigos ri-
tuais religiosos hauçás. Além de impor a religião islâmica entre os povos
conquistados, Osmã os obrigou a aprender a língua árabe e seguir as regras
muçulmanas, como a restrição ao consumo de determinados alimentos e
bebidas.
O líder zulu Shaka.
O Império Zulu
217
O kraal zulu
O kraal era o lugar onde, no século XIX, viviam as famílias zulus.
Os homens cuidavam
do gado e da defesa do
kraal, além de atuarem
como guerreiros em
épocas de conflito.
As mulheres cuidavam
da plantação e da
educação das crianças. As paliçadas protegiam e O gado bovino era
Tanto mulheres quanto demarcavam o território muito importante para
homens produziam do kraal e do curral. os zulus, pois, além de
trabalhos artesanais. fornecer carne, leite e
couro, era usado como
moeda de troca. O gado
era símbolo de status
para o chefe do kraal.
218
Art Capri
capítulo 12
As torres A cubata
vigias eram maior era
habitada A cubata da
No pátio central distribuídas
pelo chefe primeira esposa
havia o curral, ao longo da
do kraal. ficava à esquerda
lugar onde o gado paliçada
Quando uma
bandeira branca
era colocada na
cabana, significava
que o homem
solteiro estava de
noivado marcado.
219
O imperialismo
Nas últimas décadas do século XIX, as potências europeias iniciaram uma nova
forma de imperialismo.
A justificativa “humanitária”
A apropriação de colônias era vista de maneira positiva por
uma grande parcela da sociedade europeia, pois, além dos
Grande parte do interior do continente
benefícios econômicos, havia uma justificativa “humanitária”
africano tornou-se conhecida pelos
para o imperialismo. Essa justificativa se baseava na ideia de europeus por causa da ação dos
que as populações não brancas eram inferiores, devendo exploradores. Nessa imagem, vemos o
portanto obediência ao europeu que, por seu lado, tinha o explorador inglês Henry Morton Stanley
“encargo” de civilizá-las. Assim, começou o afluxo de mis- (1841-1904) consultando um mapa da
sionários, exploradores, aventureiros, diplomatas e militares África durante uma expedição ao
para as regiões ainda desconhecidas pelos europeus. continente.
Os diferentes imperialismos
O termo imperialismo deriva da palavra latina imperium, cujo significado pode ser
traduzido como autoridade, dominação sobre um território estrangeiro. Como, ao longo
da história, houve várias formas de um povo exercer a autoridade e a dominação sobre
outro, o conceito de imperialismo precisa ser compreendido em sua historicidade.
O imperialismo exercido na Roma Antiga, por exemplo, era aquele que buscava, sobre-
tudo, a expansão territorial para a criação de províncias onde cobrava pesados impos-
tos. Já o imperialismo inaugurado na época das Grandes Navegações, no século XV,
tinha como objetivo formar colônias para a exploração mercantilista. O imperialismo do
século XIX, por sua vez, procurou abrir novos mercados consumidores e garantir o
acesso às matérias-primas necessárias para a indústria europeia e, posteriormente, a
norte-americana e a japonesa.
220
A colonização da África
capítulo 12
Ao longo do século XIX, a presença europeia no continente africano se
limitava a algumas regiões litorâneas. Isso acontecia, principalmente, porque
os povos africanos não permitiam o avanço dos estrangeiros no interior de
A África dividida
Após o estabelecimento das regras para a aquisição de territórios na
A Conferência
África, ocorrido durante a Conferência de Berlim, o continente africano foi
de Berlim
dividido entre as grandes potências europeias. Essa divisão ficou conheci-
Convocada pelo
da como partilha da África. chanceler alemão
Otto von Bismarck,
a Conferência de
A África (1880-1913) Berlim ocorreu
entre novembro
E. Cavalcante
I. Madeira
(POR) TÂNGER N de 1884 e
MARROCOS
TUNÍSIA Mar Mediterrâneo O L
fevereiro de 1885,
Is. Canárias
na Alemanha.
S
(ESP)
IN
GUINÉ POR. GUCOSTA
SOMÁLIA FR.
Unidos e o
RAN C
LIBÉRIA DO
MARFIM CAMARÕES o principal
UA
TOGO
SOMÁLIA IT. objetivo da
EQ
GUINÉ ESP.
PROT. DE
Equador
conferência era
CA
garantir a liberdade
ÁF
CONGO BRITÂNICA
OCEANO
BELGA
ÁFRICA ÍNDICO
de comércio e
Possessões coloniais OCEANO
OR. ALEMÃ Is. Seychelles navegação pelos
(GB)
ATLÂNTICO
ANGOLA PROT. rios Níger e
Países independentes DE Is. Comores
NIASSA (FRA) Congo, além de
Francesa RODÉSIA
E
estabelecer
U
Q
Britânica
BI
regras e critérios
M
ÁFRICA
ÇA
Alemã DO MADAGASCAR
quanto à
O
M
SUDOESTE BECHUNALÂNDIA
Portuguesa Trópico de Capricórnio
anexação dos
Espanhola SUAZILÂNDIA
territórios
Belga BASUTOLÂNDIA africanos.
UNIÃO
Italiana SUL-AFRICANA 0 800 km
20° L
Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006.
221
As diferentes formas de colonização
Existiram diferentes formas de colonização no continente africano.
Conheça as três principais a seguir.
■ ■ Colônias de povoamento: nesse tipo de colonização, ocorria o estabe-
Expropriação
lecimento de uma expressiva população europeia destinada a comandar
termo que se
as atividades econômicas e políticas nas colônias. Os recursos desses refere ao ato de
colonos provinham da expropriação das terras da população local, privar alguém de
como ocorreu na África do Sul, na Argélia, em Uganda e em Angola. suas proprieda-
■ ■ Colônias de exploração: nesse tipo de colônia, era estabelecido um des por meio da
pequeno número de colonos, geralmente funcionários da administração força.
colonial e de empresas particulares que exploravam os recursos do
continente. Ao contrário das colônias de povoamento, as terras não
eram expropriadas, mas os antigos agricultores deveriam passar a pro-
duzir apenas os produtos que interessavam aos europeus. A África
Ocidental Britânica foi um exemplo característico desse modelo de
colonização.
■ ■ Colônias mistas: contavam com grande povoação branca, embora
222
As consequências para a África
capítulo 12
Apesar do tempo de domínio colonial ter sido relativamente curto (cerca
de 70 anos), as transformações ocorridas na África foram marcantes. As
populações africanas tiveram que se submeter à língua, à religião e ao sis-
tema econômico dos invasores. Além disso, tiveram que reconstruir suas
Topham/PA/TopFoto/Keystone
ingleses invadiram o território de seu povo e passaram a exigir
que os ashantis se entregassem. Percebendo o receio que os
chefes guerreiros tinham de combater um inimigo dotado de
armas poderosas, a rainha Yaa passou a instigar os guerreiros
ashantis à resistência. Ameaçando os homens, ela dizia:
Se vocês homens de Ashanti não forem adiante, iremos nós.
Nós, as mulheres. Eu convidarei as minhas companheiras. Nós lu-
taremos contra os homens brancos. Nós lutaremos até que a última
de nós caia nos campos de batalha.
Extraído do site: <www.casadeculturadamulhernegra.org.br>. Acesso em: 8 mar. 2012. O grupo carnavalesco Yaa Asantewa
Decorridos vários meses de violentos combates, a resistên- prestando uma homenagem à rainha-
-mãe ashanti. Esse grupo inglês
cia ashanti foi vencida e a rainha Yaa Asantewa acabou sendo participa todos os anos do Notting Hill
capturada. A coragem de Yaa, porém, é lembrada até os dias Carnival, uma grande festa popular em
de hoje como um exemplo do orgulho da mulher negra. Londres, na Inglaterra.
223
Enquanto isso... na Ásia e Oceania
As grandes potências mundiais dominavam, no final do século XIX, uma enorme
porção dos continentes da Ásia e da Oceania.
RÚSSIA N
O L
ÁSIA S
COREIA OCEANO
JAPÃO
PÉRSIA
CHINA PACÍFICO
KUWAIT
A Oceania abrange
ÍNDIA FORMOSA Trópico de Câncer uma grande
ARÁBIA Diu (POR) Hong Kong (POR) quantidade de ilhas
Damão (POR) Macau (POR) espalhadas pelo
Yanaon (FRA) Is. Marianas
SIÃO
Goa (POR) Is. Andman
Pondichéry (FRA) INDOCHINA Guam oceano Pacífico.
Mahe (FRA) (EUA)
Karikal (FRA)
FILIPINAS Is. Marshal Trata-se de uma
ÁFRIC A Is. Carolinas região estratégica,
Equador
Is. Maldivas
Terra do
que serve de
Is. 0°
Bornéu Imperador
Guilherme Gilbert ligação entre a
Nova
Arq. de Chagos
Guiné América e a Ásia.
Java Is. Salomão As potências
Timor
OCEANO imperialistas
ÍNDICO Novas Hérbridas
(FRA e GB) Fiji ocuparam diversas
Trópico de Capricórnio Nova ilhas da região.
Caledônia
(FRA) A Inglaterra, por
AUSTRÁLIA
OCEANIA exemplo, ocupou a
Possessões coloniais
Austrália e a Nova
Francesa Italiana
Zelândia.
Britânica Holandesa
NOVA
Alemã Norte-americana
0 800 km
ZELÂNDIA
Portuguesa Japonesa
90° L
Espanhola
Fonte: BARRACLOUGH, Geoffrey (Ed.). Atlas da história do mundo.
São Paulo: Folha da Manhã, 1995.
As lutas na Oceania
Matthew McKee/Eye Ubiquitous/Corbis/Latinstock
224
O arquipélago das Filipinas, depois das guerras de independência contra a Espanha, acabou sendo
capítulo 12
dominado pelos Estados Unidos.
Indochina foi o nome dado pelos franceses à península banhada pelo Mar da China, no Sudeste Asiático,
Na Índia, havia possessões portuguesas e francesas, mas eram os britânicos, por meio da
Companhia das Índias Orientais, que mais se destacavam. Em 1857, uma revolução promovida pelos
indianos tentou destituir o poder da companhia em diversas regiões da Índia. As tropas britânicas
contiveram os revoltosos e, a partir de então, a Coroa britânica passou a governar diretamente a
região, passando a chamá-la de “Índia Britânica”.
Em Le Petit Journal. 16/01/1898. Coleção particular. Foto: Archives Charmet/The Bridgeman Art Library/Keystone
dinastia Qing, originária da Manchú-
ria, uma região no Nordeste da China.
O Império sofria pressões da Ingla-
terra para incrementar o comércio
entre eles. Essas pressões culmi-
naram nas chamadas guerras do
ópio. No final do século XIX, derro-
tada, a China foi obrigada a abrir seu
comércio para as potências imperia-
listas.
O imperialismo japonês
Autor desconhecido. Séc. XX. Biblioteca de Artes Decorativas, Paris.
Foto: Archives Charmet/The Bridgeman Art Library/Keystone
225
Explorando o tema
A resistência africana ao imperialismo
Desde as primeiras ocupações do território africano por exploradores europeus, a partir do
século XV, houve manifestações contrárias dos povos africanos. No entanto, com a expansão
do imperialismo, durante o século XIX, a resistência à dominação europeia tornou-se mais efetiva.
Os movimentos de resistência
O processo de colonização imperialista, de modo geral, foi marcado pela violência e domi-
nação dos povos africanos. Os africanos, no entanto, não aceitaram passivamente a invasão
de seus territórios e lutaram de várias maneiras contra a dominação e a exploração promo-
vidas pelos europeus. Veja a seguir alguns exemplos de movimentos de resistência.
Clã Grupo de
pessoas que possuem
um ancestral comum.
226
capítulo 12
Com a ocupação das terras da Somália pela Grã-Bretanha,
Autor desconhecido - Forças Etíopes lutam contra os Italianos em 1896. c. 1898.
Foto: The Print Collector/Age Fotostock/Keystone
Autor desconhecido - Batalha na floresta. Séc. XX. Litografia. Coleção particular. Foto: The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library/Keystone
A resistência religiosa
Em muitos casos, a perda de soberania
estava profundamente ligada a uma funda-
mentação religiosa. Para muitos povos o
sagrado estava articulado à própria orga-
nização social. Em diversas regiões, a rea-
ção religiosa foi um forte componente nos
movimentos de resistência na África. A
Rebelião Ashanti foi um exemplo bastante
significativo da influência religiosa nos mo-
vimentos de resistência na África.
Além desses conflitos armados, ocorriam também outras formas de resistência que se da-
vam no cotidiano, como as sabotagens de equipamentos introduzidos pelos europeus e a
destruição de meios de transporte, plantações e armazéns.
Apesar do sucesso inicial dos colonizadores em derrotar a resistência armada dos povos
africanos, estes não permaneceram submetidos por muito tempo. No decorrer do século XX,
surgiram movimentos nacionalistas que lutaram pela independência em várias regiões do
continente.
227
Atividades
Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.
Exercícios de compreensão
1 O que significa aculturação? 7 O que foi o neocolonialismo?
2 Por meio de quais ações o líder Osmã den 8 Explique com suas palavras qual era a
Fodio tentou aculturar os povos por ele justificativa “humanitária” dada pelos
conquistados? europeus para a aquisição de colônias na
África.
3 Quem foi Shaka?
9 O que foi a Conferência de Berlim?
4 Sobre o kraal zulu, responda.
10 Explique o que eram:
a ) O que eram as cubatas?
a ) colônias de povoamento.
b ) Para que servia o curral?
b ) colônias de exploração.
c ) Por que o gado bovino era muito im
portante para os zulus? c ) colônias mistas.
d ) Que elementos eram construídos para 11 Cite algumas formas de resistência africana
ajudar na defesa do kraal? contra os invasores da África.
e ) Quem morava na maior cubata do
12 Quais foram as principais consequências,
kraal?
para os africanos, da colonização da África?
f ) Quais eram as funções das mulheres no
kraal? E os homens, que funções exer 13 Quem foi Nana Yaa Asantewa?
ciam? 14 Produza um texto sobre o imperialismo na
5 Escreva um pequeno texto explicando por Ásia e na Oceania, dando exemplos de
que o conceito de imperialismo precisa regiões submetidas à exploração pelas
ser compreendido em sua historicidade. potências mundiais.
Expandindo o conteúdo
16 Leia o texto a seguir.
228
capítulo 12
cidade pobre e poeirenta que descreveu não
229
17 Observe a imagem a seguir, que representa um kraal zulu.
James Edwin McConnell – Vila zulu. Séc. XX. Guache sobre papel. Coleção particular.
Foto: Look and Learn/The Bridgeman Art Library/Keystone
D
A
B
C F
b ) Agora, produza um texto sobre um kraal zulu. Nesse texto, inclua a descrição das pes-
soas que foram representadas (homens, mulheres, crianças); o que elas estão fazendo,
que roupas estão utilizando; como o artista representou a paisagem, as construções etc.
Depois, troque seu texto com o de um colega e procurem identificar as semelhanças e
as diferenças entre os textos de vocês.
18 O texto a seguir trata das razões pelas quais as potências imperialistas somente decidiram
colonizar a África no final do século XIX. Leia-o.
[...] Várias são as razões que podem ser mencionadas para explicar por que os europeus, [até o final
do século XIX], não se empenharam em adentrar os territórios africanos, se contentando com suas
atividades costeiras. Talvez porque essas eram suficientemente vantajosas para que não buscassem
fazer mais investimentos em algo que já era bem lucrativo. Também porque encontraram sistemas de
troca, rotas de abastecimento, regras de negociação já estabelecidas e eficazes, às quais era mais fácil se
integrar do que tentar impor algo diferente. Além disso, as sociedades locais não favoreciam em nada
a penetração do território pelo estrangeiro branco. Defendiam seus espaços com perícia diplomática
e empenho guerreiro, mantendo os europeus dentro dos limites que estabeleciam. Também tinham as
doenças às quais os brancos eram extremamente vulneráveis, como malária, febre amarela, varíola,
doenças intestinais, cólera e doença do sono. Esses são alguns fatores que podem ser lembrados para
230
capítulo 12
entendermos por que, até o [final] do século XIX, não houve uma colonização de territórios africanos,
ao contrário do que aconteceu na América depois que os europeus aqui chegaram.
A África só começou a ser ocupada pelas potências europeias exatamente quando a América se
tornou independente, quando o antigo sistema colonial ruiu, dando lugar a outras formas de enrique-
a ) A autora do texto enumera algumas razões pelas quais os europeus não se empenharam
em explorar o interior do continente africano antes do final do século XIX. Cite três des
sas razões.
b ) Explique qual é a relação da ocupação da África com as independências na América.
Passado e presente
19 Leia o texto a seguir.
Tudo leva a crer que estejamos perante uma nova partilha da África. A do final do século XIX
foi protagonizada pelos países europeus em busca de matérias-primas que sustentassem o desenvol-
vimento capitalista e tomou a forma de dominação colonial. A do início do século XXI tem um
conjunto de protagonistas mais amplo e ocorre [por meio] de relações [...] entre países independentes.
Para além dos “velhos” países europeus, a partilha inclui agora os EUA, a China, outros países
“emergentes” (Índia, Brasil, Israel etc.) e mesmo um país africano, a África do Sul. Mas a luta conti-
nua a ser por recursos naturais (desta vez, sobretudo petróleo) e continua a ser [reforçada] com
componentes econômicos, diplomáticos e militares. Tragicamente, tal como antes, é bem possível
que a grande maioria dos povos africanos pouco se beneficie da exploração escandalosamente lu-
crativa dos seus recursos. [...]
Boaventura de Sousa Santos. A partilha da África. Casa das Áfricas. Extraído do site: <www.casadasafricas.org.br>. Acesso em: 8 mar. 2012.
a ) Segundo o autor do texto, desde o início do século XXI, a África está sendo novamente
partilhada. Quais países atualmente participam dessa partilha?
b ) Qual recurso natural interessa aos atuais “partilhadores” da África?
Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre
o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor
seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.
231
Ampliando seus conhecimentos
Veja algumas sugestões de livros, sites e filmes que tratam de temas
relacionados aos assuntos estudados neste volume.
232
Chalaça, o amigo do imperador, de André Diniz e Antônio Eder.
233
Sites
■■ portal.filosofia.pro.br – Portal Brasileiro de Filosofia.
Site que tem como objetivo a transmissão de conhecimentos em fi-
losofia. O site possui uma seção voltada para conteúdos relacionados
a esse campo do conhecimento, como vídeos, artigos e notícias, além
de entrevistas com alguns filósofos e informações sobre vários pen-
sadores.
■■ educaterra.terra.com.br/voltaire/especial/home_rev_francesa.
htm – Especial Revolução Francesa.
Este site é dedicado à temática da Revolução Francesa. Ele apresen-
ta artigos relacionados a diversos eventos que marcaram esse pro-
cesso: a queda do Antigo Regime, a cronologia da Revolução, as
campanhas de Napoleão Bonaparte e a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão.
www.bndigital.bn.br/projetos/guerrado
paraguai.Acessado em 02 de abr. de 2012
Brasil. Neste site você pode obter mais informações sobre o Museu
e suas exposições.
234
www.acordacultura.org.br/pagina/OProjeto – A cor da cultura.
www.acordacultura.org.br/pagina/OProjeto.
Acessado em 02 de abr. de 2012
■■
www.memorialdoimigrante.org.br.
Acessado em 02 de abr. de 2012
raciais e as conseqüências sociais do racismo. A partir desse tema,
disponibiliza artigos, informações para o combate ao racismo, além
de links para outros sites relacionados ao assunto.
■■ www.memorialdoimigrante.org.br – Museu da Imigração do
Estado de São Paulo.
O site do Museu da Imigração disponibiliza mais de 80 mil documentos,
entre eles imagens e digitalizações de fotos, documentos de imigração,
passaportes e jornais. Um rico acervo para quem quer saber mais
sobre os imigrantes que aqui desembarcaram a partir do século XIX.
Filmes
■■ Amadeus (1984), dirigido por Milos Forman.
O filme apresenta a vida e a obra do compositor austríaco Wolfgang
Amadeus Mozart (1756-1791). A trama do filme, no entanto, não gira em
torno de Mozart, mas sim de um compositor chamado Antonio Saliere,
que conviveu com Mozart e que, de tanto admirar sua música, acabou
tomado pela inveja, tornando-se uma pessoa rancorosa. Salieri amava
e ao mesmo tempo odiava Mozart, enquanto este confiava ingenuamen-
te em Salieri, mas desdenhava-o como um músico menor. Além de
propiciar uma intrigante reflexão sobre as relações entre a música, as
paixões e os vícios humanos, o filme realiza uma bela reconstituição
histórica de Viena no século XVIII.
■■ O último dos Moicanos (1992), dirigido por Michael Mann.
O filme se passa na América do Norte, no contexto da Guerra dos
Sete Anos (1756-1763), quando ingleses e franceses disputavam ter-
ritórios nesse continente. Com a necessidade de recrutar indígenas
para o combate, franceses e ingleses procuram aliados em grupos
nativos rivais. Nesse contexto, Hankeye, que é branco, porém criado
entre os indígenas moicanos aliados dos ingleses, se apaixona pela
filha de um oficial inglês, que ele salvara de um ataque de indígenas
aliados dos franceses. O filme retrata bem a disputa por territórios e a
tentativa dos europeus em manipular os povos indígenas em seu be-
nefício, além de mostrar as relações entre esses acontecimentos e a
posterior emancipação dos Estados Unidos, pois a experiência da
guerra e seus custos tiveram grande impacto nas relações entre a
Metrópole inglesa e suas colônias americanas.
235
■■ As Bruxas de Salem (1996), dirigido por Nicholas Hynter
Esse filme conta uma história de intolerância e perseguição religiosa
EUA
Filme de Nicholas Hytner. As bruxas de Salem. 1996.
ocorrida no povoado puritano de Salem, em Massachusetts, uma das
colônias inglesas na América. Os colonos desejavam que a igreja tives-
se poderes para punir os que não se comportassem de acordo com
as normas da religião. Essa situação levou à perseguição de todos que
contestavam o esses princípios, principalmente de algumas jovens que
passaram a ser acusadas de realizar rituais de feitiçaria. Essa situação
gera uma histeria coletiva, em que as jovens se defendem acusando
outras pessoas de enfeitiçá-las. O filme, apesar de não seguir fielmen-
te os fatos históricos, fornece elementos para compreender os valores
e costumes dos colonos puritanos da América do Norte no século XVII.
236
■■ Oliver Twist (2005), dirigido por Roman Polanski.
O filme, baseado no romance homônimo de Charles Dickens, conta a
237
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VISENTINI, Paulo G. Fagundes; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. História do mundo contemporâneo: da Pax Britânica do século
XVIII ao Choque das Civilizações do século XXI. Petrópolis (RJ): Vozes, 2000.
Orientações
para o professor
Vivemos atualmente em uma sociedade tecnológica em que as trans-
formações ocorrem com grande rapidez e diariamente somos bombar-
deados por uma enorme quantidade de informações. Nessa sociedade
consumista, em que tudo rapidamente se torna “velho” e “ultrapassado”,
os alunos acabam vivenciando um presente sem historicidade, desco-
nhecendo os vínculos existentes entre o presente e o passado. Esse
desconhecimento histórico torna mais difícil para eles compreenderem
e questionarem a própria realidade em que vivem.
Diante dessa situação, adquire cada vez mais importância o papel
do historiador e do professor de História. A análise das transformações
que ocorrem nas sociedades constitui a essência dos estudos históricos
e, por isso, estudar História torna os alunos mais capazes de processar
o grande volume de informações que recebem e convertê-lo em conhe-
cimento. Dessa forma, eles se tornarão mais críticos e terão melhores
condições de entender as transformações sociais e como elas afetam
nossas vidas.
Para auxiliar o professor nessa tarefa, elaboramos esta coleção. Pro-
curamos fazer uma seleção de conteúdos relevantes, em que são de-
senvolvidos conceitos fundamentais para o estudo de História. Os temas
históricos são abordados em consonância com as pesquisas historio-
gráficas mais recentes e são trabalhados em um texto claro e acessível
aos alunos.
Em todos os volumes da coleção, encontra-se uma grande quanti-
dade de fontes históricas, principalmente imagéticas, que são contex-
tualizadas e, em muitos casos, exploradas por meio de atividades. A
coleção tem uma estrutura regular e está organizada de modo a facili-
tar o trabalho do professor, que pode, exercendo seu papel como
mediador, promover um aprendizado significativo para os alunos e
instrumentalizá-los para que adquiram maior autonomia e para que
possam continuar seu aprendizado ao longo da vida, ajudando a cons-
truir uma sociedade mais justa e democrática.
Os autores.
Orientações para o professor
Sumário
Orientações gerais................................................................................................. 4
A estrutura da obra ................................................................................................................ 4
As seções ............................................................................................................................ 4
Orientações gerais
Os conteúdos da coleção ...................................................................................................... 8
As seções
Enquanto isso...
■■ Além do texto principal, dos boxes auxiliares e do glossário, em todos os
volumes da coleção o professor encontrará a seção Enquanto isso... O
princip al objetivo dessa seção é proporcionar um espaço para o trabalho
com a sim ultaneidade e com os tempos históricos. Assim, por exemplo,
enquanto o Império Inca estava sendo conquistado pelos espanhóis, no
Brasil os portug ueses iniciavam a colonização das terras indígenas. É muito
4
importante promover a articulação entre os conteúdos que se apresentam
Orientações gerais
grade curricular. Além disso, da maneira como a coleção está estruturada,
o professor tem autonomia pedagógica para decidir sobre quais capítulos
abordar ou deixar de abordar, no todo ou em partes; sobre seguir a ord em
apresentada ou reagrupar os capítulos pelos critérios organizativos que es
colher, e fazer as pontes entre os capítulos dentro destes critérios.
O sujeito na história
■■ A seção também está presente em todos os volumes e seu principal objetivo
é mostrar aos alunos que, além dos agentes coletivos, existem pessoas que
participaram ativamente do processo histórico por meio de suas ações indivi
duais. Provavelmente a maioria das pessoas retratadas em O sujeito na his-
tória é pouco conhecida pelos alunos. O papel do professor é importante
nesse momento, incentivando pesquisa sobre esses sujeitos históricos em
fontes diversas e posteriores debates na classe. A seção pretende reforçar
que a ação de todos os sujeitos históricos, incluindo os próprios alunos, pode
mudar os rumos da história.
História em construção
■■ Seção que pode aparecer em qualquer parte do texto antes das Atividades.
Seu objetivo é mostrar aos alunos que a disciplina de História é um campo
em constante transformação e que as narrativas sobre o passado também
possuem uma história. Nessa seção, apresentamos as discussões mais re
centes no campo da historiografia, além de textos de historiadores, que
abordem problemáticas históricas, conflitos de interpretação e revisões de
temas clássicos da historiografia nacional e internacional.
Explorando o tema
■■ Presente em todos os capítulos, a seção Explorando o tema aparece antes
das Atividades. Esta seção propõe leitura e interpretação de textos citados
de autores diversos, acompanhados de imagens, como fotografias, ilustra
ções, obras de arte e outros recursos iconográficos. Trata-se de uma abor
dagem temática relacionada a algum assunto apresentado no capítulo.
5
Atividades
■■ Os 48 capítulos que compõem a coleção contam, cada um deles, com quatro
páginas de atividades. Essa estrutura regular é uma vantagem para os alunos,
que podem contar com um importante espaço para exercitar diferentes capa
cidades e habilidades. Ao professor cabe, de acordo com sua proposta pe
dagógica, repensar, reorganizar, reestruturar, recriar as atividades existentes
e/ou produzir novas atividades. Para criar uma identidade e facilitar a execução
dos exercícios e atividades, essa apresenta subseções. São elas:
Exercícios de compreensão
■■ Subseção fixa, sempre no início das atividades. O principal objetivo desses
exerc ícios é revisar o conteúdo trabalhado no capítulo. Eles geralmente são
apres entados respeitando a ordem em que aparecem no capítulo, no entanto,
cabe ao professor escolher a melhor ordem para trabalhá-los com os alunos.
Além disso, é fundamental que o professor estimule os alunos a produzir res
postas com suas próprias palavras com base na interpretação dos conteúdos
e não da simples cópia. Embora possam parecer questionamentos simples,
eles contribuem com a formação da competência leitora, visto que os alunos,
para respondê-los de maneira satisfatória, precisam retomar os conteúdos
trabalhad os.
Expandindo o conteúdo
■■ Essa subseção traz questionamentos que complementam e extrapolam os
conteúdos do capítulo. Geralmente são apresentados diferentes gêneros tex
tuais acompanhados de questões de compreensão, interpretação, análise e
levantamento de hipóteses. Os níveis de dificuldade dos questionamentos
aum entam gradativamente: para os estudantes do 6 o ano, há maior ocorrência
de questões de interpretação; já para os estudantes do 9 o ano, maior ocor
rência de questões de levantamento de hipóteses.
Passado e presente
■■ Propicia momentos de ligações temáticas entre os aconteciment os do passa
do e o tempo presente. A realização dessas atividad es estimula, nos alunos,
a percepção das permanências e das transformações no processo histórico.
No Brasil
■■ Com o objetivo principal de relacionar os conteúdos trabalhados com a hist ória
e a realidade brasileiras, essa subseção proporciona aos alunos uma melhor
percepção de que aquilo que aconteceu ou acontece no mundo está direta ou
indiretamente relacionado com o Brasil, e vice-versa.
Trabalho em grupo
■■ Com o objetivo de promover a interação entre os alunos, essa subseção ge
ralmente propõe temas a ser pesquisados em grupo. Cabe ao professor auxi
liar os alunos nas diferentes etapas que compõem um trabalho de pesquisa,
desde a seleção do material de consulta até a elaboração de um texto, indi
vidual ou coletivo, com os resultados da pesquisa. Em muitos casos, com o
intuito de proporcionar momentos de criatividade, a última etapa do trabalho
6
em grupo é a confecção de painel com cartazes e a socialização desses car
Discutindo a história
■■ Aparece geralmente ao final das Atividades. O principal objetiv o dessa sub
seção é apresentar temas polêmicos e geradores de debates. Em muitos
casos, são apresentadas mais de uma opinião acerca de um mesmo tema, de
forma a possibilitar aos alunos uma maior percepção de que a Hist ória não é
feita de verdades absolutas e que um assunto, mesmo que aparentemente já
esteja esgotado, sempre pode ser reinterpretado. Além disso, os alunos são
Orientações gerais
convidados a expressar suas próprias opiniões.
7
Os conteúdos da coleção
6o ano 7o ano 8o ano 9o ano
Capítulo
1 Estudar História é... Estudar História é... Estudar História é... Estudar História é...
Capítulo
A Segunda
2 A origem
do ser humano
A formação da
Europa medieval
O Antigo Regime Revolução Industrial
e o imperialismo
Capítulo
3 Os povos da
Mesopotâmia
A época medieval
na Europa
O Iluminismo
Os primeiros tempos
da República no Brasil
Capítulo
A Primeira Guerra
4 A África Antiga:
os egípcios
A expansão do Islã A Revolução Americana Mundial e a Revolução
Socialista na Rússia
Capítulo
O mundo
5 A África Antiga:
os cuxitas
A América antes da A Revolução Francesa e
chegada dos europeus o Império Napoleônico
depois da
Primeira Guerra
Mundial
Capítulo
6 Os fenícios
Reinos e impérios
africanos
A Revolução Industrial
O fim da “República
Velha” e a Era Vargas
Capítulo
7 Os hebreus
A Europa moderna:
o Renascimento
As independências na
América espanhola
A Segunda Guerra
Mundial
Capítulo
8 Os persas
A Europa moderna: as
Grandes Navegações
A independência
do Brasil
O mundo durante a
Guerra Fria
Capítulo
O pós-guerra no Brasil:
10 Os antigos gregos
A colonização na
América espanhola
O apogeu do Império do
Brasil
democracia e
populismo
Capítulo
O fim da Monarquia e a
11 Os antigos romanos
A colonização na
América portuguesa
proclamação da
República
A ditadura militar no
Brasil
Capítulo
A expansão das
12 A cultura clássica fronteiras da Colônia
portuguesa
A África no século XIX
O mundo
contemporâneo
8
Mapa de conteúdos e recursos
Principais
Principais temas Procedimentos Atitudes Principais recursos
Conceitos e noções
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Importância da História História Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Jornal antigo
■■ ■■ ■■ ■■
Os sujeitos históricos Sociedade Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Fotografia recente
■■ ■■ ■■ ■■
Capítulo
Tempo e História Sujeito histórico Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Documento oficial
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Fontes históricas Tempo da natureza Exercitar a escrita Valorizar o trabalho do Vestígios arqueológicos
■■ ■■ ■■ ■■
1 História Tradicional Tempo cronológico Analisar a Lei Áurea historiador Partitura musical
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Estudar Escola dos Annales Tempo histórico Analisar diferentes fontes históricas Valorizar os professores como Capa de revista infantil
■■ ■■ ■■
História é... Construção do Ritmos de tempo Analisar diferentes perspectivas historiográficas sujeitos históricos antiga
■■ ■■ ■■ ■■
conhecimento histórico Fonte histórica Associar texto com imagem Sensibilizar-se com a luta dos Pintura
■■ ■■ ■■ ■■
Conceitos importantes para Cultura Interpretar fotograma do filme Tempos Modernos professores da rede pública por Fotograma de Tempos
■■ ■■
os estudos históricos Política Analisar história em quadrinhos melhores salários Modernos
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Historicidade dos conceitos Trabalho Comparar imagens Respeitar e valorizar as Ilustração
■■ ■■ ■■
Economia Analisar notícia publicada em jornal antigo diferentes possibilidades de Jornal antigo
■■ ■■ ■■
Capitalismo Trabalhar em equipe construção do conhecimento Diferentes gêneros
■■ ■■
Liberalismo Construir o conhecimento coletivamente histórico textuais
■■ ■■ ■■ ■■
Cidadania Fazer uma autoavaliação Sensibilizar-se com as Fotografia antiga
■■
dificuldades vividas pelos Charges
indígenas na sociedade atual
■■
Agir de maneira colaborativa
com os colegas
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
O sistema feudal Antigo Regime Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Pintura
■■ ■■ ■■ ■■
Crise do sistema feudal Feudalismo Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Iluminura
Capítulo
■■ ■■ ■■ ■■
Formação dos Estados Burguesia Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Gráfico
■■ ■■ ■■ ■■
europeus modernos Estado moderno Exercitar a escrita Valorizar o modo de vida das Ilustração
■■ ■■ ■■ ■■
2 Mercantilismo Política Analisar mapas pessoas que viviam na Europa Mapa
■■ ■■ ■■ ■■
O Antigo Sociedade europeia do Mercantilismo Analisar gráficos na época do Antigo Regime Infográfico
■■ ■■ ■■ ■■
Regime Antigo Regime Camada social Analisar ilustração que representa uma feira do Respeitar a forma de Painel de azulejos
■■ ■■
Relações sociais em Trabalho Antigo Regime organização política dos português
■■ ■■ ■■
espaço público Absolutismo Interpretar charge antiga Estados europeus na época do Mapa histórico
■■ ■■ ■■ ■■
Desenvolvimento do Parlamento Analisar texto do século XVII sobre regras de Antigo Regime Fotografia recente
■■ ■■ ■■
Absolutismo europeu Iluminismo etiqueta à mesa Sensibilizar-se com as Capa do livro Leviatã
■■ ■■ ■■ ■■
Estabelecimento da União Carta Magna Relacionar fatos históricos simultâneos dificuldades vividas pelos Charge antiga
■■ ■■
Ibérica Fazer uma autoavaliação camponeses europeus na Análise de texto escrito
■■
Teóricos do Absolutismo época do Antigo Regime no século XVII
■■ ■■
Respeitar as ideias defendidas Diferentes gêneros
pelos teóricos do Absolutismo textuais
■■
Gravura
9
Orientações gerais Orientações para o professor
10
Principais
Principais temas Procedimentos Atitudes Principais recursos
Conceitos e noções
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Desenvolvimento do Razão Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Pintura
■■ ■■ ■■
pensamento iluminista Iluminismo Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Frontispício do Contrato
Capítulo
■■ ■■ ■■
Principais pensadores Estado Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Social
■■ ■■ ■■ ■■
iluministas Absolutismo Exercitar a escrita Valorizar diferentes crenças Volumes de livros da
■■ ■■ ■■
3 Desenvolvimento do Antigo Regime Analisar gravura que representa o sistema religiosas Enciclopédia
■■ ■■ ■■
O Iluminismo método científico Política heliocêntrico de Copérnico Respeitar as ideias defendidas Fotografia recente
■■ ■■ ■■ ■■
Iluminismo e religião Cidadania Interpretar pintura que representa a repercussão pelos teóricos do Iluminismo Diferentes gêneros
■■ ■■ ■■
Iluminismo e política Método das ideias iluministas na sociedade europeia do Respeitar e valorizar as textuais
■■ ■■ ■■
Despotismo esclarecido Ciência século XVIII manifestações culturais Gravura antiga
■■ ■■ ■■ ■■
Repercussão social das Heliocentrismo Analisar texto publicado na Enciclopédia europeias Primeira página de livro
■■ ■■ ■■
ideias iluministas Deísmo Relacionar trechos da atual Constituição brasileira Respeitar a mentalidade publicado pela Biblioteca
■■ ■■
A Enciclopédia Despotismo com princípios iluministas europeia do século XVIII Azul
■■ ■■ ■■ ■■
O pensamento econômico esclarecido Fazer uma autoavaliação Sensibilizar-se com as Trecho de texto da
■■
Mercantilismo dificuldades vividas pelos Enciclopédia
■■ ■■
Fisiocracia europeus analfabetos do século Capa da atual
■■
Escravidão XVIII Constituição do Brasil
■■
Geocentrismo
■■
Poder Executivo,
Legislativo e Judiciário
■■
Liberalismo econômico
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Colonização inglesa na Migração Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Gravura antiga
■■ ■■ ■■
América Revolução Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Pintura
■■ ■■ ■■ ■■
Capítulo
Diferenciação entre as Colonização Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Selo comemorativo
■■ ■■ ■■ ■■
colônias inglesas da Escravidão Exercitar a escrita Valorizar diferentes crenças Mapa
■■ ■■ ■■
4 América Comércio Analisar mapas religiosas Fotografia recente
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Relações comerciais Sociedade Interpretar selo comemorativo dos 200 anos da Valorizar os indígenas como Mapa histórico
A Revolução ■■
Sociedade colonial da ■■
Indígena independência dos Estados Unidos sujeitos históricos ■■
Ilustração
Americana ■■ ■■ ■■ ■■
América inglesa Iluminismo Associar texto com imagem Respeitar e valorizar a cultura Diferentes gêneros
■■ ■■ ■■
Aspectos culturais Independência política Analisar diferentes fontes históricas indígena e outras culturas textuais
■■ ■■ ■■ ■■
indígenas Cidadania Fazer uma autoavaliação Sensibilizar-se com as Fac-símile da capa do
■■ ■■
Aspectos culturais afro- República dificuldades enfrentadas pela Tratado de Amizade e
■■
-americanos Constituição população indígena da América Comércio
■■ ■■ ■■ ■■
Desenvolvimento da Guerra Intercâmbio cultural Respeitar os costumes étnicos Reprodução de uma
dos Sete Anos dos povos americanos página do Estatuto dos
■■ ■■
Desenvolvimento do Sensibilizar-se com as Direitos
■■
processo de independência dificuldades enfrentadas pelos Linha do tempo
das Treze Colônias africanos para resistirem à
■■
Formação republicana dos dominação inglesa
■■
Estados Unidos da América Respeitar e valorizar a cultura
africana
■■
Valorizar os africanos como
sujeitos históricos
■■
Sensibilizar-se com as lutas dos
afro-americanos por melhores
condições de vida
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Contexto político, Sociedade Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Gravura antiga
■■ ■■ opiniões dos colegas e do ■■
econômico e social francês Camada social Observar, ler e descrever Pintura
Capítulo
■■ ■■ professor ■■
na época da Revolução Economia Interpretar fontes escritas e iconográficas Ilustração
■■ ■■ ■■ ■■
Francesa Política Exercitar a escrita Respeitar as ideias defendidas Diferentes gêneros
■■ ■■ ■■ pelos revolucionários franceses
Principais fatos ocorridos Revolução burguesa Analisar mapas textuais
■■
5
A Revolução
durante a Revolução ■■
Direito ■■
Associar texto com imagem Respeitar e valorizar as ■■
Linha do tempo
■■ ■■ manifestações culturais ■■
Francesa e o Império Antigo Regime Analisar diferentes fontes históricas Reprodução da capa da
Francesa e Napoleônico ■■
Cidadania ■■
Interpretar uma linha do tempo europeias Constituição francesa de
■■
o Império ■■
Desenvolvimento político ■■
Liberdade ■■
Analisar capa da Constituição Francesa de 1791 Respeitar a mentalidade 1791
Napoleônico da Revolução Francesa ■■
Igualdade ■■
Interpretar o calendário revolucionário francês europeia do século XVIII ■■
Miniatura de guilhotina
■■
■■ ■■ ■■
Sensibilizar-se com as ■■
Conquistas políticas Fraternidade Associar texto com imagem Calendário
■■ ■■
dificuldades vividas pelos sans-
ocorridas em decorrência República Fazer uma autoavaliação -culottes no século XVIII revolucionário francês
■■ ■■
do movimento Grupos políticos ■■
Sensibilizar-se com a luta das Mapa
■■ ■■
revolucionário Inflação mulheres francesas por Trecho da Declaração
■■ ■■
Proclamação da República Império igualdade de direitos dos Direitos do Homem
■■
na França Estado e do Cidadão
■■ ■■ ■■
Formação dos grupos Constituição Trecho da Declaração
políticos franceses dos Direitos da Mulher e
■■
Calendário revolucionário da Cidadã
■■
francês Charge
■■
Encerramento do processo
revolucionário francês
■■
Império Napoleônico
■■
Bloqueio Continental e
seus efeitos
■■
Queda do Império
Napoleônico
■■
O impacto da Revolução
Francesa
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Características da Revolução Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Ilustração
Revolução Industrial ■■ ■■ ■■
Trabalho Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Gravura
■■
Capítulo
Fatores que contribuíram ■■ ■■ ■■
Capitalismo Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Pintura
para o pioneirismo inglês ■■ ■■ ■■ ■■
Sociedade Exercitar a escrita Sensibilizar-se com as Fotografia antiga
na Revolução Industrial ■■ ■■ ■■
Classe social Associar texto com imagem dificuldades vividas pelos Jornal antigo
■■
Sociedade inglesa
6
A Revolução ■■
Relações de trabalho
■■
Mentalidade ■■
Analisar diferentes fontes históricas operários europeus na época da ■■
Infográfico
■■ ■■ ■■
■■
Urbanização Analisar elementos de uma cidade industrial inglesa Revolução Industrial Diferentes gêneros
Industrial Desenvolvimento do ■■ ■■ ■■
sistema capitalista de Socialismo científico Comparar imagens Respeitar a mentalidade textuais
■■ ■■ ■■
produção Anarquismo Fazer uma autoavaliação europeia do século XVIII Cartaz do século XIX
■■ ■■
■■ Ludismo Respeitar e valorizar a luta dos com reivindicações
Transformação da
■■
mentalidade inglesa Sindicalismo trabalhadores ingleses por cartistas
■■ ■■ ■■
Aspectos culturais Cartismo melhores condições de vida e Linha do tempo
■■ ■■
Cidades industriais Romantismo de trabalho
■■ ■■ ■■
Cotidiano de trabalho dos Realismo Conscientizar-se da
operários ■■
Trabalho infantil necessidade de preservação da
■■ ■■
Teorias de análise social Liberalismo natureza
■■ ■■
Conflitos trabalhistas Respeitar as propostas
alternativas de organização do
trabalho
11
Orientações gerais Orientações para o professor
12
Principais
Principais temas Procedimentos Atitudes Principais recursos
Conceitos e noções
■■ ■■ ■■
Os impactos da Trade Unions Apresentar posicionamento
■■
industrialização Burguesia crítico
■■
Manufatura
■■
Maquinofatura
■■
Industrialização
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Aspectos da crise do Sistema colonial Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Mural
sistema colonial espanhol ■■ ■■ ■■
Colonialismo Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Pintura
Capítulo
■■ ■■ ■■ ■■
Contexto político das Iluminismo Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Declaração dos Direitos do
colônias espanholas ■■ ■■ ■■
Sociedade Exercitar a escrita Respeitar a luta dos colonos Homem e do Cidadão
■■
Influências europeias nos ■■ ■■ ■■
7 Independência Associar texto com imagem espanhóis pela independência Mapa
processos de independência ■■
América Latina ■■
Analisar diferentes fontes históricas política de seu território ■■
Capa do livro Los de abajo
As indepen das colônias espanholas ■■ ■■ ■■ ■■
dências na ■■
Bolivarismo Interpretar tela Os fuzilamentos do Três de Maio Respeitar e valorizar a cultura Escultura
Influência norte- ■■ ■■ ■■
-americana nos processos Haitianismo Analisar mapas indígena e de seus Fotografia antiga
América ■■ ■■ ■■
de independência das Trabalho Fazer uma autoavaliação descendentes Fotografia recente
espanhola ■■
Escravidão ■■
Analisar mural História do México, de Diego Rivera ■■
Sensibilizar-se com as ■■
Diferentes gêneros textuais
colônias espanholas
■■ ■■
■■ Política dificuldades enfrentadas pela Gravura
Sociedade colonial
■■ ■■ ■■
Aspectos administrativos Cultura população da América Linha do tempo
■■
das colônias Identidade espanhola
■■ ■■ ■■
Configuração geográfica da Muralismo Respeitar o modo de vida das
América espanhola ■■
Patrimônio histórico pessoas que viviam nas
independente ■■
Intercâmbio cultural colônias espanholas no início
■■
Processos de independência do século XIX
da América do Sul ■■
Valorizar as manifestações
■■
Bolivarismo artísticas dos povos americanos
■■
O processo de ■■
Reconhecer a importância da
independência do México
■■
preservação dos patrimônios
Aspectos culturais
mexicanos históricos
■■
■■ Valorizar as manifestações
Muralismo
■■ artísticas europeias
A independência de Cuba
■■
Intervenção norte-
-americana em Cuba
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Processo de independência Colonialismo Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Pintura
■■ ■■ ■■
do Brasil Escravidão Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Linha do tempo
Capítulo
■■ ■■ ■■ ■■
Principais fatos Independência Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Brasão do Reino Unido
■■ ■■ ■■ ■■
relacionados à Política Exercitar a escrita Valorizar as manifestações Fotografia recente
■■ ■■ ■■
8 independência do Brasil Economia Associar texto com imagem artísticas brasileiras Infográfico
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
A indepen Relações entre Brasil e Comércio Analisar diferentes fontes históricas Reconhecer a importância da Organograma
■■ ■■ ■■
dência do Europa no século XIX Revolução Interpretar uma linha do tempo preservação dos patrimônios Gravura
■■ ■■ ■■ ■■
Transferência da Corte Urbanização Analisar infográfico que representa o Largo do Paço históricos Símbolo da Maçonaria
Brasil ■■ ■■ ■■
portuguesa para o Brasil Densidade demográfica Real Respeitar o modo de vida das Diferentes gêneros
■■ ■■ ■■
Aspectos políticos e História das Interpretar organograma pessoas que viviam no Brasil no textuais
■■ ■■
econômicos do Brasil no mentalidades Reconhecer-se como sujeito histórico início do século XIX Gráfico
■■ ■■ ■■
início do século XIX Liberalismo Analisar gráficos Jornal antigo
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Movimentos Patrimônio histórico Construir o conhecimento coletivamente Sensibilizar-se com as Litogravura
■■ ■■ ■■
revolucionários no Brasil Maçonaria Analisar história em quadrinhos dificuldades enfrentadas pela História em quadrinhos
■■
no início do século XIX Fazer uma autoavaliação população brasileira
■■ ■■
A Biblioteca nacional Respeitar os motivos que
■■
Urbanização do Rio de levaram a Corte portuguesa a
Janeiro se transferir para o Brasil
■■ ■■
Sociedade brasileira Reconhecer a luta de diversos
■■
Transformação da setores da sociedade brasileira
mentalidade brasileira por melhores condições de vida
■■ ■■
Desenvolvimento da Respeitar as diferentes
Revolução liberal em posições políticas de brasileiros
Portugal e de portugueses
■■
Organograma da relação
entre o Bloqueio
Continental e o regresso de
D. João VI a Portugal
■■
Conflitos políticos no Brasil
■■
Proclamação da
independência
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Aspectos da sociedade Sociedade Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Pintura
■■ ■■ ■■
brasileira pós- Independência Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Gravura antiga
Capítulo
-independência ■■ ■■ ■■
Regência Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Bandeira do Império do
■■ ■■ ■■ ■■
Principais fatos que Estado Exercitar a escrita Valorizar diferentes crenças Brasil
marcaram o Primeiro ■■ ■■ ■■
9 Cidadania Associar texto com imagem religiosas Mapa
Reinado e o Período ■■ ■■ ■■ ■■
A consolida Escravidão Analisar diferentes fontes históricas Respeitar as diferentes Linha do tempo
Regencial ■■ ■■ ■■
Poder Moderador Interpretar uma linha do tempo posições políticas de grupos Porcelana comemorativa
ção da ■■ ■■ ■■
Formação do Estado Política Interpretar organograma brasileiros da independência do
indepen nacional brasileiro ■■ ■■ ■■
Economia Analisar mapas Reconhecer a luta de diversos Brasil
■■
dência Guerras de independência ■■ ■■ ■■
Movimentos Analisar página do jornal Sentinela da Liberdade setores da sociedade brasileira Organograma
■■
Organização política do ■■ ■■
brasileira revolucionários Analisar tabelas por melhores condições de vida Capa da Constituição
Brasil ■■ ■■ ■■
Cultura Interpretar trecho de texto escrito por Giuseppe Sensibilizar-se com as brasileira de 1824
■■
Organograma da divisão ■■ ■■
Diversidade cultural Garibaldi dificuldades enfrentadas pela Bandeira da
dos poderes com a ■■ ■■
Patriarcalismo Comparar Constituição de 1824 com a de 1988 população brasileira Confederação do Equador
Constituição de 1824 ■■ ■■ ■■ ■■
Intercâmbio cultural Fazer uma autoavaliação Valorizar as manifestações Detalhe do mural do
■■
Sistema eleitoral brasileiro ■■
Constituição artísticas brasileiras artista Cícero Dias
■■
Movimentos ■■ ■■
Respeitar e valorizar a cultura Mapa histórico
revolucionários brasileiros africana ■■
Página do jornal
■■
Participação feminina nos ■■
Valorizar a diversidade étnica dos Sentinela da Liberdade
movimentos africanos que vieram para o Brasil ■■
Tabela
revolucionários ■■
Valorizar os africanos como ■■
Diferentes gêneros
■■
Fatores determinantes da sujeitos históricos textuais
crise política brasileira que ■■
Sensibilizar-se com a luta dos ■■
Fotografia antiga
forçou a abdicação de D. ■■
afro-brasileiros por melhores Estátua
Pedro I
■■
condições de vida
Aspectos políticos do
Período Regencial
■■
Diversidade étnica dos
africanos que viviam no
Brasil
13
Orientações gerais Orientações para o professor
14
Principais
Principais temas Procedimentos Atitudes Principais recursos
Conceitos e noções
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Golpe da Maioridade Maioridade Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Pintura
■■ ■■ ■■ ■■
Contexto político e Política Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Gravura
Capítulo
■■ ■■ ■■
econômico brasileiro na Estado Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Fotografia antiga
■■ ■■ ■■ ■■
época de Segundo Reinado Modernização Exercitar a escrita Valorizar diferentes crenças Linha do tempo
■■ ■■ ■■ ■■
10 Revolução Praieira Migração Analisar diferentes fontes históricas religiosas Trecho do texto
■■ ■■ ■■ ■■
O apogeu do Expansão da produção Revolução Interpretar uma linha do tempo Respeitar as diferentes Manifesto ao Mundo
■■ ■■ ■■
Império do cafeeira brasileira no Liberalismo Analisar mapas posições políticas de grupos Mapa
■■ ■■ ■■
século XIX Economia Interpretar trecho do Manifesto ao Mundo, publicado brasileiros Infográfico
Brasil ■■ ■■ ■■ ■■
Aspectos do trabalho Escravidão pelos praieiros Reconhecer a luta de diversos Fotografia recente
■■ ■■ ■■
escravo nos cafezais Resistência Analisar etapas do beneficiamento do café setores da sociedade brasileira Documento que aboliu a
■■ ■■ ■■
Resistência escrava à Cultura Analisar charges de Angelo Agostini por melhores condições de vida escravidão nos Estados
■■ ■■ ■■
dominação dos Cidadania Analisar diferentes perspectivas historiográficas Sensibilizar-se com as Unidos
■■ ■■ ■■
latifundiários Identidade nacional Fazer uma autoavaliação dificuldades enfrentadas pela Charge de Angelo
■■ ■■
Diversidade das atividades Intercâmbio cultural população brasileira Agostini
■■ ■■
econômicas brasileiras no Valorizar as manifestações Diferentes gêneros
século XIX artísticas brasileiras textuais
■■ ■■ ■■
Desenvolvimento da Guerra Valorizar a participação cultural Ilustração
■■
do Paraguai e étnica dos imigrantes Fac-símile de capa da
■■
Participação feminina na europeus na formação cultural revista do Instituto
Guerra do Paraguai e social do Brasil Histórico e Geográfico
■■ ■■
Aspectos da Guerra de Sensibilizar-se com a luta dos Brasileiro
Secessão nos Estados afro-brasileiros e africanos por
Unidos melhores condições de vida
■■
Valorizar a participação das
mulheres na história do Brasil
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Transição da Monarquia Sociedade Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Pintura
■■ ■■ ■■
para a República no Brasil Urbanização Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Charge
Capítulo
■■ ■■ ■■ ■■
Sociedade brasileira Militarismo Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Bandeira da República
■■ ■■ ■■ ■■
Movimento migratório de Republicanismo Exercitar a escrita Reconhecer a luta de diversos brasileira
■■ ■■ ■■
11 europeus para o Brasil Abolicionismo Analisar diferentes fontes históricas setores da sociedade brasileira Anúncios publicitários
■■ ■■ ■■
O fim da Organização do trabalho no Escravidão Analisar mapas por melhores condições de vida antigos
■■ ■■ ■■ ■■
Monarquia Brasil Trabalho Analisar anúncios publicitários do final do século Sensibilizar-se com as Página do jornal A
■■ ■■
Estrutura e funcionamento Migração XIX dificuldades enfrentadas pela República
ea ■■ ■■ ■■
de uma fazenda de café Colonato Interpretar Capa da revista O Immigrante população brasileira Fotografia antiga
proclamação ■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Aspectos da modernização Economia Analisar etiqueta de uma indústria de tecidos do Rio Valorizar as manifestações Capa da revista O
da República ■■
do Brasil Modernização de Janeiro artísticas brasileiras Immigrante
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Aspectos culturais Cultura Analisar trecho de texto de Lima Barreto Valorizar a participação cultural Infográfico
■■ ■■ ■■
brasileiros no final do Política Associar texto com imagem e étnica dos imigrantes Etiqueta de uma
■■ ■■
século XIX República Interpretar trecho do romance Esaú e Jacó, de europeus na formação cultural indústria de tecidos do
■■ ■■
Processo abolicionista Positivismo Machado de Assis e social do Brasil Rio de Janeiro
■■
brasileiro Fazer uma autoavaliação
■■ ■■ ■■
A queda da Monarquia Valorizar a participação dos Folha de rosto da
■■
Movimento Republicano militares no processo de partitura da ópera O
■■
Proclamação da República proclamação da República no Guarani
■■
Brasil Capa da Revista
■■
Sensibilizar-se com a luta dos Illustrada
■■
afro-brasileiros e dos Fotografia recente
■■
abolicionistas pelo fim da Diferentes gêneros
escravidão no Brasil textuais
■■
Mapa
■■
Trecho do romance Esaú
e Jacó
■■
Gravura
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
Diversidade étnica do Estado Interagir com os colegas e com o professor Respeitar e valorizar as Fotografia antiga
■■ ■■ ■■
continente africano Jihad Observar, ler e descrever opiniões dos colegas e do Gravura antiga
Capítulo
■■ ■■ ■■ ■■
Aspectos da organização Imperialismo Interpretar fontes escritas e iconográficas professor Fotografia recente
■■ ■■ ■■ ■■
política de algumas regiões Darwinismo social Exercitar a escrita Valorizar diferentes crenças Ilustração
■■ ■■ ■■
12 africanas Colonização Analisar diferentes fontes históricas religiosas Mapa
■■ ■■ ■■ ■■ ■■
A África no A presença muçulmana no Resistência Analisar mapas Respeitar e valorizar a cultura Infográfico
■■ ■■ ■■
século XIX continente africano Plantation Associar texto com imagem africana Página de jornal
■■ ■■ ■■ ■■
Práticas religiosas Patrimônio histórico Analisar infográfico do kraal zulu Valorizar as manifestações publicado pela Comuna
■■ ■■ ■■
Império Zulu Intercâmbio cultural Fazer uma autoavaliação artísticas dos povos africanos de Paris
■■ ■■ ■■ ■■
Aspectos culturais zulus Protetorado Valorizar os africanos como Charge antiga
■■ ■■
Origens e características sujeitos históricos Fotografia colorida a
■■
do imperialismo Sensibilizar-se com as mão
■■ ■■
Desenvolvimento do dificuldades enfrentadas pelos Diferentes gêneros
imperialismo africanos para resistirem à textuais
■■ ■■
Argumentos justificativos dominação europeia Pintura
■■
do imperialismo Apresentar posicionamento
■■
Colonização da África crítico
■■ ■■
Resistência africana à Reconhecer a importância da
dominação europeia preservação dos patrimônios
■■
Consequências do históricos
imperialismo para os povos
africanos
■■
Imperialismo na Ásia e na
Oceania
■■
Aspectos do imperialismo
japonês
■■
Principais expedições de
exploração do interior da
África
15
Orientações gerais Orientações para o professor
Orientações didáticas e metodológicas
16
No período de elaboração da nova Constituição brasileira, em defesa de in-
Orientações gerais
em 1997, foi resultado das lutas e dos debates travados por profissionais de
diversas áreas ligados à educação. A partir de então, novas concepções educacio
nais foram instituídas, como o trabalho com temas transversais e com a interdis
ciplinaridade, e novos objetivos foram estabelecidos para a educação em geral
e para o ensino de História em particular.
A interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade se constitui com base na interação entre diferentes
discip linas e áreas do conhecimento, como História, Filosofia, Psicologia, Artes,
Ling uística, Crítica Literária, Economia, Sociologia, Geografia etc. A contribuição
que uma disciplina pode dar à outra amplia consideravelmente o campo de
análise e interpretação dos conteúdos escolares. Por isso, é importante, sempre
que poss ível, que professores de diferentes disciplinas troquem experiências e
busquem fortalecer os laços entre as áreas do saber.
17
Além disso, as novas propostas curriculares estabelecem um objetivo primor
dial para o ensino de História.
[...] Para a maioria das propostas curriculares, o ensino de História visa con
tribuir para a formação de um “cidadão crítico”, para que o aluno adquira uma
postura crítica em relação à sociedade em que vive. As introduções dos textos
oficiais reiteram, com insistência, que o ensino de História, ao estudar as sociedades
passadas, tem como objetivo básico fazer o aluno compreender o tempo presente
e perceber-se como agente social capaz de transformar a realidade, contribuindo
para a construção de uma sociedade democrática. [...]
BITTENCOURT, Circe. Capitalismo e cidadania nas atuais propostas curriculares de História. In: BITTENCOURT, Circe
(Org.). O saber histórico na sala de aula. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2002. p. 19. (Repensando o Ensino).
A proposta de ensino
Para atingir esse objetivo, procuramos fazer uma seleção de conteúdos histó
ricos relevantes, compostos de textos acessíveis para os alunos e com a presen
ça de um grande número de fontes históricas, principalmente imagéticas. Para
que esses conteúdos sejam significativos para os alunos, no entanto, é necessá
rio que o professor assuma o papel de mediador. Nesse sentido, consideramos
um importante referencial a proposta sociointeracionista, desenvolvida com
bas e nos estudos do psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934).
De acordo com essa proposta, o conhecimento é construído socialmente e, por
isso, o desenvolvimento intelectual ocorre na interação do indivíduo com o meio
social. Na condição de sujeito no aprendizado, o indivíduo não tem acesso direto
ao conhecimento, mas sim um acesso mediado, seja explicitamente ou não, pe-
las pessoas com as quais ele convive e pelos sistemas simbólicos de que dispõe,
principalmente a linguagem. Por isso, o desenvolvimento intelectual consiste na
interação do indivíduo com o meio social, mediada por várias relações.
18
O papel de mediador do professor é fundamental para o desenvolvimento
[...] O ensino, para Vygotsky, deve se antecipar ao que o aluno ainda não sabe
nem é capaz de aprender sozinho, porque, na relação entre aprendizado e desen
volvimento, o primeiro vem antes. É a isso que se refere um de seus principais
conceitos, o de zona de desenvolvimento proximal, que seria a distância entre o
desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela tem o potencial de aprender
— potencial que é demonstrado pela capacidade de desenvolver uma competência
com a ajuda de um adulto. Em outras palavras, a zona de desenvolvimento proximal
Orientações gerais
é o caminho entre o que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de
conseguir fazer sozinha. Saber identificar essas duas capacidades e trabalhar o per
curso de cada aluno entre ambas são as duas principais habilidades que um profes
sor precisa ter, segundo Vygotsky. [...]
NOGUEIRA, Nilcéia (Dir.). Nova Escola: Grandes Pensadores. São Paulo: Abril, n. 178, dez. 2004. Edição especial. p. 60.
Concepção de história
Outro aspecto importante a ser discutido é a concepção de história que ser-
viu de referencial para a elaboração desta coleção. Diante dos objetivos a serem
ating idos, consideramos mais apropriados os referenciais teóricos presentes na
corrente historiográfica denominada história nova. Essa corrente originou-se no
final da década de 1920, a partir da chamada Escola dos Annales, fundada
pelos historiadores franceses Lucien Febvre e Marc Bloch. Esse movimento
historiográfic o se desenvolveu como uma crítica à chamada história tradicional,
praticada pelos historiadores metódicos, considerados positivistas.
Febvre e Bloch acreditavam que os campos de análise historiográfica, assim
com o o leque de fontes e sujeitos históricos deveriam ser ampliados. A consti-
tuição de uma “história total”, como defendiam, passava por uma necessária
renovação metodológica, pela ampliação do campo documental e pela aliança
com outras disc iplinas. O resultado dessa renovação seria, nas palavras de
Jacques Le Goff, a instituição de uma “história nova”.
19
Ao longo da segunda metade do século XX, a história nova afirmou-se como
uma corrente historiográfica aberta às influências e contribuições de diversas
disciplin as, como a Geografia, a Demografia, a Sociologia, a Psicologia, a An-
tropologia. Além disso, seus historiadores não acreditam na possibilidade de se
chegar a uma “verdade” histórica e defendem uma abordagem que reconheça
o papel do tempo presente na formulação das questões que fazem ao passado.
De acordo com a história nova, os documentos não falam por si, o historiador
é quem os faz falar, é ele quem constrói a narrativa histórica com base em uma
vasta gama de fontes.
Assim, adotamos alguns pressupostos teóricos da história nova por considerá-
-los pertinentes à nossa ideia de conhecimento histórico em permanente cons
trução, aberto à multiplicidade de fontes e análises e favorável ao diálogo inter
disciplinar. As abordagens sugeridas pela história nova são essenciais para a
inc lusão de temas antes pouco valorizados, como a história do cotidiano, das
class es oprimidas e da cultura de um povo. Além disso, abrem espaço para que
se destaquem sujeitos históricos que geralmente estão ausentes no discurso
tradic ional, e também para ressaltar as lutas e contestações à ordem vigente,
movid as tanto por indivíduos quanto por grupos sociais.
Buscando atingir os objetivos estabelecidos pelas novas propostas curricula-
res que norteiam o ensino de História, principalmente os PCN, procuramos fazer
uma seleção de conteúdos e uma abordagem que propiciem que os alunos
identifiquem as suas vivências pessoais com a de outros sujeitos históricos do
pass ado, estimulando não apenas o seu aprendizado, mas também promoven-
do a conscientização e a instrumentalização necessárias para o sentido funda-
mental de sua participação ativa no processo histórico.
As fontes históricas
No século XVIII, estudiosos franceses inseridos na tradição iluminista desenvol
veram um método erudito de crítica das fontes. Esse método consistia na crítica
interna e externa dos documentos, de modo a comprovar, sob rígidos parâme-
tros cientificistas, a sua autenticidade, como a comparação entre os docum entos
por meio de seu estudo filológico. No século XIX, institucionalizada na Alemanha,
a história se tornou uma disciplina acadêmica, e os historiadores recorrer am ao
método erudito dos franceses para o desenvolvimento de sua crítica histórica,
privilegiando os documentos escritos e de cunho oficial, principalmente os
documentos diplomáticos, o que gerou uma produção historiográfica centrad a
na história política. Na passagem do século XIX para o século XX, alguns so
ciólogos já criticavam a pretensa objetividade do método histórico.
No final dos anos 1920, a contestação a essa rigidez documental partiu dos
hist oriadores franceses ligados à Escola dos Annales , responsáveis pela amplia-
ção do campo documental à disposição dos historiadores. A ampliação das
fontes, o desenvolvimento de novos temas e novas abordagens têm, lentamen-
te, chegado às escolas brasileiras.
20
dos das mentalidades e representações estão sendo incorporados; pessoas comuns
Orientações gerais
Novos temas nas aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009. p. 7.
[...] A iconografia é, certamente, uma fonte histórica das mais ricas, que traz
embutidas as escolhas do produtor e todo o contexto no qual foi concebida, idea
lizada, forjada ou inventada. Nesse aspecto, ela é uma fonte como qualquer outra
e, assim como as demais, tem que ser explorada com muito cuidado. Não são raros
os casos em que elas passam a ser tomadas como verdade, porque estariam retra
tando fielmente uma época, um evento, um determinado costume ou uma certa
paisagem. Ora, os historiadores e os professores de História não devem, jamais, se
deixar prender por essas armadilhas metodológicas. [...]
A imagem, bela, simulacro da realidade, não é realidade histórica em si, mas traz
porções dela, traços, aspectos, símbolos, representações, [...] induções, códigos,
cores e formas nelas cultivadas. Cabe a nós decodificar os ícones, torná-los inteli
gíveis o mais que pudermos, identificar seus filtros e, enfim, tomá-los como teste
munhos que subsidiam a nossa versão do passado e do presente, ela também, ple
na de filtros contemporâneos, de vazios e de intencionalidades. Mas a História é
isto! É construção que não cessa, é a perpétua gestação, como já se disse, sempre
ocorrendo do presente para o passado. É o que garante a nossa desconfiança salu
tar em relação ao que se apresenta como definitivo e completo, pois sabemos que
isso não existe na História, posto que inexiste na vida dos homens, que são seus
construtores. [...]
PAIVA, Eduardo França. História & Imagens. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 17-9. (História &... Reflexões).
21
Fontes arqueológicas, audiovisuais e relatos orais são outros tipos de fontes
importantes para o historiador. As fontes arqueológicas, também chamadas de
“cultura material”, são os únicos recursos disponíveis para o estudo das socie
dades ágrafas e das chamadas “pré-históricas”. Mesmo para a compreensão
de sociedades com escrita, a arqueologia colabora fornecendo elementos que
ger almente não figuram nos documentos escritos, como aspectos do cotidiano
obs erváveis em objetos domésticos, entre outros.
Política
Política é um termo polissêmico, ou seja, pode ser usado em vários sentidos.
O uso do termo teve origem nas cidades-estado da Grécia Antiga, com a pala-
vra grega politika derivando de polis , como explica o historiador Moses Finley:
22
[...] Não deixa de ser verdadeira [...] a afirmativa de que, efetivamente, os gregos
Orientações gerais
clamado pelos escritores gregos. [...] A isso se chama política. [...]
FINLEY, Moses I. (Org.). O legado da Grécia: uma nova avaliação. Trad. Yvette Vieira Pinto de Almeida. Brasília: Editora da
Universidade de Brasília, 1998. p. 32; 34.
23
líticas podem ter lugar. Essa ampliação dos espaços reivindicativos na sociedade
civil pode ser entendida de duas formas: por um lado, indica um avanço da politi
zação de amplos setores sociais; por outro, é um sintoma da descentralização das
ambições políticas, que se tornaram cada vez mais pulverizadas. [...]
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 337.
O trabalho
De modo geral, o trabalho é todo ato de transformação feito pelo ser humano.
O trabalho, ao longo do tempo, adquiriu diversas formas, organizaç ões e valores.
Nas sociedades ditas “tribais”, ou seja, aquelas formadas por caç adores e co-
letores, somadas às que praticavam a pecuária e a agricultura prim itivas, o
trabalho não era uma atividade separada de outros afazeres cotidianos. Ao
contrário, nas sociedades “tribais” o trabalho se misturava às esferas religios as,
ritualísticas, míticas, era dividido sexualmente e estava ligado às relações de
parentesco. Nessas sociedades, o trabalho não visava à acumulação de exceden
tes, mas ao suprimento das necessidades da comunidade.
24
trab alho que se conhece na história. O desenvolvimento da maquinofatura, da
Orientações gerais
aula em torno do trabalho é sua multiplicidade histórica: primeiro, trabalho não é
emprego. Não é porque alguém — como uma dona de casa, por exemplo — não
tem um emprego que ela não trabalha. Segundo, o trabalho é mutável, na forma
como as pessoas o veem ao longo do tempo. Assim, não apenas entendemos o
objetivo do trabalho de forma diferente de um japonês, como também definimos
trabalho de forma diferente de um grego do tempo de Péricles. O risco de anacro
nismo na análise histórica de trabalho é grande. Precisamos estar atentos a essas
questões em sala de aula e acabar de vez, por exemplo, com a visão de que os índios
eram preguiçosos, não gostavam de trabalhar e, logo, não serviam para a escravi
dão. Além disso, importante contribuição para a cidadania brasileira é a valorização
do trabalho doméstico, do trabalho feminino e o reconhecimento de que a maioria
das mulheres realiza uma jornada dupla de trabalho. Enquanto o trabalho domés
tico não for considerado trabalho no Brasil, a maioria das mulheres brasileiras,
principalmente as de baixa renda, continuará a trabalhar duplamente sem reconhe
cimento profissional ou social. [...]
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 403-4.
Sociedade
Sociedade é o conjunto de pessoas que convivem em um determinado espa-
ço, que seguem as mesmas regras e que compartilham valores, costumes,
língua etc. Um dos principais elementos comuns a todas as sociedades hierar-
quizadas é a existência de conflitos sociais. Os conflitos sociais expressam as
contradições em nível econômico e político. Eles evidenciam as tensões e dis-
putas, por exemp lo, entre diversos grupos ou classes, ou entre setores da so-
ciedade civil organiz ada contra medidas públicas que os prejudicam.
[...] Quem de nós já não vivenciou, como participante ativo ou como simples
espectador de TV, cenas de manifestações de grupos, ou mesmo de multidões, em
defesa, por exemplo, do ensino público e gratuito ou contra a poluição do meio
ambiente? Quem não leu nos jornais notícias sobre greves de trabalhadores da
indústria da construção civil ou da indústria automobilística, para forçar patrões a
atender a suas reivindicações salariais? E quem já não viu nessas cenas a presença
de policiais golpeando com seus cassetetes braços, pernas e cabeças de manifestan
tes, em nome da ordem pública e da segurança? Com certeza todos já viram, porque
são incontáveis os casos de manifestações e movimentos sociais [...].
[...] O que primeiro nos chama a atenção é o iminente confronto com a polícia
— cena bastante comum em movimentos desse tipo. Mas devemos observar que
nem todo movimento social tem como um dos seus desdobramentos o enfrenta
25
mento com a polícia. Como também não é verdade que todo enfrentamento com
a polícia significa um movimento social. Entretanto, a situação descrita evidencia um
conflito. E o conflito é um elemento constitutivo de todo movimento social. [...]
TOMAZI, Nelson Dacio (Coord.). Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual, 2000. p. 224.
Cultura
A cultura é criada e transmitida na interação social, e é apreendida em nossas
relações grupais, em que adquirimos identidades particulares que nos distinguem
de outros grupos e de outras culturas. Por meio da interação, apropriamo-nos
de certas “verdades” socialmente aceitas que se integram ao nosso código
cultural, e esse mesmo processo ocorre no sentido inverso, ao apreendermos
culturalmente o que deve ser negado, odiado ou desprezado. Dito de outra
forma, a cultura sintetiza nossa forma de valoração do mundo, um conjunto de
valores que nos são transmitidos pela família, escola, universidade, círculo de
amizades, trabalho, meios de com unicação etc.
[...] Cultura é uma perspectiva do mundo que as pessoas passam a ter em comum
quando interagem. É aquilo sobre o que as pessoas acabam por concordar, seu
consenso, sua realidade em comum, suas ideias compartilhadas. O Brasil é uma
sociedade cujo povo tem em comum uma cultura. E no Brasil, cada comunidade,
cada organização formal, cada grupo [...] possui sua própria cultura (ou o que al
guns cientistas sociais denominam uma subcultura, pois se trata de uma cultura
dentro de outra cultura). Enquanto a estrutura ressalta as diferenças (as pessoas
relacionam-se entre si em termos de suas posições diferentes), a cultura salienta as
semelhanças (de que modo concordamos).
Fazer parte da “cultura jovem” no Brasil, por exemplo, é ter em comum com
várias pessoas certas ideias sobre verdade, política, autoridade, felicidade, liberdade
e música. Nas ruas, na palavra escrita e falada, nas universidades, em shows e filmes,
desenvolve-se uma perspectiva à medida que as pessoas compartilham experiên
cias e se tornam cada vez mais semelhantes umas às outras, por um lado, enquan
to se diferenciam crescentemente das que se encontram fora de sua interação.
Desenvolve-se uma linguagem comum entre os que compartilham a cultura, con
solidando a solidariedade e excluindo os de fora. [...]
Cultura é o que as pessoas acabam por pensar em comum — suas ideias sobre o
que é verdadeiro, correto e importante. Essas ideias nos guiam, determinam mui
tas de nossas escolhas, têm consequências além de nosso pensamento. Nossa cul
tura, compartilhada na interação, constitui nossa perspectiva consensual sobre o
mundo e dirige nossos atos nesse mundo.
CHARON, Joel M. Sociologia. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 103-4.
26
A construção da cidadania
Orientações gerais
dania, os PCN apontam para a necessidade de democratização dos direitos
sociais, culturais e políticos. Assim, o objetivo é a formação de cidadãos críticos
e cientes de que possuem identidades próprias.
27
ria e cultura indígenas nos ensinos fundamental e médio, vemos a expansão dos
direitos de grupos tradicionalmente marginalizados e que agora devem ter sua
cultura e sua contribuição para a construção do Brasil reconhecidas, ao mesmo
tempo em que as especificidades desses grupos devem ser valorizadas como
resp onsáveis por contribuições originais na formação da sociedade brasileira.
Esse direito à diferença, que ganhou força com o multiculturalismo, não deve
ser confundido com aquiescência às desigualdades, sendo justamente neste
ponto que essas alterações no currículo escolar tradicional devem intervir.
28
Um exemplo característico das conquistas femininas desse período foi a libe
Orientações gerais
salários mais baixos que os dos homens, mesmo exercendo funções idênticas.
Consideramos que o mais importante é a criação de um espaço comum entre
homens e mulheres, em que a diferença de identidades não seja motivo para a
diferença de direitos, e a sala de aula é um local privilegiado para isso.
A inclusão na escola
Os direitos das pessoas portadoras de necessidades especiais (também cha
madas de portadoras de deficiência) foram estabelecidos na Convenção de
Guatemala, de 1998. O documento, promulgado pelo Brasil em 2001, estabe-
lece que as pessoas portadoras de necessidades especiais têm direitos idênti-
cos aos das demais. No caso das crianças em idade escolar, a própria Consti-
tuição da Rep ública proíbe que qualquer unidade escolar as exclua. Assim, é
nec essário que as escolas se adaptem às necessidades desses alunos, cujas
defic iências podem ser físicas, visuais, auditivas ou mentais.
A adaptação passa pela adoção de práticas criativas na sala de aula e mudan
ças no projeto pedagógico, mas existem orientações específicas para casos de
deficiência. As mudanças não são fáceis, e sua eficácia depende de vontade e
empenho por parte dos profissionais envolvidos. Além da necessidade de adap
tação da arquitetura da escola, os professores precisam buscar orientações
esp ecializadas, conversar com os pais dos alunos e, principalmente, dar atenção
especial a esses alunos. Quando os resultados começam a aparecer, não só o
aprendizado dos alunos portadores de necessidades especiais progride, mas
tod a a escola se torna mais cidadã.
29
Comparada), organizado pela OECD (do inglês, Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico), corroboram os exames nacionais. Realizad os
de três em três anos, esse exame internacional avaliou alunos na faixa dos 15
anos de idade nas escolas públicas e privadas de vários países, por meio de
análises comparativas de competência em leitura, Matemática e Ciências.
Segundo os resultados divulgados pelo PISA em 2009, os jovens bras ileiros
continuam com média inferior à de muitos país es, desde o primeiro exame rea-
lizado em 2000, ocupando o 53º lugar no ranking dos 65 países avaliados.
(Faça o download do relatório PISA 2009. Extraído do site : <www.oecd.org/do
cument/61/0,3746,en_32252351_32235731_46567613_1_1_1_1,00.html>.
Acesso em: 26 jan. 2012.)
30
No Nível Operacional encontram-se as ações coordenadas que pressupõem o
Orientações gerais
As especificidades da
leitura na disciplina de História
Atualmente, o fato de um aluno ser considerado alfabetizado, ou seja, capaz
de ler e escrever, não significa que ele possa utilizar esses recursos como uma
man eira de conhecer e de se expressar.
[...] Ser alfabetizado pode significar apenas que estes alunos leem mecanicamente o
que lhes cai pela frente: propagandas, anúncios, placas na rua, trechos do livro didático,
avisos, exercícios passados pelo professor etc. Ou seja, eles são “atingidos” pelas coisas
escritas, mas pouco interagem com elas. De todo modo, a maior parte dos indivíduos
hoje em dia sabe mais do mundo através especialmente da televisão e do rádio, frente
aos quais habituamo-nos a ter uma atitude passiva e receptiva acrítica. [...]
SEFFNER, Fernando. Leitura e escrita na história. In: NEVES, Iara Conceição Bitencourt e outros. Ler e escrever:
compromisso em todas as áreas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007. p. 111-2.
31
Símbolos utilizados na coleção
Em muitos textos citados ao longo dos quatro volumes desta coleção, o
leitor pod e se deparar com alguns símbolos, entre eles: c. = cerca de; [...]
= texto suprimido do original; [texto] = texto inserido no original.
Esses símbolos são utilizados para explicitar as intervenções que, por
necessidad e de concisão ou de clareza, foram feitas nos textos de outros
autores citados nesta coleção.
[...] “Escrever para aprender”, lembra Gisele de Carvalho, que assim recupera
algumas das grandes tarefas do educador: “Se [...] escrever significa registrar os
caminhos da reflexão, parece que nós, professores, independentemente da matéria
que ensinamos, temos uma tarefa em comum [...]: se todos nós, de uma forma ou
de outra, ensinamos a pensar, logo todos nós ensinamos a escrever...”.
Admiramos hoje a desenvoltura com que os jovens manejam seus computadores,
navegam nesses mares antes inimagináveis da Internet, criam seus blogs, repagi
nam-se permanentemente, enviam e recebem mensagens em tempo real (usando
uma língua um tanto estranha, é bem verdade!). Aparentemente nenhum mistério
os detêm, e eles nos dão demonstrações diárias de habilidade, curiosidade, criati
vidade. Nosso desafio, prepará-los nessa era planetária para a grande aventura do
conhecimento e da lucidez, talvez seja mais fácil de superar do que pensamos.
RIBEIRO, Marcus Venicio. Não basta ensinar História: para uma boa formação, os alunos precisam entender bem o que
leem e saber pensar e escrever. Nossa História. São Paulo: Vera Cruz, ano 1, n. 6. abr. 2004. p. 78.
A pesquisa escolar
Procedimentos básicos
O ato de realizar pesquisas é fundamental para a disciplina de História. Nes-
sa coleção, em vários momentos os alunos são convidados a realizar pesquisas,
tanto individuais como em grupos.
Para que a pesquisa escolar obtenha resultados satisfatórios, existem algumas
dicas que o professor pode fornecer aos alunos antes de sua realização. Veja.
■■ Definição do tema: além dos temas sugeridos na coleção, fica a critério do pro
fessor escolher novos temas, de acordo com as especificidades de cada turma.
■■ Após a definição do tema, estabelecer um roteiro para a pesquisa, que inclui:
os objetivos da pesquisa (no caso, pesquisa escolar); definição das fontes
que serão utilizadas (livros, jornais, revistas, internet, dicionários, enciclopé-
dias, fot ografias, documentários, filmes, CD-ROM etc.) e definição dos pra-
zos para a entrega da pesquisa. Para as pesquisas realizadas na internet,
leia para os alunos as seguintes dicas.
32
Na internet, você pode encontrar sites sobre os mais variados assuntos. Pode
Orientações gerais
que são mais confiáveis.
JUNQUEIRA, Sonia. Pesquisa escolar: passo a passo. Belo Horizonte: Formato Editorial, 1999. p. 23. (Dicas e informações).
33
A avaliação do ensino-aprendizagem
A utilidade da avaliação
Atualmente muito se discute sobre a utilidade da avaliação no processo de ensi
no-aprendizagem nas escolas. Seria a prática de avaliação um instrumento repres
sor e autoritário que formaliza o conhecimento do aluno ou a avaliação seria um
instrumento que contribui para seu crescimento intelectual e espírito crítico?
O método tradicional de avaliação atualmente tem sido alvo de várias críticas,
pois, durante muitos anos, as instituições escolares se responsabilizaram por
uma aprendizagem homogênea e linear, que não considera as dificuldades e
qualidad es de cada aluno no processo de aprendizagem. Neste sistema, a ava-
liação é uma forma de seleção e exclusão dos alunos, focada na quantidade de
saber acum ulado e nos princípios de eficiência e competitividade, como as
provas de vestibular, por exemplo. Assim, o pedagogo Jansen Felipe da Silva
afirm a que esse modelo “contribui eficientemente para a marginalização socio-
econômica e cultural de grande parcela da população brasileira, principalmente
a pertencente às classes mais carentes”.
Por outro lado, a proposta formativa reguladora de avaliação leva em consi
deração aspectos do cotidiano em sala de aula. A avaliação é tida como um
proc esso contínuo, diário e qualitativo que respeita o ritmo de cada estudante.
Ao contrário do modo tradicional de avaliação, a maneira como o sujeito apren-
de passa a ser mais importante do que aquilo que aprende.
Neste sentido, a prática pedagógica se torna reflexiva e transformadora, uma
vez que exige dos professores uma postura ativa sobre as dificuldades dos alunos.
Sendo a avaliação formativa reguladora constante, é necessário também diver
sificar os instrumentos de avaliação (provas dissertativas, objetivas, trabalhos
em grupo, debates etc.). Esses instrumentos, quando utilizados com coerência,
lev am em consideração não somente as capacidades cognitivas, mas também
as dimensões afetiva, social, cultural de cada aluno, aprofundando as relações
ent re aluno e professor em sala de aula. Na proposta formativa reguladora, es-
ses instrumentos de avaliação são usados para compreender as necessidades
de cad a aluno, a fim de melhorar suas qualidades, diagnosticar e intervir de
maneira pos itiva (e não simplesmente o classificar, selecionar e excluir).
34
A autoavaliação
Orientações gerais
provocando-o a refletir sobre o que está fazendo, retomar passo a passo seus pro
cessos, tomar consciência das estratégias de pensamento utilizadas. Mas não é ta
refa simples. Para tal, ele precisará ajustar suas perguntas e desafios às possibi
lidades de cada um, às etapas do processo em que se encontra, priorizando uns e
outros aspectos, decidindo sobre o que, como e quando falar, refletindo sobre o seu
papel frente à possível vulnerabilidade do aprendiz. Nesse sentido, o caráter intui
tivo e ético do educador faz-se fortemente presente, porque ele precisará promover
tal reflexão a partir do papel que lhe cumpre e da forma de relacionamento que
deseja estabelecer com seus alunos. [...]
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2006. p. 54.
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2006. p. 53.
35
■■ O que estou aprendendo?
■■ O que eu aprendi?
■■ Como se aprende/se convive?
■■ De que forma poderia aprender melhor?
■■ Como poderia agir/participar para aprender mais?
■■ Que tarefas e atividades foram realizadas?
■■ O que aprendi com elas? O que mais poderia aprender?
■■ O que eu aprendi com meus colegas e professores a ser e fazer?
■■ De que forma contribuí para que todos aprendessem mais?
Anotações
36
Tabela de conversão de séculos
Orientações gerais
século XIX a.C. (século 19 a.C.): de 1900 a 1801 a.C.
século XVIII a.C. (século 18 a.C.): de 1800 a 1701 a.C.
século XVII a.C. (século 17 a.C.): de 1700 a 1601 a.C.
século XVI a.C. (século 16 a.C.): de 1600 a 1501 a.C.
2o milênio a.C. século XV a.C. (século 15 a.C.): de 1500 a 1401 a.C.
século XIV a.C. (século 14 a.C.): de 1400 a 1301 a.C.
Antes de Cristo
3o milênio d.C. século XXI d.C. (século 21 d.C.): de 2001 a 2100 d.C.
37
Sugestões de leitura
sobre o ensino de História
ABREU, Martha; SOIHET, Rachel (Orgs.). Ensino de história: conceitos, temáticas
e metodologia . Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos , vol. 1. 2. ed.
São Paulo: Contexto, 2002. (Repensando o Ensino).
. (Org.). O saber histórico na sala de aula . 6. ed. São Paulo: Con-
texto, 2002. (Repensando o Ensino).
CASTRO, Mary Garcia; ABRAMOVAY, Miriam. (Coords.). Drogas nas escolas .
Brasília: UNESCO, 2002.
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história: Experiên-
cias, reflexões e aprendizados . Campinas: Papirus, 2003. (Magistério: Forma-
ção e Trabalho Pedagógico).
FONSECA, Thais Nívia de Lima e. História & ensino de História . 2. ed. Belo Ho-
rizonte: Autêntica, 2006. (História &... reflexões).
GRINBERG, Keila e outros. Oficinas de história: projeto curricular de Ciências
Sociais e de História . Belo Horizonte: Dimensão, 2000.
JARES, Xesús R. Educação para a paz: sua teoria e sua prática. 2. ed. Trad.
Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002.
KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propos-
tas . São Paulo: Contexto, 2003.
LUCINI, Marizete. Tempo, narrativa e ensino de História. Porto Alegre: Mediação, 1999.
MONTEIRO, Ana Maria F. C. e outros (Orgs.). Ensino de História: sujeitos, sabe-
res e práticas . Rio de Janeiro: Mauad X; FAPERJ, 2007.
MUNANGA, Kabengele (Org.). Superando o racismo na escola . 3. ed. Brasília:
MEC/SEF, 2001.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula . São Paulo: Con-
texto, 2003.
PAIVA, Eduardo França. História & imagens . 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2006. (História &... reflexões).
PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Novos temas nas aulas de História . São Paulo:
Contexto, 2009.
SAMARA, Eni de Mesquita; TUPY, Ismênia Spínola Silveira Truzzi. História & Do-
cumento e metodologia de pesquisa . Belo Horizonte: Autêntica, 2007. (His-
tória &... reflexões).
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar História . São Paulo:
Scipione, 2004. (Pensamento e ação no magistério).
SILVA, Marcos; FONSECA, Selva Guimarães. Ensinar História no século XXI: Em
busca do tempo entendido . Campinas: Papirus, 2007. (Magistério: Formação
e Trabalho Pedagógico).
TURAZZI, Maria Inez; GABRIEL, Carmen Teresa. Tempo e história . São Paulo:
Moderna, 2000.
38
Objetivos, comentários
1
Capítulo
O outro na História
A identidade é um tema e um objeto de análise extraordinariamente abrangente.
A opção é, então, limitar a abordagem a um de seus princípios: o da existência de
um outro além de mim. Essa alteridade é condição indispensável para que nós nos
(re)conheçamos.
Alteridade não é somente ver o outro, mas percebê-lo no que ele tem de diferente
em relação a mim. Mais que isso: é compreendê-lo e, se não for possível integrá-lo ao
nosso universo, pelo menos aceitá-lo como ele é, sem uma postura de superioridade.
Para isso, é essencial, de novo, valorizar o multiculturalismo. Somos habitantes
de um mundo cujas distâncias se reduzem a cada minuto graças à tecnologia dos
transportes e da comunicação. Não tem cabimento nos considerarmos superiores
ou achar que a minha civilização é mais evoluída só porque faço parte dela. Essa
forma unilateral de olhar o mundo é o que os historiadores chamam de etnocen-
trismo. Devemos sempre, ao contrário, perceber e interagir com o outro. [...]
Por isso é fundamental a análise crítica da História: para ampliar nosso ponto de
vista, valorizando as diferenças e a diversidade.
BOSCHI, Caio César. Por que estudar história? São Paulo: Ática, 2007. p. 63; 65.
Comentários e sugestões
Páginas 8 e 9
Páginas de abertura do capítulo
■■ A fonte A apresenta reprodução de uma fotografia tirada em 1890, da Rua 1o
de Março, região central do Rio de Janeiro. A imagem retrata à esquerda, em
primeiro plano, o prédio dos Correios, com arquitetura em estilo neoclássico.
39
Em seguida, a Igreja da Cruz dos Militares e a Igreja do Carmo, em frente.
Pela rua circulam pessoas a pé, carros movidos por tração animal e também
carros no estilo calhambeque. Os indivíduos da fotografia apresentam-se ves-
tidos de acordo com costumes da época: calças de linho, terno e chapéu.
Comente com os alunos que, nesse período, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil.
■■ A fotografia apresentada como fonte B retrata a Rua 1 o de Março, no Rio de
Janeiro, em 2009. A edificação, em primeiro plano, era o antigo prédio dos
Correios. Ao fundo, do lado direito, está a torre da Igreja do Carmo. Na imagem,
é possível observar ônibus, carros, motocicletas e um caminhão, além de
transeuntes. As marcações na pista, traçadas para controlar o fluxo dos meios
de transporte, denotam fluxo intenso de pessoas e automóveis nesse espaço.
Página 12
■■ Comente com os alunos que, ao analisar uma fonte, o historiador já tem seu
próprio ponto de vista sobre a História, tendo como base suas vivências e
seu entendimento de mundo. É por essa razão que a análise de uma mesma
fonte histórica, feita por historiadores diferentes, pode resultar em conclusões
diversas, sem que uma delas esteja necessariamente certa ou errada. Caso
julgue conveniente, apresente-lhes o texto a seguir, que versa sobre os cui-
dados que os historiadores devem ter ao analisar fontes históricas.
[...] Cabe [ao historiador] distinguir os contextos, as funções, os estilos, os argu-
mentos, os pontos de vista e as intenções do autor [da fonte]. Ou, colocando de outra
forma, compete ao estudioso da História realizar a leitura crítica [...] do documento.
[...] O documento não pode ser entendido como a realidade histórica em si, mas
trazendo porções dessa realidade. Além disso, as fontes históricas são sempre lidas
e exploradas com os filtros do presente, de acordo com os valores, as preocupações,
40
os conflitos, os medos, os projetos e os gostos de cada observador. Em seguida, [o
Explorando a imagem
A obra de Pedro Américo exalta o acontecimento da proclamação da Independência por meio da representação que
faz do evento. Para ilustrar a ocasião, retrata D. Pedro empunhando uma espada, rodeado por soldados com
vestimenta de gala e acenando a vitória com seus chapéus às margens do riacho do Ipiranga. Em primeiro plano,
formando um semicírculo, veem-se os cavaleiros do Império. Do lado oposto a eles, é possível identificar um carro
de boi guiado por um homem do campo. No quadro, esta é a única referência à participação popular no evento. A
pintura foi encomendada pela família real para interpretar o rompimento político do Brasil com seus colonizadores.
41
Sugestão de atividade
Ficha Técnica
Título — Narradores de Javé
Diretor — Eliane Caffé
Atores principais — José
Dumont, Matheus Nachtergaele,
Nelson Dantas e Nelson Xavier
Ano — 2003
Duração — 100 minutos
Origem — Brasil
Página 16
■■ O trabalho é uma atividade criadora na qual o ser humano modifica a natu-
reza e, ao mesmo tempo, se autotransforma. O desenvolvimento humano,
nesse sentido, está associado ao trabalho, que é um conceito fundamental
para a construção do conhecimento histórico. É por meio da análise desse
42
conceito que podemos perceber a relação do ser humano com seu ambien-
Página 17
■■ Caso julgue conveniente e queira complementar o estudo da página a res-
peito do conceito de capitalismo, apresente aos alunos as informações do
texto a seguir.
Podemos definir Capitalismo como um sistema econômico surgido no Ociden-
te, na Idade Moderna, que se expandiu pelo mundo contemporâneo nos séculos
seguintes. Assim, pensar o Capitalismo é uma forma de compreender o presente.
Página 23
■■ Comente com os alunos que o horário de verão teve origem na Inglaterra, no
início do século XX, com um construtor londrino chamado William Willet (1856-
-1915). Por meio da distribuição de panfletos, ele iniciou uma campanha para
reduzir o consumo de energia elétrica. Willet propunha o adiantamento dos
relógios em 20 minutos nos domingos de abril, e o atraso deles, também em
20 minutos, nos domingos de setembro. Com isso, Willet afirmava que o con-
sumo de energia seria reduzido nesses períodos. O primeiro país a adotar o
horário de verão foi a Alemanha, em 1916. Em seguida, a Inglaterra e outros
países europeus também o adotaram. Em 1918, foi a vez dos Estados Unidos.
Atualmente, cerca de 30 países, entre eles o Brasil, já adotaram o horário de
verão com o intuito de reduzir seu consumo de energia elétrica.
43
2
Capítulo
O Antigo Regime
Objetivos
■■ Perceber as permanências e as rupturas políticas, econômicas e sociais entre
o período feudal e o Antigo Regime.
■■ Estudar a formação dos Estados modernos europeus.
■■ Estudar o cotidiano dos europeus na época do Antigo Regime.
■■ Compreender as características do Absolutismo em diversos Estados europeus,
como Espanha, Portugal, Inglaterra e França.
Comentários e sugestões
Páginas 24 e 25
Páginas de abertura do capítulo
■■ A pintura apresentada como fonte A foi produzida no século XVI e representa
um baile na Corte francesa. Os personagens da obra aparecem com trajes de
gala, dançando com seus pares ou conversando com outros indivíduos. As
mulheres vestem-se com vestidos longos e armados, cintura marcada, golas
plissadas do tipo rufo e ombros bufantes. Os homens, do mesmo modo, uti-
lizam os rufos, acompanhados de ceroulas retas ou com enchimento, gibão e
44
sapatos baixos. Alguns se adornam com grandes mantos ou chapéus com
45
vestindo aventais, também são membros da festa. Reforçando esta oposição,
o local representado na fonte B é pequeno quando comparado ao da primei-
ra fonte, no qual o efeito de profundidade denota a amplitude do espaço.
■■ Na fonte C, os membros do clero foram representados conversando com o
papa Gregório IX. Apresentam-se com batinas e romeiras coloridas, diferente-
mente do papa, que veste a cor branca. A principal atribuição do clero no
Antigo Regime, além de liderar a Igreja, era exercer funções administrativas e
educar crianças da nobreza.
Página 26
■■ Caso julgue conveniente, leia o texto a seguir, que trata dos motivos que
levaram à crise do sistema feudal.
46
O futuro pertencia a esses arrendatários capitalistas; mas enquanto durasse o
Página 27
■■ Sobre o mercantilismo, explique aos alunos que, para a economia de um
Estado, era importante o acúmulo de ouro ou prata, pois esses metais eram
usados como garantia de emissão de papel-moeda. Ou seja, quanto mais
ouro os cofres públicos de um país guardassem, mais bancos desse país
poderiam emitir notas de dinheiro, dinamizando a sua economia. Comente
também que, além de premissas como o metalismo e a balança comercial
favorável, o mercantilismo foi marcado pela industrialização, pelo protecio-
nismo alfandegário e pelo pacto colonial. As indústrias podiam ser estimu-
ladas pelo governo, visando à exportação de manufaturas. Nessa medida, o
protecionismo alfandegário visava inibir, ao máximo, a entrada de produtos
estrangeiros, cobrando-lhes altos impostos, estimulando a indústria nacional
e evitando a saída de moedas para outros países. Além disso, o pacto co-
lonial primava por acordos comerciais apenas com as colônias, comprando
seus produtos a preços baixos e vendendo-os a preços elevados. Leia as
informações a seguir, que discorrem sobre o mercantilismo.
47
Páginas 30 e 31
Explorando a imagem
■■ A partir dos conteúdos trabalhados no capítulo, explore o infográfico das pági-
nas 30 e 31 com os alunos. Incentive-os a observar os personagens, as ativi-
dades praticadas, as roupas e adornos utilizados e os produtos comercializados.
Em seguida, faça-lhes perguntas como: A qual camada social essas pessoas
pertenciam?; Que membros dessa camada foram representados no infográfico?;
Quais dessas pessoas poderiam enriquecer e se tornar nobres?; Quem eram os
homens livres e por quais motivos esses homens viviam em condições precárias,
muitas vezes perambulando pelas ruas como mendigos ou ladrões?; Em sua
opinião, o que poderia ser feito para sanar a desigualdade social no Antigo
Regime? Aproveite o momento para exercitar o senso crítico dos alunos, fazen-
do-os refletir sobre as desigualdades sociais existentes atualmente.
Páginas 32 e 33
■■ Comente com os alunos que, na época da afirmação de Portugal como um Estado
moderno, problemas na sucessão do trono português quase levaram o reino a ser
reincorporado por Castela. Enquanto uma parcela da nobreza portuguesa apoia-
va a integração do reino à Castela, a maior parte da população, principalmente
as camadas burguesas, defendia a causa de D. João, mestre da ordem militar de
Avis, que foi proclamado rei de Portugal. Essa vitória, que ficou conhecida como
Revolução de Avis (1385), consolidou a centralização política do reino.
Página 35
■■ Comente com os alunos que o século XVII na França foi marcado pela ascensão
política da burguesia. A crise financeira que atingiu a França nessa época levou
o governo a vender cargos públicos como meio de aumentar a receita. Assim,
muitos membros da burguesia puderam adquirir títulos, ocupando cargos antes
reservados aos membros da nobreza, sinalizando maior mobilidade social e
consequente rivalidade entre os membros do segundo e do terceiro estado.
■■ Em A Força da Tradição: a persistência do Antigo Regime (1848-1914) , o
historiador norte-americano Arno Mayer apresenta uma outra perspectiva
sobre a decadência do Antigo Regime. Segundo ele, a dissolução do Antigo
Regime na Europa ocorreu somente com o fim da Primeira Guerra Mundial, e
a Revolução Francesa seria apenas um primeiro momento dessa desintegração.
[...] A Grande Guerra de 1914 [...] foi uma consequência da remobilização con-
temporânea dos Antigos Regimes da Europa. Embora perdendo terreno para as
forças do capitalismo industrial, as forças da antiga ordem ainda estavam suficien-
temente dispostas e poderosas para resistir e retardar o curso da história, se neces-
sário recorrendo à violência. A Grande Guerra foi antes a expressão da decadência
e queda da antiga ordem, lutando para prolongar sua vida [...].
De qualquer forma, nem a Inglaterra nem a França haviam se tornado sociedades
civis e políticas industrial-capitalistas e burguesas em 1914. Suas políticas eram tão
“obviamente antiquadas” e “obstinadamente preocupadas com sua longevidade”
quanto as políticas das outras [...] grandes potências. Todas eram igualmente funda-
das na predominância duradoura das elites agrárias, da agricultura, ou de ambas. [...]
48
Nos anos 1780, uma reação aristocrática em defesa de privilégios fiscais, sociais e bu-
Página 37
a ) Por que, no século XVII, quase metade da população europeia tinha menos
de 16 anos?
b ) Como era o cotidiano escolar das crianças naquela época?
c ) Quais eram as principais matérias ensinadas?
d ) Como era o cotidiano das meninas durante o Antigo Regime? E o dos
meninos?
e ) Como as crianças europeias eram tratadas naquela época?
Respostas: a) Isso acontecia porque, na época do Antigo Regime, as pessoas morriam mais cedo.
b) Naquela época, as escolas eram muito caras, por isso as crianças pobres andavam pelas ruas
o dia todo. Os comerciantes e os fazendeiros ricos podiam mandar os filhos à escola, e aqueles
que eram muito ricos pagavam professores particulares, que ensinavam seus filhos em casa. As
escolas eram rigorosas e as crianças eram severamente punidas quando davam respostas erradas
ou quando se comportavam mal. c) As principais matérias ensinadas eram latim, grego e instrução
religiosa. d) Poucas meninas iam à escola. A maioria delas era preparada para ser dona de casa. As
mais velhas tinham de tomar conta das mais novas e ajudavam nos serviços domésticos, como cozinhar,
limpar, costurar e fiar. Os meninos ajudavam os pais, e assim aprendiam a arar, fazer pão, tecer, ferrar
cavalos ou moer milho. e) Por começar a trabalhar muito cedo, as crianças eram tratadas como adultos.
49
3
Capítulo
O Iluminismo
Objetivos
■■ Estudar os principais ideais iluministas.
■■ Conhecer os principais pensadores iluministas.
■■ Compreender que os avanços científicos do século XVII forneceram as bases
para o pensamento iluminista.
■■ Estudar as críticas dos filósofos iluministas às doutrinas pregadas pela Igreja.
■■ Compreender as críticas dos filósofos iluministas ao Absolutismo.
■■ Estudar o que foi o despotismo esclarecido.
■■ Perceber que as ideias iluministas repercutiram na sociedade europeia e, tam-
bém, em outros continentes.
Comentários e sugestões
Páginas 42 e 43
Páginas de abertura do capítulo
■■ A gravura apresentada como fonte A representa alguns filósofos e escritores
iluministas conversando em torno de uma mesa. Os olhares desses personagens
se direcionam ao indivíduo representado com um papel na mão, o filósofo Denis
Diderot, um dos organizadores da Enciclopédia. O vestuário desses homens
denota alguns costumes do século XVIII, como o uso de perucas longas e ca-
cheadas por cima das cabeças raspadas, os sapatos baixos, as calças curtas,
as meias justas (chamadas culotes) e os longos gibões com botões. Comente
com os alunos que as roupas apresentadas pelos filósofos, com golas viradas
50
para baixo e sem punhos, eram comuns em ocasiões informais. No plano de
Página 44
■■ Comente com os alunos que, em seus textos, os iluministas defendiam diver-
sos ideais que inspiraram os revolucionários dos Estados Unidos e da França
no século XVIII, como: a liberdade positiva (autonomia para agir de maneira
51
racional); o direito natural (humanista, oposto ao direito divino dos reis abso-
lutistas); os direitos humanos universais e inalienáveis; e a iniciativa humana.
Alguns iluministas defendiam a necessidade de uma revolução para elaborar
uma nova Constituição, que garantisse a todos os grupos sociais liberdades
e direitos básicos. Por causa da influência iluminista, as revoluções americana
e francesa ficaram conhecidas como “revoluções liberais”.
■■ Os conjurados de Minas Gerais também sofreram influência dos ideais ilumi-
nistas. Porém, diferentemente dos revolucionários franceses e norte-america-
nos, os conjurados mineiros não teciam críticas aos princípios defendidos
pela Igreja Católica, mesmo porque havia clérigos entre eles.
Página 45
■■ Com a Revolução Científica do século XVII, foram estabelecidos os parâmetros
do método científico moderno, por meio do qual os cientistas puderam aplicar
os princípios universais da ciência, as chamadas “leis da ciência”. Veja, a se-
guir, no que consiste o método científico moderno. Caso julgue conveniente,
apresente-as aos alunos.
a) O cientista, movido pela dúvida e pela curiosidade, postula uma ideia. Ex.: “A água
pode se transformar em gelo”. A ideia original surge como um insight (uma “ilu-
minação” súbita) concebido com base na observação dos fenômenos do Universo.
b) Baseando-se na ideia original, o cientista desenvolve uma hipótese, por meio do
raciocínio. Ex.: “A água se transforma em gelo quando sua temperatura diminui”.
c) A hipótese então deve ser testada por meio de experimentos, isto é, pela re-
produção prática do fenômeno. O cientista deve realizar todos os experimen-
tos nas mesmas condições e observar quais características desse fenômeno se
repetem indefinidamente. Ex.: “Verificação da temperatura abaixo da qual a
água congela”.
d) Se os resultados dos experimentos não entrarem em conflito com a hipótese,
esta pode ser convertida em uma teoria (ou “lei”), que explica e prevê o fun-
cionamento do fenômeno testado. Ex.: “A água congela ao ser resfriada abaixo
de zero grau Celsius”.
Texto dos autores.
Página 46
■■ Comente com os alunos que os pensadores do Iluminismo se apropriaram dos
métodos de análise que Galileu, Bacon, Descartes e, posteriormente, Newton
haviam aplicado às ciências naturais. Os pensadores iluministas deram novos
usos a esses métodos, passando a aplicá-los em suas análises a respeito da
sociedade em que viviam. Ao criticarem as instituições vigentes em sua época,
organizadas sob os princípios do Antigo Regime, os iluministas contribuíram
para a desestruturação gradual desse regime por toda a Europa. O texto a
seguir aprofunda a discussão sobre o Iluminismo e discorre sobre sua impor-
tância. Se julgar conveniente, explore-o com os alunos.
52
que o homem, a humanidade, fosse autônomo. Isso só seria possível, afirmava o
Página 47
■■ Comente com os alunos, caso julgue conveniente, que o Index Librorum
Prohibitorum foi criado em 1559 no Concílio de Trento e tinha como objetivo
inicial impedir o avanço do protestantismo. Elaborado pelo Santo Ofício, o
Index consistia em uma lista de autores e livros proibidos pela Igreja Católica,
condenados por se oporem aos seus preceitos. O Index foi abolido pelo papa
Paulo VI, em 1966, e, embora seja um documento sem força de lei eclesiás-
tica, ainda hoje representa um guia moral da Igreja Católica. Entre os autores
tornados proibidos pelo Index estão: Descartes, Montesquieu, Voltaire, Jean-
-Jacques Rousseau, Denis Diderot, Marquês de Sade, Victor Hugo, Gustave
Flaubert, Alexandre Dumas, Émile Zola, Pierre Larousse, Jean-Paul Sartre,
entre outros.
Página 48
■■ Comente com os alunos que o deísmo surgiu em um momento de revisão do
pensamento religioso e, embora seus adeptos acreditassem na existência de
Deus, para eles o Universo funcionava sem a intervenção divina. Nesse senti-
do, Deus não operava na natureza realizando milagres e cabia à ciência e à
racionalidade transformar o curso do Universo. Segundo os deístas, os homens,
dotados de capacidade de raciocínio, poderiam escolher entre o bem e o mal
sem a ajuda ulterior de Deus.
■■ A segunda imagem da página, A oração de Voltaire, apresenta inscrição em
francês. O texto a seguir traduz para o português o sentido da oração. Caso
julgue conveniente, apresente-o para os alunos.
53
Ó Deus que não reconhece; ó Deus que tudo anuncia!
Ouça as palavras de minha boca que pronunciei;
Se eu estiver errado é em buscar o seu direito;
Meu coração era errado; mas é cheio de você;
Eu vou sem fazer alarde, para a eternidade aparecer;
Eu não posso pensar que um Deus que me faz nascer, que um Deus que em meus
dias versa tanta bondade;
Enquanto meus dias são externados, meus tormentos jamais o são.
Traduzido pelos autores.
Página 49
■■ As informações a seguir apresentam alguns dos ideais políticos defendidos
por John Locke. Se julgar conveniente, leia-as para os alunos.
Tantos são os inconvenientes desse estado [estado da natureza], que por isso,
segundo Locke, os homens decidiram renunciar à sua liberdade natural, principal-
mente ao direito de executar a lei de natureza com as próprias mãos, entregando-o
ao corpo político formado nesse mesmo ato de renúncia. Esse é o pacto que dá
origem à sociedade civil ou política (que Locke também denominava comunidade),
isto é, um único corpo, político, representado pelo governo.
Conforme o pacto firmado, o governo pode ser de um só indivíduo ou de vários,
mas o que importa é a sua finalidade: a de concentrar para si todo o direito de
julgar e de castigar os criminosos, de modo a assegurar para toda a comunidade e
para cada um de seus membros a segurança, o conforto e a paz.
[...]
Por isso, Locke é adversário ferrenho do absolutismo. Para ele, o monarca abso-
luto, cujo poder não tem limites nem se baseia no consentimento, não participa da
54
sociedade: encontra-se fora dela, no estado da natureza e, pior, com os recursos
Página 51
Sugestão de atividade
A onda Neoliberal
Vejamos [...] os princípios liberais. Para estes, a maioria dos problemas eco-
nômicos e sociais decorre da intervenção do Estado na economia ao pretender
regulamentar preços, salários, trocas comerciais etc. O correto seria deixar que
os mecanismos econômicos “naturais” funcionassem. A economia tenderia a
se organizar por si mesma, para o bem de todos. O único papel reservado ao
Estado seria o de proteger a propriedade privada e a liberdade dos cidadãos.
Uma das obras básicas do Liberalismo é A riqueza das nações, de Adam
Smith (1723-1790), publicada em 1774, que analisa, por exemplo, as oscilações
dos preços. O preço de mercado de um produto depende da lei da oferta e da
procura. Se um produto é abundante e a oferta é maior que a procura, seu
preço de mercado tende a cair. Por sua vez, se um produto é escasso, cuja
oferta é menor que a procura, seu preço de mercado tende a subir. Assim, o
preço de mercado tende sempre a se aproximar do preço “natural”. Os salários
dos trabalhadores também estão submetidos a esse regime “natural”. Existiria,
portanto, o que se chamava a “mão invisível” do mercado, que se encarregaria
de equilibrar as disparidades sem a intervenção do Estado que, diga-se de
passagem, apenas atrapalharia tal equilíbrio natural.
CARMO, Paulo Sérgio do. O trabalho na economia global. São Paulo: Moderna, 1998. p. 32-3. (Polêmica).
55
Página 52
■■ Comente com os alunos que, assim como o chefe da família representado na
imagem, outras pessoas também tinham confiança na ciência e na racionali-
dade. Segundo o historiador Francisco José Calazans Falcon, elas eram os
agentes sociais do Iluminismo. Eram indivíduos letrados, geralmente profis-
sionais liberais, como médicos, advogados, professores, funcionários do Es-
tado, clérigos, nobres ou burgueses.
Página 53
■■ Muitos problemas decorrentes da modernidade estão, ainda hoje, sendo de-
batidos por muitos intelectuais contemporâneos. Eles questionam sobre os
benefícios do Iluminismo para as sociedades. Alguns fazem esse questiona-
mento argumentando que a mesma tecnologia que proporcionou uma melho-
ria na qualidade de vida foi utilizada também para a construção de armas de
destruição em massa. Outros intelectuais apontam que o mesmo sistema
econômico liberal, que deu plena liberdade econômica para os investidores,
também criou um mercado capitalista, que sujeita pessoas e instituições e
originou novas formas de exclusão social. Leia o texto.
Sugestão de atividade
■■ O século XVIII foi uma época de intensas transformações sociais, políticas e
intelectuais. Essas transformações, que ocorreram tanto na Europa como em
outras partes do mundo, estão refletidas nas representações artísticas produ-
zidas nessa época. Comente isso com os alunos e, em seguida, proponha que
realizem uma pesquisa sobre as artes no século XVIII, levantando os principais
estilos artísticos na pintura e os principais nomes na música. Oriente-os a
56
fazer a pesquisa em grupo e apresentar os resultados em sala de aula para os
4
Capítulo
A Revolução Americana
Objetivos
■■ Compreender que, a partir do século XVII, os ingleses iniciaram a colonização
dos territórios ocupados na América do Norte.
■■ Estudar os principais aspectos do comércio triangular entre América, Europa
e África.
■■ Entender que, antes da chegada dos ingleses na América, esse território era
habitado por milhares de povos indígenas.
■■ Perceber a diversidade social norte-americana no período colonial.
■■ Estudar os principais fatores que motivaram o processo de independência das
Treze Colônias.
57
Na verdade, as elites latifundiárias ou comerciantes das Colônias resistiram bas-
tante à separação, aceitando-a somente quando ficou claro que a Metrópole dese-
java prejudicar seus interesses econômicos [...].
A 2 de julho de 1776, o Congresso da Filadélfia acaba decidindo-se pela separa-
ção e encarrega uma comissão de redigir a Declaração da Independência. A Decla-
ração fica pronta dois dias depois, em 4 de julho. [...] Declarar a independência era,
porém, mais fácil do que lutar por ela. As Colônias tiveram que enfrentar uma
guerra para garantir esta independência diante da Inglaterra.
KARNAL, Leandro. Estados Unidos: a formação da nação. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2007. p. 81; 85; 87. (Repensando a história).
Comentários e sugestões
Páginas 58 e 59
Páginas de abertura do capítulo
■■ A fonte A representa um conflito entre colonos europeus e indígenas pequot,
habitantes da América do Norte no século XVII. A representação feita na gravu-
ra denota, em primeiro plano, a supremacia dos colonos. Entre os indígenas,
apenas um foi representado enfrentando o inimigo com um machado. Os outros
foram representados caídos no chão ou fugindo do conflito. Os colonos foram
retratados com vestes europeias, calças curtas, meias compridas, chapéu ou
elmos, casacos do tipo gibão ou coletes. Os indígenas, por sua vez, vestem-se
apenas com tangas. O plano de fundo da gravura denota, em sombreamento,
o contexto da batalha, com a imagem de combatentes e de fogo ateado.
■■ A imagem apresentada como fonte B é uma pintura produzida no século XIX por
William Aiken Walker. Representa, em primeiro plano, escravos africanos trabalhan-
do em uma plantação de algodão na América. Estes personagens, homens e
mulheres, apresentam-se com lenços na cabeça ou chapéus, camisas de manga
comprida e bolsas a tiracolo. Em segundo plano, do lado direito, um homem car-
rega na cabeça um cesto com o algodão colhido. O espaço da plantação é cerca-
do, e no plano de fundo é possível ver as casas onde moravam os escravos.
■■ A fonte C reproduz um selo produzido por ocasião da comemoração dos 200 anos
de independência dos Estados Unidos. O episódio representado no selo é a
Festa do Chá de Boston, marco do boicote dos colonos ao comércio do chá
inglês no território das colônias americanas. O selo apresenta moldura com
inscrições em inglês e seu centro mostra pequenas e grandes embarcações
atirando caixas de chá inglês em alto-mar. Comente com os alunos que, nes-
se período, os colonos estavam descontentes com o aumento de impostos
que a Coroa inglesa havia decretado. Esse episódio marcou o início do pro-
cesso de independência das Treze Colônias inglesas na América.
■■ A fonte D é uma litografia que representa a batalha de Bunker Hill, entre ingle-
ses e colonos americanos. Os primeiros foram representados uniformizados,
com casacos escuros e acinturados, chapéus, bolsas a tiracolo e armas de
fogo nas mãos. Os colonos apresentam-se dispersos na imagem, lutando
contra os seus inimigos. Vestem gibões acinturados de cor escura, perucas
ou chapéus. Na trincheira, no canto esquerdo da gravura, o indivíduo de cos-
tas representa um colono em combate com o inglês. Na sequência, outros
combatentes enfrentam-se. No centro e no plano de fundo, apesar da quan-
tidade significativa de ingleses, estes são enfrentados por colonos.
58
Conversando sobre o assunto
Página 60
■■ Comente com os alunos que a empreitada da viagem para as Treze Colônias
deu origem ao documento que justificou a ocupação do novo continente. O
Pacto do Mayflower foi escrito em 1620 por súditos do rei da Inglaterra, a
bordo do navio em que viajavam. Com teor religioso, o documento tornou-se
a base para a teoria divina do governo, utilizando a constante alusão a Deus
como uma forma de estratégia política. As informações a seguir apresentam
um trecho do documento. Leia-as para os alunos.
Em nome de Deus, Amém. Nós, cujos nomes vão subscritos, súditos fiéis de nos-
so respeitável soberano Senhor, Rei Jaime, havendo empreendido, para a glória de
Deus e progresso da fé cristã, e honra de nosso rei e país, uma viagem para implantar
a primeira colônia no Nordeste da Virgínia, pelo presente, solene e mutuamente, na
presença de Deus, uns perante os outros, convencionamos a nossa união num corpo
político civil, para melhor ordenar, preservar e aperfeiçoar as finalidades antes men-
cionadas; e, em razão disso, promulgar, constituir e compor leis justas e iguais, orde-
nações, atos, constituições e cargos públicos, de tempos em tempos, como for julgado
mais adequado e conveniente para o bem geral da Colônia, ao qual prometemos
todos a devida submissão e obediência.
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 102.
59
década de 1600 que a colonização consolidou-se nesse território. Nessa
fase, o empreendimento passou a ser organizado pela Companhia de Lon-
dres, composta por comerciantes ingleses.
Página 61
■■ Explore a linha do tempo com os alunos. Faça perguntas como: Quais foram
os acontecimentos que antecederam o início das guerras pela independên-
cia das Treze Colônias inglesas?; Quando foi reconhecida a independência
dos Estados Unidos por parte da França?; Quanto tempo se passou desde
a Declaração de Independência das Treze Colônias e o seu reconhecimento
por parte da Inglaterra? etc.
Página 62
■■ Caso queira aprofundar o estudo sobre o comércio transatlântico de escra-
vos, consulte o site Slave Voyages <www.slavevoyages.org/tast/assessment/
intro-maps.faces>, que possui um vasto banco de dados referentes ao trá-
fico de escravos. Nesse site , em inglês, você vai encontrar também vários
mapas detalhados sobre esse tema.
Página 64
■■ Durante a formação do Primeiro Congresso Continental, os colonos norte-
-americanos ainda não haviam chegado a um consenso sobre a possível
ruptura com a Inglaterra. Duas correntes políticas se definiram nesse mo-
mento. De um lado estavam os patriotas, também chamados de whigs , que
eram favoráveis à independência, mesmo que para isso fosse necessário
lutar contra a Inglaterra. Esse grupo era composto por pequenos agricultores,
intelectuais, trabalhadores assalariados e pela ascendente camada burgue-
sa. Do outro lado, estavam os legalistas, que mantinham fidelidade à Coroa
inglesa. Nesse grupo, encontravam-se principalmente os altos funcionários
que compunham a burocracia colonial, além de alguns latifundiários sulistas.
60
Além desses dois grupos, havia uma parcela significativa da população co-
Página 65
■■ De acordo com a Declaração de Independência das Treze Colônias, os cida-
dãos deveriam ser dotados dos mesmos direitos fundamentais, uma vez que
estes eram considerados inatos e inalienáveis. O documento, no entanto, não
considerava cidadãos os escravos, as mulheres e os estrangeiros. Apresente
aos alunos o trecho da Declaração, disposto a seguir. Em seguida, comente
com eles que estas exceções contidas no documento legitimavam, por exem-
plo, a manutenção da escravidão mesmo após declarada a independência.
Página 69
■■ Além do stepping , outra influência da cultura africana pode ser percebida na
América do Norte até hoje: o blues , cuja origem remonta a estilos musicais
do século XIX, como o spiritual , o blues rural e as worksongs . O spiritual é
um estilo musical que surgiu do encontro da música africana com os hinos
protestantes. Esse estilo exerceu grande influência na música gospel dos
Estados Unidos. Já o blues rural era cantado com bastante sentimento e
melancolia pelos escravos dos campos de algodão, acompanhados por ins-
trumentos de corda. As worksongs , ou canções de trabalho, eram cantadas
pelos escravos africanos durante as colheitas de algodão. Essas canções,
utilizadas muitas vezes para marcar o ritmo do trabalho, ajudavam os escra-
vos a suportar as dificuldades das longas jornadas. As temáticas das canções
giravam em torno principalmente dos trabalhos cotidianos, das injustiças
sofridas ou de grandes feitos realizados pelos escravos. As canções eram
iniciadas por um líder, que cantava um verso; em seguida, os demais respon-
diam com o refrão, criando, dessa maneira, um sentimento de solidariedade
entre os escravos. O texto a seguir versa sobre a história do blues .
61
O blues nasceu com o primeiro escravo negro na América. Da África os negros
trouxeram sua expressão vocal básica — os hollers —, gritos de entonações estranhas
que cortavam os céus do Novo Mundo como uma espécie de sonar, explorando um
território desconhecido. Enquanto o escravo mergulhava na cultura americana —
representada, no plano musical, pela tradição europeia —, o grito primal se alterava
e sofria mutações. A obscena instituição do tráfico foi proibida em 1808, mas os
escravos continuavam chegando, abarrotados nos porões dos navios negreiros. Só
na década de 1850-1860, a América do Norte recebeu mais negros do que no meio
século anterior. O negro era uma ferramenta de trabalho. Até nos raros momentos
de lazer, quase tudo lhe era interditado. Não podia tocar instrumentos de percussão
ou de sopro. Os brancos receavam que pudessem ser usados como um código, inci-
tando à rebelião. Assim, a voz ficou sendo o principal — senão o único — instru-
mento musical do negro. Era usada nas work-songs, canções em que o feitor caden-
ciava o trabalho dos escravos, a batida dos martelos ou machados, o levantamento
de cargas etc. Estas canções ajudavam a amenizar e racionalizar o trabalho e o tor-
navam mais rentável. Tranquilizavam também o proprietário, que as ouvia, garan-
tindo que os seus escravos estavam sob controle, no devido lugar. Há quem argu-
mente que o blues veio da música religiosa e dos spirituals, canções que os negros
criaram a partir das histórias da Bíblia. Na verdade, ele tem muito mais a ver com a
realidade prática das work-songs. Musicalmente, os hinos religiosos exerceram o seu
papel: os acordes básicos do blues são derivados da harmonia europeia. São os mes-
mos três acordes usados no acompanhamento de Noite Feliz, tecnicamente conhe-
cidos como tônica, subdominante e dominante — e podem ser ouvidos nesta mesma
ordem numa versão comum de um conhecido blues como Careless Love. Os negros
sofreram uma evangelização maciça no início do século 19, porque a religião afri-
cana era proibida aos escravos. Mas não lhes faltava o espírito de crítica [...] [e
nessa época a] rebeldia era já um germe do blues. Mas a sua voz mais autêntica vinha
do grito original. Os berros negros eram expressões tão pessoais que identificavam
imediatamente quem os emitia. “Aí vem o Sam”, comentava a namorada ou o amigo.
“Will Jackson está chegando”. Ou, ainda: “Acabo de ouvir Archie dobrando a esqui-
na.” Os gritos eram uma forma de comunicação nos campos do Sul e muitas canções
evoluíram a partir deles. Eram ouvidos também nas ruas das cidades, onde vende-
dores ambulantes negros anunciavam seus produtos ou serviços através de um pun-
gente canto rítmico, expressão semi-musical de rara beleza. [...] Havia ainda os ne-
gros que anunciavam a chegada e a partida dos trens nas estações, autênticos artistas
do grito. Esta marca individual se projetou também no blues. [...]
Na raiz do cantor de blues está a tradição do griot africano, uma espécie de mis-
tura do menestrel medieval e do cantor de sinagoga, um músico que através da voz
exercia uma função social e até religiosa nas tribos da costa ocidental da África, de
onde vieram os escravos para a América. [...]
Entre os instrumentos típicos do blues inicial estavam o violão, o banjo (originado
do banjor africano), o one-string (uma versão do nosso berimbau), a rabeca (prin-
cipal animadora das danças nas noites de lazer na senzala), a gaita de boca, o kazoo
(com um som parecido ao do pente com papel de seda), a jew´s harp (espécie de
mini-harpa usando o interior da boca como caixa de ressonância), o jug (botija
de barro ou de vidro que, soprada pelo gargalo, fazia o papel dos graves da tuba) e
uma quantidade de instrumentos de confecção doméstica, feitos com tábuas de lavar
roupa (o washboard, tocado com as pontas dos dedos cobertas de dedais metálicos);
feitos com tinas de banho, cabos de vassoura, caixas de sabão e de charuto.
[...] O primeiro blues de verdade foi publicado [em] 1912, por W. C. Handy, que
se intitularia “O Pai do Blues”: era uma nova versão de uma canção chamada Mister
62
Crump, que Handy tinha composto para a campanha eleitoral do prefeito Edward
Da lama à fama
[...]
Um dos grupos britânicos mais marcados pelos blues foram os Rolling Stones.
O nome da banda foi sugerido pelo guitarrista Brian Jones, baseado numa canção
de Muddy Waters, que era sua inspiração maior. [...]
Derivada do blues, a expressão rolling stones tornou-se uma autêntica marca regis-
trada do rock: deu nome à banda inglesa, a uma canção de Bob Dylan (Like a Rolling
Stone) e à revista Rolling Stone, lançada em novembro de 1967 em San Francisco [...].
Em seus cem anos de vida, o blues fez uma longa viagem, das margens lamacen-
tas do Mississippi até o néon das marquises nas grandes cidades. A blue note coloriu
virtualmente todo tipo de música deste século [XX], do bop à bossa, do rap ao rock,
do clássico à discoteca. Deixou sua marca na canção popular da Broadway, nos
standards de Cole Porter e Gershwin, de Berlin a Hammerstein, de Hoagy Carmi-
chael e Harold Arlen. O sociólogo Russel Ames chega até a afirmar: “Se existe uma
forma nacional de canção americana, é o blues.” A queima dos estilos na fogueira
das vaidades sonoras só faz com que o blues se destaque ainda mais, conquistando
até o público jovem, cansado de tanta moda fake e em busca da coisa real, oferecida
pela comunicação sólida, honesta, filosófica e prazerosa do blues. Ninguém duvide
que, [...] no século 21, o homem continuará proclamando: a Terra é Blue!
MUGGIATI, Roberto. Blues: da lama à fama. Rio de Janeiro: Editora. 34, 1995. p. 9-11; 14; 16; 18; 201; 203; 216. (Ouvido Musical).
Sugestão de atividade
63
[...] A Constituição, no sentido de preceitos imperativos a abarcar a soma-
tória da vida jurídica de um povo em caráter duradouro, é obra moderna. Ela
surgiu com a finalidade de afirmar e garantir os direitos fundamentais dos
indivíduos, disciplinar o uso e evitar a concentração do poder, assentando a
organização racional da sociedade e do governo. Assim, reagindo à prática
danosa do absolutismo e percebendo serem insuficientes as Declarações
de Direitos, os políticos e juristas do século XVIII trataram de coibir, através de
um texto de valor jurídico obrigatório, o abuso de autoridade e o excesso
de poder, possibilitando a punição em tais circunstâncias e adotando a ideia de
separação de poderes, com base na observação de Montesquieu segundo a qual
“só o poder contém o poder”.
A primeira Constituição que se tem notícia, com a denominação e caracte-
rísticas atuais, foi gestada na América do Norte, no bojo do processo revolu-
cionário que levou as treze colônias inglesas à independência.
Extraído do site: <www.dhnet.org.br/dados/lex/constituicao/constituicaocidadania.html>. Acesso em: 8 mar. 2012.
64
A Revolução Francesa e
Capítulo
5
Objetivos
■■ Conhecer o contexto político, social e econômico francês antes da Revolução.
■■ Estudar o processo revolucionário francês.
■■ Perceber a importância da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Conhecer elementos do calendário revolucionário francês.
65
Comentários e sugestões
Páginas 74 e 75
Páginas de abertura do capítulo
■■ A charge apresentada como fonte A, intitulada O despertar do terceiro estado ,
remete ao contexto que desencadeou a Revolução Francesa. Certas caracte-
rísticas dos protagonistas da charge — como as roupas utilizadas pelo clero
e pela nobreza e suas expressões faciais — revelam aspectos sociais e psi-
cológicos dos personagens no contexto da Revolução. Os personagens
em pé representam a nobreza e o clero, que até então dominavam a França em
um regime monárquico. Eles mostram-se assustados com o despertar do
personagem que está no chão, que representa o terceiro estado francês. Es-
te último rebela-se contra clérigos e nobres, desprendendo-se de seus grilhões
e alcançando as armas ao lado dele. No plano de fundo, vemos a imagem do
exército francês e da Bastilha, que posteriormente seria derrubada pelo ter-
ceiro estado.
■■ A figura apresentada como fonte B, Refeição de camponeses , foi pintada em
1648 pelo artista francês Louis Le Nain. A pintura representa uma família reu-
nida no interior de sua casa para oferecer uma refeição a um pobre mendigo.
Essa maneira de representar a vida simples das famílias camponesas tornou-
-se uma especialidade desse artista francês. Observe, no infográfico, mais
informações para trabalhar essa fonte com os alunos.
A refeição à mesa seguia um ritual de respeito aos mais velhos. Na disposição dos lugares, o dono da casa sempre
ocupava o melhor lugar. Em sua ausência, esse lugar não era ocupado. De seu assento, ele podia observar todas as
pessoas à mesa, as portas da casa e a rua. Ele era o primeiro a se servir, cortava o pão e servia o vinho, elementos
comuns nas refeições. As mulheres raramente se sentavam à mesa com os homens. Cabia-lhes a função de servir,
sendo permitido sentarem à mesa apenas quando terminavam suas obrigações.
66
■■ A Batalha de Wagram , representada na fonte D, é uma obra do pintor pari-
Página 79
■■ A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que havia sido aprova-
da pela Assembleia Nacional em 1789, só foi publicada em 1791, como um
preâmbulo para a Constituição da monarquia francesa. Leia a seguir alguns
artigos dessa declaração.
67
II – O objetivo de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e
imprescritíveis do homem; esses direitos são a liberdade, a propriedade, a
segurança e a resistência à opressão.
III – O princípio de toda a soberania reside essencialmente na nação; nenhuma
corporação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane
expressamente.
IV – A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique a outrem.
Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem outros limi-
tes senão os que assegurem aos outros membros da sociedade o gozo desses
mesmos direitos; esses limites não podem ser determinados senão pela lei.
V – A lei não tem senão o direito de proibir as ações prejudiciais à sociedade.
Tudo que não seja proibido pela lei não pode ser impedido e ninguém pode
ser obrigado a fazer o que ela não ordene. [...]
IX – [...] Todo [acusado é] considerado inocente até que seja declarado culpado. [...]
X – Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo religiosas, desde que
sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei. [...]
XV – A sociedade tem o direito de pedir a todo agente público contas pela sua
administração. [...]
XVII – Sendo a propriedade um direito inviolável e sagrado, ninguém [dela] pode ser
privado, a não ser quando a necessidade pública, legalmente [comprovada],
o exigir [...] e sob condição de justa [...] e prévia indenização.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. In: MONDAINI, Marco. Direitos Humanos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 66-7.
Página 80
■■ Comente com os alunos sobre a participação ativa de mulheres durante a
Revolução Francesa. Essa participação foi marcada tanto pela presença fe-
minina nos confrontos armados como pela formação de clubes políticos, que
divulgavam manifestos em prol da emancipação das mulheres. Foram escritos
textos abordando os problemas do cotidiano das mulheres na época, como
o trabalho excessivo e marginalizado, os maus-tratos, o tratamento jurídico
desigual, a impossibilidade de participação na política do Estado etc. Olympe
de Gouges dizia, por exemplo, que se à mulher delegava-se o direito de subir
69
no cadafalso, também poderia ela subir em uma tribuna para discursar e
declarar suas ideias em público. A ampla participação das mulheres francesas
no processo revolucionário prosseguiu até 1795. Nesse ano, elas se organi-
zaram em uma insurreição contra a fome pela qual passava a população,
gritando o lema “Pão e Constituição”. Após a manifestação, elas foram proi-
bidas, pela Convenção Nacional, de se reunir em público. Mas o legado por
elas deixado foi retomado pelo movimento feminista que despontou na se-
gunda metade do século XIX, principalmente nos Estados Unidos.
■■ Comente com os alunos que o Tribunal Revolucionário que julgou e conde-
nou à morte Olympe de Gouges foi instituído em 1793 pela Convenção
Nacional. Um de seus principais criadores foi o advogado e político francês
Georges-Jacques Danton. Caso queira aprofundar o tema com os alunos,
apresente-lhes as seguintes informações.
Em 16 de março de 1793, Danton solicitou a aprovação de uma taxa a ser paga
pelos ricos e a criação do Tribunal Revolucionário: “Sejamos terríveis para dispen-
sar o povo de sê-lo, organizemos um tribunal, não o melhor — é impossível — po-
rém o menos mal que se puder, para que a clava da lei atinja a cabeça de todos os
seus inimigos”. [...]
O decreto de 10 de março de 1793 dispusera que este só podia julgar os crimes
de conspiração e delitos nacionais por meio de decreto e acusação apresentado
pela Convenção. Doravante o promotor público pode mandar prender e julgar
todos os réus desses crimes, com exceção dos deputados, ministros e generais, a
partir de simples denúncia das autoridades constituídas. [...]
Em Paris, o Tribunal Revolucionário foi reforçado: dezesseis juízes em vez de
cinco, sessenta jurados em lugar de doze, cinco substitutos para o promotor públi-
co. O pessoal era nomeado pelos Comitês de Salvação Pública e de segurança geral.
[...] Os julgamentos deviam ser executados em 24 horas, sem possibilidade de re-
curso. Os tribunais criminais ordinários podiam remeter-lhe os assuntos que pare-
ciam ser de sua alçada. Foram implantados tribunais revolucionários em Estras-
burgo, Brest e Nancy, segundo o modelo do de Paris.
TULARD, Jean. História da Revolução Francesa (1789-1799). Trad. Sieni Maria Campos.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. p. 168; 174; 198.
Página 82
■■ Para ampliar a discussão sobre os grupos políticos que se formaram durante
o processo revolucionário francês, leia as informações a seguir.
Na Convenção Nacional, os grupos políticos se definiram da seguinte forma: os
jacobinos se concentravam à esquerda do presidente da Convenção. O partido ja-
cobino representava os sans-culottes, isto é, os trabalhadores urbanos, incluindo os
assalariados, os desempregados e a pequena burguesia (artesãos, profissionais libe-
rais e pequenos comerciantes). Liderados por Marat, Danton, Saint-Just e Robes-
pierre, eles propunham reformas em benefício da população pobre. O partido ja-
cobino tinha uma ala radical, a dos montanheses. Eles eram assim chamados por
permanecerem na parte alta da Convenção, agitando as sessões com gritos e pala-
vras de ordem.
Os girondinos sentavam-se à direita do presidente da Convenção. Eles eram assim
chamados porque muitos deles vinham da região da Gironda (sudoeste da França).
Representavam a alta burguesia manufatureira, comercial, empresarial e bancária,
principalmente das províncias. Liderados por Brissot, Verginaud e Condorcet, os gi-
rondinos defendiam a propriedade privada, a autonomia das províncias e a limitação
das conquistas sociais, pois temiam que seus bens fossem confiscados pela Revolução.
70
Na parte mais baixa da Convenção, chamada de Pântano ou Planície, permane-
Página 83
■■ Sobre a independência do Haiti, comente com os alunos que, enquanto os
franceses passavam pelo chamado período do Terror, os escravos da colônia
francesa de Santo Domingo, localizada nas Antilhas, lutavam por sua liber-
dade. Desde o final do século XVIII, essa colônia era uma grande produtora
e exportadora de açúcar para a Europa. Sua economia era baseada no sis-
tema escravista de plantation , gerando muitos lucros para as elites. Os es-
cravos africanos sofriam muitos maus-tratos, o que acabou criando um
forte sentimento de revolta contra a elite local.
■■ Aproveitando-se da crise política na França, provocada pela Revolução Fran-
cesa, os escravos de Santo Domingo organizaram levantes em toda a colô-
nia. Em 1793, o governo revolucionário francês declarou o fim da escravidão,
exaltando os ânimos em Santo Domingo. Em 1794, o ex-escravo Toussaint
L’Ouverture organizou um amplo movimento pela reivindicação da indepen-
dência da colônia. Além de divulgar ideais iluministas, ele preparou militar-
mente os insurgentes, comandando-os em uma série de guerras contra os
latifundiários locais e o exército francês. Vitorioso, Toussaint L’Ouverture se
tornou governador da colônia. Porém, acabou sendo preso em 1803 pelo
exército francês. Com isso, seu aliado, Jean-Jacques Dessalines, assumiu
o poder e, em janeiro de 1804, a colônia conquistou sua independência. A
partir de então, a colônia francesa de Santo Domingo passou a se chamar
Haiti, que significa “terra das montanhas”.
■■ A notícia da independência da ex-colônia francesa logo se espalhou pela
América. No Brasil virou assunto conhecido pelos escravos e por seus pro-
prietários, que temiam que as premissas da revolução haitiana fossem difun-
didas entre os cativos. Desse modo, muitos movimentos organizados por
negros ou mulatos no Brasil imperial eram considerados produtos da influ-
ência da revolução no Haiti.
■■ Na atualidade, os mitos em torno do Haiti ainda existem. Em 2010, um gran-
de terremoto devastou o país, dificultando a sobrevivência de milhões de
haitianos. Em decorrência do desastre, nos anos seguintes muitos haitianos
migraram para o Brasil em busca de trabalho. Nesse episódio ficaram evi-
dentes o temor e a preocupação de autoridades brasileiras que tentaram
restringir a entrada desses imigrantes no país. Alguns historiadores, no en-
tanto, desmistificam esses reveses ao buscar marcos relevantes na história
da independência haitiana e em nossa própria história. Segundo eles, muito
71
desse temor provém do Brasil do século XIX, momento em que as falas so-
bre o Haiti expressavam o medo que a influência de ideais de liberdade
podiam provocar ou a acusação de que os negros escravizados eram parti-
dários do haitianismo.
■■ Do mesmo modo, mitificou-se a ideia de que o Haiti só produz pobreza. No
entanto, a partir de novas pesquisas, alguns historiadores afirmam que, logo
após a sua independência, o Haiti desenvolveu um sistema de pequenas
propriedades rurais e que a economia foi descentralizada, formando uma
espécie de agricultura sustentável, com o cultivo alternado de frutos e raízes.
Esse sistema tornou-se uma alternativa ao sistema plantation , no qual muitos
escravos trabalharam. Essas alternativas propiciaram uma melhor condição
de vida aos habitantes do Haiti, se comparada com a situação dos africanos
e afrodescendentes que viviam em outros países da América.
Página 86
■■ Os 12 meses do Calendário Revolucionário ficaram assim classificados:
Sugestão de atividade
Filme de Yves Simoneau. Napoleão. 2002. França
72
Capítulo
6
Objetivos
■■ Estudar as principais características da Revolução Industrial.
■■ Estudar os fatores que proporcionaram à Inglaterra ser pioneira no desenvol-
vimento industrial.
■■ Perceber que a industrialização provocou o aumento das desigualdades sociais
A Revolução Industrial
A Revolução Industrial teve início na segunda metade do século XVIII na Ingla-
terra. Esta revolução completou a transição do feudalismo ao capitalismo, pois
significou o momento final do processo de expropriação dos produtores diretos. O
modo de produção capitalista pode ser caracterizado pela introdução da maquino-
fatura e pelas relações sociais de produções assalariadas. Tais relações passaram a
predominar a partir do momento em que houve a separação definitiva entre capi-
tal e trabalho, reflexo direto da industrialização.
Como observou Maurice Dobb, “assim, uns possuem, enquanto outros traba-
lham para aqueles que possuem — e que são naturalmente obrigados a isso, pois
que, nada possuindo, e não tendo acesso aos meios de produção, não dispõem de
outros meios de subsistência” [...]. Muitos autores já discutiram a respeito do con-
ceito de “Revolução Industrial”. Para alguns, como Paul Mantoux, não se trata de
uma revolução, pois estava relacionada com causas remotas, apesar de reconhecer
a velocidade de seu desenvolvimento e as suas consequências. Outros, como Rioux,
Dobb e Hobsbawm consideram que estava ocorrendo, naquele momento, uma ruptu-
ra qualitativa nas estruturas socioeconômicas, sendo, portanto, pertinente a utili-
zação do conceito de revolução. As alterações técnicas aumentaram a produtivida-
de do trabalho e implementaram um ritmo novo à produção.
Ao mesmo tempo em que aumentava a produtividade do trabalho, podia-se observar
um extraordinário crescimento nas fileiras do proletariado, submetido a dramáticas
condições de vida. O trabalho feminino e infantil passou a ser explorado intensamente,
impondo a todos o tempo da máquina, que passou a ser o tempo dos homens. [...]
MARQUES, Adhemar Martins e outros. História Contemporânea através de textos. 11. ed.
São Paulo: Contexto, 2005. p. 27. (Textos e Documentos).
Comentários e sugestões
Páginas 96 e 97
Páginas de abertura do capítulo
■■ A fonte A é uma pintura produzida no século XX, que, em primeiro plano, re-
presenta uma locomotiva transportando carvão. O contexto retratado é o da
73
Revolução Industrial, em que as locomotivas tiveram um papel relevante para o
transporte de matérias-primas e produtos industrializados. Os trilhos estão dis-
postos em meio à paisagem natural, com a presença de animais de um lado e
de trabalhadores do outro. Ao fundo, no entanto, vemos o contraponto dessa
paisagem bucólica: a imagem das fábricas com suas chaminés soltando fumaça.
■■ A gravura apresentada como fonte B mostra um grupo de mulheres trabalhando
em uma linha de produção. A imagem, em perspectiva, mostra trabalhadoras
costurando e pilhas de tecidos dispostas no meio da mesa. Algumas dessas mu-
lheres estão em pé, supervisionando o trabalho das outras ou carregando tecidos.
■■ A fonte C retrata um confronto entre homens desempregados e policiais. Na
ilustração, os policiais foram representados de uniforme e cassetetes nas mãos,
em cima de seus cavalos, atacando os outros indivíduos. Um dos desempre-
gados, em primeiro plano, abaixa-se, com uma bandeira na mão. Os outros
indivíduos amontoam-se, fugindo da repressão dos policiais. Um deles, do
lado direito da imagem, já está caído no chão.
■■ A fonte D, intitulada Voltando para casa , apresenta dois trabalhadores retor-
nando para casa após o trabalho. Eles foram representados com meias e
sapatos, um de bermuda, outro de calça, casacos, lamparinas nas mãos e
uma picareta. A face dos indivíduos apresenta tons escuros, o que denota o
trabalho na indústria de carvão. Ao fundo, a representação de uma indústria
com chaminé.
Conversando sobre o assunto
■■ Na fonte A, a representação de uma indústria de carvão no plano de fundo e de
uma locomotiva que transporta essa matéria-prima, em primeiro plano, indicam
algumas transformações ocorridas no contexto da Revolução Industrial. Entre
essas transformações, podem ser citados a mecanização dos meios de trans-
porte, a ampliação do uso do carvão como matéria-prima, o aumento da polui-
ção (fumaça na locomotiva e nas fábricas) etc.
■■ Pela fonte B, nota-se um modo de trabalho chamado linha de produção, em que
o trabalho é feito ininterruptamente, com movimentos repetitivos e simplificados.
As linhas de produção transformaram as relações de trabalho, passando o artesão
à condição de trabalhador assalariado, submetido à disciplina e à rotina das fábricas.
■■ O confronto entre policiais e desempregados, representado na fonte C, era
motivado pelo decreto de leis em que os reis ingleses proibiam a permanência
de pessoas desempregadas e desocupadas pelas ruas da cidade. Na época,
mesmo os homens que trabalhavam tinham precárias condições de vida, com
longas jornadas de trabalho.
■■ Os personagens da fonte D foram representados voltando do trabalho com as
roupas e a pele sujas de carvão, o que denota que esses homens trabalhavam
com essa matéria-prima, provavelmente na fábrica que serve de plano de
fundo da ilustração.
O carvão teve grande importância na Revolução Industrial, pois foi fonte de
energia para alimentar as máquinas a vapor. Essa matéria-prima era transpor-
tada por locomotivas para diversos lugares, como mostra a fonte A. Comente
com os alunos que, composto de extração, fragmentação e armazenamento do
produto, o trabalho em uma mina de carvão era extremamente penoso. Os
trabalhadores permaneciam muitas horas por dia dentro das minas que, por
serem abafadas e úmidas, causavam-lhes uma série de doenças respiratórias,
como pneumonia, enfisema pulmonar, silicose e bronquite.
74
Página 98
Página 101
■■ O texto a seguir traz o relato de um oficial fiandeiro de algodão. No depoi-
mento, o trabalhador discorre sobre a relação de exploração entre patrões
e empregados nas fábricas têxteis da Inglaterra, na era da Revolução Indus-
trial. Caso julgue conveniente, apresente-o aos alunos.
Para a maioria dos trabalhadores, a experiência crucial da Revolução Industrial
foi percebida com uma alteração da natureza e na intensidade da exploração. Essa
não é uma visão anacrônica, imposta sobre a realidade. Podemos descrever alguns
aspectos do processo de exploração, como se apresentam a um singular operário
algodoeiro em 1818 [...]. O relato — uma declaração feita por um “Oficial Fiandei-
ro de Algodão” ao público de Manchester, às vésperas de uma greve — começa
descrevendo patrões e trabalhadores como “duas classes distintas de pessoas”:
Primeiro, então, sobre os patrões: com poucas exceções, são um grupo de ho-
mens que emergiam da oficina algodoeira, sem educação ou maneiras, exceto
as que adquiriram nas suas relações com o pequeno mundo dos mercadores
na bolsa de Manchester. Para contrabalancear essa deficiência, procurando
impressionar nas aparências, através da ostentação, exibida em mansões ele-
gantes, carruagens, criados de libré, parques, caçadores, matilhas, etc., que eles
mantêm para exibir ao mercador estrangeiro, de maneira pomposa. Suas casas
são, na verdade, vistosos palácios, superando em muito a magnitude e a exten-
75
são dos charmosos e asseados retiros que podem ser vistos nos arredores de
Londres... Mas um observador atento das belezas da natureza e da arte notará
um péssimo gosto. Mantêm sua famílias nas escolas mais caras, determinados
a oferecerem a seus descendentes uma dupla porção daquilo que tanto lhes
falta. Assim, apesar da escassez de ideias, são literalmente pequenos monar-
cas, absolutos e despóticos nos seus distritos particulares. Para manter tudo
isso, ocupam seu tempo tramando formas de conseguir a maior quantidade de
trabalho sem a menor despesa... Em resumo, eu me arriscaria a dizer, sem re-
ceio de contradição, que há uma distância maior entre o mestre e o fiandeiro
do que entre o mercador mais importante de Londres e seu humilde criado ou
artesão. Na verdade, não há comparação. Afirmo com segurança que a maio-
ria dos mestres fiandeiros desejam ansiosamente manter baixos os salários
para que os fiandeiros permaneçam indigentes e estúpidos... Com o propósito
de colocar os excedentes em seus próprios bolsos.
Os mestres fiandeiros são uma classe de homens distintos de outros mestres
de ofício no reino. São ignorantes, orgulhosos e tirânicos. Como devem ser,
então, os homens, ou mestres? Ora, eles têm sido há anos, com suas esposas e
famílias, a própria paciência — escravos e escravas dos seus amores cruéis. É
inútil insultar nossa inteligência com a observação de que estes homens são
livres, que a lei protege igualmente o rico e o pobre, e que o fiandeiro pode
deixar seu mestre, se não lhe agradar o salário. É verdade que ele pode, mas
para onde irá? Certamente a um outro. Bem: ele vai; ser-lhe-á perguntado
onde trabalhou anteriormente — “você foi despedido?”. Não, nós não concor-
damos a respeito do salário. Bem, não vou empregá-lo nem a ninguém que
deixa seu mestre desta maneira. Por que isso ocorre?
[...] Quando o acordo foi firmado pela primeira vez, um dos seus primeiros
artigos estabelecia que nenhum mestre deveria contratar alguém antes de ve-
rificar se havia sido despedido por seu último mestre. O que restava, então, a
este homem? Se fosse à paróquia essa sepultura de toda a independência, lhe
seria dito — Não podemos auxiliá-los: se você contesta seu mestre e não sus-
tenta sua família, nós o mandaremos para a prisão. Então, por uma série de
circunstâncias, ele é forçado a se submeter ao seu mestre. Ele não pode mudar-
-se e trabalhar em qualquer outra cidade como sapateiro, marceneiro ou
alfaiate: é forçado a permanecer no seu distrito.
Os trabalhadores, em geral, formam um grupo de homens inofensivos, mo-
destos e bem-informados, embora eu desconheça a maneira como se
informam. São dóceis e afáveis, se não o molestarem muito, mas isso não sur-
preende, quando consideramos que eles são treinados a trabalhar desde os seis
anos de idade, das cinco da manhã até às oito ou nove da noite. [...]
[...] Enclausurado em fábricas de oito andares, ele não tem descanso até as
máquinas pararem, e então, retorna à sua casa, a fim de se recuperar para o dia
seguinte. Não há tempo para gozar da companhia da família: todos eles esta-
rão também fatigados e exaustos. Esse não é um quadro exagerado: ele é
literalmente verdadeiro. Pergunto mais uma vez se um mecânico se submete-
ria a isso, no sul da Inglaterra.
Quando a fiação de algodão estava na sua infância, antes da implantação daque-
las terríveis máquinas que substituíram o trabalho humano, chamadas máquinas
a vapor, havia muitos dos chamados “pequenos mestres” (little masters) — ho-
mens que, com um pequeno capital, podiam adquirir algumas máquinas e
contratar alguns empregados, entre vinte ou trinta homens e rapazes, cuja produ-
ção era levada ao mercado central de Manchester e colocada em mãos de
76
intermediários... Esses intermediários a vendiam aos mercadores, sistema que
Explorando a imagem
■■ Comente com os alunos que a litografia destas páginas foi produzida no sécu-
lo XIX e retrata a cidade de Sheffield, na Inglaterra, no contexto da introdução
das máquinas a vapor. Nesse período, a população de Sheffield atingiu cerca
de 135 mil habitantes. Peça aos alunos que observem alguns elementos conti-
77
dos na imagem: a quantidade de fábricas e chaminés, os meios de transporte,
o contraste das moradias em primeiro plano e no plano de fundo, as atividades
dos personagens e as suas roupas. Posteriormente, proponha que elaborem um
texto a respeito do cotidiano em uma cidade industrial na Inglaterra, como Sheffield,
apontando as condições de vida dos indivíduos e os contrastes sociais. Incen-
tive-os a utilizarem o conteúdo trabalhado no capítulo.
Página 107
Sugestão de atividade
O trabalho feminino na Revolução Industrial
■■ O texto a seguir é um poema feito por uma mulher do século XVIII, abordando
o trabalho feminino, que se estende no âmbito doméstico mesmo após a longa
jornada nos campos ou na fábrica. Leia-o.
[...] E quando chegamos em casa,
Ai de nós! vemos que nosso trabalho mal começou:
Tantas coisas exigem a nossa atenção.
Tivéssemos dez mãos, nós as usaríamos todas.
Depois de pôr as crianças na cama, com o maior carinho
Preparamos tudo para a volta dos homens ao lar:
Eles jantam e vão para a cama sem demora. Sugestão: se
E descansam bem até o dia seguinte: desejar, faça também
um debate em sala de
Enquanto nós, ai! só podemos ter um pouco de sono aula sobre o trabalho
Porque os filhos teimosos choram e gritam [...] feminino. Pergunte se
Em todo trabalho (nós) temos nossa devida parte: há na sala algum(a)
E desde o tempo em que a colheita se inicia jovem que já trabalha
e como é a jornada
Até o trigo ser cortado e armazenado. da mães dos alunos e
Nossa labuta é todos os dias tão extrema alunas.
Que quase nunca há tempo para sonhar.
THOMPSON, E. P. O tempo, a disciplina do trabalho e o capitalismo industrial. In: Costumes em comum.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 287-8.
78
atividades de trabalho. Por idade, isso significa que são mais de 580 mil
7
Capítulo
Objetivos
■■ Estudar os fatores que provocaram a crise do sistema colonial na América
espanhola.
■■ Compreender os processos de independência das colônias espanholas na América.
■■ Estudar a construção da identidade nacional mexicana pós-independência.
■■ Conhecer aspectos da arte mexicana, especialmente do muralismo de Diego
Rivera.
79
[...] Com a derrota de Napoleão [em 1815], a Inglaterra emergiu como a grande
vencedora da guerra na Europa e não precisava mais defender a Espanha da França.
Assim, podia apoiar com armas, navios e exércitos a independência da América
Latina, visando vender seus produtos industriais aos mercados dos novos países.
Mas, por outro lado, a Espanha também havia ficado livre da guerra contra a Fran-
ça, podendo mandar tropas para defender sua parte da América [...].
A partir de 1815, a independência tornou-se questão militar. A guerra entrava em
cena. Vencida a guerra contra os espanhóis, observou-se o início de várias guerras
internas para se decidir qual projeto de independência seria vitorioso em cada país e
qual setor da sociedade conseguiria se impor aos demais. Apesar das diversas pro-
postas de emancipação, nos novos países latino-americanos os mais favorecidos fo-
ram os integrantes das elites nativas, agora transformadas em elites nacionais.
BARBOSA, Alexandre de Freitas. A independência dos países da América Latina. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 22; 25-27.
(Que história é esta?).
Comentários e sugestões
80
■■ A fonte C representa a batalha de Boyacá, ocorrida em 1819, na atual Colômbia.
81
Página 123
■■ Sobre a participação popular nos movimentos de independência na América
espanhola, leia o texto abaixo.
Página 124
■■ Caso julgue conveniente, comente com os alunos que Simón Bolívar era
partidário do direito de liberdade para os negros. Ao mesmo tempo, o revo-
lucionário acreditava que os membros desse grupo étnico poderiam ser bons
soldados, desejando sua participação nas lutas de independência e seu
alistamento no exército. Em relação aos indígenas, Bolívar caracterizava-os
como passivos e cordiais, enxergando-os de maneira caricaturesca. Segun-
do ele, eram homens pouco versados nos negócios do governo e, por isso,
incapacitados para exercerem autoridade. Leia o que Bolívar escreveu sobre
esse assunto.
82
tentando-se com sua paz, sua terra e sua família. O índio é amigo de todos porque
Página 125
■■ O Congresso do Panamá contou com sessões que ocorreram entre junho e
julho de 1826 e é considerado por muitos historiadores como a primeira mani-
festação do pan-americanismo. O Congresso do Panamá aprovou:
■■
um Tratado de União, Liga e Confederação Perpétua entre os Estados hispano-
-americanos;
■■
a cota que caberia a cada país para a organização de uma força militar de
60 mil homens para a defesa comum do hemisfério;
■■
a adoção do princípio do arbitramento na solução dos desacordos interameri-
canos;
■■
o compromisso de preservar a paz continental;
■■
a abolição da escravidão.
Ao congresso compareceram apenas os representantes da Grã-Colômbia, Peru,
México e Províncias Unidas de Centro-América. Os Estados Unidos também en-
viaram observadores.
O Congresso do Panamá, manifestação concreta de solidariedade continental,
acabou sendo um fracasso, para isso contribuindo:
■■
a resistência dos EUA que pretendiam expandir-se pelas Antilhas e temiam a
difusão de movimentos abolicionistas;
■■
o desinteresse da Argentina, cujo governo disputava com o Brasil o domínio
da Banda Oriental (Uruguai) e deixou de comparecer ao saber que não teria
ajuda para solucionar o referido litígio;
■■
a oposição do Brasil, cuja Monarquia era contrária a regimes republicanos e
temia a propagação das ideias antiescravistas; [...];
■■
as manobras da Inglaterra, não só porque George Canning, Ministro das Rela-
ções Exteriores, não tinha interesse na organização de uma América forte e
coesa, como também porque temia a formação de um sistema americano sob a
direção dos EUA, o que poderia criar problemas à expansão econômica inglesa;
■■
não terem sido ratificadas, posteriormente, as decisões tomadas.
AQUINO, Rubim e outros. História das Sociedades Americanas.
Rio de Janeiro: Livraria Eu e Você, 1981. p. 131.
83
Página 129
■■ Comente com os alunos que o painel Epopeia do povo mexicano foi pintado
por Diego Rivera entre os anos de 1929 e 1935, cerca de 100 anos após a inde
pendência do país. Apesar dessa distância temporal, a arte de Rivera, assim
como a de muitos artistas pós-independência, ajudou na formação de uma
identidade nacional para o povo mexicano. Como é característico do muralis
mo, Rivera procurou produzir uma arte pedagógica, capaz de conscientizar o
observador sobre diversos aspectos sociais e históricos do México. O mural
está localizado no saguão de entrada do Palácio Nacional do México, na Ci
dade do México. Esse ciclo é composto de três painéis. O primeiro, intitulado
México pré-hispânico — O antigo mundo indígena, narra a história dos povos
pré-colombianos, bem como seus costumes e organização social; o segundo,
História do México: da conquista a
Diego Rivera - História do México: da conquista a 1930. Palácio Nacional, Cidade do México. Foto: Photofrenetic/Alamy/Other Images (detalhe)
1930 (painel apresentado na página),
representa as lutas de conquista, a
catequização dos indígenas, os
acontecimentos políticos que envol
veram o país nesse período, bem
como os movimentos sociais mexi
canos. No terceiro painel, México de
hoje e de amanhã, o artista represen
tou as lutas contemporâneas dos
mexicanos, bem como esboçou pre
visões sobre o futuro do país. Essas
previsões indicam a perspectiva do
autor sobre a sociedade mexicana.
Rivera, que era membro do Partido
Comunista e fez viagens à Moscou
representando seu país, previa um
futuro socialista para o México, por
isso representou o pensador Karl
Marx dirigindo os acontecimentos e
apontando em direção ao futuro.
Sobre o muralismo mexicano, leia o
texto a seguir.
84
Capítulo
8
Objetivos
■■ Compreender o processo de independência do Brasil.
■■ Entender os principais fatores que levaram à crise do sistema colonial no Brasil.
■■ Estudar os principais aspectos das relações entre Brasil e Europa no século XIX.
■■ Perceber algumas transformações provocadas no Rio de Janeiro com a insta-
Comentários e sugestões
85
a partir do Congresso de Viena, que impedia que Portugal fosse governado de
uma colônia. Nesse contexto, D. João iguala o Brasil à condição de reino de Por-
tugal e Algarves. O brasão representa, então, os três reinos (Brasil, Portugal e
Algarves). O Brasil representa-se pela esfera armilar de ouro, com fundo azul.
Sobre este, a imagem do escudo real português com coroa sobreposta.
■■ A aquarela Vista do Largo da Carioca , de 1833, é atribuída a William Smyth
oficial da Marinha inglesa. Nessa pintura, apresentada como fonte B, é possí-
vel perceber, sob a ótica de um oficial inglês, o cotidiano das pessoas que
viviam na cidade do Rio de Janeiro em meados do século XIX. Veja a seguir
outras informações sobre essa fonte.
A igreja da Ordem Terceira de Povo reunido em
No Convento de Santo Antonio foi construído São Francisco da Penitência é frente ao hospital
um mausoléu especialmente para abrigar os um dos maiores símbolos de São Francisco
restos mortais de membros da família imperial. brasileiros da arte barroca. da Penitência.
Escravos carregando Carroça com pipa Carro de boi Além dos elementos
um barril d’água. de água sendo transportando destacados, é
abastecida por lajes. possível observar
um cano. nessa aquarela:
casas, um soldado,
■■ A fonte C representa a aclamação de D. Pedro como imperador do Brasil, em escravos aguadeiros,
outubro de 1822. Produzida por Jean-Baptiste Debret, a pintura apresenta ele- frades, cavaleiros,
mentos que retratam o momento solene e a aclamação do povo. No centro da doceiras.
imagem, destaca-se D. Pedro, vestido com trajes reais, acompanhado por
membros da Corte, homens e mulheres, com roupas semelhantes à nobreza
europeia. Alguns usam perucas, outros acenam com um lenço em uma sacada.
Em primeiro plano, vê-se um desses indivíduos atirando papéis com a inscrição
“Aceito”. Do lado esquerdo de D. Pedro, um padre faz a benção da bandeira do
Império, hasteada por outro personagem. Abaixo da sacada do Palácio Imperial,
uma multidão acena para D. Pedro, aclamando-o como imperador do Brasil.
86
■■ A fonte B traz a representação de diversas atividades urbanas. Na figura, a
87
sa, de racionalizar uma política administrativa e econômica que adotasse princípios
como os da liberdade de comércio. [...]
FIGUEIREDO, Luciano (Ed.). Medida provisória... até hoje. Nossa História. São Paulo: Vera Cruz, ano 1, n. 3, jan. 2004. p. 12-3.
Página 138
■■ A hipótese de transferir a Corte portuguesa para o Brasil, reforçada com o
Bloqueio Continental, já era aventada desde meados do século XVIII, princi-
palmente após o grande terremoto, seguido de um incêndio, que praticamente
destruiu Lisboa, em 1755.
■■ Leia o texto a seguir, que trata da importância do haitianismo no Brasil.
A repercussão da revolução do [Haiti] foi gigantesca para a luta contra a escra-
vidão. Ainda maior era o temor dos escravocratas de que a revolta influenciasse
toda a América. O historiador John Hope Franklin escreveu, em Da escravidão à
liberdade, que os [norte-americanos] ficaram horrorizados diante das notícias do
que acontecia no Haiti. A partir de 1791, “muitos preocuparam-se mais com os
acontecimentos no Haiti do que com a luta de vida ou morte que se desenvolvia
entre França e Inglaterra”. No Brasil, muitos comentaristas nativos e estrangeiros
escreveram sobre os perigos da revolta em terras tupiniquins, embora a influência
tenha sido limitada. Alguns milicianos mulatos no Rio de Janeiro usavam retratos
de Dessalines, [líder revolucionário que proclamou a independência do Haiti]. [...]
“No período da Regência (1831-40), o termo haitianismo foi usado como um epí-
teto contra jornais que supostamente representavam os interesses da população de
cor livre e abordavam persistentemente a questão racial”, diz Stuart Schwartz, em
Segredos internos — Engenhos e escravos na sociedade colonial.
MILANI, Aloísio. Revolução Negra. História Viva. Extraído do site: <www2.uol.com.br>. Acesso em: 11 fev. 2012.
Página 140
■■ Comente com os alunos que a criação da Imprensa Régia tinha como finalidade
divulgar atos do governo. Nesse âmbito, a Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro
jornal oficial do país, publicava assuntos relacionados à Corte, à legislação, a
ações do Banco do Brasil etc. Contudo, o primeiro jornal brasileiro de caráter não
oficial teve sua primeira edição em 1808. Era o Correio Braziliense, redigido por
Hipólito José da Costa, em Londres. Por meio de seu jornal, Hipólito defendia
ideais liberais, inclusive dando ampla cobertura aos acontecimentos que levariam
à independência do país. O Correio era remetido ao Brasil clandestinamente. O
jornal circulava à revelia da censura régia, que atuava proibindo títulos indepen-
dentes no país. A última edição do Correio Braziliense foi publicada em 1822.
O texto a seguir trata dos conteúdos publicados pela Imprensa Régia. Caso julgue
conveniente, apresente-o aos alunos.
Somente após a chegada [de D. João] as instituições educacionais, científicas, polí-
ticas e comerciais de toda ordem foram autorizadas a existir. Inclui-se, nessa liberação,
a tipografia. A política cultural imposta pela Coroa portuguesa no Brasil nos três sé-
culos anteriores produziu um círculo vicioso que somente pôde ser rompido à beira
do século XX. A falta de escolas não produzia público leitor; a falta de tipografias não
produzia material de leitura ou estudo, e a falta de agremiações científicas e cursos
superiores dificultava a existência de produtores e consumidores de ciência. [...]
A Impressão Régia foi, até 1821, a maior tipografia brasileira, tanto por monopólio
da publicação dos atos oficiais quanto pela existência da censura oficial, que afastava
do ramo muitos possíveis interessados. Imprimia um pouco de tudo: atos institucio-
nais — leis, alvarás, decretos, cartas régias, editais — apólices e ações do Banco do
88
Brasil, passaportes, guias de passagens, papéis timbrados, guias, recibos, livros de
Página 141
89
■■ Em relação ao texto acima, comente com os alunos que suíças são barbas nas
laterais da face.
Sugestão de atividade
■■ Conhecer os hábitos alimentares dos brasileiros que viveram na época da che-
gada da família real é importante para entendermos as raízes de muitos dos
hábitos alimentares da atual sociedade brasileira. Apresente aos alunos o texto
a seguir, que trata desse assunto. Após o texto, apresentamos sugestões de
questionamentos.
No comecinho do século XIX, quando D. João chegou ao Brasil com sua
família, o dia dos habitantes da Colônia portuguesa começava cedo, por volta
das oito da manhã, com uma refeição chamada... almoço. O jantar era servido
lá pelas duas da tarde e, por volta das seis horas, tinha a ceia. [...] Naquela
época, ainda não existia energia elétrica, portanto, as atividades tinham de ser
realizadas antes de a noite chegar, quando ainda havia luz. Escravos e pessoas
pobres (mestiços, ex-escravos e indivíduos vindos de Portugal) formavam a
maior parte da população. Algo que não faltava em suas refeições era a farinha
de mandioca — usada desde o início da colonização, por influência dos índios
— e, também, a banana. Ambas eram consumidas tanto com alimentos doces
quanto salgados. Um hábito, aliás, que permanece vivo até hoje entre muitos
brasileiros, especialmente no Norte e no Nordeste.
No prato — de barro — da população pobre do Brasil colônia, também
marcavam presença o peixe e a carne de caça, além de legumes como a abó-
bora ou raízes como o inhame [...].
As pessoas costumavam fazer as refeições agachadas, usando geralmente as
mãos ou, então, colheres feitas de madeira de lei. Facas estavam sempre presen-
tes e, como os pratos, as panelas eram feitas de barro. Talheres de metal — como
garfos — só eram usados pelos mais ricos, que tiveram a oportunidade de estu-
dar na Europa e, lá, conheceram as regras de boa educação à mesa. Mesmo assim,
existiam em pouca quantidade nas casas: cerca de dois ou três [...].
FARIA, Sheila de Castro. Isso aqui ô ô é um pouquinho de Brasil colonial ia ia. Ciência Hoje das Crianças.
Rio de Janeiro: SBPC, ano 21, n. 190, maio 2008. p. 15.
90
Página 145
Aos 9 de janeiro do ano de 1822, nesta cidade de São Sebastião do Rio de Janei-
ro e paços do conselho, onde se achavam reunidos em ato de vereação, na forma
do seu regimento, o juiz de fora, presidente, vereadores e procurador do Senado da
Câmara, abaixo assinados, por parte do povo desta cidade foram apresentadas ao
91
A consolidação da independência
9
Capítulo
brasileira
Objetivos
■■ Conhecer os principais aspectos políticos, econômicos e sociais do Brasil pós-
-independência.
■■ Estudar a formação do Estado nacional brasileiro.
■■ Compreender o contexto brasileiro na época da elaboração da primeira Cons-
tituição do país.
■■ Entender quais crises políticas, econômicas e territoriais provocaram a queda
do imperador D. Pedro I.
■■ Estudar o Período Regencial no Brasil.
■■ Conhecer as principais revoltas populares que ocorreram no Brasil durante o
Período Regencial.
■■ Perceber a diversidade étnica dos africanos que vieram para o Brasil.
Comentários e sugestões
92
apresenta os súditos do imperador formando um semicírculo. Eles estão em
O mar dos gaúchos é o pampa. Por terem tão pouca intimidade com o oceano, os
farroupilhas nunca puderam estabelecer de fato sua República: ela simplesmente não
possuía saída para o mar (já que o porto de Rio Grande fora bloqueado pelas tropas
imperiais tão logo estourou a revolta). Em uma tentativa desesperada, os farrapos
decidiram tentar a conquista de Laguna, em Santa Catarina. Por isso, entraram com
dois lanchões (de 18 e 12 toneladas) pelo rio Capivari (um dos formadores da lagoa
dos Patos), portaram os lanchões por quase 100 quilômetros, até a foz do rio Traman-
daí, em uma marcha épica. Entrando no mar, atacaram a desprotegida Laguna, auxi-
liados pelas tropas terrestres comandadas por Davi Canabarro.
BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática, 2002. p. 191.
93
das decisões políticas continuou a critério de uma elite detentora do poder, o
que ocasionou diversas revoltas pelo país.
■■ A imagem apresentada como fonte B representa a bandeira do Império. Mos-
tra no centro o globo armilar em fundo verde, cor da casa de Bragança. Em
cima deste, a coroa imperial em fundo amarelo, cor da casa dos Habsburgo.
No losango amarelo, veem-se ramos de café e de algodão, as riquezas agrí-
colas do país. As semelhanças com a bandeira atual são o losango amarelo,
que dá espaço à uma imagem em seu centro, e o uso das estrelas, que na
bandeira do Império contornam a esfera armilar e representam as 19 províncias
do país.
■■ As fontes C e D fazem referência, respectivamente, à Revolução Farroupilha e
à Cabanagem. A primeira ocorreu no sul do país. A outra no Pará, norte do
Brasil. Pela análise das fontes, nota-se que a Revolta dos Farrapos contou com
a participação de membros da elite. Na Cabanagem, por sua vez, os revoltosos
eram, sobretudo, pertencentes às camadas populares. Essas revoltas eclodiram
pela insatisfação de membros de várias classes sociais com a administração
dos governos regenciais. Os farrapos rebelaram-se, sobretudo, pela alta tribu-
tação imposta aos estancieiros do sul do país. Do mesmo modo, as massas
populares do Pará estavam descontentes com os preços elevados das merca-
dorias e também com a administração autoritária e centralizadora do governo.
94
considerava todos os homens cidadãos livres e iguais. Apesar disso, a instituição da
Página 158
■■ Comente com os alunos que, para que a independência do Brasil tivesse um
significado jurídico, era necessário seu reconhecimento no quadro diplomático
internacional. Os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a indepen-
dência do Brasil, em 1824. Portugal só a reconheceu em 1825, depois de uma
série de negociações entre o governo brasileiro e os políticos portugueses, in-
termediada pela Inglaterra. Nessa ocasião, o Brasil teve de pagar uma indeni-
zação altíssima para Portugal e, para tanto, emprestou dinheiro da Inglaterra.
Página 160
■■ Comente com os alunos que a Constituição de 1824 instituiu a eleição em
duas etapas, que funcionava da seguinte maneira: primeiro, os votantes
escolhiam aqueles que elegeriam os deputados e senadores, ou seja, esco-
lhiam os eleitores. Os eleitores, por sua vez, escolhiam os deputados e se-
nadores. Para ser votante, era exigida uma renda mínima de 100 mil réis
anuais e, para ser eleitor, era necessário comprovar renda mínima de 200 mil
réis anuais. Dos candidatos a deputado, era exigida renda de 400 mil réis
anuais. Aqueles que se candidatassem ao Senado, tinham que comprovar
renda anual mínima de 800 mil réis.
Página 161
■■ Explique aos alunos que as palavras inscritas na bandeira da Confederação
do Equador representavam alguns dos ideais dos partidários do movimento.
Com a revolta, eles pretendiam ter a Independência, Liberdade e União dos
quatro estados, representados pelas estrelas dispostas no centro da ban-
95
deira: Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. A Religião indica
a participação de membros da Igreja na revolta, como frei Caneca. Acima do
quadrado da bandeira, vemos uma mão simbolizando a justiça. No centro
da mão é possível notar o olho da Providência. Em volta da mão, os ramos
representam as riquezas do Nordeste: a cana-de-açúcar e o algodão.
Página 162
■■ Comente com os alunos que, mesmo com o nascimento e a independência
da República Oriental do Uruguai, a sua Constituição ficou submetida à pré-
via aprovação do Brasil e da Argentina. A medida visava evitar a criação de
artigos que pudessem pôr em risco a segurança dos países dessa república.
Página 164
■■ Comente com os alunos que, além dos escravos e ex-escravos, outros gru-
pos sociais participaram do Levante dos Malês, ocorrido na Bahia em 1835.
Alguns historiadores afirmam que provavelmente o movimento pretendia unir
os afro-brasileiros que habitavam a cidade de Salvador com os que habitavam
as regiões rurais do Recôncavo Baiano. Esse levante possui grande valor
histórico, pois a análise dos relatórios feitos pela polícia para punir os culpa-
dos constitui uma das principais fontes sobre a escravidão urbana e a cul-
tura de origem africana na América.
Página 165
■■ Comente com os alunos que os africanos, ao entrarem em contato com
outros povos que viviam no Brasil, como europeus e indígenas, foram cultu-
ralmente influenciados por eles (e vice-versa), o que contribuiu para a forma-
ção da cultura afro-brasileira.
Sugestão de atividade
■■ Uma das importâncias de se estudar a história da África está em conhecer mais
a fundo esses povos que contribuíram de forma essencial na formação da cul-
tura brasileira. Apresente aos alunos o texto a seguir, que aborda os elementos
herdados das tradições e culturas africanas. Após o texto, apresentamos su-
gestões de questionamentos.
Página 166
■■ Comente com os alunos que Cabanagem foi uma revolta popular da qual
participaram indígenas, mestiços, negros e brancos pobres. Quanto aos
indígenas, as etnias que tiveram participação mais expressiva nesse movi-
mento foram os muras e os maués. Leia o texto abaixo.
97
10 O apogeu do Império do Brasil
Capítulo
Objetivos
■■ Estudar os principais aspectos econômicos e sociais do Brasil na época do
governo de D. Pedro II.
■■ Perceber que no decorrer do século XIX a produção do café se tornou a mais
importante atividade econômica do Brasil.
■■ Compreender que a principal mão de obra nos cafezais brasileiros era com-
posta por escravos africanos e afro-brasileiros.
■■ Perceber que, além do café, outros produtos eram importantes para a econo-
mia do Brasil no século XIX.
■■ Estudar os principais acontecimentos históricos que provocaram a Guerra do
Paraguai.
98
Comentários e sugestões
Candinho, como era chamado, nasceu em Brodósqui, interior de São Paulo, filho
de imigrantes italianos. Sua infância foi marcada pelas brincadeiras ao ar livre [...].
Foi aos nove anos, na Igreja de Nossa Senhora da Aparecida, em Brodósqui, que
suas mãos, predestinadas, desenharam no altar as primeiras estrelas, iluminando sua
travessia de artista aprendiz. Fazia o desenho de uma paisagem e, em seguida, coloria
com lápis de cor para, depois, vendê-las e, com o dinheiro, ajudar os pais. [...]
Portinari pintou com as cores, com os dons do coração, com o sentimento poé-
tico das recordações da infância em Brodósqui. Das reminiscências infantis à dura
realidade do homem em sua luta pela sobrevivência, ele pintou com o coração
sangrando por justiça social e foi capaz de sentir a alma do povo brasileiro, registrar
e denunciar os problemas de nossa gente sofrida.
MIGUEZ, Fátima. Paisagens brasileiras. São Paulo: DCL, 2003. p. 54.
99
nas foram altas para todos os países envolvidos: Brasil, Argentina, Paraguai e
Uruguai. Os prejuízos econômicos, mesmo para os países vitoriosos, foram
elevados. A fonte A apresenta uma abordagem romantizada do evento.
■■ Na fonte B, D. Pedro II foi representado com trajes imperiais, coroa e manto,
cetro e espadas nas mãos. A posição ocupada pelo imperador — no centro
da imagem e em destaque com relação aos demais personagens —, além de
sua vestimenta, são índices de seu poder e magnificência.
■■ A fonte C retrata o trabalho de escravos em uma fazenda de café. Na tela, as
atividades são realizadas tanto por homens como por mulheres, todos sob a
vistoria do feitor. No século XIX, o café teve suma importância para a economia
brasileira. Sua produção fomentou o processo de modernização do país e a
entrada de mão de obra de imigrantes para trabalharem nas fazendas cafeeiras.
Página 176
■■ Explique aos alunos que o Golpe da Maioridade foi planejado e executado
pelos brasileiros vinculados ao partido liberal. O principal objetivo da manobra
era centralizar o poder na figura do monarca, para assim disputar o poder com
os conservadores, que haviam assumido a Regência em 1837. A historiadora
Lilia Moritz Schwarcz relata alguns episódios decorrentes do Golpe da Maio-
ridade, entre eles a publicação do folheto Disposição para a sagração de
S. M. o imperador. O texto desse folheto versava sobre a grandiosidade do
poder monárquico e listava algumas regras de comportamento propícias para
o acontecimento. Se julgar conveniente, apresente-os aos alunos.
No dia 18 de julho de 1841 o Rio de Janeiro amanheceu mais uma vez em festa. A
corte, vestida com o máximo rigor, aguardava pelo maior ritual já preparado no país.
O folheto [...] é um rico exemplo das intenções de expor a grandiosidade do Estado
monárquico e criar uma tradição. Três programas, e ainda regras para o banquete e
disposições gerais, compõem o volume de dez páginas que foi distribuído pela corte.
O “Programa no 1” trata das regras para a entrada do imperador na capital do
Império, em grande cortejo do Paço de São Cristóvão ao Paço da Cidade. Marcado
para iniciar-se ao meio dia de 16 de julho, envolvia centenas, milhares de pessoas,
que deveriam incorporar-se a ele em ocasiões precisas do percurso, em posições e
com atitudes minuciosamente descritas. Cada um com sua função e seu instante
de glória. Piquetes, alas de coches, marchas, carruagens, arqueiros, girândolas, tiros
e salvas que estrondariam em momentos predeterminados [...].
O “Programa no 2” refere-se à sagração, que aconteceria no dia 18 de julho, e
regula a formação do prestígio que acompanharia o jovem Pedro até a Capela Im-
perial e toda a maravilha da longa cerimônia. Abundam os signos, os símbolos; as
insígnias surgem entre alas formadas pelos grandes do Império, os gentis-homens
e os veadores, carregadas com pompa e ostentação pelos porta-insígnias. E não são
poucas: o manto fundador do Império, a espada imperial do Ipiranga, a Constitui-
ção do Império, as oferendas, o globo imperial, o anel e luvas [...] todo um arsenal
de símbolos que passaram a representar o Império. [...].
Em seguida, o banquete — aí, um detalhe, entre tantos, bem curioso: o impera-
dor não tem suas mãos lavadas pela água que o gentil-homem, em instante deter-
minado, deverá lhe oferecer: suas mãos são sim, purificadas, como havia muito não
se fazia no ritual português. [...]
O “Programa no 3” estabelece o calendário dos dias seguintes: o dia para receber as
felicitações, a noite das iluminações, a visita ao Teatro de São Pedro de Alcântara, o baile.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 2. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 73-4.
100
Página 177
Página 182
■■ Sobre as comunidades quilombolas, apresente as seguintes informações
aos alunos.
Página 185
■■ Sobre a participação de escravos e ex-escravos na Guerra do Paraguai,
leia o texto a seguir.
A participação de libertos na Guerra do Paraguai é um dos assuntos mais falados
e mais deturpados de nossa história. Depois de um longo período em que foi sim-
101
plesmente ignorada, a partir dos anos 70 do século XX, sua presença na guerra
passou a ganhar grande destaque. Nessa época, consolidou-se uma imagem do
exército imperial como composto majoritariamente por negros escravos, libertados
para fazer a guerra de seus senhores. Estes, diante da convocação militar, teriam
optado por enviar seus cativos para a guerra. [...]
As consequências sociais desse fato ainda não foram de todo analisadas pelos his-
toriadores, principalmente quando consideramos que o recrutamento, além daqueles
escravos que foram libertos especificamente para a guerra, incidiu fortemente sobre
os habitantes mais pobres, em sua maior parte negros e mestiços, muitos dos quais
também libertos, que mantinham relações sociais as mais diversas com a população
cativa. A guerra equiparou todos — ex-escravos fugitivos, substitutos pagos, recrutas
do Exército e da Guarda Nacional, brancos, negros e mestiços pobres, jovens patrio-
tas de classe média e de famílias abastadas — como Voluntários da Pátria. [...]
SALLES, Ricardo. Negros Guerreiros. Nossa História. São Paulo: Vera Cruz, ano 1, n. 13, nov. 2004. p. 28-32.
Página 187
■■ Uma das causas atribuídas à eclosão da Guerra de Secessão nos Estados
Unidos foi a permanência de ideais antiabolicionistas entre os sulistas pro-
prietários de terras. Eles defendiam a continuidade da escravidão com bases
no direito de propriedade. O norte dos Estados Unidos, por sua vez, em
ritmo crescente de industrialização, adotou uma postura abolicionista, ba-
seada no direito de liberdade e igualdade inalienáveis a todos os homens.
No entanto, seus interesses também eram econômicos. Leia o texto.
[...] Intrigava aos nortistas que os sulistas brancos estivessem tão determinados a
proteger o estilo de vida aristocrático de fazendeiros abastados. Na verdade, muitos
no Sul eram contra a secessão e a guerra; o que os irritava eram “ianques arrogantes”
interessados em alterar o estilo de vida dos sulistas. Eles atribuíam os problemas fi-
nanceiros de sua região a tarifas federais impostas para proteger as indústrias nortis-
tas. Afirmavam que os industriais do Norte mantinham seus próprios operários em
escravidão econômica. E no fundo de suas memórias pairavam os grandes latifúndios
da Inglaterra dirigidos pela nobreza, sistema feudal que havia produzido um império.
Muito embora a escravidão tivesse sido abolida no Norte e a abolição viesse se
tornando uma causa popular, o governo dos Estados Unidos sabia que devia avan-
çar com calma. O Sul estivera à frente da Revolução Americana e havia ajudado a
estruturar a nova nação: só a Virgínia proporcionara sete dos 12 primeiros presi-
dentes dos Estados Unidos. [...]
O contínuo poder do Sul no Congresso foi refletido pela Lei dos Escravos Fugi-
dos, de 1850, segundo a qual escravos em fuga podiam ser capturados em estados
livres e devolvidos a seus proprietários sem julgamento. E qualquer cidadão dos
Estados Unidos que os auxiliasse poderia levar uma multa vultosa e ser preso. Essa
lei foi parte do Acordo de 1850, por cujos termos a Califórnia foi admitida como
estado livre, o tráfico foi abolido no Distrito de Colúmbia e a decisão sobre a es-
cravatura foi protelada nos territórios de Utah e do Novo México.
O acordo mostrou-se frágil, uma vez que a Lei Kansas-Nebraska de 1854 permi-
tiu a esses dois territórios e a quaisquer outros no futuro decidir por conta própria
se desejavam a escravidão. Isso motivou os colonos do Norte e do Sul a acorrer aos
territórios para assumir o controle, o que levou ao estabelecimento do Partido
Republicano para unificar os grupos opostos à escravidão.
[...]
Compensando o surgimento de um poderoso Partido Republicano havia o velho
Partido Democrata, cujas origens podiam ser identificadas no Partido Republicano
Democrático de Thomas Jefferson em 1792. Os democratas se haviam fortalecido
102
defendendo os direitos dos estados e isso incluía opor-se ao envolvimento do go-
103
O fim da Monarquia e a
11
Capítulo
proclamação da República
Objetivos
■■ Entender os principais fatores que provocaram a crise do Império do Brasil.
■■ Estudar os contextos brasileiro e europeu que possibilitaram a imigração em
larga escala de europeus para o Brasil.
■■ Conhecer aspectos do cotidiano dos imigrantes europeus no Brasil.
■■ Perceber que, na segunda metade do século XIX, a economia brasileira come-
çou a se diversificar, iniciando o processo de modernização do país.
■■ Estudar o processo de abolição da escravidão no Brasil.
■■ Compreender o contexto de proclamação da República no Brasil.
A Proclamação da República*
[...] os grupos civis republicanos, sem a força e coesão necessárias para mudar o
regime, procuram articular-se com os militares. Nessa articulação, destacam-se,
entre outros, o já então tenente-coronel Benjamim Constant, Quintino Bocaiúva e
Aristides Lobo, e dela resultaria um encontro com Deodoro da Fonseca no dia 11
de novembro. O futuro marechal sempre fora fiel ao imperador — mas também
carregava mágoas em relação aos políticos do Império — e, embora esquivo a prin-
cípio, acabou por declarar que nada mais se poderia esperar da Monarquia.
Desse modo, ante os boatos de que ele e Benjamim Constant seriam presos, diri-
giu-se no dia 15 à Praça da Aclamação, atual Praça da República, para depor o mi-
nistério Ouro Preto. De tal ação surgiria a proclamação da República, que, conforme
nota a historiadora Wilma Peres Costa, “marca a emergência das forças armadas
como ator político na história brasileira”. Embora tenha tomado a forma de um golpe
de Estado, na verdade, resultou de um longo processo iniciado na década de 1850 e
acelerado a partir dos anos 1870, traduzindo um descontentamento generalizado. [...]
No entanto, os primeiros dez anos republicanos foram de grande instabilidade
política, pois as forças momentaneamente unidas em torno do mesmo ideal tinham
interesses e projetos diferentes de República, geradores de conflitos como a Revo-
lução Federalista, por exemplo, ou a Revolta da Armada.
QUEIROZ, Suely Reis de. 15 de novembro de 1889: Proclamação da República. In: BITTENCOURT, Circe (Org.).
Dicionário de datas da história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2007. p. 265-6.
*Título dado pelos autores
Comentários e sugestões
104
toda a bagagem da família, e a mulher carrega uma criança no colo. Há também
105
■■ As bandeiras do Império e da República possuem algumas semelhanças: as
cores utilizadas, o retângulo verde, o losango amarelo e as estrelas. No en-
tanto, uma diferença entre elas é justamente a quantidade e o significado
dessas estrelas. Enquanto na bandeira do Império elas representam as pro-
víncias do país, na bandeira da República elas retratam o céu do Rio de Ja-
neiro no dia 15 de novembro de 1889, incluindo a constelação do Cruzeiro do
Sul. Outra diferença é a presença de alguns elementos na bandeira imperial,
como os ramos de café e algodão, o laço que os unem no centro, o globo
armilar e a coroa real. Já na bandeira republicana podemos ver a famosa ins-
crição positivista: Ordem e Progresso .
■■ Grupos como o dos fazendeiros escravocratas se posicionaram contra a abolição
da escravidão no Brasil. Angelo Agostini faz alusão a esse posicionamento na
fonte D, ao representar personagens insatisfeitos ao lerem a notícia da abolição.
Página 197
■■ Caso julgue conveniente e queira complementar o estudo da página sobre
o Movimento Abolicionista, apresente aos alunos as seguintes informações.
A partir da década de 1880 surgiu um movimento social que lembrava os esforços
pela independência. Não havia uma organização centralizada, mas todos sabiam como
agir para chegar ao objetivo. Por todo lado conferencistas defendiam a abolição e logo
arregimentaram adeptos para formar os “clubes abolicionistas”. Não havia espaço que
não fosse ocupado. Publicavam jornais, protestavam contra os proprietários.
Toda essa movimentação não conseguiu tirar o governo de sua inércia. [...]
Essa inépcia para enfrentar a situação acabou fortalecendo os antiescravistas,
cujo movimento rompeu barreiras sociais de toda espécie. A cada dia surgiam
clubes abolicionistas, dedicados à coleta de recursos para a alforria de escravos,
para os quais até mesmo grandes damas concorriam com joias (sendo o gesto qua-
se sempre noticiado nas folhas, para maior vaidade dos doadores), crianças e estu-
dantes com seus tostões, cada qual segundo suas posses.
E crescia a cada dia o número de pessoas que se associavam para secretamente
ajudar na fuga dos escravos, açoitando-os e transportando-os para os sertões além
da fronteira agrícola mais densamente povoada. Multiplicavam-se, mesmo em pro-
víncias bem povoadas, os quilombos, que já não tinham as dimensões e significa-
dos dos grandes quilombos do século XVIII, mas onde os escravos fugidos convi-
viam em relativa paz com as povoações próximas. A escravidão tornara-se, para
um número cada vez maior de pessoas, uma vergonha evitável.
CALDEIRA, Jorge e outros. Viagem pela História do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 219.
Página 199
■■ Comente com os alunos que, além do sistema de colonato, foi experimen-
tado o sistema de parcerias para regulamentar o trabalho dos imigrantes
europeus. Esse sistema foi inaugurado pelo senador e cafeicultor Nicolau
Vergueiro, que em 1845 financiou a vinda de aproximadamente 65 famílias
alemãs para trabalhar em sua fazenda, em Limeira, interior de São Paulo.
Nesse sistema, os imigrantes se comprometiam a não deixar a fazenda até
que pagassem os gastos da viagem. No entanto, a dívida deles apenas au-
mentava, uma vez que eles tinham que alugar todos os instrumentos de
trabalho do próprio fazendeiro, bem como comprar seus mantimentos na
venda da fazenda. Os imigrantes ficaram muito insatisfeitos com esse siste-
ma, que foi substituído pelo colonato.
■■ Se julgar necessário, comente com os alunos que, desde o início do século
106
XIX, alguns intelectuais brasileiros, como José Bonifácio e Hipólito da Costa,
Página 202
Sugestão de atividade
■■ Comente com os alunos que, quando as primeiras ferrovias começaram a ser cons-
truídas no interior de São Paulo, os construtores tiveram de empreender o desma-
tamento de florestas. Contudo, ao darem prosseguimento às obras, eles se depa-
raram com grupos de indígenas que viviam nesse território. Apresente o texto para
os alunos e, em seguida, peça-lhes que respondam aos questionamentos propostos.
O massacre caingangue*
Até praticamente 1880, as terras do extremo Oeste paulista consideradas devo-
lutas passaram a ser demarcadas, e as [etnias] guarani, xavante e caingangue que
ali viviam começaram a ser molestadas pelos colonizadores brancos. Mas, se os
107
dois primeiros grupos assistiram ao movimento de expansão passivamente, o mes-
mo não ocorreu com o último. Estabelecidos nos vales dos rios Peixe, Batalha,
Aguapeí e baixo Tietê desde quando chegaram a São Paulo, vindos do Paraná,
provavelmente no século XVIII, os caingangues resistiram heroicamente à invasão
de suas terras por muito tempo. No entanto, nas últimas décadas do século, a ânsia
por novas fronteiras rapidamente levou fazendeiros e posseiros a abandonar sua
atitude “temerosa” [...] e assumir uma postura agressiva e de confronto direto.
Os resultados não se fizeram esperar. Em 1885, a região compreendida entre
a margem sul do Tietê, o rio Paranapanema e a barranca do Paraná já tinha
sessenta fazendas, e dez anos depois contava com uma população de oito mil
habitantes. Esse assentamento fora precedido de várias expedições de caça ao
bugre, denominadas “dadas”, já praticamente no Oeste paulista desde a segun-
da metade do século XIX. Essas “dadas” eram compostas de bugreiros aliados
e matadores profissionais, formando verdadeiras organizações especializadas.
A soldo de grandes proprietários e dos que especulavam no comércio de terras,
“os bugreiros constituíram, na verdade, o braço armado da ocupação, e com
um caráter marcadamente ofensivo e sistemático”.
Inúmeros relatos descreveram a crueldade das tropas de bugreiros contra os
[indígenas], como a morte de mais de mil caingangues e a extinção de suas
aldeias, em 1886, por envenenamento de sua população: um quilo de estricni-
na fora adicionado ao suprimento de água da [aldeia]. No mesmo ano, mor-
reram todos os líderes indígenas de outra aldeia atacada, além de grande parte
de sua população de cerca de quinhentas pessoas.
ALVIM, Zuleika. Imigrantes: a vida privada dos pobres do campo. In: SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da vida
privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 277-9. v. 3.
*Título dado pelos autores
a) Qual era a condição das terras do Oeste paulista por volta de 1880?
b) Quais eram os povos que viviam nessa região?
c) Em qual região viviam os caingangues?
d) Qual era a condição das terras do Oeste paulista por volta de 1885?
e) Quem eram os bugreiros?
f ) Quais foram as armas utilizadas pelos bugreiros para exterminar os caingangues?
Respostas: a) Até praticamente 1880, as terras do extremo Oeste paulista eram consideradas
devolutas, ou seja, eram terras do Estado. b) Antes da construção da ferrovia, o Oeste paulis-
ta era habitado pelos guaranis, xavantes e caingangues. c) Os caingangues viviam nos vales
dos rios Peixe, Batalha, Aguapeí e baixo Tietê desde que chegaram a São Paulo, vindos do
Paraná, provavelmente no século XVIII. d) Por volta de 1885, a região compreendida entre a
margem sul do Tietê, o rio Paranapanema e a barranca do Paraná já tinha 60 fazendas, e
10 anos depois contava com uma população de 8 mil habitantes. e) Os bugreiros eram aliados
dos latifundiários e matadores profissionais. Eles constituíram, na verdade, o braço armado da
ocupação das terras indígenas. f) De acordo com os relatos, os bugreiros mataram cerca de
mil caingangues e extinguiram suas aldeias, em 1886, por envenenamento de sua população.
No mesmo ano, morreram todos os líderes indígenas de outra aldeia atacada, além de grande
parte de sua população de cerca de 500 pessoas.
Página 203
■■ Comente com os alunos que o crescimento e as transformações urbanas
foram possibilitados, em um primeiro momento, pela expansão da economia
agrária. A riqueza e o acúmulo de capitais por parte da expansão agrícola
tornaram-na consumidora dos produtos industrializados. Cidades como São
Paulo e Rio de Janeiro, as precursoras no processo de industrialização, ti-
veram o capital industrial subordinado ao cafeeiro. As grandes cidades faziam
ainda a comercialização do café pelas casas comerciais e pelo porto do Rio
de Janeiro. O capital acumulado pela comercialização colaborou para o de-
senvolvimento urbano e para a instalação de novas indústrias.
108
Capítulo
12 A África no século XIX
Línguas e povos
Em tempos pré-coloniais, os povos da África estavam divididos em centenas de
nacionalidades e grupos étnicos, com uma grande variedade no que se refere a
dimensões e tipos de cultura e de crenças. Em certos casos, Estados multiétnicos
— como a Etiópia no final do século XVI — reuniam vários povos sob uma única
autoridade política central. Em outros casos, o étnico estava circunscrito à unidade
política, como o Império Zulu, no Sul da África durante o século XIX, enquanto
no extremo oposto havia grupos étnicos, como os chagas do Kilimanjaro, divididos
numa enorme quantidade de minúsculas unidades políticas independentes, algu-
mas não maiores que uma aldeia. [...]
Geralmente, os europeus designam os grupos étnicos com o nome de “tribos”; seria,
no entanto, conveniente afastar um termo tão pouco definidor e, em muitos casos, tão
carregado de preconceitos. No século XIX, o Império Zulu, governado por um rei,
tinha tanto de tribo como a Inglaterra de Henrique VIII. Os igbos da Nigéria com os
seus 17 milhões de pessoas são classificados como tribo, enquanto outros grupos ét-
nicos europeus, muito [menores], foram dignificados com o nome “nacionalidades”.
Por outro lado, aplicou-se por vezes o nome “tribo” a minúsculos povoados comuni-
tários africanos com um número de membros não superior a algumas centenas.
Uma maneira consequente e válida de classificar as sociedades africanas consis-
te em diferenciá-las de acordo com a língua que falam. Os africanos, tal como todos
os povos, tendem a identificar-se pelo seu idioma (e, de fato, esta identificação
costuma coincidir com o que os Europeus consideram “tribos”). Na África falam-se
mais de mil línguas. Algumas delas são utilizadas por milhões de pessoas, como o
mandinga, o igbo, o ioruba e o hauçá no Oeste; o suaíli no Leste; o amárico e
o orono (chamado erradamente gala) no Corno da África; o zulu e o soto no Sul; e o
árabe no Norte. A maioria das línguas são faladas por um número de pessoas que
oscila entre várias centenas e um milhão. Algumas poucas línguas, como o kw’adza
da Tanzânia, são conhecidas só por alguns anciãos, e estão em vias de extinção.
MURRAY, Jocelyn. África: o despertar de um continente. Madri: Del Prado, 1997. p. 24. v. 1. (Grandes Impérios e Civilizações).
Comentários e sugestões
109
zulus. Os indivíduos apresentam-se posando para a foto. Os homens do gru-
po estão armados com lanças e protegidos por escudos. Comente com os
alunos que os zulus lutaram para defender seus territórios durante a invasão
europeia na África, no século XIX.
■■ A fonte B é uma gravura produzida no século XIX e representa o cotidiano do
mercado na cidade de Sokoto. A figura retrata indivíduos trabalhando em ativi-
dades diversas e alguns animais utilizados para transportar mercadorias. Co-
mente com os alunos que essa cidade era a sede do Califado de Sokoto, po-
deroso Estado africano do século XIX.
■■ A fotografia apresentada como fonte C retrata moradias dos zulus localizadas
próximas à Kwazulu Natal, na África do Sul. Comente com os alunos que a fo-
tografia foi tirada recentemente e que os zulus mantêm, até os dias de hoje, a
organização tradicional de suas moradias.
■■ A fonte D é uma gravura que representa um acampamento de exploradores
franceses sendo atacado por nativos, na África, no século XIX. Em primeiro
plano, um dos exploradores está dentro da barraca, com uma arma de fogo na
mão e observando o ataque ao seu conterrâneo. No plano de fundo, vemos
outros nativos se aproximando do acampamento. Comente com os alunos que,
no século XIX, exploradores de vários países europeus invadiram o continente
africano a fim de extrair riquezas naturais do território, além de explorar a mão
de obra nativa.
Página 217
■■ Explique para os alunos que aculturação é um conceito importante para o
estudo da História, pois trabalha a questão das interações culturais entre
povos com costumes diferentes. De acordo com alguns estudiosos, a acul-
110
turação ocorre quando uma determinada etnia começa a ser influenciada por
Página 220
■■ Explique aos alunos que as justificativas de “superioridade racial” defendidas
pelos europeus para explorar a África tiveram raízes na obra A origem das
espécies , publicada em 1859, pelo naturalista inglês Charles Darwin. Nessa
obra, o cientista abordou o processo de evolução dos seres vivos defenden-
do a hipótese da seleção natural. Segundo Darwin, esse processo evolutivo
Página 225
■■ Sobre o domínio imperialista na Indochina, apresente aos alunos as seguin-
tes informações.
111
de civis massacrados, de milhares de carregadores requisitados e... fuzilados, se
fugissem. Além disso, a população foi dizimada pelas epidemias (impaludismo,
disenteria, tifo e cólera) ou pela fome. A morte também não poupou os soldados
do corpo expedicionário francês, atingidos por um elevado índice de morbidez ou
mortalidade.
BROCHEUX, Pierre. O colonialismo francês na Indochina. In: FERRO, Marc (Org.). O livro negro do colonialismo.
Trad. Joana Angélica. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 399; 401-2.
Página 227
■■ Comente com os alunos que a Etiópia, com o melhor exército nativo do
continente, foi um dos poucos Estados africanos a impedir a colonização de
seu povo e território. Em 1885, os italianos tomaram as terras etíopes junto
ao mar Vermelho para formar a colônia da Eritreia e, poucos anos depois,
avançaram para o interior. No entanto, o imperador da Etiópia tinha contra-
tado conselheiros militares da Europa e equipou seus soldados com armas
modernas, muitas delas compradas da própria Itália. Após várias batalhas,
o exército italiano foi aniquilado e, em 1886, reconheceu a independência da
Etiópia em troca do direito de permanecer nas colônias costeiras.
112
Sugestão de atividade
Texto 1
O interior do continente permanecia fechado, provocado pelo mistério dos seus
desertos imensos, de suas florestas impenetráveis, de seus rios caudalosos, a cora-
gem dos exploradores, amigos da ciência geográfica ou de arriscadas aventuras.
Os países da Europa, de grande população, ou cujas indústrias se haviam
desenvolvido enormemente, precisavam de colônias. Na América já não era
possível encontrá-las. Assim, as expedições puramente científicas à África, fo-
ram sendo seguidas de numerosas outras, para a conquista e colonização. [...]
Muitos outros exploradores e geógrafos se ilustraram na descoberta do in-
terior da África [...].
SILVA, Joaquim. História da Civilização – para o primeiro ano ginasial.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939. p. 237; 239.
Texto 2
No último terço do século XIX, possuir colônias passou a ser, para os países
europeus, um requisito para se afirmar como potência. Por isso, na corrida por
territórios na África, iniciada pela França e pela Grã-Bretanha, logo se envolveram
a Alemanha, a Itália e até mesmo um indivíduo, Leopoldo II, o rei dos belgas. [...]
À medida que se caminhava para o fim do século, tornou-se cada vez mais
agressivo o avanço europeu sobre as terras africanas. Uns após outros, foram
sendo vencidos os Estados africanos que podiam opor-se a esse avanço, graças
à vantagem que davam aos europeus o canhão de campanha montado sobre
rodas, o rifle de ferrolho e de repetição, a metralhadora e, em alguns casos, a
cavalaria. É bem verdade que alguns reis africanos dispunham também de ri-
fles modernos e de pequenos canhões, porém em número insuficiente ou nas
mãos de soldados despreparados para usá-los.
Apesar disso, a conquista da África não foi tarefa simples nem rápida. Mui-
tas vezes, os europeus sofreram reveses. Como na batalha de Isandhlwana, por
exemplo, em janeiro de 1879, quando cerca de 25 mil zulus do rei Cetshwayo
derrotaram as tropas britânicas, que somavam 16 mil homens, sendo 7 mil
europeus e 9 mil africanos. O exército zulu era disciplinadíssimo, uma verda-
deira máquina de guerra, e, apesar da inferioridade em armas — contava ape-
nas com as tradicionais lanças de cabo curto, escudos de couro e espingardas
carregadas pela boca —, venceu novamente os britânicos em Roker’s Drift,
Eshowe e Hlobane, antes de cair em Ulundi, em julho daquele ano. [...]
SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008. p. 103-4.
113
Respostas das atividades
1
sobre o passado, servindo para a construção do
Capítulo
114
organiza para produzir, armazenar, distribuir e mais ou menos diretamente com a falta de direi-
115
d ) As permanências nesse local foram poucas: além os séculos V e XV. Nesse período, a maioria da
dos morros mais distantes, ao fundo das ima- população europeia vivia na área rural e trabalhava
gens, e de poucas casas que se mantiveram na produção agrícola. Os servos deviam fidelidade
semelhantes, uma nítida permanência é o gran- aos grandes proprietários de terra e, em troca,
de aqueduto, construção de maior destaque recebiam deles proteção e permissão para traba-
nas duas fotografias. lhar na terra. Os proprietários rurais eram chama-
dos de senhores feudais. Eles eram nobres que
16 a ) O título dessa notícia é “Foi decretada a Hora de
recebiam dos reis um grande lote de terras e ficavam
Verão”; e o subtítulo é “Devem ser avançados
comprometidos em garantir a defesa do território.
de uma hora, hoje às onze horas todos os re-
lógios existentes no Brasil”. 2 Os burgueses eram comerciantes que foram se
b ) O decreto n o 20 466 foi assinado em 3 de outu- tornando mais numerosos e mais influentes na
bro de 1931. Quem o assinou foi o chefe do economia medieval. A burguesia não era um grupo
governo provisório do Brasil em 1931, Getúlio social homogêneo. Havia a alta burguesia e a bai-
Vargas. xa burguesia. A alta burguesia era composta,
principalmente, por grandes comerciantes e ban-
c ) Esse decreto determinou a adoção da hora da
economia de luz (ou “hora de verão”) no Brasil, queiros. A baixa burguesia, por sua vez, era com-
durante o período de 3 de outubro de 1931 a posta por pequenos comerciantes.
31 de março de 1932. 3 O desenvolvimento das atividades urbanas no final
d ) O principal argumento utilizado para justificar a da Idade Média deu aos burgueses condições de
assinatura desse decreto foi o da economia de prosperar e enriquecer, passando a ocupar uma
luz, que traria grande proveito para o erário e posição destacada na sociedade.
grandes benefícios ao público.
4 Devido ao aumento das atividades urbanas, a bur-
e ) De acordo com o decreto, o período em que guesia passou a ocupar uma posição destacada
estaria em vigor a “hora do verão” seria de 3 de na sociedade; as cidades, por sua vez, foram se
outubro de 1931 a 31 de março de 1932. A tornando importantes centros comerciais e con-
frase que permite chegar a essa conclusão é: quistaram maior autonomia em relação aos senho-
“Todos os relógios do Brasil deverão ser avan- res feudais. Essas transformações sociais acaba-
çados, de 1 hora, às 11 horas (hora legal) do ram provocando profunda crise no sistema feudal.
dia 3 de outubro, e assim devem ser mantidos
até as 24 horas do dia 31 de março (quando 5 Resposta pessoal. Com a crise do sistema feudal,
voltará a prevalecer a hora legal)”. os reis passaram gradativamente a centralizar o
f ) Resposta pessoal. Comente com os alunos que, poder em suas mãos, fator fundamental para a
no dia 8 de outubro de 2008, o então presiden- formação dos Estados modernos. Os soberanos
te da República, Luís Inácio Lula da Silva, assinou criaram exércitos nacionais, disciplinados e leais
o decreto de número 6 558, que instituiu datas ao Estado, que o defenderiam em caso de guerra.
fixas para a adoção do “horário de verão”. Se- Nesse contexto, com o desenvolvimento das ati-
gundo esse decreto, todos os anos, nos estados vidades urbanas no final da Idade Média, os bur-
do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, gueses se tornaram influentes na economia me-
São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas dieval, passando a ocupar uma posição destaca-
Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul da na sociedade. Os Estados modernos adotaram,
e no Distrito Federal, será instituída a “hora de a partir do século XVI, o mercantilismo, um con-
verão”, adiantada em sessenta minutos em re- junto de práticas econômicas que tinha como
lação à hora legal, a partir da zero hora do ter- principal característica a intervenção do Estado
ceiro domingo do mês de outubro de cada ano, na economia.
até a zero hora do terceiro domingo do mês de 6 Resposta pessoal. Oriente os alunos a ler novamen-
fevereiro do ano subsequente. te os conteúdos das páginas 28 e 29 antes de
iniciar a elaboração do texto.
2
Capítulo
116
c ) O terceiro estado era composto por burgueses, diferenciavam dos demais Estados absolutistas da
117
nham como objetivo reformar as instituições, tor- 18 a ) As pessoas retratadas estão contando moedas,
nando-as abertas à representação política da provavelmente após receberem algum paga-
burguesia, acabando com o poder absoluto do rei mento. O homem aparece usando um chapéu
e o sistema de favores que privilegiava a nobreza bege e roupas verdes, com a mão direita ele
e o clero. conta o dinheiro; a mulher observa a ação do
marido. Ela também usa um chapéu e se veste
Expandindo o conteúdo com uma roupa vermelha. À sua frente, há um
livro aberto que provavelmente estava sendo
16 a ) No século XVII, os camponeses franceses habi-
lido por ela minutos antes da cena ser pintada.
tavam em uma casa de um único cômodo, al-
Eles estão dentro de uma sala. No balcão atrás
gumas vezes compartilhada com outra família. deles há uma vela apagada e alguns papéis.
No interior da casa havia colchões de palha
b ) As pessoas apresentadas nessa imagem perten-
jogados no chão de terra batida, uma lareira,
ciam ao terceiro estado. No Antigo Regime, os
um armário com louça de barro cozido, camisas
comerciantes, burgueses e banqueiros partici-
de fibras, lençóis e cobertores de lã. Do lado
pavam dessa camada mais diversificada.
de fora, geralmente havia um coberto com
quatro ou cinco galinhas, duas ou três ovelhas c ) Eles estavam insatisfeitos com o governo abso-
que as crianças levavam a pastar nas terras lutista porque esse modo de administrar o Es-
comunais, criadas principalmente em função da tado dificultava o desenvolvimento mercantil e
industrial. Além disso, os burgueses não tinham
lã e da reprodução.
direito à participação política e, portanto, fica-
b ) Os principais alimentos consumidos pelos cam-
vam submetidos às ordens do rei.
poneses eram: pão, uma mistura de centeio e
de trigo em porções diárias de cerca de 700 gra- 19 a ) A - segundo estado
mas, molhado numa sopa de legumes. Além
B - primeiro estado
disso, a refeição era enriquecida por alguns
C - terceiro estado
ovos e, dependendo da região, por uma pan-
b ) O primeiro estado é representado por um mem-
queca de trigo sarraceno, um caldo de milho
bro do clero, que usa um crucifixo e uma roupa
ou um purê de castanhas.
própria de bispos; o segundo estado é repre-
c ) Havia deficiência de gordura na alimentação dos sentado por um nobre que se veste de cullotes .
camponeses porque geralmente eles não co- Além disso, esses dois personagens estão re-
miam carne nem derivados de leite. presentados montados em um membro do
terceiro estado, que usa roupas esfarrapadas
17 a ) Os nobres faziam parte do segundo estado.
e segura uma ferramenta agrícola. Ele foi repre-
b ) Os nobres de que trata o texto pertenciam à
sentado dessa forma porque os camponeses,
nobreza cortesã. São exemplos de trecho do
que pertenciam ao terceiro estado, eram res-
texto que indicam para essa conclusão: “[...] ponsáveis por garantir a manutenção dos de-
detinham o monopólio de acesso aos cargos mais estados por meio de seu trabalho.
superiores do exército, da Igreja e da magistra-
c ) O autor da gravura critica o parasitismo do primei-
tura”; “Muitos desses nobres viviam na Corte,
ro e do segundo estado, que se aproveitam do
desfrutando diretamente a companhia e, prin-
trabalho dos membros do terceiro estado para
cipalmente, os favores de Sua Majestade. [...]
viver no luxo e na riqueza, sem precisar perder
Cerca de quatro mil pessoas viviam nessa
seu tempo com as questões de ordem material.
condição parasitária, à custa de pensões, sol-
d ) Resposta pessoal. Alguns dos títulos possíveis
dos militares, rendas de cargos administrativos
são: A sociedade do Antigo Regime e As ca-
ou eclesiásticos”.
madas sociais da época do Antigo Regime.
c ) De acordo com o texto, os privilégios da nobre-
za eram: usar espadas; ter bancos reservados 20 a ) Esse texto foi escrito no século XVII.
nas igrejas; ostentar brasões; isenção de tribu- b ) São exemplos de comportamentos considerados
tos e da prestação de serviços obrigatórios; grosseiros pelo autor do texto: mergulhar na
direito de caça e de pesca; monopólio de aces- comida a colher que já foi levada à boca; tomar
so aos cargos superiores do exército, da Igreja a sopa diretamente na sopeira; assoprar as
e da magistratura; direitos senhoriais sobre os colheradas de sopa caso ela esteja muito quen-
camponeses; recebimento de pensões. te; tocar qualquer coisa gordurosa com os
118
dedos e depois limpá-los com o guardanapo, 4 A Revolução Científica do século XVII estimulou o
3
Capítulo
119
mente contrário ao Absolutismo. Locke era a favor b ) Os principais títulos editados pela Biblioteca Azul
de um governo constitucional, em que a autoridade apresentavam textos de ficção cômica, conhe-
do Estado respeitasse as leis. Caso um governante cimentos úteis e exercícios de devoção.
não assegurasse os direitos naturais, seria legítimo c ) Os livros da Biblioteca Azul eram vendidos pelos
o povo rebelar-se e tirá-lo do poder. mascates, que levavam os livros para serem
11 O despotismo esclarecido foi uma forma de gover- vendidos na área rural.
no adotada por alguns monarcas europeus duran- d ) Resposta pessoal. Procure mostrar aos alunos
te o século XVIII. Essa forma de governo se carac- que o hábito da leitura possibilita uma amplia-
terizava pela mistura de práticas absolutistas e ção do conhecimento sobre o mundo e as so-
ideias iluministas. ciedades, além de contribuir para a formação
pessoal de cada um. Promova entre os alunos
12 Marquês de Pombal era ministro de D. José, rei de o respeito às diferentes opiniões que possam
Portugal, e realizou diversas reformas que influen- surgir durante a realização dessa atividade.
ciaram o Brasil. No século XVIII, Pombal procurou
reduzir o poder da Igreja Católica na Colônia, 17 a ) O homem representado está escrevendo uma
principalmente por meio da expulsão dos jesuítas. carta, pois, por ele ser alfabetizado, podia ga-
No plano econômico, aumentou o valor dos im- nhar algum trocado escrevendo cartas para as
postos e incentivou a criação de companhias de pessoas que não sabiam escrever.
comércio. b ) A mulher representada está ditando para o ho-
mem aquilo que ela quer que ele escreva.
13 Os fisiocratas defendiam a ideia de que a riqueza
de um Estado não deveria ser medida pela quan- c ) Resposta pessoal. Alguns títulos possíveis são:
tidade de metais preciosos que possuía, mas sim O escrivão; A carta de uma mulher analfabeta;
pela quantidade e qualidade dos bens à disposição O homem que escreve cartas etc.
de seus cidadãos. A verdadeira riqueza seria ge- d ) Essa gravura revela que, na sociedade europeia
rada pela natureza, sendo a agricultura a principal do século XVIII, muitas pessoas não sabiam ler
atividade produtiva. Segundo os fisiocratas, o e escrever. Essas pessoas contratavam o ser-
Estado não poderia interferir no mercado, mas sim viço de alguém alfabetizado para poder se
deixar que a economia se autorregulasse, seguis- comunicar por meio de cartas com seus amigos
se suas próprias leis. e parentes distantes.
e ) Resposta pessoal. Na sociedade atual, uma
14 Para Adam Smith, a organização econômica de um
pessoa que não sabe ler e escrever encontra
Estado, ou seja, a maneira como ele organiza a
dificuldades para conseguir um emprego, para
produção, não se pautaria somente pela agricul-
expressar suas ideias por meio de textos. Além
tura. Outras atividades, como o artesanato e o
disso, ela tem dificuldades em seguir as placas
comércio, por exemplo, também eram geradoras
e entender os avisos afixados em locais públi-
de riqueza. O que as tornavam produtivas era o
cos etc. Promova entre os alunos o respeito às
fato de que, segundo Smith, cada indivíduo, ao
diferentes opiniões que possam surgir durante
exercer suas atividades, estaria agindo pelo seu
a realização dessa atividade.
próprio bem, buscando a melhoria de suas condi-
ções de vida e contribuindo indiretamente pelo 18 a ) O despotismo esclarecido vigorou no século
bem-estar de toda a sociedade. XVIII, na Europa. Esse termo foi utilizado para
designar os governos que procuraram conciliar
15 Resposta pessoal. Os alunos devem apresentar no
o regime absolutista com ideias iluministas.
texto elementos do infográfico da página 52. Pro-
mova uma discussão entre os alunos sobre os b ) No plano social, os déspotas esclarecidos pro-
elementos do infográfico que mais lhes chamaram clamaram-se adversários dos privilégios. Vários
a atenção. deles lutaram contra a nobreza ou o clero, ao
mesmo tempo em que procuravam adotar me-
didas mais liberais.
Expandindo o conteúdo
c ) De acordo com o texto, o objetivo dos déspotas
16 a ) Os editores da Biblioteca Azul realizavam um
esclarecidos era ampliar sua própria autoridade,
processo de adaptação no texto de obras que
reforçando o poder do Estado.
seriam vendidas para as camadas popular e
rural da sociedade do Antigo Regime. 19 a ) Esse texto se refere ao comércio de escravos.
120
b ) Jean D’Alembert e Denis Diderot consideram -açúcar e o algodão. A economia dessas colônias
121
de 1770. Nessa ocasião, uma multidão de colonos, -americanos enfrentaram o exército inglês e, com
que protestava contra as novas leis, foi alvejada apoio militar e econômico da França, conseguiram
por soldados britânicos, resultando em cinco mor- importantes vitórias. Esses conflitos duraram cer-
tos, além de vários feridos. O tiroteio ocorreu ca de seis anos, até que, em 1781, o exército inglês
praticamente no mesmo momento em que o novo foi derrotado e expulso da América do Norte.
primeiro-ministro britânico, sob pressão dos colo-
15 a ) A Constituição dos Estados Unidos da América
nos, revogava a maioria das leis, com exceção da
foi aprovada no ano de 1787.
referente ao comércio de chá.
b ) De acordo com a Constituição, os poderes do
10 A Festa do Chá de Boston foi um protesto organi- país seriam divididos em Executivo, que ficaria
zado por colonos dessa cidade contra o monopó- a cargo do presidente; Judiciário, desempenha-
lio inglês do comércio do chá. No protesto, os do pela Suprema Corte; Legislativo, encarrega-
colonos, organizados pela Assembleia de Massa- do de elaborar as leis.
chusetts, disfarçaram-se de indígenas e invadiram
c ) Em 1791, alguns governadores dos estados
navios carregados de chá inglês que chegaram ao
americanos apontaram para a necessidade de
porto, lançando sua carga na água.
incluir novos artigos na Constituição. Essas
11 As Leis Intoleráveis foram medidas adotadas pelo emendas foram chamadas de Estatuto dos Di-
Parlamento britânico como represália às manifes- reitos ( Bill of Rights ) e foram consideradas fun-
tações dos colonos. Entre as principais medidas damentais para a formação do país. Entre as
estavam: a interdição do porto de Boston até a emendas propostas, estavam a garantia da li-
indenização dos prejuízos causados pela Festa do berdade de culto, de expressão, de imprensa e
Chá; intervenção em Massachusetts, que foi con- de reunião, além da legalização do porte de
vertida em colônia real; e restrição do direito de armas pela população civil.
reunião entre os colonos. Os colonos, por sua vez, d ) A Constituição dos Estados Unidos da América é
reuniram-se ilegalmente em uma assembleia, for- importante porque estabeleceu as bases para a
mando o Primeiro Congresso Continental, contan- formação de uma República, a primeira da histó-
do com representantes de todas as colônias, com ria da América. Por essa razão, a Constituição
exceção da Geórgia. influenciou não somente alguns Estados euro-
peus, mas também as demais colônias america-
12 No Segundo Congresso Continental foi decidido que
nas, que se inspiraram nela para estabelecer as
os colonos declarariam sua independência e, se
bases de suas próprias leis.
fosse necessário, declarariam guerra aos ingleses.
George Washington, um grande proprietário de terra 16 O inglês Thomas Paine teve importante participação
e de escravos, foi nomeado comandante das tropas na independência dos Estados Unidos. Durante as
americanas e, por fim, foi escolhida uma comissão guerras de independência, alistou-se como secre-
responsável por elaborar a Declaração de Indepen- tário militar. Para incentivar moralmente os solda-
dência das Treze Colônias, que ficou pronta em dos, escrevia frases como: “quanto mais difícil o
quatro de julho de 1776. conflito, mais glorioso é o triunfo”. Também incen-
tivou a união das colônias depois da guerra, sendo
13 Resposta pessoal. A Declaração de Independência
um dos primeiros a divulgar a expressão “Estados
das Treze Colônias determinava que as colônias
Unidos da América” para se referir à nova Nação.
passariam a ser estados livres e independentes da
Inglaterra, e que cada uma delas teria autonomia
para aprovar suas próprias leis. Além disso, esse Expandindo o conteúdo
documento determinou que, se o governo não 17 a ) Após a independência, os cidadãos norte-
respeitasse os direitos dos cidadãos, poderia ser -americanos enfrentaram os problemas da or-
deposto e substituído. A declaração, no entanto, ganização interna formando uma comissão que
não considerava cidadãos os escravos, as mulhe- passou a elaborar uma Constituição.
res e os estrangeiros. b ) Os grupos sociais que foram excluídos da igual-
14 As guerras de independência foram conflitos trava- dade de direitos estabelecida nos Estados
dos entre norte-americanos e ingleses. Esses Unidos independente foram: os pequenos pro-
conflitos se intensificaram após a publicação da prietários de terras, os artesãos, as mulheres,
Declaração de Independência das Treze Colônias. os escravos e os indígenas.
Sob o comando de George Washington, os norte- c ) De acordo com o autor do texto, a durabilidade
122
da Constituição dos Estados Unidos está as- quando foi assassinado, Luther King discursou
123
3 As principais reformas realizadas pelos membros membros da planície ou pântano, que ocupavam
da Assembleia Nacional foram: a abolição dos o lugar central da assembleia e não tinham uma
privilégios feudais; a padronização do sistema de posição política definida.
arrecadação de impostos e o fim das penas con-
9 Resposta pessoal. Na época em que os girondinos
sideradas cruéis. Os bens do clero e dos nobres
lideraram a Convenção Nacional, tiveram que en-
que saíram da França foram confiscados e utiliza-
frentar várias dificuldades para administrar o país,
dos como garantia para a emissão de assignats e,
devido às agitações internas e aos conflitos exter-
também, para saldar as dívidas da França. Além
nos, decorrentes da formação de uma nova coli-
disso, a Igreja foi subordinada ao Estado depois
da aprovação da Constituição Civil do Clero . No gação contrarrevolucionária, desta vez composta
entanto, a obra mais influente da Assembleia foi a pelos exércitos da Inglaterra, Espanha, Áustria,
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Prússia e outros Estados europeus. Para evitar que
esses Estados atrapalhassem seus planos, os gi-
4 A tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789, foi rondinos investiram muito dinheiro em armamentos
uma invasão popular à prisão da Bastilha em Paris, e soldados. Essa crise financeira forçou os líderes
com o objetivo de libertar os inimigos do Antigo da convenção a lançar novos assignats no merca-
Regime que lá estavam presos. Tal ação simbolizou do, que logo se desvalorizaram e provocaram uma
a decadência do poder absoluto do rei. grande inflação.
5 A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 10 As principais medidas tomadas pelos jacobinos
publicada em 1791, defendia os direitos individuais durante sua liderança na Convenção foram: subs-
e a igualdade dos cidadãos perante a lei. Além tituição das autoridades provinciais monarquistas
disso, essa declaração limitava os poderes do rei por agentes nacionais fiéis às ordens do comitê;
e assegurava às pessoas o direito à propriedade. educação pública gratuita; abolição da escravidão
6 A Constituição foi aprovada em 1791 e contemplou nas colônias francesas; criação de manufaturas
as principais reivindicações do terceiro estado, públicas, principalmente bélicas e têxteis; e o es-
como a igualdade civil, jurídica e fiscal. Porém, a tabelecimento da Lei do Preço Máximo, que tabe-
igualdade política não se estendeu a toda a socie- lava o preço do pão e dos cereais.
dade. A nova lei estabelecia uma diferenciação 11 a ) O grupo político que governou nesse período foi
entre os cidadãos ativos, aqueles que podiam votar o dos girondinos, que eram apoiados pela bur-
e candidatar-se a cargos eletivos, e os passivos, guesia.
aqueles que não podiam participar das eleições.
b ) As mudanças políticas implantadas por esse
7 Os fatos que antecederam a proclamação da Repú- grupo foram: anulação da lei que aprovava o
blica na França foram: a tentativa de restabeleci- voto de todos os homens maiores de 21 anos
mento do poder absoluto por Luís XVI; a invasão e elaboração de uma nova Constituição, pro-
dos exércitos de outros Estados Absolutistas na mulgada em 1795. De acordo com ela, o Poder
França; a mobilização da população francesa para Executivo foi transformado em um Diretório
resistir à invasão. Após sangrentas batalhas, os composto por cinco diretores e oito ministros.
franceses expulsaram os invasores e instituíram a A instalação oficial do Diretório ocorreu em
Convenção Nacional, extinguindo o regime monár- novembro de 1795.
quico e transferindo os poderes do rei para um c ) A principal mudança econômica foi a revogação
conselho executivo. A República foi proclamada em da Lei do Preço Máximo, que causou a insatis-
21 de setembro de 1792. fação dos trabalhadores franceses.
8 As facções políticas da Convenção Nacional eram: 12 a ) Os nomes dos meses se relacionavam às con-
os girondinos, que eram partidários da descentra- dições climáticas ou agrícolas do período.
lização política e da autonomia das províncias,
b ) O mês era composto por três semanas de 10
onde tinham grande apoio. Defendiam os interes-
dias. O décimo dia de cada semana era o dia
ses da alta burguesia e desejavam limitar as con-
reservado ao descanso.
quistas sociais dos revolucionários; os jacobinos,
que eram considerados radicais e desejavam c ) Os feriados religiosos foram abolidos.
ampliar as conquistas sociais que haviam sido d ) Os cinco dias complementares do ano chama-
propostas no início da revolução, por isso, eles vam-se Virtude, Gênio, Trabalho, Opinião e
contavam com o apoio dos sans-culottes ; e os Recompensa.
124
13 Resposta pessoal. Alguns dos aspectos do gover- do século XVIII também foi discutida nas mesas
Capítulo
rância, o esquecimento ou o menosprezo dos
direitos da mulher. A Revolução Industrial
b ) O texto A expõe, em uma declaração solene, os
direitos naturais, inalienáveis e sagrados do Exercícios de compreensão
homem, a fim de que eles se lembrem sem 1 A Revolução Industrial teve início no século XVIII,
cessar de todos os seus direitos e deveres. na Inglaterra.
Além disso, o texto afirma que as reclamações
2 No sistema manufatureiro, o artesão trabalhava em
dos cidadãos, fundamentadas, a partir de en-
casa, auxiliado pela família, produzindo sob enco-
tão, em princípios simples e incontestáveis,
menda de um empresário que lhe fornecia a ma-
redundem sempre na manutenção da Consti-
téria-prima e combinava a realização de determi-
tuição e na felicidade de todos. Por outro lado,
nada tarefa em troca de um pagamento. Cada
o texto B expõe, também em uma declaração
artesão ficava encarregado de uma tarefa especí-
solene, os direitos naturais, inalienáveis e sa-
fica no processo de produção, deixando de ter o
grados da mulher, a fim de que elas se lembrem
domínio integral da produção dos artigos manufa-
sem cessar dos seus direitos e deveres. Além
turados.
disso, o texto afirma que as reivindicações das
cidadãs, fundamentadas, a partir de então, em 3 O acúmulo de capitais foi um dos principais motivos
princípios simples e incontestáveis, sempre do pioneirismo inglês no processo de industriali-
respeitem a Constituição, os bons costumes e zação. Durante os séculos XVI e XVII, burgueses
a felicidade de todos. ingleses conseguiram acumular capitais principal-
c ) A autora do texto B é Olympe de Gouges. Ela mente, por meio da exploração comercial nas
escreveu esse texto para exigir que a igualdade colônias da América e da África, e também, em
de direitos não se limitasse apenas aos homens, das relações comerciais com outros Estados eu-
mas que se estendesse também às mulheres. ropeus.
15 a ) O café de Paris que se tornou um marco para a 4 Resposta pessoal. Durante a época da Revolução
cidade chamava-se Café Procope e foi inaugu- Industrial, a vida era marcada pelo trabalho nas
rado em 1675. O autor o descreve como um fábricas. O cotidiano dos moradores das grandes
estabelecimento luxuoso, ornamentado com cidades inglesas aos poucos passou a ser regula-
enormes espelhos, ricas tapeçarias, lustres de do pelo relógio. Isso acabou por alterar a percep-
cristal e mesas de mármore. ção do tempo, pois até então as pessoas organi-
b ) Dentre os filósofos iluministas que frequentavam zavam sua vida em função do tempo da natureza,
os cafés parisienses, estavam: La Fontaine, das estações, o tempo de semear e colher.
Diderot, D’Alembert e Voltaire.
5 As moradias dos operários ingleses que viviam nas
c ) Os três líderes da Revolução Francesa citados cidades industriais eram precárias. Além disso, o
no texto (Marat, Danton e Robespierre) faziam custo do transporte era muito alto, o que os for-
parte do grupo político dos jacobinos. çava a morar em bairros próximos às fábricas,
d ) De acordo com o texto, a Revolução Americana convivendo diariamente com a poluição. Como
125
atividades de lazer, os operários ingleses iam às ciais se dividiam basicamente em duas: a burgue-
feiras, frequentavam teatros populares e pratica- sia e o proletariado. Segundo Marx, essas duas
vam esportes. Nas feiras, as pessoas tocavam classes viviam em uma luta constante por possuí
instrumentos musicais, cantavam, dançavam e rem interesses opostos. De acordo com sua teoria,
jogavam cartas. Havia também a prática de espor- as transformações sociais ocorreriam em função
tes, como a corrida, a luta de boxe e o futebol. dessa luta e, por isso, a história da humanidade
só poderia ser compreendida a partir da história
6 As moradias dos membros das classes privilegiadas
da luta de classes.
da Inglaterra eram luxuosas e confortáveis, situa-
das em bairros distantes das fábricas. Em suas 12 Anarquismo é a doutrina que prega que o Estado é
atividades de lazer, grande parte dos burgueses a fonte da maior parte de nossos problemas so-
procuravam evitar a prática de esportes como o ciais, e que existem formas alternativas viáveis de
futebol, em que havia intenso contato físico, pre- organização voluntária.
ferindo realizar atividades como a caça esportiva.
Para se divertir, os membros da burguesia também 13 Os operários ingleses entravam em contato com as
iam ao teatro. ideias socialistas e anarquistas por meio de jornais
e panfletos que eram distribuídos clandestinamen-
7 Os alunos devem apresentar no texto elementos te, pois eram proibidos. Os jornais e panfletos
presentes no infográfico das páginas 104 e 105. denunciavam as condições precárias de vida dos
trabalhadores, além de informar sobre as reivindi-
8 No dia a dia das fábricas, os trabalhadores opera-
cações do proletariado.
vam as máquinas e produziam grandes quantida-
des de produtos manufaturados. O cotidiano dos 14 O movimento ludista ocorreu no início do século
operários era muito cansativo. Eles chegavam a XIX. Esse movimento era formado por grupos de
trabalhar até 16 horas por dia e não tinham direito operários que, inconformados com as injustiças a
às férias. Além disso, o ambiente de trabalho era que estavam submetidos, manifestaram seu des-
ruim, pois as fábricas eram escuras, úmidas e com contentamento por meio de greves e motins. Como
pouca ventilação. Os operários eram sempre vigia- forma de protesto, esses operários invadiam ofici-
dos por um feitor e era comum acontecerem aci- nas têxteis e quebravam todo o maquinário.
dentes de trabalho, nesses casos, os operários
não recebiam ajuda financeira ou médica. 15 As Trade Unions eram associações formadas por
diferentes profissionais, como sapateiros, pedrei-
9 As operárias não tinham direito à licença-materni- ros, mineiros, mecânicos, tecelões, livreiros e
dade e recebiam salários mais baixos que os dos carpinteiros. As Trade Unions procuravam organizar
homens, além de terem de cumprir uma longa as reivindicações de grupos de profissionais espe-
jornada de trabalho. cializados e, para isso, esses profissionais contri-
10 As crianças pobres geralmente começavam a tra- buíam com uma pequena quantia mensal.
balhar nas fábricas inglesas quando atingiam a 16 As principais conquistas dos trabalhadores ingleses
idade de nove anos. Elas trabalhavam de 10 a 12 a partir da década de 1830 foram: a aprovação de
horas por dia e recebiam salários muito baixos. leis que regulamentavam o trabalho de crianças e
11 Resposta pessoal. Karl Marx elaborou a teoria do jovens, a redução da jornada de trabalho das mu-
socialismo científico. Ele acreditava que, para lheres e dos homens. Além da diminuição da carga
transformar a realidade dos operários, era neces- horária, as novas leis instituíram horários de pausa
sário mudar a maneira como a sociedade capita- para que os operários pudessem fazer suas refei-
lista estava organizada; por isso, a propriedade ções e descansar entre os períodos de trabalho.
privada deveria ser extinta e as fábricas deveriam
17 Os operários cartistas elaboraram a Carta do Povo.
pertencer àqueles que nelas trabalhassem, ou
Nesse manifesto, enviado ao Parlamento inglês em
seja, aos operários. Marx acreditava que os traba-
1838, eles reivindicavam o direito de voto de todos
lhadores tinham que tomar consciência de sua
os homens maiores de 21 anos, eleições anuais
condição para que eles empreedessem essa mu-
para o Parlamento, pagamento dos salários dos
dança social, instaurando a sociedade socialista.
parlamentares, voto secreto, fim do critério censi-
De acordo com Marx, “classes sociais” são forma-
tário para se candidatar ao Parlamento e igualda-
das por pessoas que apresentam semelhanças em
de entre os distritos eleitorais.
sua condição social e econômica. Esse pensador
afirmava que, ao longo da história, as classes so- 18 Susannah Wright foi uma operária inglesa que tra-
126
balhava costurando rendas em uma fábrica de minas de carvão e nas fábricas, onde as crian-
127
racterizam o mundo moderno são: o petróleo e separatista adquirisse ainda mais força na América
a eletricidade, responsáveis pelo provimento de espanhola.
grande parte da energia da atualidade.
3 A independência dos Estados Unidos influenciou os
b ) Os prejuízos ambientais causados pela indus-
colonos espanhóis fornecendo um exemplo bem
trialização foram, principalmente, os altos níveis
sucedido de revolução liberal contra o domínio
de poluição provocados pela emissão de resí-
metropolitano europeu, além de criar um prece-
duos do carvão, dos metais e de outras subs-
dente animador para os colonos espanhóis, pois
tâncias na água, no ar e no solo.
se a poderosa e industrial Inglaterra havia perdido
c ) Atualmente, a maior parte da energia gerada no suas colônias na América do Norte, o mesmo po-
mundo provém de três combustíveis fósseis:
deria acontecer com a Espanha, cujo poder eco-
carvão, petróleo e gás natural.
nômico e militar estava em franca decadência.
d ) As consequências para a natureza da queima de
combustíveis fósseis são: o aquecimento pla- 4 O Cabildo era uma espécie de prefeitura adminis-
netário, as chuvas ácidas, a poluição das águas trada por um conselho municipal. Os cargos des-
e do solo e o desmatamento de florestas intei- se conselho eram ocupados pelos criollos . As
ras, o que torna os rios mais vulneráveis à Audiencias eram tribunais de justiça encarregados
erosão. de aplicar as leis e julgar aqueles que a desobe-
e ) Resposta pessoal. Comente com os alunos que decessem. Os cargos nas Audiencias eram ocu-
a visão de que a industrialização faz bem para pados pelos chapetones ou peninsulares.
a humanidade está associada à ideia de pro- 5 A sociedade da América espanhola era formada por
gresso, promovida pela ciência moderna. De
diferentes grupos, entre eles, os chapetones , os
fato, os avanços tecnológicos dos séculos XIX
criollos , os mestizos , os indígenas e os escravos
e XX propiciaram melhorias nas condições de
africanos. Os chapetones eram responsáveis tan-
vida, mas, por outro lado, também causaram
to pela importação de produtos europeus quanto
muitos prejuízos ao meio ambiente, como a
pela exportação da produção colonial para a Eu-
poluição e o esgotamento dos recursos natu-
ropa. Além disso, a Coroa espanhola cedia a esse
rais. Promova entre os alunos o respeito às
grupo os cargos administrativos mais importantes
diferentes opiniões que possam surgir durante
nas colônias, garantindo assim a sua lealdade. Os
a realização dessa atividade
criollos , por sua vez, geralmente eram grandes
proprietários rurais, comerciantes e exploradores
7 As independências na América
Capítulo
128
tadores de serviços domésticos. Nas Antilhas, eles sendo obrigados a trabalhar para os membros
129
Expandindo o conteúdo portadora de açúcar para a Europa, com a
10 a ) De acordo com o texto, as revoltas populares economia baseada no sistema escravista, mui-
pela independência fracassaram porque elas to lucrativo para as elites.
esbarraram sempre na repressão violenta, por b ) Boukman Dutty era um capataz e líder religioso
parte tanto da Metrópole quanto dos elementos que comandou as primeiras reações dos escra-
da aristocracia criolla . vos contra a situação em que se encontravam
b ) Os grupos sociais coloniais que participaram das na colônia francesa de São Domingos. Bouk-
lutas de independência foram: as elites criollas man Dutty liderou cerca de aproximadamente
e as camadas populares. 100 mil escravos, que invadiram as fazendas,
destruíram as plantações e executaram os lati-
c ) O bloco dominante nas colônias não era homo-
fundiários.
gêneo. Nas zonas mercantis (como em Havana,
c ) Os objetivos do movimento liderado por Toussaint
Lima e Buenos Aires), as elites tinham interesses
L’Ouverture eram: libertar os escravos dos latifun-
ligados ao mercado externo. Nas áreas agrárias,
diários e conquistar a independência da colônia.
composta de grupos de grandes produtores
Esses objetivos tinham relação com os princípios
rurais que produziam açúcar e cacau, as elites
iluministas de liberdade e de legitimidade, que
se voltavam para a produção interna. Quanto à
davam garantia às revoltas populares que tivessem
forma de governo que seria adotada após as
a intenção de depor um governo que não assegu-
independências, os membros da elite criolla
rasse os direitos naturais dos governados (confor-
também divergiam: havia republicanos radicais,
me foi estudado no capítulo 3).
como os venezuelanos Francisco de Miranda e
Simon Bolívar e monarquistas liberais, como o d ) Jean-Jacques Dessalines era um ex-escravo,
argentino José de San Martín. aliado de L’Ouverture, que liderou os habitantes
da colônia francesa de São Domingos na luta
11 a ) O país que atualmente ocupa a região que, na pela independência. A independência dessa
época colonial, formava o Vice-reino da Nova colônia se consumou em 1804 e, partir de en-
Espanha, é o México. tão, ela passou a se chamar Haiti, a “terra das
b ) As independências no Vice-reino do Rio da Pra- montanhas”.
ta deram origem ao Paraguai, Argentina, Bolívia e ) A luta pela independência no Haiti é considera-
e Uruguai. da a mais bem-sucedida vitória de escravos na
c ) Na época colonial, a atual Costa Rica fazia par- América Latina. Ela simboliza a abolição e a
te da Capitania-Geral da Guatemala. participação da população oprimida no proces-
d ) O Vice-reino do Peru deu origem ao Peru. so de independência.
e ) Na época colonial, a atual Colômbia fazia parte f ) O “haitianismo” foi o nome dado ao medo que
do Vice-reino de Nova Granada. as elites coloniais escravistas tinham de uma
possível revolta de escravos sob inspiração
12 a ) A reação da população colonial à nomeação de haitiana. O medo do “haitianismo” surgiu devi-
José Bonaparte como rei da Espanha foi de do às notícias que se espalharam pelas Améri-
extrema repulsa à ocupação francesa naquele cas sobre a violência dessas rebeliões de es-
país. Em toda a parte da América espanhola, cravos.
grupos insatisfeitos com a invasão proclamaram
efusivamente sua lealdade a Fernando VII, o Passado e presente
monarca Bourbon preso pelas tropas de Napo-
14 a ) Os norte-americanos têm interesse em manter
leão.
a base de Guantánamo por questão de força
b ) De acordo com o texto, o principal motivo da
política, pois a atuação militar norte-americana
instauração de governos autônomos na Améri-
é tão grande que eles não precisariam mais da
ca durante a ocupação napoleônica na penín-
base, que tem pouca capacidade de operações.
sula Ibérica foi, principalmente, romper a ligação A base é como um “vespeiro” em que ninguém
com um governo metropolitano que tinha gran- quer mexer. Apesar das contestações, nunca
de probabilidade de cair totalmente sob o do- houve uma tentativa de desocupação.
mínio francês.
b ) A base de Guantánamo foi estabelecida pela
13 a ) A colônia francesa de São Domingos, no final do Marinha norte-americana em 1898, durante a
século XVIII, era uma grande produtora e ex- Guerra Hispano-Americana.
130
c ) No acordo de 1934, ficou estabelecido o arren- termédio de Portugal. A abertura dos portos signi-
A independência do Brasil
7 Entre os motivos que levaram D. João VI a elevar o
Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e
Exercícios de compreensão
Algarves está o fato de que a família real e os
1 De acordo com o texto citado na página 138, a principais órgãos administrativos portugueses
transferência da Corte portuguesa para o Brasil, estavam estabelecidos no Brasil. Além disso, mui-
em 1808, deu início ao processo de “interiorização tos portugueses que vieram para o Brasil em 1808
da Metrópole”. Com o estabelecimento no Rio de tinham aberto negócios aqui e não queriam retor-
Janeiro das instituições-chave da administração nar para Portugal.
do Império e a criação e consolidação de interes-
ses próprios dos súditos americanos, ocorreu uma 8 A Revolução Pernambucana de 1817 foi um movi-
crescente consciência do papel que o Brasil ocu- mento promovido pela elite agrária pernambucana,
pava no conjunto dos domínios lusitanos, aumen- descontente com a falta de representatividade no
tando as esperanças de fundação de um novo governo central. Em março de 1817, um grupo de
império luso-brasileiro. revolucionários assumiu o poder na província,
declarando-a uma República separada do resto do
2 O Bloqueio Continental foi uma proibição imposta, Brasil. O novo regime só durou até maio, quando
em 1806, pelo imperador da França Napoleão tropas portuguesas invadiram Recife e debelaram
Bonaparte. Por meio do Bloqueio Continental, os o movimento. Seus três principais líderes foram
Estados europeus foram proibidos de comerciali- fuzilados.
zarem com a Inglaterra, sendo que, aquele país
que desrespeitasse essa medida, seria considera- 9 Resposta pessoal. Com o fim das guerras napole-
do inimigo da França. O Bloqueio Continental in- ônicas, a Inglaterra pressionou D. João a retornar
fluenciou no processo de independência do Brasil para a Europa. No entanto, alguns fatores dificul-
uma vez que impulsionou a vinda da Corte portu- taram o retorno do rei. A fim de permanecer mais
guesa para esse território. tempo no Brasil, D. João elevou o Brasil à condição
de Reino Unido a Portugal e Algarves, em 1815.
3 A Corte portuguesa se transferiu para o Brasil, em Essa medida favoreceu as elites brasileiras, que
1808, porque naquela época Portugal mantinha mantiveram seus benefícios. De acordo com o
amplas relações comerciais com a Inglaterra e, por Congresso de Viena, ocorrido na Áustria entre os
isso, não podia aceitar a condição imposta pelo anos de 1814 e 1815, a dinastia dos Bragança não
imperador francês sem que sua economia fosse poderia governar Portugal a partir de uma colônia.
prejudicada. Esse fator também contribuiu para D. João igualar
o Brasil a Portugal na condição de Reino.
4 A abertura dos portos brasileiros ao comércio com
outras nações foi importante para a economia do 10 Algumas instituições criadas após a chegada da
Brasil porque os portos brasileiros passaram a re- Corte portuguesa ao Rio de Janeiro foram: o Ban-
ceber as mercadorias vindas da Europa sem o in- co do Brasil; a Imprensa Régia; as primeiras insti-
131
tuições de ensino superior do país; o Real Horto 15 As Cortes de Lisboa eram uma assembleia formada
(atual Jardim Botânico do Rio de Janeiro); a Biblio- por representantes políticos portugueses. Elas
teca Real (atual Biblioteca Nacional do Brasil); a geralmente eram convocadas quando o Estado
Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios (atual enfrentava situações de crise. Em 1820, as auto-
Escola de Belas-Artes). ridades portuguesas, pressionadas pelos revolu-
cionários, decidiram convocar as Cortes. Os de-
11 As medidas de D. João não favoreceram a todos
putados portugueses queriam que D. João VI
os habitantes do Rio de Janeiro. Elas beneficiaram voltasse para Portugal e, com o auxílio das Cortes
apenas a parcela mais rica da população, que de Lisboa, governasse o reino. Além disso, eles
passou a ter acesso, por exemplo, a instituições pretendiam que Portugal restabelecesse o mono-
de ensino superior. A maioria das pessoas conti- pólio do comércio brasileiro, ou seja, queriam que
nuou vivendo nas mesmas condições precárias de o Brasil voltasse a ser uma colônia portuguesa. Os
antes, sem acesso a benefícios como a educação. deputados brasileiros, por sua vez, reivindicavam
12 A presença da Corte exerceu grande transformação maior participação nas decisões políticas do Bra-
nos hábitos cotidianos dos moradores do Rio de sil e a implantação de uma Monarquia dual, com
Janeiro. A moda europeia passou a ser seguida sede tanto em Lisboa quanto no Rio de Janeiro.
pelas mulheres da elite brasileira. O vestuário euro- 16 D. João VI e a Corte portuguesa regressaram a
peu, no entanto, feito com tecidos pesados em Portugal em abril de 1821. O rei decidiu voltar
função do clima da Europa, era utilizado somente para Portugal porque os políticos portugueses
nas ruas. No interior das residências, as pessoas estavam ameaçando depô-lo do poder caso assim
continuavam usando roupas leves, mais adequadas não fizesse.
ao clima tropical do Brasil. Além disso, era proibido
o uso de persianas nas janelas, pois elas davam um 17 O partido português era formado por militares por-
aspecto de reclusão às casas, e estimulou-se a tugueses de alta patente, grandes comerciantes e
utilização de vidraças. Outro exemplo da mudança funcionários públicos. Seus membros defendiam
de hábito foi a implantação da cerimônia do beija- o restabelecimento do pacto colonial.
-mão. Nessa cerimônia, as pessoas, principalmen- 18 Durante o processo de independência, o partido
te os nobres e funcionários públicos, entravam no brasileiro se dividiu em duas correntes. A corrente
palácio em fila única e, um a um, beijavam a mão radical ou democrática, também chamada de “eli-
de D. João e dos outros membros da família real. te brasiliense”, defendia um governo liberal, em
13 Jean-Baptiste Debret foi um pintor francês que que a população pudesse participar das decisões
chegou ao Brasil no ano de 1816 e por aqui per- políticas por meio de representantes eleitos. Já a
corrente conservadora ou aristocrata propunha
maneceu até 1831. Debret pintou cenas da vida
maior autonomia para o Brasil, porém, era contrá-
cotidiana dos brasileiros, retratou diversos grupos
ria às ideias de independência. Em um segundo
étnicos africanos e indígenas, bem como festas e
momento, esse grupo passou a apoiar a separa-
costumes populares, além de aspectos arquitetô-
ção, desde que ela respeitasse a Monarquia cons-
nicos das construções. A obra de Debret é consi-
titucional, pois seus membros rejeitavam a partici-
derada uma importante fonte para o estudo da
pação popular nas questões políticas do império
história de nosso país.
e temiam a fragmentação do território brasileiro.
14 a ) A Revolução do Porto ocorreu em agosto de
19 Após o episódio do Dia do Fico, D. Pedro começou
1820, em Portugal.
a tomar decisões que indicavam uma tendência
b ) O contexto econômico de Portugal no momento separatista. Expulsou do Rio de Janeiro soldados
da Revolução do Porto era de crise econômica, portugueses que se recusaram a jurar fidelidade a
causada principalmente pela perda dos lucros ele e aproximou-se da elite conservadora brasilei-
que os portugueses obtinham com o monopó- ra, nomeando José Bonifácio como seu ministro.
lio do comércio brasileiro. Desse modo, D. Pedro conseguiu o apoio dos
c ) As reivindicações feitas pelos revoltosos do conservadores, dos proprietários rurais, dos altos
Porto eram: a volta de D. João VI a Portugal, a funcionários, dos juízes e dos grandes comercian-
elaboração de uma Constituição para o Reino, tes. Esse apoio foi fundamental para que ele pu-
a reformulação das relações comerciais entre desse proclamar a independência sem alterar a
Portugal e Brasil, restabelecendo o exclusivo ordem social e econômica do Brasil, e, além disso,
comercial. garantir sua permanência como monarca.
132
Expandindo o conteúdo Beto nessa história em quadrinhos são: as
133
2 D. Pedro I convocou uma Assembleia Constituinte 6 Crises políticas, econômicas e territoriais fizeram
para escrever o texto constitucional. No entanto, com que a confiança da população em D. Pedro I
insatisfeito com os rumos que a Constituinte esta- fosse diminuindo gradativamente. Por todo o ter-
va tomando, ele a dissolveu, em novembro de ritório brasileiro aconteceram revoltas e manifes-
1823, e criou um conselho encarregado de elabo- tações populares contrárias ao imperador e os
rar, sob a sua supervisão, um novo projeto de conflitos entre ele e os deputados brasileiros au-
Constituição. mentavam cada vez mais, levando o imperador a
abdicar do trono.
3 O território brasileiro era habitado por diferentes
grupos sociais que, em cada região, possuíam 7 De acordo com a Constituição de 1824, até que o
características próprias. Por essa razão, era difícil príncipe D. Pedro II atingisse a maioridade, o império
encontrar elementos culturais, sociais e econômi- seria governado por regentes nomeados pelos depu-
cos que pudessem representar a todos os brasi- tados e senadores. Esse momento político brasileiro
leiros, o que dificultava a unificação da Nação. ficou conhecido como Período Regencial.
Além disso, as elites regionais que exerciam o
8 Os principais grupos políticos eram: Restauradores;
controle econômico e político nas províncias bra-
Liberais moderados; e Liberais exaltados. Os Res-
sileiras assumiram uma tendência separatista, pois
tauradores eram portugueses que queriam conser-
queriam aumentar seu poder e não concordavam
var o poder centralizado, pois temiam a fragmen-
em entregar ao governo central todo o imposto
tação política e territorial do império. Lutavam
recolhido em suas regiões.
pela volta de D. Pedro I, mas perderam influência
4 Resposta pessoal. D. Pedro I convocou uma As- após sua morte, em 1834. Os Liberais moderados
sembleia Constituinte para elaborar a primeira apoiavam a manutenção do sistema monárquico,
Constituição do país. No entanto, a Constituinte desde que o poder do imperador fosse limitado.
foi palco de violentos debates entre deputados Já os Liberais exaltados queriam reformas políticas
conservadores, que apoiavam as propostas do mais amplas, defendiam a autonomia das provín-
imperador, e os deputados liberais. Descontente cias e as liberdades individuais. Alguns mais radi-
com a situação, o imperador dissolveu a Consti- cais defendiam a mudança do sistema político de
tuinte e criou um conselho encarregado de elabo- monárquico para republicano.
rar, sob a sua supervisão, um novo projeto. Em
9 A imprensa foi um importante instrumento de luta
1824, D. Pedro I outorgou a primeira Constituição política entre os partidos que seguiam tendências
brasileira, que dividia o poder em: Legislativo, diferentes. Além de atacar ou ridicularizar os
Executivo e Judiciário. Além desses poderes, foi adversários, os jornais e pasquins da época ser-
instituído o Poder Moderador, que dava ao impe- viam para divulgar os ideais, as práticas e as as-
rador o direito de interferir nos demais poderes. pirações de diferentes grupos políticos.
Essa Constituição também estabeleceu regras
para a eleição. 10 a ) A situação social e econômica era decadente
para muitos trabalhadores livres da Bahia: as
5 a ) Estavam descontentes os proprietários rurais, terras cultivadas, voltadas principalmente para
jornalistas, advogados, intelectuais, religiosos a produção de cana-de-açúcar para exporta-
e grande parte da população da província. Eles ção, não produziam alimentos suficientes para
n ã o c o n c o rd a v a m c o m a n o m e a ç ã o d e suprir as necessidades da população. Assim,
Francisco Paes Barreto como o novo governa- buscavam melhores condições de vida, aban-
dor da província de Pernambuco. Além disso, donando o campo e partindo para as cidades,
o descontentamento cresceu consideravelmen- principalmente Salvador, a capital da província.
te após a dissolução da Assembleia Constituin- Em Salvador, muitos escravos e ex-escravos de
te e atingiu seu auge com a imposição da origem africana que trabalhavam nas ruas da
Constituição. cidade como vendedores ou prestadores de
b ) As propostas feitas pelos pernambucanos eram: serviços habitavam moradias precárias que fi-
diminuir o repasse dos impostos para o gover- cavam localizadas em bairros pobres da cidade.
no central, aumentando o poder dos chefes b ) Centenas de malês foram mortos, muitos foram
regionais e ampliar a autonomia das províncias. presos, outros foram enviados de volta à África
c ) Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Ceará. e o restante foi obrigado a retornar ao cativeiro.
134
11 O africano escravizado recebia uma denominação, 14 Em geral, as mulheres eram submissas aos homens
135
d ) Entre os anos de 1821 e 1830, o café participa- no território nacional. Se julgar necessário,
va no total de exportações brasileiras com 18%. oriente-os a pesquisarem notícias de jornais
Entre os anos de 1831 e 1840, esse percentu- que abordem objetivos que a Constituição pro-
al subiu para 44%. cura alcançar. Promova entre os alunos o res-
peito às diferentes opiniões que possam surgir
17 a ) O autor do texto é o revolucionário Giuseppe
durante a realização dessa atividade.
Garibaldi.
b ) A mulher a quem o autor do texto faz referência
10
Capítulo
é Anita Garibaldi. Ela era uma mulher incomum O apogeu do Império do Brasil
para sua época porque não era submissa aos
homens e lutava pelos seus ideias. Exercícios de compreensão
c ) Eles participaram da Revolução Farroupilha, que 1 O Golpe da Maioridade foi um movimento realizado
ocorreu na região Sul do Brasil. Essa revolução por um grupo de políticos brasileiros vinculados ao
teve início no Rio Grande do Sul e avançou até partido liberal para antecipar a nomeação de D.
Santa Catarina. Pedro II como imperador do Brasil e centralizar o
poder nas mãos de um só governante. Com esse
Passado e presente golpe, ocorrido em junho de 1840, D. Pedro II assu-
18 a ) De acordo com a Constituição brasileira de 1824, miu o poder com apenas 14 anos de idade e gover-
os cidadãos brasileiros estavam divididos entre nou o império até 1889, ou seja, durante 49 anos.
ativos e passivos. Isto quer dizer que não havia 2 Durante o governo de D. Pedro II, o Brasil se tornou
igualdade de direitos e deveres para todos os o maior exportador de café do mundo, mas a so-
brasileiros. Os homens livres, maiores de 25 anos ciedade continuou essencialmente agrária e escra-
e com renda anual líquida de, no mínimo, 100 mil vista. A mão de obra escrava foi usada nas lavou-
réis, eram considerados os cidadãos brasileiros ras até o final do século XIX, e continuou sendo a
ativos, os únicos com poder de voto e, portanto, grande responsável pela geração de riquezas do
responsáveis pela condução política do país. As Império. Com o aumento da produção, o governo
mulheres ficavam na categoria dos cidadãos e os fazendeiros puderam investir os lucros da
passivos, junto aos homens mais pobres. venda do produto na melhoria dos sistemas de
b ) Em 1824, não podiam participar ativamente da transportes para escoamento e distribuição do
política do país as mulheres e os homens mais café. Nesse contexto, houve a expansão das fer-
pobres, considerados cidadãos passivos. Tam- rovias, o que favoreceu o crescimento e o surgi-
bém não participavam ativamente da política os mento de novas cidades e também o desenvolvi-
estrangeiros não naturalizados que moravam mento da indústria e do comércio no Brasil.
no Brasil, os brasileiros que adquirissem outra
3 No início do Segundo Reinado, a província de Per-
nacionalidade e os escravos, que não eram
nambuco era um importante centro econômico do
considerados cidadãos.
Nordeste. Recife, a capital da província, possuía
c ) A Constituição de 1988 é chamada de Carta
um comércio forte e atraía pessoas de outros lu-
Cidadã porque ela colocou o cidadão acima do
gares do Brasil, formando uma sociedade bastan-
Estado e por causa da sua expressiva partici-
te diversificada.
pação popular no momento em que era feita.
d ) Os objetivos para o país propostos pela Constitui- 4 Os revoltosos liberais pernambucanos de 1848
ção de 1988 são: construir uma sociedade livre, foram chamados de praieiros. Eles receberam
justa e solidária; garantir o desenvolvimento na- essa denominação porque fundaram um periódico
cional; erradicar a pobreza e a marginalização, na rua da Praia, no Recife, para divulgar suas ideias
reduzir as desigualdades sociais e regionais; políticas por meio de artigos em jornais.
promover o bem de todos, sem preconceitos 5 Resposta pessoal. “1 o – O voto livre e universal do
de origem, sexo, cor, idade e quaisquer outras povo brasileiro”: essa proposta visava estender a
formas de discriminação. toda a população brasileira o direito à participação
e ) Resposta pessoal. Oriente os alunos a pensarem política; “2 o – A plena e absoluta liberdade de co-
sobre cada um dos objetivos propostos pela municar os pensamentos por meio da imprensa”:
Constituição de 1988 e avaliarem se eles estão essa proposta exigia que o governo brasileiro per-
sendo cumpridos tanto no seu dia a dia quanto mitisse que qualquer pessoa pudesse compartilhar
136
com os demais de suas ideia, principalmente por guns artigos necessários em seu dia a dia. Os
137
prestígio na sociedade. A partir de 1868, quando trazia em si grandes limitações aos direitos civis,
o marquês Luís Alves de Lima e Silva, o futuro pois ignorou a escravidão como se ela não exis-
duque de Caxias, assumiu o comando dos aliados, tisse, ou seja, os escravos continuaram não sendo
ele promoveu algumas reformas que melhoraram considerados cidadãos e não possuíam direitos.
a organização do Exército. b ) Nessa época, a eleição era indireta, feita em dois
16 As mulheres participaram ativamente da Guerra do turnos. No primeiro, os votantes escolhiam os
Paraguai. Entre elas havia mães, esposas, comer- eleitores, na proporção de um eleitor para cada
ciantes e escravas, que muitas vezes pegaram em 100 domicílios. Os eleitores, que deviam ter ren-
armas para socorrer os feridos durante as batalhas. da de 200 mil réis, elegiam os deputados e sena-
Além de cuidar das crianças que as acompanha- dores. Podiam votar todos os homens de 25 anos
vam, elas preparavam a comida e cuidavam da ou mais que tivessem renda mínima de 100 mil
roupa dos oficiais e dos soldados. réis. Todos os cidadãos qualificados eram obri-
gados a votar. Os libertos podiam votar na eleição
primária. A limitação de idade comportava exce-
Expandindo o conteúdo
ções. O limite caía para 21 anos nos casos dos
17 a ) Na fonte A, os personagens representados são chefes de família, dos oficiais militares, bacharéis,
civis entrando na capital do Brasil, conduzidos clérigos, empregados públicos, em geral de todos
por cavaleiros, enquanto outros dois persona- os que tivessem independência econômica. As
gens observam a cena de uma janela. Eles mulheres não votavam, e os escravos não eram
estão andando em fila indiana. Alguns deles considerados cidadãos.
estão vestidos com uma capa, enquanto outros
c ) De acordo com o texto, 13% da população livre
estão com roupas simples; há também uma
brasileira podia votar nessa época. Em outros paí-
mulher com uma criança de colo à frente deles.
ses, essa porcentagem era menor. Por exemplo: na
Eles estão sendo levados para se alistarem no
Inglaterra era de 7% da população total; na Itália,
Exército. Alguns deles estão acorrentados por-
de 2%; em Portugal, de 9%; na Holanda, de 2,5%.
que estão sendo recrutados à força.
d ) O autor do texto define a legislação eleitoral
b) Na fonte B, os personagens representados no
brasileira instituída pela Constituição de 1824
primeiro quadrinho são dois homens de posses,
como sendo muito liberal, de acordo com os
vestidos com roupas elegantes e de cartola.
padrões da época.
Eles estão conversando e bebendo, sentados
à mesa. Um deles diz que não vai para a Guer- Discutindo a história
ra do Paraguai porque ele tem uma carteirinha
19 a ) A historiografia tradicional brasileira interpreta a
de recomendação que o isenta desse serviço.
Guerra do Paraguai como um conflito resultante
No segundo quadrinho, estão representados
da megalomania e dos planos expansionistas do
dois guardas (com uniformes da Guarda Nacio-
ditador paraguaio Solano López. Membros das
nal) segurando e agredindo um homem pobre,
Forças Armadas — especialmente do Exército
que aparece vestindo roupas simples. A partir
— encaram os episódios da guerra como exem-
da análise dessa fonte, é possível concluir que
plos da capacidade militar brasileira, exaltando
o recrutamento de soldados para a guerra era
os feitos históricos de Tamandaré, de Osório e,
feito à força, além disso, não eram recrutados
em especial, de Caxias. Nas escolas brasileiras,
aqueles que tinham um “padrinho” (isto é, uma
pelo menos até alguns anos atrás, esses heróis
pessoa poderosa e influente) para recomendar
eram admirados, enquanto a figura sisuda do
ao Exército que não o recrutasse.
barbudo Solano era vista com desdém.
c ) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos
b ) De acordo com os historiadores da esquerda
atentem para o fato de que a expressão “Vo-
latino-americana das décadas de 1960 e 1970,
luntários da Pátria” é inadequada para se refe-
o papel da Inglaterra na Guerra do Paraguai foi
rir a todos os recrutas que formaram o Exército
o de fomentadora do conflito. O Paraguai era
Brasileiro que lutou na Guerra do Paraguai,
um país de pequenos proprietários que optara
porque grande parte deles não eram voluntá-
pelo desenvolvimento autônomo, livrando-se da
rios, isto é, não estavam lá por vontade própria,
dependência de nações imperialistas como a
mas sim, porque foram recrutados à força.
Inglaterra. Brasil e Argentina definiam-se como
18 a ) A Constituição de 1824, apesar de constituir um nações dependentes, baseadas no comércio
avanço no que se refere aos direitos políticos, externo e no ingresso de recursos e tecnologia
138
estrangeiros. Esses dois países teriam sido b ) O Brasil apresentava um contexto favorável à
11 O fim da Monarquia e a
Capítulo
139
res também investiram em melhoramentos urbanos, mente igualados aos demais cidadãos, mas na
como a iluminação pública e o calçamento das ruas. prática continuaram marginalizados. Muitos
continuaram trabalhando para os fazendeiros
7 Irineu Evangelista de Souza foi um empresário pio-
em troca de baixos salários, outros foram pro-
neiro que investiu em várias áreas, como a fundição
curar melhores condições de vida nas cidades,
de bronze e ferro, a construção de estradas de
onde viviam de forma precária, sem acesso à
ferro e estaleiros, a fundação de companhias de
moradia, educação e emprego.
navegação e a organização do serviço de gás e
iluminação da capital brasileira. Seus negócios ti- f ) As redes de solidariedade foram o meio encon-
veram sucesso enquanto a política fiscal do gover- trado pelos ex-escravos para sobreviver e
resgatar sua dignidade. Nessas redes, eles se
no os protegia. No entanto, as empresas do Barão
ajudavam mutuamente, arrecadando dinheiro
de Mauá acabaram não resistindo à concorrência
para comprar vestimentas e alimentos, além de
com os produtos ingleses após a diminuição das
trabalharem juntos na construção de suas mo-
barreiras alfandegárias de importação e faliram.
radias.
8 A literatura brasileira do final do século XIX era do-
11 O Movimento Republicano diz respeito às mobiliza-
minada pelo romantismo indianista. Em obras
ções de diferentes grupos sociais para a mudança
como a Confederação dos Tamoios , de Gonçalves
do regime político do Brasil. Esses grupos, ou
de Magalhães, a pátria era exaltada através de
setores, se manifestavam em jornais, como A Re-
temas ligados à natureza e ao índio, que era tra-
pública , órgão de divulgação do Partido Republi-
tado de forma idealizada. Mas havia também outras
cano, fundado no Rio de Janeiro em 1870. Os
manifestações literárias, como a poesia de denún-
militares republicanos também se mobilizaram,
cia social, de Castro Alves, e os romances realistas
fundando o Clube dos Militares, que tinha o obje-
de Machado de Assis.
tivo de reunir os adversários do regime imperial.
9 Frevo e maxixe. O frevo foi criado em Pernambuco
12 No momento em que a crise do Império atingia seu
sob forte influência dos ritmos afro-brasileiros.
auge, o republicanismo contava com grande apoio
Animava os desfiles de rua quando tocado por
dentro do exército, principalmente entre a “moci-
fanfarras e bandas militares. O maxixe se desen-
dade militar”, um grupo que recebeu forte influên-
volveu principalmente no Rio de Janeiro, animava
cia dos ideais positivistas. Militares e civis republi-
os bailes populares com versões aceleradas de
canos convenceram o marechal Deodoro da
ritmos europeus, como a polca.
Fonseca, um militar respeitado, a assumir a lide-
10 a ) O Movimento Abolicionista envolveu vários se- rança do golpe. Assim, em 15 de novembro de
tores da sociedade brasileira que questionavam 1889 ocorreu a Proclamação da República. O
a prática da escravidão. As pessoas que parti- primeiro ato do novo regime foi a transformação
cipavam desse movimento consideravam o das províncias do Brasil em estados federativos.
escravismo um empecilho ao pleno desenvol-
vimento da sociedade brasileira, além de con- Expandindo o conteúdo
trariar o direto de liberdade e igualdade de to- 13 a ) Foram os profissionais liberais, negociantes, ar-
dos perante a lei. tesãos, funcionários públicos, além de fazendei-
b ) As leis abolicionistas foram aprovadas no Brasil ros e suas famílias que, graças à facilidade dos
com o objetivo de diminuir gradativamente a transportes, puderam residir longe de suas
utilização da mão de obra escrava. propriedades, em belos e confortáveis palacetes.
c ) A Lei Áurea pôs fim à escravidão no Brasil. Foi b ) Com o crescimento da produção do café, houve
aprovada pelos deputados brasileiros e assina- um período de crescimento econômico, que
da pela princesa Isabel. aumentou a circulação de capital. Com isso, o
comércio se fortaleceu e as atividades industriais
d ) A participação popular no movimento abolicio-
começaram a aparecer. Alguns centros urbanos
nista se deu por meio de mobilizações, como
se desenvolveram e cresceram. Os centros des-
comícios e passeatas de protesto contra a
sas cidades passaram a concentrar as funções
escravidão. Essas mobilizações tiveram grande
administrativas, comerciais e culturais.
importância, pois foram capazes de agregar um
grande número de brasileiros em torno do ide- 14 a ) São Paulo, Santos e Jundiaí.
al abolicionista. b ) Jaú, Agudos e Avaré; Bebedouro, Ribeirão Pre-
e ) Após a abolição, os ex-escravos foram juridica- to e Franca; Taubaté, Jacareí e São Paulo etc.
140
12
c ) Resposta pessoal. Espera-se que o aluno seja
Capítulo
A África no século XIX
141
5 Resposta pessoal. O conceito de imperialismo pre- cursos do continente. Ao contrário das colônias
cisa ser compreendido em sua historicidade, pois, de povoamento, as terras não eram expropria-
ao longo da história, houve várias formas de um das, mas os antigos agricultores deveriam
povo exercer a autoridade e a dominação sobre passar a produzir apenas os produtos que in-
outro. O imperialismo exercido na Roma Antiga, teressavam aos europeus. A África Ocidental
por exemplo, era aquele que buscava, sobretudo, Britânica foi um exemplo característico desse
a expansão territorial para a criação de províncias modelo de colonização.
tributáveis. Já o imperialismo inaugurado na época c ) As colônias mistas contavam com grande povo-
das Grandes Navegações, no século XV, tinha ação branca, embora inferior às das colônias de
como objetivo formar colônias para a exploração povoamento. A maioria dos casos apresentava
mercantilista. O imperialismo do século XIX, por povoamento europeu concentrado em regiões
sua vez, procurou abrir novos mercados consumi-
específicas, principalmente de exploração minei-
dores e garantir o acesso às matérias-primas ne-
ra, como no Zaire e na Rodésia do Norte.
cessárias para a indústria europeia e, posterior-
mente, norte-americana e japonesa. 11 Os africanos resistiram de várias formas à invasão
estrangeira em seu território. No Egito, por exem-
6 No entender de políticos e empresários europeus,
plo, o coronel Ahmad Urabi, contando com o apoio
a saída para a crise pela qual passava a Europa na
da maioria da população, lutou contra o endivida-
década de 1870 era tomar posse de territórios
mento econômico provocado pela dominação
coloniais, pois as colônias poderiam fornecer
britânica. Houve, também, resistências religiosas,
matérias-primas para a indústria europeia e ainda
sabotagens de equipamentos introduzidos pelos
adquirir os produtos industrializados que estavam
europeus, destruição dos meios de transporte,
acumulados na Europa.
plantações e armazéns.
7 O neocolonialismo ou imperialismo foi um processo
12 As principais consequências para os africanos da
iniciado por alguns países europeus no final do
colonização de seu continente foram: a incorpora-
século XIX, que se caracterizou pela expansão das
ção da língua, da religião e do sistema econômico
potências capitalistas europeias sobre os territórios
dos invasores. Além disso, tiveram que reconstruir
da África, Ásia e Oceania.
suas identidades a partir das novas fronteiras ter-
8 A chamada justificativa “humanitária” para o impe- ritoriais arbitrariamente criadas pelos colonizado-
rialismo se baseava na ideia de que as populações res. Em algumas regiões, os homens eram afasta-
não brancas eram inferiores, devendo, portanto dos de suas aldeias e obrigados a trabalhar nos
obediência ao europeu que, por sua vez, teria a empreendimentos coloniais, em troca de baixíssi-
“missão” de civilizá-las. mos salários. As mulheres e o restante da família
permaneciam nas aldeias e, para sobreviver, pra-
9 A Conferência de Berlim ocorreu entre os anos de
ticavam a agricultura. Essa separação dos mem-
1884 e 1885, na Alemanha. Teve como principal
bros de uma mesma família acabou desagregando
objetivo garantir a liberdade de comércio e nave-
as antigas estruturas sociais africanas, baseadas,
gação dos europeus pelos rios Níger e Congo, e
principalmente, nas relações familiares. Em outras
estabelecer regras e critérios quanto à anexação
regiões do continente, foi imposto o sistema de
dos territórios africanos. Participaram da Confe-
plantations . Isso acarretou o desgaste dos solos,
rência de Berlim 13 países europeus, além dos
que não eram mais deixados periodicamente em
Estados Unidos e do Império Otamano.
repouso para recuperação de sua fertilidade.
10 a ) Nas colônias de povoamento ocorria o estabele-
13 Nana Yaa Asantewa foi uma rainha-mãe ashanti que
cimento de uma expressiva população europeia,
instigou seus guerreiros à resistência quando seu
destinada a comandar as atividades econômicas
território foi invadido por ingleses. Depois de vários
e políticas nas colônias. Os recursos desses
meses de violentos combates, a resistência ashan-
colonos provinham da expropriação das terras
ti foi vencida e a rainha capturada. A coragem de
da população local, como ocorreu na África do
Yaa, porém, é lembrada até os dias de hoje como
Sul, na Argélia, em Uganda e em Angola.
um exemplo do orgulho da mulher negra.
b ) Nas colônias de exploração, era estabelecido
um pequeno número de colonos, geralmente 14 As grandes potências imperialistas do século XIX
funcionários da administração colonial e de se lançaram em busca de novos territórios também
empresas particulares que exploravam os re- na Ásia e na Oceania. A Oceania é uma região
142
estratégica, que serve de ligação entre a América
D - cubatas.
17 a ) A - curral.
B - gado bovino.
C - mulheres cuidando de um bebê.
143
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